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Planeta Criança



Poesia & Contos Infantis

 

 

 


VOANDO PARA VOCÊ / Izabella Mancini
VOANDO PARA VOCÊ / Izabella Mancini

                                                                                                                                                   

                                                                                                                                                  

 

Biblio VT

 

 

 

 

Fernando era apenas um homem divorciado com uma filha pequena quando se apaixonou por sua chefe, a intrigante e autoritária Lola Alvarez. Após uma longa história de amor, o rapaz finalmente conseguiu convencê-la da existência de tal sentimento, mas conflitos do passado fazem com que ambos se separem. Após reencontrar Lola as vésperas do dia dos namorados, Nando decide dar asas aos sentimentos e lutar por Lola até as últimas consequências!
Lola Alvarez não acreditava em histórias de amor até se envolver com Fernando, seu colega de trabalho, em uma viagem organizada pela Empresa. Anos depois, após um namoro feliz com término conturbado, turbulências movimentam a vida do casal, que se reencontra em uma situação inusitada, mas que os levará em direção ao mesmo destino: os braços um do outro!

 


 

 

Atenção senhores passageiros! O voo 012 com destino ao Estado do Matogrosso será adiado em duas horas devido a condições climáticas. Favor aguardar a próxima chamada no horário estipulado pela companhia.

— Isso não pode estar acontecendo! — Lola olha a hora em seu relógio de pulso e suspira longamente.

Aguardava seu embarque há mais de uma hora e ainda teria de esperar as tais condições climáticas melhorarem? Sentou-se novamente na poltrona desconfortável da sala de espera do aeroporto de Guarulhos, em São Paulo, e apertou os olhos em uma lamentação silenciosa.

Onde estava com a cabeça quando decidiu fazer essa viajem? Além de ser uma situação absurda, ainda estava passando por transtornos diversos e uma espera interminável! Talvez Maribel — sua prima e fiel confidente — estivesse certa em alertá-la sobre essa decisão. Ir novamente para o Matogrosso, justamente no hotel onde tudo havia começado, era um erro sem tamanho!

Observou o painel de voos em busca de qualquer um que pudesse ser seu novo destino. Todos estavam lotados ou atrasados. O celular vibrou em seu bolso e o atendeu rapidamente.

— Já embarcou Lola? — A voz de Maribel era preocupada — Você disse que ia mandar mensagem quando estivesse dentro do avião!

— Embarquei para onde? Esse aeroporto está de brincadeira! Quase todos os voos estão lotados e os que estão disponíveis estão atrasados pela terrível chuva que está caindo em São Paulo! — Explica Lola impacientemente, levantando-se para caminhar por perto das bagagens.

— Chuva em São Paulo? Tem coisas piores acontecendo aqui, isso é corriqueiro... E eu te disse que viajar no dia onze era uma loucura! Amanhã é dia dos namorados e todo mundo que pode está se deslocando agora!

— Quem é que vai para o Matogrosso em um domingo à noite, Maribel? — A loira para em frente a uma máquina de bebidas e tira de lá um chá gelado.

— Minha prima maluca que gosta de sofrer! Nunca vi alguém gostar de se martirizar tanto quando você, Lola! Diga-me qual a necessidade de voltar lá logo no dia dos namorados?

Lola se calou perante as palavras da prima e sentou-se novamente para tomar sua bebida. A resposta que Maribel tanto buscava estava oculta em seu coração e nem ela mesma queria saber qual era! Há três anos, especificamente no mesmo dia onze de junho, se encontrava naquele mesmo aeroporto embarcando para o Matogrosso a trabalho e justamente ali tudo havia começado.

— Você sabe que aquele hotel é o meu favorito. Preciso tirar umas férias e é a oportunidade perfeita!

— Você é Diretora Criativa de uma editora famosa e pode tirar férias quando te der na telha, Lola, não queira me enganar! Essa viagem é para ficar mais próxima das lembranças dele!

— Não, não é! — Interrompe a prima com a voz alterada — Eu nem sequer penso mais nele!

— Não deveria mesmo, já que faz quase dois meses que vocês terminaram! Quer dizer... Que você terminou com ele!

— Maribel, por favor!

— Quer saber? Essa viagem vai ser perfeita para você colocar suas ideias no lugar e descobrir que cometeu um grande erro, mas saiba que nada disso adiantará! O Nando se foi, Lola. Você exigiu que ele fosse!

— Não sei do que está falando... Fernando para mim não existe mais faz um bom tempo e tudo está acabado, Maribel. Por favor.

— Como quiser... Mas saiba que sofrer sozinha naquele hotel pensando nele vai ser ainda pior! Você deveria ter pagado uma viagem para a Bahia ou para o Rio de Janeiro, onde iria conhecer gente e se divertir de verdade, não ficar chorando sozinha em um hotel romântico com vista para as montanhas!

— Obrigado pelo conselho. Preciso ir.

— Tudo bem. Eu te amo prima, se cuide.

— Também te amo.

Lola desligou a chamada e juntamente o celular. Não queria ser incomodada por todos que conhecia lhe falando a mesma coisa. Não precisava de ninguém mais dizendo que voltar ao hotel dos Sonhos, onde sua história com Fernando havia começado, era um erro.

Ao menos se sentia confortável sem sua habitual roupa social e a postura durona de chefe autoritária. Podia ficar sentada na sala de espera usando calça jeans, blusa regata e um leve casaco nos ombros. Penteou os cabelos loiros que lhe caiam até os ombros levemente e observou no visor do celular se sua pouca maquiagem ainda estava intacta. Seus olhos esverdeados não escondiam a tristeza dos últimos dias, mas pareciam atentos e cansados.

Era difícil demais se mostrar sempre forte e independente perante os demais enquanto o mundo desmoronava a sua cabeça e os conflitos em seu coração explodiam! Nunca imaginou em toda sua vida que fosse se apaixonar, quanto mais por Fernando, sendo ele seu colega de trabalho! Nunca pensou que fosse sofrer por um homem como sofria por ele, nunca cogitou se apegar de tal maneira que deixá-lo foi à coisa mais dolorosa que fez nos últimos anos!

As lágrimas ardiam em seus olhos quando pensava em tudo o que viveram juntos, principalmente os momentos em que estiveram com Ana Fernanda, à enteada que para ela foi como uma filha durante os últimos três anos.

Conheceu Fernando na editora quando o mesmo foi contratado para fazer parte de sua equipe. Ela era Lola Alvares, Diretora Geral de Criação, uma mulher forte, vencedora e impossível de conquistar. Para todos ao redor, a chefe durona era intocável e uma víbora a mais para lhes atazanar a vida. Fernando, no entanto, com seu jeito singelo e ideias brilhantes soube conquistar a confiança da chefe e se tornar sub Diretor de Criação. A partir dai ambos trabalhavam juntos em quase todos os projetos, mas Lola sempre soube que seu sub Diretor era um homem casado e que tinha uma família.

Apesar de Fernando ser o único membro da equipe com o qual Lola conseguia conversar como um amigo, jamais viu nele um pretendente em potencial e muito menos ousou olhar a relação profissional com segundas intenções. Não podia negar que o porte físico forte e o tom da pele amorenada de Fernando chamavam sua atenção, tanto quanto os olhos negros e o sorriso doce, mas sempre se cobrou manter distância e impor respeito por sua posição hierárquica. Eram companheiros de trabalho e nada mais.

Não demorou até que todos na editora espalhassem que Lola e Fernando eram amantes devido à proximidade com a qual trabalhavam e foi ai, um ano após conhecer Fernando, que Lola soube que seu companheiro de trabalho na verdade era um homem divorciado e que criava a filha de nove anos em guarda conjunta com a antiga esposa.

Partiu de Lola a ideia de se afastar de Nando, por isso pediu que os projetos fossem coordenados por eles separadamente. Nando se ocupou de parte da equipe e ela de outra, fazendo assim com que se vissem cada vez menos. Não estava disposta a ter seu nome envolvido em fofocas e muito menos a ficar conhecida por ser uma mulher pouco profissional. Era famosa na mídia como uma das mulheres mais importantes do ramo jornalístico e de editoração e não podia se dar ao luxo de ver sua reputação corrompida por calunias.

Aquela altura Fernando não era mais capaz de esconder a paixão que nutria por sua chefe, mesmo que platonicamente. Para ele era muito claro que Lola não era do tipo maternal e delicada, mas sim independente e livre, exatamente o oposto da companheira que buscava para si. Não podia esconder a admiração e a atração que a mesma exercia sobre ele, por isso sempre buscava motivos para encontrá-la ou desculpas ridículas para que tratassem sobre qualquer tema remoto.

Em meio a tantos problemas, ainda buscando afastá-lo, Lola conheceu Ana Fernanda em uma festa da editora por casualidade. A garotinha, que na época tinha apenas nove anos, se perdeu do pai e justamente Lola a encontrou vagando sem rumo em meio às pessoas em comemoração.

Não sabia quem era a linda menina de olhos negros, cabelos cacheados e longos, mas se encantou por sua educação e bondade. Conversaram durante alguns minutos e Lola a levou até o setor de comunicação, onde anunciou para todos que a pequena estava em busca de seu pai. As duas comiam algodão doce e riam juntas quando Fernando as avistou de longe e mal pode acreditar que Ana Fernanda estava bem e ao lado de Lola, sua chefe e a mulher com quem vinha sonhando nos últimos meses.

Foi uma agonia perder a menina em meio às pessoas e ainda mais procurá-la sem rumo. Admirou Ana Fernanda comendo algodão doce com as mãos lambuzadas enquanto Lola ajeitava seus cachos na presilha que prendia o cabelo. Era uma visão inacreditável. Pela primeira vez Lola parecia apenas uma mulher como qualquer outra... Doce, terna e carinhosa. A mulher que sorria ao lado de sua filha em nada parecia com a víbora de pedra que apenas sabia cobrar de toda a equipe e posava de quem não tinha coração.

Caminhou lentamente em direção as duas e jamais iria esquecer a expressão de pavor que Lola adotou quando se deu conta de que a linda Ana Fernanda era na verdade sua filha!

— Me desculpe papai... Mas foi bom ter me perdido! Eu conheci a Lola! Ela é minha nova amiga — Lola sorriu para Fernando com certa impaciência quando ele se desculpou pela situação.

— A sua filha é linda... — Comentou a loira observando ainda mais de perto os belos olhos escuros de Fernando – Não sei como não percebi antes que era sua. Ela se parece muito com você!

— Todos dizem isso. Desculpe-me pelo transtorno. Estou muito envolvido com o trabalho e por um minuto me distraí. Não quero que pense que sou um irresponsável, por favor – Ana Fernanda brincava no balanço ao lado deles enquanto ambos conversavam.

— Está tudo bem! Sabe que não misturo vida pessoal com o trabalho e em relação a isso você continua sendo meu melhor homem — O comentário de Lola fez Fernando pigarrear.

Meu melhor homem .

— Isso é um elogio e tanto vindo de você. Sinto-me lisonjeado, Lola. Quero dizer, Senhorita Alvarez — Corrigiu antes que a moça o fizesse.

— Agora você pode me chamar de Lola quando me encontrar fora da Empresa. Parece que a minha nova amiga me conhece pelo nome e você é o pai dela.

— Isso me torna seu amigo? — Fernando questiona sem pensar e Lola torceu os lábios enquanto confabulava uma resposta.

— Pai de minha amiga é melhor. Menos íntimo.

Pela primeira vez em um ano Fernando viu Lola sorrindo sem aquela armadura de mulher inalcançável. Essa Lola era muito mais agradável do que a Lola do escritório, por isso não podia deixar de agradecer Ana Fernanda por lhe proporcionar um momento como aquele. Por casualidade a pequena havia trazido Lola para mais perto do pai.

Lola não conseguiu esquecer Ana Fernanda pelos dias que seguiram. Estava com vinte e oito anos e nunca havia pensado na possibilidade de ser mãe, no entanto a garotinha filha de Fernando havia despertado nela algo adormecido por toda uma vida. Ter um filho sempre significou abrir mão de sua carreira e de seus sonhos, mas agora que tinha o cargo mais alto e a vida mais perfeita via-se sozinha em meio a luxos e glamour. Não havia graça em desfrutar de todos os bens sem alguém para compartilhar e a simples ideia a fazia perceber o quanto estava mudando sua vida aceitar o fato de que Fernando mexia um pouco com seu interior.

Ana Fernanda mandava mensagens a Lola no celular e sempre que ia com o pai até o trabalho passava a tarde toda na sala da chefe “brincando de escritório”. Lola deixava tudo de lado para se dedicar a menina e as fofocas entre os colegas de trabalho eram invitáveis! Fernando seguia em sua posição de meramente colega de trabalho, mas quando a garotinha estava entre eles tudo mudava! Era como se uma chama invisível fosse acesa e as coisas caminhassem para um rumo diferente.

Em uma tarde chuvosa Lola saia do trabalho após um longo dia quando se deparou com Fernando parado no hall da editora com a pequena adormecida em seu colo. Parecia aflito, por isso Lola se aproximou em passos hesitantes para perguntar se estava tudo bem.

— Meu carro quebrou e a mãe de Ana acabou de deixá-la comigo. Estou esperando um táxi, mas não encontro nenhum carro disponível em meio a essa tempestade — Fernando explicou nitidamente nervoso pela situação em que se encontrava.

— Onde você mora? Eu te dou uma carona e ajudo com a menina... — Lola se ofereceu de maneira educada e tentou convencer a si mesma que fazia isso pura e exclusivamente por Ana Fernanda, o que era uma grande mentira!

— Moro na zona norte — A resposta de Fernando foi imediata.

— Ótimo. Eu também. Vamos — O sorriso de Lola foi amigável e ela se adiantou a pegar a bolsa da menina, que usava uniforme escolar e carregava o material.

Fernando seguiu-a e colocou a pequena deitada no banco traseiro do carro de Lola, em seguida se acomodando no banco do passageiro.

— Você gosta de dias chuvosos? — Lola questionou enquanto dirigia em meio ao pé d’água que caia em São Paulo. As marginais estavam lotadas de carros e algumas alagadas pelas enchentes.

— Não, mas devo confessar que hoje está sendo um pouco melhor — Lola tentou esconder o rubor em suas bochechas, por isso aumentou o volume do rádio que tocava uma melodia romântica e sedutora. O clima começou a pesar para os dois, que se sentiram estranhos envolvidos por aquele som em um carro parado no transito em uma noite chuvosa — Obrigado por me ajudar.

— Somos parceiros de trabalho. Você faria o mesmo por mim! — Lola mudou a rádio e uma música mais tranquila começou a tocar. Ambos relaxaram os ombros quando a tensão se dissipou.

Demorou cerca de uma hora até Lola conseguir sair do trânsito e chegar até o condomínio de Nando, que vivia muito bem em um bairro nobre da capital paulista surpreendentemente próximo ao dela.

— Por favor, Lola, entre! Vou pedir comida japonesa para mim e Ana e você é nossa convidada! — Nando disse após descerem do carro em frente ao condomínio em um lugar coberto e seguro.

— Não Fernando, muito obrigado, mas...

— Por favor, Lola! — Ana Fernanda grudou em uma das mãos da loira e implorou com os olhos escuros brilhantes — Fique para jantar! Nós podemos brincar, eu posso te mostrar minhas bonecas... Por favor!

Lola tentou se esquivar, mas as súplicas inocentes lhe arrebataram a alma e fugir não era uma opção. Tentou se convencer de que não havia nada de errado em jantar com eles em agradecimento a um favor que lhes havia feito. Ficou e se impressionou com o apartamento de Nando, que era muito arrumado e decorado com bom gosto. Havia várias fotos de Ana Fernanda espalhadas pelo imóvel e ali Lola ficou sabendo o quanto ele era devoto pela filha.

Lola brincou com Ana enquanto aguardava a comida chegar e conheceu todas as bonecas da garota. Descobriu também que Ana Fernanda ficava muito mais tempo com Fernando do que com a mãe, que era uma professora universitária mais preocupada com o trabalho do que com a educação da filha. Ana era uma menina doce e carente de mãe, por isso via em Lola uma figura feminina exemplar e gentil. Fernando não podia deixar de notar o quão feliz a menina ficava ao lado de sua chefe, que sempre se mostrava outra mulher longe do ambiente laboral.

Ana comeu alegremente e dormiu ainda quando Lola e Fernando concluíram seus pratos. Ao final da noite encontravam-se sentados na sala contemplando a chuva caindo da varanda do apartamento. Ana Fernanda dormia nos braços do pai e Lola sentou em frente aos dois, próxima demais para alguém que não deveria misturar vida profissional com pessoal.

— Me surpreendi quando soube que você tinha uma filha.

— Também me surpreendi com a sua reação ao saber sobre ela. Você não faz o tipo que gosta de crianças, senhorita Alvarez — Lola sorriu.

— Ela é linda. Uma menina de ouro e muito inteligente. Vai ser uma mulher de sucesso! — Fernando piscou para ela.

— Contanto que seja feliz, ela pode ser o que quiser... — O silêncio dominou por alguns minutos e Lola finalmente criou coragem de perguntar o que estava entalado.

— Você é separado há muito tempo?

— Desde que Aninha tinha nove meses de vida — Lola se surpreende com o tempo — A mãe dela é uma pessoa difícil e nós não tínhamos os mesmos objetivos. Pensamos que Ana salvaria nosso casamento, mas depois que ela nasceu tudo veio a baixo de verdade. Hoje em dia nos damos bem como pais da mesma criança. A guarda de Ana Fernanda é compartilhada, mas Andressa cuida de suas necessidades mais de perto. Eu pago pensão e tudo a elas...

— Ela me disse que prefere ficar com você.

— É porque tenho mais tempo para dar atenção. Ana é minha vida, sem ela não sei o que me motivaria a continuar... É um amor inexplicável — Nando acaricia o cabelo da filha com cuidado e Lola não pode deixar de sentir o coração abalado por isso — Você não pensa em ter filhos, senhorita Alvarez?

— Eu? Filhos? — Lola ri ironicamente e nega com um aceno — Não, é claro que não!

— Você leva jeito... Ana gosta muito de sua companhia.

— É porque ela é gentil. Não tenho vontade de me casar e nem ter filhos. Isso não é para mim, de fato — Fernando parece não concordar dada sua expressão de desacordo.

— Como pode ter certeza?

— Porque nunca sonhei com isso. Sempre quis fazer sucesso e carreira e é para o que me dedico. Filhos e marido são coisas que somente funcionam nos contos de fadas, não na vida real. Em geral significam problemas!

— Sucesso e carreira para você curtir sozinha? Não faz muito sentido... — Lola dá de ombros.

— Muita coisa não faz sentido na vida.

— E nem tudo é como nós planejamos.

Lola demorou alguns segundos encarando os enigmáticos olhos negros de Fernando e para finalizar a noite o ajudou a colocar a pequena Ana em sua cama. Naquela noite antes de ir embora, enquanto via Nando arrumar a cama de Ana Fernanda, Lola descobriu que seu colega de trabalho tinha uma grande tatuagem no braço forte e aquilo chamou sua atenção. Ele havia tirado a habitual camisa de manga longa e agora usava um modelo de mangas curtas. Somente por tal fato Lola havia descoberto o segredo. O desenho era negro e tratava-se de um tribal bem elaborado.

— Você tem uma tatuagem? — Questionou quando ambos pararam em frente à porta de saída e Lola já estava coberta por seu longo casaco vermelho.

— Ah sim... Não mostro muito para os demais no trabalho porque pode causar problemas. Espero que não te incomode — Nando parecia nervoso pelo descuido de Lola ter visto a tatuagem sendo ela sua chefe.

— Não, eu achei incrível... Quer dizer... — Lola enrubesceu pela forma empolgada como falou – Não vi tudo, mas achei um desenho ótimo! Parabéns ao tatuador.

— Sério? – Nando puxou a camisa de modo a desnudar parte do ombro e mostrou a Lola um pouco mais do desenho — Ela é bem longa, continua nas costas e confesso que me arrependi de fazer tão grande.

— Ah... — O rosto de Lola enrubesceu ainda mais e a moça não conseguiu disfarçar a olhada sinuosa que lançou para o corpo de Fernando, que era largo, forte e atraente — Muito bom. É um ótimo desenho! Para você ver como é a vida... Jamais imaginei que o senhor certinho fosse capaz de ter uma tatuagem desse tamanho!

Fernando se tapou novamente e sorriu amigavelmente.

— O senhor certinho é um homem como qualquer outro. Aliás, também jamais achei que a senhorita durona iria vir brincar de boneca com minha filha aqui em casa — Lola abraçou a si mesma e revirou os olhos perante as palavras.

— Não vou dizer que sou uma mulher como qualquer outra.

— Que bom, porque você não é — Lola encarou-o e enxergou por trás das palavras o elogio singelo — Qualquer dia te mostro o desenho completo.

— Se eu quiser ver te avisarei — Lola pisca para ele e a própria abre a porta com as mãos trêmulas — Até mais, Fernando.

— Até mais senhorita Alvarez. Muito obrigado por tudo.

— Igualmente.

Lola não conseguiu dormir por toda a noite pensando em Fernando e sua filhinha. Não conseguiu esquecer as palavras dele sobre as surpresas da vida e muito menos compreender o porquê de sentir o que sentia ao lado de um homem que não fazia em nada seu tipo!

Sempre saiu com homens descolados, que não pretendiam nada além de ganhar muito dinheiro, beber uísque caro e conhecer os lugares do mundo. Nunca gostou de pessoas apegadas a família e sentimentais como Fernando, mas algo nele a atraia fortemente! Talvez algo nela estivesse mudando com a proximidade dos trinte anos e era muito normal, segundo Maribel. Lola sentia em seu coração a necessidade de mudar, talvez criar raízes.

Apesar de tudo, não estava em seus planos começar algo com Fernando, tanto que nos dias seguintes buscou se afastar dele ainda mais do que habitualmente o fazia. O mês dos namorados chegou e na editora o maior projeto era patrocinar grandes hotéis brasileiros e divulgar locais acolhedores para uma noite romântica. A nota central iria para as bancas no final de Junho e deveria abordar de um grande hotel no interior do Matogrosso — chamado Hotel dos Sonhos — criado especialmente para casais recém-casados. A matéria falaria das histórias de amor que ali aconteciam. Lola ficou designada para ir até o local tomar depoimentos e escrever, mas para isso precisaria de um fotografo... E foi ai onde tudo começou.

Todos os melhores fotógrafos com os quais Lola trabalhava estavam ocupados em projetos e não teriam disponibilidade para viajar as vésperas do dia dos namorados. Passou a tarde toda ligando para vários parceiros da editora, mas ninguém conseguiria lhe acompanhar. Foi quando Nando entrou em sua sala para levar alguns papéis e a lembrou de que também tinha curso de fotografia e aventurava-se como fotografo em alguns números da revista.

Lola não hesitou em convidá-lo para acompanha-la e servir de fotografo na viagem, tão pouco Nando recusou! Ambos se prepararam em uma noite para irem até o tal hotel no Matogrosso realizarem o trabalho. A moça não pensou nos riscos que corria sozinha com Nando e toda a atração que sentiam, estava mais preocupada em sobreviver à viagem e voltar inteira para divulgar o próximo número. Sobrecarregada que estava, não se lembrou de também reservar dois quartos no hotel.

No aeroporto de Guarulhos na tarde do dia onze de Junho ambos começariam uma viagem com fins de trabalho, mas que se converteria nos momentos mais bonitos que Lola já havia passado ao lado de um homem. As surpresas, no entanto, começaram a aparecer quando ambos chegaram ao hotel.

— Mas nós somos da editora! Minha assistente ligou e reservou a estadia! — Lola afirmou para a moça da recepção quando chegaram.

— Sim, sua assistente reservou um quarto Premium por três dias, senhorita Alvarez, não dois quartos! — Explicou a moça também aflita.

— Mas não importa! Eu fico em qualquer quarto disponível! — Nando interveio querendo resolver o problema.

— Não temos quartos, senhor. Amanhã é dia dos namorados e o hotel está cheio, sem qualquer possibilidade de hospedagem para essa semana além do reservado!

Lola e Nando se olharam de maneira apreensiva e profunda. Não havia o que fazer, uma vez que a própria Lola havia cometido a gafe de não reservar um quarto a mais! Ambos teriam de ficar juntos no quarto Premium pelos três dias de hospedagem.

O quarto era tão lindo quanto o hotel, que era localizado em frente a belas montanhas e tinha uma vista maravilhosa por todo o arredor. O quarto Premium contava com banheira, hidromassagem, piscina privada e aquecida, frigobar e uma linda e incrível cama localizada em meio a um cômodo com teto de vidro. Era possível deitar ali e contemplar o céu repleto de estrelas durante a noite.

— Uau... Realmente nunca estiver em um lugar mais lindo! — Lola comentou retirando os óculos de grau que cobriam seu rosto ao chegarem ao quarto. Nando ficou maravilhado olhando em todas as direções.

— A senhorita sucesso profi s sional já esteve em Paris, Roma e Espanha e ainda me diz que nunca viu lugar melhor? — Ironiza.

— Acredite... Nunca vi lugar mais bonito.

Lola e Fernando não tiveram problemas em dividir o grande quarto, já que Lola dormiria na cama e Nando no sofá ao canto. No entanto, naquela mesma noite fria de Junho Lola deitou na cama grande para observar as estrelas e ficou maravilhada com a visão. Chamou Nando para contemplar o céu com ela e o mesmo se deitou ao lado na cama macia.

Aquela altura Lola já não sabia o que fazer para fugir do que sentia por Nando. Não era capaz de dissimular mais seus sentimentos e tão pouco se mostrar alheia à atração entre ambos. Não era capaz de resistir ao que estavam prestes a viver.

— Não preciso ir muito longe para saber que existe coisa mais bonita do que esse céu todo... – Nando comentou deitado ao lado de Lola, mas olhando para ela. A moça olhava para o céu.

— O que pode ser mais bonito do que isso? — Olhou para ele com os olhos verdes iluminados pela luz das estrelas.

— Você, senhorita Alvarez, e tudo o que trago no coração para contigo — A maneira como Nando foi direto ao ponto fez Lola hesitar uns segundos. Realmente foi pega de surpresa – Não posso mais esconder que sou apaixonado por você.

— Está falando isso porque já é meia-noite e é dia dos namorados, certo? — Sorriu como se levasse na brincadeira.

— Não, Lola — Fernando se ergueu e ficou por cima do olhar de Lola, que agora contemplava os olhos negros ao invés das estrelas — É a verdade. Sou apaixonado por você e não aguento mais ficar brincando de gato e rato! Não é por me achar, mas sei que você também sente algo e...

Lola não deixa que ele termine. Seus dedos se entrelaçam na nuca de Fernando e ela o puxou para um beijo profundo e doce, marcante e diferente de tudo que já havia provado em sua vida. O beijo dele tinha sabor de novidade, frescor e um novo sentido. O beijo dele era terno e carinhoso. Fernando. Ela também estava apaixonada, mas não sabia dizer com palavras, somente com gestos.

Tanto Fernando quanto Lola sabiam que aquilo não podia acontecer, mas não buscaram pensar em algo para evitar. O bem que faziam um ao outro era maior do que qualquer impedimento, seja a relação de trabalho ou a vida pessoal conturbada que vinham levando. Decidiram se entregar ao que sentiam enquanto estavam juntos no hotel e distantes de qualquer coisa que pudesse os atrapalhar.

Lola, que nunca acreditou em contos de fadas, viveu seu próprio conto ao lado de Fernando naqueles dias no hotel. Acreditou a partir dai que talvez estivesse errada esse tempo todo... Marido e filhos podiam sim fazer parte de uma vida de sucesso e talvez significasse o todo! Não podia negar que Fernando a fazia feliz e era ótimo estar apaixonada pela primeira vez em seus quase trinta anos.

Fizeram um dos melhores trabalhos de suas carreiras naqueles três dias e viveram momentos inesquecíveis! O dia dos namorados, nunca antes comemorado por Lola, foi marcado por um pedido de namoro inesperado em um jantar romântico que compartilharam.

— Eu sei que é cedo demais, mas espero por esse momento há muito tempo! Tenho certeza de que você é a mulher perfeita para estar ao meu lado e estou muito apaixonado, Lola — Os olhos escuros brilhavam um pouco tímidos a luz da lareira do restaurante e foi impossível para Lola raciocinar com clareza.

— Estou me sentindo uma adolescente... — Sussurrou se aproximando de Fernando lentamente.

— Isso é um sim? — Ele sorria largamente e não escondia a emoção de finalmente estar se declarando para sua amada, a mulher que desejou calado por tanto tempo.

— É loucura, mas sim! Eu aceito ser sua namorada, Nando! — O beijo apaixonado foi regado por vinho e muita felicidade.

Já que tudo estava indo rápido demais, Lola resolveu arriscar! Naquela noite a loira conheceu o restante da tatuagem de Fernando e aprendeu que fazer amor, quando de fato havia amor, significava muito mais do que um mero ato. Com Fernando era diferente e Lola se convencia a cada minuto que ele tinha razão... Eram as pessoas certas um para o outro!

O conto de fadas no hotel chegou ao fim, mas ambos não se separaram. Não divulgaram imediatamente a relação, mas não foi fácil escondê-la no ambiente de trabalho e tão pouco de seus familiares. Os colegas da editora já especulavam o romance há muito tempo, quando nada ocorria, por isso não foi surpresa quando duas colegas flagraram Lola e Nando aos beijos na sala da chefe! O presidente da editora os convocou para uma conversa e enfatizou que se ambos soubessem separar a vida profissional da vida pessoa tudo estaria bem para a empresa. Os dois concordaram em acatar as ordens e tomaram mais cuidado dali em diante.

A pequena Ana Fernanda ficou muito animada em conhecer a nova namorada do papai, mas sua felicidade eclodiu mesmo quando descobriu que sua nova madrasta era Lola! Não podia ter sido mais perfeito ter alguém que gostava tão próxima de sua vida em uma posição importante.

Lola mudou seus planos e partir dali e passou a enxergar a vida de outra maneira. Sua prioridade agora era estar sempre com Nando e Ana, vivendo juntos momentos felizes e planejando um futuro próspero. Jamais se julgou capaz de viver o que vivia e muito menos de se projetar como uma futura mãe e esposa . Seus pais ficaram contentes com o namoro da única filha e ainda mais por Fernando ser um homem responsável, bem sucedido e de caráter. Nada podia ser mais perfeito para ambos!

Claro que Andressa, a mãe de Ana Fernanda, não gostou de ter que dividir a filha com uma nova mulher. Não gostou também de saber que seu antigo marido agora era um homem comprometido, que tinha planos de ficar noivo e estava seguindo a vida sem ela. Não era fácil ver Ana preferindo ficar com a tal Lola do que ao seu lado, assim como não era viável perder a menina e a grande pensão que Fernando pagava todos os meses para seus gastos! Andressa trabalhava, mas não ganhava o suficiente para manter a vida de luxos que possuía com a filha sob seu teto.

A ex-mulher de Fernando não queria que ele se casasse. Se Fernando estivesse em uma união estável e a filha, agora com dez anos, escolhesse ficar com ele e Lola, nada poderia ser feito! Empenhou-se em trabalhar a mente de Ana contra o pai e a madrasta, mas a garotinha tinha a predileção definida e não estava aberta a mudanças. Seria muito difícil convencê-la.

Já fazia dois anos e meio que Lola e Nando namoravam quando Andressa sentiu de fato a pressão explodir! Nando cogitava vender a casa e comprar uma maior para o casamento, por isso havia convidado Ana para morar com ele. Ana Fernanda, já com onze anos, não hesitou em aceitar e foi ai que Andressa decidiu tentar reconquistar o ex-marido. Passou a tornar o namoro de Lola e Fernando um inferno, metendo-se sempre nos planos com a desculpa de que o fazia por Ana.

Lola lutou com unhas e dentes para afastar as ameaças de Andressa, mas, além disso, enfrentava com seu namorado um embate íntimo... Sabia que Nando não tinha qualquer interesse por Andressa, porém a mesma havia deixado severas marcas com o término do relacionamento de ambos no passado e Fernando era muito marcado por tais acontecimentos. No fundo acreditava que Lola poderia fazer o mesmo quando se casassem, já que o namoro com Andressa foi positivo e tudo desmoronou após o casamento.

Fernando amava Lola, mas temia que após casarem a moça se desiludisse com a rotina e a chegada dos filhos, exatamente como aconteceu com Andressa no passado. Lola sempre foi autoritária e livre, características que contribuíam para aumentar as inseguranças de Nando. Temia perder a mulher amada para a modernidade e ficar sem Lola e os filhos que teriam. Não queria perder a melhor coisa de sua vida, mas não se aventurava em dizer nada disso para ela.

Lola, em sua posição de namorada há dois anos e meio, aguardava o momento em que seria pedida em casamento! Nunca foi seu sonho, mas queria dividir a vida com Nando, cuidar de Ana e ter sua própria criança. O amor trouxe isso a ela, mas nada parecia acontecer. Nando não a pedia em casamento e não parecia ter planos de fazê-lo. Tal fato a transtornava e a fazia pensar que perdia tempo com alguém sem planos, alguém que não acreditava nela!

Faltavam dois meses para o aniversário de namoro que completaria três anos quando o mundo de Lola de verdade desmoronou! Preparou uma grande surpresa para Nando no aniversário dele, iria levá-lo ao melhor restaurante da cidade e ela mesma pediria o namorado em casamento! Quem sabe partindo dela a ideia do perdido, a segurança de Fernando se tornasse mais real? Faltavam exatamente dois meses para o dia dos namorados e com sempre comemorariam no hotel dos Sonhos, no Matogrosso. Queria ir viajar já noiva e muito feliz para o lugar favorito de ambos.

Tudo foi inesperado e doloroso.

Lola chegou à casa de Nando e o flagrou em uma conversa com Andressa onde a ex-mulher de seu namorado enumerava para ele todos os motivos pelo qual não deveria mais se envolver com Lola! Nando nada dizia, apenas a escutava, algo que para Lola era quase uma concordância. Andressa falou sobre a instabilidade de Lola, a vida leviana que levou durantes os anos de solteirice e a falta de responsabilidade para com o lar. Sem perder tempo, falou também que Fernando não conseguiria fazer Lola feliz como não fez a própria Andressa, pois um casamento deveria ser baseado em diversas qualidades que Lola não possuía.

Ouvir cada palavra e ver que Fernando nada dizia foi terrível para Lola, que se sentiu ainda mais derrotada quando viu Andressa acariciar o rosto de Fernando e lhe dar um beijo nos lábios. O rapaz manteve-se imóvel e totalmente transtornado por tudo que tinha acabado de ouvir. Andressa queria voltar para ele e talvez fosse o certo a ser feito! Talvez fosse certo Fernando reconstruir sua vida com a mulher que tanto o dilacerou no passado e foi isso que Lola disse a ele quando tomou coragem de confrontá-lo.

Doeu encarar o homem que amava enquanto dizia coisas terríveis a ele. Doeu ainda mais ter que dizer que nunca mais queria vê-lo!

— Aquilo não significou nada para mim, Lola, você sabe! Ela me pegou desprevenido! — Fernando a segurou pelo braço antes que saísse e a puxou em direção a ele. Lola não se deixou abater pela vontade imensa de abraçá-lo e seguiu firme em sua postura.

— A única coisa que sei é que você não confia em mim o suficiente para me ter de todos os modos em sua vida! — O dedo indicador de Lola apontava para o peito de Nando e ele nada fazia a não ser observá-la com admiração. Em qualquer situação aquela mulher se mostrava segura e verdadeira de uma maneira impressionante — O que me magoou não foi o beijo que ela te deu ou as palavras que disse... O que tocou fundo foi ver o homem que me fez compreender o sentido de amor e família se calar perante tais argumentos! O que me machuca é saber que você, a pessoa que me fez mudar os planos de toda uma vida, não confia em mim nem por um segundo!

— Lola... — Tentou falar, mas não sabia o que dizer. Os olhos verdes da loira pareciam inflexíveis — Por favor!

— Lola, por favor ? É nisso que se baseia tudo, afinal? — Sorriu de maneira irônica e apontou para o lindo vestido azul que usava em combinação com um maravilhoso sapato — Essa produção toda aqui foi para te fazer uma surpresa! Foi para te pedir em noivado ! A tonta aqui acreditou que talvez você se sentisse mais seguro!

— O que?

Os olhos de Lola se estreitaram para evitar as lágrimas. Pela primeira vez na vida se via em uma situação onde não podia ter o controle de tudo e aquilo a constrangia de maneira absurda! Tudo o que queria era sumir e nunca mais precisar ver Fernando... Era o que faria.

— Adeus Fernando. Nossa história acaba aqui. Não me procure mais!

Fernando correu atrás de Lola até o carro, mas apenas conseguiu ser ignorado pela postura fria e magnânima tão conhecida por ele em sua antiga chefe de departamento, aquela que existia antes de ambos se relacionarem. A antiga Lola estava dando lugar à mulher carinhosa que foi sua por dois anos e meio... Fernando já não sabia se seria capaz de recuperá-la!

Lola nunca antes havia chorado a ausência de um homem como chorou a de Fernando. Na verdade não sabia sequer se compreendia o sentido de chorar por amor, algo que sempre julgou ser estúpido e fantasioso. Era terrível estar acostumada a alguém e não tê-lo por perto. Sentia falta de acordar ao lado de Nando nos finais de semana, de poder ligar para ele sempre que tinha algum problema ou por pura saudade... Sentia a ausência dele no trabalho, no almoço e nos passeios que costumavam dar ao lado de Ana Fernanda! Chorou pelo abraço perdido, pelos beijos apagados e pelos planos lançados ao vento! Nada era mais doloroso do que pensar em tudo o que havia planejado e que agora já não aconteceria.

Era como ter um vazio estar longe de Fernando e Lola não sabia lidar com essa dor!

Havia muito dele presente nela, tanto que era incapaz de ignorar! A convivência a trouxe gestos, manias e palavras que vinham dele, algo tão presente e forte que a fazia chorar apenas por existir. Não podia crer que o amava tanto, por isso se pegou com o celular entre os dedos em várias madrugadas digitando mensagens sem sentido para um alguém que já não se importava...

Ela nunca iria saber, mas o mesmo se passava com Fernando.


Nando não achava justo fazer Lola sofrer novamente por seus embates pessoais, mas saber que ela pretendia pedi-lo em casamento o fez acordar para a vida. Agora era tarde... Agora Lola já não queria mais nada! Chorou por aquela mulher como um menino chora por um doce e foi consolado por Ana Fernanda em várias ocasiões. A própria filha sentia mais a falta da madrasta do que da própria mãe, mostrando a Fernando o quanto era importante à presença daquela mulher em suas vidas!

Amava Lola demasiadamente, mas agora não tinha mais chances. Era terrível saber que perdeu a pessoa mais maravilhosa que já havia passado por sua vida por um erro sem sentido! Decidiu seguir a experiência e dar um tempo a ela... Quem sabe sentisse sua falta e desejasse conversar? Esperou uma semana... Três... Seis... Até que decidiu se prontificar.

O único contato entre ambos se limitava ao escritório e a trabalho, por isso decidiu fazer uma surpresa para ela em casa. Foi visitá-la na oitava semana, exatamente em um domingo onde tinha certeza que a encontraria despreocupada e relaxada. Foi surpreendido quando Maribel abriu a porta e seu sorriso se desfez.

— Lola está de férias, Nando, sinto muito! — A ruiva disse cruzando os braços em frente ao corpo para se proteger do frio que a chuva trazia naquela manhã – Estou ficando aqui para cuidar da Malu, a cadelinha dela.

— Férias? Mas no meio da temporada?

— Pois é, sabe como é a Lola... Ela faz o que dá na telha quando está empenhada em tentar.

— Tentar me esquecer, é isso que quer dizer? – Maribel corou e deu de ombros.

— Talvez...

— Sabe para onde ela foi?

— Olha, não estou muito segura. Ela inicialmente tinha um destino, mas ao que parece os voos estavam atrapalhados e teve que mudar. Não sei te garantir onde ela está, pois já faz quinze minutos que não consigo encontrá-la, o celular está desligado!

Viajar para esquecê-lo ... Era isso que Lola faria, afinal? A grande mulher de sucesso fugiria dos problemas como uma menina assustada!

Fernando sentiu um grande aperto no peito e seu primeiro reflexo foi adentrar ao carro e dirigir até o aeroporto. Não importava o que lhe custaria, também viajaria para esquecer Lola! Nem que ficasse apenas uma noite, queria também se aventurar em algo diferente para aplacar a dor em sua alma ansiosa! Já não havia esperança, por isso agradeceu por Ana Fernanda estar essa semana na casa da mãe e por ter alguns dias de folga para tirar do trabalho! Dirigiu até o aeroporto de Guarulhos, relativamente próximo da casa de Lola, carregando apenas seus documentos pessoais e umas poucas trocas de roupas que tinha no carro.

Pediu a um amigo que buscasse seu carro no estacionamento do aeroporto e se dirigiu ao guichê de compras sem hesitar! Já sabia para onde ir e seguramente encontraria neste lugar suas respostas... Precisava sentir a dor na pele para esquecê-la.

Conseguiu as passagens para um voo atrasado e que tinha tido muitas desistências! Para sua sorte o mesmo decolaria dali alguns poucos minutos. Seria ainda mais sortudo se conseguisse reservar um quarto em seu local de destino, mas as linhas telefônicas não pareciam colaborar dentro do aeroporto. Não havia mais tempo! Teria de contar com a sorte e esperava que a mesma estivesse ao seu lado... Ao menos ela!


Atenção senhores passageiros! O voo 012 com destino ao Estado do Matogrosso está preparado para a decolagem. Favor dirigir-se ao portão de embarque.

 

Lola agradeceu silenciosamente por finalmente poder se livrar da dura cadeira e da larga espera. Tudo o que desejava fazer agora era chegar ao hotel dos Sonhos e deitar-se sob as estrelas brilhantes e contemplá-las por horas a fio. Não havia nada no mundo que pudesse lhe proporcionar mais paz a essa altura de sua solitária vida...

Espreguiçou-se, avistando próxima dali uma lojinha de souvenires e se animou ao notar que havia uma almofadinha de pescoço colorida acenando ao longe. Seria uma ótima ideia adquirir uma delas para relaxar durante o voo de duas horas até o Aeroporto Internacional de Campo Grande e mais alguns minutos de táxi até o hotel. Certamente se não fossem as longas horas de espera pelo avião não estaria tão cansada e dolorida.

Caminhou levando sua bagagem de mão até a pequena loja e apanhou uma das almofadas fofinhas e coloridas. Dirigiu-se ao caixa rapidamente e avistou uma pequena fila de pagamento. Mordeu os lábios quando reparou em uma figura familiar a sua frente, mas não teve coragem de perguntar se realmente era a pessoa da qual suspeitava.

Ombros largos. Cabelos escuros. Uma camiseta vermelha que ela mesma havia comprado! Apertou os olhos quando reparou na tatuagem despontando em um dos lados do corpo, um pouco acima do cotovelo.

— Isso é um pesadelo... — Sussurrou para si mesma e o leve tom de sua voz fez com que Fernando se virasse no mesmo instante.

— Lola? — Questionou surpreso, segurando em suas mãos algumas peças de roupa e uma pequena almofada de pescoço cinza — O que está fazendo aqui?

— Sou eu quem te pergunto... O que está fazendo aqui exatamente agora ? — O tom nervoso da moça fez Fernando recuar um pouco.

— Estou indo viajar!

— Viajar? Amanhã é segunda-feira e você tem que trabalhar! A editora não pode parar! – Encarnar a chefe autoritária era a única saída para Lola conseguir descobrir o segredo por trás daquela aparição.

— Me desculpe, mas já contatei o pessoal de recursos humanos e tenho alguns dias de folga para aproveitar no banco de horas! — Lola cruzou os braços e suspirou longamente — Além disso, estamos distantes do fechamento e meu pessoal está cuidado da matéria. Tudo sob controle!

— Tudo sob controle? Sei...

— Porque está tão nervosa? Você também está indo viajar, não está? — Atentou-se a mala de mão que ela trazia e a almofadinha de pescoço — Porque implica comigo se está fazendo o mesmo?

— Estou tirando férias! Minhas merecidas férias depois de um ano desastroso!

— Estamos no mês seis, Lola... Por favor!

— Que bom! Se estivéssemos acima disso acho que eu já teria infartado aos trinta anos!

Chegou à vez de Fernando pagar a conta e ele deixou que Lola passasse a sua frente de maneira educada. Encarando-o com desconfiança, aceitou e passou sua compra rapidamente, ainda se perguntando o que estaria fazendo ali seu ex-namorado às vésperas do dia dos namorados! Deixou-o sozinho dentro da loja após pagar e parou em frente à entrada com o coração na boca. Era difícil vê-lo quando estava embarcando para o lugar favorito de ambos pela primeira vez sozinha!

— Lola, espera...

— Está me seguindo, Fernando? — Questionou se assustando com o chamado dele, que parou a frente dela com a expressão nervosa.

— Claro que não! Nunca imaginei te encontrar aqui!

— Então o que está acontecendo?

— Também não estou entendendo! Para onde está indo?

Lola se calou perante a pergunta repentina e respirou profundamente. Não iria dizer a ele seu local de destino. Não evidenciaria seu sofrimento tão de cara!

— Não é de seu interesse... — Fernando rodou os olhos no rosto — Mas imagino que para um lugar muito menos interessante do que o seu destino! Está indo curtir com Andressa e Ana? Que bom que agora voltaram a ser uma família feliz, desejo muita sorte!

Lola ia saindo quando Nando a agarrou pelo braço e a puxou de volta para si. Era a primeira vez em dois meses que o sentia tão próximo e isso a fez estremecer.

— Eu não tenho nada com Andressa. Ela apenas é a mãe de minha filha! — Relembrou enfaticamente e Lola se desvencilhou com cuidado.

— Não se preocupe... É normal beijar a mãe da filha, afinal — Fernando suspirou e adotou uma expressão derrotada — Mais alguma coisa?

— Eu só... — Tentou falar algo, mas engoliu as palavras — Não. Mais nada.

— Então Adeus, Fernando. Tenha uma boa viajem.

Lola virou as costas e seguiu em direção à porta de embarque sem hesitar. Sentia o olhar firme de Fernando a suas costas e teve de resistir muito para não voltar lá e se atirar nos braços dele como uma menina tonta... Sabia que não podia fazer isso e se o fizesse seria muito tola! Não podia mais ser tratada como uma pessoa pouco confiável e ficar ao lado de alguém que não tinha planos com ela.

Doía em sua alma, mas era necessário esquecê-lo. Era necessário doer!

Embarcou com lágrimas nos olhos e segurando os soluços. Sentou-se na poltrona da janela em um dos assentos da primeira classe e colocou fones nos ouvidos para relaxar ao som de alguma canção. Não podia passar toda uma vida amando Fernando e sofrendo por isso!


Fernando sentou-se um pouco antes de embarcar e pensou seriamente no que tinha se transformado sua vida! Não só havia perdido a mulher que amava por causa de Andressa, mas por sua própria teimosia e seus próprios medos! Se houvesse confiado em Lola não estaria indo sozinho para o local favorito deles enquanto ela viajava para longe visando esquecê-lo... Temia não vê-la nunca mais e encontrar sempre aquele tratamento terrível quando se cruzassem.

Embarcou com o peito apertado, questionando se fazia o certo em voltar ao hotel dos Sonhos. Estar lá apenas o faria lembrar os momentos ao lado de Lola e iria doer... Ah como iria!

— Hoje é dia dos passageiros embarcarem chorando... — Comentou uma das aeromoças enquanto via Fernando se dirigindo ao seu assento, um dos melhores localizados na primeira classe.

Para onde Lola estaria indo? Porque parecia tão decidida a esquecê-lo? Será que já havia outro alguém em sua vida, por isso viajava sozinha as vésperas do dia dos namorados?

Fernando não precisou ir muito longe para encontrar sua poltrona, apenas sentou-se de maneira derrotada tapando o rosto com as mãos. Havia perdido Lola para sempre e somente agora se dava conta de tal fato... Somente agora, depois de se encontrarem fora do escritório dois meses após o término, compreendia que não existia mais um retorno. Lola estava em outra... Muito distante dele. Já não o amava!

— Moça, com licença? Será que pode me trazer uma taça de champanhe e qualquer coisa que tenha chocolate?

A voz era familiar e Fernando apenas destapou o rosto para ter certeza de quem se tratava... O bonito cabelo loiro se movimentava duas fileiras à frente e, ao que parecia, além deles havia apenas um casal de idosos ocupando toda a primeira classe.

Lola está em seu voo. Está indo para o Matogrosso!

— Claro... Algo de chocolate? A senhora poderia me dar um exemplo?

— Senhora não... Senhorita ! Não sou casada! — Corrigiu com cordialidade.

— Desculpe... A senhorita poderia me dar algum exemplo? — Insistiu a aeromoça delicadamente.

Fernando não hesitou em se levantar e caminhar em direção a elas. Parou ao lado da aeromoça e viu os olhos verdes de Lola saltando em seu rosto inchado. Era evidente que estava chorando minutos atrás.

— A senhorita gosta de bolo com bastante cobertura ou sorvete com muita calda... É sempre bom exagerar quando estamos falando de Lola. Ela por si só é puro exagero!

A moça parecia desconcertada entre o casal, que se encarava em silêncio. Assentiu com educação e saiu sem dizer qualquer coisa. Fernando não hesitou em sentar-se ao lado de Lola, que seguia estática em sua poltrona.

— O que está fazendo aqui de novo , Fernando? – Questionou nervosamente, olhando ao redor — É algum tipo de pegadinha? Onde foi que escondeu as câmeras? Não tem a mínima graça!

— Parece que é uma pegadinha sim, mas uma pegadinha arquitetada pela vida... Ou seja lá o que for! — A loira suspirou longamente — Está indo para o Matogrosso... Está indo para o nosso hotel ? — A pergunta dele foi repleta de segundas intenções.

Lola se virou em direção a janela de modo a ignorá-lo, mas ele não parecia disposto a ir embora tão facilmente. Intrigava o fato de estarem juntos no mesmo lugar, no mesmo voo, buscando o mesmo destino... Eram coincidências demais!

— Porque fazer isso? Podemos conversar como adultos, por favor?

— Não tem conversa com você! Nossas conversas acabaram quanto te peguei no flagra com aquela sem sal!

— Lola, por favor... Não tenho nada com Andressa! Aquela mulher não me interessa! — Tentava recuperar a atenção da loira, que seguia com o olhar fixo na janela — O que me interessa somos nós e...

— Pode parar! – Virou-se em direção a ele nervosamente — Nós dois acabou! O que vi não tem explicação e muito menos sua falta de confiança em mim, Nando! Não foi uma coincidência eu estar lá e ouvir e ver tudo aquilo! — Os olhos verdes pesavam e se enchiam de lágrimas.

— Acha que é uma coincidência estarmos aqui, agora, no mesmo avião indo para o nosso hotel ? – A moça torceu os lábios – Não adianta fazer essa cara! Sei que está indo para lá! Acha mesmo tudo isso um acaso?

— Acho que passamos três anos juntos e pensamos nas mesmas coisas! Talvez seja somente isto! — Enfatizou.

Foi dado o anuncio de que o avião decolaria e Nando teve de ir para seu assento apesar da primeira classe estar praticamente vazia.

— Pense bem se quer terminar tudo assim! — Sussurrou antes de se afastar.

— Não tenho nada para pensar! – Falou em alto e bom som para ele, colocando-se de joelhos em seu assento — O que vi não me deixa dúvidas... A situação não me comove em nada!

Todos os funcionários ao redor olhavam o casal discutindo e os idosos — um simpático senhor e uma elegante senhora — sussurravam entre si sobre a situação embaraçosa.

O avião começou a decolar enquanto o coração de Lola corria descompassadamente no peito! Odiava o fato de amar estar próxima dele! Odiava ceder ao que dizia... Sua vontade era ir até Fernando e se comprimir em seus braços, mas o ressentimento a obrigava a ficar!

Nando, por sua vez, morria ao vê-la tão próxima e tão bonita! A cada novo amanhecer tinha ainda mais certeza de seu amor e que nunca chegaria a se apaixonar de tal maneira novamente. Lola Alvarez era a mulher de sua vida e não havia mais dúvidas! Tinha de reconquistá-la e a chance estava ali!

— Agora podemos conversar não é? — Nando ficou de pé quando era seguro e Lola o ignorou, olhando para a janela novamente — Me escute, por favor!

— Se não sumir daqui agora vou te arremessar pela janela! Não quero te ver mais nem pintado de ouro!

O avião deu um leve solavanco e as luzes piscaram. No mesmo instante Lola se agarrou aos braços da poltrona e Fernando foi arremessado para o banco ao lado dela, onde sentou e prendeu o sinto com agilidade. Todos ficaram tensos com o chacoalhar constante da aeronave, que parecia muito instável em meio à neblina daquele dia frio.

Ficou claro que a situação era grave pela apreensão de todos. O clima lá fora era terrível e inconstante, algo propício para acidentes aéreos.

— Sabia que era um erro vir a essa viajem, eu sabia! — Sussurrava Lola amedrontada e com as mãos presas a cadeira — O destino tentou me avisar... Atrasaram o voo, me deram um chá de cadeira e ainda por cima colocaram você em meu caminho... Certamente foram avisos que ignorei por teimosia!

— Fique calma! É só uma turbulência!

A voz do piloto começou a ecoar em um anuncio de turbulência, mas foi sumindo aos poucos como acontece em filmes de tragédia. Sem perceber os dedos de Lola alcançaram os de Fernando e o coração da moça transbordou em expectativas e temores. Sentia a morte próxima pela primeira vez na vida e estava segura que não passaria daquela noite... Foram avisos do destino realmente para que desistisse da viajem, mas não se atentou e agora estava no corredor da morte!

As aeromoças pareciam aflitas, assim como Fernando e o casal de idosos. O clima era realmente de despedidas e orações.

— A minha filha... — Nando sussurrou com os olhos apertados e os dedos entrelaçados aos de Lola — Nunca mais irei vê-la!

— Deus, tenha piedade de mim! — Sussurrava a moça sem saber o que dizia! Encontrava-se imersa na ideia de que morreriam todos em um acidente nos próximos minutos, por isso esqueceu momentaneamente toda sua raiva — Nando... Nando! Preciso dizer que...

— Não diz nada agora. Diz depois que passarmos para o outro lado!

— Que outro lado? Nós vamos morrer e não posso ir sem dizer que te amo, sempre te amei e odeio o fato de não podermos seguir em frente!

— Linda situação para uma declaração! Suponho que seja tarde demais, mas também te amo! — Se olhavam mesmo na penumbra que se encontrava a primeira classe — Que bom que vamos morrer, porque confesso que não saberia viver sem ter você ao lado... Acho que prefiro assim!

— Fernando, pelo amor de Deus! — Repreendeu em meio a um grito por mais um solavanco.

— É verdade! Prefiro morrer que viver sem você, Lola Alvarez, e nada mudará tal fato! Partir ao seu lado será perfeito como tudo o que fizemos juntos... Não poderia existir jeito melhor! – Fernando esticou o braço e apanhou a mão de Lola na sua com força, aproximando-se do rosto dela.

— Seu idiota, seu maluco... Te odeio por me trazer para morrer e te odeio ainda mais por me fazer te amar! Odeio te amar e odeio morrer, mas te amo certamente! Não sei o que estou dizendo, apenas sei que... — Fernando puxou o rosto de Lola e ambos se beijaram com força e paixão da maneira que conseguiram.

Não passou nem um segundo até que a luz se fizesse no ambiente novamente e os balanços cedessem. Lola parou o beijo após alguns segundos e encontrou o rosto de Fernando envergonhado muito próximo do seu ao abrir os olhos. Todos ao redor pareciam se recompor aos poucos.

Atenção senhores passageiros! A situação do voo está sob controle e seguiremos viagem normalmente após uma situação de turbulência. Por favor, mantenham-se em seus lugares.

O aviso do piloto foi suficiente para que todos aplaudissem. Lola não sabia o que fazer perante Fernando, que seguia encarando-a em busca de alguma resposta.

— Que bom que tudo ficou bem!

— Quer dizer que você odeia me amar e odeia morrer, mas certamente me ama ?

— Nando, cale a boca! — Envergonhada sussurrou — Foi um momento de fraqueza e...

— Atenção, senhores, quero dizer uma coisa! — Fernando ergueu o tom de voz e chamou a atenção das aeromoças e do casal de idosos presentes na primeira classe. Lola não sabia onde enfiar a cara e seguia encarando-o com expressão constrangida — Quero dizer que sou um idiota por temer me arriscar e por temer amar de verdade a mulher mais importante que já conheci até hoje!

— Fernando... – Sussurrou a moça sem acreditar na situação! Todos encaravam o rapaz seriamente.

— Lola Alvarez, essa linda loira espetacular ao meu lado, é minha chefe brilhante... A mulher mais inteligente que já conheci... Maravilhosa amiga, amante e melhor madrasta que minha filha poderia ter! Certamente é a futura mãe de meus outros filhos e a pessoa com quem quero passar o resto de minha vida, seja ela composta por anos ou segundos!

Lola tinha o olhar focado nele e o coração correndo no peito. As aeromoças se derretiam pelas palavras dele, que além de romântico era muito bonito. Nando segurou a mão da moça na sua.

— Amanhã é dia dos namorados e foi a primeira vez que ficamos juntos... Hoje estamos aqui por acaso e certamente não é uma coincidência! Acabei de ver minha vida passando diante dos meus olhos e nela só enxerguei você, Lola. Ontem, hoje e para sempre!

— Nando...

— Quer se casar comigo?

Ouve silêncio e a verdade nos olhos escuros dele fez Lola estremecer por dentro. Todos suspiravam pelas palavras dele, mas a moça parecia estática e sem reação!

— Aceite minha filha... — A senhora dizia de sua poltrona, assistindo a cena de mãos dadas ao marido — Não é todo dia que um homem te elogia de tal maneira. A vida passa tão rápido que perder uma oportunidade assim é como tomar banho sem se lavar!

Lola encarou a simpática senhora de maneira apreensiva antes de se voltar para Fernando, que aguardava em expectativa a resposta da amada.

— Nando, eu...

— Me perdoe! Juro que nunca mais vou dar espaço para temores e muito menos para Andressa! Você é tudo para mim e seremos felizes juntos de Ana e nossos filhos! — Os olhos escuros transbordavam emoção — Por favor... Faça isso e não tome banho sem se lavar...

Lola gargalhou baixinho e segurou o rosto de Nando com emoção.

— Minha vida é um tédio sem você, grandão! — Suspirou — Me perdoe por todo esse tempo e... Eu odeio te amar, mas te amo mesmo assim! — Fernando riu pelas palavras que remetiam ao momento de desespero anterior — Sim! Claro que caso! Eu te amo!

Os funcionários do voo e o casal de idosos aplaudiram Lola e Nando, que se abraçavam emocionados e felizes.

— Crianças... — O senhor sussurrou para a esposa após trocarem um olhar apaixonado.


O dia dos namorados não poderia ter sido melhor para Lola e Fernando, que aproveitaram uma incrível estadia no lindo hotel dos Sonhos. De todas as vezes que estiveram por lá, esta certamente foi a mais agradável e feliz. Finalmente estavam unidos de verdade em busca de uma história real de amor.

Amor ...

Lola sempre considerou o amor um sentimento ultrapassado, talvez obsoleto. Algo irreal e que não era digno de sua atenção. Sempre acreditou que o amor não existia, por isso se surpreendeu ao chorar enquanto seguia em direção ao altar de braços dados com seu pai. Fernando a esperava como um menino aguarda seu presente de natal... Sorridente, lindo e radiante! A pequena Ana Fernanda finalmente via o pai feliz ao lado de uma mulher que ela mesma adorava e queria sempre por perto, por isso escolheu viver ao lado deles. Agora os três eram uma família e não houve nada que Andressa pudesse fazer para impedi-los!

Vestida de daminha de honra, Ana Fernanda encantava a todos com sua felicidade e saltitou a frente da madrasta pelo caminho da igreja demonstrando a felicidade que sentia pelo momento. Piscou para o pai quando se postou ao lado deles segurando a cestinha com pétalas de rosas em mãos... Nando não podia ficar mais feliz ao ver o apoio da filha.

Casaram .

Maribel não podia acreditar que Lola, a mulher mais coração de pedra do mundo, agora era esposa e madrasta de uma bela menina! Encarou os noivos com ternura imaginando como o mundo dava voltas e como uma simples viagem podia mudar tudo!

Lola e Fernando jamais imaginaram que ao embarcarem naquele avião buscando esquecer um ao outro iam em direção a uma reconciliação e um novo recomeço para a história conturbada que compartilharam. Ao embarcarem no avião deram ouvidos ao coração, concretizaram o sonho que Ana Fernanda tinha de viver em família e deram vida ao pequeno Theo, fruto daquele amor.

Lola sabia que sua história era obra do destino, mas certamente também teve uma ajudinha extra dos meios que levam ao amor.

 

 

                                                                  Izabella Mancini

 

 

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