Biblio "SEBO"
Anna despertou no hospital, confusa. Descobriu que era mãe de um recém-nascido... e esposa de um desconhecido de gélido olhar. Poucas horas depois de contemplar ao Ishaq Ahmadi em Londres, encontrou-se em sua casa do deserto, a qual lhe resultava misteriosamente familiar e de uma vez desconhecida.
No palácio residencial não havia prova alguma de um matrimônio feliz. Não havia fotografias. Nem roupa adequada para uma figura esbelta como a da Anna. Tampouco havia confiança, como evidenciavam as intermináveis pergunta do Ishaq. Quão único havia era a relação primitiva e passional que mantinham eles... e, é obvio, o bebê.
Anna logo descobriu que não devia acreditar nada a respeito de seu matrimônio...
Ela se encolheu na escuridão, queixando à medida que a dor se apoderava de seu corpo. Ele a tinha feito esperar muito. O tinha advertido, mas ele fingiu não acreditar suas «mentiras». Estava em um beco sujo e vazio, não tinha onde ir, nem tempo para chegar, lhe tinha passado o momento.
Voltou a sentir dor e não pôde evitar gritar. tampou-se a boca com a mão e olhou para trás. É obvio, ele já se teria dado conta de sua fuga. Já estaria procurando-a. Se a tinha ouvido gritar...
ficou em pé, agarrou a bolsa e tratou de correr. O coração lhe pulsava tão forte! Deu uns quantos passos e se agachou de novo ao sentir a dor. OH, céus, ali não! Não em um beco, como se fora um animal, onde a encontraria indefesa, quando o bebe estivesse indefeso.
Ele não teria piedade. A dor remeteu e ela continuou correndo, chorando, rezando.
—Alá! me perdoe, me proteja.
de repente, viu uma sombra mais escura e se voltou para ela. Era uma passagem mais estreita. A escuridão era mais intensa e seus olhos tiveram que acostumar-se.
A cada lado havia uma fila de garagens. Uma das portas estava entreabierta. mordeu-se o lábio. Haveria alguém dentro? Um fugitivo como ela? Outro golpe de dor a fez ajoelhar-se. Enquanto se agachava e tratava de afogar o pranto, escutou um grito na distância. Temia mais o que vinha detrás que o que se podia encontrar no interior da garagem.
Soluçando de dor e terror empurrou a porta e entrou.
—Pode me ouvir? Anna, pode ouvir minha voz?
Era como se a arrastassem através de habitações vazias. Anna grunhiu para protestar. O que queriam dela? por que não a deixavam dormir?
—Move a mão se pode me ouvir, Anna. Pode mover a mão?
Teve que fazer um grande esforço.
—Estupendo! Pode abrir os olhos?
de repente, sentiu como se algo lhe esmagasse o cérebro. queixou-se.
—Temo-me que vais ter uma forte dor de cabeça —lhe disseram—. Vamos, Anna! Abre os olhos!
Ela os abriu. A luz era muito forte. O fazia danifico. Uma mulher com camisa azul escuro a estava olhando.
—Muito bem! —falava com acento escocês—. Como te chama?
—Anna —disse Anna—. Anna Lamb.
A mulher assentiu.
—Bem, Anna.
—O que passou? Onde estou? —sussurrou Anna. Estava tombada em uma maca de hospital, vestida por completo à exceção dos sapatos—. por que estou em um hospital? —sentiu como se o martillearan a cabeça—. Minha cabeça!
—tiveste um acidente, mas te porá bem. Uma pequena comoção. Seu bebê está bem.
«Seu bebê». Uma dor diferente se apoderou dela e permaneceu quieta. Sentia como se lhe tivesse congelado o coração.
—Meu bebê morreu —disse em tom apagado.
A enfermeira estava tomando a tensão. Para ouvir aquilo, levantou a vista.
—Ela está bem! O doutor está lhe fazendo uma revisão —lhe disse—. Não sei por que queria dar a luz em um táxi, mas tem feito muito bom trabalho.
—Em um táxi —repetiu Anna—. Mas...
Imagens confusas passavam por sua cabeça.
—É uma garota com sorte! —disse a enfermeira e lhe pressionou com os dedos o abdômen para continuar com a exploração. deteve-se um momento, franziu o cenho e continuou.
Anna estava em silêncio, com os olhos fechados tratando de pensar. Enquanto a enfermeira tomava notas e continuava com a exploração.
—te incorpore, por favor —lhe disse. Quando terminou ficou olhando a Anna e lhe perguntou—. Recorda ter dado a luz, Anna?
A dor se apoderou dela. De repente a habitação se encheu de gente, todos estavam ao redor do recém-nascido e ela dizia:
—me deixem vê-lo, por que não posso tomá-lo em braços?
E então...
—«Anna, sinto muito, sinto-o de verdade. Não pudemos salvar ao bebê».
—Sim —disse com desânimo—, recordo-o.
Um homem apareceu por detrás da cortina.
—Enfermeira, pode vir, por favor?
A enfermeira recolheu suas coisas e disse:
—Uma enfermeira de maternidade virá em seguida, Anna. Também têm pouco pessoal e esta noite...
Apareceu uma enfermeira jovem empurrando um berço com rodas.
—Ah, já vem! Como está o bebê? —perguntou a enfermeira chefe que estava junto à Anna.
O bebê chorava com força. Anna se apoiou sobre os cotovelos e tratou de sentar-se.
—Bebê? —disse Esse Anna é meu bebê?
A enfermeira aproximou o berço à maca e disse:
—Sim, é sua filha. Uma menina encantada —Anna olhou dentro do berço, fechou os olhos e voltou a olhar.
O bebê deixou de chorar. Ia tampada com o lençol do hospital, tinha os olhos bem abertos mas seu olhar era inquisitivo.
—OH, céus —exclamou Anna—. Meu bebê! Então, tudo foi um pesadelo? OH, minha vida!
—Não é estranho que esteja confusa depois de haver-se dado um golpe na cabeça, logo se esclarecerá —disse a enfermeira chefe—. ficará em observação um par de dias, mas não tem por que preocupar-se.
—Quero sujeitá-la! —sussurrou Anna. A enfermeira jovem levantou o bebê e o tendeu a Anna.
Ela o estreitou contra seu peito e o contemplou.
Era uma menina preciosa. Tinha os olhos grandes, o cabelo moreno e encaracolado e a boca adorável.
ao redor de um olho tinha uma mancha de cor café que acrescentava certo encanto a seu rosto. Olhou a Anna, com curiosidade.
—Parece um casulo que acaba de abrir-se —disse Anna—. Tem tanta frescura!
—É encantada —disse a enfermeira jovem enquanto a outra pendurava o relatório da Anna aos pés da cama.
—Bom —disse a enfermeira chefe—. Estará bem até que chegue a enfermeira de maternidade. Enfermeira, quero falar um momento contigo.
Quando Anna ficou a sós com o bebê experimentou outra vez a sensação de irrealidade. Via a pequena oculta depois de uma nuvem de dor e confusão. Logo que podia pensar.
O bebê ficou dormido. Anna se fixou em sua cara. A marca de nascimento que tinha no olho era mais evidente quando tinha os olhos fechados. Era delicada e escura. Supunha que essa marca devia considerar um defeito, mas de algum modo era justo o contrário.
—Marcará uma moda, carinho —sussurrou Anna e abraçou à pequena—. Todas as garotas se maquiarão os olhos desta maneira para ser tão bonitas como você.
Não recordava ter visto uma marca como essa antes. Era hereditária? Ninguém em sua família tinha um pouco parecido.
A lembrança do outro menino, era um sonho? Um filho pequeno, precioso, perfeito... mas muito branco. Tinham-lhe permitido sujeitá-lo uns instantes, para lhe dizer adeus. Naquele momento, ela sentiu como seu coração ficava frio e duro como uma pedra. Aconselharam-lhe que chorasse, mas ela não chorou. A tristeza implicava ao coração.
Tinha sido um sonho?
Estava muito cansada. inclinou-se para deixar à menina no berço. Depois ficou lhe olhando a cara para procurar pistas.
—Quem é seu pai? —sussurrou—. Onde estou? O que me passou?
Doía-lhe a cabeça. recostou-se sobre o travesseiro, desejava que a luz não fora tão forte.
—Minha filha, te prepare para receber boas notícias.
Ela sorriu a sua mãe.
—São da embaixada do príncipe? —perguntou devido à informação, que se tinha introduzido no harém.
—estive falando com os emissários do príncipe a respeito de seu matrimônio. Também falei com seu pai. Dita união lhe agrada muito, minha filha, posto que deseja a paz com o príncipe e sua gente.
Ela fez uma reverência.
—Me alegro de agradar a meu pai... E o príncipe? Que tipo de homem dizem que é?
—Ah, minha filha, um homem jovem que poderia agradar a qualquer mulher. Bonito, forte, habilidoso em todas as artes masculinas. Também destaca na batalha e contam histórias a respeito de sua valentia.
—OH, mãe, sinto que já o amo! —disse ela.
Anna despertou, sem saber o que é o que a tinha incomodado. Um homem alto e moreno estava de pé junto à maca lendo o relatório. Tinha algo que... Anna franziu o cenho e tratou de concentrar-se. Mas o sonho provocou que os olhos lhe fechassem de novo.
—Os dois estão bem —ouviu quando abriu os olhos um pouco mais tarde. O homem estava falando com uma moça que lhe resultava conhecida. Ao cabo de um segundo, Anna reconheceu que era uma das enfermeiras.
O homem era muito carismático. Atrativo como um capitão pirata, moreno e evidentemente estrangeiro. Muito masculino, forte, bonito... e muito limpo para estar em Londres, como se estivesse recém saído de uma massagem, sem ter cruzado a cidade poeirenta e cheia de tráfico.
Levava um traje de seda e um anel com brilhantes no dedo anelar. Na outra mão, uma esmeralda.
Não parecia que fora muito elegante, era o estilo de roupa apropriado para ele. Era como um aristocrata em um filme de época.
Pouco a pouco, Anna foi despertando. A enfermeira jovem estava radiante, como se o homem lhe tivesse irradiado muita energia. Estava fascinada.
—Porque é fascinante —murmurou Anna.
—Está acordada! —exclamou a enfermeira.
Ele homem se voltou para olhá-la, tinha os olhos escuros e o olhar penetrante. Anna pestanejou. Tinha uma marca no olho, igual à do bebê. Uma mancha que realçava tanto seu parecido com um pirata como sua exótica masculinidade.
—Anna! —exclamou ele—. Graças a Deus que estão bem! Que diabos passou?
Ela se sentia estúpida.
—É você o médico? —perguntou.
O homem pôs cara de preocupação e depois soltou uma espécie de gargalhada. agachou-se e a agarrou pela mão.
—Carinho! —exclamou—. A enfermeira me há dito que não recorda o acidente, mas espero que não te tenha esquecido de seu marido!
—Marido? —Anna o olhou boquiaberta—. Não estou... —começou a dizer. Lhe apertou a mão e ela se calou. De verdade era seu marido? Como podia estar casada e não recordá-lo? Deu-lhe um tombo o coração. Um homem como aquele se apaixonou por ela?
—Estamos casados? —perguntou.
Ele riu e ela não entendia por que.
—Olhe a nosso bebê! Não te diz que é certo?
A marca de nascimento era inequívoca. Mas como podia ser?
—Há coisas que não recordo —lhe disse com voz tremente tratando de conter o pânico que se apoderava dela—. Não recordo nada.
Um marido... como podia havê-lo esquecido? por que? Fechou os olhos e se sumiu na escuridão. Sabia quem era, mas não recordava nada mais.
Abriu os olhos. Ele estava sonriendo mas tinha cara de preocupação. Era tão atrativo! O ambiente de seu redor parecia crepitar com vitalidade. de repente, ela desejou que fora verdade. Desejava que ele fora seu marido, poder confiar nele. sentia-se tão débil, e ele parecia tão forte. Parecia um homem acostumado a dirigir as situações.
Alguém estava gritando em algum sítio.
—Enfermeira! Enfermeira!
Ela ficou uma mão sobre a cabeça.
—Há muito ruído —sussurrou.
—Logo a transladaremos a um sítio mais tranqüilo —disse a enfermeira—. vou falar com a área de maternidade outra vez —saiu dali e deixou a Anna com o bebê e com o homem que era seu marido.
—Vamos, quero te tirar daqui —disse ele.
Havia algo estranho em seu tom de voz. Ela tratou de centrar-se, mas lhe doía muito a cabeça e sentia como se uma cortina a separasse do mundo exterior.
—aonde? —perguntou—. Isto é um hospital.
—Tem habitação em um privado. Estão-lhe esperando. É muito mais agradável, têm pessoal suficiente e não estão saturados de trabalho. Quero que te veja um especialista.
Ele já tinha tirado os sapatos da Anna de debaixo da cama. Anna obedeceu, sentou-se no bordo da cama e os pôs. Enquanto isso, ele retirou as folhas da pasta que estava aos pés da cama, dobrou-as e as guardou no bolso.
—por que lhe leva isso? —perguntou ela.
Ele a olhou e tomou ao bebê em braços com uma segurança atípicamente masculina.
—Onde está sua bolsa, Anna? Tinha uma bolsa?
—OH... —colocou-se a mão sobre a frente. Recordava a mala que tinha preparado com cuidado... e que depois tinha tirado do hospital quando tudo teve terminado. Esse comprido passeio com os braços vazios. Sua marcha fúnebre—. Minha bolsa —resmungou, mas seu cérebro não conseguiu dar com o problema.
—Não importa, buscaremo-la mais tarde —retirou a cortina e olhou a seu redor—. Vamos.
A cabeça lhe doeu muito mais assim que ficou em pé. Ele a agarrou pela cintura e a tirou dali.
A área de urgências estava enche. Passaram junto a um homem com a cara ensangüentada, a gente gritava ou chamava à enfermeira.
—Céus, crie que sempre está assim? —murmurou Anna.
—É sexta-feira de noite.
Cruzaram a sala de espera e saíram à rua. Estava chovendo, mas a brisa fresca aliviou a Anna.
—muito melhor! —exclamou e sentiu um calafrio.
Uma limusine negra se aproximou deles. Seu marido lhe abriu a porta traseira para que passasse.
Anna se deteve sem saber por que.
—E meu casaco? Não tenho meu casaco?
—No carro faz calor. Sobe. Está cansada.
Suas palavras a tranqüilizaram. Se aquele era seu marido, devia estar a salvo.
sentia-se enjoada. Anna entrou no luxuoso compartimento e se sentou. Ele fechou a porta.
Ela se recostou e fechou os olhos. Ele falou com o condutor em outro idioma, e ao cabo de um momento a outra porta de passageiros se abriu e ele se meteu no carro com o bebê. A limusine começou a andar.
—Partimo-nos sem mais? Não têm que me dar o alta nem nada?
Ele se encolheu de ombros.
—me acredite, o pessoal médico está sobresaturado de trabalho. Quando se derem conta de que sua maca está vazia, pensarão que lhe trocaram que área.
A cabeça lhe doía muito.
A escuridão do carro se interrompia por intervalos luminosos à medida que passavam junto às luzes. Ela o olhou um instante e viu como acomodava ao bebê.
—Como te chama? —perguntou-lhe.
—Ishaq Ahmadi.
—Nem sequer me soa! —exclamou Anna—. Ai, minha cabeça! Quanto tempo temos casados?
—Não temos que falar disso agora, Anna —disse ele.
—O que? O que quer dizer?
Ele a olhou fixamente.
—Lembrança quem sou —balbuciou ela—, mas não recordo nada de minha vida. Sem dúvida, não te recordo. Nem ao bebê... nem nada. Quanto tempo temos casados?
Ele sorriu e se encolheu de ombros.
—Digamos, dois anos?
—Dois anos! —Anna deu um coice.
—O que recorda de sua vida? Não tem a mente completamente em branco. Deve recordar algo... recorda dar a luz?
—Sim, mas... mas o que lembrança é que o bebê morreu.
—Ah —ele respondeu tão baixinho que ela não estava segura de que a tivesse ouvido.
—Acabam de me dizer que não era verdade, mas... —acariciou ao bebê—. É tão linda! A que é perfeita? Mas eu recordo... —entrecerró os olhos a causa da dor—, lembrança sustentar ao bebê depois de que morrera —olhou a seu marido—. Possivelmente isso foi faz muito tempo? —sussurrou.
—Quanto tempo te parece que passou?
—Seis semanas, acredito...
«vais passar seis semanas maravilhosas, Anna».
—OH! —exclamou ao recordar um pedaço de sua vida—. Acabo de me lembrar... estava a ponto de partir a trabalhar a França. Lisbet e Cecile convidaram a um jantar estupendo. Parece-me que... —fechou os olhos—. Não se supõe que tenho que tomar o trem a Paris amanhã... sábado? A casa do Alan Mitching, na França —abriu os olhos—. Quer dizer que isso ocorreu faz mais de dois anos?
—Que classe de trabalho era?
—O tem uma casa do século dezessete na zona do Dordogne... queria murais no comilão, um templo grego. Eu o desenhei... —calou-se e o olhou na escuridão. A limusine percorria as ruas vazias, deviam ser duas ou as três da madrugada—. Posso recordar que fiz esses desenhos, mas não recordo em que trabalho agora. por que não o recordo?
—Este estado não é permanente. Recordará-o tudo dentro de um tempo.
O bebê se moveu e ele o recolocó.
—Deixa que a eu sujeite —disse ela.
Durante um instante pareceu que ele ia se negar, mas colocou à menina em seus braços. Ela esboçou um sorriso. Era maravilhoso sujeitar a um bebê vivo junto a seu peito em lugar dessa horrível lembrança.
—É preciosa! —sussurrou. Depois olhou ao Ishaq Ahmadi. Ele a estava olhando—. A que é preciosa?
—Sim —disse ele.
O condutor falou por um intercomunicador e enquanto seu marido respondia, Anna contemplava ao bebê. Não desejava saber como tinha chegado até esse instante, estava feliz por permanecer nele.
Quando lhe voltou a falar, Anna se deu conta de que se estava ficando dormida.
—Recorda como chegou ao táxi com o bebê?
Nada. Nem sequer uma vaga imagem.
—Não.
Depois houve silêncio. Anna continuou contemplando ao bebê.
—decidimos como vai se chamar?
—Seu nome é Safiyah.
—Sophia?
—Sim, é um nome que não resultará estranho aos ingleses. Safi se parece com o Sophy.
—Sabíamos que ia ser uma menina? —sussurrou.
Ele a olhou.
—Está-te ficando dormida —lhe disse—. Deixa que eu a sujeite.
Retirou-lhe ao bebê dos braços. Era carinhoso com a pequena ao mesmo tempo que seguro e crédulo, isso fazia que Anna sentisse que o bebê estava a salvo com ele.
«Jonathan».
—OH! —sussurrou ela.
—O que ocorre? —disse Ishaq Ahmadi—, o que recordaste?
—Quando agarraste ao bebê... eu...
tampou-se os olhos com as mãos. Não foi no momento em que ele tomou em braços ao bebê, a não ser o vê-lo sujeitando-o como se o quisesse e estivesse disposto a defender ao pequeno inocente.
—diga-me isso Ella lo miró a los ojos. Se preguntaba cuánto de su pasado le habría contado a su marido. ¿Era un hombre tolerante? ¿O quería que ella mintiera sobre su vida antes de conocerlo a él?
Ela o olhou aos olhos. perguntava-se quanto de seu passado lhe teria contado a seu marido. Era um homem tolerante? Ou queria que ela mentisse sobre sua vida antes de conhecê-lo ele?
—Lhe... lhe...? —tragou saliva—. Te falei que... Jonathan? Jonathan Ryder?
Inclusive antes de pronunciar essas palavras, sabia que a resposta era não.
—Conta-me o agora.
Ela desejava apoiar-se nele, sentir que a rodeava com o braço, protegendo-a. Devia ter direito, mas não tinha valor para lhe pedir que o fizesse.
Também sempre tinha desejado acariciar aos tigres do zoológico. Era como se tivesse encontrado seu tigre pessoal... mas não recordava como o tinha domesticado, assim seria melhor que o tratasse com cuidado.
—me fale do Jonathan Ryder.
Anna juntou as mãos com nervosismo, e de repente se precaveu de um detalhe.
—por que não levo aliança de casamento? —perguntou e permaneceu olhando suas mãos. Levava vários anéis de prata, mas nenhum era uma aliança de matrimônio.
fez-se um comprido silencio. Através do cristal que os separava do condutor, ouviu que soava um telefone. O condutor respondeu, parecia que dava instruções a alguém.
Mesmo assim, ele seguia olhando-a.
—Y... separamo-nos?
—Não.
Só um monossílabo. Esticou a mandíbula e disse:
—Sobre o Jonathan.
Se tinham problemas no matrimônio seria porque ele estava ciumento? Ou porque ela não tinha compartilhado seus problemas com ele?
«Se nunca lhe falei que o Jonathan, devia havê-lo feito», pensou Anna.
—Jonathan... Jonathan e eu levávamos juntos um ano. Pensávamos em viver juntos, mas não era singelo porque os dois tínhamos um piso Y... bom, custava-nos decidir se vendíamos o seu ou o meu, ou os dois e comprar outro novo —o coração começou a lhe pulsar muito depressa—. De verdade passaram mais de dois anos?
—Quanto tempo te parece?
—Tenho a sensação de que nos separamos faz seis meses. E então...
—por que lhes separaram?
—Porque... alguma vez lhe contei isso?
—Conta-me o outra vez. Possivelmente ao fazê-lo recupere um pouco de cor.
Ela queria contar-lhe Queria compartilhá-lo com ele, convertê-lo em seu confessor. Sem dúvida, o teria contado, e o teria compreendido? Não podia haver-se casado com um homem que não a compreendesse, com alguém com quem não pudesse compartilhar seus sentimentos mais profundos.
—Fiquei grávida de forma inesperada —ela o olhou e recordou que embora parecesse um homem moderno, procedia de outra cultura—. Te surpreende?
—Estou convencido de que os métodos anticoncepcionais falham todos os dias —disse ele.
Isso não é o que ela queria dizer, mas lhe faltou valor para ser mais explícita.
—Ter meninos não formava parte da decisão de viver juntos, mas quando ocorreu, soube que era o que desejava. Era uma loucura, mas me fazia tão feliz! Jonathan não o via da mesma maneira. Ele não queria...
Agachou a cabeça. O ruído da chuva se apoderou do silêncio.
—Não queria ter um filho?
—Queria que abortasse. Dizia que não estávamos preparados. Sua profissão ainda não estava de tudo desenvolvida. A minha tampouco. Tinha centenas de motivos para argumentar que algum dia chegaria o momento, mas que ainda não tinha chegado. Em muitos sentidos, tinha razão. Mas... —Anna se encolheu de ombros—, eu não queria fazê-lo. Discutimos o tema uma e outra vez. Eu o compreendia, mas ele nunca me compreendeu. Nunca o tentou.
—E te convenceu?
—Consertou um entrevista para mim, levou-me até a clínica... Pelo caminho, deteve-se em um semáforo em vermelho Y...saí dali —murmurou—. Continuei caminhando. Não olhei atrás e Jonathan não saiu para me buscar. Nunca voltou a chamar. Bom, uma vez —retificou—. Um par de meses mais tarde chamou para me perguntar se pensava dizer que ele era o pai para o certidão de nascimento.
Fez uma pausa mas Ishaq Ahmadi esperou a que continuasse.
—Ele disse... disse que não queria estar pacote por ter que manter ao menino durante os vinte anos seguintes. Tinha uma oferta de trabalho na Austrália e tinha que decidir se a aceitava ou não. Esse era um dos critérios para tomar a decisão. Se o registrava como pai da criatura, partiria.
—E o que lhe disse?
—Pendurei o telefone. Não tornamos a falar após.
—partiu a Austrália?
—Nunca o averigüei. Não queria sabê-lo. Não me importava —olhou pela janela. Onde vamos? —perguntou—. Onde está o hospital?
—Ao norte de Londres, no campo. me conte o que passou depois.
—Meus amigas estavam muito iludidas... conhece o Lisbet e ao Cecile?
—Como não vai conhecer seu marido a seus amigas?
—Cecile e Philip estão casados?
Ele a olhou.
—me fale do bebê, Anna.
Havia algo em sua atitude que incomodava a Anna. Ela murmurou.
—Sinto-o se não sabia nada. Possivelmente devia haver lhe contado isso.
—Indubitavelmente.
—Sabia?
—Não —respondeu depois de uma pausa.
Anna se perguntava se seria por não haver-lhe dito pelo que essa noite o recordava. O teria sopesado durante o novo embaraço? Teriam aflorado seus temores sobre o novo bebê e não encontravam a saída?
—Tudo ia bem. Estava um pouco nervosa em certos aspectos, mas não tinha dúvidas a respeito do que estava fazendo. Justo ao final algo saiu mau. Estive de parto horas e horas e de repente era muito tarde para fazer uma cesárea... utilizaram uma ventosa.
Tragou saliva e de repente, sua voz se tornou inexpressiva.
—Provocaram-lhe uma hemorragia cerebral. Meu bebê morreu. Deixaram-me sujeitá-lo e estava... tinha um hematoma terrível na cabeça... como se levasse um gorro arroxeado.
Os olhos da Anna não se encheram de lágrimas. Era seu bebê perfeito, mas estava branco e rígido. Parecia que estava muito concentrado e que abriria os olhos em qualquer momento...
perguntava-se se por isso tinha terminado dando a luz na parte traseira de um táxi. Possivelmente tinha medo de que se repetisse a história e por isso não foi antes ao hospital.
—por que não estava ali? —perguntou ela—. por que não me levou a hospital?
—cheguei esta tarde do estrangeiro. E isso ocorreu faz seis semanas?
—Essa é a sensação que tenho. Dá-me a sensação de que é este fim de semana quando tenho que partir a trabalhar a França, e isso era umas seis semanas depois de que o bebê morrera. Faz quanto tempo ocorreu?
—Anna, há sentido alguma vez vontades de adotar a um menino? Um bebê que enchesse o vazio criado depois da morte de seu próprio filho?
—Não me tivesse feito nenhum bem. por que me pergunta isso? Não havemos...
—Não pensou em adotar a um menino? Em tratar de encontrar um bebê?
—Não. Às vezes na rua, quando vê uma mulher com seu filho ou a uma grávida entram vontades de gritar Não é justo!, mas não, sozinho... estive muito deprimida, não fazia quase nada até que Lisbet me falou desse amigo ator que queria um mural em sua casa da França.
inclinou-se para beijar ao bebê.
—É tão bonita! —sussurrou. Levantou a vista e sorriu—. Espero recuperar logo a memória. Não suporto não saber nada a respeito dela!
Ele começou a falar, e justo nesse instante o carro se deteve.
—Já chegamos?
—Sim —disse ele. A porta do lado da Anna se abriu. O chofer a esperava com um guarda-chuva. Anna saiu e ouviu que detrás seu se abria outro guarda-chuva. Subiram por uns degraus estreitos e entraram por uma porta.
Ela olhou a seu redor enquanto Ishaq entrava com o bebê.
Era um sítio estranho para ser a recepção de um hospital. Uma habitação com luz tênue e decorada com tapeçarias. Em um extremo havia uma barra de bar e uma mesa com cadeiras. Anna tratou de compreender a situação, mas sua mente não tinha agilidade.
Uma mulher vestida estilo oriental e que não tinha aspecto de enfermeira apareceu pela porta que havia atrás do bar e se aproximou deles. Falou em um idioma estrangeiro, sonriendo e assinalando para uns sofás. dirigiu-se à porta de entrada, fechou-a e girou um cabo. Anna não conseguia dar coerência à cena.
Obedeceu e se sentou em uma poltrona. Chegou outra mulher. Sorriu e se agachou até o bebê que estava em braços do Ishaq. Falaram um momento e depois tomou à menina em braços e com outro sorriso desapareceu pelo mesmo sítio que tinha entrado.
—O que está passando? —perguntou Anna um pouco alarmada.
—Sua cama está preparada —murmurou Ishaq. aproximou-se dela e a agarrou pela cintura. Ao sentir suas fortes mãos ela sorriu de forma involuntária—. dentro de um momento poderá ir a dormir.
Retirou as mãos e ela o observou enquanto lhe grampeava um cinturão. Sentiu um ruído de motor sob seus pés, e de repente, compreendeu.
—Isto não é um hospital, é um avião! —exclamou Anna.
—Me deixe sair —disse Anna e tratou de tirar o cinturão.
Ishaq Ahmadi grampeou o de seu assento e agarrou as mãos da Anna—. vamos separar agora mesmo.
—Para o avião e me deixe sair. lhes diga que dêem a volta —gritou—. Onde nos leva? Quero para mim bebê!
—A mulher que viu é puericultora. Cuidará do bebê e não lhe vai passar nada. Tenta te relaxar. Está doente, tiveste um acidente.
Tinha o estômago revolto e lhe doía a cabeça, mas não podia centrar-se na dor. Olhou ao Ishaq e disse:
—por que faz isto? —um puxão repentino fez que lhe desabotoasse o cinturão e ela ficou em pé.
Ishaq Ahmadi a olhou zangado.
—Sabe muito bem que não tem direito a montar esta cena. Sabe que está equivocada, muito equivocada. Sente-se antes de que te caia!
O avião começou a rodar.
—Não! —gritou Anna. Retirou o assento e Ishaq Ahmadi a agarrou pela boneca—. me Ajudem! me ajudem! —gritou ela.
ouviu-se um murmúrio de vozes femininas e imediatamente apareceu uma aeromoça.
—Sente-se, Anna!
A aeromoça fez uma pergunta em árabe e Ishaq Ahmadi respondeu no mesmo idioma.
—Laa, laa madame —disse a mulher e se aproximou da Anna com um sorriso tranqüilizador. Depois tratou de falar no mesmo idioma que ela.
—Sinta-se, senhora, muito perigoso. Por favor, sinta-se.
—Quero me baixar! —gritou Anna—. Pare o avião! lhe diga à comandante que é um engano.
A mulher olhou ao Ishaq Ahmadi e lhe fez uma pergunta, ele respondeu de maneira tranqüila. É obvio, levava vantagem já que a tripulação só falava árabe. Anna tinha a idéia de que todos os pilotos deviam falar inglês, mas como ia chegar até a cabine?
Além disso, se era um jato privado, o comandante estaria a salário do Ishaq Ahmadi. Sem dúvida, todos sabiam que estava seqüestrando a sua própria esposa.
Ahmadi ficou em pé, agarrou a Anna pela boneca e a obrigou a que se aproximasse dele.
O avião diminuiu a marcha e todos se surpreenderam para ouvir a voz do comandante pelo intercomunicador, mas o único que disse foi algo similar a «preparem-se para a decolagem». Ishaq Ahmadi lhe disse algo à aeromoça e esta retornou a seu posto.
Ishaq Ahmadi se sentou de novo e atirou da Anna para colocá-la sobre seu regaço.
—Está-te comportando como uma idiota —lhe disse—. Ninguém vai fazer te danifico.
Estava sentada em cima de Ishaq e lhe rodeava a cintura com os braços. Podia sentir o calor de seu corpo nas costas e na parte traseira das pernas. Ele tinha os braços apoiados sobre as coxas da Anna e as mãos entrelaçadas sobre seu abdômen.
As partes de seu corpo que estavam em contato com ela eram puro músculo. Não tinha nem um grama de graxa. Era como sentar-se sobre um metal recém saído da forja, que está endurecendo mas ao que ainda se pode moldar o exterior. O calor tinha um forte componente sensual.
precaveu-se de que estava um pouco aturdida. sentia-se torpe e estúpida e à medida que diminuía seu nível de adrenalina a dor de cabeça se voltou a dar procuração dela. girou-se para tentar olhá-lo.
—por que faz isto? —perguntou.
Lhe respondeu falando junto a seu ouvido
—Para que o bebê e você estejam a salvo.
Estava muito cansada, doente e ferida e desejava acreditar que estava a salvo com ele. A alternativa era muito confusa e terrível.
O jato acelerou e em breves momentos iniciou a decolagem.
Ele continuava sujeitando-a mas com menos força. Anna se voltou para o Ishaq Ahmadi. Suas caras estavam muito perto, a boca dela um pouco mais acima dos lábios dele.
Anna tragou saliva ao sentir-se atraída por ele.
—aonde me leva?
—A casa —disse olhando-a fixamente—. Está cansada. Quererá te deitar —murmurou. Quando o avião se estabilizou a ajudou a levantar-se e ficou em pé. Agarrou-a por braço e a guiou através de uma porta.
Entraram em um camarote grande no que havia uma cama dobro com lençóis brancos e azuis e amaciadas travesseiros.
Era como um sonho. Desde não ser pelas janelas pequenas e pelo constante zumbido um não teria imaginado que estava em um avião. Possivelmente em um hotel de luxo. Estava decorado com madeira, espelhos e luz tênue. Através de um porta se podia ver um banho de mármore.
—Suponho que me casei com um milionário —murmurou Anna—. Ou isto é uma bagatela que te deixou um amigo?
—Aqui tem roupa de dormir —disse ele assinalando um pijama e um penhoar—. Necessita ajuda para te despir?
Anna viu a cama e se deu conta de que estava esgotada.
—Não —respondeu.
Começou a desabotoar um botão, mas era como se não lhe respondessem os dedos. Inclusive lhe custava manter o braço dobrado. Deixou-o cair e ficou olhando ao infinito.
—Chamarei à aeromoça —disse Ishaq Ahmadi.
—por que? É meu marido, não é assim?
Olhou-a de forma inquisitiva e ela se encolheu de ombros.
—por que me olha assim? por que não quer me tocar?
Ela queria que ele a tocasse. Queria voltar a sentir o calor de seu corpo, porque quando ele a tocava, inclusive zangada, sentia-se segura.
Ishaq Ahmadi não disse nada, levantou as mãos e começou a lhe desabotoar a blusa.
—Já não me deseja? —perguntou Anna.
—Está exagerando —disse ele.
—Encarregou-me algum trabalho, assim é como nos conhecemos? —perguntou ela. Estava especializada em desenhos de estilo mediterrâneo e meio— orientais, pintava habitações inteiras de forma que parecesse uma habitação com vistas ao Golfo de Corinto ou o palácio da Alhambra. Mas que possibilidades tinha que um árabe endinheirado quisesse que uma mulher ocidental decorasse as abóbadas de seu palácio quando provavelmente tinha a decoração original?
—Conhecemo-nos por acaso.
—Ah —queria que o esclarecesse, mas não podia concentrar-se. Menos ainda quando ele roçava com as mãos a pele de seus peitos à medida que lhe desabotoava a blusa. Ela o olhou aos olhos, mas ele continuou com sua tarefa. Levava um perfume exótico.
—Parece estranho que tenha direito a fazer isto quando se sente como um completo desconhecido —comentou ela.
—Você insistiu —lhe recordou. Ele parecia assombrado. Ainda não acreditava que ela não recordava nada, e Anna não sabia por que. Que motivo tinha para fingir amnésia? Parecia-lhe uma loucura... a menos que tivesse fugido dele.
Possivelmente fora o medo o que lhe tinha feito perder a memória.
—Estava fugindo de ti, Ishaq?
—me diga você a resposta.
—Dizem que o inconsciente o recorda tudo, mas...
—Estou seguro que o teu também —respondeu Ishaq Ahmadi e lhe abriu a blusa para deixar ao descoberto dois peitos pequenos talheres por um prendedor negro de encaixe.
Anna soube por como respirava que ele não estava indiferente. Ishaq Ahmadi apertou os dentes e lhe tirou a blusa.
Não gostava das aventuras de uma noite e nunca a tinha despido um desconhecido. desconcertou-se ao sentir a onda de desejo que percorria seu corpo. Anna se mordeu o lábio. Como seria fazer o amor com um homem que lhe parecia um estranho? Reconheceria seu corpo as carícias dele?
Desejava que ele o propor. Mas em lugar de tomá-la entre seus braços, ele se voltou para deixar a blusa sobre uma cadeira.
—O que recordarei de nosso amor, Ishaq? —sussurrou ela.
Ele não respondeu e ela se voltou, sentia-se abatida e não podia pensar. Colocou os braços para trás para desabotoar o prendedor. Fez uma careta de dor ao roçar a moradura que tinha no cotovelo.
—Terá que me desabotoar isto.
Sentiu o roce de suas mãos, esse calor estranho, entre eletrizante e reconfortante, que a fazia desejar algo que não recordava. perguntava-se se sua relação sexual não tinha sido boa.
—Há algum problema entre nós, Ishaq?
—Sabe muito bem qual é o problema que há entre nós. Não merece a pena falar disso agora —disse com tom tenso.
«É algo sério», pensou ela. Doía-lhe o coração ao pensar que tinha tido a fortuna de casar-se com um homem como aquele e não tinha sido capaz de que a relação funcionasse. Ele era como um sonho convertido em realidade, mas... era evidente que Anna tinha conseguido seu sonho, mas não tinha sido capaz de viver nele.
Se se reconciliassem, aproveitando que ela não recordava quais eram os problemas que tinham lhe resultaria mais fácil quando ela recuperasse a memória?
Anna deixou o prendedor sobre a cama, depois se voltou para olhar ao Ishaq e apoiou os braços sobre os ombros dele.
—Ainda me quer? —sussurrou ela.
Ele a rodeou com os braços. Lhe acariciou a cabeça, sentia o roce da camisa de seda contra seus peitos nus. O a olhou com uma expressão indecifrável.
—Deseja-me, Ishaq? —perguntou desejando que a beijasse. por que estava tão distante? Sentiu o calor do corpo dele contra o seu.
Ishaq esboçou um sorriso e a olhou com cinismo.
—me acredite, desejo-te. Se não, não estaria aqui.
—O que tenho feito? Não recordo nada. me diga o que tenho feito para que esteja tão zangado comigo.
—Que esperas ganhar com isto? —perguntou ele, e então, como se fora contra sua vontade, abraçou-a com mais força e apertou sua boca contra a dela.
Não foi algo carinhoso nem tenro. A maneira de beijá-la e tocá-la era castigadora, e ela se precaveu de que fossem quais fossem suas intenções, não podia resistir ante ela.
Anna abriu a boca e aceitou o violento arrebatamento de sua língua. Sentiu que um calafrio indescritível percorria seu corpo, como se ele a estivesse beijando em outra parte de seu ser.
Durante um instante se assustou. Se um beijo a fazia reagir dessa maneira, como suportaria que lhe fizesse o amor de forma apaixonada?
O a atraiu para si com força para que sentisse seu corpo endurecido. Ela retirou a boca para poder respirar e alimentar o fogo procedente de suas carícias.
—Ishaq —disse ela com tom apaixonado ao sentir que o calor de suas mãos lhe queimava as costas e os quadris—. Meu amor!
De repente, ele se separou dela, agarrou-a pelas bonecas para que baixasse os braços e a olhou com frieza.
—O que ocorre? —perguntou—. Ishaq, o que tenho feito?
Ele sorriu.
—É incrível —lhe disse—. Me pergunto onde as terá aprendido.
Anna ficou boquiaberta. Suspeitaria que tinha um amante? Seria verdade? Não era possível. Apesar do que ele suspeitasse, apesar do que ela tivesse feito, de quais fossem suas desavenças, sabia que não era capaz de ter um amante estando grávida de seu marido.
—De ti, suponho —disse, mas ele soltou uma gargalhada de incredulidade que fez que não continuasse.
—me diga por que não me fará o amor —o desafiou, mas nada faria que diminuíra seu rancor.
—Acaba de dar a luz, Anna. Devemos nos resignar a não fazer o amor durante várias semanas, não é assim?
Anna se retirou um pouco sobressaltada.
—OH, sim! Eu... —pensou que ele podia beijá-la, abraçá-la. Possivelmente esse era o problema, um homem que solo acaricia a sua esposa quando deseja manter relações sexuais com ela—. Eu gostaria de poder recordar!
Ishaq lhe tendeu a parte de acima do pijama e ela a pôs. O se comportava de forma impessoal, como se fora uma enfermeira e Anna sentiu um nó na garganta por ter perdido essa selvagem paixão.
O fazia graça quão pequenos eram seus peitos. A última vez, estavam inchados pelo embaraço... não? Recordava a dor de seus peitos inchados e uma vez mais teve que recordar-se que isso tinha ocorrido no passado. Que já tinha um bebê.
—Crie que voltarei a recordar? —sussurrou e o olhou aos olhos enquanto lhe grampeava a camisa do pijama. Parecia-lhe incrível que pudesse sentir lástima pelo bebê que tinha morrido dois anos atrás e não recordar o nascimento da preciosa criatura que estava viva e cujo pranto podia ouvir pesar do ruído do motor.
—Estou convencido disso.
—Ela herdou sua mancha de nascimento —murmurou com um sorriso, acariciou-lhe o olho e sentiu como lhe encolhia o coração—. É habitual?
Ele grampeou o último botão e a olhou.
—Que esperas descobrir? —perguntou e começou a lhe tirar o cinturão—. A marca dos Ahmadi —disse—, é a prova de que Safiyah e eu temos o mesmo sangue. Você estranha?
—Acreditava que tinha um amante? —perguntou ela—. O que seria a filha de outro?
Lhe obscureceram os olhos e ela soube que havia meio doido um tema delicado.
—Você sabe não?
—É evidente! O fato de que te tenha equivocado faz que te pense duas vezes as coisas, Ishaq?
—Equivocado? —começou a dizer mas se calou. Depois lhe tirou as calças e se ajoelhou para lhe pôr os do pijama. Tinha o cabelo curto, moreno e encaracolado. Anna se apoiou em seu ombro e tratou de conter o te sussurrem desejo que derretia suas coxas ao sentir-se perto dele.
Eram muito grandes. Era um pijama de homem.
—por que eu não tenho um pijama no avião? —perguntou.
—Possivelmente nunca o utiliza.
Ela se estremeceu ao imaginar dormindo nua junto ao Ishaq Ahmadi. perguntava-se que delícias do passado estavam esperando a que ela recordasse.
—E você o usa?
—Viajo sozinho freqüentemente.
Anna se precaveu de que em toda a noite, apenas lhe tinha contado nada. Tinha evitado todas as perguntas. Tratou de dizer-lhe mas seu cérebro não estava disposto a funcionar corretamente.
Ishaq retirou a colcha e preparou a cama para que se deitasse.
Ela obedeceu e quando se tombou disse:
—Que bem se está!
Ishaq se agachou para apagar o abajur da mesinha, mas ela o deteve.
—me traga para o bebê —lhe disse.
—Está cansada e o bebê está dormido.
—Mas estava chorando. Possivelmente tenha fome.
—Estou seguro de que a enfermeira se ocupou disso.
—Quero lhe dar de mamar! —gritou Anna.
—Amanhã poderá fazê-lo, Anna. Agora dorme. Precisa dormir mais que nada.
Apagou a luz e Anna não pôde evitar que lhe fechassem os olhos.
—lhe dê um beijo de minha parte —murmurou.
—Sim —disse ele.
—Não nos damos um beijo de boa noite?
Ao cabo de um instante, sentiu o roce de seus lábios. Ela foi abraçar o mas ele ficou direito. sentia-se despojada, desejava-o de coração. Tentou-o uma vez mais.
—Eu gostaria que ficasse comigo.
—boa noite, Anna —apagou a última luz, saiu e fechou a porta atrás dele. Ela ficou a sós na escuridão, ouvindo o ronrono dos motores.
Depressa, depressa!
As risadas e as vozes das mulheres refletiam a emoção de seus corações e ela sentiu que um sorriso se formava em seus lábios.
—Já vou! —gritou.
Estavam muito impaciente. Todas se apressaram para, o balcão aonde a persiana mitigava o sol de meio-dia. ouviu-se um murmúrio procedente do pátio: uma portada, o ruído dos cascos, os gritos dos homens. Em algum lugar do interior os músicos afinavam os instrumentos.
—Já chegou! O está aqui! —gritaram as donzelas. Ela ouviu o chiar das fechaduras e das travessas na distância, que delatava que estavam abrindo as portas.
— Já estão aqui! Depressa, depressa! —gritaram as donzelas.
Ao fim, ela ficou em pé. Ia toda de branco exceto pelas jóias de ouro que levava na frente, as bonecas e os tornozelos. Na mão, uma rosa branca. Fora no balcão as mulheres estavam agrupadas contra a persiana de madeira esculpida que as escondia do olhar ofegante dos homens que estavam abaixo.
Ela se aproximou da persiana. De ali, as mulheres podiam contemplar todo o pátio até a entrada principal. As portas estavam abertas, com os sentinelas uniformizados colocados a cada lado. O guarda montado entrou em trote. As bandeiras ondeavam, o sol se refletia nas armaduras e deslumbrava com seus brilhos.
Trotavam em casais, ordenados por filas, guiando ao enorme séquito.
—Ali está! —gritou alguém e a gente, começou a gritar.
Ela não podia deixar de olhá-lo. Era muito bonito, tinha o cabelo moreno e encaracolado, o rosto sério mas os olhos iluminados com humor. Levava uma jaqueta azul com encaixes de linho de prata nas mangas, sua couraça de prata reluzia e quase parecia branca. Levava uma banda azul escuro, do ombro até o quadril, que contrastava com o brilhante metal.
A espada que levava no quadril estava decorado com jóias. Seus dedos também reluziam, mas nenhuma pedra brilhava mais que seus olhos escuros quando olhou para o balcão, como se soubesse que ela estava ali. Seus olhares se encontraram, desafiaram-se e conquistaram em um instante estremecedor.
Quando ele passou por debaixo, a ela lhe caiu das mãos a rosa branca. O a agarrou no ar com uma mão escura e a levo aos lábios, ela gemeu como se a rosa fora seu próprio pescoço.
O não voltou a olhar para cima, mas enganchou a rosa em sua banda, com cuidado, sabendo que ela o olhava. Ela se agarrou à persiana e sentiu que a abandonavam as forças.
—É tão valente, tão bonito! —murmurou—. Tão forte e poderoso como seu próprio cavalo negro.
Ouviu a risada das mulheres a seu redor.
—Sem dúvida, o amar é cego e faz que o branco se veja negro!—brincaram—. Negro? Mas se o cavalo do príncipe é branco! Olhe-o outra vez, minha senhora.
Ela olhou para onde assinalavam, o séquito seguia entrando. Em meio dos homens que montavam cavalos negros havia um mais elegante que o resto. Levava uma armadura de ouro e o turbante bordado com fios de ouro e pedras preciosas, réstias de pérolas envolviam seu peito e os rubis e esmeraldas adornavam seus dedos e orelhas. Tinha as sobrancelhas negras, a mandíbula proeminente, a barba espessa. Ele levantou a mão em reconhecimento enquanto os cavaleiros que foram a seu lado lançavam moedas de ouro e prata à multidão que o aclamava.
As mulheres tinham razão. Seu prometido montava um brioso semental tão branco como a neve.
—Saiba'ul khair, madame.
Anna se girou na cama e pestanejou ao sentir a luz do sol que entrou pelas janelas do avião assim que a aeromoça abriu as cortinas.
—Já é pela manhã?
A mulher sorriu.
—chegamos, madame.
—Ah, sim!
Anna saiu da cama e fez uma careta ao sentir seus músculos doloridos. aproximou-se da janela para ver onde estavam. Sobrevoavam o mar e se dirigiam para terra. Viu uma linha de areia dourada, um bosque exuberante e o deserto ao longe, montanhas nevadas cujo enfeitiço era perigoso e emocionante de uma vez.
—Onde diabos estamos?
—Ducha, madame?
—OH, sim!
A aeromoça sorriu agradada por ter recordado a palavra adequada e acompanhou a Anna até o banho contigüo.
Anna rechaçou sua oferta de ajudá-la, despiu-se e se meteu na ducha. Permaneceu de pé sob o jorro de água quente. Sentia dolorido todo o corpo, mas a cabeça lhe doía muito menos, embora sua memória não tinha melhorado muito. Seguia estancada na noite anterior a que devia partir a França. Entretanto, podia recordar que tinha ido às compras com o Lisbet pela tarde, que depois se foi a casa a vestir e que tinha ficado com ela e Cecile no restaurante. Também recordava que nada mais sair dali tomou um táxi.
—Para esse, Anna, vai em sua direção —lhe disse Lisbet e ela se apressou a cruzar a rua...
Recordava-o como se tivesse sido no dia anterior.
Dos dois dias que seguiam a essa noite, não recordava nada.
lembrou-se do que tinha sonhado. Tinha a sensação de que o homem que montava o cavalo negro era Ishaq Ahmadi.
perguntava-se se o sonho teria algo que ver com a primeira vez que o viu. O teria visto de longe e se apaixonou por ele?
Podia acreditá-lo. Se existia um homem do que alguém pudesse apaixonar-se a primeira vista, era Ishaq Ahmadi. Mas sem dúvida, lhe ocultava algo.
Não duvidava que alguma vez se amaram, mas sabia que nesses momentos tinham um problema. Via-o em seus olhos, cada vez que ele a olhava. Seu olhar lhe transmitia que ela era uma mulher, atrativa e desejável possivelmente, em que não se podia confiar.
Anna se queixou ao esfregar uma das zonas doloridas. O acidente deveu ser real. Todo seu corpo era uma grande moradura e se sentia como se a tivessem golpeado com um taco de beisebol.
Por um momento, ficou paralisada com a idéia. imaginou a um homem que tivesse pego a sua esposa fuga e grávida e que queria evitar as conseqüências...
Anna se lembrou de que estavam a ponto de aterrissar e fechou o grifo. Já na habitação, olhou-se no espelho. Estava muito magra, igual a quando perdeu o bebê dois anos atrás.
Estava acostumado a perder peso quando não era feliz. Anna suspirou. Pelo aspecto que tinha, tinha sido muito infeliz, tanto como quando perdeu ao filho do Jonathan. Pergunta-a era tinha emagrecido antes ou depois de deixar ao Ishaq?
Sua roupa estava colocada sobre a cama. Tinham-lhe escovado as calças e arrumada a camisa.
A tinha comprado aquela sexta-feira pela tarde e a tinha posto aquela noite para o jantar. Solo lhe faltava a jaqueta.
Anna ficou de pé, sentia um nó na garganta. agachou-se para recolher a blusa. A etiqueta era nova. Ou tinha duas lembranças mescladas... ou ela e Lisbet tinham comprado essa blusa no dia anterior.
—Venho a te buscar —disse Ishaq Ahmadi quando ela abriu a porta—. Estamos a ponto de aterrissar. Vêem te sentar.
Ele se sentou em uma poltrona e Anna obedeceu. A seu lado, sentou-se a enfermeira com o bebê em braços. A aeromoça estava detrás da barra. Anna cheirava o aroma do café.
—Eu sujeitarei ao bebê —disse e tendeu os braços.
A enfermeira olhou ao Ishaq Ahmadi.
—me dê o bebê —lhe ordenou Anna.
Ishaq Ahmadi assentiu e a enfermeira deu o bebê a Anna. Safiyah estava dormida. Anna a acariciou, a lembrança do filho que não tinha sobrevivido se aliviou ao tocar ao pequeno corpo indefeso, tinha a pele suave e a boca curvada, igual a suas preciosas sobrancelhas.
Anna olhou ao Ishaq Ahmadi e pensou que em algum momento ele também teria tido a mesma boca, mas que já tinha perdido sua ternura.
Desejava acreditar que ele dizia a verdade. Que era seu marido e que esse bebê era fruto de seu amor. Queria pensar que a prova da camisa era falsa. Estava afetada pelo bebê, pelo homem. depois de tudo era possível, podia ter guardado a camisa, ter deixado todas suas coisas em casa de seus amigas, possivelmente, e depois ter ido ali quando fugia de seu marido e recuperado todas suas coisas.
Ou mesclar a lembrança de duas compras diferentes era possivelmente o sinal de que estava recuperando a memória.
—Onde estamos? —perguntou ela e olhou pela janela enquanto aterrissavam.
Palmeiras, sol, casas brancas... no terminal estava escrito o nome do aeroporto, mas o avião ia muito rápido como para que Anna pudesse lê-lo.
—Estamos no Barakat ao Barakat, a capital dos Emirados do Barakat —disse ele.
—Ah! —ela tinha ouvido falar dos Emirados, mas não sabia quase nada sobre o país, exceto que estava governado por três jovens príncipes que o tinham herdado de seu pai—. Aqui está você... nossa casa?
—É obvio.
—É Barakatí.
—É obvio —disse outra vez.
Anna tinha a idéia de que os amnésicos não esqueciam o conhecimento geral, solo o pessoal. Assim por que não recordava nada do país que se supunha era sua casa? Começou a tremer.
Minutos mais tarde se abriu a porta. Entrou o ar fresco, acompanhado do aroma de asfalto e gasolina, e a brisa marinha junto a aromas segredos cheios de magia e mistérios orientais.
Um funcionário entrou para fazer uma inspeção de imigração claramente simbólica e nem sequer mencionou nada a respeito de que Anna não tivesse passaporte. Era evidente que Ishaq era alguém importante.
Fora, esperava-lhes uma limusine branca. O chofer e um grupo de gente estavam de pé junto a ela.
—lhe dê o bebê à enfermeira —disse Ishaq Ah— madi. Anna abraçou ao Safiyah com mais força.
—Está dormida —protestou. Tinha a sensação de que se obedecia nunca voltaria a ver seu bebê.
—lhe dê o bebê à enfermeira —repetiu ele e se aproximou dela.
Anna o evadiu e apareceu à porta do avião.
—Se tráficos de me tirar isso gritarei. Tem muita influência sobre a gente daqui?
Fora, sua aparição na porta provocou um pequeno revôo. Todos a olhavam.
Ishaq apertou os dentes e a olhou furioso.
—Crie-te muito ardilosa.
aproximou-se dela e a agarrou pela cintura. Saíram até o primeiro degrau. Ele se deteve e para surpresa da Anna, dois dos homens que estavam abaixo começaram a lhes tirar fotos.
—Que diabos...? —exclamou ela.
—Sorri —lhe ordenou ele—. Sorri ou te estrangulo diante de todo mundo.
—O que ocorre? —sussurrou desesperada—. Quem é? Quem sou eu?
—Não diga nada aos jornalistas.
—Jornalistas?
Olhou aos fotógrafos assombrada. O que acontecia? Quem podia lhe explicar o que acontecia com ela?
Ishaq baixou diante dela pelas escadas e se voltou para ajudá-la. Agarrou-a com força pela boneca.
Um fotógrafo se colocou justo em frente deles e Anna retrocedeu sobressaltada.
—Perdoe! —murmurou indignada, mas ele se aproximou ainda mais—. Incomodará ao bebê!
—Ingilisiya —gritou alguém—. Man hiya?
—Olhe a este lado, por favor!
O chofer tinha aberto a porta da limusine e Ishaq fez entrar na Anna. Fechou a porta e ela e o bebê ficaram ocultas depois das luas tintas.
Fora seguiam lhe fazendo perguntas. Ouviu como Ishaq respondia. Momentos mais tarde, ele se sentou junto a ela. A enfermeira se sentou diante. O chofer arrancou o carro e os fotógrafos se aproximaram da janela que estava mais perto da Anna e tiraram mais fotos.
Ela se voltou para olhar ao Ishaq.
—O que ocorre? —disse—. por que estão aqui os jornalistas?
—Sempre estão no aeroporto. Aos periódicos de todo o mundo adoram publicar fotos dos acompanhantes dos príncipes do Barakat. Normalmente não importa, mas agora... —voltou-se e lhe lançou um frio olhar acusador—, agora têm uma foto do bebê.
Muito tarde, Anna se deu conta de quão tola tinha sido por desafiá-lo quando não sabia nada de nada.
A limusine entrou por uma grande grade e se deteve frente a uma vila de dois novelo de tijolo e pedra. Ao longo da fachada havia colunas de mármore coroadas com o tipo de arcos aos que Anna estava mais acostumada a pintar que a ver na vida real.
Anna sentiu que lhe acelerava o coração.
—Já chegamos?
—chegamos —respondeu ele.
abriu-se a portinhola de seu lado. Anna saiu do carro com o bebê em braços. Olhou a seu redor até que Ishaq Ahmadi se aproximou dela. O jardim estava cheio de árvores e arbustos, também havia uma fonte e Anna experimentou de repente uma sensação de tranqüilidade e segurança.
—Esta é sua casa?
Ele fez uma reverência.
O bebê despertou e começou a choramingar, a enfermeira se aproximou da Anna.
Anna olhou ao Ishaq Ahmadi com desafio e se colocou ao bebê sobre o ombro. Não perderia de vista a sua filha até que não soubesse o que acontecia.
Seguiu ao Ishaq até o interior da casa. ficou boquiaberta ao olhar a seu redor.
Nunca tinha visto uma habitação tão bonita. Os ladrilhos da estou acostumado a eram de cores e desenhos diferentes, e em alguns sítios estavam cobertas por preciosos tapetes persas.
Havia mesas baixas e coloridos sofás, um antigo escritório.
A janela dava a uma terraço coberta que aparecia em um pátio cheio de árvores. detrás das árvores, o céu azul e o mar.
Anna fechou os olhos e respirou fundo. Sentiu que tinha retornado a casa, como depois de um exílio interminável. Aquele era seu sítio.
voltou-se para o Ishaq Ahmadi.
—por que estava em Londres? —perguntou-lhe.
O arqueou as sobrancelhas.
—duvidei que ti e de tudo o que me há dito —lhe explicou ela. Fechou os olhos e voltou a respirar fundo—. Sei que esta é minha casa. por que me parti, Ishaq? por que tiveste que me trazer para casa à força?
Ele a olhou com uma expressão indecifrável.
—Quer dizer que recorda esta casa?
—Não... não exatamente. Tenho o sentimento de pertencer a ela.
—É um mistério para mim —disse ele—. Deixa ao Safiyah com a enfermeira e vamos beber algo.
Um servente esperava em silêncio e Ishaq lhe fez um gesto. O homem fez uma reverência e partiu.
Anna beijou à pequena e a deu à enfermeira. A mulher sorriu e se retirou.
Ishaq Ahmadi abriu a porta da terraço.
—Vamos, temos que falar.
tirou-se a jaqueta e a deixou sobre uma cadeira.
Ela ficou dúbia.
—Minha querida Anna, asseguro-te que não há nada que temer na terraço —disse ele—. Ninguém vai atirar te pelo corrimão, embora sem dúvida, é o que te merece.
O que se merecia? Anna não poderia saber a resposta até que não recuperasse a memória.
—Deixei-me um pouco de roupa aqui? —perguntou Anna. Não podia enfrentar-se a ele, estava muito cansada—. Eu gostaria de me pôr roupa mais fresca.
—Estou seguro de que haverá algo que te sirva. Ensino-te o caminho, ou o recorda? Não, claro, não recorda nada.
Ishaq a guiou até uma habitação.
Anna esperava que ao ver o dormitório recuperaria algo de cor, mas não foi assim. Parecia que a habitação não se utilizou desde fazia séculos, não havia nenhuma fotografia, nem um só artigo pessoal à vista. uns quantos frascos de perfume eram a única evidência de que era o quarto de uma mulher.
Anna abriu a porta do vestidor. Dentro havia cabides vazios, umas quantas coisas metidas em bolsas, umas sandálias no chão e uma mala em uma estantería.
Assim que o tinha abandonado. Tinha preferido fugir a Londres e ter ao bebê na parte de atrás de um carro que permanecer junto a seu bonito e apaixonado marido. Anna se mordeu o lábio. Logo, tinha-a seqüestrado e obrigado a que retornasse.
E não tinha nem idéia do que isso significava.
Estava prisioneira? ficaria ele com o bebê e a desterraria a ela? Ou ia tentar que o matrimônio funcionasse?
Anna se despiu e ficou a roupa interior limpa que encontrou em uma gaveta. lavou-se a cara com água fria e se olhou no espelho. Não tinha o rosto de uma mulher feliz por ter abandonado a seu marido. Seus olhos, que normalmente eram de cor azul safira, pareciam negros pelo cansaço.
Possivelmente era o próprio matrimônio o que lhe tinha provocado esse aspecto.
O prendedor era muito grande. Assim levava tempo fora? Deixou-o e ficou uma camisa e uma calça azul. A blusa era larga, ao estilo do Oriente Médio. Era de talha média, e ela sempre comprava a pequena. Nada tinha sentido. Uma das sandálias estava rota e decidiu ir descalça.
Ishaq, que também se trocou de roupa, estava esperando-a fora do dormitório.
—Que horas são? —perguntou ela. Ele Miro o relógio que levava na boneca.
—As onze.
—Para mim é como se fossem as seis —comentou ela e saiu a terraço—. Sinto como se não tivesse dormido apenas.
De ali se podia ver que a casa estava construída em forma de C quadrada e que a terraço cobria os três lados.
—Em Londres são as sete da manhã. viajamos para o Este umas quatro horas —respondeu ele.
Ela riu.
—Ah, claro! Isso explica quão confusa estou!
—Sem dúvida.
A terraço estava dividida por preciosas arcadas de madeira. Alina se aproximou de uma e disse:
—Eu Pinto arcadas como esta nas paredes, mas nunca as tinha visto de verdade —se voltou rendo-se—. Bom, exceto...
—Exceto quando vivia aqui —disse ele.
A casa parecia muito antiga, os tijolos e os ladrilhos estavam desgastados pelo passado do tempo e das gerações. Havia novelo que penduravam das terraços e outras que subiam pelos muros para o telhado.
—Esta é a casa de sua família?
—Herdei-a de meu pai a princípios deste ano.
—OH, sinto-o —murmurou ela e depois se precaveu do ridículo que devia ter feito, como esposa devia ter ido ao funeral com ele e meses mais tarde lhe estava dando o pêsames outra vez—. O sinto —se desculpou—. É difícil...
Chegaram até uma parte da terraço em que havia cadeiras e tumbonas junto a uma mesita. Anna suspirou. Havia uma fonte pequena e flores por toda parte, a brisa era deliciosa, o som da água, como um bálsamo.
—Isto é precioso!
Ele se deteve e ela se aproximou do corrimão. Não podia acreditar que uma vida normal a tivesse levado até uma casa tão maravilhosa.
A casa não era pequena. De ali se podiam ver os diferentes níveis, as terraços e um pátio com uma piscina como nunca tinha visto. Era quadrada e estava azulejada com bonitos ladrilhos.
A casa estava construída sobre uma colina por cima de uma praia de areia branca. Justo em frente, ao outro lado da baía, viam-se as montanhas.
Ouviu vozes e soube que tinha retornado o servente, voltou-se e o viu chegar empurrando um carrinho com uma jarra de suco e uma bandeja de fruta. O homem deixou tudo sobre a mesa e se retirou.
Anna se sentou em uma tumbona e Ishaq lhe tendeu um copo de suco. Ela deu um gole e se recostou, fechando os olhos para desfrutar dos raios do sol. Sorriu de forma involuntária ao sentir que a tensão se esfumava de seu corpo.
Ele se sentou em uma cadeira e ficou olhando-a.
—Bom, Anna —disse ele.
—Ishaq, estou cansada. Não podemos deixá-lo para outro momento?
—te atrasá-lo convém, verdade? por que?
—Realmente, não te entendo —suspirou ela—. Eu estou aqui, o bebê está aqui, que mais quer?
—Não tem nem idéia do que é o que quero?
—Se nem sequer recordo estar casada contigo, como pretende que saiba o que é o que quer? —explorou.
—Está bem —disse ele—. Falemos do que recorda. Segundo você, faz seis semanas deu a luz a um menino que morreu.
Ela fechou os olhos. Seu tom não era agradável e ela pensou que devia ter bons motivos para não lhe haver contado nada.
—Isso me parece.
—Ficou destroçada atrás de sua morte.
—É obvio —o olhou fixamente—, e te recordo que ainda não formava parte de minha vida, Ishaq.
—Pensou na possibilidade de adotar um bebê, mas como estava solteira não era fácil fazê-lo pelas vias convencionais.
—O que? Eu não hei dito isso! por que diz coisas que eu não hei dito?
—Anna, há pouco tempo. Intento saber a verdade.
—A verdade do que? Diz coisas diferentes a cada momento! Como pretende que recorde algo se não parar de trocar sua história? O que é o que quer? por que há pouco tempo? por que joga a isto? O que importa o passado? Já terminou, não?
—Desejava um bebê —continuou ele como se ela não houvesse dito nada.
—Ishaq...
—Desejava um bebê?
—Não, não queria um bebê —disse ela—. Desejava meu bebê, Noah, quem tinha direito a nascer forte e saudável. Queria-o. Ainda o quero. vais ter que aceitá-lo, Ishaq. Não é algo que se apague com o tempo. Ele está em meu coração e nunca partirá. Safiyah está junto a ele, mas não o substituirá. Noah sempre estará em meu coração.
Era a primeira vez que falava do bebê dessa maneira. Sentiu que lhe tremia a voz e como o peso que levava em seu peito trocava. Uma coisa era ocultar a dor durante seis semanas, mas que classe de matrimônio tinham se tinha tido que ocultá-lo durante dois anos?
—O que é o que nos une? —perguntou ela.
Ele arqueou as sobrancelhas.
—Alguma vez pude expressar meus sentimentos? Temos uma relação apoiada sozinho no sexo, ou algo assim?
—Apesar de não me recordar, sente que há atração sexual entre nós?
—Você não?
Ele a olhou de forma premente e ela se estremeceu. Havia uma forte atração sexual entre eles e se era a base de sua união não tinha sentido tentar acontecê-la por alto.
Ishaq se aproximou e lhe acariciou a bochecha, Anna sentiu que lhe acelerava o coração.
—Te esqueceu isto?
Anna tragou saliva. Como as tinha arrumado para atrai-lo? Era tão masculino e atrativo, mas também tinha um componente de perigo.
—Possivelmente seja um desprezo por minha parte —disse ela com um sorriso e desejando que ele também sonriera—, mas me temo que sim.
—Então será um prazer te ensinar outra vez —lhe acariciou a bochecha e a olhou aos olhos—. Sim?
Ela se mordeu o lábio e sorriu.
—Pode que seja o que faça que recupere a memória.
—Sim, claro! Essa é a desculpa mais engenhosa que ouvi para fazer o amor. Sempre foi muito imaginativa, Anna.
Seus lábios estavam quase roçando-se e Anna sentia calafrios. Ishaq começou a lhe acariciar o pescoço.
Ela desejava apoiar-se nele e sentir o amparo de sua força, que a abraçasse.
Ele apartou a boca de seus lábios sem beijá-la, ela fechou os olhos e lhe beijou as pestanas, depois o nariz. Anna desejava que a acariciasse, como se levasse meses esperando. Anos. Abraçou-o e começou a lhe acariciar a nuca.
Por fim, beijou-a nos lábios. Ela sentia como se lhe derretesse o coração e ao notar que lhe agarrava o braço com força, soube que Ishaq sentia o mesmo.
Com a outra mão lhe agarrou o pescoço e a beijou de forma apaixonada.
Anna apoiou a mão contra seu peito. sentia-se como se o tivesse amado em um passado, em outra vida, mas ao mesmo tempo era algo completamente novo. Nunca tinha desejado tanto a um homem depois de um simples beijo.
Ishaq a beijou até que ela sentiu um ardente e selvagem desejo.
—Ishaq! —chamou-o e ele voltou a beijá-la—, Ishaq!
—me diga a verdade, Anna —me sussurrou— Diga isso e depois deixa que te faça o amor.
—Que te diga? —houvesse-lhe dito algo para que seguisse beijando-a, mas não tinha nada que dizer—. Que te diga o que?
Ele não respondeu, solo a olhou de forma autoritária e ela voltou a cabeça.
—Não me lembro —protestou—. por que não me crie? O que tenho feito para que deixasse de confiar em mim?
Ele fechou os olhos e ela viu que tentava controlar-se. Depois a soltou e a olhou.
—O que ocorre? O que quer que te conte? Do que me esqueci?
Ele tomou seu copo e deu um comprido trago.
—Quer saber do que te esqueceste? Não esqueceste nada, Anna. me diga onde está Ninguéma?
Anna fechou os olhos e tragou saliva.
—Ninguéma? Quem é Ninguéma?
Ishaq sorriu.
—Ninguéma, como bem sabe, é a mãe do bebê que seqüestrou e que diz que é teu.
A tormenta de paixão que Ishaq tinha provocado na Anna se converteu em um vazio que fez que se sentisse doente.
—O que? —um calafrio percorreu seu corpo—. Do que está falando?
Ele a olhou em silêncio.
—Não conheço ninguém que se llam... a mãe do bebê? Do Safiyah? —tremeu-lhe a voz—. Não é minha filha?
Ele permaneceu calado. Ela o olhou. Aquela era a verdade, ou era outro de seus jogos?
—Trata de me destroçar —o acusou—. me Diga a verdade. Se tiver sentimentos humanos, me diga a verdade Safiyah é nossa filha?
—Sabe muito bem que não —disse ele—. vais deixar de atuar alguma vez? O que pretende ganhar demorando isto?
Anna só escutou «sabe que não».
—Não o é? —repetiu—, não o é?
Ele continuou em silêncio, olhando-a.
—Se não ser minha filha, então... tampouco esqueci dois anos de minha vida —Anna pensava devagar—. E não estamos casados, e esta não é minha casa. Tudo é mentira.
Ela o olhou procurando uma confirmação. Depois olhou a seu redor e a pena se apoderou dela. Tudo era bom, estar ali, a menina, o homem...
—Mas como... algum dos dois está louco?
—Você, se pensava que poderia te sair com a tua —disse ele.
—Não conheço ninguém que se chame Ninguéma —começou a dizer—. Tive um acidente e despertei no hospital. Disseram-me que o bebê estava bem. Você me disse que foi meu marido e que tinha amnésia. É tudo o que sei.
Ishaq Ahmadi, se é que esse era seu nome, recostou-se na cadeira.
—Sabia o suficiente para fingir que a menina era tua —assinalou.
—Minha memória era um caos. Não imagina o que é até que não te passa. Primeiro acreditei que era a vez que estava no hospital quando meu filho morreu. Quando me disseram: seu bebê está bem, pensei... —fez uma pausa e tragou saliva—, pensei que a morte do Noah tinha sido um pesadelo. Acreditei que tinha sonhado tudo o das seis semanas seguintes. Que tinha outra oportunidade. Fez um esforço para conter as lágrimas—. Depois chegou você e o complicou tudo.
Era terrível, uma loucura. Anna se cobriu a frente dolorida com a mão.
—De onde saiu o bebê? por que me disse que estávamos casados? —perguntou ela.
—Pelo mesmo motivo que você fingiu me acreditar.
—Não! —gritou ela—, não! Sabe muito bem que... por que faz isto?
—Pode supor por que.
—Não posso supor nada! Como te atreve a me fazer isto! Jogar com minha mente quando estava conmocionada, me dizer que sofria amnésia! O que é o que quer? O que pode querer de mim? por que, por que disse que era nossa filha?
—Porque nesses casos o marido tem alguns direitos que outros não têm.
Ela ficou assombrada. Possivelmente era a primeira vez que respondia a uma de suas perguntas.
—Você é o pai da menina?
—Não, Ninguéma é minha irmã.
—Como cheguei a estar no hospital com sua filha? Colocou-a em cima meu ou algo assim?
—Eu não. Isso é o que quero que me conte. Encontrei-lhes às duas juntas.
—Não entendo. Então como sabe que esta é a filha de sua irmã?
—Pela marca do Hamzeh.
—por que? Está dizendo que seqüestrou a um bebê e a uma completa desconhecida de um hospital e as levou a Oriente por uma marca de nascimento?
—Ninguéma estava de parto e de caminho ao hospital quando desapareceu. Horas mais tarde apareceu você em outro hospital próximo, fingindo ser a mãe de um recém-nascido com a mancha do Hamzeh.
—Como sabia que eu não era sua mãe? As enfermeiras me disseram que era meu bebê. por que foste ter razão? Não há ninguém mais no mundo com essa mancha além de Ninguéma e você?
—A enfermeira que te fez o reconhecimento sabia muito bem que não era seu bebê. Escreveu uma nota em seu histórico sobre isso. Se não me crie, pode lê-la. Tenho-o. Escreveu uma nota para que o hospital comprovasse com a polícia se havia alguma denúncia por desaparecimento de meninos na área de maternidade e para que ficasse em observação enquanto o investigassem.
Anna estava indignada.
—Mas então por que... eles... disse-lhes que meu bebê tinha morrido, e eles disseram, «não, aqui está seu bebê, está viva!»
Ele se encolheu de ombros.
Anna não conseguia encaixar as peças do quebra-cabeças.
—De todos os modos, se você sabia que eu não era a mãe do Safiyah, por que te incomodou em me seqüestrar? por que não te levou a bebê sem mais? Não me ia queixar, se estava fingindo.
—Queria que me desse informação, e não estava em condições de...
—Informação sobre o que? —interrompeu-o.
—A respeito de como conseguiu ao Safiyah.
Era incrível.
—Por exemplo? O que está sugiriendo? Que assaltei a Ninguéma enquanto estava de parto, levei-a a algum sítio e lhe roubei ao bebê?
—Essa é uma possibilidade, foi assim como ocorreu?
—Bom, obrigado, começo a vê-lo claro —disse Anna furiosa—. Sem nenhuma prova, decidiste que sou uma seqüestradora de meninos, e isso te dá direito a me tratar como a uma delinqüente. Não me tem nenhuma pingo de respeito, nem tem a decência de me dizer a verdade. Nada.
Já compreendia por que o fazia tantas perguntas. Seria possível? tornou-se louca de pena e queria um bebê a toda costa? Podia ter feito tal coisa e haver-se esquecido? Seria a causa de sua amnésia? Não. Não.
—E o que imagina que fiz com Ninguéma? —continuou ela ao ver que ele não falava.
—Essa é uma das coisas que quero que me conte —disse ele.
Anna ficou em pé.
—Como te atreve a me falar assim? Eu não o fiz! Não pode te apoiar em nada para fazer essa acusação!
—Não te acusei. Estava em um táxi com um bebê que não é teu. Isso necessita alguma explicação.
Ela não estava escutando.
—Como te atreve a atuar dessa maneira sem ter nenhuma prova... mentindo, me seqüestrando, me fazendo acreditar que estou louca! Dizendo que... céus, quase fazemos o amor! —enfureceu.
—Foi minha culpa? Ou foi teu intento para que baixasse o guarda?
—Não me acuse! Sempre hei dito a verdade! Você é quem me manipulou! Inclusive mentiu a respeito de seu nome, não? Ontem à noite era a marca dos Ahmadi, agora a chamaste a marca do Hamzeh.
Ishaq Ahmadi parecia farto.
—Nuca me mentiste? Mentiu faz menos de meia hora.
—Eu não te menti!
Ele ficou em pé e se aproximou dela. Anna deu um passo atrás, mas não o bastante rápido e ele a agarrou pela boneca.
—Como o chamaria? Disse que reconhecia este sítio, que sabia que tinha uma casa! Nunca estiveste a menos de mil milhas daqui. por que o disse?
Ela ficou calada. Tinha experiente a sensação de retornar a casa, provavelmente solo porque desejava senti-lo. Desejava que o bebê fora dele e que ele fora seu marido. Desejava tanto que a dor e a pena causados pela terrível perda ficassem no passado.
—Que esperas ganhar?
—Acreditava que você me diria isso! —conseguiu liberar-se—. Que vantagem poderia ter dizer algo assim?
—Possivelmente esperava que baixasse o guarda e escapar?
—me deitando contigo, suponho! Sexualmente amoral, também. Tem uma boa lista.
—Mentiu. Devia ter uma boa razão.
—Só tenho sua versão a respeito do que está passando. E sua versão não demonstrou ser irrebatível. Você... —calou-se—. por que crie que teria crédulo em ti no hospital, se as coisas forem como cria? Devia saber que tinha amnésia. Deveu fazê-lo a propósito. Se não, por que não lhe haveria dito à enfermeira que foi um impostor?
—Não imaginei que me acreditaria. Pensei que preferia fingir que o fazia, antes de correr o risco de que a polícia te detivera por seqüestradora. Estava no certo, não podia montar uma cena porque teriam feito uma investigação e se teria demonstrado que o bebê não era teu.
—Se me tivesse encontrado em condições, teria montado a cena —disse ela. de repente se sentiu muito fraco para suportar sua própria raiva. Tinha gasto todas suas energias. Não tinha força para manter a um lado a dor.
Fez um esforço e se enfrentou ao Ishaq.
—Se não tivesse mentido a respeito de tudo...
Olhou-a com raiva.
—Faço o necessário para proteger a quem quero —disse com frieza. Ela acreditou. de repente viu que podia ser tanto um bom amigo como um inimigo implacável, e em certo modo, ela sentia estar destinada a ser seu inimigo.
—Perfeito! —disse ela—. Quero sair daqui e ir a casa para continuar com minha vida. Assim que tal se me disser o que quer de mim?
Ishaq Ahmadi inclinou a cabeça.
—É obvio. Solo tem que me dizer onde está Ninguéma e como conseguiu a seu bebê. Depois, é livre de partir. Naturalmente, informarei disto ao Scotland Yard.
Anna se voltou para afastar-se dele. junto à parede havia uma escada que baixava até o pátio, e uma vez mais ela experimentou essa estranha sensação de pertença. «subi e desceu por esta escada centenas de vezes», pensou.
deteve-se e se voltou para o Ishaq.
—por que não me crie? —ele arqueou as sobrancelhas e ela o olhou aos olhos—. Não, sério. Minha explicação é tão razoável como algo neste... nesta incrível historia, por que não a tem em conta durante um instante? Descarta tudo o que te digo. por que?
—Porque o que me diz não tem nenhuma lógica. por que estava no hospital com o bebê?
—Que gracioso, por isso exatamente te acreditei —disse ela—. Como cheguei ali? Essa é a pergunta.
—Sua história não tem fundamento. desmorona-se.
—O que há do condutor do táxi? —perguntou ela—. O que disse ele?
—Resultou gravemente ferido. Ainda não o interrogaram.
—Onde ocorreu o acidente?
—O táxi se meteu no caminho de um ônibus no King's Road com o Oakley Street —respondeu ele como se ela já soubesse—. Você estava na parte de atrás com o bebê. Disso não cabe dúvida.
—Oakley Street. Isso está muito cera do restaurante Riverfront. A que hora foi o acidente?
—Segundo o disforme policial, pouco depois da meia-noite.
—Nós pedimos a conta sobre essa hora, estou quase segura.
Fechou os olhos. Isso queria dizer que sua perda de cor cobria um período muito curto. Se solo tinham acontecido um par de minutos desde que se meteu no carro até o acidente...
—Se estiver no certo, a única explicação possível é que o bebê estivesse no táxi quando eu entrei —disse Anna. E a verdade golpeou dolorosamente seu coração. O bebê a quem já amava não seria dele... igual a seu filho tampouco foi.
Ishaq Ahmadi soltou uma gargalhada.
—Excelente. Se tivesse pensado essa possibilidade faz umas horas.
Anna tratou de conter o sentimento de amargura que se forjava em seu interior. depois de tudo, não tinha direito a amar a essa menina preciosa, por muito que o desejasse.
—Possivelmente um pouco mais tarde recorde isto. No momento adequado possivelmente recorde entrar no táxi e descobrir a um bebê esperneando no interior
Suas palavras lhe fizeram mal. «Noah», pensou, «OH, meu pequeno! nunca chegou a espernear».
de repente se notou sem forças. sentia-se como uma recém-nascida.
—Possivelmente não tomei o táxi. Não recordo me colocar nele. Os condutores trocam de volta para meia-noite, não? Possivelmente ele não podia me levar e fomos até o King's Road para procurar outro táxi. Possivelmente...
Estava balbuciando. Não sabia se o que dizia tinha sentido. Piscou para conter as lágrimas que ameaçavam saindo, pressionando contra o muro que tinha contido seus sentimentos durante tanto tempo.
—Sim? —perguntou ele.
—Não sei —respondeu ela. Como ia solucionar algo se não recordava nada? Era possível que se esqueceu de um plano tão horrível? teria lhe valido a pena seqüestrar ao menino de outra?
As lágrimas começaram a rodar por suas bochechas. Não podia as controlar. Doía-lhe a cabeça e se cambaleou um pouco.
—Estou cansada. Muito cansada —tratou de apoiar-se em um arco, mas estava mais longe do que pensava. Sentiu uma arcada e disse:
—OH, não posso... —agarrou-se a algo, um ramo, possivelmente, mas não podia sustentar-se. A seguinte arcada fez que lhe falhassem os joelhos.
O ramo era o braço do Ishaq. Ele a agarrou pela cintura para sujeitá-la enquanto vertia pena e bílis entre gritos de angústia.
—Meu bebê! —chorou desesperada. A imagem do Safiyah se fundia com a de seu próprio filho e novamente era arranco de seus braços e de seu coração.
Ao fim, desprendeu-se da insuportável miséria que tinha sido sua companheira silenciosa durante semanas.
—OH, meu bebê! Meu bebê! por que? por que?
—Princesa, é muito perigoso! —suplicou a donzela. Observava-a enquanto ela se olhava no espelho e alisava as dobras das calças de uma faxineira que se pôs.
—É um homem valente, o Leão. Admirará a valentia. Se pudesse, desafiaria-o no campo de batalha.
—Se alguém a descobrir...
—Fugirei-me. E você me esperará com meu vestuário.
olhou-se por última vez no espelho. A jaqueta carta lhe cobria os peitos, as calças rodeadas por debaixo do joelho, a cadeia de ouro que levava nos tornozelos se abria em abano até os dedos dos pés, os medalhões que levava na cintura e na frente, o véu reluzente e vaporoso que não ocultava a escura juba frisada...
Sorriu e lhe deu um beijo a sua donzela.
—Não tema —disse ela—, sou ágil de mente e de pernas e evitarei a todos menos ao que quero que me capture —um agradável calafrio percorreu seu corpo, ela recolheu a rosa branca e a colocou na cintura.
Minutos mais tarde as duas mulheres avançavam lentamente pelas escuras passagens secretas do palácio fada os ruídos da celebração que tinha lugar no salão de banquetes.
Dentro do salão, a porta estava oculta depois de uma tapeçaria que facilitava um pequeno acesso através da parede, quando entraram por ele, viram que na tapeçaria havia mais de um buraco pelo que poderiam espiar. Ela aproximou um olho a um deles e observou.
Os homens estavam sentados e tombados sobre o tapete, com almofadões, bebiam e comiam, riam e brindavam pelo prometido, quem estava sentado junto ao pai dela. Em um extremo da habitação, os músicos tocavam. Os garçons se moviam de um lado a outro levando pratos cheios de comida. Deixaram um cordeiro assado diante do noivo.
Observou o rosto dos homens que estavam sentados junto ao príncipe, procurava um que chamavam o Hamhez. O Leão. A mancha de nascimento lhe facilitou a busca, e seu coração se acelerou ao encontrá-lo com o olhar.
Tomou a jarra de ouro que levava sua assustada donzela e entrou sigilosamente na habitação, seus movimentos controlados pelo tinido de suas jóias. dirigiu-se para o Leão, como se a tivessem convocado, igual a tinha visto fazer aos serventes.
Ele estava sentado com a pernas cruzadas sobre o tapete, escutando como alguém relatava alguma façanha do noivo durante a caçada. Seu cabelo escuro e encaracolado brilhava sobre o encaixe de ouro de sua jaqueta. Na mão levava anéis de ouro com rubis e esmeraldas; no antebraço, o selo de seu cargo, um bracelete de ouro e âmbar. Ela observou ardente de desejo enquanto ele se comia um pastelillo de cabelo de anjo e retirava com a língua o açúcar que se ficou em seu lábio inferior.
Ela se aproximou e se inclinou para lhe preencher a taça. Inalou seu aroma, uma mescla de especiarias, almíscar e cânfora procedente de sua roupa, e de sua pele o aroma limpo e perfumado de um homem recém saído do hammam.
Como se percebesse algo na garota que lhe servia o vinho, o Leão voltou a cabeça e percorreu com o olhar os suaves braços até chegar ao peito, depois, sua bochecha semioculta. Em lugar de voltar a cabeça com acanhamento, ela o olhou aos olhos desafiando o de forma apaixonada. O ficou assombrado.
Ela deixou cair a rosa branca sobre a taça, e a notita revoou como uma pétala recém cansada do caule. O olhou a rosa e ela soube por seu silêncio que tinha compreendido. voltou-se e a olhou, e com seu olhar devorou o doce rosto com tanta paixão que ela baixou a vista.
O recolheu a rosa antes de que ninguém se desse conta e a esmagou em sinal de lhe esmaguem paixão. Ela se derreteu ao ver o gesto apaixonado.
O se cravou um espinho e sorriu, como se um pouco de dor fora o que suporta o amor.
Anna despertou em uma cama estranha e olhou a seu redor. Já não lhe doía a cabeça e se sentia como se tivesse recuperado o sonho perdido durante semanas.
Tinha chorado até ficar exausta. Tinha-o chorado tudo, pela primeira vez, e depois se ficou dormida. tirou-se um peso de cima.
A cura podia começar.
E de entre todo mundo, foi Ishaq Ahmadi quem tinha estado sentado junto a ela presenciando seu desconsolo. Não lhe havia dito muito, mas sua presença lhe tinha sentado bem. Alguém que a escutasse sem ter que reconfortá-la.
Anna se apoiou sobre um ombro e olhou a seu redor.
Estava em uma habitação completamente distinta a que esteve para trocar-se de roupa. Era uma habitação grande, com uma porta que dava a terraço. Havia duas portas mais, e desejando que uma delas levasse até um banho, Anna se levantou da cama.
Entrou no banheiro e quando retornou à habitação, esperava-a uma donzela sorridente. A cama parecia como se Anna não tivesse dormido nela e ainda por cima havia roupa variada como para que Anna escolhesse.
—Saiba. 'ul khair, madame —murmurou a donzela e agachou a cabeça.
Anna sorriu.
—Salaam aleikum —respondeu. Era a única frase que sabia dizer em árabe.
Foi um engano porque a donzela começou a falar, assinalando para a terraço e depois para a roupa que havia sobre a cama.
Renda-se, Anna respondeu:
—Não sei falar árabe! —levantou as mãos como signo de rendição, e quando viu que entre a roupa havia vários trajes de banho, voltou-se para a janela.
De ali se via a piscina. Ishaq Ahmadi estava sentado junto a uma mesa lendo o periódico. Estavam-lhe servindo algo de comer.
Anna escolheu um traje de banho cor turquesa. Debaixo havia outro igual mas de outra talha. Anna franziu o cenho e levantou um par de objetos mais, todas as tinham levado em duas talhas.
tirou-se a roupa e ficou o traje de banho. Ficava perfeito. olhou-se no espelho e comprovou que apesar de estar magra, ainda mantinha as curvas femininas.
Fazia muito tempo que não se olhava em um espelho para procurar seu atrativo. Possivelmente era um sinal de que estava recuperando a necessidade de resultar atrativa.
A donzela lhe tendeu um caftán, ela o pôs e lhe deu as obrigado. Era branco e, sem dúvida, havia flanco uma pequena fortuna. ficou um gorro de cor arroxeado e uns óculos de sol.
Ele tinha pensado em tudo. Devia ter chamado a uma boutique elegante ou enviado a um servente para que o comprasse. Não significava muito para um homem que possuía uma casa como aquela.
A donzela abriu a porta e Anna saiu e se dirigiu para a piscina.
Chegou até onde estava Ishaq e ele, ao vê-la, fechou o periódico. Um servente separou uma cadeira para que ela se sentasse. Tinham colocado um prato para ela.
—Boa tarde —disse ela.
—Tardes? —perguntou Ishaq com um sorriso e ela se precaveu de que o prato estava cheio de pão-doces e fruta.
—Café, madame? —murmurou o servente.
—Que horas são? —perguntou ela.
—As nove passadas —disse Ishaq Ahmadi.
—Da manhã! dormi um dia inteiro?
—Seguro que o necessitava. Deve ter fome.
—Estou faminta! —tirou-se os óculos e permitiu que o sol esquentasse seu rosto. sentia-se contente apesar de tudo—. Isto é uma delícia! Que sítio tão maravilhoso!
Ele sorriu. Tinha perdido algo do severo ar de suspeita que tinha desde que se conheceram. E ela... bom, tinha-lhe mostrado coisas de si mesmo que nunca lhe tinha mostrado a ninguém. Era normal que se sentisse mais próxima a ele.
O lhe tendeu a cesta de pão-doces.
—Possivelmente preferiria um café da manhã inglês?
Anna tomou um pão-doce e sorriu ao servente que estava deixando o açúcar sobre a mesa.
—Poderia devorar uns ovos com beicon —disse ao Ishaq, depois retificou—. Não, mas...
—Estou seguro de que o cozinheiro tem salsichas de cordeiro.
—Sonha delicioso.
Ishaq traduziu seus desejos ao servente. Quando o homem partiu, disse:
—Não peço a meus empregados que cozinhem porco para quão convidados não são muçulmanos. Espero que não te importe prescindir disso durante sua estadia.
—Minha estadia? —ela o olhou—. Quero ir a casa. Planeja me obrigar para que fique mais tempo?
—te obrigar? Não —respondeu—, mas pode que troque de opinião quando vir isto.
Ensinou-lhe a capa do periódico.
O titular francês dizia: Trahie Par São Milliardaire Do Cheikh! Ela o traduziu por um pouco parecido a Traída Por Seu Xeque Milionário, depois se fixou na foto que havia mais abaixo.
—Essa sou eu! Somos você e eu! —exclamou assombrada e lhe arrebatou o periódico.
Era uma foto tomada no aeroporto, dela com o Safiyah e Ishaq Ahmadi rodeando-a com o braço. Outra foto mostrava a uma mulher loira cujo rosto Anna reconheceu vagamente.
A mancha do Hamhez aparecia muito escura nos olhos do Safiyah e do Ishaq, era evidente que alguém tinha retocado a foto.
—Céus! —disse Isto Anna é...? —olhou a pilha de periódicos que ele tinha sobre a mesa—. saiu na imprensa inglesa?
—Assim é —respondeu ele.
Ela ficou em pé e se aproximou do montão de periódicos.
A Filha Secreta do Xeque Gazi.
Querida-a do Xeque Surpreendida com seu Bebê.
Todos os periódicos menos um o tinham publicado na capa, junto com a fotografia que Anna já tinha visto. Todos os titulares insinuavam ou diziam que a mulher da foto era a amante do xeque e a mãe de sua filha. O pior de tudo era que em todas as fotos Anna era claramente reconhecível.
Anna escolheu um dos periódicos e se sentou, disposta a ler a notícia.
O Xeque Gazi ao Hamzeh, o endinheirado amigo e homem de confiança do Príncipe Karim do Barakat Ocidental, surpreendeu ontem ao mundo ao revelar que a amante inglesa, que tem faz tempo que, deu a luz a seu filho.
pensa-se que o bebê já tem um mês.
«O nascimento se manteve em segredo até que Gazi obteve a aprovação do príncipe para reconhecer ao bebê» disse uma fonte próxima ao xeque.
O príncipe Karim, cujo filho nasceu em julho, insiste ao Xeque para que se case com seu amante, não identificada até o momento, com a que o viram o dia de sua chegada ao Barakat ao Barakat.
«O xeque Gazi chegou a extremos extraordinários com o fim de proteger a identidade de sua misteriosa noiva» diz Arnold Jones Bremner, nosso colunista de Ecos de Sociedade, «ninguém que não pertença a seu círculo sabe quem é».
Embora durante em ano passado se viu ao casal em alguns dos locais mais seletos de Londres, diz-se que não entravam pela porta principal. Esta é a primeira fotografia em que aparecem juntos.
Pessoas informadas dizem que provavelmente o casal não vá casar se.
Anna olhou ao Ishaq Ahmadi.
—Amante que tem faz tempo que! de onde se tiraram isso? —perguntou—. Isso é o que lhes disse?
Ele riu.
—Não se incomodaram em me perguntar. A verdade se deveu penetrar entre a invenção. Supón que tivesse sido a babá inglesa do bebê. Qual tivesse sido a capa então?
—Fizeram-lhe perguntas no aeroporto —disse Anna—. Eu o escutei. E você respondeu.
Ele apertou os dentes.
—Recorda que foi você a que insistiu em apresentar-se ante eles com a tentadora imagem do bebê. Desde não ser pelo bebê, nossa chegada não teria sido interessante.
—O que diz o Paris Dimanche? —perguntou ela. Se as histórias concordavam, ficaria claro que procediam da mesma fonte.
O não fez comentário algum e começou a traduzir.
O Xeque Gazi ao Hamhez, o milionário e arrumado jogador de pólo, considerado um dos solteiros mais cotados do mundo, tem quebrado o coração da bela modelo e atriz Sacha Delavel, sua íntima amiga, ao revelar que está a ponto de casar-se com a mãe de seu filho. «foi um shock» disse supostamente a senhorita Delavel a seus amigos em uma vila da Turquia aonde partiu detrás conhecer a notícia, «não sabia nada dela até hoje».
Ele deixou o periódico a um lado quando levaram o café da manhã da Anna. Escolheu uma granada do fruteiro e começou a cortá-la.
Por algum motivo, aquela história era muito mais revoltante que a outra.
—Suponho que a próxima vez que lhe vejam com a Sacha Delavel, será para mim a quem terão quebrado o coração —soltou Anna.
Não lhe fez caso e continuou cortando a granada com cuidado. Anna se estremeceu como se o estivesse vendo fazer o amor com outra mulher.
—Sacha Delavel e eu dançamos juntos em uma festa benéfica que se celebrou em Paris faz uns meses. procuraram nos arquivos e encontraram fotos nas que aparecemos juntos, estão na página sete. O resto é mentira.
—Têm escrito bem seu nome? É o Xeque Gazi ao Hamhez?
—No Ocidente estou acostumado a utilizar esse nome —admitiu.
—Ah! Tampouco é seu nome de verdade?
—Meu nome é Sayed Hajji Ghazi Ishaq Ahmad ibn Bassam ao Hafez ao Hamhez —disse com muita fluidez—, mas é muito difícil de pronunciar para os ingleses, a quem não gosta de perder tempo com os nomes de outros, nem tratar de pronunciar quão consonantes não existem em inglês.
A Anna não lhe ocorria nenhuma resposta para aquilo. Comeram em silencio durante um momento. Ela o olhava de esguelha para ver como desfrutava da granada. Estava maravilhada de que qualquer pudesse acreditar que Anna Lamb, uma mulher corrente, fora a amante de um homem tão atrativo e poderoso, ou que ele tivesse deixado a alguém tão bonita como Sacha Delavel por ela.
Estava convencida de que a gente acreditaria. depois de tudo, saía nos periódicos. Inclusive até seus amigas duvidariam. É obvio, nem Cecile nem Lisbet, mas sim algumas não tão próximas.
—O que vamos fazer a respeito? —perguntou ao fim.
—Fazer? —o Xeque Gazi se encolheu de ombros—. Fazer caso omisso.
—Fazer caso omisso? Mas temos que conseguir que se retratem. Podemos denunciá-los.
—Para que enfaixam mais periódicos.
—Mas tudo é mentira!
O Xeque Gazi sorriu ao vê-la indignada.
—A gente o esquecerá logo.
—Mas... não vais fazer nada?
—Os redatores esperam que o faça. Assim teriam algo do que falar. Uma história negada é uma história. Quer que na próximo domingo publiquem O Xeque Gazi Nega que o Bebê Seja Dele como titular? Ou prefere Anna Diz que Gazi Não É o Pai?
—Mas a gente vai acreditar... dizem que você e eu estamos... —umedeceu-se os lábios e se calou. «Acreditam que somos amantes», pensou.
—E quanto mais diga, mais o pensarão —disse ele.
—Mas... tenho que ir a Londres agora mesmo. A França —retificou—. E se os jornalistas averiguarem meu nome?
—Sem dúvida o farão —lhe advertiu—. Assim que em Londres leiam o periódico esta manhã... —olhou o relógio—, ali são quase as seis, alguém que te conheça chamará um jornalista e o dirá.
Estavam lendo a notícia antes de que muita gente de Londres despertasse. Anna se deu conta de que ele devia ter algum sistema para que lhe enviassem a imprensa assim que saísse da imprensa.
—Cada cópia deve te custar uma fortuna —disse ela—. Lhe enviam habitualmente a imprensa européia?
—Não —disse ele.
O servente apareceu com outra jarra de café. Retirou as taças usadas e o serve em outras podas.
—Hoje era especial, né? —sempre tinha sonhado fazendo-se famosa, mas por seu trabalho, não por algo assim—. Bom, então algum amigo ou cliente o contará tudo. E logo o que? Chamarão-me?
—te chamar? Chamarão-lhe, chamarão a seus amigos, irão a sua casa. Ao menos um periódico te oferecerá dinheiro por te fazer uma exclusiva, e se aceitar, farão o possível para te convencer de que transforme a história de seu xeque em um pouco mais emocionante.
—O que quer dizer?
—Convencerão-lhe de que confesse que temos feito o amor de forma apaixonada pela parte traseira de uma limusine, na coberta de meu iate uma noite de lua enche, voando no jato da realeza, na areia branca da praia, e inclusive sobre o lombo de meu cavalo de pólo favorito enquanto cavalgava pelo bosque. É obvio, fomos amantes insaciáveis. E é obvio, publicarão fotos tuas posando com roupa interior sexy e que em teoria era minha preferida.
Suas palavras provocaram calafrios no corpo da Anna e ela se levantou de repente e pôs açúcar em seu café. Assaltaria-o a mesma idéia traiçoeira que a ela... que posto que todo mundo acreditaria a história, poderiam convertê-la em realidade?
—Não vou vender lhe a história a ninguém —disse ela—. Sua reputação respeito ao cavalo de pólo está a salvo.
Ele se encolheu de ombros.
—Mas me zanga pensar que todo mundo vá ao meio acreditar que tenho teu filho. O que vou dizer lhes?
—Que é mentira.
—Já, claro! Se esquece que estive grávida. Solo meus amigos próximos sabem que o bebê morreu. Não o hei dito a ninguém. Logo que vi gente desde que isso ocorreu. Todo mundo vai suspeitar.
—Já entendo.
—E o que passará quando não tiver ao bebê comigo? A gente acreditará que me parti e que lhe deixei isso para que a cuide.
—E isso é tão mau? Os pais também têm a custódia —disse ele —, e você tem seu trabalho que te ocupa...
—Não deixaria a meu filho com seu pai pelo bem de meu trabalho...
—me jogue a culpa —sugeriu ele—. Todo mundo sabe que os árabes são uns bárbaros e que seqüestramos a nossos próprios filhos.
—vais deixar de rir de mim?
—Deixarei de rir quando deixar de te contrariar por um pouco tão insignificante. Não é o fim do mundo, Anna. A gente aceitará ou não que a história é falsa. Em qualquer caso, deixará de lhes interessar em menos de uma semana. Estas coisas... —agarrou os periódicos com desprezo—, satisfazem os gostos mais baixos da gente e como qualquer fornecedor de comida lixo fazem que crie vício para que a gente compre mais. As histórias passam uma atrás de outra pela mente da gente, alimentando o gosto pelo escândalo e a indignação, e não o desejo de uma informação real.
—Quero conseguir que se retratem —disse ela.
—Anna, para o próximo domingo, se não jogarmos mais lenha ao fogo, ninguém recordará se tiver tido um filho com o xeque ou se tiver subornado a algum governador a ninguém importará! Sabe quantas vezes apareceu minha foto neste lixo? Crie que alguém que lê essas histórias recorda meu nome? Sou aquele xeque, se é que pensam em mim, e me confundem com outros colegas e inclusive com os príncipes. Inclusive apesar de que tenho a mancha do Hamhez para me distinguir, a gente me diz «OH, saía no periódico não?» Quando a notícia era sobre o ex-sultão do Bagestan.
—Faz um momento disse que me acossariam —disse ela.
—Sim, se puser a seu alcance. Sim, se lhes der a oportunidade. Esta história tem como muito um par de titulares mais... se os servimos em bandeja! Se não, terminará agora. Não é, como diriam eles, uma história com miolo.
—Isso o que quer dizer? —perguntou ela.
—Ter miolo? É jargão jornalístico. Significa que é uma história que vai continuar, que tem corda para momento.
Ela ficou em silêncio.
—Não vais ganhar nada negando-o, Anna. o melhor que pode fazer, se não querer que chegue mais longe, é desaparecer por um tempo.
—Não é que seja alguém famosa não? É você quem lhes interessa. Se consigo chegar a França, estarei bem. A casa do Alan está bastante apartada.
—Deixa que te ofereça outra alternativa, Anna —embora tratava de dissimulá-lo, Anna notou que queria algo dela e sentiu um nó no estômago.
umedeceu-se os lábios.
—E qual é?
—Pode ficar aqui comigo até que se acalmem as coisas —disse ele.
O comprido silencio se interrompeu com o canto de um pássaro. Anna deixou o guardanapo sobre o prato e começou a dizer:
—Eu... —sentiu um vazio no estômago apesar de que acabava de comer.
—Não rechace a oferta sem pensá-lo primeiro, Anna. Será melhor para ti que, de momento, mantenha-te afastada da imprensa. Asseguro-te que farei todo o possível para te fazer a estadia agradável.
Anna se umedeceu os lábios. O que lhe estava oferecendo? Um simples refúgio secreto ou umas férias completas com um amante secreto.
—Durante quanto tempo... uma semana? —perguntou ela.
Ele se encolheu de ombros e elevou uma mão. Tinha as mãos fortes e bonitas e Anna se perguntou se tocaria algum instrumento. Ou possivelmente o que sabia era tocar música no corpo de uma mulher...
—Possivelmente uma semana, possivelmente várias. Depende.
«Do que?», perguntou-se ela. Evidentemente não dependia do interesse dos jornalistas.
—Mas se inteirariam de que estou aqui, não crie? Isso lhes confirmaria a história. Quando voltasse teria que me enfrentar aos jornalistas não?
Ele se encolheu de ombros e tomou uma uva da bandeja. Ela sentiu que, uma vez mais, ocultava-lhe algo.
—Que vantagem tem atrasar o inevitável? Ao menos, se volta agora poderei negá-lo. Se ficar aqui, embora o negue não parecerá acreditável.
—Te ocorre algum inconveniente para não desfrutar dessas férias? Barakat é um destino vacacional único. Os grupos organizados não vêm aqui. A praia está como muito assim de enche.
Ela não pôde evitar olhar na direção que ele assinalava. A praia da baía estava quase deserta. Assim era bastante acreditável que tivessem podido fazer o amor ali.
Por um lado desejava deixar-se levar e permitir que os acontecimentos seguissem seu curso, mas tinha que tomar cuidado. O Xeque Gazi não era um homem desinteressado. Do que lhe serviria que ficasse? Realmente o atraía ou só tratava de disfarçar seus verdadeiros motivos? E se não a desejava sexualmente, o que é o que queria?
Oferecia-lhe manter relações sexuais para suborná-la? Ele queria que ficasse e sabia que lhe atraía a idéia.
—É obvio pagaria por seu tempo —disse ele. Isso confirmava o que Anna suspeitava, tentava suborná-la, e se o sexo não era suficiente, daria-lhe dinheiro.
—Ah, sim —disse ela.
—Com sua tarifa de profissional, é obvio.
Ela o olhou.
—E que profissão seria essa?
Ele decidiu fazer caso omisso da ironia.
—Que profissão? Não sei... diz que é artista. Artista, desenhista, decoradora de interiores, o que cobre habitualmente.
—Posto que é você quem me faz o favor de me esconder aqui, não entendo por que tem que me pagar —disse Anna—. Não seria ao reverso? Ou possivelmente tem suas próprias razões para querer que fique?
Ele empregou um instante para pensar.
—Sim —respondeu ao fim—. Também tenho motivos para isso.
—Bem, bem! E quais são esses motivos?
—Não posso comentar lhe disse isso ele. Anna se precaveu de que não confiava nela e de que não aceitava sua versão dos fatos. Possivelmente estivesse disposto a fazer o amor com ela se dessa maneira conseguia mantê-la ali. de repente, a raiva se apoderou dela.
—Supón que trato de adivinhá-lo.
Ele a olhou.
—Vejamos, está seguro de que esta história não tem miolo, como você diz?
—Que o homem de confiança do príncipe tenha um filho com seu amante pode ofender aos religiosos do Barakat, mas para o público ocidental não tem importância. Como disse, não é famosa. Isso faz que a história tenha um interesse limitado.
Ela assentiu pensativa.
—Isso está bem quanto à história de nosso romance e nosso filho secreto, de todas maneiras todo é mentira. Mas há algo que não tem em conta, não? Quer dizer, essa não é a única história, nem muito menos.
—Que mais há?
—Seqüestrou a um bebê de um hospital inglês, xeque Gazi, e segundo os papéis, é um dos homens de confiança do príncipe Karim. Crie que isso é não ter miolo? Também seqüestrou a uma mulher inglesa. Tirou-nos da Inglaterra e nos trouxe para o Barakat sem passaporte. Isso tampouco tem miolo, não? E perdoa se estiver sugiriendo que não teria feito nada disto por simples divertimento. Assim seja qual seja a razão pela que te arriscaste... é uma história com miolo.
Quando ela terminou de falar, ele ficou em silêncio e Anna só podia escutar o batimento do coração de seu próprio coração. por que diabos se enfrentou a aquele homem em seu território?
—compreendeste muito bem —disse o xeque Gazi—, mas te advirto que será melhor que lhe pense isso duas vezes antes de me chantagear, Anna.
Seus olhos eram completamente negros. Seu olhar, aniquiladora.
—Não trato de te chantagear! —gritou—. por que sempre trata de me acusar dos piores delitos?
—Então, o que? —disse ele—. Era um pequeno comentário para passar o momento?
—me diga, é sua riqueza o que te dá direito a avassalar a outras pessoas, ou é que despreza às mulheres em geral?
—Não desprezo às mulheres —disse ele.
—Eu tenho minha vida —o interrompeu ela—. Perdoa se me ofendeu que convide a umas férias assumindo que meu trabalho pode esperar para te salvar das conseqüências de seus próprios atos —inclinou a cabeça—. Também me dá raiva que tomem por idiota. Não sou eu a que vai sofrer se negar esta ridícula história verdade? É você. Não tenho nada que temer à verdade. Agora... —levantou as mãos—, não tenho intenção de dizer nada a ninguém, exceto você não é meu amante e que eu não sou a mãe do bebê. Mas sim que pretendo sair daqui e retomar minha vida. Assim, a menos que pense me reter...
—Está desgostada porque infravalorizei sua inteligência. É bastante razoável, mas se não poder chegar mais longe, se pensar um pouco verá que...
—Por favor, não me dê mais detalhes, acredito que já entendi suficiente. Não quero saber o resto. Pode que em um futuro ditas que represento um perigo para ti se me segue contando coisas.
—Está decidida a considerar sozinho o que te convém.
—Eu? Entendo que cria que suas preocupações são mais importantes que as de outros, xeque Gazi, sem dúvida é por causa de ter muitos serventes, mas me desculpe se considerar que meus clientes e eu somos mais importantes.
—O que me preocupa é minha irmã —disse ele—. Deixa que...
—Isto é admirável! Já te hei dito que não sei nada de sua irmã. É uma desconhecida para mim, e minha vida já se desorganizou bastante por culpa dela. Agora eu gostaria de voltar a pô-la em ordem.
—Esperemos que as gerações futuras considerem que sua devoção pela arte foi um sacrifício que mereceu a pena.
—Não é nenhum sacrifício, me acredite! —exclamou Anna—.Te dá muita importância!
Ele ficou quieto de fúria. Durante um momento, olharam-se. Anna sentia como lhe crispava a pele das costas e dos peitos ao vê-lo quieto de cólera, e se perguntou como reagiria se ele a tocasse. Era muito possível que se o fazia o amor terminasse aceitando algo que lhe propor.
Como se lesse seus pensamentos, o xeque Gazi, retirou a cadeira e ficou em pé. tirou-se o penhoar e o deixou cair sobre a cadeira. Depois ficou de pé, nu, exceto pelo traje de banho negro de lycra que levava. Anna não pôde evitar olhá-lo.
Era muito bonito. Tinha as pernas proporcionadas, as coxas fornidas, a cintura musculosa e o peito coberto, em sua justa medida, de pêlo negro. Os ombros largos e os braços fortes.
Provavelmente, Anna nunca tivesse outra oportunidade de sentir essa mortal excitação sexual que lhe tinha devotado. Quando fora uma anciã recordaria esse dia e se arrependeria por havê-lo rechaçado.
Olhava-o aos olhos, tinha o coração acelerado e o estômago encolhido. Era consciente de que a cama em que tinha passado a noite estava muito próxima a terraço onde se encontravam.
Poderia convencer a de que ficasse. Inclusive sabendo que sua paixão era fingida, um pagamento pelos serviços emprestados, ela se derreteria se ele a acariciasse. A idéia de que ele utilizasse sua experiência sexual para que ela cooperasse com seus planos, fez que lhe afrouxassem as pernas.
—Então não deseja aceitar minha oferta —disse ele—. Tramitarei sua volta a Londres o antes possível —depois se voltou, aproximou-se do bordo da piscina e se inundou.
Não era tão singelo. Anna não poderia entrar em Grã-Bretanha sem passaporte e o sua estava em sua casa de Londres. As chaves do piso estavam em sua bolsa, que supostamente estava no hospital. Teria que lhe pedir a alguém que fora ao hospital e que recolhesse suas coisas, depois que fora a seu piso, procurasse o passaporte e o mandasse.
Anna queria pedir-lhe ao Lisbet, mas o xeque Gazi franziu o cenho quando o sugeriu.
—Ao hospital terá que ir com muita diplomacia, e os jornalistas farão perguntas a qualquer pessoa que entre em seu piso —lhe advertiu.
—Lisbet é atriz. Saberá como fazê-lo.
—Allah! —murmurou ele—. Sem dúvida não quererá que perguntem sobre sua vida a alguém que dá muita importância à fama?
—Lisbet não dirá nada. Se alguém for pinçar em minha casa durante minha ausência, prefiro que seja Lisbet —disse ela.
—E seu outra amiga... Cecile?
—Se um jornalista fizer uma pergunta ao Cecile, ficaria bloqueada, contaria-lhe minha vida inteira e ficaria com a sensação de que o tem feito muito bem. Quero-a muito, mas não lhe dá bem fazer estas coisas.
—Tem que haver outra maneira —disse o xeque Gazi—. O pensarei.
Anna teve que insistir para que a deixasse chamar a seu cliente e desculpar-se pelo atraso.
—Para que? Estará ali dentro de dois ou três dias—respondeu o xeque Gazi.
—A coisa é que tinha que ter estado ontem —disse Anna pensando quão diferente era o conceito do tempo nos Emirados do Barakat. Era certo que na vila não havia ninguém que pudesse preocupar-se, mas e se Alan chamava de Londres e não obtinha resposta? Poderia preocupar-se.
O xeque Gazi cedeu quando lhe explicou que para os ingleses, no domingo era no domingo e que um atraso de um par de dias era importante.
—É obvio, carinho, quando puder —lhe disse Alan Mitching—. Você tranqüila e desfruta. A vila não vai desaparecer. Ninguém vai ali até Natal. Pode pedir as chaves ao Madame Duval em qualquer momento —Anna tinha a sensação de que Alan estaria lendo a notícia a respeito do Gazi e —.Dirá ao Lisbet que a chamarei?
—É obvio.
O xeque Gazi sugeriu que seria melhor que alguém da embaixada Barakati de Londres fora a recolher seu passaporte, já que poderiam enviar-lhe por valise diplomática. Anna se sentiu obrigada a aceitar.
Ele insistiu em que um especialista lhe fizesse um reconhecimento, apesar de que em um par de dias poderia ver seu médico de Londres. Como não sabia muito inglês, Gazi teve que fazer de tradutor.
—Diz que está bem, que não há danos irreversíveis —lhe disse Gazi e ela se sentiu aliviada.
Dois dias mais tarde, quando esperava receber seu passaporte, inteirou-se de que o hospital pedia uma autorização assinada por ela para entregar sua bolsa.
Ao parecer, as coisas se desenvolviam ao ritmo do Oriente Médio. Anna assinou uma autorização e o xeque Gazi a enviou com um mensageiro urgente. Passou outro dia mais.
O céu do deserto era negro como um gato, com milhares de olhos. O vento era quente e fada que o fino penhoar que ela levava se pegasse sobre seu corpo. A areia golpeava contra suas bochechas e lhe metia nos olhos. Ela se arrastou como pôde com o passar do parapeito, sentindo como o vento tentava derrubá-la.
Ele apareceu ante ela, rodeou-a com os braços e a atraiu para si.
—viestes —sussurrou ele.
O vento a açoitava, mas não tão forte como a paixão dele.
— Como não ? —disse ela médio rendo e médio chorando—. Não estou perdida e vocês são a estrela polar? Não sou o ferro e você o ímã ?
Sujeitando-a com um braço, retirou o lenço de seu rosto e a contemplou sob a luz da lua. Ardiam-lhe os olhos de desejo e ela sentiu que se derretia.
—Quão bela são —murmurou ele, tomou uma mão e a aproximou de sua boca. Pressionou seus dedos, depois a palma, contra seus lábios ardentes, era como água no deserto.
Beijou-lhe o pescoço, branco sob a luz da lua, e ela se, estremeceu. Olhou-a aos olhos.
—Não são uma pulseira! —disse ele.
Ela sorriu.
—Não, pulseira não.
—me digam o nome de seu pai, e lhe pedirei sua mão. Farei-lhes minha esposa.
Ela negou com a cabeça.
—Vocês são o homem de confiança do príncipe —sussurrou ela—. E eu não sou melhor que uma pulseira. Não tratem de averiguar o nome de meu pai, quero que saibam que estou disposta a abandoná-lo tudo por uma única amostra de seu amor. O mundo não tem nada que me oferecer.
O inclinou a cabeça e a beijou de forma apaixonada. O vento soprava com fúria, lançando areia contra eles.
—Seus lábios são como o néctar. me digam o nome de seu pai, para que não tenha que lhes levar como pulseira, a não ser lhes converter em minha esposa com honra.
—Não perguntem, amado meu! —suplicou ela, mas quando ele insistiu, ela sorriu e disse—, Mash 'Allah! Meu pai é o Rei Nasr ad Daulah.
—Mas o rei só tem uma filha! A Princesa Azade, e ela...
—Certo, Leão! dentro de três dias a Princesa Azade se converterá na esposa do príncipe a quem prometestes lealdade. Mas por uma única amostra de seu amor; ela o abandonará tudo.
O bebê era uma fonte de prazer. Safiyah parecia haver-se recuperado por completo do traumático nascimento. Estava contente e gostava de estar tombada junto à Anna na terraço e observar as flores que se moviam com a brisa.
—Não pode ter um brinquedo melhor para o berço —disse Anna ao xeque Gazi—. Até tem efeitos musicais —o canto dos pássaros era constante e era evidente que ao Safiyah gostava de escutá-lo.
Anna estava aprendendo um pouco de árabe graças à enfermeira. Walida Jámila foi a primeira frase que aprendeu. Estava segura de que significava menina bonita, e a enfermeira e ela o diziam todo o momento.
À medida que passavam os dias, Anna sentia como o cansaço e a tristeza desapareciam de seu corpo.
O xeque Gazi trabalhava de casa e quase sempre andava por ali. sentava-se com seu ordenador portátil perto da piscina, enquanto Anna nadava ou tomava o sol junto ao bebê. Ela sempre estava pendente dele.
Comiam juntos quase sempre. O escutava as notícias de vários países na rádio e, freqüentemente, falavam do que acontecia no mundo.
Ele falava pouco de si mesmo. Quando Anna lhe perguntou, lhe contou que seu trabalho consistia em coordenar a publicidade e as relações comerciais que mantinha Barakat Ocidental com o resto do mundo, mas não lhe disse muito mais. Em troca, ficou a falar da cultura e da história do Barakat.
Estava acostumado a pôr música enquanto trabalhava, e Anna, que logo que tinha escutado música árabe, começou a desfrutar de seus misteriosos encantos. Também se ouvia a chamada do almuecín para que os fiéis fossem rezar.
Às vezes parecia como se o acidente lhe tivesse aberto a porta a outra realidade, como se o xeque Gazi lhe houvesse dito a verdade... como se levassem muitos anos casados.
Exceto por uma coisa.
Parecia completamente imune a seu aspecto físico. Fora o que fora o que fez que a beijasse dessa forma tão apaixonada por duas ocasiões, já não lhe interessava.
Nunca tinha conhecido a um homem que tivesse abandonado seu intento de conquistá-la depois de um rechaço inicial, e isso era o que Gazi fazia. Possivelmente simplesmente era que como ela tinha rechaçado a proposta de que ficasse, tinha perdido a oportunidade de fazer o amor com ele. Quer dizer, que como ela já tinha rechaçado sua oferta, ele não se sentia obrigado a fingir que desejava lhe fazer o amor.
No resto dos aspectos, eram como a família ideal.
Era a primeira vez que Anna sentia uma atração romântica tão capitalista por um homem que não sentia nada por ela, e era uma sensação que não lhe agradava.
Ele fazia um esforço para compreender seu conceito do tempo e quando lhe recordou que estava a ponto de passar outro dia e seguia sem ter seu passaporte, Gazi decidiu fazer uma chamada. Infelizmente, terminou gritando de impaciência a um empregado da embaixada Barakati e pendurou o telefone.
—Não entendem nada! —estalou—. Não podem fazer nada sem a documentação apropriada e sem seguir o procedimento estabelecido! A pessoa que recolheu suas chaves do hospital, guardou-as na caixa forte e hoje não há ninguém na embaixada que possa autorizá-los para abrir a caixa —a olhou dúbio—. Posso chamar o príncipe Karim, Anna. Está muito ocupado com os assuntos de estado, mas... se o explico, chamará e ordenará que abram a caixa. Quer que o faça?
—Não, não, é obvio que não! Não vais incomodar ao príncipe por isso! —exclamou Anna.
E assim, passou um dia mais.
Embora Anna lhe havia dito que não ficaria ali muito tempo, Gazi se tinha preocupado de que tivesse roupa adequada para o clima do lugar.
Durante o dia, estava acostumado a ir com o traje de banho e um caftán de algodão. Nunca tinha saído da casa, e tampouco tinha vontades de fazê-lo. Era maravilhoso poder tirar o caftán e inundar-se na piscina em qualquer momento.
adorava tomar o sol, e embora tomava cuidado para não tomá-lo muito momento, sabia que era um bom método de cura. A pele pálida era signo de infelicidade e má saúde e Anna se alegrou ao ver que pouco a pouco estava mais bronzeada.
quanto mais saudável estava, mais respondia seu corpo à presença do Gazi. Às vezes se tombava ao sol e quando fechava os olhos sentia tanto desejo por ele que imaginava que estava a ponto de aproximar-se dela, mas quando os abria, encontrava-se com que nem sequer a estava olhando.
Todas as noites, Anna se vestia tudo quão elegante suas roupas o permitiam. ficava tudo quão bonita podia. Sabia que era uma tolice, mas desejava ver, embora fora um instante, que ele a encontrava atrativa.
Às vezes, recordava como a tinha beijado, havia sentido tanta paixão entre seus braços e visto tanto desejo em seus olhos!
perguntava-se se tudo tinha sido um pouco fingido. Se solo lhe tinha mostrado uma prova do que podia lhe oferecer. Anna se deu conta de que realmente o desejava. Desejava saber se podia chegar até seu coração, até seus sentimentos. Não só que ele realizasse os serviços de um gigoló, se ela insistia. Isso foi pelo que decidiu não dar o primeiro passo.
Falavam e riam à luz das velas até que ela não podia mais de desejo. Estava segura de que o fogo que às vezes via em seus olhos continha admiração.
Às vezes acreditava que as coisas que lhe dizia eram o prelúdio de uma noite de amor. Mas isso solo durava um instante. Embora ela sempre o desejava, ele nunca a tocou. E se ela o tocava de forma espontânea no transcurso de uma conversação, ele ficava rígido e a olhava com tanta frieza que fazia que Anna retirasse a mão.
Não lhe servia de muito pensar que Gazi era a pessoa que melhor escutava que tinha conhecido nunca. Incitava-a a falar a respeito do que ela opinava, de suas experiências e de seus sonhos. Demonstrava especial interesse em sua arte e queria saber o que era o que a tinha levado a reproduzir a arte do Oriente Médio nas paredes das casas inglesas.
A casa estava cheia de esculturas e adornos de voluta. Anna passava muito momento contemplando-os. Gazi lhe explicava o significado de certos símbolos e lhe traduzia os desenhos caligráficos, como se fora um profissional.
—Como aprendeste tanto? —perguntou ela assombrada quando lhe explicou como se pintaram uns azulejos.
—É a história e a cultura de minha gente —disse ele—. É uma das melhores arquiteturas que produziu a humanidade. Como não vou conhecer o? Todos os Barakatis conhecem estas coisas, igual aos ingleses conhecem a obra do Shakespeare. Além disso, saber estas coisas forma parte de meu trabalho.
Anna estava aprendendo mais do que tinha aprendido na universidade, e pouco a pouco ia acumulando a sabedoria que a acompanharia durante anos.
Também sentia que se morava um coração quebrado.
—Têm que fazer algo —murmurou Anna.
O xeque Gazi estava tratando de comunicar com a embaixada do Barakat em Londres.
—Sim, hoje vou insistir... por que não respondem? —disse Gazi ao escutar a secretária eletrônica—. São as doze em Londres, onde está todo mundo? Ah, claro! Hoje é sexta-feira, juma, estão na mesquita —pendurou o telefone—. Chamarei mais tarde.
—Sexta-feira? —perguntou Anna surpreendida por quão rápido passava o tempo.
—A reza das sextas-feiras é o ato mínimo que se pede no culto. É minha culpa, devia me haver lembrado.
«Antes sim que o recordou», pensou Anna. um pouco antes de meio-dia, todos os empregados e ele se partiram em uma caminhonete. Todos foram muito bem vestidos. Safiyah e ela se ficaram sozinhas durante uma hora, e quando a caminhonete retornou, solo Gazi e a enfermeira foram nela.
—É ali onde foram antes? À mesquita? —perguntou Anna.
—Sim, todos meus empregados que o desejem têm direito a que lhes leve a mesquita para o juma. Está longe para ir andando. Depois vão se casa com suas famílias. Esta noite, você e eu jantaremos no hotel.
Mais tarde, Anna se deu um banho e se vestiu com um shalwar kamees de seda que tinha as mangas e o peito bordados com fio azul e contas de lapislázuli.
Ao cair a tarde, reuniu-se com o xeque Gazi na entrada principal. Foram ao hotel Sheikh Daud para jantar em uma luxuosa terraço com vistas ao mar.
Uma mulher cantava canções de amor Barakatís, a comida estava deliciosa e Gazi não parava de olhar a Anna. Ela se sentia como em um sonho. Um sonho composto pela boca do Gazi, seus olhos...
Ele a olhava, sabia o que ela desejava. Sorria e jogava a cabeça para trás para que ele pudesse contemplar seu esbelto pescoço, como se soubesse que essa postura o excitava.
—Esta canção é preciosa —disse ela—. me Diga o que significa.
—Fala de um homem que se nega a cair na armadilha que lhe tendeu uma mulher —respondeu ele—. Uma mulher que deseja mas em quem não confia. Ela tem vestidos e jóias preciosas, sorri, até que o volta louco de paixão. Mas ele não pode ceder.
—Não pode?
—Sabe que ela é um pouco proibido.
A música terminou como com um gemido, como o som de uma mulher fazendo o amor. Ela pôs cara de desagrado e ele pensou que Anna não faria isso se lhe fizesse o amor.
—por que? —incitou-o com seu olhar.
—Porque ela é uma armadilha —disse Gazi.
—E o que passa?
—O decide fazer que ela admita sua traição —disse Gazi—. Finge que a ama, para que confesse.
—E ele diz que ela é uma estelionatária?
—A canção fala de como o homem se engana a si mesmo. Não é pelo que ele crie pelo que vai fazer o amor com ela, mas sim porque ela triunfou...
Acabou a música e a gente aplaudiu.
—É preciosa, Anna —lhe disse ele—. Me tenta com seu olhar doce e sua boca desejosa. Pelas noites fico acordado pensando que oxalá pudesse te fazer o amor sem perigo. Mas não é assim, Anna. Você não triunfará.
Em um princípio, para ouvir a palavra perigo, lhe encolheu o coração. Acreditava que queria dizer que tinha medo de apaixonar-se por ela. Mas sua voz e a expressão de seu rosto eram tão duras que de repente, Anna compreendeu.
—Céus, ainda pensa que...! Levo aqui uma semana, esperando a que alguém faça um recado singelo que Lisbet podia ter feito em uma hora! Estiveste-o atrasando a propósito! O que acontece?
—Pensei que assim seria mais fácil —disse ele.
—Mais fácil para ti! Mais fácil me reter contra minha vontade. chamaste à embaixada depois de que voltassem da mesquita?
Gazi se levou a mão à cabeça.
—Me esqueceu! —olhou o relógio—. Já é muito tarde. São mais das sete em Londres.
—Se esqueceu. Hoje é sexta-feira, e suponho que a embaixada do Barakat fecha o fim de semana?
—Acredito que fecham todas as embaixadas de Londres. Sinto muito, Anna.
A ansiedade se apoderou dela. Tinha passado quase toda a semana. Ele tinha conseguido que fizesse o que queria, e enquanto isso, ela tinha passado o tempo sonhando.
—Há uma embaixada de Grã-Bretanha no Barakat ao Barakat?
—É obvio! Os britânicos sempre tiveram excelentes relacione diplomáticas com o Barakat, inclusive embora nunca nos tenham conquistado. A embaixada está no Queen Halimah Square.
—Se meu passaporte não estiver aqui Na segunda-feira, quero ir à embaixada e lhes pedir que me expedam um documento temporário para poder voltar para casa —disse Anna.
—Muito boa idéia —disse ele—. Uma solução magnífica.
—Quero ficar no hotel esta noite —disse ela.
—Como quer. Vai agora a te registrar?
—Sim, eu... —ficou em pé e olhou ao Gazi ao Hamhed—. Não tenho cartão de crédito nem nada.
—Possivelmente se lhes explica sua situação, confiarão. Os estrangeiros necessitam o passaporte para registrar-se nos hotéis, mas estou seguro de que pode convencer os de que esperem a que vá à embaixada na segunda-feira.
antes de que ela pudesse tomar alguma decisão, ele estava a seu lado e o maître se dispôs para acompanhar a seu distinto cliente.
Anna sempre tinha tido valor, entretanto, nesses momentos não se sentia capaz de fazer-se entender em outro idioma.
Durante o caminho de volta não disseram nenhuma palavra. Anna se foi direta a sua habitação, sem dizer nada.
Esteve inquieta toda a noite. O fato de que todo mundo soubesse onde estava a aterrorizava.
Como a tinha manipulado! Deixando-a falar e falar. Era o que as seitas faziam para captar adeptos, lhes oferecer dose maciças de atenção. E inclusive sabendo-o, ela tinha cansado.
Sem dúvida o tinha tudo planejado. Desde que a encontrou no hospital até que separou o avião logo que passaram duas horas. Era evidente que tinha uma equipe de primeira. E como a tinha enganado para que acreditasse que não podiam tirar sua bolsa do hospital do que a tinha seqüestrado!
Ainda não sabia por que. O que queria dela? por que seguia pensando que estava implicada em algum ato desonesto? por que queria retê-la ali?
—Escapem comigo!
—Gostosamente escaparia com você, minha amada. Mas onde podemos ir, que não esteja governado por seu pai ou por meu príncipe.
—À a Índia —respondeu ela.
Ele sorriu, consciente de que ela não conhecia nada mais que o nome.
—A Índia está muito longe, lejísimos.
—Por você sofreria qualquer penalidade!
—minha amada, se nos descobrissem antes de chegar à a Índia, matariam-nos.
Ela sorriu.
—Escolham alazães velozes, Meu leão!
—E se lhes digo, fique aqui e vivam a vida como mando o destino...
—Atirarei-me daqui acima amanhã de noite para não me casar com ele.
O a abraçou e a olhou aos olhos, seu amor era um tortura, porque estava destinado a não desfrutar nunca de sua beleza. Não podia dizer-lhe Beijou-a nos lábios e disse:
—Bem, então escaparemos à a Índia —disse ele.
Os sonhos eram inquietantes. despertava sufocada a causa do amor e da angústia, com o coração acelerado, desejando-o tão ardentemente que quase podia sentir que seu amante estava a seu lado.
Sonhava com o Gazi ao Hamzeh. E o sonho era como outra realidade, uma com a que sempre tinha sonhado.
—recebi uma chamada —disse Gazi enquanto tomavam o café da manhã—. recolheram seu passaporte. Se quiser, hoje pode retornar a Londres. Alguém irá recolher te à zona de imigração do aeroporto do Stansted com seu passaporte.
Ela o olhou.
—Se quiser? Claro que quero.
—Está decidida a retornar? —disse ele. Estavam em uma mesa da terraço que dava ao jardim—. Minha casa, não te pareceu um bom sítio para te recuperar do acidente e superar suas penas? —perguntou-lhe.
—Se por acaso não te deste conta, já desfrutei de uma semana disto —disse ela.
Gazi deu um sorvo de café e fez um gesto para que o servente partisse.
—Anna, eu gostaria de te contar... te explicar algo.
—Com a intenção de que troque de idéia e não me parta?
—Possivelmente. Não... não necessariamente. Mas com a esperança de que troque sua opinião a respeito de outras coisas que planeja fazer ou dizer.
—Como falar com os jornalistas.
—E outras coisas.
Anna sentia curiosidade.
—Supón que me diz o que quer me dizer e que não mudança de opinião?
—Então, é obvio fará o que queira.
Anna se perguntava se seria certo. Já a tinha retido ali contra sua vontade durante uma semana.
—Dispara —disse ela.
—Ninguéma, minha irmã, a mãe do Safiyah, desapareceu. Isso já sabe. Estamos preocupados com ela.
—Quais?
—Minha família e eu. Se me permitir isso, contarei-te a história de Ninguéma desde o começo —disse ele e esperou a que ela assentira—. Faz três anos, meu pai anunciou que tinha eleito um marido para minha irmã. Nenhum de nós sabíamos que planejava dar esse passo. Surpreendemo-nos ainda mais quando nos inteiramos que tinha eleito a um homem que se chama Yusuf Abd ad Darogh. Era um homem que a minha irmã não gostava. Suplicou a meu pai que não o fizesse.
—OH —murmurou ela.
—Tratei de raciocinar com meu pai —Anna se precaveu do tom de frustração e lástima que havia em sua voz—, mas meu pai era dos da velha escola. Apesar de tudo o que lhe dissemos, apesar de que ela era muito infeliz, Ninguéma se casou com o Yusuf.
Ele olhou para sua taça de café. Tinha-a arranca-rabo com força. Anna o olhou e desejou que em lugar da taça, estivesse abraçando-a a ela.
—Yusuf teve que transladar-se ao ocidente por motivos de trabalho. Trabalha em uma grande empresa Barakati, e Ninguéma e ele se mudaram a Londres. Eu vou a Londres freqüentemente, e é obvio, sempre chamava ou ia visitar ninguéma. Outro de meus irmãos também. Durante o primeiro ano, as coisas aparentemente não foram mal de tudo. Depois passou o tempo e Ninguéma não ficava grávida. Cada vez estava mais ansiosa por consegui-lo. Supúnhamos que Yusuf a culpava por isso.
Anna escutava atentamente. Pelo tom de sua voz, soube que adorava a sua irmã, e não pôde evitar desejar ajudá-lo.
—Ao final, Ninguéma ficou grávida, mas Yusuf não se alegrou. nos custava averiguar como se encontrava Ninguéma. Sempre punha desculpas para que não fôssemos visitar os ou dizia que não podia ficar ao telefone. Quando a visitávamos, nunca estávamos a sós com ela. Pouco a pouco compreendemos que solo podia falar com a família por telefone se Yusuf estava na mesma habitação que ela.
Anna sentiu um calafrio.
—Devia sentir-se muito indefesa —disse ela.
—Estou seguro de que tem razão, mas se era assim, nunca teve oportunidade de contá-lo.
Ele fez uma pausa e se esclareceu garganta.
—Meu pai morreu. Quando eles retornaram ao Barakat para o funeral, Ninguéma levava hejab. Aqui no Barakat, solo as anciãs se cobrem o rosto com um lenço, embora estejam fora da mesquita. Ninguéma levava uma túnica negra e um lenço, não lhe via nem uma mecha de cabelo. É algo muito exagerado para o acostumado no Barakat, e algo que ela nunca tinha desejado. Sem dúvida, era Yusuf quem a obrigava. Pouco depois, quando retornaram a Londres, Ninguéma ficou doente com o embaraço. Muito doente para falar conosco quando telefonávamos. Ou havia outras desculpas —Gazi fez outra pausa—. Havia uma confusão enorme com a herança de meu pai. Eu passava quase todo o tempo no Barakat. Um dia, meu irmão e eu nos demos conta de que não nos tinham permitido falar com Ninguéma desde fazia dois meses. Sabíamos que não tinha sentido voltar a tentá-lo, assim que na sexta-feira passada aparecemos em Londres sem avisar, em seu apartamento. Encontramos ao Yusuf correndo pelas ruas, gritando e dizendo que Ninguéma tinha desaparecido. Disse que se pôs de parto um pouco antes de nossa chegada, e que ele tinha ido à garagem para tirar o carro. Quando voltou, a porta principal estava aberta e Ninguéma se partiu. Isso foi o que disse.
Anna se mordeu o lábio.
—Crie que estava mentindo? —sussurrou.
—Não há forma de estar seguros —respondeu Gazi—. É possível que lhe tivessem advertido que íamos de caminho e montasse essa cena para nós. Que motivos tinha Ninguéma para fugir nesses momentos? Quereria ir ao hospital para ter ao bebê.
—Não crie que estava se desesperada e que possivelmente era sua única oportunidade de escapar?
—Possivelmente sim, Anna. Possivelmente foi isso. Dá-te conta de quão importante é sua implicação no caso? É a única pista que temos. O que nos perguntamos é como chegou a estar no táxi com o bebê de Ninguéma?. A resposta poderia nos dar muita informação.
Ela o olhou e sentiu quão forte era a atração. havia a medeio hipnotizado, fazia que declarasse que estava de seu lado. Precisava pensar, e não podia fazê-lo se estava junto a ele. Tinha que fazê-lo.
afastou-se um pouco da mesa e disse:
—Bom, obrigado por me contar isto. Mas essa não é a história completa, verdade?
.—por que diz isso? —perguntou o xeque Gazi.
—Porque tem mais buracos que uma esponja! Perdoa, mas vai pelas ruas procurando a sua irmã grávida e justo olha na área de urgências do Royal Embankment Hospital, isso é o que ouvi?
Ele a olhava com desaprovação.
—Deram uma notícia na rádio que me fez pensar que Ninguéma podia estar ali. Em troca, encontrei a ti.
—Na rádio? —perguntou com incredulidade.
—Sim, Anna —disse ele—. Uma mãe, sua filha e o condutor de um táxi ingressam no hospital, todos estão bem.
—Ah! Vale, encontrou-me. E encontrou ao bebê que diz que é de Ninguéma. E o que faz? Chama à polícia para lhes contar suas suspeitas? Reclama ao bebê para levá-lo a casa com seu papai? Não, seqüestra-me e ao bebê que diz que é seu sobrinho, e nos leva ao Barakat! Isso necessita mais explicações. Porque um homem com sua influência e contatos não vai arriscar se a quebrantar a lei de dois países sem ter um motivo substancial. A menos, que seu desprezo para as mulheres te tenha feito esquecer que Safiyah e eu também temos direitos humanos. Acusa a seu cunhado de manter prisioneira a sua irmã, mas te deste conta de que você está fazendo o mesmo comigo?
—Não te deixo prisioneira! —estalou ele.
—Como o chamaria? —gritou Anna—. por que não me diz a verdade, xeque Gazi?
—Hei-te dito a verdade, até o momento. Recorda que ainda não deste uma explicação coerente a respeito de como chegou a conseguir ao bebê de minha irmã.
—Recorda que você não demonstraste que o bebê seja filho de sua irmã!
—Disso não há dúvida. Meu irmão segue em Londres investigando. Se alguma mulher tivesse denunciado o desaparecimento de seu filho, ele se teria informado.
—E como sabe que alguma antiga noiva tua não deu a luz e abandonado o bebê? Possivelmente eu a encontrei!
—Não seja ridícula —disse ele—. O bebê estava em um capazo que evidentemente se preparou para o hospital. Nesse capazo, que recolheram que hospital, havia coisas de minha irmã.
—De acordo, suponhamos que Safiyah é a filha de sua irmã. Que suspeitas de mim? Sua equipe teve as chaves de minha casa durante quase toda a semana, não crie que se houvesse algo que me relacionasse com sua irmã o teriam encontrado?
—Mesmo assim, é muito difícil acreditar que não está implicada. Tem que entendê-lo. O que tenho que acreditar? Que o hospital mesclou dois casos de urgência e deixou a Ninguéma sem bebê? O que abandonaram ao Safyah no mesmo sítio onde teve o acidente?
—Por isso a mim respeita, qualquer dessas duas possibilidades tem mais sentido que a de que eu me voltasse louca e seqüestrasse ao bebê justo na meia hora de minha vida que não recordo.
—Vale. Direi-te algo mais. O marido de Ninguéma, Yusuf, pode que suspeite que o filho não é dele. Nesse caso, não é singelo adivinhar o que pretendia fazer, mas é quase seguro que não permitiria que Ninguéma ficasse com o bebê e o criasse . como se fora dele.
Ela sentiu um calafrio.
—Foi evitar que Yusuf se inteirasse de que tínhamos encontrado ao Safiyah pelo que nos apressamos a tirá-la do país. Isto teria sido um êxito de não ser por seu comportamento. Que a imprensa tenha publicado minhas fotos chegando ao Barakat com um bebê é um risco. Yusuf suspeitará que o bebê é o de Ninguéma.
—Crie que ensinei o bebê à imprensa para que Yusuf se inteirasse de que o tinha você?
—Não há muitas mais desculpa para ter passado por cima a segurança do bebê dessa forma tão caprichosa.
—Fiz-o para proteger ao bebê de ti! —disse Anna indignada—. Não sabia que os paparazzi estavam ali. Tinha-me convencido de que o bebê era nosso, mas não de que sentia afeto por mim! Acreditava que me foste tentar tirar isso Solo me dizia mentiras! Como se supõe que tinha que saber o que acontecia?
Ele arqueou as sobrancelhas.
—Felizmente a imprensa reduziu o perigo ao dizer que o bebê era nosso, e inclusive dizendo que Safiyah tinha várias semanas de idade.
Ela riu a gargalhadas. acreditava-se que era estúpida?
—Felizmente? Você o disse, não? admitiste que trabalha em relações públicas, assim terá contatos.
—Era muito importante desviar as suspeitas do Yusuf. Acreditará o que veja na imprensa, por isso esperava que acessasse a não estar localizable por um tempo. Para que não negasse as histórias dos periódicos.
—E quando eu me neguei, enganou-me.
—viu em perigo —disse ele.
—por que diabos não me disse que tinha vistas em perigo, em lugar de tratar de me subornar com sol, dinheiro e sexo?
—Sexo? —perguntou ele—. tratei que te subornar com sexo, ou foi ao reverso?
—Que razão te ocorre para pensar que eu queria te subornar com sexo? O que podia querer conseguir?
—Isso é algo que solo sabe você! Encontro-te com o bebê de minha irmã e não pode me dar nenhuma explicação, se a insígnias a propósito aos jornalistas depois de que eu tenha conseguido tirá-la escondido da Inglaterra... —fez uma pausa—. Me deste alguma razão para que confie em ti? Ameaçou-me me delatando por ter seqüestrado ao Safiyah!
—Nunca te ameacei! Disse-te que não tinha intenção de te delatar! Pinjente que não faria mais que negar...
Nesses momentos estavam a ponto de gritar-se.
—Ir a Inglaterra e negar que Safiyah é nossa filha é como lhe mandar ao Yusuf uma carta certificada lhe dizendo que é a filha de Ninguéma. —disse Gazi—. Agora, se está envolta com o Yusuf de algum jeito, peço-te que me conte isso. E se não o está, peço-te que continue com esta farsa até que encontremos a verdade. Pelo amor de Deus, Anna! —disse ele ao ver que ela duvidava—. Pode que nestes momentos minha irmã seja a prisioneira de seu marido. Ou que esteja escondida em algum beco, recolhendo comida dos cubos de lixo. Tem coração para apreciar como estará sofrendo, e para ajudá-la?
Reuniu-se com ele nos estábulos, disfarçada de pajem enquanto o ruído da festa ainda estava suspenso no ar. Ele não se aventurou a utilizar luz alguma, nem a beijá-la, solo a guiou pela escuridão, através de. tortuosas passagens que chegavam até os muros da cidade.
Ela subiu pela escada de corda antes que ele, com valor, sem um ápice de medo, e ele pensou que boa esposa teria tido se as coisas fossem de outra maneira.
Ao outro lado, ainda sem falar, ele a guiou até onde tinha pacote a dois cavalos. Com um rápido abraço, e um sussurro de valor, ele a subiu à cadeira de montar.
Cavalgaram para o amanhecer.
Chegaram a Londres no meio da amanhã e foi assim que a rodas do avião tocaram o chão e Anna reconheceu a paisagem, quando voltou a respirar.
Tinha aceito retornar a Londres e solucionar as coisas o mais discretamente possível, depois partiria a França e se esconderia na vila de seus clientes sem falar com a imprensa.
Em imigração, receberam-nos três guarda-costas. Um deles, entregou-lhe seu passaporte. O xeque Gazi viajava com passaporte diplomático e lhes permitiram entrar em Grã-Bretanha com apenas um movimento de cabeça. Ninguém lhe perguntou como se partiu do país sem passaporte.
Quando entraram no terminal tiveram que enfrentar-se a uma multidão de paparazzi.
Anna se deteve. Podia ouvir o ruído das câmaras e as perguntas que faziam a gritos. bamboleou-se.
—Como diabos se inteiraram de que chegávamos? —perguntou ela.
—Anna, Anna! Pode olhar um momento? Sorri, Anna! trouxestes para o bebê? Como se chama o bebê, Anna?
O xeque Gazi a agarrou por cotovelo e a apressou para que continuasse.
—Caminha depressa mas não corra —lhe disse ao ouvido—. Eu me encarrego deles.
Sua voz fez que aumentasse o desejo de seu coração.
—me olhe.
Ela o olhou aos olhos e ao ver seu olhar de aprovação, sentiu um nó no estômago. Anna se cambaleou e ele a abraçou para estabilizá-la. Sorriu de forma involuntária e os fotógrafos começaram a gritar:
—Beija-a, Gazi! —a Anna lhe acelerou o coração. Mas o xeque só riu e moveu a cabeça.
Os guarda-costas foram lhes abrindo passo entre os jornalistas e estes continuavam lhes fazendo perguntas.
—Como se sente quanto ao bebê, xeque Gazi?
—Você o que crie, Arthur? —respondeu como se fora evidente.
—conseguiste a aprovação do príncipe?
—Que eu saiba, nunca o desaprovou.
—Quando é as bodas? fixastes já a data?
—Não —respondeu ele.
—ides fazer o?
O xeque Gazi respondeu com um sorriso.
—Julia, será primeira em inteirar-se.
As perguntas e respostas se disparavam em ambos os sentidos. Anna se voltou e lhe perguntou.
—O que está...? —começou a dizer mas lhe apertou o braço para lhe advertir.
—me deixe a mim, Anna!
Isso a assustou. Estava fazendo-o outra vez. Forçando-a a ser cúmplice das circunstâncias. Ela não tinha aceito olhar à imprensa e fingir que era verdade, e tinha medo. Lhe teria contado ele a verdade? Era uma refém de algo que não sabia? de repente, duvidou a respeito da verdade de tudo o que lhe tinha contado
Anna tragou saliva, tossiu e se voltou para o jornalista mais próximo.
—Não sou a amante do xeque Gazi —disse ela.
—Estupendo! —disse ele—. Posso pôr prometida?
—Não! Não ponha que sou sua prometida! E o bebê não...
—O bebê não está conosco! —disse Gazi elevando a voz—. O médico não o aconselhou.
Rodeou-a com força com o braço e a guiou até a porta principal onde os esperava uma limusine.
Anna olhou a rua médio deserta. Se saía correndo, perseguiriam-na os jornalistas e a apanhariam. O que lhes diria, o que poderia fazer? Não poderia negar que não era a amante dele e que o bebê não era dele e desaparecer. Quereriam averiguar a verdadeira história. E se a contava... Gazi tinha amigos muito poderosos.
Sentindo-se covarde, Anna entrou na limusine. Gazi entrou com ela. Um dos guarda-costas se meteu com eles na parte traseira, os outros dois, diante com o condutor. Segundos mais tarde estavam afastando do grupo de jornalistas.
Ela se voltou para o Xeque Gazi ao Hamhez.
—Como sabiam que chegávamos? —perguntou furiosa.
—Um momento —disse ele e se voltou para o outro homem—. Há algo? —perguntou.
O homem negou com a cabeça. Parecia mais jovem que o xeque e tinham certo parecido.
—Nenhuma pista —disse ele—. Se evaporou, Gazi. Yusuf insiste em que não sabe nada, e a menos que estejamos dispostos a colaborar com ele não nos dirá se for a verdade.
Não tinha o aspecto de um homem que fala com seu chefe. de repente, voltou-se para ela e disse com um sorriso:
—Olá, Anna. Sou Jafar, mas a gente me chama Jaf.
—Olá —disse ela e olhou aos dois homens.
—Jafar é meu irmão —disse o xeque Gazi.
—Obrigado por colaborar, Anna —disse Jaf—, estamo-lhe muito agradecidos.
Anna não sorriu.
—Dáselas a seu irmão —disse ela—. Não me deixou decidir.
Quando chegaram a casa da Anna, havia um grupo de jornalistas na rua, e enquanto se aproximavam da porta, fizeram-lhes mais perguntas.
Anna deixou que Gazi falasse com eles e procurou as chaves na bolsa que Jaf lhe havia devolvido no aeroporto. Não encontrou nenhum chaveiro. Levantou a vista, justo no momento em que Gazi tirava as chaves e abria a porta. Assim Jaf lhe tinha dado as chaves a seu irmão em lugar da ela.
Entraram e fecharam a porta. ficaram no vestíbulo e ela tendeu a mão e disse:
—Minhas chaves, por favor.
Esperou até que Gazi deixou as chaves sobre sua mão. Depois subiram até a casa.
O telefone estava soando. Anna entrou no salão justo quando saltou a secretária eletrônica. Olhou a seu redor tratando de se localizar-se em sua nova vida.
A habitação era grande e luminosa. Em um extremo estava seu estudo, a mesa, os cilindros de papel, um par de desenhos que estava fazendo para um cliente...
Não lhe parecia que solo tivesse passado uma semana desde que jantou com o Lisbet e Cecile. sentia-se estranha, separada-se de sua vida anterior, como se não tivesse estado ali desde fazia meses.
—Olá, Anna. Sou Gabriel Dá Souza do periódico Sun...
Ela não fez caso da voz que saía da secretária eletrônica e se dirigiu para o sofá. Sobre a mesa estava o correio da semana e umas quantas notas dos jornalistas.
Anna franziu o cenho e se perguntou quem o teria deixado ali, então escutou um ruído na cozinha. deu-se a volta e lhe fez um nó na garganta.
—Olá —disse Lisbet—. preparei café enquanto lhes esperava. Jaf supôs que o necessitaríamos.
Lisbet se tirou os sapatos e sob o atento olhar do Jaf estirou as pernas sobre o sofá. Anna lhe serve uma taça de café.
—Sinceramente, para mim também é um mistério —disse a Anna—. Pergunta que o que aconteceu... nada. deteve-se um táxi e saiu alguém, você entrou. O táxi arrancou. Ceil e eu demoramos um par de minutos em conseguir outro. Ceil me deixou em casa. Isso é tudo o que sabia até que alguém me chamou no domingo pela manhã para me perguntar se era Anna Lamb a que saía no periódico. Pinjente que não podia ser você. Então, Alan me disse que o tinha chamado...
Jaf se inclinou para agarrar a taça de café que Anna lhe tendia.
—Diz que alguém saiu do táxi. Fixou-te em quem era?
—Estava no outro lado da rua e não estava emprestando atenção.
—Tenta recordar. Possivelmente visse algo. Era uma pessoa, um casal?
Lisbet fechou os olhos e tratou de visualizar a cena.
—Havia uma árvore... alguém passou junto a ele, mas não sei se era a pessoa que saiu do táxi ou não... uma só pessoa, acredito. Vestida de negro, possivelmente, com a luz da rua é... espera! Minutos mais tarde também havia alguém vestido de negro. Seria a mesma pessoa? Junto à ponte—. Lisbet abriu os olhos—. Me fixei nela porque levava uma dessas coisas negras que cobrem às mulheres dos pés à cabeça e pensei que era estranho ver uma mulher muçulmana só a essas horas da noite.
—A ponte da Battersea? —perguntou Jaf.
Lisbet assentiu.
—Sim, o restaurante não fica longe de ali e nós caminhamos nessa direção quando Anna partiu, para procurar um táxi. Essa mulher cruzou a rua frente a nós e se dirigiu para a ponte. Mas não sei se era a pessoa que saiu do táxi que tomou Anna. Tinha algo que fez que me fixasse nela, mas não posso dizer o que.
Anna, tampou-se a cara com as mãos. Uma mulher de negro. Podia cheirar o aroma do rio de noite, o outono... Retirou as mãos e viu que o xeque Gazi a olhava.
—O que recordaste? —perguntou-lhe ele.
—Nada.
ficaram em silencio durante uns minutos. Depois, Lisbet disse:
—A menos que acontecesse algo muito estranho depois de que te subisse ao táxi, o acidente deveu ocorrer um par de minutos depois. Dobrou a esquina, subiu pelo Oakley em direção ao King's Road e se chocou com o ônibus. Passariam cinco minutos como máximo.
—Isso é o que acredito.
—Assim, ou alguém se aproximou do lugar do acidente e colocou ao bebê porque sabia que chegaria uma ambulância, o que é muito supor, ou... meteu-te em um táxi no que havia um bebê.
—Sim —assentiu Anna.
—Ou no hospital aconteceu algo muito estranho.
À medida que seu amiga contava o que ela tinha tratado de lhe explicar ao xeque Gazi, Anna se sentiu aliviada ao ver recuperada sua integridade atrás de suas suspeitas. Olhou-o para ver o que opinava daquilo, mas sua expressão não dizia nada.
Lisbet continuou.
—me pondo no lugar de Ninguéma... estou fugindo de meu marido mas já estou de parto, verdade? Então, o que faço? Dou a luz na parte traseira de um táxi? Mas o taxista teria chamado a uma ambulância, não? realizou-se essa chamada?
—Não —disse Jaf.
—Ou possivelmente a levasse diretamente ao hospital. O que não ia fazer era deixá-la no Enbankment com ou sem o bebê. Assim pensemos por um momento que Ninguéma era a pessoa que saiu do táxi no que você entrou, Anna, e que se deixou o bebê dentro. Não teria sentido que já tivesse dado a luz e que tomasse o táxi para que a levasse a algum sítio?
—Sim... —disse Anna. Isso começava a ter sentido.
Jaf disse:
—O bebê era recém-nascido, envolto em um penhoar de mulher e metido em um capazo. Não a tinham limpo. No hospital supunham que o taxista se deteve para ajudar no parto e que depois as levava a hospital, quando ocorreu o acidente. Ainda não puderam interrogá-lo.
Anna olhou ao Gazi.
—Pode que desse a luz no apartamento, e que quando ele foi pelo carro, saísse correndo.
—Seu irmão e você estavam fora da cidade, verdade? —disse Lisbet.
—A quem podia ir ver Ninguéma em Londres? Em quem podia confiar para que não chamasse a seu marido?
—Não tinha amigas da infância em Londres, solo aquelas que conheceu depois de mudar-se. Acreditam que sua vida social era muito reduzida.
—Possivelmente a única opção que tinha era ir a uma casa de acolhida de mulheres. Iria de caminho a uma? comprovastes se houver casas de acolhida pela zona?
Jaf sorriu.
—Não tínhamos pensado nisso, mas verei o que se pode fazer. As casas de acolhida são lugares bastante secretos.
—Pergunta-a é por que Ninguéma trocou de opinião? por que deixou ao bebê no táxi? Se ia a uma casa de acolhida...
—Essa é a falha de outro argumento bom —disse o xeque Gazi—. Se ia a uma casa de acolhida, por que não se levou a bebê com ela? E além disso, se tiver ido a casa de amigos, ou à casa de acolhida, por que não nos chamou?
Lisbet duvidou um instante.
—Eu não gosto... OH —olhou a Anna e esta se encolheu de ombros.
Lisbet olhou ao Gazi.
—Tenho vantagem sobre vós neste tema. Sei que Anna não está implicada nisto. Sei que não conhece ninguém que se chame Yusuf, e que embora o fizesse, nunca se envolveria em um seqüestro de meninos —disse com seriedade e Anna sentiu vontades de chorar—. Também sei que se disser que estava confusa depois do acidente e que tem amnésia sobre um momento concreto, é certo. Assim... —respirou fundo. Ninguém disse nada—. Não quero lhes angustiar, e por favor, me perdoem se esta idéia não for muito alentadora, mas é possível que... quero dizer, sabe-se que a gente deprimida... criem que Ninguéma foi à ponte porque saltar era sua única saída?
—Tenho que ir —disse Lisbet um pouco mais tarde—. Temos uma sessão de fotos esta noite e tenho que estar maquiada dentro de uma hora —olhou a Anna—. Quer vir e te dar uma volta por ali?
Fez a pergunta com naturalidade, mas Anna soube que seu amiga tratava de ajudá-la a sair de uma situação difícil. Se se ia com o Lisbet, o xeque Gazi e seu irmão não teriam mais opção que partir.
—Tenho que ir a França, Lisbet. Tenho a mala pela metade e tenho que procurar bilhete —disse Anna.
—Bom, me chame mais tarde ao móvel. O mais seguro é que esteja quase toda a noite sem fazer nada.
—De acordo.
Lisbet ficou os sapatos e a jaqueta.
—Permite-me que te leve aonde tenha que ir? —perguntou Jaf e Lisbet sorriu de forma involuntária.
—É obvio —respondeu..
—Farão-nos fotos —advertiu Jaf, assinalando aos fotógrafos que estavam na rua—. Te importa?
Lisbet riu.
—Sou atriz, Jaf. A publicidade o é tudo para mim.
Momentos mais tarde, Gazi e Anna olhavam da janela como Jaf e Lisbet se metiam na limusine rodeados de fotógrafos. Quando a limusine arrancou, Anna olhou ao Gazi e o silêncio se apoderou da habitação.
—Bom —disse Anna—, sinto que não tenhamos sido de mais ajuda.
O xeque Gazi tomou sua mão e a olhou aos olhos.
—Pode ajudar mais —lhe disse.
—Eu... —Anna se esclareceu garganta—, não posso, já sabe, a menos que recupere a memória. Mas acredito que Lisbet tem razão. O bebê tinha que estar no carro quando eu entrei.
—Não refiro a isso, Anna.
Lhe acelerou o coração. Olhou-o e retirou a mão. voltou-se para que não visse que se ruborizou.
—Quase me dá medo perguntar —brincou com nervosismo.
Ele franziu o cenho e a voltou para si, olhando-a até que ela se sentiu vulnerável e começou a tremer. Nunca se havia sentido tão frágil por causa do olhar de um homem. Levantou as mãos e as colocou sobre o peito do Gazi. Ela sentiu que ele reagia ante o contato e viu como lhe obscureciam os olhos.
Ele a rodeou com os braços e murmurou:
—Anna —suas bocas estavam muito próximas. Ela sentiu que ele se estremecia e notou que desejava estreitá-la contra seu peito.
Ele fechou os olhos e ela notou que estava fazendo um esforço contra sua vontade. Soltou-a e deu um passo atrás.
—Temos que falar —lhe disse.
Anna soltou uma risita. Assim seguia sendo a mulher ante quem tinha que resistir porque era uma estelionatária.
—Temos que falar?
—Anna, o que há dito seu amiga o troca tudo. Tem que entendê-lo.
—Sim, e a mim como me afeta? —perguntou ela.
—Já não serve que vá a França e não diga nada aos jornalistas.
—por que não? —perguntou.
—Estão aí fora, Anna. Sabem que você sabe... perseguirão-lhe para que lhes conte a história.
—E de quem é a culpa? Está sugiriendo que não foi seu irmão quem lhes informou que chegávamos?
—Não. Tem razão, foi Jaf. Sinto muito. Pensamos que tínhamos que aproveitar sua presença para conseguir uma história que possivelmente convencesse ao Yusuf. Mas agora a situação é se desesperada.
—Mas Lisbet não te há dito nada que não soubesse.
—Sim —a contradisse ele—. Nos sentamos outra vez?
Anna sentiu frio e acendeu a chaminé de gás, depois se sentou em uma poltrona.
O xeque Gazi se sentou frente a ela. Durante um instante ficou contemplando as chamas que ardiam sobre o carvão de mentira.
Ela o observou. O resplendor fazia que parecesse o retrato antigo de um santo, sensual e místico de uma vez. de repente, descobriu atrás de seu atrativo que era um homem acostumado à auto-disciplina. E estava pondo-a em prática.
O xeque Gazi começou a falar devagar.
—Ramiz Bahrami foi meu melhor amigo durante quase toda minha vida. Sua família pertence a uma das tribos antigas das montanhas do Noor, mas seu pai se transladou à capital para servir ao rei. Ramiz e eu fomos à escola no palácio e mais tarde fomos juntos à universidade. Ele é um bom amigo do príncipe Karim. Muito apreciado.
Anna pestanejou e o olhou aos olhos. Viu a dor que refletia seu olhar e sentiu lástima por ele.
—Minha irmã Ninguéma e Ramiz se apaixonaram. Não podia ter eleito a um homem melhor. Ramiz lhe pediu permissão a meu pai para casar-se com Ninguéma e foi então quando nos inteiramos de que meu pai já tinha eleito ao Yusuf para que se casasse com ela. Contei-te que discuti com meu pai. Agora te digo que nunca tinha discutido tão a sério com ele. Mas não cedeu. Ramiz era um homem com estudos universitários, um muçulmano moderado com ambições políticas, e Yusuf era um homem educado na mesquita, ignorante do mundo, devoto. Uma coisa era que meu pai deixasse que seus filhos se educassem na universidade e outra que deixasse que sua filha se casasse com um homem assim.
—Como reagiu Ramiz ante sua negativa? —perguntou ela.
—Ambos o levaram mau. Muito mal. Ramiz lhe pediu ao príncipe que interviesse, e embora o fez, sabia muito bem que nem sequer um príncipe podia ordenar a um pai nesse tipo de assuntos. Ramiz queria fugir com ela. Eu os teria ajudado, mas a Ninguéma a tinham educado com um forte sentimento religioso do dever. Sentia que tinha que obedecer a meu pai. Sabia que uma coisa assim, arruinaria a carreira política do Ramiz —tomou fôlego—. Lhe disse que não. me deu lástima, mas sabia que ela tinha razão.
Se tentava convencê-la com essa história, estava-o conseguindo. Anna tinha o coração encolhido.
—Ramiz partiu do país antes das bodas, o príncipe Karim o enviou a uma missão no estrangeiro. Não retornou até que Yusuf e Ninguéma se mudaram a Londres.
—E Ramiz se casou?
—Não, dedicou-se ao trabalho. Karim confia plenamente nele. Durante os anos passados esteve trabalhando em algo pelo que tinha que viajar muito. Durante um tempo esteve no Canadá. Quando desapareceu Ninguéma, o príncipe me contou que Ramiz tinha passado parte do último ano em Londres.
—Crie que se viram?
—Agora que parece que as peças encaixam um pouco, começo a pensar que sim. Acredito que por isso Yusuf estava ciumento e que por isso suspeita que o bebê de Ninguéma não é dele.
—Yusuf sabia que Ninguéma e Ramiz estavam apaixonados?
—É possível que meu pai o confessasse. Não posso dizer que não. Possivelmente meu pai queria lhe acautelar contra o perigo.
Ela não disse nada.
—Anna, a história não terminou. Ramiz, desapareceu faz uns meses e o príncipe Karim não está seguro de onde estava quando desapareceu. É muito possível que estivesse na Inglaterra.
—Está... está dizendo que Yusuf o matou?
—Não podemos estar seguros. Inclusive pode que Ramiz esteja vivo. Agora parece que o desaparecimento do Ramiz, tenha mais que ver com sua vida pessoal que com a missão secreta do príncipe Karim.
—Crie que Yusuf tem razão? Que Safiyah é filha do Ramiz?
—Como posso sabê-lo até que não se façam as provas? Para isso necessitaríamos algum tempo, e não o temos. Anna, se seu amiga tiver razão e foi a Ninguéma a quem viu aquela noite... se Ninguéma estiver morta e Ramiz também, então é possível que Safiyah seja a única herdeira que tenham jamais. Tal e como estão as coisas, Yusuf é o pai legal, segundo a legislação inglesa, e portanto teria a custódia do Safiyah. Não posso permitir que a custódia da filha de minha irmã e de meu amigo a tenha um nome como esse, com tantos motivos para odiá-la. Peço-te, como mulher que é e que sabe o valor da vida de um menino, que continue com a farsa que começamos. Deixa que a gente cria que somos amantes. Finge que Safiyah é nossa filha. Fica comigo até que descubramos o destino de Ninguéma e do Ramiz.
Assim que Anna colocou umas quantas coisas em uma bolsa, terminou de arrumar tudo para deixar o piso durante umas semanas e escreveu uma nota para o dono, saíram e subiram à limusine que os esperava para levá-los até o melhor hotel de Londres.
Ali subiram até a suíte da última planta, com vistas ao Hyde Park.
—Temos que lhe dar à imprensa todo o pasto que possamos —disse ele—. quanto mais leia Yusuf sobre nós, mais acreditará.
Antes que nada, Gazi insistiu em que Anna visse outro médico especialista.
—Não é estranho que as vítimas de acidentes tenham amnésia —disse o médico—. O período de tempo que segue ao acidente se perde. É possível que nunca recupere esses minutos. Mas não tem do que preocupar-se.
Depois, Anna se deu um banho de vapor e uma massagem. Foi à barbearia e a que a maquiassem. Quando retornou à suíte, encontrou vários vestidos que tinham enviado de uma boutique.
—Escolhe algo para esta noite —lhe ordenou Gazi—. Jantaremos em um clube. Amanhã iremos às compras.
Escolheu um vestido negro de veludo que ressaltava sua figura. Nunca se tinha posto algo tão caro.
Saiu da habitação e pensou que nunca em sua vida tinha ido tão elegante e se encontrou com o Gazi que estava sentado junto a uma mesa do salão da suíte. Olhou-a e durante um momento a queimou com o olhar. Depois abriu uma das caixas que havia sobre a mesa.
—Brilhantes, possivelmente —disse com forçada naturalidade e lhe deu a caixa.
Anna ficou boquiaberta ao ver o que continha.
—OH, céus, de onde saiu isto?
—Da joalheria que há abaixo —tirou um colar e o pôs ao redor do pescoço—. Você gosta dos brilhantes, Anna?
Ela riu e se olhou no espelho.
—Nunca tive brilhantes —disse ela—, mas estou muito contente de levar um colar como este esta noite, prometo-lhe isso!
Mais tarde, sentado junto a ela em uma mesa de um sítio muito famoso, Gazi disse:
—Os brilhantes são muito frios para ti. Devia levar pedras preciosas. Safiras, para que façam jogo com seus olhos.
Anna riu e tocou um dos pendentes.
—Deve te pôr várias jóias durante nos próximos dias —disse ele—. Depois poderá escolher o jogo que mais você goste, como presente de agradecimento.
Anna quase se engasga com a entrada que estava comendo.
—Um jogo de jóias? —exclamou—. Está brincando! Isso deve valer uma fortuna!
—O que está fazendo por Ninguéma, tem muito mais valor —disse Gazi.
Anna olhou o bracelete de brilhantes que levava na boneca e disse:
—Obrigado. Não é que tenha nada contra as jóias, xeque Gazi, mas há algo mais que preferiria ter —o olhou—, seria um grande favor se você...
A expressão de seu rosto se obscureceu. Olhou-a com tanta intensidade que Anna logo que podia respirar. «Céus», pensou Anna, «acredita que vou pedir lhe que me faça o amor».
—Seja o que seja, se estiver em minha mão —disse ele.
Ela logo que podia falar. O desejo se deu procuração dela. Não podia controlá-lo, por como a olhava sabia que ele a desejava e que por algum motivo, tratava de controlar-se.
Anna sabia que ele não poderia manter o controle se ela o incitava.
Tragou saliva e tentou falar.
—me conte —disse ele e Anna tratou de pensar com claridade.
—Me acaba de ocorrer que possivelmente pudesse lhe comentar às pessoas que sou artista, especializada na pintura do Oriente Médio. Seria tão boa publicidade para mim. E se como resultado consigo algum encargo de... —olhou as mesas de seu redor que estavam cheias de famosos—, de algum deles, bom, converteria-me em uma estrela não?
Ele a olhou.
—E prefere ter isso que pedras preciosas?
Anna sorriu.
—Será muito mais útil a longo prazo.
—É uma mulher pouco comum.
—Suponho que os favores que te faço são um pouco diferentes aos que estará acostumado.
Ele tomou suas mãos e a olhou aos olhos. Ela ficou sem respiração e pensou, «já está, consegui que perca o controle».
—Não será um favor, Anna, nem para mim nem para ti, quando acontecer —disse e lhe beijou a mão—. É uma necessidade que temos. Você sabe.
Uma onda de paixão percorreu seu corpo e Anna se alegrou de não estar de pé. Gazi estava tremendo quando lhe soltou a mão e lhe acariciou a bochecha. Ela se estremeceu.
—Não é assim? Não o sente assim?
Não podia pronunciar palavra. Tentou tragar saliva.
—Vi-o em seus olhos, Anna! Em seus movimentos! —insistiu—. O nega?
Ela abriu a boca e jogou a cabeça para trás para tratar de tomar ar.
—Desejei-te até me voltar louco —sussurrou ele—. Seu perfume, sua boca, seu corpo convexo ao sol... o que me há flanco, hora detrás hora, dia detrás dia, ver que estava aí, tratando de me seduzir, como te desejei!
—Gazi! —sussurrou ela.
—E agora me fala de favores? Devo te pedir este favor e te oferecer jóias em troca? Quanto me pedirá? Um brilhante por cada beijo, Anna? Outro por cada vez que acaricie sua boca com minha língua, para que nos voltemos loucos de desejo e queiramos mais? E por acariciar seus peitos? Um bracelete de safiras?
Ela podia sentir a respiração do Gazi em seu pescoço.
—E por te fazer minha, quanto por esse favor? Um colar, uma diadema? Darei-lhe isso, sim! Se fosse necessário te enterraria em jóias, faria-te o amor em uma cama de brilhantes e rubis e depois lhe daria de presente isso todas —Anna sentia que se derretia de desejo—. Mas não será necessário, Anna. Crie que não sei que para que abra as pernas só faz falta que peça permissão com minha língua? Se te beijar, Anna, quem lhe está fazendo a quem o favor? me diga que você tampouco quer isto, se puder. me diga que a idéia de que minha língua acaricie seu corpo não forma parte de seus sonhos, igual a de meus.
—Basta —gemeu ela—. Céus, Gazi, já basta, estou...
—Pensa em te abrir de pernas por causa de meu beijo, Anna —lhe ordenou e observou como se estremecia de desejo—. Pensa em minha língua, minha boca, pensa em como o calor se apoderará de ti, em como te fará desejar o que solo eu te posso dar. Como gemerá e me pedirá mais.
—Gazi —suplicou ela—, Gazi, não posso suportá-lo.
—Sim —disse ele—. Sim que pode. Deve. Crie que posso me deter aqui? Não, uma vez começamos, Anna...
Beijou-lhe a mão outra vez e lhe mordiscou a palma.
—E depois o que, Anna? Quem pedirá a quem o favor de te possuir? Pediremo-nos isso os dois? diga-me isso —¡Dímelo! —le ordenó de nuevo.
Ela se perguntava como ia sobreviver. Abriu os olhos e tratou de controlar-se.
—diga-me isso ordenou-lhe de novo.
—Que te diga o que?
—me diga se me pedirá o favor, Anna. me diga que você também o deseja. Ou será um favor que me conceda quando eu lhe peça isso?
—Sabe que te desejo —disse ela.
Era como se o tivesse golpeado com todas suas forças. Notou como lhe esticava as costas e voltava a cabeça a um lado. Não deixou de olhá-la e ela se precaveu de que ao fim, tinha-o derrotado.
Nesse momento, levaram-lhes as lagostas. Ela viu que Gazi olhava ao garçom com incredulidade. Depois olhou o prato fumegante e sorriu olhando-a a ela.
Estavam em silêncio. Gazi tomou uma pinça da lagosta entre os dedos. Apertou os punhos e ela soube que tratava de controlar-se. O carapaça se rompeu deixando à vista a carne branca.
Lubrificou o pedaço de carne com manteiga e o aproximou dos lábios da Anna. Ela tentou falar, mas não o conseguiu, assim que se inclinou um pouco para apanhar o pedaço de carne com os dentes e tirá-lo do carapaça.
Ele a observou mastigar com um sorriso que cortava a respiração. Anna agarrou as tenazes e partiu uma parte de carapaça, depois fez quão mesmo ele, lubrificar a carne em manteiga e oferecer-lhe Él le hablaba en voz baja, de manera íntima.
Ao vê-lo morder e comê-la carne de maneira incontrolada, uma sensação puramente sexual percorreu o corpo da Anna.
O jantar foi um tortura, um tortura de sensações. Anna nunca havia sentido tanta sensualidade.
Lhe falava em voz baixa, de maneira íntima.
—Tombava-te ao sol, Anna, as gotas de suor percorriam sua pele, suas coxas, e eu sozinho podia pensar nas lamber, para sentir o sal em minha boca... e você sabia, e eu sabia que você sabia.
—Não —sussurrou ela.
—Desejava te castigar por me tentar. Sonhava com como o faria, como conseguiria que chorasse de desejo. Como te acariciaria com as mãos e com a boca... minhas mãos sobre sua pele molhada, seus pés, suas coxas, seu ventre, seus peitos. Às vezes, quando estava tombada de costas, desejava ir para ti, retirar o traje de banho e te beijar. Dizia-me que te atormentaria com a língua até que suplicasse que te possuísse, e então, diria-te que não, para que visse qual era minha tortura. Mas sabia que era tolo. Que se te acariciava, perderia-o tudo. Com a primeira súplica, haveria-te poseído. Não teria podido resisti-lo.
—Gazi —foi tudo o que pôde dizer.
—Sim, sonhava com que dissesse meu nome dessa maneira —disse ele e lhe deu outro pedaço de lagosta—. E voltará a dizê-lo, como eu sonhava.
Ele se fixou em seus ombros nus, na forma de seus braços, nas dobras do veludo que cobria seus peitos. Em seus mamilos, roçando o tecido do vestido e anunciando sua excitação.
Ela viu como lhe obscureciam os olhos.
—Tiveste-me ao limite —disse ele.
Quando terminaram de comer, Anna logo que podia ficar de pé. Era como se as pernas fossem de manteiga e seguro que parecia bêbada. Gazi tomou o casaco que lhe tendeu o garçom e ajudou a Anna a ficar o Nunca un beso le había producido tanto placer y Anna se estremeció de deseo. El nunca había sentido tanta pasión por una mujer, y por mucho que la besara, no conseguía saciarse. Ella le rodeó el cuello y comenzó a acariciarle la nuca.
Nenhum dos dois se fixou nos fotógrafos que os esperavam fora, e agarrados pela mão, dirigiram-se para o carro.
Ele conseguiu controlar-se até que fechou a porta da limusine. Apertou o botão para subir a tela negra que cobria o cristal que separava ao condutor dos passageiros. A música soava baixa. Fora, as luzes da cidade passavam depressa.
Abraçou-a e a tombou sobre seu regaço. Com uma mão lhe sujeitando a cabeça e com a outra lhe rodeando a cintura, beijou-a de forma apaixonada.
Nunca um beijo lhe tinha produzido tanto prazer e Anna se estremeceu de desejo. O nunca havia sentido tanta paixão por uma mulher, e por muito que a beijasse, não conseguia saciar-se. Lhe rodeou o pescoço e começou a lhe acariciar a nuca.
O carro se deteve, ouviu-se uma portada e eles se separaram.
—chegamos ao hotel —disse ele.
Anna retirou a mão de seus cabelos e ele a ajudou a incorporar-se.
—Está bem? —perguntou-lhe. O chofer abriu a porta e momentos mais tarde estavam no luxuoso elevador que lhes levaria a suíte.
Tinham aceso a chaminé do salão e se aproximaram dela sem dizer nada. junto à chaminé havia uma garrafa e duas taças.
—Gosta de um brandy? —perguntou Gazi. Ela assentiu enquanto se tirava o casaco.
Ele serve duas taças e deu uma a ela. Bebeu um gole e a deixou sobre a mesa. Depois se inclinou e beijou a Anna de novo.
Anna sentiu que um calafrio percorria seu corpo e jogou a cabeça um pouco para trás para que continuasse beijando-a.
Rodeou-lhe a cintura com uma mão, e com a outra acariciou seus ombros nus. Começou a lhe beijar o pescoço.
Encontrou os botões que o vestido tinha na parte de atrás e os desabotoou até deixar suas costas nua, para poder acariciá-la.
Anna afundou os dedos em seu cabelo encaracolado e se tornou para trás ao sentir a pressão do corpo do Gazi.
A taça estava a ponto de cair e Gazi a tirou da mão. Depois se aproximou de novo a ela e a olhou. Os suspensórios do vestido estavam soltos e lhe caíam pelos ombros, ela colocou as mãos sobre seu pescoço de forma instintiva.
—Deixa que caia —ordenou Gazi. Ela deixou cair os braços aos lados e o veludo se deslizou devagar sobre seus peitos, despindo-os.
O vestido ficou à altura dos quadris durante um instante e depois caiu até o chão.
Ela ficou em roupa interior negra e meias de encaixe, sapatos de salto e jóias de brilhantes. Lhe acariciou os quadris e a atraiu para si, olhando-a aos olhos com uma chama mais intensa que as da chaminé.
—Me vais voltar louco —lhe disse e lhe beijou o pescoço. Ela o abraçou e acariciou suas costas por cima da jaqueta.
—te tire isto —murmurou e colocou as mãos dentro da jaqueta para tirar-lhe Ele a deixou cair e Anna começou a lhe tirar a passarinha.
O sorriu e deixou que depois lhe tirasse a camisa, ela começou a tirar-se a dos braços e se deteve para lhe beijar o peito, os ombros e o pescoço.
—Não me tiraste os gêmeos —protestou Gazi e a beijou com paixão.
Anna sorriu.
—Então está em minhas mãos —sussurrou.
Ele sorriu e levantou os braços até que se ouviu o ruído do tecido rasgando-se e dos botões que caíam. tirou-se os restos da camisa e tomou a Anna em braços para levá-la até a cama.
—Um pouco mais, minha amada, e logo descansaremos.
—Estou cansada de cavalgar! Quanto fica para chegar à a Índia, meu Leão ?
Ele olhou por cima de seu ombro para a nuvem que se via na distância.
—Não muito, minha princesa. Valor.
Mas ela seguiu seu olhar e viu que os perseguiam.
—Cavaleiros!—gritou—. OH, Leão, será meu pai?
—Uma caravana —mentiu—. De caminho à a Índia, como nós. Não devemos nos unir a eles.
Ela começou a galopar e se mordeu a bochecha para não chorar. Cavalgaram em silêncio, enquanto os que foram detrás estavam cada vez mais perto.
—Apanharão-nos, Leão ? —perguntou ela. Ele não respondeu.
Anna despertou ao amanhecer, ainda entre seus braços. A chuva golpeava contra os cristais.
Nunca em sua vida a haviam meio doido com tanta paixão como o tinha feito Gazi, e nunca tinha experiente tanto prazer.
Quando ele se introduziu nela, soube pelo prazer que sentiu que havia meio doido uma zona que ninguém havia meio doido antes.
Amava-o. Olhou-o e sentiu uma onda de paixão e ternura. Seu coração se derreteu e havia tornado a formar-se mais forte, mais seguro, compreendendo coisas que até no dia anterior logo que entendia.
É obvio, ele não a amava. sentia-se atraído, mas para um homem como aquele a paixão sexual era mais parte de seu ser que o efeito que ela causava nele.
Lhe romperia o coração quando tivessem que separar-se. Possivelmente tivesse sido melhor que tivesse resistido a tentação de fazer o amor com ele...
Sentiu frio e se acurrucó junto a ele. Gazi a abraçou dormido e a atraiu para seu corpo nu, como se fora onde pertencia.
Enviaram-lhes os periódicos do domingo à suíte, e enquanto tomavam o café da manhã, jogaram-lhes uma olhada.
A história de sua chegada a Londres não era uma notícia muito extensa, embora saía em um par de colunas de fofoca. Solo um periódico publicava uma foto na capa. Saía ela olhando ao Gazi e ao ver a foto, Anna pensou que o periódico sairia ardendo.
—Temos que fazê-lo melhor —afirmou ele—. Não podemos contar com que Yusuf leia as colunas de fofocas.
—Fazê-lo melhor, como?
—O primeiro é o primeiro —disse Gazi com um sorriso—. Tenho que te levar de compras.
Anna sempre tinha sonhado indo às compras dessa maneira. Ele queria comprar tudo o que via. Ela se queixou várias vezes porque lhe estava comprando muitas coisas, mas ele não fez conta.
—Nunca me tinha comprado tanto em tão pouco tempo e com tão pouca gente —brincou ela, e lhe deu sua aprovação para o modelo que se estava provando, um que solo servia para ir de cruzeiro.
—Anna, deve ter roupa se for seguir com isto —disse ele.
—Mas onde me vou pôr isso —¿Puedo comprarle uno a Lisbet? —preguntó cuando él la animó a comprarse varios echarpes de colores.
—Em meu iate —disse ele.
—Mas, Gazi... —começou a dizer de novo.
—Anna, peço-te que recorde que é a menina mimada de um xeque rico, e a mãe de seu único filho. Por favor, Anna! Não pode ser caprichosa e difícil de agradar? Devia dizer, «não posso me levar os dois, carinho?» E não, «Gazi, está-te gastando muito dinheiro em mim!» Está-me fazendo um grande favor, muito major do que crie, e devo te recompensar por isso. Crie que para mim significa algo me gastar esse dinheiro em roupa?
Então, Anna se entregou por completo às compras.
—Posso comprar um ao Lisbet? —perguntou quando ele a animou a comprar vários echarpes de cores.
—Compra uma dúzia, Anna —disse ele.
Quando terminaram as compras, Anna se surpreendeu ao ver que Gazi dizia que o levavam tudo com eles.
A loja enviou a vários botões para que lhes levassem os pacotes. Gazi escolheu uma bolsa e a deu a Anna.
—Leva esta, Anna —disse e agarrou um par de caixas.
Seguidos pelos botões, dirigiram-se à rua. Fora havia dois ou três fotógrafos que lhes fizeram fotos até que subiram à limusine.
Uma vez dentro, ela disse:
—É bom nisto.
—É parte de meu trabalho. Em qualquer caso não é difícil manipular à imprensa —disse ele—. A avareza é a única debilidade que todo mundo tem.
—Crie que está bem manipular às pessoas?
—Anna, se disser aos editores desses periódicos: «necessito que divulguem uma história para salvar a vida de minha irmã», crie que aceitariam?
—Não sei.
—É possível. Mas também é possível que algum deles considere que é muito melhor a história de que tenho medo de que minha irmã mora em mãos de seu marido. Não quero ver um titular que diga: Salvem a Minha Irmã, Suplica um Xeque Árabe.
Ela ficou em silêncio.
Retornaram ao hotel e se prepararam para ir a uma festa. Anna recebeu o tratamento completo outra vez, massagem, manicura e pedicura, e maquiagem.
Quando chegou o momento de partir, precaveu-se de que nunca em sua vida tinha tido tão bom aspecto. Seu penteado não era muito diferente do anterior, mas lhe tinham colocado meia dúzia de safiras e brilhantes entre as mechas. Tinham-na maquiado ligeiramente com um lápis de olhos negro e um lápis de lábios marrom.
Levava um vestido comprido ajustado e com uma abertura até o joelho. Era de cor azul e estava bordada com seda de cor nata. Fazia jogo com seus olhos e com sua pele.
olhou-se no espelho e pensou que embora nunca seria uma beleza, possivelmente essa noite sim parecesse um pouco mais o casal de um homem como o Xeque Gazi ao Hamhez.
Ele também ia muito elegante, levava um smoking negro com gêmeos de brilhantes e uma camisa de seda branca.
Quando ela entrou no salão, Gazi levantou a vista do fogo e viu seu reflexo no espelho que havia em cima da chaminé. Seu olhar se obscureceu e durante um instante nenhum se moveu.
—Olá —disse ela sonriendo.
O se voltou.
—Olá —sorriu—. Está preciosa, Anna.
—É impressionante o que faz o dinheiro, verdade? —disse ela para tratar de ocultar o efeito que tinha o olhar do Gazi sobre seu coração.
—O dinheiro pode fazer muitas coisas, Anna, mas não cria uma beleza como a tua em uma mulher.
Anna não sabia que dizer.
—Vêem ver se você gosta disto —disse ele e abriu um joalheiro que continha lentejoulas de safiras e brilhantes que faziam jogo com os que levava no cabelo. Escolheu um anel quadrado de safira e uns pendentes de brilhantes e agitou as mãos no ar.
—Poderia me acostumar a isto! —brincou.
Ele a olhou sorridente e disse:
—Perfeito.
A festa se celebrava em um lugar privado muito seleto. Uma larga fila de limusines esperava para que se baixassem as celebridades e vários fotógrafos tomavam fotos continuamente. À medida que passavam de uma habitação a outra Anna reconheceu muitos rostos famosos, do cinema e da televisão.
—Gazi, que bem que tenha vindo! —exclamou uma ruiva exuberante . Ia coberta de ouro da cabeça aos pés e tinha um acento que Anna não podia localizar—. E esta é Anna! Olá! —agarrou a mão da Anna e a beijou nas bochechas.
—Olá —respondeu Anna.
—Gazi diz que pintas murais de palácios árabes que podem confundir-se com a realidade —disse a mulher—. Espero que pinte algum para mim. Tem que vir para ver-me, Anna, e te ensinarei meu pequeno comilão para que me diga se pode pintar algo nele.
Enquanto Anna dizia que estaria encantada de fazê-lo, um fotógrafo se aproximou deles.
—Posso tirar uma dos três? —disse, e a ruiva posou com um sorriso.
—É obvio, queremos a publicidade —murmurou a anfitriã—. O redator nos doou uma foto a dobro página na revista do fim de semana.
—Obrigado, princesa —disse o fotógrafo e partiu.
—Céus, essa era a princesa... a princesa... —murmurou Anna em voz baixa tratando de recordar o nome quando se afastaram dela. Gazi sorriu e a olhou.
—Ela é a anfitriã do ato benéfico —lhe disse.
—Ato benéfico? —repetiu Anna e olhou a seu redor—. Isto é um ato benéfico? —olhou ao Gazi e soltou uma gargalhada.
—Sheik ao Hamzeh, meu querido amigo! Que alegria verte! —exclamou um homem de cabelo grisalho, ao cabo de um momento, Anna se encontrava falando com um apresentador de televisão.
Anna recordaria sempre aquela noite. Gazi contava a todos os que lhe perguntavam que se conheceram quando lhe comprou um quadro de seda grafite para colocar em sua casa do Barakat.
Assim que várias pessoas pediram a Anna um cartão de visita e lhe disseram que a chamariam porque estavam a ponto de redecorar a casa e gostariam que pintasse algo.
Gazi passou toda a noite pendente dela, lhe acariciando as costas ou olhando-a com desejo. Ela sabia que era uma verdade pela metade, mas era mais embriagador que o champanha.
ficaram até passada a meia noite. Quando partiram, descobriu que o Xeque Gazi ao Hamzeh era um professor manipulando à imprensa.
—A primeira edição já estará preparada —lhe explicou enquanto se dirigiam à porta—. Agora quererão algo novo para a seguinte edição. Seguirá-me o jogo, Anna?
—De acordo —disse ela—. O que vamos fazer?
—vamos discutir e depois nos reconciliaremos —murmurou ele.
Fora fazia frio e os jornalistas estavam debaixo da marquise movendo-se para não ficar gelados. Já os tinham fotografado ao entrar e não estavam muito interessados em fotografá-los de novo ao sair.
Gazi se deteve para lhe dar uma gorjeta ao porteiro.
—Não seja estúpida! —murmurou zangado.
Estava nevando e embora o porteiro tinha varrido o tapete vermelho, a neve começava a coalhar.
—por que sou estúpida? —respondeu Anna furiosa—. Não sou estúpida! —afastou-se dele para a calçada.
—Anna! —ordenou-lhe ele, seguiu-a e lhe agarrou a mão. Anna se voltou e retirou o braço.
—Eu não gosto que me chamem estúpida!
Uma rajada de vento levantou o vestido da Anna e deixou ao descoberto suas pernas, ela se deteve. Os jornalistas começaram a emprestar atenção.
Ao girar-se, Anna pisou em um pedaço de neve. escorregou-se, médio gritou e imediatamente se agarrou ao Gazi. Um segundo mais tarde sentiu que seus pés se levantavam do chão. Gazi a tinha tomado em braços.
—Magnífico, Anna! —murmurou-lhe ao ouvido e ela sentiu o calor de seu corpo.
Ele tinha um braço por debaixo de seus joelhos. Ao levantá-la, a saia se subiu e tinha deixado ao descoberta suas coxas. Os sapatos penduravam de seus pés. Os fotógrafos se formaram redemoinhos a sua redor e Anna tratou de baixá-la saia.
—Não te cubra as pernas! Logo entrará em calor —sussurrou Gazi—. me Olhe Anna, e tranqüila!
Ela colocou um braço sobre o ombro do Gazi e o olhou. Ele se deteve um instante e a olhou com um sorriso sexy. As câmaras se disparavam continuamente e Gazi se deteve junto à limusine que os esperava. Ao cabo de um momento, estavam no interior.
Em seguida, Gazi a abraçou e começou a beijá-la. A música estava soando, os guichês estavam cobertas e a luz era tênue. Anna estava médio recostada no assento de couro, com o vestido pela cintura. Gazi a olhou. Ela se moveu para sentar-se e ele a empurrou para trás com uma mão, enquanto que com a outra encontrou o caminho até o encaixe de suas meias e continuou subindo até chegar a um ponto concreto oculto atrás de sua roupa interior.
Anna ofegou. Não podia mover-se, nem queixar-se para acautelar o que ele tentava. Uma onda de desejo percorreu seu corpo e se intensificava à medida que ele acariciava com cuidado o pequeno grupo de nervos desejosos.
Gemeu e começou a mover os quadris com rapidez. Lhe levantou uma das pernas e a passou ao outro lado de seu corpo, deixando-a com a pernas abertas a seus olhos, suas mãos... sua boca.
Ela compreendeu suas intenções quando ele se inclino para diante. Deixou de acariciá-la e com os dedos apartou a um lado sua roupa interior, então, tal e como tinha prometido, acariciou-a com sua língua ardente de desejo.
Anna lhe agarrou o cabelo. Não podia fazer nada, dizer nada. Estava a sua mercê, rendida ante o prazer que lhe proporcionava.
—Gazi! —gemeu e alcançou o êxtase. Arqueou as costas e esticou os músculos.
—Outro —disse ele e continuou acariciando-a com seus dedos peritos.
Depois de um momento interminável no mundo do prazer, Anna sentiu que ele se retirava. Recolocó sua roupa e a ajudou a sentar-se, com as costas apoiada sobre seu peito, abraçando-a.
—O que está passando? —perguntou ela sem saber onde estavam.
—Estamos chegando ao aeroporto —murmurou ele.
—Ah! —esqueceu-se de que lhe havia dito que retornariam ao Barakat aquela noite. Levantou um pé nu—. perdi um sapato —disse bobamente.
O procurou detrás dele e o encontrou. A limusine se deteve e minutos mais tarde estavam no jato privado, igual à primeira vez, exceto Gazi a olhava lhe prometendo que não passaria a noite só naquela cama.
Não levavam muito tempo no ar quando apareceu a aeromoça lhes levando uma bandeja com delícias turcas. Gazi olhou a Anna.
—Quer um ponche ou uma bebida quente, Anna? Ou prefere ir diretamente à cama?
Não gostava que lhe dessem a escolher. Queria que ele desejasse levar a à cama tanto como ela desejava ir. Assim disse a propósito:
—OH, tomemos um café.
—É obvio —disse ele—. Quanta açúcar quer?
—O que esteja doce.
Ele falou com a aeromoça, quem assentiu sonriendo e partiu.
Enquanto isso, Anna desabotoou o cinturão e se acomodou no assento. Lhe moveu o vestido e uma de suas pernas ficou ao descoberto.
Gazi lhe olhou a perna e depois a olhou aos olhos, com um olhar que a fez pensar de forma imediata no que tinha acontecido na limusine. O calor se apoderou de seu corpo, ardiam-lhe as bochechas.
Enquanto a aeromoça lhe servia o café, Gazi se comeu uma delícia turca. Depois disse:
—Me alegro de que não queira dormir.
Anna desejava estar junto a ele, em alma e corpo. Quase soluçava de amor e desejo.
—Não penso perder nem um momento do tempo que me corresponde, Gazi.
Viu como lhe obscureciam os olhos e entendeu que fazia um grande esforço por controlar-se. Lhe agarrou a mão.
—Então não percamos nem um instante —lhe disse e ao momento estavam no camarote.
Ela se derretia de paixão à medida que lhe desabotoava o vestido, e o beijou enquanto lhe tirava a camisa e as calças. tombaram-se sobre a cama e se beijaram, acariciando-se com ardente desejo.
O lhe acariciou as pernas e lhe tirou o prendedor enquanto ela acariciava seu membro com ânsia.
Quando ele terminou de despi-la e se tirou a roupa interior, ela gemeu e separou as pernas para receber seu corpo.
Desfrutava tanto ao introduzir-se nela que o fez uma e outra vez para contemplar a cara de prazer que punha Anna. Nenhum dos dois poderia dizer quanto tempo estiveram, gemendo de gozo até que o desejo e o amor estalaram como uma bola de fogo que derreteu seus corpos.
Lavaram-se a cara no arroio, e depois se voltaram para olhar a nuvem de pó que indicava como de perto estavam os que os perseguiam.
—Não é uma caravana, Leão —disse ela com tristeza—. É meu pai.
—Assim deve ser, minha amada.
—Matarão-nos —disse ela—. Sozinho o sinto por uma coisa —e ele ficou maravilhado por seu valor já que falava sem que lhe tremesse a voz.
—Então do que lhes arrependem, amada meu ? Eu não me arrependo de nada —disse ele.
—Solo de uma coisa, meu Leão. Desde não ter tido tempo nem lugar para provar nosso amor antes de morrer.
—Ah, isso era —disse ele.
—me dêem sua adaga —lhe ordenou—. Minha vida lhes custará tanto como a sua.
Ele tirou a adaga de seu cinturão.
—minha amada, de verdade querem que assim seja?
— Querem que tenha uma morte covarde em mãos de meu amado? Como nos encontraremos no outro mundo, se lhes pedir isso ?
Seu coração chorava ao vê-la tão decidida.
—Algum dia —disse ela—. Algum dia nos encontraremos. Em algum sítio, de algum modo. Não sentem o mesmo ?
Ele ficou em silêncio.
—Assim será! —jurou ela—. Se o desejarmos! me jurem que assim será!
O Leão tirou sua espada e pôs a mão sobre o fio.
—Ponho a Deus por testemunha, embora morramos aqui, minha alma seguirá errante até que suas palavras se cumpram, minha amada.
—Assim seja! —disse ela—, e quando nos encontrarmos, viveremos a vida que perdemos. Porque Deus premia a perseverança dos amantes verdadeiros. Como poderia fazer outra coisa ?
Era meio-dia na vila e estavam comendo na terraço junto à piscina quando soou o telefone.
Ninguéma estava viva. Jaf já tinha ido ver a. Gazi o contou a Anna antes de seguir falando com seu irmão durante comprido momento. Enquanto, Anna esperava impaciente para saber os detalhes.
—Saltou da ponte —lhe disse quando pendurou—. O Támesis tinha o nível da água muito alta e isso a salvou.
Anna se mordeu o lábio e tratou de encontrar as palavras adequadas. Tomou a mão e a beijou.
—Alguém que estava em uma casa flutuante a viu e a resgataram. Ela lhes pediu que não fossem à polícia, disse-lhes que se seu marido a encontrava a mataria. O homem era cirurgião. Levou-a a um hospital privado. Após esteve muito doente para contar nada. Quando se recuperou um pouco, chamou o único número que recordava. Por fortuna, era o de nosso apartamento de Londres e Jaf estava ali.
Ele ficou em silêncio e ela perguntou:
—O que aconteceu Ramiz?
—A razão pela que ela decidiu saltar foi porque quando Ramiz descobriu que ela estava grávida, lhe prometeu retornar ao Barakat e nos pedir que iniciássemos o processo de divórcio. Nunca voltou ou seja nada dele. Yusuf devia suspeitar algo e por isso a manteve prisioneira. Ela não sabia nada do desaparecimento do Ramiz, mas Ninguéma sabia que se Ramiz tivesse falado comigo, eu o teria contado. Pensou que Ramiz não lhe tinha sido fiel. Yusuf cada vez estava mais ciumento e ela temia por sua vida e pela do bebê. Tinha razão, Anna. ficou de parto e viu que era sua única oportunidade. escapou e deu a luz em uma garagem. Então se deu conta de que não tinha aonde ir. Nós não estávamos na cidade e nosso apartamento seria o primeiro sítio onde Yusuf a buscaria. Tomou um táxi e deixou ao bebê sem que o condutor se inteirasse, aproximou-se da ponte e saltou.
ficaram em silêncio.
—Então eu entrei no táxi —murmurou Anna.
—Sim, Ninguéma disse que uma mulher entrou quando ela saiu. Diz que te olhou e que te confiou ao bebê em silêncio.
—Não recordo nada. Deve estar muito contente de saber que tem ao Safiyah, sã e salva.
—Sim, é obvio. arrepende-se do que fez, e vamos levar a casa quanto antes para que esteja com sua filha.
—Mas estão preocupados —disse Anna—. Tem que ver com o Ramiz?
—Sim, em parte sim. Concerne a mais gente que a Ninguéma, Safiyah ou Ramiz. É algo pessoal, mas de uma vez algo muito mais importante. Pode que concirna à segurança nacional dos Emirados do Barakat.
Ela respirou fundo.
—Se lhe o conto Anna, terá um grande secreto que guardar. Não pode contar-lhe a ninguém, nem sequer ao Lisbet. Pode assumi-lo? Escutará-me?
—Trabalha para o príncipe Karim?
—Sou seu homem de confiança. É obvio que trabalho para ele. Neste assunto, para todos os príncipes.
—É um espião?
—Não é meu trabalho habitual. Mas todos fazemos o que seja necessário.
Anna olhou por volta do mar e se perguntou como uma vida podia trocar tão drasticamente em tão pouco tempo. Como tinha chegado a essa maravilhosa vila se duas semanas antes não conhecia sua existência? Já escutar os segredos de estado dos Emirados do Barakat?
—Se me contar todo isto, é porque vais pedir me que faça algo?
Ele tragou saliva e a ela lhe encolheu o coração.
—Sim, quero te pedir algo. Mas lhe quero pedir isso não te convencer de nada. Estou cansado de que haja segredos entre nós.
Anna sentiu como lhe acelerava o pulso.
—Desde o começo me vi obrigado a suspeitar de ti, contra minhas inclinações naturais, Anna. Não podia dizer nem fazer as coisas que desejava, porque arriscava muito mais que minha felicidade ou a vida de minha irmã. Se me deixava cegar por ti, todo o país poderia sofrer as conseqüências. Agora te peço permissão para te contar a verdade.
Anna tragou saliva e disse:
—Sim, por favor, me conte.
—Já sabe que Ramiz estava realizando uma missão secreta para os príncipes. O que não te contei é que essa missão consistia em infiltrar-se em um grupo secreto que tentava derrocar à monarquia.
Anna ficou boquiaberta. Logo que podia respirar.
—Acreditam que Ramiz não foi quem decidiu voltar a encontrar-se com Ninguéma. Suspeitamos que suas investigações o levaram até o Yusuf. O que diz Ninguéma parece confirmá-lo.
—meu deus! Quer dizer que Yusuf forma parte da conspiração?
—Yusuf não devia saber que Ninguéma estava apaixonada antes do matrimônio. Meu pai guardou seu segredo. Se o tivesse sabido não teria permitido que Ramiz conhecesse sua esposa, conforme diz ela. Mas Ramiz sim sabia quem era Yusuf. Pobre Ramiz, sua missão requeria que aceitasse o convite do Yusuf!
—Que horror! —disse ela.
—Compreende agora, Anna, por que tinha que te mentir, te seqüestrar e te acusar? Não são sozinho as vistas dos príncipes as que correm perigo. Se os derrocassem, haveria uma guerra civil no Barakat. Tribos contra tribos, irmãos contra irmãos. Tiraria a luz rivalidades que agora estão esquecidas. As repercussões durariam várias gerações. Nossa vida pessoal era menos importante que isto.
—Pode aceitar que tenha atuado desta maneira, Anna?
Ela assentiu e agachou a cabeça, sem atrever-se a imaginar o que vinha depois.
—te ter aqui, estar cada vez mais apaixonado por ti, compreender o equivocado que estava... suspeitar que me fez isto deliberadamente... estar obrigado a te mentir... espero que não tenha sofrido tanto por culpa minha que não seja capaz de me perdoar, Anna.
Ela não se atrevia a levantar a cabeça.
—me olhe —lhe ordenou com doçura, e ela o olhou aos olhos.
—Quero-te, Anna. Quando está aqui, sinto que esta casa, a casa de meus antepassados, está completa. Esteja onde esteja, se você estiver comigo, sentirei-me em casa. Fica comigo. Não peço que deixe sua profissão, Anna. Eu passo mais da metade de meu tempo na Europa... funcionará. Já me ama um pouco, acredito. Se não, não me olharia dessa maneira quando fazemos o amor, não é assim?
—OH, Gazi! —sussurrou ela.
—me deixe terminar —suplicou ele—. Te vi com o filho de minha irmã e sei que é a mãe que quero para meus filhos. Sei que, de algum modo, aquela noite entrou no táxi porque tínhamos que nos conhecer. E assim o fizemos. Não deixe que te permita escapar. te case comigo, e farei que seu amor seja mais intenso. Se um homem pode fazer que uma mulher o ame, Anna, eu sei que posso conseguir que me ame.
ficou em pé e tomou entre seus braços. ficaram de pé junto a um arco coberto de flores, ele a protegia com seus fortes braços. Um delicado perfume emanou quando seus corpos fizeram tremer às flores.
—Gazi —foi tudo o que ela pôde dizer, mas com essa palavra o havia dito tudo.
Alexandra Sellers
Leia também da autora...
Depois de uma noite de amor primitivo e eletrizante com o xeque Arash Khosravi, Lã Holding não havia tornado a suportar que outro homem a tocasse. Separados pelas circunstâncias, acreditava que não voltaria a vê-lo. Mas sua reunião foi amarga porque o orgulho e o sofrimento tinham convertido ao atrativo xeque em um homem tão frio como a tormenta de neve da que tentavam refugiar-se... Arash tinha arriscado toda sua fortuna para salvar a seu adorado país e, portanto, não tinha nada que lhe oferecer a Lã. Mas estar a sós com aquela beleza era muito tentador para sua nobre resistência e, rendendo-se à mulher que era sua tortura e seu delírio, prometeu fazê-la sua para sempre. Mas, poderia convertê-la em sua esposa quando não tinha nada que oferecer, exceto a si mesmo?
O inverno estava atirando o último golpe às montanhas. Um forte vento tinha começado a sopro depois do almoço e, uma hora mais tarde, o céu se encheu de nuvens.
Com botas, agasalho impermeável e calças jeans, Lã Holding tiritava de frio apoiada na porta do jipe, enquanto observava ao Arash trocar uma roda, com o joelho esquerda dobrada e a perna direita estirada penosamente a um lado.
Poderia havê-lo ajudado mas quando, em seu habitual tom autoritário, lhe havia dito que não se incomodasse, não havia, querido insistir. Estava decidida a desfrutar daquele viaje pelas muito formosos montanhas Koh-i Shir apesar de sua presença.
—Nada —suspirou, guardando o walkie-talkie que solo oferecia um som estático.
—Provavelmente seguirão no Seebi-Ku-chek —disse Arash, enquanto terminava de trocar a roda—. E o walkie não serve de nada nas montanhas.
Seebi-Kuchek era o povo no que tinham acontecido a noite. O comboio que tinha saído do palácio da capital do Parvan no dia anterior consistia em dois jipes. Em um deles foram Lã e Arash e no outro, dois de seus homens, guarda-costas, escoltas ou como queria chamá-los. Embora tinha começado a pensar que seu papel consistia em que Arash e ela...
Alexandra Sellers
O melhor da literatura para todos os gostos e idades