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Poesia & Contos Infantis

 

 

 


Viuva... Endinheirada e Ainda Moça / Carlos Cunha
Viuva... Endinheirada e Ainda Moça / Carlos Cunha

 

 

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Viuva... Endinheirada e Ainda Moça

 

Viúva e endinheirada, ela era ainda uma moça muito bonita e além de tudo uma mulher muito gostosa! É claro que não faltou amigo do falecido disposto a amparar e dar consolo pra ela. Dominada por um pranto sentido e com as faces lavadas de lágrimas, Doralice lamentava a morte de seu, como ela não parava de afirmar, insubstituível e adorado marido.

- Ele era tão bom. Por que foi acontecer isso com ele? Eu o amava tanto, o que vai ser de mim agora meu Deus?!

Os amigos – o falecido os tinha muitos e todos estavam presentes ao seu velório – sentiam pena dela e cada um deles procurava consolá-la, mesmo não conseguindo tirar os olhos das curvas de seu corpo maravilhoso e achando que palavras não iam adiantar naquela hora.

- Se acalma Doralice, ele não ia gostar de te ver assim desesperada.

- Todos nós sentimos a falta dele e entendemos o seu grande sofrimento, mas você precisa dominar essa dor para o seu próprio bem. Ele está bem minha querida, seja onde estiver ele está bem.

- Sim, eu sei que só pode estar bem. Ele sempre foi pra mim um bom marido, muito amigo e carinhoso. Era um bom homem e esteja onde estiver só pode ser em um lugar bom, só que isso não diminui a dor da minha perda - Doralice respondia e tornava a cair num pranto sentido e descontrolado.

Num canto da sala a Maria Fernanda, uma amiga da Doralice e do falecido que se encontrava exposto em um rico e sofisticado caixão aberto no centro da sala – na verdade dela muito mais do que amiga, mas também sua amante há já muito tempo – pensava enquanto apreciava a cena que ocorria em sua frente naquele velório:

“Puta que pariu, a Doralice consegue convencer a todos que o seu sofrimento é verdadeiro! Ela merecia ganhar um “Premio Oscar” pela atuação que está conseguindo pra enganar eles, que estão morrendo de pena dela! Nenhum deles imagina o quanto ela está feliz com a morte do filho da puta do José Carlos!”

 

Ele tinha sido uma sumidade no campo em que atuou e poucas pessoas sabiam que Jose Carlos era o seu nome, pois os colegas de trabalho, quase todos bem mais velhos do que ele, e aqueles que o conheciam, através da imprensa ou pessoalmente, invariavelmente o tratavam respeitosamente e até com reverência por Dr. Gomes.
Quando era ainda uma criança aprendia tudo com muita facilidade e se destacava de todas as outras da sua idade. Enquanto seus irmãos jogavam queimada no quintal, ou faziam travessuras, ele passara horas enfurnado em seu quarto a procura de algo nas páginas de um livro ou resolvendo um problema, apresentado por seu professor que se dedicava a ele com carinho e respeito porque via nele uma criança especial.
No colégio, onde começam os primeiros namoros ardentes que marcam o nosso coração, ele era visto como um C.D.F. Sempre tinha tido uma menininha interessada nele, mas somente os seus cadernos e seus professores eram donos de sua atenção. Tinha tido sede incontrolável de saber e só isso lhe interessava.
Ao formar-se ele foi o aluno que conseguiu as notas mais altas nos exames. Um de seus professores comentou, com o diretor do estabelecimento de ensino, na hora em que ele pegava o seu diploma:

- Esse rapaz vai longe, professor Antunes. Dedica-se totalmente a tudo o que faz e tenho certeza que será um grande homem. Destacou-se de todos os outros alunos, em seu aprendizado, e mostrou ser um gênio.

- Essa opinião não é só tua, meu caro. Todos os outros professores sempre respeitaram a ele e o tem em grande estima.

- Vai ser uma pessoa muito famosa na vida. Sua sede de saber é inigualável, tem tudo pra ser um vencedor.

- Não há dúvida quanto a isso, meu caro. Não há dúvida.

 

Essa conversa entre seus educadores mostrou ser, em pouco tempo, uma verdadeira profecia. Alguns anos depois ele tinha um nome que era conhecido mundialmente, por causa das descobertas científicas que tinha efetuado.

Era ainda bastante jovem, um homem muito bonito e já dono de uma riqueza considerável. Isso fazia com que muitas mulheres belas e muito atraentes por ele se interessassem, mas a impressão que tinham era de seu único amor era a ciência. Nunca era visto acompanhado por nenhuma delas e aquelas que o desejavam nunca tinham conseguido, mesmo se oferecendo, ter ao menos um caso com aquele grande homem.

A impressão que elas tinham era de que somente o seu cérebro comandava a sua vida não deixando espaço para outro sentimento que não fosse a sua necessidade de saber, só que não era bem assim.

O nome do secretário do Dr. Gomes era o Afonso. Eles se conheceram e ficaram muito amigos há muitos anos, no tempo em que cursavam a faculdade, e desde essa época tinham o costume jantar juntos sempre que podiam. Naquela noite quando o Jose Carlos foi à casa do amigo, para o jantar, levava consigo uma caixa embrulhada num lindo papel prateado brilhante com uma fita rosa presa nela. Assim que chegou lá deu ela para ele e lhe falou:

- Lembra daquilo que, na semana passada, você me disse que gostaria de ganhar? Fui dar um passeio e encontrei uma que era a sua cara. Espero que goste.

- Quanta gentileza Jose Carlos, eu tenho certeza que vou adorar.

O Afonso abriu o presente, que lhe foi dado pelo amigo, e olhando encantado para o que a caixa continha falou para ele:

- Mas ela é maravilhosa. Você tem um gosto extraordinário.

- Gostou mesmo? Então experimenta pra ver se eu comprei do tamanho certo.

- Vou colocar já. Estou doido para ver como ela fica em mim.

E dizendo isso o Afonso tirou a roupa e vestiu a calcinha amarela de seda rendada que tinha ganhado do patrão, que além de ser um grande amigo era também o seu amante.

Todas as quartas feiras o Dr. Gomes almoçava com a esposa e nunca havia outro compromisso marcado nessa hora, ou algo que ele dissesse considerar tão importante. Deixava o seu escritório por volta das onze horas, ia á uma floricultura ali perto onde as flores que levaria já estavam encomendadas, e se dirigia para casa onde Doralice o esperava para tomarem o vinho preferido dele e depois almoçarem. Voltava depois ao trabalho e ai não tinha hora para dele sair.
Naquele dia tinham terminado de almoçar e conversavam banalidades:

- O que você vai fazer a tarde querida?

- Compras. Já está esfriando e eu preciso de roupas de inverno. Você quer alguma coisa?

- Sim, aproveite e compre alguns pares de meias para mim que estou precisando.

Quando naquela tarde o Dr. Gomes voltou para o escritório, a Doralice foi atacada por uma forte dor de cabeça. Tomou um comprimido e resolveu descansar um pouco até passar, mas ao deitar-se acabou dormindo pesado, talvez por causa do copo de vinho a mais que tinha tomado.

No escritório o Dr. Gomes e seu assistente conversavam:

- Não tem nada importante pra gente fazer até a hora da reunião no fim da tarde. Que tal a gente dar um pulinho até lá em casa e se divertir um pouco?

- A sua casa! Você está doido, e a Doralice?

- Ela vai passar a tarde fazendo compras e com certeza só vai voltar bem tarde como sempre. Nas quartas damos folga aos empregados e mesmo que ela retorne mais cedo á gente vai estar no escritório e dá pra ela uma desculpa qualquer. Dizemos que passamos pra pegar um documento que eu esqueci ou algo assim.

- Ta, se você acha que devemos vamos até lá então.

Foram no carro do secretário e ao chegarem lá o deixaram em frente à casa, por isso não perceberam que o da Doralice estava na garagem e que ela não tinha saído. Ela acordou algum tempo depois, já sem a dor de cabeça e foi até a janela de seu quarto. Viu que o carro do secretário do marido estava em frente a casa e indagou para si mesma:

“O que será que o carro do Afonso está fazendo ai na frente há esta hora? Será que ele veio até aqui pra buscar algum documento:”

Desceu as escadas e quando estava em frente à porta fechada do escritório do marido escutou a voz dele:

- Eu te amo Afonso, mais que tudo na vida!

- Se me amasse de verdade já tinha deixado a Doralice e estaríamos vivendo juntos.

- Você sabe que tenho que manter a minha imagem e por isso preciso viver com ela como se fosse o homem mais feliz do mundo. Tenha paciência querido, eu ainda vou me livrar dela sem ter prejuízos financeiros e sem macular a minha imagem. Quando isso acontecer nós dois vamos para a Europa viver juntos, espere só mais um pouquinho querido.

A Doralice se afastou dali horrorizada, subiu de novo as escadas e voltou para o seu quarto, onde se pôs a chorar enquanto seu marido e o amante trocavam carícias felizes e faziam toda a sacanagem que só dois putos são capazes de fazer.

Naquela noite, ao chegar do trabalho o Dr. Gomes encontrou a esposa sentada em frente à lareira com os olhos pregados na borbulha que subia pelo copo de champanhe que segurava alheia a tudo. Percebeu que estava pálida e ela só percebeu a presença dele quando ele lhe perguntou:

- Você está bem Doralice? Está sentindo algo, nunca te vi assim tão pálida?!

- Oi, estou bem sim. Tive uma enxaqueca depois que você saiu e passei a tarde deitada, na verdade dormindo profundamente. Acho que bebi vinho demais enquanto almoçávamos, ela respondeu e continuou pensativa sem dizer mais nenhuma palavra.

Antes de ir para cama, com a Doralice ainda sentada no mesmo lugar entregue a seus pensamentos, o marido olhou para ela e a aconselhou:

- Acho bom você passar no médico amanhã querida, não me parece nada bem!

Pela manhã, ao sentar-se a mesa para tomar o seu café o Dr. Gomes encontrou nela sua esposa corada e sorridente. Conversaram bastante antes de ele ir despreocupado para o trabalho:

- Ontem você me deu um susto querida, pensei que estava doente!

- Eu te falei que era um mau passageiro, possivelmente por causa do excesso de vinho que tomei no almoço. Não se preocupe que eu nunca me senti melhor na vida!

- Que bom. Eu ia mandar o Afonso marcar hora no médico pra você, mas parece que não precisa.

- É claro que não querido, afinal o Afonso tem coisas bem mais importantes pra fazer por você! – a esposa respondeu cheia de uma ironia que para o Dr. Gomes passou despercebida.

- Bem, eu vou indo pro escritório que o Afonso essa hora já está me esperando. Ele é um funcionário exemplar, o melhor e o mais dedicado que eu tenho!

- Eu sei querido e acho que você deve dar mesmo muito valor á ele, ela respondeu enquanto pensava:

“Bicha velha filho da puta, eu vou te matar. Eu te odeio e vou fazer com que você e o Afonso me paguem muito caro pela dor que me fizeram sentir! Logo vou estar no comando de tudo e vou despedir aquele puto e acabar com o sonho dele de viver na Europa com você.”

Semanas depois, numa quarta feira, o Dr. Gomes teve um enfarto, logo depois de tomar um copo de seu vinho preferido com a sua esposa!

 

Seis meses depois do enterro...

- Você quer um copo de vinho Doralice?

- Sim, eu estou precisando mesmo beber algo.

- Toma então querida, sei que você adora esta marca.

Elas estavam nuas, em um quarto de um dos melhores e mais caros hotéis da Europa, numa tarde de sol ameno. Quando a Maria Fernanda virou o líquido vermelho escuro na taça que sua amante tinha em sua frente, ela lhe disse indignada:

- Esse era o vinho preferido do filho da puta do Jose Carlos! Pega essa porcaria e joga na pia. Você sabe que eu não quero nada que faça lembrar-me dele e do amante daquele safado! Por falar nisso você sabe algo sobre ele?

- Sim. Ele foi despedido da firma, conforme suas ordens, e não consegue emprego em nenhum lugar, por causa das más referências e das estórias que você criou sobre a desonestidade dele. Pelo que estou sabendo o filho da puta está na miséria e até passando fome.

- Eis uma notícia que me deixa feliz. Agora pra comemorar pede pro serviço de quarto o melhor vinho que eles tiverem que eu quero derramá-lo no teu corpo e depois lambê-lo todinho. Vai, anda logo que a notícia que você me deu me deixou cheia de tesão! 

 

                                                                                            Carlos Cunha

 

 

                      

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