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Planeta Criança



Poesia & Contos Infantis

 

 

 


VENOM / Jennifer Estep
VENOM / Jennifer Estep

                                                                                                                                                   

                                                                                                                                                  

 

 

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Que tipo de assassino trabalha pro bono?
É difícil ser uma assassina fodona quando um gigante está matando você a socos. Felizmente, eu nunca deixei o orgulho ficar no caminho do meu trabalho.
Minha missão atual é pessoal: aniquilar Mab Monroe, a Elemental de Fogo que assassinou minha família. O que significa proteger a minha identidade, mesmo que eu tenha que esconder a minha poderosa magia de Pedra e Gelo quando mais preciso dela.
Para o público, eu sou Gin Blanco, proprietária do melhor restaurante de churrasco de Ashland. Para os meus amigos, sou a Aranha, assassina aposentada.
Ainda faço favores no escuro. Como livrar uma amiga vampira de seu perseguidor gigante - o valentão favorito de Mab que quase me matou com seus punhos enormes.
Pelo menos o irresistível Owen Grayson está do meu lado. O homem sabe demasiado sobre mim, mas vou correr esse risco. Então há a Detetive Bria Coolidge, uma das melhores de Ashland. Até recentemente, eu pensava que minha irmá mais nova estava morta. Ela provavelmente pensa o mesmo sobre mim. Mal ela sabe, eu sou uma assassina de sangue frio... que está prestes a salvar a vida dela.

 

 

1

Os bastardos nunca sequer teriam chegado perto de mim se eu não tivesse a gripe.

Tossindo, espirrando, sofrendo, arquejando. Essa era eu. Gin Blanco. Proprietária de
restaurante. Elemental de Gelo e Pedra. Ex-assassina. E completa fodona. Derrubada por um
micróbio.

Tinha começado como uma pequena, sinistra comichão na minha garganta há três dias. E
agora, bem, não era bonito. Olhos lacrimejantes. Rosto pálido. E um nariz tão vermelho e
brilhante que mesmo Rudolph teria ciúmes. Ugh.

A única razão que eu tinha ainda me arrastado para fora da cama esta noite foi para
descer até a Faculdade Comunitária de Ashland e tomar o final da aula de literatura clássica
que estava frequentando. Eu tinha terminado meu ensaio sobre o simbolismo em A Odisséia
dez minutos atrás. Agora eu me arrastava por um dos quadriláteros gramados do campus e
febrilmente sonhava em afundar de volta em minha cama e não sair dela por uma semana.

1 Rudolph - A Rena do Nariz Vermelho: uma das renas do Papai Noel

Justo após sete em uma fria, clara noite de dezembro. Este foi o último dia de provas
finais do semestre, e o campus estava largamente deserto. Apenas algumas luzes queimavam
nas janelas dos edifícios de tijolos cobertos de kudzu que se erguiam acima da minha cabeça.
As pedras sussurravam de fórmulas, teorias e conhecimentos. Um antigo, sonoro, ligeiramente
pretensioso som que estava decididamente em desacordo com as sombras sinistras que
enegreciam a maior parte do quadrilátero. Ninguém mais estava à vista. Que é provavelmente
porque eles decidiram me emboscar aqui. Bem, isso e o fato de que me sequestrar seria tal
incômodo.

Um segundo eu tinha o meu rosto enterrado em um tecido assoando meu sensível,
gotejante nariz pela centésima vez hoje. O seguinte, olhei para cima para me encontrar rodeada
por três gigantes.

Oh, porra.

Parei, e eles imediatamente fecharam fileiras, formando um triângulo solto de problemas
à minha volta. Os gigantes estavam todos em torno de 2,10 metros de altura, com olhos de
besouro, de tamanho desproporcional, e punhos quase tão grandes quanto a minha cabeça. Um
deles sorriu para mim e estalou os dedos. Alguém estava ansioso para ir direto ao assunto de
me bater.

Meus olhos cinza se jogaram para o líder do grupo, que tinha tomado uma posição à
minha frente - Elliot Slater. Slater era o mais alto dos três gigantes, sua figura enorme fazendo
até mesmo seus lacaios parecerem pequenos em comparação. Ele era quase tão largo quanto
era alto, com uma estrutura sólida, musculosa. Granito seria mais fácil de quebrar do que suas
costelas. A compleixão de Slater era pálida, na fronteira com albino, e quase parecia brilhar à
luz fraca. Seus olhos cor de avelã davam um pouco de cor a sua pele esbranquiçada, embora
sua fina, desgrenhada cobertura de cabelos loiros fizesse pouco para cobrir seu largo crânio.
Um diamante em seu anel no dedinho cintilava como uma estrela na noite escura.

Até minha aposentadoria há alguns meses atrás, eu tinha trabalhado à noite como uma
assassina conhecida como a Aranha. Ao longo dos anos, tive uma abundância de negociações

no lado sombrio da vida, então eu conhecia Slater de vista e reputação. No papel, Elliot Slater
era um consultor de segurança altamente respeitado com seu próprio pelotão de guarda-costas
gigantes. Na realidade, Slater era o executor número um para Mab Monroe, a elemental de
Fogo que mandava nas metrópoles do Sul de Ashland como se fossem seu próprio feudo
pessoal. Slater entrava em cena e ou terminava, cuidava, ou permanentemente descartava
quaisquer problemas irritantes que Mab não se sentia a fim de lidar ela mesma.

E esta noite parecia que o problema era eu.

Não é de estranhar. Um par de semanas atrás, eu tinha matado alguém durante uma
festa na mansão de Mab Monroe. Desnecessário dizer que a elemental de Fogo não tinha ficado
muito empolgada com um de seus convidados sendo assassinado na sua própria casa quando
ela havia estado entretendo algumas centenas de seus mais próximos associados de negócio. Eu
tinha conseguido escapar disso até agora, mas sabia que Mab estava fazendo tudo ao seu
alcance para encontrar o assassino. Para me encontrar.

Funguei no meu tecido. Perguntei-me se Mab tinha descoberto quem eu realmente era.
Se era por isso que Slater estava aqui hoje à noite…

Elliot Slater olhou sobre seu ombro amplo. ? Esta é ela?

Slater deslizou para um lado para que outro homem, um humano muito menor, pudesse
se juntar ao círculo de gigantes me cercando. Debaixo de seu clássico casaco, o homem vestia
um terno preto perfeito, e seus polidos sapatos escoceses brilhavam como tinta molhada na
penumbra. Sua espessa juba de cabelo cinza metálico parecia um pesado manto de prata que
tinha de alguma forma sido curvado e esculpido em torno de sua cabeça. Muito ruim que ódio
fazia seus olhos castanhos parecerem blocos congelados de sangue em seu liso e apertado
rosto.

Reconheci-o também. Jonah McAllister. No papel, McAllister era o principal procurador
da cidade, um charmoso, belicoso advogado de defesa capaz de tirar o assassino mais cruel
impune - pelo preço certo. Na realidade, o procurador escorregadio era outro dos capangas

principais de Mab Monroe, assim como Elliot Slater era. Jonah McAllister era advogado pessoal
de Mab, responsável por enterrar seus inimigos em burocracia legal em vez de no chão como
Slater fazia.

O filho de McAllister, Jake, era quem eu tinha assassinado na festa de Mab. O garoto de
fraternidade corpulento, de vinte e poucos anos tinha ameaçado me violentar e assassinar,
entre outras coisas. Eu havia considerado matá-lo extermínio de pragas mais do que qualquer
outra coisa.

Elliot Slater e Jonah McAllister lutando juntos

2

contra mim. Esta noite apenas continuava
ficando melhor e melhor. Funguei novamente. Realmente deveria ter ficado em casa na cama.

Jonah McAllister me fitou com olhos frios. ? Oh, sim. Essa é ela. A amável Srta. Gin
Blanco. A vadia estava dando ao meu garoto um momento difícil.

Um momento difícil? Eu suponho que sim, se você pensasse que entregá-lo à polícia por
tentativa de assalto, quebrar um prato cheio de comida em seu rosto, e finalmente esfaquear
Jake McAllister até a morte fosse um momento difícil. Mas notei que Jonah McAllister não
disse nada sobre eu realmente matar seu filho. Hmm. Parecia que era algum tipo de expedição
de pesca. Decidi jogar junto - por agora.

? Sobre o que é todo este encontro? ? Minha voz saiu em algum lugar entre um arquejo

choroso e um som de raspagem mucoso. ? Você está assumindo o mau hábito de Jake de
agredir pessoas inocentes?

O rosto de Jonah McAllister endureceu ao meu insulto. Tanto quanto poderia, de
qualquer maneira. Apesar dos seus sessenta e alguns anos, os traços de McAllister eram tão
lisos quanto mármore polido, graças a um esquema vigoroso de caros tratamentos faciais de

2 Tag-teaming, no original – “tag team” é usado para designar um par de lutadores que participam

alternadamente num combate, e “tag-teaming” ou “tag” é usado para descrever o ato de trocar de posição com
o colega.

elementais de Ar. ? Eu iria dificilmente considerá-la inocente, Srta. Blanco. E você é quem
agrediu meu precioso garoto primeiro.

? Seu precioso garoto entrou em meu restaurante, tentou me roubar, e quase matou dois

dos meus clientes com a sua magia de Fogo elemental. ? Eu cuspi as palavras, juntamente
com algum muco. ? Tudo o que fiz foi me defender. O que isso importa agora, afinal? Seu
garoto está morto por causa de algum problema cardíaco estranho. Pelo menos, é o que estava
no jornal.

Jonah McAllister me encarou, tentando ver se eu sabia mais do que estava divulgando
sobre a morte prematura de seu filho. Usei o intervalo para assoar o nariz - de novo. Fodidos
micróbios.

A boca de McAllister se torceu com desgosto a visão e o som das minhas fungadas.
Admitidamente, não era meu momento mais atraente. Ele sacudiu a cabeça para Elliot Slater,
que acenou de volta.

? Agora, Srta. Blanco, ? Slater falou lentamente. ? A razão para este encontro é que o

Sr. McAllister pensou que você poderia ter alguma informação sobre a morte de seu filho. Jake
tinha um pouco de um problema cardíaco, mas também havia algumas circunstâncias
suspeitas cercando sua morte. Aconteceu um par de semanas atrás.

Circunstâncias suspeitas? Assumi que isso era conversa educada para uma ferida
borbulhante de facada no peito. Mas mantive meu rosto em branco e ignorante.

? Por que eu saberia algo sobre a morte de Jake? ? Perguntei. ? A última vez que vi o

pequeno punk foi o dia que ele levou seu velho lá embaixo ao Pork Pit para me ameaçar para
retirar as acusações contra ele.

Mentiras, é claro. Eu tinha topado com Jake McAllister mais uma vez depois disso - na
festa de Mab Monroe. Mesmo que eu estivesse enfeitada como uma prostituta, ele ainda tinha
me reconhecido. Desde que estava lá para matar alguém mais, eu atraí o doce pequeno Jakie
para um banheiro, o esfaqueei até a morte, deixei seu corpo na banheira, e lavei o sangue do

meu vestido antes de voltar para a festa. Nada que não tivesse feito centenas de vezes antes
como a assassina Aranha. Eu certamente não tinha perdido o sono por isso.

Mas neste momento, parecia que eu poderia perder muito mais.

? Veja, esse é o problema. Meu bom amigo Jonah não acredita em você. Então ele pediu

para mim e alguns dos meus garotos virmos aqui e ver se talvez poderíamos ativar algo da sua
memória. ? Slater sorriu. Seus lábios recuaram, dando-me um vislumbre de suas pálidas
gengivas rosadas. O sorriso largo do gigante me lembrou da goela escancarada de uma
lanterna de abóbora - completamente oco. ? Nós vamos fazer esses tipos de visitas a qualquer
um com quem Jake poderia ter tido um problema. E seu nome estava no topo da lista.

Claro que estava. Eu era provavelmente a única pessoa em Ashland que tinha alguma vez
ousado enfrentar Jake McAllister. Agora seu papai ia me fazer pagar por isso.

Slater tirou seu paletó, entregou para Jonah McAllister, e começou a arregaçar as mangas
da camisa.

Eu funguei, assoei o nariz novamente, e considerei a situação. Chances de quatro-para-um
nunca eram ótimas, principalmente porque três dos quatro homens eram gigantes. Os
capangas enormes poderiam ser difíceis de derrubar, mesmo para um ex-assassino como eu.
Nenhum dos gigantes mostrou quaisquer habilidades elementais óbvias, como deixar chamas
cintilarem em seus punhos cerrados ou formar adagas de Gelo com as mãos nuas. Mas isso não
significava que eles não tinham mágica. O que iria torná-los duplamente difíceis de se livrar.

Entretanto, se eu não tivesse a gripe, poderia ter considerado matá-los - ou pelo menos
cortar um par para que eu pudesse fugir. Apesar de ter me arrastado para fora da cama esta
noite, eu tinha agarrado minhas facas silverstone no caminho para fora da porta. Cinco delas.
Duas enfiadas nas mangas. Uma aninhada na parte baixa das minhas costas. Mais duas nas
laterais das minhas botas. Nunca saía de casa sem elas.

Claro, sendo eu mesma uma elemental, eu realmente não precisava de minhas facas para
matar. Eu poderia apenas usar minha magia para derrubar os gigantes. Meu poder de Pedra era

tão forte que podia fazer praticamente qualquer coisa que quisesse com o elemento. Como
fazer tijolos voarem para fora da parede de um dos prédios ao redor e usá-los para atingir os
gigantes em suas cabeças do tamanho de um melão. Splat, splat, splat . Seria mais fácil do que
usando uma Uzi. Inferno, se eu realmente quisesse me exibir, poderia simplesmente
desmoronar todos os quatro dos prédios que cercavam o quadrilátero em cima deles.

Eu também era um dos raros elementais que podiam controlar mais do que um
elemento. Pedra e Gelo, no meu caso. Até recentemente, minha magia de Gelo tinha sido
muito mais fraca do que meu poder de Pedra. Mas graças a uma série de eventos traumáticos,
eu podia fazer muito mais com ela agora. Como criar uma parede de facas de Gelo para
arremessar nos homens. Eu tinha cortado através da pele de um anão fazendo exatamente isso.
Gigantes não eram tão resistentes quanto anões, pelo menos quando se tratava de cortá-los.
Mesmo que eles tivessem mais sangue para ceder do que seus compatriotas mais baixos.

Mas as chances ou como proceder para matar os gigantes não era o que estava me
segurando. Não realmente. Eram as conseqüências; o que iria acontecer depois, quando sua
chefe, Mab Monroe, se envolvesse.

Dezessete anos atrás, Mab Monroe tinha usado sua magia elemental de Fogo para matar
minha mãe e irmã mais velha, um fato que eu só tinha aprendido recentemente. Ela também
tinha me torturado, usando sua magia para superaquecer e queimar um medalhão de runa de
aranha em minhas palmas. Eu estava planejando lidar com Mab eu mesma depois de descobrir
algumas coisas, como por que ela tinha assassinado a minha família em primeiro lugar e onde
minha irmã mais nova há muito tempo perdida, Bria, estava agora.

Cuidar de Jonah McAllister e do resto de sua ajuda contratada esta noite iria
definitivamente me revelar e atrair ainda mais atenção de Mab na minha direção. Eu não
queria que Mab e seus lacaios percebessem que eu tinha alguma magia elementar.
Suspeitassem que era algo mais do que a simples proprietária de restaurante que Jonah
McAllister queria morta por tagarelar sobre seu filho para a polícia. Pelo menos, não antes de
eu matá-la pelo que ela tinha feito para mim.

Tudo isso me deixava com apenas uma opção esta noite - eu ia ter que deixar os gigantes
me machucarem, me baterem. Essa era a única forma de poder manter minha identidade de
disfarce como Gin Blanco segura, junto com quem eu realmente era, Genevieve Snow.

Porra. Aquilo ia doer.

Elliot Slater terminou de arregaçar as mangas. ? Tem certeza de que não têm nada para
nos dizer, Srta. Blanco?

Suspirei e balancei a cabeça. ? Eu te disse antes. Não sei nada sobre a morte de Jake
McAllister, exceto o que li no jornal.

? Lamento ouvir isso, ? Slater murmurou.

O gigante deu um passo à frente e flexionou os dedos, pronto para começar com as
coisas. Hora de eu fingir um pequeno show. Arregalei meus olhos, como se tivesse acabado de
afundar no meu cérebro apodrecido da gripe o que Elliot Slater estava planejando fazer
comigo. Deixei escapar um grito mucoso e virei para correr, como se tivesse esquecido tudo
sobre os dois gigantes em pé atrás de mim. Corri direto para eles, é claro, e eles estenderam a
mão para mim. Mesmo que eu não tivesse a real intenção de tentar me libertar, ainda lutei para
manter as aparências. Gritando, me debatendo, chutando para fora com minhas pernas.

Enquanto lutava com os maiores, mais pesados homens, consegui discretamente deslizar
as duas facas silverstone que eu tinha nas minhas mangas para os bolsos do meu casaco. Eu
não queria que os gigantes sentissem as armas quando finalmente me agarrassem. A maioria
das mulheres inocentes não saía por aí usando cinco facas sobre elas, e eu estar tão fortemente
armada seria o último prego no meu caixão tanto quanto Jonah McAllister estava preocupado
sobre meu envolvimento na morte de seu filho.

Os dois gigantes riram de mim e dos meus fracos, exagerados golpes. Depois de um
minuto de luta, eles prenderam meus braços e me viraram para enfrentar Elliot Slater mais
uma vez.

E foi aí que a diversão realmente começou.

Slater levantou a mão e bateu seu punho no meu rosto. O bastardo era rápido, eu daria
isso a ele. Eu não tinha me preparado para o golpe, e recuei nos braços dos gigantes. A força
quase me arrancou do aperto deles. Dor explodiu como dinamite na minha mandíbula.

Mas Slater não parou por aí. Ele passou os próximos dois minutos batendo em mim. Um
soco quebrou meu nariz gotejante. Outro rachou duas das minhas costelas. E eu não queria
nem pensar na hemorragia interna ou em como meu rosto parecia neste ponto. Baque, baque,
baque. Eu poderia muito bem ter sido um pedaço de carne que o gigante estava amaciando
para o jantar. Cada parte de mim doía e queimava e latejava e pulsava com dor.

E ele ria o tempo todo. Baixos, suaves, abafados risos que faziam minha pele se arrepiar.
Elliot Slater apreciava ferir pessoas. Realmente apreciava. Sua ereção inchava contra o zíper de
suas calças pretas.

Slater me atingiu de novo e recuou. Neste ponto, eu pendia flácida entre os dois gigantes,
toda a pretensão de ser firme e forte sumida há muito tempo. Eu só queria que isto acabasse
logo.

Uma mão agarrou meu queixo e forçou meu rosto para cima. Olhei fixamente nos olhos
cor de avelã de Slater. Pelo menos, tentei. Estrelas brancas continuavam explodindo mais e
mais em meu campo de visão, tornando difícil me concentrar. O show de luzes era melhor do
que fogos de artifício no Quarto de Julho.

? Agora, ? Elliot retumbou. ? Você quer reconsiderar o que você sabe sobre a morte de

Jake McAllister? Talvez você tenha algo novo para acrescentar?

? Eu não sei nada sobre a morte de Jake, ? Murmurei através de um bocado de dentes

soltos. Sangue jorrou dos meus lábios rachados e caiu em cascata no meu casaco de lã azul
marinho. ? Juro. ? Eu fiz minha voz tão baixa, fraca, e derrotada quanto poderia.

Jonah McAllister adiantou-se e me examinou. Alegria maliciosa brilhava no seu olhar
castanho. ? Continue batendo nela. Eu quero que a vadia sofra.

Elliot Slater assentiu e recuou.

O gigante passou mais dois minutos me batendo. Mais dor, mais sangue, mais costelas
quebradas. Enquanto eu vomitava outro bocado de sangue acobreado, me dei conta de que
Slater poderia apenas me espancar até a morte, aqui mesmo no meio do quadrilátero do
campus. Jonah McAllister certamente não teria qualquer objeção a isso. Droga. Parecia que eu
ia ter que ir para minhas facas, explodi-las com minha magia elemental, e estragar o meu
disfarce afinal, se ainda tivesse a força para fazer isso…

? Basta.

Uma voz baixa flutuou de algum lugar mais profundo nas sombras. Um som suave,
sussurrante que me lembrou de pedaços de seda se roçando. Eu conhecia esse tom, essa
cadência abafada, sabia exatamente a quem ele pertencia. Assim como minha psique interior.
Inimigo, inimigo, inimigo , uma pequena voz murmurou na parte de trás da minha cabeça. Um
desejo estranho, primitivo, elemental inundou meu corpo, o desejo de usar a minha magia de
Pedra e de Gelo para atingir e matar quem e o que quer que estivesse dentro da distância de
ataque.

Elliot Slater ignorou o comando e me acertou de novo, acrescentando à dor que
atormentava o meu corpo.

? Eu disse basta. ? A voz caiu para um assobio baixo que crepitava com poder, ameaça, e

promessa de morte.

Elliot congelou, sua mão puxada para trás a meio caminho para me acertar de novo.

? Deixe-a ir. Agora.

Os dois gigantes que tinham tido suas mãos presas em volta dos meus braços me
soltaram como se eu tivesse a peste. Eu estava deitada no chão, meu sangue ensopando a
grama gelada. Apesar da dor, consegui rolar sobre o meu lado. Também deslizei uma das
minhas facas silverstone para fora do bolso do meu casaco e a segurei. A arma era fria e
reconfortante contra a cicatriz grossa embutida em minha palma.

Algo farfalhou, e Mab Monroe saiu das sombras à minha esquerda.

A elemental de Fogo usava um longo casaco de lã feito em um escuro verde floresta. Seu
cabelo vermelho brilhava como cobre polido, mas seus olhos eram ainda mais negros do que o
céu noturno. Um pedaço de ouro brilhou em torno de sua garganta pálida entre as dobras do
seu casaco caro.

Eu não conseguia ver muito bem, dadas as estrelas ainda explodindo na minha visão, mas
sabia o que o flash de ouro era. Mab Monroe nunca ia a lugar algum sem usar sua assinatura
de colar de runa. Um rubi grande e circular cercado por várias dúzias de raios ondulados. De
avistamentos anteriores, eu sabia que o diamante intrincado cortado sobre o ouro iria pegar a
luz escassa e fazer parecer que os raios estavam realmente piscando. Ou talvez a minha visão
estivesse assim tão ferrada no momento.

Ainda assim, eu sabia o que era a runa. Uma explosão solar. O símbolo do fogo. Runa
pessoal de Mab Monroe, usada por ela exclusivamente.

Com a visão, as cicatrizes de silverstone em minhas próprias palmas começam a formigar
e queimar. Mab não era a única aqui com uma runa. Eu tinha uma também. Um pequeno
círculo rodeado por oito raios finos. Uma runa de aranha. O símbolo da paciência. A runa havia
sido uma vez um medalhão que eu usava em uma corrente em volta do meu pescoço, até que
Mab tinha usado sua magia elemental de Fogo para superaquecer e queimar o metal
silverstone em minhas mãos como se fosse uma marca de gado. É assim que ela tinha me
torturado na noite que assassinou minha família. Eu estava ansiosa para retornar o favor -
algum dia em breve.

Inimigo, inimigo, inimigo ; a pequena voz na parte de trás da minha cabeça continuava
seu coro murmurado.

Mab Monroe se aproximou e ficou ao lado de Elliot Slater e Jonah McAllister. Ela olhou
de relance para mim com todo o interesse que ela poderia dar uma barata antes de esmagá-la
sob a ponta da sua bota. Seus olhos escuros absorviam a luz disponível, do modo como um
buraco negro poderia. Eu deitei muito, muito parada e tentei parecer que estava um mero
centímetro de distância da morte. Não muito um exagero hoje à noite.

? Eu disse basta, Jonah, ? Mab disse. ? Ou você se esqueceu que você e Elliot trabalham

para mim?

Depois de um momento, Elliot Slater recuou e curvou a cabeça em deferência. Os outros
dois gigantes fizeram o mesmo. Mas Jonah McAllister estava furioso demais para prestar
atenção a borda dura no tom sussurrante de Mab.

? Esta vadia criou problemas para meu filho, e acho que ela sabe algo sobre sua morte,
? McAllister latiu. ? Eu quero que ela pague por isso. Eu quero que ela morra por isso.

Mab baixou os olhos para mim novamente. ? Você está deixando suas emoções
nublarem seu julgamento, Jonah. Ignorando os fatos. É muito inconveniente.

? E o que esses fatos seriam? ? McAllister exigiu.

? Essa Srta. Blanco é apenas uma mulher, uma mera, fraca mulher sem nenhuma magia

elemental ou outras forças ou habilidades notáveis. Caso contrário, tenho certeza que ela teria
usado tudo à sua disposição para evitar ser tão cruelmente espancada hoje à noite. Ela não é a
pessoa que você está procurando, Jonah. Mais importante, ela não é a mulher que eu estou
procurando.

Os olhos castanhos de McAllister brilharam. ? Você e sua obsessão com aquela prostituta
loira. Por que você não pode aceitar o fato de que ela está morta? Enterrada em algum lugar
naquela mina de carvão, assim como Tobias Dawson e seus dois homens?

Os olhos de Mab ficaram ainda mais negros. Ela alcançou sua magia elemental de Fogo,
segurando o poder perto dela como ela poderia fazer com um amante. Como uma elemental
eu mesma, eu podia sentir a sua magia, especialmente desde que ela estava conscientemente
abraçando-a. Da mesma maneira que Mab poderia ser capaz de perceber a minha magia de
Pedra e Gelo, se eu fosse estúpida o suficiente para realmente alcançar algo dela.

Claro, eu teria sentido a magia de Mab de qualquer maneira, já que ela era um dos
elementais que constantemente emitiam ondas de poder. A elemental de Fogo literalmente
vazava magia, da forma que a água iria gotejar de uma torneira. Ao contrário de mim.
Enquanto não recorresse a minha própria força elemental, não a usasse de alguma forma
ofensiva, os outros não conseguiam sentir meu poder. Um traço que tinha me salvado mais de
uma vez ao longo dos anos.

A magia de Mab picou minha pele como agulhas quentes, invisíveis, adicionando à
minha miséria, mas fiquei parada, sem dar nenhuma indicação de que podia senti-la - ou que
sabia sobre o que eles estavam falando.

? Duvido que aquela prostituta era uma prostituta de verdade, e eles nunca encontraram

seu corpo nos escombros da mina desabada, ? Mab respondeu com uma voz fria. ? Até que eu
veja seu corpo, ela não está morta. Eu vou encontrá-la, Jonah, e depois nós dois poderemos ter a
nossa vingança. Ela matou Dawson, e ela é quem matou seu filho. Não Srta. Blanco.

Eles estavam conversando sobre a noite da festa de Mab, quando eu tinha me vestido
como uma prostituta para chegar perto de Tobias Dawson, um proprietário de mina
ganancioso que estava ameaçando algumas pessoas inocentes. Dawson era quem deveria matar
naquela noite, mas Jake McAllister tinha me visto antes que eu tivesse uma chance de fazer o
golpe. Mab tinha me apanhado no banheiro poucos minutos depois de ter esfaqueado Jake até
a morte. Evidentemente, a elemental de Fogo tinha somado dois e dois e percebido que eu
tinha matado Jake, então feito o mesmo com Tobias Dawson mais tarde em sua própria mina.
Não é bom.

? Concordei com este pequeno teste com o entendimento de que a Srta. Blanco iria

sobreviver a ele, que ela deveria provar ser inocente do assassinato de seu filho, ? Mab
continuou. ? Ela fez isso, pelo menos, para minha satisfação. Ninguém iria voluntariamente se
deixar ser espancado do jeito que ela foi.

Então Mab não compreendia o conceito de auto-sacrifício. Não é de estranhar. Eu poderia
ter rido, se não estivesse tão ferida. Ainda, eu estava duplamente contente que tinha deixado
Elliot Slater me acertar. Caso contrário, estaria morta agora, emboscada nos bastidores por Mab
e sua magia elemental de Fogo.

? Quem se importa se a vadia vive ou morre? ? Jonah McAllister zombou. ? Ela não é

ninguém.

? Isso pode ser verdade, mas infelizmente, Sra. Blanco não deixa de ter amigos, ?

respondeu Mab. ? Mais notadamente as irmãs Deveraux.

? Eu não me importo com essas duas anãs, ? Jonah estalou. ? Você poderia facilmente

matar as duas.

Mab deu um delicado encolher de seus ombros. ? Talvez. Mas Jo-Jo Deveraux é bastante
popular. Poderia ser divertido, mas matá-la não me iria ganhar nenhum favor. Além disso,
tenho outras preocupações no momento, mais notadamente Coolidge.

Minha mente confusa se agarrou ao nome desconhecido. Coolidge? Quem era Coolidge?
E o que ele tinha feito para irritar Mab Monroe?

? Você teve sua diversão, Jonah. Encare isso, a Srta. Blanco não é quem matou Jake. E ela

sofreu bastante esta noite por qualquer que tenha sido o insulto que ela lançou sobre ele
anteriormente. Agora, você vai vir calmamente para que possamos falar de negócios? Ou devo
começar a procurar um novo procurador? ? Malícia pingava da voz de Mab como chuva ácida.

Jonah McAllister finalmente percebeu que não ia ganhar esta. E que se continuasse a
discutir com sua chefe, era provável que ela usasse sua magia de Fogo para fritá-lo onde ele

estava. Então o advogado apertou os lábios e acenou com a cabeça, concordando com os desejos
de sua chefe. Pelo menos por esta noite.

Então o bastardo de cabelos prateados se virou e me chutou no estômago tão duro quanto
podia.

O golpe não era inteiramente inesperado, mas ainda me fez vomitar ainda mais sangue.
Algo quente e duro torceu no meu estômago. Eu precisava chegar a Jo-Jo Deveraux em breve
para a anã elemental do Ar poder me curar. Caso contrário, eu não estaria respirando muito
mais tempo.

? Ótimo. Vamos passar para a próxima pessoa, então. ? Jonah McAllister inclinou-se e
agarrou meu rabo de cavalo castanho, puxando meu rosto para o dele. ? Você conversa com os
policiais sobre isso, vadia, e você vai morrer. Entendeu?

Policiais? Oh, eu não tinha intenção de ir aos policiais. Não mesmo. Eu ia lidar com este
assunto todo sozinha. Mas para manter o ato, deixei escapar um gemido baixo e assenti com a
cabeça. Satisfeito que eu estava devidamente intimidada desta vez, McAllister deixou pra lá. Caí
pesadamente de volta no chão.

? Vamos sair daqui, ? O advogado rosnou. ? A vadia pingou sangue por todo o meu

casaco.

Jonah McAllister pisou sobre o meu corpo de bruços e desapareceu na escuridão. Elliot
Slater e os outros dois gigantes o seguiram. Mas Mab Monroe ficou onde estava e me estudou
com seu olhar escuro. Seu poder tomou conta de mim novamente, as agulhas de fogo,
invisíveis picando minha pele sangrenta. Mordi de volta outro gemido.

? Eu espero que você tenha aprendido sua lição desta vez, Srta. Blanco, ? Mab disse com

uma voz agradável. ? Porque Jonah está certo. Da próxima vez que você cruzar com um de nós
- qualquer um de nós - você vai morrer. E prometo a você que será muito mais excruciante do
que aquilo que você já experimentou aqui esta noite.

Um bocado do fogo negro brilhou em seus olhos, apoiando sua promessa mortal. Mab
Monroe sorriu para mim por mais um instante, então girou nos saltos de sua bota e
desapareceu na noite fria.

2

Depois que Mab partiu, devo ter desmaiado de dor. Porque a próxima coisa que sabia, um
par de surradas botas pretas estava plantado no chão à minha frente. Se elas pertenciam a um
amigo ou inimigo, bem, eu não me importava muito no momento. Só fiquei deitada lá,
espancada, sangrando, e machucada demais para me mover. As frias lâminas de grama
cavavam minha bochecha latejando como pingentes de gelo em miniatura. O arrepio gélido se
sentia bem contra minha pele febril.

Um walkie-talkie guinchou acima da minha cabeça, e alguém começou a falar. Levei um
momento para me concentrar nas palavras recortadas.

? ... um corpo no quadrilátero sudoeste entre os prédios de Inglês e de história...

Um corpo? Ele não percebia que eu não estava morta ainda? Ele provavelmente não tinha
nem mesmo verificado o pulso. Provavelmente não queria me tocar, dado todo o sangue. Não
poderia culpá-lo por isso. Além disso, este quadrilátero estava perto de Southtown, a parte de
Ashland onde os vagabundos sem-teto, drogados, prostitutas vampiras, e outros tipos rudes

viviam. O meu não teria sido o primeiro corpo a sangrar no campus da faculdade comunitária.
Ainda assim, se sentisse vontade disso, teria revirado os olhos. Eu não estava morta-morta.
Apenas na metade do caminho.

Estiquei meu pescoço para que eu pudesse ver meu aspirante a salvador. Um dos guardas
da faculdade comunitária estava acima de mim, um walkie-talkie preto preso ao ombro como
se ele fosse um oficial de verdade. Ele soltou um botão vermelho no dispositivo, e outro
guincho soou. Não consegui decifrar as primeiras poucas palavras imperceptíveis, mas peguei a
essência da conversa.

? ... policiais a caminho...

Jonah McAllister tinha me avisado para não chamar a polícia, e estive planejando seguir
seus desejos. Não porque tivesse medo do advogado e do que ele poderia fazer comigo, mas
porque tinha a intenção de cuidar de McAllister eu mesma - sem ajuda e sem interferência
externa. Mas parecia que os policiais estavam vindo quer eu os quisesse ou não. Nada que eu
pudesse fazer sobre isso agora.

Então abaixei minha cabeça de volta na grama e fechei os olhos. Eu já parecia adequada
para o papel. Poderia muito bem me fingir de morta e descansar até que os policiais chegassem
aqui.

Não estava certa de quanto tempo tinha ficado ali deitada no chão, entrando e saindo da
consciência, mas as luzes me puxaram para fora da escuridão suave onde eu estava nadando.
Luzes vermelhas e azuis giravam e giravam muito acima da minha cabeça. Apertei os olhos
para o brilho intenso. Alguém tinha estacionado um SUV escuro na grama a alguns metros de
distância de mim. As portas do veículo se abriram e dois pares de botas atingiram o chão. Um
conjunto definitivamente pertencia a um homem, um gigante a julgar pelo tamanho. Os
sapatos eram quase tão longos quanto meu braço. O outro par de botas era decididamente
feminino, menor e inteligentemente cortado com um salto baixo, sensato.

As botas esmagaram a grama gelada e se dirigiram em minha direção, juntando-se as do
guarda de segurança. Tive a sensação que os três estavam me encarando.

? É assim que você a encontrou? Só deitada aí assim? ? A mulher falou com uma voz

que era tão leve e alta e delicada quanto um conjunto de sinos de vento. Teria sido um som
puro, adorável se não fosse a resignação fria, monótona em seu tom. O meu não era o primeiro
corpo que ela tinha visto. Talvez nem sequer o primeiro hoje.

? Sim, senhora, ? Respondeu o guarda de segurança. ? Eu estava fazendo minhas
rondas habituais e chamei vocês caras imediatamente.

Bem, agora que eu tinha uma plateia adequada, era hora de Gin Blanco voltar dos mortos,
por assim dizer. Puxei uma respiração e rolei de costas. A onda de dor maçante onde estive
navegando cresceu em uma onda gigantesca que ameaçou me afogar. Um gemido baixo
escapou dos meus lábios e explosões estelares brancas encheram minha visão novamente.

Silêncio.

? Seu idiota! Ela não está morta. Você não verificou seu pulso antes de nos chamar? ? A

mulher estalou. ? Chame os paramédicos, Xavier. Agora mesmo antes que ela sangre até a
morte.

Xavier? Eu o conhecia. Ele era o gigante que trabalhava como segurança em uma boate
chamada Agressão do Norte. Xavier também trabalhava a noite para a força policial de
Ashland de vez em quando. Ele não era o que eu chamaria de um amigo próximo, mas
provavelmente me ajudaria se eu pedisse bem o suficiente. E escorregasse algum dinheiro mais
tarde. Notas de cem iriam comprar todos os amigos que você quisesse em Ashland.

Quando tinha empurrado a dor para baixo até um nível suportável, abri meus olhos. As
luzes de polícia rodopiantes no SUV tornavam difícil ver as três figuras, mas ainda reconheci o
gigante. Com cerca 2,1 metros de altura, Xavier era difícil de perder com sua cabeça raspada e
pele e olhos cor de azeviche.

? Xavier? ? Eu balbuciei, tentando mover minha mandíbula quebrada tão pouco quanto

possível.

Mais silêncio.

Então as três figuras se viraram para me encarar mais uma vez. Provavelmente chocados
que eu pudesse formar uma frase coerente, muito menos realmente falar, dada a forma como o
meu rosto parecia neste momento.

? Você a conhece, Xavier? ? A mulher perguntou.

Um largo joelho achatou a grama ao meu lado, e uma sombra caiu sobre meu rosto,
bloqueando as luzes brilhantes. Olhei nos olhos escuros de Xavier. O olhar do gigante se agitou
sobre meus traços, tentando ver através do sangue, hematomas e inchaço. Finalmente, a
compreensão preencheu seu rosto.

? Gin? ? Ele perguntou.

? Em pessoa. ? Balbuciei.

? Você a conhece? ? A mulher perguntou de novo.

Xavier acenou com a cabeça enorme. ? Yeah, eu a conheço. Seu nome é Gin Blanco. Ela
é dona do Pork Pit. É uma churrascaria alguns quarteirões de distância. Nossa, Gin, eles
realmente machucaram você, não é?

? Você está falando com ela como se ela pudesse realmente entendê-lo, ? Disse a

mulher em algum lugar acima da minha cabeça.

? Isso é porque ela pode, detetive, ? Xavier respondeu. ? Gin é a moça mais resistente

que conheço. Leva uma surra e continua passando 3, assim como um Timex. Isso não está certo,
Gin?

? Certo, ? Resmunguei. ? Agora, me faça um favor.

? Nomeie-o.

? Chame Finn.

Xavier assentiu, tirou seu celular do suporte no seu cinto e abriu o dispositivo. ? Qual é o
seu número?

Forcei os números para fora, que Xavier perfurou em seu telefone.

Alguns segundos depois, o gigante sorriu. ? Meu homem, Finn. É Xavier. Ouça, preciso
falar com você sobre Gin...

Deixei-me flutuar enquanto Xavier explicava a situação a Finnegan Lane. Depois de uma
breve conversa, Xavier estalou seu telefone fechado.

? O homem está a caminho. Deve estar aqui em cerca de cinco minutos. Ele disse para

lhe dizer que está chamando Jo-Jo agora, o que quer que isso signifique.

Eu assenti. Jo-Jo era Jo-Jo Deveraux, a anã elemental do Ar que sempre me curava
quando eu entrava em uma dura situação crítica. Como a de hoje à noite.

? Bom, ? resmunguei. ? Agora, me ajudar a sentar. Por favor.

? Você realmente não deveria movê-la... ? A detetive começou.

3 Timex é uma marca de relógio, e o slogan é “It takes a licking and keeps on ticking”, que quer dizer

mais ou menos o que o Xavier fala.

Tarde demais. Envolvi minha mão em torno do antebraço enorme de Xavier, e o gigante
facilitou-me em uma posição sentada. Levei alguns momentos para recuperar o fôlego e piscar
as manchas brancas para fora da minha visão. Uma vez que fiz, percebi que eu era o centro das
atenções. Enquanto estive inconsciente, alguém tinha amarrado fita amarela de cena do crime
ao redor do local onde eu estive deitada. Uma pequena multidão de estudantes de fim de noite
tinha se reunido em torno da fita como abutres migrando até um cadáver fresco. Vários deles
tinham seus celulares para fora, tirando fotos do meu rosto espancado para postar nos sites de
fofocas locais do campus.

Apertei os olhos contra a claridade intensa, tentando ver se eu reconhecia alguém. Avistei
um par de alunos da minha aula de literatura clássica, mas foi isso. Dificilmente valia o esforço
de se sentar. A dor tomou conta de mim novamente, e eu teria desabado com a força dela se
Xavier não estivesse me escorando. Agora mesmo, tudo o que eu queria fazer era deitar em um
colchão macio em algum lugar, choramingar, e tramar a minha vingança contra Mab Monroe,
Elliot Slater, e mais especialmente Jonah McAllister. Porque os três iam morrer. Pela minha
mão. Mais cedo, em vez de mais tarde.

? Xavier, coloque-a de volta para baixo, ? A detetive estalou. ? Ela precisa de atenção

médica. Imediatamente.

Meus olhos se agitaram para cima, mas tudo que pude ver da policial era seu casaco azul
marinho, seu comprido cabelo loiro emaranhado, e os três pequenos aneis que ela usava em
seu dedo indicador esquerdo, que davam tapinhas em um padrão rápido em sua coxa. Eu teria
inclinado minha cabeça para cima para que pudesse dar uma olhada no seu rosto, se não
pensasse que o movimento me faria vomitar sangue por toda parte nas botas da detetive. Ainda
assim, apesar da minha visão limitada, algo sobre a mulher parecia familiar. De um jeito
estranho. Então novamente, da forma como meus olhos estavam jogando pingue-pongue de
um lado para o outro em suas órbitas, qualquer coisa que não girasse em seu eixo parecia
familiar.

? Você quer que ela se asfixie em seu próprio sangue? Confie em mim. Ela precisa se

sentar, ? Xavier respondeu. ? Além disso, seu amigo estará aqui em poucos minutos. Gin
pode se segurar até então. Não pode, Gin?

? Oh yeah, ? Balbuciei. ? Isso não é nada. Você deveria me ver em um dia ruim.

A detetive bufou. ? Réplica mordaz para uma mulher coberta com seu próprio sangue.

? Oh, essa sou eu, ? eu disse, encarando seus jeans. ? Mordaz até o amargo, amargo

fim.

Contra o meu lado, senti o peito largo de Xavier estremecer com o riso contido. Pelo
menos eu estava divertindo alguém esta noite.

A detetive puxou sua calça jeans e se agachou na minha frente, então estávamos ao nível
dos olhos uma com a outra. Pisquei para longe mais uma rodada de explosões estelares brancas
e tive meu primeiro bom olhar para ela.

E meu coração parou.

Cabelo loiro mel, comprido, ondulado que se curvava nas pontas. Olhos azuis-centáurea.
Pele rosada, perfeita. Uma boca cheia, exuberante. A detetive era uma mulher de tirar o fôlego.
Mas sua beleza não foi o que fez a minha áspera respiração travar na minha garganta e meu
coração se torcer no meu peito machucado. Foi o que estava na corrente de prata que ela usava
em torno do pescoço.

Uma prímula.

Uma pequena runa de silverstone em forma de uma delicada prímula repousava no oco
da garganta suave da detetive. Uma prímula. O símbolo da beleza. A mesma runa, o mesmo
colar que minha irmãzinha, Bria, tinha usado enquanto criança.

Bria.

Ela parecia exatamente a mesma que em uma foto que eu tinha dela e exatamente como
as minhas memórias de nossa mãe, Eira Snow. As únicas diferenças reais eram o brilho duro
nos olhos azuis de Bria e seus traços apertados, remotos. Ambos eram mais pronunciados em
pessoa do que tinham sido na imagem. A beleza de Bria era uma fria, guardada. Uma rainha de
Gelo elemental ganhando vida em todos os sentidos da palavra.

Por um momento, me perguntei se estava perdendo a cabeça. Se eu já estava morta, e esta
era apenas alguma espécie de sonho bizarro ou cumprimento de último desejo antes de os
poderes me enviarem a bordo para Hades. Um vislumbre breve, torturante do que eu mais
queria ver, apenas para ser levado tão rapidamente como tinha aparecido.

Aspirei uma respiração irregular e tive de cuspir outro bocado de sangue quente,
escorregadio, acobreado antes que ele me sufocasse. Não, não um sonho. Um sonho não doeria
tanto assim.

Bria, minha irmãzinha, aquela que eu pensei que estivesse morta pelos últimos dezessete
anos, aquela que pensei ter inadvertidamente matado com minha magia de Gelo e Pedra,
estava aqui, agachada à minha frente. E tudo que eu podia fazer era apenas encará-la.

Os olhos azuis de Bria encontraram os meus. Ela franziu o cenho, como se intrigada com
o deslumbramento em meu olhar. ? Senhora, entendo que você tenha um amigo a caminho.
Pessoalmente, sugiro que você espere os paramédicos chegarem aqui. Você tem algumas lesões
graves, desagradáveis. Precisa ser estabilizada antes de ir a qualquer lugar.

Eu continuei a encarando. Uma pressão se reuniu em meu peito, um punho gelado
espremendo meu coração tão apertado e duro que pensei que ele iria explodir ali e então.
Estilhaçar em um milhão de pingentes de gelo que iam empalar o que restava do meu corpo.
Uma umidade fria e estranha escorreu pelo meu rosto. Lágrimas desta vez, ao invés de sangue.
Lágrimas grandes, gordas e salgadas.

Chorando. Eu estava chorando. Eu não esperava chorar quando visse Bria novamente.
Não esperava sentir este aperto gelado, esta dor cavernosa, este anseio intenso que me fazia
querer gritar e lamentar e chorar, tudo ao mesmo tempo.

? Senhora? ? Bria perguntou novamente. ? Você pode me ouvir?

Estalei para fora do meu torpor. Agora não era o momento de estar assombrada. Agora
era o momento de pensar, reconstituir os fatos. Bria estava aqui em Ashland. Uma detetive
trabalhando para a polícia. Eu não estava em posição de falar com ela hoje à noite, em posição
de fazer nada exceto ficar de boca aberta para ela. Mas por baixo do sangue e hematomas, eu
ainda era Gin Blanco. Proprietária de restaurante. Elemental de Gelo e Pedra. Ex-assassina. E
completa fodona. Eu poderia rastrear minha irmã facilmente o bastante quando eu estivesse
bem. Quando tivesse algum tempo para processar seu reaparecimento repentino na minha vida
- e descobrir o que ia fazer sobre isso.

Molhei meus lábios rachados para dizer alguma coisa, qualquer coisa, para ela. Qualquer
coisa para mantê-la justo onde ela estava…

? Gin! Gin!

Uma voz masculina gritou meu nome. Um momento depois, Finnegan Lane pisou
debaixo da fita amarela de cena do crime e correu até mim. Finn usava seu uniforme usual de
um terno perfeitamente adaptado, impecável. Um azul marinho hoje, com uma camisa azul
pálido debaixo. Mesmo na penumbra, a cor clara iluminava ainda mais seus olhos verdes, que
sempre me faziam lembrar o vidro liso e polido de uma garrafa de refrigerante. Seu cabelo cor
de noz se curvava justo sobre o colarinho do seu paletó em um arranjo engenhoso de cachos
espessos e sensuais.

Além de ser meu melhor amigo, Finn era o filho do meu mentor, Fletcher Lane, o velho
que tinha me tirado das ruas anos atrás. Um assassino ele mesmo, Fletcher tinha me ensinado
tudo o que eu sabia sobre a minha profissão anterior. Finn era como um irmão para mim e
uma das poucas pessoas em quem confiava desde o assassinato do velho um par de meses atrás.

Embora tenha me aposentado de ser a assassina Aranha, Finn também era meu tratador de
agora, por falta de uma palavra melhor. Eu podia não estar negociando mais com o lado
sombrio da vida, mas Finn me mantinha informada de quaisquer andamentos que poderiam
me impactar - assim como seus próprios esquemas lucrativos no mundo corporativo de banco
de investimento que ele habitava.

Finnegan Lane agachou-se ao meu lado e ficou olhando fixamente para o meu rosto. Seus
olhos verdes varreram meus traços sangrentos, analisando e avaliando os danos assim como
seu pai, Fletcher, teria feito era uma vez.

? Porra, ? disse Finn. ? Pensei que você parecia ruim ontem. Você parece merda esta

noite.

? Ótimo ver você também, Finn, ? Respondi em tom seco. ? Ontem eu só tinha a gripe.

Como você pode ver, ela se transformou em algo um pouquinho mais sério.

? De fato, ? Finn murmurou. ? De fato. E você pode me contar tudo sobre isso mais

tarde. Neste momento, precisamos tirar você daqui. Xavier, se você seria tão gentil?

O gigante assentiu, colocou a mão livre sob minhas pernas, e me recolheu no ar da forma
como uma criança poderia pegar um filhote rebelde. Finn estendeu os braços, e Xavier me
passou para ele. Eles estavam sendo tão suaves e gentis quanto podiam, mas os movimentos
feriam. Dor apertou meu peito de novo, tornando difícil respirar. Sentia como se uma das
minhas costelas quebradas estivesse arranhando meus pulmões. Mais sangue também se
agrupou em minha boca, mas eu o engoli. Eu estava em agonia o suficiente já. Não queria ter
que ouvir Finn reclamar sobre eu vomitar sangue por todo o seu traje precioso também. Neste
ponto, minhas orelhas eram praticamente a única parte de mim que não queimava com a dor.

Finn se virou para a fita de cena do crime, mas Bria ficou de pé e deu um passo na frente
dele.

? Espere, ? Ela estalou. ? Ela não vai a lugar nenhum. Os paramédicos não estão aqui

ainda e ela precisa de atenção médica.

Finn fez o que sempre fazia quando confrontado por uma mulher com raiva - ele checou
seus peitos. Seus olhos verdes pousaram nos seios de Bria, analisando e avaliando-os do jeito
que ele tinha com minhas lesões um momento antes. Seus lábios se curvaram para trás em um
sorriso de lobo à vista. Se eu me sentisse mais forte, teria dado um soco nele por comer minha
irmã com os olhos.

Depois de Finn ter se satisfeito com os seios de Bria, seu olhar verde subiu para seu rosto
para conferir o resto do pacote ousado. Ele tinha visto a mesma fotografia de Bria que eu tinha.
Levou um segundo para reconhecê-la, mas quando o fez, sorriso Finn rachou, então descascou
de seu rosto como pintura antiga. Ele piscou um par de vezes, tentando se certificar de que
estava vendo exatamente o que pensou que estava. Quando percebeu que era realmente Bria,
Finn imediatamente baixou o olhar para mim para ver se eu tinha notado, se a tinha
reconhecido. Eu assenti só um pouquinho para ele.

? Ela não vai a lugar nenhum. Os paramédicos não estão aqui ainda, ? Bria repetiu e

apunhalou o dedo no ombro de Finn para dar ênfase.

Isso chamou a atenção de Finn. Ele não gostava de ninguém mexendo com suas roupas, a
menos que elas fossem do sexo feminino e estivessem tirando-as dele. ? Vou levá-la a uma
curandeira elemental de Ar, e ela vai receber a melhor atenção médica que há em Ashland tão
logo eu a tire daqui, ? Finn estalou. ? Gin é minha irmã e ela vem comigo. Então recue,
policial.

Recue, policial? Caramba. Finn esteve assistindo filmes policiais antigos demais com
Sophia Deveraux.

Os olhos azuis de Bria se estreitaram. ? Por que não deixamos isso para Gin? Vemos o
que ela quer fazer?

Finn estreitou seus próprios olhos em resposta. ? Ótimo. Ela mesma vai te dizer que vem
comigo, detetive.

Os dois olharam fixamente um para o outro mais um momento, antes de me encararem.
Finn, suas feições apertadas. Bria, parecendo tão séria quanto ele. O homem que eu considerava
meu irmão e minha irmãzinha há muito perdida. Emoções brotaram no meu peito, tornando
difícil respirar. Ou talvez a sensação fosse apenas de todo o sangramento interno que eu estava
sofrendo hoje à noite. De qualquer forma, doía.

Mas eu realmente tinha apenas uma opção no final. Finn era meu irmão de criação, meu
mais próximo confidente, meu melhor amigo, a única pessoa em quem eu confiava acima de
todos os outros. Bria era um fantasma imprevisível do meu passado, uma estranha com o rosto
frio de um anjo. Tem que dançar com aquele que te trouxe 4.

? Finn. Quero... ir com Finn. ? Por mais razões do que uma, doeu-me forçar as palavras

pela minha mandíbula quebrada, mas mesmo assim eu fiz. Dor e eu éramos velhas, velhas
amigas.

Bria franziu a testa e olhou para Finn, que lhe deu um sorriso arrogante, presunçoso e
afetado que dizia eu-te-avisei. Ela voltou sua atenção para mim.

? Tudo bem. Essa é a sua escolha, senhora. Mas antes que você vá, você pode me dizer

quem fez isso com você? Quem bateu em você? ? Olhos duros, lábios apertados. Traços
sombrios, determinados, mas não crueis.

Detetive Bria estava apenas tentando fazer seu trabalho como um policial honesto faria.
Ela parecia tão... boa . Tão protetora dos outros. Tão disposta a ajudar. Por alguma razão, tudo
isso me deixou orgulhosa dela. Que ela parecia ter crescido tão forte. Neste momento, ela ainda
pensava que eu era uma vítima inocente, ao invés de alguém que tinha provocado tudo isso ela
mesma.

O pensamento absurdo me fez sorrir, mas não acho que saiu muito bem porque Bria
empalideceu com a expressão.

4 Ditado que quer dizer que a pessoa deve prestar fidelidade adequada para quem saiu de seu caminho

para cuidar dela.

? Eu... caí, ? Raspei.

Contra meu lado, o peito de Finn se contorceu com o riso do jeito que o de Xavier tinha
alguns minutos atrás. Finn estava tentando abafar uma gargalhada. Ele reconhecia sarcasmo
quando o ouvia, mesmo que eu estivesse meramente balbuciando as palavras, em vez de
entregá-las com a minha dose habitual de ácido seco e sardônico.

As sobrancelhas loiras de Bria dispararam para cima. ? Você caiu? Em quê? Os punhos
de alguém?

? Eu caí, ? Repeti novamente.

Xavier se aproximou de Bria. ? Deixe ir, detetive. Só por essa noite. Gin precisa receber
alguma ajuda. Eu vou atestar por ela e Finn.

Bria olhou para o gigante, então para Finn, e finalmente de volta para mim. Ela percebeu
que estávamos todos alinhados juntos, mas não se enfureceu e reclamou veementemente
conosco do jeito que pensei que ela poderia. Em vez disso, ela deu um breve aceno de sua
cabeça. ? Tudo bem, Srta. Blanco. Você caiu - por agora. Mas não pense que isso acabou. Eu
terei algumas perguntas para você em poucos dias quando estiver se sentindo melhor.

? Isso quer dizer que podemos ir agora? ? Finn falou lentamente.

Os olhos de Bria se estreitaram. ? Yeah, vocês podem ir agora. E se eu descobrir que sua
irmã não recebeu a melhor atenção médica em Ashland, eu vou acusá-lo de abuso. Entendeu,
companheiro?

Finn piscou-lhe um sorriso largo e cheio de dentes. ? Oh, eu definitivamente peguei seu
número 5, detetive.

5 A frase pode significar: Você cometeu um erro e eu vou ligar para você sobre isso. / Você está com

problemas (uma ameaça). / Eu tenho uma discordância com você. / Eu entendo a sua verdadeira natureza.

Bria bufou e girou em seus saltos, da mesma maneira que Mab Monroe tinha feito mais
cedo na noite. Ela se afastou e começou a conversar com o guarda de segurança que tinha
encontrado o meu corpo supostamente morto. Eu não podia ouvir o que ela estava dizendo
para ele, mas o cara não parecia contente com as palavras curtas de Bria. Ele encolheu o
pescoço em sua jaqueta, uma tartaruga puxando sua cabeça de volta para sua concha. Parecia
que minha irmã estava totalmente crescida agora - e algo de uma fodona ela mesma.

Eu não tinha certeza se isso era bom ou ruim - ou o que eu faria sobre toda a situação.
Perguntas demais, respostas insuficientes. Sem mencionar a dor implacável martelando através
do meu corpo como um martelo incandescente.

? Xavier, você tem a nossa gratidão, ? Finn murmurou para o gigante. ? Eu vou cuidar

bem de você na próxima vez que eu estiver na Agressão do Norte. Prometo.

Xavier assentiu. ? Sem problema. Eu te ajudei com sua situação esta noite, você pode me
ajudar com a minha amanhã.

Os dois homens trocaram um longo olhar que era só um pouco significativo demais para
o meu gosto. Sobre o que era aquilo? Que tipo de problema Xavier tinha que ele não podia
cuidar sozinho? Que ele precisava da ajuda de Finn? O gigante não me parecia o tipo de
esconder dinheiro da Receita Federal, que era uma das especialidades de Finn. Mas eu estava
com dor demais para decifrar isso esta noite.

Finn assentiu e me carregou em direção à fita amarela da cena do crime. Xavier levantou
a barreira frágil para ele, e deixamos a grama sangrenta e gelada do quadrilátero para trás.

? Está tudo bem, Gin, ? Finn sussurrou em meu ouvido. ? Vou levá-la para Jo-Jo. Ela

vai te curar, e então poderemos descobrir o que fazer sobre Bria estar em Ashland. Você pode
relaxar agora. Tudo vai ficar bem.

Mesmo que parecesse que meus próprios ossos estavam me esfaqueando, virei meu
pescoço, olhei por cima do ombro de Finn, e encarei Bria. Ela ainda estava ocupada
repreendendo o guarda de segurança, de modo que ela não viu o meu olhar dolorido. Meus

olhos pousaram na runa de prímula que ela usava no pescoço. As luzes azuis e vermelhas
faziam o metal de silverstone brilhar como uma pequena lua na penumbra.

Nunca pensei que veria essa runa novamente - muito menos a minha irmãzinha. Mas
dezessete anos mais tarde, dezessete anos após o assassinato brutal e ardente da nossa mãe e
irmã mais velha, Bria estava de volta na minha vida. O aperto no meu peito inchou de novo,
mais forte, mais frio, e mais duro do que antes.

A delicada prímula foi a última coisa que me lembrei ver antes de o mundo ficar preto.

3

Me senti como se estivesse pegando fogo - de dentro para fora.

Agulhas quentes perfuravam acima e abaixo do meu corpo em um caminho lento,
implacável e agonizante. Meu rosto esfolado, minha mandíbula quebrada, minhas costelas
rachadas. As agulhas tomaram conta de tudo, como se eu fosse algum tipo de boneco de vodu
deformado vindo à vida. Os formigamentos quentes faziam tudo doer ainda mais do que tinha
antes.

Eu choraminguei e me debati, tentando fugir da sensação horrível, ardente.

? Mantenha-a parada, Sophia, ? Uma voz comandou. ? Ou seu nariz vai parecer algo de

uma loja de Halloween. Você também, Finn.

Um par de mãos de ferro apertou meus ombros, imobilizando-me. Um conjunto maior
mas mais leve de mãos prendeu meus tornozelos.

? Hmph, ? Alguém grunhiu.

Por alguma razão, soou com se ela estivesse dizendo vá em frente .

O ardor continuou por mais um momento, então abruptamente cessou. O fedor azedo do
meu próprio suor encheu meu nariz, e eu ofeguei de alívio. Uma mão gentil alisou para trás
meu cabelo úmido e sangrento, então cobriu minha bochecha.

? Vá dormir agora, querida. ? Desta vez a voz era baixa, morna, doce, tranquilizadora. ?

Apenas durma, Gin.

Assim eu fiz.

Na próxima vez que acordei, eu estava estendida em uma cadeira de salão enorme que
tinha sido inclinada para trás como uma poltrona reclinável. Muito melhor do que deitar na
grama fria do quadrilátero da faculdade - ou em uma placa de aço no necrotério.

Meus olhos flutuaram sobre o afresco de nuvem, branco e azul pintado no teto alto.
Familiar como sempre. Eu sabia onde estava, é claro. O salão de beleza de Jolene - Jo-Jo -
Deveraux. Esta não era a primeira vez que eu tinha acordado em uma das cadeiras vermelho-
cereja encarando a pintura de nuvens depois de ser curada. Eu não achava que seria a última
vez tampouco.

Algo áspero, úmido e quente raspou contra minha mão direita. Estiquei o pescoço para
um lado. Rosco, o basset hound rechonchudo de Jo-Jo, tinha arrastado seu traseiro gordo,
preguiçoso para fora de sua cesta de vime no canto por tempo suficiente para vir e lamber
minha mão.

? Bom menino, ? Murmurei e esfreguei uma de suas orelhas compridas e flexíveis entre

os meus dedos salpicados de sangue.

Rosco resmungou um bufo de prazer e desabou em um monte peludo marrom e preto ao
lado da cadeira. Andar os 9 metros através da sala até mim tinha o desgastado completamente.
Sorri e esfreguei outra orelha do cão de caça.

? Já estava na hora de você sair dessa, ? Uma voz feminina falou lentamente à minha

esquerda.

Um par de pés descalços passeou à vista ao lado da forma inerte de Rosco. Esmalte fúcsia
brilhante cobria seus dedos. Apenas uma pessoa que eu conhecia ainda andava por aí sem
meias no início de dezembro. Olhei para cima para encontrar Jo-Jo Deveraux pairando sobre
mim. Bem, tanto quanto uma anã que chegava a um metro e meio poderia pairar. Então
novamente, Jo-Jo era bastante alta para um anão.

Embora ela tivesse 257 anos e contando, Jo-Jo não parecia um dia a mais que 199. Ela
sempre me fazia lembrar uma magnólia do Sul, envelhecendo sempre tão graciosamente. Hoje
à noite a anã usava um roupão de flanela rosa, longo, nebuloso, rematado com uma sequência
de pérolas do tamanho de cascalho. Jo-Jo nunca ia à parte alguma sem suas pérolas. Para ela,
elas eram o símbolo definitivo que ela era uma verdadeira dama do sul. Mesmo que estivesse
ficando tarde, o cabelo descolorido loiro-branco de Jo-Jo ainda estava alto, provocante, e
orgulhoso em seu coque habitual de cachos, e sua maquiagem nos olhos parecia tão fresca
como se ela tivesse acabado de aplicar. Gloss cobria seus lábios franzidos. Morango, pelo cheiro
dele.

A maioria das pessoas teria pensado que Jo-Jo era apenas outra debutante envelhecendo,
ainda tentando ser a bela do baile e se agarrando a sua juventude apesar das linhas de riso ao
redor de sua boca e olhos. Elas estariam erradas.

Todo mundo sabia que Jo-Jo Deveraux era uma elemental de Ar que usava seu salão de
beleza e magia para ajudar a gente a protelar a devastação do tempo em seus rostos, seios,
pernas e bundas. Tratamentos faciais de oxigênio puro podiam fazer maravilhas mesmo com a
maioria dos pés de galinha persistentes. Mas poucas pessoas sabiam que a anã era também a
melhor curandeira em Ashland, capaz de curar tudo abaixo da morte. Mesmo assim, você tinha

uma chance melhor de Jo-Jo encontrar alguma maneira de trazer você de volta à vida do que
com qualquer outra pessoa.

Jo-Jo Deveraux tinha sido amiga leal de meu mentor, Fletcher Lane. Quando eu tinha
começado a fazer o assassinato ao invés do velho, Jo-Jo havia transferido seus serviços de cura
para mim. Claro, eu sempre paguei pelo seu tempo, experiência e magia, mas a anã era família
para mim agora. Assim como sua irmã mais nova, Sophia, que era cozinheira no Pork Pit, a
churrascaria que Fletcher tinha me deixado após sua morte. Sophia também era bastante útil
na eliminação dos muitos corpos que eu deixava no meu rastro.

? Como você está se sentindo? ? Jo-Jo perguntou em sua voz baixa e suave que escorria

como mel quente.

? Como se tivesse sido espancada por um gigante.

Preocupação brilhou em seu olhar pálido. Exceto pelo pontinho de preto no seu centro, os
olhos da anã eram quase incolores, como dois pedaços nublados de quartzo dispostos em seu
rosto de meia-idade.

? Sente-me, por favor, ? Eu pedi.

Jo-Jo assentiu. Ela moveu-se para trás de mim e bateu em uma alavanca na cadeira. A
parte traseira inclinou para cima, movendo-me para uma posição sentada, vertical. Mudei de
posição, balançando meus dedos, dedos dos pés, e mandíbula. Eu me sentia cansada, mas isso
era de se esperar. O corpo só poderia lidar com um tanto de trauma, e ir de estar bem para
estar severamente ferido para estar bem de novo no espaço de algumas horas sempre me
deixava sentindo drenada e letárgica. Meu cérebro levava algum tempo para acompanhar o
fato de que eu ainda estava respirando e não a sete palmos abaixo como eu deveria ter estado.

Sangue seco ainda cobria minhas roupas e mãos, mas tudo mais estava livre de dor, em
condições de funcionamento mais uma vez. Funguei. Jo-Jo tinha até mesmo consertado meu

nariz escorrendo e purgado a gripe do meu sistema. Humpty-Dumpty 6 tinha sido colocado de
volta no lugar novamente. Apesar de todos os homens de Mab Monroe.

Meus olhos examinaram o salão, que ocupava a metade de trás da casa antebellum 7,
enorme de Jo-Jo. Parecia o mesmo de sempre. Montes de cadeiras giratórias acolchoadas.
Vários secadores de cabelo antiquados. Balcões desordenados com spray de cabelo, tesouras,
rolos de espuma cor de rosa, esmaltes, maquiagem e pentes desdentados. Fotos e posters de
modelos com diversos penteados colados nas paredes. Pilhas e pilhas de revistas de moda e
beleza em toda parte. Puxei uma respiração. O ar cheirava o mesmo também - produtos
químicos misturados com óleo de coco das camas de bronzeamento na sala ao lado.

Jo-Jo caiu pesadamente na cadeira à minha direita. No chão entre nós, Rosco na verdade
gastou energia suficiente para rolar, assim a anã poderia esfregar sua barriga rechonchuda
com o pé descalço.

? Você quer falar sobre isso? ? Jo-Jo perguntou.

Dei de ombros. ? Não há muito que falar. Jonah McAllister fez Elliot Slater e dois de seus
capangas gigantes me emboscarem na faculdade comunitária. McAllister pensou que eu
poderia ter informações sobre o assassinato de seu filho Jake. Desde que eu não queria estragar
meu disfarce, tive que deixá-los me bater. Fim da história.

Jo-Jo me encarou, um olhar reprovador em seus olhos pálidos. A anã me conhecia a
tempo suficiente para perceber quando eu estava camuflando a verdade.

Suspirei. ? E Mab Monroe estava lá também.

6 Humpty-Dumpty é um personagem de rima infantil normalmente retratado como um ovo. A rima

que ela se refere é mais ou menos isso: Humpty Dumpty estava sentado em um muro, / Humpty Dumpty
teve uma grande queda. / Todos os cavalos do rei e todos os homens do rei / Não poderiam colocar Humpty
no lugar novamente.

7 Antes da Guerra Civil.

Jo-Jo abriu a boca para fazer uma pergunta, mas Finn escolheu aquele momento para
colocar sua cabeça no salão.

? Ela finalmente está acordada? ? Ele perguntou.

? Finalmente? ? Eu reclamei, olhando para o relógio em forma de nuvem na parede. ?

Mal é depois das dez. Só tive a merda batida para fora de mim um par de horas atrás. Eu diria
que estava me recuperando muito bem, considerando todas as coisas.

? Isso é o que você pensa, ? disse Finn.

Ele encostou-se na moldura da porta, uma caneca de café de chicória em sua mão. Finn
bebia a coisa a qualquer hora da noite e do dia, mas a cafeína parecia ter pouco efeito sobre ele.
Ou talvez ele tivesse apenas se tornado imune a ela. Fletcher Lane tinha bebido o mesmo tipo
de café.

Inspirei novamente, desta vez para provar os vapores de cafeína no ar. O cheiro quente e
reconfortante sempre me lembrava o velho. Eu queria que Fletcher estivesse aqui esta noite,
para conversar comigo sobre o ataque e ver Bria novamente. Eu queria um monte de coisas
sobre o velho que nunca iam acontecer.

Passos pesados se arrastando soaram, e outra pessoa entrou no salão. Sophia Deveraux,
irmã mais nova de Jo-Jo. Onde Jo-Jo era toda luz do sol rosa doce, Sophia era o coração das
trevas - como no Gótico. Sophia usava seus usuais jeans preto e botas de combate. Sua camiseta
era na verdade um rosa feminino esta noite, embora imagens de cabeças de boneca decapitada
pontilhassem o tecido leve. Uma gargantilha de couro preto cravejada de corações rosa plástico
rodeava o pescoço de Sophia. Um gloss rosa brilhante cobria seus lábios, mas seu cabelo curto
era tão preto quanto preto poderia ser. Ele se destacava em contraste com sua pele pálida.

Sophia era cerca de uma polegada mais alta do que Jo-Jo e tinha uma figura muito mais
musculosa que sua irmã mais velha. Com cento e treze anos, a irmã Deveraux mais nova estava
em seu auge, em vez de firmemente arraigada a meia-idade como Jo-Jo estava. Sophia caiu
pesadamente na cadeira à minha esquerda e acenou para mim. Eu acenei de volta.

E então os três me encararam. Finn, Jo-Jo, Sophia. Inferno, até Rosco virou a cabeça de
volta em minha direção. Todos olhando firmemente para mim, expectativa brilhando em seus
olhos. Oh, porra. Eles realmente esperavam que eu falasse sobre o que tinha acontecido esta
noite. Compartilhasse meus sentimentos . Suspirei novamente. Eu preferiria ter cortado e
golpeado meu caminho através de um pelotão de gigantes de Mab Monroe do que explicar
como estava lidando com minhas emoções.

Mas eles eram minha família, para melhor ou pior. Eles mereciam saber o que tinha
acontecido esta noite - e como isso poderia afetá-los amanhã.

? Tudo bem, ? eu disse. ? Aqui está a versão curta.

Eu recapitulei os acontecimentos da noite, começando com Jonah McAllister e Elliot
Slater me preparando, Slater batendo em mim, e Mab Monroe entrando e levando seus
capangas para a noite escura. E então havia o mais importante - meu encontro inesperado com
Bria, minha irmã mais nova há muito perdida.

? Então, Bria é uma detetive? Trabalhando em Ashland? ? Jo-Jo perguntou. ? Por que

não soubemos disso antes?

? Porque ela é uma nova transferência, só começou há uma semana, ? disse Finn,

tomando mais um gole do seu café de chicória. ? Eu fiz alguma checagem enquanto você
estava curando Gin.

Além de (mal) tratar com o dinheiro de outras pessoas, Finn também era algo de um
comerciante de informação. Se você quisesse a sujeira de alguém, Finnegan Lane poderia obtê-
la para você – em um instante.

? Bria tem trabalhado em Savannah, Georgia, desde que ela se formou na academia de

polícia um par de anos atrás. Ela veio para Ashland algumas semanas atrás. ? Finn hesitou e
olhou para mim. ? Ela tomou a posição de Donovan Caine no departamento de polícia.

Minhas mãos apertaram os braços acolchoados de minha cadeira de salão. O rosto de um
homem piscou diante de meus olhos. Cabelo preto, olhos cor de avelã, pele bronzeada e um
corpo magro, rígido que se sentia maravilhoso pressionado contra o meu próprio. Detetive
Donovan Caine. Um dos poucos policiais honestos em Ashland que realmente tentava
combater o crime, ao invés de aceitar suborno para olhar para o outro lado. Caine também
tinha sido meu amante às vezes, até que ele deixou a cidade há algumas semanas.

Detetive Donovan Caine havia sido íntegro ao extremo, com um rigoroso código de
justiça e moral que nunca, nunca se dobrava. Ele tinha tido um tempo duro o suficiente
enfrentando o fato de que eu costumava ser uma assassina - e que eu tinha matado seu ex-
parceiro, Cliff Ingles, por estuprar uma menina de treze anos de idade. Mas quando eu tinha
ido atrás do proprietário de mina de carvão Tobias Dawson por ameaçar um velho amigo de
Fletcher, Donovan não tinha lidado com isso muito bem de modo nenhum. Ele sabia que eu
planejava assassinar Dawson, e ele não tinha feito nada para me impedir.

Depois que eu matei Dawson, bem, a moral de Donovan, seus ideais, começaram a
consumi-lo. Ele tinha descido até o Pork Pit uma noite e dito que não podia ser o homem que
queria ser e estar comigo ao mesmo tempo. Donovan Caine tinha rompido nosso complicado
caso e deixado a cidade para ficar longe de mim e da atração entre nós - e do fato de que ele
ainda queria me foder apesar de a) sua moral preciosa e, b) todas as coisas ruins que eu tinha
feito.

Eu tinha estado disposta a compartilhar minha vida, meu coração, com Donovan, e ele
tinha me abandonado. A possibilidade de nós. Talvez fosse uma boa coisa ele ter deixado a
cidade. Caso contrário, eu poderia estar tentada a fazer algo estúpido. Como tentar seduzi-lo a
dar-nos apenas mais uma chance. E ficar puta mais uma vez quando ele dissesse que não.

? Gin? ? Finn perguntou. ? Você ainda está com a gente?

Balancei a cabeça para banir meus pensamentos indesejados e problemáticos. ? Yeah,
ainda estou aqui. Então minha irmã misteriosa tomou o lugar de Donovan no departamento. O
que mais você sabe sobre ela?

Finn encolheu os ombros. ? Não muito. Eu só estive cavando por uma hora. Mas Bria
tem uma reputação de ser uma verdadeira durona. Limpando a corrupção, defendendo as
pessoas fracas, esse tipo de coisa.

Então Bria era uma batalhadora, assim como Donovan Caine tinha sido. Justo o que eu
precisava. Outro policial honesto complicando minha vida. Especialmente quando eu ainda
estava tentando descobrir por que Mab Monroe tinha assassinado minha mãe e irmã mais
velha todos esses anos atrás - e como eu podia matar a elemental de Fogo agora sem ser morta
eu mesma.

? E, claro, sabemos que Bria é deslumbrante de morrer, ? Finn disse em um tom

sonhador. ? Esse retrato dela que de alguma forma o Papai conseguiu não faz justiça à
mulher.

Finn se referia a uma fotografia que Fletcher Lane tinha deixado para mim. Estava em
uma pasta espessa, juntamente com todas as outras informações sobre o assassinato da minha
mãe e irmã mais velha pelas mãos de Mab Monroe. Fotos da autópsia, relatórios policiais,
recortes de jornais. Jo-Jo tinha me dado o arquivo após a morte do velho. O retrato de Bria - que
me fez perceber que ela ainda estava viva - tinha sido a única coisa agradável na pasta
horripilante.

Revirei os olhos. ? Faça-me um favor, Finn. Não olhe assim quando você falar sobre a
minha irmã.

? Assim como?

? Como se você estivesse pensando nela nua e na sua cama.

Finn sorriu. ? Eu faria algo assim?

? Absolutamente.

? Mmm-hmm. ? À minha esquerda, Sophia grunhiu o seu acordo. Isso era tão

expressivo quanto ela sempre era. Ao contrário da maioria das pessoas, a anã Gótica preferia se
comunicar com rajadas curtas e monossilábicas.

Finn colocou a mão sobre o coração. ? Oh, Gin, você me fere com seu cinismo exausto.

? Yeah, yeah, ? eu disse. ? Minhas palavras são como facas. Apenas me deixe decidir o

que quero fazer sobre Bria antes de começar a dar em cima dela, okay?

Finn deu um aceno relutante de sua cabeça. ? Tudo bem. Mas descubra isso logo. Você
sabe que eu tenho uma coisa com loiras quentes.

Eu bufei. ? Você tem uma coisa com qualquer pessoa com seios.

Poderíamos ter continuado a discussão, mas Jo-Jo limpou sua garganta. Virei a cabeça
para olhar para a anã.

? Então o que você vai fazer sobre sua irmã? ? A anã mais velha perguntou com uma

voz suave. ? Você vai dizer a ela quem você realmente é? O que você tem feito todos estes
anos? Quais são os seus planos?

? Você quer dizer se eu vou dizer a Bria que eu sou sua irmã mais velha, há muito

perdida, Genevieve Snow? Que eu era uma assassina renomada conhecida como a Aranha? Ou
que Mab Monroe matou a nossa mãe e irmã e que eu jurei me vingar da elemental de Fogo? ?
Balancei a cabeça. ? Chame-me de louca, mas acho que poderia ser um pouco demais para
processar de uma só vez.

Só o pensamento de dizer a Bria quem eu realmente era fez meu estômago apertar e as
cicatrizes de runa de aranha em minhas palmas coçarem e queimarem. Mesmo que não
sentisse isso frequentemente, eu sabia o que era a emoção. Pavor.

? Eu não sei. Bria é sua irmã, afinal de contas. Isso conta muito, ? Jo-Jo murmurou.

A anã me encarou, mas seus olhos haviam assumido um olhar distante branco leitoso
que me dizia que ela não estava realmente me vendo, mas espiando o futuro. Além de usar sua
magia para curar as pessoas, a maioria dos elementais de Ar tinha um pouco de premonição
também. Gente como Jo-Jo podia sentir, ouvir, e interpretar as emoções, sentimentos, e ações
que permeavam o ar e o vento. Assim como eu podia ouvir as emoções, sentimentos, e ações
que tinham afundado em qualquer pedra que eu estivesse perto - edifícios de tijolos, móveis de
granito, até mesmo o cascalho sob os pés. Minha magia de Pedra sussurrava coisas que tinham
ocorrido no passado. No caso de Jo-Jo, sua magia elemental de Ar frequentemente lhe dava
flashes do que poderia acontecer no futuro. Pelo menos o suficiente deles para fazer-me ouvi-la.

Esfreguei minha cabeça. ? Eu não sei o que fazer com Bria neste momento.
Simplesmente não sei.

Jo-Jo esticou o braço e apertou minha mão. ? O que quer que você decida, nós vamos
apoiá-la - e receber Bria com os braços abertos se isso é o que você quer.

Sophia assentiu. ? Recebê-la, ? A anã Goth raspou em sua voz baixa, quebrada.

? Oh, yeah, ? Finn sorriu. ? De fato, eu me voluntario para ser o primeiro a receber

Bria em Ashland.

Levantei uma sobrancelha. ? Com o quê? Sua boa aparência suave? Ou talvez você fosse
sacar esse charme doce que você afirma possuir, junto com seu pau?

O sorriso de Finn se alargou. ? O que quer que funcione, Gin, ? Ele falou lentamente. ?
O que quer que funcione.

4

? Não posso acreditar que você me arrastou até aqui esta noite, ? Eu murmurei. ? Nós

temos coisas para fazer, lembra? Irmãs há muito perdidas para investigar, planos do assassinato
de Mab Monroe para fazer, seus asseclas irritantes para despachar. Ou você esqueceu tudo isso?

Finn afastou seu olhar verde-claro de uma prostituta loira peituda por tempo suficiente
para olhar de relance para mim. ? Você disse alguma coisa, Gin?

Revirei os olhos. ? Nada importante, aparentemente.

? Bom. ? O olhar de Finn zumbiu de volta para a prostituta, que estava girando junto

com várias outras mulheres na beira da pista de dança.

Suspirei. Dois dias se passaram desde que eu tinha sido atacada na faculdade comunitária
por Elliot Slater e seus gigantes. Finn tinha passado pelo Pork Pit mais cedo hoje e anunciado
que estava me deliciando com uma noite fora. Esperei um agradável jantar tranquilo em

algum lugar, talvez esse novo lugar Mexicano que servia as fajitas quente-picantes em St.
Charles Avenue.

Em vez disso, ele tinha me levado à Agressão do Norte.

Localizado em Northtown, a parte rica e pomposa da cidade, Agressão do Norte era a
boate mais renomada de Ashland. Não porque era a epítome de classe e sofisticação, mas
porque você podia obter qualquer coisa que desejasse aqui - sangue, drogas, sexo, cigarros,
álcool. O clube oferecia tudo isso e muito mais - pelo preço certo. Não é de estranhar, dado o
fato de o clube ser administrado por Roslyn Phillips, uma prostituta vampira que tinha passado
anos se prostituindo nas ruas rudes de Southtown antes de juntar dinheiro suficiente para abrir
seu próprio bar.

Pouco antes da meia-noite, yuppies 8 lotaram o lugar. Homens de terno, as mulheres em
tão pouco quanto era legal. Todo mundo com uma bebida ou cigarrinho em uma mão e o
traseiro de alguém na outra. Todos os yuppies estavam sendo instigados por funcionários da
boate de homens e mulheres pouco vestidos, impossivelmente musculosos. A maioria dos
membros da equipe eram vampiros, e todos eles eram prostitutos. Eles eram fáceis de
identificar já que cada um usava um colar com uma runa pendurada no final - um coração
com uma flecha através dele. O símbolo da Agressão do Norte.

As prostitutas vagavam pelo clube, oferecendo aos clientes bandejas de champanhe e
morangos cobertos de chocolate, e insinuando as outras delícias que podiam ser encontradas
no local. Especialmente nas salas privadas no andar de cima que eram alugadas por meia hora -
ou menos.

Claro, algumas pessoas não eram particulares demais sobre a sua privacidade. Casais de
dois e três e às vezes quatro ou mais se amontoavam juntos em cabines do clube. Beijando,

8 "Yuppie" vem da sigla "YUP", que significa "Young Urban Professional", ou seja, Jovem Profissional

Urbano. É usado para referir-se a jovens profissionais entre os 20 e os 40 anos de idade, geralmente entre a
classe média e a classe alta. Em geral possuem formação universitária, trabalham em suas profissões de
formação e seguem as últimas tendências da moda. Ocasionalmente o termo é utilizado pejorativamente,
como um rótulo, um estereótipo.

acariciando, lambendo, gemendo. Várias das mesas se contorciam e sacudiam, e não da música
estridente, mas das pessoas fodendo no chão embaixo.

Finn e eu sentamos em uma cabine a poucos metros da pista de dança, onde as pessoas
esbarravam e trabalhavam duro em sua maneira através de uma canção agitada do The Killers.
Apesar da minha ambivalência em relação à Agressão do Norte e o cheiro pesado, suado de
sexo que permeava o ar, mesmo eu tinha de admitir que a boate tinha um estilo ousado,
decadente. Cortinas amassadas de veludo vermelhas cobriam as paredes e o chão era de um
bambu suave, flexível que amortecia seus pés enquanto você o atravessava.

Mas para mim, a coisa mais impressionante era o bar que corria uma parede - uma
camada elaborada feita inteiramente de Gelo elementar. Runas intrincadas tinham sido
esculpidas na superfície do bar, principalmente sois e estrelas - simbolizando vida e alegria.
Ambos que poderiam ser encontrados em abundância aqui esta noite se você tivesse suficiente
dinheiro ou cartões para pagar para brincar.

Atrás do balcão, um homem misturava bebidas. Seus olhos brilhavam azul-branco na
penumbra. O elemental de Gelo responsável por cuidar do bar e certificar-se que sua criação
fria ficasse em uma peça até o final da noite. Além dos seguranças gigantes, ele era o único
membro da equipe que não estava usando o colar de runa de coração-e-flecha. O elemental de
Gelo não podia tirar tempo de misturar bebidas para foder alguém por trás do bar. Haveria
uma rebelião se a bebida alcoólica não continuasse chegando.

? Diga-me novamente por que estamos aqui? ? Eu perguntei.

Os olhos de Finn nunca deixaram a prostituta loira. ? Para ter um bom tempo, é claro.
Porque você teve a merda batida fora de você, e você merece uma noite fora na cidade.

Sob a mesa, chutei sua canela. ? E porque não acredito em você?

? Porque você é cínica desse jeito.

Eu o chutei novamente, mais duro desta vez.

? Tudo bem, tudo bem, ? disse Finn, inclinando-se para esfregar sua perna. ? Se você

quer saber, eu estava planejando conversar com Xavier sobre algo.

Levantei uma sobrancelha. ? E você me arrastou junto porque...

Uma sombra passou pelo rosto de Finn e seus olhos verdes escureceram. ? Você vai ver.

Ele não se voluntariou com mais nenhuma informação, e por uma vez eu não estava no
humor de ser curiosa e bisbilhotar. Tomei um gole do meu gin e fiz uma careta. Por alguma
razão, o licor frio tinha gosto amargo esta noite. Ou talvez fosse porque eu ainda estava
ruminando sobre Bria.

Finn tinha mantido sua promessa de cavar sobre minha irmã há muito perdida. Ontem
ele tinha me dado uma pasta gorda de informações sobre Bria e me dito que outra estava a
caminho logo que ele ouvisse do resto de seus contatos em Savannah. Mas eu não tinha aberto
a pasta ainda. Ela havia permanecido fechada e intocada sobre a mesa de café na toca de
Fletcher Lane.

Por uma vez, eu não estava certa de que queria aprender os segredos mais profundos e
mais sombrios de alguém ao examinar um pedaço de papel. Parte de mim - uma grande parte
de mim - preferia pensar em Bria da forma que eu sempre me lembrava dela. Como minha
doce irmãzinha. A menina inocente com quem eu tinha brincado de esconde-esconde e para
quem tinha feito incontáveis canecas de chocolate quente. Eu não sabia se queria ler sobre tudo
o que Bria tinha passado, crescendo como uma órfã. Minha infância tinha sido bastante
traumática vivendo nas ruas de Ashland. Eu esperava que Bria não tivesse sofrido tanto quanto
eu ao longo dos anos. De qualquer maneira, eu não estava certa se queria descobrir. Porque as
respostas poderiam ser... feias.

A verdade era que eu não sabia como me sentia sobre a minha irmã mais nova há muito
perdida estando em Ashland, muito menos o fato de que ela era uma policial. Uma boa, além
disso. Alguém que realmente tentava ajudar as pessoas, que queria fazer a diferença em uma
cidade tão suja e corrupta como Ashland - enquanto eu passara minha vida adulta inteira

matando pessoas por dinheiro. A ideia de que nós compartilhávamos o mesmo DNA confundia
a mente. Acho que havia algo nessas coisas de criação afinal de contas.

Joguei para trás o resto do meu gin amargo. O álcool deslizou pela minha garganta e
começou sua lenta, agradável queimadura no meu estômago, mas isso não melhorou o meu
humor.

? Encontre Xavier e vamos prosseguir com isso, ? Eu disse a Finn.

Sua vez de levantar uma sobrancelha. ? Muito irritada?

Sorri. ? Você vai ver o quanto irritada estou quando eu começar a pedir o champagne
mais caro do menu e beber como se fosse água. Depois de colocar isso na sua conta, é claro.

Finn levantou suas mãos. ? Ótimo, ótimo. Xavier deveria passar pela nossa cabine, mas
vou ver se posso encontrá-lo.

Finn se levantou, endireitou a gravata, alisou para baixo seu cabelo cor-de-noz, e entrou
na multidão girando. Ele desfilou em direção ao bar de Gelo, provavelmente para perguntar ao
barman sobre Xavier. Seu percurso o levou perto da borda da pista de dança. A prostituta loira
que ele tinha estado de olho soprou a Finn um beijo. Ele sorriu e desviou em sua direção.
Menos de três minutos depois, os dois estavam abrigados no bar, bebendo martinis e fazendo
olhos de cachorrinho um para o outro.

Tamborilei meus dedos sobre a mesa. Um rosto bonito e corpo firme poderiam distrair
Finnegan Lane de seu próprio funeral. Eu deveria ter apenas dito a ele que estava indo embora.
Peguei meu celular para mandar uma mensagem de texto para ele sobre essa notícia
relâmpago, quando uma sombra caiu sobre mim.

? Por que, Gin, que amável surpresa, ? Uma voz masculina murmurou.

Olhei para cima pra encontrar Owen Grayson de pé na frente de minha cabine. Como
Finn, Grayson usava um rico terno, preto em seu caso, com uma camisa cinza carvão por baixo.

O tecido acentuava sua figura compacta e robusta, que sempre me lembrava do físico sólido de
um anão. Mas com 1,85m, Grayson era alto demais para ser um anão.

Seu cabelo brilhante preto-azulado brilhava sob as luzes suaves do clube. Assim como
seus olhos, que eram um violeta claro. Uma cicatriz branca e fina cortava seu queixo. A fraca
marca teria arruinado a aparência do rosto de outro homem, mas acrescentava uma borda
dura, sexy e perigosa as feições de Grayson, dando-lhe um ar maroto, devasso. Assim como a
inclinação torta de seu nariz. Ou talvez isso fosse apenas porque eu gostava tanto do resto do
pacote. Owen Grayson sabia como usar um terno muito bem, e eu não podia me impedir de
especular o que havia sob as suas roupas de grife. De alguma forma, eu sabia que seria tão
atraente quanto o resto dele.

Ainda assim, apesar do tecido caro, Grayson parecia o tipo de cara que tinha tomado mais
do que um soco em seu tempo. Um verdadeiro lutador por completo. O jeito forte,
autoconfiante que ele se comportava apenas o fazia mais impressionante para mim. Eu sempre
tinha admirado confiança - especialmente quando a pessoa realmente tinha algo a ser
confiante. Desde que Owen Grayson era um dos mais ricos empresários em Ashland, ele tinha
milhões de razões para sorrir.

Eu tinha conhecido Grayson um par de semanas atrás, em Novembro. Sua irmã mais
nova, Eva, estava comendo no Pork Pit quando Jake McAllister tinha tentado roubar o
restaurante. Grayson achava que me devia alguma coisa desde que eu tinha livrado Eva de ser
morta.

? Olá, Owen, ? Respondi. ? O que traz você aqui esta noite?

Ele deu de ombros, seus ombros largos esticando o tecido de seu terno. ? Eva queria vir
dançar.

Meus olhos se jogaram sobre a pista de dança. Certa o suficiente, avistei Eva Grayson
dançando entre um rapaz e outra garota. Eva tinha a mesma coloração que Owen, o que fazia
que ela parecesse uma versão da vida real de Branca de Neve. Adicione seu corpo bem definido

em cima disso, e Eva atraía bastante atenção. Ela girou longe de um cara para virar e sorrir
para outro esperando na beira da pista de dança. Eva curvou seu dedo e o jovem ansiosamente
entrou na disputa em torno dela.

Olhei de volta para Owen. ? E você veio junto como babá dela?

? Eu gosto de cuidar dela, ? ele ressoou em voz baixa. ? Além disso, ela disse que eu

precisava de uma noite fora de casa. Evidentemente, conduzir meus vários interesses
empresariais e acrescentar ao seu fundo fiduciário não é excitante o suficiente para o gosto
dela.

Eu sorri. Como a maioria das garotas em idade universitária, Eva gostava de flertar com o
sexo oposto. Dançar a noite toda na Agressão do Norte seria ideal para ela – mesmo se o irmão
mais velho Owen estivesse observando-a a cada movimento.

? Se importa se eu me juntar a você? ? Owen perguntou.

Dei de ombros. ? Fique à vontade.

Grayson desabotoou seu paletó e se estabeleceu no lado oposto da cabine de modo que
ele estava sentado à minha frente. Ele sinalizou um dos garçons e pediu um caro uísque
escocês. Eu pedi outro gim com gelo, com um toque de limão desta vez. Talvez isso fosse cortar
o gosto amargo na minha boca.

Nossas bebidas voltaram, e tomei um gole vigoroso do meu. Não, ainda amargo. Suspirei
e esfreguei o dedo indicador para baixo ao lado do vidro, deixando um rastro na condensação
que já havia se formado lá.

? Algum problema? ? Grayson perguntou, tomando um gole de seu uísque.

Dei de ombros de novo. ? Apenas não estou no humor para festa esta noite, suponho.

Owen me encarou com seus olhos violeta. ? Talvez você e eu pudéssemos ir a algum
outro lugar. Fazer nossa própria festa.

? Deixe-me adivinhar onde essa festa terminaria… seu quarto?

Grayson sorriu. ? Na verdade, eu estava pensando no hotel mais próximo. Por que dirigir
até tão longe?

? Voltou a querer dormir comigo de novo?

O sorriso de Grayson se alargou. ? Imaginei que não doeria dar um tiro.

Eu bufei. Por alguma estranha razão, Owen Grayson tinha tido uma queda por mim.
Claro, eu tinha livrado sua irmã de ser frita extra crocante por um elemental de Fogo. Claro, eu
era uma mulher atraente. Mas eu simplesmente não conseguia entender por que o empresário
estava tão interessado. Mais de metade das mulheres aqui hoje à noite era mais quente, mais
magra, mais jovem, e tinha seios maiores do que eu. Qualquer uma delas estaria entusiasmada
por ser o entretenimento de Grayson pela noite. Inferno, apenas por uma hora.

Mais importante, eu não estava bastante certa se o seu interesse teimoso era genuíno.
Confiança não vinha facilmente para mim, que é por que eu suspeitava que Owen Grayson
tivesse algum motivo oculto para querer ficar próximo e pessoal com minhas regiões baixas,
além da óbvia de simplesmente alegrar as suas.

Mas principalmente, eu não estava certa de como me sentia por ele. Com seu cabelo preto
e olhos violeta, Grayson era definitivamente atraente, de uma forma áspera e sexy. Mas esse
tipo de coisa nunca tinha importado muito para mim. Ao longo dos anos, eu tive minha quota
de aventuras malfadadas com os rapazes da faculdade comunitária onde eu tomava tantas
aulas. Até um estudante de pós-graduação e um professor ou dois. Eu podia ficar com Owen
Grayson hoje à noite e esquecê-lo amanhã tão facilmente como poderia lavar o sangue do meu
cabelo. Na verdade, o sangue seria um desafio maior.

Não, o problema não era Grayson e seus motivos obscuros, quaisquer que eles pudessem
ser. Era o pequeno fato que ele não era Donovan Caine. Apesar das minhas melhores intenções,
eu tinha caído pelo detetive, sentia algo por ele. Uma suavidade quente no meu peito que ia
além de mera luxúria. E quando Donovan tinha deixado a cidade, quando ele me disse que

estava saindo por minha causa, bem, isso não tinha exatamente feito maravilhas para o meu
ego. Ou me deixado ansiosa para iniciar algo novo com outra pessoa.

Mesmo assassinos precisavam de tempo para lamber suas feridas.

Mas Owen Grayson me encarou muito da maneira que eu tinha olhado para Donovan
Caine. Com interesse puro, focado - e a determinação para conseguir o que ele queria. Eu.
Apesar das minhas dúvidas sobre ele, era... agradável ser olhada dessa forma. Em vez de com a
suspeita fria que o detetive tinha quase sempre me mostrado.

Owen alcançou e deslizou sua mão na minha. Sua palma estava agradavelmente fresca
contra minha pele, e eu senti uma pequena onda de magia escovar contra a cicatriz de runa de
aranha incorporada na minha mão. Os olhos de Grayson brilharam, como se alguém tivesse
riscado um fósforo em seu olhar violeta. Além de ser um empresário de sucesso, Owen
Grayson também tinha um talento elementar para metal. Para ser considerado um elemental
de verdade, você tinha que ser dotado em uma das quatro principais áreas - Ar, Fogo, Gelo, ou
Pedra. Mas muita gente era magicamente qualificada em ramificações dos quatro elementos,
como eletricidade ou água. No caso de Owen, seu talento para metal, uma ramificação da
magia de Pedra, o deixava sentir todos os tipos de metais e minérios, controlá-los, e até mesmo
moldá-los no que ele quisesse.

? O silverstone ainda está aí, ? eu disse em um tom irônico. ? Se é isso que você está

procurando.

Owen balançou a cabeça. ? Eu vou admitir que estou curioso para saber exatamente
como você poderia ter tanto do metal derretido em sua pele assim - especialmente na forma de
uma runa de aranha. E por que você carrega tantas facas silverstone em você o tempo todo. A
curiosidade é uma característica minha, temo. Mas eu estava muito mais interessado em
apenas segurar sua mão.

? Quantos anos você tem? Doze?

Grayson me lançou outro sorriso. ? Às vezes os prazeres mais sensuais são os mais
simples.

Olhei para ele um momento. Então atirei minha cabeça para trás e ri. ? Wow. Essa foi
triste. Você tenta essa linha com todas as damas? Ou apenas comigo?

Em vez de estar insultado, o sorriso de Grayson se aprofundou, e seus olhos violeta
brilharam com calor. ? Só você, Gin. Você é a única que alguma vez me fez recorrer a isso.

Owen me fazia rir, eu daria isso a ele. Então me sentei lá e deixei ele segurar minha mão
ao invés de dizer a ele para sumir.

O polegar de Grayson traçou o círculo incorporado na minha mão, o centro da runa de
aranha que marcava minha pele. Um pequeno formigamento de interesse acendeu para a vida
na boca do meu estômago. Um pequeno chiado de consciência, de potencial, de possibilidades.
Considerei Owen um pouco mais atentamente, deixando meus olhos flutuarem sobre seus
ombros poderosos, braços grossos, peito sólido. O formigamento quente espalhou-se, ondulou
através do meu estômago, e flutuou ainda mais baixo. Hmm. Talvez eu devesse aceitar Owen
Grayson com sua oferta de sexo. Talvez isso me ajudasse a purgar estes sentimentos
persistentes que eu tinha por Donovan Caine e tirar o detetive do meu sistema de uma vez por
todas.

? Eu te pedi antes, e vou te pedir de novo, ? Grayson disse. ? Saia comigo, Gin. Jantar,

dançar, um filme. O que você quiser. Comigo. Tudo o que peço é o prazer de sua companhia.

Tomei outro gole da minha bebida amarga. ? E se eu não for uma boa companhia?

Ele deu de ombros. ? Então vamos marcá-lo como um experimento fracassado. O que
você diz?

Abri a boca para dizer... alguma coisa, não estava bastante certa do que, quando uma
mulher pisou na frente de nossa cabine.

? Owen! Que prazer vê-lo aqui esta noite, ? A mulher disse.

Eu a reconheci. Roslyn Phillips. A vampira madame e proprietária da Agressão do Norte.
Roslyn era uma mulher deslumbrante da cabeça aos pés. Seios cheios, atrevidos, coxas firmes,
quadris curvos, e um traseiro que parecia ter sido esculpido por Michelangelo. Com uma figura
assim, não era de admirar que Roslyn utilizasse sexo para ganhar poder, juntamente com
sangue.

Alguns vampiros eram assim, principalmente os que trabalhavam no comércio de carne
de Ashland. Todos os vampiros precisavam de sangue, claro, bebendo-o da forma como os
humanos poderiam engolir uma dose diária de vitaminas. Mas muitos vampiros também
ficavam igualmente fortes com sexo - ou alimentando-se das emoções dos outros. Aqueles que
cobravam por seus serviços sexuais experimentavam o zumbido e eram pagos por seu tempo e
experiência. Ganha-ganha para eles. É por isso que a grande maioria das prostitutas em
Ashland era vampira. Bem, isso e o fato de terem vivido tanto tempo. Prostituir-se era uma
habilidade que sempre estaria em demanda, apesar da mudança dos tempos. Sempre bom ter
um plano B a recorrer, em caso de recessão ou péssimos investimentos em ações.

Roslyn Phillips estava vestida para uma noite no clube, e a minissaia prateada e o paletó
combinando da vamp mostravam todos os seus bens gloriosos à sua perfeição suprema. Agora,
eu não parecia surrada demais esta noite em minhas calças pretas que se ajustavam a minha
forma, camisa de seda azul e botas de grife. Mas próxima à beleza nocauteante de Roslyn, eu
poderia muito bem ter sido um pedaço de pobre lixo branco vestindo um saco de batata cheio
de buracos. E o rosto da vampira era tão atraente quanto o resto dela. Olhos e pele da cor de
caramelo escuro derretido. Cabelo preto cortado com penas 9 que apenas roçavam a ponta do
seu queixo. Um nariz pequeno, pontudo. Dentes ofuscantemente brancos completos por duas
presas perfeitamente apontadas.

Owen ficou de pé e beijou a vampira na bochecha. ? Roslyn. Bom te ver também. Deixe-
me apresentar minha companhia. Roslyn, está é…

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? Gin, ? A vampira disse em um tom neutro.

Owen franziu o cenho. ? Vocês duas se conhecem?

Sorri. ? Oh, Roslyn e eu somos velhas amigas. Não somos, Roslyn?

? É claro, ? Ela murmurou. ? É claro.

Owen sentou de novo ao meu lado, mas Roslyn ficou onde estava. Ela me considerou com
seus olhos caramelo. Depois de um momento, afundou seus dentes em seu lábio inferior.
Pensando em algo.

Roslyn Phillips e eu não tínhamos o melhor relacionamento do mundo. Uma vez, eu
tinha matado o abusivo cunhado de Roslyn para impedi-lo de espancar a irmã e a jovem
sobrinha da vamp. Eu tinha feito o trabalho em segredo, mas Roslyn ainda assim tinha
descoberto que era eu. Ela tinha sussurrado sobre a minha marca particular de serviços para
uma de suas garotas. Essa informação chegou aos ouvidos errados, o que tinha eventualmente
resultado em Fletcher Lane sendo assassinado dentro do Pork Pit. No funeral do velho, eu disse
a Roslyn à queima-roupa que ela me devia por um longo tempo por sua língua solta, que
qualquer coisa que eu quisesse ou precisasse, ela me daria - ou seria morta.

Roslyn tinha levado o nosso acordo a sério. Quando eu tinha vindo chamar algumas
semanas atrás, ela me tinha me dado tudo que eu precisava para me disfarçar como uma de
suas prostitutas e me esgueirar na festa exclusiva de Mab Monroe para que eu pudesse me
aproximar de Tobias Dawson - e ela tinha aguentado quando Elliot Slater e seus homens
chegaram para questioná-la após o fato. Imaginei que estávamos praticamente com tudo pago
agora, mas eu não estava prestes a dizer isso a Roslyn. Especialmente quando ela estava me
encarando como se estivesse considerando algo importante.

? Há algo que eu posso fazer por você, Roslyn? ? Perguntei.

Roslyn mastigou seu lábio por mais alguns segundos. Então ela assentiu. ? Yeah, na
verdade há…

? Pensei ter dito a você para esperar nos fundos por mim, baby, ? Uma voz baixa cortou

pela multidão.

Os olhos de Roslyn se arregalaram, e ela congelou. Medo puro e não diluído preencheu
seus olhos caramelo. A emoção rolou para fora dela do jeito que a magia poderia de um
elemental. Eu podia sentir o calafrio disso assim como podia daquele emanando do bar de Gelo
a vários metros de distância.

Olhei além de Roslyn para o homem falando. Estrutura de 2,10 metros. Feições pálidas,
albinas. Olhos cor de avelã claros. E punhos do tamanho de presuntos. Elliot Slater fitava a
linda vampira com uma expressão fria que indicava que ela tinha feito algo muito, muito
errado.

Porra. O que o gigante estava fazendo aqui? Segurei uma das minhas facas silverstone sob
a mesa. Ao meu lado, Owen Grayson franziu o cenho, mas não se moveu nem disse nada.
Homem esperto. Se ele sequer desse a entender a Slater que eu tinha uma arma, Owen se
encontraria bebendo por um canudo pelo resto de sua vida - no mínimo. Apesar do
formigamento quente de atração que ainda chiava em meu estômago.

Roslyn estampou um sorriso falso e tenso no rosto e virou-se para enfrentar o gigante.
Deslizei um pouco mais perto da borda da cabine, apenas no caso de precisar levantar e
apunhalar Slater às pressas.

? Olá, Elliot. ? A voz de Roslyn era tão sedosa como sempre, mas uma subcorrente de

medo e tensão coloria seu tom.

Antes que eu soubesse o que estava acontecendo, Elliot Slater estendeu o braço, agarrou
Roslyn pelo pescoço, e a puxou para cima contra seu corpo. ? Eu disse a você para esperar nos
fundos por mim, baby. Não ficar passeando aqui fora para cada pau dar uma boa olhada em
você. Você é minha agora. Ou se esqueceu disso?

Dele? Roslyn era dele? O que diabos estava acontecendo aqui?

Roslyn tentou sorrir, mas não saiu muito bem. ? Agora, Elliot, nós já conversamos sobre
isso. Você sabe que preciso sair para o clube à noite e me misturar com as pessoas. É o esperado
de mim.

O gigante a sacudiu do jeito que um terrier poderia estalar o pescoço de um rato. ? E eu
te disse que ninguém mais vê esse traseiro quente exceto eu. Compreende, baby?

Neste ponto, outras pessoas tinham notado o confronto, incluindo Finn. Ele tinha se
afastado do bar e da prostituta loira e estava se dirigindo na direção de Roslyn. O que ele
pensava que estava fazendo? Além de ser batido até uma polpa sangrenta por Elliot Slater?

Alguém mais também estava interessado na situação. Xavier, policial de meio expediente
e principal porteiro da boate, empurrou através da multidão. O gigante se aproximou de Slater.

? Deixe-a ir, ? A voz de Xavier ressoou pelo clube. As mãos do gigante se cerraram em

punhos, prontas para machucar o outro homem. ? Você não é mais bem-vindo aqui.

Um silêncio caiu sobre a multidão. Os dançarinos pararam de dançar, os fumantes
pararam de fumar, os bebedores pararam de beber. Até mesmo as pessoas ocupadas sob as
mesas pausaram seus abraços apaixonados. Todos focaram na cena diante deles, e todos
recuaram para longe dos dois homens. Ninguém queria ficar no meio de uma disputa entre
dois gigantes.

Elliot Slater considerou Xavier com a mesma expressão fria que tinha a Roslyn um
momento atrás. Então ele usou sua velocidade incrível para dar um soco inesperado no outro
gigante. Xavier não viu isso chegando, e o punho de Slater bateu diretamente em sua garganta
com força suficiente para matar uma vaca. Xavier desmoronou no chão, ofegando por ar. Um
par de outros seguranças do clube adiantou-se para vir em defesa de sua chefe. Slater estalou os
dedos e dois gigantes empurraram no meio da multidão para ficarem atrás dele, vigiando suas
costas. Eles eram os mesmos capangas que tinham segurado meus braços enquanto Elliot
Slater tinha me batido duas noites atrás.

Xavier chiou no piso de bambu, e Elliot tinha o pescoço de Roslyn puxado para trás tanto
que ele poderia estalá-lo com um pensamento. Olhei para Finn. Ele pegou uma garrafa de
cerveja da mesa mais próxima e acenou para mim. Eu acenei de volta. Debaixo da mesa, a mão
de Owen Grayson se assentou na minha perna. Olhei para ele. O empresário tinha a mão em
volta do seu copo de uísque, pronto para usá-lo como uma arma. Grayson piscou para mim. O
que quer que Finn e eu fizéssemos, ele estava pronto. Eu tinha que admitir que a piscadela foi
meio sexy. Isso me fez gostar dele um pouco mais.

Elliot virou sua atenção de volta para Roslyn. ? Agora, baby, vamos para os fundos e
conversar sobre você me desebedecendo mais uma vez.

Elliot se inclinou e plantou um beijo gentil nos lábios trêmulos de Roslyn, como se ela
fosse o amor de sua vida. Como se ela fosse realmente preciosa para ele - e ele não estivesse a
um centímetro de distância de acabar com sua existência.

Fiquei tensa, me preparando para atacar enquanto ele estivesse distraído.

Antes que eu pudesse me mover, ouvi o distinto clique do martelo sendo pressionado de
volta em uma arma no silêncio abafado. Bem, isso certamente tornava as coisas muito mais
interessantes.

Slater ouviu isso também. Ele rompeu o beijo e se virou, movendo seu corpo o suficiente
para eu ser capaz de ver além dele e dar uma olhada na pessoa apontando uma arma para sua
cabeça - Bria.

5

Elliot Slater não parecia especialmente preocupado por Bria ter uma arma apontada para
sua cabeça. Nenhuma razão real para estar. Gigantes tinham crânios espessos. A única maneira
de fazer verdadeiro dano era colocar algo através de seus olhos e até seu cérebro. A maioria das
pessoas simplesmente não podia atirar tão bem sob pressão.

Quanto a sua parte, Bria não parecia particularmente interessada por Slater estar olhando
para ela como se fosse rasgar a cabeça dela para fora de seu corpo, retirar a espinha, e comê-la
para o jantar. Em vez disso, ela olhou para ele com um olhar frio, os olhos de safira como
pingentes de gelo em seu rosto adorável.

— Eu acho que a senhora quer que você a deixe sozinha, — Bria disse em uma voz dura.
— Então, por que você não faz isso? Agora.

Elliot soltou Roslyn, que tropeçou para longe. Owen deslizou para fora da cabine e pegou
a vampira antes de ela atingir o chão.

— Você sabe quem eu sou? — Slater retumbou. — Para quem eu trabalho?

Bria sorriu, e seus olhos gelaram ainda mais. — Elliot Slater. Chefe de segurança de Mab
Monroe. E, dado o que eu vi aqui, esta noite, um verdadeiro bastardo que gosta de intimidar
mulheres.

Os olhos castanhos do gigante se estreitaram com malícia. Murmúrios chocados
percorreram a multidão. Ninguém podia acreditar no que estava vendo - alguém enfrentando
Slater e seus capangas.

— No caso de você não saber quem eu sou, gostaria de compartilhar. — Bria colocou a
mão no bolso de sua jaqueta de couro preta e tirou um crachá dourado. Ela ergueu-o para que a
multidão pudesse olhar o metal brilhante. — Sou uma detetive do Departamento da Polícia de
Ashland.

Apesar da situação, eu não podia evitar o surto de orgulho quente que me encheu. Não
porque eu tinha qualquer amor pela polícia, mas por causa de Bria. Minha irmãzinha estava
realmente enfrentando Elliot Slater, realmente tentando ajudar Roslyn, que estava tão
obviamente em apuros. Poderia ter sido estúpido, enfrentar alguém tão poderoso e bem
conectado como Slater, mas eu não vi nenhum medo no rosto de Bria, só fria e dura
determinação. Ela não era alguém com quem se podia brincar, tal como eu, o que me fez
gostar dela ainda mais. Talvez tivéssemos mais em comum do que eu pensava. Talvez muito
mais.

— Você não está de folga hoje à noite, detetive? — Slater perguntou.

— Eu estava apreciando a música e um mojito até que você começou a causar problemas,
— Ela estalou. — Mas policiais como eu nunca estão realmente de folga. Então, se você não
deixar o local imediatamente, Sr. Slater, eu vou prendê-lo por agressão, entre outras coisas.

Slater cruzou os braços sobre o peito, considerando a situação. Juntei minhas pernas
debaixo de mim, pronta para saltar e atacar. Se Slater fizesse um movimento em direção a Bria,
ele estava morto. Eu subiria nas costas dele, chegaria perto, e cortaria sua garganta, se ele

apenas a tocasse. O gigante não ia machucar minha irmã como ele tinha me machucado na
faculdade da comunidade. Eu lidaria com as consequências - e Mab Monroe - depois.

Olhei para Finn. Ele ainda segurava a garrafa de cerveja para baixo a seu lado. Ele
deslizou através da multidão, de modo que ele estava atrás dos dois gigantes que Slater havia
trazido para backup. Finn e eu tínhamo-nos unido para apanhar mais do que algumas pessoas
em nosso tempo. Ele lidaria com os subalternos e mantê-los-ia ocupados, enquanto eu ia atrás
de Slater.

Elliot olhou para Bria mais alguns segundos, em seguida, descruzou os braços. — Tudo
bem. Eu vou embora. Não quero que você tenha que trabalhar horas extra esta noite, detetive.
— O gigante se virou para Roslyn, que estava amontoada no chão ao lado de Owen Grayson.
Slater colocou dois dedos nos lábios e mandou um beijo para a vampira. — Mais tarde, baby.

As pessoas correram para sair do caminho de Slater quando ele atravessou a pista de
dança. Seus dois capangas deram a Bria um olhar duro por mais um momento, antes de
seguirem o seu chefe para fora na noite.

Bria manteve sua arma nivelada nas costas largas dos gigantes até os três homens saírem
do clube.

Então ela abaixou e guardou sua arma. Bria soltou um suspiro e colocou o cabelo loiro de
volta atrás de uma orelha. Seus dedos se contraíram com o movimento. Era natural que ela se
sentisse um pouco instável depois de ameaçar matar um dos homens mais perigosos em
Ashland.

Mas Bria colocou de volta a cara de poker e foi verificar Roslyn. Minha irmã ajoelhou-se
ao lado da vampira e murmurou para ela. Roslyn sacudiu a cabeça e abraçou os braços contra o
peito. Mais uma vez, aquela centelha de orgulho quente me encheu pelas ações carinhosas de
Bria. Ela realmente era boa, forte e determinada. Me lembrava de mim. Bem, exceto pela parte
boa.

Como eu não queria ficar no meio delas duas, bebi o resto do meu gin, joguei o gelo em
um guardanapo e fui para Xavier. O gigante estava caído contra o lado de uma cabine, apenas
tentando respirar. Seus olhos negros pareciam irritados e derrotados sob as luzes suaves do
clube. Escárnio retorcia os lábios de Xavier, como se ele estivesse enojado consigo mesmo por
não ser capaz de se livrar de Slater sozinho.

— Aqui, — eu disse, estendendo o guardanapo cheio de gelo. — Coloque isso contra sua
garganta. Vai ajudar com o inchaço.

O gigante ainda não podia falar, mas ele assentiu e pegou o guardanapo. Finn trabalhou
seu caminho através da multidão vibrante e se agachou ao lado de nós.

— Ele vai ficar bem? — Finn perguntou em voz baixa.

— Ele ainda está respirando, não é? — Respondi.

Normalmente, eu não teria sido tão dura com Finn. Mas agora eu sabia exatamente por
que ele me arrastou esta noite para a Agressão do Norte e qual era o pequeno problema que
Finn tinha prometido a Xavier que ajudaria - a assustadora fixação de Elliot Slater com Roslyn
Phillips. Finn me trouxe aqui para que eu o visse em primeira mão, assim eu veria exatamente
como Roslyn estava apavorada por causa de Slater. Finn tinha armado para mim. Trouxe-me
aqui para apelar à minha compaixão.

E funcionou.

Olhei para Finn, o conhecimento em chamas em meus olhos. Ele baixou o olhar do meu.

Culpado.

— Há algo que eu possa fazer por ele? — Finn perguntou em tom baixo.

— Vá buscar o recipiente com a pomada de cura de Jo-Jo que você mantém escondido em
seu carro. Xavier precisa dela mais do que você hoje à noite.

Finn assentiu, levantou-se e saiu. Virei-me para o gigante, que estava olhando para
Roslyn. Preocupação enchia seu olhar escuro, junto com outras emoções quentes e suaves. O
pobre rapaz mal podia espremer ar suficiente pela garganta machucada para continuar a viver,
e seu único pensamento era a vampira. Se pudesse, eu imaginava que Xavier teria se arrastado
até ela e a teria segurado em seus braços enormes. O fato de Xavier estar apaixonado por
Roslyn ia fazer tudo isso muito mais difícil.

— Xavier.

A cabeça do gigante girou de volta para mim.

— Eu quero que você e Roslyn vão ao Pork Pit para o almoço de amanhã para que
possamos falar sobre algumas coisas, — eu disse. — Entendeu?

Xavier lentamente assentiu. Surpresa cintilou em seu olhar negro, juntamente com outra
emoção que fez meu estômago retorcer. Esperança.

— Vamos fazer um almoço tardio, digamos por volta das duas horas.

O gigante assentiu novamente.

— Bom, — eu disse. — Até então.

Não demorou muito para que a música voltasse, e todos retornassem às suas ocupações
anteriores. Fumar, beber, dançar, foder. Como se os eventos de alguns minutos atrás nunca
tivessem acontecido. Algumas pessoas em Ashland tinham uma capacidade de concentração
realmente pequena.

Finn voltou com a pomada, que eu espalhei na garganta de Xavier. Além de curarem
com as mãos, os elementais do ar como Jo-Jo Deveraux, podiam também infundir a sua magia
rica em oxigênio em determinados produtos para dar-lhes um impulso extra, como pomada
antibiótica. Xavier ficou imóvel enquanto a pomada brilhante trabalhava sua magia. Menos de

um minuto depois, o feio e roxo machucado em forma de punho na sua garganta desapareceu,
o inchaço retrocedeu, e sua respiração diminuiu para um padrão suave de inalação e exalação.

Assim que pôde, Xavier se levantou e foi até Roslyn, que ainda estava conversando com
Bria. Ou melhor, ainda estava ignorando Bria. A vampira tinha se erguido para um banco, onde
ela estava sentada olhando para o espaço. Bria estava empoleirada ao lado dela, falando em voz
baixa. Provavelmente conversando com Roslyn sobre Elliot Slater e tentando convencer a
vampira a prestar acusações contra o gigante. Mas Roslyn não estava respondendo.

Frustrada pela falta de resposta da vampira, Bria levantou-se e começou a andar para trás
e para a frente ao pé do banco durante um minuto antes de se sentar ao lado da vamp e tentar
novamente. Seu mojito e noite de boate estavam esquecidos. Minha irmã parecia levar seu
trabalho como membro da polícia a sério. Tão orgulhosa dela como isso me fez, eu também
sabia que era algo que poderia ser problemático para mim, mais tarde, por várias razões.

Como Roslyn estava ocupada, Owen Grayson derivou em minha direção. A esta altura, eu
tinha ido para o bar de gelo e pedido outro gin. Um que tinha um gosto ainda mais amargo do
que os meus dois primeiros. Mas isso não importava muito, já que Finn tinha saído para pegar
o carro e me levar para casa. Eu tinha visto o que ele queria que eu visse. Não havia mais razão
para ficar no clube esta noite. Além disso, eu nunca fui de ficar e me embasbacar com a parte
final dos conflitos. Minha antiga profissão como assassina tinha impedido esse tipo de coisa de
qualquer maneira.

Grayson pegou o banco ao meu lado e pediu mais um uísque. Seus olhos violeta foram
para sua irmã Eva, que estava mais uma vez se divertindo com o resto das pessoas na pista de
dança. Depois de ter a certeza que ela estava bem, Owen voltou seu olhar para mim.

— Sabe, Gin, — ele disse. — Você nunca me respondeu.

Owen Grayson era persistente, se nada mais. Pensei em como ele tinha prontamente
ficado do meu lado contra Elliot Slater - e como ele tinha pego Roslyn depois que o gigante a
tinha empurrado para longe.

— Tudo bem, — eu disse. — Vou jantar com você, Owen.

Um sorriso se esticou em seu rosto, suavizando o traço rígido de suas características. —
Excelente. Uma noite esta semana?

Dei de ombros. — Claro. Eu ligo para você.

— Tente não parecer tão entusiasmada, — ele respondeu em tom seco. — Ou eu posso
não ser capaz de me conter. Meu ego pode ficar inflado ou algo assim.

Eu sorri pelo humor sardônico. Meus olhos deslizaram sobre seus ombros largos e corpo
forte novamente. Lembrei-me da maneira como Owen segurou minha mão e do calor
surpreendente que isso tinha criado em mim. Terminei o resto do meu gin e fiquei de pé.

Então, inclinei-me e coloquei minha boca perto do ouvido de Owen. — Na verdade, eu
prefiro economizar meu entusiasmo para atividades mais vantajosas - como aquelas na cama.

— Posso ter isso por escrito? — Ele murmurou.

Owen voltou sua cabeça para que seus lábios estivessem a um centímetro dos meus. Olhei
em seus olhos violeta, e o seu cheiro tomou conta de mim, um aroma rico a terra que me fez
pensar em metal. Inclinei-me para a frente e escovei meus lábios sobre os seus. Foi um contato
breve e suave, e nada como os frenéticos beijos de língua que eu tinha compartilhado com
Donovan Caine. Ainda assim, mais faíscas surgiram na boca do meu estômago com a sensação
da boca de Owen na minha, o calor de seu corpo se misturando com o meu. Mmm. Talvez
jantar com Owen seria mais divertido do que eu imaginava. Talvez um monte de outras coisas
também fossem mais divertidas.

Eu me afastei. Desejo iluminava os olhos de Owen de modo que eles quase brilhavam,
mas eu me achei procurando outras emoções em seu olhar. Porque culpa e tristeza e uma
ponta de medo sempre giravam nos olhos de Donovan Caine quando ele olhava para mim. Mas
eu não os encontrei. Apenas desejo e determinação.

— Se isso é uma amostra do que está por vir, mal posso esperar pelo jantar, — Murmurou
Owen.

— Tente não parecer tão entusiasmado, — Eu brinquei. — Ou eu não serei capaz de me
conter.

Ele sorriu. — Posso ter isso por escrito também?

Eu ri. Owen se juntou a mim com a sua risada forte. Sentindo-me estranhamente mais
leve do que me tinha sentido em muito tempo, pisquei para ele e me afastei.

Trinta minutos depois Finn dirigiu por um caminho muito sinuoso que percorria um dos
muitos cumes íngremes das montanhas Apalache que cortavam Ashland como fileiras de
dentes de tubarão. Nós não tínhamos falado desde que tínhamos deixado Agressão do Norte.
Finn percebeu que eu estava regiamente chateada com ele por me convencer a ir ao clube em
primeiro lugar. Ele teve o bom senso de não tentar falar. Hoje à noite, pelo menos.

O caminho se abriu em uma pequena clareira no topo da colina, e Finn parou seu Aston
Martin no cascalho fora da casa de Fletcher Lane.

Além de me deixar o Pork Pit e um monte de dinheiro em seu último testamento, o velho
também me tinha deixado a sua casa, uma estrutura de três andares em madeira que havia sido
construída antes da Guerra Civil. Ao longo dos anos, os vários proprietários da casa tinham
adicionado à estrutura original uma variedade de estilos. Para além da madeira branca, a casa
era uma mistura de pedra cinza, tijolo marrom e argila vermelha. Um telhado de estanho
cobria toda a estrutura, em conjunto com os obturadores pretos e beirais azuis. A coisa toda
parecia uma casa de boneca esfarrapada que havia sido construída com pedaços que sobraram.

Mas era um lar para mim. Sempre tinha sido, sempre seria.

Finn suspirou na escuridão. — Gin, eu…

— Vamos falar sobre isso amanhã, — eu disse, virando-me para olhar para ele. — Quando
Xavier e Roslyn vierem ao restaurante para o almoço.

Finn piscou. — Eles vem ao Pork Pit?

— Às duas. Esteja lá.

Ele hesitou, depois assentiu. — Obrigado, Gin.

— Não me agradeça ainda. Eu não fiz nada.

— Mas você vai, — Finn respondeu. — E isso é tudo o que importa.

Ele estendeu a mão e apertou a minha. Apesar do fato de que eu ainda estava zangada
com ele, depois de um momento eu apertei de volta. Gostando ou não, Finn era como um
irmão para mim, e no final, isso era tudo o que realmente importava.

6

Finn prometeu estar no Pork Pit amanhã, quando Roslyn e Xavier aparecessem, em
seguida, ele voltou para seu apartamento na cidade. Mas ao invés de imediatamente ir em
direção a casa, eu fiquei na entrada, ouvindo o cascalho debaixo dos meus pés para ver se eu
tive algum visitante inesperado hoje. Eu poderia não ser mais a assassina Aranha, mas ainda
havia muita gente que gostaria de colocar as mãos em mim, incluindo Jonas McAllister.

Mas não havia sons nas pequenas pedras soltas que não deveriam estar lá. Sem gritos de
perigo, sem notas de preocupação, sem trinados de ansiedade. Apenas o rangido suave das
árvores, o andar suave de esquilos, porquinhos da índia e coelhos, o assobio do vento em torno
do cume. Murmúrios suaves e macios. Mas os sussurros reconfortantes ainda não me
impediam de verificar o granito negro que emoldurava e compunha a porta da frente para ver
se alguém podia estar escondido dentro da casa de Fletcher Lane.

Abri meus dedos sobre a pedra fria que constituía a entrada principal. O murmúrio do
granito estava baixo e mudo, como sempre. Ninguém tinha estado perto da casa durante todo o
dia. Bom. Mesmo se alguém tivesse chegado até a casa, teria tido um inferno de um tempo para

conseguir passar pela porta da frente, graças as suas robustas trancas e construção sólida. Como
proteção adicional, veias finas de silverstone corriam pela porta de granito preto e barras de
silverstone cobriam todas as janelas. Silverstone podia absorver qualquer tipo de magia
Elemental - Ar, Fogo, Gelo, ou Pedra - bem como poder de pessoas talentosas em outras áreas
elementares, como água, metal, eletricidade, ou até mesmo ácido. Alguém com magia
suficiente poderia, eventualmente, superar a porta de silverstone e granito e forçar seu
caminho dentro da casa, mas ela perderia muito suco ao fazer isso. O que iria fazê-la muito
mais fácil para despachar com uma das minhas facas.

Abri a porta da frente e entrei. Uma vez que tantas adições haviam sido pregadas na casa
ao longo dos anos, a disposição interior era um pouco de um labirinto. Quartos quadrados,
quartos ovais, até mesmo a área com a forma de um pentágono, todos ligados por corredores
torcidos que curvavam em volta, iam terminar uns nos outros, e muitas vezes levavam para o
outro lado da casa inteiramente. Outra vantagem, tanto quanto me dizia respeito. Mesmo se
alguém pudesse romper o granito ao redor da porta da frente, ela teria muita dificuldade em
me encontrar antes que eu saísse através de uma das muitas passagens secretas – ou desse a
volta por trás dela. Toda a magia Elemental em Ashland não o salvaria de uma faca silverstone
nas costas.

Ganha-ganha para mim, de qualquer maneira.

Joguei minhas chaves em uma tigela na porta da frente, tirei as botas de grife,
desenhadas por Bella Bulluci que Finn insistiu em que eu só tinha que ter para o meu
aniversário, e me dirigi para a cozinha na parte de trás da casa. Depois que me servi de um
copo de gin, me dirigi para o recanto do andar de baixo e sentei no sofá. Como sempre, o meu
olhar subiu para a lareira, onde uma série de desenhos de runas ficava. Quatro desenhos totais,
três que eu tinha feito para uma das minhas muitas aulas da faculdade comunitária e outro,
mais recente.

As três primeiras runas eram os símbolos da minha família morta. Um floco de neve, a
runa da minha mãe, Eira, e que representa calma gelada. A vinha de hera ondulada, que havia

pertencido a minha irmã mais velha, Annabella, simbolizando elegância. E uma Prímula
delicada que tinha sido a runa de Bria – o símbolo da beleza.

A quarta runa era um pouco diferente, já que tinha a forma de um porco, segurando uma
bandeija de comida – a minha própria prestação para o letreiro em néon colorido que cobria a
entrada do Pork Pit. Não era exatamente uma runa, não como as outras três, mas eu a esbocei
em honra a Fletcher Lane. Na minha mente, Fletcher e o Pork Pit eram uma e a mesma coisa, e
ambos eram símbolos de casa, conforto, segurança.

Meus olhos deslizaram sobre as runas, então pararam na prímula. O símbolo da Bria.
Quando éramos crianças, nossa mãe tinha dado a cada uma de nós uma runa para combinar
com as nossas personalidades e tinha feito pequenos medalhões silverstone com elas para
usarmos. Eu não conseguia acreditar que Bria ainda tinha o seu colar – e que ela estava usando
todos esses anos depois. Eu fiz as contas na minha cabeça. Bria tinha oito anos na noite que
nossa mãe e irmã mais velha tinham morrido, então ela teria 25 agora. Aos trinta anos, eu sou
cinco anos mais velha.

Suspirei, tomei um gole de gin, e fiz uma careta. Ainda amargo.

Coloquei o copo de lado e me inclinei para frente, olhando para uma pasta de
documentos descansando em cima da mesa de café marcada, juntamente com uma única
imagem. A foto era de Bria, é claro. Cabelos loiros, olhos azuis, boca dura. Ela parecia a mesma
na imagem colorida como ela parecia em carne duas noites atrás e mais cedo nesta noite em
Agressão do Norte.

Finn tinha escrito uma única palavra sobre a etiqueta da pasta - Bria . A pasta continha
toda informação que ele tinha sido capaz de desenterrar sobre minha irmã até o momento. Sua
história de trabalho, registros financeiros, hábitos, hobbies, vícios. Finn já tinha lido através da
informação, mas por algum motivo, eu simplesmente não conseguia olhar para isso.

Eu queria… não sabia o que diabos eu queria. Talvez a oportunidade de conhecer Bria
como uma pessoa real, ao vivo, em vez de folhear as páginas cuidadosamente ordenadas de sua

vida do jeito que eu faria quando eu estava conferindo um alvo em potencial, tentando
descobrir como chegar perto o suficiente para matá-lo. Talvez até mesmo para Bria me dizer
todos os seus segredos, da maneira que uma verdadeira irmã poderia.

Eu não me considerava uma pessoa sentimental. Observar a minha família ser frita como
uma batata frita quando criança e então ser forçada a me virar sozinha para sobreviver nas ruas
de Ashland foi mais do que o suficiente para chocar o sentimento para fora de mim para
sempre. Mas desde que eu descobri que Bria estava viva, desde quando eu vi aquela foto dela
que Fletcher tinha deixado para mim, eu estava sonhando com como ela se pareceria. Sobre
como seria quando nos víssemos outra vez.

Eu até fantasiei com Bria imediatamente me reconhecendo, sorrindo, e correndo para me
dar um grande abraço - enquanto algum tipo de música inspiradora tocava no fundo. Em vez
disso, minha irmãzinha me viu no meu pior – jogando o papel de vítima. Eu não tinha certeza
qual era a maior mal - minha fantasia distorcida ou a realidade dura e sangrenta.

Meus dedos traçaram sobre o nome de Bria, e eu enganchei uma unha debaixo da
etiqueta, pronta para abri-la e ver quais segredos minha irmãzinha esteve mantendo. Mas eu
simplesmente não consegui fazê-lo. Não essa noite. Talvez fosse sentimental da minha parte,
mas eu queria adiar mais as duras realidades que eu tinha certeza que a pasta continha – pelo
menos por esta noite.

Então eu deixei a pasta onde estava, engoli o resto do meu gin amargo, e me dirigi ao
andar de cima para a cama.

O punho saiu do nada. Em um minuto eu estava correndo pelo interior enfumaçado da
nossa casa tentando fugir dos homens que estavam me perseguindo. Em seguida eu fui
confrontada com um punho gigante, maior do que a minha cabeça. Ele encheu minha visão
por meio segundo antes de bater na lateral do meu rosto. Dor explodiu em meu corpo, e a
força do golpe atirou-me cinco metros pelo ar. Caí duro em um pedaço de tapete coberto de
fuligem e queimando.

Eu gemi, rolei, abri meus olhos – e me vi olhando para uma casca queimada, enegrecida
de um corpo. Minha mãe, Eira. Mesmo através da pele crocante e em ruínas e cinza escamosa,
eu podia ver o brilho branco de seus dentes, sua boca aberta em um último grito. A única outra
coisa que a magia elemental do Fogo não havia derretido foi a runa de floco de neve em
silverstone da minha mãe, a que ela sempre usava no pescoço. O símbolo para a calma gelada.
A runa brilhava como um diamante de prata contra a pele queimada de minha mãe.

Lágrimas encheram meus olhos pela visão horrível. Eu me virei e tentei não vomitar.

Uma hora atrás, eu tinha acordado para encontrar gigantes invadindo a nossa casa. E eles
não estavam sozinhos. Um Elemental de fogo estava com eles – uma mulher. Seu riso soou
pela casa como um lamento escuro, junto com a sensação, quente pinicando de sua magia. A
Elemental de fogo e seus homens invadiram a nossa casa e deixaram uma trilha de morte e
destruição em seu rastro. Minha mãe tinha ido para baixo para tentar parar a Elemental de
fogo.

Assim como minha irmã mais velha, Annabella.

Através da fumaça e neblina, eu tinha visto minha mãe duelar com a Elemental, usando
sua magia de Gelo para tentar dominar a outra de Fogo. Mas a outra Elemental tinha sido mais
forte, e minha mãe havia desaparecido em uma bola de fogo. Furiosa, Annabella tinha me
jogado para o lado e correu para a defesa da nossa mãe. Annabella havia morrido alguns
segundos mais tarde, em outra bola de fogo explosiva – sua camisola branca iluminada como
uma vela macabra. A Elemental de Fogo riu o tempo todo.

Eu ia correr.

Longe da Elemental, longe do fogo, longe dos pesadelos, figuras queimadas que tinham
sido minha mãe e irmã mais velha. Eu corri pelo corredor, arranquei Bria da cama, e a puxei
pela casa tão rápido quanto podia. Nós tínhamos que colocar distância. Tínhamos que sair da
casa. Eu empurrei Bria para um terraço de pedra que dava para o jardim, na esperança de sair
desse jeito. Mas havia mais homens à espera fora da casa. Eles tinham me visto e começaram a

caça. Então, eu escondi Bria em um dos nossos lugares favoritos e corri de volta para a casa,
levando-os para longe dela.

Mas um deles tinha ficado esperando por mim dentro da casa – o gigante que tinha me
socado. Tentei levantar, para fugir novamente, mas alguém pegou o meu cabelo longo,
castanho e emaranhado e me puxou de pé. Era difícil ver através da fumaça que escurecia o
quarto, mas eu vi o gigante puxar seu punho para me bater de novo. Talvez fosse a fumaça,
mas ele parecia ser uma figura pálida e fantasmagórica, como uma espécie de terrível golem
de cinza vindo à vida.

Mesmo enquanto eu gemia e esperava pelo golpe, eu encontrei conforto em uma coisa.
Bria estava segura, escondida no local onde eu a tinha deixado. Os homens da Elemental de
Fogo nunca iriam encontrá-la, e ela estaria a salvo das chamas se espalhando pela casa. Isso era
tudo que importava…

Eu devo ter desmaiado, porque a próxima coisa que eu sabia, era que eu estava sentada.
Estremeci, mas cordas pesadas me seguraram. Minhas mãos pareciam como se estivessem
amarradas demais, com algo frio de metal preso entre elas. Concentrei-me na forma e percebi
que era minha runa de aranha. Alguém tirou o medalhão silverstone do meu colar e enfiou
entre minhas mãos. Mas por quê?

Eu tentei abrir meus olhos para ver o que tinha acontecido comigo, para tentar descobrir
onde eu estava e como eu poderia fugir, como eu poderia voltar para Bria. Mas algo arranhou
contra as minhas pálpebras e as forçou fechadas. Pano, talvez. Eu estava com os olhos
vendados?

— Não adianta lutar, — Uma voz feminina disse no meu ouvido. — Me assegurei que as
cordas são bastante seguras.

A voz baixa e sibilante me lembrou do assobio de uma cobra. Uma unha deslizou na
minha bochecha, deixando uma linha de fogo em seu rastro. Eu gritei e empurrei minha
cabeça para trás da sensação de queimação. A Elemental de fogo me tinha. Eu poderia dizer

que era ela pela forma como a sua magia quente picava contra a minha pele, mesmo se eu não
pudesse vê-la.

— O que você quer? — Sussurrei. — Por que vocês estão fazendo isso?

Ela riu. Um som baixo, zombeteiro que me disse exatamente como eu era impotente.

— Porque eu posso. Porque a cadela da sua mãe tomou muitas coisas de mim ao longo
dos anos. Porque a própria existência da sua pequena família feliz me adoece. Porque precisava
ser feito antes que as irmãs de Neve se tornassem qualquer tipo de ameaça para mim. Mas
principalmente, porque eu queria .

Como alguém poderia querer nos machucar? Por quê? O que nós fizemos à ela? Bile
azeda encheu minha garganta. De alguma forma eu a sufoquei. Vomitar só iria deixá-la mais
irritada.

— Agora querida e doce Genevieve, — A Elemental de Fogo ronronou. — Eu preciso que
você faça algo para mim.

— O… o quê? — Gaguejei.

— Diga-me onde sua irmã Bria está.

Então, a Elemental de fogo e seus homens ainda não tinham encontrado a minha
irmãzinha. Do contrário, ela não estaria perguntando sobre Bria, e eu não estaria viva ainda.
Alívio encheu meu corpo, junto com um pouco de determinação. Um pequeno nó frio no
fundo do meu estômago. Eu não ia dizer a Elemental onde Bria estava, jurei. Não importa o
que ela fizesse para mim. Eu não ia matar minha irmã. Nem agora nem nunca.

A Elemental cavou seus dedos cruéis em meu cabelo e puxou minha cabeça para trás. —
Diga-me agora!

Apenas o toque da mão dela contra a minha cabeça me fez sentir como se ela estivesse
me escalpelando com uma faca em brasa. Lágrimas de dor encheram meus olhos e
encharcaram a venda, mas aquele pequeno nó de determinação apertou dentro de mim.

— Não, — eu sussurrei. — Eu nunca vou te dizer.

Silêncio.

Após alguns segundos, o Elemental de fogo soltou meu cabelo. Passos soaram e eu tinha
a sensação de que ela estava me circulando da maneira que um urubu voava em torno de uma
carcaça. Os passos pararam. Virei a cabeça para lá e para cá, tentando descobrir onde ela estava
e que ela iria fazer a seguir. Inútil.

— Tudo bem, — ela murmurou. — Nós vamos fazer isso da maneira mais difícil. É
sempre mais divertido. No caso de você não ter percebido, eu tomei a liberdade de retirar
aquela pequena runa bizarra que você usa em torno do pescoço. Eu tive um dos meus homens
colando-a com fita adesiva dentro de suas mãos. Você vai me dizer onde sua irmã Bria está, ou
eu vou usar minha magia para aquecer a runa. Eu confio em você saber como a carne
queimada cheira até agora. Imagine sendo a sua própria. O mau cheiro, a dor insuportável, o
conhecimento de que sua própria pele está derretendo em nada. Diga-me, a sua irmã vale tudo
isso?

Pensei em Bria. Doce e pequena Bria com os dedos gordinhos e os olhos azuis grandes e
sorriso tímido. Ela valia a pena. Valia toda essa dor e muito mais.

— Vá… vá para o inferno, cadela, — eu disse na voz mais forte que pude reunir. — Eu
não vou dizer à você nada.

— Tão corajosa, tão jovem, tão estúpida. Seja da sua maneira, então, — A Elemental do
fogo disse.

Por alguns segundos, nada aconteceu. Então eu senti uma sensação de formigamento
quente reunir entre as palmas das mãos. O runa silverstone de aranha ficou quente entre

minhas mãos, e eu comecei a suar, mais por medo do que calor. Ela ia realmente fazer isso.
Realmente ia me torturar. Realmente ia aquecer a runa até que queimasse as palmas das
minhas mãos. Eu me perguntei se isso iria, na verdade, pegar fogo, e se eu estaria envolvida em
chamas junto com ele.

Por um momento, eu vacilei pronta para lhe dizer onde eu tinha escondido Bria. Então eu
pensei em minha mãe e Annabella, em seus corpos queimados, cheios de fumaça deitados no
chão. Não, eu prometi. Eu não faria isso com Bria. Eu não lhe daria à Elemental de fogo. A runa
continuou a aquecer. Senti formar bolhas nas minhas mãos. Tentei me mover, tentei
escorregar o metal por entre minhas mãos, mas elas estavam coladas com muita força. Tudo
que eu podia fazer era sentar lá e suportá-la. As bolhas estouraram e se transformou em uma
sensação de queimação. Eu cerrei os dentes, mesmo que mais lágrimas fluíam para fora dos
meus olhos e o suor escorria dos meus dedos. A queimação intensificou. O que veio após a
queimação? Abrasador? Escaldante? Cauterização? O cheiro acre da minha própria carne
fundida encheu meu nariz, juntamente com o suor azedo e medo.

O riso baixo da Elemental do Fogo tomou conta de mim. Ela estava gostando, gostando
do meu sofrimento, esta dor quente, lancinante e excruciante que senti como se nunca, nunca
acabasse.

Finalmente, eu não aguentava mais. Eu gritei. E mais uma vez. E mais uma vez. E de
novo.

Eu acordei, minha boca aberta num grito silencioso. Meus olhos voaram ao redor do
quarto escuro, e me levou um momento para voltar à mim. Para lembrar que eu estava a salvo
na casa de Fletcher Lane. Que era apenas um sonho, apenas uma memória, e nada mais.

Nada daquilo podia fisicamente me machucar agora. Eu puxei uma respiração irregular e
cai para trás contra o meu travesseiro úmido. Eu estava tendo esses tipos de sonhos desde o
assassinato de Fletcher um par de meses atrás. O velho tinha sido torturado até a morte por
uma Elemental do ar que tinha me contratado para fazer um trabalho, então decidiu me trair e
me assassinar para o golpe não poder ser rastreado até ela. Eu matei a Elemental do ar, é claro,

mas isso não tinha trazido Fletcher de volta para mim – ou parado os sonhos. Se alguma coisa,
era como se a morte do velho tivesse aberto uma comporta para o meu passado, e as imagens
continuavam se derramando, não importa o quanto eu queria que elas afundassem para a
escuridão.

Só que não eram realmente sonhos tanto como memórias do meu passado. Daquela noite
fatídica, quando minha mãe e irmã mais velha haviam sido assassinadas por Mab Monroe. De
quando a Elemental de Fogo havia me torturado para me fazer desistir do esconderijo de Bria.

Abri minhas mãos e olhei para as palmas. Um pouco de luar deslizou pela janela do
quarto e destacou as cicatrizes silverstone em minhas mãos. Um pequeno círculo rodeado por
oito linhas finas. Uma runa de aranha. O símbolo da paciência. Eu estava com as marcas há
dezessete anos, mas esta noite, parecia que elas tinham acabado de ser feitas ontem.

Tudo parecia fresco e cru e dolorido desde o reaparecimento de Bria em minha vida.

Pensei na pasta de informações que Finn havia compilado sobre minha irmã. De que
segredos ela poderia guardar. Fiquei imaginando o que Bria lembrava da noite em que nossa
mãe e irmã mais velha tinham morrido. Se ela sabia que Mab Monroe era a pessoa responsável
por tudo. Porque Bria tinha voltado para Ashland. Por que agora, depois de todos esses longos
anos?

Mas ao invés de sair da cama, descer as escadas, acender uma luz, e olhar para o arquivo
como eu deveria ter feito, eu puxei o lençol até o queixo, como se a flanela macia e quente
pudesse me proteger de, bem, tudo. Todas as coisas horríveis que tinham acontecido, e todas as
que ainda estavam por vir.

Amanhã, pensei. Eu olharia para as informações amanhã.

Esta noite, eu só queria dormir - e esquecer.

7

Exatamente às duas horas da tarde seguinte, Xavier abriu a porta da frente do Pork Pit,
fazendo o sino badalar. Pontual. Eu gostava disso em um homem.

O gigante segurou a porta aberta para Roslyn Phillips poder manobrar em torno dele e
entrar. A madame vampira e dona da boate estava vestida de forma simples hoje em um par de
calças de lã preta e uma espessa camisola de gola alta cor marfim. Um casaco preto e marfim a
combinar cobria os ombros magros, e óculos prateados estavam empoleirados na ponta do seu
nariz.

Roslyn ainda era uma mulher notável, mesmo sem as roupas de festa e maquiagem
pesada que ela usava quando trabalhava na Agressão do Norte.

Catalina Vasquez, uma das minhas melhores garçonetes, ouviu o sino badalar também.
Sua cabeça levantou do livro de química que ela estava lendo. Como eu, Catalina era uma
estudante na Faculdade Comunitária de Ashland que trabalhava a tempo parcial no Pork Pit
para fazer face às despesas. Com seu longo cabelo preto, olhos castanhos e figura curvilínea,

Catalina era bastante popular com os meus clientes masculinos - especialmente Finnegan
Lane, que sempre parava para admirar seus bens quando entrava no restaurante.

Catalina pegou um par de menus de um suporte na parede de trás e correu para trás do
balcão longo que corria de um lado da churrascaria. Ela chegou ao fim, onde eu estava
empoleirada no meu banco do costume atrás da caixa registradora antiga. Larguei a cópia de
As Aventuras de Huckleberry Finn que estava lendo e sinalizei para Catalina parar.

— A multidão do almoço diminuiu, — eu disse. — Por que não faz uma pausa agora? Eu
sei que você tem algumas coisas para fazer. Pegue um par de horas, se quiser. Eu cuido deles.
Estava pensando em fechar até às quatro de qualquer maneira.

Catalina piscou-me um sorriso largo e grato. — Obrigado, Gin. Você é a melhor.

— Hmph.

Um grunhido soou do meio do balcão, onde Sophia Deveraux estava a cortar uma fatia
grossa de queijo Jarlsberg, um dos principais ingredientes na mais excelente sanduíche de
queijo grelhado do Pork Pit. A anã estava vestida com seu habitual jeans preto e botas. Hoje a
camiseta também era negra, com um coração de prata grande na frente que estava quebrado
em dois e pingava sangue carmesim. Uma gargantilha de prata grossa rodeava a garganta de
Sophia, e vários anéis a combinar brilhavam em seus dedos.

Catalina Vasquez mordeu o lábio e olhou por cima do ombro para a anã gótica. Catalina
só trabalhava no restaurante há algumas semanas, e ainda estava se acostumando com Sophia
e com interpretar o que os grunhidos da anã realmente significavam. Claro, eu sabia que
Sophia estava zombando da afirmação de Catalina sobre eu ser a melhor chefe de sempre, mas
não estava prestes a compartilhar esse conhecimento. Eu tinha bastante dificuldade em manter
garçonetes, dada a personalidade sisuda da anã. Não ia deixar uma joia responsável, pontual e
trabalhadora como Catalina deslizar pelos meus dedos por causa de Sophia Deveraux e seu
monossilábico método de comunicação.

— Sophia concorda, — eu disse. — Você deve definitivamente ir para a sua pausa agora.

— Hum, ok. Se você tem certeza.

Catalina entregou os menus para mim, pegou o casaco de lã preto do cabide no canto e
saiu pela porta da frente. Eu esperei até que ela se fosse antes de me aproximar de Xavier e
Roslyn.

— Por aqui, por favor. — Eu os levei a uma cabine bem no fundo do restaurante, fora de
vista das vitrines de vidro.

Finnegan Lane já estava sentado ali contra a parede de trás, usando um outro de seus
ternos onipresentes. Hoje era preto, com uma risca de cinzento suave. Um copo de café de
chicória arrefecia em cima da mesa na frente de Finn, juntamente com os restos de seu almoço
- um cheeseburger de 250 gramas com todos os acompanhamentos, batata frita e um
milkshake de chocolate triplo que iria direto para a bunda de qualquer outra pessoa exceto a
dele. Eu sempre invejei a capacidade de Finn de comer o que queria e nunca ganhar um
grama.

Roslyn deslizou no lado oposto da cabine em frente a Finn. Xavier se sentou ao lado dela.
Eu dei os dois menus e fui verificar os meus outros clientes – apenas um casal de trabalhadores
de construção almoçando antes de voltar para o frio de Dezembro. Os dois homens estavam
prontos para pagar e sair. Depois que lhes dei o troco, voltei para os outros. Atrás do balcão,
Sophia continuou cortando queijo, a faca fazendo thwack-thwack-thwack contra a bancada.

— Então, o que vai ser? — Eu perguntei, puxando um bloco e uma caneta do bolso de trás
dos meus jeans azuis.

— Não estou com fome, — Roslyn murmurou, tocando suas unhas com manicure
francesa em cima do menu plastificado.

— Nem eu, — Xavier retumbou.

— Eu não me importo se vocês estão com fome ou não, — Respondi. — Estão no meu
negócio agora, e com certeza vão comer alguma coisa. Então me digam o que querem, ou vão-
se encontrar à minha misericórdia.

Eu poderia ser uma assassina fria, mas ninguém podia me acusar de falhas no
departamento de anfitriã. Ainda assim, dei-lhes um olhar duro para mostrar que estava falando
sério. Xavier pediu dois sanduíches de churrasco de carne de porco, salada de repolho, feijão, e
uma limonada de amora preta. Roslyn pediu uma água gelada com limão, um sanduíche de
queijo grelhado, e uma bandeja de frutas.

Eu inclinei meu quadril para um lado e olhei para ela. — Querida, isso parece o tipo de
lugar que serve bandejas de frutas?

Os olhos escuros de Roslyn deslizaram sobre a churrascaria. Eu não tinha que olhar para
trás para saber exatamente o que ela estava vendo. Cabines limpas mas gastas de vinil azul e
rosa. Pegadas de porco desbotadas a combinar no chão, que levavam ao banheiro dos homens e
das mulheres, respectivamente. Um longo balcão com bancos altos onde as pessoas podiam ver
a comida sendo preparada no lado oposto. Uma cópia emoldurada e coberta de sangue de
Where the Red Fern Grows na parede ao lado da caixa registadora, junto com uma foto antiga
e desbotada de dois jovens segurando varas de pesca. Cominho, pimenta e outras especiarias
dos cozinhados da tarde enchiam o ar, juntamente com uma dose saudável de gordura capaz de
fazer parar o coração.

A boca da vampira se curvou. — Não, não parece.

— A única fruta que eu tenho aqui está na torta de cereja. Você pode ter um pouco disso.
Com gelado de baunilha. Estarei de volta em um minuto.

Anotei seus pedidos, rasguei o papel e levei-o para Sophia Deveraux.

A anã gótica tinha parado de cortar queijo. Agora ela cortava através de uma pilha de
tomates com uma faca serrilhada longa e curva, fazendo pequenas rodelas precisas para as
sanduíches do resto do dia.

— Outro pedido, — eu lhe disse. — Vou inverter o sinal para Fechado durante a próxima
hora ou mais e trancar a porta da frente. E vou enviar Finn e Xavier para você em poucos
minutos. Mantenha-os ocupados na parte de trás enquanto eu converso com Roslyn.

— Hmph. — Sophia me deu seu habitual grunhido evasivo.

Esta manhã, eu disse a Sophia que Roslyn e Xavier vinham para conversar sobre um
problema que estavam tendo - um problema em que eu estava pensando ajudá-los da minha
maneira especial própria. Os olhos negros da anã gótica tinham realmente brilhado um pouco
com a ideia de dispor de um outro corpo para mim. Jo-Jo podia cuidar de me curar, mas Sophia
era a equipe de limpeza. Não importa o quão sangrenta era uma cena, não importa quanto
tecido, matéria cerebral, e outros pedaços desagradáveis estavam por aí, a anã podia tornar a
área limpa como cristal. Sem sangue, sem pelos, sem fibras, sem ADN ou impressões digitais
de qualquer espécie deixados para trás.

Eu sempre quis saber se Sophia tinha o mesmo tipo de magia elemental do Ar que Jo-Jo
tinha.

Magia do Ar era ótima para evaporar coisas - como sangue de uma parede. Mas eu nunca
tinha visto ou sentido Sophia fazer nenhuma mágica. Eu não sabia nem o que a anã fazia com
todos os corpos que eu lhe tinha enviado ao longo dos anos. Não sabia para onde os levava ou o
que ela fazia com os restos. Eu nem sabia por que Sophia gostava de se livrar dos corpos em
primeiro lugar. Tinha a sensação de que tinha algo a ver com a sua voz arruinada, que era pior
do que a de um fumante inveterado, com um colapso pulmonar.

Eu nunca tinha arriscado perguntar à anã. Fletcher Lane tinha instilado uma saudável
dose de curiosidade em mim, mas eu valorizava os serviços e a amizade de Sophia e Jo-Jo
demasiado para me intrometer. Pelo menos por agora.

Sophia colocou os tomates de lado e começou a trabalhar no pedido. Preparei a água de
Roslyn e a limonada de Xavier e levei a bebida de volta para a cabine.

— … e então eu disse: É claro que não dormi com sua esposa. Ela estava muito ocupada
fodendo seu parceiro de negócios para me notar. — Finn soltou uma risada pela sua piada tola.

Xavier olhou para ele com uma expressão vazia. Roslyn correu uma unha para a frente e
para trás do outro lado da mesa.

Coloquei as bebidas em cima da mesa. — A comida chega em um minuto.

Quando acabei de trancar a porta da frente e caminhei de volta para o balcão, Sophia
tinha servido a salada de repolho e o feijão de Xavier, e a torta de cereja com sorvete de Roslyn.
Preparei o sanduíche de queijo grelhado da vampira, enquanto a anã trabalhava nos dois
sanduíches de carne de porco. Alguns minutos depois, eu carreguei os pratos de comida para a
mesa e pousei-os. Então deslizei ao lado de Finn na cabine.

— Nada para mim? — Finn perguntou.

— Você já teve o seu almoço. Não seja ganancioso.

Finn empurrou o lábio para fora e fez beicinho. Revirei os olhos. Roslyn e Xavier
mergulharam em sua comida.

Os quatro de nós não falamos enquanto eles comiam. Xavier hesitou, mas depois das
primeiras mordidas, sua alegação de não estar com fome desapareceu, juntamente com toda a
comida no prato. Roslyn apenas mordiscou o queijo grelhado e só deu algumas mordidas em
sua torta. Uma pena, realmente. Crosta dourada, enchimento quente, uma mistura perfeita de
doce e azedo. Eu tinha feito a sobremesa de cereja fresca esta manhã. Cozinhar era um dos
meus grandes amores e habilidades na vida, além de ser bastante útil com minhas facas.

Esperei até que eles afastassem seus pratos, antes de me focar no que interessava.

— Finn, Xavier, por que vocês garotos não vão ajudar a Sophia? Eu acho que há algumas
caixas na parte de trás que ela precisa de ajuda para descarregar.

Xavier franziu a testa e seus olhos escuros foram para Sophia. A anã tinha voltado a
cortar tomates, e os músculos de seus braços inchavam com seus rápidos e precisos
movimentos.

— Você está brincando, né? — O gigante respondeu. — Sophia é uma anã, a mais forte
que eu já vi. Ela provavelmente poderia levantar pesos comigo se quisesse.

— Vá ajudá-la, Xavier. Agora.

Finn abriu a boca para discutir, mas eu o interrompi. — Você também, Finn.

Os dois homens resmungaram, mas ficaram de pé e se arrastaram para o lado de Sophia,
que os levou pelas portas giratórias até à parte de trás do restaurante. A anã mantê-los-ia
ocupados enquanto eu falava com Roslyn. Quando me estabeleci na cabine de novo, olhei para
a vampira.

— Agora que os rapazes se foram, você quer me dizer sobre o que foi aquela pequena
cena na Agressão do Norte na noite passada? E por que Elliot Slater acha que vocês dois têm
algum tipo de relacionamento?

Roslyn bateu seus dedos sobre a mesa. Depois de alguns segundos, sua mão parou. Ela
respirou e levantou os olhos escuros para os meus. — Porque o filho da puta está me
perseguindo.

8

?Te perseguindo? – Eu perguntei.

As notícias não eram inesperadas, dada à exibição assustadora de carinho que eu tinha
visto noite passada, mas eu estava levemente surpresa que ela veio a público e disse isso. Roslyn
Phillips não era minha maior fã, especialmente desde que eu tinha ameaçado mata-la se ela
falasse alguma vez sobre eu ser uma assassina a qualquer pessoa novamente. A vampira
deveria estar mais chateada ou desesperada do que eu tinha imaginado para derramar seus
problemas em mim com tão pouca provocação. Eu ainda nem tinha dado a ela o olhar duro.

Rosylin mordeu seu lábio e assentiu. ? Perseguição, dominação, possessão, chame do que
gostar. O bastardo está obcecado por mim.

? Quando isso aconteceu?

? Começou há algumas semanas, ? A vampira disse. – Quando Elliot Slater veio me

perguntar sobre a festa de Mab Monroe e como alguém era capaz de colocar as mãos em um

dos convites para as minhas garotas – e seu colar de runa de coração-e-flecha. Depois disso,
bem, eu acho que você poderia dizer que ele conectou a mim.

O início de uma enxaqueca agitou por trás dos meus olhos. Elliot Slater tinha vindo
perguntar a Roslyn por que ela tinha ajudado ele a entrar na festa de Mab então eu poderia ir
atrás de Tobias Dawson. Slater tinha visto, chegado perto, e ficado obcecado pela vampira por
causa de mim. Tudo significava que o sofrimento de Roslyn era culpa minha. Tudo culpa
minha. A vampira tinha mantido sua parte do trato – dar a mim a ajuda que eu precisasse e
ficar quieta quanto a isso depois do acontecimento – e agora ela estava sendo perseguida como
resultado.

Eu tinha feito muitas coisas ruins em meu tempo. Matei muitas pessoas, tive muito
sangue em minhas mãos. Mas Roslyn sofrendo desse jeito por minha causa – isso me fazia ficar
enjoada. Fisicamente doente. Por que ela não merecia isso. Mesmo quando ela tinha falado
demais sobre Fletcher Lane para a pessoa errada, Roslyn estava apenas tentando ajudar mais
alguém. Dessa vez, ela tinha me ouvido sobre ficar quieta, e olha o que eu consegui para ela.
Meu estômago embrulhou um pouco mais com o pensamento. Eu não sentia essa emoção em
particular frequentemente, mas eu sabia o que era. Culpa.

? Primeiro, eu pensei que era apenas uma coisa passageira, sabe? – Roslyn disse num

tom baixo. ? Slater não é o primeiro cara que quer me foder. Eu tive minha lista de
perseguidores malucos ao longo dos anos. Eu sempre deixei claro como cristal que não me
prostituo mais. Que tudo que estou interessada em fazer é seguir com meu clube. Então dirijo-
os para uma das minhas meninas. Geralmente esse é o fim. Se alguém persiste ou realmente
começa a me chatear, Xavier o encoraja a reconsiderar o assunto.

? Mas não Elliot Slater. ? Uma declaração, ao invés de uma pergunta.

? Não, ? Ela sussurrou. ? Slater não. Depois que ele me perguntou sobre a festa de

Mab, ele começou a vir à boate. Ele pega uma das cabines do piso principal, pede alguns drinks,
e só me observa. A noite inteira. Ele tentou me levar para sentar com ele várias vezes. Dançar
com ele também. Eu sempre recusei educadamente. Eu mandei outras garotas para tentar

distraí-lo, mas Slater apenas as passa para seus amigos gigantes. Ele nunca ao menos olhou
para elas.

? Então quando ele passou de observar você para algo mais?

Roslyn baixou seus olhos e olhou para o topo da mesa novamente. ? Uma noite há
algumas semanas. Eu mandei Xavier para casa cedo e fiquei até tarde para examinar alguns
dos livros de contabilidade. Eu pensava que ninguém mais estava no clube além mim. Eu
estava errada. Slater entrou no meu escritório. Ele disse que estava cansado de esperar que eu
percebesse que coisa boa nós poderíamos ter juntos. ? A voz da vampira estava dura, frágil,
remota, como se ela estivesse falando sobre algo que tinha acontecido a outra pessoa. ? Eu
tentei fazê-lo ir. Tentei me soltar, tentei combate-lo. Nada funcionou.

Apesar de que eu não queria causar ainda mais dor à vampira, tinha uma pergunta que
eu tinha que fazer. Algo que eu precisava saber. ? Ele estuprou você? ? Eu fiz minha voz tão
suave e gentil quanto pude.

Roslyn ergueu seu olhar caramelo para mim. Seus olhos estavam aborrecidos e vazios,
mesmo que um sorriso cruel apertasse seu belo rosto. ? Não exatamente. Slater me pegou e
me fez sentar em seu colo. Ele era tão forte. Eu não conseguia me mover, eu não conseguia me
libertar, eu não conseguia fazer nada . Eu gritei, mais e mais, mas eu podia dizer que aquilo... o
excitava, então eu parei. Eu pensava que ele ia me estuprar, mas Slater apenas sentou ali, me
observando. Esperando-me perceber que não tinha nada que pudesse fazer para pará-lo. E
quando isso aconteceu, quando ele me tinha onde queria, o bastardo me fez beijá-lo – mais e
mais. E o tempo todo, ele me dizia quão bonita eu era. Quão malditamente especial . Ele alisou
minhas costas por um tempo, e depois, ele afagou meu cabelo. Era quase como se... eu fosse
algum tipo de boneca com a qual ele estava brincando. Alguma Barbie viva que ele podia fazer
tudo que ele queria. Slater tinha esse olhar nos olhos – esse olhar doentio, satisfeito. Essa era a
maldita coisa mais assustadora que eu já tinha visto.

Não havia tristeza em sua voz, nenhuma lamentação, nenhuma pena de si mesma.
Apenas um relato frio dos acontecimentos. Uma releitura calma do jeito que ela tinha sido

forçada a se submeter a Slater. O jeito que ele tinha comandado, controlado e humilhado ela. O
jeito que tinha feito ela se sentir tão sem esperança. Talvez não tivesse tido nenhuma parte do
corpo envolvida, mas Slater tinha-a sujeitado a sua própria forma distorcida de estupro.

Duas lágrimas rolaram pelo rosto adorável de Roslyn. Ela usou um guardanapo
amassado e descartado para enxuga-las, e depois tirou seus óculos cinza para limpá-los. A única
coisa que entregou suas emoções foram os leves tremores que balançaram suas mãos enquanto
ela trabalha.

A faca fria afiada de culpa no meu estômago torceu um pouco mais por todas as coisas
que Roslyn tinha suportado por minha causa. Todos os horrores que eu nem ao menos sabia
até agora. Toda a dor que eu tinha acidentalmente infligido a ela sem nem ao menos saber.

Mas por mais que eu quisesse, eu não podia mudar o passado – apenas o futuro. Então eu
me inclinei para trás na cabine. Esperando. Apenas esperando para Roslyn se recompor o
bastante para me contar o resto disso. Eu tinha sido a assassina Aranha por anos. Eu era muito
boa em ser paciente.

Depois de quase dois minutos, Roslyn colocou seus óculos novamente e colocou o
guardanapo amassado em um lado da mesa.

? Desde então, Slater tem estado no clube toda noite, ? Roslyn disse. ? Agora ele fica

numa sala privada. Logo assim que ele entra, eu vou e me encontro ele. Ele geralmente fica
por quase duas horas. Eu não vou embora até que ele vá, e ninguém nos interrompe. Ninguém.

? O que ele faz você fazer? ? Perguntei.

? Tudo, nada. Slater me faz sentar em seu colo e arranjar uns drinks para ele enquanto

ele me fala sobre seu dia. Sobre trabalhar com Mab Monroe. Depois ele me pergunta sobre a
boate. É como se ele tivesse brincando de maldita casinha ou algo. Oi, querida, como foi o seu
dia? Mas ele sempre tem suas mãos em mim, me tocando, afagando minha mão, me beijando.
Toda noite, ele me beija mais forte, me toca por mais tempo. É só uma questão de tempo antes
que…

Roslyn mordeu suas palavras, mas eu sabia o que ela estava prestes a dizer. Era só uma
questão de tempo antes que Elliot Slater a estuprasse. Estava claro que era o que o bastardo
doente estava planejando. Eu estava disposta a apostar que isso era um jogo que ele tinha
jogado antes com outra mulher. Perseguindo-as, dominando-as, e finalmente estuprando-as.
Como um gato caçando um rato até que a pobre criatura estivesse quebrada, ensanguentada, e
morta.

Exceto que nesse caso, Roslyn Phillips era o rato. Como Roslyn tinha suportado as
atenções distorcidas de Slater durante todo esse tempo, embora... isso era outra coisa. A força
interior que isso precisava... era algo que eu não conseguia sequer começar a imaginar. Algo
que eu não sabia se eu teria sido capaz de fazer, se nossas situações tivessem sido invertidas.

? E quanto a Xavier? ? Eu perguntei. ? O homem é pago para te proteger na boate. Por

que ele não foi atrás de Slater?

? Por que eu pedi para não ir. Eu disse a ele que tinha um arranjo especial com Slater.

Que o gigante estava me pagando um bom dinheiro por meu tempo e esquecesse o assunto.

Eu olhei para a vampira. ? Por que você faria isso? Xavier é um segurança e um policial
e um gigante. Ele consegue cuidar de si mesmo – e de você também.

? Por que Elliot me disse que ele mataria Xavier se ele tentasse interferir. Se ele alguma

vez interferisse um dos nossos encontros . ? Ela soltou um ronco de nojo. ? É como ele os
chama. Encontros. E eu – eu apenas não conseguiria suportar se Elliot sequer machucar Xavier.
Eu consigo suportar qualquer outra coisa que ele faz para mim, exceto isso.

A dor enegreceu os olhos de Roslyn, mas também havia outra emoção suave brilhando
em sua face e seus olhos apertados.

? Você está apaixonada por ele, ? Murmurei. ? Por Xavier.

O mesmo sorriso cruel curvou seus lábios novamente. ? Vamos lá, Gin. Todo mundo
sabe que não é amor quando você é uma ex-prostituta, ? Ela disse, tentando disfarçar seus
sentimentos.

? Quando aconteceu?

Roslyn encolheu os ombros. ? Eu nem ao menos sei. Xavier tem trabalhado para mim
por quase cinco anos agora. Talvez tenha sido essa coisa com Slater, talvez tenha sido outra
coisa. Mas um dia, eu olhei e estava bem ali. Eu apenas me importava mais com ele do que eu
tinha me importado com qualquer pessoa num bom tempo. E agora eu não consigo fazer nada
quanto a isso.

? Você sabe que ele também te ama, certo? ? Eu perguntei.

Roslyn assentiu. ? Eu sei.

Eu pensei no que a vampira tinha dito. ? Então se você disse a Xavier que você tem um
trato com Slater, por que ele disse para o gigante ir embora noite passada?

Roslyn suspirou. ? Primeiro Xavier estava muito magoado para questionar meu arranjo
com Elliot, o que era exatamente o que eu queria. Xavier pensava que eu estava apenas vendo o
gigante por que eu queria. Mas duas noites atrás, Elliot me disse que eu não mostrava...
entusiasmo o bastante quando ele estava me beijando. Então ele me bateu, me bateu com as
costas da mão com aquele anel de diamante do dedo mínimo que ele usa. Xavier viu os cortes e
hematomas antes que eu pudesse me limpar e me curar.

? E ele percebeu que você estava com Slater contra a sua vontade.

Roslyn assentiu. O cansaço fez suas feições cederem. ? E então aqui estamos nós.

? Aqui estamos nós, ? Eu murmurei.

Silêncio.

Olhei para Roslyn, a qual mantinha seus olhos na mesa. A vampira tinha derramado suas
entranhas para mim, escondendo nada, mas ainda tinha uma coisa que eu queria saber.

? Aquela primeira vez quando Elliot Slater veio te perguntar sobre o convite da festa, por

que você não disse que era eu? ? Perguntei. ? Por que você não me entregou? Por que você
realmente manteve segredo?

Roslyn levantou seus olhos para me olhar. ? Eu não contei a Elliot por que eu te fiz uma
promessa, Gin. Eu abri minha boca sobre o que você faz uma vez antes, e Fletcher Lane morreu
como um resultado disso. Finn me contou como Alexis James torturou Fletcher antes que ele
morresse. Finn estava doente. Assim como você. Eu sei que é por isso que você me tratou
daquele jeito no funeral de Fletcher. Ele era um bom homem, e uma vez que eu percebi o que
tinha feito, como eu tinha ajudado a causar sua morte, eu também fiquei doente.

? Mesmo assim, ? Eu persisti, não estando realmente pronta para deixar esse ponto

passar. ? Se você tivesse dito a Slater, ele teria vindo atrás de mim. Ele poderia até ter me
pegado antes que eu tivesse percebido o que estava acontecendo. E então pelo menos o nosso
acordo teria chegado ao fim.

Roslyn encolheu os ombros. ? Finn e eu temos tido uns bons momento juntos, e eu sei
quão importante você é para ele. O quanto como uma irmã você é para ele. Chame-me de
sentimental, mas eu não queria magoar Finn novamente.

Finn e Roslyn eram o que eu me referia como amigos de diversão. Eles geralmente
ficavam juntos para um prazer da noitinha quando eles não estavam num relacionamento – ou
quando seus amantes atuais estavam fora fazendo outra coisa. Mas mais que isso, Finn e Roslyn
tinham uma amizade verdadeira além do sexo. Eles genuinamente se importavam um com
outro, muito para o meu espanto.

? Então eu respondi suas perguntas. ? Roslyn hesitou. ? Eu sei… eu sei que não tenho o
direito de pedir isso, não depois do que aconteceu com Fletcher. Mas eu não tenho mais
ninguém a quem recorrer, Gin. Eu pensei que talvez se eu apenas me comportasse com Slater

mais um pouco, ele ficaria entediado comigo e iria embora. Mas ele não foi. E ele não vai. Não
até me matar.

Lágrimas se juntaram nos olhos de Roslyn novamente, mas ela piscou-as de volta. ? Eu
não me importo muito sobre eu mesma e o que Slater fará comigo. Mas estou preocupada com
Catherine e Lisa, o que acontecerá a elas se eu não estou por perto para protegê-las. Lisa se
parece muito comigo, e Slater, ele... ele pode...

A voz de Roslyn desapareceu enquanto ela pensava sobre o que o gigante poderia fazer à
sua irmã mais nova, Lisa, e a filha de Lisa, Catherine. A vampira entrelaçou suas mãos,
tentando conter suas emoções, tentando parar os tremores que balançavam seu corpo e
arruinavam sua fachada habitual de calma.

Eu não perguntei a Roslyn se ela tinha ido aos policiais sobre o que Elliot Slater estava
fazendo com ela. Ela sabia tão bem quanto eu que a maior autoridade da polícia de Ashland
poderia ser comprada por uma pechincha. Desde que Slater trabalhava para Mab Monroe, seus
bolsos eram muito mais profundos do que os de Roslyn para início de conversa. Sem
mencionar o fato de que o gigante poderia simplesmente usar a influência da Elemental do
Fogo e suas conexões para fazer todos olharem para o outro lado. A menos que alguém
decidisse enfrenta-lo. A menos que alguém decidisse pará-lo.

A menos que eu o parasse.

Era isso. O momento da verdade. Até agora, toda minha conversa sobre me vingar de
Mab Monroe por assassinar minha família tinha sido apenas isso – conversa. Eu não tinha feito
nenhuma ação concreta contra a elemental de Fogo. Infernos, eu ainda nem sabia realmente
porque Mab Monroe tinha assassinado minha mãe e minha irmã mais velha em primeiro lugar
– além do fato de que ela gostava desse tipo de coisa.

Mas se eu fosse atrás de Elliot Slater, se eu matasse o gigante pelo que ele estava fazendo
a Roslyn, não teria volta. Matar Slater seria o mesmo que declarar guerra a Mab e sua
organização. E depois seria eu contra a mulher mais poderosa em Ashland. Havia apenas um

jeito de como isso ia terminar – com uma de nós morta. Havia rumores de que Mab Monroe
tinha mais magia, mais poder de Fogo cru de que qualquer outro elemental nos últimos 500
anos. Então eu não estava tão otimista sobre sobreviver a qualquer confronto com ela.

Mas realmente, havia apenas uma única coisa que eu poderia fazer agora. Algumas vezes
eu me perguntava se isso tinha sido determinado na noite que Mab tinha assassinado minha
família. Se eu era como um dos heróis dos livros de mitologia que eu lia constantemente.
Como Oedipus 10, destinada e inevitavelmente me aproximando de fazer aquilo que eu estava
tentando tanto evitar antes.

? A primeira coisa que você precisa fazer é mandar sua irmã e sua sobrinha para fora da

cidade , ? Eu disse a Roslyn. ? Mande-as para uma viagem para Myrtle Beach ou algo assim.
Faça as malas delas com roupa e dinheiro suficientes para duas semanas, pelo menos. E diga a
elas para ficarem quietas sobre onde elas estão indo.

Roslyn olhou para mim. Pela primeira vez, uma emoção crepitou por trás do seu olhar
sem brilho. Esperança. A única droga de coisa que me faz esfaquear com as minhas facas
valerem a pena. Ela assentiu lentamente.

? E você precisa fazer suas malas e ir com elas.

Ao invés de assentir sua concordância mais uma vez, Roslyn balançou sua cabeça. ? Não.

Eu olhei para ela. ? Não?

? Não, ? ela disse, amargura colorindo seu tom. ? Eu sei como essas coisas funcionam,

Gin. Os homens de Slater sabem o que ele vem fazendo comigo. Se eu deixar a cidade, e ele de
repente for assassinado, como isso vai parecer? A polícia virá bater na minha porta de primeira,
se Mab Monroe não manda-los para mim. Não, eu preciso ficar aqui em Ashland. Eu preciso
continuar fingindo para ele.

10 Édipo, como é conhecido no Brasil, é um personagem da mitologia grega conhecido por matar seu

pai e casar com a própria mãe.

Roslyn estava certa, lógico. Isso era exatamente o que aconteceria, mas eu estava mais
preocupada com mantê-la longe de Slater agora. Mesmo assim eu poderia dizer pela inclinação
dura da boca dela e pelo brilho determinado de seus olhos que Roslyn não ia deixar a cidade.

? Tem certeza que quer fazer isso? ? Perguntei numa voz suave, dando a ela mais uma

chance de voltar atrás. ? Tem certeza que consegue lidar com isso?

Roslyn estremeceu, mas acenou com a cabeça novamente. ? Eu consigo fazer isso. Eu
consigo... suportar isso por mais alguns dias. Além disso, quero estar aqui. Eu preciso estar aqui.

Em outras palavras, a vampira queria estar por perto quando eu matasse o gigante então
ela poderia ter certeza de que ele estava definitivamente morto. Que ele jamais a machucaria
novamente. Não poderia culpa-la por isso.

? Tudo bem, ? eu disse. ? Você pode ficar. Mas você vai ter que fazer exatamente o que

eu disser quando eu disser, Xavier também. Não importa quão estranho ou difícil pareça. Sem
perguntas ou hesitações. Você pode fazer isso? E faze-lo fazer o mesmo?

? Eu posso fazer isso. ? Sua voz estava um pouco mais dura agora.

? Bom, ? Eu respondi. ? Nós vamos começar a trabalhar nisso hoje. Você pode não ver

muito Finn e eu, mas nós estaremos vigiando você e Slater.

Roslyn mordeu seu lábio. De repente, a vampira guinou sobre a mesa e agarrou minha
mão. Seus dedos eram como gelo contra os meus. ? Obrigada, Gin, ? Ela murmurou. ?
Obrigada.

Eu apertei seus dedos frios, depois puxei minha mão. – Não me agradeça. Eu ainda não
matei o bastardo.

Uma vez que Roslyn e eu esclarecemos os detalhes, eu voltei para o restaurante e disse a
Xavier e a Finn que eles poderiam voltar. Os dois estavam mais que felizes por parar de

trabalhar para Sophia. A anã gótica tinha os dois arrumando os tubos de maionese e tirando as
manchas de sangue do freezer.

Eu disse a Finn e Xavier o que Roslyn tinha concordado. Para a minha surpresa, o gigante
se inclinou e me envolveu num abraço carinhoso.

? Obrigada, Gin, ? Xavier ressoou no meu ouvido.

Todos esses obrigados e sentimentos estavam me deixando desconfortável. Você pensaria
que eu tinha acabo de prometer laçar a lua ou algo do jeito que Roslyn e Xavier estavam
levando. Ao invés de apenas usar o conjunto de habilidades mortais que eu tinha aperfeiçoado
ao longo dos anos.

Eu olhei para Finn, o qual sorriu e encolheu os ombros. Então eu afaguei o que podia
alcançar das costas de Xavier, e o gigante se afastou. Nós dissemos nossas despedidas, eu
destranquei a porta da frente, e Roslyn e Xavier deixaram o restaurante.

Eu os observei descerem a rua, e Finn se moveu para ficar ao meu lado.

? O que você está pensando? ? Ele perguntou.

? Nada demais, ? Respondi. ? Eu só estou me perguntando como exatamente eu fui de

ser a Aranha para o maldito Robin Hood da grande área de Ashland. Três meses atrás, eu
estava matando pessoas por dinheiro. Muito dinheiro. Baldes de dinheiro. Agora, me diga
alguma boa história em vez disso e eu vou cuidar de todos os seus problemas de graça. Em vez
de roubar dos ricos, eu estou apunhalando eles até a morte para os pobres.

? Bem, nós vamos ter que trabalhar na parte beneficente, ? Finn admitiu. ? Mas não há

nada errado em ajudar as pessoas. Papai costumava fazer isso de tempo em tempo.

Eu olhei para Finn, com eu cabelo cor de nogueira, pele corada, e olhos verdes que
sempre me lembravam tanto Fletcher. ? Talvez, mas o pequeno hobby do velho era algo que
nenhum de vocês jamais compartilhou comigo.

Finn escolheu os ombros. ? Papai nunca me contou muito sobre isso, tampouco.

? Provavelmente por que ele sabia que você não ia aprovar a parte grátis.

Finn fez careta e apertou o peito. ? Por favor, Gin. Você sabe como a palavra grátis me
machuca.

Tinha uma razão por que Finnegan Lane era um dos melhores investidores de banco em
Ashland – ele adora dinheiro. A sensação dele, o cheiro, manipulá-lo, vê-lo crescer, e, lógico,
todas as coisas bonitas que poderia comprar com ele.

? Mas por mais que me doa dizer, eu dificilmente penso que nós podemos cobrar Roslyn

por esse trabalho, ? Finn disse.

? Você quer dizer desde que eu sou aquela que trouxe Elliot Slater até ela para começar?

Que a situação de Roslyn é tudo culpa minha? Que sua dor e tudo - tudo - que ela teve que
aturar é tudo culpa minha?

Finn fez careta novamente. ? Eu não disse isso, Gin.

? Não, mas nós dois sabemos que é verdade. Então vamos trabalhar.

Finn apertou meu ombro e se afastou para pegar um refil do seu café chicória. Eu
permaneci na frente de uma das janelas da loja. Roslyn e Xavier tinham há muito tempo
desaparecido, mas eu espiei através do vidro e parei sobre minha última tarefa.

Maldito trabalho beneficente. Ia me matar um dia.

Talvez até hoje.

9

? Tem certeza que ele está lá? ? Eu perguntei.

Finn sorriu. ? Querida, eu mentiria?

Encarei-o.

? Tudo bem, frequentemente. ? Ele admitiu. ? Mas você pode confiar em mim dessa

vez. Elliot Slater está naquele restaurante, junto com Jonas McAllister e Mab Monroe. Segundo
as minhas fontes, eles estão tendo a sua reunião semanal. Falando de negócios, contando seu
dinheiro, discutindo a contagem mais recente de corpos.

? O de sempre, então. ? Murmurei.

Eu olhei pela janela do Aston Martin prata de Finn. Era apenas depois das onze. E
estacionamos do outro lado e na mesma rua do Underwood, o restaurante mais exclusivo e
caro de Ashland. Underwood era o tipo de lugar onde um copo de água da torneira custa 10
dólares. Mais, se você quiser gelo. O restaurante era localizado em um dos edifícios de tijolos

mais antigos da cidade no distrito financeiro. Grande parte da pedra tinha sido retirada do
andar de cima e substituída por janelas que vão do chão ao teto, janelas que davam aos clientes
do restaurante uma vista impressionante do rio Aneirin que se curvava por esta parte da cidade.
Um toldo vermelho com o nome do restaurante se estendia para a rua, e manobristas
apressavam-se a abrir as portas no fluxo constante de limusines que paravam no meio-fio.

Finn estendeu a mão e tocou a pasta de papel pardo no meu colo.

? De acordo com a minha fonte, os Três Mosqueteiros devem ter pedido as sobremesas
agora. Tiramisu para Mab Monroe, cheesecake de pêra para Jonas McAllister, e uma torta de
chocolate fudge inteira para Elliot Slater.

Eu abri a pasta e folheei os papéis. Assim que Roslyn e Xavier haviam deixado o Pork Pit,
Finn e eu fomos ao trabalho. Eu deixei o restaurante nas mãos capazes de Sophia Deveraux
pelo resto da tarde. Quando o laptop de Finn ligou, ele estendeu as mãos para suas muitas
fontes, e começou a compilar todas as informações que podia sobre Elliot Slater e a maneira
melhor e mais rápida que eu poderia matá-lo.

Assim como Fletcher Lane teria feito, se o velho ainda estivesse vivo. Finn ainda utiliza o
mesmo tipo de compilação que Fletcher fazia. Fez-me nostálgica.

Nada óbvio tinha aparecido no arquivo, então nós decidimos ficar na cola do gigante para
ver se poderíamos detectar eventuais fraquezas. Um bar que ele gostava de frequentar, um
apostador com quem ele fazia negócios, uma amante escondida em algum lugar. Uma coisa
seria andar até Slater e esfaqueá-lo até a morte. Eu poderia fazer isso facilmente. Seria muito
mais difícil fazer sua morte parecer com um pequeno ato aleatório de violência nas ruas de
Ashland e não remontar a mim ou Roslyn Phillips.

Após Finn ter trabalhado sua magia no computador, nós fomos à casa de Fletcher pegar
alguns suprimentos para a noite. Mais facas Silverstone para mim, uma bateria extra para o
laptop de Finn, e máscaras de esqui e roupas escuras, para nos manter anônimos.
Normalmente, eu não me importava se meus alvos vissem meu rosto antes de morrer. Não era

como se eles estivessem indo falar sobre a minha identidade real de onde eles estavam. Mas eu
não queria correr nenhum risco com Elliot Slater. Especialmente desde que ele já me conhecia
como Gin Blanco. Seria apenas meu azar ser interrompida antes de ele morrer e, então, ter-lhe
apontando o dedo para mim antes que ele desse a sua última respiração encharcada de sangue.

Fechei o arquivo, coloquei-o no chão, e inclinei a cabeça para trás contra o assento.

? Falando de arquivos, ? Finn disse. ? Você já olhou as informações sobre Bria que eu

compilei para você?

? Não.

Finn olhou para mim com seus brilhantes olhos verdes. ? Por que não? Eu pensei que
você estivesse ansiosa para ver o que sua irmãzinha perdida há muito tempo tem feito pelos
últimos 17 anos.

Eu suspirei. ? Parte de mim está. Mas parte de mim quer saber se eu deveria mesmo me
preocupar.

? Por quê?

? Porque Bria é uma policial, Finn, ? Respondi. ? A verdadeira seta em linha reta, como

Donovan Caine. Eu não acho que ela estaria muito emocionada ao saber que sua irmã mais
velha já matou mais pessoas do que o resfriado comum.

Finn olhou para mim por um momento. ? Mais uma vez, você se subestima. Se Bria não
conseguir entender por que você fez as coisas que você fez, então ela não merece te conhecer.
Assim como Donovan Caine não te merece.

Tentei sorrir, mas eu não acho que saiu muito bem. ? Doce de você para dizer isso, mas
nós dois sabemos que não é verdade, não é? Não posso culpá-lo por ir, não realmente. É uma
coisa para um cara que quer dormir comigo. Mas ficar a longo prazo com uma ex-assassina?
Esse não é o tipo de coisa que faz um homem mais relaxado à noite, especialmente quando ele

está na cama perto de mim e eu tenho uma faca debaixo do meu travesseiro e outra em cima
do criado-mudo.

Finn abriu a boca, provavelmente para discutir comigo um pouco mais, mas um
movimento do outro lado da rua chamou minha atenção. Um dos manobristas apressou-se a
abrir a porta, e Mab Monroe caminhou para a noite escura. A elemental de Fogo usava um
casaco preto elegante, e seu cabelo cor de cobre brilhava como sangue molhado contra o tecido
escuro. Jonas McAllister saiu em seguida, seguido por Elliot Slater. Ambos os homens usavam
ternos, gravatas sóbrias, e wingtips 11. Eu podia ver o brilho de seus sapatos, mesmo do outro
lado da rua.

Elliot Slater apontou o polegar para os dois manobristas de plantão. As crianças
empalideceram, em seguida, correram para pegar o carro de alguém. Slater se juntou
novamente a Mab e Jonas McAllister, e os três mosqueteiros, como Finn tinha apelidado eles,
ficaram na calçada conversando.

Finn baixou a janela para ver se conseguia ouvir a conversa.

? Não se importem com as consequências. Apenas façam. ? Mab vociferou para os dois.

? Talvez você esteja sendo um pouco precipitada. ? McAllister começou com uma voz

fraca. Ele virou-se para ver ritmo dos passos impacientes de Mab na calçada, e o resto de suas
palavras foram perdidas para mim.

Mab girou nos calcanhares e olhou para o advogado de cabelos grisalhos. ? Eu nunca me
precipito Jonas. Elliot e seus homens precisam tomar conta disso. Hoje à noite. Fui entendida?

McAllister acenou com a cabeça. Slater fez o mesmo.

11

A limusine parou na calçada em frente a eles. Mab disse algo a mais para seus dois
lacaios, mas o barulho do motor abafava a voz dela. A elemental de fogo deslizou na parte de
trás da limusine, e um momento depois fugiu para a noite. Um dos manobristas trouxe outro
carro ao redor, uma Mercedes, último modelo. Jonas McAllister entrou no banco do motorista,
fazendo uma meia-volta, e correu para longe na direção oposta.

Isso deixou apenas Elliot Slater de pé na calçada. O gigante puxou um charuto fino do
bolso da jaqueta e acendeu com a ajuda de um isqueiro de prata pesado. Slater encostou-se na
parede do restaurante e soprou a fumaça. O gigante fumou mais dois charutos em rápida
sucessão, mas ele não fez nenhum movimento para sair.

? O que ele está esperando? ? Murmurei. ? Natal?

? Eu não sei. ? Finn respondeu.

Nós sentamos lá e vimos Slater fumar. Cerca de cinco minutos depois, um Hummer
preto parou em frente ao restaurante. Slater esmagou o charuto e subiu na traseira do veículo.
Finn e eu abaixamos em nossos lugares quando o Hummer rugia na rua passando por nós.

Finn deixou o motorista obter um quarteirão antes de sentar-se e dar a partida no motor
do Aston. Ele virou para mim e sorriu. ? É arriscado seguir o coelho branco para sua toca?

? Claro. ? eu respondi. ? Vamos ver que tipo de recados noturnos o gigante está

fazendo para Mab Monroe e como podemos acabar com isso.

Finn ficou para trás a uma distância discreta, e nós seguimos o Hummer através do
distrito da baixa. O veículo foi para uma das rampas de acesso para a Interestadual, portanto,
Finn foi capaz de se misturar com o resto do tráfego da noite.

? Parece que eles estão indo para Northtown. ? Finn murmurou.

Ashland poderia expandir sobre a região montanhosa onde Tennessee, Virgínia e
Carolina do Norte se encontravam, mas a cidade estava realmente dividida em duas partes:
Northtown e Southtown. O Pork Pit e a Faculdade Comunitária de Ashland estavam perto de
Southtown, que era a casa dos desfavorecidos, sem sorte, e a escória da sociedade. Viciados,
prostitutas vampiras, sem-tetos vagabundos vagavam pelas ruas da Southtown, juntamente
com colarinhos azuis que não se deram bem na vida.

Em Northtown a história era diferente com as suas atraentes subdivisões, casas idênticas e
propriedades se alastrando. Essa era a parte da cidade que os yuppies de colarinho branco e de
elite endinheirada, social e mágica chamavam de casa. Mas isso não fazia essa parte de Ashland
menos perigosa. Eu prefiro enfrentar uma dúzia de viciados a ter que aturar um yuppie esnobe
auto-suficiente que achava que ele era melhor do que eu só porque ele tinha pequenos logos
em camisas pólo e suas chinos 12.

? Não é muito surpreendente que Slater esteja indo para Northtown. ? disse Finn.

? As pessoas de Northtown são os únicos ricos e burros o suficiente para criar problemas

para Mab Monroe.

? Sim, Mab simplesmente ignora lixo branco como nós. ? Finn bufou.

Eu sorri. ? Vai ser a morte dela. Um dia em breve.

Finn olhou para mim com o canto do olho. Depois de um momento, ele balançou a
cabeça e retornou meu sorriso malicioso.

O Hummer, transporte de Slater e seus companheiros, saiu da interestadual. Finn
abrandou e seguiu o veículo preto. O Hummer retumbou passando um par de centros
comerciais cheios de paralelepípedos, livrarias pretensiosas, cafés caríssimos e lojas de roupas
de grife. Havia apenas o tráfego suficiente no final da noite para nos impedir de ser notados.

12

Não que eu realmente me importasse se Slater percebesse que estávamos seguindo-os. Se o
gigante parasse e nos confrontasse, assim, eu resolveria o problema de Roslyn Phillips na
calçada, testemunhas que se danem.

Mas o gigante estava muito ocupado planejando sua ação suja para a noite a observar-nos
segui-lo, porque o Hummer não abrandou ou fez qualquer tipo de manobras evasivas. Após
cerca de 20 minutos de condução, o veículo massivo adentrou em uma subdivisão. Um foco de
luz na entrada de tijolo destacou o nome Parque Paraíso.

Finn esperou até o Hummer ter feito a volta para a subdivisão antes de apagar as luzes do
seu Aston Martin e seguir.

Olhei para as casas por onde passamos. Principalmente de dois andares com varandas
amplas. Espaçoso o suficiente para uma família, mas não enorme. Jogos de balanço, castelos de
plástico, e outros brinquedos espalhados na maioria dos gramados inclinados.

? Não é tão bom quanto eu esperava de alguém fazendo problema para Mab Monroe, ?

eu disse. ? Trata-se de casas de classe média, não McMansões.

Finn encolheu os ombros. ? N a o importa de qualquer forma, não é? Estamos aqui para
assistir Slater não o alvo de Mab.

Voltei a dar de ombros. ? Realmente.

Um quarteirão à frente, as luzes traseiras do Hummer queimavam na escuridão. O
veículo fez uma curva final, abrandou no meio da rua, depois parou. Olhei pela minha janela.

Ao contrário das outras avenidas na subdivisão, esta só contava com duas casas
construídas em lados opostos da esquina. O Hummer estacionou a várias centenas de metros de
distância de cada uma. O que estava acontecendo? Será que Elliot Slater precisava de seu
exercício ou algo assim? O gigante estava indo para uma corrida nos subúrbios?

? Eu me pergunto por que estamos parando aqui, ? Murmurou Finn, expressando a

minha pergunta silenciosa.

? Não faço ideia. Vamos descobrir.

Peguei um par de óculos de visão noturna a partir do painel de instrumentos e olhei
através deles. As portas Hummer abriram, e Slater saiu, junto com quatro outros gigantes.
Elliot Slater passou as mãos para baixo no paletó, alisando as rugas. Então ele empurrou sua
cabeça para seus homens. Mas, em vez de caminhar de volta para baixo da rua em nossa
direção, Elliot Slater e seus homens caminharam através da grama para a direita do Hummer.
Eu fiz mais uma varredura e vi uma casa modesta escondida atrás de uma linha fina de árvores
recém-plantadas. Parecia que tinha acabado de ser construída, dada a quantidade de terra solta,
blocos de cimento e madeira que ainda cercavam a estrutura. A casa era a única em seu bloco,
e o edifício mais próximo estava a mais de um quilômetro de distância.

? Parece que eles estão entrando em uma casa na rua ao lado, Jasper Way, de acordo

com o sinal no final da esquina.Vão pelo fundo, invés de na frente, ? eu disse.

? Jasper Way? ? Finn perguntou. ? Qual é o nome desta subdivisão de novo?

? Parque Paraíso, ? eu respondi. ? Por quê? Será que uma de suas muitas conquistas

mora por aqui?

? Provavelmente, mas o nome soa familiar por algum outro motivo. ? Finn franziu a

testa e bateu os dedos em sua coxa, tentando se lembrar de algo importante.

Olhei através dos óculos de novo. Uma luz estava acesa em uma das janelas do andar de
baixo da casa, mas as cortinas estavam fechadas, então eu não podia ver o interior. Um brilho
branco chamou minha atenção, e eu olhei para a direita.

? O nome na caixa de correio diz Coolidge. ? Eu fiz uma careta. O nome fez cócegas na

minha memória por algum motivo.

? Coolidge? ? Finn perguntou.

? Sim, Coolidge. ? Eu bati meus dedos. ? Eu me lembro agora. Após Elliot Slater

terminar de bater em mim naquela noite na faculdade comunitária, ouvi Mab falando sobre
alguém chamado Coolidge. Sobre como Mab queria isso cuidado - quanto mais cedo melhor.
Deve ser por isso que Slater e seus homens estão a fazer-lhe uma visita de fim de noite. Eu me
pergunto o que o pobre cara fez para chatear Mab.

Finn suspirou e fechou os olhos por um segundo. ? Não ele, é ela, ? ele respondeu. ?
Coolidge é uma mulher Gin.

? Como você sabe disso?

Finn olhou para mim, seus olhos verdes piscando como esmeraldas na penumbra.

? Porque está nesse arquivo de informações que lhe dei.

Um nó duro se formou no meu estômago. ? Qual arquivo?

? Os arquivos de Bria, ? Finn respondeu. ? Bria Coolidge. Esse é o nome que ela está

usando agora.

Ah, merda.

10

Larguei os óculos de visão noturna, agarrei minha máscara de esqui do painel, e puxei o
tecido preto para baixo sobre a minha cabeça, escondendo meu rosto pálido e cabelo castanho
de vista.

? Gin.

Finn disse algo, provavelmente me dizendo para esperar por ele ou desacelerar, mas eu
não pude decifrar o que era. Eu já estava fora do carro e correndo em direção à casa.

Elliot Slater e seus gigantes tinham uma boa vantagen sobre mim – mais ou menos 400
metros. Eu vi os cinco deles deslizarem por entre as árvores que circundavam a parte de trás da
casa. Mais alguns segundos e eles estariam na porta traseira e surgindo no interior. Um punho
gelado espremeu meu coração e meus pulmões, tornando difícil respirar. Eu acabara de
encontrar minha irmã de novo, e agora Slater e seus homens estavam ali para matá-la. Por que
mais eles estariam se esgueirando na casa de Bria tão perto assim da meia-noite?

Corra, corra, corra, corra... O pensamento tamborilava na minha cabeça ao mesmo tempo
que minhas botas batiam contra o pavimento. Eu ruidosamente passei pelo Hummer
estacionado, saltei sobre o meio fio de concreto, e corri pela grama coberta de geada. As
lâminas minúsculas crepitaram como vidro sob meus pés esmagadores. Se Slater e seus
gigantes se incomodassem em parar e ouvir, eles me ouviriam chegando com certeza. Mas eu
não liguei. Tudo o que importava era chegar a Bria antes de ela ser morta.

Rompi através da linha de nogueiras longas e finas, e a casa de Bria levantou-se diante de
mim, dois andares de charmosos tijolos cinzentos. Eu bloqueei o sangue rugindo pelos meus
ouvidos e alcancei minha magia de Pedra. Mas a casa foi recentemente construída, e as pedras
eram novas demais para me dizerem alguma coisa sobre Bria - ou o que poderia estar
acontecendo lá dentro.

Eu estava a 30 metros de distância da porta dos fundos quando luzes piscaram e uma
série de pop-pop-pops soou. As visões e os sons característicos de alguém disparando uma
pistola. Uma janela se estilhaçou, e uma série de altas maldições se derramou para fora no ar
da noite. Bria estava colocando uma luta maior do que os gigantes haviam esperado.

Alguns segundos depois, um intenso, azulado brilho branco encheu as janelas no térreo e
irrompeu pela porta dos fundos aberta. Mesmo que eu estivesse fora, eu ainda podia sentir a
carícia fria de magia de Gelo surgindo através da casa. Uma sensação tão parecida com meu
próprio poder de Pedra e Gelo que me fez querer chorar. Não é de estranhar, mesmo que fosse
algo que eu não tinha pensado em anos. Porque Bria era uma elemental de Gelo, é claro. Assim
como nossa mãe, Eira, e irmã mais velha, Annabella, tinham sido. Eu era a única que tinha
herdado a magia de Pedra de nosso pai, Tristan, também. Eu só esperava que Bria tivesse
energia suficiente para afastar Elliot Slater e seus homens até que eu pudesse equilibrar as
probabilidades.

A magia de Gelo fluiu à minha volta um segundo mais antes de se extinguir como uma
vela. Ou Bria não tinha muito poder ou algo tinha quebrado sua concentração - como um soco
no rosto ou uma bala no intestino.

As dobradiças de metal da porta traseira mal se agarravam à moldura de pedra. Um dos
gigantes devia ter apenas aberto caminho através dela, ao invés de se preocupar com a
pretensão de bater. Embora meu coração gritasse para eu continuar correndo, chegar a Bria tão
rapidamente quanto possível, eu diminuí meus passos e parei apenas do lado de fora da porta.
Eu irrompendo em qualquer que fosse a luta que estivesse acontecendo lá dentro não ajudaria
Bria. Não era assim que eu tinha operado como a assassina Aranha, e eu não faria isso agora.
Além disso, sempre havia a chance de que Bria poderia confundir-me com um dos gigantes e
virar-se contra mim. Ser morta por uma das próprias irmãs seria uma maneira de merda de
morrer.

Então eu fiquei lá e ouvi. Outra série de pop-pop-pops soou, seguida de mais três tiros.
Duas pessoas trocando disparos.

? Porra! ? Um grito agudo, masculino. Um dos gigantes havia sido atingido.

Então silêncio.

Rastejei alguns metros para dentro da porta, tomando cuidado para ser excepcionalmente
silenciosa. A porta traseira se abria para uma cozinha, e o piso de ladrilho e bancadas brancas
brilhavam como se fossem feitos de marfim. A luta tinha começado aqui, a julgar pelos
respingos negros de sangue no chão. Peças afiadas, derretendo de Gelo elemental também se
espalhavam pelo ladrilho sob os pés como um tapete molhado.

Mas o que era mais surpreendente era a geladeira. A porta superior tinha sido arrancada,
e uma runa brilhava com uma luz branca azulada dentro das profundezas geladas do freezer. O
símbolo em ziguezague para cima e para baixo como os dentes de uma serra. Isso é o que era
chamado - a serra. Simbolizando a força pura, cortante. Além de usar as runas para identificar-
se, os elementais também podiam imbuir runas de magia. Em outras palavras, fazer os
símbolos ganharem vida e executarem alguma função específica.

A serra era uma runa de defesa que podia ser usada por qualquer elemental e era
especialmente popular como uma espécie de arame mágico esticado no chão e bomba juntos

em um só. Desde que Bria era uma elemental de Gelo, ela tinha desenhado o símbolo da serra
em seu freezer, usando a runa e aparelho para conter sua magia gelada. Quando os gigantes
haviam invadido sua casa esta noite, ela tinha provavelmente enviado uma explosão de seu
poder de Gelo no freezer, acionando a runa de serra explosiva dentro. E então - boom! A porta
do freezer tinha explodido, pulverizando os gigantes com afiados, irregulares pingentes de
gelo. Daí o sangue no chão.

Reconheci o truque. Eu mesma tinha feito isso com pedra uma ou duas vezes. Irmãzinha
tinha sabotado seu próprio freezer. Apesar da situação, encontrei-me sorrindo debaixo da
minha máscara de esqui. Legal.

Vi tudo isso nos três segundos que levei para rastejar para o lado oposto da cozinha.
Agachei-me e espiei ao redor do batente da porta. Um longo corredor se estendia antes de
abrir-se na frente da casa. Quartos ramificavam-se de ambos os lados do corredor, que agora
estava com muitos detritos. Um par de vasos de porcelana tinha sido estilhaçado, cadeiras
derrubadas, uma mesa fragmentada, um espelho derrubado da parede e quebrado. Mais sangue
brilhava no chão de madeira, e um par de balas havia perfurado e enegrecido as paredes.
Comecei a avançar…

? Desista, Coolidge! ? A voz de Elliot Slater retumbou pela casa como um trovão. ? Nós

temos você cercada, e é apenas uma questão de tempo antes de você ficar sem munição. Vamos
matá-la rápido, prometo.

? Foda-se, Slater, ? rosnou Bria.

Não a mais original das réplicas, mas era difícil ser espirituoso sob pressão. Ainda assim,
eu franzi o cenho. Apesar de sua bravata, a voz de Bria tinha soado alta e fina, como se estivesse
com dor ou ferida. Mas ela ainda estava respirando. Contanto que ela continuasse fazendo isso,
Jo-Jo Deveraux poderia consertar o resto do dano. Do som das coisas, Elliot e seus homens
tinham Bria presa em algum lugar na frente da casa. O que significava que eles não estariam
esperando um ataque furtivo da retaguarda. Excelente.

Andei na ponta dos pés pelo corredor, uma faca silverstone em cada mão. Embora eu
ainda quisesse investir em frente, movi-me lentamente, calmamente, cuidadosamente. Só
porque eu pensava que Slater e seus homens estivessem no fim do corredor não queria dizer
que ele não tinha deixado alguém para trás para vigiar sua retaguarda. Slater tinha trabalhado
para Mab Monroe por um longo tempo. Ele não era burro por qualquer extensão da
imaginação. Então chequei todos os quartos que se ramificavam pelo corredor, procurando
problema.

Duas portas a partir da cozinha, eu encontrei algum. Um gigante inclinado
desleixadammente sobre uma pia em um banheiro pequeno. A julgar pelos pedaços de Gelo
elemental longos, tipo agulhas, saindo de seu rosto, parecia que ele tinha sido o que tinha
tomado o impacto da explosão do freezer sabotado. O gigante segurava uma toalha branca por
cima da sua cavidade ocular. Pelo menos, a toalha tinha sido branca em um ponto. O sangue
tinha tornado o tecido de algodão um carmesim maçante. O gigante também havia sido
baleado algumas vezes no peito, e um apertado conjunto de feridas pouco acima de seu coração
escorria sangue. Irmãzinha era uma boa atiradora. Ela só não tinha tido tempo para acabar com
ele antes dos outros gigantes terem se lançado sobre ela.

Boa coisa que sua grande mana Gin estava aqui para cuidar disso.

Puxei uma respiração, então irrompi no banheiro. Minha aparição repentina surpreendeu
o gigante tanto que ele deixou cair a toalha, me dando uma boa olhada no pingente de gelo
que tinha espetado seu olho direito como um palito de dentes através de uma azeitona. O
gigante ferido abriu a boca para gritar por seus amigos justo quando minha faca silverstone se
chocou contra sua garganta. O grito se transformou em um chiado engasgando, tossindo.
Minha outra faca rasgou no estômago do gigante. Seu sangue quente espirrou por toda a
minha máscara de esqui e roupas escuras.

Mas o gigante não tinha chegado ao fim ainda. O bastardo me atacou, se debatendo
selvagemente com os punhos. Um prendeu meu ombro. O outro atingiu meu rim esquerdo.
Mesmo enfraquecidos, os golpes sólidos ainda doeram. Sendo uma elemental, eu poderia ter
alcançado minha magia de Pedra e usá-la para endurecer minha pele em uma concha

impenetrável. Quase nada podia me machucar quando fazia isso. Mas eu não sabia se Elliot
Slater ou um de seus outros homens tinha qualquer poder elemental, e eu não queria informá-
los da minha presença ainda. Além disso, eu reservei minha magia para o evento principal. Isso
mal se qualificava como o combate de aquecimento.

Então eu só fiquei ali, cortando o gigante com minhas facas. Até o momento que fiz
minha terceira passagem com as armas silverstone, as tripas cor-de-rosa do gigante podiam ser
vistas através do tecido rasgado de sua camisa. Sem mencionar o fato de que sua garganta
estava aberta quase até sua espinha. Ele deixou de lutar, e seu único olho bom ficou vidrado.
Baixei seu corpo pesado para o chão e voltei na ponta dos pés para a porta.

? O que foi isso? ? Um dos gigantes murmurou.

? Não sei... ? Outro homem começou a responder quando outra série de pop-pop-pops

quebrou o silêncio.

Alguém mais devolveu os tiros, e usei o barulho e distração para deslizar para fora do
banheiro e em direção ao final do corredor. Ele se abria em uma grande, quadrada sala de estar
que parecia como se um tornado tivesse devastado a área. Lâmpadas quebradas, móveis
derrubados, bugigangas estilhaçadas, caixas de papelão de empacotamento que tinham sido
divididas abertas pelas coisas caindo em cima delas.

Para minha surpresa, um gigante jazia morto logo dentro da porta. Ele caiu contra a
parede, encarando o teto. Avistei um par de ferimentos de bala agrupados no meio de seu peito,
mas não era isso que tinha o matado - era o Gelo. O rosto do gigante parecia azul e quebradiço,
uma polegada de geada branca tinha se reunido em seu cabelo e seus olhos se pareciam com
mármores congelados. Grandes pingentes de gelo pendiam de seu nariz e queixo, e sua boca
estava aberta num grito silencioso.

O corpo humano é principalmente água. Congele num clarão essa água usando magia de
Gelo elemental, e, bem, você conseguiu um picolé humano. Não uma maneira bonita de
morrer, mas um método eficaz de lidar com um inimigo que é maior e mais forte do que você.

Aquele clarão branco azulado que eu tinha visto antes devia ter sido Bria lançando sua praga
de Gelo no gigante. A temperatura estava também, pelo menos, dez graus mais fria aqui do
que no resto da casa, devido a Bria usando seu poder de Gelo. Minha respiração congelava no
ar.

Mas o gigante Gelado foi a única pessoa que vi. Uma pequena parede corria no meio da
sala, escondendo a outra metade de vista. Pop-pop-pop . Bria e os gigantes ainda estavam
trocando tiros, e o cheiro de pólvora pairava no ar, junto com a minha respiração congelada.
Arrastei-me até a parede e espiei ao redor. Elliot Slater e seus dois capangas restantes se
agacharam atrás de um sofá derrubado cerca de 4,5 metros a minha frente. Apenas um dos
gigantes tinha uma arma. Slater e o outro homem apenas se amontoaram ali, esperando por
uma abertura.

Olhei além do sofá. Através de um emaranhado de mesas e cadeiras invertidas, avistei
uma lareira de pedra de tamanho grande. Bria se refugiara dentro do espaço oco. Eu podia ver
os dedos de seus pés espreitando por trás da pedra. Ela estava presa. Slater estava certo. Era só
uma questão de tempo antes de ela ficar sem munição. Então os três gigantes poderiam apenas
atacá-la e rasgá-la com suas mãos nuas. Do sorriso no rosto de Elliot Slater e a forma como ele
continuava flexionando suas mãos, ele parecia estar ansioso por essa perspectiva.

Um sorriso duro curvou meus próprios lábios. Assim como eu estava ansiosa para
estripar o gigante. Por Roslyn Phillips, e agora por Bria também.

O tiroteio parou, e eu ouvi um clique oco. Bria soltou uma maldição suave. Ela estava
sem balas, o que queria dizer que era hora de eu fazer meu movimento. Uma faca em cada
mão, pisei em torno da mureta e soltei um assobio baixo. O gigante mais próximo de mim
virou ao som, e eu atirei uma das minhas facas nele. A arma afundou na articulação do seu
ombro esquerdo. Ele rosnou de dor, e a arma que ele tinha estado segurando escorregou de
seus dedos dormentes. Slater e o outro homem giraram ao redor em surpresa.

? Quem porra é você? ? Slater estalou, seus olhos se lançando sobre minhas roupas

manchadas de sangue e máscara de esqui.

Dei um sorriso largo e agarrei outra faca da parte baixa das minhas costas. ? Seu pior
pesadelo.

Seus olhos cor de avelã se estreitaram. ? Veremos sobre isso, vadia.

Slater começou a vir em minha direção, mas o gigante que eu tinha ferido no braço tinha
outras ideias. Ele tirou minha faca silverstone de seu ombro e pisou na frente de seu chefe.
Slater parou e apontou sobre seu ombro para a lareira onde Bria ainda estava se escondendo.

? Pegue a policial! ? Slater rugiu para o terceiro homem. ? Pegue Coolidge antes que

ela fuja! Agora!

O outro gigante assentiu e virou-se para a lareira. Atirei uma das minhas facas nele. A
arma afundou nas costas do gigante, e ele grunhiu. Do jeito que ele se moveu, eu sabia que não
tinha feito nenhum dano grave, mas talvez isso fosse atrasá-lo o suficiente para eu cuidar de
Elliot Slater e do outro homem vindo em minha direção.

O que eu tinha ferido no braço atravessou para mim em três passos e cortou para mim
com minha própria faca. Esquivei-me do amplo golpe. Mesmo enquanto mergulhava, eu
rasguei sua artéria femoral na perna direita. Sangue arterial preto pulverizou no meu rosto,
mas eu ignorei a sensação quente, picante e agarrei uma quarta faca de uma das minhas botas.
Enquanto eu subia, usei essa arma para abrir a artéria na perna esquerda. O gigante uivou
novamente e cambaleou para trás. Bati minha bota em um de seus joelhos. A mudança de
tática o surpreendeu, e ele tropeçou para longe e virou sobre o sofá torto. Ele não estava morto
ainda, mas ele ia sangrar até a morte rapidamente, especialmente se continuasse se debatendo.

Enquanto isso, Bria tinha rastejado para fora da lareira. Ela agarrou um dos longos
atiçadores de metal e estendeu-o à sua frente como uma espada. Eu podia ver sangue em seu
rosto e roupas, mas não poderia dizer o quão gravemente ela estava ferida. O gigante em quem
eu tinha jogado minha arma alcançou ao redor, puxou a faca para fora de suas próprias costas,
e avançou sobre ela. Corri para um lado para ajudar Bria, quando um lampejo de movimento
chamou minha atenção. Eu instintivamente me joguei para a esquerda. O punho tamanho-

presunto de Elliot Slater assobiou passando por minha bochecha, e virei-me para enfrentar o
rápido gigante.

Slater me considerou com seus frios olhos cor de avelã. ? Você sabe que vai morrer por
interferir comigo.

? Sério? Diga isso aos seus dois companheiros que eu matei - até agora, ? Zombei.

Slater me considerou outro momento, então estalou sua mão para cima. Eu estava
esperando o soco e recuei, mas ele ainda conseguiu um golpe de relance no meu estômago que
forçou um pouco de ar fora dos meus pulmões. Era ruim o suficiente que Slater tivesse a força
e resistência inerentes de um gigante. Por que ele tinha que ser tão fodidamente rápido
também? Isso não era justo. Slater veio para mim novamente, e eu estava ocupada demais
evitando seus golpes para lamentar o fato de que ele era muito mais veloz do que eu.

Outro lampejo do movimento chamou minha atenção. Do outro lado da sala, a porta da
frente se abriu e uma figura vestida com roupas escuras entrou. A figura parou um momento,
assimilando eu lutando com Elliot Slater e Bria balançando seu atiçador de lareira para o outro
gigante.

? Hey, companheiro, ? A figura chamou. ? Você quer alguma ajuda com ela?

O gigante virou, e Finn atirou no rosto dele quatro vezes. Fletcher Lane podia não ter
treinado seu filho para ser um assassino como eu, mas o velho havia ensinado a Finn tudo o
que sabia sobre armas - incluindo como disparar uma pistola. Inferno, Finn era um atirador
melhor do que eu. Que é por que a primeira bala de Finn passou pelo olho direito do gigante e
para dentro de seu crânio. A cabeça do gigante estalou para trás, e ele já estava a caminho de
morto quando as próximas três balas de Finn destruíram seu rosto. Bria se retraiu enquanto
sangue, osso e tecido cerebral do gigante respingavam em seu rosto e corpo. Mas ela não
gritou. Por alguma razão, isso me deixou ainda mais orgulhosa dela do que o truque do freezer.

E então havia um - Elliot Slater.

O gigante olhou sobre o ombro para seus asseclas mortos e Finn, que estava rapidamente
avançando sobre nós. Eu não teria pensado que ele fosse capaz disso, mas Slater realmente fez a
coisa esperta.

Ele correu.

Eu avancei, querendo matá-lo aqui mesmo, agora mesmo, e cuidar do problema de
Roslyn Phillips. Mas uma vez mais, Elliot Slater foi mais rápido do que eu. O gigante bateu
com seu punho no meu estômago novamente e me empurrou para fora do caminho. Então, ele
mergulhou de cabeça pela janela mais próxima e para dentro na noite escura.

11

Eu só deitei onde tinha caído, esparramada metade sobre uma mesa. Arma a postos, Finn
correu para a janela e olhou para fora.

? Slater? ? Eu grasnei, ainda tentando sugar tanto oxigênio quanto pudesse. O gigante

tinha se conectado com seu último golpe, e parecia como se eu tivesse quebrado um par de
minhas costelas - de novo.

Finn recuou e sacudiu a cabeça. ? Já foi embora. Ele se move rápido para um gigante.

Assenti. Eu tinha ido punho-a-punho com ele, então a fuga veloz de Slater não me
surpreendia. Mesmo que fosse malditamente inconveniente. Mas o gigante só ia ter que ser
morto outra noite. Neste momento, eu tinha Bria a pensar - e os corpos e sangue que se
espalhavam pela sua casa como jornais velhos.

? Então agora o que? ? Finn perguntou.

? Hora de chamar a equipe de limpeza, ? eu disse. ? Trazer ambas aqui agora.

Embora sua máscara de esqui preta obscurecesse suas feições, Finn ainda conseguiu
levantar as sobrancelhas para mim. ? Ambas? Não só nossa amiga escura e sinuosa?

Assenti. ? Ambas.

? Você é a chefe. ? Finn tirou o celular do bolso das suas calças cáqui negras, moveu-se

para o outro lado da sala, e começou a discar Sophia Deveraux.

Inspirei e me virei para Bria. Minha irmãzinha ficou na frente da lareira, o longo atiçador
de metal apertado em suas mãos e apoiado em seu ombro como se fosse um taco de beisebol
que ela estava ansiosa para balançar em minha cabeça. Bria devia estar se preparando para
dormir quando Slater e seus homens tinham irrompido pela porta dos fundos. Ela usava um
par de calças de pijama azul bebê, de flanela, desbotadas com uma camisa combinando. Seus
pés estavam descalços, embora os dedos dos pés estivessem pintados de um magenta escuro. Jo-
Jo Deveraux teria aprovado a cor.

Apesar da hora tardia, Bria ainda usava sua runa de prímula em uma corrente em volta
do pescoço. Perguntei-me se ela alguma vez tirava o colar. Eu estava adivinhando que não. O
medalhão silverstone capturou a luz e piscou para mim como um semáforo. Alertando de
perigo, em mais maneiras do que uma.

Meus olhos se lançaram sobre seu corpo, procurando ferimentos. Um par de arranhões
ásperos marcava as belas feições de Bria, provavelmente de onde ela tinha se jogado na lareira.
Mais cortes e hematomas pontilhavam seus braços e mãos, e as mangas de sua camisa haviam
sido rasgadas e desfiadas em alguns lugares. Círculos roxos de cansaço rodeavam seus olhos
azuis, e sangue tinha emaranhado as extremidades de seu cabelo loiro, em camadas,
desgrenhado. Mas o que me preocupou mais foi o círculo cada vez maior de sangue no lado
direito do seu corpo, em paralelo com o seu umbigo. Ela tinha sido baleada, a julgar pelo
buraco de bala que enegrecia o tecido de sua camisa.

Qualquer outra pessoa provavelmente estaria choramingando no chão por agora, mas
Bria ficou ali, como se a ferida do intestino não fosse de mais consequência para ela do que o

que ela tinha comido no jantar. Quaisquer outras coisas que ela pudesse ser, quaisquer segredos
que ela tivesse, eu sabia de uma coisa - minha irmã era um osso duro de roer. Assim como eu.

Bria me encarou de volta. Cautela cintilava em seu olhar azul. ? Quem diabos é você? O
que você está fazendo aqui? ? Ela exigiu, reforçando seu aperto no atiçador da lareira.

O movimento fez três aneis tremeluzirem em seu dedo indicador esquerdo - finas faixas
empilhadas em cima umas das outras. Silverstone, pela forma como eles capturavam a luz.

? Salvando seu traseiro. ? Eu me movi ao redor do sofá para que estivesse na frente

dela. ? Por quê? O que parece que estamos fazendo?

Suas feições machucadas se apertaram. ? Eu não precisava de sua ajuda.

Baixei o olhar para o gigante em frente ao sofá, aquele cujas artérias femorais eu tinha
rompido com minhas facas silverstone. Ele tinha apertado as mãos sobre as pernas para tentar
conter o fluxo de sangue, mas não tinha funcionado. O gigante estava morto, olhos vidrados
fixos no ventilador de teto.

? Sério? ? Perguntei. ? E eu aqui pensei que você estava presa em uma lareira com três

gigantes muito grandes, muito fortes apenas esperando você ficar sem balas para que eles
pudessem vir e te bater até a morte. Ou estou interpretando mal a situação?

A boca de Bria se torceu. Quer fosse de dor ou irritação, eu não estava bastante certa.

? Diga-me, ? Perguntei, curvando-me para examinar o gigante. ? O que exatamente

você fez para irritar Mab Monroe o suficiente para ela enviar Elliot Slater e seus capangas aqui
para te matar? Agora, Mab não está carecendo de lacaios, mas ela enviou seu numero uno atrás
de você hoje à noite.

? Isso é entre mim e Mab, ? Bria, disse em uma voz gelada. ? Eu não vejo como é de

algum modo da sua conta.

Eu estava levemente surpresa que Bria não negou o fato de que tinha feito algo para
chatear Mab. ? No caso de você não poder dizer pelos corpos, eu decidi fazer isso da minha
conta. Então você poderia muito bem me dizer.

Bria olhos se estreitaram. ? Eu não vou dizendo a você uma maldita coisa. Se fosse você,
eu pensaria em ir embora - agora mesmo. Eu sou uma detetive de homicídios, e já pedi
reforços. Um par de unidades deve estar aqui a qualquer minuto.

Terminei o meu exame do gigante morto, fiquei de pé, e me virei para enfrentar minha
irmã mais uma vez.

? Você não teve tempo para pedir ajuda, detetive, ? Respondi. ? Porque você foi para a
sua arma em vez de apanhar o telefone. Nada de errado com isso. Eu prefiro cuidar dos meus
próprios problemas também.

? Como diabos você sabe disso?

Dei de ombros. ? Porque se você o tivesse usado para pedir ajuda, ele estaria situado em
algum lugar nesta bagunça.

O olhar de Bria se agitou para a esquerda. Um telefone sem fio descansava em um
grande prato sobre uma mesa que de alguma forma tinha escapado da batalha.

? Não que chamar 911 teria feito a você qualquer bem, ? Continuei. ? Slater

provavelmente lançou a palavra para a polícia não responder a qualquer pedido de socorro na
área hoje à noite.

? Elliot Slater não manda no departamento de polícia, ? Ela estalou.

Eu bufei. ? Não, Mab Monroe manda. Mas desde que Slater é o seu executor número um,
ele pode recorrer a quaisquer favores que precisar a qualquer hora que precisar deles. Eu não
sei por quanto tempo você esteve em Ashland, mas você precisa entender agora mesmo que os
policiais são inúteis. Seus meninos de azul não se importam com você. Eles teriam estado

perfeitamente contentes em vir aqui amanhã, fotografar seu cadáver, e comer algumas
rosquinhas enquanto estivessem nisso.

A boca de Bria se apertou, mas ela não disse nada. Parecia que ela já tinha descoberto
exatamente como as coisas funcionavam em Ashland. Bom. O conhecimento, de mau gosto
que ele pudesse ser, podia ajudar a manter Bria viva até que eu descobrisse exatamente porque
Mab a queria morta – e o que eu poderia fazer para impedir isso de acontecer. Eu podia não
conhecer a minha irmã, podia não ter qualquer noção quanto ao tipo de mulher que ela era
agora, mas estaria condenada se Mab Monroe matasse outro membro da minha família.

? Mas meu sócio e eu estamos aqui agora, e nós decidimos ter um interesse em sua

situação, ? Eu disse. ? Agora, por que você não se senta e me deixa dar uma olhada nessa
ferida à bala antes de você desmaiar da perda de sangue?

Bria me encarou. Emoções piscaram como fogo gelado em seus olhos azuis. Suspeita,
desconfiança, cautela. Nenhum medo, no entanto. Apesar de tudo o que tinha acontecido esta
noite, ela não estava gritando a plenos pulmões, ou pior, berrando seus olhos para fora. Sua
conduta calma, mesmo quando ferida, me fez admirá-la um pouco mais. Eu não sabia por que
me sentia tão orgulhoso da minha irmã cada vez que eu a via, cada vez que percebia o quão
resistente ela era. Não era como se eu tivesse feito alguma coisa para fazer de Bria a mulher
forte, independente que ela era hoje. Mas o sentimento estava lá, assim como meu amor por ela
estava - duas coisas que eu sabia que nunca seria capaz de anular, não importa o que tivesse
acontecido entre nós no passado violento e sombrio ou aqui no presente conturbado.

Mas sangue tinha encharcado a metade inferior da camisa de Bria por agora, o que
significava que eu não tinha tempo para perder e continuar falando até que ela decidisse
confiar em mim. Não que ela alguma vez o faria.

? Olhe, ? eu disse com uma voz suave. ? Eu tenho zero amor por Elliot Slater e seus

homens, é por isso que vim para o seu resgate aqui esta noite. Eu só quero ajudá-la. É isso. Nada
mais, nada menos. Então me deixe, okay? Mais nada de ruim vai acontecer com você esta noite,
eu prometo.

Finn terminou sua ligação para Sophia Deveraux e moveu-se para ficar ao meu lado. ?
Você deveria ouvi-la, detetive. Ela não oferece sua assistência levianamente ou muitas vezes. E
suas promessas? Melhores do que dinheiro no banco.

Olhei para ele. ? Melhores do que dinheiro? Isso é grande elogio vindo de você, desde
que não há nada que você ame mais do que notas de cem.

Finn apenas sorriu para mim.

Bria bufou para nossa provocação. ? Talvez eu seja antiquada, mas eu tenho dificuldade
em confiar em duas pessoas que invadiram minha casa, mataram um par de gigantes, e estão
agora conversando comigo como se estivéssemos fora tendo bolo e café, - enquanto usam
máscaras de esqui.

Dei de ombros. ? Você faz o que quiser, mas quanto tempo acha que pode aguentar aí?
Você pode ou confiar em nós para não matá-la, ou pode sangrar até a morte em poucos
minutos. Se eu fosse você, acho que escolheria a opção A. Mas isso é só eu.

? Oh, eu definitivamente iria com a opção A também, ? Finn entrou na conversa. ?

Porque seria uma verdadeira lástima deixar esse seu corpo suave ficar todo frio e rígido,
detetive. ? Finn sorriu para ela, seus dentes brancos piscando através da fenda em sua máscara
de esqui.

Revirei os olhos. Aqui estava minha irmã, sangrando, espancada, e brandindo uma arma,
e Finn estava usando a pausa na ação para dar em cima dela. Às vezes eu pensava que
Finnegan Lane tinha um desejo de morte, pensando com seu pau tanto quanto ele pensava.

Bria olhou ameaçadoramente para Finn, mas tirou o atiçador da lareira do ombro e
baixou-o para o chão, usando-o como uma espécie de muleta. A esta altura, ela estava tendo um
momento difícil apenas mantendo-se de pé. Seu corpo balançava de um lado para outro, e
tremores sacudiam seus braços e pernas.

? Ótimo, ? Bria murmurou. ? Mas mantenham as mãos onde eu possa vê-las.

Ela abaixou-se de modo que estava sentada na plataforma inferior da lareira. Empurrei
minha cabeça para Finn, e nós dois nos movemos para a porta da frente.

? Fique atento por nossas amigas anãs, ? Murmurei. ? E dê a volta para trás e veja se o

Hummer de Slater ainda está estacionado na rua atrás de nós. Estou disposta a apostar que ele
se foi, pelo menos por esta noite, mas quero ter certeza.

Finn assentiu e saiu pela frente da casa, fechando a porta atrás dele.

? Sócio encantador você tem aí, ? Bria alfinetou. ? Ele sempre invade as casas das

pessoas e atira nos homens no rosto?

? Nem sempre, ? Respondi. ? Às vezes, ele só conversa com eles até a morte.

A boca de Bria se torceu novamente, mas desta vez, o canto dos lábios levantou em um
fraco sorriso. Talvez a minha sagacidade afiada não estivesse completamente perdida nela.

? Agora, vamos dar uma olhada nesse buraco no seu lado, ? eu disse.

Fui até a lareira e fiquei de joelhos na frente de Bria. Apreensão queimou em seu rosto
novamente, e ela ainda tinha um aperto firme no atiçador de lareira. Mas mantive os meus
movimentos lentos e não ameaçadores, e ela me deixou levantar o canto de sua camisa
arruinada. Um buraco pequeno e limpo marcava a carne pálida de Bria logo acima do osso do
quadril. Sangue escorria da ferida com cada respiração que ela tomava, mas não estava
jorrando tão mal como eu temia. Ela estaria bem até que Jo-Jo Deveraux pudesse vir e curá-la.

? Entrou e saiu, ? murmurou Bria. ? A bala provavelmente está enterrada na minha

lareira em algum lugar.

Eu sabia que estava. Eu podia ouvir o murmúrio das pedras sobre a violência que tinha
acontecido aqui nesta noite. Assenti e olhei em torno da sala de estar arruinada. Uma manta
azul pálida coberta com flocos de neve brancos estava entre a bagunça no chão. Usando uma
das minhas facas, cortei uma faixa do tecido. Teria sido mais fácil ir até o banheiro e encontrar

uma toalha, mas eu não queria deixar Bria sozinha para que ela pudesse fazer algo estúpido -
como chamar a polícia para valer. Bria ficou tensa ao ver-me rasgando a manta, então enfiei a
faca ensanguentada na minha bota antes de me aproximar dela de novo.

? Aqui, ? eu disse, mostrando-lhe o tecido. ? Vamos colocar isso contra sua ferida até

meus amigos chegarem aqui.

? Mais amigos? Eles são tão encantadores quanto o outro sujeito?

Dei de ombros. ? Depende da sua definição de encanto. Mas um deles é um curandeiro.

? Conveniente. ? Bria murmurou.

Eu sorri. ? Muito.

Bria se encostou na parede externa da lareira e levantou sua camisa. Eu cuidadosamente
coloquei o tecido contra o ferimento à bala, então o envolvi ao redor da sua cintura de modo
que iria tapar o buraco de saída também. Puxei o tecido tão apertado quanto ele iria, fazendo
Bria grunhir com a dor, então amarrei a coisa toda junta com um laço limpo. Bria descansou a
cabeça contra a pedra. Sua respiração vinha em arfadas curtas, e suor brilhava em seu pescoço
e testa.

? Desculpe, ? eu disse. ? Mas isso tinha que ser feito.

Ela assentiu. ? Já... estive pior.

Ela sentou-se ali alguns segundos, olhos fechados, descansando, reunindo sua força de
volta. Uma vez que sua respiração abrandou para um padrão mais normal, Bria abriu os olhos e
me encarou novamente. ? Quem é você? Por que você veio aqui atrás de Elliot Slater e seus
homens?

Ah, o momento da verdade. Sentei-me no chão à sua frente e cruzei as pernas,
considerando minhas opções. Eu podia mentir, é claro. Inventar algum conto de fadas sobre ser
uma boa samaritana que apenas aconteceu de ouvir o barulho, vestir uma máscara de esqui,

agarrar várias facas, e entrar na briga contra cinco gigantes e uma elemental de Gelo irritada.
Não que Bria acreditaria em mim. Inferno, eu provavelmente começaria a rir no meio de uma
história assim. Finn certamente daria risada disso. Desde que eu não conseguia pensar em uma
mentira um tanto convincente, decidi ir com a verdade.

? Eu tenho um certo interesse em Slater, ? Respondi. ? Estive o seguindo a noite toda.

? E qual seria interesse esse? ? Ela perguntou.

? Eu vou matá-lo.

Silêncio.

Sentei-me ali e esperei a condenação furiosa encher os olhos azuis de Bria. Minha
irmãzinha olhar para mim do jeito desapontado, reprovador que o detetive Donovan Caine
sempre tinha - como se eu fosse um cão que havia traído seu mestre.

Em vez disso, Bria inclinou a cabeça para um lado e me olhou com uma expressão
pensativa. ? Você é uma assassina, não é?

Não um salto enorme de lógica a fazer, considerando o que ela tinha me visto fazer hoje à
noite. Dei de ombros. Nenhuma razão para mentir agora. ? Eu costumava ser. Eu me aposentei
há um tempo atrás.

? Então, por que ir atrás de Slater agora?

Dei de ombros novamente. ? Uma velha amiga recorreu a um favor, e eu devo a ela pra
caramba. Além disso, minha aposentadoria tem sido bastante entediante em sua maior parte.
Eu gosto de manter minha mão nas coisas, e as minhas lâminas afiadas. Então eu ajudo as
pessoas fracas, por assim dizer, de vez em quando.

Bria bufou. ? O que você é então? Algum tipo de anjo da guarda?

? O anjo da morte, talvez, ? Respondi. ? Pessoas que têm anjos da guarda geralmente

não precisam dos meus serviços.

Ela sorriu para o meu humor negro. Sentamos ali olhando uma para a outra. Cinco
segundos se passaram. Então, dez. Vinte. Trinta. Quarenta e cinco...

? Por que você não tira essa máscara de esqui? ? Perguntou Bria.

Levantei minhas sobrancelhas. ? E deixar você dar uma boa olhada no meu rosto? Acho
que não, detetive.

Ela sorriu novamente. ? Não pode me culpar por tentar.

? Claro que não, ? Respondi. ? Então esta é a parte onde você me diz que garota má eu

fui, assassinando pessoas por algo tão comum como dinheiro? Jura me levar à justiça não
importa o que e fazer todo o ato honroso de policial?

Bria deu de ombros e estremeceu com a dor que o movimento trouxe junto com ele. ?
Por que eu faria isso? Se não fosse por você, eu estaria morta agora mesmo. Espancada até a
morte por Slater e seus homens. Acredite em mim, eu sou grata pela intervenção, mesmo que
seja por uma autoproclamada anjo da morte.

Bem, isso certamente não era a resposta que eu esperava. Donovan Caine já estaria
planejando qual cela me enfiar embaixo na delegacia. Parecia que a moral da minha irmã era
um pouco mais flexível do que a do detetive. Mas o que me surpreendeu mais do que sua
atitude foi a emoção que suas palavras agitaram em mim - esperança. Esperança de que talvez
um dia eu pudesse contar a Bria quem eu realmente era e o que tive que fazer para me manter
viva ao longo dos anos - e que ela me aceitaria, apesar de todas as coisas ruins que eu tinha
feito. E o que eu estava preparada para fazer agora para mantê-la, Finn, e as irmãs Deveraux
seguras de Mab Monroe, Elliot Slater, e qualquer outra pessoa estúpida o suficiente para
ameaçá-los.

Fodida esperança. A próxima coisa que você saberia, eu estaria ficando mole e
sentimental e com os olhos marejados sobre cachorrinhos e gatinhos e arco-íris.

? Então, você está bem com sua salvadora ser uma genuína assassina? ? Eu perguntei.

Bria deu de ombros e estremeceu de novo. ? Você me salvou por qualquer motivo. Não
estou preparada para pensar demais sobre isso esta noite. Eu sei que há coisas piores, pessoas
piores no mundo. Eu vou detê-los primeiro. Então, quando isso estiver feito, talvez eu vá voltar
a você...

Isso foi tudo que Bria pôs pra fora antes da perda de sangue alcançá-la, e ela tombar
inconsciente.

12

? Toc, toc, ? Finn chamou quando ele abriu a porta da frente para a casa de Bria. ?

Querida, cheguei... ? Ele parou ao ver-me de joelhos sobre o corpo inerte do Bria. ? O que
aconteceu com ela?

? Ela desmaiou de dor e perda de sangue, ? Eu disse.

? Boa coisa, ? Finn respondeu. ? Vendo como temos companhia.

Ele deu um passo para um lado, e Sophia e Jo-Jo Deveraux entraram na sala. As duas
irmãs anãs ficaram paradas na porta e inspecionaram a destruição e os cadáveres diante delas.
Sophia usava um macacão preto, grosso e botas pesadas, enquanto Jo-Jo estava vestida em um
roupão cor de rosa que parecia mais difuso e mais suave do que um cobertor de bebê. A anã
mais velha tinha enfiado os pés em um par combinando de pantufas. Ela não estava usando
meias, porém, apesar do frio da noite de Dezembro.

Jo-Jo soltou um assobio baixo. ? Finn disse a Sophia que você tinha feito uma bagunça,
mas eu não achei que seria tão ruim assim, Gin.

? Você me conhece. Eu nunca faço nada pela metade, ? Brinquei. ? Agora, venha aqui

e cure Bria antes que ela fique pior.

Sophia tirou um par de luvas de borracha pretas de um dos bolsos de seu macacão e as
vestiu com deleite óbvio. A anã gótica não sorriu, não realmente, mas havia definitivamente
um brilho em seus olhos pretos e uma leveza em seus passos. Ela estava ansiosa, feliz até, para
começar seu trabalho de eliminação. Pelo menos eu tinha feito a noite de alguém. Sophia
arrastou os corpos dos três gigantes mortos até a porta da frente e virou o sofá de volta à sua
posição vertical normal. Então a anã gótica apanhou Bria e a colocou no canapé.

Jo-Jo encontrou uma cadeira que não tinha sido fragmentada e carregou-a para que
pudesse sentar e examinar minha irmã coberta de sangue. Finn pegou uma lâmpada alta de
um canto e a liguou para Jo-Jo poder ter luz suficiente para ver exatamente o que estava
fazendo enquanto curava Bria. Eu me movi pela sala de estar, endireitando móveis derrubados,
pegando pedaços de vidro quebrado, acumulando os outros detritos fragmentados, sangrentos
em alguns sacos de lixo que tinha encontrado embaixo da pia da cozinha.

Sophia se abaixou, colocou um dos gigantes mortos sobre seu ombro em uma posição de
bombeiro, e ficou de pé. O gigante pesava várias centenas de libras 13, mas Sophia poderia estar
transportando um coelhinho de pelúcia por todo o esforço que ela parecia estar exercendo.

Ainda assim, eu pensei em ser educada e ver o que poderia fazer para ajudar a anã gótica.
? Você precisa de alguma ajuda com eles? Carregando-os para fora? Ou fazendo o que você for

fazer com eles?

Sophia me deu um olhar plano com seus olhos pretos. ? Nuhuh. ? O grunhido da anã
para não .

13 100 libras = 45 quilogramas

Com o gigante ainda a tiracolo, Sophia abriu a porta da frente e saiu para a noite escura.
Apesar da minha curiosidade sobre o que a anã gótica fazia com os muitos corpos que ela
eliminava, eu não a segui para fora. Mesmo que soubesse que Jo-Jo Deveraux era a melhor
curandeira elemental de Ar em Ashland, eu não queria sair do lado de Bria. Não até os buracos
de bala nela terem sido selados e ela estivesse dormindo pacificamente.

? Pedaço desagradável de trabalho, este é, ? Jo-Jo murmurou. ? A bala cortou um de

seus rins, entre outras coisas.

A anã de meia-idade já tinha desembrulhado o rude curativo de manta que eu tinha
enrolado em torno da barriga de Bria. Sangue coloria a maior parte do tecido com um
carmesim escuro. Jo-Jo alcançou a sua magia elemental de Ar, e seus olhos começaram a
brilhar um branco leitoso em seu rosto. A anã manteve a palma da mão sobre a barriga de Bria.

Elementais de Ar podiam explorar todos os gases naturais no ar, incluindo oxigênio. É
assim que eles curavam as pessoas - forçando e circulando oxigênio dentro, ao redor e através
de ferimentos, usando todas aquelas pequenas moléculas de ar úteis para costurar a carne
rasgada, arrancada, e arruinada de volta novamente.

Jo-Jo alcançou a sua magia de Ar novamente, e sua mão começou a brilhar a mesma cor
branca leitosa que seus olhos. O poder da anã sempre parecia arrepios quentes tomando conta
de mim, como se parte de mim tivesse adormecido e estivesse apenas acordando. Esta noite não
foi exceção. Cerrei os dentes à sensação estranha.

A magia de Jo-Jo não me causava dor física real, não como estar na presença do poder de
Fogo de Mab Monroe fazia. Mas ainda me deixava desconfortável. Ar e Pedra eram elementos
opostos, como Fogo e Gelo. A magia de Ar de Jo-Jo apenas parecia estranha para mim, assim
como meu poder de Pedra e Gelo iriam para ela. O equivalente mágico elemental de unhas
raspando em um quadro, por assim dizer.

A magia de Jo-Jo também fez as cicatrizes silverstone de runa de aranha em minhas
palmas coçarem e queimarem. Silverstone era um metal muito especial, capaz de absorver

todos os tipos de magia elementar. De certa forma, silverstone era oco, vazio e com fome de
magia suficiente para preenchê-lo. Muitos elementais tinham amuletos ou medalhões feitos do
metal, onde eles armazenavam bocados e partes de seu poder. Mais ou menos como baterias
mágicas. Minha mãe tinha usado sua runa de floco de neve dessa forma. Olhei para o
medalhão de prímula que repousava no oco da garganta de Bria. Eu me perguntei se ela tinha
aprendido a fazer esse truque também, juntamente com sabotar seu freezer.

A prímula não era o único silverstone que Bria usava. Apanhei a mão dela e olhei para os
três aneis em seu dedo indicador esquerdo. Eles não eram nada sofisticados, apenas três faixas
finas empilhados em cima uns dos outros, embora não parecesse haver padrões no metal.
Apertei os olhos para as faixas e percebi que tinham runas minúsculas esculpidas nelas.
Pequenos flocos de neve rodeavam uma das faixas, enquanto heras se enrolavam através de
outra. O último anel, o de cima no dedo de Bria, estava carimbado no meio com uma única
runa de aranha - minha runa.

Meu coração se torceu. Minha irmãzinha usava um anel, um símbolo, para cada uma de
nós. Minha mãe, Eira, floco de neve. Nossa irmã mais velha, Annabella, hera. E a minha runa
de aranha. De alguma forma eu sabia que ela os usava o tempo todo, como ela fazia com seu
próprio medalhão de prímula. Ela ainda se lembrava de nós, ainda se lembrava de mim, todos
estes anos depois daquela noite horrível. Ela se lembrava do que eu gostaria de esquecer. Deixei
escapar uma respiração cansada e gentilmente coloquei a mão de Bria para baixo ao lado dela.

Jo-Jo passou sua mão sobre a barriga de Bria várias vezes antes de liberar seu controle
sobre a sua magia. O brilho branco leitoso em sua palma desapareceu, e os olhos da anã
voltaram à sua cor normal translúcida.

? Aí, ? ela disse. ? Boa como nova.

Espiei por cima do ombro da anã. Certa o suficiente, o buraco desagradável no lado de
Bria tinha desaparecido, substituído por uma pele suave e rosada. Jo-Jo também tinha tomado
tempo para se livrar dos arranhões e contusões que tinham pontilhado os braços, mãos e rosto
da minha irmãzinha.

? Obrigado, Jo-Jo, ? eu disse. ? Tenho certeza que Bria diria isso a você também, se ela

estivesse acordada.

? Sem problema, querida. ? Jo-Jo esticou o braço e enfiou um cacho do cabelo loiro de

Bria atrás de sua orelha. ? Afinal de contas, ela é família agora.

Por alguma razão, as palavras suaves da anã me fizeram tremer.

Pelo momento em que Sophia arrastou os corpos restantes para fora e o resto de nós
endireitou o máximo da confusão sangrenta que pôde, era bem depois da meia-noite. Eu
reboquei outro saco de lixo para fora e despejei-o no contêiner de coleta de plástico. Meus olhos
examinaram a escuridão, mas eu não vi nada nem ninguém se movendo na noite negra. A casa
de Bria estava a mais de 800 metros das outras no final da rua. À esta hora tardia, todos os
outros nas imediações tinham há muito tempo se retirado para seus quartos. Apenas algumas
poucas luzes de segurança montadas sobre garagens e dependências rompiam a noite. Baixas,
espessas nuvens obscureciam a lua e as estrelas, e um cheiro metálico que enchia o ar me dizia
que a neve estava a caminho.

Mas alguns centímetros da coisa branca não seriam de perto o suficiente para encobrir o
bocado sangrento de violência que eu tinha feito da casa de Bria esta noite – e o que estava
planejando fazer a Elliot Slater, logo que tivesse a chance. Eu ia me certificar que o gigante
seria morto antes que tivesse a oportunidade de machucar Bria ou Roslyn Phillips novamente.
E havia muitas outras pessoas em Ashland que não se importariam de viver em um mundo
sem Slater nele. Todo este trabalho pro bono que eu estava me envolvendo realmente estava se
transformando em serviço público. O prefeito precisava me dar uma medalha.

Enquanto eu examinava a noite, a porta da frente se abriu e Jo-Jo Deveraux saiu. A anã
acomodou-se sobre os degraus que levavam até a varanda, drapejando seu roupão rosa difuso
sobre seus joelhos. Eu fiquei na base dos degraus e me encostei no corrimão.

? Você fez uma coisa boa esta noite, Gin, ? Jo-Jo disse. ? Salvando sua irmã assim.

Dei de ombros. ? Não foi tanto uma coisa boa quanto foi pura sorte. Eu não tinha ideia
que Slater viria aqui matá-la. Se Finn e eu não estivéssemos o seguindo... ? Minha voz foi
diminuindo.

Eu não queria pensar sobre o quão perto eu chegara de perder Bria novamente esta noite.
Que eu tinha quase perdido a minha chance de conhecê-la novamente antes de eu sequer estar
pronta para assimilar isso em primeiro lugar, arriscar contar-lhe quem e o que eu realmente
era. Minha irmã poderia ser uma estranha para mim agora, mas eu não podia deixar ir a
memória da doce garotinha que ela tinha sido uma vez - uma garota que eu teria feito
qualquer coisa para proteger. Naquela época, e especialmente agora.

Além disso, Fletcher Lane tinha me deixado uma foto dela por uma razão. O velho queria
que eu encontrasse Bria, a conhecesse novamente. Mesmo se não quisesse fazer essas coisas por
minha conta, eu teria passado por elas apenas para honrar os desejos de Fletcher. Ele tinha feito
tanto por mim ao longo dos anos. Eu ia fazer tudo o que pudesse por ele agora - mesmo que ele
estivesse frio, morto e enterrado.

Balancei a cabeça e expulsei meus pensamentos melancólicos. Fletcher Lane tinha ido.
Devanear sobre seu assassinato mais uma vez não iria trazê-lo de volta. Neste momento, eu
precisava focar no problema na minha frente - Elliot Slater e sua rapidez incrível. Então eu
disse a Jo-Jo quão veloz o gigante era e perguntei se talvez Slater estivesse usando algum tipo
de magia elemental que eu não podia sentir para ajudar seus punhos a se conectarem com as
minhas costelas. A anã franziu a testa por alguns segundos, pensando.

? É possível, ? Jo-Jo disse. ? Mas para fazer o que você está descrevendo, Slater teria que

estar fazendo uma de duas coisas. Um, ele teria que ser um elemental de Ar e usar sua magia
para afetar os gases no ar. O ar tem peso, você sabe, mesmo que a gente geralmente não
perceba que ele tem. Slater poderia estar usando seu poder para mover o ar, as moléculas, fora
do seu caminho para ele ter menos resistência para atravessar quando ele balançar os punhos.
Física simples, na verdade.

? E dois? ? Eu perguntei.

? Ele teria que ser um elemental de Gelo e usar seu poder para congelar

momentaneamente os seus adversários. Usar magia apenas o suficiente para dar a si mesmo
essa vantagem de segundo, esse aparente bocado de velocidade, ? Jo-Jo disse. ? Mas eu não
acho que ele seja um elemental.

? Por que não?

Jo-Jo deu de ombros. ? Porque essas são duas habilidades muito, muito sutis que
levariam anos para dominar. Elliot Slater não me parece ter tanta paciência assim. Além disso,
dada a sua alta sensibilidade a magia elemental, Gin, você ainda seria capaz de senti-lo usando
o seu poder, mesmo se houvesse apenas uma colher de chá em seu corpo todo. Mais do que
provavelmente, a rapidez de Slater é apenas uma peculiaridade genética que ele aperfeiçoou ao
longo dos anos. Há muito poucas pessoas que podem usar magia elemental sem os outros a
sentirem.

Por um momento, uma luz distante piscou nos olhos pálidos da anã, como se ela estivesse
pensando em algo que tinha acontecido há muito tempo. Talvez fosse a inclinação de seus
ombros ou a forma como Jo-Jo tocou seu colar de pérolas, mas algo sobre as últimas palavras
da anã me incomodou – e a ela também.

? Você conhece alguém que pode esconder completamente a sua magia elemental dos

outros, mesmo quando eles estão a abraçando ou usando? ? Perguntei com uma voz suave.

Os olhos de Jo-Jo clarearam, e ela me deu um sorriso pequeno, triste. ? Apenas uma
pessoa. Contudo, eu acho que você poderia fazê-lo também, Gin, se você realmente precisasse.

Eu pisquei. ? Eu?

Jo-Jo assentiu. ? Você.

A anã olhou para mim, uma luz conhecedora em seus olhos, e me movi em meus pés. Jo-
Jo Deveraux alegava que eu era um dos mais fortes elementais que ela já tinha conhecido, uma
noção que sempre me deixou desconfortável. Minha mãe tinha sido uma elemental de Gelo

extremamente forte, e no entanto toda sua magia não a salvara de uma morte horrível, ardente
nas mãos de Mab Monroe. A magia de minha irmã Annabella não tinha feito a ela qualquer
bem contra Mab tampouco. E Bria teria sido morta, espancada até a morte por Elliot Slater, se
Finn e eu não tivéssemos intervindo esta noite.

Assim, enquanto Jo-Jo podia alegar que eu era forte o suficiente que a minha magia de
Pedra e Gelo nunca fossem me desapontar, eu realmente não acreditava na anã. Que é por que
eu carregava tantas facas silverstone. Claro, lâminas podiam quebrar, mas elas sempre
deixavam algum tipo de borda denteada para trás que eu poderia empurrar e torcer na carne
de alguém.

Uma vez que você estivesse sem magia, você estaria destruído. Especialmente se a pessoa
que você estivesse lutando ainda tivesse um pouco de energia restando. Daí o fato de que tantos
elementais morriam em duelos. Elementais lutavam lançando magia bruta um para o outro -
Ar, Fogo, Gelo, e Pedra - até que alguém ficasse sem poder, força, vontade. Quando isso
acontecia, a magia do outro elemental tomava conta do perdedor. Perca um duelo elementar, e
você será sufocado, queimado, congelado, ou talvez até mesmo sepultado em sua própria pele.

De qualquer maneira, você seria morto. Assim como minha mãe e irmã mais velha
tinham, graças a Mab Monroe e seu poder de Fogo.

? Vamos, ? eu disse, afastando meus pensamentos perturbadores. ? Está ficando frio

aqui fora. Vamos voltar para dentro.

Jo-Jo ficou de pé, e abri a porta para ela. Entramos na sala de estar, e eu parei
bruscamente. Poucos minutos atrás, grandes, pegajosas manchas de sangue tinham coberto o
chão de madeira como uma nova camada de verniz. Mas agora a madeira dourada parecia
intocada. Sophia Deveraux estava para baixo em suas mãos e joelhos, em luvas, esfregando em
um último ponto. Mas em vez de usar um pano ou escova, a anã gótica movia lentamente seu
dedo nu para trás e para frente sobre a mancha de sangue, olhando para o local como se ela
pudesse queimá-lo com sua mente ou alguma magia escondida profundamente dentro dela.

E isso era exatamente o que ela estava fazendo.

Sophia fez uma passada com seu dedo, e o sangue sob sua mão secou. Na segunda
passagem, a mancha parecia frágil, como se tivesse estado no chão durante anos em vez de
apenas uma hora. Sophia continuou lançando seu dedo para frente e para trás sobre a mancha
com movimentos lentos, precisos. Enquanto eu observava, a mancha de sangue embaixo de sua
mão virou uma cor enferrujada, então um rosa pálido. Um minuto depois, a madeira brilhava
com sua cor original dourada como se o sangue nunca tivesse estado lá absolutamente.

Eu estive certa quando pensei que a anã gótica tinha o mesmo tipo de magia elemental
de Ar que sua irmã mais velha Jo-Jo. Mas em vez de cura, em vez de remendar todas aquelas
minúsculas moléculas de volta, Sophia usava seu poder para separá-las, dividi-las e então
lentamente limpá-las até não sobrar nada. Imaginei que ela pudesse fazer o mesmo com
qualquer coisa que cruzasse seu caminho - sangue, ossos, corpos.

Mas a coisa mais incrível era que eu não a sentia usando nem um pouco de magia
elemental.

Os olhos negros de Sophia não faíscaram e piscaram com poder da maneira que os olhos
de tantos elementais faziam. A ponta de seu dedo não brilhou. Sua pele não se tornou pálida,
esbranquiçada, ou suada. Inferno, ela não parecia que estava exercendo qualquer esforço
absolutamente. O poder elemental de Ar de Sophia era completamente independente - e
completamente indetectável.

Sophia sentou-se sobre os calcanhares e acenou, satisfeita por outro trabalho bem feito.

Olhei para Sophia, então para Jo-Jo. ? Apenas uma pessoa, huh?

Os lábios de Jo-Jo levantaram naquele sorriso triste novamente. ? Apenas uma. Uma
habilidade que ela aprendeu por necessidade e não por escolha.

Pensei em perguntar a Jo-Jo o que ela quis dizer com esse comentário enigmático, mas
ela foi até Sophia e acariciou sua irmã no ombro. Sophia olhou para cima, sorriu, e apertou a

mão de sua irmã mais velha. Alguma emoção passou entre elas que eu não pude
completamente identificar. Orgulho talvez, tingido com tristeza. Fosse o que fosse, eu não iria
interrompê-la esta noite.

As irmãs sempre vinham quando eu precisava delas. Isso era tudo o que importava, e isso
era tudo o que eu precisava saber. Elas me contariam o resto com o tempo. Quando estivessem
prontas. Além disso, eu não era exatamente a pessoa mais acessível, especialmente quando se
tratava de minhas emoções.

Olhei à minha direita. Finn andava de um lado para o outro na frente da lareira, seu
celular preso à orelha. Bria descansava no sofá, dormindo pelos efeitos de ser curada por Jo-Jo.
Minha irmã parecia um anjo relaxando ali no canapé - apesar dos pedaços de sangue que
tinham se emaranhado em seu cabelo desgrenhado.

? Eu vejo. Te devo uma. Obrigado. Tchau. ? Finn fechou o telefone com um estalo e se

virou para mim. ? Boa notícia. Uma das minhas fontes diz que Elliot Slater foi para casa
lamber suas feridas pelo resto da noite.

? Feridas? O desgraçado não tinha nenhuma ferida, tanto quanto eu poderia dizer, ?

Murmurei e esfreguei meu lado. Depois de terminar com Bria, Jo-Jo tinha usado sua magia de
Ar para restaurar minhas costelas a seu estado intacto anterior.

Finn sacudiu a cabeça para Bria. ? Parece que sua irmã o feriu no ombro com sua arma.
De qualquer maneira, ele não vai voltar aqui hoje à noite, de acordo com minha fonte.

Levantei uma sobrancelha. ? E qual fonte seria essa?

Finn sorriu. ? Esta seria Leslie, a bela moça que acontece de ser a filha de uma das
empregadas que trabalham na mansão de Slater. Evidentemente, Slater chegou em casa há um
tempo atrás, foi direto para seu quarto, e ligou para um curandeiro elemental de Ar para ir
forçar a bala fora de seu ombro.

? Esta Leslie é confiável? ? Eu perguntei.

O sorriso de Finn se alargou. ? Em todos os tipos de formas.

Revirei os olhos. Eu não queria ouvir mais sobre as conquistas sexuais de Finn. Não hoje à
noite. Então, eu me concentrei em assuntos mais importantes. ? Então, Slater enfiou-se na
cama pelo resto da noite. Bom. Leslie ou qualquer uma de suas outras fontes diz alguma coisa
sobre o porquê Mab enviou o gigante aqui para matar Bria?

O sorriso de Finn escorregou de seu rosto. ? Não, mas eles não precisavam. Eu já sei.

? Como... ? Eu comecei.

Finn curvou seu dedo para mim. ? Siga-me. Há algo que você precisa ver, Gin.

Curiosa, segui Finn pelo corredor. Jo-Jo e Sophia ficaram na sala de estar para manter um
olho em Bria. Finn voltou para a cozinha, então subiu um lance de escadas para o segundo
andar da casa. Mais caixas de papelão alinhavam os corredores aqui em cima, empilhadas tão
alto que formavam outro conjunto de paredes em alguns lugares. Parecia que Bria tinha
apenas conseguido desempacotar a parte debaixo de suas coisas.

? Enquanto vocês estavam ocupadas limpando, eu tomei a liberdade de explorar o resto

da casa, ? disse Finn.

? Você quer dizer que vasculhou as coisas de Bria para satisfazer sua curiosidade

desenfreada, ? eu corrigi.

Finn olhou sobre o ombro para mim, seus olhos verdes tão brilhantes quanto luzes de
Natal em seu rosto corado. ? Você está apenas com inveja que não teve tempo de fazer isso
primeiro.

Balancei a cabeça. ? Não realmente.

? De qualquer forma, sua irmã tem algumas peculiaridades interessantes, ? Finn

respondeu.

Eu ainda não pude sequer me forçar a ler o arquivo de informações que Finn tinha
compilado sobre Bria. Eu certamente não queria escavar através de suas coisas pessoais,
privadas, como o mais barato tipo de ladrão, especialmente quando ela estava lá embaixo,
inconsciente em seu próprio canapé, se recuperando de um ferimento à bala.

Finnegan Lane não tinha tais escrúpulos. Ele amava descobrir informações sobre outras
pessoas, desentocar todos os seus hobbies, hábitos, e vícios secretos - e usá-los para seu próprio
benefício se a situação exigisse isso. Para ele, isso era um grande jogo, um em que ele sempre
saía o vencedor. Marmotas não podiam cavar tão bem quanto Finn podia.

Então eu sabia que não havia nada que eu pudesse fazer exceto suspirar e acompanhá-lo.
? Que tipo de peculiaridades?

Ele parou na frente de uma caixa com abas abertas, colocou a mão dentro, e tirou um
negligee branco com babados. ? Para começar, ela gosta de roupa íntima de mulher. Renda,
fitas, cores suaves, femininas. A coisa toda. Marcas caras também. ? Finn esfregou a seda entre
os dedos. ? Me deixa ansioso pelo futuro.

? Para que? Quando você tentar seduzi-la? ? Tirei o negligee de sua mão e coloquei de

volta na caixa apropriada.

? Claro ? ele respondeu em um tom presunçoso. ? E não vai ser uma questão de

meramente tentar. Ninguém pode resistir aos encantos de Finnegan Lane por muito tempo.

Finn definitivamente não estava faltando no departamento de autoconfiança. Mas tão
irritante quanto ele era, ele também era muito bom em descobrir o que fazia as pessoas
funcionarem. Assim como seu pai, Fletcher, tinha sido.

? O que mais? ? Perguntei.

Finn alcançou em outra caixa e tirou uma esfera redonda, pequena. ? Por alguma razão,
ela coleciona globos de neve. Eu encontrei três caixas deles até agora.

Minha respiração ficou presa na minha garganta, e eu tomei o globo de sua mão
estendida. Uma encantadora cena de inverno estava abaixo do vidro liso, abobadado - um par
de minúsculos cavalos marrons puxando duas meninas rindo em um trenó de prata. Árvores
perenes alinhavam a parte de trás da esfera de neve, rodeando uma casa em miniatura. Mas
outra imagem piscou em minha mente - mais globos exatamente como este, seu vidro
brilhando como estrelas debaixo de um pôr do sol desaparecendo.

? Minha mãe costumava colecionar globos de neve também. ? Eu balancei o vidro e

assisti os flocos de neve falsos flutuarem para baixo e se instalarem em cima dos cavalos e das
duas garotas. ? Ela tinha dúzias deles todos alinhados em cima da lareira. Bria e eu
costumávamos descer e sacudi-los, tentando ter a neve voando em todos eles antes do primeiro
voltar para baixo. Um jogo bobo que nós jogávamos. Eu tinha quase esquecido disso.

Minha voz caiu para um sussurro, e meus dedos se apertaram ao redor do globo,
ameaçando perfurar o vidro grosso.

? Você está bem, Gin? ? Finn perguntou.

Sacudi a cabeça, afrouxei meu aperto, e passei o globo de volta para ele. ? Por que não eu
estaria?

Ele só olhou para mim. Deixei cair meu olhar cinza, triste de seu verde penetrante e fiz
um gesto para as caixas.

? E o que tudo isso te diz sobre ela?

Uma luz pensativa acendeu nos olhos de Finn. ? Que a casca gelada de Bria Coolidge é
apenas uma máscara para esconder a mulher macia, calorosa, sentimental que ela realmente é
no fundo. ? Ele fez uma pausa. ? Tipo como você. Preto e crocante do lado de fora, macia
como marshmallow do lado de dentro.

Dei a ele um olhar duro. ? Eu não sou um fodido marshmallow. E eu especialmente não
sou sentimental.

? Claro que não. Isso é porque você acabou de cortar e golpear seu caminho através de

vários gigantes para salvar uma irmã há muito perdida que você não tem visto desde que tinha
treze. ? Diversão coloriu seu tom conciliador.

Meus olhos se estreitaram para fendas, mas Finn apenas sorriu para mim. Minha cara
furiosa tinha há muito tempo perdido seu efeito sobre ele. Finn sabia que eu preferiria me
machucar antes de machucá-lo.

? Mas venha aqui, eu salvei o melhor para o final, ? ele disse, fazendo um gesto para eu
segui-lo mais uma vez. ? O que é mais interessante sobre Bria é isso.

Finn abriu uma porta no final do corredor, e entramos no escritório em casa de Bria.
Mesa de madeira, computador, grampeador, sticky pads 14, montes de livros e papeis empilhados
por toda parte. Eu não vi nada fora do comum - até Finn acender a luz. E lá estava, encostada à
parede do fundo.

Um retrato de 20 por 25 de uma das cicatrizes de runa de aranha nas minhas palmas.

A foto estava presa no meio do maior quadro branco que eu já tinha visto. E não estava
sozinha. Havia mais fotos, umas que eu reconhecia do arquivo de informações que Fletcher
Lane tinha me deixado - fotos da autópsia de minha mãe e minha irmã mais velha. As cascas
queimadas de seus corpos. Montadas bem ao lado da foto da minha cicatriz.

Meu estômago se apertou, e aquele punho gelado começou a espremer meu coração de
novo.

? O que diabos é isto? ? Sussurrei.

Ainda chocada, eu me aproximei do quadro branco. Além das fotos, notas tinham sido
rabiscadas em toda a superfície em uma variedade de cores. Assassinadas, corpos queimados

14 sticky pad - notas autocolantes.

reduzidos a cinzas em vermelho. Evidência física em preto. Possíveis suspeitos em azul-
marinho. Motivo? Em um verde brilhante.

? O que diabos é isto? ? Repeti.

Meus olhos foram para cima e para baixo e por todo o quadro branco. Em todo lugar que
eu olhava havia outro pedaço de informação sobre a noite que minha família tinha sido morta,
sobre a noite que Mab reduziu nossa casa a cinzas.

? Acredito que algumas pessoas o chamam de quadro de assassinato. É uma

representação visual de todas as evidências encontradas em relação a um crime. Alguns
policiais os usam para ajudar a conectar os pontos ou controlar as ligações. ? Finn se apoiou
no batente da porta. ? Da aparência disso, eu diria que Bria está investigando o assassinato de
sua família. Assim como você começou a fazer, depois que o Papai lhe deixou aquele arquivo.

? Tudo bem. Eu posso entender que ela está fazendo isso, querendo saber a verdade,

quem estava por trás dos assassinatos e por quê. Mas onde ela conseguiu todas estas
informações? ? Eu perguntei. ? Especialmente essa foto da cicatriz de runa de aranha na
minha palma?

Examinei a foto, me perguntando como eu tinha sido tão desleixada quanto deixar
alguém tirar uma foto das minhas mãos. Oh, de vez em quando, alguém comendo no Pork Pit
tinha um vislumbre de minhas palmas cicatrizadas. Mas eu sempre fui capaz de passar as
marcas como queimaduras que eu tinha conseguido trabalhando no restaurante. Não era como
se eu já tivesse parado, as estendido para todos verem, e posado para fotos…

E então me lembrei. Fletcher Lane tinha comprado uma câmera digital alguns meses
antes de morrer. Ele a levara para o Pork Pit um dia para mostrá-la para mim. Um dispositivo
ultramoderno extravagante, ele a chamara em sua voz rouca. O velho tinha começado a tirar a
minha foto, e eu finalmente colocara minha mão para fora em rendição simulada para fazê-lo
parar. Ele tinha tirado uma foto final e sorrido antes de guardar a câmera.

? Fletcher, ? Murmurei. ? Foi ele quem tirou a foto.

Contei a Finn sobre o incidente da câmera e como eu não tinha pensado nada disso na
época.

Os olhos verdes de Finn flutuaram sobre o quadro de assassinato. ? Isso não é tudo que o
Papai fez, é? Ele enviou a Bria a mesma pasta de informações que ele te deixou, Gin. Ele
enviou-lhe exatamente o mesmo arquivo sobre Mab Monroe assassinando sua mãe e irmã mais
velha.

? Com um toque. Fletcher enviou a Bria uma foto da minha cicatriz em vez da linda
fotografia de rosto dela que ele deu para mim. Muito atencioso dele não enviar-lhe uma
brilhante do meu rosto. ? Balancei a cabeça. ? Eu posso entender Fletcher deixando-me a
informação. Eu fiz as pazes com isso. Mas por que ele enviaria isso para Bria também? O que
ele esperava alcançar?

? Eu não sei, ? Finn murmurou. ? Talvez ele quisesse ver como ela reagiria ao

conhecimento de que você ainda estava viva. Talvez ele quisesse trazer Bria a Ashland em seus
próprios termos.

Baixei os olhos do quadro. ? Não importa muito agora, não é? Fletcher se foi, Bria está na
cidade, e Mab a quer morta. O que quer que o velho tenha começado com Bria, ela veio para
Ashland para terminá-lo. Se Mab não chegar a ela primeiro.

? Falando de terminar coisas, há mais uma coisa que você deveria ver, ? Finn disse.

Ele se moveu para o lado direito do quadro, pôs a mão na borda superior, e lentamente
virou-o. O quadro foi construído de tal maneira que poderia ser invertido sem deslocar toda a
estrutura. A parte de trás do quadro estava cheia com tantas fotos e rabiscos quanto a parte da
frente. Só havia uma diferença distinta.

A parte de trás do quadro tratava inteiramente de Mab Monroe e sua organização. Era
organizado como uma clássica pirâmide humana. O retrato de Mab sentava sozinho no topo do
quadro. Debaixo de sua foto estavam fotos de Elliot Slater e Jonah McAllister. Abaixo deles
estavam ainda mais fotos dos vários capangas que compunham a organização de Mab. Bria

tinha notas escritas ao lado de cada foto, com palavras como Indiciado, Preso, ou Morto . Havia
mais anotações Morto do que qualquer outra coisa. Não era de estranhar, dada a antipatia de
Mab para o fracasso.

? Acho que sabemos por que Mab enviou Slater para matar sua irmã, ? Finn disse. ?

Uma das razões, de qualquer maneira. Parece que Bria se concentrou na elemental de Fogo.

? Por quê? ? Perguntei. ? Porque ela quer limpar Ashland? Ou porque ela sabe que

Mab assassinou nossa mãe e irmã?

Finn encolheu os ombros. ? Isso realmente importa neste momento?

Esfreguei a cicatriz de runa de aranha na palma da primeira mão, depois a outra. Malditas
coisas estavam coçando e ardendo de novo do jeito que sempre faziam quando eu pensava em
coisas que me chateavam, como minha família assassinada e irmã batalhadora. ? Não, não
importa por que Bria está aqui ou o que ela sabe. Tudo o que importa agora é mantê-la segura -
e longe de Mab Monroe e seus asseclas.

Finn bufou. ? Você está brincando? Baseado em tudo isto, eu diria que Bria está ansiosa
para jogar sujo com Mab. Talvez até mais do que você está, Gin. Lembra aquela cena na
Agressão do Norte na noite passada? Bria parecia que ficaria feliz em colocar algumas balas na
cabeça de Elliot Slater.

Dei um passo à frente e virei o quadro de volta para sua posição original. ? Bem, então,
acho que só vou ter que chegar a Mab antes de Bria ir e fazer algo estúpido - como ser morta.

Finn suspirou. ? Eu temia que você dissesse isso.

Dei a ele um sorriso duro. ? Vamos lá, Finn. Nós dois sabemos que ir atrás de Mab vai ser
divertido.

? Oh, certamente, ? Finn respondeu em tom seco. ? Vai ser um barril de risadas, até ela

nos matar.

Finn não estava inteiramente brincando. Ele sabia tão bem quanto eu que ir atrás de Mab
seria complicado na melhor das hipóteses e mais provavelmente letal. Mesmo Fletcher Lane
nunca ousou enfrentar a elemental de Fogo. Durante anos o velho havia compilado
informação sobre Mab, procurando quaisquer fraquezas, qualquer lasca de oportunidade que
ele poderia aproveitar para matá-la. Mas Mab sempre tinha pessoas demais, guardas demais ao
seu redor. Mesmo se eu fosse capaz de tê-la sozinha, ela mesma sempre poderia me matar com
o seu poder elemental. A própria força de Mab era a verdadeira razão de ela ter sobrevivido
todos estes anos.

Ainda assim, eu não podia deixar de encarar as fotos no quadro - as que mostravam as
cascas enegrecidas que foram minha mãe e irmã mais velha antes de Mab ter usado sua magia
elemental de Fogo para queimá-las a cinzas. E de alguma forma, eu sabia que ia tentar fazer o
impossível – sem importar o quê.

? Não se eu matá-la primeiro, ? Murmurei. ? Não se eu matar a vadia primeiro.

Finn e eu voltamos para baixo. Jo-Jo e Sophia tinham terminado o último da limpeza e
parado à porta da frente prontas para ir. Bria ainda estava dormindo no canapé. Mais uma vez,
fui golpeada pelo quão angelical ela parecia ali, quão calma e pacífica. Você nunca adivinharia
que ela gastava seu tempo livre desenterrando a sujeira sobre a mulher mais perigosa da
cidade.

? Por quanto tempo ela vai estar desmaiada? ? Eu perguntei a Jo-Jo.

A anã olhou para minha irmã. ? Esse tiro no rim exigiu muito dela, mas ela deve acordar
dentro de uma hora. Duas, no máximo.

Olhei para um relógio na parede. Pouco depois das duas da manhã. Finn disse que Elliot
Slater estava ocupado sendo remendado, o que significava que o gigante não estaria de volta
por Bria. Não esta noite, de qualquer maneira.

? Tudo bem, nós precisamos ir embora antes que ela acorde, ? eu disse. ? Então

peguem todos os suprimentos que vocês trouxeram e saiam. Finn, ajude-as, por favor. Vou estar
fora em um minuto.

Finn abriu a porta da frente, e Jo-Jo e Sophia recolheram seu equipamento e foram para
fora. Finn seguiu e fechou a porta atrás dos três.

Fui até o sofá e olhei abaixo para Bria. O sono aliviou os planos afiados de seu rosto, e
uma cor rosa orvalhada refrescava suas bochechas, graças à magia de Ar elemental de cura de
Jo-Jo. Neste momento, Bria não parecia em nada com a profissional gelada que eu tinha visto
naquela noite na faculdade comunitária ou a policial calma apontando uma arma para Elliot
Slater na Agressão do Norte. Ela parecia mais jovem, mais suave, assim. Mais como uma versão
adulta da doce garotinha que eu havia conhecido uma vez.

E ela ia permanecer assim, eu jurei. Eu ia ninar Elliot Slater muito, muito em breve. Uma
vez que o gigante fosse removido, eu iria atrás de Mab Monroe. O período de permanência nas
sombras como uma minúscula aranha tinha passado. Era hora de mostrar a Mab e seus asseclas
que eu tinha alguma mordida - e que eles eram os próximos na minha fodida lista de afazeres.

Olhei para Bria mais um momento, então me afastei.

? Doces sonhos, irmãzinha, ? Murmurei antes de sair pela porta da frente.

13

No dia seguinte, o negócio foi normal no Pork Pit. Muitos clientes. Garçonetes irritadas.
Os silvos, as salpicadas, e o chiado da grelha. O cheiro apimentado dos feijões cozidos e molho
de churrasco no ar. Sophia Deveraux cozinhando uma tempestade.

E eu planejando o fim de alguém.

— Eu apenas não vejo como você vai fazer isso, — Finn disse, limpando um pouco de
molho de churrasco da boca. — Elliot Slater com certeza está se protegendo agora. Não só
contra você, mas contra Bria também. Você podia tentar atirar nele à distância, mas tão grande
e forte e resistente como ele é, você provavelmente teria que usar várias balas ou flechas nos
lugares certos. O que você provavelmente não teria tempo de fazer antes de ele começar a se
abaixar para se cobrir.

Assenti, concordando com ele. Eu tinha matado pessoas com rifles e bestas antes, mas eu
preferia usar minhas facas de silverstone. Era mais fácil de garantir que alguém morresse
assim.

— Quanto a algo mais pessoal, que nós dois sabemos que você prefere, ele estará olhando
para qualquer mulher que tentar se aproximar dele em um beco escuro, em uma sala escura,
em um carro escuro. Qualquer lugar escuro, basicamente, — Finn continuou. — E é onde você
faz melhor seu trabalho, Gin.

Era depois das três na tarde seguinte. O pessoal do almoço já tinha chegado e ido embora,
e não era bem a hora do jantar ainda. E era por isso que Finnegan Lane estava sentado no
banquinho do lado do caixa jogando conversa fora comigo. Enquanto devorava dois cachorros
quentes carregados com chili apimentado, cebolas, chedar, e mostarda com mel, junto com
feijões cozidos e uma fatia grossa do meu bolo de chocolate ainda quente.

Eu levantei o olhar do meu exemplar de As Aventuras de Huckleberry Finn para olhar
meu parceiro no crime.

— Não se preocupe. Você vai achar uma oportunidade para mim. Você é meu agente
agora. É o que você faz, lembra?

— Sou o melhor, — Finn disse com uma voz não tão modesta. Ele mastigou outra
mordida de seu cachorro quente. — Mas nem eu consigo te deixar invisível, Gin. E é isso que
vai te aproximar de Elliot Slater agora.

— Sou boa em ficar invisível, lembra?

— Verdade. — Finn concordou. — Mas as pessoas tendem a perceber coisinhas irritantes
como gritos ou manchas de sangue. Principalmente quando há um corpo junto com eles.

Revirei os olhos e voltei para meu livro. Finn tinha vindo para um jantar adiantado e me
ajudar a ter ideias de como chegar perto o suficiente de Elliot Slater para enterrar minhas facas
de silverstone em suas costas largas. Ate agora, tudo o que Finn tinha feito foi comer minha
comida e matutar sobre como seria difícil garantir que o gigante morresse antes que ele
matasse Roslyn Phillips - ou Bria. A atitude derrotada de Finn não estava ajudando, e já que eu
não tinha ajudado com nenhuma ideia brilhante, me virei para Huck com esperança que algo
viesse à mente enquanto eu lia as aventuras de outra pessoa. Mas até agora nada...

A porta da frente abriu, fazendo a sineta tocar. Tirei os olhos do livro, pronta para saudar
meu cliente. Para minha surpresa, Roslyn Phillips entrou no restaurante. Hoje a vampira estava
com um casaco curto cor de ameixa e calça branca, que nela parecia elegante e sexy ao mesmo
tempo. Um broche de silverstone brilhou na lapela da jaqueta de Roslyn - um coração com
uma flecha atravessando-o. O símbolo de sua boate, Agressão do Norte. Como a maioria dos
tipos mágicos, Roslyn usava sua runa com orgulho.

A vampira parou à porta um momento, seus olhos de caramelo varrendo o interior.
Roslyn tinha vindo durante a pausa depois do almoço, então as garçonetes que estavam
trabalhando tinham ido ao beco atrás do restaurante para uma longa pausa para fumar e ter o
próprio jantar. Muitos clientes ainda se sentavam às mesas e nas cabines das janelas,
terminando as refeições, perdidos em suas próprias conversas. Quando ela percebeu que
ninguém estava perto de nós o suficiente para nos ouvir, ela empurrou a porta atrás dela, e veio
em nossa direção. Os saltos da vampira batiam no chão como placas de prata caindo no chão.

Roslyn soltou sua bolsa de mão no balcão ao lado de Finn, o assustando e fazendo-o
tremer a colher cheia de feijões pronta para por na boca. Os feijões escorregaram da colher e
caíram em seu terno cinza, junto com uma saudável quantidade de molho. Finn xingou e
pegou um guardanapo branco de papel.

Mas Roslyn não se preocupou com a emergência de moda de Finn. A vampira só tinha
olhos para mim - olhos que brilhavam com raiva quente.

— O que você fez com Elliot Slater ontem? — Ela rosnou.

— Bom te ver também, Roslyn, — Marquei a página do livro com um recibo de cartão de
crédito e pus de lado. — Quer se sentar?

Roslyn se deixou cair no banco ao lado de Finn, suas costas tão longas e retas quanto a
flecha de sua runa. O olhar fervente da vampira não largava meu rosto.

— Vou perguntar outra vez, — Ela falou com a voz baixa que só nós três conseguíamos
ouvir. — O que você fez com Elliot Slater ontem?

Eu dei de ombros.

— Nada demais. Matei alguns dos homens dele. Eu ia matá-lo também, mas o idiota se
jogou pela janela e fugiu antes que eu pudesse tratar os negócios com ele.

Minha confissão não animou Roslyn. Pelo contrário, a deixou mais puta. Dava para saber
pelo jeito que a vampira mostrou os caninos branco-pérola para mim. Finn deu um olhar de
soslaio para Roslyn e continuou tentando esfregar o molho de seu terno, mais preocupado com
a mancha se infiltrando em seu terno do que com o perigo apresentado pela vampira irritada.
Ele era um bastante pouco prático desse jeito.

— Presumo que há um problema com Slater, — eu disse com um tom de voz baixo. —
Além do que você me disse ontem?

Roslyn me encarou. Eu encarei seu olhar com um olhar calmo da minha parte. Se mais
alguém entrasse em meu bar e reclamasse com o jeito com que eu cuidava do meu sangrento e
perigoso serviço, eu a faria entender, talvez com a ponta da minha faca. Mas Roslyn era a
vítima de tudo isso, tinha sofrido muito mais por minha causa, eu ia ser o mais gentil com ela
possível. Mesmo que gentil fosse algo que eu não soubesse ser - ou que eu não tivesse sido há
muito tempo.

Depois de alguns segundos, a vampira fez um visível esforço para se controlar. Finn
desistiu de seu terno considerando caso perdido. Ele suspirou e jogou seu guardanapo
amassado no meio de seu prato. A hora do jantar tinha oficialmente acabado.

— Você quer algo para comer ou beber? — Perguntei, tentando ser a anfitriã responsável
mais uma vez.

— Não. — Roslyn murmurou.

Eu ignorei sua curta resposta e fui até o suporte de vidro que estava sobre o balcão do
lado da parede dos fundos. Cortei para Roslyn um pedaço do bolo de chocolate e pus a
sobremesa na frente dela, junto com um copo de leite e um garfo. Já que ninguém gostava de

leite quente, eu pus minha mão em volta do copo e usei minha magia do Gelo. Uma luz
prateada brilhou na minha mão, centrada na cicatriz de aranha incrustada em minha carne.
Cristais de gelo imediatamente se formaram na superfície do copo, e um momento depois,
estava tão gelado quanto se eu tivesse acabado de tirar do freezer. Vapor se curvava sobre o
copo.

Não muito tempo atrás, fazer algo tão simples quanto esfriar uma bebida era o ápice da
minha magia de Gelo. Agora não era mais difícil que respirar. Jo-Jo Deveraux afirmou que o
metal da pedra de prata que derreteu em minhas mãos tinha inibido minha magia de Gelo, já
que os elementares do Gelo tendiam a liberar seus poderes pelas mãos para fazer cubos, adagas
e outras formas - ou simplesmente atingir alguém com a magia gelada.

Mas eu finalmente tinha superado esse impedimento durante um momento de desespero
quando eu estava encarando outro elementar, quando minha vida estava em jogo. Agora, fazer
coisas com meu poder era muito mais fácil do que já fora. Eu estava ficando mais forte nisso
também. Jo-Jo disse que minha magia de Gelo continuaria a aumentar até que se igualasse ao
meu poder de Pedra, fazendo de mim a mais rara dos elementares – alguém que era
igualmente forte em dois elementos.

Eu não ficava exatamente confortável com a ideia por uma variedade de motivos.
Principalmente porque eu tinha visto o poder de Gelo da minha mãe, Eira, desapontá-la quando
ela lutou contra Mab Monroe. Eu não tinha tanta certeza de que queria tentar o destino
contando com minha própria magia do Gelo quando Mab e eu tivemos nosso confronto
inevitável. Porque seria muita ironia se Mab me matasse do mesmo jeito que tinha matado
minha mãe e irmã mais velha. Ironia. Sempre te pega.

Roslyn me olhou mais, e eu percebi que nunca tinha feito nenhum tipo de magia na
frente da vampira antes. Que ela nem sabia que eu era uma elementar até agora. Os outros
clientes ainda estavam muito ocupados com as próprias comidas para perceber minha pequena
demonstração mágica.

Eu não estava preocupada que Roslyn contasse a alguém. Ela tinha concordado em ficar
quieta depois do que aconteceu com Fletcher Lane, e ela tinha ficado calada durante o
questionamento de Elliot Slater. A palavra dela valia.

Roslyn abriu a boca para rejeitar a comida que eu tinha empurrado para ela, mas eu a
cortei.

— De nada, — eu disse. — Agora, quero que me diga o que está acontecendo. E por que
você decidiu surgir aqui como se fosse Sherman marchando em Atlanta? Eu sei que você
estava por aqui, mas a Guerra Civil acabou há muito tempo.

Roslyn suspirou, e um pouco da luta nervosa afundou em seu ombros magros.

— Elliot me ligou ontem, umas três da manhã, querendo saber onde eu estava, o que eu
estava fazendo, e se tinha alguém comigo.

Franzi a testa. — Por que ele queria saber tudo isso?

Finn bufou. — Você quer dizer além do fato de aquele idiota ser obcecado por ela? Que
ele quer saber dela e controlá-la a cada movimento?

Eu ignorei o comentário de Finn. — O que Slater queria?

Roslyn ficou brincando com o garfo que eu coloquei na frente dela. — Ele disse que tinha
tido um problema com alguém ontem à noite. Que alguém tinha ido atrás ele, e ele estava
preocupado que eles viessem atrás de mim para pegá-lo, — ela torceu a boca. — Porque todos
sabiam como ele se preocupa comigo. Como eu sou preciosa para ele.

A mão da vampira ficou mais firme em volta do garfo, e seus olhos escureceram como se
ela quisesse poder empurrar o garfo na jugular de Elliot Slater. Eu admirei o espírito dela, mas
não a prática. Roslyn teria muito mais sucesso com uma faca de manteiga, já que morte com
talher ia ser seu modus operandi .

Eu deixei Roslyn a par do que realmente tinha acontecido na última noite. Como eu e
Finn tínhamos seguido Elliot Slater quando o vimos receber o pedido de Mab, reunir seus
capangas, e ir atrás de Bria. Roslyn congelou.

— Por que você se importa se Eliot matar algum novo policial da cidade? Por que
interferir?

Eu não ia confessar minhas conexões familiares com Bria para a vampira, então eu dei
uma resposta casual. — Pensei em eliminá-lo na hora certa e no local certo e deixar os policiais
ganharem crédito por isso. Já funcionou uma vez, você sabe.

Roslyn fez uma careta. Ela sabia do que eu estava falando - a noite alguns meses atrás
quando eu matei Alexis James na pedreira de Ashland Rock. Roslyn era uma das reféns de
Alexis, junto com Finn. Roslyn foi quem confirmou a afirmação de Donovan Caine de que ele
tinha matado a Elemental do Ar, em vez de mim.

Pensei no que Roslyn tinha dito. Então Elliot Slater pensava que eu estava lá para apagá-
lo ontem, e não para salvar Bria da morte. Não é surpresa. Como Mab Monroe, Slater não me
parecia alguém que pensava em outras pessoas - exceto o que ele queria tirar delas. Mesmo
assim, Finn estava certo. Slater estaria protegido agora, o que o tornaria muito mais difícil de
matar.

— De qualquer forma, seja lá o que você fez, Slater estava preocupado comigo. Quase não
consegui convencê-lo a não ir para a boate e me checar, — Roslyn deu de ombros. — Xavier
estava lá comigo. Se Slater tivesse ido lá, com o humor que ele estava, ele teria matado Xavier
só por estar lá.

Finn e eu concordamos. Nós dois sabíamos que eu tinha irritado Slater por ter matado
seus homens ontem, e ele podia ter descontado sua raiva em Xavier – talvez até em Roslyn
também. Droga, o gigante podia fazer isso em qualquer momento. Bater na vampira até a
morte com os punhos do jeito que tinha feito comigo na faculdade comunitária. Esse é o tipo
de idiota doente que ele era. E o motivo pelo qual ele precisa morrer o mais rápido possível.

— E como você fez para Slater não ir? — Finn perguntou.

Roslyn fez outra careta.

— Eu disse que sairia com ele hoje. Algum torneio beneficente de jogos de azar no Delta
Queen, — ela fechou os olhos. — Ele disse que queria me levar à casa dele depois. Aí podemos
finalmente... ficar juntos como devemos.

Um arrepio de medo agitou pelo corpo da vampira, e suas mãos tremeram sobre o balcão.
Roslyn não tinha que me dizer que pensar em ver Elliot Slater, e bancar sua namorada amada,
era suficiente para revirar seu estomago. Só a ideia do gigante por suas mãos nela ou em outra
pessoa já me deixava enojada. Sem mencionar o que aconteceria quando Slater levasse Roslyn
de volta para sua casa - sozinha. Os modos brutais que ele iria tratá-la toda a noite.

Isso não ia acontecer, eu jurei. Elliot Slater não ia machucar Roslyn nunca mais. Não
importa o que eu tivesse que fazer ou quem me visse fazendo.

— Não se preocupe, — eu disse. — Você não vai precisar voltar para a casa dele hoje.

Os olhos de Roslyn se arregalaram.

Olhei para Finn. — Precisávamos de uma oportunidade.

Ele congelou. — Não pode estar falando sério, Gin. Você não pode matar Elliot Slater no
Delta Queen na frente de sabe-se lá quantas testemunhas. É um maldito barco , ou você
esqueceu?

— Eu não esqueci, mas é um lugar como qualquer outro, — Respondi. — Não transforme
isso em um desafio. Você sabe como eu gosto disso.

Finn esfregou o peito como se tivesse ficado com azia. Eu não achei que fosse causada
pelas cebolas com molho que ele tinha acabado de comer. O Delta Queen era algo da
instituição Ashland - um barco-cassino que lentamente subia e descia as águas lodosas do rio

Aneirin. Uma monstruosidade branca saída direto da novela de Mark Twain que eu estava
lendo.

— Vamos lá, Gin, pense nisso. Com certeza Elliot vai estar com alguns de seus homens,
— disse Finn. — E esse torneio? É bem importante. Ou pelo menos a festa do mês. Todos os
meus clientes do banco vão, e todas as outras pessoas importantes de Ashland com certeza
estarão presentes.

Eu suspirei. — Olha, sei que vai ser complicado. Não vou negar isso. Mas matar Slater no
barco tem algumas vantagens.

— Diga uma, — Finn desafiou.

— Primeiro, é um lugar público, que é mais fácil de entrar do que sua mansão bastante
fortificada. Segundo, vai estar lotado. Terceiro, vai ter álcool no local, o que significa que muita
gente vai estar se embebedando. Bêbados tendem a ser péssimas testemunhas. Quarto, e talvez
o mais importante, eu posso jogar o corpo para o lado quando eu tiver acabado com ele em vez
de tentar metê-lo em algum armário, — Fui enumerando nos dedos. — Continuo?

Finn esfregou o peito outra vez. — Tudo que você disse é verdade, mas mesmo assim é
perigoso, Gin. Slater poderia gritar ou fugir de você antes que você terminasse o serviço. E se
ele fizer isso, se os homens dele ou os guardas do cassino o ouvirem, é você que não vai sair do
barco viva.

— Eu sei de tudo isso. Mas são os mesmos riscos de qualquer outro serviço.

— Então por que você está tão ansiosa para se arriscar? — Ele perguntou. — Por que
agora que você se aposentou?

— Porque eu não quero que Roslyn tenha que ir para casa com aquele cretino, — eu disse
com a voz baixa. — Entendeu?

Eu não mencionei que era porque a situação inteira era culpa minha. Que Roslyn tivesse
sofrido tanto por minha causa e que eu não ia permitir que ela se machucasse mais.

Finn podia facilmente ver a culpa nos meus olhos.

Então seu olhar verde passou para Roslyn e para a óbvia tensão nos olhos dela e no rosto
e nos punhos cerrados. Agora mesmo, a vampira lembrava uma boneca de porcelana em
tamanho real – uma que se quebraria se você respirasse nela. Finn percebeu o que eu tinha
percebido – que a vampira estava tensa. Que ela não podia aceitar mais uma noite sendo o
brinquedinho de Elliot Slater. Não de novo. Não sem pirar e gritar e se defender com todas as
forças – e então ser morta por causa de sua desobediência.

— Tudo bem, — Finn disse com a voz baixa. — Tudo bem. Vamos fazer isso. Mas como
você vai se aproximar dele? Como eu disse antes, Slater com certeza vai estar atento a qualquer
mulher que se aproxime dele depois do que aconteceu na casa de Bria ontem. Mais importante,
o gigante já te conhece, Gin. Slater sabe quem é você, como você é, e que você tem raiva dele.
Você não vai conseguir ter uma conversa gentil com ele e ficar sozinha com ele como você fez
com Tobias Dawson.

— Eu não tive uma conversa gentil com Tobias Dawson. Eu fui nocauteada e acordei em
uma mina de carvão. Qual a parte disso que significa conversa gentil para você?

Finn me deu um sorrisinho, tentando suavizar o clima. — Alguns caras gostam desse tipo
de coisa.

Eu revirei meus olhos. Finn era muito mais perturbado do que eu. Tudo o que eu fiz foi
matar pessoas com as minhas facas de silverstone. Limpa, simples, franca, direta. Finn era
quem gostava de se distrair com coisas estranhas - com qualquer mulher que aceitasse.

A porta da frente do restaurante abriu. A sineta tocou, interrompendo meus pensamentos
indesejados sobre as tendências de Finn. Olhei para a porta, grata pela interrupção, até que eu
vi exatamente quem estava de pé no Pork Pit – detetive Bria Coolidge.

Minha irmã caçula estava no meu bar, no meu local de trabalho. Bria ficou na porta,
observando o restaurante do mesmo jeito que Roslyn tinha feito minutos atrás. Cabelo loiro,
olhos azuis, pele rosada. Ela não parecia pior por medo, apesar do fato de ela ter levado um tiro
e quase morrer ontem à noite. Ela usava um longo casaco azul sobre um jeans escuro, um
suéter de gola rulê preto, e botas pretas de grife. Sua runa de prímula luziu com um brilho
prateado contra o tecido tingido do suéter. Os olhos de Bria dispararam pelo interior do Pork
Pit antes de pousarem em Finn, Roslyn e eu amontoados no balcão. Ela veio em nossa direção.

Finn me olhou de modo preocupado. Eu sabia exatamente o que ele estava pensando, pois
era o mesmo pensamento que rodava pela minha mente. O que Bria estava fazendo aqui? Ela
de alguma forma tinha percebido que nós éramos a dupla mascarada que a tinha salvado de
Elliot Slater e seus gigantes? Ela tinha, de alguma forma, nos seguido até o Pork Pit? Ela estava
aqui para nos prender por matar os gigantes?

Bria pisou no balcão ao lado de Roslyn. Ela olhou para a vampira um momento,
claramente surpresa de vê-la aqui. Seu olhar frio congelou mais quando viu Finn, que sorria
para ela. Finalmente, Bria virou sua atenção para mim.

? Estou procurando por Gin Blanco.

? Sou eu, ? Respondi. ? Em que posso te ajudar?

Bria pôs a mão dentro do casaco e tirou um distintivo dourado. Ela mostrou para mim, e
depois o guardou no bolso. ? Sou a detetive Bria Coolidge do Departamento de Polícia de
Ashland. Estou aqui para te fazer algumas perguntas sobre o espancamento que você sofreu a
outra noite. Nos encontramos lá, se lembra?

Parte da tensão saiu do meu corpo. Então era por isso que ela estava aqui. Investigando
sobre eu quase morrer espancada nas mãos de Elliot Slater. Não pelo que aconteceu ontem.
Não porque eu era a misteriosa mulher mascarada que tinha salvado ela de ser assassinada em
sua própria casa. Não porque ela tinha me reconhecido. Não porque ela tinha percebido que eu
era sua irmã mais velha perdida há muito tempo. Genevieve Snow.

? Sra. Phillips, por que não termina seu bolo em uma das cabines para que eu converse

com a detetive? ? Perguntei com minha voz mais educada. ? Eu levo o resto do seu pedido em
um instante.

Roslyn me encarou, e depois Bria. Curiosidade preencheu o rosto da vampira. Ela
percebeu que Bria era a policial que eu tinha salvado de Slater ontem, mas Roslyn sabia que
era melhor do que fazer perguntas ou fazer uma cena.

? Claro. Leve o tempo que precisar, ? A vampira disse, concordando comigo. Ela pegou
o copo de leite e o bolo e foi até uma cabine nos fundos do restaurante.

Com Roslyn fora do caminho, Finn estava livre para se virar no banco e dar a Bria uma
lenta olhada dos pés à cabeça que ele tinha reservado para as mulheres que ele estava
pensando em seduzir. Finn sorriu com aprovação. Ele gostou do que viu.

? O que está olhando? ? Bria disparou.

? Só você, detetive, ? O sorriso de Finn se abriu. ? Só você.

Os olhos dela se estreitaram, mas não antes que eu visse uma pequena faísca de algo
brilhando nas profundezas azuis – atração. Por mais indesejável que fosse, Bria achava Finn
arrogante, mas atraente. Eu não podia culpá-la por isso. Principalmente porque eu tinha
dormido com ele durante minha tola adolescência. Com seus olhos verdes, uma figura sólida,
um sorriso diabólico, Finn tinha seduzido mulheres muito mais geladas e intimidadoras que a
detetive Bria Coolidge.

Mas Finn e Bria? Essa era outra complicação que eu não precisava no momento.

? Não há muito o que dizer, detetive ? Eu disse, interrompendo a disputa de olhares

calorosos. ? Como eu disse antes, eu caí.

Bria olhou para mim. Sua boca ficou fina como uma linha. ? Você caiu? Original.

Eu dei um sorriso insosso. Agora era a hora de ser esperta. Os espertos eram lembrados
por inúmeros motivos, e no momento, eu precisava que ela esquecesse tudo sobre mim. Pelo
menos até eu matar Elliot Slater.

Bria continuou me olhando, seu olhar varrendo minhas feições e o que ela podia ver do
meu corpo – principalmente, meu avental azul manchado de gordura e camiseta preta de
mangas longas.

? Bem, você parece ter se curado bem. Parece que seu irmão aqui te levou mesmo para o
curandeiro elemental do Ar e para o melhor tratamento médico em Ashland.

? Eu sempre cumpro minhas promessas, ? Finn respondeu em um tom ameno.

Bria levantou uma sobrancelha mas não mordeu sua isca. ? Seu irmão de criação parece
se preocupar bastante com você, Sra. Blanco.

? Irmão de criação? ? Eu perguntei, já sabendo a resposta da minha pergunta.

? Ele é seu irmão de criação, não é? ? Bria perguntou. ? O filho de Fletcher Lane, o

homem que te adotou quando você era pequena? O homem que te deixou esse restaurante para
você cuidar?

? Você andou me vigiando, detetive.

Bria me encarou. ? Só fazendo meu trabalho, Sra. Blanco. Só fazendo meu trabalho. E é
por isso que eu quero te fazer algumas perguntas sobre o ataque na faculdade comunitária na
outra noite.

Eu aguentei firme, minha admiração pela tenacidade de Bria guerreando com minha
própria frustração. Agora não era hora para ela ficar escurecendo minha soleira fazendo
perguntas que eu não ia responder - nunca.

? Não tenho nada para relatar. Eu caí. Fim de história. Posso te oferecer um pedaço de

bolo antes de ir, detetive?

Já que eu não estava cedendo nenhuma informação, Bria decidiu mudar de tática. ? Você
está com medo de alguém? ? Ela perguntou com um tom mais suave. ? Ajudaria se nós
conversássemos a sós, Sra. Blanco? ? Eu olhei para ela.

? A única pessoa que tenho medo é de minha cozinheira, detetive Coolidge. E é só

porque ela põe muito sal na salada de macarrão. Eu te disse antes, e estou dizendo outra vez. Eu
caí aquela noite na faculdade comunitária – repetidamente. Agora, por que você não vai para as
ruas principais de Ashland e ajuda alguém que realmente precise? Porque eu estou bem.

Meu tom foi mais abafado do que eu gostaria para meu primeiro encontro cara-a-cara
com a irmã que eu não via há dezessete anos. Mas ela não ia aceitar não como resposta, como
eu não teria aceitado na situação dela. Tinha que ser desse jeito no momento. Eu odiava ser
grossa com minha irmã, mas tinha coisas que eu precisava fazer se eu tivesse alguma chance
de cuidar de Elliot Slater hoje. Quanto mais rápido eu matasse o gigante, mas cedo eu podia
seguir com outras coisas – como descobrir como Bria entraria em minha vida e se eu poderia
mesmo ser parte da vida dela.

? É seu irmão de criação? ? Bria perguntou, virando o olhar frio para Finn. ? Foi ele

que te bateu? É dele que você tem medo? ? Eu ri.

? Finn? Me bater? Difícil. Ele enfiaria uma faca no próprio olho antes que pusesse a mão

em mim.

Finn deu a Bria um sorriso charmoso. ? Sou delicado assim, detetive.

Ela olhou para ele mais um momento. Seus olhos piscaram para mim, então para Roslyn
Phillips. A vampira encolhida em uma cabine nos fundos do restaurante, fingindo estar
interessada no bolo. Roslyn era uma atriz melhor do que eu imaginava. Eu podia acreditar que
meu bolo de chocolate era o melhor que ela já comeu, se eu não soubesse que ela estava
simplesmente mexendo nele enquanto ouvia cada palavra que dizíamos.

? Sabe, muita gente em Ashland parece não se lembrar de coisas que aconteceram a eles,
? Bria disse. ? Espancamentos, assaltos, intimidações.

? Deve ser alguma coisa na água, ? eu disse com um tom seco. ? Algum produto

químico que causa perda de memória.

Bria olhou para mim, e eu dei um olhar no mesmo nível. Ela retribuiu o olhar. Olhos
azuis com olhos cinza. Os dois tão frios e resistentes quanto podiam ser.

? Ótimo. Se é assim que quer jogar, vou aceitar sua gentil sugestão e vou ajudar alguém

que aprecie minha ajuda de verdade, ? Bria pôs a mão dentro da jaqueta e tirou um pequeno
cartão de visitas. ? Mas caso você caia de novo e refresque sua memória sobre o que aconteceu
aquela noite, me ligue. Dia ou noite. Eu cuido de tudo. Prometo. Ninguém vai saber que você
falou comigo.

Talvez fosse a sinceridade em sua voz. Ou o fato de que ela parecia tão séria sobre ajudar
as pessoas e fazer diferença. Mas em vez de outro comentário seco, eu simplesmente mexi a
cabeça e peguei o cartão dela, tentando finalizar nossa reunião pelo menos com um tom
neutro, tentando salvar algo bom disso.

Nossos dedos se encostaram. Por um segundo, a carícia fria da magia de Gelo de Bria
tocou minha pele. A magia da minha caçula irradiou de seu corpo do mesmo jeito que o poder
de Fogo de Mab Monroe tinha feito, apesar de a sensação ser muito mais fraca. O poder de Bria
era aliviador para mim, como uma toalhinha fria na testa febril. Não era nada como a sensação
quente e picante da magia de Mab.

Bria congelou com o contato, como se tivesse a aborrecido de alguma forma, mas ela não
disse nada. Eu me perguntei se ela tinha sentido minha magia do Gelo ou até mesmo meu
poder de Pedra. Alguns elementares literalmente vazavam magia, o que significava que outros
elementares como eu podiam sentir seus poderes mesmo quando eles não estavam se
abraçando ou usando-o. Algumas magias escapavam em gotas, enquanto outras como a de
Mab Monroe eram como uma queimadura lenta e constante. Minha magia elementar estava
controlada, a não ser que eu fizesse algo com ela, usasse de alguma forma. Mesmo assim, me
perguntei se Bria tinha sentido algo, sentido algo em minha magia tão similar ao seu poder.
Afinal de contas, nós duas conseguimos nossa magia de Gelo da mesma fonte – nossa mãe.

Bria acenou a cabeça para mim e Finn. Ela encarou Roslyn por um momento, depois
ficou de pé e foi para a porta da frente. A sineta tocou mais uma vez, sinalizando sua saída.

? Isso saiu bem, não é? ? Finn perguntou depois que a porta se fechou atrás dela.

? Qual parte? Você cantando ela? Ou eu dizendo a ela para não cuidar da minha vida?

Finn considerou minha pergunta. ? Bem, vocês duas não saíram no tapa. E ninguém foi
preso. Isso é sempre um bônus.

? É, ? eu respondi, observando Bria enfiar as mãos nos bolsos do casaco e descer a rua.
? Mas ela sabe que estamos escondendo algo, e acho que ela não vai esquecer isso até

descobrir exatamente o que é.

Assim que ficou aparente que Bria não ia voltar, Roslyn Phillips voltou a seu lugar no
balcão do lado de Finn.

? O que foi tudo isso? ? A vampira perguntou.

Eu bufei. ? Por favor. Como se você não tivesse ouvido cada palavra. Eu sei que você tem
audição aumentada, Roslyn. A maioria dos vampiros tem.

Ela deu de ombros. ? Um dos benefícios de beber sangue. Faz alguns de seus sentidos
tomarem vida de verdade.

Vampiros eram como elementares nisso, alguns eram mais fortes que outros, e o sangue
que eles bebiam geralmente fazia efeitos diferentes neles, dependendo de seu próprio nível de
poder e de quem era a veia de que eles estavam tomando, para começar. Meio litro de sangue
O positivo de um humano normal daria a qualquer vampiro um leve zumbido, suficiente para
aguçar a audição e aumentar sua visão. Dê a um vampiro forte sangue de um elementar do
Fogo e, bem, é daí que saíam os vampiros que eram tão fortes quanto gigantes e anões – com
chamas pingando das presas nas botas. E claro, vampiros podiam ser elementares, se eles

tivessem a magia inerente fluindo de suas veias, em vez de tirar a habilidade do sangue de
quem quer que estejam bebendo.

Não havia muita coisa que revirava meu estômago, mas pensar em chupar o sangue de
alguém – quente e fresco direto da garganta ou frio em um copo – era mais que suficiente para
fazer isso. Apesar de qualquer suco extra que isso possa me dar. Mas eu tinhas outras coisas
para pensar. Como o fato de ser quase quatro da tarde, e eu tinha um gigante para vigiar e
matar esta noite.

? De volta à nossa conversa anterior, ? eu disse. ? Roslyn, quero que faça exatamente o

que Elliot Slater mandar você fazer hoje. Vá com ele para o evento no Delta Queen . Sei que vai
ser difícil, mas você acha que pode fazer isso? ? Outro arrepio passou pelo corpo da vampira, e
ela não disse nada. ? Sei que estou pedindo muito, depois de tudo o que você passou. Se não
puder, eu entendo, ? eu disse com uma voz suave. ? Ainda dá tempo de você sair da cidade.
Podemos encontrar outra forma...

? Não. ? Roslyn disse com uma voz sombria tão baixa que eu tive que me concentrar

para ouvi-la. ? É assim que tem que ser. Eu quero que ele morra. Hoje. Eu consigo… fazer isso.
Eu consigo… aguentar mais uma noite, mais uma vez.

Ela mordeu o lábio e assentiu, como se tentasse se convencer que ela realmente poderia
sair com o homem que a esteve perseguindo e usando como seu próprio brinquedo. Mas
Roslyn sabia que fazer sua parte era a única maneira para isso funcionar – não importa quão
desagradável isso fosse ser.

? E o que você vai fazer, Gin? ? Roslyn perguntou.

Eu a encarei, meus olhos cinza frios como gelo.

? Com sorte, vou esfaquear o cretino até a morte antes que você termine sua primeira

taça de champanhe.

14

Logo após as oito aquela noite, eu abri a porta, desci do Aston Martin, e ajeitei o vestido.
Andei na frente do carro prateado e esperei Finn trancar seu bebê.

Então, quando Finn se juntou a mim, eu pus a mão na cintura e fiz uma pose.

? Como estou? ? Finn me deu uma examinada dos pés à cabeça.

? Bem. Nem parece que você planeja cometer um assassinato antes de a noite acabar.

Já que eu ia passar a noite socializando com os cidadãos mais ricos de Ashland, decidi me
vestir para a ocasião. Eu troquei meus jeans comuns e uma camiseta por um simples vestido
com a saia solta. A peça era feita de um cetim pesado e brilhante, de um azul tão escuro que
parecia preto. Tudo de bom para esconder as manchas de sangue.

E o mais importante, o vestido ainda tinha mangas longas para esconder as duas facas de
silverstone que eu coloquei dentro delas, e a saia caía nos meus joelhos, escondendo as outras
duas facas que eu prendi em minhas coxas. Ainda tinha mais duas facas dos lados das minhas

botas de salto fino, e eu tinha uma enfiada na minha bolsa. Sete facas provavelmente seriam
mais do que o necessário, mas eu queria estar preparada quando fosse atrás de Elliot Slater.
Não seria bom eu ter o gigante em vista e não conseguir matá-lo por falta de armamento
adequado. Eu podia estar oficialmente aposentada de ser a assassina Aranha, mas isso não
queria dizer que eu não era mais uma profissional.

Numa tentativa de me misturar com todos os belos jovens e esposas troféu certa de ter
presença, eu peguei pesado na maquiagem – olhos sombreados, lábios cor de ameixa, muito
rímel. Eu até tinha soltado meu cabelo de seu típico rabo de cavalo para as festividades da
noite. Jo-Jo Deveraux ficou toda feliz por transformar meu cabelo cor de chocolate em cachos
ondulados. A anã sempre gostou quando eu brincava de me vestir.

Jo-Jo também foi gentil por me dar alguns tubos de sua pomada cicatrizante mágica, caso
Elliot Slater acerte uns golpes antes de sua morte hoje à noite.

? E eu? ? Finn perguntou. ? Como estou?

Finn usava o de sempre para a função na sociedade - um smoking clássico, com pequenas
abotoaduras de diamante, e os sapatos polidos que tinham um visual mais brilhante do que
algumas das joias que as debutantes estariam usando hoje. O tecido preto acentuava o verde de
seus olhos, enquanto seus cabelos cor de noz estavam cacheados em volta de seu pescoço em
um arranjo artístico que parecia intencional e esforçado. Finn tinha passado mais tempo
arrumando o cabelo do que Jo-Jo tinha passado arrumando o meu.

? Sempre o cavalheiro, ? eu respondi. ? Nem parece que você planeja me ajudar em

cometer tal assassinato hoje à noite.

Finn sorriu e pôs o braço no meu. ? Pronta para uma noite de assassinato e violência?

Eu sorri de volta. ? Sempre.

De braços dados, Finn e eu deixamos o estacionamento e fomos passeando para o Delta
Queen .

O barco estava atracado no meio do distrito da cidade, onde o rio Aneirin fazia uma curva
como uma fita de cabelo pelos arranha-céus da cidade e prédios culturais como o Ashland
Opera House. Há vários anos quando o cassino-barco tinha vindo pela primeira vez à cidade, os
planejadores da cidade tinham construído uma passarela de madeira iluminada com antigas
lâmpadas de ferro. Apesar de sua proximidade com as principais ruas de Southtown, o
enobrecimento urbano tinha parado, principalmente porque o cassino tinha seus próprios
vigilantes que ficavam de olho nas pessoas comuns que pudessem assaltar seus clientes antes
que eles pudessem ir a bordo e torrar seu dinheiro em grande estilo.

Nenhuma pichação de gangue ou grafite era visto na passarela, e várias lojas de arte e
restaurantes se espalharam do lado oposto do rio, ao lado das tabuas de madeira molhada –
lojas de antiguidades caras e cafés determinados a sugar o máximo de dinheiro que pudessem
dos passantes antes de embarcarem no cassino e perderem o cheque de pagamento da semana.
Ah, progresso.

O Delta Queen tinha seis conveses, cada um mais luxuoso e opulento que o outro. Mesmo
à distância, dava para ver o brilho da madeira polida, os metais pesados, e o delicado cristal
através das largas janelas que alinhavam os níveis superiores. Pedaços elegantes de friso
vermelho e azul brilhavam em vários lugares do acabamento branco do barco, demarcando o
barco como um lugar americano para perder as economias de toda a vida. Luzes redondas o
cercavam e grades metálicas desciam de um convés para o outro como correntes de teia de
aranha eletrificada. O terceiro andar tinha forma de U que se projetava sobre os outros
conveses e formava o arco do barco. Enquanto isso, uma grande roda de pás que subia até o
sexto convés ancorava a popa da embarcação.

Eu olhei para a roda de pás. Hmm. Havia possibilidades. Como eu empurrando Elliot
Slater por ela. Mas o barco não estava agendado para deixar a doca esta noite. Mesmo se um
cruzeiro estivesse planejado, as pás eram muito largas para fazer o estrago necessário no
gigante, e eu duvidava que só a queda fosse matá-lo. Mas ele provavelmente gritaria bastante
na descida.

Que pena. Eu nunca tinha matado alguém com uma roda de pás. Eu podia não ser mais a
Aranha oficialmente, mas eu estava sempre à procura de novas experiências – e novas
habilidades para somar ao meu repertório mortal. Elliot Slater ia morrer esta noite, mas não
significava que eu não poderia me divertir um pouco ajudando-o a parar de respirar.

Graças à sua posição em seu banco e o fato de que vários de seus poderosos clientes
estariam presentes esta noite, Finn foi convidado para a festa. Eu estava indo como sua
convidada. Finn entregou seu convite desenhado para o homem que estava checando nomes na
orla, que nos acompanhou a bordo com uma musiquinha.

? Hmpf, ? Finn fungou, soando exatamente como Sophia Deveraux. ? Ele nem falou

para eu me divertir esta noite.

Eu dei um tapinha no braço do Finn. ? É porque você não é uma das pessoas importantes
que vêm hoje. Ele está guardando a bajulação para eles.

Finn fungou com desprazer outra vez.

Enquanto nós dois andamos pela ponte para o barco, eu olhei para a grade. Lá embaixo,
as águas turvas do rio Aneirin passavam, indo em direção ao longínquo rio Mississipi e por fim
no Golfo do México. A mancha de óleo brilhava azul, roxa e verde na superfície da água, e
todas as luzes artificiais no barco não conseguiam esconder os estranhos pedaços de madeira, as
embalagens de fast food molhadas, e outras coisas que obstruíam a orla. Ou o fedor.

Eu torci o nariz. O ar fedia a peixe podre. Ugh. O cheiro me lembrou a última vez em que
eu estive perto assim do rio – quando eu mergulhei de cara do topo do Ashland Opera House
para fugir dos policiais depois de um golpe arruinado. Precisei de vários banhos para tirar o
cheiro de peixe podre do meu cabelo.

Finn e eu chegamos no topo da ponte e nos encontramos no terceiro convés, o epicentro
do evento. O convés era mais largo que dois salões de festa juntos. Vinte-e-um, baccarat,
pôquer, e outros jogos de tabuleiro tinham sido postos na área aberta. O slap-slap-slap das
cartas sendo embaralhadas podia ser ouvido, junto com o clink-clink das fichas se batendo nas

mesas de feltro e o clack-clack-clack das caça-níqueis. Aquecedores colocados junto às grades e
debaixo de algumas mesas mantinham o frio de dezembro na baía, ajudado imensamente pelos
egos inflados daqueles que já estavam a bordo.

Pessoas vestidas de smoking, vestidos e joias brilhantes já esperavam por sua vez de
perder dinheiro – que supostamente iria para a caridade hoje. Eu duvidava disso, já que Phillip
Kincaid era um dos principais proprietários do barco.

Kincaid era um dos tubarões do submundo de Ashland, assim como Mab Monroe, com
sua própria rede de comparsas e batedores. Ele já estava no convés, um homem de um metro e
oitenta com o peito que parecia tão denso quanto concreto sob seu smoking branco. Seu cabelo
cor de areia estava puxado para trás em um rabo de cavalo pequeno, tudo para mostrar suas
bochechas entalhadas e atraentes olhos azuis. Nunca tinha feito negócios com Kincaid, mas
diziam que seu pai tinha sido um anão, e sua mãe uma gigante. E daí vinha seu físico sólido.
Mas eu não sabia onde ele tinha conseguido o rosto bonito. Não importava. Tirei Kincaid da
mente, já que ele não era meu alvo hoje.

De acordo com as fontes de Finn, um jantar formal seria servido mais tarde. Através das
portas abertas que levavam para o interior do barco, eu vi garçons se apressando de um lado
para o outro com taças, bandejas de prata, vasos de mesa, e mais na sala de jantar. O interior do
barco estava vazio e cheio de sacadas, assim as pessoas do quarto, quinto e sexto conveses
pudessem ver tudo no terceiro convés, onde um palco tinha sido montado para shows no jantar.
Os dois conveses mais baixos estavam cercados. Era onde ficava a cozinha, junto com as jaulas
de dinheiro. Eu sabia porque Finn e eu passamos as últimas horas analisando as plantas do
barco, dentre outras coisas.

Finn pegou dois champanhes do garçom que passou e entregou um para mim. ? Como
você quer brincar?

Eu dei um gole no champanhe. ? Vamos nos separar. Quero dar uma volta, ver como a
segurança é pessoalmente, e achar um lugar aconchegante onde Elliot Slater e eu podemos
conversar mais tarde. Você fica de olho em Roslyn e o gigante. Chame quando você os vir.

? Ok, ? Finn disse. ? Vou estar por perto caso precise de mim.

Nos separamos. Eu tomei champanhe e perambulei por entre as mesas de jogos e
pequenas panelinhas de pessoas importantes que se aglomeravam no deque. As mulheres
troféu, debutantes, e divorciados ricos estavam grandes e esplendorosos em suas roupas com
cor de joias, pavões ajeitando as penas para os homens vestidos de pinguim. E praticamente
todos – homens e mulheres – usavam uma joia pequena de vários quilates, fosse um colar de
diamantes ou uma pulseira de rubis que levemente escapava da manga do smoking. Minha
magia da Pedra me deixava ouvir os sussurros de orgulho das pedras preciosas, de sua beleza,
elegância e fogo, tão vaidosas e orgulhosas quanto as pessoas que as usavam.

Silenciei as vozes das pedras em minha mente e me concentrei no detalhe de segurança
da noite. Vários gigantes usando ternos pretos vagavam pela multidão, como era esperado em
um evento desses. Outros estavam de braços cruzados, de olho nos jogadores nas mesas de
jogo. Eu contei cinco só nesse convés, e eu sabia que havia mais alguns patrulhando os outros
deques e o interior do barco, observando bêbados e outros problemas potenciais. Cada um dos
gigantes usava um grande broche no meio da gravata que os marcava como equipe de
segurança. Os broches tinham a forma de uma runa do cassino – um sinal de dólar sobre o
contorno do barco. Chique.

A quantidade de segurança era um problema, mas não era surpresa. O Delta Queen era
um cassino, e havia vários figurões aqui com dinheiro para perder.

Incluindo Owen Grayson.

O empresário estava em uma mesa na ponta do barco jogando pôquer com alguns outros
figurões. Em vez de fichas de plástico vermelhas, brancas e azuis que os outros jogadores
estavam usando, apostas de fichas de ouro maciço estavam na frente de cada jogador,
marcando seu valor como fichas de centenas de milhares de dólares. Por causa das apostas que
eles estavam fazendo, uma multidão se formou em volta da mesa. Eu me aproximei o
suficiente para dar uma boa olhada na ação.

Como todos os homens presentes, Owen Grayson estava vestido para esta noite com um
smoking, mas sua escolha de tecido azul escuro fazia seus olhos parecerem mais azuis do que
violeta. Apesar de ele estar sentado, eu fiquei novamente impressionada com quão compacta,
robusta e forte a figura de Owen era. Seus olhos violeta brilhavam em seu rosto, mesmo
enquanto seu cabelo preto azulado desaparecia nas sombras produzidas pelas luzes em volta
das grades atrás dele. A cicatriz sob os lábios de Owen era uma pequena linha branca, mas não
deixava de ser atraente. Pelo contrario, adicionava caráter em suas feições. Duro e rude e sexy,
era assim que ele parecia para mim.

Eu não era a única mulher que o observava. Muitas o olhavam com um interesse
predatório, mentalmente pesando entre ele e os outros cavalheiros para determinar quem
merecia mais a sua atenção esta noite. Mas evidentemente elas achavam ele tão atraente
quanto eu achei, porque nenhuma delas fez um movimento para ir embora ou andar pelas
outras mesas procurando outras vitimas.

O negociador embaralhou mais um deque de cartas, e Owen aproveitou a pausa para dar
uma olhada na multidão em volta dele. Ele parou quando me viu. Os olhos violeta de Owen
percorreram meu corpo, um centímetro por vez. Seios, estômago, coxas, pernas. Ele olhou tudo.
Um sorriso surgiu em seu rosto, suavizando suas feições duras. Eu dei um aceno tranquilo,
reconhecendo sua aprovação de meu vestido. O sorriso dele ficou mais largo, e ele inclinou a
cabeça de volta.

? Senhor? ? O negociador chamou Owen.

Owen olhou suas cartas e subiu qualquer aposta que tivesse sido dada. O homem à sua
esquerda puxou a manga e hesitou um minuto antes de dobrá-la, e os outros fizeram suas
apostas. O olhar violeta de Owen ficou em mim um momento antes de ele se concentrar nas
cartas outra vez. Eu fui embora.

Fui para o interior vazio do barco, onde os funcionários ainda estavam ocupados
arrumando todas as mesas para o jantar. A porção cercada dos conveses superiores envolvia

uma área aberta quadrada que tinha um grande palco frenteado por cortinas de veludo preto.
Os shows de jantar do barco eram quase tão populares quanto as mesas de jogos.

Assim que eu conheci todas as entradas, saídas, e possíveis cubículos onde eu pudesse
silenciosamente matar Elliot Slater, eu dei outra rápida volta no convés. Mas o gigante e
Roslyn Phillips não tinham chegado ainda, então eu fui à procura de Finn para ver se ele tinha
ouvido algo sobre Roslyn essa noite.

Como sempre, foi fácil encontra-lo. Finnegan Lane tinha ficado no fim do bar que tinha
sido montado de um lado do convés. Bares eram um dos lugares favoritos de Finn, lugar com
bebida, fofoca, os ocasionais salgadinhos, e mulheres embriagadas abertas a sugestões com seu
sorriso faminto. Eu o encontrei conversando com uma jovenzinha que mal parecia ter idade
para beber, muito menos para comprar as gotas de esmeralda penduradas de suas orelhas ou o
sutiã saltando de seu vestido. Alguém tinha um companheiro generoso.

Eu dei um tapinha no ombro da garota e dei um sorriso duro a ela. ? Desculpa, docinho,
mas você precisa ir embora agora. Meu querido marido já está ocupado a noite toda.

Finn bufou com desaprovação. Os olhos castanhos da moça dispararam entre nós dois.
Evidentemente, ela não gostou do problema que viu surgindo em meu rosto frio porque ela
pegou seu daiquiri de morango e foi para a outra ponta do bar à procura de chances mais
fáceis.

Finn suspirou. ? Você tinha mesmo que fazer isso?

? Não, ? eu sorri. ? Mas com certeza foi divertido.

? Qual é, Gin. Você poderia pelo menos tê-la espantado de outro jeito. Você sabe como

me sinto com a palavra marido, ? Finn teve um leve arrepio. Qualquer compromisso
romântico mais demorado que algumas horas era suficiente para deixá-lo inquieto. Revirei os
olhos.

? Estamos aqui para fazer um serviço, caso tenha esquecido. Você pode dar em cima

dessas coisinhas jovens assim que tivermos cuidado de tudo. Capisce ?

? Capisco, ? ele murmurou.

Me inclinei no bar e observei a multidão brilhando, rindo, conversando diante de mim.
Reconheci vários rostos, a maioria da minha época de Aranha. Irmãs, mães, irmãos, maridos,
acionistas. Eu tinha ajudado muitas pessoas nesse barco a se livrarem de problemas pessoais e
financeiros ao longo dos anos em Ashland e fora.

? Algum sinal de nossos amigos? ? Perguntei.

? Não, mas devem chegar logo. Roslyn me mandou uma mensagem alguns minutos

atrás dizendo que Elliot Slater tinha chegado em casa dela, ? Finn virou a cabeça. ? Ei, lá
estão eles.

Olhei para a esquerda bem em tempo de ver Elliot Slater surgir no topo da ponte. O
gigante tinha um braço curvado possessivamente em volta da cintura de pilão de Roslyn
Phillips. Da parte dela, a vampira parecia fraca ao lado dele como se estivesse enjoada e prestes
a vomitar tudo o que tinha comido hoje. Eu não podia culpá-la por isso, depois de tudo o que
ela tinha passado. Eu não sei se conseguiria chegar até aqui no lugar dela.

Dois gigantes também de smoking seguiam Slater a bordo, ficaram a frente dele alguns
passos, e pararam, observando a multidão à frente deles. Deviam ser os guardas de Slater da
noite.

Elliot Slater deu um passo para o lado e se virou, falando com alguém atrás dele. Um
momento depois, mais duas figuras surgiram e entraram no barco – Jonah McAllister e Mab
Monroe.

15

Finn viu meu rosto apertar e meus olhos escurecerem com raiva. ? Alguma coisa
errada? ? Perguntou em tom leve, embora já soubesse a resposta.

? Não pensei que Mab estaria aqui esta noite, já que este é o cassino de Phillip Kincaid,
? Resmunguei. ? Os dois se odeiam. Pensei que Slater estaria aqui sozinho, já que jogo é um

de seus passatempos, de acordo com o seu arquivo sobre ele.

? Kincaid teve que convidá-la, assim como teve que convidar Elliot Slater. Deixar Mab

Monroe e seus lacaios fora de sua lista de convidados? Isso é impensável nesta cidade, mesmo
que Kincaid estivesse feliz de dançar em todos os seus túmulos e assumir as operações de Mab.
? Finn acenou com a cabeça naquela direção. ? E além de Jonah McAllister, parece que Mab

trouxe mais dois guarda-costas junto com ela.

Com certeza, dois gigantes pisaram no barco por trás de Mab e Jonah. A retaguarda, por
assim dizer.

? Não é de admirar que a pobre Roslyn pareça fraca, ? Finn murmurou. ? Além de

Slater, quem sabe quanto tempo ela teve que ouvir Jonah McAllister esta noite? Sua arrogância
seria suficiente para levar qualquer um a loucura. E Mab não é exatamente uma violeta
encolhida.

Sentamos no bar e observamos os quatro. Elliot Slater levou Roslyn Phillips para o
convés, parando a cada poucos metros para apertar as mãos de alguém que conhecia. O gigante
usava um smoking preto que fazia seu físico de 2,1 metros parecer ainda maior e mais
intimidante do que o habitual. Troncos de árvore pareceriam pequenos em comparação a ele.

Até agora, Roslyn parecia estar desempenhando o papel do encontro devotado esta noite.
A primeira parte disso era estar formidável. A vampira tinha posto um vestido de noite
escarlate até o chão salpicado aqui e ali com lantejoulas combinando. De alguma forma, o
colante, apertado vestido conseguiu ser de bom gosto e ainda exibir a figura perfeita de Roslyn.

Mais do que alguns olhos se viravam na direção da vampira, mas um rápido olhar
ameaçador de Slater era o suficiente para acabar com os olhares apreciativos. Os olhos cor de
avelã do gigante também seguiam os intrometidos, como se estivesse guardando seus nomes e
rostos na memória para que pudesse bater o recheio para fora deles mais tarde. Ele entortou
um dedo para um dos dois gigantes pairando perto dele e sussurrou algo no ouvido do outro
homem. O gigante assentiu e afastou-se para a multidão. Poucos segundos depois, um dos
homens que estava encarando Roslyn foi discretamente escoltado para fora do barco. Se tivesse
que adivinhar, eu diria que ele ia ter o mesmo tipo de tratamento que eu tinha recebido na
outra noite no quadrilátero da faculdade comunitária.

Elliot Slater ficou perto de Roslyn o tempo todo, apenas deixando-a fora do alcance do
braço por tempo suficiente para agarrar para os dois um copo de champanhe. Uma vez que ele
acabou de manter a corte, Elliot puxou Roslyn até uma das mesas de blackjack, onde ambos se
sentaram. O gigante pegava a mão de Roslyn e arrulhava palavras doces em seu ouvido sempre
que não estava ocupado apostando ou olhando para seus cartões.

Apesar de sua maquiagem, o rosto da vamp parecia pálido e suado sob os cordões de
luzes. Eu tinha a sensação de que Roslyn estava muito perto de sair correndo. E embora eu não
pudesse culpá-la por isso se ela o fizesse, iria apenas piorar as coisas no final.

Jonah McAllister e Mab Monroe também trabalhavam a multidão. Ou melhor, eles
ficavam no meio do convés e deixavam seus sicofantas admiradores virem um por um e
puxarem o saco.

Jonah também usava um smoking, seu cabelo prateado um contraste brilhante, reluzente
contra o tecido preto. Mab usava um vestido de cocktail preto não muito diferente do meu. A
cor escura fazia seu cabelo parecer cobre polido contra seus ombros cremosos. Como de
costume, ela ostentava seu colar de ouro de explosão solar. O rubi que constituía o centro do
design ornado brilhava como sangue fresco contra sua pele. Mesmo através do convés aberto,
minha magia de Pedra me deixou ouvir o murmúrio duro, poderoso das pedras preciosas - um
de fogo, morte e destruição. O som terrível me fez ranger os dentes. A parte primitiva,
elementar de mim queria esmagar aquele maldito rubi e destruir seus soberbos, horrendos
murmúrios, quase tanto quanto eu queria matar Mab.

? Agora que você já teve tempo de examinar o lugar, como você quer fazer isso? ? Finn

perguntou em uma voz baixa. ? Quer que eu tire Slater do rebanho para o abate? Derrame
uma bebida sobre ele para que tenha que fazer uma viagem conveniente para o banheiro dos
homens?

? Não, ? respondi. ? Nós dois precisamos partir com negação plausível. Você derrama

uma bebida em Elliot Slater, e depois que ele desaparecer resulta na conclusão certa rapidinho.
Jogue-me na mistura, e eles ainda vão pensar que têm o motivo certo. Apenas mantenha um
olho neles, especialmente Roslyn. Parece que ela está a cerca de dez segundos de distância de
gritar e tentar arrancar os olhos de Slater.

? Você não estaria? ? Finn perguntou em uma voz calma. ? Xavier me contou sobre as

supostas reuniões de Roslyn com o gigante. Todas as maneiras que ele a está aterrorizando.

Sobre como ele a vem fazendo brincar de casinha com ele, como se fossem um casal de
verdade. É uma das coisas mais doentes que eu já ouvi.

Pensei em quanto Roslyn Phillips tinha estado calma quando me contara o que Slater
estava fazendo com ela. Como o bastardo estava controlando e assustando e ferindo e abusando
dela. Como ele estava brincando com ela antes de finalmente estuprá-la.

? Eu teria arrancado seu coração do peito com uma das minhas facas - ou pelo menos

tentado, ? respondi.

? Então, por que Roslyn não fez isso?

? Porque Roslyn não é uma ex-assassina como eu. Ela não teve o benefício do

treinamento de Fletcher. Mas, mais importante, ela tem a sua irmã e sobrinha para pensar.
Xavier também. Sua morte não os ajuda nem um pouco.

Finn olhou para mim com seus brilhantes olhos verdes. ? E você não tem pessoas que te
amam também?

Dei de ombros. ? Não é o mesmo. Você, Jo-Jo, e Sophia sabem o que sou, o que posso
fazer. E você já viu o que as outras pessoas têm feito a mim.

? Você estava uma bagunça depois de Alexis James e Tobias Dawson acabarem com

você, ? ele concordou.

Continuei como se ele não tivesse falado. ? Vocês três conhecem os riscos agora. Que
uma noite, eu poderia não voltar para casa. Vocês três têm um ao outro para se apoiar. Roslyn é
a rocha em sua família. Sua irmã e sua sobrinha dependem dela. Ela estava tentando protegê-
las.

Finn continuou me encarando. ? E você é a nossa rocha, Gin. Você deveria pensar sobre
isso também.

Não respondi. Porque a coisa engraçada era, Finn, Jo-Jo, e Sophia eram minhas rochas - e
eu mataria qualquer um que sequer pensasse em feri-los. Mesmo que isso significasse minha
própria morte.

Era um preço que eu ficaria feliz em pagar.

Finn passeou para a multidão, plantando-se em uma máquina caça-níqueis bem em
frente da mesa de blackjack de Slater. Roslyn deu-lhe um sorriso pálido, mas um pouco da
tensão aliviou de seus ombros esguios. Pelo menos a vamp sabia que estávamos aqui e prontos
para jogar. Seus olhos caramelo deslizaram sobre a multidão, procurando por mim, mas ela
não podia me ver de onde estava sentada. Eu me certifiquei disso. Fiquei no bar, bebendo um
gin, observando o fluxo de tráfego em torno da mesa de blackjack, e pensando em tudo o que
tinha lido sobre Elliot Slater nos últimos poucos dias.

Finn havia compilado bastante de um arquivo sobre o gigante, procurando alguma
maneira de chegar a ele, qualquer fraqueza, vício, ou hobby que ele poderia ter. Nós até
tínhamos escavado na pasta de informação que Fletcher Lane tinha compilado sobre Mab
Monroe. O velho tinha incluído Slater na mistura com sua chefe, por razões óbvias. Toda a
informação tinha sido interessante, mas não muito útil. Slater não se tornara o executor
principal de Mab Monroe por acidente. Ele era um bastardo astuto, de sangue frio que gostava
de usar seus punhos para ferir as pessoas - um fato eu mesma sentira duas vezes agora.

Tristemente, Roslyn Phillips não era a primeira mulher que Elliot Slater tinha
aterrorizado. Finn desenterrara uma dúzia de investigações envolvendo mulheres
desaparecidas em Ashland apenas nos últimos dois anos. O nome de Slater esteve ligado a
todos os casos, com ele quase sempre listado como sendo o namorado da vítima.

Alta, baixa, curvilínea, ou não. Gigante, anã, vampira, humana, elementar. Preta, branca,
hispânica, asiática. Nenhuma dessas coisas importava para Slater. A única coisa com que ele
parecia se importar era beleza. Essa era a única coisa que todas as suas vítimas tinham em

comum - eram todas mulheres excepcionalmente belas, assim como Roslyn era. Atraente e
impressionante com o tipo de traços perfeitos que você simplesmente não conseguia desviar o
olhar.

O padrão era o mesmo todas as vezes. Slater iria ver uma mulher bela, se tornar obcecado
por ela, e começar a persegui-la. Regá-la com sua própria marca torcida de atenção e inventar o
mesmo tipo de relacionamento doente com ela que tinha com Roslyn. Em todos os casos, a
mulher aparecia morta - estuprada e espancada até a morte poucas semanas depois de começar
a namorar Elliot Slater.

Finn colocara as mãos em algumas das fotos de cena do crime. Elas não eram bonitas.
Elas faziam o que o gigante tinha feito para mim naquela noite no colégio comunitário parecer
uma massagem gentil. Slater parecia desfrutar de destruir a beleza das mulheres, tanto quanto
ele desfrutava de admirá-la para começar.

Algumas das mulheres tentaram lutar de volta, claro. Elas tinham ido à polícia e tentado
obter um ordem de restrição contra Slater. Mas nada jamais veio de seus gritos de socorro.
Nesses casos, as mulheres acabaram mortas dentro de dias em vez de semanas. Slater não
gostava de ser desobedecido.

O simples fato era que Elliot Slater era um serial killer que gostava de perseguir,
aterrorizar, e controlar mulheres antes de finalmente estuprá-las e, por fim, assassiná-las. Ele
gostava de seu medo, gostava da sensação de poder que isso lhe dava. Era provavelmente a
única coisa que poderia excitar um bastardo doente como ele.

É claro, nada jamais veio de qualquer investigação sobre Slater, graças ao trabalho do
gigante para Mab Monroe. Inferno, ela provavelmente lhe deu carta branca para sair e
encontrar um certo tipo de distração, de vez em quando. A recompensa para todos os trabalhos
sangrentos que fazia em nome da elementar de Fogo.

Mas eu tinha visto uma lasca de oportunidade no arquivo, uma possível janela para ter o
gigante sozinho esta noite - Elliot Slater gostava de fumar charutos. Um fato que eu

testemunhara a outra noite fora do restaurante Underwood. Não um hábito incomum entre os
tipos endinheirados, importantes e arrogantes em Ashland.

Mas, em uma multidão como esta, acender um Cubano seria mal visto. Esposas troféus
não gostavam de seus vestidos de grife fedendo a tabaco. E elas criariam barulho o suficiente
para fazer até mesmo alguém como Slater perceber que era melhor fumar longe de todas as
sedas e cetins, apenas para manter-se de ouvir a sua reclamação. Então, se o gigante quisesse
sua correção de nicotina esta noite, Slater teria que procurar um local menos lotado para
soprar para longe o conteúdo do seu coração. E quando o fizesse, eu faria a minha jogada...

? Este assento está ocupado? ? Uma voz ressoou à minha direita.

Virei minha cabeça e me encontrei encarando os olhos violeta de Owen Grayson. ? Está
agora.

Owen inclinou a cabeça, se acomodou ao meu lado, e pediu uma água tônica.

? Sem uísque escocês esta noite? ? Perguntei.

O barman deslizou sua bebida, e Owen sacudiu os cubos de gelo no copo antes de tomar
um gole. ? Eu não bebo quando estou jogando.

? Não parece muito de um jogo, ? Respondi. ? Desde que você tinha várias centenas

de milhares de dólares da última vez que te vi, e os outros jogadores desesperadamente
pareciam querer que você se movesse para outra mesa.

Owen sorriu abertamente. ? Eu provavelmente deveria mencionar que eu sou excelente
em blefar.

? Eu aposto que você é.

Ficamos ali sentados em silêncio sociável por alguns momentos. Owen se inclinou para
trás, seu olhar lentamente subindo e descendo pelo meu corpo. Admirando a vista. Eu tinha

que admitir que a atenção descarada me agradava. Especialmente quando havia tantas
mulheres mais atraentes a bordo. Até mesmo assassinos tinham egos.

? Você sabe, ? Owen disse em um tom casual. ? Nós vamos ter que parar de nos

encontrar assim.

? Assim como?

Ele gesticulou. ? Em um bar.

Desta vez, eu me recostei no dito bar e ergui uma sobrancelha. ? Você não parecia
chateado demais da última vez que estivemos em um bar juntos. A outra noite na Agressão do
Norte.

? Isso é porque você prometeu me ligar, ? Owen respondeu. ? O que você não fez

ainda.

Dei de ombros. ? Estive ocupada.

? Com o quê?

Do outro lado do convés, Elliot Slater faturou uma pilha de fichas de ouro.

? Isto e aquilo.

Owen drenou o resto de sua tônica. ? Você sabe, eu não estou acostumado a esperar uma
mulher ligar.

? Bem, então esta nova experiência será boa para o seu ego, ? Respondi. ? Impedi-lo de

ficar inflado demais. Acho que nós também discutimos isso da última vez que nos
encontramos.

Owen riu entre dentes, em seguida deslizou para a frente e pôs a mão em cima da minha.
Foi um toque leve, tão gentil quanto uma brisa. Mas para mim, a sensação de sua pele quente

na minha sussurrou de possibilidades – e o prazer que poderia ser encontrado em mais contato
de corpo inteiro.

? O que você diz de sairmos daqui, Gin? Irmos ter aquele jantar que você me prometeu?

? Jantar? ? Respondi.

? Jantar, ? ele disse, seus olhos escurecendo para uma cor rica, de ameixa. ? E talvez

alguma sobremesa também. Se você quiser.

Eu sabia exatamente o que ele queria dizer com sobremesa. Meus olhos flutuaram sobre
o rosto de Owen, para baixo em seu peito, e sobre suas mãos fortes, de aparência capaz. Mais
uma vez, um formigamento quente de desejo chiou à vida na boca do meu estômago.

Donovan Caine não ia voltar. O detetive deixara perfeitamente claro que eu não era o que
ele queria. Que ele valorizava sua preciosa moral mais do que o que ele poderia ter comigo. E
Owen Grayson estava aqui, pronto, disposto e apto - e seus olhos violeta livres da culpa que
sempre tinha escurecido os dourados de Donovan.

O polegar de Owen acariciava as costas da minha mão, outro toque leve, delicioso que me
fazia querer dizer sim para ele, só para ver o que iria acontecer entre nós…

Com o canto do meu olho, vi Elliot Slater ficar de pé. Ele murmurou alguma coisa no
ouvido de Roslyn, depois estalou os dedos. Os dois gigantes que estavam pairando em torno da
mesa de blackjack aproximaram-se de Roslyn, ordenados para vigiá-la em vez de Slater. O
gigante traçou um dedo descendo pelo lado da bochecha de Roslyn. A vamp tentou sorrir com
o toque, mas saiu mais como uma careta. Slater não pareceu notar, no entanto. Ele tirou uma
pesada caixa de prata de dentro do paletó, abriu-a e arrancou um longo e gordo charuto.

Minha janela de oportunidade tinha acabado de abrir. Eu não teria uma chance melhor
do que esta a noite toda. Eu poderia não ter outra chance a noite toda.

O polegar de Owen manteve seus golpes longos, seguros, uma promessa do que poderia
vir mais tarde com outras partes mais interessantes de sua anatomia. Meu prazer ou a dor de
Roslyn. Nenhuma escolha, realmente.

Sorri para Owen, puxei minha mão da sua, e fiquei de pé. ? Segure esse pensamento. Eu
vejo alguém com quem só tenho que falar. Por favor, me dê licença por alguns minutos.

Surpresa piscou em seus olhos, e Owen abriu a boca, provavelmente para perguntar o que
eu pensava que estava fazendo recusando seu convite aberto mais uma vez. Eu não tinha
certeza se eu mesma sabia.

Eu poderia até ter me arrependido se já não tivesse me virado e ido embora.

16

Eu me mantive no perímetro do convés, atraindo tão pouca atenção para mim mesma
como possível enquanto me dirigia atrás de Elliot Slater. A esta altura, o lucro estava em pleno
andamento, com pelo menos trezentas pessoas ao ar livre, jogando pôquer, puxando as
máquinas caça-níqueis, e bebendo até uma excitação febril. Mais do que bastante tráfego e
ruído para esconder os meus movimentos para todos, menos o observador mais devotado.

A chave para fazer com que pareça que não está seguindo alguém é fingir que ele nem
sequer existe. Que vocês dois estão apenas fora para um passeio, coincidentemente na mesma
direção com o mesmo destino em mente. Então eu andei em um ritmo calmo, sorrindo para os
homens e mulheres que vagavam passando por mim. Eu até fiz uma pausa por alguns
segundos e fingi estar interessada no desfecho de um jogo de bacará.

Finn tinha visto Slater se levantar, e me avistou movendo-me através da multidão atrás
do gigante. Finn assentiu para mim, me encorajando a continuar. Assenti de volta. Eu não tinha
intenção de parar até que o gigante estivesse morto e alimentando o bagre no Rio Aneirin.

Nove metros à frente de mim, Elliot Slater dobrou a esquina do convés e desapareceu de
vista. Observei o final de mais um jogo de bacará, esperei mais alguns segundos, então o segui.

Ao virar a esquina, o amplo convés se reduzia a uma longa passagem que corria o
comprimento do navio inteiro. Este lado do barco enfrentava o Rio Aneirin, e alguns casais
tinham escapado do resto da multidão enlouquecedora para apreciar a vista e murmurar
sugestões quentes nos ouvidos uns dos outros. Eu os ignorei, meus olhos fixos na minha presa.

Diante de mim, Slater continuou a caminhar em um ritmo descontraído que sugeria que
ele estava fora para um cigarro e um passeio e nada mais. Ele se libertou do último casal
restante e entrou por uma porta aberta. Era mais silencioso aqui, e tomei o cuidado de colocar
meus saltos para baixo tão suavemente quanto poderia sobre o convés de madeira. Eu aliviei
até a porta e espiei para dentro.

Esta parte da passagem tinha sido fechada em vidro, provavelmente para a gente ainda
poder ver o rio e permanecer seca durante uma tempestade. A passagem fronteava um salão
pequeno, recuado completo com mesas, cadeiras, e um bar dentro do barco em si, onde os
passageiros poderiam relaxar e ver a paisagem passar durante os cruzeiros. A seção
envidraçada corria por cerca de nove metros antes de abrir de volta para o ar da noite.

Slater tinha andado por toda a sala e agora estava além da outra porta aberta. O gigante
balançou um isqueiro na mão, como se tivesse pouco fluido e ele estivesse tentando persuadir
mais uma explosão de fogo para fora dele. Não havia ninguém aqui além de nós dois tão longe
atrás do barco. Perfeito.

Andei para frente. Eu passei através do salão envidraçado e pisei de volta para fora no ar
da noite. Diante de mim, Slater ainda mexia com seu isqueiro. Eu coloquei meu braço para
baixo, pronta para segurar uma das minhas facas silverstone.

Justo então, a porta do banheiro abriu à minha esquerda, e um homem saiu para o convés
à minha frente - colocando-o entre mim e Elliot Slater. O homem se virou em minha direção,
como se caminhando de volta para o convés aberto. Cabelos prateados, duros olhos castanhos,

rosto livre de rugas. Ele avistou-me imediatamente, e seus olhos se arregalaram por um
segundo antes de se estreitarem.

Jonah McAllister parecia tão puto ao me ver quanto eu estava ao vê-lo.

? Que diabos você está fazendo aqui? ? Ele latiu.

Eu não estava particularmente surpresa que Jonah McAllister estivesse aqui. Afinal, eu o
vira subir a bordo do barco mais cedo nesta noite. E se havia uma coisa que tinha aprendido
durante os meus anos como a Aranha, era de que o universo sempre conspirava para foder os
melhores planos de ratos e homens 15, e mais especialmente, assassinos. Como o advogado
escorregadio escolher este exato momento para pisar entre mim e meu alvo. Eu podia
praticamente ouvir as risadas cósmicas tocando meus ouvidos. Ha, ha, fodido ha.

Por um momento, eu debati pegar minha faca, me lançar a frente, e esfaquear Jonah
McAllister, onde ele estava. Apenas por me interromper. Eu poderia matar o advogado, passar
por cima de seu corpo, e então cuidar de Elliot Slater. Especial dois-para-um. Mas eu sabia que
não seria capaz de fugir limpa após o fato. McAllister poderia gritar, Slater podia ouvir a luta e
investir mim, ou pior ainda, correr para conseguir sua chefe, Mab Monroe. A elementar de
Fogo não teria nenhum escrúpulo em me fritar bem ali com a sua magia. Não quando o que eu
tinha feito fosse tão óbvio.

Não, Jonah McAllister teria que viver para ver outro dia. E agora, Elliot Slater também. O
que significava que o sofrimento de Roslyn Phillips não tinha acabado ainda, se pudesse
verdadeiramente acabar um dia, dado o que o gigante tinha feito para ela.

Porra.

Cruzei os braços sobre o peito e dei ao advogado um olhar frio. ? O que parece que estou
fazendo? Estou dando um passeio ao redor do barco. Isso é um problema?

15 Uma frase vinda do poema “To a Mouse”, de Robert Burns. É também uma frase frequentemente

adulterada… a Gin diz “the best laid plans of mice and men”, mas a versão original é “the best laid schemes of
mice and men; gang aft agley”. Quer dizer “os melhores planos de ratos e homens; com frequência dão
errado”.

A cabeça de Elliot Slater girou ao som da minha voz. O gigante franziu a testa, guardou
seu charuto e isqueiro, e foi em nossa direção. Fantástico.

Os olhos castanhos de Jonah McAllister se estreitaram ainda mais ao meu tom malicioso.
? Eu quis dizer especificamente como alguém como você subiu a bordo? O Delta Queen é

muito exclusivo, e relutante como eu sou em admiti-lo, as festas de Phillip Kincaid ainda mais.
Ajuda a manter o lixo branco fora.

? Lixo branco? Você realmente acha que isso é um insulto?

? Não para alguém como você, ? ele fungou. ? Que é o que te faz lixo.

? Pelo menos eu pareço ter minha idade, ? Eu estalei, referindo-me ao seu rosto livre de

rugas. ? Diga-me, exatamente quanto por semana você gasta em tratamentos faciais de
elementar de Ar? Mil dólares? Dois? Estou supondo mais. Afinal, você é um homem de idade
avançada agora.

Eu sabia que deveria ter mantido minha boca fechada, que teria tornado as coisas mais
fáceis se tivesse deixado McAllister atirar em mim e tivesse apenas me retirado para a
escuridão como se estivesse totalmente desmoralizada e derrotada. Mas eu estava ficando
cansada de verdade do advogado me alfinetando a cada vez apenas porque o divertia. E me
impedindo de matar Elliot Slater hoje à noite e, pelo menos, ajudar Roslyn Phillips dessa
pequena forma.

Um rubor vermelho de raiva se espalhou pelo pescoço de Jonah McAllister com as
minhas palavras, algo que mesmo o melhor tratamento facial de elementar de Ar não podia
disfarçar. O advogado de cabelos prateados abriu a boca para me ridicularizar um pouco mais,
quando Slater deu um passo atrás dele.

O gigante encarou McAllister um momento antes de seu olhar cor de avelã cortar para
mim. Seus olhos se estreitaram também em reconhecimento. Slater poderia ser obcecado com
Roslyn, mas notei que o gigante não estava acima de checar meus seios e pernas, apesar de
estarem longe de serem tão espetaculares quanto os da vampira.

? Gin Blanco, ? Slater ressou. ? Você se arrumou bem.

O elogio desajeitado fez o gin que eu tinha acabado de beber perturbar meu estômago.

? Elliot, ? Jonah disse. ? Eu gostaria que você escoltasse Srta. Blanco para fora do

barco, por favor. Parece que ela só não aprende a lição sobre nos insultar - ou estar onde ela não
pertence. Acho que ela precisa que você a lembre exatamente qual é o seu lugar.

Elliot sorriu. ? Devo atirá-la sobre a lateral? Bem aqui?

? Não seja agressivo, ? Jonah respondeu. ? Temos uma imagem a manter. Srta. Blanco

merece a caminhada da vergonha passando todos os convidados desta noite. E então você pode
lidar com ela da maneira que quiser na costa. Parece que aquela surra que você deu a ela
apenas não pegou. Talvez você gostaria de outra chance de acertar.

O sorriso do gigante se ampliou.

Então Jonah McAllister queria que Elliot Slater me forçasse para fora do barco, me
levasse para um beco escuro em algum lugar, e me batesse - de novo. Não o meu plano
original para a noite, mas às vezes, você tinha de se ajustar aos eventos.

Antes que eu pudesse me mover ou reagir, o gigante usou sua velocidade para oscilar
para a frente e prender sua mão em volta do meu braço. Seus dedos longos e duros morderam
minha carne como parafusos de aço, mas cerrei os dentes contra a dor. Eu não ia dar-lhe a
satisfação de gritar e implorar por misericórdia. De novo não.

Deixe Slater me arrastar para fora do barco e para um dos becos que rodeavam a frente
ribeirinha. Ele teria uma surpresa desagradável. Assim iria McAllister, se o advogado decidisse
ir junto e assistir o show. Porque eu estava cansada de andar na ponta dos pés em torno deles.
Mab Monroe também. Eu queria matar os Três Mosqueteiros e prosseguir com as coisas - isto é,
conseguir a Roslyn Phillips alguma ajuda para o trauma brutal que ela tinha passado e
descobrir uma maneira de dizer a Bria quem e o que eu realmente era.

Matar McAllister e Slater esta noite iria, pelo menos, resolver alguns dos meus
problemas. Mais do que isso, porém, seria apenas divertido. Ao contrário de outros assassinos
com quem eu tinha topado ao longo dos anos, eu não matava pessoas porque me trazia
qualquer grande prazer. Eu fazia isso porque era um trabalho que acontecia de me sobressair.
Mas, mesmo ao profissional mais consumado poderia ser desculpada uma indulgência ou duas,
e eu estava pensando em fazer McAllister e Slater a minha.

? Venha, ? Slater disse. ? Vamos lá.

Jonah McAllister se afastou, e Elliot Slater me empurrou pela passagem em direção à
frente do barco. Eu não fiz um som. Não gritei, protestei, ou tentei arrancar meu braço do
aperto do gigante. Principalmente porque eu não queria que Slater movesse sua mão mais
baixo e encontrasse a faca silverstone aninhada contra o meu antebraço. Além disso, gritar
seria inútil. Ninguém viria em meu auxílio. Todo mundo sabia que Elliot Slater trabalhava
para Mab Monroe. E com a elementar de Fogo presente aqui esta noite, ninguém ousaria
questionar por que a gigante estava me forçando - ou o que ele poderia fazer para mim uma
vez que me tirasse do barco.

? É uma pena você não esteja apenas disposta a aprender, Srta. Blanco, ? Jonah

McAllister disse em um tom de conversa. O advogado andava atrás de mim. ? Que você
apenas não possa aceitar a forma como as coisas funcionam em Ashland.

? Aprender? Aceitar? ? Olhei sobre meu ombro e o encarei fixamente. ? O que você

realmente quer dizer é que você não entende por que eu não sou intimidada por você e os seus,
porque eu não apenas me rendo e deixo você fazer o que quiser de mim.

McAllister encolheu os ombros. ? Chame do que quiser. Mas a cada vez que você se
esquecer, você vai conseguir outro lembrete, como aquele na faculdade comunitária. Até que
você ou se lembre de prestar-nos o respeito que é devido, ou até que você esteja morta.
Qualquer opção é perfeitamente aceitável para mim.

Nós viramos a esquina e voltamos para o convés principal. Elliot Slater era um homem
difícil de perder, e mais do que algumas pessoas olharam em nossa direção. Mas uma vez que
perceberam que o gigante tinha a mão presa no meu braço, o pessoal rapidamente voltou a
beber e apostar.

Todos, exceto Roslyn Phillips. Mesmo que ela estivesse a quinze metros de distância de
mim, eu podia ver o rosto da vampira apertar. Roslyn pensou que eu tinha sido pega tentando
assassinar Slater. Ela não percebeu que eu apenas tivera o azar de topar com Jonah McAllister,
que ainda suspeitava que eu tivesse algo a ver com a morte de seu filho, Jake.

Sorte. Vadia caprichosa. Ela tinha me colocado em problemas vezes mais do que eu me
importava de pensar.

Finn também avistou Slater me segurando. Nossos olhos se encontraram por um
segundo antes de eu lançar meu olhar para baixo e balançar a cabeça um pouquinho. Não, eu
estava lhe dizendo. Não interfira. Ainda não. A mão de Finn se apertou em torno da alavanca
da máquina caça - níqueis que ele estava puxando para baixo, mas ele não se mexeu. Eu sabia
que ele estaria lá quando eu precisasse dele, no entanto.

Slater curvou-se para murmurar no meu ouvido. ? Faça a você mesma um favor e não
faça uma cena, Blanco. Ou eu vou te acertar ainda mais duro quando sairmos do barco. Só
porque. ? Sua respiração fedia a cebolas, o que fez sua ameaça ainda mais podre, por assim
dizer.

Oh, yeah. Eu ia apreciar esfaquear o gigante à morte. Só porque.

Mas eu representei o papel da vítima intimidada e deixei o gigante me empurrar em
direção à prancha de desembarque do lado oposto do convés. Slater entortou seu dedo, e seus
dois asseclas gigantes deixaram o lado de Roslyn para vir e me flanquear. Claro. Slater
precisaria de alguém para me segurar de pé enquanto ele me batia de novo. Porque fazê-lo ele
mesmo seria tal incômodo.

Jonah McAllister acenou com a cabeça em satisfação, então passeou até o centro do
convés, onde Mab Monroe ainda estava mantendo corte. Elliot Slater me forçando até a saída
também chamara a atenção da elementar de Fogo, e seus olhos negros me seguiram por todo o
convés. McAllister chegou a seu lado e sussurrou algo no ouvido de Mab. Depois de um
momento, a elementar de Fogo acenou sua aprovação, carimbando meu espancamento
iminente e possível morte. Bom saber onde eu estava, pelo menos.

Mas Mab não era a única nos observando. Phillip Kincaid estava interessado no drama
também. O dono do cassino inclinou-se contra uma das mesas de blackjack, olhando para mim
com óbvia curiosidade, tentando descobrir quem eu era e por que Elliot Slater estava me
arrastando para fora do barco. Ele olhou pelo convés para Mab, que lhe deu um olhar plano,
um claro aviso para não interferir com o gigante. Depois de um momento, Kincaid deu de
ombros e se virou para a mesa. Ele não me conhecia então não se importava com o que os
homens de Mab fizessem para mim. Este podia ser o cassino de Kincaid, mas mesmo aqui, ele
sabia que não era páreo para a elementar de Fogo.

Mas havia mais uma pessoa no convés que não estava ocupada fingindo que eu era
invisível - Owen Grayson. Ele devia ter visto Elliot Slater com o canto do olho, porque ele olhou
de relance para o gigante. Então sua cabeça estalou de volta novamente quando percebeu que o
gigante tinha um aperto de morte em mim. Os olhos violetas de Owen permaneceram em mim
enquanto observava Slater me fazer andar passando as mesas de jogos e máquinas caça-níqueis.
Eu não olhei na direção de Owen ou tentei sinalizar para ele de qualquer maneira. Este era meu
problema, minha bagunça, minha punição por antagonizar Jonah McAllister em vez de manter
minha boca fechada.

Mas para minha surpresa, em vez de voltar à sua água tônica, Owen Grayson se levantou,
atirou um par de fichas no bar para cobrir a sua conta, e foi em nossa direção.

Bem, isto ia ser interessante.

Owen nos encontrou no meio do convés em um espaço aberto atrás de uma das mesas de
blackjack. Desde que Owen ficou no centro do corredor, Elliot Slater tinha que parar ou

atropelar o empresário. Slater decidiu parar. O outro homem era importante e rico o suficiente
para essa pequena cortesia.

? Há um problema? ? Owen perguntou. Sua voz era baixa e profunda, com uma borda

perigosa, agressiva, e seus olhos brilharam como ametistas escuras em seu rosto.

Elliot reforçou seu aperto no meu braço, seus dedos cavando em minha carne em uma
advertência clara para eu manter minha boca fechada. ? Nenhum problema, Sr. Grayson.
Apenas retirando um pouco do lixo que entrou no barco por engano.

Lixo não foi a pior coisa que eu já tinha sido chamada. Dificilmente o suficiente para me
fazer revirar os olhos. Mas a palavra fez o olhar de Owen ferver com fogo violeta. Por um
momento, senti uma explosão de frio emanar de seu corpo. Uma manifestação de seu talento
elementar para metal - e sua raiva. O rosto de Owen permaneceu liso, exceto pela cicatriz sob o
queixo. Ela empalideceu sob a tensão de sua mandíbula cerrada.

? Srta. Blanco é meu encontro pela noite, ? Owen respondeu em um tom suave. ? Ela

dificilmente é lixo. Eu sugiro que você solte seu braço. A maioria das damas não gosta de ser
tratada com rudeza.

? Apenas na cama, ? eu brinquei. ? E mesmo então, eu ainda gosto de estar no topo.

Sua boca se contorceu com meu comentário petulante, e nossos olhos se encontraram e
prenderam. Cinza em violeta. Desejo fervia nos olhos de Owen debaixo de sua raiva, e eu sabia
que ele podia ver a emoção refletida em meu olhar. Mas havia algo mais, outra emoção em seu
rosto frio que me surpreendeu - preocupação. Por mim.

Meu peito apertou, e eu não conseguia respirar. Fazia tanto tempo desde que alguém
além de Finn, Fletcher, ou as irmãs Deveraux havia se preocupado com o que acontecia comigo
que me tirou o fôlego por um momento. Mesmo que Owen Grayson estivesse provavelmente
apenas interpretando o papel do cavalheiro a fim de transar esta noite. Agora mesmo, estava
funcionando para ele.

Owen voltou sua atenção para Slater e sorriu para o gigante, deixando um pouco de
violência feia se mostrar através de seu olhar quente. O gigante franziu a testa. Era uma coisa
me levar para terra para outra derrota quando parecia que eu estava aqui sozinha ou tinha de
alguma forma me esgueirado para dentro. Outra bem diferente era abordar o encontro
proclamado de um dos empresários mais ricos de Ashland. Suficiente até mesmo para fazer
Elliot Slater pensar duas vezes.

Passos estalaram, tecido chicoteou no convés atrás de nós, e eu senti uma outra explosão
de magia elementar - magia de Fogo. Dezenas de agulhas minúsculas, quentes, invisíveis
picaram minha pele, e minha mandíbula travou ainda mais apertado enquanto eu lutava para
manter meu rosto impassível. Para não mostrar nenhum sinal de que eu sentia alguma coisa
fora do comum. Especialmente não a magia de Fogo elementar de Mab Monroe pingando de
seu corpo como cera de vela quente. Slater deu um passo para trás, arrastando-me com ele,
para dar espaço para sua chefe, Mab Monroe. Evidentemente, o gigante estava fazendo demais
de uma cena, e a elementar de Fogo decidira envolver-se e ver exatamente o que estava
acontecendo.

? Há um problema aqui? ? Mab perguntou, repetindo as palavras de Owen. A voz baixa,

sussurrada da elementar de Fogo sempre me lembrava seda delicadamente se esfregando. Mas
havia também poder em seu tom de voz, força bruta que não podia ser negada, uma clara
presença que dizia foda comigo e você está morto .

Por um momento, a elementar de Fogo me fitou com seu olhar negro. Ao contrário da
maioria dos elementais, cujos olhos brilhavam mais brilhantes quando alcançavam sua magia,
os de Mab Monroe escureciam. A tinta mais negra teria parecido pálida em comparação a suas
órbitas de ébano. Um lampejo de reconhecimento acendeu no olhar de Mab. Ela percebeu
quem eu era e parecia exatamente tão surpresa em me ver aqui como Jonah McAllister tinha.
Dificilmente chocante. Afinal, eu era apenas uma humilde proprietária de restaurante. Não era
como se eu me movesse em seus círculos ricos e pretensiosos. Pelo menos, não como Gin
Blanco de qualquer maneira. Como a Aranha, eu tive minha parte de negócios com boa parte
daqueles presentes esta noite.

Encontrei o olhar da elementar de Fogo com um constante dos meus próprios. Eu não ia
fingir estar intimidada por ela. Não pela vadia que tinha tão cruelmente assassinado minha
mãe e irmã mais velha, que tinha tomado tal alegria em me torturar todos aqueles anos atrás,
que havia ordenado o assassinato da minha irmã Bria ainda ontem. Não, eu não ia fingir que
Mab Monroe me assustava mais. Nem agora, nem nunca.

? Nenhum problema absolutamente, ? Owen respondeu com uma voz macia. ? Parece

que seu gigante confundiu meu encontro com outra pessoa.

Ele estendeu a mão e bateu na mão de Slater com o dedo indicador. O gigante olhou para
Mab. A elementar de Fogo encarou Owen, que olhou direito de volta para ela. O olhar de Owen
nunca vacilou. Nem o de Mab. À nossa volta, a conversa tinha parado. Até mesmo as máquinas
caça-níqueis estavam silenciosas enquanto a gente parava de alimentar moedas nelas para
assistir a esta aposta muito mais interessante por Owen Grayson.

Depois de um momento, Mab sacudiu a cabeça. O movimento fez seu cabelo acobreado
derramar-se sobre seus ombros como um sangrento leque se desenrolando. Elliot Slater bufou
sua decepção com a óbvia ordem de sua chefe, mas o gigante liberou seu aperto em mim.
Owen estendeu a mão, que eu dei um passo à frente e peguei, deslizando minha mão na sua.

Slater me encarou, mas eu não esfreguei meu braço onde o gigante me segurara. Eu não
ia dar-lhe a satisfação de perceber que havia me machucado até os ossos com o seu aperto duro,
inflexível.

? Se não há mais nada, vamos voltar para o bar, ? Owen disse a Mab. ? Antes de

tentarmos nossa sorte nas mesas de jogo novamente. Parece que estou com sorte esta noite.

Uma centelha de raiva brilhou nos olhos de Mab. Owen estava cutucando o urso
dormindo com uma vara afiada, e ela estava a segundos de distância de rasgar-lhe a cabeça. Eu
fiquei tensa, pronta para pegar uma das minhas facas silverstone. Eu não sabia que agenda
Owen tinha, por que tinha decidido salvar-me de Elliot Slater. Eu supus que a hipótese mais
lógica seria que ele simplesmente gostava de mim. Mas as coisas raramente eram o que

pareciam no meu ramo de trabalho, e eu tinha aprendido há muito tempo a vigiar por motivos
ocultos. Mesmo que isso me tornasse ligeiramente paranoica. Melhor isso do que morta.

Ainda assim, eu me senti um pouco protetora com o sexy empresário. Mesmo que tivesse
sido uma coisa estúpida de se fazer, Owen tinha dado um passo à frente e me defendido. Se
Mab fizesse um movimento em direção a ele, eu enterraria minha faca em seu coração e me
preocuparia com as consequências mais tarde. Ou pelo menos tentaria matar a vadia antes que
ela me torrasse com seu poder de Fogo.

Mas a elementar de Fogo sufocou sua raiva e fez seu rosto tão distante e impassível como
antes. ? Claro, ? ela murmurou. ? Mas na próxima vez que você decidir apostar, Sr. Grayson,
talvez você devesse pensar sobre exatamente o que você está arriscando. Um homem como
você tem muito a perder. Dinheiro, status, família.

Por família , Mab queria dizer a irmã mais nova de Owen, Eva - que era a pessoa mais
importante no mundo para ele. Outra explosão fria de magia elementar explodiu do corpo de
Owen, afastando momentaneamente a sensação do poder de Fogo de Mab picando minha pele.
Mab sentiu a onda de magia e sorriu. Ela sabia que tinha atingido Owen com sua ameaça
casual.

Curvei meus dedos ainda mais forte ao redor de sua mão, ligeiramente cavando minhas
unhas em sua pele. Advertindo-o.

Owen apertou minha mão de volta. Ele não relaxou, mas conseguiu um breve aceno de
cabeça para Mab. Ele não ia empurrar o problema mais hoje à noite. Não podia culpá-lo por
isso. Um cara só podia interpretar o papel do cavaleiro branco por tanto tempo antes de ser
dominado pelas forças inimigas. Muito ruim que Owen não percebeu que eu não precisava
realmente de resgate. Que eu teria ficado feliz de cortar Mab aqui mesmo, agora mesmo se
pensasse que poderia me safar. Ainda assim, a exibição de cavalheirismo me agradou de um
modo estranho. Donovan Caine certamente nunca tinha feito nada parecido por mim.

Mab recuou, e Owen se virou e me levou até o bar. Enquanto caminhávamos, passamos
por Finn, que ainda estava sentado à sua máquina caça-níqueis. Ele estudou Owen, um olhar
pensativo e avaliador em seus olhos verdes. O olhar Finn se jogou para mim. Encolhi os
ombros. Era tarde demais para fazer qualquer coisa sobre a situação agora. Tudo o que eu podia
fazer era acompanhar as coisas e fingir ser o encontro do empresário para a noite.

As pessoas se separaram para nos deixar passar, e chegamos ao bar sem incidentes. O
pessoal sentado em ambos os lados deslizou para mais longe, como se estivessem com medo de
pegar algo de nós. Owen pediu outra rodada de bebidas. Água tônica para ele, gin para mim.
Nós não falamos até depois do barman ter completado nosso pedido.

? Então, ? Owen murmurou. ? Você quer me dizer por que seguiu Elliot Slater para o

outro lado do barco em primeiro lugar? Ou talvez você gostaria de começar com por que ele
parecia que ia arrancar seu braço e te bater com ele?

Então o empresário percebera que eu estive atrás de Slater. Nada estava indo como o
planejado esta noite. Absolutamente nada.

Olhei para Owen. Curiosidade fervia em seu olhar violeta junto com outra coisa - respeito.
Pelo quê? Por mim? Por quê? Eu não tinha feito uma fodida coisa de valor. Não tinha matado
Elliot Slater, não tinha matado Jonah McAllister. Inferno, eu não tinha feito nada notável a
noite inteira.

Ainda assim, Owen tinha arriscado seu pescoço por mim, arriscado a ira de Mab Monroe
por minha causa. Eu lhe devia algum tipo de explicação, mesmo que fosse ficção completa.
Abri minha boca para começar a inventar uma história…

E foi aí que meu celular tocou.

17

Por um momento, Owen e eu apenas olhamos um para o outro. Meu telefone tocou de
novo, e seus olhos se estreitaram. Eu sabia quem era, é claro, e que ele não teria me
interrompido a não ser que fosse importante.

Levantei o meu dedo, dizendo a Owen que eu estaria com ele em um minuto, então puxei
meu telefone fora da minha bolsa e abri. ? O quê?

? Nós temos um problema, Gin, ? A voz de Finn soou no meu ouvido. ? Olhe quem

acabou de entrar no barco.

Virei a cabeça para a direita. Detetive Bria Coolidge se posicionou no topo da prancha.
Bria usava um vestido longo, sem alças, fluido feito de uma seda azul gelo. A cor realçava seus
olhos e o rubor rosado em suas bochechas pálidas, e um xale combinando cobria os braços nus.
O cabelo loiro de Bria tinha sido arrastado para cima em um coque complicado. Seus únicos
adornos eram seu colar de runa de prímula e os três aneis com estampas de runa em seu dedo
indicador esquerdo. O medalhão silverstone brilhou quando Bria virou o pescoço de lado a

lado, examinando a multidão à sua frente. Ela parecia deslumbrante, fria, régia, e bonita tudo
ao mesmo tempo.

E ela não estava sozinha.

Xavier estava bem ao lado dela, vestido com um smoking branco. A careca do gigante
brilhava como ébano polido sob as luzes suaves.

Mal a pior. Esse era definitivamente o tema da noite.

? O que eles estão fazendo aqui? ? Murmurei.

Ao meu lado, Owen se inclinou para frente para que pudesse dar uma olhada em quem
eu estava falando. Não me incomodei em bloquear sua visão. Ele era esperto demais para isso.
Ele estudou Bria e Xavier um momento, depois voltou sua atenção para mim.

? Não sei, ? Finn respondeu. ?Talvez eles estejam apenas de penetra.

? Você lembra o que o velho dizia sobre coincidências?

Finn suspirou. ? Que não há nenhuma.

? Exatamente, ? respondi. ? Esses dois estão aqui por um motivo. Mantenha um olho

neles. Estarei com você em um minuto.

Desliguei e me voltei para Owen. ? Sinto muito. Tenho que ir.

? Então eu vou também, ? ele disse.

? Isso não envolve você, Owen. As coisas acabaram de dar uma volta para pior, e

provavelmente vão ficar ainda mais feias antes da noite passar. Você devia ir embora enquanto
ainda pode.

Um sorriso torto se estendeu em seu rosto cinzelado. ? E deixar você ir embora sem me
dizer que porra está acontecendo? Eu acho que não, Gin. Você me deve isso, pelo menos.

Seus olhos violeta brilharam com uma luz dura e determinada, e eu percebi que tinha
atingido a curiosidade do empresário ainda mais com minhas palavras misteriosas e ações
furtivas. Curiosidade. Outra faca de dois gumes que me tinha cortado mais de uma vez na
minha vida. Mesmo agora, a lâmina assobiava em direção a minha cabeça. Eu só me perguntei
o caminho que cortaria esta noite.

Ainda assim, Owen estava certo. Ele enfrentara Mab Monroe por mim na frente de todos
os manda-chuvas da cidade. Eu lhe devia alguma coisa. O que era, eu não tinha certeza. Mas se
Owen queria vir junto para a difícil jornada esta noite, isso era assunto dele. Eu não tinha
dúvida de que ele iria querer sair depois. Donovan Caine certamente quis.

? Ótimo, ? eu disse. ? Mas siga minha liderança, e faça o que eu te disser quando eu te

disser para fazer. Entende?

Seu sorriso se aprofundou. ? Sim, senhora.

Owen e eu saímos do bar. Finn nos viu passar por entre a multidão e acenou
discretamente para nós do canto. Ele tinha se movido do seu poleiro no caça-níqueis para um
local sombrio, onde podia colocar as costas contra uma das paredes que formavam a sala de
jantar interior. Eu olhei pela multidão, mas não vi Bria ou Xavier em parte alguma.

? Onde eles foram, Finn?

Ao invés de me responder, Finn levantou suas sobrancelhas na direção de Owen.

? Ele está conosco pelo resto da noite, ? Respondi. ? Apenas fale, Finn. Nós podemos

resolver tudo o mais depois.

Por tudo, ele sabia que eu queria dizer Owen Grayson e se poderíamos nos dar ao luxo de
deixar o empresário continuar respirando se as coisas dessem errado. Algo que eu ia ter que
decidir antes da noite passar. Porque enquanto Owen podia querer dormir comigo, ele não
sabia no que estava se metendo hoje à noite. E eu não sabia se ele podia ficar de boca fechada
sobre isso. Mas era um risco que eu tinha que tomar agora.

Finn assentiu. ? Bria está acima perto do parapeito, bebendo champanhe e parecendo
absolutamente deslumbrante.

Certamente, minha irmã estava fazendo exatamente o que Finn disse que estava. Desde
que Bria parecia estar bem no momento, mudei-me para os outros jogadores no jogo.

? Onde está Xavier?

? Xavier disse algo Bria um minuto atrás e deixou-a em pé ali sozinha, ? Finn

respondeu. ? O gigante entrou na sala de jantar.

Franzi o cenho. ? Por que ele iria entrar lá? O jantar não é até mais tarde. Toda a ação
ainda está aqui fora agora.

Finn clareou a garganta. ? Eu me perguntei isso também - até que percebi que Roslyn
convenientemente desapareceu também. Ela sumiu, Gin.

Minha cabeça girou para a mesa de blackjack, onde a vampira estivera. Eu estive tão
ocupada com Mab Monroe e Owen Grayson que não acompanhei Roslyn. Sua cadeira estava
vazia. O aparecimento súbito de Xavier começou a fazer um pouco mais de sentido para mim.

? Roslyn, ? murmurei. ? Ela deve ter dito a Xavier que estava vindo aqui esta noite

com Elliot Slater.

? E Xavier não podia suportar isso e veio para resgatá-la, ? Finn terminou. ? Com ou

sem o seu conhecimento?

? Não importa, ? eu murmurei. ? Porque se Slater os vir juntos, ambos estão tão bons

quanto mortos.

Owen estava parado e em silêncio ao meu lado, ouvindo tudo que eu Finn dizíamos. O
empresário não disse nada, não interrompeu e perguntou o que diabos estava acontecendo, ou
sobre quem estávamos falando. Ele só ouvia e observava a multidão a nossa volta. A maioria
das pessoas não sabia o suficiente para manter a calma. Meu respeito por Owen aumentou mais
alguns pontos.

? O que você quer fazer, Gin? ? Finn perguntou em uma voz suave.

Fiquei lá pensando, meus olhos varrendo a multidão novamente, desta vez à procura de
três pessoas muito específicas. Avistei-os quase que instantaneamente.

Mab Monroe, Elliot Slater, e Jonah McAllister tinham se movido para o lado direito do
barco e estavam discutindo profundamente sobre algo. Os guardas gigantes de Slater estavam
perto deles, concentrados no seu chefe, prontos para saltar quando ele desse a ordem. Meu
olhar voltou a cortar para a cadeira vazia de Roslyn na mesa de blackjack. Seria apenas uma
questão de tempo antes de Slater perceber que ela estava ausente e começar a procurar por ela.
Só uma coisa a fazer.

Eu soprei uma respiração. ? Finn, você fica aqui e mantém um olho em Bria. Ligue para
mim se parecer que ela vai se meter em apuros. Owen e eu vamos encontrar Roslyn e Xavier e
tirá-los deste barco.

Finn ficou onde estava contra a parede. Eu sacudi minha cabeça para Owen.

? Vamos, ? eu disse. ? Eles têm que estar dentro em algum lugar.

Ele assentiu e seguiu-me pelas portas abertas para a sala de jantar. Eu espreitei passando
as fileiras de mesas. Algumas pessoas tinham se movido para dentro para sentar, mas nenhuma

delas era Roslyn ou Xavier, então continuei caminhando. Owen se moveu rapidamente e
silenciosamente atrás de mim. Ele não fez perguntas ou ofereceu qualquer contribuição. Ele
apenas me seguiu.

Pensei no meu tour anterior do barco esta noite. Para onde eu iria se quisesse ter um
encontro tranquilo longe da multidão? Apenas um ponto que eu tinha visto esta noite tinha
sido favorável para amantes.

? Vamos, ? eu disse. ? Sei onde eles estão.

Owen assentiu, e nós caminhamos. Passei por uma outra porta, saindo para a passagem
que se alinhava ao lado de trás do barco. Meus saltos stiletto bateram contra a madeira. O
tempo de ser silenciosa tinha acabado. Porque se eu não chegasse a Roslyn e Xavier antes de
Elliot Slater, eles não estariam saindo deste barco vivos.

Mais à frente, notei que a porta para a seção envidraçada do barco estava fechada.
Algumas das persianas também tinham sido puxadas, proporcionando um pouco de
privacidade para quem quer que pudesse estar dentro do salão. Eu não me incomodei de bater,
ao invés disso virei a maçaneta e joguei a porta para um lado. No interior, Roslyn sentada em
uma cadeira, ombros sacudindo, lágrimas escorrendo pelo seu rosto apertado. Xavier
empoleirado de joelhos diante dela, segurando suas mãos, como se tivesse estado suplicando a
ela.

? O que vocês dois pensam que estão fazendo? ? Eu estalei.

? Gin… ? Xavier começou.

? Você sabe o que fez? Em quanto perigo você colocou a si mesmo e Roslyn vindo aqui

esta noite?

O gigante mordeu seu lábio. ? Eu não pude me impedir, Gin. Saber que Roslyn estava
aqui com esse bastardo...

? Eu sei, Xavier. Eu sei. Mas preciso que você fique quieto agora e me ouça. Okay?

O gigante apertou os lábios, mas assentiu lentamente.

Virei meu olhar para Roslyn. ? Eu te disse para manter Xavier fora disso, que eu cuidaria
de Slater. Você disse que podia lidar com isso.

? Sinto muito, ? ela sussurrou. ? Mas eu… eu só não podia mentir para Xavier sobre

para onde eu estava indo hoje a noite. E o que poderia acontecer se você falhasse. Se eu… se eu
tivesse que ir para casa com Slater.

Bati meu pé no chão de madeira. Uma enxaqueca latejava na minha cabeça no ritmo do
movimento staccato, afiado. Porque eu tinha falhado com Roslyn. Eu tive minha chance com
Elliot Slater, e deixara Jonah McAllister ficar no meu caminho. Eu deveria ter apenas os
matado e jogado seus corpos sobre o parapeito, apesar das consequências. Dessa forma, pelo
menos, Roslyn e Xavier estariam livres desta bagunça.

Owen Grayson ficou parado na porta atrás de mim, ainda olhando e escutando. Eu não
tinha ideia do que o empresário estava pensando neste momento, e não tinha ideia do que ia
fazer com ele após o fato. Agora, porém, eu tinha que focar em Roslyn e Xavier. Gostando ou
não, eu era responsável por eles, e nenhum deles ia ser morto hoje à noite se eu pudesse
impedi-lo.

Eu apunhalei meu dedo para Xavier. ? Você. Você dá o fora daqui agora mesmo. Volte
para a sua parceira, Detetive Bria Coolidge, que eu suponho que você arrastou para essa coisa
para a cobertura, e diga a ela que há alguma emergência que você tem que cuidar. Depois você
sai deste barco e vai direto para esta casa. ? Eu recitei o endereço de Jo-Jo Deveraux para o
gigante. ? Você fica lá, e espera até eu aparecer. Não importa quanto tempo levar. Entende?

O gigante fechou os olhos e assentiu lentamente.

? Bom. Comece a andar. Agora.

Xavier olhou para Roslyn outro momento antes de ficar de pé. Owen saiu para um lado
para o gigante poder deixar o salão. Esperei até o eco dos passos de Xavier ter desaparecido
antes de me virar para Roslyn.

? E quanto a mim? ? Ela perguntou, lágrimas ainda escorrendo por seu rosto. ? Você

quer que eu volte lá fora? Volte para… Slater? ? A voz de Roslyn quebrou na última palavra.

Ao invés de respondê-la, tirei meu cellular da bolsa e disquei Finn.

? Sim? ? Sua voz soou em meu ouvido.

? Eu os encontrei. Xavier está indo em sua direção. Certifique-se de que ele fala com

Bria, então sai do barco. Vá buscar seu carro sem chamar muita atenção para si mesmo. Roslyn
vai encontrá-lo no estacionamento. Leve-a para Jo-Jo. Owen, qual é o seu endereço?

O empresário meu deu a informação, que eu passei para Finn.

? Uma vez que você instalar Roslyn em Jo-Jo, venha para a casa de Owen e me pegue, ?

Eu disse a ele.

? Entendi, ? Finn disse e desligou.

Enfiei meu celular de volta na minha bolsa e tirei alguns lenços. Atraí uma respiração e
virei-me para Roslyn, lembrando-me de ser gentil com a vampira. Sim, ela tinha se colocado e
a Xavier em perigo, contando ao gigante que ela vinha aqui esta noite, por não confiar em mim
para fazer o que eu havia prometido. Mas eu não podia culpá-la por isso. Não depois de tudo
que ela já passara.

? Não, você não vai voltar para Slater, ? Eu disse numa voz calma, entregando-lhe os

lenços. ? Vamos te levar para fora daqui e longe do gigante de vez. Agora, vamos te limpar
antes de irmos.

Uma vez que Roslyn enxugou as lágrimas e o rímel escorrendo, nós três deixamos o
salão. Enrolei meu braço pelo de Owen, e passeamos de volta para a confusão e agitação do
convés principal. Owen ainda não tinha dito nada, e eu estava grata por seu silêncio. Roslyn
andou atrás de nós, se movendo em um ritmo lento, constante do jeito que eu tinha dito para
ela.

Dei uma olhada sobre meu ombro para a vampira. ? Mais cinco minutos, e você estará
segura no carro de Finn. Mais cinco minutos. Apenas lembre disso, Roslyn.

A vamp assentiu, mas seus olhos caramelo estavam vagos e planos em seu rosto.
Exaustão e medo apertavam seus traços.

Owen e eu dobramos a esquina e pisamos no convés principal mais uma vez. Roslyn se
juntou a nós. Owen e eu nos movemos para a prancha, atraindo tão pouca atenção para nós
mesmos quanto possível. Andamos vários metros de distância da parede, criando uma espécie
de tela humana para Roslyn, tentando protegê-la o suficiente para que ninguém percebesse que
ela estava indo embora.

Neste ponto, nós estávamos cento e cinquenta metros de distância da prancha. Cento e
vinte. Noventa.

Continuamos andando, Roslyn ganhando velocidade a cada passo. Ela passou a nossa
frente, se movendo para fora no aberto para todo mundo ver, mas não havia nada que eu
pudesse fazer para chamá-la de volta sem atrair ainda mais atenção para a vamp.

Sessenta metros. Trinta…

? Roslyn! ? A voz de Elliot Slater trovejou pela multidão.

Ela não tinha sido rápida o suficiente. Roslyn congelou ao som da voz do gigante, a
quinze metros de distância da borda da prancha que levava para dentro da noite escura e sua
liberdade.

O gigante usou sua velocidade para manobrar pela multidão. Cinco segundos depois, ele
chegou ao lado de Roslyn. Puxei Owen de volta contra a parede que dava no refeitório. Ficamos
a três metros de distância do outro casal.

? Aonde você está indo, baby? ? Slater perguntou. ? Eu te disse para esperar por mim

na mesa de blackjack.

De alguma forma, Roslyn conseguiu esboçar um sorriso trêmulo. ? Fiquei com frio. Eu
estava indo pegar meu casaco na limusine. Estarei de volta em um minuto.

Ela começou a passar pelo gigante, mas ele colocou a mão em seu braço, detendo-a.
Roslyn se encolheu ao toque. Os olhos cor de avelã do gigante se estreitaram. Ele não estava
comprando sua desculpa.

? Vou mandar um dos meus homens buscá-lo, ? Slater disse. ? Até então, você pode

ficar bem aqui ao meu lado onde está quente.

Roslyn olhou além de Slater para mim. Emoções rodopiaram em seus olhos escuros.
Pânico. Medo. Ódio. Nojo. Fúria. Tanta fúria. A vampira deixou cair o seu olhar do meu e
estremeceu com uma respiração. Por um momento, pensei que ela poderia desistir, poderia ir
com Slater e corroer um pouco mais de sua alma no processo.

Roslyn soprou outra respiração. Todo o seu corpo silenciou, como se ela tivesse sido
congelada viva por um elementar de Gelo. Outra respiração, esta tão superficial que seus
ombros mal levantaram. Então, sua espinha lentamente se endireitou, e todo o seu corpo
levantou, como se ela estivesse reunindo sua força para o que estava por vir. Roslyn levantou a
cabeça por último. Por um momento, ela oscilou de lado a lado, como uma flor delicada
acompanhando o movimento do sol. Então seus olhos se abriram. O ódio fez o olhar escuro de
Roslyn queimar tão brilhante como o de qualquer elementar de Fogo.

? Não ponha suas mãos em mim.

Slater franziu o cenho. ? O que você disse, baby?

? Eu disse não ponha suas fodidas mãos em mim! ? Roslyn gritou.

Ela empurrou o gigante tão duro quanto podia. Como todos os vampiros, Roslyn tinha
força acima da média. Mas Slater era um gigante, e um grande além disso. Ele deu apenas dois
passos para trás. Mas Roslyn não se importou. Tudo o que ela estava suprimindo estes últimos
dias - toda a raiva e fúria e medo e impotência - tudo isso só entrou em erupção. Expeliu dela
como veneno imundo das presas pontiagudas de uma cabeça de cobre. E Roslyn finalmente
soltou o pesado, terrível segredo que estivera carregando.

? Você nunca vai tocar em mim de novo! ? A vampira gritou. ? Nunca! Você me ouve,

seu bastardo doente? Você nunca vai colocar suas mãos sujas em mim de novo! Eu prefiro
morrer primeiro!

Toda a conversa no convés parou. Toda a bebida, toda a aposta, tudo. Todo mundo
presente focou em Roslyn Phillips. Com os punhos cerrados, corpo trêmulo, e boca dura, a
vampira se assemelhava a alguma bela Valquíria ou deusa, irritada além do ponto de toda a
razão.

Roslyn percebeu que todos estavam observando-a. Mas em vez de ser intimidada para o
silêncio pela atenção, o ódio em seus olhos ardeu ainda mais brilhante, uma fogueira
queimando fora de controle.

? Seus amigos ricos sabem o bastardo que você é? ? Roslyn gritou. ? Como você tem

me perseguido? Como você tem vindo ao meu clube a cada noite e fazendo-me preparar suas
bebidas estúpidas e beijar-te como uma amante? Sua chefe sabe que tipo de porra doente você
é? Como você me fez vir aqui hoje à noite e fingir ser sua fodida namorada mesmo que eu
odeie você, mesmo que te deteste?

Um monte de coisas ruins acontecia em Ashland em uma base diária. Roubos,
espancamentos, assassinatos. Ainda assim, arfadas chocadas percorreram a multidão às
palavras da vampira. Cada olho pousou sobre Elliot Slater. O gigante virou a cabeça de um lado

pro outro, sentindo o pesado julgamento de todos os presentes, antes de seu olhar estalar de
volta para Roslyn.

? Acalme-se, baby.

A voz de Slater era suave, mas seus olhos eram frios, planos, duros. Sua mão direita
cerrou e descerrou em um punho enorme, e os nós dos dedos estalaram com o movimento. A
pele pálida, esbranquiçada de seu rosto virou um vermelho manchado com fúria, e seu fino
tufo de cabelo loiro eriçou com raiva. Roslyn tinha acabado de chamar Slater por suas
predileções no modo mais público e humilhante. O bastardo estava a segundos de golpeá-la -
ou pior, arrancar o pescoço da vamp completamente.

Eu segurei uma das minhas facas silverstone e fiquei pronta para me mover. Ele não ia
tocá-la. Não enquanto eu ainda tivesse um fôlego restando em meu corpo.

O gigante estendeu uma mão para fazer alguma coisa com Roslyn. Golpeá-la, puxá-la
para mais perto. Mas Roslyn não lhe deu uma chance. Mesmo enquanto ele a alcançava, a
vampira pegou sua saia longa, virou-se, e saiu correndo tão rápido quanto podia. Seus saltos
bateram contra o convés e depois a prancha, o eco crescendo mais fraco a cada passo.

Slater ficou no convés, momentaneamente atordoado. Então, ele sacudiu a cabeça e
começou a ir atrás da vamp. Eu desloquei o meu peso para a frente, pronta para segui-lo…

? Elliot.

Essa única palavra sussurrada foi suficiente para parar Slater e fazê-lo recuar como um
cão numa coleira. A multidão se abriu, e Mab Monroe avançou. O swish-swish de seu vestido de
seda preta soou tão alto quanto um aspirador de pó no silêncio absoluto. A elementar de Fogo
parou no ombro do gigante e deu um tapinha no seu braço. Os olhos negros de Mab pareciam
sugar toda a luz disponível enquanto ela estudava seu executor número-um.

? Deixe-a ir, Elliot, ? Mab disse em voz alta o suficiente para todo mundo ouvir. ? Você

sabe quão perturbada está a pobre Roslyn. Todas aquelas pílulas que ela está usando para suas

mudanças de humor e depressão. Tenho certeza que ela virá a seus sentidos. Quando vier, ela
vai estar bastante envergonhada com essas coisas horríveis que acabou de dizer. Tenho certeza
que ela vai oferecer-lhe um pedido de desculpas muito sincero, muito público.

Neste ponto, Mab estava falando para a multidão como um todo, ao invés de o gigante. A
elementar de Fogo estava deixando todos saberem que Roslyn Phillips era persona non grata ,
como Finn diria. Quanto a toda a conversa sobre Roslyn estar perturbada, imaginei que Mab
iria exibir essas mesmas linhas cansadas quando o corpo da vampira fosse puxado para fora de
qualquer buraco escuro que Slater estivesse planejando plantá-la.

Porque era isso o que o gigante tinha em mente. Qualquer que fosse a obsessão ou
sentimento torcido que ele tivera por Roslyn tinha sumido, queimado por suas verdades
amargas. Agora, só ódio enchia o rosto de Slater. Ódio puro, simples, assassino.

Mab olhou para Phillip Kincaid primeiro, desde que o barco era o boteco dele, dando-lhe
a cortesia de, pelo menos, fingir acatar a ele em seu próprio território. Depois de um momento,
o belo dono do cassino acenou para ela, aceitando a sua declaração, mesmo que soubesse que
era tudo besteira, assim como todos os outros sabiam. Mas não havia nada que ele ou qualquer
outra pessoa pudesse fazer sobre isso.

A elementar de Fogo encarou uma pessoa após a outra, desafiando alguém a desafiar
suas palavras falsas. Após alguns segundos, todos menos as almas mais valentes deixaram cair
seus olhos dos de Mab e voltaram para o que quer que estivessem fazendo antes. Conversando,
bebendo, apostando. Lentamente, o nível de ruído voltou ao normal. Mab puxou Slater em
direção à traseira do convés, onde Jonah McAllister estava. Os três juntaram suas mentes e
começaram a conversar entre si mais uma vez.

Esperei, mas Slater não fez nenhum movimento em direção à prancha, e ele não
convocou mais nenhum dos seus homens para ir perseguir Roslyn. Bem, isso era uma coisa,
pelo menos.

Enfiei minha faca silverstone de volta na minha manga e me virei para Owen Grayson.
Os olhos do empresário estavam escuros e de pálpebras caídas, e eu não tinha vontade de ler as
emoções nadando nas profundezas do seu olhar. Tempo suficiente para isso mais tarde. Neste
momento, só havia uma coisa a fazer.

? Vamos. Vamos sair daqui, ? Sussurrei para Owen.

Ele me encarou por um momento antes de responder com duas palavras. ? Com prazer.

18

Owen e eu descemos a prancha. Após a aglomeração aquecida de pessoas a bordo do
barco, o ar da noite parecia frio e vazio. Ou talvez esse fosse apenas meu coração depois de ver a
dor nua e crua de Roslyn Phillips. Apenas uma coisa era certa - Elliot Slater ia morrer. O
gigante nunca iria colocar as mãos em Roslyn - ou qualquer outra pessoa - novamente. Eu me
asseguraria disso.

Eu podia ter trabalhado a noite como uma assassina durante anos, mas apesar de
equívocos populares, eu nunca tinha tomado um grande prazer em matar pessoas. Para mim,
tinha sido um trabalho, como qualquer outro. Algo em que eu tinha sido boa, sem importar o
quão distorcido e errado e mal pudesse ter sido. Mas desta vez, desta vez, eu ia desfrutar de
estripar Elliot Slater. Ia desfrutar de rasgá-lo, cavar seu coração para fora do peito, e fazê-lo
assistir enquanto eu espremia o órgão negro e sangrento entre meus dedos. Talvez eu até
mesmo tirasse algumas fotos para Roslyn. A vamp poderia usá-las em seus cartões de Natal
deste ano. Boas festas.

Owen e eu saímos da prancha para o calçadão a beira do rio.

? Meu carro está por aqui, ? Owen disse, indo em direção ao estacionamento onde Finn

deixara seu Aston Martin.

Andei ao seu lado, examinando as sombras. As lâmpadas de ferro da rua faziam pouco
para repelir a escuridão, e os estacionamentos se estendiam diante de nós como as grossas lajes
cinza que você podia encontrar em cima de túmulos de cemitério. Alguns outros casais tinham
decidido deixar a festa no barco cedo também, e esperavam em pequenos grupos os
manobristas de smoking recuperarem seus veículos ou suas limusines se deterem perto da
prancha de entrada.

Procurei Xavier, mas não o vi rondando em lugar nenhum. O gigante deveria ter ido há
muito tempo se tivesse seguido minhas instruções. Eu, entretanto, avistei Roslyn. A vampira
tinha parado de correr e ficado a cerca de trinta metros adiante de nós no calçadão. Além dela,
no estacionamento, vi os farois do Aston Martin de Finn piscarem, sinalizando para ela. Roslyn
envolveu seus braços no peito e caminhou em direção ao carro esportivo prateado, tecendo seu
caminho em torno dos outros veículos no estacionamento.

Um tumulto soou, e passos barulhentos estalaram no calçadão atrás de nós em uma
corrida rápida. Alguém estava correndo em nossa direção. Olhei por cima do ombro para ver
quem era. Seu vestido azul-gelo chicoteava ao redor das pernas, e a runa de prímula de
silverstone subia e descia contra sua garganta a cada passo largo que ela dava. Minha irmã só
não sabia quando deixar tudo prá lá.

Owen ouviu os passos também. Ele se virou, viu Bria correndo na nossa direção, e me
puxou para um lado, fora do seu caminho. Bria disparou passando por nós. À frente, Roslyn
alcançou o carro de Finn, abriu a porta, e entrou. Um momento depois, Finn conduziu o
veículo para fora para o outro lado do estacionamento, longe da perseguição de Bria.

Irmãzinha percebeu que a vampira tinha escapado dela. Ela desacelerou até uma parada e
bateu a mão contra a mais próxima lâmpada de rua. ? Porra!

Ela se virou e viu Owen e eu de pé no calçadão olhando para ela. Bria inverteu a direção e
se apressou até nós, seus saltos espetando a madeira um passo de cada vez. Bria alcançou na
pequena bolsa, cuja alça ela tinha enrolado sobre o ombro e tirou seu distintivo. O ouro
brilhava como uma moeda velha à luz da lâmpada.

? Detetive Bria Coolidge, ? ela anunciou. ? A mulher de vestido vermelho falou com

vocês? Ela disse para onde estava indo?

Apertei minha mão no braço de Owen em uma advertência. Ele olhou para mim e
assentiu. Ele ia concordar com o que eu dissesse. Homem esperto. Ele poderia acabar de passar
por essa noite.

Olhei para Bria. ? Ela não nos disse nada. Não tenho ideia de onde ela foi.

Bria deve ter reconhecido minha voz porque franziu a testa e me espiou mais de perto.
Ela estudou meu rosto por alguns segundos, antes de seu olhar descer pelo meu vestido, então
deslizar sobre Owen Grayson. Eu quase podia ver as rodas girando em sua mente enquanto ela
tentava descobrir o que eu estive fazendo a bordo do barco.

? Srta. Blanco, ? Bria disse. ? Esta é a segunda vez que topamos uma com a outra hoje.

? Detetive Coolidge, ? Respondi. ? Você está adorável. Essa cor realmente realça seus

olhos azuis bebê.

A boca de Bria apertou, enquanto ela tentava decidir se eu estava ou não sendo sincera. ?
Quem é o seu amigo? ? ela perguntou.

Owen se adiantou e estendeu a mão. ? Owen Grayson. O encontro de Gin esta noite. É
um prazer, detetive.

Se Owen queria manter a farsa de fingir ser meu encontro, tudo bem pra mim. Isso me
dava uma razão plausível para estar aqui hoje à noite na mistura.

Bria apertou sua mão, depois voltou sua atenção para mim. ? Você não sabe onde Roslyn
Phillips foi? Eu acho isso difícil de acreditar, Srta. Blanco. Especialmente desde que ela estava
em seu restaurante mais cedo hoje. Vocês duas pareciam bastante confortáveis então.

Dei de ombros. ? Muita gente come no meu restaurante, detetive. A comida acontece de
ser excelente. Você deveria vir experimentar por si mesma em algum momento. Vou preparar
um sanduíche de churrasco tão bom, vai fazer você bater em sua mãe 16.

Eu disse as palavras sem pensar, no tipo de jeito brincando que eu tinha para tantas
outras pessoas ao longo dos anos, sempre que estava ostentando sobre o Pork Pit. Mas sabia que
tinha cometido um erro no segundo que elas estavam fora, porque o rosto de Bria ficou frio e
em branco. É claro que iria. O meu teria também.

? Minha mãe está morta.

Cada uma dessas três simples palavras pareceu como uma faca de silverstone rasgando
em meu coração. Meus olhos caíram para a delicada runa de prímula em volta do pescoço de
Bria, depois os aneis em seu dedo, e meu estômago se apertou. Droga. Às vezes eu realmente
podia ser uma vadia insensível e de coração frio.

Bria balançou a cabeça, como se espantando uma memória ruim. Eu conhecia o
sentimento.

? Você não tem ideia de onde a Srta. Phillips foi? ? Ela repetiu sua pergunta anterior.

? Nenhuma, ? Respondi. ? Se isso faz você se sentir melhor, detetive, eu estava tão

chocada quanto você de ouvir o que ela disse sobre Elliot Slater.

? Assim como eu, ? Owen interrompeu. ? Assim como eu.

Olhei para Owen, mas seu rosto estava tão fechado quanto o de Bria.

16 Quer dizer que é tão bom, que você vai ficar com tanta raiva porque sua mãe nunca inventou nada

igual que vai querer bater nela.

Bria me encarou de novo, e devolvi seu olhar com um frio dos meus próprios. Ela deve
ter percebido que não ia conseguir nada de mim esta noite, porque me deu um breve aceno de
cabeça.

? Ótimo, ? ela disse. ? Vou localizar a Srta. Phillips eu mesma. Você tem meu cartão,

Srta. Blanco. Se você vir a Srta. Phillips, por favor, diga a ela que eu gostaria de falar com ela a
respeito do que ela disse sobre Elliot Slater. Que eu gostaria de ajudá-la a prestar acusações
contra o bastardo, e que eu vou protegê-la não importa o quê.

Os olhos de Bria queimaram com fogo frio e azul. A policial nela quis dizer cada palavra
que ela tinha acabado de falar. Ela protegeria Roslyn de Slater, mesmo que resultasse em seu
próprio ostracismo do departamento de polícia - ou mesmo a sua morte. Finn estava certo
quando considerara minha irmã como uma batalhadora. Eu admirava o fato de que ela queria
ajudar Roslyn, mesmo que eu soubesse que nada jamais viria de quaisquer acusações
apresentadas contra Slater. Além disso, o gigante não ia viver o suficiente para tudo isso. Não,
se as coisas fossem do meu jeito.

Bria me deu outro olhar duro. ? Se Roslyn Phillips é sua amiga, se você se importa com
ela de verdade, você vai contar a ela o que eu disse.

? Claro, ? Respondi. ? Se eu a vir.

Os lábios de Bria se achataram em um sorriso fino. ? Claro. Se você a vir.

? Agora, se você por favor desculpar-nos, detetive, Owen e eu estávamos partindo.

Bria me encarou mais um momento, depois deu um passo para o lado. ? Aproveite o
resto da sua noite, Srta. Blanco.

? Você também, detetive, ? Murmurei. ? Você também.

Trinta minutos depois, Owen Grayson puxou seu Mercedes Benz azul marinho a uma
parada na entrada de automóveis que cercava sua mansão. Eu olhei para fora da janela para a
construção à minha frente. Como um dos empresários mais ricos de Ashland, Owen vivia em
uma propriedade larga, embora ele estivesse mais nos subúrbios do que verdadeiramente
entrincheirado nos confins glorificados de Northtown.

A casa de Owen também não era tão pretensiosa como eu pensara que seria. A mansão
ostentava uma fachada simples e robusta de apenas quatro andares, em vez dos usuais oito ou
assim que o resto dos poderosos da cidade de energia preferia. Abri minha porta, saí do carro, e
fiquei na entrada de automóveis um momento, ouvindo os sussurros dos paralelepípedos cinza
sob os meus pés e as pedras mais largas da mansão acima da minha cabeça. Os murmúrios
suaves falavam do orgulho e poder, temperados com cuidado cauteloso. O som se encaixava
com o que eu sabia de Owen Grayson. Rico, forte, cauteloso. Gostei bastante disso.

Owen passou por mim em direção à porta da frente. Eu o segui. Ele cavou suas chaves
para fora do bolso de sua calça, e olhei a aldrava montada na porta da frente - um grande
martelo feito em ferro duro e negro, assim como o enorme portão que cercava a casa e as
terras.

A maioria dos usuários de magia em Ashland usava algum tipo de runa para identificar-
se, a sua família, o seu poder, ou mesmo seus negócios. Jo-Jo Deveraux, por exemplo, usava
uma nuvem inchada para identificar-se como uma elementar de Ar. De encontros anteriores,
eu sabia que o martelo era a runa pessoal e de negócios de Owen Grayson. O símbolo de força,
poder e trabalho duro. Uma escolha curiosa para uma runa. A maioria das pessoas da riqueza e
estatura de Owen teria ido com algo mais chamativo, como Mab Monroe com seu colar de
explosão solar de rubi e ouro.

Owen abriu a porta e deu um passo para o lado. ? Seja bem vinda à minha casa.

? Disse a aranha à mosca, ? Terminei o velho ditado.

Por um momento, me perguntei como Owen reagiria se soubesse que eu era a Aranha e
que ele era a pobre mosca capturada na minha teia pegajosa. Eu empurrei o pensamento longe
e me dirigi para dentro.

Owen levou-me pelo interior de sua mansão. Ele não falou enquanto caminhávamos, e
usei o silêncio para examinar meus arredores. Um, por motivos práticos. Eu ainda não decidira
o que fazer com Owen e tudo o que ele havia visto e ouvido hoje à noite. Então tomei nota das
passagens e saídas potenciais, apenas no caso de ter que matá-lo e sair com pressa. Mas também
estudei o interior para aprender o que pudesse sobre o misterioso empresário.

Fletcher Lane tinha instilado uma saudável dose de curiosidade em mim, e o
comportamento de Owen Grayson durante as últimas semanas tinha apenas aprofundado meu
desejo de saber ainda mais sobre ele - e se ele poderia ser adequado o suficiente para me ajudar
a começar a esquecer sobre Donovan Caine. Eu gostava de sexo recreacional tanto quanto a
garota ao lado, mas sempre ajudava se meu parceiro de cama fosse alguém que eu queria que
ficasse por perto após os fogos de artifício terminarem.

Assim como o exterior da casa, os móveis eram muito mais simples do que eu esperava.
Madeiras resistentes, escuras, pesadas, tapetes grossos em azuis e verdes frescos, muitas
esculturas de ferro interessantes. Eu tive a sensação de que tudo foi escolhido mais por amor
pelo próprio objeto, em vez de um desejo inflado de ser sofisticado e elegante.

Owen me levou a uma sala de estar no térreo, dominada por uma enorme televisão de
tela plana em uma parede. Eva Grayson e Violet Fox estavam sentadas no meio de um sofá
secional de tamanho grande na frente da televisão, assistindo A Princesa Prometida e comendo
de um grande balde de pipoca. O cheiro de manteiga e sal flutuou para mim.

As duas garotas universitárias eram melhores amigas - e quase tão diferentes quanto
diferente poderia ser. Com seu cabelo preto, olhos azuis, pele de porcelana, e figura alta e
esbelta, Eva sempre me lembrava uma versão da vida real da Branca de Neve. Violet, por outro
lado, era baixa e curvilínea, com um tufo de cabelos loiros enrolados, óculos pretos, e pele

bronzeada que sugeria sua herança Cherokee. Ambas as meninas exibiam pijamas macios,
felpudos, aparentemente prontas para a noite.

Owen se inclinou sobre o encosto do sofá e bagunçou o cabelo de Eva.

? Você está assistindo isso de novo? ? ele disse, sua voz leve e provocante. ? Se eu

soubesse que você ia fazer Violet assistir isso cada vez que vocês garotas tivessem uma noite de
filmes, eu teria comprado outra coisa.

? Não é minha culpa que você não tem gosto para filmes, ? Eva provocou de volta.

Fiquei de um lado e os observei. Sua disputa bem-humorada me fez lembrar meu próprio
relacionamento com Finn. E o tipo de camaradagem fácil que eu desejava ter com Bria algum
dia.

Mas, então, Eva me viu oculta nas sombras. ? Gin? É você?

Dei um passo à frente. ? Em carne e osso.

? Gin, é tão bom te ver! ? Eva levantou-se de joelhos, inclinou-se sobre o encosto do

sofá, e me abraçou.

? Realmente é, ? Violet ecoou.

Violet largou a pipoca e também levantou-se de joelhos e me abraçou. Aceitei as
saudações das garotas. Eva me considerava uma amiga desde que eu a tinha salvo de virar
fricassê por Jake McAllister quando o elemental de Fogo tentara roubar o Pork Pit algumas
semanas atrás.

Violet também me considerava uma amiga mas por outra razão - eu matara Tobias
Dawson, o anão que tinha enviado seu irmão para estuprar e matá-la quando seu avô, Warren,
não iria vender sua terra para Dawson. Fazer trabalho pro bono tinha algumas vantagens.
Salvar Eva e Violet de serem mortas tinham sido duas delas.

Uma vez que tiramos os abraços do caminho, as duas garotas sentaram novamente no
sofá.

Eva deu-me um crítico olhar examinador. ? Você parece tão quente que solta fumaça
hoje à noite, Gin. Eu não sabia que você era o encontro de Owen para aquela coisa chata de
barco.

Olhei para Owen. ? Oh, foi um tipo de arranjo de último minuto.

Seus lábios se contraíram. ? Muito último minuto.

? Bem, já estava na hora de você sair com meu irmão mais velho, ? Eva disse. ?

Mesmo que ele não saiba a diferença entre um bom filme e um buraco em sua cabeça.

Eu ri. ? Estou feliz que você aprove, Eva. Como é que vocês não estão fora na cidade esta
noite?

Violet me respondeu. ? As finais acabaram, e decidimos vegetar.

? Totalmente, ? Eva concordou.

Acenei para a tela. ? Com A Princesa Prometida, eu vejo. Um clássico. Eu aprovo.

Conversei com Violet e Eva alguns minutos, perguntando a elas sobre suas aulas e provas
finais, antes de Owen finalmente clarear a garganta.

? Desculpem, garotas, mas Gin e eu precisamos conversar. ? Ele bagunçou o cabelo de

Eva novamente. ? Não fique acordada até tarde.

Eva revirou os olhos para as instruções de seu irmão. Violeta apenas riu silenciosamente.

Owen e eu saímos da sala de estar e ele me levou para a parte de trás da casa. A pesada
porta de madeira estava fechada no final de um corredor. Trazia a mesma simples runa de
martelo como a porta da frente. Mais uma vez, Owen abriu a porta e deu um passo para o lado.

Entrei na sala, meu olhar varrendo tudo. Grande mesa, cadeiras e sofás de couro, livros, mapas,
lâmpadas de cristal, uma lareira de pedra. Seu típico escritório.

Exceto pelas armas.

Elas adornavam uma parede inteira da sala, montadas lá em uma exibição simples.
Espadas, machados, martelos, a maça 17 ocasional, e facas. Muitas facas. Algumas das quais
poderiam ter sido cópias de carbono de meus próprios instrumentos de silverstone. Como uma
ex-assassina, sempre admirei armas bem-elaboradas. Mesmo do outro lado da sala, eu poderia
dizer que estas eram todas finamente feitas. Hmm. Então, Owen não estava mentindo quando
me disse uma vez sobre seu interesse em elaborar armas. O empresário tornava-se mais
interessante a cada minuto.

Fui até a parede e gesticulei para uma longa espada, uma de um conjunto combinando.
? Posso?

? É claro.

Peguei a arma de seu poleiro e a examinei. Leve, letal, forte, perfeitamente equilibrada.
Além do tamanho, a única diferença real entre a espada e uma das minhas próprias facas era a
pequena runa carimbada sobre o punho - o martelo de Owen Grayson. Sem dúvida, cada arma
de silverstone na parede trazia a mesma runa, a marca de seu criador. Evidentemente Owen era
um tanto artesão. Ele provavelmente tinha feito as esculturas de ferro que eu tinha visto por
toda a casa também.

Owen tinha muito mais do que um talento elementar modesto para metal, se essas armas
eram qualquer indicação de sua habilidade. Eu sabia que poderia retirar qualquer arma da
parede e usá-la com a máxima confiança de que não iria dobrar, quebrar, ou se estilhaçar da
primeira vez que eu a empurrasse no peito de alguém. Para mim, esse era o verdadeiro sinal de
um mestre artesão. Sempre fui prática desse jeito.

17 É uma forma mais aprimorada do porrete, sendo uma arma de mão forte e pesada.

? Você gosta? ? Owen perguntou, movendo-se para ficar ao meu lado. ? Você deveria.

É apenas uma versão maior das duas facas que você tem escondidas nas mangas, as outras duas
que você tem presas às suas coxas, as duas mais escondidas em suas botas, e aquela em sua
bolsa.

Os olhos violeta de Owen brilhavam com uma luz fraca, e eu senti o mais fraco bocado de
magia escorrendo dele. Uma carícia fria, não diferente de minha magia de Pedra. Não era de
estranhar, uma vez que o metal era um desdobramento de Pedra. Ele estava usando o seu
talento elementar para o metal para checar quantas armas de silverstone eu atualmente
carregava em minha pessoa. Não podia culpá-lo por isso. Não depois de tudo o que acontecera
esta noite.

Owen encostou-se na parede e cruzou os braços sobre o peito. Ele me considerou com um
olhar frio. ? Então, ? ele disse. ? Você finalmente quer me contar o que estava fazendo
naquele barco esta noite? Com todas essas facas em você? Porque eu estou supondo que você
não foi apenas para jogar pôquer.

Coloquei a longa espada de volta em seu compartimento na parede, então me virei para
enfrentá-lo.

? Não, ? eu respondi. ? Não estava lá para jogar pôquer. Estava lá para matar Elliot

Slater.

19

Owen Grayson me encarou. Ele ficou tenso com as minhas palavras bruscas e emoções
piscaram em seus olhos de ametista. Cautela. Curiosidade. Cuidado. Mas, surpreendentemente,
nenhum medo. E nenhuma condenação.

Segundos se passaram conforme ele olhava para mim. Dez, vinte, trinta, quarenta e
cinco...

? Eu poderia usar uma bebida, ? ele finalmente disse. ? E quanto a você?

Assenti. ? Claro.

Owen atravessou a sala e abriu um alto armário de madeira, revelando uma variedade de
garrafas de bebidas coloridas e caras escondidas dentro. ? O que você quer?

? Gin. Com gelo. Com um toque de limão também, se você tiver.

Owen preparou minha bebida e serviu-se de uma quantidade saudável de uísque escocês.
Eu o observei enquanto ele trabalhava, mas suas mãos não tremiam ou sacudiam da forma
como as da maioria das pessoas teriam quando percebiam que estavam sozinhas com alguém
que tinha acabado de anunciar suas intenções assassinas. Mas Owen Grayson parecia tão calmo
como sempre.

Eu poderia ter mentido, é claro. Poderia ter contado a ele algum conto de fadas sobre
carregar as facas para proteção ou outra bobagem assim. Mas Owen ouvira o que eu dissera
para Finn, Roslyn, e Xavier, e ele tinha visto o confronto da vamp com Elliot Slater. Owen não
se tornara um dos mais ricos empresários em Ashland sendo estúpido.

Se eu não tivesse contado a ele, ele teria juntado dois e dois e chegado a cinco por conta
própria. Pelo menos desta maneira, eu poderia julgar sua reação às minhas intenções sombrias
- e decidir o que eu ia fazer com ele. Porque foda potencial ou não, se eu achasse que Owen
Grayson seria qualquer tipo de ameaça para mim, Finn, ou as irmãs Deveraux, eu arrancaria
uma de suas próprias armas da parede e o estriparia com ela.

Owen me entregou a bebida e estendeu seu próprio copo. ? Às novas amizades, ? ele
murmurou.

Uma coisa esquisita de se dizer, dada a minha revelação, mas eu tini meu copo contra o
dele e tomei um gole do gin. Ele desceu frio, então espalhou um calor doce através do meu
estômago. Ainda tinha gosto amargo, no entanto. Ou talvez fosse apenas por causa do meu
próprio humor azedo - e o fato de que eu estava prestes a afugentar outro homem confessando
o meu segredo mais profundo, mais sombrio para ele. Poderia muito bem ir logo com isso.

Joguei para trás o resto do meu gin, coloquei o copo vazio sobre a mesa, e dei a volta para
o outro lado. O gosto amargo encheu minha boca e se espalhou pela minha garganta. ? Tenho
uma longa noite pela frente, lidando com Roslyn, Xavier, e tudo mais. Então vá em frente e me
pergunte o que você quiser me perguntar.

? Justo o suficiente. ? Owen drenou o resto de seu uísque e largou seu copo.

Ficamos ali, nos encarando através da mesa, ele atrás dela, eu na frente. O constante tick-
tick-tick de um elaborado relógio de ferro na parede preenchia o silêncio.

? Então você estava lá para matar Elliot Slater, ? Owen finalmente disse. ? Suponho

que não tenho que perguntar por que, dada a reação de Roslyn Phillips a ele.

Dei de ombros. ? Essa é uma das razões. Mas não pense que eu estou fazendo isso
puramente pela bondade do meu coração. Eu mesma tive alguns problemas com o gigante.
Percebi que eu faria a mim e a Roslyn um favor, ao mesmo tempo.

Os lábios de Owen achataram em um sorriso fino. ? Assim que você é um tipo prático
então.

? Sempre. ? Respirei fundo. ? Assassinos tem que ser.

Silêncio.

Para seu crédito, Owen não se encolheu ou fez careta ou mesmo desviou o olhar. Ele só
continuou me encarando, seus olhos violeta afiados e astutos em seu rosto frio.

? Assassina, eh? Pensei nisso, dadas as facas, ? ele disse. ? Tanto silverstone é difícil de

obter, especialmente quando é bem elaborado assim.

? Você é apenas tão bom quanto suas ferramentas.

Ele assentiu. ? É claro.

Mais silêncio.

? Então você tem um nome, Gin? ? Owen perguntou, cruzando os braços sobre o peito.
? Como as pessoas te chamam?

? Ah, você quer saber se já ouviu falar sobre mim.

Assassinos eram conhecidos por codinomes, por uma variedade de razões. Os bons, de
qualquer maneira. Você não era muito de um assassino se você se deixasse ser pego depois do
fato. Algo que aconteceria mais cedo, ou mais tarde, a menos que você adotasse algum tipo de
apelido anônimo. Um codinome tornava as coisas tão mais fáceis. Reservando trabalhos, sendo
pago, mantendo a polícia no escuro, vivendo tempo suficiente para gastar o dinheiro mais
tarde.

O codinome de Fletcher Lane tinha sido o Homem de Lata, porque ele nunca deixava o
seu coração ou emoções ficarem no caminho de um trabalho. O velho tinha me apelidado de a
Aranha por causa das cicatrizes que eu trazia em minhas mãos e porque eu o lembrara de uma
aranha se escondendo no canto quando ele primeiro me tirara das ruas - toda braços e pernas
longos, finos e desengonçados. Ao longo dos anos, Fletcher tinha me ensinado como ser a
personificação da runa de aranha que me marcava - como ser a paciência em si. Esperar e
observar e fazer meus próprios planos, tecer minhas próprias teias, em vez de reagir a
esquemas de outros.

Owen deu de ombros. ? O que posso dizer? Sou curioso.

? Curioso? A maioria dos homens estaria correndo para a porta a esta altura, ?

Respondi. ? Choramingando e gritando durante todo o tempo.

Ele sorriu largamente. ? Eu não sou a maioria dos homens.

Não, ele não era, um fato que me intrigava mais e mais, como a completa falta de
julgamento em seu olhar violeta. Eu poderia ter dito a Owen que era uma bibliotecária e obtido
a mesma reação - ou falta dela. Não era de estranhar. Ele tinha me visto depois que eu tinha
usado minha magia de Pedra para desabar a mina de carvão de Tobias Dawson em cima do
anão. Owen sabia que eu tinha de alguma forma, sobrevivido e cavado meu caminho para fora
dos escombros. Talvez ele não tivesse percebido que eu era uma assassina naquele ponto, mas
ele soube que eu era uma sobrevivente. Não muita diferença, realmente.

? Além disso, ? Owen continuou. ? Se você é tão boa quanto diz que é, eu não iria

chegar à porta de qualquer maneira.

? Não, você não iria, ? Respondi em uma voz calma.

Seu sorriso alargou. ? Você sabe que não está ajudando meu ego, Gin.

? Oh, ? Eu disse em um tom mais leve. ? Acho que você tem uma abundância de

confiança para gastar, Owen.

Ele continuou sorrindo para mim, a expressão suavizando seus traços ásperos para algo
mais agradável - e sedutor. Olhei para sua estrutura sólida, seus ombros largos, a aparente força
em seus braços. Que pena que Finn estava a caminho para me buscar. Caso contrário, eu
poderia ter dado um passo à frente e explorado esta atração que acendia entre Owen e eu.
Desde que, é claro, Owen não estivesse tremendo de terror por dentro sobre as minhas
revelações macabras. De algum modo, porém, eu não achava que sua fachada calma era uma
atuação.

? Mas para responder à sua pergunta, sim, eu tenho um nome. ? Respirei fundo outra

vez. ? Um que você provavelmente já ouviu falar.

O sorriso caiu de seu rosto, e ele estava sério e obscuro , mais uma vez. ? E qual seria
esse?

Em vez de lhe responder, eu lentamente desenrolei minhas mãos e as estendi viradas para
cima, de modo que ele pudesse ver claramente a runa de aranha que marcava cada uma das
minhas palmas. Um pequeno círculo, cercado por oito raios finos. O símbolo para a paciência.
Owen sabia o que a runa era tão bem quanto eu.

? A Aranha, ? ele disse em uma voz calma. ? Você é a Aranha.

? Eu era. ? Um sorriso sombrio curvou meus lábios. ? Na verdade eu me aposentei do

negócio um par de meses atrás. Mas não parece ter afundado ainda.

Os olhos de Owen se estreitaram, e ele me considerou com um outro olhar astuto,
conhecedor. ? Tobias Dawson. Você o matou também. É por isso que você estava na festa de
Mab Monroe e me pediu para apresentá-la a ele. Então, você poderia tê-lo sozinho e matá-lo.

Assenti. ? Isso não funcionou completamente do jeito que eu tinha planejado, mas desde
que ainda estou respirando e ele não está, eu não posso reclamar demais.

Owen cruzou os braços sobre o peito e inclinou a cabeça para um lado, como se estivesse
tentando dar uma melhor olhada em mim. Como se estivesse tentando ver além da máscara
fria do meu rosto e dentro do negrume que revestia minha alma. ? E você matou Jake
McAllister aquela noite também? Foi você quem o enfiou em uma das banheiras de Mab?

Então, ele ouvira sobre o corpo de Jake sendo encontrado na festa de Mab. Parecia que a
elementar de Fogo não esmagara esse rumor desagradável de perto tão bem quanto ela
gostaria de ter. Ou talvez ela mesma só estivesse anunciando isso lá fora para ver quem seria
estúpido o suficiente para levar o crédito pela morte de Jake para que ela pudesse fazer-lhe
uma visita pessoal. De qualquer forma, não havia nenhum ponto em negar qualquer coisa
agora.

? Pareceu uma boa ideia no momento, ? Eu disse.

Não contei a Owen que Jake McAllister havia ameaçado me estuprar e matar. Eu não ia
dar desculpas para mim. Eu tinha cometido esse erro com Donovan Caine. Tentado fazer o
detetive ver que enquanto eu podia ser algo de um monstro, havia piores lá fora do que eu. Que
ocasionalmente, removia os grandes maus para tornar as coisas melhores para as pessoas. Que
Ashland precisava de alguém como eu. Alguém que podia trabalhar fora do sistema legal
corrupto. Alguém que não podia ser comprado ou corrompido ou intimidado a recuar.
Donovan não tinha sido capaz de entender, muito menos aceitar esse simples fato. Isso ia
contra tudo em que o detetive acreditava - sobre o sistema e ele próprio.

Eu não ia cometer o mesmo erro com Owen Grayson. O que quer que fosse esta coisa
entre nós, ele ia saber exatamente que tipo de pessoa eu era, que tipo de violência fria,

calculada eu era capaz e tinha executado tantas vezes ao longo dos anos. Eu não ia adoçar nada
para ele ou tentar explicar todos os corpos que eu tinha deixado no meu rastro.

Owen podia tirar suas próprias fodidas conclusões e agir em conformidade. E quando ele
me dissesse para dar o inferno fora de seu escritório e nunca mais voltar, eu iria calmamente e
sem raiva ou maldade. Porque antes de ter deixado a cidade, antes de ter me deixado, detetive
Donovan Caine tinha me ensinado uma importante, embora dolorosa lição - que qualquer um
que não pudesse aceitar-me por quem e o que eu era não valia a pena perder o meu tempo.

Então eu fiquei lá, e eu esperei Owen me dizer para ir embora.

? Suponho que eu deveria te agradecer por matar Jake McAllister, ? ele disse. ? Depois

que descobri que ele tinha ameaçado Eva naquela noite em seu restaurante, eu queria quebrar
o pescoço do pequeno bastardo eu mesmo. Eu poderia ter também, se não fosse por Jonah
McAllister e sua conexão com Mab Monroe.

Owen descruzou os braços e flexionou os dedos de uma mão, depois da outra, como se ele
ainda gostaria de colocar as mãos em Jake McAllister, mesmo que o elemental de Fogo
estivesse atualmente apodrecendo no túmulo.

? Não me agradeça, ? Eu disse. ? Eu não fiz isso por você.

? Não, ? ele respondeu. ? Você fez isso por você mesma. Porque Jake McAllister ia

continuar dando problemas para você. Assim como Tobias Dawson estava dando problemas
para Violet Fox e seu avô, porque Warren Fox não venderia sua terra e loja para Dawson.

Surpresa, franzi as sobrancelhas. ? Você sabia sobre os problemas dos Foxes com
Dawson?

Owen assentiu. ? Eva me contou sobre isso. Ofereci-me para interceder em nome de
Warren, mas ele não quis ouvir. Bastardo velho mal-humorado.

? Warren T. Fox é definitivamente tudo isso.

Compartilhamos um sorriso, e pela primeira vez, um pouco de esperança tremulou no
meu peito. Porque em vez do desgosto frio que eu esperava ver, respeito quente enchia os olhos
violeta de Owen. Ele continuou me estudando, essa expressão estranha, pensativa no rosto mais
uma vez.

? Você não se lembra de mim, lembra, Gin? ? Owen perguntou.

Levantei minhas sobrancelhas com a mudança repentina na conversa. ? Eu deveria?

Ele deu de ombros. ? Talvez eu seja um tolo sentimental, mas quando uma garota salva
a sua vida, você espera que ela se lembre de você depois do fato.

Eu tinha salvado a vida de Owen Grayson? Quando isso tinha acontecido? E por que eu
tinha feito isso, em primeiro lugar? Eu não tinha o hábito de salvar ninguém além de mim.
Meus olhos se estreitaram. ? Desculpe. Não toca qualquer sino 18.

Os cantos de seus lábios se levantaram em um meio sorriso. ? Pensei que não. Tendo em
conta toda a outra... excitação que você já confessou apenas esta noite, suponho que eu não
deveria estar decepcionado.

Eu apenas o encarei, procurando em minha memória por qualquer coisa que pudesse me
dizer sobre o que ele estava falando, mas fiquei em branco. Tanto quanto eu podia lembrar, a
primeira vez que eu já tinha posto os olhos em Owen Grayson foi a noite em que ele tinha ido
ao Pork Pit buscar Eva após Jake McAllister ter tentado roubar o restaurante. Oh certamente,
eu tinha visto a foto dele no jornal e seu rosto no noticiário da noite, já que ele era um dos
manda-chuvas em Ashland. Mas naquela noite no restaurante foi a primeira vez que eu já
estivera perto e pessoal com ele.

Owen suspirou, caminhou ao redor da mesa, e sentou-se na extremidade distante. Ele fez
um gesto para eu fazer o mesmo, então eu fiquei empoleirada no canto oposto.

18 Ring a bell ou ring any bells – quer dizer fazer lembrar de algo, parecer familiar.

? Eu não sei o quanto você sabe sobre mim, Gin, mas meus pais morreram em um

incêndio, quando eu era adolescente. Não havia nenhum dinheiro ou seguro ou outros parentes
com quem poderíamos ficar, então Eva e eu ficamos nas ruas. Ela era pouco mais que um bebê
nessa altura.

Eu sabia como era viver nas ruas de Ashland. Frio, duro, deprimente, constantemente se
encolhendo em cantos escuros de modo que o maior e mais forte não iria decidir ter um
interesse em você. Tinha sido duro o suficiente sozinha com treze anos. Eu não podia imaginar
ser responsável por mais alguém também naquela época.

? De qualquer forma, ? Owen disse. ? Nós não tínhamos dinheiro para comida, então

eu implorei principalmente ou roubei o que pude. Uma noite, eu me encontrei no beco atrás
desta churrascaria perto de Southtown. Era inverno e estava frio, e Eva e eu não tínhamos
comido em dias.

Um lampejo minúsculo da memória despertou para a vida no fundo da minha mente.
Uma imagem difusa que eu tinha praticamente esquecido. Lembrei-me desse inverno nevado -
e o adolescente magricela que eu tinha visto atrás do Pork Pit uma noite, revirando o lixo frio
por alguma coisa para comer.

? A porta dos fundos do restaurante abriu, e esta garota saiu, carregando um saco de lixo

preto. Ela era alguns anos mais nova do que eu, ? Owen disse em voz baixa. ? Ela me viu
revirando o lixo e parou. Então ela avistou Eva encolhida em frente ao beco nesta pequena
rachadura na parede que eu a colocara dentro. A garota olhou para Eva, então para mim por
muito tempo.

A imagem afiou em minha mente. Um rapaz vestindo roupas esfarrapadas, com as mãos
em carne viva, vermelhas, e rachadas do frio. E uma garotinha, agasalhada firmemente em
camadas de trapos, olhando para mim com seus olhos grandes, azuis que me lembraram muito
do olhar curioso de Bria. A surpresa de vê-la no meu antigo esconderijo, na pequena rachadura
entre os prédios onde eu tinha dormido tantas noites no ar gelado.

Meu estômago torceu agora, aqui no escritório de Owen, tal como tinha feito naquela
noite.

? A garota voltou para dentro. Pensei que ela ia procurar o proprietário do restaurante.

Que ele iria nos dizer para ir andando - ou pior chamar a polícia e nos denunciar. Em vez disso,
ela voltou com esta caixa de papelão. A parte superior dela tinha sido cortada, e a garota tinha
enchido a coisa toda com comida. Mais comida do que eu tinha visto em semanas. ? Os olhos
de Owen nunca deixaram os meus enquanto ele falava. ? Mais comida do que Eva e eu
tínhamos comido em semanas.

Lembrei-me do calor do Pork Pit naquela noite. Como eu tinha agarrado a caixa de uma
das salas na parte de trás e corrido para a loja, empacotado todos os sanduíches e feijões e
batatas fritas e cookies que não foram comidos naquele dia. Como eu tinha sido preenchida
com alguma emoção terrível que eu não podia explicar, que a única coisa que eu podia fazer
para me livrar dela era tentar ajudar aquela garotinha perdida no beco. Fletcher Lane estava
sentado atrás da caixa registradora, lendo um de seus muitos livros. Ele tinha me observado
embalar a comida em silêncio, seus brilhantes olhos verdes cheios de pensamentos que eu não
poderia começar a compreender.

? E como você chegou à conclusão de que era eu? Que fui eu quem deu a vocês alguma

comida naquela noite? Isso foi há anos. ? Meu tom baixo não completamente disfarçou a
emoção que engrossou minha voz.

? Porque depois que eu peguei a caixa da garota, ela me entregou uma jaqueta, ? Owen

continuou. ? Uma jaqueta de couro preta melhor do que qualquer coisa que eu já tinha tido,
mesmo quando meus pais estavam vivos.

A jaqueta de Finn. Eu a agarrara do cabideiro no meu caminho de volta para o beco. Ele
tinha acabado de comprar o casaco alguns dias atrás, e ficado puto quando percebeu que eu
tinha dado. Até o ponto onde ele começou a dar a volta no balcão atrás de mim. Uma das
muitas vezes que Fletcher teve que nos separar, no início.

? Depois que ela me deu a jaqueta, a garota virou-se para voltar para dentro, mas eu

estendi a mão e agarrei a mão dela, ? Owen disse, sua própria voz rouca agora. ? Ela deixou-
me segurar sua mão talvez três segundos antes que de se empurrar para longe de mim e voltar
para dentro. Mas foi o suficiente para eu sentir o metal em sua mão - o silverstone incorporado
em sua carne.

Lembrei-me daquele toque frio, leve, desesperado. Tinha me queimado de uma forma
que nada mais já tinha, nem mesmo quando Mab Monroe derretera a runa de aranha nas
minhas palmas em primeiro lugar. Eu tinha ido para dentro do restaurante, não
completamente chorando. Fletcher não dissera uma palavra. O velho ficou apenas ali sentado
lendo o seu livro, esperando eu me recompor mais uma vez. Depois que eu disse a ele o que
tinha feito, Fletcher tinha apenas assentido e voltado para o seu livro. Nós nunca falamos sobre
isso de novo.

Owen estendeu o braço, pegou a minha mão fria, e a virou, então minha palma estava
virada para cima, a cicatriz de runa de aranha visível para todos verem.

? Assim como o silverstone que você tem em suas palmas, Gin, ? ele disse. ? Eu soube

que era você desde o momento em que apertei sua mão naquela primeira noite no Pork Pit.
Estive te observando e tentando pensar em alguma maneira de recompensá-la desde então.

? Por quê? ? Perguntei. ? Então eu senti pena de você uma noite e te dei alguma

comida. Então, o que?

Owen balançou a cabeça. ? Não foi apenas isso. Voltei no dia seguinte, na esperança de
te agradecer. Mas, em vez de você, um cara mais velho estava lá, bebendo café e esperando no
beco. Ele disse que sabia sobre a minha situação e que também conhecia alguém que precisava
de um aprendiz bom e forte. Um anão ferreiro que vivia nas montanhas. Ele levou Eva e eu lá
em cima naquele dia. O anão se afeiçoou a mim, e eu trabalhei duro para ele. E agora, bem, nós
temos tudo isto. ? Owen fez um gesto para o escritório com o seu mobiliário fino.

Fletcher. Ele estava falando de Fletcher Lane. O velho tinha ajudado Owen do jeito que
ele me auxiliara muito tempo atrás. Eu me perguntei por que. Uma coisa era tirar uma única
perdida da rua depois que ela tinha salvado sua vida, como eu fiz uma vez por Fletcher. Mas
ajudar os outros? Cada vez que eu pensava que tinha uma ideia sobre quem e o que Fletcher
Lane tinha sido, eu descobria outra coisa inesperada ou conhecia alguém como Owen que me
contava uma outra história de bondade do velho.

? Bem, você está certo, ? Eu disse. ? Essa era eu. Eu te dei a comida. Mas você não me

deve nada por isso. Inferno, nem sequer fiz isso por você. Fiz por mim. Porque eu tinha estado
uma vez naquele beco revirando o lixo para comer.

Owen assentiu. ? Pensei que poderia ser algo assim.

Seu polegar acariciou suave e lento sobre a cicatriz na minha palma. Um calor agradável
se espalhou pelo meu estômago, em seguida moveu-se para mais baixo, enquanto eu pensava
sobre outros lugares onde Owen podia me tocar. Mas eu não o queria assim. Não queria que ele
sentisse que precisava me pagar - por nada. Eu queria que ele me quisesse, Gin Blanco, como
eu era agora. Coração frio, mãos sangrentas, vontade de ferro. Não por causa de algum
sentimento suave que ele sentiu por uma garota que nem sequer existia mais.

? Então tudo isto é sobre isso? ? Perguntei. ? Você me convidando para sair, querendo

me conhecer melhor. Você realmente acha que me deve alguma coisa por algum ato aleatório
de bondade anos atrás?

? Devo-lhe tudo, Gin.

Balancei a cabeça. ? Não, você não deve. Claro, eu te dei a comida e a jaqueta. Mas o
trabalho com o ferreiro? Isso foi tudo o velho. Fletcher Lane. Ele foi dono do Pork Pit antes de
mim.

Owen franziu a testa. ? Lane? Como em Finnegan Lane?

Assenti. ? O pai de Finn. Ele foi quem conseguiu esse trabalho para você, Owen. Não eu.
Eu não tive nada a ver com isso. Fletcher nunca me disse uma palavra sobre isso.

? Eu vejo.

? Então você não me deve nada. Nem uma maldita coisa, ? Eu disse, deixando-o fora do

gancho e ignorando a amargura que encheu a minha boca - e coração. ? Porque eu teria feito
a mesma coisa por qualquer um que tivesse estado naquele beco parecendo da maneira como
você e Eva fizeram naquela noite. Então qualquer dívida que você acha que acumulou comigo
ao longo dos anos, cancele. Eu certamente cancelei. Apenas mantenha sua boca fechada sobre
Elliot Slater e o que eu disse a você hoje à noite, e nós vamos estar mais do que quites.

Comecei a tirar a minha mão da sua, mas Owen apertou ainda mais, a força de seus dedos
pressionando contra os meus. Seus olhos ardiam com fogo violeta.

? Você acha que eu só quero você agora por causa de algo que aconteceu naquela época?

Que eu estou dando em cima de você para me prostituir para pagar alguma dívida?

Levantei uma sobrancelha. ? Não um salto grande para fazer, dada a nossa conversa esta
noite.

Owen balançou a cabeça. ? Você está errada, Gin. Completamente errada.

? Sério? Você ainda estaria segurando a minha mão se eu fosse velha, desdentada, e

tivesse um rosto como um pedaço de couro?

Ele teve a boa graça de se encolher.

? Foi o que eu pensei, ? Eu disse. ? Além disso, já estive nesta estrada antes. No caso de

você não ter ouvido, deixe-me recapitular. Eu sou uma assassina, Owen. Uma muito, muito boa.
Passei a minha vida adulta inteira matando pessoas por dinheiro, um monte de dinheiro, e
depois que eu sair daqui esta noite, eu vou tramar como posso cortar a garganta de Elliot Slater
e me safar. Você realmente quer estar com uma mulher que dorme com uma faca silverstone

debaixo do travesseiro? E que iria usá-la em você a qualquer momento se pensasse que você é
uma ameaça a ela? Porque essa sou eu, em poucas palavras.

Em vez de responder a minha pergunta, Owen me fitou com outro olhar pensativo. ?
Donovan Caine realmente fez um estrago em sua autoconfiança, não fez?

Ele tinha, mas eu estaria condenada se deixasse Owen saber o quanto o detetive tinha me
ferido quando foi embora. Então dei de ombros.

? O detetive e eu viemos de dois mundos diferentes. O dois se encontraram, e um deles

decidiu que não poderia lidar com isso. Eu não quero perder meu tempo atravessando o
mesmo velho terreno com alguém novo. Assassinos não são conhecidos por suas expectativas
de vida excepcionalmente longas. Mesmo os aposentados como eu.

Owen me encarou um momento, e então apontou para a parede de armas. ? Você vê
aquele machado na esquerda?

? Sim, ? Respondi, sem ter certeza de onde ele ia com a súbita mudança de conversa.

? Eu decepei os dedos de um homem com aquilo, ? Owen disse em uma voz calma. ?

Porque ele era professor da primeira série de Eva, e tocou-lhe de forma errada. E depois,
quando ele estava gritando para eu parar, eu tirei a sua cabeça com isso. Eu usei aquela maça
ali para esmagar as rótulas de um cara em lascas, porque ele queria que eu o pagasse dinheiro
para proteção quando eu comecei a minha própria oficina de ferreiro. Tenho outras histórias
que eu poderia contar a você. O ponto é que eu não cheguei onde estou hoje por ser amável e
gentil. Eu fiz o que tinha que fazer, a fim de sobreviver e proteger minha irmã. Imagino que
você tenha feito o mesmo.

Eu não disse nada.

? Eu não julgo você pelo que você tem feito, Gin. Por que você está me julgando pelos

erros de outro homem? Porque Donovan Caine cometeu um erro, ? Owen disse com uma voz
suave. ? Deixando alguém como você ir.

? Alguém como eu?

Owen ficou de pé e se moveu até que ele estava em pé na minha frente. ? Alguém forte
e resistente e esperta e audaciosa e sexy como o inferno. É por isso que eu estou interessado,
Gin. Porque você é todas essas coisas e mais. Não por causa de uma pequena gentileza que você
mostrou para mim na parte do meu passado que eu gostaria de esquecer.

As palavras de Owen fizeram meu coração doer. Porque estas - estas eram as palavras que
eu desejara ouvir de Donovan Caine. Eu queria que o detetive me entendesse, aceitasse as
minhas ações e fosse capaz de olhar além delas para o futuro que poderíamos ter juntos.

Mas Donovan tinha ido embora, e ele nunca mais ia voltar. Em vez disso, Owen Grayson
estava diante de mim, uma oferta silenciosa mas clara queimando em seus olhos violeta. Mais
uma vez, o meu olhar vagou sobre seus ombros largos, sua estrutura sólida, suas mãos fortes e
capazes. E eu me decidi. Eu iria pegar o que podia ter hoje à noite e amaldiçoar as
consequências e os sentimentos com os quais eu poderia acordar amanhã.

Deslizei para fora da mesa e fiquei de pé para que eu estivesse diretamente na frente de
Owen. Nós encaramos um ao outro, olhos cinzas em violetas. Os segundos se passaram. Dez,
vinte, trinta, quarenta e cinco... Owen abriu a boca para dizer alguma coisa. O que, eu não sabia,
e eu não me importava.

Em vez de ouvi-lo, agarrei seu paletó, o puxei para mim, e esmaguei minha boca na dele.

20

Owen pareceu assustado com o meu movimento repentino, mas deslizei a minha língua
contra seus lábios, e ele percebeu a ideia. Não houve nenhuma hesitação com Owen, como
tinha havido com Donovan Caine. Owen me beijou tão duro, longamente e profundamente
como eu o beijei, até que nós dois estávamos ofegantes e querendo mais - muito mais.

Owen era gentil e feroz ao mesmo tempo. Sua mão deslizando pelo meu cabelo,
suavemente massageando a nuca, enquanto sua língua quente se debatia contra a minha. As
pontas de seus dedos deslizando pela minha garganta e peito antes de ousadamente embalar
meu peito através do tecido acetinado do meu vestido de cocktail. Ao seu toque leve mas
agressivo, essas pequenas contrações e formigamentos de desejo que eu sentira antes com
Owen surgiram mais fortes do que nunca, aglomerando-se em uma bola de fogo de ânsia e
dolorosa necessidade que assentou entre as minhas coxas. Seu cheiro encheu meu nariz, esse
rico aroma de terra que me fazia pensar em metal frio. Eu respirei e senti minha própria magia
de pedra acelerar em resposta ao cheiro elementar dele. Mmm.

Mas eu simplesmente não sentei na mesa e deixei Owen se divertir sozinho. Eu estava
demasiado ocupada com minhas explorações próprias para isso. Corri meus dedos pelos seus
cabelos de ébano, apreciando a sensação áspera deles sob meus dedos, antes de deslizar minhas
mãos mais para baixo. Seus ombros e bíceps eram mais largos e mais fortes do que eu tinha
percebido e estavam contraídos com tensão reprimida, como se ele se estivesse contendo.
Como se ele estivesse com medo de me machucar ou assustar-me. Eu não queria que ele se
segurasse, então subi o jogo de nível, deslizando uma mão para baixo para segurar e esfregar
sua ereção saliente.

Owen sibilou com prazer

— Você gosta disso? — Eu murmurei.

Ele sibilou novamente, em seguida, recuou e sorriu para mim. Seus olhos brilhavam com
fogo violeta e travessura. — Provavelmente tanto quanto você gosta disto.

A mão de Owen deslizou pela minha perna e até debaixo do meu vestido curto. Ele
ignorou a facas de silverstone amarradas a minhas pernas e foi direto para o ponto doce,
esfregando o dedo para cima e para baixo na junção das minhas coxas. Eu gemi em resposta,
querendo que ele rasgasse minha calcinha de seda para que pudesse realmente me tocar.

Mas em vez disso, Owen afastou o dedo e alisou minha saia para baixo.

— Mas nós vamos chegar a isso em breve, — ele disse. — Eu não terminei o meu
trabalho em cima ainda.

— Você é um provocador, — eu murmurei.

Seu sorriso se alargou, e ele se inclinou para me beijar novamente. Eu passei meus braços
em torno de seu pescoço e puxei-o mais perto, mais apertado, para que os nossos corpos
deslizassem um contra o outro, sua ereção pressionando entre as minhas coxas. Eu balancei
meus quadris para a frente, me esfregando contra ele, deixando-o saber exatamente o que

estava esperando por ele, se ele apenas acelerasse as coisas. Os ombros de Owen contraíram e
apertaram mais sob meus dedos, juntamente com outras partes dele.

— Agora, quem está provocando? — Ele murmurou.

Eu ri.

Owen começou a beijar o meu pescoço, mordiscando-o da maneira delicada que um
coelho podia comer uma cenoura. Uma mão me segurava perto de seu peito, enquanto a outra
começou a sua exploração de um dos meus seios, depois o outro.

Em algum lugar entre o primeiro beijo e a mão de Owen deslizando para cima na minha
perna, uma coisa engraçada tinha acontecido - eu percebi que o queria. Não apenas para uma
rodada de sexo quente, no entanto, isso estava iminente. De alguma forma, ao longo das
últimas semanas, Owen Grayson tinha-me vencido com o seu interesse aberto e descarado, seus
gracejos e calculada determinação. Eu queria ver o que poderia acontecer entre nós, a partir
desta noite.

Enquanto Owen trabalhava sua magia no meu pescoço e seios, eu abri meus olhos e pesei
as opções. A mesa em que eu estava sentada não era grande o suficiente, mas o sofá de couro
ao lado seria muito mais confortável…

A campainha tocou. Um som baixo mas sonoro que ecoou pela mansão. Instantes depois,
a campainha soou de novo, e de novo, como se alguém estivesse carregando repetidamente.

Eu suspirei. — Provavelmente é Finn.

Owen recuou. — E ele não pode esperar, não é?

Suspirei de novo. — Não. Tal como Roslyn não pode esperar.

Eu não costumava sentir culpa, mas uma espécie de vergonha me encheu. Roslyn Phillips
tinha sido perseguida e pior, e em vez de descobrir como eu poderia matar o desgraçado que a

tinha torturado, aqui estava eu, ocupada com um homem de quem eu não sabia quase nada a
respeito. Foda-se. Eu estava ficando mole na minha pseudo-aposentadoria.

Saí da mesa e fiquei de pé. Owen deu um passo atrás e ficou me olhando pentear o cabelo
com os dedos e colocar o meu vestido de volta para sua posição correta.

— O dever chama, — ele murmurou. — Mesmo para uma assassina.

Dei-lhe um sorriso apertado. — Infelizmente, sim.

Owen Grayson me acompanhou até a porta da frente e abriu-a. Com certeza, Finn estava
do lado de fora encostado no batente da porta, seu Aston Martin estacionado na garagem atrás
do Mercedes de Owen.

Os olhos verdes de Finn avaliaram a minha cara corada e meus lábios vermelhos. Um
sorriso malicioso encheu seu rosto. — Odeio interromper, — ele disse. — Mas nós temos
trabalho a fazer, Gin.

— Eu sei.

Eu me virei para Owen. — Desculpe terminar a noite tão cedo. Marcamos para outro dia?

Seus olhos violeta brilhavam com uma promessa quente. — Definitivamente.

Owen pegou minha mão, seu polegar traçando sobre a cicatriz da runa de aranha na
palma da minha mão. Eu apreciei a sensação, por um momento, antes de apertar sua mão e
soltar a minha.

Eu não olhei para trás enquanto deslizava no carro de Finn, mas podia sentir os olhos de
Owen em mim quando eu entrei e apertei o cinto. Finn pulou para o banco do motorista,
ligando o motor, e saiu da garagem da casa de pedra cinza com um rugido.

— Bem, eu vejo que alguém terminou a noite de forma muito agradável, — disse Finn
enquanto dirigia através do portão de ferro que cercava a propriedade de Owen.

— Não é verdade. Você tocou a campainha antes que eu pudesse concluir alguma coisa,
— Eu cortei.

— O sarcasmo não assenta bem em você, Gin, — ele respondeu. — Então, eu deduzo que
Owen tenha recebido bem a notícia? O que exatamente você disse a ele?

— Praticamente tudo.

Finn olhou para mim com o canto do olho. — Por que você faria algo assim?

Dei de ombros. — Parecia a coisa certa a fazer. Ele sabia que eu estava envolvida na morte
de Tobias Dawson, e ele tinha suas suspeitas sobre mim matando Jake McAllister na festa de
Mab Monroe. Ele teria percebido de qualquer maneira, quando o corpo de Slater aparecesse frio
e apodrecendo em algum lugar nos próximos dias.

— Você acha que ele vai falar? — Finn perguntou em voz baixa.

Eu pensei sobre a confissão de Owen, sobre ele próprio querer matar Jake McAllister.
Sobre os outros homens que ele havia ferido e matado para proteger Eva e ele próprio. Sobre o
que ele achava que me devia por dar-lhe comida naquela noite todos aqueles anos atrás. Sobre
o jeito duro e apaixonado como ele tinha me beijado, mesmo depois que eu disse a ele
exatamente quem e o que eu era.

— Não, — eu respondi. — Owen tem suas próprias razões para manter a boca fechada.

Eu contei a Finn o que Owen tinha dito sobre viver nas ruas e como Fletcher Lane tinha
lhe arrumado o seu primeiro trabalho como um ferreiro.

— Papai ajudou Owen e Eva? — Finn perguntou. — Eu nunca soube sobre isso.

— Eu também não, — Murmurei. — Teria sido agradável Fletcher mencionar sua raia
altruísta antes de morrer.

Memórias de Fletcher Lane inundaram minha mente. O olhar conhecedor nos olhos
verdes do velho. A maneira como ele tão cuidadosamente estudava tudo e todos ao seu redor.
Meu coração doía, do jeito que sempre fazia quando eu pensava em todas as coisas que queria
dizer a ele, todas as coisas que eu queria lhe perguntar e nunca poderia.

Finn e eu não falámos por alguns minutos, mas eu poderia dizer que ele ainda estava
pensando sobre Owen e o possível risco que o empresário representava para nós.

— Não se preocupe com Owen, Finn, — eu finalmente disse. — Além de nossa história
passada, ele quer transar comigo agora, lembra-se? Espalhar notícias sobre a minha identidade
secreta só vai conseguir-lhe uma faca no peito. Ele sabe disso. E eu duvido seriamente que ele
queira que Eva termine de crescer sem um irmão mais velho em redor para mantê-la segura e
na linha.

— E o que acontece se você estiver errada? — Finn perguntou.

Meu estômago se apertou, e eu olhei para a escuridão. — Então eu vou transar com ele
uma vez, e quando tiver terminado, eu vou esfaqueá-lo onde ele estiver.

— Isso é duro, Gin, — Finn respondeu. — Muito duro. Meio bizarro também.

Um sorriso triste apertou meus lábios. — Essa sou eu. Gin Blanco. Dura e bizarra até ao
amargo fim.

21

Finn e eu chegamos a Jo-Jo cerca de vinte minutos depois.

Jo-Jo Deveraux morava em uma das partes menos pretensiosas de Northtown, como
digno de alguém de seu poder elementar de Ar, riqueza, e conexões sociais. Finn fez a curva
em uma subdivisão chamada Tara Heights, depois costeou para Magnolia Lane e puxou para
uma inclinada e longa garagem. A casa de fazenda de três andares de Jo-Jo era empoleirada no
topo de uma grande colina, dando uma visão clara e abrangente das outras casas localizadas na
rua.

Era depois da meia-noite agora e normalmente, a esta hora, apenas uma ou duas luzes
estariam acesas dentro de casa da anã. Jo-Jo poderia ser uma elementar de Ar, mas ela
precisava de seu sono de beleza assim como o resto de nós. Mas não esta noite. O primeiro
andar inteiro da estrutura antebellum brilhava, indicando que todo mundo dentro ainda estava
acordado. Eu duvidava que qualquer um de nós teria muito descanso esta noite.

Finn estacionou seu carro na garagem, e eu examinei as sombras ao redor da casa e sua
longa, envolvente varanda. Elliot Slater não deveria ter sido capaz de rastrear Roslyn Phillips

até Jo-Jo, mas o gigante tinha escapado de mim duas vezes agora, e eu queria estar preparada
para tudo. Mas nada se moveu ou agitou na escuridão, nem mesmo uma solitária rã-touro
berrando apesar do frio de dezembro.

Finn se dirigiu para a porta da frente, mas eu fiquei onde estava e levei um momento
para ouvir os murmúrios dos paralelepípedos brancos que pavimentavam a entrada.
Procurando mesmo o mais leve sinal de problemas, a menor nota de preocupação ou alarme.
Mas as pedras apenas sussurraram do vento e geada e frio. Slater e seus capangas não tinham
encontrado Roslyn - ainda.

Nós pisamos até a varanda, e Finn bateu a aldrava em forma de nuvem na porta da
frente. Passos pesados soaram e Sophia Deveraux abriu a porta. A anã gótica usava um par de
calças de moletom pretas, com um moletom que tinha corações quebrados, sangrentos por
toda parte. Por uma vez, Sophia não estava usando um de seus colares de couro, e seu cabelo
preto estava despenteado, como se ela tivesse dormido em algum momento durante a noite.
Ela carregava um longo tubo de metal, perfeito para lidar com quaisquer visitantes indesejados
que pudessem escurecer a porta a esta hora da noite.

Olhei para a arma resistente. ? Prazer em vê-la também, Sophia.

? Hmph. ? Seu habitual grunhido evasivo.

Sophia recuou, deixando Finn e eu entrarmos na casa. ? Cozinha, ? ela disse com a voz
rouca e fechou e trancou a porta atrás de nós.

Andei pelo corredor nessa direção, com Finn atrás de mim, e Sophia na retaguarda.
Cheguei à porta da sala longa e magra e parei. Roslyn Phillips estava sentada alta e ereta sobre
um banquinho na mesa de madeira retangular, de açougueiro, que ocupava o meio da cozinha.
Suas costas não poderiam estar mais retas do que se ela tivesse uma tábua ligada a elas. A
vamp ainda usava seu vestido de festa carmesim, embora o tecido agora parecesse monótono,
amassado, sem vida. Mesmo as lantejoulas que pontilhavam o vestido estavam mudas, como se
os acontecimentos da noite tivessem lhes roubado todo o brilho. Roslyn tinha chorado
novamente, desde que eu a vira pela última vez, seus olhos quase tão vermelhos quanto seu
vestido, seu rosto normalmente impecável uma bagunça de maquiagem borrada e lágrimas
secas.

Xavier estava empoleirado em um banquinho ao lado dela, não bem a tocando, mas
claramente doendo para fazer isso. O gigante manteve os olhos escuros na vampira, que
encarava o tampo da mesa à sua frente. Nenhum dos dois falava ou se movia. Eles pareciam
congelados, como se fossem figuras em uma pintura que tinha de alguma forma sido escorada
entre os aparelhos de cor pastel.

? Já era hora de vocês chegarem, ? Jo-Jo Deveraux arrastou as palavras.

A anã estava no fogão do outro lado da mesa, esperando uma chaleira assobiar sua nota
estridente. Rolos de esponja antiquados rodeavam a cabeça de Jo-Jo como fileiras de soldados
de plástico rosa. A anã usava um de seus roupões floridos rosa, e seu cordão de pérolas de
costume brilhava em volta do seu pescoço, apesar da hora tardia.

? Eu tinha coisas para fazer, ? respondi, sentado em um banquinho em frente a Roslyn.

? Mais como pessoas, ? Finn disse em voz baixa.

Atirei a ele um olhar sujo, mas Roslyn e Xavier não pareceram notar. A vamp continuou
encarando a mesa, e o gigante continuou olhando para ela.

? Eles te contaram o que aconteceu esta noite? ? Perguntei a Jo-Jo.

A anã assentiu e abriu a boca para responder. Mas antes que ela pudesse dizer qualquer
coisa, a chaleira guinchou que estava pronta. Jo-Jo correu para buscá-la para cortar o ruído, mas
o pote piou um outro assobio estridente. O som áspero, inesperado fez Roslyn vacilar, como se
alguém a tivesse esbofeteado. Xavier estendeu o braço e colocou a mão enorme em cima da
dela. Isso fez a vamp vacilar também. Xavier congelou e lentamente tirou a mão.

Jo-Jo despejou água quente em várias xícaras e acrescentou alguns sacos de chá. As
xícaras foram para uma bandeja de servir de prata esterlina antiga, junto com leite, açúcar,
creme, e um prato de muffins de amora preta que eu tinha assado ontem no Pork Pit. Quando
tudo estava arranjado para sua satisfação, Jo-Jo colocou a bandeja sobre a mesa na frente de
Roslyn.

? Tome um pouco de chá, querida, ? a anã disse em sua voz leve, cálida. ? Vai fazer

você se sentir melhor.

Roslyn automaticamente alcançou uma xícara e tomou um gole educado, atravessando
os movimentos. Mas depois de um momento, os ombros da vamp relaxaram, e seu rosto
relaxou. Roslyn soltou um longo fôlego. Meu nariz se contraiu. Eu conhecia álcool quando
sentia o cheiro. Olhei por cima do ombro. Certamente, uma jarra Mason meio vazia do que
parecia ser aguardente feita em casa estava no balcão ao lado do pano coberto de nuvens que
escondia a torradeira. Olhei para Jo-Jo, que piscou, me deu um pequeno sorriso, e me entregou
minha própria xícara de chá. Dei de ombros e a tomei dela.

Finn ignorou o chá e serviu-se um pouco de café de chicória do pote que Jo-Jo sempre
mantinha para ele. Sophia encostou-se à entrada e encarou Roslyn. Pela primeira vez, emoções
piscaram nos olhos escuros da anã gótica, mas eu estava cansada demais para tentar descobrir
o que eram.

Os seis de nós sentámos em silêncio por vários minutos. Jo-Jo continuava recarregando a
xícara de chá de Roslyn, insistindo para a vamp comer um dos muffins que ela tinha servido.
Finalmente, Roslyn concordou, rompendo o muffin com suas mãos e mastigando um
pedacinho de cada vez. Mas o chá batizado e o doce açucarado a reanimaram um pouco. Suas
bochechas coraram e perderam um pouco de sua palidez, e seu corpo lentamente se
desenrolou em uma posição mais normal.

? Está se sentindo melhor? ? Jo-Jo perguntou em uma voz suave.

Roslyn levantou o olhar e deu a anã um pequeno sorriso. ? Um pouco. Obrigada.

Jo-Jo acenou sua mão. ? Você é mais do que bem-vinda, querida.

A vamp deu a Jo-Jo outro sorriso e baixou os olhos. Todo mundo se acalmou mais uma
vez, dando a Roslyn o tempo que ela precisava…

O gorjeio mudo de um telefone celular quebrou o silêncio. Eu virei minha cabeça. O som
vinha de um banco que abraçava a parede de trás da cozinha. Avistei uma pequena bolsa
vermelha sentada entre vários casacos que haviam sido jogados sobre o banco baixo de
madeira.

Olhei para Jo-Jo, que balançou a cabeça.

? Esse é o meu telefone, ? Roslyn disse, respondendo a minha pergunta muda. ? Elliot

está me ligando. Ele está ligando desde que deixei o barco.

? Diga-me que não lhe respondeu, ? eu disse.

? Não, ? Roslyn sussurrou. ? Eu não o respondi.

? Bom.

Depois de cinco toques, o som parou - apenas para começar de novo alguns segundos
depois. Apesar do álcool que ela tinha bebido, o rosto de Roslyn apertou mais uma vez, e
lágrimas encheram seus olhos.

? Por que ele não vai parar? ? ela perguntou com uma voz trêmula. ? Por que ele não

vai apenas parar?

Eu me inclinei, agarrei a mão fria da vamp, e a apertei. ? Ele vai parar, Roslyn. Elliot
Slater nunca vai incomodá-la novamente. Eu prometo.

A vamp me encarou e balançou a cabeça. ? Mesmo se você matar Slater agora, todos vão
saber que fui eu. Que eu tive algo a ver com isso. Eu nunca estarei livre dele. Nunca. ? Sua voz
caiu para um sussurro.

Olhei para ela, sentindo-me pequena e indefesa pela primeira vez em muitos anos. Roslyn
estava certa. Tão logo quanto o corpo de Slater aparecesse, Mab Monroe iria começar a fazer
perguntas - e Roslyn seria a primeira pessoa que a elementar de Fogo iria interrogar.

A menos que eu pudesse pensar em alguma maneira de impedir isso.

Roslyn estava terminada pela noite - fisicamente, mentalmente, emocionalmente - assim
Jo-Jo levou a vamp ao andar de cima para que ela pudesse tomar banho, colocar uma roupa
mais confortável, e desabar em uma das camas dos hóspedes. Finn, Sophia, Xavier, e eu ficamos
na cozinha. Eu não falei até que ter certeza de que Roslyn estava fora do alcance da voz.

? Eu vou precisar de alguma ajuda para ter sucesso nisto, ? eu disse em uma voz suave.
? Um lugar para Roslyn ficar, alguém para cuidar dela enquanto eu cuido dos negócios. Vocês

caras vão me ajudar? Por favor?

? É claro, Gin, ? Finn respondeu. ? O que você precisar, em qualquer lugar, a qualquer

hora. Você sabe disso. Isso é o que as famílias fazem um pelo outro. E somos todos família aqui.

Sophia murmurou seu acordo também.

Acenei a cabeça em gratidão, depois olhei para Sophia primeiro. ? Roslyn fica aqui até
que eu lide com Elliot Slater. Você pega o turno da noite guardando-a. Jo-Jo pode manter um
olho nela durante o dia. Roslyn não sai, ela não fala ou vê ou chama qualquer pessoa. Okay?

A anã gótica assentiu. Ela sabia o que fazer.

? Bom. Eu também vou precisar que você venha para o Pork Pit e trabalhe seu turno de

costume amanhã. Eu vou estar lá também.

Xavier franziu o cenho. ? Você vai abrir o restaurante amanhã? Por quê? Você deveria
estar ocupada tramando como chegar a Slater, não servindo churrasco.

Olhei para o gigante. ? Não se preocupe, eu vou estar. Mas todos os envolvidos nesta
coisa precisam se ater as suas rotinas normais. Ir trabalhar, voltar para casa, tanto faz. Ser visto
por outras pessoas. Dessa forma, quando o corpo de Slater aparecer e Mab Monroe começar a
fazer perguntas, todos nós teremos alguma negação plausível. Nós estávamos ocupados demais
sendo normais para sequer pensar em matar o gigante. Isso poderia apenas salvar nossos
traseiros.

Xavier balançou a cabeça. ? Isso poderia funcionar para o resto de nós, mas não vai para
Roslyn. Não se ela estiver confinada aqui o tempo todo.

? É aí que Finn entra.

Eu me virei para ficar de frente para Finn, que estava servindo-se de outra xícara de café
de chicória. Os vapores quentes de cafeína inundavam a cozinha, lembrando-me mais uma vez
de Fletcher Lane. O velho tinha bebido o mesmo café que seu filho. Poderia ter sido nada mais
do que sentimento bobo, mas o cheiro me confortava, mesmo durante esta noite longa e tensa.
Não pela primeira vez, eu desejei que o velho ainda estivesse vivo. Fletcher Lane tinha sido um

estrategista mestre. Ele saberia exatamente a melhor maneira de lidar com Elliot Slater - e
escapar limpo depois. Em vez de ficar se atrapalhando com as coisas como eu estava fazendo.
Como eu vinha fazendo há dias agora.

Mas Fletcher tinha ido embora, e eu estava aqui. Não importava muito o que acontecesse
comigo depois do fato - só que os outros estivessem limpos. E se eu tivesse que morrer para me
certificar de que eles estivessem, bem, pelo menos eu tinha visto Bria novamente antes de ser
lançada no inferno.

Respirei mais uma vez, aproveitando o aroma rico uma última vez, antes de empurrar
todos os pensamentos sobre Bria e o velho para longe. ? Finn, preciso que você se ocupe
construindo um álibi para Roslyn.

? Álibi? ? Sophia disse em sua voz arruinada.

Assenti. ? Álibi. De volta quando esta coisa toda começou, Roslyn enviou sua irmã e sua
sobrinha até Myrtle Beach para tirá-las do caminho. Bem, após a cena na noite passada no
barco, Roslyn decidiu sair da cidade e se juntar a elas.

? Férias improvisadas? ? Finn perguntou. ? Eu posso fazer isso. Conta do hotel, recibos

de restaurante, souvenirs de merda, areia em uma mala. Não deve levar mais do que um par de
horas para falsificar tudo. Posso até construir algumas imagens de segurança do hotel em que
Roslyn está supostamente ficando se você quiser.

Por um momento, eu me perguntei exatamente como Finn ia colocar as mãos não só na
areia mas em camisetas de praia bregas e colares de concha tão perto assim da meia-noite. Mas
se houvesse qualquer para se ter em toda a Ashland, Finnegan Lane iria encontrá-las. Como eu,
Finn tinha muitas habilidades, a maioria das quais não eram exatamente legais.

? Faça o pacote completo, ? respondi. ? E faça isso parecer bom. Muito bom. O

suficiente para enfrentar seja qual for o escrutínio que Mab Monroe possa fazer valer. Ou a
polícia.

Finn me brindou com sua xícara de café. ? Considere feito.

? E quanto a mim? ? Xavier perguntou em voz baixa.

Xavier tinha os cotovelos sobre a mesa, e suas mãos dispostas planas em frente a ele. Os
braços do gigante eram tão longos que ele poderia ter se inclinado para frente e agarrado a
extremidade oposta do balcão. Os amplos, enrolados músculos de suas costas e bíceps
pressionavam contra seu smoking branco, ameaçando separar o material nas costuras. Sombras
escureciam seus olhos negros, e sua mandíbula forte cerrava e descerrava. Uma veia pulsava
no alto do crânio raspado de Xavier, a tonalidade azul do seu sangue visível mesmo através de
sua pele de ébano.

Eu conhecia os sinais e podia ler a raiva nos olhos de Xavier como um pirata examinando
um mapa do tesouro. X marcava o local. Este era um homem que queria rasgar algo, ou
melhor alguém - Elliot Slater - e lentamente arrancar a pele dos ossos dele, martelá-la de volta,
e começar de novo. Não podia culpar Xavier por isso. Não depois do que o bastardo tinha feito a
Roslyn. Mas era o meu trabalho mantê-lo na linha, para que eu pudesse cuidar de Slater de
uma vez por todas. E para que todos pudéssemos escapar limpos após o fato.

? Seu trabalho vai ser o mais difícil, ? eu disse. ? Você precisa ir à Agressão do Norte

amanhã e abrir a boate como de costume. Trabalhar na porta, manter um olho sobre a
multidão, tudo o que você costuma fazer.

? Por que isso vai ser difícil? ? Xavier resmungou.

Eu o encarei. ? Porque mais cedo ou mais tarde, Slater vai chegar ao clube à procura de
Roslyn - e você vai ter que lidar com ele.

As mãos de Xavier enrolaram em dois punhos enormes. ? Eu vou lidar com o bastardo,
tudo bem.

? Não, ? eu disse em um tom afiado. ? Você não vai fodidamente tocá-lo, a menos que

você queira ser morto. Slater com certeza vai ter reforço com ele. Mesmo se você o eliminasse,
um de seus companheiros iria te pegar no final.

O rosto de Xavier endureceu, e seus olhos brilharam de raiva. De Slater, principalmente,
mas eu não estava nas boas graças do gigante agora, tampouco.

? Olhe, ? eu disse. ? Não estou questionando suas habilidades ou sua força ou o quanto

você se preocupa com Roslyn. Nós todos sabemos que você mesmo deseja poder matar Slater. E
todos nós sabemos que você não pode fazer isso sem morrer, seja lá na cena ou mais tarde,

quando Mab Monroe se envolver. Nós todos queremos a mesma coisa - Elliot Slater frio e
apodrecendo no chão pelo que ele fez com Roslyn. Mas, mais importante, nós queremos que
todos sejam capazes de escapar após o fato. O que vai ser, Xavier? Você quer bancar o heroi e
morrer por sua mulher? Ou você quer fazer as coisas do meu jeito e viver tempo suficiente para
ir cuspir no túmulo de Elliot Slater? Decida. Agora.

Xavier olhou para os outros de apoio. Primeiro, seus olhos cortaram para Finn, que tomou
outro gole de café e moveu-se para ficar atrás de mim. Xavier virou para Sophia. A anã
grunhiu, deu-lhe um olhar plano, e também andou até meu lado da mesa. Finalmente, o
gigante me encarou. Raiva ainda cintilava em seus olhos, mas uma outra emoção brilhava no
seu olhar escuro. Resignação. Apesar de seus sentimentos por Roslyn, Xavier era esperto o
suficiente para perceber que eu sabia sobre o que estava falando - e que eu faria tudo ao meu
alcance para manter minha promessa a ele e especialmente para Roslyn.

? Ótimo, ? Xavier disse em voz baixa. ? Vamos fazer do seu jeito. Mas se Elliot Slater

não estiver morto em dois dias...

? Então você pode ir atrás dele e danem-se as consequências, ? eu disse.

Xavier me encarou mais um momento, depois assentiu. ? Tudo bem. O que você quer
que eu faça?

? Quando Slater chegar ao clube à procura de Roslyn, diga-lhe que você não sabe onde

ela está e que você não se importa mais. Que você a odeia, e que ele é bem-vindo para ficar com
ela.

Xavier vacilou com as minhas palavras ásperas, mas assentiu. ? Tudo bem. Eu posso
fazer isso.

? Você tem que fazer mais do que apenas fazer isso, ? estalei. ? Você tem que vendê-lo.

Fazer Slater pensar que você terminou com Roslyn. De vez. Eu não vou mentir para você,
Xavier. Slater provavelmente não vai acreditar em você. As coisas vão ficar feias. Ele
provavelmente vai fazer seus capangas baterem em você ou fazê-lo ele mesmo. Ele poderia te
ferir seriamente. Talvez até mesmo matá-lo apenas para se diverter.

Xavier me encarou, seus olhos pretos tão duros quanto granito. ? Eu não me importo o
quão sério ele me ferir enquanto Roslyn estiver segura. Isso é tudo que importa para mim.

Assenti. ? Bom. Existe alguém no clube que você pode confiar? Alguém lá que vai te
apoiar?

Xavier pensou por um momento. ? Vinnie. O elementar de Gelo que trabalha no bar. Ele
é um cara confiável. E ele me deve.

? Você diz a Vinnie para observar a porta e chamar a polícia assim que Slater aparecer.

Especificamente, sua parceira, Detetive Bria Coolidge.

Finn e Sophia ambos me encararam, surpresos com a minha ordem. Eu não queria Bria
em qualquer lugar perto de Elliot Slater, mas ela era o único policial que eu conhecia que
enfrentaria o gigante e seus homens. Que faria algo além de ficar ali e deixar Slater bater em
Xavier até a morte. Gostando ou não, eu tinha que ter minha irmã envolvida nisto. Bria poderia
manter Xavier vivo tempo suficiente para Jo-Jo Deveraux chegar ao gigante e curá-lo. Depois
disso, Sophia estaria lá para vigiar todo mundo.

Xavier assentiu. ? Tudo bem. Vou dizer a Vinnie. Uma questão, no entanto. O que você
vai estar fazendo durante tudo isto?

? Seguindo o bastardo, ? respondi em uma voz fria. ? Amanhã à noite, no segundo em

que ele estiver sozinho, eu vou atrás dele com tudo que eu tenho.

Todo mundo sabia sua parte no drama que estava prestes a se desenrolar, e não havia
mais nada a dizer. Então ficamos na cozinha, bebendo chá, tomando café e comendo muffins
em silêncio.

Poucos minutos depois, Jo-Jo desceu as escadas. A anã de meia-idade olhou para Xavier.
? Roslyn está perguntando por você, ? ela disse. ? Segunda porta a sua esquerda.

O gigante assentiu, pousou sua xícara de chá, e se dirigiu até as escadas. Finn vagou nessa
direção e esperou até que os passos pesados de Xavier pararam e a porta no andar de cima
rangeu fechada antes de se virar para mim.

? Corrija-me se eu estiver errado, Gin, ? Finn disse. ? Mas você não explicou

exatamente como todos nós vamos sair livres e limpos desta depois de você fazer Elliot Slater
de almofada de alfinetes.

Assenti. ? Eu não queria dizer nada na frente de Xavier, mas vamos fazer Mab Monroe
esquecer tudo sobre Roslyn.

? Como? ? Sophia disse com uma voz rouca.

? Nós vamos dar-lhe outra pessoa para se preocupar.

Eu disse a Finn, Sophia, e Jo-Jo exatamente o que eu estava pensando em fazer depois de
matar Slater. A forma louca e perigosa que eu ia tirar o calor da fúria de Mab de Roslyn e
direcioná-lo diretamente para mim. Expliquei tudo para eles. Tudo o que eu ia fazer - agora e
quando eu finalmente fizesse meu movimento contra a elementar de Fogo.

Quando terminei, os três olharam para mim. Os olhos de Finn um verde brilhante. O
rosto de Sophia plano e inexpressivo como de costume. A cabeça de Jo-Jo inclinada para um
lado, uma luz pensativa em seu olhar pálido.

Finalmente, Finn soltou um assobio baixo. ? Você está falando sério, não está?

Dei de ombros. ? Se você conseguir pensar em um plano melhor, por favor, me ilumine.

? Não me leve a mal, ? Finn disse. ? Eu acho que é brilhante. Estúpido e perigoso e

arrogante, mas brilhante também. Mesmo que vá contra tudo o que o Papai nos ensinou sobre
chamar a atenção para nós mesmos, tudo o que ele te ensinou.

Soprei uma respiração. ? Eu sei. É por isso que eu preciso saber se todos vocês estão a
bordo comigo ou não. Porque não sou só eu quem vai estar em risco desta vez. Vocês caras
estarão todos em perigo também. Se Mab descobrir antes que eu esteja pronta para lidar com
ela, ela vai vir atrás de nós - todos nós. E ela não vai parar até estarmos todos mortos. Se vocês
não quiserem ser parte disso, eu entendo. Esta coisa com Mab, é a minha luta, o meu problema,
não de vocês. Sempre foi.

Finn, Sophia, e Jo-Jo nem sequer tiveram que olhar um para o outro.

? Bobagem, ? Jo-Jo disse. ? Somos família, querida. Sempre seremos.

? Família, ? Sophia repetiu.

? Família, ? Finn ecoou.

Eu os encarei. Bonito Finn, que se parecia tanto com seu pai que fazia meu coração torcer
no meu peito. Sombria, remota Sophia, que mantinha todos os seus sonhos secretos e mágoas e
medos para si mesma. Suave, rosa Jo-Jo, a mais esperta e mais sábia de todos nós. Eu já tinha
perdido Fletcher Lane. Eu não queria perdê-los também. Mas meu confronto com Mab Monroe
era inevitável agora. Inferno, talvez fosse desde a noite que ela tinha assassinado minha família.
Como Édipo matando seu pai, sem importar o quão duro ele lutou para não matar. Ninguém
fazia tragédia como os Gregos. Ou eu.

? Estou feliz por vocês estarem comigo nisto. ? Minha voz tremeu só um pouco. ? Mas,

principalmente, estou feliz que vocês são minha família.

Afastei-me deles e levei minha xícara de chá até a pia para que eles não vissem as
lágrimas nos meus olhos. Quando me virei para enfrentá-los, eu estava fria, calma e composta
mais uma vez.

? Tudo bem, ? eu disse. ? Vamos começar a festa.

22

Nós todos passámos a noite na casa de Jo-Jo, e no dia seguinte, colocámos nosso plano em
ação. Ou seja, todos fizeram o que fariam normalmente no período da manhã.

Sophia levantou-se cedo e fomos para o Pork Pit assar o pão para as sanduíches do dia.
Finn vestiu um de seus muitos ternos e foi trabalhar para os homens do dinheiro no seu banco.
Xavier foi para casa descansar para estar pronto para abrir a Agressão do Norte mais tarde, esta
noite. Jo-Jo ligou os secadores de cabelo, cabines de bronzeamento e ferros de caracóis para os
clientes do seu salão de beleza. Eu pretendia ir para o Pork Pit e trabalhar um turno inteiro
como de costume.

Antes de dirigir para casa para tomar banho e mudar de roupa, espreitei Roslyn Phillips.
A vamp estava sentada de pernas cruzadas sobre a cama em um dos quartos de hóspedes de Jo-
Jo olhando pela janela para os ramos esqueléticos das árvores que rodeavam a casa
Antebellum. Roslyn usava uma calça preta de Sophia, de alguma forma, fazendo com que o
tecido parecesse rico e caro, em vez do algodão resistente e sensível que era. Ela não usava

maquiagem, seu belo rosto suave e sem brilho, como uma pedra que tinha sido desgastado pela
passagem constante de água ao longo do tempo.

Sentei-me na ponta da cama. Roslyn não se virou na minha direção, mas ela sabia que eu
estava lá. Se nada mais, ela sentiu o colchão baixar sob o meu peso.

— Sente-se melhor? — Eu perguntei com uma voz suave.

Ela encolheu os ombros.

Um som thump-thump-thump suave chamou a minha atenção. O telefone celular de
Roslyn estava deitado em cima do criado-mudo ao lado da cama, movendo-se levemente.

— Eu cansei do zumbido constante, assim coloquei-o em vibração, — ela disse em uma
voz plana. — Ele deve ter me ligado uma centena de vezes desde a noite passada. E não, eu não
respondi.

— Você deve desliga-lo.

Ela mordeu o lábio. — Eu não posso fazer isso, Gin.

Eu sabia que ela não podia. Roslyn sabia que Elliot Slater estava lá fora procurando por
ela, utilizando todos os recursos que ele tinha para encontra-la. Enquanto o telefone não
parasse de tocar, ela poderia dizer a si mesma que ele ainda não a tinha encontrado. Que estava
a salvo por um pouco mais. Numa maneira distorcida, o telefone era a tábua de salvação de
Roslyn – a única coisa impedindo-a de ficar completamente louca.

Eu nunca fui boa em ajudar as pessoas, a confortá-las. Essa era mais a linha de trabalho
de Jo-Jo. Havia apenas uma coisa que eu poderia dizer para o conforto de Roslyn, somente uma
promessa que eu poderia fazer para ela que significaria uma alguma coisa.

— Deixe-o ligado então, — eu disse em um tom tranquilo. — Ouça-o. Verifique se a
bateria não morre.

Depois de um momento, Roslyn se virou para olhar para mim. — Por quê?

Eu deixei-a ver a determinação fria e violenta em meus olhos cinzentos. — Porque
quando o seu telefone parar de tocar, você vai saber que o bastardo finalmente está morto.

Naquela tarde, eu estava sentada em minha cadeira atrás da caixa registradora no Pork
Pit e revisei todas as informações que eu tinha sobre Elliot Slater. Principalmente, porém,
pensei nos meus encontros anteriores com o gigante, visualizando a forma como ele me bateu
aquela noite na faculdade comunitária, a forma como ele jogou seus golpes, como ele colocou
os pés, como ele distribuiu seu peso. Analisando seu estilo, sua técnica, procurando por
qualquer fraqueza que eu poderia explorar, à procura de alguma maneira que eu poderia matá-
lo sem deixar que ele colocasse suas mãos em mim primeiro. O gigante já tinha me batido
duas vezes. Ele não ia fazer isso de novo.

— Alguma coisa? — Sophia perguntou asperamente.

Eu fechei a pasta e balancei a cabeça. — Diz a mesma coisa que sempre disse, que Slater é
um cliente difícil.

— Hmph. — Sophia grunhiu e voltou a limpar o balcão.

Já passava das seis. A escuridão já tinha espalhado seu cobertor preto sobre Ashland, e a
maioria das pessoas estava indo para casa do trabalho, ansiosas para sair do frio. Tinha estado
pouco movimento o dia todo, então eu tinha enviado as garçonetes para casa mais cedo com o
seu pagamento. Meu último cliente havia saído há 10 minutos atrás. Aqueles que passavam
pelas janelas da loja invariavelmente tinham sua cabeça baixa, o queixo enfiado no topo de
suas jaquetas, sem tempo ou inclinação para parar por churrasco quente hoje à noite. Lá fora,
as luzes da rua já tinham acendido, iluminando as calçadas cinzas e os pedaços de neve que
flutuavam no ar gelado. Era altura de deixar o restaurante e continuar com a minha missão da
noite de matar Elliot Slater.

Eu me virei para Sophia para lhe dizer para fechar o estabelecimento quando a porta da
frente se abriu, fazendo o sino badalar, e a Detetive Bria Coolidge entrou no restaurante.

Bria fechou a porta atrás de si e dirigiu-se na minha direção. Ela estava linda como
sempre. Cabelos louros desgrenhados, os olhos azul-gelo, as faces coradas do ar frio. Mais uma
vez, ela usava o seu longo casaco estilo marinha 19 sobre jeans, um suéter e botas pretas. Sua
runa de prímula brilhava como uma bola de fogo prateado no oco de sua garganta. Combinava
com o brilho dos anéis em seu dedo indicador.

— Olá, detetive, — eu disse em uma voz calma. — Que bom que você chegou aqui agora.
Sophia e eu estávamos prestes a fechar pela noite.

O olhar de Bria foi para a anã gótica, que ainda estava limpando a longa bancada. — Meio
cedo para isso, você não acha?

Eu estendi minha mão e fiz um gesto para o local vazio. — Não esta noite. O frio tende a
fazer as pessoas quererem ir para casa com seus entes queridos em vez de parar para comer
algo.

— Ponto feito. Mas eu não estou aqui pela comida.

— Isso é uma pena, — eu murmurei. — A torta de morango está excelente hoje.

Bria olhou para a bancada de vidro dos bolos, onde eu sempre colocava a sobremesa do
dia. Mas mesmo os exuberantes morangos cintilando pela crosta dourada não foram suficientes
para fazê-la desviar de sua missão designada.

— Eu quero falar com você sobre Roslyn Phillips, — Bria disse.

Não era surpreendente, dado o fato de que Bria tinha estado correndo atrás da vampira a
noite passada depois de Roslyn contar a todos no barco o que Elliot Slater estava fazendo com

19 Do original ‘navy coat’:

http://modculture.typepad.com/photos/uncategorized/2008/09/17/navy_wool_coat.jpg

ela. Eu meio que tinha esperado o dia todo que Bria entrasse no meu estabelecimento com
perguntas, exigindo saber onde a vampira estava. E ela finalmente tinha aparecido.

Eu não tinha dúvida de que Bria queria ajudar Roslyn. Dado o que eu tinha visto até
agora, ela teria feito o mesmo por qualquer mulher que pensasse que tinha sido perseguida e
vítima como Roslyn tinha sido. Eu a admirava por isso.

Mas a parte fria e cínica de mim perguntava quanto da determinação de Bria para ajudar
era pessoal. Porque Bria não tinha nenhuma testemunha para o fato de que Slater tinha tentado
matá-la, e Sophia tinha a certeza de que nenhuma evidência de qualquer tipo tinha sido
deixada para trás na cena do crime. Se Bria queria prender Slater - e ela certamente queria,
dado o fato de que o gigante tinha tentado matá-la - então Roslyn era a sua melhor chance de
fazer isso acontecer. E de alguma forma, eu não achava que ela iria desistir da vamp sem luta.

— O que tem Roslyn? — Eu perguntei.

— Você já viu ou falou com ela hoje? — Bria perguntou.

— Não.

Uma mentira fácil. E eu não ia oferecer mais nenhuma informação ou até mesmo
perguntar porque Bria estava tão interessada em encontrar Roslyn, em primeiro lugar. Ao lidar
com a polícia, era melhor seguir o exemplo de Sophia Deveraux e falar apenas com respostas
curtas - se ela sequer falasse.

Bria me estudou, seus olhos azuis frios e gelados. — Eu acho que você está mentindo.
Você e Roslyn pareciam particularmente amigáveis quando ela esteve aqui ontem.

— Isso foi ontem, — eu respondi. — Roslyn estava aqui pela comida. Nada mais, detetive.

— Isso é engraçado, porque ninguém parece saber onde a Sra. Phillips está, — respondeu
Bria. — Ela não está em casa, e ninguém a viu naquela boate que ela possui, a Agressão do
Norte.

— Talvez você deva perguntar ao seu parceiro se ele a viu, — eu disse em um tom
cortante. — Tendo em conta que Xavier realmente trabalha para Roslyn.

Normalmente, eu não teria jogado Bria em Xavier. Mas era melhor ela estar na boate a
interrogá-lo do que ficar aqui me acusando. Eu tinha trabalho a fazer esta noite.

E quanto mais cedo eu matasse Elliot Slater, mais cedo Roslyn podia dormir mais
facilmente e retornar a sua vida regular, em vez de ficar escondida na casa de Jo-Jo Deveraux.

— Eu já estive no clube, — Bria respondeu. — E Xavier afirma que ele também não a viu.

Eu inclinei minha cabeça para um lado. — Parece que você não acredita nele.

Seu rosto endureceu. — O que eu acredito ou não, não é da sua conta. Agora, por que não
me diz onde você estava na noite passada?

— Você acha que eu fiz algo para Roslyn Phillips? — Eu ri. — Oh, por favor.

Os olhos de Bria gelaram mais, ainda mais. — Você sabe, nós poderíamos ter esta
conversa na delegacia da polícia.

Cruzei os braços sobre o peito. — Sério? Em que bases? Que eu estava na mesma festa que
Roslyn na noite passada? Que ela entrou em meu restaurante e comeu uma refeição? Eu vejo
que você já cedeu aos maus hábitos do resto do Departamento da Polícia de Ashland, detetive.

— E o que seriam?

Olhei para ela. — Interrogar pessoas sem motivo.

Bria teve a boa graça de se encolher pelo meu insulto.

Por mais que eu teria gostado de continuar esta disputa verbal com a minha irmã há
muito tempo perdida, eu precisava continuar com as coisas. Finn devia me pegar às sete para
que pudéssemos começar a seguir Elliot Slater e procurar um lugar para matar o gigante. O

que significava que eu precisava me livrar de Bria. Então eu decidi dar o que ela queria,
algumas respostas.

— Sim, Roslyn veio aqui ontem, mas só para conseguir alguma comida. Sim, eu vi-a na
noite passada no barco, incluindo a cena terrível com Elliot Slater. Não, eu não vi a vampira
desde então, e eu não pretendo ver, — eu disse. — Apesar do que você acha que viu aqui
ontem, Roslyn e eu não somos melhores amigas, somos apenas conhecidas casuais. Eu vou ao
clube dela ocasionalmente, ela vem pegar um churrasco aqui às vezes. Essa é a extensão de
nosso relacionamento, detetive. Quanto à pergunta sobre onde eu estava ontem à noite, fui
para casa com Owen Grayson. Tivemos uma noite muito estimulante em seu escritório, se você
absolutamente tem que saber.

Bria me estudou por vários segundos. — Você não gosta muito de mim, não é, Sra.
Blanco?

Não era isso. Não era nada disso. Se qualquer coisa, eu estava orgulhosa de quão bem Bria
parecia ter se saído, apesar de tudo o que havia acontecido com ela. Ela só não sabia que eu
tinha de mantê-la à distância. Que meus sentimentos confusos por ela ainda eram demasiado
recentes e crus para eu fazer qualquer coisa, exceto antagonizá-la. Que o sarcasmo era o mais
gentil e menos mortal de meus muitos mecanismos de defesa. Que eu tinha um trabalho frio,
duro e sangrento para fazer hoje à noite, algo que ela nunca poderia saber ou ser parte.

Dei de ombros. — Eu não sei o suficiente sobre você para gostar ou não de você, detetive.
O que eu odeio é quando alguém entra em meu estabelecimento e começa a ameaçar-me. Não
respondo bem a ameaças, da polícia ou de qualquer outra pessoa.

Ela suspirou. — Eu não estou ameaçando. Tudo o que eu estou tentando fazer é ajudar a
Sra. Phillips. Você ouviu o que ela disse sobre Elliot Slater, do que ela o acusou. Passei o dia
inteiro tentando localizá-la. Certamente você sabe sobre a reputação de Slater, para quem ele
trabalha. Eu quero encontrar a Sra. Phillips antes que ele a encontre. Isso é tudo o que eu quero
fazer.

Bria tinha a mesma nota cansada em sua voz que eu sempre ouvi em Donovan Caine.
Esse mesmo tom que me dizia quantas paredes de tijolos e becos sem saída ela tinha
encontrado hoje - muitos deles em seu próprio departamento da polícia. Como ela disse, ela
estava apenas tentando fazer a coisa certa, apenas tentando ajudar uma mulher que
obviamente precisava. Bria estava tentando fazer as coisas da maneira legal. Em Ashland, tudo
o que isso lhe daria era a morte. E eu simplesmente não podia permitir que isso acontecesse.
Não para minha irmãzinha. Melhor ser eu a lidar com Slater do que Bria.

Melhor para Roslyn, e melhor para Bria, quer ela soubesse ou não.

— Isso é muito nobre de sua parte, — eu disse em uma voz gentil. — É mesmo. Mas eu
não posso te ajudar. Eu não sei onde está Roslyn, e eu não sabia nada sobre seus problemas
com Slater até que ouvi sobre eles na noite passada no barco, como todos os outros. Mesmo se
eu tivesse sabido antes, não havia nada que eu pudesse fazer para ajudá-la. Não contra alguém
como Slater. Você mesma disse. Você sabe para quem ele trabalha. Mas eu sinto muito por
Roslyn, detetive. Realmente sinto. Mais do que você jamais saberá.

Bria abriu a boca para dizer alguma coisa, quando um som afiado a cortou. Mas não foi o
telefone ao lado da registradora que tocou. Foi meu celular descartável.

O que apenas podia significar uma coisa - problemas.

— Desculpe-me. — Eu cavei meu celular do bolso das calças de brim e atendi. — O quê?

— Gin? — A voz de Jo-Jo inundou a linha. — Nós temos um problema.

A nota em tom preocupado e apertado da anã me disse exatamente o que ela ia dizer.

— Roslyn se foi, — Jo-Jo disse.

23

Roslyn Phillips se foi? Porra.

Bria viu meu rosto apertar. Seus olhos azuis se afiaram com interesse.

? Gin? ? Jo-Jo perguntou. ? Você ainda está aí?

? Sinto muito em ouvir isso, ? eu disse em uma voz calma. ? Conte-me o que

aconteceu.

? Eu fiquei ocupada com clientes a maior parte do dia. Eu a chequei na hora do almoço,

e Roslyn estava bem. Bem, tão bem quanto poderia estar, dadas as circunstâncias. Quieta, mas
bem, ? Jo-Jo disse. ? Subi para perguntar o que ela queria que eu fizesse para a ceia, se ela
precisava de um pouco de sangue, se ela queria conversar sobre qualquer coisa, e ela tinha ido.
Ela deve ter escapado enquanto eu estava fazendo o meu último permanente do dia

? Você tem alguma ideia de por que ela decidiu que não gostava do seu permanente? ?

Perguntei.

Jo-Jo sabia o bastante para perceber que eu não queria falar abertamente na frente de
quem quer que pudesse estar de pé nas proximidades. ? Ela deixou o celular dela para trás.

Havia uma mensagem de texto na tela de Elliot Slater. Ele disse para Roslyn encontrá-lo na rua
fora do restaurante Underwood em meia hora ou ele começaria a matar as pessoas próximas a
ela - começando com Xavier. Ele também ameaçou matar sua irmã e sobrinha quando elas
voltassem a Ashland.

Então o gigante tinha decidido jogar duro. E em vez de vir até mim, em vez de confiar em
mim para lidar com as coisas, Roslyn tinha ido direto para ele. Ela poderia até já estar morta.

? Quando ela saiu? ? Perguntei. ? Logo depois que você deu a ela o permanente?

? Terminei às seis. Ouvi-a se movendo no andar de cima tão tarde quanto cinco e meia.

Ela não pode ter ido a mais de 30 minutos, 40 no máximo.

Olhei de relance para o relógio na parede. Se aproximando de seis e quinze agora. O que
significava que Roslyn tinha ido há quase uma hora. O restaurante estava apenas a cerca de
uma corrida de táxi de 20 minutos da casa de Jo-Jo, o que significava que Roslyn tinha que ter
alcançado Slater até agora.

? Sinto tanto, Gin, ? Jo-Jo disse, vergonha e preocupação em sua voz. ? Pensei que ela

deixaria você lidar com as coisas. Eu não tinha ideia de que ela partiria.

Suspirei. ? Não é sua culpa que ela não gostou de seu permanente. Algumas pessoas
simplesmente não reconhecem um bom trabalho quando o vêem. Nós vamos conversar sobre
isso mais tarde. Eu tenho um cliente esperando agora. Mas mantenha sua porta aberta, ok? Eu
provavelmente vou parar aí mais tarde.

? Claro, ? Jo-Jo respondeu. ? Eu vou ter tudo pronto, inclusive eu. Tudo o que você

precisar, Gin.

O que Jo-Jo realmente queria dizer era que estaria em espera, pronta para curar Roslyn
Phillips quando eu a afastasse a vamp de Elliot Slater. Se eu afastasse a vamp do gigante antes
de ele a matar.

? Ótimo. Vejo você depois.

Desliguei e olhei para Bria.

? Alguma coisa errada? ? Bria perguntou.

Sorri para ela. ? Nada sério. Uma amiga minha conduz uma salão de beleza. Parece que
uma de suas clientes não gostou da ondulação em seu cabelo hoje.

Bria não se pareceu acreditar em mim por um segundo, mas não havia muito que
pudesse fazer sobre isso. Ela já me chamara de mentirosa na minha cara e ameaçado me levar
para a delegacia. Eu não tinha piscado ante qualquer uma dessas ameaças, e ela era esperta o
suficiente para perceber que iria demorar muito para me provocar. Então ela retirou um cartão
do bolso do casaco e o colocou sobre o balcão entre nós. Eu não o peguei. Não queria correr o
risco de escovar meus dedos contra os dela e sentir sua magia de Gelo novamente. Eu não
precisava da distração disso e de todas as emoções que vinham com isso agora.

? Outro de meus cartões, ? Bria disse. ? Por favor, me ligue se você ouvir alguma coisa

sobre a Srta. Phillips. Eu consideraria um favor pessoal.

? É claro, ? Menti. ? Você tenha uma boa noite, detetive.

? Você também, Srta. Blanco.

Pensei que iria Bria virar e ir embora, mas em vez disso, ela só ficou me encarando com
seus olhos frios e gelados.

? Há mais alguma coisa, detetive? ? Finalmente perguntei.

? É engraçado, ? ela murmurou. ? Mas sempre desde que vim aqui há poucos dias,

tenho tido a mais estranha sensação de déjà vu sobre você. Quase como se eu... te conhecesse de
algum lugar.

Anos de treinamento impediram qualquer emoção de se mostrar no meu rosto. Da
primeira vez que Bria tinha vindo ao Pork Pit, quando nossos dedos se tocaram e eu sentira sua
magia, eu me perguntara se ela havia sentido alguma coisa sobre mim. Se ela havia sentido o
meu poder de Gelo que era tão semelhante ao dela. Quer ela tivesse ou não. alguma coisa sobre
mim fizera cócegas em sua memória.

Bria e eu tínhamos sido excepcionalmente próximas quando éramos crianças, mas eu não
estava particularmente preocupada com ela me reconhecer como sua irmã mais velha,
Genevieve Snow. Com o meu cabelo escuro, castanho chocolate e olhos cinzentos, eu parecia o
nosso pai, Tristan. Ele morrera quando Bria era um bebê, e ela nunca o conhecera. Bria era

aquela que tinha parecido mais com a nossa mãe, Eira. E eu tinha mudado muito desde quando
tinha treze anos. Eu tinha perdido toda a gordura de bebê que suavizara meus traços. Os planos
de meu rosto eram muito mais afiados, mais fortes, e mais angulares do que tinham sido
quando eu era criança. Então, novamente, assim com os de Bria.

Mas mais do que isso era o fato de que Bria já olhara para o meu passado, já cavara minha
identidade falsa sólida como rocha de Gin Blanco. Apenas não havia nenhuma razão para ela
pensar que eu era sua irmã há muito perdida Genevieve. Especialmente desde que eu não agira
em nada como ela provavelmente pensava que Genevieve iria. Eu não tinha exatamente
acolhido Bria, mesmo que ansiasse apenas envolver meus braços em torno dela e abraçá-la
apertado, só para ter certeza de que ela era real. Mas coisas demais, segredos demais, haviam
entre nós agora para tudo isso.

Bria deu de ombros. ? Suponho que não é nada. Assim como a ajuda que você me deu
hoje, Srta. Blanco.

Minha irmã me encarou mais um segundo, depois virou-se e saiu do Pork Pit.

A primeira coisa que fiz foi ir até a porta da frente, trancá-la, e virar o sinal para Fechado.
Encarei para fora das vitrines, mas Bria já tinha desaparecido de vista. Bom. Eu não precisava
dela por perto para me distrair do que precisava ser feito. Uma noite longa e sangrenta estava
por vir, e eu precisava de foco, precisava esquecer tudo e todos com quem me importava, e me
metamorfosear na Aranha mais uma vez, para que pudesse passar pelo que estava por vir.
Assim eu poderia passar Roslyn Phillips por isso - antes que ela fosse morta.

Então eu afastei todo o pensamento de Bria e me virei para Sophia. A anã Gótica estava
atrás do balcão, um pano de prato caído sobre o ombro dela, apenas me observando com seus
olhos planos, negros.

? Era Jo-Jo no telefone, ? eu disse.

? Problema? ? Sophia raspou.

? Roslyn saiu de casa e foi ao encontro de Elliot Slater. Ele ameaçou começar a matar as

pessoas de quem ela era próxima. Slater a tem agora, e eu tenho que descobrir onde ele a levou
- antes que ele a mate. ? Olhei para a anã Gótica. ? Preciso que você vá tomar conta de Xavier
para mim. Se ele descobrir que Roslyn foi para Slater, vai ficar louco e começar a procurar por
ela ele mesmo. E eu não posso ter isso.

Sophia assentiu. Ela sabia que Xavier só iria ficar no meu caminho - e provavelmente ter
Roslyn morta no processo.

Enquanto a anã desligava a fritadeira e fechava tudo mais para a noite, liguei para Finn e
contei-lhe a situação.

? Porra, ? ele disse.

? Porra, de fato. ? Então, eu fiz a Finn a pergunta mais importante - da vida de Roslyn

Phillips. ? Onde Elliot Slater levaria Roslyn para um último hurra antes de matá-la?

? Você não acha que ela já está morta? ? ele perguntou. ? Ele já a tem há pelo menos

uma hora por agora.

Pensei na raiva quente que tinha visto piscando nos olhos cor de avelã de Slater na noite
passada no barco. Do embaraço que Roslyn lhe causara com suas acusações gritadas. Da
maneira que o gigante começara a ir atrás dela, apenas para ser chamado de volta por Mab
Monroe. De todas as chamadas incessantes com que bombardeara Roslyn durante a longa
noite.

? Não, ? Respondi. ? Slater vai querer brincar com ela primeiro, puni-la pelo que ela

fez com ele. Pelo menos por um par de horas. Foi o que ele fez a todas as outras mulheres do
seu arquivo. O que significa que ainda tenho tempo para chegar a Roslyn - se eu puder
encontrá-la. Então, onde você acha que Slater iria? Você é a pessoa que compilou o arquivo
dele, que desenterrou todas as informações antigas de Fletcher sobre ele. Você saberia melhor
do que eu.

Pedir direção, orientação, um alvo para atacar. Era algo que eu teria pedido a Fletcher
Lane, se ainda estivesse vivo. Mas o velho ensinara a Finn tudo o que sabia sobre como recolher
informações sobre um membro da oposição, analisá-la, e prever como ele reagiria em uma
determinada situação. Em alguns aspectos, Finn era ainda melhor nisso do que Fletcher tinha

sido, porque Finn inatamente compreendia coisas como ganância e desejo e avareza. Ele as via
todos os dias no banco onde trabalhava, e novamente à noite, enquanto confraternizava com
seus clientes ricos e mortais.

Através do celular, um som lento, de sucção encheu minha orelha. Finn, bebendo mais
uma xícara de café e pensando sobre a minha pergunta. Eu podia imaginá-lo recostado em sua
cara cadeira de escritório, seus olhos verdes brilhantes com o pensamento, o cheiro quente de
seu café de chicória acrescentando à sua alta concentração de cafeína. Deixei-o pensar. A vida
de Roslyn dependia dele surgir com a resposta certa. Depois de cerca de um minuto, o som de
sucção parou, e eu sabia que Finn chegara a uma conclusão.

? Elliot Slater tem uma mansão no alto das montanhas ao norte da cidade, ? Finn disse.
? Ele a chama de Valhalla

20

, se você pode acreditar nisso. É grande, remoto, isolado. Papai
costumava especular que Valhalla era onde Slater descartava certos corpos para Mab Monroe.
Aposto que ele se livrou de algumas de suas próprias vítimas lá em cima também. O Rio
Aneirin atravessa a área. Muitos desfiladeiros, muitas depressões, muitos lugares para despejar
um corpo onde nunca será encontrado. Se Slater quisesse passar mais uma noite com Roslyn
antes de matá-la, é onde ele a levaria. Eu apostaria minha vida nisso.

? Você não está apostando sua vida, ? Respondi. ? Só a de Roslyn.

? Eu sei disso, Gin. ? A voz de Finn estava tão escura e sombria quanto a minha. ?

Acredite em mim, eu sei.

Não falamos por um momento.

? Tudo o que você precisa saber sobre Valhalla está naquele arquivo que eu compilei

sobre Slater. Mapas, estradas, plantas da mansão e anexos, ? Finn disse. ? Você o tem com
você?

Olhei para os papeis que eu tinha espalhado em cima do balcão. ? Estou examinando
agora mesmo.

20 Do nórdico antigo Valhöll "Salão dos Mortos".

? Onde você quer que eu te encontre? Porque eu vou com você, e isso não está em

discussão. ? Não havia nenhuma hesitação ou flexibilidade na voz de Finn. Só a determinação
de terminar isto e salvar Roslyn. Não importa o que.

Olhei para o relógio na parede. Se aproximando de seis e meia agora. Roslyn tinha ido há
uma hora. No momento em que eu chegasse até Valhalla, perto de outra hora teria passado. Se
esperasse Finn aqui no Pork Pit, seria mais próximo de noventa minutos. Eu não sabia quanto
tempo Slater iria manter Roslyn viva, mas a cada minuto, cada segundo que eu esperasse, era
outro que a vamp estaria em pura agonia - e outro mais perto de sua eventual morte.

? Tudo bem, mas estamos ficando sem tempo. Estou saindo agora mesmo para dirigir

até lá em cima. ? Olhei para os mapas da área. ? Parece que há uma espécie de posto de
gasolina, na parte inferior da montanha onde a mansão fica. Pegue seu equipamento e me
encontre lá assim que puder.

? É para já, ? Finn disse e desligou.

Juntei todos os papeis sobre Elliot Slater e seu refúgio de montanha e enfiei-os de volta na
pasta de papel pardo de Finn. Enquanto estava conversando com Finn, Sophia Deveraux tinha
deslizado na parte de trás do restaurante. A anã saiu pelas portas de vaivém carregando uma
bolsa de lona preta anônima. Ela entregou-me sem uma palavra.

? Obrigado, Sophia.

Peguei a bolsa dela, ouvindo o reconfortante clink-clink-clink de armas chocalhando lá
dentro. A bolsa continha praticamente tudo o que eu precisava para fazer um trabalho rápido,
sujo - facas silverstone, dinheiro, roupas escuras, identidades falsas, cartões de crédito, latas de
pomada de cura de Jo-Jo. Havia apenas mais uma coisa que eu precisava parar e conseguir no
meu caminho para a mansão de Elliot Slater. Abri o zíper da bolsa e coloquei a pasta de
informações em cima dos meus outros suprimentos. Então levantei a bolsa no ombro e me
dirigi para as portas de vaivém que levavam para o beco atrás do restaurante.

Sophia moveu-se para um lado para me deixar passar. A anã estendeu e colocou a mão
pálida no meu braço. Por um momento, achei que ela pretendia me impedir de ir no que
basicamente equivalia a uma missão suicida. Se alguém poderia fazê-lo, a anã podia. Eu não era
estúpida o suficiente para pensar que podia ganhar Sophia em qualquer coisa semelhante a

uma luta justa. Ela tinha visto todos os meus truques antes, e era resistente como o inferno. E
agora eu sabia que ela tinha magia elementar de Ar também - magia poderosa que ela poderia
usar para dissolver-me em nada.

A anã me encarou por alguns segundos. Seus olhos eram negros e planos, como de
costume, mas eu peguei o flash de alguma emoção nadando nas profundezas escuras. Poderia
ter sido aprovação ou até mesmo orgulho, mas se fora rápido demais para que eu pudesse
defini-la.

? Sorte, ? Sophia raspou em sua voz quebrada. Ela deixou cair o braço e fez um gesto

para eu passar pelas portas de vaivém. A anã não ia me impedir.

Assenti. ? Obrigado, Sophia. Hoje à noite, eu acho que eu realmente vou precisar.

24

Vinte minutos depois, meu Mercedes Benz derrapou até parar na frente da mansão de
Owen Grayson. Desci do carro, subi correndo até a porta da frente, e bati a aldrava de runa de
martelo tão duro quanto podia contra a madeira grossa. Cerca de trinta segundos se passaram
antes que eu ouvisse o tumulto de passos dentro. Um momento depois, Eva Grayson abriu a
porta. Quando viu que era eu, ela balançou a porta para trás ainda mais.

? Gin? ? Eva perguntou. ? O que você está fazendo aqui? Você e Owen têm outro

encontro ou alguma coisa?

Não respondi, em vez disso empurrando meu caminho por ela para dentro da mansão.

? Gin? Gin, o que você está fazendo? ? Eva chamou atrás de mim.

Eu a ignorei e caminhei pela casa com todos os seus móveis confortáveis em suas cores
discretas e as esculturas elaboradas de ferro de pé em vários cantos e recantos. Minhas botas
estalavam um padrão alto, enquanto chinelos macios corriam no chão de madeira atrás de
mim, enquanto Eva se apressava para me alcançar.

? Gin, o que está errado? ? ela perguntou.

Não respondi. Corri passando a sala de estar no térreo onde Eva e Violet estiveram
assistindo um filme ontem à noite. Tinha sido apenas ontem à noite? Parecia uma vida atrás.

Para minha surpresa, Violet Fox enfiou a cabeça para fora da sala de estar, segurando um
balde de pipoca nas mãos. Ela e Eva deviam estar tendo outra noite de garotas em casa. Os
olhos escuros de Violet se arregalaram por trás de seus óculos quando ela me viu, e ela
começou a me seguir pelo corredor, assim como Eva estava.

Depois de cerca de um minuto de caminhada rápida, cheguei à porta que marcava a
entrada para o escritório de Owen Grayson. Sacudi a maçaneta. Trancada. Eu me virei de frente
para Eva.

? Você tem uma chave para isto? ? Eu lati.

Eva se sobressaltou com meu tom áspero. ? Yeah, em algum lugar no meu quarto…

Sem tempo para isso. Alcancei minha magia de Gelo, e a familiar luz prateada piscou na
cicatriz de runa de aranha na minha palma. Eva soltou um pequeno e surpreendido suspiro
com a minha exibição de poder elementar. Violet só ficou atrás dela, me observando.

Poucos segundos depois, deixei ir a minha magia e passei a trabalhar com os dois palitos
de Gelo que eu tinha criado. Levei menos de um minuto para abrir a porta do escritório.
Acendi uma luz e caminhei até as linhas de armas silverstone penduradas na parede. Eva e
Violet me seguiram para dentro.

? Owen não está aqui, ? Eva disse com uma voz desesperada. ? Não sei o que você quer

ou o que está fazendo, Gin, mas se você apenas esperar por ele, ele vai voltar a qualquer
momento.

? Desculpe, ? Respondi, examinando as armas pela que eu precisava. ? Sem tempo

para esperar.

Ali. Aquelas serviriam muito bem. Arranquei o conjunto combinando de espadas longas
que eu tinha notado ontem à noite de seus lugares na parede. Ergui as espadas silverstone em
minhas mãos, verificando seu peso e equilíbrio. Perfeito. Absolutamente perfeito. Owen
Grayson verdadeiramente era um mestre artesão. E eu ia colocar suas armas em bom uso esta
noite.

Uma bainha de couro preto com dois encaixes pendia ao lado das espadas, e eu a agarrei
também. Eu me virei e estava indo em direção a porta do escritório quando Eva pisou na minha
frente.

? Oh não, ? ela disse. ? Owen é absolutamente insano sobre suas armas. Ele nunca

deixa ninguém levá-los para fora do escritório, nem mesmo eu.

Tentei ir ao seu redor, mas Eva se esquivou para a minha frente novamente. Ela era
persistente, se nada mais. Assim como seu irmão mais velho era.

? Eu não tenho tempo para discutir com você, Eva, ? Retruquei. ? Saia do meu

caminho. Agora.

Seus olhos azuis se estreitaram com o meu tom afiado. ? Ou o quê? Você vai me
apunhalar com uma dessas espadas? Acho que não.

? Não, ? eu disse. ? Mas vou empurrar você para fora do caminho. Que tal isso?

O rosto de Eva empalideceu com a minha ameaça, mas ela se manteve firme. Corajosa,
mas estúpida. Me fez lembrar de Bria. Eu não queria machucar Eva, mas iria se significasse que
eu ia chegar a Roslyn Phillips a tempo de salvar a vampira.

Violet Fox deu um passo ao lado de sua amiga e me fitou com seus olhos escuros.

? Você está indo atrás de alguém, ? Violet disse em um tom calmo.

Soltei um suspiro irritado. ? Sim.

Ela assentiu. ? Tudo bem então. Isso é tudo que eu preciso saber. ? Violet pôs a mão no
braço de Eva e chamou a amiga para um lado. ? Deixe-a ir, Eva. Apenas deixe-a ir.

? Mas Owen - as armas... ? Eva balbuciou.

? Não acho que ele vai se importar já que Gin é quem as está levando. Mesmo que ele

fizer, bem, eu duvido que ele vai por muito tempo. Não é verdade, Gin? ? Violet me deu um
sorriso torto.

Encontrei-me sorrindo de volta. ? É verdade, Violet. Obrigado.

Eva olhou para sua melhor amiga, depois para mim. Violet lentamente puxou a outra
garota para um lado. Eva tinha uma expressão decididamente atordoada em seu rosto adorável,

mas eu sabia que Violet iria preenchê-la sobre o que ela precisava saber. Assenti para Violet e
passei por elas, saí do escritório, e voltei a descer o longo corredor. As garotas me seguiram,
mas nenhuma delas disse nada, e Eva não tentou me parar de novo.

Cheguei à porta da frente, que ainda estava aberta. Lá fora, meu carro acenou, um farol
de prata me dizendo para seguir com as coisas. Mas eu me vi fazendo uma pausa, virando, e
encarando Eva. ? Se eu não voltar, diga ao seu irmão, diga a Owen...

Lutei para encontrar as palavras certas. Jorrar sentimento piegas sob comando nunca
tinha sido uma das minhas habilidades. Além disso, eu não tinha certeza do que sentia por
Owen Grayson, além de um desejo lascivo de sentir seu corpo nu pressionado contra o meu.

? Diga a ele o quê? ? Eva perguntou.

Um sorriso sombrio apertou meu rosto. ? Diga a Owen que ele é um inferno de um
beijador.

Com essas palavras, eu saí e fechei a porta atrás de mim.

Trinta minutos depois, desliguei meu Benz e acendi uma pequena lanterna que eu
guardava no porta-luvas. Usando as informações no arquivo de Finn, eu tinha dirigido até
dentro da parte mais robusta das Montanhas Apalaches que atravessavam Ashland, subido para
o norte, bem acima dos limites e propriedades distintos de Northtown. Tecnicamente, eu ainda
estava na cidade, mas havia mais montanhas aqui em cima do que pessoas.

Eu estacionara o carro a um lado de um pequeno posto de gasolina que ficava ao pé deste
cume particular. Meu Benz se escondeu entre uma caminhonete enferrujada que poderia ter
tido tinta verde em um tempo e uma Dodge van branca escorada em blocos de cimento, seus
pneus há muito apodrecidos para aros nus. Era apenas sete e trinta, mas o posto já havia
fechado para a noite, provavelmente devido ao frio e aos pedaços duros de neve que
continuavam a cair ao redor no vento da noite. O ponto velho, de tábuas me lembrou da loja de
Warren T. Fox, Country Daze, que não era muito longe daqui.

Joguei minha lanterna sobre os mapas que Finn tinha compilado por mim. Finnegan
Lane podia ser um mulherengo vestindo terno de grife, viciado em cafeína do mais alto grau,
mas quando cavava em alguém, conseguia cada pedaço de sujeira que havia neles. É por isso
que a pasta de informações sobre Elliot Slater continha não só duas brilhantes páginas de
revista de seu retiro na montanha, mas mapas topográficos mais úteis também, juntamente
com as plantas para Valhalla em si.

Sentei-me no carro, sentindo o frio rastejar através das portas e janelas, e estudei os
mapas, procurando a melhor maneira de deslizar para a mansão. Primeiro, porém, eu teria que
subir a montanha. Apenas uma estrada se curvava pela encosta acidentada, e quaisquer
guardas que Slater tivesse postado seriam capazes de ver os faróis de qualquer carro a meia
milha da mansão - algo que eu não podia me dar ao luxo de acontecer. Como tantos de meus
outros trabalhos ao longo dos anos, o elemento surpresa era a chave para o meu sucesso, hoje
mais ainda do que nunca, já que o gigante estava mantendo Roslyn Phillips refém e estava
fazendo ou já havia feito quem sabia o que a ela.

Dependendo do tipo de forma em que Roslyn estivesse, eu poderia ter de voltar e dirigir o
carro para cima para chegar a ela, mas piscar meus faróis não importaria então, já que eu teria
matado todos na mansão nessa altura.

Eu tinha acabado de decidir seguir um leito de riacho seco até a mansão, quando os faróis
de um outro carro apareceram na frente do posto de gasolina. O carro diminuiu a velocidade, e
vi Finn atrás do volante do seu Aston Martin. Liguei e desliguei meus faróis, assim ele saberia
que eu já estava aqui. Finn estacionou seu carro esporte prateado do outro lado da caminhonete
enferrujada. Um minuto depois, ele abriu a porta do lado do passageiro do meu Benz e deslizou
para dentro. Ele também carregava uma bolsa de lona preta de suprimentos.

? Seu timing é impecável, ? eu disse. ? Eu só estive aqui um par de minutos.

Finn sorriu largamente. ? Não é sempre?

Seus olhos verdes sacudiram para os mapas e lanterna em minhas mãos, e o sorriso caiu
de seu rosto bonito. ? Você encontrou uma maneira de entrar lá?

? Encontrei um modo de subir a montanha. Vamos nos preocupar com entrar depois

que chegarmos na mansão.

Mostrei a Finn o leito do riacho que estaríamos subindo. Ele pegou o mapa de mim e
estudou o terreno. Mas depois de um minuto, ele colocou o mapa para baixo e olhou para a
montanha à nossa frente. Seus dedos bateram um padrão de staccato em sua coxa.

? O que você está pensando? ? Perguntei.

Finn suspirou, e sua mão se acalmou. ? Que eu odeio que chegou a isso. Isso é tudo
culpa minha. Eu não esperava que as coisas ficassem tão complicadas. Não com Roslyn ou
Elliot Slater. Se eu soubesse apenas o quão mal o gigante estava obcecado por ela, quão confusa
toda esta situação ia ficar, eu nunca teria dito a Xavier que iríamos ajudá-los. Eu nunca
arriscaria você assim, Gin.

? Eu sei, ? Eu disse em uma voz suave.

Nós não nos falamos por alguns segundos.

? Não temos que fazer isto, ? Finn finalmente disse. ? Você não tem que fazer isso.

Roslyn deixou Jo-Jo de livre e espontânea vontade, mesmo depois que você disse a ela que não,
mesmo depois que você disse a ela que iria cuidar de Slater. O melhor cenário possível é que
Slater apenas bateu nela. Mas nós dois sabemos que provavelmente Roslyn está morta agora,
que podemos estar nos arriscando por absolutamente nada.

Tudo o que Finn disse era verdade, e ele estava apenas dando voz aos mesmos
pensamentos perturbadores que eu tinha tido enquanto dirigia até aqui. Mas havia mais uma
coisa que nós dois tínhamos que pensar a respeito antes de tomarmos nossa decisão.

? E o que Fletcher faria se estivesse aqui? ? Perguntei. ? O que o velho diria?

Finn encarou a montanha mais alguns segundos, antes de virar de frente para mim. ?
Ele diria que nós fizemos uma promessa para Roslyn, e que você nunca pode voltar atrás em
sua palavra. ? Um sorriso apertou o rosto de Finn. ? E ele iria resmungar que estava na
maldita hora que alguém desse a Elliot Slater exatamente o que ele merecia.

? Exatamente, ? Respondi. ? Eu dei a Xavier a minha palavra. Mais importante, eu a

dei a Roslyn também. Mesmo que ela possa não estar viva para apreciá-la.

? Eu sei. ? Finn estendeu o braço e apertou minha mão. ? Mas eu vou estar com você,

a cada passo do caminho. Eu te amo, Gin.

? Eu te amo também. ? Apertei de volta. ? Agora vamos matar o bastardo.

Subi para o banco traseiro do meu Benz, tirei as roupas que eu estava usando no Pork Pit,
e puxei um novo conjunto para fora da bolsa de lona que Sophia Deveraux tinha me entregue.
Calças cargo pretas, grossas, uma blusa preta de gola alta, de mangas compridas, um colete
preto apertado com numerosos bolsos, botas, meias. Juntei meu cabelo castanho escuro em um
rabo de cavalo, depois puxei um gorro de vigia negro sobre minha cabeça tão baixo quanto
pude e ainda tendo um claro campo de visão. No banco da frente, Finn vestia um conjunto
semelhante de roupas pretas.

Uma vez que eu estava vestida adequadamente para as atividades da noite, peguei uma
latinha de graxa preta da bolsa e manchei todo o meu rosto. Não faria muito bem se vestir de
preto da cabeça aos pés e ter o meu rosto pálido brilhando como um farol na noite. Quando
terminei, passei a lata para Finn. Ele enrugou o nariz, mas mergulhou os dedos na graxa e
escureceu seu próprio rosto.

Saí do carro e empurrei a bolsa de lona no ombro com seus conteúdos restantes,
incluindo os mapas de Finn, minha lanterna, e as duas longas espadas de Owen Grayson.
Também deslizei um par de óculos de visão noturna em cima da minha cabeça. Um momento
depois, Finn fez o mesmo, trazendo sua própria bolsa e óculos com ele. Nossas pesadas botas
trituravam o cascalho do estacionamento do posto de gasolina de estacionamento. Sob meus
pés, as pedras afiadas sussurravam do rolar de pneus sobre elas, os chug-chug-chugs das
bombas de combustível, o badalar do sino sobre a porta do posto. Sons normais. Nada para se
preocupar - até agora.

Finn e eu deixamos o estacionamento para trás e deslizamos para a floresta do outro lado
do posto. Não demorou muito tempo para encontrar o ressequido leito do riacho, e descemos
para o barranco raso e começamos a trabalhar nosso caminho para cima pelo lado da
montanha. Subindo pelo leito do riacho, tudo com o que tínhamos que nos preocupar em pisar
eram pedras soltas, e a falta de árvores e galhos em nosso caminho deixou nós dois nos

movermos rápida e silenciosamente ao mesmo tempo. Nós não falamos enquanto andávamos,
poupando o fôlego para o terreno.

Nós só estivemos caminhando cerca de vinte minutos, quando Finn colocou o pé em algo
que quebrou com um estalo alto. Nós dois congelamos. O som reverberou através da área
imediata antes do vento açoitá-lo montanha abaixo. Finn e eu nos jogamos no chão, esperando,
mas não apareceu ninguém para investigar o barulho.

Quando eu tinha certeza que não tínhamos atraído qualquer atenção indesejada, brilhei
minha lanterna no chão debaixo da bota de Finn. Para minha surpresa, Finn pisara no que
parecia ser um longo, quebradiço fêmur, quebrando-o ao meio. Definitivamente um osso
humano, provavelmente pertencente a um gigante, pelo comprimento dele. Parecia que
Fletcher Lane estivera certo sobre a montanha sendo uma lixeira para os corpos dos inimigos
de Elliot Slater e Mab Monroe.

Finn levantou as sobrancelhas. Ele conhecia um osso quando o via também. Dei de
ombros. Nada que pudéssemos fazer para quem quer que tivesse sido ligado a ele, então nós
continuamos.

O ar ficava mais frio, mais afiado, quanto mais alto subíamos, queimando meus pulmões
como fogo líquido. Mantive a boca fechada e apenas inspirei pelo nariz, tentando minimizar a
sensação. O cheiro metálico de neve soprava na brisa da noite, e nuvens pesadas se agarravam
baixo no chão, parcialmente obscurecendo a lua e as estrelas, antes de serem empurradas pelo
vento. Eu queria toda a cobertura que pudesse ter, e por uma vez, sorte, aquela vadia cruel e
caprichosa, parecia estar sorrindo para mim. Eu sabia que não iria durar.

Alguns pássaros farfalhavam nos ramos grossos dos bordos, olmos, e pinheiros sobre
nossas cabeças, mas nossos passos e movimentos eram pequenos e calmos o suficiente para eles
manterem uma vigilância silenciosa sobre nós, em vez de subirem esvoaçando para a escuridão
e alertarem quem quer que pudesse estar vigando. Além disso, eles estavam a salvo e quentes
para a noite e não queriam abandonar seus poleiros, se não precisassem. Os pássaros sentiam
que não eram nossa presa para a noite e estavam bastante contentes em suas árvores e ninhos
para deixarem Finn e eu passarmos sem comentário ou crítica.

Eu não tinha certeza de quanto tempo estivemos andando antes do leito do riacho desviar
para oeste, longe da mansão. Subi para fora do barranco raso e me arrastei para frente para a
sombra preta fornecida por uma grande árvore de noz. Finn me seguiu.

De acordo com os mapas de Finn, Valhalla estava diretamente a leste outra milha acima
da montanha. Nós ainda estávamos longe o suficiente então tirei minha lanterna e a brilhei
sobre os mapas, me orientando pela última vez. Finn espiou por cima do meu ombro, fazendo o
mesmo. Ele assentiu, e eu desliguei a lanterna e enfiei os mapas de volta na minha bolsa de
lona. Continuamos subindo.

Assumi a liderança mais uma vez, me movendo mais lenta e cautelosamente do que
antes. Elliot Slater estava seguro o suficiente em seu retiro na montanha para não ter quaisquer
medidas de segurança exteriores, como lasers ou cães. Desleixado, desleixado, desleixado dele,
mas eu não ia reclamar, enquanto isso tornava as coisas mais fáceis para Finn e eu. Além disso,
eu nunca tinha gostado de matar cães, mesmo que seu proprietário fosse um bastardo de
sangue frio que precisava ser derrubado.

Ainda assim, a óbvia falta de segurança não queria dizer que Slater não tinha surgido
com alguma outra maneira esperta e mortal para uma armadilha explosiva no perímetro. Eu
teria. Então, mantive um olho em arame de tropeçar, pequenos buracos, e flashes de luz que
me alertariam para o fato de que estávamos nos aproximando de uma armadilha - ou pior,
tínhamos acabado de iniciar algum tipo de runa de proteção defensiva. Eu não tinha nenhum
desejo de levar uma bola de fogo no peito, porque colocara meus pés ou mãos em algum lugar
em que eles não deveriam estar. Finn seguiu meu caminho exatamente para minimizar ainda
mais o risco.

Mas nós não tropeçamos em nada, e vários minutos mais tarde, nós alcançamos a crista
de um cume que dava vista para a mansão.

Como seu nome implicava, Valhalla era uma estrutura maciça, de seis andares que
ocupava uma boa porção desta montanha particular. O edifício foi construído com madeira
grossa e pesada, embutida com granito cinza e rocha de rio. Várias sacadas e pátios envolviam a
estrutura, oferecendo vistas panorâmicas das montanhas e encostas circundantes abaixo. Seria
um deslumbrante local para apreciar a chama de cores do outono conforme as folhas

mudavam. Mas, com a chegada do inverno, as folhas já tinham caído, revelando os fragmentos
ósseos, de dedo das árvores, intercalados com os ramos grossos e verdes dos pinheiros e abetos
que se levantavam como fileiras de dentes irregulares, cheios de musgo verde entre os bordos e
choupos nus.

Havia luz suficiente aqui em cima para eu tirar os óculos de visão noturna e olhar para a
mansão com os meus próprios olhos. Ao meu lado, Finn tirou os óculos também. Luzes ardiam
em diversas janelas no primeiro, segundo e no terceiro andar, e avistei uma sombra alta se
movendo para trás e para frente em uma das janelas. Alguém estava definitivamente em casa
esta noite.

Como se eu não teria imaginado pelos dois gigantes de pé de vigília do lado de fora da
principal entrada do primeiro andar. Eu tinha razão quando pensara que eles seriam capazes de
ver quaisquer faróis de carro subindo a montanha. Várias centenas de metros de estrada eram
visíveis a partir da linha de visão dos gigantes, e a área ao redor deles havia sido limpa de todas
as árvores e arbustos. Eu levaria cerca de quinze segundos para correr da borda da floresta e
alcançar os gigantes junto à porta da frente - tempo de sobra para eles alertarem qualquer
outro que estivesse dentro da casa. Nós não íamos entrar pela porta da frente, então voltei
minha atenção para o segundo andar.

Aquele andar era mais ou menos nivelado com o quintal limpo da casa. Uma piscina de
tamanho olímpico se estendia quase até a floresta lá, provavelmente aquecida, já que não havia
sido coberta para a temporada ainda. Finn e eu nos agachamos atrás de um dos muitos
pinheiros na encosta com vista para a piscina. O aroma picante de seiva fazia cócegas no meu
nariz, mas ignorei a sensação, focando na cena à minha frente, bloqueando tudo o mais além
das coisas que eu precisava ouvir e ver.

Dois gigantes estavam de pé no convés de pedra ao lado da piscina, fumando cigarros e
conversando suavemente. Eles não pareciam estar carregando nenhuma arma óbvia, mas isso
não significava que não havia um par de armas em algum lugar neles. Problemático, mas
ainda realizável.

Finn bateu no meu ombro e apontou para a casa em si. Esquadrinhei além dos dois
gigantes e avistei outro homem sentado em uma cadeira bem do lado de dentro da porta

traseira. Aquele gigante molhou o polegar e virou outra página de qualquer que fosse o livro
ou revista que ele estava lendo.

Franzi o cenho. O homem dentro era preocupante. Podíamos rastejar para a frente e
derrubar os dois primeiros gigantes facilmente o bastante, mas o terceiro homem certamente
iria nos detectar - e provavelmente seria capaz de soar o alarme antes que pudéssemos silenciá-
lo também. Eu preferiria muito mais apunhalar Elliot Slater pelas costas que ter o gigante à
espreita por mim - com Roslyn Phillips já morta.

Finn bateu no meu ombro novamente e apontou o polegar para trás, me dizendo para
segui-lo. Nós nos arrastamos de volta para longe do cume, bem longe da vista e alcance
auditivo dos dois guardas à beira da piscina.

? Por que sempre tem de haver um terceiro homem? ? Resmunguei.

? Porque Elliot Slater não é nenhum bobo, ? Finn respondeu com uma voz suave. ?

Você precisa de uma distração, Gin, algo para afastar pelo menos um ou dois dos homens do
pátio e talvez fazer o guarda de dentro sair também. Não sabemos quantos gigantes mais
podem estar lá dentro, e você precisa derrubar tantos quantos você puder aqui fora.

Finn me encarou, sua boca definida em uma linha determinada.

? Não, Finn, ? Estalei em um sussurro feroz. ? Esqueça isso. Não vou te usar como isca

para poder matar um par de homens de Slater antes de deslizar para dentro da casa. Você sabe
o que Slater vai fazer com você.

? E eu sei o que ele está fazendo com Roslyn neste momento, ? Finn rebateu. ? Cada

segundo que estamos aqui discutindo é outro segundo que ele poderia estar machucando-a.
Encare isso. Esta é a maneira mais fácil de você poder entrar e ver se Roslyn ainda está viva.

Ele estava certo. Droga. Eu odiava quando ele estava certo.

A boca de Finn se curvou em um sorriso. ? Além disso, você está sempre dizendo que eu
preciso ter algum senso batido para dentro de mim. Tenho certeza de que Elliot Slater ficaria
feliz de te fazer um favor.

Eu o encarei. ? Você não tem que fazer isso, Finn. Podemos encontrar outro caminho
para dentro.

? Eu sei, ? respondeu. ? Mas quanto tempo isso vai levar? Cada segundo conta agora.

Além disso, eu nos coloquei nesta bagunça. Deixe-me fazer o que puder para acabar com ela.
Você é a melhor lutadora. Eu sou a melhor distração. Você sabe que é verdade.

Eu não podia discutir com ele. Não quando ele estava certo. Não quando ele estava tão
determinado a me ajudar a ajudar Roslyn. Então eu soltei uma respiração e assenti com a
cabeça. ? Tudo bem. Mas no segundo em que encontrar Roslyn e tirá-la de lá, eu vou atrás de
você. E é malditamente melhor você ainda estar respirando melhor quando eu chegar até você.
Entende?

Os dentes de Finn piscaram na escuridão. ? Eu entendo. Você simplesmente não pode
viver sem mim, Gin. Não há vergonha em admitir isso.

Se não tivesse ficado com medo de atrair atenção indesejada dos guardas abaixo, teria lhe
dado um soco por jorrar essa merda sentimental. Eu me conformei com revirar os olhos.

? Que seja, ? Eu disse. ? Mas se você está tão determinado a se matar, você poderia

muito bem começar.

Finn estalou a mão para cima em uma saudação de zombaria. ? Aye, aye, capitã.

Nós não falamos depois disso. Voltei para a posição no alto do cume para que pudesse ver
os dois guardas do pátio. Finn desapareceu nas sombras à minha direita. Agachei-me ao lado de
uma das árvores e esperei que estivesse fazendo a coisa certa, abandonando Finn, assim eu teria
uma chance de salvar Roslyn. Porque se ela já estivesse morta, então isto tudo era por nada...

O snap-snap de um galho de árvore caído quinze metros a minha direita soou tão alto
quanto um tiro no silêncio da noite escura. Fiquei imóvel, mal ousando respirar, embora
soubesse que tinha que ser Finn, ficando em posição para fazer o que quer que ele fosse fazer.

Abaixo de mim no pátio, um dos guardas esmagou o cigarro. Eu teria achado a ação
normal, se não o tivesse visto acendê-lo apenas alguns segundos atrás. Ele tinha ouvido o estalo
também, mas manteve sua posição. Meus olhos se estreitaram. Por que ele iria apenas ficar ali
parado? Por que não estava trotando até o cume para investigar?

E então…

Silêncio.

Encolhi-me mais perto da árvore que estava escondida atrás, afundando ainda mais nas
sombras, e lentamente virei a cabeça para a direita, mantendo o movimento pequeno e
constante enquanto procurava por Finn. Mas Fletcher Lane também ensinara ao seu filho uma
coisa ou duas sobre ser invisível, e eu não avistei Finn entre as árvores emaranhadas.

Então olhei e escutei e esperei, contando os segundos na minha cabeça. Dez, vinte, trinta...
quarenta e cinco... sessenta... Não ouvi nada até que a marca nonagésimo segundo, quando um
outro pequeno farfalhar flutuou para os meus ouvidos. Folhas mortas raspando juntas no mato.
Finn fingindo que estava tentando ficar quieto quando estava na verdade esperando atrair
atenção. Mas os guardas no pátio não se moveram, ainda não morderam a isca com que Finn
estava os provocando.

Então, fiquei onde estava, quieta e escondida nas sombras. Ninguém nunca era morto por
esperar. Isso era o que Fletcher Lane sempre dizia, quando estava me ensinando a ser paciente
o suficiente para aguardar qualquer que fosse o inimigo ou perigo que eu estivesse
enfrentando. O conselho do velho tinha me mantido viva ao longo dos anos - nenhuma razão
para duvidar dele agora.

Eu, entretanto, espalmei um par de minhas facas silverstone. Sempre melhor estar
armado enquanto você aguardava o inimigo.

Outro minuto se passou antes que eu avistasse um flash de luz prateada através das
densas árvores. Apenas um pequeno lampejo, mas era mais do que suficiente para entregar a
posição de Finn. E agora eu o vi, uma figura sombria facilitando de árvore em árvore,
arrastando-se para a frente.

O lampejo vinha da arma em sua mão. Finn manteve a farsa de se mover com cautela,
sem se apressar para colocar os pés para baixo, embora estivesse propositadamente fazendo
ainda mais ruídos farfalhando e rachando agora.

Olhei de volta para baixo, para o pátio. Os dois guardas gigantes permaneceram em seus
postos no pátio, sem vontade de investigar ou despreocupados com o ruído. Franzi o cenho.
Algo sobre sua postura indiferente me incomodava. Mas desde que eu não poderia colocar o
dedo nisso ou fazer qualquer coisa sobre isso, virei minha atenção de volta para Finn, que

chegava à beira da linha de árvores. Um momento depois, ele se libertou dos ramos
agarrando...

O lamento agudo de uma bala me pegou de surpresa.

E então começou.

25

A bala bateu no tronco de árvore próximo a orelha de Finn. Ele mergulhou para trás da
árvore e retornou fogo, o brilho na arma dando a sua localização exata. Minha cabeça virou
para o pátio. Os dois guardas estavam no mesmo lugar de antes, só que desta vez agarravam
armas em seus punhos musculosos. Armas que estavam apontadas para a linha das árvores.
Armas que eles estavam disparando à vontade. E eu finalmente percebi o que me incomodou
um pouco sobre eles há uns segundos atrás - o fato de que eu não podia ver o terceiro homem
em nenhum lugar.

O guarda largando o cigarro deve ter sido algum tipo de sinal para o homem lá dentro,
que tinha ido sorrateiramente e soado o alarme, enquanto os dois homens no pátio tinham
tirado as armas de algum local escondido em seus corpos e começado a atirar. Quem sabia
quantos mais homens Elliot Slater tinha dentro de sua mansão na montanha? No entanto,
todos os que estavam dentro em segundos estariam subindo a encosta da montanha, cercando
Finn.

E eu não podia fazer nada sobre isso.

Clique-clique-clique.

Os gigantes no pátio ficaram sem balas. Um dos homens parou para recarregar, enquanto
o outro correu pela colina, lutando contra a encosta íngreme para chegar a Finn.

— Se mova, droga, — eu sussurrei com os dentes cerrados. — Mova-se, Finn.

Finn não poderia ter me ouvido, por isso seu próprio senso de auto preservação deve ter
aparecido. Ele recarregou a arma, jogou um pouco de fogo de cobertura, e correu para as
árvores, indo de volta para baixo da montanha. Eu sabia que Finn podia correr rápido. Muito
rápido quando ele queria. Como quando suas calças caíam, e ele era confrontado por um
marido irritado. Talvez ele seria capaz de escapar sem ser capturado. Assim, pelo menos ele
estaria seguro quando eu entrasse à procura de Roslyn.

O gigante que tinha estado no pátio subiu sobre o alto da colina e entrou na zona das
árvores. Olhei para baixo da encosta, mas seu amigo com a arma não estava fazendo nenhum
movimento para segui-lo. Em vez disso, ele se levantou contra a porta do pátio, fora da vista da
posição original de Finn, embora não fora da minha. Inteligente, não enviando todos os seus
homens para a floresta. Exatamente o tipo de coisa que eu esperaria de Slater.

Esperei mais alguns segundos, mas o guarda não fez nenhum movimento para subir pela
encosta tal como o seu companheiro tinha feito. Mas, em vez de deslizar para baixo da encosta
e vir por trás dele, eu espalmei outra faca e fui atrás do gigante que estava correndo atrás de
Finn. Poderia ter sido o plano de Finn atrair os gigantes para que eu pudesse matá-los aqui em
cima, mas eu teria o seguido de qualquer maneira. Porque, apesar do que eu disse a ele antes,
eu não ia deixar Finn lidar com a situação sozinho. Finnegan Lane não ia morrer aqui na
floresta, mesmo que fosse suposto ele ser uma distração sangrenta. Não se eu pudesse evitar.

O gigante não fez nenhum esforço para ser silencioso ou esconder seu rastro, em vez
disso, pisou as folhas pelo caminho com tanta força quanto podia reunir. Ele provavelmente
pensava que quanto mais barulhento corresse atrás de Finn, mais intimidado e assustado Finn
ficaria. Ele nunca considerou a possibilidade de que todo o barulho iria tornar muito mais fácil

para alguém, alguém como eu, rastejar atrás dele e esfaqueá-lo pelas costas. Que era
exatamente o que eu ia fazer quando ele parasse tempo suficiente para recuperar o fôlego.

Eu esperava que Finn apenas continuasse a correr, ao invés de tentar trazer mais gigantes
para a floresta.

À minha frente, o gigante retardou, como se tivesse perdido a trilha de Finn. Não seria
difícil na escuridão. Parei, deslizei por trás de uma árvore e observei-o. Depois de alguns
segundos de estudar o solo com uma pequena lanterna, o gigante tirou um walkie-talkie de um
bolso em seu cinto e apertou um botão vermelho ao lado.

— Ele está indo em sua direção.

— Percebido, — veio a resposta.

Então o gigante veio atrás de Finn para levá-lo na direção que o gigante queria que Finn
fosse - e em linha reta para algum tipo de armadilha…

Crack! Crack! Crack!

Mais à frente, três tiros foram disparados e ecoaram no topo da montanha. O gigante
correu para a frente. Eu escorreguei cerca de 4 metros para a esquerda e seguiu-o
paralelamente através da floresta. Trinta segundos depois, o gigante entrou em uma grande
clareira cercada de rochas.

Crack!

Uma bala bateu no peito do gigante e ele cambaleou para trás.

Crack! Crack!

Duas feridas mais floresceram - uma no ombro, outra no joelho direito.

Não o suficiente para matá-lo, mas o suficiente para machucar. O gigante gritou e caiu
sobre o joelho bom. Eu fiquei onde estava, procurando nas sombras por Finn. Dez segundos
depois, Finn saiu de trás de uma das rochas. Com a arma na mão, ele foi para o gigante.

— Onde está seu chefe? — Ele exigiu. — E onde está Roslyn Phillips?

O gigante cuspiu nele. Finn bateu-lhe com a arma, em seguida, pisou com sua bota no
joelho machucado do homem. O gigante gritou de dor.

— Onde está Elliot Slater? — Finn rosnou novamente.

Um sorriso triste curvou meus lábios. Finnegan Lane nunca teve falta de estilo, se nada
mais…

— Bem aqui, seu filho da puta.

Click.

Finn conhecia o som tão bem quanto eu - um revólver sendo destravado. Ele congelou e
virou-se lentamente.

Elliot Slater saiu das sombras, ladeado por mais dois gigantes. Um grande revólver
prateado brilhava na mão de Slater. O cano longo estava exatamente ao nível da ponte do nariz
de Finn. Finn tinha abaixado a arma para o lado quando chutou o gigante ferido. Não havia
nenhuma maneira em que ele poderia levantá-la a tempo para disparar antes do gigante
disparar sua própria arma e o matar. Finn sabia disso, assim como eu.

— Largue-a, amigo, — Slater retumbou. — Ou eu vou te matar onde você está.

O rosto de Finn apertou-se com raiva, mantendo o seu teatro, e ele lentamente se inclinou
para a frente e colocou a arma no chão coberto de folhas. Slater virou a cabeça, e um dos
outros dois homens correu para pegá-la. O quarto homem estava gemendo no chão, segurando
o joelho quebrado.

Slater avançou, ainda mantendo a sua arma. — Bem, bem, Finnegan Lane. Não esperava
que você aparecesse aqui esta noite.

Finn encolheu os ombros. — Eu amo surpresas, não é?

Slater olhou para ele. — Eu não vou lhe perguntar o que diabos você está fazendo na
minha montanha no meio da noite. Ainda não. Vamos guardar isso para quando voltarmos
para a mansão. Você sabe, eu já tinha esgotado o meu entretenimento anterior para a noite.
Mas você, você pode muito bem servir como uma substituição.

Substituição? Meu estômago se apertou. O gigante já tinha matado Roslyn Phillips?

Já era demasiado tarde? Finn tinha se colocado em perigo para nada? Eu não sabia, e não
tive tempo para decifrar isso. Porque Elliot Slater avançou e bateu com o punho no rosto de
Finn. Meu irmão adotivo caiu no chão e ficou parado.

Elliot Slater ficou sobre o corpo de Finn alguns segundos para se certificar de que ele não
estava fingindo seu estado inconsciente. Quando ficou convencido de que Finn estava
inconsciente, Slater esticou um dedo para um de seus gigantes.

— Bob, você carrega esse filho da puta de volta para a mansão e prende-o na sala
principal. Phil, você fica aqui e ajuda Henry, — ele disse. — Vocês não viram ninguém com
Lane? Nenhum tipo de backup?

— Não, senhor, — um chamado Phil respondeu. — Vimos para ter certeza, mas parece
que ele está sozinho.

Eles não tinham visto bem o suficiente, porque não tinham me visto me escondendo pela
floresta. Desleixado, desleixado da parte deles. Então, novamente, a maioria das pessoas só
procurava pelo perigo na frente, não atrás.

O primeiro gigante, Bob, aproximou-se de Finn, pegou-o pelo cabelo, e pendurou Finn
por cima do ombro como se fosse um pano de prato úmido. Então Bob partiu através do outro

lado da clareira. Elliot Slater enfiou o revólver na cintura de suas calças e seguiu-o. Phil, o
segundo gigante sem ferimentos, baixou-se ao lado de Henry, o homem que Finn tinha
disparado três vezes.

Parte de mim queria jogar a precaução ao vento e seguir Finn. Abater Slater como um
lobo abateria um cervo e resgatar meu irmão adotivo. Mas a parte de mim que era a Aranha, a
parte fria e dura que seria sempre a Aranha, sabia que era um plano arriscado na melhor das
hipóteses. Slater e seu homem certamente fariam barulho, e eu não sabia quantos mais
gigantes estavam lá esperando por eles voltarem. Além disso, Finn sacrificou-se por mim, para
que eu pudesse ver se Roslyn ainda estava viva. Eu não ia ignorar seu presente.

Mas isso não significava que eu não podia tomar conta de Phil e Henry, na minha frente
agora.

Melhor pegá-los um de cada vez, em vez de me encontrar numa situação em que poderia
ser facilmente superada. Por mais que me fizesse querer vomitar, eu tinha que deixar Finn nas
mãos de Slater por alguns minutos.

Analisei os bosques que me rodeavam, procurando por qualquer sinal ou som que
indicava que Slater tinha enviado mais homens para a floresta. Mas não ouvi nada exceto os
gemidos baixos de Henry - o gigante em que Finn tinha disparado - enquanto seu amigo Phil o
levantava e colocava o braço sob o ombro do homem ferido, retirando o peso sobre o joelho
machucado.

Phil precisou de alguns segundos para virar Henry e coloca-lo na direção em que a
emboscada tinha vindo. O que me deu muito tempo para obter um melhor controle sobre
minhas facas de Silverstone e deslizar na frente deles. Esperei por trás de uma árvore na
extremidade da clareira. Mais uma vez, eu olhei e escutei, mas Slater parecia estar satisfeito
com a sua captura de Finn. Mais nenhum gigante surgiu da floresta, e todos os sons de Slater e
Bob, seu outro homem, tinham desaparecido, engolidos pelas árvores frias.

Era altura de eu entrar no jogo, mesmo que já pudesse ser tarde demais para salvar
Roslyn.

— Vamos, amigo — Phil disse ao homem ferido. — Não é tão ruim. Eu vou levar você de
volta para a cidade, e nós vamos arrumar um curandeiro elemental de Ar para te tratar. Mais
um par de horas e você vai estar bom como novo.

Henry só gemia. Nenhuma surpresa. Um joelho estourado machucava como o inferno,
especialmente quando você tinha que andar sobre ele.

— Vamos, agora, — disse Phil novamente. — Baixe o volume. Você sabe como o Sr. Slater
odeia chorões.

Na insistência de Phil, Henry fez alguma tentativa de baixar o tom da sua choraminguice.
Muito ruim.

Ele deveria ter gemido quando teve a chance.

O progresso dos gigantes foi lento, mas logo seus passos pesados se aproximaram do meu
esconderijo. Minhas mãos apertaram o cabo das minhas facas, e me preparei para o que estava
por vir. Afastei todos os pensamentos de Roslyn, Finn e Elliot Slater da minha mente. Tudo o
que importava era o aqui e agora, e cuidar dos negócios.

Phil saiu da clareira, arrastando seu amigo ao lado dele e passou por mim. Eu deixei os
gigantes avançarem um pouco diante de mim antes de os começar a seguir. Phil estava muito
ocupado murmurando palavras de encorajamento para Henry para ouvir o sussurro das
minhas pegadas no chão da floresta. Fechei a distância entre nós. Phil deve ter me visto mover
com o canto do olho, porque sua cabeça começou a girar em minha direção.

E foi aí que eu ataquei.

Minha primeira faca perfurou nas costas do gigante, raspando suas costelas grossas, antes
de eu empurrar a lâmina para cima e em seu coração. Sangue pegajoso e negro revestiu minha

mão como se eu tivesse acabado de apertar um frasco de ketchup com todas as minhas forças.
Phil recuou e arqueou para trás pela dor súbita e violenta, abrindo a boca para berrar a sua
angústia. Mas antes que ele pudesse fazer isso, eu dirigi meu pé na parte de trás de seu joelho
tão duro quanto eu consegui. O gigante perdeu o controle sobre seu amigo, que tropeçou e
bateu de cabeça em um tronco de árvore. O já lesionado Henry soltou outro gemido de dor e
miséria.

Mas eu concentrei minha atenção em Phil, que tinha batido de cabeça em uma pilha de
folhas.

Ele se debatia, tentando ficar de pé, mesmo quando seu corpo começava a desligar por
causa da lesão enorme que tinha acabado de receber. Por esta altura, Phil estava gritando, mas
as folhas sob seu rosto abafavam o som agudo. Como eu queria mantê-lo assim, montei o
gigante caído e coloquei meus joelhos em suas costas, prendendo-o no chão frio e coberto de
musgo. Eu cavei uma mão em seu cabelo, puxando sua cabeça para trás. Phil engoliu uma
grata respiração, se preparando para gritar de novo.

Muito pouco, muito tarde.

Com a outra mão, eu usei minha faca silverstone para cortar sua garganta exposta,
abrindo seu pescoço grosso. Phil gemeu e borbulhou. Com uma mão, ele batia de volta,
tentando livrar-se de mim. Sua outra mão foi para sua garganta, tentando conter a saída
constante de sangue.

Parei um segundo, ouvindo. Mas os gritos de Phil não pareciam ter sido fortes o suficiente
para atrair atenção imediata.

Então eu desci das costas do gigante moribundo e passei para Henry, seu companheiro
caído, que não estava em muito melhor forma. O gigante se contorcia, suavemente gemendo
de dor. Chutei-o de modo que ele estava deitado de costas, caí de joelhos, e cortei sua garganta,
colocando-o fora de sua miséria. Ele nem sequer tentou lutar de volta.

Em menos de um minuto, tudo estava acabado. Gin 2, gigantes 0. Do jeito que eu gostava.

Mas o meu trabalho não estava feito ainda. Enquanto os gigantes sangravam, eu deslizei
para as sombras, observando e esperando. Mas não soaram passos e eu não ouvi qualquer som
através do mato. Eu tinha tomado conta deles calmamente o suficiente para não atrair a
atenção.

Bom.

Tirei minha faca de Phil e certifiquei-me que os dois gigantes estavam mortos antes de
escorregar para a floresta do jeito que eu tinha vindo. A parte de assistir e escutar tinha
acabado. Era hora de começar com as coisas e cuidar de Elliot Slater de uma vez por todas.

26

Voltei pela floresta ao meu local anterior e peguei minha mochila. Deslizei a bainha que
eu tinha trazido de casa de Owen Grayson sobre meus ombros. As tiras de couro preto
cruzavam no meu peito, e eu deslizei as duas espadas longas em suas bainhas ungidas. Uma
vez que isso estava feito, eu peguei algumas provisões mais pequenas e deixei o saco onde
estava.

Dirigi-me à esquerda, mantendo-me dentro da linha das árvores e circulando ao lado
oposto e mais longe do pátio até que eu enfrentei a parte de trás da mansão. Apenas um guarda
gigante permanecia do lado de fora, perto da piscina, já que os outros se tinham afastado para
cuidar de Finn. Gostando ou não, o plano de Finn tinha resultado.

Como parecia que o tiroteio tinha terminado, o guarda tinha mais uma vez tinha
acendido um cigarro. Ele estava virado de costas para mim, em direção a floresta onde Finn
tinha estado, e eu assisti enquanto ele guardou a arma na zona baixa das costas. O outro
homem que antes estava sentado dentro das portas de vidro estava longe de ser encontrado. Ele
estava, provavelmente, em algum lugar mais dentro da mansão nas montanhas, ajudando

Elliot Slater a segurar Finn para a tortura que estava à frente. Eu não teria uma chance melhor
do que esta.

Então eu peguei-a.

Eu fiz meu caminho ladeira abaixo, pulando de uma árvore para outra. A paisagem não
tinha sido tão bem apagada na parte de trás da casa como tinha sido na frente, o que me deu
muita cobertura para trabalhar. Movi-me mais rápido do que antes, mas tomei o cuidado de
fazer o mínimo de barulho possível. Eu ainda precisava de cada pedaço de elemento surpresa
que conseguisse reunir. Porque agora a vida de Finn dependia disso, juntamente com a de
Roslyn.

Dois minutos mais tarde, eu tinha conseguido chegar a borda do pátio de pedra, que
estava a cerca de um metro e meio do chão. Ergui-me um pouco, deixando a minha cabeça
subir acima da superfície da borda. Por toda a minha volta, as pedras sussurravam sobre vento
e água. Elas também reverberavam ligeiramente com o estalo dos tiros que tinham acabado de
ser disparados. Mas essas notas de alarme já tinham começado a desaparecer. Esse pedaço de
violência tinha sido muito curto, e a maioria dele muito longe para que a ação penetrasse de
forma permanente no pátio.

Quanto ao que eu estava prestes a fazer ao homem na minha frente, bem, esse tipo de
violência provavelmente permaneceria na pedra por algum tempo no futuro.

O guarda apagou um cigarro com o pé e enfiou a mão no paletó para outro. Eu não teria
uma oportunidade melhor – por isso peguei-a.

Me levantei, rolei e acabei agachada por trás de algum mobiliário em ferro forjado para
jardim. O guarda tirou um isqueiro do bolso e clicou nele um par de vezes, tentando obter mais
do que meras faíscas do plástico barato. Levantei-me e na ponta dos pés segui para a frente,
uma faca silverstone em cada mão.

O isqueiro acendeu, iluminando o perfil do guarda. Ele se virou para mim, com uma mão
pressionando o botão para manter a chama.

— Finalmente, — ele murmurou.

Última palavra que ele disse. O gigante nunca sequer me viu sair de trás dos móveis e
rastejar para a frente de modo que eu estava diretamente na frente dele. Ele acendeu o cigarro
e levantou a cabeça, soltando fumaça de suas narinas como se fosse um dragão mítico. Minha
primeira faca rasgou seu estômago, derramando suas entranhas por todo o pátio de pedra. A
segunda faca penetrou sua traqueia, cortando qualquer som que ele pudesse fazer. O pobre
rapaz nunca soube o que o atingiu. Ele se engasgou com seu próprio sangue, mesmo quando
seu corpo se contraía com o choque dos dois viciosos ferimentos fatais. Ele caiu de joelhos, a
meio caminho morto, mas eu segurei-o e cortei sua garganta, só para ter certeza.

Como eu não tinha vontade de arrastar seu corpo para fora do pátio, derrubei o gigante
morto na piscina. Ele afundou, sangue ainda jorrando de suas feridas, transformando a água
cristalina em uma cor marrom de iodo feia. Sob minhas botas, a pedra do pátio tomou uma
nota mais dura do sangue respingado do gigante. Uma sinfonia não teria soado melhor para
mim no momento.

Gin 3, gigantes 0.

Esperei alguns segundos, mas ninguém parecia ter me ouvido eliminar minha mais
recente vítima. Quando eu tinha certeza de que a matança tinha sido limpa e tranquila, dirigi-
me para a porta de vidro do pátio, girei a maçaneta e entrei.

O interior da mansão parecia exatamente como eu esperava que parecesse - exuberante,
elegante, caro.

Carpete grosso, tapetes e apenas o suficiente de madeira natural e pedra para fazer você
pensar que estava em algum oásis rústico em vez de uma estrutura cuidadosamente elaborada.
Eu poderia dizer que Slater tinha construído a estrutura especialmente para ele, porque todas
as portas tinham pelo menos uma altura de 3,60 metros e um metro e meio de largura.
Gigantes não gostavam de se sentir sufocados.

Eu permaneci dentro da porta do pátio um momento, pensando sobre as plantas do lugar
que Finn tinha conseguido para mim e me orientando. Na floresta, Elliot Slater tinha dito ao
seu homem para prender Finn na sala de estar lá embaixo. Eu atualmente estava na parte de
trás da casa, o que significava que a sala estava várias centenas de metros na minha frente. Eu
sabia que Slater tinha pelo menos mais um homem com ele agora - o que tinha carregado Finn
para fora da floresta - mas eu não sabia quantos outros gigantes podiam estar à espreita. O
melhor era fazer uma varredura de perímetro e matar o maior número deles quanto eu
conseguisse antes de pegar o verdadeiro alvo.

Além disso, uma pequena parte de mim esperava que Roslyn Phillips ainda pudesse estar
viva. Eu devia à vampira tirá-la daqui, se ela ainda estivesse respirando. Jo-Jo Deveraux podia
corrigir tudo menos a morte, não importa que coisas horríveis Slater poderia ter feito para
Roslyn. Eu tinha prometido a vampira que ia protegê-la do gigante. Que ele nunca ia machucá-
la novamente. Até agora, eu não tinha mantido a minha palavra, mas se Roslyn ainda estivesse
respirando, então eu não sairia daqui sem ela.

Um longo corredor se estendia ao norte e ao sul na minha frente. Eu segui na ponta dos
pés até o lado norte, mantendo-me nas sombras e parando a cada poucos metros para olhar e
escutar.

Silêncio.

Não ouvi qualquer movimento. Nenhum farfalhar de roupas, nenhuma respiração difícil,
nenhum raspar de sapatos nos tapetes ou carpetes. Apenas silêncio.

Eu continuei andando, chegando a um conjunto de escadas que levavam quem as subisse
até o terceiro andar. Novamente, visualizei as plantas que estavam na pasta de Finn. Se eu me
lembrava corretamente, o interior da mansão era oca. A sala de estar lá embaixo no segundo
andar era o ponto central da estrutura, com os tetos dos outros andares cortados acima dela.
Varandas em todos os andares levavam a outros quartos, ainda com vista para a sala abaixo,
que contava com janelas de um só lado e que iam do chão ao teto. Como eu queria ver a
situação atual de Elliot Slater antes de ir atrás dele, fui até a escada para que pudesse ter uma

visão panorâmica das coisas. Além disso, o quarto principal estava localizado no terceiro andar.
Que era onde Slater tinha provavelmente levado Roslyn primeiro quando a trouxe aqui.

Mais uma vez, não ouvi ninguém e não vi nada exceto móveis, até que cheguei à porta
que levava para o quarto principal. Para minha surpresa, a porta estava aberta e suaves
murmúrios deslizavam para o corredor onde eu estava. Eu inclinei minha cabeça para um lado.
Uma voz de homem estava fazendo quase todo o barulho, mas não era Slater. O tom era muito
alto. Não importava muito. Além de Finn e Roslyn, quem mais estivesse nesta casa iria morrer
junto com o gigante, não importa como soava sua voz.

Arrastei-me mais perto da porta, e os murmúrios se tornaram palavras reais. — … sabe
como você é linda? Não tem que ser assim, — O homem disse.

Mais silêncio, como se estivesse à espera que alguém respondesse.

— Eu estou falando com você, cadela. Responda-me.

Mais silêncio.

Tapa-tapa-tapa.

Uma série de golpes violentos se ouviu, e um gemido baixo soou. Meus olhos se
estreitaram, mesmo quando meu coração se aliviou. Porque o gemido era de uma mulher. E
com certeza soou como Roslyn Phillips para mim.

Cheguei mais perto da porta e coloquei meu olho contra a abertura. A porta estava
apenas ligeiramente aberta, mostrando-me uma faixa estreita do que havia dentro.

Uma cama dominava o quarto - a maior cama que eu já tinha visto. A maldita tinha que
ter pelo menos oito metros quadrados e estava coberta com uma colcha de marfim. Espessos
postes de madeira se erguiam a partir dos quatro cantos da cama, e eu podia ver uma espécie
de corda de cânhamo pesada amarrada a eles. A corda rangeu, como se alguém estivesse

amarrado por ela. Um homem também parou diante da cama, mas não era Elliot Slater. Seu
cabelo era de um vermelho brilhante, em vez das mechas loiras do outro gigante pálido.

Este gigante estava também nu, com uma bunda que era tão gorda, cheia de borbulhas e
peluda que eu ficaria feliz em matá-lo apenas por me infligir essa vista.

— Como eu disse, Slater está ocupado agora. Além disso, ele não sabe ver uma coisa boa
quando a tem, de qualquer maneira. Esmagando esse seu rosto bonito, batendo em seu corpo
suave, que desperdício de merda. Se você fosse minha, eu teria encontrado algo muito melhor
para nós fazermos juntos. Algo que nós vamos fazer agora, — O homem disse em voz baixa,
como se não estivesse casualmente falando de estuprar alguém.

— Ele vai… te matar… por isso.

A voz era baixa, fraca e rouca, mas eu ainda reconheci a pessoa a quem pertencia - Roslyn
Phillips. Ela ainda estava viva - e ia continuar assim.

Eu não conseguia ver o rosto do homem, mas tenho a impressão de que ele sorriu.

— Não, ele não vai porque você não vai viver o suficiente para dizer-lhe, — ele respondeu.

O homem moveu-se para a frente, para a extremidade da cama. Ele segurava um pano
em sua mão. Os pedaços de corda que eu podia ver se contraíram e tiveram espasmos. Roslyn,
tentando desesperadamente se livrar antes do bastardo a amordaçar e estuprar. Um tipo
familiar de determinação fria e calma me encheu, e minhas mãos apertaram minhas facas
ensanguentadas.

Enquanto o gigante nu lutava com Roslyn, tentando colocar a mordaça em sua boca, eu
abri a porta e entrei no quarto. O homem estava muito ocupado com a vampira para ouvir
meus passos suaves sobre o tapete. Eu fui para ele em um ângulo, para que pudesse ver em que
estado estava Roslyn.

A visão sobre a cama enojou-me.

Eu tinha estado certa sobre uma coisa. Elliot Slater queria machucar Roslyn antes de
matá-la. A vampira estava de braços abertos sobre a cama, com os braços e pernas amarrados a
cada um dos quatro postes. Sangue, cortes e contusões cobriam seu corpo - cada centímetro que
eu podia ver.

Se eu não soubesse que era Roslyn, não a teria reconhecido. Isso é o quão ruim ela estava,
suas feições todas esmagadas e amassadas, como se tivesse sido atropelada por um carro. A pele
de Roslyn parecia que tinha sido lixada até ficar em carne viva. Seu belo rosto estava uma
bagunça de carne roxa e inchada, e o sangue da vampira há muito tempo tinha transformado o
marfim do edredom em um vermelho escuro. Havia tanto sangue sobre ela que me levou um
segundo para perceber que Roslyn ainda estava vestindo roupas debaixo de todo o sangue. Sua
calça e camisa estavam rasgadas em alguns lugares, e contusões azuis e pretas espreitavam dos
rasgos como olhos escuros.

Eu não costumava sentir raiva, mas fogo frio queimou em minhas veias com o que tinha
sido feito para a outra mulher - e pelas outras torturas que Elliot Slater tinha reservado para
Finn, se eu não o salvasse. Por um momento, eu me senti quase enlouquecida com essa
necessidade premente de matar o gigante e todo mundo aqui, todo mundo que tinha
machucado Roslyn e Finn.

O gigante colocou um joelho peludo na barriga de Roslyn. A vampira debateu-se
fracamente contra ele, mas ele teria sido demasiado pesado para ela conseguir afastá-lo,
mesmo se estivesse livre das cordas e com sua força total. Juntei minha vontade e esperei até
que o gigante se inclinasse sobre Roslyn, tentando forçar a mordaça em sua boca sangrenta
antes de falar.

— Ainda tendo o divertimento, seu doente? — Eu rosnei.

A cabeça do gigante virou para mim. Sua boca se abriu, e ele começou a dar alguma
desculpa sobre o que estava fazendo. Mas era tarde demais para isso. Muito, muito tarde.

Eu me joguei para ele. Minhas facas brilharam como prata líquida à luz. E o sangue de
outra pessoa, além de Roslyn, respingou sobre o edredom de marfim.

Menos de um minuto depois, o gigante morto bateu no chão. Limpei as facas sangrentas
no edredom, em seguida, usei-as para serrar as cordas que prendiam Roslyn à cama. A vampira
virou a cabeça para olhar para mim. Eu não sabia se ela podia me ver através de seus olhos
negros e espancados, por isso me aproximei e gentilmente apertei sua mão.

— É Gin, — eu disse, em voz baixa.

— Gin? — Roslyn sussurrou através de seus sangrentos lábios inchados. — Você… veio…
por mim? Depois… que eu deixei… a casa de Jo-Jo. Por que… você… faria isso?

Eu olhei para o corpo da vampira, todas as coisas horríveis que tinham sido feitas com ela
no exterior, e todas as outras coisas horríveis que eu não podia ver por dentro. Todas as coisas
que podiam nunca cicatrizar. Todas as coisas que eu tinha trazido para ela quando lhe pedi para
me ajudar a entrar na festa de Mab Monroe. A culpa me fez sentir doente, e eu sabia que
sempre seria assim. Eu estava em dívida com Roslyn agora, e sempre estaria. O que ela
precisasse, eu livremente lhe daria, a qualquer hora, em qualquer lugar.

Ainda assim, fiz a minha voz tão suave quanto eu podia, dada a raiva fria e culpa
acentuada que ainda queimava e escorria pelas minhas veias.

— Porque eu sou a Aranha. Porque a minha aposentadoria tem sido uma merda. Porque
você me pediu para fazer um trabalho e eu nunca volto atrás com a minha palavra. Porque nós
somos amigas, de uma forma estranha. Mas, principalmente, porque ninguém merece ser
tratado assim, com exceção dos desgraçados que vivem aqui. — Eu parei para deixar o veneno
frio escoar de volta para o meu tom. — E você pode acreditar que eu não vou deixar este lugar
até que cada um deles esteja morto.

27

Roslyn Phillips não estava na melhor forma de sua vida, por isso é que eu abri o zíper de
um dos bolsos do meu colete e tirei uma lata da pomada de cura de Jo-Jo Deveraux. Fiz Roslyn
deitar parada sobre a cama enquanto espalhava generosamente a pomada no pior das suas
feridas em seu peito e braços.

Foi uma das coisas mais difíceis que já tive que fazer.

Eu sabia que Roslyn não me queria tocando-a, que ela podia não querer alguém tocando-a
nunca mais, dado o quanto ela tinha sido espancada. Mas isso tinha que ser feito para salvá-la.
Roslyn vacilava toda vez que meus dedos roçavam seu corpo e com todo movimento de minhas
mãos sangrentas, mas ela não reclamou, e não me pediu para parar.

Eu nunca tinha visto nada tão corajoso em toda a minha vida miserável.

Ainda assim, fiz o melhor que podia para distrair Roslyn, mantendo um fluxo constante
de tagarelice, contando-lhe exatamente como o bastardo que tinha estado prestes a estuprá-la
tinha morrido e exatamente como eu ia fazer a mesma coisa com Elliot Slater. Eu não sei se

foram minhas palavras frias e medidas ou o poder de cura da magia de Jo-Jo, mas Roslyn ficou
parada depois de alguns minutos, apenas vacilando todas as outras vezes que eu a tocava.

Enquanto Roslyn estava deitada na cama, deixando a pomada de Jo-Jo remendar o pior de
suas feridas, abri uma das portas de armário, procurando algo mais para ela vestir - algo que
não tivesse seu próprio sangue por toda parte. Para minha surpresa, uma grande variedade de
roupas femininas estava misturada entre os ternos enormes de Elliot Slater. Agarrei algumas
calças, um suéter, meias, sapatos, e até mesmo algumas roupas íntimas limpas do interior e as
joguei para Roslyn.

? Tire esses trapos sangrentos, e vista estes, ? Eu disse em uma voz gentil. ? E então

vamos te tirar o inferno daqui.

A vamp fez como eu comandei, embora seus movimentos ainda fossem lentos e rígidos,
apesar da pomada de cura. Eu a ajudei da melhor maneira que pude. Quando terminou, cavei
outra pequena lata de um dos bolsos do colete e entreguei a ela.

? Aqui. Coloque esta em seu rosto. É mais da pomada de Jo-Jo. Vai te manter unida

tempo suficiente para que você chegue à anã para ela poder te curar corretamente.

As mãos de Roslyn tremiam tão mal que eu tomei a lata de volta dela, mergulhei meus
dedos na pomada, e a espalhei generosamente em seu rosto.

? Desculpe pela pressa, ? Murmurei. ? Mas Elliot Slater tem Finn lá embaixo, e eu

preciso chegar até ele antes que Slater o mate.

? Finn está... lá embaixo? ? Roslyn disse rouca, deixando-me trabalhar em seu rosto.

? Yeah, ? Respondi. ? Parece que ele teve a mesma ideia sobre resgatar você que eu

tive. Oferecer-se como uma distração para eu poder deslizar para dentro da mansão.

Um pouco do inchaço diminuiu no rosto de Roslyn, e vi o brilho de lágrimas em seus
olhos caramelo.

? Não importa o que aconteça, ? ela disse rouca. ? Obrigada... Gin... por vir... por mim.

A vamp se atrapalhou até que ela envolveu a mão sangrenta ao redor da minha.
Gentilmente apertei seus dedos trêmulos.

? De nada, ? Eu disse. ? Agora vamos te tirar daqui.

Enquanto eu esperava a pomade de cura de Jo-Jo colocar o rosto de Roslyn de volta em
algum tipo de condição de funcionamento, questionei a vamp sobre quantos guardas mais
poderia haver dentro da casa.

? Quantos você já matou? ? ela perguntou.

? Quatro.

Ela assentiu. ? Deve haver dois restando, além de Slater.

? Onde eles estariam? ? Perguntei, verificando minhas facas de silverstone e as duas

espadas ainda presas nas minhas costas.

? Se você diz que ele pegou Finn, então os dois guardas vão estar lá embaixo com Slater,
? ela respondeu. ? Ele sempre gosta de ter pelo menos dois homens com ele quando está

trabalhando em alguém. Foi onde ele me levou primeiro. Quando se cansou de me bater, ele
me trouxe aqui em cima. Um de seus homens entrou e pegou antes que ele pudesse...

Sua voz quebrou nas últimas poucas palavras, e dei-lhe um minuto para se recompor,
mesmo que cada segundo que eu me atrasasse fosse outro segundo que Finn tinha a merda
batida para fora dele. Eu não sabia se poderia suportar se meu irmão adotivo acabasse da
mesma forma que eu tinha naquela noite na faculdade comunitária quando Slater me agredira.
Apenas olhar para Roslyn me fazia querer retroceder o tempo, voltar, e matar todos os
bastardos que a tinham ferido de novo - lentamente. Mas eu não podia fazer isso. Tudo o que
podia fazer era seguir em frente e esperar que chegasse a Finn a tempo.

Abri a porta do quarto e espiei para o corredor. Tudo estava tão silencioso como fora
antes. Sussurrei para Roslyn ficar perto de mim e ficar quieta. A vamp assentiu.

Andei devagar pelo corredor. Cerca de nove metros além da porta do quarto, a parede da
direita se abria, revelando a enorme sala de estar um andar abaixo. Desci em minhas mãos e
joelhos, rastejei para a frente, e espiei em torno do canto, através das ripas largas do corrimão
que cercava a parede exterior.

Um andar abaixo de mim, Elliot Slater estava de pé no meio da sala de estar,
desabotoando as mangas de sua camisa azul pálido. Um gigante estava de pé de cada lado dele,
ligeiramente atrás de seu chefe. Os dois homens tinham suas mãos cruzadas na frente deles,
exatamente como bons soldadinhos iriam. As mangas de suas camisas já estavam arregaçadas,
suas mãos já manchadas com sangue - o sangue de Finn.

Finnegan Lane estava acorrentado a uma coluna de pedra que apoiava o teto dos vários
andares acima de sua cabeça. Algemas de silverstone cintilavam em torno de suas mãos. As
algemas tinham sido amarradas a uma corrente combinando pendurada em um gancho acima
de sua cabeça, mantendo os braços de Finn para cima. Uma posição desconfortável agravada
pela óbvia surra que ele já tinha levado. Contusões floresciam como íris roxas e azuis nas
bochechas de Finn. Os dois gigantes já o tinham agredido um pouco, sem dúvida o preparando
para a atenção pessoal de Elliot Slater, mas Finn não parecia estar em forma tão ruim. Ele
ainda estava respirando, o que era a coisa mais importante.

Raiva fria queimou nos olhos de Finn, enquanto observava Slater começar a arregaçar as
mangas. De vez em quando, Finn chacoalhava as algemas, testando-as por qualquer indício de
fraqueza. Mas não havia nenhuma. Ainda assim, seu rosto estava guardado e vigilante. Ele não
tinha perdido a esperança de escapar, de conseguir a vantagem, mesmo sem a minha ajuda.
Finn nunca desistiria mais do que eu iria. O velho lhe ensinara melhor do que isso. Ainda
assim, o espírito de luta de Finn aqueceu meu coração.

Uma vez eu tinha fixado a posição de todos e de tudo na sala em minha mente, deslizei de
volta para o corredor para onde Roslyn tinha caído contra a parede, esperando.

? Slater está lá embaixo com dois dos seus homens, ? Sussurrei. ? Ele tem Finn

acorrentado a uma coluna de pedra.

Roslyn assentiu. ? É onde ele gosta de começar com as pessoas. Ele tem um outro quarto
neste andar para casos realmente difíceis. A maioria das pessoas não chega até aqui em cima.

? Eu quero que você saia o inferno daqui, ? Sussurrei. ? Escape pela porta lateral onde

a piscina está, vá para a garagem, pegue um dos carros de Slater, e vá embora. Há um posto de
gasolina na base da colina. Meu Benz está estacionado lá embaixo. Entre, e use um dos
celulares no porta-luvas para chamar as irmãs Deveraux. Elas vão vir e ajudar. Xavier também.

No caso de as coisas não irem bem para Finn e eu aqui em cima. Você pode fazer isso por mim?
Pode chegar até a garagem?

Roslyn assentiu. ? Eu posso fazer até aí. O que você vai fazer?

Espalmei minhas duas facas de silverstone e as ergui onde ela pudesse vê-las. ? Acabar
com isto - de um jeito ou de outro.

Roslyn desapareceu pelo corredor, e eu voltei devagar para onde a sacada estava. Slater e
seus homens estavam de costas para mim, e eu me movi para o outro lado do corredor, onde
ele era sólido mais uma vez. Eles nem sequer olharam para cima. Meus olhos foram para um
lustre de ferro que pendia do teto. Isso iria funcionar muito bem.

? Finnegan Lane, ? Elliot Slater retumbou, avançando de modo que estivesse

diretamente na frente do meu irmão adotivo. O gigante terminara de proteger uma manga da
camisa e tinha ido trabalhar na outra. ? Um lugar estranho para encontrar-se.

? Assim parece, ? Finn respondeu com uma voz jovial, apesar de suas feições

machucadas.

? Importa-se de me contar que porra você está fazendo aqui em cima no meu terreno?
? Slater perguntou.

? Tecnicamente, não é seu terreno, é? Pertence a sua chefe, Mab Monroe. Você é apenas

o zelador do lugar, por assim dizer. Parte da equipe de limpeza. Assim como você sempre foi.

Finn terminou seu insulto com um sorriso cheio de dentes. Os dedos de Slater ficaram
imóveis no tecido da manga de sua camisa, como se ele estivesse pensando em se lançar para
frente e socar Finn, mas o gigante não era tão facilmente iscado assim.

? Eu vou te perguntar de novo, ? Slater disse. ? O que você está fazendo aqui?

? Eu estava procurando uma amiga minha, ? Finn disse. ? Roslyn Phillips. Acho que

você a conhece. Importa-se de me contar onde ela está?

Desta vez, foi a vez do gigante sorrir. ? Oh, Roslyn está um pouco amarrada no
momento, assim como tem estado pelas últimas horas. Assim como vai estar por algum tempo
por vir. Até eu me cansar da vadia e quebrar seu pescoço com minhas próprias mãos.

Finn não conseguiu evitar - ele cuspiu no gigante e suas palavras vis. Slater calmamente
limpou o cuspe de seu rosto, então bateu em Finn com as costas da mão. O som da palma da
mão do gigante atingindo a pele de Finn foi tão alto quanto um tiro na casa quieta. Finn
grunhiu com dor, e Slater fechou a mão em um punho e o socou. Um corte se abriu acima do
olho esquerdo de Finn, e sangue cobriu aquele lado de seu rosto.

Minhas mãos apertaram minhas facas, mas não fiz um som. Eu queria dar a Roslyn tanto
de uma vantagem inicial quanto possível, no caso de Slater e seus homens matarem Finn e eu
e perceberem que a vamp estava desaparecida. O que significava que Finn ia ter que ser
esbofeteado um pouco mais. Meu estômago revirou com o pensamento, mas era algo que
ambos íamos apenas ter de suportar. Não seria a primeira vez.

? Você sabe, eu pensei que ia apenas ter alguma diversão hoje à noite com Roslyn, ?

Elliot disse. ? Mas imagine minha surpresa e deleite quando você aparece na minha porta
para adicionar às festividades.

? Eu sei, ? Finn respondeu. ? Decidi vir a você. Te poupar de alguns problemas. Já que

você virou as costas e correu da última vez que nos encontramos.

Slater congelou por um segundo. O gigante terminou de arregaçar a manga da camisa
restante antes de olhar para Finn de novo. ? E quando foi isso?

Finn encarou o gigante. ? Por que, a noite que você foi matar a Detetive Bria Coolidge,
? Ele arrastou as palavras. ? Isso não terminou muito bem para você, se bem me lembro.

Quantos homens você perdeu naquela noite? Três? Quatro? Foi difícil manter o controle com
todo o sangue e corpos por toda parte.

Desta vez, os olhos cor de avelã de Slater foram os que se estreitaram de raiva. ? Foi
você?

Outro sorriso se espalhou pelo rosto surrado de Finn. ? Oh sim. Maior diversão que eu
tive toda a semana.

Slater estudou Finn por vários segundos. ? Você era aquele com a arma. Aquele que
atirou em Jim no rosto.

Finn inclinou a cabeça em reconhecimento.

? Eu vejo.

Slater avançou e dirigiu seu punho no estômago de Finn. Aconteceu tão rápido, com
tanta velocidade, que pensei por um momento que tinha imaginado. Até Finn cuspir um
bocado de seu próprio sangue. Elliot Slater tinha algumas das mãos mais rápidas que eu já
tinha visto.

Mas Slater não parou com um golpe. Em vez disso, o gigante bateu um punho no rosto de
Finn. Ouvi o estalo quando seu nariz quebrou todo o caminho até aqui em cima na sacada. O
outro punho de Slater se chocou com o estômago de Finn novamente. Finn gemeu, e mais
sangue jorrou de seus lábios. Aquela bola fria de raiva começou a queimar na boca do meu
estômago mais uma vez.

? Eu posso continuar com isto por horas, Lane. Horas, ? Slater retumbou. ? Até que

você esteja me implorando para parar a dor, para apenas acabar com você. Agora, você vai me
contar exatamente por que você estava na casa de Coolidge naquela noite, e por que está tão
fodidamente interessado nos meus negócios.

O gigante não teve que adicionar um “senão” a sua ameaça. Ele e Finn já sabiam como
jogar o jogo - e ambos perceberam que Elliot Slater atualmente tinha todas as cartas. Exceto
por uma. Eu. A rainha de espadas.

A cabeça de Finn rolou para trás e para cima enquanto ele tentava não engasgar com seu
próprio sangue. Apressei-me para frente só um pouco, para que a borda da minha faca
capturasse a luz e piscasse prateada. Finn viu o brilho. Seus olhos verdes se arregalaram por
um segundo antes dele fechá-los e, lentamente, abaixar a cabeça.

? Tudo bem, ? Finn resmungou. ? Vou te contar porque eu estava lá. Porque sei sobre

Bria Coolidge. Porque sei quem ela realmente é.

Isso chamou a atenção de Slater. Todo o corpo do gigante ficou parado. Ele nem sequer
piscou. ? E exatamente quem ela é, Lane?

Finn levantou o olhar para ele. ? Seu verdadeiro nome é Snow. Bria Elizabeth Snow.

Elliot Slater não reagiu. Não se moveu, não vacilou. Inferno, ele nem sequer tomou um
fôlego. Em seguida, o gigante abruptamente se afastou de Finn e caminhou ao redor da coluna
de pedra, movendo-se para fora da linha de visão de Finn. Recuei para o corredor para que
Slater não me visse espreitando na sacada acima. Os outros dois gigantes mantiveram suas
posições abaixo de mim, assistindo o show com interesse desapegado. Eles pareciam os mesmos
dois capangas que me sustentaram para Slater naquela noite na faculdade comunitária. Não
importava muito. Eles seriam mortos independentemente.

Mas o que eu não entendia era o que Finn pensou que estava fazendo contando a Elliot
Slater que sabia quem Bria realmente era. Ele queria que o gigante o matasse antes que eu
pudesse eliminar Slater? Os golpes do gigante tinham embaralhado os miolos de Finn ainda
mais do que já estavam? Porque Finn estava perigosamente perto de cantar não só o seu canto
de cisne, mas o meu também 21. De contar a Slater tudo sobre nós, o que nós fizemos, e por que.

Finn tossiu um pouco mais de sangue e o cuspiu no tapete. ? Vamos, Elliot, ? ele disse
em uma voz amigável. ? Você não vai negar isso, vai? Isso é dificilmente esportivo,
considerando que eu sou aquele que está algemado e você não está.

O gigante terminou seu circuito em torno da coluna de pedra e parou em frente a Finn
mais uma vez. ? E daí se o verdadeiro nome de Coolidge é Snow? Isso não significa nada para
mim.

? Claro que significa, ? Finn rebateu. ? Porque é por isso que você estava lá para matar

Bria. É por isso que sua chefe, Mab Monroe, a quer morta. Porque ela é Bria Snow, e porque
Mab assassinou a família dela dezessete anos atrás.

Silêncio.

Slater manteve sua posição, tão imóvel e quieto como a coluna de pedra diante dele. Mas
Finn não tinha terminado de lançar bombas sobre o gigante - ou sobre mim.

? Você tem trabalhado para Mab por um longo tempo agora, não tem, Elliot? ? Finn

murmurou. ? Vinte e cinco anos pelos meus cálculos. Você tem sido o braço-direito dela desde

21 "Canto do cisne" é uma referência a uma antiga crença de que o cisne-branco é completamente mudo

durante toda a sua vida, mas pode cantar uma bela e triste canção imediatamente antes de morrer.

o início. O que significa que estava lá naquela noite. Você estava lá na noite que Mab assassinou
a família Snow.

Pisquei de volta para aquela noite, para minha corrida frenética pela minha casa em
chamas, para o punho do gigante se chocando contra meu rosto. Eu só o vira um segundo
antes de ele me dar um soco. Apenas tempo suficiente para perceber quão pálido ele era.
Quase... albino.

Slater não disse nada, mas um músculo se contraiu em sua bochecha calcária. Toda a
confirmação que eu precisava. Minha respiração saiu correndo de meus pulmões enquanto eu
percebia o que Finn estava fazendo. Meu irmão adotivo estava tentando obter algumas
respostas para mim - respostas sobre o que realmente acontecera na noite em que Mab Monroe
assassinara minha mãe e irmã mais velha. E eu seria condenada se tivesse a força de vontade
para pará-lo agora mesmo.

Elliot Slater se recuperou de seu choque, e um sorriso cruel se espalhou por seu rosto. ?
Você é um cara esperto, Lane. Descobrindo tudo isso por si mesmo.

Finn deu de ombros de novo. ? Não é muito difícil. Eu tive o arquivo sobre a família
Snow há algum tempo. Mab é um dos poucos elementais de Fogo que tinham magia suficiente
– na altura ou agora - para fazer o que fez naquela noite.

O gigante circulou em torno da coluna mais uma vez. Desta vez, os olhos verdes de Finn
sacudiram para os outros dois homens de pé na frente dele. Eles o encararam sem expressão, e
Finn voltou sua atenção para Slater, que parou em frente a ele mais uma vez. Finn não
levantou o olhar para mim. Ele sabia que eu faria meu movimento quando estivesse pronta.

? O que você quer, Lane? ? Slater latiu. ? Qual é o fodido ponto disto? Você está morto,

e sabe disso. Por que todas as perguntas sobre algo que Mab fez anos atrás?

Finn deu de ombros. ? Sou curioso. Um traço que meu pai instilou em mim. Porque não
diz no arquivo exatamente por que Mab matou a família Snow. O que ganhou com isso. Ou por
que quer Bria Coolidge morta hoje.

Slater inclinou a cabeça para um lado. ? Você pode ser esperto, Lane, mas realmente não
tem uma pista, tem? Nem sobre Mab, nem sobre Coolidge, nem sobre nada.

? Por favor, ? Finn disse em um tom irônico. ? Me ilumine.

Elliot Slater inclinou-se para frente para que seu rosto pálido estivesse nivelado com o
sangrento de Finn. ? Mab matou essa família por causa da magia de Bria Coolidge. Porque a
magia de Gelo e Pedra dessa vadia era e ainda é uma ameaça a ela.

Apesar dos meus anos de treinamento, eu não pude evitar o pequeno suspiro de surpresa
que escapou de meus lábios. Mab pensava que Bria tinha magia de Gelo e Pedra? Por que a
elementar de Fogo pensaria isso? Eu tinha sido a única de nós a herdar a magia de Gelo de
nossa mãe e o poder de Pedra de nosso pai também…

Um pensamento horrível, horrível encheu minha mente. Tão horrível, tão irônico, tão
fodidamente errado que eu quis gritar. Chorar e lamentar e atacar e matar tudo e todos em que
pudesse colocar minhas mãos. Mas mesmo enquanto a amargura enchia minha boca com a
compreensão, eu sabia que isso era verdade - e a verdadeira razão pela qual Mab Monroe
matara minha família. A razão terrível, horrível da minha mãe e irmã mais velha estarem
mortas.

Naquela noite, quando a elementar de Fogo tinha me torturado, ela me fizera pergunta
após pergunta sobre Bria, exigindo saber onde a minha irmãzinha estava acima de tudo. Porque
Mab pensara que Bria era eu - que Bria era aquela com magia de Gelo e Pedra.

Mab Monroe na verdade estivera lá para me matar - não Bria.

Eu não fui a única surpresa com a revelação. A boca de Finn caiu aberta com a confissão
de Slater. Finn considerou o gigante com olhos pensativos, e eu podia praticamente ver as
rodas girando em sua cabeça. Ele percebeu o que as palavras do gigante significavam assim
como eu.

? Mab Monroe pensa que Bria Coolidge tem magia de Gelo e Pedra? ? Finn perguntou.
? É por isso que ela quer Bria morta tão mal?

Slater franziu o cenho. ? Por que mais Mab se importaria sobre a vadia?

? Certamente há mais nisso do que apenas isso, ? Finn zombou. ? Mab Monroe é a

mais forte elementar nascida em quinhentos anos, se você ouve os rumores. Ela matou uma

família inteira porque uma garotinha tinha o poder de controlar dois elementos? Vamos, Elliot.
Nós dois sabemos que eu sou um homem morto. Satisfaça-me. Conte-me o resto da história.

Slater inclinou a cabeça para um lado, tentando ler a expressão de Finn, tentando
descobrir o que ele estava fazendo, por que estava tão curioso sobre algo que tinha acontecido
há tanto tempo. Difícil conseguir uma boa leitura sobre as emoções de alguém quando sangue
e contusões cobriam seu rosto como uma camada extra de pele. Depois de alguns segundos de
estudo, Slater deu de ombros.

? Mab quis matar a mãe, Eira Snow, sempre desde que eram crianças. Os Monroes

sempre foram parte das disputas e embates do submundo, enquanto os Snows sempre foram
verdadeiras flechas retas. Naturalmente, as duas famílias se envolveram em algum tipo de rixa
elementar ao longo do caminho. Estendia-se de décadas para trás pelo que eu entendo. Inferno,
vai tão longe para trás que eu nem sequer acho que Mab realmente sabe como isso começou,
em primeiro lugar. Mas alguém matou alguém sobre alguma coisa, e simplesmente continuou
indo a partir daí. Você sabe como elementais são. A maioria deles não pode conviver para
salvar suas vidas, especialmente os elementais opostos, como Fogo e Gelo. ? Desgosto encheu
a voz de Slater. Evidentemente, ele não tinha sua chefe em tão alta consideração quanto levava
todos a acreditarem. ? Fodidos elementais. Sempre lutando por algo.

Finn assentiu com a cabeça em acordo.

? Mab e Eira Snow cresceram juntas, ? Slater continuou. ? Mesmo quando crianças,

eram inimigas. Mab garantiu isso. E quando ficaram mais velhas, bem, ambas foram atrás do
mesmo homem - um elementar de Pedra. Supostamente, Snow realmente o amava, mas Mab,
bem, ela só queria sua magia de Pedra, queria passá-la para seus filhos.

O gigante encarou através da sala de estar, encarando de volta ao passado distante. Ele
enganchou os polegares pelas presilhas das calças e balançou para trás em seus calcanhares.
Perdido em suas memórias.

? Mas por quê? ? Finn perguntou, invadindo o devaneio de Slater. ? Talvez as crianças

tivessem conseguido a magia de Pedra do papai. Talvez elas não tivessem. Não havia nenhuma
garantia disso.

Slater gargalhou. ? Eu mesmo tentei dizer isso a Mab, mas ela não quis me ouvir. Magda
é a única de quem Mab sempre seguiu o conselho.

Finn franziu o cenho. ? Quem diabos é Magda?

A mesma pergunta muda que eu estava me fazendo.

Slater deu de ombros. ? Uma velha tia louca de Mab que vivia em um dos buracos.
Magda era uma elementar de Ar. Ver no futuro era a sua coisa. Anotar profecias, lançar pedras,
ler folhas de chá, olhar para musgo em árvores, beber sangue de galinha. A vadia estava em
alguma merda realmente louca. Ela disse a Mab que Snow teria uma criança que seria um
elementar ainda mais forte do que Mab era. Alguém com magia de Gelo e Pedra. Alguém que
um dia iria matar Mab.

Matar Mab? Bem, a misteriosa Magda tinha conseguido uma coisa certa. Porque esse era
certamente o meu plano agora.

? Depois que Snow apareceu com três pirralhas, Mab decidiu fazer sua jogada, ? Slater

terminou.

Finn apenas ficou ali, digerindo a informação. Na sacada acima, eu fiz o mesmo, tentando
engolir a fria, fria amargura que revestia minha boca e coração.

Slater sorriu. ? Então eu reuni alguns dos meus garotos, e fomos para a casa tarde da
noite. Meus garotos e eu cuidamos dos servos, enquanto Mab acendeu a mãe e uma das
pirralhas. Foi lindo.

Finn olhou para o gigante. ? Mas as coisas ficaram fora de controle, não ficaram? Caso
contrário, Bria Coolidge não estaria viva hoje.

? A pirralha do meio conseguiu esconder Coolidge em algum lugar. Então, eu encontrei

a pirralha e levei-a para Mab obter algumas respostas. Mab torturou a pirralha, mas ela não
chiou, ? Slater disse. ? Então partimos para procurar Coolidge, mas a pequena vadia usou sua
magia de Pedra para enfraquecer a fundação de sua própria casa. Mab e eu mal saímos antes da
maldita coisa toda desmoronar.

? E você pensou que Bria se enterrou em seu próprio túmulo, ? Finn deduziu. ? Até

que ela voltou para a cidade há algumas semanas e Mab percebeu que ela não tinha morrido

naquela noite todos esses anos atrás. Aposto que Mab fodidamente surtou quando suas fontes
no departamento de polícia contaram a ela sobre Bria, que a detetive estava desenterrando a
sujeira sobre o assassinato de sua família. Aposto que Mab ficou absolutamente lívida quando
percebeu quem Bria realmente era. Foi assim que Mab soube mesmo que era ela, em primeiro
lugar, certo?

? Mais ou menos. ? Slater deu de ombros de novo. ? Mas isso é tudo apenas um

pequeno contratempo, que eu vou retificar depois que eu acabar de ter minha diversão com
você - e a doce Roslyn.

Em vez de ficar com raiva de novo, Finn apenas encarou o gigante, seus olhos verdes
brilhando com segredos que Slater não podia sequer começar a adivinhar. Os lábios de Finn se
contraíram, mas não de dor. Um pequeno riso reprimido soou, depois outro, depois outro, até
que ele estava gargalhando ruidosamente. Lágrimas de diversão histérica cascatearam por suas
bochechas machucadas, misturando-se com seu sangue escarlate.

Slater olhou para Finn, depois para seus dois lacaios. Os outros gigantes encolheram os
ombros. Eles não sabiam por que ele estava rindo também.

? O que é tão engraçado? ? Slater retumbou, virando-se para ficar de frente para Finn.
? A maioria dos homens não ri quando eles estão prestes a morrer.

Meu irmão adotivo ignorou o gigante e seguiu em frente rindo. O som alto, divertido,
confiante ralou sobre os nervos de Slater, porque ele se aproximou, agarrou o queixo de Finn
com sua mão massiva, e empurrou sua boca fechada, cortando suas alegres risadas. Tomou
algum esforço, mas o peito de Finn finalmente parou de tremer com gargalhadas. Slater
recuou e fitou o outro homem, ainda espantado com a explosão animada.

? Sabe o quê, Elliot? ? Finn perguntou. ? Você mesmo é um cara bastante esperto,

para ajudar sua chefe a encobrir tais assassinatos brutais por tanto tempo. Mas no meio de
contar a sua pequena história para dormir, você se esqueceu de uma pequena coisa.

? E que porra isso seria? ? Slater grunhiu.

? Você sabe aquela noite que eu te impedi de matar Bria Coolidge?

O gigante assentiu.

Finn apenas sorriu. ? Você esqueceu que eu tinha uma parceira - e ainda tenho agora.

28

Esse foi o meu sinal para me mover. Então eu me levantei no corrimão que dava para a
sala e saltei. Deslizei no ar por um momento antes que a gravidade assumisse. No meu
caminho, eu agarrei a borda do lustre de ferro. Meu impulso me impeliu para a frente, como se
eu estivesse em um balanço de corda à moda antiga, e bombeei minhas pernas para chegar ao
arco que queria. A cabeça de Elliot Slater virou com o barulho, mas os dois gigantes estavam
demasiado focados em seu chefe para fazer o mesmo. Slater gritou um aviso. Fodidamente
tarde.

Eu me deixei cair bem em cima dos dois gigantes. Um deles tropeçou para a esquerda e
bateu em uma mesa. Minha faca silverstone rasgou nas costas do outro e cortou todo o
caminho, como se eu fosse um marinheiro e sua carne fosse uma espécie de lona pesada que
eu estava cortando para retardar minha própria queda.

Ele gritou de dor e resistiu como um cavalo, mas eu pulei, agarrei seu cabelo, e subi nas
suas costas. O homem tentou me jogar fora, mas eu tinha um aperto de morte em seus cabelos
gordurosos. O gigante parou um segundo de gritar e reuniu sua força, e foi nessa altura que eu

cortei sua garganta. Seu grito se transformou em um gorgolejo, e eu senti a luta e poder
escorrerem para fora de seu corpo, juntamente com o seu sangue. O homem caiu para a frente,
e eu saí do passeio de rodeio.

Uma das minhas facas ainda estava presa na parte de trás do gigante, e a outra tinha
escorregado da minha mão quando ele caiu para a frente. Então eu peguei as duas facas
escondidas em minhas botas e virei-me para o outro homem. Ele tinha se levantado e estava
voltando para o meio da luta. O gigante rugiu com raiva, veio para mim e tentou dar um golpe.
Desleixado, desleixado, desleixado. Eu deslizei para a frente e surgi dentro de sua defesa
inexistente. Uma faca entrou em seu coração. A outra cortou sua jugular. Eu o empurrei e
girei, pronta para o ataque de Slater.

Mas Elliot Slater ficou na frente da coluna onde Finn estava acorrentado, olhando para
mim. Seus olhos castanhos consideraram os corpos de seus homens, em seguida, foram para o
meu rosto. Ele levou um segundo para reconhecer-me através da gordura e sangue que
revestiam minhas feições como uma máscara de Halloween de borracha. Mas uma vez que ele
o fez, os olhos do gigante se estreitaram, e um vermelho rastejou até seu pálido pescoço
farináceo.

— Blanco! — Ele assobiou.

— Você estava esperando outra pessoa? — Eu zombei. — E eu que pensei que a ideia de
que todos os gigantes eram grandes e mudos eram apenas um estereótipo vicioso.

Meus olhos foram para atrás dele, para Finn, que estava pulando para cima e para baixo,
tentando tirar sua algema do suporte que o segurava à coluna de pedra acima de sua cabeça.

— Sou o grande bastardo mudo que vai rasga-la em pedaços, — Slater rosnou, suas mãos
enrolando em punhos.

— Promessas, promessas, — eu zombei novamente.

Eu precisava que o gigante se concentrasse em mim. Não que fizesse algo inteligente
como usar Finn como um escudo humano.

Elliot Slater veio para mim. Eu esperei até o último segundo, então me joguei para um
lado e me enrolei. Eu me virei e imediatamente lancei uma das minhas facas silverstone para
ele. A arma aterrou no peito do gigante. Com um rosnado baixo, ele tirou-a e jogou-a para o
lado. Peguei a faca nas minhas costas e joguei essa para ele também. Também acertou em seu
peito, mas eu não tinha terminado ainda. Duas facas mais saíram dos bolsos em meu colete e
assobiaram na direção de Slater.

Sólidas aterragens no peito, todas elas. Se Slater fosse humano, ele teria estado morto por
agora. Mas ele era um gigante e um duro. Ele simplesmente pegou as facas e deixou-as cair no
chão a seus pés. Uma vez que isso estava feito, ele sorriu e veio na minha direção.

E foi aí que eu tirei as espadas.

Elliot Slater tinha chutado minha bunda duas vezes agora, uma vez na faculdade
comunitária quando eu o deixei e, em seguida, novamente na casa de Bria na noite em que ele
veio para matá-la. Mas eu tinha aprendido algo de ambos os espancamentos, o fato de que eu
não poderia deixar o gigante colocar suas mãos em mim. Não se eu queria ganhar. Não se eu
queria viver.

Claro, eu poderia usar a minha magia de Pedra elementar para endurecer a minha pele,
para torna-la mais resistente que o granito. Mas Slater era sem dúvida o homem mais forte em
Ashland. Ele poderia continuar perfurando-me até que minha magia se desgastasse. E quando
ela fosse embora, quando minha força e magia estivessem exaustas e minha concentração
caísse por um segundo precioso, a minha pele iria voltar ao normal. E então, o gigante poderia
me matar com um golpe bem colocado. Eu não podia deixar isso acontecer, não podia deixá-lo
perto de mim. Foi por isso que eu agarrei as duas espadas longas da parede de armas de Owen
Grayson. Eu precisava de uma maneira de cortar Elliot Slater peça por peça e manter-me fora
do alcance de seus longos braços, ao mesmo tempo.

Agora, eu ia ver se Owen era tão bom artesão como eu pensava. Estava apostando minha
vida nisso, na verdade.

Slater parou à vista das espadas silverstone brilhando em minhas mãos.

Em seguida, um sorriso cruel se espalhou pelo seu rosto. — Você acha que esses palitos
pequenos vão me parar?

Eu rodei as espadas em minhas mãos. — Vem aqui, seu doente, e nós vamos descobrir.

E então nós dançamos.

Giramos em círculos, os sapatos escorregando em poças de sangue já no tapete. Ao
contrário de seus homens, Slater não se apressou para mim, pensando que sua força superior e
tamanho seriam suficientes para ganhar a luta. Em vez disso, o bastardo, inteligente e
cauteloso, fintou dentro e fora, me testando, tentando ver o quão boa eu realmente era com as
espadas. Ele entendeu a mensagem quando eu cortei seu bíceps com uma arma e cortei sua
coxa com a outra.

Os olhos castanhos de Slater se estreitaram. — Há muito mais em você do que os olhos
veem, Blanco.

Eu sorri. — Todo dia é uma nova surpresa.

Continuamos testando um ao outro. Eu consegui fazer mais alguns ferimentos, contente
em deixar o gigante sangrar lentamente até a morte. Slater percebeu qual era minha estratégia
e decidiu usar o ritmo e sua velocidade incrível para sua vantagem. Ele veio para mim
atacando a velocidade relâmpago.

Soco-soco-soco. Eu evitei os dois primeiros, mas o seu último golpe rápido me pegou no
ombro antes que eu pudesse me afastar. O golpe duro balançou meu equilíbrio, e meu braço e
mão ficaram dormentes pela pressão súbita. A bela espada de Owen escorregou dos meus
dedos e bateu no tapete. Corri para a frente e chutei-a para trás de mim, bem fora do alcance de

Elliot Slater. O gigante veloz era perigoso o suficiente por si mesmo. Se ele colocasse as mãos
em uma espada, bem, isso não seria bom para mim.

— Parece que você perdeu o seu palito de dente, — ele zombou.

— E você perdeu mais sangue, — eu respondi, tentando sacudir o torpor do meu braço. —
Eu diria que estamos quites.

Slater olhou para sua camisa e calça. Sangue cobria os dois, e os rasgos que eu tinha feito
no tecido faziam-no parecer como um náufrago cujas roupas haviam sido cortadas pelos
elementos. O gigante sorriu.

— Não por muito tempo, cadela, — ele respondeu. — Não por muito tempo.

E então a pior coisa do mundo aconteceu - Finn decidiu entrar na briga.

Enquanto eu estava circulando e entalhando Slater, Finn tinha conseguido tirar a
corrente prendendo as suas mãos para fora do suporte acima de sua cabeça. As mãos de Finn
ainda estavam unidas pelas algemas Silverstone, mas ele usava a corrente pesada como se fosse
um pedaço de fio de garrote.

Ele saltou para cima de um sofá, jogou a corrente sobre a cabeça de Slater, e arrastou-se
sobre o gigante como um macaco.

Eu daria pontos a Finn pelo estilo, mas não pela substância, porque Slater imediatamente
recuou e bateu-o na parede mais próxima. Uma, duas, três vezes em rápida sucessão. Finn
gemeu, e afrouxou a corrente em torno do pescoço de Slater. O gigante jogou fora o metal e
Finn, que caiu no chão completamente mole. Slater virou e pisou nas costelas de Finn com o pé
enorme.

— Eu vou lidar com você em breve, seu bastardo arrogante, — ele murmurou.

Corri para a frente, balançando a espada longa acima da minha cabeça, mas o gigante foi
mais rápido do que eu. Muito fodidamente mais rápido. Slater usou seu antebraço enorme para

bloquear meu ataque, então me deu um soco no rosto. Dor e sangue inundaram minha boca.
Eu não estava antecipando o golpe e recuei, momentaneamente atordoada. O gigante
pressionou a vantagem, me atacando. Eu consegui erguer a espada até segurá-la, mas foi
apenas uma manobra temporária. Slater arrancou a arma das minhas mãos, jogo-a para um
lado, e continuou a vir.

Desde que eu estava fora de armas, peguei a única coisa que eu tinha restante - a minha
magia.

Meu poder de Pedra inundou pelas minhas veias, e eu puxei o poder através do meu
tecido e ossos e músculos e articulações, deixando-o derramar sobre a minha pele,
endurecendo-a. Slater parou e olhou para a aparência cinzelada da minha pele.

— Porra, você é uma elemental também. Cheia de truques. — O gigante parou seu
resmungo e olhou por cima do ombro para Finn, então de volta para mim. Conhecimento
brilhou em seus olhos cor de avelã. — Bem, bem, parece que Mab apanhou a irmã errada, não
foi? Basta pensar como ela vai ficar satisfeita quando eu lhe disser que você é a única com a
magia da Pedra. Qual era o nome da pirralha do meio de novo? Oh, Yeah - Olá, Genevieve.

Foda-se. De todas as coisas que poderiam ter acontecido, Elliot Slater adivinhar a minha
verdadeira identidade não tinha estado no topo da minha lista. Nem a forma como saber a
verdade o energizou.

Slater soltou um rugido alto e se jogou em mim. Desta vez eu não podia evitá-lo. O
gigante bateu-me no tapete e começou a golpear-me mais e mais e mais uma vez, exatamente
como eu temia que ele faria. Ele recheou meu rosto e peito com golpes, nunca retardando sua
cadência ou perdendo o ritmo. Soco-soco-soco. Cada pancada ameaçava romper a minha pele
endurecida. Minha cabeça já doía de seus socos anteriores, e levou tudo que eu tinha para me
concentrar no meu poder de Pedra para me impedir de ser espancada até a morte. Eu não tinha
dúvida de que o gigante poderia manter sua promessa a Finn. Ele poderia me bater por horas
sem se cansar.

Em desespero, eu joguei minha mão para um lado e peguei minha magia de gelo. A faca
irregular formou-se na minha mão, e eu levantei minha mão, determinada a conduzir a arma
no olho ou no pescoço ou o que diabos eu poderia alcançar de Slater. Mas o gigante viu o
movimento com o canto do olho. Mais uma vez, a sua rapidez o salvou. Ele agarrou minha
mão, parando o movimento, e olhou para a arma bruta que eu tinha apertada entre meus
dedos.

— Uma faca de gelo. Bonito, — ele disse.

Em seguida, o filho da puta quebrou meu pulso.

Parecia que alguém tinha batido um martelo contra meus ossos. Eu gritei de dor e fúria.

Meu controle estava escorregando, e agora era só uma questão de tempo antes que o
gigante me matasse. Mas, principalmente, eu gritei, porque Finn iria morrer junto comigo.
Porque eu trouxe meu irmão adotivo como backup, e eu tinha falhado miseravelmente em
protege-lo.

Elliot Slater recuou e sorriu para mim. — Hora de morrer, cadela.

BOOM!

Algo bateu no peito de Slater e estômago, fazendo-o recuar. Sangue pulverizou sobre meu
peito e rosto, e o cheiro acre de pólvora encheu o ar.

BOOM!

Outra réplica afiada cuspiu, batendo Slater por trás e o tirando de cima de mim.
Embalando meu pulso quebrado, eu imediatamente fugi para longe do gigante, que se
levantou em um sofá prata colorido. Minha cabeça girou, olhando para o meu benfeitor
misterioso.

Roslyn Phillips estava no meio da sala de estar, uma espingarda grande embalada em
suas mãos. A vampira colocou mais duas munições vermelhas na arma e levantou-a. Eu não

sabia onde diabos ela conseguiu a arma ou por que ela ia voltar aqui quando eu tinha lhe dito
para sair, mas eu estava feliz que ela tinha. Porque a vampira tinha acabado de salvar minha
vida.

Elliot Slater apenas olhou para ela em descrença.

— Que diabos você está fazendo? — Ele rosnou. — Você devia estar no andar de cima,
cadela.

— Desculpe, — respondeu Roslyn. — Gin foi boa o suficiente para marcar uma mudança
de cenário para mim.

Enquanto Slater estava distraído, eu fiquei de pé e peguei uma das espadas de Owen.

A dor dos meus muitos ferimentos ameaçou submergir-me, mas eu apertei meus dentes e
empurrei a quente e marcante sensação para dentro da boca do meu estômago. Eu ia lidar com
a agonia depois. Agora, eu tinha que pensar em Roslyn.

Mudei-me para ficar ao lado da outra mulher. A vampira me deu um breve aceno de
cabeça, mas nunca tirou os olhos de Elliot Slater.

O olhar do gigante jogou de Roslyn para mim. Seu peito parecia um hambúrguer de
carne cru, desigual, sangrento. Uma torrente constante de sangue jorrava de suas feridas, não o
suficiente para matá-lo, mas mais do que suficiente para enfraquece-lo. Roslyn tinha dado um
tiro melhor do que eu pensei. Então, novamente, era difícil falhar com uma espingarda. Ainda
assim, eu não ia reclamar. Porque eu teria estado morta agora se não fosse pela vampira.

Slater sabia a pontuação tão bem como eu, então ele mudou de tática. — Vamos, querida.
— Slater cantarolou a Roslyn. — Por que você está fazendo isso? Eu só estava tentando ensinar-
lhe uma lição anteriormente. Você sabe o quanto eu me importo com você.

— Sim, — Roslyn cuspiu. — Eu sei exatamente o quanto você se importa comigo, Elliot.
Do mesmo jeito que você se importava com as outras mulheres de quem me falou esta noite,
todas as outras que você trouxe até aqui e estuprou e matou quando se cansou delas.

O rosto pálido de Slater apertou, e seus olhos castanhos se estreitaram de raiva. — E você
é apenas um outro entalhe no meu cinto, puta. Você realmente acha que vai conseguir acabar
com isso? Mab Monroe vai te caçar e queimá-la. Vocês todos vão morrer por isso. Largue a
arma, Roslyn, e eu vou poupá-la. Vou dizer a Mab que você estava apenas tentando me ajudar.
Ela vai acreditar em mim. Ela confia em mim. Se você não fizer isso, sabe o que vai acontecer.
Mab virá atrás de você, e depois de sua pequena doce sobrinha e irmã que você ama tanto.
Xavier também. Vocês vão morrer todos e queimar e desaparecer. Carbonizados em cinzas
malditas por Mab.

Roslyn apenas olhou para o gigante, uma expressão ilegível no rosto. Fiquei ao lado dela,
mas não disse nada. Esta era a briga da vampira agora. Ela tinha que enfrentar Elliot Slater
agora, ou o que tinha acontecido nos últimos dias iria assombra-la pelo resto de sua vida. Mais
ainda, de qualquer maneira, do que já iria. Roslyn balançou de um lado para o outro, e
balançou a arma em suas mãos trêmulas. Por um momento, eu pensei que ela estava perdida.
Que Slater venceu nesta rodada final de tortura cruel.

Mas, então, o rosto de Roslyn endureceu debaixo do sangue e hematomas e uma fria e
terrível luz encheu seus olhos escuros. Ela endireitou as costas, os dedos apertaram na
espingarda, e mais uma vez, eu vi um vislumbre da vampira dura que eu me lembrava.

A que tinha descoberto suas presas em mim quando eu tinha uma vez me atrevido a
ameaçar sua sobrinha.

— Talvez eu não sobreviva, — Roslyn rosnou. — Mas pelo menos eu vou ter a satisfação
de saber que você está morto. Vá para o inferno, Elliot.

Roslyn avançou e disparou a arma.

BOOM! BOOM!

A cabeça de Elliot Slater explodiu em uma massa de sangue e cérebro e ossos. O gigante
contraiu uma vez, caiu no chão e ficou imóvel.

29

Roslyn ficou ali, olhando para o que tinha sido a cabeça enorme de Elliot Slater. Eu
coloquei minha mão sobre a arma fumegante e lentamente baixei-a.

— Acabou, Roslyn, — eu disse em uma voz suave. — Ele está morto agora. Você matou o
filho da puta. Você fez isso. Você cuidou dele para sempre. Ele nunca vai incomodá-la
novamente. Nunca. Você me entende?

Depois de um momento, Roslyn afastou o olhar do gigante morto e olhou para mim. As
lágrimas encheram seus olhos e suas mãos começaram a tremer mais uma vez. Eu puxei a
arma de suas mãos, deixei-a cair no chão, e devagar, com cuidado, coloquei meus braços em
torno dela, não tendo certeza se eu deveria abraçá-la, tocá-la. Não sabia como eu poderia ajudá-
la com isso, mas estava determinada a tentar mesmo assim. A vampira chorou, gritou e bateu
seus punhos contra minhas costas. Eu deixei-a, deixei-a livrar-se de tudo. Toda a dor, medo e
miséria. Toda a raiva, impotência e terror. Todo o alívio, horror e tristeza.

Não sei quanto tempo ficamos ali, Roslyn gritando e chorando, eu apenas a segurando.
Mas, eventualmente, seus soluços acalmaram e a vampira se afastou de mim.

— Ele pode estar morto, mas ele estava certo, — ela sussurrou. — Eu nunca vou
conseguir fugir disso. Mab Monroe vai vir atrás de mim, da minha família, de Xavier.

— Está certo, — eu respondi. — Você não vai conseguir fugir.

Roslyn me deu um olhar de puro horror.

— Mas então, você não vai ser a culpada por nada feito aqui hoje à noite.

Ela franziu o cenho. — O que quer dizer?

— Isso é o que vamos fazer, — eu disse.

A tortura tinha terminado - pelo menos por agora. Eu caí na cadeira, apenas as cordas
pesadas mantendo-me de pé. Suor e lágrimas escorriam do meu corpo como a chuva, e minhas
mãos se sentiam como se toda a pele tivesse sido queimada. Agora eu estava feliz por ter os
olhos vendados, então eu não podia ver minhas mãos. Não era possível ver que confusão
sangrenta e empolada tinha sido feita delas.

Mas a Elemental do Fogo tinha ido embora, levando sua magia cruel com ela,
desaparecendo em alguma outra parte da casa em chamas, me deixando amarrada onde eu
estava. Ainda assim, eu sabia que não demoraria muito para ela voltar e finalmente me
matar…

Um grito ecoou pela casa. Fraco e pequeno, mas eu ainda reconheci o tom agudo em sua
voz, ainda reconheci a pessoa a quem ele pertencia.

— Bria, — eu sussurrei através dos meus lábios rachados.

Outro grito soou, e minha respiração ficou presa na minha garganta. Eu esforcei meus
ouvidos tanto quanto podia, ouvindo, tentando determinar de onde o som tinha vindo. Depois a
compreensão fria me atingiu. A Elemental de Fogo e seus homens. Eles deviam ter encontrado
Bria onde eu a tinha escondido. Essa era a única razão que eu poderia pensar para minha irmã
estar gritando.

Com esse pensamento horrível, nova energia inundou o meu corpo. Lutei contra as
pesadas cordas, mais uma vez, mesmo sabendo que era inútil, sabendo que eu não poderia ficar
livre delas. Ignorei a dor lancinante em minhas mãos e trouxe meus dedos duros, cheios de
bolhas, para o meu rosto, conseguindo tirar a venda da minha cabeça. Fumaça enchia o quarto
em que eu estava como uma névoa escura e sombria.

Um terceiro e último grito surgiu de algum lugar, antes de ser abruptamente cortado. Eu
ouvi atentamente, mas não vieram mais sons. Não vieram mais sons. Eu sabia o que isso
significava. Que a Elemental do Fogo tinha Bria - que minha irmã estava sendo torturada
agora.

Com esse pensamento horrível, algo dentro de mim se torceu bruscamente, como uma
tensa corda finalmente sendo afrouxada. Este poder frio, grande e terrível me encheu. Mais
poder, mais magia do que alguma vez tinha sentido antes. E então eu comecei a gritar.

Eu gritei por tudo o que tinha acontecido essa noite. Tudo o que eu tinha perdido. Tudo o
que tinha sido feito a mim e minha família. O poder derramou de mim do mesmo jeito que
minhas lágrimas e suor tinham derramado um momento atrás.

E me senti bem… certa, de alguma forma.

Eu continuei gritando, empurrando tudo o que eu ainda tinha nesse som que ecoou. Toda
a minha dor. Todo o meu sofrimento, medo, raiva, desespero e desamparo.

Senti as pedras me responderem. Senti minha magia rasgá-las como um relâmpago,
acordando-as de seu sono longo e sonoro, quebrando-as como se fossem feitas do cristal mais
frágil. Um estrondo profundo começou na terra abaixo dos meus pés, empurrando para cima,

empurrando para fora. Eu não podia controlar o poder, a magia bruta fluindo para fora de
mim, e eu realmente não queria. Eu só queria ferir alguém, queria atacar qualquer um que
tivesse ficado, feri-los como o fogo elementar tinha ferido a mim e a minha família.

Uma a uma, as pedras acima da minha cabeça começaram a ruir e cair. Minha magia da
Pedra espalhou para fora, até que o resto das pedras da casa ficaram completamente instáveis.
Senti as pedras nos outros quartos começarem a rachar e cair do teto e paredes. Uma vez que
começou, eu não podia parar, não podia detê-las. Eu sabia que as pedras trariam o resto da casa
em chamas abaixo, em cima da Elemental de Fogo e todos os seus homens.

Eu gritei novamente, desta vez com um prazer cruel e escuro pelo poder frio e
impressionante que eu empunhava…

— Você está pronta? — Finn perguntou, cortando uma das minhas piores memórias.

— Sim, — eu respondi, olhando para a runa na minha frente, na parede de pedra. —
Estou pronta.

Uma hora depois, a detetive Bria Coolidge foi a primeira a chegar na cena. Seu sedan
cinza de cidade derrapou até parar na frente da mansão na montanha de Elliot Slater. Bria
saltou do banco do motorista. Xavier saiu do outro lado. Armas em punho, os dois policiais
correram para a porta da frente, que eu convenientemente deixei aberta antes de sua chegada.

Cinco minutos depois, Xavier veio para fora, embalando Roslyn em seus braços enormes.
O gigante tinha envolvido um cobertor sobre ela, e ele gentilmente colocou-a dentro da parte
traseira do sedan. Xavier começou a se afastar, mas Roslyn agarrou sua mão. Depois de um
momento, Xavier ajoelhou-se ao lado dela. Ele não deixou o seu lado depois disso, e eu sabia
que ele não o faria durante o resto da noite. Talvez durante o resto de suas vidas.

Bria também veio para fora, seu telefone celular preso ao ouvido. Eu não podia ouvir suas
palavras exatas, mas a urgência de seu tom subiu até ao meu esconderijo no topo da serra com
vista para a mansão, apenas dentro da linha das árvores. O mesmo lugar onde eu tinha estado
quando Finn e eu tínhamos subido a montanha pela primeira vez.

E foi nessa altura que o show realmente começou.

Mais carros transportando mais policiais chegaram ao local, fervilhando sobre a mansão
como formigas em uma crosta de pão coberta de mel. Holofotes foram erguidos, junto com
metros de fita amarela de cena do crime. Não demorou muito para que uma van de notícias
parasse e estacionasse na entrada. Depois outra e outra. Eu sorri. Até agora, tudo estava indo de
acordo com o plano.

De pé, no meio da sala destroçada e sangrenta de Elliot Slater, eu tinha contado tudo a
Roslyn sobre a minha família assassinada, sobre Bria, mas principalmente sobre o meu plano
para derrubar Mab Monroe ou morrer tentando.

A vampira tinha me estudado por vários segundos antes de balançar a cabeça. — Você é
uma cadela louca, você sabe disso.

— Sim, sim, eu sou suicida, — respondi. — Então, você está dentro ou fora?

— Dentro. — Roslyn me deu um pequeno sorriso.

E, simples assim, éramos parceiras. Inferno, talvez até mesmo amigas.

Enquanto eu observava a cena a minha frente, coloquei um par de aspirinas entre meus
dentes e movi o bloco de gelo que eu tinha amarrado no meu pulso quebrado antes de deixar a
mansão. Eu tinha mais uma coisa a fazer antes que eu pudesse escapar e ir ter com Jo-Jo
Deveraux para ela me curar. Finn já estava nas mãos capazes da anã, cuidando de suas muitas
lesões.

Quarenta e cinco minutos depois de Bria e Xavier chegarem, uma limusine longa e preta
parou no topo da entrada da garagem. Finalmente, ela estava aqui. O motorista da limusine
saiu e correu para abrir a porta de trás. Um momento depois, Mab Monroe entrou em vista. A
Elemental de Fogo parecia que tinha estado se divertindo na cidade. Eu podia ver o brilho das
lantejoulas em seu vestido verde floresta, mesmo a esta distância. Seu cabelo vermelho parecia
cobre maçante sob as luzes giratórias vermelhas e azuis da polícia, e seu colar com a runa em
forma de sol brilhava como um anel de fogo de ouro em volta do seu pescoço, circundando o
rubi sangrento no centro do desenho.

À vista de Mab, um dos policiais, um capitão sênior cujo nome me escapou, caminhou até
ela, inclinou-se e começou a falar no ouvido da Elemental do Fogo. Fiz uma nota mental para
pedir a Finn o nome do cara, já que ele estava tão obviamente no bolso de Mab. Podia valer a
pena fazer-lhe uma visita em algum momento no futuro próximo.

O rosto de Mab permaneceu tão suave e inexpressivo como sempre, mas seus olhos
escureceram, sugando toda a luz disponível, em vez de refleti-la de volta. A Elemental de Fogo
estava puta. O capitão terminou de informar Mab e recuou, secando as mãos pelo nervosismo.
Mas em vez de frita-lo no local, Mab olhou através da entrada de automóveis, onde Roslyn
estava sentada, ainda envolta em um cobertor na parte de trás do carro da polícia. Em seguida,
a Elemental de Fogo olhou para o grupo de mídia que se reunia por trás da fita amarela de
cena do crime. Eles já estavam gritando para a polícia contar o que estava acontecendo.

O que significava que era hora de eu fazer a minha presença conhecida.

Com a minha mão boa, eu puxei um detonador pequeno do meu bolso e apertei o botão
azul na parte superior. Um segundo depois, uma luz prateada brilhou, brilhante o suficiente
para encher a montanha inteira. Todo mundo gritou, com exceção de Mab Monroe. Ela só
protegeu os olhos contra a luz e olhou para a fonte da mesma. Após alguns segundos, a
explosão inicial de luz acendeu-se em uma forma que ardia com fogo de prata na pedra de
Mansão de Elliot Slater.

Um círculo rodeado por oito raios finos. Uma runa de aranha. O símbolo para a paciência.

Eu nunca deixei minha runa, meu símbolo, na cena do crime antes. Assassinos que o
faziam eram estúpidos e estavam destinados a ser presos, mais cedo ou mais tarde. Mas este era
o meu plano - o plano louco que eu tinha contado a Finn, Sophia e Jo-Jo. Minha maneira de
afastar as atenções de Roslyn Phillips pela morte bagunçada de Elliot Slater. Minha maneira de
proteger Bria de ser morta por um dos capangas de Mab Monroe. Minha maneira de fazer a
Elemental de Fogo concentrar toda sua atenção em mim.

Minha forma de finalmente declarar guerra a Mab Monroe.

A runa de aranha continuava a queimar. Eu tinha derramado até a última gota de magia
que tinha restante para fazer a runa. Alguns pequenos explosivos de minha mochila de
suprimentos tinham me ajudado a colocar o suco suficiente nela para realmente fazer uma
declaração. Ela parecia tão grande e ameaçadora como eu esperava.

Meus olhos procuraram Bria na multidão. Minha irmã estava um pouco distante dos
outros policiais, apenas olhando para a runa na parede da casa, com a boca aberta em uma
combinação de surpresa e algo que eu não conseguia definir ou explicar. Seus olhos caíram
para os anéis de runa em seu dedo, e ela começou a torcer um deles ao redor. Eu não tinha que
adivinhar qual.

Depois de alguns segundos, afastei meu olhar de Bria. Agora, eu precisava garantir que a
minha mensagem tinha sido entregue.

Então eu coloquei a mão no bolso, tirei meu celular, e disquei o número que Finn tinha
sido gentil o suficiente para fornecer para mim. Tocou duas vezes antes de ela atender.

— O quê? — A voz sedosa de Mab Monroe latiu na minha orelha.

— Gostando do show? — Eu perguntei, usando um tom brilhante e alegre para ajudar a
disfarçar a minha voz. — Eu acho que é bastante impressionante. Mas, novamente, eu poderia
ser um pouco tendenciosa, já que fui eu que orquestrei a coisa toda.

— Quem diabos é você? De que porra você está falando? — Mab rosnou.

— Estou falando da runa muito grande que você está olhando agora. Estou falando sobre
entrar na mansão de Elliot Slater, colocar uma arma na sua cabeça, e puxar o gatilho vezes
suficientes para que sua própria mãe não seja capaz de reconhecer seus restos suculentos.

Enquanto eu falava, observei Mab. O rosto da Elemental do Fogo não se alterou, mas sua
mão apertou o telefone. Eu esperava que ela não o fizesse entrar em combustão espontânea
antes que eu tivesse terminado de falar com ela. Isso sim derrotaria o ponto da minha pequena
exibição aqui esta noite.

— Quem é você? — Mab perguntou, sua voz caindo para um tom baixo e perigoso no
meu ouvido. — Você pode muito bem me dizer agora, porque eu vou te encontrar, vadia. E
quando o fizer, você vai pagar caro por isso.

— Nós realmente já nos encontramos antes, — eu respondi. — Tenho que dizer que estou
bastante desapontada por você não se lembrar de mim. Afinal, eu flertei com você em sua
própria casa de banho.

— Candy, a prostituta, — Mab disse, referindo-se ao nome inútil que eu tinha usado
naquela noite. — Você é a prostituta loira da minha festa. Que matou Jake McAllister e
enterrou Tobias Dawson em sua própria mina de carvão.

— Culpada da acusação.

Silêncio. Abaixo de mim, Mab andou para trás e para a frente na calçada, pensando
muito.

— O que você quer? — Ela perguntou. — Qual é o ponto desta… desta exibição ? Por que
matar Elliot?

— Porque ele era um estuprador e um assassino em série e merecia ser abatido, — eu
respondi. — Porque ele entrou no meu caminho. Porque eu estava entediada. Porque eu queria
te machucar. Será que realmente importa? Ele está morto. Ele não vai voltar. Eu garanti isso.

— E os outros? — Mab perguntou. — Jake McAllister, Tobias Dawson. Eles entraram em
seu caminho também?

— Algo assim, — eu respondi. — Você pode interpretar minhas ações como quiser. Eu
não me importo a que conclusões você chega.

— Quem está pagando para você fazer isso? — A voz de Mab fervia de raiva. — É Benson?
Weston? Phillip Kincaid?

Eu reconheci os nomes que ela cuspiu. Mais dos jogadores poderosos do submundo de
Ashland, cada um dos quais tinha seus próprios problemas com Mab Monroe. Cada um dos
quais teria prazer em vê-la morta para que pudesse assumir o seu pedaço de Ashland.

— Essa é a beleza de tudo isso, — eu respondi. — A maioria dos assassinos são
subcontratados, mas eu? Eu sou completamente independente.

— Então, você tem algum rancor contra mim, alguma vingança, alguma pontuação que
quer igualar. Tão aborrecido. Por que você simplesmente não se mostra para podermos
começar com as coisas? Não há necessidade de envolver outros em seu drama.

Eu ri. — Engraçado. E deixar seus amigos policiais me derrubar? Acho que não. Agora
escute, porque eu só vou dizer uma vez. Esta chamada é o único aviso que você vai conseguir.
Você está acabada nesta cidade, Mab. Você e todos os seus comparsas e asseclas. Estou te dando
um aviso prévio. Eu vou derrubar sua organização peça por peça, um jogador de cada vez, até
que você seja a única que restou. E então eu vou para você.

Mab riu. Mesmo até aqui no cume, eu podia ouvir a alegria mortal em sua voz. — Vou
desfrutar de caçar e matar você.

Revirei os olhos. Isso era o que todos diziam.

— Pelo menos me faça a gentileza de me dizer o que eu fiz para você, — Mab respondeu.
— Porque uma vez que eu colocar minhas mãos em você, Candy, você não vai estar em
qualquer posição para falar, muito menos responder a perguntas.

Eu sorri para a escuridão. — Promessas, promessas, querida. Quanto ao que você fez para
mim, bem, você ajudou a tornar-me o que eu sou. Então, realmente, você não tem ninguém
para culpar a não ser a si mesma pela ira fria que estou prestes a derrubar sobre você e os seus.

— Eu vou te encontrar, e quando fizer isso, você vai morrer, — Mab rosnou. — Devagar.
Dolorosamente.

— Essa é mais uma das belezas de ser independente, — eu respondi. — É só minha
cruzada. Não há mais ninguém com quem conversar. Ninguém para gritar, para subornar,
ameaçar. E eu sou muito, muito boa em ser invisível. Você não vai me encontrar até que eu
queira que o faça. Mas tive a cortesia de deixar meu cartão de visita, por assim dizer.

— Essa fodida runa de aranha? — Mab perguntou. — Por que uma runa de aranha? É tão
simples, tão fraca.

Eu hesitei. Será que ela não se lembrava do meu medalhão de runa de aranha? Como ela
me torturou com ele todos esses anos atrás? Será que ela não percebia que eu era Genevieve
Snow, de volta dos mortos?

Talvez não, pensei. Afinal, tinha sido há 17 anos atrás, e Mab tinha matado dezenas de
pessoas no mesmo período. Difícil lembrar de todos, especialmente desde que eu tinha sido
apenas uma garota fraca e indefesa naquela época. Além disso, Mab tinha se preocupado com
Bria e minha mãe naquela noite, não comigo. Inferno, eu provavelmente não era a única
pessoa que a Elemental do Fogo tinha torturado que usava uma runa de aranha. Não era o
símbolo mais comum lá fora, mas não era inédito também.

Talvez Mab tivesse me esquecido. Talvez ela simplesmente não pudesse ser incomodada
para lembrar agora, dada a surpresa feia da morte de Elliot Slater. Talvez ela iria perceber mais

tarde. Talvez ela se lembrava e estava brincando comigo. Não importava muito no momento.
Tudo o que importava era ter certeza que a minha mensagem era entregue em voz alta e clara.

— Por que uma runa de aranha? Porque é o símbolo da paciência, — eu respondi. — E eu
posso esperar quanto tempo for preciso para pegar você. Então olhe para a runa, Mab,
memorize-a bem. Porque você vai ser vê-la novamente em breve, querida. Incluindo no
segundo antes de morrer.

— Sua cadela estúpida e arrogante — ela começou.

Eu fechei meu telefone. Tinha dito tudo o que eu precisava. Mas, evidentemente, Mab não
gostou da forma como a conversa terminou. Na calçada abaixo, a Elemental do Fogo olhou
para seu celular, um olhar de descrença no rosto. Um segundo depois, uma bola de fogo
explodiu em sua mão, brindando o telefone e piscando para o céu da noite. Os policiais em
frente a mansão imediatamente se viraram, as mãos indo para suas armas, se perguntando se
isso era alguma nova ameaça. Alguns dos jornalistas gritaram com a explosão inesperada, e
todos tomaram alguns passos para trás.

Contei os segundos na minha cabeça. Dez. Vinte. Trinta. Quarenta e cinco… O fogo
apagou na mão de Mab, e seus dedos se enroscaram em um punho apertado. Depois de um
momento, ela respirou, abriu seu punho, e bateu um punhado de cinzas para fora de suas mãos.
Em seguida, a Elemental de Fogo virou-se e voltou para sua limusine à espera. Mensagem
recebida.

Um sorriso frio curvou meus lábios antes de me virar e escorregar para dentro da floresta
escura.

E agora, promessas para manter. Promessas para manter.

30

? Pulso quebrado, costelas partidas, e mais cortes e contusões do que eu posso contar. ?

Jo-Jo enumerou meus muitos ferimentos, um por um.

Dei de ombros. ? Foi uma noite lenta.

Eu estava em uma das cadeiras vermelho-cereja no salão de beleza de Jo-Jo Deveraux.
Após a caminhada de volta para baixo da montanha, eu tinha me dirigido para a casa da anã
para que ela pudesse me curar mais uma vez. Sophia já se posicionara em cima de mim. A anã
Gótica tinha as mãos presas em meus braços, pronta para me segurar para que Jo-Jo pudesse
derramar sua cura de magia elementar de Ar em meu corpo surrado.

Na cadeira ao lado, o já curado Finn murmurou um silencioso adeus e estalou seu celular
fechado.

? Esse era Xavier, checando, ? ele disse. ? Roslyn deu seu depoimento para a polícia.

Ela disse exatamente o que você disse a ela também, Gin. Ela disse à polícia que Elliot Slater a

raptou da Agressão do Norte e levou-a até sua mansão por causa do que ela disse sobre ele no
barco. Que ele bateu nela antes de deixá-la amarrada à cama. Eles também encontraram as
roupas e lembranças de suas outras vítimas naquele armário que você vasculhou, das outras
mulheres que ele estuprou e matou.

Assenti. Esse era o disfarce que tínhamos escolhido, uma forma de Roslyn ser a vítima
que ela realmente era em tudo isto, em vez de um torcido bode expiatório para encobrir os
muitos crimes de Slater.

Finn respirou fundo. ? Roslyn disse a eles o resto também. Que ouviu muito barulho,
muitos gritos, e depois vários tiros. Que uma figura mascarada, uma mulher, entrou no quarto
onde ela estava e a desamarrou. Que a mulher disse a Roslyn que era a Aranha e para contar a
todos em Ashland o que ela tinha feito para Slater e seus homens. Em seguida, a mulher
desapareceu na noite. Roslyn desmaiou, e a próxima coisa que ela sabia, os policiais estavam
por toda parte.

Finn me encarou, seus olhos brilhantes e verdes em seu rosto corado. ? Já está em todos
os noticiários. Eles te apelidaram de uma justiceira, uma espécie de Robin Hood dos dias
modernos. Exceto, é claro, que você mata as pessoas em vez de apenas roubá-las.

Assenti de novo. Isso era exatamente o que eu queria que acontecesse. Levantar-me como
uma lenda maior que a vida, distrair as pessoas do fato de que eu era tão humana e mortal
como o resto delas. Pessoas procurando lendas tendiam a ignorar o mundano, como alguém
que possuía uma churrascaria e tinha aulas na faculdade comunitária local.

? Estou orgulhosa de você, Gin, ? Jo-Jo disse em uma voz suave.

? Orgulhosa, ? Sophia ecoou em sua voz rouca.

? Por quê? ? repliquei. ? Por me levantar como um alvo para Mab Monroe? De acordo

com Finn, ela já tem o seu pessoal tentando descobrir quem eu sou e o que eu realmente quero
dela. Ela pensa que eu estou trabalhando para alguém que está tentando se forçar em seu
território. Um de seus muitos inimigos.

Jo-Jo balançou a cabeça. ? Não. Por salvar Roslyn Phillips, por colocar a culpa em si
mesma, em vez de nela.

Dei de ombros. ? Foi minha culpa que Elliot Slater ficou obcecado por ela, em primeiro
lugar. Devo a ela mais do que posso retribuir só por isso. Além disso, apenas não havia
nenhuma outra maneira de resolver isso. Caso contrário, Mab teria vindo atrás de Roslyn,
mesmo sabendo que o gigante estava perseguindo a vampira.

? Mesmo assim, ? Jo-Jo disse. ? É algo que Fletcher Lane teria feito. Tenho certeza de

que onde quer que esteja, ele está olhando para baixo e sorrindo para você, Gin.

Pensei no velho, no arquivo de informações que ele me deixara sobre minha família
assassinada, sobre o fato de que ele tinha conseguido que Bria voltasse a Ashland para me
procurar. Jo-Jo estava certa. Senti como se estivesse seguindo os passos de Fletcher em um jeito
estranho. O velho tinha feito trabalhos pro bono para as pessoas. Agora eu estava fazendo um
para toda a cidade de Ashland.

? Sabe o quê? ? repliquei. ? Acho que você está certa.

Deixei minha cabeça voltar contra o encosto de cabeça. ? Agora, use seu encanto para
me colocar de pé e ao redor de novo. Eu preciso ir ver um homem a respeito de algumas
espadas.

Jo-Jo sorriu. ? Com prazer, querida. Com prazer.

Bati na porta da frente de Owen Grayson, justo quando o sol se levantou sobre as
montanhas do leste. Eu tinha acabado de soltar a aldrava de martelo e dar um passo para trás
quando ele abriu a porta e enfiou a cabeça para fora. Owen usava uma camisa azul bebê que
fazia seus olhos parecerem mais azuis do que violeta no amanhecer cinzento. Suas roupas
estavam amarrotadas, como se tivesse passado a noite nelas.

Os olhos de Owen se arregalaram ao me ver, e seu olhar violeta assimilou minha
aparência desgrenhada, roupas ensanguentadas e as duas espadas que eu segurava na minha
frente. Depois de Jo-Jo me curar, eu poderia ter ido para casa, trocado, e tomado banho.
Provavelmente deveria ter.

Mas o sangue era parte de mim, parte de quem eu era e o que eu fazia. Se as coisas
fossem funcionar entre Owen e eu, ele tinha de perceber o que estar comigo realmente
significava - e tinha que aceitar-me por quem e o que eu era. Donovan Caine não tinha sido
capaz de fazer isso. Agora, eu ia ver se Owen Grayson alguma vez poderia.

? Oi aí, ? eu disse em uma voz baixa.

? Oi você, ? Owen respondeu. Ele olhou para minhas roupas ensanguentadas mais uma

vez antes de seus olhos subirem para o meu rosto. ? Longa noite?

Dei de ombros. ? Você poderia dizer isso. Eu quis passar por aqui e pedir desculpas. Acho
que posso ter assustado Eva um pouco noite passada, quando vim para cá. Mas havia uma
emergência, e eu não tinha tempo para explicar as coisas para ela. Eu também trouxe suas
espadas de volta.

Estendi as armas para ele. Elas estavam tão sangrentas quanto minhas roupas. Então eu
fiquei lá, e esperei. Porque agora era a vez de Owen tomar uma decisão.

Ele me encarou de novo, assimilando minhas roupas pretas ensanguentadas antes de
lentamente alcançar e pegar as espadas da minha mão. Owen olhou para a primeira arma,
depois a outra. Sangue seco brilhava como tinta vermelha fosca em ambas as lâminas,
tornando tão óbvio o que eu tinha feito com elas durante a longa noite. Que eu as usara para
cortar e machucar e ferir e matar. Era uma coisa fazer armas. Outra bem diferente era ver a sua
aplicação brutal na dura luz de um novo dia.

Por um momento eu pensei que Owen iria virar, entrar, e fechar e trancar a porta na
minha cara. Isso foi o que Donovan Caine tinha feito, só que ele tinha sido aquele a sair em vez

de mim. Mas para minha surpresa, Owen assentiu com a cabeça, depois olhou para cima e me
deu um pequeno sorriso.

? Venha, ? ele disse em uma voz baixa. ? Vamos te limpar.

Owen adiantou-se, deslizou a mão quente na minha fria, e me puxou para dentro.

Ele me levou de volta para seu escritório, onde colocou as armas dentro da porta. Depois,
sua mão ainda na minha, nos dirigiu por outro corredor. Ele abriu uma porta, e eu pisei no que
era obviamente seu quarto. Meu estômago se apertou com antecipação

Mas em vez de me levar para a cama com seus lençois de seda preta, Owen pegou a
minha mão mais uma vez e me puxou para o quarto ao lado, o banheiro principal. Olhei para o
mármore e granito cinza que formavam o quarto enorme. O chuveiro era grande o suficiente
para quatro pessoas e até mesmo vinha completo com seus próprios assentos, cada um rodeado
por vários jatos de água. Um lugar para relaxar e deixar os fluxos escaldantes baterem em seus
músculos, se você assim desejasse. A minha volta, as pedras lisas sussurravam de água, calor,
relaxamento.

Owen Grayson não disse uma palavra quando alcançou o chuveiro e ligou a água.
Comecei a tirar meu colete com crostas de sangue, mas ele pisou na minha frente.

? Deixe-me, ? ele disse.

Ele lentamente abriu o zíper do colete de silverstone e gentilmente o deixou cair no chão.
Suas mãos fortes e capazes puxaram minha camiseta preta de gola alta para fora do meu jeans,
e obedientemente levantei os braços sobre a cabeça para que ele pudesse tirá-la de mim.
Minhas botas e meias foram as próximas, seguidas por meu jeans. Owen fez todo o trabalho,
lutando com os botões e descascando o tecido duro, pegajoso, encharcado de sangue da minha
pele. Eu o encarei o tempo todo em que ele me despiu. Os olhos violeta de Owen queimavam
mais brilhantes com cada peça de roupa que ele removia. O desejo no olhar dele correspondia
ao meu próprio.

Finalmente, fiquei lá no meu sutiã e calcinha pretos. Owen me olhou por vários
segundos, depois removeu aqueles também, suas mãos deslizando pela minha pele salpicada de
sangue de uma maneira que me fez tremer. Quando eu estava nua, ele pegou minha mão de
novo, me guiou para o chuveiro fumegante, e me direcionou para ficar sob uma corrente de
água. Riachos rosa correram pelo meu corpo e rodaram pelo ralo enquanto a água escorria o
sangue da minha pele.

Atrás de mim, ouvi o som de mais roupas e o assovio de um zíper. Sorri e apanhei uma
barra de sabão em um recesso construído em uma parede. Poucos segundos depois, Owen
entrou no chuveiro atrás de mim.

? Deixe-me, ? ele disse de novo.

Virei-me, e ele ficou ali nu na minha frente, a embalagem de alumínio distintiva de um
preservativo na mão. Claro, eu tomava minhas pequenas pílulas brancas assim não haveria
quaisquer consequências indesejadas. Ainda assim, nada de errado com proteção extra.

Meus olhos vagaram sobre seu corpo alto, bíceps tonificados, peito sólido com seu cabelo
escuro que corria todo o caminho até seu estômago para o seu pau. Mesmo sem seus ternos de
grife, Owen irradiava força e confiança. Mmm.

Owen colocou o preservativo no local onde o sabonete tinha estado. Então ele pegou a
barra de marfim de mim e fez espuma entre as mãos. Nossos olhos se encontraram e
seguraram por um momento antes de ele se adiantar e começar a lavar-me. Meu rosto, peito,
estômago. Owen lentamente esfregou o sangue da minha pele e cabelo do jeito que alguém
poderia lavar a sujeira de uma criança. Mas um incêndio começou a se construir entre as
minhas coxas às suas ministrações gentis. Um fogo que eu sabia que iria finalmente ser extinto
hoje.

Quando Owen terminou de me lavar, pisei sob o jato de água quente, enxaguei o sabão da
minha pele, e penteei com os dedos meu cabelo molhado. Ele ficou ali no vapor subindo, só me

observando com seus olhos violeta, o sorriso largo em seu rosto me dizendo o quanto ele
gostava do que via. Puxei a barra de sabão de sua mão e sorri.

? Minha vez.

Eu o lavei da mesma maneira que ele tinha me lavado. Lentamente, cuidadosamente,
gentilmente, mostrando-lhe o mesmo respeito que ele me mostrara. O mesmo cuidado e
ternura. Quando terminei, ele pisou em um spray de água, observando as bolhas de sabão
fazendo espuma e rodando pelo ralo.

? Agora que nós dois estamos limpos, ? eu disse em um tom malicioso. ? Por que não

fazemos algo sujo?

Outro sorriso puxou os lábios de Owen, suavizando a cicatriz cortando seu queixo. ?
Pensei que você nunca pediria.

Nos movemos um para o outro e nos encontramos no meio do chuveiro. Enrosquei
minhas mãos em seu cabelo escorregadio e puxei sua boca para baixo para a minha. Nossos
lábios se encontraram em um beijo que foi tão gentil quanto a água em cascata sobre nossos
corpos - e que rapidamente se transformou em um de paixão, desejo e necessidade
incandescentes.

Owen grunhiu baixo em sua garganta e me empurrou contra a parede do chuveiro. Suas
mãos estavam em todos os lugares. Meu pescoço, seios, barriga, quadris, costas. Amassando,
acariciando, provocando. Assim como as minhas estavam por toda parte nele. Pescoço, peito,
barriga, bunda. Amassando, acariciando, provocando. Não conseguíamos ter o suficiente um do
outro, não conseguíamos explorar o corpo um do outro com rapidez suficiente para satisfazer
esta fome, esta necessidade que deflagrou entre nós.

A queimadura lenta entre as minhas coxas se transformou em um pulsar crescente,
constante. Nossos movimentos tornaram-se ainda mais rápidos, mais frenéticos. Nossas mãos e
carícias mais duras, mais longas, mais intensas. A língua de Owen se moveu para minha boca,
só recuando quando eu estava sem fôlego. Eu alegremente retornei o favor. Ele enterrou a

cabeça no meu ombro, mordiscando a pele delicada da minha garganta. Eu belisquei o lóbulo
de sua orelha com os dentes. Os lábios quentes de Owen deslizaram para baixo, fechando-se
sobre um mamilo, depois o outro, conforme ele os chupava e raspava com seus dentes
provocantes. Gemi com as sensações quentes bombeando através de meu corpo e levantei
minha perna, puxando-o para mais perto e colocando seu pau contra mim.

Deslizei minha mão entre as pernas de Owen, afagando o comprimento duro dele,
levemente circulando minhas unhas sobre sua ponta rígida. Ele balançou os quadris contra
mim, elevando o meu desejo muito mais.

? Lá vai você de novo, ? eu disse asperamente. ? Sendo um provocador.

Owen riu. ? Por que eu deveria parar quando provocar você é tão divertido?

Uma de suas mãos acariciou meu peito. A outra mergulhou mais baixo, seus dedos
molhados se arrastando pelo meu estômago e depois para o meu próprio centro, entrando e
saindo em uma dança rápida, elegante.

? Chega de provocação, ? murmurei. ? Venha aqui.

Agarrei o preservativo do recesso na parede, rasguei-o com os dentes, e empurrei Owen
para baixo sobre suas costas no chão do chuveiro. Uma vez que ele colocou a camisinha onde
pertencia, subi em cima dele, pronta para continuar com as coisas. Mas Owen me puxou para
baixo e rolou sobre mim para que eu estivesse embaixo.

Arqueei uma sobrancelha. ? Eu prefiro estar em cima, lembra?

? Da próxima vez, ? ele sussurrou, abrindo minhas coxas e deslizando profundamente

em mim.

Gemi com a sensação dele me enchendo. Enrolei minhas pernas em volta de sua cintura,
e Owen começou o constante, antigo ritmo.

Nós nos apressamos e batemos um contra o outro, cada um tentando trazer tanto prazer,
tanto sentimento, quanto possível para o outro. Nosso ritmo cresceu e cresceu até alcançarmos
aquele pico máximo, nossos gritos roucos afogados pelo chiado constante da água quente em
torno de nós.

31

Depois que terminamos no chuveiro, nos enrolamos em roupões atoalhados, grossos e
nos dirigimos para a cozinha. Fiz Owen sentar enquanto cozinhava para nós um enorme café da
manhã. Omeletes picantes do sudoeste, panquecas de mirtilo leves como o ar, fatias grossas de
bacon canadense, um doce ponche de frutas de manga-morango-kiwi. Tudo foi feito com
perfeição e tinha gosto ainda melhor do que parecia.

? E você cozinha também, ? Owen murmurou, encarando os pratos sobre a mesa. ? Há

algo que você não faça, Gin?

? Não sei, ? Repliquei em tom provocante. ? Pergunte-me, e vamos ver.

Seus olhos violeta escureceram com calor.

Ficamos ali sentados em silêncio sociável por vários minutos tomando café da manhã e
desfrutando da companhia um do outro. Depois que terminamos nossa primeira rodada de
comida, Owen olhou para mim.

? Você quer me contar sobre isso? ? Ele perguntou em tom calmo. ? Eu já vi a versão

nas notícias da manhã. Grande exibição você deu lá em cima no topo da montanha.

? Esta sou eu, ? eu disse em uma voz irônica. ? Uma verdadeira exibida.

Contei-lhe tudo. Os problemas que Roslyn Phillips vinha tendo com Elliot Slater, o
gigante ameaçando matar a família de Roslyn a menos que ela viesse a ele, minha corrida para
salvá-la. A única coisa que mudei foi o final, levando o crédito por matar Slater em vez de
colocá-lo aos pés de Roslyn. A vamp já tinha passado por muita coisa.

Owen ficou lá sentado, mastigando suas panquecas, e ouvindo meu conto sangrento. ?
Então, acabou aí? ? ele perguntou. ? Você volta a estar aposentada agora?

Olhei para Owen, com seu cabelo amassado preto e peito sólido espreitando para fora da
fenda em seu roupão branco. Seria tão fácil mentir para ele. Dizer que claro que estava acabado
agora. Que eu ia passar o resto dos meus dias atirando churrasco no Pork Pit. Mas a minha
mentira não iria durar muito. Owen tinha suas próprias fontes de informação, assim como
Finn. A próxima vez que eu eliminasse alguém na organização de Mab e deixasse meu cartão
de visitas de runa de aranha, Owen iria ouvir sobre isso mais cedo ou mais tarde. Mas, mais
importante do que isso era o simples fato de que eu não queria que houvesse qualquer mentira
entre nós.

? Não, ? eu disse. ? Não acabou. Está apenas começando. Eu vou atrás de Mab. Sua

organização inteira, todos os seus lacaios, todos os funcionários e policiais que ela tem no bolso.
E quando eu quebrar o suficiente da sua concha protetora, então eu vou atrás dela.

Owen me encarou. ? E por que você quer fazer tudo isso, Gin? Por que você se arriscaria
assim? O que Mab fez para você?

Respirei fundo. ? A vadia assassinou minha família. Entre outras coisas.

Eu não disse mais nada. Não dei a Owen os detalhes do assassinato de minha família ou
de quem eu realmente era ou do fato de que Mab tinha seus olhos postos em matar Bria por

magia que ela nem sequer tinha. Eu simplesmente não estava pronta para revelar tanto assim
de mim para ele. Não agora, talvez nunca. Se Owen sequer me desse esse tipo de oportunidade.
Se ele sequer nos desse esse tipo de oportunidade.

Respirei fundo de novo e me preparei para o resto do meu discurso. Porque tão agradável
quanto o nosso tempo juntos no chuveiro tinha sido, ótimo sexo não era o suficiente para eu
colocar Owen em perigo - não o tipo de perigo que Mab Monroe apresentava.

? Esta manhã foi maravilhosa, ? eu disse. ? Mas dado o que eu fiz ontem à noite, dado

o que eu pretendo fazer nas próximas semanas, se você não quiser que as coisas vão mais longe
entre nós, eu vou entender, Owen. Ir atrás de Mab e sua organização será perigoso, não só para
mim, mas para as pessoas com que eu me importo também. Porque se Mab descobrir quem eu
sou antes que eu queira que ela descubra, ela vai vir atrás de todos que eu conheço com tudo o
que ela tem. Sei que você tem Eva para pensar. Acredite, sei o quão importante irmãs podem
ser, quão importante Eva é para você. Vou entender se você não quiser correr o risco.

Owen me encarou por vários segundos, seus olhos escuros em seu rosto forte. ? Eu
aprecio sua preocupação, mas eu sou um garoto grande, Gin. Eu posso cuidar de mim mesmo.
Eva também. Eu venho fazendo isso a maior parte da minha vida adulta. Além disso, ? Sua
boca se torceu. ? Sua família não foi a única que Mab matou.

Uma dor com a qual eu estava muito familiarizado preencheu seu rosto. Estendi e
coloquei minha mão em cima da sua. ? Oh, Owen. Eu sinto tanto. Como isso aconteceu?

Ele deu de ombros. ? Meu pai era um apostador. Ele ficou envolvido demais com um
agente de apostas que trabalhava para Mab. Meu pai era um homem grande, forte. O agente
tinha medo dele, por isso ele chamou Mab para reforço. Ela incendiou nossa casa com nós
quatro nela para enviar uma mensagem para os outros clientes do agente pagarem - senão . Eva
e eu saímos. Nossos pais não.

Owen caiu em silêncio, perdido em suas memórias ardentes do passado. Apenas ficamos
ali sentados, minha mão em cima da maior de Owen. Não dissemos nada por quase um minuto.

? Então o que você quiser fazer, como você quiser lutar contra Mab Monroe, eu estou

com você, ? Owen finalmente disse em uma voz baixa. ? Porque a vadia matou meus pais
também. Mas principalmente porque eu estou caindo por você, Gin. Eu sei o que você faz, de
que tipo de violência você é capaz. Mas também, eu sei que tipo de mulher você é.

Suas palavras me espantaram mais do que qualquer coisa tinha em um longo tempo. ? E
que tipo de mulher isso seria?

Owen me encarou. ? Alguém que é apaixonada e cheia de vida. Alguém engraçada e
esperta. Mas, principalmente, alguém que vai fazer qualquer porra que for preciso para
proteger as pessoas com quem ela se importa. Isso é o que eu gosto em você, Gin. Isso é o que
eu admiro em você. Isso é o que me atrai para você. ? Sua boca se curvou em um sorriso. ?
Bem, isso e as facas. Eu já mencionei que acho que as armas são sexy?

Uma sensação quente e suave floresceu no meu peito, um pequeno arrepio de
possibilidades, do que poderia ser entre Owen e eu - algo muito maior do que eu jamais
sonhara.

Ao seu tom sugestivo, arqueei uma sobrancelha, levantei e sentei em seu colo. ? Armas
são sexys, huh? ? Sussurrei, meus lábios apenas tocando os seus. ? Se importa de me revistar
para ver se eu estou levando alguma agora mesmo?

Os olhos de Owen cintilaram com desejo violeta. ? Eu amaria.

Um minuto depois, Eva Grayson entrou na cozinha em seus pijamas de flanela para
encontrar Owen e eu ainda nos beijando - entre outras coisas mais lascivas. Ela imediatamente
bateu a mão sobre os olhos e começou a recuar da cozinha.

? Oops! Owen, desculpe, não percebi que você tinha um convidado durante a noite... ?

Eva espiou por entre seus dedos para mim. ? Espere um minuto. Gin? É você?

Puxei meu roupão fechado. ? Em carne e osso.

Os olhos de Eva se estreitaram, e ela olhou de mim para seu irmão e de volta. ? Uma
festa do pijama. Aconchegante. ? Seu olhar sacudiu para a comida na mesa. ? Assumo que
você vai ficar para o café da manhã, então?

Encarei Owen. ? Yeah, ? eu disse. ? Acho que vou ficar aqui por algum tempo.

Três dias depois, logo após as onze, eu estava de volta ao Pork Pit, sentada atrás da caixa
registradora lendo a edição da manhã da Trombeta de Ashland. Na manchete na primeira
página lia-se Polícia ainda procurando justiceira . A história era outro pedaço de
acompanhamento sobre os eventos que haviam transpirado na mansão na montanha de Elliot
Slater.

? Bem, pelo menos eles não estão te chamando de assassina, ? Finnegan Lane disse,

lendo a manchete de cabeça para baixo.

Finn estava fazendo uma pausa de seu banco para ter um almoço cedo no Pork Pit antes
da multidão habitual de meio-dia chegar. Sophia Deveraux já havia derramado para Finn sua
segunda xícara de café de chicória e estava preparando para ele outro pote para levar de volta
para o banco.

Dei de ombros. ? É só uma questão de tempo antes que gire para o outro lado e eu esteja
de volta sendo uma assassina de sangue frio.

? Veremos, ? Finn respondeu. ? Isso pode levar mais tempo do que você pensa.

? Por que você diz isso?

? Tenho tido meu ouvido no zumbido subterrâneo, ? Finn respondeu, tomando um

gole de seu café. ? Dizem que Mab Monroe está procurando por você de alto a baixo e que ela
tem todos os seus garotos e garotas em alerta vermelho. Mas há também um monte de outras
pessoas que estão interessadas em ver se você pode ter sucesso. Se você pode realmente

derrubar Mab e sua organização. Obviamente, os outros jogadores de poder na cidade estão
extremamente interessados no resultado. Phillip Kincaid sendo o mais vocal desses. Mas há
muita gente pequena falando também, mães e pais 22 que sentiram o calor de Mab ao longo dos
anos. Você conseguiu o início de um grande fã clube lá fora.

? Ótimo, ? respondi em tom irônico. ? Justo o que eu preciso. Celebridade.

? Pode ter seus usos, ? Finn respondeu.

O sino sobre a porta da frente soou, e meu primeiro cliente real do dia passeou para
dentro - Roslyn Phillips. Hoje a vamp usava um suéter elegante lavanda sobre um par de calças
de lã cinza, apertadas. Um pouco de batom combinando iluminava seu rosto bonito, e seus
óculos prateados brilharam ao sol da manhã. Você nunca saberia olhando para ela que Roslyn
quase fora espancada até a morte. Graças às habilidades de cura de Jo-Jo Deveraux, a vamp
estava completamente recuperada de sua provação nas mãos de Elliot Slater. No exterior, pelo
menos.

Eu sabia que Roslyn sempre teria as cicatrizes no interior - feridas cruas, sangrentas que
cicatrizariam, mas talvez nunca curassem completamente. Meu coração ainda doía pela
vampira e tudo pelo que ela passara por minha causa, e eu sabia que sempre iria. Se pudesse,
teria matado Elliot Slater por ela mais uma vez. E de novo. E de novo.

Mas Roslyn parecia estar se mantendo por conta própria. E Finn me dissera que Sophia,
de todas as pessoas, tinha conversado longamente com a vamp sobre o que acontecera com ela.
Finn não sabia dos detalhes, mas disse que o que quer que Sophia tivesse dito a Roslyn, tinha
parecido ajudar a outra mulher. A vamp certamente parecia mais como seu eu antigo,
confiante, sofisticado hoje do que ela tinha da última vez que eu a vira - sangrenta na parte de
trás de um carro da polícia, enquanto todos olhavam de boca aberta para ela.

22 Aí no sentido de pequenos negócios, que normalmente são de propriedade e administrados por

membros de uma família.

Quer ela mesma percebesse isso ou não, Roslyn Phillips era uma das pessoas mais fortes
que eu já tive o prazer de conhecer. E um dia, eu esperava que ela me desse a honra de me
chamar de amiga, apesar do inferno que fui parcialmente responsável por infligir a ela. Eu
esperava que Roslyn pudesse me perdoar por isso algum dia - mesmo sabendo que eu nunca
me perdoaria.

Roslyn veio até o balcão, sentou-se ao lado de Finn, e sorriu para nós dois. ? Gin, Finn. ?
A vampira se inclinou para frente e acenou com a mão para Sophia.

? Hmph. ? Sophia retornou a saudação de Roslyn com seu grunhido de costume, mas a

anã Gótica lançou a vampira um minúsculo sorriso antes de voltar para a cafeteira.

? Roslyn, ? eu disse. ? O que posso fazer por você?

? Nada. Absolutamente nada. Eu só estou aqui para encontrar Xavier para o almoço.

Levantei uma sobrancelha. ? Não conseguiu resistir à minha comida?

Outro pequeno sorriso puxou seus lábios, embora não baniu completamente as sombras
escuras em seus olhos. ? Algo assim.

Nós sentamos e batemos papo sobre nada de importante. Todos sabíamos que era cedo
demais para conversar sobre qualquer outra coisa, e eu não queria fazer ou dizer qualquer coisa
para perturbar Roslyn.

Então Roslyn nos contou que sua irmã Lisa e sua sobrinha Catherine finalmente
voltaram de suas férias na praia agora que Elliot Slater estava morto e o caminho estava livre,
por assim dizer. Ela prometeu trazê-las algum dia. Eu disse a vamp que qualquer refeição com
a sua família no Pork Pit era por conta da casa.

Cerca de cinco minutos depois de Roslyn chegar, o sino da porta da frente soou
novamente, e Xavier entrou. O gigante seguiu direto para Roslyn, e os dois sorriram um para o
outro, seus sentimentos brilhando em seus olhos para todo mundo ver.

? Com licença, ? Roslyn disse, seguindo Xavier até uma das cabines perto das janelas.

Observei os dois. Xavier era cuidadoso com Roslyn, não ficando perto demais dela,
colocando a mão ao lado da dela em cima da mesa, mas sem tocá-la na verdade. Por sua parte,
Roslyn fazia um esforço, olhando diretamente para o gigante, sem tirar a mão da mesa quando
ele deslocou a sua para um pouco mais perto da dela. Ainda era um trabalho em progresso,
mas de alguma forma eu pensei que eles ficariam bem, apesar dos últimos dias horríveis que
os dois passaram.

Xavier não tinha vindo para o restaurante sozinho. Cerca de dois minutos depois, a
detetive Bria Coolidge entrou pela porta da frente do Pork Pit. Minha irmã usava seu casaco
longo de costume sobre um suéter, calça jeans, e botas. Seu distintivo dourado de detetive
cintilava no cós de sua calça jeans. Bria acenou para Xavier e Roslyn, em seguida sentou-se
sozinha em uma cabine na parte de trás do restaurante para dar ao casal a sua privacidade. Bria
pegou o cardápio sobre a mesa e começou a lê-lo.

Finn me cutucou com a mão. ? Vá falar com ela, ? ele sussurrou. ? Você tem que
começar em algum lugar com ela, Gin. Ou então tudo pelo que passamos, tudo o que vamos
fazer será para nada.

Encarei através do restaurante para a minha irmã. Tão perto, ainda assim tão longe. Mas
Finn estava certo. Eu tinha que começar em algum lugar com Bria. Tinha havido antagonismo
e mentiras suficientes entre nós já. Eu queria estabelecer algum tipo de relacionamento
amigável entre nós, queria uma lousa nova para pelo menos tentar chegar a conhecer minha
irmã. Poderia muito bem tentar começar limpando a sujeira hoje.

Olhei para Finn com seus brilhantes olhos verdes. ? Eu já te disse o quanto odeio quando
você está certo?

Finn apenas sorriu afetadamente para sua xícara de café.

Revirei os olhos para ele, então fiquei de pé e caminhei de volta para sua cabine.

? Olá, detetive, ? Eu disse em uma voz agradável.

Bria olhou acima para mim e acenou com a cabeça. ? Srta. Blanco.

? Por favor, me chame de Gin, ? respondi. ? Todo mundo chama.

Ela me encarou mais um momento, depois assentiu. ? Tudo bem. Gin. Como o licor,
certo?

Pisquei. Essa normalmente era minha fala quando eu estava dizendo às pessoas o meu
nome. ? Yeah. Onde você ouviu isso?

Ela deu de ombros. ? Xavier me contou que você o escreve assim. Pareceu uma maneira
fácil de lembrar.

? Claro. ? Puxei minha caneta e um bloco do meu bolso de trás. ? Então, o que eu

posso fazer por você?

Bria mordeu o lábio e olhou para mim. ? Na verdade, estou aqui para me humilhar. É
por isso que eu acompanhei Xavier hoje. Eu fui dura com você da última vez que conversamos,
e eu só queria pedir desculpas. Roslyn me disse que você estava apenas tentando ajudá-la, que
você realmente não tinha ideia de onde ela estava ou o que estava acontecendo com ela. Sinto
muito se chateei você.

Acenei minha mão. ? Águas passadas, detetive. Elliot Slater teve o que merecia, e Roslyn
está segura agora, como você pode ver.

Os olhos azuis de Bria sacudiram para Roslyn e Xavier, que tinham suas cabeças juntas e
estavam conversando suavemente entre si.

? Alguma pista sobre esta pessoa que o matou? ? Perguntei. Finn tinha suas formas de

obter informações, e eu tinha as minhas. ? Como eles estão o chamando de novo?

? Ela, ? Bria corrigiu em um tom ausente. ? É uma ela. A imprensa está chamando-a

de Aranha, por causa da runa que ela deixou no local do crime. Aquela esculpida na madeira e
pedra na mansão de montanha de Elliot Slater.

Por um momento, Bria olhou para fora da janela, observando o fluxo de pedestres e
tráfego na rua fria. Então ela abaixou a mão e lentamente virou um dos aneis em seu dedo
indicador esquerdo ao redor. O anel no topo. O carimbado com a runa de aranha. Meu anel. Me
perguntei sobre o que minha irmãzinha estava pensando, do que ela estava se lembrando, pelo
que ela estava esperando.

? Bem, ? respondi, cortando seus pensamentos. ? Espero que você a pegue.

Um sorriso sombrio se estendeu pelo rosto de Bria, apertando suas belas feições. ? Oh,
eu vou encontrá-la, Gin. Não se engane sobre isso. O que eu farei com ela depois, bem, eu não
sei por enquanto. ? Ela murmurou a última frase sob sua respiração.

Sorri para ela. ? Bem, eu tenho certeza que você terá melhor sorte com o estômago
cheio. Então, o que eu posso fazer por você, detetive? Tudo por conta da casa hoje, em honra da
recuperação de Roslyn.

Bria pediu um cheeseburger com todos os acessórios e batatas fritas. Ajudei Sophia a
cozinhar seu pedido e também peguei um pedaço de torta de amora preta - sobremesa especial
de hoje. Vários minutos depois, carreguei tudo de volta para a mesa e coloquei para baixo.

Bria olhou para a torta. ? Isso parece maravilhoso. Amora preta é a minha favorita.

Eu sabia disso, mesmo que eu não pudesse dizer isso a ela. ? Espero que você goste.

Comecei a me afastar dela, voltar e me esconder atrás da caixa registradora como de
costume, mas Finn me deu um pequeno aceno de sua mão, me incitando para a frente. Então
voltei para a mesa e sorri mais uma vez.

? Se importa se eu me sentar? ? eu disse. ? Está um pouco lento ainda, e já que parece

que Xavier vai ser um dos meus clientes regulares, eu gostaria de conhecê-la um pouco
melhor, detetive.

Bria pareceu surpresa com meu pedido estranho, mas ela acenou com a mão para o lado
oposto da cabine. ? Claro. Odeio comer sozinha de qualquer maneira.

Então eu deslizei para dentro da cabine e assisti Bria comer um pedaço de sua torta de
amora. Seus olhos rolaram para trás em sua cabeça.

? Céu, ? ela respondeu. ? Simplesmente céu.

Sorri largamente. ? Se você acha que isso é bom, deveria experimentar o meu bolo de
gotas de chocolate.

Bria me deu um pequeno sorriso. ? Eu vou ter a certeza de fazer isso da próxima vez em
que estiver aqui.

Assenti, e nós não falamos por alguns momentos.

? Você sabe, eu finalmente descobri, Gin, ? Bria disse. ? Por que você parece tão

familiar para mim.

Tive que trabalhar muito duro para não fazer nada além de continuar piscando
constantemente para ela. ? Oh?

? Yeah, ? ela disse, comendo outro pedaço de sua torta. ? Você parece muito com

minha colega de quarto da faculdade. Mesmo cabelo escuro, mesma coloração pálida. Sua
família tinha um restaurante também. Até seu avental azul é o mesmo que o dela. Eu amava
aquele lugar. Passei tanto tempo lá quanto pude.

Ela me deu outro sorriso, e eu forcei uma risada suave

? Imagine isso. Então me diga, detetive. De onde você é?

Fiz a pergunta para mudar a conversa, é claro. Para impedir Bria de pensar sobre quem
mais eu poderia parecer ou lembrá-la de. Mas eu também realmente queria saber a resposta. Eu
ainda não olhara para a pasta de informações que Finn havia compilado sobre Bria. Pelos
últimos dias, eu tinha estado mais preocupada com como Roslyn estava lidando e o que Mab
Monroe estava fazendo para tentar me encontrar. E agora, com Bria sentada aqui na minha
frente, percebi que realmente não queria olhar para a informação. Eu queria que a própria Bria
me contasse, da forma que uma amiga iria.

Da forma que uma irmã iria.

? Por favor, ? ela disse. ? Me chame de Bria. Todo mundo chama.

Assenti de novo e sorri. ? Então me diga, Bria. De onde você é?

Quando Bria começou a falar sobre seu tempo na Savannah, Georgia, relaxei contra a
cabine. Um pequeno sorriso puxou meus lábios, e os meus olhos cinzentos sacudiram para a
parede onde uma cópia manchada de sangue de Where the Red Fern Grows estava montada,
juntamente com uma foto de dois homens jovens prestes a irem à pesca. Jo-Jo Deveraux estava
certa. Onde quer que Fletcher Lane estivesse - céu, inferno, ou algum lugar no meio - acho que
ele teria ficado feliz com as coisas agora.

Com a ajuda de Roslyn, eu tinha desferido um grande golpe contra Mab Monroe e sua
organização. Levaria um tempo para ela encontrar alguém para substituir Elliot Slater, e os
outros tubarões já estavam farejando ao redor, sentindo fraqueza na elementar de Fogo pela
primeira vez.

E aqui estava eu, Gin Blanco, Genevieve Snow, o que eu quer que estivesse me chamando
estes dias. Sentada aqui no meu lugar favorito no mundo com a irmãzinha que eu pensara que
estava morta. Era uma espécie de milagre.

Oh, as coisas não estavam perfeitas. Mab Monroe estava movendo céus e terra, pelo
menos o que passava por isso em Ashland, para tentar me encontrar. E se ela encontrasse, bem,
haveria um inferno para enfrentar. A elementar de Fogo e eu íamos dançar um dia muito em

breve, e eu estaria pronta. Eu finalmente ia matar a vadia que tinha tomado tanto de mim com
apenas um aceno de sua mão.

Eu não tinha dúvida de que Bria tinha descoberto que a Aranha era na verdade sua irmã
mais velha há muito perdida, Genevieve Snow. Que Bria ia fazer o que pudesse para me
encontrar. O que ela fez quando descobriu a verdade, se a irmãzinha me entregou para os
policiais ou fez alguma outra coisa, bem, eu só não sabia. Mas Bria estava aqui, segura e quente
no meu restaurante, comendo minha comida, e me contando sobre si mesma de uma forma
real, pessoal que eu não iria conseguir do arquivo de Finnegan Lane sobre ela.

Não era o relacionamento que eu tinha em mente com a minha irmã. Não era o que
tinha sonhado desde que soube que ela estava viva, mas era um lugar para começar. Isso era
tudo o que eu poderia pedir agora. E era muito mais do que merecia. Eu sabia disso. E eu sabia
que tinha Fletcher Lane para agradecer por tudo isso. O velho foi quem tinha trazido Bria a
Ashland. Agora cabia a mim fazer o resto. De alguma forma eu iria.

E, finalmente, havia Owen Grayson. Naquela manhã em sua casa no chuveiro e depois
mais tarde na cozinha; Owen tinha me aceitado - tudo de mim - de uma forma que Donovan
Caine nunca tinha. Era Owen e eu para sempre? Poderia me importar com ele? Poderíamos
construir algum tipo de vida juntos? Eu não sabia, mas estava estranhamente ansiosa para
descobrir, que era por que Owen estaria esperando por mim em sua casa, mais tarde, esta noite.

Era o suficiente por enquanto.

 

 

                                                    Jennifer Estep         

 

 

 

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