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Planeta Criança



Poesia & Contos Infantis

 

 

 


VOLTE PARA MIM / Josiane Veiga
VOLTE PARA MIM / Josiane Veiga

                                                                                                                                                   

                                                                                                                                                  

 

 

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Meu pai morreu de câncer.
— O quê? — Olivia me encarava com a boca entreaberta. Parecia não acreditar nas minhas palavras.
Foi um dos piores momentos da minha vida.
Eu tinha catorze anos, e um dia ligaram do hospital. Foi tudo muito rápido. Aqui no sul do Brasil a gente costuma chamar esse tipo de doença de galopante, pois parece vir ao galope de um cavalo. Tão rápido é o tempo que ela é descoberta, avança e destrói.
— Eu não quero mais me casar com você.
Meu pai morreu de câncer.
E foi assim. Numa consulta de rotina ele descobriu o tumor, três meses depois nós o enterrávamos. Dessa forma, que escolha eu tinha a não ser chegar diante de minha noiva e dizer exatamente aquelas palavras?
— Você não pode estar falando sério! — Olivia gritou, apesar de seu estado de desespero assemelhar-se mais ao torpor. — Você NÃO está falando sério! — decretou.
— Eu já avisei ao padre, e ao pessoal do Buffet .
— Você falou primeiro com eles?
Era até cômico que o sentido de traição que ela parecia transbordar era esse.
— Queria evitar sua fadiga ao ter que comunicar-lhes...
Fui interrompido por um tapa. Dali a cinco dias, nós estaríamos subindo no altar, declarando votos e concretizando um sonho que durou dois longos anos de noivado.
Eu a pedi em casamento num acampamento de amigos. Diante de todos, ajoelhei-me diante de Olivia, disse que jamais sentiria por outra mulher o amor que nutria por ela, e que queria passar o resto da minha vida ao seu lado.
Ela aceitou, jogando-se em meus braços. Daquele momento em diante, nossa vida foi trabalhar para mobiliar um apartamento, para pagar as despesas da festa, para o vestido de noiva...
Contudo...

 


 


Meu pai morreu de câncer.

E eu descobri o tumor em meu corpo no dia anterior aquela conversa difícil.

No último mês, após muita dificuldade de comer, de dores intensas no peito, e de várias crises de soluço, decidi procurar ajuda. Provavelmente, era o estresse do casamento. Contudo, o médico desconfiou de algo. Pediu-me exames. Logo, surgiu o resultado.

O mesmo câncer de esôfago que levou meu pai, também estava ali para me buscar.

— Eu não acredito que você está fazendo isso comigo — ela repetia, tantas vezes, enquanto se sentava no sofá que nós havíamos escolhido juntos, no mês passado . — Por que está fazendo isso comigo, Hélio?

Eu dei os ombros.

Era mais fácil assim. Que ela sofresse agora, mas que reconstruísse a vida, depois.

Porque nada podia ser pior que a tortura de ver alguém que se ama passando por quimioterapia, cirurgias e, por fim, a morte.

De alguma forma, eu sabia que seria esse meu fim.

— Eu não te amo mais — afirmei tão falsamente que meu coração doeu. — Eu acho que nunca te amei.

O olhar assustado e carregado de lágrimas me encarou.

— Eu nunca te amei — murmurei.

Para ela. Para mim. Para o infinito.

Uma mentira que mancharia para sempre minha alma.

 

Dois meses depois, eu estava apenas pele e osso. Literalmente. Os pelos e os cabelos já haviam caído, eu mal conseguia me alimentar, e só me mantive de pé porque cria, de alguma maneira, que precisava honrar a luta de meu pai, não entregando os pontos, não facilitando em nada o trabalho do câncer em me destruir.

Afastei-me dos amigos. Muitos, aliás, eram amigos do casal e, ao cancelar o casamento, não foi difícil eles escolherem um lado, já que eu saí como o vilão da história.

Confortava-me saber que Olivia estava bem, amparada por pessoas que gostavam dela.

Ao meu lado ficou minha mãe. E ela sabia de tudo, apesar de dizer que eu havia agido errado.

“ Ela tinha o direito de saber... ”, minha mãe murmurava.

Olivia era o grande amor da minha vida. O único direito que eu queria que ela tivesse era o de ser feliz. E, ela o seria.


Não morri.

Bem da verdade, um ano e meio depois das palavras alarmantes do médico, recebi o diagnóstico de cura. Foi uma surpresa para os médicos, para mim, para todo mundo que acompanhou meu tratamento.

A medicina havia evoluído muito, desde meu pai, disseram-me as enfermeiras. E, foi graças aos avanços da ciência e de uma cirurgia complicada para remoção do tumor, que eu me salvei.

Voltar a viver após um ano e meio não foi fácil. Não para alguém que acreditava piamente que aquilo não voltaria a acontecer.

Havia muitas coisas que eu abandonei, na época do tratamento, que agora precisava reconquistar.

Meu emprego, minha vida social, Olivia...

Fui atrás dela pela primeira vez na escola onde lecionava.

Não havia mudado nada, a mesma postura aristocrata de professora séria, o mesmo coque nos cabelos, até mesmo o mesmo óculos de aro grosso.

Contudo, havia algo nos olhos. Uma mágoa profunda.

Quando ela me viu, fingiu que não me reconheceu. Cruzou para o outro lado da rua, entrou no seu automóvel de cor cinza e sumiu.

Eu não fui atrás, queria ir voltando à vida dela aos poucos.

Cruzei algumas vezes em frente a sua casa, também passava pela sua escola e, por fim, fui ao restaurante onde ela, as sextas à noite, sempre jantava com as amigas.

Por fim, um dia Olivia cedeu.

Mantive-me ereto do outro lado da rua, esperei que ela atravessasse e, finalmente, ela parou diante de mim com o olhar em fogo.

Contudo, sabia que ela não faria nenhum escândalo em frente à escola. Não Olivia, não a tão controlada Olivia.

— O que você quer? — seu tom era raivoso e ferido.

Ela era uma fera que eu havia machucado, e não se faria de rogada em mostrar as garras para se proteger.

— Nós precisamos conversar — murmurei, inseguro.

— Estou ouvindo — ela assentiu. — Fale.

Ali? Em frente a um grupo enorme de alunos em horário de saída?

— Poderíamos ir...

— Eu não vou a lugar algum com você — devolveu. Agora o amargor em seu tom era mais nítido. — Diga logo o que quer!

Eu poderia usar de milhões de estratagemas, inventar desculpas, murmurar palavras doces, mas, acabei por dizer o que me corroía.

— Quero que volte pra mim.

Por alguns segundos o olhar pareceu assustado, lágrimas formaram-se no canto dos seus olhos.

Subitamente, gargalhou.

— Abandona-me praticamente no altar, sem maiores explicações, some por quase dois anos, não dá nenhuma notícia... Você deve estar louco se supõe que existe alguma chance de um dia eu voltar para você.

É, eu sabia... Não havia.

Ela me deu as costas e voltou para a escola. Fiquei ali, imóvel, encarando o vazio.

Também havia breu em minha alma.


Mudei-me para um condomínio horizontal próximo do escritório onde um antigo cliente me deu a chance de recomeçar.

Os dias que passaram foram decisivos para mim. Decidi fazer exatamente o que havia prometido ao acabar com o noivado: dar a Olivia uma chance de recomeço. Portanto, não era justo eu ficar atrás dela, enchendo-a de memórias doloridas. Queria que ela fosse feliz, mesmo que para isso eu precisasse esquecê-la.

Foi quando, ao final de uma tarde, alguém tocou minha campainha.

Ninguém vinha me ver, a não ser minha mãe. Como ela estava viajando para o interior, fiquei muito surpreso com o som.

Ao abrir a porta, minha surpresa tornou-se incredulidade.

Olivia estava ali. Como ela descobrira meu endereço, passou-me despercebido. Tudo que me importava era saber os motivos de sua visita.

— Por favor, entre — murmurei, dando-lhe passagem.

Ela entrou no lugar, observando atentamente a mobília, a decoração. Parecia interessada em tudo, ou agia assim porque estava estranhamente nervosa, o que não era comum nela.

— Você gostaria de um café? — indaguei, nervoso, enquanto ela se sentava no sofá.

Olivia negou.

— Por que não me falou que tinha câncer?

Como ela descobriu?

— Você desapareceu com sua mãe. Todos achavam que tinha ido morar no interior...

— Nós fechamos a casa e alugamos um apartamento perto do hospital — expliquei. — Larguei o emprego porque não sabia quanto tempo tinha de vida e não queria passar meus últimos momentos preocupados com processos jurídicos.

— No entanto, quis passar seus últimos momentos longe de mim — apontou.

Balancei a cabeça, negando.

— Quis protegê-la...

— Negou-me o direito de ficar ao seu lado quando mais precisava de mim — apontou.

Era verdade. Não havia como eu rebater.

— Como acha que me senti quando você me deixou?

— Eu sei que a fiz sofrer muito, mas, acredite, teria sido pior...

— Pior para quem? Para mim ou para seu orgulho? Não queria que eu o visse numa cama, doente, então me fez acreditar que não me amava, e desistiu de todos os nossos sonhos.

Cada palavra parecia facas a me perfurar.

— Não vou negar — assenti. — Eu pensei que fosse morrer e não queria que me visse naquele estado.

As lágrimas que, até então, eu não notara, por fim, deslizaram pela minha face.

Olivia nunca havia me visto chorar. Sempre fui o típico machista que não queria demonstrar fraqueza diante de uma mulher. Portanto, era incômoda aquela sensação de piedade em seu semblante.

Levei certo tempo para perceber que não era clemência e sim amor.

Ela levantou-se e foi até mim. Abraçou-me, permitindo que meu rosto se escondesse em seus cabelos cheirosos.

Eu cria que jamais a teria novamente. Enquanto meu corpo reagia a saudade, nossas peles iam se moldando a paixão. Naquele momento, percebi que aquele sentimento nunca teria fim.

Olivia me seguiu até o quarto de forma branda. Não havia, em nenhum de nós, pressa ou fugaz necessidade. Era simplesmente um sentimento forte, brando e gentil. Como nós.

Ela mesma arrancou o vestido diante do meu olhar sedento. Olivia era a água do meu oásis, o motivo que eu tinha para respirar.

— Eu engordei um pouco — ela murmurou, insegura. — Fiquei tão nervosa com tudo que aconteceu que passei a me entupir de sorvete.

Eu ri, achando graça daquela forma de expressão. Sabia ela ser tão perfeita? Tão lindamente projetada para o desejo de um homem? Que seus seios empinados eram do exato tamanho da minha mão?

Aproximei-me, segurando o rosto. Puxei-a para um beijo, considerando ir devagar, aproveitando cada instante. O primeiro de todos.

A boca quente abriu-se para mim, enquanto o corpo se moldava ao meu. Estávamos tão juntos, tão apertados um contra o outro que eu mal notei quando o gemido dela indicava que meu mastro a masturbava sobre a calcinha.

Ri.

O fogo aceso entre nós só se apagaria após a inteira satisfação.

Deitei Olivia sobre os lençóis, puxando sua calcinha para baixo, desvendando seu centro, deixando-a nua completamente.

O olhar eufórico me motivou a prosseguir.

Enquanto aproximava meu rosto de sua pélvis, arranquei a camisa e a calça. Deslizei a língua em sua pele úmida, enquanto tirava a cueca.

Por fim, ambos nus, repletos de saudade, e motivados pelo amor redescoberto.

— Você vai voltar pra mim?

A pergunta foi feita no momento em que me posicionei sobre ela, o pênis ereto preparado para entrar na mulher que eu amava.

— Sempre, sempre — ela gemeu, enquanto eu avançava para dentro.

Depois disso, tudo se tornou uma fusão de corpos, uma sucessão de entocadas fortes, de gemidos altos, de suores misturando-se e de um amor rico transbordando.

Olivia era minha. Mais uma vez. Desde sempre e para sempre.

Cometi muitos erros, o principal de todos foi tirar dela o direito de saber a verdade sobre o que havia acontecido. Mas, eu não falharia novamente.

O orgulho me dominou uma vez. O amor que ardia em meu peito me comandaria dali em diante.

— Geme para mim — mandei, apesar dos sussurros baixos contra o ouvido. — Quero ouvir o quanto está gostando.

Ela riu baixinho, porque definitivamente, tudo nela era latente, especialmente o quanto sentia falta do nosso sexo.

Mas, enfim, ela cumpriu minha vontade e não mais se impediu de gritar de prazer.

Então, o clímax nos atingiu, potente, incontrolável. Melei-a com meu prazer, enquanto ela ondulava os quadris contra mim.

Não sabia, mas naquele instante estava ligando nossas existências para sempre.


Nosso casamento atrasou mais dois anos. Tudo porque tivemos muitos gastos com a gravidez.

Nunca imaginei que fraldas, roupinhas, berço, consultas médicas, etc., custassem tanto.

Mesmo assim, nove meses depois de Olivia e eu termos voltado eu retornava ao hospital para receber a maior benção que um ser humano pode ter.

Helena...

Ela era parecida com a mãe, mas tinha meus olhos. Havia mais nela também, de mim.

Quando nossa filha de um ano e alguns meses foi carregada pela avó até o altar trazendo nossas alianças, eu reparei que Helena também tinha Olivia como fonte de fascínio e adoração.

Minha filha e eu amaríamos a mesma mulher, para sempre.

 

 

                                                   Josiane Biancon da Veiga         

 

 

 

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