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Planeta Criança



Poesia & Contos Infantis

 

 

 


VICTORYA SECRET / Izabella Mancini
VICTORYA SECRET / Izabella Mancini

                                                                                                                                                   

                                                                                                                                                  

 

Biblio VT

 

 

 

 

— Como conseguiu tamanha artimanha, Rayanna? Jamais vi um lugar tão estranho!
— Estranho? Fala sério! Isso para mim é o paraíso, Vicky!
Ergui os olhos de minha bebida para o palco e as luzes coloridas piscavam diante de minha íris clara. Vários tipos de homens — e, quando digo vários, digo realmente muitos deles! — se apresentavam com sungas mínimas e óleo vegetal colando nos seus corpos esculturais e musculosos.
Parecia coisa de filme, mas era apenas uma boate praticamente pornô voltada para mulheres, aonde minha melhor amiga me trouxe para, segundo ela, me ajudar a resolver um problema!
— Imagina a cara do Fred se souber que estou metida em um antro como esse! — Sussurrei para Ray, que batia palmas animadamente perante a dança sensual à sua frente, de um moreno com chapéu de bombeiro.
Ray e eu éramos amigas de infância e crescemos juntas no interior do país. Apesar de Ray ter as mesmas raízes conservadoras que eu, conseguiu se libertar com facilidade e se tornou uma garota descolada após finalmente sair da casa dos pais depois da faculdade. Era uma morena linda, de cabelos encaracolados e longos até o quadril. Tinha um corpo perfeito e uma lábia admirável, exatamente o oposto de mim.
Meu corpo era pequeno, era pálida, de cabelos claros e ondulados. Olhos azuis e seios pequenos. Sempre fui desengonçada e incapaz de manter um diálogo com um homem sem gaguejar a cada sílaba. Era um caos em forma de mulher, ainda presa às amarras invisíveis que minha família conservadora e interiorana criou em mim por vinte e três anos.
— Esquece esse cara por um minuto, Vicky! Curte a dança e escolhe logo entre todos qual você vai querer para te ajudar, garota!
Fechei os lábios ao redor do canudo e suguei a vodca com morango, como se tomasse ainda mais coragem para fazer o que devia ser feito. Minha vida finalmente estava encaixada e tudo parecia incrível, mas ainda faltava um detalhe... O homem dos meus sonhos!

 


 


Minha família ainda comemorava o fato de eu ter me formado com louvor em Editoração aos vinte e um anos e ter conseguido uma efetivação inacreditável... De uma simples estagiária, passei para auxiliar direta da editora-chefe da editora na qual trabalhava. Transformei-me na garota de confiança da líder e passei a encabeçar a lista de melhores funcionários da empresa.

Para meus pais, eu, a doce caçula Victorya, era a filha perfeita e devia seguir o padrão imposto para honrá-los, uma vez que meus irmãos eram as ovelhas negras da família tida como "invejável" perante a sociedade. Após Vincent se assumir gay e sair de casa com o namorado e Valery se divorciar do ex-marido idiota e voltar para a casa dos meus pais com três filhos, coube a mim a missão de mostrar a todos que meus pais não erraram...

Era minha sina ter o melhor emprego, a melhor formação e o mais impecável casamento!

Formada e com o emprego dos sonhos, minha vida amorosa simplesmente não existia, até que Ray me convenceu a baixar o famoso aplicativo de relacionamentos. Logo na primeira semana, minha vida se cruzou com a de Frederick Bouchevick, um empresário do ramo editorial, descolado, inteligente e muito influente no meio. Era lindo como o príncipe que sempre sonhei e, para completar, real! Fred e eu passamos a conversar diariamente, já que nosso trabalho era muito similar e os interesses se completavam.

Ele gostava de gatos, viagens paradisíacas, livros de ficção e sushi. Era rico, bem-sucedido e admirável. O homem perfeito para meus pais e para mim! Mas, obviamente, os problemas apareceram e não demorou nada para a realidade apertar. Fred era dez anos mais velho do que eu e existia uma exigência para ser sua companheira... A mulher que ele buscava...

Sua futura namorada deveria ser sexy e boa de cama. Uma "fera na cama", como ele descreveu. Não somente isso... Deveria gostar de sexo como gostava de respirar.

Eu ainda me lembrava de Rayanna rindo copiosamente quando contei a ela sobre... Não era para menos, afinal, eu era virgem aos vinte e três anos e jamais dei atenção à minha vida amorosa antes! Esperei por toda vida pelo príncipe, mas jamais imaginei que ele exigiria que eu fosse uma máquina de transar! Os homens costumavam gostar de mulheres inexperientes, de serem os primeiros... mas Fred não!

Fred era do mundo e queria prazer. Diversão. Queria intensidade!

Tive de mentir e dizer que eu era tudo o que ele esperava. Sexo era apenas um detalhe que eu facilmente poderia resolver antes de conhecê-lo pessoalmente. Fred viria para minha cidade para nosso encontro em suas férias, dali dois meses, e esse era o tempo que eu tinha para descobrir toda a arte do sexo.

Revirar o Kama Sutra não foi suficiente. Assistir vídeos eróticos estava fora de cogitação, porque quase me faziam vomitar! Eu jamais poderia concordar com aquela indústria exploradora de mulheres e tão repulsiva! A literatura erótica me ajudou demasiado, mas não explicou o lado masculino... O lado do homem.

A maioria dos livros falava apenas sobre os sentimentos femininos e desses eu já estava farta! Precisava da visão masculina... de um homem que me dissesse em palavras claras do que eles gostavam e como agradá-los. Um homem que me ensinasse o que fazer antes de eu finalmente encontrar Fred.

Rayanna, com sua genialidade promíscua, me trouxe para uma boate voltada às mulheres. O lugar perfeito para encontrar um homem despudorado o suficiente para me ensinar sobre sexo sem compromisso e no sigilo.

O plano era simples... Escolher entre os prostitutos — era esse o termo? — um que topasse me dar aulas sobre sedução e sexo. Um que topasse a ideia maluca de me ajudar a me tornar a mulher que Fred esperava!

Aquele pequeno detalhe tinha de ser resolvido! Eu precisava me adequar à única coisa em mim que não condizia com o currículo de mulher perfeita para Fred!

— Você sabe que isso é uma babaquice, não sabe? — Ray disse. — Sabe que não precisa mudar nada em você para que um homem se apaixone, não sabe? Cadê a mulher empoderada e de sucesso que você é, Vicky? Vai ficar se modificando por um mauricinho que nem sequer está aqui?

Ray não entendia... E eu não esperava que entendesse.

Fred era o homem que meus pais esperavam que eu encontrasse e o tipo exato que sempre sonhei para mim. Era como ganhar na loteria: encontrar um homem bonito, rico e que tinha os mesmos gostos que eu!

— Aquele ali! — Ray apontou para um dos dançarinos, o moreno de cabelo na nuca, que usava uma sunga vermelha e tinha o peito forte e trincado coberto por uma regata apertada e branca. — Uau! Nunca vi mais gato!

— É, é bonito mesmo... — Comentei, espiando ele entre as pessoas.

— Ele parece bem simpático, não acha? — O homem tinha um sorriso branco lindo, pele morena de sol e olhos escuros enigmáticos. A barba por fazer em seu maxilar era um charme a mais e... o corpo era incrível. Conversava com muitas garotas após a apresentação e sorria de maneira agradável, parecendo solícito. — Vamos até lá! Acho que é o cara perfeito!

— Como assim acha? — Ray pegou em minha mão e não pensou antes de me arrastar em meio às pessoas. — Rayanna! Calma! E se ele não quiser me ouvir... E se...

— Você quer ou não quer ter suas aulas de sedução? — Disse no meu ouvido, parada atrás de mim. Nós duas olhávamos na direção do bonitão, que ainda conversava cheio de simpatia. — Concordei com esse plano absurdo porque sou sua amiga! Sabe o que penso sobre esse negócio idiota de mudar por macho, mas, mesmo assim, estou aqui te dando força! Se não for me ouvir, não continuo te ajudando!

— Ok, tudo bem! — Garanti, nervosa, abanando as mãos enquanto a ouvia. — Devo falar com ele então?

— Sim! Vai até ele e faz a proposta... Pense em algo que o convença... Eu sei lá, você é boa com as palavras! Vai! — Ray me empurrou e tropecei levemente em meu sapato de salto baixo, ajeitando meu vestido preto, que ia até o meio das coxas, e o casaquinho jeans nos ombros magros.

Afastei meu cabelo claro e ondulado da face, tentando mostrar meu rosto de maneira mais clara. Queria que tudo saísse bem e ele me ouvisse, mesmo que o final fosse um caos!

A aglomeração de mulheres ao redor dele parecia não se dissipar, por isso tentei abrir caminho entre elas para chegar ao meu alvo. Foi inevitável não me sentir deslocada enquanto tentava alcançar um homem de sunga em meio a uma boate, mas a vida tinha caminhos que desconhecemos e nos levava a lugares inviáveis.

— Com licença! Preciso somente de uma pequena informação! — Sussurrei às demais, que me encaravam com expressão confusa enquanto me espremia entre elas. — Senhor, eu...

Ergui uma das mãos para chamar a atenção dele, que elevou os olhos para mim quando uma das mulheres me empurrou levemente.

— Espere sua vez, garota! — Disse ela.

Assustei-me com a atitude dela, mas a voz dele ecoou entre nós quando novamente fui empurrada e daquela vez tropecei, segurando no balcão de bebidas ao lado. Suspirei de nervoso, consternada por ter aceitado essa ideia idiota de Rayanna.

— Tenham calma, garotas! Não façam isso com a moça! — Enquanto me erguia no salto, senti um toque suave em minhas costas e repentinamente me virei para encarar o homem que me ajudou a ficar de pé novamente. — Você está bem, moça?

O homem de sunga vermelha, regata branca e corpo escultural me segurava gentilmente pelas costas e eu concordei, com as bochechas corando. Olhei ao redor as outras mulheres me xingando e repudiando a atenção que me dava. A rodinha delas rapidamente foi se dissipando para outros caras do salão movimentado.

— Obrigada. Sim, estou bem! — Afastei meu cabelo do rosto para vê-lo melhor e encontrei seu rosto bonito à minha frente. — Eu não sabia que tinha que pegar fila para falar com o senhor e...

— Senhor? — Me interrompeu com um sorriso e certo tom desacreditado. Seus olhos escuros me percorreram dos pés à cabeça e notei seu interesse. — A fila é um pouco extensa, mas infelizmente hoje não tenho horário. — Olhou no relógio de pulso minúsculo que usava. — Não é sempre que faço extra. Você entende, não é? — Assenti como se compreendesse, ajeitando o cabelo atrás da orelha, mas na verdade eu não entendia nada! — Trabalho como acompanhante apenas mediante aviso prévio e em ocasiões excepcionais.

— Ah! Então você não... — Fiz um gesto engraçado com as mãos e ele sorriu parecendo se divertir com minha falta de jeito. — Não atende?

— Atende? — Repetiu graciosamente, coçando a barba que crescia no maxilar. — Desculpe perguntar, mas o que a moça faz por aqui? Nunca te vi na boate e, desculpe dizer, não me parece o tipo de mulher que precise pagar por sexo. É muito bonita e qualquer homem arriscaria tudo para tê-la em sua cama.

Corei pela maneira como falou abertamente. Era realmente uma virgem boba no lugar errado! A ovelha perdida da família perfeita! Apenas o fato de encarar o corpo dele tão exposto e bonito me deixava desconcertada.

— Na verdade, eu gostaria de te fazer uma proposta! — Lancei, despretensiosa, tentando sorrir como se negociasse com um patrocinador da editora. — Um negócio puramente profissional se é que me entende... Uma prestação de serviço entre nós dois. O que me diz?

— Prestação de serviço? — Não demorou para uma mulher se pendurar no pescoço dele, que ignorou e seguiu me encarando da mesma maneira. — Eu já disse que não atendo sem agenda, moça. Mesmo sendo uma anjinha como você... Não é sempre que faço serviço de acompanhante.

Anjinha?

Corei ainda mais, ignorando sua colocação. Certamente se referiu aos meus cabelos claros e olhos azuis. Minha aparência de menina.

— O senhor está interpretando errado! Não quero esse tipo de serviço, trata-se de outra proposta!

Sem pensar muito, o homem retirou da sunga um cartão vermelho e me entregou. Separei os lábios e apanhei o papel, inevitavelmente olhando para a sunga em busca do lugar de onde tirou o cartão. Não podia ignorar o volume presente ali e desviei o olhar rapidamente.

— Me ligue, moça — disse com uma piscadela. — Não é sempre que uma mulher tão linda aparece por aqui e acho que devo abrir uma exceção! A vida nos presenteia, não é mesmo?

— Ok! — Gaguejei para responder. Era a segunda vez que ele me dizia que eu era bonita e isso estranhamente me soava agradável. — Vou ligar! Obrigada pela atenção! — Segurei o cartão contra o peito, com as esperanças renovadas.

Repentinamente, como se eu houvesse pedido por isso, ele se aproximou, segurou meu rosto delicadamente e me beijou nos lábios em um selinho, como se fosse a coisa mais normal a ser feita!

Fui pega de surpresa e sequer tive reação, ficando imóvel sob seu toque experiente e quente. Separei os lábios com a indignação, mas foi inevitável não sentir o corpo estremecer com seu rápido beijo molhado. Suas mãos eram grandes e firmes. Seus lábios, macios e agradáveis. Pensei que desmaiaria quando se separou de meu corpo, piscando sensualmente e me olhando novamente dos pés à cabeça.

Aquele olhar me fez sentir como se estivesse nua em meio ao salão!

— Espero por sua ligação, moça. Vai ser um prazer atendê-la. Nos vemos!

Permaneci no mesmo lugar com o cartão pressionado contra os seios, enquanto ele se afastava em direção ao camarim, buscando fugir das mulheres que o seguiam. Meu queixo ainda estava caído e meu coração disparado!

Que tipo de homem beijava uma mulher que acabou de conhecer sem sequer ter abertura para isso?

Que tipo de mulher eu era se era apaixonada por Fred e me derretia por um beijo roubado por um estranho dançarino de uma boate pornô? Olhei ao redor e me lembrei que era uma boate... Todos se pegavam e um selinho ali era corriqueiro. Aquele homem sequer imaginava que eu era uma virgem em busca de seus ensinamentos.

Li o cartão com as mãos trêmulas e a garganta seca. Ainda me sentia desnorteada com o beijo, tremendo por toda a carne.

"Travis"

Li o nome dele em voz alta. O telefone estava logo em frente e havia um endereço de um hotel. Respirei profundamente e finalmente consegui mover as pernas para voltar até Rayanna, que bebia no bar acompanhada por um dos dançarinos. Ela também conseguiu o cartão do outro cara, mas não pensei em sequer ouvi-la.

Algo sujo dentro de mim estava tentado a ver o dançarino de sunga vermelha novamente e ouvir sua voz rouca e sensual me chamando de "moça".


— Samantha! — Joguei a mala esportiva no ombro, enquanto apanhava uma maçã no cesto de frutas sobre o balcão da cozinha. Não demorou muito até a figura magricela de minha sobrinha aparecer na porta usando pijama e o cabelo escuro e liso preso para trás. — Fique de olho na vó e não saia de casa! Tenho cliente marcada para hoje. — Olhei no relógio e ela revirou os olhos verdes com os braços cruzados diante do peito. — Qualquer coisa, estou com meu celular!

— Você não disse que ia parar de transar por dinheiro, tio? — Me voltei para ela novamente antes de sair, surpreso pelo comentário. — Não disse que ia largar a vida na noite?

Baixei os braços e recuei a postura de durão perante minha sobrinha, uma adolescente de quinze anos, mas que criei desde quando tinha cinco. Minha irmã — a mãe dela — faleceu em um acidente de carro e o cara que era o pai simplesmente não quis ficar com a garota. Coube a minha mãe ficar com a guarda dela, mas não demorou até que mamãe adoecesse e ficasse acamada. Eu era o único parente que Samantha tinha... A única pessoa que podia cuidar dela.

Tive de assumir a responsabilidade de pai aos vinte anos, com uma filha de cinco anos que sequer era minha e também cuidar de uma mãe acamada.

Não era fácil cuidar das duas, mas eu não podia jogar a única filha de minha falecida irmã em um orfanato e minha mãe em um asilo! Não pude fazer uma boa faculdade, por ter que trabalhar por elas, e acabei me conformando com um curso a distância de Educação Física. Com o curso, consegui um emprego fixo em uma academia, algumas aulas de Educação Física em escolas e, para complementar a renda, trabalhava de noite na boate.

As coisas ficaram difíceis quando Samantha cresceu e passou a fazer cursos para a faculdade. A oportunidade que não tive de ter bons estudos eu queria dar a ela. Mamãe também precisou de fraldas e remédios mais caros para o câncer, que apareceu repentinamente e ameaçava constantemente sua vida.

Minha rotina era trabalhar intensamente e fazer os bicos na boate de noite. Samantha passou a compreender meu trabalho na boate quando cresceu um pouco e não concordava. Vivíamos em constante guerra por conta disso.

— Pretendo largar a vida na noite, Sammy, mas não vai ser de uma hora para outra! Estou diminuindo o ritmo com os trabalhos de acompanhante, mas terei de atender algumas clientes — Relembrei. — Vovó está doente e precisamos de dinheiro. Não posso deixá-la sem fraldas, remédios e os tratamentos! Você também precisa da mensalidade do curso, de livros e...

— Posso me virar sozinha, tio. Posso arrumar um trabalho!

— Não... Você ainda é muito nova. — Ela desviou o olhar do meu e suspirou de maneira derrotada. — Não quero que seja como eu e sua mãe fomos. Quero que tenha uma profissão e bons estudos, Sammy.

— Às vezes parece que vovó e eu somos um peso para você!

— Você sabe que não. — Me aproximei e toquei seu rosto delicado. Ela ainda não me olhava. — Cuido das duas com todo meu amor, querida. Faço o que estiver ao meu alcance para que sua vó tenha um final de vida tranquilo e você tenha tudo que sua mãe e eu não conseguimos ter.

Beijei sua testa carinhosamente e me afastei, voltando-me para a porta.

— Tio... — chamou antes que eu saísse. Segurei na maçaneta e me voltei para ela, que tinha um olhar preocupado. — Se cuida, tudo bem? Tenho muito medo que algo ruim aconteça com você e eu e vovó fiquemos sozinhas.

Eu sabia que Samantha temia por minha saúde, principalmente por doenças sexualmente transmissíveis e clientes alucinadas. Já tive mulheres que se viciaram em mim e me perseguiram por meses, rendendo histórias cabulosas em casa. Samantha se lembrava de alguns casos. Em relação à saúde, jamais dei bobeira! Mesmo agora, com poucas e seletas clientes, eu tratava de usar camisinha sempre e manter a higiene e os exames em dia.

Também tinha medo de ser acometido por uma doença e deixar minha sobrinha sem quem pudesse protegê-la.

— Sempre me cuido, Sammy. Vocês não ficarão sozinhas. Agora vá estudar e fique de olho na sua vó!

Samantha concordou e saí de casa, ainda perturbado com a visão de minha sobrinha tão fragilizada. Eu a amava como uma verdadeira filha... Era isso que Samantha era para mim. Somos tudo que temos e sei que crescer e descobrir que o tio herói que a salvou de um orfanato era um homem que trabalhava com sexo a decepcionou muito.

Ela começou a entender aos treze anos e foi aí que me freei, parando de atender as clientes no ritmo de antes. Passei a trabalhar mais com a dança, apenas aos finais de semana, e marcar programas apenas com clientes muito exclusivas. Sequer compreendia porque decidi aceitar a proposta da moça elegante que apareceu em uma noite qualquer...

Talvez fosse por ser incrivelmente bonita e delicada. Acostumado com as senhoras entediadas com o casamento e de aparência montada no botox, não era todo dia que uma mulher angelical e de corpo tentador aparecia na boate. A loirinha era linda e não saiu de meus pensamentos desde que a vi pela primeira vez quando tropeçou na boate.

Eu era homem, afinal, e já quase esquecia o que significava transar com tesão.

Sexo era um trabalho como qualquer outro. Elas pagavam e eu fodia pensando em qualquer outra coisa que não fosse nelas. A maioria das clientes fixas que ficaram eram madames de meia-idade ou mulheres mais velhas que não conseguiram um marido e me usavam para apagar o fogo. Eu as usava para complementar a renda da família. Uma troca justa...

A moça de olhos azuis e aparência de anjo realmente parecia ter caído do céu!

Era o que eu buscava há algum tempo e parecia impossível no cenário da boate... Uma transa para aproveitar e esquecer os problemas diversos da vida. Uma mulher que eu pudesse foder com gosto e me deleitar. Não me lembrava de ter me sentido tão ansioso para encontrar uma cliente em anos... Cobrar para tê-la seria quase injusto, uma vez que eu certamente esperava tanto quanto ela!

Ela sequer me disse o nome...

Me dei conta do fato quando cheguei ao hotel de costume, onde eu sempre me encontrava com as clientes. Ela ligou, marcou o horário e disse somente que era a "anjinha" da outra noite.

Anjinha.

Sorri sozinho deitado na cama enquanto a esperava. Era uma boa definição para ela... Tinha olhos azuis, cabelos loiros e rosto delicado. O corpo era pequeno e de formas acentuadas. Queria vê-la novamente para me perder nela e esquecer todos os problemas por algumas horas.

Avisaram que ela chegou e não demorou até uma leve batida na porta ser desferida. Levantei-me no mesmo instante e me dirigi até a porta, enquanto ajeitava minha camisa preta colada ao peito e o jeans. Conferi o perfume, o cabelo e o visual antes de abrir. Tratei de malhar ainda mais pesado durante o serviço na academia, para estar ainda mais apresentável e agradá-la.

Há muito tempo eu não me esforçava para agradar uma mulher com tanto afinco. Já não sabia o que era a ansiedade para um encontro e talvez nem tenha chegado a conhecer qualquer sentimento. Todas as mulheres que cruzavam minha vida eram clientes e as que namorei sério se injuriavam pela presença de Samantha. Elas aceitavam melhor o trabalho na noite que a presença de uma criança desamparada.

— Olá... — Abri a porta e me deparei com ela. — Boa noite.

Olhar azul e curioso. Mãos unidas frente ao corpo frágil. Cabelos loiros e ondulados presos e com alguns fios caindo na face. Usava uma saia preta, blusinha branca e saltos médios. Parecia recém-saída do trabalho, uma vez que carregava uma bolsa pequena e um terninho no braço.

— Boa noite, senhor Travis — Disse educada, passando pela porta quando dei passagem. Fechei-a atrás de nós, notando o perfume bom que exalava da moça. — Como vai?

Retirou a bolsa do ombro e colocou sobre o sofá, fazendo o mesmo com o casaco. Fiquei parado no centro do quarto, apenas admirando-a.

— Ótimo! Muito bem! Você também parece bem. — Ela concordou com um aceno, ainda mantendo as mãos unidas em frente ao corpo, em sinal de timidez. — Nós podemos começar se quiser... Você não me disse seu nome!

— Desculpe-me! — Aproximou-se e estendeu a mão, cordialmente. — É Victorya! Victorya Hayder!

Apertei sua mão pequena na minha.

— Travis O'Brien — Respondi, sorrindo, e ela recolheu a mão, também com um leve sorriso desconcertado.

— Você não me passou os valores, senhor O'Brien.

Sorri para ela e me aproximei sem hesitar, notando a maneira como parecia perdida diante de mim. Toquei seus braços levemente e apreciei a vista de perto. Era pequena e facilmente moldável aos meus braços. Cheirava a perfume caro e adocicado, algo inocente e sensual.

— Confesso que não tenho vontade de cobrar de você, senhorita Hayder... Você é do tipo que se fode beijando. — Os olhos azuis me encararam com surpresa. — Ainda não entendi o porquê de uma mulher tão encantadora precisar pagar por sexo se pode conseguir de graça onde quiser.

— Espera! — Victorya se afastou quando tentei beijá-la, empurrando-me delicadamente pelo peito. — Não estou aqui por seus serviços sexuais, senhor. Estou aqui por outro motivo. Não quero me deitar com você!

Explicou rapidamente e foi como se um balde de água fria fosse jogado sobre minha cabeça!

— Como assim?

Tomando fôlego, Victorya prosseguiu, com as bochechas coradas.

— Preciso de alguém que me ensine como ser uma mulher sedutora, sexy e boa de cama. — Cruzei os braços para ouvi-la, realmente intrigado com tudo aquilo. — Preciso de aulas sobre como deixar um homem rendido aos meus pés e dar a ele o prazer que gosta... Quero aprender a agradar um homem na cama, resumidamente!

Demorei alguns segundos para processar toda a informação.

— Aulas? — Repeti e ela concordou com os dedos entrelaçados em frente ao corpo de maneira nervosa. — Você quer que eu te dê aulas sobre sexo, é isso?

— Basicamente — Suspirou. — Sei que pode parecer confuso, mas é real. Trata-se de uma longa história pessoal e estou disposta a pagar o quanto me pedir! Preciso ficar expert em sexo dentro de dois meses!

Caminhei pelo quarto com um dos dedos apoiados no queixo e os lábios entre os dentes. Aquela mulher pequena e com carinha de anjo havia me deixado louco simplesmente por aulas sobre sexo?

Bem que desconfiei... Seu semblante era assustado e tímido. Certamente tratava-se de uma moça querendo agradar um homem que exigia mais dela. A analisei dos pés à cabeça e, por sua expressão corporal, me dei conta de que era uma boa menina. Eu não podia evitar pensar na frustração que sentia por saber que não ia mais tê-la. Não ia mais vê-la gemendo meu nome ou se abrindo para receber o meu pau.

— Se eu recusar, a senhorita certamente vai procurar outro profissional da minha área para te ajudar, estou certo?

— Sim, senhor... Preciso muito das aulas e se você recusar terei de começar novamente a busca por um professor. Por isso, peço que aceite... Tenho pouco tempo!

Não adiantaria nada recusar se ela procuraria ajuda com outro. Seria um serviço como qualquer outro afinal. Considerei.

— Tenho as noites de terça e sexta-feira disponíveis. Sábados e domingos estou na boate. — Me sentei na beira da cama e apontei o sofá para que ela fizesse o mesmo. Rapidamente sentou-se e cruzou as pernas. — Duas vezes na semana é suficiente?

— Me parece ótimo, senhor.

— Por favor... — Sorri cansado. — Senhor não! Travis!

— Travis! — Corrigiu com um sorriso. — Me desculpe, é que eu...

— Está nervosa, posso ver. — Ela assentiu positivamente. — Essas aulas... incluem teoria e prática?

— Quem deve dizer é o senh... Você, Travis. Você é o professor!

— Bom, vamos encaixando conforme caminhamos. — Cocei o maxilar e ela concordou levemente.

— Quanto pretende me cobrar? Já quero me programar e posso transferir agora mesmo o dinheiro e... — Foi pegando o celular na bolsa, mas ergui a mão para que parasse.

— Não se preocupe! Falaremos disso mais para frente.

— Mas preciso saber um valor estimado para meu orçamento e...

— Não se preocupe! Não sei quantas aulas serão necessárias até que você entenda, por isso não posso fechar um valor agora, senhorita.

— Victorya — Corrigiu como fiz com meu nome. — Pode me chamar de Vicky, também. Acredito que teremos uma relação de proximidade por conta das aulas.

— Proximidade... — Repeti a palavra com um sorriso e ela apenas me encarou com certa hesitação. — Quando pretende começar?

— Agora mesmo se for possível! — Sorriu animada e dei de ombros. Vicky retirou da bolsa um bloquinho rosa e uma caneta com plumas prateadas nas pontas e me encarou em expectativa.

Tive vontade de rir perante sua ansiedade e a maneira como agiu. Parecia tão adolescente quanto minha sobrinha Sammy.

— Podemos conversar, primeiramente, sobre o que deseja aprender. Acredito que, partindo daí, poderei separar alguns conteúdos e trazê-los mais resumidos de uma maneira prática... Sou professor de Educação Física, por isso tenho alguma ideia de como ensinar, mas nunca antes dei aulas sobre sexo! — Victorya sorriu olhando para o bloquinho, evitando me encarar.

Seguia sentada no sofá, com as pernas cruzadas e o bloquinho sobre elas. O olhar tímido. Eu a encarava sentado na beira da cama com os cotovelos apoiados nos joelhos e um sorriso idiota nos lábios.

Eu podia foder com todas, mas jamais me apaixonar. Não me era permitido admirar uma mulher fora da cama, uma vez que eu sabia perfeitamente que um relacionamento não cabia em minha vida. Seja por conta de Sammy e minha mãe ou do serviço na boate.

Mas Victorya era linda e eu aproveitei para admirá-la, mesmo que em completo silêncio.

— Quero saber tudo, Travis. Tudo que puder me ensinar.

Tive vontade de perguntar tudo que estava entalado em minha garganta sobre sua inexperiência, mas me contive. Eu era apenas um profissional e ela uma cliente.

— É complicado falar sobre sexo, porque é algo prático e sem muito segredo. — Cocei o maxilar, enquanto pensava nas palavras, ainda despreparado. — Não precisa ser aprendido, me entende? É algo que se vive, baseado na experiência... Somente você pode dizer o que te satisfaz ou não. — O olhar de Victorya em meu rosto era fixo e concentrado. — Tive uma cliente que dizia que era a magia que acontece entre um homem e uma mulher que se amam. A mágica mais antiga da história do mundo...

— Você acredita nisso, senhor O'Brien? — Victorya tinha a ponta da caneta pressionada nos lábios delicadamente, enquanto me encarava com os olhos azuis brilhando. — Que é mágico?

Sua pergunta soou inocente demais perante meus ouvidos.

— Não, senhorita Hayder — Confessei sinceramente. — Para mim, sexo é um negócio. Uma troca justa. Para a senhorita, certamente, será mágico.

— Por que diz isso?

— É por isso que está aqui, não é? Para se aprimorar e agradar um homem... — Ela nada respondeu, deixando clara a mensagem. — Deve amá-lo, portanto, deve ser mágico entre vocês.

Victorya engasgou e tossiu um pouco, desviando o olhar azul para o bloquinho.

— Estou aqui porque penso que não sirvo para o sexo. Creio que sou frígida, como dizem. — Franzi o cenho sem esconder a surpresa. Ela não tinha coragem de me olhar nos olhos. — Até hoje nunca senti nada. Não quero que isso reflita em meu relacionamento, compreende?

— Você já passou por algum trauma relacionado? — Victorya negou prontamente e finalmente me olhou. — Então fizeram com você da maneira errada. Quem precisa aprender é seu parceiro, não você, senhorita. — Victorya pareceu travar perante minhas palavras. Coloquei-me de pé frente a ela, estendendo uma das mãos em sua direção. Seus olhos azuis subiram até meu rosto de maneira apreensiva. — Venha.

— Oi? — Sussurrou me olhando.

— Fique de pé. Vamos, confie em mim! — Sorri amigavelmente e Victorya ficou de pé frente a mim. Era menor do que eu em estatura e largura. Quase do tamanho de Samantha. — Feche os olhos.

— O que pretende fazer? — Assustada, questionou. Sorri para ela, caminhando ao seu redor.

Fechou os olhos como pedi e apertou os punhos ao lado do corpo pequeno. Parei em suas costas, aproximando os lábios de seu ouvido.

— Vamos comprovar se você realmente não sente nada.


Tudo que eu queria era dizer a Travis O'Brien que a única vez em que me senti tentada sobre algo sexual foi quando recebi um beijo surpresa dele na boate. Um beijo rápido e corriqueiro para ele, que deveria fazer com todas as mulheres de lá, mas surpreendente e absurdo para mim!

Naquele momento, dentro daquele quarto e com ele às minhas costas, sussurrando em meu ouvido, tudo que eu sentia era um estranho fervor em minha pele e as batidas erráticas de meu coração contra as costelas.

Eu deveria dizer que era virgem, não deveria?

Será que Travis havia chegado a essa conclusão sozinho ou sequer cogitou a ideia?

As palavras morreram em minha garganta quando senti o toque suave de suas mãos grandes e calejadas em meus braços, subindo vagarosamente por eles em uma carícia delicada. Não demorou para que seus lábios firmes me tocassem no pescoço e fechei os olhos com ainda mais força, estremecendo por dentro.

Sentia medo, mas não dele e sim do desconhecido!

Sentia calor... Sentia...

Travis me abraçou por trás, envolvendo-me pela cintura e pousando as mãos grandes em minha barriga, descendo por meu ventre. Sua boca quente se movia em carícias firmes por meu pescoço, atrás de minha orelha e por meu ombro desnudo pela blusa de alça. Meu corpo todo reagiu quando senti a muralha grande que era o corpo dele, duro como rocha, atrás do meu.

Meus mamilos enrijeceram no sutiã. Toda a extensão da minha pele se arrepiou. Senti uma contração delicada e gostosa em minha parte íntima.

Minhas pernas fraquejaram e Travis me segurou, apertando-me ainda mais pela cintura.

Seus lábios me deixaram e aos poucos ele me largou. Endireitei-me e abri os olhos vagarosamente, encontrando seus olhos escuros em frente aos meus. Ele sorria com aquele sorriso branco e perfeito diante de meus olhos assustados.

— Passamos pela primeira prova, senhorita Hayder — Disse como se nada houvesse acontecido. Eu ainda enxergava tudo turvo e tinha o coração batendo na boca. — E seu resultado é promissor! A senhorita definitivamente não é frígida.

Envergonhada, sentei-me novamente no sofá quando Travis voltou a sentar na cama. Apanhei o bloquinho e fingi escrever algo simplesmente para não o encarar.

— Ótimo — Sussurrei quase sem voz. — Fico feliz em saber. Então acha que podemos ter um bom resultado com as aulas?

Encaramo-nos através do espaço e vi nos olhos escuros dele algo como hesitação. Questionamento. Pela primeira vez desde que nos conhecemos, Travis parecia pensativo e inquieto... Teria sido por sua demonstração de que não sou frígida?

— Acho que podemos ter ótimos resultados — Respondeu, encarando-me fixamente. — A prática te incomodou?

— Não! — Respondi imediatamente, fingindo costume. — Foi proveitoso, digamos assim.

— Ótimo! — Sorriu ainda mais. — Já tenho boas ideias para as próximas aulas. Sem problemas com o toque então?

— Sem problemas. Estou ciente de que farão parte do processo e está tudo bem!

Fred não seria o primeiro a me tocar. Ele queria uma mulher experiente e eu estava certa de que não conseguiria ter experiência sem ser tocada. Parte de mim queria acreditar que era simplesmente isso, apenas um passo para conquistar o homem ideal, mas eu sabia que havia algo mais.

Eu não parava de pensar em como seria sentir o toque quente e agradável de Travis em meu corpo, mais adiante. Não parava de pensar em como seria senti-lo me tocando em lugares nunca antes explorados.

A voz de minha mãe em minha cabeça me dizia claramente que eu era uma vagabunda por estar ali, desejando ser tocada por um homem como Travis. Um dançarino de boate. Um acompanhante. Um homem que trocava sexo por dinheiro.

— Pense em tópicos relevantes e traga para discutirmos na próxima aula.

— Não é sobre mim, senhor O'Brien, mas sim sobre os homens. Sobre o que eles querem de uma mulher.

— Um verdadeiro homem deseja, mais do que tudo, agradar sua mulher. Dar prazer a ela... Ter a visão de uma mulher gemendo e se perdendo no prazer que proporcionamos é o ápice para a masculinidade. Ali provamos do que somos capazes. O prazer do homem vem do prazer da mulher, Victorya. — Suas palavras me pegaram de surpresa. A maneira séria como falava me instigou. — Um homem que só pensa no próprio prazer não é digno de partilhar a cama com uma mulher como você.

Anotei a frase dele no bloquinho.

"O prazer do homem vem do prazer da mulher."

E Travis O'Brien estava me deixando louca com um simples primeiro encontro!

— Preciso ir, senhor O'Brien. Confesso que me surpreendeu. — Me ergui, pegando minhas coisas após olhar no relógio e constatar que estava na minha hora. — Pensei que encontraria outro tipo de abordagem por aqui.

— Pensou que eu era baixo e promíscuo por ser um acompanhante de mulheres? — Lançou, despretensioso, enquanto eu vestia meu casaco preto e pendurava a bolsa nos ombros.

— Sim, pensei — Admiti sustentando seu olhar. Travis abriu a porta para que eu passasse. — Não imaginei que encontraria um cavalheiro.

— E eu não pensei que encontraria uma moça tão doce... — Admitiu também. Paramos no estacionamento do hotel. — Pensei que seria apenas uma boa transa pela qual eu estava ansioso. Não é sempre que um anjo cai do céu assim, em meus braços.

Sorri com as bochechas coradas. Ele era direto e isso me constrangia, mas eu também gostava.

— Não sou um anjo... — Garanti, cruzando os braços frente ao peito.

— Mas parece. É muito bonita, senhorita Hayder... É encantadora! Com todo respeito. — Levou umas das mãos ao peito em sinal de cordialidade e corei nas bochechas outra vez.

— Obrigada. E eu já disse que pode me chamar de Vicky.

Eu queria dizer que ele era sensual e gostoso como nunca vi, mas me contive. Não seria uma boa ideia! O fogo crepitava entre nós com o profissionalismo empregado, quem dirá se caísse por terra com algumas palavras?

— Vicky... — Olhou em volta e constatou que chovia e já era noite. — Você veio de carro?

— Não. Meu carro está no rodízio de placa. Hoje estou com os motoristas de aplicativo — Confessei, caminhando ao lado dele entre os carros na área coberta.

Travis parou ao lado de um carro preto e abriu a porta com o controle.

— Permita-me então. Ofereço-me para levá-la. Está chovendo muito e não é apropriado que uma dama ande sozinha pela noite... — Esticou a mão para me ajudar a entrar no carro e apenas o encarei, ainda abraçada a mim mesma. — Qual o problema? Você estava até agora trancada em um quarto de hotel comigo e não confia em uma carona?

Sorri. Eu podia ser maluca, mas aceitei o gesto. Entrei no carro com sua ajuda e me acomodei no banco, mordendo os lábios enquanto pensava. Travis se acomodou no banco do motorista e passei as coordenadas de minha casa.

— Não quero que me leve a mal, mas, se puder parar um pouquinho antes do portão... — Travis sorriu enquanto dirigia em meio à chuva fraca que caía na noite.

Era ainda mais bonito iluminado à pouca luz e cada movimento dele era sensual aos meus olhos. As mãos grandes e habilidosas no volante me lembravam do momento em que as usou para me tocar nos braços e na cintura. Estremeci pela sensação.

— Não se preocupe. Sei que você é comprometida e também não acho prudente envolvermos o profissional com o pessoal. Sou seu professor e você minha aluna... Está tudo bem!

— Obrigada, Travis — suspirei aliviada por sua compreensão.

Eu não queria imaginar o que minha mãe diria se me visse chegando em casa com um homem! Certamente faria mil perguntas e questionaria meu envolvimento com o "homem perfeito da internet". Seu genro dos sonhos!

— Você é casada? — Questionou despretensioso. — Sou acostumado com isso, não se preocupe e tão pouco se importe com a minha opinião.

— Não! — Respondi imediatamente e ele me olhou de maneira breve — Ainda não.

— Noiva? — Neguei com um aceno. — Namora, então?

— Digamos que tenho alguém — Esclareci da maneira que consegui. — Ele não está aqui, está em Londres.

— Londres, é? — Concordei, olhando pela janela. — Certamente é um homem de muita sorte.

Olhei Travis brevemente e sorri de canto. Ele era agradável e muito gentil comigo, algo que colaborava para o plano maluco dar certo.

— E você? É casado? — Lancei com a curiosidade aguçada.

— Não, claro que não! — Respondeu como se fosse algo absurdo. — Sou solteiro. As mulheres não aceitam bem certas áreas da minha vida e nunca encontrei uma que realmente me interessasse.

— Então você nunca fez o sexo magico? — Questionei sem pensar. — Aquele sobre o qual me falou... Você disse que o sexo só era mágico quando um homem e uma mulher se amam.

Travis parou no sinal e me encarou surpreso. Seu olhar castanho era pura sintonia com seu sorriso fácil.

— Não, eu te respondi lá no hotel. Nunca amei uma mulher e nunca fiz o sexo mágico — Admitiu. — Só o pervertido mesmo.

Rimos juntos e apenas desviamos o olhar um do outro porque o sinal abriu e Travis voltou a dirigir.

— As mulheres não aceitam sua profissão?

— Você aceitaria? — Lançou de volta em uma passada rápida.

— Não, obviamente não! Sou muito ciumenta para dividir o que é meu com várias — Confessei sem pestanejar. — Não sirvo para esse negócio de relacionamento aberto.

— Está certa, Vicky. — Estacionou finalmente na calçada que pedi, uma quadra distante de minha casa. Retirei o cinto de segurança. — Não deve aceitar dividir o que é seu com ninguém. Por isso tenho plena consciência de que, enquanto estiver na noite, trabalhando na boate, seja como dançarino ou acompanhante, não tenho o direito de me relacionar seriamente com uma mulher. Além do mais, existem outras questões pessoais em minha vida que não me permitem ter uma namorada... A maioria das mulheres não aceita dividir a atenção.

Travis olhou no celular quando esse vibrou e respondeu a mensagem rapidamente. Mordi os lábios para perguntar do que se tratava. Quais seriam as questões pessoais daquele homem tão enigmático?

— Bom, preciso ir! — Apanhei minha bolsa. — Foi muito agradável. Obrigada pela carona! Nos vemos em breve, certo? No mesmo hotel?

— Sim, Anjinha. — Sorriu para mim, encostando a cabeça no banco. — Nos vemos no mesmo hotel. Confirmo o dia com você por mensagem, pode ser? Tem algum problema mandar mensagem no seu celular?

— Não, está perfeito! — Travis concordou. Seus olhos brilhavam sob a luz da lua. — Até mais, senhor O'Brien. Obrigada novamente!

— Até mais, Anjinha.

Não evitei uma pequena gargalhada antes de sair do carro e fechar a porta.

Anjinha.

Era tudo em que eu pensava enquanto corria sob a fraca chuva até o portão de casa. Travis ficou lá, mesmo que de longe, me olhando entrar. Seu olhar ficou cravado em minha mente mesmo que eu já não pudesse vê-lo.

— Finalmente! — Valery disse ao me ver entrando na cozinha grande e ampla da casa de meus pais e colocando a chave no chaveiro. — A mamãe já estava quase ligando para a polícia para ir atrás de você, mana!

Valery, minha irmã mais velha, dava comida para suas filhas gêmeas na mesa de jantar. Felícia e Olivia, que acabaram de completar três anos, eram suas caçulas idênticas. Também tinha Rick, seu menino mais velho de oito anos. Minha irmã voltou com as crianças para a casa de nossos pais após o divórcio de seu casamento de dez anos e era considerada uma tremenda fracassada por isso. Meus pais não poupavam críticas a ela, que tinha de ouvir calada pelo bem dos filhos.

— Onde se meteu, menina? — Mamãe, que ajudava Rick a se servir, questionou impaciente. — Isso são horas de uma moça de família chegar em casa, Victorya?

— Eu disse mais de uma vez que estou ajudando Rayanna com um projeto na revista, mãe — Relembrei, colocando minha bolsa e meu casaco sobre uma das cadeiras do canto, indo ajudar Valery a dar comida para as meninas. — Duas vezes por semana, mais ou menos, vou chegar um pouco mais tarde em casa.

— Você sabe minha opinião sobre essa desmiolada, não sabe? Rayanna não é uma boa amizade! — Mamãe vociferou, acomodando Rick na cadeira e me encarando com desaprovação. — Não é o tipo de mulher com a qual você deve andar, Vicky. Não traz boas influências!

— É minha amiga de infância, mãe! — suspirei, colocando comida na boca de Olivia, que assistia desenho no celular enquanto comia. Sempre que podia, eu gostava de ajudar Valery com as crianças. Era complicado demais ver a situação dela e eu sentia muita pena! — Uma das poucas e verdadeiras amigas que tenho.

— Quero ver o que seu noivo vai pensar sobre isso quando chegar de Londres! — Comentou com desaprovação, voltando-se para a pia.

— Ele nem é noivo dela ainda, fala sério! — Valery comentou com uma risadinha. — E não tem que pensar nada! Você pode ser amiga de quem quiser, mana. Não precisa da aprovação de macho nenhum!

Mamãe riu debochada.

— Não escute os conselhos dessa outra desmiolada, Victorya! A não ser que queira terminar com três crianças na barra da sua saia, sem emprego, separada e sozinha!

— Mamãe! — Falei ao notar o semblante triste de Valery, que comprimiu os lábios para não responder. — Se controle ao menos em frente às crianças!

— Eu já sei, tia — Rick disse enquanto mexia o garfo no prato. — Já sei que você é a única esperança da família e a minha mãe e o tio Vincent são dois fracassados que envergonham a todos.

Valery e eu não escondemos o pavor pelas palavras de Rick, que comentou como se fosse a coisa mais normal do mundo. Mamãe se virou para nos encarar, também surpresa com as palavras do neto.

— De onde você tirou isso, Rick? — Questionei, encarando meu sobrinho de apenas oito anos.

— A vovó fala isso o tempo todo... Fala que devo seguir o seu exemplo, tia Vicky, de estudar e ter um bom casamento. Diz que não devo ser gay como o meu tio ou desmiolado como minha mãe... — Separei os lábios pelo choque das palavras dele e encarei mamãe com a expressão consternada. Ela sequer se abalou!

— Já chega! — Valery saiu da mesa, nervosa, carregando uma das meninas no colo e a outra pela mão. Retirou Rick da mesa com impaciência. — Obrigada, mãe, por estragar o nosso jantar!

Uma briga entre as duas se instalou e cobri o rosto com as mãos. Meus pais, principalmente minha mãe, eram extremamente machistas e preconceituosos! Ficava cada vez pior conviver com ambos e eu concluía que meu irmão Vincent era quem tinha a razão de ter ido embora dali com o namorado! Viver longe deles era o mais saudável para nós.

— Você perdeu a noção? — Falei para a minha mãe quando ficamos sozinhas, retirando os pratos da mesa. — Como pode falar isso para Rick? Como pode dizer que Vincent e Valery são uma vergonha para nós?

— Talvez eu tenha exagerado, mas é a verdade, Victorya! — Seguia lavando a louça despreocupadamente, algo que apenas fazia nas folgas da empregada. — Seus irmãos são uma vergonha para essa família tão tradicional que somos e apenas você é um bom exemplo a ser dado para essas pobres crianças!

— Mãe, escuta... — A segurei delicadamente pelo braço. — Não fale assim de seus filhos! Não vê que machuca Valery com isso? Ela está frágil após se separar e tudo o que você faz é humilhá-la! Como pode dizer que Vincent é uma vergonha simplesmente por ser homossexual? Seu filho é um engenheiro brilhante e renomado! É um dos homens mais inteligentes que conheço e...

— De que adianta? Não vai me dar netos e colocou o nome da família na lama quando saiu daqui para viver em pecado! Ora, Victorya! — Tocou meus ombros. — Você é minha única esperança, filha! É a única que pode conseguir um marido rico, bonito e admirável! Formou-se com louvor, tem um trabalho incrível e terá uma família maravilhosa com o homem ideal que sempre imaginei para você! Não vai fazer como sua irmã e se casar com um pé rapado que somente a encheu de crianças e a abandonou!

Apertei os olhos diante de suas palavras.

Não adiantava discutir e tampouco eu tinha forças! Eram anos com o mesmo comportamento, o mesmo pensamento preconceituoso, e eu já estava cansada de tentar mudá-la.

Subi para meu quarto imaginando o que mamãe diria se soubesse que eu, seu cristal, a filha que ela superprotegeu com medo de que se tornasse como os irmãos, estava se encontrando com um dançarino de boate para aprender sobre sexo!

Deitei-me na cama e fechei os olhos. Pela primeira vez desde que conheci Frederick Bouchevick na internet, quem me veio à mente não foi ele, mas sim Travis O'Brien. Eu não podia parar de pensar em seu corpo grande e quente e na maneira como desejei secretamente que me abraçasse ainda mais.


O cheiro doce e sensual de Victorya ficou preso no ar quando ela saiu do carro e eu fechei os olhos para absorvê-lo.

Aquela mulher era um sonho. Exatamente o tipo que sempre imaginei para mim, mas sabia ser impossível de realizar. Eu sequer podia ter a audácia de sonhar com ela, uma vez que não era para mim, mas me atrevi a tocá-la no quarto de hotel e tudo o que desejava agora era fazer isso mais e mais.

Uma mulher elegante, angelical e pura como ela jamais seria para mim. Qualquer mulher decente jamais seria para mim!

Tudo o que me restava era sonhar com Vicky enquanto dirigia e vivia cada momento do dia, mesmo que em segredo. A cada cliente que eu fodia, pensava nela alucinadamente. Já não era a mesma coisa transar. Eu estava enfeitiçado pela Anjinha e só conseguia ver seus olhos azuis e pensar em seu corpo estremecendo em meus braços.

— Tio? — Sammy bateu na porta do meu quarto.

— Entra! — Vi sua imagem no espelho enquanto eu secava o cabelo frente a ele. Ela usava seu uniforme do colégio e o cabelo negro e longo preso para o lado. Também tinha maquiagem no rosto, algo não muito habitual dela. — Aonde vai bonita assim?

— Para a escola! Lembra que fui convidada para ir em uma revista publicar minha redação vencedora do concurso regional? — Disse apressadamente.

— Claro que lembro! É hoje? — Vesti minha camisa e ela concordou. — Quer que eu te leve?

— Não precisa! Fica pertinho do colégio, posso ir sozinha. Estarei de volta antes das seis. Pedi para o Lion ficar de olho na vovó.

Lion era o melhor amigo de Samantha, filho da vizinha. Ambos eram inseparáveis desde pequenos e o garoto era de minha total confiança. Na parte da manhã, enquanto eu trabalhava na academia e Sammy estudava, Leonor, a mãe de Lion, era quem cuidava de minha mãe e deixava o almoço pronto para nós. Na parte da tarde, Sammy ficava em casa de olho na avó quando eu tinha aulas de Educação Física para ministrar no colégio.

— Diga ao Lion que depois dou uma gorjeta para ele. — Sammy concordou com um aceno tímido. Voltei-me para ela sem conseguir evitar me lembrar de Victorya. Mesmo sendo uma mulher feita, Vicky tinha o mesmo jeito inocente e doce de minha sobrinha adolescente. — Está nervosa para ir à revista? — Me aproximei de Samantha e dei um beijo no topo de sua cabeça. Ela sorriu ainda mais nervosa. — Vai dar tudo certo, Sammy. Você é uma escritora talentosa e incrível! Daqui para frente, serão apenas vitórias!

— Só você para acreditar em mim, tio!

— Sempre! Você é meu pequeno orgulho!

Saímos juntos e deixei Sammy na porta do colégio. Segui em direção à academia e passei a treinar os alunos que estavam por lá e eram basicamente os mesmos de todo dia. Eu não conseguia parar de pensar em Victorya e no que ensinaria para ela nas próximas aulas. Há dois dias, era ela quem ocupava todos meus pensamentos e algo me dizia que isso não terminaria bem.

"Nos vemos à noite no mesmo lugar?"

Enviei despretensioso. Não demorou nada até que a mensagem dela chegasse.

"Certamente!"

"Você está bem?"

Enviei logo abaixo, curioso por sua resposta objetiva.

"Atarefada, mas bem, obrigada. Nos vemos à noite!"

Respondeu e suspirei, levando o celular ao rosto como se pudesse sentir o cheiro dela. Senti uma mão forte em meu ombro.

— Mas que cara de apaixonado, mano! — Era Dean, meu colega de trabalho na academia. — Logo você?

— Caras como eu não se apaixonam, amigo! — Relembrei, voltando a enfiar o celular no bolso. — Não temos sequer esse direito!

— Ah, fala sério! Essa suspirada entregou tudo! — Se apoiou no balcão enquanto eu analisava as fichas dos alunos. — Quem é a garota?

— O tipo de mulher que não se interessa por homens como eu... Por homens pobres e promíscuos. — Brinquei, mas no fundo falava sério. — Na verdade, nem sei ao certo o que ela faz, mas está na cara que é estudada e tem um emprego foda. Tem cara de ser bem de vida e muito inteligente.

— É gata?

— Um anjo... — Sussurrei um pouco enciumado por seu interesse. — Cliente da boate.

— Ah, então aproveita, irmão! — Bateu no meu ombro amigavelmente. — Ainda vai ganhar dinheiro para comer a mina que você está a fim! Isso que é trabalho bom, Travis! Que inveja! Pena que não aceitam qualquer um nessa boate aí.

Apenas sorri sem muito humor. Victorya não era como as outras. Victorya era um anjo!

 

— E aí, me conta! — Ray sentou-se na cadeira em frente da minha mesa, com puro entusiasmo. Mascava um chiclete, tinha o cabelo escuro peso em um coque e usava um vestido negro. — Como foi com o gostosão?

Trabalhávamos na mesma revista, eu como assistente da editora chefe e ela como secretária de recursos humanos. Segui em minha mesa digitando.

— Foi surpreendente! — Falei baixinho, não querendo ser ouvida por ninguém além dela. Seguia digitando meu trabalho enquanto narrava. — Ele me tratou tão bem! Foi tão gentil e... disse incontáveis vezes que sou bonita, acredita? Ele fez um tipo de teste e me provou que eu posso sim sentir coisas com um homem e foi absurdamente incrível! Depois me levou em casa e... — Ray me encarava de maneira confusa. Ajeitei os fios de meu cabelo loiro, também preso em um coque alto, para longe de minha face. — O que foi?

— Estou falando do Fred! De quem você está falando?

— Ah! — suspirei. — Estou falando do Travis! Travis O'Brien!

— Quem? — Pensou um pouco. — Esse é o nome do prostituto? Até me esqueci que você se encontrou com ele de verdade!

— Acompanhante! — Corrigi nervosa, insistindo em digitar. — Ele é acompanhante e dançarino!

— Dá no mesmo! Troca sexo por dinheiro!

— E deve ser um sexo incrível, porque o homem é... — Rodei os olhos. — Surreal!

— Você nunca transou! Como pode falar isso? — Riu baixinho.

— Porque finalmente me senti atraída por um homem! Finalmente consegui desejar ficar com um deles! — Expliquei, encarando-a finalmente. — Não paro de pensar em como será a próxima aula e no conteúdo que Travis vai me ensinar!

— Pelo jeito, teve avanços, não é? Quem diria que a senhorita certinha iria falar assim sobre um cara, tão abertamente? — Concordei. — Também quero o telefone dele, hein?

— Sai fora, Rayanna! — Não escondi o descontentamento. — Para de gracinhas!

— Qual é? Você está com ciúme do prostituto? — Zombou em uma risada um pouco mais alta. Parei de digitar e a fuzilei com o olhar. — Ai, Vicky! Só pode ser brincadeira! E o Fred?

— O que tem o Fred?

— Como assim? Você sempre fala do Fred o tempo todo! O Fred é perfeito, o Fred é lindo, o Fred é tudo e blá blá blá! Até agora nem mencionou o cara, só falou do prostituto!

— Travis! — Corrigi novamente. — O nome dele é Travis! Para de falar que é um prostituto, que coisa deselegante!

— Desculpe! — Ergueu as mãos em sinal de paz.

— Não falei com o Fred por esses dias mais do que em algumas mensagens. Ele anda ocupado com o trabalho e eu também, mas está tudo bem.

— Você anda com a mente e outras partes ligadas no tal do Travis, não é mesmo? — Revirei os olhos.

— Sabia que não podia falar nada! — Mordi os lábios com arrependimento. — Esquece tudo que falei do Travis e vai trabalhar! Agiliza a fotógrafa, por favor! A menina da redação vencedora do concurso regional está para chegar e preciso fotografá-la se for minimamente apresentável!

— Ok, chefa! — Saiu da cadeira com o olhar ainda curioso. — Fique aí com seu Travis O'Brien gostosão!

Joguei um papelzinho em direção a ela, que saiu gargalhando no corredor movimentado. Rayanna era sempre um caso à parte! Sabia ler perfeitamente o que se passava em meu coração e era fato que eu não conseguia parar de pensar em Travis O'Brien, o prostituto – acompanhante – dançarino.

Contava as horas para vê-lo de noite.

O telefone tocou anunciando a chegada da garota. A recepcionei na entrada com um sorriso, carregando em mãos minha prancheta de anotações. Para meu alívio, tratava-se de uma adolescente meiga, de bonitos cabelos escuros, pele morena e expressivos olhos verdes.

— Bom dia! Sou Victorya Hayder, assistente direta da editora-chefe e serei a responsável pela publicação do seu texto, Samantha! — Estendi a mão para ela, que apertou brevemente.

— Oi, sou Samantha O'Brien, mas pode me chamar de Sammy. É muito legal conhecê-la, senhorita Hayder! Sempre foi um sonho pisar aqui na revista "Life"! É incrível! — Sorri com a coincidência. Aquele sobrenome...

— O'Brien? — Questionei sem conseguir me conter enquanto caminhávamos lado a lado. — O nome do seu pai é...?

— Ah, eu não tenho pai! — Disse ainda entretida com a vista ao redor. Pedi que sentasse em frente a mim em um sofá confortável para recepção de entrevistados. — Fui criada pela minha avó e meu tio. Não tenho pai e minha mãe morreu quando eu era bem pequena.

— Sinto muito — Sussurrei comovida, mas ela sequer pareceu dar importância. Certamente, o sobrenome era uma grande coincidência! — Bom, Samantha... Como vencedora do concurso regional, temos muitas coisas a conversar! Você ganhou o direito de publicar seu texto na revista, um vale presente no valor de cinco mil reais e uma sessão fotográfica com a fotógrafa oficial da revista.

— Sério? Cinco mil reais? — Cobriu os lábios com as mãos. — Nem se eu juntasse minha mesada de um ano conseguiria chegar nesse valor! Vou comprar tudo em roupas e... — Deteve-se ao notar meu sorriso por sua alegria. — Desculpe...

— Está tudo bem! — Voltei a ler a prancheta. Parecia ser uma jovem humilde e inocente. Seguimos conversando sobre seu texto e suas expectativas. Não demorou para que ficássemos à vontade na presença uma da outra. — Preciso da autorização do seu responsável legal para a sessão de fotos, Sammy. Como você só tem quinze anos, preciso da autorização do seu uso de imagem.

— Ah... — Murchou a expressão e os ombros em sinal claro de decepção. — Creio que não vai funcionar! Meu tio não gosta muito da ideia de eu ficar me expondo. Ele é meio zeloso demais comigo por ser meu único responsável.

— É uma pena! Você é tão bonita!

— É, mas infelizmente... — Negou com um aceno.

— Nem se eu for até sua casa falar com ele? — Sequer sei por que me ofereci, mas talvez tenha sido o fato de ver naquela jovem cheia de sonhos e expectativas a menina que fui um dia. Aquela garotinha que sonhava em trabalhar em uma revista grande e ter seus textos divulgados.

— Você faria isso?

— Faria sim. Achei seu texto ótimo e vale muito a pena tentarmos! Com as fotos, será uma oportunidade incrível para você ser reconhecida nas redes sociais.

— Obrigada, Vicky! — Abraçou-me em um impulso, sorrindo abertamente. — Talvez com você lá, meu tio reconsidere! Ele vai te ver toda bonita e elegante, certamente vai pensar melhor!

— Ótimo! Podemos marcar para a próxima semana?

— Claro!

Meu expediente acabou pouco depois que Samantha foi embora e deixei bem gravado em minha agenda seu nome, endereço e o dia de nosso encontro em sua casa. Ela ficou encarregada de que o tio estivesse em casa para me ouvir. Não era a primeira vez que eu passava por esse tipo de situação, mas o resultado da campanha era sempre satisfatório.

Estava disposta a convencê-lo e ter o texto e as fotos de Samantha publicados!

Saí da revista apressada, sob uma fraca chuva de final de tarde, impaciente para chegar ao meu carro. Passei em uma lanchonete, comprei um lanche leve e segui para o hotel que Travis e eu combinamos. Estacionei em frente a ele, observando a fachada em meio à chuva.

Mordi os lábios enquanto imaginava que ele estava lá, dentro do quarto, apenas me esperando para prosseguirmos com as lições. Meu celular tocou, lembrando-me da realidade. Era Frederick.

— Alô?

— Vicky, meu amor! — Sorri com suas palavras. — Como vai a mulher mais linda que conheço?

— Fred! Estou bem e você?

— Com saudade de ouvir sua voz sexy! — Segui sorrindo um pouco. Ele parecia animado. — Você anda tão atarefada ultimamente, não tem nem tempo de me ligar em vídeo para que eu possa vê-la mais de pertinho, amor.

— Você não vai me convencer a tirar a roupa para você na câmera, Fred! Já falei para desistir! — Brinquei e ele gargalhou do outro lado.

— Ah, mas as esperanças nunca se esvaem! Tudo bem, eu me conformo em esperar! Falta muito pouco para eu estar aí, ao seu lado, e vamos curtir juntos. Terei todo tempo do mundo para ver seu corpo nu bem de pertinho.

Cortei o assunto, como sempre fazia quando ele tocava no tema.

— Fred, estou prestes a começar uma reunião importante. Será que podemos nos falar mais tarde? — Olhei em direção à entrada do hotel.

— Podemos sim. Boa sorte na reunião, querida. Também estou em um jantar com acionistas da empresa e tenho uma longa noite pela frente! Não se esqueça do quanto te adoro e que sou imensamente sortudo por ter uma mulher como você!

— Também te adoro e sou muito sortuda! Um beijo!

Desliguei sem mais, pressionando o celular contra o peito. Eu me sentia uma traidora, mesmo que Fred não fosse oficialmente meu namorado e sequer tenhamos nos conhecido pessoalmente! Ele já me considerava como mulher e eu estava ali, prestes a entrar em um quarto com um homem sexy e que me tirava o chão!

Mas era por ele. Para agradá-lo na cama como ele queria!

Por nós. Para que pudéssemos ter um relacionamento real e casar.

Por meus pais, que se orgulhariam de um filho. Finalmente!

Desci do carro e segui até o hotel, correndo na chuva fraca. Subi para o quarto rapidamente após o anúncio e bati na porta. Ela foi aberta rapidamente, dando-me a visão do lindo sorriso de Travis O'Brien.

— Olá! — Falei sorrindo nervosamente.

Travis usava uma camisa preta e úmida colada ao peito forte. Os braços torneados se exibiam e, pela primeira vez, consegui reparar na tatuagem de dragão que ele tinha nos músculos do braço esquerdo. Ela subia até o final do pescoço e certamente descia pelas costas. Usava um jeans e estava descalço, certamente me esperando. O cabelo negro pingava pela eminente chuva que pegou e seus olhos escuros brilhavam para mim de uma maneira indecifrável.

— Anjinha... — Sussurrou olhando-me dos pés à cabeça. — Olá!

Sorri do apelido e passei por ele, que fechou a porta. Retirei o casaco dos ombros e coloquei sobre a poltrona vermelha junto de minha bolsa. Fiquei com uma blusinha vermelha de alças, saia até os joelhos preta e apertada na cintura. Também tirei os saltos que me incomodavam.

— Já disse que não sou nenhuma anjinha — Relembrei enquanto girava os calcanhares delicadamente pelo alívio de tirar os sapatos.

— E eu já disse que parece! — Insistiu, caminhando até o frigobar e o abrindo. — Quer beber algo?

— Eu não bebo, obrigada! — Respondi imediatamente. Apenas a presença dele já me embriagava, quem diria bêbada. — O que acha de irmos direto à próxima lição? Estou ansiosa!

Retirei o caderninho da bolsa e a caneta rosa. Sentei-me no espaço vazio do sofá vermelho e me coloquei a postos, aguardando para ouvir. Ocupar o mesmo espaço que aquele homem proibido me fazia perder o ar. Era como se Travis preenchesse todo o ambiente com sua presença e me sufocasse! Eu só pensava em fugir antes de cair em tentação.

— Pensei sobre o conteúdo. — Travis andava de um lado para o outro do quarto, vagarosamente, com uma garrafinha de água gelada em mãos. Não me encarava. — Dividiremos em algumas etapas. Pode anotá-las se quiser...

— Ok! — Concordei a postos.

— Primeira... Toque. Segunda... Prazer. Terceira... Conexão. — Engoli em seco enquanto anotava as palavras dele com as mãos trêmulas. Travis enumerava com os dedos da mão livre e ainda caminhava de um lado para o outro de maneira tranquila — Quarta... Preliminar. Quinta... O ato.

— Somente cinco? — Ergui os olhos para ele, que concordou enquanto bebia a água.

— Acho que será suficiente. Você pode perguntar o que quiser também. Estou aqui para ouvi-la. — Concordei tentando parecer segura. — Acho que em alguns casos teremos de incluir prática. Alguma objeção?

— Não! — Respondi imediatamente. — Acho necessário em todos os casos.

Eu não podia dizer a ele que meu objetivo era exatamente esse! Aprender na prática para aplicar com Fred. Soaria, no mínimo, promíscuo de minha parte. Eu queria que Travis continuasse me vendo como a "anjinha".

— Ótimo! Agora... de pé! — Disse apontando para sua frente. Fiz como ele disse, caminhando até ele sem hesitar.

Travis era pelo menos quinze centímetros mais alto do que eu. Seus olhos castanhos brilhavam sob a luz fraca do quarto. A pele morena se destacava. O maxilar era coberto por uma fina camada de barba por fazer. Minha vontade era erguer a mão e tocá-lo, principalmente quando se moveu para tirar a camisa e exibiu frente a mim seu peito forte, musculoso e tatuado.

Totalmente firme, uniforme e duro como uma rocha. Ofeguei levemente, mas minha respiração se tornou um pouco mais pesada quando Travis se aproximou de meu corpo e levou as mãos à barra de minha blusinha, puxando-a de dentro da saia.

— Eu posso? — Pediu delicadamente, encarando-me fixamente sem nem hesitar por um só momento.

Todo meu corpo estremeceu com a pergunta. Acenei levemente, quase imperceptível, erguendo os braços e fechando os olhos. Delicadamente, tirou minha blusinha, jogando-a para o lado e me deixando frente a ele apenas de sutiã.

Agradeci mentalmente por ser um sutiã branco e rendado, um dos mais bonitos da coleção que eu tinha ganhado de minha irmã. Não tinha bojo e se moldava a meu seio pequeno, permitindo a Travis uma visão de meu mamilo rosado através do tecido.

A sensação que eu tinha era de que iria explodir e sequer havíamos começado!

— A lição de hoje é toque. Vou te mostrar que através do toque podemos expressar ao parceiro exatamente o que sentimos. Está pronta?

Acenei, encarando-o fixamente, incapaz de abandonar seus olhos castanhos.

— Sim. Estou pronta.

Sussurrei, mas, no fundo, eu sabia que a qualquer momento poderia desmaiar pelas sensações incríveis que Travis O'Brien me causava.


— O toque é poderoso, Victorya. É o nosso primeiro contato com o amante que norteará a relação sexual, principalmente no que diz respeito aos sentimentos. Através do toque, eu posso saber como você está se sentindo, o que pensa... Posso lê-la.

A voz dele era profunda e sedutora, quase música para meus ouvidos. Em um ato corajoso, levei uma das mãos até seu braço forte, tocando-o delicadamente. Ele olhou minha mão em sua pele e voltou-se para meus olhos. A pele dele era quente. Macia, mas rígida. Seu braço parecia de pedra, mas também macio e acolhedor. Eu queria me escorar contra seu peito forte.

— O que sinto agora?

— Você hesitou — disse com convicção e corei. — Está assustada, mas curiosa. — Sorri e removi a mão, dando a entender que havia acertado. — Faça de novo, mas relaxe. Tente aflorar outros sentimentos.

Fechei os olhos e suspirei, abrindo-me para as novas possibilidades. Eu sentia o fogo ardendo em mim. O desejo. Dessa vez, toquei sua barriga firme, bem onde a tatuagem de dragão terminava. O desenho cobria quase todo o lado esquerdo do corpo másculo de Travis. Deslizei o dedo vagarosamente por sua pele, quase sem tocá-lo, acompanhando o risco do desenho até o peito e subindo pelo ombro largo, onde parei com a palma aberta. Havia um sol no ombro direito, uma rosa negra no antebraço e um nome perdido em seu peito. Na verdade, três nomes femininos. Um deles estava tatuado no lado esquerdo, sobre o coração. "Maria". Outro logo abaixo da rosa negra do ombro, "Rosa". Por fim, em cada um de seus dedos da mão direita havia uma letra, que juntas formavam "Sammy".

Quem eram aquelas mulheres?

Busquei os olhos dele, que me encarava com admiração.

— E agora? O que sinto?

— Meu corpo te intimida — Concluiu e concordei. Era exatamente o que eu pensava! — Mas você gosta... Você deseja!

Não pude negar, apenas removi a mão levemente, mais devagar que antes, deslizando-a por sua barriga rígida. A pele morena se arrepiou sob meu toque. Era definitivamente mágico provocar sensações nele! Travis se aproximou quase a ponto de colar-se em mim. A mão grande e habilidosa, para minha surpresa, me tocou na cintura nua com intensidade. Fechei os olhos com o calor que irradiava de sua palma.

— O que você sente? — Sussurrou ao meu ouvido com sua voz rouca e profunda.

— Possessividade — Falei o que me veio em mente após seu toque firme. — Sinto que é capaz de não me soltar nunca mais.

Travis nada disse, tampouco negou. Seus olhos castanhos se prendiam nos meus com intensidade.

— É através do toque que o desejo se manifesta. Te tocando, eu posso saber se está pronta para mim ou não... O mesmo acontece contigo. Se me tocar, poderá saber se estou te desejando, se sinto tesão, se estou pronto... Toque é o início, meio e fim do sexo.

— Como podemos saber se estamos prontos? — Questionei quase inocente.

Travis não hesitou. Subiu a mão de minha cintura até o feixe de meu sutiã, nas costas, pronto para desfazê-lo. Meu coração corria descompassado no peito.

— Posso? — Concordei delicadamente, quase sem ar.

Travis moveu as mãos e retirou meu sutiã, deixando-o deslizar por meus ombros até cair no chão aos nossos pés. Corei fortemente quando reparei como olhava para meus seios nus... Ele os admirava sem reservas, sem qualquer pudor. Deslizou vagarosamente as mãos de meus ombros para meus seios, tocando-os com uma delicadeza quase palpável.

Fechei os olhos. Eu queria morrer de vergonha, mas de prazer na mesma proporção. Aquela mão grande e quente tocando meus mamilos rosados e firmes me enlouquecia! Elas se fechavam proporcionalmente ao tamanho deles e Travis sabia como me tocar com cuidado... Com ternura.

Seus polegares brincaram com meus mamilos, delicadamente, e ele sorriu.

— Você está pronta, Vicky... — Sussurrou ao meu ouvido, próximo de meu rosto. — Aposto que se tocar entre suas pernas, você estará molhada pelo desejo de me sentir.

Ele não mentia! Realmente estava e eu me dava conta disso pela primeira vez! Como aconteceu tão rápido?

— E você? — Sussurrei de volta, ainda apaixonada por seu toque em meus seios. — Como posso saber que está pronto?

Travis, outra vez, não hesitou. Realmente estava ali para me ensinar, por isso tomou uma de minhas mãos nas suas e as deslizou por sua barriga nua delicadamente, passando nos pelos abaixo de seu umbigo e parando sobre seu ventre. Travis pousou minha mão pequena sobre seu membro, que marcava duro, grande e imponente sob a calça jeans.

Retesei o corpo ao senti-lo. Esqueci como respirar ao sentir sua masculinidade contra meus dedos, mesmo que coberta pela calça. Era incrivelmente duro e agradável. A umidade entre minhas pernas se tornou ainda maior quando o toquei.

— Pode sentir como te desejo? — Concordei rapidamente, movendo um pouco a mão em seu volume. Travis suspirou.

Ergui os olhos para ele de maneira ansiosa, pedindo silenciosamente para que me deixasse tocá-lo sem a calça. Eu queria sentir mais! Queria vê-lo!

— Ainda não é hora de você me tocar... Vamos chegar nisso lá na lição adequada. — Afastou minha mão de seu membro e corei, ainda com a sensação cravada na memória. Apertei meus seios levemente com as mãos para escondê-los. — Não precisa se esconder. Você é linda e para mim é um imenso prazer vê-la...

Sequer sabia o que dizer. Também não sabia se deveria continuar naquele quarto com aquele homem, que me deixava louca e logo depois me podava.

— Tenho curiosidade de tocá-lo também — Admiti ainda pressionando as mãos contra meus seios. Meu cabelo caía em meus ombros, tapando-me um pouco. Travis me olhava cheio de admiração, como se realmente estivesse diante de um anjo. — Me desculpe por ficar tão envergonhada, é que não estou acostumada com a nudez alheia.

— Tudo no seu tempo, Vicky. Está tudo bem.

Travis sorriu de maneira compreensiva e se abaixou para pegar meu sutiã e minha blusa. Ele me estendeu as peças e se virou, procurando pelo quarto sua camisa também, dando-me espaço para que eu me vestisse. Eu o sentia desconfortável. Ele estava tão duro há pouco, que me deixava confusa a maneira como se esquivava.

Não era fácil para Travis também e estava se tornando um martírio para mim ser tocada e guardar todo aquele fogo! Será que ele não gostava de meu corpo? Será que não sentia vontade de transar comigo?

Terminei de me vestir e sequer consegui encará-lo.

— Tem alguma dúvida? Algo que queira pontuar ou...

— Não! — Respondi apressada, recolhendo meu casaco e bolsa, maluca para sair dali. — Foi tudo muito bem, obrigada e... — Fui até a porta e a abri. — Boa noite, até a próxima!

Travis permaneceu parado no quarto, totalmente surpreso, mas não demorou para me alcançar na rua iluminada pelas luzes de Natal – que se aproximava –, enquanto eu lutava com as chaves do carro para conseguir abri-lo. Minhas mãos tremiam! Ainda estava sob o efeito de Travis O'Brien!

 

— Anjinha! — Gritei enquanto atravessava a avenida em direção a Vicky, que tentava abrir seu carro vermelho. — Victorya! — Ela me olhou por cima dos ombros com seus olhos azuis atentos, mas tratou de continuar tentando abrir o carro. — Vicky, por favor! Por que saiu assim? O que aconteceu? Eu te faltei com respeito? Foi demais para você? O que houve?

Vicky parou de se mover quando a chave caiu a seus pés e ela desistiu. Abaixei-me para pegar e ela se encostou ao carro, ainda úmido pela chuva que caiu mais cedo. Suspirou pesadamente antes de tomar fôlego e me encarar, finalmente.

— Não sei se está sendo uma boa ideia, não sei se... — Deteve-se ao me olhar nos olhos. Eu via a dúvida em seu olhar azul e incrível. — É tudo muito novo para mim, Travis. A culpa não é sua! Você tem sido maravilhoso, muito gentil e delicado comigo... Só devo agradecê-lo.

— Não precisa me agradecer por nada! — Toquei seu queixo delicadamente, fazendo-a me encarar. — Vamos tirar a parte prática! Vamos ficar só com as teorias e...

Ela me deteve prontamente.

— Não! Não! — Afirmou convicta, segurando o pulso de minha mão que tocava em seu queixo. Existiam dúvidas, mas Victorya lutava contra si mesma para lidar com elas. — Agora que começamos, vamos até o final.

Eu faria tudo para não perder Vicky e o tempo que tínhamos juntos! No fundo, eu sabia que ela tinha razão... Aquilo não era uma boa ideia! Nos conectávamos mais a cada encontro e chegaria um momento perigoso. O momento que poderia envolver sentimentos.

— Que tal darmos uma volta na praça? — Apontei a praça ao lado, iluminada pelas luzes de Natal, e ela olhou rapidamente. — Sempre que nos vemos é para falar de sexo, de lições e aulas... Nunca trocamos uma ideia saudável.

Vicky olhou no relógio e torceu os lábios.

— Tenho alguns minutos... — Após guardar a bolsa dela no carro, passamos a caminhar lado a lado no clima úmido e gelado da praça iluminada e movimentada. — Nunca fiz perguntas a você porque tive medo de que interpretasse mal. Achei que não gostasse de envolver vida profissional e pessoal...

Vicky tinha as mãos metidas nos bolsos do casaco negro e o cabelo loiro esvoaçando ao redor da bela face. Eu só pensava em seu corpo nu... Em seus seios rosados e empinados, que se moldavam perfeitamente na palma de minha mão. O sexo jamais me desestabilizou, mas essa menina me tirava do eixo!

Eu só pensava em tê-la. Em fodê-la até que esquecesse o próprio nome!

— Não gosto. Todos que trabalham na noite evitam contato com clientes, é algo essencial para manter a sanidade mental minimamente em dia. — Sorri para ela, que me olhou rapidamente. — Mas existem exceções. É a primeira vez que ensino sexo para alguém e isso me intriga... O que seu namorado pensa sobre isso?

— Ele não sabe de nada! — Um vendedor de maçãs do amor passou por nós e, antes que ela pudesse protestar, tirei duas do cesto dele e paguei com rapidez.

— Obrigada... — Disse, pegando o doce ainda mais sorridente. Ela ficava linda quando sorria. — Sou eu quem deveria pagar, afinal, tenho uma dívida com você! Ainda não me disse seu preço, senhor O'Brien.

Vicky parou em um banco sob uma árvore iluminada por pisca-piscas e sentou-se enquanto mordia a maçã vermelha, que terminou de desembalar. Seus olhos nos meus eram um convite para o desafio.

— Não se preocupe com dinheiro... Um dia pensarei em uma maneira de cobrar essa dívida. — Brinquei e sentei ao lado dela, que comia a maça calmamente. — Por que seu namorado não te ensina o que estou ensinando?

— Porque ele não está aqui... Está em Londres — explicou sem me olhar. — Virá daqui dois meses e nós ainda não nos conhecemos. É um namoro virtual.

Nos encaramos. Ela sorriu e eu retribuí, concordando.

— Agora entendo... Quer aprender para impressioná-lo, é isso? — Vicky deu de ombros, voltando a comer. — Realmente precisa das aulas, Anjinha, por isso estou aqui. Pensei que suas bochechas iam explodir quando coloquei sua mão em mim. Quantos anos você tem?

Meu tom era descontraído, uma brincadeira, mas havia demasiada seriedade na resposta dela.

— Tenho vinte e três e... — Tomou fôlego. — Nunca antes toquei em um homem. Fiquei assustada, pensando que seu corpo jamais se encaixaria no meu... É desproporcional! Parece-me tão grande, enquanto sou tão pequena...

Demorei alguns segundos para processar suas palavras e o quanto significavam. Voltei-me para ela delicadamente, roubando seu olhar com um toque em seu queixo.

— A natureza é perfeita, Vicky. Seu corpo é feito para se adequar ao meu. — Ela tentou desviar o olhar do meu. — Vai ser como das outras vezes, você vai se adequar.

— Digamos que... — Pensava. — Não houve outras vezes.

Vicky desviou o rosto e voltou a comer a maçã com calma, olhando ao redor com seus grandes olhos azuis atentos. Suas palavras deixaram tudo claro para mim.

— Você é virgem? — Questionei quase sem pensar e ela não esboçou reação. — Agora realmente tudo me parece mais complicado de entender!

— Não precisa entender nada, senhor O'Brien. — Mastigava enquanto dizia, com uma das mãos em frente aos lábios. — Mas saiba que não sou uma qualquer! Fred e eu ainda não temos um compromisso formal e o que acontece entre mim e o senhor... — Não me olhava. — É profissional, não é?

— Totalmente. — Cocei a barba devagar, ainda segurando minha maçã entre os dedos. — Nunca passou pela minha cabeça que fosse uma qualquer. Quando te chamo de anjinha não é à toa. Quando te olho, vejo que realmente é um anjo... Nunca conheci uma mulher como você e cheguei a pensar que fosse uma raça em extinção.

Sorri para Vicky, que retribuiu com delicadeza e sinceridade. Sua mão pequena buscou a minha e ela apertou meus dedos com carinho nos seus. Lembrei-me de sua mão em meu corpo.

— Você é um homem gentil, Travis O'Brien. — Sorria com os olhos brilhando sob as luzes de Natal. — Também é uma raça em extinção, acredite! Fico feliz por ter te encontrado na boate.

— Não aceito novas clientes além do seleto grupo que atendo atualmente, mas sabe por que aceitei sua proposta? — Segurei sua mão na minha, entrelaçando nossos dedos. — Porque tive medo que caísse nas mãos erradas.

Vicky sorriu ainda mais.

— Obrigada... — Sussurrou me olhando nos olhos. — Quando você diz "seleto grupo"... quantas são?

— Seis. Tenho uma pequena lista de seis mulheres que são minhas clientes especiais. Tirando elas, não tenho mais clientes que atendo para sexo. — Vicky ouvia atentamente. Sua mão ainda estava entrelaçada na minha. — Tive alguns problemas familiares e decidi parar de fazer programas com qualquer uma.

Samantha começou a entender meu serviço e me fez pensar. Samantha era o grande motivo por eu ter parado.

— Você trabalha na boate há muito tempo?

— Trabalho lá há oito anos... Usei a boate para pagar meus estudos. Hoje sou instrutor em uma academia de manhã e dou aulas na rede privada de ensino à tarde. Sou formado em Educação Física. — Vicky pareceu surpresa. — A boate, com o passar do tempo, se tornou uma maneira de tirar um extra. Minha renda não depende mais dela, porém ainda é necessário.

Eu ainda precisava comprar os remédios de minha mãe e pagar os caros cursos e livros de Samantha.

— Você é professor, não é? — Concordei. — Que incrível!

— E você? Com o que trabalha, além de encantar homens promíscuos como eu?

Vicky riu baixinho.

— Trabalho em uma revista. Sou assistente da editora-chefe e um dia serei a editora-chefe se tudo der certo! — Demonstrava-se orgulhosa. — Falo três idiomas, sou formada em Editoração e Literatura e estou prestes a entregar meu trabalho de pós-graduação.

— Uau! Victorya Hayder!

Uma vendedora de flores passou por nós e parou a nossa frente, estendendo uma rosa vermelha em direção a mim.

— Essa é a última do dia e costumo dar para o casal mais bonito da praça! — A humilde senhora me estendeu a rosa e aceitei. Retirei do bolso uma nota de cinco, mas ela recusou. — É um presente, senhor. Para que você e sua amada tenham muita sorte no amor!

— Obrigado, senhora... — respondi sorrindo enquanto a vendedora se afastava e sumia entre as pessoas. Voltei-me para Vicky, que ria baixinho com a mão em frente aos lábios. — Bom... Ao menos sabemos que somos bonitos! O casal mais bonito da praça!

Estendi a rosa para Vicky, que ria de maneira agradável e aceitou prontamente.

— Obrigada! — Cheirou a rosa. — Nunca ganhei uma rosa antes.

— Também nunca dei uma rosa para alguém antes. — Nos encaramos com cumplicidade e naquele momento percebemos que nossas mãos ainda estavam entrelaçadas em minha coxa.

Constrangida, Vicky retirou a mão da minha delicadamente e a usou para segurar a rosa.

— Você nunca namorou, Travis? Nunca teve uma mulher pela qual se interessasse e quisesse construir uma família?

— Já namorei, mas foram experiências terríveis e não... Eu nunca encontrei alguém para construir família. Digamos que eu já tenha responsabilidades demais.

— Você tem filhos? — Perguntou prontamente.

— Não! Mas é... — Pensei em Sammy. — Tenho responsabilidades das quais não posso fugir.

— Você já ficou com homens também? — Vicky me olhava séria e eu ri baixinho, negando. — Diga a verdade!

— Não, nunca! Já tive inúmeras propostas, mas na boate só entram mulheres e sempre trabalhei lá. Não curto a coisa, gosto mesmo é de... — Não pude evitar olhar para o corpo dela rapidamente. — De maciez, umidade e delicadeza.

— Preciso ir — Vicky olhou no relógio enquanto corava por minhas palavras. — Minha mãe deve estar atrás de mim!

Colocou-se de pé e fiz o mesmo, parando frente a ela.

— As aulas continuam? — Vicky concordou. — Quer que eu faça as alterações e tire a parte prática?

— Não, claro que não! — Sequer pensou para responder. — Quero continuar exatamente como está. Confio em você e sei que não será um erro, mas peço discrição. Ninguém pode saber sobre... Sobre meus segredos.

— Nós somos um segredo?

— O que fazemos é. — Ajeitou o cabelo loiro atrás da orelha e pude ver melhor sua face bonita e angelical. Eu faria tudo para tê-la mais um pouco perto de mim.

Caminhamos em direção ao carro dela.

— Não se preocupe. Sou um homem discreto. — Pisquei para ela, que sorriu.

— Obrigada, Travis. — Delicadamente tocou meu rosto em uma carícia quase relâmpago. — Obrigada pela maçã do amor e pela rosa também.

— Obrigado pelo momento agradável.

Vicky tentou abrir o carro e conseguiu com rapidez, agora mais calma.

— Nos vemos em breve!

— Nos vemos... Se cuida, Anjinha.

Vicky me deu um beijo rápido na bochecha em sinal de gratidão. Eu queria beijá-la nos lábios e comprimi-la contra o carro para sentir seu calor, mas me contentei com seu beijo inocente. A observei entrar no carro e partir.

Seu cheiro ficou impregnado em minha roupa e seu beijo marcado em minha face. Victorya sempre ficava marcada em mim por horas... Dias... Até nosso próximo encontro.

Era loucura, mas eu não podia evitar!

Seu feitiço era poderoso demais para o meu coração quebrado.


— Vincent! Que bom te ver!

Meu irmão mais velho me abraçou quando saí naquela manhã para o trabalho. Nos encontramos no portão da garagem. Eu tirava meu carro e ele estava prostrado frente ao dele, esperando Valery e as crianças.

— É bom te ver também, irmã. Você está linda, um arraso! — Movimentou meu cabelo loiro delicadamente enquanto me analisava dos pés à cabeça.

— Porque não entra? Valery está trocando as meninas! Olivia vomitou na roupa bem quando tinha acabado o banho e sujou Felícia também! — Expliquei, sabendo que Vincent levaria as crianças e Valery para um passeio naquele dia. Ele sempre fazia o que podia para agradar os pequenos e nossa irmã, pois sabia tudo que Val passava com nossos pais.

— Prefiro esperar aqui, Vicky. Você sabe que sempre que encontro papai e mamãe as coisas não são agradáveis.

Toquei seu ombro em solidariedade. Vincent é um homem alto, loiro e de olhos castanhos. Sempre bem-vestido e com seus corriqueiros óculos escuros.

— E Eliot?

— Está bem. No trabalho. — Sorriu ao falar do namorado. — E você com o empresário britânico? — Fez uma voz engraçada e sorri. — Ele já chegou de Londres?

— Não, virá em algumas semanas...

— Você parece desanimada. O que foi que houve? — Dei de ombros.

— Apenas o cansaço do dia a dia, as intermináveis discussões aqui em casa... — Apontei por cima dos ombros. — Não aguento mais ver Valery sendo humilhada! Faço tudo que está ao meu alcance para ajudá-la com as crianças, mas está quase impossível conter as discussões dela com a mamãe. Val não tem papas na língua e não se segura quando a mamãe provoca. Eu já ofereci todo meu salário para bancar um aluguel para ela até que arrume um emprego, mas Val não quer sair daqui.

— Também já a chamei para morar comigo e com Eliot, mas ela diz que as crianças vão atrapalhar nossa intimidade. — Vincent suspirou. — Enfim... Seria um prazer tê-los em minha casa, mas Valery realmente não sai daqui.

— Eu a compreendo... Papai e mamãe podem humilhá-la e todos da família falarem sobre o divórcio dela, mas papai e mamãe fazem de tudo pelas crianças! Pagam escola, compram roupas, comida, tudo! Não medem esforços para que tenham uma boa criação e Val teme não conseguir proporcionar isso a eles vendendo as lingeries dela.

— E como vai o negócio dela?

— Tem vendido bem pela internet, mas falta tempo para investir. As crianças sugam muito dela, principalmente as gêmeas, que ainda não ficam na escola. Ela depende da mamãe para conseguir trabalhar, mas, na maioria das vezes, trabalha quando chego do serviço. Fico com as crianças para ela desenhar e vender.

— Em uma coisa mamãe tem razão, Vicky... — Vincent tocou meu queixo com carinho. — Você é a melhor coisa que aconteceu para essa família! É a melhor entre todos nós, de fato!

— Ah, irmão... Não diga isso! — Pedi com um leve sorriso. — Não sou tão perfeita assim. Não mais! Se mamãe soubesse no que ando me metendo, certamente me destrataria da mesma maneira que faz com Valery. Me excomungaria da face da terra!

Rimos juntos e Vincent cruzou os braços em uma postura curiosa.

— Agora que começou vai ter que falar! O que anda acontecendo, Victorya Hayder? O que está passando no coração de minha irmãzinha caçula adorável?

Pensei em dizer algo, mas simplesmente não podia revelar o segredo que tinha com Travis O'Brien.

— O que posso dizer é que entrei nisso para me casar com Fred... Para conquistá-lo como a mamãe quer, mas acabei conhecendo alguém que está me confundindo muito. Alguém que sei que não é para mim e jamais poderá ser, porque não pertencemos ao mesmo mundo, mas que sou incapaz de deixar de pensar!

— Está apaixonada, é isso? — Vincent arriscou.

— Não sei se é paixão... Não sei nomear. Só sei que penso nele o tempo todo e sei que está errado, mas não consigo me afastar. Simplesmente não consigo fugir, mesmo sabendo que devo!

— Está te fazendo bem? — Vincent tocou sua mão com carinho na minha. — Está te fazendo feliz?

Sorri ao me lembrar do sorriso de Travis. Da maneira como me fazia sorrir toda vez que conversávamos e do seu toque quente e firme.

— Sim... Não posso negar!

— Então siga em frente, minha irmã. Siga seu coração e seja feliz! — Tocou meu rosto. — Nossos pais não conseguem compreender que somos pessoas independentes e que eles não determinaram minha sexualidade ou são os culpados pelo casamento fracassado de Valery. São pessoas de mente antiga e preconceituosa. Nós devemos respeito a eles por serem nossos pais, mas não toda nossa felicidade. Um dia eles partirão e ficaremos aqui... Se não formos felizes, o que será de nós?

— Obrigado pelas palavras, Vincent. Você e Val são os melhores irmãos que eu poderia ter!

Abracei meu irmão fortemente. Sou apaixonada pelo homem incrível que meu irmão é, sempre sensato e responsável. Ele era quase como o pai que meus sobrinhos não tinham. Ocupava-se de dar atenção e suprir as necessidades que meus pais achavam supérfluas, como um brinquedo ou um passeio.

Cheguei na revista pensando sobre as palavras de Vincent.

Papai era um homem à moda antiga, aquele que levava a família no cabresto e a esposa em rédea curta. Quase não ficava em casa, sempre ocupado com sua empresa transportadora. Mamãe viveu para os filhos e o marido, jamais trabalhou fora, mas incentivou Valery e eu a sermos mulheres estudadas e independentes, mesmo que também deixasse claro que toda mulher deveria ter um bom casamento para constituir família.

Sua grande decepção foi quando Val casou aos dezessete anos, grávida de um homem que ela desaprovava. Logo em seguida, meu irmão se assumiu homossexual e o mundo caiu dentro de casa. Eu era adolescente, uma vez que sou dez anos mais nova que Vincent e três anos mais nova que Valery, mas me lembro perfeitamente de meu pai culpando minha mãe pelo "fracasso" dos filhos mais velhos.

"Ao menos tente acertar com Victorya! Ela é a única chance de você provar que foi uma boa parideira e fez algo que preste na vida!"

Meu pai era abusivo como marido, apesar de sempre ter sido complacente comigo. Fazia todos meus gostos. Meu irmão morreu para ele quando saiu de casa e, por Valery, ele tinha um pouco de estima por causa dos netos, que adorava.

De fato, era meu pai a figura carrasca da família. Mamãe era uma sombra da culpa que ele depositava nela relacionada a tudo que dava errado. Eu sabia que no fundo ela sentia falta de Vincent e chorava por ele todas as noites, mas não podia se aproximar muito porque meu pai não concordava.

Mamãe se fazia de durona, mas cuidava dos três netos com toda a vida dela e por isso Valery não saía da casa dos meus pais. Mamãe, apesar de criticá-la na frente de meu pai, segurava a barra de Valery absurdamente com as crianças e às vezes a encobria para sair de noite e curtir um pouco. Longe de meu pai, mamãe era agradável. Perto dele, uma carrasca como ele queria que fosse. Para ela, uma mulher que nasceu na roça e foi "resgatada" por um homem bem de vida como ele, o chão que meu pai pisava virava ouro!

Era muito bonita — loira, de corpo perfeito e olhos azuis como o céu —, por isso, ele a trouxe da roça e se casou com ela. Nós duas éramos muito parecidas fisicamente, mesmo sendo ela bem mais velha.

Eu a via chorando nas madrugadas por meus irmãos, principalmente por Vincent. Sabia que no fundo mamãe era uma mulher sofredora e forte, por isso eu queria dar orgulho a ela, mas as coisas estavam fugindo do meu controle.

Sempre andei na linha, de acordo com as vontades dela para que eu fosse a filha perfeita, mas, quando Travis apareceu, as coisas mudaram! Era como se ele me mostrasse que aquele não era o caminho.

Apesar de tudo, não me sentia à vontade estando encantada por um homem que se deitava com várias mulheres. Ele se vendia por dinheiro, apesar de não se resumir a isso! Era doloroso pensar que eu não seria a única em sua vida e o fato era o que mais me segurava... Não podia aceitar a ideia de estar me apaixonando por um homem da noite como Travis.

Rayanna apareceu em minha sala justamente enquanto eu ligava para ele em um impulso.

— Oi... — falei, vendo-a sentar-se à minha frente, mas falava com ele no telefone. — Como vai, senhor O'Brien?

— Por favor, Vicky... Só Travis! — Ray fazia caras engraçadas para mim, enquanto eu ouvia a voz dele do outro lado. — Não esperava te ouvir, que surpresa agradável. Tudo bem?

— Tudo e você?

— Também...

— Somente liguei para... — Olhei Ray, que ouvia atentamente. — É melhor falarmos depois. Você está ocupado hoje?

Sequer sabia o que dizer. Apenas queria ouvi-lo um pouco, já com saudade, porque não o via nem sabia nada dele há dois dias.

— De tarde não tenho aulas no colégio, mas tenho cliente marcada. É urgente? Precisa de ajuda?

Minhas bochechas coraram e apertei a caneta que segurava entre os dedos.

— Ah é? Cliente? Bom, então me desculpe por atrapalhar, eu... Foi um erro ter ligado! Aproveite sua tarde, senhor O'Brien!

— Vicky!

Desliguei a ligação e Ray me encarava com surpresa, sem esconder a expressão.

— Espera... Isso foi uma cena de ciúme? — Tapou os lábios com as mãos e eu me recostei na cadeira giratória para recuperar o fôlego. Minhas bochechas ardiam de raiva. Passei os dedos entre os fios de meu cabelo, nervosamente. — Você está com ciúme do gigolô?

— Ray, por favor — sussurrei olhando os lados. — Pode ser mais discreta?

— Me explica isso, Victorya Hayder! Como assim você faz uma cena de ciúme porque o cara vai atender uma cliente? Você também é uma cliente, só mais uma na agenda dele!

Aquilo fez meu estômago revirar, principalmente por eu saber que era real.

— Não tenho ciúme de ninguém, ficou maluca? Agora, por favor, me deixa trabalhar?

— Vicky, amiga! — Ray pegou em minha mão com seriedade e tive de encarar seus olhos escuros. Parecia preocupada. — Não cometa o erro de se apaixonar por esse homem, por favor! Não apoio sua história com o empresário de Londres, mas também não quero te ver sofrendo por se apaixonar por um homem que troca sexo por dinheiro e que não é para você! Você é uma garota boa e ele o homem errado!

Fechei os olhos para que suas palavras penetrassem em meu cérebro.

— Isso não vai acontecer... — sussurrei. — Não estou apaixonada por ele!

Ray não pareceu convencida, mas me deixou trabalhar em paz.

Saber que Travis transaria com outra hoje, uma das seis de seu seleto grupo de clientes, me dava vontade de gritar! Seu toque... Seu corpo... Eu sentia ciúme de que outra sentisse o que senti nos braços dele.

Olhei uma foto de Fred em minha mesa, pegando o porta-retratos e olhando de perto meu empresário ruivo e gato. Aquele era meu homem! Aquele era meu objetivo! Fred me daria uma vida perfeita, orgulharia meus pais e seria o marido de meus sonhos.

Eu precisava parar de perder tempo pensando em um dançarino gostoso que estava apenas me ensinando a foder.

 

 

Eu terminava de fechar o cinto de minha calça enquanto Diana, minha cliente mais antiga e uma das primeiras que tive na vida, estava deitada na cama de casal do motel e fumava um cigarro.

— Você anda tão estranho, Travis — Disse às minhas costas, ao passo em que eu vestia minha camisa e terminava de recolher minhas coisas. — Não é mais o mesmo de antes.

— Não gostou do sexo? Tenho uns caras na boate para indicar, quer o número deles?

Forcei meu sapato para que entrasse em meu pé, quando senti a mão dela em meu ombro. Qualquer toque parecia repulsivo para mim depois de sentir a mão pequena e macia de Vicky em minha pele.

Aquele prazer de foder mulheres lindas como Diana — uma quarentona loira, sarada e muito gostosa — já não era o mesmo. Podia dizer que sequer sentia algo. Para me excitar, tive que pensar em Vicky e foi a primeira vez na profissão em que quase brochei, tamanha falta de vontade.

— Alguma vagabunda te enfeitiçou, não é? — Fechei os olhos e suspirei. — Sempre acontece, cedo ou tarde! — Sua voz era entediada. — Sempre aparece uma rapariga que tem um chá de buceta tão forte que nem homens experientes como você podem resistir!

— Não fale assim dela! — Respondi de maneira áspera, desviando da mão de Diana e ficando de pé. — Mulheres como você, Diana, que têm filhos e marido esperando em casa e pagam caro para foder com um homem jovem, não têm moral nenhuma para falar de uma moça como ela!

— O que está havendo, O'Brien? — Enraivecida, seguia sentada na cama com seu cigarro na boca. — Perdeu o juízo para falar assim comigo?

— Perdi o juízo sim, mas não foi por você não! — Segui reunindo minhas coisas pelo quarto. — E não fale mais dela, certo? Não se meta em minha vida pessoal!

Diana ficou de pé, envolta pelo lençol, e me olhou com seus olhos escuros de cascavel.

— Pode fazer o que quiser com sua vida pessoal, gato... Mas saiba que não vai ser uma aventurazinha qualquer que tirará você de mim, ouviu bem? Eu continuo pagando bem para você me comer!

Depositou na mesa à minha frente as notas que pagavam o programa. As seis clientes da minha lista não pagavam pouco pelas horas de prazer. Reuni o dinheiro e sai, caminhando na rua em direção ao meu carro e sentindo como se aquelas notas em meu bolso pesassem o peso de uma vida.

Realmente era um fardo do qual eu não via a hora de me livrar! Em breve Sammy entraria em uma faculdade pública e eu reduziria gastos, podendo finalmente largar as clientes e a boate. Faltava pouco, muito pouco!

Sammy jantava na cozinha quando cheguei, jogando a chave na mesa e colocando a bolsa sobre o balcão.

— Tudo bem?

— Uma representante da revista virá até aqui conversar com você sobre a autorização para publicar meu texto — disse quase em um fôlego só, tomando sopa enquanto assistia aulas no youtube.

— Tudo bem... O texto eu autorizo.

— As fotos também.

— As fotos não!

— Não são fotos de mim pelada, são fotos decentes! — Ressaltou com as bochechas coradas. Nada falei, cansado de discutir com uma adolescente após um dia cheio. — Vai sair novamente?

— Vou... Tenho um... encontro — Sammy me encarou um pouco surpresa pela palavra.

— Uma cliente, quer dizer?

— Não... É, mais ou menos! Ela é cliente, mas não é como as outras. — Me sentei em frente à Samantha com meu prato de sopa e passei a jantar com ela.

— Tudo bem, não entendi e nem quero entender! — Rimos juntos, como poucas vezes acontecia quando falávamos de algo relacionado ao meu trabalho na boate.

Após o agradável momento com Samantha, passei no quarto de minha mãe para vê-la. Mamãe já não falava, muito menos se movia corretamente após o derrame cerebral que sofreu e a deixou acamada. Desenvolveu câncer também. Seu único movimento era um leve repuxar de lábios que fazia quando sorria e os olhos que acompanhavam nosso movimento.

Sentei-me no banquinho ao lado da maca e toquei sua mão inchada na minha, beijando-a.

— Mãe, só passei para dizer que está tudo bem... Sammy está estudando, estou trabalhando duro e as contas estão em dia. — Seus olhos me acompanhavam, atentos. — Paguei a fisioterapeuta e ela voltará a te atender amanhã. Também consegui comprar uma cadeira de banho nova e... Ah! Uma boa novidade! Sammy terá um texto publicado em uma revista famosa, pode acreditar? — Ela repuxou os lábios com seu mínimo sorriso. — Não deve se preocupar, mãe... Estou cuidando bem de sua neta.

Coloquei sua mão frágil em meu rosto para sentir seu toque e vi lágrimas em seus olhos. Lágrimas de orgulho e preocupação, eu bem sabia.

Sammy contava tudo a ela, mesmo que não soubéssemos até onde ia sua compreensão. Sammy dizia sobre meu trabalho na boate e nossas brigas e eu a via com o olhar preocupado cada vez que isso entrava em pauta. Talvez, em sua condição, se preocupasse com meu trabalho na noite.

Talvez sentisse culpa!

Eu gostava de passar sempre para dizer coisas positivas e animá-la. Já bastava sua vida tão sofrida, mamãe não precisava de mais preocupações.

— Conheci alguém, mãe... Uma moça — sussurrei como se fosse meu mais íntimo segredo. Ela me encarou ainda mais séria. — O nome dela é Vicky. Victorya... — Meu tom apaixonado a fez sorrir. — É linda, delicada, educada e muito doce. Espirituosa... É decente, também... — Minha felicidade se esvaiu aos poucos. — E por ser uma boa garota decente, não é mulher para mim, infelizmente... Mas eu adoraria que fosse! Daria minha vida para que fosse!

Eu não sabia se Vicky estaria no hotel no dia combinado após desligar o telefone em minha cara e não retribuir minhas mensagens e ligações. O mais certo é que não estivesse, mesmo assim caminhei na chuva até o quarto de hotel em uma corrida proposital.

Corri nove quadras até lá, deixando o carro em casa e descarregando a adrenalina que me fazia refém de meus próprios pensamentos. Victorya Hayder não era para mim e certamente havia se dado conta da enrascada na qual se meteu. Não apareceria e eu me frustraria, mas precisava estar lá para selar o final daquele louco encontro.

A imagem dos seios dela jamais saíram de minha cabeça. De seus dentes mordiscando os lábios enquanto sentia meu toque em seus mamilos rosados... Seu sorriso, o que era ainda pior, me perseguia em sonhos.

Eu odiava a ideia de estar apaixonado por uma mulher que jamais seria minha!

Cheguei molhado ao hotel e cumprimentei os recepcionistas. Um velho amigo de infância era dono do hotel e me alugava os quartos por um preço ótimo há muito tempo. As meninas da recepção sequer escondiam que falavam de mim enquanto meu cabelo pingava em meu peito coberto pela camiseta regata branca e molhada, quase como uma segunda pele.

Corri na chuva, deixando que a água levasse meus pensamentos infelizes.

Ou felizes, eu sei lá.

Aquela seria a última vez que eu ousaria pensar em Vicky, a moça com cara de anjo.

Abri a porta do quarto que usávamos desde o primeiro dia e entrei rapidamente, ofegante pela corrida e cansado. Fui até o frigobar e peguei uma água, virando-a em segundos enquanto ajeitava o cabelo para longe da face.

— Acho que precisamos falar sobre o hotel e os custos que ele implica... — Quase me engasguei com a água quando ouvi a voz dela vindo do outro lado do quarto, próxima do banheiro. — Ainda não ficou claro se sou eu ou você quem vai pagar pelas horas que passamos aqui, senhor O'Brien.

A encarei perplexo.

Usava um robe de seda rosa claro, que ia até o meio das coxas, e tinha o cabelo loiro solto ao redor do rosto lindo. Naquele tom de menina, parecia ainda mais angelical. Tive de me conter para não atravessar o espaço e arrancar todos os tecidos daquele corpo como um louco, mas apenas baixei a garrafa e me voltei para ela, que tinha os braços cruzados em frente ao leve decote que exibia com parte do robe aberto.

— Victorya...

Foi tudo que consegui dizer ao passo em que tentava lidar com os sentimentos em meu peito.

Ela veio... e trouxe consigo novamente todos os seus segredos.


Travis O'Brien conseguia, como poucos, me tirar todas as armas que minunciosamente preparei para atacá-lo.

Eu queria que caísse aos meus pés quando me visse no quarto, mas fui eu quem quase desmoronou ao ser presenteada com a visão daquele homem musculoso, tatuado e quente como o inferno totalmente molhado à minha frente.

O dragão tatuado em suas costas era exibido perfeitamente sob a blusa branca e regata que usava, assim como seus músculos do peito. Eu sentia o coração na garganta pela vontade de tocá-lo, louca por sua natural sensualidade.

Travis me olhava como se visse um anjo. Um sentimento totalmente diferente da luxúria proibida que eu nutria por ele.

— Travis... — sussurrei sorrindo um pouco, tentando parecer indiferente. — Surpreso em me ver?

— Depois de você ter desligado em minha cara e ignorado todas minhas tentativas de contato, sim... Estou muito surpreso em vê-la, Victorya. — Ele caminhou até uma toalha dobrada na estante de vidro e a pegou para secar o cabelo úmido.

— Digamos que eu estava em dias conturbados e estressantes — justifiquei, encarando-o tirar a camisa para secar o peito.

De costas para mim, finalmente tive a visão privilegiada da tatuagem de dragão. Espiei cada detalhe minunciosamente. Era um desenho incrível com detalhes precisos e bem marcados. Quem o fez de fato era um artista.

— Você gosta do desenho, não é?

Corei. Travis por acaso tinha olhos nas costas? Como podia saber que eu o observava se sequer me olhava?

— É muito bem-feito, de fato. — Mas o que eu olhava não era bem o desenho, mas sim seu corpo sensual.

Nos encaramos através do espaço e ele jogou a toalha na cama, ficando apenas de calça escura e com o peito forte e incrivelmente musculoso à mostra. Eu queria tocá-lo! Ardia por sua pele!

Travis se inclinou levemente e analisou a tatuagem de relance.

— Foi minha irmã quem fez alguns dias antes de morrer. Era tatuadora profissional, a melhor que já conheci.

Minha garganta secou com o nó que se entrelaçou nela. O olhar triste de Travis me baqueou imediatamente.

— Sinto muito! Era muito talentosa. Sinto muito mesmo, eu...

— Está tudo bem. — Seu tom tranquilo ao sentar-se na beira da cama me fez sentar também no sofá de sempre, frente a ele. — E não precisa se preocupar com o hotel. Já disse que é de um conhecido, está tudo sob controle.

Comprimi os lábios em busca de afastar o clima tenso que criei.

— Cheguei cedo para me trocar. Acho que é mais apropriado... — Apontei o robe de seda e ele nada disse, apenas me encarou fixamente. — Qual delas é sua irmã? Maria, Rosa ou Sammy?

Travis sorriu orgulhoso quando ouviu meu questionamento.

— Pelo jeito, presta mesmo atenção em mim, senhorita Hayder... — Coçou o maxilar com a barba rala que crescia ali. — Maria. Maria era o nome de minha irmã. — Baixei o olhar. Queria perguntar muito, mas não tinha palavras para dizer nada. — Vamos continuar com o conteúdo?

— Para isso estou aqui. — Apanhei o bloquinho e a caneta rosa de pompom. Travis se colocou de pé com sua postura impositiva corriqueira, caminhando até o frigobar para tirar outra água de lá. Ele estava ainda mais quente do que eu!

— Qual a lição de hoje, senhorita Hayder? — Questionou em tom brincalhão.

— "Prazer" — li a palavra anotada em meu bloquinho e senti a tensão tomar conta imediatamente.

— Acredito que hoje finalmente conseguirei amansá-la um pouco mais. — Bebia a água lentamente. — Deixá-la mais calma.

— Como assim?

Minha pergunta pairou no ar e Travis colocou a água de lado, parando de pé no centro do quarto, ao lado da cama, exatamente como da última vez. A visão daquele homem grande, forte, tatuado e másculo me esperando me fez estremecer.

— Vamos começar de onde paramos da última vez. — Apontou à sua frente. — Venha. De pé!

Meu coração batia na boca, mas dentro daquele quarto, com Travis O'Brien, eu não me reconhecia. Não era a doce Vicky criada como uma princesinha perfeita, mas uma mulher disposta a tudo pelo prazer que Travis poderia me proporcionar.

Eu queria ser livre!

Caminhei até Travis sem medo, apesar de tremer por dentro em toda a carne. Parei a sua frente e, antes que ele se movesse, desfiz o nó de meu robe e abri, desnudando-me para ele. Usava apenas uma calcinha de renda combinando com o rosa claro da seda e Travis não escondeu a surpresa. Imediatamente o volume em sua calça começou a crescer e senti como se fosse a magia feita por mim.

A sensação era poderosa.

— Podemos começar.

Apesar de minha voz soar segura, eu mal conseguia olhá-lo nos olhos. Jamais estive apenas de calcinha na frente de um homem e o fato me envergonhava. Travis estava sem palavras, mas logo recuperou o fôlego quando se lembrou das aulas.

— Você já sentiu prazer?

— Como é?

Sua pergunta foi objetiva e surpreendente.

— Estou perguntando se já teve um orgasmo, senhorita Hayder.

Corei sob seu olhar, mas me mantive altiva.

— Claro que sim! Acha mesmo que sou tão tola?

— Como foi?

— Foi bom, ora! Não entendo onde quer chegar com...

— Sozinha ou acompanhada? — Seguia perguntando como se pouco importasse o que eu tinha a dizer.

Eu queria matá-lo, mas queria morrer junto com ele!

— Sozinha! — Pontuei erguendo o queixo. — Mais alguma pergunta?

Travis coçou o maxilar quando cruzei os braços sobre os seios de maneira protetora.

— Nunca sentiu nada nos braços de um homem? — Desviei o olhar do dele de maneira derrotada, suspirando por seu tom engraçado. — Qual é, Vicky! Isso não pode ser verdade!

— Você não está sendo pago para rir, O'Brien! — Apontei um dedo em riste para o rosto dele, que sorria para mim com alegria genuína. — É bom fazer bem o seu trabalho, professor!

Travis desfez o sorriso e travou o maxilar ao notar meu tom vacilante e encarou meus olhos levemente enraivecidos e inundados com a raiva de um pequeno chihuahua.

— O prazer é para ser desfrutado em conjunto, Vicky. Quando eu disse que nossos corpos se encaixam perfeitamente, também me referia a isso. Os homens são naturalmente favorecidos para sentirem prazer, porém, nenhum homem de verdade chega ao extremo êxtase sem proporcionar o mesmo a sua mulher.

— Nisso concordo. As mulheres são realmente desfavorecidas.

— As mulheres com o amante errado, devo retificar! — Travis tocou meu queixo e me fez encará-lo. — Enquanto aos homens basta ver a mulher que deseja nua para ficarem com tesão, a mulher precisa de muito mais para estar pronta.

Encarei o volume na calça dele quase que imediatamente. Travis não perdeu meu olhar, mas sequer se importou. Aquilo representava seu tesão, então... Travis me desejava?

— Do que as mulheres precisam? Me diga você, que é o mestre da sedução!

Travis riu baixinho, mordendo os lábios levemente.

— Anjinha e o mestre da sedução. Uma combinação perigosa! — Travis levou os lábios até meu ouvido e fechei os olhos. Ele tocou meu queixo, mas delicadamente desceu o dedo para meu pescoço, passando por meus seios e pousando em um de meus mamilos enrijecidos. Seu simples toque era suficiente para me incendiar! — Carinho. As mulheres precisam de carinho e atenção.

Na verdade, não era bem o que eu precisava naquele momento, mas encarei Travis, esperando por mais.

 

 

Vicky era linda e delicada, tanto que eu tinha até certo medo de tocá-la.

Seus seios se moldavam nas minhas mãos com perfeição e o rosado de seus mamilos não podia ser mais bonito. Eu queria prová-los em minha boca, por isso, não esperei muito para correr a língua em seu queixo, descer por seu pescoço e tomá-los em meus lábios.

O sabor era doce. O sabor de uma virgem, como se cheirasse a leite e rosas.

Os pequenos montes se enrijeceram ainda mais em minhas mãos enquanto eu os apertava delicadamente para passar de um mamilo a outro, beijando-os com toda minha devoção. O contraste entre nossas peles — a dela muito clara e a minha morena de sol — chegava a ser excitante. Victorya era a extrema delicadeza e eu o máximo da promiscuidade.

Jamais deveria estar com as mãos nela, mas não podia evitar.

Seus dedos se prenderam em meu cabelo e uma das mãos de Vicky deslizou por meu rosto, acariciando-me a bochecha enquanto minha boca ávida devorava seus pequenos seios. Eu queria lembrar para sempre da sensação e de seu gostinho doce. A pele macia em minha boca... Vicky era como um sonho inalcançável!

Sua simples carícia em minha face me excitava como o sexo com muitas não era capaz de fazer. A única coisa que eu não podia fazer era beijá-la. Ia contra todas as regras e princípios da profissão, mas eu daria a vida por fazê-lo. Tentei fazê-lo antes, após o selinho na boate, mas agora agradeço por não ter conseguido! Seria um erro grandioso e me deixaria ainda mais apaixonado!

Pensei em parar quando ouvi seus gemidos preenchendo o quarto, mas ao vê-la de olhos fechados simplesmente não pude! A guiei até a cama com os lábios em seu pescoço e a mão cheia em sua bunda macia, tocando-a como eu queria, afastando a pequena calcinha para tocá-la direito na pele. Vicky caiu e se apoiou nos cotovelos, encarando-me por cima de seu corpo. Respirava rápido e seus seios molhados por minha saliva subiam e desciam perante meus olhos. Meus lábios estavam em seu estômago e nossos olhos unidos em uma troca cheia de luxúria e loucura.

— Pode se tocar da maneira que desejar, mas eu garanto que não existe nada melhor no sexo do que o prazer compartilhado, o prazer nos braços de um amante — falei com a voz vacilante, também louco por ela. — Essa você pode anotar no caderninho. — Pisquei para ela antes de beijar a sua barriga, descendo os lábios por seu ventre.

Vicky deixou a cabeça pender para trás e os cabelos loiros se espalharam no lençol enquanto gemia meu nome. Beijei ao redor de seu umbigo e baixei levemente sua calcinha, mordendo o começo de sua pele que marcava a intimidade. Os pelos lá eram ralos e loiros, quase imperceptíveis, mas estavam lá.

Seu cheiro de mulher me preencheu as narinas e tive a certeza de que precisava prová-la. Talvez não hoje, mas a hora chegaria.

Beijei levemente seu clitóris sobre a calcinha e ela estremeceu. Pude notar como estava molhada e inchada, louca para gozar. Usei a língua para acariciá-la levemente sobre a calcinha e Vicky se revirou na cama, gemendo baixinho pela vergonha que sentia. Sorri e usei dois dedos para afastar a renda rosa, expondo a meus olhos sua intimidade rosada e molhada.

Era pequena e delicada, como eu imaginava em meus sonhos, como uma virgem que ela realmente era, agora eu tinha certeza, porém úmida e pronta como apenas uma mulher louca de tesão poderia estar.

Com a calcinha afastada, movi dois dedos até seu clitóris e acariciei em ritmo cadenciado, ouvindo seus gemidos baixos — quase sussurros — se intensificarem conforme meus dedos se moviam e se molhavam em seu prazer ainda mais. Vicky afastou as pernas o quanto pôde, dando-me espaço para fazer o que quisesse com ela.

Eu poderia chupá-la agora... Fodê-la até esquecer meu próprio nome, uma vez que estava rendida a mim, mas seria como pular de um precipício. Eu jamais pararia de cair.

Continuei acariciando-a, aumentando o ritmo para atender sua demanda e fazê-la gozar, enquanto, com a outra mão, usei um dos dedos para penetrá-la levemente, apenas a pontinha bem devagar. Era apertada como o inferno e molhada a ponto de enlouquecer!

Foi a primeira vez que quase gozei apenas tocando em uma mulher. Meu pau não tinha mais para onde crescer, apertado na cueca e molhado pelo meu tesão.

Vicky gozou contorcendo-se e apertando meu cabelo enquanto gemia baixinho, dizendo meu nome enquanto suas mãos pequenas subiram por seu corpo até segurarem seus próprios seios. A visão me tirou o eixo! Jamais vi uma mulher tão linda... Uma mulher tão apaixonada pelo que sentia!

Arrumei sua calcinha de volta e me ajoelhei na cama, entre suas pernas, levando meus dedos aos lábios para provar em minha língua aquele doce sabor de mulher. Vicky tinha sabor de pecado...

Ela corou ao me olhar, sabendo que eu provava seu gosto. Respirava forte e sequer conseguia se mover. Fechei suas pernas, saindo da cama e indo em direção à minha garrafa de água gelada. Parei na pia do banheiro e joguei sobre minha cabeça, apoiado na pia, sentindo a água escorrer por meu pescoço e pingar em meu peito.

Meu coração corria descompassado no peito e meu pau pulsava de tesão. Era quase impossível me controlar, chegava a ser doloroso!

Se eu não a fodi, não era por consideração ao tal namorado de Londres. Eu queria que esse cara desaparecesse! Se me segurava, era por meu coração, por meus sentimentos... Eu sabia que se transasse com Vicky jamais poderia esquecê-la.

Iria me apaixonar ainda mais.

— Satisfeita, senhorita Hayder? — Voltei para o quarto alguns minutos depois e Vicky já estava usando um vestido azul claro e uma jaqueta jeans por cima. Prendia o cabelo loiro e desalinhado em um coque quando me viu. — O professor atendeu às expectativas?

— Por que você não me beija? — Questionou me pegando de surpresa enquanto eu torcia minha camisa para vesti-la.

Parei por alguns segundos, mas rapidamente voltei a atividade de me vestir e ajeitar o cabelo.

— Porque seria um grande erro... — Confessei. — Não faz parte do acordo, faz?

— Não, mas é que eu... — Calou-se. — Me desculpe, foi uma pergunta tola!

— Diga... — Insisti sem encará-la.

— No dia que estivemos aqui pela primeira vez, você disse que eu era o tipo que se "fodia beijando". — Parei de me mover e encarei Vicky, finalmente. Ela me olhava fixamente com seus grandes olhos claros confusos. Ainda estava corada pelo recente orgasmo e com a expressão de uma mulher liberta. — O que queria dizer?

— Isso significa que você é o tipo de mulher que pode me fazer me apaixonar. — Vicky separou os lábios com a surpresa. — E aí está o problema. Seria um grande erro.

— Um grande erro... — repetiu, desviando o olhar do meu e sorrindo sem humor. Vicky pegou sua bolsa e terminou de calcar o tênis branco e baixo. — Fez um bom trabalho, senhor mestre do prazer. Tenho boas anotações sobre a aula de hoje e talvez eu te recomende para algumas amigas. Até a próx...

A peguei pelo braço antes que saísse do quarto, uma vez que ela se dirigia até a porta. Vicky parou bruscamente e nos encaramos perto demais, quase lábio a lábio. Eu não sabia dizer o que me enlouquecia mais! Seus olhos tão azuis ou sua intimidade tão rosadinha.

— Seria um erro me apaixonar por você, Victorya. Nós dois somos muito, muito diferentes! — Expliquei, encarando-a. Os olhos dela me fitavam nos lábios sem disfarçar o interesse. — Você é a boa moça, é minha anjinha... — Sorri para ela levemente. — E eu sou o malvado. O promíscuo.

— Promíscuo sim! — Concordou. — Malvado não. Nunca poderia ser. Nunca! — Vicky retirou o braço do meu toque e abriu a porta. — Nos vemos semana que vêm?

— Ainda temos três aulas... — Confirmei.

— Ótimo! — Piscou para mim. — Na próxima, vou tirar algumas dúvidas... E preciso de prática, tudo bem?

Soltei o fôlego.

— Que tipo de dúvidas? — Minha voz soou em um fio. Os olhos de Vicky foram para minha calça imediatamente, encarando o volume ainda presente nela.

— Bom... No dia você vai entender. — Umedeceu os lábios com a língua. — Até a próxima, professor O'Brien.

— Até, Victorya.


— Bom dia, minha menininha de ouro!

Valery, Rick, mamãe e até as gêmeas se voltaram para me olhar quando papai me cumprimentou ao me ver entrar na sala de jantar para o café da manhã. Me abaixei para receber um beijo dele na testa e fiz o mesmo em sua careca.

Richard Hayder somente consegue ser carinhoso comigo e com as gêmeas. Os demais, após quebrarem qualquer regra imposta na convivência da família, caem em desgraça perante seus olhos. Papai nasceu na Alemanha e teve uma criação rígida, a mesma que se estendia para nós.

— Bom dia, pai... Bom dia a todos. — Sentei ao lado de Valery, que ajudava as gêmeas na alimentação. — Como está tudo?

— Como sempre. — Ela deu de ombros delicadamente. — E você com o bonitão Britânico?

— Ah... Está tudo bem. Tudo indo! — Sorri, voltando-me para o suco de laranja que a empregada serviu em meu copo. Sorri para ela em agradecimento e senti a mão de mamãe na minha suavemente.

— Frederick Bouchevick pedirá sua mão na data combinada, Victorya? Já providenciei um buffet incrível para o jantar de noivado e seu pai e eu... — interrompi sua empolgação.

— Não sei se pedirá minha mão tão rapidamente, mãe. Fred virá dentro de alguns dias, mas precisamos passar um tempo juntos antes de noivar. Não é uma decisão que se tome tão rápido! — Valery concordou enquanto mastigava e papai me observava atentamente.

— Seu pai e eu ficamos noivos em questão de dias, menina. Um bom casamento não deve vir acompanhado de dúvidas, mas de certezas! — Mamãe insistiu. — Não faça como sua irmã e acabe arruinada por se casar com um pé rapado que a deixou com três crianças e sem um trabalho decente.

Valery revirou os olhos, acostumada com as críticas. Aquela era das mais leves.

— O rapaz não está interessado em noivado, filha? — Papai secou os lábios com o guardanapo. — Se não é assim, então diga que procure outra moça! Daqui você só sai bem-casada, minha querida... Não é em qualquer esquina que ele encontrará uma jovem pura, inteligente e doce como minha Victorya.

Corei ao me lembrar de Travis. Nossos momentos juntos passaram em minha mente como um filme pornô proibido.

— Fred me disse em palavras claras que deseja se casar com você, Victorya — mamãe respondeu por mim. — Me disse que, ao chegar ao país, te pedirá em casamento ao seu pai.

— Eu sei, mãe, mas antes preciso conhecê-lo — tentei explicar. Valery tocou em minha mão.

— Não gasta seu latim. Para eles somos apenas marionetes que devem satisfazer as vontades ilusórias que criaram sobre nós.

— Depois do desgosto que você e seu irmão trouxeram a esse lar, Valery, somente Victorya pode trazer a alegria de constituir uma família tradicional e bem construída. — Papai pontuou, como se fosse a coisa mais normal a ser dita. Aquelas palavras feriam até a mim, que fazia parte do lado "perfeito" da coisa. — Não foi à toa que nomeei minha caçula "Victorya".

— Como eu estava dizendo, o salão que iremos alugar é incrível e...

As palavras de mamãe morreram para mim enquanto eu analisava o semblante triste de minha irmã. Apesar de ser constantemente machucada por meus pais, Val não parecia triste com seus três filhos e muito menos com sua pequena e não-tradicional família. Ser designer de lingeries de forma autônoma também lhe agradava. A vida dela não era estável agora, mas tudo iria melhorar para ela.

Vincent também. Meu irmão teve mais sorte e conseguiu estudar. Tinha um emprego incrível e uma vida luxuosa ao lado do marido que tanto amava. Era feliz, mesmo que longe dos pais.

Por que eu deveria me sacrificar se Val e Vincent tiveram a chance de seguir o próprio caminho?

Fui para a revista com o coração dividido entre as vontades de meus pais e a loucura que acontecia em meu interior. Fred me encheu de mensagens bonitas a manhã toda e seguia insistindo para que eu mandasse um nude a ele.

"Você não confia em mim? Vicky, eu preciso te ver..."

Suspirei em minha mesa, revirando os olhos.

"Claro que confio, mas não confio na internet. Você é famoso, muito rico e pode ser hackeado. Por favor, entenda. Quando nos vermos, você terá tudo!"

"Tudo bem, loira. Mas eu quero tudo! Sequer posso esperar para te ver. É a mulher mais linda que já conheci"

Fred Bouchevick era bonito, mas não como Travis O'Brien. Era ruivo, magro e alto, o típico britânico sardento com sotaque acentuado que conquistava pelo carisma. Era milionário e certamente isso chamava a atenção de muitas, mas não era fácil agradá-lo. Nosso encontro no aplicativo foi quase um achado para os dois... Talvez o interesse em literatura nos aproximou e por isso ele se encantou.

Me confessava todos os dias o quanto estava apaixonado...

Encarando a foto dele, me lembrei de Travis O'Brien. Será que, ao ver Fred pessoalmente, eu sentiria o mesmo fogo que sentia ao estar com Travis?

Aquele homem estava me enlouquecendo e eu precisava esquecê-lo!

"Bom dia, senhorita Hayder! Nosso encontro está de pé?"

— Droga — sussurrei ao ler a mensagem de Samantha. Apanho minha bolsa e meu casaco, correndo em direção à saída da empresa. Me esqueci completamente do encontro com a garota e seu responsável! — Samantha, tudo bem? Aqui é Vicky Hayder! — Abri a porta de meu carro depois de descer para o estacionamento, apressada para sair. — Vou me atrasar uns minutinhos, mas estou a caminho! Qual é mesmo seu endereço?

Enviei o áudio e saí em disparada quando a garota me enviou a resposta, esbaforida para que conseguisse chegar ao destino com sucesso. Não era muito longe da revista e agradeci pelo fato. Conseguir a publicação das fotos de Samantha seria um passo e tanto na revista. A editora-chefe ficaria muito orgulhosa e, quem sabe, me deixaria substituindo-a em suas férias!

Samantha morava em uma casa simples em um bairro de classe média na periferia. Era um bairro residencial e um pouco movimentado, mas agradável. Sua casa era logo no começo da rua, tinha um grande muro rosa-claro e um portão branco alto. Apertei a campainha e aguardei, segurando meu casaco vermelho e minha bolsa preta.

Analisei minha roupa. Salto scarpin preto, saia lápis preta e uma blusinha branca super discreta. Meu cabelo loiro estava devidamente preso para trás e a maquiagem bem-feita e marcada. Ensaiei em mente o que devia falar ao responsável dela quando a menina morena, de longos cabelos cacheados e negros abriu a porta com um sorriso lindo e os olhos verdes brilhando.

— Vicky! Entre! Obrigada por vir!

Seu abraço apertado me surpreendeu. Parecia ser uma menina carente e engraçada.

— Por nada, Samantha, quero muito te ajudar.. — Bati em suas costas levemente e ela me soltou, dando-me espaço.

Apesar de ter quinze anos, Samantha se vestia de maneira muito infantil, com roupas coloridas e de estampas animadas. Era nitidamente uma garota superprotegida e impedida de crescer.

A segui por uma pequena garagem, onde estava estacionado um carro preto, que não pude deixar de reparar ser o mesmo de Travis O'Brien. A coincidência me fez sorrir. Entramos na sala de estar organizada. Um sofá grande e preto preenchia o ambiente, completo por um painel e uma grande televisão tela plana. Sentei ao lado da menina.

— Você mora com sua avó, não é? — Lembrei-me vagamente da história.

— Sim, moro. Minha mãe me teve sozinha, tipo um “projeto solo”. — Fez aspas no ar enquanto eu escutava atentamente. — Meu pai não me quis. — Deu de ombros. — Simplesmente sumiu quando ela disse que estava grávida. Infelizmente ela morreu quando eu tinha cinco anos e passei a morar com minha avó, que é mãe da minha mãe, e meu tio, irmão da minha mãe. Então, quando eu tinha seis anos, vovó teve um AVC e perdeu os movimentos do corpo. Com os anos, ela foi perdendo a fala também e hoje não faz quase nada, só mexe os olhinhos. — Não consegui disfarçar o semblante triste pela história de luta da garota, tão doce e angelical.

— Então sua guarda é do seu tio, certo?

— Sim, meu tio é meu responsável. Ele já aparece por aqui, está dando almoço para minha avó e vem logo em seguida. Ela come por sonda, sabe? Titio e eu tivemos que aprender tudo isso.

Toquei sua mão e ela apertou a minha rapidamente.

— Sinto muito, Samantha... Não sei nem o que dizer!

— É, ninguém nunca sabe o que dizer a mim e ao meu tio. — Sorriu sem humor, ainda segurando minha mão. — Mas ele cuida muito bem de mim, sabe? Não mede esforços por mim e pela vovó Rosa. Temos sorte de ter o tio Travis com a gente.

— Travis?

Falei quase instantaneamente, encarando-a como se tivesse visto um fantasma.

— Sim, é o nome do meu tio. Travis.

Olhei mais a fundo para Samantha. Seu rosto não me era tão estranho, havia algo de muito familiar nela. Me lembrei das tatuagens de Travis...

"Maria". "Rosa". "Sammy".

Vovó Rosa, foi o que Samantha disse. Sammy era um apelido para Samantha, não era?

— Como era o nome da sua mãe?

— Maria... Por quê?

As palavras faltaram em minha garganta quando escutei passos no corredor e vi um homem com um cesto de roupas parado na porta e sem camisa. Soltei o último fôlego que havia em mim quando meus olhos encontraram Travis O'Brien.

Seus músculos formidáveis se apresentavam junto a tatuagem de dragão que eu amava. Os olhos escuros... Ele estava ainda mais gostoso! Carregando aquele cesto de roupas era a imagem perfeita do homem do lar, nada comparado ao sensual dançarino que conheci na noite.

— Sammy, tem mais roupa para colocar na máquina? Eu... — Ele me viu ao lado da sobrinha, finalmente, e deteve-se no mesmo momento. Parecia estar diante de uma assombração. — Victorya?

— Tio, eu já falei para não ficar andando sem roupa dentro de casa, caraca! — Sammy corou. — Não te falei que tinha visita? É a moça da revista!

— Travis... — Respondi ficando de pé ao lado de Sammy.

— Vocês se conhecem? — Sammy apontou de mim para Travis com a expressão confusa.

Encarei Travis em busca de ajuda. Simplesmente não sabia o que podia ou não dizer em frente a Samantha sobre a vida do tio dela e me parecia desagradável tocar no assunto da boate frente a garota.

— Victorya é minha cliente da... academia! — Travis coçou a cabeça para explicar a Sammy, que apenas concordou com um aceno leve, encarando o tio. — Com vai, Vicky? Faz tempo que não te vejo!

— Estou bem, Travis, obrigada! E você?

— Ótimo... Volto em um minuto! Com licença! — Apontou para dentro e sumiu, ainda nervoso. Sammy me encarou constrangida.

— Me desculpe pelo meu tio! Ele tem esse jeito descoladão, mas é gente boa! — Apontou para o sofá e voltamos a sentar.

— Não se preocupe. Conheço Travis da academia — menti sorrindo de canto. — Sei um pouco de como ele é. Estou surpresa por justamente ele ser seu tio! Jamais imaginei que Travis fosse um homem de responsabilidades. Uma mãe acamada e uma sobrinha adolescente... Realmente estou surpresa!

— Pois é. Digamos que as coisas nunca foram fáceis para o tio Travis, mas ele tenta tirar o melhor das situações. É o que mais admiro nele, sabe? Sua maneira de sorrir perante os problemas.

— Sei...

A coisa que eu mais admirava em Travis era isso também, mas ficava em segundo lugar, bem abaixo de sua pegada que me desmontava. Umedeci os lábios pela secura que ficou minha boca com a simples visão dele sem camisa. Ele estava em toda a parte e isso me deixava maluca!

— Voltei! — Travis entrou na sala vestindo uma camisa vermelha.

— Obrigada pela camisa, tio. — Sammy brincou com um sorriso cínico. — Jamais vi alguém tão contrário a usar camisa na vida!

— Por mim não tem problema e... — Sammy me olhou desconfiada. Logo retomei o rumo de meu raciocínio. Travis sentou-se no sofá a nossa frente. — Senhor O'Brien... — O encarei tentando ser centrada. — Sou assistente da editora-chefe da revista "Life" e estou aqui porque sua sobrinha é uma escritora em formação brilhante e seu texto foi selecionado pela revista, como deve saber.

— Claro, claro! — Travis ouvia atentamente, olhando-me nos olhos. Eu queimava por dentro com a intensidade de seu olhar. — Samantha é incrível.

— Nós faremos uma sessão de fotos de Samantha para publicar junto do texto, mas precisamos da sua autorização para que as fotos sejam publicadas no próximo número de circulação nacional.

— Tio, por favor, eu... — Sammy ia começar a implorar, mas Travis a atropelou.

— É claro que tem minha autorização! Mas é claro! — Sorri para ele, que sequer disfarçava a maneira como me encarava cheio de sorrisos e admiração. — Por que não teria?

— Mas tio... Você disse que...

Nitidamente Samantha não compreendia nada.

— Desde que sejam fotos decentes onde você esteja devidamente vestida e comportada, não vejo problema. Confio no trabalho de Victorya, sei exatamente o tipo de moça que ela é! — Piscou para mim e sorri para ele.

— Obrigada, Travis. Garanto que as fotos serão muito comportadas e bonitas, nada de exibicionismo ou biquínis. Sammy é menor de idade e não combina com a nossa revista esse tipo de exposição.

— Está vendo, Samantha? — Travis apontou para a sobrinha. — Se inspire em Victorya! Esse é o tipo de mulher que os homens gostam, o tipo pelo qual nos apaixonamos... Mulheres doces, lindas e que sabem usar a sensualidade da maneira correta, sem exposições desnecessárias.

Corei com suas palavras. A maneira como me olhava me tirava o chão.

— Ah tio, fala sério! — A garota rodou os olhos verdes após cruzar os braços. — Você já reparou que ele só compra roupa de criança para mim, não é, Vicky? Tio acha que não posso crescer!

— Samantha! Não é apropriado discutir a vida na frente da visita, menina!

— Ele quer te impressionar, Vicky... — Apontou para Travis e sorri discretamente, tentando disfarçar como aquele homem era capaz de me tirar de órbita. — Você quer um café? Tio Travis pode te fazer companhia enquanto eu faço, o café dele é péssimo!

— Muito obrigada, Samantha. Aqui está o papel onde Travis deve assinar. — Passei o papel para Travis, que começou a ler.

— Volto rapidinho, Vicky. Com licença!

Samantha saiu da sala e Travis ergueu os olhos para mim, apontando para a caneta que estava em meus dedos. Passei para ele, que sorria enquanto assinava seu nome no papel.

— De todas as pessoas do mundo, a última que pensei encontrar em minha sala em um dia de folga da academia era você, Victorya Hayder. — Me estendeu a folha. — Anjinha.

— Travis, por favor — Sussurrei guardando a folha na pasta. Ele tinha uma das mãos apoiadas no queixo enquanto me olhava. — Também jamais imaginei encontrar Travis O'Brien, o dançarino e meu professor do prazer, em uma visita de trabalho. Muito menos cogitei que você fosse responsável por uma família... Uma mãe doente e uma sobrinha adolescente. Estou...

— Surpresa?

— Admirada! — Confessei, cruzando as pernas e encarando-o fixamente. — Realmente você sempre me surpreende. Meus parabéns! Tudo que Samantha me contou é um imenso reflexo do seu caráter.

— Não estou acostumado a receber elogios, senhorita Hayder, mas vindo da senhorita é muito mais do que isso. Trata-se de uma gratificação.

— Por quê? — Sorri com um sorriso debochado. — Quem sou eu para minha opinião significar alguma coisa, Travis?

— Um anjo... — respondeu sem ironias. Sem deboches. Apenas com a expressão enigmática transbordando sinceridade. — Um verdadeiro anjo que somente perde as asas e desce ao inferno quando está naquele quarto de hotel gemendo em meus braços.

Perdi o fôlego. Sequer sabia o que dizer.

— Quando poderemos nos ver novamente? — Era só o que eu queria. Era tudo que podia pensar e desejar.

— Agora mesmo... — respondeu, se encostando no sofá e cruzando uma perna sobre a outra em uma postura de quem sabia bem o que queria. — Se quiser, saímos daqui e vamos para o hotel. Eu desmarco tudo, falo que morri, não sei... Nada mais importa.

Meu coração disparou no peito com a simples ideia.

— Você é louco, Travis! — Comentei em um sussurro, fingindo pensar ser uma brincadeira. Eu via a verdade em seus olhos.

— Você ainda não viu nada, Anjinha. — Mordeu os lábios discretamente. — Vamos ou não? — Apontou levemente em direção à porta.

Por pouco não aceitei. Por pouco não saí dali como uma maluca disposta a tudo para sentir o que Travis poderia me proporcionar.

— Estou em horário de trabalho. Infelizmente não posso! Mas posso amanhã à noite. — Fingi mexer em algo em minha pasta simplesmente para não encarar seus olhos escuros e vorazes em mim.

Tinha a impressão de que Travis teria coragem de me agarrar ali na sala se sua sobrinha não estivesse na casa. Desejei que não estivesse! Desejei senti-lo!

— Vou contar os minutos então.

— Para de zoar! — Repreendi baixinho, ajeitando meu cabelo atrás da orelha. — Está me deixando nervosa!

Ele sorriu de maneira safada. Aquilo me arrepiou e as palavras morreram em minha garganta.

— Nervosa não... — Travis se levantou e caminhou até mim com seu olhar fixo no meu. Eu o acompanhava quase hipnotizada. Parou frente a mim e seu cheiro de homem me embriagou. Aquele perfume amadeirado forte e profundo que me perseguia em sonhos... — Estou te deixado maluca, senhorita Hayder. E eu posso garantir que ainda tenho muito para mostrar...

Travis estendeu minha caneta, a mesma que usou para assinar a folha. Engoli em seco e peguei a caneta no exato momento em que Samantha apareceu na sala com o café para nós três.

A conversa dali por diante foi entre mim e Sammy. Travis teve que se arrumar para o turno de aulas na escola em que trabalhava como professor de Educação Física na parte da tarde e não pude esconder a decepção quando saiu. Sammy e eu combinamos a sessão de fotos e ela contou um pouco mais sobre a jornada exaustiva de trabalho do tio, que ralava para sustentar ela e a avó.

Não contou sobre a boate e sequer questionei se sabia sobre. Tudo o que consegui fazer após a visita foi admirar ainda mais Travis O'Brien pelo homem que era. Não deixava de ser errado trocar sexo por dinheiro, mas existia uma causa nobre por trás de tudo. Uma causa justificável.

Eu queria arrumar um jeito de Travis sair da noite e pensaria em algo que pudesse fazer para ajudá-lo.


— Vai, desembucha! Fala tudo que você sabe sobre Vicky Hayder! — Eu disse.

Samantha, que comia pipoca ao meu lado no sofá, me encarou cheia de curiosidade.

— Você só fez pipoca e comprou sorvete para me tirar informações, não é? — Segui mastigando minha pipoca e ela suspirou. — O que você tem com ela, hein?

— Vai ficar fazendo perguntas e dando bobeira? Pois bem! — Ameacei tirar o balde de pipoca e ela puxou de volta.

— Está bem! Eu falo! — Agarrou a pipoca quando soltei. — Ela tem vinte e três anos, mora com os pais e tem dois irmãos mais velhos. O irmão dela é gay e mora com o marido e a irmã tem três filhos e é separada, mora com ela e os pais na casa da família.

— Que mais? — Insisti. Samantha pensou.

— Trabalha na revista tem uns anos e era estagiária. Ah! Vicky tem namorado! Um gringo ruivo chamado Fred Bouchevick... Ele trabalha com a mesma coisa que ela, esses negócios de revista, mas é bem mais rico, tipo, milionário! — Samantha não poupou na expressão. — É melhor você tirar o time de campo, tio! Até parece que ela vai trocar um milionário por você!

— O que ele tem que eu não tenho, garota? Ficou maluca é? — Me fiz de ofendido.

— Milhões no banco e não trabalha vendendo o corpo. Quer mais? — Desdenhou e me abraçou de lado. — É brincadeira! Você é incrível, tio! O melhor cara do mundo, mas infelizmente a vida não é justa! Moças como a Vicky gostam de luxo, de carrão e lojas caras.

— Você tem razão, Sammy. — Afaguei seu cabelo e beijei sua cabeça. — Moças como Vicky Hayder não são para mim, mesmo que por um minuto eu... — Me calei.

— Tio, não sou tonta! — Me olhou de baixo, abraçada a mim. — Sei que você e ela não se conhecem da academia. Ela não tem cara de quem curte malhar. Vicky é sua cliente da boate?

— Lembra que falei da cliente não cliente? — Ela concordou — Pois então... Vicky é ela. É uma cliente, mas não como as outras.

— Às vezes me sinto culpada por sua vida ser como é. Se eu houvesse morrido com a minha mãe, você poderia ter estudado e... — Tapei sua boca com a mão.

— Não fala isso, Samantha! Não repete isso nunca mais! Você é a coisa mais incrível que sua mãe me deixou! É um pedaço dela que ficou ao meu lado para não me deixar sozinho quando ela e vovó se foram... A vovó está aqui, mas é como se não estivesse. Nós dois somos um pelo outro e não imagino como poderia viver se não fosse assim, querida.

Sammy me abraçou fortemente, agarrando-se à minha blusa.

— Eu te amo, tio! Obrigada por tudo!

Não era uma mentira. Eu jamais abriria mão de Samantha por nada em minha vida, seja por dinheiro ou pelo imenso sentimento que começava a crescer em meu coração por uma mulher proibida.

Vicky não era para mim, mesmo que eu a desejasse como louco. Sammy tinha razão... A senhorita Hayder era feita para um milionário, não para um homem comum — e prostituto — como eu.


Vincent me buscou no trabalho naquela tarde e paramos para conversar em um café próximo da revista. Meu irmão parecia muito feliz e apenas murchava um pouco quando tocávamos em algum assunto envolvendo nossos pais.

— Na verdade, tenho um pedido, Vincent. Um pedido especial.

— O que quiser, irmã. Para você, faço tudo, movo céus e terras! — Brincou tocando minha mão sobre a mesa.

— Queria pedir ajuda para um amigo. Um emprego, na verdade. Sei que está ampliando a empresa e imagino que suas ideias para o futuro sejam promissoras.

— Realmente são, mas seria em qual departamento?

— Bom... Ele é formado em Educação Física. — Vincent franziu o cenho e apoiou uma das mãos abaixo do rosto, confuso. — Dá aulas em uma escola, mas não é o suficiente para sustentar a família. Também faz bico em uma academia, mas precisava de um emprego formal. Sabe como é... Ele tem uma mãe doente e uma sobrinha adolescente para cuidar.

— De quem estamos falando, Vicky? Nunca soube de nenhum amigo seu em dadas condições.

— Bom... — Circulei a xícara de café com minhas mãos enquanto pensava na desculpa para dar ao meu irmão mais velho. — Travis. Estamos falando de Travis O'Brien.

— Quem é Travis O'Brien?

Desviei o olhar do dele por um minuto e reuni coragem.

— Um homem que conheci e do qual me compadeço. Do qual...

— Pelo qual está apaixonada, pelo que vejo — Vincent concluiu com um sorriso presunçoso. — Te conheço, Victorya! Sou seu irmão mais velho e Valery já me contou que você anda estranha, com encontros noturnos com Rayanna até muito tarde. Também disse que parou de falar no tal do Fred e realmente concordo com ela. Nunca mais ouvi o nome desse cara entre nós.

— Não posso me apaixonar por Travis, mas quero ajudá-lo! — Concluí antes que Vincent prosseguisse. — Quero tirá-lo da noite. Quero que tenha uma vida decente com sua família. Ele é batalhador, apenas não teve boas oportunidades.

— Noite? — Concordei. — O que ele faz na noite?

— Sai com as mulheres — sussurrei baixinho e sem encará-lo. — E dança em um tipo de clube das mulheres. — Vincent parecia realmente surpreso ao meu encarar, quase não tinha expressão. — Sei que deve estar se fazendo muitas perguntas, mas peço que não me julgue! Precisei da ajuda de Travis e acabei me apegando a ele!

— Ok... — Vincent demorou um pouco para sair do transe. — Você, minha irmãzinha caçula, em um clube das mulheres. Envolvida com um gigolô?

— Ele não é gigolô! É dançarino! — Corrigi um pouco corada. — Está bem, pode rir... mas saiba que não é o correto, Vincent!

— Não vou rir! Quem sou eu para julgar você e o... Travis? — Sorriu de canto e passou o dedo pelos lábios. — Vou ver o que posso fazer quanto ao emprego, irmã, mas presumo que isso seja o menor de teus problemas. Papai e mamãe já sabem sobre o seu lance com ele?

— Claro que não! — Praticamente gritei e olhei ao redor para ver se alguém me olhava. — E não temos um lance! Travis é apenas um amigo. Um bom amigo.

Vincent sorriu de lado e tinha a expressão lívida. Eu gostava de sua abertura e do modo como sempre parecia me compreender.

— Vicky... Não sou ninguém para julgá-la, mas me preocupo com minha irmãzinha caçula. Esse homem não está te usando, está?

— Não, Vincent! Travis é um bom homem, acredite! Você sabe que sou tudo, menos trouxa! Não seria capaz de te pedir um emprego para alguém que fosse causar problemas. Tudo o que quero é ajudá-lo!

— Ok. Vou tentar encaixar um profissional de Educação Física em uma empresa de Engenharia e Arquitetura para satisfazer as vontades de Victorya Hayder. — Brincou e sorri, pulando da cadeira para abraçá-lo. — Mas peço que pense bem nas coisas. Pondere sua felicidade... É só o que deve importar. Esqueça nossos pais e todo o resto. Pense apenas na Vicky, a menina que mora aí dentro! — Tocou meu peito com carinho.

Caminhei pela praça quando Vincent foi embora e me sentei em um banco quando meu celular tocou alto. Era Fred Bouchevick.

— Onde você está? — Disse quase duramente.

— Estou indo encontrar Rayanna. Tenho um projeto com ela, esqueceu? — Respondi surpresa com sua abordagem. — O que foi?

— Você anda muito estranha, Vicky. Sua mãe me ligou e disse que anda estranha...

Apertei os olhos e gemi baixinho. Mamãe não era burra e certamente percebeu minha mudança de comportamento. Olhei ao redor em busca de uma desculpa certeira.

— É o trabalho, amor. Ando atarefada, mas não tem um minuto que deixe de pensar em você. Tudo o que faço é por nosso bem, Fred.

Não menti, somente omiti.

— Sei disso, querida. Também ando correndo com tudo para ter o máximo de tempo para nós dois. Não vejo a hora de chegar na sua cidade para te ver pessoalmente e tê-la comigo!

— Eu também, amor.

— Comprei um anel maravilhoso para nosso noivado, mas apenas mostrarei no dia. Também farei uma surpresa...

— Ah Fred! Não precisa se preocupar com isso, sabe que sou muito simples.

— Não é o que seus pais dizem! — Riu do outro lado.

— Para eles sou a princesa, você sabe... Jamais mediram esforços para me agradar, mas não é tão difícil assim.

— Você é incrível, Vicky. Além de linda e inteligente, é uma mulher formidável. Acertei em cheio ao escolhê-la. Sei que me agradará em todos os quesitos.

— Espero que sim, Fred. Espero que sim.

— Te amo, loira. Preciso desligar.

— Também te amo — sussurrei as palavras e percebi que ao dizê-las não senti nada. Absolutamente nada! — Até mais, Fred.

Desligamos juntos e suspirei, baixando o celular e olhando ao redor. Me sentia perdida e profundamente abalada! Fred era o homem ideal, mas falar com ele já não era tão mágico. Já não existia em mim a euforia de antes e a profundidade dos sentimentos... Será que realmente cheguei a amá-lo ou estava apenas deslumbrada com seu poder e dinheiro?

Chacoalhei a cabeça. Eu o amava sim! Deveria amá-lo! Fred comprou um anel e em menos de seis semanas estaria aqui, frente a mim! Estava tudo preparado para nosso noivado e havia uma vida toda para compartilhar ao lado dele. Não existia outro caminho para mim. Não queria ser rejeitada como Valery e Vincent. Não queria perder meus pais, minha casa e minhas raízes.

Olhei o celular em minhas mãos e fiz o correto a ser feito.

— Anjinha? — Fechei os olhos ao ouvir a voz dele do outro lado. Meu coração disparou com o simples som. — Onde você está? Porque ainda não chegou? Aconteceu algo?

— Não vou ir, Travis — sussurrei pesarosa, tentando conter a tristeza. — Não vou mais te encontrar.

Houve um profundo silêncio durante alguns instantes e achei até que houvesse desligado.

— Por que não?

— Porque não posso! Não posso mais fazer isso! — Confessei suspirando. — Liguei para me despedir e pedir o número de sua conta do banco. Mesmo que não passe um valor, depositarei o que acho justo pelas aulas que tivemos.

— Não quero dinheiro, Victorya, quero você! — Sua segurança me fez estremecer. Fechei os olhos com ainda mais força. — Venha para o hotel que aqui resolveremos isso.

— Não posso, Travis!

— Pode! Pode sim! Venha! — Insistiu cheio de segurança, quase nervoso, em um tom pidão e delicioso. — Estou esperando, Vicky. Vamos terminar o que começamos... Não te peço nada mais do que isso. Eu sei que não pode existir nada mais do que isso.

Pela primeira vez, senti algo diferente em sua voz, talvez uma pontada de dor. Meu coração corria no peito, descompassado. Eu queria tanto! Mordi os lábios.

— Apenas queria agradecer por ser tão incrível comigo. Você foi maravilhoso, mas acho que já estamos envolvidos demais. Talvez... Talvez seja a hora de cortar.

— Não, não é! Não fale como se fosse uma despedida, porque não é! Estou aqui te esperando, Vicky... E sei que você virá. Eu sei!

— Adeus, Travis.

Desliguei o telefone e esperei que ele me ligasse de volta ou mandasse uma mensagem, mas não houve nada. Travis não me procurou. Apertei o celular contra o peito e segui caminhando sem rumo, segurando minha bolsa enquanto pensava nas palavras de meu irmão.

"Pondere sua felicidade. É só o que deve importar. Esqueça nossos pais e todo o resto. Pense apenas na Vicky, a menina que mora aí dentro!"

Eu deveria me casar com Fred — meu homem ideal — e dar orgulho aos meus pais, mas não conseguia parar de pensar em Travis. O pecado que exalava dele me puxava com força em direção ao precipício.

 

Aconteceu bem antes do que previ, mas era certeiro e real.

Victorya se deu conta de que algo estava ficando forte demais entre nós após conhecer Sammy e estar em minha casa, por isso caiu fora! Era algo previsível, porém achei que, em sua inocência, minha anjinha ignoraria de imediato, mas não.

O tesão que nos unia era tão intenso que conseguia despertar sentimentos. Conseguia viciar, como estava acontecendo. Esperta que era, Vicky desapareceu antes de não conseguir mais ficar sem provar do que eu a fazia sentir.

Entrei no chuveiro do hotel para aplacar meu fogo, o intenso fogo que crepitava em meu ser cada vez que eu ia para aquele quarto encontrá-la. Sequer cheguei a tê-la... Sequer cheguei a fodê-la como eu queria.

Molhei a cabeça na água morna e fiquei parado sob o chuveiro, sem sequer conseguir tocar meu próprio corpo para aplacar o tesão. A decepção era tão forte que eu sentia vontade de gritar, mas me contive. Meu coração estava partido pela primeira vez e aquilo não era um bom sinal.

Ficar louco por uma mulher como fiquei por Vicky era arriscado demais e talvez tenha sido melhor assim. Talvez tenha sido melhor ter meu coração sangrando agora do que depois de tê-la em minha cama. Depois de ter provado do corpo inocente de minha anjinha...

Olhei para meus braços sob a água em busca de algum lugar vazio e não tatuado. Eu queria rabiscar um anjo por ali, mesmo que fosse apenas um pequeno detalhe imperceptível entre os outros desenhos. Vicky ficaria para sempre marcada em meu pensamento como a única mulher pela qual me apaixonei.

Era um segredo, mas eu já estava apaixonado por uma lembrança.

— Travis...

Pensei se tratar de uma alucinação, mas não demorou até que meus olhos a encontrassem. Ela estava bem ali, nua, na porta do banheiro.

Separei os lábios com o impacto, perdido e assustado pela invasão repentina. Vicky me encarava com seus olhos claros tão impactados quanto os meus e, pela primeira vez, a vi completamente nua, sem nada para cobri-la de meu olhar. O rosto corado, emoldurado pelos fios claros do cabelo loiro ondulado. Os seios rosados empinados em minha direção. O ventre plano e os pelos dourados cobrindo sua intimidade.

Era a visão perfeita de um anjo e travei diante dela, completamente apaixonado.

— Você disse que não viria.

A frase foi pontuada com certa tristeza. Vicky nada disse, apenas entrou no banheiro em passos vagarosos e se aproximou, parando do lado de fora do box entreaberto. Abri o vidro com certo desespero, já enfeitiçado por ela e sua nudez.

Me afastei para que entrasse e ela o fez, fechando o vidro novamente quando entrou. O espaço era amplo sob o chuveiro, mas com ela ali parecia absurdamente estreito. Eu não podia tirar os olhos de seus seios rosados... A água descendo por eles delicadamente enquanto ela se aproximava de mim de baixo do intenso jato do chuveiro. Me senti duro imediatamente, meu pau pulsando pela visão dela e proximidade.

Vicky olhava atenta a todas minhas reações. Eu não queria assustá-la com minha ereção, mas ela me pegou desprevenido ao entrar assim no chuveiro! Seus olhos passearam por todo meu corpo de maneira curiosa e eu acompanhei as íris azuis se movendo, completamente fascinado.

— Não viria, mas aí lembrei que hoje é a aula onde tiro minhas dúvidas... A aula que mais esperei desde que te conheci. — A mão pequenina de Vicky tocou meu peito e senti sua palma pequena roçando em meus pelos ali. Os olhos azuis subiram para minha face.

— É melhor ir com calma, Anjinha. — Segurei seu pulso conforme ela foi descendo por minha barriga, explorando meu abdômen. — Se eu perder o controle, posso machucá-la com meu desejo. Não quero assustá-la.

— Você já está me assustando. — Olhou para baixo um pouco corada, mas se voltou para mim rapidamente. — Mas quero saber tudo. Quero que me ensine como dar prazer a um homem.

 

Travis largou meu pulso e me deixou seguir explorando sua pele morena e molhada.

Meu corpo todo reagia conforme eu o tocava e percebi a reação imediata que o corpo masculino exercia sobre o corpo feminino. A simples visão do membro dele enrijecido foi capaz de umedecer minha intimidade, tornando-me sedenta para senti-lo ali tão fundo quanto pudesse.

Desci as mãos, correndo as palmas pelo peito forte e tocando os pelos ralos da região. Travis não era um tipo rústico, mas tampouco deixava de ser másculo e sexy. Seus músculos eram perceptíveis sob a pele morena e macia. Seu membro me chamava atenção, talvez pelo fato de jamais ter visto um tão de perto.

Era grande, com veias saltadas e pulsante, pude constatar isso ao tocá-lo com minha mão. Travis estremeceu, mas me deixou continuar explorando seu corpo forte. A ereção poderosa me encheu de uma sensação inexplicável.... Eu apenas imaginava como seria senti-lo dentro de mim.

— Assim... — Me ensinou a maneira correta de pegá-lo e massagear, algo que gravei de imediato, movendo-o para frente e para trás, encantada em como parecia duro e macio ao mesmo tempo. — Devagar, Vicky, se não vou acabar rapidinho com a tua brincadeira.

Não compreendi bem o que queria dizer, mas tratei de movimentar mais levemente. Travis travou o maxilar quando me aproximei, ainda o movendo em minha mão, e o abracei pelo peito, colando meus lábios em seu pescoço. Eu não podia beijá-lo na boca, mas ele não disse nada sobre os outros lugares.

Me senti poderosa como nunca ao notar como o grande Travis O'Brien, acostumado a ter todo tipo de mulher em sua cama, estremecia conforme eu o tocava mesmo que de maneira inexperiente e vacilante. O membro poderoso daquele homem pulsava em minha mão conforme ele gemia entredentes, de maneira contida, mordendo os lábios e se controlando para não ir além.

Desci meus lábios por sua barriga, movendo a língua em sua pele conforme minha mão aumenta os movimentos. Era incrível como aquilo me excitava apesar de Travis sequer me tocar. Sentia que jamais estive tão pronta para recebê-lo como naquele momento.

Me ajoelhei a sua frente e Travis me segurou pelo cabelo rapidamente e sem conseguir dizer nada, talvez paralisado pelo desejo. Não pensei e nem perguntei, agindo por impulso, passei os lábios pela extensão grossa de seu pau e o saboreei com a língua, apaixonada pelo sabor e pela maneira como é ainda mais gostoso tê-lo na boca.

Antes que minha língua chegasse na ponta, Travis me afastou, puxando-me pelo cabelo até que eu ficasse novamente de pé. Sua respiração falha e seus olhos estavam fechados. Escorada em seu peito, vi que gozou em minha mão, justo a que restou sobre seu membro latejante.

Separei os lábios com a surpresa. A água escorreu entre nós e levou consigo seu sêmen em minha palma quando afastei a mão dele, subindo por seu peito novamente. Travis me encarou desacreditado, ofegante, com um olhar louco e sensual. Sentia estar diante de uma fera e estava louca para que me devorasse!

Travis me virou e me prensou contra a parede gelada do banheiro em uma passada rápida. Senti meus seios pressionando contra o azulejo e meus mamilos enrijecidos sofrendo pela ausência das mãos de Travis contra eles. O corpo grande estava atrás do meu e não demorei a sentir a ponta de seu pau me roçando entre as nádegas.

A respiração me faltou quando o senti me pressionar por trás, bem na entrada úmida, que clamava por ele. Fechei os olhos, pronta para a dor da invasão e desesperada para que fizesse logo, mas senti uma das mãos de Travis me tocando entre as pernas e se movendo de maneira cadenciada e experiente em meu clitóris entumecido.

Não precisei de muito para gozar nos dedos dele, gemendo contra a parede e empinando-me contra o membro ainda duro que me roçava por trás. Travis me pressionou um pouco, mas não o suficiente para me penetrar e tirar minha virgindade. Talvez estivesse provando, mas rapidamente se afastou quando me sentiu gozar.

Se seus braços fortes não estivessem me segurando, eu certamente teria desfalecido no chão daquele banheiro.

— Você não voltou por acaso, Anjinha — sussurrou ao meu ouvido com sua voz grave ecoando em todo meu ser. — Voltou porque está completamente louca por mim.


— Onde foi que aprendeu a pentear cabelo tão bem?

Vicky sorria envolta em uma das toalhas do hotel enquanto eu, sentado atrás dela, penteava e secava seu cabelo loiro e ondulado, que antes estava úmido pelo chuveiro. Os pais dela não podiam vê-la daquela maneira. Já seria complicado explicar a maquiagem, para Vicky seria impossível justificar o cabelo molhado ao chegar em casa.

— Samantha, esqueceu? — Comentei enquanto terminava as últimas mechas macias e sedosas. — Quando era menorzinha, eu a penteava para ir ao colégio e sair de casa. O cabelo dela é parecido com o seu.

— Verdade! Por um momento me esqueci que você é treinado com as garotas.

— Com as garotas não, com a minha sobrinha! — Corrigi sorrindo e desligando o secador. O sorriso de Vicky preenchia todo meu ser e o som de sua voz tinha o poder de me desestabilizar. Aquela mulher tinha roubado meu coração e era impossível esconder o fato. — Pronto! Não está como antes, mas dá para enganar.

Olhando-se no espelho pequeno que pegou no banheiro, Vicky assentiu positivamente e aliviada antes de largar o corpo contra meu peito, deitando-se ali. Senti seu cabelo e calor em contato com meu abdômen nu e fechei os olhos por um momento. Sua bochecha roçava minha clavícula e seus olhos estavam voltados para mim.

O azul mais bonito do mundo...

Toquei seu queixo com delicadeza, encantado por seu rosto lindo e angelical. Queria beijá-la, mas sabia que não podia. Seria um erro grandioso... Meu coração já estava sofrendo demais por antecipação, quem dirá se realmente provasse o gosto do seu amor.

— Você já me beijou antes, Travis — sussurrou ao notar minha vontade, mas percebeu que eu não a beijaria. — Me beijou na boate quando nos conhecemos e tentou me beijar no primeiro dia em que estivemos aqui se lembra?

— Aquilo na boate não foi um beijo, foi um selinho rápido e que faço com todas. — Vicky fechou a expressão e desviou o olhar do meu, nitidamente contrariada. — E sobre o dia em que estivemos aqui... Eu não sabia onde isso ia chegar. Naquela noite, pensei se tratar de apenas mais uma cliente em minha cama, Victorya.

— Então você beija as outras e a mim não? — Sentou-se virando o corpo para mim de modo a me olhar nos olhos intensamente. — Pensei que fosse um pacto da profissão não poder beijar as clientes.

— Não é bem assim — corrigi, apoiando-me no braço para me deitar nas almofadas da cama. — Não existem regras contra o beijo, apenas quando ele pode envolver outros sentimentos. Aí sim devemos evitar ao máximo para não complicar o que já é fadado ao fracasso.

Vicky se calou enquanto processava minhas palavras. Seus olhos azuis brilharam em dúvidas, mas ela preferiu se calar, limitando-se a morder os lábios. Compreendeu minhas palavras. Disso tive certeza.

— Quantas aulas temos ainda? — Sua pergunta foi quase um sussurro.

— Creio que duas ou três — Respondi sem encará-la também.

— Só? — Concordei e encarei sua expressão decepcionada. — Você precisa me dizer o valor, Travis. Preciso arcar com...

— Eu já disse para não se preocupar com isso. — Vicky me encarava com os olhos azuis fixos em meu rosto, tão atenta às minhas palavras quanto ao meu corpo envolto apenas por uma toalha branca na cintura, para cobrir minha nudez, que ela já conhecia. — Para mim, é um presente ensiná-la e vê-la aprendendo tudo diante dos meus olhos, sob as minhas mãos...

— No começo, pensei que você se importaria com o fato de seu ser... — Tocou minha perna delicadamente, subindo os dedos por minha coxa. — Virgem.

Sorri notando sua mão subindo, passando pela toalha e indo até meu abdômen. Ela entrelaçou os dedos nos pelos por ali.

— Nunca tive uma virgem — confessei, levando um dos dedos aos lábios e percebi a surpresa de Vicky estampada em seu rosto angelical. — Pensei que apenas existissem em livros ou novelas.

— É sério? — Sussurrou timidamente.

— No meu meio não existe isso, Anjinha. O que existe é sexo fácil, sujo, despretensioso e sigiloso. — Toquei sua mão em minha barriga e levei seus dedos aos meus lábios, beijando-os nas pontas. — Jamais imaginei que teria o prazer de tocar em uma mulher imaculada, cuja carne nunca foi penetrada. Nunca pensei que teria essa sorte.

Vicky corou com minhas palavras e ajeitou o cabelo loiro atrás da orelha discretamente.

— Têm homens que não gostam disso. Não gostam de ter que ensinar como fazer sexo e já querem logo o pacote completo. Santa na rua e perante a sociedade, mas vagabunda na cama. — Revirou os olhos azuis na face.

— Vou confessar algo que não deveria ser dito e geralmente não é pelo grande machismo envolvido, mas é realidade, um fato consumado! — Os olhos azuis subiram para meu rosto, ainda mais curiosos. — Todo homem gosta de uma virgem. É impossível dizer que não existe prazer em ser o primeiro, principalmente da mulher que amamos. Quem diz o contrário é mentiroso ou não tem boas intenções.

— Você acha? — Insegura, mordeu os lábios.

— Um homem que ama uma mulher de verdade jamais exigiria que ela se entregasse a outro para virar uma expert na cama para satisfazê-lo.

O celular de Vicky tocou alto no quarto e ela se colocou de pé para atendê-lo. Olhou o visor e comprimiu os lábios, olhando em minha direção antes de levar o aparelho ao ouvido. Segui deitado, somente encarando-a.

— Fred... Oi.

Fred. Aquele nome ficou gravado em minha mente a ferro e fogo. Eu não precisava perguntar para saber quem era, a simples expressão confusa e constrangida de Victorya deixava clara a situação.

— Estou com Rayanna, como eu disse, mas já está acabado. Não, não precisa se preocupar, estou bem, minha mãe que é uma exagerada! — Notei que olhou em direção ao relógio e viu que já estava mais tarde do que costumávamos terminar. — Estou chegando em casa em meia hora e te mando mensagem de lá. Tudo bem, não se preocupe! Também te amo. Tchau.

Também te amo.

Ela não me olhou quando disse a frase, mas senti sua voz vacilar. Tratei de me colocar de pé para vestir minha cueca e minha calça enquanto ela fazia o mesmo do outro lado do quarto, em total silêncio.

— Fred — falei quando finalmente nos encaramos após quase completamente vestidos. Ela terminava de fechar a saia no quadril. — Esse é o nome do cara?

— Ele não sabe que estou aqui tendo essas aulas com você — confessou com os olhos baixos, encarando seus dedos. — Não sabe que sou virgem, tampouco que nunca me envolvi seriamente com um homem antes.

— Por que não sabe? — Insisti curioso e mais interessado do que deveria. Vicky mordeu os lábios. Ainda não me encarava. — Por que ele não sabe, Vicky?

Ergui seu queixo, fazendo-a me encarar. Jamais a vi tão constrangida, nem mesmo da primeira vez que toquei seus seios nus.

— Porque não contei. — Deu de ombros. — Fred gosta de mulheres experientes e que o satisfaçam na cama. Não é do tipo que curte ensinar nada e nem tem paciência para virgens. Ele gosta de intensidade e muito sexo. Por isso preciso aprender... Entende?

— Como ele pode te olhar e não saber que você é pura como um anjo? — sussurrei, afastando uma mecha de seu cabelo da face bonita. — Basta te ver para enxergar, Vicky... Basta te tocar uma única vez!

— Fred nunca me viu pessoalmente — Sussurrou. — Nos conhecemos pela internet e ele virá em poucos dias para nosso primeiro encontro cara a cara. Ficaremos noivos e... preciso saber tudo até lá. Não posso ser virgem quando Fred vier, do contrário, ele descobrirá todas minhas mentiras e decepcionarei minha família. Arruinarei tudo o que meus pais construíram para mim.

Acariciei sua bochecha, sentindo pena de seu olhar inocente e das palavras vacilantes. Poderia me enraivecer perante ela e seu discurso materialista? Certamente! Mas era impossível não notar a dura realidade por trás das palavras. Vicky sofria e eu desconhecia a origem de todo aquele discurso... De todo aquele sofrimento empregado em algo que deveria ser banal.

— Então você não ama esse tal de Fred — concluí com meio sorriso triste, afastando a mão dela. — Está fazendo a coisa errada, Vicky, se me permite dizer. Não deveria estar aqui para agradá-lo, mas sim em busca de um companheiro que realmente te admire do jeito que você é... Como uma mulher doce, terna e delicada. Uma mulher que precisa aprender a amar e ter prazer, não uma expert na cama, como esse cara espera. De que adianta enganá-lo? E se ele te colocar para transar com outra garota ou com outros caras? Esse tipo de homem gosta de coisas assim... Como vai reagir?

— Travis, que absurdo! Fred não é assim!

Vicky deu um passo para trás e pareceu pensativa. Torci os lábios e passei os dedos pelo cabelo, pegando minhas coisas antes de abrir a porta e apontar para fora.

— É melhor irmos. Me desculpe por ter me metido em sua vida pessoal. Isso não vai mais acontecer.

— Travis...

Ela saiu no corredor junto a mim e toquei em seu queixo delicadamente, como se a beijasse de maneira ilusória.

— Até mais, Anjinha. Boa sorte.

Saí caminhando em direção às escadas enquanto ela esperava o elevador sem nada dizer ou tentar me seguir.

— Nos vemos em breve, não é? — Sua voz foi vacilante, talvez temendo a resposta.

Fiz um gesto positivo por cima da cabeça e sumi nas escadas, deixando meu coração completamente lá, com ela. Jamais imaginei que doesse tanto estar apaixonado, principalmente por uma mulher completamente proibida.

O que mais doía, no entanto, era saber que Vicky estava condenada a um destino cruel nos braços de um homem que não a merecia e jamais a amaria como eu...

Jamais.


Com o lenço, sequei a maquiagem que escorria abaixo de meus olhos, limpando o borrão preto que se espalhava conforme as lágrimas rolavam.

Eu nem sequer sabia o motivo de tantas lágrimas, mas a verdade era que meu coração queria esconder de si mesmo toda a dor que assolava minha alma perturbada. Alguém abriu a porta do banheiro feminino da empresa quando terminei de me arrumar, encarando-me através do espelho.

— O que houve, amiga? — Rayanna parou atrás de mim e pousou delicadamente as mãos nos meus ombros. — Todos notamos como você está triste e apática desde ontem. O que aconteceu, Vicky?

Tomei fôlego e baixei o olhar, enrolando nos dedos o lencinho branco que usava para secar as lágrimas e escondê-las.

— A culpa é sua, Ray... A culpa é toda sua! — Funguei profundamente antes de secar outra lágrima, erguendo o rosto para encarar meus olhos azuis refletidos no espelho.

— Minha? Do que está falando?

— Você me levou naquela boate! Você teve a maldita ideia das aulas e... você me levou até Travis!

Ray seguiu em silêncio enquanto eu me recompunha novamente, mordendo os lábios pela confissão quase velada.

— Você está apaixonada por ele, não está? — Nada respondi. Segui olhando para ela através do espelho. — Eu te disse que era roubada, amiga! Como pôde se deixar envolver?

— Não deixei nada, mas aconteceu! — Olhei-a por cima do ombro. Ray tinha o semblante confuso. — Travis me encantou... Me cativou... Me mostrou sentimentos que sequer pensei que eram reais! Agora não consigo ficar longe dele. Não consigo ficar sem pensar nele ou sem contar os segundos para nosso encontro!

— Você está louca, amiga! — Me chacoalhou levemente pelos ombros. — Esse cara é um prostituto! Deve saber muito bem o que está fazendo para te conquistar, não seja tão inocente!

— Pode ser um prostituto, mas por trás disso existe um homem real. Um homem incrível. Eu... conheci a família dele. Travis cuida de uma sobrinha, hoje adolescente, desde os cinco anos dela e também cuida da mãe acamada. Trabalha em dois empregos para sustentar a casa e usa a boate para complementar a renda e pagar os estudos da sobrinha.

— Sério? — Ray, assim como fiquei, também estava admirada. — Uau!

— Travis é um bom homem, um homem pelo qual criei carinho e admiração. Um homem que me trata como uma princesa, que me chama de Anjinha. — Sorri e ela me acompanhou. — E vem me ensinando muito mais do que fazer sexo. Cada vez que estou com ele, tenho a sensação de que completa um pedacinho de minha alma que estava quebrado durante todo esse tempo.

— Tem noção do quanto isso é forte, amiga? — Ray mexia em meu cabelo levemente. — Seus sentimentos por esse homem são reais, não um mero detalhe. E o outro? E o gringo?

Sorri sem humor e desviei o olhar do dela.

— Fred comprou um anel de noivado e já conversou com minha mãe. Disse que me fará uma surpresa incrível e provavelmente noivaremos no dia em que ele chegar. — Ray torceu os lábios. — Já aprendi muito com Travis e creio que conseguirei agradar ao Fred na cama quando chegar o momento.

Meu rosto se tornou duro e impassível. Afastei de mim a Vicky chorona para dar lugar a triste realidade.

— Você não será feliz, Vicky. Não será feliz com o gringo se está verdadeiramente apaixonada pelo gigolô!

— Travis, Ray! O nome dele é Travis, por favor! — Repreendi delicadamente. — Travis e eu somos de mundos diferentes, temos vidas opostas e não nos encaixamos, sabe? Mesmo que eu sinta tudo que venho sentindo, terei de esquecê-lo quando as aulas acabarem. É o que me resta... esquecê-lo.

Dei de ombros e Ray cruzou os braços. Era nítido em seu semblante que não acreditava que eu seria capaz.

— Desde a primeira vez em que falamos desse cara você ficou assim, esquisita. Eu sabia que tinha lance aí, mas pensei que fosse apenas físico, não pensei que você chegaria a se apaixonar por ele... "Paixão é fogo que arde sem se ver", já ouviu falar? Você perde a cabeça, Vicky! Perde o chão, perde o juízo e pode perder tudo! Mas pondera amiga... Pondera o que significa "tudo" para você! O dinheiro do gringo ou a admiração e todos os sentimentos que tem pelo gigol... Quer dizer, pelo Travis! — Se corrigiu ao final e rimos juntas.

— Trata-se de uma história impossível, amiga. A anjinha e o mestre do prazer... Onde que isso poderia dar certo? Ao menos quero ajudá-lo a sair da noite. Estou vendo se meu irmão consegue um emprego para Travis na empresa dele.

— Corrigindo... Está vendo se seu irmão cria um motivo para você não o perder de vista e de quebra tirá-lo da cama das outras.

Nada respondi, uma vez que outra moça entrou no banheiro e tivemos de cortar o assunto.

Uma vez em casa, subi para o quarto de Valery para brincar com as gêmeas e me esquecer um pouco da loucura que virou minha vida. Papai e Rick foram jogar tênis e mamãe estava na igreja. Apenas nós duas e as meninas estávamos em casa naquela noite.

— Preciso de uma lingerie. Uma azul, se você tiver — Felícia brincava com meu cabelo em meu colo enquanto Olívia jogava brinquedos para fora do cesto colorido ao meu lado. Valery embalava algumas encomendas na cama. — Azul claro.

— Lingerie? — Não a encarei, mas notei que dirigiu o olhar para meu rosto. — É para usar com o Fred? Nesta casa e na família só se fala no teu tão esperando noivado...

Suspirei e segui brincando com Felícia.

— Pode me arrumar ou não?

— Claro que posso! — Valery retirou da pilha dois modelos e me jogou os sacos transparentes. Analisei com a mão livre. — São de seda e renda. Os mais pedidos. Tem uma abertura na calcinha, pensa! Deixa a noite mais quente, nem precisa tirar!

— É lindo! — Analisei o modelo azul claro, tirando-o da sacola. — Vou ficar com ele. Quanto custa?

O sutiã era sem bojo, como eu gostava, rendado e de alças finas. A calcinha era um conjunto perfeito, com as laterais finas e a parte de baixo aberta. Valery tinha razão! Não precisava nem tirar! Pensei em Travis imediatamente, mais especificamente na noite em que me tocou pela primeira vez e nem chegou a tirar minha calcinha.

— Custa me contar o que está rolando! — Val sentou na cama de frente para mim, que estava no chão com as meninas. — Onde vai usar isso, Victorya? Você não é virgem?

— Sou maior de idade, irmã. Posso usar um lingerie assim se quiser. — Os olhos escuros de minha irmã seguiam me encarando em busca de uma explicação. — Tudo bem, mas é um segredo... Conheci alguém.

— Alguém? Quem? — Sussurrou.

— Um homem, Valery.

— Quem homem? Fala, me conta tudo!

— Sinto muito, mas não posso. Trata-se de um segredo meu...

— Desde quando você tem segredo, Victorya? — Val riu debochadamente. — A menininha do papai não pode ter segredos, ainda mais com um homem!

— Pois eu tenho! Tenho meus segredos e você, por favor, trate de ficar calada e me cobrar o valor da peça!

— Não tem valor. Tudo que você faz por mim é o preço, irmã. Jamais te cobraria algo ou confessaria seus segredos, fique de boa!

— Sei que não contaria, mas não posso revelar. Não quero que isso se estenda ainda mais.

— Você realmente parece mais feliz, sabia? — Valery sorriu um pouco mais animada e corei. — Te vejo sempre com os olhinhos brilhando por aí e um sorriso bobo na cara. É, mana... Nada como um bom homem na cama para fazer uma mulher sorrir!

Suspirei e neguei, voltando a brincar com Felícia enquanto Olívia pedia o colo da mãe. Travis me fazia feliz e eu sequer percebia, então? Eu tentava esquecê-lo, mas a vida tratava de me lembrar dele a todo instante!


Em uma agradável sexta-feira, onde o caos reinou no escritório. Tive de passar em casa para trocar de roupa antes de encontrar Travis. Não trocamos sequer uma ligação após o último encontro, apenas uma mensagem rápida na qual ele perguntou se nos encontraríamos no local marcado e eu respondi que sim.

Tomei um banho rápido e coloquei um vestido azul claro com quadradinhos brancos. Era simples, de alças, e uma jaqueta jeans por cima. Mamãe entrou em meu quarto enquanto eu colocava um pouco de maquiagem no rosto, algo atípico para mim. Analisou cada detalhe de minha aparência e olhou ao redor com interesse redobrado.

Algo ela buscava, logo concluí.

— Está tudo bem, mãe? — Questionei, passando um batom vermelho nos lábios. Ela me olhava através do espelho com o semblante confuso.

— Por que tinha uma das peças íntimas indecentes da sua irmã aqui no seu quarto, Victorya?

A pergunta me fez travar por um momento. Voltei-me para ela, sabendo que, naquele mesmo instante, eu usava a tal “peça íntima indecente” por baixo do vestido e do casaco.

— Porque tenho o mesmo corpo da cliente e ela me pediu para provar — menti, vendo-a me analisar minunciosamente. — Por que, mãe?

— Pensei que era sua. Levei um susto quando vi aquilo aqui. — Soou aliviada.

— E se fosse? Sou de maior, qual o problema em usar uma das peças que minha irmã desenha?

— Uma moça decente como você jamais teria interesse em algo tão vulgar, minha filha. — Mamãe me encarava com os olhos azuis cintilando, como se soubesse ler através de mim. — Você não é como seus irmãos... É pura e boa.

— Mãe, por favor... — Ela me cortou.

— Seu noivo disse que chega em um mês. Está empolgada? Imagino que sim!

— Claro, mãe. Muito empolgada! — Reuni minha bolsa sobre a cama e a coloquei no ombro. — Mas não sou melhor do que meus irmãos por ser um pouco diferente deles. Por ter um noivo rico... Isso não me faz melhor do que ninguém!

— Você não é promíscua, Victorya. Jamais será como eles!

— E se eu for, mãe? A senhora me cobra tanto a perfeição que sequer consegui conhecer o mundo, conhecer um homem... Como pode saber que não sou?

— O que está dizendo, menina?

— Que posso usar um lingerie como as que Valery desenha! Que posso gostar de um homem que não seja o noivo ideal apontado por você! Que tenho direito de transar antes de me casar, porque vivo em um país onde as mulheres são livres e casar virgem é retrógrado, ultrapassado! — Os lábios dela se separaram em indignação. Valery entrou em meu quarto ao ouvir meus gritos no corredor e parou atrás de mamãe. — Não sou uma boneca, mãe! Não sou obrigada a satisfazer seus caprichos para provar ao mundo que você é a mãe que não falhou!

— Victorya, você está tomada pelas forças malignas que sua irmã trouxe quando voltou para essa casa! — Fez o sinal da cruz. — Minha pequena Vicky jamais diria tamanhas heresias!

— Vicky é uma mulher como qualquer outra. Não é uma santa! — Valery disse debochada e revirando os olhos. — Ela só quer viver!

— A culpa é sua! — Mamãe gritou com Val. — Você coloca caraminholas na cabeça da minha menina. Você e o depravado do seu irmão!

— Tudo bem! É claro que a culpa é minha!

Os gritos começaram e tapei os ouvidos, saindo pelas escadas enquanto mamãe e Valery se atracavam em uma discussão interminável. Papai chegou enquanto eu saía. Chamou meu nome, mas entrei em meu carro e dirigi desnorteada em direção ao hotel.

Tudo o que eu queria era sumir daquela vida pesada e me refugiar em meu único lugar seguro...

Os braços de Travis O’Brien.

 

Malhei como um louco nos dias em que estive ministrando treinos na academia e fodi como um animal nas noites em que rodei turno na boate.

Saí da maldita lista seleta de clientes e me entreguei aos prazeres da carne, querendo ser capaz de arrancar o perfume daquela mulher com expressão angelical, que estava cravada em mim até o último fio de cabelo!

Peguei o maior número de clientes que pude, jogando qualquer mulher que me aparecia na cama em troca de dinheiro e um momento de prazer. Em troca de esquecer que Victorya Hayder havia roubado meu coração e eu jamais significaria nada para ela.

Jamais estaria apto para ser seu homem. Talvez serviria para uma transa qualquer quando estivesse entediada, buscando prazer, mas nunca para sair ao seu lado daquele quarto de hotel.

Era tudo que eu teria dela. Momentos entre quatro paredes e mais nada. Nada. E eu, que sempre me contentei com mulheres em quartos secretos e escuros, não me contentava em tê-la somente ali. Soava como um ultraje a mulher de meus sonhos ser proibida.

Joguei a bolsa no sofá de sempre e parei frente à janela alta, fechando os olhos para tomar fôlego. Hoje eu daria a Victorya mais prazer do que qualquer homem no mundo jamais pensaria em dar. Hoje eu a faria gemer meu nome como um hino, desesperada por mais e a faria ficar sedenta de mim como nunca.

Vicky jamais esqueceria daquela noite... Jamais!

A porta foi aberta e ela entrou, mas não como de costume. Vicky estava linda. Ainda mais meiga que o habitual, usando uma roupa casual — vestido azul com branco. Demorei para notar que chorava, pois admirar a beleza de menina dela era meu passatempo favorito cada vez que a via.

— O que houve? — Questionei assim que nos encaramos e seus olhos azuis se conectaram aos meus, profundamente, como se me pedisse socorro.

Cheguei ali disposto a dar a ela o melhor sexo oral que receberia na vida. Disposto a fazê-la confessar que também era louca por mim, mas fui pego pelo golpe fatal... Suas lágrimas eram tiro certo em minha postura de malvado.

Caminhei até ela, parando a sua frente. Toquei seu rosto corado e limpei uma lágrima em sua bochecha quente.

— O que foi, Victorya? Por que está chorando?

— Não fale como se não soubesse... porque você sabe que sou uma idiota! Você sabe! — Mais lágrimas caíram em seu rosto angelical. Ergui seu queixo, fazendo-a me olhar.

— Me fala, Anjinha. Você chega aqui desse jeito e quer que eu fique de boa? Não sou esse tipo de homem! Não tem coisa mais terrível do que vê-la assim, triste... chorando... — Abri a palma em sua bochecha e ela fechou os olhos para sentir a pele de sua face em contato com a minha. — O que aconteceu?

Vicky não mediu mais seus atos e me abraçou fortemente, apertando as mãos pequenas em minha camisa vermelha. Éramos tão íntimos na cama, mas não tínhamos o mesmo grau de intimidade fora dela. Já toquei sua intimidade, senti em minha língua seu gosto de mulher e tomei com os lábios seus seios, mas jamais a abracei tão forte. Jamais senti sua respiração contra meu queixo e seu coração tão perto do meu coração.

Ali não tinha sexo, tinha carinho. Proteção. Era isso que ela buscava em meus braços... Proteção.

Acariciei seu cabelo loiro, absorvendo o cheiro doce que exalava dele, e afundei o rosto nos fios claros. O que essa pequena anjinha me fazia sentir era poderoso demais para ser contestado. Ou ignorado.

— Sou uma prisioneira, Travis. Sou uma eterna prisioneira e não sei como me libertar! — Disse entre as lágrimas que a sacudiam fortemente.

Segui acariciando seu cabelo gentilmente, apertando-a contra meu peito. Beijei seu cabelo e ela me apertou ainda mais, desesperada.

— Estou seguro que não. Você é uma mulher adulta, inteligente e capaz de fazer suas próprias escolhas. — Vicky me ouviu, ainda chorando. — O que aconteceu?

— Meus pais... — sussurrou finalmente, separando-se de mim. Seus olhos estavam no chão e, com a manga do casaco jeans, secou o rosto úmido. — Meus pais são pessoas preconceituosas, o pior tipo delas que existe!

— Eles descobriram sobre nós? — Arrisquei confuso, vendo-a negar rapidamente.

— Se houvessem descoberto, eu sequer estaria aqui agora... — Ironizou, revirando os olhos. — Mas jamais aceitarão que eu tome um rumo diferente do que planejaram para mim. Se o fizer, serei excomungada da família como meus irmãos foram.

— Que isso, Vicky? Realmente existem pessoas assim nos dias de hoje? — Sorri pensando se tratar de um exagero, mas ela seguia séria e impassível. Demonstrava em seu semblante que nada daquilo era exagero, mas uma dura realidade.

Caminhou até a beira da cama e sentou-se, tirando a bolsa dos ombros magros e colocando ao seu lado na cama.

— Tenho dois irmãos mais velhos, Vicent e Valery. Vincent é homossexual e saiu de casa quando se assumiu, para morar com o namorado, que hoje é seu marido. — Cruzei os braços enquanto ouvia sua voz melancólica narrando. — Ele não entra na casa de meus pais porque meu pai não dirige a palavra a ele e minha mãe... Bom... Minha mãe faz tudo que meu pai manda. — Segui encarando-a, um pouco surpreso. — Valery mora com meus pais única e exclusivamente por causa das crianças. Ela tem três filhos, um menino de oito e as gêmeas de três. Casou-se ainda adolescente com um homem que eles desaprovavam e, como previsto, não deu certo! O marido a deixou desempregada e o embuste sequer liga para saber das crianças.

— Não sei nem o que dizer... — Comentei, me sentando na cama ao seu lado. Vicky não me olhava.

— Meus pais humilham Valery constantemente, mas ela não tem para onde ir, por isso precisa aguentar as humilhações para dar um lar para os filhos dela. Val desenha lingeries e me deu uma. — Finalmente me encarou de baixo. — Eu queria te surpreender hoje, não sei...

— Vicky... — A abracei pelos ombros, mas ao invés de sorrir, Vicky voltou a chorar.

— Mamãe encontrou a peça no meu quarto e começou a fazer perguntas. Começamos uma pequena discussão e Val se meteu. Quando saí, as duas se atracavam e papai chegou. Certamente virou um show de horrores na frente das crianças por minha culpa!

— Por minha culpa, você quer dizer... — Corrigi para tentar fazê-la sorrir. — Você não é culpada pelo preconceito alheio, Vicky. Seus pais não têm o direito de interferir em suas escolhas e muito menos de julgar as consequências delas.

— Muito menos você tem culpa de algo, Travis. — Olhou-me de baixo com os olhos cheios de lágrimas. — Fui eu quem te procurou naquela boate. Fui eu quem propôs o nosso acordo.

Toquei o queixo de Vicky e ela sorriu de canto, deitando o rosto em meu ombro. Jamais senti vontade de beijar uma mulher como sentia de beijá-la agora. Seus lábios vermelhos nunca me pareceram tão atrativos e tudo o que eu queria era consolá-la com meu beijo... Dar-lhe afeto com um abraço.

Nossos lábios se aproximavam quando o celular dela tocou alto na bolsa entre nós. Assustada, Vicky retirou o aparelho da bolsa e ouviu o áudio rapidamente.

— Valery saiu da casa de meus pais com as crianças! Eles a expulsaram e ela levou as crianças junto dela para a rua! — Desesperada, Vicky reunia sua bolsa com as mãos trêmulas e muito desnorteada. — Meu Deus! Vincent está viajando a trabalho com o marido! O que vou fazer? Meu Deus!

— Calma! — Segurei a porta quando Vicky estava prestes a sair, puxando-a para perto delicadamente. — Vou com você!

— Onde? — Questionou, encarando-me de maneira confusa.

— Atrás de sua irmã! Não podemos deixá-la na rua com três crianças! — Apontei para fora do quarto. Victorya me encarava como se eu fosse louco, perplexa diante de mim. — Vamos, Vicky!

— É sério? Você... vai mesmo comigo?

— Claro! — A empurrei levemente para fora e fechei a porta do hotel com a chave. — Tem uma ideia de onde podem estar?

 

Travis O’Brien me surpreendia cada dia um pouco mais e sempre de maneiras positivas e improváveis.

Daquela vez, não me surpreendeu com sexo ou orgasmos, mas com um gesto inacreditável de se preocupar com o próximo. Mais especificamente, com minha irmã Valery, que era constantemente julgada por seu status de “mãe solteira sem emprego”.

Travis dirigiu durante uma hora em direção aos lugares onde Val poderia estar e agradeci durante todo o trajeto por seu gesto atencioso. Eu não tinha a menor condição de dirigir, nervosa como estava. Sério, ele me perguntava os lugares e dava voltas e voltas em possíveis pontos de encontro.

Nada!

As lágrimas já me cegavam enquanto pensava nas gêmeas e em Rick sozinhos com Val em meio à noite fria da cidade. Meus pais eram dois corações de pedra por terem permitido tamanha atrocidade!

— O mal engasga na garganta, Travis. O nó se forma e simplesmente não consigo pensar em como pude nascer em um lar tão cheio de ódio... de preconceitos!

— Tudo vai se resolver. Não deixarei seu coração ser tomado pelo que os outros fazem, Vicky. A prioridade agora é encontrar sua irmã e as crianças. Vamos conseguir, eu sei que vamos!

Olhei pela janela em uma rua paralela à casa onde Valery morou um dia com o ex-marido e avistei ao longe ela e as crianças na calçada.

— Ali, Travis! São eles! — Baixei o vidro e Travis seguiu em direção aonde eu apontava, dirigindo rápido até encostar bem próximo. — Valery! Rick!

Rick foi o primeiro que parou de caminhar ao me ver. Rapidamente, separou-se da mãe e correu em minha direção quando desci do carro de Travis, abraçando-me pela cintura. Val suspirou de maneira derrotada. As gêmeas estavam no carrinho duplo, que ela empurrava junto a algumas bolsas coloridas.

— Tia Vicky! Tia Vicky! Mamãe quer ir embora! Ela disse que nunca mais voltaremos para casa! — Rick me apertava pela cintura enquanto chorava contra minha barriga. Abracei-o de volta, encarando Val com dessabor.

— Você ficou maluca de tirar as crianças de casa assim?

— Achei que o pai deles poderia ajudar, mas me enganei. O inútil desapareceu! — Val chorava. Pude notar pelo som de sua voz rouca e cansada. — Como me encontrou?

— Você é bem previsível, diga-se de passagem! — Travis parou ao meu lado e acenou para as gêmeas, que sorriram para ele de dentro do carrinho.

— Quem é ele? — Val não escondeu a maneira como o encarou dos pés à cabeça. Travis sorriu e esticou a mão para ela em um gesto simpático e típico dele.

— Travis. Travis O’Brien.

— Valery Hayder.

— Ele é... um amigo — Expliquei, olhando para Rick. — Esse é Rick, Travis, meu sobrinho mais velho. E essas são as gêmeas, Olívia e Felícia.

— É um prazer conhecer a família da Vicky. — Sorria para Val, que o encarava ainda mais surpresa. Eu vi nos olhos dela o que pensava... O achava lindo e sensual. Estava surpresa por me ver com ele.

— É aquele que você mencionou hoje mais cedo?

Corei e olhei para Travis rapidamente.

— Sim, é ele.

— Ah sim... Agora entendi tudo! — Val piscou para mim.

— Viemos falar de você, não de mim! Onde pretende ficar com as crianças? Vamos voltar agora mesmo para casa!

— De jeito nenhum! Fui expulsa e meus filhos vão comigo para onde eu for! Não volto para aquele lugar nem que tenha que passar a noite na rua com minhas crianças, Victorya!

— Valery, por favor... — Juntei as mãos em frente ao peito, praticamente implorando. — Vincent está viajando. Quando ele voltar, resolveremos isso e você vai morar com ele, mas agora precisa voltar para a casa dos nossos pais! Não pode deixar seus filhos ao relento, sem comida e sem conforto!

— De jeito nenhum! — Insistiu com a voz marejada. — Não sou cachorro morto para ser chutada daqui para lá a todo instante e meus filhos não vão crescer ouvindo que sou um fracasso por ter me casado um dia e não ter dado certo! Cansei de humilhações, Victorya, será que não entende?

Comprimi os lábios perante sua tristeza. Rick me soltou e voltou para o lado da mãe, demonstrando que a compreendia e queria consolá-la.

— Tenho uma ideia — Travis disse, para a surpresa de nós duas. — Adoraria levá-los para minha casa, mas infelizmente não é tão espaçosa e confortável para as crianças. Você se importa de ficar em um hotel até que seu irmão volte para abrigá-los?

Encarei Travis ainda mais surpresa.

— O hotel que... — Ele concordou, cortando-me. — É uma boa ideia!

— Não tenho dinheiro, senhor O’Brien. Mas agradeço a atenção. — Val secou o rosto com a manga da blusa.

— Não se preocupe com isso, eu sou...

— Amigo do dono — completei por ele, acostumada com aquela frase. Val sorriu e Travis também. — Ele consegue um bom desconto!

— Consigo de graça! — Travis enfatizou. — Não se preocupe com gastos, apenas se abriguem e fiquem seguros. O que acha?

— Não sei como agradecer, senhor O’Brien! — Val sussurrou emocionada e, naquele momento, percebi o quanto era fácil se apaixonar por aquele homem.

Não havia maneira de não se encantar por alguém que ajudava o próximo sem esperar nada em troca e que ainda passou no mercado para comprar doces, leite e comida para as crianças.

Olívia e Felícia, mesmo cansadas do dia conturbado, também se encantaram por ele e o mesmo aconteceu com Rick, que fazia muitas perguntas ao chegarmos ao hotel. Travis demonstrava saber como cuidar dos pequenos e foi o que chamou a atenção de Valery, que separava roupa para dar banho nas gêmeas enquanto os observava.

— De onde tirou esse homem? De um filme?

Corei e o observei também, vendo como brincava com Olívia e Felícia.

— Você não acreditaria se eu dissesse... — Val sorriu.

— É um tremendo gato! Tatuado, com cara de bandido, mas coração de mocinho. Que incrível, Vicky, estou orgulhosa! — Não disfarcei minha expressão assustada.

— Ele não tem cara de bandido! — Repreendi. — É um homem incrível, admirável e...

— Você está apaixonada! — Val comemorou com palminhas e nada respondi, apenas suspirei. — Ele leva jeito com crianças.

— Tem uma sobrinha de quinze anos que cria desde os cinco, quando a irmã faleceu.

— Uau! Você teve sorte, garota!

— Travis é apenas um amigo — Corrigi enfaticamente. — E é melhor esquecê-lo se quiser continuar conversando comigo. Ninguém pode saber sobre eu e ele, entendeu?

— Por que ele é pobre e nossos pais não aprovariam?

— Porque ele é dançarino de boate e prostituto, satisfeita? — Confessei aos sussurros e Val não escondeu o espanto.

— Sério? — Concordei com apenas um aceno, fazendo-a olhá-lo de relance. — Mana, me empresta uma grana! Estou realmente precisando!

— Valery! — Repreendi nervosa e ela riu um pouco mais alto.

— Brincadeira, calma! — Me abraçou pelos ombros e suspirei alto também. — Obrigada por tudo que fez por mim, Vicky. Obrigado a você e ao Travis... Foram como anjos em nossas vidas hoje.

Anjo.

Ele me chamava de anjinha, mas o verdadeiro anjo em minha história estava sendo ele, Travis O’Brien, o prostituto apaixonante.


Eu não conseguia esquecê-la!

Por mais que desejasse, não conseguia tirar da cabeça os olhos azuis de Vicky me encarando quando voltamos ao nosso quarto no hotel.

— Você não precisava ter feito isso, Travis. Não precisava ter ido atrás da minha irmã na rua comigo, muito menos ter se disposto a arrumar um quarto para ela e as crianças passarem a noite. — Pegou em meu braço enquanto eu vestia minha blusa e colocava a mochila, aprontando-me para ir embora. — Jamais saberei expressar minha gratidão por tudo que fez hoje. Obrigado...

— Não precisa me agradecer, Victorya. — Sorri de canto diante de seu olhar profundo e inocente, terminando de colocar meu moletom vermelho. — Minha mãe também foi mãe solteira e criou eu e minha irmã com muito custo e luta. Sei bem o que Valery está passando com os filhos e não deve ser nada fácil! Quando a vi com as crianças, me lembrei imediatamente da minha mãe. É dolorosa a rejeição... O frio congelando os ossos na rua e nenhuma perspectiva de onde ir. Já passei por isso também.

Não queria comovê-la com minha história, mas deixar claro que me compadecia de coração da situação de Valery. Vicky me olhava com tristeza.

— Sinto muito, Travis. — Sentou-se na beira da cama e tirou os sapatos. — Cada vez que me fala um pouquinho mais sobre você, tenho a impressão de que é ainda mais vencedor do que pensa, senhor O’Brien.

Vicky sorriu de maneira graciosa e sentou-se no colchão, com seu olhar azul perdido. Pendurei a bolsa no ombro.

— Diante de tudo que já passei na vida, sim, posso dizer que consegui sair do fundo do poço e hoje até que tenho certo conforto. — Dei de ombros. — Sinto muito por ter que ir assim, sem nossa aula, mas creio que entenda. Minha mãe e Sammy não podem dormir sozinhas. A vizinha só fica com elas em dias pré-programados e hoje não era um deles.

— Claro que entendo, mas... — Mordeu os lábios delicadamente, olhando ao redor. — Será que poderia ficar ao menos até eu dormir?

— Vai dormir aqui?

— Não quero deixar Valery sozinha! Ela pode precisar de ajuda com as crianças e meus pais terão de compreender. Amanhã é sábado, afinal. — Vicky se deitou no colchão, com a cabeça no travesseiro, e se virou em direção a abajur. Seus olhos estavam em mim. — Por favor?

Retirei a bolsa do ombro sem pensar duas vezes, caminhando até a beira da cama e me abaixando até ficar na altura dos olhos dela. Os olhos azuis que eu tanto amava...

— Aqui é seguro. Pode confiar no pessoal, pois são todos muito honestos. — Vicky concordou e esticou a mão para apagar a luz ao lado da cama. Apenas o abajur nos iluminava parcialmente.

— Eu sei. Confio em você. — Sentei-me no chão ao lado da cama e toquei seu cabelo na testa, acariciando-o. Vicky se aconchegou ao meu toque e notei naquele momento como nosso relacionamento se estreitava a cada vez que nos víamos. Era como se pequenos passos fossem dados em direção ao abismo em que cairíamos juntos e de maneira fatal! — Queria que dormisse comigo, mas se nem beijar você me beija, quem dirá dormir aqui do meu lado!

Rimos juntos e segui acariciando seu cabelo delicadamente, encantado com o som de sua risada e imerso no lindo azul de seus olhos.

— Acredite... Não é por falta de vontade! — Confessei, mordendo os lábios, e ela apenas me observou. — Nos vemos em breve?

— Amanhã? — Ri com seu tom apreensivo. — Estou ansiosa pela aula de... preliminares se não me engano?

— Muito bem, senhorita Hayder! É uma aluna muito aplicada! — Vicky riu ainda mais e toquei a ponta de seu nariz carinhosamente, em um gesto apaixonado.

— Qual nota devo receber, professor?

— Somente poderei dizer após a avaliação final, senhorita! — Brinquei e segui acariciando seu cabelo. — Preciso ir...

— Só mais um pouquinho... Por favor!

Jamais seria capaz de esquecer a sensação de meus dedos se enfiando nos fios loiros e revoltos do cabelo ondulado ou a maneira como os lindos e brilhantes olhos azuis me encaravam com ternura e devoção até adormecerem.

Beijei sua testa delicadamente ao vê-la dormindo, respirando próximo de sua boca em uma vontade absurda de beijá-la. De senti-la. De tomá-la!

— Você é linda, Vicky, e não tem ideia do quanto me fascina.

Sussurrei antes de partir, deixando a chave de baixo da porta para que a encontrasse quando despertasse.

— Tudo bem, tio? — Sammy apareceu na cozinha de madrugada enquanto eu vagava com um copo na mão pela casa escura. — Perdeu o sono?

— Perdi... Ando atarefado.

— Sei... Anda pensando na loirinha lá, não é? Na senhorita Vicky... — Encheu um copo d’água na pia e me encarou de maneira debochada. Nada respondi. — Sai dessa, tio! Já te falei que aquela mulher é para homens ricos. Quer ver a rede social do noivo dela?

— Você tem? — Perguntei indo até ela, que abriu a página no celular e me mostrou rapidamente.

O tal Fred era realmente muito rico, uma vez que exibia fotos em iates, paisagens incríveis na Europa e ambientes sofisticados. Era magrelo e ruivo. Um pouco desengonçado, mas com as roupas caras ficava até apresentável.

— Parece coisa de filme... — Sammy disse, analisando as fotos ao meu lado.

— Sou bem mais gostoso que esse cara! — Sammy riu baixinho. — Parece uma cenoura de terno e gravata!

— Realmente você é bem mais gato, tio, mas já ouviu falar que “beleza não se põe na mesa”? — Cutuquei a barriga de Sammy de maneira contrariada e ela riu ainda mais.

— Você deveria ficar do meu lado, garota! Se liga!

— Por que você não escolhe uma das moças aqui da rua, tio? Uma que tenha a ver com você e seja do nosso mundo, não uma princesa de contos de fadas que não vai te dar valor... — Sammy soava pesarosa. Vi em seus olhos verdes que tinha pena de meu amor impossível.

— Não escolhemos por quem nos apaixonamos se quer saber! — Me afastei dela para pousar o copo na pia.

— Não quero que se machuque, tio.

— Não vou. Sei bem que Victorya Hayder não é para mim e talvez eu faça mesmo o que você disse... Talvez eu procure uma mulher do meu nível para construir uma vida. Cedo ou tarde terei que sossegar e acho que o momento está chegando, Sammy. Você ouviu o que o médico disse sobre a vovó...

Sammy me abraçou forte, realmente sentida por tudo que ouvimos naquela manhã sobre minha mãe. Ela não tinha muito tempo e poderia partir a qualquer momento... Estávamos apenas esperando.

Quando acontecesse, jurei a mim mesmo que sairia da noite, já que algumas despesas fixas seriam cortadas. Eu me preparava a cada manhã para dizer adeus a ela, chorando em silêncio enquanto, por outro lado, vivia a alegria de encontrar a mulher de minha vida, mesmo que não pudesse ser minha.

A iminente morte de minha mãe...

Jamais voltar a ver Victorya, que se casaria com um mauricinho do nível dela...

Tudo se encaminhava para um terrível, doloroso e inevitável final.


— Espera! Está me dizendo que passou a noite em um hotel vagabundo porque sua irmã irresponsável saiu da casa de seus pais com as três crianças após uma discussão onde ela estava errada? É isso mesmo que entendi, Vicky?

Minhas bochechas coraram e tive de sair da mesa onde almoçava com Valery e as crianças para responder a indagação de Fred, após narrar a eles os fatos da noite anterior, excluindo, obviamente, a presença de Travis de todo o trâmite.

— Não é um hotel vagabundo, é um hotel comum como qualquer outro!

— Se não é cinco estrelas, é automaticamente vagabundo! — Rebateu de maneira debochada. Suspirei com o nojo que suas palavras me causaram.

— Minha irmã não estava errada, Fred. Meus pais são realmente cruéis com ela e não devem dizer certas coisas, mesmo que tenham qualquer razão! As crianças ouvem tudo e não faz bem a elas conviverem em meio a tanta discussão!

— Tampouco viver na rua, vagando desabrigadas! Sua irmã deveria se ajoelhar aos pés de seus pais por colocarem comida na boca dos filhos dela e darem um teto! Sem emprego e sem um marido decente, deveria agradecer por ser humilhada em um lar como o de vocês!

Separei o telefone do ouvido por um momento, abismada pela postura de Fred.

— Quando conhecer Valery, mudará de opinião, Fred. É uma mulher incrível e muito guerreira! Faz o que pode pelos filhos e em breve, quando as gêmeas conseguirem a vaga na escola infantil, irá cursar empreendedorismo para expandir seu negócio de lingeries — tentei explicar de maneira mais sutil.

— Mulheres como sua irmã não têm futuro, querida. Sei que é muito ingênua e não sabe compreender algumas coisas, por isso podemos parar por aqui. Mas já deixo claro que não gosto que se deixe influenciar por ela! É melhor voltar para sua casa e deixá-la com os próprios problemas!

Separei os lábios pelas palavras dele, nervosa e corada pelo fervor que sentia! Sua postura machista me surpreendeu e colocou à prova questões importantes de minha vida.

— Não sou tão ingênua como pensa, Fred. Sou capaz de ponderar situações e não pretendo me afastar de minha irmã. Não importa o que pensa sobre Valery, ela segue sendo sangue do meu sangue e mãe dos meus sobrinhos! — Fred tentou dizer, mas segui firme. — Espero que repense melhor antes de julgar alguém que sequer conhece!

— Não quis ofendê-la, meu amor! Sei que você é muito diferente dela, sua mãe mesmo me disse e...

— Preciso desligar! — Cortei repentinamente, voltando para a mesa onde Val se desdobrava para cuidar das crianças. — Mais tarde nos falamos, Fred. Um beijo.

Desliguei e me sentei ao lado de Rick. Val me encarava com curiosidade enquanto alimentava Felícia e Olivia.

— Problemas com o noivo?

— Não, apenas está atarefado! — Menti, ajudando Rick e servir suco em seu copo vazio.

— E o outro... O da noite passada. — Valery revirou os olhos como se sentisse prazer e eu desviei o olhar, rindo de maneira envergonhada. — Aquele sim é um homem de respeito, mana! Fala sério! É gato, gosta de criança e tem cara de ter uma pegada...

— Valery, seu filho está ouvindo! — Repreendi tapando os ouvidos de Rick, que parecia mais atento ao celular onde assistia desenhos. — Travis virá me ver hoje. Temos... um encontro.

Expliquei rapidamente.

— Gostaria de agradecê-lo por ontem. — A encarei um pouco desconfiada. — Você realmente não sente nada por ele?

— Que diferença faz dizer sim ou não? Travis e eu não pertencemos ao mesmo mundo!

Me concentrei em colocar algumas frutas em meu prato. Valery nada disse, apenas me encarou de maneira desolada enquanto me assistia comer em silêncio. Eu sabia o que pensava... Quase podia ouvir sua mente barulhenta, mas ignorei!

Meus pais odiaram a ideia de me ter ali no hotel com Valery, mas não passei o endereço, para que não descobrissem nada sobre Travis e eu. Fui à casa de meus pais para trocar de roupa e tomar um banho, aproveitando para colocar a lingerie branca, que era exatamente igual a azul que usei ontem e acabei sequer estreando com Travis.

Me olhei no espelho com a lingerie e toquei minha barriga delicadamente, acariciando meu corpo de cima a baixo para apreciar como me parecia bonita naquele conjunto de seda e renda. Travis também acharia?

Todos os dias tinha que lutar para não me tocar pensando nele... Me segurava para guardar para nosso encontro o prazer merecido e apreciável. Afinal, como ele mesmo me ensinou, não havia nada melhor que o prazer compartilhado.

Em breve tudo acabaria...

O fim trágico onde eu não veria mais Travis se aproximava e meu coração doía enquanto eu voltava para o hotel com a desculpa de ficar com Valery e as crianças.

Após vê-los, fui para o quarto onde me encontrava com meu mestre do prazer e me sentei perto da janela, olhando o relógio, que ditava o tempo que ainda teríamos um com o outro. O tempo corria e eu queria que parasse!

O tempo corria e tudo que eu queria era Travis ali, me amando como somente ele sabia fazer.

 

Meu estômago afundou com a possibilidade de ver Vicky novamente no hotel.

Cheguei bem mais tarde que o previsto, uma vez que tive de acertar algumas coisas na boate, e a encontrei sentada próxima do vidro com um livro na mão.

— Às vezes esqueço que estou lidando com uma mulher tão letrada... — Erguendo os olhos azuis, Vicky sorriu em meio ao semblante triste e marcado por desolação. Fechei a porta. — Tudo bem, Anjinha?

— É apenas um livro de romance, não estou estudando — explicou, fechando o livro e colocando-o de lado. — Tudo bem na medida do possível.

— Como vão as crianças e Valery? — Sentei-me ao seu lado no sofá, frente a frente com ela, que usava um bonito vestido branco com detalhes em rosa e tinha os pés descalços. Sempre linda aos meus olhos.

— Estão bem... Muito gratos a você, principalmente Valery. — Desviou o olhar com certo desconforto. — Ela acha que você é um anjo! — Neguei com um aceno. — Vincent chega depois de amanhã e os levará para sua casa. Aí sim estarei tranquila.

— Vincent?

— Meu irmão... — Olhou-me de maneira engraçada.

— Ah! Pensei que fosse o... — Apontei para trás de mim e suspirei.

— Não, o nome dele é Frederick Bouchevick. Fred — disse em um tom de voz decepcionado, encarando os dedos da mão pequena de maneira pensativa. — Você demorou...

— Fui na boate. Hoje é sábado, esqueceu? Me apresento no show de dança de lá. — Vicky não escondeu o descontentamento, movendo-se um pouco para longe de mim. A encarei com certa confusão. — O que foi?

— Deveria ter me dito que tinha compromisso. Por um minuto me esqueci desse detalhe.

Em seu semblante, havia ciúme. Algo particularmente novo para mim, mas que fez a chama em meu peito arder ainda mais intensamente. Eu conhecia as mulheres como a palma de minha mão e Victorya Hayder não conseguia esconder o quanto o fato de eu ter ido na boate a deixava enciumada.

— Não fui fazer programa, fui apenas me apresentar. Tenho que cumprir com minha agenda se não o gerente me corta. — Vicky me encarou um pouco receosa.

— Não ficou com nenhuma mulher?

— Não... Claro que não! Não fico com ninguém nos dias em que vou vê-la. — Sorri e Vicky não alterou a expressão contrariada. Comprimiu os lábios.

— Por que não?

Sua pergunta foi mais profunda do que aparentava. Tive de pensar para responder de maneira certeira.

— Porque não é justo.

— Comigo? — Apontou para si mesma.

— Comigo. Não é justo comigo. — Vicky baixou a mão e sustentou meu olhar com profunda ternura. — Quero deixar claro que jamais estive com ninguém sem camisinha. Procuro me cuidar ao máximo por Sammy e minha mãe. Meus exames estão todos em dia e...

— Não precisa explicar nada, Travis.

— Claro que precisa, Victorya. Claro que precisa!

Um profundo silêncio tomou conta entre nós durante alguns segundos, enquanto nos encarávamos firmemente. Havia muito mais naquele olhar do que as palavras ditas há pouco. Muito mais do que gostaríamos que houvesse.

— Pretende ficar para sempre na boate? — Sua pergunta foi objetiva. — Não acha que tem muito valor para ficar se vendendo para essas mulheres?

— Em pouco tempo sairei de lá. Minha mãe está prestes a falecer e quando isso acontecer... — Tomei fôlego. — Minhas contas reduzirão e creio que conseguirei manter a casa com as aulas e a academia. Mas não espero por isso. Espero que demore um longo tempo para acontecer.

— Sinto muito, Travis. Sinto muito por tudo...

Me aproximei de Vicky e toquei seu queixo, erguendo seu olhar para mim. Ela se retesou sob meu toque e tocou minha mão em sua face, que ardia por suas bochechas coradas.

— Também sinto muito por você, Vicky.

— Por mim?

— Sim... Sinto muito por ver em ti uma menina tão incrível, mas que é limitada à opinião alheia. Limitada ao que esperam de você, não ao que realmente quer.

Os olhos azuis se encheram de lágrimas e ela os desviou de meu rosto, afastando meu toque.

— Não, Travis. Sou feliz como sou.

— Também é com o que será no futuro? — Pensou por um momento.

— Não posso responder pelo futuro, mas creio que sim. Consegui tudo que sempre quis... — Sorriu sem humor.

— Tudo que sempre quis ou o que quiseram por você?

Vicky mexeu nos cabelos claros para afastar o clima tenso e suspirou.

— Podemos começar a aula, professor? — Pegou o bloquinho rosa e a caneta com pompom ao lado da bolsa, fingindo costume. Afastei-me um pouco e coloquei-me de pé, olhando ao redor do quarto.

— Posso oferecer mais duas aulas. — Não disse que era pelo bem de meu próprio coração. — Foi o combinado não foi?

— Sim... — sussurrou lendo o resumo que fiz no primeiro dia em seu bloco.

— Hoje teremos aula de preliminares e a próxima será... O ato. — Vicky me olhou um pouco assustada. — Acho que já está apta a dar prazer para um homem, como me provou na última aula, e também já sabe muito mais sobre seu próprio corpo. O que falta saber, saberá hoje. Agora... prefere anotar ou virá até aqui?

Sem pensar, Vicky deixou o bloco de lado e ficou de pé, aproximando-se de mim com seus pés descalços e o rosto livre de qualquer maquiagem. Era ainda mais linda e fazia todo meu corpo estremecer apenas com sua visão inocente.

— Devo tirar? — Apontou para o vestido. Eu podia ver a maneira como a veia de seu pescoço saltava fortemente sob a pele branca e fina.

— Agora!

O olhar de Vicky se preencheu com lascívia enquanto ela deslizava as alças do vestido para baixo em seus ombros pequenos. Meu pau se enrijeceu ao mesmo passo em que eu confabulava em minha mente a maneira que usaria para amá-la naquela noite.


— Apenas o fato de vê-la já me deixa com tesão e automaticamente meu corpo reage. Fico pronto para o sexo sem precisar tocá-la, mas com as mulheres não acontece da mesma maneira.

— Não? — Vicky questionou com um sorriso vacilante diante de mim. Estava de lingerie branca, um conjunto que quase me tirou o fôlego, apesar de eu preferir vê-la completamente nua. — O fato de vê-lo também me deixa com tesão. Aliás, tire a camisa!

Terminou a frase com um sorriso inocente, as mãos para trás e o rosto angelical. Sorri também, levando as mãos para retirar minha camisa rapidamente e jogá-la no chão.

— Sorte a tua por eu ser tão lindo, mas não é sempre que isso acontece. — Rimos juntos de maneira divertida. — Vamos deixar algo muito claro aqui... — Aproximei-me um pouco mais dela, quase a ponto de tocar seu nariz com o meu. Seus olhos estavam fixos em meu rosto. — Não é todo homem que sabe dar prazer a uma mulher, Victorya. Não é todo homem que se importará se você vai gozar ou não enquanto ele te fode ou se você precisa de preliminares para não sentir dor!

— Dor? — Sussurrou um pouco assustada. — Não é somente na primeira vez?

— Não... — aclarei, para sua surpresa. — Se uma mulher não está devidamente lubrificada, consequência de preliminares que acarretam o devido desejo, sentirá dor quando for penetrada. Por isso a aula de hoje é importante, está vendo? Precisa estar preparada caso caia nas mãos de um homem que não se importe com seu prazer.

— E o que devo fazer? — Sua voz soou baixíssima.

— Trocar de homem ou se conformar. Parece cruel, não é? Mas é a verdade! — Vicky desviou o olhar do meu.

— Então as mulheres normalmente precisam de preliminares para estarem prontas para o sexo?

— Exato.

— E por que não preciso quando estou com você? Se você quiser me foder agora, estarei pronta para recebê-lo.

A maneira inocente como repetiu o termo sujo que usei me fez me sentir um devasso. Um imoral, diga-se de passagem, que corrompia uma alma pura para o mal caminho. Por outro lado, tive vontade de realmente provar... De realmente fodê-la ali e naquele momento.

Toquei seu rosto carinhosamente com a ponta dos dedos, aproximando os lábios a ponto de quase beijá-lo.

— Porque te deixo louca... Porque sabe que nos meus braços vai ter o que teu corpo pede.

Vicky me puxou pelos ombros e tive a impressão de que ia me beijar. Desviei a face no momento exato, colando meus lábios em seu pescoço quente e beijando-a ali com sofreguidão e urgência. Movi as mãos para o feixe do sutiã rendado e tirei-o em uma passada firme. Deslizei as mãos por suas costas nuas quando a peça caiu aos nossos pés e Vicky tocou meu cinto da calça com as mãos trêmulas e certeiras.

Deixei que me livrasse da calça, mas apenas para aplacar a pressão que essa fazia em meu pau, enrijecido por ela.

Tudo que planejei para nós sumiu de minha mente quando toquei o corpo dela. Qualquer frase feita ou “ensinamento” que pudesse ser relevante se apagou quando nosso calor se entrelaçou e eu fiquei alucinado como um animal, pronto para fodê-la sem ao menos poder.

Já não era mais inexperiente.

Vicky sabia como beijar meu peito firme com os lábios ternos. Agora sabia acariciar meu abdômen em busca do meu pau, tocando-o com curiosidade e loucura. Apertava ele em sua mão pequena através da cueca e eu me segurava para não gemer e entregar como me sentia descontrolado.

Para minha surpresa, como vinha fazendo sempre, Vicky afastou-se e sentou-se na beira da cama com os seios nus, empinados em minha direção, apoiada nos cotovelos. Minha boca salivava com a visão dos mamilos rosados e duros, prontos para receberem minha língua ávida sobre eles.

Me dei conta de que ela estava ditando as regras e não pude me controlar perante a visão de seu corpo oferecendo-se para mim de tão bom grado.

“Se quiser me foder agora, estarei pronta para recebê-lo”

A frase ecoava em minha mente enquanto eu me colocava sobre ela, sugando os mamilos rijos em meus lábios e ouvindo seus gemidos conforme o cabelo claro espalhava no lençol abaixo de nós.

— Deixe-me tocá-lo também, Travis... — pediu quase em súplica.

— Shh... — sussurrei beijando sua barriga, descendo pelo umbigo e mordiscando sua pele arrepiada. — Hoje é minha vez de usar a língua, Anjinha. Como um bom professor, preciso ensiná-la como apreciar a prática de uma preliminar que costuma levar uma mulher às estrelas... À máxima loucura.

Surpreendi-me quando notei que sua calcinha branca e rendada não fechava na parte de baixo como as convencionais. Havia uma abertura discreta, que se mostrava quando Vicky abria as pernas e deixava sua intimidade molhada totalmente exposta e nua. Ergui os olhos para ela e sorri com malícia antes de morder meus lábios com ansiedade, louco para mergulhar a língua em sua umidade macia.

Vicky era tão doce... Tão saborosa. Seu gosto de mulher tinha sabor de pecado, de errado, de imaculado. Eu também estava completamente rendido por ela, louco como apenas um homem apaixonado poderia estar.

Toquei seu clitóris com o dedo, acariciando-o levemente antes de levar a língua até ele, pressionando-o com meus lábios ávidos, delicadamente. A mão de Victorya correu para meu cabelo enquanto se deliciava com a sensação, gemendo mais alto do que jamais ouvi. Abriu ainda mais as pernas quando coloquei mais pressão na língua, sugando-o com força para ouvi-la ofegar fortemente.

— O que está fazendo, Travis? — Disse quando levei a mão livre, que não a tocava, para acariciar um de seus seios rosados. — O que está fazendo comigo?

— Jamais exija menos que isso, Vicky. Jamais aceite um homem que não esteja disposto a dar-lhe prazer, seja como for a maneira que te leve à loucura. Jamais, entendeu?

Vicky apertou ainda mais meu cabelo quando voltei a beijá-la intimamente, aproveitando seu doce sabor para beijá-la como desejava há muito fazer com seus lábios, mas eu não me permitia.

Tinha certeza de que o gosto ardente de sua feminilidade era o melhor que já experimentei e ficaria para sempre cravado em minha memória. Era rosada e macia, tão úmida que ela sequer sentiria desconforto se a penetrasse, mesmo sendo a primeira vez. Usei um dedo para penetrar delicadamente, sempre atento a seu frágil hímen, que eu senti. Vicky não resistiu quando puxei seu clitóris em meus lábios, sugando-o com a força do meu desejo.

Talvez o hotel todo tenha ouvido os gemidos, uma vez que Victorya demorou mais do que qualquer outra mulher para cessar de contrair-se em um longo orgasmo. Seu corpo estremecia em minhas mãos quando voltei-me para ela, colocando-me por cima para olhar em seus olhos.

Vicky parecia assustada, mas não de maneira negativa.

— Foi a coisa mais louca que já experimentei, Travis. — Segurou meu rosto com as mãos trêmulas. — Isso sim é mágica!

— Eu poderia fazer essa mágica para sempre, Vicky... Todos os dias da minha vida. — Sorriu satisfeita. — É a bocetinha mais gostosa que já experimentei se quer saber.

— Travis! — Levou uma mão aos lábios para rir baixinho, corada.

— Está bem... Devo controlar os termos pejorativos com você. — Toquei a ponta de seu nariz de maneira brincalhona. Ela me olhava apaixonada... Sim, apaixonada! — Você é uma dama e eu sou um vagabundo!

Vicky não riu da piada boba, ao contrário. Negou prontamente.

— Você é inexplicável, Travis, como tudo que me faz sentir.

Inexplicável.

Aquele era o termo mais adequado para explicar tudo que acontecia entre nós. Inexplicável.


Travis poderia me explicar qualquer coisa e ensinar da maneira que tivesse vontade, mas nada seria mais completo do que a prática que fazíamos juntos e eu me tornava cada vez mais rendida a ele.

Não há nada mais interessante para mim do que conhecer o corpo forte daquele homem encantador e gentil. Nem meu próprio prazer conseguia superar minha ânsia em explorá-lo, em me tornar cada vez mais entendida do que o satisfazia.

Quando meus sentidos retornaram e consegui voltar à realidade, movi-me para perto dele, que se deitou de costas na cama, e pousei os lábios em seu pescoço da mesma maneira que costumava fazer comigo. Estava ciente que não tinha permissão para beijá-lo na boca e não queria ultrapassar qualquer limite, por isso resolvi aproveitar o que me era permitido e desfrutar daquele corpo sarado e marcado por tatuagens.

— Vicky... Já disse para não brincar com fogo, garota! — Alertou em tom brincalhão, segurando-me pelo cabelo enquanto eu descia os lábios em seu peito forte.

— Quando vai fazer amor comigo? — Questionei sobre ele, tocando-o nos braços grandes e notando seu olhar curioso.

— Faço amor com você toda vez que te toco.

A resposta me fez erguer os olhos para seu rosto, mesmo já estando com os lábios em seu umbigo. A seriedade em seu tom me fez estremecer, mas não tive coragem de questionar nada mais.

— Estou falando do ato. Vai fazer amor comigo, não é? Vai concluir o que começamos... — Ergui-me e sentei-me sobre seu abdômen firme, sentindo seu pau enrijecido roçando minha coxa.

Movi-me estrategicamente para que ficasse contra minha intimidade úmida e pronta, desesperada para senti-lo. O simples contato me fez estremecer, sentindo a potência daquela conexão avassaladora. Travis me encarou com os braços apoiados atrás da cabeça e com um sorriso torto nos lábios.

— Para que o outro não desconfie que mentiu para ele, é isso? Para isso quer que eu tire sua virgindade?

— Não! — Respondi na lata, encarando-o com firmeza. Minhas mãos permaneciam espalmadas em seu peito enquanto o olhava nos olhos escuros. — Simplesmente porque não consigo imaginar minha primeira vez com nenhum outro homem depois de tudo que vivemos juntos.

Travis fechou os olhos quando movi o quadril levemente, roçando ainda mais minha intimidade molhada contra a extensão de seu membro duro e pulsante. Eu não sabia como ele conseguia se controlar perante tamanho desejo. Sequer eu, que não conhecia a sensação de ter um homem dentro de mim, me revirava como louca, quem dirá ele, que sabia perfeitamente o que nos esperava?

— Realmente se considera virgem, Victorya? — Questionou, segurando meu quadril estrategicamente, impedindo-me de me mover contra seu pau. — Já sabe o que é estar com um homem. Um hímen não significa muita coisa quando já conhece os mistérios do prazer.

Travis queria me provocar. Queria que eu implorasse e dissesse com todas as letras que precisava que ele estourasse meu hímen para que Fred não soubesse que menti. Jamais admitiria isso em voz alta, soava horroroso! Era real, não era? Por que me envergonhava tanto?

Voltei a beijar o corpo de Travis em busca de saciar minha ânsia íntima. Em busca de aproveitar cada segundo junto daquele homem que me tirava a razão cada vez que me tocava ou me deixava tocá-lo.

Jamais pensei que fosse possível sentir prazer tocando alguém. Ao tocar o membro de Travis, tão volumoso e com as veias saltadas, eu sentia a maneira como meu sexo se contraía desesperado para recebê-lo. A maneira como meu corpo respondia ao dele de maneira automática era inexplicável e natural, algo primitivo e maravilhoso!

— É macio e duro ao mesmo tempo — comentei enquanto o movimentava em minhas mãos, fazendo Travis fechar os olhos e gemer baixo para se conter. — É grande e... — Vendo-o rendido, levei meus lábios ao membro a minha frente e o envolvi com a boca. Travis agarrou meu cabelo em um impulso, segurando-me com força.

O ato me excitou ainda mais, fazendo-me movê-lo em minha boca, como Travis ensinou a fazer com a mão.

Saboroso.

Essa era a palavra que faltou ser dita, mas foi calada pela maneira como ele usava meus lábios para ter prazer. Da mesma maneira que me beijou entre as pernas como se beijasse minha boca, agora usava minha boca para fazer o que não fazia entre minhas pernas, empurrando o pau nos meus lábios com força e vigor.

Os movimentos seguiram por algum tempo, mas tudo foi rápido e intenso. Travis não aguentava mais segurar em meio às provocações que antecederam.

As mãos de Travis me empurraram para trás com agilidade quando o vi gozar, jorrando o líquido branco e espesso em meus seios pela intensidade. Separei os lábios totalmente maravilhada, encarando-o em seguida. A visão de Travis imerso em prazer, de olhos fechados e ofegando por minha causa era sublime! Ter aquele homem rendido a mim também era mágico.

Travis saiu da cama após voltar a respirar, caminhando até a prateleira para pegar uma toalha de rosto. Com ela, voltou-se para mim e sentou-se na minha frente. Percebi que estava imóvel, ainda de joelhos no colchão, quando as mãos habilidosas passaram a limpar o líquido branco que se espalhou em meus seios pequenos.

Corei com o ato, encarando-o enquanto me limpava.

— Te assustei?

— Aquele dia no banho eu não consegui ver muito bem e... — Gaguejei um pouco nervosa. Segurei um de seus pulsos e o fiz me encarar. — Por favor!

Eu já não sabia se realmente tinha a ver com Fred. A única coisa de que estava segura era de que precisava fazer amor com Travis O’Brien! Precisava unir-me a ele e senti-lo dentro de mim. Era o que eu mais desejava em toda a vida! Ser dele!

— O combinado foi ensiná-la. As aulas. Não conversamos sobre virgindade, você sequer me disse que era virgem quando chegou até mim. — Tocou meu queixo com carinho.

— Se não for com você, terei de dar um jeito nisso sozinha! Como você disse, é apenas um hímen, certo? — Travis afastou a mão de minha face e não escondeu a decepção.

— Vai se machucar, Vicky. Se fizer isso, vai se machucar... — sussurrou.

— Acho que posso aguentar um pouco de dor.

Eu disse aquilo para provocá-lo, jamais teria coragem de sozinha tirar minha virgindade. Falei para que cedesse! Já não sabia o que fazer para que Travis finalmente me quisesse. Não por ninguém, mas por mim. Pelo meu desejo. Pelo meu coração.

— Não estou falando de dor física, mas daqui. — Apontou para meu peito, carinhosamente. — E vai ser irreversível! — Ergueu meu olhar novamente para o dele e se aproximou a ponto de ficar a centímetros de meus olhos. — Não quero que se machuque, menina. Não quero que minha anjinha passe o resto da vida com suas asas quebradas.

O impacto de suas palavras foi diretamente proporcional ao beijo carinhoso que depositou em minha testa. Um beijo inocente e cheio de ternura após um momento de sexo oral intenso parecia estranho, mas foi a coisa mais íntima que já experimentei.

Travis sabia me ler como ninguém.

Desvendava meus pensamentos com a mesma facilidade que tirava minha calcinha e minha sanidade.


Meus pais não escondiam o orgulho que sentiam referente ao meu futuro noivado e espalharam para toda a família uma data para festejar.

Parecia bobo, mas não consegui dizer nada perante a alegria deles, muito menos quando Fred e seus pais aparecerem em vídeo chamada para brindarmos juntos ao futuro compromisso.

O que era para ser o momento mais feliz de minha vida até então, se tornou estranho quando um nó se fez em minha garganta ao pensar que em breve estaria me casando com um homem que sequer vi pessoalmente. Um homem que não compartilhava de meus mesmos ideais e pensamentos. Um homem que até então pensei que amava, mas descobri recentemente que amar tem a ver, também, com física e química, não apenas com a matemática da soma perfeita de duas fortunas e sobrenomes.

E se Fred não fosse compatível comigo como Travis era na cama?

E se não me causasse tudo que Travis causava quando me tocava?

E se realmente me iludi, acreditando que o amor viria com o tempo, quando, na verdade, acontecia repentinamente, sem que esperássemos?

— Será a noiva mais linda do mundo, minha filha! — Mamãe comentou enquanto penteava meu cabelo loiro frente à penteadeira de meu quarto. — Seu pai não economizará na cerimônia e faremos uma festa memorável, digna da família europeia de Fred! Será inesquecível!

— Mãe... — Cortei-a repentinamente. — De verdade, amava meu pai quando se casaram?

Encarou-me através do espelho com certa desconfiança.

— Como assim, Victorya?

— Você o amava quando ele te tirou da roça e te propôs casamento? — Virei-me para encarar seu rosto confuso com a pergunta. — O amava quando se casaram?

Pensou um pouco antes de responder.

— Não, Vicky. Não. — Mamãe não costumava mentir para mim e não o fez naquele momento. — Não amava seu pai. Era uma menina muito nova e sem expectativa de vida. No entanto, a vida que seu pai me ofereceu era infinitamente melhor do que qualquer romance verdadeiro que cultivasse com um homem do meu nível social. Com um casamento lá, seria uma fracassada! Aqui sou madame. Tenho dinheiro, empregados e uma vida estável.

— Você tinha um namorado antes de se casar com papai? — Captei no ar seu ar nostálgico. O olhar dela não negou.

— Tinha. Tinha um rapaz que me paquerava e nós dois saíamos às vezes, mas... Tive de deixá-lo quando seu pai apareceu e me propôs casamento, encantado com minha beleza.

— Você o amava? Esse rapaz... — Mamãe comprimiu os lábios e me olhou nos olhos.

— Por que tantas perguntas?

— Amava ou não?

— Faz muito tempo, Vicky. Não me lembro exatamente, mas sim... Sim, tinha carinho por ele. — Sorriu sem humor.

— Valeu a pena ter deixado um homem pelo qual tinha sentimentos por um que te daria uma vida luxuosa?

Mamãe baixou os braços em sinal de nervoso e afronta.

— Se houvesse me casado por sentimentos como “amor”, hoje meu filho ingrato não seria um arquiteto renomado e não teria a própria empresa. Minha filha do meio, apesar de inconsequente, é talentosa e sabe desenhar como ninguém pelos cursos de design que fez junto ao ensino médio. E você.... minha caçula preciosa. — Tocou meu rosto com admiração. — Não seria formada, não trabalharia em um cargo excepcional e tampouco estaria prestes a se tornar esposa de um empresário gringo!

— Como pode saber que não?

— Não existiria a mínima possibilidade!

— Talvez seu filho ingrato, como o chama, estivesse ao seu lado hoje! Você o ama com loucura, mas não pode aceitá-lo porque papai não aceita. Talvez Valery tivesse conhecido um homem de valor por ter recebido atenção e carinho do pai, a presença masculina marcante. Nós duas não tivemos isso e você sabe! — Mamãe parecia confusa diante de mim. — Talvez nosso lar fosse humilde, mas cheio de amor, porque você amava verdadeiramente o homem com quem se casou e constituiu sua família. Todos nós não teríamos crescido com embasamento financeiro, mas sim com amor e carinho, a verdadeira riqueza da vida.

Mamãe demorou um pouco para erguer os olhos para meu rosto e, quando o fez, vi lágrimas neles. Tocou novamente minha bochecha com emoção.

— Você ainda é muito nova para compreender, Vicky.

— Não, mãe! A senhora ainda tem tempo de reparar os erros que cometeu! — Segurei suas mãos nas minhas. — Ainda pode recuperar o amor de Vincent! Pensa que não sei que você chora todas as noites por ele? Que fica escondida na janela vendo-o quando ele vem até aqui buscar eu ou Valery? — Baixou o rosto de maneira envergonhada. — Ainda tem tempo de se acertar com Valery e ajudá-la com as crianças. Ainda tem tempo de se redimir e ser a mãe que nasceu para ser, não a carrasca que meu pai te transformou em nome do dinheiro e da posição social.

Perplexa. Esse era o único termo capaz de descrever minha mãe naquele momento.

Seu olhar sobre mim era abstrato e vazio, dando-me a certeza de que realmente toquei em seu ponto fraco. Mamãe amava Vincent. Meu irmão sempre foi seu filho preferido e o fato de não conversarem mais era uma faca atravessada na garganta dela.

— As mulheres precisam fazer sacrifícios na vida, Victorya. Um dia fomos amaldiçoadas por Deus, graças ao pecado de Eva, e até hoje sofremos as consequências. Sofremos ao dar à luz, sofremos a vida toda em prol do bem-estar dos filhos e até mesmo no ato de fazê-los, pois não somos merecedoras de sequer sentir prazer no ato sexual. — Lágrimas rolavam em seu rosto pálido. Um rosto de uma mulher rica, montada no botox, mas que pertencia a uma alma humilde e sofrida. — Os homens são os favorecidos e nós as submissas. As descendentes do pecado! — Suas fortes palavras me pegaram em cheio. Jamais falou assim comigo antes. — Você pode não amar Frederick, porque vejo em seus olhos que não o ama, mas fará a escolha errada se seguir os sentimentos e deixá-lo.

— Por que diz isso?

— Porque “amor não enche barriga”. “Quando a fome entra pela porta, o amor sai pela janela”. Já ouviu essa frase alguma vez? — Neguei veemente. — Seja lá quem for o outro homem que ocupa seus pensamentos, querida... Esqueça-o imediatamente! Somente com Frederick Bouchevick e seu dinheiro seu fardo de mulher, de descendente do pecado, ficará mais leve.

— Mãe... — tentei dizer algo, assustada em como lia minha mente tão facilmente.

Como sabia que eu pensava em outro?

— Por outro lado, com um homem diferente do seu nível social, seu fardo será pesado. Inesgotável. Confie em mim, Victorya. Confie em sua mãe.

Não consegui dizer nada de tão surpresa que fiquei com suas palavras. Mamãe tinha absoluta segurança no que dizia e o fato me assustava! Como alguém poderia pensar de tal forma? Seria eu realmente ingênua de pensar que sentimentos e amor eram mais importantes que o dinheiro?


Meu celular tocou enquanto eu e Rayanna trabalhávamos na parte final de um dos projetos da revista, em meu quarto, dias depois do último encontro.

— É ele... — sussurrei desacreditada, segurando o celular em mãos.

— Fred?

— Não! — Atendi. — Travis.

Ray fez uma careta engraçada enquanto eu tentava segurar a emoção que me dominava por receber uma chamada dele. Travis jamais me ligava se não fosse algo realmente importante. Desde que conversamos sobre Fred e meu possível noivado, as coisas entre nós eram ainda mais profissionais e limitavam-se ao quarto.

— Você não fica feliz assim quando o gringo te liga — Ray disse um pouco mais alto, justamente para que ele ouvisse. Lhe dei um tapinha, pois Travis estava do outro lado da linha.

— Anjinha. Pode falar agora?

— Claro, eu, é... — Tomei fôlego e fechei os olhos. Apenas o som daquela voz já me colocava no chão, totalmente de quatro por aquele homem. — É só Rayanna ao meu lado. Minha amiga que estava comigo na noite em que nos conhecemos, se lembra?

— Claro! Mande um olá para ela.

— Olá para você também, bonitão! — Ray brincou com os olhos no computador.

— Aconteceu alguma coisa? — Questionei com a voz trêmula.

— Me desculpe te ligar assim, é que...

— Pode me ligar quando quiser, não tem problema nenhum. Somos amigos, não somos? — Tentei parecer descontraída.

— Na verdade não, Vicky. Não somos amigos e você sabe, mas mesmo assim tenho um convite de amigos. De amiga, retificando! Foi Samantha quem deu a ideia de convidá-la e achei uma boa.

— Você acaba de dizer que não somos amigos e me convida para algo como amigos? — Não pude evitar uma risadinha e Ray revirou os olhos de maneira engraçada. — Estou confusa!

— Sammy quer ir ao parque de diversões que parou na cidade, comemorar a circulação da revista em que ela aparece com o texto, e achei legal convidar Valery e seus sobrinhos. Creio que uma diversão para eles será de bom proveito, não acha? Tem espetáculo de mágica e maçã do amor. Sei que você gosta. — Mordi os lábios ao lembrar do dia em que Travis me deu uma delas.

— Parque de diversões? Estou incluída no convite?

— Claro que está, Victorya. — Seu tom foi sério. — O que me diz?

— Tudo bem. Falarei com Valery.

— Diga que é um convite! Ela não precisa se preocupar com dinheiro.

— Você parece ter gostado bastante da minha irmã, não é? — Ray me encarou com deboche e tentei ignorar seu olhar.

— Sim, claro. Valery é uma mulher admirável. Nos vemos às sete no parque?

— Nos vemos às sete no parque.

— Te espero, Anjinha.

Desliguei o telefone sem dizer mais nada, olhando para Rayanna, que ria com uma das mãos frente aos lábios.

— Qual a graça agora? — Joguei meu celular sobre a mesa e me voltei para ela.

— Você está com ciúmes dele de novo! — Enfatizou. — Agora até com a tua irmã! Fala sério, Vicky!

— É porque não viu o jeito tão carinhoso como ele tratou a Valery... Cheio de admiração e não sei o quê. Preocupado com ela e as crianças até demais! — Revirei os olhos e cruzei os braços frente ao peito.

— Valery é sua irmã! Certamente Travis quer te impressionar e passar uma boa imagem, não acha? — Arriscou.

— Talvez... — Dei de ombros. — O que importa minha opinião para ele?

Peguei o celular de volta e mandei uma mensagem para Valery, que se empolgou rapidamente com a ideia do passeio com Travis e a sobrinha dele.

— Já tomou uma decisão? — Ray questionou em tom sério, encarando-me por trás de seus grandes óculos de grau.

— Sobre? — Segui digitando meu trabalho.

— Travis O’Brien, o dançarino, gigolô, prostituto, professor, instrutor físico, tio dedicado e filho amado. — Enumerou com os dedos. — Já sabe o que fará em relação a ele quando as aulas acabarem?

— Não — sussurrei, parando de digitar com a simples ideia. — Não quero nem pensar em como será nunca mais voltar a vê-lo!

— Primeiro deve admitir para si mesma que está apaixonada e depois tomar suas decisões com base no fato, amiga. — Segurou minha mão. — Seu casamento com o gringo pode ter a pompa que for, mas, se casar com ele apaixonada por outro homem, amiga... tudo vai pelos ares!


— Tio, fala sério! Esse perfume está um pouquinho forte, não acha? — Sammy andava de braços dados comigo após descermos do carro e torceu o nariz quando sentiu meu cheiro mais de perto. — Tudo isso por causa da senhorita Hayder?

— Sempre me arrumo para sair de casa, garota! Não seja enxerida! — Repreendi baixinho e olhei em volta no parque colorido e movimentado, em busca de algum sinal de Victorya. — Me ajude a procurá-la.

— Se arruma, realmente, mas nunca te vi tão empenhado em passar uma camisa e encontrar o penteado na internet que mais favorecesse seu rosto. — Rodei os olhos perante seus argumentos. — Você está apaixonado, tio Travis! Apaixonado pela patricinha!

— Vicky é mais que uma patricinha, Sammy. Tem sentimentos nobres, é doce como nenhuma outra mulher e...

— Gata! Ela é muito gata! — Sammy enfatizou e a encarei de relance. — O jeito que você olha para ela deixa tudo muito claro, tio.

— Tudo entre Vicky e eu acabará em poucos dias. Em breve seremos estranhos um para o outro novamente.

— Vicky disse que a revista está vendendo bem e meu texto foi elogiado. — Olhei para o rosto animado de minha sobrinha, com surpresa. — Os editores chefes especulam me colocar em um time de adolescentes que publica em uma coluna voltada para os jovens. Uma coluna sobre moda, escola e temas que interessem as pessoas da minha idade.

— Sério? — Sammy concordou com um largo sorriso. — Por que está me dizendo isso somente agora?

— Porque ainda não é nada confirmado! Vicky me mandou a mensagem hoje, pouco antes de sairmos para vir para cá. Sabe o que significa, tio Travis? Vou ter um salário! Pode ser pouco, mas conseguirei pagar parte dos meus gastos!

Soltei um suspiro, desacreditado pela notícia incrível, quando ouvi meu nome ser gritado às minhas costas. Vicky, Valery e as crianças caminhavam em nossa direção. As gêmeas se encantavam com o parque e suas cores e Rick saltitava de mãos dadas com a tia.

— Senhorita Hayder! — Sammy correu para abraçar Vicky, que a apertou imediatamente. — Obrigada por ter vindo! Obrigada pela ajuda que tem me dado com a revista! Nem sei como agradecer por tudo que fez por mim!

Vicky e eu nos encaramos quando terminei de cumprimentar Valery com um beijo no rosto e as crianças com um aceno carinhoso. Seus olhos azuis, mais brilhantes que nunca perante as luzes coloridas do carrossel ao nosso lado, me pareciam a coisa mais bela que existia.

Usava um short jeans cintura alta, tênis no pé e uma camiseta de banda de rock. Não se parecia com a menininha Vicky que me visitava no hotel ou a executiva que um dia foi em minha casa. A maquiagem em seu rosto era quase nula, exatamente como eu gostava! Vicky era natural e fresca, completamente o oposto das mulheres montadas que eu estava acostumado a foder.

Mesmo vestida, eu a mirava e sabia perfeitamente como era cada parte do corpo dela. A ideia me deixava louco!

Era virgem e pura. Secreta e minha. O tal do Fred teria que ralar muito para dar conta dela como eu dava.

— Não precisa me agradecer por nada, Samantha. Seu talento te levou ao merecimento, garota! — Vicky beijou o rosto de Sammy com carinho.

— Garota? Olha, tio! Sua amiga está falando igual a você! O tio Travis só me chama de garota! — Vicky corou quando me encarou e sorri para ela.

— Valery, crianças... Essa é minha sobrinha, Samantha. Sammy, essa é Valery, irmã mais velha de Vicky. E esses são os filhos dela, Rick e as gêmeas Olivia e Felícia — apresentei rapidamente.

Sammy foi até eles cumprimentá-los, enquanto Vicky se aproximava para me abraçar pelos ombros. Era estranho senti-la se colocando na ponta dos pés para me envolver em seus braços pequenos. Era estranho sentir o corpo dela contra o meu, de roupa, quando já a tive nua contra mim. Senti falta de seus seios contra meu peito. De sua pele suada de prazer colando na minha, cheia de tesão.

— Você contou a ela sobre nós? — Sussurrou apenas para que eu escutasse.

— Contei, mas não tudo. Ela sabe que te ajudo com algo, mas não imagina o que seja. Sammy sabe o que faço, porque não existem segredos entre nós. — Expliquei também ao seu ouvido, sentindo-a estremecer próximo de mim. — Está com frio, Vicky? Posso emprestar meu casaco se quiser.

— Não, tudo bem! — Abraçou a si mesma e sorriu sem graça. Aquilo não era frio. Era paixão. Desejo.

— Você está linda — Comentei, encarando-a dos pés à cabeça. Sammy brincava com as gêmeas atrás de Vicky. — Bem diferente do que estou acostumado a ver.

— Não costumo vir para um parque de salto alto, muito menos nua — sussurrou apenas para mim. Rimos baixinho. — E você está um gato, não é, Travis? Como sempre estou acostumada a ver.

— Você jamais deixou de ser linda. De salto ou de tênis, ainda é a mulher mais encantadora que já tive o prazer de ver em minha vida. — Vicky corou enquanto sustentava meu olhar com firmeza. Havia um brilho apaixonado inexplicável no azul de seu olhar. — Confesso que prefiro sem nada, mas...

Vicky me deu um tapinha discreto no ombro e escondeu o sorriso.

— Para! Elas podem ouvir! — Sussurrou, aproximando-se. Ao notar que estávamos quase colados um no outro, Vicky se voltou para minha sobrinha. — Obrigada pelo convite, Sammy.

— Também agradeço! — Valery interveio. Sammy segurava Felícia no colo e Olívia estava nos braços da mãe. — As crianças estão ensandecidas para brincar!

— Eu também quero! — Sammy saltitou com as meninas e Rick.

— Essa daí só tem tamanho e idade. — Apontei minha sobrinha. — Não pode ver um parque, uma boneca, uma Barbie... Até hoje tem coleção de panelinhas de brinquedo.

— Tio! — Sammy corou. — Para de queimar meu filme!

— Vicky também brincou de boneca até os quinze anos. — Valery entregou e sorri para Vicky. — Demorou para crescer, viu? Só hoje, depois de formada, começou a sair da bolha na qual mamãe a prendeu a vida toda.

— Valery! Por favor! Travis não quer saber dos podres da minha vida, ok? — Sorriu sem humor.

— Pelo contrário! Me parece interessante! — Fui até Valery e estiquei o braço para ela, que aceitou com um sorriso amigável. — Conte-me mais sobre os podres de Vicky, Valery. Sou todo ouvidos!

— Ah não! Para!

Vicky batia no meu ombro, pulando entre mim e sua irmã durante todo o caminho. A noite começou interessante e parecia que terminaria ainda melhor.


Rodas gigantes me cativavam, mas nunca conheci ninguém corajoso o suficiente para subir em uma ao meu lado. Não uma que passasse dos metros considerados seguros para crianças.

Talvez fosse o único brinquedo do parque onde os pequenos não pudessem subir, por isso tive de implorar para Samantha, Valery ou Travis aceitarem meu convite. Estava fora de cogitação subir sozinha! Se fosse morrer por uma falha técnica, que fosse acompanhada.

Encaixei as mãos nos bolsos traseiros de meu short jeans e observei as luzes coloridas que advinham da grande roda gigante brilhante no centro do parque. Nenhum dos três se interessou quando perguntei, por isso parei sozinha para observá-la enquanto passeavam. Aquele paradoxo insano remetia muito a minha personalidade.

Queria voar alto, mas tinha medo de fazê-lo sozinha.

Queria subir tão alto quanto a vida me permitisse, mas jamais tive coragem de enfrentar a altura que poderia me fazer voar ou causar um tombo catastrófico!

— É incrível como pode existir uma coisa tão bela. Não acha? — Era a voz de Travis ecoando ao meu ouvido. Sequer precisei me virar para constatar o fato, apenas concordei com um aceno leve ao passo em que mantinha os olhos fixos nas luzes.

— Obviamente. — Voltei-me para ele, que não olhava para a roda gigante, mas para meu rosto. Corei sem hesitar, ajeitando o cabelo atrás da orelha enquanto admirava o castanho de seu olhar reluzindo sob as luzes. — Por que não está com elas?

— Pararam para alimentar as crianças. Sammy está comendo também e Valery insistiu para que eu viesse atrás de você.

— Me achou tão rápido. — Sorri de canto e voltei a olhar o brinquedo enorme.

— Imaginei que estaria aqui. Você falou desse brinquedo desde a hora que começamos a caminhar no parque. — Sorriu docemente, olhando também para a mesma direção que eu. O brinquedo parou e a nova turma começou a se movimentar para entrar. Não havia muitas pessoas. — Vamos? Já comprei os bilhetes!

Retirou do bolso dois bilhetes amarelos e não consegui evitar a surpresa. Tapei os lábios com as mãos.

— É sério?

— Claro Victorya! Tive que chorar para que o cara me liberasse os bilhetes, uma vez que é a última turma do dia. Sorte a sua que estava sobrando.

Não hesitei em aceitar a mão de Travis, que saiu animado me guiando até a entrada do brinquedo. Acenou e chamou pelo funcionário, que abriu o portão para nós antes de iniciar a trajetória. Nos acomodamos em uma cabine fechada cor-de-rosa e dentro dela podíamos ter uma visão ampla de toda a paisagem. O piso abaixo de nossos pés era de metal, mas tudo ao redor era de vidro. Meu coração parou no peito quando começamos a subir e a emoção tomou conta. Fechei os olhos, incapaz de dizer sequer uma palavra.

Me sentia uma menina novamente... A menina que um dia teve vontade de subir bem alto, mas foi podada antes mesmo de começar a crescer.

Percebi que a mão de Travis estava na minha quando me dei conta da altura que alcançamos.

— Uau! — A voz dele comentou cheia de admiração. Olhava ao redor sem qualquer pudor ou medo. — É possível ver o parque todo daqui! Que visão incrível!

— Sim, realmente é muito alto! — Apertei ainda mais a mão dele e me aproximei o quanto pude, colando meu corpo ao dele. — Não pensei que fosse tanto! Socorro!

Fechei os olhos e comecei a rir pelo frio na barriga que me tomava. Travis, ao contrário de mim, era a verdadeira face da coragem. Olhava tudo com tranquilidade, enquanto eu me agarrava a seu corpo, completamente tomada pelo medo de despencar naquela altura absurda.

— Está com medo de realizar um sonho? — Brincou com a voz animada, abraçando-me pelos ombros com carinho. Sua voz soava baixinha e bem próxima do meu rosto. — Vamos, abra os olhos, Vicky!

— Não! Estou com medo! — Escondi o rosto no ombro dele, rindo de mim mesma. — Sou uma idiota e covarde! Sabia que seria incapaz de subir tão alto, mas, mesmo assim, insisti.

Tratava-se de uma ironia, apenas para descontrair minha vergonha, mas Travis tomou em sério.

— Não, você não é uma idiota! — Agarrei-me a camisa dele, sentindo meu corpo estremecer. Não sabia se pela altura ou pelo contato que estava tendo com o corpo masculino e forte. — O fato de estar aqui comigo demonstra o quão corajosa é, Anjinha.

Abri os olhos e encontrei os dele bem próximos dos meus. Minha cabeça estava pousada em seu ombro e eu ouvia as batidas de seu coração contra seu peito.

— Você acha?

— Estou seguro de que uma mulher que se entrega para um estranho como você se entregou em minhas mãos para atingir um objetivo é, de fato, uma das mais corajosas que já conheci. — Esqueci da altura enquanto olhava seu rosto tão de perto.

Esqueci de tudo quando senti seu beijo carinhoso em minha testa. Um simples toque de Travis em mim era o suficiente para fazer meu coração parar no peito e todo o resto virar apenas um mero detalhe. Tudo que existia era ele. Nós dois ali, em meio ao imenso. Ao vazio. Ao todo.

Tomei coragem e ergui meu rosto, sentando-me com as costas apoiadas no encosto e ereta ao lado de Travis. O sorriso orgulhoso dele se tornou ainda mais evidente quando ergui o rosto para as estrelas bem acima de nós, ao atingirmos o lugar mais alto da circunferência do brinquedo.

Sua mão forte ainda segurava a minha na sua com firmeza e carinho. Era como se não fosse me largar nunca e toda minha coragem brotava daquele toque.

— A sensação é de estar em meio às estrelas... — sussurrei olhando os pequenos pontinhos brilhando acima de nós.

— Sim. A sensação é inigualável.

— Meu sonho de criança não era andar em uma roda gigante, de fato. — expliquei com os olhos nas estrelas, encantada. Travis ouvia calado e com os olhos fixos em meu rosto. — Era voar. Voar tão alto até ser capaz de tocar o céu!

— Tocar o céu? — Sorriu ao falar.

— Sim! — Sorri também. — Achava que as nuvens eram de algodão e que, se conseguisse chegar até elas, finalmente conseguiria pedir a Deus uma família nova, onde não houvesse brigas, tampouco cobranças excessivas ou imposições.

— Então você não queria voar. Queria ser livre.

Virei-me para Travis um pouco, finalmente deixando de lado as estrelas e o céu. Senti meu coração apertar no peito e as palavras brotaram em meus lábios sem que as pudesse mensurar.

— Não sei o que farei quando não puder te ver novamente. — Apertei a mão dele na minha. Os olhos castanhos de Travis encaravam os meus com fervor. — Você é como aquela porta corta-fogo em meio ao incêndio de minha vida. Uma sinalização de sobrevivência em meio ao caos!

Travis sorriu, mas de maneira triste. De maneira desolada. Tal fato me partiu o coração a ponto de quase me fazer chorar.

— Na minha vida você é o próprio fogo, Victorya. A chama mais ardente em meio ao meu incêndio, que já dura anos. — Com a mão livre, tocou a ponta de meu nariz de maneira terna. — Anjinha... Também sentirei muito quando não puder mais vê-la. Sentirei todos os dias!

Encarou nossas mãos unidas sobre a coxa dele.

— Ainda temos tempo, não temos? Antes de você precisar ir.

— Não jogue o fardo em meus ombros, Vicky. É pesado demais. — Travis me encarou. — Não sou eu quem precisa ir, mas sim você! O seu lugar é lá no alto, bem acima do chão que eu piso.

— Isso não é verdade... — Neguei com um aceno. Travis não parecia disposto a discutir comigo, encarou a direção oposta. — Jamais questionei minhas escolhas, mas começo a ver um rumo errado em minha vida. Não tenho certeza se estou tomando as decisões corretas.

— Você é uma mulher brilhante, Victorya. Além de linda, é inteligente e capaz de perceber onde está sua felicidade.

Não consegui responder, tampouco consegui dizer algo plausível. Limitei-me a encarar seu rosto belo diante das luzes do parque e guardar aquela imagem para sempre na memória.

— Você já descobriu onde está a sua?

Travis sorriu novamente do jeito triste e desolado.

— Somente pensarei em felicidade para mim depois que mamãe partir e Samantha puder se manter. Além do mais, felicidade é um termo usado para classificar um momento em minha vida. Sei que nem todos os dias serão felizes, mas, por exemplo, hoje... — Sorriu mais animado, tocando-me a face. — Hoje certamente é um dia feliz. Hoje certamente sou um dos caras mais felizes deste lugar, porque estou com a mulher mais incrível que já conheci em um passeio com minha sobrinha que amo. Sou feliz aqui e agora, Vicky. Acho que isso basta, ao menos por hora.

— É uma boa colocação — concordei e senti minhas bochechas corarem. — Sendo assim, também sou feliz aqui e agora. — Travis piscou orgulhoso e o abracei novamente, deitando o rosto em seu peito forte. — Serei ainda mais feliz no dia em que você fizer amor comigo...

Travis me abraçou pelos ombros e apenas ouvi quando riu baixinho.

— Você não desiste, não é?

— Você prometeu me ensinar e um homem cumpre suas promessas, senhor O’Brien!

Me ergui para ver o brinquedo, que parava. Travis me ajudou a destravar o cinto e, antes que o rapaz chegasse para abrir a cabine, segurou em meu pulso para chamar minha atenção.

— Você toma anticoncepcional?

— Não! Você sabe que eu nunca... — respondi como se fosse óbvio. — Por quê?

— Pílula do dia seguinte. Conhece? — Concordei ainda confusa. — Sabe como conseguir?

— Sei, claro! — Sorri olhando ao redor. O rapaz abriu a cabine e saímos. Travis me ajudou a descer e começamos a caminhar lado a lado. — Por que está perguntando isso agora?

— Quer que eu te ensine, não quer? — Travis olhava em direção a Sammy e às crianças. Valery estava com eles a poucos metros, esperando nós dois. — Pois então, compre uma para a próxima aula. Vamos precisar.

Travis falou como se fosse a coisa mais banal, enquanto sorria para as crianças e acenava. Segui parada um pouco atrás dele, apenas sentindo o arrepio imenso que se apossava de meu estômago.

Sabia o que tudo aquilo queria dizer...

Na próxima aula, talvez nosso último encontro, Travis finalmente me ensinaria a transar. Em meio a todo aquele caos, a única certeza que eu tinha era de que aquele homem tão grande e doce jamais sairia de meu coração.


Rick e Olivia assistiam um filme de desenho na cama do hotel, já sob as cobertas, e Felícia quase dormia quieta em meu colo ao passo em que tomava sua mamadeira da noite.

— Já arrumou tudo para ir com Vincent amanhã? — Questionei à Valery, enquanto ela terminava de arrumar sua mala com as roupas que antes ocupavam o armário do hotel.

— Já. Está tudo pronto.

— Você não parece muito animada...

O semblante de minha irmã mais velha não escondia sua frustação, muito menos a tristeza. Sentou-se frente a mim no pequeno sofá vermelho e suspirou, acariciando levemente o cabelo castanho claro de Felícia.

— É terrível ter que viver de favor na casa de um e de outro simplesmente porque não tenho como oferecer um teto digno aos meus filhos. — Comprimi os lábios sem ter o que dizer. Seu olhar longínquo era um vazio interminável. — Ter que carregar o pouco que temos de um lado a outro, perder algumas coisas no caminho e viver na incerteza do próximo dia. Isso dói, Vicky.

— Não será para sempre. É questão de tempo até suas vendas no site aumentarem e...

— Não tenho tempo de trabalhar agora que a mamãe não me ajuda com eles — suspirou sem me encarar. Vi lágrimas em seus olhos quando Felícia adormeceu em meu colo, abraçada a meu peito. — Estou completamente perdida, Victorya! Completamente sem rumo e desnorteada.

— Não será por muito tempo, irmã! Vincent vai ajudá-la a se encontrar. — Toquei sua mão de maneira carinhosa e Val segurou meus dedos rapidamente.

— Vincent tem o marido dele e a vida deles. O que menos queria era me intrometer na vida de ambos, mas não tenho opção! Não tenho mais para onde ir e... — Tomou fôlego. — Jamais pensei que diria isso, Vicky, mas você deve ouvir a mamãe.

— O que? — Não escondi minha surpresa ao ouvir sua frase. — Como assim?

— Deve ouvir quando diz para se casar com um homem rico, com aquele empresário gringo. — Secou uma lágrima que rolou no rosto pálido, evitando me encarar. — Ao menos se ele te largar com filhos, terá que dar uma boa pensão e você poderá se manter com a grana e dar o conforto que as crianças merecem. Não terminará como eu e meus pequenos... Largados na rua e sem ter expectativa de nada para o amanhã.

— Não está largada, Valery! Travis te estendeu a mão e ofereceu o hotel, não ofereceu? — Me olhou rapidamente. — Se não houvesse sido assim, eu estaria aqui por vocês e daríamos um jeito juntas! Você sabe que não está sozinha!

Valery secou o rosto completamente e se endireitou para me encarar com os olhos escuros. Ao contrário de mim, parecia-se com papai. Tinha cabelos loiros, até os ombros, e olhos castanhos. Pele clara e sardenta no rosto. Era mãe de três, mas ainda tinha o corpo magro pela tristeza constante que passava com o ex-marido idiota. Val era linda, mesmo que o tempo e a vida tenham tentado destruí-la.

Suas escolhas também.

— Travis é o cara, Victorya. — Sua admiração era presente no tom de voz. — É foda, no sentido literal da coisa! Não só porque é gostoso, mas porque é um homem com H maiúsculo.

— Sim, eu sei... — concordei imediatamente. — Está muito grata a ele, não é? Eu também estou e sempre estarei pelo que fez naquela noite pelas crianças e por você.

— E por você! — Val sorriu de canto, animando-se um pouco. — Não sou tapada, mana! Está mais claro que água que o cara está arriado por ti, mulher! Se ele fez tudo que fez por mim e pelas crianças, foi por você! Com certeza foi por você!

Val me cutucou na barriga para me fazer rir, mas apenas desviei.

— A mãe dele também era mãe solteira. Foi isso que ele me disse... Que lembrou da própria mãe em sua infância quando te viu naquela situação com as crianças ao relento.

Val cruzou os braços de maneira pensativa.

— Uau. Cada vez me surpreendo mais com o tal do Travis gostosão. Como foi que você conheceu esse homem, Victorya? Dançarino de boate e prostituto. Depois, tio que adota uma sobrinha após a morte da irmã. Defensor de mães solteiras desamparadas. Não entendo onde Travis se encaixa na sua vida. — Sorri sem humor.

— Travis me dá aulas, Valery. — Franziu o cenho ao me ouvir.

— Aulas de quê?

— Trata-se de um segredo. — Não tive cara para dizer. Tampouco podia.

As aulas eram um segredo entre Travis e eu. Algo que somente poderia ser revelado se ele permitisse também. Valery obviamente tratou de protestar, mas ouvimos uma leve batida na porta. Levantou-se para abrir.

— Deve ser o serviço de quarto com mais leite. — Abriu a porta e deteve-se em seguida, quando foi empurrada para dentro com força.

Tudo aconteceu muito rápido, ainda mais rápido do que meu raciocínio conseguia acompanhar.

Tratava-se de Tom, o ex-marido de Valery, que a empurrou para dentro do quarto e fechou a porta atrás de si sem dar a chance de ela gritar ou reagir.


— O que faz aqui? — Valery disse, nervosa, vendo que Rick e Olivia se assustaram na cama. Felícia dormia em meu colo e tratei de correr até a cama para ficar com os outros dois. Tom se colocou frente a porta.

— Porque ligou para minha mãe e falou que não pago a pensão? Sabe o que ela fez? Me botou para fora e me tirou o carro! — Tom gritava nervoso e Val sequer se movia, olhando para trás para checar as crianças. — Você colocou meu nome na justiça, sua desgraçada! Agora sequer posso arrumar um emprego decente sem ter que dar parte do meu salário para você, maldita!

— Emprego, você? — Val debochou. — Não acho que bêbados imprestáveis e agressores de mulheres tenham capacidade para trabalhar com nada produtivo!

Tom não esperou para virar um tapa no rosto de Val, que caiu no chão aos pés dele. Rick, Olivia e Felícia começaram a chorar imediatamente e os abracei.

— Você está louco, Tom? — Gritei, segurando as crianças contra mim. Valery checou o rosto, que sangrava na boca, enquanto tentava ficar de pé. — Respeite ao menos seus filhos!

— Você cala a boca, Victorya! — Tom apontou o dedo para mim e se aproximou alguns passos. — É melhor ficar quieta se não quer levar um tapa como a cadela da sua irmã levou!

— Não calo a minha boca! Você será denunciado hoje mesmo e vai para a cadeia! — Gritei nervosa, apertando Olivia e Felícia em meus braços. — Não sei como entrou aqui, mas as câmeras do hotel registraram sua chegada no quarto. Vai pagar por tudo que fez a minha irmã, seu covarde!

Tom avançou sobre mim sem pensar, retirando Olivia e Felícia do meu colo e jogando-as na cama ao lado de Rick, que saiu correndo pelo quarto e abriu a porta, berrando por ajuda no corredor. Tomado pela fúria, Tom me segurou pelo braço e me prensou contra a parede. Gemi com o impacto de minha cabeça contra a superfície fria e o encarei firmemente nos olhos.

— É melhor pensar bem antes de fazer as coisas, cunhadinha. Pode se arrepender para sempre!

— Não tenho medo de você, seu covarde! — Valery se levantou e pulou nas costas de Tom, que começou a se desequilibrar, mas não me soltava. Cuspi no rosto dele o empurrando, mas não conseguia me desvencilhar.

A mão dele se fechou em punho para me acertar no rosto, mas a figura alta e imponente de Travis O’Brien apareceu na porta junto do pequeno Rick, que correu para pegar as irmãs e tirá-las de perto da cena.

— Larga ela! — A voz de Travis soou alta e clara. Foi como se todo o quarto estremecesse com sua fúria. — Agora!

Assustado, Tom se voltou para Travis e o encarou de longe.

— Não se mete no que não é da tua conta, cara! — Vociferou, mas Travis não recuou. Avançou um pouco mais.

— Larga ela agora! — Repetiu da mesma maneira ameaçadora e até eu senti medo de sua expressão animal. — Se quiser sair andando daqui, tira tua mão imunda de Vicky e Valery agora!

Travis apontou o dedo em riste para Tom, que, ao ouvir nosso nome, reparou que Travis era conhecido.

— Quem é esse agora, Valery? — Tom me soltou e Val saiu de perto dele, mas ele se dirigia a ela. — É um dos machos que você achou para te comer agora que eu te dei um pé, sua vadia? Essa daí não vale nada, irmão. — Voltou-se para Travis, que encarava o rosto dele com nojo. — É gostosa, mas não faz de tudo na cama! Tem vadias bem melhores por aí!

Travis não pensou duas vezes quando viu lágrimas descendo no rosto de minha irmã. Um rosto marcado de roxo na bochecha e com sangue nos lábios. Val chorava pela dor da situação e tocaria o coração de qualquer um.

Tom caiu no chão com o soco forte que recebeu e tentou reagir em seguida, mas Travis o socou novamente assim que se colocou de pé. Um dos dentes dele voou no ato e sangue escapou de sua boca. Tom desabou e gemeu no chão.

— Lava a boca para falar da mãe dos teus filhos na próxima, cara! — Travis disse, parado como uma fortaleza em frente ao Tom, que sangrava e segurava o rosto ferido. Meu coração corria no peito ao vê-lo. — Devia sentir vergonha de dizer essas palavras na frente das suas crianças! Agora some daqui e não volte a perturbá-las! Do contrário, não vai ser só um dente que vou arrancar da tua boca imunda!

Tom olhava para Travis sem conseguir abrir o olho direito pelo inchaço. Os dois socos foram suficientes para marcar o rosto e arrebentar o lábio. Também para deixar um aviso muito claro. Valery não estava mais sozinha!

— Vai sair ou quer que eu te bote para fora?

Travis ficava ainda mais sexy quando estava nervoso e sua imagem em meio a uma briga chegou a me excitar! Aquele homem sabia ser incrível até nos momentos mais improváveis. Tom começou a caminhar para a saída, ainda tonto. Os seguranças chegaram no mesmo momento e Travis explicou a situação, fazendo com que os seguranças o segurassem e acionassem a polícia.

Travis sumiu com os seguranças e Tom em seguida. Sequer notei o que acontecia ao meu redor, uma vez que tudo o que consegui fazer foi socorrer Valery e as crianças, que choravam abraçada e encolhidas atrás da cama, escondidas e amedrontadas.

— Vicky! — Val chorava enquanto eu colocava um algodão embebido de água no rosto dela, para secar o sangue que escorria e conter um pouco o inchaço. As gêmeas estavam no colo dela e Rick ao seu lado. — Me desculpe... Me desculpe por isso!

— A culpa não foi sua, irmã. Acalme-se! As crianças não podem te ver assim, por favor. — Minhas mãos tremiam de raiva, mas eu tratava de esconder. Não queria que Val sentisse ainda mais culpa.

— Graças a Deus que encontrei o namorado da tia Vicky no corredor — Rick disse ainda assustado. — Corri até ele quando o vi chegando. — Valery e eu nos encaramos. Travis entrou no quarto no mesmo momento e certamente ouviu as palavras de Rick, que correu até ele para abraçá-lo. Travis o pegou no colo, encarando meu rosto por cima dos ombros de meu sobrinho. — Obrigado, tio Travis! Obrigado por ser um super-herói!

Travis me encarava sem esconder o alívio em me ver bem e de pé.

— O super-herói foi você, Rick. Você salvou o dia, campeão! — Brincou colocando o pequeno no chão e bagunçando o cabelo dele. — Foi muito corajoso. A coisa mais feia que um homem pode fazer na vida é erguer a mão para uma mulher, sabia? É muito, mas muito feio!

— Aquele era meu pai, tio Travis. — O tom de voz de Rick era decepcionado, algo que transformou a expressão de Travis em pena. — Você sabia?

— Imaginei, campeão...

— Obrigada, Travis — Valery disse, sentada na cama e segurando contra o rosto um pano com o gelo que peguei no frigobar. — Obrigada pela ajuda. Você novamente chegou como um anjo.

— Não precisa agradecer, Valery. Não sou um anjo. Apenas fiz o que qualquer homem sensato faria em uma situação assim. — Os olhos dele se fixaram nos meus. — Você está bem?

— Sim, obrigada. — Travis não se conteve e caminhou até mim, olhando-me de perto. — Você me chama de anjinha, mas ultimamente o anjo da história tem sido você.

Travis sorriu antes de abrir os braços para receber o abraço que lhe ofereci como gratidão. Aqueles braços... Ali, entre eles, era o único lugar do mundo onde eu me sentia verdadeiramente segura.

Meu corpo estremeceu quando o senti e todo meu ser reagiu a seu cheiro másculo e forte. Eu queria tocá-lo... Queria estar na cama com as mãos dele sobre mim. Me senti pecaminosa por pensar isso justo agora, mas não conseguia evitar! Travis convertia tudo em prazer, até mesmo um simples e inocente abraço.

Será que Rayanna tinha razão?

Será que eu estava mesmo apaixonada por aquele homem tatuado e doce? O galã com cara de bandido, mas coração de mocinho estava me tirando a paz enquanto tudo que eu queria era que me levasse para cama! Acabou arrancando de dentro de mim meu próprio coração cada vez que se aproximava.

— Estou com tanta vergonha, Travis. — Val comentou cabisbaixa. Olivia estava em seu colo e Felícia sentada ao lado, com a cabeça deitada na mãe. — Tanta vergonha de tudo que houve... Nem sei o que falar!

— A culpa não foi sua, Val. — Nos afastamos e peguei a sonolenta Felícia para fazê-la dormir. Passei a chacoalhá-la em meu colo enquanto ouvia a conversa às minhas costas. — Ele foi encaminhado à delegacia por invadir o hotel. Você podia ter denunciado também. Devia tê-lo feito, na verdade! Essa atitude covarde pode terminar de maneira trágica e custar sua vida.

Valery nada disse, apenas cobriu o rosto com uma das mãos e chorou baixinho, limpando as lágrimas de seu rosto no cabelo da filha, que dormia em seus braços. Travis foi até ela e lhe beijou o cabelo delicadamente, abraçando-a com carinho pelo ombro.

— Fico imensamente feliz por minha irmã ter conhecido você, Travis. Obrigada por tudo! — Bateu na mão dele delicadamente em sinal de gratidão.

— Ninguém vai fazer mal a vocês na minha frente. Tudo que é importante para Victorya é importante para mim também. — Sorriu para ela, amigavelmente.

— Vicky me contou que você trabalha em uma boate... — Valery se recompôs e sentou-se frente a ele. Travis a encarava. Fui até a cama e coloquei a pequena adormecida ali, deitando-me próximo dela. Rick também estava deitado. — Que é garoto de programa e dançarino.

— Contou é? — Riu baixinho. — Pois é... sou. Também sou professor de Educação Física e treinador em uma academia. A boate é mais um extra que tiro por fora.

— Não precisa explicar, Travis. Vicky também falou sobre sua mãe e sua sobrinha... A situação de vocês. Deve ser complicado lidar com tudo isso, com o preconceito por trabalhar com o sexo e ainda se importar em ajudar uma pessoa cheia de problemas como eu.

Val sorriu sem humor e ajeitou o cabelo da filha adormecida em seu colo. Eu os observava com atenção.

— Acredite... Ninguém que trabalha com o sexo faz isso de todo gosto, senhorita. Todos nós desejamos secretamente sair disso o quanto antes e espero que minha vez chegue logo.

— Imagino. Já pensei em me prostituir para sustentar meus filhos, mas não tive coragem. — A confissão de Valery me pegou de surpresa. Eu a conhecia e sabia que falava sério. — Preferia a dor de me prostituir do que vê-los passando fome ou frio. Enfrentaria qualquer coisa por eles.

— Não, Valery! Jamais volte a pensar nisso, promete? — Travis a abraçou mais forte pelo ombro. — Nós homens somos privilegiados também neste meio. Não sofremos tanto quanto as mulheres e sequer sei dizer se há comparação! Enquanto as mulheres são usadas como nada, também apanham, são machucadas e muitas vezes acabam grávidas. Sempre fui da mesma boate, mas conheço histórias cabulosas de meninas que morreram na mão de clientes ou em abortos. É um mundo desumano e cruel.

— Valery, o que está dizendo? — Interferi baixinho, olhando de relance para Rick, que assistia televisão. — Ficou maluca?

— Você não sabe a dor que sinto, Vicky. Por isso eu digo... Jamais erre. Siga sendo perfeita e nunca saberá! — Travis me encarou após as palavras dela.

— Seus filhos têm ajuda e você também. Não precisa se submeter a isso, Valery. Cedo ou tarde tudo se ajeita e, quando o amor chegar até sua vida, poderá bater a sua porta. Não haverá essa mancha marcando seu passado.

— Somente tive um homem que me tocou em toda a vida, aquele infeliz que acabou de sair daqui — Val sussurrava. — E mesmo assim sou tratada como uma prostituta porque ele me deixou.

— Valery... — Os olhos de minha irmã se ergueram para mim. — Tudo vai se ajeitar. Travis tem razão. Pare de dizer besteiras, irmã. Por favor...

Valery engoliu as palavras e se limitou a chorar baixinho enquanto Travis a abraçava pelos ombros com o olhar triste em minha direção. Eu não podia evitar me perguntar, bem lá no fundo, se essa preocupação excessiva dele com Valery era realmente por “ajudá-la” ou havia algo mais.

Estaria interessado nela?

 

— Passei por aqui para buscar meu documento que caiu da minha carteira no quarto quando vi Rick no corredor. Foi como um sexto sentido voltar e não ter deixado para a próxima. Quase um aviso divino.

Vicky tinha os braços cruzados sobre os seios e o ato fazia um volume delicado e maravilhoso em seu decote discreto. A blusinha na cor vinho contrastava com a pele clara e eu somente imaginava como ficava perfeita com os seios em minha boca. Em como se encaixavam bem em meus lábios... O sabor doce.

— Você foi certeiro, não é? Bem na hora — Comentou me encarando com certa ironia.

— O que foi? Por que esse tom? Até parece que não gostou de eu ter ajudado sua irmã a se livrar do babaca!

Vicky suspirou e baixou o olhar. Ajeitou uma mecha de cabelo loiro atrás da orelha e deu de ombros.

— Claro que gostei e agradeço, mas me questiono o motivo de tudo isso.

— Como assim? — Cheguei mais perto dela. Estávamos encostados na parede do corredor do hotel. Valery já dormia com as crianças dentro do quarto e sequer podia nos ouvir. Nos despedíamos antes de partir, eu para minha casa e Vicky para a dela. — Seja direta, Anjinha.

— Está interessado na minha irmã? — Cuspiu as palavras antes que eu terminasse minha frase anterior. Separei os lábios com a surpresa. Seu rosto corado parecia nervoso e apreensivo. — Também quer ensinar a ela sobre os prazeres do sexo ou vê nela uma candidata em potencial para aceitá-lo com uma sobrinha adolescente, uma vez que ela também tem três filhos?

Sorri e mordi os lábios enquanto analisava o rosto de Vicky.

— Está com ciúme, minha anjinha? — Esfreguei meus lábios com um dos dedos e a encarei, segurando a língua no dente. — Está mesmo com ciúme, não é?

— Não seja bobo! — Vicky não me encarava. Olhava para o lado e tinha o semblante envergonhado. — Quero saber quais são suas intenções, somente isso! Valery já sofreu demais e...

Minha mão correu até o queixo dela, erguendo seu olhar azul para o meu.

— Me olha nos olhos para falar comigo. Não quer ou não consegue?

— Mas é claro que consigo! — Um pouco contrariada, ergueu ainda mais o queixo. — Por que não conseguiria?

Vicky tentou se desvencilhar de mim, mas minha mão se fechou em seu braço, trazendo-a para mim. A lateral do corpo frágil se encostou ao meu peito e os olhos azuis me encaravam com surpresa.

— Sabe no que penso o tempo todo? — Sussurrei ao seu ouvido — Em você... No teu corpo — confessei baixinho e ela suspirou levemente. — No jeito que você geme gostoso quando sente minha boca te tocar. No sabor viciante que experimento quando beijo entre suas pernas e na maneira como você chama meu nome quando te faço gozar do jeito que gosta. — Senti Vicky estremecer em minha mão. Sua pele se arrepiava ao meu tom de voz. — Não tem nada que eu deseje mais em minha vida do que te ter. Conto os minutos para nosso próximo encontro, porque sei que nele finalmente vou te foder como sempre quis... Vou tirar seu cabaço e me acabar de prazer até esvaziar meu desejo todo dentro de você. É só o que eu quero... Essas são minhas intenções, Victorya. Viver contigo tudo que temos para viver até o último minuto que nos restar.

Vicky quebrou as regras.

Senti sua boca tomar a minha em um impulso desesperado, algo como um pedido de socorro. Não consegui detê-la, uma vez que foi mais rápida que meu próprio pensamento.

Seus lábios eram firmes e macios. Doces e ternos como somente ela conseguia ser... Aquela boca delicada se colou à minha e os braços me circundaram o pescoço quando levei as mãos para sua bunda redonda, pressionando-a contra minha ereção, que já despertava na calça.

Era incrível tê-la em meus braços, tão pequena e frágil. Colocava-se na ponta dos pés para alcançar minha boca e não demorou a se perder, demonstrando que realmente não sabia beijar muito bem. Capturei os lábios macios nos meus novamente, pressionando-a ainda mais contra mim enquanto passava a língua pela dela em uma carícia ousada. Vicky gemeu baixo e agarrou meu rosto com as mãos urgentes, imitando meus movimentos enquanto nos devorávamos em um beijo avassalador no corredor vazio do hotel.

Não pensei em mais nada, sequer lembrei que tinha minha mãe e Sammy me esperando em casa. Caminhei com ela em meus braços até a porta do quarto que costumávamos usar. Apenas sairia dali depois de satisfazer o desejo insano que nos consumia cada vez que ficávamos juntos.


A água do chuveiro era quente e caía sobre nós ao passo em que nossos lábios se moviam com desespero um no outro. Encostada na parede quente, Vicky gemia entre o beijo, apreciando a leve carícia que minhas mãos faziam em seus seios rosados.

Arrancamos a roupa rapidamente após entrar no quarto e fomos para o chuveiro. Cansado da briga, era tudo que eu precisava. Um banho com minha anjinha nua e maravilhosa ao meu lado. Me matava de tesão, mas jamais abriria mão de tal momento. A visão da pele macia molhada, com o cabelo loiro colado a face e os olhos fechados enquanto gemia me parecia a coisa mais apreciável do mundo.

A mão pequena dançava em meu peitoral em busca de me tocar, porém Vicky era ainda hesitante. A prensei ainda mais na parede, devorando aquela boca na minha como jamais fiz com outra.

— O beijo é importante, por mais que não admita. Ninguém nunca me beijou como você... — Vicky sussurrou ao se afastar levemente, tomando fôlego.

Segurei seu rosto com uma das mãos, passando o polegar por seu lábio inchado com delicadeza.

— Você é uma delícia, Anjinha. Me deixa louco com um beijo, com um toque... Acaba comigo! — Os olhos azuis brilharam com minhas palavras.

A mão pequena de Vicky desceu instantaneamente até meu pau, tomando-o com carinho. Mordeu os lábios quando me sentiu estremecer e a agarrei pelo cabelo e a trouxe para minha boca, para que me devolvesse seus lábios. Tomei sua boca na minha sem querer parar de beijá-la, matando minha vontade de meses. Vicky movimentava a mão delicadamente, fazendo-me gemer no impulso do tesão que me causava.

— Você também me deixa louca, Travis. Tudo que me faz sentir é tão bom...

Desliguei o chuveiro quando me senti prestes a gozar, afastando a mão dela de mim e tomando-a na minha. Confusa, Vicky saiu do box comigo e me encarou apaixonada, enquanto eu a secava delicadamente, depois a envolvi em uma toalha branca pelos ombros. Fiz o mesmo comigo, enrolando a toalha em minha cintura.

Uma vez no quarto, sentei-me na cama junto dela e a beijei com carinho, guardando sua expressão encantadora o mais fundo no meu coração. Era para ser apenas um momento foda de prazer com uma virgem linda, mas existia outro significado quando meu olhar cruzava com aqueles olhos azuis inocentes...

Eu a venerava! Estava mais do que loucamente apaixonado por Vicky Hayder.

Deitei-a contra o colchão e delicadamente afastei a toalha, exibindo o corpo rosado e sensual perante meus olhos sedentos da imagem. Podia gozar somente com a imagem dela nua e a ideia me surgiu na mente repentinamente.

Toquei sua mão com cuidado, beijando os dedos pequenos em seguida. Os seios enrijecidos subiam e desciam conforme Vicky respirava ofegante, ansiosa para saber onde meu desejo iria guiá-la.

— Não existe nada mais sensual do que uma mulher dona do próprio prazer — sussurrei ao seu ouvido enquanto levava a mão dela até entre suas pernas. — Você sabe como fazer não sabe?

Vicky compreendeu imediatamente aonde eu queria chegar. Assentiu positivamente e fechou os olhos quando minha mão, com a dela por baixo, a tocou entre as pernas, acariciando o clitóris entumecido com maestria. Suspirei ao sentir como estava molhada, absolutamente pronta.

Me deleitei com a visão de Vicky se tocando por um momento, levando também a mão até meu membro para movimentá-lo enquanto eu a assistia. Jamais vi nada mais sexy em toda a vida e queria morrer com aquela imagem guardada na memória. Ao seu lado, retirei a mão de meu pau e levei até seus seios, acariciando-os enquanto Vicky gemia pelo prazer que ela mesma causava. Brinquei com os mamilos rosados em meus dedos e levei a boca até lá, chupando-os com vontade.

Subi a mão para seu pescoço, segurando seu rosto para que pudesse beijá-la com mais facilidade.

— Você é linda, Anjinha. A mulher mais linda que meus olhos já viram — sussurrei ao ouvido dela, beijando-a em seguida.

Retirei a mão de Vicky de sua intimidade e passei a tocá-la, acariciando com mais força e firmeza. A mão dela instantaneamente procurou meu pau e o cobriu, movimentando-o como ensinei.

Gememos juntos pelo prazer que nos tomava. Não demorou até que eu sentisse Victorya estremecendo e as contrações de seu sexo se deram contra meus dedos de maneira intensa, fazendo-a gemer alto e afundar a mão livre entre os fios de seu cabelo.

A visão do rosto dela convertido em prazer me preencheu. Erguendo-me, ajoelhei-me entre suas pernas e as afastei, gozando sobre sua entrada rosada e molhada de prazer. Vicky me encarou surpresa, ofegante e com um sorriso ousado. Observei o líquido branco e espesso escorrer na intimidade de Vicky, ainda ofegante, movimentando meu pau entre os lábios quentes e molhados da vagina rosada. Era macia e quente como o inferno... Chamava meu pau para seu interior apertado, mas tratei de resistir, apenas roçando-me nela para aplacar aquele fogo abrasador.

Vicky tinha as duas mãos segurando os próprios seios enquanto me olhava transbordando satisfação. Estava ficando louco pelo tesão que tudo aquilo me causava. Certamente eu pagaria muito caro pelas coisas insanas que ensinava à inocente Victorya. Não havia mais qualquer pudor entre nós. Éramos amantes secretos e delirávamos de prazer juntos.

Concluí, ao passo em que compreendia que havia gozado na intimidade dela, que fodê-la seria apenas um detalhe.


Travis O’Brien era o dono de meu coração.

Não existia definição melhor para explicar o homem que tomou conta de minha vida de tal maneira que me parecia impossível viver sem ele.

Ao mesmo tempo em que era um despudorado e mestre na arte do sexo, Travis conseguia ser doce e terno enquanto me ajudava a colocar a roupa e secar o cabelo novamente. Me deixou sentar em seu colo quando acabou e passei as pernas por sua cintura, envolvendo-o pelo pescoço.

Beijei-o como sempre quis fazer. Beijei-o com a língua, com prazer e paixão. As mãos fortes desciam por minhas costas e me apertavam a bunda com possessividade. Tudo era tão bom que parecia um sonho inexplicável. Jamais imaginei que pudesse existir um sentimento tão forte entre duas pessoas.

Tudo ia além dos momentos íntimos que compartilhávamos, mas nenhum de nós dois tinha verdadeira coragem de admitir em voz alta. Tínhamos medo. Um medo mútuo e avassalador, tal qual nossos sentimentos.

— Você prometeu que ia fazer amor comigo na próxima aula... — Travis sorriu e me beijou no pescoço.

— Hoje não foi uma aula... Foi um momento de prazer entre dois adultos com tesão. — Ri com ele, divertindo-me. Travis adotou um pouco mais de seriedade e me acariciou o rosto carinhosamente. — Além do mais, sua primeira vez vai ser dolorosa, Anjinha... Você é muito pequenininha e vai sentir dor. Aproveite nossa brincadeirinha de prazer antes de chegar o momento que tanto espera. Não quero assustá-la, quero deixá-la à vontade antes que crie medo de sexo pelo que vai sentir. A primeira vez não é como nos livros de romance, sempre agradável para as mulheres e cheia de prazer. A primeira penetração é dolorosa e pode te fazer sangrar se eu não tiver cuidado. Muitas mulheres saem traumatizadas quando o parceiro se comporta como um animal.

— É tão ruim assim?

— Só no começo. Depois se torna incrível e o prazer chega. Eu prometo. — Beijou minha mão com cordialidade. — Serei cuidadoso com você, princesa. — Beijei-o com força. Queria dizer tudo que sentia, mas precisava me calar se quisesse tê-lo por perto. — Hora de ir, Anjinha. — Travis me beijou pela última vez, apertando minha cintura com ardor. — Já está muito tarde. Sammy me ligou duas vezes e preciso trocar a sonda da minha mãe.

Saí de cima de Travis perante aquele argumento e concordei. Uma vez no estacionamento, parei frente a ele na porta de meu carro. O carro dele estava do outro lado.

— Me deixa ir para sua casa com você — sussurrei e Travis ajeitou uma mecha de meu cabelo atrás de minha orelha, tocando meu rosto com ternura.

— Deixo, mas não vai se adaptar. Lá não posso te oferecer o luxo ao qual está acostumada, senhorita Hayder. — Brincou com uma ponta de verdade. Baixei o rosto de maneira envergonhada. — Sammy e eu lavamos nossa própria roupa, limpamos toda a casa e cuidamos de uma idosa acamada. Minha vizinha faz nossa comida porque pago a ela, mas garanto que não deve ser tão boa quanto a que você está acostumada a comer em seu castelo.

Travis não era debochado, mas carinhoso com as palavras. Queria me exaltar, mas me deixava ainda mais constrangida.

— Não me importo com isso. — Encarei-o após um tempo. — Realmente não me importo.

— Diz isso agora... — Tocou a ponta de meu nariz como se faz com uma criança. — Mas com o tempo vai se importar. Com o tempo vai sentir falta e... — Tomou fôlego. — O seu noivo está te esperando! Está ficando perigoso, Victorya. Para mim e para você. Temo não poder fazer nada para protegê-la caso nossa história venha à tona.

— É um segredo nosso. Ninguém nunca vai saber de nada! — Afirmei com convicção, segurando o pulso dele, da mão que tocava minha face. — Se Fred existe em minha vida, é porque achei que fosse compatível comigo por nossos gostos em comum e nossa paixão pelo mundo editorial. Não tem a ver com dinheiro... Tive a oportunidade de ser de vários homens, ricos e pobres, poderosos e comuns, no entanto, nenhum deles relou sequer um dedo em mim, Travis, só você!

Travis pegou minhas duas mãos e as trouxe para a frente do corpo, agarrando-as com as suas.

— Você merece o mundo, Vicky, mas não o que posso oferecer. Não um homem como eu... Marcado pelo passado e que já comeu metade da cidade — suspirei pesadamente. — Merece um príncipe como o outro é. Eu daria tudo para tê-la, mas não sou digno de sequer lutar por uma princesa como você, Anjinha.

— Não quero mais ele... — Referi-me a Fred. — Não o amo de verdade.

“Não como amo você”. Era minha vontade de dizer, mas calei-me.

— Só poderá dizer isso quando vê-lo pessoalmente.

— Se realmente quisesse me ter, como disse, não diria essas coisas.

Travis sorriu sem humor e soltou minhas mãos. Se aproximou para me beijar na testa demoradamente e pude sentir todo seu carinho... Todo aquele sentimento que me apertava profundamente o coração.

— Então você também não sabe nada sobre o amor, Victorya. — Senti lágrimas em meus olhos. — Preciso ir... Se cuida, tudo bem?

— Nos vemos para a última aula? — Travis se afastava enquanto eu abria o carro.

— Sim. Nos vemos pela última vez.

Foi o que disse antes de se virar e caminhar em direção ao seu carro. Fechei os olhos e apenas sofri com o impacto daquelas palavras.


Olhos inchados e mãos ardendo por tanto esfregá-los para esconder as lágrimas, que por vezes pingavam discretamente no papel do bloco de notas em minha mesa.

Vincent voltou com Elliot de viagem e ambos buscaram Valery e as crianças no hotel. Agora estavam seguros com meu irmão e não eram mais uma preocupação constante, deixando minha mente livre para pensar em minha própria vida. Uma ladeira abaixo interminável e silenciosa.

— Você está bem, Vicky? — Ray tocou meu ombro por trás em minha mesa de trabalho. Olhei-a de relance, voltando a me concentrar no computador.

— Claro, amiga, estou ótima! — Menti.

— Seu olho inchado e nariz vermelho não parecem de uma pessoa que está ótima, mana. O que foi que houve?

Ray sentou à minha frente e colocou um café juntamente. Planejou aquele encontro e talvez fosse a única no mundo que poderia compreender um pouco do que eu sentia. Era a única pessoa que sabia de todo meu segredo com Travis O’Brien.

— Sábado vai ser a última vez que o verei — sussurrei quase sem voz, tocando o copo de café com dedos trêmulos. — Será nossa última aula e depois disso... nunca mais!

Ray esticou a mão e tocou a minha com carinho e amigavelmente.

— Sinto muito, Vicky. — Limpei abaixo de meus olhos e tomei um gole do café. — Talvez seja melhor assim... Não o ver nunca mais. Assim cortará esse sentimento de uma vez.

— Não quero cortar nada! — Confessei, encarando-a. — Não quero ficar sem Travis, não quero ficar sem o calor dele, os braços dele... Não quero!

— O gringo vai te proporcionar o mesmo, amiga. — Neguei enfaticamente. — Não?

— Como Travis? — Sorri de canto e neguei novamente. — Nunca! Duvido que algum homem possa me dar o prazer que Travis proporciona. Ele é profissional, Ray. Sabe exatamente o que está fazendo quando me toca e... — Olhei para cima, de modo a tomar coragem de concluir. — Eu sei... — Levei a mão ao peito. — Sei que Travis também sente o mesmo por mim.

— Sente o quê? — Insistiu propositalmente.

— Isso que sinto...

— O que você sente? Vamos, diga!

Mordi os lábios e sorri sem humor, encarando meus próprios dedos.

— Estou apaixonada por ele... — confessei em voz alta pela primeira vez. — Estou apaixonada por ele como louca! Como nunca!

— Então você tem duas opções, amiga, e vou logo jogando na tua cara com a verdade nua e crua! — Apertou meus dedos com força e a encarei com firmeza. — Primeiro! — Ergueu um dedo. — Larga tudo! Termina com o gringo, sai da casa dos seus pais e vai viver a história com o bonitão sem pensar em nada... Abre mão dos luxos, mas agarra com força sua própria felicidade! Sua própria história, e conquista tudo que seus pais conquistaram com o seu próprio esforço! Segundo. — Fez sinal com dois dedos. — Se não tem coragem para tanto, segue em frente e faz de tudo para esquecer Travis. Apaga ele até da agenda do celular e do mapa se for necessário! Se joga no gringo e esquece de uma vez o que aconteceu.

Ray foi dura, mas tinha razão. Não existia uma terceira opção entre as alternativas apresentadas.

Voltei para casa naquela noite nervosa e apreensiva. Como Valery e Vincent, havia chegado a hora de tomar as rédeas da minha vida e me desvencilhar do destino imposto por meus pais. Mas ao contrário de meus irmãos, papai e mamãe sempre foram carinhosos e zelosos comigo.

Eu os amava! Não podia mentir a ponto de enganar-me. Doeria desapontá-los, principalmente mamãe. Recairia sobre ela a culpa de mais um de seus filhos se desviar do caminho imposto pela sociedade. Do caminho que julgavam o correto. Jamais me aceitariam com um namorado que não fosse rico e cheio de posses. Nunca, mas nunca mesmo, deixariam que um profissional do sexo se metesse em sua família.

Eu seria mais criticada que Vincent...

Abri a porta de casa e me assustei quando notei vozes altas vindas da sala de estar. Não havia sequer uma das meninas da cozinha à vista e era algo estranho para o horário. Aproximei-me vagarosamente, dando-me conta de que eram meus pais e algumas visitas na sala.

— Ah, finalmente! Bem na hora, como sempre pontual! — papai disse alto quando me viu na porta. Estava sentado em sua poltrona dianteira e os demais de costas para mim no sofá grande. — Minha menina de ouro!

— Vicky, querida... Você tem uma surpresa! — Mamãe batia palminhas de maneira empolgada.

Meu sorriso foi murchando quando me dei conta do que estava acontecendo. As pessoas se viraram de frente para mim e deparei-me com ninguém menos que Frederick Bouchevick, o meu ficante virtual, junto de um casal mais velho e igualmente ruivo.

Seus pais, logo concluí. Eu os conhecia por fotos.

O impacto de estar frente a frente com Fred foi tão grande, que me esqueci de falar qualquer coisa. Sorrindo, aproximou-se de mim e me abraçou tão forte, que foi capaz de me erguer do chão enquanto eu seguia estática!

— Vicky, minha princesa... Finalmente te tenho bem à minha frente!

Segui travada quando Fred segurou meu rosto e me beijou na boca sem hesitar, certo do que fazia. Fechei os olhos levemente, tentando sentir algo, mas não consegui sentir nada mais do que nervoso.

— Fred... Quando chegou? — Questionei quase sem voz.

— A menina ficou em choque, tadinha! — A mãe dele disse com o sotaque britânico acentuado. Ela era britânica e o pai dele brasileiro.

— É a emoção de conhecer o noivo pessoalmente, pela primeira vez — mamãe comentou.

— Ainda não somos noivos, mãe — retifiquei com os olhos presos em Fred. Era exatamente como na internet... Alto, ruivo e bonito. Não gostoso e sarado como Travis, muito menos sexy e com aqueles olhos intensos... Era magro e bem arrumado. Não desagradável, mas não chegava aos pés do meu amante favorito. — Ainda não temos um compromisso.

— Mero detalhe! — Fred logo me interrompeu, segurando minha mão na sua e beijando-a. — Estou aqui com meus pais para isso, Victorya. Para torná-la oficialmente minha noiva e futura esposa.

— Ele já quer marcar a data do casamento, querida — papai disse, orgulhoso. — Já me pediu sua mão.

— Já? Sem me consultar antes? — Fred me encarava de maneira confusa. — Achei que fôssemos nos conhecer primeiro e...

— Você é tudo que desejo, Victorya Hayder! Eu não teria trazido meus pais até aqui se não fosse assim. — Parecia apaixonado e muito certo. Comprimi os lábios pelo nervosismo, olhando ao redor em busca de uma saída plausível. Não existia! — Aqui está o anel, meu amor... — Fred retirou do bolso um anel de brilhantes maravilhoso e que fez mamãe dar um gritinho às minhas costas. — O símbolo do nosso noivado perante nossos pais!

Fred me abraçou após colocar o anel em meu dedo enquanto nossos pais comemoravam o fato às nossas costas. Fechei os olhos e traguei para o fundo de meu coração todas as palavras que tinha a dizer. A presença de Fred significava uma dura volta à realidade que me esperava.

Travis estava errado. Não era eu quem não o merecia, mas sim ele que não merecia uma verdadeira covarde como eu!


Minhas mãos espalmadas na parede branca do banheiro se moviam cada vez que Travis investia contra mim.

Senti o momento exato em que guiou o pau até a minha entrada úmida por ele, fazendo-me gemer ao passo em que deslizava para dentro de mim com calma, mas firmeza. Aos poucos, abria meu corpo para se adaptar ao dele, tão grande e capaz de me fazer fechar os olhos pela ardência que me tomava enquanto entrava.

— Esperei tanto por isso, Vicky... Você é tão gostosa... Me deixa louco! — A voz forte ecoava em meu ouvido e a mão grande me segurava pelo pescoço, tomando todo cuidado para não me sufocar.

Aquilo me excitava ainda mais... Saber que Travis poderia me matar se quisesse enquanto me penetrava com loucura. A outra mão me segurava pela cintura e guiava meu quadril até o dele, empurrando o membro rígido em mim como se pudesse fazê-lo para sempre.

— Também esperei muito, Travis... Muito! — Gemi novamente ao senti-lo indo com mais força, gemendo atrás de mim e me puxando para beijar meu pescoço.

Entrava fundo e marcava em mim seu desejo... sua posse. A mão grande desferiu um tapa em minha bunda quando gozei alucinada, empurrando a parede para conseguir me manter de pé.

— Pode se casar com ele, mas você sempre será minha! Minha!

 

Acordei com os espasmos que tomavam conta de meu corpo, em um susto desesperado, abrindo os olhos e me deparando com o teto de meu quarto cor-de-rosa na casa dos meus pais. Sentei-me na cama quando consegui me mover, identificando prontamente os sinais do orgasmo em meu corpo.

Minha mão trêmula estava entre minhas pernas, por dentro da calcinha, e a camisola azul erguida até meus seios. Meu corpo estremecia e minha intimidade relaxava após um orgasmo inesperado e inacreditável!

Como fiz aquilo se dormia? Ajeitei-me na cama e tomei fôlego, passando uma das mãos pelos fios de meu cabelo desgrenhado. Olhei ao redor com o peito se elevando em busca de ar, sentindo ainda o gosto dos beijos de Travis em minha boca e minha intimidade latejando pela falta que o membro dele fazia dentro de mim.

— Estou ficando louca... — Sussurrei sozinha, cobrindo o rosto com as mãos. — Estou ficando completamente maluca por Travis... O que esse homem está fazendo comigo?

Sequer em meus sonhos Travis O’Brien saía de minha mente e de minha cama. Até mesmo quando não estava comigo me perseguia nos lugares mais improváveis e me mostrava o quão dele eu era...

Completamente dele, mesmo que ainda não fosse.

Peguei o celular nas mãos e não havia mensagem de Travis. Há três dias ele desapareceu completamente e seu celular estava descarregado, não recebendo minhas chamadas e muito menos as mensagens desesperadas que enviei. Pensei, em um momento de loucura, em ligar para Samantha, mas seria demais envolver a garota em nosso jogo insano. Não era justo com ela.

— Mas se ele não responder até de noite, vou ter que ligar para Sammy sim — sussurrei sozinha, mordendo os lábios. Era o dia de nossa última aula, afinal! — Onde você se meteu, Travis? Por que sumiu quando mais preciso de você?

— Vicky! — Deixei o celular cair com o susto de minha mãe entrando de supetão em meu quarto. — Bom dia, minha princesa!

— Bom dia, mãe... — Voltei a me deitar preguiçosamente contra meu colchão.

— Como se sente hoje? — Mamãe abriu as janelas de meu quarto de maneira animada e segui melancólica na cama.

— Como sempre. E você?

— Feliz! Imensamente feliz, porque hoje teremos o anúncio de seu noivado para toda a família!

Saltei da cama, voltando a me sentar. Mamãe me olhava com seriedade e empolgação.

— Que?

— Seu noivado, querida! Seu noivo e os pais já confirmaram presença e até fiz o favor de chamar os ingratos de seus irmãos e aquele rapaz que vive com Vincent. — Desdenhou na última parte. — Sei que é importante para você contar com eles, querida. Como a festa é sua, achei que seria viável.

— Uma boa desculpa para vê-los, não é? — Mamãe se manteve calada. — Escuta mãe... — Movi-me na cama em direção a ela. — Ainda não estou segura se realmente quero manter esse noivado com Fred.

— Como assim? — Sorriu sem humor. — Foi você quem o conheceu! Você quem se interessou por ele e tratou de nos apresentar! Como não está segura se ele é um partido e tanto! Um homem rico e interessante como ele não aparece assim todos os dias, menina!

— Mas não o amo, mãe. Pensei que amava, mas acho que me enganei!

— Bobagem! — Aproximou-se da cama de maneira nervosa. — Esse negócio de amor é para mulheres pobres, menina! Para mulheres que não têm a oportunidade que você está tendo agora! A chance de ter uma vida de rainha para sempre!

— Eu não quero ser rainha, mãe! Quero ser uma moça comum, com um trabalho comum, casada com um homem normal e...

— Dona de casa? Que lava, passa e cozinha? Cheia de filhos pendurados no seu avental, como Valery? — Suspirei enquanto ela falava. — Por favor, Victorya!

— Por favor digo eu, mãe! — Saí da cama e caminhei até o banheiro. — Não fique organizando jantares sem antes me consultar, do contrário, seu tombo pode ser ainda maior caso eu decida não me casar com Fred!

— Será uma tola se o fizer, menina. — Mamãe bateu na porta do banheiro quando a fechei, escorando-me atrás dela. — Será uma tola e jogará tudo que eu e seu pai construímos para você ao vento se desfizer esse noivado!

Eram as mesmas palavras que disse a Vincent quando ele foi embora e a Valery quando engravidou do primeiro filho.

Já era noite quando me olhei no espelho e me vi devidamente maquiada e com um lindo vestido azul escuro moldando meu corpo magro. O decote era discreto e marcava a cintura delicadamente. Uma peça linda e caríssima, feita sob medida para mim. Tratava-se de um presente especial da mãe de Fred, minha futura sogra que eu conhecia há menos de dois dias.

A maquiagem era discreta, mas bem marcada e definida, feita pelo profissional que atendia minha mãe sempre. O cabelo estava preso para trás em um penteado simples, com a parte de trás caindo em meus ombros.

“Você é linda, minha anjinha. A mulher mais linda que meus olhos já viram”.

De nada valia estar tão linda assim se Travis não podia me ver. Se não era para ele, eu não via graça em me exibir.

— Uau! — Valery comentou entrando em meu quarto, para minha surpresa. — Você está uma gata! — Parou atrás de mim, encarando-me através do espelho. Pousou as mãos em meus ombros. — E essa carinha?

— Estou preocupada com Travis... Faz dias que não nos falamos e o celular dele está totalmente fora de área! Não responde minhas ligações e muito menos as mensagens.

— Não devia estar pensando em Travis no dia do seu noivado, irmã. — Valery me cutucou levemente.

— Valery, por favor! — Suspirei cansada. — Onde estão as crianças?

— Com Vincent e Elliot na sala. Papai e mamãe também estão com eles. Já tentou falar com a Sammy?

Encarei minha irmã em sinal de hesitação e foi como se o universo conspirasse ao meu favor. Meu celular tocou na penteadeira e exibiu o nome de Sammy no visor. Apanhei-o rapidamente, atendendo no mesmo instante.

— Alô? Sammy?

— Senhorita Vicky — disse em tom tristonho. — Como vai? Estou ligando em nome do meu tio Travis... O celular dele ficou em casa e nós estamos fora faz algumas horas. Tio não poderá comparecer ao encontro com a senhorita hoje. Se desculpa por avisar tão em cima da hora.

— O que aconteceu, Sammy? Posso ajudá-los em alguma coisa? — Questionei logo, estranhando o tom dela, que parecia pacato demais.

— Infelizmente não, senhorita.

— Aconteceu alguma coisa com Travis?

— Não, meu tio está bem. Quer dizer, quase... Foi a minha avó. Ela faleceu ontem à noite e estamos aqui no velório dela.

— O que?

Tudo desapareceu de minha mente com a notícia. Fiquei tão baqueada que passei o telefone para Valery e foi ela quem anotou o endereço e as informações que Samantha tratou de passar.

Não me importei com noivado, com protocolos, convidados, Fred, os pais dele ou meus próprios pais, que esperavam lá em baixo... Saí com Valery sem dar satisfação a ninguém, seguindo meu coração, que me guiava para junto de Travis.


Ao mesmo tempo em que me sentia destroçado enquanto velava minha mãe, parte de mim se aliviava por ela ter parado de sofrer após tantos anos em uma vida entrevada na cama e sem qualquer movimento.

Seu semblante era o de uma mulher livre, finalmente, e isso me confortava o coração. Sammy sentia-se da mesma maneira, abraçada a mim a todo o momento.

— Agora somos só nós dois, baixinha — sussurrei para ela, que chorava em silêncio. Beijei seu cabelo escuro. — Agora somos um pelo outro para sempre, mais do que nunca!

— Ela tinha orgulho de você, tio Travis. — Sammy me encarou de baixo, ambos parados frente ao caixão. — Também tenho muito orgulho de tudo que você fez por ela, para que tivesse um final digno e menos doloroso. Obrigada...

Abracei Sammy com ainda mais força, beijando-lhe o cabelo com mais intensidade.

— Amo você, querida. Amo você...

Agora meu coração estava preenchido por Samantha, minha pequena sobrinha-filha, e também pelo amor impossível de Victorya Hayder.

— Não me arrependo de nada, mãe — sussurrei momentos depois, quando Sammy se afastou e fiquei sozinho ao lado do caixão. O semblante de mamãe era tranquilo, como de uma pessoa que realmente estava em paz em seu eterno descanso. Segurei a mão dela na minha... A mão que amei a vida toda e me acalentava em meus pesadelos, agora gelada e sem vida contra minha pele. — Não me arrependo de ter me vendido para que a senhora tivesse um pouco mais de conforto e dignidade em seus últimos dias. — Vá com Deus, mãe. Descanse com Maria, porque estou aqui cuidando de Sammy. Um dia estaremos juntos outra vez, minha rainha.

Afaguei ternamente sua mão antes de devolvê-la para o meio das flores que decoravam o corpo e o caixão. Deixei uma lágrima rolar no rosto, talvez a lágrima final antes de tudo acabar. A hora de fechar o caixão se aproximava.

O que seria de minha vida dali para frente? Eu já não precisava mais me prostituir...

— Travis? — A voz cantarolou como sinos aos meus ouvidos e me virei para checar se era real.

Tomei um susto imenso ao ver Vicky Hayder parada em meio ao salão fúnebre usando um vestido azul escuro e longo por baixo de um casaco preto que ia até o quadril. Maquiada como se fosse para uma festa elegante e muito, mas muito bonita! Era a imagem perfeita de alguém que largou tudo e veio correndo, ofegante que estava. Valery estava atrás dela igualmente arrumada e com um casaco para disfarçar, um tanto deslocada enquanto olhava ao redor.

Os olhos azuis de intensos de Victorya presos aos meus eram um eco de nossa paixão silenciosa. O desespero que ela sentia para me tocar era quase palpável.

— Anjinha...

Sussurrei quase sem reação. Foi o que Vicky precisava para correr em minha direção, atirando-se em meus braços para me afagar contra seu corpo pequeno e frágil, mas que, naquele momento, era capaz de sustentar uma fortaleza como eu. Apertei-a contra mim e senti meu corpo todo relaxando por sua presença e seu cheiro embriagante.

— Sinto muito, Travis! — Sussurrava ao meu ouvido. — Não tenho palavras para dizer o quanto sinto por sua perda, meu am... — Deteve-se por um momento. — Amigo — concluiu rapidamente. — Meus pêsames. Sequer sei o que dizer agora.

— Obrigado, Vicky. Obrigado por estar aqui, isso significa muito para mim. — Nos afastamos e segurei suas mãos entre nós. O olhar de todos os presentes no velório estavam sobre nós dois. — Como você soube?

— Sammy me ligou e acabou contando tudo. — Passou uma das mãos em minha face e estremeci com seu toque inocente e gracioso. — Fiquei preocupada por não ter notícias suas por quase três dias! Você nunca ficou tanto tempo assim longe de mim, Travis...

A última parte foi quase uma súplica e baixei o rosto em reflexo. Vicky era tão inocente a ponto de não notar que nossa proximidade terminaria em sofrimento para nós dois?

— Foi tudo muito rápido — expliquei, encarando os olhos claros nos meus. — Ela teve um desconforto e liguei para a emergência. Depois, a caminho do hospital, teve uma parada e não conseguiram reanimar. Infelizmente ela se foi sem que eu pudesse evitar... Foi um novo AVC, mas desta vez a levou.

— Ah Travis... — suspirou e voltou a me abraçar. Também existiam lágrimas em seu rosto bonito e maquiado. — Conte comigo para tudo, entendeu? Tudo! Estou com você e Sammy para o que precisar!

— Não, Vicky... — falei segurando a cintura dela enquanto nos abraçávamos, querendo que ninguém mais no salão nos ouvisse. Às costas dela, Valery conversava com Samantha e Dean, meu amigo da academia. — Agradeço todo seu apoio, mas não posso aceitá-lo. Não tenho o direito de ficar perto de você, por isso me afastei nos últimos dias. Não existe mais lugar para mim em sua vida e prefiro manter distância antes que meu coração acabe ainda mais quebrado.

Surpresa por minha colocação direta, Vicky se afastou e me encarou.

— Sempre terá lugar para você em minha vida, Travis O’Brien. Em minha vida e em meu coração. — Levou uma das mãos ao peito delicadamente. — Não se afaste de mim, por favor... Não faça isso!

— Travis! — Valery se aproximou e me estendeu a mão, que apertei cordialmente. — Sinto muito, amigo. Sinto muito mesmo por sua perda!

— Obrigado, Valery. Obrigado mesmo por estarem aqui! — Valery me abraçou rapidamente, em seguida, quando a puxei e fiz questão de um abraço.

— Depois de tudo que fez por mim e pelos meus filhos, o mínimo era vir te apoiar. — Cruzou os braços em frente ao corpo. Também estava maquiada e elegante como Vicky, apesar de não ser tão bonita como minha anjinha. — Vicky não pensou duas vezes quando ficou sabendo e me arrastou para cá! Não se importou nem com o festão que estava armado na casa dos meus pais...

Vicky olhou para Valery com certa impaciência e ela comprimiu os lábios como se tivesse falado demais.

— Festa? — Questionei baixinho.

— Sim, é... — Tomou fôlego. Vicky parecia muito tímida. — Fred está no Brasil. Meus pais organizaram uma festa.

Explicou rapidamente, sem querer prolongar. Imediatamente, meu olhar desceu para o dedo anelar da mão direita de Victorya e reparei no anel bonito e brilhante que antes não estava ali.

Pensei em dizer algo, talvez questioná-la, mas não tive forças. Não tive cabeça e muito menos tinha direitos sobre ela! Senti enjoo, raiva e um ciúme mortal me tomando o corpo todo, mas tratei de me conter quando começaram a fechar o caixão para o enterro. Dean apareceu quando saímos da sala fúnebre e parecia entretido com Valery. Vicky não me disse mais nenhuma palavra, focando agora em conversar com Sammy, que estava desolada.

— Já conhece Valery, cara? — Falei a Dean.

— Sim, acabamos de nos conhecer — meu amigo respondeu com um meio sorriso, coçando a cabeça discretamente. — Sua amiga é encantadora, Travis.

— É uma mulher foda! — Sussurrei a ele em frente a Val, que corou nas bochechas. — Mãe dedicada, trabalhadora e mulher de valor. Tem muito jeito com crianças e está livre, o que é melhor. Deveriam conversar! Acho que os dois tem muitas coisas em comum, principalmente o bom-humor.

Vicky me olhou de relance enquanto falava com Sammy, mas se mantinha atenta a conversa paralela ao seu lado. Dean não escondeu o interesse.

— Mãe? Eu também já sou pai! Tenho um casal de gêmeos de cinco anos! — Dean disse animado.

— Ah, mas eu tenho três, moço! Um de oito anos e gêmeas de três! — Dean sorriu para ela. — Você é separado?

— Não, viúvo! Minha falecida se foi no parto e desde então sou pai solo, nunca mais me relacionei por causa das crianças... Sabe como é! Vivo para eles.

— Oh se sei!

Sorri em meio à tristeza ao notar como se entrosaram rápido. Dean e Valery tinham diversas coisas em comum e a única parte triste era que se conheceram em um velório, quase como se o caos da vida de ambos houvesse terminado ali e começado uma nova história.

Era a impressão que eu tinha... que aquele enterro marcava também um enterro de passado para meus amigos e um enterro da felicidade que eu desfrutava ao lado de minha anjinha. Vicky já não era mais somente minha e tudo que eu queria era matar o infeliz que teve a sorte de colocar um anel na mão da mulher que amo.


— Não precisa sentir ciúmes de mim com Travis — Valery disse no carro quando a deixei na casa de Vincent, que levou as crianças da festa de noivado fracassada para sua casa. — Ele é apenas um amigo. Digo isso porque reparei na maneira como você fica quando ele se aproximar de mim, por isso deixo bem claro que tenho zero intenção de ficar com ele, tudo não passa de uma boa amizade que começou e perdurou por causa de você!

— Já notei que criaram um carinho um pelo outro — Comentei sem encará-la, ainda perturbada com a maneira como Travis me olhou após ver o anel em meu dedo.

Sua expressão ficou cravada em minha mente como uma fotografia aterrorizante. O sofrimento em sua face era notório e me corroía a alma. Minha vontade era retirar o anel e arremessá-lo o mais longe possível, de modo a jamais voltar a vê-lo.

— Carinho de amigo, Victorya! É isso que Travis sente por mim e pelas crianças! — Valery retificou antes de descer do carro. — Não tenho nenhum interesse nele e jamais teria! — Comprimi o lábio e suspirei, desviando o rosto na direção oposta para que ela não visse meu ciúme gritante. — Agora no amigo dele... Realmente me pareceu um homem muito interessante!

Sorri para Valery. De certo percebi que o tal amigo de Travis e minha irmã tiveram uma conexão imediata, mas não podia evitar sentir ciúme da maneira como Travis se dirigiu a ela.

— Você estendeu a mão com educação, mas ele exigiu um abraço. — Não a olhava enquanto falava. — Deve ser porque se interessa em você. No que pensa...

— Ah fala sério! — Val riu debochadamente, nitidamente cansada de debater comigo. — Você realmente está com ciúme? Travis faz isso para te provocar ciúme e está conseguindo, Vicky! Só um tolo não percebe que entre você e ele... — Deteve-se. — Bom, é melhor eu ir!

Val me deu um beijo rápido na bochecha e desceu sem mais, deixando-me sozinha com meus pensamentos. Travis sequer me tocou depois de ver o anel. Respondeu o mínimo e ficou apenas com Samantha, afastado de todos nós. Eu vi em seu olhar a repulsa e a raiva...

A dor.

Cheguei em casa chorando, sem conseguir conter as lágrimas, e encontrei Fred sentado sozinho na escadaria principal. Suspirei ao descer do carro e vê-lo, caminhando em sua direção enquanto pensava no que diria. Usava a gravata frouxa ao redor do pescoço e a blusa aberta. Cheirava a álcool quando parou frente a mim.

— Onde você estava? — Disse um pouco severo, mas com ar melancólico. — Espero que tenha uma boa desculpa para ter sumido no nosso jantar de noivado, Victorya. Fiz papel de palhaço perante os amigos da sua família e seus parentes quando perceberam que a noiva não chegaria. Era o que queria? Me ridicularizar?

Pensei em muitas coisas, mas Fred não tinha culpa naquilo tudo. Eu era a covarde em questão!

— A mãe de um amigo faleceu e precisei ir ao velório. Foi tudo muito rápido e...

— Qual amigo? Jamais mencionou qualquer amigo ou amiga tão importante, além de Rayanna, a desmiolada! Por que fugiu? — Apontou para a casa, que já estava vazia. Corei perante o questionamento. — Quero que me diga, Vicky. Quem é esse amigo tão importante que fez você me deixar plantado em pleno noivado?


Contar a verdade era uma necessidade, não mais uma opção.

Se era meu noivo perante meus pais, Fred logo exigiria sexo e isso implicaria em descobrir a verdade. Travis não terminou o serviço e eu ainda era virgem... Não tinha como seguir sustentando uma farsa e eu sequer sabia se queria continuar mentido.

Fred talvez não fosse o homem ideal para mim como mamãe e eu imaginamos um dia.

— Estive mentindo durante todo esse tempo, Fred. Não era tão experiente quanto fiz parecer e acabei contratando um homem para me ensinar alguns truques sobre sexo, para não fazer feio quando te conhecesse pessoalmente. Menti para você e assumo meu erro. Não quero continuar mentindo e sendo hipócrita!

O olhar de Fred era muito diferente do que esperei receber quando confessasse a verdade. Por um lado, me senti aliviada, mas por outro fiquei totalmente transtornada perante seus ideais de vida.

— Você fez isso por mim? — Sorriu e tocou meu queixo carinhosamente. O encarei sem reação. — Vicky... Não pensei que fosse tão apaixonada assim, amor!

Fred me abraçou e olhei para os lados em busca de uma câmera escondida. Aquilo parecia uma pegadinha, no entanto, ele seguiu em frente.

— Fred... Você pode me dizer o que sente! Pode terminar comigo se quiser, vou compreender totalmente se não quiser mais se casar e... — Pousou dois dedos sobre meus lábios.

— De jeito nenhum! Acha mesmo que sou um homem pré-histórico para terminar por isso? — Sorriu enquanto permaneci estática. — Por favor, Vicky! Não é como se você estivesse apaixonada por um garoto de programa! Ele só está te ensinando a foder melhor e isso me agrada, querida! Você sabe que não gosto de mulheres inexperientes e de mente fechada!

— Mas... — sussurrei. — Pensei que consideraria uma traição de minha parte, porque... — Tomei ainda mais coragem. Comecei, então terminaria! — Travis e eu estivemos juntos. Tivemos intimidade.

— Vicky! — Debochou novamente. — Acha mesmo que permaneci te esperando em Londres? Por favor! É claro que comi algumas vagabundas para aliviar a tensão, mas é como eu disse... Não se trata de amor. — Novamente tocou meu queixo com carinho. Senti vontade de desviar, mas segui imóvel. — O corpo precisa do sexo. Trata-se de uma necessidade. A sociedade precisa do casamento e do casal perfeito. Trata-se de uma formalidade! Precisamos atrelar os dois, querida.

Sequer consegui formar uma frase concreta. Me julguei todo o tempo por estar com Travis para agradar a Fred quando na verdade Fred estava com outras mulheres em sua cama?

Senti vontade de dar um soco em minha própria cara inocente e tola!

— Está me dizendo que... Que acha normal eu estar me envolvendo com outro cara?

— Não! Estou dizendo que, enquanto eu não te toco, pode continuar sua historinha com esse cara, porque também tenho minhas aventuras... Mas quando for minha mulher, depois de foder comigo, não te quero na cama de outro. Entendeu?

O semblante sério me pegou ainda mais de surpresa.

— Estou apaixonada por ele, Fred. Não é simplesmente uma transa qualquer, eu... — Fred riu novamente e tocou meu rosto.

— Vicky... Apaixonada? Meu amor! Nós, da nossa posição, não podemos simplesmente nos apaixonar! E te garanto que depois de estar comigo vai esquecê-lo! — Piscou sedutoramente, mas tudo que conseguiu foi me deixar com raiva. — Agora aproveite os últimos encontros com ele para se tornar ainda mais entendida, porque em breve começará a foder comigo e aí sim vai saber o que realmente é bom! Te quero bem treinada, uma vez que não aceito pouco.

Fred segurou meu rosto e me beijou, mas nada senti além de repulsa. Saiu de minha presença porque meu pai passou por lá e pediu para falar com ele. Hospedado em minha casa, pouco tempo tínhamos para compartilhar intimidade, mas ele garantiu que aconteceria muito em breve. Estava reservando um motel para nós e uma surpresa.

Chorei durante toda a noite por ser tão idiota e tonta! Chorei por tentar me livrar de Fred fazendo-o desistir de mim e ter descoberto que era um libertino ainda mais promíscuo do que Travis!

O garoto de programa era príncipe e o príncipe era promíscuo?

Tudo em minha cabeça soava ainda mais confuso conforme eu me dava conta de onde havia me metido.

 

Bêbado e em meio a boate em que costumava me apresentar como dançarino e me vender no sexo, segui bebendo encostado em um canto enquanto Dean conversava animadamente com Valery por mensagens.

Samantha estava na casa de sua melhor amiga naquela noite — a única com a qual eu a deixava passar a noite, pois conhecia bem os pais da garota desde o jardim de infância de Sammy — e aproveitei a deixar para tentar afogar as mágoas. Não funcionou! Informei ao pessoal da boate que me desligaria das funções e fizeram uma festa surpresa de despedida regada a shows de dança, bebida e muita mulher bonita.

Não consegui tocar em nenhuma, mesmo que várias se oferecessem. Escolhi beber com meus amigos de anos e Dean, que sabia da festa, me acompanhou na empreitada. Estava enfeitiçado pela outra irmã Hayder encantadora, a linda Valery, que servia perfeitamente para sua vida de pai solo e viúvo. Ambos eram feitos um para o outro e me alegrava o flerte entre eles.

— Você não é assim, Travis. — Dean sentou ao meu lado quando me viu emotivo, olhando ao redor em busca de algo que não estava ali. — Não é melancólico e muito menos autodepreciativo! Ao mesmo tempo em que ela trouxe o amor a sua vida, também te tirou o amor próprio e sua vaidade.

— Ela não fez isso, cara... — sussurrei sem compreender bem o que queria me dizer.

— Vicky é uma mulher foda, não estou falando mal dela, longe disso! — Aclarou e conquistou minha atenção, finalmente. — Estou falando que você, por amá-la, sente pouco e se rebaixa a esse pouco. Se rebaixa por achar que não é o tipo que ela merece e acaba se autodepreciando. — Comprimi os lábios e encarei minha garrafa de cerveja verde escura. — Esse não é o Travis que conheço!

— Qual é o Travis que você conhece?

Dean bateu em meu ombro com força e segurou ali em sinal de apoio.

— O Travis que conheço é aquele cara que chegou na cara e na coragem em minha academia pedindo um emprego porque precisava sustentar a sobrinha. O Travis que conheço me disse na lata quando começou a trabalhar nesta boate e jamais se envergonhou de ser um profissional do sexo, mesmo que seja motivo de vergonha para muitos! Sempre defendeu a classe e deixou muito óbvio que todos que estão nisso fazem por necessidade, não por vontade. — Olhei para ele rapidamente e concordei. — O Travis que conheço estaria curtindo sua noite com os amigos e riria de tudo pela manhã! O Travis que conheço jamais se sentiria pouco por uma mulher, mesmo que ela de fato seja uma princesa. Vicky é mesmo uma mulher rica, educada e inteligente, mas você não é pouca bosta só porque não tem o status dela!

— Cara... — Sorri de lado sem muito humor.

— Você é foda, Travis O’Brien! — Me chacoalhou animado. — Você come a mulher que quiser com teu charme, que invejo para cacete! Convence qualquer um com tua lábia e cativa as pessoas ao redor, sejam elas homens, mulheres, idosas ou virgens! Não deve perder tua alegria por nada, irmão! Se Vicky escolheu o outro cara, azar o dela! Perdeu a chance de ser muito feliz ao lado de um puta homem!

Sorri e concordei com um aceno triste. Compreendi o que Dean queria dizer com tudo aquilo.

— Não dei escolhas a Victorya — Confessei. — Deixei bem claro que eu e ela somos diferentes e nosso lance jamais poderá ser real. Não dei brecha para qualquer esperança de que poderia haver algo entre nós.

— Deveria dar! Só assim saberá se ela realmente teria coragem de lutar por você! Do contrário, está obrigando-a a tomar uma decisão.

— Não estou obrigando a nada, cara. O que está em jogo é a felicidade dela... Toda uma vida! Vicky é mulher suficiente para saber se será feliz ou não com aquele babaca ruivo, independentemente de ser minha mulher ou não! — Bebi um longo gole da cerveja. — Tem algo errado com o cara... Como assim não gosta de virgens? Quem não gosta de virgem?

Rimos juntos e alto.

— É maluco! — Dean seguia rindo. — E tu é um otário se não transar com Vicky! — Apontou para meu rosto. — Essa historinha romântica não combina contigo, Travis! Mostra para o otário como se faz a coisa e deixa sua marca na vida de Vicky para sempre! Faz como você costuma fazer com suas clientes.

— Você acha? — Ri junto dele.

— Claro! Dá um grau tão forte nessa loira para ela nunca mais te esquecer, mesmo que case com o babaca. — Bateu novamente em meu ombro e comecei a gostar da ideia enquanto imaginava. Bebi um gole grande da cerveja. — Esquece esse Travis chorão e dá lugar para teu melhor lado, o Travis safado e que bota qualquer mulher de quatro facinho! O Travis pelo qual Vicky se apaixonou — disse a última parte ainda mais perto de mim, segurando-me pela nuca.

Concordei e estendi a cerveja para que ele brindasse comigo.

— Está certo, cara! Realmente me tornei um otário pensando não ser suficiente para Victorya e acabei me esquecendo que não sou assim... Amo aquela mulher e mesmo que seja apenas por uma noite. — Fiz sinal de um com o dedo. — Anjinha vai ser minha! Nunca mais será capaz de me esquecer... Nunca!

Me ergui do banco e voltei a beber com Dean, comemorando minha decisão.


“Quero te ver.”

Mandei no começo da noite do outro dia, finalmente desbloqueando o número de Vicky, terminando assim com minha ridícula maneira de afastá-la. Não demorou nada para a resposta chegar.

“Quando? ”

Sorri e digitei.

“Agora... Está pronta? ”

“Não, mas quando se trata de você, fico pronta muito rápido! Também preciso falar contigo sobre muitas coisas, Travis”

Sorri pelo duplo sentido da frase.

“A última coisa que quero é falar, Anjinha. Quero você...”

“Em uma hora estarei no hotel”

“Pois então chegarei em meia”

Guardei o celular e terminei de me arrumar. Sammy me encarou surpresa quando me viu arrumado em meio a sala, sentada na cozinha com seu cereal e o notebook aberto frente aos olhos.

— Você não parou de trabalhar na noite, tio Travis? — Questionou de boca cheia, dando mais uma colherada generosa no cereal colorido.

Abri o baleiro e retirei uma bala de menta dele, colocando-a na boca.

— Vou ver Victorya.

— Hum... Depois fica aí chorando as pitangas porque ela não te quer! — Voltou a comer após rodar os olhos.

— Quem disse que ela não me quer? — A encarei com desdém. — Vicky jamais me disse que não me quer, sou eu quem trata de dizer isso a ela se quer saber! Sei o meu lugar e resolvi voltar para minha posição...

— Que posição? — Sammy sorriu enquanto me olhava. Beijei sua testa docemente.

— Esqueça, doce Sammy. — Me olhou de baixo, cheia de dúvidas. — Dona Leonor está em casa e disse que qualquer coisa é só gritar. — Apontei em direção a casa da vizinha, colada na nossa. — Virá te ver mais tarde.

— Vai dormir fora? — Pensei um pouco enquanto segurava a maçaneta. — Tudo bem, não precisa responder! Boa sorte com sua anjinha, tio Travis! Não esquece que ela está me arrumando emprego! Não estrague tudo!

Victorya Hayder estaria pela última vez em meus braços, mas não seria uma simples noite. Seria a noite em que ela jamais se esqueceria de Travis O’Brien, o promíscuo que a ensinou a transar.


Abri a porta do hotel e travei perante a cena, mesmo tendo praticamente corrido até ali.

Pensei que o encontraria nervoso e confuso como andava desde a última vez que nos vimos, porém, o homem absurdamente sexy e tatuado de costas para mim em meio ao quarto de hotel com apenas uma toalha amarrada na cintura definitivamente não estava para brincadeira!

Não se tratava do quarto que sempre usamos para nos encontrarmos. Aquele era uma das suítes mais caras do hotel e as meninas da recepção me designaram para ela assim que me viram entrar. Subi confusa com a mudança, mas não pensei que fosse proposital. O ambiente era iluminado por uma luz vermelha baixa, que dava a impressão de que eu tinha acabado de entrar no inferno... E quem me esperava lá era Travis O’Brien.

Fechei a porta tendo a certeza absoluta que queria arder naquele fogo!

Em suas costas, um pouco abaixo da nuca, havia uma tatuagem grande em letras redondas e bem-feitas, por muito pouco distante do impecável desenho de dragão feito pela irmã dele.

“VICTORYA”

Minha garganta secou quando li meu nome decorado com uma auréola, remetendo a algo angelical. Travis tatuou meu nome em sua pele e o fato me encheu de um sentimento inexplicável. Aquele homem não precisava dizer que me amava. Estava marcado nele, em sua pele, de ombro a ombro em suas costas largas e torneadas.

Havia uma cama redonda e muito grande com um espelho no teto bem acima. A parede em frente a cama também era um espelho gigantesco. No pequeno bar, duas taças de vinho e mais alguns drinks com morango e frutas vermelhas. Uma banheira retangular de hidro estava um pouco mais ao fundo, próxima do banheiro. Estava cheia e a fumaça da água quente subia em um vapor agradável pelo quarto.

Deixei a bolsa cair do ombro e minha respiração falhou quando Travis se virou para mim com um copo de drink na mão e um sorriso sacana nos lábios. Senti como se estivesse nua perante seu olhar, mesmo que usasse um short jeans cintura alta com um cropped preto e discreto.

— Travis...

Sussurrei quase sem voz, olhando-o fixamente. Meus olhos queriam captar cada pedaço daquele corpo sensual e úmido. Travis estava molhado e seu cabelo pingava no peito forte, escorrendo pelo abdômen e se perdendo no início de sua pelve coberta pela toalha. Era como se a água indicasse o caminho da perdição.

— Anjinha... Você não costuma se atrasar assim! O que houve? — Aproximou-se vagarosamente e meu corpo imediatamente estremeceu com sua presença. Meus olhos não se perdiam dos lábios dele.

— É que eu... — Meu coração corria tanto, que as palavras se atropelavam. — Não estava esperando sua ligação. Você decidiu se afastar nos últimos dias e... — Tocou meus lábios com dedos firmes. Fechei os olhos e tive vontade de chupá-los.

— Não mais! — Afirmou com a voz sexy e grave muito próxima de mim. — Resolvi terminar o que começamos, porque não sou um príncipe como está acostumada... Não saí dos contos de fadas, mas de uma boate onde o sexo é o foco. Sou o homem promíscuo... — Aproximava-se ainda mais de meu ouvido. — O que enche tua cama e te dá prazer, Anjinha.

Seus lábios roçaram meu maxilar em um beijo rápido e ousado. A mão que estava em meus lábios desceu para a cintura.

— Que bom que reconsiderou, porque é isso que quero! — Afirmei convicta, encarando-o com a mesma firmeza. Bebeu mais um gole da bebida e passou ela para mim. Apanhei sem pensar, bebendo também.

— Pois vai ter — concordou enquanto me via bebendo todo o conteúdo da taça. — Não vou perder a oportunidade de foder a mulher que me deixa louco, a única mulher... — Aproximou-se a ponto de ficar lábio a lábio comigo. Eu sentia sua respiração em minha boca e seus olhos quase dentro dos meus. — Capaz de me tirar a razão!

— Diz... — falei encostando a lábio no dele, mas sem beijar, apenas falando de maneira desafiadora. — Diz, Travis O’Brien... Diz que também me ama! Diz que o que fazemos não é somente sexo para você, mas que me ama como te amo... Me ama com a intensidade com a qual me deseja! Me ama cada vez que me toca e vai me amar quando transar comigo aqui, neste quarto!

Travis não disse nada.

Seus lábios se colaram aos meus e me beijou com sofreguidão, quase desesperado, devorando meus lábios enquanto me segurava pela cintura e apertava meu queixo para que pudesse controlar totalmente o beijo intenso.

Coloquei a taça de lado, no móvel próximo, quando levei a mão para seus ombros nus, retirando o sapato sem olhar, somente sentindo que Travis me puxava para tirar minha roupa com sua maestria impecável para o feito.

Puxei sua toalha também, ofegando ao sentir a ereção dele crescendo em contato com meu corpo. Travis retirou meu sutiã com certa impaciência, tocando meus seios com as mãos fortes, e gemi quando acariciou meus mamilos em seus dedos. Não esperei que tomasse a frente de tudo... Aquilo definitivamente não era uma aula!

Desci as mãos por seu abdômen musculoso e molhado e me ajoelhei a sua frente, passando a língua em sua pele até chegar a seu membro, duro como sempre estava e pronto para mim. Toquei-o quando a mão de Travis me segurou com força pelo cabelo, deslizando a língua por sua extensão grossa e chupando com mais vontade ao sentir o sabor me invadir a boca.

Travis não me afastou, mas me incentivou a chupar com ainda mais vontade. Segurou meu cabelo enquanto fodia minha boca e gemeu alto no quarto, empurrando o pau entre meus lábios com destreza e prazer. Tratei de chupar tão forte como a fome que tinha dele, sugando-o mesmo quando o sentia ir mais fundo do que eu aguentava.

— Ah Anjinha... Você consegue ser uma menina bem malvada quando quer, não é? — Bateu levemente em minha bochecha, acariciando-a depois. Rodei a língua em seu pau propositalmente, fazendo-o gemer alto com a sensação que causei.

— Você quem ensinou, professor.

Segui movimentando o pau de Travis em minha mão quando me puxou de volta, me fazendo sentar na cama para tirar minha calcinha rapidamente. Mordi os lábios enquanto o encarava. Travis estremecia cada vez que meus olhos cheios de luxúria e tesão pousavam nos dele e a sensação era gloriosa.

— Vamos para a banheira... Vou te ensinar como ter prazer enquanto me acabo na sua boceta. — Se abaixou para mordiscar meus seios enquanto eu o encarava fixamente. Apertava os dois montes juntos enquanto chupava-os, indo de um mamilo para o outro. — Quero sair daqui com teu gosto marcado na língua e com a minha língua marcada na tua memória.


A água quente da banheira de hidro esquentou apenas meus pés quando Travis me colocou sentada na beira dela, ajoelhando-se dentro da água para ficar à minha frente enquanto me beijava.

Em sua mão, uma taça de champanhe cheia e gelada. Eu tinha certeza que podia ouvir meu coração correndo no peito enquanto ele descia os lábios por meu pescoço e tomava meus mamilos enrijecidos em sua boca, molhando-os com sua saliva e mordiscando levemente com os dentes. Eu mordia os lábios para não gemer, tomada pela incrível sensação.

— Gosta de champanhe, Vicky? — Sussurrou com os olhos em minha face, aproximando-se para desferir um beijo em minha boca. Concordei. — Eu também. Fica muito melhor quando é bem servido no corpo de uma mulher bonita...

Toda minha pele arrepiou quando Travis virou um pouco de champanhe em mim delicadamente. O líquido gelado escorreu por meus mamilos rosados e a língua faminta de Travis não demorou nada para sugar cada gota em contato com minha pele.

Agarrei seu cabelo totalmente apaixonada pela sensação do champanhe gelado e da língua quente, o limpando com chupadas intensas. Fechei os olhos quando o senti derramando mais champanhe gelado em meus seios, mas desta vez deixou que escorresse mais em baixo, descendo a língua por meu ventre e parando no começo de minha intimidade. Meus seios subiam e desciam com a respiração ofegante quando Travis terminou a taça, derramando o líquido bem lentamente em meu ventre.

Sua língua ávida chupou a parte superior de minha intimidade, descendo lentamente junto ao líquido que se espalhava entre a carne úmida. Dançou com a língua em meu clitóris, ouvindo-me gemer alto com a sensação arrebatadora de prazer que me tomava. Travis não tinha ideia do que me fazia sentir... Não podia ter! Se tivesse, certamente estaria tentando me matar de tesão ou me atar a ele para sempre.

A posição me permitia ver tudo e aquilo me excitava ainda mais. Mordi os lábios enquanto assistia a língua rápida de Travis me tocando entre as pernas e seus lábios quentes chupando meu clitóris com maestria. Gemi com gosto, sentindo um de seus dedos descendo vagarosamente até minha entrada, empurrando devagar até se afundar em minha carne molhada.

— Vou morrer de prazer quando te foder, Vicky — disse com a boca cheia em meu sexo. Todo meu corpo tremia com o que Travis me proporcionava e eu não imaginava nada melhor. — Nunca imaginei que existisse uma mulher tão apertada...

Travis moveu o dedo um pouco mais fundo e senti uma misteriosa mistura de prazer e dor enquanto me abria devagar, talvez me preparando para os próximos momentos. A língua faminta descia até a entrada e me penetrava em alguns momentos, causando a sensação mais incrível que já experimentei.

Quando sua língua pressionou com mais força meu clitóris, segurei em seu cabelo e esfreguei ainda mais a intimidade em sua boca, para gozar sem reservas, direcionando a Travis e sua boca mágica toda a intensidade das contrações que se apossavam de meu ser.

O mundo podia parar enquanto Travis e eu estávamos naquele quarto de hotel.


O cabelo loiro se desprendeu e caiu sobre os pequenos seios rosados de Vicky, que ofegava enquanto se recuperava do orgasmo recente. A visão dela certamente era uma das mais lindas que já tive, por isso tratei de guardá-la bem viva em minha memória.

Queria continuar com a língua entre suas pernas, chupando-a até cansar, mas ela parecia impactada e precisava se recuperar.

Ajudei Vicky a deslizar para dentro da banheira e a acomodei em meu colo, de frente comigo, olhando bem dentro de seus olhos em busca de algo que me levasse a desistir daquela noite.

Não encontrei.

Ela queria ser minha da mesma maneira que eu queria tomá-la e precisava fazer aquilo!

Beijei-a quando a água a cobriu junto de mim e seus braços envolveram meu pescoço delicadamente. Desci as mãos até sua bunda, pressionando sua intimidade contra meu membro duro por ela. Queria que sentisse bem de perto o que a esperava dentro de pouco... Vicky arfava cada vez que sentia a carne úmida de sua intimidade pressionando meu pau e agarrou com ainda mais força meus ombros entre o beijo cheio de língua e mordidas que trocávamos.

Eu amava minha anjinha inocente, mas amava ainda mais a Vicky cheia de tesão que despertei naquela linda loira com carinha de anjo.

— É o meu nome... — sussurrou, afastando-se do beijo ainda ofegante. Beijava meu pescoço quando reparou. — É o meu nome tatuado em suas costas.

Sorri de canto ao notar que Vicky havia se dado conta sem que eu precisasse dizer. Como suspeitei.

— Sempre atenta a mim, não é? — Acariciei seus seios com espuma para não precisar focar em seus olhos azuis tomados por emoção.

— Vi quando cheguei — confessou emocionada. Vicky usou as duas mãos para erguer meu olhar para o dela. — Você me tatuou em sua pele, Travis... O meu nome.

— Teu nome também é uma palavra. Um substantivo que significa a ação de vencer. De triunfar.

— Não com y. O que está tatuado aí é meu nome, Travis O’Brien, não tente ser espertinho e admita o que fez! — Insistiu com sua astúcia corriqueira. Sorri, dando-me por vencido.

— Vai estar comigo, Victorya Hayder, mesmo que eu não possa vê-la e nem a tocar. — Toquei a ponta de seu nariz arrebitado, com delicadeza. — Por isso tatuei teu nome em um lugar onde não posso ver e nem tocar, mas sei que estará lá, marcada para sempre.

Victorya chorando partia meu coração, mesmo que fosse apenas uma lágrima fujona descendo silenciosa e solitária por sua face corada e cheia de sentimentos. Sequei ela com delicadeza, encarando-a bem de perto.

— Não vou me casar com Fred... Não posso — sussurrou segurando minha face também. — Sou apaixonada por você, Travis O’Brien. Seja na putaria que me ensinou ou na sua versão apaixonada, sou completamente louca por você desde que te vi pela primeira vez naquela boate pornô.

Não pude evitar sorrir e acariciei sua face com ternura, tocado pelas palavras sinceras e os olhos azuis que exalavam verdade.

— Preciso mesmo dizer que sou louco pela mulher mais linda que já vi? A mais gostosa que já toquei? — Vicky sorriu também, acariciando minha face. — Preciso dizer que mato quem te ferir e morro no teu lugar? — Imediatamente me lembrei da briga com o ex-marido de Valery. — Creio que está escrito na minha cara que estou apaixonado por você, Victorya Hayder. Sempre me chamaram de louco, mas ninguém nunca imaginou que eu seria capaz de tocar em uma princesa... De amar como um louco uma mulher como você.

— Se você é louco, eu também sou. — Vicky me beijou com fervor, falando enquanto seus lábios puxavam os meus e sua língua penetrava em minha boca. — Não sou uma princesa, Travis. Não sou uma bonequinha de luxo desde que te conheci e você me transformou em mulher.

Tais palavras valiam mais que uma prova de amor. Levei a mão delicada de Vicky até meus lábios e beijei-lhe os dedos com carinho, fechando os olhos para me lembrar sempre daquele toque doce em minha pele.

— Essa é nossa última lição, Vicky, e não será prazerosa. Nem todas as mulheres sangram na primeira vez. Isso acontece muito em romances e novelas, mas não é totalmente real. Acontece sim, mas não espere por grandes quantidades de sangue, somente algumas gotas. Geralmente está associado a um parceiro inexperiente e a falta de lubrificação da mulher. — Seus olhos curiosos me encaravam fixamente. A cor azul refletia também a água da hidro, tornando-a ainda mais intensa. — Não será agradável para você como as outras lições foram, mas tentarei ser o mais cuidadoso que puder — Segurei sua face com a mão espalmada em sua bochecha rosada. Colei a testa na dela. — Sempre tive medo de te machucar, desde a primeira vez que te toquei... Não foi fácil me controlar com você e sequer sei explicar como consegui. — Vicky sorriu com os olhos fechados, sentindo minha respiração roçando seu lábio. — Te amei desde o momento que coloquei os olhos em ti e essa foi a minha prova de amor... Ter ficado. Ter topado toda essa loucura! Eu não queria aquela anjinha, que roubou meu coração no primeiro momento, caindo nos braços errados.

— Você é um homem incrível, Travis... — A mão pequena se movia em meu rosto. Os olhos estavam quase dentro dos meus. — A única certeza que tenho na vida é que quero ser sua.

Eu já não podia esperar, por isso saí da hidro com Vicky no colo, beijando-a até que caíssemos sobre o edredom branco da cama impecável.

Finalmente provaria o céu ao foder minha Anjinha.


Travis tinha medo de me machucar e sequer tinha ideia do tamanho do ferimento que causava em meu coração cada vez que dizia que teria que se afastar de mim.

Qualquer dor física que sentisse com a penetração de seu pau em minha intimidade virgem não seria equiparada à dor da separação. Da distância entre as realidades que ele reforçava sempre existir entre nós.

Meu corpo, apesar do recente orgasmo intenso que Travis me proporcionou, queimava dos pés à cabeça ao sentir aquele homem enorme sobre mim na cama redonda, abaixo do espelho. Eu podia ver a figura imponente sobre mim no reflexo. A tatuagem de dragão incrível se movia junto do meu nome cada vez que Travis se movia para me beijar os seios e descer a língua em meu ventre.

— Você está pronta, Vicky... — Tocou com os dedos minha intimidade e penetrou um dedo levemente. Fechei os olhos e segurei meus seios enquanto sentia, focada no que amava em Travis. Voltou-se para cima de mim novamente, parando com os lábios nos meus enquanto o dedo ainda se movia em meu interior carinhosamente. — Feche os olhos e lembre-se do que te fez me amar. Lembre-se de todas as lições que te deram prazer.

Foi o que fiz.

Abri ainda mais as pernas quando Travis removeu o dedo úmido e acomodou a cabeça inchada de seu membro em minha entrada apertada, segurando meu corpo com a mão livre. O contato me fez estremecer ao sentir como era ainda maior em contato comigo... Em contato direto com meu sexo estreito, pronto para me penetrar pela primeira vez.

Travis olhou meu rosto em busca de algum sinal que o fizesse parar, mas me mantive calma enquanto sentia o membro rígido e grande se movendo para dentro de mim.

Não, não era agradável como nas histórias românticas. Não me adaptei a dor prontamente e logo já estava dando como louca, curtindo o sexo como uma mulher experiente faz.

A invasão de Travis era incômoda e grande demais para o meu corpo estreito. Ardia no sentido real cada vez que entrava e saía e, principalmente, quando rompeu meu hímen. Gemi, apertando ainda mais meus seios em minhas mãos. Abri os olhos e encarei Travis, que parou de se mover ao notar meu espasmo.

— Quer que eu pare?

Ao encará-lo e ouvir seu tom rouco e sensual, me dei conta de que havia sim uma parte incrível naquilo tudo. O homem sobre mim, com o pau intumescido penetrando em minha carne virgem, sentia o máximo do prazer que uma mulher já o proporcionou. Travis estava louco de prazer, enlouquecendo por minha intimidade apertada ao redor dele e do calor que emanava de mim.

Por mim.

Aquilo despertou um leve calor desconhecido, que se apossou de meu ventre e tornou a penetração um pouco mais suportável. O peso daquele homem grande e imponente sobre meu corpo pequeno era delicioso, agradável, ainda mais com nossas peles úmidas da água da hidro. Tudo era sensual e erótico ao máximo. Tudo contribuía para que eu desejasse abrir ainda mais as pernas ao redor do quadril dele, para que Travis se movesse e me penetrasse mais fundo.

— Não... — Sussurrei espalmando uma das mãos no peito dele, segurando-o perto. — Estou lembrando do que me fez te amar.

Travis não hesitou e voltou a se mover com calma, me encarando a todo o momento.

— É uma delícia, Vicky... — Olhou para baixo, onde nossos corpos se uniam, e gemeu ao me penetrar com mais força, causando ardência e dor em meu interior, mas muito prazer para ele. — Não tem ideia de como me dá prazer, Anjinha. De como é gostosa e apertada... Caralho, eu podia morrer agora!

— Travis... — Sussurrei, admirando a expressão dele. Segui apoiando uma mão em seu peito forte, usando-a para acariciar a pele quente e firme do homem que me fazia mulher. — Te amo.

As palavras escaparam de meus lábios. Perante sua expressão repleta de luxúria e a maneira como me preenchia, tomado pela loucura e pelo desejo, não tinha como não amar aquele homem.

Travis me olhou rapidamente, acariciando minha face antes de afundar o rosto em meu cabelo, ao passo em que me penetrava com ainda mais força conforme deslizava mais para dentro, recebendo passagem de meu corpo, que se adaptava aos poucos ao ato sexual.

Meu prazer foi senti-lo dentro de mim. Foi contemplar sua expressão apaixonada. Foi me familiarizar com o sexo, com o pau dele em minha boceta, que também sabia o caminho e em breve começaria a desfrutar como se devia. Ela pulsava de tesão, mas também sentia o ardor.

Não sei quanto tempo passou ao certo, mas os beijos de Travis começaram a me envolver e a paixão me dominou enquanto o sentia se movendo dentro de mim com um ritmo cadenciado e terno. Meu quadril se movia junto dele, acompanhando, aprendendo em meio ao desconforto da primeira vez. Presenciar seu orgasmo foi mágico... Aquela sim era a real magia entre um homem e uma mulher.

Meu corpo respondeu ao dele e parei de me mover ao ouvir seus gemidos roucos e sensuais enquanto gozava, derramando dentro de mim seu sêmen ao passo em que o corpo grande e forte se contraía em prazer.

Gemeu meu nome. Agarrou meu cabelo. Beijou meus lábios com desespero, com loucura... Eu amava tudo aquilo, completamente envolvida e cada vez mais apaixonada pela brutalidade intensa e sensual de Travis O’Brien.

Travis caiu de costas na cama enquanto arfava, o peito nu se movendo ofegante pela respiração. Deslizei os dedos entre os pelos de seu peito, mordendo os lábios enquanto o via. Travis sorriu para mim cheio de tesão e me puxou pelo cabelo, beijando-me. O acompanhei, subindo em cima dele para beijar mais fácil.

— Que delicia de boceta... Que delicia de mulher, Victorya Hayder.

Sorri orgulhosa e o beijei de volta, apaixonada e completamente louca de amor. Agora tudo fazia sentido para mim! Agora conseguia entender a diferença entre os homens e as mulheres que Travis tanto ressaltava durante as aulas.

Sentíamos prazer de maneiras distintas e com situações distintas. Enquanto Travis sentia tudo intensamente na carne, eu sentia na mesma proporção em meu coração, diretamente em meus instintos. O fim era igual... Nos completávamos perfeitamente.

— Eu também podia morrer agora, Travis O’Brien... Eu também.

Gemi contra seus lábios enquanto Travis me girava na cama para descer a língua por meu ventre e se perder em minha intimidade. Me entreguei para o prazer que a boca dele me proporcionava, mordendo os lábios enquanto sentia.

Não aceitaria me afastar daquele homem jamais.


Pela primeira vez, dormi ao lado de uma mulher.

Jamais aceitei virar a noite com clientes, mesmo que pagassem muito caro. Sempre saía ao final da transa e sequer deixava espaço para uma negociação. Dormir com alguém era profundo demais para uma relação sexual paga.

Acariciei o cabelo de Vicky, que dormia como um anjo ao meu lado, convicto de que a amava com loucura. Jamais me prestaria a isso tudo se não amasse. Jamais teria tido cuidado com ela na noite anterior se não a tivesse em meu coração. Consegui que tivesse o mínimo de prazer ao invés de uma experiência dolorosa e terminamos a noite em meio a carícias voltadas para ela e seu prazer.

Beijei sua testa ternamente, sabendo que aquele sim era o nosso final. O final de uma história que começou em uma boate voltada para o sexo fácil e terminou com dois corações absolutamente opostos apaixonados. Duas pessoas tão diferentes, totalmente envolvidas uma com a outra.

— A minha maior prova de amor será te deixar ir, Victorya.

Saí da cama com lágrimas nos olhos, encarando minha linda Vicky, a minha anjinha, adormecida com sua expressão doce e angelical. Tomei um banho rápido, vesti minha calça e voltei para o quarto em busca de minha camiseta. Vicky estava acordada, sentada no meio da cama, quando apareci a sua frente.

— Onde vai? — Parei de secar o cabelo para encará-la. Estava nua, apenas com o lençol à frente dos seios e o cabelo loiro solto e desgrenhado ao redor da face.

Seu tom de voz era vacilante. Seu olhar, amedrontado. Comprimi os lábios.

— Preciso ir, Vicky. Eu... — Baixei o olhar e suspirei. — Você sabe que esse foi nosso último encontro.

Tentei me manter firme, lembrando-me do que era real.

— E você sabe que não posso ficar sem você. — Seguia vulnerável. Os olhos azuis se umedeceram e aquilo sim acabava comigo! — Nós fizemos amor, Travis. Você não pode me deixar assim, com o coração quebrado depois de ter me amado a noite toda.

Joguei a toalha para o lado e subi na cama, tocando o queixo dela para que me encarasse.

— Não é segredo que te amo, Victorya. Não é segredo que me apaixonei por você como louco, mas a realidade nos limita. Você é uma mulher inalcançável para mim e nossa história além deste quarto jamais daria certo, Anjinha... Você sabe que não!

— Você nunca quis nem tentar!

Sua expressão de menina triste me arrebentou o peito. A abracei contra meu ombro, envolvendo-a contra mim pela última vez. Vicky se agarrou à minha pele com força, como se nunca mais fosse me soltar.

— Tenho experiência de vida e sei o que digo. Sei que o relacionamento que começa na noite entre uma pessoa da vida e uma decente não tem como ir além. Não sem que doa. Não sem machucar... Você não merece ser machucada, minha anjinha. Não merece uma vida diferente da que leva.

— Já disse que não me importo com luxos, Travis. — Encarou-me de baixo. — Não me importo com nada! Tenho trabalho e sou independente, posso cuidar de mim e de nós dois. Não me importa que tenha Sammy, eu gosto muito dela e nos damos bem. — Pousei dois dedos em seus lábios.

— Não está em discussão, Vicky. — Beijei sua testa carinhosamente. Os olhos azuis preenchidos por lágrimas me encaravam com desolação.

Sentou-se em meu colo depois, segurando-me pelos ombros. Estava nua e seu corpo roubou meu olhar. Desci a mão por sua cintura, gravando na memória a nudez doce de minha anjinha.

— Vai conseguir ficar sem mim? — Sussurrou de maneira sedutora e fez meu coração estremecer. — Vai conseguir viver sem a mulher que ama e sem a transa mais deliciosa que já experimentou?

Cerrei os dentes e fechei os olhos quando sua voz preencheu meu ouvido.

— Pelo jeito, aprendeu muito bem, senhorita Hayder. — Sorri para ela, tentando ignorar minha ereção despertando novamente. — Nota dez para seu teste final. — Agarrei Vicky pela cintura e a puxei para um beijo final. Um beijo desesperado, deitando-a contra os lençóis enquanto meu corpo se movia sobre o dela na expectativa da despedida. — Está muito dolorida?

— Não... — Sussurrou arfando, enquanto meus lábios se moviam pelo pescoço dela. Minhas mãos agarraram seus seios e movi a língua de um para o outro, chupando com força os mamilos rosados. — Houve só um pouco de sangue, nada mais. Só sinto vontade de você.

Não deixei que dissesse mais nada.

Retirei a calça com rapidez, sentindo meu pau já duro pela intenção. Dedilhei sua intimidade, notando que umedecia aos poucos, e massageei por um momento, fazendo-a se revirar contra mim. Deitei atrás dela, erguendo uma de suas pernas para ter acesso a sua entrada. Posicionei o membro justo aonde a preencheria.

— Que bom, porque desta vez não serei um namoradinho apaixonado como ontem... Aquilo foi um presente para você, como tirar sua virgindade foi para mim. Existe também outro tipo de sexo, o movido pelo tesão, e esse é forte e intenso — Sussurrei ao ouvido de Vicky, colando meus lábios em sua orelha, mordendo-a. Vicky gemeu enquanto sentia meu pau roçando sua entrada e meus dedos se movendo em seu clitóris. — Essa será nossa despedida.

Não deixei margem para preliminares, uma vez que sentia Vicky úmida e pronta para me receber. Penetrei-a por trás enquanto segurava sua perna para mantê-la aberta para mim e ouvi seus gemidos preenchendo o ambiente conforme sentia a força que eu usava para meter com precisão.

Aquela mulher era a coisa mais gostosa que já tive o prazer de provar e meu pau se tornava cativo daquela boceta cada vez que a penetrava. Jamais foi tão complicado segurar um orgasmo e muito menos tive tal necessidade, mas com Vicky eu o fazia desde a primeira investida. Seria capaz de gozar com um simples movimento daquela boceta quente e apertada.

Não fui complacente como na outra noite. Liberei minha força e fodi Victorya como gostaria de ter feito desde a primeira vez que a vi, usando a mão livre para tocar seu clitóris e causar-lhe, talvez, um orgasmo.

Pensei que a assustaria com a intensidade com a qual penetrava, mas Vicky gemeu alto, movendo o quadril para aproveitar o ato tanto quanto eu.

— É assim que as coisas são, minha doce Vicky — Sussurrei com a voz rouca enquanto a preenchia. — Nem todos vão te amar como te amei ontem. Muitos só querem gozar e você é perfeita para isso. Me faz gozar como nenhuma!

Vicky virou o rosto para me beijar, movendo a língua em minha boca da mesma maneira que meu pau se perdia nela. Não demorou para que eu a sentisse gozando, contraindo o corpo todo pela carícia que meu dedo fazia em seu clitóris inchado. Foi incrível sentir seu orgasmo estando dentro dela, quase arrebatador, levando-me junto ao máximo do prazer quando sua intimidade se contraiu ao meu redor.

Gozei gemendo o nome dela, dentro dela, empurrando todo meu sêmen para seu ventre.

Era minha e estava marcada. Ninguém poderia dizer o contrário.

Saí da cama momentos depois de puxar Vicky para um beijo de língua, tremendo em todo o corpo pela sensação louca que era foder com ela. Vesti a calça novamente e a camisa, vendo-a deitada sem muita reação.

— Ao menos me deixe pagá-lo, Travis. Você cumpriu o combinado e merece ser pago!

— Sentimentos não se pagam, Victorya. Cobro por quem me usa por um momento e entre nós não foi isso. Existe um sentimento real que nos uniu e nos levou a fazer amor. — Vicky sentou-se ao me ouvir. — Não cobro por sentimentos.

— Como pode falar de sentimentos se nem ao menos me dá uma chance? Se desiste de nós assim, sem lutar? — Tentei ignorar meu coração machucado. Segui de costas a ela, ainda firme.

— Você comprou a pílula não comprou? — Fechei meu zíper enquanto falava. Vicky me olhou curiosa. — Tome o mais rápido possível! Não me preocupei nem um pouco e gozei no teu ventre ontem e hoje. Precisa da pílula, caso contrário...

— Caso contrário você plantou um filho teu no meu ventre na primeira vez que transou comigo, Travis? — Ficou de pé também, ainda nua e corada. — É esse seu medo? Me engravidar?

A encarei surpreso por sua reação.

— Não! O meu medo é acabar com a sua vida! — Respondi seguro.

— Não vou tomar nada! — O tom dela também era seguro. Seus olhos azuis me provocavam. — Se fez um filho em mim, essa criança crescerá em meu ventre e nascerá do nosso amor. Ou do sexo que você acabou de me ensinar...

Segurei em seu pulso após ouvir suas palavras. Vicky me encarou com certa raiva. Ela odiava o fato de eu não ceder e ficar.

— Está sendo boba, Vicky. O tanto que gozei em você é o tanto que segurei todo esse tempo... Você pode acabar grávida sim, não estou brincando! — Vicky puxou a mão e foi até sua roupa, vestindo-se em silêncio. Suspirei e apenas a observei. — Vai tomar, não vai?

— Não! — Afirmou séria. — Eu já disse que não! E se quiser saber se estou realmente grávida... me procure daqui algumas semanas. — Foi até a porta após pegar sua bolsa e colocar no ombro. — Adeus, Travis O’Brien!

— Victorya... — Sussurrei nervoso, parado em meio ao quarto.

Aquela garota me tiraria a razão!

 

 

— Onde se meteu, Victorya Annelise Hayder? — Suspirei de frente ao espelho do meu quarto, na penteadeira, enquanto removia a maquiagem do meu rosto cansado. — Onde passou toda a noite?

Era minha mãe em tom autoritário, parada atrás de mim com seus olhos claros em meu rosto.

— Passei a noite com uma amiga e...

— Não, não quero uma história! Quero a verdade! Sua única amiga é a desmiolada da Rayanne e ela me garantiu que não sabia de você! Não é atitude de moça de família e comprometida dormir fora de casa, Victorya! O que seus sogros vão pensar? — Segui olhando para o espelho sem paciência para minha mãe. — Estava com Fred? Você e ele fornicaram antes do casamento?

— Fornicaram? — Ri baixinho. — Fala sério, mãe! Que termo mais antiquado!

— Não pode se entregar antes do casamento, menina! Isso é coisa de mulher da vida e das burras como Valery!

Me virei para ela com certa raiva, tentando controlar meu gênio.

— Isso é normal hoje em dia, mãe. Ninguém mais casa virgem nos tempos atuais. — Não pude evitar me lembrar de Travis. — E sou maior de idade. Posso passar a noite fora se quiser.

— Não enquanto viver nesta casa! Não enquanto for noiva!

— Não vou me casar com Frederick Bouchevick, mãe. Não quero me casar com ele e agora tenho ainda mais certeza do fato. — A expressão dela não se alterou. Coçou a testa como se ignorasse tudo o que eu dizia. — Hoje mesmo comunicarei a notícia ao papai e aos pais dele. E ao próprio Fred.

— Isso quer dizer que estava na rua dormindo com outro, é isso? — Nada respondi. Segui passando meu hidratante. — Espero realmente estar equivocada, Victorya. Espero que não seja mais uma decepção em nossas vidas.

— Já parou para pensar que o problema pode ser você e papai, não nós? Já pensou que somos seres independentes e podemos fazer nossas próprias escolhas?

Mamãe seguia de braços cruzados frente ao corpo em uma postura impositiva.

— Arrume-se. O jantar de noivado que você arruinou outro dia começa em poucas horas e te quero impecável com o vestido que escolhi e está no seu closet. — Separei os lábios com a indignação, encarando-a através do espelho. — Se realmente quer continuar nesta casa honrando pai e mãe, vai descer e selar seu compromisso! Agora se realmente quer separar de Fred, desça e diga isso em frente a todos e termine de uma vez!

— Eu não... Mãe! — Gritei, mas ela saiu antes que pudesse ao menos me ouvir.

Suspirei tomando coragem e caminhando até o closet. O vestido negro e pendurado era incrível, certamente feito sob medida pela estilista preferida de minha mãe. O modelo era frente única, com fechamento no pescoço e ombros livres. Descia cinturado, tinha as costas abertas até o quadril e um leve brilho quando movimentado, algo muito sutil e discreto, mas que causava um efeito maravilhoso!

— Uau! — Admirei a peça boquiaberta. Queria que Travis me visse naquela peça mais do que tudo!

Eu usaria.

Eu desceria.

Tudo isso para dizer em frente a todos que Frederick Bouchevick não seria mais meu futuro marido.

O que eu mais desejava no mundo é que Travis O’Brien houvesse plantado realmente um filho seu em meu ventre. Qualquer motivo para revê-lo era minimamente considerado.


Soquei com força os sacos de peso da academia para os praticantes de box.

Soquei até o suor me cegar, imaginando que outro homem foderia minha anjinha. Minha Vicky... A minha mulher!

Outro homem sentiria em suas mãos os pequenos seios rosados. Outro homem tocaria entre suas pernas, causando-lhe prazer, mas não saberia fazer como ensinei. Não saberia fazer como ela gostava. Aquele rico idiota foderia minha amada, mas nunca a amaria como eu.

Dean me contou logo pela manhã que ele e Valery estavam saindo e a coisa ficou mais séria, uma vez que apresentaram as crianças entre si. Aquilo me deixou ainda mais decepcionado! Meu amigo era o dono daquela academia e tinha dinheiro para estar à altura das irmãs Hayder. Tinha a sorte de Valery ser mais acostumada a sofrer que Vicky, já que a caçula era uma menina mimada e ainda muito jovem.

Voltei para casa naquela tarde, após as aulas, e encontrei Sammy brincando na rua com alguns amigos, de futebol. Meu bairro era tranquilo e ela gostava muito de se divertir na rua com os colegas desde criança. Cresci da mesma maneira e sempre dei liberdade a ela quando estivesse na companhia de um adulto e minha vizinha Leonor estava atenta.

— Odeio o amor... Odeio essa porra de sentimento com toda minha força! — Falei nervoso, encarando minha imagem no espelho do banheiro mais tarde naquele dia.

Olhos castanhos e cansados. As tatuagens cobrindo os braços e o peito forte coberto por uma fina camada de pelos. Eu fechava os olhos e podia sentir os dedinhos de Vicky correndo ali... Suas mãos pequenas descendo para agarrar meu pau.

Seria complicado esquecê-la. Talvez impossível.

Há dois dias eu não a via e me despedi para sempre com aquela transa. Há dois dias Vicky habitava meu coração.

— Vem, é por aqui! — Ouvi a voz de Sammy na sala e me atentei. Saí do banheiro sem camisa para encontrar Valery em meio a minha sala de estar com minha sobrinha ao lado. — Olha ele aí! Tio, a Valery deseja falar com você.

— Obrigado, Sammy... — Sussurrei sem palavras perante a irmã mais velha de Vicky. Minha sobrinha saiu e ficamos a sós. — Valery. Que surpresa! Deseja um café, uma água, eu...

— Não temos tempo, Travis. — Olhou no celular rapidamente. — Vim te buscar para uma festa.

— O que? — Ri coçando a cabeça. — Festa? Como assim, eu...

— Realmente não sabe do que estou falando? — Encarou-me com serenidade. Usava o mesmo vestido bonito que usou no velório de minha mãe, quando saiu da festa de noivado e foi para lá.

Noivado.

— É hoje? — Questionei sem sorrir.

— Sim. E você vai comigo! Anda, se troca! Coloca a melhor roupa que tiver e fica bem gostoso! Passa um perfume daqueles! Vamos! — Fazia sinal de rapidez com as mãos. Tive de rir do jeito engraçado de Valery, sempre disposta a ver o melhor lado da situação.

— Valery, não posso! Não posso fazer isso! Sou capaz de voar no pescoço daquele otário se o ver ao lado de Vicky! Sei que não o conheço e não sou apto a julgar ninguém, mas ela é minha, não dele. Nada disso é justo.

— Você ama ou não minha irmã? — Questionou séria.

— Amo, mas nosso amor é inalcançável! Você sabe que é!

— Sei que aquele tal de Frederick está se aproveitando da boa vontade dos meus pais porque é mais rico que nós e da inocência de minha irmã para se casar com ela! É um safado, porque até em cima de mim ele deu, acredita? — Separei os lábios com as palavras dela. — Aquele ali é um maluco cheio de taras sexuais malucas que nem sequer devia ter a ousadia de olhar para Vicky!

— Por que diz isso, Valery?

— Vincent contratou um cara para segui-lo e investigar sobre a vida dele quando contei sobre as cantadas que o idiota andava me lançando. Descobrimos que tem indícios de que haja negócios ilegais com boates ligadas ao tráfico de mulheres no exterior e o cara tirou foto dele em várias. — Enfatizou a palavra “várias”. — Clubes de sexo em grupo e perversões diversas pela cidade.

— O que? — Cuspi as palavras com a confusão instalada na mente. — Sei que não sou o maior exemplo para opinar na situação, mas...

— É diferente, Travis. Você trabalhava em uma boate onde as pessoas estavam lá por vontade própria, não porque foram traficadas ou são obrigadas a transarem de diversas maneiras estranhas. — Concordei em silêncio e ela se aproximou um pouco mais. — O otário fez exigências a Vicky, foi por isso que ela se aproximou de você?

— É complicado revelar a intimidade de Vicky, mas neste caso... sim. Ele não queria que ela fosse virgem. Queria que tivesse experiência e fosse ousada na cama. — Valery pareceu baqueada com minhas palavras. — Achei isso estranho. Certamente quer usá-la em suas perversões e ainda exibir uma esposa exemplar.

— Deseja tornar minha irmã como ele...

— Ou obrigá-la a ser — concluí com repulsa. — Já não basta seus pais a manipulando... Certamente o tal Fred percebeu isso e também quer manipular Vicky.

— Sei que minha irmã é covarde, mas não merece ser bonequinha sexual dele para sempre! O que ele quer é usá-la... Usá-la como adorno e como escrava!

Parei por alguns segundos e pensei sobre as palavras dela.

— Sempre soube que tinha algo estranho com esse cara. Algo mal explicado. — Valery concordou e cocei o queixo levemente. — Você espera um minuto?

— Um minuto! Anda!

Mesmo sendo inalcançável, eu não podia deixar minha doce Vicky nas mãos de um tarado. Não podia condená-la. Apenas não sabia como faria para impedir.


Vicky realmente vivia em um palácio como uma princesa.

Pude constatar o fato ao entrar na casa da família dela, uma residência gigantesca em um bairro nobre do tipo onde eu só pisava para fazer programa. Valery me apresentou a todos com um sorriso enorme, dizendo que eu era um bom amigo dela e de Vicky. Dean, ao nosso lado, era apresentado como namorado.

— Namorado? — Uma senhora loira, bonita e muito parecida com Vicky questionou roubando a atenção de Valery. — Arrumou um namorado, Valery?

— Sim, mamãe. — Analisei a mulher em questão. Usava um vestido longo e marrom. Era elegante e bela para a idade. A mãe de Victorya era tão bonita quanto ela, em uma versão mais velha. — Dean é meu namorado agora.

— Finalmente encontrou um homem elegante e bonito, filha. — A mulher olhava para mim, não para meu amigo Dean do outro lado de Valery. Parado e com a mão no bolso do terno, sustentei a taça de champanhe com a mão livre enquanto olhava nos olhos azuis da senhora. Olhos azuis que eu bem conhecia por me lembrarem imediatamente Victorya. Esticou a mão para que eu beijasse. — É um prazer, rapaz.

— É um prazer, senhora Hayder, mas não sou eu o namorado de Valery. Sou um amigo. O namorado é meu amigo Dean ali... — Apontei meu amigo enquanto beijava a mão dela cordialmente.

— Oh! — Olhou para meu amigo. — Desculpe a confusão! O senhor é...

— Travis! — Valery respondeu antes de mim. — Ele é Travis O’Brien.

— Travis... Que encantador rapaz.

A mulher dirigiu-se a Dean e passou a cumprimentá-lo. Realmente parecia surpresa pelo fato da filha estar se relacionando com alguém e não escondia a curiosidade. Ficou ainda mais impressionada quando Dean disse ser dono de uma academia e pai de duas crianças.

Meus olhos somente buscavam Victorya enquanto a mãe dela, de fato a rainha da arrogância, entrevistava Dean e Valery. O primeiro que encontrei foi o babaca de cabelo ruivo, inconfundível em meio à festa.

— Idiota... — Sussurrei bebericando meu champanhe.

As mulheres passavam ao meu lado e sorriam animadas, acenando delicadamente. O otário olhava em minha direção e encarei de volta. Queria deixar claro que não me intimidava sua presença ali.

Aliás... O que eu realmente fazia ali?

Meu coração saltou no peito quando as pessoas se reuniram ao pé da escada e aplaudiram Victorya descendo as escadas com o pai. O homem era alto, branco e careca. Valery se parecia mais com ele do que com a mãe. A expressão no rosto de ambos era de tensão, não de felicidade. Eu conhecia bem Vicky para saber que tudo ia muito mal.

Paralisei perante sua visão descendo as escadas. Usava um longo vestido negro frente única que deixava as costas nuas. Brilhava levemente conforme ela se movia, refletindo a luz do lugar nela toda. O cabelo loiro descia impecável até sua cintura e estava adornada de joias caras. Um par de brincos de brilhantes e pulseira combinando. Perdi o fôlego ao contemplá-la, admirado com sua beleza.

Minha anjinha... Minha mulher!

Seus olhos azuis encontraram os meus em meio à multidão e tive a impressão de que o tempo parou entre nós. Meu nome escapou dos lábios dela em silêncio. A vi vacilar alguns passos e o pai dela fez questão de movê-la para que continuasse com certa impaciência.

— Certeza que foi uma boa ideia? — Sussurrei a Valery, parada ao meu lado.

— Claro que sim! Foi uma ótima ideia! — Sussurrou e não tive tanta certeza do fato. — Vincent, irmão! — Um homem loiro e alto parou ao nosso lado junto de um outro homem de cabelo castanho claro e vestimentas estilosas. — Quero te apresentar Dean, meu namorado, e Travis O’Brien... Você deve saber quem é, não é?

O irmão de Vicky e Valery e o marido!

— O famoso Travis O’Brien — Vincent me esticou a mão e apertei rapidamente, fazendo o mesmo com o marido dele. — Esse é meu marido, Elliot.

— Vicky fala muito de você, Vincent. Fala de como te acha incrível e como seu relacionamento com seu marido é saudável. — Sorri para ambos com cordialidade. — Parabéns, são um belo casal.

— Obrigado, senhor O’Brien — Elliot respondeu antes de Vincent, que me analisava. — Eu te disse, querido, que sua irmã tinha bom gosto! O rapaz é muito simpático!

— Temos que conversar, senhor O’Brien. Soube que você é preparador físico e formado em Educação Física. Tenho interesse em criar um treino específico para pessoas que passam muito tempo em frente ao computador, o que é quase oitenta por cento dos meus colaboradores, incluindo a mim mesmo. — Sorriu. — E preciso de um profissional da área que me auxilie com os treinos e esteja à disposição para ministrá-los.

— Travis é um ótimo profissional! Trabalha comigo na academia há anos e nunca deixou a desejar. — Dean incentivou animado. — Também me ajuda quando sirvo lanches, para que estejam de acordo com a dieta dos alunos. Tem curso técnico de nutrição no currículo.

— Implantamos restaurantes na sede e na filial da empresa e precisamos de alguém atento aos cardápios, querido. — Elliot segurou o braço de Vincent.

— Seria de imensa ajuda! Quando Vicky falou sobre o senhor, logo pensei que seria útil caso tenha interesse em trabalhar conosco. É a pessoa perfeita para implantar a vida saudável em nossa empresa. É uma necessidade das organizações modernas hoje em dia, senhor O’Brien.

Sequer consegui responder de imediato.

— Eu... Claro! — Cocei a cabeça ainda pensando. — Claro que tenho interesse! Seria incrível para mim e... foi Vicky quem me recomendou?

— Não gosto de mentiras e sim... — Vincent falou na lata, o que me agradou de imediato. — Minha irmã falou muito bem do senhor e recomendou seus serviços quando citei que precisava de um profissional com seu estilo na empresa. Quero aproveitar para agradecer o que fez por Valery e meus sobrinhos... Muito obrigado por sua coragem. Muito obrigado por estar abrindo os olhos de Victorya também! Ela jamais tomaria atitudes em relação a nossos pais se você não tivesse aparecido, cara.

— Esperamos que aceite a oportunidade, senhor O’Brien. — Elliot disse sorridente. — Aqui está nosso cartão. Entre em contato para agendar um horário.

— Ótimo. Obrigado e... — Guardei o cartão no bolso. — Não precisa agradecer por nada. Por Vicky, eu dou a vida, e Valery é uma amiga incrível também. Ninguém machuca um amigo na minha frente, muito menos uma mulher e seus filhos!

Vincent e Elliot sorriram quando Vicky apareceu atrás deles, caminhando quase desesperada até mim. Parou na minha frente, encarando-me com surpresa e curiosidade.

— Como... Como chegou aqui? — Questionou quase sem voz.

— É meu convidado, gata! — Valery disse debochada. — E Dean também!

— Oi, Dean. — Vicky sorriu com as bochechas coradas e sequer disfarçou como me encarava de maneira nervosa. — Travis... — Não esperei que dissesse nada. Segurei no braço de Vicky e me afastei com ela um pouco. Sua felicidade transbordava aos olhos por me ver. — Pensei que não fosse te ver nunca mais!

— Estou em processo de explicar isso ao meu coração, Victorya, mas agora preciso falar com você. É urgente. — Vicky olhou ao redor e se aproximou um pouco mais.

— Meu quarto é a segunda porta do corredor de cima. Suba como se fosse ao toalete e me espere lá. — Retirou do decote uma chave prateada e me passou discretamente. — Tranque a porta. Tenho outra chave.

Peguei a chave e escondi na manga, afastando-me dela discretamente. Fiz como orientou e subi discretamente com uma taça em mãos, mas me separei dos demais convidados quando cheguei ao corredor dos quartos. Entrei na segunda porta rapidamente, fechando-a com chave.

Deparei-me com um quarto cor-de-rosa, quase infantil.

— Meu Deus... Se tivesse estado aqui antes, nunca teria colocado a mão nela! — Confessei a mim mesmo enquanto analisava o ambiente, que tinha uma cama de casal com almofadas coloridas e forro de cama rosa claro. — Me sinto quase um... criminoso.

Não era, obviamente. Victorya tem vinte e três anos e é uma mulher feita, mas seu quarto era como o de uma menininha. Prateleiras com diversos livros cobriam quase uma parede e adornos de princesas e animações decoravam outra delas. Fotos de fases da vida, inclusive de sua infância, estavam penduradas em um quadro de lembranças.

Segurei uma delas entre os dedos e analisei a menininha loira de franjinha na testa e olhos azuis espertos. Pensei em nosso último encontro. Pensei que, talvez, Anjinha pudesse estar levando um filho meu em seu ventre agora. A ideia me causou um arrepio, mas não de medo.

De amor.

O sentimento me fez temer a mim mesmo. A porta se abriu atrás de mim e eu ainda contemplava a foto.

— Travis... — Era a voz de Vicky.

— Você sempre foi um anjo... — Sussurrei com um sorriso. — Desde menina.

— Não acha que ainda sou uma menina? — Me virei para encontrá-la frente a mim, mais linda ainda de perto.

— Não mais. Já disse que pode não ser, mas vai continuar sendo minha mulher por toda a vida.

Vicky umedeceu os lábios com o fervor de minhas palavras e vi a emoção tomando conta de seus olhos azuis.

— Foi para isso que veio? Para me torturar dizendo essas coisas e... — Toquei seu rosto para atrair sua atenção. Quase colei a testa na dela, afundando meus olhos nos olhos dela.

— Vim para pedir... Para implorar, melhor dizendo. — Eu ainda segurava a taça de champanhe com a mão livre. Vicky tinha o olhar em meu rosto com admiração e paixão. — Não se case com esse cara. Não faça isso, minha Anjinha.

— Travis, eu... — Confusa, tentou falar, mas a impedi.

— Eu sei que não sou homem para você, mas não é pelo meu amor que insisto. É por ti, Victorya. Por você! Seus irmãos colocaram um cara para seguir o babaca e descobriram que ele é envolvido com esquemas sexuais estranhos. É viciado em sexo em grupo e não sei quantas coisas mais! — Os olhos azuis de Vicky cresceram no rosto. — Vincent também investigou e descobriu que existem acusações ocultas de envolvimento com tráfico de mulheres e negócios ilegais com boates no exterior.

— Vincent descobriu isso? — Vicky sentiu medo. Pude notar em seu olhar. Segurou meu pulso da mão que tocava seu rosto delicadamente.

— Sim... Depois que o otário deu em cima de Valery, ele decidiu investigar.

— O que? — Horrorizada, Vicky cobriu os lábios com as mãos. — Ah... Como eu sou idiota!

— Sempre disse que um homem que ama de verdade uma mulher jamais exigiria que ela não fosse virgem. Isso não existe, Victorya. — Acariciei seu rosto para tentar fazê-la sorrir um pouco. — A coisa mais incrível que aconteceu em toda minha vida foi fazer amor com você em sua primeira vez. Não troco essa sensação por nada... Nada!

— Isso quer dizer que você me ama? — Questionou inocente, tocando meu peito com a mão hesitante. Aceitei sua aproximação e a envolvi pela cintura.

— Claro que amo, Victorya. Com toda minha vida! — Vicky fechou os olhos contra mim, deitando o rosto em meu ombro. — Por isso aceitei o pedido de Valery e vim até aqui falar com você.

— Porque Vincent e Val não falaram com meus pais?

Comprimi os lábios perante a verdade.

— Eles temem que seus pais não acreditem neles ou até mesmo apoiem o casamento mesmo assim.

Vicky ergueu o rosto e me encarou desolada.

— Contei a ele sobre nós dois. Sobre... Sobre nosso envolvimento. Tudo! Tudinho! Confessei toda a verdade, pensando que Fred ia terminar comigo ou me repudiar, mas sabe o que ele disse?

— O que?

— Que também tinha se envolvido com outras mulheres e que eu podia continuar transando com você e aprendendo enquanto ele não me fodia. Foram exatamente essas palavras que usou para falar... — Desviou o olhar, um pouco envergonhada. — Disse que, depois que ele se deitasse comigo, a minha vida sexual seria somente dele. Achei tudo isso muito, muito estranho!

— Não me restam dúvidas de que Vincent e Valery realmente estão certos, Vicky. Você precisa desfazer esse noivado! Precisa se livrar desse cara que só vai te fazer sofrer antes que ele te afunde nesse universo no qual ele vive e compactua. Nem tudo é incrível como nas histórias românticas de cinema. Existe muita coisa cruel por trás, além do que é mostrado.

— Não caso com ele nem que fosse realmente o que diz ser! — afirmou segurando meu rosto com ambas as mãos com firmeza. — Não caso porque te amo, Travis! Te amo e não importa se você insista em dizer que não pode ficar comigo, eu quero... — Se colocou na ponta dos pés para alcançar minha boca. — Transar até cansar e te amar mesmo que nunca fiquemos juntos. Mesmo que seja assim, como é, para sempre!

Sorri abertamente por suas palavras e aceitei seu beijo molhado e carinhoso. Um beijo de língua com sabor de champanhe e desejo, o melhor gosto misturado à pele de Victorya.

Pousei a taça em uma superfície qualquer e a guiei até a cama, deitando-me sobre ela no edredom rosa e tirando meu casaco do terno.

Tornava-se cada vez mais difícil fugir daquele amor.


Mamãe dizia que as mulheres são descendentes do pecado de Eva.

No primeiro momento, realmente achei engraçado sua colocação e cheguei a me perguntar se ela de fato acreditava naquilo. Agora, rendida a Travis O’Brien e totalmente capaz de abandonar toda minha sanidade para estar com aquele homem em meu quarto, na casa dos meus pais, chego a quase convicção de que sim, somos descendentes do pecado.

Somos tentadas ao pecado, movidas pelo impulso dos homens.

Ao lado do homem que me fez mulher, eu me sentia corajosa o suficiente para enfrentar meus algozes. Meus próprios pais e o homem que queria se casar comigo para me tornar sua esposa ideal perante a sociedade e um brinquedo sexual perfeito sob a escuridão de seus pecados ocultos.

Meus segredos não eram mais um segredo. Eu já não era mais a doce Victorya.

— Não posso te foder aqui, Vicky. É loucura...

Sobre mim em minha cama, Travis ofegava ao passo em que sua boca descia por meu pescoço e minhas mãos procuravam o zíper de sua calça, com desespero. Sempre tínhamos tempo, mas daquela vez teria de ser rápido.

— Não me lembro de ter tido uma aula especifica sobre... — Consegui abrir a calça dele, puxando-a para baixo enquanto liberava o membro duro e ereto em minhas mãos. — Rapidinha.

Travis sorriu contra meus seios, puxando meu vestido frente única para chupá-los, aproveitando que eu usava o modelo sem sutiã. Gemi com a sensação de sua saliva quente contra meus mamilos, que se enrijeceram em sua boca conforme eram sugados com força e tesão.

Travis não era meu namoradinho na cama. Era meu amante intenso e irresistível.

— Não gosto de rapidinha, principalmente com uma mulher gostosa como você, que merece ser fodida até esquecer o próprio nome. — Não hesitou em abrir o zíper em minhas costas e descer o vestido completamente, deixando-me apenas de calcinha preta para ele. — Mas, no caso... acho que posso abrir uma exceção.

Não escondi a surpresa quando Travis me virou na cama rapidamente, fazendo-me segurar a risada e o grito. Colocou-me de quatro como nunca antes e hesitei, sentindo-me mais exposta do que nunca! As mãos fortes percorreram minha bunda com calma e desceram para afastar a calcinha em meu sexo. Travis acomodou a ponta do membro em minha entrada quente. Mordi os lábios ao sentir aquela potência ameaçando me penetrar, duro e rígido, como sempre à minha espera.

— Está pronta? — Sussurrou penetrando apenas a ponta levemente. Apertei o edredom em minhas mãos enquanto as mãos fortes de Travis guiavam meu quadril para sua pelve, impulsionando em meu calor ao passo em que ele gemia baixinho. — É assim que eu gosto, Vicky. Assim que te ensinei... Molhadinha. Vivendo intensamente o tesão como se fosse a última vez!

Tive de morder os lábios para não gemer alto quando fui preenchida de quatro por aquele pau pulsante e duro. Naquela posição, parecia ainda maior e chegava em lugares onde sequer pensei que poderia! A cada investida, era como se tocasse meu ventre, espalhando prazer por meu sexo e a ardência característica de quando dilatava meu corpo cada vez mais para o sexo.

Não foi como na primeira vez. Já não doía a ponto de ofuscar o prazer e, mesmo em meio a ardência, consegui sentir as contrações deliciosas que cada investida causava em minha intimidade. Meu interior vibrava com a intensidade das penetrações de Travis.

As mãos fortes me puxaram para cima. Uma delas me segurou pelo pescoço enquanto a outra descia por meu ventre e me tocava entre as pernas, massageando levemente meu clitóris úmido pelos fluídos sexuais. Eu já não sabia onde Travis começava eu e terminava. Já não sabia como podia sentir tanto prazer.

Travis continuou me penetrando até sentir meu orgasmo, forte e intenso com seu pau cravado dentro de mim, bem fundo em meu ser. Jorrou seu sêmen em meu interior em seguida, segurando-me pela cintura até derramar a última gota dentro de mim.

— Se me engravidar, não ouse insinuar que a culpa foi minha... — sussurrei para Travis quando caímos em minha cama de bruços, um ao lado do outro com a respiração ofegante e pesada de prazer.

Eu sentia o líquido dele escorrendo dentro de mim e umedecendo ainda mais entre minhas pernas. O sentimento era intenso e não tinha nada a ver com repulsa. Sentir aquilo era quase um pertencimento, uma maneira de Travis deixar marcado em mim seu território. Puxou meu cabelo para me beijar, saboreando meus lábios com intensidade e desespero. Suado, parecia ainda mais lindo. Eu podia ficar naquela cama a noite toda, sendo preenchida por ele até não conseguir mais caminhar.

— Vamos, loira. A festa ainda não acabou — disse contra minha boca, puxando um de meus lábios entre os dentes após me beijar.

Ele tinha razão.

A noite ainda não tinha acabado!


Lavar o rosto e retocar a maquiagem nunca aconteceu tão rápido para mim. Passeei entre as pessoas presentes na festa, certa de que podiam sentir em mim o cheiro de Travis e o característico odor sexual que exalava de meus poros após fazermos amor.

Travis seguiu para se reunir com meus irmãos, Elliot e Dean enquanto busquei meus pais com o olhar entre as pessoas. Queria acabar com aquela festa de uma vez! Para minha surpresa, a mão forte de Fred se fechou em meu braço quando conseguiu me alcançar entre as pessoas.

— Victorya... Venha comigo! — Seu tom foi severo e frio, algo que imediatamente me causou repulsa.

Fui arrastada por ele até uma das salas de baixo e Fred me jogou lá dentro, fechando a porta enquanto analisava ao redor. Estávamos completamente sozinhos ali, alheios à festa que acontecia nos cômodos distantes.

— O que está fazendo, Fred? Porque me arrastou assim? — Esfreguei meu braço que ficou marcado pelo aperto da mão dele. — Você me causou dor com essa mão forte!

— Queria que eu causasse o que se em meu próprio noivado a mulher decente que me apresentaram como noiva decide sumir com o amante na frente do meu nariz? Aliás, como teve a coragem de trazer esse cara aqui, Victorya? Será que já se tornou uma puta como ele?

Fred tinha o olhar vidrado e nervoso em meu rosto. Caí no sofá quando começou a avançar sobre mim.

— Não foi você quem disse que não se importava se ele me fodia ou não? — Vociferei também nervosa. — Não é você quem se envolve com outras mulheres para aliviar a tensão, tem negócios com boates ilegais de fetiches bizarros e é até mesmo suspeito de envolvimento com tráfico humano no exterior? — O olhar de Fred se tornou sombrio e surpreso. — Não deveria se importar com nada relacionado a mim, principalmente agora que não tenho mais qualquer interesse em ser sua noiva, muito menos futura esposa!

O silêncio dominou entre nós e tive a impressão de que Fred me mataria se tivesse oportunidade. Coçou o queixo e olhou ao redor, em busca de uma solução.

— Como sabe tudo isso, garota tola? — Questionou friamente.

— Digamos que não sou tão garota e nem tão tola quanto você pressupõe. — Me levantei do sofá sem temê-lo. — Se não quiser que isso tudo que acabei de falar e, inclusive, tenho provas, acabe caindo no ouvido dos seus pais e da mídia, é melhor voltar para aquele salão e dizer que não vamos mais nos casar.

Fred me encarou com ainda mais raiva. Afrouxou a gravata e se aproximou alguns passos. Não recuei. Segui firme perante seu olhar de predador, certamente querendo me intimidar. Apontou um dedo em riste para meu rosto.

— Não me interesso em me casar com uma garota tão baixa, Victorya. Envolvida com um garoto de programa? — Riu sem humor e tocou meu rosto, mas virei a cara rapidamente. — O que seus pais irão dizer?

— Isso não te importa! Agora faça sua parte antes que eu perca minha paciência!

O olhar profundo me fez temer, pela primeira vez, quando desceu por meu corpo e se voltou para meus olhos com intensidade. Senti o corpo gelado de medo, mas me mantive firme frente a ele. Caí novamente sentada no sofá quando avançou sobre mim, mas daquela vez não recuou. Caiu por cima de meu corpo e me imobilizou com sua força.

— Posso até não fazer o bom negócio de me casar com você, Vicky, mas quero que entenda que poderíamos ser felizes... — Disse em tom cínico e frio. Me mantive calada, horrorizada sob ele. — Você era perfeita para meu plano. Uma esposa cativante, educada e linda, que na cama seria a devassa que eu procurava. A culpa não é minha se você resultou em uma vagabunda mentirosa.

Desferi um tapa na cara dele tão forte que me ardeu a mão. Fred apenas movimentou o maxilar e fechou os olhos.

— Pensei que você era um príncipe, não um... nojento!

— Gosto, sabia? Gosto que me batam na cama. Não pode negar que mentiu, Vicky, e você mesma me atraiu para sua vida. — Suspirei e neguei. — Você seria ideal para satisfazer meus desejos... Seria ideal para ser compartilhada, também. Poderia viver uma vida regada a dinheiro e prazer. Homens e mulheres dispostos a dar prazer a você de todas as maneiras, já pensou em como seria? O casamento dos sonhos!

— Você é doente! — Pontuei aterrorizada com suas ideias. — Não vou debater seus fetiches e sinto muito se menti. Realmente falhei e admito, jamais fui mulher de negar! — O empurrei um pouco sobre mim, mas Fred não se moveu. — Mas não sou obrigada a seguir com isso. Não sou obrigada a me submeter ao seu estilo de vida apenas porque ocultei minha virgindade! Pensei que você era descolado e um homem do mundo, não que fosse...

— O que foi, Vicky? Seu amiguinho também é um devasso como eu! Um promíscuo... — Sussurrou e desviei o rosto quando tentou me beijar. — Sabe o que mais temos em comum? Nós dois gostamos muito de você! Não saio daqui sem te foder, garota! Nem que seja uma única vez! — Respirei profundamente quando senti seu beijo em meu pescoço, apertando os olhos pela repulsa. Não reagi. Não o empurrei. Fred se surpreendeu com o feito, erguendo o rosto para me encarar. — Até ontem era apaixonada por mim. Por que não pode nos dar uma chance? Por que não experimenta algo diferente do que aquele cara te apresentou? Ele te enfeitiçou, Vicky.

Segui estática, talvez movida pelo intenso sentimento de raiva. Por um minuto, me questionei a mesma coisa. Será que eu realmente amava Travis ou estava apenas enfeitiçada por seus talentos sexuais incríveis?

Sobre meu corpo, Fred se aproximou para me beijar e fechei os olhos. Paguei as aulas para aprender a transar com Fred... Será que conseguiria? Sentiria o mesmo que senti com Travis?

Deixei que me beijasse e correspondi na medida do possível, movendo a língua levemente. Senti as mãos dele subindo por minhas pernas e puxando meu vestido com voracidade. Fred estava dominado pelo tesão e não demorei a sentir sua ereção me roçando o ventre. Meu coração disparou quando abri os olhos e o encontrei sobre mim.

Não era Travis, como eu estava acostumada. Em seu toque não existia carinho, muito menos cuidado. Me puxava como se eu fosse uma boneca que estava ali apenas para dar prazer. Me beijava com fúria. O empurrei, desviando a boca e respirando descompassadamente. Senti o vômito na garganta com seu cheiro me impregnando os poros.

— Sai de cima de mim! — Segui o empurrando, mas Fred não parava de me beijar, puxando meu vestido para cima. — Não quero, não consigo! Tenho nojo de você! Nojo! Me solta!

— Você é perfeita para mim, Vicky. Me amava! Eu sei que me amava! — Bati em sua cara, mas Fred gostava. Fechei as pernas quando o senti tocando minha calcinha, empurrando-o com ainda mais força. Gritei alto, mas sua mão tapou minha boca com facilidade. Fred certamente sabia o que estava fazendo e não era a primeira vez que obrigava uma mulher a ter relações com ele, eu estava convicta disso. — Pediu por isso o tempo todo, Vicky. Foi por isso que conheceu ele... para me satisfazer! Agora vamos ao que interessa. Ao que moveu toda essa história.

Odeio os homens!

Odeio todos eles!

Era tudo que pensava enquanto Fred separava minhas pernas com força, usando de brutalidade para me imobilizar. Sua mão atingiu minha face e cortou minha boca com o soco. Fechei os olhos e tratei de grunhir mais alto, sentindo as lágrimas queimando na face enquanto controlava o nojo e a ânsia que subia por meu esôfago. Apenas me lembrava de Travis e tudo que me disse sobre Fred e todas as vezes que me alertou sobre o perigo iminente. Fui tola. Acreditei em príncipes ilusórios quando na verdade um homem de verdade, com suas lutas e batalhas, me narrava os detalhes finais da fatídica história bem a minha frente.

Um empurrão forte se fez na porta e a mão que me segurava pelo pescoço se afrouxou. Consegui respirar de novo!

— Abra essa porta, Fred! Sei que está aí! — Era a voz de Vincent do outro lado.

Fred saiu de cima de mim e me encarou com surpresa, quase desesperado. Puxei o ar com força, vendo tudo girar ao meu redor, e caí do sofá sem forças. Meu vestido estava aberto e caindo. Segurei ele em frente aos seios para me tapar. Jamais me senti tão vulnerável e estúpida.

— Vicky e eu estamos conversando e... — O atropelei.

— Vincent! Me ajuda! Por favor! — Gritei com o pouco fôlego que me restava.

Fred me encarou com fúria quando a porta foi forçada ao máximo, rompendo a maçaneta com uma força descomunal. Do chão, pude ver Vincent, Dean e Travis entrando na sala juntos e furiosos. Não pude ouvir bem o diálogo pela falta de ar, uma vez que Fred me enforcou por muito tempo, mas vi em relances Travis voando no pescoço de Fred e Vincent tentando separá-los.

— Você encostou nela, foi isso? A machucou? — Ouvi Travis dizendo enquanto socava a face de Fred e o atirava contra o chão com uma facilidade absurda.

Podia matá-lo se quisesse e desejei secretamente que o fizesse.

Valery, que também estava ali, me ajudou a ficar de pé, agarrando-me pela cintura enquanto Travis, meu irmão e Fred discutiam alto. Meu pai apareceu e junto dele minha mãe e alguns convidados. A confusão foi generalizada e ninguém conseguiu tirar os olhos de mim, machucada e sangrando no sofá com Valery.

— Ele te est... — Val não precisou terminar. Neguei enfaticamente, ainda puxando o ar. — Que bom! — Abraçou-me com força contra o peito, beijando meu cabelo. — Vai ficar tudo bem!

Às costas de Valery, pude ver Vincent narrando a todos os presentes as coisas que descobriu sobre Fred, que gritava com ele em busca de provas. Vincent não hesitou em mostrar fotos, causando espanto em todos, e foi aí que Fred finalmente viu graça em confessar meus segredos.

— Você não vai mais se casar com Victorya! Um homem como você não merece sequer olhar para minha irmã! — Vincent disse nervoso frente a Fred.

— Sua irmã destruiu tudo quando se envolveu com esse homem! — Apontou Travis, que tinha os punhos cerrados e a camisa suja do sangue que tirou de Fred. Dean e Eliot o seguravam para que não matasse Fred — Pagou para esse profissional do sexo, se é assim que podemos chamar, para ensiná-la a ser uma vadia na cama! Como pode dizer que é decente, meu caro Vincent, se a doce Vicky transa com um prostituto todas as noites e acabou se apaixonando por ele?

Meus pais me olharam desacreditados, assim como os demais.

— Maldito covarde... — Valery sussurrou junto a mim, ajeitando meu vestido para que eu ficasse decentemente vestida frente a todos. — Jogou a história toda na roda!

Coloquei-me de pé de maneira cansada e hesitante, aproximando-me deles.

— Vicky é apenas uma amiga. Não existe nada do que está dizendo, cara! Seja homem o suficiente para assumir seus erros, não precisa expor a vida de uma mulher para acobertá-los! — Coloquei-me à frente de Travis.

— Não precisa tentar me proteger, Travis. Não me envergonho de nada que fiz! — Gritei frente ao rosto de Fred. Travis me segurava pelo vestido próximo dele, talvez receoso de Fred me machucar, quando foi solto por meus cunhados. — Ao contrário de você, não cometi nenhum crime e muito menos Travis! Ele, com toda sua história, é infinitamente mais decente do que você!

— Victorya... — Mamãe sussurrou me encarando. — Isso tudo é verdade? Você contratou um... garoto de programa?

Os olhares indignados em minha direção sequer me eram estranhos. Esperei ser julgada por tudo durante muito tempo e não podia ter sido diferente.

— Você está mais interessada se me deitei com Travis do que com o que esse cara acabou de tentar fazer comigo, é isso mesmo? — Questionei desacreditada. — Não sei porque ainda me surpreendo com vocês... Fred tentou me estuprar!

— Não, não seja mentirosa! Conte as coisas como são! — Fred disse nervoso. — Não tentei estuprá-la!

Retirei o anel do meu dedo e joguei sobre Fred com força, fazendo o mesmo com as joias de família que eu usava como adorno a um presente caro. O presente? Eu! Não mais... Arremessei os brincos e as pulseiras contra meus pais, nervosa e chorando.

— Não me caso com esse nojento nem por decreto! Não fico nesta casa mais nem um minuto! Cansei de ser manipulada e viver uma vida que me sufoca! Que me machuca! Que me transformou em uma boneca bonita de adorno para todos vocês! — Travis me segurava. Não sei se por medo de eu cair ou por amor, mas ele permanecia ao meu lado. — Sinto muito, mamãe, se você não conseguiu ser feliz e atingir a perfeição por si mesma, mas não sou eu quem vai conseguir isso para você! Sinto muito, pai, se o preconceito tomou seu coração a ponto de torná-lo tão cruel... E você... — Encarei Fred com desdém. — Me desculpe por mentir sobre ser virgem e a vagabunda que esperava. — Sorri sem humor. — Mas te agradeço por ter me levado até Travis. Espero que meu irmão te afunde na cadeia!

Cuspi no rosto de Fred, que virou a face com raiva e apenas não me bateu porque Travis estava colado ao meu corpo.

— Vamos sair daqui, Vicky — Travis disse ao meu ouvido. — Você está muito nervosa!

— Vá com Travis — Vincent disse enquanto uma nova confusão se instalava entre meus pais e Fred. — Saia daqui, Victorya. Ninguém consegue ser feliz em meio ao caos.

— Cuidarei dela — Travis disse a meu irmão com ênfase, apertando a mão dele.

— E eu cuido do idiota... — Vincent apontou com o rosto para Fred.

Vincent tinha razão. Segurei a mão que Travis me ofereceu e caminhei com ele em direção à saída mais próxima. A sensação era, finalmente, de liberdade.

 

Samantha me encarou com estranheza quando bati em seu quarto pedindo uma troca de roupas femininas após eu chegar em casa com Victorya.

— O que a senhorita Hayder está fazendo aqui, tio? Porque ela está machucada? — Passou um conjunto de pijama composto por um short cinza com bolinhas rosa e uma blusinha pequena combinando.

— Foi uma confusão na festa de noivado dela, Sammy. Longa história. — Olhei as peças de roupa. — Obrigado pela roupa. Deve dar nela.

— Ela vai morar aqui agora? — Neguei perante seu entusiasmo, sorrindo de canto. — Que pena... Pensei que finalmente teria alguém para colocar limites nessa casa! — Brincou. — E para te fazer feliz, tio.

— Vai ficar até conseguir pensar melhor. Está muito abalada e eu prometi a Vincent, o irmão dela, que cuidaria dela. — Expliquei um pouco cansado. — Eu sabia que cedo ou tarde a bomba ia explodir, mas não pensei que a machucaria tanto. Os pais dela realmente são pessoas estranhas e frias. Deve ser doloroso para Vicky, Vincent e Valery.

— Vai ficar tudo bem, tio. — Bateu em meu ombro levemente. — Você e a sua princesinha vão se acertar e tudo ficará bem! Eu fico feliz em tê-la aqui. Gosto muito da senhorita Hayder. Gostaria que fosse minha tia. — Sorri para Sammy, beijando-a na testa com carinho. — Será que posso dormir na Sabrina hoje, já que você tem companhia?

Torci os lábios e olhei de relance para o quarto.

— Samantha... Sabe que não gosto que durma fora!

— É a Sabrina, tio! A mãe dela vem me buscar de carro e vamos para a aula extra de idioma juntas amanhã — Insistiu. — Não quero ficar de vela, vai! Por favor! Amanhã é sábado!

— Tudo bem. Mas eu quero falar com a mãe dela!

Sammy comemorou minha permissão e começou a se arrumar. Voltei para o quarto, parando frente a porta. Abri e encontrei Vicky sentada sobre a cama, envolta por meu roupão azul, que ficou enorme nela. O cabelo loiro caía úmido ao lado do rosto marcado pela maquiagem que se desfez, mas que ainda deixava resquícios. Os olhos azuis olhavam ao redor com interesse e me encarou quando entrei.

— Oi... — Sussurrou um pouco rouca.

— Sammy emprestou um pijama. — Coloquei as roupas ao lado dela e me sentei próximo.

— Obrigada... — Analisou com carinho.

— Como se sente?

— Um lixo... mas aliviada! — Sorriu realmente tranquila. Toquei seu queixo com carinho e ela tocou minha mão. — Nada como revelar os segredos mais profundos, não é?

— Quem diria que Victorya seria uma menina cheia de segredos... — Vicky tocou meu rosto com ainda mais ternura, aproximando a face da minha. Eu amava aquela sensação incrível de quando ela se aproximava e meu rosto entrava em seus lindos olhos azuis.

— Você era o maior deles, Travis O’Brien. O único que realmente valeu a pena manter — Sussurrou contra meus lábios e não consegui resistir. Beijei-a com paixão, tomando seus lábios em uma carícia apaixonada, venerando-a. Não sabia descrever o tamanho do meu amor por Victorya. Talvez a melhor coisa que eu tivesse em vida fosse aquele sentimento puro e inexplicável. — O homem que me ensinou a ser mulher... — Disse sorrindo com emoção. — Que me ensinou a fazer mágica!

Rimos juntos da expressão que utilizávamos para nos referir a sexo no início de tudo.

— Você também me ensinou muito, Anjinha. Me mostrou que sou capaz de amar e me ensinou a verdadeira magia. Não a do sexo, mas a que existe aqui. — Toquei meu peito, bem no coração, e vi uma lágrima tomar forma no canto dos olhos de Vicky.

Sua emoção era genuína e seu amor transparente. Toquei seu lábio antes de beijá-la, selando ali a promessa de amá-la por toda a noite, até onde nossos corpos aguentassem.


Menti para Frederick sobre minha real condição sexual e meus valores.

Menti para meus pais sobre ser a garota perfeita, a filha que eles esperavam, quando na verdade era tudo uma farsa e eu me torturava a cada dia por pensar de maneira muito diferente do que imaginavam. Jamais fui perfeita, muito menos santa!

Menti para Travis quando prometi que entre nós seria apenas um trabalho, nada pessoal, somente aulas frias e profissionais. Acabei me apaixonando por ele como louca e novamente botei minha palavra em jogo.

Quem sou de fato? Uma mentirosa nata ou apenas uma mulher jovem cheia de segredos? Faria tudo novamente para estar com Travis e conhecê-lo. Naquele momento, ali, na cama dele, no quarto dele, finalmente me sentia livre do peso dos segredos, algo tão concreto que se tornava palpável.

Queria me lançar do abismo e tragar a realidade para outra esfera. Abandonei tudo não somente por Travis e nossa louca paixão, mas por não suportar mais sofrer em uma pele que não era minha.

Vicky Hayder era imperfeita. Mais do que tudo, se apaixonou pelo inviável. O inexplicável. O inalcançável. Era amante de desafios, assim posso concluir. Era amante apaixonada de Travis O’Brien, o homem da tatuagem de dragão e dos três nomes femininos tatuados na pele, que viraram quatro. O meu estava entre eles.

Nosso amor era vivo e pulsava cada vez que nos atracávamos em um sexo fatal como no momento. Cada vez que deixava de respirar para dar passagem a ele entre minhas pernas, para o fundo de meu ser.

O quarto de Travis era branco e tinha uma decoração singela. Bege, preto e cinza. Quadros de Sammy nas prateleiras e mais duas mulheres, certamente sua mãe e sua irmã, Maria. Um ventilador no teto e alguns livros espalhados na mesa do computador. Óculos de grau. Jamais imaginei que fosse leitor ou algo assim... Me sentia em seu mais profundo íntimo naquele quarto e me dei conta de que ele realmente me amava por me abrigar ali, em seu refúgio.

— É a primeira mulher que experimenta minha cama — Sussurrou ao meu ouvido quando desamarrou seu roupão, a única peça de roupa que cobria meu corpo nu e úmido do recém banho. — A primeira que trago em minha casa e sei que será a única. Jamais... — Segurava meu queixo para que eu olhasse bem dentro de seus olhos. — Amarei outra como amo você, Victorya Hayder.

Fechei os olhos para sentir a sensação quente da língua de Travis em meus mamilos rijos, mordiscando-os com gana e desejo. Minha pele toda queimava pela sensação intensa de prazer, estremecendo em contato com os pelos do peito dele, que resvalavam em minha delicadeza cada vez que Travis se movia.

Sua fome de mim era intensa, por isso correu a boca por meu ventre com rapidez, até afundar o rosto entre minhas pernas, segurando minhas coxas ao passo em que as beijava e mordia com delicadeza. Profundamente apaixonada, me entreguei às suas carícias e gemi sem pudores por saber que Sammy não estava em casa.

Os dentes morderam a parte superior de meu sexo, sobre os pelos curtos, avançando para que a língua ávida e quente tocasse meu clitóris com maestria. Apertei meus seios sentindo a saliva de Travis em meus dedos pela umidade deles, mas Travis usou uma das mãos para segurar meus pulsos enquanto me chupava com intensidade, com força e loucura.

Jamais gozei tão rápido, mas não pude suportar a pressão que usava para beijar meu sexo como fazia com minha boca, descendo a língua para me penetrar com ela ao me sentir me contorcendo de prazer. Ofegante, traguei para mim todo aquele prazer, disposta a fazer o mesmo por Travis.

Queria enlouquecê-lo como me ensinou.

O empurrei para a cama e sentei sobre ele, movendo as mãos para tirar a calça que me impedia de tocá-lo. Umedeci os lábios ao contemplar o membro ereto e duro para mim, pulsando pela vontade de me foder. Passei a língua pelos lábios antes de me abaixar e tomá-lo com a boca, saboreando-o com suavidade enquanto as mãos firmes de Travis me seguravam pelo cabelo com força e seu gemido grave preenchia o quarto.

Chupá-lo me deixava louca de tesão. Jamais pensei que seria tão bom e dar-lhe prazer me fazia sentir imensa satisfação. Corri uma das mãos pelo abdômen definido enquanto o chupava, sugando com força para que sentisse tudo que me proporcionava.

Puxou-me pelo cabelo e eu sabia que ele não aguentaria muito. Sentia prazer assim, mas nada lhe dava mais prazer do que foder. Nada era melhor do que senti-lo profundamente dentro de mim e Travis era viciado em provar minha boceta, que ardia por ele naquele momento.

Surpreendendo-o, movimentei-me sobre ele e delicadamente guiei seu pau para minha entrada úmida, tão molhada que o fez deslizar quase de primeira para dentro, mergulhando até o final. Travis gemeu alto enquanto me segurava pela cintura, fascinado. Me movimentei novamente, mordendo os lábios pela sensação arrebatadora que me tomava o ventre cada vez que o sentia tão profundo, cravado em mim.

— Vicky... No que foi que te transformei, Anjinha? — Também mordeu os lábios com um sorriso sacana, subindo as mãos para tomar meus seios com as duas.

Travis se sentou para afundar o rosto em meu peito e a boca quente em meus seios com sofreguidão. Nada era mais incrível do que vê-lo rendido a mim. Ao que eu o fazia sentir com minha boceta e meus movimentos. Me guiou com experiência e me ensinou a rebolar em seu pau como só as mais ousadas sabiam fazer.

Decorei cada ensinamento, principalmente quando um deles o fez gozar quase instantaneamente. Travis caiu sobre mim na cama e geralmente era ali que acabava, mas me surpreendi porque não parou de meter, mesmo após esvaziar seu sêmen dentro de mim.

Fechei os olhos com o fogo que aquilo me causava... O desejo daquele homem por mim era insano e devasso, tão forte a ponto de fazê-lo continuar duro após um orgasmo intenso. Segurei nos ombros dele quando, pela primeira vez, consegui gozar somente com a penetração, livre de qualquer estímulo.

Talvez tenha sido a entrega de Travis ou a nossa conexão implacável, mas jamais senti amor como naquele momento. Jamais o amei com tamanha intensidade.


Abri os olhos na manhã seguinte com os músculos doloridos e o corpo aliviado. Pelo som de crianças brincando na rua, não era mais tão cedo, porém tudo estava sob controle em um tranquilo sábado sem trabalho formal.

Fechei os olhos e aspirei o cheiro doce impregnado em minha cama e minha pele... Cheiro de mulher. Da minha mulher! Movi os lábios e senti o gosto de Vicky na boca, o sabor inconfundível de sua doce feminilidade. Olhei ao redor para constatar que não foi um sonho. Nos amamos como loucos em meu quarto, sob o teto de minha casa.

Saltei da cama ao ver o sutiã dela pendurado em minha cadeira e suas roupas dobradas ali. Vesti uma bermuda e segui até o banheiro, onde não a encontrei. Segui pelo corredor e ouvi vozes. Vicky conversava na sala com Samantha, que provavelmente já havia chegado da casa da amiga. Olhei no relógio e era mais de meio-dia.

A noite foi longa, de fato, mas não pensei que consumisse tanta energia transar daquele jeito.

— Ficou bom, senhorita Hayder! Acho que você leva jeito para cozinha! — A voz de Sammy era engraçada.

Espiei e vi as duas no sofá de frente para a televisão, que passava clipes de música. Havia um prato de macarrão no colo de minha sobrinha e Vicky usava um dos shorts curtos de Sammy e suas blusas adolescentes.

— Senhorita Hayder, Sammy? Por favor, né! Somos amigas! — Vicky pegou um pouco de macarrão do prato com o dedo e comeu rapidamente. — Hum! Até que ficou bom mesmo!

— Ficou ótimo! Nem parece que é a primeira vez que cozinha! — Sammy comia animada.

— Internet está aí para isso, amiga! — Vicky brincou. — Se divertiu na sua amiga?

— Sim, assistimos filme. E você com tio Travis? — Cutucou Vicky delicadamente. — Se acertaram, finalmente?

O sorriso de Vicky murchou na face. Desviou o olhar para as unhas em seu colo e sorriu sem humor.

— Travis não me dá uma chance. Acha que não combinamos o suficiente por sermos de mundos diferentes. É o que diz, pelo menos, para evitar um relacionamento comigo. — Deu de ombros.

— Ué, mas vocês transam! — Sammy disse recuperando a atenção dela e dando mais uma garfada no macarrão. — E tio Travis nunca trouxe uma mulher aqui em casa, tipo, nunca dos nuncas! Algumas malucas tentaram invadir aqui atrás dele e umas outras nos perseguiram em locais públicos, mas por vontade dele mesmo, assim, nunca teve nenhuma mulher em casa.

— Nenhuma?

— Não! Tio Travis está apaixonado por você faz bastante tempo, Vicky. Ele tem medo porque, sim, devo concordar, você não vive no mesmo mundo que nós. Você tem grana e nós somos comuns. Você tem empregada e nós fazemos a nossa própria comida. — Mostrou o prato. — E você é uma boa moça, enquanto tio Travis é... ou melhor, era! Garoto de programa. Ele acha que você não merece isso.

Comprimi os lábios. Samantha me conhecia melhor que a mim mesmo e o fato me assustou. A garota era realmente perspicaz e me enchia de orgulho.

— Travis está me descartando sem pensar em meus sentimentos. Nos nossos sentimentos. Não tenho como saber se me adaptarei ao estilo de vida de vocês se não viver nele! — Explicou para Sammy.

— Sim, eu sei, você está certa quanto a isso, mas as mulheres ficam atrás dele, Vicky. Elas aparecem do nada e brotam do chão para infernizar. Não tem ideia do que já passei com tio Travis por causa dessas malucas e talvez seu relacionamento com ele não seria tão tranquilo quanto pensa.

— Travis tem tantas mulheres assim? — Sussurrou desconfiada.

— Essas clientes cativas que ele teve por último são uma pedra no sapato dele, principalmente uma tal de Diana. A mulher é obcecada por tio Travis e já infernizou muito nossa vida quando ele tentou parar de vê-la. Creio que tio Travis deu um basta nela, mas a maluca sempre volta. Estou contando os meses para que volte a encher a paciência! — Revirou os olhos e apertei os punhos ao lado do corpo.

Samantha não tinha nada que falar sobre Diana e assuntos que não lhe diziam respeito!

— Bom dia! — Apareci na sala para quebrar o assunto, fazendo ambas dirigirem a atenção para meu rosto. — Ou melhor... boa tarde!

Me espreguicei sorrindo e as duas responderam juntas.

— Tio Travis, sua anjinha fez um macarrão incrível! Está uma delícia! — Sammy disse fazendo as bochechas de Vicky corarem. — Mostrei onde estava tudo e ela fez sozinha!

— Sério? — Vicky concordou orgulhosa, sorrindo para mim. — Então terei que experimentar! Onde está essa divindade? — Olhei ao redor e Sammy saltou para me mostrar a panela. Vicky nos seguiu até a cozinha.

— Vicky podia ficar para sempre, não é, tio Travis? Seria incrível ter uma presença feminina em casa, alguém para tirar seu mau humor e te obrigar a usar camisa e escovar os dentes. — Sammy sentou na mesa da cozinha com Vicky enquanto eu enchia meu prato de macarrão.

— Não estou de camisa e nem escovei os dentes ainda, Samantha. — Vicky riu na mesa da expressão de minha sobrinha.

— Ah, claro! Por isso vocês ainda não se beijaram! — Vicky riu ainda mais. — Que bom saber, pensei que era por minha presença entre os pombinhos.

Fui com meu prato até a mesa e sentei ao lado de Vicky, me aproximando dela para beijá-la com rapidez em um selinho de lábio fechado. Vicky retribuiu da mesma maneira, cheirando a perfume de Sammy. Certamente Sammy a deixou usar suas coisas.

— Anda muito abusada, garota! Se liga! — Repreendi Sammy de brincadeira. Dei uma garfada no macarrão e realmente estava bom. — Hum... Aprovada novamente, senhorita Hayder.

— Obrigada, professor! — Sorria com o queixo apoiado nas mãos. Os cotovelos descansavam na mesa. — Obrigada também por ter me deixado ficar aqui hoje, Travis. E a você por ter me emprestado as coisas, Samantha.

O tom de Vicky era tímido. Toquei seu queixo com carinho, encarando-a com admiração. O machucado na boca dela ainda me deixava alucinado de raiva do mauricinho idiota. Deveria ter batido muito mais no otário!

— Já falei que por mim pode viver aqui com a gente! E me chame de Sammy, tia Vicky. — Sammy brincou animada. Vicky sorriu.

— Minha casa é sua casa, Vicky. Sempre estarei aqui por você.

Trocamos um olhar longo e silencioso. Era como se lembrássemos a maravilha que foi passarmos outra noite juntos e desfrutarmos um do outro com paixão e loucura. Bastava vê-la para querer fodê-la. Bastava respirar ao lado dela para saber que a amava.

— Sabe no que pensei? Podíamos chamar Valery e as crianças para nadar! Que tal? — Sammy disse ainda mais empolgada.

— Nadar onde? — Vicky questionou confusa.

— Tem uma piscina de plástico no quintal. — Falei encarando Sammy. — Não creio que Valery e as crianças gostarão disso, Sammy.

— Claro que gostarão! — Vicky interrompeu rapidamente. — Valery não tinha piscina quando vivia com o marido, se quer saber. As crianças gostam muito de nadar.

Sammy e Vicky ligaram para Valery, que apareceu em minha casa com os pequenos muito animada para o dia com a irmã e minha sobrinha, que já sabia como cuidar das crianças perfeitamente e adorava estar com elas.

— Essa coisa toda valeu a pena só para te ver de biquíni —Ssussurrei ao ouvido de Vicky quando ela apareceu ao meu lado com um dos modelos cor de rosa emprestados por Sammy.

A piscina era redonda e grande o suficiente para caber a todos. Vinte mil litros de água parecia suficiente para divertir as gêmeas, que boiavam em flamingos rosa choque e Rick, que brincava de vôlei na água com Samantha. Valery monitorava todos bem de perto e também trouxe as meninas de Dean, que estava na academia trabalhando.

— Gostou? — Vicky mostrou o corpo divertidamente, rodopiando à minha vista. Concordei olhando-a dos pés à cabeça.

— Se as crianças não estivessem aqui, certamente faria uma bagunça com você nessa piscina. Não sei como pude esquecê-la ontem à noite. — Vicky riu baixinho e bateu em meu braço carinhosamente.

— Travis, você é maluco! — Rodou os olhos e se aproximou para me abraçar. A envolvi em meus braços com carinho, sentindo a pele dela arrepiar em contato com meu peito desnudo, uma vez que usava apenas bermuda para entrar na piscina. — Não quero ir embora nunca mais...

Sua voz ecoou em meu coração. Sua cabeça repousava sobre ele, em meu peitoral. Beijei seu cabelo delicadamente, acariciando-o.

— Não pense nisso agora, meu amor. Não pense.

Vicky ergueu os olhos para mim de repente, emocionada após ouvir minhas palavras. Demorei para compreender o que tornou seus olhos azuis tão ternos e apaixonados.

Meu amor.

Finalmente expressei em palavras o que verdadeiramente sentia por Victorya Hayder.


Seria fácil me acostumar com as risadas estridentes de Samantha e o mau humor matinal de Travis. A garota era muito parecida com o tio, fato que me fazia gostar ainda mais dela. Tanto fisicamente quanto em seus modos, Sammy e Travis realmente pareciam ser pai e filha.

O fogão, confesso, era um estranho à parte, mas talvez eu pudesse me familiarizar com ele com o passar do tempo. A piscina gigante no quintal era uma diversão peculiar e nem todos os hotéis de luxo que fui na vida poderiam ser mais agradáveis que a sensação das mãos de Travis em minha cintura me sustentando no ar enquanto jogávamos bola na água com as crianças.

Ele era simples e incrível. Eu o amava ainda mais por me mostrar esse lado maravilhoso da vida, desvinculando-me totalmente da Vicky que cresceu sob os muros de uma mansão fria e vazia de carinho e afeto. Precisava ser livre como meus irmãos conseguiram ser.

Valery contou em detalhes o que houve após minha saída da festa, enquanto as crianças brincavam com Travis e Sammy na piscina.

— Papai e mamãe culparam a mim e a Vincet por seu comportamento e querem que você volte para falar com eles. Estão decepcionados, mas ainda enxergam uma chance em você — Explicou tristemente. — Vincent detonou no meio empresarial seu ex-noivo sem noção. Expôs tudo que descobriu e colocou um processo gigante nele. Também tem a acusação de tentativa de estupro pelo que fez com você na festa. Vincent apresentou as filmagens da sala em que estavam. Resumindo... Fred está encrencado! Mexeu com os irmãos errados!

Bati a mão com a de Valery, que sorria por trás dos óculos escuros. Usava um bonito maiô bordô e chapéu na cabeça, cobrindo os cabelos loiros que iam até os ombros.

— E você, irmã... como anda com o boy?

Valery suspirou apaixonada.

— Ah, parece um sonho! Tudo bem que coloquei mais duas crianças na conta, mas elas pelo menos limpam o bumbum sozinhas e não tentam se matar a todo instante como minhas gêmeas ainda fazem. — Rimos juntas. — Dean é incrível. Só tenho a agradecer Travis por ter unido nossas vidas e nossas crianças.

— Fico imensamente feliz por vocês dois, é sério! — Apertei sua mão na minha e ela me afagou o rosto.

— Aos poucos Travis vai perceber que vocês dois não podem ficar um sem o outro. Aos poucos tudo se encaixa, Vicky. Você vai ver!

O encarei na piscina com as crianças.

— Travis quer que eu tome uma tal de pílula do dia seguinte. — Sorri sem humor. — Quer evitar ter um filho, mas não vou fazer isso! Se tiver que acontecer, vai acontecer.

— Não seja tola! — Valery me repreendeu com rapidez. — Criança é uma responsabilidade e tanto! Não faça isso agora! Tome de uma vez essa tal pílula!

Baixei o olhar e tomei fôlego.

— Não sei mais nada sobre mim. Estou perdida neste amor e não consigo me encontrar como antes! Esses homens me destroçaram, Valery... Fred com suas perversões e Travis com sua mania de tentar me proteger dele mesmo e da vida que levou.

— Escute sua irmã, que tem um mundo na bagagem, Victorya. — Segurou meus ombros fortemente. — A maioria dos homens só presta para transar e nos dar prazer. São poucos os homens como Travis O’Brien, que realmente tem pulso firme de colocar sua própria felicidade em risco para não prejudicar a mulher que ama. O que ele faz tentando te afastar é amor em sua mais pura forma. Cedo ou tarde vai sucumbir... “Os homens são escravos de seus desejos”. É o que dizia a grande mestre Paola Bracho.

Explodi em uma risada junto de Valery, que se dobrava de rir junto a mim. Há muito tempo não nos divertíamos tanto juntas e aquilo foi ótimo.

— Você está citando Paola Bracho em uma conversa sobre amor? — Valery deu de ombros bebericando seu suco de limão.

— Deveria ter assistido a novela dela ao invés de contratar Travis para te ensinar. Ia aprender bem mais sobre os homens com a rainha, posso te assegurar! — Piscou brincalhona.

Abracei minha irmã com força e ela retribuiu com felicidade.

— Você merece o mundo, Valery.

— Você também, pequena Vicky. Você também merece o mundo e que seu bonitão fique ao seu lado!

Fechei os olhos e desejei secretamente que suas palavras se concretizassem. Realmente seria questão de tempo até Travis sucumbir?


Quando pedi a Travis que me levasse em seu tatuador de confiança, sua expressão não poderia ter sido mais engraçada!

— O que quer fazer lá? — Questionou confuso enquanto assistíamos a um filme com Sammy, no sofá de sua casa.

— O que se faz em um estúdio de tatuagem, Travis O’Brien? — Toquei seu rosto com carinho.

Não precisei de muito para convencê-lo e sábado à noite, após a festinha na piscina acabar, Travis me levou até o estúdio em meio à noite chuvosa. Seu amigo arrumou um encaixe para mim e surpreendentemente soube desenhar exatamente o que eu queria.

Um pequeno e delicado dragão. Apenas a silhueta, com poucos riscos. Tratava-se de algo tão pequeno, mas com um significado gigante! Significava Travis estar em mim como eu estava nele. Escolhi o ombro na parte de trás, algo discreto e quase no mesmo lugar onde ele tatuou meu nome.

Travis me encarava totalmente desacreditado e admirado enquanto o amigo me tatuava. Brincava com minha expressão de dor, mas me incentivava por notar como eu me sentia livre, finalmente, para tomar minhas próprias decisões.

Voltamos para a casa dele molhados pela chuva de verão, uma vez que o estúdio era no bairro e fomos a pé, e Travis me abraçou quando chegamos na porta da sala com as roupas encharcadas.

— Estou orgulhoso de você, Vicky. — Tocou meu rosto com as duas mãos fortes. Eu amava senti-lo me tocando na face com todo seu carinho... Amava seus olhos nos meus olhos e sua boca tão perto da minha. Amava tudo que vinha dele mesmo que não estivéssemos na cama. — Lembra do que te disse sobre jamais aceitar menos do que merece? Foi isso que fez com aquele babaca e está fazendo agora com a sua vida. Continue assim, minha anjinha. — Beijou minha testa. — Continue assim e conseguirá ser feliz como deseja.

Segurei o rosto dele com força, encarando seus olhos castanhos bem próximos. Fiquei na ponta dos pés para alcançá-lo, aproximando os lábios dos dele o quanto podia para falar sem problemas.

— Lembro que disse hoje que sou seu amor — Sussurrei apaixonada, sentindo-o tremer pelo frio da água que pingava em nossos corpos úmidos. — É só o que quero lembrar, Travis O’Brien. Que sou seu amor.

Travis me puxou com força para um beijo desesperado, talvez tão intenso quanto a chuva que caiu sobre nós e molhou nossos corpos dos pés à cabeça. Sammy, como desculpa para nos deixar a sós à noite, dormiu novamente na casa da amiga Sabrina, a única em que Travis confiava.

Não precisava dizer que me amava. Seu amor estava impresso em suas atitudes cada vez que me tocava. Não me lembrava de ter feito amor com Travis antes... Não daquela maneira.

Sua boca me beijava todo o tempo enquanto nossas mãos ávidas buscavam uma maneira de afastar cada peça de roupa de nosso corpo quente e molhado. As mãos fortes de Travis cobriram meus seios enquanto os lábios me comiam em beijos, puxando meus mamilos em carícias quentes e deliciosas. Havia um colchão no chão da sala, que Sammy usava para assistir filmes de noite, e foi exatamente lá onde deitei de costas quando Travis se colocou sobre mim, ofegante pelo tesão que tomava seu corpo grande.

Eu tinha medo de sua força na cama, já que podia me matar se usasse toda ela, mas naquele momento mostrava-se tão apaixonado que sequer isso me importou.

— Te amo, Vicky. Sou completamente louco e rendido por você!

A mão grande segurava meu cabelo carinhosamente enquanto a outra descia por minhas pernas, afastando minhas coxas com firmeza. Minha boceta estava molhada e quente à sua espera, pulsando pela vontade de tê-lo dentro de mim. Sorri emocionada perante sua declaração, preenchida pelo sentimento inexplicável que tomava conta de meu coração.

— Você não me ensinou só a foder, Travis. Me ensinou a amar um homem como nunca imaginei que fosse possível. — Confessei segurando sua face com uma das mãos e apoiando a outra em seu peito forte, enquanto seu pau entrava em mim com cautela, adaptando-se ao meu canal.

— Já fodi várias mulheres na vida, inúmeras... — Sussurrava com a voz sensual ecoando em meu ouvido, enquanto me penetrava ainda calmamente, sentindo sua extensão grossa me alargando aos poucos. — Nenhuma me deu prazer como você, Vicky. Parece ter sido feita para mim, Anjinha. Toda minha...

Gemi com o impulso de uma estocada funda, fazendo meu ventre vibrar de prazer ao senti-lo tão dentro. A fricção de sua pele contra minha era demasiadamente prazerosa.

— E você também é meu, Travis. Feito para mim! — Sussurrei um tanto grosseiramente contra sua boca, tomando-o em um beijo possessivo, marcado por língua úmida e puxadas de lábio. — Meu homem...

Foi o suficiente para elevar ainda mais o tesão de Travis, fazendo-o estocar contra mim em um ritmo crescente e forte. Segurei-me contra ele, uma vez que todo meu corpo vibrava conforme Travis metia ainda mais fundo dentro de mim, aumento meus gemidos conforme seu ritmo se tornava cadenciado.

Seus olhos estavam em meu rosto quando o orgasmo me atingiu fortemente, limitando meus movimentos às contrações intensas que se propagavam em meu ventre e apertaram o pau dele em minha boceta estreita. Senti Travis estremecer conforme as mãos grandes me acariciavam o rosto. Me assistia com devoção no olhar...

Me amava.

Toquei seu rosto ainda ofegante, devolvendo aquele olhar marcante e apaixonado. Respirei contra sua boca e fechei os olhos, colando a testa na dele para absorver aquele amor.

— Você é todo meu amor, Victorya Hayder. — A voz rouca ecoou em meus ouvidos como o mais belo som. Fechei os olhos. — Meu único amor.

Travis se deitou quando o empurrei pelos ombros e me sentei em seu abdômen, procurando seu pau com as mãos para levá-lo até minha entrada, que ainda latejava pelo recente prazer. Fechei os olhos quando movi o quadril sobre ele, usando uma das mãos para guia-lo para dentro de mim. Mordi os lábios com a sensação incrível quando me penetrou certeiramente, esfregando a minha boceta em sua pele quando consegui abrigá-lo totalmente em meu interior.

Travis estremeceu e gemeu com a visão sensual que proporcionei, segurando minha cintura com uma mão e meu seio esquerdo com a outra enquanto me movimentava sobre ele.

Desejava secretamente que não acabasse nunca, mas Travis não demorou a gozar e me exaltar pelo prazer que proporcionei.

Eu só queria amá-lo... Só sabia amá-lo.


Precisei voltar para a realidade, mesmo não desejando sair da casa de Travis nem por um minuto.

— Você precisa mesmo ir? — Sammy disse no domingo à noite, quando nos despedimos antes de Travis me levar.

— Amanhã tenho que trabalhar e preciso de minhas coisas, do meu material e do meu carro. — Sorri de canto e ela concordou sem alegria. — Mas eu volto, é claro!

— Não deixe que seus pais te controlem de novo, Vicky! — Sammy sussurrou para mim. Travis, com as chaves do carro, me esperava bem ao lado. Nos encarava com os olhos marejados de emoção. — Você merece voar!

— Obrigada, Sammy. Adoro você, garota!

— Também te adoro, tia Vicky. — Sammy brincou agora sorrindo, acenando enquanto eu e Travis entrávamos no carro dele.

— Me assusta a maneira como ela se parece com você... — Falei a Travis, que se acomodava no banco do motorista ao meu lado. — Não só fisicamente, mas na maneira de falar e em tudo que pensa. Tem certeza que não é sua filha?

Travis me encarou surpreso, mas não demorou a sorrir de canto e suspirar enquanto ligava o carro e começava a dirigir.

— De certa maneira é sim minha filha. Crio Samantha desde menina e é normal que tenha pegado meu jeito de ser e minhas manias. É minha sobrinha, aliás. Tem meu sangue da mesma maneira que Rick e as gêmeas têm o seu. — Relembrou docente, tocando minha perna enquanto dirigia.

— Sammy é uma garota incrível. Meus parabéns! Você gostaria de ser pai um dia, Travis? — Questionei despretensiosa, tomando sua mão na minha.

Travis olhou para meu ventre de relance, sabendo que corríamos um grande risco naquele mês. Não nos cuidamos quando tivemos relações e tampouco parecíamos preocupados em fazê-lo.

— Se dissesse que não, estaria mentindo, Vicky. Quero ser pai, mas não agora. Não assim, entende? — Baixei o olhar e concordei.

— Entendo. Creio que devemos tomar mais cuidado, então. Fui realmente inconsequente em não ter tomado a pílula, mas não volto atrás. Acho esse método pouco confiável e um tanto quanto... abortivo. Eu não tiraria um filho seu do ventre, Travis, nem mesmo antes de ser um bebê.

— Não é abortivo, Vicky, mas vamos mudar de assunto. Está bem? — Sorriu meigamente. — Quer que eu entre contigo na casa de seus pais?

Seu olhar castanho era sério e objetivo agora. A simples ideia me fez estremecer.

— Não. Quero ir sozinha. Preciso ir sozinha! — Enfatizei. — Quero questionar algumas coisas e, caso necessário, volto para sua casa. Posso?

Nos encaramos mais firmemente.

— Tem certeza que quer voltar para lá? — Questionou tocando minha face com carinho. — Realmente quer essa mudança em sua vida?

— Quero tudo para ficar ao seu lado. Além do mais, creio que nunca passei dias tão tranquilos como nesse final de semana com você e Sammy.

Travis sorriu sem esconder a felicidade que sentia por minhas palavras. Concordou.

— Tudo bem, Anjinha, você venceu! Será bem-vinda ao meu lado em minha casa sempre que quiser, porque tudo que é meu também é seu... Aliás, eu sou todo seu, dos pés à cabeça!

Travis parou o carro no semáforo e me abraçou quando o beijei profundamente. Acariciei seu corpo forte com as mãos trêmulas, sequer crendo que tudo aquilo era real.

— Não me provoque assim, Travis O’Brien. Posso ser sua anjinha, mas você sabe que não resisto a nós.

O carro parou em minha rua. Sabia que era hora de partir. Trazia apenas uma roupa de Samantha no corpo, um jeans e uma blusinha branca. Sapatilha também emprestada por Sammy, assim como a maquiagem que pintava levemente meu rosto.

Travis tomou minha mão e a beijou com carinho. Os olhos castanhos brilhavam sob a fraca chuva que refletia nos vidros do carro e meu lindo homem promíscuo jamais pareceu tão sexy. Tão intenso. Eu queria ser dele ali mesmo, mas não podia voltar atrás. Precisava ir até em casa.

— Te amo, Vicky Hayder, minha anjinha. Te amo como disse ontem e não importa o que aconteça... Sempre vou amá-la.

Aproximei-me para beijar Travis pela última vez. Senti seus lábios firmes e seu calor em meu corpo com paixão, afundando no desejo que me consumia. Toquei sua face áspera pela barba que crescia e beijei seu queixo carinhosamente.

— Te amo, Travis. A melhor coisa que fiz em minha vida foi ter ido àquela boate.

Travis repetiu várias vezes que eu poderia ligar a qualquer momento, mas o convenci a ir tranquilo. Entrei em casa com as pernas bambas, sabendo que provavelmente seria um momento bem desagradável.

— Victorya se foi com suas próprias pernas, eu não a expulsei de casa! — Papai dizia em alto e bom som na mansão vazia e escura, com quase todas as luzes apagas. A tempestade refletia nas paredes enquanto eu caminhava até o escritório de onde vinham as vozes. — É outra ingrata que você não soube criar! Ao invés de se casar com um milionário, escolheu um garoto de programa pobre! Cada um dos seus três filhos é uma vergonha para minha família!

— Não fale como se não fosse culpado por tudo isso, Richard! — Mamãe gritava de volta a plenos pulmões. — Eu não queria ter me casado com você! Fui arrastada daquela roça por ti, obrigada a deixar minha família e meu noivo, o homem que eu amava!

— Uma quenga igual suas filhas! — Vociferou. — Por isso Valery se casou tão nova e Victorya se tornou uma vadia! Porque você as incentivou a isso! Não falo nada de meu filho... Vincent! Você o transformou em um afeminado com sua superproteção!

— Você destruiu essa família quando decidiu pesar as mãos em seus filhos e em mim! Quando decidiu me obrigar a viver uma vida que eu não desejava! Quando trouxe suas raízes atrofiadas para crescer em nossas vidas!

— O que quer dizer com isso, mulher? E todo luxo que te dei? E a vida de madame que você, uma simples garota da roça sem eira nem beira, sempre levou ao meu lado? Não seja mal-agradecida! Já não basta ter me dado filhos desviados dos bons caminhos?

— Preferia viver na roça e ter meus filhos ao meu lado! Preferia que os três tivessem sido criados em meio à pobreza, mas com carinho, do que neste palácio sem que hoje possam estar ao meu lado! — Lembrei imediatamente de ter dito exatamente as mesmas palavras a ela em algum momento. — Você me traiu a vida toda com várias mulheres, sempre cheio de amantes, e agora quer julgar meus filhos? Vincent... meu menino! É um homem infinitamente melhor do que você, graças a Deus! — Bateu no peito. — E meu garoto sequer olhar na minha face! Não me importa se é casado com um homem, não me importo com nada que não seja o amor do meu filho!

— Só pode estar louca... — Papai completou com uma risada debochada. — Todos riem às nossas costas pelo que Vincent é!

— Não me importa! Eu só queria o amor do meu filho, seja ele como for! O amor de Valery e dos meus netos, que sofreram tanto pelas humilhações que me obrigava a desferir contra ela por seu descontentamento!

— Não me culpe por suas atitudes, mulher! Não seja covarde!

— Você me enchia de pensamentos e coisas errôneas! Eu achava que você era o certo, mas não... Valery não tem culpa! As crianças não têm culpa daquele homem ter sido um irresponsável ao tê-los deixado!

— Cale a boca, mulher! Se quer tanto ficar com seus filhos, que junte suas coisas e vá para a rua com todos eles! Vincent e Valery são uma vergonha para mim! A única que posso reconsiderar ter de volta é Victorya, desde que se redima pelo péssimo comportamento que teve e convença Frederick a reatar o noivado!

— Então isso nunca vai acontecer, pai. — Apareci no escritório e parei ao lado de minha mãe, em frente à mesa onde meu pai estava sentado atrás. — Jamais vou me casar com aquele inescrupuloso e tampouco quero voltar para essa casa. Como mamãe acabou de dizer, prefiro viver sem luxos do que ser uma flor envidraçada e sem vida em meio ao ouro.

Mamãe e eu trocamos um longo olhar. Os olhos azuis dela traziam emoção ao me ver novamente. Abraçou-me com força, aliviada por estar frente a mim.

— Minha filha... onde esteve?

— Com Travis, mãe. Estava segura, não se preocupe!

— Travis é aquele... — Apontou para atrás de si. — Que esteve aqui na festa?

— Sim. É ele sim. E você também deve ir, mãe. Vincent vai te abrir a porta, estou segura que irá!

— Não se meta em meu casamento, Victorya — Papai vociferou.

— Está nervoso porque quero liberar minha mãe da vida de escravidão a qual a condenou? — Respondi tranquila. — Foi fácil, não é? Escolher a moça mais bonita de uma comunidade pobre para ser sua eterna empregada e parir belos filhos em total silêncio enquanto você se divertia. Que grande exemplo, não é, papai?

— Não se meta, Victorya — Voltou a dizer, nervoso, ficando vermelho aos poucos.

— Sempre disse que meus irmãos são uma vergonha para você e agora eu também sou, mas a real vergonha é você para nós! Traiu nossa família e semeou o ódio com sua hipocrisia! Não sente rancor por não falar com seu filho? Não sente pena de seus netos, três crianças que não pensou em jogar na rua por puro orgulho de não tratar Valery com dignidade? — Eu disse com as lágrimas escorrendo na face. O peso de uma vida se esvaía de meus ombros com as palavras lançadas como aljavas na direção dele. Mamãe segurava firmemente minha mão. — Não sentiu nada por mim quando soube que Fred tentou abusar de mim contra minha vontade? Quando soube que ele queria me tornar sua bonequinha de luxo, oferecendo-me para quem o interessasse depois? Que tipo de pai você é? Que tipo de ser humano age assim?

— Richard é de pedra, Vicky — Mamãe disse, monótona. Limpava as lágrimas em seu rosto pálido com uma dor tão profunda que eu sequer conseguia mensurar — Não tem sentimentos.

Foi arrasador testemunhar sua dor. Foi triste ouvir a verdadeira história de minha vida... Um casamento de fachada entre um homem poderoso que se encantou por uma mulher pobre e a comprou por algumas migalhas dadas aos familiares dela. Isso foi o que resultou em Vincent, Valery e eu!

— Eu sinto muito por você, pai. Muito! Sinto muito por não ter ido ao casamento de Vincent e sequer conhecer Eliot! A festa foi linda e Eliot é um ser humano ímpar! Você não concorda, porém também não é Deus para julgá-los! Não importa o que meu irmão faz com o marido, isso é um problema deles! O que me importa é o grande homem que sempre foi para todos ao redor, cheio de caráter e honestidade! — Papai se tornava ainda mais vermelho perante minhas palavras — Sinto muito por não ter seus netos aqui... Rick te amava como um verdadeiro pai e as gêmeas achavam, em sua inocência, que você era bom e incrível — Sorri sem humor, chorando ainda mais — Exatamente como eu também achei um dia! E sua filha, pai... Valery, cujo único pecado foi ter se apaixonado por um imbecil e implorado a ele para tirá-la daqui quando era ainda menina! Se você fosse um bom pai e semeasse energias positivas em nosso lar, nenhum de nós teria ido jamais! — Sequei o rosto com força — Você não pode decidir por nós... Não pode mais nos prejudicar!

Sussurrei em meio às lágrimas e, para minha surpresa, papai se sentou na cadeira atrás de si um tanto desnorteado. No início, acreditei ser pela emoção, mas rapidamente mamãe e eu nos demos conta de que passava mal.

Um mal súbito.

A mão no peito evidenciava o ataque cardíaco. Corri para o telefone enquanto mamãe tentava falar com ele e ajudar, mas nossos gritos e todos os empregados não foram suficientes para impedir que acontecesse.

— Me perdoe, filha. Me perdoe!

Foi o que sussurrou antes dos olhos perderem o foco e sua vida se esvair em minhas mãos.

Travis tinha razão. A minha história realmente não acabou bem.

 

Era manhã de segunda-feira quando recebi a ligação de Valery antes mesmo de me aprontar para a entrevista de emprego na empresa de Vincent e Elliot Hayder.

— Travis... Aconteceu uma tragédia ontem à noite — Disse baixinho e com a voz marejada. — Meu pai morreu nos braços de Vicky.

— Como assim? Como foi isso, Val? — Questionei saltando da cama.

— Bom, não sei direito, mas parece que estavam discutindo junto a mamãe e ele caiu na cadeira com a mão no peito. Segundo os paramédicos, teve um infarto fulminante e não puderam fazer nada. — Chorava baixinho, controlando-se para falar. — Vicky está com Vincent preparando todo o enterro. Ela está profundamente em choque! Estou com as crianças na casa de Dean. Não quero que passem por esse processo doloroso sendo tão pequenos, principalmente as gêmeas.

Vicky está em choque.

O pai dela morreu em seus braços!

A informação é terrível e pesada. Sei que Richard Hayder não era um bom homem, mas Vicky sempre falou do patriarca com carinho. Ela sentia amor por ele, apesar das feridas indiretas que causou à família em vida. Passei os dedos pelo cabelo tomado pelo nervosismo. Certamente havia parte minha em toda essa história! Vicky não estaria passando por algo tão doloroso e marcante se não houvesse cruzado meu caminho naquela boate.

“Não posso mais fazê-la sofrer”.

Foi o que pensei ao entrar no cemitério com Samantha ao meu lado e avistar Vicky chorando no ombro de Vincent, absurdamente inconsolável. Vincent parecia frio, mas tremia com as lágrimas silenciosas. Valery estava somente com Rick a sua frente e Dean ao lado. As pequenas ficaram em casa, certamente com uma babá.

A mãe de Vicky cutucou a filha ao me avistar do outro lado do túmulo onde o caixão baixava. Vicky ergueu o rosto e me encarou com tristeza e desolação, caminhando até mim enquanto a cova era fechada. Sammy a abraçou rapidamente e foi até Valery, deixando-nos a sós.

— Sinto muito, Anjinha. — Vicky me encarava em busca de uma expressão amigável, mas eu não conseguia tirar a culpa do semblante. — Me desculpe por ter causado tanto estrago na sua vida. Eu disse, não disse, que ficar comigo ia te fazer sofrer?

— O que está falando, Travis? O que você tem a ver com isso? — Suspirou com os olhos cansados.

Era o retrato do sofrimento. Cabelos loiros presos para trás, rosto pálido e com olheiras arroxeadas. Usava um vestido preto fechado, do pescoço aos pés, e trazia em mãos um lenço. Meu anjo estava sem asas.

— Não devia ter saído de casa para ir comigo.

— Acha que isso teria evitado a morte de meu pai? Acha que foi sua culpa? — Disse com um sorriso debochado. — Por favor, Travis! Não faz o menor sentido!

— Não vim para discutir com você, Vicky, apenas para dizer que sinto muito por sua perda e faria o que fosse necessário para evitar te ver sofrendo assim. — Toquei sua face rapidamente, evitando sucumbir a ela. Sentia lágrimas em meus olhos e não tratei de esconder. Ela chorava em silêncio enquanto me encarava seriamente, quase desacreditada. — Te amo demais e um dia disse que a maior prova de amor que daria era te deixar ir. — Vicky fez um sinal negativo com a cabeça. — Você está livre, Victorya Hayder. Já não tem mais nada que te prenda. Nem seus pais, nem Frederick... nem eu.

— Você jamais me prendeu, Travis O’Brien. Foi quem me libertou! — Disse em meio às lágrimas silenciosas. — Mas também nunca me amou! Se me amasse, não seria capaz de me deixar! — Apontou para si mesma. — Eu sim te amo e morro sem você! Sinto que mais nada vale a pena... Nada!

Comprimi os lábios e me aproximei dela um pouco, até conseguir beijar sua testa. Demorei um tempo sentindo sua pele em meus lábios pela última vez, tragando o cheiro dela com carinho e devoção.

— Sinto muito, Vicky. Adeus.

Sussurrei, colocando as mãos nos bolsos e contemplando seus olhos claros. Vicky nada disse, apenas acenou negativamente tomada pela dor e emoção.

Me afastei dela somente em corpo, uma vez que todo meu coração ficou lá, em suas mãos preciosas. A minha vida era Victorya Hayder e jamais existiria outra mulher para mim.

Minha prova de amor estava concretizada.

Deixei-a ir.


TRÊS MESES DEPOIS

 

— Quer um chocolate quente, tia Vicky? — Rick sentou em meu colo com seu copo infantil e usando pijama de inverno. — Mamãe disse que o frio pode nos congelar se não nos esquentarmos.

— Obrigada, querido... Estou bem assim. — Beijei seu cabelo loiro enquanto olhava pela janela do prédio alto.

— Ainda está esperando seu príncipe, tia? — Rick sussurrou apenas para que eu ouvisse. — Mamãe disse que é por isso que você fica o tempo todo na janela... porque espera seu príncipe, o tio Travis, vir te buscar.

— Sua mãe está enganada, Rick. — Acariciei seu cabelo com carinho. — Travis não é um príncipe e tampouco virá me buscar.

“É um homem promíscuo, que nunca me amou, apenas me ensinou a foder.”

Para Valery, eu podia dizer tais palavras e era do que tentava me convencer, mas, assim como Rick, bem no fundo, eu acreditava que Travis O’Brien era sim um príncipe e o grande amor de minha vida.

Três meses se passaram e o tal fogo não apagou, tampouco o que sentia por ele. Não havia um só dia em que não sentisse saudade e pensasse em buscá-lo, mas minha consciência e Valery não permitiam.

“Ele tem que vir atrás de você agora, Victorya. Seja forte”

Minha irmã tinha razão. Foi ele quem me deixou e era ele quem teria de vir atrás de mim se realmente me amasse. Deixei claro meus sentimentos e ele bem sabia. Se não viesse era porquê de fato apenas queria me foder e se divertir. Era no que, aos poucos, a realidade começava a se basear.

Ele jamais veio. Em três meses, jamais apareceu.

Trabalhava com Vincent na empresa e estava fazendo um ótimo trabalho à frente dos projetos que assumiu, mas as informações que meu irmão passava se limitavam a isso. Vincent não falava dele para mim e nem de mim para Travis. Sempre imparcial e correto, costumava manter-se à deriva.

Valery sabia que Travis já não trabalhava sempre na academia, apenas em alguns horários em que estava disponível fora da empresa. Já não dependia de vários empregos, uma vez que a empresa de Vincent pagava o suficiente para viver bem. Sammy trabalhava na revista como freelancer em uma coluna adolescente e era quem tagarelava sobre Travis.

— Tio Travis virou um velho depois que vocês terminaram! Só trabalha, dorme e enche meu saco para fazer o dever. Nunca mais saiu com ninguém e nem voltou na boate. Finalmente aquietou, mas até demais. Tenho para mim que está sofrendo. Às vezes o vejo com o rosto úmido olhando para o céu, no telhado, mas sabe como é durão! Jamais admitiria!

Sammy, a desbocada, tentava me animar em vão cada vez que nos encontrávamos no trabalho. Somente o fato de ter melhorado a qualidade de vida dela e de Travis já valia a pena ter passado por tudo que passamos juntos. Podia ter resultado na dor e no vazio que sinto, mas os ajudei. Fui de alguma serventia.

Frederick teve a cara de pau de me procurar após a morte do meu pai e oferecer todo tipo de desculpa. Tentou reatar o noivado, mas obviamente lhe dei um passa fora. Tudo que queria era se livrar de Vincent e sua ira furiosa que o perseguia. Acabou respondendo a todos os processos e pagando caro por muitos deles.

O ex de Valery foi preso pouco depois que mamãe vendeu a mansão e repartiu todos os bens entre mim e Valery. Vincent abriu mão de tudo, uma vez que não queria tomar posse de nada que era do meu pai. Tampouco precisava. Ficou milionário sozinho, contando apenas com o marido e seus estudos. Mamãe foi para um retiro espiritual terminar sua vida e deixou claro que não voltaria. Queria se dedicar aos necessitados e nós podíamos visitá-la uma vez ao ano e ela também podia vir nos ver. Foi como uma libertação para ela pedir perdão a nós três e recomeçar.

Valery e eu compramos um apartamento cada uma no mesmo condomínio, mas o meu vivia fechado. Eu apenas guardava minhas coisas lá, mas vivia com Valery e as crianças. Não gostava da solidão. Não gostava do vazio. Aprendi a cozinhar, limpar e me virar com minha irmã, que tinha uma incrível ideia formada sobre a vida.

“Nada de empregados, apenas babás! ”

Val conseguia trabalhar com ajuda e ampliou sua loja de lingeries para física e online com a herança que recebeu. Sua vida era estável e ela mereceu! Dean era seu namorado, mas, como gostava de explicar, “ele lá e eu cá! Nada de dependência!”. Não queria juntar a vida, apenas curtir um romance e aproveitar as crianças dele e as dela. Era uma família peculiar, mas que dava muito certo.

Minha irmã me ensinou o verdadeiro significado de “mulher independente” e “mãe solo foda”.

Eu tinha muito dinheiro parado no banco após Vincent vender a empresa transportadora de nosso pai e repartir o montante entre eu, Valery e mamãe, mas não tinha ideia de como usar e nem queria usufruir daquilo. O dinheiro se tornou um veneno em minha vida e tudo que eu precisava vinha de meu trabalho.

Viajei alguns dias em que tive folga, mas não consegui esquecer. Não consegui apagar de mim o toque e o amor de Travis O’Brien. Por mais que desejasse, a única coisa que Travis não me ensinou foi esquecê-lo.

Entrei na roda gigante ao lado de Rick naquela noite quente de verão. Meu sobrinho, que esticou o suficiente para ter permissão para entrar no brinquedo, topou me acompanhar ao parque enquanto Valery passeava com Dean. As gêmeas estavam com Vincent e Elliot. Depois de muito tempo, topei sair um pouco de casa, buscando ao lado de meu sobrinho um pouco de diversão.

— Isso é como voar, tia Vicky! — Rick olhava ao redor enquanto subíamos na pequena cabine, totalmente apaixonado. — Uau! Irado!

— É por isso que eu gosto tanto... É como voar, Rick. O mais perto que podemos chegar do céu sem sair do chão. — Beijei sobre seu cabelo carinhosamente, sentindo meu celular vibrar na bolsa.

Retirei o aparelho pensando ser Valery, mas detive-me ao ver o número na tela. Apaguei o contato dele, mas decorei seu número há muito tempo. Levei o aparelho ao ouvido sem acreditar que era real.

— Vicky? — Fechei os olhos perante sua voz forte e grave.

— Sim?

— Sou eu, Travis. — Meus olhos se marejaram, mas me fiz de forte. Não podia dar na cara que estava tão emocionada por ouvi-lo após tanto tempo. — Como você está, Anjinha?

Sorri com a maneira como disse meu apelido. Ainda dizia com amor e devoção.

— Oi, Travis. Estou muito surpresa em receber sua ligação. — Rick me encarou curioso. — Pensei que não queria mais saber nada sobre mim.

— Sabe que não é assim, Vicky. Sabe que eu daria tudo para estar ao seu lado, mas...

— Mas escolheu não estar! — Pontuei enfaticamente. — E se ligou para falar a mesma coisa que já sei, é melhor desligar. Estou com um acompanhante.

— Oi, tio Travis! — Estragando totalmente minha estratégia de enciumá-lo, Rick falou perto do celular e Travis o escutou.

— Olá, Rick. — Travis respondeu do outro lado. — Como vai, campeão?

— Bem! Tia Vicky te espera todos os dias na janela e...

Afastei o celular de Rick e lhe dei um tapinha na mão. O garoto ria da minha expressão nervosa. Travis ria do outro lado.

— Mande lembranças a sua mãe e irmãs por mim, campeão.

— Tenho que ir, Travis... — Ele me interrompeu bruscamente.

— Temos um assunto pendente, Vicky. Você não chegou a me dizer se deixei ou não um filho em seu ventre.

Tomei fôlego perante a pergunta e me lembrei do dia em que menstruei pela primeira vez após ficar com ele. Senti como se perdesse tudo. Senti como se nada mais me ligasse a Travis. Senti como se houvesse perdido minha última chance. Valery passou muito tempo tentando me acalmar e feliz pela notícia. Ela não achava justo eu ter um filho em tais condições, distante de Travis.

Rapidamente compreendi... Minha irmã queria que tudo acontecesse de maneira natural em minha vida e que Travis e eu ficássemos juntos por nós dois, não por uma criança. Como sempre, a sábia Valery tinha razão!

— Não, claro que não. Se houvesse um bebê em mim você seria a primeira pessoa a ficar sabendo — Afirmei. — Deveria ter buscado uma desculpa melhor para me ligar, Travis, julgando pelo fato de você trabalhar com meu irmão e certamente saber se acontecesse e por já terem se passado três meses!

O silêncio dominou por um tempo.

— Admito que apenas liguei para ouvir sua voz e saber se está bem. Conheço seu caráter e sei que jamais me esconderia algo tão sagrado.

Me calei e tomei fôlego. Ele me deixava louca até pelo telefone, depois de tanto tempo!

— Você não me disse como anda, também.

— Igual a você, eu acho... — Suspirei e olhei para o céu. — Foi bom ouvi-la, Vicky.

— Foi bom ouvi-lo, Travis.

A linha caiu e senti uma lágrima descendo em minha face. Aquela ferida e ardia constantemente, mas não como naquele momento. Olhei novamente para o céu escuro e uma estrela brilhou acima de nós.

— É uma estrela cadente, tia Vicky. Faça um pedido! — Rick apontou para o céu.

Sorri para ele, pensando em Travis a todo o momento. Eu só queria que ele voltasse.


Corri entre os garotos da vila com a bola nos pés em direção ao gol. Todos os meninos vibraram quando a bola balançou a rede improvisada, nas traves, pulando ao meu redor para comemorar mais um ponto marcado.

O suor escorria em minha face e pingava em meu peito nu. O crucifixo prateado brilhava em meu peito enquanto anunciavam a vitória de meu pequeno time do bairro. Finalmente alguma alegria embalava minha vida, tão pacata nos últimos anos.

— Travis O’Brien, o homem promíscuo! — A voz familiar ecoou atrás de mim e me virei rapidamente, deparando-me com a figura alta e esguia de uma mulher loira e elegante.

— Valery Hayder! — Sorri animado pela presença dela, correndo para abraçar a irmã mais velha da mulher que eu amava. — Como está, Valery? Está ótima, pelo que vejo!

Vê-la me causou uma pontada de dor. Vincent eu encontrava constantemente na empresa, mas não era tão próximo de Victorya como Valery era. Talvez pelo fato de serem mulheres tinham mais intimidade entre si e tenho ciência de que Valery sabe muito mais sobre minha história com a irmã do que Vincent.

— Tão bem quanto você, amigo. — Bateu no meu ombro com seu jeito despojado, tirando os óculos escuro para me olhar. — Será que podemos conversar na sua casa?

Encarar os olhos castanhos de Valery é doloroso porque sei que viram Vicky a pouco tempo. Sei que são unha e carne. E ela sabe o quanto me dói, por isso sorri tristemente enquanto me encarava com a expressão desapontada.

— Claro, vamos agora mesmo!

Valery se vestia com mais elegância e era claro que estava mais rica. Fiquei sabendo por Vincent que as posses de Richard Hayder foram vendidas e separadas igualmente entre Victorya, Valery e a mãe delas. O primogênito abriu mão de toda sua parcela da fortuna.

Uma vez em minha casa, sentou-se na mesa da cozinha enquanto eu servia um café. Falamos sobre as crianças, Dean e o namoro de ambos, mas finalmente Valery chegou ao ponto realmente interessante.

— Vim te trazer isso, Travis. — Esticou para mim um envelope vermelho bordô, o qual acompanhei deslizar pelo mármore azul da mesa. O nome de Victorya estava estampado nele. — O aniversário de minha irmã está chegando e Vincent e eu resolvemos dar uma festa surpresa para comemorar os vinte e quatro anos de Victorya.

Tomei o envelope nas mãos e analisei com cuidado. Encarei Valery fixamente. O nome de Vicky era escrito em letras douradas no papel bonito e o encarei com emoção.

— Acha que seria uma boa ideia eu estar lá?

— Todas as pessoas que a amam devem estar. — Em silêncio, li o convite com cuidado e o deixei sobre a mesa ainda pensativo. Comprimi os lábios. — Vicky não sabe que estou fazendo isso, tampouco deixaria que eu fizesse. Confesso que fui a primeira a dizer a ela que não te procurasse, uma vez que seria demais da parte dela. Mas dei o braço a torcer e estou aqui porque tenho consciência de que tudo que você faz é por acreditar que está ajudando.

— Acha que não estou, Valery? — Seu olhar castanho estava em meu rosto. — Seu pai morreu por essa história! Sua irmã merece alguém muito melhor do que eu, Val. Sou um homem promiscuo, que já comeu metade da cidade, e Vicky é uma menina pura! Não posso continuar prejudicando a vida dela com minha presença e somente por isso não estou com ela! Para que não sofra e encontre um homem que seja limpo o suficiente para honrá-la!

Valery se moveu na cadeira desconfortavelmente e parecia pensar no que dizer. Sua expressão era engraçada, muito parecida com a de Vicky quando queria ser teimosa. A irmã mais velha de minha amada era mesmo uma mulher perspicaz e que não aceitava injustiças, muito menos relacionadas ao amor.

— Meu pai morreu porque tinha problemas cardíacos e muito peso na consciência, Travis. Não teve nada a ver com você e Vicky, especificamente! Foi um conjunto de situações durante toda uma vida que eclodiram na fatalidade! — Explicou rapidamente, movendo-se na cadeira para apoiar os braços na mesa. — E está enganado se pensa isso!

— Penso o que?

— Vicky merece alguém exatamente como você! Eu, como irmã mais velha, não posso pensar em alguém melhor para ela, sabe por quê? — Aproximou-se para me fuzilar com o olhar. Era como uma mãe brigando com seu filho travesso. — Porque quando Vicky apareceu naquela boate para te pedir um favor absurdo, você foi sincero e cumpriu exatamente o combinado com ela. Poderia ter tirado muito dinheiro de minha irmã e até chantageado ela com tudo que sabia, mas não... Decidiu ser honesto! Porque quando eu não tinha nada e estava na rua com meus filhos, foi você quem me estendeu a mão! Não somente nos abrigou, como matou a fome das crianças em meio à noite fria. Jamais vou esquecer disso, Travis. Jamais! Também jamais esquecerei como me salvou das mãos do traste do meu ex-marido e das coisas que disse ao meu filho naquele dia para consolá-lo. — Abaixei o rosto de maneira tímida. — Me apresentou um homem maravilhoso também, pedindo que cuidasse de mim com carinho! Você podia ter largado sua mãe doente em um asilo público e sua sobrinha órfã em um abrigo de menores desamparados, mas não! Deixou de estudar e viver um futuro que sempre quis para bancá-las e cuidar das duas! — Val segurou um de meus ombros. — Você é o cara, Travis! Você é exatamente o tipo de homem que minha irmã merece ter ao lado!

Não consegui conter a emoção perante as palavras de Valery, que me olhava com lágrimas nos olhos.

— Nunca pensei por esse lado, Valery.

— Pois pense! — Afastou-se novamente. — Quanto a grana... Victorya e eu herdamos muito dinheiro do meu pai. Compramos um apartamento cada uma e temos uma boa quantia que nos permitiria viver para sempre sem trabalhar, mas sabe o que Vicky fez? Trancou o dinheiro no banco e vive apenas com seu salário. O apartamento dela vive fechado, uma vez que a garota só fica na minha casa por não aguentar a solidão! Vicky te espera na janela todos os dias e eu sei... Eu sinto... que tudo que ela queria era estar aqui com você e Samantha!

Limpei uma lágrima em meu rosto, fazendo-me de forte.

— Acha mesmo?

— Claro que sim, Travis! Victorya não precisa de um marido que proporcione luxos ou dependência, já que ela pode fazer isso por si mesma quando quiser! Ela é independente, assim como você! O que Vicky precisa é de uma pessoa que some à sua vida, que esteja ao seu lado e a ame! Acha que não é capaz de fazer isso? Não é capaz de amá-la?

— Dou minha vida por Vicky. Sou capaz de morrer por ela... — Admiti com um sorriso. — A amo mais do que a minha vida, Valery.

— Então chega! — Bateu na mesa fortemente e me fez sorrir. — Você vai na festa com uma roupa bem bonita e reatará sua história com Victorya. Ambos independentes e unidos pelo amor, assim como eu e Dean. Esse negócio de mulher dependendo de homem e com a barriga no fogão cheia de filhos não existe mais, amigo! Ela tem as coisas dela e você as suas... Somem! Amor é isso, Travis O’Brien, o homem que sabe sobre sexo, mas não sabe sobre relacionamentos — Ri com ela — Um relacionamento, para realmente funcionar, deve se basear em somar, não depender!

— Valery, você é maluca... — Falei ficando de pé e abrindo os braços para que ela me abraçasse. — Mas te agradeço imensamente por essa porrada que acabou de dar na minha cara!

— Alguém precisa fazer a boa, Travis O’Brien. — Nos separamos e ela colocou a bolsa nos ombros. — Vicky sempre disse que o que você tem de grande, tem de teimoso! E ela não fica atrás... O que tem de bonita, tem de orgulhosa!

— E você nunca errou, Valery. Nunca errou!


Um vestido branco com abertura nas costas muito angelical. Cabelos soltos e ondulados. Maquiagem brilhante e ousada. Foi minha escolha para uma noite que seria apenas um jantar em família, mas virou uma festa surpresa de vinte e quatro anos. Todos meus amigos do trabalho e da faculdade estavam lá, além de meus familiares chegados.

— Está gata, hein, loira! Que arraso!

Rayanna correu para me abraçar assim que me viu um pouco livre de convidados. A abracei de volta com força imensurável, absolutamente feliz por ver minha melhor amiga depois de tanto tempo.

— Ray! Cachorra, como você anda? Que saudade! — Ray torceu os lábios e me mostrou um copo de suco. — Que isso? Suco?

— Não posso beber, loira... — Sussurrou se aproximando de mim e olhando ao redor. — Me lasquei... Estou grávida!

Meus olhos cresceram no rosto e tapei a boca com as mãos enquanto analisava seu corpo ainda magro como sempre. Seguia uma morena linda e estonteante.

— Como assim? De quem? — Ray revirou os olhos e suspirou.

— De um cara que não sei nem o nome e que caiu de paraquedas na minha vida, mas olha... Melhor eu te explicar depois! O fato é que estou grávida e muito, muito encrencada! — A abracei de volta com vontade de rir, mas me contive.

— Eu cansei de te falar que sua vida de piriguete ia terminar assim, não cansei? — Toquei sua barriga carinhosamente.

— Pelo menos minha vida de piriguete te levou até seu moreno, alto, bonito e sensual, não é? — Me cutucou de lado. — E ele? Cadê? Travis O’Brien, o prostituto mil e uma utilidades!

— Rayanna, por favor! — Repreendi suspirando. — Ele não é mais prostituto! Você não muda, não é, maluquinha? Mesmo buchuda, sempre será maluquinha!

Nos abraçamos emocionadas, celebrando nossa amizade e a recente novidade de Ray.

Vincent e Valery armaram uma festa surpresa incrível e maravilhosa para mim. Era o que realmente precisava após um ano tão conturbado em minha vida, mas que foi marcado por minhas próprias decisões.

Não era mais uma menininha comandada pelos pais... Agora tinha meu apartamento, meu emprego e era mulher de verdade. Mulher de Travis O’Brien, tanto de corpo quanto de alma. Eu jamais o esqueceria, mesmo que Travis tratasse de me esquecer e já o houvesse feito.

Meus irmãos e cunhados discursaram sobre mim, assim como meus sobrinhos, mas minha surpresa veio mesmo quando Sammy, a sobrinha de Travis, apareceu no palco com seus lindos olhos verdes e sorriso encantador como o do tio. Fiquei de pé ao vê-la em frente ao microfone no palco, um pouco tímida, mas contente.

— Falar de senhorita Hayder é complicado, porque ela é perfeita. Na verdade, a conheci como senhorita Hayder, mas hoje posso chamá-la de tia Vicky. Tio Travis costuma dizer que tudo que ela faz e fala é maravilhoso e sem igual, portanto, para mim ela é o sinônimo da perfeição! Tia Vicky chegou e tornou tudo mais divertido e mais ousado... Me ensinou a lutar pelos meus objetivos e desejo me tornar uma grande mulher como ela é no ramo editorial. Desejo muitas felicidades, tia Vicky. Desejo que finalmente case com tio Travis, afinal, só você consegue fazer ele usar camisa todos os dias! — Todos no salão riram alto. — Agora passo a palavra para quem realmente te conhece de verdade... Anjinha!

Sammy piscou para mim quando todos fizeram um barulho engraçado, remetendo a fofura. Desceu do palco para me abraçar de surpresa enquanto Travis tomava seu lugar à frente de todos, no microfone.

Meu coração perdeu uma batida ao vê-lo.

Lindo. Elegante. Sensual. Usava uma camisa bordô dobrada nas mangas e calça social. O cabelo negro ajeitado e a barba por fazer. Estava maravilhoso com suas tatuagens preenchendo o braço a mostra e a ponta do dragão subindo no pescoço. Eu o amava e meu coração disparou ao vê-lo de longe...

Todo meu corpo reagia ao meu homem.

— Travis... — Sussurrei apaixonada, emocionada, com um misto de emoções tomando conta da alma.

Depois de três longos meses sem vê-lo, a sensação era de que meu coração ia explodir pelo intenso amor que me preenchia.

— Agora vai, Vicky. Finalmente! — Sammy sussurrou ao meu ouvido. — Já separei seu canto no armário dele. Vai ser incrível! Por favor, aceita! O anel é lindo, eu que ajudei a escolher!

Assustada, olhava para Travis, enquanto Sammy falava ao meu ouvido. O olhar castanho estava em mim de maneira apaixonada e Travis tinha uma taça nas mãos firmes. Sentia as lágrimas apenas por contemplá-lo! Como tinha saudade... Como queria tê-lo!

— Conheci Victorya em uma ocasião onde ela passava por um problema e precisava de ajuda. Eu tinha a opção de não ajudar, mas certamente quem o fizesse se aproveitaria dela e não era o que eu queria... Logo no início, apenas com o fato de vê-la, criei um absurdo senso de proteção inigualável e que jamais imaginei que pudesse direcionar a outra pessoa que não fosse minha sobrinha, que para mim é uma filha. — As pessoas olhavam fixamente para Travis e aos meus olhos era como se mais nada ali existisse além dele. — A vida me fez frio, quase como uma pedra, e imaginava que não podia amar uma mulher mais do que a mim mesmo... Não acreditava que poderia amar a ponto de passar por cima de minha própria felicidade apenas para vê-la feliz.

Senti lágrimas em meu rosto e sequei com as costas da mão. Sammy me abraçava pelos ombros delicadamente.

— Vicky costuma dizer que eu a libertei para o mundo quando nos conhecemos, mas ela também me libertou de uma escravidão de alma que já durava muitos anos. Me libertou do vazio que existia em mim e preencheu toda minha vida com sua inocência, sempre presente nos lindos olhos azuis e carinha de anjo que ela possui. — Travis sorriu em minha direção. Falava diretamente ao meu coração. — Me perdoe por ter te magoado, Vicky. Pensei que estava fazendo o melhor me afastando de você, mas já entendi que sou seu. Sempre fui seu, desde a primeira vez que nos vimos e você tropeçou no meu pé e caiu nos meus braços.

Todos riram e alguns aplaudiam a maneira entregue como Travis me olhava. Ele se derretia completamente para mim e não havia maneira de não se emocionar perante sua verdade.

— Estou aqui para me redimir e pedir, perante todas as pessoas que você ama, para que seja minha... Minha de verdade! — Riu enquanto tirava uma caixinha de veludo do bolso. Mais aplausos se fizeram e cobri os lábios com as mãos. — Minha namorada por quanto tempo desejar. Por dias, meses, anos ou, se eu tiver sorte, a vida inteira! Te amo, Anjinha. Sempre te amei!

Fechei os olhos pela emoção e Sammy me esmagou também animada. Aplausos se fizeram quando Travis desceu do palco e caminho em minha direção com um sorriso emocionado, envolvendo-me em um abraço carinhoso antes de erguer meu rosto e beijar-me nos lábios.

Abracei seus ombros ainda sem saber se era um sonho ou realidade. A julgar por seu beijo quente e seu perfume maravilhoso, tudo aquilo era uma incrível e maravilhosa realidade!

— Minha vontade era te fazer sofrer um pouco como sofri, mas entendo que pensava estar fazendo o melhor. — Toquei seu rosto com carinho. Ele concordou um pouco envergonhado. — Te amo, Travis! Te amo! — Sussurrei contra sua boca, beijando-o entre as palavras. — É claro que aceito ser sua, é claro! É tudo que mais quero...

Afastando-se após um momento, Travis tirou o anel da caixinha e deslizou a aliança prateada por meu dedo anelar da mão direita. Colocou sua aliança no mesmo lugar e juntou nossas mãos.

Namorados.

Sorri com a emoção, beijando-o novamente.

— Morro por você, Vicky. Eu sempre fui seu! Sempre!

O abracei com força, sentindo um imensurável alívio me preencher a alma. Tomei seu rosto entre as minhas mãos enquanto as mãos grandes e habilidosas me pegavam pela cintura com paixão. Seus lábios selarem os meus e nossas testas se uniram em uma felicidade inigualável.

— Você me ensinou tudo, Travis O’Brien, menos a viver sem você.

Finalmente minha dívida com ele estava paga e nosso acordo secreto devidamente encerrado. Ali morriam todos os meus segredos.


O epílogo a seguir é uma possível base para um segundo livro da história, mas também entrega uma finalização dela alguns meses depois. Ainda não tenho data de lançamento e nem sei se realmente farei o segundo livro. Por isso, se não quiser ficar ansioso, sugiro que pare por aqui! Se deseja saber um pouco mais sobre esse casal incrível, corre para ler!

Agradeço IMENSAMENTE a todos que leram a história e espero ter esquentado o coração de vocês (e outras partes) com esse romance erótico que me abriu portas para o universo dos romances hot! OBRIGADA!


Frente ao bonito espelho do quarto cor-de-rosa de Samantha, fizemos uma pose para uma selfie, já prontas com nosso look de festa que custou um pouquinho a mais do que o esperado.

Minha saia preta cintura alta terminava pouco abaixo de meu estômago e um cropped estiloso com mangas e ombros de fora terminava o conjunto impecável. Saltos compunham o todo, junto a uma maquiagem trabalhada feita por meu maquiador favorito. Sammy também foi atendida por ele e usava um estupendo vestido verde escuro, que contrastava perfeitamente com seus incríveis olhos claros. Ondulamos o cabelo — o meu muito claro e o dela escuro e mais curto — para fechar o look com chave de ouro.

— Nunca me senti tão linda, tia Vicky! — Sammy tirava fotos com seu novo celular, que adquiriu com seus ganhos da revista, enquanto posávamos de maneiras engraçadas.

Travis não gostava que eu usasse meu dinheiro com coisas relacionadas à sua casa e sua sobrinha, mas tive de comprar um vestido incrível para Samantha usar no dia da festa da revista Life, onde nós duas trabalhávamos.

— É estranho ser chamada de tia Vicky por uma garota que é só oito anos mais nova do que eu! — Peguei minha bolsa sobre a cama e ela fez o mesmo.

— Não posso fazer nada se tio Travis goste de se relacionar com novinhas! — Mostrou a língua em uma careta.

— Tenho vinte e quatro e Travis trinta e um anos. Não é tão diferente assim...

— Não mesmo... — Descemos as escadas e Travis falava ao telefone, próximo do carro. Certamente com Dean, pois ele e Valery também iriam à festa.

— Quando você nasceu, Travis tinha qual idade? — questionei vendo Sammy pensar sobre.

— Tio Travis tinha dezesseis anos quando nasci. — Travis ouviu nosso assunto e se virou confuso, desligando em seguida o telefone. — Minha falecida mãe era jovem também. Tinha apenas dezoito.

— Do que estão falando? — Abraçou-me pelo ombro enquanto admirava minha silhueta. Corei perante seu olhar. — Uau... Estão maravilhosas, as duas!

— Obrigada, amor — Beijei sua boca carinhosamente, fazendo Sammy converter a expressão em uma careta entediada. A garota costumava brincar sobre nosso grude o tempo todo.

Três meses se passaram desde o dia em que Travis me pediu em namoro e as coisas não podiam estar mais positivas entre nós! Seguíamos morando separados, mas nosso final de semana era sempre juntos na casa dele. Quando queríamos mais privacidade para um sexo mais barulhento, íamos para meu apartamento, mas raramente acontecia. Sammy passava bastante tempo com as amigas e Travis começou a permitir que saísse um pouco com elas.

Era muito ciumento com a sobrinha, principalmente com garotos. Temia demasiadamente que Sammy engravidasse cedo e arruinasse seu futuro, por isso ela não tinha permissão para ter um namorado.

Para mim, tratei de conseguir injeções anticoncepcionais após o milagre de não ter engravidado durante as aulas com Travis. Agora estávamos protegidos de uma possível surpresa inesperada. Minha carreira ainda estava em ascensão na revista e Travis tinha pretensão de crescer na empresa de meu irmão. Estava estudando para conseguir um cargo melhor no futuro após meu incentivo. Ainda era jovem demais para não buscar uma carreira mais estável e isso o fez muito bem.

Após a lição valiosa de Valery sobre relacionamento ser sobre “somar” e não sobre “apenas doar”, as coisas ficaram mais leves entre nós. Travis ainda tinha receio de que algo me incomodasse sobre seu passado, mas, por hora, não havia acontecido. Eu não me importaria se acontecesse! Ninguém era dono de minha vida e eu sempre soube a profissão de Travis. O conheci na boate como um garoto de programa e o que me importava era que meu namorado não voltaria a ser quem um dia foi. Sua evolução era minha consciência tranquila.

— Ainda não me disseram sobre o que falavam — Travis insistiu no caminho, dirigindo ao meu lado.

— Sobre sua idade quando nasci — Sammy respondeu no banco de trás, mexendo em seu celular. — Disse à tia Vicky que minha mãe também era bem jovem quando eu nasci.

— Você não disse que sua irmã foi mãe adolescente. Agora faz sentido seu excesso de zelo em relação a Samantha e aos garotos. — Travis me lançou um olhar pensativo.

— Ter um bebê na adolescência é muito complicado, Vicky. — Seguia dirigindo com uma das mãos em minhas pernas. — Não é fácil, depois, seguir em frente, principalmente quando se comete muitos erros relacionados ao fato.

Calada, encarei Travis durante um tempo. Eu sentia no fundo de meu coração que o nascimento de Samantha era um enigma na vida daquele homem. Talvez um período doloroso que sempre o deixava triste citar. Não insisti. Por diversas vezes tentei entrar mais fundo no passado de Travis, mas nada o fazia falar sobre isso.

A morte da irmã era muito dolorosa e no documento de Samantha constava apenas o nome da mãe, Maria Anne O’Brien. Eu não precisava saber de mais nada se queria seguir em frente.

Chegamos à festa e a decoração do ambiente ficou impecável. A revista Life comemorava cinquenta anos e todos os funcionários e seus respectivos acompanhantes foram convidados para comemorar o êxito que estávamos tendo. Minha luta para chegar ao cargo de editora chefe era real e eu sabia que minha chefe em breve seria promovida a um cargo maior. A vaga estaria livre e os donos me tinham em sua lista de pretendentes.

— Acha que os donos vão prestar atenção em mim? — sussurrei a Travis enquanto bebíamos juntos em nossa mesa. Sammy conversava com as outras garotas colunistas de seu grupo.

— Como não prestar atenção na mulher mais linda desta festa, Vicky? — Ajeitou uma mecha de meu cabelo atrás de minha orelha. — Além de maravilhosa, é inteligente e capacitada. Me enche de orgulho...

Agarrei sua mão e beijei com carinho.

— Você também, amor. Pensa que não reparei que todas as mulheres do salão se viram quando passa por elas? — Rodei os olhos em uma expressão entediada e Travis deu de ombros.

— Ignore. Só tenho olhos para minha anjinha... — Beijou-me rapidamente, fazendo-me sorrir.

Era real. Não havia uma presença feminina que ignorasse Travis O’Brien. Até mesmo as mais velhas baixavam os óculos para vê-lo desfilar com seus ombros largos, peito forte e olhar sensual. Aquele homem exalava sexo e confesso que não era fácil controlar o ciúme. Sou segura comigo mesma, mas sei que minha beleza não segurará Travis para sempre. Aquele homem podia ter a seus pés a mulher que desejasse.

Apresentei Travis às minhas colegas e não houve ninguém indiferente a beleza dele.

— Meus amigos também ficam chocados quando apresento você, Vicky. Não é qualquer um que tem como namorada, uma mulher, como você — comentou ao meu ouvido enquanto dançávamos.

O abracei pelos ombros e desfrutei daquele sentimento, envolvida pelo amor que caiu de paraquedas em minha vida quando jamais imaginei encontrá-lo.

— Victorya Hayder! Veja se não é minha garota prodígio!

Separei-me de Travis ao ouvir a voz da minha chefe e nós dois nos deparamos com ela e o casal de donos da revista, Diana e Theo Fross. Congelei no lugar ao vê-los, apertando a mão de minha chefe enquanto ela nos apresentava.


Tive a impressão de que o sangue congelou em minhas veias ao me deparar com Diana na festa da revista onde Vicky trabalhava.

Ao lado do marido, um importante empresário, Diana também me encarava estática, de braços dados com o homem baixo e grisalho, mas com uma rica conta bancária. Era o dono de tudo ali e, consequentemente, chefe de Victorya. Vicky conversava com sua chefe, uma mulher de meia idade e agradável, enquanto Diana e eu nos encarávamos através do espaço.

Ela me pediu silêncio com o olhar, mas fuzilou Victorya ao perceber que nossas mãos estavam entrelaçadas a todo o momento e usávamos a mesma aliança.

— Meu marido fala muito de seu talento com as palavras, senhorita Hayder — Diana disse com um sorriso no rosto esticado com plástica. — Seu namorado deve estar orgulhoso...

— Não sabia que estava namorando, Vicky. Felicidades! — A chefe de Vicky sorriu para mim quando minha anjinha me abraçou de lado com carinho. Beijei seu cabelo carinhosamente, encarando Diana com afronta.

Queria deixar claro que agora era todo de Victorya. Queria deixar claro de uma vez que se ousasse mexer com ela, seu marido saberia de toda a verdade sobre suas aventuras extraconjugais comigo na boate quando eu era garoto de programa. Não foram uma ou duas noites, mas sim anos!

— Travis e eu estamos juntos há pouco tempo, mas é uma alegria poder apresentá-lo. — Vicky seguia abraçada a mim.

— Ele também trabalha com editoração? — Diana alfinetou e desviei o olhar nitidamente constrangido. Ela queria me provocar...

— Não, Travis trabalha na empresa de engenharia de meu irmão Vincent — pontuou com a verdade, também orgulhosa. — Não é, amor?

— Claro... E sim, tenho imenso orgulho de minha Vicky. É a mulher que foi capaz de transformar toda minha vida. — Beijei seu cabelo com carinho.

— Imagino o quanto — Diana comentou com um sorriso cínico.

Saímos da presença deles e suspirei aliviado. O restante da festa transcorreu e voltamos para casa. Sammy, que também se deparou com Diana na festa e a conhecia de episódios em que a mulher me perseguiu até em casa, me abordou no corredor.

— Já contou a tia Vicky sobre a maluca? — sussurrou apenas para que eu escutasse. Vicky estava em meu quarto.

— Acha que devo? — Apoiei o braço na parede de maneira cansada.

— Se não quiser perder Vicky, obviamente! A mulher é esposa do dono da editora e completamente maluca por você... Acha realmente que não vai respingar nela? — Cruzou os braços de maneira nervosa.

Suspirei e me encostei na parede. Sammy fez o mesmo.

— Isso pode terminar mal, Samantha.

— Eu sei, tio Travis. — Olhamos um para o outro. — Conta logo antes que a maluca faça isso por você! Nós dois sabemos do que ela é capaz...

Cocei a testa.

— Não quero deixar Vicky preocupada.

Voltei para o quarto e Vicky tirava a maquiagem frente ao espelho grande do guarda-roupa. Virou-se para mim com um sorriso tímido e reparei que vestia uma bela camisola azul clara, uma de minhas favoritas. Vicky sempre a usava quando queria sexo, pois sabia que eu não era capaz de resistir a ela.

Sentei-me na beira da cama e ela se aproximou já com o rosto limpo e o cabelo loiro penteado. Abraçou-me pelo pescoço ao sentar-se em meu joelho, beijando-me os lábios com carinho.

— Por que tão pensativo, meu grande dragão? — Tocava meu rosto com delicadeza. Beijei sua mão pequena e fechei os olhos.

— Não sou bom com rodeios, por isso vou direto ao ponto... — Me encarou curiosa. — Aquela mulher, esposa do dono da revista... foi minha cliente por muitos anos. É uma das que Sammy cita ser maluca por mim. E quando digo maluca, estou falando no sentido literal da coisa, não apenas por força de expressão.

Vicky parecia baqueada quando trocamos um olhar longo. Suspirou e desviou o rosto rapidamente, abaixando o olhar.

— A esposa do dono da revista foi sua cliente? — concordei, envergonhado. — Por quantos anos?

— Acho que durante todo o tempo em que trabalhei na boate.

— Então era praticamente um caso, não uma cliente! — disse enojada, saindo de meu colo e cruzando os braços. Me coloquei de pé frente a ela, notando que aquilo realmente impactou Victorya.

Não era fácil lidar com tais circunstâncias, ainda mais para ela, que era ciumenta e guardava para si o fato.

— Não era um caso porque nunca tive sentimentos por ela e sempre cobrei pelo sexo. Um caso envolve sentimentos, Vicky. Um caso só tive com você!

Vicky fechou os olhos por um segundo e reuniu as palavras.

— Ele não é o dono, ela é! — disse enfaticamente. — Diana Fross é a herdeira da revista e a dona de tudo aquilo, Travis. Theo Fross, o marido dela, é quem administra tudo, mas a verdadeira dona da Life é ela! E ela... Ela era sua cliente! Vocês transavam por anos... Isso é...

— Eu disse que aconteceria, Vicky. Eu disse que cedo ou tarde meu passado começaria a refletir em nós dois, mas não sabia que ia ser de maneira tão forte! Tentei evitar seu sofrimento, mas...

— Travis... — sussurrou fazendo um sinal para que eu parasse, mas segui.

— Sinto muito. Sinto muito por causar esse constrangimento! — Esfreguei o cabelo com a raiva. — Te contei porque não quero segredos entre nós. Se te perder, quero que seja às claras. Tudo será direto comigo, Vicky. Posso ser um promíscuo, mas não um falso mentiroso!

Vicky mordeu os lábios e me encarou fixamente. Seus olhos azuis pareciam apreensivos, mas não demorou até caminhar em minha direção e tocar meu rosto com carinho.

— Não vai me perder, Travis. Não por isso... E creio que nada no mundo será capaz de destruir o que temos, meu amor.

A inocência de Vicky me tocava a alma e talvez por isso eu a amasse tanto. Aquela linda menina com semblante angelical não sabia nada sobre o mundo e eu amava ensiná-la. Apenas não gostava de ter que apresentar coisas ruins, mas elas também faziam parte da vida.

Não existia maneira de seguir em frente sem passar pelo lado negativo da coisa. Existia hesitação em seu olhar e eu sabia que no fundo Vicky pensava sobre tudo. Não estava completamente segura.

Tirar a roupa e foder era fácil.

Enlouquecer com o sexo era incrível.

Arcar com a realidade, doloroso. Exigia trabalho namorar alguém que já fodeu metade da cidade e a realidade impactaria uma moça inocente como Victorya. Eu apenas queria saber se nossa relação sobreviveria a tais adversidades.

Transamos para nos conectar.

Vicky me encarava apaixonada enquanto eu afastava suas pernas, movimentando meu membro enrijecido para sua entrada úmida e à minha espera. Segurava em meus ombros e tinha a boca próxima da minha, respirando o mesmo ar que saía de meu sistema. Suas coxas torneadas tremiam em minhas mãos e a pele macia arrepiou completamente quando comecei a preenchê-la, segurando com uma de minhas mãos seus seios intumescidos de prazer, passando de um para outro em carícias cadenciadas.

Ela me enlouquecia com sua boceta apertada e seus seios rosados. Me deixava louco com seus gemidos e os olhos azuis tomados de prazer.

Como viveria sem ela se quisesse me deixar? Como viveria sem tê-la?

Minha história e meu passado eram mais complicados do que pareciam e somente o tempo diria se Victorya estaria mesmo disposta a arriscar tudo por mim.

Por hora, nosso sentimento era real e nosso sexo, foda. Não havia nada mais a ser dito. Nada que realmente importasse!

— Eu te amo, Travis — sussurrou segurando meu pescoço e gemendo contra meus lábios. Beijei-a com fervor, metendo com ainda mais força contra seu corpo frágil e pequeno.

Abraçada a mim, fechou os olhos quando o prazer a tomou e suspirou quando deitei meu rosto contra seus seios, que subiam e desciam de maneira descompassada pelo recente prazer.

Eu a amava imensuravelmente e queria ter aquela imagem perfeita gravada para sempre em minha memória.

— Sou seu, Vicky. Sempre fui seu...


Acordei no dia seguinte e não encontrei Victorya ao meu lado na cama, como corriqueiramente acontecia quando minha namorada dormia em minha casa.

Saí da cama em passos lentos e a busquei, mas somente encontrei Sammy tomando café da manhã com os livros do colégio abertos sobre a mesa.

— Bom dia, tio Travis! — disse com a boca cheia de cereal e o cabelo preso em um coque. — Você e Vicky vão almoçar em casa? Estive pensando em pedir comida italiana, é ótimo e...

— Vicky não está com você? — Olhei ao redor e Sammy abaixou a colher.

— Não! Estou acordada desde cedo e não vi Vicky em casa. Pensei que estava dormindo com você.

— Droga! — Cocei a cabeça e tirei o celular do bolso do moletom, procurando qualquer mensagem ou ligação dela.

— Você falou da maluca? — Sammy não escondeu a indignação.

— Claro, Samantha! Claro que falei! — respondi irado, ligando para ela e recebendo caixa postal. — Você não disse que era o certo? Sou homem, não um moleque! Não posso mentir para Vicky assim e sair como se estivesse tudo bem! Droga!

— Vamos ligar para Valery. Ela deve ter uma ideia de onde podemos encontrá-la!

Valery e Vincent não tinham ideia de onde encontrar Vicky e ambos também se desesperaram como nós. Victorya jamais sumiria assim, sem dizer nada, muito menos antes do amanhecer. Nos colocamos em contato e saí com o carro sem rumo, dirigindo enlouquecido entre as ruas em busca dela.

Sabia que seria terrível para Vicky assumir para si mesma que amava um garoto de programa quando se desse conta do que realmente eu era! O encontro com Diana foi a primeira vez em que teve a ciência de que já estive com muitas mulheres poderosas e isso impactaria em nossa relação.

Talvez não suportasse.

Talvez tenha sido um erro assumir nossos sentimentos e deixar a história vingar.

Fui até o parque, na roda gigante, e perguntei por ela. O rapaz que operava o brinquedo disse ter visto Vicky bem ao amanhecer, mas ela se foi após uma rodada. Era lá onde ia quando queria pensar e voar mais alto que o céu.

Novamente dirigi, parando próximo do hotel onde nos encontrávamos quando tínhamos as aulas. Há muito não íamos até lá e duvidei que realmente estivesse por ali, mas meu coração me levou a dirigir até lá. Estacionei na praça que havia em frente e desci, caminhando entre as pessoas que praticavam exercícios na primeira hora da manhã e passeavam com seus animais domésticos.

Suspirando, esfreguei o cabelo e me sentei em um dos bancos, recordando-me do dia em que estive ali com Vicky e tudo começou entre nós, de fato.

— Ora, veja só! Naquele dia te encontrei na saída, hoje bem na entrada. — A senhora vendedora de flores que um dia me encontrou ali parou a minha frente com seu cesto cheio de rosas e suas roupas humildes. — Por que essa cara, meu jovem? Não me diga que você e sua alma gêmea se desentenderam?

Sorri sem humor e dei de ombros. Coloquei-me de pé frente a ela, que era pequena e franzina como minha mãe foi um dia.

— Talvez ela não seja minha alma gêmea, senhora. Ela é um anjo e eu sou um... — Tive vergonha de completar a frase, mas a velha senhora compreendeu. Sorriu com sabedoria, tocando meu ombro carinhosamente.

— O senhor tem um grande coração! — Bateu em meu peito de forma delicada. — Um coração capaz de comportar mais do que a si mesmo, meu jovem, por isso sua alma gêmea é um anjo. Um anjo que te resgatou das sombras, as quais você não pertencia!

Travei perante tais palavras, encarando os olhos claros da mulher com surpresa. Ela retirou uma rosa do cesto, a mais bela de todas, e me estendeu com um sorriso aberto. Mexi no bolso, mas ela fez um sinal negativo com a cabeça.

— Mas eu quero pagar por ela.

— Sentimentos não devem ser pagos, meu jovem. — Piscou estendendo-me novamente a rosa. — Para sua dama. — Olhou na direção oposta e a segui, deparando-me com Victorya sentada com uma rosa também em mãos e sem notar que eu estava bem ali. — Aquela que ela segura também é sua. Um presente para o casal que segue sendo o mais bonito e apaixonado da praça!

Impactado, peguei a rosa e encarei-a fixamente. A mulher simplesmente me deu as costas, caminhando entre as pessoas até desaparecer.

Segui até Vicky totalmente embasbacado e surpreso, parando frente a ela com a rosa em mãos. Os olhos azuis subiram para meu rosto e notei que segurava o celular com a minha foto, ligando para mim.

— Travis! — Vicky pulou do banco e me abraçou fortemente, fazendo-me rodeá-la com amor e proteção. Inalei seu cheiro feminino suave, beijando-a com fervor na cabeça — Meu amor...

— Por que fugiu assim, Victorya? Por que desapareceu? Seus irmãos, Sammy e eu estamos revirando a cidade atrás de você! — repreendi desesperado. Ela segurava meu rosto com carinho.

— Apenas queria pensar, Travis. — Deu de ombros, ajeitando o cabelo loiro atrás da orelha. — Precisava de um tempinho.

— E precisa ir sem avisar? Fico louco pensando que alguém pode ter te feito algo! — Vicky negou. — Veio pensar em quê? Na burrada que fez ao aceitar ser minha namorada?

— Não! — Enfatizou seriamente. — Pensava em como minha vida se transformou desde que te conheci e em como tive sorte de encontrá-lo naquela noite na boate. Em como sou feliz por tê-lo ao meu lado. Por isso vim aqui, onde realmente começamos a nos conhecer e nos amar além do quarto... Além do sexo que nos unia. — Me emocionei com as palavras sinceras de Vicky. — Encontrei aquela senhora e ela me deu isso... Me deu para que eu entregasse ao meu grande amor, o homem que me libertou e tem um imenso coração.

Sorriu e me estendeu a rosa, tomada pela emoção que nos envolvia. Aceitei e mostrei a outra rosa para ela, que me encarou surpreso.

— Ela me encontrou e disse o mesmo... Pediu que eu entregasse para o anjo que me tirou das sombras. — Sorri em meio ao amor que me invadia o peito. — O sortudo sou eu, Vicky. — Beijei a rosa e entreguei a ela, que tomou nas mãos, cheia de carinho. — Por ter o seu amor em meio ao caos que sempre foi a minha vida.

— Você é meu promíscuo favorito, Travis O’Brien! — Vicky me abraçou pelo pescoço e se colocou na ponta dos pés para me beijar com ternura. Retribuí, abraçando-a, sentindo em meus braços todo o mundo se resumido.

— E você é meu anjo, Victorya Hayder.

 

 

                                                                  Izabella Mancini

 

 

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