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Planeta Criança



Poesia & Contos Infantis

 

 

 


A BESTA
A BESTA

 

 

 

                                                            Irmandade da "Adaga Negra"                                                                 

 

 

 

 

Capítulo TRINTA E QUATRO
A última coisa que Mary fez antes de sair para o dia, foi ir até seu escritório e verificar o Facebook em seu computador.
Como se acessar a URL por outros meios além de seu celular pudesse gerar resultados diferentes.
— Está bem, vamos ver isto. – Murmurou ao logar.
Quando a máquina ligou, deparou-se imediatamente com o único grupo fechado de vampiros que estava procurando... Por que foi a última coisa que ela tinha acessado
antes de descer para esperar por Rhage mais cedo naquela noite.
Atualizando a página, esperou que a conexão da internet lhe mostrasse alguma publicação nova e acabou jogando a cabeça para trás para olhar para o teto. Bitty estava
perambulando pelo seu quarto no sótão e Mary lutou contra a vontade de ir até lá tentar falar com ela. Mas não, era hora de ir para casa e a garota estava cansada.
Além disto, Mary tinha uma noção quase supersticiosa de que, por uma vez, as duas se despediram em uma nota relativamente otimista: Bitty estava pronta para o sorvete
na noite seguinte e Mary se apegava àquele sorriso fugaz no banco de trás do GTO, como se fosse um bote salva-vidas no meio do oceano.
— Está bem, o que temos? – Sussurrou, voltando a se concentrar na tela.
Não. Nada. Havia cerca de quinhentos membros no grupo – na maioria fêmeas – e as poucas publicações mais recentes referiam-se a tópicos convencionais, que mesmo
a olhos humanos pareceriam inteiramente normais.
Ninguém tinha respondido à sua mensagem sobre o tio de Bitty.
Ficou decepcionada, o que era uma espécie de loucura. Sua parte lógica sabia que não havia ninguém lá para a garota, mas ouvir Bitty falar com tal desespero sobre
um parente hipotético fazia mesmo a gente desejar que acontecesse um milagre.
Desligando tudo, pegou a bolsa, o casaco e saiu, parando momentaneamente na base da escada para o sótão.
— Tenha um bom dia, menina Bitty.
Vinte minutos depois, ela estava dirigindo colina acima pelo mhis que envolvia o complexo indo em velocidade bem baixa, pois não queria sair da estrada ou atropelar
um cervo...
— Merda!
Afundando o pé no freio, puxou o volante para a direita bem quando o Hummer de Qhuinn quase a atingiu em cheio.
O SUV derrapou antes de parar e um monte de guerreiros saltaram, correndo para ela como se o Volvo estivesse em chamas.
— Mary!
— Maaaaaary!
Butch abriu violentamente a sua porta.
— Mary! Puta que pariu!
Ela teve que rir diante da expressão na cara do tira. E na de Blay. E de John Matthew. E de Qhuinn.
Levantando as mãos, ela disse:
— Estou bem, estou bem, estou bem. Juro.
— Vou chamar a Dra. Jane...
— Butch, sério. – Ela soltou o cinto de segurança e afastou o cidadão de Boston do caminho. — Vê? E o airbag nem chegou a acionar. Mas devo confessar que estou ficando
meio temerosa de tantos quase acidentes. Eu quase atropelei um lesser uma noite dessas.
Aquilo calou os quatro. E então eles só ficaram lá, olhando fixamente para ela como se sincronizando os vômitos.
— Garotos, vocês nem mesmo me atingiram. Estou bem. – Ela acenou para a estrada de terra na qual estavam. — Nem vi o que estava vindo... De onde estão vindo?
— De lugar nenhum. – Butch tomou-a pelo cotovelo e começou a levá-la para o banco do passageiro. — Eu dirijo o resto do caminho...
— Não. – Ela afundou os calcanhares e encarou-o com severidade. — Butch. Não há nada errado comigo. Quero que vocês quatro respirem fundo... E talvez coloquem a
cabeça entre os joelhos para não desmaiar. Quase acidentes acontecem, todos nós reagimos a tempo, então vamos esquecer isto... Ou vou ser obrigada a chamar Fritz
para me ajudar a pintar seus quartos de cor de rosa. Depois de colocar potpourri em suas cômodas, e fotos da Elsa e da Anna nas suas paredes.
— Ela está falando sério. – Murmurou Qhuinn. — Cara, não é de surpreender que consiga ficar acasalada com Rhage. Se ele pisar na bola, você o chicoteia até entrar
na linha, não é?
Só ficamos preocupados. – John Matthew gesticulou. — E nós realmente não queremos ter de dizer ao maridão que te machucamos. Só isso.
Ela se aproximou e abraçou John.
— Eu sei. E sinto muito se fui ranzinza. Foram longas noites. Vamos, vamos comer.
Novamente atrás do volante do utilitário, ela começou a subir a colina mantendo a velocidade baixa. O Hummer manteve-se a uma grande distância atrás dela... E estava
muito consciente dos guerreiros observando cada movimento seu.
Por que os quatro estavam pressionados contra o pára-brisa do SUV, amontoados como um bando de mamães gansas preocupadas com um filhotinho errante.
Mas eles certamente enchiam o retrovisor dela de amor.
O que nunca, jamais seria uma coisa ruim.
Depois de estacionarem na frente da mansão e tomarem suas posições habituais na fila de carros – o dela perto do Porsche de Manny, o deles perto do cacareco do V,
seja lá o que for – ela saiu com a bolsa e se preparou para enfrentar uma porção de recomendações de que fosse ver a médica, isso vindo da galeria dos curiosos de
roupa de couro.
E quem diria, os quatro se aproximaram dela em formação.
Erguendo as mãos, disse calma e razoavelmente:
— Não posso morrer, lembram? Além disso, caso não tenham notado, estou respirando, de pé e falando frases completas... estou até mesmo sorrindo. Estão vendo? – Apontou
para a própria boca. — Então que tal irmos para a Última Refeição antes que vocês todos desabem?
Houve uma porção de vozes em coral entoando está bem e tanto faz, e então John Matthew passou o braço ao redor dos ombros dela, deu-lhe um abraço rápido e todo mundo
dirigiu-se ao vestíbulo.
Fritz abriu a porta interna para eles.
— Saudações! Como estão?
Quando o mordomo fez uma reverência e todo mundo entrou em fila, Mary teve de parar. Ela já tinha entrado naquele saguão tantas vezes nos últimos sei lá quanto tempo,
mas já fazia tempo desde que realmente olhara para o teto alto com seu mural de guerreiros majestosos e cavalos de guerra... Ou parara para apreciar as colunas de
malaquita e mármore com suas cabeceiras e pés ornados... Ou tirara um segundo para ouvir às camadas de conversa enquanto membros da casa desciam para se reunir na
sala de jantar.
Tudo era extremamente luxuoso, gritantemente multifatorial e completamente maravilhoso, de Z e Bella descendo a escada principal com Nalla; Wrath e George atravessando
o mosaico no piso junto com Tohr; a John Matthew e Xhex abraçados.
Dirigindo-se à Última Refeição, lembrou-se do que Rhage dissera a Bitty sobre as pessoas que moravam ali, sua versão maravilhosa e caricatura verbal, propositadamente
engraçada, das bênçãos muito reais que esta família tinha.
Então se lembrou dele e Bitty inclinados sobre o motor do carro, ele explicando pacientemente a ela todos os tipos de coisas, sem nada daquela atitude de isto-é-só-para-garotos
se expressando em seu rosto aberto e seus olhos gentis.
Ele tinha sido incrível com a garota...
— Minha Mary. – Veio o sussurro em seu ouvido.
Ela se assustou e virou-se para Rhage, sem pensar por um segundo.
Passou os braços ao redor dele, puxou-o para baixo...
... E beijou-o como se o mundo fosse acabar.
Está bem, é... UAUAUAUAUAUAUAUAU.
Quando Mary lambeu a boca de Rhage por dentro, a mente dele ficou em branco do melhor jeito possível – especialmente ao descer a mão e puxá-la para mais perto de
seu corpo, curvando sua altura e peso imensos sobre ela. Os lábios de sua shellan estavam macios e cálidos, e sua língua escorregava e deslizava contra a dele, e
seus seios, apesar do casaco, pareciam se esfregar nus contra o seu peito.
— Vamos subir. – Disse ela dentro de sua boca.
Ele continuou a beijá-la enquanto olhava a escada. É, tão íngreme, tão longa... E o quarto deles? Merda, estava, tipo, a quinhentos quilômetros de distância. Quinhentos
mil quilômetros.
— Venha aqui. – Ele grunhiu.
Acabou guiando-a de costas, as mãos desesperadas para irem para baixo daquelas roupas dela... Mas não podia arriscar aquele tipo de contato. Se sentisse sua pele
nua? Provavelmente a tomaria aqui mesmo, em cima do mosaico no chão.
A despensa ficava logo depois da cozinha, e era tão luxuosa e confortável quanto uma lavanderia... Com a trágica falta de uma lavadora ou secadora onde se pudesse
colocar a fêmea amada em cima para tê-la à altura dos quadris de coxas abertas. Mas havia duas vantagens: uma, havia uma tranca por dentro, como se Darius soubesse
que tipo de tempero alternativo pudesse ser jogado entre as latas de pêssegos e jarras de picles; e duas, havia um balcão pequeno, um metro e vinte acima do chão
com uma superfície de cerca de um metro e meio, ao redor da sala toda.
Ostensivamente, a coisa estava lá para acomodar as gavetas que ficavam debaixo das fileiras de prateleiras.
No momento? Era a coisa mais próxima de uma Brastemp que Rhage conseguiria.
— Oh, Deus, preciso de você. – Mary disse, quando ele fechou a porta manualmente passando o trinco, e depois a ergueu do chão.
Quando ela agarrou a barra da camiseta sem mangas dele e puxou pela cabeça, a coisa prendeu no nariz, quase arrancando suas narinas fora. Mas quem disse que ele
ligou? E então as mãos trêmulas dela estavam no zíper de suas calças de couro.
— Eu preciso de você dentro de mim, depressa... Preciso de você.
— Oh, porra, Mary, você me tem. – No segundo em que a mão dela entrou em contato com seu pau, ele arqueou e gritou alguma coisa. O nome dela? Algo sobre a Virgem
Escriba? Um palavrão? De novo, quem caralhos ligava? — Deixa eu...
A próxima coisa que viu foi ela fora da bancada, à altura de seus quadris, e empurrando-o para trás até ele encostar no lado oposto de forma tão violenta, que latas
de sopa balançaram e rolaram pelo chão como se temessem por suas vidas.
— Maaaaaaaaaaaary...
Aquela boca sugou sua ereção profundamente, e apesar do toque quente e úmido ser extraordinariamente erótico, sabe o que era ainda mais excitante? A sensação de
que ela estava tão, mas tão desesperada por ele, que não podia esperar que ele baixasse as calças dos dois.
Ela estava tão faminta e ansiosa para tê-lo que não queria perder tempo.
Ela tinha de tê-lo.
O macho vinculado dentro de Rhage rugiu de satisfação e a fera se moveu de uma boa maneira debaixo de sua pele... E oh, sim, ele gozou.
Deus, gozou pra caralho. E enquanto Mary o ordenhava até ele se esgotar e então se afastou e lambeu os lábios, ele sentiu alguma parte dele mesmo voltar... Uma parte
que tinha sumido por um tempo, mas que nem tinha percebido sentir falta.
Ela ainda o desejava. Ainda precisava dele. E havia algo naquela conexão que o preenchia de um jeito, em uma parte dele que anteriormente estava vazia.
E era hora de retribuir a gentileza. Com um gemido, lançou-se sobre ela, deitando-a no chão de madeira, beijando e sentindo seu próprio gosto enquanto a livrava
das calças, baixava suas próprias calças de couro até o meio das coxas e a fazia montá-lo, deitando-se de costas.
Mary sentou-se violentamente em seu pau e os dois gemeram. Então ela se inclinou, apoiou as mãos perto da cabeça dele e começou a mover a pélvis, a ereção dele entrando
e saindo de seu sexo, seus corpos batendo juntos, os olhos de Rhage fixos nela enquanto ela retribuía o olhar com uma combinação de determinação feroz e completa
adoração.
Ela ainda estava de casaco. A coisa esvoaçava ao redor dela, e embora amasse ver os seios e pescoço dela, seu estômago, seu sexo, no momento estava envolvido demais
para qualquer tipo de coordenação entre as mãos e pensamentos.
Era só realmente incrível pra cacete ser desejado deste jeito. Cavalgado deste jeito. Tomado deste jeito.
Eles gozaram ao mesmo tempo, os quadris arremetendo e recuando, até que de alguma forma acabou rolando sobre ela de novo e montando-a por cima. Graças a Deus por
aquela jaqueta dela e o apoio almofadado que oferecia, pelo jeito que as coisas aconteceram. Agarrando um de seus tornozelos, puxou a perna dela na direção dos ombros
e penetrou fundo, movendo sua pélvis livremente enquanto os movimentos os faziam se mover pelo chão da despensa até chegarem em um canto. Com um grunhido ele arqueou,
segurou-se na beira da bancada e obteve ainda mais impulso.
E o sexo continuou.
E continuou.
E continuou...
Capítulo TRINTA E CINCO
Quando o amanhecer ameaçou surgir no Ocidente, e a luz cor de pêssego lançada por aquela implacável bola de fogo no céu começou a formar uma fina linha no horizonte,
Zypher parou ao lado da concha carbonizada de um carro, nos fundos de um dos becos de Caldwell.
A seu redor, o Bando de Bastardos estava reunido, os corpos tensos e inquietos, as armas guardadas, mas as mãos em prontidão.
Balthazar falou:
— Esta foi a última coordenada dele.
Sim, Zypher pensou, todos sabiam disso. De fato, eles tinham começado aqui ao cair da noite anterior depois de Xcor não retornar ao quartel general deles... Que
agora teria de ser abandonado. Claramente o líder foi ferido gravemente em campo, aqui ou em outro local, e era de se esperar que ele e seu telefone tivessem sido
recolhidos, ou pela Sociedade Lessening ou pela Irmandade da Adaga Negra.
É, havia a possibilidade de que ele, ferido, tivesse se arrastado para algum abrigo discreto por um período de tempo só para morrer, ou de causas naturais ou pela
exposição ao sol, e que seu telefone tenha virado fumaça com ele ou sido roubado de sua mão morta... Mas considerando os inimigos que enfrentavam, era estúpido apegar-se
a tal premissa.
Melhor assumir que ele tenha sido capturado. Tortura. E possível troca de informação.
— Ele não iria querer um memorial. – Zypher proferiu de forma abrupta.
— É. – Alguém concordou. — E ele deve ter entrado no Fade com bastante agitação.
Houve um resmungo de risos – mas Zypher se perguntou se ao seu líder, ou a qualquer um deles, seria concedido acesso ao santuário celestial. Por suas más ações eles
certamente seriam banidos? Enviados ao Dhund, o parque de diversões maligno do Ômega para toda a eternidade?
De qualquer forma, ao passar por ali decidiu que o beco parecia um local adequado para esta reunião de luto, os restos do velho carro, uma lápide adequada – na ausência
de uma verdadeira – um apropriado ponto final à vida de Xcor. Afinal, embora Zypher tivesse trabalhado com o macho contra os lessers por séculos, não se podia dizer
que conhecesse de verdade seu companheiro de batalha.
Bem... Isto não era inteiramente verdade. Ele tinha sido bem versado na natureza cruel e calculista de seu líder, primeiro no campo de batalha e depois, quando foram
viajantes com acomodações temporárias, e mais ainda ao se assentarem em sua fortaleza, o castelo no Antigo Continente.
E tinha também aquele único momento privado depois de Xcor ter apunhalado Throe... Quando tinha se punido por isto.
— O que fazemos agora? – Balthazar perguntou.
Depois de um momento de silêncio, Zypher percebeu que todos olhavam para ele.
Desejou que tivessem um corpo. O curso estaria claro então. No momento, mesmo com toda a evidência circunstancial apontando em determinada direção, tomar controle
do grupo parecia insubordinação.
Mas não havia mais nada a fazer.
Zypher esfregou o rosto com a mão enluvada.
— Devemos assumir que nosso esconderijo está comprometido ou logo estará. Devemos também destruir todos os aparelhos celulares. Então esperaremos um certo período
de tempo... Antes de voltarmos ao Antigo Continente. Ali é uma vida que vale a pena viver.
O castelo ainda estava em pé e continuava no nome deles.
Mas dinheiro. Precisavam de dinheiro.
Merda.
— E se ele tentar chegar até nós? – Perguntou Balthazar. — Se sumirmos com os telefones como ele irá nos encontrar?
— Se ele sobreviveu, saberá nos localizar.
Inclinando-se para o lado, Zypher olhou entre dois prédios. Aquele brilho do amanhecer estava aumentando, e se perdessem muito tempo ali teriam o mesmo destino daquele
veículo. Como talvez o próprio Xcor.
— Vamos voltar ao... – Ele franziu o cenho. — Não. Não vamos voltar para lá.
Não podia descartar a possibilidade da Irmandade armar uma emboscada na fazenda mesmo à luz do dia... E não só por aqueles machos serem implacáveis, mas por serem
decididamente mortais. E se foram os lessers a capturar o Xcor? Então tal ataque era ainda mais possível.
Olhando ao redor, percebeu uma porta próxima. O prédio a qual pertencia estava abandonado, a se deduzir pelas janelas cobertas com tábuas e a placa de “CONDENADO”
concretada em seus tijolos.
Zypher dirigiu-se à porta e empurrou-a com o ombro. Quando o painel de metal cedeu, a fechadura se partiu em pedaços caindo no chão da escuridão interior.
O ar que o acolheu era frio, úmido e cheirava a vários tons de mofo e podridão. Mas a escuridão opressiva que o cercava era um ótimo sinal.
Não tinham comida. Só armas e munição às suas costas. E isto era um abrigo duvidoso, no máximo.
Era justamente como nos velhos tempos.
Exceto por uma grande e notável falta.
Enquanto seus companheiros bastardos entravam um após o outro buscando lugares em caixas emborcadas e faixas de balcões sujas com recipientes plásticos, ratos abriam
caminho, guinchando suas maldições.
— Ao cair da noite, iremos voltar à fazenda, fazer nossas malas e decidir nosso caminho.
Zypher escolheu um local no chão perto da porta, encolhendo-se em uma abertura entre prateleiras de tal forma que ficasse no alto, e com a automática à mão e pronto
para atirar ao primeiro sinal de perigo.
Em sua longa história como soldado, teve muitos dias iguais a este com seu corpo tendo de obter seu descanso necessário mesmo em estado de alerta, enquanto descansava
com um ouvido e um olho aberto. E antes de tudo aquilo, como aluno do Blodletter, temia por sua vida quando o sol se erguia e os treinandos eram forçados a se recolher
ao campo de guerra até o anoitecer.
Isto era moleza comparado ao que ele e os outros já tinham enfrentado.
Fechando as pálpebras, viu-se imaginando como teria sido a morte de Xcor. E onde aquela alma perturbada dele iria acabar.
Algumas questões eram destinadas a permanecerem sem respostas... E era estranho para ele pensar que quase certamente sentiria falta de seu líder – embora achasse
difícil admitir. Xcor às vezes era temível, igual ao Bloodletter; mas ainda assim, sua ausência era como a de um membro ou órgão vital.
Hábitos eram mais difíceis de morrer do que mortais.
E este aborrecimento, amarrado como estava a séculos de crueldade, dificilmente seria uma recomendação à alma do macho.
Capítulo TRINTA E SEIS
— Sim, claro. Vou mandar uma mensagem para os compradores antes do final na próxima semana. Sim, a apresentação está agendada para quinta-feira às vinte horas. Isso
ainda é conveniente? Muito bom. O prazer é meu. Tchau.
Jo desligou o telefone, fez uma nota no arquivo do cliente e em seguida olhou para o celular.
Não podia ter lido o texto direito. A maldita coisa era de Bill:
Você jogou bem comigo, mas não por muito tempo. Deveria ter tentado isso com alguém que não tem habilidades de investigação.
O que…? Eles se separaram na noite anterior na boa, voltando para o carro dele quando seu sentido de que estavam sendo observados tornou-se grande demais para ela
ignorar. O plano tinha sido se encontrarem no almoço e voltar para o campus da escola novamente.
Ela digitou de volta. Sobre o que você está falando?
Voltando seu celular para a gaveta, tentou parecer ocupada enquanto os corretores andavam de um lado pro outro na frente de sua mesa sem tomar conhecimento dela.
O que era uma coisa boa. Se parassem para falar com ela, era normalmente por que estavam chateados com a tecla do microondas na copa, ou tinham um problema no computador
com o qual ela não poderia ajudá-los, ou estavam botando pra fora sua frustração com o atual menos-do-que-fraco mercado de vendas.
Enquanto isso, Bryant esteve fora durante a manhã toda, mas ele esteve ocupado com seu telefone. Ele tinha enviado para ela quinze textos, somente a metade era relacionado
com o escritório. Os outros tinham um tom estranho: ele queria saber por que ela saiu às sete na noite passada. Quando respondeu que ele que dissera que ela estava
liberada para sair, perguntou onde ela tinha ido. Quando lhe disse que tinha ido direto para casa...
Ele tinha respondido: Tem certeza disso?
O que era bizarro...
Um barulho soou dentro de sua mesa e abriu a gaveta rapidamente. Aceitando a chamada que tinha feito o telefone vibrar, ela repetiu:
— Do que você está falando?
Bill riu com ironia.
— Você não me disse quem eram seus pais. Recepcionista minha bunda.
— Desculpe?
— Você é a garota de Phillie e Chance Early. Sua única filha... Desculpe... Herdeira.
Ela fechou os olhos e engoliu uma maldição.
— O que isso tem a ver com alguma coisa?
— Olha, se está tentando obter o seu pequeno Bruxas de Blair querendo ter um popular impulso na mídia, vai ter que encontrar alguém para ser seu artista de merda,
ok? Eu não tenho tempo para isso.
Jo trocou o fone para a outra orelha, como se isso fosse mudar a essência da conversa.
— Eu não entendo...
— Perguntei ontem à noite se o seu amigo Dougie tinha o tipo de recursos para encenar algo como todo aquele gramado pisoteado. Você disse que não... E convenientemente
omitiu o fato de que você tem. Com o seu tipo de dinheiro, poderia filmar em CGI13 aquela montagem no Youtube, pagar pessoas para destruir o centro do campus, e
depois, uau, ei, você chama um repórter do Jornal de Caldwell, esperando que ele seja estúpido o bastante pra comprar a história e conseguir cobertura local. E quando
perceber, a reportagem é pega pela Hugfpost e Buzzfeed, e então pronto. Anuncia um contrato de filme sobre vampiros de Caldwell. As coisas acontecendo naturalmente.
— Não foi isso que...
— Não me ligue de novo...
— Eu sou adotada, ok? E não tenho visto essas duas pessoas que você chama de meus “pais” há pelo menos um ano. Não me identifico com as coisas deles mais do que
eles me apóiam, e se você quer que eu te dê uma prova de quão pequena minha conta bancária é, bem, estou feliz em mostrar meu patético extrato mensal. Perguntei
o que você pensava sobre essas coisas na net por que estou tentando descobrir isso sozinha. Permita-me assegurar, no entanto, que nenhuma das filmagens de Brownswick
é o resultado de eu escrever qualquer anotação para alguém. Então quanto a você fazer mais do que um trabalho superficial para me investigar antes de pular para
conclusões e saltar na minha garganta, obrigada. Tchau.
Ela quase jogou o telefone de volta na gaveta, mas pensou melhor por que, ei, as pessoas que estavam preocupadas em cobrir o aluguel realmente não deveriam colocar-se
na posição de ter que substituir seu cel...
Quando o telefone do escritório tocou gentilmente, ela o agarrou e ficou feliz pela distração.
E enquanto fechava o acerto com um comprador sobre o estado de algumas substituições de alarme contra incêndios em um duplex do outro lado da cidade, ia processando
paralelamente a coisa toda em sua cabeça. Em primeiro lugar, era loucura para ela estar perdendo algum tempo ou esforço tentando chegar ao fundo desses vídeos. E
em segundo lugar, tinha uma suspeita muito forte que a razão de que seu cérebro estava orbitando em torno deste trecho da estupidez era por que estava muito entediada.
E isso era um problema a ser resolvido não com distração, mas num esforço para melhorar e descobrir o que diabos queria fazer consigo mesma.
Sim, já tinha decidido que a existência de socialite das pessoas que a adotaram era um grande Oh não. Então alôoo, ela já tinha estreitado seu futuro por uma opção...
Quando o interior da sua mesa começou a tremer de novo, abriu a gaveta e pegou o telefone entre os clipes de papel soltos e os lápis que não usava.
Era Bill. E pensou em deixar a chamada ir para caixa postal, mas sabia que isso era infantil.
Tocando aceitar, ela disse:
— Eu só posso supor que está ligando para pedir desculpas agora. Ou vai fazer uma auditoria no meu extrato? Realmente não é assim tão ruim, embora se lembre de que
não tem a ver com patrimônio líquido, somente se você é tão bundão quanto eu sou a ponto de pagar as contas em dia.
O cara teve a graça de pigarrear.
— Sinto muito. Parece que eu saltei a conclusões que eram injustificadas.
Jo virou a cadeira de modo que estava de frente para o logotipo do escritório na parede coberta de feltro. Respirando fundo, murmurou:
— Sabe, isso ajuda se você está tentando se estabelecer como repórter investigativo por excelência, então você vai um pouco mais fundo do que a mera superfície da
informação a respeito de alguém.
— Eu só pensei... Bem, não importa o que pensei. – Houve uma pausa. — Você ainda quer se encontrar em uma hora?
Jo olhou para o relógio. Só para dar um pouco de tempo a si mesma. Ha-Ha.
Dentro ou fora, disse a si mesma. Pescar ou cortar a isca.
Se seguisse com o plano? Era passível a continuar a ser sugada cada vez mais para dentro de um buraco de rato que não estava indo levá-la mais perto de meter sua
bunda num trabalho de verdade...
— Jo?
Quando uma voz profunda disse seu nome, ela saltou e deu meia volta. Bryant estava inclinando-se no balcão diante de sua mesa.
— Jo? — Bill perguntou ao telefone.
Enquanto levantava o olhar para o belo rosto de seu chefe, teve uma ideia de exatamente porquê podia estar procurando desculpas para ficar em um emprego que não
levava a lugar nenhum. E realmente, colírio para os olhos não te levavam longe também.
— Sim, estarei lá. – Disse para Bill e depois desligou. — Ei, está de volta mais cedo.
— Quem era esse? Seu namorado? – Bryant sorriu quando estreitou os olhos. — Você nunca me disse que tinha um.
— Isso é por que eu não tenho. Assinou essa relação? Posso começar a Múltipla Lista de Serviços... Ah, por que está me olhando assim?
O telefone de Bryant tocou na mão dele e a linha do escritório dela tocou em sua mesa, e antes que ele pudesse responder ela atendeu, tirando o fone do berço e indo
para seu roteiro de saudação.
Foram dois toques antes de responder... Bryant realmente esperou por dois toques antes de aceitar a chamada... Mas seja qual for a distração que Jo ofereceu foi
passada por cima quando ele disse com voz arrastada “Olá”, começou a rir e então se afastou.
É, bem na hora de acender os velhos hábitos.
— Fique com o troco, seu animal imundo...
Enquanto Rhage dizia a legenda, ele moveu o queixo, beijou a testa de Mary e se deliciou com seu bem-aventurado estado de relaxamento total. Em troca, ela se aconchegou
mais perto de seu peito nu e bocejou tão forte que sua mandíbula fez barulho.
— Eeeeeeeeeee lá se vai o cara da pizza. – Rhage riu enquanto colocava seu pirulito de uva na boca para outra chupada. — Sabe, eu amo a estátua pateta que todos
esbarram na frente da casa.
Sozinho em casa. Na cama. Com sua shellan, a barriga cheia e o conhecimento seguro de que sua Mary tinha concordado em deixá-lo pegar mais dois filmes para eles.
Você pode pedir Duro de Matar e Esqueceram de mim?
Afinal, estava chegando a temporada das festas humanas, certo?
E cara, se isso não fosse o céu todo enrolado em uma macia nuvem branca, não sabia o que era. Seu corpo estava tão relaxado que até mesmo se sentia flutuar no ar
e nenhum destes grandes nomes do cinema que ele tinha programado vinha com vinte lenços ou requisitos de proficiência de língua estrangeira.
Noite de cinema para eles podia ser uma coisa.
Mary gostava de coisas válidas. Ele gostava de cultura pop.
O gosto deles não batia. Mas ei, você tinha que se comprometer em um acasalamento. Essa era a maneira que a merda funcionava.
— O que estamos vendo agora? – Ela murmurou.
— Bruce Willis e Chevy Chase. Vou deixar você adivinhar o que eles estão estrelando.
Ela apoiou a cabeça no seu peito.
— Você está pegando um tema de Natal só pra mim?
— Sim. Quer me dar um beijo por ser tão atencioso?
Quando ela se inclinou, ele pegou o rosto dela entre as mãos e beijou-a profundamente. Quando se separaram, concentrou em seus lábios, sentindo aquele velho e familiar
calor rolar onde contava mais em um macho.
— Posso apenas dizer o quanto estou ansioso pelo nosso banho antes da Primeira Refeição?
— Você está?
Quando ela sorriu para ele de forma lenta e agradável, aquele calor ficou mais forte ainda.
— Hmmm...
— Se você fosse qualquer outra pessoa, – Ela murmurou. — Eu me perguntaria como conseguiria ficar excitado novamente... Tipo, no próximo mês.
— Oh, estarei pronto pra você. Sempre.
Foi aí que algo mudou dentro dela. Ele soube no instante que isso aconteceu, embora teria sido bastante difícil descrever exatamente o que lhe deu a dica.
— O que foi? — Ele sussurrou. — Está pensando na Bitty?
Antes que ela pudesse responder, ele deu uma pausa no filme com o controle remoto, ironicamente bem no ponto em que Kevin colocava a loção pós-barba do pai e gritava
bem alto.
Com um Macaulay Culkin de dez anos gritando para eles da tela plana pendurada na parede, Rhage afastou o cabelo de Mary longe de seu rosto.
— Fale comigo. – Disse.
Ela se deixou cair de costas.
— Eu não quero arruinar isso com mais de minhas coisas pesadas.
— Por que iria estragar alguma coisa?
— Qual é, Rhage... Sinto como se finalmente tivéssemos conseguido arrumar as coisas entre nós, mas aqui estou eu... Estragando novamente.
Ele franziu a testa e virou de lado, descansando a cabeça na palma da mão.
— Por que falar de Bitty atrapalharia alguma coisa entre nós? – Quando ela não respondeu, ele desenhou um círculo em seu braço nu.
— Mary?
Quando finalmente olhou para ele de novo, os olhos dela estavam molhados.
— Preciso te contar uma coisa.
— Qualquer coisa. – Inferno, após a última... A que horas foi isso? Perto do meio-dia? Oito horas com ela e sentia-se invencível no que dizia respeito a ela. — Não
estou preocupado.
— Essa ferida de bala em seu... – Ela fungou e parecia determinada seguir em frente. — Quando você voltou da Besta tendo assumido e estava lá deitado no chão...
Ela colocou as mãos no rosto e olhou para o teto, como se estivesse de volta lá no meio daquele campo. E o primeiro instinto dele foi dizer para ela parar, colocar
a memória pra longe e nunca mais voltar a esse momento.
Mas ela não era covarde com suas emoções. Nunca foi.
— Lutei para mantê-lo aqui. – Ela olhou para ele. — Eu... Implorei para Jane e Manny fazerem alguma coisa, qualquer coisa para ajudá-lo.
— Claro que você fez. Eu estava sofrendo, quero dizer, lidar ou não com o outro lado, isso não foi divertido para mim, eu te garanto.
— Sim. – Ela olhou para longe. — Não quero que você sofra.
Quando sua Mary ficou em silêncio, tomou uma das mãos dela e a trouxe à sua boca.
— Por que você acha que tentar salvar minha vida poderia ser uma coisa ruim? Quer dizer, não sou um de vocês, tipo terapeuta, mas estou captando uma clara vibe aqui
que é disso que você está tentando se desculpar. O que é doido. Tanto em nível prático como clínico...
— EunãoqueriadeixaraBitty.
— Desculpe, o que você disse? Não peguei.
Mary sentou-se, dobrando o lençol em torno de seus seios nus.
— Eu podia apenas ter encontrado você do outro lado... Mas quando as coisas caminharam pra isso, sim, eu me apavorei por que você não conseguia respirar e estava...
A coisa de morrer estava acontecendo... Mas eu também não queria deixar Bitty. Queria que você ficasse para que eu pudesse continuar a ajudá-la. E sinto muito, oh
Deus, Rhage, eu sinto muito.
Rhage piscou algumas vezes.
— Deixa eu ver se entendi. Você está se desculpando comigo por que não queria deixar uma menina órfã que acabou de assistir sua mãe morrer para lidar com tudo isso
sozinha? Sério?
— Sinto como se eu... Tivesse te traído de alguma forma. Quer dizer, o pacto sobre eu encontrá-lo no outro lado é sobre seu destino e o meu. Juntos. Só nós dois.
Mas quando o impulso veio num empurrão, eu lutei, mas não por nós. Não realmente. Por que eu sabia que poderia vê-lo novamente. Lutei... Por outra pessoa. E isso
parece realmente errado.
Rhage sentou também, enfiando o edredom em volta do seu colo. Colocado assim, ele meio que podia ver seu ponto de vista.
E ainda assim...
— Mary, se isto te ajuda de alguma maneira, eu não queria deixar meus irmãos para trás. Estava na maior parte preocupado com você e eu, e o que aconteceria com a
gente, mas não era a única coisa na minha mente. Havia outras pessoas naquilo para mim também. – Ele sorriu e esfregou o queixo. — Mesmo que um deles tenha me atacado
“duas vezes” logo depois que saí da cama. De qualquer forma, posso entender onde você está querendo chegar, mas pelo modo que eu vejo? Não espero que toda sua vida
gire em torno de mim. Respeito sua profissão e te amo por tudo que faz no Lugar Seguro. Você sentiu naquele momento que tinha negócios inacabados que precisava lidar.
Isso é algo que eu posso totalmente respeitar. – Ele franziu a testa. — Bem, desde que você pretendesse realmente me encontrar lá se eu não voltasse...
— Oh Deus, sim! – Ela estendeu a mão e o puxou para sua boca. — Juro pela minha alma. Mesmo que isso significasse deixar Bitty sozinha... Eu teria ido encontrá-lo.
Eu não tenho nenhuma dúvida a respeito disso.
Rhage sorriu e embalou o rosto dela entre as mãos novamente.
— Então estamos todos bem. Você tem que saber, minha Mary, que seu comprometimento com seu trabalho é tanto uma parte do que eu amo sobre você quanto o resto...
Você sabe, tudo. Não gaste mais um pensamento sobre os porquês do que você fez. Concentre-se em como é incrivelmente surpreendente que estamos aqui juntos, e tudo
funcionou exatamente como deveria ser.
Ela levantou-se um pouco.
— Sério?
— Sim.
Beijaram-se, lenta e docemente desta vez. E então ele foi pra trás e levou um longo tempo só curtindo o cabelo dela despenteado, seus olhos sonolentos e seus lábios
vermelho-rubi que estavam assim por que ele esteve fazendo amor com ela por horas.
— Você se sente melhor? – Disse.
Ela assentiu.
— Ah sim. Totalmente.
— Quer terminar o filme?
— Sim, realmente quero.
Rhage sorriu mais uma vez.
— Adoro quando você mente pra mim assim.
— É verdade!
Quando ele tornou a estabelecê-la em seus braços, virou a cabeça e tateou ao redor para encontrar o controle remoto.
— Que bom que nós falamos sobre isso. Quero dizer, olhe para Kevin. Ele pirou por que nós estivemos ignorando-o. O garoto vai precisar de uma terapia séria se continuarmos
o mantendo congelado como está.
A risada de Mary se transmitiu do peito dela para o dele, e Deus, ele amava sentir isso. Em seguida ela suspirou e ficou ainda mais confortável... E poucos minutos
depois caiu no sono rápido, respirando profundamente, no mesmo ritmo de alguém que tinha a consciência limpa e estava em paz com os que amava.
No momento em que os assaltantes estavam ficando cobertos de piche e penas, Rhage estava se sentindo sonolento, mas ficou acordado pelo resto do dia. Mas não por
causa dos filmes.
Algumas vezes, todo o descanso que você precisava vinha na forma de abraçar a pessoa certa contra seu corpo e sentir seu calor, e saber que ela não estava indo embora.
Não sem você, de qualquer forma.
Amor verdadeiro, ele decidiu, era toda a recarga que ele procurava, muito obrigado.
Capítulo TRINTA E SETE
Em última análise, Mary escolheu ir de jeans.
Normalmente não era uma garota de jeans, mas no passeio de sorvete com Bitty não queria vestir seu uniforme profissional de blusa e calça. O objetivo era que fosse
um ambiente descontraído, um passeio divertido, e de alguma forma aparecendo em um monte de coisas que precisava de limpeza a seco não dizia exatamente Baskin-Robbins14,
trinta e um sabores com cobertura em cima.
— Como estou? – Disse Rhage atrás dela.
Afastando-se da escrivaninha deles, ela olhou duas vezes...
— Bem? – Disse ele, girando em círculo. — Isto está bem?
— Essa camisa havaiana... – Ela riu. — ... era suposto ser uma piada.
Ele puxou a bainha da monstruosidade daquela lona tamanho gigante.
— É a única coisa que tenho que não é preta.
Bem, isso era verdade – e falando sobre missão cumprida. A camisa era tão longe de austera quanto se poderia conseguir: que foi por isso que ela comprou. A coisa
tinha uma centena de variações na cor azul esverdeada, verde e pôr do sol pêssego num padrão de folha de palmeira absolutamente de tremer a retina.
— Eu só não quero ser todo soldado, sabe?
— É por isso que estou indo de jeans. – Ela fez uma careta quando olhou para si mesma. — Mesmo não sendo realmente mais uma fã deles.
— Mas eles te amam. – Ele murmurou, aproximando-se e envolvendo os braços em volta dela. Quando deslizou as mãos por sua bunda e apertou, ele murmurou: — Este dia
anterior foi incrível, a propósito.
Ela colocou as mãos no peito dele e brincou com um dos botões rosa da camisa.
— Mesmo eu caindo no sono em cima de você?
— Especialmente por causa disso.
Eles se beijaram por um tempo, e então Mary deu um passo atrás e deu mais uma olhada nele.
— Honestamente, acho que você tem que ir com o que se sinta confortável.
— E não é essa roupa. Alguém do meu tamanho com tanta cor? Estou parecido com uma aura de enxaqueca ao vivo e a cores.
Enquanto ele se dirigia de volta ao closet, ela olhou para o jeans e decidiu seguir seu próprio conselho.
Dez minutos depois, eles deixaram a mansão com ele todo preto e ela de calças de yoga e uma jaqueta vermelha. Saindo do vestíbulo, Rhage colocou o braço em volta
dela e beijou o topo da sua cabeça.
— Vamos nos divertir.
— Obrigada por fazer isso. Sei que você teve que mudar seu turno.
— Tohr ficou feliz de assumir pra mim. Ele está realmente interessado em matar coisas agora.
— Por quê?
— Oh Deus, muitas razões pra contar. – Conduzindo-a para o chão de paralelepípedos e a fonte de inverno, parou ao lado do passageiro do GTO e abriu a porta. — Madame?
Seu transporte.
Depois que a instalou, ele mesmo entrou e partiram, atravessando o escudo de mhis da montanha e disparando sobre a estrada sinuosa que os levava à rodovia. O Lugar
Seguro estava há uns bons vinte minutos de distância, mas o tempo passou rápido.
A próxima coisa que ela soube, é que estava saindo e dizendo ao seu macho que estaria de volta logo.
Mary correu da calçada até a porta da frente, digitou o código e então estava no aconchegante interior. Indo para as escadas, ela...
— Estou aqui.
Ao som da voz de Bitty, ela parou.
— Ei. Como você está?
A garotinha estava vestida em uma de suas roupas, aquela parka preta dobrada em seu colo enquanto se sentava com as costas retas no sofá da sala de estar.
— Ele realmente veio? – Bitty perguntou quando ficou de pé. — Estamos realmente indo?
— Estamos.
Bitty foi até as cortinas fechadas e as separou.
— Oh, ele trouxe seu carro.
— Sim, como disse que faria. Acho que você vai descobrir que meu hellren sempre faz o que ele diz que vai fazer.
Mary já havia contado a Marissa sobre o plano e obteve a aprovação retumbante da chefe, mas queria checar apropriadamente.
— Você pode me dar dois segundos no meu escritório?
Quando a menina acenou com a cabeça, Mary correu lá em cima. Marissa não estava em sua mesa, então Mary atravessou o salão para enviar um e-mail rápido para toda
a equipe.
Ela não conseguiu chegar tão longe. Pelo menos, não imediatamente.
Havia uma caixa de papelão em cima da mesa que era do tamanho de uma caixa de sapato, só que mais quadrada que retangular. Um envelope estava em cima dela, embora
soubesse o que havia dentro antes de ler qualquer coisa.
A nota era curta, mas gentil. Mary a leu duas vezes, e em seguida levantou com cuidado a tampa. Dentro havia uma simples urna de bronze.
Uma enfermeira confiável de Havers tinha deixado as cinzas da mãe de Bitty ao anoitecer por que a fêmea queria poupar Bitty de qualquer viagem de novo até a clínica.
Foi um gesto muito gentil; o tipo de coisa que faz você piscar rápido e tem que respirar fundo algumas vezes.
Voltando ao que estava fazendo, Mary deu a volta e entrou com o login em seu computador, enviou o e-mail e depois voltou lá pra baixo. Bitty estava no sofá mais
uma vez, esperando pacientemente, mas tinha colocado o casaco.
— Pronta? – Perguntou Mary.
Quando a menina se levantou mais uma vez, Mary decidiu esperar para falar sobre a entrega. A criança merecia um passeio tranquilo para tomar seu sorvete...
— Viu o que estava em sua mesa? – Bitty levantou o olhar. — A Caixa?
— Ah, sim. Eu vi.
— São as cinzas da minha mãe.
— Sim. Havia um bilhete.
Bitty baixou os olhos para o chão.
— Uma enfermeira legal trouxe. Eu estava aqui embaixo já esperando, então a peguei. Coloquei lá em cima por que não tinha certeza do que eu deveria fazer.
— Você quer que a urna fique em seu quarto?
— Eu não sei.
— OK. Você não tem que decidir nada agora.
— Eu quero guardá-la. Você sabe…
Para o seu tio, Mary completou em sua cabeça.
— Para o meu tio. – Bitty concluiu. — Mas não tinha certeza se seria capaz de dormir com ela lá em cima. Quero dizer… É ela. Mas não é.
— Está perfeitamente certo você pensar sobre isso. E mudar de ideia. Ela está a salvo em meu escritório. Vou deixá-la bem na minha mesa. Nada vai acontecer a ela.
— Ok.
Houve uma pausa.
— Está pronta para ir agora?
— Sim, por favor.
Mary soltou um suspiro.
— Bom. Fico feliz. Vamos.
Bitty dirigiu-se até a porta, mas parou no meio do caminho.
— Senhora Luce?
— Sim?
Aqueles olhos castanhos se acenderam por uma fração de segundo e depois voltaram para o chão.
— Muito obrigada.
Tudo o que Mary pôde fazer foi piscar enquanto Bitty continuava seguindo para a saída.
— De nada. – Disse Mary numa voz rouca.
Ao lado de seu carro, Rhage encontrou-se enfiando sua camisa preta debaixo da jaqueta, ou melhor, tornando a colocar a coisa. Então correu os dedos pelo cabelo.
Cara, ele precisava cortar essa coisa. Era como uma moita loura dos anos setenta, todo bagunçado.
Pelo menos o barbear mais rente que ele fez antes de deixar a mansão o estava deixando seguro. E estava limpo. Até lavou atrás das orelhas e entre os dedos dos pés.
Quando a porta do Lugar Seguro abriu e as fêmeas apareceram entre os batentes, levantou a mão e conseguiu duas levantadas para ele, uma de cada. Em seguida, Mary
e Bitty estavam na frente dele, a garotinha olhando fixamente para ele como se fosse maior do que ela se lembrava. Ou mais loiro. Ou talvez de aparência mais estranha.
Ou alguma coisa.
Quem diabos sabia.
— Oi. – Ele disse abrindo a porta do carro para ela. — Está pronta?
— Sim. – Bitty deslizou para dentro. — Obrigada.
— Você sabe o sabor que vai escolher?
— Baunilha?
Franzindo o cenho, ele colocou o assento na posição original e ajudou sua Mary a entrar.
— Huh. Bem. Isso é bom.
Quando sentou atrás do volante, ele se virou.
— Sabe, baunilha é ótimo. É uma boa escolha tradicional. Mas eles vão te deixar experimentar alguns de seus outros sabores antes de você escolher. Pode querer dar
a isso uma chance ou misturar com baunilha. Tudo funciona.
— Que tipos de sabores têm ali?
— Oh meu Deus, muuuitos.
Ele pisou na embreagem, jogou a primeira, mas se segurou antes pisar fundo no acelerador. Não havia restrição de tempo aqui e não queria chacoalhar a pobre garota.
— Ei, colocou seu cinto de segurança? – Ele perguntou olhando pelo retrovisor.
— Desculpe. – Bitty se remexeu ao redor, colocando a tira no lugar cruzando seu tórax. — Não achei.
Rhage estendeu a mão e acendeu a luz.
— Aqui.
Clique.
— Obrigada.
Movendo-os para fora do meio-fio, manteve o limite de velocidade. E as leis de trânsito. E olhou de cara feia para um SUV que cortou entrando na frente deles.
A Melhor Sorveteria da Bessie estava pintada de rosa brilhante do lado de fora, e preto e branco por dentro. Com mesas e cadeiras cor de rosa, música dos anos 50
saindo dos alto-falantes, e atendentes que tinham saias rodadas para as meninas e camisetas estampadas e calças para os caras, Rhage sempre ficou impressionado com
o quão perto precisamente eles chegavam de Elvis, entrando na vibe do movimento de quadril.
Como alguém que tinha tomado sorvete nos anos 50, ele se lembrava de primeira mão como as coisas eram, muito obrigado.
E sim, havia escolhido o lugar certo.
Bitty estava encantada com o lugar, seus grandes olhos vagando ao redor como se nunca tivesse visto nada como aquilo, o que infelizmente, sem dúvida, era a verdade.
Felizmente havia apenas alguns clientes humanos: um casal que tinha mais de sessenta anos no canto, um pai com três filhos no meio de uma das maiores mesas, e duas
adolescentes que estavam tirando selfies com os lábios cobertos de gloss fazendo biquinho e seus sorvetes derretendo pelos lados em pequenos copos de papel.
Dirigindo-se para onde era feito o pedido, sorriu para a garota em seus vinte anos de idade em sua saia rodada... E então realmente desejou que não tivesse feito.
— Oh! – Foi tudo o que ela parecia ser capaz de dizer enquanto olhava fixamente do outro lado dos potes de sorvete dentro da vitrine da geladeira.
— Gostaria de tentar algumas amostras. – Ele pediu.
E você poderia, por favor, por favor mesmo, parar de me olhar assim? O único creme de chantilly que você estará colocando em alguma coisa será na minha banana split.
Não, não naquela banana split...
E pode pular as nozes15.
Ok, vamos lá, estava realmente discutindo consigo mesmo sobre suas próprias insinuações aqui...
— Os que você quiser. – Ela realmente bateu os cílios. — Que sabores? E pode tentar as coberturas também. Se você quiser.
As palavras foram ditas rápidas e acentuadas por todos os tipos de inclinações, e exibindo tudo aquilo que aquele pequeno botão baixo escondido dentro daquela grande
saia não conseguia cobrir.
— Deixa eu perguntar para minha esposa. – Usou deliberadamente o termo humano. — Mary?
O sorriso de Mary foi fácil e relaxado, e adorava aquilo nela, era tão confiante em si mesma e no amor dele por ela, nunca reclamava, não importa quantas mulheres
dessem em cima dele.
— Fico com o de chocolate, com chocolate crocante na casquinha.
— Bitty? Você gostaria de diversificar além de baunilha?
A menina o surpreendeu chegando perto.
— Eu acho que... Sim, eu poderia, por favor, experimentar algum?
Quando Bitty olhou para a humana, a garçonete se endireitou um pouco, como se o interruptor em sua libido tivesse sido abaixado um pouco.
— Quer que eu leve pra você e seu pai uma amostra? Vou pegar e você pode experimentar na mesa.
Todos congelaram. Ele. Mary.
Não, espere, Bitty não congelou.
— Ele não é meu pai. Mas sim, por favor.
A humana não pareceu se importar de uma forma ou de outra. Ela apenas se virou e pegou uma bandejinha com doze diferentes pequenos cones de papel dispostos em um
suporte de papelão.
Ele não é meu pai.
As palavras saíram suavemente e sem hesitação, como se Bitty tivesse dizendo um destino em um mapa ou apontando um livro em uma prateleira. Enquanto isso, Rhage
ainda estava parado no seu lugar enquanto os minicones eram feitos e a bandeja era colocada em cima do balcão, e a casquinha de Mary era entregue na mão dela ainda
ligeiramente trêmula.
Quando seus olhos se encontraram, era óbvio que ela estava preocupada com ele, e estava um pouco preocupado também. Sentiu como se tivesse levado a porra de um soco
no estômago.
— ... mesa?
Sacudindo-se, olhou para a garçonete.
— Desculpe?
— Quer levar isso com você? Quer dizer, posso levar para sua mesa se quiser.
— Não, não, está tudo bem. Obrigado. Volto a pedir mais e então vou pagar.
— Certo. Está bem.
O tanto faz foi silencioso. Não que ele desse a mínima.
Indo para a mesa ao lado da placa de saída de emergência – que escolheu por hábito só pro caso, você sabe, de os dez lessers remanescentes na cidade de Caldwell
viessem a explodir através daquela porta rosa à procura de um caminho perigoso – colocou a bandeja na mesa e entregou uma colher rosa para Bitty.
— Fique à vontade. E então pode me dizer o que você quer numa casquinha ou num sundae, ou decidir que está cheia o suficiente.
Bitty apenas olhou para a amostra de várias cores e texturas. Desde os verdes brilhantes do pistache e chocolate crocante com menta, até o coral por do sol na praia
de algum tipo de sorvete tipo smoothie, e o rosa alegre do morango, esta era realmente uma boa amostra representativa.
— Por onde começo? – Perguntou ela.
— Em qualquer lugar. – Disse Mary enquanto se sentava com sua casquinha.
— Quer que eu vá primeiro? – Ele perguntou.
— Sim. Por favor.
Sim, uau, pela primeira vez na história, ele encarava um sorvete e não tinha nenhum interesse nele.
— Acho que vou começar por aqui. – Ele murmurou, levantando a colher com algo que não foi nem um pouco registrado na sua língua.
— É bom? – Perguntou Bitty.
— Ah, com certeza. Absolutamente.
Quando ela se inclinou e enfiou sua colher rosa na metade que ele tinha deixado para trás, ele olhou para Mary.
Sua shellan estava focada em Bitty como se alguma coisa na forma como a garotinha experimentava a sobremesa pudesse oferecer alguma pista importante sobre a forma
como o luto estava indo. E foi engraçado... Quando olhou de uma para a outra, ficou surpreso quando notou pela primeira vez que ambas tinham cabelos castanhos.
De fato, Bitty parecia como se ela pudesse ser...
Sim. Uau.
Ele precisava recuar aqui. Afinal, havia quantos vampiros no planeta? E humanos? Portanto, o fato de que ambas aconteciam de ser ambas do sexo feminino e tinham
cabelos escuros em oposição a loiros, ou ruivos, ou pretos, não era uma enorme surpresa.
Disse firmemente a si mesmo que não havia absolutamente nada cósmico ou predestinado sobre eles três sentados aqui nesta sorveteria, além do fato de que o tipo particular
de sobremesa servida debaixo deste teto rosa só aconteceu para provar a existência de um Deus benevolente.
— ... por favor?
— O que? – Ele disse. — Desculpe. Fiquei distraído com o menu acima daquele balcão ali.
— Acho que gosto mais do chocolate crocante. – Disse Bitty.
Rhage deu uma olhada para Mary novamente e em seguida teve que desviar o olhar.
— Considere isso feito. Em um copo ou numa casquinha?
— Eu acho que…
Casquinha, ele terminou em sua cabeça.
— Casquinha. – Disse Bitty.
— Entendido.
Enquanto se levantava e voltava para a humana nessa saia rodada, ele disse: Não. Todas as crianças gostavam de chocolate. Crocante. Em casquinhas.
Não havia algum tipo de destino trabalhando aqui.
Sério.
Totalmente.
Não havia.
Capítulo TRINTA E OITO
O vento gelado varria a colina ondulante, esvoaçando as folhas caídas e jogando-as sobre os mocassins Bally de Assail. Lá embaixo, o Hudson parecia estático no cenário
noturno, como se sua corrente tivesse se revertido durante a noite com a partida do sol, e a água estivesse aliviada por poder tirar um descanso. Ao norte a lua
surgiu, um pedaço brilhante e claro de luz na profunda escuridão do céu aveludado.
Como o ar gelado incomodava seu nariz ferido, ele respirava pela boca. Mas mesmo sem a grande vantagem do olfato aguçado, sabia quem se aproximava.
Ele não chegou a se virar, mas olhou na direção do visitante.
— Um local bastante romântico.
A voz de Throe era baixa.
— Eu vou matá-lo.
Assail revirou os olhos e olhou por cima do ombro.
— Uma arma? Sério?
O macho estava em pé diretamente às suas costas, pistola automática na mão, o dedo no gatilho.
— Acha que não sou capaz de atirar?
— Só por que eu te beijei? Ou por que você gostou? – Assail voltou a olhar para o rio. — Como você é fraco.
— Você é um...
— Seu corpo não mentiu. Por mais que seu cérebro tenha opinião contrária, ambos estamos plenamente cientes de sua excitação. Se não consegue encarar esta realidade
é problema seu, não meu.
— Você não tinha o direito!
— E você tem uma visão muito tradicional do sexo, não tem?
— Não quero você perto de mim de novo.
— Você não ia atirar? Ou já passamos deste ponto? Talvez tenha percebido o quão incrivelmente covarde seria atirar pelas costas em um homem perfeitamente inocente.
— Não há nada de inocente em você. E não confio em sua presença na casa de Naasha.
— E, no entanto, você não passa de um convidado dela, certo? Um que por acaso acaba sendo útil para manter a senhora da mansão aquecida durante estes dias incrivelmente
frios... E com o hellren dela dormindo no quarto ao lado. É, não há nada inescrupuloso nisto. Tão louvável.
— Meu relacionamento com ela não é da sua conta.
— Bem, é e não é. Você obviamente não está conseguindo satisfazê-la totalmente... Ou eu não teria sido chamado na noite passada.
— Ela queria exibir os brinquedinhos dela. Semana que vem será outra pessoa.
— Ela te faz dormir no porão? Em um quarto escuro? Ou deixa você ficar no andar superior junto com os adultos? Aliás, vai atirar em mim? Se não, talvez possa vir
aqui e me olhar na cara. Ou não confia em si mesmo?
O som de folhas pisadas deu a volta. E então Throe apareceu à esquerda com o longo casaco de lã esvoaçando ao vento.
— A propósito, isto aqui não é um parque onde os humanos levam seus cachorros para passear? – Assail olhou ao redor do terreno ondulante e então apontou para o outro
lado do rio. — Eu moro ali, como deve saber, vejo humanos e seus animais deste lado da colina em noites mais amenas...
— Cuidado com o que fala.
— Ou o que? – Assail inclinou a cabeça para o lado. — O que vai fazer comigo?
— Vai tomar no cu.
— Sim, por favor. Ou vice-versa, você é quem sabe.
O rubor que subiu pelo pescoço até as faces de Throe era visível à luz da lua. E o macho abriu a boca como se estivesse a ponto de retrucar rispidamente. Mas então
seus olhos cintilantes baixaram... E se fixaram na boca de Assail.
— E então, o que vai ser? – Assail murmurou. — Por cima... Ou por baixo?
Throe praguejou.
E então desapareceu no ar, desmaterializando para longe da colina... Deixando uma única interpretação: ele estava mais curioso do que queria admitir, mais faminto
do que podia ocultar, mais desesperado do que podia suportar. O macho veio com um objetivo, mas não conseguiu cumpri-lo por sua causa.
Sozinho na colina, Assail ficou surpreso no quão pouco se importaria caso aquele gatilho tivesse sido apertado.
Lá embaixo na água, uma embarcação flutuava contra a corrente, propulsionada por alguma espécie de motor. Sua luz traseira era branca, e a metade vermelha de sua
lanterna de proa era visível. Ambas ondulavam languidamente.
Não eram seus contatos importadores. Não havia luzes na embarcação deles.
O que o lembrava... Vishous fez uma encomenda de armas. Nada exótico e em número relativamente baixo.
A Irmandade estava testando-o primeiro como fonte... E Assail respeitava isto. Mas seus fornecedores não ficariam contentes com uma quantidade tão pequena por muito
tempo. Havia uma análise de custo-benefício que era feita quando alguém burlava as leis humanas, e seus contatos já não tinham gostado nada do fato de suas encomendas
de cocaína e heroína terem cessado de forma tão abrupta.
Bom, quase todas as suas encomendas de cocaína. Ele ainda tinha suas próprias necessidades a considerar.
A entrega das armas não seria feita até a noite seguinte, o que achava decepcionante.
Tinha tempo disponível demais agora. E na verdade, embora estivesse comprometido com o trabalho que tinha a executar para Wrath, e estivesse ansioso para fazer Throe
abrir mão de toda aquela convenção sexual rígida, não dava para dizer que algo daquilo lhe causasse excitação ou motivação.
Com as mãos nos bolsos de seu casaco de cashmere, jogou a cabeça para trás e observou o céu sem conseguir ver nele uma versão de paraíso, mas meramente um espaço
vazio e frio.
Por alguma estranha razão, ao endireitar a cabeça estava com o celular na mão.
E antes de conseguir se segurar, fez uma chamada. Chamou uma vez. Duas. Três…
— Alô? – Uma voz feminina atendeu.
O corpo de Assail respondeu como um diapasão, suas veias vibraram dentro da pele, as ligações nervosas em seu cérebro foram invadidas por um zumbido que nem mesmo
a cocaína conseguia chegar perto.
— Alô?
Fechando os olhos, murmurou algo que ficou feliz por Marisol não conseguir ouvir, nem ler em seus lábios – e então afastou o celular do ouvido. Ao encerrar a ligação,
perguntou a si mesmo por que é que continuava a se torturar assim, ligando para ela e desligando em seguida.
Mas também, não é como se só gostasse de torturar os outros, não é?
Afinal, inimizades, como gentileza, começavam em casa.
Era como esperar a tinta das paredes secar.
Ao acender outro cigarro enrolado à mão e recostar-se nas prateleiras cheias de urnas de lessers, Vishous observou o brilho da luz das tochas refletirem no rosto
feio pra caralho de Xcor. Ele começou seu turno ao anoitecer e tinha mandado Butch trabalhar na cidade. A esta altura, era um desperdício de recursos ter mais de
uma pessoa dando uma de babá para o bastardo.
Acorde cuzão, ele pensou. Vamos lá, abra os olhos.
É, isto parecia impossível pra caralho. Os músculos que estiveram se contraindo daquele único lado do corpo de Xcor tinha cessado durante o dia e, agora a única
interrupção da completa imobilidade da morte era o subir e descer daquele peito. O equipamento de monitoramento... Que V tinha silenciado por que, um: ele conseguia
ver as leituras perfeitamente bem; e dois: o bip incessante o estava levando à loucura, fazendo-o querer destruir a coisa – indicava que, para alguém em coma profundo,
as funções básicas de Xcor estavam indo bem demais. E enquanto isto, o acesso venoso bombeava fluídos e nutrientes nas suas veias, o cateter drenava sua bexiga e
aquele cobertor elétrico mantinha sua temperatura elevada.
V desejava muito mesmo que o bastardo voltasse a si.
Era coisa demais para pensar...
Quando o celular soou o recebimento de uma nova mensagem de texto, visualizou, e então se levantou e caminhou, cobrindo rapidamente a distância até o portão.
Jane estava esperando do outro lado das barras de aço com a malha de metal, uma sacola pendurada no ombro, casaco branco e jaleco azul insanamente eróticos, mesmo
sendo infernalmente largos, celular na mão enquanto digitava uma mensagem de texto para alguém. Concentrada em seu celular, com os cabelos louros curtos caídos para
frente e obscurecendo seu rosto, mas ainda assim, podia ver que estava sem maquiagem... E por alguma razão, notou especialmente suas unhas curtas e sem esmalte.
Ela sempre mantinha aquelas unhas extremamente curtas para não rasgar as luvas cirúrgicas.
Ou órgãos internos.
Por um momento, parou e simplesmente ficou encarando-a. Ela estava tão enterrada no trabalho que nem tinha notado sua aproximação, e cara, ele amava aquilo nela.
Sua mente, aquele enorme mecanismo debaixo de seu crânio, era seu lado mais sexy, a força que o desafiava, dava-lhe chão... E fazia-o sentir-se de vez em quando
como se possivelmente, talvez ele não fosse realmente a pessoa mais inteligente da casa.
E então, é claro, havia ela no meio do campo de batalha com partes de corpos de lessers para todo lado, armas e a possibilidade de caos devastador tão perto quanto
a grama sob seus pés, e sua completa concentração em salvar seu irmão.
— V?
O modo como ela disse seu nome sugeria que devia estar tentando chamar sua atenção algumas vezes.
— Desculpe, ei. – Ele liberou a tranca e abriu o portão, postando-se de lado para ela poder passar com todo aquele equipamento. — Quer ajuda com isso?
— Não, tudo bem. – Ela lhe deu um sorriso e foi direto aos negócios. — Como estão as coisas aí?
Engraçado, eles não se abraçavam muito, não é? Os outros casais na mansão dificilmente se desgrudavam, mas ele e Jane? Sempre havia muito o que conversar.
Tanto faz, ele nunca se incomodou antes com essa bobagem sentimental.
Afinal, qualquer coisa remotamente mais cor-de-rosa deixava-o desconfortável. E não só por que podiam indicar a localização uma infecção dermatológica.
— Xcor e eu estávamos brigando. – Quando os dois caminharam lado a lado pelo corredor, suas sombras aumentavam e diminuíam, conforme passavam por várias tochas.
— Ele é torcedor do Yankees, então pode imaginar o tipo de papo que tivemos. Mas temos algo em comum. Ele também odeia minha mãe.
A risada de Jane foi profunda e meio súbita, um som discutivelmente feio que ele amava pra cacete.
— É mesmo? – Ela pegou uma das bolas. — Mais alguma conversa digna de nota?
— Ele não tem nenhum gosto musical. Nem ao menos conhece Eazy-E.
— Está certo, isto é realmente errado.
— Eu sei. Esta juventude de hoje em dia... O mundo está indo latrina abaixo.
Ao lado da cama de Xcor – ou da maca, como era o caso – Jane livrou-se de sua carga e então ficou parada ali, os olhos passando pelo paciente e interpretando as
leituras dos sinais vitais.
— O tempo da bateria é maior do que pensávamos. – murmurou V ao dar uma tragada. — Ainda temos algumas horas antes de precisar trocar.
— Que bom... Vou deixar a bateria reserva aqui do lado.
V afastou-se e deu-lhe um pouco de espaço para verificar o cateter de Xcor, trocar a bolsa de solução salina e administrar algumas medicações pelo acesso venoso.
— Então, o que acha? – Perguntou ele. Não porque não tivesse sua própria opinião, mas mais porque amava quando ela se punha a falar em termos clínicos.
Quando ela começou a desfiar um número incontável de termos médicos multissilábicos derivados do latim, ele teve de mudar a posição de seu membro dentro das calças
de couro. Algo nela, quando ficava toda profissional, fazia-o querer cair em cima dela. Provavelmente tinha a ver com a coisa da vinculação – queria marcar esta
pessoa espetacular como só dele para que o mundo todo soubesse que precisavam manter a porra da distância.
Jane era a única fêmea que tinha conseguido causar este tipo de reação nele. E sim, se tivesse de analisar psicologicamente esta situação, provavelmente descobriria
que isto era por causa de sua mente, focada na paixão dela pelo trabalho, merda, seu compromisso incansável pela perfeição o fazia sentir-se meio como se tivesse
que estar sempre correndo atrás dela para alcançá-la.
Basicamente ele era um predador típico: a caça era mais elétrica do que a captura e a consumação.
E com Jane, havia sempre algo a perseguir.
— Olá? V?
Quando seus olhares se cruzaram, ele franziu o cenho.
— Desculpe, eu me distraí.
— Tem coisa demais acontecendo. – Ela sorriu de novo. — De qualquer forma, eu estava dizendo que tenho uma reunião com Manny e Havers. Estamos pensando em abrir
a cabeça dele. Quero observá-lo pelas próximas doze horas, mas a pressão no cérebro está aumentando gradualmente, mesmo com o dreno que coloquei esta manhã.
— Dá para operar aqui?
Ela olhou ao redor.
— Acho que não. Há muitos detritos no ar. A luz é fraca. Mas mais do que tudo, vamos precisar de aparelhos de imagem que não podemos trazer para uma caverna.
— Bem, me avise o que quer e providencio a remoção dele.
—Você é o melhor.
— É, sou mesmo. E também faria qualquer coisa por você.
Quando seus olhares cruzaram, ela colocou as mãos nos bolsos e recuou até se apoiar nas prateleiras.
Quando ela não disse mais nada, ele franziu o cenho.
— O que foi?
— Então, quer me dizer o que está se passando na sua cabeça?
V sorriu suavemente e perdeu pouco tempo olhando para a ponta de seu cigarro enrolado à mão. No silêncio, pensou em deixar a pergunta pra lá, mas isto era por que
odiava abordar qualquer coisa remotamente emocional.
— Sabe, eu negaria que estou tendo um ataque de pelancas, mas...
— Seria uma perda de tempo.
— ... seria uma perda de tempo.
Ambos sorriram quando falaram as mesmas palavras, ao mesmo tempo e na mesma entonação. Mas então ele ficou sério.
Apagando o cigarro na sola do coturno, jogou a bituca na lata de coca que vinha usando como cinzeiro. Para ganhar mais um momento, ele olhou para as centenas e centenas
de urnas ao redor deles. Então olhou para Xcor.
Esta não era bem uma conversa que queria ter na frente de qualquer pessoa. Mas o bastardo tinha quase tanta consciência quanto um dos sofás de couro do Pit. E aqui
e agora era melhor do que qualquer outra versão de depois e outra hora que envolvesse a mansão caótica onde vivia com sua companheira.
— Você já pensou em ter filhos? – Disse ele.
Capítulo TRINTA E NOVE
— Então, vai me contar mais sobre as pessoas com quem você mora?
Ao ouvir a pergunta de Bitty vinda do banco traseiro do GTO, Mary olhou de esguelha para Rhage. Os três voltavam para casa com a pança cheia de sorvete, a maior
parte da tensão sobre o assunto “pai” dispersada. Mas cara, aquele tinha sido um momento difícil... Bem, pra todo mundo, menos pra Bitty. Ela não pareceu se importar.
O mesmo não podia se dizer dos dois adultos que a acompanhavam. Nada lançava mais luz sobre o tema “impossibilidade de ter filhos” do que aquilo. Mas pelo menos,
o resto do passeio tinha sido um sucesso estrondoso.
— Quer saber mais sobre o meu pessoal, hein? – Rhage olhou pelo espelho retrovisor e sorriu. — Deixa eu ver. Quem mais? Já falamos do Rei, dos animais e de Lassiter.
Que na verdade devia estar junto dos animais. Então... Está bem, você já viu gêmeos?
— Não, nunca. Eu não tinha permissão para sair de casa.
Rhage piscou.
— Sinto muito, Bitty. Isto deve ter sido muito difícil pra você.
— Meu pai não queria que nos encontrássemos com ninguém.
Mary tentou conter um estremecimento.
Rhage franziu o cenho, e ela o sentiu segurar sua mão.
— Deixa eu te perguntar uma coisa, Bitty. – Disse ele.
— Está bem.
— Como aprendeu a ler? E você também fala muito bem.
— Minha mahmen era professora. Antes de conhecer o meu pai.
— Ah.
Mary virou-se no banco.
— Você gostaria de ser professora também?
As sobrancelhas da garotinha se levantaram.
— Sim, acho que gostaria. Mas não sei onde estudar para isto. Minha mahmen fez o curso na Carolina do Sul.
Mary tentou não demonstrar nenhuma reação.
— Mesmo? Sua mãe nunca disse que era de lá.
— Os pais dela moravam lá. Mas eles morreram.
— Ouvi falar de uma colônia naquela região. – Rhage declarou.
— Meu pai era um trabalhador itinerante. Ele costumava se mudar a cada estação, trabalhando para humanos até conhecê-la. Então eles se mudaram para cá e ele virou
eletricista da espécie. Começou a beber cada vez mais e as coisas mudaram. Eu nasci depois que ele piorou... Talvez tenha sido por minha causa.
Mary ficou em silêncio, tanto por esperar que Bitty continuasse, mas também por que era difícil ouvir uma criança falar daquele jeito. E então franziu o cenho ao
perceber que já estavam perto do Lugar Seguro.
Olhando para Rhage, quis encorajá-lo a continuar falando... E ele anuiu de forma sutil como se soubesse exatamente qual era sua intenção.
Talvez se ele continuasse a dirigir, Bitty continuasse a falar.
Por que nada daquilo estava no prontuário da mãe.
— Às vezes, – Disse Mary. — O álcool machuca mesmo as pessoas.
— Meu pai batia na gente. Não a cerveja que ele bebia.
Mary pigarreou.
— Tem razão, Bitty.
A garota ficou em silêncio, e então, antes de Mary poder dizer qualquer outra coisa, ela voltou a falar.
— Posso perguntar uma coisa, Sra. Luce?
Mary virou-se de novo e concordou ao fitar os olhos da garota.
— Qualquer coisa.
— Você disse que sua mahmen morreu, certo?
— Sim, verdade.
— Então onde você fez a cerimônia do Fade para ela?
— Bem, Bitty, isto é uma... – Ela prendeu uma mecha do cabelo atrás da orelha. — A verdade é que eu era humana, Bitty.
A garotinha recuou.
— Eu... Não sabia.
— É uma história muito, muito longa. Mas eu o conheci e me apaixonei. – Ela colocou a mão no ombro de Rhage. — E então algumas outras coisas aconteceram. E vivo
no mundo vampírico desde então. Minha vida é aqui, com vocês, e não vou voltar ao que era antes.
As sobrancelhas de Bitty cerraram de novo sobre a ponte do nariz.
— Mas o que houve com sua família? Você os trouxe com você?
— Era só minha mãe e eu. E depois que ela morreu, eu não tinha nada que me mantivesse presa àquele mundo. Graças a Rhage... – Ela olhou de esguelha para ele e sorriu.
— Bem, por causa dele eu encontrei um novo lar.
— Você tem filhos?
Mary negou com a cabeça.
— Não, eu nunca vou poder tê-los.
Novamente aquele recuo.
— Nunca?
— Não. É como foram as coisas para mim. Mas tenho meu trabalho no Lugar Seguro e há tantas crianças lá precisando de minha ajuda. – Como você, por exemplo. — Então
faço deste jeito minha contribuição ao futuro, às crianças.
Bitty franziu o cenho por um tempo mais longo; então olhou para Rhage.
— E você? Você teve filhos? Antes de conhecer... Bem, ela?
Rhage buscou por Mary novamente, sua grande mão pousando sobre o braço dela em um toque cálido e forte.
— Acho que eu até poderia tê-los. Mas se não for com ela, então não vai ser com mais ninguém.
— Minha mahmen disse que filhos são a maior bênção da vida.
Mary anuiu através de uma dor súbita em seu coração.
— E ela tinha muita razão ao dizer isto.
— Então, gêmeos? – Bitty disse.
Rhage respirou fundo, como que forçando a si mesmo a voltar à conversa normal.
— Ah, sim. Gêmeos. Então, de qualquer forma, temos dois gêmeos na casa. Eles são idênticos, mas na verdade não se parecem muito.
— Como é possível?
— Bem, um foi feito escravo de sangue.
— O que é isto?
— É uma prática que foi tornada ilegal pelo Rei. É quando alguém é aprisionado contra sua vontade para servir de fonte de sangue para outro. Zsadist foi ferido durante
a fuga e ficou com cicatrizes permanentes, e Phury, seu gêmeo... Que foi quem o ajudou a escapar... Perdeu parte da perna no processo. Mas tudo deu certo. Ambos
são vinculados agora e Z tem a filha mais maldita... Er, bendita... Fofa do planeta. Você iria gostar de Nalla, ela é um docinho de criança.
— Acho que eu gostaria de ter filhos um dia.
Mary virou-se de novo.
— E vai poder.
— Mas você não pode, não é? E se eu também não puder?
— Bem, pode ser que aconteça. Mas gosto de acreditar que se a gente pensar positivamente, coisas positivas acontecem. Então visualize a si mesma com uma família
feliz, vinculada a um macho que te ama e que cuide de você e te deixe cuidar dele. E então visualize um bebê todo quentinho, agitando-se em seus braços. Veja que
ela tem os seus olhos ou talvez o cabelo dele seja igual ao do pai. Mentalize e pense positivo, faça acontecer.
— E, de qualquer forma, – Rhage completou. — Mesmo que aconteça de você não poder ter filhos, é sempre possível adotar um. Ou trabalhar com crianças, como a Mary.
Sempre há um jeito de contornar as coisas.
— Sempre. – Concordou Mary.
Eles seguiram viagem um tempo mais e então Rhage voltou ao Lugar Seguro. Ao passarem pela entrada e estacionar o GTO, ele pigarreou.
— Então, Bitty.
— Sim?
Rhage virou os ombros enormes para poder olhar para a garota.
— Amanhã à noite eu trabalho, mas na outra estou de folga. Quer jantar com a gente? Eu queria jantar fora.
— Em um restaurante? – Bitty perguntou.
— Sim. No TGI Fridays, conhece?
— Bem, na verdade não.
— E então, o que acha?
Eeeeeee ali estava só mais uma razão para amá-lo mais, não é? Mary pensou.
Saindo do carro, ela puxou o seu banco para a frente.
Bitty ergueu os olhos para ela.
— Não teria problema, Sra. Luce?
— Absolutamente.
— Então sim, por favor.
— Ótimo! – Rhage bateu palmas. — Oh, meu Deus, você precisa experimentar o sundae de brownie deles. É incrível!
Bitty ficou parada no meio-fio por um momento. Então ergueu a mão para dar um tchauzinho.
— Obrigada. Pelo sorvete.
— Mal posso esperar pelo jantar!
Mary posicionou o banco de volta no lugar, inclinando-se para apoiar a mão sobre o couro ainda aquecido de onde ela tinha sentado.
— Te vejo em casa?
— Mmmmm-hmmmm.
Esticando-se, ela o beijou na boca.
— Amo você.
— Amo você também, minha Mary. – Rhage puxou-a para baixo para outro beijo e baixou a voz. — Banhos são divertidos. Sabia disso?
Com o rosto aberto em um sorriso, ela permaneceu ali, erguendo uma sobrancelha.
— Oh, sério?
— Acho que vou preparar um pouquinho antes da Última Refeição. Quer dividi-lo comigo?
— Isto significa que vamos comer no quarto de novo?
— Deus, espero que sim!
Ela riu ao se endireitar para fora do carro.
— Volto para casa no horário de sempre, está bem?
— E já sabe onde me encontrar!
Ao se afastar, encontrou Bitty olhando de um para outro. E então o carro foi ligado e Rhage partiu, deixando marcas de pneus no chão.
Mary riu.
— Que exibido!
— O que quer dizer?
— Ele está tentando nos impressionar com seu carro. – As duas olharam para a casa. — Garotos fazem isto. Não conseguem evitar.
À porta da frente, Mary digitou a senha, e ao abri-la, o cheiro de biscoitos com gotas de chocolate inundou seu nariz.
— Uau. Já é a segunda vez esta semana.
Ela quis sugerir à Bitty que seguissem os sons de risada e conversas até a grande cozinha para encontrar todo mundo, mas a garota seguiu direto para a escada. Esperando
alguma abertura a mais ou chance de conversar, Mary a seguiu até o segundo andar e parou em frente ao seu escritório.
— Você vai para o sótão? – Disse ela. — Vou ficar aqui vendo uns documentos, se precisar de alguma coisa. Ou sabe, se quiser ir fazer biscoitos?
Bitty deu de ombros naquela parka grande e acolchoada.
— Acho que vou para o quarto. Mas obrigada.
— Está bem. Bom, boa noite.
— Boa noite...
— Eu vou estar por aqui. Até o amanhecer.
— Obrigada.
Mary permaneceu onde estava, em frente à porta aberta do escritório, enquanto Bitty seguia para a escada...
Aconteceu rápido demais. Em um momento, a garota se afastava. No seguinte, tinha se virado e corria de volta para Mary.
Seus braços enlaçaram Mary rápido como uma respiração, e o abraço não durou muito mais do que isso.
E então Bitty se foi, subindo para o sótão sem mais nenhum olhar ou palavra.
Mary ficou onde estava.
Por bastante tempo.
Está bem, então aquilo tinha acontecido, pensou V enquanto suas palavras pairaram no ar entre ele e Jane.
Você já pensou em ter filhos?
Quando sua companheira ficou realmente imóvel e muito, muito quieta, ele praguejou baixinho... Mas aquele não era o tipo de pergunta que se podia retirar. Mesmo
se houvesse um inimigo meio morto jazendo em uma maca entre vocês dois.
E os dois estivessem, tipo, cercados por mil corações dentro de urnas.
E no meio de uma noite de trabalho para ambas as partes.
Puta merda, aquilo tinha mesmo saído de sua boca.
Oh, e a propósito, ele ia socar Rhage quando o visse de novo. Mesmo que não fosse tecnicamente culpa do Hollywood. Tudo o que o cara tinha feito era a pergunta,
por que claramente tinha algo em sua própria cabeça.
Mas ainda assim, V ia socá-lo.
— Uau. – Disse Jane, lentamente. Ela esfregou o nariz e jogou os cabelos curtos para trás. — Isto é uma surpresa.
— Ouça, esqueça que toquei no assunto...
— Não, não vou esquecer. Você está perguntando por que quer filhos ou por que quer saber se eu quero?
— Eu quero saber o que você pensa a respeito.
E sim, talvez fosse estranho que este assunto não tivesse surgido antes, mas era bem evidente que Jane era impossibilitada, biologicamente falando, quando se comprometeram
um com o outro, e um monte de merda tinha acontecido desde então.
— Bem, o que você acha? – Disse ela.
— Perguntei primeiro.
— Isso é tipo o jogo da galinha16? Ou uma conversa íntima?
Ambos ficaram em silêncio. E então, ao mesmo tempo, disseram em uníssono:
— Não é uma prioridade para mim.
— Não é uma prioridade para mim.
Quando V riu, Jane riu também e ele teve a impressão que a tensão abandonava o corpo de ambos, já que foi visível a posição dela relaxando, com um suspiro quase
de alívio.
— Ouça. – Disse V. — L.W. e Nalla são fofos e tudo o mais. Mas eles me interessam mais por serem uma parte da vida de Wrath e Z, não por que eu queira algo assim
para nós. A menos, sabe, que isto se torne importante para você.
— Bem, eu não posso ter filhos. Digo, tecnicamente, estou morta. – Ela revirou os olhos. — Mas posso dizer que de vez em quando, quando eu digo algo assim, tenho
um início de crise existencial? Tipo, como infernos isto se tornou minha vida... Não que não seja um milagre ou coisa assim. Mas putz.
— E você está vinculada a um semideus.
— Você acabou de se autopromover?
— Talvez. Pode me culpar? – Quando ela riu, exatamente o que foi sua intenção, V ficou sério de novo. — Adoção é difícil na raça vampírica, mas pode ser uma opção.
— Verdade. Verdade mesmo. – Jane deu de ombros. — Mas sabe, nunca fui uma dessas mulheres que viviam planejando casamento ou sonhando com móbiles de arco-íris pendurados
sobre berços de bebês. Não que eu estive vendo muitos bebês em berços. – Ela franziu o cenho. — Puta merda. Eu na verdade... Acho que nunca vi um bebê dormindo em
um berço.
— E você não é uma aberração por isto. Posso dizer que é isto que está pensando.
— É. – Ela esfregou a nuca. Então estremeceu, como se estivesse se livrando de pensamentos que se recusava a analisar. — Digo, é claro, não sou. Só porque mulheres
podem ser mães, não significa que precisam ser.
V teve de sorrir um pouco. Mas então balançou a cabeça.
— Não acho que tenha nada errado conosco. E na verdade, odeio que sinta sequer necessidade de dizer isto.
— O negócio é a compatibilidade. E se um de nós quisesse filhos e o outro não? Então seria um problema.
Jane se aproximou dele e pousou as mãos em seus ombros. E era engraçado. Geralmente ele não suportava pessoas se aproximando demais. Não devido a algum tipo de abuso
terrível... Embora a castração parcial executada por seu pai não tenha sido nenhuma festa... Mas porque muito contato e proximidade era simplesmente sensação demais
para seu cérebro processar.
Mas com Jane, ele nunca se sentia sobrecarregado.
Nem com Butch.
Talvez porque os dois parecessem compreender sua sobrecarga.
— Você parece preocupado. – Ela disse ao afastar os cabelos dele para trás e traçar as tatuagens nas têmporas com a ponta do dedo.
— Não quero que nada se interponha entre nós. Nunca.
— Mas isto só depende de nós dois, não é? Então por que a ansiedade?
— Rhage e Mary estão com dificuldades.
— Sobre filhos? Mas agora estão bem?
— Sim. Eu acho que sim.
— Bom. – Ela inclinou a cabeça para um lado. — E quanto a você e eu? Não dá para prever o futuro. Ninguém pode. Então vamos conversar e resolver as coisas e seguir
em frente. Juntos. Não consigo imaginar, neste momento, um cenário onde de repente algum relógio biológico comece a despertar e eu passe a ter necessidade compulsiva
de me tornar mãe. Acho que, para mim, não sinto como se faltasse nada na minha vida. Não existem espaços em branco que precisem ser preenchidos. Eu tenho você, tenho
meu trabalho e rejeito inteiramente a ideia de que todas as mulheres são destinadas a serem mães. Algumas de nós não somos e a maravilha de tudo é podermos escolher.
O mesmo para os homens. Então sim, vamos continuar dialogando e tudo vai ficar bem... Não importa o que aconteça.
Vishous olhou para baixo, de sua enorme altura, e de alguma forma sentiu-se menor do que ela.
— Você é sempre tão sensata.
— Disso eu não sei. Mas tento olhar de todos os ângulos e ser lógica o máximo que posso...
— Não acho que eu consiga ser pai, Jane.
Sua companheira meneou a cabeça.
— Eu sei onde está querendo chegar. Seus pais não são você... E além disso, esta é a maneira errada de encarar isto. A questão é, você quer se tornar pai?
Ele tentou se imaginar carregando aquele peso, como Wrath e Z, constantemente preocupados com aquela criaturinha e se ela ia se matar. É claro, tinha uma porção
de lados bons na experiência; a alegria nos rostos de seus irmãos era muito real. Mas Deus, toda a trabalheira...
Mas estaria ele usando isto como desculpa?
Tanto faz.
— Definitivamente não agora. Não, não quero me tornar pai agora.
— Então, é isto que temos. E se isto mudar, vamos resolver. O mesmo pra mim.
— Eu jamais iria querer alguma coisa neste planeta me odiando tanto quanto odeio meus pais.
Pronto. Ele disse.
— Há muitas razões para embasar esta posição. – Jane sussurrou ao acariciar seu rosto. — E eu sinto muito mesmo.
— Não diga que eu tenho de falar com Mary sobre isto, tudo bem? Não estou interessado neste tipo de merda, tá?
— Você sabe onde ela está se precisar dela. Não tenho de te dizer que ela estaria disposta a ajudá-lo a qualquer hora que você precisasse. – Jane afastou novamente
os cabelos dele para trás. — E preciso dizer isto. Por pior que sua mãe seja... Sem ela, eu e você não estaríamos juntos.
Ele franziu o cenho, lembrando de quando tinha encontrado Jane naquele Audi acidentado no acostamento da estrada. Nenhuma de suas ações de primeiros socorros tinha
ajudado em nada. Ela permanecia imóvel, por mais que tentasse revivê-la.
Por alguma razão, a imagem de sua mãe naquela cama ressurgiu impossível de ser ignorada. A merda permaneceu... Como se fosse algum tipo de mensagem.
— Eu realmente confio em você. – Ouviu-se dizendo para sua shellan.
— E eu também te amo, Vishous.
Capítulo QUARENTA
— Está bem, posso ter pensado que você estava só brincando.
Quando sua Mary afundou-se na Jacuzzi cheia de espuma, Rhage estendeu o braço através do cálido redemoinho cheio de espuma e ahhhh siiiimmmm, lá estava, o corpo
de sua companheira todo escorregadio e suave, da curva da cintura até o alargamento dos quadris, e tantas outras coisas.
— Me dá, me dá, me dá.
Inclinando-se contra a lateral da banheira, ele a puxou para ele, separando suas coxas e montando-a sobre seu pau que ondulava embaixo da água cheio de ideias. Ele
não queria penetrá-la ainda. Haveria tempo para isto depois.
— Há quanto tempo está aqui esperando por mim? – Ela perguntou ao passar os braços ao redor do pescoço dele.
— Horas e horas.
Os seios dela se sumiam e apareciam, sumiam e apareciam, conforme o nível da água da banheira se reacomodava à sua presença, e Rhage lambia os lábios à visão dos
mamilos cintilantes e os flocos de espuma que grudavam sobre a pele dela.
Lembravam-no da parte de cima de um biquíni que tinha falhado da maneira mais milagrosa.
— Pensei que você ia ao centro trabalhar depois do sorvete. – Ela disse.
— Ah, eu fui. – Ele passou as mãos ao redor dos seios dela antes de apanhá-los, aproximando-os enquanto esfregava o dedão naqueles mamilos, enrijecendo-os. — É.
Mary gemeu no fundo da garganta e pareceu lutar para manter os pensamentos em ordem... Especialmente quando ele a puxou para sua boca e sugou uma das pontinhas,
tintilando com a língua. Debaixo da superfície, sua ereção latejou como um touro e seus quadris investiram.
— O que você disse? – Murmurou ele, ao trocar para o outro seio.
Apertando-a, amassando, ele se pegou pensando, é... É, ele se lembrava disso na época em que se emparelharam, quando mal podia esperar para chegar em casa e achá-la
nua, quando a Última Refeição era prioridade secundária, por que sua Mary era o único sustento de que realmente precisava..
— Eu honestamente não posso... Oh, certo, há quanto tempo está esperando?
— Anos.
— Isto, – Ela ofegou. — É impossível.
— Está brincando? Cheguei em casa há uns quinze minutos.
Mary riu.
— E isto é uma eternidade?
— Esperando por você? Sozinho nesta banheira? Inferno, claro!
E lutar não seria bem a palavra para descrever o que ele tinha feito naqueles becos. Tinha sido mais como patrulha a pé.
Não havia lessers por perto... O que não era um bom sinal. A questão era de onde a próxima leva das tropas do Ômega surgiria. Quem seria o próximo Fore-lesser. Quanto
tempo a calmaria ia durar.
O inimigo ia voltar. Aquela era a natureza da guerra há eras e eras. E às vezes, os períodos tranquilos eram mais difíceis de atravessar do que as batalhas.
Um sutil movimento na janela lateral captou sua atenção. Eram as persianas de aço automáticas descendo para proteger o interior da mansão da luz do sol.
O que também garantia privacidade.
Usando sua força superior, ergueu Mary da água até um dos joelhos dela estarem sobre uma pilha de toalhas brancas felpudas perto de sua cabeça, e a outra perna totalmente
esticada e apoiada na beirada da banheira. Quando ela se equilibrou segurando-se na moldura da janela, seus seios empinaram-se adiante.
Tão molhada.
Tanta água morna e tantas trilhas de bolhinhas percorrendo a pele dela, trilhando seu estômago abaixo, seus quadris, sua coxa.
Seu sexo.
Esticando a língua, aninhou o rosto lá, lambendo-a languidamente, desejando que a maldita espuma desaparecesse por que elas mascaravam seu sabor. Puxando-a em sua
direção, ele a idolatrou com a boca, ouvindo-a gemer seu nome, sentindo o orgasmo dela...
Algo escorregou, provavelmente o pé dela dentro da banheira, e pense numa carroça de maçãs virando... O corpo dela desequilibrou, ele afundou, e a próxima coisa
que viu é que estava debaixo da água e ela estava rindo, e uma maré de água da banheira inundou o chão de mármore.
— Ah, não! – Disse Mary. — Melhor limpar isto.
— Agora não, fêmea.
Com um grunhido, colocou-a debaixo dele, sua flutuação na banheira funda trazendo-a para cima, contra seu corpo.
— Enrole as pernas ao meu redor.
Quando ela obedeceu, ele colocou a mão entre eles, posicionou-se e então...
— Oh, sim... – Murmurou entredentes.
Eles trabalharam juntos para criar fricção, ele enrodilhando os braços ao redor da cintura dela e bombeando pra cima e pra baixo, ela esfregando ao empurrar-se para
cima, com as pernas ao redor da pélvis dele. Tão bom, tão apertado que ele nem notou a espuma em seu rosto ou o fato de que tinha de permanentemente reajustar seu
apoio na beirada da banheira.
Eeeeee... Houve mais uma coisa que ele meio que ignorou.
Talvez um pouquinho mais de água tenha derramado pela banheira.
Bem quando ia começar a gozar dentro dela, quando suas bolas se contraíram e aquele prazer afiado como uma faca transpassou seu pau e o fez mover os quadris mais
e mais...
Houve um ruído não tão doce de batidas na porta do quarto.
— Rhage! Ei, Rhage!
— Agora não. – Ele rosnou ao continuar bombear, e o orgasmo de Mary apertá-lo intensamente.
— Rhage! Que caralho! – Juntou-se outra voz.
— Agora não! – Berrou de volta.
— Rhage!
Mais batidas. Tipo, com múltiplos punhos.
Com uma última investida de sua pélvis, ele se imobilizou xingando.
— Mary, sinto muito.
Ela riu e aninhou o rosto na curva do pescoço dele.
— Não é culpa sua...
Havia tantas batidas na porta... A ponto de deixar claro que vários Irmãos estavam lá fora. E quando vários machos continuaram a chamar seu nome, ele praguejou de
novo.
— Fique aqui. – Ele murmurou.
Ao retirar seu pau, o calor da água da banheira foi um pobre substituto para o interior de Mary, e ele estava de péssimo humor ao se levantar e passar uma perna
pela beirada da banheira para pousar um pé no mármore...
Três... Fodidos... Patetas.
Todos seus 136 quilos derraparam, a água naquela pedra lisa tornou o chão do banheiro escorregadio como um rinque de patinação no gelo. Girando os braços no ar,
seu corpo se contorceu e algo em sua coluna estalou...
Bum! Ele não caiu propriamente dito, desabou, todos os tipos de dores o transpassaram em explosões em seu braço, ombros, costas, traseiro e uma das pernas.
— Rhage!
Por um momento, tudo o que pode fazer foi olhar para o teto enquanto tentava recuperar o fôlego. E então o rosto de Mary era tudo o que havia em sua linha de visão.
— Ai. – E então espirrou por algum motivo. Tinha espuma em seu nariz... E caralho, aquilo doeu. — Digo... Ai, sério mesmo.
Enquanto isto, a multidão lá fora ainda batia loucamente à sua porta. E sim, havia muita água.
— Mary, faz um favor?
— Quer que eu chame a Dra. Jane?
— Não, a menos que esta umidade debaixo do meu corpo seja sangue. – Ele disse secamente. — Pode, por favor, colocar um roupão de banho antes que eles arrombem a
porta? Eu amo meus irmãos, mas se algum deles a vir nua, vou ter de matá-lo. Assim que eu conseguir levantar, claro.
Quando teve certeza de que Rhage estava mais ou menos bem, Mary se levantou e cuidadosamente andou até onde um dos roupões de tecido grosso de Rhage estava pendurado
em um gancho. Ela imaginou que ele gostaria mais que ela usasse aquele por que tinha cheiro dele, e era tão grande que a cobria do pescoço aos tornozelos, com tecido
de sobra.
Então começou a andar na direção da arcada... Bem, chapinhar, ela corrigiu, já que a água literalmente havia inundado o cômodo. Droga, aquilo era algo que não seria
possível secar com uma infinidade de toalhas, seria seriamente necessário um aspirador de água industrial.
— Isso é ruim, realmente ruim. – Disse ela.
— Eu vou ficar bem... Ai. Porra, acho que quebrei o braço.
— Nunca mais vamos fazer isto. Nunca.
— Sexo?!? – Ele exclamou. — Que???
Ela girou para vê-lo, totalmente nu, coberto por bolhas de espuma vagamente rosadas em meio a uma gigantesca poça de água, com expressão de horror total, abjeto
e infinito no rosto.
Mary começou a rir tão violentamente, que teve de estender a mão para se apoiar na parede.
— Oh, meu Deus. Preciso parar...
— Diga que ainda vamos transar...
— É claro! Mas talvez não na banheira, com tanta água!
— Jesus, não me assuste assim. Quase tive um aneurisma.
— Pode ser que você tenha mesmo tido um. Posso deixá-los entrar?
Rhage grunhiu ao se sentar, a tatuagem nas suas costas ondulando como se a Besta também se sentisse um pouco ferida.
— Tudo bem, mas não sei para que tanto barulho. Droga, um sujeito não pode nem derramar um pouquinho de água que o povo surta.
— Tente uma piscina inteira.
Foi um alívio sair para o carpete, onde a tração era melhor e não tinha de pensar exatamente onde estava pisando.
— Já vou! Pode parar de bater agora! – Ela gritou acima do barulho.
Ao chegar à porta, viu que estava trancada. Sem dúvida Rhage tinha, mentalmente, passado o ferrolho... O que a fez sorrir.
Abrindo a porta, ela se deparou com...
— Uau. – Está bem, havia uma porção de Irmãos ali. — É uma convenção?
Butch estava à frente do bando, uma garrafa do que tinha de ser Lagavulin na mão, um sorriso torto no rosto. John Matthews estava atrás, junto com Blay e Qhuinn.
V. Zsadist. E Phury. E Tohr.
— O que vocês dois estão aprontando aí? – Alguém perguntou.
— Não responda, Mary! – Rhage gritou.
— Vocês acharam que tinha um incêndio na despensa?
— Estou quase...! – Disse Rhage.
— Acho que ele já acabou. – Alguém mais murmurou.
Um aaaaaaaaiii! coletivo se ergueu do grupo quando Rhage surgiu atrás dela.
— Este braço parece ruim. – Disse Butch. — Digo, é como se estivesse com um segundo cotovelo.
Ao olhar por cima do ombro, Mary também se sobressaltou.
— Oh, Rhage, você vai precisar colocar isto no lugar.
Rhage encarou o grupo.
— Só preciso de um Band-Aid, vou ficar bem. Agora, podem nos dar um pouco de privacidade?
Butch sacudiu a cabeça.
— Certo, um: não, não vamos, por que pra onde você acha que essa água toda está indo? E dois: você vai agora mesmo para a clínica...
— Está tudo bem!
— Então por que você está segurando o braço com a outra mão?
Rhage baixou o olhar para si mesmo como se inconsciente de estar fazendo aquilo.
— Oh, merda.
Mary fez um carinho em seu ombro.
— Eu vou com você, está bem?
Ele olhou para ela e baixou a voz.
— Não foi assim que eu imaginei o final de nosso encontro.
— Teremos outras oportunidades...
— Mas não na água. – Veio a resposta coletiva.
Voltando cuidadosamente para o banheiro, ela pegou uma toalha e voltou, enrolando-a ao redor da cintura do marido.
Ficando na pontinha dos pés, ela sussurrou.
— Se for um garotinho comportado, podemos brincar de enfermeira e paciente quando você voltar.
A risada de Rhage foi baixa e um pouco malévola, os olhos semicerrados e ardentes.
— Trato feito.
Capítulo QUARENTA E UM
Ao anoitecer, de volta à clínica, Rhage estava sentado sem camisa em uma maca de exames, as pernas vestidas em couro e o pé dentro de botas pendurados pela beirada.
Suas armas estavam em cima de uma cadeira, e assim que o gesso fosse retirado, iria fazer um lanche rápido na cafeteria, que tinha sido organizada para os futuros
alunos, e iria ao trabalho.
Mary foi para o Lugar Seguro para poder participar de uma reunião de equipe... Embora tenha se oferecido para ficar, acompanhando-o na retirada do gesso. Cara, graças
a Deus ele tinha se alimentado uma semana atrás de uma das Escolhidas e seu corpo pôde se curar de uma fratura simples como aquela em questão de doze horas. Soube
que humanos tinham de passar semanas com aquele trambolho de gesso atrapalhando a vida.
Loucura.
Houve uma batida na porta e ele gritou:
— Entre, Manny. Estou pronto para... Oh, ei V. E aí?
Seu irmão estava vestido para o trabalho com adagas negras presas ao peito, um jornal enrolado debaixo do braço, próximo a uma das .40 gêmeas.
— Como está o braço?
— É você quem vai me libertar desta gaiola de gesso? – Rhage bateu na coisa com o punho. — Seja lá do que é feito.
— Não. – V encostou-se à porta. — Tenho uma notícia ruim e notícia nenhuma, o que quer primeiro?
— Você não achou merda nenhuma sobre o tio da Bitty, não é?
Quando o irmão negou com a cabeça, Rhage soltou um suspiro tenso, seu corpo todo relaxou de um alívio que parecia todo errado. E então teve de dizer a si mesmo para
não se adiantar às coisas. Ele e Mary não estavam adotando Bitty.
Mesmo.
É, pois aquilo seria loucura. Especialmente se fosse basear a compatibilidade e interesse na garota, no fato de que duas casquinhas de chocolate foram pedidos e
consumidos na noite anterior, no Melhor da Bessie.
Vishous deu de ombros.
— Verifiquei cada banco de dados, cada contato no Sul que a Irmandade tem. Não estou dizendo que não exista nenhum parente sob o radar, mas não pude descobrir nada
que combinasse o nome de Bitty, o da mãe, do pai ou o nome do tio.
Agarrando a beirada da maca, Rhage encarou fixamente o chão de linóleo, para além das pontas de suas botas.
— Você e Mary estão pensando em ficar com ela? – Quando ele ergueu o olhar surpreso, V lhe deu um olhar de “Dããã!” — Acho legal que estejam. Digo, você estava falando
de filhos naquela noite e então perguntou sobre a situação familiar de um órfão. Não foi uma conclusão complexa, de verdade.
Rhage pigarreou.
— Não fale nada sobre isto. Com ninguém.
— Claro, por que sou mesmo fofoqueiro pra caralho.
— Estou falando sério, V.
— Qual é, você sabe como sou. E sei qual vai ser sua próxima pergunta.
— E qual seria?
— Você precisa falar com Saxton. Ele saberá te dizer quais os requisitos para adoção. Lembro que antigamente o Rei tinha de assinar em aprovação quando envolvia
a nobreza... E mesmo que Bitty seja plebéia, você, como membro da Irmandade, é aristocrata. Acho que muito disso tem a ver com direitos de herança, mas de novo,
Saxton saberia melhor os detalhes.
Está bem, aquele era um ótimo conselho, Rhage pensou. Ele não tinha nem mesmo considerado que poderia haver papelada envolvida, e quão ingênuo era aquilo?
Oh, e sim, não era como se já tivesse conversado a respeito disso com Mary. Ou Bitty.
Merda. Ele já tinha se adiantado, não é?
— Obrigado, V. – Sentindo-se estranho, Rhage anuiu para a cópia enrolada do que devia ser o Jornal Caldwell Courier. — Quais as outras notícias? E fico surpreso
de você não estar online, meu irmão. Não foi o Egon Spengler que disse que a mídia impressa já morreu?
— Nós dois. E na verdade, já foi tarde. – V desdobrou o jornal e exibiu a primeira página do CCJ. — Foi Fritz quem comprou.
Rhage assoviou baixinho e estendeu a mão boa para pegá-lo.
— Eeeeeeee, estamos de volta ao trabalho.
A manchete dizia em letras vermelhas “Cena de assassinato ritualístico em fábrica abandonada” e longas colunas de texto eram acompanhadas por fotos pixeladas de
sangue e baldes junto a uma espécie de linha de produção destruída. Rhage avaliou o impresso e voltou ao texto para terminar o artigo, o cheiro da tinta e o som
das páginas instáveis esfregando-se uma na outra o fazendo lembrar-se dos dias que se foram.
Ele meneou a cabeça ao devolver o jornal.
— Mas a escala não é muito grande.
— Somente doze ou quinze recrutas. Claramente, aconteceu algo no caminho e talvez o Ômega tenha apressado a indução. Mas não foi mesmo em uma escala grande.
— Não. Já é um avanço.
— Quero estar lá quando o último deles desaparecer desta existência.
Rhage estreitou os olhos.
— O único jeito disso acontecer é derrubar o Ômega.
— Tenho pensando nisto. – V pegou o jornal de volta. — Acredite.
Um ruído à porta interrompeu o irmão.
— Entre, Manny. – Disse Rhage. — Vamos tirar...
— Ah, inferno, não. – V murmurou quando a porta foi aberta.
Lassiter estava parado entre o umbral da porta vestido em uma capa impermeável amarela, tão grande quanto uma tenda de circo, um guarda-chuva aberto em cima da cabeça
e galochas nos pés. Suas pernas estavam nuas. O que não era um bom sinal.
— Não, não quero comprar um relógio. – Rhage disse. — Então é melhor manter essa capa fechada, docinho.
— Relógios? – Lassiter entrou, ou tentou, pois o guarda-chuva prendeu na moldura da porta. — Foda-se. Ouvi dizer que houve um probleminha com sua Jacuzzi esta manhã.
Ele jogou sua Mary Poppins de volta no corredor e fez um tcharam! com algo amarelo na mão. E então o bastardo começou a cantar. Mal e porcamente.
— Patinho de borracha, você é o cara... Você torna meu banho tãããããão mais divertiiiiido...
V olhou para Rhage.
— Você vai chutar o rabo dele ou quer que eu faça?
— Podemos revezar. – Rhage gritou acima da cantoria. — Ei, preciso de um médico aqui!
Se ao menos pudesse ter o gesso removido logo, surrar o anjo seria muito mais fácil. Além disso, a equipe médica podia ajudar a recolher os pedacinhos do Lassiter.
#perfeito.
Ao chegar no Lugar Seguro, Mary começou a arrancar camadas de roupas em seu escritório, depois de largar a bolsa no chão perto da cadeira e ligou o computador.
Todas as noites quando chegava, verificava aquela página do Facebook... Por que tinha se disciplinado a não fazê-lo pelo celular ou então corria o risco de não mais
parar de verificar a coisa. E cada noite, assim que a atualização surgia à tela, seu coração parava e ela prendia a respiração.
Dizia a si mesma que isto era por querer desesperadamente mandar a garota para alguma situação cor de rosa na Carolina do Sul com um cachorro, um gato e um periquito,
e um par de místicos avós, dignos de cartões da Hallmark, que não estivessem mortos.
O único problema com esta fantasia altruísta?
Quando novamente viu que não havia mensagem nenhuma sobre o tio, Mary pegou-se afundando na cadeira e soltando a respiração nos pulmões, de alívio.
O que era quase tão profissional quanto ela, inconscientemente, ter tentado levar a garota de carro para a mansão naquela primeira noite depois da morte da mãe.
A verdade, no entanto... Era que às vezes, nos últimos dias, uma mudança tinha acontecido em seu coração. Ela tinha começado a pensar que...
— Sra. Luce?
Mary sentou-se com um grito.
— Oh, Bitty. Oi, como vai?
A garota recuou da porta.
— Não quis te assustar.
— Tudo bem. Eu já ia lá em cima ver como você estava.
— Posso entrar?
— Claro.
Bitty fechou a porta com cuidado, silenciosamente, e Mary teve de imaginar se aquilo era resultado de ter andado nas pontas dos pés ao redor do pai por tanto tempo.
Esta noite a garota usava um rabo de cavalo e um suéter azul por cima do vestido que tinha usado há duas noites. Seus sapatos eram o outro par, os que eram marrons
e subiam até os tornozelos.
— Preciso te dizer uma coisa.
Mary indicou a cadeira à sua frente.
— Sente-se.
Quando Bitty sentou, Mary arrastou sua cadeira para sair de trás da mesa e ficarem frente a frente, sem nada entre elas. Cruzando as pernas, ela juntou os dedos.
A garota ficou em silêncio, os olhos viajando pelas paredes do escritório. Não havia nada para o que olhar, além de alguns desenhos feitos por alguns garotos e um
mapa do Lago George que Mary tinha pendurado por que lhe lembrava dos verões de sua juventude.
Não foi surpresa quando aquele olhar pousou sobre a caixa com a urna de Annalye.
— Pode falar, Bitty. Seja o que for, podemos resolver juntas.
— Minha mãe mentiu. – A garota falou abruptamente. — Não tenho nove anos. Tenho treze.
Mary tentou não demonstrar surpresa.
— Tudo bem, não tem problema nenhum.
Bitty desviou o olhar.
— Ela tinha medo de que eu fosse velha demais, caso houvesse algum tipo de limite de idade para ficar aqui ou receber ajuda através da clínica do médico. Ela me
disse que estava com medo de que fôssemos separadas.
— Você vai poder morar aqui até sua transição, Bitty. Não tem problema.
— Ela tentou escolher a menor idade pela qual eu pudesse passar.
— Não tem problema. Juro.
Bitty baixou o olhar para as mãos.
— Eu realmente sinto muito. Foi por isso que ela me disse para não falar muito e para brincar com aquela boneca. Ela não queria que eu me entregasse.
Mary recostou-se na cadeira e respirou fundo. Vendo por este novo ângulo, tudo fazia sentido caso a garota fosse mais velha. Fêmeas vampiras passavam por seus períodos
férteis a cada dez anos mais ou menos, e a mãe de Bitty estava grávida quando chegaram ali – e aqueles bebês geralmente levavam dezoito meses para nascer. Então
Annalye teria engravidado quando Bitty tinha onze anos, por aí. Ao contrário de sete.
O que era preocupante, no entanto, era o quanto a garota era pequena. Para uma garota de oito ou nove anos, ela tinha peso corporal normal. Mas não para alguém de
treze... Mesmo se fosse levar em conta o fato de que o maior estirão de crescimento acontecia aos vampiros durante a transição.
— Eu sinto muito mesmo. – Disse Bitty ao abaixar a cabeça.
— Por favor, não se sinta mal. Nós compreendemos. Eu só queria ter sabido disto antes para ter tranquilizado a mente dela.
— Tem mais uma coisa.
— Pode me contar qualquer coisa.
— Eu menti sobre o meu tio.
O coração de Mary disparou.
— Como assim?
— Eu não acho que ele vai vir me buscar.
— E por quê?
— Ela falava dele de vez em quando, mas era sempre no passado. Sabe, o que eles faziam quando eram crianças. Ela fazia isto para me distrair quando as coisas ficavam
ruins com meu pai. Acho que eu só... Eu só queria que ele viesse me buscar, sabe?
— Sim. Eu sei.
— Ele nunca me viu, na verdade.
— E como isto faz você se sentir?
— Totalmente sozinha. Especialmente porque agora minha mahmen se foi.
Mary anuiu.
— Isto faz muito sentido para mim.
— Minha mahmen e eu... A gente cuidava uma da outra. Era preciso. – Bitty franziu o cenho e encarou a caixa em cima da mesa. — Ela tentou nos afastar dele três vezes.
A primeira, eu era bebê. Não me lembro, mas não acabou bem. A segunda... – Bitty interrompeu-se. — A terceira foi quando minha perna quebrou e ela me levou para
o Havers por que não estava sarando. Foi quando tive de pôr o pino... E voltamos para casa e...
Rhage, V e Butch foram e as resgataram.
— Eu gosto de seu hellren. – Disse Bitty subitamente. — Ele é engraçado.
— Ele é totalmente Stitch17.
— Isto é uma frase humana?
— É... Significa que ele é maluco. O máximo.
Bitty franziu o cenho e desviou o olhar de novo.
— Então você era realmente humana? Pensei que não fosse possível ser transformado em vampiro.
— Eu não sou. Digo, não fui transformada. – Mary deu um sorriso. — Vê? Nenhum dente pontudo.
— Seus dentes são bonitos.
— Obrigada.
Os olhos de Bitty se voltaram de novo à caixa de papelão.
— Então ela está mesmo aí dentro.
— Os restos mortais dela estão.
— O que acontece se eu não enterrá-la agora? Ela... Isto seria errado? Seria ruim?
Mary negou com a cabeça.
— Não há pressa. Não que eu saiba, pelo menos. Mas posso confirmar com Marissa. Ela sabe tudo sobre as tradições de vocês, por dentro e por fora.
— Só não quero fazer nada errado. Acho... Que sou responsável por ela agora, sabe? Quero fazer a coisa certa.
— Entendo perfeitamente.
— O que os humanos fazem com os seus mortos?
— Nós os colocamos dentro da terra... Ou ao menos, é uma das opções. Foi o que fiz com minha mãe. Depois da cremação ela foi enterrada.
—Igual à minha.
Mary anuiu.
— Igual à sua.
Houve uma pausa e ela ficou em silêncio para que Bitty tivesse espaço para sentir o que tivesse de sentir. No silêncio, Mary deu uma boa olhada na garota, notando
os braços e pernas finos como gravetos, o corpinho sob as camadas de roupas.
— Onde ela está enterrada? – Perguntou Bitty.
— Em um cemitério. Do outro lado da cidade.
— O que é um cemitério?
— É um lugar onde os humanos enterram seus mortos e marcam os túmulos com lápides para que se saiba onde o seu está. De vez em quando vou até lá e deposito flores
sobre o dela.
Bitty inclinou a cabeça e franziu o cenho um pouco. Depois de um momento, ela pediu:
— Pode me mostrar?
Capítulo QUARENTA E DOIS
— Não estava esperando sua ligação.
Ao falar, Assail virou-se e sorriu para Naasha.
— Não tão cedo, pelo menos.
Nesta noite, Naasha tinha escolhido recebê-lo nos aposentos de seu hellren, em um escritório escuro e dramático, cheio de livros antigos de capa de couro e móveis
que o lembravam clubes privados de humanos. Esta noite ela tinha se vestido novamente de vermelho, talvez para combinar com as cortinas vermelhas que se dependuravam
como artérias do teto... Ou talvez por acreditar que ele gostava da cor.
— Eu me vi necessitada de sua companhia. – Ao falar, enunciava as palavras com deliberação, os lábios cintilantes contraíam e liberava as sílabas como se estivesse
fazendo sexo oral com elas. — Não consegui dormir o dia todo.
— Sem dúvida, atarefada com seu dever de zelar pela saúde de seu companheiro pelas horas do dia.
— Não. De dor. – Ela se adiantou, cruzando o espesso tapete vermelho sem fazer ruído algum. — Por você. Estou faminta.
Quando ela parou à sua frente, ele sorriu friamente.
— Está agora?
Ela estendeu a mão e acariciou o rosto dele.
— Você é um macho extraordinário.
— Sim, eu sei. – Ele afastou seu toque, mas segurou seu pulso. — O que me deixa curioso é por que minha ausência é tão profundamente perturbadora, considerando que
já tem um pau amigo debaixo deste teto.
— Meu hellren está doente, caso se lembre. – Ela disse em tom de voz ausente. Como se aquilo fosse a última coisa da qual ela quisesse falar.
— Eu me referia a Throe. – Assail sorriu de novo e começou a esfregar o dedão na pele dela. — Responda, qual a sua relação com ele?
— Ele é parente distante de meu companheiro.
— Então você o acolheu por caridade.
— Como seria apropriado.
Assail passou o braço pela cintura dela e puxou-a para seu corpo.
— De vez em quando seu comportamento não é tão apropriado, é?
— Não. – Ela ronronou. — Isto te excita?
— Isto certamente te excitou há duas noites. Você se divertiu muito com meus primos.
— Mesmo assim você não participou.
— Eu não estava no clima.
— E hoje?
Ele fingiu examinar o rosto dela. Então afastou seus cabelos longos, passando-os por cima dos ombros.
— Talvez.
— E o que é que conseguiria te fazer entrar no clima?
Quando ela arqueou o corpo contra o dele, ele fingiu achar excitante, fechando os olhos e mordendo o lábio inferior. Na verdade? Ele bem poderia estar sendo encoxado
por um cachorro.
— Onde está Throe? – Perguntou.
— Está com ciúme?
— É claro. Na verdade, estou morrendo de ciúmes.
— Mentiroso.
— Sempre. – Sorriu e se inclinou para sua boca, correndo uma de suas presas pelo lábio inferior dela. — Onde ele está?
— Por que se importa?
— Gosto de sexo a três.
A risada que ela soltou era rouca e cheia de uma promessa pela qual ele não tinha nenhum interesse. O que se importava mesmo era se enfiar de novo naquele porão
dela... Literal e não figurativamente. Se bem que se tivesse de fodê-la para chegar lá, ele o faria.
Ela claramente não quis deixá-lo explorar a casa na outra noite. E aquilo o fez achar que era por ter algo a esconder.
— Infelizmente Throe não está por aqui esta noite. – Ela se virou nos braços de Assail e esfregou o traseiro em sua pélvis. — Estou completamente sozinha.
— Para onde ele foi?
Ela olhou por cima do ombro, um brilho arguto no olhar.
— Por que tanto interesse nele assim de repente?
— Tenho apetites que você não consegue satisfazer, minha querida. Por mais apetitosa que seja.
— Então talvez possa trazer seus primos? – Ela voltou a se esfregar nele. — Eu gostaria de recebê-los de novo.
— Eu não trepo com gente do meu sangue. No entanto, se você quiser...?
— Eles realmente têm um jeito de preencher uma fêmea. E talvez eu seja muita areia para o seu caminhãozinho.
Duvido, ele pensou. Mas os primos ali eram uma ótima ideia.
Mantendo o braço ao redor dela, Assail virou-a de frente para ele, tirou o celular e um segundo depois um discreto som de toque da frente da mansão foi ouvido do
outro lado das portas fechadas do escritório.
— Seu desejo é uma ordem. – Murmurou ao beijá-la intensamente e então separar-se dela, dando-lhe um empurrãozinho em direção à saída. — Atenda você mesma. Receba-os
de forma apropriada.
Ela correu para fora com risinhos, como se gostasse de ser mandada – e Deus, não conseguiu evitar de pensar em Marisol. Se ele desse uma ordem assim à sua adorável
ladra? Ela o teria castrado com as próprias mãos e usaria suas bolas como brincos.
Um ardor no centro de seu peito o fez buscar o vidrinho de coca no bolso interno de seu terno Brioni, mas isto não era realmente o vício controlando sua mão daquela
vez.
A dose extra fez sua cabeça zunir, mas ia funcionar para ele.
Ele tinha muita coisa a fazer naquela noite.
— Está bem, onde está você, onde está você...
Ao penetrar ainda mais fundo no parque industrial de Caldwell, a maior parte galpões caindo aos pedaços, Jo se inclinou para o pára-brisa de seu VW e passou a manga
da jaqueta no vidro para limpar a condensação. Ela podia ter ligado a ventilação se a maldita estivesse funcionando.
— Preciso de mais um mês para poder pagar isto. – Murmurou ela. — Até lá, não vou respirar.
Ao se lembrar do confronto de Bill sobre a riqueza de seus pais, ela teve de rir. Sim, era verdade que posturas baseadas em princípios eram louváveis. No entanto,
elas raramente pagavam as contas... Ou consertavam sistema de ventilação em carros que cheiravam a incêndio elétrico cada vez que eram acionados.
Mas te faziam dormir melhor à noite.
Quando seu celular começou a tocar, ela o pegou, verificou a tela e jogou a coisa de volta no banco. Tinha mais coisas com que se preocupar excluindo as exigências
extras de Bryant. Além disso, tinha deixado as roupas para lavagem a seco dele bem aonde tinha mandado, na varanda da frente de seu condomínio.
— Está bem, aqui estamos.
Quando seus faróis iluminaram uma construção térrea de teto reto que era tão comprida quanto um quarteirão urbano, e recoberta de painéis metálicos cinzentos, entrou
no estacionamento vazio e continuou a descer na direção de sua entrada discreta. Ao parar diante de portas de vidros e a placa que dizia o nome da fábrica escurecida
com camadas de tinta spray, ela pisou no freio, desligou o motor e desceu.
Havia uma faixa de polícia lacrando a entrada, a frágil barreira esvoaçando ao vento... Um selo plastificado na rachadura da porta dizendo “Cena de Crime” em grandes
letras... E evidência de muito tráfego entrando e saindo, um caminho cravado nas folhas e terra feitos por pés e equipamentos sendo rolados ou arrastados pelo chão.
Cara, estava escuro ali. Especialmente quando seus faróis apagaram.
— Vou mesmo precisar daquele mandato de busca. – Ela disse em voz alta.
Quando seus olhos se adaptaram, a pichação no prédio se tornou novamente visível e o estacionamento esburacado tornou a surgir em seu campo de visão. Não havia iluminação
pública nesta parte de Caldwell; prédios abandonados demais, o centro comercial não conseguiu vingar quando a economia entrou em crise há uns sete anos.
Bem quando já estava ficando inquieta e pensando em ligar para o Bill, um carro chegou pela elevação e entrou no mesmo terreno que ela.
Quando Bill parou perto dela, ele abaixou o vidro da janela e se inclinou por cima de outro homem.
— Siga-me.
Ela fez sinal de positivo e voltou para o carro.
Eles seguiram, circulando a grande área da frente e dobrando para a lateral da construção, que era menor. A porta de trás era ainda menos chique do que a da frente;
não tinha nem placa. A pichação era mais intensa aqui, as assinaturas e desenhos de linhas angulares se sobrepondo como pessoas falando alto umas com as outras em
uma festa.
Jo desceu e trancou seu carro.
— Ei.
O cara que saiu do carro de Bill foi meio que uma surpresa. Um metro e oitenta e dois, talvez ainda mais alto. Cabelos prematuramente grisalhos, mas do tipo atraente,
estilo o do Max de Catfish, óculos grossos de armação escura, como se ter problemas de visão e senso de estilo fossem pré-requisitos para andar por aí com Bill.
O corpo era...
Bem, muito bom. Ombros largos, cintura estreita, pernas compridas.
— Este é meu primo, Troy Thomas.
— Oi. – O cara disse oferecendo a mão. — Bill me falou de você.
— Posso imaginar o que. – Cumprimentou-o e então acenou para a porta dos fundos. — Olha, esta porta também está lacrada. Não estou tendo um bom pressentimento a
respeito disso.
— Eu tenho acesso. – Troy tirou um cartão de acesso. — Tudo bem.
— Ele trabalha na unidade CSI. – Bill explicou.
— E preciso pegar uns equipamentos, então tenho autorização. Apenas não toque em nada, e nada de fotos, está bem?
— Claro. – Jo abaixou o braço quando percebeu que estava a ponto de jurar de mão no peito.
Troy entrou primeiro, cortando o lacre com um canivete antes de inserir seu cartão em um dispositivo eletrônico do departamento de polícia.
— Cuidado com o degrau. – Ele disse ao abrir a porta e acender as luzes.
O hall de entrada tinha tapete em dois tons: creme na área externa ao tráfego de transeuntes e um encardido cinza amarronzado onde as botas de trabalhadores tinham
caminhado. Fileiras de marcas de infiltração de água, cinzentas e granuladas, alinhavam-se na parede verticalmente denotando vazamento no teto. O cheiro era algo
entre pão mofado e meias suadas.
E cobre fresco.
Ao avançarem passando por cima de latas de tinta derramadas, algumas ferramentas e alguns baldes de gesso, tudo sugeria que os proprietários ou talvez o banco que
hipotecara o local, pudessem ter tentado iniciar uma reforma... Mas desistiram quando se provou um investimento muito alto.
Tinha dois escritórios, uma área de recepção, um banheiro unissex e duas portas de aço, perto das quais tinham capacetes cobertos de poeira dependurados em ganchos.
— Vamos por ali. É mais fácil.
Indo para a esquerda, Troy os levou por uma terceira opção, ficando de lado de novo para eles atravessarem uma porta bem mais estreita. Do outro lado, acionou não
um interruptor, mas algo que parecia um fusível de quadro de luz.
Com uma série de ruídos, painéis enormes de luzes acenderam em uma área de produção cavernosa, quase totalmente vazia, com nada além de suportes vazios chumbados
no chão e grandes manchas de óleo no concreto, indicando onde as máquinas ficavam antes.
— O massacre aconteceu bem ali.
Jo ergueu as sobrancelhas. Sim, sem dúvida tinha sido ali, pensou ao ver as poças de sangue coagulado, antes de um vermelho forte, agora amarronzado com o passar
do tempo. Havia mais daqueles baldes de gesso lá, e quando se aproximou para ver mais de perto, foi obrigada a pôr a mão na boca e engolir em seco.
— É igual à fazenda. – Bill comentou ao andar ao redor.
— Qual fazenda? – Jo disse ao menear a cabeça para aquela nojeira. — Deus, quanta violência.
— Lembra... Quase dois anos atrás? Houve uma cena igual a esta, só que tinha dez vezes mais sangue.
— Sem corpos. – Troy exclamou. — De novo.
— Quantas pessoas você acha que morreram aqui? – perguntou Jo.
— Dez. Talvez doze? – Troy deu a volta e se abaixou perto de uma série de marcas onduladas no sangue do chão... Como se alguém pudesse ter tentado fugir, mas tivesse
escorregado e caído. — Não dá pra ter certeza. Este lugar está à venda há um ano ou dois. O banco parou de usar câmeras de segurança há cinco meses quando um raio
queimou as antigas durante uma tempestade de primavera. Não temos nada.
— Como é possível se livrar desta quantidade de corpos? – Jo perguntou. — Pra onde dá pra levá-los?
Troy anuiu.
— A divisão de homicídios está investigando tudo isto.
E quanto ao aspecto vampírico? Ela pensou consigo mesma. Aqueles tipos geralmente bebiam sangue, certo? Eles não iam embora deixando litros e mais litros de sangue
desperdiçado no chão.
Não que fosse mencionar nada disso para Troy. Loucura demais.
Ela olhou para Bill.
— Quantos outros massacres em massa ou ritualísticos ocorreram em Caldwell nos últimos dez anos? Vinte? Cinquenta?
— Posso descobrir. – Disse ele quando seus olhos se cruzaram. — Estou pensando exatamente a mesma coisa que você.
Capítulo QUARENTA E TRÊS
— É tão pacífico aqui. Tão bonito.
Quando Bitty proferiu essas palavras, Mary olhou de esguelha para ela. As duas caminhavam pelos quilômetros de alamedas pavimentadas do Cemitério Pine Groves. Acima
delas, a lua lhes fornecia mais iluminação para enxergar, o brilho prateado pousando no topo dos pinheiros e também dos elegantes galhos de bordos e carvalhos sem
folhas. Por toda a sua volta, lápides, estátuas e mausoléus pontilhavam o terreno ondulante e beiras de lagos artificiais até ser quase possível imaginar que se
andasse através do cenário de um palco.
— É sim. – Murmurou Mary. — É bom pensar que isto é para as almas das pessoas enterradas aqui, mas acho que é mais para os familiares que vem visitar. Pode ser bem
difícil, especialmente no começo, visitar o túmulo de um familiar ou amigo que morreu. Digo, depois da morte da minha mãe e do enterro de suas cinzas, levei meses
e meses para voltar aqui. Mas quando finalmente vim, estava mais fácil em alguns aspectos do que eu imaginava, na maior parte por conta do quão bonito é... Estamos
chegando. Ela está bem ali.
Pisando na grama, Mary foi cuidadosa com seus passos.
— Aqui, siga-me. Os mortos estão à frente das lápides. E sim, sei que é estranho, mas odeio a ideia de pisar em alguém.
— Oh! – Bitty baixou o olhar para uma bela lápide inscrita com uma estrela de Davi judia e o nome Epstein. — Sinto muito. Com licença.
— As duas avançaram pelo caminho até Mary parar diante de uma lápide de granito cor de rosa com o nome Cecilia Luce entalhado.
— Olá, mãe. – Sussurrou, acocorando-se para retirar uma folha caída da frente da lápide. — Como a senhora está?
Quando correu as pontas dos dedos sobre o nome entalhado e as datas, Bitty ajoelhou do outro lado.
— Do que ela morreu? – A garota perguntou.
— Esclerose Múltipla.
— O que é isto?
— É uma doença humana onde o sistema imunológico do corpo ataca a cobertura que protege as fibras nervosas. Sem esta proteção, não dá para seu corpo saber o que
fazer, então você perde a capacidade de andar, comer sozinho, falar. Ou, pelo menos, minha mãe perdeu. Algumas pessoas com esta doença têm longos períodos de remissão
quando a doença não está ativa. Mas não foi o que aconteceu com ela. – Mary esfregou o centro do peito. — Existem mais opções de tratamento agora do que existiam
há quinze ou vinte anos, quando ela foi diagnosticada. Talvez tivesse durado mais nesta era da medicina. Quem sabe?
— Você sente saudades dela?
— Todos os dias. A coisa é... Não quero te assustar, mas não tenho certeza de que seja possível superar jamais uma morte como a de nossa mãe. Acho que a gente acaba
se acostumando à perda. Tipo como quando a gente tem de entrar na água gelada? Há um choque em nosso sistema no começo, mas uma adaptação acontece então você deixa
de sentir o frio quanto mais tempo passa... E às vezes até esquece que está mergulhado depois de um tempo. Mas sempre haverá coisas voltando para te lembrar de quem
sente falta.
— Penso muito na minha mãe. Sonho com ela também. Ela vem até mim em sonhos e fala comigo.
— O que ela diz?
Enquanto a brisa gelada soprava, Bitty prendeu uma mecha do cabelo atrás da orelha.
— Que tudo vai ficar bem e que vou ter uma nova família logo. Foi o que me fez pensar em meu tio.
— Bem, acho que isto é adorável. – Mary deixou-se cair de bunda, usando o casaco que vinha até o meio de suas coxas como barreira contra a umidade do chão. — Ela
parece saudável em seus sonhos?
— Ah sim. É o que eu mais gosto. Ela está com meu irmãozinho, o que morreu também.
— Nós entregamos as cinzas dele à sua mãe.
— Eu sei. Ela colocou na mala dela. Disse que queria ter certeza de que as cinzas viriam conosco se tivéssemos de ir embora com pressa.
— Pode ser bom colocá-los juntos em algum momento.
— Acho que é mesmo uma boa ideia.
Houve uma longa pausa.
— Ei Bitty?
— Mmm?
Mary pegou um graveto do chão e dobrou pra cima e pra baixo, para dar a seus dedos algo o que fazer.
— Eu, ah... Eu realmente queria ter sabido como sua mãe se preocupava com os recursos do Lugar Seguro. Eu teria realmente batalhado duro para tranquilizá-la. – Olhou
de esguelha para a garota. — Você se preocupa com isto também?
Bitty colocou as mãos nos bolsos do casaco e olhou ao redor.
— Não sei. Todo mundo é muito legal. Você, especialmente. Mas é assustador, sabe?
— Eu sei. Só fale comigo, está bem? Se ficar com medo. Eu te dou meu número de celular. Pode me ligar diretamente a qualquer momento.
— Não quero ser um fardo.
— É, acho que é o que me preocupa. Sua mãe não queria ser um, o que eu absolutamente respeito... Mas o resultado final foi que as coisas foram desnecessariamente
muito mais difíceis do jeito dela. Sabe o que quero dizer?
Bitty concordou com a cabeça e ficou em silêncio.
Depois de um tempo, a garota disse.
— Meu pai costumava me bater.
Afundado no coração sujo do centro da cidade, Rhage correu por um beco, seus passos batendo no asfalto como trovões, a automática a postos, sua ira desperta como
se fosse um mecanismo que o guiasse, não um desastre que o apagava.
Quando seu alvo disparou para outra rua, ele grudou no fodido como cola, aquele doentio cheiro adocicado de lesser pairando como o rastro de vapor de um jato através
do céu noturno, facilmente rastreável.
Era um novo recruta. Provavelmente um dos que foram criados naquela fábrica abandonada.
Dava para ver que a coisa estava em pânico, tropeçando e escorregando antes de fugir em uma confusão de braços e pernas, sem armas, sem ninguém vindo em seu resgate.
Ele era um rato solitário que não faria falta nenhuma.
E quando o assassino caiu pela enésima vez, seus pés tropeçaram no que parecia um carburador, e ele finalmente não se levantou de novo.
Só segurou sua perna contra o peito e gemeu, rolando de costas.
— Não, p-p-p-por favor, não!
Quando alcançou sua presa e parou, Rhage, pela primeira vez na história registrada hesitou antes de matar. Mas não podia deixar de apunhalar o fodido. Se largasse
a coisa pelas ruas, ele ia se curar e encontrar os outros de sua espécie para lutar... Ou acabaria sendo descoberto por um humano e acabaria em alguma porra de vídeo
do YouTube.
— Nãããããããããão...
Rhage afastou os braços da coisa do caminho e enterrou sua adaga negra bem no meio do peito, agora oco.
Com um brilho e um pop! o assassino desapareceu no próprio ar, sem deixar nada além de uma mancha oleosa do sangue do Ômega no asfalto e um ardor acre para trás...
Rhage virou-se, trocando a adaga por uma automática. Expandindo as narinas, cheirou o ar e soltou um grunhido.
— Eu sei que está aí. Apareça.
Quando nada se moveu na escuridão do outro lado do beco, ele deu três passos para ter cobertura no umbral de um prédio residencial abandonado.
À distância, sirenes uivavam como cães de rua, e no quarteirão seguinte, alguns humanos gritavam uns com os outros. Mais perto, algo pingava da saída de incêndio
atrás dele e havia um rastejar mais acima, como se os ventos vindos do rio estivessem agitando o tênue apoio do andaime aos tijolos.
— Seu fodido marica. – Ele chamou. — Apareça.
Sua arrogância natural dizia-lhe que podia lidar sozinho com qualquer coisa que estivesse ali, mas uma vaga sensação de inquietação, que não soube nomear, fez com
ele pedisse reforços ao acionar um botão localizado na parte interna da gola de sua jaqueta.
E não é que estivesse com medo... Porra, não. E sentiu-se estúpido no mesmo instante em que fez isto.
Mas havia outro vampiro macho escondido ali, e a única coisa que sabia com certeza? Não era Xcor.
Por que eles sabiam exatamente onde o bastardo estava.
Quanto ao resto daqueles filhos da puta, aí era uma questão em aberto.
Capítulo QUARENTA E QUATRO
Naturalmente, fazer Naasha se despir não levava nem um instante.
De fato, ela fazia isto de livre e espontânea vontade.
Assim que Assail e os primos entraram naquela sua masmorra sexual, ela começou a despir o vestido vermelho, chutando a alta costura pra fora do caminho como se a
coisa não valesse mais do que guardanapo de papel. No entanto, conservou os sapatos de salto alto e seu espartilho.
As ereções de Ehric e Evale foram instantâneas, um golpe duplo de agressividade sexual que fez a fêmea sorrir daquele jeito rouco dela.
Mas não foi até nenhum deles. Ela se aproximou de Assail.
Inclinando-se, pressionou contra o peito dele e passou os braços ao redor de seu pescoço.
— Preciso de você antes.
Fêmea tola. Ela confessava coisas demais, conferindo-lhe poder sobre ela.
Mas isto era uma coisa boa.
Afastando-a, ele desfez o nó de sua gravata Hermès, afrouxando o tecido de seda. Quando removeu a gravata, ela fez um pequeno giro e foi até uma das camas, deitando-se
de costas e estendendo os braços acima da cabeça. Com o corpo formando uma suave e erótica curva em S no colchão, um dos seios escapou do bojo e seu sexo nu cintilou
ao abrir as pernas.
Assail avançou, pondo-se de quatro sobre ela até sentar sobre sua pélvis, aprisionando-a. Esticando a gravata entre dois punhos, baixou o olhar para ela.
— Você é tão confiante. – Ele murmurou. — E se eu fizesse algo mal com isto? Ninguém te ouviria gritar ou lutar, ouviria?
Por um momento, o medo brilhou nos olhos dela. Mas então ela sorriu.
— Que bom que sou um cavalheiro, não é mesmo? – Ele se inclinou com a seda. — Feche os olhos, minha querida. E não para dormir, não, nada de descanso.
Ele cobriu os olhos dela com a gravata, amarrando com um nó a faixa no lugar. Então olhou por cima do ombro e acenou para os primos se aproximarem. Eles estavam,
como sempre, mais do que dispostos a livrarem-se de camisas e calças, despindo-se antes de estenderem as mãos para tocar e lamber, acariciar e penetrar.
Quando Naasha começou a gemer, ele saiu de cima dela, agarrou o pulso mais próximo – que acabou sendo o de Ehric – e furou-o com suas próprias presas. Derramando
as gotas de sangue na boca de Naasha, a fêmea engasgou e atacou, alimentando-se da veia enquanto o corpo começava a se contorcer em êxtase.
Obviamente, ela não estava vivendo do sangue de seu hellren... E Assail assumia que era por isto que precisava da companhia dos da laia de Throe. Mas vampiros, particularmente
os cheios de tesão, geralmente gostavam de tomar sangue em meio ao prazer, mesmo quando regularmente bem alimentados. Como o álcool ou as drogas, o ato de tomar
sangue amplificava tudo da maneira mais satisfatória.
Com o sangue do primo no ar e na língua dela, estava tão distraída que Assail conseguiu chegar à porta sem ela ter consciência de seu afastamento. Buscando dentro
de seu casaco, tirou uma antiquada latinha de óleo do tipo com o fundo removível e gargalo curto.
Poc-poc. Poc-poc. Mais para cima.
Poc-poc. Poc-poc. Para baixo.
O lubrificante não tinha um cheiro muito marcante por que ele tinha carregado a coisa com o novo Pennzoil 10W-40 para motor de carro... E após suas ministrações,
a pesada porta abriu sem ruído algum. Com um sorriso astuto, esgueirou para fora daquela câmara dos prazeres e voltou a fechar o pesado painel. Voltou a guardar
no bolso do casaco o frasco de óleo, olhou para ambos os lados. Então prosseguiu para a esquerda, seguindo o caminho que Throe havia tomado naquela noite.
As paredes e chão do porão eram feitas de pedra rústica com instalações elétricas simples embutidas em tetos de madeira que lançavam sombras difusas. Ele testou
todas as portas no caminho e descobriu despensa após despensa, algumas cheias de equipamentos de jardinagem dos anos 40 e 50, outros com baús de viagem da virada
do século XVIII, e ainda outro com decorações de festas que tinham mofado e estragado na umidade e bolor.
Nem sinal dos aposentos de Throe, e aquilo não foi bem uma surpresa; ele não se dignaria a ficar ali embaixo nesta terra sem janelas de objetos de utilidades esquecidas.
Também não havia aposentos de doggens, a casa claramente havia sido modernizada com os suprimentos e miudezas dos servos sendo transferidos para níveis mais altos.
Também não havia adega, mas era de se imaginar que esta também teria encontrado abrigo no primeiro andar, perto do centro da atividade social.
Devia ser este o motivo dela ter montado aquele espaço tão afastado.
Havia privacidade suficiente ali embaixo.
Talvez, como ele, ela mesma lavasse os lençóis daquelas camas? Talvez não. A fêmea com certeza contava com uma aia de confiança.
No extremo, um segundo lance de escadas apareceu quando o corredor dobrou uma esquina, os degraus de pedra tão velhos que tinham desgastado em padrões.
Ah, então era aqui que Throe se escondia.
Movendo-se rápido, Assail estava quase neles quando se deparou com uma última porta – reforçada como a da masmorra de Naasha em oposição às portas mais frágeis,
instaladas nas despensas anteriores.
A fechadura mestra nela era recente e brilhante, e do tipo que requeria uma chave específica. Por desencargo de consciência, tateou ao redor da moldura para o caso
da chave estar oculta por ali em um prego ou gancho, como algumas pessoas faziam. Infelizmente não. Seja o que for que havia do outro lado daquela porta, era algo
precioso.
E que era mantido bem escondido de olhos curiosos.
Subindo os degraus, foi tão silencioso quanto o vento ao subir para uma porta que, abençoadamente, parecia estar destrancada. Ele ouviu por um momento, confirmou
que não havia nada do outro lado e a abriu com cuidado.
Era o depósito do mordomo, ao que parecia, pelos armários com frente de vidro cheio de pratos e o depósito de talheres revestido de feltro verde, e cheio de grande
estoque de pratarias brilhantes.
Embora não conhecesse a disposição dos cômodos da casa, estava bem familiarizado com as necessidades das grandes mansões e, certamente, uma discreta escada de serviço
com degraus de madeira crua e um corrimão funcional não estaria longe. Ao seguir adiante para o segundo andar, foi forçado a parar no meio do caminho e encostar-se
na parede quando, no andar de cima, uma empregada passou com uma carga de roupas para lavar em uma cesta de vime. Quando ela sumiu, ele cruzou a distância e se esgueirou
por trás dela para dentro da ala dos dormitórios dos empregados.
Seguindo seus instintos, esgueirou por uma porta larga, uma que era grande o suficiente para acomodar todo tipo de entradas e saídas – e, de fato, do outro lado
o corredor se tornava esplêndido com instalações elétricas de bronze e cristais iluminando o caminho, carpete grosso de lã acomodando os passos, escaninhos antigos
e mesas destacando janelas que sem dúvida davam vista aos jardins.
Ele espiou cada quarto e cada um parecia corresponder a determinado sexo, alternando entre padrões de decoração masculinos e femininos.
Soube quando chegou ao quarto de Throe devido ao cheiro da colônia pós-barba que inundava o ar.
Entrou e fechou a porta atrás de si. Felizmente as empregadas já tinham passado por lá para fazer a arrumação, arrumar a cama, colocar uma pilha de toalhas de banho
limpas, flores frescas na escrivaninha. Havia pouca coisa de uso pessoal, o que combinava com o histórico de antigo soldado de poucos recursos e muita mobilidade.
No entanto, o closet estava cheio de roupas novas, muitas das quais ainda com etiquetas, indicando compras recentes.
Sem dúvida, pagas pela senhora da casa.
De volta ao quarto, vasculhou as gavetas da mesinha Chippendale e não encontrou nada. Nem armas. Nem munições. Na escrivaninha antiquada, procurou por documentos,
agendas telefônicas, cartas. Não havia nada.
Parando ao lado da cama, observou as pinturas penduradas na parede revestida de papel de parede de seda.
— Aí está você, pequenino.
Com um ronronar de satisfação, foi até uma pequena pintura emoldurada de uma paisagem pendurada na parede – que parecia estar ligeiramente mais torta que as outras.
Ao removê-la, revelou a frente de metal escovado de um cofre na parede.
O botão era liso e vermelho, e havia vários números para onde girar de um lado para outro.
Onde estava sua ladra quando precisava dela, pensou ao recolocar o quadro no lugar.
Sem dúvida haveria maneiras de abri-lo se quisesse, mas no momento estava despreparado para tal tarefa e não queria esgotar o tempo da diversão que ocorria lá embaixo
– seus primos eram potentes, mas a trepada não iria durar para sempre.
Medindo a moldura dourada da pintura, certificou-se de deixá-lo exatamente fora de centro, nem mais, nem menos do que estava antes, e então recuou pelo tapete Oriental
– sentindo-se satisfeito pelo fato da coisa multicolorida não destacar suas pegadas.
Com uma ultima avaliada aos arredores, levou a mão à maçaneta e tornou a emergir para o corredor...
— Posso ajudá-lo?
Enquanto esperava pela resposta do vampiro no fim do beco, Rhage olhou para cima, para o telhado do prédio do outro lado. Vishous tinha acabado de materializar naquele
ponto estratégico... Mas o irmão permaneceu imóvel e calado.
Voltando a se concentrar, Rhage chamou de novo.
— Mostre-se ou vou atrás de você. E você não vai sobreviver, seu filho da puta. Eu garanto.
Por baixo de sua pele a besta se mexeu, sua maldição enrolando e desenrolando incansavelmente a despeito de todo o sexo que ele vinha tendo. Mas também, seus instintos
estavam a mil. Esta semana já tinha levado até um tiro no peito, e não estava muito ansioso para quebrar o recorde de experiências de quase morte da Irmandade.
— Sou eu, estou desarmado.
O som da voz aristocrática ecoou pelas construções decrépitas, e então, um momento depois, Throe apareceu com as mãos para cima e olhando para a frente, com o corpo
tenso.
— Não atire. – O macho deu uma volta lenta. — Estou sozinho.
Rhage estreitou os olhos, buscando por outros sinais de movimento naquele canto escuro. Quando não achou nada, voltou a focar em Throe. Não havia armas visíveis,
e o macho não estava vestido para a batalha – a menos que estivesse esperando um slap dance no Zoolander18: as roupas do bastardo eram quase tão boas quanto as de
Butch, o sobretudo sob medida num terno elegante, os sapatos brilhando mesmo na luz fraca.
— Parece que você teve uma repaginada. – Murmurou Rhage. — Da última vez que te vi, suas roupas não eram tão boas.
— Minhas perspectivas melhoraram desde que me demiti dos serviços de Xcor.
— Ouvi dizer que você não era um empregado, seu filho da puta. Pau mandado seria mais adequado.
— Eu tinha uma dívida a pagar... Verdade. Mas não tenho mais.
— Bem, nós não estamos com vagas abertas. Pelo menos não para cuzões com seu tipo de currículo.
— Posso abaixar os braços? Estão meio cansados.
— Você é quem sabe. Eu sou um imbecil de dedos nervosos, então é melhor tomar cuidado com qualquer movimento que faça com as mãos.
Houve o som de alguém pousando em pé e Throe se virou. Quando Vishous saiu da escuridão bem às costas do cara, Rhage riu.
— Você não gosta de ser pego de surpresa, huh? – Rhage também saiu de sua cobertura, mantendo a arma apontada e pronta para ser disparada. — Imagine só. É melhor
ficar bem imóvel enquanto meu irmão te revista.
Vishous tateou o torso de Throe e desceu pelas pernas, dando um apertão no saco do cara. Quando Throe emitiu um guincho agudo que logo esmaeceu, o irmão recuou,
mas manteve a .40 apontada para o Senhor Almofadinha.
— Então, se não está mais com Xcor, o que está fazendo aqui? – Exigiu V. — Você está usando perfume demais e está desarmado.
— Eu esperava encontrar um de vocês.
— Surpresa! – Zombou Rhage. — Agora o que você quer?
— Vocês mandaram Assail me espionar... Ou ele está agindo por conta própria?
V irrompeu numa risada dura.
— Como é que é?
— Eu fui perfeitamente claro. – Throe olhou para V. — E você está a pouca distância de mim. Então sei que ouviu claramente.
Quando V expôs as presas alongadas, Rhage meneou a cabeça.
— É melhor repensar esta sua atitude. Meu irmão está com cara de que quer te transformar em confete.
— Bem? – Insistiu Throe. — Vocês o mandaram me seduzir? Teriam mais chances com uma fêmea... Não que vocês devessem se dar ao trabalho. Eu me aposentei de todo este
conflito.
— Você arriscou sua vida, – Disse V. — Para nos passar esta mensagem, certo?
— Achei que teria mais peso se eu dissesse pessoalmente.
— Você superestima grandiosamente seu apelo. Ou a importância de sua orientação sexual.
Rhage falou:
— Por que não dá a porra do fora daqui? Seria uma pena um cidadão civil como você se ferir aqui em campo.
— Uma pena do caralho. – V ergueu a arma, apontando para a cabeça do cara. — Tique-taque.
— Tchauzinho, cuzão. – Rhage deu um tchauzinho. — Tenha uma boa vida. Ou não. Ninguém liga porra nenhuma.
Throe meneou a cabeça.
— Vocês estão perdendo tempo vindo atrás de mim.
— Vou contar até três, quando chegar ao três, vou atirar. – Disse V. — Três.
Throe sumiu assim que V atirou, cerca de dois pés à esquerda de onde o bastardo estava.
— Droga. – Exclamou V em tom de tédio. — Errei.
— Cara, este realmente é um pedaço de merda da cidade. – Rhage disse ao se aproximar do irmão. — A gente encontra os piores tipos aqui.
— Então Assail está indo ao infinito e além do chamado do dever. Vou ter que dar uma gorjeta extra para ele. Na sunguinha fio dental, claro.
Rhage anuiu e então apontou para o ponto explodido no asfalto.
— Eu peguei um lesser, a propósito.
— Parabéns. Quer outro...?
— Por que não está me olhando nos olhos, V?
— Estamos em meio ao campo de batalha, estou ocupado.
— Ahãm. Certo.
Vishous franziu o cenho e ainda assim continuou evitando-o. Mas então, em uma voz baixa, o irmão disse:
— Eu falei com Saxton por você.
Rhage recuou. — Sobre Bitty?
— É este o nome dela? Bem, é. Enfim, estou com a papelada. Não tem de fazer nada com ela, mas se quiser está em sua escrivaninha, em uma pasta. Até mais tarde.
Com isto, o irmão desmaterializou para fora do beco e Rhage soube que eles jamais voltariam a falar disso novamente. E cara, aquilo era tão típico de V... O filho
da puta era capaz de enormes gentilezas e empatias, mas sempre à certa distância, como se temesse ser envolvido por emoções.
Mas ele sempre estava lá pelas pessoas a quem amava.
— Obrigado, meu irmão. – Rhage disse para o ar onde o macho de valor esteve.
Respirando fundo, Rhage disse a si mesmo que precisava relaxar. Só por que V não tinha conseguido encontrar o tal tio, e o fato de agora haver um jogo de formulários
de adoção em branco a serem preenchidos quando voltasse para casa, não significava que nada fosse efetivamente acontecer com Bitty.
Ele ainda nem tinha falado com Mary.
E, olá, a garota tinha aceitado somente sair para um sorvete e então um jantar com eles. Não significava que ela tivesse interesse em uma nova família ou algo assim.
Ele realmente precisava relaxar a porra da cabeça.

 


CONTINUA