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Planeta Criança



Poesia & Contos Infantis

 

 

 


VIKING LOBO / Emmanuelle de Maupassant
VIKING LOBO / Emmanuelle de Maupassant

                                                                                                                                                   

                                                                                                                                                  

 

 

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959 dC
Com o sol de meio do verão mergulhando na última porção do céu, vinte homens pegaram os remos e os puxaram contra a corrente.
Ficamos três dias em mar aberto, viajando para Svolvaen. Alguns lugares nos bancos de remo estavam agora vazios, pois vários homens de Eirik haviam tombado na luta contra as tropas da guarnição, perto de nossa aldeia. Enquanto o navio batalhava contra ventos fortes e meu estômago se perturbava com a agitação das ondas, eu me perguntava se havia cometido um erro grave ao deixar tudo o que conhecia para me juntar a esses homens do norte. Meus pensamentos se voltaram repetidamente para minha avó doente, deitada na cama, deixada aos cuidados de nossos vizinhos. Minha decisão fora egoísta, carregada de desejo pela aventura e da oportunidade de recomeçar, do meu reconhecimento de parentesco com esses guerreiros; e também por meu desejo por Eirik, que me puxou para a proteção de seu corpo musculoso enquanto o navio enfrentava o vasto mar.
Por fim, avistamos as montanhas do norte. Chegando às águas mais calmas de sua costa, navegando entre ilhas dispersas. Os olhos dos homens percorreram o labirinto de enseadas, procurando pelos seus.

 


 


Gaivotas e albatrozes circulavam acima de nós, assim como outras pequenas aves, enquanto seguíamos o canal estreito do fjord, como Eirik o chamava. Passamos por penhascos de ambos os lados, íngremes, cheios de cavernas.

A alegria da tripulação era fácil de perceber e eu participei, pois agora fazia parte deste mundo, embora tudo nele fosse novo para mim.

Os outros navios do grupo de ataque haviam retornado há alguns dias, sobreviventes da tempestade que levara Eirik e seus homens ao litoral da Nortúmbria e à praia rochosa na qual minha antiga vila se aninhava. Seu povo estava vigiando, chifres soando no crepúsculo enquanto nos aproximávamos dos cais de desembarque.

Quantos choques de corpos houve... Camaradagem entre homens, como amigos, dando tapas e se abraçando e recebendo beijos de suas esposas, abraços de mães, filhas e irmãs. Já não pensava naqueles homens como assassinos, mas como meus parentes. Eles derramaram sangue, mas agora eu sabia que meu sangue também era deles. Reconheci parte de sua brutalidade como minha, pois não era como as outras mulheres da vila em que vivi a vida toda. Eu era meio viking: alta e de cabelos dourados, como eram principalmente as mulheres de Svolvaen, e nascida com um espírito mais selvagem.

Em meio à confusão de vozes e ao barulho da multidão, Faline e eu recebemos pouca consideração. Não éramos mais do que posses, apenas do interesse de Eirik; curiosidades, brevemente observadas, depois ignoradas. Qualquer que fosse a acolhida que eu esperasse em meu coração, qualquer que fosse a tolice, eu a pressionei e mordi minha língua contra a decepção. Para ganhar meu lugar, levaria tempo.

A irmã de Eirik, Helka, nos guiou para longe da multidão, procurando alguém que não estava lá: alguém que não se dignara a ser empurrado entre a turba comum, que esperara, em vez disso, que Eirik fosse até ele.

Subimos a ladeira que se erguia do pequeno porto, passando por habitações modestas que pareciam pouco diferentes das de minha própria aldeia. A luz quase se apagava quando nos aproximamos do cume da colina, onde ficava uma casa comprida, bem grande, coberta de relva sobre muros baixos de pedra. Sentinelas guardavam os dois lados da porta, a quem Eirik cumprimentou com as mãos entrelaçadas antes de entrarmos.

O teto abobadado subia mais alto que o da casa que eu, até a pouco tempo, compartilhava com meu marido. As vigas subiam para a escuridão, acima de uma fogueira central, cujas chamas saltavam, lançando os trechos mais distantes do salão na sombra. O ar estava carregado com o cheiro de ensopado, um grande caldeirão pairando sobre o calor da cova, a fumaça ondulando para cima, até um buraco aberto no teto. Ao longo do corredor havia bancos largos, peles de ovelhas grossas sobre eles; com espaço suficiente para os habitantes da casa dormirem e muito mais.

Faline e eu estávamos atrás de Helka, que sussurrou um pouco do que foi dito, traduzindo o suficiente para entendermos. Também fiquei feliz que, durante nossa viagem marítima, Eirik tivesse começado a me ensinar algumas de suas palavras.

— Jarl Gunnolf! — gritou Eirik — E, minha Lady Asta, que se torna mais linda do que nunca. — Ele se curvou para a beleza pálida, sentada ao lado do homem ricamente vestido de preto como corvo. Ela era realmente linda, com um ar de delicado refinamento, os cabelos finos caindo até a cintura, uma capa prateada complementando seu vestido azul claro. Eirik certamente estava se dirigindo ao irmão, chefe da aldeia, ou jarl na própria língua, e à sua bela esposa.

Suas roupas, sua barba e a cabeleira eram tão escuras que eu não conseguia discernir completamente o homem sentado naquela penumbra. As sombras brincavam em seu rosto, escondendo e depois revelando. Eu o vi em pedaços que não se mostravam totalmente até que me aproximei, seguindo Eirik para nos aproximarmos do estrado.

— Voltou então, irmão.

Suas feições eram semelhantes, com lábios carnudos e mandíbulas fortes; Gunnolf tinha uma cicatriz lívida sobre uma sobrancelha, mais profunda do que aquela que cruzava a bochecha de Eirik. Apesar do branco rastejando por suas têmporas, eu ainda o imaginava em seu auge, com ombros largos e fortes e membros musculosos. Como Eirik, imaginei-o pegando a mulher que desejasse, independentemente de ela querer. No entanto, os dois eram diferentes. Meu amante era um garanhão, sua energia e paixão mal se continham, já Gunnolf, tinha uma intensidade concentrada nele. Percebi que estava olhando muito de perto e baixei os olhos.

— E Helka, minha querida irmã — Gunnolf levantou-se, cruzou o espaço entre nós e beijou sua mão — Trouxeram prêmios, eu vejo.

Segurando acima do meu cotovelo, ele me puxou para frente e olhou diretamente para mim. Seus olhos eram do mesmo azul gelado que os de Eirik e os meus. Sua análise era penetrante, como se entrasse em minha pele nua.

De repente, ele tirou minha capa, deixando-a cair. Fiquei tremendo no meu vestido de lã. Mas não foi pelo frio que o arrepio flutuou através de mim. Seus olhos me analisavam e permaneceram em avaliação cuidadosa.

Com um jogar de cabelo, Faline saltou para frente, empurrando a capa para trás para revelar as curvas de seu corpo jovem, desejando capturar a atenção do jarl para si mesma.

Minha raiva explodiu, como quando Eirik nos levou para a cama juntas. Faline era escura onde eu era clara, bonita por qualquer padrão, e minha rival por qualquer homem que me mostrasse interesse.

Ele a olhou com alguma diversão e um aceno de aprovação, antes de retomar seu exame para mim.

Eirik ficou ao meu lado, colocando a mão firmemente em meu ombro. — Elswyth é uma mulher de posição superior e com alguma proficiência em cura — sua voz, embora nivelada, era firme — Ela é minha.

Os olhos de Gunnolf se estreitaram e eu o vi cerrar a mandíbula quando ele endireitou os ombros para Eirik. O punho dele se apertou e eu temi que ele pegasse a adaga no cinto. A veia na têmpora de Eirik ficou visível quando ele devolveu o olhar de seu irmão.

Os dois ficaram em silêncio por alguns momentos, antes que a tensão quebrasse, e a boca de Gunnolf se contorcesse em um meio sorriso.

O olhar de Gunnolf voltou a Faline — E essa aqui?

Eirik respondeu com toda cortesia

— É a enteada de Elswyth, filha de seu marido, agora falecido. Ofereço o trabalho de ambas a Asta, se nossa Lady, assim desejar. Elas vêm como mulheres livres, mas estão dispostas a servir.

Era tudo como combinado. Eu precisava de alguma ocupação além de ser companheira de cama do poderoso Eirik, e meus deveres seriam leves, ele assegurou.

— Por isso, minha Lady agradece — Gunnolf respondeu por sua esposa — sem dúvida elas se curvarão ao comando de seus conquistadores, mesmo que as chame de “livres”.

O que aconteceu em seguida eu nunca soube, mas Gunnolf puxou Eirik para perto e sussurrou em seu ouvido. Eles riram juntos e deram batidas nas costas em cumprimento, juntando-se em um abraço fraterno. Entretanto, enquanto Gunnolf pressionava sua bochecha no ombro de Eirik, sua expressão perdia a alegria. Se sentiu alegria no retorno do navio e alívio ao saber que seu irmão estava a salvo, sua expressão se mostrou sobriamente controlada.

Quando Eirik me levou, senti o olhar inescrutável do jarl sobre nós.

 

 

Capítulo 2


— C

hega de esperar.— Ele me levou para sua cama, que agora seria minha, a serviço de nosso prazer mútuo. Ele não se importava com os outros, que certamente nos ouviriam pela fina cortina daqueles pequenos quartos, e nem eu. Ele me recostou e afastou minhas saias, libertando sua ereção da lã áspera de suas calças.

Ficamos muito tempo sem essa consumação. Eirik teria me tomado na proa do barco, mas a violência das ondas mal o permitia. Quão assustada eu estava, doente de medo e do movimento do navio. Eu acreditava que nunca mais veria terra, mas ele me puxou para ele, murmurando palavras de conforto, e me pediu para deitar minha cabeça em seu colo. Fiquei grata por sua força, enquanto lutava com minha própria fragilidade.

Agora, eu assistia enquanto ele me erguia pelas nádegas, me levantando para seu pau, empurrando além do aperto do meu tremor inicial, pois seu tamanho era suficiente para deixar qualquer mulher assustada. Ele meteu pouco a pouco, deixando que eu me acostumasse com seu tamanho, expressando seu prazer no calor da minha boceta e sua constrição.

Eu abri mais minhas pernas, oferecendo-lhe uma entrada mais profunda. Ainda assim, prendi a respiração enquanto me preparava para tomar todo o seu comprimento. Ele deslizou para me encher de um gemido de satisfação, depois começou um movimento constante, para frente e para trás, os olhos brilhando de desejo, arrancando de mim um gemido.

Sua necessidade não lhe permitiria se segurar por muito tempo, seus impulsos ficaram mais fortes. Apenas as mãos dele embaixo de mim, me puxando para cima para encontrar a estocada de seu pau, impedia que ele se afastasse. Com a força dele, meu gemido aumentou. Meus dedos amassaram o músculo de suas nádegas, incitando-o; eu sabia que sexo com ele seria feroz, e eu gostava disso.

Por fim, sua voz murmurou um juramento viking, e ele estremeceu, mergulhando num fervor final. Senti o fluxo de sua semente e ouvi meu próprio choro, parte de dor e parte de alegria, deixando-me sem fôlego.

Com uma risada baixa, ele abaixou a boca na minha, me beijando gentilmente. — Um bom começo, minha Elswyth.

Suas mãos se moveram para cima, primeiro para apertar minha cintura, depois para afastar o tecido que cobria meus seios. Ele pegou cada um em sua boca, cantarolando baixo enquanto chupava, esfregando a barba onde isso iria me afetar. Eu me contorci e me apertei contra sua ereção que diminuía.

Não demoraria muito para que ele estivesse novamente pronto, isso era uma proeza que muitos homens invejariam. Ele tirou meu vestido e a roupa de baixo, para que eu ficasse nua diante dele. Recostada na cama, abri minhas pernas novamente, despertando para o desejo e para a certeza da satisfação. Não havia nada que eu não desse a ele.

Ele tirou suas próprias roupas e se ajoelhou sobre mim. Tremi ao vê-lo. Eu conhecia todas as cicatrizes e as marcas do seu corpo: os intrincados padrões de tinta nos braços, verde-escuro e preto-azulado, formando galhos de árvores entrelaçadas; Jörmungandr, a cobra curvando-se por sua espinha, cujas escamas ondulavam quando ele se movia, girando a cabeça sobre o ombro de Eirik, como se tentasse me observar. Eu conhecia o círculo de flechas pontiagudas em seu peito e as do alto de suas nádegas: uma capa de crenças que lhe dava poder.

Sua ereção estava novamente se erguendo. Eu queria senti-lo, estar nua sob o escrutínio de suas mãos e boca, abrigada pelo suor de seu corpo e do meu.

Ele olhou para mim com sua confiança habitual, traçando a curva da minha barriga, acariciando meus pelos macios. Eu fixei em seu olhar, desejando que ele me visse tão claramente quanto eu o via.

— Com apenas minha língua, passarinha, posso prendê-la e mantê-la, ou fazê-la voar — sua voz rosnou baixo, falando em minha própria língua, suas vogais prolongadas enquanto ele formava as palavras.

Ele ergueu o meu quadril de novo, abaixou seu rosto, arranhando minha pele delicada com sua barba, beijando a entrada que ficava entre minhas pernas. Eu senti que meu interior virava um creme, gotejando, na expectativa de recebê-lo. Ele passou a língua pela minha fenda, antes de encontrar meu ponto mais sensível, me fazendo ofegar antes de empurrar o dedo para dentro, esfregando-se para frente e para trás, movendo-se habilmente, para pressionar onde eu desejava, embora nunca forte o suficiente.

— Por favor — implorei — Eirik ...

— Mais? — Ele sussurrou, sua respiração quente contra a minha coxa.

Mordi meu lábio quando ele penetrou mais profundamente, deslizando através de mim em movimentos longos e lentos.

Ele ergueu a cabeça e sorriu, emergindo de meu interior, sentando-se nos calcanhares. Os sulcos firmes e musculosos de seu abdômen levavam à virilha e àquela raiz espessa, novamente cheia, com veios escuros, cabeça dando saltos para frente, brilhando de excitação.

Tentei tocá-lo, ansiosa para puxá-lo para baixo e para dentro de mim, mas ele segurou minhas duas mãos e as moveu para a base de sua carne. — Sinta-me! — ele disse — Pegue, prove isso.

Agarrando a haste, rolei a pele para frente e para trás, antes de guiá-lo aos meus lábios, movendo o veludo da minha boca sobre sua suavidade, além do sulco e de algum modo descendo sua coluna, envolvendo-o firmemente. Eu amei a solidez dele na minha boca.

Ele se mexeu e gemeu, empurrando uma das minhas mãos para baixo para cobrir seu saco, fechando os dedos sobre os meus, esfregando-se entre as minhas mãos. Amassei o peso da palma da mão, trabalhando-o com mais força, estendendo meus dedos para acariciar a pele entre suas bolas e seu ânus.

— "Völva!" — ele gemeu, me chamando de feiticeira em sua própria língua, se contorcendo sob o prazer que eu lhe dava.

Eu sorri quando o tirei da minha boca, pois pretendia enfeitiçá-lo totalmente. Movendo-me rapidamente, sentei em seu colo. Eu estava pronta para me perder no calor do seu corpo, mas o demônio em mim desejava que ele também ansiasse, como eu esperava.

Eu estava aberta, lisa com seu sêmen e meu próprio desejo, mas me contive, esfregando apenas a ponta dele na minha dor.

— Agora! — Ele rosnou, com as mãos firmemente na minha cintura, me puxando para baixo e deslizando para dentro em um longo golpe.

Enterrando o rosto nos meus seios, ele pegou um mamilo na boca, puxando avidamente, roçando com os dentes.

— Mais rápido! — Eirik gemeu, envolvendo os braços firmemente na parte inferior das minhas costas.

Eu estava quase lá, rebolando meus quadris, moendo minha necessidade contra a base de seu pau, gritando quando me deixei levar.

Enquanto meu tumulto se abateu sobre mim, Eirik pressionou os dedos entre as minhas nádegas, me empurrando para levá-lo mais fundo e com o ritmo que ele tanto desejava, me levantando para cima e para baixo em seu eixo.

Mais três golpes e jogou sua cabeça para trás, com olhos arregalados e vítreos, boca aberta em falta de ar. Seu pênis pulou de dentro de mim, pulsando com seu impulso final e gemido, e meu próprio prazer me levou a um abismo escuro.


D

eitei na curva das costas de Eirik, ouvindo o vento soprar. Uma vez eu disse a Helka que estava cheia de desejo de algo que eu não sabia o nome; que eu sentia que morreria por falta disso. Eu tinha encontrado o que estava procurando ou minha busca apenas começara?

 

 

Capítulo 3


A

cevada amadureceu no calor, dançando nos ventos preguiçosos do final do verão. Eirik era um líder guerreiro de invasores vikings, mas também era um fazendeiro, trabalhando ao lado de seus homens para a colheita. Com seus braços musculosos e ombros largos, eles tinham a constituição físicas de bois: pescoços grossos e corpos acostumados a trabalhar.

Quando o sol da tarde se retirava, eu saía para encontrar Eirik nos campos. Entre o cheiro de feno, recém-embrulhado, empilhado sob um céu azul, eu provava do suor dele e da salmoura de seu pênis, e me entregava, da maneira que quisesse. Seus homens se acostumaram ao nosso hábito, dando-lhe um tapa nas costas diante da minha abordagem, fazendo comentários obscenos. Eles acenavam para mim, de maneira amigável, porque fazia Eirik feliz, e ele era muito amado entre seus homens.

Svolvaen era um lugar fértil, rico em pomares de maçã, peras e cerejas, cultivando vegetais em abundância e com boas pastagens para o gado. Seu povo parecia trabalhar para o bem de todos, sem os ciúmes e desentendimentos da minha antiga casa.

Os métodos de Gunnolf para manter a lei eram rigorosos e justos. Um homem que foi pego roubando um pedaço de porco do fumeiro foi obrigado a comer na cocheira durante uma semana e a dormir com os porcos. Os homens acharam muito engraçado, além de ter o efeito desejado sobre os malcriados. Ele foi devidamente humilhado: um castigo pior do que qualquer chicote.

O jarl tinha uma língua rápida e um temperamento condizente, que não fazia nenhum esforço para conter, como se desejasse que outros se curvassem e se encolhessem diante dele. Quanto aos que demonstraram medo, recebiam seu desprezo. Nas vezes em que nossos caminhos se cruzaram, eu mantive minha cabeça erguida, recusando-me a dar-lhe a satisfação de me dominar. Qualquer que fosse a atração que sentisse, empurrei-a para um lado, pois não queria passar onde meus pés não devessem pisar.

Minha natureza não se curvava facilmente ao serviço, apesar da submissão que eu sofri sob as mãos do pai de Faline. No entanto, ainda não sabia o que esperar de Lady Asta, que era toda gentileza. Ela estava grávida, mas com muitos meses pela frente, ela podia se cuidar na maioria dos assuntos. Faline e eu fazíamos pouco mais do que aquecer a água para o seu banho e cuidar de seu guarda-roupa. Faline se irritou com seu status diminuído, tendo sido criada com seus próprios servos. Não nascendo com luxos, fiquei mais contente, embora minha posição tenha mudado bastante desde que me sentei à esquerda do meu antigo marido, com outras pessoas dependendo de mim.

Asta desfrutava de nossa companhia animada e passávamos muitas horas trançando seus cabelos, sentadas sob o calor do sol. A esposa do jarl nos ensinava pacientemente tanto o idioma quanto os costumes que considerava mais úteis.

Não havia necessidade de sujar a bainha de meu vestido no chiqueiro ou queimar a pele fazendo o nosso ensopado. Eu sabia cuidar do gado e cozinhar, mas esses eram deveres de Guðrún e Sylvi. No entanto, ajudava em pequenas coisas, pois parecia errado me colocar acima delas.

Com a permissão de Asta, encontrei um conforto caseiro em ordenhar as cabras e vacas e em bater a manteiga. Eirik disse que os queijos que eu fazia eram os melhores que ele provou. Com Sylvi, desci à costa para colher dulse, uma espécie de alga vermelha. Isso trazia um sabor salgado ao ensopado de peixe que ela gostava de fazer. Aprendi a preservar a carne em tigelas de soro de leite azedo, para evitar que se estragasse, e pendurava arenque no fumeiro, ou ao ar livre, para secar ao vento frio do Norte. Eu recarregava as lamparinas todas as manhãs com óleo de peixe, adicionando um talo de capim longo o suficiente para ser o pavio.

Adotei a língua do meu novo lar, palavra por palavra, observando meus vizinhos, não apenas por suas expressões - que eram principalmente de curiosidade, às vezes de pena ou desprezo - mas pelas frases que comecei a desvendar. Eu me perguntava quantos anos levaria para que eles me aceitassem, olhassem nos meus olhos e não vissem uma estranha. Eu tinha sangue viking, concebida pela violência durante uma invasão dos nórdicos há mais de vinte anos, mas não fui criada como um deles. Seus rituais e hábitos ainda não eram meus, mas eu queria aprender. Por muito tempo, eu sofria com o sentimento de não pertencer, agora, mesmo com meu status diminuído, eu ansiava por ser aceita.

As mulheres de Svolvaen olhavam Faline e eu com inveja, eu poderia dizer, porque desfrutávamos de um bom tempo de lazer. Elas também nos trataram com certa reverência, pois Lady Asta era respeitada e amada e desejava que outros nos fizessem sentir bem-vindas.

— O pai dela era um jarl — Helka me disse — e o dele antes. O casamento garantiu uma aliança com um assentamento mais ao norte. Ela veio com um rico dote, de vestidos e pulseiras e anéis de fio de ouro cravejados de pedras preciosas negociadas no Oriente.

Mesmo sem suas joias e suas belas roupas, ela era uma mulher acima de todas as outras: régia, autossuficiente e bela. Era um prazer servi-la, e minha sorte, dia após dia, eu a amava.

Apesar da condição de sua esposa ou, talvez, por causa disso, Gunnolf deixava Asta sozinha a maior parte do dia, embora ele fosse atento em suas visitas, perguntando por seu conforto, colocando a palma da mão na barriga dela. Não havia dúvida de que ele desejava o filho homem que acreditava que nasceria. Ele ria em sua companhia, enquanto contava, com sua voz doce, alguma história doméstica, ou cantava suavemente. Ele não costumava deitar a cabeça no colo dela, mas fechava os olhos enquanto ela acariciava seus cabelos. Com ela, buscava ser mais querido do que temido.

No entanto, ele era como os outros homens, com um olho que muitas vezes vagava para mulheres jovens de boa carne e aparência razoável. Ele parecia bem capaz de separar amor e desejo. Talvez sempre tenha sido assim, e Asta era capaz de aceitar sua natureza, sem pensar mal de Gunnolf, ou de si mesma. Ela nunca falou uma palavra contra ele.

Ele fazia pouco esforço para disfarçar seu olhar, me observando constantemente enquanto eu cumpria minhas tarefas mais simples. Eu não gostaria de ser vítima de sua lascívia. Embora ele raramente falasse comigo e não colocasse a mão em minha pessoa, lembrei-me de um lobo solitário que encontrei quando criança, há muito tempo, quando estava brincando na floresta. Eu subi rapidamente em uma árvore e ele me avaliou de baixo, como se decidisse se valia a pena se dar ao trabalho de atacar ou se esse prazer poderia esperar outro dia.

Eu encontrei o jarl regularmente com Guðrún ou Sylvi, pegando uma ou outra enquanto elas ficavam encostadas na parede ou do lado de fora, mal escondidos, enquanto sua esposa estava em outro lugar, levando seu filho na barriga.

Eu tinha certeza de que Faline estava adotando uma certa estratégia com o dono da casa, permitindo-se ser tomada, mas sob seus próprios termos. Enquanto servia o hidromel e a carne, Faline roçava o peito no braço dele e o cutucava com o quadril. Ela se afastava, observando-o friamente, ao lado de Asta, molhando os lábios enquanto ele a examinava, se contorcendo com o desejo reprimido.

Se Asta sabia, não mostrava. Em vez disso, ela prontamente saia em defesa de Faline. — Não fique com raiva dela — advertiu, me ouvindo falar sobre as ausências de Faline e sua preguiça. Das minhas piores suspeitas, eu não disse nada. — É melhor deixar algumas coisas para trás, para que nossa amargura não nos consuma por dentro.

Eu não tinha a generosidade de espírito dela, embora a admirasse. Nos dias que se seguiram, pensei muitas vezes na serenidade de Asta e tentei imitá-la, diante do que eu era incapaz de mudar. No entanto, cobiçava o respeito dado a ela e ansiava pela dignidade que me daria ser a esposa de Eirik. Eu queria que todos soubessem que eu era mais do que um capricho passageiro em sua cama, que o amor dele por mim era verdadeiro e que ele me valorizava acima de qualquer outra mulher. Ele já tivera muitas, disso eu não tinha dúvida.

Embora eu não tenha falado nada sobre esses ressentimentos silenciosos, não resisti a perguntar a Asta sobre as cerimônias que acompanhavam a união de um homem a uma mulher em casamento. Ela sabia que eu tinha as minhas próprias esperanças, pois baixou os olhos e deu apenas uma breve descrição, sem nenhum dos detalhes que eu desejava, no meu desejo de imaginar meu próprio casamento com o homem que eu amava.


S

aí para passear pela vila em uma tarde, observando as crianças mais novas brincando, aquelas que ainda não estavam ocupadas em ajudar suas mães. Elas eram as mesmas da minha própria aldeia — iguais a crianças de todos os lugares. Algumas tinham medo de mim; outras riam ao me ouvir falar. Eu me perguntava quando poderia ter meu próprio filho, para brincar ao lado deles, um filho para Eirik carregar em seus ombros, e que cresceria para me pertencer. Mas meu sangramento veio como sempre, e minha barriga permaneceu plana.

Conforme me levantei, um garoto de não mais que dois anos tombou e arranhou o joelho, soltando um uivo. Ele correu para a mãe, sentada ali perto, com um bebê no peito, e enterrou o rosto nas saias. Ela moveu o bebê para um lado quando a criança mais velha levantou os braços para solicitar o conforto de seu colo, mas não havia espaço para ambos e ela foi obrigada a sacudir a cabeça.

Eu dei um passo à frente, oferecendo meus próprios braços, pois o bebê havia terminado de mamar, mas ela se afastou e incitou o filho a correr. Talvez tenha sido o surgimento de seus gemidos mais uma vez ou a sombra de mágoa cruzando meu rosto, mas ela me chamou para sentar ao lado dela.

Com um aceno de cabeça, ela passou o bebê cochilando para a dobra do meu cotovelo e levantou o garoto em seus próprios braços. Como o bebê era bonito, cílios claros repousando sobre as bochechas arredondadas. Eu o segurei firme, ansiosa por seu calor, imaginando como seria para aqueles lábios, franzidos no sono, mamarem meu próprio peito. Meu coração doía com a necessidade de segurar meu próprio filho.

— Eu sou Astrid. — Ela mudou o peso do garoto, que parou de chorar e agora estava olhando para mim, embora seus braços continuassem enrolados atrás da cabeça de sua mãe.

Eu sorri em troca e dei meu nome. Elogiei a saúde de seu bebê e de seu filhinho e caímos em uma conversa interminável. Ela era mais de dez anos mais velha que eu, e seu aspecto era cansado, mas continuava sendo uma mulher atraente. Recentemente tornou-se viúva, pois seu marido estava entre os membros do bando de Eirik que não havia retornado. As notícias me doeram, pois lembrei do dia em que cuidara das feridas daqueles homens e vi a dor de Eirik por seus camaradas perdidos. Também havia mulheres da minha antiga casa que perderam seus maridos e nas mãos do temido bando de Eirik. Quão infrutífero era, tanta violência e com que finalidade, pensei amargamente.

— Eirik tem sido bom para nós. Ele nos deu parte de seu próprio gado. — Astrid suspirou — Eu me casaria novamente, mas há poucos homens para a quantidade de mulheres desta vila. — Ela me olhou em silêncio por um tempo antes de fechar os olhos, balançando a criança contra seu ombro.

O bebê estava começando a se mexer quando uma menina apareceu atrás de Astrid, falando para sua mãe que iria para o prado mais baixo para recuperar suas cabras no pasto.

— É uma boa garota, Ylva. — Astrid acariciou o braço da filha — Fique com o xale, lembre-se, e volte depressa."

Eu não pude deixar de pensar nos tecidos que tinha enrolados em volta do pescoço, pois estava um dia bom e quente.

Astrid olhou para mim mais uma vez, e para a criança que eu segurava, agora fechando os punhos nos olhos e esticando-se em vigília. Ela escorregou o menino no chão, mandando-o brincar e estendeu a mão para pegar o bebê de mim.

O rosto dela estava pálido enquanto falava. Ela estava inquieta, mas senti seu desejo de desabafar, e falar às vezes é mais fácil com um estranho. Não havia ninguém por perto, mas ela abaixou a voz, no entanto.

— Minha filha tem uma chaga. Ela acordou com uma ferida feia no ombro há vários dias, mas agora tem mais duas no pescoço.

Eu ouvi com preocupação. Já tinha visto minha avó tratar várias doenças de pele. Inclinei-me para a frente, contando a Astrid minhas habilidades, e que talvez eu pudesse ajudar. Ela parecia incrédula, porém, sem dúvida, desejava que minha afirmação fosse verdadeira.

— Fiz oferendas a Eir, lavei o pus com hidromel e apliquei mel. Parece que só piorou.

Eu a elogiei por suas ações, mas estava ansiosa, pois temia que a ferida espalhasse seu veneno pelo corpo da filha e que o contato pudesse espalhar a doença para outras pessoas da família.

— Ylva vai me deixar ver, amanhã, se eu voltar? — Eu já havia começado a pensar nos remédios que poderia tentar e quais combinações de plantas seriam mais eficazes — Trarei uma pomada e precisamos ter esperança em uma cura. Farei tudo o que puder. "

Astrid sorriu incerta — Ela fará o que eu pedir.

Levantei-me para me despedir, mas tinha mais uma pergunta a fazer. — Alguém mais na aldeia foi atingido de forma semelhante?

Astrid pegou minhas mãos enquanto respondia. As mães de duas outras jovens mulheres a procuraram na noite anterior, cada uma protegida pela escuridão, tendo ouvido falar da doença de Ylva e ansiosas para saber de que maneira Astrid havia tentado o tratamento. Não admitiram que suas filhas estavam sofrendo, mas ela sabia, por seus rostos, que carregavam o mesmo fardo.

Minha mente correu à frente, imaginando quantos poderiam estar escondendo sua condição, mesmo daqueles mais próximos.

Este era o meu povo agora, e eu faria o que pudesse para livrá-lo dessa angústia.

 

 

Capítulo 4


N

a manhã seguinte, misturei uma pomada com partes iguais de casca de avelã e folhas de confrei, misturadas a uma pasta com mel.

Astrid estava me esperando na porta e sua angústia era clara. Ela me apressou para entrar, levando-me para onde Ylva estava tremendo em sua roupa de baixo. Seus olhos pareciam enormes no rosto pálido.

Vi imediatamente a causa do medo de Astrid: um vergão vermelho subia na bochecha de Ylva.

— Ela acordou com isso — Astra torceu as mãos — E há outro aparecendo nas suas costas.

O bebê resmungou no canto, mas Astrid não fez nenhum movimento para confortá-lo.

Ajudei a tirar as roupas de Ylva para revelar a ferida mais antiga: um vermelho vivo no ombro, a pele rachada nas bordas, escorrendo pus amarelo. As que estavam em seu pescoço eram um pouco melhores. Não perdi tempo, apliquei o remédio, alisando-o sobre a pele quebrada com uma espátula de madeira.

— Aplique duas vezes por dia, uma pequena quantidade. Amarre uma tira de linho por cima para manter o cataplasma no lugar — expliquei. Trouxe várias tiras de pano comigo, que eu coloquei ao lado, junto ao recipiente com o bálsamo.

Eu sorri para Ylva. — Vai melhorar logo. Seja corajosa.

Na verdade, a rápida disseminação das feridas da jovem me deixou ansiosa. Os campos eram abundantes em plantas e ervas com poderes curativos, e eu também comecei a cultivar as minhas, no lado sombreado da casa, mas o aspecto de sua ferida me convenceu de que ela precisava de um remédio mais forte. Havia muitas plantas com propriedades calmantes para a pele e eu geralmente encontrava as mais potentes da floresta.

Escondido em uma bolsa de couro, eu ainda tinha o cogumelo da morte que eu peguei há muito tempo e guardei: seu veneno era um talismã para minha segurança. Eu poderia ter usado nos primeiros dias da chegada dos homens de Eirik, quando eles saquearam nossa vila, poderia ter matado todos eles, se eu quisesse. Algum senso de humanidade tinha ficado na minha mão. Meu papel era curar, não prejudicar. No entanto, eu o guardei.

Eu perguntei a Asta se poderia acompanhar Helka pelos bosques, era costume dela caçar. Ela me guiava mais longe do que eu poderia me aventurar sozinha.

Me despedi de Ylva e Astrid me acompanhou para fora. Eu estava relutante em ir conhecendo os problemas que ela apresentava.

— Evite tocar as feridas e as mantenha cobertas — insisti, beijando Astrid na bochecha — Venho visitá-las novamente, muito em breve.

Ela assentiu. Senti que havia muita coisa que ela queria dizer, mas não havia necessidade. Nós nos entendemos.

— Se alguém mais precisar de mim, eu estarei pronta. Peça que me procurem.

Eu tinha certeza de que Ylva não seria a única. Atrás de portas fechadas, haveria outros que se preocupavam e temiam. Se eu pudesse ajudá-los, eu o faria.

Abracei Astrid mais uma vez. Olhando por cima de seu ombro, vi uma mulher parada a não mais de vinte passos, observando com uma expressão feroz. Ela carregava um bebê robusto no quadril, de cabelos louros e olhos azuis mais claros. Os cabelos da mulher, trançados para um lado e caindo até a cintura, era um rico loiro avermelhado. Mesmo à distância, eu poderia dizer que a criança era um menino, seus traços mais pronunciados da maneira que raramente acontece entre meninas. Ele olhou para mim seriamente, mastigando algo duro em seu punho.

— Quem é aquela? — Eu perguntei a Astrid — Ela veio me procurar? Acha que ela sofre como Ylva?

Ela se virou para olhar, mas girou para trás rapidamente, movendo o corpo para bloquear minha visão do olhar da mulher. Os olhos de Astrid se afastaram, não desejando encontrar os meus, mas eu persisti.

— Ela quer falar comigo, não é?

Claramente, doía a Astrid me responder, mas meu aperto de mão a convenceu a ser franca.

— É Bodil, casada com Haldor. O filho mais velho dela estava entre os homens de Eirik quando eles saíram para os ataques. Era sua primeira viagem ao mar, seu primeiro ataque. — Astrid hesitou, pois era um assunto que a entristecia — Como meu marido, ele não voltou.

Senti uma pontada de tristeza em nome de Bodil. Não é de admirar que ela me olhasse com um olhar tão condenável, pois a morte de seu filho estava nas mãos do meu antigo povo.

Olhei novamente para a criança em cujo rosto havia algo familiar para mim. Astrid não tinha me contado tudo, eu tinha certeza.

— E aquele pequeno? — Eu perguntei.

Astrid mordeu o lábio. Eu senti muito por isso. Ela já tinha sofrido o suficiente, mas não pude deixar o assunto descansar.

— Eu sei o que está pensando — ela disse — Ele é um garoto forte. — Os olhos dela se afastaram novamente — Ele pode ser de Haldor... ou talvez não.

Eu podia ver com certeza agora. Aqueles olhos eram inconfundíveis, assim como formato arrojado de queixo.

— O marido dela sabia, eu acho, mas talvez não. — Astrid continuou — Ela tece e costura bem. Houve um tempo em que ela estava frequentemente na casa comprida, fazendo roupas para Gunnolf e Asta.

— E para Eirik também?

Os olhos de Astrid me disseram tudo.

Eu me mantive do outro lado do caminho enquanto passava apressada, mas, por mais que tentasse, não pude evitar o fogo de seu olhar. Quando eu passei por ela, cuspiu ferozmente no chão e sibilou uma maldição febril.

Eu não conhecia as palavras de seu juramento venenoso, mas o significado delas não poderia ter sido mais claro.


Q

uando Eirik me pegou nos braços naquela noite, pensei em Bodil. Ela deve ter deitado nesta mesma cama, o peso de Eirik acima dela quando ele soltava seu gemido profundo de prazer, estremecendo com a liberação dele dentro dela. Imaginei a marca de seus beijos, de suas mãos que acariciaram e exploraram seu corpo.

Ela deve ter procurado o navio dele ainda mais ansiosamente que as outras — ansiosa pelo retorno de seu amante. Que ciúme ela deve sentir. Eu me perguntei com quais palavras Eirik se separou dela e se ele a visitara desde o seu regresso a casa. Seria cruel demais para ele não ter dito nada, permitindo que ela descobrisse de boca em boca que eu a substituí.

E o que seria da criança? Eirik o reconhecia como seu? Todas essas semanas eu esperei para sentir sua semente crescendo em mim. Eu me rendi ao amor dele inúmeras vezes, mas onde estava meu bebê?

Meu coração doía. Eu o teria socado, mas ele me apertou contra o peito e murmurou com seu ardor habitual. Eu era seu amor, sua deusa, sua feiticeira, mais preciosa que prata ou ouro, minha beleza superando todos os outros tesouros.

Seus lábios eram macios e gentis e seu corpo duro. Estremeci sob seu toque e chorei enquanto cavalgava nas ondas do meu êxtase.

Eu queria que não houvesse passado, para nenhum de nós.

Pouco bem me faria pensar em Bodil ou nas outras mulheres de Svolvaen que devem ter se contorcido no abraço de Eirik. Quantas, como Bodil, podem me seguir com maus pensamentos, carregados de rivalidade ressentida? Eu poderia ter falado, mas fiquei em silêncio. Falar dos meus medos seria torná-los reais.


E

ra tarde da noite quando acordei com uma corrente fria na pele e uma figura pairando acima. A princípio, pensei que fosse Bodil, vindo reivindicar Eirik e me arrancar da cama. Seu rosto se contorceu de malícia e, para o meu estado meio desperto, eu a vi como um espectro malévolo. O horror disso me sufocou. Somente quando ela falou eu percebi que não era um fantasma ao meu lado, mas o fantasma de outra, viva, amante: alguém que compartilhou a cama de Eirik ainda mais recentemente do que Bodil.

— Estou aqui por ele — ela disse — Se ele desejar.

Minha raiva superou qualquer medo que senti. Não haveria paz para mim, para nós!

— Eirik está dormindo, Faline, como pode ver. — Eu peguei as cobertas, que ela tirou de mim enquanto eu dormia — Volte para sua própria cama. Não é necessária aqui.

— Outra hora, então. — Ela não pediu desculpas. Se pude sentir algo, foi a sua diversão.

Quanto tempo ela teria ficado ali?

 

 

Capítulo 5


N

o dia seguinte, como Helka e eu partimos. Isso me lembrou os primeiros dias que convivemos, quando a levei para minhas próprias florestas, seus nórdicos querendo encontrar o melhor carvalho para fazer novos remos. Meu coração acelerou quando deixamos o sol brilhante no céu aberto, entrando na penumbra da floresta, coberta por uma folhagem exuberante. A estação estava mudando, mas apenas algumas árvores começaram a alterar a cor e a copa. A floresta estava viva, suas partes mais altas tocadas pelo vento e pelos pássaros, enquanto pequenas criaturas se moviam sob as folhas caídas.

Fazia algum tempo que Helka e eu não ficávamos sozinhas e fiquei feliz em tê-la comigo. Por trilhas menos usadas, caminhamos rapidamente, Helka me direcionando para onde abrunhos escuros amadureceram nos arbustos e cresceram as garras mais densas de avelãs, para assar.

Estava quase confiando a ela sobre meu encontro com Astrid, procurando seus conselhos, mas guardei os acontecimentos do dia anterior para mim. Eu contaria a ela, talvez, quando encontrasse a cura, me traria mais prazer em detalhar o desafio e a resolução na mesma história. Resolvi não fazer menção a Bodil, pois não queria ouvir nenhuma confirmação do que estava me causando dor.

Nossas sacolas logo estavam cheias de folhas, urtigas e quartos de cordeiros, cardo de leite, erva-cidreira e coração da terra.

Eu sempre senti mais pertencimento na floresta. Era onde minhas aventuras de infância aconteceram, onde eu estava livre para escalar e enlamear minhas roupas, sem ninguém para me dizer como uma menina deveria se comportar. Com os meninos como meus companheiros de brincadeiras, aprendi a ser corajosa e a me deliciar com a liberdade de correr solta. Minha avó deixou até eu começar o caminho da feminilidade. Com essa mudança, minha liberdade terminou. Com que rapidez minha avó me colocou na cama do meu tio, um homem com três vezes a minha idade. Amaldiçoei o dia em que minha tia seguiu minha mãe até o túmulo e me deixou em seu lugar.

— Ficou quieta, Elswyth. — Helka colocou um punhado de mirtilos em sua cesta — Está doente?

Coloquei uma baga na boca, estremecendo com o sabor agridoce da minha língua. — Apenas lembrando.

— Sente falta da sua aldeia?

Eu assisti os dedos dela colherem a fruta carmesim. — Apenas de minha avó. Não de muito mais que ela.

— Está se adaptando? — Ela perguntou.

Eu dei um pequeno encolher de ombros. — Ainda não sinto que pertenço a esse lugar, mas sei que vou. Preciso encontrar meu próprio caminho para ser aceita.

— E Eirik tem sido bom contigo?

Eu balancei a cabeça, apertando uma baga para que o suco escorresse pelos meus dedos. Como companheira de cama, estava satisfeita, suas proezas continuaram me deixando sem fôlego.

— Como deveria ser. — Helka sorriu — Vejo que o faz feliz.

Ela hesitou antes de continuar. — Sabe que outras compartilharam a cama dele.

Meu peito apertou. Claro, eu estava ciente, especialmente depois do meu recente encontro com Bodil. Também estava claro desde o nosso primeiro encontro, quando Eirik me carregou por cima do ombro para o Salão Principal de meu marido e me provocou diante dos seus homens. Eu pensei que ele iria tirar a roupa e me mostrar para todos verem enquanto ele me fodia. Em vez disso, ele escolheu outro caminho, levando-me para a casa que compartilhei com meu marido até aquela manhã, seu sangue ainda úmido no chão.

— Entre os escravos, há poucas com quem ele não dormiu, mas há outras também... embora seus maridos possam não saber.

Pensando na criança no quadril de Bodil e em como ela me olhou com tanta malícia, eu sabia talvez mais do que Helka pensava. Isso me fez pensar no objetivo da conversa dela, porque ela não costumava falar dessa maneira desmedida.

Helka indicou um tronco caído por perto e, afastando as folhas úmidas, me convidou a sentar. — Vejo que deseja ser mais do que a companheira de Eirik. — Ela se virou para olhar para mim — Quer ser a única, sua esposa?

Arranquei um pouco de musgo macio que crescia na madeira podre e me sentei em silêncio. Com o passar das semanas, fiquei ciente dos meus sentimentos mais profundos por Eirik. Eu o vi não como meu senhor, nem captor, mas como o marido que eu ansiava, o homem que eu desejava que fosse o pai de meus filhos. Adormecia com o cheiro dele e acordava com o prazer de seus beijos e a insistência de seu desejo matinal.

Concordei em acompanhar Eirik a Svolvaen sem a promessa de casamento. Não pedi nada além do que ele já havia me dado. No entanto, era verdade, eu queria mais.

— Ninguém manteve o interesse dele como tem mantido, mas digo isso para prepará-la, Elswyth. — Helka se inclinou para frente, tocando meu braço — Pode nunca acontecer.

Por mais gentil que ela fosse ao dizer aquelas palavras, meu coração deu um pulo machucado. O vento aumentou naquele momento e passou através dos galhos, ondulando as folhas, fazendo parecer que eles respiravam com suspiros farfalhantes.

— O casamento dele está sendo adiado e, quando for feito, deve ser com uma mulher que traga não apenas um dote, mas a promessa de aliança. Svolvaen é próspera, mas precisamos nos fortalecer. Como família dominante, é nosso dever.

Pensei no noivado arranjado de Asta com Gunnolf. Já havia uma mulher de nascimento nobre prometida a Eirik? Meu estômago revirou com o pensamento.

Helka me puxou para mais perto — Vejo que entende e isso te machuca, pois sei o amor que nutre por ele. — Ela pegou minha mão. — É melhor afastar esses sentimentos. Eirik a deixará ir quando chegar a hora, mas ele se comportará com honra. É uma mulher forte, Elswyth e sobreviverá.

Parecia ficar mais silencioso, como se as árvores que cresciam perto estivessem nos ouvindo, e não apenas a nossa conversa, mas o turbilhão dos meus pensamentos.

— Quando chegar a hora, poderá continuar servindo Asta, mantendo-se na cama de Eirik quando ele desejar, ou ele encontrará outro homem para ser seu marido.

O rosto de Helka era preocupado. Pude ver que ela não gostou de me dizer isso. No entanto, uma onda de calor e raiva tomou conta de mim. — E quanto a sua aliança, Helka? Seu marido se foi e não tem filhos. Onde está o seu casamento por dever?

Sua expressão ficou fria, e ela recuou como se eu tivesse tentado golpeá-la. Imediatamente, me arrependi da minha língua afiada. Eu sabia muito bem que ela lamentava Vigrid, embora ele tenha morrido dois anos antes.

Eu tentei tocá-la, desejando consertar minha crueldade, mas Helka se levantou e se afastou vários passos, virando suas costas para mim.

Meus olhos arderam com lágrimas frustradas.

— Perdoe-me, Helka — implorei. — Minha decepção me deixou cruel e estou com vergonha. Eu sei que estava só me avisando, para proteger meu coração.

Algun segundos depois ela se virou novamente. Seus cílios estavam molhados, mas havia aço em sua voz. — Diz isso porque não sabe...

De repente, eu era pequena e deslocada, sentada entre as samambaias escuras e as raízes entrelaçadas. Ficou mais frio, e eu me senti uma invasora indesejável neste lugar antigo. Esses não eram os carvalhos e olmos da minha floresta de infância, aqueles que eu havia escalado e sob os quais caçava bagas. Suas sombras caíam de maneira diferente. Até os gritos de pássaros distantes me pareciam estranhos.

Helka deu um sorriso triste — Vigrid se foi, mas ele fica ao meu lado à noite. Eu o sinto, embora não possa vê-lo. — Ela olhou para mim diretamente — Como, então, posso trazer outra para a minha cama?

Eu não sabia o que dizer. Embora eu tenha visto meu marido assassinado na minha frente, eu não sofri por ele. Eu pensei pouco nisso desde que deixei minha vila. A devoção de Helka era completamente diferente, mais parecida com a minha por Eirik. Se eu o perdesse, perderia parte de mim.

— É apenas uma sensação... — Helka limpou o rosto na manga — Há muitas coisas que podem ser sentidas, embora passem despercebidas.

— Não sente... maldade? — Eu perguntei, de repente com medo. Se meu próprio marido voltasse para mim, seria por vingança ou raiva, não por amor.

Ela balançou a cabeça — Não estou em perigo.

Continuamos sem falar por um tempo, nenhuma de nós querendo voltar ao assunto. O que quer que tenha acontecido entre nós, parecia ter sido deixado de lado.

Por fim, Helka sugeriu que voltássemos, pois estava ficando escuro. O outono estava completamente sobre nós, e a luz desaparecia cada dia mais cedo.

Eu concordei, mas tínhamos dado apenas alguns passos quando vi alguns fungos crescendo em uma árvore próxima e chamei Helka de volta para usar a faca na coleta.

Não sei se foi o fantasma da nossa conversa anterior que persistia ou se algo mais a fez falar, mas Helka voltou a ficar séria — De qualquer forma, sente afinidade com a floresta, eu sei, mas devo adverti-la para não se aventurar muito profundamente, e nunca sozinha, especialmente depois do anoitecer.

Por perto, uma coruja piou, e pensei nas criaturas selvagens que deviam viver aqui, como ursos e javalis. Eu sabia que havia veados e lobos. Helka havia trazido sua besta, embora não encontrássemos nada maior que um coelho.

Helka pegou meu braço, pedindo que eu continuasse andando. — Há partes da floresta em que eu nunca andaria, com medo do que poderia encontrar.

— Ou, o que pode te encontrar — arrisquei. Eu dei um meio sorriso, desejando mostrar que não tinha medo, mas seu jeito, tão fervoroso, me deu um calafrio. A floresta ficou muito mais escura, e parecia que as árvores se aproximaram mais do que antes, tombando em nossa direção em formas distorcidas. Onde havia barulho de pássaros, parecia estranhamente silencioso.

Helka deve ter percebido isso também, pois baixou a voz. — Dizem que existem luzes misteriosas na floresta; luzes que a atrairão para o perigo.

Meu próprio povo tinha uma história semelhante, mas nunca havia visto nada em nossa floresta que me assustasse. Eu me escondia entre as sombras das árvores desde que era muito pequena. — Não acredito nessas coisas — disse com firmeza.

— Se nós acreditamos nelas ou não, isso não significa que não sejam verdade — Helka puxou a capa com mais força — Nosso povo transmitiu histórias através das gerações, e os skalds as contam para aqueles que vão ouvir, enquanto viajam de um lugar para outro. Eles falam de atos corajosos e tolos, e da queda daqueles que se consideram invulneráveis.

Ela continuou a me apressar e, em pouco tempo, vimos a borda da floresta. Helka indicou que largássemos nossos sacos e cestas e descansássemos. A pálida luz do dia estava à vista e os estranhos terrores que se erguiam ao nosso redor retrocederam.

— Há algo mais que eu gostaria de dizer antes de voltarmos — disse Helka — Entre as coisas que vivem na floresta está uma criatura sedutora e secreta. Ela esconde sua verdadeira natureza, para atrair homens. Mostrando a eles apenas o que é belo e atraente, ela é a huldra, enganosa e vingativa.

— Muitas mulheres devem ser parte huldra, então — acrescentei ironicamente.

— Esta criatura não a lembra de alguém? — Helka perguntou.

Eu levantei minhas sobrancelhas em resposta e a convidei a falar.

— Há algo em Faline que causa conflitos. Não posso confiar nela, e gostaria que ela não estivesse sob nosso teto.

Eu não podia negar que muitas vezes eu pensava o mesmo, mas, por algum motivo, não quis condená-la. Afinal, ela estava apenas cuidando de seus próprios interesses. Eu não poderia culpá-la por isso.

Ela era filha do nosso chefe. Quão diferente a vida dela poderia ter sido se o seu noivo não tivesse caído do cavalo. Parecia muito tempo desde que eu fora casada e sofrera violência nas mãos do meu marido. Em Eirik, encontrei alguém para dar amor e receber o mesmo em troca, mesmo que eu não fosse sua esposa. Qual era a sorte de Faline sem o benefício da ternura ou do carinho?

Lembrei-me dela quando criança pedindo para se juntar a nós em nossas brincadeiras. Encontramos uma árvore que nos permitia subir mais alto do que nunca. Os meninos riram dela, subiu tão pouco que mal atingia a cintura, e disseram-lhe para ir para casa, para o pai. Eu também zombei dela e a enviei, chorosa, de volta à vila? Talvez eu tivesse feito isso.

Helka pegou sua cesta mais uma vez — Foi um erro trazê-la.

 

 

Capítulo 6


S

ylvi observou enquanto eu esmagava a raiz de valeriana na mistura com pétalas de camomila, prímula e verbena que eu colhi do prado. Mergulhei a mistura em água quente para criar uma pasta.

— É importante não usar valeriana demais — avisei, vendo o interesse dela — Jarl Gunnolf só quer dormir bem a noite toda, não parar de acordar para sempre.

Ela assentiu. Se Sylvi alguma vez quis se vingar do jarl pelas liberdades que ele tinha com ela, eu lhe mostrei o caminho. Eu esperava não me arrepender.

Gunnolf me chamou até ele quando voltei da floresta. Com os olhos escuros de exaustão, me pediu algo para trazer descanso sem sonhos. Sua necessidade parecia genuína. Eu sabia o que era ser atormentada por sonhos perturbadores.

Eirik também estava cansado, mas de trabalho físico e não de inquietação mental. Ele passava o dia todo nos campos, empilhando o último feno no celeiro. A colheita estava chegando ao fim, os campos cheios de poeira amarela e pedaços de palha quebrada, as árvores frutíferas despidas, quase nuas. O tempo parecia pronto para mudar. As forragens de inverno para nosso gado tiveram que ser colhidas antes que começassem a apodrecer.

Depois de comermos a refeição noturna, um ensopado grosso de carne de carneiro e raízes vegetais servidos com pão e hidromel, Lady Asta tomou seu banho no salão principal da casa longa, discretamente atrás de uma tela dobrável, Faline despejando água fumegante do caldeirão sobre a fogueira para dentro da banheira.

Quando me aproximei de Gunnolf, ele já tinha começado a se despir, tendo se retirado para o aposento que compartilhava com minha senhora. Vendo Gunnolf em sua túnica, eu fiz o meu melhor para não olhar para suas coxas musculosas. Seu cabelo comprido, geralmente trançado, pendia solto nos ombros.

Ele bebeu a poção para o sono sem hesitar, inclinando a cabeça em agradecimento.

Quando peguei o copo dele, ele estendeu o dedo para acariciar o meu. Foi o mais leve dos toques, mas eu me afastei.

Seus olhos frios me examinaram. — Que criatura nervosa é, age como se esperasse que eu a atacasse.

Com isso, ele tirou a roupa restante e a jogou no chão, para ficar diante de mim nu.

Eu descobri que queria olhar. Como Eirik, ele tinha tinta em sua pele, tão trabalhadas de perto que eu mal conseguia identificá-los. Eu nunca vi um homem com pelos tão densos e escuros, cobrindo seus ombros, braços e costas. Ele crescia por toda a largura de seu peito e enrolava na dureza do estômago, juntando-se à virilha, tão abundante que teria coberto completamente sua masculinidade se estivesse em repouso.

Não havia dúvida de que Gunnolf pretendia que eu o admirasse.

— Se deseja ver meu pau totalmente alerta, precisará se dedicar com uma mão quente... ou boca. — Ele se sentou na beira da cama e abriu as coxas em um convite lânguido — Ou sente-se, se preferir.

Seus lábios se contraíram em diversão. Eu não podia negar que havia uma selvageria nele que era atraente. Sua boca era cheia e sensual, emoldurada por sua barba. Seus dentes, revelados enquanto ele sorria, eram afiados, dentes feitos para morder.

Senti calor na minha bochecha, embora não soubesse se era de meus próprios pensamentos ou da franqueza do jarl. Afastei meus olhos, dando um passo para trás. O que quer que eu estivesse pensando, seria um jogo perigoso de se jogar. Eirik me disse que havia compartilhado mulheres com seu irmão quando eram mais jovens. Eu acreditava que ele seria menos favorável agora, assim como Asta. Eu não gostaria de seguir esse caminho.

Gunnolf levantou-se e, por um momento, imaginei-o me erguendo e quebrando minhas costas em uma única torção. Não duvido que teria forças para fazê-lo.

Foi com algum alívio que eu ou vi esticar e pegar as peles de cabra, acomodando-se entre elas. Seu comportamento provocador se foi, e as linhas de sua boca endureceram. Vi algo que reconhecia, um certo peso no coração pelos papéis que era obrigado a representar. Eu não tinha o direito de falar, mas as palavras escaparam dos meus lábios antes que eu pensasse em reincorporá-las.

— Tem sofrido muito com esses sonhos preocupantes?

Os olhos dele se estreitaram.

Era impertinente de minha parte falar com ele antes que me dirigisse a palavra. Eu não era mais que uma escrava aos seus olhos, que servia para ser comandada ou zombada. Tinha certeza de que era apenas o interesse de Eirik sobre mim, até agora, que impedia que Gunnolf me tratasse como fazia como outras mulheres que serviam em sua casa.

— Que moça presunçosa é. Meus sonhos não são da sua conta.

Ele pensou em erguer a mão para mim, mas o momento passou e rolou a cabeça sobre o travesseiro.

— Vá foder meu irmão — ele disse secamente — E me deixe descansar.


E

irik poderia dormir assim que seus olhos se fechassem, mas estava acordado, esperando. Uma lamparina queimava na prateleira dentro de seus aposentos, com sua chama revelando seu peito nu, sombra e luz e os sulcos de seu abdômen, levemente cobertos de suor.

Ele assistiu enquanto deixei cair o cinto e desabotoei os broches nos meus ombros. Eu me despi de cada peça de roupa até ficar tão nua quanto ele, tendo prazer com seu olhar nos meus seios e nos meus quadris redondos, descendo até os cabelos loiros do meu sexo.

Sorrindo preguiçosamente, Eirik afastou as peles, revelando mais do seu corpo para mim. Sua voz era baixa. — Preciso da sua companhia, Elswyth.

Ele me puxou para perto quando entrei na cama, segurando minhas costas e me puxando. Eu me curvei para ele, minha barriga com a dele. Dureza pressionada à suavidade, sua boca encontrou na minha. Suas mãos seguraram a carne das minhas nádegas e eu gemi quando alcançou mais baixo, seus dedos roçando minha boceta por trás, me convencendo a me abrir para ele. Eu dei um gemido de desejo quando seu pau cutucou entre as minhas pernas. Foi necessário apenas o menor deslocamento da minha coxa para empurrar e entrar.

Lentamente, ele começou, me abraçando com firmeza enquanto empurrava, uma mão rastejando entre as minhas nádegas, me incentivando a abrir mais, para permitir uma passagem mais profunda.

Eu me rendi ao ato de fazer amor, desejando que ele fizesse parte do meu próprio corpo. Nesse ato, ele era meu mestre em força, mas éramos iguais em nossa fome um pelo outro.

— Elswyth — ele murmurou, fazendo um caminho de beijos no meu pescoço. — Meu doce amor.

Minha respiração já estava acelerada. Eu arqueei contra seu ritmo constante, meus dedos se agarrando em seus cabelos, guiando-o para tomar meu peito, querendo que ele chupasse com força. Quando ele me puxou para seu fluxo quente de sementes, caí no meu próprio abismo de prazer. E quando me beijou novamente, foi com ternura.

— Thor estava nos observando? — Eu provoquei.

— Ele está sempre assistindo. Demos a ele algo que vale a pena olhar.

Esvaziando seu pau de mim, ele rolou para longe, mas eu não tinha intenção de deixá-lo dormir. Aquecida pelo que ele me deu, eu queria mais.

Montando nele, descansei meu sexo na raiz de sua ereção rota. Eu sabia que ele gostava de me ver assim, com meu cabelo caindo devagar e meus seios acima dele, minha pele brilhando de suor. Ele descansou as mãos na minha cintura, avaliando através dos olhos semicerrados. Eu balancei levemente e vi seus lábios se separarem, molhados por sua língua.

Impossível que Eirik desejasse outra com essa paixão ardente. Ele nunca me abandonaria por um casamento de conveniência. Eu não acreditaria nisso. E, no entanto, lembrei do aviso de Helka para mim. Eu queria ouvir alguma promessa do amor de Eirik, alguma prova da profundidade de seu sentimento.

Toquei o cabelo em seu peito, acariciei seus mamilos.

— Quer me acender novamente, minha Valquíria.

Lambi onde toquei, deixando meus seios roçá-lo levemente. Entre minhas pernas, senti a base do seu pênis engrossar.

— Sempre seremos assim, Eirik? — Beijando seu abdômen, me movi para baixo, sentindo o gosto do suor de nossa união — Nunca me expulsará de sua cama?

Desci minha língua e fechei meus lábios sobre a cabeça de seu pau. Embora ainda não estivesse totalmente ereto, ele estava despertando. — Claro que não — ele murmurou —Me satisfaz melhor do que qualquer mulher.

Eu o envolvi em minha mão, apertando, movendo sua pele para frente e para trás, provocando o capacete protuberante de sua ereção, sugando o local sensível sob sua cabeça.

— Sempre me protegerá, sempre me amará?

— Aye, eu vou.

Abri minha boca, levando Eirik profundamente, passando por meus dentes, até a parte de trás da minha mandíbula, cantarolando contra sua crescente dureza e depois recuando, deixando minha língua trabalhar o seu comprimento.

— Valhalla de Odin! — Eirik ofegou, abrindo as pernas e segurando meu cabelo — Não pare!

Chupei-o novamente, sentindo o seu gosto salgado. Ele estava assistindo a minha boca se movendo sobre ele, minha língua lambendo o líquido que escorria de sua ponta, minha mão segurando por baixo.

— Eu quero seu gosto, Eirik.

Ele gemeu quando eu peguei suas bolas na minha boca, cantarolando novamente para que ele sentisse a vibração, deixando-o saber o quão delicioso ele era.

Em plena excitação, era mais difícil segurá-lo totalmente na boca, mas voltei a chupar seu comprimento até sentir seu tremor começar a subir. Rapidamente, desviei-o para o calor da minha boceta, bem a tempo, pois ele gritou e pulsou dentro de mim.

Quando apaguei a lamparina, deitei minha cabeça em seu peito. — Me ama, Eirik? — passei as pontas dos dedos sobre a cicatriz levantada em seu lado, uma ferida muito antiga.

— Aye, eu te amo.

Ele passou o braço em volta dos meus ombros e eu me senti segura. Ele era meu e eu era dele.

— Para sempre? — Eu sussurrei.

Em resposta, havia apenas a respiração suave e regular de um homem que sucumbira ao sono.


U

m velho sonho voltou. Eu estava sozinha com um lobo que há muito tempo rondava meu sono. Rodeada pela fera, não gritei ou corri, mas deitei-me e ofereci meu pescoço. Eu descobri meu peito para suas garras, observando enquanto elas arrancavam a pele para revelar meu coração batendo. Ele abaixou a cabeça desgrenhada, lambendo o sangue pulsante do meu corpo.

Ainda estava escuro quando acordei. Eu tremi, mas não apenas por medo.

 

 

Capítulo 7


N

o final da manhã seguinte, Lady Asta me permitiu sair e eu desci para visitar Astrid. Eu tinha quase certeza de que Bodil estaria esperando, para bloquear meu caminho e colocar suas mãos vingativas sobre mim; até agora minha imaginação tinha sido construída sobre meu encontro anterior com ela. Embora tenha passado por vários de meus novos parentes, fiquei aliviado ao ver que ela não estava entre eles.

Na verdade, Svolvaen parecia extraordinariamente silenciosa. O tempo estava ficando mais frio, o céu nublado, mas bom o suficiente para trabalhar ao ar livre e aproveitar ao máximo a boa luz do dia. No entanto, a rua não tinha a agitação de sempre.

Eirik ficara satisfeito em fechar as portas do celeiro, sabendo que as rações para o inverno estavam armazenadas em segurança. Ele saiu com os pescadores logo após o amanhecer, ansioso pelo cheiro do mar. Os campos haviam reivindicado muito do seu tempo.

O empilhamento do feno encerrou a colheita e alguns dos homens mais velhos sentavam-se à vontade, pegando um cachimbo e um chifre de cerveja. Eles fizeram uma pausa em sua conversa enquanto eu passava, acenando com a cabeça em reconhecimento, que eu devolvi da mesma forma.

Era um gesto simples, mas me aqueceu, e fiquei encorajada a me dirigir a uma mulher sentada nas proximidades. Ela estava acompanhando meu progresso descendo a colina, eu tinha certeza, mas, ao me aproximar, desviei o olhar para o bordado em seu colo.

— Bom dia — eu disse, quebrando minha mente pelas palavras certas para elogiar seu bordado. Seus dedos eram ágeis com o fio, um vermelho vívido contra um pano branco.

— Isso está muito bom — decidi finalmente — Suas mãos são espertas.

Ela levantou a cabeça ao ouvir isso e me agradeceu.

— Veio ver Astrid? — Ela perguntou. — Eu a vi olhando da porta, te procurando, talvez.

O rosto dela era gentil, mas eu apenas assenti. Não podia revelar por que Astrid estaria me esperando. Eu manteria seus segredos.

— É uma boa moça. — A mulher voltou ao seu trabalho — Não dê ouvidos a quem disser o contrário, só desejam estar no seu lugar.

Eu pensei, ironicamente, que ninguém sabia realmente como era estar 'no meu lugar', mas as palavras gentis dela me tocaram, já que eu já tivera o suficiente das mulheres de Svolvaen.

Mais abaixo na rua, duas mulheres estavam conversando, mas pararam abruptamente enquanto eu me aproximava, olhando para mim com um desgosto mal disfarçado. Ergui minha mão em saudação, mas elas se afastaram, entrando em casa sem olhar para trás. A porta bateu atrás delas.

Vai levar tempo, eu me lembrei.

A mulher gentil estava certa sobre Astrid me esperando. Ela apareceu em minha primeira batida.

— Graças aos deuses que veio. — Ela mudou o bebê para o quadril quando falou comigo. Ela estava chorando, com os olhos vermelhos.

— O que aconteceu, Astrid?

Ylva estava sentada de costas para nós, tecendo lã, seu irmão mais novo brincando a seus pés.

— Faz apenas dois dias. Não está pior, não é? Está usando a pomada que eu lhe dei?

Os olhos de Astrid me imploraram. — Melhor que olhe.

Assim que Ylva se virou, entendi o medo de Astrid. O que não passava de uma pequena elevação na bochecha da filha começou a empolar.

— Mostre seu ombro — Astrid pediu.

Ylva desenrolou o pano manchado de amarelo. A ferida abaixo estava molhada, o cheiro doentio.

— E aqueles em seu pescoço?

— Há uma pulsação nele. — O lábio de Ylva tremeu.

Era uma mulher jovem e bonita, com os olhos do mesmo delicado cinza que os da mãe, grandes e suplicantes, cabelos compridos e louros.

— Eu esperava que estivesse melhor — admiti — Mas trouxe algo mais forte hoje.

Joguei a velha faixa de curativo no fogo — Não tente lavar isso. É melhor usar um pano novo a cada vez. Se acabarem, pelo menos, ferva os velhos em água e depois pendure-os para secar.

Tirei um pote do bolso do avental e espalhei uma espessa camada de unguento verde na ferida. — É casca de olmo e milefólio, misturado com sálvia. Deve reduzir o inchaço e extrair o veneno.

— Obrigada — sussurrou Ylva, com os olhos molhados.

Eu sorri, mas mantive minha voz firme. — Lave as mãos antes de trocar o curativo e depois.

— Vou ferver a água ao longo do dia — prometeu Astrid.

Quando tirei os curativos, um por um, Ylva estremeceu, o pano sujo puxando sua pele macia.

— Logo estará melhor — prometi, fazendo o meu melhor para não fazer caretas.

Astrid também estava tentando ser alegre, me observando atentamente e perguntando sobre a confecção do bálsamo. Apesar de seus esforços valentes, eu podia ver sua angústia. Quando tudo estava pronto, apertei a mão de Ylva e lhe disse que era corajosa.

— Sabe algo das mulheres que a procuraram antes? — perguntei a Astrid — Ylva pode não ser a única que sofre com isso.

Ocorreu-me que poderia ser a razão para o silêncio incomum da rua. Quantas famílias estavam abrigando um segredo?

— Não sei dizer — disse Astrid — Se elas compartilham do nosso problema, não me disseram, mas eu tenho certeza que tem razão. Se elas voltarem para aliviar seus corações, eu lhes direi sobre o seu tratamento. Elas precisarão da sua ajuda.

— E ficarei feliz em ajudar.

Coloquei o novo pote de pomada sobre a mesa. — Duas vezes por dia, lembre-se, e voltarei em breve para ver como Ylva está.

Astrid colocou o bebê no berço e me acompanhou até a porta, indicando para sairmos por um momento. Ela fechou a porta atrás dela e me puxou para perto, falando em voz baixa.

— Eu tive visitantes, mas não do tipo que está pensando. — Ela franziu com o lábio — Ylva estava prometida para se casar, mas os pais do rapaz quebraram o contrato.

— Eles sabem? — Era uma pergunta redundante. Claro, eles sabiam.

— Ontem, quando Ylva estava guardando as galinhas. Eu disse a ela para manter o rosto bem escondido, mas o rapaz a viu. Ela tentou detê-lo, mas sabe como são os homens quando jovens. Ele não aceitou o não como resposta. — Astrid deu um suspiro trêmulo. — Ele tirou o cachecol dela para beijá-la e viu os curativos sujos no pescoço, a bolha na bochecha.

Imaginei que todo o vilarejo já saberia.

Astrid afastou uma lágrima que caía. — Mal posso culpá-los, mas tenho medo por Ylva. Que futuro existe para ela? Mesmo se a curarmos disso, as pessoas não esquecem.

Meu coração doía pela moça. Sem dúvida, ela se considerava apaixonada. A quebra de seu noivado devia parecer o fim de tudo o que importava.

Coloquei meus braços em volta dos ombros de Astrid enquanto ela abafava um soluço.

Se eu não curasse a filha dela, seria o fim de mais do que as esperanças de Ylva em se casar.

 

 

Capítulo 8


A

colheita estava entre as melhores que Svolvaen já havia visto, uma primavera amena tinha incentivado as flores dos pomares, seguida pelo verão quente que amadureceu a cevada. Esta foi empilhada com segurança em um celeiro, com feno em outro. Não importava a profundidade da neve, o gado teria sua ração. Guardamos peras e maçãs para o inverno entre palhas, e ameixas em conserva em sua própria calda, embaladas firmemente em potes. Todas as casas dispunham de arenque defumado, raízes e mel, seu próprio estoque de hidromel e cerveja. Não importava as tempestades, Svolvaen não morreria de fome.

Quando tudo estava pronto, Jarl Gunnolf convidou Svolvaen para participar de um dia de festa, começando com um combate corpo a corpo, a ser seguido por falcoaria e depois festejos, noite adentro.

As nuvens estavam espessas no alto e o vento soprava forte, mas a chuva não veio. Os homens superavam em número as mulheres, talvez o esporte não estivesse ao seu gosto ou elas tivessem outros deveres a cumprir.

Ao me juntar a Helka, procurei no meio da multidão aqueles que usavam um capuz para cobrir o pescoço, minha imaginação sempre pensando na doença que eu acreditava estar entre eles. Astrid acenou para mim, com seu filho pequeno levantado em seus braços, para que ele pudesse ver melhor. O bebê, eu suponho, ela deixou com Ylva, em casa.

O jarl estava sentado em um estrado elevado, vestindo seu habitual traje preto, incluindo uma capa de brocado escuro, adornada com pelo prateado. Ao lado dele, Lady Asta estava radiante em um vestido branco pálido, bordado em ouro e amarelo, sorrindo para o povo, aplaudindo cada homem que se adiantava para indicar sua participação.

Ela descansou as mãos no bebê crescendo dentro dela, o tamanho da barriga visível. Gunnolf também parecia bem contente em mostrar a condição fértil de sua Lady.

— O jarl presidirá os pares de homens, em ataques sucessivos — explicou Helka — até que apenas um permaneça.

Eirik esperou até que todos os outros se apresentassem antes de mostrar sua própria vontade. Despido até a cintura, com os cabelos trançados em um nó, era mais alto que o resto. Eu já o vira empunhando sua espada e machado, e o tinha visto no retorno da batalha, manchado com o sangue de outros homens, mas nunca o tinha visto lutar, homem a homem.

— Odin e Thor e todos os deuses estão entre nós! — Gunnolf anunciou, cortando a garganta de um porco robusto. — Assim como o solo absorve essa força vital, nosso sangue também se derrama em combate. Que nossos atos sejam sempre corajosos e gloriosos, para que todos saibam da grandeza de Svolvaen.

Houve um grande aplauso quando o porco guinchou e o jorro de sangue vermelho ensopou os pés de Gunnolf. O animal passaria o resto do dia assando, pronto para o banquete da noite.

Quando o torneio começou, vi que a agilidade contava tanto quanto força. Cada um pegou o grande chifre de hidromel, bebendo sofregamente antes de começarem a lutar dentro de um lugar delimitado, com não mais de cinco passos de largura. O primeiro a prender seu rival no chão para contagem de dez levava a luta.

Os gritos eram ensurdecedores, aprovação estrondosa de cada triunfo. O resultado de alguns pares foi decidido quase imediatamente; outros deixaram seus oponentes sem fôlego, cambaleando pelo esforço, suor brilhando sobre seus corpos musculosos, tendões se esforçando em busca da conquista.

Eirik parecia vencer suas partidas com pouco esforço, tendo não apenas habilidade em vários golpes, mas também a força de levantar outro homem de seus pés. Ao ver sua postura na vitória, as linhas tensas de seu abdômen visíveis, fiquei emocionada com seu poder, tanto como meu amante quanto como um guerreiro.

Ninguém parecia se importar com sua ascensão. Ele deu a cada um uma chance justa de demonstrar suas proezas antes de mostrar as suas. Eirik os ajudou a permanecer em pé, dando tapinhas em seus ombros em congratulação por uma luta bem disputada.

Ficou claro que ele se deleitava com a conquista tanto quanto qualquer homem, mas valorizava a comunhão acima de tudo, e estes eram seus homens, a quem ele havia liderado através dos mares, para retornar com riquezas e renome.

Se Gunnolf ficou contrariado ao ver seu irmão mais novo sendo exaltado diante de si, dissimulou bem, dando sua própria aprovação.

Quando a luta final foi declarada, Eirik enfrentou seu velho amigo, Olaf, os dois homens enlameados dos muitos jogos que já haviam disputado. O que faltava em estatura a Olaf, sobrava de leveza dos pés, escapando sem parar das mãos de Eirik, para a alegria daqueles que os observavam. Eirik poderia ter levado Olaf ao chão a qualquer momento, mas optou por divertir-se com uma alegria festiva, aceitando as travessuras de Olaf para evitá-lo.

Gunnolf observava de perto, com os olhos iluminados. Se Eirik fosse finalmente derrotado, teria problemas para esconder sua satisfação, pensei. Havia outra também, cujos olhos eram todos para Eirik; Bodil abriu caminho para a frente, carregando a bela criança. Ela ficou de pé, nem torcendo nem aplaudindo, mas observando o desempenho vigoroso de seu ex-amante com intensidade silenciosa. Será que estava se lembrando do suor de sua própria luta na cama, seus dedos pressionados contra a carne das nádegas dele, seu corpo se submetendo sob a força dele?

Meu temperamento explodiu com a imaginação, pois Eirik era meu, e o ciúme na minha barriga ardeu.

Por fim, com um grito indomável, Eirik agarrou Olaf pelos tornozelos e pulsos, obrigando-o a dobrar-se de maneira acrobática, curvando-o para o chão. Quando a contagem se aproximou de dez, Eirik deu a seu rival um toque brincalhão no nariz e o levantou.

O clamor foi realmente grande, com todos gritando o nome de Eirik, e vi uma sombra passar pelo rosto de Gunnolf.

Eirik, no entanto, agiu mais como tolo, ajoelhando-se em frente ao jarl. — Minhas vitórias ou perdas estão nas mãos dos deuses. Se tenho força, irmão, é através da graça deles, e eu a ofereço a seu serviço. Envie-me para onde quiser, em qualquer missão, e trarei glória ao seu nome e ao de Svolvaen.

Foi um discurso proferido pelo coração. Quando Eirik levantou a cabeça, seus olhos brilhavam com fervor. Mais uma vez, os homens o receberam com estrondosa aprovação e precisou que a mão levantada do jarl ganhasse o silêncio que ele precisava para responder.

— Aceito seu serviço, que sei que é prestado de boa-fé. Que seja um exemplo para todos os homens, em sua lealdade ao seu jarl.

Gunnolf chamou Eirik e colocou seu próprio copo em suas mãos, mas havia uma tensão em sua mandíbula. Não queria ver o dia em que Gunnolf acreditasse que a lealdade de Eirik estivesse em questão.


M

ontamos mesas de cavalete feitas com madeiras do grande salão, para uma refeição do meio-dia de presunto defumado e queijos, frutas e pão achatado. A cerveja fluía e não havia homem ou mulher cuja barriga não estivesse cheia e cujo espírito não estivesse contente, pelo menos por aquelas horas.

Fui ajudar a carregar jarros de hidromel, mas Eirik me chamou para sentar ao seu lado. — Existem outras para servir — ele me assegurou. — Hoje, todos devem ver como a respeito e saberem que é minha.

Nunca antes ele havia me concedido tal reconhecimento público. Eu era sua consorte, e não sua esposa.

— É digna do respeito deles. — Eirik colocou a mão em volta da minha cintura.

Começamos a conversar sobre a luta livre e eu o elogiei por sua performance, pois foi tanto isso quanto uma demonstração de talento físico.

— Aye, eu não vou negar. — Ele me deu um sorriso. — Há pouca necessidade de me provar entre meus próprios homens. Eles já conhecem minha força.

— E quanto à força de Gunnolf? — Eu cortei uma maçã. Seu sabor combinava bem com os queijos das cabras diante de nós. — Ele tem medo de que seu rosto seja empurrado na terra se participar?

Eirik olhou para mim com desconfiança.

— Conversa ousada para um rato tão pequeno sob o teto do jarl. — Ele pegou um pedaço de maçã do meu prato. — Nós somos diferentes, ele e eu, mas nenhum homem tem um irmão mais verdadeiro. Ele daria a vida por mim, como eu faria por ele.

Abaixei os olhos, escolhendo não responder. Pareceu-me claro que Gunnolf poderia estar com ciúme da popularidade de Eirik e de suas proezas. Como Jarl, ele tinha autoridade, mas eu duvidava que ele tivesse o amor dos homens como seu irmão mais novo.

A refeição estava sendo feita, os cavalos foram trazidos, Gunnolf montou um elegante cinza manchado, que sacudiu sua crina branca quando ele se sentou. O de Eirik era um roan dourado, sólido de perna e circunferência, com um corpo rígido. Havia talvez vinte no total e Eirik levou uma égua para eu subir, de cor castanha com um brilho no nariz. Era de Asta, embora eu nunca a tivesse visto montar, sua condição a impedia de fazer esse exercício.

— Gostaria de vir? — Ele perguntou. — Virá para nossa caçada?

Fazia muitos meses desde que montara e ainda mais desde que participei de falcoaria, mas tomei meu lugar sem dificuldade. Olhei para trás e vi Lady Asta acenando. Ela gostaria de ouvir sobre toda a emoção mais tarde, e eu não gostaria de decepcioná-la.

Claro, Helka estava entre os membros do grupo.

— Os homens vão cavalgar atrás dos pássaros — ela me disse. — Fique perto. Embora a melhor caçada seja nos campos ao sul da floresta, nosso passeio pode nos levar para perto das falésias, onde há fissuras escondidas na grama. Um passo errado e sua doce égua quebraria a perna ou cairia. Alguns abismos são grandes o suficiente para levar um cavalo inteiro e o infeliz cavaleiro.

Estremeci com o pensamento.

— Estará segura comigo — prometeu. — Fique a meu lado.

Gunnolf levou seu falcão com o ar de quem sabe que ele é o mestre, desamarrando e preparando o pássaro. Suas garras seguravam o couro do braço protegido.

— Está pronto, irmão? — ele chamou, olhando para Eirik, seus olhos tão selvagens e insondáveis quanto os do peregrino de plumas escuras.

— Aye, sempre — veio o grito de retorno de Eirik, pegando seu próprio pássaro, trazido a ele amarrado na corrente. — Seu caçador pode ser mais poderoso, mas a minha está comigo desde que ela era um filhote. — Ele acariciou seu peito macio e salpicado e inclinou a cabeça para o olhar âmbar do falcão. — Ela é a melhor treinada, aposto.

— E o que aposta? — Gunnolf respondeu.

— O que quiser. — Eirik sorriu. — Tudo o que é meu é seu, afinal. Não posso te negar nada.

Gunnolf jogou a cabeça para trás e riu ao ouvir. — Falou bem, irmão. Pensarei nisso...

Com isso, ele soltou seu peregrino e Eirik beijou a elegante cabeça de sua linda falcão, antes de jogá-la contra o vento. O jarl deu um chute rápido em sua montaria e partiu em direção à floresta, deixando o resto de nós para segui-lo.

Com o vento em nossos rostos, contornamos as árvores e saímos em direção aos prados abertos e aos campos esvaziados de palha.

Os pássaros voaram alto, pairando para vasculhar o chão, depois voando alto e perseguindo um ao outro. O peregrino se aproximava tão perto que, às vezes, pensei que bateria no falcão de Eirik, mas eles voaram, velozes e ágeis.

O pássaro de Gunnolf foi o primeiro a avistar sua presa, e ele gritou de alegria ao vê-lo mergulhar, as garras estendidas no momento final. O peregrino estava sentado em cima do prêmio, rasgando pelos e carne com o bico da navalha antes que o apito agudo de Gunnolf convocasse seu retorno.

Helka e eu estávamos na parte de trás da festa, minha própria égua sendo menos rápida que as outras, mas logo nos aproximamos.

Nas garras do peregrino pendia uma lebre, flácida e sangrando, com o pescoço quebrado, os olhos vidrados em morte inesperada. Com um movimento de penas, o pássaro depositou seu prêmio, retomando seu lugar no antebraço de seu mestre.

— Mima seu pequeno falcão, irmão. — Gunnolf recompensou seu próprio pássaro com um pedaço de carne crua. — Ela não parece a poderosa caçadora que acredita que seja.

Eirik estendeu o punho, convidando o falcão a pousar lá.

— E o que deseja de mim, meu jarl?

— Apenas o prazer de uma iniciação.

Eirik franziu a testa, mas abaixou a cabeça e Gunnolf se virou, olhando em volta, até encontrar o que procurava.

O jarl trouxe seu cavalo tão perto que senti o calor do seu flanco. Minha égua jogou a cabeça para longe do focinho intrometido do cinza manchado, mas eu a segurei firme. Tudo o que fosse exigido de mim, deveria obedecer. Eu era hóspede de Svolvaen e da casa dos jarl. A promessa de Eirik era como se fosse minha. Eu não poderia quebrá-la sem envergonhá-lo.

Eu nunca estive tão perto de um falcão. Era uma criatura bonita, imponente e graciosa, mas eu me senti encolher pelo bico manchado de vermelho e pelo olhar sem piscar. Um dos homens jogou a lebre para Gunnolf, que a pegou na mão livre e pressionou o polegar na ferida. O sangue borbulhava da lágrima irregular em sua garganta, correndo espessa.

— Pode correr tão rapidamente quanto a lebre, mas não pode escapar.

Falando baixo o suficiente para que ninguém mais pudesse ouvir, ele tocou minha testa antes de deixar cair a ponta do polegar no meu lábio inferior, manchando sangue lá. A intimidade disso me assustou. Instintivamente, lambi a umidade, achando-a amarga em minha língua.

— A primeira vez é mais doce. — Os olhos de Gunnolf permaneceram nos meus lábios, seus próprios lábios separados, cheios e sensuais. Descobri, de alguma forma, que me mordi. Ele viu e riu, jogando a lebre de novo.

Gunnolf ergueu o braço e deu um assobio suave, enviando o peregrino de volta ao céu. Eirik também soltou seu falcão, e os dois pegaram a brisa debaixo das asas, circulando e mergulhando, erguendo-se nas correntes selvagens do vento, desafiando-se no alto.

Os pássaros desapareceram nas nuvens enquanto, lá embaixo, esticávamos para vê-los. O falcão emergiu com o outro na cauda. Parecia um jogo de perseguição. No entanto, a busca do falcão foi implacável. O pássaro menor deslizou baixo sobre o campo enquanto seu rival pairava acima. Enquanto o falcão lutava para subir, o peregrino aproveitou sua chance. Mergulhou, erguendo as garras no momento final, batendo na caçadora de Eirik, fazendo-a cair.

O pássaro bateu na terra de costas e ficou imóvel, exceto pelo bater de uma asa. Eirik cavalgou até o local, desmontando para pegar o falcão nos braços.

Tremeu brevemente, depois ficou imóvel.

 

 

Capítulo 9

H

á muito tempo guardara as roupas que trouxe comigo, pois me marcavam como alguém de fora. Helka costumava usar túnicas e calças, mas me dava alguns de seus aventais, tecidos de linho tingidos em tons de vermelho e verde. Eles me serviram o suficiente — broches de osso esculpidos prendiam as tiras sobre cada ombro.

Ela me repreendeu pela falta de habilidade em tecer. Até ela, cujo tempo era mais dedicado à caça, sabia como trabalhar um tear. Meus dedos eram ágeis, mas, quando tentava, tudo emaranhava. Sempre foi assim.

— É muito impaciente, Elswyth — falava, mostrando-me como usar as hastes para separar os fios do tear. Passava os fios pela trama. — Deseja ter tudo o que quer, sem se dedicar ao trabalho. Todas as coisas dignas de serem alcançadas exigem nossa perseverança.

Não neguei a reprimenda, conhecendo a mim mesma o suficiente para ver a verdade. Sempre fui imprudente, inclinada ao impulso e pressa. Desejava ação, não a monotonia de horas no tear. Minha costura era um pouco melhor, se minha agulha fosse de osso ou madeira. Preferia o tingimento do tecido, sabendo bem quais folhas e raízes produziam as cores mais brilhantes.

Claro, tinha uma habilidade que rivalizava com essas atividades femininas, como me foi ensinado por minha avó. Meu conhecimento curativo de plantas e ervas. No entanto, ainda não havia encontrado uma cura para as feridas que atormentavam Ylva.

A pomada que fiz da casca do olmo, com sálvia e milefólio, restringiu a propagação do veneno. As feridas se tornaram menos agressivas, mas a pele se recusava a se curar. Astrid me disse que ouviu Ylva chorando durante a noite pela perda de seu prometido. Embora meu tratamento tenha impedido que a marca em sua bochecha se tornasse uma ferida aberta, a pele permanecia vermelha e inchada, a infecção persistindo sob a superfície. Temia drená-lo, ou poderia piorar.

Não pela primeira vez, desejei que minha avó estivesse comigo. Como desejava enterrar minha cabeça em seu colo e buscar sua orientação. Ela sempre parecia saber a resposta, mesmo nas situações mais difíceis. Provavelmente, já estava morta e sua casa livre de suas posses simples. Se eu voltasse, encontraria outra família morando lá, no lar que compartilhei com ela.

Tentei deixar de lado esses pensamentos, pois não ajudavam em nada e eu desejava manter o espírito justo, sendo o mais útil para mim e para os que estavam ao meu redor.

O tempo estava tumultuado com o vento norte e as primeiras rajadas de neve chegaram a Svolvaen. — Em breve estaremos dentro de casa. Se o inverno for difícil, o porto pode até congelar. Não devemos perder a chance — insistiu Helka. — Venha, vamos pescar.

Asta insistiu que aproveitasse a oportunidade. Sua barriga estava crescendo rapidamente, mas ela ainda desejava participar da maioria dos assuntos. Faline faria companhia na minha ausência.

Foi com alguma emoção que me sentei na parte de trás do barco de Helka. Não entrava na água desde a grande jornada que me levou a Svolvaen. Não pude evitar um certo grau de apreensão, mas Helka me garantiu que estaria segura a seus cuidados.

— Só se mova quando eu falar — ela ordenou — ou descobriremos o quão bem nada.

O ar estava fresco e o vento forte, e entendi imediatamente por que ela gostava de navegar. Havia uma imensa sensação de liberdade, e era lindo, a luz do sol tremendo na água. Ela nos levou entre os rochedos e olhei para cima, imaginando a altura da rocha pura.

— Os homens coletam ovos de pássaros marinhos na primavera, descendo do topo, presos a cordas.

Só em pensar isso me fez ficar tonta. Parecia íngreme demais para subir. Não pude ver pontos de apoio óbvios.

— Precisa ter estômago para altura. Não é para todos — admitiu Helka.

— E tem esse estômago, Helka?

— Prefiro não fazer isso. — Ela olhou para as aves marinhas girando. Um albatroz mergulhou não muito longe, emergindo com um peixe prateado no bico comprido. — A vida dos filhotes é precária o suficiente sem que nós comamos esses ovos.

A maré estava conosco, levando-nos para o mar aberto, embora o vento soprasse para o interior.

— Os barcos de pesca saem sempre, exceto no pior clima. O meu também, embora apenas até a boca do fiorde. Além disso, as ondas são fortes demais. — Ela deu uma palmadinha orgulhosamente no lado da embarcação e apontou para a rede dobrada aos nossos pés. — Jogue a rede e deixa o vento levar sua vela, depois é só puxar.

— Assim tão fácil?

— Verá. — Helka acenou para eu pegar a rede. Nós a prendemos na parte traseira do barco antes de jogá-la a uma boa distância de nós. Agora, movíamos o leme e girávamos o barco para que o vento estivesse atrás de nós. Nossa rede encheria à medida que avançávamos na água e o peixe ficaria preso dentro.

Passamos as próximas horas navegando de um lado para o outro, deixando o vento nos levar, a rede enchendo com quatro ou cinco peixes de cada vez, até que tínhamos uma boa pesca.

Quando Helka virou a embarcação, nos levou para perto dos penhascos, para que eu pudesse ver as cavernas. A abertura de uma era mais baixa que as demais e mais larga.

— Eu costumava me esconder ali quando era mais jovem. Há um espaço plano, onde é possível sentar ou deitar, e pode entrar com um pequeno barco nela se abaixar o mastro. Pode amarrá-lo lá, fora de vista.

Nós nos aproximamos ainda mais, tomando cuidado para evitar as pedras irregulares de ambos os lados da entrada, onde as ondas espirravam e se dividiam.

— Tinha motivos para se esconder com muita frequência?

— Não mais que meus irmãos. — Os lábios dela se contraíram em um sorriso. — Mas nem Eirik sabia para onde eu ia. Às vezes, é bom ter um lugar secreto.

Conjurei uma imagem deles três quando crianças, Helka brincando com seus irmãos como eu fazia com os meninos da minha própria aldeia. Suspeitei que a rivalidade entre eles tivesse incitado seu desejo de supremacia com arco e flecha, com espada e a cavalo. Lembrei-me de Gunnolf me marcar com sangue da lebre. Ele seria um irmão ganancioso, com fome de ascensão. Devia achar que merecia isso, como o mais velho.

Houve um aumento no vento, enviando as gaivotas que voavam das bordas do rochedo para deslizarem brancas pelo ar. — Tinha algo parecido — murmurei. — Parte da floresta onde as outras crianças não gostavam de ir e uma árvore em particular que eu escalava. Um dos galhos era grande o suficiente para escalar. Fiquei lá a noite toda uma vez. Esqueci de fechar as galinhas, e a raposa veio e matou todas, exceto duas.

— Foi punida? — Perguntou Helka.

— Minha avó me deu um tapa e eu fugi.

— E quanto tempo ficou escondida?

— Somente até o dia seguinte. Cheguei em casa com uma fome voraz e ganhei três tigelas de sopa, havia outros problemas para minha avó se preocupar!

— Ah! — Helka declarou — Eu estava melhor preparada. Costumava guardar comida na caverna, em uma bolsa de couro e uma garrafa de hidromel.

Ergui minhas sobrancelhas. Como teria sido maravilhoso conhecer Helka quando era criança.

— Era uma moça inteligente, não é? — Ela sorriu de satisfação e a cutuquei de brincadeira.

— Ainda guardo algumas coisas lá. Nunca sabemos o que pode acontecer... e um esconderijo sempre pode ser útil. — O rosto dela estava sério novamente — Embora eu esteja começando a pensar que devo parar de fugir do que me assusta.

Seus pensamentos evidentemente não eram mais sobre coisas infantis e me perguntava o que Helka temia. Ela me diria, supus, quando quisesse fazer isso.

— Se precisar me esconder, virei aqui.

— Exceto que vou saber onde encontrá-la. — Helka sorriu — Não é um bom esconderijo!

— Mas não me importo se me encontrar. — Eu apertei o braço dela. — Estarei esperando, sabendo que virá e fará tudo ficar bem novamente.

— Sempre, Elswyth, se estiver ao meu alcance — Helka prometeu.

 

 

Capítulo 10


A

escuridão do inverno se aproximou até Svolvaen se afundar na neve, o mundo encolhendo em silêncio e o ruído branco sob os pés. Felizmente, nossas provisões foram armazenadas, defumadas e postas em conserva. Nossas fogueiras nos protegeriam do mundo geado do lado de fora.

Gunnolf e Olaf passavam muitas horas em um jogo em que peças se movimentavam pelo tabuleiro. Pedi a Helka para me ensinar, mas ela afirmou que era um passatempo para o qual nunca teve paciência. Ela andava pela sala mais do que Eirik, levantando as peles nas pequenas aberturas sob o teto, uma cativa frustrada olhando para a neve que caía.

Visitava Astrid quando podia, e a cada vez adaptava minha pomada, alterando as proporções dos meus ingredientes, adicionando uma pitada de algo novo. Sequei bastante do que achei útil para me ajudar em meus remédios. No entanto, embora tenha conseguido parar a propagação das feridas de Ylva, elas se recusaram a curar.

Quando sentia uma coceira em minha pele, me perguntava se a praga havia me atingido. À medida que as semanas passavam, agradecia aos deuses, novos e antigos, que minha pele continuava imaculada.

Era uma noite fria e clara quando enfrentei o vento para alcançar a cabana de Astrid. A neve havia coberto o chão com uma crosta grossa e fiquei grata por estar envolvida em minha capa de pele de cabra, e por minhas botas de pele de coelho, atadas ao joelho. A dureza do tempo mantinha os moradores de Svolvaen dentro de suas casas, e talvez fosse o melhor. Estava convencida de que outras pessoas estavam com aquelas feridas, mas não tinha como saber a extensão da doença oculta.

Assim que entrei, vi que meus medos não eram infundados. Havia outras quatro pessoas diante da lareira de Astrid: três filhos e sua mãe, cada um marcado pela mesma ferida que Ylva tinha na bochecha. Eu me perguntava há quantas semanas as feridas estavam purulentas, pois as lesões brilhavam úmidas.

— Graças a Deus veio. — Astrid deixou o caldeirão que estava mexendo, me ajudando a remover minha capa — Estávamos aguardando, esperando que saísse hoje.

— Não há necessidade de explicar. Posso ver por que sou necessária. — Devolvi o abraço de boas-vindas de Astrid. — E Ylva?

— Está do mesmo jeito, não piorou.

Ylva apareceu por trás de uma cortina que separava a latrina. Olhando para a da mulher perto do fogo, deixando visível assim sua bochecha e vi até onde meu remédio havia ajudado. A beleza de Ylva foi manchada, mas ela não sofreu febre. A ferida estava vermelha, mas não rasgou a pele.

— E as outras. Como estão seu ombro, pescoço e costas?

Ylva abaixou os olhos, desconfortável ao falar delas. — Ainda me incomodam, mas a pomada é calmante. Ajuda, pelo menos por um tempo.

— Esta é Torhilde — disse Astrid, apresentando-me à mulher perto do fogo.

Assenti, dando a ela e aos pequenos um sorriso de encorajamento. — Fez a coisa certa, vindo aqui. Vou tentar ajudar.

Seu rosto estava pálido quando olhou para cima. — Meu marido não nos quer sob o teto dele. — Ela pegou a criança menor no colo e se virou de costas para mim, olhando para as chamas. — Assim não.

Coloquei minha mão na testa dela e senti a febre ali. As crianças também estavam apáticas, com a pele pegajosa.

— Podem ficar aqui, é claro — disse Astrid — Quando estiverem melhores, ele os receberá de volta. — Ela apoiou a mão no ombro da mulher.

Engoli o que queria dizer. Nenhum homem que abandonou sua esposa e filhos doentes merecia que eles voltassem. Não cabia a mim julgar como os outros viviam, e eu não tinha meu próprio casamento como exemplo. Apesar das minhas dúvidas sobre o marido, procurei tranquilizá-la.

— Tenho certeza que ele só tem medo de contágio. Se também adoecesse, como continuaria a sustentar sua família?

Eu me concentrei no assunto mais urgente. — Astrid, se lembra do que fizemos antes, por Ylva?

Ela assentiu — Estou com a água quente pronta e colocando as folhas do confrei em infusão.

Começamos a limpar cada ferida no corpo das crianças, aplicando a pomada que eu trouxe para Ylva. Doía-me ver as marcas feias que maculavam a pele jovem, mas me confortei porque logo teriam alguma melhora. Nós despimos Torhilde por último e fiquei horrorizada. Vendo a extensão de sua lesão, me surpreendeu menos que o marido a tivesse retirado de casa.

Por fim, tudo foi feito e prometi voltar em breve. Sabendo que Astrid não podia alimentar tantos sem se privar, resolvi trazer alguns alimentos de nosso próprio estoque. Pareceu-me que a casa comprida foi projetada para suportar três invernos, ninguém sentiria falta do que peguei. Eirik, em qualquer caso, não recusaria minha solicitação.

Me despedi e voltei, de noite, para aqueles que aguardavam meu retorno.


— C

ante para nós, meu amor.

Entrei para ver Gunnolf colocando o alaúde de Asta em seus braços. Ele levou os seus cabelos para trás dos ombros, para que seus dedos encontrassem as cordas do instrumento mais facilmente.

— O que quer que eu toque? — Ela perguntou, seus olhos iluminados pelo toque dele. — Temo que saiba tudo de cor.

— O que quiser, esposa. — Gunnolf deu um beijo na testa.

Apesar desses gestos de carinho, seu olhar se voltou para mim quando me juntei a eles. Ele deitou-se na pele de cabra em volta da fogueira, pegando seu chifre de cerveja, e eu o senti demorando-se sobre a curva do meu seio. Não prestei atenção, mas Faline captou seu olhar, com uma expressão amarga no rosto. Só esperava que Asta não notasse essas coisas.

Nós comemos bem e as chamas ardiam. Era mais fácil suportar o incessante gemido do vento quando estávamos confortáveis lá dentro. Fechei os olhos e deitei a cabeça no peito de Eirik. Éramos em poucos naquela noite, apenas Helka e Olaf conosco.

Eu pensei que Asta escolheria uma balada de amor. Em vez disso, sua voz encheu o grande espaço da casa comprida com uma história sinistra, do longo inverno que se aproximava, quando tudo congelava e murchava. Sua melodia assombrosa desenrolava os fios da destruição dos deuses e o horror que dominaria o mundo. O grande lobo Fenrir quebraria seus laços e suas mandíbulas devastariam, até que o sol fosse arrastado para a barriga da fera. Com o último uivo da fera, a terra afundaria no fundo do mar, em perfeito silêncio.

Nós não nos mexemos nem falamos enquanto a melancólica música de Asta contava aquelas profecias sombrias de Ragnarök, mas parecia que uma sombra se movia pela sala, tocando cada um de nós.

As últimas notas do alaúde nos deixaram com o gemido do vento noturno além da segurança de nossas paredes, e levamos nossos pressentimentos para nossas camas.

 

 

Capitulo 11


P

or um bom tempo, dormi contra o calor do corpo de Eirik e acordei com sua paixão ardente. Minha necessidade era tão grande quanto a dele e não apenas à noite. Eirik me procurava em qualquer tarefa em que estivesse envolvida. Envolvendo seus braços em volta da minha cintura, me derretia com seus beijos, sua barba, sua boca quente em meu pescoço, antes de me levar para sua cama.

Eu vigiava e esperava minha barriga crescer, desejando a maternidade como nunca quis com o marido que não amava, que fora morto pelos homens de Eirik. Lembrei-me de rastejar de minha cama enquanto ele roncava, lavando-o de mim para evitar a chegada de um bebê.

Eirik parecia cego aos olhares sedutores de Faline. Ela os lançava tanto para me irritar quanto para conquistá-lo para si mesma. Nisso, e em seu constante anseio pelo conforto do meu corpo, vi amor.

Helka comia conosco na maioria dos dias, apesar de preferir sua própria moradia com mais frequência. Costumava se retirar para a casa que dividia com o marido, Vigrid. Asta estava dormindo muito e eu apenas coloquei as cobertas sobre os seus ombros. Andando pelo grande salão, passei por Eirik, que afiava o aço de seu machado de lâmina dupla, sentado junto à lareira com Olaf, Gunnolf e vários outros homens. Não precisava olhar para trás para saber que seus olhos me seguiam, que já estava pensando em como me pegaria.

Mais tarde, naquela noite, enquanto me despia para dormir, ouvi vozes. Gargalhavam, batiam os punhos nas costas, em companheirismo. Esses nórdicos lutavam um ao lado do outro. Estavam relembrando algumas batalhas e seus vários atos de coragem. Era o tipo de conversa que Eirik amava, mas ele logo viria até mim, eu sabia.

Deitada nua sobre as peles, minha pele atormentada por sua suavidade, acariciei entre minhas pernas. Mergulhando na gruta molhada, pensei no vigor que surgia nas batalhas de Eirik, na dureza do corpo e na sua força de guerreiro.

Armas famintas de sangue enchiam a câmara: sua lança com cabeça de ferro, uma besta leve, flechas com penas tão longas quanto meu braço, o capacete de couro e aço que se adaptava bem à cabeça de Eirik, e sua túnica de cota de malha. Sua espada, forjada em aço e ferro retorcido, martelada em uma aresta inabalável, estava incólume. Mesmo sob a luz fraca, brilhava como se tivesse sua própria vitalidade, lembrando os muitos membros que havia cortado e as libações carmesim que havia reivindicado. Coração dos mortos ele a chamou, por seu poder sobre a vida e a morte.

Quando Eirik puxou a cortina, sorriu ao me ver pronta, meus dedos começando o que eu queria que ele continuasse.

— Eu não a quero em silêncio. — Ele soltou o cinto onde pendia sua adaga.

— Meu Lorde — eu respondi, provocando-o com uma visão do que estava dentro de mim.

Segurando minha cintura, ele me puxou para a beira da cama. — Cheia de doçura — murmurou, abaixando a cabeça para me provar, esfregando a língua na minha fenda.

Estremeci quando se aprofundou, gemendo com suas carícias crescentes.

— Quero que a ouçam. — Ele pressionou a ponta macia da língua onde eu mais desejava, me chupando entre os dentes, deixando sua barba esfregar contra a pele macia da minha coxa.

Gritei quando me puxou com mais firmeza em sua boca, devorando minha suavidade, me penetrando com todo o comprimento de sua língua.

— Mais alto, meu amor — ordenou — Ou eu os convido para entrar, para ouvi-la adequadamente.

Eu me contorci debaixo dele, no limite do meu êxtase. Não era a primeira vez que outras pessoas estavam próximas durante o ato sexual. Havia pouca privacidade, apesar do revestimento em madeira da nossa pequena divisória, e eu não tinha vergonha dos barulhos que fazia. Até me excitava pensar neles escutando, ouvindo a satisfação em nossa cama.

Soltando as calças de lã, Eirik rapidamente direcionou seu pau e soltei um gemido de desejo quando peguei a cabeça brilhante.

— Sim, minha querida. — Meu corpo recebeu todo o comprimento de seu desejo, entregue com força em minha carne submissa. Ofeguei com a força de seus impulsos, levantando meus quadris para encontrá-lo até que minha voz deu seu final. Eirik gemeu alto e gozou, mantendo-se dentro de mim, fundo, me enchendo com sua semente.

Houve um grito de alegria e riso na sala ao lado, para o que Eirik sorriu, desmoronando ao meu lado.

— Não os traria aqui, não é? — Perguntei, embora a ideia não me horrorizasse como deveria.

— Não, eu não faria. — A mão de Eirik encontrou meu seio, apertando o mamilo. — Pois eles não gostariam de somente olhar. Qualquer homem assistindo como se contorce embaixo de mim gostaria de uma parte disso, e não desejo lutar no meu próprio quarto. É minha mulher, Elswyth. Ninguém mais a terá.

Sua resposta me agradou e fizemos amor novamente — desta vez lentamente, balançando languidamente até o fim, e com os beijos de Eirik gentis em meus lábios.

Cochilamos e estava totalmente escuro quando acordei. Tudo estava quieto, mas algo tinha me incomodado, e a Eirik também.

— Ouviu isso? — Perguntei. — Alguém chorando?

Coloquei minha túnica sobre a cabeça e olhei através do grande espaço do corredor, onde as brasas ainda brilhavam. Havia um choro do outro lado, onde Asta dormia.

Enquanto eu corria, vi Guðrún espreitando da alcova em que preparávamos comida, com Sylvi atrás dela.

Outra cortina se abriu e Gunnolf apareceu, de peito nu. Faline estava ao lado dele, os dedos enrolados em seu braço.

Ele inclinou a cabeça para mim, em reconhecimento, suponho, por ter me levantado para atender sua esposa. Meu aceno de volta foi breve antes de desviar o olhar.

O pavio da lâmpada ainda estava aceso na cabeceira da cama, embora quase completamente queimado, sua iluminação me mostrou a palidez de seu rosto quando ela se sentou na cama, seus olhos selvagens e escuros. Eu a abracei firme, pois ela tremia.

— O ouviu? — Ela se agarrou a mim, sua bochecha pegajosa contra a minha.

Eu pensei que ela se referia a Gunnolf e seu mal comportamento. Era um assunto que não era mencionado na presença de Asta.

— Não, minha Lady. Não ouvi nada. A casa está quieta. — Eu a balancei gentilmente no meu ombro.

— Não consegui encontrá-lo, não importa onde eu olhasse.

— Apenas um pesadelo — a acalmei, incentivando-a a se deitar.

— Para onde vão? Os bebês que morrem? — Ela lambeu os lábios e vi que estavam rachados.

— Seu filho está bem, minha Lady, crescendo seguro dentro da senhora. — Afastei uma mecha de cabelo da sua testa. — Não há nada a temer.

Ela embalou a curva de sua barriga, virando o rosto para o meu, seus olhos implorando por segurança.

— Não pude assistir quando o colocaram no fogo. — Os dedos dela tremeram, nervosos — A fumaça os leva para o próximo mundo, é o que dizem, mas não sei se acredito.

— Todos nós temos pensamentos sombrios, minha Lady, mas ninguém irá prejudicar seu bebê. Vou me certificar disso. — Segurando a mão dela na minha, eu sussurrei baixinho, dizendo o que podia para acalmá-la — Sempre estará segura quando eu estiver perto. Teve um pesadelo. É draumskrok, não mais que bobagem de sonho.

Em seu medo, parecia mais uma criança do que uma mulher adulta e me lembrei que ela tinha pouco mais que a minha idade.

— Vou misturar uma poção para fazê-la dormir novamente, profundamente, para que os sonhos não venham.

Tentei me levantar, mas ela não soltou minha mão. — Gunnolf prometeu não queimar meu corpo, vai me enterrar onde colocamos as cinzas.

— Cinzas?

— Do meu primeiro. — Asta se levantou do travesseiro, me puxando para mais perto, esmagando meus dedos nos dela — Ele está sozinho, sob a geada, na floresta.

Em todos os meses que cuidei dela, ela nunca havia mencionado outro nascimento. Que dor deve ser, amarrar ossos e carne dentro do próprio corpo, sentir a batida do coração de outro, só para ver que a criação não trouxe nada. Não era de admirar que sua mente se desviasse para esta criança perdida, apesar de que carregasse um novo bebê. Talvez a gravidez tivesse feito sua mente divagar, mas não faria bem nenhum em pensar no que se foi.

— Não podemos escolher nossa hora da morte — afirmou Asta, com a voz fraca, mas resolvida — Somente os Nornar podem fazer isso.

Lembrei-me de Helka me contando essa lenda: que as três mulheres do destino esculpiam cada vida em uma peça de madeira no momento em que entramos no mundo. Nada poderia mudar o que aconteceu. Era isso que inspirava a bravura dos nórdicos, disse Helka, não há perdas quando o destino de um homem está escrito.

— É como A Música de Skirnir. — Asta suspirou. — O meu destino está traçado até ao último meio-dia, e toda a minha vida está determinada.

— Não pense nisso, minha Lady. Pense no novo bebê chegando, junto com a primavera. Quão feliz ficará então.

A tensão pareceu deixar seu corpo e ela soltou meus dedos, recostando-se mais uma vez.

— Acho que nunca vou vê-lo.

Ela falou baixinho, mas eu ouvi cada palavra, e um sentimento perturbador tomou conta de mim, sentada ali, envolta em sombras. Olhando para o rosto dela tão pálido, vi o crânio sob sua pele e estremeci.

 

 

Capítulo 12


O

inverno continuou, na quietude adormecida na neve. À medida que os dias mais sombrios se aproximavam e o festival de Jul ficava mais próximo, alguns se aventuraram com a lua cheia para colher visco. As mesmas foices que colheram milho e cevada dos campos derrubavam a folhagem verde, rica em frutas brancas, pendendo em grandes cachos das árvores.

Amarrei os cachos com força, passando-os para Helka, que subiu nos ombros de Eirik para pendurá-los nas vigas. Mantendo-se firme contra a grande viga de madeira acima de sua cabeça, seus dedos trabalhavam agilmente para prender o fio enquanto dizia: — O deus da luz, Baldur, foi morto por uma flecha de visco e foi enviado para residir no submundo frio e enevoado, na noite eterna. A deusa Hel o manteve, embora fosse um consorte relutante.

— E ele ficou lá para todo o sempre? — Nunca me cansava de ouvir essas histórias, embora nem sempre fizessem sentido para mim.

— Nada dura para sempre. Dizem que voltará quando Ragnarok terminar e o ciclo da vida recomeçar. Da morte, ele renascerá. Até lá, deve suportar, como nós, as garras do inverno, na Terra congelada.

— Na primeira noite de julho, quando a luz do dia é mais curta, mantemos vigília até o amanhecer — disse Eirik. — Não importa a rapidez com que Sól conduz sua carruagem, fugindo de Fenrir, o devorador lobo das trevas, está fadada a ser engolida por suas mandíbulas vorazes. Devemos esperar e assistir, para mostrar nossa necessidade de que se levante novamente.

Houve uma vez, há muito tempo, em que me escondi em uma árvore para escapar de um lobo. Lembrei-me da saliva em suas presas e do olhar firme de seus olhos pálidos. Lobos eram criaturas bonitas, mas imprevisíveis e sempre famintas. Não eram confiáveis.

Helka se abaixou enquanto lhe passava mais visco.

— É a noite da caça selvagem de Odin — continuou Eirik. — Quando ele conduz as almas imortais de nossos ancestrais, carregando através do céu sobre Sleipnir, seu garanhão de oito patas

O pensamento me encheu de admiração. — Já viu isso, Eirik?

— Nenhum homem sábio jamais viu. — Eirik deu alguns passos para que sua irmã pudesse alcançar uma parte mais distante da viga. — Seria muito perigoso conhecer os cavaleiros de Ásgardr. A fronteira entre os mundos dos vivos e dos mortos nem sempre é rígida, especialmente quando nos dias de inverno a Terra se assemelha à escuridão e ao frio do submundo impiedoso de Hel.

— Deixamos comida e bebida como um presente, na neve — acrescentou Helka — Para que passem sem perigo.

Fui criada como cristã e sabia que meu próprio povo se prepararia para honrar o dia do nascimento do Salvador. No entanto, tínhamos histórias mais antigas, não muito diferentes dessas, das trevas do inverno e da luz que viria novamente. Decorávamos nossas casas com grinaldas verde e visco durante os meses de geada para nos lembrar da primavera que estava esperando. Tínhamos também nossos próprios rituais para deter os olhos de espíritos maliciosos que vagavam mais livremente quando a Terra se tornava um lugar selvagem e inóspito para o homem.

As histórias de Helka falavam com meu sangue, e eu sentia a verdade delas.

Com o pé, ela cutucou o ombro de Eirik para devolvê-la ao chão. Ele me deu uma piscadela, em seguida, fez uma oscilação proposital, fingindo deixar cair sua irmã, e foi recompensado por ela com um tapa na orelha.

— Não tenha medo, Elswyth. — Recuperando o chão sob seus pés, Helka olhou para cima para admirar sua obra. — As legiões de mortos inquietos não têm razão para discutir contigo.

— De fato, não — respondi, mas pensei em meu marido, a quem nunca lamentei, nunca amei e em minha avó, deixados para trás do outro lado do mar. Ela passou para o próximo mundo? Eu não tinha como saber.


O

s homens cavaram na neve para permitir a subida da colina, e a casa logo ficou cheia de gargalhadas e esportes barulhentos. Havia alguns que não tinha visto antes e alguns rostos que conhecia bem. Torhilde estava ausente, mas Ylva veio com a mãe, embora se mantivesse no canto da sala e usasse seu capuz perto. A mancha em sua bochecha não era visível na penumbra, mas eu sabia que ela estaria consciente daquela marca.

Eirik me trouxe um vestido novo para usar, o tecido fiado em um tom de azul violeta, com o corpete bordado com amores-perfeitos. — Hoje, solte seu cabelo dourado, como Asta. — Ele deu um beijo em meu pescoço.

Sua própria túnica era do mesmo tecido, bordada com feixes de cevada na bainha.

Gunnolf vestiu a pele e a cabeça de uma cabra, sacrificando quatro dos animais robustos e um porco para o banquete de três dias que começaria. Várias mulheres ajudaram Guðrún e Sylvi a preparar os alimentos. Entendi, então, por que nossa despensa estava tão cheia.

Minha boca ficou cheia de água ao ver os abundantes potes de ensopado e a carne assada ricamente perfumada. Eirik cortou uma fatia do ombro do porco e me deu, quente e suculenta.

Um imenso tronco de carvalho ardia sob o espeto, com ramos de azevinho e galhos de abeto jogados sobre ele.

— Arrume as cinzas pela manhã e salve os pedaços maiores — disse-me Asta — Vamos pendurá-los para trazer boa sorte para o próximo ano.

Antes de fechar as grandes portas, rolaram uma roda gigante, esculpida em madeira mantida seca no celeiro. Gunnolf pôs fogo, e Olaf e Eirik o empurraram para descer a colina. Era um símbolo ardente do sol, cortando a escuridão, sua jornada terminando em algum lugar no prado.

Não demorou muito para que os jogos de bebida começassem, os homens competindo contra as mulheres, enquanto o jarl e sua Lady julgavam, decidindo quais rimas e insultos eram mais cheios de humor. Não foi surpresa que Helka brilhasse tecendo trocadilhos e enigmas, levando facilmente a melhor sobre os homens que a desafiaram. Eirik logo levantou as mãos e se rendeu diante de sua irmã, erguendo-a sobre seus ombros, como ele fez quando penduravam o visco, desfilando-a pelo salão como a vencedora em sua batalha.

Foi bom vê-la rindo, e Astrid também. Naquela atmosfera de folia, as mulheres me prenderam em seus braços, unidas em compartilhar sua dramatização às custas de seus homens. Meu coração inchou com um novo sentimento de aceitação e, mais do que nunca, fiquei feliz por ter feito minha jornada para me juntar a Eirik, para começar esta nova vida.

Um cabo de guerra se seguiu, esposas lutando contra os maridos, com as crianças assistindo de olhos arregalados enquanto suas mães plantavam os pés e puxavam com toda a força. As mulheres de Svolvaen tinham braços fortes, e a disputa foi bem equilibrada, embora terminasse com as saias voando, quando foram levadas ao chão pela força superior de seus homens.

— Venham agora, mães, irmãs e filhas — declarou Asta. — Na misericórdia graciosa, encham novamente as taças e abracem esses homens amados. Regozije-se que a força deles no esporte também seja a força que nos protege em tempos de guerra.

Eirik foi o destinatário de mais beijos do que parecia ser necessário, mas eu estava contente em deixá-lo se deleitar com eles, pois era uma noite de festa e eu não gostaria de ser grosseira. A noite já estava bem adiantada quando os foliões começaram a dormir nos bancos que se estendiam de cada lado do grande salão, caindo pelo hidromel que consumiram.

O amanhecer foi tênue e cinza, mas sorri ao vê-lo. Se a terrível caçada de Odin tivesse passado por cima do nosso telhado, não teria ouvido nada. Durante o segundo dia de festa, sentamos novamente ao redor do fogo e ouvimos histórias de trolls devoradores de homens, gigantes e deuses, com suas esperanças e truques, ciúmes e enganos. Eu ri de como Odin se vestiu de noiva para recuperar seu poderoso martelo e estremeci ao ouvir Helka contar a história completa da estadia do doce Baldur no mundo oculto dos mortos. Havia muita bebida e comida, as mulheres compartilhando suas fofocas enquanto preparavam a mesa.

Mais tarde, Gunnolf encorajou os homens aos jogos de azar e lançou um desafio. — Sua mão, irmão — proclamou, apoiando o cotovelo sobre a mesa — e testaremos suas proezas. — Ele arrastava as palavras pelo excesso de cerveja.

Eirik não estava melhor, e o resultado foi em parte cômico, pois cada um prometeu provar a superioridade de seus braços. No entanto, havia um toque áspero no esporte do jarl. Com as mangas empurradas para os cotovelos, desnudando os braços amarrados, ficou claro que o concurso era sério, pelo menos por parte de Gunnolf. Seus dentes cerraram em uma determinação sombria enquanto empurravam para frente e para trás. Trazendo o punho de Eirik para a madeira, Gunnolf deu um grito de triunfo e havia uma selvageria em seus olhos.

Enquanto seus homens aplaudiam sua conquista, achei que lhes faltava o fervor daqueles que Eirik tinha recebido durante o torneio de luta livre da colheita.

Asta beijou a testa do marido e pediu licença, alegando sua condição.

— Irmão, é melhor do que eu. — admitiu Eirik, elegante como sempre.

— Venha, Faline — Gunnolf chamou. Ele indicou o jarro que ela carregava. — Nossos chifres requerem atenção, e tem os meios para nos satisfazer.

Sua gracinha sexual inspirou risos, mas não tive prazer com sua lascívia, preocupando-me com o fato de Asta ter ouvido o comentário de seu marido enquanto saia.

Sabia que Faline gostava de atenção e parecia bem interessada em reivindicar o lugar de Asta ao lado do jarl, mesmo que fosse para brincar de prostituta e não de esposa. No entanto, era para mim que Gunnolf olhava quando deu um tapa em seu traseiro e secou a taça, puxando-a para ele enquanto a enchia mais uma vez. Meu rosto deve ter mostrado minha aversão, mas ele não se incomodou, me observando com olhos preguiçosos.

Com o consumo de mais cerveja, uma rodada de piadas obscenas começou e me senti inclinada a me despedir, mas Eirik pediu que eu ficasse e sentasse em seu joelho. Fiz isso, embora logo me arrependesse. Ele estava bêbado, mais do que o habitual, e tornou-se luxurioso diante de seus homens, puxando-me com força sobre seu colo e me tocando debaixo das minhas saias.

Agia quase como nos dias de nosso primeiro encontro, da maneira humilhante de um mestre comandando sua escrava. — Venha, mulher, não vai se negar. Gosta de mim o suficiente em nossa cama.

— E também nos campos — disse um dos homens, provocando as gargalhadas de seus vizinhos.

Eirik afastou o linho fino do meu corpete, pegando meu seio na mão, para que todos vissem.

— Não, Eirik — reclamei, tentando me libertar. No entanto, mesmo em sua embriagues, ele era muito forte, me agarrando com mais força enquanto eu lutava, pegando meu mamilo em sua boca e rindo da minha irritação.

Vendo os sorrisos de zombaria daqueles a meu redor, minha raiva irrompeu. Eu bati na cara de Eirik para escapar, puxando minhas roupas para me cobrir.

— Estou na cama e pode se juntar a mim, se desejar. Se preferir dormir em um banco com sua cerveja, fique onde está.

Helka sentou-se de lado, nunca interferindo nos gracejos dos homens, mas ela ficou ao meu lado, acrescentando sua voz para repreender sua falta de cuidado.

Gunnolf uivou de alegria, dando um tapa nas costas de Eirik, com um brilho perverso nos olhos. — É o melhor que pode fazer, irmãozinho, já que essas mulheres são suas mestras. — Ele balançou o dedo mindinho. — Talvez já tenha perdido o seu pênis e é melhor vestir um avental.

Com isso, Eirik ficou de pé e, três passos depois, agarrou o machado. Helka chegou para detê-lo, mas ele a afastou, os olhos brilhando de repente. Ao diminuir a masculinidade de Eirik, o insulto de Gunnolf foi o mais feroz que qualquer homem poderia sofrer.

— O que disse? — Eirik rugiu. — Eu sou homem o suficiente para qualquer mulher, e ninguém é meu mestre.

Gunnolf levantou-se.

— Ninguém, exceto eu — ele rosnou. — Lembre-se bem de que sou mestre de todos os de Svolvaen e sua lealdade é comigo.

O salão ficou em silêncio quando as palavras foram lançadas.

— E a menos que vá cortar madeira, é melhor deixar de lado o machado. — A voz de Gunnolf estava cheia com seu próprio aço.

Eirik abaixou o braço. Eu nunca o vi assim, parecendo não saber para onde olhar nem o que dizer. Ajoelhou-se, inclinando a cabeça.

— Perdoe-me, meu jarl. Na minha pressa, não vi a piada. A cerveja descontrolou meu temperamento, mas minha lealdade é sua, como sempre.

Gunnolf se abaixou e pegou o machado de Eirik.

— Cuidado, irmão. — Ele examinou os rostos de seus homens, como se estivesse falando não apenas para Eirik, mas a todos eles. — Não permita que esse temperamento seja sua ruína.

Ele passou o polegar pela ponta afiada da arma.

— Fazer isso será encontrar a lâmina em seu próprio pescoço.

 

 

Capítulo 13


N

os dias que se seguiram, Gunnolf não fez mais menção à explosão precipitada de seu irmão. Eirik retomou sua graciosidade habitual diante de seu jarl, mas a alegria foi azedada pelo conflito entre eles. Talvez alguns tivessem medo de provocar a ira de Gunnolf, e de serem humilhados como Eirik; outros, eu acreditava, não gostaram de ver Eirik irritado e eram empáticos com sua ira.

Minha raiva pelo tratamento grosseiro de Eirik comigo logo diminuiu, porque sabia que tinha sido a cerveja que mexeu com seus velhos hábitos. Ele tomou o cuidado de não repetir a indulgência e não me deu nada para reclamar. Eu não esqueci, no entanto.

No final de julho, o apetite de Asta estava fraco e ela ainda parecia perturbada.

— Deve comer, minha Lady — eu insistia, colocando os pedaços mais delicados em seu prato. Ela me agradecia, mas consumia pouco.

Enquanto isso, Faline parecia contente, muitas vezes sorrindo como se conhecesse algum segredo agradável, abraçando-o bem guardado.

Svolvaen também tinha seus segredos.

Quando o novo ano começou, o ferreiro chegou à nossa porta, tropeçando no frio. — Devo me reportar ao jarl.

— Fale — ordenou Gunnolf, de seu lugar junto ao fogo. — E pegue um hidromel quente para se aquecer.

O ferreiro, Anders era seu nome, aceitou de bom grado e bebeu. — Tenho duas mortes a relatar. — Ele limpou a espuma da boca. — O filho mais novo de meu irmão e a mãe idosa de sua esposa. Eles sofreram uma doença nas últimas semanas e se mantiveram acamados. Morreram no meio da noite.

— Lamento ouvir isso. — Gunnolf bebeu de seu próprio chifre. — E que doença foi essa?

Ander mudou de pé para pé. — Eu não sei o que é, meu jarl, mas causou uma erupção feia na pele.

Meu coração deu um pulo.

Os olhos de Gunnolf se estreitaram e ele olhou para mim. — É bom que o clima os mantenha dentro de casa e longe dos outros, para que não se espalhe.

O ferreiro assentiu. — Ninguém na família parece afetado, mas os vigiarei.

Ele se curvou para se despedir, mas Gunnolf disse para ele ficar. — Os corpos?

— Nós os enterramos na neve, meu jarl, para formar a pira quando o tempo melhorar.

— Melhor não esperar. — Gunnolf acariciou sua barba. — Hoje, se puder. Pegue madeira do estoque para a pira.

— Vou ajudar. — Eirik levantou-se para vestir a capa. — Nós podemos fazer isso, Anders, com a ajuda do seu filho mais velho. Vamos aliviar o seu irmão desse fardo, alimentando o fogo alto, para levá-los adiante rapidamente.

A neve girou pela sala quando eles partiram, em uma rajada que quase extinguiu as chamas de nossa lareira. Levantei-me para varrer, colocando galhos frescos de pinheiro nas brasas, o mais fácil para aumentar as chamas.

Eu sabia o que havia matado a criança e a avó. Deixado sem tratamento, o veneno havia infeccionado.


G

unnolf, Helka e Eirik estavam conversando à tarde no fogo, como costumavam fazer. Asta foi para seus aposentos logo depois do nattmal, apesar de mal ter tocado no arenque defumado e na coalhada.

Passei a escova lentamente por seu cabelo, até aquela seda branca brilhar.

— Deite-se ao meu lado, Elswyth — ela ordenou. — Não quero ficar sozinha.

Apagando a lamparina, aninhei-me em suas costas e dormi até ser despertada com frio nos ossos. Eu estava deitada sobre as peles, em vez de debaixo delas, e a noite estava cruelmente gelada.

Vozes baixas murmuravam no grande salão, pontuadas às vezes pelo surgimento de alguma mais forte.

Pegando a capa de Asta, me arrastei para a frente para olhar através das sombras para as três costas curvadas ao redor do brilho do fogo.

— Com o primeiro degelo, devemos agir. — Foi Gunnolf quem falou. — Desejo vingar-me de Skálavík.

— E o pacto de Hallgerd com o velho jarl deles? — Eirik perguntou. — Mantiveram sua palavra. Quase trinta anos se passaram com a paz entre nós.

— O tempo não enfraquece uma briga de sangue — Gunnolf rosnou. — Nosso tio Hallgerd não tinha estômago para levar batalhas à porta deles, mas precisamos vingar nossa mãe.

A selvageria no tom de Gunnolf me arrepiou. Eu nunca o ouvi falar com tanta violência e me perguntei o que havia acontecido para gerar aquele nível de sentimento. Eirik me disse que sua mãe morreu quando ele tinha apenas três anos de idade, mas eu não sabia as circunstâncias.

— Podemos juntar nosso sangue ao de Skálavík. — Ouvi Eirik dizer. — Acabaria com a disputa. Jarl Eldberg pode aceitar Helka como noiva.

— Casar com Eldberg! — ela protestou. — Prefiro deitar com o porco no chiqueiro.

— Não — Gunnolf retrucou. — Hallgerd está morto há dois anos e esperei muito tempo para derrubar o pacto. Eu sou Jarl, agora, e terei minha vingança. Vou deixar os cachorros se deliciarem com aqueles que Eldberg ama e depois esmagá-lo sob o meu pé. — Gunnolf riu, mas não havia alegria. — Além do mais, os passarinhos que pago para me contar sobre nossos inimigos notaram que Eldberg tem uma nova esposa em sua cama. Então, essa aliança não é mais possível, irmão.

Imaginei o alívio de Helka com a notícia, enquanto observava seus ombros relaxarem.

Gunnolf tomou outro gole de cerveja. — Ele pagará pelas ações de seu pai, como todos os de Skálavík.

O silêncio ficou pesado antes que Eirik assentisse. — Aye irmão. Eu entendo seu desejo. —Ele deu um longo gole de sua taça — No entanto, não desejo nos levar à uma derrota certa. Os guerreiros de Jarl Eldberg superam os nossos em quatro vezes.

— O clã de Asta prometeu sua ajuda — Helka acrescentou.

— Eles prometeram — admitiu Eirik — mas o acordo foi feito por nosso tio, com um olho no dote dela. Não confio em seus homens para lutar pelos portões de Valhalla. Eles prosperam apenas porque vivem em uma ilha de defesa fácil.

— Estou à sua frente, irmão, com uma aliança forte o suficiente para trazer vitória à nossa causa. Antes que a neve chegasse, enviei uma petição a Jarl Ósvífur de Bjorgyn, oferecendo a mão de Helka a seu filho, Leif. Viajarão assim que o caminho estiver livre.

A voz de Helka estava afiada. — E o que tenho a dizer não importa.

Gunnolf rosnou em desagrado e pensei, não pela primeira vez, na ousadia de Helka.

Ela não faria nada contra sua vontade, mas Eirik tentou influenciá-la. — Deixe de lado seu luto por Vigrid. Seu estado de solteira é um insulto a Freya e a todos os deuses, que criaram mulheres para o prazer que elas trazem para os homens e para gerar filhos.

Eu me encolhi ao ouvi-lo dizer isso. Se o fato de ter filhos era dever de uma mulher, eu também não falhara?

Eu não conseguia ver o rosto dela, mas imaginei seus olhos brilhando. — Eu nunca vou me casar novamente, a menos que possa fazer minha própria escolha.

— Basta! — A voz de Gunnolf se tornou uma maldição. Ele agarrou o braço dela. — Aceitará o homem que eu escolher.

— A decisão é sensata, Helka — Eirik insistiu. — Leif Ósvífursson é conhecido como um guerreiro e se tornará jarl no devido tempo. Será um bom marido.

Helka respondeu com frieza. — Posso direcioná-lo para o mesmo caminho, irmão. Ouvi dizer que a jovem Freydís Ósvífursdóttir precisa de um marido. Por que não uma aliança forjada por seu casamento? Ela recentemente alcançou sua feminilidade, acredito, e de maneira agradável. Deveria ter uma esposa honrada. Passou muitos anos lançando sua semente em campos aleatórios. Se não se casar por amor, faça-o pelo nosso povo.

Eu sufoquei um impulso de dar um passo à frente, com raiva de Helka. Meu sangue se transformou em gelo com o pensamento de Eirik colocando essa Freyd na cama que compartilhamos, tocando seus cabelos, sua pele. Prendi a respiração, esperando ouvir como ele responderia.

Parecia prestes a falar, mas as palavras não saiam de seus lábios.

Helka sacudiu a cabeça em frustração. — Vejo que devo decidir por nós, irmão. Sua bravura só existe para a violência, e não para assuntos do coração. — Ela espetou o fogo, mas não havia mais chamas. As brasas haviam perdido o calor. — Não prometo aceitar, mas assim que o tempo permitir, viajaremos para Bjorgyn. De uma forma ou de outra, retornaremos com uma aliança.

Gunnolf levantou o jarro e serviu a bebida. — Um brinde aos novos aliados, querida irmã, querido irmão — ele brindou. — Podem conhecê-los, como deseja. Se não fizer isso, sugiro que não retorne.

 

 

Capítulo 14


H

elka vestiu a capa e partiu. Gunnolf também se levantou, dando alguns passos em direção ao quarto que dividia com Asta antes de mudar de ideia. Virando-se, se retirou para o local onde Faline dormia.

Sem dúvida, ela ouvira tudo o que havia passado, assim como eu. Que alegre estaria. Eirik não havia oferecido uma palavra para protestar por seu amor. Helka também me traiu. Ela corretamente me alertou contra acreditar que Eirik estava pronto para se casar, mas eu não esperava que ela insistisse em seu casamento com outra. Pensei que estivesse do meu lado, desejasse minha felicidade tanto quanto eu desejava a dela.

Poderia prever como seria. Uma vez em Bjorgyn, Helka convenceria Eirik a selar uma aliança de casamento, para que ela mesma fosse poupada do contrato. Se Helka o convencesse de seu repúdio ao noivo, o senso de dever de Eirik forçaria sua escolha.

Ele não saiu de perto do fogo, continuou a encarar as brasas. Eu o observei sem vontade de se mover ou falar. O que poderia dizer que valesse a pena?

Fizemos uma barganha e Eirik manteve sua parte. Não me faltava nada. Ele poderia ter me tomado contra a minha vontade, me tornando sua escrava. Em vez disso, tinha sido minha escolha aceitar a condição que encontrei sob seu teto, a de não ser sua esposa, mas sua consorte. Fiz minha escolha de bom grado, de deixar minha terra natal e viajar para Svolvaen. Estava ansiosa para entender minha herança, de um pai que nunca conheci, o viking que estuprou minha mãe e me concebeu. Eu tinha adotado esse caminho, ansiosa para aprender tudo o que moldava minha natureza, mas não estava pronta para entender que o homem que eu amava pensasse tão pouco em mim.

Se tivesse nascido na cama de casamento de meu pai, teria sido valiosa o suficiente para ter minha mão pedida por Eirik? Havia pouca chance disso agora, quando ele tinha o prazer do meu corpo e nenhuma obrigação além da minha guarda.

Assim, encontrei apenas outro lugar em que fui mais tolerada do que aceita. Se Eirik se cansasse de mim, minha posição estaria perdida. Eu me enfureci com a injustiça disso.

Nada de bom viria de meu descontentamento, mas não pude deixar de lado o verdadeiro desejo do meu coração.

Fui até onde ele estava sentado. Quando olhou para cima, vi uma angústia que não esperava, embora não pudesse dizer se estava simplesmente sofrendo por eu ter ouvido ou angustiado com a insistência de Gunnolf em um casamento aliado.

Levando-o ao nosso quarto, tirei a sua roupa e a minha, até que nossa pele nua se tocasse e meus seios roçassem o cabelo de seu peito. Ele guiou minha mão para onde queria, mas eu não estava pronta para me perder em fazer amor. Em vez disso, eu o deitei e enrolei meu corpo no dele.

— Caso se case, o que será de mim?

— Ficará comigo. — A voz de Eirik era firme. — É minha.

— Não vai me mandar embora? Não vai me casar com outro homem?

— Nunca.

Eu lutei para conter minhas lágrimas. — Mas como pode ser? Não posso assistir como outra mulher toma o que eu desejo - se casando, quando não tenho esperança. E quanto a ela, essa Freydís? Como pode esperar nos manter sob o mesmo teto?

— Se eu a tomar como minha esposa, ela fará o que eu pedir.

— Mas não quer isso, Eirik? — Eu nunca implorei, mas não consegui mais me segurar — Quer que eu tenha seus filhos? Quer que eu esteja ao seu lado, sempre?

— Sim, meu amor, sim. — Sua boca macia encontrou a minha e seus dedos acariciaram meu cabelo. Senti a carícia em todo o meu corpo, senti-me me abrindo para ele, buscando a segurança de seu amor físico, desejando acreditar que fazer amor com ele conquistaria tudo o que eu queria.

Homem e mulher se juntaram, satisfazendo nossa necessidade. Eu me rendi como sempre. Havia um prazer insondável em seu toque, me separando até que o mundo estivesse caindo e eu, perdida.

— Vai se casar com ela. — Eu sussurrei.

— Quando chegar a hora de eu agir, saberei o que devo fazer. Também saberá, Elswyth.

— E por que devemos obedecer ao seu irmão? Não podemos ir embora? Existem outras terras, certamente. Um lugar para onde possamos ir.

— Não sabe o que está dizendo. — Sua resposta foi resoluta. — Precisamos fazer o melhor para Svolvaen. Você e eu.

Ele colocou os dedos nos meus lábios, pedindo para que eu ouvisse.

— Quando minha mãe nos disse para nos escondermos, Gunnolf me carregou — Eirik começou. — Fomos para a floresta, agachados entre as árvores. Eu não queria ouvir ou ver, mas Gunnolf me fez olhar, e Helka também. Nós nos escondemos até não haver mais chamas. Meu tio, Jarl Hallgerd, derrotou os invasores de Skálavík, mas meu pai caiu lutando. Sua voz ficou presa na garganta. — Eles levaram várias de nossas mulheres, minha mãe entre elas. Svolvaen esvaziou seus estoques e cofres para sua libertação, e o pacto foi assinado.

Ele não disse nada por alguns momentos e eu me doía por ele. Eu causei dor, fazendo-o lembrar.

— Quando ela voltou para nós, estava mudada. Luto pelo meu pai, pensei, talvez outra coisa que eu era jovem demais para entender. Alguns meses depois, a encontraram no fiorde. — Sua respiração o deixou em um longo suspiro — Meu tio e tia não tiveram filhos, por isso nos tornamos deles e, na morte de Hallgerd, Gunnolf recebeu o manto do jarl.

Beijei os dedos de Eirik e os movi sobre o meu coração. — O serve porque é o que seu tio desejou.

— E o que meu pai teria passado a ele por seu direito. É meu dever servir Svolvaen e meu jarl, mesmo quando não concordo com a estratégia dele.

— Não importa que ele queira levar Svolvaen à guerra contra um inimigo que talvez não consiga derrotar?

Eirik me puxou para mais perto. — Se é meu destino lutar, eu irei.

— E se o seu destino for morrer, Eirik? — Lágrimas me tomaram. Havia tanta coisa que eu poderia dizer, mas sabia que nenhum argumento mudaria como Eirik se sentia, nem o resultado. Sua bravura conquistou meu coração. E seu poder físico. Como eu poderia mudar qualquer parte do que eu amava?

Seu senso de dever era tão real quanto os padrões de tinta em seu corpo. Aquelas marcas definiam quem ele era e de onde veio. Também era minha história, no entanto, metade de mim não pertencia a este lugar e eu não era sua esposa. Não era melhor que a escrava dele, embora disposta a isso.

Minha voz tremia. — Eu não posso te perder.

— Não chore. — Ele afastou meu cabelo de meu rosto. — Voltarei e teremos muitas noites, minha Elswyth.

Ele me beijou, murmurando suas promessas, mas as palavras eram vazias, pois que substância tinham? Devia aceitar o que me foi concedido, não tendo poder para exigir mais, mas temi o fim da minha felicidade.

 

 

Capítulo 15


S

emanas se passaram e o degelo chegou, e não havia mais motivo para demoras. Na noite anterior à partida deles, sentamos em volta do fogo, como havíamos feito muitas noites antes. As chamas saltavam e as sombras com elas. Fomos subjugados em nossa conversa, cada um consumido pelos próprios pensamentos.

Eirik me deu um amuleto para usar, gravado com o martelo do poder. — Como Mjolnir, a arma mágica de Thor, voltarei. — Ele prendeu a tira de couro no meu pescoço. — Gunnolf a protegerá. — Eu sorri fracamente com isso, não tendo dúvidas de que os olhos do jarl estariam sobre mim.

Fiquei brava com Helka por um longo tempo, incapaz de deixar de lado minha crença de que seria Eirik quem retornaria com uma noiva, e não ela com um noivo. Mas ela era minha amiga, então me afastei dela com um beijo.

Na manhã seguinte, os vi ir embora. Enrolei minha capa sobre mim para evitar o frio da manhã, depois fui varrer os restos do fogo. Nada restava além de cinzas enegrecidas.


H

ouve outras mortes nos meses mais frios, cada uma acompanhada pelas mesmas bolhas desfigurantes, mas ninguém falou abertamente do surto estranho, que afetava a alguns. Os velhos e fracos pareciam sofrer mais, e também os muito jovens. Astrid me disse que havia rumores de magia negra, de uma maldição sobre Svolvaen, embora esses sussurros ocorressem atrás de portas fechadas. O confinamento do inverno provavelmente reduziu a propagação da doença, mas a primavera estava nos nossos calcanhares, com todas as mãos necessárias nos campos. Não havia mais como esconder.

— Mostre a eles sua cura — exigiu Gunnolf, oferecendo para que eu visitasse todas as casas. — Pegue o que precisar; faça o que deve ser feito.

Dei minha palavra e esperava com todo o meu coração encontrar uma cura. Com isso certamente viria o respeito que eu procurava. Ainda poderia ganhar meu lugar entre essas pessoas.

Com a autoridade do jarl às minhas costas, as portas de Svolvaen se abriram para mim e levei meus remédios para todos que precisavam. Evitei que as feridas infeccionassem e aliviei o ardor de feridas abertas. Alguns me olhavam com desconfiança e relutavam em aceitar meu toque, outros ficaram gratos pelos meus cuidados. Dediquei meu tempo a todos, quer me desejassem lá ou não, pois a praga não era mais um assunto particular. Que força Svolvaen teria se metade do seu povo fosse perdido com a doença?

Eu me recusava a perder a esperança. As flores estavam florescendo de novo nos prados e nas folhas das plantas, desenroladas em novo crescimento. A resposta, eu tinha certeza, estava bem próxima.

Apesar dessa sombra pairando sobre Svolvaen, a vida continuava. Os campos precisavam ser arados, prontos para suas sementes, e Gunnolf ordenou que as defesas de nosso povoado fossem fortalecidas. Os homens foram encarregados de cortar galhos para afiar, e uma segunda fila de lanças viradas para fora foi adicionada ao nosso perímetro.

Um dia, por volta dessa época, percebi que não tinha mais o cogumelo seco que colhi há tanto tempo, em minha própria floresta, além do mar. Guardava em uma bolsa de couro, me convencendo de que nunca precisaria usá-lo. Parecia que uma era tinha passado desde que eu estivera tentada a colocar seu veneno em uso, na primeira noite em que os invasores viking festejaram em nosso salão, bebendo a cerveja do meu marido morto.

Tinha sido um capricho tolo trazê-lo comigo e mantê-lo escondido no meu bolso. Com o sol brilhante voltando, parecia melhor que tivesse caído e sumido em algum lugar, sem que eu tivesse notado. Imaginei que a bolsa estivesse em algum lugar da floresta, há muito coberta por folhas e musgo.

Enquanto isso, eu pensava muitas vezes em Eirik e Helka, atravessando as colinas, para as terras além. Cada dia que passava levava Eirik mais longe, mas as necessidades daqueles a meu redor exigiam minha força e eram uma distração para a decepção que tomava meu coração.

Gunnolf e Asta precisavam das minhas habilidades, pois éramos uma casa de sonhos perturbadores. Minha Lady acordou muitas vezes com um grito triste, embora ela sacudisse a cabeça quando eu pedia que ela falasse sobre seus medos. Qualquer que fosse a escuridão que enchesse seus pensamentos, não queria mais me contar. Estava preocupada em dar a ela muito da minha bebida do sono, e que isso prejudicasse o crescimento de seu bebê. Enquanto isso, Gunnolf não tinha moderação, bebendo o que eu lhe dava para afastar seus próprios demônios.

Minhas próprias noites eram preenchidas com os rostos que via durante o dia. Naquelas horas de sono, eu vagava pela floresta, procurando a planta que nos traria a cura. O lobo do passado ainda rondava as sombras em meu mundo de sonhos, seu olhar sobre mim, embora não se aproximasse. Uma noite, Asta caminhou comigo no meu devaneio pela floresta, não ao meu lado, mas seguindo atrás, seus passos de acordo com os meus. Quando me virei, ela não deu o sorriso habitual. Com o rosto pálido, ela olhou com expressão de dor, apertando a barriga redonda, os olhos suplicando, embora eu não pudesse discernir o que ela desejava de mim.

Acordei com o coração disparado e corri para o seu quarto, temendo que ela sofresse mais alguma doença.

O jarl tinha acordado cedo, ao que parecia, porque ela estava sozinha. Embora pálida, de fato, ainda trazia sua própria personalidade doce, recusando-se a reclamar com qualquer desconforto provocado pelo bebê em crescimento. Ajudei-a em suas necessidades matinais e depois a deixei descansar.

— Está perto de sua hora, minha Lady. — Soltei a pele de cabra da pequena janela, colocada onde o telhado encontrava a pedra baixa do muro para deixar entrar a luz do sol e perfumar o ar com um aroma agradável.

Ela assentiu, recostando-se nos travesseiros.

— Trarei mingau com mel extra, pois precisa de sua força.

— Como é atenciosa, minha Elswyth. — Ela sorriu agradecendo. — Eu não sei onde Faline foi... — Ela deixou o pensamento escapar e não aceitei.

— É bom ouvir os pássaros e sentir o calor da nova estação. — Asta apoiou a mão na barriga e fechou os olhos novamente. Me perguntei se não havia um bebê, mas dois dentro, estava tão redonda. Isso me preocupou, pois ela era pequena e esses nascimentos raramente eram fáceis.

— Um momento oportuno para uma nova vida entrar no mundo — eu disse, afastando esse pensamento.

— Hora de fazer o hörgr com sacrifícios para Freya — respondeu ela. — Fiz os últimos com minhas próprias mãos, em Ostara, depositando-os na pedra sagrada da floresta.

— Minha Lady?

— O sacrifício da morte, para o renascimento — ela murmurou. — Um tempo para abandonar velhas ilusões e hábitos, reconhecer as mudanças no mundo diante de nós.

— E para dar boas-vindas à primavera? — Perguntei.

— Claro. — Ela bocejou e eu vi que logo estaria dormindo novamente.

— Vou trazer seu dagmal — eu disse. — Lembre-se de que deve comer, minha Lady.


A

ssisti com interesse enquanto Svolvaen se preparava para o festival. Ao contrário de Jul, senti que seria um assunto sombrio. Ninguém estava disposto a me dizer o que queria saber, como se isso devesse ser experimentado e não explicado.

Fazia minha ronda diária, trazendo mais da minha pomada para Astrid. Torhilde finalmente voltou para casa, afinal, seu marido viu que precisava dela. Ele se resignou às marcas na pele, sendo que chegou a desenvolver feridas em seu próprio corpo. As dela responderam bem, como o de Ylva. Não estava totalmente curada, mas não havia a bolha feia do começo.

Olhei para Ylva, que brincava com o bebê na cama. A criança estava crescendo bem, evidentemente de forte constituição. Não tinha uma única marca. A praga permanecia arbitrária na escolha de suas vítimas.

— Gunnolf disse que apenas aqueles que estão bem devem comparecer ao festival — Astrid me disse.

— Se importa? — Perguntei a Ylva, mas ela corou e se virou, deixando sua mãe responder.

— Estou aliviada, na verdade — Astrid sussurrou. — Ostara é uma noite de mistério, quando os deuses se aproximam e sussurram em nossos ouvidos. — Olhando para Ylva, ela me puxou para a porta e depois me levou para fora. — Seus rituais nos levam de volta à terra de onde viemos, à parte animal de nós mesmos. Não é para crianças ou para meninas que nunca se deitaram antes com um homem. Não há regras na noite de Ostara. Sem maridos e sem esposas, apenas homens e mulheres.

Adivinhei o significado disso e fiquei surpresa. Eirik não me disse nada sobre Ostara, não me deu nenhum aviso. Pensei no festival de julho e nos muitos beijos que ele recebeu. Recusei-me a ceder ao ciúme, mas tinham um significado diferente agora. Não pude deixar de me perguntar se havia alguma mulher em Svolvaen que não tivessem desfrutado das atenções de meu amante guerreiro.

— A escolha é sua, é claro — acrescentou Astrid. — Os homens não a tocarão, a menos que os convide, mas tome cuidado quando fizer isso, pois a luxúria dos deuses está neles e sentirá isso em seu próprio sangue também.

— E irá, Astrid?

Ela deu um pequeno sorriso. — Eu irei, com certeza. Ostara traz energia ao solo e ao nosso próprio corpo também. Meu marido não vai voltar e minha cama está vazia. Quem sabe o que Ostara me trará...


— F

ique parada, meu amor. — Gunnolf colocou a ponta da adaga na orelha. — Não pode comparecer, mas eu queimarei seu cabelo no altar sagrado, e Freya aceitará nossa oferta. — Ele deslizou a lâmina cuidadosamente através de seus cabelos sedosos, colocando os fios cortados em sua bolsa.

— Claro, marido. — Asta aceitou o beijo em sua testa.

— E ficarei, minha Lady — afirmei. — Está muito perto de sua hora para ficar sozinha.

Enquanto eu me ajoelhava, a mão de Gunnolf descansou em meu ombro. Aquele peso me impediu de levantar e sua voz me alertou contra discussões.

— Eu acho que não. — O jarl pressionou mais firmemente enquanto ele falava. — A cerimônia nos desperta para o pulsar de tudo o que vive. Isso nos revigora com a energia vital de Freya e de todos os deuses. Como pode curar os outros se não permite que essa energia desperte em si mesma?

Eu mantive meus olhos na bainha do vestido de Asta.

— Faline deve ficar e cuidar de suas necessidades, esposa. — O polegar de Gunnolf se estendeu sob meus cabelos e encontrou a pele nua na parte de trás do meu pescoço. — Sob meus olhos, Elswyth virá a entender melhor nossos costumes.

 

 

Capítulo 16


Q

uando o sol se pôs, Gunnolf nos levou para a floresta, com as rédeas de um cavalo soltas na mão. Eu andei atrás dele, observando o balanço da cauda do animal. Era um caminho que Helka nunca me mostrara, a luz brilhava através do dossel de copas, manchas de calor alternando com a sombra até as árvores ficarem mais escassas. Entrando na clareira, onde o calor total do sol da primavera nos alcançava, senti a impaciência daqueles que estavam a meu redor, olhos indo de um para o outro, acesos com excitação muda.

Com galhos cortados, afiados e levados ao solo, montamos nossas estruturas improvisadas, cobrindo-as com peles, sobre as agulhas de pinheiro secas e compridas. Meu olhar foi atraído para o hörgr. A enorme pedra do altar emitia energia, achatada em sua borda superior, banhada pela brilhante luz do céu sem nuvens.

Os homens acenderam uma fogueira, usando detritos do chão da floresta e rodeando com pedras, para conter as chamas. Trouxemos comida para o banquete, mas ninguém a tocou.

— Para depois. — Astrid me deu uma piscadela astuta. — É aí que vai sentir fome.

Ela soltou os cadarços das botas para deixar os pés descalços. — Tire a sua e fique perto — ela sugeriu, passando-me uma tigela de madeira. — Nenhum dano acontecerá se estiver comigo.

— Ajoelhem-se, mulheres de Svolvaen. — O jarl fez com que nos aproximássemos do hörgr, enquanto os homens ficavam atrás.

O aroma da fumaça era doce, como se tivesse queimando alecrim e urze, mas com um fundo amargo. Isso me levou a respirar fundo, atraindo a fumaça sedutora para dentro de meu corpo, deixando minha cabeça e o corpo leves. À medida que o tempo passava, as árvores pareciam ficar mais altas e a luz do sol mais brilhante.

— Entreguem-se a Freya, neste dia de Ostara — continuou o jarl. — Celebrem em suas bênçãos, para que seus corpos possam amadurecer sob a vontade dela.

De sua bolsa, ele tirou os longos fios do cabelo de Asta, jogando-os nas chamas, onde desapareceram, como se nunca tivessem estado. —Este símbolo de feminilidade eu queimo, pedindo a Freya que aceite nosso blót.

A seu aceno de cabeça, os homens conduziram o cavalo adiante. — Este animal eu sacrifico, para que Freya traga prosperidade para nossas colheitas, nossos animais e nosso povo.

O animal parecia sentir o que estava por vir, os olhos revirando de medo, deslizando para longe do altar, obrigando os homens a um aperto mais firme na corda. Quando Gunnolf levantou o machado de lâminas duplas, eu me encolhi, desejando não testemunhar o golpe fatal, virando a cabeça.

— Deve ver — sussurrou Astrid, apertando meu braço com surpreendente firmeza, seus olhos arregalados e brilhantes. — Atraia a força da nossa deusa Freya.

Eu me obriguei a olhar. Outro homem deu um passo à frente, atordoando o garanhão logo abaixo da testa com um único golpe de seu bastão. Antes que o animal tivesse tempo de cair, Gunnolf balançou a lâmina para se conectar com o pescoço. O jorro carmesim parecia estar quase no ar, naquele momento entre a vida e a morte. Cambaleante, o cavalo soltou um suspiro e desmoronou, o sangue espumando até sua boca.

O arco lento do segundo golpe do jarl cortou o ar espesso, encontrando o pescoço mais uma vez e cortando a cabeça completamente. Eu balancei, batendo contra Astrid, que me segurou pela para me apoiar.

— Vida por vida, oferecemos esse sangue para nutrir o solo — declarou o jarl.

Faça o que eu faço. — Astrid deu um passo à frente, abaixando a tigela até o sangue emaranhado, pegando o líquido escarlate. Quando fiz o mesmo, o sangue acumulado no chão manchou meus pés, pegajoso entre os dedos.

Enquanto nós, mulheres, nos reuníamos atrás do altar, os homens de Svolvaen estavam do outro lado. Nunca os vi tão imóveis no corpo, tão concentrados, seguindo tudo o que fazíamos, como se estivessem em transe.

— Essas mulheres se dedicam a ti, nesta época de Ostara, grande Freya. — Gunnolf levantou os braços para o céu. — Como servas voluntárias, preencha-as com o desejo que impulsiona todas as criaturas de nosso mundo e, a seu gosto, as torne frutíferas.

Ele veio até nós, mergulhando o polegar no líquido viscoso que carregávamos, lambuzando cada testa. Chegando a mim, ele colocou as mãos sobre a minha e segurou meus olhos em seu olhar firme, de olhos pálidos. Eu tremi quando ele abaixou o polegar no vermelho escuro, como naquele dia de falcoaria, quando ele me marcou com o sangue da lebre.

Baixei os olhos com a lembrança, esperando seu polegar pegar meu lábio, sua mão levantar meu queixo, para que ele pudesse me ver melhor. Esperei a pressão de sua boca na minha.

Quando ele seguiu em frente, fiquei com a sensação perturbadora de ter esperado mais de seu toque.

A última de nós era Bodil, e seus olhos não se abaixaram. Gunnolf levou a tigela aos lábios e bebeu, deixando uma mancha sobre eles, um corte vermelho em sua bochecha. Ele colocou as mãos em ambos os lados da cabeça e a levou a um beijo profundo e longo. Eu quase podia provar o sangue em seus lábios, como se ele estivesse acariciando minha boca, e não a dela.

Interrompendo o contato, ele a levou até o pé do altar, onde Bodil abriu o avental, deixando-o cair. Depois de tirar a túnica, ela ficou nua, cabelos ruivos soltos sobre um ombro, a pele pálida e sardenta. Ela era esbelta na cintura e no quadril, mas seus seios estavam grandes e inchados com o leite com o qual ainda alimentava o bebê.

Gunnolf a ajudou a subir, deitar-se na grande pedra. Ao seu aceno, as mulheres se aproximaram, conhecendo seu papel, familiarizadas com o ritual. A primeira levantou a tigela, deixando o sangue pingar no estômago de Bodil, depois inclinando-se ainda mais, correndo riachos escarlates. A segunda tigela espirrou em seus seios, escorrendo pela garganta, enquanto a terceira caiu em cascata pelo abdômen, ensanguentando o púbis. Bodil ofegou e arqueou a espinha como se estivesse em êxtase de desejo, ansiando por mais.

Minha boca ficou seca, observando sua liberdade devassa. Ela virou a cabeça quando eu esvaziei minha própria tigela no estômago, seus olhos cheios de mais segredos do que a floresta no crepúsculo, zombando de mim com sua feminilidade, sua fertilidade comprovada, com sua sedução do homem que eu costumava chamar de meu.

O que eu tinha? Uma barriga vazia e uma cama vazia. Eirik foi embora. Quando voltasse, seria para trazer sua nova noiva para casa.

Meu devaneio foi interrompido pela voz de Gunnolf, grossa, lenta e profunda de luxúria. — Amadureça nossa semente, Freya, no solo do útero desta mulher e dentro de todas as nossas mulheres.

Seu rosto estava transformado, os olhos semicerrados, enquanto a palma da mão acariciava sua ereção.

Bodil segurou o peito e deslizou a mão pelo vermelho escorregadio, deixando um caminho pelo torso. Seus dedos ensanguentados alcançaram dentro de sua bainha de seda, abrindo seus lábios.

Um momento depois, Gunnolf agarrou seus joelhos levantados, puxando-a para a beira da pedra para encontrar sua penetração. Demorou apenas uma dúzia de golpes antes que ele gemesse sua libertação. Separando-se dela, seu comprimento estava molhado, a parte de baixo de seu tronco marcado com o sangue do corpo de Bodil.

Ela se esticou na pedra quando o próximo homem entrou no lugar do jarl, alongando seu corpo ensanguentado, alcançando os braços acima da cabeça. Ela o teve de bom grado, deitada imóvel enquanto ele alinhava seu pênis e empurrava dentro dela. Seus golpes foram mais medidos, mais profundos, trazendo uma respiração rápida.

Eu não conseguia desviar o olhar, imaginando a pedra fria em minhas costas e o pau desse estranho entrando em meu sexo. Minha boca ficou seca com o pensamento de tomar o lugar de Bodil, de me render ao mesmo abandono carnal.

— Vão, mulheres — anunciou o jarl. — Encontrem os homens de sua escolha. Tome seu prazer e que sua união seja frutífera.

Ninguém hesitou, deixando de lado as tigelas, movendo-se rapidamente para reivindicar seus parceiros preferidos. Eu as observei se afastando, discretamente decididas, levando seus homens pelas árvores ou para os abrigos que erigimos.

— Venha — insistiu Astrid, puxando minha mão e examinando os homens ainda a serem tomados, ansiosos para fazer sua escolha. — Eu sei quem eu desejo. Quem escolherá, Elswyth?

Olhei novamente para Bodil, acenando para um terceiro amante se aproximar, abrindo a boca para levá-lo até lá enquanto o outro continuava seus movimentos lentos entre as pernas dela.

Lutei contra aquela sensação descendo sobre meu corpo. Tropeçando até a beira da clareira, ouvi Astrid chamar meu nome, mas, quando olhei para trás, meus olhos não encontraram os dela, mas os do jarl.

Sua boca se curvou em um sorriso preguiçoso, revelando as manchas de sangue entre os dentes.

 

 

Capítulo 17


C

orri através da sombra e da luz, sentindo nada além da minha necessidade de escapar, de fugir do que não queria reconhecer em mim mesma, temendo tudo o que vi.

Emergindo da floresta para os penhascos abertos, engoli o ar fresco, soluçando de alívio por ter deixado para trás o estranho encantamento que ameaçava me dominar. Encostei meu rosto no solo fresco, eu dormi.


E

le visitou o meu sonho, e nós éramos dois lobos, saltando através das sombras. Um vento noturno surgiu entre as árvores e voltou a se soprar. Uma tempestade estava chegando, escurecendo mais o céu. O véu negro de nuvens se movia rapidamente, rasgando com as garras da lua crescente.

Quando acordei, ele estava lá, sob o céu escuro. A fera nele tinha me despertado e eu ainda podia sentir o sabor do trovão na minha língua. Algo em mim estava se mexendo, esperando para crescer.

— Chega de correr. — Ele tocou os dedos acima da gola de meu vestido, inclinando-se para mais perto. Captei a estranha fumaça que se agarrava a ele e o leve aroma de sexo. Sua respiração estava no meu pescoço e eu esperei o calor de seus lábios.

Ele não era o homem que eu amava, mas não era amor que eu procurava nele. Desejei a aspereza de um beijo dado a serviço do ciúme, raiva e luxúria. Um beijo que me declararia ser uma mulher dona de si, escrava de ninguém.

Apesar do meu amor, Eirik havia me abandonado, além de já ter possuído tantas mulheres. Ele me deixou para cuidar de mim mesma e assim eu o faria, sem consideração por ele.

Os corvos estavam circulando, soando seu alarme, e antes que um relâmpago cortasse o céu, eu inclinei a cabeça para trás em sinal de rendição. Havia triunfo nos olhos de Gunnolf, pois ele estava prestes a tomar o que seu irmão pensava possuir. Ele colocou as mãos sobre minha garganta, levantando meu queixo com os polegares, me puxando para cima para encontrar sua boca, sua língua. Eu estava caindo e não havia como voltar atrás.

Suas mãos afastaram meu corpete, descobrindo o inchaço dos meus seios no ar fresco, antes de cobri-los com as palmas das mãos quentes, apertando meus mamilos. Interrompendo nosso beijo, ele caiu para tomar um deles entre os dentes, me devorando com sua chupada e sua língua provocante, até minha boceta apertar.

— Minha agora — ele rosnou, me deitando na grama e levantando minhas saias. Enrolei minhas pernas em torno dele, querendo-o dentro de mim, me fazendo esquecer que eu já amei Eirik.

Ele me fez choramingar, mergulhando no meu sexo molhado com os dedos antes de meter a coluna grossa de seu pau. O céu nos amaldiçoou com seu trovão quando retribui a aspereza de sua luxúria, mordendo seu lábio, rasgando sua pele com o arrastar das minhas unhas, beliscando a parte inferior de suas nádegas para incentivá-lo a usar mais força. Ele era selvagem e meticuloso, me tomando tão violentamente que eu gritei de dor, mas eu só tinha um pensamento: ele não podia parar.

Ele esmagou meus lábios nos dele quando gozou, pulsando grosso, suas mãos apertando meu corpo até a profundidade de seu impulso final.

Presa sob o peso dele, eu me apertava contra cada espasmo, e as primeiras gotas de chuva começaram a cair.

 

 

Capítulo 18


A

fumaça do fogo sacrificial havia afetado meu julgamento. Eu não tinha entendido no que Ostara implicaria. Se Eirik tivesse pensado nisso, o que ele teria esperado? Ele não previu que o jarl pegaria o que queria e eu não teria poder para negá-lo? Com essas mentiras, tentei me defender.

Eu me mostrei infiel. Talvez as esposas da vila que me olhavam desconfiadas estivessem certas o tempo todo. Não merecia o respeito deles, pois tinha bem pouco por mim. Vagando de sala em sala, não conseguia descansar. Encontrei tarefas do lado de fora e permaneci no celeiro. Desejei que Gunnolf me seguisse, desejei que ele me queimasse novamente com seu desejo, que me fizesse esquecer de mim mesma. No entanto, quando ele teve motivos para passar por mim, eu me afastei.

Mal conseguia olhar Asta nos olhos, embora ela me tratasse como sempre. Tudo o que ela sabia ou imaginou, não deixou transparecer. Seu coração parecia muito mais leve que o meu, sem o fardo amargo de reprovação, embora seu corpo se tornasse cada vez mais fraco.

O bebê, agora grande e ansioso para vir ao mundo, parecia estar levando sua força vital para se alimentar. Quando suas dores começaram, preparei o quarto, trazendo água e roupa de cama, preparando a faca. Eu sabia o que deveria ser feito, tendo mais de uma vez ajudado minha avó a trazer uma nova vida ao mundo.

E, no entanto, nenhum bebê veio. Em vez disso, Asta apertava o estômago e a bílis miserável, a transpiração gritante em sua testa. — Pode ouvir, Elswyth? — sua mão agarrou meu pulso com uma força que ela não poderia ter. — Isso não me deixa descansar.

Molhei uma flanela para esfriar sua cabeça. — Não há ninguém aqui para machucá-la — a acalmei, levando água aos seus lábios, mas meu conforto não era suficiente. Ela tremia e sacudia, arranhando tanto a pele que tive que prender as mãos em um pano, protegendo as unhas com as palmas das mãos.

Por fim, ficou quieta, mas seus olhos estavam artificialmente brilhantes, me seguindo pelo quarto, até que a tintura de espinheiro preto que lhe dei a fez dormir. Ela acordou ofegante, suada, se debatendo em sua cama, destruída no corpo e na mente

Gunnolf assistia de longe, temendo chegar perto, mas não querendo deixá-la por completo. O rosto dele ficou vazio, observando-a escapar. Ele não podia olhar para mim, nem eu para ele.

Meus sonhos foram repletos de Asta, andando sempre atrás de mim, através das sombras escuras da floresta, seus passos cada vez mais lentos, dificultados por sua barriga. Seus olhos estavam cheios não apenas de dor, mas de reprovação, como se soubesse que eu a ofendi e não pudesse perdoar.

Ao acordar, corri para seu lado, pronta para implorar perdão por minha ofensa, disposta a fazer o que ela ordenasse para corrigi-la. Exceto, é claro, que não poderia haver tal remédio. Não há como voltar atrás.

No quarto dia, Guðrún me sacudiu à primeira luz, pois Sylvi não podia se mover e sua pele apresentava uma erupção cutânea.

— Banhe-a em água fria e garanta que ela tome. — Instruí.

Quando a vila acordou, vimos que outras pessoas foram visitadas pela mesma sombra, como se ela tivesse voado pelos telhados à noite.

Svolvaen não suportara o suficiente? Eu já vi isso antes, ou algo parecido. A varíola havia tocado nossa vila em um verão da minha infância. Lembrei-me da minha avó fazendo casca de bétula, milefólio, flor de sabugueiro e rainha-dos-prados para aliviar a febre. Borragem também, que crescia entre espinhos, urtigas e troncos caídos, mais altos que a minha cintura, com folhas ásperas e enrugadas.

Faline observava enquanto eu colocava a mistura em bolsas, garrafas e jarros de viagem, mas não fez nenhum esforço para ajudar. Na maioria das vezes, ela e eu mal conversávamos, mas a memória compartilhada de nossa antiga casa me pressionava fortemente. Eu sabia que ela era parente e lamentava que não estivéssemos mais próximas.

— Se lembra de como a varíola chegou a nós, anos atrás? — perguntei. — Minha avó nos tratou.

— Eu me lembro. — Faline pegou um dos jarros, abaixando o nariz com o aroma de seu conteúdo. — Sua tia tomou o lugar da minha mãe naquela época. Ela me disse que, se eu coçasse, as cicatrizes me desfigurariam e eu nunca encontraria um marido. — Ela colocou o remédio de volta na mesa. — Fiz tudo o que me disseram, mas nunca houve marido, havia...

Ela e eu, ambas, fomos enganadas, de várias maneiras. Eu me achava acima dela ultimamente, condenando suas escolhas. Eu não provei ser melhor. Era pior, sendo hipócrita. Faline, pelo menos, não fingia.

— Me ajuda a carregar isso? — Perguntei — Lady Asta também precisa do meu serviço, e será mais rápido juntas.

Ela me olhou por um momento e depois levou a mão à bochecha. —Estou me sentindo um pouco fraca... e quente. Talvez eu deva voltar a dormir... — ela voltou depois de alguns passos. — Se tiver algum juízo, fará o mesmo. Deixe que eles cuidem dos seus.


D

eitei no chão, ouvindo Asta respirando a noite toda. Enquanto a ouvia, sabia que ela vivia.

Ela não engolia nem peixe nem carne, apenas mingau e mel, enfiados entre os lábios com minha colher, embora mesmo isso seu estômago não mantivesse. Contei a ela histórias da minha infância, das árvores que subia e da alegria de pular na água fria no calor do verão.

Acordando antes do amanhecer, ela sussurrou. — Cuide do meu bebê. — Acendi a lâmpada e sua chama tremeu fina. Suas bochechas estavam ruborizadas, embora seu rosto estivesse mais pálido do que nunca. — Você e Eirik.

Ela esqueceu o motivo de sua partida? Esqueceu que haveria um casamento, mas que não seria eu quem ficaria ao lado do noivo?

— Linda em seu vestido de noiva... — ela murmurou, em seu devaneio de um futuro que não poderia acontecer.

— E estará lá para ver isso. — Segui junto com o “faz de conta”, prometendo a ela tudo o que queria, trazendo sua caixa de joias quando pediu.

— Para vestir no dia em que se tornar sua noiva. — Ela se atrapalhou entre as bugigangas até que seus dedos puxaram dois broches, esculpidos em ossos e rodeados em prata. Um deles carregava um urso e um lobo, agarrando-se um ao outro na batalha, cercado por serpentes em círculo, o outro, um pássaro alto, com as asas e a cauda pendentes.

Ela os colocou no meu colo antes de descansar contra seus travesseiros, deixando-me cantar enquanto ela fechava os olhos.

O pavio queimava baixo, depois abaixava, até que a chama se apagou e eu fiquei no escuro, a mão de Asta gelada na minha.

Em algum lugar debaixo de suas costelas, o bebê não nascido apertou os punhos contra sua gaiola cheia de sangue, em golpes agitados de braço e pé. Sua batalha terminou antes de começar.

 

 

Capítulo 19


A

penas um outro ficou triste como eu, embora ele nunca tenha me mostrado suas lágrimas. Nunca duvidei que Gunnolf a amasse, embora talvez apenas da maneira que os homens fazem quando acreditam que uma mulher é nobre demais para eles, com ressentimento e adoração em igual medida. Ele acreditou que a bondade dela elevaria sua própria natureza? Era como eu me sentia, todos os dias, na presença dela. Em vez disso, nós dois a enganamos.

Asta nunca me tratou como uma estranha. Ela era irmã e mãe, mais do que Helka, cujas aventuras a levaram além da minha esfera. E como eu paguei essa gentileza? Eu caí tão facilmente na tentação, impulsionada tanto pela raiva, quanto pela luxúria.

Agora, ela estava perdida para mim em todos os sentidos, levada a algum domínio além dos vivos, onde certamente conheceria meus pecados. Minha auto aversão cresceu, pois não apenas traí sua confiança, como também não consegui salvá-la do tormento, arrastada lenta e dolorosamente até o fim mais amargo.

Os sintomas dela eram estranhos. Não exatamente os da varíola, embora tenha mostrado muitos dos sinais. Em vez disso, seu corpo se voltou contra si mesmo sem causa aparente.

Lavei-a e vesti-a para a cerimônia final, para o enterro que ela desejava. Um de seus broches, prendi ao seu roupão do branco mais puro. Me deu muito, e eu queria colocar algo que eu estimava em seu lugar de descanso. O outro prendi no meu ombro. Eu esperava que ela encontrasse paz, abraçando seus filhos na morte — seu filho e o bebê que não nascera dentro de seu corpo.

Gunnolf a carregou nos braços até a borda da floresta, para o buraco que ele cavou ao lado das cinzas do filho. Ela pesava pouco, e ele era forte.

Foi uma cerimônia silenciosa, pois muitos na vila foram afetados pela varíola, mantendo-se em suas casas doentes, ou cuidando de outras pessoas. Gunnolf não disse nada enquanto colocava as joias mais ricas da esposa sobre o seu peito. Ele se agachou para sussurrar seu adeus, apenas no ouvido dela, depois pegou a pá, o rosto duro de tristeza, lançando a terra sobre o corpo. Estremeci ao vê-la cair, sentindo seu peso como se fosse eu quem estivesse deitada no chão frio, soterrada lentamente pela terra.

Mais tarde, os homens construíram um monte sobre a sepultura, um local de descanso adequado para o jarl se juntar a sua dama e seus bebês, quando chegasse a hora, Guðrún me disse.

Nos dias seguintes, eu assistia os doentes, misturando pomadas e tinturas. Houve muitas morte. A doença levou vários bebês mais jovens, fracos demais para chorar de fome.

Gunnolf não se aproximou, exceto para pedir poções mais fortes para dormir. Havia perigo em aumentar a potência da raiz da valeriana. Isso faria mais mal do que bem, eu avisei. Dores de cabeça e tonturas o atormentariam, por mais forte que fosse seu coração. Sua mente, angustiada, se rebelaria, perdendo a razão.

Ele deixou minhas recomendações de lado, sombras sob seus olhos me mostrando sua necessidade. Dei o que ele pediu, entendendo aquele desejo de encontrar o esquecimento, cada despertar trazendo a miséria da lembrança. Eu também queria fugir, não me reconhecer mais. Meu remorso estrangulado era mais do que eu podia suportar.

Sonhava com folhas podres e o gotejamento de água através da terra e da rocha, o solo frio na minha boca e com coisas rastejantes. Eu olhava para a escuridão, e ela deslizava para dentro de mim.

 

 

Capítulo 20


S

abia que falavam sobre mim, apesar de tudo o que fazia por eles. Não bastava tratar as feridas e cuidar da varíola. Ouvi os sussurros quando passei por suas casas, vi o estreitamento de seus olhos e cabeças virando para longe de mim.

Lady Asta estava sob meus cuidados e morreu. Eu era a culpada.

Visitando Astrid, parecia que nossa amizade havia esfriado. Nenhuma de nós falou da noite de Ostara. Não sabia o que dizer, envergonhada dos meus medos e da minha aparente rejeição ao ritual honrado. Deixando-a, vi Bodil sentada do lado de fora de sua própria porta, um pedaço de pano no colo, os dedos puxando a agulha. Ela levantou o queixo e encontrou meus olhos, seus lábios finos, sem sorrir.

De repente, desejei estar longe, ser apenas eu mesma, sem responder a ninguém. Meus pés me levaram através dos campos de novas cevadas, que ondulavam na brisa da tarde. As árvores já estavam arrastando longas sombras, as andorinhas mergulhando e girando contra um céu coberto de nuvens violetas.

Por mais que eu andasse, não havia como escapar dos meus pensamentos, de tudo o que havia acontecido e do que poderia estar por vir. Eu toquei o amuleto na minha garganta. Eirik prometeu voltar, venerou meu corpo enquanto fazia suas promessas de proteção e amor. Essas promessas tinham algum valor?

Com Asta fora e Eirik logo voltando com sua noiva, que lugar havia para mim? Eu estava destinada a executar as tarefas mais humildes, como Sylvi e Guðrún, sem esperança de um lar, marido, filhos? E então me lembrei de como eu fui com Gunnolf, voluntariamente, conscientemente, e fiquei cheia de vergonha. Que tipo de mulher eu era? Se sofresse agora, não era mais do que o meu merecimento.

Com o crepúsculo caindo, voltei para a colina. Sylvi ainda estava sofrendo da varíola, banida por Gunnolf para a casa vazia de Helka durante sua recuperação, deixando Guðrún com mais trabalho do que ela conseguia dar conta. Era egoísta da minha parte ficar tanto tempo fora. Eu sabia que Faline ajudaria apenas com as tarefas mais fáceis.

Voltei pelo pasto sem uso, rodeando atrás das cabanas. Antes de dobrar a esquina, ouvi-os, sentados um pouco além, não muito longe da casa comprida. Ainda havia muito para aprender da língua de Svolvaen, mas eu pude entender os homens bem o suficiente.

— ...uma casa inteira de mulheres para confortá-lo agora...

— Não é à toa que parece que ele não dorme.

Eles riram disso.

— Vou tirar a morena das mãos dele quando ele estiver enjoado...

— A loira para mim — disse outro. — Se ela é boa o suficiente para Eirik, ela será boa o suficiente para chupar meu pau velho.

Meu rosto ficou quente, mas eu não podia afirmar que estava surpresa. Conhecia os homens muito bem, sabia como falavam das mulheres.

— Ele se cansou dela rapidamente, não? Agora não vai demorar muito para voltar, e com outra moça bonita para aquecer sua cama.

— Já era hora... embora precise ser mais do que bonita para impedir que a espada dele encontre outras bainhas.

Enquanto eles riam novamente, a bile subiu na minha garganta. Nada do que ouvia era mais do que eu já sabia, que eu era apenas uma das muitas amantes que entretinham Eirik por um curto período de tempo, antes de outra chamar sua atenção. Sem dúvida, ele disse a Bodil que a amava também... e a todas as outras.

Era impossível escapar da verdade. Não importava minha raiva e minha infidelidade, eu amava Eirik.


F

iquei acordada naquela noite e pensei no homem que me agradou de muitas maneiras, voltando o seu desejo para mim. A cama estava fria sem ele, apesar das peles generosamente empilhadas.

De quem era o corpo que estava esquentando o dele enquanto eu estava sozinha? Haveria alguma companheira, alguma escrava para agradá-lo, ou mais de uma. Talvez já estivesse casado e sua nova esposa estivesse ao seu lado, provando o que fora meu nos últimos tempos. Tais pensamentos eram infrutíferos, mas retornavam uma e outra vez.

A noite não tinha sido agradável. Parecia que fazia muito tempo desde que passamos horas contando histórias e cantando, os homens brincando e as mulheres provocando. Parecia impossível que essas paredes tivessem reunido o povo de Svolvaen tão recentemente, em festa pelo Yuletide.

O humor de Gunnolf se tornou cada vez mais cortante, encontrando falhas em cada prato servido a ele. Até seus homens favoritos da vila, convocados para lhe fazer companhia, jogar dados e contar notícias, eram incapazes de levantar seu ânimo. Ele os mandava embora, com palavras duras onde não havia necessidade.

Faline deixou cair um prato de pão, e por isso Gunnolf lhe deu um tapa, jogando-a no chão. Ele a levantou pelos cabelos, dizendo que ela era uma devassa inútil, que a expulsaria e proibiria qualquer casa de acolhê-la, que a amarraria a uma árvore na floresta e deixaria que os javalis e os lobos a encontrassem.

Seus olhos brilharam em ressentimento, mas ela manteve o silêncio. Ela apostou sua fortuna em Gunnolf da mesma maneira que eu fiz com Eirik, e o que nos esperava agora? Ela não derramou uma lágrima pela morte de nossa lady, talvez, tenha pensado que a morte de Asta seria sua chance. Apesar de todas as suas artimanhas, Faline não era mais sábia do que eu, agora ambas escravas dos caprichos do jarl.

Eu cochilei, finalmente, mas fui acordada por um rangido e um suspiro, um gemido, longo e baixo. Do lado de fora, pensei, algum animal com dor, um dos nossos animais. A parede atrás de mim ficava ao lado do estábulo e havia dois bezerros para nascer. O jovem rapaz que dormia com eles pediria ajuda, se necessário. Apurei o ouvido, mas não havia voz no vento.

E, no entanto, algo estava errado.

Vestindo minha capa, entrei no salão principal. O teto se estendia acima, um abismo atingindo a escuridão em que algum pássaro ou morcego estava preso, batendo nas vigas. As brasas ainda brilhavam na fogueira, mas não lançavam chamas, nem luz que fizessem sombras na escuridão.

Fiz uma pausa para ouvir, olhando para os cantos da sala. À minha esquerda, Guðrún estava roncando. Todo o resto estava quieto, exceto por um som como respiração, difícil, mas silencioso. Eu não conseguia discernir o que ou quem poderia ser, mas vinha de fora, tinha certeza

Abri a porta, tomando cuidado para evitar que ela rangesse. A iluminação da lua parecia estranhamente brilhante depois da escuridão da casa comprida, o suficiente para me mostrar a encosta da colina e os contornos das casas mais abaixo.

Houve um grito de algum pássaro noturno, provavelmente uma coruja, que atraiu meus olhos para a borda da floresta. Ao luar, parecia mais perto, como se as árvores tivessem se arrastado para a frente enquanto dormíamos.

Mas não havia criatura, escondida e ferida, ali, nem algum animal carniceiro, cheirando restos. Nenhum som do estábulo.

Não havia nada além da brisa da noite, tremendo nas árvores distantes. Nada além de minha própria respiração e as batidas do meu coração.

 

 

Capítulo 21


F

aline encheu o copo do jarl mais uma vez e se retirou para o canto da sala. Sua bochecha apresentava uma contusão, seus olhos escureceram acima, a sobrancelha cortada. Eu dei três pontos para fechar o corte, pelo qual ela agradeceu de má vontade.

Gunnolf bebia desde aquela manhã. Sabíamos como isso piorava seu humor. Era tão provável que se tornasse violento quanto melancólico. Eu assistia do compartimento da despensa, Sylvi e Guðrún ao meu lado.

Ele juntou os dados, sussurrando para eles antes do lançamento, mas o resultado foi o mesmo de todos os lances.

— Para o reino de Hel com isso! — Ele se afastou da mesa. — Há truques de Loki aqui, alguém substituiu os dados.

— Paz, meu jarl — acalmou um dos karls. — É apenas um jogo de amigos. Podemos jogar outro, se preferir.

— Droga com essa tolice e pegue suas armas — ordenou Gunnolf, cambaleando alguns passos para agarrar seu machado de lâminas duplas de onde estava pendurado, uma arma monstruosa, mais pesada do que muitos poderiam empunhar. — Faz muito tempo desde que praticamos nossas habilidades. Que tipo de homem somos se esquecermos como lutar?

— Meu jarl, agora não é a hora — insistiu outro dos homens. Ele se levantou cautelosamente da mesa, seu olhar sobre a lâmina na mão de Gunnolf. — Estamos bebendo e não podemos julgar como deveríamos. Não gostaríamos de machucar nossos irmãos.

— Um homem deve estar sempre pronto. — Gunnolf plantou os pés e levantou o machado acima da cabeça. — Eu não sou meu tio. Não sou fraco, como Hallgerd.

— Claro que não, meu jarl — respondeu um. — É o homem mais corajoso e mais forte. Com prazer, poliremos nossas espadas amanhã e estaremos ao seu lado lá fora, mas não hoje à noite.

Gunnolf balançou onde estava e rugiu de raiva, balançando o machado em um grande arco que ameaçava encontrar suas cabeças. Tropeçando sob seu peso, ele derrubou arma, enfiando-a com um baque poderoso na velha mesa manchada.

Todos haviam se afastado, saindo do alcance do jarl, olhando loucamente um para o outro, tão horrorizados quanto nós, mulheres.

— Eu vejo em seus corações. — Gunnolf cuspiu as palavras, puxando ferozmente a arma, xingando enquanto tentava libertá-la da madeira. — Não têm estômago para a batalha. São tão escorregadios quanto enguias, dando desculpas por seu medo!

Embora estivesse claramente embriagado, a declaração foi o maior dos insultos. A honra de um homem era tudo, não deveria ser desafiada, não deveria ser ridicularizada.

Havia um resmungo de descontentamento entre os karls, mas nenhum deles levantou a voz acima dos outros, com os olhos ainda no machado, que Gunnolf havia libertado e passava de uma mão para a outra, caminhando na direção dos homens que juraram servi-lo.

— Quando chamá-los para atacar Skálavík, quem pegará sua espada e a banhará em sangue inimigo? — Gunnolf quase perdeu o equilíbrio ao erguer a poderosa arma acima da cabeça, balançando-se no meio de seus karls. — Quando colocar a cabeça de Eldberg em uma estaca, o que estarão fazendo?

Os homens se dispersaram, alguns pulando para a porta, outros se esquivando do machado do jarl, pulando sobre a mesa para escapar de seu ataque inconsequente.

Fujam, doninhas — ele gritou atrás deles. — Saiam da minha frente. Não estão aptos a se chamarem homens, muito menos de Vikings de Svolvaen!

Enquanto o último corria em busca de segurança, ele bateu a porta com o ombro e jogou o machado no chão. Encontrando sua taça, ele a secou.

— Mais cerveja! — ele gritou, mas Faline não deu um passo à frente. Escondida no canto da sala, ela se encolheu. Eu não poderia culpá-la, pois queria apenas fazer o mesmo, escapar de sua atenção. Ele não estava em estado ter de companhia, seu comportamento era vergonhoso. No entanto, alguma compulsão me fez fazer o que ele havia solicitado.

— É a única corajosa o suficiente para me enfrentar? — Os olhos de Gunnolf eram duros como o aço.

Eu não disse nada, recusando-me a inclinar a cabeça ou desviar o olhar. Ele estava acostumado a obediência cega, mas resolvi não mostrar mansidão. Ele retornou meu olhar firme, o silêncio como uma parede entre nós, a tensão pesada no espaço que dividia seu corpo do meu. Por fim, ele estendeu a taça, indicando que eu a enchesse, e desejei que minha mão permanecesse firme, prometendo a mim mesma não lhe dar a satisfação de ver meu medo.

Seu silêncio era profundo, a cerveja transbordando nas pontas, escorrendo pela barba. Limpando a boca com a manga, ele fez uma careta, jogando a taça vazia no chão.

— O que um homem deve fazer, Elswyth, quando tudo nele é covarde?

— Está cansado, meu Lorde. Durma para ter o descanso que precisa.

— Descansar! — ele jogou a cabeça para trás e deu uma risada vazia. — O sono não traz descanso. — Uma sombra cruzou seu rosto. — Melhor ficar acordado e encontrar diversão.

Ele tirou o casaco e se jogou de volta em um dos bancos largos, apoiando a cabeça no braço, os olhos ainda em mim.

— Deseja diversão, Elswyth? Ou prefere soluçar em seu travesseiro, pensando no homem que a deixou?

Ele inclinou a cabeça, esperando minha resposta, mas nada falei.

— Acha que é o verdadeiro amor de Eirik? Que ele abandonará o dever e voltará para se casarem? Ainda está ansiosa por algum sinal? — Seu sorriso era torto, sem alegria. — Não percebeu que ele não se apressou em voltar.

Eu me afastei, não desejando que ele visse as lágrimas que haviam surgido, pois ele havia atingido seu alvo, pondo em palavras o que eu estava pronta demais para acreditar. A raiva brilhou em mim, na direção de Eirik e Gunnolf, embora estivesse mais zangada comigo mesma. Fui tola em acreditar que Eirik poderia me amar da maneira que eu desejava.

O jarl acariciou sua barba enquanto falava e uma nova maldade entrou em seus olhos. — Meu irmão e eu sempre compartilhamos tudo, Elsywth. Não vamos compartilhá-la?

— Eu já provei esse vinho, meu Lorde, e o achei sem doçura. — Baixei os olhos porque, apesar de tudo, senti o puxão do meu ventre e na boceta por ele. A luxúria que me consumiu em Ostara me trouxe vergonha e auto aversão, mas eu não havia esquecido a satisfação daquele terrível abandono, por mais fugaz que fosse.

— Doçura não é o que estou oferecendo. — A boca de Gunnolf se contorceu com um olhar de desdém.

Sob seu escrutínio, as roupas descolaram do meu corpo, a pele dos meus ossos, mostrando tudo o que eu queria esconder.

— O que quer? — Minha voz tremia.

— Eu vou te mostrar.

Ele se levantou do banco e estendeu a mão, apontando para o canto da sala e estalando os dedos, chamando não a mim, mas Faline.

Ela avançou, sabendo, suponho, que recusar traria consequências piores.

— Uma criatura obediente, quando ela quer ser. — Gunnolf virou o rosto para cima, examinando os ferimentos que tinha causado.

Ele beliscou a bochecha dela bruscamente, depois a girou, empurrando-a para inclinar-se sobre a mesa, mandando que levantasse as saias.

Ele deve ter batido nela recentemente, pois os vergões ainda estavam lívidos nas nádegas dela — azuis, sem qualquer sinal de amarelo. Ele soltou o cinto e puxou o couro, soltando-o das calças. — Mas, às vezes, o prazer está no desafio. — Ele olhou para mim por cima do ombro. — E luta...

Minha boca ficou seca, observando-o, esperando que ele levantasse o couro para sua pobre pele. Não havia qualquer amor entre Faline e eu, mas não queria vê-la sofrer.

— É uma vergonha para um homem machucar uma mulher, ou tomar seu corpo quando ela não deseja.

— Acha que este não tem desejo? — Gunnolf deu um tapa nas costas de Faline e eu estremeci ao vê-la recuar. — Ela gosta de lutar, mas gosta de foder ainda mais... e ela é feita para foder. — Ele se demorou na última palavra e apertou o cinto com força entre as mãos, mas, em vez de levantar o braço para atingi-la com força, puxou as mãos desajeitadamente pelas costas, envolvendo o comprimento do cinto em volta dos pulsos.

Ele abaixou a boca até o machucado na bochecha arredondada e mordeu a carne selvagemente, evocando sua respiração aguda.

Ele chutou suas pernas para abri-las mais, entrando nela com os dedos, depois arreganhando seus grandes lábios.

— Viu isso? Feita para o meu prazer?

Não foi a primeira vez que vi a boceta de Faline inchada, esperando por um homem. Na última vez, Eirik estava se enterrando dentro dela, sobre a mesa de banquetes do salão do meu marido, aplaudido por todos os nórdicos presentes. Faline teve muitos naquela noite, mas seu prêmio era Eirik. Era ele que ela mais desejava.

Gunnolf deixou cair as calças, revelando uma ereção completa saindo do arbusto escuro da virilha, a cabeça molhada de excitação. Ele pegou na mão, acariciando a pele, um sorriso brincando nos lábios.

Eu esperava que ele metesse nela, para tomá-la brutalmente, forçando sua penetração. Em vez disso, ele passou a cabeça lisa de seu pau pela fenda de Faline. Ele a provocou com meias investidas, esfregando a parte sensível de sua boceta. Ela levantou o traseiro para incentivar a entrada dele.

— Por favor... — eu a ouvi choramingar. — Por favor, meu Lorde.

Ele se alinhou, reivindicando com um movimento suave, empurrando fundo antes de voltar a entrar novamente.

Faline gemeu em resposta, sussurrando novamente, como se para si mesma. — Por favor...

Um calor começou a me queimar. O calor não apenas da raiva, mas do desejo, minha própria boceta inundada.

— Há mais de um lugar para foder uma mulher, é claro. — A voz de Gunnolf estava fria quando ele se retirou, escorregadio com seus sucos, levantando seu pênis para pressionar contra seu ânus. Faline deu um grito estrangulado, mas Gunnolf a manteve firme contra a mesa. Ela se contorceu apenas brevemente antes que ele passasse por sua resistência inicial.

Quando as nádegas se apertaram e relaxaram, ela soltou um gemido baixo, como de uma criatura presa em uma armadilha, mas sem vontade de escapar. Ele manteve o ritmo até o fim, culminando em suas convulsões finais de prazer.

Eu não me mexi de onde estava. Esperei, com o crescente conhecimento de que, quando ele se voltasse para mim, eu me submeteria.

Derramaria toda a minha amargura, por Eirik e Gunnolf também. Faria Gunnolf rugir, como seu irmão havia feito. Nem seria mais ou menos que o outro. Gunnolf era apenas um homem; eu o usaria para satisfazer minha necessidade. Gunnolf desejava dominar uma escrava, mas eu o dominaria, pegaria e o possuiria!

Desejava um homem dentro de mim novamente, mas também ansiava por me perder no ato. Consumiríamos um ao outro, com ira e fúria, ao invés de amor.

Ele se retirou do corpo de Faline, apresentando um pênis não mais totalmente rígido, mas ainda encorajado.

— É um animal — eu disse com voz estrangulada, pegando o jarro de cerveja próximo e lançando o conteúdo para encharcar sua virilha, sabendo que isso iria disparar sua paixão ainda mais.

Em um único passo, ele estava em cima de mim, suas mãos puxando meus ombros, rosnando sua ira e rindo baixo.

— Exatamente como deseja.

Ele puxou a frente do meu vestido, rompendo os fechos, depois tirou-o por baixo, arrancando as roupas de mim enquanto eu estava de pé. Não fiz nada para desafiá-lo, minhas próprias mãos ajudando até que eu estava nua, deleitando-se com as mãos dele se movendo sobre meus seios, segurando minhas nádegas, apertando minha carne. Não me importei com o fato de Faline ver como eu me entregava a ele, nem que seus olhos ardessem de desagrado.

Apertei os grandes músculos de seus braços, me firmando contra a aspereza de sua boca, abrindo minhas pernas antes mesmo de ele me deitar sobre a mesa. Seu pau trouxe um gemido de prazer que não consegui esconder, minha boceta ansiosa por sua violência, minha pele faminta por seus dentes arranhando.

Ele me esmagou no peito enquanto ejaculava, com um grito para combinar com meu próprio gemido. As faíscas brilharam, quebraram e colidiram, deslumbrando-me com sua luz e me enviando, mais uma vez, para o fundo do abismo.

 

 

Capítulo 22


G

unnolf tornou-se brutal, áspero e faminto. Eu sabia que sua alma doía e não havia remédio para isso, sua raiva era outra versão minha. Saciamos nossa tristeza mútua e paixão selvagem. Cada machucado que ele me deu era uma marca dos meus muitos pecados, marcando a lenta morte do meu coração.

Seu temperamento continuou o mesmo, volátil e violento. Ele atacava antes de enterrar a cabeça no meu colo. Ele me falou dos primeiros dias de sua vida conjugal, e antes. Seu tio havia arranjado o casamento. Um contrato de aliança, é claro, não planejado por amor, mas por seu rico dote. No entanto, Gunnolf se maravilhava com a beleza de Asta, sua compostura, sua graça. Ela foi o prêmio dele.

Agora, ele lamentava tudo o que deveria ter dito e feito. — Ela carregou meu filho, mas não foi suficiente para mantê-la nesta vida. Ela morreu, Elswyth, porque não demonstrei meu amor? É isso que ela não pode perdoar? Sua beleza está enterrada e apodrecendo, mas está além da porta, além da cortina. Ela não descansa, nem me permite a paz.

Misturando o elixir de sono que ele exigia, eu disse apenas que deveria acalmá-lo. Mesmo assim, ele ficou inquieto, se debatendo em sonhos assombrados.

Dedos brancos como ossos, olhos ocos e perscrutadores, eu também a vi.

Cada momento de sono me levava para a floresta, pela qual eu corria, as árvores me levando em círculos, sem ter para onde escapar. Ela estava sempre lá, agora perto do meu ombro, depois mais atrás. Não era mais sua barriga que ela agarrava, mas um embrulho em seus braços, que ela empurrava em minha direção. Dentro havia o rosto cinzento de seu bebê embrulhado, sem fôlego ou vida. Sua expressão continha a dor e a censura pelas quais eu me culpava, e também uma grande tristeza por tudo o que poderia ter sido e que agora estava perdido.

Eu não conseguia evitar o medo de que nunca estivesse dormindo, mas sim olhando através da escuridão, para o rosto dela.


O

sol nascente trazia a promessa do verão e seu calor deveria ter animado meu coração, assim como o das crianças que corriam para fora, ansiosas para compensar os dias perdidos.

Fiz minha parte ajudando Svolvaen a se recuperar da varíola, aliviando coceiras furiosas na pele e febre debilitante, mas eu mal podia me alegrar. A morte de Asta e minha traição a ela continuaram sendo um tormento para mim.

Fui negligente de várias maneiras, procurando evitar o que era difícil. Recuei tanto em remorso e autopiedade que mal me reconhecia. Meu corpo permanecia saudável, apesar de tudo o que acontecia ao meu redor, mas eu não acreditava mais no meu propósito, nem em minhas habilidades. Eu não havia salvado Asta, nem havia encontrado uma cura para as feridas desfigurantes. Meus tratamentos eram apenas um alívio temporário.

Havia apenas uma pessoa a quem eu poderia recorrer, embora nossa amizade tivesse esfriado. Conversamos sim, mas brevemente, desde a noite de Ostara. Astrid me confidenciava sua angústia, eu me afastava da minha.

Ela parecia cansada, quando atendeu a porta. Apertando os lábios, ela me manteve no limiar, inclinando a cabeça, finalmente, mudando o bebê contorcido de um quadril para o outro.

— Sente-se, então. — Ela abaixou o pequeno no chão. — Sabe que é bem-vinda.

Eu merecia a aspereza em seu tom. Eu a negligenciei e à Ylva.

— Fresh saiu há uma hora. — Ela serviu um pouco de leite e me entregou um copo. — Ylva levou as cabras para o pasto, então somos apenas nós duas.

Tomei um gole do líquido cremoso, ainda quente, e sorri agradecendo.

— Esteve ocupada, eu ouvi. — Astrid pegou o banquinho à minha frente, ao lado da lareira. Ela estalou a língua. — Não é mais do que alguém esperaria, é claro, compartilhando o mesmo teto com ele, e Eirik fora por muitas semanas.

Todos de Svolvaen provavelmente sabiam, havia pouco que pudesse ser escondido. Astrid olhou para mim atentamente, esperando que eu desabafasse. Não mantivemos segredos uma do outra, no passado.

Quando eu não respondi, ela se levantou para mexer o conteúdo de sua panela, suspensa sobre o fogo.

— Eu não pretendia... — Não consegui explicar. O que quer que estivesse acontecendo entre mim e Gunnolf, não sabia como descrevê-lo.

— A outra, aquela Faline, não é suficiente para ele, então tem que te ter também? — Astrid olhou intensamente para a descoloração no meu pescoço. — E as duas sentindo o peso da mão dele.

Gunnolf gostava de me conter ou apertar minha garganta quando ele me tomava. Apenas uma vez eu apaguei sob a pressão de seus polegares, despertando com a umidade de seu esperma riscando minhas coxas e o latejar de minha boceta.

Eu soltei meu cabelo em volta dos ombros, mas as marcas eram difíceis de esconder. Havia mais nos meus pulsos.

Astrid abaixou a voz. — O jarl não é mais o que era. Sempre rigoroso, sabíamos, mas honesto. Agora, os homens estão com medo. Também estão sofrendo nas mãos dele. Ontem, o filho do ferreiro levou uma surra do jarl, e por algo que um tapa na orelha teria resolvido. Ele disse aos homens que cultivassem apenas de manhã. Deveriam derrubar madeira o resto do dia, para estender fortificações até o porto. Ameaçou com açoite, se não fizerem isso.

Eu fiz uma careta ao ouvir isso. Gunnolf não falou nada a respeito.

Trazendo a concha à boca, Astrid provou um gole do caldo. — Ele precisa de outra esposa, é claro. Embora isso não pare um homem como ele... — ela baixou a voz. — Eles estão esperando o retorno de Eirik. É ele que os homens amam, ele que deveria ser jarl.

Eu me mexi desconfortavelmente. Tinha tentado afastar os pensamentos de Eirik, do estado do meu coração e do dele, me convenci de que parei de esperar sua volta.

Astrid se inclinou para frente. — Há algo mais. — Ela hesitou, olhando rapidamente, embora não houvesse ninguém para ouvir, apenas o bebê. — Algo não está certo.

Ela abriu a boca para falar, depois desviou o olhar, ocupando-se do atiçador, alimentando as chamas embaixo da panela.

— O que é Astrid?

— Não tenho certeza se acredito. Não deveria ter dito...

Ela correu para a despensa, retornando com uma braçada de legumes. Levando-os à mesa para cortar, a faca tremia em sua mão.

— Não é mais doença?

— Não. Nada desse tipo. — Ela franziu a testa, mantendo os olhos baixos, cortando a carne esbranquiçada de um nabo. — Nenhuma doença que possa ser curada...

— O que está dizendo?

— Há sussurros, mas eu nunca ouvi isso pessoalmente... Foi errado da minha parte dizer.

Eu pulei, contornando a mesa para ficar ao lado dela, estendendo o braço. — Eu preciso saber, Astrid!

Apesar do calor do dia e do fogo aceso, um calafrio caiu sobre mim.

— Algo que afete Gunnolf? Que me afete?

— Talvez sim...

Meu coração deu um pulo.

— Ela nunca foi forte, mas ainda assim... não esperávamos. Estávamos esperando o bebê nascer. Mesmo que ela tenha perdido o primeiro, nós pensamos que tudo ficaria bem desta vez. Asta não era uma de nós, mas todos a respeitávamos, até a amávamos.

Os olhos de Astrid dispararam contra os meus, suas palavras saindo, urgentes. — Não fez isso, não é Elswyth? Nunca a machucaria...

— Não. — Minha voz arranhou minha garganta. — Eu nunca a machucaria.

Astrid balançou a cabeça. — Então não pode ser sua culpa. Ela voltou, mas não é por sua causa.

A sala ficou menor naquele instante, as paredes se aproximando. — Voltou?

Astrid deixou cair a faca. — Quando há algo errado, uma mágoa que a pessoa não pode perdoar, uma traição, alguma coisa errada... quando ela não consegue ir.

Agarrei a borda da mesa, mordendo meu lábio. Eu não confiava em mim para falar.

— Isso é o que dizem. Deve ser algo terrível, não acha, para trazê-la de volta? Para seu espírito inquieto reviver seu corpo e fazê-lo andar de novo?

Reuni todas as minhas forças. Eu tinha que saber tudo. — E alguém a viu... em Svolvaen?

— No topo da colina, perto da borda da floresta e...

— Deve me dizer, Astrid!

Ela se encolheu com a minha voz erguida.

— Ao redor da casa do jarl.

O quarto balançou. Não importava o que eu dissesse a mim mesma, eu não poderia escapar. Meus joelhos dobraram e eu caí no chão, dissolvendo-me na maré escura.

 

 

Capítulo 23


S

uas vozes altas me despertaram, do outro lado da sala. Não consegui entender as palavras. E não tinha certeza do que queriam. Estava quente onde estava, na escuridão, mas não estava dormindo. Estava em um meio termo, também não estava acordada. Meus dedos encontraram a pele de cabra embaixo do meu corpo. Eu estava confortável. Se parassem de gritar, eu poderia ficar aqui e me esconder, sonolenta e segura.

Eu lembrei agora, tinha desmaiado, o chão duro sob a minha bochecha. Astrid estava me dizendo algo que eu mal podia acreditar, mas que sentia ser verdade. Os pecados do passado não foram esquecidos e Asta não jazia pacificamente em seu túmulo.

Quem senão eu era a culpada? Eu falhei em salvá-la, não agi com rapidez suficiente, havia esquecido algo. Eu a amava..., mas algum canto escuro do meu ser queria que ela morresse? Eu teria inveja? Eu queria ter filhos de Eirik, ser sua esposa, reivindicar o status que traria. Em vez disso, não tive escolha a não ser confiar na bondade dos outros.

Quanto ao jarl, eu não era uma donzela ingênua, minha virgindade não fora roubada. Sabia o que estava fazendo. Me tornei sua amante por vontade, dominada por uma loucura de auto aversão, alimentada por emoções que mal conseguia entender. Ele e eu éramos iguais de maneiras que não gostaria de reconhecer. Éramos capazes de fúria selvagem, atiçados pela raiva do luto. Quaisquer que sejam as desculpas que conjurei, não pude escapar da minha culpa.

Alguém estava chorando, alguém gritando. Palavras se aproximando, mais alto.

— ... forças das trevas, na floresta. Assim como a avó. — Era uma voz cheia de ódio. —... sai à noite, procurando por suas criaturas, colhendo plantas para seus feitiços.

Houve um murmúrio através da sala.

— ...enfeitiçou Eirik... o fez trazê-la aqui... jogou sua magia em meu pai antes disso... lançando seu encantamento agora em Gunnolf... ela quer o lugar de Asta... foi esposa do chefe uma vez e quer ser novamente.

— Acorde-a. — Quem falou estava rouco, sua voz de comando.

Mãos me levantaram, jogaram água em meu rosto. Eu evitava voltar, mas essas mãos eram insistentes. Alguém beliscou a pele no interior do meu cotovelo, assobiou no meu ouvido. — Acorde, bruxa!

Faline estava segurando algo na palma da mão, levantando-o para o meu rosto, os olhos de serpente iluminados. A boca dela era voluptuosa, enquanto soltava veneno.

— Encontrei o que carregava no bolso do avental! Um cogumelo mortal e falta um pedaço!

Eu balancei minha cabeça em confusão. Eu não tinha nada no bolso. O cogumelo havia sido perdido semanas atrás, antes da noite de Ostara. Não conseguia me lembrar da última vez que o vi.

— O que disse? — Era a voz de Gunnolf, cheia de dor. — Esse foi o seu plano o tempo todo? Matar quem ficasse em seu caminho? Para seduzir qualquer homem que possa te beneficiar mais? Que travessura planejou?

O que eu tinha feito? Parecia muito o que eu escolhi, há muito tempo, quando andei na floresta com Helka. A borda vermelha abaixo da parte mais carnuda era inconfundível. O trouxe comigo, do outro lado do mar, um símbolo de vingança não utilizada. Poderia ter matado uma série de guerreiros com este pequeno cogumelo. Alguma parte caiu na comida de Asta? Eu a envenenei? Lembrei-me dos sintomas dela, as dores de estômago, náusea, vômito biliar e a coceira na pele. Não a varíola, mas a falha gradual e angustiante de seu corpo.

O horror disso me acordou, rasgou meu peito fazendo com que eu mal pudesse respirar, torcendo meu intestino como as próprias garras do diabo. O cogumelo era meu.

— A culpa está na cara dela! — Faline cuspiu as palavras — Veja! Eu a desafio a negar!

— É verdade — declarou Gunnolf. — Eu vejo agora. Somente uma consciência cheia de vergonha poderia parecer assim.

— Não... — minha língua estava grossa na minha boca. Contra o que eu poderia protestar? Não queria posição e poder? Não tinha inveja? Guardava segredos? E quem, senão eu, cuidara de Asta?

— Assassina! — Faline sibilou quando me levaram embora.

 

 

Capítulo 24


M

uitos se reuniram, observando os homens do jarl me levarem ao porto, minhas mãos atadas. Os transgressores eram espancados, mas e os assassinos? E as bruxas?

Me prenderam ao posto de açoitamento, mas não na posição de açoitar. Eu olhava para frente, minhas costas pressionadas na madeira velha.

— Se é inocente, explique suas ações. Garantiu-me que cuidaria bem da minha esposa e se proclamou uma curandeira.

Estava acostumada a ver Gunnolf de muitos modos, agora eu via a resignação fria de seu coração. Ele desejava que outro assumisse a culpa, aliviasse seu remorso. Não importava que eu não tivesse sido a única a servir sua dama.

— A morte de minha querida Asta foi alcançada por sua mão desonesta? Era seu desejo oculto pegar o que era dela? Nega que traiu a confiança dela?

— Sabe que sou inocente. — Tentei desviar o olhar dos muitos que me olhavam, para me concentrar apenas no jarl. — Adorava Lady Asta e fiz tudo ao meu alcance para cuidar dela e do bebê.

Tentei prender Gunnolf com meus olhos, convencê-lo de minha sinceridade, mas ele se virou.

Vasculhando a multidão, procurei algum sinal de apoio. Não cuidara de seus filhos, tratara sua doença? Por isso, não ganhei a confiança deles? Eu mal os reconhecia agora, suas bocas endurecidas. Mulheres e homens, prontos para se voltar contra mim. Eu podia ouvir os resmungos: “...não é do nosso tipo... se acha esperta demais”.

— Tentei apenas ajudar, nunca prejudicar. — Minha voz suplicante soou fina. O sol já estava baixo, mas o suor escorria pelas minhas costas. Minha boca estava com gosto azedo. — Se eu pudesse trazê-la de volta, eu faria...

Pensei que poderia escapar daqueles que não me entendiam, que tinha encontrado uma nova vida, entre novas pessoas. Eu me enganei, pois permaneci tão estranha como sempre, não confiável, suspeita de fazer o mal.

E então vi Torhilde, avançando, chamando meu nome, e Astrid seguida por Ylva, carregando o pequeno.

— O que estão fazendo? — Astrid girou para desafiar a multidão. — Elswyth nunca machucaria ninguém! Esqueceram o que ela fez por nós?

A voz de Torhilde tremia enquanto falava, mas ela plantou os pés firmemente ao lado de Astrid. — Elswyth me mostrou compaixão quando meus vizinhos não a tinham. Apenas Astrid me abrigou, apenas Elswyth ousou olhar para minhas feridas.

— Ela não arriscou sua própria saúde para entrar em suas casas, tratá-los? — Astrid implorou.

Afastando a gola de seu vestido, Torhilde revelou a vermelhidão sem graça de uma ferida ainda sensível, parcialmente cicatrizada. — Quantos de têm isso em seus corpos? Elswyth não cuidou de suas doenças?

Um soluço subiu na minha garganta. Eu conhecia a profanação sentida por quem sofria, conhecia a mancha que Torhilde carregava. Como ela era corajosa e leal a mim. O que quer que acontecesse, me alegrava saber que não estava sozinha.

A jovem mulher que avançou usava os cabelos soltos, uma cascata de castanhos avermelhados.

— Suas feridas ainda não estão recuperadas, Torhilde. Ainda a desfiguram, ainda não confia nessa mulher, esperando que ela as cure? — O olhar que Bodil me deu era arrogante, seus olhos cheios de inimizade. — Talvez a tenha onde ela quer, dependendo dela para curá-la, alimentando-se de sua gratidão. — Falou com satisfação, como se tivesse esperado muito tempo para manchar meu nome com as mais baixas acusações. — Quantos outros estão iguais, escondendo o que os envergonha, dependente dessa intrusa, esperando sua cura? Ela não tem sangue nobre nem reivindica um status superior, mas tem a todos como escravos.

— Ela é uma bruxa! — Faline zombou. — Provavelmente causou suas feridas. Não a deixe enganá-los. Ela se importa apenas com ela mesma.

Outro assumiu o clamor. — Causou as feridas e a varíola também!

Eu olhei novamente para Gunnolf. Ele daria crédito a essas calúnias, com base apenas na palavra de Faline e na vingança da ex amante de Eirik? Não houve suavização em sua expressão, mas também não houve malignidade. Seus pensamentos eram impenetráveis.

— Não confio em nenhuma dessas mulheres estrangeiras — disse Bodil — mas essa de cabelos escuros conhece bem a outra. Se ela nos avisa sobre as más intenções dessa mulher, acredito nela.

Faline me lançou um olhar triunfante, mal conseguindo esconder sua alegria. Correndo para frente, ela enfiou o rosto perto do meu ouvido. — Não há Eirik para salvá-la agora, mas não se preocupe. Vou mantê-lo aquecido em seu lugar, quando ele voltar... tenho paixão suficiente para os dois irmãos.

De repente ficou claro para mim. Outra sentou-se com Asta, na noite de Ostara. Logo depois disso, ela começou as cãibras que convulsionavam seu corpo. O cogumelo havia sido perdido não muito tempo antes. Faline o encontrou, certamente, reconheceu sua natureza ou adivinhou por que eu a mantive.

Eu fui cega. Se eu tivesse visto o que estava acontecendo, poderia ter salvado Asta?

— Foi você! — Resmunguei, meus lábios secaram de medo. — Foi você! — Mas o crescente clamor da multidão afogou minhas palavras.

— Basta — Gunnolf levantou a mão. — O que não podemos saber, os deuses decidirão. Amarre-a nas estacas no final do píer. Se ela sobreviver à maré alta, serão eles que a salvarão.

— Não! — Eu lutei contra os braços que me carregavam através da multidão que se separava. Vi o rosto ferido de Astrid, as bochechas molhadas de lágrimas.

As estacas seriam cobertas dentro de algumas horas. Eu ficaria no escuro, ofegando enquanto a água gelada caía sobre minha boca e depois meu nariz. Não haveria ninguém para me salvar e eu não teria como sobreviver.

 

 

Capítulo 25


O

sol deixou o céu e a fina lua se levantou. Minha esperança afundou enquanto esperava sob as pequenas estrelas deslizando frias através da escuridão. A água fazia um progresso traiçoeiro, para o meu peito, meus ombros.

Eu me perguntava se alguém seria corajoso o suficiente para seguir sua consciência, mover-se sorrateiramente pelo povoado, desatar a corda cruel que envolvia desajeitadamente minha cintura e me puxar para a área do píer.

Alguns haviam ficado para me ver abaixar no abraço frio do fiorde, para gritar insultos a partir da segurança da costa. Ninguém desejava chegar muito perto. Afinal de contas, eu era uma bruxa, não era?

Até Gunnolf mantinha distância. O que quer que fossemos um para o outro, o que quer que tenhamos compartilhado, não havia sido construído sobre o amor.

O amuleto de Eirik ainda estava aninhado na minha garganta. Se eu o visse novamente, na próxima vida, juraria meu amor e meu arrependimento. Raiva e ressentimento causavam um prazer amargo. Não estava fadada ao casamento nem à segurança da devoção.

A maré estava quase totalmente cheia e ninguém tinha aparecido para me libertar. As águas se estendiam deste lugar, atravessando daquela vastidão até a terra do meu nascimento, e eu estava solitária, na sombra da noite cinzenta.

Orei ao meu antigo Deus e depois a Freya, Frigg e Fjorgyn, as deusas do sexo feminino. Se elas não tivessem ouvidos para o meu sofrimento, ninguém teria.

Elas puniriam Faline como eu estava sendo punida? Cada um de nós tinha nossos pecados. Ela agiu por ciúme, por desejar o que estava fora de seu alcance. Seu rancor havia sido cultivado por muito tempo, guardado até que sua vingança pudesse ser satisfeita. Mesmo em sua maldade, tinha pena dela, pois ela não encontrava satisfação.

As nuvens se sobrepuseram à lua, obscurecendo o pouco de luz que se deveria ter. Estava quieto, como se Svolvaen tivesse derretido ao longe. Eu estava sozinha com a maré e o chapinhar das ondas contra os barcos de pesca, balançando suavemente em seus ancoradouros de ambos os lados do cais. Pensei no que Astrid havia me dito - que o espírito inquieto do Asta caminhava. Ninguém desejava estar do lado de fora, mesmo para assistir ao último suspiro de uma bruxa, pois a água lhe ceifava a vida.

Se Asta desejava vingança, estava feito, pois minha vida agora podia ser medida por respirações ofegantes. Inclinei meu queixo e fechei os olhos enquanto as ondas negras acariciavam meus lábios, uma última carícia em minha pele.

E então, algo varreu minha perna, o deslizar suave de um peixe ou uma alga marinha. Deslizou sedoso contra o meu braço, roçando levemente meus pulsos, onde a corda os amarrava, e passou pela minha cintura. Meu corpo escorregou sob a água quando os laços se soltaram e eu provei o mar salgado. Chutar minhas pernas me trouxe à superfície, ofegando por ar, com meu coração batendo forte.

Eu não sabia quem, ou o quê, interveio. Alguma criatura enviada pelos deuses ou por suas próprias mãos divinas tentando me salvar. Não conseguia pensar, apenas me alegrava com a chance de viver!

Minhas saias estavam pesadas enquanto eu nadava, meus ombros rígidos e meu corpo gelado, mas a força de vontade me levou adiante, em direção à costa. O empurrão das ondas ajudou-me a chegar às águas rasas até meus joelhos encontrarem a areia. Eu me arrastei para além do movimento da água, feliz por sentir as pedras duras debaixo de mim e ao arrepio pelo ar da noite.

Mal havia um suspiro de vento, o mundo estava quieto, exceto pelas ondas que arrebentavam e pelo canto de uma coruja distante. Estava exausta até os ossos, mas meu coração batia de alegria, pois estava viva.

Não poderia permanecer assim por muito tempo. Uma coisa era certa, deveria agir. Poderia me apresentar a Gunnolf e a todos os Svolvaen como tendo escapado do alcance da maré. Os deuses me salvaram, provando minha inocência. No entanto, temia a maldade de Faline e Bodil. Elas não descansariam até que o rancor fosse saciado e não tinham dificuldade em encontrar ouvidos. As sementes da dúvida foram semeadas, mesmo entre aqueles que compartilharam minha amizade.

Precisava de tempo para planejar e um local de segurança para fazer isso. Meu primeiro pensamento foi em Astrid. Nela, eu podia confiar. Ao lado de Torhilde, ela falou por mim quando muitos estavam prontos para acreditar no mal. Ela me esconderia se eu pedisse, mas isso eu não faria. Como eu poderia colocá-la em tal posição?

No alto da cascata estava o pequeno barco de Helka, aquele em que ela me levou para navegar pelo fiorde. Há quanto tempo foi aquele dia, quando eu me emocionava ao acelerar com o vento e compartilhava seu prazer pelo sucesso de nossa pesca. Lembrei-me dela me mostrando a caverna, seu próprio lugar especial, onde a borda corria plana e profunda.

Podia controlar o barco sozinha, com os remos e não a vela? O crescente esbelto da lua estava a meu favor, rompendo apenas momentaneamente através da nuvem. Provavelmente ninguém me veria. Eu não podia demorar. Os pescadores chegariam em breve, para iniciar o dia de trabalho.

As pedras se mexeram sob os meus pés, barulhentas para o meu ouvido e mais ruidosas ainda quando caíram diante do barco. Puxei-o pela corda, descendo a ladeira até a beira da água. Todas as partes do meu corpo doíam, mas fiz progressos bruscos. Finalmente, eu estava saindo, segurando a borda do barco, tonta de alívio ao sentir que flutuava livremente.

Minhas saias encharcadas bateram no convés quando entrei. Bati meu joelho com força na beira do assento da popa, amaldiçoando um bom juramento para controlar minhas lágrimas. A vela foi desviada, mas os remos ainda estavam lá dentro, e eu não perdi tempo em encaixá-los nas travas. Quanto mais cedo eu deixasse a praia para trás, mais segura me sentiria. Mais tarde haveria tempo para descansar e pensar. Por enquanto, precisava conduzir o barco pela água, me afastando de Svolvaen e do perigo. Foi uma luta romper as ondas, inclinar a embarcação no ângulo certo, mas logo estava recebendo mais golpes, deixando o barco deslizar para a frente, com os grandes penhascos subindo dos dois lados.

Fiquei abalada, cansada e ansiosa, mas uma parte antiga de mim estava despertando, a menina que subia nas árvores mais altas e nadava nas lagoas da floresta, que caçava coelhos e fazia seu próprio destino. Para sobreviver, precisava ser corajosa e engenhosa.

A lua apareceu novamente, iluminando o contorno dos penhascos. Eu estava mais adiantada do que imaginava, movendo-me paralelamente à escarpa. Enfiando os remos, procurei uma abertura, larga e baixa, e irregular de ambos os lados — a caverna de Helka. Mergulhei os remos novamente, tomando cuidado para não me aproximar. Talvez eu tenha ido longe demais. Eu poderia facilmente ter perdido o que procurava, na fraca luz prateada.

E então eu vi - a abertura característica no penhasco e a estreita passagem pela qual eu tinha que passar. Mais um pouco e eu estaria nivelada, contando com meus remos para me guiar, arriscando o pequeno barco de madeira sobre as rochas salientes.

Senti a ondulação subir quando me aproximei, a onda ascendente empurrando para a entrada, levantando o barco e atirando-me em direção à pedra implacável. Estiquei meu remo, tentando me afastar, mas a força das ondas era muito violenta. Havia um balanço à medida que a proa se aproximava, um raspão alarmante e uma trituração das tábuas encurvadas. Eu me apoiei com um único remo, apenas para vê-lo rachar e estalar. Sem pensar, fiz o mesmo com minhas mãos, gritando enquanto minhas palmas raspavam em cima de lapas. O barco balançou sob mim, girando para raspar as rochas opostas. Eu chorei enquanto o casco rangia, esperando por uma rachadura de ruptura que me afundaria. A água estava sobre meus tornozelos, o barco inclinando-se. Agarrando o remo restante, empurrei novamente da rocha e, com todas as minhas forças, movendo desesperadamente sua lâmina de um lado do barco para o outro, impulsionei-me em direção ao abrigo da caverna.

 

 

Capítulo 26


M

esmo quando o sol se pôs alto no dia seguinte, continuou frio dentro da caverna. Fui atraída para a borda mais distante em busca de calor, de algum toque da luz do dia. Observando o recuar e avançar das ondas, me abriguei invisível. Apenas uma pessoa poderia adivinhar que eu estava aqui, e por ela eu esperei. Helka saberia o que dizer, o que fazer. Ela, eu tinha certeza, ficaria do meu lado.

O que poderia fazer além de esperar? O barco foi muito danificado, afundando embaixo de mim enquanto eu saía. Com a luz fina do amanhecer, descobri que havia desaparecido completamente. Apenas o remo lascado permanecia, seus fragmentos flutuando fora de alcance.

Encontrei as provisões de Helka: bolsas de couro com água, queijo e presunto defumado. O interior frio da caverna os preservou bem e o gosto deles, encheu minha boca não apenas com sabor, mas também com sua solidez, com o prazer de comer. Eu mastiguei lentamente, passando cada pedaço sobre a minha língua. Não sabia quanto tempo precisaria durar. Mesmo comendo com moderação, diminuíram rapidamente.

Deitada de barriga para baixo, peguei da água uma lasca de remo estilhaçado, pensando em usá-la para prender as ramas como os pássaros faziam com seus bicos, mas a madeira já estava macia demais para ser útil. Eventualmente, encontrei uma concha, o invólucro fundido de um molusco morto há muito tempo, o interior liso. Era uma ferramenta melhor, me oferecendo várias conchas minúsculas, mas aquelas criaturas macias se agarravam tenazmente às rochas. Em desespero, eu golpeei até meus nós dos dedos sangrarem.

Raspando algas macias, grudadas nas rochas, minhas unhas abriram. Pressionei minha boca onde meus dedos estavam ineptos, puxando com meus dentes, ansiosos por qualquer alimento. Cada gole me deixava com mais sede, minha boca encharcada de salmoura, seca em meio a tanta água. Eu estava mergulhada no mar, a água ardendo penetrando não apenas minhas roupas, mas minha pele e meus olhos, seu toque era um tormento para meus lábios rachados.

Lambi das paredes úmidas, minha língua crua contra a formação bruta da pedra, procurando descanso do sal, precisando de água doce. O tempo escoava tão lentamente quanto aquele fino gotejamento do qual eu dependia. Escorreu na longa escuridão e durante o dia silencioso, em queda como aquelas contas de umidade sobre a rocha.

Olhei para as gaivotas voando além da entrada da caverna, imaginando como seria seu sabor, imaginando a satisfação de sua carne na minha barriga. Nenhuma chegou perto. Parecia mais provável que limpassem meus ossos do que eu os delas.

Noites passaram no abraço da caverna. Eu me enrolava na dor da fome, tremendo, escondendo meu rosto na dobra do cotovelo, envolta em suor, apesar do frio. O mundo havia se reduzido a esse lugar úmido de pedra e mar, rocha, água e frio dentro dos meus ossos.

Somente no sono havia alívio. Nos meus sonhos, juntei-me aos meninos com quem brinquei na minha infância, nadando no lago da floresta, engolindo grandes bocados de água doce e fresca. Corremos e pulamos das rochas mais altas do rochedo, caindo profundamente antes de chutar para emergir, ofegando e rindo.

Vi minha avó me dando um beijo de boa noite, minha tia e a mãe que eu mal conheci. Em breve eu as encontraria novamente? E Eirik. Sonhei com seu beijo suave e com seus braços fortes ao meu redor.

Eu também sonhava com sepultamento e trevas sombrias, e acordava para ver que era a realidade. Meu peito, apertado, sufocava o ar dos meus pulmões, pesado demais para respirar.

À fraca luz do dia, acordei com uma dor ameaçadora e agourenta em minha mão esquerda. Senti o aperto do medo e me obriguei a olhar. Tinha infecção, como eu já vi tantas vezes. Minha febre não era apenas do frio, mas dos ferimentos que eu havia evitado todos esses meses, cuidando de outras pessoas na vila. Do outro lado da palma da minha mão, a ferida estava roxa, o centro começando a formar bolhas, latejando profundamente sob a pele, parecendo se espalhar além dos limites da lesão.

Quanto tempo se passou? Quanto tempo levaria até Helka chegar? Ela e Eirik foram detidos por Jarl Ósvífur ou foram atacados por um clã rival em sua jornada de volta de Bjorgyn? A ausência deles era muito mais longa do que o esperado, mesmo antes de eu me refugiar na caverna. Agarrei o amuleto de Eirik e invoquei os deuses. Não queria morrer, mas ficar aqui seria o meu fim.

Eu já fui uma nadadora forte no passado. Não deveria tentar? Nade para a costa, encontre outro lugar para se esconder. Com os membros pesados e a cabeça leve, sentei-me no ponto mais distante da borda, esperei uma pausa entre as ondas e me mergulhei no mar.

 

 

Capítulo 27


F

echei meus olhos pelo brilho ao redor e chutei com força. Vivendo naquele espaço subterrâneo apertado, me acostumei com a escuridão e o confinamento de suas paredes. O céu agora parecia enorme e o sol deslumbrante. Sabia que devia passar pelas rochas perigosas. Só então teria uma chance.

Quase imediatamente, a ondulação me levantou alto e depois mergulhou fundo, a água salgada entrou no meu nariz e garganta. Eu me esforcei e engasguei enquanto a corrente me varria para o lado. Raspando meu cotovelo, eu girei, estendendo minhas mãos para me deter. Prendi a respiração de dor, mas continuei lutando para avançar, quase afundando antes de ser içada para cima em uma onda crescente e empurrada para além do granito recortado.

Senti a diferença assim que passei e fiquei cheia de otimismo. Se eu pudesse agora flutuar, poderia bater os pés em meu caminho para a praia. No entanto, quando comecei a nadar, parecia não progredir. O pensamento veio a mim em uma avalanche de desespero. Quão tola eu fui! Nunca chegaria à praia, pois a maré estava saindo, me arrastando com ela. Seria arrastada para fora do fiorde, para o mar aberto.

No meu pânico, chutei com mais força. Talvez eu pudesse voltar para as rochas, me arrastar braçada a braçada, retornando à caverna. Essa esperança foi em vão, a corrente era forte. Eu já estava chegando ao nível da próxima abertura no penhasco, um buraco menor, sem borda visível, mas também sem pedras. Eu poderia me refugiar lá e esperar a maré virar. Reunindo o último suspiro da minha vontade, eu me debati na água. Virando meu corpo, me aproximei do penhasco e me preparei. Sabendo com que facilidade as ondas podiam me esmagar contra o granito inflexível, me joguei na caverna.


E

ntrei na caverna verde, a água calma. Ela se estendia por um longo caminho, terminando em uma elevação alta o suficiente para eu me sentar, talvez para deitar. As algas cresciam espessas nas paredes, abanando como cabelos onde tocavam a salmoura. Agarrei um grupo, puxando como uma âncora, para me levantar do mar.

Se eu tivesse forças, poderia ter chorado, mas meu desespero silencioso se alojou na minha garganta. Fechei a mão esquerda com força, não desejando ver o que sabia que crescia ali. Minha cabeça latejava pela febre e meus membros tremiam. Eu não conseguia pensar em nada além de descansar, dormir, me enrolar como um animal que reconhecia estar doente.


E

la veio até mim em meus sonhos. Estava deitada em um prado luxuriante, as flores altas ao meu redor e o sol quente, meus olhos fechados ao seu brilho. Eu a ouvi cantar e depois senti seu vestido roçando em minha perna, do tornozelo ao joelho. Não havia o que temer, pois ela estava comigo. Abri os olhos e vi o seu rosto, mais adorável do que nunca.

Acordei e minha perna estava na água, longos fios de verde varrendo minha pele. Foi apenas um devaneio fantasioso, mas me senti reconfortada e renovada pela aparência de Asta. E havia algo familiar na sensação na minha perna. Foi o mesmo que eu senti há alguns dias, quando estava presa ao píer?

Outra coisa me tirou do sono. Não o toque, mas um som, pois havia um barulho acelerado, o estrondo baixo de uma tempestade e, mais perto, o som de água gotejando.

A luz estava fraca, pois era a primeira do dia, mas o suficiente para me mostrar a chuva no mar e uma névoa baixa.

Meu corpo não tinha vontade de se mover. Arranhada, dolorida e febril, minha inclinação era fechar os olhos mais uma vez. Havia muito tempo desde que comi, muito tempo desde que estava quente ou seca. A vontade de lutar me deixou.

A maré estaria virando, mas isso não me serviria de nada. Minhas pernas estavam com chumbo e meu corpo machucado; nadar parecia impossível. Endireitar meu braço trouxe uma punhalada de dor. A abrasão no meu cotovelo tinha crostas e depois se partiu. A ferida na minha palma esquerda doía e coçava. Eu a abri parcialmente e encolhi. Ainda agarrei algumas algas, rasgadas enquanto me arrastava da água, seus fios finos emplastrados até a lesão. Eu a examinaria mais tarde, quando tivesse energia para isso. Havia irritações incômodas em outros lugares do meu corpo sobre as quais eu me recusava a me aprofundar. Eu não queria olhar, para que serviria?

Deitei quieta, ouvindo um gotejamento e respingo constantes. Helka havia me dito que os penhascos estavam cheios de abismos e rachaduras, fendas pelas quais a água passava. Talvez se pudesse encontrar a fonte, haveria água fresca para beber, ou o suficiente para molhar minha boca, pelo menos. Virando a cabeça, vi a fissura e uma pequena faixa de luz. Seria grande o suficiente para eu me espremer?

Eu gemi quando fiquei em pé, minhas costas e membros protestando, cabeça cambaleando, mas era bom levantar. Se me permitisse dormir, a tentação seria nunca mais acordar.

A primeira seção da abertura foi a mais difícil de penetrar, os ossos do meu quadril friccionando asperamente. Se eu tivesse tentado fazê-lo há uma semana, minha carne teria sido muito cheia. Havia uma curva, obrigando-me a me curvar e depois rastejar. Eu me ajoelhei e me torci, ouvindo o gotejar da água, dizendo a mim mesma que seria apenas um pouco mais adiante. Se o túnel não chegasse a nada, proibindo-me a passagem final, seria mais do que eu poderia suportar.

Por fim, havia uma abertura na rocha e eu sai em uma caverna estreita. Senti uma mudança no ar, só um pouco mais quente, mas certamente o local era mais iluminado. O que eu procurava estava fluindo pela parede, formando uma piscina clara embaixo. Mergulhei meus lábios, bebendo avidamente até meu estômago doer. Estiquei o pescoço para olhar para cima, quase ri de alívio, pois havia luz do sol e um cheiro mais fresco, além de um buraco na rocha, para os penhascos acima. Os deuses responderam minhas orações, mostrando o caminho.

A parede de pedra tinha pontos de apoio e lugares que minhas mãos podiam agarrar, não poderiam estar envoltas em algas, escorrendo água. Se eu escorregasse, meus ossos encontrariam seu descanso aqui, escondidos no coração da rocha.

Meu braço esquerdo estava com dor e meu direito cortado. Poderia ser mais complicada essa escalada? Eu ainda estava com febre, minha testa quente e minhas mãos úmidas. Eu me preparava para abrir meus dedos, sabendo que deveria inspecionar minha palma. Algas pressionaram a carne macia, impedindo-me de ver o progresso da lesão. Eu levantei os fios, aliviando a dor. Estava quente, mas não havia pus. O tamanho da bolha tinha diminuído sem coloração amarela, sem aparência de infecção agressiva. Apesar de rosado e inchado, parecia estar se curando. Eu flexionei minha mão e empalideci um pouco, mas o desconforto era suportável.

Não apenas as forças divinas olhavam por mim, mas também a natureza, oferecendo-me uma recompensa. Descansei minha cabeça contra a rocha e dei meus agradecimentos silenciosos. Não era isso que eu estava procurando, todos esses longos meses? Investiguei muitas das algas marinhas ao longo da costa de Svolvaen, mas nunca encontrei essa variedade fina. Os deuses me levaram até aqui. Esse seria o remédio para quem me mostrou amor e para quem duvidava de mim.

Seria fácil voltar mais tarde, com outros moradores, para trazer um barco e enchê-lo o suficiente para tratar todas as pessoas em Svolvaen várias vezes, mas como eu poderia reaparecer na aldeia de mãos vazias? A acusação de ser uma bruxa estragaria o milagre da minha sobrevivência aos olhos deles. Se eu levasse a cura que precisavam, talvez os convencesse de minhas verdadeiras intenções.

Nenhuma alga crescia neste pequeno espaço onde o eu estava. Resmunguei meu desconforto enquanto rastejava de volta pela fissura, mas fui impulsionada pelo pensamento em Astrid, Ylva, Torhilda e seus filhos. Eu pegaria o que precisava e escalaria novamente para sair deste lugar. Eu curaria as feridas pela qual os outros me culparam e, no processo, me salvaria.

Arrumei meu avental, criando uma bolsa na frente e atrás, para encher com as algas que cresciam abundantemente nas paredes. Com o tormento da fome me incomodando, empurrei um pouco na minha boca, me fazendo mastigar os fios finos. Eu precisaria da força que pudesse reunir para subir.

Um outro tanto eu torci, prendendo em volta da minha mão. Minha mente e coração estavam focados.

 

 

Capítulo 28


S

e a inclinação fosse mais íngreme, nunca teria conseguido, mas o túnel proporcionava bordas nas quais eu descansava, apoiando os pés no lado oposto, permitindo que descansasse minha testa quente contra a rocha fria. Várias vezes, bati a cabeça e açoitei o ar com maldições, mas uma determinação interior me empurrava. Eu vim tão longe e não iria falhar.

Não importa o que estivesse reservado, realizaria esse último ato. Ylva seria libertada das feridas que afetavam sua jovem beleza, e Torhilde também.

O sol já passara do auge quando meu rosto encontrou seu calor, a paisagem banhada em suave esplendor. Pressionando minha bochecha na grama úmida, minhas lágrimas brotaram. Estava perdida para o amor, tinha sido sepultada, mas emergi na luz novamente.

Após o silêncio da passagem subterrânea, fiquei maravilhada com o zumbido do mundo. Abelhas pairando e mergulhando, gafanhotos no trevo e o estrondo dos pássaros. A brisa carregava o som de cada folha farfalhante. A grama estava como eu nunca a tinha visto, cada lâmina definida. Um abutre rodeou, navegando selvagem sobre as falésias, observando tudo em detalhes, como eu agora. Olhei para ele desafiadoramente, sentindo minha vitalidade retornando. Teria que procurar sua carne em outro lugar.

Cerrei minha mandíbula e respirei profundamente. Por mais tentador que fosse ficar no sol da tarde, deixar secar minhas roupas e reviver meu corpo dolorido, precisava me esconder. Somente depois do anoitecer me arrastaria descendo a colina, contornando as cabanas, procurando refúgio na casa de Astrid.

A última vez que entrei na sombra das árvores, os morangos silvestres mal começavam a florescer, agora, as frutas estavam maduras, manchando meus dedos trêmulos enquanto eu punha sua doçura na minha boca. Por baixo, o musgo era macio, uma cama esperando por minha cabeça. Encontrei o esquecimento do sono, sabendo que em breve estaria com quem eu gostava.


E

ra noite quando meus olhos se abriram novamente. Meu corpo estava rígido, mas minha palma não estava mais quente e dura. Minha cabeça estava mais clara depois de dias, e a pele fria. Comer as algas curou a febre do meu sangue? Fiquei maravilhada com suas propriedades. Embebida em água fervente, poderia fazer uma beberagem eficaz.

Um pássaro se mexeu nos arbustos, causando uma agitação de mariposas, suas asas frágeis passando rapidamente por minha bochecha. Eu pensei ter ouvido um suspiro. Engoli em seco contra o gosto amargo da minha boca, a pontada no fundo da minha garganta. Havia alguém aqui? Meu pescoço formigou com o pensamento.

Não havia passos na vegetação rasteira, nem estalos de galhos. Olhando mais fundo através da escuridão aveludada, não vi nada, mas permanecia a convicção de que alguém respirava às minhas costas.

Uma onda de sentimentos me venceu — Asta? — Quão fina minha voz soou. Um junco tremulou nesta grande floresta. Cruzando meus braços, senti o amuleto no meu pescoço. Minha mão roçou o broche, ainda preso no alto do meu avental. O broche de Asta, o que ela me deu.

Eu sonhei com ela, na caverna, senti seu toque. Eu temia a raiva do seu espírito, mas nunca foi assim.

— Me perdoe, Asta. — Minha voz ainda tremia.

Ao longe, uma coruja piou e voou, com os alvos de sua caça definidos. Também estava na hora de eu partir, para me juntar aos que me mostraram amizade.

 

 

Capítulo 29


N

a minha segunda batida, Ylva abriu a porta.

— Quem é? — A voz de Astrid era sussurrada.

Ylva ficou boquiaberta, tanto com minha aparência selvagem, suponho, como por eu ainda estar viva. Entrei, pois não tinha muito tempo. Fiquei na floresta e depois rastejei pela grama alta do prado, antes de me aproximar da casa por trás.

Embora o crepúsculo tivesse caído, parecia haver uma reunião perto da casa comprida e eu não gostaria de ser vista.

— Em nome de Freya! — Astrid saltou do banquinho. — Elswyth! — Em dois saltos, ela me abraçou, me puxando com força.

Minhas lágrimas brotaram, porque ficara muito sozinha no frio e no escuro. Quase esqueci como era ser acolhida nos braços de uma amiga.

— Não fale — ela insistiu, me olhando de cima a baixo. — Ylva, traga água quente e minha túnica verde... e um pouco de caldo e pão.

— Eu nunca a vi assim! — Ela deu um meio sorriso. — Vamos tirá-la dessas roupas e depois ajudamos a se limpar e aquecer.

Eu deixei seus dedos ágeis desapertar as tiras do meu avental, então segurei sua mão.

— Foi recolhida novamente... da costa, pelo seu cheiro — ela cutucou os longos fios de algas marinhas enrolados na dobra da minha saia.

Tive que mostrar-lhe antes que ela fosse mais longe, embora eu estivesse relutante em admitir que não tinha sido capaz de evitar a doença. Naquele momento, compreendi uma fração da vergonha que Ylva havia suportado, e todos os outros que haviam sofrido com o flagelo.

Desdobrando minha palma, peguei os fios de algas que se agarravam, empurrando-os para Astrid ver. Desde aquela manhã, ela havia melhorado, voltando quase à sua cor natural, a bolha mal se elevava.

Ela assentiu baixinho. — Foi uma maravilha que você tenha ficado tanto tempo sem sucumbir à doença. Começou agora, não é mesmo?

Acenei com a cabeça, sufocando as lágrimas que ameaçavam borbulhar. — Estava muito pior, e também tive a febre. — Era um alívio para mim o fato de estar me curando. Mas era mais do que isso. As algas iriam mudar tantas vidas. Minha própria recuperação era prova disso.

— Em breve, se sentirá como sempre foi, quando tiver se alimentado, não parecerá tão ruim. Pode me contar tudo quando estiver pronta.

Fiz o melhor que pude para não vacilar, enquanto ela passava a túnica úmida sobre minha cabeça. Meus ombros estavam arranhados da árdua subida, meus braços ainda estavam doridos. Astrid foi com tato enquanto passava a faixa quente sobre minha pele, tão ternamente. Havia outras manchas de pele, sobre minhas costas, que pareciam um pouco vermelhas, ela me disse, mas nenhuma tinha bolhas como minha palma. Presumi que foi a ingestão das algas que ajudou, evitando que elas entrassem em erupção total.

Astrid me acalmou enquanto trabalhava, banhando-me delicadamente onde eu estava mais machucada até que a sujeira dos dias passados foi lavada. Ela queria até colocar o caldo nos meus lábios, mas eu insisti em fazer isso por mim mesma. Tinha muitos legumes e carne, e com cada porção eu sentia minha força retornando.

— Sabia que não poderia estar morta. — Astrid ficou nas minhas costas para pentear meu cabelo. — Embora tenha que dizer, que não pareça muito longe disso! — Molhou a madeira de ripas do pente, fazendo o possível para não puxar.

— Eu remei o barco — comecei.

— Eu sei disso. — Astrid colocou a mão em meu ombro. — Fui até o porto antes do amanhecer, antes mesmo dos pescadores. Não conseguia vê-la no píer. Então, percebi que havia sumido, o barco. Me disse que Helka te levou para navegar e eu lembrei. Ninguém mais ousaria pegá-lo.

Uma onda de medo tomou conta de mim, pois se Astrid sabia, todos sabiam. Por que não foram me procurar? Gunnolf não teria comandado isso? Ela deve ter me sentido enrijecer. — Não há necessidade de se preocupar. Alguns não a veem como um mal. — Pegando o pente novamente, ela continuou liberando os emaranhados.

— Anders sugeriu que disséssemos que o filho dele viu que desapareceu e pegou o barco de Helka, para ver se seu corpo estava à deriva. Todo mundo conhece a teimosia de Halbert. Sempre foi um travesso. Halbert concordou imediatamente, dizendo aos amigos que havia perdido o barco nas rochas, navegando muito perto dos penhascos e depois nadou de volta. Alguns levantaram uma sobrancelha, mas um pedaço do casco chegou em terra pouco tempo depois.

Minha garganta se apertou novamente. O ferreiro, Anders e Halbert. Eles eram leais a Eirik.

— E quanto aos outros? Ainda dizem que sou uma bruxa? — Astrid suspirou. — Alguns fazem isso. Alguns não. Alguns dizem que os deuses a levaram como punição, outros dizem que te salvaram. Falaram por um tempo sobre isso...

— E agora?

Puxando os dedos pelos meus cabelos, ela separou os comprimentos, preparando-se para trançá-los. — Ninguém sabe o que passa na mente do jarl, mas ele não é o mesmo. Estão dizendo que ele está em desgraça com os deuses, que não é o homem que era e não é digno de nos liderar. — Astrid se inclinou para mais perto do meu ouvido.

— Ele proibiu qualquer pessoa de falar sobre... — ela hesitou, abaixando a voz — o draug.

Não era uma palavra que eu tinha ouvido antes, mas um calafrio passou por mim. Eu me virei, buscando o rosto de Astrid.

— O espírito inquieto em forma humana. Já falei sobre isso, Elswyth.

Sim, ela tinha falado e a história havia me assombrado. Depois de tudo o que aconteceu, tinha minhas próprias histórias para contar, mas elas esperariam, agora não era a hora.

Astrid começou a passar mechas do meu cabelo por cima e por baixo, seus dedos trabalhando metodicamente enquanto ela falava, seguindo o ritmo de trança que exigia pouco pensamento. — Outros a viram, no topo da colina. Ninguém deseja aventurar-se depois do anoitecer.

— Ninguém? — eu fiz uma careta. — Pensei ter visto pessoas na casa comprida.

— Sim, hoje é diferente! — Astrid exclamou, então suas mãos congelaram e houve um silêncio abrupto. —Perdoe-me, Elswyth. Pensei que era por isso que tinha saído do esconderijo. Porque viu. Porque sabia.

Meu coração pulou naquele momento. Estava ciente dos dedos dela retomando a arrumação dos meus cabelos, formando rapidamente uma trança central e as menores dos lados da cabeça.

Somente quando terminou, protegendo tudo com uma tira de linho, ela voltou a olhar nos meus olhos, oferecendo-me a verdade, embora soubesse que isso me machucaria. — Eirik e Helka voltaram para Svolvaen, com visitantes poderosos. Fala-se em casamento.

Eu sofri e rezei, desesperei e acreditei novamente, que que Eirik voltaria. Ele voltou, mas não para mim. Se sua noiva estivesse com ele, minhas esperanças eram inúteis. No entanto, tentei desviar meus pensamentos de Eirik. Qualquer que fosse o desejo secreto que abriguei, foi minha descoberta que me levou de volta a Svolvaen. O desespero só me atrapalharia.

Apontei para o meu avental, jogado ao chão, longos fios de verde derramando e indiquei minha palma novamente.

— Eu tive que voltar, para te mostrar. É o remédio que precisávamos. É da caverna em que me abrigava. As algas ajudarão. Eu sei que sim!

As mãos de Astrid voaram para sua boca. — Encontrou uma cura! — Com um soluço, ela jogou os braços em volta de mim.

Por cima do ombro de Astrid, vi que Ylva estava olhando para nós. Como sempre, ela estava sentada a certa distância, mas ouvira tudo. Eu nunca a conheci sem sua doença. Talvez, uma vez, tenha sido falante e despreocupada. Nesse caso, ela logo voltaria a ser. Minhas próprias esperanças de felicidade foram esmagadas, mas as dela ainda poderiam ser recuperadas. Eu pensaria em Eirik mais tarde. Por enquanto, tinha uma dívida de amizade para pagar.

Afastei Astrid de mim, sabendo que era hora de começarmos a trabalhar. Sofri muito, mas não foi em vão. Os deuses me mantiveram viva, me deram tempo para refletir e a vontade de recuperar minha coragem, de escapar de minha prisão sombria. Assim como Eirik estava cumprindo seu dever, eu cumpriria o meu.

— Faremos o tratamento juntas. Eu vou te mostrar.

Ylva deu sua ajuda, moendo o pilão na argamassa, liberando os sucos curativos das algas. A alga funcionava bem em seu estado natural, mas seria mais eficaz quando a preparássemos.

— Mergulhe suas tiras de linho no líquido e coloque-as sobre cada ferida — eu a orientei. — Mergulhe o resto das algas em água fervente. Faça uma tisana e beba. Vá depois levar para Torhilde e para os outros. Aja onde eu não puder.

Os olhos de Astrid brilhavam enquanto eu pegava emprestada sua capa com capuz, puxando-a em meu rosto para rastejar pra longe.

Eu a ouvi quando fechei a porta atrás de mim. — Eu sabia que voltaria.

 

 

Capítulo 30


P

eguei o caminho por trás da via principal. Perto do cume da colina, a névoa estava baixa, emergindo entre as árvores escuras da floresta, envolvendo-as, mudando e movendo, como um mar fantasmagórico de onde surgiam os troncos antigos.

Não é de admirar que o pessoal de Svolvaen ficasse em casa, pois a paisagem tinha um tom sinistro. Daria para acreditar em qualquer coisa, ver qualquer coisa, em uma noite como essa. Eu também estava com medo, mas continuei. Estava determinada a inspecionar a noiva de Eirik com meus próprios olhos, a mulher que ele escolheu no meu lugar.

A luz brilhava em duas janelas baixas, onde o telhado da casa comprida encontrava suas paredes. As peles foram parcialmente presas para deixar entrar a brisa. Na entrada principal, vários homens estavam de guarda, com suas vozes baixas. Eles prefeririam estar dentro, sem dúvida, bebendo cerveja.

Havia uma outra abertura nos fundos da casa e foi para lá que me esgueirei. Entrando sob o sapé, me ajoelhei e levantei a cabeça, olhando para dentro.

O salão estava cheio, com os homens de Gunnolf e aqueles que cavalgaram com Eirik. Havia estranhos também, de Bjorgyn, eu imaginei.

Faline estava usando uma das vestes de Asta, amarela tecida com fios dourados. Tinha combinado bem com minha Lady. A pele de Faline parecia pálida contra o tom. Apesar de toda a elegância do vestido, ela não tinha lugar na mesa ao lado do jarl. Em vez disso, carregava um jarro, com a boca apertada enquanto enchia cada copo.

Gunnolf mal olhava para ela, nem conversava com os que o ladeavam. Em vez disso, seus olhos sombrios dispararam para os cantos da sala. Não me deu prazer olhar para ele. Eu era outra mulher na época que fui sua amante.

Helka estava sentada logo depois de Gunnolf, mas sua atenção estava toda voltada ao homem à sua esquerda. Ele não era do tipo comum, era alto e esbelto. Seus braços eram bem musculosos, mas não da maneira dos homens de Svolvaen. Sua atenção estava toda voltada às palavras dela e, quando ele se inclinou, ela fechou a mão em torno da dele.

Ela sempre manteve os homens à distância, esse não era igual. Ele era certamente atraente, com traços finos, mandíbula forte e movimentos leves. Formariam um belo par se era isso que ela desejava.

Eu procurei por Eirik. Ele pareceria diferente agora que tinha uma noiva? Havia muitos homens com cabelos loiros soltos sobre os ombros, com olhos brilhando de bom humor, vestindo o mesmo tipo de colete de couro que Eirik preferia. Havia muitos homens dignos da atenção de uma mulher, mas eu não vi o mais corajoso e bonito de todos.

E então meu peito apertou. A jovem sentada ao lado de Gunnolf era uma versão feminina do homem à esquerda de Helka, os dois com a mesma aparência. Ainda não era madura, como uma mulher deveria ir ao seu leito conjugal, mas era uma promessa de beleza. Era certamente Freydís, filha de Jarl Ósvífur, a aliança concebida por nosso jarl.

O assento ao lado dela estava vazio, embora o lugar estivesse definido.

Helka se levantou, ficando atrás de Jarl Gunnolf, curvando-se ao ouvido. O que quer que ela tenha dito, sua expressão permaneceu distraída. Ele balançou a cabeça e acenou para ela se afastar, seus pensamentos aparentemente em algo além do que o cercava.

Ela franziu a testa, olhando inquieta pela sala antes de retomar seu lugar. Ainda de pé, ergueu a taça e tocou-a com a faca, chamando a atenção para o brinde.

— Bem vindos, a cada um e a todos, à casa de meu irmão, Jarl Gunnolf e a Svolvaen, lar de homens corajosos e mulheres bonitas.

Eu me movi um pouco, não querendo perder nada, mas desejando também me manter escondida.

O aspecto alegre de Helka desapareceu por um momento. — Parece que meu irmão teve alguns assuntos urgentes a tratar, mas sei que falo por ele também quando digo que ficamos muito tempo ausentes de Svolvaen, da casa de nossos antepassados, e lamentamos por isso. — Nesse momento, ela olhou calorosamente para o homem ao seu lado.

— Eu meio que me pergunto se não era o plano de Eirik ser arremessado de seu cavalo, pois nossa prolongada estada em Bjorgyn trouxe amizades que durarão. — Helka inclinou a cabeça em direção à jovem sorrindo timidamente ao lado de Gunnolf, e o homem à esquerda de Helka bateu a xícara na dela.

Com os olhos iluminados, Helka levantou a voz para encher a sala. — Estamos ansiosos pela maior das celebrações, a união de nossos dois clãs através do casamento.

Com isso, houve um aplauso retumbante e batidas de pés. Afundei na grama abaixo da janela. Eu não precisaria ver mais. Já ouvi o suficiente para partir meu coração.

Eu nunca poderia voltar. O povo de Svolvaen não me queria, Eirik não precisava de mim. Mesmo que limpasse meu nome das acusações de bruxaria e envenenamento, nunca poderia servir a nova noiva de Eirik como tinha feito com Asta. Se Eirik acreditasse em minha inocência, ele poderia encontrar um homem disposto a me tornar sua esposa, mas como eu poderia viver sob esse jugo? Nunca amaria outro, nunca ficaria contente a menos que os braços que me segurassem fossem de Eirik.

Eu lutei tanto tempo para provar que era digna do respeito dos outros, lutei para sobreviver quando toda a esperança parecia perdida. O que adiantou tanta luta? Ajudei outras pessoas com minhas habilidades, mas não consegui curar meu coração.

Talvez a felicidade me esperasse apenas no próximo mundo. Pensei em entrar na floresta, deixar que os animais selvagens me encontrassem ou procurar a beira do penhasco para um fim rápido e sem mais sofrimento. Mas como eu poderia fazer uma coisa dessas? Eu vim longe demais para desistir. Eu não era mais forte que isso? Não merecia minha chance de felicidade?

Não apelaria para o caminho fácil. Minha história não terminaria aqui. Mas eu precisava sair de Svolvaen. Imaginei-me vagando de um lugar para outro como os skalds, oferecendo minhas artes de cura aos doentes, até encontrar aqueles que aceitariam que eu ficasse, onde encontraria uma lareira, uma casa e, eventualmente, um marido. Eu ainda era jovem.

Não poderia suportar muito tormento mais, e permanecer aqui seria a minha ruína.


A

névoa da noite se desfazia e estava se movendo rápido, correndo para me encontrar enquanto eu subia a um terreno mais alto. Risos vinham da casa comprida, sons de gritos e palmas, embotados pela névoa flutuante.

Peguei o caminho da esquerda, longe da queda para o mar, mas a neblina branca rapidamente obscureceu o caminho.

Mesmo na minha situação, relutava em dar um passo às cegas, pois uma fissura poderia surgir embaixo dos meus pés. Não gostaria de deslizar em uma fenda estreita, entalando dentro da rocha, ou quebrar meus ossos em cada borda pontuda de uma queda mais longa. Que piada de mau gosto seria eu encontrar o abismo que havia escalado tão recentemente.

Melhor rastejar, que meus dedos encontrariam alguma área perigosa. Por hábito, puxei a bainha do vestido de Astrid, para evitar que se sujasse. Sofri uma pontada de lembrança. Não me despedi, e esperava que ela me perdoasse. Desta vez, eu não voltaria.

Quão frio havia se tornado na névoa espessa, gotículas geladas passando sobre a minha pele e entrando nos meus ossos. Continuei ouvindo o estrondo distante das ondas, as palmas das mãos roçando samambaia e o ninho descartado de algum pássaro no topo da colina, estremeci quando meu joelho encontrou a borda afiada de uma pedra.

E então tudo esfriou, e eu fiquei envolta em silêncio.

Meus dedos tocaram algo muito gelado. Eu não estava sozinha. Meus olhos se prenderam ao pé esbelto diante de mim e à bainha de um manto branco, manchado de terra.

Eu não tinha forças para levantar minha cabeça, para olhar para a criatura que estava diante de mim. Um grito subiu em minha garganta, mas congelou tão seguramente quanto a respiração e o sangue dentro do meu corpo. Tentei falar seu nome, sabendo que era ela, mas minha voz me abandonou. Sufocando minhas lágrimas, recuei ainda mais, me afastando daquela que sempre tinha sido fiel a mim e a quem eu tinha retribuído tão mal.

Foi uma outra pessoa que quebrou o cobertor da névoa circundante, outro alguém que correu, sem prestar atenção, com sua voz estrangulada.

— Meu amor. Meu amor. Me perdoe.

A cabeça escura de Gunnolf se curvou para beijar o pé, e sua mão alcançou para levantá-lo. Na morte, como na vida, ela era bela, mas tão pálida, e seus olhos não mais azuis, mas negros, como o poço se revelava atrás dela. Como se tivesse ressuscitado da sepultura, seu cabelo coberto de folhas, sua bochecha e suas mãos cobertas de terra, ela era uma coisa sem o brilho da vida, mas que se movia e via.

Ele deu um passo para abraçá-la e depois um único grito. Consumido pela névoa, ele caiu, para o vazio abaixo.

Imediatamente, alguém passou rapidamente por mim, seu grito cheio tanto de medo quanto de raiva. Eu gritei em aviso, mas já era tarde demais. Talvez Faline tenha se atirado sobre a forma fantasmagórica, ou Asta a tenha alcançado para reivindicá-la. O resultado foi o mesmo. Presos num abraço atormentado, eles caíram como um no abismo profundo.

Sombras pareciam varrer diante de mim, como a cobertura de nuvens na grama, flutuando antes do sol. Só que, quando meus olhos se fecharam e tornaram a abrir, não havia nuvens nem névoa. Em vez disso, a lua estava alta e brilhante, e as estrelas incontáveis.

 

 

Capítulo 31


A

chama cintilou na lamparina, mostrando o rosto de Helka.

— Está acordada, graças aos deuses! — Ela levou uma taça aos meus lábios, inclinando-a para eu beber. — Eirik a encontrou, mas nenhum sinal de nosso irmão nem de Faline. — Ela afastou o cabelo dos meus olhos. — O que aconteceu, Elswyth?

Por onde eu poderia começar? Impossível contar a história toda. Isso faria sentido?

— Eu ouvi sobre a morte de Asta e a terrível acusação que te fizeram. Sei o que meu irmão fez. — Ela apertou minha mão, descansando acima das peles na cama. — Como escapou?

Eu não tinha resposta para isso. Os deuses me salvaram, pensei, ou talvez uma mão tivesse surgido do além-túmulo.

— Eu sabia que não poderia ter sido Halbert quem pegou o barco. Imaginei que devia ter ido à minha caverna.

Assenti, mas não consegui recontar o que havia acontecido. Estava tão cansada. Qual era a vantagem de ter sobrevivido aqueles dias? Eu não poderia ficar em paz?

— Está exausta. — Helka olhou para mim com angústia. — Perdoe-me, Elswyth. Deveria ter vindo te ver de manhã...

— Não importa. — Suspirei e apertei sua mão.

— Eirik quer vê-la.

A menção do nome dele fez meu estômago revirar, fez a respiração parar dentro do meu peito. Como eu poderia encará-lo? Ainda tinha minha dignidade, ainda que pouca.

— Ele se recusou a acreditar que era qualquer coisa menos que inocente, Elswyth. Sylvi o procurou hoje. Ela tinha medo de falar, mas disse que viu Faline colocando algo de uma bolsa velha no nattmal de Asta. Ela sabia!

Deveria ter sido algum consolo, mas de que valia isso? Não consegui sentir raiva de Sylvi, nem alegria por mim mesma.

— Ficaram fora por tanto tempo — eu disse, finalmente.

— O cavalo de Eirik o derrubou quando estávamos entrando em Bjorgyn. A lesão não foi grave, mas eu insisti que a viagem seria impossível. Eu o mantive lá por mais tempo do que o necessário.

— Mas por que? — Isso eu não conseguia entender.

— Razões egoístas. — A bochecha de Helka ficou vermelha. — Leif... eu precisava descobrir se poderia haver mais entre nós... mais do que desejo. Elswyth, eu precisava de tempo para conhecê-lo e para ele me conhecer. O amor vem por caminhos estranhos. Eu sinto que ele estava esperando por mim, esse tempo todo. Ainda sofro pelo Vigrid, mas meu coração se abriu novamente.

— O homem que estava sentado ao seu lado?

Isso era alguma coisa, pelo menos. Eu poderia ficar feliz por Helka.

— O Viu? — Helka mostrou sua confusão. — Então, em sua perseguição que ele saiu? Gunnolf saltou da mesa e gritou que viu um rosto lá fora.

Talvez tivesse sido eu, talvez outra.

A voz de Helka era firme. —Elswyth, deve saber que Eirik estava ansioso por voltar. Os homens de Bjorgyn não têm sua valentia. Ele poderia ter deitado uma dúzia de mulheres, mas nenhuma lhe interessou. — Ela se inclinou para mais perto. — Eu o fiz ficar, e ele mal podia recusar, já que minha escolha lhe daria liberdade. — Nada fazia sentido para mim.

— Mas, Freydís?

— O que tem ela? — Helka abafou o riso. — Ela é muito bonita, mas dificilmente combinaria com Eirik. Mesmo que ele a quisesse, seu pai nunca teria permitido. Ele acredita que um homem deve demonstrar habilidade na equitação acima de tudo; cair de sua montaria antes mesmo de sermos apresentados a Jarl Ósvífur não caiu bem, e eu fiz tanto barulho pela lesão! O jarl declarou que nenhum noivo com chance de ficar manco seria digno de sua filha, não importa a força do braço na espada!

— Então o casamento...

— É meu, é claro! — Helka apertou minha mão novamente. — Com Leif! Freydís é jovem, mas ela tem uma veia teimosa. Implorou para nos acompanhar, para ver as terras com as quais Bjorgyn estava se aliando. Seu pai não viu razão para impedi-la de aventurar-se. O tempo está frio e cavalga muito bem, como todos lá o fazem.

— E Eirik?

A cortina que separava o aposento do resto do grande salão se afastou e ele de repente estava de pé a minha frente, largo e forte, preenchendo o espaço com sua masculinidade.

Helka recuou quando Eirik me envolveu firmemente em seus braços, me segurando firme, minha bochecha pressionada contra o calor do seu peito e seu rosto descansando em minha cabeça. Meu corpo lembrava dele e meu coração doía com o conhecimento do que eu perdera.

— Minha Elswyth — ele murmurou. Quando me soltou, foi para puxar minha boca para cima, em um beijo tão profundo que eu esqueci tudo, menos meu amor por ele. — Eu pensei que estivesse perdida para mim. Todas aquelas semanas em que estive longe, entendi meu erro. Meus pensamentos estavam em ti, todos os dias, meu coração é seu, para sempre.

Eu queria falar, mas nenhuma palavra saia.

Ele empurrou para trás os fios do meu cabelo que haviam se soltado. — O que deve ter pensado e suportado! E tudo porque eu fui tolo demais para ver o que estava diante de mim. Se eu estivesse aqui, nunca teria permitido que te acusassem. — Suas sobrancelhas se uniram de raiva. — Pelos deuses! Como está viva eu não sei, mas agradeço a Odin por isso!

Ele segurou meu rosto entre as mãos, sua voz febril. — Quando me disseram como a trataram, queria derrubar Gunnolf onde ele estava! Apenas Helka impediu que eu pegasse minha espada.

Coloquei minha mão sobre a dele, procurando seu olhar enquanto ele continuava. — Eu te procurei... não consegui me sentar à mesa dele ontem à noite. Eu fiquei no estábulo enquanto comiam.

Havia tanta coisa que eu queria dizer. Acima de tudo, precisava contar a Eirik sobre meus erros e pedir perdão. Eu não era inocente. Ele me magoou enquanto seguia seu senso de dever, mas eu escolhi o caminho da raiva. Meu ressentimento e orgulho ferido me levaram apenas a mais dores.

Ele apertou seu abraço, como se nunca fosse me deixar ir, me abraçando com seu corpo e o ardor de seu amor. Sua voz sussurrando com emoção, rouca com saudade e com tudo o que não foi dito entre nós.

— Elswyth, eu a quero, para minha cama, para meu prazer e para o seu próprio, para gerar meus filhos como minha esposa, durante todo o tempo que nos for dado pelos deuses. O que quer que esteja no passado, devemos esquecer. Deste dia em diante, prometeremos amar um ao outro e isso será tudo o que importa.

Em resposta, levantei meu rosto e recebi outro beijo. Porque o que os deuses decretaram que seria, e eu sabia que estaria sempre a salvo nos braços do homem que me amava acima de todas as outras

 

 

Epílogo


S

eria um verão de casamentos, não apenas o meu com Eirik, e Helka para Leif. O de Ylva estava entre eles. Ela deu a mão não ao jovem que a rejeitou, mas a Halbert, o filho do ferreiro. Fiquei feliz com isso e por toda a felicidade que amadurecia, junto com as colheitas de Svolvaen. Estávamos nos curando, de várias maneiras.

Às vezes, pensava em Gunnolf e Faline, finalmente livres, de ambições e medos, ciúme e ressentimentos. Eu esperava que estivessem em paz, e Asta também.

Svolvaen ganhou um novo jarl, e os ombros de Eirik carregavam essa honra muito bem, apesar de lamentar a perda de seu irmão. Não importava as muitas queixas entre eles, eles estavam ligados pelo sangue.

Eu me envergonhei ao admitir minhas muitas loucuras para Eirik. Perdi todo o senso de mim mesma ao tentar destruir as últimas ruínas do meu amor e fiquei meio louca de remorso pela morte de Asta. Gunnolf e eu, ambos, permitimos que a pior parte de nós mesmos reinasse naquelas semanas terríveis.

Eirik ficou em silêncio enquanto eu falava. Eu temia que ele fosse incapaz de perdoar, mas ele se culpava mais do que eu.

A causa das feridas nunca foi descoberta, mas encontramos nossa cura. Levaria tempo, como eu havia previsto, para que eu ganhasse o respeito, combatesse a desconfiança. Ninguém me chamava de bruxa ou assassina. Não na minha cara, pelo menos. Contei a minha história da melhor maneira possível, mas nem tudo o que havia ocorrido pôde ser explicado. O trabalho dos deuses e aqueles lugares além de nosso reino terrestre não são nossos para entendermos.

Todas as noites, Eirik acariciava meus cabelos até eu adormecer. Em seus braços, eu acreditava que não haveria pesadelos, pois, qualquer que fosse o futuro, enfrentaríamos juntos.

 

 

                                                   Emmanuelle de Maupassant         

 

 

 

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