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Planeta Criança



Poesia & Contos Infantis

 

 

 


A PROPOSIÇÃO 5
A PROPOSIÇÃO 5

 

 

      

 

 

 

 

 

A luz do amanhecer brilha através das pesadas cortinas que revestem as paredes formando uma fina fenda de branco puro no tapete escuro. Eu fico olhando para ele, perdida em seus pensamentos. Perto de mim, Bryan está dormindo. Eu envolvo meus braços ao redor dele e seu corpo se parece tão forte. É por isso que isto é tão difícil. Não faz nenhum sentido. Para além da dor, eu não posso ver o que está acontecendo com ele. É interno. Seu corpo o está matando segundo a segundo. Eventualmente, ele irá respirar e não haverá outro. Eu não posso suportar a ideia.
Minha vida tem sido moldada por morte. Todo mundo que me importa, todos, exceto Maggie, partem. Eu escorrego para fora da cama, agarrando o meu telefone antes de ir para fundo do corredor. Eu envio uma mensagem de texto para ela, embora eu duvide que ela esteja acordada.
Eu digito: Estou com Bryan. Apenas verificando para ter certeza que está tudo bem.
Para minha surpresa ela envia uma mensagem de volta: Eu estou, mas tenho uma coisa horrível para lhe dizer.
Nada poderia ser pior do que perder Bryan. Eu digito de volta: Eu também.
Volto logo para casa e podemos conversar.
Ela responde: Ok.

 



 

 


Eu enfio meu celular no bolso antes de pegar a camiseta de Bryan e a puxo
sobre minha cabeça. Eu enfio minhas mãos sob as mangas e vagueio pela mansão
até encontrar a cozinha. Sinto o cheiro do café e preciso desesperadamente de uma
xícara. Infelizmente, a besta “a tia” de Bryan está sentada à mesa com outra
mulher. Ambas estão vestidas em robe. Eu pisco conforme o choque lava seus
rostos. Eu não posso imaginar por que ela está aqui tão cedo, não vestida. Quão
estranho é isso?

Dentro de um batimento cardíaco, Constance está fora de seu assento e no
meu rosto. — Como você ousa desfilar na casa da minha irmã usando coisas do
meu sobrinho? Saia agora mesmo, sua puta! — Ela tenta bater no meu rosto, mas
eu agarro seu pulso.

As coisas finalmente clicam no lugar. A forma como as mulheres estavam
olhando uma para a outra, o toque de suas mãos, a forma como os seus olhos
permanecem naquele olhar fixo familiar, o fato de que ela está aqui, quando sua
irmã e cunhado já se foram e a forma como Constance se transforma em um tigre
quando ela me vê - faz sentido. Ela está escondendo um segredo há anos que
poderia arruiná-la para sempre. É por isso que ela suporta as infidelidades do Sr.
Ferro e porque permite que suas mulheres valsem pela sua casa.

Constance é gay - e esta mulher é sua amante. Ela pensou que eu soubesse,
mas eu nunca percebi antes.

Ela puxa sua mão do meu aperto e se prepara para começar a gritar
novamente. Eu a interrompo, cansada. — Eu não me importo com sua vida ou
suas preferências. Eu entendo que seja um tabu para você ser vista com ela. Eu
entendo isso, Constance, eu realmente entendo. Eu não a julgo por isso, então pare
de me julgar. A única coisa de que eu quero vocês é o café. — Eu caminho,
passando por ela.

O queixo de Constance está no chão. Sua namorada, uma mulher pelo menos
dez anos mais nova que ela, fica rígida, olhando-me com medo. Relações do mesmo
sexo podem ser ultramodernas e estarem na moda em Nova York, mas não entre
antigas famílias endinheiradas como esta. Isso a arruinaria. É por isso que ela me
odeia. Ela acha que eu tenho andado por aí esperando para soltar uma bomba em
sua vida.

Quando Constance fala, seu tom é cético: — Você sabe há muito tempo e não
disse nada. Por quê?

— Porque eu não me importo com você. — Eu mantenho minhas costas
para ela enquanto despejo o líquido escuro em uma xícara pesada. É muito cedo. As
pessoas normais não estão acordadas às cinco da manhã. Elas provavelmente
estavam tomando café da manhã antes de se separarem para o dia. Quando me viro

para falar, as duas mulheres estão me olhando mortificadas. — Eu me preocupo
com Bryan. Você não percebeu nada sobre ele que lhe diz respeito?

Seu olhar se estreita. — Não brinque comigo. Eu conheço minha família,
cada um deles.

— Sim, bem, você pode querer falar com ele. — Ela bloqueia seu maxilar,
preparando-se para ordenar que eu saia, mas eu acrescento: — O tempo é uma
coisa engraçada. Todos nós pensamos que temos uma tonelada dele até que seja
tirado de nós, então nos damos conta de que nunca foi o suficiente, para começar.
Use o tempo que você tem, Constance. Ame as pessoas que queira e se certifique de
que eles saibam disso. Chegará o dia em que você lamentará que não o fez e a
chance passou por você.

Ela endurece quando eu falo. — Você está me ameaçando?

Eu rio alto com o ridículo de sua declaração. Ela não tem nenhuma pista. Eu
estava me referindo a mim e Bryan, para a piscina constante de arrependimento
que enche meu estômago. Poderíamos ter estado juntos, mas essa oportunidade
está perdida agora, o tempo que nunca teremos.

— Você está tão errada sobre tudo, lacrada em sua pequena bolha, fora de
contato com o mundo real. Isso não é sobre você, então você acha que está segura,
mas você nunca está, não do tempo - não da morte. Seu sobrinho... — Eu engulo
em seco, mas não quebro o contato visual. — Certifique-se que sua mãe descubra.
Isso é tudo que eu quero.

A suposição de que eu estou fazendo é enorme - aquela que Elizabeth Ferro
se importará se seu filho vive ou morre. Bryan não contou a ninguém sobre sua
doença, exceto eu. Jon pode ver isso, mas os outros não têm ideia. Eu não sei
quanto tempo resta à Bryan, mas não quero que ele o gaste se preocupando ou
brigando. Eu quero estar lá para protegê-lo e, por alertar o Ferro de seu estado, eu
provavelmente só fiz isso mais difícil de acontecer - mas que é a coisa certa a fazer.
Se eu tivesse um segundo extra para gastar com o meu pai... O pensamento se
esconde em minha mente, sol a sol. Quando a noite lava o céu com tons roxos de
tinta e manchas de âmbar cintilante, eu gostaria de ter mais uma oportunidade de
dizer todas as coisas que nunca tive a chance de expressar. Agora, esses
pensamentos estão presos dentro da minha alma, me segurando cativa. Eu nunca

vou ser livre. Eu nunca tive a chance de dizer adeus. Eu estou dando aos Ferro essa
oportunidade e esperando além da esperança de que eles não me joguem para fora
na minha bunda em recompensa.

Empurrando de lado meus pensamentos, eu coloco meu copo vazio para
baixo e saio, deixando Constance e sua amante, boquiabertas, no meu despertar. As
duas mulheres atrás de mim são crianças brincando de casinha. Eu posso ser mais
jovem do que elas em anos, mas minha alma parece velha. É imaturo pensar que a
sua vida seja apenas sobre você. A vida é sobre as pessoas ao seu redor. Como eu
gostaria de nunca crescer, mas desejar é desperdício de tempo e eu me recuso a
desperdiçar mais um segundo.

Capítulo 2

Maggie e eu planejamos, através de mensagens de texto, nos encontrar em
algum lugar que tenha um bagel logo após o amanhecer. Os únicos carros no
estacionamento são da loja. O resto do centro de compras ainda está fechado. Eu
não espero muito tempo, quando ela se junta a mim no final da fila.

— Hey. — Diz Maggie, me envolvendo em um abraço.

Eu a abraço de volta, segurando-a um segundo muito longo. Ela vai fugir
novamente. Eu sei disso. Ela não lida bem com a morte também. Acho que
ninguém faz, mas Maggie viu muito dela. Quando eu a solto, me forço a perdoá-la
com antecedência. Uma alma só pode tomar tanto abuso antes que não possa
evitar, exceto reagir. É como o cão de Pavlov. A campainha da morte soa e Maggie
corre.

Eu enfio um pedaço de cabelo atrás da minha orelha e encosto contra a
vitrine de vidro, antes de enfiar as mãos nos bolsos. — Hey. Como tem passado?

A fila faz a volta para fora da porta e para baixo da frente do centro
comercial com pessoas que já pararam para um bagel e café em seu caminho para
o trabalho. A fila se aproxima alguns centímetros mais próxima da comida e nos
movemos com ela, antes de retornar nossas posições contra o vidro. Meu estômago
ronca com o cheiro de fermento e eu mal posso esperar para provar o pão macio,
quente e mordê-lo, saboreando o cream cheese espesso. Eu aprendi a não dar por
certo pequenas coisas. Bagels me ajudam a encontrar meu lugar feliz.

Eu pretendo pegar um para Bryan também - sementes de papoula com
manteiga, exatamente como ele pedia na escola. Viemos aqui tantas vezes. Eu fico
olhando para fora, no estacionamento, minha mente vagando em uma memória de
Bryan me levantando em um carrinho de compras e empurrando-me como um
louco pelo mercado, rindo o tempo todo.

Outro cliente perguntou: — Que corredor você a encontrou? Eu quero uma!

Bryan apenas sorriu, os olhos deslizando sobre mim no carrinho. —
Desculpe, cara. Esta era a única e é toda minha. Eu nunca a deixarei ir. — A

memória ecoa fortemente em meus ouvidos. Parece que poderia ter acontecido
ontem.

A voz de Maggie me encaixa de volta ao presente. Ela encolhe os ombros e
puxa a alça da bolsa para cima de seu ombro. — Eu estou bem. Acho que encontrei
um apartamento para nós, mas eu ouvi que Neil comprou para vocês uma casa. —
Ela faz uma cara de, bem, tenta não fazer uma cara, que faz sua expressão de dor
ainda pior. A fila se move de novo e, com um passo à frente, ela deixa escapar: —
Você realmente vai se casar com ele? Achei que você amasse Bryan? Parecia que
estava totalmente encantada com o gatinho do sexo. Bem, você é a gatinha.
Rapazes são o quê, tigres? Tigre sexual soa mal. — Ela ri, mas sua risada leve
desaparece quando ela vê o meu sorriso falso. — O que há de errado, Hallie?

Eu tento manter minha voz firme, mas treme sem minha permissão. Não há
nenhum ponto em protelar por mais tempo, e além disso, eu preciso dela. Mesmo
que ela vá correr, eu tenho que falar com alguém enquanto eu tiver a chance. —
Maggie, ele está morrendo.

— Mas, ele não pode estar! Ele... — Maggie deixa escapar muitas palavras de
uma só vez e quase começa a chorar. Ela é a pessoa mais empática que eu já
conheci. A minha dor está representada em seu rosto quando ela para, aperta
minha mão e me puxa para um abraço de urso que poderia explodir minha cabeça.
— Eu sinto muito, Hallie. — Ela enxuga as lágrimas com as costas da mão e olha
para o meu ombro, não querendo perguntar. Cada palavra é como se enfiasse uma
faca no meu lado. — O que há de errado com ele?

Eu a atualizo com o que sei que aconteceu até agora. Minha voz continua
difícil quando eu chego ao fim da história. — Nós terminamos por causa de sua tia
Constance. Ela achou que eu iria arruiná-la com informações que eu não deveria
saber, então ela descobriu uma maneira de nos separar. — A raiva eu não tinha
notado até agora borbulha sob a superfície da minha mente. Eu não vou ficar com
raiva, eu não posso ficar. Eu me recuso a perder meu tempo com ela ou o que ela
fez. — Maggie, eu não poderia me importar menos com ela, mas eu quis Bryan
todo esse tempo e não o tive por causa dela.

— E, no entanto, você não soa como louca. Você parece mais
assustadoramente tranquila sobre isso. — Uma sobrancelha vermelha levanta
levemente em sua testa sardenta.

Eu olho para ela conforme nos movemos com a fila para dentro da pequena
loja, e nos aproximamos da bandeja do pão assado. Maggie pede em primeiro lugar,
então eu peço e pago por nossos itens. Pegamos o nosso café da manhã, cortamos
de volta através da fila, para fora da porta, em direção ao estacionamento. Fico ali
na frente dela querendo falar, mas incapaz de encontrar palavras, em seguida,
entrego para ela o pão e suco de laranja.

Minha boca se abre duas vezes, mas as palavras não saem. Eu finalmente
olho nos olhos dela e explico. — Eu não estou louca. Bem, eu estou - mas não quero
estar. É um desperdício de tempo e eu não tenho tempo de sobra. Eu estou
pensando em ficar com ele, Maggie. Seja qual for o tempo que lhe resta, eu quero
estar lá.

— Eu entendo, e eu estou aqui para você. — Ela pega a minha mão, mas eu
não posso olhar para ela.

— Não faça promessas que não pode cumprir, Maggie.

— Eu estou as mantendo desta vez.

— Eu prefiro saber agora que você vai desaparecer. Eu posso lidar com isso
sozinha. Eu estou bem, realmente. Eu sei o que isso faz para você e... — Eu arranjo
desculpas para ela até que ela me corta.

— Não. A última vez eu não estava lá para você, porque Victor era um idiota.
Eu não tive escolha. Isso fazia parte da maneira como ele estava me controlando,
mas ele já se foi, Hallie. Eu não vou fugir. Eu estarei lá para você. Você não terá que
lidar com isso sozinha. Eu prometo. Podemos passar por qualquer coisa, você e
eu. Eu não vou deixar você Hallie. Nós somos irmãs. Eu vou estar lá neste
momento. — Ela sorri sem jeito e olha para o chão sob suas botas.

Ela muda o seu peso para o outro pé e olha para mim debaixo de muito
rímel. Sua boca fica aberta por um segundo e seus lábios enrolam, como se ela não
quisesse dizer o que está prestes a cair de sua boca. — Há algo que você precisa
saber, e eu não sei se você vai gostar ou não com tudo o que aconteceu, mas precisa

saber. Você precisa. E eu odeio dizer isso agora, mas talvez seja melhor assim. Eu
esperaria se eu achasse que ajudaria.

— Maggie, diga-me. O que é?

Ela puxa um monte de ar e cospe para fora. — Ontem à noite, enquanto você
não estava em casa, entrei e vi o que parecia ser Neil e Cecily fazendo coisas que
estava muito além da zona do amigo. — Seus lábios são esmagados em conjunto,
enquanto ela tenta permanecer inexpressiva. Eu posso dizer que ela quer castrar
Neil conforme ela luta para manter seus lábios em uma linha reta.

Eu pisco, e isso é tudo. A raiva não vomita da minha boca e minhas mãos
não estão cerradas em punhos. Eu não me sinto quebrada ou até mesmo chocada.

Eu não sinto nada.

Se eu amasse Neil, eu estaria irada, mas eu não estou. Concordo com a
cabeça.

O rosto preocupado de Maggie franze enquanto ela empurra seu brilhante
cabelo atrás da orelha. — Eu não sei se eu deveria dizer. Eu o odeio, mas pensei
que você gostava do cara. — Ela me olha com tal preocupação que eu não posso
deixar de sorrir para ela.

Meu olhar abaixa para o chão e eu tomo uma respiração profunda, antes de
dar-lhe um abraço de lado. Quando eu a deixo ir, murmuro: — Eu estou feliz que
você me disse. Desgraça pouca é bobagem, certo? — Eu ofereço um sorriso de
novo, mas é falso neste momento. Há muitas lembranças correndo pela minha
mente, e o movimento faz minha pele parecer como se fosse rachar.

— Yeah. — Ela ri. — Pelo menos não temos que nos preocupar com Victor.
Devo-lhe muito por isso. Os jornais disseram que um dos seus homens o matou no
meu apartamento. Se você não tivesse me arrastado para fora, naquela noite eu
teria levado um tiro, também.

Eu sou insensível ao que eu fiz, pelo menos no momento. Às vezes, quando
eu não consigo dormir, o pensamento de que fiz desliza em minha mente, não
desejado. Victor é um pesadelo que não vai morrer, mas não posso perder o meu
tempo.

— Somos eu e você, agora. — Eu digo a ela com firmeza. Ela sorri
tristemente para mim e assente. — Maggie, você pode ir a casa de Neil e pegar
minhas coisas? Há apenas algumas caixas. Eu nunca desembalei, não
realmente. Neil queria que eu fizesse, mas eu empurrei a maioria delas na parte de
trás de um armário. — Eu retiro minha bolsa e escrevo-lhe um cheque. — Isso
deve cobrir o aluguel do nosso novo apartamento e tudo o mais que
precisamos. Deixe-o bonito, ok? Vai ser bom ter um novo lugar bonito para ir para
casa quando isso acabar.

Maggie pega o cheque e olha para todos os zeros, antes de olhar para mim.
Uma mecha de cabelo vermelho cai na frente de seus olhos. — Hallie, eu não posso
aceitar isso.

— Sim, você pode. Vai fazê-lo. Precisamos de um lugar para viver. Eu
gostaria de ter mais a oferecer, mas essa discussão é para outro dia. Entretanto,
isso vai nos colocar em uma boa vizinhança e nós estaremos confortáveis.

— Você vai processar Neil e Cecily? Eles praticamente gastaram todo o seu
dinheiro.

Concordo com a cabeça. — Provavelmente, mas não agora. Eu preciso fazer
um telefonema. — Maggie balança a cabeça e eu disco para o meu banco enquanto
seguimos para o meu carro. Eu explico a um funcionário do banco muito prestativo
que o nome de Neil deve ser retirado da minha conta imediatamente e todas as
transações em andamento com a sua assinatura, devem ser transferidas para a sua
conta. Verificação conjunta foi ideia dele. Eu esfrego minhas mãos sobre meu rosto
e sento com força no capô do meu carro. A coisa está suja, mas eu não me
importo. O funcionário do banco me pede para ir em breve para assinar os papéis,
e fazer as alterações em minha conta oficial. Quando eu insisto que eles precisam
ser assinados agora, ela diz para vir quando for mais conveniente.

Eu desligo e olho fixamente para as portas fechadas da mercearia. — Eu não
posso fazer isso de novo, não tão cedo. — A perda do meu pai ainda paira pesado
em meu coração, ameaçando me puxar para baixo. Minha dor não diminuiu e a
fama não ajudou. A única coisa que me faz sentir melhor é Bryan e agora vou
perdê-lo também.

Eu não posso respirar. Inclinando minha cabeça para trás com os olhos
cheios de lágrimas, eu olho para o céu e as nuvens brancas onduladas. O céu estava
aqui muito antes de eu nascer e vai estar aqui muito tempo depois. Faz-me sentir
pequena, como se a minha vida não importasse em tudo.

Maggie me bate com sua bota. — Bagel?

— Eu não estou com fome. — Eu estava com fome apenas um momento
atrás, mas agora não sinto nada parecido com isso.

— Merda resistente. Eu estou cuidando de você, o que significa que você
come isso ou vou enfiar na sua cara. — Ela está sorrindo para mim. — Eu vou fazer
isso.

Eu roubo a minha comida de sua mão. — Eu sei que você vai. —
Desempacotando a coisa, dou uma mordida e percebo que eu estou morrendo de
fome.

— A vida não é sobre a morte, você sabe. — Diz Maggie de repente. Ela está
sentada ao meu lado no capô, olhando para uma nuvem, pegando arrancando
pedaços de seu bagel, e os jogando em sua boca um de cada vez.

— Então o que se trata? — Eu pensei que eu sabia em um ponto, mas não
tenho ideia, não mais. A vida parece uma piada cruel.

— É sobre as relações que você faz, a bondade que oferece e você mostrar
compaixão. É a sua chance de mostrar ao mundo quem você é e o que faz você.
Hallie, você é a pessoa mais forte que conheço. Em vez de sentar aqui chorando
comigo, você deve estar com Bryan. Aqui. — Ela me dá o bagel extra. — Cheque de
vez em quando e quando você precisar de mim, eu vou. Nesse meio tempo, vou
deixar nossa casa pronta, eu prometo. Nada me manterá longe desta vez. Quando
você precisar de mim, eu estarei lá - se estiver no hospital, a funerária ou apenas
quando você precisar de uma pausa.

Eu sinto uma vibe nervosa vindo dela. — Você não é fraca, Maggie. Somos
sobreviventes, eu e você. — Quando eu digo isso, quero dizer para confortá-la, mas
uma bola dá um nó na minha garganta.

Ela pega a minha mão e se inclina, descansando a cabeça no meu ombro. —
Nós vamos sobreviver a isto também “juntas”.

Capítulo 3

Eu não quero pensar em Neil, então eu volto para a mansão Ferro e me
esgueiro para dentro. Ainda é cedo. As únicas pessoas que vejo são os empregados.
Eles me veem e não dizem nada. Deve ser estranho viver como uma estátua dia
após dia, sem ninguém, mas outros funcionários, na verdade, reconhecem que você
é humano. Eu não posso evitar isso. Eu sorrio para o mordomo que está sempre
ocupado, correndo para algum lugar. Ele inclina a cabeça em saudação, mas não
abranda.

Depois que ele passa, se vira para trás. — Você precisa de alguma coisa, Sra.
Raymond?

Eu sorrio e balanço a cabeça. — Não, é apenas bom vê-lo. — Eu olho para
ele. Este homem tem sido constante na vida de Bryan por anos. Eu me pergunto se
ele sabe que Bryan tem um segredo, porque nada lhe escapa, pelo menos não
quando éramos mais jovens. Eu me lembro de receber olhares severos dele quando
éramos muito jovens e fazíamos coisas muito loucas, enquanto a mãe de Bryan não
estava por perto. Mas o cara nunca nos entregou.

— Da mesma forma, Sra. Raymond. Diga ao Sr. Ferro que se ele precisar de
ajuda pode pedir qualquer coisa para mim. — Seus olhos perfuraram os meus por
um momento antes que ele olhe para o lado.

Ele sabe.

Concordo com a cabeça e vou para o modo de super mocinha. Antes que eu
possa me parar, lanço o meu corpo para ele e meus braços em volta do velho,
abraçando-o em um abraço de urso em estilo desleixado. Ele endurece com choque
e, em seguida, dá um tapinha minhas costas. — As pessoas vão dizer-lhe que ele
vai ficar bem. Ao longo dos próximos meses, você vai ouvir isso de novo e de novo,
mas a perda não é assim que funciona. As coisas não vão voltar ao normal, mas a
vida continua. Converse com ele sobre isso, enquanto você tem a chance.

Meu queixo cai. — O quê? Isso seria tão mau. Eu não posso...

— Isso não é o problema meu, mas se você fosse minha filha, era o que eu
diria a você. Tempos sombrios estão chegando, se este homem é o seu raio de luz,
mergulhe no sol tanto quanto puder e quando puder.

Acho que entendo o que ele quer dizer, então balanço minha cabeça para
cima e para baixo lentamente. Falar sobre a morte com alguém que está morrendo
é o que ele quer dizer. Vamos acabar discutindo todas as coisas que queríamos
fazer, mas nunca teremos a chance. Minha garganta aperta com o pensamento e os
meus olhos lacrimejam. — Obrigada.

— Qualquer hora, Sra. Raymond. — Ele inclina a cabeça para mim como se
eu fosse uma rainha e se vira para correr para longe.

Eu não gosto da sua sugestão, mas parte dela me chama. E se a gente falar
sobre isso? Eu balanço minha cabeça e aperto as mãos. Não! Eu não quero! Isso não
é justo e não posso simplesmente aceitar que vou perdê-lo - não depois que
finalmente nos encontramos novamente. Não depois de todo esse tempo.

No momento que estou dentro da mansão de Bryan, paro na porta. Minha
intenção era ir à ponta dos pés para o quarto de Bryan, mas sou presa pelo Ferro
que eu mais temo - Sean. Ele está encostado na parede, os braços cruzados sobre o
peito. Ele se parece com sua mãe, toda acusação não dita claramente visível em
seus olhos. Suas roupas escuras - casaco de couro, calça jeans, camisa preta e botas
shitkicker. — Você e eu temos algo a discutir.

Minha intenção é passar por ele. — Não tenho nada para lhe dizer.

Sean libera seus braços e caminha em minha frente. Ele é silencioso e letal,
com vibes malucas irradiando dele como micro ondas. Ding! — Bem, eu tenho algo
que você precisa ouvir - sobre um homem chamado Victor. — Minha respiração
para na minha garganta enquanto minhas mãos vão para o meu coração. Sean me
puxa pela curva do meu cotovelo para longe da porta de Bryan. — Sim, eu achei
que você soubesse alguma coisa sobre isso. Os jornais estão dizendo que um dos
seus homens o matou, mas os policiais estão bisbilhotando, me fazendo perguntas
sobre um traficante de merda. Eu não gosto de policiais e não gosto ainda menos
de perguntas. Então, me diga, como é que eles rastrearam até aqui? O que você
deixou para trás?

Eu rio, mas ele ignora. — Você acha que eu o matei? — Estou pressionando
meus dedos em meu peito, piscando, com meu queixo caído. Embora seja um
excelente desempenho, algo que me afasta. Sean pode ver isso.

Ele dá um passo no meu espaço de uma maneira ameaçadora. Sua voz
ressoa: — Eu sei que você o matou.

— Não, você não sabe. — Eu agarro, tentando me empurrar por ele
novamente, mas Sean não me deixa passar. Ele bloqueia o lugar com seu corpo
maciço.

Inclinando-se perto do meu rosto, ele sussurra baixinho: — Se eu sei, a
minha mãe sabe e você não quer pegadas sujas que levam direto para a porta da
frente. Você precisa se separar de Bryan e sair daqui antes que descubram isso.

Eu balanço minha cabeça e mordo meu lábio inferior. Eu provavelmente
pareci como um moleque teimoso, mas não vou deixar Bryan.

Os olhos de Sean travam com os meus e sua voz cai para um sussurro letal.
— Eu posso fazê-la desaparecer.

Algo desperta dentro de mim, essa mesma característica de proteção que
me fez cortar a garganta de Victor, em primeiro lugar. Minha coluna se endireita e
eu fico na frente do seu rosto. — Da mesma forma.

Depois de um momento de reflexão, o homem na verdade ri. Sean esfrega o
queixo com a mão. Eu não posso dizer se ele está se divertindo ou pensa que sou
louca. Ele finalmente pergunta: — Por que você fez isso?

— Por que você acha? O homem era um estuprador assassino. Vamos
apenas dizer que eu estava no lugar errado na hora errada. Acidentes acontecem e
eu não ia deixar que qualquer outra coisa acontecesse com a minha amiga. Ela é a
única família que me resta. — Eu sugo o ar, tentando inchar, então não sou tão
pequena, mas em comparação com Sean Ferro, sou um palito.

Seus olhos azuis mudam para o lado antes que ele passe as mãos pelo
cabelo. — Então, você protegeu sua família, deixe-me proteger a minha. Vá
embora. Não puxe Bryan para isso.

— Para quê? Os mortos não puxam qualquer um para qualquer coisa.

— Victor Campone está vivo.

Capítulo 4

Um pequeno grito escapa dos meus lábios e eu quase caio no chão. Meus
joelhos cedem, mas antes de eu ir para baixo, Sean agarra meus braços. Ele me
mantém de pé e continua suavemente. — Os policiais suspeitam que ele esteja
vivo. No momento em que chegaram lá, o corpo tinha desaparecido. Devido à
quantidade de sangue que encontraram, sua suposição natural era que um de seus
homens o matou e jogou o corpo. Os policiais ainda estavam indo por esse caminho
até recentemente, quando pegaram Campone bisbilhotando meu hotel. Então, a
menos que viram um fantasma, o homem ainda está vivo.

— Ele não pode estar. — Eu balanço minha cabeça e meus olhos vidrados
quando me lembro daquela noite. A quantidade de sangue, a forma que sua cabeça
pendia para trás e a ferida era tão profunda. — Não é possível.

Sean suspira e olha para mim com uma expressão que está perdida em
algum lugar entre pena e admiração. Inclinando-se perto, ele diz: — O corte foi
muito superficial. É como apontar para o coração e não acertar. O cara foi
subestimado, os que estavam dispostos e aceitaram fazer isso uma vez, mas ele não
vai ser subestimado novamente. E eu aposto qualquer coisa que ele vai
permanecer morto por um tempo, deixar que os outros façam o trabalho sujo, até
que lhe convenha encenar uma ressurreição.

— Como você sabe tudo isso?

Ele engole em seco, seu olhar se afastando e depois de volta para os meus
olhos. — Periodicamente nossos empreendimentos comerciais se sobrepõem. Eu
ouço coisas. E posso dizer-lhe que se eu ouvi, minha mãe ouviu e você com certeza
não quer irritá-la. Se Campone acabar aqui, você está morta. Se ele não te matar,
minha mãe vai.

Ele agarra meus ombros e me pede: — Hallie, pega a sua amiga e dá o fora
daqui antes que Campone a encontre. — Sean me libera. — Este foi um aviso de
cortesia. Se você ficar por perto e Bryan for morto por sua causa, bem, é melhor

esperar que Victor a encontre antes de mim. — Seus olhos firmam em mim uma
vez com as suas intenções claras.

Eu fico lá por um segundo mal respirando. Nossos olhos estão bloqueados,
nós dois estamos desafiando, mas será que ele não sabe, Sean não sabe sobre seu
primo? Talvez eu devesse pegar Bryan e correr, mas não posso. Não enquanto ele
está doente. Ele vai precisar de ajuda e cuidados paliativos. Eu não posso dar-lhe
essas coisas se eu corro. Minha voz racha quando eu falo. — Eu não posso.

— Não é opcional.

— Não, você não entende. Eu não posso ir embora. Eu não posso correr
mais de Victor e não vou. Eu vou cuidar disso. Eu vou terminar o que comecei. —
Eu não tenho ideia de como, mas vou. Se eu não fizer isso, ele virá atrás de mim e
Maggie. O homem é cruel, ele nunca vai parar de nos caçar. Eu sei disso com
certeza.

Sean levanta a sobrancelha escura. — Você está louca? Você nunca vai ter
outra chance de matá-lo. Ele pensou que era insignificante antes, mas agora ele a
conhece melhor.

Eu me empurro passando por ele. — Eu vou cuidar disso. Ele não virá aqui,
e desta vez, quando eu matá-lo, ele vai morrer.

— Hallie. — Sean quase implora meu nome, quase, mas eu não paro.

Eu entro no quarto de Bryan e fecho a porta. Eu fico lá por um segundo e
derrubo minha cabeça para trás, respirando com dificuldade. Eu nunca soquei uma
pessoa antes. Agora eu simplesmente confessei ao mais assustador de todos os
Ferro que vou dar um fim no senhor das drogas mais notório da cidade. Super foda.

Eu ainda estou segurando o saco com café da manhã de Bryan. Quando
aperto o meu punho, o jornal faz um ruído de crepitação e ele se senta. Um belo
sorriso ilumina seu rosto pálido. — Hey, Menina Bonita. Para onde você correu?

— Para pegar o café da manhã e conseguir alguma sujeira em sua tia. Foi
uma manhã interessante. — Eu sorrio, preocupada com ele e entrego o saco.

— Sujeira na minha tia?

Balanço a cabeça e me sento ao lado dele na cama. — Sim, eu descobri
porque ela me odeia. Ela pensa que eu sei de algo todos esses anos, mas eu não
descobri o que eu sabia até esta manhã.

Bryan desembrulha o seu bagel enquanto estou falando e morde. Seus
firmes olhos verdes encontram os meus. Com a boca cheia, ele me pergunta. — E
então?

Eu penso em manter seu segredo, mas não sinto nenhuma lealdade para
com ela. Além disso, Bryan não vai contar a ninguém. — Ela é gay. Eu a peguei com
sua amante na cozinha de sua mãe esta manhã.

Seu queixo cai e o pedaço de bagel rola para fora da boca, indo para a
colcha. — De jeito nenhum.

Concordo com a cabeça e olho para o pedaço de comida. — Um choque e
tanto, hein?

— Claro que sim. Ela é tão recatada e adequada. — Seu nariz franze com o
pensamento da sua tia ser sexualmente algo.

— E, aparentemente, ela gosta de garotas.

Bryan pisca e sorri. — Bem, isso explica um monte de coisas.

— Sim, como por que ela ainda é casada e permite que prostitutas meio
vestidas andem pela sua casa.

Bryan sorri. — Claro, todo mundo gosta de um pouco de colírio para os
olhos.

Eu bato em seu ombro. — Bryan!

— Vamos lá, pense nisso. Houve uma garota naquela casa desde que Jon era
um bebê. É a família mais estranha que eu já vi. Minha mãe não teria tolerado. Eu
sempre me perguntei por que a tia Constance tolerava.

— Seu pai não tem uma puta coabitante?

Ele inclina a cabeça para mim. — Meu pai não tem tempo para isso. Ele está
muito ocupado ganhando dinheiro para ser incomodado com relacionamentos ou
senhoras de compra. Mas, ainda assim, a tia Connie gosta das garotas. Quem teria

pensado? — Ele balança a cabeça. — Então o que diabos eu vi no dia que
terminamos?

Boa pergunta. Eu suspiro e tenho uma boa ideia de para quem perguntar. Eu
sorrio grande. — Qual é o quarto que Constance usa quando está aqui?

Bryan parece confuso e então seus olhos se arregalam. — Você está louca?

— Só um pouco. — Eu rio e quase aperto meus dedos juntos.


CONTINUA

A luz do amanhecer brilha através das pesadas cortinas que revestem as paredes formando uma fina fenda de branco puro no tapete escuro. Eu fico olhando para ele, perdida em seus pensamentos. Perto de mim, Bryan está dormindo. Eu envolvo meus braços ao redor dele e seu corpo se parece tão forte. É por isso que isto é tão difícil. Não faz nenhum sentido. Para além da dor, eu não posso ver o que está acontecendo com ele. É interno. Seu corpo o está matando segundo a segundo. Eventualmente, ele irá respirar e não haverá outro. Eu não posso suportar a ideia.
Minha vida tem sido moldada por morte. Todo mundo que me importa, todos, exceto Maggie, partem. Eu escorrego para fora da cama, agarrando o meu telefone antes de ir para fundo do corredor. Eu envio uma mensagem de texto para ela, embora eu duvide que ela esteja acordada.
Eu digito: Estou com Bryan. Apenas verificando para ter certeza que está tudo bem.
Para minha surpresa ela envia uma mensagem de volta: Eu estou, mas tenho uma coisa horrível para lhe dizer.
Nada poderia ser pior do que perder Bryan. Eu digito de volta: Eu também.
Volto logo para casa e podemos conversar.
Ela responde: Ok.

 


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Eu enfio meu celular no bolso antes de pegar a camiseta de Bryan e a puxo
sobre minha cabeça. Eu enfio minhas mãos sob as mangas e vagueio pela mansão
até encontrar a cozinha. Sinto o cheiro do café e preciso desesperadamente de uma
xícara. Infelizmente, a besta “a tia” de Bryan está sentada à mesa com outra
mulher. Ambas estão vestidas em robe. Eu pisco conforme o choque lava seus
rostos. Eu não posso imaginar por que ela está aqui tão cedo, não vestida. Quão
estranho é isso?

Dentro de um batimento cardíaco, Constance está fora de seu assento e no
meu rosto. — Como você ousa desfilar na casa da minha irmã usando coisas do
meu sobrinho? Saia agora mesmo, sua puta! — Ela tenta bater no meu rosto, mas
eu agarro seu pulso.

As coisas finalmente clicam no lugar. A forma como as mulheres estavam
olhando uma para a outra, o toque de suas mãos, a forma como os seus olhos
permanecem naquele olhar fixo familiar, o fato de que ela está aqui, quando sua
irmã e cunhado já se foram e a forma como Constance se transforma em um tigre
quando ela me vê - faz sentido. Ela está escondendo um segredo há anos que
poderia arruiná-la para sempre. É por isso que ela suporta as infidelidades do Sr.
Ferro e porque permite que suas mulheres valsem pela sua casa.

Constance é gay - e esta mulher é sua amante. Ela pensou que eu soubesse,
mas eu nunca percebi antes.

Ela puxa sua mão do meu aperto e se prepara para começar a gritar
novamente. Eu a interrompo, cansada. — Eu não me importo com sua vida ou
suas preferências. Eu entendo que seja um tabu para você ser vista com ela. Eu
entendo isso, Constance, eu realmente entendo. Eu não a julgo por isso, então pare
de me julgar. A única coisa de que eu quero vocês é o café. — Eu caminho,
passando por ela.

O queixo de Constance está no chão. Sua namorada, uma mulher pelo menos
dez anos mais nova que ela, fica rígida, olhando-me com medo. Relações do mesmo
sexo podem ser ultramodernas e estarem na moda em Nova York, mas não entre
antigas famílias endinheiradas como esta. Isso a arruinaria. É por isso que ela me
odeia. Ela acha que eu tenho andado por aí esperando para soltar uma bomba em
sua vida.

Quando Constance fala, seu tom é cético: — Você sabe há muito tempo e não
disse nada. Por quê?

— Porque eu não me importo com você. — Eu mantenho minhas costas
para ela enquanto despejo o líquido escuro em uma xícara pesada. É muito cedo. As
pessoas normais não estão acordadas às cinco da manhã. Elas provavelmente
estavam tomando café da manhã antes de se separarem para o dia. Quando me viro

para falar, as duas mulheres estão me olhando mortificadas. — Eu me preocupo
com Bryan. Você não percebeu nada sobre ele que lhe diz respeito?

Seu olhar se estreita. — Não brinque comigo. Eu conheço minha família,
cada um deles.

— Sim, bem, você pode querer falar com ele. — Ela bloqueia seu maxilar,
preparando-se para ordenar que eu saia, mas eu acrescento: — O tempo é uma
coisa engraçada. Todos nós pensamos que temos uma tonelada dele até que seja
tirado de nós, então nos damos conta de que nunca foi o suficiente, para começar.
Use o tempo que você tem, Constance. Ame as pessoas que queira e se certifique de
que eles saibam disso. Chegará o dia em que você lamentará que não o fez e a
chance passou por você.

Ela endurece quando eu falo. — Você está me ameaçando?

Eu rio alto com o ridículo de sua declaração. Ela não tem nenhuma pista. Eu
estava me referindo a mim e Bryan, para a piscina constante de arrependimento
que enche meu estômago. Poderíamos ter estado juntos, mas essa oportunidade
está perdida agora, o tempo que nunca teremos.

— Você está tão errada sobre tudo, lacrada em sua pequena bolha, fora de
contato com o mundo real. Isso não é sobre você, então você acha que está segura,
mas você nunca está, não do tempo - não da morte. Seu sobrinho... — Eu engulo
em seco, mas não quebro o contato visual. — Certifique-se que sua mãe descubra.
Isso é tudo que eu quero.

A suposição de que eu estou fazendo é enorme - aquela que Elizabeth Ferro
se importará se seu filho vive ou morre. Bryan não contou a ninguém sobre sua
doença, exceto eu. Jon pode ver isso, mas os outros não têm ideia. Eu não sei
quanto tempo resta à Bryan, mas não quero que ele o gaste se preocupando ou
brigando. Eu quero estar lá para protegê-lo e, por alertar o Ferro de seu estado, eu
provavelmente só fiz isso mais difícil de acontecer - mas que é a coisa certa a fazer.
Se eu tivesse um segundo extra para gastar com o meu pai... O pensamento se
esconde em minha mente, sol a sol. Quando a noite lava o céu com tons roxos de
tinta e manchas de âmbar cintilante, eu gostaria de ter mais uma oportunidade de
dizer todas as coisas que nunca tive a chance de expressar. Agora, esses
pensamentos estão presos dentro da minha alma, me segurando cativa. Eu nunca

vou ser livre. Eu nunca tive a chance de dizer adeus. Eu estou dando aos Ferro essa
oportunidade e esperando além da esperança de que eles não me joguem para fora
na minha bunda em recompensa.

Empurrando de lado meus pensamentos, eu coloco meu copo vazio para
baixo e saio, deixando Constance e sua amante, boquiabertas, no meu despertar. As
duas mulheres atrás de mim são crianças brincando de casinha. Eu posso ser mais
jovem do que elas em anos, mas minha alma parece velha. É imaturo pensar que a
sua vida seja apenas sobre você. A vida é sobre as pessoas ao seu redor. Como eu
gostaria de nunca crescer, mas desejar é desperdício de tempo e eu me recuso a
desperdiçar mais um segundo.

Capítulo 2

Maggie e eu planejamos, através de mensagens de texto, nos encontrar em
algum lugar que tenha um bagel logo após o amanhecer. Os únicos carros no
estacionamento são da loja. O resto do centro de compras ainda está fechado. Eu
não espero muito tempo, quando ela se junta a mim no final da fila.

— Hey. — Diz Maggie, me envolvendo em um abraço.

Eu a abraço de volta, segurando-a um segundo muito longo. Ela vai fugir
novamente. Eu sei disso. Ela não lida bem com a morte também. Acho que
ninguém faz, mas Maggie viu muito dela. Quando eu a solto, me forço a perdoá-la
com antecedência. Uma alma só pode tomar tanto abuso antes que não possa
evitar, exceto reagir. É como o cão de Pavlov. A campainha da morte soa e Maggie
corre.

Eu enfio um pedaço de cabelo atrás da minha orelha e encosto contra a
vitrine de vidro, antes de enfiar as mãos nos bolsos. — Hey. Como tem passado?

A fila faz a volta para fora da porta e para baixo da frente do centro
comercial com pessoas que já pararam para um bagel e café em seu caminho para
o trabalho. A fila se aproxima alguns centímetros mais próxima da comida e nos
movemos com ela, antes de retornar nossas posições contra o vidro. Meu estômago
ronca com o cheiro de fermento e eu mal posso esperar para provar o pão macio,
quente e mordê-lo, saboreando o cream cheese espesso. Eu aprendi a não dar por
certo pequenas coisas. Bagels me ajudam a encontrar meu lugar feliz.

Eu pretendo pegar um para Bryan também - sementes de papoula com
manteiga, exatamente como ele pedia na escola. Viemos aqui tantas vezes. Eu fico
olhando para fora, no estacionamento, minha mente vagando em uma memória de
Bryan me levantando em um carrinho de compras e empurrando-me como um
louco pelo mercado, rindo o tempo todo.

Outro cliente perguntou: — Que corredor você a encontrou? Eu quero uma!

Bryan apenas sorriu, os olhos deslizando sobre mim no carrinho. —
Desculpe, cara. Esta era a única e é toda minha. Eu nunca a deixarei ir. — A

memória ecoa fortemente em meus ouvidos. Parece que poderia ter acontecido
ontem.

A voz de Maggie me encaixa de volta ao presente. Ela encolhe os ombros e
puxa a alça da bolsa para cima de seu ombro. — Eu estou bem. Acho que encontrei
um apartamento para nós, mas eu ouvi que Neil comprou para vocês uma casa. —
Ela faz uma cara de, bem, tenta não fazer uma cara, que faz sua expressão de dor
ainda pior. A fila se move de novo e, com um passo à frente, ela deixa escapar: —
Você realmente vai se casar com ele? Achei que você amasse Bryan? Parecia que
estava totalmente encantada com o gatinho do sexo. Bem, você é a gatinha.
Rapazes são o quê, tigres? Tigre sexual soa mal. — Ela ri, mas sua risada leve
desaparece quando ela vê o meu sorriso falso. — O que há de errado, Hallie?

Eu tento manter minha voz firme, mas treme sem minha permissão. Não há
nenhum ponto em protelar por mais tempo, e além disso, eu preciso dela. Mesmo
que ela vá correr, eu tenho que falar com alguém enquanto eu tiver a chance. —
Maggie, ele está morrendo.

— Mas, ele não pode estar! Ele... — Maggie deixa escapar muitas palavras de
uma só vez e quase começa a chorar. Ela é a pessoa mais empática que eu já
conheci. A minha dor está representada em seu rosto quando ela para, aperta
minha mão e me puxa para um abraço de urso que poderia explodir minha cabeça.
— Eu sinto muito, Hallie. — Ela enxuga as lágrimas com as costas da mão e olha
para o meu ombro, não querendo perguntar. Cada palavra é como se enfiasse uma
faca no meu lado. — O que há de errado com ele?

Eu a atualizo com o que sei que aconteceu até agora. Minha voz continua
difícil quando eu chego ao fim da história. — Nós terminamos por causa de sua tia
Constance. Ela achou que eu iria arruiná-la com informações que eu não deveria
saber, então ela descobriu uma maneira de nos separar. — A raiva eu não tinha
notado até agora borbulha sob a superfície da minha mente. Eu não vou ficar com
raiva, eu não posso ficar. Eu me recuso a perder meu tempo com ela ou o que ela
fez. — Maggie, eu não poderia me importar menos com ela, mas eu quis Bryan
todo esse tempo e não o tive por causa dela.

— E, no entanto, você não soa como louca. Você parece mais
assustadoramente tranquila sobre isso. — Uma sobrancelha vermelha levanta
levemente em sua testa sardenta.

Eu olho para ela conforme nos movemos com a fila para dentro da pequena
loja, e nos aproximamos da bandeja do pão assado. Maggie pede em primeiro lugar,
então eu peço e pago por nossos itens. Pegamos o nosso café da manhã, cortamos
de volta através da fila, para fora da porta, em direção ao estacionamento. Fico ali
na frente dela querendo falar, mas incapaz de encontrar palavras, em seguida,
entrego para ela o pão e suco de laranja.

Minha boca se abre duas vezes, mas as palavras não saem. Eu finalmente
olho nos olhos dela e explico. — Eu não estou louca. Bem, eu estou - mas não quero
estar. É um desperdício de tempo e eu não tenho tempo de sobra. Eu estou
pensando em ficar com ele, Maggie. Seja qual for o tempo que lhe resta, eu quero
estar lá.

— Eu entendo, e eu estou aqui para você. — Ela pega a minha mão, mas eu
não posso olhar para ela.

— Não faça promessas que não pode cumprir, Maggie.

— Eu estou as mantendo desta vez.

— Eu prefiro saber agora que você vai desaparecer. Eu posso lidar com isso
sozinha. Eu estou bem, realmente. Eu sei o que isso faz para você e... — Eu arranjo
desculpas para ela até que ela me corta.

— Não. A última vez eu não estava lá para você, porque Victor era um idiota.
Eu não tive escolha. Isso fazia parte da maneira como ele estava me controlando,
mas ele já se foi, Hallie. Eu não vou fugir. Eu estarei lá para você. Você não terá que
lidar com isso sozinha. Eu prometo. Podemos passar por qualquer coisa, você e
eu. Eu não vou deixar você Hallie. Nós somos irmãs. Eu vou estar lá neste
momento. — Ela sorri sem jeito e olha para o chão sob suas botas.

Ela muda o seu peso para o outro pé e olha para mim debaixo de muito
rímel. Sua boca fica aberta por um segundo e seus lábios enrolam, como se ela não
quisesse dizer o que está prestes a cair de sua boca. — Há algo que você precisa
saber, e eu não sei se você vai gostar ou não com tudo o que aconteceu, mas precisa

saber. Você precisa. E eu odeio dizer isso agora, mas talvez seja melhor assim. Eu
esperaria se eu achasse que ajudaria.

— Maggie, diga-me. O que é?

Ela puxa um monte de ar e cospe para fora. — Ontem à noite, enquanto você
não estava em casa, entrei e vi o que parecia ser Neil e Cecily fazendo coisas que
estava muito além da zona do amigo. — Seus lábios são esmagados em conjunto,
enquanto ela tenta permanecer inexpressiva. Eu posso dizer que ela quer castrar
Neil conforme ela luta para manter seus lábios em uma linha reta.

Eu pisco, e isso é tudo. A raiva não vomita da minha boca e minhas mãos
não estão cerradas em punhos. Eu não me sinto quebrada ou até mesmo chocada.

Eu não sinto nada.

Se eu amasse Neil, eu estaria irada, mas eu não estou. Concordo com a
cabeça.

O rosto preocupado de Maggie franze enquanto ela empurra seu brilhante
cabelo atrás da orelha. — Eu não sei se eu deveria dizer. Eu o odeio, mas pensei
que você gostava do cara. — Ela me olha com tal preocupação que eu não posso
deixar de sorrir para ela.

Meu olhar abaixa para o chão e eu tomo uma respiração profunda, antes de
dar-lhe um abraço de lado. Quando eu a deixo ir, murmuro: — Eu estou feliz que
você me disse. Desgraça pouca é bobagem, certo? — Eu ofereço um sorriso de
novo, mas é falso neste momento. Há muitas lembranças correndo pela minha
mente, e o movimento faz minha pele parecer como se fosse rachar.

— Yeah. — Ela ri. — Pelo menos não temos que nos preocupar com Victor.
Devo-lhe muito por isso. Os jornais disseram que um dos seus homens o matou no
meu apartamento. Se você não tivesse me arrastado para fora, naquela noite eu
teria levado um tiro, também.

Eu sou insensível ao que eu fiz, pelo menos no momento. Às vezes, quando
eu não consigo dormir, o pensamento de que fiz desliza em minha mente, não
desejado. Victor é um pesadelo que não vai morrer, mas não posso perder o meu
tempo.

— Somos eu e você, agora. — Eu digo a ela com firmeza. Ela sorri
tristemente para mim e assente. — Maggie, você pode ir a casa de Neil e pegar
minhas coisas? Há apenas algumas caixas. Eu nunca desembalei, não
realmente. Neil queria que eu fizesse, mas eu empurrei a maioria delas na parte de
trás de um armário. — Eu retiro minha bolsa e escrevo-lhe um cheque. — Isso
deve cobrir o aluguel do nosso novo apartamento e tudo o mais que
precisamos. Deixe-o bonito, ok? Vai ser bom ter um novo lugar bonito para ir para
casa quando isso acabar.

Maggie pega o cheque e olha para todos os zeros, antes de olhar para mim.
Uma mecha de cabelo vermelho cai na frente de seus olhos. — Hallie, eu não posso
aceitar isso.

— Sim, você pode. Vai fazê-lo. Precisamos de um lugar para viver. Eu
gostaria de ter mais a oferecer, mas essa discussão é para outro dia. Entretanto,
isso vai nos colocar em uma boa vizinhança e nós estaremos confortáveis.

— Você vai processar Neil e Cecily? Eles praticamente gastaram todo o seu
dinheiro.

Concordo com a cabeça. — Provavelmente, mas não agora. Eu preciso fazer
um telefonema. — Maggie balança a cabeça e eu disco para o meu banco enquanto
seguimos para o meu carro. Eu explico a um funcionário do banco muito prestativo
que o nome de Neil deve ser retirado da minha conta imediatamente e todas as
transações em andamento com a sua assinatura, devem ser transferidas para a sua
conta. Verificação conjunta foi ideia dele. Eu esfrego minhas mãos sobre meu rosto
e sento com força no capô do meu carro. A coisa está suja, mas eu não me
importo. O funcionário do banco me pede para ir em breve para assinar os papéis,
e fazer as alterações em minha conta oficial. Quando eu insisto que eles precisam
ser assinados agora, ela diz para vir quando for mais conveniente.

Eu desligo e olho fixamente para as portas fechadas da mercearia. — Eu não
posso fazer isso de novo, não tão cedo. — A perda do meu pai ainda paira pesado
em meu coração, ameaçando me puxar para baixo. Minha dor não diminuiu e a
fama não ajudou. A única coisa que me faz sentir melhor é Bryan e agora vou
perdê-lo também.

Eu não posso respirar. Inclinando minha cabeça para trás com os olhos
cheios de lágrimas, eu olho para o céu e as nuvens brancas onduladas. O céu estava
aqui muito antes de eu nascer e vai estar aqui muito tempo depois. Faz-me sentir
pequena, como se a minha vida não importasse em tudo.

Maggie me bate com sua bota. — Bagel?

— Eu não estou com fome. — Eu estava com fome apenas um momento
atrás, mas agora não sinto nada parecido com isso.

— Merda resistente. Eu estou cuidando de você, o que significa que você
come isso ou vou enfiar na sua cara. — Ela está sorrindo para mim. — Eu vou fazer
isso.

Eu roubo a minha comida de sua mão. — Eu sei que você vai. —
Desempacotando a coisa, dou uma mordida e percebo que eu estou morrendo de
fome.

— A vida não é sobre a morte, você sabe. — Diz Maggie de repente. Ela está
sentada ao meu lado no capô, olhando para uma nuvem, pegando arrancando
pedaços de seu bagel, e os jogando em sua boca um de cada vez.

— Então o que se trata? — Eu pensei que eu sabia em um ponto, mas não
tenho ideia, não mais. A vida parece uma piada cruel.

— É sobre as relações que você faz, a bondade que oferece e você mostrar
compaixão. É a sua chance de mostrar ao mundo quem você é e o que faz você.
Hallie, você é a pessoa mais forte que conheço. Em vez de sentar aqui chorando
comigo, você deve estar com Bryan. Aqui. — Ela me dá o bagel extra. — Cheque de
vez em quando e quando você precisar de mim, eu vou. Nesse meio tempo, vou
deixar nossa casa pronta, eu prometo. Nada me manterá longe desta vez. Quando
você precisar de mim, eu estarei lá - se estiver no hospital, a funerária ou apenas
quando você precisar de uma pausa.

Eu sinto uma vibe nervosa vindo dela. — Você não é fraca, Maggie. Somos
sobreviventes, eu e você. — Quando eu digo isso, quero dizer para confortá-la, mas
uma bola dá um nó na minha garganta.

Ela pega a minha mão e se inclina, descansando a cabeça no meu ombro. —
Nós vamos sobreviver a isto também “juntas”.

Capítulo 3

Eu não quero pensar em Neil, então eu volto para a mansão Ferro e me
esgueiro para dentro. Ainda é cedo. As únicas pessoas que vejo são os empregados.
Eles me veem e não dizem nada. Deve ser estranho viver como uma estátua dia
após dia, sem ninguém, mas outros funcionários, na verdade, reconhecem que você
é humano. Eu não posso evitar isso. Eu sorrio para o mordomo que está sempre
ocupado, correndo para algum lugar. Ele inclina a cabeça em saudação, mas não
abranda.

Depois que ele passa, se vira para trás. — Você precisa de alguma coisa, Sra.
Raymond?

Eu sorrio e balanço a cabeça. — Não, é apenas bom vê-lo. — Eu olho para
ele. Este homem tem sido constante na vida de Bryan por anos. Eu me pergunto se
ele sabe que Bryan tem um segredo, porque nada lhe escapa, pelo menos não
quando éramos mais jovens. Eu me lembro de receber olhares severos dele quando
éramos muito jovens e fazíamos coisas muito loucas, enquanto a mãe de Bryan não
estava por perto. Mas o cara nunca nos entregou.

— Da mesma forma, Sra. Raymond. Diga ao Sr. Ferro que se ele precisar de
ajuda pode pedir qualquer coisa para mim. — Seus olhos perfuraram os meus por
um momento antes que ele olhe para o lado.

Ele sabe.

Concordo com a cabeça e vou para o modo de super mocinha. Antes que eu
possa me parar, lanço o meu corpo para ele e meus braços em volta do velho,
abraçando-o em um abraço de urso em estilo desleixado. Ele endurece com choque
e, em seguida, dá um tapinha minhas costas. — As pessoas vão dizer-lhe que ele
vai ficar bem. Ao longo dos próximos meses, você vai ouvir isso de novo e de novo,
mas a perda não é assim que funciona. As coisas não vão voltar ao normal, mas a
vida continua. Converse com ele sobre isso, enquanto você tem a chance.

Meu queixo cai. — O quê? Isso seria tão mau. Eu não posso...

— Isso não é o problema meu, mas se você fosse minha filha, era o que eu
diria a você. Tempos sombrios estão chegando, se este homem é o seu raio de luz,
mergulhe no sol tanto quanto puder e quando puder.

Acho que entendo o que ele quer dizer, então balanço minha cabeça para
cima e para baixo lentamente. Falar sobre a morte com alguém que está morrendo
é o que ele quer dizer. Vamos acabar discutindo todas as coisas que queríamos
fazer, mas nunca teremos a chance. Minha garganta aperta com o pensamento e os
meus olhos lacrimejam. — Obrigada.

— Qualquer hora, Sra. Raymond. — Ele inclina a cabeça para mim como se
eu fosse uma rainha e se vira para correr para longe.

Eu não gosto da sua sugestão, mas parte dela me chama. E se a gente falar
sobre isso? Eu balanço minha cabeça e aperto as mãos. Não! Eu não quero! Isso não
é justo e não posso simplesmente aceitar que vou perdê-lo - não depois que
finalmente nos encontramos novamente. Não depois de todo esse tempo.

No momento que estou dentro da mansão de Bryan, paro na porta. Minha
intenção era ir à ponta dos pés para o quarto de Bryan, mas sou presa pelo Ferro
que eu mais temo - Sean. Ele está encostado na parede, os braços cruzados sobre o
peito. Ele se parece com sua mãe, toda acusação não dita claramente visível em
seus olhos. Suas roupas escuras - casaco de couro, calça jeans, camisa preta e botas
shitkicker. — Você e eu temos algo a discutir.

Minha intenção é passar por ele. — Não tenho nada para lhe dizer.

Sean libera seus braços e caminha em minha frente. Ele é silencioso e letal,
com vibes malucas irradiando dele como micro ondas. Ding! — Bem, eu tenho algo
que você precisa ouvir - sobre um homem chamado Victor. — Minha respiração
para na minha garganta enquanto minhas mãos vão para o meu coração. Sean me
puxa pela curva do meu cotovelo para longe da porta de Bryan. — Sim, eu achei
que você soubesse alguma coisa sobre isso. Os jornais estão dizendo que um dos
seus homens o matou, mas os policiais estão bisbilhotando, me fazendo perguntas
sobre um traficante de merda. Eu não gosto de policiais e não gosto ainda menos
de perguntas. Então, me diga, como é que eles rastrearam até aqui? O que você
deixou para trás?

Eu rio, mas ele ignora. — Você acha que eu o matei? — Estou pressionando
meus dedos em meu peito, piscando, com meu queixo caído. Embora seja um
excelente desempenho, algo que me afasta. Sean pode ver isso.

Ele dá um passo no meu espaço de uma maneira ameaçadora. Sua voz
ressoa: — Eu sei que você o matou.

— Não, você não sabe. — Eu agarro, tentando me empurrar por ele
novamente, mas Sean não me deixa passar. Ele bloqueia o lugar com seu corpo
maciço.

Inclinando-se perto do meu rosto, ele sussurra baixinho: — Se eu sei, a
minha mãe sabe e você não quer pegadas sujas que levam direto para a porta da
frente. Você precisa se separar de Bryan e sair daqui antes que descubram isso.

Eu balanço minha cabeça e mordo meu lábio inferior. Eu provavelmente
pareci como um moleque teimoso, mas não vou deixar Bryan.

Os olhos de Sean travam com os meus e sua voz cai para um sussurro letal.
— Eu posso fazê-la desaparecer.

Algo desperta dentro de mim, essa mesma característica de proteção que
me fez cortar a garganta de Victor, em primeiro lugar. Minha coluna se endireita e
eu fico na frente do seu rosto. — Da mesma forma.

Depois de um momento de reflexão, o homem na verdade ri. Sean esfrega o
queixo com a mão. Eu não posso dizer se ele está se divertindo ou pensa que sou
louca. Ele finalmente pergunta: — Por que você fez isso?

— Por que você acha? O homem era um estuprador assassino. Vamos
apenas dizer que eu estava no lugar errado na hora errada. Acidentes acontecem e
eu não ia deixar que qualquer outra coisa acontecesse com a minha amiga. Ela é a
única família que me resta. — Eu sugo o ar, tentando inchar, então não sou tão
pequena, mas em comparação com Sean Ferro, sou um palito.

Seus olhos azuis mudam para o lado antes que ele passe as mãos pelo
cabelo. — Então, você protegeu sua família, deixe-me proteger a minha. Vá
embora. Não puxe Bryan para isso.

— Para quê? Os mortos não puxam qualquer um para qualquer coisa.

— Victor Campone está vivo.

Capítulo 4

Um pequeno grito escapa dos meus lábios e eu quase caio no chão. Meus
joelhos cedem, mas antes de eu ir para baixo, Sean agarra meus braços. Ele me
mantém de pé e continua suavemente. — Os policiais suspeitam que ele esteja
vivo. No momento em que chegaram lá, o corpo tinha desaparecido. Devido à
quantidade de sangue que encontraram, sua suposição natural era que um de seus
homens o matou e jogou o corpo. Os policiais ainda estavam indo por esse caminho
até recentemente, quando pegaram Campone bisbilhotando meu hotel. Então, a
menos que viram um fantasma, o homem ainda está vivo.

— Ele não pode estar. — Eu balanço minha cabeça e meus olhos vidrados
quando me lembro daquela noite. A quantidade de sangue, a forma que sua cabeça
pendia para trás e a ferida era tão profunda. — Não é possível.

Sean suspira e olha para mim com uma expressão que está perdida em
algum lugar entre pena e admiração. Inclinando-se perto, ele diz: — O corte foi
muito superficial. É como apontar para o coração e não acertar. O cara foi
subestimado, os que estavam dispostos e aceitaram fazer isso uma vez, mas ele não
vai ser subestimado novamente. E eu aposto qualquer coisa que ele vai
permanecer morto por um tempo, deixar que os outros façam o trabalho sujo, até
que lhe convenha encenar uma ressurreição.

— Como você sabe tudo isso?

Ele engole em seco, seu olhar se afastando e depois de volta para os meus
olhos. — Periodicamente nossos empreendimentos comerciais se sobrepõem. Eu
ouço coisas. E posso dizer-lhe que se eu ouvi, minha mãe ouviu e você com certeza
não quer irritá-la. Se Campone acabar aqui, você está morta. Se ele não te matar,
minha mãe vai.

Ele agarra meus ombros e me pede: — Hallie, pega a sua amiga e dá o fora
daqui antes que Campone a encontre. — Sean me libera. — Este foi um aviso de
cortesia. Se você ficar por perto e Bryan for morto por sua causa, bem, é melhor

esperar que Victor a encontre antes de mim. — Seus olhos firmam em mim uma
vez com as suas intenções claras.

Eu fico lá por um segundo mal respirando. Nossos olhos estão bloqueados,
nós dois estamos desafiando, mas será que ele não sabe, Sean não sabe sobre seu
primo? Talvez eu devesse pegar Bryan e correr, mas não posso. Não enquanto ele
está doente. Ele vai precisar de ajuda e cuidados paliativos. Eu não posso dar-lhe
essas coisas se eu corro. Minha voz racha quando eu falo. — Eu não posso.

— Não é opcional.

— Não, você não entende. Eu não posso ir embora. Eu não posso correr
mais de Victor e não vou. Eu vou cuidar disso. Eu vou terminar o que comecei. —
Eu não tenho ideia de como, mas vou. Se eu não fizer isso, ele virá atrás de mim e
Maggie. O homem é cruel, ele nunca vai parar de nos caçar. Eu sei disso com
certeza.

Sean levanta a sobrancelha escura. — Você está louca? Você nunca vai ter
outra chance de matá-lo. Ele pensou que era insignificante antes, mas agora ele a
conhece melhor.

Eu me empurro passando por ele. — Eu vou cuidar disso. Ele não virá aqui,
e desta vez, quando eu matá-lo, ele vai morrer.

— Hallie. — Sean quase implora meu nome, quase, mas eu não paro.

Eu entro no quarto de Bryan e fecho a porta. Eu fico lá por um segundo e
derrubo minha cabeça para trás, respirando com dificuldade. Eu nunca soquei uma
pessoa antes. Agora eu simplesmente confessei ao mais assustador de todos os
Ferro que vou dar um fim no senhor das drogas mais notório da cidade. Super foda.

Eu ainda estou segurando o saco com café da manhã de Bryan. Quando
aperto o meu punho, o jornal faz um ruído de crepitação e ele se senta. Um belo
sorriso ilumina seu rosto pálido. — Hey, Menina Bonita. Para onde você correu?

— Para pegar o café da manhã e conseguir alguma sujeira em sua tia. Foi
uma manhã interessante. — Eu sorrio, preocupada com ele e entrego o saco.

— Sujeira na minha tia?

Balanço a cabeça e me sento ao lado dele na cama. — Sim, eu descobri
porque ela me odeia. Ela pensa que eu sei de algo todos esses anos, mas eu não
descobri o que eu sabia até esta manhã.

Bryan desembrulha o seu bagel enquanto estou falando e morde. Seus
firmes olhos verdes encontram os meus. Com a boca cheia, ele me pergunta. — E
então?

Eu penso em manter seu segredo, mas não sinto nenhuma lealdade para
com ela. Além disso, Bryan não vai contar a ninguém. — Ela é gay. Eu a peguei com
sua amante na cozinha de sua mãe esta manhã.

Seu queixo cai e o pedaço de bagel rola para fora da boca, indo para a
colcha. — De jeito nenhum.

Concordo com a cabeça e olho para o pedaço de comida. — Um choque e
tanto, hein?

— Claro que sim. Ela é tão recatada e adequada. — Seu nariz franze com o
pensamento da sua tia ser sexualmente algo.

— E, aparentemente, ela gosta de garotas.

Bryan pisca e sorri. — Bem, isso explica um monte de coisas.

— Sim, como por que ela ainda é casada e permite que prostitutas meio
vestidas andem pela sua casa.

Bryan sorri. — Claro, todo mundo gosta de um pouco de colírio para os
olhos.

Eu bato em seu ombro. — Bryan!

— Vamos lá, pense nisso. Houve uma garota naquela casa desde que Jon era
um bebê. É a família mais estranha que eu já vi. Minha mãe não teria tolerado. Eu
sempre me perguntei por que a tia Constance tolerava.

— Seu pai não tem uma puta coabitante?

Ele inclina a cabeça para mim. — Meu pai não tem tempo para isso. Ele está
muito ocupado ganhando dinheiro para ser incomodado com relacionamentos ou
senhoras de compra. Mas, ainda assim, a tia Connie gosta das garotas. Quem teria

pensado? — Ele balança a cabeça. — Então o que diabos eu vi no dia que
terminamos?

Boa pergunta. Eu suspiro e tenho uma boa ideia de para quem perguntar. Eu
sorrio grande. — Qual é o quarto que Constance usa quando está aqui?

Bryan parece confuso e então seus olhos se arregalam. — Você está louca?

— Só um pouco. — Eu rio e quase aperto meus dedos juntos.


CONTINUA

A luz do amanhecer brilha através das pesadas cortinas que revestem as paredes formando uma fina fenda de branco puro no tapete escuro. Eu fico olhando para ele, perdida em seus pensamentos. Perto de mim, Bryan está dormindo. Eu envolvo meus braços ao redor dele e seu corpo se parece tão forte. É por isso que isto é tão difícil. Não faz nenhum sentido. Para além da dor, eu não posso ver o que está acontecendo com ele. É interno. Seu corpo o está matando segundo a segundo. Eventualmente, ele irá respirar e não haverá outro. Eu não posso suportar a ideia.
Minha vida tem sido moldada por morte. Todo mundo que me importa, todos, exceto Maggie, partem. Eu escorrego para fora da cama, agarrando o meu telefone antes de ir para fundo do corredor. Eu envio uma mensagem de texto para ela, embora eu duvide que ela esteja acordada.
Eu digito: Estou com Bryan. Apenas verificando para ter certeza que está tudo bem.
Para minha surpresa ela envia uma mensagem de volta: Eu estou, mas tenho uma coisa horrível para lhe dizer.
Nada poderia ser pior do que perder Bryan. Eu digito de volta: Eu também.
Volto logo para casa e podemos conversar.
Ela responde: Ok.

 


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Eu enfio meu celular no bolso antes de pegar a camiseta de Bryan e a puxo
sobre minha cabeça. Eu enfio minhas mãos sob as mangas e vagueio pela mansão
até encontrar a cozinha. Sinto o cheiro do café e preciso desesperadamente de uma
xícara. Infelizmente, a besta “a tia” de Bryan está sentada à mesa com outra
mulher. Ambas estão vestidas em robe. Eu pisco conforme o choque lava seus
rostos. Eu não posso imaginar por que ela está aqui tão cedo, não vestida. Quão
estranho é isso?

Dentro de um batimento cardíaco, Constance está fora de seu assento e no
meu rosto. — Como você ousa desfilar na casa da minha irmã usando coisas do
meu sobrinho? Saia agora mesmo, sua puta! — Ela tenta bater no meu rosto, mas
eu agarro seu pulso.

As coisas finalmente clicam no lugar. A forma como as mulheres estavam
olhando uma para a outra, o toque de suas mãos, a forma como os seus olhos
permanecem naquele olhar fixo familiar, o fato de que ela está aqui, quando sua
irmã e cunhado já se foram e a forma como Constance se transforma em um tigre
quando ela me vê - faz sentido. Ela está escondendo um segredo há anos que
poderia arruiná-la para sempre. É por isso que ela suporta as infidelidades do Sr.
Ferro e porque permite que suas mulheres valsem pela sua casa.

Constance é gay - e esta mulher é sua amante. Ela pensou que eu soubesse,
mas eu nunca percebi antes.

Ela puxa sua mão do meu aperto e se prepara para começar a gritar
novamente. Eu a interrompo, cansada. — Eu não me importo com sua vida ou
suas preferências. Eu entendo que seja um tabu para você ser vista com ela. Eu
entendo isso, Constance, eu realmente entendo. Eu não a julgo por isso, então pare
de me julgar. A única coisa de que eu quero vocês é o café. — Eu caminho,
passando por ela.

O queixo de Constance está no chão. Sua namorada, uma mulher pelo menos
dez anos mais nova que ela, fica rígida, olhando-me com medo. Relações do mesmo
sexo podem ser ultramodernas e estarem na moda em Nova York, mas não entre
antigas famílias endinheiradas como esta. Isso a arruinaria. É por isso que ela me
odeia. Ela acha que eu tenho andado por aí esperando para soltar uma bomba em
sua vida.

Quando Constance fala, seu tom é cético: — Você sabe há muito tempo e não
disse nada. Por quê?

— Porque eu não me importo com você. — Eu mantenho minhas costas
para ela enquanto despejo o líquido escuro em uma xícara pesada. É muito cedo. As
pessoas normais não estão acordadas às cinco da manhã. Elas provavelmente
estavam tomando café da manhã antes de se separarem para o dia. Quando me viro

para falar, as duas mulheres estão me olhando mortificadas. — Eu me preocupo
com Bryan. Você não percebeu nada sobre ele que lhe diz respeito?

Seu olhar se estreita. — Não brinque comigo. Eu conheço minha família,
cada um deles.

— Sim, bem, você pode querer falar com ele. — Ela bloqueia seu maxilar,
preparando-se para ordenar que eu saia, mas eu acrescento: — O tempo é uma
coisa engraçada. Todos nós pensamos que temos uma tonelada dele até que seja
tirado de nós, então nos damos conta de que nunca foi o suficiente, para começar.
Use o tempo que você tem, Constance. Ame as pessoas que queira e se certifique de
que eles saibam disso. Chegará o dia em que você lamentará que não o fez e a
chance passou por você.

Ela endurece quando eu falo. — Você está me ameaçando?

Eu rio alto com o ridículo de sua declaração. Ela não tem nenhuma pista. Eu
estava me referindo a mim e Bryan, para a piscina constante de arrependimento
que enche meu estômago. Poderíamos ter estado juntos, mas essa oportunidade
está perdida agora, o tempo que nunca teremos.

— Você está tão errada sobre tudo, lacrada em sua pequena bolha, fora de
contato com o mundo real. Isso não é sobre você, então você acha que está segura,
mas você nunca está, não do tempo - não da morte. Seu sobrinho... — Eu engulo
em seco, mas não quebro o contato visual. — Certifique-se que sua mãe descubra.
Isso é tudo que eu quero.

A suposição de que eu estou fazendo é enorme - aquela que Elizabeth Ferro
se importará se seu filho vive ou morre. Bryan não contou a ninguém sobre sua
doença, exceto eu. Jon pode ver isso, mas os outros não têm ideia. Eu não sei
quanto tempo resta à Bryan, mas não quero que ele o gaste se preocupando ou
brigando. Eu quero estar lá para protegê-lo e, por alertar o Ferro de seu estado, eu
provavelmente só fiz isso mais difícil de acontecer - mas que é a coisa certa a fazer.
Se eu tivesse um segundo extra para gastar com o meu pai... O pensamento se
esconde em minha mente, sol a sol. Quando a noite lava o céu com tons roxos de
tinta e manchas de âmbar cintilante, eu gostaria de ter mais uma oportunidade de
dizer todas as coisas que nunca tive a chance de expressar. Agora, esses
pensamentos estão presos dentro da minha alma, me segurando cativa. Eu nunca

vou ser livre. Eu nunca tive a chance de dizer adeus. Eu estou dando aos Ferro essa
oportunidade e esperando além da esperança de que eles não me joguem para fora
na minha bunda em recompensa.

Empurrando de lado meus pensamentos, eu coloco meu copo vazio para
baixo e saio, deixando Constance e sua amante, boquiabertas, no meu despertar. As
duas mulheres atrás de mim são crianças brincando de casinha. Eu posso ser mais
jovem do que elas em anos, mas minha alma parece velha. É imaturo pensar que a
sua vida seja apenas sobre você. A vida é sobre as pessoas ao seu redor. Como eu
gostaria de nunca crescer, mas desejar é desperdício de tempo e eu me recuso a
desperdiçar mais um segundo.

Capítulo 2

Maggie e eu planejamos, através de mensagens de texto, nos encontrar em
algum lugar que tenha um bagel logo após o amanhecer. Os únicos carros no
estacionamento são da loja. O resto do centro de compras ainda está fechado. Eu
não espero muito tempo, quando ela se junta a mim no final da fila.

— Hey. — Diz Maggie, me envolvendo em um abraço.

Eu a abraço de volta, segurando-a um segundo muito longo. Ela vai fugir
novamente. Eu sei disso. Ela não lida bem com a morte também. Acho que
ninguém faz, mas Maggie viu muito dela. Quando eu a solto, me forço a perdoá-la
com antecedência. Uma alma só pode tomar tanto abuso antes que não possa
evitar, exceto reagir. É como o cão de Pavlov. A campainha da morte soa e Maggie
corre.

Eu enfio um pedaço de cabelo atrás da minha orelha e encosto contra a
vitrine de vidro, antes de enfiar as mãos nos bolsos. — Hey. Como tem passado?

A fila faz a volta para fora da porta e para baixo da frente do centro
comercial com pessoas que já pararam para um bagel e café em seu caminho para
o trabalho. A fila se aproxima alguns centímetros mais próxima da comida e nos
movemos com ela, antes de retornar nossas posições contra o vidro. Meu estômago
ronca com o cheiro de fermento e eu mal posso esperar para provar o pão macio,
quente e mordê-lo, saboreando o cream cheese espesso. Eu aprendi a não dar por
certo pequenas coisas. Bagels me ajudam a encontrar meu lugar feliz.

Eu pretendo pegar um para Bryan também - sementes de papoula com
manteiga, exatamente como ele pedia na escola. Viemos aqui tantas vezes. Eu fico
olhando para fora, no estacionamento, minha mente vagando em uma memória de
Bryan me levantando em um carrinho de compras e empurrando-me como um
louco pelo mercado, rindo o tempo todo.

Outro cliente perguntou: — Que corredor você a encontrou? Eu quero uma!

Bryan apenas sorriu, os olhos deslizando sobre mim no carrinho. —
Desculpe, cara. Esta era a única e é toda minha. Eu nunca a deixarei ir. — A

memória ecoa fortemente em meus ouvidos. Parece que poderia ter acontecido
ontem.

A voz de Maggie me encaixa de volta ao presente. Ela encolhe os ombros e
puxa a alça da bolsa para cima de seu ombro. — Eu estou bem. Acho que encontrei
um apartamento para nós, mas eu ouvi que Neil comprou para vocês uma casa. —
Ela faz uma cara de, bem, tenta não fazer uma cara, que faz sua expressão de dor
ainda pior. A fila se move de novo e, com um passo à frente, ela deixa escapar: —
Você realmente vai se casar com ele? Achei que você amasse Bryan? Parecia que
estava totalmente encantada com o gatinho do sexo. Bem, você é a gatinha.
Rapazes são o quê, tigres? Tigre sexual soa mal. — Ela ri, mas sua risada leve
desaparece quando ela vê o meu sorriso falso. — O que há de errado, Hallie?

Eu tento manter minha voz firme, mas treme sem minha permissão. Não há
nenhum ponto em protelar por mais tempo, e além disso, eu preciso dela. Mesmo
que ela vá correr, eu tenho que falar com alguém enquanto eu tiver a chance. —
Maggie, ele está morrendo.

— Mas, ele não pode estar! Ele... — Maggie deixa escapar muitas palavras de
uma só vez e quase começa a chorar. Ela é a pessoa mais empática que eu já
conheci. A minha dor está representada em seu rosto quando ela para, aperta
minha mão e me puxa para um abraço de urso que poderia explodir minha cabeça.
— Eu sinto muito, Hallie. — Ela enxuga as lágrimas com as costas da mão e olha
para o meu ombro, não querendo perguntar. Cada palavra é como se enfiasse uma
faca no meu lado. — O que há de errado com ele?

Eu a atualizo com o que sei que aconteceu até agora. Minha voz continua
difícil quando eu chego ao fim da história. — Nós terminamos por causa de sua tia
Constance. Ela achou que eu iria arruiná-la com informações que eu não deveria
saber, então ela descobriu uma maneira de nos separar. — A raiva eu não tinha
notado até agora borbulha sob a superfície da minha mente. Eu não vou ficar com
raiva, eu não posso ficar. Eu me recuso a perder meu tempo com ela ou o que ela
fez. — Maggie, eu não poderia me importar menos com ela, mas eu quis Bryan
todo esse tempo e não o tive por causa dela.

— E, no entanto, você não soa como louca. Você parece mais
assustadoramente tranquila sobre isso. — Uma sobrancelha vermelha levanta
levemente em sua testa sardenta.

Eu olho para ela conforme nos movemos com a fila para dentro da pequena
loja, e nos aproximamos da bandeja do pão assado. Maggie pede em primeiro lugar,
então eu peço e pago por nossos itens. Pegamos o nosso café da manhã, cortamos
de volta através da fila, para fora da porta, em direção ao estacionamento. Fico ali
na frente dela querendo falar, mas incapaz de encontrar palavras, em seguida,
entrego para ela o pão e suco de laranja.

Minha boca se abre duas vezes, mas as palavras não saem. Eu finalmente
olho nos olhos dela e explico. — Eu não estou louca. Bem, eu estou - mas não quero
estar. É um desperdício de tempo e eu não tenho tempo de sobra. Eu estou
pensando em ficar com ele, Maggie. Seja qual for o tempo que lhe resta, eu quero
estar lá.

— Eu entendo, e eu estou aqui para você. — Ela pega a minha mão, mas eu
não posso olhar para ela.

— Não faça promessas que não pode cumprir, Maggie.

— Eu estou as mantendo desta vez.

— Eu prefiro saber agora que você vai desaparecer. Eu posso lidar com isso
sozinha. Eu estou bem, realmente. Eu sei o que isso faz para você e... — Eu arranjo
desculpas para ela até que ela me corta.

— Não. A última vez eu não estava lá para você, porque Victor era um idiota.
Eu não tive escolha. Isso fazia parte da maneira como ele estava me controlando,
mas ele já se foi, Hallie. Eu não vou fugir. Eu estarei lá para você. Você não terá que
lidar com isso sozinha. Eu prometo. Podemos passar por qualquer coisa, você e
eu. Eu não vou deixar você Hallie. Nós somos irmãs. Eu vou estar lá neste
momento. — Ela sorri sem jeito e olha para o chão sob suas botas.

Ela muda o seu peso para o outro pé e olha para mim debaixo de muito
rímel. Sua boca fica aberta por um segundo e seus lábios enrolam, como se ela não
quisesse dizer o que está prestes a cair de sua boca. — Há algo que você precisa
saber, e eu não sei se você vai gostar ou não com tudo o que aconteceu, mas precisa

saber. Você precisa. E eu odeio dizer isso agora, mas talvez seja melhor assim. Eu
esperaria se eu achasse que ajudaria.

— Maggie, diga-me. O que é?

Ela puxa um monte de ar e cospe para fora. — Ontem à noite, enquanto você
não estava em casa, entrei e vi o que parecia ser Neil e Cecily fazendo coisas que
estava muito além da zona do amigo. — Seus lábios são esmagados em conjunto,
enquanto ela tenta permanecer inexpressiva. Eu posso dizer que ela quer castrar
Neil conforme ela luta para manter seus lábios em uma linha reta.

Eu pisco, e isso é tudo. A raiva não vomita da minha boca e minhas mãos
não estão cerradas em punhos. Eu não me sinto quebrada ou até mesmo chocada.

Eu não sinto nada.

Se eu amasse Neil, eu estaria irada, mas eu não estou. Concordo com a
cabeça.

O rosto preocupado de Maggie franze enquanto ela empurra seu brilhante
cabelo atrás da orelha. — Eu não sei se eu deveria dizer. Eu o odeio, mas pensei
que você gostava do cara. — Ela me olha com tal preocupação que eu não posso
deixar de sorrir para ela.

Meu olhar abaixa para o chão e eu tomo uma respiração profunda, antes de
dar-lhe um abraço de lado. Quando eu a deixo ir, murmuro: — Eu estou feliz que
você me disse. Desgraça pouca é bobagem, certo? — Eu ofereço um sorriso de
novo, mas é falso neste momento. Há muitas lembranças correndo pela minha
mente, e o movimento faz minha pele parecer como se fosse rachar.

— Yeah. — Ela ri. — Pelo menos não temos que nos preocupar com Victor.
Devo-lhe muito por isso. Os jornais disseram que um dos seus homens o matou no
meu apartamento. Se você não tivesse me arrastado para fora, naquela noite eu
teria levado um tiro, também.

Eu sou insensível ao que eu fiz, pelo menos no momento. Às vezes, quando
eu não consigo dormir, o pensamento de que fiz desliza em minha mente, não
desejado. Victor é um pesadelo que não vai morrer, mas não posso perder o meu
tempo.

— Somos eu e você, agora. — Eu digo a ela com firmeza. Ela sorri
tristemente para mim e assente. — Maggie, você pode ir a casa de Neil e pegar
minhas coisas? Há apenas algumas caixas. Eu nunca desembalei, não
realmente. Neil queria que eu fizesse, mas eu empurrei a maioria delas na parte de
trás de um armário. — Eu retiro minha bolsa e escrevo-lhe um cheque. — Isso
deve cobrir o aluguel do nosso novo apartamento e tudo o mais que
precisamos. Deixe-o bonito, ok? Vai ser bom ter um novo lugar bonito para ir para
casa quando isso acabar.

Maggie pega o cheque e olha para todos os zeros, antes de olhar para mim.
Uma mecha de cabelo vermelho cai na frente de seus olhos. — Hallie, eu não posso
aceitar isso.

— Sim, você pode. Vai fazê-lo. Precisamos de um lugar para viver. Eu
gostaria de ter mais a oferecer, mas essa discussão é para outro dia. Entretanto,
isso vai nos colocar em uma boa vizinhança e nós estaremos confortáveis.

— Você vai processar Neil e Cecily? Eles praticamente gastaram todo o seu
dinheiro.

Concordo com a cabeça. — Provavelmente, mas não agora. Eu preciso fazer
um telefonema. — Maggie balança a cabeça e eu disco para o meu banco enquanto
seguimos para o meu carro. Eu explico a um funcionário do banco muito prestativo
que o nome de Neil deve ser retirado da minha conta imediatamente e todas as
transações em andamento com a sua assinatura, devem ser transferidas para a sua
conta. Verificação conjunta foi ideia dele. Eu esfrego minhas mãos sobre meu rosto
e sento com força no capô do meu carro. A coisa está suja, mas eu não me
importo. O funcionário do banco me pede para ir em breve para assinar os papéis,
e fazer as alterações em minha conta oficial. Quando eu insisto que eles precisam
ser assinados agora, ela diz para vir quando for mais conveniente.

Eu desligo e olho fixamente para as portas fechadas da mercearia. — Eu não
posso fazer isso de novo, não tão cedo. — A perda do meu pai ainda paira pesado
em meu coração, ameaçando me puxar para baixo. Minha dor não diminuiu e a
fama não ajudou. A única coisa que me faz sentir melhor é Bryan e agora vou
perdê-lo também.

Eu não posso respirar. Inclinando minha cabeça para trás com os olhos
cheios de lágrimas, eu olho para o céu e as nuvens brancas onduladas. O céu estava
aqui muito antes de eu nascer e vai estar aqui muito tempo depois. Faz-me sentir
pequena, como se a minha vida não importasse em tudo.

Maggie me bate com sua bota. — Bagel?

— Eu não estou com fome. — Eu estava com fome apenas um momento
atrás, mas agora não sinto nada parecido com isso.

— Merda resistente. Eu estou cuidando de você, o que significa que você
come isso ou vou enfiar na sua cara. — Ela está sorrindo para mim. — Eu vou fazer
isso.

Eu roubo a minha comida de sua mão. — Eu sei que você vai. —
Desempacotando a coisa, dou uma mordida e percebo que eu estou morrendo de
fome.

— A vida não é sobre a morte, você sabe. — Diz Maggie de repente. Ela está
sentada ao meu lado no capô, olhando para uma nuvem, pegando arrancando
pedaços de seu bagel, e os jogando em sua boca um de cada vez.

— Então o que se trata? — Eu pensei que eu sabia em um ponto, mas não
tenho ideia, não mais. A vida parece uma piada cruel.

— É sobre as relações que você faz, a bondade que oferece e você mostrar
compaixão. É a sua chance de mostrar ao mundo quem você é e o que faz você.
Hallie, você é a pessoa mais forte que conheço. Em vez de sentar aqui chorando
comigo, você deve estar com Bryan. Aqui. — Ela me dá o bagel extra. — Cheque de
vez em quando e quando você precisar de mim, eu vou. Nesse meio tempo, vou
deixar nossa casa pronta, eu prometo. Nada me manterá longe desta vez. Quando
você precisar de mim, eu estarei lá - se estiver no hospital, a funerária ou apenas
quando você precisar de uma pausa.

Eu sinto uma vibe nervosa vindo dela. — Você não é fraca, Maggie. Somos
sobreviventes, eu e você. — Quando eu digo isso, quero dizer para confortá-la, mas
uma bola dá um nó na minha garganta.

Ela pega a minha mão e se inclina, descansando a cabeça no meu ombro. —
Nós vamos sobreviver a isto também “juntas”.

Capítulo 3

Eu não quero pensar em Neil, então eu volto para a mansão Ferro e me
esgueiro para dentro. Ainda é cedo. As únicas pessoas que vejo são os empregados.
Eles me veem e não dizem nada. Deve ser estranho viver como uma estátua dia
após dia, sem ninguém, mas outros funcionários, na verdade, reconhecem que você
é humano. Eu não posso evitar isso. Eu sorrio para o mordomo que está sempre
ocupado, correndo para algum lugar. Ele inclina a cabeça em saudação, mas não
abranda.

Depois que ele passa, se vira para trás. — Você precisa de alguma coisa, Sra.
Raymond?

Eu sorrio e balanço a cabeça. — Não, é apenas bom vê-lo. — Eu olho para
ele. Este homem tem sido constante na vida de Bryan por anos. Eu me pergunto se
ele sabe que Bryan tem um segredo, porque nada lhe escapa, pelo menos não
quando éramos mais jovens. Eu me lembro de receber olhares severos dele quando
éramos muito jovens e fazíamos coisas muito loucas, enquanto a mãe de Bryan não
estava por perto. Mas o cara nunca nos entregou.

— Da mesma forma, Sra. Raymond. Diga ao Sr. Ferro que se ele precisar de
ajuda pode pedir qualquer coisa para mim. — Seus olhos perfuraram os meus por
um momento antes que ele olhe para o lado.

Ele sabe.

Concordo com a cabeça e vou para o modo de super mocinha. Antes que eu
possa me parar, lanço o meu corpo para ele e meus braços em volta do velho,
abraçando-o em um abraço de urso em estilo desleixado. Ele endurece com choque
e, em seguida, dá um tapinha minhas costas. — As pessoas vão dizer-lhe que ele
vai ficar bem. Ao longo dos próximos meses, você vai ouvir isso de novo e de novo,
mas a perda não é assim que funciona. As coisas não vão voltar ao normal, mas a
vida continua. Converse com ele sobre isso, enquanto você tem a chance.

Meu queixo cai. — O quê? Isso seria tão mau. Eu não posso...

— Isso não é o problema meu, mas se você fosse minha filha, era o que eu
diria a você. Tempos sombrios estão chegando, se este homem é o seu raio de luz,
mergulhe no sol tanto quanto puder e quando puder.

Acho que entendo o que ele quer dizer, então balanço minha cabeça para
cima e para baixo lentamente. Falar sobre a morte com alguém que está morrendo
é o que ele quer dizer. Vamos acabar discutindo todas as coisas que queríamos
fazer, mas nunca teremos a chance. Minha garganta aperta com o pensamento e os
meus olhos lacrimejam. — Obrigada.

— Qualquer hora, Sra. Raymond. — Ele inclina a cabeça para mim como se
eu fosse uma rainha e se vira para correr para longe.

Eu não gosto da sua sugestão, mas parte dela me chama. E se a gente falar
sobre isso? Eu balanço minha cabeça e aperto as mãos. Não! Eu não quero! Isso não
é justo e não posso simplesmente aceitar que vou perdê-lo - não depois que
finalmente nos encontramos novamente. Não depois de todo esse tempo.

No momento que estou dentro da mansão de Bryan, paro na porta. Minha
intenção era ir à ponta dos pés para o quarto de Bryan, mas sou presa pelo Ferro
que eu mais temo - Sean. Ele está encostado na parede, os braços cruzados sobre o
peito. Ele se parece com sua mãe, toda acusação não dita claramente visível em
seus olhos. Suas roupas escuras - casaco de couro, calça jeans, camisa preta e botas
shitkicker. — Você e eu temos algo a discutir.

Minha intenção é passar por ele. — Não tenho nada para lhe dizer.

Sean libera seus braços e caminha em minha frente. Ele é silencioso e letal,
com vibes malucas irradiando dele como micro ondas. Ding! — Bem, eu tenho algo
que você precisa ouvir - sobre um homem chamado Victor. — Minha respiração
para na minha garganta enquanto minhas mãos vão para o meu coração. Sean me
puxa pela curva do meu cotovelo para longe da porta de Bryan. — Sim, eu achei
que você soubesse alguma coisa sobre isso. Os jornais estão dizendo que um dos
seus homens o matou, mas os policiais estão bisbilhotando, me fazendo perguntas
sobre um traficante de merda. Eu não gosto de policiais e não gosto ainda menos
de perguntas. Então, me diga, como é que eles rastrearam até aqui? O que você
deixou para trás?

Eu rio, mas ele ignora. — Você acha que eu o matei? — Estou pressionando
meus dedos em meu peito, piscando, com meu queixo caído. Embora seja um
excelente desempenho, algo que me afasta. Sean pode ver isso.

Ele dá um passo no meu espaço de uma maneira ameaçadora. Sua voz
ressoa: — Eu sei que você o matou.

— Não, você não sabe. — Eu agarro, tentando me empurrar por ele
novamente, mas Sean não me deixa passar. Ele bloqueia o lugar com seu corpo
maciço.

Inclinando-se perto do meu rosto, ele sussurra baixinho: — Se eu sei, a
minha mãe sabe e você não quer pegadas sujas que levam direto para a porta da
frente. Você precisa se separar de Bryan e sair daqui antes que descubram isso.

Eu balanço minha cabeça e mordo meu lábio inferior. Eu provavelmente
pareci como um moleque teimoso, mas não vou deixar Bryan.

Os olhos de Sean travam com os meus e sua voz cai para um sussurro letal.
— Eu posso fazê-la desaparecer.

Algo desperta dentro de mim, essa mesma característica de proteção que
me fez cortar a garganta de Victor, em primeiro lugar. Minha coluna se endireita e
eu fico na frente do seu rosto. — Da mesma forma.

Depois de um momento de reflexão, o homem na verdade ri. Sean esfrega o
queixo com a mão. Eu não posso dizer se ele está se divertindo ou pensa que sou
louca. Ele finalmente pergunta: — Por que você fez isso?

— Por que você acha? O homem era um estuprador assassino. Vamos
apenas dizer que eu estava no lugar errado na hora errada. Acidentes acontecem e
eu não ia deixar que qualquer outra coisa acontecesse com a minha amiga. Ela é a
única família que me resta. — Eu sugo o ar, tentando inchar, então não sou tão
pequena, mas em comparação com Sean Ferro, sou um palito.

Seus olhos azuis mudam para o lado antes que ele passe as mãos pelo
cabelo. — Então, você protegeu sua família, deixe-me proteger a minha. Vá
embora. Não puxe Bryan para isso.

— Para quê? Os mortos não puxam qualquer um para qualquer coisa.

— Victor Campone está vivo.

Capítulo 4

Um pequeno grito escapa dos meus lábios e eu quase caio no chão. Meus
joelhos cedem, mas antes de eu ir para baixo, Sean agarra meus braços. Ele me
mantém de pé e continua suavemente. — Os policiais suspeitam que ele esteja
vivo. No momento em que chegaram lá, o corpo tinha desaparecido. Devido à
quantidade de sangue que encontraram, sua suposição natural era que um de seus
homens o matou e jogou o corpo. Os policiais ainda estavam indo por esse caminho
até recentemente, quando pegaram Campone bisbilhotando meu hotel. Então, a
menos que viram um fantasma, o homem ainda está vivo.

— Ele não pode estar. — Eu balanço minha cabeça e meus olhos vidrados
quando me lembro daquela noite. A quantidade de sangue, a forma que sua cabeça
pendia para trás e a ferida era tão profunda. — Não é possível.

Sean suspira e olha para mim com uma expressão que está perdida em
algum lugar entre pena e admiração. Inclinando-se perto, ele diz: — O corte foi
muito superficial. É como apontar para o coração e não acertar. O cara foi
subestimado, os que estavam dispostos e aceitaram fazer isso uma vez, mas ele não
vai ser subestimado novamente. E eu aposto qualquer coisa que ele vai
permanecer morto por um tempo, deixar que os outros façam o trabalho sujo, até
que lhe convenha encenar uma ressurreição.

— Como você sabe tudo isso?

Ele engole em seco, seu olhar se afastando e depois de volta para os meus
olhos. — Periodicamente nossos empreendimentos comerciais se sobrepõem. Eu
ouço coisas. E posso dizer-lhe que se eu ouvi, minha mãe ouviu e você com certeza
não quer irritá-la. Se Campone acabar aqui, você está morta. Se ele não te matar,
minha mãe vai.

Ele agarra meus ombros e me pede: — Hallie, pega a sua amiga e dá o fora
daqui antes que Campone a encontre. — Sean me libera. — Este foi um aviso de
cortesia. Se você ficar por perto e Bryan for morto por sua causa, bem, é melhor

esperar que Victor a encontre antes de mim. — Seus olhos firmam em mim uma
vez com as suas intenções claras.

Eu fico lá por um segundo mal respirando. Nossos olhos estão bloqueados,
nós dois estamos desafiando, mas será que ele não sabe, Sean não sabe sobre seu
primo? Talvez eu devesse pegar Bryan e correr, mas não posso. Não enquanto ele
está doente. Ele vai precisar de ajuda e cuidados paliativos. Eu não posso dar-lhe
essas coisas se eu corro. Minha voz racha quando eu falo. — Eu não posso.

— Não é opcional.

— Não, você não entende. Eu não posso ir embora. Eu não posso correr
mais de Victor e não vou. Eu vou cuidar disso. Eu vou terminar o que comecei. —
Eu não tenho ideia de como, mas vou. Se eu não fizer isso, ele virá atrás de mim e
Maggie. O homem é cruel, ele nunca vai parar de nos caçar. Eu sei disso com
certeza.

Sean levanta a sobrancelha escura. — Você está louca? Você nunca vai ter
outra chance de matá-lo. Ele pensou que era insignificante antes, mas agora ele a
conhece melhor.

Eu me empurro passando por ele. — Eu vou cuidar disso. Ele não virá aqui,
e desta vez, quando eu matá-lo, ele vai morrer.

— Hallie. — Sean quase implora meu nome, quase, mas eu não paro.

Eu entro no quarto de Bryan e fecho a porta. Eu fico lá por um segundo e
derrubo minha cabeça para trás, respirando com dificuldade. Eu nunca soquei uma
pessoa antes. Agora eu simplesmente confessei ao mais assustador de todos os
Ferro que vou dar um fim no senhor das drogas mais notório da cidade. Super foda.

Eu ainda estou segurando o saco com café da manhã de Bryan. Quando
aperto o meu punho, o jornal faz um ruído de crepitação e ele se senta. Um belo
sorriso ilumina seu rosto pálido. — Hey, Menina Bonita. Para onde você correu?

— Para pegar o café da manhã e conseguir alguma sujeira em sua tia. Foi
uma manhã interessante. — Eu sorrio, preocupada com ele e entrego o saco.

— Sujeira na minha tia?

Balanço a cabeça e me sento ao lado dele na cama. — Sim, eu descobri
porque ela me odeia. Ela pensa que eu sei de algo todos esses anos, mas eu não
descobri o que eu sabia até esta manhã.

Bryan desembrulha o seu bagel enquanto estou falando e morde. Seus
firmes olhos verdes encontram os meus. Com a boca cheia, ele me pergunta. — E
então?

Eu penso em manter seu segredo, mas não sinto nenhuma lealdade para
com ela. Além disso, Bryan não vai contar a ninguém. — Ela é gay. Eu a peguei com
sua amante na cozinha de sua mãe esta manhã.

Seu queixo cai e o pedaço de bagel rola para fora da boca, indo para a
colcha. — De jeito nenhum.

Concordo com a cabeça e olho para o pedaço de comida. — Um choque e
tanto, hein?

— Claro que sim. Ela é tão recatada e adequada. — Seu nariz franze com o
pensamento da sua tia ser sexualmente algo.

— E, aparentemente, ela gosta de garotas.

Bryan pisca e sorri. — Bem, isso explica um monte de coisas.

— Sim, como por que ela ainda é casada e permite que prostitutas meio
vestidas andem pela sua casa.

Bryan sorri. — Claro, todo mundo gosta de um pouco de colírio para os
olhos.

Eu bato em seu ombro. — Bryan!

— Vamos lá, pense nisso. Houve uma garota naquela casa desde que Jon era
um bebê. É a família mais estranha que eu já vi. Minha mãe não teria tolerado. Eu
sempre me perguntei por que a tia Constance tolerava.

— Seu pai não tem uma puta coabitante?

Ele inclina a cabeça para mim. — Meu pai não tem tempo para isso. Ele está
muito ocupado ganhando dinheiro para ser incomodado com relacionamentos ou
senhoras de compra. Mas, ainda assim, a tia Connie gosta das garotas. Quem teria

pensado? — Ele balança a cabeça. — Então o que diabos eu vi no dia que
terminamos?

Boa pergunta. Eu suspiro e tenho uma boa ideia de para quem perguntar. Eu
sorrio grande. — Qual é o quarto que Constance usa quando está aqui?

Bryan parece confuso e então seus olhos se arregalam. — Você está louca?

— Só um pouco. — Eu rio e quase aperto meus dedos juntos.


CONTINUA

A luz do amanhecer brilha através das pesadas cortinas que revestem as paredes formando uma fina fenda de branco puro no tapete escuro. Eu fico olhando para ele, perdida em seus pensamentos. Perto de mim, Bryan está dormindo. Eu envolvo meus braços ao redor dele e seu corpo se parece tão forte. É por isso que isto é tão difícil. Não faz nenhum sentido. Para além da dor, eu não posso ver o que está acontecendo com ele. É interno. Seu corpo o está matando segundo a segundo. Eventualmente, ele irá respirar e não haverá outro. Eu não posso suportar a ideia.
Minha vida tem sido moldada por morte. Todo mundo que me importa, todos, exceto Maggie, partem. Eu escorrego para fora da cama, agarrando o meu telefone antes de ir para fundo do corredor. Eu envio uma mensagem de texto para ela, embora eu duvide que ela esteja acordada.
Eu digito: Estou com Bryan. Apenas verificando para ter certeza que está tudo bem.
Para minha surpresa ela envia uma mensagem de volta: Eu estou, mas tenho uma coisa horrível para lhe dizer.
Nada poderia ser pior do que perder Bryan. Eu digito de volta: Eu também.
Volto logo para casa e podemos conversar.
Ela responde: Ok.

 


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Eu enfio meu celular no bolso antes de pegar a camiseta de Bryan e a puxo
sobre minha cabeça. Eu enfio minhas mãos sob as mangas e vagueio pela mansão
até encontrar a cozinha. Sinto o cheiro do café e preciso desesperadamente de uma
xícara. Infelizmente, a besta “a tia” de Bryan está sentada à mesa com outra
mulher. Ambas estão vestidas em robe. Eu pisco conforme o choque lava seus
rostos. Eu não posso imaginar por que ela está aqui tão cedo, não vestida. Quão
estranho é isso?

Dentro de um batimento cardíaco, Constance está fora de seu assento e no
meu rosto. — Como você ousa desfilar na casa da minha irmã usando coisas do
meu sobrinho? Saia agora mesmo, sua puta! — Ela tenta bater no meu rosto, mas
eu agarro seu pulso.

As coisas finalmente clicam no lugar. A forma como as mulheres estavam
olhando uma para a outra, o toque de suas mãos, a forma como os seus olhos
permanecem naquele olhar fixo familiar, o fato de que ela está aqui, quando sua
irmã e cunhado já se foram e a forma como Constance se transforma em um tigre
quando ela me vê - faz sentido. Ela está escondendo um segredo há anos que
poderia arruiná-la para sempre. É por isso que ela suporta as infidelidades do Sr.
Ferro e porque permite que suas mulheres valsem pela sua casa.

Constance é gay - e esta mulher é sua amante. Ela pensou que eu soubesse,
mas eu nunca percebi antes.

Ela puxa sua mão do meu aperto e se prepara para começar a gritar
novamente. Eu a interrompo, cansada. — Eu não me importo com sua vida ou
suas preferências. Eu entendo que seja um tabu para você ser vista com ela. Eu
entendo isso, Constance, eu realmente entendo. Eu não a julgo por isso, então pare
de me julgar. A única coisa de que eu quero vocês é o café. — Eu caminho,
passando por ela.

O queixo de Constance está no chão. Sua namorada, uma mulher pelo menos
dez anos mais nova que ela, fica rígida, olhando-me com medo. Relações do mesmo
sexo podem ser ultramodernas e estarem na moda em Nova York, mas não entre
antigas famílias endinheiradas como esta. Isso a arruinaria. É por isso que ela me
odeia. Ela acha que eu tenho andado por aí esperando para soltar uma bomba em
sua vida.

Quando Constance fala, seu tom é cético: — Você sabe há muito tempo e não
disse nada. Por quê?

— Porque eu não me importo com você. — Eu mantenho minhas costas
para ela enquanto despejo o líquido escuro em uma xícara pesada. É muito cedo. As
pessoas normais não estão acordadas às cinco da manhã. Elas provavelmente
estavam tomando café da manhã antes de se separarem para o dia. Quando me viro

para falar, as duas mulheres estão me olhando mortificadas. — Eu me preocupo
com Bryan. Você não percebeu nada sobre ele que lhe diz respeito?

Seu olhar se estreita. — Não brinque comigo. Eu conheço minha família,
cada um deles.

— Sim, bem, você pode querer falar com ele. — Ela bloqueia seu maxilar,
preparando-se para ordenar que eu saia, mas eu acrescento: — O tempo é uma
coisa engraçada. Todos nós pensamos que temos uma tonelada dele até que seja
tirado de nós, então nos damos conta de que nunca foi o suficiente, para começar.
Use o tempo que você tem, Constance. Ame as pessoas que queira e se certifique de
que eles saibam disso. Chegará o dia em que você lamentará que não o fez e a
chance passou por você.

Ela endurece quando eu falo. — Você está me ameaçando?

Eu rio alto com o ridículo de sua declaração. Ela não tem nenhuma pista. Eu
estava me referindo a mim e Bryan, para a piscina constante de arrependimento
que enche meu estômago. Poderíamos ter estado juntos, mas essa oportunidade
está perdida agora, o tempo que nunca teremos.

— Você está tão errada sobre tudo, lacrada em sua pequena bolha, fora de
contato com o mundo real. Isso não é sobre você, então você acha que está segura,
mas você nunca está, não do tempo - não da morte. Seu sobrinho... — Eu engulo
em seco, mas não quebro o contato visual. — Certifique-se que sua mãe descubra.
Isso é tudo que eu quero.

A suposição de que eu estou fazendo é enorme - aquela que Elizabeth Ferro
se importará se seu filho vive ou morre. Bryan não contou a ninguém sobre sua
doença, exceto eu. Jon pode ver isso, mas os outros não têm ideia. Eu não sei
quanto tempo resta à Bryan, mas não quero que ele o gaste se preocupando ou
brigando. Eu quero estar lá para protegê-lo e, por alertar o Ferro de seu estado, eu
provavelmente só fiz isso mais difícil de acontecer - mas que é a coisa certa a fazer.
Se eu tivesse um segundo extra para gastar com o meu pai... O pensamento se
esconde em minha mente, sol a sol. Quando a noite lava o céu com tons roxos de
tinta e manchas de âmbar cintilante, eu gostaria de ter mais uma oportunidade de
dizer todas as coisas que nunca tive a chance de expressar. Agora, esses
pensamentos estão presos dentro da minha alma, me segurando cativa. Eu nunca

vou ser livre. Eu nunca tive a chance de dizer adeus. Eu estou dando aos Ferro essa
oportunidade e esperando além da esperança de que eles não me joguem para fora
na minha bunda em recompensa.

Empurrando de lado meus pensamentos, eu coloco meu copo vazio para
baixo e saio, deixando Constance e sua amante, boquiabertas, no meu despertar. As
duas mulheres atrás de mim são crianças brincando de casinha. Eu posso ser mais
jovem do que elas em anos, mas minha alma parece velha. É imaturo pensar que a
sua vida seja apenas sobre você. A vida é sobre as pessoas ao seu redor. Como eu
gostaria de nunca crescer, mas desejar é desperdício de tempo e eu me recuso a
desperdiçar mais um segundo.

Capítulo 2

Maggie e eu planejamos, através de mensagens de texto, nos encontrar em
algum lugar que tenha um bagel logo após o amanhecer. Os únicos carros no
estacionamento são da loja. O resto do centro de compras ainda está fechado. Eu
não espero muito tempo, quando ela se junta a mim no final da fila.

— Hey. — Diz Maggie, me envolvendo em um abraço.

Eu a abraço de volta, segurando-a um segundo muito longo. Ela vai fugir
novamente. Eu sei disso. Ela não lida bem com a morte também. Acho que
ninguém faz, mas Maggie viu muito dela. Quando eu a solto, me forço a perdoá-la
com antecedência. Uma alma só pode tomar tanto abuso antes que não possa
evitar, exceto reagir. É como o cão de Pavlov. A campainha da morte soa e Maggie
corre.

Eu enfio um pedaço de cabelo atrás da minha orelha e encosto contra a
vitrine de vidro, antes de enfiar as mãos nos bolsos. — Hey. Como tem passado?

A fila faz a volta para fora da porta e para baixo da frente do centro
comercial com pessoas que já pararam para um bagel e café em seu caminho para
o trabalho. A fila se aproxima alguns centímetros mais próxima da comida e nos
movemos com ela, antes de retornar nossas posições contra o vidro. Meu estômago
ronca com o cheiro de fermento e eu mal posso esperar para provar o pão macio,
quente e mordê-lo, saboreando o cream cheese espesso. Eu aprendi a não dar por
certo pequenas coisas. Bagels me ajudam a encontrar meu lugar feliz.

Eu pretendo pegar um para Bryan também - sementes de papoula com
manteiga, exatamente como ele pedia na escola. Viemos aqui tantas vezes. Eu fico
olhando para fora, no estacionamento, minha mente vagando em uma memória de
Bryan me levantando em um carrinho de compras e empurrando-me como um
louco pelo mercado, rindo o tempo todo.

Outro cliente perguntou: — Que corredor você a encontrou? Eu quero uma!

Bryan apenas sorriu, os olhos deslizando sobre mim no carrinho. —
Desculpe, cara. Esta era a única e é toda minha. Eu nunca a deixarei ir. — A

memória ecoa fortemente em meus ouvidos. Parece que poderia ter acontecido
ontem.

A voz de Maggie me encaixa de volta ao presente. Ela encolhe os ombros e
puxa a alça da bolsa para cima de seu ombro. — Eu estou bem. Acho que encontrei
um apartamento para nós, mas eu ouvi que Neil comprou para vocês uma casa. —
Ela faz uma cara de, bem, tenta não fazer uma cara, que faz sua expressão de dor
ainda pior. A fila se move de novo e, com um passo à frente, ela deixa escapar: —
Você realmente vai se casar com ele? Achei que você amasse Bryan? Parecia que
estava totalmente encantada com o gatinho do sexo. Bem, você é a gatinha.
Rapazes são o quê, tigres? Tigre sexual soa mal. — Ela ri, mas sua risada leve
desaparece quando ela vê o meu sorriso falso. — O que há de errado, Hallie?

Eu tento manter minha voz firme, mas treme sem minha permissão. Não há
nenhum ponto em protelar por mais tempo, e além disso, eu preciso dela. Mesmo
que ela vá correr, eu tenho que falar com alguém enquanto eu tiver a chance. —
Maggie, ele está morrendo.

— Mas, ele não pode estar! Ele... — Maggie deixa escapar muitas palavras de
uma só vez e quase começa a chorar. Ela é a pessoa mais empática que eu já
conheci. A minha dor está representada em seu rosto quando ela para, aperta
minha mão e me puxa para um abraço de urso que poderia explodir minha cabeça.
— Eu sinto muito, Hallie. — Ela enxuga as lágrimas com as costas da mão e olha
para o meu ombro, não querendo perguntar. Cada palavra é como se enfiasse uma
faca no meu lado. — O que há de errado com ele?

Eu a atualizo com o que sei que aconteceu até agora. Minha voz continua
difícil quando eu chego ao fim da história. — Nós terminamos por causa de sua tia
Constance. Ela achou que eu iria arruiná-la com informações que eu não deveria
saber, então ela descobriu uma maneira de nos separar. — A raiva eu não tinha
notado até agora borbulha sob a superfície da minha mente. Eu não vou ficar com
raiva, eu não posso ficar. Eu me recuso a perder meu tempo com ela ou o que ela
fez. — Maggie, eu não poderia me importar menos com ela, mas eu quis Bryan
todo esse tempo e não o tive por causa dela.

— E, no entanto, você não soa como louca. Você parece mais
assustadoramente tranquila sobre isso. — Uma sobrancelha vermelha levanta
levemente em sua testa sardenta.

Eu olho para ela conforme nos movemos com a fila para dentro da pequena
loja, e nos aproximamos da bandeja do pão assado. Maggie pede em primeiro lugar,
então eu peço e pago por nossos itens. Pegamos o nosso café da manhã, cortamos
de volta através da fila, para fora da porta, em direção ao estacionamento. Fico ali
na frente dela querendo falar, mas incapaz de encontrar palavras, em seguida,
entrego para ela o pão e suco de laranja.

Minha boca se abre duas vezes, mas as palavras não saem. Eu finalmente
olho nos olhos dela e explico. — Eu não estou louca. Bem, eu estou - mas não quero
estar. É um desperdício de tempo e eu não tenho tempo de sobra. Eu estou
pensando em ficar com ele, Maggie. Seja qual for o tempo que lhe resta, eu quero
estar lá.

— Eu entendo, e eu estou aqui para você. — Ela pega a minha mão, mas eu
não posso olhar para ela.

— Não faça promessas que não pode cumprir, Maggie.

— Eu estou as mantendo desta vez.

— Eu prefiro saber agora que você vai desaparecer. Eu posso lidar com isso
sozinha. Eu estou bem, realmente. Eu sei o que isso faz para você e... — Eu arranjo
desculpas para ela até que ela me corta.

— Não. A última vez eu não estava lá para você, porque Victor era um idiota.
Eu não tive escolha. Isso fazia parte da maneira como ele estava me controlando,
mas ele já se foi, Hallie. Eu não vou fugir. Eu estarei lá para você. Você não terá que
lidar com isso sozinha. Eu prometo. Podemos passar por qualquer coisa, você e
eu. Eu não vou deixar você Hallie. Nós somos irmãs. Eu vou estar lá neste
momento. — Ela sorri sem jeito e olha para o chão sob suas botas.

Ela muda o seu peso para o outro pé e olha para mim debaixo de muito
rímel. Sua boca fica aberta por um segundo e seus lábios enrolam, como se ela não
quisesse dizer o que está prestes a cair de sua boca. — Há algo que você precisa
saber, e eu não sei se você vai gostar ou não com tudo o que aconteceu, mas precisa

saber. Você precisa. E eu odeio dizer isso agora, mas talvez seja melhor assim. Eu
esperaria se eu achasse que ajudaria.

— Maggie, diga-me. O que é?

Ela puxa um monte de ar e cospe para fora. — Ontem à noite, enquanto você
não estava em casa, entrei e vi o que parecia ser Neil e Cecily fazendo coisas que
estava muito além da zona do amigo. — Seus lábios são esmagados em conjunto,
enquanto ela tenta permanecer inexpressiva. Eu posso dizer que ela quer castrar
Neil conforme ela luta para manter seus lábios em uma linha reta.

Eu pisco, e isso é tudo. A raiva não vomita da minha boca e minhas mãos
não estão cerradas em punhos. Eu não me sinto quebrada ou até mesmo chocada.

Eu não sinto nada.

Se eu amasse Neil, eu estaria irada, mas eu não estou. Concordo com a
cabeça.

O rosto preocupado de Maggie franze enquanto ela empurra seu brilhante
cabelo atrás da orelha. — Eu não sei se eu deveria dizer. Eu o odeio, mas pensei
que você gostava do cara. — Ela me olha com tal preocupação que eu não posso
deixar de sorrir para ela.

Meu olhar abaixa para o chão e eu tomo uma respiração profunda, antes de
dar-lhe um abraço de lado. Quando eu a deixo ir, murmuro: — Eu estou feliz que
você me disse. Desgraça pouca é bobagem, certo? — Eu ofereço um sorriso de
novo, mas é falso neste momento. Há muitas lembranças correndo pela minha
mente, e o movimento faz minha pele parecer como se fosse rachar.

— Yeah. — Ela ri. — Pelo menos não temos que nos preocupar com Victor.
Devo-lhe muito por isso. Os jornais disseram que um dos seus homens o matou no
meu apartamento. Se você não tivesse me arrastado para fora, naquela noite eu
teria levado um tiro, também.

Eu sou insensível ao que eu fiz, pelo menos no momento. Às vezes, quando
eu não consigo dormir, o pensamento de que fiz desliza em minha mente, não
desejado. Victor é um pesadelo que não vai morrer, mas não posso perder o meu
tempo.

— Somos eu e você, agora. — Eu digo a ela com firmeza. Ela sorri
tristemente para mim e assente. — Maggie, você pode ir a casa de Neil e pegar
minhas coisas? Há apenas algumas caixas. Eu nunca desembalei, não
realmente. Neil queria que eu fizesse, mas eu empurrei a maioria delas na parte de
trás de um armário. — Eu retiro minha bolsa e escrevo-lhe um cheque. — Isso
deve cobrir o aluguel do nosso novo apartamento e tudo o mais que
precisamos. Deixe-o bonito, ok? Vai ser bom ter um novo lugar bonito para ir para
casa quando isso acabar.

Maggie pega o cheque e olha para todos os zeros, antes de olhar para mim.
Uma mecha de cabelo vermelho cai na frente de seus olhos. — Hallie, eu não posso
aceitar isso.

— Sim, você pode. Vai fazê-lo. Precisamos de um lugar para viver. Eu
gostaria de ter mais a oferecer, mas essa discussão é para outro dia. Entretanto,
isso vai nos colocar em uma boa vizinhança e nós estaremos confortáveis.

— Você vai processar Neil e Cecily? Eles praticamente gastaram todo o seu
dinheiro.

Concordo com a cabeça. — Provavelmente, mas não agora. Eu preciso fazer
um telefonema. — Maggie balança a cabeça e eu disco para o meu banco enquanto
seguimos para o meu carro. Eu explico a um funcionário do banco muito prestativo
que o nome de Neil deve ser retirado da minha conta imediatamente e todas as
transações em andamento com a sua assinatura, devem ser transferidas para a sua
conta. Verificação conjunta foi ideia dele. Eu esfrego minhas mãos sobre meu rosto
e sento com força no capô do meu carro. A coisa está suja, mas eu não me
importo. O funcionário do banco me pede para ir em breve para assinar os papéis,
e fazer as alterações em minha conta oficial. Quando eu insisto que eles precisam
ser assinados agora, ela diz para vir quando for mais conveniente.

Eu desligo e olho fixamente para as portas fechadas da mercearia. — Eu não
posso fazer isso de novo, não tão cedo. — A perda do meu pai ainda paira pesado
em meu coração, ameaçando me puxar para baixo. Minha dor não diminuiu e a
fama não ajudou. A única coisa que me faz sentir melhor é Bryan e agora vou
perdê-lo também.

Eu não posso respirar. Inclinando minha cabeça para trás com os olhos
cheios de lágrimas, eu olho para o céu e as nuvens brancas onduladas. O céu estava
aqui muito antes de eu nascer e vai estar aqui muito tempo depois. Faz-me sentir
pequena, como se a minha vida não importasse em tudo.

Maggie me bate com sua bota. — Bagel?

— Eu não estou com fome. — Eu estava com fome apenas um momento
atrás, mas agora não sinto nada parecido com isso.

— Merda resistente. Eu estou cuidando de você, o que significa que você
come isso ou vou enfiar na sua cara. — Ela está sorrindo para mim. — Eu vou fazer
isso.

Eu roubo a minha comida de sua mão. — Eu sei que você vai. —
Desempacotando a coisa, dou uma mordida e percebo que eu estou morrendo de
fome.

— A vida não é sobre a morte, você sabe. — Diz Maggie de repente. Ela está
sentada ao meu lado no capô, olhando para uma nuvem, pegando arrancando
pedaços de seu bagel, e os jogando em sua boca um de cada vez.

— Então o que se trata? — Eu pensei que eu sabia em um ponto, mas não
tenho ideia, não mais. A vida parece uma piada cruel.

— É sobre as relações que você faz, a bondade que oferece e você mostrar
compaixão. É a sua chance de mostrar ao mundo quem você é e o que faz você.
Hallie, você é a pessoa mais forte que conheço. Em vez de sentar aqui chorando
comigo, você deve estar com Bryan. Aqui. — Ela me dá o bagel extra. — Cheque de
vez em quando e quando você precisar de mim, eu vou. Nesse meio tempo, vou
deixar nossa casa pronta, eu prometo. Nada me manterá longe desta vez. Quando
você precisar de mim, eu estarei lá - se estiver no hospital, a funerária ou apenas
quando você precisar de uma pausa.

Eu sinto uma vibe nervosa vindo dela. — Você não é fraca, Maggie. Somos
sobreviventes, eu e você. — Quando eu digo isso, quero dizer para confortá-la, mas
uma bola dá um nó na minha garganta.

Ela pega a minha mão e se inclina, descansando a cabeça no meu ombro. —
Nós vamos sobreviver a isto também “juntas”.

Capítulo 3

Eu não quero pensar em Neil, então eu volto para a mansão Ferro e me
esgueiro para dentro. Ainda é cedo. As únicas pessoas que vejo são os empregados.
Eles me veem e não dizem nada. Deve ser estranho viver como uma estátua dia
após dia, sem ninguém, mas outros funcionários, na verdade, reconhecem que você
é humano. Eu não posso evitar isso. Eu sorrio para o mordomo que está sempre
ocupado, correndo para algum lugar. Ele inclina a cabeça em saudação, mas não
abranda.

Depois que ele passa, se vira para trás. — Você precisa de alguma coisa, Sra.
Raymond?

Eu sorrio e balanço a cabeça. — Não, é apenas bom vê-lo. — Eu olho para
ele. Este homem tem sido constante na vida de Bryan por anos. Eu me pergunto se
ele sabe que Bryan tem um segredo, porque nada lhe escapa, pelo menos não
quando éramos mais jovens. Eu me lembro de receber olhares severos dele quando
éramos muito jovens e fazíamos coisas muito loucas, enquanto a mãe de Bryan não
estava por perto. Mas o cara nunca nos entregou.

— Da mesma forma, Sra. Raymond. Diga ao Sr. Ferro que se ele precisar de
ajuda pode pedir qualquer coisa para mim. — Seus olhos perfuraram os meus por
um momento antes que ele olhe para o lado.

Ele sabe.

Concordo com a cabeça e vou para o modo de super mocinha. Antes que eu
possa me parar, lanço o meu corpo para ele e meus braços em volta do velho,
abraçando-o em um abraço de urso em estilo desleixado. Ele endurece com choque
e, em seguida, dá um tapinha minhas costas. — As pessoas vão dizer-lhe que ele
vai ficar bem. Ao longo dos próximos meses, você vai ouvir isso de novo e de novo,
mas a perda não é assim que funciona. As coisas não vão voltar ao normal, mas a
vida continua. Converse com ele sobre isso, enquanto você tem a chance.

Meu queixo cai. — O quê? Isso seria tão mau. Eu não posso...

— Isso não é o problema meu, mas se você fosse minha filha, era o que eu
diria a você. Tempos sombrios estão chegando, se este homem é o seu raio de luz,
mergulhe no sol tanto quanto puder e quando puder.

Acho que entendo o que ele quer dizer, então balanço minha cabeça para
cima e para baixo lentamente. Falar sobre a morte com alguém que está morrendo
é o que ele quer dizer. Vamos acabar discutindo todas as coisas que queríamos
fazer, mas nunca teremos a chance. Minha garganta aperta com o pensamento e os
meus olhos lacrimejam. — Obrigada.

— Qualquer hora, Sra. Raymond. — Ele inclina a cabeça para mim como se
eu fosse uma rainha e se vira para correr para longe.

Eu não gosto da sua sugestão, mas parte dela me chama. E se a gente falar
sobre isso? Eu balanço minha cabeça e aperto as mãos. Não! Eu não quero! Isso não
é justo e não posso simplesmente aceitar que vou perdê-lo - não depois que
finalmente nos encontramos novamente. Não depois de todo esse tempo.

No momento que estou dentro da mansão de Bryan, paro na porta. Minha
intenção era ir à ponta dos pés para o quarto de Bryan, mas sou presa pelo Ferro
que eu mais temo - Sean. Ele está encostado na parede, os braços cruzados sobre o
peito. Ele se parece com sua mãe, toda acusação não dita claramente visível em
seus olhos. Suas roupas escuras - casaco de couro, calça jeans, camisa preta e botas
shitkicker. — Você e eu temos algo a discutir.

Minha intenção é passar por ele. — Não tenho nada para lhe dizer.

Sean libera seus braços e caminha em minha frente. Ele é silencioso e letal,
com vibes malucas irradiando dele como micro ondas. Ding! — Bem, eu tenho algo
que você precisa ouvir - sobre um homem chamado Victor. — Minha respiração
para na minha garganta enquanto minhas mãos vão para o meu coração. Sean me
puxa pela curva do meu cotovelo para longe da porta de Bryan. — Sim, eu achei
que você soubesse alguma coisa sobre isso. Os jornais estão dizendo que um dos
seus homens o matou, mas os policiais estão bisbilhotando, me fazendo perguntas
sobre um traficante de merda. Eu não gosto de policiais e não gosto ainda menos
de perguntas. Então, me diga, como é que eles rastrearam até aqui? O que você
deixou para trás?

Eu rio, mas ele ignora. — Você acha que eu o matei? — Estou pressionando
meus dedos em meu peito, piscando, com meu queixo caído. Embora seja um
excelente desempenho, algo que me afasta. Sean pode ver isso.

Ele dá um passo no meu espaço de uma maneira ameaçadora. Sua voz
ressoa: — Eu sei que você o matou.

— Não, você não sabe. — Eu agarro, tentando me empurrar por ele
novamente, mas Sean não me deixa passar. Ele bloqueia o lugar com seu corpo
maciço.

Inclinando-se perto do meu rosto, ele sussurra baixinho: — Se eu sei, a
minha mãe sabe e você não quer pegadas sujas que levam direto para a porta da
frente. Você precisa se separar de Bryan e sair daqui antes que descubram isso.

Eu balanço minha cabeça e mordo meu lábio inferior. Eu provavelmente
pareci como um moleque teimoso, mas não vou deixar Bryan.

Os olhos de Sean travam com os meus e sua voz cai para um sussurro letal.
— Eu posso fazê-la desaparecer.

Algo desperta dentro de mim, essa mesma característica de proteção que
me fez cortar a garganta de Victor, em primeiro lugar. Minha coluna se endireita e
eu fico na frente do seu rosto. — Da mesma forma.

Depois de um momento de reflexão, o homem na verdade ri. Sean esfrega o
queixo com a mão. Eu não posso dizer se ele está se divertindo ou pensa que sou
louca. Ele finalmente pergunta: — Por que você fez isso?

— Por que você acha? O homem era um estuprador assassino. Vamos
apenas dizer que eu estava no lugar errado na hora errada. Acidentes acontecem e
eu não ia deixar que qualquer outra coisa acontecesse com a minha amiga. Ela é a
única família que me resta. — Eu sugo o ar, tentando inchar, então não sou tão
pequena, mas em comparação com Sean Ferro, sou um palito.

Seus olhos azuis mudam para o lado antes que ele passe as mãos pelo
cabelo. — Então, você protegeu sua família, deixe-me proteger a minha. Vá
embora. Não puxe Bryan para isso.

— Para quê? Os mortos não puxam qualquer um para qualquer coisa.

— Victor Campone está vivo.

Capítulo 4

Um pequeno grito escapa dos meus lábios e eu quase caio no chão. Meus
joelhos cedem, mas antes de eu ir para baixo, Sean agarra meus braços. Ele me
mantém de pé e continua suavemente. — Os policiais suspeitam que ele esteja
vivo. No momento em que chegaram lá, o corpo tinha desaparecido. Devido à
quantidade de sangue que encontraram, sua suposição natural era que um de seus
homens o matou e jogou o corpo. Os policiais ainda estavam indo por esse caminho
até recentemente, quando pegaram Campone bisbilhotando meu hotel. Então, a
menos que viram um fantasma, o homem ainda está vivo.

— Ele não pode estar. — Eu balanço minha cabeça e meus olhos vidrados
quando me lembro daquela noite. A quantidade de sangue, a forma que sua cabeça
pendia para trás e a ferida era tão profunda. — Não é possível.

Sean suspira e olha para mim com uma expressão que está perdida em
algum lugar entre pena e admiração. Inclinando-se perto, ele diz: — O corte foi
muito superficial. É como apontar para o coração e não acertar. O cara foi
subestimado, os que estavam dispostos e aceitaram fazer isso uma vez, mas ele não
vai ser subestimado novamente. E eu aposto qualquer coisa que ele vai
permanecer morto por um tempo, deixar que os outros façam o trabalho sujo, até
que lhe convenha encenar uma ressurreição.

— Como você sabe tudo isso?

Ele engole em seco, seu olhar se afastando e depois de volta para os meus
olhos. — Periodicamente nossos empreendimentos comerciais se sobrepõem. Eu
ouço coisas. E posso dizer-lhe que se eu ouvi, minha mãe ouviu e você com certeza
não quer irritá-la. Se Campone acabar aqui, você está morta. Se ele não te matar,
minha mãe vai.

Ele agarra meus ombros e me pede: — Hallie, pega a sua amiga e dá o fora
daqui antes que Campone a encontre. — Sean me libera. — Este foi um aviso de
cortesia. Se você ficar por perto e Bryan for morto por sua causa, bem, é melhor

esperar que Victor a encontre antes de mim. — Seus olhos firmam em mim uma
vez com as suas intenções claras.

Eu fico lá por um segundo mal respirando. Nossos olhos estão bloqueados,
nós dois estamos desafiando, mas será que ele não sabe, Sean não sabe sobre seu
primo? Talvez eu devesse pegar Bryan e correr, mas não posso. Não enquanto ele
está doente. Ele vai precisar de ajuda e cuidados paliativos. Eu não posso dar-lhe
essas coisas se eu corro. Minha voz racha quando eu falo. — Eu não posso.

— Não é opcional.

— Não, você não entende. Eu não posso ir embora. Eu não posso correr
mais de Victor e não vou. Eu vou cuidar disso. Eu vou terminar o que comecei. —
Eu não tenho ideia de como, mas vou. Se eu não fizer isso, ele virá atrás de mim e
Maggie. O homem é cruel, ele nunca vai parar de nos caçar. Eu sei disso com
certeza.

Sean levanta a sobrancelha escura. — Você está louca? Você nunca vai ter
outra chance de matá-lo. Ele pensou que era insignificante antes, mas agora ele a
conhece melhor.

Eu me empurro passando por ele. — Eu vou cuidar disso. Ele não virá aqui,
e desta vez, quando eu matá-lo, ele vai morrer.

— Hallie. — Sean quase implora meu nome, quase, mas eu não paro.

Eu entro no quarto de Bryan e fecho a porta. Eu fico lá por um segundo e
derrubo minha cabeça para trás, respirando com dificuldade. Eu nunca soquei uma
pessoa antes. Agora eu simplesmente confessei ao mais assustador de todos os
Ferro que vou dar um fim no senhor das drogas mais notório da cidade. Super foda.

Eu ainda estou segurando o saco com café da manhã de Bryan. Quando
aperto o meu punho, o jornal faz um ruído de crepitação e ele se senta. Um belo
sorriso ilumina seu rosto pálido. — Hey, Menina Bonita. Para onde você correu?

— Para pegar o café da manhã e conseguir alguma sujeira em sua tia. Foi
uma manhã interessante. — Eu sorrio, preocupada com ele e entrego o saco.

— Sujeira na minha tia?

Balanço a cabeça e me sento ao lado dele na cama. — Sim, eu descobri
porque ela me odeia. Ela pensa que eu sei de algo todos esses anos, mas eu não
descobri o que eu sabia até esta manhã.

Bryan desembrulha o seu bagel enquanto estou falando e morde. Seus
firmes olhos verdes encontram os meus. Com a boca cheia, ele me pergunta. — E
então?

Eu penso em manter seu segredo, mas não sinto nenhuma lealdade para
com ela. Além disso, Bryan não vai contar a ninguém. — Ela é gay. Eu a peguei com
sua amante na cozinha de sua mãe esta manhã.

Seu queixo cai e o pedaço de bagel rola para fora da boca, indo para a
colcha. — De jeito nenhum.

Concordo com a cabeça e olho para o pedaço de comida. — Um choque e
tanto, hein?

— Claro que sim. Ela é tão recatada e adequada. — Seu nariz franze com o
pensamento da sua tia ser sexualmente algo.

— E, aparentemente, ela gosta de garotas.

Bryan pisca e sorri. — Bem, isso explica um monte de coisas.

— Sim, como por que ela ainda é casada e permite que prostitutas meio
vestidas andem pela sua casa.

Bryan sorri. — Claro, todo mundo gosta de um pouco de colírio para os
olhos.

Eu bato em seu ombro. — Bryan!

— Vamos lá, pense nisso. Houve uma garota naquela casa desde que Jon era
um bebê. É a família mais estranha que eu já vi. Minha mãe não teria tolerado. Eu
sempre me perguntei por que a tia Constance tolerava.

— Seu pai não tem uma puta coabitante?

Ele inclina a cabeça para mim. — Meu pai não tem tempo para isso. Ele está
muito ocupado ganhando dinheiro para ser incomodado com relacionamentos ou
senhoras de compra. Mas, ainda assim, a tia Connie gosta das garotas. Quem teria

pensado? — Ele balança a cabeça. — Então o que diabos eu vi no dia que
terminamos?

Boa pergunta. Eu suspiro e tenho uma boa ideia de para quem perguntar. Eu
sorrio grande. — Qual é o quarto que Constance usa quando está aqui?

Bryan parece confuso e então seus olhos se arregalam. — Você está louca?

— Só um pouco. — Eu rio e quase aperto meus dedos juntos.


CONTINUA

A luz do amanhecer brilha através das pesadas cortinas que revestem as paredes formando uma fina fenda de branco puro no tapete escuro. Eu fico olhando para ele, perdida em seus pensamentos. Perto de mim, Bryan está dormindo. Eu envolvo meus braços ao redor dele e seu corpo se parece tão forte. É por isso que isto é tão difícil. Não faz nenhum sentido. Para além da dor, eu não posso ver o que está acontecendo com ele. É interno. Seu corpo o está matando segundo a segundo. Eventualmente, ele irá respirar e não haverá outro. Eu não posso suportar a ideia.
Minha vida tem sido moldada por morte. Todo mundo que me importa, todos, exceto Maggie, partem. Eu escorrego para fora da cama, agarrando o meu telefone antes de ir para fundo do corredor. Eu envio uma mensagem de texto para ela, embora eu duvide que ela esteja acordada.
Eu digito: Estou com Bryan. Apenas verificando para ter certeza que está tudo bem.
Para minha surpresa ela envia uma mensagem de volta: Eu estou, mas tenho uma coisa horrível para lhe dizer.
Nada poderia ser pior do que perder Bryan. Eu digito de volta: Eu também.
Volto logo para casa e podemos conversar.
Ela responde: Ok.

 


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Eu enfio meu celular no bolso antes de pegar a camiseta de Bryan e a puxo
sobre minha cabeça. Eu enfio minhas mãos sob as mangas e vagueio pela mansão
até encontrar a cozinha. Sinto o cheiro do café e preciso desesperadamente de uma
xícara. Infelizmente, a besta “a tia” de Bryan está sentada à mesa com outra
mulher. Ambas estão vestidas em robe. Eu pisco conforme o choque lava seus
rostos. Eu não posso imaginar por que ela está aqui tão cedo, não vestida. Quão
estranho é isso?

Dentro de um batimento cardíaco, Constance está fora de seu assento e no
meu rosto. — Como você ousa desfilar na casa da minha irmã usando coisas do
meu sobrinho? Saia agora mesmo, sua puta! — Ela tenta bater no meu rosto, mas
eu agarro seu pulso.

As coisas finalmente clicam no lugar. A forma como as mulheres estavam
olhando uma para a outra, o toque de suas mãos, a forma como os seus olhos
permanecem naquele olhar fixo familiar, o fato de que ela está aqui, quando sua
irmã e cunhado já se foram e a forma como Constance se transforma em um tigre
quando ela me vê - faz sentido. Ela está escondendo um segredo há anos que
poderia arruiná-la para sempre. É por isso que ela suporta as infidelidades do Sr.
Ferro e porque permite que suas mulheres valsem pela sua casa.

Constance é gay - e esta mulher é sua amante. Ela pensou que eu soubesse,
mas eu nunca percebi antes.

Ela puxa sua mão do meu aperto e se prepara para começar a gritar
novamente. Eu a interrompo, cansada. — Eu não me importo com sua vida ou
suas preferências. Eu entendo que seja um tabu para você ser vista com ela. Eu
entendo isso, Constance, eu realmente entendo. Eu não a julgo por isso, então pare
de me julgar. A única coisa de que eu quero vocês é o café. — Eu caminho,
passando por ela.

O queixo de Constance está no chão. Sua namorada, uma mulher pelo menos
dez anos mais nova que ela, fica rígida, olhando-me com medo. Relações do mesmo
sexo podem ser ultramodernas e estarem na moda em Nova York, mas não entre
antigas famílias endinheiradas como esta. Isso a arruinaria. É por isso que ela me
odeia. Ela acha que eu tenho andado por aí esperando para soltar uma bomba em
sua vida.

Quando Constance fala, seu tom é cético: — Você sabe há muito tempo e não
disse nada. Por quê?

— Porque eu não me importo com você. — Eu mantenho minhas costas
para ela enquanto despejo o líquido escuro em uma xícara pesada. É muito cedo. As
pessoas normais não estão acordadas às cinco da manhã. Elas provavelmente
estavam tomando café da manhã antes de se separarem para o dia. Quando me viro

para falar, as duas mulheres estão me olhando mortificadas. — Eu me preocupo
com Bryan. Você não percebeu nada sobre ele que lhe diz respeito?

Seu olhar se estreita. — Não brinque comigo. Eu conheço minha família,
cada um deles.

— Sim, bem, você pode querer falar com ele. — Ela bloqueia seu maxilar,
preparando-se para ordenar que eu saia, mas eu acrescento: — O tempo é uma
coisa engraçada. Todos nós pensamos que temos uma tonelada dele até que seja
tirado de nós, então nos damos conta de que nunca foi o suficiente, para começar.
Use o tempo que você tem, Constance. Ame as pessoas que queira e se certifique de
que eles saibam disso. Chegará o dia em que você lamentará que não o fez e a
chance passou por você.

Ela endurece quando eu falo. — Você está me ameaçando?

Eu rio alto com o ridículo de sua declaração. Ela não tem nenhuma pista. Eu
estava me referindo a mim e Bryan, para a piscina constante de arrependimento
que enche meu estômago. Poderíamos ter estado juntos, mas essa oportunidade
está perdida agora, o tempo que nunca teremos.

— Você está tão errada sobre tudo, lacrada em sua pequena bolha, fora de
contato com o mundo real. Isso não é sobre você, então você acha que está segura,
mas você nunca está, não do tempo - não da morte. Seu sobrinho... — Eu engulo
em seco, mas não quebro o contato visual. — Certifique-se que sua mãe descubra.
Isso é tudo que eu quero.

A suposição de que eu estou fazendo é enorme - aquela que Elizabeth Ferro
se importará se seu filho vive ou morre. Bryan não contou a ninguém sobre sua
doença, exceto eu. Jon pode ver isso, mas os outros não têm ideia. Eu não sei
quanto tempo resta à Bryan, mas não quero que ele o gaste se preocupando ou
brigando. Eu quero estar lá para protegê-lo e, por alertar o Ferro de seu estado, eu
provavelmente só fiz isso mais difícil de acontecer - mas que é a coisa certa a fazer.
Se eu tivesse um segundo extra para gastar com o meu pai... O pensamento se
esconde em minha mente, sol a sol. Quando a noite lava o céu com tons roxos de
tinta e manchas de âmbar cintilante, eu gostaria de ter mais uma oportunidade de
dizer todas as coisas que nunca tive a chance de expressar. Agora, esses
pensamentos estão presos dentro da minha alma, me segurando cativa. Eu nunca

vou ser livre. Eu nunca tive a chance de dizer adeus. Eu estou dando aos Ferro essa
oportunidade e esperando além da esperança de que eles não me joguem para fora
na minha bunda em recompensa.

Empurrando de lado meus pensamentos, eu coloco meu copo vazio para
baixo e saio, deixando Constance e sua amante, boquiabertas, no meu despertar. As
duas mulheres atrás de mim são crianças brincando de casinha. Eu posso ser mais
jovem do que elas em anos, mas minha alma parece velha. É imaturo pensar que a
sua vida seja apenas sobre você. A vida é sobre as pessoas ao seu redor. Como eu
gostaria de nunca crescer, mas desejar é desperdício de tempo e eu me recuso a
desperdiçar mais um segundo.

Capítulo 2

Maggie e eu planejamos, através de mensagens de texto, nos encontrar em
algum lugar que tenha um bagel logo após o amanhecer. Os únicos carros no
estacionamento são da loja. O resto do centro de compras ainda está fechado. Eu
não espero muito tempo, quando ela se junta a mim no final da fila.

— Hey. — Diz Maggie, me envolvendo em um abraço.

Eu a abraço de volta, segurando-a um segundo muito longo. Ela vai fugir
novamente. Eu sei disso. Ela não lida bem com a morte também. Acho que
ninguém faz, mas Maggie viu muito dela. Quando eu a solto, me forço a perdoá-la
com antecedência. Uma alma só pode tomar tanto abuso antes que não possa
evitar, exceto reagir. É como o cão de Pavlov. A campainha da morte soa e Maggie
corre.

Eu enfio um pedaço de cabelo atrás da minha orelha e encosto contra a
vitrine de vidro, antes de enfiar as mãos nos bolsos. — Hey. Como tem passado?

A fila faz a volta para fora da porta e para baixo da frente do centro
comercial com pessoas que já pararam para um bagel e café em seu caminho para
o trabalho. A fila se aproxima alguns centímetros mais próxima da comida e nos
movemos com ela, antes de retornar nossas posições contra o vidro. Meu estômago
ronca com o cheiro de fermento e eu mal posso esperar para provar o pão macio,
quente e mordê-lo, saboreando o cream cheese espesso. Eu aprendi a não dar por
certo pequenas coisas. Bagels me ajudam a encontrar meu lugar feliz.

Eu pretendo pegar um para Bryan também - sementes de papoula com
manteiga, exatamente como ele pedia na escola. Viemos aqui tantas vezes. Eu fico
olhando para fora, no estacionamento, minha mente vagando em uma memória de
Bryan me levantando em um carrinho de compras e empurrando-me como um
louco pelo mercado, rindo o tempo todo.

Outro cliente perguntou: — Que corredor você a encontrou? Eu quero uma!

Bryan apenas sorriu, os olhos deslizando sobre mim no carrinho. —
Desculpe, cara. Esta era a única e é toda minha. Eu nunca a deixarei ir. — A

memória ecoa fortemente em meus ouvidos. Parece que poderia ter acontecido
ontem.

A voz de Maggie me encaixa de volta ao presente. Ela encolhe os ombros e
puxa a alça da bolsa para cima de seu ombro. — Eu estou bem. Acho que encontrei
um apartamento para nós, mas eu ouvi que Neil comprou para vocês uma casa. —
Ela faz uma cara de, bem, tenta não fazer uma cara, que faz sua expressão de dor
ainda pior. A fila se move de novo e, com um passo à frente, ela deixa escapar: —
Você realmente vai se casar com ele? Achei que você amasse Bryan? Parecia que
estava totalmente encantada com o gatinho do sexo. Bem, você é a gatinha.
Rapazes são o quê, tigres? Tigre sexual soa mal. — Ela ri, mas sua risada leve
desaparece quando ela vê o meu sorriso falso. — O que há de errado, Hallie?

Eu tento manter minha voz firme, mas treme sem minha permissão. Não há
nenhum ponto em protelar por mais tempo, e além disso, eu preciso dela. Mesmo
que ela vá correr, eu tenho que falar com alguém enquanto eu tiver a chance. —
Maggie, ele está morrendo.

— Mas, ele não pode estar! Ele... — Maggie deixa escapar muitas palavras de
uma só vez e quase começa a chorar. Ela é a pessoa mais empática que eu já
conheci. A minha dor está representada em seu rosto quando ela para, aperta
minha mão e me puxa para um abraço de urso que poderia explodir minha cabeça.
— Eu sinto muito, Hallie. — Ela enxuga as lágrimas com as costas da mão e olha
para o meu ombro, não querendo perguntar. Cada palavra é como se enfiasse uma
faca no meu lado. — O que há de errado com ele?

Eu a atualizo com o que sei que aconteceu até agora. Minha voz continua
difícil quando eu chego ao fim da história. — Nós terminamos por causa de sua tia
Constance. Ela achou que eu iria arruiná-la com informações que eu não deveria
saber, então ela descobriu uma maneira de nos separar. — A raiva eu não tinha
notado até agora borbulha sob a superfície da minha mente. Eu não vou ficar com
raiva, eu não posso ficar. Eu me recuso a perder meu tempo com ela ou o que ela
fez. — Maggie, eu não poderia me importar menos com ela, mas eu quis Bryan
todo esse tempo e não o tive por causa dela.

— E, no entanto, você não soa como louca. Você parece mais
assustadoramente tranquila sobre isso. — Uma sobrancelha vermelha levanta
levemente em sua testa sardenta.

Eu olho para ela conforme nos movemos com a fila para dentro da pequena
loja, e nos aproximamos da bandeja do pão assado. Maggie pede em primeiro lugar,
então eu peço e pago por nossos itens. Pegamos o nosso café da manhã, cortamos
de volta através da fila, para fora da porta, em direção ao estacionamento. Fico ali
na frente dela querendo falar, mas incapaz de encontrar palavras, em seguida,
entrego para ela o pão e suco de laranja.

Minha boca se abre duas vezes, mas as palavras não saem. Eu finalmente
olho nos olhos dela e explico. — Eu não estou louca. Bem, eu estou - mas não quero
estar. É um desperdício de tempo e eu não tenho tempo de sobra. Eu estou
pensando em ficar com ele, Maggie. Seja qual for o tempo que lhe resta, eu quero
estar lá.

— Eu entendo, e eu estou aqui para você. — Ela pega a minha mão, mas eu
não posso olhar para ela.

— Não faça promessas que não pode cumprir, Maggie.

— Eu estou as mantendo desta vez.

— Eu prefiro saber agora que você vai desaparecer. Eu posso lidar com isso
sozinha. Eu estou bem, realmente. Eu sei o que isso faz para você e... — Eu arranjo
desculpas para ela até que ela me corta.

— Não. A última vez eu não estava lá para você, porque Victor era um idiota.
Eu não tive escolha. Isso fazia parte da maneira como ele estava me controlando,
mas ele já se foi, Hallie. Eu não vou fugir. Eu estarei lá para você. Você não terá que
lidar com isso sozinha. Eu prometo. Podemos passar por qualquer coisa, você e
eu. Eu não vou deixar você Hallie. Nós somos irmãs. Eu vou estar lá neste
momento. — Ela sorri sem jeito e olha para o chão sob suas botas.

Ela muda o seu peso para o outro pé e olha para mim debaixo de muito
rímel. Sua boca fica aberta por um segundo e seus lábios enrolam, como se ela não
quisesse dizer o que está prestes a cair de sua boca. — Há algo que você precisa
saber, e eu não sei se você vai gostar ou não com tudo o que aconteceu, mas precisa

saber. Você precisa. E eu odeio dizer isso agora, mas talvez seja melhor assim. Eu
esperaria se eu achasse que ajudaria.

— Maggie, diga-me. O que é?

Ela puxa um monte de ar e cospe para fora. — Ontem à noite, enquanto você
não estava em casa, entrei e vi o que parecia ser Neil e Cecily fazendo coisas que
estava muito além da zona do amigo. — Seus lábios são esmagados em conjunto,
enquanto ela tenta permanecer inexpressiva. Eu posso dizer que ela quer castrar
Neil conforme ela luta para manter seus lábios em uma linha reta.

Eu pisco, e isso é tudo. A raiva não vomita da minha boca e minhas mãos
não estão cerradas em punhos. Eu não me sinto quebrada ou até mesmo chocada.

Eu não sinto nada.

Se eu amasse Neil, eu estaria irada, mas eu não estou. Concordo com a
cabeça.

O rosto preocupado de Maggie franze enquanto ela empurra seu brilhante
cabelo atrás da orelha. — Eu não sei se eu deveria dizer. Eu o odeio, mas pensei
que você gostava do cara. — Ela me olha com tal preocupação que eu não posso
deixar de sorrir para ela.

Meu olhar abaixa para o chão e eu tomo uma respiração profunda, antes de
dar-lhe um abraço de lado. Quando eu a deixo ir, murmuro: — Eu estou feliz que
você me disse. Desgraça pouca é bobagem, certo? — Eu ofereço um sorriso de
novo, mas é falso neste momento. Há muitas lembranças correndo pela minha
mente, e o movimento faz minha pele parecer como se fosse rachar.

— Yeah. — Ela ri. — Pelo menos não temos que nos preocupar com Victor.
Devo-lhe muito por isso. Os jornais disseram que um dos seus homens o matou no
meu apartamento. Se você não tivesse me arrastado para fora, naquela noite eu
teria levado um tiro, também.

Eu sou insensível ao que eu fiz, pelo menos no momento. Às vezes, quando
eu não consigo dormir, o pensamento de que fiz desliza em minha mente, não
desejado. Victor é um pesadelo que não vai morrer, mas não posso perder o meu
tempo.

— Somos eu e você, agora. — Eu digo a ela com firmeza. Ela sorri
tristemente para mim e assente. — Maggie, você pode ir a casa de Neil e pegar
minhas coisas? Há apenas algumas caixas. Eu nunca desembalei, não
realmente. Neil queria que eu fizesse, mas eu empurrei a maioria delas na parte de
trás de um armário. — Eu retiro minha bolsa e escrevo-lhe um cheque. — Isso
deve cobrir o aluguel do nosso novo apartamento e tudo o mais que
precisamos. Deixe-o bonito, ok? Vai ser bom ter um novo lugar bonito para ir para
casa quando isso acabar.

Maggie pega o cheque e olha para todos os zeros, antes de olhar para mim.
Uma mecha de cabelo vermelho cai na frente de seus olhos. — Hallie, eu não posso
aceitar isso.

— Sim, você pode. Vai fazê-lo. Precisamos de um lugar para viver. Eu
gostaria de ter mais a oferecer, mas essa discussão é para outro dia. Entretanto,
isso vai nos colocar em uma boa vizinhança e nós estaremos confortáveis.

— Você vai processar Neil e Cecily? Eles praticamente gastaram todo o seu
dinheiro.

Concordo com a cabeça. — Provavelmente, mas não agora. Eu preciso fazer
um telefonema. — Maggie balança a cabeça e eu disco para o meu banco enquanto
seguimos para o meu carro. Eu explico a um funcionário do banco muito prestativo
que o nome de Neil deve ser retirado da minha conta imediatamente e todas as
transações em andamento com a sua assinatura, devem ser transferidas para a sua
conta. Verificação conjunta foi ideia dele. Eu esfrego minhas mãos sobre meu rosto
e sento com força no capô do meu carro. A coisa está suja, mas eu não me
importo. O funcionário do banco me pede para ir em breve para assinar os papéis,
e fazer as alterações em minha conta oficial. Quando eu insisto que eles precisam
ser assinados agora, ela diz para vir quando for mais conveniente.

Eu desligo e olho fixamente para as portas fechadas da mercearia. — Eu não
posso fazer isso de novo, não tão cedo. — A perda do meu pai ainda paira pesado
em meu coração, ameaçando me puxar para baixo. Minha dor não diminuiu e a
fama não ajudou. A única coisa que me faz sentir melhor é Bryan e agora vou
perdê-lo também.

Eu não posso respirar. Inclinando minha cabeça para trás com os olhos
cheios de lágrimas, eu olho para o céu e as nuvens brancas onduladas. O céu estava
aqui muito antes de eu nascer e vai estar aqui muito tempo depois. Faz-me sentir
pequena, como se a minha vida não importasse em tudo.

Maggie me bate com sua bota. — Bagel?

— Eu não estou com fome. — Eu estava com fome apenas um momento
atrás, mas agora não sinto nada parecido com isso.

— Merda resistente. Eu estou cuidando de você, o que significa que você
come isso ou vou enfiar na sua cara. — Ela está sorrindo para mim. — Eu vou fazer
isso.

Eu roubo a minha comida de sua mão. — Eu sei que você vai. —
Desempacotando a coisa, dou uma mordida e percebo que eu estou morrendo de
fome.

— A vida não é sobre a morte, você sabe. — Diz Maggie de repente. Ela está
sentada ao meu lado no capô, olhando para uma nuvem, pegando arrancando
pedaços de seu bagel, e os jogando em sua boca um de cada vez.

— Então o que se trata? — Eu pensei que eu sabia em um ponto, mas não
tenho ideia, não mais. A vida parece uma piada cruel.

— É sobre as relações que você faz, a bondade que oferece e você mostrar
compaixão. É a sua chance de mostrar ao mundo quem você é e o que faz você.
Hallie, você é a pessoa mais forte que conheço. Em vez de sentar aqui chorando
comigo, você deve estar com Bryan. Aqui. — Ela me dá o bagel extra. — Cheque de
vez em quando e quando você precisar de mim, eu vou. Nesse meio tempo, vou
deixar nossa casa pronta, eu prometo. Nada me manterá longe desta vez. Quando
você precisar de mim, eu estarei lá - se estiver no hospital, a funerária ou apenas
quando você precisar de uma pausa.

Eu sinto uma vibe nervosa vindo dela. — Você não é fraca, Maggie. Somos
sobreviventes, eu e você. — Quando eu digo isso, quero dizer para confortá-la, mas
uma bola dá um nó na minha garganta.

Ela pega a minha mão e se inclina, descansando a cabeça no meu ombro. —
Nós vamos sobreviver a isto também “juntas”.

Capítulo 3

Eu não quero pensar em Neil, então eu volto para a mansão Ferro e me
esgueiro para dentro. Ainda é cedo. As únicas pessoas que vejo são os empregados.
Eles me veem e não dizem nada. Deve ser estranho viver como uma estátua dia
após dia, sem ninguém, mas outros funcionários, na verdade, reconhecem que você
é humano. Eu não posso evitar isso. Eu sorrio para o mordomo que está sempre
ocupado, correndo para algum lugar. Ele inclina a cabeça em saudação, mas não
abranda.

Depois que ele passa, se vira para trás. — Você precisa de alguma coisa, Sra.
Raymond?

Eu sorrio e balanço a cabeça. — Não, é apenas bom vê-lo. — Eu olho para
ele. Este homem tem sido constante na vida de Bryan por anos. Eu me pergunto se
ele sabe que Bryan tem um segredo, porque nada lhe escapa, pelo menos não
quando éramos mais jovens. Eu me lembro de receber olhares severos dele quando
éramos muito jovens e fazíamos coisas muito loucas, enquanto a mãe de Bryan não
estava por perto. Mas o cara nunca nos entregou.

— Da mesma forma, Sra. Raymond. Diga ao Sr. Ferro que se ele precisar de
ajuda pode pedir qualquer coisa para mim. — Seus olhos perfuraram os meus por
um momento antes que ele olhe para o lado.

Ele sabe.

Concordo com a cabeça e vou para o modo de super mocinha. Antes que eu
possa me parar, lanço o meu corpo para ele e meus braços em volta do velho,
abraçando-o em um abraço de urso em estilo desleixado. Ele endurece com choque
e, em seguida, dá um tapinha minhas costas. — As pessoas vão dizer-lhe que ele
vai ficar bem. Ao longo dos próximos meses, você vai ouvir isso de novo e de novo,
mas a perda não é assim que funciona. As coisas não vão voltar ao normal, mas a
vida continua. Converse com ele sobre isso, enquanto você tem a chance.

Meu queixo cai. — O quê? Isso seria tão mau. Eu não posso...

— Isso não é o problema meu, mas se você fosse minha filha, era o que eu
diria a você. Tempos sombrios estão chegando, se este homem é o seu raio de luz,
mergulhe no sol tanto quanto puder e quando puder.

Acho que entendo o que ele quer dizer, então balanço minha cabeça para
cima e para baixo lentamente. Falar sobre a morte com alguém que está morrendo
é o que ele quer dizer. Vamos acabar discutindo todas as coisas que queríamos
fazer, mas nunca teremos a chance. Minha garganta aperta com o pensamento e os
meus olhos lacrimejam. — Obrigada.

— Qualquer hora, Sra. Raymond. — Ele inclina a cabeça para mim como se
eu fosse uma rainha e se vira para correr para longe.

Eu não gosto da sua sugestão, mas parte dela me chama. E se a gente falar
sobre isso? Eu balanço minha cabeça e aperto as mãos. Não! Eu não quero! Isso não
é justo e não posso simplesmente aceitar que vou perdê-lo - não depois que
finalmente nos encontramos novamente. Não depois de todo esse tempo.

No momento que estou dentro da mansão de Bryan, paro na porta. Minha
intenção era ir à ponta dos pés para o quarto de Bryan, mas sou presa pelo Ferro
que eu mais temo - Sean. Ele está encostado na parede, os braços cruzados sobre o
peito. Ele se parece com sua mãe, toda acusação não dita claramente visível em
seus olhos. Suas roupas escuras - casaco de couro, calça jeans, camisa preta e botas
shitkicker. — Você e eu temos algo a discutir.

Minha intenção é passar por ele. — Não tenho nada para lhe dizer.

Sean libera seus braços e caminha em minha frente. Ele é silencioso e letal,
com vibes malucas irradiando dele como micro ondas. Ding! — Bem, eu tenho algo
que você precisa ouvir - sobre um homem chamado Victor. — Minha respiração
para na minha garganta enquanto minhas mãos vão para o meu coração. Sean me
puxa pela curva do meu cotovelo para longe da porta de Bryan. — Sim, eu achei
que você soubesse alguma coisa sobre isso. Os jornais estão dizendo que um dos
seus homens o matou, mas os policiais estão bisbilhotando, me fazendo perguntas
sobre um traficante de merda. Eu não gosto de policiais e não gosto ainda menos
de perguntas. Então, me diga, como é que eles rastrearam até aqui? O que você
deixou para trás?

Eu rio, mas ele ignora. — Você acha que eu o matei? — Estou pressionando
meus dedos em meu peito, piscando, com meu queixo caído. Embora seja um
excelente desempenho, algo que me afasta. Sean pode ver isso.

Ele dá um passo no meu espaço de uma maneira ameaçadora. Sua voz
ressoa: — Eu sei que você o matou.

— Não, você não sabe. — Eu agarro, tentando me empurrar por ele
novamente, mas Sean não me deixa passar. Ele bloqueia o lugar com seu corpo
maciço.

Inclinando-se perto do meu rosto, ele sussurra baixinho: — Se eu sei, a
minha mãe sabe e você não quer pegadas sujas que levam direto para a porta da
frente. Você precisa se separar de Bryan e sair daqui antes que descubram isso.

Eu balanço minha cabeça e mordo meu lábio inferior. Eu provavelmente
pareci como um moleque teimoso, mas não vou deixar Bryan.

Os olhos de Sean travam com os meus e sua voz cai para um sussurro letal.
— Eu posso fazê-la desaparecer.

Algo desperta dentro de mim, essa mesma característica de proteção que
me fez cortar a garganta de Victor, em primeiro lugar. Minha coluna se endireita e
eu fico na frente do seu rosto. — Da mesma forma.

Depois de um momento de reflexão, o homem na verdade ri. Sean esfrega o
queixo com a mão. Eu não posso dizer se ele está se divertindo ou pensa que sou
louca. Ele finalmente pergunta: — Por que você fez isso?

— Por que você acha? O homem era um estuprador assassino. Vamos
apenas dizer que eu estava no lugar errado na hora errada. Acidentes acontecem e
eu não ia deixar que qualquer outra coisa acontecesse com a minha amiga. Ela é a
única família que me resta. — Eu sugo o ar, tentando inchar, então não sou tão
pequena, mas em comparação com Sean Ferro, sou um palito.

Seus olhos azuis mudam para o lado antes que ele passe as mãos pelo
cabelo. — Então, você protegeu sua família, deixe-me proteger a minha. Vá
embora. Não puxe Bryan para isso.

— Para quê? Os mortos não puxam qualquer um para qualquer coisa.

— Victor Campone está vivo.

Capítulo 4

Um pequeno grito escapa dos meus lábios e eu quase caio no chão. Meus
joelhos cedem, mas antes de eu ir para baixo, Sean agarra meus braços. Ele me
mantém de pé e continua suavemente. — Os policiais suspeitam que ele esteja
vivo. No momento em que chegaram lá, o corpo tinha desaparecido. Devido à
quantidade de sangue que encontraram, sua suposição natural era que um de seus
homens o matou e jogou o corpo. Os policiais ainda estavam indo por esse caminho
até recentemente, quando pegaram Campone bisbilhotando meu hotel. Então, a
menos que viram um fantasma, o homem ainda está vivo.

— Ele não pode estar. — Eu balanço minha cabeça e meus olhos vidrados
quando me lembro daquela noite. A quantidade de sangue, a forma que sua cabeça
pendia para trás e a ferida era tão profunda. — Não é possível.

Sean suspira e olha para mim com uma expressão que está perdida em
algum lugar entre pena e admiração. Inclinando-se perto, ele diz: — O corte foi
muito superficial. É como apontar para o coração e não acertar. O cara foi
subestimado, os que estavam dispostos e aceitaram fazer isso uma vez, mas ele não
vai ser subestimado novamente. E eu aposto qualquer coisa que ele vai
permanecer morto por um tempo, deixar que os outros façam o trabalho sujo, até
que lhe convenha encenar uma ressurreição.

— Como você sabe tudo isso?

Ele engole em seco, seu olhar se afastando e depois de volta para os meus
olhos. — Periodicamente nossos empreendimentos comerciais se sobrepõem. Eu
ouço coisas. E posso dizer-lhe que se eu ouvi, minha mãe ouviu e você com certeza
não quer irritá-la. Se Campone acabar aqui, você está morta. Se ele não te matar,
minha mãe vai.

Ele agarra meus ombros e me pede: — Hallie, pega a sua amiga e dá o fora
daqui antes que Campone a encontre. — Sean me libera. — Este foi um aviso de
cortesia. Se você ficar por perto e Bryan for morto por sua causa, bem, é melhor

esperar que Victor a encontre antes de mim. — Seus olhos firmam em mim uma
vez com as suas intenções claras.

Eu fico lá por um segundo mal respirando. Nossos olhos estão bloqueados,
nós dois estamos desafiando, mas será que ele não sabe, Sean não sabe sobre seu
primo? Talvez eu devesse pegar Bryan e correr, mas não posso. Não enquanto ele
está doente. Ele vai precisar de ajuda e cuidados paliativos. Eu não posso dar-lhe
essas coisas se eu corro. Minha voz racha quando eu falo. — Eu não posso.

— Não é opcional.

— Não, você não entende. Eu não posso ir embora. Eu não posso correr
mais de Victor e não vou. Eu vou cuidar disso. Eu vou terminar o que comecei. —
Eu não tenho ideia de como, mas vou. Se eu não fizer isso, ele virá atrás de mim e
Maggie. O homem é cruel, ele nunca vai parar de nos caçar. Eu sei disso com
certeza.

Sean levanta a sobrancelha escura. — Você está louca? Você nunca vai ter
outra chance de matá-lo. Ele pensou que era insignificante antes, mas agora ele a
conhece melhor.

Eu me empurro passando por ele. — Eu vou cuidar disso. Ele não virá aqui,
e desta vez, quando eu matá-lo, ele vai morrer.

— Hallie. — Sean quase implora meu nome, quase, mas eu não paro.

Eu entro no quarto de Bryan e fecho a porta. Eu fico lá por um segundo e
derrubo minha cabeça para trás, respirando com dificuldade. Eu nunca soquei uma
pessoa antes. Agora eu simplesmente confessei ao mais assustador de todos os
Ferro que vou dar um fim no senhor das drogas mais notório da cidade. Super foda.

Eu ainda estou segurando o saco com café da manhã de Bryan. Quando
aperto o meu punho, o jornal faz um ruído de crepitação e ele se senta. Um belo
sorriso ilumina seu rosto pálido. — Hey, Menina Bonita. Para onde você correu?

— Para pegar o café da manhã e conseguir alguma sujeira em sua tia. Foi
uma manhã interessante. — Eu sorrio, preocupada com ele e entrego o saco.

— Sujeira na minha tia?

Balanço a cabeça e me sento ao lado dele na cama. — Sim, eu descobri
porque ela me odeia. Ela pensa que eu sei de algo todos esses anos, mas eu não
descobri o que eu sabia até esta manhã.

Bryan desembrulha o seu bagel enquanto estou falando e morde. Seus
firmes olhos verdes encontram os meus. Com a boca cheia, ele me pergunta. — E
então?

Eu penso em manter seu segredo, mas não sinto nenhuma lealdade para
com ela. Além disso, Bryan não vai contar a ninguém. — Ela é gay. Eu a peguei com
sua amante na cozinha de sua mãe esta manhã.

Seu queixo cai e o pedaço de bagel rola para fora da boca, indo para a
colcha. — De jeito nenhum.

Concordo com a cabeça e olho para o pedaço de comida. — Um choque e
tanto, hein?

— Claro que sim. Ela é tão recatada e adequada. — Seu nariz franze com o
pensamento da sua tia ser sexualmente algo.

— E, aparentemente, ela gosta de garotas.

Bryan pisca e sorri. — Bem, isso explica um monte de coisas.

— Sim, como por que ela ainda é casada e permite que prostitutas meio
vestidas andem pela sua casa.

Bryan sorri. — Claro, todo mundo gosta de um pouco de colírio para os
olhos.

Eu bato em seu ombro. — Bryan!

— Vamos lá, pense nisso. Houve uma garota naquela casa desde que Jon era
um bebê. É a família mais estranha que eu já vi. Minha mãe não teria tolerado. Eu
sempre me perguntei por que a tia Constance tolerava.

— Seu pai não tem uma puta coabitante?

Ele inclina a cabeça para mim. — Meu pai não tem tempo para isso. Ele está
muito ocupado ganhando dinheiro para ser incomodado com relacionamentos ou
senhoras de compra. Mas, ainda assim, a tia Connie gosta das garotas. Quem teria

pensado? — Ele balança a cabeça. — Então o que diabos eu vi no dia que
terminamos?

Boa pergunta. Eu suspiro e tenho uma boa ideia de para quem perguntar. Eu
sorrio grande. — Qual é o quarto que Constance usa quando está aqui?

Bryan parece confuso e então seus olhos se arregalam. — Você está louca?

— Só um pouco. — Eu rio e quase aperto meus dedos juntos.


CONTINUA

A luz do amanhecer brilha através das pesadas cortinas que revestem as paredes formando uma fina fenda de branco puro no tapete escuro. Eu fico olhando para ele, perdida em seus pensamentos. Perto de mim, Bryan está dormindo. Eu envolvo meus braços ao redor dele e seu corpo se parece tão forte. É por isso que isto é tão difícil. Não faz nenhum sentido. Para além da dor, eu não posso ver o que está acontecendo com ele. É interno. Seu corpo o está matando segundo a segundo. Eventualmente, ele irá respirar e não haverá outro. Eu não posso suportar a ideia.
Minha vida tem sido moldada por morte. Todo mundo que me importa, todos, exceto Maggie, partem. Eu escorrego para fora da cama, agarrando o meu telefone antes de ir para fundo do corredor. Eu envio uma mensagem de texto para ela, embora eu duvide que ela esteja acordada.
Eu digito: Estou com Bryan. Apenas verificando para ter certeza que está tudo bem.
Para minha surpresa ela envia uma mensagem de volta: Eu estou, mas tenho uma coisa horrível para lhe dizer.
Nada poderia ser pior do que perder Bryan. Eu digito de volta: Eu também.
Volto logo para casa e podemos conversar.
Ela responde: Ok.

 


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Eu enfio meu celular no bolso antes de pegar a camiseta de Bryan e a puxo
sobre minha cabeça. Eu enfio minhas mãos sob as mangas e vagueio pela mansão
até encontrar a cozinha. Sinto o cheiro do café e preciso desesperadamente de uma
xícara. Infelizmente, a besta “a tia” de Bryan está sentada à mesa com outra
mulher. Ambas estão vestidas em robe. Eu pisco conforme o choque lava seus
rostos. Eu não posso imaginar por que ela está aqui tão cedo, não vestida. Quão
estranho é isso?

Dentro de um batimento cardíaco, Constance está fora de seu assento e no
meu rosto. — Como você ousa desfilar na casa da minha irmã usando coisas do
meu sobrinho? Saia agora mesmo, sua puta! — Ela tenta bater no meu rosto, mas
eu agarro seu pulso.

As coisas finalmente clicam no lugar. A forma como as mulheres estavam
olhando uma para a outra, o toque de suas mãos, a forma como os seus olhos
permanecem naquele olhar fixo familiar, o fato de que ela está aqui, quando sua
irmã e cunhado já se foram e a forma como Constance se transforma em um tigre
quando ela me vê - faz sentido. Ela está escondendo um segredo há anos que
poderia arruiná-la para sempre. É por isso que ela suporta as infidelidades do Sr.
Ferro e porque permite que suas mulheres valsem pela sua casa.

Constance é gay - e esta mulher é sua amante. Ela pensou que eu soubesse,
mas eu nunca percebi antes.

Ela puxa sua mão do meu aperto e se prepara para começar a gritar
novamente. Eu a interrompo, cansada. — Eu não me importo com sua vida ou
suas preferências. Eu entendo que seja um tabu para você ser vista com ela. Eu
entendo isso, Constance, eu realmente entendo. Eu não a julgo por isso, então pare
de me julgar. A única coisa de que eu quero vocês é o café. — Eu caminho,
passando por ela.

O queixo de Constance está no chão. Sua namorada, uma mulher pelo menos
dez anos mais nova que ela, fica rígida, olhando-me com medo. Relações do mesmo
sexo podem ser ultramodernas e estarem na moda em Nova York, mas não entre
antigas famílias endinheiradas como esta. Isso a arruinaria. É por isso que ela me
odeia. Ela acha que eu tenho andado por aí esperando para soltar uma bomba em
sua vida.

Quando Constance fala, seu tom é cético: — Você sabe há muito tempo e não
disse nada. Por quê?

— Porque eu não me importo com você. — Eu mantenho minhas costas
para ela enquanto despejo o líquido escuro em uma xícara pesada. É muito cedo. As
pessoas normais não estão acordadas às cinco da manhã. Elas provavelmente
estavam tomando café da manhã antes de se separarem para o dia. Quando me viro

para falar, as duas mulheres estão me olhando mortificadas. — Eu me preocupo
com Bryan. Você não percebeu nada sobre ele que lhe diz respeito?

Seu olhar se estreita. — Não brinque comigo. Eu conheço minha família,
cada um deles.

— Sim, bem, você pode querer falar com ele. — Ela bloqueia seu maxilar,
preparando-se para ordenar que eu saia, mas eu acrescento: — O tempo é uma
coisa engraçada. Todos nós pensamos que temos uma tonelada dele até que seja
tirado de nós, então nos damos conta de que nunca foi o suficiente, para começar.
Use o tempo que você tem, Constance. Ame as pessoas que queira e se certifique de
que eles saibam disso. Chegará o dia em que você lamentará que não o fez e a
chance passou por você.

Ela endurece quando eu falo. — Você está me ameaçando?

Eu rio alto com o ridículo de sua declaração. Ela não tem nenhuma pista. Eu
estava me referindo a mim e Bryan, para a piscina constante de arrependimento
que enche meu estômago. Poderíamos ter estado juntos, mas essa oportunidade
está perdida agora, o tempo que nunca teremos.

— Você está tão errada sobre tudo, lacrada em sua pequena bolha, fora de
contato com o mundo real. Isso não é sobre você, então você acha que está segura,
mas você nunca está, não do tempo - não da morte. Seu sobrinho... — Eu engulo
em seco, mas não quebro o contato visual. — Certifique-se que sua mãe descubra.
Isso é tudo que eu quero.

A suposição de que eu estou fazendo é enorme - aquela que Elizabeth Ferro
se importará se seu filho vive ou morre. Bryan não contou a ninguém sobre sua
doença, exceto eu. Jon pode ver isso, mas os outros não têm ideia. Eu não sei
quanto tempo resta à Bryan, mas não quero que ele o gaste se preocupando ou
brigando. Eu quero estar lá para protegê-lo e, por alertar o Ferro de seu estado, eu
provavelmente só fiz isso mais difícil de acontecer - mas que é a coisa certa a fazer.
Se eu tivesse um segundo extra para gastar com o meu pai... O pensamento se
esconde em minha mente, sol a sol. Quando a noite lava o céu com tons roxos de
tinta e manchas de âmbar cintilante, eu gostaria de ter mais uma oportunidade de
dizer todas as coisas que nunca tive a chance de expressar. Agora, esses
pensamentos estão presos dentro da minha alma, me segurando cativa. Eu nunca

vou ser livre. Eu nunca tive a chance de dizer adeus. Eu estou dando aos Ferro essa
oportunidade e esperando além da esperança de que eles não me joguem para fora
na minha bunda em recompensa.

Empurrando de lado meus pensamentos, eu coloco meu copo vazio para
baixo e saio, deixando Constance e sua amante, boquiabertas, no meu despertar. As
duas mulheres atrás de mim são crianças brincando de casinha. Eu posso ser mais
jovem do que elas em anos, mas minha alma parece velha. É imaturo pensar que a
sua vida seja apenas sobre você. A vida é sobre as pessoas ao seu redor. Como eu
gostaria de nunca crescer, mas desejar é desperdício de tempo e eu me recuso a
desperdiçar mais um segundo.

Capítulo 2

Maggie e eu planejamos, através de mensagens de texto, nos encontrar em
algum lugar que tenha um bagel logo após o amanhecer. Os únicos carros no
estacionamento são da loja. O resto do centro de compras ainda está fechado. Eu
não espero muito tempo, quando ela se junta a mim no final da fila.

— Hey. — Diz Maggie, me envolvendo em um abraço.

Eu a abraço de volta, segurando-a um segundo muito longo. Ela vai fugir
novamente. Eu sei disso. Ela não lida bem com a morte também. Acho que
ninguém faz, mas Maggie viu muito dela. Quando eu a solto, me forço a perdoá-la
com antecedência. Uma alma só pode tomar tanto abuso antes que não possa
evitar, exceto reagir. É como o cão de Pavlov. A campainha da morte soa e Maggie
corre.

Eu enfio um pedaço de cabelo atrás da minha orelha e encosto contra a
vitrine de vidro, antes de enfiar as mãos nos bolsos. — Hey. Como tem passado?

A fila faz a volta para fora da porta e para baixo da frente do centro
comercial com pessoas que já pararam para um bagel e café em seu caminho para
o trabalho. A fila se aproxima alguns centímetros mais próxima da comida e nos
movemos com ela, antes de retornar nossas posições contra o vidro. Meu estômago
ronca com o cheiro de fermento e eu mal posso esperar para provar o pão macio,
quente e mordê-lo, saboreando o cream cheese espesso. Eu aprendi a não dar por
certo pequenas coisas. Bagels me ajudam a encontrar meu lugar feliz.

Eu pretendo pegar um para Bryan também - sementes de papoula com
manteiga, exatamente como ele pedia na escola. Viemos aqui tantas vezes. Eu fico
olhando para fora, no estacionamento, minha mente vagando em uma memória de
Bryan me levantando em um carrinho de compras e empurrando-me como um
louco pelo mercado, rindo o tempo todo.

Outro cliente perguntou: — Que corredor você a encontrou? Eu quero uma!

Bryan apenas sorriu, os olhos deslizando sobre mim no carrinho. —
Desculpe, cara. Esta era a única e é toda minha. Eu nunca a deixarei ir. — A

memória ecoa fortemente em meus ouvidos. Parece que poderia ter acontecido
ontem.

A voz de Maggie me encaixa de volta ao presente. Ela encolhe os ombros e
puxa a alça da bolsa para cima de seu ombro. — Eu estou bem. Acho que encontrei
um apartamento para nós, mas eu ouvi que Neil comprou para vocês uma casa. —
Ela faz uma cara de, bem, tenta não fazer uma cara, que faz sua expressão de dor
ainda pior. A fila se move de novo e, com um passo à frente, ela deixa escapar: —
Você realmente vai se casar com ele? Achei que você amasse Bryan? Parecia que
estava totalmente encantada com o gatinho do sexo. Bem, você é a gatinha.
Rapazes são o quê, tigres? Tigre sexual soa mal. — Ela ri, mas sua risada leve
desaparece quando ela vê o meu sorriso falso. — O que há de errado, Hallie?

Eu tento manter minha voz firme, mas treme sem minha permissão. Não há
nenhum ponto em protelar por mais tempo, e além disso, eu preciso dela. Mesmo
que ela vá correr, eu tenho que falar com alguém enquanto eu tiver a chance. —
Maggie, ele está morrendo.

— Mas, ele não pode estar! Ele... — Maggie deixa escapar muitas palavras de
uma só vez e quase começa a chorar. Ela é a pessoa mais empática que eu já
conheci. A minha dor está representada em seu rosto quando ela para, aperta
minha mão e me puxa para um abraço de urso que poderia explodir minha cabeça.
— Eu sinto muito, Hallie. — Ela enxuga as lágrimas com as costas da mão e olha
para o meu ombro, não querendo perguntar. Cada palavra é como se enfiasse uma
faca no meu lado. — O que há de errado com ele?

Eu a atualizo com o que sei que aconteceu até agora. Minha voz continua
difícil quando eu chego ao fim da história. — Nós terminamos por causa de sua tia
Constance. Ela achou que eu iria arruiná-la com informações que eu não deveria
saber, então ela descobriu uma maneira de nos separar. — A raiva eu não tinha
notado até agora borbulha sob a superfície da minha mente. Eu não vou ficar com
raiva, eu não posso ficar. Eu me recuso a perder meu tempo com ela ou o que ela
fez. — Maggie, eu não poderia me importar menos com ela, mas eu quis Bryan
todo esse tempo e não o tive por causa dela.

— E, no entanto, você não soa como louca. Você parece mais
assustadoramente tranquila sobre isso. — Uma sobrancelha vermelha levanta
levemente em sua testa sardenta.

Eu olho para ela conforme nos movemos com a fila para dentro da pequena
loja, e nos aproximamos da bandeja do pão assado. Maggie pede em primeiro lugar,
então eu peço e pago por nossos itens. Pegamos o nosso café da manhã, cortamos
de volta através da fila, para fora da porta, em direção ao estacionamento. Fico ali
na frente dela querendo falar, mas incapaz de encontrar palavras, em seguida,
entrego para ela o pão e suco de laranja.

Minha boca se abre duas vezes, mas as palavras não saem. Eu finalmente
olho nos olhos dela e explico. — Eu não estou louca. Bem, eu estou - mas não quero
estar. É um desperdício de tempo e eu não tenho tempo de sobra. Eu estou
pensando em ficar com ele, Maggie. Seja qual for o tempo que lhe resta, eu quero
estar lá.

— Eu entendo, e eu estou aqui para você. — Ela pega a minha mão, mas eu
não posso olhar para ela.

— Não faça promessas que não pode cumprir, Maggie.

— Eu estou as mantendo desta vez.

— Eu prefiro saber agora que você vai desaparecer. Eu posso lidar com isso
sozinha. Eu estou bem, realmente. Eu sei o que isso faz para você e... — Eu arranjo
desculpas para ela até que ela me corta.

— Não. A última vez eu não estava lá para você, porque Victor era um idiota.
Eu não tive escolha. Isso fazia parte da maneira como ele estava me controlando,
mas ele já se foi, Hallie. Eu não vou fugir. Eu estarei lá para você. Você não terá que
lidar com isso sozinha. Eu prometo. Podemos passar por qualquer coisa, você e
eu. Eu não vou deixar você Hallie. Nós somos irmãs. Eu vou estar lá neste
momento. — Ela sorri sem jeito e olha para o chão sob suas botas.

Ela muda o seu peso para o outro pé e olha para mim debaixo de muito
rímel. Sua boca fica aberta por um segundo e seus lábios enrolam, como se ela não
quisesse dizer o que está prestes a cair de sua boca. — Há algo que você precisa
saber, e eu não sei se você vai gostar ou não com tudo o que aconteceu, mas precisa

saber. Você precisa. E eu odeio dizer isso agora, mas talvez seja melhor assim. Eu
esperaria se eu achasse que ajudaria.

— Maggie, diga-me. O que é?

Ela puxa um monte de ar e cospe para fora. — Ontem à noite, enquanto você
não estava em casa, entrei e vi o que parecia ser Neil e Cecily fazendo coisas que
estava muito além da zona do amigo. — Seus lábios são esmagados em conjunto,
enquanto ela tenta permanecer inexpressiva. Eu posso dizer que ela quer castrar
Neil conforme ela luta para manter seus lábios em uma linha reta.

Eu pisco, e isso é tudo. A raiva não vomita da minha boca e minhas mãos
não estão cerradas em punhos. Eu não me sinto quebrada ou até mesmo chocada.

Eu não sinto nada.

Se eu amasse Neil, eu estaria irada, mas eu não estou. Concordo com a
cabeça.

O rosto preocupado de Maggie franze enquanto ela empurra seu brilhante
cabelo atrás da orelha. — Eu não sei se eu deveria dizer. Eu o odeio, mas pensei
que você gostava do cara. — Ela me olha com tal preocupação que eu não posso
deixar de sorrir para ela.

Meu olhar abaixa para o chão e eu tomo uma respiração profunda, antes de
dar-lhe um abraço de lado. Quando eu a deixo ir, murmuro: — Eu estou feliz que
você me disse. Desgraça pouca é bobagem, certo? — Eu ofereço um sorriso de
novo, mas é falso neste momento. Há muitas lembranças correndo pela minha
mente, e o movimento faz minha pele parecer como se fosse rachar.

— Yeah. — Ela ri. — Pelo menos não temos que nos preocupar com Victor.
Devo-lhe muito por isso. Os jornais disseram que um dos seus homens o matou no
meu apartamento. Se você não tivesse me arrastado para fora, naquela noite eu
teria levado um tiro, também.

Eu sou insensível ao que eu fiz, pelo menos no momento. Às vezes, quando
eu não consigo dormir, o pensamento de que fiz desliza em minha mente, não
desejado. Victor é um pesadelo que não vai morrer, mas não posso perder o meu
tempo.

— Somos eu e você, agora. — Eu digo a ela com firmeza. Ela sorri
tristemente para mim e assente. — Maggie, você pode ir a casa de Neil e pegar
minhas coisas? Há apenas algumas caixas. Eu nunca desembalei, não
realmente. Neil queria que eu fizesse, mas eu empurrei a maioria delas na parte de
trás de um armário. — Eu retiro minha bolsa e escrevo-lhe um cheque. — Isso
deve cobrir o aluguel do nosso novo apartamento e tudo o mais que
precisamos. Deixe-o bonito, ok? Vai ser bom ter um novo lugar bonito para ir para
casa quando isso acabar.

Maggie pega o cheque e olha para todos os zeros, antes de olhar para mim.
Uma mecha de cabelo vermelho cai na frente de seus olhos. — Hallie, eu não posso
aceitar isso.

— Sim, você pode. Vai fazê-lo. Precisamos de um lugar para viver. Eu
gostaria de ter mais a oferecer, mas essa discussão é para outro dia. Entretanto,
isso vai nos colocar em uma boa vizinhança e nós estaremos confortáveis.

— Você vai processar Neil e Cecily? Eles praticamente gastaram todo o seu
dinheiro.

Concordo com a cabeça. — Provavelmente, mas não agora. Eu preciso fazer
um telefonema. — Maggie balança a cabeça e eu disco para o meu banco enquanto
seguimos para o meu carro. Eu explico a um funcionário do banco muito prestativo
que o nome de Neil deve ser retirado da minha conta imediatamente e todas as
transações em andamento com a sua assinatura, devem ser transferidas para a sua
conta. Verificação conjunta foi ideia dele. Eu esfrego minhas mãos sobre meu rosto
e sento com força no capô do meu carro. A coisa está suja, mas eu não me
importo. O funcionário do banco me pede para ir em breve para assinar os papéis,
e fazer as alterações em minha conta oficial. Quando eu insisto que eles precisam
ser assinados agora, ela diz para vir quando for mais conveniente.

Eu desligo e olho fixamente para as portas fechadas da mercearia. — Eu não
posso fazer isso de novo, não tão cedo. — A perda do meu pai ainda paira pesado
em meu coração, ameaçando me puxar para baixo. Minha dor não diminuiu e a
fama não ajudou. A única coisa que me faz sentir melhor é Bryan e agora vou
perdê-lo também.

Eu não posso respirar. Inclinando minha cabeça para trás com os olhos
cheios de lágrimas, eu olho para o céu e as nuvens brancas onduladas. O céu estava
aqui muito antes de eu nascer e vai estar aqui muito tempo depois. Faz-me sentir
pequena, como se a minha vida não importasse em tudo.

Maggie me bate com sua bota. — Bagel?

— Eu não estou com fome. — Eu estava com fome apenas um momento
atrás, mas agora não sinto nada parecido com isso.

— Merda resistente. Eu estou cuidando de você, o que significa que você
come isso ou vou enfiar na sua cara. — Ela está sorrindo para mim. — Eu vou fazer
isso.

Eu roubo a minha comida de sua mão. — Eu sei que você vai. —
Desempacotando a coisa, dou uma mordida e percebo que eu estou morrendo de
fome.

— A vida não é sobre a morte, você sabe. — Diz Maggie de repente. Ela está
sentada ao meu lado no capô, olhando para uma nuvem, pegando arrancando
pedaços de seu bagel, e os jogando em sua boca um de cada vez.

— Então o que se trata? — Eu pensei que eu sabia em um ponto, mas não
tenho ideia, não mais. A vida parece uma piada cruel.

— É sobre as relações que você faz, a bondade que oferece e você mostrar
compaixão. É a sua chance de mostrar ao mundo quem você é e o que faz você.
Hallie, você é a pessoa mais forte que conheço. Em vez de sentar aqui chorando
comigo, você deve estar com Bryan. Aqui. — Ela me dá o bagel extra. — Cheque de
vez em quando e quando você precisar de mim, eu vou. Nesse meio tempo, vou
deixar nossa casa pronta, eu prometo. Nada me manterá longe desta vez. Quando
você precisar de mim, eu estarei lá - se estiver no hospital, a funerária ou apenas
quando você precisar de uma pausa.

Eu sinto uma vibe nervosa vindo dela. — Você não é fraca, Maggie. Somos
sobreviventes, eu e você. — Quando eu digo isso, quero dizer para confortá-la, mas
uma bola dá um nó na minha garganta.

Ela pega a minha mão e se inclina, descansando a cabeça no meu ombro. —
Nós vamos sobreviver a isto também “juntas”.

Capítulo 3

Eu não quero pensar em Neil, então eu volto para a mansão Ferro e me
esgueiro para dentro. Ainda é cedo. As únicas pessoas que vejo são os empregados.
Eles me veem e não dizem nada. Deve ser estranho viver como uma estátua dia
após dia, sem ninguém, mas outros funcionários, na verdade, reconhecem que você
é humano. Eu não posso evitar isso. Eu sorrio para o mordomo que está sempre
ocupado, correndo para algum lugar. Ele inclina a cabeça em saudação, mas não
abranda.

Depois que ele passa, se vira para trás. — Você precisa de alguma coisa, Sra.
Raymond?

Eu sorrio e balanço a cabeça. — Não, é apenas bom vê-lo. — Eu olho para
ele. Este homem tem sido constante na vida de Bryan por anos. Eu me pergunto se
ele sabe que Bryan tem um segredo, porque nada lhe escapa, pelo menos não
quando éramos mais jovens. Eu me lembro de receber olhares severos dele quando
éramos muito jovens e fazíamos coisas muito loucas, enquanto a mãe de Bryan não
estava por perto. Mas o cara nunca nos entregou.

— Da mesma forma, Sra. Raymond. Diga ao Sr. Ferro que se ele precisar de
ajuda pode pedir qualquer coisa para mim. — Seus olhos perfuraram os meus por
um momento antes que ele olhe para o lado.

Ele sabe.

Concordo com a cabeça e vou para o modo de super mocinha. Antes que eu
possa me parar, lanço o meu corpo para ele e meus braços em volta do velho,
abraçando-o em um abraço de urso em estilo desleixado. Ele endurece com choque
e, em seguida, dá um tapinha minhas costas. — As pessoas vão dizer-lhe que ele
vai ficar bem. Ao longo dos próximos meses, você vai ouvir isso de novo e de novo,
mas a perda não é assim que funciona. As coisas não vão voltar ao normal, mas a
vida continua. Converse com ele sobre isso, enquanto você tem a chance.

Meu queixo cai. — O quê? Isso seria tão mau. Eu não posso...

— Isso não é o problema meu, mas se você fosse minha filha, era o que eu
diria a você. Tempos sombrios estão chegando, se este homem é o seu raio de luz,
mergulhe no sol tanto quanto puder e quando puder.

Acho que entendo o que ele quer dizer, então balanço minha cabeça para
cima e para baixo lentamente. Falar sobre a morte com alguém que está morrendo
é o que ele quer dizer. Vamos acabar discutindo todas as coisas que queríamos
fazer, mas nunca teremos a chance. Minha garganta aperta com o pensamento e os
meus olhos lacrimejam. — Obrigada.

— Qualquer hora, Sra. Raymond. — Ele inclina a cabeça para mim como se
eu fosse uma rainha e se vira para correr para longe.

Eu não gosto da sua sugestão, mas parte dela me chama. E se a gente falar
sobre isso? Eu balanço minha cabeça e aperto as mãos. Não! Eu não quero! Isso não
é justo e não posso simplesmente aceitar que vou perdê-lo - não depois que
finalmente nos encontramos novamente. Não depois de todo esse tempo.

No momento que estou dentro da mansão de Bryan, paro na porta. Minha
intenção era ir à ponta dos pés para o quarto de Bryan, mas sou presa pelo Ferro
que eu mais temo - Sean. Ele está encostado na parede, os braços cruzados sobre o
peito. Ele se parece com sua mãe, toda acusação não dita claramente visível em
seus olhos. Suas roupas escuras - casaco de couro, calça jeans, camisa preta e botas
shitkicker. — Você e eu temos algo a discutir.

Minha intenção é passar por ele. — Não tenho nada para lhe dizer.

Sean libera seus braços e caminha em minha frente. Ele é silencioso e letal,
com vibes malucas irradiando dele como micro ondas. Ding! — Bem, eu tenho algo
que você precisa ouvir - sobre um homem chamado Victor. — Minha respiração
para na minha garganta enquanto minhas mãos vão para o meu coração. Sean me
puxa pela curva do meu cotovelo para longe da porta de Bryan. — Sim, eu achei
que você soubesse alguma coisa sobre isso. Os jornais estão dizendo que um dos
seus homens o matou, mas os policiais estão bisbilhotando, me fazendo perguntas
sobre um traficante de merda. Eu não gosto de policiais e não gosto ainda menos
de perguntas. Então, me diga, como é que eles rastrearam até aqui? O que você
deixou para trás?

Eu rio, mas ele ignora. — Você acha que eu o matei? — Estou pressionando
meus dedos em meu peito, piscando, com meu queixo caído. Embora seja um
excelente desempenho, algo que me afasta. Sean pode ver isso.

Ele dá um passo no meu espaço de uma maneira ameaçadora. Sua voz
ressoa: — Eu sei que você o matou.

— Não, você não sabe. — Eu agarro, tentando me empurrar por ele
novamente, mas Sean não me deixa passar. Ele bloqueia o lugar com seu corpo
maciço.

Inclinando-se perto do meu rosto, ele sussurra baixinho: — Se eu sei, a
minha mãe sabe e você não quer pegadas sujas que levam direto para a porta da
frente. Você precisa se separar de Bryan e sair daqui antes que descubram isso.

Eu balanço minha cabeça e mordo meu lábio inferior. Eu provavelmente
pareci como um moleque teimoso, mas não vou deixar Bryan.

Os olhos de Sean travam com os meus e sua voz cai para um sussurro letal.
— Eu posso fazê-la desaparecer.

Algo desperta dentro de mim, essa mesma característica de proteção que
me fez cortar a garganta de Victor, em primeiro lugar. Minha coluna se endireita e
eu fico na frente do seu rosto. — Da mesma forma.

Depois de um momento de reflexão, o homem na verdade ri. Sean esfrega o
queixo com a mão. Eu não posso dizer se ele está se divertindo ou pensa que sou
louca. Ele finalmente pergunta: — Por que você fez isso?

— Por que você acha? O homem era um estuprador assassino. Vamos
apenas dizer que eu estava no lugar errado na hora errada. Acidentes acontecem e
eu não ia deixar que qualquer outra coisa acontecesse com a minha amiga. Ela é a
única família que me resta. — Eu sugo o ar, tentando inchar, então não sou tão
pequena, mas em comparação com Sean Ferro, sou um palito.

Seus olhos azuis mudam para o lado antes que ele passe as mãos pelo
cabelo. — Então, você protegeu sua família, deixe-me proteger a minha. Vá
embora. Não puxe Bryan para isso.

— Para quê? Os mortos não puxam qualquer um para qualquer coisa.

— Victor Campone está vivo.

Capítulo 4

Um pequeno grito escapa dos meus lábios e eu quase caio no chão. Meus
joelhos cedem, mas antes de eu ir para baixo, Sean agarra meus braços. Ele me
mantém de pé e continua suavemente. — Os policiais suspeitam que ele esteja
vivo. No momento em que chegaram lá, o corpo tinha desaparecido. Devido à
quantidade de sangue que encontraram, sua suposição natural era que um de seus
homens o matou e jogou o corpo. Os policiais ainda estavam indo por esse caminho
até recentemente, quando pegaram Campone bisbilhotando meu hotel. Então, a
menos que viram um fantasma, o homem ainda está vivo.

— Ele não pode estar. — Eu balanço minha cabeça e meus olhos vidrados
quando me lembro daquela noite. A quantidade de sangue, a forma que sua cabeça
pendia para trás e a ferida era tão profunda. — Não é possível.

Sean suspira e olha para mim com uma expressão que está perdida em
algum lugar entre pena e admiração. Inclinando-se perto, ele diz: — O corte foi
muito superficial. É como apontar para o coração e não acertar. O cara foi
subestimado, os que estavam dispostos e aceitaram fazer isso uma vez, mas ele não
vai ser subestimado novamente. E eu aposto qualquer coisa que ele vai
permanecer morto por um tempo, deixar que os outros façam o trabalho sujo, até
que lhe convenha encenar uma ressurreição.

— Como você sabe tudo isso?

Ele engole em seco, seu olhar se afastando e depois de volta para os meus
olhos. — Periodicamente nossos empreendimentos comerciais se sobrepõem. Eu
ouço coisas. E posso dizer-lhe que se eu ouvi, minha mãe ouviu e você com certeza
não quer irritá-la. Se Campone acabar aqui, você está morta. Se ele não te matar,
minha mãe vai.

Ele agarra meus ombros e me pede: — Hallie, pega a sua amiga e dá o fora
daqui antes que Campone a encontre. — Sean me libera. — Este foi um aviso de
cortesia. Se você ficar por perto e Bryan for morto por sua causa, bem, é melhor

esperar que Victor a encontre antes de mim. — Seus olhos firmam em mim uma
vez com as suas intenções claras.

Eu fico lá por um segundo mal respirando. Nossos olhos estão bloqueados,
nós dois estamos desafiando, mas será que ele não sabe, Sean não sabe sobre seu
primo? Talvez eu devesse pegar Bryan e correr, mas não posso. Não enquanto ele
está doente. Ele vai precisar de ajuda e cuidados paliativos. Eu não posso dar-lhe
essas coisas se eu corro. Minha voz racha quando eu falo. — Eu não posso.

— Não é opcional.

— Não, você não entende. Eu não posso ir embora. Eu não posso correr
mais de Victor e não vou. Eu vou cuidar disso. Eu vou terminar o que comecei. —
Eu não tenho ideia de como, mas vou. Se eu não fizer isso, ele virá atrás de mim e
Maggie. O homem é cruel, ele nunca vai parar de nos caçar. Eu sei disso com
certeza.

Sean levanta a sobrancelha escura. — Você está louca? Você nunca vai ter
outra chance de matá-lo. Ele pensou que era insignificante antes, mas agora ele a
conhece melhor.

Eu me empurro passando por ele. — Eu vou cuidar disso. Ele não virá aqui,
e desta vez, quando eu matá-lo, ele vai morrer.

— Hallie. — Sean quase implora meu nome, quase, mas eu não paro.

Eu entro no quarto de Bryan e fecho a porta. Eu fico lá por um segundo e
derrubo minha cabeça para trás, respirando com dificuldade. Eu nunca soquei uma
pessoa antes. Agora eu simplesmente confessei ao mais assustador de todos os
Ferro que vou dar um fim no senhor das drogas mais notório da cidade. Super foda.

Eu ainda estou segurando o saco com café da manhã de Bryan. Quando
aperto o meu punho, o jornal faz um ruído de crepitação e ele se senta. Um belo
sorriso ilumina seu rosto pálido. — Hey, Menina Bonita. Para onde você correu?

— Para pegar o café da manhã e conseguir alguma sujeira em sua tia. Foi
uma manhã interessante. — Eu sorrio, preocupada com ele e entrego o saco.

— Sujeira na minha tia?

Balanço a cabeça e me sento ao lado dele na cama. — Sim, eu descobri
porque ela me odeia. Ela pensa que eu sei de algo todos esses anos, mas eu não
descobri o que eu sabia até esta manhã.

Bryan desembrulha o seu bagel enquanto estou falando e morde. Seus
firmes olhos verdes encontram os meus. Com a boca cheia, ele me pergunta. — E
então?

Eu penso em manter seu segredo, mas não sinto nenhuma lealdade para
com ela. Além disso, Bryan não vai contar a ninguém. — Ela é gay. Eu a peguei com
sua amante na cozinha de sua mãe esta manhã.

Seu queixo cai e o pedaço de bagel rola para fora da boca, indo para a
colcha. — De jeito nenhum.

Concordo com a cabeça e olho para o pedaço de comida. — Um choque e
tanto, hein?

— Claro que sim. Ela é tão recatada e adequada. — Seu nariz franze com o
pensamento da sua tia ser sexualmente algo.

— E, aparentemente, ela gosta de garotas.

Bryan pisca e sorri. — Bem, isso explica um monte de coisas.

— Sim, como por que ela ainda é casada e permite que prostitutas meio
vestidas andem pela sua casa.

Bryan sorri. — Claro, todo mundo gosta de um pouco de colírio para os
olhos.

Eu bato em seu ombro. — Bryan!

— Vamos lá, pense nisso. Houve uma garota naquela casa desde que Jon era
um bebê. É a família mais estranha que eu já vi. Minha mãe não teria tolerado. Eu
sempre me perguntei por que a tia Constance tolerava.

— Seu pai não tem uma puta coabitante?

Ele inclina a cabeça para mim. — Meu pai não tem tempo para isso. Ele está
muito ocupado ganhando dinheiro para ser incomodado com relacionamentos ou
senhoras de compra. Mas, ainda assim, a tia Connie gosta das garotas. Quem teria

pensado? — Ele balança a cabeça. — Então o que diabos eu vi no dia que
terminamos?

Boa pergunta. Eu suspiro e tenho uma boa ideia de para quem perguntar. Eu
sorrio grande. — Qual é o quarto que Constance usa quando está aqui?

Bryan parece confuso e então seus olhos se arregalam. — Você está louca?

— Só um pouco. — Eu rio e quase aperto meus dedos juntos.


CONTINUA

A luz do amanhecer brilha através das pesadas cortinas que revestem as paredes formando uma fina fenda de branco puro no tapete escuro. Eu fico olhando para ele, perdida em seus pensamentos. Perto de mim, Bryan está dormindo. Eu envolvo meus braços ao redor dele e seu corpo se parece tão forte. É por isso que isto é tão difícil. Não faz nenhum sentido. Para além da dor, eu não posso ver o que está acontecendo com ele. É interno. Seu corpo o está matando segundo a segundo. Eventualmente, ele irá respirar e não haverá outro. Eu não posso suportar a ideia.
Minha vida tem sido moldada por morte. Todo mundo que me importa, todos, exceto Maggie, partem. Eu escorrego para fora da cama, agarrando o meu telefone antes de ir para fundo do corredor. Eu envio uma mensagem de texto para ela, embora eu duvide que ela esteja acordada.
Eu digito: Estou com Bryan. Apenas verificando para ter certeza que está tudo bem.
Para minha surpresa ela envia uma mensagem de volta: Eu estou, mas tenho uma coisa horrível para lhe dizer.
Nada poderia ser pior do que perder Bryan. Eu digito de volta: Eu também.
Volto logo para casa e podemos conversar.
Ela responde: Ok.

 


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Eu enfio meu celular no bolso antes de pegar a camiseta de Bryan e a puxo
sobre minha cabeça. Eu enfio minhas mãos sob as mangas e vagueio pela mansão
até encontrar a cozinha. Sinto o cheiro do café e preciso desesperadamente de uma
xícara. Infelizmente, a besta “a tia” de Bryan está sentada à mesa com outra
mulher. Ambas estão vestidas em robe. Eu pisco conforme o choque lava seus
rostos. Eu não posso imaginar por que ela está aqui tão cedo, não vestida. Quão
estranho é isso?

Dentro de um batimento cardíaco, Constance está fora de seu assento e no
meu rosto. — Como você ousa desfilar na casa da minha irmã usando coisas do
meu sobrinho? Saia agora mesmo, sua puta! — Ela tenta bater no meu rosto, mas
eu agarro seu pulso.

As coisas finalmente clicam no lugar. A forma como as mulheres estavam
olhando uma para a outra, o toque de suas mãos, a forma como os seus olhos
permanecem naquele olhar fixo familiar, o fato de que ela está aqui, quando sua
irmã e cunhado já se foram e a forma como Constance se transforma em um tigre
quando ela me vê - faz sentido. Ela está escondendo um segredo há anos que
poderia arruiná-la para sempre. É por isso que ela suporta as infidelidades do Sr.
Ferro e porque permite que suas mulheres valsem pela sua casa.

Constance é gay - e esta mulher é sua amante. Ela pensou que eu soubesse,
mas eu nunca percebi antes.

Ela puxa sua mão do meu aperto e se prepara para começar a gritar
novamente. Eu a interrompo, cansada. — Eu não me importo com sua vida ou
suas preferências. Eu entendo que seja um tabu para você ser vista com ela. Eu
entendo isso, Constance, eu realmente entendo. Eu não a julgo por isso, então pare
de me julgar. A única coisa de que eu quero vocês é o café. — Eu caminho,
passando por ela.

O queixo de Constance está no chão. Sua namorada, uma mulher pelo menos
dez anos mais nova que ela, fica rígida, olhando-me com medo. Relações do mesmo
sexo podem ser ultramodernas e estarem na moda em Nova York, mas não entre
antigas famílias endinheiradas como esta. Isso a arruinaria. É por isso que ela me
odeia. Ela acha que eu tenho andado por aí esperando para soltar uma bomba em
sua vida.

Quando Constance fala, seu tom é cético: — Você sabe há muito tempo e não
disse nada. Por quê?

— Porque eu não me importo com você. — Eu mantenho minhas costas
para ela enquanto despejo o líquido escuro em uma xícara pesada. É muito cedo. As
pessoas normais não estão acordadas às cinco da manhã. Elas provavelmente
estavam tomando café da manhã antes de se separarem para o dia. Quando me viro

para falar, as duas mulheres estão me olhando mortificadas. — Eu me preocupo
com Bryan. Você não percebeu nada sobre ele que lhe diz respeito?

Seu olhar se estreita. — Não brinque comigo. Eu conheço minha família,
cada um deles.

— Sim, bem, você pode querer falar com ele. — Ela bloqueia seu maxilar,
preparando-se para ordenar que eu saia, mas eu acrescento: — O tempo é uma
coisa engraçada. Todos nós pensamos que temos uma tonelada dele até que seja
tirado de nós, então nos damos conta de que nunca foi o suficiente, para começar.
Use o tempo que você tem, Constance. Ame as pessoas que queira e se certifique de
que eles saibam disso. Chegará o dia em que você lamentará que não o fez e a
chance passou por você.

Ela endurece quando eu falo. — Você está me ameaçando?

Eu rio alto com o ridículo de sua declaração. Ela não tem nenhuma pista. Eu
estava me referindo a mim e Bryan, para a piscina constante de arrependimento
que enche meu estômago. Poderíamos ter estado juntos, mas essa oportunidade
está perdida agora, o tempo que nunca teremos.

— Você está tão errada sobre tudo, lacrada em sua pequena bolha, fora de
contato com o mundo real. Isso não é sobre você, então você acha que está segura,
mas você nunca está, não do tempo - não da morte. Seu sobrinho... — Eu engulo
em seco, mas não quebro o contato visual. — Certifique-se que sua mãe descubra.
Isso é tudo que eu quero.

A suposição de que eu estou fazendo é enorme - aquela que Elizabeth Ferro
se importará se seu filho vive ou morre. Bryan não contou a ninguém sobre sua
doença, exceto eu. Jon pode ver isso, mas os outros não têm ideia. Eu não sei
quanto tempo resta à Bryan, mas não quero que ele o gaste se preocupando ou
brigando. Eu quero estar lá para protegê-lo e, por alertar o Ferro de seu estado, eu
provavelmente só fiz isso mais difícil de acontecer - mas que é a coisa certa a fazer.
Se eu tivesse um segundo extra para gastar com o meu pai... O pensamento se
esconde em minha mente, sol a sol. Quando a noite lava o céu com tons roxos de
tinta e manchas de âmbar cintilante, eu gostaria de ter mais uma oportunidade de
dizer todas as coisas que nunca tive a chance de expressar. Agora, esses
pensamentos estão presos dentro da minha alma, me segurando cativa. Eu nunca

vou ser livre. Eu nunca tive a chance de dizer adeus. Eu estou dando aos Ferro essa
oportunidade e esperando além da esperança de que eles não me joguem para fora
na minha bunda em recompensa.

Empurrando de lado meus pensamentos, eu coloco meu copo vazio para
baixo e saio, deixando Constance e sua amante, boquiabertas, no meu despertar. As
duas mulheres atrás de mim são crianças brincando de casinha. Eu posso ser mais
jovem do que elas em anos, mas minha alma parece velha. É imaturo pensar que a
sua vida seja apenas sobre você. A vida é sobre as pessoas ao seu redor. Como eu
gostaria de nunca crescer, mas desejar é desperdício de tempo e eu me recuso a
desperdiçar mais um segundo.

Capítulo 2

Maggie e eu planejamos, através de mensagens de texto, nos encontrar em
algum lugar que tenha um bagel logo após o amanhecer. Os únicos carros no
estacionamento são da loja. O resto do centro de compras ainda está fechado. Eu
não espero muito tempo, quando ela se junta a mim no final da fila.

— Hey. — Diz Maggie, me envolvendo em um abraço.

Eu a abraço de volta, segurando-a um segundo muito longo. Ela vai fugir
novamente. Eu sei disso. Ela não lida bem com a morte também. Acho que
ninguém faz, mas Maggie viu muito dela. Quando eu a solto, me forço a perdoá-la
com antecedência. Uma alma só pode tomar tanto abuso antes que não possa
evitar, exceto reagir. É como o cão de Pavlov. A campainha da morte soa e Maggie
corre.

Eu enfio um pedaço de cabelo atrás da minha orelha e encosto contra a
vitrine de vidro, antes de enfiar as mãos nos bolsos. — Hey. Como tem passado?

A fila faz a volta para fora da porta e para baixo da frente do centro
comercial com pessoas que já pararam para um bagel e café em seu caminho para
o trabalho. A fila se aproxima alguns centímetros mais próxima da comida e nos
movemos com ela, antes de retornar nossas posições contra o vidro. Meu estômago
ronca com o cheiro de fermento e eu mal posso esperar para provar o pão macio,
quente e mordê-lo, saboreando o cream cheese espesso. Eu aprendi a não dar por
certo pequenas coisas. Bagels me ajudam a encontrar meu lugar feliz.

Eu pretendo pegar um para Bryan também - sementes de papoula com
manteiga, exatamente como ele pedia na escola. Viemos aqui tantas vezes. Eu fico
olhando para fora, no estacionamento, minha mente vagando em uma memória de
Bryan me levantando em um carrinho de compras e empurrando-me como um
louco pelo mercado, rindo o tempo todo.

Outro cliente perguntou: — Que corredor você a encontrou? Eu quero uma!

Bryan apenas sorriu, os olhos deslizando sobre mim no carrinho. —
Desculpe, cara. Esta era a única e é toda minha. Eu nunca a deixarei ir. — A

memória ecoa fortemente em meus ouvidos. Parece que poderia ter acontecido
ontem.

A voz de Maggie me encaixa de volta ao presente. Ela encolhe os ombros e
puxa a alça da bolsa para cima de seu ombro. — Eu estou bem. Acho que encontrei
um apartamento para nós, mas eu ouvi que Neil comprou para vocês uma casa. —
Ela faz uma cara de, bem, tenta não fazer uma cara, que faz sua expressão de dor
ainda pior. A fila se move de novo e, com um passo à frente, ela deixa escapar: —
Você realmente vai se casar com ele? Achei que você amasse Bryan? Parecia que
estava totalmente encantada com o gatinho do sexo. Bem, você é a gatinha.
Rapazes são o quê, tigres? Tigre sexual soa mal. — Ela ri, mas sua risada leve
desaparece quando ela vê o meu sorriso falso. — O que há de errado, Hallie?

Eu tento manter minha voz firme, mas treme sem minha permissão. Não há
nenhum ponto em protelar por mais tempo, e além disso, eu preciso dela. Mesmo
que ela vá correr, eu tenho que falar com alguém enquanto eu tiver a chance. —
Maggie, ele está morrendo.

— Mas, ele não pode estar! Ele... — Maggie deixa escapar muitas palavras de
uma só vez e quase começa a chorar. Ela é a pessoa mais empática que eu já
conheci. A minha dor está representada em seu rosto quando ela para, aperta
minha mão e me puxa para um abraço de urso que poderia explodir minha cabeça.
— Eu sinto muito, Hallie. — Ela enxuga as lágrimas com as costas da mão e olha
para o meu ombro, não querendo perguntar. Cada palavra é como se enfiasse uma
faca no meu lado. — O que há de errado com ele?

Eu a atualizo com o que sei que aconteceu até agora. Minha voz continua
difícil quando eu chego ao fim da história. — Nós terminamos por causa de sua tia
Constance. Ela achou que eu iria arruiná-la com informações que eu não deveria
saber, então ela descobriu uma maneira de nos separar. — A raiva eu não tinha
notado até agora borbulha sob a superfície da minha mente. Eu não vou ficar com
raiva, eu não posso ficar. Eu me recuso a perder meu tempo com ela ou o que ela
fez. — Maggie, eu não poderia me importar menos com ela, mas eu quis Bryan
todo esse tempo e não o tive por causa dela.

— E, no entanto, você não soa como louca. Você parece mais
assustadoramente tranquila sobre isso. — Uma sobrancelha vermelha levanta
levemente em sua testa sardenta.

Eu olho para ela conforme nos movemos com a fila para dentro da pequena
loja, e nos aproximamos da bandeja do pão assado. Maggie pede em primeiro lugar,
então eu peço e pago por nossos itens. Pegamos o nosso café da manhã, cortamos
de volta através da fila, para fora da porta, em direção ao estacionamento. Fico ali
na frente dela querendo falar, mas incapaz de encontrar palavras, em seguida,
entrego para ela o pão e suco de laranja.

Minha boca se abre duas vezes, mas as palavras não saem. Eu finalmente
olho nos olhos dela e explico. — Eu não estou louca. Bem, eu estou - mas não quero
estar. É um desperdício de tempo e eu não tenho tempo de sobra. Eu estou
pensando em ficar com ele, Maggie. Seja qual for o tempo que lhe resta, eu quero
estar lá.

— Eu entendo, e eu estou aqui para você. — Ela pega a minha mão, mas eu
não posso olhar para ela.

— Não faça promessas que não pode cumprir, Maggie.

— Eu estou as mantendo desta vez.

— Eu prefiro saber agora que você vai desaparecer. Eu posso lidar com isso
sozinha. Eu estou bem, realmente. Eu sei o que isso faz para você e... — Eu arranjo
desculpas para ela até que ela me corta.

— Não. A última vez eu não estava lá para você, porque Victor era um idiota.
Eu não tive escolha. Isso fazia parte da maneira como ele estava me controlando,
mas ele já se foi, Hallie. Eu não vou fugir. Eu estarei lá para você. Você não terá que
lidar com isso sozinha. Eu prometo. Podemos passar por qualquer coisa, você e
eu. Eu não vou deixar você Hallie. Nós somos irmãs. Eu vou estar lá neste
momento. — Ela sorri sem jeito e olha para o chão sob suas botas.

Ela muda o seu peso para o outro pé e olha para mim debaixo de muito
rímel. Sua boca fica aberta por um segundo e seus lábios enrolam, como se ela não
quisesse dizer o que está prestes a cair de sua boca. — Há algo que você precisa
saber, e eu não sei se você vai gostar ou não com tudo o que aconteceu, mas precisa

saber. Você precisa. E eu odeio dizer isso agora, mas talvez seja melhor assim. Eu
esperaria se eu achasse que ajudaria.

— Maggie, diga-me. O que é?

Ela puxa um monte de ar e cospe para fora. — Ontem à noite, enquanto você
não estava em casa, entrei e vi o que parecia ser Neil e Cecily fazendo coisas que
estava muito além da zona do amigo. — Seus lábios são esmagados em conjunto,
enquanto ela tenta permanecer inexpressiva. Eu posso dizer que ela quer castrar
Neil conforme ela luta para manter seus lábios em uma linha reta.

Eu pisco, e isso é tudo. A raiva não vomita da minha boca e minhas mãos
não estão cerradas em punhos. Eu não me sinto quebrada ou até mesmo chocada.

Eu não sinto nada.

Se eu amasse Neil, eu estaria irada, mas eu não estou. Concordo com a
cabeça.

O rosto preocupado de Maggie franze enquanto ela empurra seu brilhante
cabelo atrás da orelha. — Eu não sei se eu deveria dizer. Eu o odeio, mas pensei
que você gostava do cara. — Ela me olha com tal preocupação que eu não posso
deixar de sorrir para ela.

Meu olhar abaixa para o chão e eu tomo uma respiração profunda, antes de
dar-lhe um abraço de lado. Quando eu a deixo ir, murmuro: — Eu estou feliz que
você me disse. Desgraça pouca é bobagem, certo? — Eu ofereço um sorriso de
novo, mas é falso neste momento. Há muitas lembranças correndo pela minha
mente, e o movimento faz minha pele parecer como se fosse rachar.

— Yeah. — Ela ri. — Pelo menos não temos que nos preocupar com Victor.
Devo-lhe muito por isso. Os jornais disseram que um dos seus homens o matou no
meu apartamento. Se você não tivesse me arrastado para fora, naquela noite eu
teria levado um tiro, também.

Eu sou insensível ao que eu fiz, pelo menos no momento. Às vezes, quando
eu não consigo dormir, o pensamento de que fiz desliza em minha mente, não
desejado. Victor é um pesadelo que não vai morrer, mas não posso perder o meu
tempo.

— Somos eu e você, agora. — Eu digo a ela com firmeza. Ela sorri
tristemente para mim e assente. — Maggie, você pode ir a casa de Neil e pegar
minhas coisas? Há apenas algumas caixas. Eu nunca desembalei, não
realmente. Neil queria que eu fizesse, mas eu empurrei a maioria delas na parte de
trás de um armário. — Eu retiro minha bolsa e escrevo-lhe um cheque. — Isso
deve cobrir o aluguel do nosso novo apartamento e tudo o mais que
precisamos. Deixe-o bonito, ok? Vai ser bom ter um novo lugar bonito para ir para
casa quando isso acabar.

Maggie pega o cheque e olha para todos os zeros, antes de olhar para mim.
Uma mecha de cabelo vermelho cai na frente de seus olhos. — Hallie, eu não posso
aceitar isso.

— Sim, você pode. Vai fazê-lo. Precisamos de um lugar para viver. Eu
gostaria de ter mais a oferecer, mas essa discussão é para outro dia. Entretanto,
isso vai nos colocar em uma boa vizinhança e nós estaremos confortáveis.

— Você vai processar Neil e Cecily? Eles praticamente gastaram todo o seu
dinheiro.

Concordo com a cabeça. — Provavelmente, mas não agora. Eu preciso fazer
um telefonema. — Maggie balança a cabeça e eu disco para o meu banco enquanto
seguimos para o meu carro. Eu explico a um funcionário do banco muito prestativo
que o nome de Neil deve ser retirado da minha conta imediatamente e todas as
transações em andamento com a sua assinatura, devem ser transferidas para a sua
conta. Verificação conjunta foi ideia dele. Eu esfrego minhas mãos sobre meu rosto
e sento com força no capô do meu carro. A coisa está suja, mas eu não me
importo. O funcionário do banco me pede para ir em breve para assinar os papéis,
e fazer as alterações em minha conta oficial. Quando eu insisto que eles precisam
ser assinados agora, ela diz para vir quando for mais conveniente.

Eu desligo e olho fixamente para as portas fechadas da mercearia. — Eu não
posso fazer isso de novo, não tão cedo. — A perda do meu pai ainda paira pesado
em meu coração, ameaçando me puxar para baixo. Minha dor não diminuiu e a
fama não ajudou. A única coisa que me faz sentir melhor é Bryan e agora vou
perdê-lo também.

Eu não posso respirar. Inclinando minha cabeça para trás com os olhos
cheios de lágrimas, eu olho para o céu e as nuvens brancas onduladas. O céu estava
aqui muito antes de eu nascer e vai estar aqui muito tempo depois. Faz-me sentir
pequena, como se a minha vida não importasse em tudo.

Maggie me bate com sua bota. — Bagel?

— Eu não estou com fome. — Eu estava com fome apenas um momento
atrás, mas agora não sinto nada parecido com isso.

— Merda resistente. Eu estou cuidando de você, o que significa que você
come isso ou vou enfiar na sua cara. — Ela está sorrindo para mim. — Eu vou fazer
isso.

Eu roubo a minha comida de sua mão. — Eu sei que você vai. —
Desempacotando a coisa, dou uma mordida e percebo que eu estou morrendo de
fome.

— A vida não é sobre a morte, você sabe. — Diz Maggie de repente. Ela está
sentada ao meu lado no capô, olhando para uma nuvem, pegando arrancando
pedaços de seu bagel, e os jogando em sua boca um de cada vez.

— Então o que se trata? — Eu pensei que eu sabia em um ponto, mas não
tenho ideia, não mais. A vida parece uma piada cruel.

— É sobre as relações que você faz, a bondade que oferece e você mostrar
compaixão. É a sua chance de mostrar ao mundo quem você é e o que faz você.
Hallie, você é a pessoa mais forte que conheço. Em vez de sentar aqui chorando
comigo, você deve estar com Bryan. Aqui. — Ela me dá o bagel extra. — Cheque de
vez em quando e quando você precisar de mim, eu vou. Nesse meio tempo, vou
deixar nossa casa pronta, eu prometo. Nada me manterá longe desta vez. Quando
você precisar de mim, eu estarei lá - se estiver no hospital, a funerária ou apenas
quando você precisar de uma pausa.

Eu sinto uma vibe nervosa vindo dela. — Você não é fraca, Maggie. Somos
sobreviventes, eu e você. — Quando eu digo isso, quero dizer para confortá-la, mas
uma bola dá um nó na minha garganta.

Ela pega a minha mão e se inclina, descansando a cabeça no meu ombro. —
Nós vamos sobreviver a isto também “juntas”.

Capítulo 3

Eu não quero pensar em Neil, então eu volto para a mansão Ferro e me
esgueiro para dentro. Ainda é cedo. As únicas pessoas que vejo são os empregados.
Eles me veem e não dizem nada. Deve ser estranho viver como uma estátua dia
após dia, sem ninguém, mas outros funcionários, na verdade, reconhecem que você
é humano. Eu não posso evitar isso. Eu sorrio para o mordomo que está sempre
ocupado, correndo para algum lugar. Ele inclina a cabeça em saudação, mas não
abranda.

Depois que ele passa, se vira para trás. — Você precisa de alguma coisa, Sra.
Raymond?

Eu sorrio e balanço a cabeça. — Não, é apenas bom vê-lo. — Eu olho para
ele. Este homem tem sido constante na vida de Bryan por anos. Eu me pergunto se
ele sabe que Bryan tem um segredo, porque nada lhe escapa, pelo menos não
quando éramos mais jovens. Eu me lembro de receber olhares severos dele quando
éramos muito jovens e fazíamos coisas muito loucas, enquanto a mãe de Bryan não
estava por perto. Mas o cara nunca nos entregou.

— Da mesma forma, Sra. Raymond. Diga ao Sr. Ferro que se ele precisar de
ajuda pode pedir qualquer coisa para mim. — Seus olhos perfuraram os meus por
um momento antes que ele olhe para o lado.

Ele sabe.

Concordo com a cabeça e vou para o modo de super mocinha. Antes que eu
possa me parar, lanço o meu corpo para ele e meus braços em volta do velho,
abraçando-o em um abraço de urso em estilo desleixado. Ele endurece com choque
e, em seguida, dá um tapinha minhas costas. — As pessoas vão dizer-lhe que ele
vai ficar bem. Ao longo dos próximos meses, você vai ouvir isso de novo e de novo,
mas a perda não é assim que funciona. As coisas não vão voltar ao normal, mas a
vida continua. Converse com ele sobre isso, enquanto você tem a chance.

Meu queixo cai. — O quê? Isso seria tão mau. Eu não posso...

— Isso não é o problema meu, mas se você fosse minha filha, era o que eu
diria a você. Tempos sombrios estão chegando, se este homem é o seu raio de luz,
mergulhe no sol tanto quanto puder e quando puder.

Acho que entendo o que ele quer dizer, então balanço minha cabeça para
cima e para baixo lentamente. Falar sobre a morte com alguém que está morrendo
é o que ele quer dizer. Vamos acabar discutindo todas as coisas que queríamos
fazer, mas nunca teremos a chance. Minha garganta aperta com o pensamento e os
meus olhos lacrimejam. — Obrigada.

— Qualquer hora, Sra. Raymond. — Ele inclina a cabeça para mim como se
eu fosse uma rainha e se vira para correr para longe.

Eu não gosto da sua sugestão, mas parte dela me chama. E se a gente falar
sobre isso? Eu balanço minha cabeça e aperto as mãos. Não! Eu não quero! Isso não
é justo e não posso simplesmente aceitar que vou perdê-lo - não depois que
finalmente nos encontramos novamente. Não depois de todo esse tempo.

No momento que estou dentro da mansão de Bryan, paro na porta. Minha
intenção era ir à ponta dos pés para o quarto de Bryan, mas sou presa pelo Ferro
que eu mais temo - Sean. Ele está encostado na parede, os braços cruzados sobre o
peito. Ele se parece com sua mãe, toda acusação não dita claramente visível em
seus olhos. Suas roupas escuras - casaco de couro, calça jeans, camisa preta e botas
shitkicker. — Você e eu temos algo a discutir.

Minha intenção é passar por ele. — Não tenho nada para lhe dizer.

Sean libera seus braços e caminha em minha frente. Ele é silencioso e letal,
com vibes malucas irradiando dele como micro ondas. Ding! — Bem, eu tenho algo
que você precisa ouvir - sobre um homem chamado Victor. — Minha respiração
para na minha garganta enquanto minhas mãos vão para o meu coração. Sean me
puxa pela curva do meu cotovelo para longe da porta de Bryan. — Sim, eu achei
que você soubesse alguma coisa sobre isso. Os jornais estão dizendo que um dos
seus homens o matou, mas os policiais estão bisbilhotando, me fazendo perguntas
sobre um traficante de merda. Eu não gosto de policiais e não gosto ainda menos
de perguntas. Então, me diga, como é que eles rastrearam até aqui? O que você
deixou para trás?

Eu rio, mas ele ignora. — Você acha que eu o matei? — Estou pressionando
meus dedos em meu peito, piscando, com meu queixo caído. Embora seja um
excelente desempenho, algo que me afasta. Sean pode ver isso.

Ele dá um passo no meu espaço de uma maneira ameaçadora. Sua voz
ressoa: — Eu sei que você o matou.

— Não, você não sabe. — Eu agarro, tentando me empurrar por ele
novamente, mas Sean não me deixa passar. Ele bloqueia o lugar com seu corpo
maciço.

Inclinando-se perto do meu rosto, ele sussurra baixinho: — Se eu sei, a
minha mãe sabe e você não quer pegadas sujas que levam direto para a porta da
frente. Você precisa se separar de Bryan e sair daqui antes que descubram isso.

Eu balanço minha cabeça e mordo meu lábio inferior. Eu provavelmente
pareci como um moleque teimoso, mas não vou deixar Bryan.

Os olhos de Sean travam com os meus e sua voz cai para um sussurro letal.
— Eu posso fazê-la desaparecer.

Algo desperta dentro de mim, essa mesma característica de proteção que
me fez cortar a garganta de Victor, em primeiro lugar. Minha coluna se endireita e
eu fico na frente do seu rosto. — Da mesma forma.

Depois de um momento de reflexão, o homem na verdade ri. Sean esfrega o
queixo com a mão. Eu não posso dizer se ele está se divertindo ou pensa que sou
louca. Ele finalmente pergunta: — Por que você fez isso?

— Por que você acha? O homem era um estuprador assassino. Vamos
apenas dizer que eu estava no lugar errado na hora errada. Acidentes acontecem e
eu não ia deixar que qualquer outra coisa acontecesse com a minha amiga. Ela é a
única família que me resta. — Eu sugo o ar, tentando inchar, então não sou tão
pequena, mas em comparação com Sean Ferro, sou um palito.

Seus olhos azuis mudam para o lado antes que ele passe as mãos pelo
cabelo. — Então, você protegeu sua família, deixe-me proteger a minha. Vá
embora. Não puxe Bryan para isso.

— Para quê? Os mortos não puxam qualquer um para qualquer coisa.

— Victor Campone está vivo.

Capítulo 4

Um pequeno grito escapa dos meus lábios e eu quase caio no chão. Meus
joelhos cedem, mas antes de eu ir para baixo, Sean agarra meus braços. Ele me
mantém de pé e continua suavemente. — Os policiais suspeitam que ele esteja
vivo. No momento em que chegaram lá, o corpo tinha desaparecido. Devido à
quantidade de sangue que encontraram, sua suposição natural era que um de seus
homens o matou e jogou o corpo. Os policiais ainda estavam indo por esse caminho
até recentemente, quando pegaram Campone bisbilhotando meu hotel. Então, a
menos que viram um fantasma, o homem ainda está vivo.

— Ele não pode estar. — Eu balanço minha cabeça e meus olhos vidrados
quando me lembro daquela noite. A quantidade de sangue, a forma que sua cabeça
pendia para trás e a ferida era tão profunda. — Não é possível.

Sean suspira e olha para mim com uma expressão que está perdida em
algum lugar entre pena e admiração. Inclinando-se perto, ele diz: — O corte foi
muito superficial. É como apontar para o coração e não acertar. O cara foi
subestimado, os que estavam dispostos e aceitaram fazer isso uma vez, mas ele não
vai ser subestimado novamente. E eu aposto qualquer coisa que ele vai
permanecer morto por um tempo, deixar que os outros façam o trabalho sujo, até
que lhe convenha encenar uma ressurreição.

— Como você sabe tudo isso?

Ele engole em seco, seu olhar se afastando e depois de volta para os meus
olhos. — Periodicamente nossos empreendimentos comerciais se sobrepõem. Eu
ouço coisas. E posso dizer-lhe que se eu ouvi, minha mãe ouviu e você com certeza
não quer irritá-la. Se Campone acabar aqui, você está morta. Se ele não te matar,
minha mãe vai.

Ele agarra meus ombros e me pede: — Hallie, pega a sua amiga e dá o fora
daqui antes que Campone a encontre. — Sean me libera. — Este foi um aviso de
cortesia. Se você ficar por perto e Bryan for morto por sua causa, bem, é melhor

esperar que Victor a encontre antes de mim. — Seus olhos firmam em mim uma
vez com as suas intenções claras.

Eu fico lá por um segundo mal respirando. Nossos olhos estão bloqueados,
nós dois estamos desafiando, mas será que ele não sabe, Sean não sabe sobre seu
primo? Talvez eu devesse pegar Bryan e correr, mas não posso. Não enquanto ele
está doente. Ele vai precisar de ajuda e cuidados paliativos. Eu não posso dar-lhe
essas coisas se eu corro. Minha voz racha quando eu falo. — Eu não posso.

— Não é opcional.

— Não, você não entende. Eu não posso ir embora. Eu não posso correr
mais de Victor e não vou. Eu vou cuidar disso. Eu vou terminar o que comecei. —
Eu não tenho ideia de como, mas vou. Se eu não fizer isso, ele virá atrás de mim e
Maggie. O homem é cruel, ele nunca vai parar de nos caçar. Eu sei disso com
certeza.

Sean levanta a sobrancelha escura. — Você está louca? Você nunca vai ter
outra chance de matá-lo. Ele pensou que era insignificante antes, mas agora ele a
conhece melhor.

Eu me empurro passando por ele. — Eu vou cuidar disso. Ele não virá aqui,
e desta vez, quando eu matá-lo, ele vai morrer.

— Hallie. — Sean quase implora meu nome, quase, mas eu não paro.

Eu entro no quarto de Bryan e fecho a porta. Eu fico lá por um segundo e
derrubo minha cabeça para trás, respirando com dificuldade. Eu nunca soquei uma
pessoa antes. Agora eu simplesmente confessei ao mais assustador de todos os
Ferro que vou dar um fim no senhor das drogas mais notório da cidade. Super foda.

Eu ainda estou segurando o saco com café da manhã de Bryan. Quando
aperto o meu punho, o jornal faz um ruído de crepitação e ele se senta. Um belo
sorriso ilumina seu rosto pálido. — Hey, Menina Bonita. Para onde você correu?

— Para pegar o café da manhã e conseguir alguma sujeira em sua tia. Foi
uma manhã interessante. — Eu sorrio, preocupada com ele e entrego o saco.

— Sujeira na minha tia?

Balanço a cabeça e me sento ao lado dele na cama. — Sim, eu descobri
porque ela me odeia. Ela pensa que eu sei de algo todos esses anos, mas eu não
descobri o que eu sabia até esta manhã.

Bryan desembrulha o seu bagel enquanto estou falando e morde. Seus
firmes olhos verdes encontram os meus. Com a boca cheia, ele me pergunta. — E
então?

Eu penso em manter seu segredo, mas não sinto nenhuma lealdade para
com ela. Além disso, Bryan não vai contar a ninguém. — Ela é gay. Eu a peguei com
sua amante na cozinha de sua mãe esta manhã.

Seu queixo cai e o pedaço de bagel rola para fora da boca, indo para a
colcha. — De jeito nenhum.

Concordo com a cabeça e olho para o pedaço de comida. — Um choque e
tanto, hein?

— Claro que sim. Ela é tão recatada e adequada. — Seu nariz franze com o
pensamento da sua tia ser sexualmente algo.

— E, aparentemente, ela gosta de garotas.

Bryan pisca e sorri. — Bem, isso explica um monte de coisas.

— Sim, como por que ela ainda é casada e permite que prostitutas meio
vestidas andem pela sua casa.

Bryan sorri. — Claro, todo mundo gosta de um pouco de colírio para os
olhos.

Eu bato em seu ombro. — Bryan!

— Vamos lá, pense nisso. Houve uma garota naquela casa desde que Jon era
um bebê. É a família mais estranha que eu já vi. Minha mãe não teria tolerado. Eu
sempre me perguntei por que a tia Constance tolerava.

— Seu pai não tem uma puta coabitante?

Ele inclina a cabeça para mim. — Meu pai não tem tempo para isso. Ele está
muito ocupado ganhando dinheiro para ser incomodado com relacionamentos ou
senhoras de compra. Mas, ainda assim, a tia Connie gosta das garotas. Quem teria

pensado? — Ele balança a cabeça. — Então o que diabos eu vi no dia que
terminamos?

Boa pergunta. Eu suspiro e tenho uma boa ideia de para quem perguntar. Eu
sorrio grande. — Qual é o quarto que Constance usa quando está aqui?

Bryan parece confuso e então seus olhos se arregalam. — Você está louca?

— Só um pouco. — Eu rio e quase aperto meus dedos juntos.


CONTINUA

A luz do amanhecer brilha através das pesadas cortinas que revestem as paredes formando uma fina fenda de branco puro no tapete escuro. Eu fico olhando para ele, perdida em seus pensamentos. Perto de mim, Bryan está dormindo. Eu envolvo meus braços ao redor dele e seu corpo se parece tão forte. É por isso que isto é tão difícil. Não faz nenhum sentido. Para além da dor, eu não posso ver o que está acontecendo com ele. É interno. Seu corpo o está matando segundo a segundo. Eventualmente, ele irá respirar e não haverá outro. Eu não posso suportar a ideia.
Minha vida tem sido moldada por morte. Todo mundo que me importa, todos, exceto Maggie, partem. Eu escorrego para fora da cama, agarrando o meu telefone antes de ir para fundo do corredor. Eu envio uma mensagem de texto para ela, embora eu duvide que ela esteja acordada.
Eu digito: Estou com Bryan. Apenas verificando para ter certeza que está tudo bem.
Para minha surpresa ela envia uma mensagem de volta: Eu estou, mas tenho uma coisa horrível para lhe dizer.
Nada poderia ser pior do que perder Bryan. Eu digito de volta: Eu também.
Volto logo para casa e podemos conversar.
Ela responde: Ok.

 


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Eu enfio meu celular no bolso antes de pegar a camiseta de Bryan e a puxo
sobre minha cabeça. Eu enfio minhas mãos sob as mangas e vagueio pela mansão
até encontrar a cozinha. Sinto o cheiro do café e preciso desesperadamente de uma
xícara. Infelizmente, a besta “a tia” de Bryan está sentada à mesa com outra
mulher. Ambas estão vestidas em robe. Eu pisco conforme o choque lava seus
rostos. Eu não posso imaginar por que ela está aqui tão cedo, não vestida. Quão
estranho é isso?

Dentro de um batimento cardíaco, Constance está fora de seu assento e no
meu rosto. — Como você ousa desfilar na casa da minha irmã usando coisas do
meu sobrinho? Saia agora mesmo, sua puta! — Ela tenta bater no meu rosto, mas
eu agarro seu pulso.

As coisas finalmente clicam no lugar. A forma como as mulheres estavam
olhando uma para a outra, o toque de suas mãos, a forma como os seus olhos
permanecem naquele olhar fixo familiar, o fato de que ela está aqui, quando sua
irmã e cunhado já se foram e a forma como Constance se transforma em um tigre
quando ela me vê - faz sentido. Ela está escondendo um segredo há anos que
poderia arruiná-la para sempre. É por isso que ela suporta as infidelidades do Sr.
Ferro e porque permite que suas mulheres valsem pela sua casa.

Constance é gay - e esta mulher é sua amante. Ela pensou que eu soubesse,
mas eu nunca percebi antes.

Ela puxa sua mão do meu aperto e se prepara para começar a gritar
novamente. Eu a interrompo, cansada. — Eu não me importo com sua vida ou
suas preferências. Eu entendo que seja um tabu para você ser vista com ela. Eu
entendo isso, Constance, eu realmente entendo. Eu não a julgo por isso, então pare
de me julgar. A única coisa de que eu quero vocês é o café. — Eu caminho,
passando por ela.

O queixo de Constance está no chão. Sua namorada, uma mulher pelo menos
dez anos mais nova que ela, fica rígida, olhando-me com medo. Relações do mesmo
sexo podem ser ultramodernas e estarem na moda em Nova York, mas não entre
antigas famílias endinheiradas como esta. Isso a arruinaria. É por isso que ela me
odeia. Ela acha que eu tenho andado por aí esperando para soltar uma bomba em
sua vida.

Quando Constance fala, seu tom é cético: — Você sabe há muito tempo e não
disse nada. Por quê?

— Porque eu não me importo com você. — Eu mantenho minhas costas
para ela enquanto despejo o líquido escuro em uma xícara pesada. É muito cedo. As
pessoas normais não estão acordadas às cinco da manhã. Elas provavelmente
estavam tomando café da manhã antes de se separarem para o dia. Quando me viro

para falar, as duas mulheres estão me olhando mortificadas. — Eu me preocupo
com Bryan. Você não percebeu nada sobre ele que lhe diz respeito?

Seu olhar se estreita. — Não brinque comigo. Eu conheço minha família,
cada um deles.

— Sim, bem, você pode querer falar com ele. — Ela bloqueia seu maxilar,
preparando-se para ordenar que eu saia, mas eu acrescento: — O tempo é uma
coisa engraçada. Todos nós pensamos que temos uma tonelada dele até que seja
tirado de nós, então nos damos conta de que nunca foi o suficiente, para começar.
Use o tempo que você tem, Constance. Ame as pessoas que queira e se certifique de
que eles saibam disso. Chegará o dia em que você lamentará que não o fez e a
chance passou por você.

Ela endurece quando eu falo. — Você está me ameaçando?

Eu rio alto com o ridículo de sua declaração. Ela não tem nenhuma pista. Eu
estava me referindo a mim e Bryan, para a piscina constante de arrependimento
que enche meu estômago. Poderíamos ter estado juntos, mas essa oportunidade
está perdida agora, o tempo que nunca teremos.

— Você está tão errada sobre tudo, lacrada em sua pequena bolha, fora de
contato com o mundo real. Isso não é sobre você, então você acha que está segura,
mas você nunca está, não do tempo - não da morte. Seu sobrinho... — Eu engulo
em seco, mas não quebro o contato visual. — Certifique-se que sua mãe descubra.
Isso é tudo que eu quero.

A suposição de que eu estou fazendo é enorme - aquela que Elizabeth Ferro
se importará se seu filho vive ou morre. Bryan não contou a ninguém sobre sua
doença, exceto eu. Jon pode ver isso, mas os outros não têm ideia. Eu não sei
quanto tempo resta à Bryan, mas não quero que ele o gaste se preocupando ou
brigando. Eu quero estar lá para protegê-lo e, por alertar o Ferro de seu estado, eu
provavelmente só fiz isso mais difícil de acontecer - mas que é a coisa certa a fazer.
Se eu tivesse um segundo extra para gastar com o meu pai... O pensamento se
esconde em minha mente, sol a sol. Quando a noite lava o céu com tons roxos de
tinta e manchas de âmbar cintilante, eu gostaria de ter mais uma oportunidade de
dizer todas as coisas que nunca tive a chance de expressar. Agora, esses
pensamentos estão presos dentro da minha alma, me segurando cativa. Eu nunca

vou ser livre. Eu nunca tive a chance de dizer adeus. Eu estou dando aos Ferro essa
oportunidade e esperando além da esperança de que eles não me joguem para fora
na minha bunda em recompensa.

Empurrando de lado meus pensamentos, eu coloco meu copo vazio para
baixo e saio, deixando Constance e sua amante, boquiabertas, no meu despertar. As
duas mulheres atrás de mim são crianças brincando de casinha. Eu posso ser mais
jovem do que elas em anos, mas minha alma parece velha. É imaturo pensar que a
sua vida seja apenas sobre você. A vida é sobre as pessoas ao seu redor. Como eu
gostaria de nunca crescer, mas desejar é desperdício de tempo e eu me recuso a
desperdiçar mais um segundo.

Capítulo 2

Maggie e eu planejamos, através de mensagens de texto, nos encontrar em
algum lugar que tenha um bagel logo após o amanhecer. Os únicos carros no
estacionamento são da loja. O resto do centro de compras ainda está fechado. Eu
não espero muito tempo, quando ela se junta a mim no final da fila.

— Hey. — Diz Maggie, me envolvendo em um abraço.

Eu a abraço de volta, segurando-a um segundo muito longo. Ela vai fugir
novamente. Eu sei disso. Ela não lida bem com a morte também. Acho que
ninguém faz, mas Maggie viu muito dela. Quando eu a solto, me forço a perdoá-la
com antecedência. Uma alma só pode tomar tanto abuso antes que não possa
evitar, exceto reagir. É como o cão de Pavlov. A campainha da morte soa e Maggie
corre.

Eu enfio um pedaço de cabelo atrás da minha orelha e encosto contra a
vitrine de vidro, antes de enfiar as mãos nos bolsos. — Hey. Como tem passado?

A fila faz a volta para fora da porta e para baixo da frente do centro
comercial com pessoas que já pararam para um bagel e café em seu caminho para
o trabalho. A fila se aproxima alguns centímetros mais próxima da comida e nos
movemos com ela, antes de retornar nossas posições contra o vidro. Meu estômago
ronca com o cheiro de fermento e eu mal posso esperar para provar o pão macio,
quente e mordê-lo, saboreando o cream cheese espesso. Eu aprendi a não dar por
certo pequenas coisas. Bagels me ajudam a encontrar meu lugar feliz.

Eu pretendo pegar um para Bryan também - sementes de papoula com
manteiga, exatamente como ele pedia na escola. Viemos aqui tantas vezes. Eu fico
olhando para fora, no estacionamento, minha mente vagando em uma memória de
Bryan me levantando em um carrinho de compras e empurrando-me como um
louco pelo mercado, rindo o tempo todo.

Outro cliente perguntou: — Que corredor você a encontrou? Eu quero uma!

Bryan apenas sorriu, os olhos deslizando sobre mim no carrinho. —
Desculpe, cara. Esta era a única e é toda minha. Eu nunca a deixarei ir. — A

memória ecoa fortemente em meus ouvidos. Parece que poderia ter acontecido
ontem.

A voz de Maggie me encaixa de volta ao presente. Ela encolhe os ombros e
puxa a alça da bolsa para cima de seu ombro. — Eu estou bem. Acho que encontrei
um apartamento para nós, mas eu ouvi que Neil comprou para vocês uma casa. —
Ela faz uma cara de, bem, tenta não fazer uma cara, que faz sua expressão de dor
ainda pior. A fila se move de novo e, com um passo à frente, ela deixa escapar: —
Você realmente vai se casar com ele? Achei que você amasse Bryan? Parecia que
estava totalmente encantada com o gatinho do sexo. Bem, você é a gatinha.
Rapazes são o quê, tigres? Tigre sexual soa mal. — Ela ri, mas sua risada leve
desaparece quando ela vê o meu sorriso falso. — O que há de errado, Hallie?

Eu tento manter minha voz firme, mas treme sem minha permissão. Não há
nenhum ponto em protelar por mais tempo, e além disso, eu preciso dela. Mesmo
que ela vá correr, eu tenho que falar com alguém enquanto eu tiver a chance. —
Maggie, ele está morrendo.

— Mas, ele não pode estar! Ele... — Maggie deixa escapar muitas palavras de
uma só vez e quase começa a chorar. Ela é a pessoa mais empática que eu já
conheci. A minha dor está representada em seu rosto quando ela para, aperta
minha mão e me puxa para um abraço de urso que poderia explodir minha cabeça.
— Eu sinto muito, Hallie. — Ela enxuga as lágrimas com as costas da mão e olha
para o meu ombro, não querendo perguntar. Cada palavra é como se enfiasse uma
faca no meu lado. — O que há de errado com ele?

Eu a atualizo com o que sei que aconteceu até agora. Minha voz continua
difícil quando eu chego ao fim da história. — Nós terminamos por causa de sua tia
Constance. Ela achou que eu iria arruiná-la com informações que eu não deveria
saber, então ela descobriu uma maneira de nos separar. — A raiva eu não tinha
notado até agora borbulha sob a superfície da minha mente. Eu não vou ficar com
raiva, eu não posso ficar. Eu me recuso a perder meu tempo com ela ou o que ela
fez. — Maggie, eu não poderia me importar menos com ela, mas eu quis Bryan
todo esse tempo e não o tive por causa dela.

— E, no entanto, você não soa como louca. Você parece mais
assustadoramente tranquila sobre isso. — Uma sobrancelha vermelha levanta
levemente em sua testa sardenta.

Eu olho para ela conforme nos movemos com a fila para dentro da pequena
loja, e nos aproximamos da bandeja do pão assado. Maggie pede em primeiro lugar,
então eu peço e pago por nossos itens. Pegamos o nosso café da manhã, cortamos
de volta através da fila, para fora da porta, em direção ao estacionamento. Fico ali
na frente dela querendo falar, mas incapaz de encontrar palavras, em seguida,
entrego para ela o pão e suco de laranja.

Minha boca se abre duas vezes, mas as palavras não saem. Eu finalmente
olho nos olhos dela e explico. — Eu não estou louca. Bem, eu estou - mas não quero
estar. É um desperdício de tempo e eu não tenho tempo de sobra. Eu estou
pensando em ficar com ele, Maggie. Seja qual for o tempo que lhe resta, eu quero
estar lá.

— Eu entendo, e eu estou aqui para você. — Ela pega a minha mão, mas eu
não posso olhar para ela.

— Não faça promessas que não pode cumprir, Maggie.

— Eu estou as mantendo desta vez.

— Eu prefiro saber agora que você vai desaparecer. Eu posso lidar com isso
sozinha. Eu estou bem, realmente. Eu sei o que isso faz para você e... — Eu arranjo
desculpas para ela até que ela me corta.

— Não. A última vez eu não estava lá para você, porque Victor era um idiota.
Eu não tive escolha. Isso fazia parte da maneira como ele estava me controlando,
mas ele já se foi, Hallie. Eu não vou fugir. Eu estarei lá para você. Você não terá que
lidar com isso sozinha. Eu prometo. Podemos passar por qualquer coisa, você e
eu. Eu não vou deixar você Hallie. Nós somos irmãs. Eu vou estar lá neste
momento. — Ela sorri sem jeito e olha para o chão sob suas botas.

Ela muda o seu peso para o outro pé e olha para mim debaixo de muito
rímel. Sua boca fica aberta por um segundo e seus lábios enrolam, como se ela não
quisesse dizer o que está prestes a cair de sua boca. — Há algo que você precisa
saber, e eu não sei se você vai gostar ou não com tudo o que aconteceu, mas precisa

saber. Você precisa. E eu odeio dizer isso agora, mas talvez seja melhor assim. Eu
esperaria se eu achasse que ajudaria.

— Maggie, diga-me. O que é?

Ela puxa um monte de ar e cospe para fora. — Ontem à noite, enquanto você
não estava em casa, entrei e vi o que parecia ser Neil e Cecily fazendo coisas que
estava muito além da zona do amigo. — Seus lábios são esmagados em conjunto,
enquanto ela tenta permanecer inexpressiva. Eu posso dizer que ela quer castrar
Neil conforme ela luta para manter seus lábios em uma linha reta.

Eu pisco, e isso é tudo. A raiva não vomita da minha boca e minhas mãos
não estão cerradas em punhos. Eu não me sinto quebrada ou até mesmo chocada.

Eu não sinto nada.

Se eu amasse Neil, eu estaria irada, mas eu não estou. Concordo com a
cabeça.

O rosto preocupado de Maggie franze enquanto ela empurra seu brilhante
cabelo atrás da orelha. — Eu não sei se eu deveria dizer. Eu o odeio, mas pensei
que você gostava do cara. — Ela me olha com tal preocupação que eu não posso
deixar de sorrir para ela.

Meu olhar abaixa para o chão e eu tomo uma respiração profunda, antes de
dar-lhe um abraço de lado. Quando eu a deixo ir, murmuro: — Eu estou feliz que
você me disse. Desgraça pouca é bobagem, certo? — Eu ofereço um sorriso de
novo, mas é falso neste momento. Há muitas lembranças correndo pela minha
mente, e o movimento faz minha pele parecer como se fosse rachar.

— Yeah. — Ela ri. — Pelo menos não temos que nos preocupar com Victor.
Devo-lhe muito por isso. Os jornais disseram que um dos seus homens o matou no
meu apartamento. Se você não tivesse me arrastado para fora, naquela noite eu
teria levado um tiro, também.

Eu sou insensível ao que eu fiz, pelo menos no momento. Às vezes, quando
eu não consigo dormir, o pensamento de que fiz desliza em minha mente, não
desejado. Victor é um pesadelo que não vai morrer, mas não posso perder o meu
tempo.

— Somos eu e você, agora. — Eu digo a ela com firmeza. Ela sorri
tristemente para mim e assente. — Maggie, você pode ir a casa de Neil e pegar
minhas coisas? Há apenas algumas caixas. Eu nunca desembalei, não
realmente. Neil queria que eu fizesse, mas eu empurrei a maioria delas na parte de
trás de um armário. — Eu retiro minha bolsa e escrevo-lhe um cheque. — Isso
deve cobrir o aluguel do nosso novo apartamento e tudo o mais que
precisamos. Deixe-o bonito, ok? Vai ser bom ter um novo lugar bonito para ir para
casa quando isso acabar.

Maggie pega o cheque e olha para todos os zeros, antes de olhar para mim.
Uma mecha de cabelo vermelho cai na frente de seus olhos. — Hallie, eu não posso
aceitar isso.

— Sim, você pode. Vai fazê-lo. Precisamos de um lugar para viver. Eu
gostaria de ter mais a oferecer, mas essa discussão é para outro dia. Entretanto,
isso vai nos colocar em uma boa vizinhança e nós estaremos confortáveis.

— Você vai processar Neil e Cecily? Eles praticamente gastaram todo o seu
dinheiro.

Concordo com a cabeça. — Provavelmente, mas não agora. Eu preciso fazer
um telefonema. — Maggie balança a cabeça e eu disco para o meu banco enquanto
seguimos para o meu carro. Eu explico a um funcionário do banco muito prestativo
que o nome de Neil deve ser retirado da minha conta imediatamente e todas as
transações em andamento com a sua assinatura, devem ser transferidas para a sua
conta. Verificação conjunta foi ideia dele. Eu esfrego minhas mãos sobre meu rosto
e sento com força no capô do meu carro. A coisa está suja, mas eu não me
importo. O funcionário do banco me pede para ir em breve para assinar os papéis,
e fazer as alterações em minha conta oficial. Quando eu insisto que eles precisam
ser assinados agora, ela diz para vir quando for mais conveniente.

Eu desligo e olho fixamente para as portas fechadas da mercearia. — Eu não
posso fazer isso de novo, não tão cedo. — A perda do meu pai ainda paira pesado
em meu coração, ameaçando me puxar para baixo. Minha dor não diminuiu e a
fama não ajudou. A única coisa que me faz sentir melhor é Bryan e agora vou
perdê-lo também.

Eu não posso respirar. Inclinando minha cabeça para trás com os olhos
cheios de lágrimas, eu olho para o céu e as nuvens brancas onduladas. O céu estava
aqui muito antes de eu nascer e vai estar aqui muito tempo depois. Faz-me sentir
pequena, como se a minha vida não importasse em tudo.

Maggie me bate com sua bota. — Bagel?

— Eu não estou com fome. — Eu estava com fome apenas um momento
atrás, mas agora não sinto nada parecido com isso.

— Merda resistente. Eu estou cuidando de você, o que significa que você
come isso ou vou enfiar na sua cara. — Ela está sorrindo para mim. — Eu vou fazer
isso.

Eu roubo a minha comida de sua mão. — Eu sei que você vai. —
Desempacotando a coisa, dou uma mordida e percebo que eu estou morrendo de
fome.

— A vida não é sobre a morte, você sabe. — Diz Maggie de repente. Ela está
sentada ao meu lado no capô, olhando para uma nuvem, pegando arrancando
pedaços de seu bagel, e os jogando em sua boca um de cada vez.

— Então o que se trata? — Eu pensei que eu sabia em um ponto, mas não
tenho ideia, não mais. A vida parece uma piada cruel.

— É sobre as relações que você faz, a bondade que oferece e você mostrar
compaixão. É a sua chance de mostrar ao mundo quem você é e o que faz você.
Hallie, você é a pessoa mais forte que conheço. Em vez de sentar aqui chorando
comigo, você deve estar com Bryan. Aqui. — Ela me dá o bagel extra. — Cheque de
vez em quando e quando você precisar de mim, eu vou. Nesse meio tempo, vou
deixar nossa casa pronta, eu prometo. Nada me manterá longe desta vez. Quando
você precisar de mim, eu estarei lá - se estiver no hospital, a funerária ou apenas
quando você precisar de uma pausa.

Eu sinto uma vibe nervosa vindo dela. — Você não é fraca, Maggie. Somos
sobreviventes, eu e você. — Quando eu digo isso, quero dizer para confortá-la, mas
uma bola dá um nó na minha garganta.

Ela pega a minha mão e se inclina, descansando a cabeça no meu ombro. —
Nós vamos sobreviver a isto também “juntas”.

Capítulo 3

Eu não quero pensar em Neil, então eu volto para a mansão Ferro e me
esgueiro para dentro. Ainda é cedo. As únicas pessoas que vejo são os empregados.
Eles me veem e não dizem nada. Deve ser estranho viver como uma estátua dia
após dia, sem ninguém, mas outros funcionários, na verdade, reconhecem que você
é humano. Eu não posso evitar isso. Eu sorrio para o mordomo que está sempre
ocupado, correndo para algum lugar. Ele inclina a cabeça em saudação, mas não
abranda.

Depois que ele passa, se vira para trás. — Você precisa de alguma coisa, Sra.
Raymond?

Eu sorrio e balanço a cabeça. — Não, é apenas bom vê-lo. — Eu olho para
ele. Este homem tem sido constante na vida de Bryan por anos. Eu me pergunto se
ele sabe que Bryan tem um segredo, porque nada lhe escapa, pelo menos não
quando éramos mais jovens. Eu me lembro de receber olhares severos dele quando
éramos muito jovens e fazíamos coisas muito loucas, enquanto a mãe de Bryan não
estava por perto. Mas o cara nunca nos entregou.

— Da mesma forma, Sra. Raymond. Diga ao Sr. Ferro que se ele precisar de
ajuda pode pedir qualquer coisa para mim. — Seus olhos perfuraram os meus por
um momento antes que ele olhe para o lado.

Ele sabe.

Concordo com a cabeça e vou para o modo de super mocinha. Antes que eu
possa me parar, lanço o meu corpo para ele e meus braços em volta do velho,
abraçando-o em um abraço de urso em estilo desleixado. Ele endurece com choque
e, em seguida, dá um tapinha minhas costas. — As pessoas vão dizer-lhe que ele
vai ficar bem. Ao longo dos próximos meses, você vai ouvir isso de novo e de novo,
mas a perda não é assim que funciona. As coisas não vão voltar ao normal, mas a
vida continua. Converse com ele sobre isso, enquanto você tem a chance.

Meu queixo cai. — O quê? Isso seria tão mau. Eu não posso...

— Isso não é o problema meu, mas se você fosse minha filha, era o que eu
diria a você. Tempos sombrios estão chegando, se este homem é o seu raio de luz,
mergulhe no sol tanto quanto puder e quando puder.

Acho que entendo o que ele quer dizer, então balanço minha cabeça para
cima e para baixo lentamente. Falar sobre a morte com alguém que está morrendo
é o que ele quer dizer. Vamos acabar discutindo todas as coisas que queríamos
fazer, mas nunca teremos a chance. Minha garganta aperta com o pensamento e os
meus olhos lacrimejam. — Obrigada.

— Qualquer hora, Sra. Raymond. — Ele inclina a cabeça para mim como se
eu fosse uma rainha e se vira para correr para longe.

Eu não gosto da sua sugestão, mas parte dela me chama. E se a gente falar
sobre isso? Eu balanço minha cabeça e aperto as mãos. Não! Eu não quero! Isso não
é justo e não posso simplesmente aceitar que vou perdê-lo - não depois que
finalmente nos encontramos novamente. Não depois de todo esse tempo.

No momento que estou dentro da mansão de Bryan, paro na porta. Minha
intenção era ir à ponta dos pés para o quarto de Bryan, mas sou presa pelo Ferro
que eu mais temo - Sean. Ele está encostado na parede, os braços cruzados sobre o
peito. Ele se parece com sua mãe, toda acusação não dita claramente visível em
seus olhos. Suas roupas escuras - casaco de couro, calça jeans, camisa preta e botas
shitkicker. — Você e eu temos algo a discutir.

Minha intenção é passar por ele. — Não tenho nada para lhe dizer.

Sean libera seus braços e caminha em minha frente. Ele é silencioso e letal,
com vibes malucas irradiando dele como micro ondas. Ding! — Bem, eu tenho algo
que você precisa ouvir - sobre um homem chamado Victor. — Minha respiração
para na minha garganta enquanto minhas mãos vão para o meu coração. Sean me
puxa pela curva do meu cotovelo para longe da porta de Bryan. — Sim, eu achei
que você soubesse alguma coisa sobre isso. Os jornais estão dizendo que um dos
seus homens o matou, mas os policiais estão bisbilhotando, me fazendo perguntas
sobre um traficante de merda. Eu não gosto de policiais e não gosto ainda menos
de perguntas. Então, me diga, como é que eles rastrearam até aqui? O que você
deixou para trás?

Eu rio, mas ele ignora. — Você acha que eu o matei? — Estou pressionando
meus dedos em meu peito, piscando, com meu queixo caído. Embora seja um
excelente desempenho, algo que me afasta. Sean pode ver isso.

Ele dá um passo no meu espaço de uma maneira ameaçadora. Sua voz
ressoa: — Eu sei que você o matou.

— Não, você não sabe. — Eu agarro, tentando me empurrar por ele
novamente, mas Sean não me deixa passar. Ele bloqueia o lugar com seu corpo
maciço.

Inclinando-se perto do meu rosto, ele sussurra baixinho: — Se eu sei, a
minha mãe sabe e você não quer pegadas sujas que levam direto para a porta da
frente. Você precisa se separar de Bryan e sair daqui antes que descubram isso.

Eu balanço minha cabeça e mordo meu lábio inferior. Eu provavelmente
pareci como um moleque teimoso, mas não vou deixar Bryan.

Os olhos de Sean travam com os meus e sua voz cai para um sussurro letal.
— Eu posso fazê-la desaparecer.

Algo desperta dentro de mim, essa mesma característica de proteção que
me fez cortar a garganta de Victor, em primeiro lugar. Minha coluna se endireita e
eu fico na frente do seu rosto. — Da mesma forma.

Depois de um momento de reflexão, o homem na verdade ri. Sean esfrega o
queixo com a mão. Eu não posso dizer se ele está se divertindo ou pensa que sou
louca. Ele finalmente pergunta: — Por que você fez isso?

— Por que você acha? O homem era um estuprador assassino. Vamos
apenas dizer que eu estava no lugar errado na hora errada. Acidentes acontecem e
eu não ia deixar que qualquer outra coisa acontecesse com a minha amiga. Ela é a
única família que me resta. — Eu sugo o ar, tentando inchar, então não sou tão
pequena, mas em comparação com Sean Ferro, sou um palito.

Seus olhos azuis mudam para o lado antes que ele passe as mãos pelo
cabelo. — Então, você protegeu sua família, deixe-me proteger a minha. Vá
embora. Não puxe Bryan para isso.

— Para quê? Os mortos não puxam qualquer um para qualquer coisa.

— Victor Campone está vivo.

Capítulo 4

Um pequeno grito escapa dos meus lábios e eu quase caio no chão. Meus
joelhos cedem, mas antes de eu ir para baixo, Sean agarra meus braços. Ele me
mantém de pé e continua suavemente. — Os policiais suspeitam que ele esteja
vivo. No momento em que chegaram lá, o corpo tinha desaparecido. Devido à
quantidade de sangue que encontraram, sua suposição natural era que um de seus
homens o matou e jogou o corpo. Os policiais ainda estavam indo por esse caminho
até recentemente, quando pegaram Campone bisbilhotando meu hotel. Então, a
menos que viram um fantasma, o homem ainda está vivo.

— Ele não pode estar. — Eu balanço minha cabeça e meus olhos vidrados
quando me lembro daquela noite. A quantidade de sangue, a forma que sua cabeça
pendia para trás e a ferida era tão profunda. — Não é possível.

Sean suspira e olha para mim com uma expressão que está perdida em
algum lugar entre pena e admiração. Inclinando-se perto, ele diz: — O corte foi
muito superficial. É como apontar para o coração e não acertar. O cara foi
subestimado, os que estavam dispostos e aceitaram fazer isso uma vez, mas ele não
vai ser subestimado novamente. E eu aposto qualquer coisa que ele vai
permanecer morto por um tempo, deixar que os outros façam o trabalho sujo, até
que lhe convenha encenar uma ressurreição.

— Como você sabe tudo isso?

Ele engole em seco, seu olhar se afastando e depois de volta para os meus
olhos. — Periodicamente nossos empreendimentos comerciais se sobrepõem. Eu
ouço coisas. E posso dizer-lhe que se eu ouvi, minha mãe ouviu e você com certeza
não quer irritá-la. Se Campone acabar aqui, você está morta. Se ele não te matar,
minha mãe vai.

Ele agarra meus ombros e me pede: — Hallie, pega a sua amiga e dá o fora
daqui antes que Campone a encontre. — Sean me libera. — Este foi um aviso de
cortesia. Se você ficar por perto e Bryan for morto por sua causa, bem, é melhor

esperar que Victor a encontre antes de mim. — Seus olhos firmam em mim uma
vez com as suas intenções claras.

Eu fico lá por um segundo mal respirando. Nossos olhos estão bloqueados,
nós dois estamos desafiando, mas será que ele não sabe, Sean não sabe sobre seu
primo? Talvez eu devesse pegar Bryan e correr, mas não posso. Não enquanto ele
está doente. Ele vai precisar de ajuda e cuidados paliativos. Eu não posso dar-lhe
essas coisas se eu corro. Minha voz racha quando eu falo. — Eu não posso.

— Não é opcional.

— Não, você não entende. Eu não posso ir embora. Eu não posso correr
mais de Victor e não vou. Eu vou cuidar disso. Eu vou terminar o que comecei. —
Eu não tenho ideia de como, mas vou. Se eu não fizer isso, ele virá atrás de mim e
Maggie. O homem é cruel, ele nunca vai parar de nos caçar. Eu sei disso com
certeza.

Sean levanta a sobrancelha escura. — Você está louca? Você nunca vai ter
outra chance de matá-lo. Ele pensou que era insignificante antes, mas agora ele a
conhece melhor.

Eu me empurro passando por ele. — Eu vou cuidar disso. Ele não virá aqui,
e desta vez, quando eu matá-lo, ele vai morrer.

— Hallie. — Sean quase implora meu nome, quase, mas eu não paro.

Eu entro no quarto de Bryan e fecho a porta. Eu fico lá por um segundo e
derrubo minha cabeça para trás, respirando com dificuldade. Eu nunca soquei uma
pessoa antes. Agora eu simplesmente confessei ao mais assustador de todos os
Ferro que vou dar um fim no senhor das drogas mais notório da cidade. Super foda.

Eu ainda estou segurando o saco com café da manhã de Bryan. Quando
aperto o meu punho, o jornal faz um ruído de crepitação e ele se senta. Um belo
sorriso ilumina seu rosto pálido. — Hey, Menina Bonita. Para onde você correu?

— Para pegar o café da manhã e conseguir alguma sujeira em sua tia. Foi
uma manhã interessante. — Eu sorrio, preocupada com ele e entrego o saco.

— Sujeira na minha tia?

Balanço a cabeça e me sento ao lado dele na cama. — Sim, eu descobri
porque ela me odeia. Ela pensa que eu sei de algo todos esses anos, mas eu não
descobri o que eu sabia até esta manhã.

Bryan desembrulha o seu bagel enquanto estou falando e morde. Seus
firmes olhos verdes encontram os meus. Com a boca cheia, ele me pergunta. — E
então?

Eu penso em manter seu segredo, mas não sinto nenhuma lealdade para
com ela. Além disso, Bryan não vai contar a ninguém. — Ela é gay. Eu a peguei com
sua amante na cozinha de sua mãe esta manhã.

Seu queixo cai e o pedaço de bagel rola para fora da boca, indo para a
colcha. — De jeito nenhum.

Concordo com a cabeça e olho para o pedaço de comida. — Um choque e
tanto, hein?

— Claro que sim. Ela é tão recatada e adequada. — Seu nariz franze com o
pensamento da sua tia ser sexualmente algo.

— E, aparentemente, ela gosta de garotas.

Bryan pisca e sorri. — Bem, isso explica um monte de coisas.

— Sim, como por que ela ainda é casada e permite que prostitutas meio
vestidas andem pela sua casa.

Bryan sorri. — Claro, todo mundo gosta de um pouco de colírio para os
olhos.

Eu bato em seu ombro. — Bryan!

— Vamos lá, pense nisso. Houve uma garota naquela casa desde que Jon era
um bebê. É a família mais estranha que eu já vi. Minha mãe não teria tolerado. Eu
sempre me perguntei por que a tia Constance tolerava.

— Seu pai não tem uma puta coabitante?

Ele inclina a cabeça para mim. — Meu pai não tem tempo para isso. Ele está
muito ocupado ganhando dinheiro para ser incomodado com relacionamentos ou
senhoras de compra. Mas, ainda assim, a tia Connie gosta das garotas. Quem teria

pensado? — Ele balança a cabeça. — Então o que diabos eu vi no dia que
terminamos?

Boa pergunta. Eu suspiro e tenho uma boa ideia de para quem perguntar. Eu
sorrio grande. — Qual é o quarto que Constance usa quando está aqui?

Bryan parece confuso e então seus olhos se arregalam. — Você está louca?

— Só um pouco. — Eu rio e quase aperto meus dedos juntos.


CONTINUA

A luz do amanhecer brilha através das pesadas cortinas que revestem as paredes formando uma fina fenda de branco puro no tapete escuro. Eu fico olhando para ele, perdida em seus pensamentos. Perto de mim, Bryan está dormindo. Eu envolvo meus braços ao redor dele e seu corpo se parece tão forte. É por isso que isto é tão difícil. Não faz nenhum sentido. Para além da dor, eu não posso ver o que está acontecendo com ele. É interno. Seu corpo o está matando segundo a segundo. Eventualmente, ele irá respirar e não haverá outro. Eu não posso suportar a ideia.
Minha vida tem sido moldada por morte. Todo mundo que me importa, todos, exceto Maggie, partem. Eu escorrego para fora da cama, agarrando o meu telefone antes de ir para fundo do corredor. Eu envio uma mensagem de texto para ela, embora eu duvide que ela esteja acordada.
Eu digito: Estou com Bryan. Apenas verificando para ter certeza que está tudo bem.
Para minha surpresa ela envia uma mensagem de volta: Eu estou, mas tenho uma coisa horrível para lhe dizer.
Nada poderia ser pior do que perder Bryan. Eu digito de volta: Eu também.
Volto logo para casa e podemos conversar.
Ela responde: Ok.

 


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Eu enfio meu celular no bolso antes de pegar a camiseta de Bryan e a puxo
sobre minha cabeça. Eu enfio minhas mãos sob as mangas e vagueio pela mansão
até encontrar a cozinha. Sinto o cheiro do café e preciso desesperadamente de uma
xícara. Infelizmente, a besta “a tia” de Bryan está sentada à mesa com outra
mulher. Ambas estão vestidas em robe. Eu pisco conforme o choque lava seus
rostos. Eu não posso imaginar por que ela está aqui tão cedo, não vestida. Quão
estranho é isso?

Dentro de um batimento cardíaco, Constance está fora de seu assento e no
meu rosto. — Como você ousa desfilar na casa da minha irmã usando coisas do
meu sobrinho? Saia agora mesmo, sua puta! — Ela tenta bater no meu rosto, mas
eu agarro seu pulso.

As coisas finalmente clicam no lugar. A forma como as mulheres estavam
olhando uma para a outra, o toque de suas mãos, a forma como os seus olhos
permanecem naquele olhar fixo familiar, o fato de que ela está aqui, quando sua
irmã e cunhado já se foram e a forma como Constance se transforma em um tigre
quando ela me vê - faz sentido. Ela está escondendo um segredo há anos que
poderia arruiná-la para sempre. É por isso que ela suporta as infidelidades do Sr.
Ferro e porque permite que suas mulheres valsem pela sua casa.

Constance é gay - e esta mulher é sua amante. Ela pensou que eu soubesse,
mas eu nunca percebi antes.

Ela puxa sua mão do meu aperto e se prepara para começar a gritar
novamente. Eu a interrompo, cansada. — Eu não me importo com sua vida ou
suas preferências. Eu entendo que seja um tabu para você ser vista com ela. Eu
entendo isso, Constance, eu realmente entendo. Eu não a julgo por isso, então pare
de me julgar. A única coisa de que eu quero vocês é o café. — Eu caminho,
passando por ela.

O queixo de Constance está no chão. Sua namorada, uma mulher pelo menos
dez anos mais nova que ela, fica rígida, olhando-me com medo. Relações do mesmo
sexo podem ser ultramodernas e estarem na moda em Nova York, mas não entre
antigas famílias endinheiradas como esta. Isso a arruinaria. É por isso que ela me
odeia. Ela acha que eu tenho andado por aí esperando para soltar uma bomba em
sua vida.

Quando Constance fala, seu tom é cético: — Você sabe há muito tempo e não
disse nada. Por quê?

— Porque eu não me importo com você. — Eu mantenho minhas costas
para ela enquanto despejo o líquido escuro em uma xícara pesada. É muito cedo. As
pessoas normais não estão acordadas às cinco da manhã. Elas provavelmente
estavam tomando café da manhã antes de se separarem para o dia. Quando me viro

para falar, as duas mulheres estão me olhando mortificadas. — Eu me preocupo
com Bryan. Você não percebeu nada sobre ele que lhe diz respeito?

Seu olhar se estreita. — Não brinque comigo. Eu conheço minha família,
cada um deles.

— Sim, bem, você pode querer falar com ele. — Ela bloqueia seu maxilar,
preparando-se para ordenar que eu saia, mas eu acrescento: — O tempo é uma
coisa engraçada. Todos nós pensamos que temos uma tonelada dele até que seja
tirado de nós, então nos damos conta de que nunca foi o suficiente, para começar.
Use o tempo que você tem, Constance. Ame as pessoas que queira e se certifique de
que eles saibam disso. Chegará o dia em que você lamentará que não o fez e a
chance passou por você.

Ela endurece quando eu falo. — Você está me ameaçando?

Eu rio alto com o ridículo de sua declaração. Ela não tem nenhuma pista. Eu
estava me referindo a mim e Bryan, para a piscina constante de arrependimento
que enche meu estômago. Poderíamos ter estado juntos, mas essa oportunidade
está perdida agora, o tempo que nunca teremos.

— Você está tão errada sobre tudo, lacrada em sua pequena bolha, fora de
contato com o mundo real. Isso não é sobre você, então você acha que está segura,
mas você nunca está, não do tempo - não da morte. Seu sobrinho... — Eu engulo
em seco, mas não quebro o contato visual. — Certifique-se que sua mãe descubra.
Isso é tudo que eu quero.

A suposição de que eu estou fazendo é enorme - aquela que Elizabeth Ferro
se importará se seu filho vive ou morre. Bryan não contou a ninguém sobre sua
doença, exceto eu. Jon pode ver isso, mas os outros não têm ideia. Eu não sei
quanto tempo resta à Bryan, mas não quero que ele o gaste se preocupando ou
brigando. Eu quero estar lá para protegê-lo e, por alertar o Ferro de seu estado, eu
provavelmente só fiz isso mais difícil de acontecer - mas que é a coisa certa a fazer.
Se eu tivesse um segundo extra para gastar com o meu pai... O pensamento se
esconde em minha mente, sol a sol. Quando a noite lava o céu com tons roxos de
tinta e manchas de âmbar cintilante, eu gostaria de ter mais uma oportunidade de
dizer todas as coisas que nunca tive a chance de expressar. Agora, esses
pensamentos estão presos dentro da minha alma, me segurando cativa. Eu nunca

vou ser livre. Eu nunca tive a chance de dizer adeus. Eu estou dando aos Ferro essa
oportunidade e esperando além da esperança de que eles não me joguem para fora
na minha bunda em recompensa.

Empurrando de lado meus pensamentos, eu coloco meu copo vazio para
baixo e saio, deixando Constance e sua amante, boquiabertas, no meu despertar. As
duas mulheres atrás de mim são crianças brincando de casinha. Eu posso ser mais
jovem do que elas em anos, mas minha alma parece velha. É imaturo pensar que a
sua vida seja apenas sobre você. A vida é sobre as pessoas ao seu redor. Como eu
gostaria de nunca crescer, mas desejar é desperdício de tempo e eu me recuso a
desperdiçar mais um segundo.

Capítulo 2

Maggie e eu planejamos, através de mensagens de texto, nos encontrar em
algum lugar que tenha um bagel logo após o amanhecer. Os únicos carros no
estacionamento são da loja. O resto do centro de compras ainda está fechado. Eu
não espero muito tempo, quando ela se junta a mim no final da fila.

— Hey. — Diz Maggie, me envolvendo em um abraço.

Eu a abraço de volta, segurando-a um segundo muito longo. Ela vai fugir
novamente. Eu sei disso. Ela não lida bem com a morte também. Acho que
ninguém faz, mas Maggie viu muito dela. Quando eu a solto, me forço a perdoá-la
com antecedência. Uma alma só pode tomar tanto abuso antes que não possa
evitar, exceto reagir. É como o cão de Pavlov. A campainha da morte soa e Maggie
corre.

Eu enfio um pedaço de cabelo atrás da minha orelha e encosto contra a
vitrine de vidro, antes de enfiar as mãos nos bolsos. — Hey. Como tem passado?

A fila faz a volta para fora da porta e para baixo da frente do centro
comercial com pessoas que já pararam para um bagel e café em seu caminho para
o trabalho. A fila se aproxima alguns centímetros mais próxima da comida e nos
movemos com ela, antes de retornar nossas posições contra o vidro. Meu estômago
ronca com o cheiro de fermento e eu mal posso esperar para provar o pão macio,
quente e mordê-lo, saboreando o cream cheese espesso. Eu aprendi a não dar por
certo pequenas coisas. Bagels me ajudam a encontrar meu lugar feliz.

Eu pretendo pegar um para Bryan também - sementes de papoula com
manteiga, exatamente como ele pedia na escola. Viemos aqui tantas vezes. Eu fico
olhando para fora, no estacionamento, minha mente vagando em uma memória de
Bryan me levantando em um carrinho de compras e empurrando-me como um
louco pelo mercado, rindo o tempo todo.

Outro cliente perguntou: — Que corredor você a encontrou? Eu quero uma!

Bryan apenas sorriu, os olhos deslizando sobre mim no carrinho. —
Desculpe, cara. Esta era a única e é toda minha. Eu nunca a deixarei ir. — A

memória ecoa fortemente em meus ouvidos. Parece que poderia ter acontecido
ontem.

A voz de Maggie me encaixa de volta ao presente. Ela encolhe os ombros e
puxa a alça da bolsa para cima de seu ombro. — Eu estou bem. Acho que encontrei
um apartamento para nós, mas eu ouvi que Neil comprou para vocês uma casa. —
Ela faz uma cara de, bem, tenta não fazer uma cara, que faz sua expressão de dor
ainda pior. A fila se move de novo e, com um passo à frente, ela deixa escapar: —
Você realmente vai se casar com ele? Achei que você amasse Bryan? Parecia que
estava totalmente encantada com o gatinho do sexo. Bem, você é a gatinha.
Rapazes são o quê, tigres? Tigre sexual soa mal. — Ela ri, mas sua risada leve
desaparece quando ela vê o meu sorriso falso. — O que há de errado, Hallie?

Eu tento manter minha voz firme, mas treme sem minha permissão. Não há
nenhum ponto em protelar por mais tempo, e além disso, eu preciso dela. Mesmo
que ela vá correr, eu tenho que falar com alguém enquanto eu tiver a chance. —
Maggie, ele está morrendo.

— Mas, ele não pode estar! Ele... — Maggie deixa escapar muitas palavras de
uma só vez e quase começa a chorar. Ela é a pessoa mais empática que eu já
conheci. A minha dor está representada em seu rosto quando ela para, aperta
minha mão e me puxa para um abraço de urso que poderia explodir minha cabeça.
— Eu sinto muito, Hallie. — Ela enxuga as lágrimas com as costas da mão e olha
para o meu ombro, não querendo perguntar. Cada palavra é como se enfiasse uma
faca no meu lado. — O que há de errado com ele?

Eu a atualizo com o que sei que aconteceu até agora. Minha voz continua
difícil quando eu chego ao fim da história. — Nós terminamos por causa de sua tia
Constance. Ela achou que eu iria arruiná-la com informações que eu não deveria
saber, então ela descobriu uma maneira de nos separar. — A raiva eu não tinha
notado até agora borbulha sob a superfície da minha mente. Eu não vou ficar com
raiva, eu não posso ficar. Eu me recuso a perder meu tempo com ela ou o que ela
fez. — Maggie, eu não poderia me importar menos com ela, mas eu quis Bryan
todo esse tempo e não o tive por causa dela.

— E, no entanto, você não soa como louca. Você parece mais
assustadoramente tranquila sobre isso. — Uma sobrancelha vermelha levanta
levemente em sua testa sardenta.

Eu olho para ela conforme nos movemos com a fila para dentro da pequena
loja, e nos aproximamos da bandeja do pão assado. Maggie pede em primeiro lugar,
então eu peço e pago por nossos itens. Pegamos o nosso café da manhã, cortamos
de volta através da fila, para fora da porta, em direção ao estacionamento. Fico ali
na frente dela querendo falar, mas incapaz de encontrar palavras, em seguida,
entrego para ela o pão e suco de laranja.

Minha boca se abre duas vezes, mas as palavras não saem. Eu finalmente
olho nos olhos dela e explico. — Eu não estou louca. Bem, eu estou - mas não quero
estar. É um desperdício de tempo e eu não tenho tempo de sobra. Eu estou
pensando em ficar com ele, Maggie. Seja qual for o tempo que lhe resta, eu quero
estar lá.

— Eu entendo, e eu estou aqui para você. — Ela pega a minha mão, mas eu
não posso olhar para ela.

— Não faça promessas que não pode cumprir, Maggie.

— Eu estou as mantendo desta vez.

— Eu prefiro saber agora que você vai desaparecer. Eu posso lidar com isso
sozinha. Eu estou bem, realmente. Eu sei o que isso faz para você e... — Eu arranjo
desculpas para ela até que ela me corta.

— Não. A última vez eu não estava lá para você, porque Victor era um idiota.
Eu não tive escolha. Isso fazia parte da maneira como ele estava me controlando,
mas ele já se foi, Hallie. Eu não vou fugir. Eu estarei lá para você. Você não terá que
lidar com isso sozinha. Eu prometo. Podemos passar por qualquer coisa, você e
eu. Eu não vou deixar você Hallie. Nós somos irmãs. Eu vou estar lá neste
momento. — Ela sorri sem jeito e olha para o chão sob suas botas.

Ela muda o seu peso para o outro pé e olha para mim debaixo de muito
rímel. Sua boca fica aberta por um segundo e seus lábios enrolam, como se ela não
quisesse dizer o que está prestes a cair de sua boca. — Há algo que você precisa
saber, e eu não sei se você vai gostar ou não com tudo o que aconteceu, mas precisa

saber. Você precisa. E eu odeio dizer isso agora, mas talvez seja melhor assim. Eu
esperaria se eu achasse que ajudaria.

— Maggie, diga-me. O que é?

Ela puxa um monte de ar e cospe para fora. — Ontem à noite, enquanto você
não estava em casa, entrei e vi o que parecia ser Neil e Cecily fazendo coisas que
estava muito além da zona do amigo. — Seus lábios são esmagados em conjunto,
enquanto ela tenta permanecer inexpressiva. Eu posso dizer que ela quer castrar
Neil conforme ela luta para manter seus lábios em uma linha reta.

Eu pisco, e isso é tudo. A raiva não vomita da minha boca e minhas mãos
não estão cerradas em punhos. Eu não me sinto quebrada ou até mesmo chocada.

Eu não sinto nada.

Se eu amasse Neil, eu estaria irada, mas eu não estou. Concordo com a
cabeça.

O rosto preocupado de Maggie franze enquanto ela empurra seu brilhante
cabelo atrás da orelha. — Eu não sei se eu deveria dizer. Eu o odeio, mas pensei
que você gostava do cara. — Ela me olha com tal preocupação que eu não posso
deixar de sorrir para ela.

Meu olhar abaixa para o chão e eu tomo uma respiração profunda, antes de
dar-lhe um abraço de lado. Quando eu a deixo ir, murmuro: — Eu estou feliz que
você me disse. Desgraça pouca é bobagem, certo? — Eu ofereço um sorriso de
novo, mas é falso neste momento. Há muitas lembranças correndo pela minha
mente, e o movimento faz minha pele parecer como se fosse rachar.

— Yeah. — Ela ri. — Pelo menos não temos que nos preocupar com Victor.
Devo-lhe muito por isso. Os jornais disseram que um dos seus homens o matou no
meu apartamento. Se você não tivesse me arrastado para fora, naquela noite eu
teria levado um tiro, também.

Eu sou insensível ao que eu fiz, pelo menos no momento. Às vezes, quando
eu não consigo dormir, o pensamento de que fiz desliza em minha mente, não
desejado. Victor é um pesadelo que não vai morrer, mas não posso perder o meu
tempo.

— Somos eu e você, agora. — Eu digo a ela com firmeza. Ela sorri
tristemente para mim e assente. — Maggie, você pode ir a casa de Neil e pegar
minhas coisas? Há apenas algumas caixas. Eu nunca desembalei, não
realmente. Neil queria que eu fizesse, mas eu empurrei a maioria delas na parte de
trás de um armário. — Eu retiro minha bolsa e escrevo-lhe um cheque. — Isso
deve cobrir o aluguel do nosso novo apartamento e tudo o mais que
precisamos. Deixe-o bonito, ok? Vai ser bom ter um novo lugar bonito para ir para
casa quando isso acabar.

Maggie pega o cheque e olha para todos os zeros, antes de olhar para mim.
Uma mecha de cabelo vermelho cai na frente de seus olhos. — Hallie, eu não posso
aceitar isso.

— Sim, você pode. Vai fazê-lo. Precisamos de um lugar para viver. Eu
gostaria de ter mais a oferecer, mas essa discussão é para outro dia. Entretanto,
isso vai nos colocar em uma boa vizinhança e nós estaremos confortáveis.

— Você vai processar Neil e Cecily? Eles praticamente gastaram todo o seu
dinheiro.

Concordo com a cabeça. — Provavelmente, mas não agora. Eu preciso fazer
um telefonema. — Maggie balança a cabeça e eu disco para o meu banco enquanto
seguimos para o meu carro. Eu explico a um funcionário do banco muito prestativo
que o nome de Neil deve ser retirado da minha conta imediatamente e todas as
transações em andamento com a sua assinatura, devem ser transferidas para a sua
conta. Verificação conjunta foi ideia dele. Eu esfrego minhas mãos sobre meu rosto
e sento com força no capô do meu carro. A coisa está suja, mas eu não me
importo. O funcionário do banco me pede para ir em breve para assinar os papéis,
e fazer as alterações em minha conta oficial. Quando eu insisto que eles precisam
ser assinados agora, ela diz para vir quando for mais conveniente.

Eu desligo e olho fixamente para as portas fechadas da mercearia. — Eu não
posso fazer isso de novo, não tão cedo. — A perda do meu pai ainda paira pesado
em meu coração, ameaçando me puxar para baixo. Minha dor não diminuiu e a
fama não ajudou. A única coisa que me faz sentir melhor é Bryan e agora vou
perdê-lo também.

Eu não posso respirar. Inclinando minha cabeça para trás com os olhos
cheios de lágrimas, eu olho para o céu e as nuvens brancas onduladas. O céu estava
aqui muito antes de eu nascer e vai estar aqui muito tempo depois. Faz-me sentir
pequena, como se a minha vida não importasse em tudo.

Maggie me bate com sua bota. — Bagel?

— Eu não estou com fome. — Eu estava com fome apenas um momento
atrás, mas agora não sinto nada parecido com isso.

— Merda resistente. Eu estou cuidando de você, o que significa que você
come isso ou vou enfiar na sua cara. — Ela está sorrindo para mim. — Eu vou fazer
isso.

Eu roubo a minha comida de sua mão. — Eu sei que você vai. —
Desempacotando a coisa, dou uma mordida e percebo que eu estou morrendo de
fome.

— A vida não é sobre a morte, você sabe. — Diz Maggie de repente. Ela está
sentada ao meu lado no capô, olhando para uma nuvem, pegando arrancando
pedaços de seu bagel, e os jogando em sua boca um de cada vez.

— Então o que se trata? — Eu pensei que eu sabia em um ponto, mas não
tenho ideia, não mais. A vida parece uma piada cruel.

— É sobre as relações que você faz, a bondade que oferece e você mostrar
compaixão. É a sua chance de mostrar ao mundo quem você é e o que faz você.
Hallie, você é a pessoa mais forte que conheço. Em vez de sentar aqui chorando
comigo, você deve estar com Bryan. Aqui. — Ela me dá o bagel extra. — Cheque de
vez em quando e quando você precisar de mim, eu vou. Nesse meio tempo, vou
deixar nossa casa pronta, eu prometo. Nada me manterá longe desta vez. Quando
você precisar de mim, eu estarei lá - se estiver no hospital, a funerária ou apenas
quando você precisar de uma pausa.

Eu sinto uma vibe nervosa vindo dela. — Você não é fraca, Maggie. Somos
sobreviventes, eu e você. — Quando eu digo isso, quero dizer para confortá-la, mas
uma bola dá um nó na minha garganta.

Ela pega a minha mão e se inclina, descansando a cabeça no meu ombro. —
Nós vamos sobreviver a isto também “juntas”.

Capítulo 3

Eu não quero pensar em Neil, então eu volto para a mansão Ferro e me
esgueiro para dentro. Ainda é cedo. As únicas pessoas que vejo são os empregados.
Eles me veem e não dizem nada. Deve ser estranho viver como uma estátua dia
após dia, sem ninguém, mas outros funcionários, na verdade, reconhecem que você
é humano. Eu não posso evitar isso. Eu sorrio para o mordomo que está sempre
ocupado, correndo para algum lugar. Ele inclina a cabeça em saudação, mas não
abranda.

Depois que ele passa, se vira para trás. — Você precisa de alguma coisa, Sra.
Raymond?

Eu sorrio e balanço a cabeça. — Não, é apenas bom vê-lo. — Eu olho para
ele. Este homem tem sido constante na vida de Bryan por anos. Eu me pergunto se
ele sabe que Bryan tem um segredo, porque nada lhe escapa, pelo menos não
quando éramos mais jovens. Eu me lembro de receber olhares severos dele quando
éramos muito jovens e fazíamos coisas muito loucas, enquanto a mãe de Bryan não
estava por perto. Mas o cara nunca nos entregou.

— Da mesma forma, Sra. Raymond. Diga ao Sr. Ferro que se ele precisar de
ajuda pode pedir qualquer coisa para mim. — Seus olhos perfuraram os meus por
um momento antes que ele olhe para o lado.

Ele sabe.

Concordo com a cabeça e vou para o modo de super mocinha. Antes que eu
possa me parar, lanço o meu corpo para ele e meus braços em volta do velho,
abraçando-o em um abraço de urso em estilo desleixado. Ele endurece com choque
e, em seguida, dá um tapinha minhas costas. — As pessoas vão dizer-lhe que ele
vai ficar bem. Ao longo dos próximos meses, você vai ouvir isso de novo e de novo,
mas a perda não é assim que funciona. As coisas não vão voltar ao normal, mas a
vida continua. Converse com ele sobre isso, enquanto você tem a chance.

Meu queixo cai. — O quê? Isso seria tão mau. Eu não posso...

— Isso não é o problema meu, mas se você fosse minha filha, era o que eu
diria a você. Tempos sombrios estão chegando, se este homem é o seu raio de luz,
mergulhe no sol tanto quanto puder e quando puder.

Acho que entendo o que ele quer dizer, então balanço minha cabeça para
cima e para baixo lentamente. Falar sobre a morte com alguém que está morrendo
é o que ele quer dizer. Vamos acabar discutindo todas as coisas que queríamos
fazer, mas nunca teremos a chance. Minha garganta aperta com o pensamento e os
meus olhos lacrimejam. — Obrigada.

— Qualquer hora, Sra. Raymond. — Ele inclina a cabeça para mim como se
eu fosse uma rainha e se vira para correr para longe.

Eu não gosto da sua sugestão, mas parte dela me chama. E se a gente falar
sobre isso? Eu balanço minha cabeça e aperto as mãos. Não! Eu não quero! Isso não
é justo e não posso simplesmente aceitar que vou perdê-lo - não depois que
finalmente nos encontramos novamente. Não depois de todo esse tempo.

No momento que estou dentro da mansão de Bryan, paro na porta. Minha
intenção era ir à ponta dos pés para o quarto de Bryan, mas sou presa pelo Ferro
que eu mais temo - Sean. Ele está encostado na parede, os braços cruzados sobre o
peito. Ele se parece com sua mãe, toda acusação não dita claramente visível em
seus olhos. Suas roupas escuras - casaco de couro, calça jeans, camisa preta e botas
shitkicker. — Você e eu temos algo a discutir.

Minha intenção é passar por ele. — Não tenho nada para lhe dizer.

Sean libera seus braços e caminha em minha frente. Ele é silencioso e letal,
com vibes malucas irradiando dele como micro ondas. Ding! — Bem, eu tenho algo
que você precisa ouvir - sobre um homem chamado Victor. — Minha respiração
para na minha garganta enquanto minhas mãos vão para o meu coração. Sean me
puxa pela curva do meu cotovelo para longe da porta de Bryan. — Sim, eu achei
que você soubesse alguma coisa sobre isso. Os jornais estão dizendo que um dos
seus homens o matou, mas os policiais estão bisbilhotando, me fazendo perguntas
sobre um traficante de merda. Eu não gosto de policiais e não gosto ainda menos
de perguntas. Então, me diga, como é que eles rastrearam até aqui? O que você
deixou para trás?

Eu rio, mas ele ignora. — Você acha que eu o matei? — Estou pressionando
meus dedos em meu peito, piscando, com meu queixo caído. Embora seja um
excelente desempenho, algo que me afasta. Sean pode ver isso.

Ele dá um passo no meu espaço de uma maneira ameaçadora. Sua voz
ressoa: — Eu sei que você o matou.

— Não, você não sabe. — Eu agarro, tentando me empurrar por ele
novamente, mas Sean não me deixa passar. Ele bloqueia o lugar com seu corpo
maciço.

Inclinando-se perto do meu rosto, ele sussurra baixinho: — Se eu sei, a
minha mãe sabe e você não quer pegadas sujas que levam direto para a porta da
frente. Você precisa se separar de Bryan e sair daqui antes que descubram isso.

Eu balanço minha cabeça e mordo meu lábio inferior. Eu provavelmente
pareci como um moleque teimoso, mas não vou deixar Bryan.

Os olhos de Sean travam com os meus e sua voz cai para um sussurro letal.
— Eu posso fazê-la desaparecer.

Algo desperta dentro de mim, essa mesma característica de proteção que
me fez cortar a garganta de Victor, em primeiro lugar. Minha coluna se endireita e
eu fico na frente do seu rosto. — Da mesma forma.

Depois de um momento de reflexão, o homem na verdade ri. Sean esfrega o
queixo com a mão. Eu não posso dizer se ele está se divertindo ou pensa que sou
louca. Ele finalmente pergunta: — Por que você fez isso?

— Por que você acha? O homem era um estuprador assassino. Vamos
apenas dizer que eu estava no lugar errado na hora errada. Acidentes acontecem e
eu não ia deixar que qualquer outra coisa acontecesse com a minha amiga. Ela é a
única família que me resta. — Eu sugo o ar, tentando inchar, então não sou tão
pequena, mas em comparação com Sean Ferro, sou um palito.

Seus olhos azuis mudam para o lado antes que ele passe as mãos pelo
cabelo. — Então, você protegeu sua família, deixe-me proteger a minha. Vá
embora. Não puxe Bryan para isso.

— Para quê? Os mortos não puxam qualquer um para qualquer coisa.

— Victor Campone está vivo.

Capítulo 4

Um pequeno grito escapa dos meus lábios e eu quase caio no chão. Meus
joelhos cedem, mas antes de eu ir para baixo, Sean agarra meus braços. Ele me
mantém de pé e continua suavemente. — Os policiais suspeitam que ele esteja
vivo. No momento em que chegaram lá, o corpo tinha desaparecido. Devido à
quantidade de sangue que encontraram, sua suposição natural era que um de seus
homens o matou e jogou o corpo. Os policiais ainda estavam indo por esse caminho
até recentemente, quando pegaram Campone bisbilhotando meu hotel. Então, a
menos que viram um fantasma, o homem ainda está vivo.

— Ele não pode estar. — Eu balanço minha cabeça e meus olhos vidrados
quando me lembro daquela noite. A quantidade de sangue, a forma que sua cabeça
pendia para trás e a ferida era tão profunda. — Não é possível.

Sean suspira e olha para mim com uma expressão que está perdida em
algum lugar entre pena e admiração. Inclinando-se perto, ele diz: — O corte foi
muito superficial. É como apontar para o coração e não acertar. O cara foi
subestimado, os que estavam dispostos e aceitaram fazer isso uma vez, mas ele não
vai ser subestimado novamente. E eu aposto qualquer coisa que ele vai
permanecer morto por um tempo, deixar que os outros façam o trabalho sujo, até
que lhe convenha encenar uma ressurreição.

— Como você sabe tudo isso?

Ele engole em seco, seu olhar se afastando e depois de volta para os meus
olhos. — Periodicamente nossos empreendimentos comerciais se sobrepõem. Eu
ouço coisas. E posso dizer-lhe que se eu ouvi, minha mãe ouviu e você com certeza
não quer irritá-la. Se Campone acabar aqui, você está morta. Se ele não te matar,
minha mãe vai.

Ele agarra meus ombros e me pede: — Hallie, pega a sua amiga e dá o fora
daqui antes que Campone a encontre. — Sean me libera. — Este foi um aviso de
cortesia. Se você ficar por perto e Bryan for morto por sua causa, bem, é melhor

esperar que Victor a encontre antes de mim. — Seus olhos firmam em mim uma
vez com as suas intenções claras.

Eu fico lá por um segundo mal respirando. Nossos olhos estão bloqueados,
nós dois estamos desafiando, mas será que ele não sabe, Sean não sabe sobre seu
primo? Talvez eu devesse pegar Bryan e correr, mas não posso. Não enquanto ele
está doente. Ele vai precisar de ajuda e cuidados paliativos. Eu não posso dar-lhe
essas coisas se eu corro. Minha voz racha quando eu falo. — Eu não posso.

— Não é opcional.

— Não, você não entende. Eu não posso ir embora. Eu não posso correr
mais de Victor e não vou. Eu vou cuidar disso. Eu vou terminar o que comecei. —
Eu não tenho ideia de como, mas vou. Se eu não fizer isso, ele virá atrás de mim e
Maggie. O homem é cruel, ele nunca vai parar de nos caçar. Eu sei disso com
certeza.

Sean levanta a sobrancelha escura. — Você está louca? Você nunca vai ter
outra chance de matá-lo. Ele pensou que era insignificante antes, mas agora ele a
conhece melhor.

Eu me empurro passando por ele. — Eu vou cuidar disso. Ele não virá aqui,
e desta vez, quando eu matá-lo, ele vai morrer.

— Hallie. — Sean quase implora meu nome, quase, mas eu não paro.

Eu entro no quarto de Bryan e fecho a porta. Eu fico lá por um segundo e
derrubo minha cabeça para trás, respirando com dificuldade. Eu nunca soquei uma
pessoa antes. Agora eu simplesmente confessei ao mais assustador de todos os
Ferro que vou dar um fim no senhor das drogas mais notório da cidade. Super foda.

Eu ainda estou segurando o saco com café da manhã de Bryan. Quando
aperto o meu punho, o jornal faz um ruído de crepitação e ele se senta. Um belo
sorriso ilumina seu rosto pálido. — Hey, Menina Bonita. Para onde você correu?

— Para pegar o café da manhã e conseguir alguma sujeira em sua tia. Foi
uma manhã interessante. — Eu sorrio, preocupada com ele e entrego o saco.

— Sujeira na minha tia?

Balanço a cabeça e me sento ao lado dele na cama. — Sim, eu descobri
porque ela me odeia. Ela pensa que eu sei de algo todos esses anos, mas eu não
descobri o que eu sabia até esta manhã.

Bryan desembrulha o seu bagel enquanto estou falando e morde. Seus
firmes olhos verdes encontram os meus. Com a boca cheia, ele me pergunta. — E
então?

Eu penso em manter seu segredo, mas não sinto nenhuma lealdade para
com ela. Além disso, Bryan não vai contar a ninguém. — Ela é gay. Eu a peguei com
sua amante na cozinha de sua mãe esta manhã.

Seu queixo cai e o pedaço de bagel rola para fora da boca, indo para a
colcha. — De jeito nenhum.

Concordo com a cabeça e olho para o pedaço de comida. — Um choque e
tanto, hein?

— Claro que sim. Ela é tão recatada e adequada. — Seu nariz franze com o
pensamento da sua tia ser sexualmente algo.

— E, aparentemente, ela gosta de garotas.

Bryan pisca e sorri. — Bem, isso explica um monte de coisas.

— Sim, como por que ela ainda é casada e permite que prostitutas meio
vestidas andem pela sua casa.

Bryan sorri. — Claro, todo mundo gosta de um pouco de colírio para os
olhos.

Eu bato em seu ombro. — Bryan!

— Vamos lá, pense nisso. Houve uma garota naquela casa desde que Jon era
um bebê. É a família mais estranha que eu já vi. Minha mãe não teria tolerado. Eu
sempre me perguntei por que a tia Constance tolerava.

— Seu pai não tem uma puta coabitante?

Ele inclina a cabeça para mim. — Meu pai não tem tempo para isso. Ele está
muito ocupado ganhando dinheiro para ser incomodado com relacionamentos ou
senhoras de compra. Mas, ainda assim, a tia Connie gosta das garotas. Quem teria

pensado? — Ele balança a cabeça. — Então o que diabos eu vi no dia que
terminamos?

Boa pergunta. Eu suspiro e tenho uma boa ideia de para quem perguntar. Eu
sorrio grande. — Qual é o quarto que Constance usa quando está aqui?

Bryan parece confuso e então seus olhos se arregalam. — Você está louca?

— Só um pouco. — Eu rio e quase aperto meus dedos juntos.


CONTINUA

A luz do amanhecer brilha através das pesadas cortinas que revestem as paredes formando uma fina fenda de branco puro no tapete escuro. Eu fico olhando para ele, perdida em seus pensamentos. Perto de mim, Bryan está dormindo. Eu envolvo meus braços ao redor dele e seu corpo se parece tão forte. É por isso que isto é tão difícil. Não faz nenhum sentido. Para além da dor, eu não posso ver o que está acontecendo com ele. É interno. Seu corpo o está matando segundo a segundo. Eventualmente, ele irá respirar e não haverá outro. Eu não posso suportar a ideia.
Minha vida tem sido moldada por morte. Todo mundo que me importa, todos, exceto Maggie, partem. Eu escorrego para fora da cama, agarrando o meu telefone antes de ir para fundo do corredor. Eu envio uma mensagem de texto para ela, embora eu duvide que ela esteja acordada.
Eu digito: Estou com Bryan. Apenas verificando para ter certeza que está tudo bem.
Para minha surpresa ela envia uma mensagem de volta: Eu estou, mas tenho uma coisa horrível para lhe dizer.
Nada poderia ser pior do que perder Bryan. Eu digito de volta: Eu também.
Volto logo para casa e podemos conversar.
Ela responde: Ok.

 


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Eu enfio meu celular no bolso antes de pegar a camiseta de Bryan e a puxo
sobre minha cabeça. Eu enfio minhas mãos sob as mangas e vagueio pela mansão
até encontrar a cozinha. Sinto o cheiro do café e preciso desesperadamente de uma
xícara. Infelizmente, a besta “a tia” de Bryan está sentada à mesa com outra
mulher. Ambas estão vestidas em robe. Eu pisco conforme o choque lava seus
rostos. Eu não posso imaginar por que ela está aqui tão cedo, não vestida. Quão
estranho é isso?

Dentro de um batimento cardíaco, Constance está fora de seu assento e no
meu rosto. — Como você ousa desfilar na casa da minha irmã usando coisas do
meu sobrinho? Saia agora mesmo, sua puta! — Ela tenta bater no meu rosto, mas
eu agarro seu pulso.

As coisas finalmente clicam no lugar. A forma como as mulheres estavam
olhando uma para a outra, o toque de suas mãos, a forma como os seus olhos
permanecem naquele olhar fixo familiar, o fato de que ela está aqui, quando sua
irmã e cunhado já se foram e a forma como Constance se transforma em um tigre
quando ela me vê - faz sentido. Ela está escondendo um segredo há anos que
poderia arruiná-la para sempre. É por isso que ela suporta as infidelidades do Sr.
Ferro e porque permite que suas mulheres valsem pela sua casa.

Constance é gay - e esta mulher é sua amante. Ela pensou que eu soubesse,
mas eu nunca percebi antes.

Ela puxa sua mão do meu aperto e se prepara para começar a gritar
novamente. Eu a interrompo, cansada. — Eu não me importo com sua vida ou
suas preferências. Eu entendo que seja um tabu para você ser vista com ela. Eu
entendo isso, Constance, eu realmente entendo. Eu não a julgo por isso, então pare
de me julgar. A única coisa de que eu quero vocês é o café. — Eu caminho,
passando por ela.

O queixo de Constance está no chão. Sua namorada, uma mulher pelo menos
dez anos mais nova que ela, fica rígida, olhando-me com medo. Relações do mesmo
sexo podem ser ultramodernas e estarem na moda em Nova York, mas não entre
antigas famílias endinheiradas como esta. Isso a arruinaria. É por isso que ela me
odeia. Ela acha que eu tenho andado por aí esperando para soltar uma bomba em
sua vida.

Quando Constance fala, seu tom é cético: — Você sabe há muito tempo e não
disse nada. Por quê?

— Porque eu não me importo com você. — Eu mantenho minhas costas
para ela enquanto despejo o líquido escuro em uma xícara pesada. É muito cedo. As
pessoas normais não estão acordadas às cinco da manhã. Elas provavelmente
estavam tomando café da manhã antes de se separarem para o dia. Quando me viro

para falar, as duas mulheres estão me olhando mortificadas. — Eu me preocupo
com Bryan. Você não percebeu nada sobre ele que lhe diz respeito?

Seu olhar se estreita. — Não brinque comigo. Eu conheço minha família,
cada um deles.

— Sim, bem, você pode querer falar com ele. — Ela bloqueia seu maxilar,
preparando-se para ordenar que eu saia, mas eu acrescento: — O tempo é uma
coisa engraçada. Todos nós pensamos que temos uma tonelada dele até que seja
tirado de nós, então nos damos conta de que nunca foi o suficiente, para começar.
Use o tempo que você tem, Constance. Ame as pessoas que queira e se certifique de
que eles saibam disso. Chegará o dia em que você lamentará que não o fez e a
chance passou por você.

Ela endurece quando eu falo. — Você está me ameaçando?

Eu rio alto com o ridículo de sua declaração. Ela não tem nenhuma pista. Eu
estava me referindo a mim e Bryan, para a piscina constante de arrependimento
que enche meu estômago. Poderíamos ter estado juntos, mas essa oportunidade
está perdida agora, o tempo que nunca teremos.

— Você está tão errada sobre tudo, lacrada em sua pequena bolha, fora de
contato com o mundo real. Isso não é sobre você, então você acha que está segura,
mas você nunca está, não do tempo - não da morte. Seu sobrinho... — Eu engulo
em seco, mas não quebro o contato visual. — Certifique-se que sua mãe descubra.
Isso é tudo que eu quero.

A suposição de que eu estou fazendo é enorme - aquela que Elizabeth Ferro
se importará se seu filho vive ou morre. Bryan não contou a ninguém sobre sua
doença, exceto eu. Jon pode ver isso, mas os outros não têm ideia. Eu não sei
quanto tempo resta à Bryan, mas não quero que ele o gaste se preocupando ou
brigando. Eu quero estar lá para protegê-lo e, por alertar o Ferro de seu estado, eu
provavelmente só fiz isso mais difícil de acontecer - mas que é a coisa certa a fazer.
Se eu tivesse um segundo extra para gastar com o meu pai... O pensamento se
esconde em minha mente, sol a sol. Quando a noite lava o céu com tons roxos de
tinta e manchas de âmbar cintilante, eu gostaria de ter mais uma oportunidade de
dizer todas as coisas que nunca tive a chance de expressar. Agora, esses
pensamentos estão presos dentro da minha alma, me segurando cativa. Eu nunca

vou ser livre. Eu nunca tive a chance de dizer adeus. Eu estou dando aos Ferro essa
oportunidade e esperando além da esperança de que eles não me joguem para fora
na minha bunda em recompensa.

Empurrando de lado meus pensamentos, eu coloco meu copo vazio para
baixo e saio, deixando Constance e sua amante, boquiabertas, no meu despertar. As
duas mulheres atrás de mim são crianças brincando de casinha. Eu posso ser mais
jovem do que elas em anos, mas minha alma parece velha. É imaturo pensar que a
sua vida seja apenas sobre você. A vida é sobre as pessoas ao seu redor. Como eu
gostaria de nunca crescer, mas desejar é desperdício de tempo e eu me recuso a
desperdiçar mais um segundo.

Capítulo 2

Maggie e eu planejamos, através de mensagens de texto, nos encontrar em
algum lugar que tenha um bagel logo após o amanhecer. Os únicos carros no
estacionamento são da loja. O resto do centro de compras ainda está fechado. Eu
não espero muito tempo, quando ela se junta a mim no final da fila.

— Hey. — Diz Maggie, me envolvendo em um abraço.

Eu a abraço de volta, segurando-a um segundo muito longo. Ela vai fugir
novamente. Eu sei disso. Ela não lida bem com a morte também. Acho que
ninguém faz, mas Maggie viu muito dela. Quando eu a solto, me forço a perdoá-la
com antecedência. Uma alma só pode tomar tanto abuso antes que não possa
evitar, exceto reagir. É como o cão de Pavlov. A campainha da morte soa e Maggie
corre.

Eu enfio um pedaço de cabelo atrás da minha orelha e encosto contra a
vitrine de vidro, antes de enfiar as mãos nos bolsos. — Hey. Como tem passado?

A fila faz a volta para fora da porta e para baixo da frente do centro
comercial com pessoas que já pararam para um bagel e café em seu caminho para
o trabalho. A fila se aproxima alguns centímetros mais próxima da comida e nos
movemos com ela, antes de retornar nossas posições contra o vidro. Meu estômago
ronca com o cheiro de fermento e eu mal posso esperar para provar o pão macio,
quente e mordê-lo, saboreando o cream cheese espesso. Eu aprendi a não dar por
certo pequenas coisas. Bagels me ajudam a encontrar meu lugar feliz.

Eu pretendo pegar um para Bryan também - sementes de papoula com
manteiga, exatamente como ele pedia na escola. Viemos aqui tantas vezes. Eu fico
olhando para fora, no estacionamento, minha mente vagando em uma memória de
Bryan me levantando em um carrinho de compras e empurrando-me como um
louco pelo mercado, rindo o tempo todo.

Outro cliente perguntou: — Que corredor você a encontrou? Eu quero uma!

Bryan apenas sorriu, os olhos deslizando sobre mim no carrinho. —
Desculpe, cara. Esta era a única e é toda minha. Eu nunca a deixarei ir. — A

memória ecoa fortemente em meus ouvidos. Parece que poderia ter acontecido
ontem.

A voz de Maggie me encaixa de volta ao presente. Ela encolhe os ombros e
puxa a alça da bolsa para cima de seu ombro. — Eu estou bem. Acho que encontrei
um apartamento para nós, mas eu ouvi que Neil comprou para vocês uma casa. —
Ela faz uma cara de, bem, tenta não fazer uma cara, que faz sua expressão de dor
ainda pior. A fila se move de novo e, com um passo à frente, ela deixa escapar: —
Você realmente vai se casar com ele? Achei que você amasse Bryan? Parecia que
estava totalmente encantada com o gatinho do sexo. Bem, você é a gatinha.
Rapazes são o quê, tigres? Tigre sexual soa mal. — Ela ri, mas sua risada leve
desaparece quando ela vê o meu sorriso falso. — O que há de errado, Hallie?

Eu tento manter minha voz firme, mas treme sem minha permissão. Não há
nenhum ponto em protelar por mais tempo, e além disso, eu preciso dela. Mesmo
que ela vá correr, eu tenho que falar com alguém enquanto eu tiver a chance. —
Maggie, ele está morrendo.

— Mas, ele não pode estar! Ele... — Maggie deixa escapar muitas palavras de
uma só vez e quase começa a chorar. Ela é a pessoa mais empática que eu já
conheci. A minha dor está representada em seu rosto quando ela para, aperta
minha mão e me puxa para um abraço de urso que poderia explodir minha cabeça.
— Eu sinto muito, Hallie. — Ela enxuga as lágrimas com as costas da mão e olha
para o meu ombro, não querendo perguntar. Cada palavra é como se enfiasse uma
faca no meu lado. — O que há de errado com ele?

Eu a atualizo com o que sei que aconteceu até agora. Minha voz continua
difícil quando eu chego ao fim da história. — Nós terminamos por causa de sua tia
Constance. Ela achou que eu iria arruiná-la com informações que eu não deveria
saber, então ela descobriu uma maneira de nos separar. — A raiva eu não tinha
notado até agora borbulha sob a superfície da minha mente. Eu não vou ficar com
raiva, eu não posso ficar. Eu me recuso a perder meu tempo com ela ou o que ela
fez. — Maggie, eu não poderia me importar menos com ela, mas eu quis Bryan
todo esse tempo e não o tive por causa dela.

— E, no entanto, você não soa como louca. Você parece mais
assustadoramente tranquila sobre isso. — Uma sobrancelha vermelha levanta
levemente em sua testa sardenta.

Eu olho para ela conforme nos movemos com a fila para dentro da pequena
loja, e nos aproximamos da bandeja do pão assado. Maggie pede em primeiro lugar,
então eu peço e pago por nossos itens. Pegamos o nosso café da manhã, cortamos
de volta através da fila, para fora da porta, em direção ao estacionamento. Fico ali
na frente dela querendo falar, mas incapaz de encontrar palavras, em seguida,
entrego para ela o pão e suco de laranja.

Minha boca se abre duas vezes, mas as palavras não saem. Eu finalmente
olho nos olhos dela e explico. — Eu não estou louca. Bem, eu estou - mas não quero
estar. É um desperdício de tempo e eu não tenho tempo de sobra. Eu estou
pensando em ficar com ele, Maggie. Seja qual for o tempo que lhe resta, eu quero
estar lá.

— Eu entendo, e eu estou aqui para você. — Ela pega a minha mão, mas eu
não posso olhar para ela.

— Não faça promessas que não pode cumprir, Maggie.

— Eu estou as mantendo desta vez.

— Eu prefiro saber agora que você vai desaparecer. Eu posso lidar com isso
sozinha. Eu estou bem, realmente. Eu sei o que isso faz para você e... — Eu arranjo
desculpas para ela até que ela me corta.

— Não. A última vez eu não estava lá para você, porque Victor era um idiota.
Eu não tive escolha. Isso fazia parte da maneira como ele estava me controlando,
mas ele já se foi, Hallie. Eu não vou fugir. Eu estarei lá para você. Você não terá que
lidar com isso sozinha. Eu prometo. Podemos passar por qualquer coisa, você e
eu. Eu não vou deixar você Hallie. Nós somos irmãs. Eu vou estar lá neste
momento. — Ela sorri sem jeito e olha para o chão sob suas botas.

Ela muda o seu peso para o outro pé e olha para mim debaixo de muito
rímel. Sua boca fica aberta por um segundo e seus lábios enrolam, como se ela não
quisesse dizer o que está prestes a cair de sua boca. — Há algo que você precisa
saber, e eu não sei se você vai gostar ou não com tudo o que aconteceu, mas precisa

saber. Você precisa. E eu odeio dizer isso agora, mas talvez seja melhor assim. Eu
esperaria se eu achasse que ajudaria.

— Maggie, diga-me. O que é?

Ela puxa um monte de ar e cospe para fora. — Ontem à noite, enquanto você
não estava em casa, entrei e vi o que parecia ser Neil e Cecily fazendo coisas que
estava muito além da zona do amigo. — Seus lábios são esmagados em conjunto,
enquanto ela tenta permanecer inexpressiva. Eu posso dizer que ela quer castrar
Neil conforme ela luta para manter seus lábios em uma linha reta.

Eu pisco, e isso é tudo. A raiva não vomita da minha boca e minhas mãos
não estão cerradas em punhos. Eu não me sinto quebrada ou até mesmo chocada.

Eu não sinto nada.

Se eu amasse Neil, eu estaria irada, mas eu não estou. Concordo com a
cabeça.

O rosto preocupado de Maggie franze enquanto ela empurra seu brilhante
cabelo atrás da orelha. — Eu não sei se eu deveria dizer. Eu o odeio, mas pensei
que você gostava do cara. — Ela me olha com tal preocupação que eu não posso
deixar de sorrir para ela.

Meu olhar abaixa para o chão e eu tomo uma respiração profunda, antes de
dar-lhe um abraço de lado. Quando eu a deixo ir, murmuro: — Eu estou feliz que
você me disse. Desgraça pouca é bobagem, certo? — Eu ofereço um sorriso de
novo, mas é falso neste momento. Há muitas lembranças correndo pela minha
mente, e o movimento faz minha pele parecer como se fosse rachar.

— Yeah. — Ela ri. — Pelo menos não temos que nos preocupar com Victor.
Devo-lhe muito por isso. Os jornais disseram que um dos seus homens o matou no
meu apartamento. Se você não tivesse me arrastado para fora, naquela noite eu
teria levado um tiro, também.

Eu sou insensível ao que eu fiz, pelo menos no momento. Às vezes, quando
eu não consigo dormir, o pensamento de que fiz desliza em minha mente, não
desejado. Victor é um pesadelo que não vai morrer, mas não posso perder o meu
tempo.

— Somos eu e você, agora. — Eu digo a ela com firmeza. Ela sorri
tristemente para mim e assente. — Maggie, você pode ir a casa de Neil e pegar
minhas coisas? Há apenas algumas caixas. Eu nunca desembalei, não
realmente. Neil queria que eu fizesse, mas eu empurrei a maioria delas na parte de
trás de um armário. — Eu retiro minha bolsa e escrevo-lhe um cheque. — Isso
deve cobrir o aluguel do nosso novo apartamento e tudo o mais que
precisamos. Deixe-o bonito, ok? Vai ser bom ter um novo lugar bonito para ir para
casa quando isso acabar.

Maggie pega o cheque e olha para todos os zeros, antes de olhar para mim.
Uma mecha de cabelo vermelho cai na frente de seus olhos. — Hallie, eu não posso
aceitar isso.

— Sim, você pode. Vai fazê-lo. Precisamos de um lugar para viver. Eu
gostaria de ter mais a oferecer, mas essa discussão é para outro dia. Entretanto,
isso vai nos colocar em uma boa vizinhança e nós estaremos confortáveis.

— Você vai processar Neil e Cecily? Eles praticamente gastaram todo o seu
dinheiro.

Concordo com a cabeça. — Provavelmente, mas não agora. Eu preciso fazer
um telefonema. — Maggie balança a cabeça e eu disco para o meu banco enquanto
seguimos para o meu carro. Eu explico a um funcionário do banco muito prestativo
que o nome de Neil deve ser retirado da minha conta imediatamente e todas as
transações em andamento com a sua assinatura, devem ser transferidas para a sua
conta. Verificação conjunta foi ideia dele. Eu esfrego minhas mãos sobre meu rosto
e sento com força no capô do meu carro. A coisa está suja, mas eu não me
importo. O funcionário do banco me pede para ir em breve para assinar os papéis,
e fazer as alterações em minha conta oficial. Quando eu insisto que eles precisam
ser assinados agora, ela diz para vir quando for mais conveniente.

Eu desligo e olho fixamente para as portas fechadas da mercearia. — Eu não
posso fazer isso de novo, não tão cedo. — A perda do meu pai ainda paira pesado
em meu coração, ameaçando me puxar para baixo. Minha dor não diminuiu e a
fama não ajudou. A única coisa que me faz sentir melhor é Bryan e agora vou
perdê-lo também.

Eu não posso respirar. Inclinando minha cabeça para trás com os olhos
cheios de lágrimas, eu olho para o céu e as nuvens brancas onduladas. O céu estava
aqui muito antes de eu nascer e vai estar aqui muito tempo depois. Faz-me sentir
pequena, como se a minha vida não importasse em tudo.

Maggie me bate com sua bota. — Bagel?

— Eu não estou com fome. — Eu estava com fome apenas um momento
atrás, mas agora não sinto nada parecido com isso.

— Merda resistente. Eu estou cuidando de você, o que significa que você
come isso ou vou enfiar na sua cara. — Ela está sorrindo para mim. — Eu vou fazer
isso.

Eu roubo a minha comida de sua mão. — Eu sei que você vai. —
Desempacotando a coisa, dou uma mordida e percebo que eu estou morrendo de
fome.

— A vida não é sobre a morte, você sabe. — Diz Maggie de repente. Ela está
sentada ao meu lado no capô, olhando para uma nuvem, pegando arrancando
pedaços de seu bagel, e os jogando em sua boca um de cada vez.

— Então o que se trata? — Eu pensei que eu sabia em um ponto, mas não
tenho ideia, não mais. A vida parece uma piada cruel.

— É sobre as relações que você faz, a bondade que oferece e você mostrar
compaixão. É a sua chance de mostrar ao mundo quem você é e o que faz você.
Hallie, você é a pessoa mais forte que conheço. Em vez de sentar aqui chorando
comigo, você deve estar com Bryan. Aqui. — Ela me dá o bagel extra. — Cheque de
vez em quando e quando você precisar de mim, eu vou. Nesse meio tempo, vou
deixar nossa casa pronta, eu prometo. Nada me manterá longe desta vez. Quando
você precisar de mim, eu estarei lá - se estiver no hospital, a funerária ou apenas
quando você precisar de uma pausa.

Eu sinto uma vibe nervosa vindo dela. — Você não é fraca, Maggie. Somos
sobreviventes, eu e você. — Quando eu digo isso, quero dizer para confortá-la, mas
uma bola dá um nó na minha garganta.

Ela pega a minha mão e se inclina, descansando a cabeça no meu ombro. —
Nós vamos sobreviver a isto também “juntas”.

Capítulo 3

Eu não quero pensar em Neil, então eu volto para a mansão Ferro e me
esgueiro para dentro. Ainda é cedo. As únicas pessoas que vejo são os empregados.
Eles me veem e não dizem nada. Deve ser estranho viver como uma estátua dia
após dia, sem ninguém, mas outros funcionários, na verdade, reconhecem que você
é humano. Eu não posso evitar isso. Eu sorrio para o mordomo que está sempre
ocupado, correndo para algum lugar. Ele inclina a cabeça em saudação, mas não
abranda.

Depois que ele passa, se vira para trás. — Você precisa de alguma coisa, Sra.
Raymond?

Eu sorrio e balanço a cabeça. — Não, é apenas bom vê-lo. — Eu olho para
ele. Este homem tem sido constante na vida de Bryan por anos. Eu me pergunto se
ele sabe que Bryan tem um segredo, porque nada lhe escapa, pelo menos não
quando éramos mais jovens. Eu me lembro de receber olhares severos dele quando
éramos muito jovens e fazíamos coisas muito loucas, enquanto a mãe de Bryan não
estava por perto. Mas o cara nunca nos entregou.

— Da mesma forma, Sra. Raymond. Diga ao Sr. Ferro que se ele precisar de
ajuda pode pedir qualquer coisa para mim. — Seus olhos perfuraram os meus por
um momento antes que ele olhe para o lado.

Ele sabe.

Concordo com a cabeça e vou para o modo de super mocinha. Antes que eu
possa me parar, lanço o meu corpo para ele e meus braços em volta do velho,
abraçando-o em um abraço de urso em estilo desleixado. Ele endurece com choque
e, em seguida, dá um tapinha minhas costas. — As pessoas vão dizer-lhe que ele
vai ficar bem. Ao longo dos próximos meses, você vai ouvir isso de novo e de novo,
mas a perda não é assim que funciona. As coisas não vão voltar ao normal, mas a
vida continua. Converse com ele sobre isso, enquanto você tem a chance.

Meu queixo cai. — O quê? Isso seria tão mau. Eu não posso...

— Isso não é o problema meu, mas se você fosse minha filha, era o que eu
diria a você. Tempos sombrios estão chegando, se este homem é o seu raio de luz,
mergulhe no sol tanto quanto puder e quando puder.

Acho que entendo o que ele quer dizer, então balanço minha cabeça para
cima e para baixo lentamente. Falar sobre a morte com alguém que está morrendo
é o que ele quer dizer. Vamos acabar discutindo todas as coisas que queríamos
fazer, mas nunca teremos a chance. Minha garganta aperta com o pensamento e os
meus olhos lacrimejam. — Obrigada.

— Qualquer hora, Sra. Raymond. — Ele inclina a cabeça para mim como se
eu fosse uma rainha e se vira para correr para longe.

Eu não gosto da sua sugestão, mas parte dela me chama. E se a gente falar
sobre isso? Eu balanço minha cabeça e aperto as mãos. Não! Eu não quero! Isso não
é justo e não posso simplesmente aceitar que vou perdê-lo - não depois que
finalmente nos encontramos novamente. Não depois de todo esse tempo.

No momento que estou dentro da mansão de Bryan, paro na porta. Minha
intenção era ir à ponta dos pés para o quarto de Bryan, mas sou presa pelo Ferro
que eu mais temo - Sean. Ele está encostado na parede, os braços cruzados sobre o
peito. Ele se parece com sua mãe, toda acusação não dita claramente visível em
seus olhos. Suas roupas escuras - casaco de couro, calça jeans, camisa preta e botas
shitkicker. — Você e eu temos algo a discutir.

Minha intenção é passar por ele. — Não tenho nada para lhe dizer.

Sean libera seus braços e caminha em minha frente. Ele é silencioso e letal,
com vibes malucas irradiando dele como micro ondas. Ding! — Bem, eu tenho algo
que você precisa ouvir - sobre um homem chamado Victor. — Minha respiração
para na minha garganta enquanto minhas mãos vão para o meu coração. Sean me
puxa pela curva do meu cotovelo para longe da porta de Bryan. — Sim, eu achei
que você soubesse alguma coisa sobre isso. Os jornais estão dizendo que um dos
seus homens o matou, mas os policiais estão bisbilhotando, me fazendo perguntas
sobre um traficante de merda. Eu não gosto de policiais e não gosto ainda menos
de perguntas. Então, me diga, como é que eles rastrearam até aqui? O que você
deixou para trás?

Eu rio, mas ele ignora. — Você acha que eu o matei? — Estou pressionando
meus dedos em meu peito, piscando, com meu queixo caído. Embora seja um
excelente desempenho, algo que me afasta. Sean pode ver isso.

Ele dá um passo no meu espaço de uma maneira ameaçadora. Sua voz
ressoa: — Eu sei que você o matou.

— Não, você não sabe. — Eu agarro, tentando me empurrar por ele
novamente, mas Sean não me deixa passar. Ele bloqueia o lugar com seu corpo
maciço.

Inclinando-se perto do meu rosto, ele sussurra baixinho: — Se eu sei, a
minha mãe sabe e você não quer pegadas sujas que levam direto para a porta da
frente. Você precisa se separar de Bryan e sair daqui antes que descubram isso.

Eu balanço minha cabeça e mordo meu lábio inferior. Eu provavelmente
pareci como um moleque teimoso, mas não vou deixar Bryan.

Os olhos de Sean travam com os meus e sua voz cai para um sussurro letal.
— Eu posso fazê-la desaparecer.

Algo desperta dentro de mim, essa mesma característica de proteção que
me fez cortar a garganta de Victor, em primeiro lugar. Minha coluna se endireita e
eu fico na frente do seu rosto. — Da mesma forma.

Depois de um momento de reflexão, o homem na verdade ri. Sean esfrega o
queixo com a mão. Eu não posso dizer se ele está se divertindo ou pensa que sou
louca. Ele finalmente pergunta: — Por que você fez isso?

— Por que você acha? O homem era um estuprador assassino. Vamos
apenas dizer que eu estava no lugar errado na hora errada. Acidentes acontecem e
eu não ia deixar que qualquer outra coisa acontecesse com a minha amiga. Ela é a
única família que me resta. — Eu sugo o ar, tentando inchar, então não sou tão
pequena, mas em comparação com Sean Ferro, sou um palito.

Seus olhos azuis mudam para o lado antes que ele passe as mãos pelo
cabelo. — Então, você protegeu sua família, deixe-me proteger a minha. Vá
embora. Não puxe Bryan para isso.

— Para quê? Os mortos não puxam qualquer um para qualquer coisa.

— Victor Campone está vivo.

Capítulo 4

Um pequeno grito escapa dos meus lábios e eu quase caio no chão. Meus
joelhos cedem, mas antes de eu ir para baixo, Sean agarra meus braços. Ele me
mantém de pé e continua suavemente. — Os policiais suspeitam que ele esteja
vivo. No momento em que chegaram lá, o corpo tinha desaparecido. Devido à
quantidade de sangue que encontraram, sua suposição natural era que um de seus
homens o matou e jogou o corpo. Os policiais ainda estavam indo por esse caminho
até recentemente, quando pegaram Campone bisbilhotando meu hotel. Então, a
menos que viram um fantasma, o homem ainda está vivo.

— Ele não pode estar. — Eu balanço minha cabeça e meus olhos vidrados
quando me lembro daquela noite. A quantidade de sangue, a forma que sua cabeça
pendia para trás e a ferida era tão profunda. — Não é possível.

Sean suspira e olha para mim com uma expressão que está perdida em
algum lugar entre pena e admiração. Inclinando-se perto, ele diz: — O corte foi
muito superficial. É como apontar para o coração e não acertar. O cara foi
subestimado, os que estavam dispostos e aceitaram fazer isso uma vez, mas ele não
vai ser subestimado novamente. E eu aposto qualquer coisa que ele vai
permanecer morto por um tempo, deixar que os outros façam o trabalho sujo, até
que lhe convenha encenar uma ressurreição.

— Como você sabe tudo isso?

Ele engole em seco, seu olhar se afastando e depois de volta para os meus
olhos. — Periodicamente nossos empreendimentos comerciais se sobrepõem. Eu
ouço coisas. E posso dizer-lhe que se eu ouvi, minha mãe ouviu e você com certeza
não quer irritá-la. Se Campone acabar aqui, você está morta. Se ele não te matar,
minha mãe vai.

Ele agarra meus ombros e me pede: — Hallie, pega a sua amiga e dá o fora
daqui antes que Campone a encontre. — Sean me libera. — Este foi um aviso de
cortesia. Se você ficar por perto e Bryan for morto por sua causa, bem, é melhor

esperar que Victor a encontre antes de mim. — Seus olhos firmam em mim uma
vez com as suas intenções claras.

Eu fico lá por um segundo mal respirando. Nossos olhos estão bloqueados,
nós dois estamos desafiando, mas será que ele não sabe, Sean não sabe sobre seu
primo? Talvez eu devesse pegar Bryan e correr, mas não posso. Não enquanto ele
está doente. Ele vai precisar de ajuda e cuidados paliativos. Eu não posso dar-lhe
essas coisas se eu corro. Minha voz racha quando eu falo. — Eu não posso.

— Não é opcional.

— Não, você não entende. Eu não posso ir embora. Eu não posso correr
mais de Victor e não vou. Eu vou cuidar disso. Eu vou terminar o que comecei. —
Eu não tenho ideia de como, mas vou. Se eu não fizer isso, ele virá atrás de mim e
Maggie. O homem é cruel, ele nunca vai parar de nos caçar. Eu sei disso com
certeza.

Sean levanta a sobrancelha escura. — Você está louca? Você nunca vai ter
outra chance de matá-lo. Ele pensou que era insignificante antes, mas agora ele a
conhece melhor.

Eu me empurro passando por ele. — Eu vou cuidar disso. Ele não virá aqui,
e desta vez, quando eu matá-lo, ele vai morrer.

— Hallie. — Sean quase implora meu nome, quase, mas eu não paro.

Eu entro no quarto de Bryan e fecho a porta. Eu fico lá por um segundo e
derrubo minha cabeça para trás, respirando com dificuldade. Eu nunca soquei uma
pessoa antes. Agora eu simplesmente confessei ao mais assustador de todos os
Ferro que vou dar um fim no senhor das drogas mais notório da cidade. Super foda.

Eu ainda estou segurando o saco com café da manhã de Bryan. Quando
aperto o meu punho, o jornal faz um ruído de crepitação e ele se senta. Um belo
sorriso ilumina seu rosto pálido. — Hey, Menina Bonita. Para onde você correu?

— Para pegar o café da manhã e conseguir alguma sujeira em sua tia. Foi
uma manhã interessante. — Eu sorrio, preocupada com ele e entrego o saco.

— Sujeira na minha tia?

Balanço a cabeça e me sento ao lado dele na cama. — Sim, eu descobri
porque ela me odeia. Ela pensa que eu sei de algo todos esses anos, mas eu não
descobri o que eu sabia até esta manhã.

Bryan desembrulha o seu bagel enquanto estou falando e morde. Seus
firmes olhos verdes encontram os meus. Com a boca cheia, ele me pergunta. — E
então?

Eu penso em manter seu segredo, mas não sinto nenhuma lealdade para
com ela. Além disso, Bryan não vai contar a ninguém. — Ela é gay. Eu a peguei com
sua amante na cozinha de sua mãe esta manhã.

Seu queixo cai e o pedaço de bagel rola para fora da boca, indo para a
colcha. — De jeito nenhum.

Concordo com a cabeça e olho para o pedaço de comida. — Um choque e
tanto, hein?

— Claro que sim. Ela é tão recatada e adequada. — Seu nariz franze com o
pensamento da sua tia ser sexualmente algo.

— E, aparentemente, ela gosta de garotas.

Bryan pisca e sorri. — Bem, isso explica um monte de coisas.

— Sim, como por que ela ainda é casada e permite que prostitutas meio
vestidas andem pela sua casa.

Bryan sorri. — Claro, todo mundo gosta de um pouco de colírio para os
olhos.

Eu bato em seu ombro. — Bryan!

— Vamos lá, pense nisso. Houve uma garota naquela casa desde que Jon era
um bebê. É a família mais estranha que eu já vi. Minha mãe não teria tolerado. Eu
sempre me perguntei por que a tia Constance tolerava.

— Seu pai não tem uma puta coabitante?

Ele inclina a cabeça para mim. — Meu pai não tem tempo para isso. Ele está
muito ocupado ganhando dinheiro para ser incomodado com relacionamentos ou
senhoras de compra. Mas, ainda assim, a tia Connie gosta das garotas. Quem teria

pensado? — Ele balança a cabeça. — Então o que diabos eu vi no dia que
terminamos?

Boa pergunta. Eu suspiro e tenho uma boa ideia de para quem perguntar. Eu
sorrio grande. — Qual é o quarto que Constance usa quando está aqui?

Bryan parece confuso e então seus olhos se arregalam. — Você está louca?

— Só um pouco. — Eu rio e quase aperto meus dedos juntos.


CONTINUA

A luz do amanhecer brilha através das pesadas cortinas que revestem as paredes formando uma fina fenda de branco puro no tapete escuro. Eu fico olhando para ele, perdida em seus pensamentos. Perto de mim, Bryan está dormindo. Eu envolvo meus braços ao redor dele e seu corpo se parece tão forte. É por isso que isto é tão difícil. Não faz nenhum sentido. Para além da dor, eu não posso ver o que está acontecendo com ele. É interno. Seu corpo o está matando segundo a segundo. Eventualmente, ele irá respirar e não haverá outro. Eu não posso suportar a ideia.
Minha vida tem sido moldada por morte. Todo mundo que me importa, todos, exceto Maggie, partem. Eu escorrego para fora da cama, agarrando o meu telefone antes de ir para fundo do corredor. Eu envio uma mensagem de texto para ela, embora eu duvide que ela esteja acordada.
Eu digito: Estou com Bryan. Apenas verificando para ter certeza que está tudo bem.
Para minha surpresa ela envia uma mensagem de volta: Eu estou, mas tenho uma coisa horrível para lhe dizer.
Nada poderia ser pior do que perder Bryan. Eu digito de volta: Eu também.
Volto logo para casa e podemos conversar.
Ela responde: Ok.

 


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Eu enfio meu celular no bolso antes de pegar a camiseta de Bryan e a puxo
sobre minha cabeça. Eu enfio minhas mãos sob as mangas e vagueio pela mansão
até encontrar a cozinha. Sinto o cheiro do café e preciso desesperadamente de uma
xícara. Infelizmente, a besta “a tia” de Bryan está sentada à mesa com outra
mulher. Ambas estão vestidas em robe. Eu pisco conforme o choque lava seus
rostos. Eu não posso imaginar por que ela está aqui tão cedo, não vestida. Quão
estranho é isso?

Dentro de um batimento cardíaco, Constance está fora de seu assento e no
meu rosto. — Como você ousa desfilar na casa da minha irmã usando coisas do
meu sobrinho? Saia agora mesmo, sua puta! — Ela tenta bater no meu rosto, mas
eu agarro seu pulso.

As coisas finalmente clicam no lugar. A forma como as mulheres estavam
olhando uma para a outra, o toque de suas mãos, a forma como os seus olhos
permanecem naquele olhar fixo familiar, o fato de que ela está aqui, quando sua
irmã e cunhado já se foram e a forma como Constance se transforma em um tigre
quando ela me vê - faz sentido. Ela está escondendo um segredo há anos que
poderia arruiná-la para sempre. É por isso que ela suporta as infidelidades do Sr.
Ferro e porque permite que suas mulheres valsem pela sua casa.

Constance é gay - e esta mulher é sua amante. Ela pensou que eu soubesse,
mas eu nunca percebi antes.

Ela puxa sua mão do meu aperto e se prepara para começar a gritar
novamente. Eu a interrompo, cansada. — Eu não me importo com sua vida ou
suas preferências. Eu entendo que seja um tabu para você ser vista com ela. Eu
entendo isso, Constance, eu realmente entendo. Eu não a julgo por isso, então pare
de me julgar. A única coisa de que eu quero vocês é o café. — Eu caminho,
passando por ela.

O queixo de Constance está no chão. Sua namorada, uma mulher pelo menos
dez anos mais nova que ela, fica rígida, olhando-me com medo. Relações do mesmo
sexo podem ser ultramodernas e estarem na moda em Nova York, mas não entre
antigas famílias endinheiradas como esta. Isso a arruinaria. É por isso que ela me
odeia. Ela acha que eu tenho andado por aí esperando para soltar uma bomba em
sua vida.

Quando Constance fala, seu tom é cético: — Você sabe há muito tempo e não
disse nada. Por quê?

— Porque eu não me importo com você. — Eu mantenho minhas costas
para ela enquanto despejo o líquido escuro em uma xícara pesada. É muito cedo. As
pessoas normais não estão acordadas às cinco da manhã. Elas provavelmente
estavam tomando café da manhã antes de se separarem para o dia. Quando me viro

para falar, as duas mulheres estão me olhando mortificadas. — Eu me preocupo
com Bryan. Você não percebeu nada sobre ele que lhe diz respeito?

Seu olhar se estreita. — Não brinque comigo. Eu conheço minha família,
cada um deles.

— Sim, bem, você pode querer falar com ele. — Ela bloqueia seu maxilar,
preparando-se para ordenar que eu saia, mas eu acrescento: — O tempo é uma
coisa engraçada. Todos nós pensamos que temos uma tonelada dele até que seja
tirado de nós, então nos damos conta de que nunca foi o suficiente, para começar.
Use o tempo que você tem, Constance. Ame as pessoas que queira e se certifique de
que eles saibam disso. Chegará o dia em que você lamentará que não o fez e a
chance passou por você.

Ela endurece quando eu falo. — Você está me ameaçando?

Eu rio alto com o ridículo de sua declaração. Ela não tem nenhuma pista. Eu
estava me referindo a mim e Bryan, para a piscina constante de arrependimento
que enche meu estômago. Poderíamos ter estado juntos, mas essa oportunidade
está perdida agora, o tempo que nunca teremos.

— Você está tão errada sobre tudo, lacrada em sua pequena bolha, fora de
contato com o mundo real. Isso não é sobre você, então você acha que está segura,
mas você nunca está, não do tempo - não da morte. Seu sobrinho... — Eu engulo
em seco, mas não quebro o contato visual. — Certifique-se que sua mãe descubra.
Isso é tudo que eu quero.

A suposição de que eu estou fazendo é enorme - aquela que Elizabeth Ferro
se importará se seu filho vive ou morre. Bryan não contou a ninguém sobre sua
doença, exceto eu. Jon pode ver isso, mas os outros não têm ideia. Eu não sei
quanto tempo resta à Bryan, mas não quero que ele o gaste se preocupando ou
brigando. Eu quero estar lá para protegê-lo e, por alertar o Ferro de seu estado, eu
provavelmente só fiz isso mais difícil de acontecer - mas que é a coisa certa a fazer.
Se eu tivesse um segundo extra para gastar com o meu pai... O pensamento se
esconde em minha mente, sol a sol. Quando a noite lava o céu com tons roxos de
tinta e manchas de âmbar cintilante, eu gostaria de ter mais uma oportunidade de
dizer todas as coisas que nunca tive a chance de expressar. Agora, esses
pensamentos estão presos dentro da minha alma, me segurando cativa. Eu nunca

vou ser livre. Eu nunca tive a chance de dizer adeus. Eu estou dando aos Ferro essa
oportunidade e esperando além da esperança de que eles não me joguem para fora
na minha bunda em recompensa.

Empurrando de lado meus pensamentos, eu coloco meu copo vazio para
baixo e saio, deixando Constance e sua amante, boquiabertas, no meu despertar. As
duas mulheres atrás de mim são crianças brincando de casinha. Eu posso ser mais
jovem do que elas em anos, mas minha alma parece velha. É imaturo pensar que a
sua vida seja apenas sobre você. A vida é sobre as pessoas ao seu redor. Como eu
gostaria de nunca crescer, mas desejar é desperdício de tempo e eu me recuso a
desperdiçar mais um segundo.

Capítulo 2

Maggie e eu planejamos, através de mensagens de texto, nos encontrar em
algum lugar que tenha um bagel logo após o amanhecer. Os únicos carros no
estacionamento são da loja. O resto do centro de compras ainda está fechado. Eu
não espero muito tempo, quando ela se junta a mim no final da fila.

— Hey. — Diz Maggie, me envolvendo em um abraço.

Eu a abraço de volta, segurando-a um segundo muito longo. Ela vai fugir
novamente. Eu sei disso. Ela não lida bem com a morte também. Acho que
ninguém faz, mas Maggie viu muito dela. Quando eu a solto, me forço a perdoá-la
com antecedência. Uma alma só pode tomar tanto abuso antes que não possa
evitar, exceto reagir. É como o cão de Pavlov. A campainha da morte soa e Maggie
corre.

Eu enfio um pedaço de cabelo atrás da minha orelha e encosto contra a
vitrine de vidro, antes de enfiar as mãos nos bolsos. — Hey. Como tem passado?

A fila faz a volta para fora da porta e para baixo da frente do centro
comercial com pessoas que já pararam para um bagel e café em seu caminho para
o trabalho. A fila se aproxima alguns centímetros mais próxima da comida e nos
movemos com ela, antes de retornar nossas posições contra o vidro. Meu estômago
ronca com o cheiro de fermento e eu mal posso esperar para provar o pão macio,
quente e mordê-lo, saboreando o cream cheese espesso. Eu aprendi a não dar por
certo pequenas coisas. Bagels me ajudam a encontrar meu lugar feliz.

Eu pretendo pegar um para Bryan também - sementes de papoula com
manteiga, exatamente como ele pedia na escola. Viemos aqui tantas vezes. Eu fico
olhando para fora, no estacionamento, minha mente vagando em uma memória de
Bryan me levantando em um carrinho de compras e empurrando-me como um
louco pelo mercado, rindo o tempo todo.

Outro cliente perguntou: — Que corredor você a encontrou? Eu quero uma!

Bryan apenas sorriu, os olhos deslizando sobre mim no carrinho. —
Desculpe, cara. Esta era a única e é toda minha. Eu nunca a deixarei ir. — A

memória ecoa fortemente em meus ouvidos. Parece que poderia ter acontecido
ontem.

A voz de Maggie me encaixa de volta ao presente. Ela encolhe os ombros e
puxa a alça da bolsa para cima de seu ombro. — Eu estou bem. Acho que encontrei
um apartamento para nós, mas eu ouvi que Neil comprou para vocês uma casa. —
Ela faz uma cara de, bem, tenta não fazer uma cara, que faz sua expressão de dor
ainda pior. A fila se move de novo e, com um passo à frente, ela deixa escapar: —
Você realmente vai se casar com ele? Achei que você amasse Bryan? Parecia que
estava totalmente encantada com o gatinho do sexo. Bem, você é a gatinha.
Rapazes são o quê, tigres? Tigre sexual soa mal. — Ela ri, mas sua risada leve
desaparece quando ela vê o meu sorriso falso. — O que há de errado, Hallie?

Eu tento manter minha voz firme, mas treme sem minha permissão. Não há
nenhum ponto em protelar por mais tempo, e além disso, eu preciso dela. Mesmo
que ela vá correr, eu tenho que falar com alguém enquanto eu tiver a chance. —
Maggie, ele está morrendo.

— Mas, ele não pode estar! Ele... — Maggie deixa escapar muitas palavras de
uma só vez e quase começa a chorar. Ela é a pessoa mais empática que eu já
conheci. A minha dor está representada em seu rosto quando ela para, aperta
minha mão e me puxa para um abraço de urso que poderia explodir minha cabeça.
— Eu sinto muito, Hallie. — Ela enxuga as lágrimas com as costas da mão e olha
para o meu ombro, não querendo perguntar. Cada palavra é como se enfiasse uma
faca no meu lado. — O que há de errado com ele?

Eu a atualizo com o que sei que aconteceu até agora. Minha voz continua
difícil quando eu chego ao fim da história. — Nós terminamos por causa de sua tia
Constance. Ela achou que eu iria arruiná-la com informações que eu não deveria
saber, então ela descobriu uma maneira de nos separar. — A raiva eu não tinha
notado até agora borbulha sob a superfície da minha mente. Eu não vou ficar com
raiva, eu não posso ficar. Eu me recuso a perder meu tempo com ela ou o que ela
fez. — Maggie, eu não poderia me importar menos com ela, mas eu quis Bryan
todo esse tempo e não o tive por causa dela.

— E, no entanto, você não soa como louca. Você parece mais
assustadoramente tranquila sobre isso. — Uma sobrancelha vermelha levanta
levemente em sua testa sardenta.

Eu olho para ela conforme nos movemos com a fila para dentro da pequena
loja, e nos aproximamos da bandeja do pão assado. Maggie pede em primeiro lugar,
então eu peço e pago por nossos itens. Pegamos o nosso café da manhã, cortamos
de volta através da fila, para fora da porta, em direção ao estacionamento. Fico ali
na frente dela querendo falar, mas incapaz de encontrar palavras, em seguida,
entrego para ela o pão e suco de laranja.

Minha boca se abre duas vezes, mas as palavras não saem. Eu finalmente
olho nos olhos dela e explico. — Eu não estou louca. Bem, eu estou - mas não quero
estar. É um desperdício de tempo e eu não tenho tempo de sobra. Eu estou
pensando em ficar com ele, Maggie. Seja qual for o tempo que lhe resta, eu quero
estar lá.

— Eu entendo, e eu estou aqui para você. — Ela pega a minha mão, mas eu
não posso olhar para ela.

— Não faça promessas que não pode cumprir, Maggie.

— Eu estou as mantendo desta vez.

— Eu prefiro saber agora que você vai desaparecer. Eu posso lidar com isso
sozinha. Eu estou bem, realmente. Eu sei o que isso faz para você e... — Eu arranjo
desculpas para ela até que ela me corta.

— Não. A última vez eu não estava lá para você, porque Victor era um idiota.
Eu não tive escolha. Isso fazia parte da maneira como ele estava me controlando,
mas ele já se foi, Hallie. Eu não vou fugir. Eu estarei lá para você. Você não terá que
lidar com isso sozinha. Eu prometo. Podemos passar por qualquer coisa, você e
eu. Eu não vou deixar você Hallie. Nós somos irmãs. Eu vou estar lá neste
momento. — Ela sorri sem jeito e olha para o chão sob suas botas.

Ela muda o seu peso para o outro pé e olha para mim debaixo de muito
rímel. Sua boca fica aberta por um segundo e seus lábios enrolam, como se ela não
quisesse dizer o que está prestes a cair de sua boca. — Há algo que você precisa
saber, e eu não sei se você vai gostar ou não com tudo o que aconteceu, mas precisa

saber. Você precisa. E eu odeio dizer isso agora, mas talvez seja melhor assim. Eu
esperaria se eu achasse que ajudaria.

— Maggie, diga-me. O que é?

Ela puxa um monte de ar e cospe para fora. — Ontem à noite, enquanto você
não estava em casa, entrei e vi o que parecia ser Neil e Cecily fazendo coisas que
estava muito além da zona do amigo. — Seus lábios são esmagados em conjunto,
enquanto ela tenta permanecer inexpressiva. Eu posso dizer que ela quer castrar
Neil conforme ela luta para manter seus lábios em uma linha reta.

Eu pisco, e isso é tudo. A raiva não vomita da minha boca e minhas mãos
não estão cerradas em punhos. Eu não me sinto quebrada ou até mesmo chocada.

Eu não sinto nada.

Se eu amasse Neil, eu estaria irada, mas eu não estou. Concordo com a
cabeça.

O rosto preocupado de Maggie franze enquanto ela empurra seu brilhante
cabelo atrás da orelha. — Eu não sei se eu deveria dizer. Eu o odeio, mas pensei
que você gostava do cara. — Ela me olha com tal preocupação que eu não posso
deixar de sorrir para ela.

Meu olhar abaixa para o chão e eu tomo uma respiração profunda, antes de
dar-lhe um abraço de lado. Quando eu a deixo ir, murmuro: — Eu estou feliz que
você me disse. Desgraça pouca é bobagem, certo? — Eu ofereço um sorriso de
novo, mas é falso neste momento. Há muitas lembranças correndo pela minha
mente, e o movimento faz minha pele parecer como se fosse rachar.

— Yeah. — Ela ri. — Pelo menos não temos que nos preocupar com Victor.
Devo-lhe muito por isso. Os jornais disseram que um dos seus homens o matou no
meu apartamento. Se você não tivesse me arrastado para fora, naquela noite eu
teria levado um tiro, também.

Eu sou insensível ao que eu fiz, pelo menos no momento. Às vezes, quando
eu não consigo dormir, o pensamento de que fiz desliza em minha mente, não
desejado. Victor é um pesadelo que não vai morrer, mas não posso perder o meu
tempo.

— Somos eu e você, agora. — Eu digo a ela com firmeza. Ela sorri
tristemente para mim e assente. — Maggie, você pode ir a casa de Neil e pegar
minhas coisas? Há apenas algumas caixas. Eu nunca desembalei, não
realmente. Neil queria que eu fizesse, mas eu empurrei a maioria delas na parte de
trás de um armário. — Eu retiro minha bolsa e escrevo-lhe um cheque. — Isso
deve cobrir o aluguel do nosso novo apartamento e tudo o mais que
precisamos. Deixe-o bonito, ok? Vai ser bom ter um novo lugar bonito para ir para
casa quando isso acabar.

Maggie pega o cheque e olha para todos os zeros, antes de olhar para mim.
Uma mecha de cabelo vermelho cai na frente de seus olhos. — Hallie, eu não posso
aceitar isso.

— Sim, você pode. Vai fazê-lo. Precisamos de um lugar para viver. Eu
gostaria de ter mais a oferecer, mas essa discussão é para outro dia. Entretanto,
isso vai nos colocar em uma boa vizinhança e nós estaremos confortáveis.

— Você vai processar Neil e Cecily? Eles praticamente gastaram todo o seu
dinheiro.

Concordo com a cabeça. — Provavelmente, mas não agora. Eu preciso fazer
um telefonema. — Maggie balança a cabeça e eu disco para o meu banco enquanto
seguimos para o meu carro. Eu explico a um funcionário do banco muito prestativo
que o nome de Neil deve ser retirado da minha conta imediatamente e todas as
transações em andamento com a sua assinatura, devem ser transferidas para a sua
conta. Verificação conjunta foi ideia dele. Eu esfrego minhas mãos sobre meu rosto
e sento com força no capô do meu carro. A coisa está suja, mas eu não me
importo. O funcionário do banco me pede para ir em breve para assinar os papéis,
e fazer as alterações em minha conta oficial. Quando eu insisto que eles precisam
ser assinados agora, ela diz para vir quando for mais conveniente.

Eu desligo e olho fixamente para as portas fechadas da mercearia. — Eu não
posso fazer isso de novo, não tão cedo. — A perda do meu pai ainda paira pesado
em meu coração, ameaçando me puxar para baixo. Minha dor não diminuiu e a
fama não ajudou. A única coisa que me faz sentir melhor é Bryan e agora vou
perdê-lo também.

Eu não posso respirar. Inclinando minha cabeça para trás com os olhos
cheios de lágrimas, eu olho para o céu e as nuvens brancas onduladas. O céu estava
aqui muito antes de eu nascer e vai estar aqui muito tempo depois. Faz-me sentir
pequena, como se a minha vida não importasse em tudo.

Maggie me bate com sua bota. — Bagel?

— Eu não estou com fome. — Eu estava com fome apenas um momento
atrás, mas agora não sinto nada parecido com isso.

— Merda resistente. Eu estou cuidando de você, o que significa que você
come isso ou vou enfiar na sua cara. — Ela está sorrindo para mim. — Eu vou fazer
isso.

Eu roubo a minha comida de sua mão. — Eu sei que você vai. —
Desempacotando a coisa, dou uma mordida e percebo que eu estou morrendo de
fome.

— A vida não é sobre a morte, você sabe. — Diz Maggie de repente. Ela está
sentada ao meu lado no capô, olhando para uma nuvem, pegando arrancando
pedaços de seu bagel, e os jogando em sua boca um de cada vez.

— Então o que se trata? — Eu pensei que eu sabia em um ponto, mas não
tenho ideia, não mais. A vida parece uma piada cruel.

— É sobre as relações que você faz, a bondade que oferece e você mostrar
compaixão. É a sua chance de mostrar ao mundo quem você é e o que faz você.
Hallie, você é a pessoa mais forte que conheço. Em vez de sentar aqui chorando
comigo, você deve estar com Bryan. Aqui. — Ela me dá o bagel extra. — Cheque de
vez em quando e quando você precisar de mim, eu vou. Nesse meio tempo, vou
deixar nossa casa pronta, eu prometo. Nada me manterá longe desta vez. Quando
você precisar de mim, eu estarei lá - se estiver no hospital, a funerária ou apenas
quando você precisar de uma pausa.

Eu sinto uma vibe nervosa vindo dela. — Você não é fraca, Maggie. Somos
sobreviventes, eu e você. — Quando eu digo isso, quero dizer para confortá-la, mas
uma bola dá um nó na minha garganta.

Ela pega a minha mão e se inclina, descansando a cabeça no meu ombro. —
Nós vamos sobreviver a isto também “juntas”.

Capítulo 3

Eu não quero pensar em Neil, então eu volto para a mansão Ferro e me
esgueiro para dentro. Ainda é cedo. As únicas pessoas que vejo são os empregados.
Eles me veem e não dizem nada. Deve ser estranho viver como uma estátua dia
após dia, sem ninguém, mas outros funcionários, na verdade, reconhecem que você
é humano. Eu não posso evitar isso. Eu sorrio para o mordomo que está sempre
ocupado, correndo para algum lugar. Ele inclina a cabeça em saudação, mas não
abranda.

Depois que ele passa, se vira para trás. — Você precisa de alguma coisa, Sra.
Raymond?

Eu sorrio e balanço a cabeça. — Não, é apenas bom vê-lo. — Eu olho para
ele. Este homem tem sido constante na vida de Bryan por anos. Eu me pergunto se
ele sabe que Bryan tem um segredo, porque nada lhe escapa, pelo menos não
quando éramos mais jovens. Eu me lembro de receber olhares severos dele quando
éramos muito jovens e fazíamos coisas muito loucas, enquanto a mãe de Bryan não
estava por perto. Mas o cara nunca nos entregou.

— Da mesma forma, Sra. Raymond. Diga ao Sr. Ferro que se ele precisar de
ajuda pode pedir qualquer coisa para mim. — Seus olhos perfuraram os meus por
um momento antes que ele olhe para o lado.

Ele sabe.

Concordo com a cabeça e vou para o modo de super mocinha. Antes que eu
possa me parar, lanço o meu corpo para ele e meus braços em volta do velho,
abraçando-o em um abraço de urso em estilo desleixado. Ele endurece com choque
e, em seguida, dá um tapinha minhas costas. — As pessoas vão dizer-lhe que ele
vai ficar bem. Ao longo dos próximos meses, você vai ouvir isso de novo e de novo,
mas a perda não é assim que funciona. As coisas não vão voltar ao normal, mas a
vida continua. Converse com ele sobre isso, enquanto você tem a chance.

Meu queixo cai. — O quê? Isso seria tão mau. Eu não posso...

— Isso não é o problema meu, mas se você fosse minha filha, era o que eu
diria a você. Tempos sombrios estão chegando, se este homem é o seu raio de luz,
mergulhe no sol tanto quanto puder e quando puder.

Acho que entendo o que ele quer dizer, então balanço minha cabeça para
cima e para baixo lentamente. Falar sobre a morte com alguém que está morrendo
é o que ele quer dizer. Vamos acabar discutindo todas as coisas que queríamos
fazer, mas nunca teremos a chance. Minha garganta aperta com o pensamento e os
meus olhos lacrimejam. — Obrigada.

— Qualquer hora, Sra. Raymond. — Ele inclina a cabeça para mim como se
eu fosse uma rainha e se vira para correr para longe.

Eu não gosto da sua sugestão, mas parte dela me chama. E se a gente falar
sobre isso? Eu balanço minha cabeça e aperto as mãos. Não! Eu não quero! Isso não
é justo e não posso simplesmente aceitar que vou perdê-lo - não depois que
finalmente nos encontramos novamente. Não depois de todo esse tempo.

No momento que estou dentro da mansão de Bryan, paro na porta. Minha
intenção era ir à ponta dos pés para o quarto de Bryan, mas sou presa pelo Ferro
que eu mais temo - Sean. Ele está encostado na parede, os braços cruzados sobre o
peito. Ele se parece com sua mãe, toda acusação não dita claramente visível em
seus olhos. Suas roupas escuras - casaco de couro, calça jeans, camisa preta e botas
shitkicker. — Você e eu temos algo a discutir.

Minha intenção é passar por ele. — Não tenho nada para lhe dizer.

Sean libera seus braços e caminha em minha frente. Ele é silencioso e letal,
com vibes malucas irradiando dele como micro ondas. Ding! — Bem, eu tenho algo
que você precisa ouvir - sobre um homem chamado Victor. — Minha respiração
para na minha garganta enquanto minhas mãos vão para o meu coração. Sean me
puxa pela curva do meu cotovelo para longe da porta de Bryan. — Sim, eu achei
que você soubesse alguma coisa sobre isso. Os jornais estão dizendo que um dos
seus homens o matou, mas os policiais estão bisbilhotando, me fazendo perguntas
sobre um traficante de merda. Eu não gosto de policiais e não gosto ainda menos
de perguntas. Então, me diga, como é que eles rastrearam até aqui? O que você
deixou para trás?

Eu rio, mas ele ignora. — Você acha que eu o matei? — Estou pressionando
meus dedos em meu peito, piscando, com meu queixo caído. Embora seja um
excelente desempenho, algo que me afasta. Sean pode ver isso.

Ele dá um passo no meu espaço de uma maneira ameaçadora. Sua voz
ressoa: — Eu sei que você o matou.

— Não, você não sabe. — Eu agarro, tentando me empurrar por ele
novamente, mas Sean não me deixa passar. Ele bloqueia o lugar com seu corpo
maciço.

Inclinando-se perto do meu rosto, ele sussurra baixinho: — Se eu sei, a
minha mãe sabe e você não quer pegadas sujas que levam direto para a porta da
frente. Você precisa se separar de Bryan e sair daqui antes que descubram isso.

Eu balanço minha cabeça e mordo meu lábio inferior. Eu provavelmente
pareci como um moleque teimoso, mas não vou deixar Bryan.

Os olhos de Sean travam com os meus e sua voz cai para um sussurro letal.
— Eu posso fazê-la desaparecer.

Algo desperta dentro de mim, essa mesma característica de proteção que
me fez cortar a garganta de Victor, em primeiro lugar. Minha coluna se endireita e
eu fico na frente do seu rosto. — Da mesma forma.

Depois de um momento de reflexão, o homem na verdade ri. Sean esfrega o
queixo com a mão. Eu não posso dizer se ele está se divertindo ou pensa que sou
louca. Ele finalmente pergunta: — Por que você fez isso?

— Por que você acha? O homem era um estuprador assassino. Vamos
apenas dizer que eu estava no lugar errado na hora errada. Acidentes acontecem e
eu não ia deixar que qualquer outra coisa acontecesse com a minha amiga. Ela é a
única família que me resta. — Eu sugo o ar, tentando inchar, então não sou tão
pequena, mas em comparação com Sean Ferro, sou um palito.

Seus olhos azuis mudam para o lado antes que ele passe as mãos pelo
cabelo. — Então, você protegeu sua família, deixe-me proteger a minha. Vá
embora. Não puxe Bryan para isso.

— Para quê? Os mortos não puxam qualquer um para qualquer coisa.

— Victor Campone está vivo.

Capítulo 4

Um pequeno grito escapa dos meus lábios e eu quase caio no chão. Meus
joelhos cedem, mas antes de eu ir para baixo, Sean agarra meus braços. Ele me
mantém de pé e continua suavemente. — Os policiais suspeitam que ele esteja
vivo. No momento em que chegaram lá, o corpo tinha desaparecido. Devido à
quantidade de sangue que encontraram, sua suposição natural era que um de seus
homens o matou e jogou o corpo. Os policiais ainda estavam indo por esse caminho
até recentemente, quando pegaram Campone bisbilhotando meu hotel. Então, a
menos que viram um fantasma, o homem ainda está vivo.

— Ele não pode estar. — Eu balanço minha cabeça e meus olhos vidrados
quando me lembro daquela noite. A quantidade de sangue, a forma que sua cabeça
pendia para trás e a ferida era tão profunda. — Não é possível.

Sean suspira e olha para mim com uma expressão que está perdida em
algum lugar entre pena e admiração. Inclinando-se perto, ele diz: — O corte foi
muito superficial. É como apontar para o coração e não acertar. O cara foi
subestimado, os que estavam dispostos e aceitaram fazer isso uma vez, mas ele não
vai ser subestimado novamente. E eu aposto qualquer coisa que ele vai
permanecer morto por um tempo, deixar que os outros façam o trabalho sujo, até
que lhe convenha encenar uma ressurreição.

— Como você sabe tudo isso?

Ele engole em seco, seu olhar se afastando e depois de volta para os meus
olhos. — Periodicamente nossos empreendimentos comerciais se sobrepõem. Eu
ouço coisas. E posso dizer-lhe que se eu ouvi, minha mãe ouviu e você com certeza
não quer irritá-la. Se Campone acabar aqui, você está morta. Se ele não te matar,
minha mãe vai.

Ele agarra meus ombros e me pede: — Hallie, pega a sua amiga e dá o fora
daqui antes que Campone a encontre. — Sean me libera. — Este foi um aviso de
cortesia. Se você ficar por perto e Bryan for morto por sua causa, bem, é melhor

esperar que Victor a encontre antes de mim. — Seus olhos firmam em mim uma
vez com as suas intenções claras.

Eu fico lá por um segundo mal respirando. Nossos olhos estão bloqueados,
nós dois estamos desafiando, mas será que ele não sabe, Sean não sabe sobre seu
primo? Talvez eu devesse pegar Bryan e correr, mas não posso. Não enquanto ele
está doente. Ele vai precisar de ajuda e cuidados paliativos. Eu não posso dar-lhe
essas coisas se eu corro. Minha voz racha quando eu falo. — Eu não posso.

— Não é opcional.

— Não, você não entende. Eu não posso ir embora. Eu não posso correr
mais de Victor e não vou. Eu vou cuidar disso. Eu vou terminar o que comecei. —
Eu não tenho ideia de como, mas vou. Se eu não fizer isso, ele virá atrás de mim e
Maggie. O homem é cruel, ele nunca vai parar de nos caçar. Eu sei disso com
certeza.

Sean levanta a sobrancelha escura. — Você está louca? Você nunca vai ter
outra chance de matá-lo. Ele pensou que era insignificante antes, mas agora ele a
conhece melhor.

Eu me empurro passando por ele. — Eu vou cuidar disso. Ele não virá aqui,
e desta vez, quando eu matá-lo, ele vai morrer.

— Hallie. — Sean quase implora meu nome, quase, mas eu não paro.

Eu entro no quarto de Bryan e fecho a porta. Eu fico lá por um segundo e
derrubo minha cabeça para trás, respirando com dificuldade. Eu nunca soquei uma
pessoa antes. Agora eu simplesmente confessei ao mais assustador de todos os
Ferro que vou dar um fim no senhor das drogas mais notório da cidade. Super foda.

Eu ainda estou segurando o saco com café da manhã de Bryan. Quando
aperto o meu punho, o jornal faz um ruído de crepitação e ele se senta. Um belo
sorriso ilumina seu rosto pálido. — Hey, Menina Bonita. Para onde você correu?

— Para pegar o café da manhã e conseguir alguma sujeira em sua tia. Foi
uma manhã interessante. — Eu sorrio, preocupada com ele e entrego o saco.

— Sujeira na minha tia?

Balanço a cabeça e me sento ao lado dele na cama. — Sim, eu descobri
porque ela me odeia. Ela pensa que eu sei de algo todos esses anos, mas eu não
descobri o que eu sabia até esta manhã.

Bryan desembrulha o seu bagel enquanto estou falando e morde. Seus
firmes olhos verdes encontram os meus. Com a boca cheia, ele me pergunta. — E
então?

Eu penso em manter seu segredo, mas não sinto nenhuma lealdade para
com ela. Além disso, Bryan não vai contar a ninguém. — Ela é gay. Eu a peguei com
sua amante na cozinha de sua mãe esta manhã.

Seu queixo cai e o pedaço de bagel rola para fora da boca, indo para a
colcha. — De jeito nenhum.

Concordo com a cabeça e olho para o pedaço de comida. — Um choque e
tanto, hein?

— Claro que sim. Ela é tão recatada e adequada. — Seu nariz franze com o
pensamento da sua tia ser sexualmente algo.

— E, aparentemente, ela gosta de garotas.

Bryan pisca e sorri. — Bem, isso explica um monte de coisas.

— Sim, como por que ela ainda é casada e permite que prostitutas meio
vestidas andem pela sua casa.

Bryan sorri. — Claro, todo mundo gosta de um pouco de colírio para os
olhos.

Eu bato em seu ombro. — Bryan!

— Vamos lá, pense nisso. Houve uma garota naquela casa desde que Jon era
um bebê. É a família mais estranha que eu já vi. Minha mãe não teria tolerado. Eu
sempre me perguntei por que a tia Constance tolerava.

— Seu pai não tem uma puta coabitante?

Ele inclina a cabeça para mim. — Meu pai não tem tempo para isso. Ele está
muito ocupado ganhando dinheiro para ser incomodado com relacionamentos ou
senhoras de compra. Mas, ainda assim, a tia Connie gosta das garotas. Quem teria

pensado? — Ele balança a cabeça. — Então o que diabos eu vi no dia que
terminamos?

Boa pergunta. Eu suspiro e tenho uma boa ideia de para quem perguntar. Eu
sorrio grande. — Qual é o quarto que Constance usa quando está aqui?

Bryan parece confuso e então seus olhos se arregalam. — Você está louca?

— Só um pouco. — Eu rio e quase aperto meus dedos juntos.


CONTINUA

A luz do amanhecer brilha através das pesadas cortinas que revestem as paredes formando uma fina fenda de branco puro no tapete escuro. Eu fico olhando para ele, perdida em seus pensamentos. Perto de mim, Bryan está dormindo. Eu envolvo meus braços ao redor dele e seu corpo se parece tão forte. É por isso que isto é tão difícil. Não faz nenhum sentido. Para além da dor, eu não posso ver o que está acontecendo com ele. É interno. Seu corpo o está matando segundo a segundo. Eventualmente, ele irá respirar e não haverá outro. Eu não posso suportar a ideia.
Minha vida tem sido moldada por morte. Todo mundo que me importa, todos, exceto Maggie, partem. Eu escorrego para fora da cama, agarrando o meu telefone antes de ir para fundo do corredor. Eu envio uma mensagem de texto para ela, embora eu duvide que ela esteja acordada.
Eu digito: Estou com Bryan. Apenas verificando para ter certeza que está tudo bem.
Para minha surpresa ela envia uma mensagem de volta: Eu estou, mas tenho uma coisa horrível para lhe dizer.
Nada poderia ser pior do que perder Bryan. Eu digito de volta: Eu também.
Volto logo para casa e podemos conversar.
Ela responde: Ok.

 


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Eu enfio meu celular no bolso antes de pegar a camiseta de Bryan e a puxo
sobre minha cabeça. Eu enfio minhas mãos sob as mangas e vagueio pela mansão
até encontrar a cozinha. Sinto o cheiro do café e preciso desesperadamente de uma
xícara. Infelizmente, a besta “a tia” de Bryan está sentada à mesa com outra
mulher. Ambas estão vestidas em robe. Eu pisco conforme o choque lava seus
rostos. Eu não posso imaginar por que ela está aqui tão cedo, não vestida. Quão
estranho é isso?

Dentro de um batimento cardíaco, Constance está fora de seu assento e no
meu rosto. — Como você ousa desfilar na casa da minha irmã usando coisas do
meu sobrinho? Saia agora mesmo, sua puta! — Ela tenta bater no meu rosto, mas
eu agarro seu pulso.

As coisas finalmente clicam no lugar. A forma como as mulheres estavam
olhando uma para a outra, o toque de suas mãos, a forma como os seus olhos
permanecem naquele olhar fixo familiar, o fato de que ela está aqui, quando sua
irmã e cunhado já se foram e a forma como Constance se transforma em um tigre
quando ela me vê - faz sentido. Ela está escondendo um segredo há anos que
poderia arruiná-la para sempre. É por isso que ela suporta as infidelidades do Sr.
Ferro e porque permite que suas mulheres valsem pela sua casa.

Constance é gay - e esta mulher é sua amante. Ela pensou que eu soubesse,
mas eu nunca percebi antes.

Ela puxa sua mão do meu aperto e se prepara para começar a gritar
novamente. Eu a interrompo, cansada. — Eu não me importo com sua vida ou
suas preferências. Eu entendo que seja um tabu para você ser vista com ela. Eu
entendo isso, Constance, eu realmente entendo. Eu não a julgo por isso, então pare
de me julgar. A única coisa de que eu quero vocês é o café. — Eu caminho,
passando por ela.

O queixo de Constance está no chão. Sua namorada, uma mulher pelo menos
dez anos mais nova que ela, fica rígida, olhando-me com medo. Relações do mesmo
sexo podem ser ultramodernas e estarem na moda em Nova York, mas não entre
antigas famílias endinheiradas como esta. Isso a arruinaria. É por isso que ela me
odeia. Ela acha que eu tenho andado por aí esperando para soltar uma bomba em
sua vida.

Quando Constance fala, seu tom é cético: — Você sabe há muito tempo e não
disse nada. Por quê?

— Porque eu não me importo com você. — Eu mantenho minhas costas
para ela enquanto despejo o líquido escuro em uma xícara pesada. É muito cedo. As
pessoas normais não estão acordadas às cinco da manhã. Elas provavelmente
estavam tomando café da manhã antes de se separarem para o dia. Quando me viro

para falar, as duas mulheres estão me olhando mortificadas. — Eu me preocupo
com Bryan. Você não percebeu nada sobre ele que lhe diz respeito?

Seu olhar se estreita. — Não brinque comigo. Eu conheço minha família,
cada um deles.

— Sim, bem, você pode querer falar com ele. — Ela bloqueia seu maxilar,
preparando-se para ordenar que eu saia, mas eu acrescento: — O tempo é uma
coisa engraçada. Todos nós pensamos que temos uma tonelada dele até que seja
tirado de nós, então nos damos conta de que nunca foi o suficiente, para começar.
Use o tempo que você tem, Constance. Ame as pessoas que queira e se certifique de
que eles saibam disso. Chegará o dia em que você lamentará que não o fez e a
chance passou por você.

Ela endurece quando eu falo. — Você está me ameaçando?

Eu rio alto com o ridículo de sua declaração. Ela não tem nenhuma pista. Eu
estava me referindo a mim e Bryan, para a piscina constante de arrependimento
que enche meu estômago. Poderíamos ter estado juntos, mas essa oportunidade
está perdida agora, o tempo que nunca teremos.

— Você está tão errada sobre tudo, lacrada em sua pequena bolha, fora de
contato com o mundo real. Isso não é sobre você, então você acha que está segura,
mas você nunca está, não do tempo - não da morte. Seu sobrinho... — Eu engulo
em seco, mas não quebro o contato visual. — Certifique-se que sua mãe descubra.
Isso é tudo que eu quero.

A suposição de que eu estou fazendo é enorme - aquela que Elizabeth Ferro
se importará se seu filho vive ou morre. Bryan não contou a ninguém sobre sua
doença, exceto eu. Jon pode ver isso, mas os outros não têm ideia. Eu não sei
quanto tempo resta à Bryan, mas não quero que ele o gaste se preocupando ou
brigando. Eu quero estar lá para protegê-lo e, por alertar o Ferro de seu estado, eu
provavelmente só fiz isso mais difícil de acontecer - mas que é a coisa certa a fazer.
Se eu tivesse um segundo extra para gastar com o meu pai... O pensamento se
esconde em minha mente, sol a sol. Quando a noite lava o céu com tons roxos de
tinta e manchas de âmbar cintilante, eu gostaria de ter mais uma oportunidade de
dizer todas as coisas que nunca tive a chance de expressar. Agora, esses
pensamentos estão presos dentro da minha alma, me segurando cativa. Eu nunca

vou ser livre. Eu nunca tive a chance de dizer adeus. Eu estou dando aos Ferro essa
oportunidade e esperando além da esperança de que eles não me joguem para fora
na minha bunda em recompensa.

Empurrando de lado meus pensamentos, eu coloco meu copo vazio para
baixo e saio, deixando Constance e sua amante, boquiabertas, no meu despertar. As
duas mulheres atrás de mim são crianças brincando de casinha. Eu posso ser mais
jovem do que elas em anos, mas minha alma parece velha. É imaturo pensar que a
sua vida seja apenas sobre você. A vida é sobre as pessoas ao seu redor. Como eu
gostaria de nunca crescer, mas desejar é desperdício de tempo e eu me recuso a
desperdiçar mais um segundo.

Capítulo 2

Maggie e eu planejamos, através de mensagens de texto, nos encontrar em
algum lugar que tenha um bagel logo após o amanhecer. Os únicos carros no
estacionamento são da loja. O resto do centro de compras ainda está fechado. Eu
não espero muito tempo, quando ela se junta a mim no final da fila.

— Hey. — Diz Maggie, me envolvendo em um abraço.

Eu a abraço de volta, segurando-a um segundo muito longo. Ela vai fugir
novamente. Eu sei disso. Ela não lida bem com a morte também. Acho que
ninguém faz, mas Maggie viu muito dela. Quando eu a solto, me forço a perdoá-la
com antecedência. Uma alma só pode tomar tanto abuso antes que não possa
evitar, exceto reagir. É como o cão de Pavlov. A campainha da morte soa e Maggie
corre.

Eu enfio um pedaço de cabelo atrás da minha orelha e encosto contra a
vitrine de vidro, antes de enfiar as mãos nos bolsos. — Hey. Como tem passado?

A fila faz a volta para fora da porta e para baixo da frente do centro
comercial com pessoas que já pararam para um bagel e café em seu caminho para
o trabalho. A fila se aproxima alguns centímetros mais próxima da comida e nos
movemos com ela, antes de retornar nossas posições contra o vidro. Meu estômago
ronca com o cheiro de fermento e eu mal posso esperar para provar o pão macio,
quente e mordê-lo, saboreando o cream cheese espesso. Eu aprendi a não dar por
certo pequenas coisas. Bagels me ajudam a encontrar meu lugar feliz.

Eu pretendo pegar um para Bryan também - sementes de papoula com
manteiga, exatamente como ele pedia na escola. Viemos aqui tantas vezes. Eu fico
olhando para fora, no estacionamento, minha mente vagando em uma memória de
Bryan me levantando em um carrinho de compras e empurrando-me como um
louco pelo mercado, rindo o tempo todo.

Outro cliente perguntou: — Que corredor você a encontrou? Eu quero uma!

Bryan apenas sorriu, os olhos deslizando sobre mim no carrinho. —
Desculpe, cara. Esta era a única e é toda minha. Eu nunca a deixarei ir. — A

memória ecoa fortemente em meus ouvidos. Parece que poderia ter acontecido
ontem.

A voz de Maggie me encaixa de volta ao presente. Ela encolhe os ombros e
puxa a alça da bolsa para cima de seu ombro. — Eu estou bem. Acho que encontrei
um apartamento para nós, mas eu ouvi que Neil comprou para vocês uma casa. —
Ela faz uma cara de, bem, tenta não fazer uma cara, que faz sua expressão de dor
ainda pior. A fila se move de novo e, com um passo à frente, ela deixa escapar: —
Você realmente vai se casar com ele? Achei que você amasse Bryan? Parecia que
estava totalmente encantada com o gatinho do sexo. Bem, você é a gatinha.
Rapazes são o quê, tigres? Tigre sexual soa mal. — Ela ri, mas sua risada leve
desaparece quando ela vê o meu sorriso falso. — O que há de errado, Hallie?

Eu tento manter minha voz firme, mas treme sem minha permissão. Não há
nenhum ponto em protelar por mais tempo, e além disso, eu preciso dela. Mesmo
que ela vá correr, eu tenho que falar com alguém enquanto eu tiver a chance. —
Maggie, ele está morrendo.

— Mas, ele não pode estar! Ele... — Maggie deixa escapar muitas palavras de
uma só vez e quase começa a chorar. Ela é a pessoa mais empática que eu já
conheci. A minha dor está representada em seu rosto quando ela para, aperta
minha mão e me puxa para um abraço de urso que poderia explodir minha cabeça.
— Eu sinto muito, Hallie. — Ela enxuga as lágrimas com as costas da mão e olha
para o meu ombro, não querendo perguntar. Cada palavra é como se enfiasse uma
faca no meu lado. — O que há de errado com ele?

Eu a atualizo com o que sei que aconteceu até agora. Minha voz continua
difícil quando eu chego ao fim da história. — Nós terminamos por causa de sua tia
Constance. Ela achou que eu iria arruiná-la com informações que eu não deveria
saber, então ela descobriu uma maneira de nos separar. — A raiva eu não tinha
notado até agora borbulha sob a superfície da minha mente. Eu não vou ficar com
raiva, eu não posso ficar. Eu me recuso a perder meu tempo com ela ou o que ela
fez. — Maggie, eu não poderia me importar menos com ela, mas eu quis Bryan
todo esse tempo e não o tive por causa dela.

— E, no entanto, você não soa como louca. Você parece mais
assustadoramente tranquila sobre isso. — Uma sobrancelha vermelha levanta
levemente em sua testa sardenta.

Eu olho para ela conforme nos movemos com a fila para dentro da pequena
loja, e nos aproximamos da bandeja do pão assado. Maggie pede em primeiro lugar,
então eu peço e pago por nossos itens. Pegamos o nosso café da manhã, cortamos
de volta através da fila, para fora da porta, em direção ao estacionamento. Fico ali
na frente dela querendo falar, mas incapaz de encontrar palavras, em seguida,
entrego para ela o pão e suco de laranja.

Minha boca se abre duas vezes, mas as palavras não saem. Eu finalmente
olho nos olhos dela e explico. — Eu não estou louca. Bem, eu estou - mas não quero
estar. É um desperdício de tempo e eu não tenho tempo de sobra. Eu estou
pensando em ficar com ele, Maggie. Seja qual for o tempo que lhe resta, eu quero
estar lá.

— Eu entendo, e eu estou aqui para você. — Ela pega a minha mão, mas eu
não posso olhar para ela.

— Não faça promessas que não pode cumprir, Maggie.

— Eu estou as mantendo desta vez.

— Eu prefiro saber agora que você vai desaparecer. Eu posso lidar com isso
sozinha. Eu estou bem, realmente. Eu sei o que isso faz para você e... — Eu arranjo
desculpas para ela até que ela me corta.

— Não. A última vez eu não estava lá para você, porque Victor era um idiota.
Eu não tive escolha. Isso fazia parte da maneira como ele estava me controlando,
mas ele já se foi, Hallie. Eu não vou fugir. Eu estarei lá para você. Você não terá que
lidar com isso sozinha. Eu prometo. Podemos passar por qualquer coisa, você e
eu. Eu não vou deixar você Hallie. Nós somos irmãs. Eu vou estar lá neste
momento. — Ela sorri sem jeito e olha para o chão sob suas botas.

Ela muda o seu peso para o outro pé e olha para mim debaixo de muito
rímel. Sua boca fica aberta por um segundo e seus lábios enrolam, como se ela não
quisesse dizer o que está prestes a cair de sua boca. — Há algo que você precisa
saber, e eu não sei se você vai gostar ou não com tudo o que aconteceu, mas precisa

saber. Você precisa. E eu odeio dizer isso agora, mas talvez seja melhor assim. Eu
esperaria se eu achasse que ajudaria.

— Maggie, diga-me. O que é?

Ela puxa um monte de ar e cospe para fora. — Ontem à noite, enquanto você
não estava em casa, entrei e vi o que parecia ser Neil e Cecily fazendo coisas que
estava muito além da zona do amigo. — Seus lábios são esmagados em conjunto,
enquanto ela tenta permanecer inexpressiva. Eu posso dizer que ela quer castrar
Neil conforme ela luta para manter seus lábios em uma linha reta.

Eu pisco, e isso é tudo. A raiva não vomita da minha boca e minhas mãos
não estão cerradas em punhos. Eu não me sinto quebrada ou até mesmo chocada.

Eu não sinto nada.

Se eu amasse Neil, eu estaria irada, mas eu não estou. Concordo com a
cabeça.

O rosto preocupado de Maggie franze enquanto ela empurra seu brilhante
cabelo atrás da orelha. — Eu não sei se eu deveria dizer. Eu o odeio, mas pensei
que você gostava do cara. — Ela me olha com tal preocupação que eu não posso
deixar de sorrir para ela.

Meu olhar abaixa para o chão e eu tomo uma respiração profunda, antes de
dar-lhe um abraço de lado. Quando eu a deixo ir, murmuro: — Eu estou feliz que
você me disse. Desgraça pouca é bobagem, certo? — Eu ofereço um sorriso de
novo, mas é falso neste momento. Há muitas lembranças correndo pela minha
mente, e o movimento faz minha pele parecer como se fosse rachar.

— Yeah. — Ela ri. — Pelo menos não temos que nos preocupar com Victor.
Devo-lhe muito por isso. Os jornais disseram que um dos seus homens o matou no
meu apartamento. Se você não tivesse me arrastado para fora, naquela noite eu
teria levado um tiro, também.

Eu sou insensível ao que eu fiz, pelo menos no momento. Às vezes, quando
eu não consigo dormir, o pensamento de que fiz desliza em minha mente, não
desejado. Victor é um pesadelo que não vai morrer, mas não posso perder o meu
tempo.

— Somos eu e você, agora. — Eu digo a ela com firmeza. Ela sorri
tristemente para mim e assente. — Maggie, você pode ir a casa de Neil e pegar
minhas coisas? Há apenas algumas caixas. Eu nunca desembalei, não
realmente. Neil queria que eu fizesse, mas eu empurrei a maioria delas na parte de
trás de um armário. — Eu retiro minha bolsa e escrevo-lhe um cheque. — Isso
deve cobrir o aluguel do nosso novo apartamento e tudo o mais que
precisamos. Deixe-o bonito, ok? Vai ser bom ter um novo lugar bonito para ir para
casa quando isso acabar.

Maggie pega o cheque e olha para todos os zeros, antes de olhar para mim.
Uma mecha de cabelo vermelho cai na frente de seus olhos. — Hallie, eu não posso
aceitar isso.

— Sim, você pode. Vai fazê-lo. Precisamos de um lugar para viver. Eu
gostaria de ter mais a oferecer, mas essa discussão é para outro dia. Entretanto,
isso vai nos colocar em uma boa vizinhança e nós estaremos confortáveis.

— Você vai processar Neil e Cecily? Eles praticamente gastaram todo o seu
dinheiro.

Concordo com a cabeça. — Provavelmente, mas não agora. Eu preciso fazer
um telefonema. — Maggie balança a cabeça e eu disco para o meu banco enquanto
seguimos para o meu carro. Eu explico a um funcionário do banco muito prestativo
que o nome de Neil deve ser retirado da minha conta imediatamente e todas as
transações em andamento com a sua assinatura, devem ser transferidas para a sua
conta. Verificação conjunta foi ideia dele. Eu esfrego minhas mãos sobre meu rosto
e sento com força no capô do meu carro. A coisa está suja, mas eu não me
importo. O funcionário do banco me pede para ir em breve para assinar os papéis,
e fazer as alterações em minha conta oficial. Quando eu insisto que eles precisam
ser assinados agora, ela diz para vir quando for mais conveniente.

Eu desligo e olho fixamente para as portas fechadas da mercearia. — Eu não
posso fazer isso de novo, não tão cedo. — A perda do meu pai ainda paira pesado
em meu coração, ameaçando me puxar para baixo. Minha dor não diminuiu e a
fama não ajudou. A única coisa que me faz sentir melhor é Bryan e agora vou
perdê-lo também.

Eu não posso respirar. Inclinando minha cabeça para trás com os olhos
cheios de lágrimas, eu olho para o céu e as nuvens brancas onduladas. O céu estava
aqui muito antes de eu nascer e vai estar aqui muito tempo depois. Faz-me sentir
pequena, como se a minha vida não importasse em tudo.

Maggie me bate com sua bota. — Bagel?

— Eu não estou com fome. — Eu estava com fome apenas um momento
atrás, mas agora não sinto nada parecido com isso.

— Merda resistente. Eu estou cuidando de você, o que significa que você
come isso ou vou enfiar na sua cara. — Ela está sorrindo para mim. — Eu vou fazer
isso.

Eu roubo a minha comida de sua mão. — Eu sei que você vai. —
Desempacotando a coisa, dou uma mordida e percebo que eu estou morrendo de
fome.

— A vida não é sobre a morte, você sabe. — Diz Maggie de repente. Ela está
sentada ao meu lado no capô, olhando para uma nuvem, pegando arrancando
pedaços de seu bagel, e os jogando em sua boca um de cada vez.

— Então o que se trata? — Eu pensei que eu sabia em um ponto, mas não
tenho ideia, não mais. A vida parece uma piada cruel.

— É sobre as relações que você faz, a bondade que oferece e você mostrar
compaixão. É a sua chance de mostrar ao mundo quem você é e o que faz você.
Hallie, você é a pessoa mais forte que conheço. Em vez de sentar aqui chorando
comigo, você deve estar com Bryan. Aqui. — Ela me dá o bagel extra. — Cheque de
vez em quando e quando você precisar de mim, eu vou. Nesse meio tempo, vou
deixar nossa casa pronta, eu prometo. Nada me manterá longe desta vez. Quando
você precisar de mim, eu estarei lá - se estiver no hospital, a funerária ou apenas
quando você precisar de uma pausa.

Eu sinto uma vibe nervosa vindo dela. — Você não é fraca, Maggie. Somos
sobreviventes, eu e você. — Quando eu digo isso, quero dizer para confortá-la, mas
uma bola dá um nó na minha garganta.

Ela pega a minha mão e se inclina, descansando a cabeça no meu ombro. —
Nós vamos sobreviver a isto também “juntas”.

Capítulo 3

Eu não quero pensar em Neil, então eu volto para a mansão Ferro e me
esgueiro para dentro. Ainda é cedo. As únicas pessoas que vejo são os empregados.
Eles me veem e não dizem nada. Deve ser estranho viver como uma estátua dia
após dia, sem ninguém, mas outros funcionários, na verdade, reconhecem que você
é humano. Eu não posso evitar isso. Eu sorrio para o mordomo que está sempre
ocupado, correndo para algum lugar. Ele inclina a cabeça em saudação, mas não
abranda.

Depois que ele passa, se vira para trás. — Você precisa de alguma coisa, Sra.
Raymond?

Eu sorrio e balanço a cabeça. — Não, é apenas bom vê-lo. — Eu olho para
ele. Este homem tem sido constante na vida de Bryan por anos. Eu me pergunto se
ele sabe que Bryan tem um segredo, porque nada lhe escapa, pelo menos não
quando éramos mais jovens. Eu me lembro de receber olhares severos dele quando
éramos muito jovens e fazíamos coisas muito loucas, enquanto a mãe de Bryan não
estava por perto. Mas o cara nunca nos entregou.

— Da mesma forma, Sra. Raymond. Diga ao Sr. Ferro que se ele precisar de
ajuda pode pedir qualquer coisa para mim. — Seus olhos perfuraram os meus por
um momento antes que ele olhe para o lado.

Ele sabe.

Concordo com a cabeça e vou para o modo de super mocinha. Antes que eu
possa me parar, lanço o meu corpo para ele e meus braços em volta do velho,
abraçando-o em um abraço de urso em estilo desleixado. Ele endurece com choque
e, em seguida, dá um tapinha minhas costas. — As pessoas vão dizer-lhe que ele
vai ficar bem. Ao longo dos próximos meses, você vai ouvir isso de novo e de novo,
mas a perda não é assim que funciona. As coisas não vão voltar ao normal, mas a
vida continua. Converse com ele sobre isso, enquanto você tem a chance.

Meu queixo cai. — O quê? Isso seria tão mau. Eu não posso...

— Isso não é o problema meu, mas se você fosse minha filha, era o que eu
diria a você. Tempos sombrios estão chegando, se este homem é o seu raio de luz,
mergulhe no sol tanto quanto puder e quando puder.

Acho que entendo o que ele quer dizer, então balanço minha cabeça para
cima e para baixo lentamente. Falar sobre a morte com alguém que está morrendo
é o que ele quer dizer. Vamos acabar discutindo todas as coisas que queríamos
fazer, mas nunca teremos a chance. Minha garganta aperta com o pensamento e os
meus olhos lacrimejam. — Obrigada.

— Qualquer hora, Sra. Raymond. — Ele inclina a cabeça para mim como se
eu fosse uma rainha e se vira para correr para longe.

Eu não gosto da sua sugestão, mas parte dela me chama. E se a gente falar
sobre isso? Eu balanço minha cabeça e aperto as mãos. Não! Eu não quero! Isso não
é justo e não posso simplesmente aceitar que vou perdê-lo - não depois que
finalmente nos encontramos novamente. Não depois de todo esse tempo.

No momento que estou dentro da mansão de Bryan, paro na porta. Minha
intenção era ir à ponta dos pés para o quarto de Bryan, mas sou presa pelo Ferro
que eu mais temo - Sean. Ele está encostado na parede, os braços cruzados sobre o
peito. Ele se parece com sua mãe, toda acusação não dita claramente visível em
seus olhos. Suas roupas escuras - casaco de couro, calça jeans, camisa preta e botas
shitkicker. — Você e eu temos algo a discutir.

Minha intenção é passar por ele. — Não tenho nada para lhe dizer.

Sean libera seus braços e caminha em minha frente. Ele é silencioso e letal,
com vibes malucas irradiando dele como micro ondas. Ding! — Bem, eu tenho algo
que você precisa ouvir - sobre um homem chamado Victor. — Minha respiração
para na minha garganta enquanto minhas mãos vão para o meu coração. Sean me
puxa pela curva do meu cotovelo para longe da porta de Bryan. — Sim, eu achei
que você soubesse alguma coisa sobre isso. Os jornais estão dizendo que um dos
seus homens o matou, mas os policiais estão bisbilhotando, me fazendo perguntas
sobre um traficante de merda. Eu não gosto de policiais e não gosto ainda menos
de perguntas. Então, me diga, como é que eles rastrearam até aqui? O que você
deixou para trás?

Eu rio, mas ele ignora. — Você acha que eu o matei? — Estou pressionando
meus dedos em meu peito, piscando, com meu queixo caído. Embora seja um
excelente desempenho, algo que me afasta. Sean pode ver isso.

Ele dá um passo no meu espaço de uma maneira ameaçadora. Sua voz
ressoa: — Eu sei que você o matou.

— Não, você não sabe. — Eu agarro, tentando me empurrar por ele
novamente, mas Sean não me deixa passar. Ele bloqueia o lugar com seu corpo
maciço.

Inclinando-se perto do meu rosto, ele sussurra baixinho: — Se eu sei, a
minha mãe sabe e você não quer pegadas sujas que levam direto para a porta da
frente. Você precisa se separar de Bryan e sair daqui antes que descubram isso.

Eu balanço minha cabeça e mordo meu lábio inferior. Eu provavelmente
pareci como um moleque teimoso, mas não vou deixar Bryan.

Os olhos de Sean travam com os meus e sua voz cai para um sussurro letal.
— Eu posso fazê-la desaparecer.

Algo desperta dentro de mim, essa mesma característica de proteção que
me fez cortar a garganta de Victor, em primeiro lugar. Minha coluna se endireita e
eu fico na frente do seu rosto. — Da mesma forma.

Depois de um momento de reflexão, o homem na verdade ri. Sean esfrega o
queixo com a mão. Eu não posso dizer se ele está se divertindo ou pensa que sou
louca. Ele finalmente pergunta: — Por que você fez isso?

— Por que você acha? O homem era um estuprador assassino. Vamos
apenas dizer que eu estava no lugar errado na hora errada. Acidentes acontecem e
eu não ia deixar que qualquer outra coisa acontecesse com a minha amiga. Ela é a
única família que me resta. — Eu sugo o ar, tentando inchar, então não sou tão
pequena, mas em comparação com Sean Ferro, sou um palito.

Seus olhos azuis mudam para o lado antes que ele passe as mãos pelo
cabelo. — Então, você protegeu sua família, deixe-me proteger a minha. Vá
embora. Não puxe Bryan para isso.

— Para quê? Os mortos não puxam qualquer um para qualquer coisa.

— Victor Campone está vivo.

Capítulo 4

Um pequeno grito escapa dos meus lábios e eu quase caio no chão. Meus
joelhos cedem, mas antes de eu ir para baixo, Sean agarra meus braços. Ele me
mantém de pé e continua suavemente. — Os policiais suspeitam que ele esteja
vivo. No momento em que chegaram lá, o corpo tinha desaparecido. Devido à
quantidade de sangue que encontraram, sua suposição natural era que um de seus
homens o matou e jogou o corpo. Os policiais ainda estavam indo por esse caminho
até recentemente, quando pegaram Campone bisbilhotando meu hotel. Então, a
menos que viram um fantasma, o homem ainda está vivo.

— Ele não pode estar. — Eu balanço minha cabeça e meus olhos vidrados
quando me lembro daquela noite. A quantidade de sangue, a forma que sua cabeça
pendia para trás e a ferida era tão profunda. — Não é possível.

Sean suspira e olha para mim com uma expressão que está perdida em
algum lugar entre pena e admiração. Inclinando-se perto, ele diz: — O corte foi
muito superficial. É como apontar para o coração e não acertar. O cara foi
subestimado, os que estavam dispostos e aceitaram fazer isso uma vez, mas ele não
vai ser subestimado novamente. E eu aposto qualquer coisa que ele vai
permanecer morto por um tempo, deixar que os outros façam o trabalho sujo, até
que lhe convenha encenar uma ressurreição.

— Como você sabe tudo isso?

Ele engole em seco, seu olhar se afastando e depois de volta para os meus
olhos. — Periodicamente nossos empreendimentos comerciais se sobrepõem. Eu
ouço coisas. E posso dizer-lhe que se eu ouvi, minha mãe ouviu e você com certeza
não quer irritá-la. Se Campone acabar aqui, você está morta. Se ele não te matar,
minha mãe vai.

Ele agarra meus ombros e me pede: — Hallie, pega a sua amiga e dá o fora
daqui antes que Campone a encontre. — Sean me libera. — Este foi um aviso de
cortesia. Se você ficar por perto e Bryan for morto por sua causa, bem, é melhor

esperar que Victor a encontre antes de mim. — Seus olhos firmam em mim uma
vez com as suas intenções claras.

Eu fico lá por um segundo mal respirando. Nossos olhos estão bloqueados,
nós dois estamos desafiando, mas será que ele não sabe, Sean não sabe sobre seu
primo? Talvez eu devesse pegar Bryan e correr, mas não posso. Não enquanto ele
está doente. Ele vai precisar de ajuda e cuidados paliativos. Eu não posso dar-lhe
essas coisas se eu corro. Minha voz racha quando eu falo. — Eu não posso.

— Não é opcional.

— Não, você não entende. Eu não posso ir embora. Eu não posso correr
mais de Victor e não vou. Eu vou cuidar disso. Eu vou terminar o que comecei. —
Eu não tenho ideia de como, mas vou. Se eu não fizer isso, ele virá atrás de mim e
Maggie. O homem é cruel, ele nunca vai parar de nos caçar. Eu sei disso com
certeza.

Sean levanta a sobrancelha escura. — Você está louca? Você nunca vai ter
outra chance de matá-lo. Ele pensou que era insignificante antes, mas agora ele a
conhece melhor.

Eu me empurro passando por ele. — Eu vou cuidar disso. Ele não virá aqui,
e desta vez, quando eu matá-lo, ele vai morrer.

— Hallie. — Sean quase implora meu nome, quase, mas eu não paro.

Eu entro no quarto de Bryan e fecho a porta. Eu fico lá por um segundo e
derrubo minha cabeça para trás, respirando com dificuldade. Eu nunca soquei uma
pessoa antes. Agora eu simplesmente confessei ao mais assustador de todos os
Ferro que vou dar um fim no senhor das drogas mais notório da cidade. Super foda.

Eu ainda estou segurando o saco com café da manhã de Bryan. Quando
aperto o meu punho, o jornal faz um ruído de crepitação e ele se senta. Um belo
sorriso ilumina seu rosto pálido. — Hey, Menina Bonita. Para onde você correu?

— Para pegar o café da manhã e conseguir alguma sujeira em sua tia. Foi
uma manhã interessante. — Eu sorrio, preocupada com ele e entrego o saco.

— Sujeira na minha tia?

Balanço a cabeça e me sento ao lado dele na cama. — Sim, eu descobri
porque ela me odeia. Ela pensa que eu sei de algo todos esses anos, mas eu não
descobri o que eu sabia até esta manhã.

Bryan desembrulha o seu bagel enquanto estou falando e morde. Seus
firmes olhos verdes encontram os meus. Com a boca cheia, ele me pergunta. — E
então?

Eu penso em manter seu segredo, mas não sinto nenhuma lealdade para
com ela. Além disso, Bryan não vai contar a ninguém. — Ela é gay. Eu a peguei com
sua amante na cozinha de sua mãe esta manhã.

Seu queixo cai e o pedaço de bagel rola para fora da boca, indo para a
colcha. — De jeito nenhum.

Concordo com a cabeça e olho para o pedaço de comida. — Um choque e
tanto, hein?

— Claro que sim. Ela é tão recatada e adequada. — Seu nariz franze com o
pensamento da sua tia ser sexualmente algo.

— E, aparentemente, ela gosta de garotas.

Bryan pisca e sorri. — Bem, isso explica um monte de coisas.

— Sim, como por que ela ainda é casada e permite que prostitutas meio
vestidas andem pela sua casa.

Bryan sorri. — Claro, todo mundo gosta de um pouco de colírio para os
olhos.

Eu bato em seu ombro. — Bryan!

— Vamos lá, pense nisso. Houve uma garota naquela casa desde que Jon era
um bebê. É a família mais estranha que eu já vi. Minha mãe não teria tolerado. Eu
sempre me perguntei por que a tia Constance tolerava.

— Seu pai não tem uma puta coabitante?

Ele inclina a cabeça para mim. — Meu pai não tem tempo para isso. Ele está
muito ocupado ganhando dinheiro para ser incomodado com relacionamentos ou
senhoras de compra. Mas, ainda assim, a tia Connie gosta das garotas. Quem teria

pensado? — Ele balança a cabeça. — Então o que diabos eu vi no dia que
terminamos?

Boa pergunta. Eu suspiro e tenho uma boa ideia de para quem perguntar. Eu
sorrio grande. — Qual é o quarto que Constance usa quando está aqui?

Bryan parece confuso e então seus olhos se arregalam. — Você está louca?

— Só um pouco. — Eu rio e quase aperto meus dedos juntos.


CONTINUA

A luz do amanhecer brilha através das pesadas cortinas que revestem as paredes formando uma fina fenda de branco puro no tapete escuro. Eu fico olhando para ele, perdida em seus pensamentos. Perto de mim, Bryan está dormindo. Eu envolvo meus braços ao redor dele e seu corpo se parece tão forte. É por isso que isto é tão difícil. Não faz nenhum sentido. Para além da dor, eu não posso ver o que está acontecendo com ele. É interno. Seu corpo o está matando segundo a segundo. Eventualmente, ele irá respirar e não haverá outro. Eu não posso suportar a ideia.
Minha vida tem sido moldada por morte. Todo mundo que me importa, todos, exceto Maggie, partem. Eu escorrego para fora da cama, agarrando o meu telefone antes de ir para fundo do corredor. Eu envio uma mensagem de texto para ela, embora eu duvide que ela esteja acordada.
Eu digito: Estou com Bryan. Apenas verificando para ter certeza que está tudo bem.
Para minha surpresa ela envia uma mensagem de volta: Eu estou, mas tenho uma coisa horrível para lhe dizer.
Nada poderia ser pior do que perder Bryan. Eu digito de volta: Eu também.
Volto logo para casa e podemos conversar.
Ela responde: Ok.

 


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Eu enfio meu celular no bolso antes de pegar a camiseta de Bryan e a puxo
sobre minha cabeça. Eu enfio minhas mãos sob as mangas e vagueio pela mansão
até encontrar a cozinha. Sinto o cheiro do café e preciso desesperadamente de uma
xícara. Infelizmente, a besta “a tia” de Bryan está sentada à mesa com outra
mulher. Ambas estão vestidas em robe. Eu pisco conforme o choque lava seus
rostos. Eu não posso imaginar por que ela está aqui tão cedo, não vestida. Quão
estranho é isso?

Dentro de um batimento cardíaco, Constance está fora de seu assento e no
meu rosto. — Como você ousa desfilar na casa da minha irmã usando coisas do
meu sobrinho? Saia agora mesmo, sua puta! — Ela tenta bater no meu rosto, mas
eu agarro seu pulso.

As coisas finalmente clicam no lugar. A forma como as mulheres estavam
olhando uma para a outra, o toque de suas mãos, a forma como os seus olhos
permanecem naquele olhar fixo familiar, o fato de que ela está aqui, quando sua
irmã e cunhado já se foram e a forma como Constance se transforma em um tigre
quando ela me vê - faz sentido. Ela está escondendo um segredo há anos que
poderia arruiná-la para sempre. É por isso que ela suporta as infidelidades do Sr.
Ferro e porque permite que suas mulheres valsem pela sua casa.

Constance é gay - e esta mulher é sua amante. Ela pensou que eu soubesse,
mas eu nunca percebi antes.

Ela puxa sua mão do meu aperto e se prepara para começar a gritar
novamente. Eu a interrompo, cansada. — Eu não me importo com sua vida ou
suas preferências. Eu entendo que seja um tabu para você ser vista com ela. Eu
entendo isso, Constance, eu realmente entendo. Eu não a julgo por isso, então pare
de me julgar. A única coisa de que eu quero vocês é o café. — Eu caminho,
passando por ela.

O queixo de Constance está no chão. Sua namorada, uma mulher pelo menos
dez anos mais nova que ela, fica rígida, olhando-me com medo. Relações do mesmo
sexo podem ser ultramodernas e estarem na moda em Nova York, mas não entre
antigas famílias endinheiradas como esta. Isso a arruinaria. É por isso que ela me
odeia. Ela acha que eu tenho andado por aí esperando para soltar uma bomba em
sua vida.

Quando Constance fala, seu tom é cético: — Você sabe há muito tempo e não
disse nada. Por quê?

— Porque eu não me importo com você. — Eu mantenho minhas costas
para ela enquanto despejo o líquido escuro em uma xícara pesada. É muito cedo. As
pessoas normais não estão acordadas às cinco da manhã. Elas provavelmente
estavam tomando café da manhã antes de se separarem para o dia. Quando me viro

para falar, as duas mulheres estão me olhando mortificadas. — Eu me preocupo
com Bryan. Você não percebeu nada sobre ele que lhe diz respeito?

Seu olhar se estreita. — Não brinque comigo. Eu conheço minha família,
cada um deles.

— Sim, bem, você pode querer falar com ele. — Ela bloqueia seu maxilar,
preparando-se para ordenar que eu saia, mas eu acrescento: — O tempo é uma
coisa engraçada. Todos nós pensamos que temos uma tonelada dele até que seja
tirado de nós, então nos damos conta de que nunca foi o suficiente, para começar.
Use o tempo que você tem, Constance. Ame as pessoas que queira e se certifique de
que eles saibam disso. Chegará o dia em que você lamentará que não o fez e a
chance passou por você.

Ela endurece quando eu falo. — Você está me ameaçando?

Eu rio alto com o ridículo de sua declaração. Ela não tem nenhuma pista. Eu
estava me referindo a mim e Bryan, para a piscina constante de arrependimento
que enche meu estômago. Poderíamos ter estado juntos, mas essa oportunidade
está perdida agora, o tempo que nunca teremos.

— Você está tão errada sobre tudo, lacrada em sua pequena bolha, fora de
contato com o mundo real. Isso não é sobre você, então você acha que está segura,
mas você nunca está, não do tempo - não da morte. Seu sobrinho... — Eu engulo
em seco, mas não quebro o contato visual. — Certifique-se que sua mãe descubra.
Isso é tudo que eu quero.

A suposição de que eu estou fazendo é enorme - aquela que Elizabeth Ferro
se importará se seu filho vive ou morre. Bryan não contou a ninguém sobre sua
doença, exceto eu. Jon pode ver isso, mas os outros não têm ideia. Eu não sei
quanto tempo resta à Bryan, mas não quero que ele o gaste se preocupando ou
brigando. Eu quero estar lá para protegê-lo e, por alertar o Ferro de seu estado, eu
provavelmente só fiz isso mais difícil de acontecer - mas que é a coisa certa a fazer.
Se eu tivesse um segundo extra para gastar com o meu pai... O pensamento se
esconde em minha mente, sol a sol. Quando a noite lava o céu com tons roxos de
tinta e manchas de âmbar cintilante, eu gostaria de ter mais uma oportunidade de
dizer todas as coisas que nunca tive a chance de expressar. Agora, esses
pensamentos estão presos dentro da minha alma, me segurando cativa. Eu nunca

vou ser livre. Eu nunca tive a chance de dizer adeus. Eu estou dando aos Ferro essa
oportunidade e esperando além da esperança de que eles não me joguem para fora
na minha bunda em recompensa.

Empurrando de lado meus pensamentos, eu coloco meu copo vazio para
baixo e saio, deixando Constance e sua amante, boquiabertas, no meu despertar. As
duas mulheres atrás de mim são crianças brincando de casinha. Eu posso ser mais
jovem do que elas em anos, mas minha alma parece velha. É imaturo pensar que a
sua vida seja apenas sobre você. A vida é sobre as pessoas ao seu redor. Como eu
gostaria de nunca crescer, mas desejar é desperdício de tempo e eu me recuso a
desperdiçar mais um segundo.

Capítulo 2

Maggie e eu planejamos, através de mensagens de texto, nos encontrar em
algum lugar que tenha um bagel logo após o amanhecer. Os únicos carros no
estacionamento são da loja. O resto do centro de compras ainda está fechado. Eu
não espero muito tempo, quando ela se junta a mim no final da fila.

— Hey. — Diz Maggie, me envolvendo em um abraço.

Eu a abraço de volta, segurando-a um segundo muito longo. Ela vai fugir
novamente. Eu sei disso. Ela não lida bem com a morte também. Acho que
ninguém faz, mas Maggie viu muito dela. Quando eu a solto, me forço a perdoá-la
com antecedência. Uma alma só pode tomar tanto abuso antes que não possa
evitar, exceto reagir. É como o cão de Pavlov. A campainha da morte soa e Maggie
corre.

Eu enfio um pedaço de cabelo atrás da minha orelha e encosto contra a
vitrine de vidro, antes de enfiar as mãos nos bolsos. — Hey. Como tem passado?

A fila faz a volta para fora da porta e para baixo da frente do centro
comercial com pessoas que já pararam para um bagel e café em seu caminho para
o trabalho. A fila se aproxima alguns centímetros mais próxima da comida e nos
movemos com ela, antes de retornar nossas posições contra o vidro. Meu estômago
ronca com o cheiro de fermento e eu mal posso esperar para provar o pão macio,
quente e mordê-lo, saboreando o cream cheese espesso. Eu aprendi a não dar por
certo pequenas coisas. Bagels me ajudam a encontrar meu lugar feliz.

Eu pretendo pegar um para Bryan também - sementes de papoula com
manteiga, exatamente como ele pedia na escola. Viemos aqui tantas vezes. Eu fico
olhando para fora, no estacionamento, minha mente vagando em uma memória de
Bryan me levantando em um carrinho de compras e empurrando-me como um
louco pelo mercado, rindo o tempo todo.

Outro cliente perguntou: — Que corredor você a encontrou? Eu quero uma!

Bryan apenas sorriu, os olhos deslizando sobre mim no carrinho. —
Desculpe, cara. Esta era a única e é toda minha. Eu nunca a deixarei ir. — A

memória ecoa fortemente em meus ouvidos. Parece que poderia ter acontecido
ontem.

A voz de Maggie me encaixa de volta ao presente. Ela encolhe os ombros e
puxa a alça da bolsa para cima de seu ombro. — Eu estou bem. Acho que encontrei
um apartamento para nós, mas eu ouvi que Neil comprou para vocês uma casa. —
Ela faz uma cara de, bem, tenta não fazer uma cara, que faz sua expressão de dor
ainda pior. A fila se move de novo e, com um passo à frente, ela deixa escapar: —
Você realmente vai se casar com ele? Achei que você amasse Bryan? Parecia que
estava totalmente encantada com o gatinho do sexo. Bem, você é a gatinha.
Rapazes são o quê, tigres? Tigre sexual soa mal. — Ela ri, mas sua risada leve
desaparece quando ela vê o meu sorriso falso. — O que há de errado, Hallie?

Eu tento manter minha voz firme, mas treme sem minha permissão. Não há
nenhum ponto em protelar por mais tempo, e além disso, eu preciso dela. Mesmo
que ela vá correr, eu tenho que falar com alguém enquanto eu tiver a chance. —
Maggie, ele está morrendo.

— Mas, ele não pode estar! Ele... — Maggie deixa escapar muitas palavras de
uma só vez e quase começa a chorar. Ela é a pessoa mais empática que eu já
conheci. A minha dor está representada em seu rosto quando ela para, aperta
minha mão e me puxa para um abraço de urso que poderia explodir minha cabeça.
— Eu sinto muito, Hallie. — Ela enxuga as lágrimas com as costas da mão e olha
para o meu ombro, não querendo perguntar. Cada palavra é como se enfiasse uma
faca no meu lado. — O que há de errado com ele?

Eu a atualizo com o que sei que aconteceu até agora. Minha voz continua
difícil quando eu chego ao fim da história. — Nós terminamos por causa de sua tia
Constance. Ela achou que eu iria arruiná-la com informações que eu não deveria
saber, então ela descobriu uma maneira de nos separar. — A raiva eu não tinha
notado até agora borbulha sob a superfície da minha mente. Eu não vou ficar com
raiva, eu não posso ficar. Eu me recuso a perder meu tempo com ela ou o que ela
fez. — Maggie, eu não poderia me importar menos com ela, mas eu quis Bryan
todo esse tempo e não o tive por causa dela.

— E, no entanto, você não soa como louca. Você parece mais
assustadoramente tranquila sobre isso. — Uma sobrancelha vermelha levanta
levemente em sua testa sardenta.

Eu olho para ela conforme nos movemos com a fila para dentro da pequena
loja, e nos aproximamos da bandeja do pão assado. Maggie pede em primeiro lugar,
então eu peço e pago por nossos itens. Pegamos o nosso café da manhã, cortamos
de volta através da fila, para fora da porta, em direção ao estacionamento. Fico ali
na frente dela querendo falar, mas incapaz de encontrar palavras, em seguida,
entrego para ela o pão e suco de laranja.

Minha boca se abre duas vezes, mas as palavras não saem. Eu finalmente
olho nos olhos dela e explico. — Eu não estou louca. Bem, eu estou - mas não quero
estar. É um desperdício de tempo e eu não tenho tempo de sobra. Eu estou
pensando em ficar com ele, Maggie. Seja qual for o tempo que lhe resta, eu quero
estar lá.

— Eu entendo, e eu estou aqui para você. — Ela pega a minha mão, mas eu
não posso olhar para ela.

— Não faça promessas que não pode cumprir, Maggie.

— Eu estou as mantendo desta vez.

— Eu prefiro saber agora que você vai desaparecer. Eu posso lidar com isso
sozinha. Eu estou bem, realmente. Eu sei o que isso faz para você e... — Eu arranjo
desculpas para ela até que ela me corta.

— Não. A última vez eu não estava lá para você, porque Victor era um idiota.
Eu não tive escolha. Isso fazia parte da maneira como ele estava me controlando,
mas ele já se foi, Hallie. Eu não vou fugir. Eu estarei lá para você. Você não terá que
lidar com isso sozinha. Eu prometo. Podemos passar por qualquer coisa, você e
eu. Eu não vou deixar você Hallie. Nós somos irmãs. Eu vou estar lá neste
momento. — Ela sorri sem jeito e olha para o chão sob suas botas.

Ela muda o seu peso para o outro pé e olha para mim debaixo de muito
rímel. Sua boca fica aberta por um segundo e seus lábios enrolam, como se ela não
quisesse dizer o que está prestes a cair de sua boca. — Há algo que você precisa
saber, e eu não sei se você vai gostar ou não com tudo o que aconteceu, mas precisa

saber. Você precisa. E eu odeio dizer isso agora, mas talvez seja melhor assim. Eu
esperaria se eu achasse que ajudaria.

— Maggie, diga-me. O que é?

Ela puxa um monte de ar e cospe para fora. — Ontem à noite, enquanto você
não estava em casa, entrei e vi o que parecia ser Neil e Cecily fazendo coisas que
estava muito além da zona do amigo. — Seus lábios são esmagados em conjunto,
enquanto ela tenta permanecer inexpressiva. Eu posso dizer que ela quer castrar
Neil conforme ela luta para manter seus lábios em uma linha reta.

Eu pisco, e isso é tudo. A raiva não vomita da minha boca e minhas mãos
não estão cerradas em punhos. Eu não me sinto quebrada ou até mesmo chocada.

Eu não sinto nada.

Se eu amasse Neil, eu estaria irada, mas eu não estou. Concordo com a
cabeça.

O rosto preocupado de Maggie franze enquanto ela empurra seu brilhante
cabelo atrás da orelha. — Eu não sei se eu deveria dizer. Eu o odeio, mas pensei
que você gostava do cara. — Ela me olha com tal preocupação que eu não posso
deixar de sorrir para ela.

Meu olhar abaixa para o chão e eu tomo uma respiração profunda, antes de
dar-lhe um abraço de lado. Quando eu a deixo ir, murmuro: — Eu estou feliz que
você me disse. Desgraça pouca é bobagem, certo? — Eu ofereço um sorriso de
novo, mas é falso neste momento. Há muitas lembranças correndo pela minha
mente, e o movimento faz minha pele parecer como se fosse rachar.

— Yeah. — Ela ri. — Pelo menos não temos que nos preocupar com Victor.
Devo-lhe muito por isso. Os jornais disseram que um dos seus homens o matou no
meu apartamento. Se você não tivesse me arrastado para fora, naquela noite eu
teria levado um tiro, também.

Eu sou insensível ao que eu fiz, pelo menos no momento. Às vezes, quando
eu não consigo dormir, o pensamento de que fiz desliza em minha mente, não
desejado. Victor é um pesadelo que não vai morrer, mas não posso perder o meu
tempo.

— Somos eu e você, agora. — Eu digo a ela com firmeza. Ela sorri
tristemente para mim e assente. — Maggie, você pode ir a casa de Neil e pegar
minhas coisas? Há apenas algumas caixas. Eu nunca desembalei, não
realmente. Neil queria que eu fizesse, mas eu empurrei a maioria delas na parte de
trás de um armário. — Eu retiro minha bolsa e escrevo-lhe um cheque. — Isso
deve cobrir o aluguel do nosso novo apartamento e tudo o mais que
precisamos. Deixe-o bonito, ok? Vai ser bom ter um novo lugar bonito para ir para
casa quando isso acabar.

Maggie pega o cheque e olha para todos os zeros, antes de olhar para mim.
Uma mecha de cabelo vermelho cai na frente de seus olhos. — Hallie, eu não posso
aceitar isso.

— Sim, você pode. Vai fazê-lo. Precisamos de um lugar para viver. Eu
gostaria de ter mais a oferecer, mas essa discussão é para outro dia. Entretanto,
isso vai nos colocar em uma boa vizinhança e nós estaremos confortáveis.

— Você vai processar Neil e Cecily? Eles praticamente gastaram todo o seu
dinheiro.

Concordo com a cabeça. — Provavelmente, mas não agora. Eu preciso fazer
um telefonema. — Maggie balança a cabeça e eu disco para o meu banco enquanto
seguimos para o meu carro. Eu explico a um funcionário do banco muito prestativo
que o nome de Neil deve ser retirado da minha conta imediatamente e todas as
transações em andamento com a sua assinatura, devem ser transferidas para a sua
conta. Verificação conjunta foi ideia dele. Eu esfrego minhas mãos sobre meu rosto
e sento com força no capô do meu carro. A coisa está suja, mas eu não me
importo. O funcionário do banco me pede para ir em breve para assinar os papéis,
e fazer as alterações em minha conta oficial. Quando eu insisto que eles precisam
ser assinados agora, ela diz para vir quando for mais conveniente.

Eu desligo e olho fixamente para as portas fechadas da mercearia. — Eu não
posso fazer isso de novo, não tão cedo. — A perda do meu pai ainda paira pesado
em meu coração, ameaçando me puxar para baixo. Minha dor não diminuiu e a
fama não ajudou. A única coisa que me faz sentir melhor é Bryan e agora vou
perdê-lo também.

Eu não posso respirar. Inclinando minha cabeça para trás com os olhos
cheios de lágrimas, eu olho para o céu e as nuvens brancas onduladas. O céu estava
aqui muito antes de eu nascer e vai estar aqui muito tempo depois. Faz-me sentir
pequena, como se a minha vida não importasse em tudo.

Maggie me bate com sua bota. — Bagel?

— Eu não estou com fome. — Eu estava com fome apenas um momento
atrás, mas agora não sinto nada parecido com isso.

— Merda resistente. Eu estou cuidando de você, o que significa que você
come isso ou vou enfiar na sua cara. — Ela está sorrindo para mim. — Eu vou fazer
isso.

Eu roubo a minha comida de sua mão. — Eu sei que você vai. —
Desempacotando a coisa, dou uma mordida e percebo que eu estou morrendo de
fome.

— A vida não é sobre a morte, você sabe. — Diz Maggie de repente. Ela está
sentada ao meu lado no capô, olhando para uma nuvem, pegando arrancando
pedaços de seu bagel, e os jogando em sua boca um de cada vez.

— Então o que se trata? — Eu pensei que eu sabia em um ponto, mas não
tenho ideia, não mais. A vida parece uma piada cruel.

— É sobre as relações que você faz, a bondade que oferece e você mostrar
compaixão. É a sua chance de mostrar ao mundo quem você é e o que faz você.
Hallie, você é a pessoa mais forte que conheço. Em vez de sentar aqui chorando
comigo, você deve estar com Bryan. Aqui. — Ela me dá o bagel extra. — Cheque de
vez em quando e quando você precisar de mim, eu vou. Nesse meio tempo, vou
deixar nossa casa pronta, eu prometo. Nada me manterá longe desta vez. Quando
você precisar de mim, eu estarei lá - se estiver no hospital, a funerária ou apenas
quando você precisar de uma pausa.

Eu sinto uma vibe nervosa vindo dela. — Você não é fraca, Maggie. Somos
sobreviventes, eu e você. — Quando eu digo isso, quero dizer para confortá-la, mas
uma bola dá um nó na minha garganta.

Ela pega a minha mão e se inclina, descansando a cabeça no meu ombro. —
Nós vamos sobreviver a isto também “juntas”.

Capítulo 3

Eu não quero pensar em Neil, então eu volto para a mansão Ferro e me
esgueiro para dentro. Ainda é cedo. As únicas pessoas que vejo são os empregados.
Eles me veem e não dizem nada. Deve ser estranho viver como uma estátua dia
após dia, sem ninguém, mas outros funcionários, na verdade, reconhecem que você
é humano. Eu não posso evitar isso. Eu sorrio para o mordomo que está sempre
ocupado, correndo para algum lugar. Ele inclina a cabeça em saudação, mas não
abranda.

Depois que ele passa, se vira para trás. — Você precisa de alguma coisa, Sra.
Raymond?

Eu sorrio e balanço a cabeça. — Não, é apenas bom vê-lo. — Eu olho para
ele. Este homem tem sido constante na vida de Bryan por anos. Eu me pergunto se
ele sabe que Bryan tem um segredo, porque nada lhe escapa, pelo menos não
quando éramos mais jovens. Eu me lembro de receber olhares severos dele quando
éramos muito jovens e fazíamos coisas muito loucas, enquanto a mãe de Bryan não
estava por perto. Mas o cara nunca nos entregou.

— Da mesma forma, Sra. Raymond. Diga ao Sr. Ferro que se ele precisar de
ajuda pode pedir qualquer coisa para mim. — Seus olhos perfuraram os meus por
um momento antes que ele olhe para o lado.

Ele sabe.

Concordo com a cabeça e vou para o modo de super mocinha. Antes que eu
possa me parar, lanço o meu corpo para ele e meus braços em volta do velho,
abraçando-o em um abraço de urso em estilo desleixado. Ele endurece com choque
e, em seguida, dá um tapinha minhas costas. — As pessoas vão dizer-lhe que ele
vai ficar bem. Ao longo dos próximos meses, você vai ouvir isso de novo e de novo,
mas a perda não é assim que funciona. As coisas não vão voltar ao normal, mas a
vida continua. Converse com ele sobre isso, enquanto você tem a chance.

Meu queixo cai. — O quê? Isso seria tão mau. Eu não posso...

— Isso não é o problema meu, mas se você fosse minha filha, era o que eu
diria a você. Tempos sombrios estão chegando, se este homem é o seu raio de luz,
mergulhe no sol tanto quanto puder e quando puder.

Acho que entendo o que ele quer dizer, então balanço minha cabeça para
cima e para baixo lentamente. Falar sobre a morte com alguém que está morrendo
é o que ele quer dizer. Vamos acabar discutindo todas as coisas que queríamos
fazer, mas nunca teremos a chance. Minha garganta aperta com o pensamento e os
meus olhos lacrimejam. — Obrigada.

— Qualquer hora, Sra. Raymond. — Ele inclina a cabeça para mim como se
eu fosse uma rainha e se vira para correr para longe.

Eu não gosto da sua sugestão, mas parte dela me chama. E se a gente falar
sobre isso? Eu balanço minha cabeça e aperto as mãos. Não! Eu não quero! Isso não
é justo e não posso simplesmente aceitar que vou perdê-lo - não depois que
finalmente nos encontramos novamente. Não depois de todo esse tempo.

No momento que estou dentro da mansão de Bryan, paro na porta. Minha
intenção era ir à ponta dos pés para o quarto de Bryan, mas sou presa pelo Ferro
que eu mais temo - Sean. Ele está encostado na parede, os braços cruzados sobre o
peito. Ele se parece com sua mãe, toda acusação não dita claramente visível em
seus olhos. Suas roupas escuras - casaco de couro, calça jeans, camisa preta e botas
shitkicker. — Você e eu temos algo a discutir.

Minha intenção é passar por ele. — Não tenho nada para lhe dizer.

Sean libera seus braços e caminha em minha frente. Ele é silencioso e letal,
com vibes malucas irradiando dele como micro ondas. Ding! — Bem, eu tenho algo
que você precisa ouvir - sobre um homem chamado Victor. — Minha respiração
para na minha garganta enquanto minhas mãos vão para o meu coração. Sean me
puxa pela curva do meu cotovelo para longe da porta de Bryan. — Sim, eu achei
que você soubesse alguma coisa sobre isso. Os jornais estão dizendo que um dos
seus homens o matou, mas os policiais estão bisbilhotando, me fazendo perguntas
sobre um traficante de merda. Eu não gosto de policiais e não gosto ainda menos
de perguntas. Então, me diga, como é que eles rastrearam até aqui? O que você
deixou para trás?

Eu rio, mas ele ignora. — Você acha que eu o matei? — Estou pressionando
meus dedos em meu peito, piscando, com meu queixo caído. Embora seja um
excelente desempenho, algo que me afasta. Sean pode ver isso.

Ele dá um passo no meu espaço de uma maneira ameaçadora. Sua voz
ressoa: — Eu sei que você o matou.

— Não, você não sabe. — Eu agarro, tentando me empurrar por ele
novamente, mas Sean não me deixa passar. Ele bloqueia o lugar com seu corpo
maciço.

Inclinando-se perto do meu rosto, ele sussurra baixinho: — Se eu sei, a
minha mãe sabe e você não quer pegadas sujas que levam direto para a porta da
frente. Você precisa se separar de Bryan e sair daqui antes que descubram isso.

Eu balanço minha cabeça e mordo meu lábio inferior. Eu provavelmente
pareci como um moleque teimoso, mas não vou deixar Bryan.

Os olhos de Sean travam com os meus e sua voz cai para um sussurro letal.
— Eu posso fazê-la desaparecer.

Algo desperta dentro de mim, essa mesma característica de proteção que
me fez cortar a garganta de Victor, em primeiro lugar. Minha coluna se endireita e
eu fico na frente do seu rosto. — Da mesma forma.

Depois de um momento de reflexão, o homem na verdade ri. Sean esfrega o
queixo com a mão. Eu não posso dizer se ele está se divertindo ou pensa que sou
louca. Ele finalmente pergunta: — Por que você fez isso?

— Por que você acha? O homem era um estuprador assassino. Vamos
apenas dizer que eu estava no lugar errado na hora errada. Acidentes acontecem e
eu não ia deixar que qualquer outra coisa acontecesse com a minha amiga. Ela é a
única família que me resta. — Eu sugo o ar, tentando inchar, então não sou tão
pequena, mas em comparação com Sean Ferro, sou um palito.

Seus olhos azuis mudam para o lado antes que ele passe as mãos pelo
cabelo. — Então, você protegeu sua família, deixe-me proteger a minha. Vá
embora. Não puxe Bryan para isso.

— Para quê? Os mortos não puxam qualquer um para qualquer coisa.

— Victor Campone está vivo.

Capítulo 4

Um pequeno grito escapa dos meus lábios e eu quase caio no chão. Meus
joelhos cedem, mas antes de eu ir para baixo, Sean agarra meus braços. Ele me
mantém de pé e continua suavemente. — Os policiais suspeitam que ele esteja
vivo. No momento em que chegaram lá, o corpo tinha desaparecido. Devido à
quantidade de sangue que encontraram, sua suposição natural era que um de seus
homens o matou e jogou o corpo. Os policiais ainda estavam indo por esse caminho
até recentemente, quando pegaram Campone bisbilhotando meu hotel. Então, a
menos que viram um fantasma, o homem ainda está vivo.

— Ele não pode estar. — Eu balanço minha cabeça e meus olhos vidrados
quando me lembro daquela noite. A quantidade de sangue, a forma que sua cabeça
pendia para trás e a ferida era tão profunda. — Não é possível.

Sean suspira e olha para mim com uma expressão que está perdida em
algum lugar entre pena e admiração. Inclinando-se perto, ele diz: — O corte foi
muito superficial. É como apontar para o coração e não acertar. O cara foi
subestimado, os que estavam dispostos e aceitaram fazer isso uma vez, mas ele não
vai ser subestimado novamente. E eu aposto qualquer coisa que ele vai
permanecer morto por um tempo, deixar que os outros façam o trabalho sujo, até
que lhe convenha encenar uma ressurreição.

— Como você sabe tudo isso?

Ele engole em seco, seu olhar se afastando e depois de volta para os meus
olhos. — Periodicamente nossos empreendimentos comerciais se sobrepõem. Eu
ouço coisas. E posso dizer-lhe que se eu ouvi, minha mãe ouviu e você com certeza
não quer irritá-la. Se Campone acabar aqui, você está morta. Se ele não te matar,
minha mãe vai.

Ele agarra meus ombros e me pede: — Hallie, pega a sua amiga e dá o fora
daqui antes que Campone a encontre. — Sean me libera. — Este foi um aviso de
cortesia. Se você ficar por perto e Bryan for morto por sua causa, bem, é melhor

esperar que Victor a encontre antes de mim. — Seus olhos firmam em mim uma
vez com as suas intenções claras.

Eu fico lá por um segundo mal respirando. Nossos olhos estão bloqueados,
nós dois estamos desafiando, mas será que ele não sabe, Sean não sabe sobre seu
primo? Talvez eu devesse pegar Bryan e correr, mas não posso. Não enquanto ele
está doente. Ele vai precisar de ajuda e cuidados paliativos. Eu não posso dar-lhe
essas coisas se eu corro. Minha voz racha quando eu falo. — Eu não posso.

— Não é opcional.

— Não, você não entende. Eu não posso ir embora. Eu não posso correr
mais de Victor e não vou. Eu vou cuidar disso. Eu vou terminar o que comecei. —
Eu não tenho ideia de como, mas vou. Se eu não fizer isso, ele virá atrás de mim e
Maggie. O homem é cruel, ele nunca vai parar de nos caçar. Eu sei disso com
certeza.

Sean levanta a sobrancelha escura. — Você está louca? Você nunca vai ter
outra chance de matá-lo. Ele pensou que era insignificante antes, mas agora ele a
conhece melhor.

Eu me empurro passando por ele. — Eu vou cuidar disso. Ele não virá aqui,
e desta vez, quando eu matá-lo, ele vai morrer.

— Hallie. — Sean quase implora meu nome, quase, mas eu não paro.

Eu entro no quarto de Bryan e fecho a porta. Eu fico lá por um segundo e
derrubo minha cabeça para trás, respirando com dificuldade. Eu nunca soquei uma
pessoa antes. Agora eu simplesmente confessei ao mais assustador de todos os
Ferro que vou dar um fim no senhor das drogas mais notório da cidade. Super foda.

Eu ainda estou segurando o saco com café da manhã de Bryan. Quando
aperto o meu punho, o jornal faz um ruído de crepitação e ele se senta. Um belo
sorriso ilumina seu rosto pálido. — Hey, Menina Bonita. Para onde você correu?

— Para pegar o café da manhã e conseguir alguma sujeira em sua tia. Foi
uma manhã interessante. — Eu sorrio, preocupada com ele e entrego o saco.

— Sujeira na minha tia?

Balanço a cabeça e me sento ao lado dele na cama. — Sim, eu descobri
porque ela me odeia. Ela pensa que eu sei de algo todos esses anos, mas eu não
descobri o que eu sabia até esta manhã.

Bryan desembrulha o seu bagel enquanto estou falando e morde. Seus
firmes olhos verdes encontram os meus. Com a boca cheia, ele me pergunta. — E
então?

Eu penso em manter seu segredo, mas não sinto nenhuma lealdade para
com ela. Além disso, Bryan não vai contar a ninguém. — Ela é gay. Eu a peguei com
sua amante na cozinha de sua mãe esta manhã.

Seu queixo cai e o pedaço de bagel rola para fora da boca, indo para a
colcha. — De jeito nenhum.

Concordo com a cabeça e olho para o pedaço de comida. — Um choque e
tanto, hein?

— Claro que sim. Ela é tão recatada e adequada. — Seu nariz franze com o
pensamento da sua tia ser sexualmente algo.

— E, aparentemente, ela gosta de garotas.

Bryan pisca e sorri. — Bem, isso explica um monte de coisas.

— Sim, como por que ela ainda é casada e permite que prostitutas meio
vestidas andem pela sua casa.

Bryan sorri. — Claro, todo mundo gosta de um pouco de colírio para os
olhos.

Eu bato em seu ombro. — Bryan!

— Vamos lá, pense nisso. Houve uma garota naquela casa desde que Jon era
um bebê. É a família mais estranha que eu já vi. Minha mãe não teria tolerado. Eu
sempre me perguntei por que a tia Constance tolerava.

— Seu pai não tem uma puta coabitante?

Ele inclina a cabeça para mim. — Meu pai não tem tempo para isso. Ele está
muito ocupado ganhando dinheiro para ser incomodado com relacionamentos ou
senhoras de compra. Mas, ainda assim, a tia Connie gosta das garotas. Quem teria

pensado? — Ele balança a cabeça. — Então o que diabos eu vi no dia que
terminamos?

Boa pergunta. Eu suspiro e tenho uma boa ideia de para quem perguntar. Eu
sorrio grande. — Qual é o quarto que Constance usa quando está aqui?

Bryan parece confuso e então seus olhos se arregalam. — Você está louca?

— Só um pouco. — Eu rio e quase aperto meus dedos juntos.


CONTINUA

A luz do amanhecer brilha através das pesadas cortinas que revestem as paredes formando uma fina fenda de branco puro no tapete escuro. Eu fico olhando para ele, perdida em seus pensamentos. Perto de mim, Bryan está dormindo. Eu envolvo meus braços ao redor dele e seu corpo se parece tão forte. É por isso que isto é tão difícil. Não faz nenhum sentido. Para além da dor, eu não posso ver o que está acontecendo com ele. É interno. Seu corpo o está matando segundo a segundo. Eventualmente, ele irá respirar e não haverá outro. Eu não posso suportar a ideia.
Minha vida tem sido moldada por morte. Todo mundo que me importa, todos, exceto Maggie, partem. Eu escorrego para fora da cama, agarrando o meu telefone antes de ir para fundo do corredor. Eu envio uma mensagem de texto para ela, embora eu duvide que ela esteja acordada.
Eu digito: Estou com Bryan. Apenas verificando para ter certeza que está tudo bem.
Para minha surpresa ela envia uma mensagem de volta: Eu estou, mas tenho uma coisa horrível para lhe dizer.
Nada poderia ser pior do que perder Bryan. Eu digito de volta: Eu também.
Volto logo para casa e podemos conversar.
Ela responde: Ok.

 


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Eu enfio meu celular no bolso antes de pegar a camiseta de Bryan e a puxo
sobre minha cabeça. Eu enfio minhas mãos sob as mangas e vagueio pela mansão
até encontrar a cozinha. Sinto o cheiro do café e preciso desesperadamente de uma
xícara. Infelizmente, a besta “a tia” de Bryan está sentada à mesa com outra
mulher. Ambas estão vestidas em robe. Eu pisco conforme o choque lava seus
rostos. Eu não posso imaginar por que ela está aqui tão cedo, não vestida. Quão
estranho é isso?

Dentro de um batimento cardíaco, Constance está fora de seu assento e no
meu rosto. — Como você ousa desfilar na casa da minha irmã usando coisas do
meu sobrinho? Saia agora mesmo, sua puta! — Ela tenta bater no meu rosto, mas
eu agarro seu pulso.

As coisas finalmente clicam no lugar. A forma como as mulheres estavam
olhando uma para a outra, o toque de suas mãos, a forma como os seus olhos
permanecem naquele olhar fixo familiar, o fato de que ela está aqui, quando sua
irmã e cunhado já se foram e a forma como Constance se transforma em um tigre
quando ela me vê - faz sentido. Ela está escondendo um segredo há anos que
poderia arruiná-la para sempre. É por isso que ela suporta as infidelidades do Sr.
Ferro e porque permite que suas mulheres valsem pela sua casa.

Constance é gay - e esta mulher é sua amante. Ela pensou que eu soubesse,
mas eu nunca percebi antes.

Ela puxa sua mão do meu aperto e se prepara para começar a gritar
novamente. Eu a interrompo, cansada. — Eu não me importo com sua vida ou
suas preferências. Eu entendo que seja um tabu para você ser vista com ela. Eu
entendo isso, Constance, eu realmente entendo. Eu não a julgo por isso, então pare
de me julgar. A única coisa de que eu quero vocês é o café. — Eu caminho,
passando por ela.

O queixo de Constance está no chão. Sua namorada, uma mulher pelo menos
dez anos mais nova que ela, fica rígida, olhando-me com medo. Relações do mesmo
sexo podem ser ultramodernas e estarem na moda em Nova York, mas não entre
antigas famílias endinheiradas como esta. Isso a arruinaria. É por isso que ela me
odeia. Ela acha que eu tenho andado por aí esperando para soltar uma bomba em
sua vida.

Quando Constance fala, seu tom é cético: — Você sabe há muito tempo e não
disse nada. Por quê?

— Porque eu não me importo com você. — Eu mantenho minhas costas
para ela enquanto despejo o líquido escuro em uma xícara pesada. É muito cedo. As
pessoas normais não estão acordadas às cinco da manhã. Elas provavelmente
estavam tomando café da manhã antes de se separarem para o dia. Quando me viro

para falar, as duas mulheres estão me olhando mortificadas. — Eu me preocupo
com Bryan. Você não percebeu nada sobre ele que lhe diz respeito?

Seu olhar se estreita. — Não brinque comigo. Eu conheço minha família,
cada um deles.

— Sim, bem, você pode querer falar com ele. — Ela bloqueia seu maxilar,
preparando-se para ordenar que eu saia, mas eu acrescento: — O tempo é uma
coisa engraçada. Todos nós pensamos que temos uma tonelada dele até que seja
tirado de nós, então nos damos conta de que nunca foi o suficiente, para começar.
Use o tempo que você tem, Constance. Ame as pessoas que queira e se certifique de
que eles saibam disso. Chegará o dia em que você lamentará que não o fez e a
chance passou por você.

Ela endurece quando eu falo. — Você está me ameaçando?

Eu rio alto com o ridículo de sua declaração. Ela não tem nenhuma pista. Eu
estava me referindo a mim e Bryan, para a piscina constante de arrependimento
que enche meu estômago. Poderíamos ter estado juntos, mas essa oportunidade
está perdida agora, o tempo que nunca teremos.

— Você está tão errada sobre tudo, lacrada em sua pequena bolha, fora de
contato com o mundo real. Isso não é sobre você, então você acha que está segura,
mas você nunca está, não do tempo - não da morte. Seu sobrinho... — Eu engulo
em seco, mas não quebro o contato visual. — Certifique-se que sua mãe descubra.
Isso é tudo que eu quero.

A suposição de que eu estou fazendo é enorme - aquela que Elizabeth Ferro
se importará se seu filho vive ou morre. Bryan não contou a ninguém sobre sua
doença, exceto eu. Jon pode ver isso, mas os outros não têm ideia. Eu não sei
quanto tempo resta à Bryan, mas não quero que ele o gaste se preocupando ou
brigando. Eu quero estar lá para protegê-lo e, por alertar o Ferro de seu estado, eu
provavelmente só fiz isso mais difícil de acontecer - mas que é a coisa certa a fazer.
Se eu tivesse um segundo extra para gastar com o meu pai... O pensamento se
esconde em minha mente, sol a sol. Quando a noite lava o céu com tons roxos de
tinta e manchas de âmbar cintilante, eu gostaria de ter mais uma oportunidade de
dizer todas as coisas que nunca tive a chance de expressar. Agora, esses
pensamentos estão presos dentro da minha alma, me segurando cativa. Eu nunca

vou ser livre. Eu nunca tive a chance de dizer adeus. Eu estou dando aos Ferro essa
oportunidade e esperando além da esperança de que eles não me joguem para fora
na minha bunda em recompensa.

Empurrando de lado meus pensamentos, eu coloco meu copo vazio para
baixo e saio, deixando Constance e sua amante, boquiabertas, no meu despertar. As
duas mulheres atrás de mim são crianças brincando de casinha. Eu posso ser mais
jovem do que elas em anos, mas minha alma parece velha. É imaturo pensar que a
sua vida seja apenas sobre você. A vida é sobre as pessoas ao seu redor. Como eu
gostaria de nunca crescer, mas desejar é desperdício de tempo e eu me recuso a
desperdiçar mais um segundo.

Capítulo 2

Maggie e eu planejamos, através de mensagens de texto, nos encontrar em
algum lugar que tenha um bagel logo após o amanhecer. Os únicos carros no
estacionamento são da loja. O resto do centro de compras ainda está fechado. Eu
não espero muito tempo, quando ela se junta a mim no final da fila.

— Hey. — Diz Maggie, me envolvendo em um abraço.

Eu a abraço de volta, segurando-a um segundo muito longo. Ela vai fugir
novamente. Eu sei disso. Ela não lida bem com a morte também. Acho que
ninguém faz, mas Maggie viu muito dela. Quando eu a solto, me forço a perdoá-la
com antecedência. Uma alma só pode tomar tanto abuso antes que não possa
evitar, exceto reagir. É como o cão de Pavlov. A campainha da morte soa e Maggie
corre.

Eu enfio um pedaço de cabelo atrás da minha orelha e encosto contra a
vitrine de vidro, antes de enfiar as mãos nos bolsos. — Hey. Como tem passado?

A fila faz a volta para fora da porta e para baixo da frente do centro
comercial com pessoas que já pararam para um bagel e café em seu caminho para
o trabalho. A fila se aproxima alguns centímetros mais próxima da comida e nos
movemos com ela, antes de retornar nossas posições contra o vidro. Meu estômago
ronca com o cheiro de fermento e eu mal posso esperar para provar o pão macio,
quente e mordê-lo, saboreando o cream cheese espesso. Eu aprendi a não dar por
certo pequenas coisas. Bagels me ajudam a encontrar meu lugar feliz.

Eu pretendo pegar um para Bryan também - sementes de papoula com
manteiga, exatamente como ele pedia na escola. Viemos aqui tantas vezes. Eu fico
olhando para fora, no estacionamento, minha mente vagando em uma memória de
Bryan me levantando em um carrinho de compras e empurrando-me como um
louco pelo mercado, rindo o tempo todo.

Outro cliente perguntou: — Que corredor você a encontrou? Eu quero uma!

Bryan apenas sorriu, os olhos deslizando sobre mim no carrinho. —
Desculpe, cara. Esta era a única e é toda minha. Eu nunca a deixarei ir. — A

memória ecoa fortemente em meus ouvidos. Parece que poderia ter acontecido
ontem.

A voz de Maggie me encaixa de volta ao presente. Ela encolhe os ombros e
puxa a alça da bolsa para cima de seu ombro. — Eu estou bem. Acho que encontrei
um apartamento para nós, mas eu ouvi que Neil comprou para vocês uma casa. —
Ela faz uma cara de, bem, tenta não fazer uma cara, que faz sua expressão de dor
ainda pior. A fila se move de novo e, com um passo à frente, ela deixa escapar: —
Você realmente vai se casar com ele? Achei que você amasse Bryan? Parecia que
estava totalmente encantada com o gatinho do sexo. Bem, você é a gatinha.
Rapazes são o quê, tigres? Tigre sexual soa mal. — Ela ri, mas sua risada leve
desaparece quando ela vê o meu sorriso falso. — O que há de errado, Hallie?

Eu tento manter minha voz firme, mas treme sem minha permissão. Não há
nenhum ponto em protelar por mais tempo, e além disso, eu preciso dela. Mesmo
que ela vá correr, eu tenho que falar com alguém enquanto eu tiver a chance. —
Maggie, ele está morrendo.

— Mas, ele não pode estar! Ele... — Maggie deixa escapar muitas palavras de
uma só vez e quase começa a chorar. Ela é a pessoa mais empática que eu já
conheci. A minha dor está representada em seu rosto quando ela para, aperta
minha mão e me puxa para um abraço de urso que poderia explodir minha cabeça.
— Eu sinto muito, Hallie. — Ela enxuga as lágrimas com as costas da mão e olha
para o meu ombro, não querendo perguntar. Cada palavra é como se enfiasse uma
faca no meu lado. — O que há de errado com ele?

Eu a atualizo com o que sei que aconteceu até agora. Minha voz continua
difícil quando eu chego ao fim da história. — Nós terminamos por causa de sua tia
Constance. Ela achou que eu iria arruiná-la com informações que eu não deveria
saber, então ela descobriu uma maneira de nos separar. — A raiva eu não tinha
notado até agora borbulha sob a superfície da minha mente. Eu não vou ficar com
raiva, eu não posso ficar. Eu me recuso a perder meu tempo com ela ou o que ela
fez. — Maggie, eu não poderia me importar menos com ela, mas eu quis Bryan
todo esse tempo e não o tive por causa dela.

— E, no entanto, você não soa como louca. Você parece mais
assustadoramente tranquila sobre isso. — Uma sobrancelha vermelha levanta
levemente em sua testa sardenta.

Eu olho para ela conforme nos movemos com a fila para dentro da pequena
loja, e nos aproximamos da bandeja do pão assado. Maggie pede em primeiro lugar,
então eu peço e pago por nossos itens. Pegamos o nosso café da manhã, cortamos
de volta através da fila, para fora da porta, em direção ao estacionamento. Fico ali
na frente dela querendo falar, mas incapaz de encontrar palavras, em seguida,
entrego para ela o pão e suco de laranja.

Minha boca se abre duas vezes, mas as palavras não saem. Eu finalmente
olho nos olhos dela e explico. — Eu não estou louca. Bem, eu estou - mas não quero
estar. É um desperdício de tempo e eu não tenho tempo de sobra. Eu estou
pensando em ficar com ele, Maggie. Seja qual for o tempo que lhe resta, eu quero
estar lá.

— Eu entendo, e eu estou aqui para você. — Ela pega a minha mão, mas eu
não posso olhar para ela.

— Não faça promessas que não pode cumprir, Maggie.

— Eu estou as mantendo desta vez.

— Eu prefiro saber agora que você vai desaparecer. Eu posso lidar com isso
sozinha. Eu estou bem, realmente. Eu sei o que isso faz para você e... — Eu arranjo
desculpas para ela até que ela me corta.

— Não. A última vez eu não estava lá para você, porque Victor era um idiota.
Eu não tive escolha. Isso fazia parte da maneira como ele estava me controlando,
mas ele já se foi, Hallie. Eu não vou fugir. Eu estarei lá para você. Você não terá que
lidar com isso sozinha. Eu prometo. Podemos passar por qualquer coisa, você e
eu. Eu não vou deixar você Hallie. Nós somos irmãs. Eu vou estar lá neste
momento. — Ela sorri sem jeito e olha para o chão sob suas botas.

Ela muda o seu peso para o outro pé e olha para mim debaixo de muito
rímel. Sua boca fica aberta por um segundo e seus lábios enrolam, como se ela não
quisesse dizer o que está prestes a cair de sua boca. — Há algo que você precisa
saber, e eu não sei se você vai gostar ou não com tudo o que aconteceu, mas precisa

saber. Você precisa. E eu odeio dizer isso agora, mas talvez seja melhor assim. Eu
esperaria se eu achasse que ajudaria.

— Maggie, diga-me. O que é?

Ela puxa um monte de ar e cospe para fora. — Ontem à noite, enquanto você
não estava em casa, entrei e vi o que parecia ser Neil e Cecily fazendo coisas que
estava muito além da zona do amigo. — Seus lábios são esmagados em conjunto,
enquanto ela tenta permanecer inexpressiva. Eu posso dizer que ela quer castrar
Neil conforme ela luta para manter seus lábios em uma linha reta.

Eu pisco, e isso é tudo. A raiva não vomita da minha boca e minhas mãos
não estão cerradas em punhos. Eu não me sinto quebrada ou até mesmo chocada.

Eu não sinto nada.

Se eu amasse Neil, eu estaria irada, mas eu não estou. Concordo com a
cabeça.

O rosto preocupado de Maggie franze enquanto ela empurra seu brilhante
cabelo atrás da orelha. — Eu não sei se eu deveria dizer. Eu o odeio, mas pensei
que você gostava do cara. — Ela me olha com tal preocupação que eu não posso
deixar de sorrir para ela.

Meu olhar abaixa para o chão e eu tomo uma respiração profunda, antes de
dar-lhe um abraço de lado. Quando eu a deixo ir, murmuro: — Eu estou feliz que
você me disse. Desgraça pouca é bobagem, certo? — Eu ofereço um sorriso de
novo, mas é falso neste momento. Há muitas lembranças correndo pela minha
mente, e o movimento faz minha pele parecer como se fosse rachar.

— Yeah. — Ela ri. — Pelo menos não temos que nos preocupar com Victor.
Devo-lhe muito por isso. Os jornais disseram que um dos seus homens o matou no
meu apartamento. Se você não tivesse me arrastado para fora, naquela noite eu
teria levado um tiro, também.

Eu sou insensível ao que eu fiz, pelo menos no momento. Às vezes, quando
eu não consigo dormir, o pensamento de que fiz desliza em minha mente, não
desejado. Victor é um pesadelo que não vai morrer, mas não posso perder o meu
tempo.

— Somos eu e você, agora. — Eu digo a ela com firmeza. Ela sorri
tristemente para mim e assente. — Maggie, você pode ir a casa de Neil e pegar
minhas coisas? Há apenas algumas caixas. Eu nunca desembalei, não
realmente. Neil queria que eu fizesse, mas eu empurrei a maioria delas na parte de
trás de um armário. — Eu retiro minha bolsa e escrevo-lhe um cheque. — Isso
deve cobrir o aluguel do nosso novo apartamento e tudo o mais que
precisamos. Deixe-o bonito, ok? Vai ser bom ter um novo lugar bonito para ir para
casa quando isso acabar.

Maggie pega o cheque e olha para todos os zeros, antes de olhar para mim.
Uma mecha de cabelo vermelho cai na frente de seus olhos. — Hallie, eu não posso
aceitar isso.

— Sim, você pode. Vai fazê-lo. Precisamos de um lugar para viver. Eu
gostaria de ter mais a oferecer, mas essa discussão é para outro dia. Entretanto,
isso vai nos colocar em uma boa vizinhança e nós estaremos confortáveis.

— Você vai processar Neil e Cecily? Eles praticamente gastaram todo o seu
dinheiro.

Concordo com a cabeça. — Provavelmente, mas não agora. Eu preciso fazer
um telefonema. — Maggie balança a cabeça e eu disco para o meu banco enquanto
seguimos para o meu carro. Eu explico a um funcionário do banco muito prestativo
que o nome de Neil deve ser retirado da minha conta imediatamente e todas as
transações em andamento com a sua assinatura, devem ser transferidas para a sua
conta. Verificação conjunta foi ideia dele. Eu esfrego minhas mãos sobre meu rosto
e sento com força no capô do meu carro. A coisa está suja, mas eu não me
importo. O funcionário do banco me pede para ir em breve para assinar os papéis,
e fazer as alterações em minha conta oficial. Quando eu insisto que eles precisam
ser assinados agora, ela diz para vir quando for mais conveniente.

Eu desligo e olho fixamente para as portas fechadas da mercearia. — Eu não
posso fazer isso de novo, não tão cedo. — A perda do meu pai ainda paira pesado
em meu coração, ameaçando me puxar para baixo. Minha dor não diminuiu e a
fama não ajudou. A única coisa que me faz sentir melhor é Bryan e agora vou
perdê-lo também.

Eu não posso respirar. Inclinando minha cabeça para trás com os olhos
cheios de lágrimas, eu olho para o céu e as nuvens brancas onduladas. O céu estava
aqui muito antes de eu nascer e vai estar aqui muito tempo depois. Faz-me sentir
pequena, como se a minha vida não importasse em tudo.

Maggie me bate com sua bota. — Bagel?

— Eu não estou com fome. — Eu estava com fome apenas um momento
atrás, mas agora não sinto nada parecido com isso.

— Merda resistente. Eu estou cuidando de você, o que significa que você
come isso ou vou enfiar na sua cara. — Ela está sorrindo para mim. — Eu vou fazer
isso.

Eu roubo a minha comida de sua mão. — Eu sei que você vai. —
Desempacotando a coisa, dou uma mordida e percebo que eu estou morrendo de
fome.

— A vida não é sobre a morte, você sabe. — Diz Maggie de repente. Ela está
sentada ao meu lado no capô, olhando para uma nuvem, pegando arrancando
pedaços de seu bagel, e os jogando em sua boca um de cada vez.

— Então o que se trata? — Eu pensei que eu sabia em um ponto, mas não
tenho ideia, não mais. A vida parece uma piada cruel.

— É sobre as relações que você faz, a bondade que oferece e você mostrar
compaixão. É a sua chance de mostrar ao mundo quem você é e o que faz você.
Hallie, você é a pessoa mais forte que conheço. Em vez de sentar aqui chorando
comigo, você deve estar com Bryan. Aqui. — Ela me dá o bagel extra. — Cheque de
vez em quando e quando você precisar de mim, eu vou. Nesse meio tempo, vou
deixar nossa casa pronta, eu prometo. Nada me manterá longe desta vez. Quando
você precisar de mim, eu estarei lá - se estiver no hospital, a funerária ou apenas
quando você precisar de uma pausa.

Eu sinto uma vibe nervosa vindo dela. — Você não é fraca, Maggie. Somos
sobreviventes, eu e você. — Quando eu digo isso, quero dizer para confortá-la, mas
uma bola dá um nó na minha garganta.

Ela pega a minha mão e se inclina, descansando a cabeça no meu ombro. —
Nós vamos sobreviver a isto também “juntas”.

Capítulo 3

Eu não quero pensar em Neil, então eu volto para a mansão Ferro e me
esgueiro para dentro. Ainda é cedo. As únicas pessoas que vejo são os empregados.
Eles me veem e não dizem nada. Deve ser estranho viver como uma estátua dia
após dia, sem ninguém, mas outros funcionários, na verdade, reconhecem que você
é humano. Eu não posso evitar isso. Eu sorrio para o mordomo que está sempre
ocupado, correndo para algum lugar. Ele inclina a cabeça em saudação, mas não
abranda.

Depois que ele passa, se vira para trás. — Você precisa de alguma coisa, Sra.
Raymond?

Eu sorrio e balanço a cabeça. — Não, é apenas bom vê-lo. — Eu olho para
ele. Este homem tem sido constante na vida de Bryan por anos. Eu me pergunto se
ele sabe que Bryan tem um segredo, porque nada lhe escapa, pelo menos não
quando éramos mais jovens. Eu me lembro de receber olhares severos dele quando
éramos muito jovens e fazíamos coisas muito loucas, enquanto a mãe de Bryan não
estava por perto. Mas o cara nunca nos entregou.

— Da mesma forma, Sra. Raymond. Diga ao Sr. Ferro que se ele precisar de
ajuda pode pedir qualquer coisa para mim. — Seus olhos perfuraram os meus por
um momento antes que ele olhe para o lado.

Ele sabe.

Concordo com a cabeça e vou para o modo de super mocinha. Antes que eu
possa me parar, lanço o meu corpo para ele e meus braços em volta do velho,
abraçando-o em um abraço de urso em estilo desleixado. Ele endurece com choque
e, em seguida, dá um tapinha minhas costas. — As pessoas vão dizer-lhe que ele
vai ficar bem. Ao longo dos próximos meses, você vai ouvir isso de novo e de novo,
mas a perda não é assim que funciona. As coisas não vão voltar ao normal, mas a
vida continua. Converse com ele sobre isso, enquanto você tem a chance.

Meu queixo cai. — O quê? Isso seria tão mau. Eu não posso...

— Isso não é o problema meu, mas se você fosse minha filha, era o que eu
diria a você. Tempos sombrios estão chegando, se este homem é o seu raio de luz,
mergulhe no sol tanto quanto puder e quando puder.

Acho que entendo o que ele quer dizer, então balanço minha cabeça para
cima e para baixo lentamente. Falar sobre a morte com alguém que está morrendo
é o que ele quer dizer. Vamos acabar discutindo todas as coisas que queríamos
fazer, mas nunca teremos a chance. Minha garganta aperta com o pensamento e os
meus olhos lacrimejam. — Obrigada.

— Qualquer hora, Sra. Raymond. — Ele inclina a cabeça para mim como se
eu fosse uma rainha e se vira para correr para longe.

Eu não gosto da sua sugestão, mas parte dela me chama. E se a gente falar
sobre isso? Eu balanço minha cabeça e aperto as mãos. Não! Eu não quero! Isso não
é justo e não posso simplesmente aceitar que vou perdê-lo - não depois que
finalmente nos encontramos novamente. Não depois de todo esse tempo.

No momento que estou dentro da mansão de Bryan, paro na porta. Minha
intenção era ir à ponta dos pés para o quarto de Bryan, mas sou presa pelo Ferro
que eu mais temo - Sean. Ele está encostado na parede, os braços cruzados sobre o
peito. Ele se parece com sua mãe, toda acusação não dita claramente visível em
seus olhos. Suas roupas escuras - casaco de couro, calça jeans, camisa preta e botas
shitkicker. — Você e eu temos algo a discutir.

Minha intenção é passar por ele. — Não tenho nada para lhe dizer.

Sean libera seus braços e caminha em minha frente. Ele é silencioso e letal,
com vibes malucas irradiando dele como micro ondas. Ding! — Bem, eu tenho algo
que você precisa ouvir - sobre um homem chamado Victor. — Minha respiração
para na minha garganta enquanto minhas mãos vão para o meu coração. Sean me
puxa pela curva do meu cotovelo para longe da porta de Bryan. — Sim, eu achei
que você soubesse alguma coisa sobre isso. Os jornais estão dizendo que um dos
seus homens o matou, mas os policiais estão bisbilhotando, me fazendo perguntas
sobre um traficante de merda. Eu não gosto de policiais e não gosto ainda menos
de perguntas. Então, me diga, como é que eles rastrearam até aqui? O que você
deixou para trás?

Eu rio, mas ele ignora. — Você acha que eu o matei? — Estou pressionando
meus dedos em meu peito, piscando, com meu queixo caído. Embora seja um
excelente desempenho, algo que me afasta. Sean pode ver isso.

Ele dá um passo no meu espaço de uma maneira ameaçadora. Sua voz
ressoa: — Eu sei que você o matou.

— Não, você não sabe. — Eu agarro, tentando me empurrar por ele
novamente, mas Sean não me deixa passar. Ele bloqueia o lugar com seu corpo
maciço.

Inclinando-se perto do meu rosto, ele sussurra baixinho: — Se eu sei, a
minha mãe sabe e você não quer pegadas sujas que levam direto para a porta da
frente. Você precisa se separar de Bryan e sair daqui antes que descubram isso.

Eu balanço minha cabeça e mordo meu lábio inferior. Eu provavelmente
pareci como um moleque teimoso, mas não vou deixar Bryan.

Os olhos de Sean travam com os meus e sua voz cai para um sussurro letal.
— Eu posso fazê-la desaparecer.

Algo desperta dentro de mim, essa mesma característica de proteção que
me fez cortar a garganta de Victor, em primeiro lugar. Minha coluna se endireita e
eu fico na frente do seu rosto. — Da mesma forma.

Depois de um momento de reflexão, o homem na verdade ri. Sean esfrega o
queixo com a mão. Eu não posso dizer se ele está se divertindo ou pensa que sou
louca. Ele finalmente pergunta: — Por que você fez isso?

— Por que você acha? O homem era um estuprador assassino. Vamos
apenas dizer que eu estava no lugar errado na hora errada. Acidentes acontecem e
eu não ia deixar que qualquer outra coisa acontecesse com a minha amiga. Ela é a
única família que me resta. — Eu sugo o ar, tentando inchar, então não sou tão
pequena, mas em comparação com Sean Ferro, sou um palito.

Seus olhos azuis mudam para o lado antes que ele passe as mãos pelo
cabelo. — Então, você protegeu sua família, deixe-me proteger a minha. Vá
embora. Não puxe Bryan para isso.

— Para quê? Os mortos não puxam qualquer um para qualquer coisa.

— Victor Campone está vivo.

Capítulo 4

Um pequeno grito escapa dos meus lábios e eu quase caio no chão. Meus
joelhos cedem, mas antes de eu ir para baixo, Sean agarra meus braços. Ele me
mantém de pé e continua suavemente. — Os policiais suspeitam que ele esteja
vivo. No momento em que chegaram lá, o corpo tinha desaparecido. Devido à
quantidade de sangue que encontraram, sua suposição natural era que um de seus
homens o matou e jogou o corpo. Os policiais ainda estavam indo por esse caminho
até recentemente, quando pegaram Campone bisbilhotando meu hotel. Então, a
menos que viram um fantasma, o homem ainda está vivo.

— Ele não pode estar. — Eu balanço minha cabeça e meus olhos vidrados
quando me lembro daquela noite. A quantidade de sangue, a forma que sua cabeça
pendia para trás e a ferida era tão profunda. — Não é possível.

Sean suspira e olha para mim com uma expressão que está perdida em
algum lugar entre pena e admiração. Inclinando-se perto, ele diz: — O corte foi
muito superficial. É como apontar para o coração e não acertar. O cara foi
subestimado, os que estavam dispostos e aceitaram fazer isso uma vez, mas ele não
vai ser subestimado novamente. E eu aposto qualquer coisa que ele vai
permanecer morto por um tempo, deixar que os outros façam o trabalho sujo, até
que lhe convenha encenar uma ressurreição.

— Como você sabe tudo isso?

Ele engole em seco, seu olhar se afastando e depois de volta para os meus
olhos. — Periodicamente nossos empreendimentos comerciais se sobrepõem. Eu
ouço coisas. E posso dizer-lhe que se eu ouvi, minha mãe ouviu e você com certeza
não quer irritá-la. Se Campone acabar aqui, você está morta. Se ele não te matar,
minha mãe vai.

Ele agarra meus ombros e me pede: — Hallie, pega a sua amiga e dá o fora
daqui antes que Campone a encontre. — Sean me libera. — Este foi um aviso de
cortesia. Se você ficar por perto e Bryan for morto por sua causa, bem, é melhor

esperar que Victor a encontre antes de mim. — Seus olhos firmam em mim uma
vez com as suas intenções claras.

Eu fico lá por um segundo mal respirando. Nossos olhos estão bloqueados,
nós dois estamos desafiando, mas será que ele não sabe, Sean não sabe sobre seu
primo? Talvez eu devesse pegar Bryan e correr, mas não posso. Não enquanto ele
está doente. Ele vai precisar de ajuda e cuidados paliativos. Eu não posso dar-lhe
essas coisas se eu corro. Minha voz racha quando eu falo. — Eu não posso.

— Não é opcional.

— Não, você não entende. Eu não posso ir embora. Eu não posso correr
mais de Victor e não vou. Eu vou cuidar disso. Eu vou terminar o que comecei. —
Eu não tenho ideia de como, mas vou. Se eu não fizer isso, ele virá atrás de mim e
Maggie. O homem é cruel, ele nunca vai parar de nos caçar. Eu sei disso com
certeza.

Sean levanta a sobrancelha escura. — Você está louca? Você nunca vai ter
outra chance de matá-lo. Ele pensou que era insignificante antes, mas agora ele a
conhece melhor.

Eu me empurro passando por ele. — Eu vou cuidar disso. Ele não virá aqui,
e desta vez, quando eu matá-lo, ele vai morrer.

— Hallie. — Sean quase implora meu nome, quase, mas eu não paro.

Eu entro no quarto de Bryan e fecho a porta. Eu fico lá por um segundo e
derrubo minha cabeça para trás, respirando com dificuldade. Eu nunca soquei uma
pessoa antes. Agora eu simplesmente confessei ao mais assustador de todos os
Ferro que vou dar um fim no senhor das drogas mais notório da cidade. Super foda.

Eu ainda estou segurando o saco com café da manhã de Bryan. Quando
aperto o meu punho, o jornal faz um ruído de crepitação e ele se senta. Um belo
sorriso ilumina seu rosto pálido. — Hey, Menina Bonita. Para onde você correu?

— Para pegar o café da manhã e conseguir alguma sujeira em sua tia. Foi
uma manhã interessante. — Eu sorrio, preocupada com ele e entrego o saco.

— Sujeira na minha tia?

Balanço a cabeça e me sento ao lado dele na cama. — Sim, eu descobri
porque ela me odeia. Ela pensa que eu sei de algo todos esses anos, mas eu não
descobri o que eu sabia até esta manhã.

Bryan desembrulha o seu bagel enquanto estou falando e morde. Seus
firmes olhos verdes encontram os meus. Com a boca cheia, ele me pergunta. — E
então?

Eu penso em manter seu segredo, mas não sinto nenhuma lealdade para
com ela. Além disso, Bryan não vai contar a ninguém. — Ela é gay. Eu a peguei com
sua amante na cozinha de sua mãe esta manhã.

Seu queixo cai e o pedaço de bagel rola para fora da boca, indo para a
colcha. — De jeito nenhum.

Concordo com a cabeça e olho para o pedaço de comida. — Um choque e
tanto, hein?

— Claro que sim. Ela é tão recatada e adequada. — Seu nariz franze com o
pensamento da sua tia ser sexualmente algo.

— E, aparentemente, ela gosta de garotas.

Bryan pisca e sorri. — Bem, isso explica um monte de coisas.

— Sim, como por que ela ainda é casada e permite que prostitutas meio
vestidas andem pela sua casa.

Bryan sorri. — Claro, todo mundo gosta de um pouco de colírio para os
olhos.

Eu bato em seu ombro. — Bryan!

— Vamos lá, pense nisso. Houve uma garota naquela casa desde que Jon era
um bebê. É a família mais estranha que eu já vi. Minha mãe não teria tolerado. Eu
sempre me perguntei por que a tia Constance tolerava.

— Seu pai não tem uma puta coabitante?

Ele inclina a cabeça para mim. — Meu pai não tem tempo para isso. Ele está
muito ocupado ganhando dinheiro para ser incomodado com relacionamentos ou
senhoras de compra. Mas, ainda assim, a tia Connie gosta das garotas. Quem teria

pensado? — Ele balança a cabeça. — Então o que diabos eu vi no dia que
terminamos?

Boa pergunta. Eu suspiro e tenho uma boa ideia de para quem perguntar. Eu
sorrio grande. — Qual é o quarto que Constance usa quando está aqui?

Bryan parece confuso e então seus olhos se arregalam. — Você está louca?

— Só um pouco. — Eu rio e quase aperto meus dedos juntos.


CONTINUA

A luz do amanhecer brilha através das pesadas cortinas que revestem as paredes formando uma fina fenda de branco puro no tapete escuro. Eu fico olhando para ele, perdida em seus pensamentos. Perto de mim, Bryan está dormindo. Eu envolvo meus braços ao redor dele e seu corpo se parece tão forte. É por isso que isto é tão difícil. Não faz nenhum sentido. Para além da dor, eu não posso ver o que está acontecendo com ele. É interno. Seu corpo o está matando segundo a segundo. Eventualmente, ele irá respirar e não haverá outro. Eu não posso suportar a ideia.
Minha vida tem sido moldada por morte. Todo mundo que me importa, todos, exceto Maggie, partem. Eu escorrego para fora da cama, agarrando o meu telefone antes de ir para fundo do corredor. Eu envio uma mensagem de texto para ela, embora eu duvide que ela esteja acordada.
Eu digito: Estou com Bryan. Apenas verificando para ter certeza que está tudo bem.
Para minha surpresa ela envia uma mensagem de volta: Eu estou, mas tenho uma coisa horrível para lhe dizer.
Nada poderia ser pior do que perder Bryan. Eu digito de volta: Eu também.
Volto logo para casa e podemos conversar.
Ela responde: Ok.

 


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Eu enfio meu celular no bolso antes de pegar a camiseta de Bryan e a puxo
sobre minha cabeça. Eu enfio minhas mãos sob as mangas e vagueio pela mansão
até encontrar a cozinha. Sinto o cheiro do café e preciso desesperadamente de uma
xícara. Infelizmente, a besta “a tia” de Bryan está sentada à mesa com outra
mulher. Ambas estão vestidas em robe. Eu pisco conforme o choque lava seus
rostos. Eu não posso imaginar por que ela está aqui tão cedo, não vestida. Quão
estranho é isso?

Dentro de um batimento cardíaco, Constance está fora de seu assento e no
meu rosto. — Como você ousa desfilar na casa da minha irmã usando coisas do
meu sobrinho? Saia agora mesmo, sua puta! — Ela tenta bater no meu rosto, mas
eu agarro seu pulso.

As coisas finalmente clicam no lugar. A forma como as mulheres estavam
olhando uma para a outra, o toque de suas mãos, a forma como os seus olhos
permanecem naquele olhar fixo familiar, o fato de que ela está aqui, quando sua
irmã e cunhado já se foram e a forma como Constance se transforma em um tigre
quando ela me vê - faz sentido. Ela está escondendo um segredo há anos que
poderia arruiná-la para sempre. É por isso que ela suporta as infidelidades do Sr.
Ferro e porque permite que suas mulheres valsem pela sua casa.

Constance é gay - e esta mulher é sua amante. Ela pensou que eu soubesse,
mas eu nunca percebi antes.

Ela puxa sua mão do meu aperto e se prepara para começar a gritar
novamente. Eu a interrompo, cansada. — Eu não me importo com sua vida ou
suas preferências. Eu entendo que seja um tabu para você ser vista com ela. Eu
entendo isso, Constance, eu realmente entendo. Eu não a julgo por isso, então pare
de me julgar. A única coisa de que eu quero vocês é o café. — Eu caminho,
passando por ela.

O queixo de Constance está no chão. Sua namorada, uma mulher pelo menos
dez anos mais nova que ela, fica rígida, olhando-me com medo. Relações do mesmo
sexo podem ser ultramodernas e estarem na moda em Nova York, mas não entre
antigas famílias endinheiradas como esta. Isso a arruinaria. É por isso que ela me
odeia. Ela acha que eu tenho andado por aí esperando para soltar uma bomba em
sua vida.

Quando Constance fala, seu tom é cético: — Você sabe há muito tempo e não
disse nada. Por quê?

— Porque eu não me importo com você. — Eu mantenho minhas costas
para ela enquanto despejo o líquido escuro em uma xícara pesada. É muito cedo. As
pessoas normais não estão acordadas às cinco da manhã. Elas provavelmente
estavam tomando café da manhã antes de se separarem para o dia. Quando me viro

para falar, as duas mulheres estão me olhando mortificadas. — Eu me preocupo
com Bryan. Você não percebeu nada sobre ele que lhe diz respeito?

Seu olhar se estreita. — Não brinque comigo. Eu conheço minha família,
cada um deles.

— Sim, bem, você pode querer falar com ele. — Ela bloqueia seu maxilar,
preparando-se para ordenar que eu saia, mas eu acrescento: — O tempo é uma
coisa engraçada. Todos nós pensamos que temos uma tonelada dele até que seja
tirado de nós, então nos damos conta de que nunca foi o suficiente, para começar.
Use o tempo que você tem, Constance. Ame as pessoas que queira e se certifique de
que eles saibam disso. Chegará o dia em que você lamentará que não o fez e a
chance passou por você.

Ela endurece quando eu falo. — Você está me ameaçando?

Eu rio alto com o ridículo de sua declaração. Ela não tem nenhuma pista. Eu
estava me referindo a mim e Bryan, para a piscina constante de arrependimento
que enche meu estômago. Poderíamos ter estado juntos, mas essa oportunidade
está perdida agora, o tempo que nunca teremos.

— Você está tão errada sobre tudo, lacrada em sua pequena bolha, fora de
contato com o mundo real. Isso não é sobre você, então você acha que está segura,
mas você nunca está, não do tempo - não da morte. Seu sobrinho... — Eu engulo
em seco, mas não quebro o contato visual. — Certifique-se que sua mãe descubra.
Isso é tudo que eu quero.

A suposição de que eu estou fazendo é enorme - aquela que Elizabeth Ferro
se importará se seu filho vive ou morre. Bryan não contou a ninguém sobre sua
doença, exceto eu. Jon pode ver isso, mas os outros não têm ideia. Eu não sei
quanto tempo resta à Bryan, mas não quero que ele o gaste se preocupando ou
brigando. Eu quero estar lá para protegê-lo e, por alertar o Ferro de seu estado, eu
provavelmente só fiz isso mais difícil de acontecer - mas que é a coisa certa a fazer.
Se eu tivesse um segundo extra para gastar com o meu pai... O pensamento se
esconde em minha mente, sol a sol. Quando a noite lava o céu com tons roxos de
tinta e manchas de âmbar cintilante, eu gostaria de ter mais uma oportunidade de
dizer todas as coisas que nunca tive a chance de expressar. Agora, esses
pensamentos estão presos dentro da minha alma, me segurando cativa. Eu nunca

vou ser livre. Eu nunca tive a chance de dizer adeus. Eu estou dando aos Ferro essa
oportunidade e esperando além da esperança de que eles não me joguem para fora
na minha bunda em recompensa.

Empurrando de lado meus pensamentos, eu coloco meu copo vazio para
baixo e saio, deixando Constance e sua amante, boquiabertas, no meu despertar. As
duas mulheres atrás de mim são crianças brincando de casinha. Eu posso ser mais
jovem do que elas em anos, mas minha alma parece velha. É imaturo pensar que a
sua vida seja apenas sobre você. A vida é sobre as pessoas ao seu redor. Como eu
gostaria de nunca crescer, mas desejar é desperdício de tempo e eu me recuso a
desperdiçar mais um segundo.

Capítulo 2

Maggie e eu planejamos, através de mensagens de texto, nos encontrar em
algum lugar que tenha um bagel logo após o amanhecer. Os únicos carros no
estacionamento são da loja. O resto do centro de compras ainda está fechado. Eu
não espero muito tempo, quando ela se junta a mim no final da fila.

— Hey. — Diz Maggie, me envolvendo em um abraço.

Eu a abraço de volta, segurando-a um segundo muito longo. Ela vai fugir
novamente. Eu sei disso. Ela não lida bem com a morte também. Acho que
ninguém faz, mas Maggie viu muito dela. Quando eu a solto, me forço a perdoá-la
com antecedência. Uma alma só pode tomar tanto abuso antes que não possa
evitar, exceto reagir. É como o cão de Pavlov. A campainha da morte soa e Maggie
corre.

Eu enfio um pedaço de cabelo atrás da minha orelha e encosto contra a
vitrine de vidro, antes de enfiar as mãos nos bolsos. — Hey. Como tem passado?

A fila faz a volta para fora da porta e para baixo da frente do centro
comercial com pessoas que já pararam para um bagel e café em seu caminho para
o trabalho. A fila se aproxima alguns centímetros mais próxima da comida e nos
movemos com ela, antes de retornar nossas posições contra o vidro. Meu estômago
ronca com o cheiro de fermento e eu mal posso esperar para provar o pão macio,
quente e mordê-lo, saboreando o cream cheese espesso. Eu aprendi a não dar por
certo pequenas coisas. Bagels me ajudam a encontrar meu lugar feliz.

Eu pretendo pegar um para Bryan também - sementes de papoula com
manteiga, exatamente como ele pedia na escola. Viemos aqui tantas vezes. Eu fico
olhando para fora, no estacionamento, minha mente vagando em uma memória de
Bryan me levantando em um carrinho de compras e empurrando-me como um
louco pelo mercado, rindo o tempo todo.

Outro cliente perguntou: — Que corredor você a encontrou? Eu quero uma!

Bryan apenas sorriu, os olhos deslizando sobre mim no carrinho. —
Desculpe, cara. Esta era a única e é toda minha. Eu nunca a deixarei ir. — A

memória ecoa fortemente em meus ouvidos. Parece que poderia ter acontecido
ontem.

A voz de Maggie me encaixa de volta ao presente. Ela encolhe os ombros e
puxa a alça da bolsa para cima de seu ombro. — Eu estou bem. Acho que encontrei
um apartamento para nós, mas eu ouvi que Neil comprou para vocês uma casa. —
Ela faz uma cara de, bem, tenta não fazer uma cara, que faz sua expressão de dor
ainda pior. A fila se move de novo e, com um passo à frente, ela deixa escapar: —
Você realmente vai se casar com ele? Achei que você amasse Bryan? Parecia que
estava totalmente encantada com o gatinho do sexo. Bem, você é a gatinha.
Rapazes são o quê, tigres? Tigre sexual soa mal. — Ela ri, mas sua risada leve
desaparece quando ela vê o meu sorriso falso. — O que há de errado, Hallie?

Eu tento manter minha voz firme, mas treme sem minha permissão. Não há
nenhum ponto em protelar por mais tempo, e além disso, eu preciso dela. Mesmo
que ela vá correr, eu tenho que falar com alguém enquanto eu tiver a chance. —
Maggie, ele está morrendo.

— Mas, ele não pode estar! Ele... — Maggie deixa escapar muitas palavras de
uma só vez e quase começa a chorar. Ela é a pessoa mais empática que eu já
conheci. A minha dor está representada em seu rosto quando ela para, aperta
minha mão e me puxa para um abraço de urso que poderia explodir minha cabeça.
— Eu sinto muito, Hallie. — Ela enxuga as lágrimas com as costas da mão e olha
para o meu ombro, não querendo perguntar. Cada palavra é como se enfiasse uma
faca no meu lado. — O que há de errado com ele?

Eu a atualizo com o que sei que aconteceu até agora. Minha voz continua
difícil quando eu chego ao fim da história. — Nós terminamos por causa de sua tia
Constance. Ela achou que eu iria arruiná-la com informações que eu não deveria
saber, então ela descobriu uma maneira de nos separar. — A raiva eu não tinha
notado até agora borbulha sob a superfície da minha mente. Eu não vou ficar com
raiva, eu não posso ficar. Eu me recuso a perder meu tempo com ela ou o que ela
fez. — Maggie, eu não poderia me importar menos com ela, mas eu quis Bryan
todo esse tempo e não o tive por causa dela.

— E, no entanto, você não soa como louca. Você parece mais
assustadoramente tranquila sobre isso. — Uma sobrancelha vermelha levanta
levemente em sua testa sardenta.

Eu olho para ela conforme nos movemos com a fila para dentro da pequena
loja, e nos aproximamos da bandeja do pão assado. Maggie pede em primeiro lugar,
então eu peço e pago por nossos itens. Pegamos o nosso café da manhã, cortamos
de volta através da fila, para fora da porta, em direção ao estacionamento. Fico ali
na frente dela querendo falar, mas incapaz de encontrar palavras, em seguida,
entrego para ela o pão e suco de laranja.

Minha boca se abre duas vezes, mas as palavras não saem. Eu finalmente
olho nos olhos dela e explico. — Eu não estou louca. Bem, eu estou - mas não quero
estar. É um desperdício de tempo e eu não tenho tempo de sobra. Eu estou
pensando em ficar com ele, Maggie. Seja qual for o tempo que lhe resta, eu quero
estar lá.

— Eu entendo, e eu estou aqui para você. — Ela pega a minha mão, mas eu
não posso olhar para ela.

— Não faça promessas que não pode cumprir, Maggie.

— Eu estou as mantendo desta vez.

— Eu prefiro saber agora que você vai desaparecer. Eu posso lidar com isso
sozinha. Eu estou bem, realmente. Eu sei o que isso faz para você e... — Eu arranjo
desculpas para ela até que ela me corta.

— Não. A última vez eu não estava lá para você, porque Victor era um idiota.
Eu não tive escolha. Isso fazia parte da maneira como ele estava me controlando,
mas ele já se foi, Hallie. Eu não vou fugir. Eu estarei lá para você. Você não terá que
lidar com isso sozinha. Eu prometo. Podemos passar por qualquer coisa, você e
eu. Eu não vou deixar você Hallie. Nós somos irmãs. Eu vou estar lá neste
momento. — Ela sorri sem jeito e olha para o chão sob suas botas.

Ela muda o seu peso para o outro pé e olha para mim debaixo de muito
rímel. Sua boca fica aberta por um segundo e seus lábios enrolam, como se ela não
quisesse dizer o que está prestes a cair de sua boca. — Há algo que você precisa
saber, e eu não sei se você vai gostar ou não com tudo o que aconteceu, mas precisa

saber. Você precisa. E eu odeio dizer isso agora, mas talvez seja melhor assim. Eu
esperaria se eu achasse que ajudaria.

— Maggie, diga-me. O que é?

Ela puxa um monte de ar e cospe para fora. — Ontem à noite, enquanto você
não estava em casa, entrei e vi o que parecia ser Neil e Cecily fazendo coisas que
estava muito além da zona do amigo. — Seus lábios são esmagados em conjunto,
enquanto ela tenta permanecer inexpressiva. Eu posso dizer que ela quer castrar
Neil conforme ela luta para manter seus lábios em uma linha reta.

Eu pisco, e isso é tudo. A raiva não vomita da minha boca e minhas mãos
não estão cerradas em punhos. Eu não me sinto quebrada ou até mesmo chocada.

Eu não sinto nada.

Se eu amasse Neil, eu estaria irada, mas eu não estou. Concordo com a
cabeça.

O rosto preocupado de Maggie franze enquanto ela empurra seu brilhante
cabelo atrás da orelha. — Eu não sei se eu deveria dizer. Eu o odeio, mas pensei
que você gostava do cara. — Ela me olha com tal preocupação que eu não posso
deixar de sorrir para ela.

Meu olhar abaixa para o chão e eu tomo uma respiração profunda, antes de
dar-lhe um abraço de lado. Quando eu a deixo ir, murmuro: — Eu estou feliz que
você me disse. Desgraça pouca é bobagem, certo? — Eu ofereço um sorriso de
novo, mas é falso neste momento. Há muitas lembranças correndo pela minha
mente, e o movimento faz minha pele parecer como se fosse rachar.

— Yeah. — Ela ri. — Pelo menos não temos que nos preocupar com Victor.
Devo-lhe muito por isso. Os jornais disseram que um dos seus homens o matou no
meu apartamento. Se você não tivesse me arrastado para fora, naquela noite eu
teria levado um tiro, também.

Eu sou insensível ao que eu fiz, pelo menos no momento. Às vezes, quando
eu não consigo dormir, o pensamento de que fiz desliza em minha mente, não
desejado. Victor é um pesadelo que não vai morrer, mas não posso perder o meu
tempo.

— Somos eu e você, agora. — Eu digo a ela com firmeza. Ela sorri
tristemente para mim e assente. — Maggie, você pode ir a casa de Neil e pegar
minhas coisas? Há apenas algumas caixas. Eu nunca desembalei, não
realmente. Neil queria que eu fizesse, mas eu empurrei a maioria delas na parte de
trás de um armário. — Eu retiro minha bolsa e escrevo-lhe um cheque. — Isso
deve cobrir o aluguel do nosso novo apartamento e tudo o mais que
precisamos. Deixe-o bonito, ok? Vai ser bom ter um novo lugar bonito para ir para
casa quando isso acabar.

Maggie pega o cheque e olha para todos os zeros, antes de olhar para mim.
Uma mecha de cabelo vermelho cai na frente de seus olhos. — Hallie, eu não posso
aceitar isso.

— Sim, você pode. Vai fazê-lo. Precisamos de um lugar para viver. Eu
gostaria de ter mais a oferecer, mas essa discussão é para outro dia. Entretanto,
isso vai nos colocar em uma boa vizinhança e nós estaremos confortáveis.

— Você vai processar Neil e Cecily? Eles praticamente gastaram todo o seu
dinheiro.

Concordo com a cabeça. — Provavelmente, mas não agora. Eu preciso fazer
um telefonema. — Maggie balança a cabeça e eu disco para o meu banco enquanto
seguimos para o meu carro. Eu explico a um funcionário do banco muito prestativo
que o nome de Neil deve ser retirado da minha conta imediatamente e todas as
transações em andamento com a sua assinatura, devem ser transferidas para a sua
conta. Verificação conjunta foi ideia dele. Eu esfrego minhas mãos sobre meu rosto
e sento com força no capô do meu carro. A coisa está suja, mas eu não me
importo. O funcionário do banco me pede para ir em breve para assinar os papéis,
e fazer as alterações em minha conta oficial. Quando eu insisto que eles precisam
ser assinados agora, ela diz para vir quando for mais conveniente.

Eu desligo e olho fixamente para as portas fechadas da mercearia. — Eu não
posso fazer isso de novo, não tão cedo. — A perda do meu pai ainda paira pesado
em meu coração, ameaçando me puxar para baixo. Minha dor não diminuiu e a
fama não ajudou. A única coisa que me faz sentir melhor é Bryan e agora vou
perdê-lo também.

Eu não posso respirar. Inclinando minha cabeça para trás com os olhos
cheios de lágrimas, eu olho para o céu e as nuvens brancas onduladas. O céu estava
aqui muito antes de eu nascer e vai estar aqui muito tempo depois. Faz-me sentir
pequena, como se a minha vida não importasse em tudo.

Maggie me bate com sua bota. — Bagel?

— Eu não estou com fome. — Eu estava com fome apenas um momento
atrás, mas agora não sinto nada parecido com isso.

— Merda resistente. Eu estou cuidando de você, o que significa que você
come isso ou vou enfiar na sua cara. — Ela está sorrindo para mim. — Eu vou fazer
isso.

Eu roubo a minha comida de sua mão. — Eu sei que você vai. —
Desempacotando a coisa, dou uma mordida e percebo que eu estou morrendo de
fome.

— A vida não é sobre a morte, você sabe. — Diz Maggie de repente. Ela está
sentada ao meu lado no capô, olhando para uma nuvem, pegando arrancando
pedaços de seu bagel, e os jogando em sua boca um de cada vez.

— Então o que se trata? — Eu pensei que eu sabia em um ponto, mas não
tenho ideia, não mais. A vida parece uma piada cruel.

— É sobre as relações que você faz, a bondade que oferece e você mostrar
compaixão. É a sua chance de mostrar ao mundo quem você é e o que faz você.
Hallie, você é a pessoa mais forte que conheço. Em vez de sentar aqui chorando
comigo, você deve estar com Bryan. Aqui. — Ela me dá o bagel extra. — Cheque de
vez em quando e quando você precisar de mim, eu vou. Nesse meio tempo, vou
deixar nossa casa pronta, eu prometo. Nada me manterá longe desta vez. Quando
você precisar de mim, eu estarei lá - se estiver no hospital, a funerária ou apenas
quando você precisar de uma pausa.

Eu sinto uma vibe nervosa vindo dela. — Você não é fraca, Maggie. Somos
sobreviventes, eu e você. — Quando eu digo isso, quero dizer para confortá-la, mas
uma bola dá um nó na minha garganta.

Ela pega a minha mão e se inclina, descansando a cabeça no meu ombro. —
Nós vamos sobreviver a isto também “juntas”.

Capítulo 3

Eu não quero pensar em Neil, então eu volto para a mansão Ferro e me
esgueiro para dentro. Ainda é cedo. As únicas pessoas que vejo são os empregados.
Eles me veem e não dizem nada. Deve ser estranho viver como uma estátua dia
após dia, sem ninguém, mas outros funcionários, na verdade, reconhecem que você
é humano. Eu não posso evitar isso. Eu sorrio para o mordomo que está sempre
ocupado, correndo para algum lugar. Ele inclina a cabeça em saudação, mas não
abranda.

Depois que ele passa, se vira para trás. — Você precisa de alguma coisa, Sra.
Raymond?

Eu sorrio e balanço a cabeça. — Não, é apenas bom vê-lo. — Eu olho para
ele. Este homem tem sido constante na vida de Bryan por anos. Eu me pergunto se
ele sabe que Bryan tem um segredo, porque nada lhe escapa, pelo menos não
quando éramos mais jovens. Eu me lembro de receber olhares severos dele quando
éramos muito jovens e fazíamos coisas muito loucas, enquanto a mãe de Bryan não
estava por perto. Mas o cara nunca nos entregou.

— Da mesma forma, Sra. Raymond. Diga ao Sr. Ferro que se ele precisar de
ajuda pode pedir qualquer coisa para mim. — Seus olhos perfuraram os meus por
um momento antes que ele olhe para o lado.

Ele sabe.

Concordo com a cabeça e vou para o modo de super mocinha. Antes que eu
possa me parar, lanço o meu corpo para ele e meus braços em volta do velho,
abraçando-o em um abraço de urso em estilo desleixado. Ele endurece com choque
e, em seguida, dá um tapinha minhas costas. — As pessoas vão dizer-lhe que ele
vai ficar bem. Ao longo dos próximos meses, você vai ouvir isso de novo e de novo,
mas a perda não é assim que funciona. As coisas não vão voltar ao normal, mas a
vida continua. Converse com ele sobre isso, enquanto você tem a chance.

Meu queixo cai. — O quê? Isso seria tão mau. Eu não posso...

— Isso não é o problema meu, mas se você fosse minha filha, era o que eu
diria a você. Tempos sombrios estão chegando, se este homem é o seu raio de luz,
mergulhe no sol tanto quanto puder e quando puder.

Acho que entendo o que ele quer dizer, então balanço minha cabeça para
cima e para baixo lentamente. Falar sobre a morte com alguém que está morrendo
é o que ele quer dizer. Vamos acabar discutindo todas as coisas que queríamos
fazer, mas nunca teremos a chance. Minha garganta aperta com o pensamento e os
meus olhos lacrimejam. — Obrigada.

— Qualquer hora, Sra. Raymond. — Ele inclina a cabeça para mim como se
eu fosse uma rainha e se vira para correr para longe.

Eu não gosto da sua sugestão, mas parte dela me chama. E se a gente falar
sobre isso? Eu balanço minha cabeça e aperto as mãos. Não! Eu não quero! Isso não
é justo e não posso simplesmente aceitar que vou perdê-lo - não depois que
finalmente nos encontramos novamente. Não depois de todo esse tempo.

No momento que estou dentro da mansão de Bryan, paro na porta. Minha
intenção era ir à ponta dos pés para o quarto de Bryan, mas sou presa pelo Ferro
que eu mais temo - Sean. Ele está encostado na parede, os braços cruzados sobre o
peito. Ele se parece com sua mãe, toda acusação não dita claramente visível em
seus olhos. Suas roupas escuras - casaco de couro, calça jeans, camisa preta e botas
shitkicker. — Você e eu temos algo a discutir.

Minha intenção é passar por ele. — Não tenho nada para lhe dizer.

Sean libera seus braços e caminha em minha frente. Ele é silencioso e letal,
com vibes malucas irradiando dele como micro ondas. Ding! — Bem, eu tenho algo
que você precisa ouvir - sobre um homem chamado Victor. — Minha respiração
para na minha garganta enquanto minhas mãos vão para o meu coração. Sean me
puxa pela curva do meu cotovelo para longe da porta de Bryan. — Sim, eu achei
que você soubesse alguma coisa sobre isso. Os jornais estão dizendo que um dos
seus homens o matou, mas os policiais estão bisbilhotando, me fazendo perguntas
sobre um traficante de merda. Eu não gosto de policiais e não gosto ainda menos
de perguntas. Então, me diga, como é que eles rastrearam até aqui? O que você
deixou para trás?

Eu rio, mas ele ignora. — Você acha que eu o matei? — Estou pressionando
meus dedos em meu peito, piscando, com meu queixo caído. Embora seja um
excelente desempenho, algo que me afasta. Sean pode ver isso.

Ele dá um passo no meu espaço de uma maneira ameaçadora. Sua voz
ressoa: — Eu sei que você o matou.

— Não, você não sabe. — Eu agarro, tentando me empurrar por ele
novamente, mas Sean não me deixa passar. Ele bloqueia o lugar com seu corpo
maciço.

Inclinando-se perto do meu rosto, ele sussurra baixinho: — Se eu sei, a
minha mãe sabe e você não quer pegadas sujas que levam direto para a porta da
frente. Você precisa se separar de Bryan e sair daqui antes que descubram isso.

Eu balanço minha cabeça e mordo meu lábio inferior. Eu provavelmente
pareci como um moleque teimoso, mas não vou deixar Bryan.

Os olhos de Sean travam com os meus e sua voz cai para um sussurro letal.
— Eu posso fazê-la desaparecer.

Algo desperta dentro de mim, essa mesma característica de proteção que
me fez cortar a garganta de Victor, em primeiro lugar. Minha coluna se endireita e
eu fico na frente do seu rosto. — Da mesma forma.

Depois de um momento de reflexão, o homem na verdade ri. Sean esfrega o
queixo com a mão. Eu não posso dizer se ele está se divertindo ou pensa que sou
louca. Ele finalmente pergunta: — Por que você fez isso?

— Por que você acha? O homem era um estuprador assassino. Vamos
apenas dizer que eu estava no lugar errado na hora errada. Acidentes acontecem e
eu não ia deixar que qualquer outra coisa acontecesse com a minha amiga. Ela é a
única família que me resta. — Eu sugo o ar, tentando inchar, então não sou tão
pequena, mas em comparação com Sean Ferro, sou um palito.

Seus olhos azuis mudam para o lado antes que ele passe as mãos pelo
cabelo. — Então, você protegeu sua família, deixe-me proteger a minha. Vá
embora. Não puxe Bryan para isso.

— Para quê? Os mortos não puxam qualquer um para qualquer coisa.

— Victor Campone está vivo.

Capítulo 4

Um pequeno grito escapa dos meus lábios e eu quase caio no chão. Meus
joelhos cedem, mas antes de eu ir para baixo, Sean agarra meus braços. Ele me
mantém de pé e continua suavemente. — Os policiais suspeitam que ele esteja
vivo. No momento em que chegaram lá, o corpo tinha desaparecido. Devido à
quantidade de sangue que encontraram, sua suposição natural era que um de seus
homens o matou e jogou o corpo. Os policiais ainda estavam indo por esse caminho
até recentemente, quando pegaram Campone bisbilhotando meu hotel. Então, a
menos que viram um fantasma, o homem ainda está vivo.

— Ele não pode estar. — Eu balanço minha cabeça e meus olhos vidrados
quando me lembro daquela noite. A quantidade de sangue, a forma que sua cabeça
pendia para trás e a ferida era tão profunda. — Não é possível.

Sean suspira e olha para mim com uma expressão que está perdida em
algum lugar entre pena e admiração. Inclinando-se perto, ele diz: — O corte foi
muito superficial. É como apontar para o coração e não acertar. O cara foi
subestimado, os que estavam dispostos e aceitaram fazer isso uma vez, mas ele não
vai ser subestimado novamente. E eu aposto qualquer coisa que ele vai
permanecer morto por um tempo, deixar que os outros façam o trabalho sujo, até
que lhe convenha encenar uma ressurreição.

— Como você sabe tudo isso?

Ele engole em seco, seu olhar se afastando e depois de volta para os meus
olhos. — Periodicamente nossos empreendimentos comerciais se sobrepõem. Eu
ouço coisas. E posso dizer-lhe que se eu ouvi, minha mãe ouviu e você com certeza
não quer irritá-la. Se Campone acabar aqui, você está morta. Se ele não te matar,
minha mãe vai.

Ele agarra meus ombros e me pede: — Hallie, pega a sua amiga e dá o fora
daqui antes que Campone a encontre. — Sean me libera. — Este foi um aviso de
cortesia. Se você ficar por perto e Bryan for morto por sua causa, bem, é melhor

esperar que Victor a encontre antes de mim. — Seus olhos firmam em mim uma
vez com as suas intenções claras.

Eu fico lá por um segundo mal respirando. Nossos olhos estão bloqueados,
nós dois estamos desafiando, mas será que ele não sabe, Sean não sabe sobre seu
primo? Talvez eu devesse pegar Bryan e correr, mas não posso. Não enquanto ele
está doente. Ele vai precisar de ajuda e cuidados paliativos. Eu não posso dar-lhe
essas coisas se eu corro. Minha voz racha quando eu falo. — Eu não posso.

— Não é opcional.

— Não, você não entende. Eu não posso ir embora. Eu não posso correr
mais de Victor e não vou. Eu vou cuidar disso. Eu vou terminar o que comecei. —
Eu não tenho ideia de como, mas vou. Se eu não fizer isso, ele virá atrás de mim e
Maggie. O homem é cruel, ele nunca vai parar de nos caçar. Eu sei disso com
certeza.

Sean levanta a sobrancelha escura. — Você está louca? Você nunca vai ter
outra chance de matá-lo. Ele pensou que era insignificante antes, mas agora ele a
conhece melhor.

Eu me empurro passando por ele. — Eu vou cuidar disso. Ele não virá aqui,
e desta vez, quando eu matá-lo, ele vai morrer.

— Hallie. — Sean quase implora meu nome, quase, mas eu não paro.

Eu entro no quarto de Bryan e fecho a porta. Eu fico lá por um segundo e
derrubo minha cabeça para trás, respirando com dificuldade. Eu nunca soquei uma
pessoa antes. Agora eu simplesmente confessei ao mais assustador de todos os
Ferro que vou dar um fim no senhor das drogas mais notório da cidade. Super foda.

Eu ainda estou segurando o saco com café da manhã de Bryan. Quando
aperto o meu punho, o jornal faz um ruído de crepitação e ele se senta. Um belo
sorriso ilumina seu rosto pálido. — Hey, Menina Bonita. Para onde você correu?

— Para pegar o café da manhã e conseguir alguma sujeira em sua tia. Foi
uma manhã interessante. — Eu sorrio, preocupada com ele e entrego o saco.

— Sujeira na minha tia?

Balanço a cabeça e me sento ao lado dele na cama. — Sim, eu descobri
porque ela me odeia. Ela pensa que eu sei de algo todos esses anos, mas eu não
descobri o que eu sabia até esta manhã.

Bryan desembrulha o seu bagel enquanto estou falando e morde. Seus
firmes olhos verdes encontram os meus. Com a boca cheia, ele me pergunta. — E
então?

Eu penso em manter seu segredo, mas não sinto nenhuma lealdade para
com ela. Além disso, Bryan não vai contar a ninguém. — Ela é gay. Eu a peguei com
sua amante na cozinha de sua mãe esta manhã.

Seu queixo cai e o pedaço de bagel rola para fora da boca, indo para a
colcha. — De jeito nenhum.

Concordo com a cabeça e olho para o pedaço de comida. — Um choque e
tanto, hein?

— Claro que sim. Ela é tão recatada e adequada. — Seu nariz franze com o
pensamento da sua tia ser sexualmente algo.

— E, aparentemente, ela gosta de garotas.

Bryan pisca e sorri. — Bem, isso explica um monte de coisas.

— Sim, como por que ela ainda é casada e permite que prostitutas meio
vestidas andem pela sua casa.

Bryan sorri. — Claro, todo mundo gosta de um pouco de colírio para os
olhos.

Eu bato em seu ombro. — Bryan!

— Vamos lá, pense nisso. Houve uma garota naquela casa desde que Jon era
um bebê. É a família mais estranha que eu já vi. Minha mãe não teria tolerado. Eu
sempre me perguntei por que a tia Constance tolerava.

— Seu pai não tem uma puta coabitante?

Ele inclina a cabeça para mim. — Meu pai não tem tempo para isso. Ele está
muito ocupado ganhando dinheiro para ser incomodado com relacionamentos ou
senhoras de compra. Mas, ainda assim, a tia Connie gosta das garotas. Quem teria

pensado? — Ele balança a cabeça. — Então o que diabos eu vi no dia que
terminamos?

Boa pergunta. Eu suspiro e tenho uma boa ideia de para quem perguntar. Eu
sorrio grande. — Qual é o quarto que Constance usa quando está aqui?

Bryan parece confuso e então seus olhos se arregalam. — Você está louca?

— Só um pouco. — Eu rio e quase aperto meus dedos juntos.


CONTINUA

A luz do amanhecer brilha através das pesadas cortinas que revestem as paredes formando uma fina fenda de branco puro no tapete escuro. Eu fico olhando para ele, perdida em seus pensamentos. Perto de mim, Bryan está dormindo. Eu envolvo meus braços ao redor dele e seu corpo se parece tão forte. É por isso que isto é tão difícil. Não faz nenhum sentido. Para além da dor, eu não posso ver o que está acontecendo com ele. É interno. Seu corpo o está matando segundo a segundo. Eventualmente, ele irá respirar e não haverá outro. Eu não posso suportar a ideia.
Minha vida tem sido moldada por morte. Todo mundo que me importa, todos, exceto Maggie, partem. Eu escorrego para fora da cama, agarrando o meu telefone antes de ir para fundo do corredor. Eu envio uma mensagem de texto para ela, embora eu duvide que ela esteja acordada.
Eu digito: Estou com Bryan. Apenas verificando para ter certeza que está tudo bem.
Para minha surpresa ela envia uma mensagem de volta: Eu estou, mas tenho uma coisa horrível para lhe dizer.
Nada poderia ser pior do que perder Bryan. Eu digito de volta: Eu também.
Volto logo para casa e podemos conversar.
Ela responde: Ok.

 


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Eu enfio meu celular no bolso antes de pegar a camiseta de Bryan e a puxo
sobre minha cabeça. Eu enfio minhas mãos sob as mangas e vagueio pela mansão
até encontrar a cozinha. Sinto o cheiro do café e preciso desesperadamente de uma
xícara. Infelizmente, a besta “a tia” de Bryan está sentada à mesa com outra
mulher. Ambas estão vestidas em robe. Eu pisco conforme o choque lava seus
rostos. Eu não posso imaginar por que ela está aqui tão cedo, não vestida. Quão
estranho é isso?

Dentro de um batimento cardíaco, Constance está fora de seu assento e no
meu rosto. — Como você ousa desfilar na casa da minha irmã usando coisas do
meu sobrinho? Saia agora mesmo, sua puta! — Ela tenta bater no meu rosto, mas
eu agarro seu pulso.

As coisas finalmente clicam no lugar. A forma como as mulheres estavam
olhando uma para a outra, o toque de suas mãos, a forma como os seus olhos
permanecem naquele olhar fixo familiar, o fato de que ela está aqui, quando sua
irmã e cunhado já se foram e a forma como Constance se transforma em um tigre
quando ela me vê - faz sentido. Ela está escondendo um segredo há anos que
poderia arruiná-la para sempre. É por isso que ela suporta as infidelidades do Sr.
Ferro e porque permite que suas mulheres valsem pela sua casa.

Constance é gay - e esta mulher é sua amante. Ela pensou que eu soubesse,
mas eu nunca percebi antes.

Ela puxa sua mão do meu aperto e se prepara para começar a gritar
novamente. Eu a interrompo, cansada. — Eu não me importo com sua vida ou
suas preferências. Eu entendo que seja um tabu para você ser vista com ela. Eu
entendo isso, Constance, eu realmente entendo. Eu não a julgo por isso, então pare
de me julgar. A única coisa de que eu quero vocês é o café. — Eu caminho,
passando por ela.

O queixo de Constance está no chão. Sua namorada, uma mulher pelo menos
dez anos mais nova que ela, fica rígida, olhando-me com medo. Relações do mesmo
sexo podem ser ultramodernas e estarem na moda em Nova York, mas não entre
antigas famílias endinheiradas como esta. Isso a arruinaria. É por isso que ela me
odeia. Ela acha que eu tenho andado por aí esperando para soltar uma bomba em
sua vida.

Quando Constance fala, seu tom é cético: — Você sabe há muito tempo e não
disse nada. Por quê?

— Porque eu não me importo com você. — Eu mantenho minhas costas
para ela enquanto despejo o líquido escuro em uma xícara pesada. É muito cedo. As
pessoas normais não estão acordadas às cinco da manhã. Elas provavelmente
estavam tomando café da manhã antes de se separarem para o dia. Quando me viro

para falar, as duas mulheres estão me olhando mortificadas. — Eu me preocupo
com Bryan. Você não percebeu nada sobre ele que lhe diz respeito?

Seu olhar se estreita. — Não brinque comigo. Eu conheço minha família,
cada um deles.

— Sim, bem, você pode querer falar com ele. — Ela bloqueia seu maxilar,
preparando-se para ordenar que eu saia, mas eu acrescento: — O tempo é uma
coisa engraçada. Todos nós pensamos que temos uma tonelada dele até que seja
tirado de nós, então nos damos conta de que nunca foi o suficiente, para começar.
Use o tempo que você tem, Constance. Ame as pessoas que queira e se certifique de
que eles saibam disso. Chegará o dia em que você lamentará que não o fez e a
chance passou por você.

Ela endurece quando eu falo. — Você está me ameaçando?

Eu rio alto com o ridículo de sua declaração. Ela não tem nenhuma pista. Eu
estava me referindo a mim e Bryan, para a piscina constante de arrependimento
que enche meu estômago. Poderíamos ter estado juntos, mas essa oportunidade
está perdida agora, o tempo que nunca teremos.

— Você está tão errada sobre tudo, lacrada em sua pequena bolha, fora de
contato com o mundo real. Isso não é sobre você, então você acha que está segura,
mas você nunca está, não do tempo - não da morte. Seu sobrinho... — Eu engulo
em seco, mas não quebro o contato visual. — Certifique-se que sua mãe descubra.
Isso é tudo que eu quero.

A suposição de que eu estou fazendo é enorme - aquela que Elizabeth Ferro
se importará se seu filho vive ou morre. Bryan não contou a ninguém sobre sua
doença, exceto eu. Jon pode ver isso, mas os outros não têm ideia. Eu não sei
quanto tempo resta à Bryan, mas não quero que ele o gaste se preocupando ou
brigando. Eu quero estar lá para protegê-lo e, por alertar o Ferro de seu estado, eu
provavelmente só fiz isso mais difícil de acontecer - mas que é a coisa certa a fazer.
Se eu tivesse um segundo extra para gastar com o meu pai... O pensamento se
esconde em minha mente, sol a sol. Quando a noite lava o céu com tons roxos de
tinta e manchas de âmbar cintilante, eu gostaria de ter mais uma oportunidade de
dizer todas as coisas que nunca tive a chance de expressar. Agora, esses
pensamentos estão presos dentro da minha alma, me segurando cativa. Eu nunca

vou ser livre. Eu nunca tive a chance de dizer adeus. Eu estou dando aos Ferro essa
oportunidade e esperando além da esperança de que eles não me joguem para fora
na minha bunda em recompensa.

Empurrando de lado meus pensamentos, eu coloco meu copo vazio para
baixo e saio, deixando Constance e sua amante, boquiabertas, no meu despertar. As
duas mulheres atrás de mim são crianças brincando de casinha. Eu posso ser mais
jovem do que elas em anos, mas minha alma parece velha. É imaturo pensar que a
sua vida seja apenas sobre você. A vida é sobre as pessoas ao seu redor. Como eu
gostaria de nunca crescer, mas desejar é desperdício de tempo e eu me recuso a
desperdiçar mais um segundo.

Capítulo 2

Maggie e eu planejamos, através de mensagens de texto, nos encontrar em
algum lugar que tenha um bagel logo após o amanhecer. Os únicos carros no
estacionamento são da loja. O resto do centro de compras ainda está fechado. Eu
não espero muito tempo, quando ela se junta a mim no final da fila.

— Hey. — Diz Maggie, me envolvendo em um abraço.

Eu a abraço de volta, segurando-a um segundo muito longo. Ela vai fugir
novamente. Eu sei disso. Ela não lida bem com a morte também. Acho que
ninguém faz, mas Maggie viu muito dela. Quando eu a solto, me forço a perdoá-la
com antecedência. Uma alma só pode tomar tanto abuso antes que não possa
evitar, exceto reagir. É como o cão de Pavlov. A campainha da morte soa e Maggie
corre.

Eu enfio um pedaço de cabelo atrás da minha orelha e encosto contra a
vitrine de vidro, antes de enfiar as mãos nos bolsos. — Hey. Como tem passado?

A fila faz a volta para fora da porta e para baixo da frente do centro
comercial com pessoas que já pararam para um bagel e café em seu caminho para
o trabalho. A fila se aproxima alguns centímetros mais próxima da comida e nos
movemos com ela, antes de retornar nossas posições contra o vidro. Meu estômago
ronca com o cheiro de fermento e eu mal posso esperar para provar o pão macio,
quente e mordê-lo, saboreando o cream cheese espesso. Eu aprendi a não dar por
certo pequenas coisas. Bagels me ajudam a encontrar meu lugar feliz.

Eu pretendo pegar um para Bryan também - sementes de papoula com
manteiga, exatamente como ele pedia na escola. Viemos aqui tantas vezes. Eu fico
olhando para fora, no estacionamento, minha mente vagando em uma memória de
Bryan me levantando em um carrinho de compras e empurrando-me como um
louco pelo mercado, rindo o tempo todo.

Outro cliente perguntou: — Que corredor você a encontrou? Eu quero uma!

Bryan apenas sorriu, os olhos deslizando sobre mim no carrinho. —
Desculpe, cara. Esta era a única e é toda minha. Eu nunca a deixarei ir. — A

memória ecoa fortemente em meus ouvidos. Parece que poderia ter acontecido
ontem.

A voz de Maggie me encaixa de volta ao presente. Ela encolhe os ombros e
puxa a alça da bolsa para cima de seu ombro. — Eu estou bem. Acho que encontrei
um apartamento para nós, mas eu ouvi que Neil comprou para vocês uma casa. —
Ela faz uma cara de, bem, tenta não fazer uma cara, que faz sua expressão de dor
ainda pior. A fila se move de novo e, com um passo à frente, ela deixa escapar: —
Você realmente vai se casar com ele? Achei que você amasse Bryan? Parecia que
estava totalmente encantada com o gatinho do sexo. Bem, você é a gatinha.
Rapazes são o quê, tigres? Tigre sexual soa mal. — Ela ri, mas sua risada leve
desaparece quando ela vê o meu sorriso falso. — O que há de errado, Hallie?

Eu tento manter minha voz firme, mas treme sem minha permissão. Não há
nenhum ponto em protelar por mais tempo, e além disso, eu preciso dela. Mesmo
que ela vá correr, eu tenho que falar com alguém enquanto eu tiver a chance. —
Maggie, ele está morrendo.

— Mas, ele não pode estar! Ele... — Maggie deixa escapar muitas palavras de
uma só vez e quase começa a chorar. Ela é a pessoa mais empática que eu já
conheci. A minha dor está representada em seu rosto quando ela para, aperta
minha mão e me puxa para um abraço de urso que poderia explodir minha cabeça.
— Eu sinto muito, Hallie. — Ela enxuga as lágrimas com as costas da mão e olha
para o meu ombro, não querendo perguntar. Cada palavra é como se enfiasse uma
faca no meu lado. — O que há de errado com ele?

Eu a atualizo com o que sei que aconteceu até agora. Minha voz continua
difícil quando eu chego ao fim da história. — Nós terminamos por causa de sua tia
Constance. Ela achou que eu iria arruiná-la com informações que eu não deveria
saber, então ela descobriu uma maneira de nos separar. — A raiva eu não tinha
notado até agora borbulha sob a superfície da minha mente. Eu não vou ficar com
raiva, eu não posso ficar. Eu me recuso a perder meu tempo com ela ou o que ela
fez. — Maggie, eu não poderia me importar menos com ela, mas eu quis Bryan
todo esse tempo e não o tive por causa dela.

— E, no entanto, você não soa como louca. Você parece mais
assustadoramente tranquila sobre isso. — Uma sobrancelha vermelha levanta
levemente em sua testa sardenta.

Eu olho para ela conforme nos movemos com a fila para dentro da pequena
loja, e nos aproximamos da bandeja do pão assado. Maggie pede em primeiro lugar,
então eu peço e pago por nossos itens. Pegamos o nosso café da manhã, cortamos
de volta através da fila, para fora da porta, em direção ao estacionamento. Fico ali
na frente dela querendo falar, mas incapaz de encontrar palavras, em seguida,
entrego para ela o pão e suco de laranja.

Minha boca se abre duas vezes, mas as palavras não saem. Eu finalmente
olho nos olhos dela e explico. — Eu não estou louca. Bem, eu estou - mas não quero
estar. É um desperdício de tempo e eu não tenho tempo de sobra. Eu estou
pensando em ficar com ele, Maggie. Seja qual for o tempo que lhe resta, eu quero
estar lá.

— Eu entendo, e eu estou aqui para você. — Ela pega a minha mão, mas eu
não posso olhar para ela.

— Não faça promessas que não pode cumprir, Maggie.

— Eu estou as mantendo desta vez.

— Eu prefiro saber agora que você vai desaparecer. Eu posso lidar com isso
sozinha. Eu estou bem, realmente. Eu sei o que isso faz para você e... — Eu arranjo
desculpas para ela até que ela me corta.

— Não. A última vez eu não estava lá para você, porque Victor era um idiota.
Eu não tive escolha. Isso fazia parte da maneira como ele estava me controlando,
mas ele já se foi, Hallie. Eu não vou fugir. Eu estarei lá para você. Você não terá que
lidar com isso sozinha. Eu prometo. Podemos passar por qualquer coisa, você e
eu. Eu não vou deixar você Hallie. Nós somos irmãs. Eu vou estar lá neste
momento. — Ela sorri sem jeito e olha para o chão sob suas botas.

Ela muda o seu peso para o outro pé e olha para mim debaixo de muito
rímel. Sua boca fica aberta por um segundo e seus lábios enrolam, como se ela não
quisesse dizer o que está prestes a cair de sua boca. — Há algo que você precisa
saber, e eu não sei se você vai gostar ou não com tudo o que aconteceu, mas precisa

saber. Você precisa. E eu odeio dizer isso agora, mas talvez seja melhor assim. Eu
esperaria se eu achasse que ajudaria.

— Maggie, diga-me. O que é?

Ela puxa um monte de ar e cospe para fora. — Ontem à noite, enquanto você
não estava em casa, entrei e vi o que parecia ser Neil e Cecily fazendo coisas que
estava muito além da zona do amigo. — Seus lábios são esmagados em conjunto,
enquanto ela tenta permanecer inexpressiva. Eu posso dizer que ela quer castrar
Neil conforme ela luta para manter seus lábios em uma linha reta.

Eu pisco, e isso é tudo. A raiva não vomita da minha boca e minhas mãos
não estão cerradas em punhos. Eu não me sinto quebrada ou até mesmo chocada.

Eu não sinto nada.

Se eu amasse Neil, eu estaria irada, mas eu não estou. Concordo com a
cabeça.

O rosto preocupado de Maggie franze enquanto ela empurra seu brilhante
cabelo atrás da orelha. — Eu não sei se eu deveria dizer. Eu o odeio, mas pensei
que você gostava do cara. — Ela me olha com tal preocupação que eu não posso
deixar de sorrir para ela.

Meu olhar abaixa para o chão e eu tomo uma respiração profunda, antes de
dar-lhe um abraço de lado. Quando eu a deixo ir, murmuro: — Eu estou feliz que
você me disse. Desgraça pouca é bobagem, certo? — Eu ofereço um sorriso de
novo, mas é falso neste momento. Há muitas lembranças correndo pela minha
mente, e o movimento faz minha pele parecer como se fosse rachar.

— Yeah. — Ela ri. — Pelo menos não temos que nos preocupar com Victor.
Devo-lhe muito por isso. Os jornais disseram que um dos seus homens o matou no
meu apartamento. Se você não tivesse me arrastado para fora, naquela noite eu
teria levado um tiro, também.

Eu sou insensível ao que eu fiz, pelo menos no momento. Às vezes, quando
eu não consigo dormir, o pensamento de que fiz desliza em minha mente, não
desejado. Victor é um pesadelo que não vai morrer, mas não posso perder o meu
tempo.

— Somos eu e você, agora. — Eu digo a ela com firmeza. Ela sorri
tristemente para mim e assente. — Maggie, você pode ir a casa de Neil e pegar
minhas coisas? Há apenas algumas caixas. Eu nunca desembalei, não
realmente. Neil queria que eu fizesse, mas eu empurrei a maioria delas na parte de
trás de um armário. — Eu retiro minha bolsa e escrevo-lhe um cheque. — Isso
deve cobrir o aluguel do nosso novo apartamento e tudo o mais que
precisamos. Deixe-o bonito, ok? Vai ser bom ter um novo lugar bonito para ir para
casa quando isso acabar.

Maggie pega o cheque e olha para todos os zeros, antes de olhar para mim.
Uma mecha de cabelo vermelho cai na frente de seus olhos. — Hallie, eu não posso
aceitar isso.

— Sim, você pode. Vai fazê-lo. Precisamos de um lugar para viver. Eu
gostaria de ter mais a oferecer, mas essa discussão é para outro dia. Entretanto,
isso vai nos colocar em uma boa vizinhança e nós estaremos confortáveis.

— Você vai processar Neil e Cecily? Eles praticamente gastaram todo o seu
dinheiro.

Concordo com a cabeça. — Provavelmente, mas não agora. Eu preciso fazer
um telefonema. — Maggie balança a cabeça e eu disco para o meu banco enquanto
seguimos para o meu carro. Eu explico a um funcionário do banco muito prestativo
que o nome de Neil deve ser retirado da minha conta imediatamente e todas as
transações em andamento com a sua assinatura, devem ser transferidas para a sua
conta. Verificação conjunta foi ideia dele. Eu esfrego minhas mãos sobre meu rosto
e sento com força no capô do meu carro. A coisa está suja, mas eu não me
importo. O funcionário do banco me pede para ir em breve para assinar os papéis,
e fazer as alterações em minha conta oficial. Quando eu insisto que eles precisam
ser assinados agora, ela diz para vir quando for mais conveniente.

Eu desligo e olho fixamente para as portas fechadas da mercearia. — Eu não
posso fazer isso de novo, não tão cedo. — A perda do meu pai ainda paira pesado
em meu coração, ameaçando me puxar para baixo. Minha dor não diminuiu e a
fama não ajudou. A única coisa que me faz sentir melhor é Bryan e agora vou
perdê-lo também.

Eu não posso respirar. Inclinando minha cabeça para trás com os olhos
cheios de lágrimas, eu olho para o céu e as nuvens brancas onduladas. O céu estava
aqui muito antes de eu nascer e vai estar aqui muito tempo depois. Faz-me sentir
pequena, como se a minha vida não importasse em tudo.

Maggie me bate com sua bota. — Bagel?

— Eu não estou com fome. — Eu estava com fome apenas um momento
atrás, mas agora não sinto nada parecido com isso.

— Merda resistente. Eu estou cuidando de você, o que significa que você
come isso ou vou enfiar na sua cara. — Ela está sorrindo para mim. — Eu vou fazer
isso.

Eu roubo a minha comida de sua mão. — Eu sei que você vai. —
Desempacotando a coisa, dou uma mordida e percebo que eu estou morrendo de
fome.

— A vida não é sobre a morte, você sabe. — Diz Maggie de repente. Ela está
sentada ao meu lado no capô, olhando para uma nuvem, pegando arrancando
pedaços de seu bagel, e os jogando em sua boca um de cada vez.

— Então o que se trata? — Eu pensei que eu sabia em um ponto, mas não
tenho ideia, não mais. A vida parece uma piada cruel.

— É sobre as relações que você faz, a bondade que oferece e você mostrar
compaixão. É a sua chance de mostrar ao mundo quem você é e o que faz você.
Hallie, você é a pessoa mais forte que conheço. Em vez de sentar aqui chorando
comigo, você deve estar com Bryan. Aqui. — Ela me dá o bagel extra. — Cheque de
vez em quando e quando você precisar de mim, eu vou. Nesse meio tempo, vou
deixar nossa casa pronta, eu prometo. Nada me manterá longe desta vez. Quando
você precisar de mim, eu estarei lá - se estiver no hospital, a funerária ou apenas
quando você precisar de uma pausa.

Eu sinto uma vibe nervosa vindo dela. — Você não é fraca, Maggie. Somos
sobreviventes, eu e você. — Quando eu digo isso, quero dizer para confortá-la, mas
uma bola dá um nó na minha garganta.

Ela pega a minha mão e se inclina, descansando a cabeça no meu ombro. —
Nós vamos sobreviver a isto também “juntas”.

Capítulo 3

Eu não quero pensar em Neil, então eu volto para a mansão Ferro e me
esgueiro para dentro. Ainda é cedo. As únicas pessoas que vejo são os empregados.
Eles me veem e não dizem nada. Deve ser estranho viver como uma estátua dia
após dia, sem ninguém, mas outros funcionários, na verdade, reconhecem que você
é humano. Eu não posso evitar isso. Eu sorrio para o mordomo que está sempre
ocupado, correndo para algum lugar. Ele inclina a cabeça em saudação, mas não
abranda.

Depois que ele passa, se vira para trás. — Você precisa de alguma coisa, Sra.
Raymond?

Eu sorrio e balanço a cabeça. — Não, é apenas bom vê-lo. — Eu olho para
ele. Este homem tem sido constante na vida de Bryan por anos. Eu me pergunto se
ele sabe que Bryan tem um segredo, porque nada lhe escapa, pelo menos não
quando éramos mais jovens. Eu me lembro de receber olhares severos dele quando
éramos muito jovens e fazíamos coisas muito loucas, enquanto a mãe de Bryan não
estava por perto. Mas o cara nunca nos entregou.

— Da mesma forma, Sra. Raymond. Diga ao Sr. Ferro que se ele precisar de
ajuda pode pedir qualquer coisa para mim. — Seus olhos perfuraram os meus por
um momento antes que ele olhe para o lado.

Ele sabe.

Concordo com a cabeça e vou para o modo de super mocinha. Antes que eu
possa me parar, lanço o meu corpo para ele e meus braços em volta do velho,
abraçando-o em um abraço de urso em estilo desleixado. Ele endurece com choque
e, em seguida, dá um tapinha minhas costas. — As pessoas vão dizer-lhe que ele
vai ficar bem. Ao longo dos próximos meses, você vai ouvir isso de novo e de novo,
mas a perda não é assim que funciona. As coisas não vão voltar ao normal, mas a
vida continua. Converse com ele sobre isso, enquanto você tem a chance.

Meu queixo cai. — O quê? Isso seria tão mau. Eu não posso...

— Isso não é o problema meu, mas se você fosse minha filha, era o que eu
diria a você. Tempos sombrios estão chegando, se este homem é o seu raio de luz,
mergulhe no sol tanto quanto puder e quando puder.

Acho que entendo o que ele quer dizer, então balanço minha cabeça para
cima e para baixo lentamente. Falar sobre a morte com alguém que está morrendo
é o que ele quer dizer. Vamos acabar discutindo todas as coisas que queríamos
fazer, mas nunca teremos a chance. Minha garganta aperta com o pensamento e os
meus olhos lacrimejam. — Obrigada.

— Qualquer hora, Sra. Raymond. — Ele inclina a cabeça para mim como se
eu fosse uma rainha e se vira para correr para longe.

Eu não gosto da sua sugestão, mas parte dela me chama. E se a gente falar
sobre isso? Eu balanço minha cabeça e aperto as mãos. Não! Eu não quero! Isso não
é justo e não posso simplesmente aceitar que vou perdê-lo - não depois que
finalmente nos encontramos novamente. Não depois de todo esse tempo.

No momento que estou dentro da mansão de Bryan, paro na porta. Minha
intenção era ir à ponta dos pés para o quarto de Bryan, mas sou presa pelo Ferro
que eu mais temo - Sean. Ele está encostado na parede, os braços cruzados sobre o
peito. Ele se parece com sua mãe, toda acusação não dita claramente visível em
seus olhos. Suas roupas escuras - casaco de couro, calça jeans, camisa preta e botas
shitkicker. — Você e eu temos algo a discutir.

Minha intenção é passar por ele. — Não tenho nada para lhe dizer.

Sean libera seus braços e caminha em minha frente. Ele é silencioso e letal,
com vibes malucas irradiando dele como micro ondas. Ding! — Bem, eu tenho algo
que você precisa ouvir - sobre um homem chamado Victor. — Minha respiração
para na minha garganta enquanto minhas mãos vão para o meu coração. Sean me
puxa pela curva do meu cotovelo para longe da porta de Bryan. — Sim, eu achei
que você soubesse alguma coisa sobre isso. Os jornais estão dizendo que um dos
seus homens o matou, mas os policiais estão bisbilhotando, me fazendo perguntas
sobre um traficante de merda. Eu não gosto de policiais e não gosto ainda menos
de perguntas. Então, me diga, como é que eles rastrearam até aqui? O que você
deixou para trás?

Eu rio, mas ele ignora. — Você acha que eu o matei? — Estou pressionando
meus dedos em meu peito, piscando, com meu queixo caído. Embora seja um
excelente desempenho, algo que me afasta. Sean pode ver isso.

Ele dá um passo no meu espaço de uma maneira ameaçadora. Sua voz
ressoa: — Eu sei que você o matou.

— Não, você não sabe. — Eu agarro, tentando me empurrar por ele
novamente, mas Sean não me deixa passar. Ele bloqueia o lugar com seu corpo
maciço.

Inclinando-se perto do meu rosto, ele sussurra baixinho: — Se eu sei, a
minha mãe sabe e você não quer pegadas sujas que levam direto para a porta da
frente. Você precisa se separar de Bryan e sair daqui antes que descubram isso.

Eu balanço minha cabeça e mordo meu lábio inferior. Eu provavelmente
pareci como um moleque teimoso, mas não vou deixar Bryan.

Os olhos de Sean travam com os meus e sua voz cai para um sussurro letal.
— Eu posso fazê-la desaparecer.

Algo desperta dentro de mim, essa mesma característica de proteção que
me fez cortar a garganta de Victor, em primeiro lugar. Minha coluna se endireita e
eu fico na frente do seu rosto. — Da mesma forma.

Depois de um momento de reflexão, o homem na verdade ri. Sean esfrega o
queixo com a mão. Eu não posso dizer se ele está se divertindo ou pensa que sou
louca. Ele finalmente pergunta: — Por que você fez isso?

— Por que você acha? O homem era um estuprador assassino. Vamos
apenas dizer que eu estava no lugar errado na hora errada. Acidentes acontecem e
eu não ia deixar que qualquer outra coisa acontecesse com a minha amiga. Ela é a
única família que me resta. — Eu sugo o ar, tentando inchar, então não sou tão
pequena, mas em comparação com Sean Ferro, sou um palito.

Seus olhos azuis mudam para o lado antes que ele passe as mãos pelo
cabelo. — Então, você protegeu sua família, deixe-me proteger a minha. Vá
embora. Não puxe Bryan para isso.

— Para quê? Os mortos não puxam qualquer um para qualquer coisa.

— Victor Campone está vivo.

Capítulo 4

Um pequeno grito escapa dos meus lábios e eu quase caio no chão. Meus
joelhos cedem, mas antes de eu ir para baixo, Sean agarra meus braços. Ele me
mantém de pé e continua suavemente. — Os policiais suspeitam que ele esteja
vivo. No momento em que chegaram lá, o corpo tinha desaparecido. Devido à
quantidade de sangue que encontraram, sua suposição natural era que um de seus
homens o matou e jogou o corpo. Os policiais ainda estavam indo por esse caminho
até recentemente, quando pegaram Campone bisbilhotando meu hotel. Então, a
menos que viram um fantasma, o homem ainda está vivo.

— Ele não pode estar. — Eu balanço minha cabeça e meus olhos vidrados
quando me lembro daquela noite. A quantidade de sangue, a forma que sua cabeça
pendia para trás e a ferida era tão profunda. — Não é possível.

Sean suspira e olha para mim com uma expressão que está perdida em
algum lugar entre pena e admiração. Inclinando-se perto, ele diz: — O corte foi
muito superficial. É como apontar para o coração e não acertar. O cara foi
subestimado, os que estavam dispostos e aceitaram fazer isso uma vez, mas ele não
vai ser subestimado novamente. E eu aposto qualquer coisa que ele vai
permanecer morto por um tempo, deixar que os outros façam o trabalho sujo, até
que lhe convenha encenar uma ressurreição.

— Como você sabe tudo isso?

Ele engole em seco, seu olhar se afastando e depois de volta para os meus
olhos. — Periodicamente nossos empreendimentos comerciais se sobrepõem. Eu
ouço coisas. E posso dizer-lhe que se eu ouvi, minha mãe ouviu e você com certeza
não quer irritá-la. Se Campone acabar aqui, você está morta. Se ele não te matar,
minha mãe vai.

Ele agarra meus ombros e me pede: — Hallie, pega a sua amiga e dá o fora
daqui antes que Campone a encontre. — Sean me libera. — Este foi um aviso de
cortesia. Se você ficar por perto e Bryan for morto por sua causa, bem, é melhor

esperar que Victor a encontre antes de mim. — Seus olhos firmam em mim uma
vez com as suas intenções claras.

Eu fico lá por um segundo mal respirando. Nossos olhos estão bloqueados,
nós dois estamos desafiando, mas será que ele não sabe, Sean não sabe sobre seu
primo? Talvez eu devesse pegar Bryan e correr, mas não posso. Não enquanto ele
está doente. Ele vai precisar de ajuda e cuidados paliativos. Eu não posso dar-lhe
essas coisas se eu corro. Minha voz racha quando eu falo. — Eu não posso.

— Não é opcional.

— Não, você não entende. Eu não posso ir embora. Eu não posso correr
mais de Victor e não vou. Eu vou cuidar disso. Eu vou terminar o que comecei. —
Eu não tenho ideia de como, mas vou. Se eu não fizer isso, ele virá atrás de mim e
Maggie. O homem é cruel, ele nunca vai parar de nos caçar. Eu sei disso com
certeza.

Sean levanta a sobrancelha escura. — Você está louca? Você nunca vai ter
outra chance de matá-lo. Ele pensou que era insignificante antes, mas agora ele a
conhece melhor.

Eu me empurro passando por ele. — Eu vou cuidar disso. Ele não virá aqui,
e desta vez, quando eu matá-lo, ele vai morrer.

— Hallie. — Sean quase implora meu nome, quase, mas eu não paro.

Eu entro no quarto de Bryan e fecho a porta. Eu fico lá por um segundo e
derrubo minha cabeça para trás, respirando com dificuldade. Eu nunca soquei uma
pessoa antes. Agora eu simplesmente confessei ao mais assustador de todos os
Ferro que vou dar um fim no senhor das drogas mais notório da cidade. Super foda.

Eu ainda estou segurando o saco com café da manhã de Bryan. Quando
aperto o meu punho, o jornal faz um ruído de crepitação e ele se senta. Um belo
sorriso ilumina seu rosto pálido. — Hey, Menina Bonita. Para onde você correu?

— Para pegar o café da manhã e conseguir alguma sujeira em sua tia. Foi
uma manhã interessante. — Eu sorrio, preocupada com ele e entrego o saco.

— Sujeira na minha tia?

Balanço a cabeça e me sento ao lado dele na cama. — Sim, eu descobri
porque ela me odeia. Ela pensa que eu sei de algo todos esses anos, mas eu não
descobri o que eu sabia até esta manhã.

Bryan desembrulha o seu bagel enquanto estou falando e morde. Seus
firmes olhos verdes encontram os meus. Com a boca cheia, ele me pergunta. — E
então?

Eu penso em manter seu segredo, mas não sinto nenhuma lealdade para
com ela. Além disso, Bryan não vai contar a ninguém. — Ela é gay. Eu a peguei com
sua amante na cozinha de sua mãe esta manhã.

Seu queixo cai e o pedaço de bagel rola para fora da boca, indo para a
colcha. — De jeito nenhum.

Concordo com a cabeça e olho para o pedaço de comida. — Um choque e
tanto, hein?

— Claro que sim. Ela é tão recatada e adequada. — Seu nariz franze com o
pensamento da sua tia ser sexualmente algo.

— E, aparentemente, ela gosta de garotas.

Bryan pisca e sorri. — Bem, isso explica um monte de coisas.

— Sim, como por que ela ainda é casada e permite que prostitutas meio
vestidas andem pela sua casa.

Bryan sorri. — Claro, todo mundo gosta de um pouco de colírio para os
olhos.

Eu bato em seu ombro. — Bryan!

— Vamos lá, pense nisso. Houve uma garota naquela casa desde que Jon era
um bebê. É a família mais estranha que eu já vi. Minha mãe não teria tolerado. Eu
sempre me perguntei por que a tia Constance tolerava.

— Seu pai não tem uma puta coabitante?

Ele inclina a cabeça para mim. — Meu pai não tem tempo para isso. Ele está
muito ocupado ganhando dinheiro para ser incomodado com relacionamentos ou
senhoras de compra. Mas, ainda assim, a tia Connie gosta das garotas. Quem teria

pensado? — Ele balança a cabeça. — Então o que diabos eu vi no dia que
terminamos?

Boa pergunta. Eu suspiro e tenho uma boa ideia de para quem perguntar. Eu
sorrio grande. — Qual é o quarto que Constance usa quando está aqui?

Bryan parece confuso e então seus olhos se arregalam. — Você está louca?

— Só um pouco. — Eu rio e quase aperto meus dedos juntos.


CONTINUA

A luz do amanhecer brilha através das pesadas cortinas que revestem as paredes formando uma fina fenda de branco puro no tapete escuro. Eu fico olhando para ele, perdida em seus pensamentos. Perto de mim, Bryan está dormindo. Eu envolvo meus braços ao redor dele e seu corpo se parece tão forte. É por isso que isto é tão difícil. Não faz nenhum sentido. Para além da dor, eu não posso ver o que está acontecendo com ele. É interno. Seu corpo o está matando segundo a segundo. Eventualmente, ele irá respirar e não haverá outro. Eu não posso suportar a ideia.
Minha vida tem sido moldada por morte. Todo mundo que me importa, todos, exceto Maggie, partem. Eu escorrego para fora da cama, agarrando o meu telefone antes de ir para fundo do corredor. Eu envio uma mensagem de texto para ela, embora eu duvide que ela esteja acordada.
Eu digito: Estou com Bryan. Apenas verificando para ter certeza que está tudo bem.
Para minha surpresa ela envia uma mensagem de volta: Eu estou, mas tenho uma coisa horrível para lhe dizer.
Nada poderia ser pior do que perder Bryan. Eu digito de volta: Eu também.
Volto logo para casa e podemos conversar.
Ela responde: Ok.

 


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Eu enfio meu celular no bolso antes de pegar a camiseta de Bryan e a puxo
sobre minha cabeça. Eu enfio minhas mãos sob as mangas e vagueio pela mansão
até encontrar a cozinha. Sinto o cheiro do café e preciso desesperadamente de uma
xícara. Infelizmente, a besta “a tia” de Bryan está sentada à mesa com outra
mulher. Ambas estão vestidas em robe. Eu pisco conforme o choque lava seus
rostos. Eu não posso imaginar por que ela está aqui tão cedo, não vestida. Quão
estranho é isso?

Dentro de um batimento cardíaco, Constance está fora de seu assento e no
meu rosto. — Como você ousa desfilar na casa da minha irmã usando coisas do
meu sobrinho? Saia agora mesmo, sua puta! — Ela tenta bater no meu rosto, mas
eu agarro seu pulso.

As coisas finalmente clicam no lugar. A forma como as mulheres estavam
olhando uma para a outra, o toque de suas mãos, a forma como os seus olhos
permanecem naquele olhar fixo familiar, o fato de que ela está aqui, quando sua
irmã e cunhado já se foram e a forma como Constance se transforma em um tigre
quando ela me vê - faz sentido. Ela está escondendo um segredo há anos que
poderia arruiná-la para sempre. É por isso que ela suporta as infidelidades do Sr.
Ferro e porque permite que suas mulheres valsem pela sua casa.

Constance é gay - e esta mulher é sua amante. Ela pensou que eu soubesse,
mas eu nunca percebi antes.

Ela puxa sua mão do meu aperto e se prepara para começar a gritar
novamente. Eu a interrompo, cansada. — Eu não me importo com sua vida ou
suas preferências. Eu entendo que seja um tabu para você ser vista com ela. Eu
entendo isso, Constance, eu realmente entendo. Eu não a julgo por isso, então pare
de me julgar. A única coisa de que eu quero vocês é o café. — Eu caminho,
passando por ela.

O queixo de Constance está no chão. Sua namorada, uma mulher pelo menos
dez anos mais nova que ela, fica rígida, olhando-me com medo. Relações do mesmo
sexo podem ser ultramodernas e estarem na moda em Nova York, mas não entre
antigas famílias endinheiradas como esta. Isso a arruinaria. É por isso que ela me
odeia. Ela acha que eu tenho andado por aí esperando para soltar uma bomba em
sua vida.

Quando Constance fala, seu tom é cético: — Você sabe há muito tempo e não
disse nada. Por quê?

— Porque eu não me importo com você. — Eu mantenho minhas costas
para ela enquanto despejo o líquido escuro em uma xícara pesada. É muito cedo. As
pessoas normais não estão acordadas às cinco da manhã. Elas provavelmente
estavam tomando café da manhã antes de se separarem para o dia. Quando me viro

para falar, as duas mulheres estão me olhando mortificadas. — Eu me preocupo
com Bryan. Você não percebeu nada sobre ele que lhe diz respeito?

Seu olhar se estreita. — Não brinque comigo. Eu conheço minha família,
cada um deles.

— Sim, bem, você pode querer falar com ele. — Ela bloqueia seu maxilar,
preparando-se para ordenar que eu saia, mas eu acrescento: — O tempo é uma
coisa engraçada. Todos nós pensamos que temos uma tonelada dele até que seja
tirado de nós, então nos damos conta de que nunca foi o suficiente, para começar.
Use o tempo que você tem, Constance. Ame as pessoas que queira e se certifique de
que eles saibam disso. Chegará o dia em que você lamentará que não o fez e a
chance passou por você.

Ela endurece quando eu falo. — Você está me ameaçando?

Eu rio alto com o ridículo de sua declaração. Ela não tem nenhuma pista. Eu
estava me referindo a mim e Bryan, para a piscina constante de arrependimento
que enche meu estômago. Poderíamos ter estado juntos, mas essa oportunidade
está perdida agora, o tempo que nunca teremos.

— Você está tão errada sobre tudo, lacrada em sua pequena bolha, fora de
contato com o mundo real. Isso não é sobre você, então você acha que está segura,
mas você nunca está, não do tempo - não da morte. Seu sobrinho... — Eu engulo
em seco, mas não quebro o contato visual. — Certifique-se que sua mãe descubra.
Isso é tudo que eu quero.

A suposição de que eu estou fazendo é enorme - aquela que Elizabeth Ferro
se importará se seu filho vive ou morre. Bryan não contou a ninguém sobre sua
doença, exceto eu. Jon pode ver isso, mas os outros não têm ideia. Eu não sei
quanto tempo resta à Bryan, mas não quero que ele o gaste se preocupando ou
brigando. Eu quero estar lá para protegê-lo e, por alertar o Ferro de seu estado, eu
provavelmente só fiz isso mais difícil de acontecer - mas que é a coisa certa a fazer.
Se eu tivesse um segundo extra para gastar com o meu pai... O pensamento se
esconde em minha mente, sol a sol. Quando a noite lava o céu com tons roxos de
tinta e manchas de âmbar cintilante, eu gostaria de ter mais uma oportunidade de
dizer todas as coisas que nunca tive a chance de expressar. Agora, esses
pensamentos estão presos dentro da minha alma, me segurando cativa. Eu nunca

vou ser livre. Eu nunca tive a chance de dizer adeus. Eu estou dando aos Ferro essa
oportunidade e esperando além da esperança de que eles não me joguem para fora
na minha bunda em recompensa.

Empurrando de lado meus pensamentos, eu coloco meu copo vazio para
baixo e saio, deixando Constance e sua amante, boquiabertas, no meu despertar. As
duas mulheres atrás de mim são crianças brincando de casinha. Eu posso ser mais
jovem do que elas em anos, mas minha alma parece velha. É imaturo pensar que a
sua vida seja apenas sobre você. A vida é sobre as pessoas ao seu redor. Como eu
gostaria de nunca crescer, mas desejar é desperdício de tempo e eu me recuso a
desperdiçar mais um segundo.

Capítulo 2

Maggie e eu planejamos, através de mensagens de texto, nos encontrar em
algum lugar que tenha um bagel logo após o amanhecer. Os únicos carros no
estacionamento são da loja. O resto do centro de compras ainda está fechado. Eu
não espero muito tempo, quando ela se junta a mim no final da fila.

— Hey. — Diz Maggie, me envolvendo em um abraço.

Eu a abraço de volta, segurando-a um segundo muito longo. Ela vai fugir
novamente. Eu sei disso. Ela não lida bem com a morte também. Acho que
ninguém faz, mas Maggie viu muito dela. Quando eu a solto, me forço a perdoá-la
com antecedência. Uma alma só pode tomar tanto abuso antes que não possa
evitar, exceto reagir. É como o cão de Pavlov. A campainha da morte soa e Maggie
corre.

Eu enfio um pedaço de cabelo atrás da minha orelha e encosto contra a
vitrine de vidro, antes de enfiar as mãos nos bolsos. — Hey. Como tem passado?

A fila faz a volta para fora da porta e para baixo da frente do centro
comercial com pessoas que já pararam para um bagel e café em seu caminho para
o trabalho. A fila se aproxima alguns centímetros mais próxima da comida e nos
movemos com ela, antes de retornar nossas posições contra o vidro. Meu estômago
ronca com o cheiro de fermento e eu mal posso esperar para provar o pão macio,
quente e mordê-lo, saboreando o cream cheese espesso. Eu aprendi a não dar por
certo pequenas coisas. Bagels me ajudam a encontrar meu lugar feliz.

Eu pretendo pegar um para Bryan também - sementes de papoula com
manteiga, exatamente como ele pedia na escola. Viemos aqui tantas vezes. Eu fico
olhando para fora, no estacionamento, minha mente vagando em uma memória de
Bryan me levantando em um carrinho de compras e empurrando-me como um
louco pelo mercado, rindo o tempo todo.

Outro cliente perguntou: — Que corredor você a encontrou? Eu quero uma!

Bryan apenas sorriu, os olhos deslizando sobre mim no carrinho. —
Desculpe, cara. Esta era a única e é toda minha. Eu nunca a deixarei ir. — A

memória ecoa fortemente em meus ouvidos. Parece que poderia ter acontecido
ontem.

A voz de Maggie me encaixa de volta ao presente. Ela encolhe os ombros e
puxa a alça da bolsa para cima de seu ombro. — Eu estou bem. Acho que encontrei
um apartamento para nós, mas eu ouvi que Neil comprou para vocês uma casa. —
Ela faz uma cara de, bem, tenta não fazer uma cara, que faz sua expressão de dor
ainda pior. A fila se move de novo e, com um passo à frente, ela deixa escapar: —
Você realmente vai se casar com ele? Achei que você amasse Bryan? Parecia que
estava totalmente encantada com o gatinho do sexo. Bem, você é a gatinha.
Rapazes são o quê, tigres? Tigre sexual soa mal. — Ela ri, mas sua risada leve
desaparece quando ela vê o meu sorriso falso. — O que há de errado, Hallie?

Eu tento manter minha voz firme, mas treme sem minha permissão. Não há
nenhum ponto em protelar por mais tempo, e além disso, eu preciso dela. Mesmo
que ela vá correr, eu tenho que falar com alguém enquanto eu tiver a chance. —
Maggie, ele está morrendo.

— Mas, ele não pode estar! Ele... — Maggie deixa escapar muitas palavras de
uma só vez e quase começa a chorar. Ela é a pessoa mais empática que eu já
conheci. A minha dor está representada em seu rosto quando ela para, aperta
minha mão e me puxa para um abraço de urso que poderia explodir minha cabeça.
— Eu sinto muito, Hallie. — Ela enxuga as lágrimas com as costas da mão e olha
para o meu ombro, não querendo perguntar. Cada palavra é como se enfiasse uma
faca no meu lado. — O que há de errado com ele?

Eu a atualizo com o que sei que aconteceu até agora. Minha voz continua
difícil quando eu chego ao fim da história. — Nós terminamos por causa de sua tia
Constance. Ela achou que eu iria arruiná-la com informações que eu não deveria
saber, então ela descobriu uma maneira de nos separar. — A raiva eu não tinha
notado até agora borbulha sob a superfície da minha mente. Eu não vou ficar com
raiva, eu não posso ficar. Eu me recuso a perder meu tempo com ela ou o que ela
fez. — Maggie, eu não poderia me importar menos com ela, mas eu quis Bryan
todo esse tempo e não o tive por causa dela.

— E, no entanto, você não soa como louca. Você parece mais
assustadoramente tranquila sobre isso. — Uma sobrancelha vermelha levanta
levemente em sua testa sardenta.

Eu olho para ela conforme nos movemos com a fila para dentro da pequena
loja, e nos aproximamos da bandeja do pão assado. Maggie pede em primeiro lugar,
então eu peço e pago por nossos itens. Pegamos o nosso café da manhã, cortamos
de volta através da fila, para fora da porta, em direção ao estacionamento. Fico ali
na frente dela querendo falar, mas incapaz de encontrar palavras, em seguida,
entrego para ela o pão e suco de laranja.

Minha boca se abre duas vezes, mas as palavras não saem. Eu finalmente
olho nos olhos dela e explico. — Eu não estou louca. Bem, eu estou - mas não quero
estar. É um desperdício de tempo e eu não tenho tempo de sobra. Eu estou
pensando em ficar com ele, Maggie. Seja qual for o tempo que lhe resta, eu quero
estar lá.

— Eu entendo, e eu estou aqui para você. — Ela pega a minha mão, mas eu
não posso olhar para ela.

— Não faça promessas que não pode cumprir, Maggie.

— Eu estou as mantendo desta vez.

— Eu prefiro saber agora que você vai desaparecer. Eu posso lidar com isso
sozinha. Eu estou bem, realmente. Eu sei o que isso faz para você e... — Eu arranjo
desculpas para ela até que ela me corta.

— Não. A última vez eu não estava lá para você, porque Victor era um idiota.
Eu não tive escolha. Isso fazia parte da maneira como ele estava me controlando,
mas ele já se foi, Hallie. Eu não vou fugir. Eu estarei lá para você. Você não terá que
lidar com isso sozinha. Eu prometo. Podemos passar por qualquer coisa, você e
eu. Eu não vou deixar você Hallie. Nós somos irmãs. Eu vou estar lá neste
momento. — Ela sorri sem jeito e olha para o chão sob suas botas.

Ela muda o seu peso para o outro pé e olha para mim debaixo de muito
rímel. Sua boca fica aberta por um segundo e seus lábios enrolam, como se ela não
quisesse dizer o que está prestes a cair de sua boca. — Há algo que você precisa
saber, e eu não sei se você vai gostar ou não com tudo o que aconteceu, mas precisa

saber. Você precisa. E eu odeio dizer isso agora, mas talvez seja melhor assim. Eu
esperaria se eu achasse que ajudaria.

— Maggie, diga-me. O que é?

Ela puxa um monte de ar e cospe para fora. — Ontem à noite, enquanto você
não estava em casa, entrei e vi o que parecia ser Neil e Cecily fazendo coisas que
estava muito além da zona do amigo. — Seus lábios são esmagados em conjunto,
enquanto ela tenta permanecer inexpressiva. Eu posso dizer que ela quer castrar
Neil conforme ela luta para manter seus lábios em uma linha reta.

Eu pisco, e isso é tudo. A raiva não vomita da minha boca e minhas mãos
não estão cerradas em punhos. Eu não me sinto quebrada ou até mesmo chocada.

Eu não sinto nada.

Se eu amasse Neil, eu estaria irada, mas eu não estou. Concordo com a
cabeça.

O rosto preocupado de Maggie franze enquanto ela empurra seu brilhante
cabelo atrás da orelha. — Eu não sei se eu deveria dizer. Eu o odeio, mas pensei
que você gostava do cara. — Ela me olha com tal preocupação que eu não posso
deixar de sorrir para ela.

Meu olhar abaixa para o chão e eu tomo uma respiração profunda, antes de
dar-lhe um abraço de lado. Quando eu a deixo ir, murmuro: — Eu estou feliz que
você me disse. Desgraça pouca é bobagem, certo? — Eu ofereço um sorriso de
novo, mas é falso neste momento. Há muitas lembranças correndo pela minha
mente, e o movimento faz minha pele parecer como se fosse rachar.

— Yeah. — Ela ri. — Pelo menos não temos que nos preocupar com Victor.
Devo-lhe muito por isso. Os jornais disseram que um dos seus homens o matou no
meu apartamento. Se você não tivesse me arrastado para fora, naquela noite eu
teria levado um tiro, também.

Eu sou insensível ao que eu fiz, pelo menos no momento. Às vezes, quando
eu não consigo dormir, o pensamento de que fiz desliza em minha mente, não
desejado. Victor é um pesadelo que não vai morrer, mas não posso perder o meu
tempo.

— Somos eu e você, agora. — Eu digo a ela com firmeza. Ela sorri
tristemente para mim e assente. — Maggie, você pode ir a casa de Neil e pegar
minhas coisas? Há apenas algumas caixas. Eu nunca desembalei, não
realmente. Neil queria que eu fizesse, mas eu empurrei a maioria delas na parte de
trás de um armário. — Eu retiro minha bolsa e escrevo-lhe um cheque. — Isso
deve cobrir o aluguel do nosso novo apartamento e tudo o mais que
precisamos. Deixe-o bonito, ok? Vai ser bom ter um novo lugar bonito para ir para
casa quando isso acabar.

Maggie pega o cheque e olha para todos os zeros, antes de olhar para mim.
Uma mecha de cabelo vermelho cai na frente de seus olhos. — Hallie, eu não posso
aceitar isso.

— Sim, você pode. Vai fazê-lo. Precisamos de um lugar para viver. Eu
gostaria de ter mais a oferecer, mas essa discussão é para outro dia. Entretanto,
isso vai nos colocar em uma boa vizinhança e nós estaremos confortáveis.

— Você vai processar Neil e Cecily? Eles praticamente gastaram todo o seu
dinheiro.

Concordo com a cabeça. — Provavelmente, mas não agora. Eu preciso fazer
um telefonema. — Maggie balança a cabeça e eu disco para o meu banco enquanto
seguimos para o meu carro. Eu explico a um funcionário do banco muito prestativo
que o nome de Neil deve ser retirado da minha conta imediatamente e todas as
transações em andamento com a sua assinatura, devem ser transferidas para a sua
conta. Verificação conjunta foi ideia dele. Eu esfrego minhas mãos sobre meu rosto
e sento com força no capô do meu carro. A coisa está suja, mas eu não me
importo. O funcionário do banco me pede para ir em breve para assinar os papéis,
e fazer as alterações em minha conta oficial. Quando eu insisto que eles precisam
ser assinados agora, ela diz para vir quando for mais conveniente.

Eu desligo e olho fixamente para as portas fechadas da mercearia. — Eu não
posso fazer isso de novo, não tão cedo. — A perda do meu pai ainda paira pesado
em meu coração, ameaçando me puxar para baixo. Minha dor não diminuiu e a
fama não ajudou. A única coisa que me faz sentir melhor é Bryan e agora vou
perdê-lo também.

Eu não posso respirar. Inclinando minha cabeça para trás com os olhos
cheios de lágrimas, eu olho para o céu e as nuvens brancas onduladas. O céu estava
aqui muito antes de eu nascer e vai estar aqui muito tempo depois. Faz-me sentir
pequena, como se a minha vida não importasse em tudo.

Maggie me bate com sua bota. — Bagel?

— Eu não estou com fome. — Eu estava com fome apenas um momento
atrás, mas agora não sinto nada parecido com isso.

— Merda resistente. Eu estou cuidando de você, o que significa que você
come isso ou vou enfiar na sua cara. — Ela está sorrindo para mim. — Eu vou fazer
isso.

Eu roubo a minha comida de sua mão. — Eu sei que você vai. —
Desempacotando a coisa, dou uma mordida e percebo que eu estou morrendo de
fome.

— A vida não é sobre a morte, você sabe. — Diz Maggie de repente. Ela está
sentada ao meu lado no capô, olhando para uma nuvem, pegando arrancando
pedaços de seu bagel, e os jogando em sua boca um de cada vez.

— Então o que se trata? — Eu pensei que eu sabia em um ponto, mas não
tenho ideia, não mais. A vida parece uma piada cruel.

— É sobre as relações que você faz, a bondade que oferece e você mostrar
compaixão. É a sua chance de mostrar ao mundo quem você é e o que faz você.
Hallie, você é a pessoa mais forte que conheço. Em vez de sentar aqui chorando
comigo, você deve estar com Bryan. Aqui. — Ela me dá o bagel extra. — Cheque de
vez em quando e quando você precisar de mim, eu vou. Nesse meio tempo, vou
deixar nossa casa pronta, eu prometo. Nada me manterá longe desta vez. Quando
você precisar de mim, eu estarei lá - se estiver no hospital, a funerária ou apenas
quando você precisar de uma pausa.

Eu sinto uma vibe nervosa vindo dela. — Você não é fraca, Maggie. Somos
sobreviventes, eu e você. — Quando eu digo isso, quero dizer para confortá-la, mas
uma bola dá um nó na minha garganta.

Ela pega a minha mão e se inclina, descansando a cabeça no meu ombro. —
Nós vamos sobreviver a isto também “juntas”.

Capítulo 3

Eu não quero pensar em Neil, então eu volto para a mansão Ferro e me
esgueiro para dentro. Ainda é cedo. As únicas pessoas que vejo são os empregados.
Eles me veem e não dizem nada. Deve ser estranho viver como uma estátua dia
após dia, sem ninguém, mas outros funcionários, na verdade, reconhecem que você
é humano. Eu não posso evitar isso. Eu sorrio para o mordomo que está sempre
ocupado, correndo para algum lugar. Ele inclina a cabeça em saudação, mas não
abranda.

Depois que ele passa, se vira para trás. — Você precisa de alguma coisa, Sra.
Raymond?

Eu sorrio e balanço a cabeça. — Não, é apenas bom vê-lo. — Eu olho para
ele. Este homem tem sido constante na vida de Bryan por anos. Eu me pergunto se
ele sabe que Bryan tem um segredo, porque nada lhe escapa, pelo menos não
quando éramos mais jovens. Eu me lembro de receber olhares severos dele quando
éramos muito jovens e fazíamos coisas muito loucas, enquanto a mãe de Bryan não
estava por perto. Mas o cara nunca nos entregou.

— Da mesma forma, Sra. Raymond. Diga ao Sr. Ferro que se ele precisar de
ajuda pode pedir qualquer coisa para mim. — Seus olhos perfuraram os meus por
um momento antes que ele olhe para o lado.

Ele sabe.

Concordo com a cabeça e vou para o modo de super mocinha. Antes que eu
possa me parar, lanço o meu corpo para ele e meus braços em volta do velho,
abraçando-o em um abraço de urso em estilo desleixado. Ele endurece com choque
e, em seguida, dá um tapinha minhas costas. — As pessoas vão dizer-lhe que ele
vai ficar bem. Ao longo dos próximos meses, você vai ouvir isso de novo e de novo,
mas a perda não é assim que funciona. As coisas não vão voltar ao normal, mas a
vida continua. Converse com ele sobre isso, enquanto você tem a chance.

Meu queixo cai. — O quê? Isso seria tão mau. Eu não posso...

— Isso não é o problema meu, mas se você fosse minha filha, era o que eu
diria a você. Tempos sombrios estão chegando, se este homem é o seu raio de luz,
mergulhe no sol tanto quanto puder e quando puder.

Acho que entendo o que ele quer dizer, então balanço minha cabeça para
cima e para baixo lentamente. Falar sobre a morte com alguém que está morrendo
é o que ele quer dizer. Vamos acabar discutindo todas as coisas que queríamos
fazer, mas nunca teremos a chance. Minha garganta aperta com o pensamento e os
meus olhos lacrimejam. — Obrigada.

— Qualquer hora, Sra. Raymond. — Ele inclina a cabeça para mim como se
eu fosse uma rainha e se vira para correr para longe.

Eu não gosto da sua sugestão, mas parte dela me chama. E se a gente falar
sobre isso? Eu balanço minha cabeça e aperto as mãos. Não! Eu não quero! Isso não
é justo e não posso simplesmente aceitar que vou perdê-lo - não depois que
finalmente nos encontramos novamente. Não depois de todo esse tempo.

No momento que estou dentro da mansão de Bryan, paro na porta. Minha
intenção era ir à ponta dos pés para o quarto de Bryan, mas sou presa pelo Ferro
que eu mais temo - Sean. Ele está encostado na parede, os braços cruzados sobre o
peito. Ele se parece com sua mãe, toda acusação não dita claramente visível em
seus olhos. Suas roupas escuras - casaco de couro, calça jeans, camisa preta e botas
shitkicker. — Você e eu temos algo a discutir.

Minha intenção é passar por ele. — Não tenho nada para lhe dizer.

Sean libera seus braços e caminha em minha frente. Ele é silencioso e letal,
com vibes malucas irradiando dele como micro ondas. Ding! — Bem, eu tenho algo
que você precisa ouvir - sobre um homem chamado Victor. — Minha respiração
para na minha garganta enquanto minhas mãos vão para o meu coração. Sean me
puxa pela curva do meu cotovelo para longe da porta de Bryan. — Sim, eu achei
que você soubesse alguma coisa sobre isso. Os jornais estão dizendo que um dos
seus homens o matou, mas os policiais estão bisbilhotando, me fazendo perguntas
sobre um traficante de merda. Eu não gosto de policiais e não gosto ainda menos
de perguntas. Então, me diga, como é que eles rastrearam até aqui? O que você
deixou para trás?

Eu rio, mas ele ignora. — Você acha que eu o matei? — Estou pressionando
meus dedos em meu peito, piscando, com meu queixo caído. Embora seja um
excelente desempenho, algo que me afasta. Sean pode ver isso.

Ele dá um passo no meu espaço de uma maneira ameaçadora. Sua voz
ressoa: — Eu sei que você o matou.

— Não, você não sabe. — Eu agarro, tentando me empurrar por ele
novamente, mas Sean não me deixa passar. Ele bloqueia o lugar com seu corpo
maciço.

Inclinando-se perto do meu rosto, ele sussurra baixinho: — Se eu sei, a
minha mãe sabe e você não quer pegadas sujas que levam direto para a porta da
frente. Você precisa se separar de Bryan e sair daqui antes que descubram isso.

Eu balanço minha cabeça e mordo meu lábio inferior. Eu provavelmente
pareci como um moleque teimoso, mas não vou deixar Bryan.

Os olhos de Sean travam com os meus e sua voz cai para um sussurro letal.
— Eu posso fazê-la desaparecer.

Algo desperta dentro de mim, essa mesma característica de proteção que
me fez cortar a garganta de Victor, em primeiro lugar. Minha coluna se endireita e
eu fico na frente do seu rosto. — Da mesma forma.

Depois de um momento de reflexão, o homem na verdade ri. Sean esfrega o
queixo com a mão. Eu não posso dizer se ele está se divertindo ou pensa que sou
louca. Ele finalmente pergunta: — Por que você fez isso?

— Por que você acha? O homem era um estuprador assassino. Vamos
apenas dizer que eu estava no lugar errado na hora errada. Acidentes acontecem e
eu não ia deixar que qualquer outra coisa acontecesse com a minha amiga. Ela é a
única família que me resta. — Eu sugo o ar, tentando inchar, então não sou tão
pequena, mas em comparação com Sean Ferro, sou um palito.

Seus olhos azuis mudam para o lado antes que ele passe as mãos pelo
cabelo. — Então, você protegeu sua família, deixe-me proteger a minha. Vá
embora. Não puxe Bryan para isso.

— Para quê? Os mortos não puxam qualquer um para qualquer coisa.

— Victor Campone está vivo.

Capítulo 4

Um pequeno grito escapa dos meus lábios e eu quase caio no chão. Meus
joelhos cedem, mas antes de eu ir para baixo, Sean agarra meus braços. Ele me
mantém de pé e continua suavemente. — Os policiais suspeitam que ele esteja
vivo. No momento em que chegaram lá, o corpo tinha desaparecido. Devido à
quantidade de sangue que encontraram, sua suposição natural era que um de seus
homens o matou e jogou o corpo. Os policiais ainda estavam indo por esse caminho
até recentemente, quando pegaram Campone bisbilhotando meu hotel. Então, a
menos que viram um fantasma, o homem ainda está vivo.

— Ele não pode estar. — Eu balanço minha cabeça e meus olhos vidrados
quando me lembro daquela noite. A quantidade de sangue, a forma que sua cabeça
pendia para trás e a ferida era tão profunda. — Não é possível.

Sean suspira e olha para mim com uma expressão que está perdida em
algum lugar entre pena e admiração. Inclinando-se perto, ele diz: — O corte foi
muito superficial. É como apontar para o coração e não acertar. O cara foi
subestimado, os que estavam dispostos e aceitaram fazer isso uma vez, mas ele não
vai ser subestimado novamente. E eu aposto qualquer coisa que ele vai
permanecer morto por um tempo, deixar que os outros façam o trabalho sujo, até
que lhe convenha encenar uma ressurreição.

— Como você sabe tudo isso?

Ele engole em seco, seu olhar se afastando e depois de volta para os meus
olhos. — Periodicamente nossos empreendimentos comerciais se sobrepõem. Eu
ouço coisas. E posso dizer-lhe que se eu ouvi, minha mãe ouviu e você com certeza
não quer irritá-la. Se Campone acabar aqui, você está morta. Se ele não te matar,
minha mãe vai.

Ele agarra meus ombros e me pede: — Hallie, pega a sua amiga e dá o fora
daqui antes que Campone a encontre. — Sean me libera. — Este foi um aviso de
cortesia. Se você ficar por perto e Bryan for morto por sua causa, bem, é melhor

esperar que Victor a encontre antes de mim. — Seus olhos firmam em mim uma
vez com as suas intenções claras.

Eu fico lá por um segundo mal respirando. Nossos olhos estão bloqueados,
nós dois estamos desafiando, mas será que ele não sabe, Sean não sabe sobre seu
primo? Talvez eu devesse pegar Bryan e correr, mas não posso. Não enquanto ele
está doente. Ele vai precisar de ajuda e cuidados paliativos. Eu não posso dar-lhe
essas coisas se eu corro. Minha voz racha quando eu falo. — Eu não posso.

— Não é opcional.

— Não, você não entende. Eu não posso ir embora. Eu não posso correr
mais de Victor e não vou. Eu vou cuidar disso. Eu vou terminar o que comecei. —
Eu não tenho ideia de como, mas vou. Se eu não fizer isso, ele virá atrás de mim e
Maggie. O homem é cruel, ele nunca vai parar de nos caçar. Eu sei disso com
certeza.

Sean levanta a sobrancelha escura. — Você está louca? Você nunca vai ter
outra chance de matá-lo. Ele pensou que era insignificante antes, mas agora ele a
conhece melhor.

Eu me empurro passando por ele. — Eu vou cuidar disso. Ele não virá aqui,
e desta vez, quando eu matá-lo, ele vai morrer.

— Hallie. — Sean quase implora meu nome, quase, mas eu não paro.

Eu entro no quarto de Bryan e fecho a porta. Eu fico lá por um segundo e
derrubo minha cabeça para trás, respirando com dificuldade. Eu nunca soquei uma
pessoa antes. Agora eu simplesmente confessei ao mais assustador de todos os
Ferro que vou dar um fim no senhor das drogas mais notório da cidade. Super foda.

Eu ainda estou segurando o saco com café da manhã de Bryan. Quando
aperto o meu punho, o jornal faz um ruído de crepitação e ele se senta. Um belo
sorriso ilumina seu rosto pálido. — Hey, Menina Bonita. Para onde você correu?

— Para pegar o café da manhã e conseguir alguma sujeira em sua tia. Foi
uma manhã interessante. — Eu sorrio, preocupada com ele e entrego o saco.

— Sujeira na minha tia?

Balanço a cabeça e me sento ao lado dele na cama. — Sim, eu descobri
porque ela me odeia. Ela pensa que eu sei de algo todos esses anos, mas eu não
descobri o que eu sabia até esta manhã.

Bryan desembrulha o seu bagel enquanto estou falando e morde. Seus
firmes olhos verdes encontram os meus. Com a boca cheia, ele me pergunta. — E
então?

Eu penso em manter seu segredo, mas não sinto nenhuma lealdade para
com ela. Além disso, Bryan não vai contar a ninguém. — Ela é gay. Eu a peguei com
sua amante na cozinha de sua mãe esta manhã.

Seu queixo cai e o pedaço de bagel rola para fora da boca, indo para a
colcha. — De jeito nenhum.

Concordo com a cabeça e olho para o pedaço de comida. — Um choque e
tanto, hein?

— Claro que sim. Ela é tão recatada e adequada. — Seu nariz franze com o
pensamento da sua tia ser sexualmente algo.

— E, aparentemente, ela gosta de garotas.

Bryan pisca e sorri. — Bem, isso explica um monte de coisas.

— Sim, como por que ela ainda é casada e permite que prostitutas meio
vestidas andem pela sua casa.

Bryan sorri. — Claro, todo mundo gosta de um pouco de colírio para os
olhos.

Eu bato em seu ombro. — Bryan!

— Vamos lá, pense nisso. Houve uma garota naquela casa desde que Jon era
um bebê. É a família mais estranha que eu já vi. Minha mãe não teria tolerado. Eu
sempre me perguntei por que a tia Constance tolerava.

— Seu pai não tem uma puta coabitante?

Ele inclina a cabeça para mim. — Meu pai não tem tempo para isso. Ele está
muito ocupado ganhando dinheiro para ser incomodado com relacionamentos ou
senhoras de compra. Mas, ainda assim, a tia Connie gosta das garotas. Quem teria

pensado? — Ele balança a cabeça. — Então o que diabos eu vi no dia que
terminamos?

Boa pergunta. Eu suspiro e tenho uma boa ideia de para quem perguntar. Eu
sorrio grande. — Qual é o quarto que Constance usa quando está aqui?

Bryan parece confuso e então seus olhos se arregalam. — Você está louca?

— Só um pouco. — Eu rio e quase aperto meus dedos juntos.


CONTINUA

A luz do amanhecer brilha através das pesadas cortinas que revestem as paredes formando uma fina fenda de branco puro no tapete escuro. Eu fico olhando para ele, perdida em seus pensamentos. Perto de mim, Bryan está dormindo. Eu envolvo meus braços ao redor dele e seu corpo se parece tão forte. É por isso que isto é tão difícil. Não faz nenhum sentido. Para além da dor, eu não posso ver o que está acontecendo com ele. É interno. Seu corpo o está matando segundo a segundo. Eventualmente, ele irá respirar e não haverá outro. Eu não posso suportar a ideia.
Minha vida tem sido moldada por morte. Todo mundo que me importa, todos, exceto Maggie, partem. Eu escorrego para fora da cama, agarrando o meu telefone antes de ir para fundo do corredor. Eu envio uma mensagem de texto para ela, embora eu duvide que ela esteja acordada.
Eu digito: Estou com Bryan. Apenas verificando para ter certeza que está tudo bem.
Para minha surpresa ela envia uma mensagem de volta: Eu estou, mas tenho uma coisa horrível para lhe dizer.
Nada poderia ser pior do que perder Bryan. Eu digito de volta: Eu também.
Volto logo para casa e podemos conversar.
Ela responde: Ok.

 


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Eu enfio meu celular no bolso antes de pegar a camiseta de Bryan e a puxo
sobre minha cabeça. Eu enfio minhas mãos sob as mangas e vagueio pela mansão
até encontrar a cozinha. Sinto o cheiro do café e preciso desesperadamente de uma
xícara. Infelizmente, a besta “a tia” de Bryan está sentada à mesa com outra
mulher. Ambas estão vestidas em robe. Eu pisco conforme o choque lava seus
rostos. Eu não posso imaginar por que ela está aqui tão cedo, não vestida. Quão
estranho é isso?

Dentro de um batimento cardíaco, Constance está fora de seu assento e no
meu rosto. — Como você ousa desfilar na casa da minha irmã usando coisas do
meu sobrinho? Saia agora mesmo, sua puta! — Ela tenta bater no meu rosto, mas
eu agarro seu pulso.

As coisas finalmente clicam no lugar. A forma como as mulheres estavam
olhando uma para a outra, o toque de suas mãos, a forma como os seus olhos
permanecem naquele olhar fixo familiar, o fato de que ela está aqui, quando sua
irmã e cunhado já se foram e a forma como Constance se transforma em um tigre
quando ela me vê - faz sentido. Ela está escondendo um segredo há anos que
poderia arruiná-la para sempre. É por isso que ela suporta as infidelidades do Sr.
Ferro e porque permite que suas mulheres valsem pela sua casa.

Constance é gay - e esta mulher é sua amante. Ela pensou que eu soubesse,
mas eu nunca percebi antes.

Ela puxa sua mão do meu aperto e se prepara para começar a gritar
novamente. Eu a interrompo, cansada. — Eu não me importo com sua vida ou
suas preferências. Eu entendo que seja um tabu para você ser vista com ela. Eu
entendo isso, Constance, eu realmente entendo. Eu não a julgo por isso, então pare
de me julgar. A única coisa de que eu quero vocês é o café. — Eu caminho,
passando por ela.

O queixo de Constance está no chão. Sua namorada, uma mulher pelo menos
dez anos mais nova que ela, fica rígida, olhando-me com medo. Relações do mesmo
sexo podem ser ultramodernas e estarem na moda em Nova York, mas não entre
antigas famílias endinheiradas como esta. Isso a arruinaria. É por isso que ela me
odeia. Ela acha que eu tenho andado por aí esperando para soltar uma bomba em
sua vida.

Quando Constance fala, seu tom é cético: — Você sabe há muito tempo e não
disse nada. Por quê?

— Porque eu não me importo com você. — Eu mantenho minhas costas
para ela enquanto despejo o líquido escuro em uma xícara pesada. É muito cedo. As
pessoas normais não estão acordadas às cinco da manhã. Elas provavelmente
estavam tomando café da manhã antes de se separarem para o dia. Quando me viro

para falar, as duas mulheres estão me olhando mortificadas. — Eu me preocupo
com Bryan. Você não percebeu nada sobre ele que lhe diz respeito?

Seu olhar se estreita. — Não brinque comigo. Eu conheço minha família,
cada um deles.

— Sim, bem, você pode querer falar com ele. — Ela bloqueia seu maxilar,
preparando-se para ordenar que eu saia, mas eu acrescento: — O tempo é uma
coisa engraçada. Todos nós pensamos que temos uma tonelada dele até que seja
tirado de nós, então nos damos conta de que nunca foi o suficiente, para começar.
Use o tempo que você tem, Constance. Ame as pessoas que queira e se certifique de
que eles saibam disso. Chegará o dia em que você lamentará que não o fez e a
chance passou por você.

Ela endurece quando eu falo. — Você está me ameaçando?

Eu rio alto com o ridículo de sua declaração. Ela não tem nenhuma pista. Eu
estava me referindo a mim e Bryan, para a piscina constante de arrependimento
que enche meu estômago. Poderíamos ter estado juntos, mas essa oportunidade
está perdida agora, o tempo que nunca teremos.

— Você está tão errada sobre tudo, lacrada em sua pequena bolha, fora de
contato com o mundo real. Isso não é sobre você, então você acha que está segura,
mas você nunca está, não do tempo - não da morte. Seu sobrinho... — Eu engulo
em seco, mas não quebro o contato visual. — Certifique-se que sua mãe descubra.
Isso é tudo que eu quero.

A suposição de que eu estou fazendo é enorme - aquela que Elizabeth Ferro
se importará se seu filho vive ou morre. Bryan não contou a ninguém sobre sua
doença, exceto eu. Jon pode ver isso, mas os outros não têm ideia. Eu não sei
quanto tempo resta à Bryan, mas não quero que ele o gaste se preocupando ou
brigando. Eu quero estar lá para protegê-lo e, por alertar o Ferro de seu estado, eu
provavelmente só fiz isso mais difícil de acontecer - mas que é a coisa certa a fazer.
Se eu tivesse um segundo extra para gastar com o meu pai... O pensamento se
esconde em minha mente, sol a sol. Quando a noite lava o céu com tons roxos de
tinta e manchas de âmbar cintilante, eu gostaria de ter mais uma oportunidade de
dizer todas as coisas que nunca tive a chance de expressar. Agora, esses
pensamentos estão presos dentro da minha alma, me segurando cativa. Eu nunca

vou ser livre. Eu nunca tive a chance de dizer adeus. Eu estou dando aos Ferro essa
oportunidade e esperando além da esperança de que eles não me joguem para fora
na minha bunda em recompensa.

Empurrando de lado meus pensamentos, eu coloco meu copo vazio para
baixo e saio, deixando Constance e sua amante, boquiabertas, no meu despertar. As
duas mulheres atrás de mim são crianças brincando de casinha. Eu posso ser mais
jovem do que elas em anos, mas minha alma parece velha. É imaturo pensar que a
sua vida seja apenas sobre você. A vida é sobre as pessoas ao seu redor. Como eu
gostaria de nunca crescer, mas desejar é desperdício de tempo e eu me recuso a
desperdiçar mais um segundo.

Capítulo 2

Maggie e eu planejamos, através de mensagens de texto, nos encontrar em
algum lugar que tenha um bagel logo após o amanhecer. Os únicos carros no
estacionamento são da loja. O resto do centro de compras ainda está fechado. Eu
não espero muito tempo, quando ela se junta a mim no final da fila.

— Hey. — Diz Maggie, me envolvendo em um abraço.

Eu a abraço de volta, segurando-a um segundo muito longo. Ela vai fugir
novamente. Eu sei disso. Ela não lida bem com a morte também. Acho que
ninguém faz, mas Maggie viu muito dela. Quando eu a solto, me forço a perdoá-la
com antecedência. Uma alma só pode tomar tanto abuso antes que não possa
evitar, exceto reagir. É como o cão de Pavlov. A campainha da morte soa e Maggie
corre.

Eu enfio um pedaço de cabelo atrás da minha orelha e encosto contra a
vitrine de vidro, antes de enfiar as mãos nos bolsos. — Hey. Como tem passado?

A fila faz a volta para fora da porta e para baixo da frente do centro
comercial com pessoas que já pararam para um bagel e café em seu caminho para
o trabalho. A fila se aproxima alguns centímetros mais próxima da comida e nos
movemos com ela, antes de retornar nossas posições contra o vidro. Meu estômago
ronca com o cheiro de fermento e eu mal posso esperar para provar o pão macio,
quente e mordê-lo, saboreando o cream cheese espesso. Eu aprendi a não dar por
certo pequenas coisas. Bagels me ajudam a encontrar meu lugar feliz.

Eu pretendo pegar um para Bryan também - sementes de papoula com
manteiga, exatamente como ele pedia na escola. Viemos aqui tantas vezes. Eu fico
olhando para fora, no estacionamento, minha mente vagando em uma memória de
Bryan me levantando em um carrinho de compras e empurrando-me como um
louco pelo mercado, rindo o tempo todo.

Outro cliente perguntou: — Que corredor você a encontrou? Eu quero uma!

Bryan apenas sorriu, os olhos deslizando sobre mim no carrinho. —
Desculpe, cara. Esta era a única e é toda minha. Eu nunca a deixarei ir. — A

memória ecoa fortemente em meus ouvidos. Parece que poderia ter acontecido
ontem.

A voz de Maggie me encaixa de volta ao presente. Ela encolhe os ombros e
puxa a alça da bolsa para cima de seu ombro. — Eu estou bem. Acho que encontrei
um apartamento para nós, mas eu ouvi que Neil comprou para vocês uma casa. —
Ela faz uma cara de, bem, tenta não fazer uma cara, que faz sua expressão de dor
ainda pior. A fila se move de novo e, com um passo à frente, ela deixa escapar: —
Você realmente vai se casar com ele? Achei que você amasse Bryan? Parecia que
estava totalmente encantada com o gatinho do sexo. Bem, você é a gatinha.
Rapazes são o quê, tigres? Tigre sexual soa mal. — Ela ri, mas sua risada leve
desaparece quando ela vê o meu sorriso falso. — O que há de errado, Hallie?

Eu tento manter minha voz firme, mas treme sem minha permissão. Não há
nenhum ponto em protelar por mais tempo, e além disso, eu preciso dela. Mesmo
que ela vá correr, eu tenho que falar com alguém enquanto eu tiver a chance. —
Maggie, ele está morrendo.

— Mas, ele não pode estar! Ele... — Maggie deixa escapar muitas palavras de
uma só vez e quase começa a chorar. Ela é a pessoa mais empática que eu já
conheci. A minha dor está representada em seu rosto quando ela para, aperta
minha mão e me puxa para um abraço de urso que poderia explodir minha cabeça.
— Eu sinto muito, Hallie. — Ela enxuga as lágrimas com as costas da mão e olha
para o meu ombro, não querendo perguntar. Cada palavra é como se enfiasse uma
faca no meu lado. — O que há de errado com ele?

Eu a atualizo com o que sei que aconteceu até agora. Minha voz continua
difícil quando eu chego ao fim da história. — Nós terminamos por causa de sua tia
Constance. Ela achou que eu iria arruiná-la com informações que eu não deveria
saber, então ela descobriu uma maneira de nos separar. — A raiva eu não tinha
notado até agora borbulha sob a superfície da minha mente. Eu não vou ficar com
raiva, eu não posso ficar. Eu me recuso a perder meu tempo com ela ou o que ela
fez. — Maggie, eu não poderia me importar menos com ela, mas eu quis Bryan
todo esse tempo e não o tive por causa dela.

— E, no entanto, você não soa como louca. Você parece mais
assustadoramente tranquila sobre isso. — Uma sobrancelha vermelha levanta
levemente em sua testa sardenta.

Eu olho para ela conforme nos movemos com a fila para dentro da pequena
loja, e nos aproximamos da bandeja do pão assado. Maggie pede em primeiro lugar,
então eu peço e pago por nossos itens. Pegamos o nosso café da manhã, cortamos
de volta através da fila, para fora da porta, em direção ao estacionamento. Fico ali
na frente dela querendo falar, mas incapaz de encontrar palavras, em seguida,
entrego para ela o pão e suco de laranja.

Minha boca se abre duas vezes, mas as palavras não saem. Eu finalmente
olho nos olhos dela e explico. — Eu não estou louca. Bem, eu estou - mas não quero
estar. É um desperdício de tempo e eu não tenho tempo de sobra. Eu estou
pensando em ficar com ele, Maggie. Seja qual for o tempo que lhe resta, eu quero
estar lá.

— Eu entendo, e eu estou aqui para você. — Ela pega a minha mão, mas eu
não posso olhar para ela.

— Não faça promessas que não pode cumprir, Maggie.

— Eu estou as mantendo desta vez.

— Eu prefiro saber agora que você vai desaparecer. Eu posso lidar com isso
sozinha. Eu estou bem, realmente. Eu sei o que isso faz para você e... — Eu arranjo
desculpas para ela até que ela me corta.

— Não. A última vez eu não estava lá para você, porque Victor era um idiota.
Eu não tive escolha. Isso fazia parte da maneira como ele estava me controlando,
mas ele já se foi, Hallie. Eu não vou fugir. Eu estarei lá para você. Você não terá que
lidar com isso sozinha. Eu prometo. Podemos passar por qualquer coisa, você e
eu. Eu não vou deixar você Hallie. Nós somos irmãs. Eu vou estar lá neste
momento. — Ela sorri sem jeito e olha para o chão sob suas botas.

Ela muda o seu peso para o outro pé e olha para mim debaixo de muito
rímel. Sua boca fica aberta por um segundo e seus lábios enrolam, como se ela não
quisesse dizer o que está prestes a cair de sua boca. — Há algo que você precisa
saber, e eu não sei se você vai gostar ou não com tudo o que aconteceu, mas precisa

saber. Você precisa. E eu odeio dizer isso agora, mas talvez seja melhor assim. Eu
esperaria se eu achasse que ajudaria.

— Maggie, diga-me. O que é?

Ela puxa um monte de ar e cospe para fora. — Ontem à noite, enquanto você
não estava em casa, entrei e vi o que parecia ser Neil e Cecily fazendo coisas que
estava muito além da zona do amigo. — Seus lábios são esmagados em conjunto,
enquanto ela tenta permanecer inexpressiva. Eu posso dizer que ela quer castrar
Neil conforme ela luta para manter seus lábios em uma linha reta.

Eu pisco, e isso é tudo. A raiva não vomita da minha boca e minhas mãos
não estão cerradas em punhos. Eu não me sinto quebrada ou até mesmo chocada.

Eu não sinto nada.

Se eu amasse Neil, eu estaria irada, mas eu não estou. Concordo com a
cabeça.

O rosto preocupado de Maggie franze enquanto ela empurra seu brilhante
cabelo atrás da orelha. — Eu não sei se eu deveria dizer. Eu o odeio, mas pensei
que você gostava do cara. — Ela me olha com tal preocupação que eu não posso
deixar de sorrir para ela.

Meu olhar abaixa para o chão e eu tomo uma respiração profunda, antes de
dar-lhe um abraço de lado. Quando eu a deixo ir, murmuro: — Eu estou feliz que
você me disse. Desgraça pouca é bobagem, certo? — Eu ofereço um sorriso de
novo, mas é falso neste momento. Há muitas lembranças correndo pela minha
mente, e o movimento faz minha pele parecer como se fosse rachar.

— Yeah. — Ela ri. — Pelo menos não temos que nos preocupar com Victor.
Devo-lhe muito por isso. Os jornais disseram que um dos seus homens o matou no
meu apartamento. Se você não tivesse me arrastado para fora, naquela noite eu
teria levado um tiro, também.

Eu sou insensível ao que eu fiz, pelo menos no momento. Às vezes, quando
eu não consigo dormir, o pensamento de que fiz desliza em minha mente, não
desejado. Victor é um pesadelo que não vai morrer, mas não posso perder o meu
tempo.

— Somos eu e você, agora. — Eu digo a ela com firmeza. Ela sorri
tristemente para mim e assente. — Maggie, você pode ir a casa de Neil e pegar
minhas coisas? Há apenas algumas caixas. Eu nunca desembalei, não
realmente. Neil queria que eu fizesse, mas eu empurrei a maioria delas na parte de
trás de um armário. — Eu retiro minha bolsa e escrevo-lhe um cheque. — Isso
deve cobrir o aluguel do nosso novo apartamento e tudo o mais que
precisamos. Deixe-o bonito, ok? Vai ser bom ter um novo lugar bonito para ir para
casa quando isso acabar.

Maggie pega o cheque e olha para todos os zeros, antes de olhar para mim.
Uma mecha de cabelo vermelho cai na frente de seus olhos. — Hallie, eu não posso
aceitar isso.

— Sim, você pode. Vai fazê-lo. Precisamos de um lugar para viver. Eu
gostaria de ter mais a oferecer, mas essa discussão é para outro dia. Entretanto,
isso vai nos colocar em uma boa vizinhança e nós estaremos confortáveis.

— Você vai processar Neil e Cecily? Eles praticamente gastaram todo o seu
dinheiro.

Concordo com a cabeça. — Provavelmente, mas não agora. Eu preciso fazer
um telefonema. — Maggie balança a cabeça e eu disco para o meu banco enquanto
seguimos para o meu carro. Eu explico a um funcionário do banco muito prestativo
que o nome de Neil deve ser retirado da minha conta imediatamente e todas as
transações em andamento com a sua assinatura, devem ser transferidas para a sua
conta. Verificação conjunta foi ideia dele. Eu esfrego minhas mãos sobre meu rosto
e sento com força no capô do meu carro. A coisa está suja, mas eu não me
importo. O funcionário do banco me pede para ir em breve para assinar os papéis,
e fazer as alterações em minha conta oficial. Quando eu insisto que eles precisam
ser assinados agora, ela diz para vir quando for mais conveniente.

Eu desligo e olho fixamente para as portas fechadas da mercearia. — Eu não
posso fazer isso de novo, não tão cedo. — A perda do meu pai ainda paira pesado
em meu coração, ameaçando me puxar para baixo. Minha dor não diminuiu e a
fama não ajudou. A única coisa que me faz sentir melhor é Bryan e agora vou
perdê-lo também.

Eu não posso respirar. Inclinando minha cabeça para trás com os olhos
cheios de lágrimas, eu olho para o céu e as nuvens brancas onduladas. O céu estava
aqui muito antes de eu nascer e vai estar aqui muito tempo depois. Faz-me sentir
pequena, como se a minha vida não importasse em tudo.

Maggie me bate com sua bota. — Bagel?

— Eu não estou com fome. — Eu estava com fome apenas um momento
atrás, mas agora não sinto nada parecido com isso.

— Merda resistente. Eu estou cuidando de você, o que significa que você
come isso ou vou enfiar na sua cara. — Ela está sorrindo para mim. — Eu vou fazer
isso.

Eu roubo a minha comida de sua mão. — Eu sei que você vai. —
Desempacotando a coisa, dou uma mordida e percebo que eu estou morrendo de
fome.

— A vida não é sobre a morte, você sabe. — Diz Maggie de repente. Ela está
sentada ao meu lado no capô, olhando para uma nuvem, pegando arrancando
pedaços de seu bagel, e os jogando em sua boca um de cada vez.

— Então o que se trata? — Eu pensei que eu sabia em um ponto, mas não
tenho ideia, não mais. A vida parece uma piada cruel.

— É sobre as relações que você faz, a bondade que oferece e você mostrar
compaixão. É a sua chance de mostrar ao mundo quem você é e o que faz você.
Hallie, você é a pessoa mais forte que conheço. Em vez de sentar aqui chorando
comigo, você deve estar com Bryan. Aqui. — Ela me dá o bagel extra. — Cheque de
vez em quando e quando você precisar de mim, eu vou. Nesse meio tempo, vou
deixar nossa casa pronta, eu prometo. Nada me manterá longe desta vez. Quando
você precisar de mim, eu estarei lá - se estiver no hospital, a funerária ou apenas
quando você precisar de uma pausa.

Eu sinto uma vibe nervosa vindo dela. — Você não é fraca, Maggie. Somos
sobreviventes, eu e você. — Quando eu digo isso, quero dizer para confortá-la, mas
uma bola dá um nó na minha garganta.

Ela pega a minha mão e se inclina, descansando a cabeça no meu ombro. —
Nós vamos sobreviver a isto também “juntas”.

Capítulo 3

Eu não quero pensar em Neil, então eu volto para a mansão Ferro e me
esgueiro para dentro. Ainda é cedo. As únicas pessoas que vejo são os empregados.
Eles me veem e não dizem nada. Deve ser estranho viver como uma estátua dia
após dia, sem ninguém, mas outros funcionários, na verdade, reconhecem que você
é humano. Eu não posso evitar isso. Eu sorrio para o mordomo que está sempre
ocupado, correndo para algum lugar. Ele inclina a cabeça em saudação, mas não
abranda.

Depois que ele passa, se vira para trás. — Você precisa de alguma coisa, Sra.
Raymond?

Eu sorrio e balanço a cabeça. — Não, é apenas bom vê-lo. — Eu olho para
ele. Este homem tem sido constante na vida de Bryan por anos. Eu me pergunto se
ele sabe que Bryan tem um segredo, porque nada lhe escapa, pelo menos não
quando éramos mais jovens. Eu me lembro de receber olhares severos dele quando
éramos muito jovens e fazíamos coisas muito loucas, enquanto a mãe de Bryan não
estava por perto. Mas o cara nunca nos entregou.

— Da mesma forma, Sra. Raymond. Diga ao Sr. Ferro que se ele precisar de
ajuda pode pedir qualquer coisa para mim. — Seus olhos perfuraram os meus por
um momento antes que ele olhe para o lado.

Ele sabe.

Concordo com a cabeça e vou para o modo de super mocinha. Antes que eu
possa me parar, lanço o meu corpo para ele e meus braços em volta do velho,
abraçando-o em um abraço de urso em estilo desleixado. Ele endurece com choque
e, em seguida, dá um tapinha minhas costas. — As pessoas vão dizer-lhe que ele
vai ficar bem. Ao longo dos próximos meses, você vai ouvir isso de novo e de novo,
mas a perda não é assim que funciona. As coisas não vão voltar ao normal, mas a
vida continua. Converse com ele sobre isso, enquanto você tem a chance.

Meu queixo cai. — O quê? Isso seria tão mau. Eu não posso...

— Isso não é o problema meu, mas se você fosse minha filha, era o que eu
diria a você. Tempos sombrios estão chegando, se este homem é o seu raio de luz,
mergulhe no sol tanto quanto puder e quando puder.

Acho que entendo o que ele quer dizer, então balanço minha cabeça para
cima e para baixo lentamente. Falar sobre a morte com alguém que está morrendo
é o que ele quer dizer. Vamos acabar discutindo todas as coisas que queríamos
fazer, mas nunca teremos a chance. Minha garganta aperta com o pensamento e os
meus olhos lacrimejam. — Obrigada.

— Qualquer hora, Sra. Raymond. — Ele inclina a cabeça para mim como se
eu fosse uma rainha e se vira para correr para longe.

Eu não gosto da sua sugestão, mas parte dela me chama. E se a gente falar
sobre isso? Eu balanço minha cabeça e aperto as mãos. Não! Eu não quero! Isso não
é justo e não posso simplesmente aceitar que vou perdê-lo - não depois que
finalmente nos encontramos novamente. Não depois de todo esse tempo.

No momento que estou dentro da mansão de Bryan, paro na porta. Minha
intenção era ir à ponta dos pés para o quarto de Bryan, mas sou presa pelo Ferro
que eu mais temo - Sean. Ele está encostado na parede, os braços cruzados sobre o
peito. Ele se parece com sua mãe, toda acusação não dita claramente visível em
seus olhos. Suas roupas escuras - casaco de couro, calça jeans, camisa preta e botas
shitkicker. — Você e eu temos algo a discutir.

Minha intenção é passar por ele. — Não tenho nada para lhe dizer.

Sean libera seus braços e caminha em minha frente. Ele é silencioso e letal,
com vibes malucas irradiando dele como micro ondas. Ding! — Bem, eu tenho algo
que você precisa ouvir - sobre um homem chamado Victor. — Minha respiração
para na minha garganta enquanto minhas mãos vão para o meu coração. Sean me
puxa pela curva do meu cotovelo para longe da porta de Bryan. — Sim, eu achei
que você soubesse alguma coisa sobre isso. Os jornais estão dizendo que um dos
seus homens o matou, mas os policiais estão bisbilhotando, me fazendo perguntas
sobre um traficante de merda. Eu não gosto de policiais e não gosto ainda menos
de perguntas. Então, me diga, como é que eles rastrearam até aqui? O que você
deixou para trás?

Eu rio, mas ele ignora. — Você acha que eu o matei? — Estou pressionando
meus dedos em meu peito, piscando, com meu queixo caído. Embora seja um
excelente desempenho, algo que me afasta. Sean pode ver isso.

Ele dá um passo no meu espaço de uma maneira ameaçadora. Sua voz
ressoa: — Eu sei que você o matou.

— Não, você não sabe. — Eu agarro, tentando me empurrar por ele
novamente, mas Sean não me deixa passar. Ele bloqueia o lugar com seu corpo
maciço.

Inclinando-se perto do meu rosto, ele sussurra baixinho: — Se eu sei, a
minha mãe sabe e você não quer pegadas sujas que levam direto para a porta da
frente. Você precisa se separar de Bryan e sair daqui antes que descubram isso.

Eu balanço minha cabeça e mordo meu lábio inferior. Eu provavelmente
pareci como um moleque teimoso, mas não vou deixar Bryan.

Os olhos de Sean travam com os meus e sua voz cai para um sussurro letal.
— Eu posso fazê-la desaparecer.

Algo desperta dentro de mim, essa mesma característica de proteção que
me fez cortar a garganta de Victor, em primeiro lugar. Minha coluna se endireita e
eu fico na frente do seu rosto. — Da mesma forma.

Depois de um momento de reflexão, o homem na verdade ri. Sean esfrega o
queixo com a mão. Eu não posso dizer se ele está se divertindo ou pensa que sou
louca. Ele finalmente pergunta: — Por que você fez isso?

— Por que você acha? O homem era um estuprador assassino. Vamos
apenas dizer que eu estava no lugar errado na hora errada. Acidentes acontecem e
eu não ia deixar que qualquer outra coisa acontecesse com a minha amiga. Ela é a
única família que me resta. — Eu sugo o ar, tentando inchar, então não sou tão
pequena, mas em comparação com Sean Ferro, sou um palito.

Seus olhos azuis mudam para o lado antes que ele passe as mãos pelo
cabelo. — Então, você protegeu sua família, deixe-me proteger a minha. Vá
embora. Não puxe Bryan para isso.

— Para quê? Os mortos não puxam qualquer um para qualquer coisa.

— Victor Campone está vivo.

Capítulo 4

Um pequeno grito escapa dos meus lábios e eu quase caio no chão. Meus
joelhos cedem, mas antes de eu ir para baixo, Sean agarra meus braços. Ele me
mantém de pé e continua suavemente. — Os policiais suspeitam que ele esteja
vivo. No momento em que chegaram lá, o corpo tinha desaparecido. Devido à
quantidade de sangue que encontraram, sua suposição natural era que um de seus
homens o matou e jogou o corpo. Os policiais ainda estavam indo por esse caminho
até recentemente, quando pegaram Campone bisbilhotando meu hotel. Então, a
menos que viram um fantasma, o homem ainda está vivo.

— Ele não pode estar. — Eu balanço minha cabeça e meus olhos vidrados
quando me lembro daquela noite. A quantidade de sangue, a forma que sua cabeça
pendia para trás e a ferida era tão profunda. — Não é possível.

Sean suspira e olha para mim com uma expressão que está perdida em
algum lugar entre pena e admiração. Inclinando-se perto, ele diz: — O corte foi
muito superficial. É como apontar para o coração e não acertar. O cara foi
subestimado, os que estavam dispostos e aceitaram fazer isso uma vez, mas ele não
vai ser subestimado novamente. E eu aposto qualquer coisa que ele vai
permanecer morto por um tempo, deixar que os outros façam o trabalho sujo, até
que lhe convenha encenar uma ressurreição.

— Como você sabe tudo isso?

Ele engole em seco, seu olhar se afastando e depois de volta para os meus
olhos. — Periodicamente nossos empreendimentos comerciais se sobrepõem. Eu
ouço coisas. E posso dizer-lhe que se eu ouvi, minha mãe ouviu e você com certeza
não quer irritá-la. Se Campone acabar aqui, você está morta. Se ele não te matar,
minha mãe vai.

Ele agarra meus ombros e me pede: — Hallie, pega a sua amiga e dá o fora
daqui antes que Campone a encontre. — Sean me libera. — Este foi um aviso de
cortesia. Se você ficar por perto e Bryan for morto por sua causa, bem, é melhor

esperar que Victor a encontre antes de mim. — Seus olhos firmam em mim uma
vez com as suas intenções claras.

Eu fico lá por um segundo mal respirando. Nossos olhos estão bloqueados,
nós dois estamos desafiando, mas será que ele não sabe, Sean não sabe sobre seu
primo? Talvez eu devesse pegar Bryan e correr, mas não posso. Não enquanto ele
está doente. Ele vai precisar de ajuda e cuidados paliativos. Eu não posso dar-lhe
essas coisas se eu corro. Minha voz racha quando eu falo. — Eu não posso.

— Não é opcional.

— Não, você não entende. Eu não posso ir embora. Eu não posso correr
mais de Victor e não vou. Eu vou cuidar disso. Eu vou terminar o que comecei. —
Eu não tenho ideia de como, mas vou. Se eu não fizer isso, ele virá atrás de mim e
Maggie. O homem é cruel, ele nunca vai parar de nos caçar. Eu sei disso com
certeza.

Sean levanta a sobrancelha escura. — Você está louca? Você nunca vai ter
outra chance de matá-lo. Ele pensou que era insignificante antes, mas agora ele a
conhece melhor.

Eu me empurro passando por ele. — Eu vou cuidar disso. Ele não virá aqui,
e desta vez, quando eu matá-lo, ele vai morrer.

— Hallie. — Sean quase implora meu nome, quase, mas eu não paro.

Eu entro no quarto de Bryan e fecho a porta. Eu fico lá por um segundo e
derrubo minha cabeça para trás, respirando com dificuldade. Eu nunca soquei uma
pessoa antes. Agora eu simplesmente confessei ao mais assustador de todos os
Ferro que vou dar um fim no senhor das drogas mais notório da cidade. Super foda.

Eu ainda estou segurando o saco com café da manhã de Bryan. Quando
aperto o meu punho, o jornal faz um ruído de crepitação e ele se senta. Um belo
sorriso ilumina seu rosto pálido. — Hey, Menina Bonita. Para onde você correu?

— Para pegar o café da manhã e conseguir alguma sujeira em sua tia. Foi
uma manhã interessante. — Eu sorrio, preocupada com ele e entrego o saco.

— Sujeira na minha tia?

Balanço a cabeça e me sento ao lado dele na cama. — Sim, eu descobri
porque ela me odeia. Ela pensa que eu sei de algo todos esses anos, mas eu não
descobri o que eu sabia até esta manhã.

Bryan desembrulha o seu bagel enquanto estou falando e morde. Seus
firmes olhos verdes encontram os meus. Com a boca cheia, ele me pergunta. — E
então?

Eu penso em manter seu segredo, mas não sinto nenhuma lealdade para
com ela. Além disso, Bryan não vai contar a ninguém. — Ela é gay. Eu a peguei com
sua amante na cozinha de sua mãe esta manhã.

Seu queixo cai e o pedaço de bagel rola para fora da boca, indo para a
colcha. — De jeito nenhum.

Concordo com a cabeça e olho para o pedaço de comida. — Um choque e
tanto, hein?

— Claro que sim. Ela é tão recatada e adequada. — Seu nariz franze com o
pensamento da sua tia ser sexualmente algo.

— E, aparentemente, ela gosta de garotas.

Bryan pisca e sorri. — Bem, isso explica um monte de coisas.

— Sim, como por que ela ainda é casada e permite que prostitutas meio
vestidas andem pela sua casa.

Bryan sorri. — Claro, todo mundo gosta de um pouco de colírio para os
olhos.

Eu bato em seu ombro. — Bryan!

— Vamos lá, pense nisso. Houve uma garota naquela casa desde que Jon era
um bebê. É a família mais estranha que eu já vi. Minha mãe não teria tolerado. Eu
sempre me perguntei por que a tia Constance tolerava.

— Seu pai não tem uma puta coabitante?

Ele inclina a cabeça para mim. — Meu pai não tem tempo para isso. Ele está
muito ocupado ganhando dinheiro para ser incomodado com relacionamentos ou
senhoras de compra. Mas, ainda assim, a tia Connie gosta das garotas. Quem teria

pensado? — Ele balança a cabeça. — Então o que diabos eu vi no dia que
terminamos?

Boa pergunta. Eu suspiro e tenho uma boa ideia de para quem perguntar. Eu
sorrio grande. — Qual é o quarto que Constance usa quando está aqui?

Bryan parece confuso e então seus olhos se arregalam. — Você está louca?

— Só um pouco. — Eu rio e quase aperto meus dedos juntos.


CONTINUA

A luz do amanhecer brilha através das pesadas cortinas que revestem as paredes formando uma fina fenda de branco puro no tapete escuro. Eu fico olhando para ele, perdida em seus pensamentos. Perto de mim, Bryan está dormindo. Eu envolvo meus braços ao redor dele e seu corpo se parece tão forte. É por isso que isto é tão difícil. Não faz nenhum sentido. Para além da dor, eu não posso ver o que está acontecendo com ele. É interno. Seu corpo o está matando segundo a segundo. Eventualmente, ele irá respirar e não haverá outro. Eu não posso suportar a ideia.
Minha vida tem sido moldada por morte. Todo mundo que me importa, todos, exceto Maggie, partem. Eu escorrego para fora da cama, agarrando o meu telefone antes de ir para fundo do corredor. Eu envio uma mensagem de texto para ela, embora eu duvide que ela esteja acordada.
Eu digito: Estou com Bryan. Apenas verificando para ter certeza que está tudo bem.
Para minha surpresa ela envia uma mensagem de volta: Eu estou, mas tenho uma coisa horrível para lhe dizer.
Nada poderia ser pior do que perder Bryan. Eu digito de volta: Eu também.
Volto logo para casa e podemos conversar.
Ela responde: Ok.

 


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Eu enfio meu celular no bolso antes de pegar a camiseta de Bryan e a puxo
sobre minha cabeça. Eu enfio minhas mãos sob as mangas e vagueio pela mansão
até encontrar a cozinha. Sinto o cheiro do café e preciso desesperadamente de uma
xícara. Infelizmente, a besta “a tia” de Bryan está sentada à mesa com outra
mulher. Ambas estão vestidas em robe. Eu pisco conforme o choque lava seus
rostos. Eu não posso imaginar por que ela está aqui tão cedo, não vestida. Quão
estranho é isso?

Dentro de um batimento cardíaco, Constance está fora de seu assento e no
meu rosto. — Como você ousa desfilar na casa da minha irmã usando coisas do
meu sobrinho? Saia agora mesmo, sua puta! — Ela tenta bater no meu rosto, mas
eu agarro seu pulso.

As coisas finalmente clicam no lugar. A forma como as mulheres estavam
olhando uma para a outra, o toque de suas mãos, a forma como os seus olhos
permanecem naquele olhar fixo familiar, o fato de que ela está aqui, quando sua
irmã e cunhado já se foram e a forma como Constance se transforma em um tigre
quando ela me vê - faz sentido. Ela está escondendo um segredo há anos que
poderia arruiná-la para sempre. É por isso que ela suporta as infidelidades do Sr.
Ferro e porque permite que suas mulheres valsem pela sua casa.

Constance é gay - e esta mulher é sua amante. Ela pensou que eu soubesse,
mas eu nunca percebi antes.

Ela puxa sua mão do meu aperto e se prepara para começar a gritar
novamente. Eu a interrompo, cansada. — Eu não me importo com sua vida ou
suas preferências. Eu entendo que seja um tabu para você ser vista com ela. Eu
entendo isso, Constance, eu realmente entendo. Eu não a julgo por isso, então pare
de me julgar. A única coisa de que eu quero vocês é o café. — Eu caminho,
passando por ela.

O queixo de Constance está no chão. Sua namorada, uma mulher pelo menos
dez anos mais nova que ela, fica rígida, olhando-me com medo. Relações do mesmo
sexo podem ser ultramodernas e estarem na moda em Nova York, mas não entre
antigas famílias endinheiradas como esta. Isso a arruinaria. É por isso que ela me
odeia. Ela acha que eu tenho andado por aí esperando para soltar uma bomba em
sua vida.

Quando Constance fala, seu tom é cético: — Você sabe há muito tempo e não
disse nada. Por quê?

— Porque eu não me importo com você. — Eu mantenho minhas costas
para ela enquanto despejo o líquido escuro em uma xícara pesada. É muito cedo. As
pessoas normais não estão acordadas às cinco da manhã. Elas provavelmente
estavam tomando café da manhã antes de se separarem para o dia. Quando me viro

para falar, as duas mulheres estão me olhando mortificadas. — Eu me preocupo
com Bryan. Você não percebeu nada sobre ele que lhe diz respeito?

Seu olhar se estreita. — Não brinque comigo. Eu conheço minha família,
cada um deles.

— Sim, bem, você pode querer falar com ele. — Ela bloqueia seu maxilar,
preparando-se para ordenar que eu saia, mas eu acrescento: — O tempo é uma
coisa engraçada. Todos nós pensamos que temos uma tonelada dele até que seja
tirado de nós, então nos damos conta de que nunca foi o suficiente, para começar.
Use o tempo que você tem, Constance. Ame as pessoas que queira e se certifique de
que eles saibam disso. Chegará o dia em que você lamentará que não o fez e a
chance passou por você.

Ela endurece quando eu falo. — Você está me ameaçando?

Eu rio alto com o ridículo de sua declaração. Ela não tem nenhuma pista. Eu
estava me referindo a mim e Bryan, para a piscina constante de arrependimento
que enche meu estômago. Poderíamos ter estado juntos, mas essa oportunidade
está perdida agora, o tempo que nunca teremos.

— Você está tão errada sobre tudo, lacrada em sua pequena bolha, fora de
contato com o mundo real. Isso não é sobre você, então você acha que está segura,
mas você nunca está, não do tempo - não da morte. Seu sobrinho... — Eu engulo
em seco, mas não quebro o contato visual. — Certifique-se que sua mãe descubra.
Isso é tudo que eu quero.

A suposição de que eu estou fazendo é enorme - aquela que Elizabeth Ferro
se importará se seu filho vive ou morre. Bryan não contou a ninguém sobre sua
doença, exceto eu. Jon pode ver isso, mas os outros não têm ideia. Eu não sei
quanto tempo resta à Bryan, mas não quero que ele o gaste se preocupando ou
brigando. Eu quero estar lá para protegê-lo e, por alertar o Ferro de seu estado, eu
provavelmente só fiz isso mais difícil de acontecer - mas que é a coisa certa a fazer.
Se eu tivesse um segundo extra para gastar com o meu pai... O pensamento se
esconde em minha mente, sol a sol. Quando a noite lava o céu com tons roxos de
tinta e manchas de âmbar cintilante, eu gostaria de ter mais uma oportunidade de
dizer todas as coisas que nunca tive a chance de expressar. Agora, esses
pensamentos estão presos dentro da minha alma, me segurando cativa. Eu nunca

vou ser livre. Eu nunca tive a chance de dizer adeus. Eu estou dando aos Ferro essa
oportunidade e esperando além da esperança de que eles não me joguem para fora
na minha bunda em recompensa.

Empurrando de lado meus pensamentos, eu coloco meu copo vazio para
baixo e saio, deixando Constance e sua amante, boquiabertas, no meu despertar. As
duas mulheres atrás de mim são crianças brincando de casinha. Eu posso ser mais
jovem do que elas em anos, mas minha alma parece velha. É imaturo pensar que a
sua vida seja apenas sobre você. A vida é sobre as pessoas ao seu redor. Como eu
gostaria de nunca crescer, mas desejar é desperdício de tempo e eu me recuso a
desperdiçar mais um segundo.

Capítulo 2

Maggie e eu planejamos, através de mensagens de texto, nos encontrar em
algum lugar que tenha um bagel logo após o amanhecer. Os únicos carros no
estacionamento são da loja. O resto do centro de compras ainda está fechado. Eu
não espero muito tempo, quando ela se junta a mim no final da fila.

— Hey. — Diz Maggie, me envolvendo em um abraço.

Eu a abraço de volta, segurando-a um segundo muito longo. Ela vai fugir
novamente. Eu sei disso. Ela não lida bem com a morte também. Acho que
ninguém faz, mas Maggie viu muito dela. Quando eu a solto, me forço a perdoá-la
com antecedência. Uma alma só pode tomar tanto abuso antes que não possa
evitar, exceto reagir. É como o cão de Pavlov. A campainha da morte soa e Maggie
corre.

Eu enfio um pedaço de cabelo atrás da minha orelha e encosto contra a
vitrine de vidro, antes de enfiar as mãos nos bolsos. — Hey. Como tem passado?

A fila faz a volta para fora da porta e para baixo da frente do centro
comercial com pessoas que já pararam para um bagel e café em seu caminho para
o trabalho. A fila se aproxima alguns centímetros mais próxima da comida e nos
movemos com ela, antes de retornar nossas posições contra o vidro. Meu estômago
ronca com o cheiro de fermento e eu mal posso esperar para provar o pão macio,
quente e mordê-lo, saboreando o cream cheese espesso. Eu aprendi a não dar por
certo pequenas coisas. Bagels me ajudam a encontrar meu lugar feliz.

Eu pretendo pegar um para Bryan também - sementes de papoula com
manteiga, exatamente como ele pedia na escola. Viemos aqui tantas vezes. Eu fico
olhando para fora, no estacionamento, minha mente vagando em uma memória de
Bryan me levantando em um carrinho de compras e empurrando-me como um
louco pelo mercado, rindo o tempo todo.

Outro cliente perguntou: — Que corredor você a encontrou? Eu quero uma!

Bryan apenas sorriu, os olhos deslizando sobre mim no carrinho. —
Desculpe, cara. Esta era a única e é toda minha. Eu nunca a deixarei ir. — A

memória ecoa fortemente em meus ouvidos. Parece que poderia ter acontecido
ontem.

A voz de Maggie me encaixa de volta ao presente. Ela encolhe os ombros e
puxa a alça da bolsa para cima de seu ombro. — Eu estou bem. Acho que encontrei
um apartamento para nós, mas eu ouvi que Neil comprou para vocês uma casa. —
Ela faz uma cara de, bem, tenta não fazer uma cara, que faz sua expressão de dor
ainda pior. A fila se move de novo e, com um passo à frente, ela deixa escapar: —
Você realmente vai se casar com ele? Achei que você amasse Bryan? Parecia que
estava totalmente encantada com o gatinho do sexo. Bem, você é a gatinha.
Rapazes são o quê, tigres? Tigre sexual soa mal. — Ela ri, mas sua risada leve
desaparece quando ela vê o meu sorriso falso. — O que há de errado, Hallie?

Eu tento manter minha voz firme, mas treme sem minha permissão. Não há
nenhum ponto em protelar por mais tempo, e além disso, eu preciso dela. Mesmo
que ela vá correr, eu tenho que falar com alguém enquanto eu tiver a chance. —
Maggie, ele está morrendo.

— Mas, ele não pode estar! Ele... — Maggie deixa escapar muitas palavras de
uma só vez e quase começa a chorar. Ela é a pessoa mais empática que eu já
conheci. A minha dor está representada em seu rosto quando ela para, aperta
minha mão e me puxa para um abraço de urso que poderia explodir minha cabeça.
— Eu sinto muito, Hallie. — Ela enxuga as lágrimas com as costas da mão e olha
para o meu ombro, não querendo perguntar. Cada palavra é como se enfiasse uma
faca no meu lado. — O que há de errado com ele?

Eu a atualizo com o que sei que aconteceu até agora. Minha voz continua
difícil quando eu chego ao fim da história. — Nós terminamos por causa de sua tia
Constance. Ela achou que eu iria arruiná-la com informações que eu não deveria
saber, então ela descobriu uma maneira de nos separar. — A raiva eu não tinha
notado até agora borbulha sob a superfície da minha mente. Eu não vou ficar com
raiva, eu não posso ficar. Eu me recuso a perder meu tempo com ela ou o que ela
fez. — Maggie, eu não poderia me importar menos com ela, mas eu quis Bryan
todo esse tempo e não o tive por causa dela.

— E, no entanto, você não soa como louca. Você parece mais
assustadoramente tranquila sobre isso. — Uma sobrancelha vermelha levanta
levemente em sua testa sardenta.

Eu olho para ela conforme nos movemos com a fila para dentro da pequena
loja, e nos aproximamos da bandeja do pão assado. Maggie pede em primeiro lugar,
então eu peço e pago por nossos itens. Pegamos o nosso café da manhã, cortamos
de volta através da fila, para fora da porta, em direção ao estacionamento. Fico ali
na frente dela querendo falar, mas incapaz de encontrar palavras, em seguida,
entrego para ela o pão e suco de laranja.

Minha boca se abre duas vezes, mas as palavras não saem. Eu finalmente
olho nos olhos dela e explico. — Eu não estou louca. Bem, eu estou - mas não quero
estar. É um desperdício de tempo e eu não tenho tempo de sobra. Eu estou
pensando em ficar com ele, Maggie. Seja qual for o tempo que lhe resta, eu quero
estar lá.

— Eu entendo, e eu estou aqui para você. — Ela pega a minha mão, mas eu
não posso olhar para ela.

— Não faça promessas que não pode cumprir, Maggie.

— Eu estou as mantendo desta vez.

— Eu prefiro saber agora que você vai desaparecer. Eu posso lidar com isso
sozinha. Eu estou bem, realmente. Eu sei o que isso faz para você e... — Eu arranjo
desculpas para ela até que ela me corta.

— Não. A última vez eu não estava lá para você, porque Victor era um idiota.
Eu não tive escolha. Isso fazia parte da maneira como ele estava me controlando,
mas ele já se foi, Hallie. Eu não vou fugir. Eu estarei lá para você. Você não terá que
lidar com isso sozinha. Eu prometo. Podemos passar por qualquer coisa, você e
eu. Eu não vou deixar você Hallie. Nós somos irmãs. Eu vou estar lá neste
momento. — Ela sorri sem jeito e olha para o chão sob suas botas.

Ela muda o seu peso para o outro pé e olha para mim debaixo de muito
rímel. Sua boca fica aberta por um segundo e seus lábios enrolam, como se ela não
quisesse dizer o que está prestes a cair de sua boca. — Há algo que você precisa
saber, e eu não sei se você vai gostar ou não com tudo o que aconteceu, mas precisa

saber. Você precisa. E eu odeio dizer isso agora, mas talvez seja melhor assim. Eu
esperaria se eu achasse que ajudaria.

— Maggie, diga-me. O que é?

Ela puxa um monte de ar e cospe para fora. — Ontem à noite, enquanto você
não estava em casa, entrei e vi o que parecia ser Neil e Cecily fazendo coisas que
estava muito além da zona do amigo. — Seus lábios são esmagados em conjunto,
enquanto ela tenta permanecer inexpressiva. Eu posso dizer que ela quer castrar
Neil conforme ela luta para manter seus lábios em uma linha reta.

Eu pisco, e isso é tudo. A raiva não vomita da minha boca e minhas mãos
não estão cerradas em punhos. Eu não me sinto quebrada ou até mesmo chocada.

Eu não sinto nada.

Se eu amasse Neil, eu estaria irada, mas eu não estou. Concordo com a
cabeça.

O rosto preocupado de Maggie franze enquanto ela empurra seu brilhante
cabelo atrás da orelha. — Eu não sei se eu deveria dizer. Eu o odeio, mas pensei
que você gostava do cara. — Ela me olha com tal preocupação que eu não posso
deixar de sorrir para ela.

Meu olhar abaixa para o chão e eu tomo uma respiração profunda, antes de
dar-lhe um abraço de lado. Quando eu a deixo ir, murmuro: — Eu estou feliz que
você me disse. Desgraça pouca é bobagem, certo? — Eu ofereço um sorriso de
novo, mas é falso neste momento. Há muitas lembranças correndo pela minha
mente, e o movimento faz minha pele parecer como se fosse rachar.

— Yeah. — Ela ri. — Pelo menos não temos que nos preocupar com Victor.
Devo-lhe muito por isso. Os jornais disseram que um dos seus homens o matou no
meu apartamento. Se você não tivesse me arrastado para fora, naquela noite eu
teria levado um tiro, também.

Eu sou insensível ao que eu fiz, pelo menos no momento. Às vezes, quando
eu não consigo dormir, o pensamento de que fiz desliza em minha mente, não
desejado. Victor é um pesadelo que não vai morrer, mas não posso perder o meu
tempo.

— Somos eu e você, agora. — Eu digo a ela com firmeza. Ela sorri
tristemente para mim e assente. — Maggie, você pode ir a casa de Neil e pegar
minhas coisas? Há apenas algumas caixas. Eu nunca desembalei, não
realmente. Neil queria que eu fizesse, mas eu empurrei a maioria delas na parte de
trás de um armário. — Eu retiro minha bolsa e escrevo-lhe um cheque. — Isso
deve cobrir o aluguel do nosso novo apartamento e tudo o mais que
precisamos. Deixe-o bonito, ok? Vai ser bom ter um novo lugar bonito para ir para
casa quando isso acabar.

Maggie pega o cheque e olha para todos os zeros, antes de olhar para mim.
Uma mecha de cabelo vermelho cai na frente de seus olhos. — Hallie, eu não posso
aceitar isso.

— Sim, você pode. Vai fazê-lo. Precisamos de um lugar para viver. Eu
gostaria de ter mais a oferecer, mas essa discussão é para outro dia. Entretanto,
isso vai nos colocar em uma boa vizinhança e nós estaremos confortáveis.

— Você vai processar Neil e Cecily? Eles praticamente gastaram todo o seu
dinheiro.

Concordo com a cabeça. — Provavelmente, mas não agora. Eu preciso fazer
um telefonema. — Maggie balança a cabeça e eu disco para o meu banco enquanto
seguimos para o meu carro. Eu explico a um funcionário do banco muito prestativo
que o nome de Neil deve ser retirado da minha conta imediatamente e todas as
transações em andamento com a sua assinatura, devem ser transferidas para a sua
conta. Verificação conjunta foi ideia dele. Eu esfrego minhas mãos sobre meu rosto
e sento com força no capô do meu carro. A coisa está suja, mas eu não me
importo. O funcionário do banco me pede para ir em breve para assinar os papéis,
e fazer as alterações em minha conta oficial. Quando eu insisto que eles precisam
ser assinados agora, ela diz para vir quando for mais conveniente.

Eu desligo e olho fixamente para as portas fechadas da mercearia. — Eu não
posso fazer isso de novo, não tão cedo. — A perda do meu pai ainda paira pesado
em meu coração, ameaçando me puxar para baixo. Minha dor não diminuiu e a
fama não ajudou. A única coisa que me faz sentir melhor é Bryan e agora vou
perdê-lo também.

Eu não posso respirar. Inclinando minha cabeça para trás com os olhos
cheios de lágrimas, eu olho para o céu e as nuvens brancas onduladas. O céu estava
aqui muito antes de eu nascer e vai estar aqui muito tempo depois. Faz-me sentir
pequena, como se a minha vida não importasse em tudo.

Maggie me bate com sua bota. — Bagel?

— Eu não estou com fome. — Eu estava com fome apenas um momento
atrás, mas agora não sinto nada parecido com isso.

— Merda resistente. Eu estou cuidando de você, o que significa que você
come isso ou vou enfiar na sua cara. — Ela está sorrindo para mim. — Eu vou fazer
isso.

Eu roubo a minha comida de sua mão. — Eu sei que você vai. —
Desempacotando a coisa, dou uma mordida e percebo que eu estou morrendo de
fome.

— A vida não é sobre a morte, você sabe. — Diz Maggie de repente. Ela está
sentada ao meu lado no capô, olhando para uma nuvem, pegando arrancando
pedaços de seu bagel, e os jogando em sua boca um de cada vez.

— Então o que se trata? — Eu pensei que eu sabia em um ponto, mas não
tenho ideia, não mais. A vida parece uma piada cruel.

— É sobre as relações que você faz, a bondade que oferece e você mostrar
compaixão. É a sua chance de mostrar ao mundo quem você é e o que faz você.
Hallie, você é a pessoa mais forte que conheço. Em vez de sentar aqui chorando
comigo, você deve estar com Bryan. Aqui. — Ela me dá o bagel extra. — Cheque de
vez em quando e quando você precisar de mim, eu vou. Nesse meio tempo, vou
deixar nossa casa pronta, eu prometo. Nada me manterá longe desta vez. Quando
você precisar de mim, eu estarei lá - se estiver no hospital, a funerária ou apenas
quando você precisar de uma pausa.

Eu sinto uma vibe nervosa vindo dela. — Você não é fraca, Maggie. Somos
sobreviventes, eu e você. — Quando eu digo isso, quero dizer para confortá-la, mas
uma bola dá um nó na minha garganta.

Ela pega a minha mão e se inclina, descansando a cabeça no meu ombro. —
Nós vamos sobreviver a isto também “juntas”.

Capítulo 3

Eu não quero pensar em Neil, então eu volto para a mansão Ferro e me
esgueiro para dentro. Ainda é cedo. As únicas pessoas que vejo são os empregados.
Eles me veem e não dizem nada. Deve ser estranho viver como uma estátua dia
após dia, sem ninguém, mas outros funcionários, na verdade, reconhecem que você
é humano. Eu não posso evitar isso. Eu sorrio para o mordomo que está sempre
ocupado, correndo para algum lugar. Ele inclina a cabeça em saudação, mas não
abranda.

Depois que ele passa, se vira para trás. — Você precisa de alguma coisa, Sra.
Raymond?

Eu sorrio e balanço a cabeça. — Não, é apenas bom vê-lo. — Eu olho para
ele. Este homem tem sido constante na vida de Bryan por anos. Eu me pergunto se
ele sabe que Bryan tem um segredo, porque nada lhe escapa, pelo menos não
quando éramos mais jovens. Eu me lembro de receber olhares severos dele quando
éramos muito jovens e fazíamos coisas muito loucas, enquanto a mãe de Bryan não
estava por perto. Mas o cara nunca nos entregou.

— Da mesma forma, Sra. Raymond. Diga ao Sr. Ferro que se ele precisar de
ajuda pode pedir qualquer coisa para mim. — Seus olhos perfuraram os meus por
um momento antes que ele olhe para o lado.

Ele sabe.

Concordo com a cabeça e vou para o modo de super mocinha. Antes que eu
possa me parar, lanço o meu corpo para ele e meus braços em volta do velho,
abraçando-o em um abraço de urso em estilo desleixado. Ele endurece com choque
e, em seguida, dá um tapinha minhas costas. — As pessoas vão dizer-lhe que ele
vai ficar bem. Ao longo dos próximos meses, você vai ouvir isso de novo e de novo,
mas a perda não é assim que funciona. As coisas não vão voltar ao normal, mas a
vida continua. Converse com ele sobre isso, enquanto você tem a chance.

Meu queixo cai. — O quê? Isso seria tão mau. Eu não posso...

— Isso não é o problema meu, mas se você fosse minha filha, era o que eu
diria a você. Tempos sombrios estão chegando, se este homem é o seu raio de luz,
mergulhe no sol tanto quanto puder e quando puder.

Acho que entendo o que ele quer dizer, então balanço minha cabeça para
cima e para baixo lentamente. Falar sobre a morte com alguém que está morrendo
é o que ele quer dizer. Vamos acabar discutindo todas as coisas que queríamos
fazer, mas nunca teremos a chance. Minha garganta aperta com o pensamento e os
meus olhos lacrimejam. — Obrigada.

— Qualquer hora, Sra. Raymond. — Ele inclina a cabeça para mim como se
eu fosse uma rainha e se vira para correr para longe.

Eu não gosto da sua sugestão, mas parte dela me chama. E se a gente falar
sobre isso? Eu balanço minha cabeça e aperto as mãos. Não! Eu não quero! Isso não
é justo e não posso simplesmente aceitar que vou perdê-lo - não depois que
finalmente nos encontramos novamente. Não depois de todo esse tempo.

No momento que estou dentro da mansão de Bryan, paro na porta. Minha
intenção era ir à ponta dos pés para o quarto de Bryan, mas sou presa pelo Ferro
que eu mais temo - Sean. Ele está encostado na parede, os braços cruzados sobre o
peito. Ele se parece com sua mãe, toda acusação não dita claramente visível em
seus olhos. Suas roupas escuras - casaco de couro, calça jeans, camisa preta e botas
shitkicker. — Você e eu temos algo a discutir.

Minha intenção é passar por ele. — Não tenho nada para lhe dizer.

Sean libera seus braços e caminha em minha frente. Ele é silencioso e letal,
com vibes malucas irradiando dele como micro ondas. Ding! — Bem, eu tenho algo
que você precisa ouvir - sobre um homem chamado Victor. — Minha respiração
para na minha garganta enquanto minhas mãos vão para o meu coração. Sean me
puxa pela curva do meu cotovelo para longe da porta de Bryan. — Sim, eu achei
que você soubesse alguma coisa sobre isso. Os jornais estão dizendo que um dos
seus homens o matou, mas os policiais estão bisbilhotando, me fazendo perguntas
sobre um traficante de merda. Eu não gosto de policiais e não gosto ainda menos
de perguntas. Então, me diga, como é que eles rastrearam até aqui? O que você
deixou para trás?

Eu rio, mas ele ignora. — Você acha que eu o matei? — Estou pressionando
meus dedos em meu peito, piscando, com meu queixo caído. Embora seja um
excelente desempenho, algo que me afasta. Sean pode ver isso.

Ele dá um passo no meu espaço de uma maneira ameaçadora. Sua voz
ressoa: — Eu sei que você o matou.

— Não, você não sabe. — Eu agarro, tentando me empurrar por ele
novamente, mas Sean não me deixa passar. Ele bloqueia o lugar com seu corpo
maciço.

Inclinando-se perto do meu rosto, ele sussurra baixinho: — Se eu sei, a
minha mãe sabe e você não quer pegadas sujas que levam direto para a porta da
frente. Você precisa se separar de Bryan e sair daqui antes que descubram isso.

Eu balanço minha cabeça e mordo meu lábio inferior. Eu provavelmente
pareci como um moleque teimoso, mas não vou deixar Bryan.

Os olhos de Sean travam com os meus e sua voz cai para um sussurro letal.
— Eu posso fazê-la desaparecer.

Algo desperta dentro de mim, essa mesma característica de proteção que
me fez cortar a garganta de Victor, em primeiro lugar. Minha coluna se endireita e
eu fico na frente do seu rosto. — Da mesma forma.

Depois de um momento de reflexão, o homem na verdade ri. Sean esfrega o
queixo com a mão. Eu não posso dizer se ele está se divertindo ou pensa que sou
louca. Ele finalmente pergunta: — Por que você fez isso?

— Por que você acha? O homem era um estuprador assassino. Vamos
apenas dizer que eu estava no lugar errado na hora errada. Acidentes acontecem e
eu não ia deixar que qualquer outra coisa acontecesse com a minha amiga. Ela é a
única família que me resta. — Eu sugo o ar, tentando inchar, então não sou tão
pequena, mas em comparação com Sean Ferro, sou um palito.

Seus olhos azuis mudam para o lado antes que ele passe as mãos pelo
cabelo. — Então, você protegeu sua família, deixe-me proteger a minha. Vá
embora. Não puxe Bryan para isso.

— Para quê? Os mortos não puxam qualquer um para qualquer coisa.

— Victor Campone está vivo.

Capítulo 4

Um pequeno grito escapa dos meus lábios e eu quase caio no chão. Meus
joelhos cedem, mas antes de eu ir para baixo, Sean agarra meus braços. Ele me
mantém de pé e continua suavemente. — Os policiais suspeitam que ele esteja
vivo. No momento em que chegaram lá, o corpo tinha desaparecido. Devido à
quantidade de sangue que encontraram, sua suposição natural era que um de seus
homens o matou e jogou o corpo. Os policiais ainda estavam indo por esse caminho
até recentemente, quando pegaram Campone bisbilhotando meu hotel. Então, a
menos que viram um fantasma, o homem ainda está vivo.

— Ele não pode estar. — Eu balanço minha cabeça e meus olhos vidrados
quando me lembro daquela noite. A quantidade de sangue, a forma que sua cabeça
pendia para trás e a ferida era tão profunda. — Não é possível.

Sean suspira e olha para mim com uma expressão que está perdida em
algum lugar entre pena e admiração. Inclinando-se perto, ele diz: — O corte foi
muito superficial. É como apontar para o coração e não acertar. O cara foi
subestimado, os que estavam dispostos e aceitaram fazer isso uma vez, mas ele não
vai ser subestimado novamente. E eu aposto qualquer coisa que ele vai
permanecer morto por um tempo, deixar que os outros façam o trabalho sujo, até
que lhe convenha encenar uma ressurreição.

— Como você sabe tudo isso?

Ele engole em seco, seu olhar se afastando e depois de volta para os meus
olhos. — Periodicamente nossos empreendimentos comerciais se sobrepõem. Eu
ouço coisas. E posso dizer-lhe que se eu ouvi, minha mãe ouviu e você com certeza
não quer irritá-la. Se Campone acabar aqui, você está morta. Se ele não te matar,
minha mãe vai.

Ele agarra meus ombros e me pede: — Hallie, pega a sua amiga e dá o fora
daqui antes que Campone a encontre. — Sean me libera. — Este foi um aviso de
cortesia. Se você ficar por perto e Bryan for morto por sua causa, bem, é melhor

esperar que Victor a encontre antes de mim. — Seus olhos firmam em mim uma
vez com as suas intenções claras.

Eu fico lá por um segundo mal respirando. Nossos olhos estão bloqueados,
nós dois estamos desafiando, mas será que ele não sabe, Sean não sabe sobre seu
primo? Talvez eu devesse pegar Bryan e correr, mas não posso. Não enquanto ele
está doente. Ele vai precisar de ajuda e cuidados paliativos. Eu não posso dar-lhe
essas coisas se eu corro. Minha voz racha quando eu falo. — Eu não posso.

— Não é opcional.

— Não, você não entende. Eu não posso ir embora. Eu não posso correr
mais de Victor e não vou. Eu vou cuidar disso. Eu vou terminar o que comecei. —
Eu não tenho ideia de como, mas vou. Se eu não fizer isso, ele virá atrás de mim e
Maggie. O homem é cruel, ele nunca vai parar de nos caçar. Eu sei disso com
certeza.

Sean levanta a sobrancelha escura. — Você está louca? Você nunca vai ter
outra chance de matá-lo. Ele pensou que era insignificante antes, mas agora ele a
conhece melhor.

Eu me empurro passando por ele. — Eu vou cuidar disso. Ele não virá aqui,
e desta vez, quando eu matá-lo, ele vai morrer.

— Hallie. — Sean quase implora meu nome, quase, mas eu não paro.

Eu entro no quarto de Bryan e fecho a porta. Eu fico lá por um segundo e
derrubo minha cabeça para trás, respirando com dificuldade. Eu nunca soquei uma
pessoa antes. Agora eu simplesmente confessei ao mais assustador de todos os
Ferro que vou dar um fim no senhor das drogas mais notório da cidade. Super foda.

Eu ainda estou segurando o saco com café da manhã de Bryan. Quando
aperto o meu punho, o jornal faz um ruído de crepitação e ele se senta. Um belo
sorriso ilumina seu rosto pálido. — Hey, Menina Bonita. Para onde você correu?

— Para pegar o café da manhã e conseguir alguma sujeira em sua tia. Foi
uma manhã interessante. — Eu sorrio, preocupada com ele e entrego o saco.

— Sujeira na minha tia?

Balanço a cabeça e me sento ao lado dele na cama. — Sim, eu descobri
porque ela me odeia. Ela pensa que eu sei de algo todos esses anos, mas eu não
descobri o que eu sabia até esta manhã.

Bryan desembrulha o seu bagel enquanto estou falando e morde. Seus
firmes olhos verdes encontram os meus. Com a boca cheia, ele me pergunta. — E
então?

Eu penso em manter seu segredo, mas não sinto nenhuma lealdade para
com ela. Além disso, Bryan não vai contar a ninguém. — Ela é gay. Eu a peguei com
sua amante na cozinha de sua mãe esta manhã.

Seu queixo cai e o pedaço de bagel rola para fora da boca, indo para a
colcha. — De jeito nenhum.

Concordo com a cabeça e olho para o pedaço de comida. — Um choque e
tanto, hein?

— Claro que sim. Ela é tão recatada e adequada. — Seu nariz franze com o
pensamento da sua tia ser sexualmente algo.

— E, aparentemente, ela gosta de garotas.

Bryan pisca e sorri. — Bem, isso explica um monte de coisas.

— Sim, como por que ela ainda é casada e permite que prostitutas meio
vestidas andem pela sua casa.

Bryan sorri. — Claro, todo mundo gosta de um pouco de colírio para os
olhos.

Eu bato em seu ombro. — Bryan!

— Vamos lá, pense nisso. Houve uma garota naquela casa desde que Jon era
um bebê. É a família mais estranha que eu já vi. Minha mãe não teria tolerado. Eu
sempre me perguntei por que a tia Constance tolerava.

— Seu pai não tem uma puta coabitante?

Ele inclina a cabeça para mim. — Meu pai não tem tempo para isso. Ele está
muito ocupado ganhando dinheiro para ser incomodado com relacionamentos ou
senhoras de compra. Mas, ainda assim, a tia Connie gosta das garotas. Quem teria

pensado? — Ele balança a cabeça. — Então o que diabos eu vi no dia que
terminamos?

Boa pergunta. Eu suspiro e tenho uma boa ideia de para quem perguntar. Eu
sorrio grande. — Qual é o quarto que Constance usa quando está aqui?

Bryan parece confuso e então seus olhos se arregalam. — Você está louca?

— Só um pouco. — Eu rio e quase aperto meus dedos juntos.


CONTINUA

A luz do amanhecer brilha através das pesadas cortinas que revestem as paredes formando uma fina fenda de branco puro no tapete escuro. Eu fico olhando para ele, perdida em seus pensamentos. Perto de mim, Bryan está dormindo. Eu envolvo meus braços ao redor dele e seu corpo se parece tão forte. É por isso que isto é tão difícil. Não faz nenhum sentido. Para além da dor, eu não posso ver o que está acontecendo com ele. É interno. Seu corpo o está matando segundo a segundo. Eventualmente, ele irá respirar e não haverá outro. Eu não posso suportar a ideia.
Minha vida tem sido moldada por morte. Todo mundo que me importa, todos, exceto Maggie, partem. Eu escorrego para fora da cama, agarrando o meu telefone antes de ir para fundo do corredor. Eu envio uma mensagem de texto para ela, embora eu duvide que ela esteja acordada.
Eu digito: Estou com Bryan. Apenas verificando para ter certeza que está tudo bem.
Para minha surpresa ela envia uma mensagem de volta: Eu estou, mas tenho uma coisa horrível para lhe dizer.
Nada poderia ser pior do que perder Bryan. Eu digito de volta: Eu também.
Volto logo para casa e podemos conversar.
Ela responde: Ok.

 


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Eu enfio meu celular no bolso antes de pegar a camiseta de Bryan e a puxo
sobre minha cabeça. Eu enfio minhas mãos sob as mangas e vagueio pela mansão
até encontrar a cozinha. Sinto o cheiro do café e preciso desesperadamente de uma
xícara. Infelizmente, a besta “a tia” de Bryan está sentada à mesa com outra
mulher. Ambas estão vestidas em robe. Eu pisco conforme o choque lava seus
rostos. Eu não posso imaginar por que ela está aqui tão cedo, não vestida. Quão
estranho é isso?

Dentro de um batimento cardíaco, Constance está fora de seu assento e no
meu rosto. — Como você ousa desfilar na casa da minha irmã usando coisas do
meu sobrinho? Saia agora mesmo, sua puta! — Ela tenta bater no meu rosto, mas
eu agarro seu pulso.

As coisas finalmente clicam no lugar. A forma como as mulheres estavam
olhando uma para a outra, o toque de suas mãos, a forma como os seus olhos
permanecem naquele olhar fixo familiar, o fato de que ela está aqui, quando sua
irmã e cunhado já se foram e a forma como Constance se transforma em um tigre
quando ela me vê - faz sentido. Ela está escondendo um segredo há anos que
poderia arruiná-la para sempre. É por isso que ela suporta as infidelidades do Sr.
Ferro e porque permite que suas mulheres valsem pela sua casa.

Constance é gay - e esta mulher é sua amante. Ela pensou que eu soubesse,
mas eu nunca percebi antes.

Ela puxa sua mão do meu aperto e se prepara para começar a gritar
novamente. Eu a interrompo, cansada. — Eu não me importo com sua vida ou
suas preferências. Eu entendo que seja um tabu para você ser vista com ela. Eu
entendo isso, Constance, eu realmente entendo. Eu não a julgo por isso, então pare
de me julgar. A única coisa de que eu quero vocês é o café. — Eu caminho,
passando por ela.

O queixo de Constance está no chão. Sua namorada, uma mulher pelo menos
dez anos mais nova que ela, fica rígida, olhando-me com medo. Relações do mesmo
sexo podem ser ultramodernas e estarem na moda em Nova York, mas não entre
antigas famílias endinheiradas como esta. Isso a arruinaria. É por isso que ela me
odeia. Ela acha que eu tenho andado por aí esperando para soltar uma bomba em
sua vida.

Quando Constance fala, seu tom é cético: — Você sabe há muito tempo e não
disse nada. Por quê?

— Porque eu não me importo com você. — Eu mantenho minhas costas
para ela enquanto despejo o líquido escuro em uma xícara pesada. É muito cedo. As
pessoas normais não estão acordadas às cinco da manhã. Elas provavelmente
estavam tomando café da manhã antes de se separarem para o dia. Quando me viro

para falar, as duas mulheres estão me olhando mortificadas. — Eu me preocupo
com Bryan. Você não percebeu nada sobre ele que lhe diz respeito?

Seu olhar se estreita. — Não brinque comigo. Eu conheço minha família,
cada um deles.

— Sim, bem, você pode querer falar com ele. — Ela bloqueia seu maxilar,
preparando-se para ordenar que eu saia, mas eu acrescento: — O tempo é uma
coisa engraçada. Todos nós pensamos que temos uma tonelada dele até que seja
tirado de nós, então nos damos conta de que nunca foi o suficiente, para começar.
Use o tempo que você tem, Constance. Ame as pessoas que queira e se certifique de
que eles saibam disso. Chegará o dia em que você lamentará que não o fez e a
chance passou por você.

Ela endurece quando eu falo. — Você está me ameaçando?

Eu rio alto com o ridículo de sua declaração. Ela não tem nenhuma pista. Eu
estava me referindo a mim e Bryan, para a piscina constante de arrependimento
que enche meu estômago. Poderíamos ter estado juntos, mas essa oportunidade
está perdida agora, o tempo que nunca teremos.

— Você está tão errada sobre tudo, lacrada em sua pequena bolha, fora de
contato com o mundo real. Isso não é sobre você, então você acha que está segura,
mas você nunca está, não do tempo - não da morte. Seu sobrinho... — Eu engulo
em seco, mas não quebro o contato visual. — Certifique-se que sua mãe descubra.
Isso é tudo que eu quero.

A suposição de que eu estou fazendo é enorme - aquela que Elizabeth Ferro
se importará se seu filho vive ou morre. Bryan não contou a ninguém sobre sua
doença, exceto eu. Jon pode ver isso, mas os outros não têm ideia. Eu não sei
quanto tempo resta à Bryan, mas não quero que ele o gaste se preocupando ou
brigando. Eu quero estar lá para protegê-lo e, por alertar o Ferro de seu estado, eu
provavelmente só fiz isso mais difícil de acontecer - mas que é a coisa certa a fazer.
Se eu tivesse um segundo extra para gastar com o meu pai... O pensamento se
esconde em minha mente, sol a sol. Quando a noite lava o céu com tons roxos de
tinta e manchas de âmbar cintilante, eu gostaria de ter mais uma oportunidade de
dizer todas as coisas que nunca tive a chance de expressar. Agora, esses
pensamentos estão presos dentro da minha alma, me segurando cativa. Eu nunca

vou ser livre. Eu nunca tive a chance de dizer adeus. Eu estou dando aos Ferro essa
oportunidade e esperando além da esperança de que eles não me joguem para fora
na minha bunda em recompensa.

Empurrando de lado meus pensamentos, eu coloco meu copo vazio para
baixo e saio, deixando Constance e sua amante, boquiabertas, no meu despertar. As
duas mulheres atrás de mim são crianças brincando de casinha. Eu posso ser mais
jovem do que elas em anos, mas minha alma parece velha. É imaturo pensar que a
sua vida seja apenas sobre você. A vida é sobre as pessoas ao seu redor. Como eu
gostaria de nunca crescer, mas desejar é desperdício de tempo e eu me recuso a
desperdiçar mais um segundo.

Capítulo 2

Maggie e eu planejamos, através de mensagens de texto, nos encontrar em
algum lugar que tenha um bagel logo após o amanhecer. Os únicos carros no
estacionamento são da loja. O resto do centro de compras ainda está fechado. Eu
não espero muito tempo, quando ela se junta a mim no final da fila.

— Hey. — Diz Maggie, me envolvendo em um abraço.

Eu a abraço de volta, segurando-a um segundo muito longo. Ela vai fugir
novamente. Eu sei disso. Ela não lida bem com a morte também. Acho que
ninguém faz, mas Maggie viu muito dela. Quando eu a solto, me forço a perdoá-la
com antecedência. Uma alma só pode tomar tanto abuso antes que não possa
evitar, exceto reagir. É como o cão de Pavlov. A campainha da morte soa e Maggie
corre.

Eu enfio um pedaço de cabelo atrás da minha orelha e encosto contra a
vitrine de vidro, antes de enfiar as mãos nos bolsos. — Hey. Como tem passado?

A fila faz a volta para fora da porta e para baixo da frente do centro
comercial com pessoas que já pararam para um bagel e café em seu caminho para
o trabalho. A fila se aproxima alguns centímetros mais próxima da comida e nos
movemos com ela, antes de retornar nossas posições contra o vidro. Meu estômago
ronca com o cheiro de fermento e eu mal posso esperar para provar o pão macio,
quente e mordê-lo, saboreando o cream cheese espesso. Eu aprendi a não dar por
certo pequenas coisas. Bagels me ajudam a encontrar meu lugar feliz.

Eu pretendo pegar um para Bryan também - sementes de papoula com
manteiga, exatamente como ele pedia na escola. Viemos aqui tantas vezes. Eu fico
olhando para fora, no estacionamento, minha mente vagando em uma memória de
Bryan me levantando em um carrinho de compras e empurrando-me como um
louco pelo mercado, rindo o tempo todo.

Outro cliente perguntou: — Que corredor você a encontrou? Eu quero uma!

Bryan apenas sorriu, os olhos deslizando sobre mim no carrinho. —
Desculpe, cara. Esta era a única e é toda minha. Eu nunca a deixarei ir. — A

memória ecoa fortemente em meus ouvidos. Parece que poderia ter acontecido
ontem.

A voz de Maggie me encaixa de volta ao presente. Ela encolhe os ombros e
puxa a alça da bolsa para cima de seu ombro. — Eu estou bem. Acho que encontrei
um apartamento para nós, mas eu ouvi que Neil comprou para vocês uma casa. —
Ela faz uma cara de, bem, tenta não fazer uma cara, que faz sua expressão de dor
ainda pior. A fila se move de novo e, com um passo à frente, ela deixa escapar: —
Você realmente vai se casar com ele? Achei que você amasse Bryan? Parecia que
estava totalmente encantada com o gatinho do sexo. Bem, você é a gatinha.
Rapazes são o quê, tigres? Tigre sexual soa mal. — Ela ri, mas sua risada leve
desaparece quando ela vê o meu sorriso falso. — O que há de errado, Hallie?

Eu tento manter minha voz firme, mas treme sem minha permissão. Não há
nenhum ponto em protelar por mais tempo, e além disso, eu preciso dela. Mesmo
que ela vá correr, eu tenho que falar com alguém enquanto eu tiver a chance. —
Maggie, ele está morrendo.

— Mas, ele não pode estar! Ele... — Maggie deixa escapar muitas palavras de
uma só vez e quase começa a chorar. Ela é a pessoa mais empática que eu já
conheci. A minha dor está representada em seu rosto quando ela para, aperta
minha mão e me puxa para um abraço de urso que poderia explodir minha cabeça.
— Eu sinto muito, Hallie. — Ela enxuga as lágrimas com as costas da mão e olha
para o meu ombro, não querendo perguntar. Cada palavra é como se enfiasse uma
faca no meu lado. — O que há de errado com ele?

Eu a atualizo com o que sei que aconteceu até agora. Minha voz continua
difícil quando eu chego ao fim da história. — Nós terminamos por causa de sua tia
Constance. Ela achou que eu iria arruiná-la com informações que eu não deveria
saber, então ela descobriu uma maneira de nos separar. — A raiva eu não tinha
notado até agora borbulha sob a superfície da minha mente. Eu não vou ficar com
raiva, eu não posso ficar. Eu me recuso a perder meu tempo com ela ou o que ela
fez. — Maggie, eu não poderia me importar menos com ela, mas eu quis Bryan
todo esse tempo e não o tive por causa dela.

— E, no entanto, você não soa como louca. Você parece mais
assustadoramente tranquila sobre isso. — Uma sobrancelha vermelha levanta
levemente em sua testa sardenta.

Eu olho para ela conforme nos movemos com a fila para dentro da pequena
loja, e nos aproximamos da bandeja do pão assado. Maggie pede em primeiro lugar,
então eu peço e pago por nossos itens. Pegamos o nosso café da manhã, cortamos
de volta através da fila, para fora da porta, em direção ao estacionamento. Fico ali
na frente dela querendo falar, mas incapaz de encontrar palavras, em seguida,
entrego para ela o pão e suco de laranja.

Minha boca se abre duas vezes, mas as palavras não saem. Eu finalmente
olho nos olhos dela e explico. — Eu não estou louca. Bem, eu estou - mas não quero
estar. É um desperdício de tempo e eu não tenho tempo de sobra. Eu estou
pensando em ficar com ele, Maggie. Seja qual for o tempo que lhe resta, eu quero
estar lá.

— Eu entendo, e eu estou aqui para você. — Ela pega a minha mão, mas eu
não posso olhar para ela.

— Não faça promessas que não pode cumprir, Maggie.

— Eu estou as mantendo desta vez.

— Eu prefiro saber agora que você vai desaparecer. Eu posso lidar com isso
sozinha. Eu estou bem, realmente. Eu sei o que isso faz para você e... — Eu arranjo
desculpas para ela até que ela me corta.

— Não. A última vez eu não estava lá para você, porque Victor era um idiota.
Eu não tive escolha. Isso fazia parte da maneira como ele estava me controlando,
mas ele já se foi, Hallie. Eu não vou fugir. Eu estarei lá para você. Você não terá que
lidar com isso sozinha. Eu prometo. Podemos passar por qualquer coisa, você e
eu. Eu não vou deixar você Hallie. Nós somos irmãs. Eu vou estar lá neste
momento. — Ela sorri sem jeito e olha para o chão sob suas botas.

Ela muda o seu peso para o outro pé e olha para mim debaixo de muito
rímel. Sua boca fica aberta por um segundo e seus lábios enrolam, como se ela não
quisesse dizer o que está prestes a cair de sua boca. — Há algo que você precisa
saber, e eu não sei se você vai gostar ou não com tudo o que aconteceu, mas precisa

saber. Você precisa. E eu odeio dizer isso agora, mas talvez seja melhor assim. Eu
esperaria se eu achasse que ajudaria.

— Maggie, diga-me. O que é?

Ela puxa um monte de ar e cospe para fora. — Ontem à noite, enquanto você
não estava em casa, entrei e vi o que parecia ser Neil e Cecily fazendo coisas que
estava muito além da zona do amigo. — Seus lábios são esmagados em conjunto,
enquanto ela tenta permanecer inexpressiva. Eu posso dizer que ela quer castrar
Neil conforme ela luta para manter seus lábios em uma linha reta.

Eu pisco, e isso é tudo. A raiva não vomita da minha boca e minhas mãos
não estão cerradas em punhos. Eu não me sinto quebrada ou até mesmo chocada.

Eu não sinto nada.

Se eu amasse Neil, eu estaria irada, mas eu não estou. Concordo com a
cabeça.

O rosto preocupado de Maggie franze enquanto ela empurra seu brilhante
cabelo atrás da orelha. — Eu não sei se eu deveria dizer. Eu o odeio, mas pensei
que você gostava do cara. — Ela me olha com tal preocupação que eu não posso
deixar de sorrir para ela.

Meu olhar abaixa para o chão e eu tomo uma respiração profunda, antes de
dar-lhe um abraço de lado. Quando eu a deixo ir, murmuro: — Eu estou feliz que
você me disse. Desgraça pouca é bobagem, certo? — Eu ofereço um sorriso de
novo, mas é falso neste momento. Há muitas lembranças correndo pela minha
mente, e o movimento faz minha pele parecer como se fosse rachar.

— Yeah. — Ela ri. — Pelo menos não temos que nos preocupar com Victor.
Devo-lhe muito por isso. Os jornais disseram que um dos seus homens o matou no
meu apartamento. Se você não tivesse me arrastado para fora, naquela noite eu
teria levado um tiro, também.

Eu sou insensível ao que eu fiz, pelo menos no momento. Às vezes, quando
eu não consigo dormir, o pensamento de que fiz desliza em minha mente, não
desejado. Victor é um pesadelo que não vai morrer, mas não posso perder o meu
tempo.

— Somos eu e você, agora. — Eu digo a ela com firmeza. Ela sorri
tristemente para mim e assente. — Maggie, você pode ir a casa de Neil e pegar
minhas coisas? Há apenas algumas caixas. Eu nunca desembalei, não
realmente. Neil queria que eu fizesse, mas eu empurrei a maioria delas na parte de
trás de um armário. — Eu retiro minha bolsa e escrevo-lhe um cheque. — Isso
deve cobrir o aluguel do nosso novo apartamento e tudo o mais que
precisamos. Deixe-o bonito, ok? Vai ser bom ter um novo lugar bonito para ir para
casa quando isso acabar.

Maggie pega o cheque e olha para todos os zeros, antes de olhar para mim.
Uma mecha de cabelo vermelho cai na frente de seus olhos. — Hallie, eu não posso
aceitar isso.

— Sim, você pode. Vai fazê-lo. Precisamos de um lugar para viver. Eu
gostaria de ter mais a oferecer, mas essa discussão é para outro dia. Entretanto,
isso vai nos colocar em uma boa vizinhança e nós estaremos confortáveis.

— Você vai processar Neil e Cecily? Eles praticamente gastaram todo o seu
dinheiro.

Concordo com a cabeça. — Provavelmente, mas não agora. Eu preciso fazer
um telefonema. — Maggie balança a cabeça e eu disco para o meu banco enquanto
seguimos para o meu carro. Eu explico a um funcionário do banco muito prestativo
que o nome de Neil deve ser retirado da minha conta imediatamente e todas as
transações em andamento com a sua assinatura, devem ser transferidas para a sua
conta. Verificação conjunta foi ideia dele. Eu esfrego minhas mãos sobre meu rosto
e sento com força no capô do meu carro. A coisa está suja, mas eu não me
importo. O funcionário do banco me pede para ir em breve para assinar os papéis,
e fazer as alterações em minha conta oficial. Quando eu insisto que eles precisam
ser assinados agora, ela diz para vir quando for mais conveniente.

Eu desligo e olho fixamente para as portas fechadas da mercearia. — Eu não
posso fazer isso de novo, não tão cedo. — A perda do meu pai ainda paira pesado
em meu coração, ameaçando me puxar para baixo. Minha dor não diminuiu e a
fama não ajudou. A única coisa que me faz sentir melhor é Bryan e agora vou
perdê-lo também.

Eu não posso respirar. Inclinando minha cabeça para trás com os olhos
cheios de lágrimas, eu olho para o céu e as nuvens brancas onduladas. O céu estava
aqui muito antes de eu nascer e vai estar aqui muito tempo depois. Faz-me sentir
pequena, como se a minha vida não importasse em tudo.

Maggie me bate com sua bota. — Bagel?

— Eu não estou com fome. — Eu estava com fome apenas um momento
atrás, mas agora não sinto nada parecido com isso.

— Merda resistente. Eu estou cuidando de você, o que significa que você
come isso ou vou enfiar na sua cara. — Ela está sorrindo para mim. — Eu vou fazer
isso.

Eu roubo a minha comida de sua mão. — Eu sei que você vai. —
Desempacotando a coisa, dou uma mordida e percebo que eu estou morrendo de
fome.

— A vida não é sobre a morte, você sabe. — Diz Maggie de repente. Ela está
sentada ao meu lado no capô, olhando para uma nuvem, pegando arrancando
pedaços de seu bagel, e os jogando em sua boca um de cada vez.

— Então o que se trata? — Eu pensei que eu sabia em um ponto, mas não
tenho ideia, não mais. A vida parece uma piada cruel.

— É sobre as relações que você faz, a bondade que oferece e você mostrar
compaixão. É a sua chance de mostrar ao mundo quem você é e o que faz você.
Hallie, você é a pessoa mais forte que conheço. Em vez de sentar aqui chorando
comigo, você deve estar com Bryan. Aqui. — Ela me dá o bagel extra. — Cheque de
vez em quando e quando você precisar de mim, eu vou. Nesse meio tempo, vou
deixar nossa casa pronta, eu prometo. Nada me manterá longe desta vez. Quando
você precisar de mim, eu estarei lá - se estiver no hospital, a funerária ou apenas
quando você precisar de uma pausa.

Eu sinto uma vibe nervosa vindo dela. — Você não é fraca, Maggie. Somos
sobreviventes, eu e você. — Quando eu digo isso, quero dizer para confortá-la, mas
uma bola dá um nó na minha garganta.

Ela pega a minha mão e se inclina, descansando a cabeça no meu ombro. —
Nós vamos sobreviver a isto também “juntas”.

Capítulo 3

Eu não quero pensar em Neil, então eu volto para a mansão Ferro e me
esgueiro para dentro. Ainda é cedo. As únicas pessoas que vejo são os empregados.
Eles me veem e não dizem nada. Deve ser estranho viver como uma estátua dia
após dia, sem ninguém, mas outros funcionários, na verdade, reconhecem que você
é humano. Eu não posso evitar isso. Eu sorrio para o mordomo que está sempre
ocupado, correndo para algum lugar. Ele inclina a cabeça em saudação, mas não
abranda.

Depois que ele passa, se vira para trás. — Você precisa de alguma coisa, Sra.
Raymond?

Eu sorrio e balanço a cabeça. — Não, é apenas bom vê-lo. — Eu olho para
ele. Este homem tem sido constante na vida de Bryan por anos. Eu me pergunto se
ele sabe que Bryan tem um segredo, porque nada lhe escapa, pelo menos não
quando éramos mais jovens. Eu me lembro de receber olhares severos dele quando
éramos muito jovens e fazíamos coisas muito loucas, enquanto a mãe de Bryan não
estava por perto. Mas o cara nunca nos entregou.

— Da mesma forma, Sra. Raymond. Diga ao Sr. Ferro que se ele precisar de
ajuda pode pedir qualquer coisa para mim. — Seus olhos perfuraram os meus por
um momento antes que ele olhe para o lado.

Ele sabe.

Concordo com a cabeça e vou para o modo de super mocinha. Antes que eu
possa me parar, lanço o meu corpo para ele e meus braços em volta do velho,
abraçando-o em um abraço de urso em estilo desleixado. Ele endurece com choque
e, em seguida, dá um tapinha minhas costas. — As pessoas vão dizer-lhe que ele
vai ficar bem. Ao longo dos próximos meses, você vai ouvir isso de novo e de novo,
mas a perda não é assim que funciona. As coisas não vão voltar ao normal, mas a
vida continua. Converse com ele sobre isso, enquanto você tem a chance.

Meu queixo cai. — O quê? Isso seria tão mau. Eu não posso...

— Isso não é o problema meu, mas se você fosse minha filha, era o que eu
diria a você. Tempos sombrios estão chegando, se este homem é o seu raio de luz,
mergulhe no sol tanto quanto puder e quando puder.

Acho que entendo o que ele quer dizer, então balanço minha cabeça para
cima e para baixo lentamente. Falar sobre a morte com alguém que está morrendo
é o que ele quer dizer. Vamos acabar discutindo todas as coisas que queríamos
fazer, mas nunca teremos a chance. Minha garganta aperta com o pensamento e os
meus olhos lacrimejam. — Obrigada.

— Qualquer hora, Sra. Raymond. — Ele inclina a cabeça para mim como se
eu fosse uma rainha e se vira para correr para longe.

Eu não gosto da sua sugestão, mas parte dela me chama. E se a gente falar
sobre isso? Eu balanço minha cabeça e aperto as mãos. Não! Eu não quero! Isso não
é justo e não posso simplesmente aceitar que vou perdê-lo - não depois que
finalmente nos encontramos novamente. Não depois de todo esse tempo.

No momento que estou dentro da mansão de Bryan, paro na porta. Minha
intenção era ir à ponta dos pés para o quarto de Bryan, mas sou presa pelo Ferro
que eu mais temo - Sean. Ele está encostado na parede, os braços cruzados sobre o
peito. Ele se parece com sua mãe, toda acusação não dita claramente visível em
seus olhos. Suas roupas escuras - casaco de couro, calça jeans, camisa preta e botas
shitkicker. — Você e eu temos algo a discutir.

Minha intenção é passar por ele. — Não tenho nada para lhe dizer.

Sean libera seus braços e caminha em minha frente. Ele é silencioso e letal,
com vibes malucas irradiando dele como micro ondas. Ding! — Bem, eu tenho algo
que você precisa ouvir - sobre um homem chamado Victor. — Minha respiração
para na minha garganta enquanto minhas mãos vão para o meu coração. Sean me
puxa pela curva do meu cotovelo para longe da porta de Bryan. — Sim, eu achei
que você soubesse alguma coisa sobre isso. Os jornais estão dizendo que um dos
seus homens o matou, mas os policiais estão bisbilhotando, me fazendo perguntas
sobre um traficante de merda. Eu não gosto de policiais e não gosto ainda menos
de perguntas. Então, me diga, como é que eles rastrearam até aqui? O que você
deixou para trás?

Eu rio, mas ele ignora. — Você acha que eu o matei? — Estou pressionando
meus dedos em meu peito, piscando, com meu queixo caído. Embora seja um
excelente desempenho, algo que me afasta. Sean pode ver isso.

Ele dá um passo no meu espaço de uma maneira ameaçadora. Sua voz
ressoa: — Eu sei que você o matou.

— Não, você não sabe. — Eu agarro, tentando me empurrar por ele
novamente, mas Sean não me deixa passar. Ele bloqueia o lugar com seu corpo
maciço.

Inclinando-se perto do meu rosto, ele sussurra baixinho: — Se eu sei, a
minha mãe sabe e você não quer pegadas sujas que levam direto para a porta da
frente. Você precisa se separar de Bryan e sair daqui antes que descubram isso.

Eu balanço minha cabeça e mordo meu lábio inferior. Eu provavelmente
pareci como um moleque teimoso, mas não vou deixar Bryan.

Os olhos de Sean travam com os meus e sua voz cai para um sussurro letal.
— Eu posso fazê-la desaparecer.

Algo desperta dentro de mim, essa mesma característica de proteção que
me fez cortar a garganta de Victor, em primeiro lugar. Minha coluna se endireita e
eu fico na frente do seu rosto. — Da mesma forma.

Depois de um momento de reflexão, o homem na verdade ri. Sean esfrega o
queixo com a mão. Eu não posso dizer se ele está se divertindo ou pensa que sou
louca. Ele finalmente pergunta: — Por que você fez isso?

— Por que você acha? O homem era um estuprador assassino. Vamos
apenas dizer que eu estava no lugar errado na hora errada. Acidentes acontecem e
eu não ia deixar que qualquer outra coisa acontecesse com a minha amiga. Ela é a
única família que me resta. — Eu sugo o ar, tentando inchar, então não sou tão
pequena, mas em comparação com Sean Ferro, sou um palito.

Seus olhos azuis mudam para o lado antes que ele passe as mãos pelo
cabelo. — Então, você protegeu sua família, deixe-me proteger a minha. Vá
embora. Não puxe Bryan para isso.

— Para quê? Os mortos não puxam qualquer um para qualquer coisa.

— Victor Campone está vivo.

Capítulo 4

Um pequeno grito escapa dos meus lábios e eu quase caio no chão. Meus
joelhos cedem, mas antes de eu ir para baixo, Sean agarra meus braços. Ele me
mantém de pé e continua suavemente. — Os policiais suspeitam que ele esteja
vivo. No momento em que chegaram lá, o corpo tinha desaparecido. Devido à
quantidade de sangue que encontraram, sua suposição natural era que um de seus
homens o matou e jogou o corpo. Os policiais ainda estavam indo por esse caminho
até recentemente, quando pegaram Campone bisbilhotando meu hotel. Então, a
menos que viram um fantasma, o homem ainda está vivo.

— Ele não pode estar. — Eu balanço minha cabeça e meus olhos vidrados
quando me lembro daquela noite. A quantidade de sangue, a forma que sua cabeça
pendia para trás e a ferida era tão profunda. — Não é possível.

Sean suspira e olha para mim com uma expressão que está perdida em
algum lugar entre pena e admiração. Inclinando-se perto, ele diz: — O corte foi
muito superficial. É como apontar para o coração e não acertar. O cara foi
subestimado, os que estavam dispostos e aceitaram fazer isso uma vez, mas ele não
vai ser subestimado novamente. E eu aposto qualquer coisa que ele vai
permanecer morto por um tempo, deixar que os outros façam o trabalho sujo, até
que lhe convenha encenar uma ressurreição.

— Como você sabe tudo isso?

Ele engole em seco, seu olhar se afastando e depois de volta para os meus
olhos. — Periodicamente nossos empreendimentos comerciais se sobrepõem. Eu
ouço coisas. E posso dizer-lhe que se eu ouvi, minha mãe ouviu e você com certeza
não quer irritá-la. Se Campone acabar aqui, você está morta. Se ele não te matar,
minha mãe vai.

Ele agarra meus ombros e me pede: — Hallie, pega a sua amiga e dá o fora
daqui antes que Campone a encontre. — Sean me libera. — Este foi um aviso de
cortesia. Se você ficar por perto e Bryan for morto por sua causa, bem, é melhor

esperar que Victor a encontre antes de mim. — Seus olhos firmam em mim uma
vez com as suas intenções claras.

Eu fico lá por um segundo mal respirando. Nossos olhos estão bloqueados,
nós dois estamos desafiando, mas será que ele não sabe, Sean não sabe sobre seu
primo? Talvez eu devesse pegar Bryan e correr, mas não posso. Não enquanto ele
está doente. Ele vai precisar de ajuda e cuidados paliativos. Eu não posso dar-lhe
essas coisas se eu corro. Minha voz racha quando eu falo. — Eu não posso.

— Não é opcional.

— Não, você não entende. Eu não posso ir embora. Eu não posso correr
mais de Victor e não vou. Eu vou cuidar disso. Eu vou terminar o que comecei. —
Eu não tenho ideia de como, mas vou. Se eu não fizer isso, ele virá atrás de mim e
Maggie. O homem é cruel, ele nunca vai parar de nos caçar. Eu sei disso com
certeza.

Sean levanta a sobrancelha escura. — Você está louca? Você nunca vai ter
outra chance de matá-lo. Ele pensou que era insignificante antes, mas agora ele a
conhece melhor.

Eu me empurro passando por ele. — Eu vou cuidar disso. Ele não virá aqui,
e desta vez, quando eu matá-lo, ele vai morrer.

— Hallie. — Sean quase implora meu nome, quase, mas eu não paro.

Eu entro no quarto de Bryan e fecho a porta. Eu fico lá por um segundo e
derrubo minha cabeça para trás, respirando com dificuldade. Eu nunca soquei uma
pessoa antes. Agora eu simplesmente confessei ao mais assustador de todos os
Ferro que vou dar um fim no senhor das drogas mais notório da cidade. Super foda.

Eu ainda estou segurando o saco com café da manhã de Bryan. Quando
aperto o meu punho, o jornal faz um ruído de crepitação e ele se senta. Um belo
sorriso ilumina seu rosto pálido. — Hey, Menina Bonita. Para onde você correu?

— Para pegar o café da manhã e conseguir alguma sujeira em sua tia. Foi
uma manhã interessante. — Eu sorrio, preocupada com ele e entrego o saco.

— Sujeira na minha tia?

Balanço a cabeça e me sento ao lado dele na cama. — Sim, eu descobri
porque ela me odeia. Ela pensa que eu sei de algo todos esses anos, mas eu não
descobri o que eu sabia até esta manhã.

Bryan desembrulha o seu bagel enquanto estou falando e morde. Seus
firmes olhos verdes encontram os meus. Com a boca cheia, ele me pergunta. — E
então?

Eu penso em manter seu segredo, mas não sinto nenhuma lealdade para
com ela. Além disso, Bryan não vai contar a ninguém. — Ela é gay. Eu a peguei com
sua amante na cozinha de sua mãe esta manhã.

Seu queixo cai e o pedaço de bagel rola para fora da boca, indo para a
colcha. — De jeito nenhum.

Concordo com a cabeça e olho para o pedaço de comida. — Um choque e
tanto, hein?

— Claro que sim. Ela é tão recatada e adequada. — Seu nariz franze com o
pensamento da sua tia ser sexualmente algo.

— E, aparentemente, ela gosta de garotas.

Bryan pisca e sorri. — Bem, isso explica um monte de coisas.

— Sim, como por que ela ainda é casada e permite que prostitutas meio
vestidas andem pela sua casa.

Bryan sorri. — Claro, todo mundo gosta de um pouco de colírio para os
olhos.

Eu bato em seu ombro. — Bryan!

— Vamos lá, pense nisso. Houve uma garota naquela casa desde que Jon era
um bebê. É a família mais estranha que eu já vi. Minha mãe não teria tolerado. Eu
sempre me perguntei por que a tia Constance tolerava.

— Seu pai não tem uma puta coabitante?

Ele inclina a cabeça para mim. — Meu pai não tem tempo para isso. Ele está
muito ocupado ganhando dinheiro para ser incomodado com relacionamentos ou
senhoras de compra. Mas, ainda assim, a tia Connie gosta das garotas. Quem teria

pensado? — Ele balança a cabeça. — Então o que diabos eu vi no dia que
terminamos?

Boa pergunta. Eu suspiro e tenho uma boa ideia de para quem perguntar. Eu
sorrio grande. — Qual é o quarto que Constance usa quando está aqui?

Bryan parece confuso e então seus olhos se arregalam. — Você está louca?

— Só um pouco. — Eu rio e quase aperto meus dedos juntos.


CONTINUA

A luz do amanhecer brilha através das pesadas cortinas que revestem as paredes formando uma fina fenda de branco puro no tapete escuro. Eu fico olhando para ele, perdida em seus pensamentos. Perto de mim, Bryan está dormindo. Eu envolvo meus braços ao redor dele e seu corpo se parece tão forte. É por isso que isto é tão difícil. Não faz nenhum sentido. Para além da dor, eu não posso ver o que está acontecendo com ele. É interno. Seu corpo o está matando segundo a segundo. Eventualmente, ele irá respirar e não haverá outro. Eu não posso suportar a ideia.
Minha vida tem sido moldada por morte. Todo mundo que me importa, todos, exceto Maggie, partem. Eu escorrego para fora da cama, agarrando o meu telefone antes de ir para fundo do corredor. Eu envio uma mensagem de texto para ela, embora eu duvide que ela esteja acordada.
Eu digito: Estou com Bryan. Apenas verificando para ter certeza que está tudo bem.
Para minha surpresa ela envia uma mensagem de volta: Eu estou, mas tenho uma coisa horrível para lhe dizer.
Nada poderia ser pior do que perder Bryan. Eu digito de volta: Eu também.
Volto logo para casa e podemos conversar.
Ela responde: Ok.

 


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Eu enfio meu celular no bolso antes de pegar a camiseta de Bryan e a puxo
sobre minha cabeça. Eu enfio minhas mãos sob as mangas e vagueio pela mansão
até encontrar a cozinha. Sinto o cheiro do café e preciso desesperadamente de uma
xícara. Infelizmente, a besta “a tia” de Bryan está sentada à mesa com outra
mulher. Ambas estão vestidas em robe. Eu pisco conforme o choque lava seus
rostos. Eu não posso imaginar por que ela está aqui tão cedo, não vestida. Quão
estranho é isso?

Dentro de um batimento cardíaco, Constance está fora de seu assento e no
meu rosto. — Como você ousa desfilar na casa da minha irmã usando coisas do
meu sobrinho? Saia agora mesmo, sua puta! — Ela tenta bater no meu rosto, mas
eu agarro seu pulso.

As coisas finalmente clicam no lugar. A forma como as mulheres estavam
olhando uma para a outra, o toque de suas mãos, a forma como os seus olhos
permanecem naquele olhar fixo familiar, o fato de que ela está aqui, quando sua
irmã e cunhado já se foram e a forma como Constance se transforma em um tigre
quando ela me vê - faz sentido. Ela está escondendo um segredo há anos que
poderia arruiná-la para sempre. É por isso que ela suporta as infidelidades do Sr.
Ferro e porque permite que suas mulheres valsem pela sua casa.

Constance é gay - e esta mulher é sua amante. Ela pensou que eu soubesse,
mas eu nunca percebi antes.

Ela puxa sua mão do meu aperto e se prepara para começar a gritar
novamente. Eu a interrompo, cansada. — Eu não me importo com sua vida ou
suas preferências. Eu entendo que seja um tabu para você ser vista com ela. Eu
entendo isso, Constance, eu realmente entendo. Eu não a julgo por isso, então pare
de me julgar. A única coisa de que eu quero vocês é o café. — Eu caminho,
passando por ela.

O queixo de Constance está no chão. Sua namorada, uma mulher pelo menos
dez anos mais nova que ela, fica rígida, olhando-me com medo. Relações do mesmo
sexo podem ser ultramodernas e estarem na moda em Nova York, mas não entre
antigas famílias endinheiradas como esta. Isso a arruinaria. É por isso que ela me
odeia. Ela acha que eu tenho andado por aí esperando para soltar uma bomba em
sua vida.

Quando Constance fala, seu tom é cético: — Você sabe há muito tempo e não
disse nada. Por quê?

— Porque eu não me importo com você. — Eu mantenho minhas costas
para ela enquanto despejo o líquido escuro em uma xícara pesada. É muito cedo. As
pessoas normais não estão acordadas às cinco da manhã. Elas provavelmente
estavam tomando café da manhã antes de se separarem para o dia. Quando me viro

para falar, as duas mulheres estão me olhando mortificadas. — Eu me preocupo
com Bryan. Você não percebeu nada sobre ele que lhe diz respeito?

Seu olhar se estreita. — Não brinque comigo. Eu conheço minha família,
cada um deles.

— Sim, bem, você pode querer falar com ele. — Ela bloqueia seu maxilar,
preparando-se para ordenar que eu saia, mas eu acrescento: — O tempo é uma
coisa engraçada. Todos nós pensamos que temos uma tonelada dele até que seja
tirado de nós, então nos damos conta de que nunca foi o suficiente, para começar.
Use o tempo que você tem, Constance. Ame as pessoas que queira e se certifique de
que eles saibam disso. Chegará o dia em que você lamentará que não o fez e a
chance passou por você.

Ela endurece quando eu falo. — Você está me ameaçando?

Eu rio alto com o ridículo de sua declaração. Ela não tem nenhuma pista. Eu
estava me referindo a mim e Bryan, para a piscina constante de arrependimento
que enche meu estômago. Poderíamos ter estado juntos, mas essa oportunidade
está perdida agora, o tempo que nunca teremos.

— Você está tão errada sobre tudo, lacrada em sua pequena bolha, fora de
contato com o mundo real. Isso não é sobre você, então você acha que está segura,
mas você nunca está, não do tempo - não da morte. Seu sobrinho... — Eu engulo
em seco, mas não quebro o contato visual. — Certifique-se que sua mãe descubra.
Isso é tudo que eu quero.

A suposição de que eu estou fazendo é enorme - aquela que Elizabeth Ferro
se importará se seu filho vive ou morre. Bryan não contou a ninguém sobre sua
doença, exceto eu. Jon pode ver isso, mas os outros não têm ideia. Eu não sei
quanto tempo resta à Bryan, mas não quero que ele o gaste se preocupando ou
brigando. Eu quero estar lá para protegê-lo e, por alertar o Ferro de seu estado, eu
provavelmente só fiz isso mais difícil de acontecer - mas que é a coisa certa a fazer.
Se eu tivesse um segundo extra para gastar com o meu pai... O pensamento se
esconde em minha mente, sol a sol. Quando a noite lava o céu com tons roxos de
tinta e manchas de âmbar cintilante, eu gostaria de ter mais uma oportunidade de
dizer todas as coisas que nunca tive a chance de expressar. Agora, esses
pensamentos estão presos dentro da minha alma, me segurando cativa. Eu nunca

vou ser livre. Eu nunca tive a chance de dizer adeus. Eu estou dando aos Ferro essa
oportunidade e esperando além da esperança de que eles não me joguem para fora
na minha bunda em recompensa.

Empurrando de lado meus pensamentos, eu coloco meu copo vazio para
baixo e saio, deixando Constance e sua amante, boquiabertas, no meu despertar. As
duas mulheres atrás de mim são crianças brincando de casinha. Eu posso ser mais
jovem do que elas em anos, mas minha alma parece velha. É imaturo pensar que a
sua vida seja apenas sobre você. A vida é sobre as pessoas ao seu redor. Como eu
gostaria de nunca crescer, mas desejar é desperdício de tempo e eu me recuso a
desperdiçar mais um segundo.

Capítulo 2

Maggie e eu planejamos, através de mensagens de texto, nos encontrar em
algum lugar que tenha um bagel logo após o amanhecer. Os únicos carros no
estacionamento são da loja. O resto do centro de compras ainda está fechado. Eu
não espero muito tempo, quando ela se junta a mim no final da fila.

— Hey. — Diz Maggie, me envolvendo em um abraço.

Eu a abraço de volta, segurando-a um segundo muito longo. Ela vai fugir
novamente. Eu sei disso. Ela não lida bem com a morte também. Acho que
ninguém faz, mas Maggie viu muito dela. Quando eu a solto, me forço a perdoá-la
com antecedência. Uma alma só pode tomar tanto abuso antes que não possa
evitar, exceto reagir. É como o cão de Pavlov. A campainha da morte soa e Maggie
corre.

Eu enfio um pedaço de cabelo atrás da minha orelha e encosto contra a
vitrine de vidro, antes de enfiar as mãos nos bolsos. — Hey. Como tem passado?

A fila faz a volta para fora da porta e para baixo da frente do centro
comercial com pessoas que já pararam para um bagel e café em seu caminho para
o trabalho. A fila se aproxima alguns centímetros mais próxima da comida e nos
movemos com ela, antes de retornar nossas posições contra o vidro. Meu estômago
ronca com o cheiro de fermento e eu mal posso esperar para provar o pão macio,
quente e mordê-lo, saboreando o cream cheese espesso. Eu aprendi a não dar por
certo pequenas coisas. Bagels me ajudam a encontrar meu lugar feliz.

Eu pretendo pegar um para Bryan também - sementes de papoula com
manteiga, exatamente como ele pedia na escola. Viemos aqui tantas vezes. Eu fico
olhando para fora, no estacionamento, minha mente vagando em uma memória de
Bryan me levantando em um carrinho de compras e empurrando-me como um
louco pelo mercado, rindo o tempo todo.

Outro cliente perguntou: — Que corredor você a encontrou? Eu quero uma!

Bryan apenas sorriu, os olhos deslizando sobre mim no carrinho. —
Desculpe, cara. Esta era a única e é toda minha. Eu nunca a deixarei ir. — A

memória ecoa fortemente em meus ouvidos. Parece que poderia ter acontecido
ontem.

A voz de Maggie me encaixa de volta ao presente. Ela encolhe os ombros e
puxa a alça da bolsa para cima de seu ombro. — Eu estou bem. Acho que encontrei
um apartamento para nós, mas eu ouvi que Neil comprou para vocês uma casa. —
Ela faz uma cara de, bem, tenta não fazer uma cara, que faz sua expressão de dor
ainda pior. A fila se move de novo e, com um passo à frente, ela deixa escapar: —
Você realmente vai se casar com ele? Achei que você amasse Bryan? Parecia que
estava totalmente encantada com o gatinho do sexo. Bem, você é a gatinha.
Rapazes são o quê, tigres? Tigre sexual soa mal. — Ela ri, mas sua risada leve
desaparece quando ela vê o meu sorriso falso. — O que há de errado, Hallie?

Eu tento manter minha voz firme, mas treme sem minha permissão. Não há
nenhum ponto em protelar por mais tempo, e além disso, eu preciso dela. Mesmo
que ela vá correr, eu tenho que falar com alguém enquanto eu tiver a chance. —
Maggie, ele está morrendo.

— Mas, ele não pode estar! Ele... — Maggie deixa escapar muitas palavras de
uma só vez e quase começa a chorar. Ela é a pessoa mais empática que eu já
conheci. A minha dor está representada em seu rosto quando ela para, aperta
minha mão e me puxa para um abraço de urso que poderia explodir minha cabeça.
— Eu sinto muito, Hallie. — Ela enxuga as lágrimas com as costas da mão e olha
para o meu ombro, não querendo perguntar. Cada palavra é como se enfiasse uma
faca no meu lado. — O que há de errado com ele?

Eu a atualizo com o que sei que aconteceu até agora. Minha voz continua
difícil quando eu chego ao fim da história. — Nós terminamos por causa de sua tia
Constance. Ela achou que eu iria arruiná-la com informações que eu não deveria
saber, então ela descobriu uma maneira de nos separar. — A raiva eu não tinha
notado até agora borbulha sob a superfície da minha mente. Eu não vou ficar com
raiva, eu não posso ficar. Eu me recuso a perder meu tempo com ela ou o que ela
fez. — Maggie, eu não poderia me importar menos com ela, mas eu quis Bryan
todo esse tempo e não o tive por causa dela.

— E, no entanto, você não soa como louca. Você parece mais
assustadoramente tranquila sobre isso. — Uma sobrancelha vermelha levanta
levemente em sua testa sardenta.

Eu olho para ela conforme nos movemos com a fila para dentro da pequena
loja, e nos aproximamos da bandeja do pão assado. Maggie pede em primeiro lugar,
então eu peço e pago por nossos itens. Pegamos o nosso café da manhã, cortamos
de volta através da fila, para fora da porta, em direção ao estacionamento. Fico ali
na frente dela querendo falar, mas incapaz de encontrar palavras, em seguida,
entrego para ela o pão e suco de laranja.

Minha boca se abre duas vezes, mas as palavras não saem. Eu finalmente
olho nos olhos dela e explico. — Eu não estou louca. Bem, eu estou - mas não quero
estar. É um desperdício de tempo e eu não tenho tempo de sobra. Eu estou
pensando em ficar com ele, Maggie. Seja qual for o tempo que lhe resta, eu quero
estar lá.

— Eu entendo, e eu estou aqui para você. — Ela pega a minha mão, mas eu
não posso olhar para ela.

— Não faça promessas que não pode cumprir, Maggie.

— Eu estou as mantendo desta vez.

— Eu prefiro saber agora que você vai desaparecer. Eu posso lidar com isso
sozinha. Eu estou bem, realmente. Eu sei o que isso faz para você e... — Eu arranjo
desculpas para ela até que ela me corta.

— Não. A última vez eu não estava lá para você, porque Victor era um idiota.
Eu não tive escolha. Isso fazia parte da maneira como ele estava me controlando,
mas ele já se foi, Hallie. Eu não vou fugir. Eu estarei lá para você. Você não terá que
lidar com isso sozinha. Eu prometo. Podemos passar por qualquer coisa, você e
eu. Eu não vou deixar você Hallie. Nós somos irmãs. Eu vou estar lá neste
momento. — Ela sorri sem jeito e olha para o chão sob suas botas.

Ela muda o seu peso para o outro pé e olha para mim debaixo de muito
rímel. Sua boca fica aberta por um segundo e seus lábios enrolam, como se ela não
quisesse dizer o que está prestes a cair de sua boca. — Há algo que você precisa
saber, e eu não sei se você vai gostar ou não com tudo o que aconteceu, mas precisa

saber. Você precisa. E eu odeio dizer isso agora, mas talvez seja melhor assim. Eu
esperaria se eu achasse que ajudaria.

— Maggie, diga-me. O que é?

Ela puxa um monte de ar e cospe para fora. — Ontem à noite, enquanto você
não estava em casa, entrei e vi o que parecia ser Neil e Cecily fazendo coisas que
estava muito além da zona do amigo. — Seus lábios são esmagados em conjunto,
enquanto ela tenta permanecer inexpressiva. Eu posso dizer que ela quer castrar
Neil conforme ela luta para manter seus lábios em uma linha reta.

Eu pisco, e isso é tudo. A raiva não vomita da minha boca e minhas mãos
não estão cerradas em punhos. Eu não me sinto quebrada ou até mesmo chocada.

Eu não sinto nada.

Se eu amasse Neil, eu estaria irada, mas eu não estou. Concordo com a
cabeça.

O rosto preocupado de Maggie franze enquanto ela empurra seu brilhante
cabelo atrás da orelha. — Eu não sei se eu deveria dizer. Eu o odeio, mas pensei
que você gostava do cara. — Ela me olha com tal preocupação que eu não posso
deixar de sorrir para ela.

Meu olhar abaixa para o chão e eu tomo uma respiração profunda, antes de
dar-lhe um abraço de lado. Quando eu a deixo ir, murmuro: — Eu estou feliz que
você me disse. Desgraça pouca é bobagem, certo? — Eu ofereço um sorriso de
novo, mas é falso neste momento. Há muitas lembranças correndo pela minha
mente, e o movimento faz minha pele parecer como se fosse rachar.

— Yeah. — Ela ri. — Pelo menos não temos que nos preocupar com Victor.
Devo-lhe muito por isso. Os jornais disseram que um dos seus homens o matou no
meu apartamento. Se você não tivesse me arrastado para fora, naquela noite eu
teria levado um tiro, também.

Eu sou insensível ao que eu fiz, pelo menos no momento. Às vezes, quando
eu não consigo dormir, o pensamento de que fiz desliza em minha mente, não
desejado. Victor é um pesadelo que não vai morrer, mas não posso perder o meu
tempo.

— Somos eu e você, agora. — Eu digo a ela com firmeza. Ela sorri
tristemente para mim e assente. — Maggie, você pode ir a casa de Neil e pegar
minhas coisas? Há apenas algumas caixas. Eu nunca desembalei, não
realmente. Neil queria que eu fizesse, mas eu empurrei a maioria delas na parte de
trás de um armário. — Eu retiro minha bolsa e escrevo-lhe um cheque. — Isso
deve cobrir o aluguel do nosso novo apartamento e tudo o mais que
precisamos. Deixe-o bonito, ok? Vai ser bom ter um novo lugar bonito para ir para
casa quando isso acabar.

Maggie pega o cheque e olha para todos os zeros, antes de olhar para mim.
Uma mecha de cabelo vermelho cai na frente de seus olhos. — Hallie, eu não posso
aceitar isso.

— Sim, você pode. Vai fazê-lo. Precisamos de um lugar para viver. Eu
gostaria de ter mais a oferecer, mas essa discussão é para outro dia. Entretanto,
isso vai nos colocar em uma boa vizinhança e nós estaremos confortáveis.

— Você vai processar Neil e Cecily? Eles praticamente gastaram todo o seu
dinheiro.

Concordo com a cabeça. — Provavelmente, mas não agora. Eu preciso fazer
um telefonema. — Maggie balança a cabeça e eu disco para o meu banco enquanto
seguimos para o meu carro. Eu explico a um funcionário do banco muito prestativo
que o nome de Neil deve ser retirado da minha conta imediatamente e todas as
transações em andamento com a sua assinatura, devem ser transferidas para a sua
conta. Verificação conjunta foi ideia dele. Eu esfrego minhas mãos sobre meu rosto
e sento com força no capô do meu carro. A coisa está suja, mas eu não me
importo. O funcionário do banco me pede para ir em breve para assinar os papéis,
e fazer as alterações em minha conta oficial. Quando eu insisto que eles precisam
ser assinados agora, ela diz para vir quando for mais conveniente.

Eu desligo e olho fixamente para as portas fechadas da mercearia. — Eu não
posso fazer isso de novo, não tão cedo. — A perda do meu pai ainda paira pesado
em meu coração, ameaçando me puxar para baixo. Minha dor não diminuiu e a
fama não ajudou. A única coisa que me faz sentir melhor é Bryan e agora vou
perdê-lo também.

Eu não posso respirar. Inclinando minha cabeça para trás com os olhos
cheios de lágrimas, eu olho para o céu e as nuvens brancas onduladas. O céu estava
aqui muito antes de eu nascer e vai estar aqui muito tempo depois. Faz-me sentir
pequena, como se a minha vida não importasse em tudo.

Maggie me bate com sua bota. — Bagel?

— Eu não estou com fome. — Eu estava com fome apenas um momento
atrás, mas agora não sinto nada parecido com isso.

— Merda resistente. Eu estou cuidando de você, o que significa que você
come isso ou vou enfiar na sua cara. — Ela está sorrindo para mim. — Eu vou fazer
isso.

Eu roubo a minha comida de sua mão. — Eu sei que você vai. —
Desempacotando a coisa, dou uma mordida e percebo que eu estou morrendo de
fome.

— A vida não é sobre a morte, você sabe. — Diz Maggie de repente. Ela está
sentada ao meu lado no capô, olhando para uma nuvem, pegando arrancando
pedaços de seu bagel, e os jogando em sua boca um de cada vez.

— Então o que se trata? — Eu pensei que eu sabia em um ponto, mas não
tenho ideia, não mais. A vida parece uma piada cruel.

— É sobre as relações que você faz, a bondade que oferece e você mostrar
compaixão. É a sua chance de mostrar ao mundo quem você é e o que faz você.
Hallie, você é a pessoa mais forte que conheço. Em vez de sentar aqui chorando
comigo, você deve estar com Bryan. Aqui. — Ela me dá o bagel extra. — Cheque de
vez em quando e quando você precisar de mim, eu vou. Nesse meio tempo, vou
deixar nossa casa pronta, eu prometo. Nada me manterá longe desta vez. Quando
você precisar de mim, eu estarei lá - se estiver no hospital, a funerária ou apenas
quando você precisar de uma pausa.

Eu sinto uma vibe nervosa vindo dela. — Você não é fraca, Maggie. Somos
sobreviventes, eu e você. — Quando eu digo isso, quero dizer para confortá-la, mas
uma bola dá um nó na minha garganta.

Ela pega a minha mão e se inclina, descansando a cabeça no meu ombro. —
Nós vamos sobreviver a isto também “juntas”.

Capítulo 3

Eu não quero pensar em Neil, então eu volto para a mansão Ferro e me
esgueiro para dentro. Ainda é cedo. As únicas pessoas que vejo são os empregados.
Eles me veem e não dizem nada. Deve ser estranho viver como uma estátua dia
após dia, sem ninguém, mas outros funcionários, na verdade, reconhecem que você
é humano. Eu não posso evitar isso. Eu sorrio para o mordomo que está sempre
ocupado, correndo para algum lugar. Ele inclina a cabeça em saudação, mas não
abranda.

Depois que ele passa, se vira para trás. — Você precisa de alguma coisa, Sra.
Raymond?

Eu sorrio e balanço a cabeça. — Não, é apenas bom vê-lo. — Eu olho para
ele. Este homem tem sido constante na vida de Bryan por anos. Eu me pergunto se
ele sabe que Bryan tem um segredo, porque nada lhe escapa, pelo menos não
quando éramos mais jovens. Eu me lembro de receber olhares severos dele quando
éramos muito jovens e fazíamos coisas muito loucas, enquanto a mãe de Bryan não
estava por perto. Mas o cara nunca nos entregou.

— Da mesma forma, Sra. Raymond. Diga ao Sr. Ferro que se ele precisar de
ajuda pode pedir qualquer coisa para mim. — Seus olhos perfuraram os meus por
um momento antes que ele olhe para o lado.

Ele sabe.

Concordo com a cabeça e vou para o modo de super mocinha. Antes que eu
possa me parar, lanço o meu corpo para ele e meus braços em volta do velho,
abraçando-o em um abraço de urso em estilo desleixado. Ele endurece com choque
e, em seguida, dá um tapinha minhas costas. — As pessoas vão dizer-lhe que ele
vai ficar bem. Ao longo dos próximos meses, você vai ouvir isso de novo e de novo,
mas a perda não é assim que funciona. As coisas não vão voltar ao normal, mas a
vida continua. Converse com ele sobre isso, enquanto você tem a chance.

Meu queixo cai. — O quê? Isso seria tão mau. Eu não posso...

— Isso não é o problema meu, mas se você fosse minha filha, era o que eu
diria a você. Tempos sombrios estão chegando, se este homem é o seu raio de luz,
mergulhe no sol tanto quanto puder e quando puder.

Acho que entendo o que ele quer dizer, então balanço minha cabeça para
cima e para baixo lentamente. Falar sobre a morte com alguém que está morrendo
é o que ele quer dizer. Vamos acabar discutindo todas as coisas que queríamos
fazer, mas nunca teremos a chance. Minha garganta aperta com o pensamento e os
meus olhos lacrimejam. — Obrigada.

— Qualquer hora, Sra. Raymond. — Ele inclina a cabeça para mim como se
eu fosse uma rainha e se vira para correr para longe.

Eu não gosto da sua sugestão, mas parte dela me chama. E se a gente falar
sobre isso? Eu balanço minha cabeça e aperto as mãos. Não! Eu não quero! Isso não
é justo e não posso simplesmente aceitar que vou perdê-lo - não depois que
finalmente nos encontramos novamente. Não depois de todo esse tempo.

No momento que estou dentro da mansão de Bryan, paro na porta. Minha
intenção era ir à ponta dos pés para o quarto de Bryan, mas sou presa pelo Ferro
que eu mais temo - Sean. Ele está encostado na parede, os braços cruzados sobre o
peito. Ele se parece com sua mãe, toda acusação não dita claramente visível em
seus olhos. Suas roupas escuras - casaco de couro, calça jeans, camisa preta e botas
shitkicker. — Você e eu temos algo a discutir.

Minha intenção é passar por ele. — Não tenho nada para lhe dizer.

Sean libera seus braços e caminha em minha frente. Ele é silencioso e letal,
com vibes malucas irradiando dele como micro ondas. Ding! — Bem, eu tenho algo
que você precisa ouvir - sobre um homem chamado Victor. — Minha respiração
para na minha garganta enquanto minhas mãos vão para o meu coração. Sean me
puxa pela curva do meu cotovelo para longe da porta de Bryan. — Sim, eu achei
que você soubesse alguma coisa sobre isso. Os jornais estão dizendo que um dos
seus homens o matou, mas os policiais estão bisbilhotando, me fazendo perguntas
sobre um traficante de merda. Eu não gosto de policiais e não gosto ainda menos
de perguntas. Então, me diga, como é que eles rastrearam até aqui? O que você
deixou para trás?

Eu rio, mas ele ignora. — Você acha que eu o matei? — Estou pressionando
meus dedos em meu peito, piscando, com meu queixo caído. Embora seja um
excelente desempenho, algo que me afasta. Sean pode ver isso.

Ele dá um passo no meu espaço de uma maneira ameaçadora. Sua voz
ressoa: — Eu sei que você o matou.

— Não, você não sabe. — Eu agarro, tentando me empurrar por ele
novamente, mas Sean não me deixa passar. Ele bloqueia o lugar com seu corpo
maciço.

Inclinando-se perto do meu rosto, ele sussurra baixinho: — Se eu sei, a
minha mãe sabe e você não quer pegadas sujas que levam direto para a porta da
frente. Você precisa se separar de Bryan e sair daqui antes que descubram isso.

Eu balanço minha cabeça e mordo meu lábio inferior. Eu provavelmente
pareci como um moleque teimoso, mas não vou deixar Bryan.

Os olhos de Sean travam com os meus e sua voz cai para um sussurro letal.
— Eu posso fazê-la desaparecer.

Algo desperta dentro de mim, essa mesma característica de proteção que
me fez cortar a garganta de Victor, em primeiro lugar. Minha coluna se endireita e
eu fico na frente do seu rosto. — Da mesma forma.

Depois de um momento de reflexão, o homem na verdade ri. Sean esfrega o
queixo com a mão. Eu não posso dizer se ele está se divertindo ou pensa que sou
louca. Ele finalmente pergunta: — Por que você fez isso?

— Por que você acha? O homem era um estuprador assassino. Vamos
apenas dizer que eu estava no lugar errado na hora errada. Acidentes acontecem e
eu não ia deixar que qualquer outra coisa acontecesse com a minha amiga. Ela é a
única família que me resta. — Eu sugo o ar, tentando inchar, então não sou tão
pequena, mas em comparação com Sean Ferro, sou um palito.

Seus olhos azuis mudam para o lado antes que ele passe as mãos pelo
cabelo. — Então, você protegeu sua família, deixe-me proteger a minha. Vá
embora. Não puxe Bryan para isso.

— Para quê? Os mortos não puxam qualquer um para qualquer coisa.

— Victor Campone está vivo.

Capítulo 4

Um pequeno grito escapa dos meus lábios e eu quase caio no chão. Meus
joelhos cedem, mas antes de eu ir para baixo, Sean agarra meus braços. Ele me
mantém de pé e continua suavemente. — Os policiais suspeitam que ele esteja
vivo. No momento em que chegaram lá, o corpo tinha desaparecido. Devido à
quantidade de sangue que encontraram, sua suposição natural era que um de seus
homens o matou e jogou o corpo. Os policiais ainda estavam indo por esse caminho
até recentemente, quando pegaram Campone bisbilhotando meu hotel. Então, a
menos que viram um fantasma, o homem ainda está vivo.

— Ele não pode estar. — Eu balanço minha cabeça e meus olhos vidrados
quando me lembro daquela noite. A quantidade de sangue, a forma que sua cabeça
pendia para trás e a ferida era tão profunda. — Não é possível.

Sean suspira e olha para mim com uma expressão que está perdida em
algum lugar entre pena e admiração. Inclinando-se perto, ele diz: — O corte foi
muito superficial. É como apontar para o coração e não acertar. O cara foi
subestimado, os que estavam dispostos e aceitaram fazer isso uma vez, mas ele não
vai ser subestimado novamente. E eu aposto qualquer coisa que ele vai
permanecer morto por um tempo, deixar que os outros façam o trabalho sujo, até
que lhe convenha encenar uma ressurreição.

— Como você sabe tudo isso?

Ele engole em seco, seu olhar se afastando e depois de volta para os meus
olhos. — Periodicamente nossos empreendimentos comerciais se sobrepõem. Eu
ouço coisas. E posso dizer-lhe que se eu ouvi, minha mãe ouviu e você com certeza
não quer irritá-la. Se Campone acabar aqui, você está morta. Se ele não te matar,
minha mãe vai.

Ele agarra meus ombros e me pede: — Hallie, pega a sua amiga e dá o fora
daqui antes que Campone a encontre. — Sean me libera. — Este foi um aviso de
cortesia. Se você ficar por perto e Bryan for morto por sua causa, bem, é melhor

esperar que Victor a encontre antes de mim. — Seus olhos firmam em mim uma
vez com as suas intenções claras.

Eu fico lá por um segundo mal respirando. Nossos olhos estão bloqueados,
nós dois estamos desafiando, mas será que ele não sabe, Sean não sabe sobre seu
primo? Talvez eu devesse pegar Bryan e correr, mas não posso. Não enquanto ele
está doente. Ele vai precisar de ajuda e cuidados paliativos. Eu não posso dar-lhe
essas coisas se eu corro. Minha voz racha quando eu falo. — Eu não posso.

— Não é opcional.

— Não, você não entende. Eu não posso ir embora. Eu não posso correr
mais de Victor e não vou. Eu vou cuidar disso. Eu vou terminar o que comecei. —
Eu não tenho ideia de como, mas vou. Se eu não fizer isso, ele virá atrás de mim e
Maggie. O homem é cruel, ele nunca vai parar de nos caçar. Eu sei disso com
certeza.

Sean levanta a sobrancelha escura. — Você está louca? Você nunca vai ter
outra chance de matá-lo. Ele pensou que era insignificante antes, mas agora ele a
conhece melhor.

Eu me empurro passando por ele. — Eu vou cuidar disso. Ele não virá aqui,
e desta vez, quando eu matá-lo, ele vai morrer.

— Hallie. — Sean quase implora meu nome, quase, mas eu não paro.

Eu entro no quarto de Bryan e fecho a porta. Eu fico lá por um segundo e
derrubo minha cabeça para trás, respirando com dificuldade. Eu nunca soquei uma
pessoa antes. Agora eu simplesmente confessei ao mais assustador de todos os
Ferro que vou dar um fim no senhor das drogas mais notório da cidade. Super foda.

Eu ainda estou segurando o saco com café da manhã de Bryan. Quando
aperto o meu punho, o jornal faz um ruído de crepitação e ele se senta. Um belo
sorriso ilumina seu rosto pálido. — Hey, Menina Bonita. Para onde você correu?

— Para pegar o café da manhã e conseguir alguma sujeira em sua tia. Foi
uma manhã interessante. — Eu sorrio, preocupada com ele e entrego o saco.

— Sujeira na minha tia?

Balanço a cabeça e me sento ao lado dele na cama. — Sim, eu descobri
porque ela me odeia. Ela pensa que eu sei de algo todos esses anos, mas eu não
descobri o que eu sabia até esta manhã.

Bryan desembrulha o seu bagel enquanto estou falando e morde. Seus
firmes olhos verdes encontram os meus. Com a boca cheia, ele me pergunta. — E
então?

Eu penso em manter seu segredo, mas não sinto nenhuma lealdade para
com ela. Além disso, Bryan não vai contar a ninguém. — Ela é gay. Eu a peguei com
sua amante na cozinha de sua mãe esta manhã.

Seu queixo cai e o pedaço de bagel rola para fora da boca, indo para a
colcha. — De jeito nenhum.

Concordo com a cabeça e olho para o pedaço de comida. — Um choque e
tanto, hein?

— Claro que sim. Ela é tão recatada e adequada. — Seu nariz franze com o
pensamento da sua tia ser sexualmente algo.

— E, aparentemente, ela gosta de garotas.

Bryan pisca e sorri. — Bem, isso explica um monte de coisas.

— Sim, como por que ela ainda é casada e permite que prostitutas meio
vestidas andem pela sua casa.

Bryan sorri. — Claro, todo mundo gosta de um pouco de colírio para os
olhos.

Eu bato em seu ombro. — Bryan!

— Vamos lá, pense nisso. Houve uma garota naquela casa desde que Jon era
um bebê. É a família mais estranha que eu já vi. Minha mãe não teria tolerado. Eu
sempre me perguntei por que a tia Constance tolerava.

— Seu pai não tem uma puta coabitante?

Ele inclina a cabeça para mim. — Meu pai não tem tempo para isso. Ele está
muito ocupado ganhando dinheiro para ser incomodado com relacionamentos ou
senhoras de compra. Mas, ainda assim, a tia Connie gosta das garotas. Quem teria

pensado? — Ele balança a cabeça. — Então o que diabos eu vi no dia que
terminamos?

Boa pergunta. Eu suspiro e tenho uma boa ideia de para quem perguntar. Eu
sorrio grande. — Qual é o quarto que Constance usa quando está aqui?

Bryan parece confuso e então seus olhos se arregalam. — Você está louca?

— Só um pouco. — Eu rio e quase aperto meus dedos juntos.


CONTINUA

A luz do amanhecer brilha através das pesadas cortinas que revestem as paredes formando uma fina fenda de branco puro no tapete escuro. Eu fico olhando para ele, perdida em seus pensamentos. Perto de mim, Bryan está dormindo. Eu envolvo meus braços ao redor dele e seu corpo se parece tão forte. É por isso que isto é tão difícil. Não faz nenhum sentido. Para além da dor, eu não posso ver o que está acontecendo com ele. É interno. Seu corpo o está matando segundo a segundo. Eventualmente, ele irá respirar e não haverá outro. Eu não posso suportar a ideia.
Minha vida tem sido moldada por morte. Todo mundo que me importa, todos, exceto Maggie, partem. Eu escorrego para fora da cama, agarrando o meu telefone antes de ir para fundo do corredor. Eu envio uma mensagem de texto para ela, embora eu duvide que ela esteja acordada.
Eu digito: Estou com Bryan. Apenas verificando para ter certeza que está tudo bem.
Para minha surpresa ela envia uma mensagem de volta: Eu estou, mas tenho uma coisa horrível para lhe dizer.
Nada poderia ser pior do que perder Bryan. Eu digito de volta: Eu também.
Volto logo para casa e podemos conversar.
Ela responde: Ok.

 


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Eu enfio meu celular no bolso antes de pegar a camiseta de Bryan e a puxo
sobre minha cabeça. Eu enfio minhas mãos sob as mangas e vagueio pela mansão
até encontrar a cozinha. Sinto o cheiro do café e preciso desesperadamente de uma
xícara. Infelizmente, a besta “a tia” de Bryan está sentada à mesa com outra
mulher. Ambas estão vestidas em robe. Eu pisco conforme o choque lava seus
rostos. Eu não posso imaginar por que ela está aqui tão cedo, não vestida. Quão
estranho é isso?

Dentro de um batimento cardíaco, Constance está fora de seu assento e no
meu rosto. — Como você ousa desfilar na casa da minha irmã usando coisas do
meu sobrinho? Saia agora mesmo, sua puta! — Ela tenta bater no meu rosto, mas
eu agarro seu pulso.

As coisas finalmente clicam no lugar. A forma como as mulheres estavam
olhando uma para a outra, o toque de suas mãos, a forma como os seus olhos
permanecem naquele olhar fixo familiar, o fato de que ela está aqui, quando sua
irmã e cunhado já se foram e a forma como Constance se transforma em um tigre
quando ela me vê - faz sentido. Ela está escondendo um segredo há anos que
poderia arruiná-la para sempre. É por isso que ela suporta as infidelidades do Sr.
Ferro e porque permite que suas mulheres valsem pela sua casa.

Constance é gay - e esta mulher é sua amante. Ela pensou que eu soubesse,
mas eu nunca percebi antes.

Ela puxa sua mão do meu aperto e se prepara para começar a gritar
novamente. Eu a interrompo, cansada. — Eu não me importo com sua vida ou
suas preferências. Eu entendo que seja um tabu para você ser vista com ela. Eu
entendo isso, Constance, eu realmente entendo. Eu não a julgo por isso, então pare
de me julgar. A única coisa de que eu quero vocês é o café. — Eu caminho,
passando por ela.

O queixo de Constance está no chão. Sua namorada, uma mulher pelo menos
dez anos mais nova que ela, fica rígida, olhando-me com medo. Relações do mesmo
sexo podem ser ultramodernas e estarem na moda em Nova York, mas não entre
antigas famílias endinheiradas como esta. Isso a arruinaria. É por isso que ela me
odeia. Ela acha que eu tenho andado por aí esperando para soltar uma bomba em
sua vida.

Quando Constance fala, seu tom é cético: — Você sabe há muito tempo e não
disse nada. Por quê?

— Porque eu não me importo com você. — Eu mantenho minhas costas
para ela enquanto despejo o líquido escuro em uma xícara pesada. É muito cedo. As
pessoas normais não estão acordadas às cinco da manhã. Elas provavelmente
estavam tomando café da manhã antes de se separarem para o dia. Quando me viro

para falar, as duas mulheres estão me olhando mortificadas. — Eu me preocupo
com Bryan. Você não percebeu nada sobre ele que lhe diz respeito?

Seu olhar se estreita. — Não brinque comigo. Eu conheço minha família,
cada um deles.

— Sim, bem, você pode querer falar com ele. — Ela bloqueia seu maxilar,
preparando-se para ordenar que eu saia, mas eu acrescento: — O tempo é uma
coisa engraçada. Todos nós pensamos que temos uma tonelada dele até que seja
tirado de nós, então nos damos conta de que nunca foi o suficiente, para começar.
Use o tempo que você tem, Constance. Ame as pessoas que queira e se certifique de
que eles saibam disso. Chegará o dia em que você lamentará que não o fez e a
chance passou por você.

Ela endurece quando eu falo. — Você está me ameaçando?

Eu rio alto com o ridículo de sua declaração. Ela não tem nenhuma pista. Eu
estava me referindo a mim e Bryan, para a piscina constante de arrependimento
que enche meu estômago. Poderíamos ter estado juntos, mas essa oportunidade
está perdida agora, o tempo que nunca teremos.

— Você está tão errada sobre tudo, lacrada em sua pequena bolha, fora de
contato com o mundo real. Isso não é sobre você, então você acha que está segura,
mas você nunca está, não do tempo - não da morte. Seu sobrinho... — Eu engulo
em seco, mas não quebro o contato visual. — Certifique-se que sua mãe descubra.
Isso é tudo que eu quero.

A suposição de que eu estou fazendo é enorme - aquela que Elizabeth Ferro
se importará se seu filho vive ou morre. Bryan não contou a ninguém sobre sua
doença, exceto eu. Jon pode ver isso, mas os outros não têm ideia. Eu não sei
quanto tempo resta à Bryan, mas não quero que ele o gaste se preocupando ou
brigando. Eu quero estar lá para protegê-lo e, por alertar o Ferro de seu estado, eu
provavelmente só fiz isso mais difícil de acontecer - mas que é a coisa certa a fazer.
Se eu tivesse um segundo extra para gastar com o meu pai... O pensamento se
esconde em minha mente, sol a sol. Quando a noite lava o céu com tons roxos de
tinta e manchas de âmbar cintilante, eu gostaria de ter mais uma oportunidade de
dizer todas as coisas que nunca tive a chance de expressar. Agora, esses
pensamentos estão presos dentro da minha alma, me segurando cativa. Eu nunca

vou ser livre. Eu nunca tive a chance de dizer adeus. Eu estou dando aos Ferro essa
oportunidade e esperando além da esperança de que eles não me joguem para fora
na minha bunda em recompensa.

Empurrando de lado meus pensamentos, eu coloco meu copo vazio para
baixo e saio, deixando Constance e sua amante, boquiabertas, no meu despertar. As
duas mulheres atrás de mim são crianças brincando de casinha. Eu posso ser mais
jovem do que elas em anos, mas minha alma parece velha. É imaturo pensar que a
sua vida seja apenas sobre você. A vida é sobre as pessoas ao seu redor. Como eu
gostaria de nunca crescer, mas desejar é desperdício de tempo e eu me recuso a
desperdiçar mais um segundo.

Capítulo 2

Maggie e eu planejamos, através de mensagens de texto, nos encontrar em
algum lugar que tenha um bagel logo após o amanhecer. Os únicos carros no
estacionamento são da loja. O resto do centro de compras ainda está fechado. Eu
não espero muito tempo, quando ela se junta a mim no final da fila.

— Hey. — Diz Maggie, me envolvendo em um abraço.

Eu a abraço de volta, segurando-a um segundo muito longo. Ela vai fugir
novamente. Eu sei disso. Ela não lida bem com a morte também. Acho que
ninguém faz, mas Maggie viu muito dela. Quando eu a solto, me forço a perdoá-la
com antecedência. Uma alma só pode tomar tanto abuso antes que não possa
evitar, exceto reagir. É como o cão de Pavlov. A campainha da morte soa e Maggie
corre.

Eu enfio um pedaço de cabelo atrás da minha orelha e encosto contra a
vitrine de vidro, antes de enfiar as mãos nos bolsos. — Hey. Como tem passado?

A fila faz a volta para fora da porta e para baixo da frente do centro
comercial com pessoas que já pararam para um bagel e café em seu caminho para
o trabalho. A fila se aproxima alguns centímetros mais próxima da comida e nos
movemos com ela, antes de retornar nossas posições contra o vidro. Meu estômago
ronca com o cheiro de fermento e eu mal posso esperar para provar o pão macio,
quente e mordê-lo, saboreando o cream cheese espesso. Eu aprendi a não dar por
certo pequenas coisas. Bagels me ajudam a encontrar meu lugar feliz.

Eu pretendo pegar um para Bryan também - sementes de papoula com
manteiga, exatamente como ele pedia na escola. Viemos aqui tantas vezes. Eu fico
olhando para fora, no estacionamento, minha mente vagando em uma memória de
Bryan me levantando em um carrinho de compras e empurrando-me como um
louco pelo mercado, rindo o tempo todo.

Outro cliente perguntou: — Que corredor você a encontrou? Eu quero uma!

Bryan apenas sorriu, os olhos deslizando sobre mim no carrinho. —
Desculpe, cara. Esta era a única e é toda minha. Eu nunca a deixarei ir. — A

memória ecoa fortemente em meus ouvidos. Parece que poderia ter acontecido
ontem.

A voz de Maggie me encaixa de volta ao presente. Ela encolhe os ombros e
puxa a alça da bolsa para cima de seu ombro. — Eu estou bem. Acho que encontrei
um apartamento para nós, mas eu ouvi que Neil comprou para vocês uma casa. —
Ela faz uma cara de, bem, tenta não fazer uma cara, que faz sua expressão de dor
ainda pior. A fila se move de novo e, com um passo à frente, ela deixa escapar: —
Você realmente vai se casar com ele? Achei que você amasse Bryan? Parecia que
estava totalmente encantada com o gatinho do sexo. Bem, você é a gatinha.
Rapazes são o quê, tigres? Tigre sexual soa mal. — Ela ri, mas sua risada leve
desaparece quando ela vê o meu sorriso falso. — O que há de errado, Hallie?

Eu tento manter minha voz firme, mas treme sem minha permissão. Não há
nenhum ponto em protelar por mais tempo, e além disso, eu preciso dela. Mesmo
que ela vá correr, eu tenho que falar com alguém enquanto eu tiver a chance. —
Maggie, ele está morrendo.

— Mas, ele não pode estar! Ele... — Maggie deixa escapar muitas palavras de
uma só vez e quase começa a chorar. Ela é a pessoa mais empática que eu já
conheci. A minha dor está representada em seu rosto quando ela para, aperta
minha mão e me puxa para um abraço de urso que poderia explodir minha cabeça.
— Eu sinto muito, Hallie. — Ela enxuga as lágrimas com as costas da mão e olha
para o meu ombro, não querendo perguntar. Cada palavra é como se enfiasse uma
faca no meu lado. — O que há de errado com ele?

Eu a atualizo com o que sei que aconteceu até agora. Minha voz continua
difícil quando eu chego ao fim da história. — Nós terminamos por causa de sua tia
Constance. Ela achou que eu iria arruiná-la com informações que eu não deveria
saber, então ela descobriu uma maneira de nos separar. — A raiva eu não tinha
notado até agora borbulha sob a superfície da minha mente. Eu não vou ficar com
raiva, eu não posso ficar. Eu me recuso a perder meu tempo com ela ou o que ela
fez. — Maggie, eu não poderia me importar menos com ela, mas eu quis Bryan
todo esse tempo e não o tive por causa dela.

— E, no entanto, você não soa como louca. Você parece mais
assustadoramente tranquila sobre isso. — Uma sobrancelha vermelha levanta
levemente em sua testa sardenta.

Eu olho para ela conforme nos movemos com a fila para dentro da pequena
loja, e nos aproximamos da bandeja do pão assado. Maggie pede em primeiro lugar,
então eu peço e pago por nossos itens. Pegamos o nosso café da manhã, cortamos
de volta através da fila, para fora da porta, em direção ao estacionamento. Fico ali
na frente dela querendo falar, mas incapaz de encontrar palavras, em seguida,
entrego para ela o pão e suco de laranja.

Minha boca se abre duas vezes, mas as palavras não saem. Eu finalmente
olho nos olhos dela e explico. — Eu não estou louca. Bem, eu estou - mas não quero
estar. É um desperdício de tempo e eu não tenho tempo de sobra. Eu estou
pensando em ficar com ele, Maggie. Seja qual for o tempo que lhe resta, eu quero
estar lá.

— Eu entendo, e eu estou aqui para você. — Ela pega a minha mão, mas eu
não posso olhar para ela.

— Não faça promessas que não pode cumprir, Maggie.

— Eu estou as mantendo desta vez.

— Eu prefiro saber agora que você vai desaparecer. Eu posso lidar com isso
sozinha. Eu estou bem, realmente. Eu sei o que isso faz para você e... — Eu arranjo
desculpas para ela até que ela me corta.

— Não. A última vez eu não estava lá para você, porque Victor era um idiota.
Eu não tive escolha. Isso fazia parte da maneira como ele estava me controlando,
mas ele já se foi, Hallie. Eu não vou fugir. Eu estarei lá para você. Você não terá que
lidar com isso sozinha. Eu prometo. Podemos passar por qualquer coisa, você e
eu. Eu não vou deixar você Hallie. Nós somos irmãs. Eu vou estar lá neste
momento. — Ela sorri sem jeito e olha para o chão sob suas botas.

Ela muda o seu peso para o outro pé e olha para mim debaixo de muito
rímel. Sua boca fica aberta por um segundo e seus lábios enrolam, como se ela não
quisesse dizer o que está prestes a cair de sua boca. — Há algo que você precisa
saber, e eu não sei se você vai gostar ou não com tudo o que aconteceu, mas precisa

saber. Você precisa. E eu odeio dizer isso agora, mas talvez seja melhor assim. Eu
esperaria se eu achasse que ajudaria.

— Maggie, diga-me. O que é?

Ela puxa um monte de ar e cospe para fora. — Ontem à noite, enquanto você
não estava em casa, entrei e vi o que parecia ser Neil e Cecily fazendo coisas que
estava muito além da zona do amigo. — Seus lábios são esmagados em conjunto,
enquanto ela tenta permanecer inexpressiva. Eu posso dizer que ela quer castrar
Neil conforme ela luta para manter seus lábios em uma linha reta.

Eu pisco, e isso é tudo. A raiva não vomita da minha boca e minhas mãos
não estão cerradas em punhos. Eu não me sinto quebrada ou até mesmo chocada.

Eu não sinto nada.

Se eu amasse Neil, eu estaria irada, mas eu não estou. Concordo com a
cabeça.

O rosto preocupado de Maggie franze enquanto ela empurra seu brilhante
cabelo atrás da orelha. — Eu não sei se eu deveria dizer. Eu o odeio, mas pensei
que você gostava do cara. — Ela me olha com tal preocupação que eu não posso
deixar de sorrir para ela.

Meu olhar abaixa para o chão e eu tomo uma respiração profunda, antes de
dar-lhe um abraço de lado. Quando eu a deixo ir, murmuro: — Eu estou feliz que
você me disse. Desgraça pouca é bobagem, certo? — Eu ofereço um sorriso de
novo, mas é falso neste momento. Há muitas lembranças correndo pela minha
mente, e o movimento faz minha pele parecer como se fosse rachar.

— Yeah. — Ela ri. — Pelo menos não temos que nos preocupar com Victor.
Devo-lhe muito por isso. Os jornais disseram que um dos seus homens o matou no
meu apartamento. Se você não tivesse me arrastado para fora, naquela noite eu
teria levado um tiro, também.

Eu sou insensível ao que eu fiz, pelo menos no momento. Às vezes, quando
eu não consigo dormir, o pensamento de que fiz desliza em minha mente, não
desejado. Victor é um pesadelo que não vai morrer, mas não posso perder o meu
tempo.

— Somos eu e você, agora. — Eu digo a ela com firmeza. Ela sorri
tristemente para mim e assente. — Maggie, você pode ir a casa de Neil e pegar
minhas coisas? Há apenas algumas caixas. Eu nunca desembalei, não
realmente. Neil queria que eu fizesse, mas eu empurrei a maioria delas na parte de
trás de um armário. — Eu retiro minha bolsa e escrevo-lhe um cheque. — Isso
deve cobrir o aluguel do nosso novo apartamento e tudo o mais que
precisamos. Deixe-o bonito, ok? Vai ser bom ter um novo lugar bonito para ir para
casa quando isso acabar.

Maggie pega o cheque e olha para todos os zeros, antes de olhar para mim.
Uma mecha de cabelo vermelho cai na frente de seus olhos. — Hallie, eu não posso
aceitar isso.

— Sim, você pode. Vai fazê-lo. Precisamos de um lugar para viver. Eu
gostaria de ter mais a oferecer, mas essa discussão é para outro dia. Entretanto,
isso vai nos colocar em uma boa vizinhança e nós estaremos confortáveis.

— Você vai processar Neil e Cecily? Eles praticamente gastaram todo o seu
dinheiro.

Concordo com a cabeça. — Provavelmente, mas não agora. Eu preciso fazer
um telefonema. — Maggie balança a cabeça e eu disco para o meu banco enquanto
seguimos para o meu carro. Eu explico a um funcionário do banco muito prestativo
que o nome de Neil deve ser retirado da minha conta imediatamente e todas as
transações em andamento com a sua assinatura, devem ser transferidas para a sua
conta. Verificação conjunta foi ideia dele. Eu esfrego minhas mãos sobre meu rosto
e sento com força no capô do meu carro. A coisa está suja, mas eu não me
importo. O funcionário do banco me pede para ir em breve para assinar os papéis,
e fazer as alterações em minha conta oficial. Quando eu insisto que eles precisam
ser assinados agora, ela diz para vir quando for mais conveniente.

Eu desligo e olho fixamente para as portas fechadas da mercearia. — Eu não
posso fazer isso de novo, não tão cedo. — A perda do meu pai ainda paira pesado
em meu coração, ameaçando me puxar para baixo. Minha dor não diminuiu e a
fama não ajudou. A única coisa que me faz sentir melhor é Bryan e agora vou
perdê-lo também.

Eu não posso respirar. Inclinando minha cabeça para trás com os olhos
cheios de lágrimas, eu olho para o céu e as nuvens brancas onduladas. O céu estava
aqui muito antes de eu nascer e vai estar aqui muito tempo depois. Faz-me sentir
pequena, como se a minha vida não importasse em tudo.

Maggie me bate com sua bota. — Bagel?

— Eu não estou com fome. — Eu estava com fome apenas um momento
atrás, mas agora não sinto nada parecido com isso.

— Merda resistente. Eu estou cuidando de você, o que significa que você
come isso ou vou enfiar na sua cara. — Ela está sorrindo para mim. — Eu vou fazer
isso.

Eu roubo a minha comida de sua mão. — Eu sei que você vai. —
Desempacotando a coisa, dou uma mordida e percebo que eu estou morrendo de
fome.

— A vida não é sobre a morte, você sabe. — Diz Maggie de repente. Ela está
sentada ao meu lado no capô, olhando para uma nuvem, pegando arrancando
pedaços de seu bagel, e os jogando em sua boca um de cada vez.

— Então o que se trata? — Eu pensei que eu sabia em um ponto, mas não
tenho ideia, não mais. A vida parece uma piada cruel.

— É sobre as relações que você faz, a bondade que oferece e você mostrar
compaixão. É a sua chance de mostrar ao mundo quem você é e o que faz você.
Hallie, você é a pessoa mais forte que conheço. Em vez de sentar aqui chorando
comigo, você deve estar com Bryan. Aqui. — Ela me dá o bagel extra. — Cheque de
vez em quando e quando você precisar de mim, eu vou. Nesse meio tempo, vou
deixar nossa casa pronta, eu prometo. Nada me manterá longe desta vez. Quando
você precisar de mim, eu estarei lá - se estiver no hospital, a funerária ou apenas
quando você precisar de uma pausa.

Eu sinto uma vibe nervosa vindo dela. — Você não é fraca, Maggie. Somos
sobreviventes, eu e você. — Quando eu digo isso, quero dizer para confortá-la, mas
uma bola dá um nó na minha garganta.

Ela pega a minha mão e se inclina, descansando a cabeça no meu ombro. —
Nós vamos sobreviver a isto também “juntas”.

Capítulo 3

Eu não quero pensar em Neil, então eu volto para a mansão Ferro e me
esgueiro para dentro. Ainda é cedo. As únicas pessoas que vejo são os empregados.
Eles me veem e não dizem nada. Deve ser estranho viver como uma estátua dia
após dia, sem ninguém, mas outros funcionários, na verdade, reconhecem que você
é humano. Eu não posso evitar isso. Eu sorrio para o mordomo que está sempre
ocupado, correndo para algum lugar. Ele inclina a cabeça em saudação, mas não
abranda.

Depois que ele passa, se vira para trás. — Você precisa de alguma coisa, Sra.
Raymond?

Eu sorrio e balanço a cabeça. — Não, é apenas bom vê-lo. — Eu olho para
ele. Este homem tem sido constante na vida de Bryan por anos. Eu me pergunto se
ele sabe que Bryan tem um segredo, porque nada lhe escapa, pelo menos não
quando éramos mais jovens. Eu me lembro de receber olhares severos dele quando
éramos muito jovens e fazíamos coisas muito loucas, enquanto a mãe de Bryan não
estava por perto. Mas o cara nunca nos entregou.

— Da mesma forma, Sra. Raymond. Diga ao Sr. Ferro que se ele precisar de
ajuda pode pedir qualquer coisa para mim. — Seus olhos perfuraram os meus por
um momento antes que ele olhe para o lado.

Ele sabe.

Concordo com a cabeça e vou para o modo de super mocinha. Antes que eu
possa me parar, lanço o meu corpo para ele e meus braços em volta do velho,
abraçando-o em um abraço de urso em estilo desleixado. Ele endurece com choque
e, em seguida, dá um tapinha minhas costas. — As pessoas vão dizer-lhe que ele
vai ficar bem. Ao longo dos próximos meses, você vai ouvir isso de novo e de novo,
mas a perda não é assim que funciona. As coisas não vão voltar ao normal, mas a
vida continua. Converse com ele sobre isso, enquanto você tem a chance.

Meu queixo cai. — O quê? Isso seria tão mau. Eu não posso...

— Isso não é o problema meu, mas se você fosse minha filha, era o que eu
diria a você. Tempos sombrios estão chegando, se este homem é o seu raio de luz,
mergulhe no sol tanto quanto puder e quando puder.

Acho que entendo o que ele quer dizer, então balanço minha cabeça para
cima e para baixo lentamente. Falar sobre a morte com alguém que está morrendo
é o que ele quer dizer. Vamos acabar discutindo todas as coisas que queríamos
fazer, mas nunca teremos a chance. Minha garganta aperta com o pensamento e os
meus olhos lacrimejam. — Obrigada.

— Qualquer hora, Sra. Raymond. — Ele inclina a cabeça para mim como se
eu fosse uma rainha e se vira para correr para longe.

Eu não gosto da sua sugestão, mas parte dela me chama. E se a gente falar
sobre isso? Eu balanço minha cabeça e aperto as mãos. Não! Eu não quero! Isso não
é justo e não posso simplesmente aceitar que vou perdê-lo - não depois que
finalmente nos encontramos novamente. Não depois de todo esse tempo.

No momento que estou dentro da mansão de Bryan, paro na porta. Minha
intenção era ir à ponta dos pés para o quarto de Bryan, mas sou presa pelo Ferro
que eu mais temo - Sean. Ele está encostado na parede, os braços cruzados sobre o
peito. Ele se parece com sua mãe, toda acusação não dita claramente visível em
seus olhos. Suas roupas escuras - casaco de couro, calça jeans, camisa preta e botas
shitkicker. — Você e eu temos algo a discutir.

Minha intenção é passar por ele. — Não tenho nada para lhe dizer.

Sean libera seus braços e caminha em minha frente. Ele é silencioso e letal,
com vibes malucas irradiando dele como micro ondas. Ding! — Bem, eu tenho algo
que você precisa ouvir - sobre um homem chamado Victor. — Minha respiração
para na minha garganta enquanto minhas mãos vão para o meu coração. Sean me
puxa pela curva do meu cotovelo para longe da porta de Bryan. — Sim, eu achei
que você soubesse alguma coisa sobre isso. Os jornais estão dizendo que um dos
seus homens o matou, mas os policiais estão bisbilhotando, me fazendo perguntas
sobre um traficante de merda. Eu não gosto de policiais e não gosto ainda menos
de perguntas. Então, me diga, como é que eles rastrearam até aqui? O que você
deixou para trás?

Eu rio, mas ele ignora. — Você acha que eu o matei? — Estou pressionando
meus dedos em meu peito, piscando, com meu queixo caído. Embora seja um
excelente desempenho, algo que me afasta. Sean pode ver isso.

Ele dá um passo no meu espaço de uma maneira ameaçadora. Sua voz
ressoa: — Eu sei que você o matou.

— Não, você não sabe. — Eu agarro, tentando me empurrar por ele
novamente, mas Sean não me deixa passar. Ele bloqueia o lugar com seu corpo
maciço.

Inclinando-se perto do meu rosto, ele sussurra baixinho: — Se eu sei, a
minha mãe sabe e você não quer pegadas sujas que levam direto para a porta da
frente. Você precisa se separar de Bryan e sair daqui antes que descubram isso.

Eu balanço minha cabeça e mordo meu lábio inferior. Eu provavelmente
pareci como um moleque teimoso, mas não vou deixar Bryan.

Os olhos de Sean travam com os meus e sua voz cai para um sussurro letal.
— Eu posso fazê-la desaparecer.

Algo desperta dentro de mim, essa mesma característica de proteção que
me fez cortar a garganta de Victor, em primeiro lugar. Minha coluna se endireita e
eu fico na frente do seu rosto. — Da mesma forma.

Depois de um momento de reflexão, o homem na verdade ri. Sean esfrega o
queixo com a mão. Eu não posso dizer se ele está se divertindo ou pensa que sou
louca. Ele finalmente pergunta: — Por que você fez isso?

— Por que você acha? O homem era um estuprador assassino. Vamos
apenas dizer que eu estava no lugar errado na hora errada. Acidentes acontecem e
eu não ia deixar que qualquer outra coisa acontecesse com a minha amiga. Ela é a
única família que me resta. — Eu sugo o ar, tentando inchar, então não sou tão
pequena, mas em comparação com Sean Ferro, sou um palito.

Seus olhos azuis mudam para o lado antes que ele passe as mãos pelo
cabelo. — Então, você protegeu sua família, deixe-me proteger a minha. Vá
embora. Não puxe Bryan para isso.

— Para quê? Os mortos não puxam qualquer um para qualquer coisa.

— Victor Campone está vivo.

Capítulo 4

Um pequeno grito escapa dos meus lábios e eu quase caio no chão. Meus
joelhos cedem, mas antes de eu ir para baixo, Sean agarra meus braços. Ele me
mantém de pé e continua suavemente. — Os policiais suspeitam que ele esteja
vivo. No momento em que chegaram lá, o corpo tinha desaparecido. Devido à
quantidade de sangue que encontraram, sua suposição natural era que um de seus
homens o matou e jogou o corpo. Os policiais ainda estavam indo por esse caminho
até recentemente, quando pegaram Campone bisbilhotando meu hotel. Então, a
menos que viram um fantasma, o homem ainda está vivo.

— Ele não pode estar. — Eu balanço minha cabeça e meus olhos vidrados
quando me lembro daquela noite. A quantidade de sangue, a forma que sua cabeça
pendia para trás e a ferida era tão profunda. — Não é possível.

Sean suspira e olha para mim com uma expressão que está perdida em
algum lugar entre pena e admiração. Inclinando-se perto, ele diz: — O corte foi
muito superficial. É como apontar para o coração e não acertar. O cara foi
subestimado, os que estavam dispostos e aceitaram fazer isso uma vez, mas ele não
vai ser subestimado novamente. E eu aposto qualquer coisa que ele vai
permanecer morto por um tempo, deixar que os outros façam o trabalho sujo, até
que lhe convenha encenar uma ressurreição.

— Como você sabe tudo isso?

Ele engole em seco, seu olhar se afastando e depois de volta para os meus
olhos. — Periodicamente nossos empreendimentos comerciais se sobrepõem. Eu
ouço coisas. E posso dizer-lhe que se eu ouvi, minha mãe ouviu e você com certeza
não quer irritá-la. Se Campone acabar aqui, você está morta. Se ele não te matar,
minha mãe vai.

Ele agarra meus ombros e me pede: — Hallie, pega a sua amiga e dá o fora
daqui antes que Campone a encontre. — Sean me libera. — Este foi um aviso de
cortesia. Se você ficar por perto e Bryan for morto por sua causa, bem, é melhor

esperar que Victor a encontre antes de mim. — Seus olhos firmam em mim uma
vez com as suas intenções claras.

Eu fico lá por um segundo mal respirando. Nossos olhos estão bloqueados,
nós dois estamos desafiando, mas será que ele não sabe, Sean não sabe sobre seu
primo? Talvez eu devesse pegar Bryan e correr, mas não posso. Não enquanto ele
está doente. Ele vai precisar de ajuda e cuidados paliativos. Eu não posso dar-lhe
essas coisas se eu corro. Minha voz racha quando eu falo. — Eu não posso.

— Não é opcional.

— Não, você não entende. Eu não posso ir embora. Eu não posso correr
mais de Victor e não vou. Eu vou cuidar disso. Eu vou terminar o que comecei. —
Eu não tenho ideia de como, mas vou. Se eu não fizer isso, ele virá atrás de mim e
Maggie. O homem é cruel, ele nunca vai parar de nos caçar. Eu sei disso com
certeza.

Sean levanta a sobrancelha escura. — Você está louca? Você nunca vai ter
outra chance de matá-lo. Ele pensou que era insignificante antes, mas agora ele a
conhece melhor.

Eu me empurro passando por ele. — Eu vou cuidar disso. Ele não virá aqui,
e desta vez, quando eu matá-lo, ele vai morrer.

— Hallie. — Sean quase implora meu nome, quase, mas eu não paro.

Eu entro no quarto de Bryan e fecho a porta. Eu fico lá por um segundo e
derrubo minha cabeça para trás, respirando com dificuldade. Eu nunca soquei uma
pessoa antes. Agora eu simplesmente confessei ao mais assustador de todos os
Ferro que vou dar um fim no senhor das drogas mais notório da cidade. Super foda.

Eu ainda estou segurando o saco com café da manhã de Bryan. Quando
aperto o meu punho, o jornal faz um ruído de crepitação e ele se senta. Um belo
sorriso ilumina seu rosto pálido. — Hey, Menina Bonita. Para onde você correu?

— Para pegar o café da manhã e conseguir alguma sujeira em sua tia. Foi
uma manhã interessante. — Eu sorrio, preocupada com ele e entrego o saco.

— Sujeira na minha tia?

Balanço a cabeça e me sento ao lado dele na cama. — Sim, eu descobri
porque ela me odeia. Ela pensa que eu sei de algo todos esses anos, mas eu não
descobri o que eu sabia até esta manhã.

Bryan desembrulha o seu bagel enquanto estou falando e morde. Seus
firmes olhos verdes encontram os meus. Com a boca cheia, ele me pergunta. — E
então?

Eu penso em manter seu segredo, mas não sinto nenhuma lealdade para
com ela. Além disso, Bryan não vai contar a ninguém. — Ela é gay. Eu a peguei com
sua amante na cozinha de sua mãe esta manhã.

Seu queixo cai e o pedaço de bagel rola para fora da boca, indo para a
colcha. — De jeito nenhum.

Concordo com a cabeça e olho para o pedaço de comida. — Um choque e
tanto, hein?

— Claro que sim. Ela é tão recatada e adequada. — Seu nariz franze com o
pensamento da sua tia ser sexualmente algo.

— E, aparentemente, ela gosta de garotas.

Bryan pisca e sorri. — Bem, isso explica um monte de coisas.

— Sim, como por que ela ainda é casada e permite que prostitutas meio
vestidas andem pela sua casa.

Bryan sorri. — Claro, todo mundo gosta de um pouco de colírio para os
olhos.

Eu bato em seu ombro. — Bryan!

— Vamos lá, pense nisso. Houve uma garota naquela casa desde que Jon era
um bebê. É a família mais estranha que eu já vi. Minha mãe não teria tolerado. Eu
sempre me perguntei por que a tia Constance tolerava.

— Seu pai não tem uma puta coabitante?

Ele inclina a cabeça para mim. — Meu pai não tem tempo para isso. Ele está
muito ocupado ganhando dinheiro para ser incomodado com relacionamentos ou
senhoras de compra. Mas, ainda assim, a tia Connie gosta das garotas. Quem teria

pensado? — Ele balança a cabeça. — Então o que diabos eu vi no dia que
terminamos?

Boa pergunta. Eu suspiro e tenho uma boa ideia de para quem perguntar. Eu
sorrio grande. — Qual é o quarto que Constance usa quando está aqui?

Bryan parece confuso e então seus olhos se arregalam. — Você está louca?

— Só um pouco. — Eu rio e quase aperto meus dedos juntos.


CONTINUA

A luz do amanhecer brilha através das pesadas cortinas que revestem as paredes formando uma fina fenda de branco puro no tapete escuro. Eu fico olhando para ele, perdida em seus pensamentos. Perto de mim, Bryan está dormindo. Eu envolvo meus braços ao redor dele e seu corpo se parece tão forte. É por isso que isto é tão difícil. Não faz nenhum sentido. Para além da dor, eu não posso ver o que está acontecendo com ele. É interno. Seu corpo o está matando segundo a segundo. Eventualmente, ele irá respirar e não haverá outro. Eu não posso suportar a ideia.
Minha vida tem sido moldada por morte. Todo mundo que me importa, todos, exceto Maggie, partem. Eu escorrego para fora da cama, agarrando o meu telefone antes de ir para fundo do corredor. Eu envio uma mensagem de texto para ela, embora eu duvide que ela esteja acordada.
Eu digito: Estou com Bryan. Apenas verificando para ter certeza que está tudo bem.
Para minha surpresa ela envia uma mensagem de volta: Eu estou, mas tenho uma coisa horrível para lhe dizer.
Nada poderia ser pior do que perder Bryan. Eu digito de volta: Eu também.
Volto logo para casa e podemos conversar.
Ela responde: Ok.

 


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Eu enfio meu celular no bolso antes de pegar a camiseta de Bryan e a puxo
sobre minha cabeça. Eu enfio minhas mãos sob as mangas e vagueio pela mansão
até encontrar a cozinha. Sinto o cheiro do café e preciso desesperadamente de uma
xícara. Infelizmente, a besta “a tia” de Bryan está sentada à mesa com outra
mulher. Ambas estão vestidas em robe. Eu pisco conforme o choque lava seus
rostos. Eu não posso imaginar por que ela está aqui tão cedo, não vestida. Quão
estranho é isso?

Dentro de um batimento cardíaco, Constance está fora de seu assento e no
meu rosto. — Como você ousa desfilar na casa da minha irmã usando coisas do
meu sobrinho? Saia agora mesmo, sua puta! — Ela tenta bater no meu rosto, mas
eu agarro seu pulso.

As coisas finalmente clicam no lugar. A forma como as mulheres estavam
olhando uma para a outra, o toque de suas mãos, a forma como os seus olhos
permanecem naquele olhar fixo familiar, o fato de que ela está aqui, quando sua
irmã e cunhado já se foram e a forma como Constance se transforma em um tigre
quando ela me vê - faz sentido. Ela está escondendo um segredo há anos que
poderia arruiná-la para sempre. É por isso que ela suporta as infidelidades do Sr.
Ferro e porque permite que suas mulheres valsem pela sua casa.

Constance é gay - e esta mulher é sua amante. Ela pensou que eu soubesse,
mas eu nunca percebi antes.

Ela puxa sua mão do meu aperto e se prepara para começar a gritar
novamente. Eu a interrompo, cansada. — Eu não me importo com sua vida ou
suas preferências. Eu entendo que seja um tabu para você ser vista com ela. Eu
entendo isso, Constance, eu realmente entendo. Eu não a julgo por isso, então pare
de me julgar. A única coisa de que eu quero vocês é o café. — Eu caminho,
passando por ela.

O queixo de Constance está no chão. Sua namorada, uma mulher pelo menos
dez anos mais nova que ela, fica rígida, olhando-me com medo. Relações do mesmo
sexo podem ser ultramodernas e estarem na moda em Nova York, mas não entre
antigas famílias endinheiradas como esta. Isso a arruinaria. É por isso que ela me
odeia. Ela acha que eu tenho andado por aí esperando para soltar uma bomba em
sua vida.

Quando Constance fala, seu tom é cético: — Você sabe há muito tempo e não
disse nada. Por quê?

— Porque eu não me importo com você. — Eu mantenho minhas costas
para ela enquanto despejo o líquido escuro em uma xícara pesada. É muito cedo. As
pessoas normais não estão acordadas às cinco da manhã. Elas provavelmente
estavam tomando café da manhã antes de se separarem para o dia. Quando me viro

para falar, as duas mulheres estão me olhando mortificadas. — Eu me preocupo
com Bryan. Você não percebeu nada sobre ele que lhe diz respeito?

Seu olhar se estreita. — Não brinque comigo. Eu conheço minha família,
cada um deles.

— Sim, bem, você pode querer falar com ele. — Ela bloqueia seu maxilar,
preparando-se para ordenar que eu saia, mas eu acrescento: — O tempo é uma
coisa engraçada. Todos nós pensamos que temos uma tonelada dele até que seja
tirado de nós, então nos damos conta de que nunca foi o suficiente, para começar.
Use o tempo que você tem, Constance. Ame as pessoas que queira e se certifique de
que eles saibam disso. Chegará o dia em que você lamentará que não o fez e a
chance passou por você.

Ela endurece quando eu falo. — Você está me ameaçando?

Eu rio alto com o ridículo de sua declaração. Ela não tem nenhuma pista. Eu
estava me referindo a mim e Bryan, para a piscina constante de arrependimento
que enche meu estômago. Poderíamos ter estado juntos, mas essa oportunidade
está perdida agora, o tempo que nunca teremos.

— Você está tão errada sobre tudo, lacrada em sua pequena bolha, fora de
contato com o mundo real. Isso não é sobre você, então você acha que está segura,
mas você nunca está, não do tempo - não da morte. Seu sobrinho... — Eu engulo
em seco, mas não quebro o contato visual. — Certifique-se que sua mãe descubra.
Isso é tudo que eu quero.

A suposição de que eu estou fazendo é enorme - aquela que Elizabeth Ferro
se importará se seu filho vive ou morre. Bryan não contou a ninguém sobre sua
doença, exceto eu. Jon pode ver isso, mas os outros não têm ideia. Eu não sei
quanto tempo resta à Bryan, mas não quero que ele o gaste se preocupando ou
brigando. Eu quero estar lá para protegê-lo e, por alertar o Ferro de seu estado, eu
provavelmente só fiz isso mais difícil de acontecer - mas que é a coisa certa a fazer.
Se eu tivesse um segundo extra para gastar com o meu pai... O pensamento se
esconde em minha mente, sol a sol. Quando a noite lava o céu com tons roxos de
tinta e manchas de âmbar cintilante, eu gostaria de ter mais uma oportunidade de
dizer todas as coisas que nunca tive a chance de expressar. Agora, esses
pensamentos estão presos dentro da minha alma, me segurando cativa. Eu nunca

vou ser livre. Eu nunca tive a chance de dizer adeus. Eu estou dando aos Ferro essa
oportunidade e esperando além da esperança de que eles não me joguem para fora
na minha bunda em recompensa.

Empurrando de lado meus pensamentos, eu coloco meu copo vazio para
baixo e saio, deixando Constance e sua amante, boquiabertas, no meu despertar. As
duas mulheres atrás de mim são crianças brincando de casinha. Eu posso ser mais
jovem do que elas em anos, mas minha alma parece velha. É imaturo pensar que a
sua vida seja apenas sobre você. A vida é sobre as pessoas ao seu redor. Como eu
gostaria de nunca crescer, mas desejar é desperdício de tempo e eu me recuso a
desperdiçar mais um segundo.

Capítulo 2

Maggie e eu planejamos, através de mensagens de texto, nos encontrar em
algum lugar que tenha um bagel logo após o amanhecer. Os únicos carros no
estacionamento são da loja. O resto do centro de compras ainda está fechado. Eu
não espero muito tempo, quando ela se junta a mim no final da fila.

— Hey. — Diz Maggie, me envolvendo em um abraço.

Eu a abraço de volta, segurando-a um segundo muito longo. Ela vai fugir
novamente. Eu sei disso. Ela não lida bem com a morte também. Acho que
ninguém faz, mas Maggie viu muito dela. Quando eu a solto, me forço a perdoá-la
com antecedência. Uma alma só pode tomar tanto abuso antes que não possa
evitar, exceto reagir. É como o cão de Pavlov. A campainha da morte soa e Maggie
corre.

Eu enfio um pedaço de cabelo atrás da minha orelha e encosto contra a
vitrine de vidro, antes de enfiar as mãos nos bolsos. — Hey. Como tem passado?

A fila faz a volta para fora da porta e para baixo da frente do centro
comercial com pessoas que já pararam para um bagel e café em seu caminho para
o trabalho. A fila se aproxima alguns centímetros mais próxima da comida e nos
movemos com ela, antes de retornar nossas posições contra o vidro. Meu estômago
ronca com o cheiro de fermento e eu mal posso esperar para provar o pão macio,
quente e mordê-lo, saboreando o cream cheese espesso. Eu aprendi a não dar por
certo pequenas coisas. Bagels me ajudam a encontrar meu lugar feliz.

Eu pretendo pegar um para Bryan também - sementes de papoula com
manteiga, exatamente como ele pedia na escola. Viemos aqui tantas vezes. Eu fico
olhando para fora, no estacionamento, minha mente vagando em uma memória de
Bryan me levantando em um carrinho de compras e empurrando-me como um
louco pelo mercado, rindo o tempo todo.

Outro cliente perguntou: — Que corredor você a encontrou? Eu quero uma!

Bryan apenas sorriu, os olhos deslizando sobre mim no carrinho. —
Desculpe, cara. Esta era a única e é toda minha. Eu nunca a deixarei ir. — A

memória ecoa fortemente em meus ouvidos. Parece que poderia ter acontecido
ontem.

A voz de Maggie me encaixa de volta ao presente. Ela encolhe os ombros e
puxa a alça da bolsa para cima de seu ombro. — Eu estou bem. Acho que encontrei
um apartamento para nós, mas eu ouvi que Neil comprou para vocês uma casa. —
Ela faz uma cara de, bem, tenta não fazer uma cara, que faz sua expressão de dor
ainda pior. A fila se move de novo e, com um passo à frente, ela deixa escapar: —
Você realmente vai se casar com ele? Achei que você amasse Bryan? Parecia que
estava totalmente encantada com o gatinho do sexo. Bem, você é a gatinha.
Rapazes são o quê, tigres? Tigre sexual soa mal. — Ela ri, mas sua risada leve
desaparece quando ela vê o meu sorriso falso. — O que há de errado, Hallie?

Eu tento manter minha voz firme, mas treme sem minha permissão. Não há
nenhum ponto em protelar por mais tempo, e além disso, eu preciso dela. Mesmo
que ela vá correr, eu tenho que falar com alguém enquanto eu tiver a chance. —
Maggie, ele está morrendo.

— Mas, ele não pode estar! Ele... — Maggie deixa escapar muitas palavras de
uma só vez e quase começa a chorar. Ela é a pessoa mais empática que eu já
conheci. A minha dor está representada em seu rosto quando ela para, aperta
minha mão e me puxa para um abraço de urso que poderia explodir minha cabeça.
— Eu sinto muito, Hallie. — Ela enxuga as lágrimas com as costas da mão e olha
para o meu ombro, não querendo perguntar. Cada palavra é como se enfiasse uma
faca no meu lado. — O que há de errado com ele?

Eu a atualizo com o que sei que aconteceu até agora. Minha voz continua
difícil quando eu chego ao fim da história. — Nós terminamos por causa de sua tia
Constance. Ela achou que eu iria arruiná-la com informações que eu não deveria
saber, então ela descobriu uma maneira de nos separar. — A raiva eu não tinha
notado até agora borbulha sob a superfície da minha mente. Eu não vou ficar com
raiva, eu não posso ficar. Eu me recuso a perder meu tempo com ela ou o que ela
fez. — Maggie, eu não poderia me importar menos com ela, mas eu quis Bryan
todo esse tempo e não o tive por causa dela.

— E, no entanto, você não soa como louca. Você parece mais
assustadoramente tranquila sobre isso. — Uma sobrancelha vermelha levanta
levemente em sua testa sardenta.

Eu olho para ela conforme nos movemos com a fila para dentro da pequena
loja, e nos aproximamos da bandeja do pão assado. Maggie pede em primeiro lugar,
então eu peço e pago por nossos itens. Pegamos o nosso café da manhã, cortamos
de volta através da fila, para fora da porta, em direção ao estacionamento. Fico ali
na frente dela querendo falar, mas incapaz de encontrar palavras, em seguida,
entrego para ela o pão e suco de laranja.

Minha boca se abre duas vezes, mas as palavras não saem. Eu finalmente
olho nos olhos dela e explico. — Eu não estou louca. Bem, eu estou - mas não quero
estar. É um desperdício de tempo e eu não tenho tempo de sobra. Eu estou
pensando em ficar com ele, Maggie. Seja qual for o tempo que lhe resta, eu quero
estar lá.

— Eu entendo, e eu estou aqui para você. — Ela pega a minha mão, mas eu
não posso olhar para ela.

— Não faça promessas que não pode cumprir, Maggie.

— Eu estou as mantendo desta vez.

— Eu prefiro saber agora que você vai desaparecer. Eu posso lidar com isso
sozinha. Eu estou bem, realmente. Eu sei o que isso faz para você e... — Eu arranjo
desculpas para ela até que ela me corta.

— Não. A última vez eu não estava lá para você, porque Victor era um idiota.
Eu não tive escolha. Isso fazia parte da maneira como ele estava me controlando,
mas ele já se foi, Hallie. Eu não vou fugir. Eu estarei lá para você. Você não terá que
lidar com isso sozinha. Eu prometo. Podemos passar por qualquer coisa, você e
eu. Eu não vou deixar você Hallie. Nós somos irmãs. Eu vou estar lá neste
momento. — Ela sorri sem jeito e olha para o chão sob suas botas.

Ela muda o seu peso para o outro pé e olha para mim debaixo de muito
rímel. Sua boca fica aberta por um segundo e seus lábios enrolam, como se ela não
quisesse dizer o que está prestes a cair de sua boca. — Há algo que você precisa
saber, e eu não sei se você vai gostar ou não com tudo o que aconteceu, mas precisa

saber. Você precisa. E eu odeio dizer isso agora, mas talvez seja melhor assim. Eu
esperaria se eu achasse que ajudaria.

— Maggie, diga-me. O que é?

Ela puxa um monte de ar e cospe para fora. — Ontem à noite, enquanto você
não estava em casa, entrei e vi o que parecia ser Neil e Cecily fazendo coisas que
estava muito além da zona do amigo. — Seus lábios são esmagados em conjunto,
enquanto ela tenta permanecer inexpressiva. Eu posso dizer que ela quer castrar
Neil conforme ela luta para manter seus lábios em uma linha reta.

Eu pisco, e isso é tudo. A raiva não vomita da minha boca e minhas mãos
não estão cerradas em punhos. Eu não me sinto quebrada ou até mesmo chocada.

Eu não sinto nada.

Se eu amasse Neil, eu estaria irada, mas eu não estou. Concordo com a
cabeça.

O rosto preocupado de Maggie franze enquanto ela empurra seu brilhante
cabelo atrás da orelha. — Eu não sei se eu deveria dizer. Eu o odeio, mas pensei
que você gostava do cara. — Ela me olha com tal preocupação que eu não posso
deixar de sorrir para ela.

Meu olhar abaixa para o chão e eu tomo uma respiração profunda, antes de
dar-lhe um abraço de lado. Quando eu a deixo ir, murmuro: — Eu estou feliz que
você me disse. Desgraça pouca é bobagem, certo? — Eu ofereço um sorriso de
novo, mas é falso neste momento. Há muitas lembranças correndo pela minha
mente, e o movimento faz minha pele parecer como se fosse rachar.

— Yeah. — Ela ri. — Pelo menos não temos que nos preocupar com Victor.
Devo-lhe muito por isso. Os jornais disseram que um dos seus homens o matou no
meu apartamento. Se você não tivesse me arrastado para fora, naquela noite eu
teria levado um tiro, também.

Eu sou insensível ao que eu fiz, pelo menos no momento. Às vezes, quando
eu não consigo dormir, o pensamento de que fiz desliza em minha mente, não
desejado. Victor é um pesadelo que não vai morrer, mas não posso perder o meu
tempo.

— Somos eu e você, agora. — Eu digo a ela com firmeza. Ela sorri
tristemente para mim e assente. — Maggie, você pode ir a casa de Neil e pegar
minhas coisas? Há apenas algumas caixas. Eu nunca desembalei, não
realmente. Neil queria que eu fizesse, mas eu empurrei a maioria delas na parte de
trás de um armário. — Eu retiro minha bolsa e escrevo-lhe um cheque. — Isso
deve cobrir o aluguel do nosso novo apartamento e tudo o mais que
precisamos. Deixe-o bonito, ok? Vai ser bom ter um novo lugar bonito para ir para
casa quando isso acabar.

Maggie pega o cheque e olha para todos os zeros, antes de olhar para mim.
Uma mecha de cabelo vermelho cai na frente de seus olhos. — Hallie, eu não posso
aceitar isso.

— Sim, você pode. Vai fazê-lo. Precisamos de um lugar para viver. Eu
gostaria de ter mais a oferecer, mas essa discussão é para outro dia. Entretanto,
isso vai nos colocar em uma boa vizinhança e nós estaremos confortáveis.

— Você vai processar Neil e Cecily? Eles praticamente gastaram todo o seu
dinheiro.

Concordo com a cabeça. — Provavelmente, mas não agora. Eu preciso fazer
um telefonema. — Maggie balança a cabeça e eu disco para o meu banco enquanto
seguimos para o meu carro. Eu explico a um funcionário do banco muito prestativo
que o nome de Neil deve ser retirado da minha conta imediatamente e todas as
transações em andamento com a sua assinatura, devem ser transferidas para a sua
conta. Verificação conjunta foi ideia dele. Eu esfrego minhas mãos sobre meu rosto
e sento com força no capô do meu carro. A coisa está suja, mas eu não me
importo. O funcionário do banco me pede para ir em breve para assinar os papéis,
e fazer as alterações em minha conta oficial. Quando eu insisto que eles precisam
ser assinados agora, ela diz para vir quando for mais conveniente.

Eu desligo e olho fixamente para as portas fechadas da mercearia. — Eu não
posso fazer isso de novo, não tão cedo. — A perda do meu pai ainda paira pesado
em meu coração, ameaçando me puxar para baixo. Minha dor não diminuiu e a
fama não ajudou. A única coisa que me faz sentir melhor é Bryan e agora vou
perdê-lo também.

Eu não posso respirar. Inclinando minha cabeça para trás com os olhos
cheios de lágrimas, eu olho para o céu e as nuvens brancas onduladas. O céu estava
aqui muito antes de eu nascer e vai estar aqui muito tempo depois. Faz-me sentir
pequena, como se a minha vida não importasse em tudo.

Maggie me bate com sua bota. — Bagel?

— Eu não estou com fome. — Eu estava com fome apenas um momento
atrás, mas agora não sinto nada parecido com isso.

— Merda resistente. Eu estou cuidando de você, o que significa que você
come isso ou vou enfiar na sua cara. — Ela está sorrindo para mim. — Eu vou fazer
isso.

Eu roubo a minha comida de sua mão. — Eu sei que você vai. —
Desempacotando a coisa, dou uma mordida e percebo que eu estou morrendo de
fome.

— A vida não é sobre a morte, você sabe. — Diz Maggie de repente. Ela está
sentada ao meu lado no capô, olhando para uma nuvem, pegando arrancando
pedaços de seu bagel, e os jogando em sua boca um de cada vez.

— Então o que se trata? — Eu pensei que eu sabia em um ponto, mas não
tenho ideia, não mais. A vida parece uma piada cruel.

— É sobre as relações que você faz, a bondade que oferece e você mostrar
compaixão. É a sua chance de mostrar ao mundo quem você é e o que faz você.
Hallie, você é a pessoa mais forte que conheço. Em vez de sentar aqui chorando
comigo, você deve estar com Bryan. Aqui. — Ela me dá o bagel extra. — Cheque de
vez em quando e quando você precisar de mim, eu vou. Nesse meio tempo, vou
deixar nossa casa pronta, eu prometo. Nada me manterá longe desta vez. Quando
você precisar de mim, eu estarei lá - se estiver no hospital, a funerária ou apenas
quando você precisar de uma pausa.

Eu sinto uma vibe nervosa vindo dela. — Você não é fraca, Maggie. Somos
sobreviventes, eu e você. — Quando eu digo isso, quero dizer para confortá-la, mas
uma bola dá um nó na minha garganta.

Ela pega a minha mão e se inclina, descansando a cabeça no meu ombro. —
Nós vamos sobreviver a isto também “juntas”.

Capítulo 3

Eu não quero pensar em Neil, então eu volto para a mansão Ferro e me
esgueiro para dentro. Ainda é cedo. As únicas pessoas que vejo são os empregados.
Eles me veem e não dizem nada. Deve ser estranho viver como uma estátua dia
após dia, sem ninguém, mas outros funcionários, na verdade, reconhecem que você
é humano. Eu não posso evitar isso. Eu sorrio para o mordomo que está sempre
ocupado, correndo para algum lugar. Ele inclina a cabeça em saudação, mas não
abranda.

Depois que ele passa, se vira para trás. — Você precisa de alguma coisa, Sra.
Raymond?

Eu sorrio e balanço a cabeça. — Não, é apenas bom vê-lo. — Eu olho para
ele. Este homem tem sido constante na vida de Bryan por anos. Eu me pergunto se
ele sabe que Bryan tem um segredo, porque nada lhe escapa, pelo menos não
quando éramos mais jovens. Eu me lembro de receber olhares severos dele quando
éramos muito jovens e fazíamos coisas muito loucas, enquanto a mãe de Bryan não
estava por perto. Mas o cara nunca nos entregou.

— Da mesma forma, Sra. Raymond. Diga ao Sr. Ferro que se ele precisar de
ajuda pode pedir qualquer coisa para mim. — Seus olhos perfuraram os meus por
um momento antes que ele olhe para o lado.

Ele sabe.

Concordo com a cabeça e vou para o modo de super mocinha. Antes que eu
possa me parar, lanço o meu corpo para ele e meus braços em volta do velho,
abraçando-o em um abraço de urso em estilo desleixado. Ele endurece com choque
e, em seguida, dá um tapinha minhas costas. — As pessoas vão dizer-lhe que ele
vai ficar bem. Ao longo dos próximos meses, você vai ouvir isso de novo e de novo,
mas a perda não é assim que funciona. As coisas não vão voltar ao normal, mas a
vida continua. Converse com ele sobre isso, enquanto você tem a chance.

Meu queixo cai. — O quê? Isso seria tão mau. Eu não posso...

— Isso não é o problema meu, mas se você fosse minha filha, era o que eu
diria a você. Tempos sombrios estão chegando, se este homem é o seu raio de luz,
mergulhe no sol tanto quanto puder e quando puder.

Acho que entendo o que ele quer dizer, então balanço minha cabeça para
cima e para baixo lentamente. Falar sobre a morte com alguém que está morrendo
é o que ele quer dizer. Vamos acabar discutindo todas as coisas que queríamos
fazer, mas nunca teremos a chance. Minha garganta aperta com o pensamento e os
meus olhos lacrimejam. — Obrigada.

— Qualquer hora, Sra. Raymond. — Ele inclina a cabeça para mim como se
eu fosse uma rainha e se vira para correr para longe.

Eu não gosto da sua sugestão, mas parte dela me chama. E se a gente falar
sobre isso? Eu balanço minha cabeça e aperto as mãos. Não! Eu não quero! Isso não
é justo e não posso simplesmente aceitar que vou perdê-lo - não depois que
finalmente nos encontramos novamente. Não depois de todo esse tempo.

No momento que estou dentro da mansão de Bryan, paro na porta. Minha
intenção era ir à ponta dos pés para o quarto de Bryan, mas sou presa pelo Ferro
que eu mais temo - Sean. Ele está encostado na parede, os braços cruzados sobre o
peito. Ele se parece com sua mãe, toda acusação não dita claramente visível em
seus olhos. Suas roupas escuras - casaco de couro, calça jeans, camisa preta e botas
shitkicker. — Você e eu temos algo a discutir.

Minha intenção é passar por ele. — Não tenho nada para lhe dizer.

Sean libera seus braços e caminha em minha frente. Ele é silencioso e letal,
com vibes malucas irradiando dele como micro ondas. Ding! — Bem, eu tenho algo
que você precisa ouvir - sobre um homem chamado Victor. — Minha respiração
para na minha garganta enquanto minhas mãos vão para o meu coração. Sean me
puxa pela curva do meu cotovelo para longe da porta de Bryan. — Sim, eu achei
que você soubesse alguma coisa sobre isso. Os jornais estão dizendo que um dos
seus homens o matou, mas os policiais estão bisbilhotando, me fazendo perguntas
sobre um traficante de merda. Eu não gosto de policiais e não gosto ainda menos
de perguntas. Então, me diga, como é que eles rastrearam até aqui? O que você
deixou para trás?

Eu rio, mas ele ignora. — Você acha que eu o matei? — Estou pressionando
meus dedos em meu peito, piscando, com meu queixo caído. Embora seja um
excelente desempenho, algo que me afasta. Sean pode ver isso.

Ele dá um passo no meu espaço de uma maneira ameaçadora. Sua voz
ressoa: — Eu sei que você o matou.

— Não, você não sabe. — Eu agarro, tentando me empurrar por ele
novamente, mas Sean não me deixa passar. Ele bloqueia o lugar com seu corpo
maciço.

Inclinando-se perto do meu rosto, ele sussurra baixinho: — Se eu sei, a
minha mãe sabe e você não quer pegadas sujas que levam direto para a porta da
frente. Você precisa se separar de Bryan e sair daqui antes que descubram isso.

Eu balanço minha cabeça e mordo meu lábio inferior. Eu provavelmente
pareci como um moleque teimoso, mas não vou deixar Bryan.

Os olhos de Sean travam com os meus e sua voz cai para um sussurro letal.
— Eu posso fazê-la desaparecer.

Algo desperta dentro de mim, essa mesma característica de proteção que
me fez cortar a garganta de Victor, em primeiro lugar. Minha coluna se endireita e
eu fico na frente do seu rosto. — Da mesma forma.

Depois de um momento de reflexão, o homem na verdade ri. Sean esfrega o
queixo com a mão. Eu não posso dizer se ele está se divertindo ou pensa que sou
louca. Ele finalmente pergunta: — Por que você fez isso?

— Por que você acha? O homem era um estuprador assassino. Vamos
apenas dizer que eu estava no lugar errado na hora errada. Acidentes acontecem e
eu não ia deixar que qualquer outra coisa acontecesse com a minha amiga. Ela é a
única família que me resta. — Eu sugo o ar, tentando inchar, então não sou tão
pequena, mas em comparação com Sean Ferro, sou um palito.

Seus olhos azuis mudam para o lado antes que ele passe as mãos pelo
cabelo. — Então, você protegeu sua família, deixe-me proteger a minha. Vá
embora. Não puxe Bryan para isso.

— Para quê? Os mortos não puxam qualquer um para qualquer coisa.

— Victor Campone está vivo.

Capítulo 4

Um pequeno grito escapa dos meus lábios e eu quase caio no chão. Meus
joelhos cedem, mas antes de eu ir para baixo, Sean agarra meus braços. Ele me
mantém de pé e continua suavemente. — Os policiais suspeitam que ele esteja
vivo. No momento em que chegaram lá, o corpo tinha desaparecido. Devido à
quantidade de sangue que encontraram, sua suposição natural era que um de seus
homens o matou e jogou o corpo. Os policiais ainda estavam indo por esse caminho
até recentemente, quando pegaram Campone bisbilhotando meu hotel. Então, a
menos que viram um fantasma, o homem ainda está vivo.

— Ele não pode estar. — Eu balanço minha cabeça e meus olhos vidrados
quando me lembro daquela noite. A quantidade de sangue, a forma que sua cabeça
pendia para trás e a ferida era tão profunda. — Não é possível.

Sean suspira e olha para mim com uma expressão que está perdida em
algum lugar entre pena e admiração. Inclinando-se perto, ele diz: — O corte foi
muito superficial. É como apontar para o coração e não acertar. O cara foi
subestimado, os que estavam dispostos e aceitaram fazer isso uma vez, mas ele não
vai ser subestimado novamente. E eu aposto qualquer coisa que ele vai
permanecer morto por um tempo, deixar que os outros façam o trabalho sujo, até
que lhe convenha encenar uma ressurreição.

— Como você sabe tudo isso?

Ele engole em seco, seu olhar se afastando e depois de volta para os meus
olhos. — Periodicamente nossos empreendimentos comerciais se sobrepõem. Eu
ouço coisas. E posso dizer-lhe que se eu ouvi, minha mãe ouviu e você com certeza
não quer irritá-la. Se Campone acabar aqui, você está morta. Se ele não te matar,
minha mãe vai.

Ele agarra meus ombros e me pede: — Hallie, pega a sua amiga e dá o fora
daqui antes que Campone a encontre. — Sean me libera. — Este foi um aviso de
cortesia. Se você ficar por perto e Bryan for morto por sua causa, bem, é melhor

esperar que Victor a encontre antes de mim. — Seus olhos firmam em mim uma
vez com as suas intenções claras.

Eu fico lá por um segundo mal respirando. Nossos olhos estão bloqueados,
nós dois estamos desafiando, mas será que ele não sabe, Sean não sabe sobre seu
primo? Talvez eu devesse pegar Bryan e correr, mas não posso. Não enquanto ele
está doente. Ele vai precisar de ajuda e cuidados paliativos. Eu não posso dar-lhe
essas coisas se eu corro. Minha voz racha quando eu falo. — Eu não posso.

— Não é opcional.

— Não, você não entende. Eu não posso ir embora. Eu não posso correr
mais de Victor e não vou. Eu vou cuidar disso. Eu vou terminar o que comecei. —
Eu não tenho ideia de como, mas vou. Se eu não fizer isso, ele virá atrás de mim e
Maggie. O homem é cruel, ele nunca vai parar de nos caçar. Eu sei disso com
certeza.

Sean levanta a sobrancelha escura. — Você está louca? Você nunca vai ter
outra chance de matá-lo. Ele pensou que era insignificante antes, mas agora ele a
conhece melhor.

Eu me empurro passando por ele. — Eu vou cuidar disso. Ele não virá aqui,
e desta vez, quando eu matá-lo, ele vai morrer.

— Hallie. — Sean quase implora meu nome, quase, mas eu não paro.

Eu entro no quarto de Bryan e fecho a porta. Eu fico lá por um segundo e
derrubo minha cabeça para trás, respirando com dificuldade. Eu nunca soquei uma
pessoa antes. Agora eu simplesmente confessei ao mais assustador de todos os
Ferro que vou dar um fim no senhor das drogas mais notório da cidade. Super foda.

Eu ainda estou segurando o saco com café da manhã de Bryan. Quando
aperto o meu punho, o jornal faz um ruído de crepitação e ele se senta. Um belo
sorriso ilumina seu rosto pálido. — Hey, Menina Bonita. Para onde você correu?

— Para pegar o café da manhã e conseguir alguma sujeira em sua tia. Foi
uma manhã interessante. — Eu sorrio, preocupada com ele e entrego o saco.

— Sujeira na minha tia?

Balanço a cabeça e me sento ao lado dele na cama. — Sim, eu descobri
porque ela me odeia. Ela pensa que eu sei de algo todos esses anos, mas eu não
descobri o que eu sabia até esta manhã.

Bryan desembrulha o seu bagel enquanto estou falando e morde. Seus
firmes olhos verdes encontram os meus. Com a boca cheia, ele me pergunta. — E
então?

Eu penso em manter seu segredo, mas não sinto nenhuma lealdade para
com ela. Além disso, Bryan não vai contar a ninguém. — Ela é gay. Eu a peguei com
sua amante na cozinha de sua mãe esta manhã.

Seu queixo cai e o pedaço de bagel rola para fora da boca, indo para a
colcha. — De jeito nenhum.

Concordo com a cabeça e olho para o pedaço de comida. — Um choque e
tanto, hein?

— Claro que sim. Ela é tão recatada e adequada. — Seu nariz franze com o
pensamento da sua tia ser sexualmente algo.

— E, aparentemente, ela gosta de garotas.

Bryan pisca e sorri. — Bem, isso explica um monte de coisas.

— Sim, como por que ela ainda é casada e permite que prostitutas meio
vestidas andem pela sua casa.

Bryan sorri. — Claro, todo mundo gosta de um pouco de colírio para os
olhos.

Eu bato em seu ombro. — Bryan!

— Vamos lá, pense nisso. Houve uma garota naquela casa desde que Jon era
um bebê. É a família mais estranha que eu já vi. Minha mãe não teria tolerado. Eu
sempre me perguntei por que a tia Constance tolerava.

— Seu pai não tem uma puta coabitante?

Ele inclina a cabeça para mim. — Meu pai não tem tempo para isso. Ele está
muito ocupado ganhando dinheiro para ser incomodado com relacionamentos ou
senhoras de compra. Mas, ainda assim, a tia Connie gosta das garotas. Quem teria

pensado? — Ele balança a cabeça. — Então o que diabos eu vi no dia que
terminamos?

Boa pergunta. Eu suspiro e tenho uma boa ideia de para quem perguntar. Eu
sorrio grande. — Qual é o quarto que Constance usa quando está aqui?

Bryan parece confuso e então seus olhos se arregalam. — Você está louca?

— Só um pouco. — Eu rio e quase aperto meus dedos juntos.


CONTINUA

A luz do amanhecer brilha através das pesadas cortinas que revestem as paredes formando uma fina fenda de branco puro no tapete escuro. Eu fico olhando para ele, perdida em seus pensamentos. Perto de mim, Bryan está dormindo. Eu envolvo meus braços ao redor dele e seu corpo se parece tão forte. É por isso que isto é tão difícil. Não faz nenhum sentido. Para além da dor, eu não posso ver o que está acontecendo com ele. É interno. Seu corpo o está matando segundo a segundo. Eventualmente, ele irá respirar e não haverá outro. Eu não posso suportar a ideia.
Minha vida tem sido moldada por morte. Todo mundo que me importa, todos, exceto Maggie, partem. Eu escorrego para fora da cama, agarrando o meu telefone antes de ir para fundo do corredor. Eu envio uma mensagem de texto para ela, embora eu duvide que ela esteja acordada.
Eu digito: Estou com Bryan. Apenas verificando para ter certeza que está tudo bem.
Para minha surpresa ela envia uma mensagem de volta: Eu estou, mas tenho uma coisa horrível para lhe dizer.
Nada poderia ser pior do que perder Bryan. Eu digito de volta: Eu também.
Volto logo para casa e podemos conversar.
Ela responde: Ok.

 


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Eu enfio meu celular no bolso antes de pegar a camiseta de Bryan e a puxo
sobre minha cabeça. Eu enfio minhas mãos sob as mangas e vagueio pela mansão
até encontrar a cozinha. Sinto o cheiro do café e preciso desesperadamente de uma
xícara. Infelizmente, a besta “a tia” de Bryan está sentada à mesa com outra
mulher. Ambas estão vestidas em robe. Eu pisco conforme o choque lava seus
rostos. Eu não posso imaginar por que ela está aqui tão cedo, não vestida. Quão
estranho é isso?

Dentro de um batimento cardíaco, Constance está fora de seu assento e no
meu rosto. — Como você ousa desfilar na casa da minha irmã usando coisas do
meu sobrinho? Saia agora mesmo, sua puta! — Ela tenta bater no meu rosto, mas
eu agarro seu pulso.

As coisas finalmente clicam no lugar. A forma como as mulheres estavam
olhando uma para a outra, o toque de suas mãos, a forma como os seus olhos
permanecem naquele olhar fixo familiar, o fato de que ela está aqui, quando sua
irmã e cunhado já se foram e a forma como Constance se transforma em um tigre
quando ela me vê - faz sentido. Ela está escondendo um segredo há anos que
poderia arruiná-la para sempre. É por isso que ela suporta as infidelidades do Sr.
Ferro e porque permite que suas mulheres valsem pela sua casa.

Constance é gay - e esta mulher é sua amante. Ela pensou que eu soubesse,
mas eu nunca percebi antes.

Ela puxa sua mão do meu aperto e se prepara para começar a gritar
novamente. Eu a interrompo, cansada. — Eu não me importo com sua vida ou
suas preferências. Eu entendo que seja um tabu para você ser vista com ela. Eu
entendo isso, Constance, eu realmente entendo. Eu não a julgo por isso, então pare
de me julgar. A única coisa de que eu quero vocês é o café. — Eu caminho,
passando por ela.

O queixo de Constance está no chão. Sua namorada, uma mulher pelo menos
dez anos mais nova que ela, fica rígida, olhando-me com medo. Relações do mesmo
sexo podem ser ultramodernas e estarem na moda em Nova York, mas não entre
antigas famílias endinheiradas como esta. Isso a arruinaria. É por isso que ela me
odeia. Ela acha que eu tenho andado por aí esperando para soltar uma bomba em
sua vida.

Quando Constance fala, seu tom é cético: — Você sabe há muito tempo e não
disse nada. Por quê?

— Porque eu não me importo com você. — Eu mantenho minhas costas
para ela enquanto despejo o líquido escuro em uma xícara pesada. É muito cedo. As
pessoas normais não estão acordadas às cinco da manhã. Elas provavelmente
estavam tomando café da manhã antes de se separarem para o dia. Quando me viro

para falar, as duas mulheres estão me olhando mortificadas. — Eu me preocupo
com Bryan. Você não percebeu nada sobre ele que lhe diz respeito?

Seu olhar se estreita. — Não brinque comigo. Eu conheço minha família,
cada um deles.

— Sim, bem, você pode querer falar com ele. — Ela bloqueia seu maxilar,
preparando-se para ordenar que eu saia, mas eu acrescento: — O tempo é uma
coisa engraçada. Todos nós pensamos que temos uma tonelada dele até que seja
tirado de nós, então nos damos conta de que nunca foi o suficiente, para começar.
Use o tempo que você tem, Constance. Ame as pessoas que queira e se certifique de
que eles saibam disso. Chegará o dia em que você lamentará que não o fez e a
chance passou por você.

Ela endurece quando eu falo. — Você está me ameaçando?

Eu rio alto com o ridículo de sua declaração. Ela não tem nenhuma pista. Eu
estava me referindo a mim e Bryan, para a piscina constante de arrependimento
que enche meu estômago. Poderíamos ter estado juntos, mas essa oportunidade
está perdida agora, o tempo que nunca teremos.

— Você está tão errada sobre tudo, lacrada em sua pequena bolha, fora de
contato com o mundo real. Isso não é sobre você, então você acha que está segura,
mas você nunca está, não do tempo - não da morte. Seu sobrinho... — Eu engulo
em seco, mas não quebro o contato visual. — Certifique-se que sua mãe descubra.
Isso é tudo que eu quero.

A suposição de que eu estou fazendo é enorme - aquela que Elizabeth Ferro
se importará se seu filho vive ou morre. Bryan não contou a ninguém sobre sua
doença, exceto eu. Jon pode ver isso, mas os outros não têm ideia. Eu não sei
quanto tempo resta à Bryan, mas não quero que ele o gaste se preocupando ou
brigando. Eu quero estar lá para protegê-lo e, por alertar o Ferro de seu estado, eu
provavelmente só fiz isso mais difícil de acontecer - mas que é a coisa certa a fazer.
Se eu tivesse um segundo extra para gastar com o meu pai... O pensamento se
esconde em minha mente, sol a sol. Quando a noite lava o céu com tons roxos de
tinta e manchas de âmbar cintilante, eu gostaria de ter mais uma oportunidade de
dizer todas as coisas que nunca tive a chance de expressar. Agora, esses
pensamentos estão presos dentro da minha alma, me segurando cativa. Eu nunca

vou ser livre. Eu nunca tive a chance de dizer adeus. Eu estou dando aos Ferro essa
oportunidade e esperando além da esperança de que eles não me joguem para fora
na minha bunda em recompensa.

Empurrando de lado meus pensamentos, eu coloco meu copo vazio para
baixo e saio, deixando Constance e sua amante, boquiabertas, no meu despertar. As
duas mulheres atrás de mim são crianças brincando de casinha. Eu posso ser mais
jovem do que elas em anos, mas minha alma parece velha. É imaturo pensar que a
sua vida seja apenas sobre você. A vida é sobre as pessoas ao seu redor. Como eu
gostaria de nunca crescer, mas desejar é desperdício de tempo e eu me recuso a
desperdiçar mais um segundo.

Capítulo 2

Maggie e eu planejamos, através de mensagens de texto, nos encontrar em
algum lugar que tenha um bagel logo após o amanhecer. Os únicos carros no
estacionamento são da loja. O resto do centro de compras ainda está fechado. Eu
não espero muito tempo, quando ela se junta a mim no final da fila.

— Hey. — Diz Maggie, me envolvendo em um abraço.

Eu a abraço de volta, segurando-a um segundo muito longo. Ela vai fugir
novamente. Eu sei disso. Ela não lida bem com a morte também. Acho que
ninguém faz, mas Maggie viu muito dela. Quando eu a solto, me forço a perdoá-la
com antecedência. Uma alma só pode tomar tanto abuso antes que não possa
evitar, exceto reagir. É como o cão de Pavlov. A campainha da morte soa e Maggie
corre.

Eu enfio um pedaço de cabelo atrás da minha orelha e encosto contra a
vitrine de vidro, antes de enfiar as mãos nos bolsos. — Hey. Como tem passado?

A fila faz a volta para fora da porta e para baixo da frente do centro
comercial com pessoas que já pararam para um bagel e café em seu caminho para
o trabalho. A fila se aproxima alguns centímetros mais próxima da comida e nos
movemos com ela, antes de retornar nossas posições contra o vidro. Meu estômago
ronca com o cheiro de fermento e eu mal posso esperar para provar o pão macio,
quente e mordê-lo, saboreando o cream cheese espesso. Eu aprendi a não dar por
certo pequenas coisas. Bagels me ajudam a encontrar meu lugar feliz.

Eu pretendo pegar um para Bryan também - sementes de papoula com
manteiga, exatamente como ele pedia na escola. Viemos aqui tantas vezes. Eu fico
olhando para fora, no estacionamento, minha mente vagando em uma memória de
Bryan me levantando em um carrinho de compras e empurrando-me como um
louco pelo mercado, rindo o tempo todo.

Outro cliente perguntou: — Que corredor você a encontrou? Eu quero uma!

Bryan apenas sorriu, os olhos deslizando sobre mim no carrinho. —
Desculpe, cara. Esta era a única e é toda minha. Eu nunca a deixarei ir. — A

memória ecoa fortemente em meus ouvidos. Parece que poderia ter acontecido
ontem.

A voz de Maggie me encaixa de volta ao presente. Ela encolhe os ombros e
puxa a alça da bolsa para cima de seu ombro. — Eu estou bem. Acho que encontrei
um apartamento para nós, mas eu ouvi que Neil comprou para vocês uma casa. —
Ela faz uma cara de, bem, tenta não fazer uma cara, que faz sua expressão de dor
ainda pior. A fila se move de novo e, com um passo à frente, ela deixa escapar: —
Você realmente vai se casar com ele? Achei que você amasse Bryan? Parecia que
estava totalmente encantada com o gatinho do sexo. Bem, você é a gatinha.
Rapazes são o quê, tigres? Tigre sexual soa mal. — Ela ri, mas sua risada leve
desaparece quando ela vê o meu sorriso falso. — O que há de errado, Hallie?

Eu tento manter minha voz firme, mas treme sem minha permissão. Não há
nenhum ponto em protelar por mais tempo, e além disso, eu preciso dela. Mesmo
que ela vá correr, eu tenho que falar com alguém enquanto eu tiver a chance. —
Maggie, ele está morrendo.

— Mas, ele não pode estar! Ele... — Maggie deixa escapar muitas palavras de
uma só vez e quase começa a chorar. Ela é a pessoa mais empática que eu já
conheci. A minha dor está representada em seu rosto quando ela para, aperta
minha mão e me puxa para um abraço de urso que poderia explodir minha cabeça.
— Eu sinto muito, Hallie. — Ela enxuga as lágrimas com as costas da mão e olha
para o meu ombro, não querendo perguntar. Cada palavra é como se enfiasse uma
faca no meu lado. — O que há de errado com ele?

Eu a atualizo com o que sei que aconteceu até agora. Minha voz continua
difícil quando eu chego ao fim da história. — Nós terminamos por causa de sua tia
Constance. Ela achou que eu iria arruiná-la com informações que eu não deveria
saber, então ela descobriu uma maneira de nos separar. — A raiva eu não tinha
notado até agora borbulha sob a superfície da minha mente. Eu não vou ficar com
raiva, eu não posso ficar. Eu me recuso a perder meu tempo com ela ou o que ela
fez. — Maggie, eu não poderia me importar menos com ela, mas eu quis Bryan
todo esse tempo e não o tive por causa dela.

— E, no entanto, você não soa como louca. Você parece mais
assustadoramente tranquila sobre isso. — Uma sobrancelha vermelha levanta
levemente em sua testa sardenta.

Eu olho para ela conforme nos movemos com a fila para dentro da pequena
loja, e nos aproximamos da bandeja do pão assado. Maggie pede em primeiro lugar,
então eu peço e pago por nossos itens. Pegamos o nosso café da manhã, cortamos
de volta através da fila, para fora da porta, em direção ao estacionamento. Fico ali
na frente dela querendo falar, mas incapaz de encontrar palavras, em seguida,
entrego para ela o pão e suco de laranja.

Minha boca se abre duas vezes, mas as palavras não saem. Eu finalmente
olho nos olhos dela e explico. — Eu não estou louca. Bem, eu estou - mas não quero
estar. É um desperdício de tempo e eu não tenho tempo de sobra. Eu estou
pensando em ficar com ele, Maggie. Seja qual for o tempo que lhe resta, eu quero
estar lá.

— Eu entendo, e eu estou aqui para você. — Ela pega a minha mão, mas eu
não posso olhar para ela.

— Não faça promessas que não pode cumprir, Maggie.

— Eu estou as mantendo desta vez.

— Eu prefiro saber agora que você vai desaparecer. Eu posso lidar com isso
sozinha. Eu estou bem, realmente. Eu sei o que isso faz para você e... — Eu arranjo
desculpas para ela até que ela me corta.

— Não. A última vez eu não estava lá para você, porque Victor era um idiota.
Eu não tive escolha. Isso fazia parte da maneira como ele estava me controlando,
mas ele já se foi, Hallie. Eu não vou fugir. Eu estarei lá para você. Você não terá que
lidar com isso sozinha. Eu prometo. Podemos passar por qualquer coisa, você e
eu. Eu não vou deixar você Hallie. Nós somos irmãs. Eu vou estar lá neste
momento. — Ela sorri sem jeito e olha para o chão sob suas botas.

Ela muda o seu peso para o outro pé e olha para mim debaixo de muito
rímel. Sua boca fica aberta por um segundo e seus lábios enrolam, como se ela não
quisesse dizer o que está prestes a cair de sua boca. — Há algo que você precisa
saber, e eu não sei se você vai gostar ou não com tudo o que aconteceu, mas precisa

saber. Você precisa. E eu odeio dizer isso agora, mas talvez seja melhor assim. Eu
esperaria se eu achasse que ajudaria.

— Maggie, diga-me. O que é?

Ela puxa um monte de ar e cospe para fora. — Ontem à noite, enquanto você
não estava em casa, entrei e vi o que parecia ser Neil e Cecily fazendo coisas que
estava muito além da zona do amigo. — Seus lábios são esmagados em conjunto,
enquanto ela tenta permanecer inexpressiva. Eu posso dizer que ela quer castrar
Neil conforme ela luta para manter seus lábios em uma linha reta.

Eu pisco, e isso é tudo. A raiva não vomita da minha boca e minhas mãos
não estão cerradas em punhos. Eu não me sinto quebrada ou até mesmo chocada.

Eu não sinto nada.

Se eu amasse Neil, eu estaria irada, mas eu não estou. Concordo com a
cabeça.

O rosto preocupado de Maggie franze enquanto ela empurra seu brilhante
cabelo atrás da orelha. — Eu não sei se eu deveria dizer. Eu o odeio, mas pensei
que você gostava do cara. — Ela me olha com tal preocupação que eu não posso
deixar de sorrir para ela.

Meu olhar abaixa para o chão e eu tomo uma respiração profunda, antes de
dar-lhe um abraço de lado. Quando eu a deixo ir, murmuro: — Eu estou feliz que
você me disse. Desgraça pouca é bobagem, certo? — Eu ofereço um sorriso de
novo, mas é falso neste momento. Há muitas lembranças correndo pela minha
mente, e o movimento faz minha pele parecer como se fosse rachar.

— Yeah. — Ela ri. — Pelo menos não temos que nos preocupar com Victor.
Devo-lhe muito por isso. Os jornais disseram que um dos seus homens o matou no
meu apartamento. Se você não tivesse me arrastado para fora, naquela noite eu
teria levado um tiro, também.

Eu sou insensível ao que eu fiz, pelo menos no momento. Às vezes, quando
eu não consigo dormir, o pensamento de que fiz desliza em minha mente, não
desejado. Victor é um pesadelo que não vai morrer, mas não posso perder o meu
tempo.

— Somos eu e você, agora. — Eu digo a ela com firmeza. Ela sorri
tristemente para mim e assente. — Maggie, você pode ir a casa de Neil e pegar
minhas coisas? Há apenas algumas caixas. Eu nunca desembalei, não
realmente. Neil queria que eu fizesse, mas eu empurrei a maioria delas na parte de
trás de um armário. — Eu retiro minha bolsa e escrevo-lhe um cheque. — Isso
deve cobrir o aluguel do nosso novo apartamento e tudo o mais que
precisamos. Deixe-o bonito, ok? Vai ser bom ter um novo lugar bonito para ir para
casa quando isso acabar.

Maggie pega o cheque e olha para todos os zeros, antes de olhar para mim.
Uma mecha de cabelo vermelho cai na frente de seus olhos. — Hallie, eu não posso
aceitar isso.

— Sim, você pode. Vai fazê-lo. Precisamos de um lugar para viver. Eu
gostaria de ter mais a oferecer, mas essa discussão é para outro dia. Entretanto,
isso vai nos colocar em uma boa vizinhança e nós estaremos confortáveis.

— Você vai processar Neil e Cecily? Eles praticamente gastaram todo o seu
dinheiro.

Concordo com a cabeça. — Provavelmente, mas não agora. Eu preciso fazer
um telefonema. — Maggie balança a cabeça e eu disco para o meu banco enquanto
seguimos para o meu carro. Eu explico a um funcionário do banco muito prestativo
que o nome de Neil deve ser retirado da minha conta imediatamente e todas as
transações em andamento com a sua assinatura, devem ser transferidas para a sua
conta. Verificação conjunta foi ideia dele. Eu esfrego minhas mãos sobre meu rosto
e sento com força no capô do meu carro. A coisa está suja, mas eu não me
importo. O funcionário do banco me pede para ir em breve para assinar os papéis,
e fazer as alterações em minha conta oficial. Quando eu insisto que eles precisam
ser assinados agora, ela diz para vir quando for mais conveniente.

Eu desligo e olho fixamente para as portas fechadas da mercearia. — Eu não
posso fazer isso de novo, não tão cedo. — A perda do meu pai ainda paira pesado
em meu coração, ameaçando me puxar para baixo. Minha dor não diminuiu e a
fama não ajudou. A única coisa que me faz sentir melhor é Bryan e agora vou
perdê-lo também.

Eu não posso respirar. Inclinando minha cabeça para trás com os olhos
cheios de lágrimas, eu olho para o céu e as nuvens brancas onduladas. O céu estava
aqui muito antes de eu nascer e vai estar aqui muito tempo depois. Faz-me sentir
pequena, como se a minha vida não importasse em tudo.

Maggie me bate com sua bota. — Bagel?

— Eu não estou com fome. — Eu estava com fome apenas um momento
atrás, mas agora não sinto nada parecido com isso.

— Merda resistente. Eu estou cuidando de você, o que significa que você
come isso ou vou enfiar na sua cara. — Ela está sorrindo para mim. — Eu vou fazer
isso.

Eu roubo a minha comida de sua mão. — Eu sei que você vai. —
Desempacotando a coisa, dou uma mordida e percebo que eu estou morrendo de
fome.

— A vida não é sobre a morte, você sabe. — Diz Maggie de repente. Ela está
sentada ao meu lado no capô, olhando para uma nuvem, pegando arrancando
pedaços de seu bagel, e os jogando em sua boca um de cada vez.

— Então o que se trata? — Eu pensei que eu sabia em um ponto, mas não
tenho ideia, não mais. A vida parece uma piada cruel.

— É sobre as relações que você faz, a bondade que oferece e você mostrar
compaixão. É a sua chance de mostrar ao mundo quem você é e o que faz você.
Hallie, você é a pessoa mais forte que conheço. Em vez de sentar aqui chorando
comigo, você deve estar com Bryan. Aqui. — Ela me dá o bagel extra. — Cheque de
vez em quando e quando você precisar de mim, eu vou. Nesse meio tempo, vou
deixar nossa casa pronta, eu prometo. Nada me manterá longe desta vez. Quando
você precisar de mim, eu estarei lá - se estiver no hospital, a funerária ou apenas
quando você precisar de uma pausa.

Eu sinto uma vibe nervosa vindo dela. — Você não é fraca, Maggie. Somos
sobreviventes, eu e você. — Quando eu digo isso, quero dizer para confortá-la, mas
uma bola dá um nó na minha garganta.

Ela pega a minha mão e se inclina, descansando a cabeça no meu ombro. —
Nós vamos sobreviver a isto também “juntas”.

Capítulo 3

Eu não quero pensar em Neil, então eu volto para a mansão Ferro e me
esgueiro para dentro. Ainda é cedo. As únicas pessoas que vejo são os empregados.
Eles me veem e não dizem nada. Deve ser estranho viver como uma estátua dia
após dia, sem ninguém, mas outros funcionários, na verdade, reconhecem que você
é humano. Eu não posso evitar isso. Eu sorrio para o mordomo que está sempre
ocupado, correndo para algum lugar. Ele inclina a cabeça em saudação, mas não
abranda.

Depois que ele passa, se vira para trás. — Você precisa de alguma coisa, Sra.
Raymond?

Eu sorrio e balanço a cabeça. — Não, é apenas bom vê-lo. — Eu olho para
ele. Este homem tem sido constante na vida de Bryan por anos. Eu me pergunto se
ele sabe que Bryan tem um segredo, porque nada lhe escapa, pelo menos não
quando éramos mais jovens. Eu me lembro de receber olhares severos dele quando
éramos muito jovens e fazíamos coisas muito loucas, enquanto a mãe de Bryan não
estava por perto. Mas o cara nunca nos entregou.

— Da mesma forma, Sra. Raymond. Diga ao Sr. Ferro que se ele precisar de
ajuda pode pedir qualquer coisa para mim. — Seus olhos perfuraram os meus por
um momento antes que ele olhe para o lado.

Ele sabe.

Concordo com a cabeça e vou para o modo de super mocinha. Antes que eu
possa me parar, lanço o meu corpo para ele e meus braços em volta do velho,
abraçando-o em um abraço de urso em estilo desleixado. Ele endurece com choque
e, em seguida, dá um tapinha minhas costas. — As pessoas vão dizer-lhe que ele
vai ficar bem. Ao longo dos próximos meses, você vai ouvir isso de novo e de novo,
mas a perda não é assim que funciona. As coisas não vão voltar ao normal, mas a
vida continua. Converse com ele sobre isso, enquanto você tem a chance.

Meu queixo cai. — O quê? Isso seria tão mau. Eu não posso...

— Isso não é o problema meu, mas se você fosse minha filha, era o que eu
diria a você. Tempos sombrios estão chegando, se este homem é o seu raio de luz,
mergulhe no sol tanto quanto puder e quando puder.

Acho que entendo o que ele quer dizer, então balanço minha cabeça para
cima e para baixo lentamente. Falar sobre a morte com alguém que está morrendo
é o que ele quer dizer. Vamos acabar discutindo todas as coisas que queríamos
fazer, mas nunca teremos a chance. Minha garganta aperta com o pensamento e os
meus olhos lacrimejam. — Obrigada.

— Qualquer hora, Sra. Raymond. — Ele inclina a cabeça para mim como se
eu fosse uma rainha e se vira para correr para longe.

Eu não gosto da sua sugestão, mas parte dela me chama. E se a gente falar
sobre isso? Eu balanço minha cabeça e aperto as mãos. Não! Eu não quero! Isso não
é justo e não posso simplesmente aceitar que vou perdê-lo - não depois que
finalmente nos encontramos novamente. Não depois de todo esse tempo.

No momento que estou dentro da mansão de Bryan, paro na porta. Minha
intenção era ir à ponta dos pés para o quarto de Bryan, mas sou presa pelo Ferro
que eu mais temo - Sean. Ele está encostado na parede, os braços cruzados sobre o
peito. Ele se parece com sua mãe, toda acusação não dita claramente visível em
seus olhos. Suas roupas escuras - casaco de couro, calça jeans, camisa preta e botas
shitkicker. — Você e eu temos algo a discutir.

Minha intenção é passar por ele. — Não tenho nada para lhe dizer.

Sean libera seus braços e caminha em minha frente. Ele é silencioso e letal,
com vibes malucas irradiando dele como micro ondas. Ding! — Bem, eu tenho algo
que você precisa ouvir - sobre um homem chamado Victor. — Minha respiração
para na minha garganta enquanto minhas mãos vão para o meu coração. Sean me
puxa pela curva do meu cotovelo para longe da porta de Bryan. — Sim, eu achei
que você soubesse alguma coisa sobre isso. Os jornais estão dizendo que um dos
seus homens o matou, mas os policiais estão bisbilhotando, me fazendo perguntas
sobre um traficante de merda. Eu não gosto de policiais e não gosto ainda menos
de perguntas. Então, me diga, como é que eles rastrearam até aqui? O que você
deixou para trás?

Eu rio, mas ele ignora. — Você acha que eu o matei? — Estou pressionando
meus dedos em meu peito, piscando, com meu queixo caído. Embora seja um
excelente desempenho, algo que me afasta. Sean pode ver isso.

Ele dá um passo no meu espaço de uma maneira ameaçadora. Sua voz
ressoa: — Eu sei que você o matou.

— Não, você não sabe. — Eu agarro, tentando me empurrar por ele
novamente, mas Sean não me deixa passar. Ele bloqueia o lugar com seu corpo
maciço.

Inclinando-se perto do meu rosto, ele sussurra baixinho: — Se eu sei, a
minha mãe sabe e você não quer pegadas sujas que levam direto para a porta da
frente. Você precisa se separar de Bryan e sair daqui antes que descubram isso.

Eu balanço minha cabeça e mordo meu lábio inferior. Eu provavelmente
pareci como um moleque teimoso, mas não vou deixar Bryan.

Os olhos de Sean travam com os meus e sua voz cai para um sussurro letal.
— Eu posso fazê-la desaparecer.

Algo desperta dentro de mim, essa mesma característica de proteção que
me fez cortar a garganta de Victor, em primeiro lugar. Minha coluna se endireita e
eu fico na frente do seu rosto. — Da mesma forma.

Depois de um momento de reflexão, o homem na verdade ri. Sean esfrega o
queixo com a mão. Eu não posso dizer se ele está se divertindo ou pensa que sou
louca. Ele finalmente pergunta: — Por que você fez isso?

— Por que você acha? O homem era um estuprador assassino. Vamos
apenas dizer que eu estava no lugar errado na hora errada. Acidentes acontecem e
eu não ia deixar que qualquer outra coisa acontecesse com a minha amiga. Ela é a
única família que me resta. — Eu sugo o ar, tentando inchar, então não sou tão
pequena, mas em comparação com Sean Ferro, sou um palito.

Seus olhos azuis mudam para o lado antes que ele passe as mãos pelo
cabelo. — Então, você protegeu sua família, deixe-me proteger a minha. Vá
embora. Não puxe Bryan para isso.

— Para quê? Os mortos não puxam qualquer um para qualquer coisa.

— Victor Campone está vivo.

Capítulo 4

Um pequeno grito escapa dos meus lábios e eu quase caio no chão. Meus
joelhos cedem, mas antes de eu ir para baixo, Sean agarra meus braços. Ele me
mantém de pé e continua suavemente. — Os policiais suspeitam que ele esteja
vivo. No momento em que chegaram lá, o corpo tinha desaparecido. Devido à
quantidade de sangue que encontraram, sua suposição natural era que um de seus
homens o matou e jogou o corpo. Os policiais ainda estavam indo por esse caminho
até recentemente, quando pegaram Campone bisbilhotando meu hotel. Então, a
menos que viram um fantasma, o homem ainda está vivo.

— Ele não pode estar. — Eu balanço minha cabeça e meus olhos vidrados
quando me lembro daquela noite. A quantidade de sangue, a forma que sua cabeça
pendia para trás e a ferida era tão profunda. — Não é possível.

Sean suspira e olha para mim com uma expressão que está perdida em
algum lugar entre pena e admiração. Inclinando-se perto, ele diz: — O corte foi
muito superficial. É como apontar para o coração e não acertar. O cara foi
subestimado, os que estavam dispostos e aceitaram fazer isso uma vez, mas ele não
vai ser subestimado novamente. E eu aposto qualquer coisa que ele vai
permanecer morto por um tempo, deixar que os outros façam o trabalho sujo, até
que lhe convenha encenar uma ressurreição.

— Como você sabe tudo isso?

Ele engole em seco, seu olhar se afastando e depois de volta para os meus
olhos. — Periodicamente nossos empreendimentos comerciais se sobrepõem. Eu
ouço coisas. E posso dizer-lhe que se eu ouvi, minha mãe ouviu e você com certeza
não quer irritá-la. Se Campone acabar aqui, você está morta. Se ele não te matar,
minha mãe vai.

Ele agarra meus ombros e me pede: — Hallie, pega a sua amiga e dá o fora
daqui antes que Campone a encontre. — Sean me libera. — Este foi um aviso de
cortesia. Se você ficar por perto e Bryan for morto por sua causa, bem, é melhor

esperar que Victor a encontre antes de mim. — Seus olhos firmam em mim uma
vez com as suas intenções claras.

Eu fico lá por um segundo mal respirando. Nossos olhos estão bloqueados,
nós dois estamos desafiando, mas será que ele não sabe, Sean não sabe sobre seu
primo? Talvez eu devesse pegar Bryan e correr, mas não posso. Não enquanto ele
está doente. Ele vai precisar de ajuda e cuidados paliativos. Eu não posso dar-lhe
essas coisas se eu corro. Minha voz racha quando eu falo. — Eu não posso.

— Não é opcional.

— Não, você não entende. Eu não posso ir embora. Eu não posso correr
mais de Victor e não vou. Eu vou cuidar disso. Eu vou terminar o que comecei. —
Eu não tenho ideia de como, mas vou. Se eu não fizer isso, ele virá atrás de mim e
Maggie. O homem é cruel, ele nunca vai parar de nos caçar. Eu sei disso com
certeza.

Sean levanta a sobrancelha escura. — Você está louca? Você nunca vai ter
outra chance de matá-lo. Ele pensou que era insignificante antes, mas agora ele a
conhece melhor.

Eu me empurro passando por ele. — Eu vou cuidar disso. Ele não virá aqui,
e desta vez, quando eu matá-lo, ele vai morrer.

— Hallie. — Sean quase implora meu nome, quase, mas eu não paro.

Eu entro no quarto de Bryan e fecho a porta. Eu fico lá por um segundo e
derrubo minha cabeça para trás, respirando com dificuldade. Eu nunca soquei uma
pessoa antes. Agora eu simplesmente confessei ao mais assustador de todos os
Ferro que vou dar um fim no senhor das drogas mais notório da cidade. Super foda.

Eu ainda estou segurando o saco com café da manhã de Bryan. Quando
aperto o meu punho, o jornal faz um ruído de crepitação e ele se senta. Um belo
sorriso ilumina seu rosto pálido. — Hey, Menina Bonita. Para onde você correu?

— Para pegar o café da manhã e conseguir alguma sujeira em sua tia. Foi
uma manhã interessante. — Eu sorrio, preocupada com ele e entrego o saco.

— Sujeira na minha tia?

Balanço a cabeça e me sento ao lado dele na cama. — Sim, eu descobri
porque ela me odeia. Ela pensa que eu sei de algo todos esses anos, mas eu não
descobri o que eu sabia até esta manhã.

Bryan desembrulha o seu bagel enquanto estou falando e morde. Seus
firmes olhos verdes encontram os meus. Com a boca cheia, ele me pergunta. — E
então?

Eu penso em manter seu segredo, mas não sinto nenhuma lealdade para
com ela. Além disso, Bryan não vai contar a ninguém. — Ela é gay. Eu a peguei com
sua amante na cozinha de sua mãe esta manhã.

Seu queixo cai e o pedaço de bagel rola para fora da boca, indo para a
colcha. — De jeito nenhum.

Concordo com a cabeça e olho para o pedaço de comida. — Um choque e
tanto, hein?

— Claro que sim. Ela é tão recatada e adequada. — Seu nariz franze com o
pensamento da sua tia ser sexualmente algo.

— E, aparentemente, ela gosta de garotas.

Bryan pisca e sorri. — Bem, isso explica um monte de coisas.

— Sim, como por que ela ainda é casada e permite que prostitutas meio
vestidas andem pela sua casa.

Bryan sorri. — Claro, todo mundo gosta de um pouco de colírio para os
olhos.

Eu bato em seu ombro. — Bryan!

— Vamos lá, pense nisso. Houve uma garota naquela casa desde que Jon era
um bebê. É a família mais estranha que eu já vi. Minha mãe não teria tolerado. Eu
sempre me perguntei por que a tia Constance tolerava.

— Seu pai não tem uma puta coabitante?

Ele inclina a cabeça para mim. — Meu pai não tem tempo para isso. Ele está
muito ocupado ganhando dinheiro para ser incomodado com relacionamentos ou
senhoras de compra. Mas, ainda assim, a tia Connie gosta das garotas. Quem teria

pensado? — Ele balança a cabeça. — Então o que diabos eu vi no dia que
terminamos?

Boa pergunta. Eu suspiro e tenho uma boa ideia de para quem perguntar. Eu
sorrio grande. — Qual é o quarto que Constance usa quando está aqui?

Bryan parece confuso e então seus olhos se arregalam. — Você está louca?

— Só um pouco. — Eu rio e quase aperto meus dedos juntos.


CONTINUA

A luz do amanhecer brilha através das pesadas cortinas que revestem as paredes formando uma fina fenda de branco puro no tapete escuro. Eu fico olhando para ele, perdida em seus pensamentos. Perto de mim, Bryan está dormindo. Eu envolvo meus braços ao redor dele e seu corpo se parece tão forte. É por isso que isto é tão difícil. Não faz nenhum sentido. Para além da dor, eu não posso ver o que está acontecendo com ele. É interno. Seu corpo o está matando segundo a segundo. Eventualmente, ele irá respirar e não haverá outro. Eu não posso suportar a ideia.
Minha vida tem sido moldada por morte. Todo mundo que me importa, todos, exceto Maggie, partem. Eu escorrego para fora da cama, agarrando o meu telefone antes de ir para fundo do corredor. Eu envio uma mensagem de texto para ela, embora eu duvide que ela esteja acordada.
Eu digito: Estou com Bryan. Apenas verificando para ter certeza que está tudo bem.
Para minha surpresa ela envia uma mensagem de volta: Eu estou, mas tenho uma coisa horrível para lhe dizer.
Nada poderia ser pior do que perder Bryan. Eu digito de volta: Eu também.
Volto logo para casa e podemos conversar.
Ela responde: Ok.

 


https://img.comunidades.net/bib/bibliotecasemlimites/5_A_PROPOSI_O.jpg

 


Eu enfio meu celular no bolso antes de pegar a camiseta de Bryan e a puxo
sobre minha cabeça. Eu enfio minhas mãos sob as mangas e vagueio pela mansão
até encontrar a cozinha. Sinto o cheiro do café e preciso desesperadamente de uma
xícara. Infelizmente, a besta “a tia” de Bryan está sentada à mesa com outra
mulher. Ambas estão vestidas em robe. Eu pisco conforme o choque lava seus
rostos. Eu não posso imaginar por que ela está aqui tão cedo, não vestida. Quão
estranho é isso?

Dentro de um batimento cardíaco, Constance está fora de seu assento e no
meu rosto. — Como você ousa desfilar na casa da minha irmã usando coisas do
meu sobrinho? Saia agora mesmo, sua puta! — Ela tenta bater no meu rosto, mas
eu agarro seu pulso.

As coisas finalmente clicam no lugar. A forma como as mulheres estavam
olhando uma para a outra, o toque de suas mãos, a forma como os seus olhos
permanecem naquele olhar fixo familiar, o fato de que ela está aqui, quando sua
irmã e cunhado já se foram e a forma como Constance se transforma em um tigre
quando ela me vê - faz sentido. Ela está escondendo um segredo há anos que
poderia arruiná-la para sempre. É por isso que ela suporta as infidelidades do Sr.
Ferro e porque permite que suas mulheres valsem pela sua casa.

Constance é gay - e esta mulher é sua amante. Ela pensou que eu soubesse,
mas eu nunca percebi antes.

Ela puxa sua mão do meu aperto e se prepara para começar a gritar
novamente. Eu a interrompo, cansada. — Eu não me importo com sua vida ou
suas preferências. Eu entendo que seja um tabu para você ser vista com ela. Eu
entendo isso, Constance, eu realmente entendo. Eu não a julgo por isso, então pare
de me julgar. A única coisa de que eu quero vocês é o café. — Eu caminho,
passando por ela.

O queixo de Constance está no chão. Sua namorada, uma mulher pelo menos
dez anos mais nova que ela, fica rígida, olhando-me com medo. Relações do mesmo
sexo podem ser ultramodernas e estarem na moda em Nova York, mas não entre
antigas famílias endinheiradas como esta. Isso a arruinaria. É por isso que ela me
odeia. Ela acha que eu tenho andado por aí esperando para soltar uma bomba em
sua vida.

Quando Constance fala, seu tom é cético: — Você sabe há muito tempo e não
disse nada. Por quê?

— Porque eu não me importo com você. — Eu mantenho minhas costas
para ela enquanto despejo o líquido escuro em uma xícara pesada. É muito cedo. As
pessoas normais não estão acordadas às cinco da manhã. Elas provavelmente
estavam tomando café da manhã antes de se separarem para o dia. Quando me viro

para falar, as duas mulheres estão me olhando mortificadas. — Eu me preocupo
com Bryan. Você não percebeu nada sobre ele que lhe diz respeito?

Seu olhar se estreita. — Não brinque comigo. Eu conheço minha família,
cada um deles.

— Sim, bem, você pode querer falar com ele. — Ela bloqueia seu maxilar,
preparando-se para ordenar que eu saia, mas eu acrescento: — O tempo é uma
coisa engraçada. Todos nós pensamos que temos uma tonelada dele até que seja
tirado de nós, então nos damos conta de que nunca foi o suficiente, para começar.
Use o tempo que você tem, Constance. Ame as pessoas que queira e se certifique de
que eles saibam disso. Chegará o dia em que você lamentará que não o fez e a
chance passou por você.

Ela endurece quando eu falo. — Você está me ameaçando?

Eu rio alto com o ridículo de sua declaração. Ela não tem nenhuma pista. Eu
estava me referindo a mim e Bryan, para a piscina constante de arrependimento
que enche meu estômago. Poderíamos ter estado juntos, mas essa oportunidade
está perdida agora, o tempo que nunca teremos.

— Você está tão errada sobre tudo, lacrada em sua pequena bolha, fora de
contato com o mundo real. Isso não é sobre você, então você acha que está segura,
mas você nunca está, não do tempo - não da morte. Seu sobrinho... — Eu engulo
em seco, mas não quebro o contato visual. — Certifique-se que sua mãe descubra.
Isso é tudo que eu quero.

A suposição de que eu estou fazendo é enorme - aquela que Elizabeth Ferro
se importará se seu filho vive ou morre. Bryan não contou a ninguém sobre sua
doença, exceto eu. Jon pode ver isso, mas os outros não têm ideia. Eu não sei
quanto tempo resta à Bryan, mas não quero que ele o gaste se preocupando ou
brigando. Eu quero estar lá para protegê-lo e, por alertar o Ferro de seu estado, eu
provavelmente só fiz isso mais difícil de acontecer - mas que é a coisa certa a fazer.
Se eu tivesse um segundo extra para gastar com o meu pai... O pensamento se
esconde em minha mente, sol a sol. Quando a noite lava o céu com tons roxos de
tinta e manchas de âmbar cintilante, eu gostaria de ter mais uma oportunidade de
dizer todas as coisas que nunca tive a chance de expressar. Agora, esses
pensamentos estão presos dentro da minha alma, me segurando cativa. Eu nunca

vou ser livre. Eu nunca tive a chance de dizer adeus. Eu estou dando aos Ferro essa
oportunidade e esperando além da esperança de que eles não me joguem para fora
na minha bunda em recompensa.

Empurrando de lado meus pensamentos, eu coloco meu copo vazio para
baixo e saio, deixando Constance e sua amante, boquiabertas, no meu despertar. As
duas mulheres atrás de mim são crianças brincando de casinha. Eu posso ser mais
jovem do que elas em anos, mas minha alma parece velha. É imaturo pensar que a
sua vida seja apenas sobre você. A vida é sobre as pessoas ao seu redor. Como eu
gostaria de nunca crescer, mas desejar é desperdício de tempo e eu me recuso a
desperdiçar mais um segundo.

Capítulo 2

Maggie e eu planejamos, através de mensagens de texto, nos encontrar em
algum lugar que tenha um bagel logo após o amanhecer. Os únicos carros no
estacionamento são da loja. O resto do centro de compras ainda está fechado. Eu
não espero muito tempo, quando ela se junta a mim no final da fila.

— Hey. — Diz Maggie, me envolvendo em um abraço.

Eu a abraço de volta, segurando-a um segundo muito longo. Ela vai fugir
novamente. Eu sei disso. Ela não lida bem com a morte também. Acho que
ninguém faz, mas Maggie viu muito dela. Quando eu a solto, me forço a perdoá-la
com antecedência. Uma alma só pode tomar tanto abuso antes que não possa
evitar, exceto reagir. É como o cão de Pavlov. A campainha da morte soa e Maggie
corre.

Eu enfio um pedaço de cabelo atrás da minha orelha e encosto contra a
vitrine de vidro, antes de enfiar as mãos nos bolsos. — Hey. Como tem passado?

A fila faz a volta para fora da porta e para baixo da frente do centro
comercial com pessoas que já pararam para um bagel e café em seu caminho para
o trabalho. A fila se aproxima alguns centímetros mais próxima da comida e nos
movemos com ela, antes de retornar nossas posições contra o vidro. Meu estômago
ronca com o cheiro de fermento e eu mal posso esperar para provar o pão macio,
quente e mordê-lo, saboreando o cream cheese espesso. Eu aprendi a não dar por
certo pequenas coisas. Bagels me ajudam a encontrar meu lugar feliz.

Eu pretendo pegar um para Bryan também - sementes de papoula com
manteiga, exatamente como ele pedia na escola. Viemos aqui tantas vezes. Eu fico
olhando para fora, no estacionamento, minha mente vagando em uma memória de
Bryan me levantando em um carrinho de compras e empurrando-me como um
louco pelo mercado, rindo o tempo todo.

Outro cliente perguntou: — Que corredor você a encontrou? Eu quero uma!

Bryan apenas sorriu, os olhos deslizando sobre mim no carrinho. —
Desculpe, cara. Esta era a única e é toda minha. Eu nunca a deixarei ir. — A

memória ecoa fortemente em meus ouvidos. Parece que poderia ter acontecido
ontem.

A voz de Maggie me encaixa de volta ao presente. Ela encolhe os ombros e
puxa a alça da bolsa para cima de seu ombro. — Eu estou bem. Acho que encontrei
um apartamento para nós, mas eu ouvi que Neil comprou para vocês uma casa. —
Ela faz uma cara de, bem, tenta não fazer uma cara, que faz sua expressão de dor
ainda pior. A fila se move de novo e, com um passo à frente, ela deixa escapar: —
Você realmente vai se casar com ele? Achei que você amasse Bryan? Parecia que
estava totalmente encantada com o gatinho do sexo. Bem, você é a gatinha.
Rapazes são o quê, tigres? Tigre sexual soa mal. — Ela ri, mas sua risada leve
desaparece quando ela vê o meu sorriso falso. — O que há de errado, Hallie?

Eu tento manter minha voz firme, mas treme sem minha permissão. Não há
nenhum ponto em protelar por mais tempo, e além disso, eu preciso dela. Mesmo
que ela vá correr, eu tenho que falar com alguém enquanto eu tiver a chance. —
Maggie, ele está morrendo.

— Mas, ele não pode estar! Ele... — Maggie deixa escapar muitas palavras de
uma só vez e quase começa a chorar. Ela é a pessoa mais empática que eu já
conheci. A minha dor está representada em seu rosto quando ela para, aperta
minha mão e me puxa para um abraço de urso que poderia explodir minha cabeça.
— Eu sinto muito, Hallie. — Ela enxuga as lágrimas com as costas da mão e olha
para o meu ombro, não querendo perguntar. Cada palavra é como se enfiasse uma
faca no meu lado. — O que há de errado com ele?

Eu a atualizo com o que sei que aconteceu até agora. Minha voz continua
difícil quando eu chego ao fim da história. — Nós terminamos por causa de sua tia
Constance. Ela achou que eu iria arruiná-la com informações que eu não deveria
saber, então ela descobriu uma maneira de nos separar. — A raiva eu não tinha
notado até agora borbulha sob a superfície da minha mente. Eu não vou ficar com
raiva, eu não posso ficar. Eu me recuso a perder meu tempo com ela ou o que ela
fez. — Maggie, eu não poderia me importar menos com ela, mas eu quis Bryan
todo esse tempo e não o tive por causa dela.

— E, no entanto, você não soa como louca. Você parece mais
assustadoramente tranquila sobre isso. — Uma sobrancelha vermelha levanta
levemente em sua testa sardenta.

Eu olho para ela conforme nos movemos com a fila para dentro da pequena
loja, e nos aproximamos da bandeja do pão assado. Maggie pede em primeiro lugar,
então eu peço e pago por nossos itens. Pegamos o nosso café da manhã, cortamos
de volta através da fila, para fora da porta, em direção ao estacionamento. Fico ali
na frente dela querendo falar, mas incapaz de encontrar palavras, em seguida,
entrego para ela o pão e suco de laranja.

Minha boca se abre duas vezes, mas as palavras não saem. Eu finalmente
olho nos olhos dela e explico. — Eu não estou louca. Bem, eu estou - mas não quero
estar. É um desperdício de tempo e eu não tenho tempo de sobra. Eu estou
pensando em ficar com ele, Maggie. Seja qual for o tempo que lhe resta, eu quero
estar lá.

— Eu entendo, e eu estou aqui para você. — Ela pega a minha mão, mas eu
não posso olhar para ela.

— Não faça promessas que não pode cumprir, Maggie.

— Eu estou as mantendo desta vez.

— Eu prefiro saber agora que você vai desaparecer. Eu posso lidar com isso
sozinha. Eu estou bem, realmente. Eu sei o que isso faz para você e... — Eu arranjo
desculpas para ela até que ela me corta.

— Não. A última vez eu não estava lá para você, porque Victor era um idiota.
Eu não tive escolha. Isso fazia parte da maneira como ele estava me controlando,
mas ele já se foi, Hallie. Eu não vou fugir. Eu estarei lá para você. Você não terá que
lidar com isso sozinha. Eu prometo. Podemos passar por qualquer coisa, você e
eu. Eu não vou deixar você Hallie. Nós somos irmãs. Eu vou estar lá neste
momento. — Ela sorri sem jeito e olha para o chão sob suas botas.

Ela muda o seu peso para o outro pé e olha para mim debaixo de muito
rímel. Sua boca fica aberta por um segundo e seus lábios enrolam, como se ela não
quisesse dizer o que está prestes a cair de sua boca. — Há algo que você precisa
saber, e eu não sei se você vai gostar ou não com tudo o que aconteceu, mas precisa

saber. Você precisa. E eu odeio dizer isso agora, mas talvez seja melhor assim. Eu
esperaria se eu achasse que ajudaria.

— Maggie, diga-me. O que é?

Ela puxa um monte de ar e cospe para fora. — Ontem à noite, enquanto você
não estava em casa, entrei e vi o que parecia ser Neil e Cecily fazendo coisas que
estava muito além da zona do amigo. — Seus lábios são esmagados em conjunto,
enquanto ela tenta permanecer inexpressiva. Eu posso dizer que ela quer castrar
Neil conforme ela luta para manter seus lábios em uma linha reta.

Eu pisco, e isso é tudo. A raiva não vomita da minha boca e minhas mãos
não estão cerradas em punhos. Eu não me sinto quebrada ou até mesmo chocada.

Eu não sinto nada.

Se eu amasse Neil, eu estaria irada, mas eu não estou. Concordo com a
cabeça.

O rosto preocupado de Maggie franze enquanto ela empurra seu brilhante
cabelo atrás da orelha. — Eu não sei se eu deveria dizer. Eu o odeio, mas pensei
que você gostava do cara. — Ela me olha com tal preocupação que eu não posso
deixar de sorrir para ela.

Meu olhar abaixa para o chão e eu tomo uma respiração profunda, antes de
dar-lhe um abraço de lado. Quando eu a deixo ir, murmuro: — Eu estou feliz que
você me disse. Desgraça pouca é bobagem, certo? — Eu ofereço um sorriso de
novo, mas é falso neste momento. Há muitas lembranças correndo pela minha
mente, e o movimento faz minha pele parecer como se fosse rachar.

— Yeah. — Ela ri. — Pelo menos não temos que nos preocupar com Victor.
Devo-lhe muito por isso. Os jornais disseram que um dos seus homens o matou no
meu apartamento. Se você não tivesse me arrastado para fora, naquela noite eu
teria levado um tiro, também.

Eu sou insensível ao que eu fiz, pelo menos no momento. Às vezes, quando
eu não consigo dormir, o pensamento de que fiz desliza em minha mente, não
desejado. Victor é um pesadelo que não vai morrer, mas não posso perder o meu
tempo.

— Somos eu e você, agora. — Eu digo a ela com firmeza. Ela sorri
tristemente para mim e assente. — Maggie, você pode ir a casa de Neil e pegar
minhas coisas? Há apenas algumas caixas. Eu nunca desembalei, não
realmente. Neil queria que eu fizesse, mas eu empurrei a maioria delas na parte de
trás de um armário. — Eu retiro minha bolsa e escrevo-lhe um cheque. — Isso
deve cobrir o aluguel do nosso novo apartamento e tudo o mais que
precisamos. Deixe-o bonito, ok? Vai ser bom ter um novo lugar bonito para ir para
casa quando isso acabar.

Maggie pega o cheque e olha para todos os zeros, antes de olhar para mim.
Uma mecha de cabelo vermelho cai na frente de seus olhos. — Hallie, eu não posso
aceitar isso.

— Sim, você pode. Vai fazê-lo. Precisamos de um lugar para viver. Eu
gostaria de ter mais a oferecer, mas essa discussão é para outro dia. Entretanto,
isso vai nos colocar em uma boa vizinhança e nós estaremos confortáveis.

— Você vai processar Neil e Cecily? Eles praticamente gastaram todo o seu
dinheiro.

Concordo com a cabeça. — Provavelmente, mas não agora. Eu preciso fazer
um telefonema. — Maggie balança a cabeça e eu disco para o meu banco enquanto
seguimos para o meu carro. Eu explico a um funcionário do banco muito prestativo
que o nome de Neil deve ser retirado da minha conta imediatamente e todas as
transações em andamento com a sua assinatura, devem ser transferidas para a sua
conta. Verificação conjunta foi ideia dele. Eu esfrego minhas mãos sobre meu rosto
e sento com força no capô do meu carro. A coisa está suja, mas eu não me
importo. O funcionário do banco me pede para ir em breve para assinar os papéis,
e fazer as alterações em minha conta oficial. Quando eu insisto que eles precisam
ser assinados agora, ela diz para vir quando for mais conveniente.

Eu desligo e olho fixamente para as portas fechadas da mercearia. — Eu não
posso fazer isso de novo, não tão cedo. — A perda do meu pai ainda paira pesado
em meu coração, ameaçando me puxar para baixo. Minha dor não diminuiu e a
fama não ajudou. A única coisa que me faz sentir melhor é Bryan e agora vou
perdê-lo também.

Eu não posso respirar. Inclinando minha cabeça para trás com os olhos
cheios de lágrimas, eu olho para o céu e as nuvens brancas onduladas. O céu estava
aqui muito antes de eu nascer e vai estar aqui muito tempo depois. Faz-me sentir
pequena, como se a minha vida não importasse em tudo.

Maggie me bate com sua bota. — Bagel?

— Eu não estou com fome. — Eu estava com fome apenas um momento
atrás, mas agora não sinto nada parecido com isso.

— Merda resistente. Eu estou cuidando de você, o que significa que você
come isso ou vou enfiar na sua cara. — Ela está sorrindo para mim. — Eu vou fazer
isso.

Eu roubo a minha comida de sua mão. — Eu sei que você vai. —
Desempacotando a coisa, dou uma mordida e percebo que eu estou morrendo de
fome.

— A vida não é sobre a morte, você sabe. — Diz Maggie de repente. Ela está
sentada ao meu lado no capô, olhando para uma nuvem, pegando arrancando
pedaços de seu bagel, e os jogando em sua boca um de cada vez.

— Então o que se trata? — Eu pensei que eu sabia em um ponto, mas não
tenho ideia, não mais. A vida parece uma piada cruel.

— É sobre as relações que você faz, a bondade que oferece e você mostrar
compaixão. É a sua chance de mostrar ao mundo quem você é e o que faz você.
Hallie, você é a pessoa mais forte que conheço. Em vez de sentar aqui chorando
comigo, você deve estar com Bryan. Aqui. — Ela me dá o bagel extra. — Cheque de
vez em quando e quando você precisar de mim, eu vou. Nesse meio tempo, vou
deixar nossa casa pronta, eu prometo. Nada me manterá longe desta vez. Quando
você precisar de mim, eu estarei lá - se estiver no hospital, a funerária ou apenas
quando você precisar de uma pausa.

Eu sinto uma vibe nervosa vindo dela. — Você não é fraca, Maggie. Somos
sobreviventes, eu e você. — Quando eu digo isso, quero dizer para confortá-la, mas
uma bola dá um nó na minha garganta.

Ela pega a minha mão e se inclina, descansando a cabeça no meu ombro. —
Nós vamos sobreviver a isto também “juntas”.

Capítulo 3

Eu não quero pensar em Neil, então eu volto para a mansão Ferro e me
esgueiro para dentro. Ainda é cedo. As únicas pessoas que vejo são os empregados.
Eles me veem e não dizem nada. Deve ser estranho viver como uma estátua dia
após dia, sem ninguém, mas outros funcionários, na verdade, reconhecem que você
é humano. Eu não posso evitar isso. Eu sorrio para o mordomo que está sempre
ocupado, correndo para algum lugar. Ele inclina a cabeça em saudação, mas não
abranda.

Depois que ele passa, se vira para trás. — Você precisa de alguma coisa, Sra.
Raymond?

Eu sorrio e balanço a cabeça. — Não, é apenas bom vê-lo. — Eu olho para
ele. Este homem tem sido constante na vida de Bryan por anos. Eu me pergunto se
ele sabe que Bryan tem um segredo, porque nada lhe escapa, pelo menos não
quando éramos mais jovens. Eu me lembro de receber olhares severos dele quando
éramos muito jovens e fazíamos coisas muito loucas, enquanto a mãe de Bryan não
estava por perto. Mas o cara nunca nos entregou.

— Da mesma forma, Sra. Raymond. Diga ao Sr. Ferro que se ele precisar de
ajuda pode pedir qualquer coisa para mim. — Seus olhos perfuraram os meus por
um momento antes que ele olhe para o lado.

Ele sabe.

Concordo com a cabeça e vou para o modo de super mocinha. Antes que eu
possa me parar, lanço o meu corpo para ele e meus braços em volta do velho,
abraçando-o em um abraço de urso em estilo desleixado. Ele endurece com choque
e, em seguida, dá um tapinha minhas costas. — As pessoas vão dizer-lhe que ele
vai ficar bem. Ao longo dos próximos meses, você vai ouvir isso de novo e de novo,
mas a perda não é assim que funciona. As coisas não vão voltar ao normal, mas a
vida continua. Converse com ele sobre isso, enquanto você tem a chance.

Meu queixo cai. — O quê? Isso seria tão mau. Eu não posso...

— Isso não é o problema meu, mas se você fosse minha filha, era o que eu
diria a você. Tempos sombrios estão chegando, se este homem é o seu raio de luz,
mergulhe no sol tanto quanto puder e quando puder.

Acho que entendo o que ele quer dizer, então balanço minha cabeça para
cima e para baixo lentamente. Falar sobre a morte com alguém que está morrendo
é o que ele quer dizer. Vamos acabar discutindo todas as coisas que queríamos
fazer, mas nunca teremos a chance. Minha garganta aperta com o pensamento e os
meus olhos lacrimejam. — Obrigada.

— Qualquer hora, Sra. Raymond. — Ele inclina a cabeça para mim como se
eu fosse uma rainha e se vira para correr para longe.

Eu não gosto da sua sugestão, mas parte dela me chama. E se a gente falar
sobre isso? Eu balanço minha cabeça e aperto as mãos. Não! Eu não quero! Isso não
é justo e não posso simplesmente aceitar que vou perdê-lo - não depois que
finalmente nos encontramos novamente. Não depois de todo esse tempo.

No momento que estou dentro da mansão de Bryan, paro na porta. Minha
intenção era ir à ponta dos pés para o quarto de Bryan, mas sou presa pelo Ferro
que eu mais temo - Sean. Ele está encostado na parede, os braços cruzados sobre o
peito. Ele se parece com sua mãe, toda acusação não dita claramente visível em
seus olhos. Suas roupas escuras - casaco de couro, calça jeans, camisa preta e botas
shitkicker. — Você e eu temos algo a discutir.

Minha intenção é passar por ele. — Não tenho nada para lhe dizer.

Sean libera seus braços e caminha em minha frente. Ele é silencioso e letal,
com vibes malucas irradiando dele como micro ondas. Ding! — Bem, eu tenho algo
que você precisa ouvir - sobre um homem chamado Victor. — Minha respiração
para na minha garganta enquanto minhas mãos vão para o meu coração. Sean me
puxa pela curva do meu cotovelo para longe da porta de Bryan. — Sim, eu achei
que você soubesse alguma coisa sobre isso. Os jornais estão dizendo que um dos
seus homens o matou, mas os policiais estão bisbilhotando, me fazendo perguntas
sobre um traficante de merda. Eu não gosto de policiais e não gosto ainda menos
de perguntas. Então, me diga, como é que eles rastrearam até aqui? O que você
deixou para trás?

Eu rio, mas ele ignora. — Você acha que eu o matei? — Estou pressionando
meus dedos em meu peito, piscando, com meu queixo caído. Embora seja um
excelente desempenho, algo que me afasta. Sean pode ver isso.

Ele dá um passo no meu espaço de uma maneira ameaçadora. Sua voz
ressoa: — Eu sei que você o matou.

— Não, você não sabe. — Eu agarro, tentando me empurrar por ele
novamente, mas Sean não me deixa passar. Ele bloqueia o lugar com seu corpo
maciço.

Inclinando-se perto do meu rosto, ele sussurra baixinho: — Se eu sei, a
minha mãe sabe e você não quer pegadas sujas que levam direto para a porta da
frente. Você precisa se separar de Bryan e sair daqui antes que descubram isso.

Eu balanço minha cabeça e mordo meu lábio inferior. Eu provavelmente
pareci como um moleque teimoso, mas não vou deixar Bryan.

Os olhos de Sean travam com os meus e sua voz cai para um sussurro letal.
— Eu posso fazê-la desaparecer.

Algo desperta dentro de mim, essa mesma característica de proteção que
me fez cortar a garganta de Victor, em primeiro lugar. Minha coluna se endireita e
eu fico na frente do seu rosto. — Da mesma forma.

Depois de um momento de reflexão, o homem na verdade ri. Sean esfrega o
queixo com a mão. Eu não posso dizer se ele está se divertindo ou pensa que sou
louca. Ele finalmente pergunta: — Por que você fez isso?

— Por que você acha? O homem era um estuprador assassino. Vamos
apenas dizer que eu estava no lugar errado na hora errada. Acidentes acontecem e
eu não ia deixar que qualquer outra coisa acontecesse com a minha amiga. Ela é a
única família que me resta. — Eu sugo o ar, tentando inchar, então não sou tão
pequena, mas em comparação com Sean Ferro, sou um palito.

Seus olhos azuis mudam para o lado antes que ele passe as mãos pelo
cabelo. — Então, você protegeu sua família, deixe-me proteger a minha. Vá
embora. Não puxe Bryan para isso.

— Para quê? Os mortos não puxam qualquer um para qualquer coisa.

— Victor Campone está vivo.

Capítulo 4

Um pequeno grito escapa dos meus lábios e eu quase caio no chão. Meus
joelhos cedem, mas antes de eu ir para baixo, Sean agarra meus braços. Ele me
mantém de pé e continua suavemente. — Os policiais suspeitam que ele esteja
vivo. No momento em que chegaram lá, o corpo tinha desaparecido. Devido à
quantidade de sangue que encontraram, sua suposição natural era que um de seus
homens o matou e jogou o corpo. Os policiais ainda estavam indo por esse caminho
até recentemente, quando pegaram Campone bisbilhotando meu hotel. Então, a
menos que viram um fantasma, o homem ainda está vivo.

— Ele não pode estar. — Eu balanço minha cabeça e meus olhos vidrados
quando me lembro daquela noite. A quantidade de sangue, a forma que sua cabeça
pendia para trás e a ferida era tão profunda. — Não é possível.

Sean suspira e olha para mim com uma expressão que está perdida em
algum lugar entre pena e admiração. Inclinando-se perto, ele diz: — O corte foi
muito superficial. É como apontar para o coração e não acertar. O cara foi
subestimado, os que estavam dispostos e aceitaram fazer isso uma vez, mas ele não
vai ser subestimado novamente. E eu aposto qualquer coisa que ele vai
permanecer morto por um tempo, deixar que os outros façam o trabalho sujo, até
que lhe convenha encenar uma ressurreição.

— Como você sabe tudo isso?

Ele engole em seco, seu olhar se afastando e depois de volta para os meus
olhos. — Periodicamente nossos empreendimentos comerciais se sobrepõem. Eu
ouço coisas. E posso dizer-lhe que se eu ouvi, minha mãe ouviu e você com certeza
não quer irritá-la. Se Campone acabar aqui, você está morta. Se ele não te matar,
minha mãe vai.

Ele agarra meus ombros e me pede: — Hallie, pega a sua amiga e dá o fora
daqui antes que Campone a encontre. — Sean me libera. — Este foi um aviso de
cortesia. Se você ficar por perto e Bryan for morto por sua causa, bem, é melhor

esperar que Victor a encontre antes de mim. — Seus olhos firmam em mim uma
vez com as suas intenções claras.

Eu fico lá por um segundo mal respirando. Nossos olhos estão bloqueados,
nós dois estamos desafiando, mas será que ele não sabe, Sean não sabe sobre seu
primo? Talvez eu devesse pegar Bryan e correr, mas não posso. Não enquanto ele
está doente. Ele vai precisar de ajuda e cuidados paliativos. Eu não posso dar-lhe
essas coisas se eu corro. Minha voz racha quando eu falo. — Eu não posso.

— Não é opcional.

— Não, você não entende. Eu não posso ir embora. Eu não posso correr
mais de Victor e não vou. Eu vou cuidar disso. Eu vou terminar o que comecei. —
Eu não tenho ideia de como, mas vou. Se eu não fizer isso, ele virá atrás de mim e
Maggie. O homem é cruel, ele nunca vai parar de nos caçar. Eu sei disso com
certeza.

Sean levanta a sobrancelha escura. — Você está louca? Você nunca vai ter
outra chance de matá-lo. Ele pensou que era insignificante antes, mas agora ele a
conhece melhor.

Eu me empurro passando por ele. — Eu vou cuidar disso. Ele não virá aqui,
e desta vez, quando eu matá-lo, ele vai morrer.

— Hallie. — Sean quase implora meu nome, quase, mas eu não paro.

Eu entro no quarto de Bryan e fecho a porta. Eu fico lá por um segundo e
derrubo minha cabeça para trás, respirando com dificuldade. Eu nunca soquei uma
pessoa antes. Agora eu simplesmente confessei ao mais assustador de todos os
Ferro que vou dar um fim no senhor das drogas mais notório da cidade. Super foda.

Eu ainda estou segurando o saco com café da manhã de Bryan. Quando
aperto o meu punho, o jornal faz um ruído de crepitação e ele se senta. Um belo
sorriso ilumina seu rosto pálido. — Hey, Menina Bonita. Para onde você correu?

— Para pegar o café da manhã e conseguir alguma sujeira em sua tia. Foi
uma manhã interessante. — Eu sorrio, preocupada com ele e entrego o saco.

— Sujeira na minha tia?

Balanço a cabeça e me sento ao lado dele na cama. — Sim, eu descobri
porque ela me odeia. Ela pensa que eu sei de algo todos esses anos, mas eu não
descobri o que eu sabia até esta manhã.

Bryan desembrulha o seu bagel enquanto estou falando e morde. Seus
firmes olhos verdes encontram os meus. Com a boca cheia, ele me pergunta. — E
então?

Eu penso em manter seu segredo, mas não sinto nenhuma lealdade para
com ela. Além disso, Bryan não vai contar a ninguém. — Ela é gay. Eu a peguei com
sua amante na cozinha de sua mãe esta manhã.

Seu queixo cai e o pedaço de bagel rola para fora da boca, indo para a
colcha. — De jeito nenhum.

Concordo com a cabeça e olho para o pedaço de comida. — Um choque e
tanto, hein?

— Claro que sim. Ela é tão recatada e adequada. — Seu nariz franze com o
pensamento da sua tia ser sexualmente algo.

— E, aparentemente, ela gosta de garotas.

Bryan pisca e sorri. — Bem, isso explica um monte de coisas.

— Sim, como por que ela ainda é casada e permite que prostitutas meio
vestidas andem pela sua casa.

Bryan sorri. — Claro, todo mundo gosta de um pouco de colírio para os
olhos.

Eu bato em seu ombro. — Bryan!

— Vamos lá, pense nisso. Houve uma garota naquela casa desde que Jon era
um bebê. É a família mais estranha que eu já vi. Minha mãe não teria tolerado. Eu
sempre me perguntei por que a tia Constance tolerava.

— Seu pai não tem uma puta coabitante?

Ele inclina a cabeça para mim. — Meu pai não tem tempo para isso. Ele está
muito ocupado ganhando dinheiro para ser incomodado com relacionamentos ou
senhoras de compra. Mas, ainda assim, a tia Connie gosta das garotas. Quem teria

pensado? — Ele balança a cabeça. — Então o que diabos eu vi no dia que
terminamos?

Boa pergunta. Eu suspiro e tenho uma boa ideia de para quem perguntar. Eu
sorrio grande. — Qual é o quarto que Constance usa quando está aqui?

Bryan parece confuso e então seus olhos se arregalam. — Você está louca?

— Só um pouco. — Eu rio e quase aperto meus dedos juntos.


CONTINUA

A luz do amanhecer brilha através das pesadas cortinas que revestem as paredes formando uma fina fenda de branco puro no tapete escuro. Eu fico olhando para ele, perdida em seus pensamentos. Perto de mim, Bryan está dormindo. Eu envolvo meus braços ao redor dele e seu corpo se parece tão forte. É por isso que isto é tão difícil. Não faz nenhum sentido. Para além da dor, eu não posso ver o que está acontecendo com ele. É interno. Seu corpo o está matando segundo a segundo. Eventualmente, ele irá respirar e não haverá outro. Eu não posso suportar a ideia.
Minha vida tem sido moldada por morte. Todo mundo que me importa, todos, exceto Maggie, partem. Eu escorrego para fora da cama, agarrando o meu telefone antes de ir para fundo do corredor. Eu envio uma mensagem de texto para ela, embora eu duvide que ela esteja acordada.
Eu digito: Estou com Bryan. Apenas verificando para ter certeza que está tudo bem.
Para minha surpresa ela envia uma mensagem de volta: Eu estou, mas tenho uma coisa horrível para lhe dizer.
Nada poderia ser pior do que perder Bryan. Eu digito de volta: Eu também.
Volto logo para casa e podemos conversar.
Ela responde: Ok.

 


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Eu enfio meu celular no bolso antes de pegar a camiseta de Bryan e a puxo
sobre minha cabeça. Eu enfio minhas mãos sob as mangas e vagueio pela mansão
até encontrar a cozinha. Sinto o cheiro do café e preciso desesperadamente de uma
xícara. Infelizmente, a besta “a tia” de Bryan está sentada à mesa com outra
mulher. Ambas estão vestidas em robe. Eu pisco conforme o choque lava seus
rostos. Eu não posso imaginar por que ela está aqui tão cedo, não vestida. Quão
estranho é isso?

Dentro de um batimento cardíaco, Constance está fora de seu assento e no
meu rosto. — Como você ousa desfilar na casa da minha irmã usando coisas do
meu sobrinho? Saia agora mesmo, sua puta! — Ela tenta bater no meu rosto, mas
eu agarro seu pulso.

As coisas finalmente clicam no lugar. A forma como as mulheres estavam
olhando uma para a outra, o toque de suas mãos, a forma como os seus olhos
permanecem naquele olhar fixo familiar, o fato de que ela está aqui, quando sua
irmã e cunhado já se foram e a forma como Constance se transforma em um tigre
quando ela me vê - faz sentido. Ela está escondendo um segredo há anos que
poderia arruiná-la para sempre. É por isso que ela suporta as infidelidades do Sr.
Ferro e porque permite que suas mulheres valsem pela sua casa.

Constance é gay - e esta mulher é sua amante. Ela pensou que eu soubesse,
mas eu nunca percebi antes.

Ela puxa sua mão do meu aperto e se prepara para começar a gritar
novamente. Eu a interrompo, cansada. — Eu não me importo com sua vida ou
suas preferências. Eu entendo que seja um tabu para você ser vista com ela. Eu
entendo isso, Constance, eu realmente entendo. Eu não a julgo por isso, então pare
de me julgar. A única coisa de que eu quero vocês é o café. — Eu caminho,
passando por ela.

O queixo de Constance está no chão. Sua namorada, uma mulher pelo menos
dez anos mais nova que ela, fica rígida, olhando-me com medo. Relações do mesmo
sexo podem ser ultramodernas e estarem na moda em Nova York, mas não entre
antigas famílias endinheiradas como esta. Isso a arruinaria. É por isso que ela me
odeia. Ela acha que eu tenho andado por aí esperando para soltar uma bomba em
sua vida.

Quando Constance fala, seu tom é cético: — Você sabe há muito tempo e não
disse nada. Por quê?

— Porque eu não me importo com você. — Eu mantenho minhas costas
para ela enquanto despejo o líquido escuro em uma xícara pesada. É muito cedo. As
pessoas normais não estão acordadas às cinco da manhã. Elas provavelmente
estavam tomando café da manhã antes de se separarem para o dia. Quando me viro

para falar, as duas mulheres estão me olhando mortificadas. — Eu me preocupo
com Bryan. Você não percebeu nada sobre ele que lhe diz respeito?

Seu olhar se estreita. — Não brinque comigo. Eu conheço minha família,
cada um deles.

— Sim, bem, você pode querer falar com ele. — Ela bloqueia seu maxilar,
preparando-se para ordenar que eu saia, mas eu acrescento: — O tempo é uma
coisa engraçada. Todos nós pensamos que temos uma tonelada dele até que seja
tirado de nós, então nos damos conta de que nunca foi o suficiente, para começar.
Use o tempo que você tem, Constance. Ame as pessoas que queira e se certifique de
que eles saibam disso. Chegará o dia em que você lamentará que não o fez e a
chance passou por você.

Ela endurece quando eu falo. — Você está me ameaçando?

Eu rio alto com o ridículo de sua declaração. Ela não tem nenhuma pista. Eu
estava me referindo a mim e Bryan, para a piscina constante de arrependimento
que enche meu estômago. Poderíamos ter estado juntos, mas essa oportunidade
está perdida agora, o tempo que nunca teremos.

— Você está tão errada sobre tudo, lacrada em sua pequena bolha, fora de
contato com o mundo real. Isso não é sobre você, então você acha que está segura,
mas você nunca está, não do tempo - não da morte. Seu sobrinho... — Eu engulo
em seco, mas não quebro o contato visual. — Certifique-se que sua mãe descubra.
Isso é tudo que eu quero.

A suposição de que eu estou fazendo é enorme - aquela que Elizabeth Ferro
se importará se seu filho vive ou morre. Bryan não contou a ninguém sobre sua
doença, exceto eu. Jon pode ver isso, mas os outros não têm ideia. Eu não sei
quanto tempo resta à Bryan, mas não quero que ele o gaste se preocupando ou
brigando. Eu quero estar lá para protegê-lo e, por alertar o Ferro de seu estado, eu
provavelmente só fiz isso mais difícil de acontecer - mas que é a coisa certa a fazer.
Se eu tivesse um segundo extra para gastar com o meu pai... O pensamento se
esconde em minha mente, sol a sol. Quando a noite lava o céu com tons roxos de
tinta e manchas de âmbar cintilante, eu gostaria de ter mais uma oportunidade de
dizer todas as coisas que nunca tive a chance de expressar. Agora, esses
pensamentos estão presos dentro da minha alma, me segurando cativa. Eu nunca

vou ser livre. Eu nunca tive a chance de dizer adeus. Eu estou dando aos Ferro essa
oportunidade e esperando além da esperança de que eles não me joguem para fora
na minha bunda em recompensa.

Empurrando de lado meus pensamentos, eu coloco meu copo vazio para
baixo e saio, deixando Constance e sua amante, boquiabertas, no meu despertar. As
duas mulheres atrás de mim são crianças brincando de casinha. Eu posso ser mais
jovem do que elas em anos, mas minha alma parece velha. É imaturo pensar que a
sua vida seja apenas sobre você. A vida é sobre as pessoas ao seu redor. Como eu
gostaria de nunca crescer, mas desejar é desperdício de tempo e eu me recuso a
desperdiçar mais um segundo.

Capítulo 2

Maggie e eu planejamos, através de mensagens de texto, nos encontrar em
algum lugar que tenha um bagel logo após o amanhecer. Os únicos carros no
estacionamento são da loja. O resto do centro de compras ainda está fechado. Eu
não espero muito tempo, quando ela se junta a mim no final da fila.

— Hey. — Diz Maggie, me envolvendo em um abraço.

Eu a abraço de volta, segurando-a um segundo muito longo. Ela vai fugir
novamente. Eu sei disso. Ela não lida bem com a morte também. Acho que
ninguém faz, mas Maggie viu muito dela. Quando eu a solto, me forço a perdoá-la
com antecedência. Uma alma só pode tomar tanto abuso antes que não possa
evitar, exceto reagir. É como o cão de Pavlov. A campainha da morte soa e Maggie
corre.

Eu enfio um pedaço de cabelo atrás da minha orelha e encosto contra a
vitrine de vidro, antes de enfiar as mãos nos bolsos. — Hey. Como tem passado?

A fila faz a volta para fora da porta e para baixo da frente do centro
comercial com pessoas que já pararam para um bagel e café em seu caminho para
o trabalho. A fila se aproxima alguns centímetros mais próxima da comida e nos
movemos com ela, antes de retornar nossas posições contra o vidro. Meu estômago
ronca com o cheiro de fermento e eu mal posso esperar para provar o pão macio,
quente e mordê-lo, saboreando o cream cheese espesso. Eu aprendi a não dar por
certo pequenas coisas. Bagels me ajudam a encontrar meu lugar feliz.

Eu pretendo pegar um para Bryan também - sementes de papoula com
manteiga, exatamente como ele pedia na escola. Viemos aqui tantas vezes. Eu fico
olhando para fora, no estacionamento, minha mente vagando em uma memória de
Bryan me levantando em um carrinho de compras e empurrando-me como um
louco pelo mercado, rindo o tempo todo.

Outro cliente perguntou: — Que corredor você a encontrou? Eu quero uma!

Bryan apenas sorriu, os olhos deslizando sobre mim no carrinho. —
Desculpe, cara. Esta era a única e é toda minha. Eu nunca a deixarei ir. — A

memória ecoa fortemente em meus ouvidos. Parece que poderia ter acontecido
ontem.

A voz de Maggie me encaixa de volta ao presente. Ela encolhe os ombros e
puxa a alça da bolsa para cima de seu ombro. — Eu estou bem. Acho que encontrei
um apartamento para nós, mas eu ouvi que Neil comprou para vocês uma casa. —
Ela faz uma cara de, bem, tenta não fazer uma cara, que faz sua expressão de dor
ainda pior. A fila se move de novo e, com um passo à frente, ela deixa escapar: —
Você realmente vai se casar com ele? Achei que você amasse Bryan? Parecia que
estava totalmente encantada com o gatinho do sexo. Bem, você é a gatinha.
Rapazes são o quê, tigres? Tigre sexual soa mal. — Ela ri, mas sua risada leve
desaparece quando ela vê o meu sorriso falso. — O que há de errado, Hallie?

Eu tento manter minha voz firme, mas treme sem minha permissão. Não há
nenhum ponto em protelar por mais tempo, e além disso, eu preciso dela. Mesmo
que ela vá correr, eu tenho que falar com alguém enquanto eu tiver a chance. —
Maggie, ele está morrendo.

— Mas, ele não pode estar! Ele... — Maggie deixa escapar muitas palavras de
uma só vez e quase começa a chorar. Ela é a pessoa mais empática que eu já
conheci. A minha dor está representada em seu rosto quando ela para, aperta
minha mão e me puxa para um abraço de urso que poderia explodir minha cabeça.
— Eu sinto muito, Hallie. — Ela enxuga as lágrimas com as costas da mão e olha
para o meu ombro, não querendo perguntar. Cada palavra é como se enfiasse uma
faca no meu lado. — O que há de errado com ele?

Eu a atualizo com o que sei que aconteceu até agora. Minha voz continua
difícil quando eu chego ao fim da história. — Nós terminamos por causa de sua tia
Constance. Ela achou que eu iria arruiná-la com informações que eu não deveria
saber, então ela descobriu uma maneira de nos separar. — A raiva eu não tinha
notado até agora borbulha sob a superfície da minha mente. Eu não vou ficar com
raiva, eu não posso ficar. Eu me recuso a perder meu tempo com ela ou o que ela
fez. — Maggie, eu não poderia me importar menos com ela, mas eu quis Bryan
todo esse tempo e não o tive por causa dela.

— E, no entanto, você não soa como louca. Você parece mais
assustadoramente tranquila sobre isso. — Uma sobrancelha vermelha levanta
levemente em sua testa sardenta.

Eu olho para ela conforme nos movemos com a fila para dentro da pequena
loja, e nos aproximamos da bandeja do pão assado. Maggie pede em primeiro lugar,
então eu peço e pago por nossos itens. Pegamos o nosso café da manhã, cortamos
de volta através da fila, para fora da porta, em direção ao estacionamento. Fico ali
na frente dela querendo falar, mas incapaz de encontrar palavras, em seguida,
entrego para ela o pão e suco de laranja.

Minha boca se abre duas vezes, mas as palavras não saem. Eu finalmente
olho nos olhos dela e explico. — Eu não estou louca. Bem, eu estou - mas não quero
estar. É um desperdício de tempo e eu não tenho tempo de sobra. Eu estou
pensando em ficar com ele, Maggie. Seja qual for o tempo que lhe resta, eu quero
estar lá.

— Eu entendo, e eu estou aqui para você. — Ela pega a minha mão, mas eu
não posso olhar para ela.

— Não faça promessas que não pode cumprir, Maggie.

— Eu estou as mantendo desta vez.

— Eu prefiro saber agora que você vai desaparecer. Eu posso lidar com isso
sozinha. Eu estou bem, realmente. Eu sei o que isso faz para você e... — Eu arranjo
desculpas para ela até que ela me corta.

— Não. A última vez eu não estava lá para você, porque Victor era um idiota.
Eu não tive escolha. Isso fazia parte da maneira como ele estava me controlando,
mas ele já se foi, Hallie. Eu não vou fugir. Eu estarei lá para você. Você não terá que
lidar com isso sozinha. Eu prometo. Podemos passar por qualquer coisa, você e
eu. Eu não vou deixar você Hallie. Nós somos irmãs. Eu vou estar lá neste
momento. — Ela sorri sem jeito e olha para o chão sob suas botas.

Ela muda o seu peso para o outro pé e olha para mim debaixo de muito
rímel. Sua boca fica aberta por um segundo e seus lábios enrolam, como se ela não
quisesse dizer o que está prestes a cair de sua boca. — Há algo que você precisa
saber, e eu não sei se você vai gostar ou não com tudo o que aconteceu, mas precisa

saber. Você precisa. E eu odeio dizer isso agora, mas talvez seja melhor assim. Eu
esperaria se eu achasse que ajudaria.

— Maggie, diga-me. O que é?

Ela puxa um monte de ar e cospe para fora. — Ontem à noite, enquanto você
não estava em casa, entrei e vi o que parecia ser Neil e Cecily fazendo coisas que
estava muito além da zona do amigo. — Seus lábios são esmagados em conjunto,
enquanto ela tenta permanecer inexpressiva. Eu posso dizer que ela quer castrar
Neil conforme ela luta para manter seus lábios em uma linha reta.

Eu pisco, e isso é tudo. A raiva não vomita da minha boca e minhas mãos
não estão cerradas em punhos. Eu não me sinto quebrada ou até mesmo chocada.

Eu não sinto nada.

Se eu amasse Neil, eu estaria irada, mas eu não estou. Concordo com a
cabeça.

O rosto preocupado de Maggie franze enquanto ela empurra seu brilhante
cabelo atrás da orelha. — Eu não sei se eu deveria dizer. Eu o odeio, mas pensei
que você gostava do cara. — Ela me olha com tal preocupação que eu não posso
deixar de sorrir para ela.

Meu olhar abaixa para o chão e eu tomo uma respiração profunda, antes de
dar-lhe um abraço de lado. Quando eu a deixo ir, murmuro: — Eu estou feliz que
você me disse. Desgraça pouca é bobagem, certo? — Eu ofereço um sorriso de
novo, mas é falso neste momento. Há muitas lembranças correndo pela minha
mente, e o movimento faz minha pele parecer como se fosse rachar.

— Yeah. — Ela ri. — Pelo menos não temos que nos preocupar com Victor.
Devo-lhe muito por isso. Os jornais disseram que um dos seus homens o matou no
meu apartamento. Se você não tivesse me arrastado para fora, naquela noite eu
teria levado um tiro, também.

Eu sou insensível ao que eu fiz, pelo menos no momento. Às vezes, quando
eu não consigo dormir, o pensamento de que fiz desliza em minha mente, não
desejado. Victor é um pesadelo que não vai morrer, mas não posso perder o meu
tempo.

— Somos eu e você, agora. — Eu digo a ela com firmeza. Ela sorri
tristemente para mim e assente. — Maggie, você pode ir a casa de Neil e pegar
minhas coisas? Há apenas algumas caixas. Eu nunca desembalei, não
realmente. Neil queria que eu fizesse, mas eu empurrei a maioria delas na parte de
trás de um armário. — Eu retiro minha bolsa e escrevo-lhe um cheque. — Isso
deve cobrir o aluguel do nosso novo apartamento e tudo o mais que
precisamos. Deixe-o bonito, ok? Vai ser bom ter um novo lugar bonito para ir para
casa quando isso acabar.

Maggie pega o cheque e olha para todos os zeros, antes de olhar para mim.
Uma mecha de cabelo vermelho cai na frente de seus olhos. — Hallie, eu não posso
aceitar isso.

— Sim, você pode. Vai fazê-lo. Precisamos de um lugar para viver. Eu
gostaria de ter mais a oferecer, mas essa discussão é para outro dia. Entretanto,
isso vai nos colocar em uma boa vizinhança e nós estaremos confortáveis.

— Você vai processar Neil e Cecily? Eles praticamente gastaram todo o seu
dinheiro.

Concordo com a cabeça. — Provavelmente, mas não agora. Eu preciso fazer
um telefonema. — Maggie balança a cabeça e eu disco para o meu banco enquanto
seguimos para o meu carro. Eu explico a um funcionário do banco muito prestativo
que o nome de Neil deve ser retirado da minha conta imediatamente e todas as
transações em andamento com a sua assinatura, devem ser transferidas para a sua
conta. Verificação conjunta foi ideia dele. Eu esfrego minhas mãos sobre meu rosto
e sento com força no capô do meu carro. A coisa está suja, mas eu não me
importo. O funcionário do banco me pede para ir em breve para assinar os papéis,
e fazer as alterações em minha conta oficial. Quando eu insisto que eles precisam
ser assinados agora, ela diz para vir quando for mais conveniente.

Eu desligo e olho fixamente para as portas fechadas da mercearia. — Eu não
posso fazer isso de novo, não tão cedo. — A perda do meu pai ainda paira pesado
em meu coração, ameaçando me puxar para baixo. Minha dor não diminuiu e a
fama não ajudou. A única coisa que me faz sentir melhor é Bryan e agora vou
perdê-lo também.

Eu não posso respirar. Inclinando minha cabeça para trás com os olhos
cheios de lágrimas, eu olho para o céu e as nuvens brancas onduladas. O céu estava
aqui muito antes de eu nascer e vai estar aqui muito tempo depois. Faz-me sentir
pequena, como se a minha vida não importasse em tudo.

Maggie me bate com sua bota. — Bagel?

— Eu não estou com fome. — Eu estava com fome apenas um momento
atrás, mas agora não sinto nada parecido com isso.

— Merda resistente. Eu estou cuidando de você, o que significa que você
come isso ou vou enfiar na sua cara. — Ela está sorrindo para mim. — Eu vou fazer
isso.

Eu roubo a minha comida de sua mão. — Eu sei que você vai. —
Desempacotando a coisa, dou uma mordida e percebo que eu estou morrendo de
fome.

— A vida não é sobre a morte, você sabe. — Diz Maggie de repente. Ela está
sentada ao meu lado no capô, olhando para uma nuvem, pegando arrancando
pedaços de seu bagel, e os jogando em sua boca um de cada vez.

— Então o que se trata? — Eu pensei que eu sabia em um ponto, mas não
tenho ideia, não mais. A vida parece uma piada cruel.

— É sobre as relações que você faz, a bondade que oferece e você mostrar
compaixão. É a sua chance de mostrar ao mundo quem você é e o que faz você.
Hallie, você é a pessoa mais forte que conheço. Em vez de sentar aqui chorando
comigo, você deve estar com Bryan. Aqui. — Ela me dá o bagel extra. — Cheque de
vez em quando e quando você precisar de mim, eu vou. Nesse meio tempo, vou
deixar nossa casa pronta, eu prometo. Nada me manterá longe desta vez. Quando
você precisar de mim, eu estarei lá - se estiver no hospital, a funerária ou apenas
quando você precisar de uma pausa.

Eu sinto uma vibe nervosa vindo dela. — Você não é fraca, Maggie. Somos
sobreviventes, eu e você. — Quando eu digo isso, quero dizer para confortá-la, mas
uma bola dá um nó na minha garganta.

Ela pega a minha mão e se inclina, descansando a cabeça no meu ombro. —
Nós vamos sobreviver a isto também “juntas”.

Capítulo 3

Eu não quero pensar em Neil, então eu volto para a mansão Ferro e me
esgueiro para dentro. Ainda é cedo. As únicas pessoas que vejo são os empregados.
Eles me veem e não dizem nada. Deve ser estranho viver como uma estátua dia
após dia, sem ninguém, mas outros funcionários, na verdade, reconhecem que você
é humano. Eu não posso evitar isso. Eu sorrio para o mordomo que está sempre
ocupado, correndo para algum lugar. Ele inclina a cabeça em saudação, mas não
abranda.

Depois que ele passa, se vira para trás. — Você precisa de alguma coisa, Sra.
Raymond?

Eu sorrio e balanço a cabeça. — Não, é apenas bom vê-lo. — Eu olho para
ele. Este homem tem sido constante na vida de Bryan por anos. Eu me pergunto se
ele sabe que Bryan tem um segredo, porque nada lhe escapa, pelo menos não
quando éramos mais jovens. Eu me lembro de receber olhares severos dele quando
éramos muito jovens e fazíamos coisas muito loucas, enquanto a mãe de Bryan não
estava por perto. Mas o cara nunca nos entregou.

— Da mesma forma, Sra. Raymond. Diga ao Sr. Ferro que se ele precisar de
ajuda pode pedir qualquer coisa para mim. — Seus olhos perfuraram os meus por
um momento antes que ele olhe para o lado.

Ele sabe.

Concordo com a cabeça e vou para o modo de super mocinha. Antes que eu
possa me parar, lanço o meu corpo para ele e meus braços em volta do velho,
abraçando-o em um abraço de urso em estilo desleixado. Ele endurece com choque
e, em seguida, dá um tapinha minhas costas. — As pessoas vão dizer-lhe que ele
vai ficar bem. Ao longo dos próximos meses, você vai ouvir isso de novo e de novo,
mas a perda não é assim que funciona. As coisas não vão voltar ao normal, mas a
vida continua. Converse com ele sobre isso, enquanto você tem a chance.

Meu queixo cai. — O quê? Isso seria tão mau. Eu não posso...

— Isso não é o problema meu, mas se você fosse minha filha, era o que eu
diria a você. Tempos sombrios estão chegando, se este homem é o seu raio de luz,
mergulhe no sol tanto quanto puder e quando puder.

Acho que entendo o que ele quer dizer, então balanço minha cabeça para
cima e para baixo lentamente. Falar sobre a morte com alguém que está morrendo
é o que ele quer dizer. Vamos acabar discutindo todas as coisas que queríamos
fazer, mas nunca teremos a chance. Minha garganta aperta com o pensamento e os
meus olhos lacrimejam. — Obrigada.

— Qualquer hora, Sra. Raymond. — Ele inclina a cabeça para mim como se
eu fosse uma rainha e se vira para correr para longe.

Eu não gosto da sua sugestão, mas parte dela me chama. E se a gente falar
sobre isso? Eu balanço minha cabeça e aperto as mãos. Não! Eu não quero! Isso não
é justo e não posso simplesmente aceitar que vou perdê-lo - não depois que
finalmente nos encontramos novamente. Não depois de todo esse tempo.

No momento que estou dentro da mansão de Bryan, paro na porta. Minha
intenção era ir à ponta dos pés para o quarto de Bryan, mas sou presa pelo Ferro
que eu mais temo - Sean. Ele está encostado na parede, os braços cruzados sobre o
peito. Ele se parece com sua mãe, toda acusação não dita claramente visível em
seus olhos. Suas roupas escuras - casaco de couro, calça jeans, camisa preta e botas
shitkicker. — Você e eu temos algo a discutir.

Minha intenção é passar por ele. — Não tenho nada para lhe dizer.

Sean libera seus braços e caminha em minha frente. Ele é silencioso e letal,
com vibes malucas irradiando dele como micro ondas. Ding! — Bem, eu tenho algo
que você precisa ouvir - sobre um homem chamado Victor. — Minha respiração
para na minha garganta enquanto minhas mãos vão para o meu coração. Sean me
puxa pela curva do meu cotovelo para longe da porta de Bryan. — Sim, eu achei
que você soubesse alguma coisa sobre isso. Os jornais estão dizendo que um dos
seus homens o matou, mas os policiais estão bisbilhotando, me fazendo perguntas
sobre um traficante de merda. Eu não gosto de policiais e não gosto ainda menos
de perguntas. Então, me diga, como é que eles rastrearam até aqui? O que você
deixou para trás?

Eu rio, mas ele ignora. — Você acha que eu o matei? — Estou pressionando
meus dedos em meu peito, piscando, com meu queixo caído. Embora seja um
excelente desempenho, algo que me afasta. Sean pode ver isso.

Ele dá um passo no meu espaço de uma maneira ameaçadora. Sua voz
ressoa: — Eu sei que você o matou.

— Não, você não sabe. — Eu agarro, tentando me empurrar por ele
novamente, mas Sean não me deixa passar. Ele bloqueia o lugar com seu corpo
maciço.

Inclinando-se perto do meu rosto, ele sussurra baixinho: — Se eu sei, a
minha mãe sabe e você não quer pegadas sujas que levam direto para a porta da
frente. Você precisa se separar de Bryan e sair daqui antes que descubram isso.

Eu balanço minha cabeça e mordo meu lábio inferior. Eu provavelmente
pareci como um moleque teimoso, mas não vou deixar Bryan.

Os olhos de Sean travam com os meus e sua voz cai para um sussurro letal.
— Eu posso fazê-la desaparecer.

Algo desperta dentro de mim, essa mesma característica de proteção que
me fez cortar a garganta de Victor, em primeiro lugar. Minha coluna se endireita e
eu fico na frente do seu rosto. — Da mesma forma.

Depois de um momento de reflexão, o homem na verdade ri. Sean esfrega o
queixo com a mão. Eu não posso dizer se ele está se divertindo ou pensa que sou
louca. Ele finalmente pergunta: — Por que você fez isso?

— Por que você acha? O homem era um estuprador assassino. Vamos
apenas dizer que eu estava no lugar errado na hora errada. Acidentes acontecem e
eu não ia deixar que qualquer outra coisa acontecesse com a minha amiga. Ela é a
única família que me resta. — Eu sugo o ar, tentando inchar, então não sou tão
pequena, mas em comparação com Sean Ferro, sou um palito.

Seus olhos azuis mudam para o lado antes que ele passe as mãos pelo
cabelo. — Então, você protegeu sua família, deixe-me proteger a minha. Vá
embora. Não puxe Bryan para isso.

— Para quê? Os mortos não puxam qualquer um para qualquer coisa.

— Victor Campone está vivo.

Capítulo 4

Um pequeno grito escapa dos meus lábios e eu quase caio no chão. Meus
joelhos cedem, mas antes de eu ir para baixo, Sean agarra meus braços. Ele me
mantém de pé e continua suavemente. — Os policiais suspeitam que ele esteja
vivo. No momento em que chegaram lá, o corpo tinha desaparecido. Devido à
quantidade de sangue que encontraram, sua suposição natural era que um de seus
homens o matou e jogou o corpo. Os policiais ainda estavam indo por esse caminho
até recentemente, quando pegaram Campone bisbilhotando meu hotel. Então, a
menos que viram um fantasma, o homem ainda está vivo.

— Ele não pode estar. — Eu balanço minha cabeça e meus olhos vidrados
quando me lembro daquela noite. A quantidade de sangue, a forma que sua cabeça
pendia para trás e a ferida era tão profunda. — Não é possível.

Sean suspira e olha para mim com uma expressão que está perdida em
algum lugar entre pena e admiração. Inclinando-se perto, ele diz: — O corte foi
muito superficial. É como apontar para o coração e não acertar. O cara foi
subestimado, os que estavam dispostos e aceitaram fazer isso uma vez, mas ele não
vai ser subestimado novamente. E eu aposto qualquer coisa que ele vai
permanecer morto por um tempo, deixar que os outros façam o trabalho sujo, até
que lhe convenha encenar uma ressurreição.

— Como você sabe tudo isso?

Ele engole em seco, seu olhar se afastando e depois de volta para os meus
olhos. — Periodicamente nossos empreendimentos comerciais se sobrepõem. Eu
ouço coisas. E posso dizer-lhe que se eu ouvi, minha mãe ouviu e você com certeza
não quer irritá-la. Se Campone acabar aqui, você está morta. Se ele não te matar,
minha mãe vai.

Ele agarra meus ombros e me pede: — Hallie, pega a sua amiga e dá o fora
daqui antes que Campone a encontre. — Sean me libera. — Este foi um aviso de
cortesia. Se você ficar por perto e Bryan for morto por sua causa, bem, é melhor

esperar que Victor a encontre antes de mim. — Seus olhos firmam em mim uma
vez com as suas intenções claras.

Eu fico lá por um segundo mal respirando. Nossos olhos estão bloqueados,
nós dois estamos desafiando, mas será que ele não sabe, Sean não sabe sobre seu
primo? Talvez eu devesse pegar Bryan e correr, mas não posso. Não enquanto ele
está doente. Ele vai precisar de ajuda e cuidados paliativos. Eu não posso dar-lhe
essas coisas se eu corro. Minha voz racha quando eu falo. — Eu não posso.

— Não é opcional.

— Não, você não entende. Eu não posso ir embora. Eu não posso correr
mais de Victor e não vou. Eu vou cuidar disso. Eu vou terminar o que comecei. —
Eu não tenho ideia de como, mas vou. Se eu não fizer isso, ele virá atrás de mim e
Maggie. O homem é cruel, ele nunca vai parar de nos caçar. Eu sei disso com
certeza.

Sean levanta a sobrancelha escura. — Você está louca? Você nunca vai ter
outra chance de matá-lo. Ele pensou que era insignificante antes, mas agora ele a
conhece melhor.

Eu me empurro passando por ele. — Eu vou cuidar disso. Ele não virá aqui,
e desta vez, quando eu matá-lo, ele vai morrer.

— Hallie. — Sean quase implora meu nome, quase, mas eu não paro.

Eu entro no quarto de Bryan e fecho a porta. Eu fico lá por um segundo e
derrubo minha cabeça para trás, respirando com dificuldade. Eu nunca soquei uma
pessoa antes. Agora eu simplesmente confessei ao mais assustador de todos os
Ferro que vou dar um fim no senhor das drogas mais notório da cidade. Super foda.

Eu ainda estou segurando o saco com café da manhã de Bryan. Quando
aperto o meu punho, o jornal faz um ruído de crepitação e ele se senta. Um belo
sorriso ilumina seu rosto pálido. — Hey, Menina Bonita. Para onde você correu?

— Para pegar o café da manhã e conseguir alguma sujeira em sua tia. Foi
uma manhã interessante. — Eu sorrio, preocupada com ele e entrego o saco.

— Sujeira na minha tia?

Balanço a cabeça e me sento ao lado dele na cama. — Sim, eu descobri
porque ela me odeia. Ela pensa que eu sei de algo todos esses anos, mas eu não
descobri o que eu sabia até esta manhã.

Bryan desembrulha o seu bagel enquanto estou falando e morde. Seus
firmes olhos verdes encontram os meus. Com a boca cheia, ele me pergunta. — E
então?

Eu penso em manter seu segredo, mas não sinto nenhuma lealdade para
com ela. Além disso, Bryan não vai contar a ninguém. — Ela é gay. Eu a peguei com
sua amante na cozinha de sua mãe esta manhã.

Seu queixo cai e o pedaço de bagel rola para fora da boca, indo para a
colcha. — De jeito nenhum.

Concordo com a cabeça e olho para o pedaço de comida. — Um choque e
tanto, hein?

— Claro que sim. Ela é tão recatada e adequada. — Seu nariz franze com o
pensamento da sua tia ser sexualmente algo.

— E, aparentemente, ela gosta de garotas.

Bryan pisca e sorri. — Bem, isso explica um monte de coisas.

— Sim, como por que ela ainda é casada e permite que prostitutas meio
vestidas andem pela sua casa.

Bryan sorri. — Claro, todo mundo gosta de um pouco de colírio para os
olhos.

Eu bato em seu ombro. — Bryan!

— Vamos lá, pense nisso. Houve uma garota naquela casa desde que Jon era
um bebê. É a família mais estranha que eu já vi. Minha mãe não teria tolerado. Eu
sempre me perguntei por que a tia Constance tolerava.

— Seu pai não tem uma puta coabitante?

Ele inclina a cabeça para mim. — Meu pai não tem tempo para isso. Ele está
muito ocupado ganhando dinheiro para ser incomodado com relacionamentos ou
senhoras de compra. Mas, ainda assim, a tia Connie gosta das garotas. Quem teria

pensado? — Ele balança a cabeça. — Então o que diabos eu vi no dia que
terminamos?

Boa pergunta. Eu suspiro e tenho uma boa ideia de para quem perguntar. Eu
sorrio grande. — Qual é o quarto que Constance usa quando está aqui?

Bryan parece confuso e então seus olhos se arregalam. — Você está louca?

— Só um pouco. — Eu rio e quase aperto meus dedos juntos.


CONTINUA

A luz do amanhecer brilha através das pesadas cortinas que revestem as paredes formando uma fina fenda de branco puro no tapete escuro. Eu fico olhando para ele, perdida em seus pensamentos. Perto de mim, Bryan está dormindo. Eu envolvo meus braços ao redor dele e seu corpo se parece tão forte. É por isso que isto é tão difícil. Não faz nenhum sentido. Para além da dor, eu não posso ver o que está acontecendo com ele. É interno. Seu corpo o está matando segundo a segundo. Eventualmente, ele irá respirar e não haverá outro. Eu não posso suportar a ideia.
Minha vida tem sido moldada por morte. Todo mundo que me importa, todos, exceto Maggie, partem. Eu escorrego para fora da cama, agarrando o meu telefone antes de ir para fundo do corredor. Eu envio uma mensagem de texto para ela, embora eu duvide que ela esteja acordada.
Eu digito: Estou com Bryan. Apenas verificando para ter certeza que está tudo bem.
Para minha surpresa ela envia uma mensagem de volta: Eu estou, mas tenho uma coisa horrível para lhe dizer.
Nada poderia ser pior do que perder Bryan. Eu digito de volta: Eu também.
Volto logo para casa e podemos conversar.
Ela responde: Ok.

 


https://img.comunidades.net/bib/bibliotecasemlimites/5_A_PROPOSI_O.jpg

 


Eu enfio meu celular no bolso antes de pegar a camiseta de Bryan e a puxo
sobre minha cabeça. Eu enfio minhas mãos sob as mangas e vagueio pela mansão
até encontrar a cozinha. Sinto o cheiro do café e preciso desesperadamente de uma
xícara. Infelizmente, a besta “a tia” de Bryan está sentada à mesa com outra
mulher. Ambas estão vestidas em robe. Eu pisco conforme o choque lava seus
rostos. Eu não posso imaginar por que ela está aqui tão cedo, não vestida. Quão
estranho é isso?

Dentro de um batimento cardíaco, Constance está fora de seu assento e no
meu rosto. — Como você ousa desfilar na casa da minha irmã usando coisas do
meu sobrinho? Saia agora mesmo, sua puta! — Ela tenta bater no meu rosto, mas
eu agarro seu pulso.

As coisas finalmente clicam no lugar. A forma como as mulheres estavam
olhando uma para a outra, o toque de suas mãos, a forma como os seus olhos
permanecem naquele olhar fixo familiar, o fato de que ela está aqui, quando sua
irmã e cunhado já se foram e a forma como Constance se transforma em um tigre
quando ela me vê - faz sentido. Ela está escondendo um segredo há anos que
poderia arruiná-la para sempre. É por isso que ela suporta as infidelidades do Sr.
Ferro e porque permite que suas mulheres valsem pela sua casa.

Constance é gay - e esta mulher é sua amante. Ela pensou que eu soubesse,
mas eu nunca percebi antes.

Ela puxa sua mão do meu aperto e se prepara para começar a gritar
novamente. Eu a interrompo, cansada. — Eu não me importo com sua vida ou
suas preferências. Eu entendo que seja um tabu para você ser vista com ela. Eu
entendo isso, Constance, eu realmente entendo. Eu não a julgo por isso, então pare
de me julgar. A única coisa de que eu quero vocês é o café. — Eu caminho,
passando por ela.

O queixo de Constance está no chão. Sua namorada, uma mulher pelo menos
dez anos mais nova que ela, fica rígida, olhando-me com medo. Relações do mesmo
sexo podem ser ultramodernas e estarem na moda em Nova York, mas não entre
antigas famílias endinheiradas como esta. Isso a arruinaria. É por isso que ela me
odeia. Ela acha que eu tenho andado por aí esperando para soltar uma bomba em
sua vida.

Quando Constance fala, seu tom é cético: — Você sabe há muito tempo e não
disse nada. Por quê?

— Porque eu não me importo com você. — Eu mantenho minhas costas
para ela enquanto despejo o líquido escuro em uma xícara pesada. É muito cedo. As
pessoas normais não estão acordadas às cinco da manhã. Elas provavelmente
estavam tomando café da manhã antes de se separarem para o dia. Quando me viro

para falar, as duas mulheres estão me olhando mortificadas. — Eu me preocupo
com Bryan. Você não percebeu nada sobre ele que lhe diz respeito?

Seu olhar se estreita. — Não brinque comigo. Eu conheço minha família,
cada um deles.

— Sim, bem, você pode querer falar com ele. — Ela bloqueia seu maxilar,
preparando-se para ordenar que eu saia, mas eu acrescento: — O tempo é uma
coisa engraçada. Todos nós pensamos que temos uma tonelada dele até que seja
tirado de nós, então nos damos conta de que nunca foi o suficiente, para começar.
Use o tempo que você tem, Constance. Ame as pessoas que queira e se certifique de
que eles saibam disso. Chegará o dia em que você lamentará que não o fez e a
chance passou por você.

Ela endurece quando eu falo. — Você está me ameaçando?

Eu rio alto com o ridículo de sua declaração. Ela não tem nenhuma pista. Eu
estava me referindo a mim e Bryan, para a piscina constante de arrependimento
que enche meu estômago. Poderíamos ter estado juntos, mas essa oportunidade
está perdida agora, o tempo que nunca teremos.

— Você está tão errada sobre tudo, lacrada em sua pequena bolha, fora de
contato com o mundo real. Isso não é sobre você, então você acha que está segura,
mas você nunca está, não do tempo - não da morte. Seu sobrinho... — Eu engulo
em seco, mas não quebro o contato visual. — Certifique-se que sua mãe descubra.
Isso é tudo que eu quero.

A suposição de que eu estou fazendo é enorme - aquela que Elizabeth Ferro
se importará se seu filho vive ou morre. Bryan não contou a ninguém sobre sua
doença, exceto eu. Jon pode ver isso, mas os outros não têm ideia. Eu não sei
quanto tempo resta à Bryan, mas não quero que ele o gaste se preocupando ou
brigando. Eu quero estar lá para protegê-lo e, por alertar o Ferro de seu estado, eu
provavelmente só fiz isso mais difícil de acontecer - mas que é a coisa certa a fazer.
Se eu tivesse um segundo extra para gastar com o meu pai... O pensamento se
esconde em minha mente, sol a sol. Quando a noite lava o céu com tons roxos de
tinta e manchas de âmbar cintilante, eu gostaria de ter mais uma oportunidade de
dizer todas as coisas que nunca tive a chance de expressar. Agora, esses
pensamentos estão presos dentro da minha alma, me segurando cativa. Eu nunca

vou ser livre. Eu nunca tive a chance de dizer adeus. Eu estou dando aos Ferro essa
oportunidade e esperando além da esperança de que eles não me joguem para fora
na minha bunda em recompensa.

Empurrando de lado meus pensamentos, eu coloco meu copo vazio para
baixo e saio, deixando Constance e sua amante, boquiabertas, no meu despertar. As
duas mulheres atrás de mim são crianças brincando de casinha. Eu posso ser mais
jovem do que elas em anos, mas minha alma parece velha. É imaturo pensar que a
sua vida seja apenas sobre você. A vida é sobre as pessoas ao seu redor. Como eu
gostaria de nunca crescer, mas desejar é desperdício de tempo e eu me recuso a
desperdiçar mais um segundo.

Capítulo 2

Maggie e eu planejamos, através de mensagens de texto, nos encontrar em
algum lugar que tenha um bagel logo após o amanhecer. Os únicos carros no
estacionamento são da loja. O resto do centro de compras ainda está fechado. Eu
não espero muito tempo, quando ela se junta a mim no final da fila.

— Hey. — Diz Maggie, me envolvendo em um abraço.

Eu a abraço de volta, segurando-a um segundo muito longo. Ela vai fugir
novamente. Eu sei disso. Ela não lida bem com a morte também. Acho que
ninguém faz, mas Maggie viu muito dela. Quando eu a solto, me forço a perdoá-la
com antecedência. Uma alma só pode tomar tanto abuso antes que não possa
evitar, exceto reagir. É como o cão de Pavlov. A campainha da morte soa e Maggie
corre.

Eu enfio um pedaço de cabelo atrás da minha orelha e encosto contra a
vitrine de vidro, antes de enfiar as mãos nos bolsos. — Hey. Como tem passado?

A fila faz a volta para fora da porta e para baixo da frente do centro
comercial com pessoas que já pararam para um bagel e café em seu caminho para
o trabalho. A fila se aproxima alguns centímetros mais próxima da comida e nos
movemos com ela, antes de retornar nossas posições contra o vidro. Meu estômago
ronca com o cheiro de fermento e eu mal posso esperar para provar o pão macio,
quente e mordê-lo, saboreando o cream cheese espesso. Eu aprendi a não dar por
certo pequenas coisas. Bagels me ajudam a encontrar meu lugar feliz.

Eu pretendo pegar um para Bryan também - sementes de papoula com
manteiga, exatamente como ele pedia na escola. Viemos aqui tantas vezes. Eu fico
olhando para fora, no estacionamento, minha mente vagando em uma memória de
Bryan me levantando em um carrinho de compras e empurrando-me como um
louco pelo mercado, rindo o tempo todo.

Outro cliente perguntou: — Que corredor você a encontrou? Eu quero uma!

Bryan apenas sorriu, os olhos deslizando sobre mim no carrinho. —
Desculpe, cara. Esta era a única e é toda minha. Eu nunca a deixarei ir. — A

memória ecoa fortemente em meus ouvidos. Parece que poderia ter acontecido
ontem.

A voz de Maggie me encaixa de volta ao presente. Ela encolhe os ombros e
puxa a alça da bolsa para cima de seu ombro. — Eu estou bem. Acho que encontrei
um apartamento para nós, mas eu ouvi que Neil comprou para vocês uma casa. —
Ela faz uma cara de, bem, tenta não fazer uma cara, que faz sua expressão de dor
ainda pior. A fila se move de novo e, com um passo à frente, ela deixa escapar: —
Você realmente vai se casar com ele? Achei que você amasse Bryan? Parecia que
estava totalmente encantada com o gatinho do sexo. Bem, você é a gatinha.
Rapazes são o quê, tigres? Tigre sexual soa mal. — Ela ri, mas sua risada leve
desaparece quando ela vê o meu sorriso falso. — O que há de errado, Hallie?

Eu tento manter minha voz firme, mas treme sem minha permissão. Não há
nenhum ponto em protelar por mais tempo, e além disso, eu preciso dela. Mesmo
que ela vá correr, eu tenho que falar com alguém enquanto eu tiver a chance. —
Maggie, ele está morrendo.

— Mas, ele não pode estar! Ele... — Maggie deixa escapar muitas palavras de
uma só vez e quase começa a chorar. Ela é a pessoa mais empática que eu já
conheci. A minha dor está representada em seu rosto quando ela para, aperta
minha mão e me puxa para um abraço de urso que poderia explodir minha cabeça.
— Eu sinto muito, Hallie. — Ela enxuga as lágrimas com as costas da mão e olha
para o meu ombro, não querendo perguntar. Cada palavra é como se enfiasse uma
faca no meu lado. — O que há de errado com ele?

Eu a atualizo com o que sei que aconteceu até agora. Minha voz continua
difícil quando eu chego ao fim da história. — Nós terminamos por causa de sua tia
Constance. Ela achou que eu iria arruiná-la com informações que eu não deveria
saber, então ela descobriu uma maneira de nos separar. — A raiva eu não tinha
notado até agora borbulha sob a superfície da minha mente. Eu não vou ficar com
raiva, eu não posso ficar. Eu me recuso a perder meu tempo com ela ou o que ela
fez. — Maggie, eu não poderia me importar menos com ela, mas eu quis Bryan
todo esse tempo e não o tive por causa dela.

— E, no entanto, você não soa como louca. Você parece mais
assustadoramente tranquila sobre isso. — Uma sobrancelha vermelha levanta
levemente em sua testa sardenta.

Eu olho para ela conforme nos movemos com a fila para dentro da pequena
loja, e nos aproximamos da bandeja do pão assado. Maggie pede em primeiro lugar,
então eu peço e pago por nossos itens. Pegamos o nosso café da manhã, cortamos
de volta através da fila, para fora da porta, em direção ao estacionamento. Fico ali
na frente dela querendo falar, mas incapaz de encontrar palavras, em seguida,
entrego para ela o pão e suco de laranja.

Minha boca se abre duas vezes, mas as palavras não saem. Eu finalmente
olho nos olhos dela e explico. — Eu não estou louca. Bem, eu estou - mas não quero
estar. É um desperdício de tempo e eu não tenho tempo de sobra. Eu estou
pensando em ficar com ele, Maggie. Seja qual for o tempo que lhe resta, eu quero
estar lá.

— Eu entendo, e eu estou aqui para você. — Ela pega a minha mão, mas eu
não posso olhar para ela.

— Não faça promessas que não pode cumprir, Maggie.

— Eu estou as mantendo desta vez.

— Eu prefiro saber agora que você vai desaparecer. Eu posso lidar com isso
sozinha. Eu estou bem, realmente. Eu sei o que isso faz para você e... — Eu arranjo
desculpas para ela até que ela me corta.

— Não. A última vez eu não estava lá para você, porque Victor era um idiota.
Eu não tive escolha. Isso fazia parte da maneira como ele estava me controlando,
mas ele já se foi, Hallie. Eu não vou fugir. Eu estarei lá para você. Você não terá que
lidar com isso sozinha. Eu prometo. Podemos passar por qualquer coisa, você e
eu. Eu não vou deixar você Hallie. Nós somos irmãs. Eu vou estar lá neste
momento. — Ela sorri sem jeito e olha para o chão sob suas botas.

Ela muda o seu peso para o outro pé e olha para mim debaixo de muito
rímel. Sua boca fica aberta por um segundo e seus lábios enrolam, como se ela não
quisesse dizer o que está prestes a cair de sua boca. — Há algo que você precisa
saber, e eu não sei se você vai gostar ou não com tudo o que aconteceu, mas precisa

saber. Você precisa. E eu odeio dizer isso agora, mas talvez seja melhor assim. Eu
esperaria se eu achasse que ajudaria.

— Maggie, diga-me. O que é?

Ela puxa um monte de ar e cospe para fora. — Ontem à noite, enquanto você
não estava em casa, entrei e vi o que parecia ser Neil e Cecily fazendo coisas que
estava muito além da zona do amigo. — Seus lábios são esmagados em conjunto,
enquanto ela tenta permanecer inexpressiva. Eu posso dizer que ela quer castrar
Neil conforme ela luta para manter seus lábios em uma linha reta.

Eu pisco, e isso é tudo. A raiva não vomita da minha boca e minhas mãos
não estão cerradas em punhos. Eu não me sinto quebrada ou até mesmo chocada.

Eu não sinto nada.

Se eu amasse Neil, eu estaria irada, mas eu não estou. Concordo com a
cabeça.

O rosto preocupado de Maggie franze enquanto ela empurra seu brilhante
cabelo atrás da orelha. — Eu não sei se eu deveria dizer. Eu o odeio, mas pensei
que você gostava do cara. — Ela me olha com tal preocupação que eu não posso
deixar de sorrir para ela.

Meu olhar abaixa para o chão e eu tomo uma respiração profunda, antes de
dar-lhe um abraço de lado. Quando eu a deixo ir, murmuro: — Eu estou feliz que
você me disse. Desgraça pouca é bobagem, certo? — Eu ofereço um sorriso de
novo, mas é falso neste momento. Há muitas lembranças correndo pela minha
mente, e o movimento faz minha pele parecer como se fosse rachar.

— Yeah. — Ela ri. — Pelo menos não temos que nos preocupar com Victor.
Devo-lhe muito por isso. Os jornais disseram que um dos seus homens o matou no
meu apartamento. Se você não tivesse me arrastado para fora, naquela noite eu
teria levado um tiro, também.

Eu sou insensível ao que eu fiz, pelo menos no momento. Às vezes, quando
eu não consigo dormir, o pensamento de que fiz desliza em minha mente, não
desejado. Victor é um pesadelo que não vai morrer, mas não posso perder o meu
tempo.

— Somos eu e você, agora. — Eu digo a ela com firmeza. Ela sorri
tristemente para mim e assente. — Maggie, você pode ir a casa de Neil e pegar
minhas coisas? Há apenas algumas caixas. Eu nunca desembalei, não
realmente. Neil queria que eu fizesse, mas eu empurrei a maioria delas na parte de
trás de um armário. — Eu retiro minha bolsa e escrevo-lhe um cheque. — Isso
deve cobrir o aluguel do nosso novo apartamento e tudo o mais que
precisamos. Deixe-o bonito, ok? Vai ser bom ter um novo lugar bonito para ir para
casa quando isso acabar.

Maggie pega o cheque e olha para todos os zeros, antes de olhar para mim.
Uma mecha de cabelo vermelho cai na frente de seus olhos. — Hallie, eu não posso
aceitar isso.

— Sim, você pode. Vai fazê-lo. Precisamos de um lugar para viver. Eu
gostaria de ter mais a oferecer, mas essa discussão é para outro dia. Entretanto,
isso vai nos colocar em uma boa vizinhança e nós estaremos confortáveis.

— Você vai processar Neil e Cecily? Eles praticamente gastaram todo o seu
dinheiro.

Concordo com a cabeça. — Provavelmente, mas não agora. Eu preciso fazer
um telefonema. — Maggie balança a cabeça e eu disco para o meu banco enquanto
seguimos para o meu carro. Eu explico a um funcionário do banco muito prestativo
que o nome de Neil deve ser retirado da minha conta imediatamente e todas as
transações em andamento com a sua assinatura, devem ser transferidas para a sua
conta. Verificação conjunta foi ideia dele. Eu esfrego minhas mãos sobre meu rosto
e sento com força no capô do meu carro. A coisa está suja, mas eu não me
importo. O funcionário do banco me pede para ir em breve para assinar os papéis,
e fazer as alterações em minha conta oficial. Quando eu insisto que eles precisam
ser assinados agora, ela diz para vir quando for mais conveniente.

Eu desligo e olho fixamente para as portas fechadas da mercearia. — Eu não
posso fazer isso de novo, não tão cedo. — A perda do meu pai ainda paira pesado
em meu coração, ameaçando me puxar para baixo. Minha dor não diminuiu e a
fama não ajudou. A única coisa que me faz sentir melhor é Bryan e agora vou
perdê-lo também.

Eu não posso respirar. Inclinando minha cabeça para trás com os olhos
cheios de lágrimas, eu olho para o céu e as nuvens brancas onduladas. O céu estava
aqui muito antes de eu nascer e vai estar aqui muito tempo depois. Faz-me sentir
pequena, como se a minha vida não importasse em tudo.

Maggie me bate com sua bota. — Bagel?

— Eu não estou com fome. — Eu estava com fome apenas um momento
atrás, mas agora não sinto nada parecido com isso.

— Merda resistente. Eu estou cuidando de você, o que significa que você
come isso ou vou enfiar na sua cara. — Ela está sorrindo para mim. — Eu vou fazer
isso.

Eu roubo a minha comida de sua mão. — Eu sei que você vai. —
Desempacotando a coisa, dou uma mordida e percebo que eu estou morrendo de
fome.

— A vida não é sobre a morte, você sabe. — Diz Maggie de repente. Ela está
sentada ao meu lado no capô, olhando para uma nuvem, pegando arrancando
pedaços de seu bagel, e os jogando em sua boca um de cada vez.

— Então o que se trata? — Eu pensei que eu sabia em um ponto, mas não
tenho ideia, não mais. A vida parece uma piada cruel.

— É sobre as relações que você faz, a bondade que oferece e você mostrar
compaixão. É a sua chance de mostrar ao mundo quem você é e o que faz você.
Hallie, você é a pessoa mais forte que conheço. Em vez de sentar aqui chorando
comigo, você deve estar com Bryan. Aqui. — Ela me dá o bagel extra. — Cheque de
vez em quando e quando você precisar de mim, eu vou. Nesse meio tempo, vou
deixar nossa casa pronta, eu prometo. Nada me manterá longe desta vez. Quando
você precisar de mim, eu estarei lá - se estiver no hospital, a funerária ou apenas
quando você precisar de uma pausa.

Eu sinto uma vibe nervosa vindo dela. — Você não é fraca, Maggie. Somos
sobreviventes, eu e você. — Quando eu digo isso, quero dizer para confortá-la, mas
uma bola dá um nó na minha garganta.

Ela pega a minha mão e se inclina, descansando a cabeça no meu ombro. —
Nós vamos sobreviver a isto também “juntas”.

Capítulo 3

Eu não quero pensar em Neil, então eu volto para a mansão Ferro e me
esgueiro para dentro. Ainda é cedo. As únicas pessoas que vejo são os empregados.
Eles me veem e não dizem nada. Deve ser estranho viver como uma estátua dia
após dia, sem ninguém, mas outros funcionários, na verdade, reconhecem que você
é humano. Eu não posso evitar isso. Eu sorrio para o mordomo que está sempre
ocupado, correndo para algum lugar. Ele inclina a cabeça em saudação, mas não
abranda.

Depois que ele passa, se vira para trás. — Você precisa de alguma coisa, Sra.
Raymond?

Eu sorrio e balanço a cabeça. — Não, é apenas bom vê-lo. — Eu olho para
ele. Este homem tem sido constante na vida de Bryan por anos. Eu me pergunto se
ele sabe que Bryan tem um segredo, porque nada lhe escapa, pelo menos não
quando éramos mais jovens. Eu me lembro de receber olhares severos dele quando
éramos muito jovens e fazíamos coisas muito loucas, enquanto a mãe de Bryan não
estava por perto. Mas o cara nunca nos entregou.

— Da mesma forma, Sra. Raymond. Diga ao Sr. Ferro que se ele precisar de
ajuda pode pedir qualquer coisa para mim. — Seus olhos perfuraram os meus por
um momento antes que ele olhe para o lado.

Ele sabe.

Concordo com a cabeça e vou para o modo de super mocinha. Antes que eu
possa me parar, lanço o meu corpo para ele e meus braços em volta do velho,
abraçando-o em um abraço de urso em estilo desleixado. Ele endurece com choque
e, em seguida, dá um tapinha minhas costas. — As pessoas vão dizer-lhe que ele
vai ficar bem. Ao longo dos próximos meses, você vai ouvir isso de novo e de novo,
mas a perda não é assim que funciona. As coisas não vão voltar ao normal, mas a
vida continua. Converse com ele sobre isso, enquanto você tem a chance.

Meu queixo cai. — O quê? Isso seria tão mau. Eu não posso...

— Isso não é o problema meu, mas se você fosse minha filha, era o que eu
diria a você. Tempos sombrios estão chegando, se este homem é o seu raio de luz,
mergulhe no sol tanto quanto puder e quando puder.

Acho que entendo o que ele quer dizer, então balanço minha cabeça para
cima e para baixo lentamente. Falar sobre a morte com alguém que está morrendo
é o que ele quer dizer. Vamos acabar discutindo todas as coisas que queríamos
fazer, mas nunca teremos a chance. Minha garganta aperta com o pensamento e os
meus olhos lacrimejam. — Obrigada.

— Qualquer hora, Sra. Raymond. — Ele inclina a cabeça para mim como se
eu fosse uma rainha e se vira para correr para longe.

Eu não gosto da sua sugestão, mas parte dela me chama. E se a gente falar
sobre isso? Eu balanço minha cabeça e aperto as mãos. Não! Eu não quero! Isso não
é justo e não posso simplesmente aceitar que vou perdê-lo - não depois que
finalmente nos encontramos novamente. Não depois de todo esse tempo.

No momento que estou dentro da mansão de Bryan, paro na porta. Minha
intenção era ir à ponta dos pés para o quarto de Bryan, mas sou presa pelo Ferro
que eu mais temo - Sean. Ele está encostado na parede, os braços cruzados sobre o
peito. Ele se parece com sua mãe, toda acusação não dita claramente visível em
seus olhos. Suas roupas escuras - casaco de couro, calça jeans, camisa preta e botas
shitkicker. — Você e eu temos algo a discutir.

Minha intenção é passar por ele. — Não tenho nada para lhe dizer.

Sean libera seus braços e caminha em minha frente. Ele é silencioso e letal,
com vibes malucas irradiando dele como micro ondas. Ding! — Bem, eu tenho algo
que você precisa ouvir - sobre um homem chamado Victor. — Minha respiração
para na minha garganta enquanto minhas mãos vão para o meu coração. Sean me
puxa pela curva do meu cotovelo para longe da porta de Bryan. — Sim, eu achei
que você soubesse alguma coisa sobre isso. Os jornais estão dizendo que um dos
seus homens o matou, mas os policiais estão bisbilhotando, me fazendo perguntas
sobre um traficante de merda. Eu não gosto de policiais e não gosto ainda menos
de perguntas. Então, me diga, como é que eles rastrearam até aqui? O que você
deixou para trás?

Eu rio, mas ele ignora. — Você acha que eu o matei? — Estou pressionando
meus dedos em meu peito, piscando, com meu queixo caído. Embora seja um
excelente desempenho, algo que me afasta. Sean pode ver isso.

Ele dá um passo no meu espaço de uma maneira ameaçadora. Sua voz
ressoa: — Eu sei que você o matou.

— Não, você não sabe. — Eu agarro, tentando me empurrar por ele
novamente, mas Sean não me deixa passar. Ele bloqueia o lugar com seu corpo
maciço.

Inclinando-se perto do meu rosto, ele sussurra baixinho: — Se eu sei, a
minha mãe sabe e você não quer pegadas sujas que levam direto para a porta da
frente. Você precisa se separar de Bryan e sair daqui antes que descubram isso.

Eu balanço minha cabeça e mordo meu lábio inferior. Eu provavelmente
pareci como um moleque teimoso, mas não vou deixar Bryan.

Os olhos de Sean travam com os meus e sua voz cai para um sussurro letal.
— Eu posso fazê-la desaparecer.

Algo desperta dentro de mim, essa mesma característica de proteção que
me fez cortar a garganta de Victor, em primeiro lugar. Minha coluna se endireita e
eu fico na frente do seu rosto. — Da mesma forma.

Depois de um momento de reflexão, o homem na verdade ri. Sean esfrega o
queixo com a mão. Eu não posso dizer se ele está se divertindo ou pensa que sou
louca. Ele finalmente pergunta: — Por que você fez isso?

— Por que você acha? O homem era um estuprador assassino. Vamos
apenas dizer que eu estava no lugar errado na hora errada. Acidentes acontecem e
eu não ia deixar que qualquer outra coisa acontecesse com a minha amiga. Ela é a
única família que me resta. — Eu sugo o ar, tentando inchar, então não sou tão
pequena, mas em comparação com Sean Ferro, sou um palito.

Seus olhos azuis mudam para o lado antes que ele passe as mãos pelo
cabelo. — Então, você protegeu sua família, deixe-me proteger a minha. Vá
embora. Não puxe Bryan para isso.

— Para quê? Os mortos não puxam qualquer um para qualquer coisa.

— Victor Campone está vivo.

Capítulo 4

Um pequeno grito escapa dos meus lábios e eu quase caio no chão. Meus
joelhos cedem, mas antes de eu ir para baixo, Sean agarra meus braços. Ele me
mantém de pé e continua suavemente. — Os policiais suspeitam que ele esteja
vivo. No momento em que chegaram lá, o corpo tinha desaparecido. Devido à
quantidade de sangue que encontraram, sua suposição natural era que um de seus
homens o matou e jogou o corpo. Os policiais ainda estavam indo por esse caminho
até recentemente, quando pegaram Campone bisbilhotando meu hotel. Então, a
menos que viram um fantasma, o homem ainda está vivo.

— Ele não pode estar. — Eu balanço minha cabeça e meus olhos vidrados
quando me lembro daquela noite. A quantidade de sangue, a forma que sua cabeça
pendia para trás e a ferida era tão profunda. — Não é possível.

Sean suspira e olha para mim com uma expressão que está perdida em
algum lugar entre pena e admiração. Inclinando-se perto, ele diz: — O corte foi
muito superficial. É como apontar para o coração e não acertar. O cara foi
subestimado, os que estavam dispostos e aceitaram fazer isso uma vez, mas ele não
vai ser subestimado novamente. E eu aposto qualquer coisa que ele vai
permanecer morto por um tempo, deixar que os outros façam o trabalho sujo, até
que lhe convenha encenar uma ressurreição.

— Como você sabe tudo isso?

Ele engole em seco, seu olhar se afastando e depois de volta para os meus
olhos. — Periodicamente nossos empreendimentos comerciais se sobrepõem. Eu
ouço coisas. E posso dizer-lhe que se eu ouvi, minha mãe ouviu e você com certeza
não quer irritá-la. Se Campone acabar aqui, você está morta. Se ele não te matar,
minha mãe vai.

Ele agarra meus ombros e me pede: — Hallie, pega a sua amiga e dá o fora
daqui antes que Campone a encontre. — Sean me libera. — Este foi um aviso de
cortesia. Se você ficar por perto e Bryan for morto por sua causa, bem, é melhor

esperar que Victor a encontre antes de mim. — Seus olhos firmam em mim uma
vez com as suas intenções claras.

Eu fico lá por um segundo mal respirando. Nossos olhos estão bloqueados,
nós dois estamos desafiando, mas será que ele não sabe, Sean não sabe sobre seu
primo? Talvez eu devesse pegar Bryan e correr, mas não posso. Não enquanto ele
está doente. Ele vai precisar de ajuda e cuidados paliativos. Eu não posso dar-lhe
essas coisas se eu corro. Minha voz racha quando eu falo. — Eu não posso.

— Não é opcional.

— Não, você não entende. Eu não posso ir embora. Eu não posso correr
mais de Victor e não vou. Eu vou cuidar disso. Eu vou terminar o que comecei. —
Eu não tenho ideia de como, mas vou. Se eu não fizer isso, ele virá atrás de mim e
Maggie. O homem é cruel, ele nunca vai parar de nos caçar. Eu sei disso com
certeza.

Sean levanta a sobrancelha escura. — Você está louca? Você nunca vai ter
outra chance de matá-lo. Ele pensou que era insignificante antes, mas agora ele a
conhece melhor.

Eu me empurro passando por ele. — Eu vou cuidar disso. Ele não virá aqui,
e desta vez, quando eu matá-lo, ele vai morrer.

— Hallie. — Sean quase implora meu nome, quase, mas eu não paro.

Eu entro no quarto de Bryan e fecho a porta. Eu fico lá por um segundo e
derrubo minha cabeça para trás, respirando com dificuldade. Eu nunca soquei uma
pessoa antes. Agora eu simplesmente confessei ao mais assustador de todos os
Ferro que vou dar um fim no senhor das drogas mais notório da cidade. Super foda.

Eu ainda estou segurando o saco com café da manhã de Bryan. Quando
aperto o meu punho, o jornal faz um ruído de crepitação e ele se senta. Um belo
sorriso ilumina seu rosto pálido. — Hey, Menina Bonita. Para onde você correu?

— Para pegar o café da manhã e conseguir alguma sujeira em sua tia. Foi
uma manhã interessante. — Eu sorrio, preocupada com ele e entrego o saco.

— Sujeira na minha tia?

Balanço a cabeça e me sento ao lado dele na cama. — Sim, eu descobri
porque ela me odeia. Ela pensa que eu sei de algo todos esses anos, mas eu não
descobri o que eu sabia até esta manhã.

Bryan desembrulha o seu bagel enquanto estou falando e morde. Seus
firmes olhos verdes encontram os meus. Com a boca cheia, ele me pergunta. — E
então?

Eu penso em manter seu segredo, mas não sinto nenhuma lealdade para
com ela. Além disso, Bryan não vai contar a ninguém. — Ela é gay. Eu a peguei com
sua amante na cozinha de sua mãe esta manhã.

Seu queixo cai e o pedaço de bagel rola para fora da boca, indo para a
colcha. — De jeito nenhum.

Concordo com a cabeça e olho para o pedaço de comida. — Um choque e
tanto, hein?

— Claro que sim. Ela é tão recatada e adequada. — Seu nariz franze com o
pensamento da sua tia ser sexualmente algo.

— E, aparentemente, ela gosta de garotas.

Bryan pisca e sorri. — Bem, isso explica um monte de coisas.

— Sim, como por que ela ainda é casada e permite que prostitutas meio
vestidas andem pela sua casa.

Bryan sorri. — Claro, todo mundo gosta de um pouco de colírio para os
olhos.

Eu bato em seu ombro. — Bryan!

— Vamos lá, pense nisso. Houve uma garota naquela casa desde que Jon era
um bebê. É a família mais estranha que eu já vi. Minha mãe não teria tolerado. Eu
sempre me perguntei por que a tia Constance tolerava.

— Seu pai não tem uma puta coabitante?

Ele inclina a cabeça para mim. — Meu pai não tem tempo para isso. Ele está
muito ocupado ganhando dinheiro para ser incomodado com relacionamentos ou
senhoras de compra. Mas, ainda assim, a tia Connie gosta das garotas. Quem teria

pensado? — Ele balança a cabeça. — Então o que diabos eu vi no dia que
terminamos?

Boa pergunta. Eu suspiro e tenho uma boa ideia de para quem perguntar. Eu
sorrio grande. — Qual é o quarto que Constance usa quando está aqui?

Bryan parece confuso e então seus olhos se arregalam. — Você está louca?

— Só um pouco. — Eu rio e quase aperto meus dedos juntos.


CONTINUA

A luz do amanhecer brilha através das pesadas cortinas que revestem as paredes formando uma fina fenda de branco puro no tapete escuro. Eu fico olhando para ele, perdida em seus pensamentos. Perto de mim, Bryan está dormindo. Eu envolvo meus braços ao redor dele e seu corpo se parece tão forte. É por isso que isto é tão difícil. Não faz nenhum sentido. Para além da dor, eu não posso ver o que está acontecendo com ele. É interno. Seu corpo o está matando segundo a segundo. Eventualmente, ele irá respirar e não haverá outro. Eu não posso suportar a ideia.
Minha vida tem sido moldada por morte. Todo mundo que me importa, todos, exceto Maggie, partem. Eu escorrego para fora da cama, agarrando o meu telefone antes de ir para fundo do corredor. Eu envio uma mensagem de texto para ela, embora eu duvide que ela esteja acordada.
Eu digito: Estou com Bryan. Apenas verificando para ter certeza que está tudo bem.
Para minha surpresa ela envia uma mensagem de volta: Eu estou, mas tenho uma coisa horrível para lhe dizer.
Nada poderia ser pior do que perder Bryan. Eu digito de volta: Eu também.
Volto logo para casa e podemos conversar.
Ela responde: Ok.

 


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Eu enfio meu celular no bolso antes de pegar a camiseta de Bryan e a puxo
sobre minha cabeça. Eu enfio minhas mãos sob as mangas e vagueio pela mansão
até encontrar a cozinha. Sinto o cheiro do café e preciso desesperadamente de uma
xícara. Infelizmente, a besta “a tia” de Bryan está sentada à mesa com outra
mulher. Ambas estão vestidas em robe. Eu pisco conforme o choque lava seus
rostos. Eu não posso imaginar por que ela está aqui tão cedo, não vestida. Quão
estranho é isso?

Dentro de um batimento cardíaco, Constance está fora de seu assento e no
meu rosto. — Como você ousa desfilar na casa da minha irmã usando coisas do
meu sobrinho? Saia agora mesmo, sua puta! — Ela tenta bater no meu rosto, mas
eu agarro seu pulso.

As coisas finalmente clicam no lugar. A forma como as mulheres estavam
olhando uma para a outra, o toque de suas mãos, a forma como os seus olhos
permanecem naquele olhar fixo familiar, o fato de que ela está aqui, quando sua
irmã e cunhado já se foram e a forma como Constance se transforma em um tigre
quando ela me vê - faz sentido. Ela está escondendo um segredo há anos que
poderia arruiná-la para sempre. É por isso que ela suporta as infidelidades do Sr.
Ferro e porque permite que suas mulheres valsem pela sua casa.

Constance é gay - e esta mulher é sua amante. Ela pensou que eu soubesse,
mas eu nunca percebi antes.

Ela puxa sua mão do meu aperto e se prepara para começar a gritar
novamente. Eu a interrompo, cansada. — Eu não me importo com sua vida ou
suas preferências. Eu entendo que seja um tabu para você ser vista com ela. Eu
entendo isso, Constance, eu realmente entendo. Eu não a julgo por isso, então pare
de me julgar. A única coisa de que eu quero vocês é o café. — Eu caminho,
passando por ela.

O queixo de Constance está no chão. Sua namorada, uma mulher pelo menos
dez anos mais nova que ela, fica rígida, olhando-me com medo. Relações do mesmo
sexo podem ser ultramodernas e estarem na moda em Nova York, mas não entre
antigas famílias endinheiradas como esta. Isso a arruinaria. É por isso que ela me
odeia. Ela acha que eu tenho andado por aí esperando para soltar uma bomba em
sua vida.

Quando Constance fala, seu tom é cético: — Você sabe há muito tempo e não
disse nada. Por quê?

— Porque eu não me importo com você. — Eu mantenho minhas costas
para ela enquanto despejo o líquido escuro em uma xícara pesada. É muito cedo. As
pessoas normais não estão acordadas às cinco da manhã. Elas provavelmente
estavam tomando café da manhã antes de se separarem para o dia. Quando me viro

para falar, as duas mulheres estão me olhando mortificadas. — Eu me preocupo
com Bryan. Você não percebeu nada sobre ele que lhe diz respeito?

Seu olhar se estreita. — Não brinque comigo. Eu conheço minha família,
cada um deles.

— Sim, bem, você pode querer falar com ele. — Ela bloqueia seu maxilar,
preparando-se para ordenar que eu saia, mas eu acrescento: — O tempo é uma
coisa engraçada. Todos nós pensamos que temos uma tonelada dele até que seja
tirado de nós, então nos damos conta de que nunca foi o suficiente, para começar.
Use o tempo que você tem, Constance. Ame as pessoas que queira e se certifique de
que eles saibam disso. Chegará o dia em que você lamentará que não o fez e a
chance passou por você.

Ela endurece quando eu falo. — Você está me ameaçando?

Eu rio alto com o ridículo de sua declaração. Ela não tem nenhuma pista. Eu
estava me referindo a mim e Bryan, para a piscina constante de arrependimento
que enche meu estômago. Poderíamos ter estado juntos, mas essa oportunidade
está perdida agora, o tempo que nunca teremos.

— Você está tão errada sobre tudo, lacrada em sua pequena bolha, fora de
contato com o mundo real. Isso não é sobre você, então você acha que está segura,
mas você nunca está, não do tempo - não da morte. Seu sobrinho... — Eu engulo
em seco, mas não quebro o contato visual. — Certifique-se que sua mãe descubra.
Isso é tudo que eu quero.

A suposição de que eu estou fazendo é enorme - aquela que Elizabeth Ferro
se importará se seu filho vive ou morre. Bryan não contou a ninguém sobre sua
doença, exceto eu. Jon pode ver isso, mas os outros não têm ideia. Eu não sei
quanto tempo resta à Bryan, mas não quero que ele o gaste se preocupando ou
brigando. Eu quero estar lá para protegê-lo e, por alertar o Ferro de seu estado, eu
provavelmente só fiz isso mais difícil de acontecer - mas que é a coisa certa a fazer.
Se eu tivesse um segundo extra para gastar com o meu pai... O pensamento se
esconde em minha mente, sol a sol. Quando a noite lava o céu com tons roxos de
tinta e manchas de âmbar cintilante, eu gostaria de ter mais uma oportunidade de
dizer todas as coisas que nunca tive a chance de expressar. Agora, esses
pensamentos estão presos dentro da minha alma, me segurando cativa. Eu nunca

vou ser livre. Eu nunca tive a chance de dizer adeus. Eu estou dando aos Ferro essa
oportunidade e esperando além da esperança de que eles não me joguem para fora
na minha bunda em recompensa.

Empurrando de lado meus pensamentos, eu coloco meu copo vazio para
baixo e saio, deixando Constance e sua amante, boquiabertas, no meu despertar. As
duas mulheres atrás de mim são crianças brincando de casinha. Eu posso ser mais
jovem do que elas em anos, mas minha alma parece velha. É imaturo pensar que a
sua vida seja apenas sobre você. A vida é sobre as pessoas ao seu redor. Como eu
gostaria de nunca crescer, mas desejar é desperdício de tempo e eu me recuso a
desperdiçar mais um segundo.

Capítulo 2

Maggie e eu planejamos, através de mensagens de texto, nos encontrar em
algum lugar que tenha um bagel logo após o amanhecer. Os únicos carros no
estacionamento são da loja. O resto do centro de compras ainda está fechado. Eu
não espero muito tempo, quando ela se junta a mim no final da fila.

— Hey. — Diz Maggie, me envolvendo em um abraço.

Eu a abraço de volta, segurando-a um segundo muito longo. Ela vai fugir
novamente. Eu sei disso. Ela não lida bem com a morte também. Acho que
ninguém faz, mas Maggie viu muito dela. Quando eu a solto, me forço a perdoá-la
com antecedência. Uma alma só pode tomar tanto abuso antes que não possa
evitar, exceto reagir. É como o cão de Pavlov. A campainha da morte soa e Maggie
corre.

Eu enfio um pedaço de cabelo atrás da minha orelha e encosto contra a
vitrine de vidro, antes de enfiar as mãos nos bolsos. — Hey. Como tem passado?

A fila faz a volta para fora da porta e para baixo da frente do centro
comercial com pessoas que já pararam para um bagel e café em seu caminho para
o trabalho. A fila se aproxima alguns centímetros mais próxima da comida e nos
movemos com ela, antes de retornar nossas posições contra o vidro. Meu estômago
ronca com o cheiro de fermento e eu mal posso esperar para provar o pão macio,
quente e mordê-lo, saboreando o cream cheese espesso. Eu aprendi a não dar por
certo pequenas coisas. Bagels me ajudam a encontrar meu lugar feliz.

Eu pretendo pegar um para Bryan também - sementes de papoula com
manteiga, exatamente como ele pedia na escola. Viemos aqui tantas vezes. Eu fico
olhando para fora, no estacionamento, minha mente vagando em uma memória de
Bryan me levantando em um carrinho de compras e empurrando-me como um
louco pelo mercado, rindo o tempo todo.

Outro cliente perguntou: — Que corredor você a encontrou? Eu quero uma!

Bryan apenas sorriu, os olhos deslizando sobre mim no carrinho. —
Desculpe, cara. Esta era a única e é toda minha. Eu nunca a deixarei ir. — A

memória ecoa fortemente em meus ouvidos. Parece que poderia ter acontecido
ontem.

A voz de Maggie me encaixa de volta ao presente. Ela encolhe os ombros e
puxa a alça da bolsa para cima de seu ombro. — Eu estou bem. Acho que encontrei
um apartamento para nós, mas eu ouvi que Neil comprou para vocês uma casa. —
Ela faz uma cara de, bem, tenta não fazer uma cara, que faz sua expressão de dor
ainda pior. A fila se move de novo e, com um passo à frente, ela deixa escapar: —
Você realmente vai se casar com ele? Achei que você amasse Bryan? Parecia que
estava totalmente encantada com o gatinho do sexo. Bem, você é a gatinha.
Rapazes são o quê, tigres? Tigre sexual soa mal. — Ela ri, mas sua risada leve
desaparece quando ela vê o meu sorriso falso. — O que há de errado, Hallie?

Eu tento manter minha voz firme, mas treme sem minha permissão. Não há
nenhum ponto em protelar por mais tempo, e além disso, eu preciso dela. Mesmo
que ela vá correr, eu tenho que falar com alguém enquanto eu tiver a chance. —
Maggie, ele está morrendo.

— Mas, ele não pode estar! Ele... — Maggie deixa escapar muitas palavras de
uma só vez e quase começa a chorar. Ela é a pessoa mais empática que eu já
conheci. A minha dor está representada em seu rosto quando ela para, aperta
minha mão e me puxa para um abraço de urso que poderia explodir minha cabeça.
— Eu sinto muito, Hallie. — Ela enxuga as lágrimas com as costas da mão e olha
para o meu ombro, não querendo perguntar. Cada palavra é como se enfiasse uma
faca no meu lado. — O que há de errado com ele?

Eu a atualizo com o que sei que aconteceu até agora. Minha voz continua
difícil quando eu chego ao fim da história. — Nós terminamos por causa de sua tia
Constance. Ela achou que eu iria arruiná-la com informações que eu não deveria
saber, então ela descobriu uma maneira de nos separar. — A raiva eu não tinha
notado até agora borbulha sob a superfície da minha mente. Eu não vou ficar com
raiva, eu não posso ficar. Eu me recuso a perder meu tempo com ela ou o que ela
fez. — Maggie, eu não poderia me importar menos com ela, mas eu quis Bryan
todo esse tempo e não o tive por causa dela.

— E, no entanto, você não soa como louca. Você parece mais
assustadoramente tranquila sobre isso. — Uma sobrancelha vermelha levanta
levemente em sua testa sardenta.

Eu olho para ela conforme nos movemos com a fila para dentro da pequena
loja, e nos aproximamos da bandeja do pão assado. Maggie pede em primeiro lugar,
então eu peço e pago por nossos itens. Pegamos o nosso café da manhã, cortamos
de volta através da fila, para fora da porta, em direção ao estacionamento. Fico ali
na frente dela querendo falar, mas incapaz de encontrar palavras, em seguida,
entrego para ela o pão e suco de laranja.

Minha boca se abre duas vezes, mas as palavras não saem. Eu finalmente
olho nos olhos dela e explico. — Eu não estou louca. Bem, eu estou - mas não quero
estar. É um desperdício de tempo e eu não tenho tempo de sobra. Eu estou
pensando em ficar com ele, Maggie. Seja qual for o tempo que lhe resta, eu quero
estar lá.

— Eu entendo, e eu estou aqui para você. — Ela pega a minha mão, mas eu
não posso olhar para ela.

— Não faça promessas que não pode cumprir, Maggie.

— Eu estou as mantendo desta vez.

— Eu prefiro saber agora que você vai desaparecer. Eu posso lidar com isso
sozinha. Eu estou bem, realmente. Eu sei o que isso faz para você e... — Eu arranjo
desculpas para ela até que ela me corta.

— Não. A última vez eu não estava lá para você, porque Victor era um idiota.
Eu não tive escolha. Isso fazia parte da maneira como ele estava me controlando,
mas ele já se foi, Hallie. Eu não vou fugir. Eu estarei lá para você. Você não terá que
lidar com isso sozinha. Eu prometo. Podemos passar por qualquer coisa, você e
eu. Eu não vou deixar você Hallie. Nós somos irmãs. Eu vou estar lá neste
momento. — Ela sorri sem jeito e olha para o chão sob suas botas.

Ela muda o seu peso para o outro pé e olha para mim debaixo de muito
rímel. Sua boca fica aberta por um segundo e seus lábios enrolam, como se ela não
quisesse dizer o que está prestes a cair de sua boca. — Há algo que você precisa
saber, e eu não sei se você vai gostar ou não com tudo o que aconteceu, mas precisa

saber. Você precisa. E eu odeio dizer isso agora, mas talvez seja melhor assim. Eu
esperaria se eu achasse que ajudaria.

— Maggie, diga-me. O que é?

Ela puxa um monte de ar e cospe para fora. — Ontem à noite, enquanto você
não estava em casa, entrei e vi o que parecia ser Neil e Cecily fazendo coisas que
estava muito além da zona do amigo. — Seus lábios são esmagados em conjunto,
enquanto ela tenta permanecer inexpressiva. Eu posso dizer que ela quer castrar
Neil conforme ela luta para manter seus lábios em uma linha reta.

Eu pisco, e isso é tudo. A raiva não vomita da minha boca e minhas mãos
não estão cerradas em punhos. Eu não me sinto quebrada ou até mesmo chocada.

Eu não sinto nada.

Se eu amasse Neil, eu estaria irada, mas eu não estou. Concordo com a
cabeça.

O rosto preocupado de Maggie franze enquanto ela empurra seu brilhante
cabelo atrás da orelha. — Eu não sei se eu deveria dizer. Eu o odeio, mas pensei
que você gostava do cara. — Ela me olha com tal preocupação que eu não posso
deixar de sorrir para ela.

Meu olhar abaixa para o chão e eu tomo uma respiração profunda, antes de
dar-lhe um abraço de lado. Quando eu a deixo ir, murmuro: — Eu estou feliz que
você me disse. Desgraça pouca é bobagem, certo? — Eu ofereço um sorriso de
novo, mas é falso neste momento. Há muitas lembranças correndo pela minha
mente, e o movimento faz minha pele parecer como se fosse rachar.

— Yeah. — Ela ri. — Pelo menos não temos que nos preocupar com Victor.
Devo-lhe muito por isso. Os jornais disseram que um dos seus homens o matou no
meu apartamento. Se você não tivesse me arrastado para fora, naquela noite eu
teria levado um tiro, também.

Eu sou insensível ao que eu fiz, pelo menos no momento. Às vezes, quando
eu não consigo dormir, o pensamento de que fiz desliza em minha mente, não
desejado. Victor é um pesadelo que não vai morrer, mas não posso perder o meu
tempo.

— Somos eu e você, agora. — Eu digo a ela com firmeza. Ela sorri
tristemente para mim e assente. — Maggie, você pode ir a casa de Neil e pegar
minhas coisas? Há apenas algumas caixas. Eu nunca desembalei, não
realmente. Neil queria que eu fizesse, mas eu empurrei a maioria delas na parte de
trás de um armário. — Eu retiro minha bolsa e escrevo-lhe um cheque. — Isso
deve cobrir o aluguel do nosso novo apartamento e tudo o mais que
precisamos. Deixe-o bonito, ok? Vai ser bom ter um novo lugar bonito para ir para
casa quando isso acabar.

Maggie pega o cheque e olha para todos os zeros, antes de olhar para mim.
Uma mecha de cabelo vermelho cai na frente de seus olhos. — Hallie, eu não posso
aceitar isso.

— Sim, você pode. Vai fazê-lo. Precisamos de um lugar para viver. Eu
gostaria de ter mais a oferecer, mas essa discussão é para outro dia. Entretanto,
isso vai nos colocar em uma boa vizinhança e nós estaremos confortáveis.

— Você vai processar Neil e Cecily? Eles praticamente gastaram todo o seu
dinheiro.

Concordo com a cabeça. — Provavelmente, mas não agora. Eu preciso fazer
um telefonema. — Maggie balança a cabeça e eu disco para o meu banco enquanto
seguimos para o meu carro. Eu explico a um funcionário do banco muito prestativo
que o nome de Neil deve ser retirado da minha conta imediatamente e todas as
transações em andamento com a sua assinatura, devem ser transferidas para a sua
conta. Verificação conjunta foi ideia dele. Eu esfrego minhas mãos sobre meu rosto
e sento com força no capô do meu carro. A coisa está suja, mas eu não me
importo. O funcionário do banco me pede para ir em breve para assinar os papéis,
e fazer as alterações em minha conta oficial. Quando eu insisto que eles precisam
ser assinados agora, ela diz para vir quando for mais conveniente.

Eu desligo e olho fixamente para as portas fechadas da mercearia. — Eu não
posso fazer isso de novo, não tão cedo. — A perda do meu pai ainda paira pesado
em meu coração, ameaçando me puxar para baixo. Minha dor não diminuiu e a
fama não ajudou. A única coisa que me faz sentir melhor é Bryan e agora vou
perdê-lo também.

Eu não posso respirar. Inclinando minha cabeça para trás com os olhos
cheios de lágrimas, eu olho para o céu e as nuvens brancas onduladas. O céu estava
aqui muito antes de eu nascer e vai estar aqui muito tempo depois. Faz-me sentir
pequena, como se a minha vida não importasse em tudo.

Maggie me bate com sua bota. — Bagel?

— Eu não estou com fome. — Eu estava com fome apenas um momento
atrás, mas agora não sinto nada parecido com isso.

— Merda resistente. Eu estou cuidando de você, o que significa que você
come isso ou vou enfiar na sua cara. — Ela está sorrindo para mim. — Eu vou fazer
isso.

Eu roubo a minha comida de sua mão. — Eu sei que você vai. —
Desempacotando a coisa, dou uma mordida e percebo que eu estou morrendo de
fome.

— A vida não é sobre a morte, você sabe. — Diz Maggie de repente. Ela está
sentada ao meu lado no capô, olhando para uma nuvem, pegando arrancando
pedaços de seu bagel, e os jogando em sua boca um de cada vez.

— Então o que se trata? — Eu pensei que eu sabia em um ponto, mas não
tenho ideia, não mais. A vida parece uma piada cruel.

— É sobre as relações que você faz, a bondade que oferece e você mostrar
compaixão. É a sua chance de mostrar ao mundo quem você é e o que faz você.
Hallie, você é a pessoa mais forte que conheço. Em vez de sentar aqui chorando
comigo, você deve estar com Bryan. Aqui. — Ela me dá o bagel extra. — Cheque de
vez em quando e quando você precisar de mim, eu vou. Nesse meio tempo, vou
deixar nossa casa pronta, eu prometo. Nada me manterá longe desta vez. Quando
você precisar de mim, eu estarei lá - se estiver no hospital, a funerária ou apenas
quando você precisar de uma pausa.

Eu sinto uma vibe nervosa vindo dela. — Você não é fraca, Maggie. Somos
sobreviventes, eu e você. — Quando eu digo isso, quero dizer para confortá-la, mas
uma bola dá um nó na minha garganta.

Ela pega a minha mão e se inclina, descansando a cabeça no meu ombro. —
Nós vamos sobreviver a isto também “juntas”.

Capítulo 3

Eu não quero pensar em Neil, então eu volto para a mansão Ferro e me
esgueiro para dentro. Ainda é cedo. As únicas pessoas que vejo são os empregados.
Eles me veem e não dizem nada. Deve ser estranho viver como uma estátua dia
após dia, sem ninguém, mas outros funcionários, na verdade, reconhecem que você
é humano. Eu não posso evitar isso. Eu sorrio para o mordomo que está sempre
ocupado, correndo para algum lugar. Ele inclina a cabeça em saudação, mas não
abranda.

Depois que ele passa, se vira para trás. — Você precisa de alguma coisa, Sra.
Raymond?

Eu sorrio e balanço a cabeça. — Não, é apenas bom vê-lo. — Eu olho para
ele. Este homem tem sido constante na vida de Bryan por anos. Eu me pergunto se
ele sabe que Bryan tem um segredo, porque nada lhe escapa, pelo menos não
quando éramos mais jovens. Eu me lembro de receber olhares severos dele quando
éramos muito jovens e fazíamos coisas muito loucas, enquanto a mãe de Bryan não
estava por perto. Mas o cara nunca nos entregou.

— Da mesma forma, Sra. Raymond. Diga ao Sr. Ferro que se ele precisar de
ajuda pode pedir qualquer coisa para mim. — Seus olhos perfuraram os meus por
um momento antes que ele olhe para o lado.

Ele sabe.

Concordo com a cabeça e vou para o modo de super mocinha. Antes que eu
possa me parar, lanço o meu corpo para ele e meus braços em volta do velho,
abraçando-o em um abraço de urso em estilo desleixado. Ele endurece com choque
e, em seguida, dá um tapinha minhas costas. — As pessoas vão dizer-lhe que ele
vai ficar bem. Ao longo dos próximos meses, você vai ouvir isso de novo e de novo,
mas a perda não é assim que funciona. As coisas não vão voltar ao normal, mas a
vida continua. Converse com ele sobre isso, enquanto você tem a chance.

Meu queixo cai. — O quê? Isso seria tão mau. Eu não posso...

— Isso não é o problema meu, mas se você fosse minha filha, era o que eu
diria a você. Tempos sombrios estão chegando, se este homem é o seu raio de luz,
mergulhe no sol tanto quanto puder e quando puder.

Acho que entendo o que ele quer dizer, então balanço minha cabeça para
cima e para baixo lentamente. Falar sobre a morte com alguém que está morrendo
é o que ele quer dizer. Vamos acabar discutindo todas as coisas que queríamos
fazer, mas nunca teremos a chance. Minha garganta aperta com o pensamento e os
meus olhos lacrimejam. — Obrigada.

— Qualquer hora, Sra. Raymond. — Ele inclina a cabeça para mim como se
eu fosse uma rainha e se vira para correr para longe.

Eu não gosto da sua sugestão, mas parte dela me chama. E se a gente falar
sobre isso? Eu balanço minha cabeça e aperto as mãos. Não! Eu não quero! Isso não
é justo e não posso simplesmente aceitar que vou perdê-lo - não depois que
finalmente nos encontramos novamente. Não depois de todo esse tempo.

No momento que estou dentro da mansão de Bryan, paro na porta. Minha
intenção era ir à ponta dos pés para o quarto de Bryan, mas sou presa pelo Ferro
que eu mais temo - Sean. Ele está encostado na parede, os braços cruzados sobre o
peito. Ele se parece com sua mãe, toda acusação não dita claramente visível em
seus olhos. Suas roupas escuras - casaco de couro, calça jeans, camisa preta e botas
shitkicker. — Você e eu temos algo a discutir.

Minha intenção é passar por ele. — Não tenho nada para lhe dizer.

Sean libera seus braços e caminha em minha frente. Ele é silencioso e letal,
com vibes malucas irradiando dele como micro ondas. Ding! — Bem, eu tenho algo
que você precisa ouvir - sobre um homem chamado Victor. — Minha respiração
para na minha garganta enquanto minhas mãos vão para o meu coração. Sean me
puxa pela curva do meu cotovelo para longe da porta de Bryan. — Sim, eu achei
que você soubesse alguma coisa sobre isso. Os jornais estão dizendo que um dos
seus homens o matou, mas os policiais estão bisbilhotando, me fazendo perguntas
sobre um traficante de merda. Eu não gosto de policiais e não gosto ainda menos
de perguntas. Então, me diga, como é que eles rastrearam até aqui? O que você
deixou para trás?

Eu rio, mas ele ignora. — Você acha que eu o matei? — Estou pressionando
meus dedos em meu peito, piscando, com meu queixo caído. Embora seja um
excelente desempenho, algo que me afasta. Sean pode ver isso.

Ele dá um passo no meu espaço de uma maneira ameaçadora. Sua voz
ressoa: — Eu sei que você o matou.

— Não, você não sabe. — Eu agarro, tentando me empurrar por ele
novamente, mas Sean não me deixa passar. Ele bloqueia o lugar com seu corpo
maciço.

Inclinando-se perto do meu rosto, ele sussurra baixinho: — Se eu sei, a
minha mãe sabe e você não quer pegadas sujas que levam direto para a porta da
frente. Você precisa se separar de Bryan e sair daqui antes que descubram isso.

Eu balanço minha cabeça e mordo meu lábio inferior. Eu provavelmente
pareci como um moleque teimoso, mas não vou deixar Bryan.

Os olhos de Sean travam com os meus e sua voz cai para um sussurro letal.
— Eu posso fazê-la desaparecer.

Algo desperta dentro de mim, essa mesma característica de proteção que
me fez cortar a garganta de Victor, em primeiro lugar. Minha coluna se endireita e
eu fico na frente do seu rosto. — Da mesma forma.

Depois de um momento de reflexão, o homem na verdade ri. Sean esfrega o
queixo com a mão. Eu não posso dizer se ele está se divertindo ou pensa que sou
louca. Ele finalmente pergunta: — Por que você fez isso?

— Por que você acha? O homem era um estuprador assassino. Vamos
apenas dizer que eu estava no lugar errado na hora errada. Acidentes acontecem e
eu não ia deixar que qualquer outra coisa acontecesse com a minha amiga. Ela é a
única família que me resta. — Eu sugo o ar, tentando inchar, então não sou tão
pequena, mas em comparação com Sean Ferro, sou um palito.

Seus olhos azuis mudam para o lado antes que ele passe as mãos pelo
cabelo. — Então, você protegeu sua família, deixe-me proteger a minha. Vá
embora. Não puxe Bryan para isso.

— Para quê? Os mortos não puxam qualquer um para qualquer coisa.

— Victor Campone está vivo.

Capítulo 4

Um pequeno grito escapa dos meus lábios e eu quase caio no chão. Meus
joelhos cedem, mas antes de eu ir para baixo, Sean agarra meus braços. Ele me
mantém de pé e continua suavemente. — Os policiais suspeitam que ele esteja
vivo. No momento em que chegaram lá, o corpo tinha desaparecido. Devido à
quantidade de sangue que encontraram, sua suposição natural era que um de seus
homens o matou e jogou o corpo. Os policiais ainda estavam indo por esse caminho
até recentemente, quando pegaram Campone bisbilhotando meu hotel. Então, a
menos que viram um fantasma, o homem ainda está vivo.

— Ele não pode estar. — Eu balanço minha cabeça e meus olhos vidrados
quando me lembro daquela noite. A quantidade de sangue, a forma que sua cabeça
pendia para trás e a ferida era tão profunda. — Não é possível.

Sean suspira e olha para mim com uma expressão que está perdida em
algum lugar entre pena e admiração. Inclinando-se perto, ele diz: — O corte foi
muito superficial. É como apontar para o coração e não acertar. O cara foi
subestimado, os que estavam dispostos e aceitaram fazer isso uma vez, mas ele não
vai ser subestimado novamente. E eu aposto qualquer coisa que ele vai
permanecer morto por um tempo, deixar que os outros façam o trabalho sujo, até
que lhe convenha encenar uma ressurreição.

— Como você sabe tudo isso?

Ele engole em seco, seu olhar se afastando e depois de volta para os meus
olhos. — Periodicamente nossos empreendimentos comerciais se sobrepõem. Eu
ouço coisas. E posso dizer-lhe que se eu ouvi, minha mãe ouviu e você com certeza
não quer irritá-la. Se Campone acabar aqui, você está morta. Se ele não te matar,
minha mãe vai.

Ele agarra meus ombros e me pede: — Hallie, pega a sua amiga e dá o fora
daqui antes que Campone a encontre. — Sean me libera. — Este foi um aviso de
cortesia. Se você ficar por perto e Bryan for morto por sua causa, bem, é melhor

esperar que Victor a encontre antes de mim. — Seus olhos firmam em mim uma
vez com as suas intenções claras.

Eu fico lá por um segundo mal respirando. Nossos olhos estão bloqueados,
nós dois estamos desafiando, mas será que ele não sabe, Sean não sabe sobre seu
primo? Talvez eu devesse pegar Bryan e correr, mas não posso. Não enquanto ele
está doente. Ele vai precisar de ajuda e cuidados paliativos. Eu não posso dar-lhe
essas coisas se eu corro. Minha voz racha quando eu falo. — Eu não posso.

— Não é opcional.

— Não, você não entende. Eu não posso ir embora. Eu não posso correr
mais de Victor e não vou. Eu vou cuidar disso. Eu vou terminar o que comecei. —
Eu não tenho ideia de como, mas vou. Se eu não fizer isso, ele virá atrás de mim e
Maggie. O homem é cruel, ele nunca vai parar de nos caçar. Eu sei disso com
certeza.

Sean levanta a sobrancelha escura. — Você está louca? Você nunca vai ter
outra chance de matá-lo. Ele pensou que era insignificante antes, mas agora ele a
conhece melhor.

Eu me empurro passando por ele. — Eu vou cuidar disso. Ele não virá aqui,
e desta vez, quando eu matá-lo, ele vai morrer.

— Hallie. — Sean quase implora meu nome, quase, mas eu não paro.

Eu entro no quarto de Bryan e fecho a porta. Eu fico lá por um segundo e
derrubo minha cabeça para trás, respirando com dificuldade. Eu nunca soquei uma
pessoa antes. Agora eu simplesmente confessei ao mais assustador de todos os
Ferro que vou dar um fim no senhor das drogas mais notório da cidade. Super foda.

Eu ainda estou segurando o saco com café da manhã de Bryan. Quando
aperto o meu punho, o jornal faz um ruído de crepitação e ele se senta. Um belo
sorriso ilumina seu rosto pálido. — Hey, Menina Bonita. Para onde você correu?

— Para pegar o café da manhã e conseguir alguma sujeira em sua tia. Foi
uma manhã interessante. — Eu sorrio, preocupada com ele e entrego o saco.

— Sujeira na minha tia?

Balanço a cabeça e me sento ao lado dele na cama. — Sim, eu descobri
porque ela me odeia. Ela pensa que eu sei de algo todos esses anos, mas eu não
descobri o que eu sabia até esta manhã.

Bryan desembrulha o seu bagel enquanto estou falando e morde. Seus
firmes olhos verdes encontram os meus. Com a boca cheia, ele me pergunta. — E
então?

Eu penso em manter seu segredo, mas não sinto nenhuma lealdade para
com ela. Além disso, Bryan não vai contar a ninguém. — Ela é gay. Eu a peguei com
sua amante na cozinha de sua mãe esta manhã.

Seu queixo cai e o pedaço de bagel rola para fora da boca, indo para a
colcha. — De jeito nenhum.

Concordo com a cabeça e olho para o pedaço de comida. — Um choque e
tanto, hein?

— Claro que sim. Ela é tão recatada e adequada. — Seu nariz franze com o
pensamento da sua tia ser sexualmente algo.

— E, aparentemente, ela gosta de garotas.

Bryan pisca e sorri. — Bem, isso explica um monte de coisas.

— Sim, como por que ela ainda é casada e permite que prostitutas meio
vestidas andem pela sua casa.

Bryan sorri. — Claro, todo mundo gosta de um pouco de colírio para os
olhos.

Eu bato em seu ombro. — Bryan!

— Vamos lá, pense nisso. Houve uma garota naquela casa desde que Jon era
um bebê. É a família mais estranha que eu já vi. Minha mãe não teria tolerado. Eu
sempre me perguntei por que a tia Constance tolerava.

— Seu pai não tem uma puta coabitante?

Ele inclina a cabeça para mim. — Meu pai não tem tempo para isso. Ele está
muito ocupado ganhando dinheiro para ser incomodado com relacionamentos ou
senhoras de compra. Mas, ainda assim, a tia Connie gosta das garotas. Quem teria

pensado? — Ele balança a cabeça. — Então o que diabos eu vi no dia que
terminamos?

Boa pergunta. Eu suspiro e tenho uma boa ideia de para quem perguntar. Eu
sorrio grande. — Qual é o quarto que Constance usa quando está aqui?

Bryan parece confuso e então seus olhos se arregalam. — Você está louca?

— Só um pouco. — Eu rio e quase aperto meus dedos juntos.


CONTINUA

A luz do amanhecer brilha através das pesadas cortinas que revestem as paredes formando uma fina fenda de branco puro no tapete escuro. Eu fico olhando para ele, perdida em seus pensamentos. Perto de mim, Bryan está dormindo. Eu envolvo meus braços ao redor dele e seu corpo se parece tão forte. É por isso que isto é tão difícil. Não faz nenhum sentido. Para além da dor, eu não posso ver o que está acontecendo com ele. É interno. Seu corpo o está matando segundo a segundo. Eventualmente, ele irá respirar e não haverá outro. Eu não posso suportar a ideia.
Minha vida tem sido moldada por morte. Todo mundo que me importa, todos, exceto Maggie, partem. Eu escorrego para fora da cama, agarrando o meu telefone antes de ir para fundo do corredor. Eu envio uma mensagem de texto para ela, embora eu duvide que ela esteja acordada.
Eu digito: Estou com Bryan. Apenas verificando para ter certeza que está tudo bem.
Para minha surpresa ela envia uma mensagem de volta: Eu estou, mas tenho uma coisa horrível para lhe dizer.
Nada poderia ser pior do que perder Bryan. Eu digito de volta: Eu também.
Volto logo para casa e podemos conversar.
Ela responde: Ok.

 


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Eu enfio meu celular no bolso antes de pegar a camiseta de Bryan e a puxo
sobre minha cabeça. Eu enfio minhas mãos sob as mangas e vagueio pela mansão
até encontrar a cozinha. Sinto o cheiro do café e preciso desesperadamente de uma
xícara. Infelizmente, a besta “a tia” de Bryan está sentada à mesa com outra
mulher. Ambas estão vestidas em robe. Eu pisco conforme o choque lava seus
rostos. Eu não posso imaginar por que ela está aqui tão cedo, não vestida. Quão
estranho é isso?

Dentro de um batimento cardíaco, Constance está fora de seu assento e no
meu rosto. — Como você ousa desfilar na casa da minha irmã usando coisas do
meu sobrinho? Saia agora mesmo, sua puta! — Ela tenta bater no meu rosto, mas
eu agarro seu pulso.

As coisas finalmente clicam no lugar. A forma como as mulheres estavam
olhando uma para a outra, o toque de suas mãos, a forma como os seus olhos
permanecem naquele olhar fixo familiar, o fato de que ela está aqui, quando sua
irmã e cunhado já se foram e a forma como Constance se transforma em um tigre
quando ela me vê - faz sentido. Ela está escondendo um segredo há anos que
poderia arruiná-la para sempre. É por isso que ela suporta as infidelidades do Sr.
Ferro e porque permite que suas mulheres valsem pela sua casa.

Constance é gay - e esta mulher é sua amante. Ela pensou que eu soubesse,
mas eu nunca percebi antes.

Ela puxa sua mão do meu aperto e se prepara para começar a gritar
novamente. Eu a interrompo, cansada. — Eu não me importo com sua vida ou
suas preferências. Eu entendo que seja um tabu para você ser vista com ela. Eu
entendo isso, Constance, eu realmente entendo. Eu não a julgo por isso, então pare
de me julgar. A única coisa de que eu quero vocês é o café. — Eu caminho,
passando por ela.

O queixo de Constance está no chão. Sua namorada, uma mulher pelo menos
dez anos mais nova que ela, fica rígida, olhando-me com medo. Relações do mesmo
sexo podem ser ultramodernas e estarem na moda em Nova York, mas não entre
antigas famílias endinheiradas como esta. Isso a arruinaria. É por isso que ela me
odeia. Ela acha que eu tenho andado por aí esperando para soltar uma bomba em
sua vida.

Quando Constance fala, seu tom é cético: — Você sabe há muito tempo e não
disse nada. Por quê?

— Porque eu não me importo com você. — Eu mantenho minhas costas
para ela enquanto despejo o líquido escuro em uma xícara pesada. É muito cedo. As
pessoas normais não estão acordadas às cinco da manhã. Elas provavelmente
estavam tomando café da manhã antes de se separarem para o dia. Quando me viro

para falar, as duas mulheres estão me olhando mortificadas. — Eu me preocupo
com Bryan. Você não percebeu nada sobre ele que lhe diz respeito?

Seu olhar se estreita. — Não brinque comigo. Eu conheço minha família,
cada um deles.

— Sim, bem, você pode querer falar com ele. — Ela bloqueia seu maxilar,
preparando-se para ordenar que eu saia, mas eu acrescento: — O tempo é uma
coisa engraçada. Todos nós pensamos que temos uma tonelada dele até que seja
tirado de nós, então nos damos conta de que nunca foi o suficiente, para começar.
Use o tempo que você tem, Constance. Ame as pessoas que queira e se certifique de
que eles saibam disso. Chegará o dia em que você lamentará que não o fez e a
chance passou por você.

Ela endurece quando eu falo. — Você está me ameaçando?

Eu rio alto com o ridículo de sua declaração. Ela não tem nenhuma pista. Eu
estava me referindo a mim e Bryan, para a piscina constante de arrependimento
que enche meu estômago. Poderíamos ter estado juntos, mas essa oportunidade
está perdida agora, o tempo que nunca teremos.

— Você está tão errada sobre tudo, lacrada em sua pequena bolha, fora de
contato com o mundo real. Isso não é sobre você, então você acha que está segura,
mas você nunca está, não do tempo - não da morte. Seu sobrinho... — Eu engulo
em seco, mas não quebro o contato visual. — Certifique-se que sua mãe descubra.
Isso é tudo que eu quero.

A suposição de que eu estou fazendo é enorme - aquela que Elizabeth Ferro
se importará se seu filho vive ou morre. Bryan não contou a ninguém sobre sua
doença, exceto eu. Jon pode ver isso, mas os outros não têm ideia. Eu não sei
quanto tempo resta à Bryan, mas não quero que ele o gaste se preocupando ou
brigando. Eu quero estar lá para protegê-lo e, por alertar o Ferro de seu estado, eu
provavelmente só fiz isso mais difícil de acontecer - mas que é a coisa certa a fazer.
Se eu tivesse um segundo extra para gastar com o meu pai... O pensamento se
esconde em minha mente, sol a sol. Quando a noite lava o céu com tons roxos de
tinta e manchas de âmbar cintilante, eu gostaria de ter mais uma oportunidade de
dizer todas as coisas que nunca tive a chance de expressar. Agora, esses
pensamentos estão presos dentro da minha alma, me segurando cativa. Eu nunca

vou ser livre. Eu nunca tive a chance de dizer adeus. Eu estou dando aos Ferro essa
oportunidade e esperando além da esperança de que eles não me joguem para fora
na minha bunda em recompensa.

Empurrando de lado meus pensamentos, eu coloco meu copo vazio para
baixo e saio, deixando Constance e sua amante, boquiabertas, no meu despertar. As
duas mulheres atrás de mim são crianças brincando de casinha. Eu posso ser mais
jovem do que elas em anos, mas minha alma parece velha. É imaturo pensar que a
sua vida seja apenas sobre você. A vida é sobre as pessoas ao seu redor. Como eu
gostaria de nunca crescer, mas desejar é desperdício de tempo e eu me recuso a
desperdiçar mais um segundo.

Capítulo 2

Maggie e eu planejamos, através de mensagens de texto, nos encontrar em
algum lugar que tenha um bagel logo após o amanhecer. Os únicos carros no
estacionamento são da loja. O resto do centro de compras ainda está fechado. Eu
não espero muito tempo, quando ela se junta a mim no final da fila.

— Hey. — Diz Maggie, me envolvendo em um abraço.

Eu a abraço de volta, segurando-a um segundo muito longo. Ela vai fugir
novamente. Eu sei disso. Ela não lida bem com a morte também. Acho que
ninguém faz, mas Maggie viu muito dela. Quando eu a solto, me forço a perdoá-la
com antecedência. Uma alma só pode tomar tanto abuso antes que não possa
evitar, exceto reagir. É como o cão de Pavlov. A campainha da morte soa e Maggie
corre.

Eu enfio um pedaço de cabelo atrás da minha orelha e encosto contra a
vitrine de vidro, antes de enfiar as mãos nos bolsos. — Hey. Como tem passado?

A fila faz a volta para fora da porta e para baixo da frente do centro
comercial com pessoas que já pararam para um bagel e café em seu caminho para
o trabalho. A fila se aproxima alguns centímetros mais próxima da comida e nos
movemos com ela, antes de retornar nossas posições contra o vidro. Meu estômago
ronca com o cheiro de fermento e eu mal posso esperar para provar o pão macio,
quente e mordê-lo, saboreando o cream cheese espesso. Eu aprendi a não dar por
certo pequenas coisas. Bagels me ajudam a encontrar meu lugar feliz.

Eu pretendo pegar um para Bryan também - sementes de papoula com
manteiga, exatamente como ele pedia na escola. Viemos aqui tantas vezes. Eu fico
olhando para fora, no estacionamento, minha mente vagando em uma memória de
Bryan me levantando em um carrinho de compras e empurrando-me como um
louco pelo mercado, rindo o tempo todo.

Outro cliente perguntou: — Que corredor você a encontrou? Eu quero uma!

Bryan apenas sorriu, os olhos deslizando sobre mim no carrinho. —
Desculpe, cara. Esta era a única e é toda minha. Eu nunca a deixarei ir. — A

memória ecoa fortemente em meus ouvidos. Parece que poderia ter acontecido
ontem.

A voz de Maggie me encaixa de volta ao presente. Ela encolhe os ombros e
puxa a alça da bolsa para cima de seu ombro. — Eu estou bem. Acho que encontrei
um apartamento para nós, mas eu ouvi que Neil comprou para vocês uma casa. —
Ela faz uma cara de, bem, tenta não fazer uma cara, que faz sua expressão de dor
ainda pior. A fila se move de novo e, com um passo à frente, ela deixa escapar: —
Você realmente vai se casar com ele? Achei que você amasse Bryan? Parecia que
estava totalmente encantada com o gatinho do sexo. Bem, você é a gatinha.
Rapazes são o quê, tigres? Tigre sexual soa mal. — Ela ri, mas sua risada leve
desaparece quando ela vê o meu sorriso falso. — O que há de errado, Hallie?

Eu tento manter minha voz firme, mas treme sem minha permissão. Não há
nenhum ponto em protelar por mais tempo, e além disso, eu preciso dela. Mesmo
que ela vá correr, eu tenho que falar com alguém enquanto eu tiver a chance. —
Maggie, ele está morrendo.

— Mas, ele não pode estar! Ele... — Maggie deixa escapar muitas palavras de
uma só vez e quase começa a chorar. Ela é a pessoa mais empática que eu já
conheci. A minha dor está representada em seu rosto quando ela para, aperta
minha mão e me puxa para um abraço de urso que poderia explodir minha cabeça.
— Eu sinto muito, Hallie. — Ela enxuga as lágrimas com as costas da mão e olha
para o meu ombro, não querendo perguntar. Cada palavra é como se enfiasse uma
faca no meu lado. — O que há de errado com ele?

Eu a atualizo com o que sei que aconteceu até agora. Minha voz continua
difícil quando eu chego ao fim da história. — Nós terminamos por causa de sua tia
Constance. Ela achou que eu iria arruiná-la com informações que eu não deveria
saber, então ela descobriu uma maneira de nos separar. — A raiva eu não tinha
notado até agora borbulha sob a superfície da minha mente. Eu não vou ficar com
raiva, eu não posso ficar. Eu me recuso a perder meu tempo com ela ou o que ela
fez. — Maggie, eu não poderia me importar menos com ela, mas eu quis Bryan
todo esse tempo e não o tive por causa dela.

— E, no entanto, você não soa como louca. Você parece mais
assustadoramente tranquila sobre isso. — Uma sobrancelha vermelha levanta
levemente em sua testa sardenta.

Eu olho para ela conforme nos movemos com a fila para dentro da pequena
loja, e nos aproximamos da bandeja do pão assado. Maggie pede em primeiro lugar,
então eu peço e pago por nossos itens. Pegamos o nosso café da manhã, cortamos
de volta através da fila, para fora da porta, em direção ao estacionamento. Fico ali
na frente dela querendo falar, mas incapaz de encontrar palavras, em seguida,
entrego para ela o pão e suco de laranja.

Minha boca se abre duas vezes, mas as palavras não saem. Eu finalmente
olho nos olhos dela e explico. — Eu não estou louca. Bem, eu estou - mas não quero
estar. É um desperdício de tempo e eu não tenho tempo de sobra. Eu estou
pensando em ficar com ele, Maggie. Seja qual for o tempo que lhe resta, eu quero
estar lá.

— Eu entendo, e eu estou aqui para você. — Ela pega a minha mão, mas eu
não posso olhar para ela.

— Não faça promessas que não pode cumprir, Maggie.

— Eu estou as mantendo desta vez.

— Eu prefiro saber agora que você vai desaparecer. Eu posso lidar com isso
sozinha. Eu estou bem, realmente. Eu sei o que isso faz para você e... — Eu arranjo
desculpas para ela até que ela me corta.

— Não. A última vez eu não estava lá para você, porque Victor era um idiota.
Eu não tive escolha. Isso fazia parte da maneira como ele estava me controlando,
mas ele já se foi, Hallie. Eu não vou fugir. Eu estarei lá para você. Você não terá que
lidar com isso sozinha. Eu prometo. Podemos passar por qualquer coisa, você e
eu. Eu não vou deixar você Hallie. Nós somos irmãs. Eu vou estar lá neste
momento. — Ela sorri sem jeito e olha para o chão sob suas botas.

Ela muda o seu peso para o outro pé e olha para mim debaixo de muito
rímel. Sua boca fica aberta por um segundo e seus lábios enrolam, como se ela não
quisesse dizer o que está prestes a cair de sua boca. — Há algo que você precisa
saber, e eu não sei se você vai gostar ou não com tudo o que aconteceu, mas precisa

saber. Você precisa. E eu odeio dizer isso agora, mas talvez seja melhor assim. Eu
esperaria se eu achasse que ajudaria.

— Maggie, diga-me. O que é?

Ela puxa um monte de ar e cospe para fora. — Ontem à noite, enquanto você
não estava em casa, entrei e vi o que parecia ser Neil e Cecily fazendo coisas que
estava muito além da zona do amigo. — Seus lábios são esmagados em conjunto,
enquanto ela tenta permanecer inexpressiva. Eu posso dizer que ela quer castrar
Neil conforme ela luta para manter seus lábios em uma linha reta.

Eu pisco, e isso é tudo. A raiva não vomita da minha boca e minhas mãos
não estão cerradas em punhos. Eu não me sinto quebrada ou até mesmo chocada.

Eu não sinto nada.

Se eu amasse Neil, eu estaria irada, mas eu não estou. Concordo com a
cabeça.

O rosto preocupado de Maggie franze enquanto ela empurra seu brilhante
cabelo atrás da orelha. — Eu não sei se eu deveria dizer. Eu o odeio, mas pensei
que você gostava do cara. — Ela me olha com tal preocupação que eu não posso
deixar de sorrir para ela.

Meu olhar abaixa para o chão e eu tomo uma respiração profunda, antes de
dar-lhe um abraço de lado. Quando eu a deixo ir, murmuro: — Eu estou feliz que
você me disse. Desgraça pouca é bobagem, certo? — Eu ofereço um sorriso de
novo, mas é falso neste momento. Há muitas lembranças correndo pela minha
mente, e o movimento faz minha pele parecer como se fosse rachar.

— Yeah. — Ela ri. — Pelo menos não temos que nos preocupar com Victor.
Devo-lhe muito por isso. Os jornais disseram que um dos seus homens o matou no
meu apartamento. Se você não tivesse me arrastado para fora, naquela noite eu
teria levado um tiro, também.

Eu sou insensível ao que eu fiz, pelo menos no momento. Às vezes, quando
eu não consigo dormir, o pensamento de que fiz desliza em minha mente, não
desejado. Victor é um pesadelo que não vai morrer, mas não posso perder o meu
tempo.

— Somos eu e você, agora. — Eu digo a ela com firmeza. Ela sorri
tristemente para mim e assente. — Maggie, você pode ir a casa de Neil e pegar
minhas coisas? Há apenas algumas caixas. Eu nunca desembalei, não
realmente. Neil queria que eu fizesse, mas eu empurrei a maioria delas na parte de
trás de um armário. — Eu retiro minha bolsa e escrevo-lhe um cheque. — Isso
deve cobrir o aluguel do nosso novo apartamento e tudo o mais que
precisamos. Deixe-o bonito, ok? Vai ser bom ter um novo lugar bonito para ir para
casa quando isso acabar.

Maggie pega o cheque e olha para todos os zeros, antes de olhar para mim.
Uma mecha de cabelo vermelho cai na frente de seus olhos. — Hallie, eu não posso
aceitar isso.

— Sim, você pode. Vai fazê-lo. Precisamos de um lugar para viver. Eu
gostaria de ter mais a oferecer, mas essa discussão é para outro dia. Entretanto,
isso vai nos colocar em uma boa vizinhança e nós estaremos confortáveis.

— Você vai processar Neil e Cecily? Eles praticamente gastaram todo o seu
dinheiro.

Concordo com a cabeça. — Provavelmente, mas não agora. Eu preciso fazer
um telefonema. — Maggie balança a cabeça e eu disco para o meu banco enquanto
seguimos para o meu carro. Eu explico a um funcionário do banco muito prestativo
que o nome de Neil deve ser retirado da minha conta imediatamente e todas as
transações em andamento com a sua assinatura, devem ser transferidas para a sua
conta. Verificação conjunta foi ideia dele. Eu esfrego minhas mãos sobre meu rosto
e sento com força no capô do meu carro. A coisa está suja, mas eu não me
importo. O funcionário do banco me pede para ir em breve para assinar os papéis,
e fazer as alterações em minha conta oficial. Quando eu insisto que eles precisam
ser assinados agora, ela diz para vir quando for mais conveniente.

Eu desligo e olho fixamente para as portas fechadas da mercearia. — Eu não
posso fazer isso de novo, não tão cedo. — A perda do meu pai ainda paira pesado
em meu coração, ameaçando me puxar para baixo. Minha dor não diminuiu e a
fama não ajudou. A única coisa que me faz sentir melhor é Bryan e agora vou
perdê-lo também.

Eu não posso respirar. Inclinando minha cabeça para trás com os olhos
cheios de lágrimas, eu olho para o céu e as nuvens brancas onduladas. O céu estava
aqui muito antes de eu nascer e vai estar aqui muito tempo depois. Faz-me sentir
pequena, como se a minha vida não importasse em tudo.

Maggie me bate com sua bota. — Bagel?

— Eu não estou com fome. — Eu estava com fome apenas um momento
atrás, mas agora não sinto nada parecido com isso.

— Merda resistente. Eu estou cuidando de você, o que significa que você
come isso ou vou enfiar na sua cara. — Ela está sorrindo para mim. — Eu vou fazer
isso.

Eu roubo a minha comida de sua mão. — Eu sei que você vai. —
Desempacotando a coisa, dou uma mordida e percebo que eu estou morrendo de
fome.

— A vida não é sobre a morte, você sabe. — Diz Maggie de repente. Ela está
sentada ao meu lado no capô, olhando para uma nuvem, pegando arrancando
pedaços de seu bagel, e os jogando em sua boca um de cada vez.

— Então o que se trata? — Eu pensei que eu sabia em um ponto, mas não
tenho ideia, não mais. A vida parece uma piada cruel.

— É sobre as relações que você faz, a bondade que oferece e você mostrar
compaixão. É a sua chance de mostrar ao mundo quem você é e o que faz você.
Hallie, você é a pessoa mais forte que conheço. Em vez de sentar aqui chorando
comigo, você deve estar com Bryan. Aqui. — Ela me dá o bagel extra. — Cheque de
vez em quando e quando você precisar de mim, eu vou. Nesse meio tempo, vou
deixar nossa casa pronta, eu prometo. Nada me manterá longe desta vez. Quando
você precisar de mim, eu estarei lá - se estiver no hospital, a funerária ou apenas
quando você precisar de uma pausa.

Eu sinto uma vibe nervosa vindo dela. — Você não é fraca, Maggie. Somos
sobreviventes, eu e você. — Quando eu digo isso, quero dizer para confortá-la, mas
uma bola dá um nó na minha garganta.

Ela pega a minha mão e se inclina, descansando a cabeça no meu ombro. —
Nós vamos sobreviver a isto também “juntas”.

Capítulo 3

Eu não quero pensar em Neil, então eu volto para a mansão Ferro e me
esgueiro para dentro. Ainda é cedo. As únicas pessoas que vejo são os empregados.
Eles me veem e não dizem nada. Deve ser estranho viver como uma estátua dia
após dia, sem ninguém, mas outros funcionários, na verdade, reconhecem que você
é humano. Eu não posso evitar isso. Eu sorrio para o mordomo que está sempre
ocupado, correndo para algum lugar. Ele inclina a cabeça em saudação, mas não
abranda.

Depois que ele passa, se vira para trás. — Você precisa de alguma coisa, Sra.
Raymond?

Eu sorrio e balanço a cabeça. — Não, é apenas bom vê-lo. — Eu olho para
ele. Este homem tem sido constante na vida de Bryan por anos. Eu me pergunto se
ele sabe que Bryan tem um segredo, porque nada lhe escapa, pelo menos não
quando éramos mais jovens. Eu me lembro de receber olhares severos dele quando
éramos muito jovens e fazíamos coisas muito loucas, enquanto a mãe de Bryan não
estava por perto. Mas o cara nunca nos entregou.

— Da mesma forma, Sra. Raymond. Diga ao Sr. Ferro que se ele precisar de
ajuda pode pedir qualquer coisa para mim. — Seus olhos perfuraram os meus por
um momento antes que ele olhe para o lado.

Ele sabe.

Concordo com a cabeça e vou para o modo de super mocinha. Antes que eu
possa me parar, lanço o meu corpo para ele e meus braços em volta do velho,
abraçando-o em um abraço de urso em estilo desleixado. Ele endurece com choque
e, em seguida, dá um tapinha minhas costas. — As pessoas vão dizer-lhe que ele
vai ficar bem. Ao longo dos próximos meses, você vai ouvir isso de novo e de novo,
mas a perda não é assim que funciona. As coisas não vão voltar ao normal, mas a
vida continua. Converse com ele sobre isso, enquanto você tem a chance.

Meu queixo cai. — O quê? Isso seria tão mau. Eu não posso...

— Isso não é o problema meu, mas se você fosse minha filha, era o que eu
diria a você. Tempos sombrios estão chegando, se este homem é o seu raio de luz,
mergulhe no sol tanto quanto puder e quando puder.

Acho que entendo o que ele quer dizer, então balanço minha cabeça para
cima e para baixo lentamente. Falar sobre a morte com alguém que está morrendo
é o que ele quer dizer. Vamos acabar discutindo todas as coisas que queríamos
fazer, mas nunca teremos a chance. Minha garganta aperta com o pensamento e os
meus olhos lacrimejam. — Obrigada.

— Qualquer hora, Sra. Raymond. — Ele inclina a cabeça para mim como se
eu fosse uma rainha e se vira para correr para longe.

Eu não gosto da sua sugestão, mas parte dela me chama. E se a gente falar
sobre isso? Eu balanço minha cabeça e aperto as mãos. Não! Eu não quero! Isso não
é justo e não posso simplesmente aceitar que vou perdê-lo - não depois que
finalmente nos encontramos novamente. Não depois de todo esse tempo.

No momento que estou dentro da mansão de Bryan, paro na porta. Minha
intenção era ir à ponta dos pés para o quarto de Bryan, mas sou presa pelo Ferro
que eu mais temo - Sean. Ele está encostado na parede, os braços cruzados sobre o
peito. Ele se parece com sua mãe, toda acusação não dita claramente visível em
seus olhos. Suas roupas escuras - casaco de couro, calça jeans, camisa preta e botas
shitkicker. — Você e eu temos algo a discutir.

Minha intenção é passar por ele. — Não tenho nada para lhe dizer.

Sean libera seus braços e caminha em minha frente. Ele é silencioso e letal,
com vibes malucas irradiando dele como micro ondas. Ding! — Bem, eu tenho algo
que você precisa ouvir - sobre um homem chamado Victor. — Minha respiração
para na minha garganta enquanto minhas mãos vão para o meu coração. Sean me
puxa pela curva do meu cotovelo para longe da porta de Bryan. — Sim, eu achei
que você soubesse alguma coisa sobre isso. Os jornais estão dizendo que um dos
seus homens o matou, mas os policiais estão bisbilhotando, me fazendo perguntas
sobre um traficante de merda. Eu não gosto de policiais e não gosto ainda menos
de perguntas. Então, me diga, como é que eles rastrearam até aqui? O que você
deixou para trás?

Eu rio, mas ele ignora. — Você acha que eu o matei? — Estou pressionando
meus dedos em meu peito, piscando, com meu queixo caído. Embora seja um
excelente desempenho, algo que me afasta. Sean pode ver isso.

Ele dá um passo no meu espaço de uma maneira ameaçadora. Sua voz
ressoa: — Eu sei que você o matou.

— Não, você não sabe. — Eu agarro, tentando me empurrar por ele
novamente, mas Sean não me deixa passar. Ele bloqueia o lugar com seu corpo
maciço.

Inclinando-se perto do meu rosto, ele sussurra baixinho: — Se eu sei, a
minha mãe sabe e você não quer pegadas sujas que levam direto para a porta da
frente. Você precisa se separar de Bryan e sair daqui antes que descubram isso.

Eu balanço minha cabeça e mordo meu lábio inferior. Eu provavelmente
pareci como um moleque teimoso, mas não vou deixar Bryan.

Os olhos de Sean travam com os meus e sua voz cai para um sussurro letal.
— Eu posso fazê-la desaparecer.

Algo desperta dentro de mim, essa mesma característica de proteção que
me fez cortar a garganta de Victor, em primeiro lugar. Minha coluna se endireita e
eu fico na frente do seu rosto. — Da mesma forma.

Depois de um momento de reflexão, o homem na verdade ri. Sean esfrega o
queixo com a mão. Eu não posso dizer se ele está se divertindo ou pensa que sou
louca. Ele finalmente pergunta: — Por que você fez isso?

— Por que você acha? O homem era um estuprador assassino. Vamos
apenas dizer que eu estava no lugar errado na hora errada. Acidentes acontecem e
eu não ia deixar que qualquer outra coisa acontecesse com a minha amiga. Ela é a
única família que me resta. — Eu sugo o ar, tentando inchar, então não sou tão
pequena, mas em comparação com Sean Ferro, sou um palito.

Seus olhos azuis mudam para o lado antes que ele passe as mãos pelo
cabelo. — Então, você protegeu sua família, deixe-me proteger a minha. Vá
embora. Não puxe Bryan para isso.

— Para quê? Os mortos não puxam qualquer um para qualquer coisa.

— Victor Campone está vivo.

Capítulo 4

Um pequeno grito escapa dos meus lábios e eu quase caio no chão. Meus
joelhos cedem, mas antes de eu ir para baixo, Sean agarra meus braços. Ele me
mantém de pé e continua suavemente. — Os policiais suspeitam que ele esteja
vivo. No momento em que chegaram lá, o corpo tinha desaparecido. Devido à
quantidade de sangue que encontraram, sua suposição natural era que um de seus
homens o matou e jogou o corpo. Os policiais ainda estavam indo por esse caminho
até recentemente, quando pegaram Campone bisbilhotando meu hotel. Então, a
menos que viram um fantasma, o homem ainda está vivo.

— Ele não pode estar. — Eu balanço minha cabeça e meus olhos vidrados
quando me lembro daquela noite. A quantidade de sangue, a forma que sua cabeça
pendia para trás e a ferida era tão profunda. — Não é possível.

Sean suspira e olha para mim com uma expressão que está perdida em
algum lugar entre pena e admiração. Inclinando-se perto, ele diz: — O corte foi
muito superficial. É como apontar para o coração e não acertar. O cara foi
subestimado, os que estavam dispostos e aceitaram fazer isso uma vez, mas ele não
vai ser subestimado novamente. E eu aposto qualquer coisa que ele vai
permanecer morto por um tempo, deixar que os outros façam o trabalho sujo, até
que lhe convenha encenar uma ressurreição.

— Como você sabe tudo isso?

Ele engole em seco, seu olhar se afastando e depois de volta para os meus
olhos. — Periodicamente nossos empreendimentos comerciais se sobrepõem. Eu
ouço coisas. E posso dizer-lhe que se eu ouvi, minha mãe ouviu e você com certeza
não quer irritá-la. Se Campone acabar aqui, você está morta. Se ele não te matar,
minha mãe vai.

Ele agarra meus ombros e me pede: — Hallie, pega a sua amiga e dá o fora
daqui antes que Campone a encontre. — Sean me libera. — Este foi um aviso de
cortesia. Se você ficar por perto e Bryan for morto por sua causa, bem, é melhor

esperar que Victor a encontre antes de mim. — Seus olhos firmam em mim uma
vez com as suas intenções claras.

Eu fico lá por um segundo mal respirando. Nossos olhos estão bloqueados,
nós dois estamos desafiando, mas será que ele não sabe, Sean não sabe sobre seu
primo? Talvez eu devesse pegar Bryan e correr, mas não posso. Não enquanto ele
está doente. Ele vai precisar de ajuda e cuidados paliativos. Eu não posso dar-lhe
essas coisas se eu corro. Minha voz racha quando eu falo. — Eu não posso.

— Não é opcional.

— Não, você não entende. Eu não posso ir embora. Eu não posso correr
mais de Victor e não vou. Eu vou cuidar disso. Eu vou terminar o que comecei. —
Eu não tenho ideia de como, mas vou. Se eu não fizer isso, ele virá atrás de mim e
Maggie. O homem é cruel, ele nunca vai parar de nos caçar. Eu sei disso com
certeza.

Sean levanta a sobrancelha escura. — Você está louca? Você nunca vai ter
outra chance de matá-lo. Ele pensou que era insignificante antes, mas agora ele a
conhece melhor.

Eu me empurro passando por ele. — Eu vou cuidar disso. Ele não virá aqui,
e desta vez, quando eu matá-lo, ele vai morrer.

— Hallie. — Sean quase implora meu nome, quase, mas eu não paro.

Eu entro no quarto de Bryan e fecho a porta. Eu fico lá por um segundo e
derrubo minha cabeça para trás, respirando com dificuldade. Eu nunca soquei uma
pessoa antes. Agora eu simplesmente confessei ao mais assustador de todos os
Ferro que vou dar um fim no senhor das drogas mais notório da cidade. Super foda.

Eu ainda estou segurando o saco com café da manhã de Bryan. Quando
aperto o meu punho, o jornal faz um ruído de crepitação e ele se senta. Um belo
sorriso ilumina seu rosto pálido. — Hey, Menina Bonita. Para onde você correu?

— Para pegar o café da manhã e conseguir alguma sujeira em sua tia. Foi
uma manhã interessante. — Eu sorrio, preocupada com ele e entrego o saco.

— Sujeira na minha tia?

Balanço a cabeça e me sento ao lado dele na cama. — Sim, eu descobri
porque ela me odeia. Ela pensa que eu sei de algo todos esses anos, mas eu não
descobri o que eu sabia até esta manhã.

Bryan desembrulha o seu bagel enquanto estou falando e morde. Seus
firmes olhos verdes encontram os meus. Com a boca cheia, ele me pergunta. — E
então?

Eu penso em manter seu segredo, mas não sinto nenhuma lealdade para
com ela. Além disso, Bryan não vai contar a ninguém. — Ela é gay. Eu a peguei com
sua amante na cozinha de sua mãe esta manhã.

Seu queixo cai e o pedaço de bagel rola para fora da boca, indo para a
colcha. — De jeito nenhum.

Concordo com a cabeça e olho para o pedaço de comida. — Um choque e
tanto, hein?

— Claro que sim. Ela é tão recatada e adequada. — Seu nariz franze com o
pensamento da sua tia ser sexualmente algo.

— E, aparentemente, ela gosta de garotas.

Bryan pisca e sorri. — Bem, isso explica um monte de coisas.

— Sim, como por que ela ainda é casada e permite que prostitutas meio
vestidas andem pela sua casa.

Bryan sorri. — Claro, todo mundo gosta de um pouco de colírio para os
olhos.

Eu bato em seu ombro. — Bryan!

— Vamos lá, pense nisso. Houve uma garota naquela casa desde que Jon era
um bebê. É a família mais estranha que eu já vi. Minha mãe não teria tolerado. Eu
sempre me perguntei por que a tia Constance tolerava.

— Seu pai não tem uma puta coabitante?

Ele inclina a cabeça para mim. — Meu pai não tem tempo para isso. Ele está
muito ocupado ganhando dinheiro para ser incomodado com relacionamentos ou
senhoras de compra. Mas, ainda assim, a tia Connie gosta das garotas. Quem teria

pensado? — Ele balança a cabeça. — Então o que diabos eu vi no dia que
terminamos?

Boa pergunta. Eu suspiro e tenho uma boa ideia de para quem perguntar. Eu
sorrio grande. — Qual é o quarto que Constance usa quando está aqui?

Bryan parece confuso e então seus olhos se arregalam. — Você está louca?

— Só um pouco. — Eu rio e quase aperto meus dedos juntos.


CONTINUA

A luz do amanhecer brilha através das pesadas cortinas que revestem as paredes formando uma fina fenda de branco puro no tapete escuro. Eu fico olhando para ele, perdida em seus pensamentos. Perto de mim, Bryan está dormindo. Eu envolvo meus braços ao redor dele e seu corpo se parece tão forte. É por isso que isto é tão difícil. Não faz nenhum sentido. Para além da dor, eu não posso ver o que está acontecendo com ele. É interno. Seu corpo o está matando segundo a segundo. Eventualmente, ele irá respirar e não haverá outro. Eu não posso suportar a ideia.
Minha vida tem sido moldada por morte. Todo mundo que me importa, todos, exceto Maggie, partem. Eu escorrego para fora da cama, agarrando o meu telefone antes de ir para fundo do corredor. Eu envio uma mensagem de texto para ela, embora eu duvide que ela esteja acordada.
Eu digito: Estou com Bryan. Apenas verificando para ter certeza que está tudo bem.
Para minha surpresa ela envia uma mensagem de volta: Eu estou, mas tenho uma coisa horrível para lhe dizer.
Nada poderia ser pior do que perder Bryan. Eu digito de volta: Eu também.
Volto logo para casa e podemos conversar.
Ela responde: Ok.

 


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Eu enfio meu celular no bolso antes de pegar a camiseta de Bryan e a puxo
sobre minha cabeça. Eu enfio minhas mãos sob as mangas e vagueio pela mansão
até encontrar a cozinha. Sinto o cheiro do café e preciso desesperadamente de uma
xícara. Infelizmente, a besta “a tia” de Bryan está sentada à mesa com outra
mulher. Ambas estão vestidas em robe. Eu pisco conforme o choque lava seus
rostos. Eu não posso imaginar por que ela está aqui tão cedo, não vestida. Quão
estranho é isso?

Dentro de um batimento cardíaco, Constance está fora de seu assento e no
meu rosto. — Como você ousa desfilar na casa da minha irmã usando coisas do
meu sobrinho? Saia agora mesmo, sua puta! — Ela tenta bater no meu rosto, mas
eu agarro seu pulso.

As coisas finalmente clicam no lugar. A forma como as mulheres estavam
olhando uma para a outra, o toque de suas mãos, a forma como os seus olhos
permanecem naquele olhar fixo familiar, o fato de que ela está aqui, quando sua
irmã e cunhado já se foram e a forma como Constance se transforma em um tigre
quando ela me vê - faz sentido. Ela está escondendo um segredo há anos que
poderia arruiná-la para sempre. É por isso que ela suporta as infidelidades do Sr.
Ferro e porque permite que suas mulheres valsem pela sua casa.

Constance é gay - e esta mulher é sua amante. Ela pensou que eu soubesse,
mas eu nunca percebi antes.

Ela puxa sua mão do meu aperto e se prepara para começar a gritar
novamente. Eu a interrompo, cansada. — Eu não me importo com sua vida ou
suas preferências. Eu entendo que seja um tabu para você ser vista com ela. Eu
entendo isso, Constance, eu realmente entendo. Eu não a julgo por isso, então pare
de me julgar. A única coisa de que eu quero vocês é o café. — Eu caminho,
passando por ela.

O queixo de Constance está no chão. Sua namorada, uma mulher pelo menos
dez anos mais nova que ela, fica rígida, olhando-me com medo. Relações do mesmo
sexo podem ser ultramodernas e estarem na moda em Nova York, mas não entre
antigas famílias endinheiradas como esta. Isso a arruinaria. É por isso que ela me
odeia. Ela acha que eu tenho andado por aí esperando para soltar uma bomba em
sua vida.

Quando Constance fala, seu tom é cético: — Você sabe há muito tempo e não
disse nada. Por quê?

— Porque eu não me importo com você. — Eu mantenho minhas costas
para ela enquanto despejo o líquido escuro em uma xícara pesada. É muito cedo. As
pessoas normais não estão acordadas às cinco da manhã. Elas provavelmente
estavam tomando café da manhã antes de se separarem para o dia. Quando me viro

para falar, as duas mulheres estão me olhando mortificadas. — Eu me preocupo
com Bryan. Você não percebeu nada sobre ele que lhe diz respeito?

Seu olhar se estreita. — Não brinque comigo. Eu conheço minha família,
cada um deles.

— Sim, bem, você pode querer falar com ele. — Ela bloqueia seu maxilar,
preparando-se para ordenar que eu saia, mas eu acrescento: — O tempo é uma
coisa engraçada. Todos nós pensamos que temos uma tonelada dele até que seja
tirado de nós, então nos damos conta de que nunca foi o suficiente, para começar.
Use o tempo que você tem, Constance. Ame as pessoas que queira e se certifique de
que eles saibam disso. Chegará o dia em que você lamentará que não o fez e a
chance passou por você.

Ela endurece quando eu falo. — Você está me ameaçando?

Eu rio alto com o ridículo de sua declaração. Ela não tem nenhuma pista. Eu
estava me referindo a mim e Bryan, para a piscina constante de arrependimento
que enche meu estômago. Poderíamos ter estado juntos, mas essa oportunidade
está perdida agora, o tempo que nunca teremos.

— Você está tão errada sobre tudo, lacrada em sua pequena bolha, fora de
contato com o mundo real. Isso não é sobre você, então você acha que está segura,
mas você nunca está, não do tempo - não da morte. Seu sobrinho... — Eu engulo
em seco, mas não quebro o contato visual. — Certifique-se que sua mãe descubra.
Isso é tudo que eu quero.

A suposição de que eu estou fazendo é enorme - aquela que Elizabeth Ferro
se importará se seu filho vive ou morre. Bryan não contou a ninguém sobre sua
doença, exceto eu. Jon pode ver isso, mas os outros não têm ideia. Eu não sei
quanto tempo resta à Bryan, mas não quero que ele o gaste se preocupando ou
brigando. Eu quero estar lá para protegê-lo e, por alertar o Ferro de seu estado, eu
provavelmente só fiz isso mais difícil de acontecer - mas que é a coisa certa a fazer.
Se eu tivesse um segundo extra para gastar com o meu pai... O pensamento se
esconde em minha mente, sol a sol. Quando a noite lava o céu com tons roxos de
tinta e manchas de âmbar cintilante, eu gostaria de ter mais uma oportunidade de
dizer todas as coisas que nunca tive a chance de expressar. Agora, esses
pensamentos estão presos dentro da minha alma, me segurando cativa. Eu nunca

vou ser livre. Eu nunca tive a chance de dizer adeus. Eu estou dando aos Ferro essa
oportunidade e esperando além da esperança de que eles não me joguem para fora
na minha bunda em recompensa.

Empurrando de lado meus pensamentos, eu coloco meu copo vazio para
baixo e saio, deixando Constance e sua amante, boquiabertas, no meu despertar. As
duas mulheres atrás de mim são crianças brincando de casinha. Eu posso ser mais
jovem do que elas em anos, mas minha alma parece velha. É imaturo pensar que a
sua vida seja apenas sobre você. A vida é sobre as pessoas ao seu redor. Como eu
gostaria de nunca crescer, mas desejar é desperdício de tempo e eu me recuso a
desperdiçar mais um segundo.

Capítulo 2

Maggie e eu planejamos, através de mensagens de texto, nos encontrar em
algum lugar que tenha um bagel logo após o amanhecer. Os únicos carros no
estacionamento são da loja. O resto do centro de compras ainda está fechado. Eu
não espero muito tempo, quando ela se junta a mim no final da fila.

— Hey. — Diz Maggie, me envolvendo em um abraço.

Eu a abraço de volta, segurando-a um segundo muito longo. Ela vai fugir
novamente. Eu sei disso. Ela não lida bem com a morte também. Acho que
ninguém faz, mas Maggie viu muito dela. Quando eu a solto, me forço a perdoá-la
com antecedência. Uma alma só pode tomar tanto abuso antes que não possa
evitar, exceto reagir. É como o cão de Pavlov. A campainha da morte soa e Maggie
corre.

Eu enfio um pedaço de cabelo atrás da minha orelha e encosto contra a
vitrine de vidro, antes de enfiar as mãos nos bolsos. — Hey. Como tem passado?

A fila faz a volta para fora da porta e para baixo da frente do centro
comercial com pessoas que já pararam para um bagel e café em seu caminho para
o trabalho. A fila se aproxima alguns centímetros mais próxima da comida e nos
movemos com ela, antes de retornar nossas posições contra o vidro. Meu estômago
ronca com o cheiro de fermento e eu mal posso esperar para provar o pão macio,
quente e mordê-lo, saboreando o cream cheese espesso. Eu aprendi a não dar por
certo pequenas coisas. Bagels me ajudam a encontrar meu lugar feliz.

Eu pretendo pegar um para Bryan também - sementes de papoula com
manteiga, exatamente como ele pedia na escola. Viemos aqui tantas vezes. Eu fico
olhando para fora, no estacionamento, minha mente vagando em uma memória de
Bryan me levantando em um carrinho de compras e empurrando-me como um
louco pelo mercado, rindo o tempo todo.

Outro cliente perguntou: — Que corredor você a encontrou? Eu quero uma!

Bryan apenas sorriu, os olhos deslizando sobre mim no carrinho. —
Desculpe, cara. Esta era a única e é toda minha. Eu nunca a deixarei ir. — A

memória ecoa fortemente em meus ouvidos. Parece que poderia ter acontecido
ontem.

A voz de Maggie me encaixa de volta ao presente. Ela encolhe os ombros e
puxa a alça da bolsa para cima de seu ombro. — Eu estou bem. Acho que encontrei
um apartamento para nós, mas eu ouvi que Neil comprou para vocês uma casa. —
Ela faz uma cara de, bem, tenta não fazer uma cara, que faz sua expressão de dor
ainda pior. A fila se move de novo e, com um passo à frente, ela deixa escapar: —
Você realmente vai se casar com ele? Achei que você amasse Bryan? Parecia que
estava totalmente encantada com o gatinho do sexo. Bem, você é a gatinha.
Rapazes são o quê, tigres? Tigre sexual soa mal. — Ela ri, mas sua risada leve
desaparece quando ela vê o meu sorriso falso. — O que há de errado, Hallie?

Eu tento manter minha voz firme, mas treme sem minha permissão. Não há
nenhum ponto em protelar por mais tempo, e além disso, eu preciso dela. Mesmo
que ela vá correr, eu tenho que falar com alguém enquanto eu tiver a chance. —
Maggie, ele está morrendo.

— Mas, ele não pode estar! Ele... — Maggie deixa escapar muitas palavras de
uma só vez e quase começa a chorar. Ela é a pessoa mais empática que eu já
conheci. A minha dor está representada em seu rosto quando ela para, aperta
minha mão e me puxa para um abraço de urso que poderia explodir minha cabeça.
— Eu sinto muito, Hallie. — Ela enxuga as lágrimas com as costas da mão e olha
para o meu ombro, não querendo perguntar. Cada palavra é como se enfiasse uma
faca no meu lado. — O que há de errado com ele?

Eu a atualizo com o que sei que aconteceu até agora. Minha voz continua
difícil quando eu chego ao fim da história. — Nós terminamos por causa de sua tia
Constance. Ela achou que eu iria arruiná-la com informações que eu não deveria
saber, então ela descobriu uma maneira de nos separar. — A raiva eu não tinha
notado até agora borbulha sob a superfície da minha mente. Eu não vou ficar com
raiva, eu não posso ficar. Eu me recuso a perder meu tempo com ela ou o que ela
fez. — Maggie, eu não poderia me importar menos com ela, mas eu quis Bryan
todo esse tempo e não o tive por causa dela.

— E, no entanto, você não soa como louca. Você parece mais
assustadoramente tranquila sobre isso. — Uma sobrancelha vermelha levanta
levemente em sua testa sardenta.

Eu olho para ela conforme nos movemos com a fila para dentro da pequena
loja, e nos aproximamos da bandeja do pão assado. Maggie pede em primeiro lugar,
então eu peço e pago por nossos itens. Pegamos o nosso café da manhã, cortamos
de volta através da fila, para fora da porta, em direção ao estacionamento. Fico ali
na frente dela querendo falar, mas incapaz de encontrar palavras, em seguida,
entrego para ela o pão e suco de laranja.

Minha boca se abre duas vezes, mas as palavras não saem. Eu finalmente
olho nos olhos dela e explico. — Eu não estou louca. Bem, eu estou - mas não quero
estar. É um desperdício de tempo e eu não tenho tempo de sobra. Eu estou
pensando em ficar com ele, Maggie. Seja qual for o tempo que lhe resta, eu quero
estar lá.

— Eu entendo, e eu estou aqui para você. — Ela pega a minha mão, mas eu
não posso olhar para ela.

— Não faça promessas que não pode cumprir, Maggie.

— Eu estou as mantendo desta vez.

— Eu prefiro saber agora que você vai desaparecer. Eu posso lidar com isso
sozinha. Eu estou bem, realmente. Eu sei o que isso faz para você e... — Eu arranjo
desculpas para ela até que ela me corta.

— Não. A última vez eu não estava lá para você, porque Victor era um idiota.
Eu não tive escolha. Isso fazia parte da maneira como ele estava me controlando,
mas ele já se foi, Hallie. Eu não vou fugir. Eu estarei lá para você. Você não terá que
lidar com isso sozinha. Eu prometo. Podemos passar por qualquer coisa, você e
eu. Eu não vou deixar você Hallie. Nós somos irmãs. Eu vou estar lá neste
momento. — Ela sorri sem jeito e olha para o chão sob suas botas.

Ela muda o seu peso para o outro pé e olha para mim debaixo de muito
rímel. Sua boca fica aberta por um segundo e seus lábios enrolam, como se ela não
quisesse dizer o que está prestes a cair de sua boca. — Há algo que você precisa
saber, e eu não sei se você vai gostar ou não com tudo o que aconteceu, mas precisa

saber. Você precisa. E eu odeio dizer isso agora, mas talvez seja melhor assim. Eu
esperaria se eu achasse que ajudaria.

— Maggie, diga-me. O que é?

Ela puxa um monte de ar e cospe para fora. — Ontem à noite, enquanto você
não estava em casa, entrei e vi o que parecia ser Neil e Cecily fazendo coisas que
estava muito além da zona do amigo. — Seus lábios são esmagados em conjunto,
enquanto ela tenta permanecer inexpressiva. Eu posso dizer que ela quer castrar
Neil conforme ela luta para manter seus lábios em uma linha reta.

Eu pisco, e isso é tudo. A raiva não vomita da minha boca e minhas mãos
não estão cerradas em punhos. Eu não me sinto quebrada ou até mesmo chocada.

Eu não sinto nada.

Se eu amasse Neil, eu estaria irada, mas eu não estou. Concordo com a
cabeça.

O rosto preocupado de Maggie franze enquanto ela empurra seu brilhante
cabelo atrás da orelha. — Eu não sei se eu deveria dizer. Eu o odeio, mas pensei
que você gostava do cara. — Ela me olha com tal preocupação que eu não posso
deixar de sorrir para ela.

Meu olhar abaixa para o chão e eu tomo uma respiração profunda, antes de
dar-lhe um abraço de lado. Quando eu a deixo ir, murmuro: — Eu estou feliz que
você me disse. Desgraça pouca é bobagem, certo? — Eu ofereço um sorriso de
novo, mas é falso neste momento. Há muitas lembranças correndo pela minha
mente, e o movimento faz minha pele parecer como se fosse rachar.

— Yeah. — Ela ri. — Pelo menos não temos que nos preocupar com Victor.
Devo-lhe muito por isso. Os jornais disseram que um dos seus homens o matou no
meu apartamento. Se você não tivesse me arrastado para fora, naquela noite eu
teria levado um tiro, também.

Eu sou insensível ao que eu fiz, pelo menos no momento. Às vezes, quando
eu não consigo dormir, o pensamento de que fiz desliza em minha mente, não
desejado. Victor é um pesadelo que não vai morrer, mas não posso perder o meu
tempo.

— Somos eu e você, agora. — Eu digo a ela com firmeza. Ela sorri
tristemente para mim e assente. — Maggie, você pode ir a casa de Neil e pegar
minhas coisas? Há apenas algumas caixas. Eu nunca desembalei, não
realmente. Neil queria que eu fizesse, mas eu empurrei a maioria delas na parte de
trás de um armário. — Eu retiro minha bolsa e escrevo-lhe um cheque. — Isso
deve cobrir o aluguel do nosso novo apartamento e tudo o mais que
precisamos. Deixe-o bonito, ok? Vai ser bom ter um novo lugar bonito para ir para
casa quando isso acabar.

Maggie pega o cheque e olha para todos os zeros, antes de olhar para mim.
Uma mecha de cabelo vermelho cai na frente de seus olhos. — Hallie, eu não posso
aceitar isso.

— Sim, você pode. Vai fazê-lo. Precisamos de um lugar para viver. Eu
gostaria de ter mais a oferecer, mas essa discussão é para outro dia. Entretanto,
isso vai nos colocar em uma boa vizinhança e nós estaremos confortáveis.

— Você vai processar Neil e Cecily? Eles praticamente gastaram todo o seu
dinheiro.

Concordo com a cabeça. — Provavelmente, mas não agora. Eu preciso fazer
um telefonema. — Maggie balança a cabeça e eu disco para o meu banco enquanto
seguimos para o meu carro. Eu explico a um funcionário do banco muito prestativo
que o nome de Neil deve ser retirado da minha conta imediatamente e todas as
transações em andamento com a sua assinatura, devem ser transferidas para a sua
conta. Verificação conjunta foi ideia dele. Eu esfrego minhas mãos sobre meu rosto
e sento com força no capô do meu carro. A coisa está suja, mas eu não me
importo. O funcionário do banco me pede para ir em breve para assinar os papéis,
e fazer as alterações em minha conta oficial. Quando eu insisto que eles precisam
ser assinados agora, ela diz para vir quando for mais conveniente.

Eu desligo e olho fixamente para as portas fechadas da mercearia. — Eu não
posso fazer isso de novo, não tão cedo. — A perda do meu pai ainda paira pesado
em meu coração, ameaçando me puxar para baixo. Minha dor não diminuiu e a
fama não ajudou. A única coisa que me faz sentir melhor é Bryan e agora vou
perdê-lo também.

Eu não posso respirar. Inclinando minha cabeça para trás com os olhos
cheios de lágrimas, eu olho para o céu e as nuvens brancas onduladas. O céu estava
aqui muito antes de eu nascer e vai estar aqui muito tempo depois. Faz-me sentir
pequena, como se a minha vida não importasse em tudo.

Maggie me bate com sua bota. — Bagel?

— Eu não estou com fome. — Eu estava com fome apenas um momento
atrás, mas agora não sinto nada parecido com isso.

— Merda resistente. Eu estou cuidando de você, o que significa que você
come isso ou vou enfiar na sua cara. — Ela está sorrindo para mim. — Eu vou fazer
isso.

Eu roubo a minha comida de sua mão. — Eu sei que você vai. —
Desempacotando a coisa, dou uma mordida e percebo que eu estou morrendo de
fome.

— A vida não é sobre a morte, você sabe. — Diz Maggie de repente. Ela está
sentada ao meu lado no capô, olhando para uma nuvem, pegando arrancando
pedaços de seu bagel, e os jogando em sua boca um de cada vez.

— Então o que se trata? — Eu pensei que eu sabia em um ponto, mas não
tenho ideia, não mais. A vida parece uma piada cruel.

— É sobre as relações que você faz, a bondade que oferece e você mostrar
compaixão. É a sua chance de mostrar ao mundo quem você é e o que faz você.
Hallie, você é a pessoa mais forte que conheço. Em vez de sentar aqui chorando
comigo, você deve estar com Bryan. Aqui. — Ela me dá o bagel extra. — Cheque de
vez em quando e quando você precisar de mim, eu vou. Nesse meio tempo, vou
deixar nossa casa pronta, eu prometo. Nada me manterá longe desta vez. Quando
você precisar de mim, eu estarei lá - se estiver no hospital, a funerária ou apenas
quando você precisar de uma pausa.

Eu sinto uma vibe nervosa vindo dela. — Você não é fraca, Maggie. Somos
sobreviventes, eu e você. — Quando eu digo isso, quero dizer para confortá-la, mas
uma bola dá um nó na minha garganta.

Ela pega a minha mão e se inclina, descansando a cabeça no meu ombro. —
Nós vamos sobreviver a isto também “juntas”.

Capítulo 3

Eu não quero pensar em Neil, então eu volto para a mansão Ferro e me
esgueiro para dentro. Ainda é cedo. As únicas pessoas que vejo são os empregados.
Eles me veem e não dizem nada. Deve ser estranho viver como uma estátua dia
após dia, sem ninguém, mas outros funcionários, na verdade, reconhecem que você
é humano. Eu não posso evitar isso. Eu sorrio para o mordomo que está sempre
ocupado, correndo para algum lugar. Ele inclina a cabeça em saudação, mas não
abranda.

Depois que ele passa, se vira para trás. — Você precisa de alguma coisa, Sra.
Raymond?

Eu sorrio e balanço a cabeça. — Não, é apenas bom vê-lo. — Eu olho para
ele. Este homem tem sido constante na vida de Bryan por anos. Eu me pergunto se
ele sabe que Bryan tem um segredo, porque nada lhe escapa, pelo menos não
quando éramos mais jovens. Eu me lembro de receber olhares severos dele quando
éramos muito jovens e fazíamos coisas muito loucas, enquanto a mãe de Bryan não
estava por perto. Mas o cara nunca nos entregou.

— Da mesma forma, Sra. Raymond. Diga ao Sr. Ferro que se ele precisar de
ajuda pode pedir qualquer coisa para mim. — Seus olhos perfuraram os meus por
um momento antes que ele olhe para o lado.

Ele sabe.

Concordo com a cabeça e vou para o modo de super mocinha. Antes que eu
possa me parar, lanço o meu corpo para ele e meus braços em volta do velho,
abraçando-o em um abraço de urso em estilo desleixado. Ele endurece com choque
e, em seguida, dá um tapinha minhas costas. — As pessoas vão dizer-lhe que ele
vai ficar bem. Ao longo dos próximos meses, você vai ouvir isso de novo e de novo,
mas a perda não é assim que funciona. As coisas não vão voltar ao normal, mas a
vida continua. Converse com ele sobre isso, enquanto você tem a chance.

Meu queixo cai. — O quê? Isso seria tão mau. Eu não posso...

— Isso não é o problema meu, mas se você fosse minha filha, era o que eu
diria a você. Tempos sombrios estão chegando, se este homem é o seu raio de luz,
mergulhe no sol tanto quanto puder e quando puder.

Acho que entendo o que ele quer dizer, então balanço minha cabeça para
cima e para baixo lentamente. Falar sobre a morte com alguém que está morrendo
é o que ele quer dizer. Vamos acabar discutindo todas as coisas que queríamos
fazer, mas nunca teremos a chance. Minha garganta aperta com o pensamento e os
meus olhos lacrimejam. — Obrigada.

— Qualquer hora, Sra. Raymond. — Ele inclina a cabeça para mim como se
eu fosse uma rainha e se vira para correr para longe.

Eu não gosto da sua sugestão, mas parte dela me chama. E se a gente falar
sobre isso? Eu balanço minha cabeça e aperto as mãos. Não! Eu não quero! Isso não
é justo e não posso simplesmente aceitar que vou perdê-lo - não depois que
finalmente nos encontramos novamente. Não depois de todo esse tempo.

No momento que estou dentro da mansão de Bryan, paro na porta. Minha
intenção era ir à ponta dos pés para o quarto de Bryan, mas sou presa pelo Ferro
que eu mais temo - Sean. Ele está encostado na parede, os braços cruzados sobre o
peito. Ele se parece com sua mãe, toda acusação não dita claramente visível em
seus olhos. Suas roupas escuras - casaco de couro, calça jeans, camisa preta e botas
shitkicker. — Você e eu temos algo a discutir.

Minha intenção é passar por ele. — Não tenho nada para lhe dizer.

Sean libera seus braços e caminha em minha frente. Ele é silencioso e letal,
com vibes malucas irradiando dele como micro ondas. Ding! — Bem, eu tenho algo
que você precisa ouvir - sobre um homem chamado Victor. — Minha respiração
para na minha garganta enquanto minhas mãos vão para o meu coração. Sean me
puxa pela curva do meu cotovelo para longe da porta de Bryan. — Sim, eu achei
que você soubesse alguma coisa sobre isso. Os jornais estão dizendo que um dos
seus homens o matou, mas os policiais estão bisbilhotando, me fazendo perguntas
sobre um traficante de merda. Eu não gosto de policiais e não gosto ainda menos
de perguntas. Então, me diga, como é que eles rastrearam até aqui? O que você
deixou para trás?

Eu rio, mas ele ignora. — Você acha que eu o matei? — Estou pressionando
meus dedos em meu peito, piscando, com meu queixo caído. Embora seja um
excelente desempenho, algo que me afasta. Sean pode ver isso.

Ele dá um passo no meu espaço de uma maneira ameaçadora. Sua voz
ressoa: — Eu sei que você o matou.

— Não, você não sabe. — Eu agarro, tentando me empurrar por ele
novamente, mas Sean não me deixa passar. Ele bloqueia o lugar com seu corpo
maciço.

Inclinando-se perto do meu rosto, ele sussurra baixinho: — Se eu sei, a
minha mãe sabe e você não quer pegadas sujas que levam direto para a porta da
frente. Você precisa se separar de Bryan e sair daqui antes que descubram isso.

Eu balanço minha cabeça e mordo meu lábio inferior. Eu provavelmente
pareci como um moleque teimoso, mas não vou deixar Bryan.

Os olhos de Sean travam com os meus e sua voz cai para um sussurro letal.
— Eu posso fazê-la desaparecer.

Algo desperta dentro de mim, essa mesma característica de proteção que
me fez cortar a garganta de Victor, em primeiro lugar. Minha coluna se endireita e
eu fico na frente do seu rosto. — Da mesma forma.

Depois de um momento de reflexão, o homem na verdade ri. Sean esfrega o
queixo com a mão. Eu não posso dizer se ele está se divertindo ou pensa que sou
louca. Ele finalmente pergunta: — Por que você fez isso?

— Por que você acha? O homem era um estuprador assassino. Vamos
apenas dizer que eu estava no lugar errado na hora errada. Acidentes acontecem e
eu não ia deixar que qualquer outra coisa acontecesse com a minha amiga. Ela é a
única família que me resta. — Eu sugo o ar, tentando inchar, então não sou tão
pequena, mas em comparação com Sean Ferro, sou um palito.

Seus olhos azuis mudam para o lado antes que ele passe as mãos pelo
cabelo. — Então, você protegeu sua família, deixe-me proteger a minha. Vá
embora. Não puxe Bryan para isso.

— Para quê? Os mortos não puxam qualquer um para qualquer coisa.

— Victor Campone está vivo.

Capítulo 4

Um pequeno grito escapa dos meus lábios e eu quase caio no chão. Meus
joelhos cedem, mas antes de eu ir para baixo, Sean agarra meus braços. Ele me
mantém de pé e continua suavemente. — Os policiais suspeitam que ele esteja
vivo. No momento em que chegaram lá, o corpo tinha desaparecido. Devido à
quantidade de sangue que encontraram, sua suposição natural era que um de seus
homens o matou e jogou o corpo. Os policiais ainda estavam indo por esse caminho
até recentemente, quando pegaram Campone bisbilhotando meu hotel. Então, a
menos que viram um fantasma, o homem ainda está vivo.

— Ele não pode estar. — Eu balanço minha cabeça e meus olhos vidrados
quando me lembro daquela noite. A quantidade de sangue, a forma que sua cabeça
pendia para trás e a ferida era tão profunda. — Não é possível.

Sean suspira e olha para mim com uma expressão que está perdida em
algum lugar entre pena e admiração. Inclinando-se perto, ele diz: — O corte foi
muito superficial. É como apontar para o coração e não acertar. O cara foi
subestimado, os que estavam dispostos e aceitaram fazer isso uma vez, mas ele não
vai ser subestimado novamente. E eu aposto qualquer coisa que ele vai
permanecer morto por um tempo, deixar que os outros façam o trabalho sujo, até
que lhe convenha encenar uma ressurreição.

— Como você sabe tudo isso?

Ele engole em seco, seu olhar se afastando e depois de volta para os meus
olhos. — Periodicamente nossos empreendimentos comerciais se sobrepõem. Eu
ouço coisas. E posso dizer-lhe que se eu ouvi, minha mãe ouviu e você com certeza
não quer irritá-la. Se Campone acabar aqui, você está morta. Se ele não te matar,
minha mãe vai.

Ele agarra meus ombros e me pede: — Hallie, pega a sua amiga e dá o fora
daqui antes que Campone a encontre. — Sean me libera. — Este foi um aviso de
cortesia. Se você ficar por perto e Bryan for morto por sua causa, bem, é melhor

esperar que Victor a encontre antes de mim. — Seus olhos firmam em mim uma
vez com as suas intenções claras.

Eu fico lá por um segundo mal respirando. Nossos olhos estão bloqueados,
nós dois estamos desafiando, mas será que ele não sabe, Sean não sabe sobre seu
primo? Talvez eu devesse pegar Bryan e correr, mas não posso. Não enquanto ele
está doente. Ele vai precisar de ajuda e cuidados paliativos. Eu não posso dar-lhe
essas coisas se eu corro. Minha voz racha quando eu falo. — Eu não posso.

— Não é opcional.

— Não, você não entende. Eu não posso ir embora. Eu não posso correr
mais de Victor e não vou. Eu vou cuidar disso. Eu vou terminar o que comecei. —
Eu não tenho ideia de como, mas vou. Se eu não fizer isso, ele virá atrás de mim e
Maggie. O homem é cruel, ele nunca vai parar de nos caçar. Eu sei disso com
certeza.

Sean levanta a sobrancelha escura. — Você está louca? Você nunca vai ter
outra chance de matá-lo. Ele pensou que era insignificante antes, mas agora ele a
conhece melhor.

Eu me empurro passando por ele. — Eu vou cuidar disso. Ele não virá aqui,
e desta vez, quando eu matá-lo, ele vai morrer.

— Hallie. — Sean quase implora meu nome, quase, mas eu não paro.

Eu entro no quarto de Bryan e fecho a porta. Eu fico lá por um segundo e
derrubo minha cabeça para trás, respirando com dificuldade. Eu nunca soquei uma
pessoa antes. Agora eu simplesmente confessei ao mais assustador de todos os
Ferro que vou dar um fim no senhor das drogas mais notório da cidade. Super foda.

Eu ainda estou segurando o saco com café da manhã de Bryan. Quando
aperto o meu punho, o jornal faz um ruído de crepitação e ele se senta. Um belo
sorriso ilumina seu rosto pálido. — Hey, Menina Bonita. Para onde você correu?

— Para pegar o café da manhã e conseguir alguma sujeira em sua tia. Foi
uma manhã interessante. — Eu sorrio, preocupada com ele e entrego o saco.

— Sujeira na minha tia?

Balanço a cabeça e me sento ao lado dele na cama. — Sim, eu descobri
porque ela me odeia. Ela pensa que eu sei de algo todos esses anos, mas eu não
descobri o que eu sabia até esta manhã.

Bryan desembrulha o seu bagel enquanto estou falando e morde. Seus
firmes olhos verdes encontram os meus. Com a boca cheia, ele me pergunta. — E
então?

Eu penso em manter seu segredo, mas não sinto nenhuma lealdade para
com ela. Além disso, Bryan não vai contar a ninguém. — Ela é gay. Eu a peguei com
sua amante na cozinha de sua mãe esta manhã.

Seu queixo cai e o pedaço de bagel rola para fora da boca, indo para a
colcha. — De jeito nenhum.

Concordo com a cabeça e olho para o pedaço de comida. — Um choque e
tanto, hein?

— Claro que sim. Ela é tão recatada e adequada. — Seu nariz franze com o
pensamento da sua tia ser sexualmente algo.

— E, aparentemente, ela gosta de garotas.

Bryan pisca e sorri. — Bem, isso explica um monte de coisas.

— Sim, como por que ela ainda é casada e permite que prostitutas meio
vestidas andem pela sua casa.

Bryan sorri. — Claro, todo mundo gosta de um pouco de colírio para os
olhos.

Eu bato em seu ombro. — Bryan!

— Vamos lá, pense nisso. Houve uma garota naquela casa desde que Jon era
um bebê. É a família mais estranha que eu já vi. Minha mãe não teria tolerado. Eu
sempre me perguntei por que a tia Constance tolerava.

— Seu pai não tem uma puta coabitante?

Ele inclina a cabeça para mim. — Meu pai não tem tempo para isso. Ele está
muito ocupado ganhando dinheiro para ser incomodado com relacionamentos ou
senhoras de compra. Mas, ainda assim, a tia Connie gosta das garotas. Quem teria

pensado? — Ele balança a cabeça. — Então o que diabos eu vi no dia que
terminamos?

Boa pergunta. Eu suspiro e tenho uma boa ideia de para quem perguntar. Eu
sorrio grande. — Qual é o quarto que Constance usa quando está aqui?

Bryan parece confuso e então seus olhos se arregalam. — Você está louca?

— Só um pouco. — Eu rio e quase aperto meus dedos juntos.


CONTINUA

A luz do amanhecer brilha através das pesadas cortinas que revestem as paredes formando uma fina fenda de branco puro no tapete escuro. Eu fico olhando para ele, perdida em seus pensamentos. Perto de mim, Bryan está dormindo. Eu envolvo meus braços ao redor dele e seu corpo se parece tão forte. É por isso que isto é tão difícil. Não faz nenhum sentido. Para além da dor, eu não posso ver o que está acontecendo com ele. É interno. Seu corpo o está matando segundo a segundo. Eventualmente, ele irá respirar e não haverá outro. Eu não posso suportar a ideia.
Minha vida tem sido moldada por morte. Todo mundo que me importa, todos, exceto Maggie, partem. Eu escorrego para fora da cama, agarrando o meu telefone antes de ir para fundo do corredor. Eu envio uma mensagem de texto para ela, embora eu duvide que ela esteja acordada.
Eu digito: Estou com Bryan. Apenas verificando para ter certeza que está tudo bem.
Para minha surpresa ela envia uma mensagem de volta: Eu estou, mas tenho uma coisa horrível para lhe dizer.
Nada poderia ser pior do que perder Bryan. Eu digito de volta: Eu também.
Volto logo para casa e podemos conversar.
Ela responde: Ok.

 


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Eu enfio meu celular no bolso antes de pegar a camiseta de Bryan e a puxo
sobre minha cabeça. Eu enfio minhas mãos sob as mangas e vagueio pela mansão
até encontrar a cozinha. Sinto o cheiro do café e preciso desesperadamente de uma
xícara. Infelizmente, a besta “a tia” de Bryan está sentada à mesa com outra
mulher. Ambas estão vestidas em robe. Eu pisco conforme o choque lava seus
rostos. Eu não posso imaginar por que ela está aqui tão cedo, não vestida. Quão
estranho é isso?

Dentro de um batimento cardíaco, Constance está fora de seu assento e no
meu rosto. — Como você ousa desfilar na casa da minha irmã usando coisas do
meu sobrinho? Saia agora mesmo, sua puta! — Ela tenta bater no meu rosto, mas
eu agarro seu pulso.

As coisas finalmente clicam no lugar. A forma como as mulheres estavam
olhando uma para a outra, o toque de suas mãos, a forma como os seus olhos
permanecem naquele olhar fixo familiar, o fato de que ela está aqui, quando sua
irmã e cunhado já se foram e a forma como Constance se transforma em um tigre
quando ela me vê - faz sentido. Ela está escondendo um segredo há anos que
poderia arruiná-la para sempre. É por isso que ela suporta as infidelidades do Sr.
Ferro e porque permite que suas mulheres valsem pela sua casa.

Constance é gay - e esta mulher é sua amante. Ela pensou que eu soubesse,
mas eu nunca percebi antes.

Ela puxa sua mão do meu aperto e se prepara para começar a gritar
novamente. Eu a interrompo, cansada. — Eu não me importo com sua vida ou
suas preferências. Eu entendo que seja um tabu para você ser vista com ela. Eu
entendo isso, Constance, eu realmente entendo. Eu não a julgo por isso, então pare
de me julgar. A única coisa de que eu quero vocês é o café. — Eu caminho,
passando por ela.

O queixo de Constance está no chão. Sua namorada, uma mulher pelo menos
dez anos mais nova que ela, fica rígida, olhando-me com medo. Relações do mesmo
sexo podem ser ultramodernas e estarem na moda em Nova York, mas não entre
antigas famílias endinheiradas como esta. Isso a arruinaria. É por isso que ela me
odeia. Ela acha que eu tenho andado por aí esperando para soltar uma bomba em
sua vida.

Quando Constance fala, seu tom é cético: — Você sabe há muito tempo e não
disse nada. Por quê?

— Porque eu não me importo com você. — Eu mantenho minhas costas
para ela enquanto despejo o líquido escuro em uma xícara pesada. É muito cedo. As
pessoas normais não estão acordadas às cinco da manhã. Elas provavelmente
estavam tomando café da manhã antes de se separarem para o dia. Quando me viro

para falar, as duas mulheres estão me olhando mortificadas. — Eu me preocupo
com Bryan. Você não percebeu nada sobre ele que lhe diz respeito?

Seu olhar se estreita. — Não brinque comigo. Eu conheço minha família,
cada um deles.

— Sim, bem, você pode querer falar com ele. — Ela bloqueia seu maxilar,
preparando-se para ordenar que eu saia, mas eu acrescento: — O tempo é uma
coisa engraçada. Todos nós pensamos que temos uma tonelada dele até que seja
tirado de nós, então nos damos conta de que nunca foi o suficiente, para começar.
Use o tempo que você tem, Constance. Ame as pessoas que queira e se certifique de
que eles saibam disso. Chegará o dia em que você lamentará que não o fez e a
chance passou por você.

Ela endurece quando eu falo. — Você está me ameaçando?

Eu rio alto com o ridículo de sua declaração. Ela não tem nenhuma pista. Eu
estava me referindo a mim e Bryan, para a piscina constante de arrependimento
que enche meu estômago. Poderíamos ter estado juntos, mas essa oportunidade
está perdida agora, o tempo que nunca teremos.

— Você está tão errada sobre tudo, lacrada em sua pequena bolha, fora de
contato com o mundo real. Isso não é sobre você, então você acha que está segura,
mas você nunca está, não do tempo - não da morte. Seu sobrinho... — Eu engulo
em seco, mas não quebro o contato visual. — Certifique-se que sua mãe descubra.
Isso é tudo que eu quero.

A suposição de que eu estou fazendo é enorme - aquela que Elizabeth Ferro
se importará se seu filho vive ou morre. Bryan não contou a ninguém sobre sua
doença, exceto eu. Jon pode ver isso, mas os outros não têm ideia. Eu não sei
quanto tempo resta à Bryan, mas não quero que ele o gaste se preocupando ou
brigando. Eu quero estar lá para protegê-lo e, por alertar o Ferro de seu estado, eu
provavelmente só fiz isso mais difícil de acontecer - mas que é a coisa certa a fazer.
Se eu tivesse um segundo extra para gastar com o meu pai... O pensamento se
esconde em minha mente, sol a sol. Quando a noite lava o céu com tons roxos de
tinta e manchas de âmbar cintilante, eu gostaria de ter mais uma oportunidade de
dizer todas as coisas que nunca tive a chance de expressar. Agora, esses
pensamentos estão presos dentro da minha alma, me segurando cativa. Eu nunca

vou ser livre. Eu nunca tive a chance de dizer adeus. Eu estou dando aos Ferro essa
oportunidade e esperando além da esperança de que eles não me joguem para fora
na minha bunda em recompensa.

Empurrando de lado meus pensamentos, eu coloco meu copo vazio para
baixo e saio, deixando Constance e sua amante, boquiabertas, no meu despertar. As
duas mulheres atrás de mim são crianças brincando de casinha. Eu posso ser mais
jovem do que elas em anos, mas minha alma parece velha. É imaturo pensar que a
sua vida seja apenas sobre você. A vida é sobre as pessoas ao seu redor. Como eu
gostaria de nunca crescer, mas desejar é desperdício de tempo e eu me recuso a
desperdiçar mais um segundo.

Capítulo 2

Maggie e eu planejamos, através de mensagens de texto, nos encontrar em
algum lugar que tenha um bagel logo após o amanhecer. Os únicos carros no
estacionamento são da loja. O resto do centro de compras ainda está fechado. Eu
não espero muito tempo, quando ela se junta a mim no final da fila.

— Hey. — Diz Maggie, me envolvendo em um abraço.

Eu a abraço de volta, segurando-a um segundo muito longo. Ela vai fugir
novamente. Eu sei disso. Ela não lida bem com a morte também. Acho que
ninguém faz, mas Maggie viu muito dela. Quando eu a solto, me forço a perdoá-la
com antecedência. Uma alma só pode tomar tanto abuso antes que não possa
evitar, exceto reagir. É como o cão de Pavlov. A campainha da morte soa e Maggie
corre.

Eu enfio um pedaço de cabelo atrás da minha orelha e encosto contra a
vitrine de vidro, antes de enfiar as mãos nos bolsos. — Hey. Como tem passado?

A fila faz a volta para fora da porta e para baixo da frente do centro
comercial com pessoas que já pararam para um bagel e café em seu caminho para
o trabalho. A fila se aproxima alguns centímetros mais próxima da comida e nos
movemos com ela, antes de retornar nossas posições contra o vidro. Meu estômago
ronca com o cheiro de fermento e eu mal posso esperar para provar o pão macio,
quente e mordê-lo, saboreando o cream cheese espesso. Eu aprendi a não dar por
certo pequenas coisas. Bagels me ajudam a encontrar meu lugar feliz.

Eu pretendo pegar um para Bryan também - sementes de papoula com
manteiga, exatamente como ele pedia na escola. Viemos aqui tantas vezes. Eu fico
olhando para fora, no estacionamento, minha mente vagando em uma memória de
Bryan me levantando em um carrinho de compras e empurrando-me como um
louco pelo mercado, rindo o tempo todo.

Outro cliente perguntou: — Que corredor você a encontrou? Eu quero uma!

Bryan apenas sorriu, os olhos deslizando sobre mim no carrinho. —
Desculpe, cara. Esta era a única e é toda minha. Eu nunca a deixarei ir. — A

memória ecoa fortemente em meus ouvidos. Parece que poderia ter acontecido
ontem.

A voz de Maggie me encaixa de volta ao presente. Ela encolhe os ombros e
puxa a alça da bolsa para cima de seu ombro. — Eu estou bem. Acho que encontrei
um apartamento para nós, mas eu ouvi que Neil comprou para vocês uma casa. —
Ela faz uma cara de, bem, tenta não fazer uma cara, que faz sua expressão de dor
ainda pior. A fila se move de novo e, com um passo à frente, ela deixa escapar: —
Você realmente vai se casar com ele? Achei que você amasse Bryan? Parecia que
estava totalmente encantada com o gatinho do sexo. Bem, você é a gatinha.
Rapazes são o quê, tigres? Tigre sexual soa mal. — Ela ri, mas sua risada leve
desaparece quando ela vê o meu sorriso falso. — O que há de errado, Hallie?

Eu tento manter minha voz firme, mas treme sem minha permissão. Não há
nenhum ponto em protelar por mais tempo, e além disso, eu preciso dela. Mesmo
que ela vá correr, eu tenho que falar com alguém enquanto eu tiver a chance. —
Maggie, ele está morrendo.

— Mas, ele não pode estar! Ele... — Maggie deixa escapar muitas palavras de
uma só vez e quase começa a chorar. Ela é a pessoa mais empática que eu já
conheci. A minha dor está representada em seu rosto quando ela para, aperta
minha mão e me puxa para um abraço de urso que poderia explodir minha cabeça.
— Eu sinto muito, Hallie. — Ela enxuga as lágrimas com as costas da mão e olha
para o meu ombro, não querendo perguntar. Cada palavra é como se enfiasse uma
faca no meu lado. — O que há de errado com ele?

Eu a atualizo com o que sei que aconteceu até agora. Minha voz continua
difícil quando eu chego ao fim da história. — Nós terminamos por causa de sua tia
Constance. Ela achou que eu iria arruiná-la com informações que eu não deveria
saber, então ela descobriu uma maneira de nos separar. — A raiva eu não tinha
notado até agora borbulha sob a superfície da minha mente. Eu não vou ficar com
raiva, eu não posso ficar. Eu me recuso a perder meu tempo com ela ou o que ela
fez. — Maggie, eu não poderia me importar menos com ela, mas eu quis Bryan
todo esse tempo e não o tive por causa dela.

— E, no entanto, você não soa como louca. Você parece mais
assustadoramente tranquila sobre isso. — Uma sobrancelha vermelha levanta
levemente em sua testa sardenta.

Eu olho para ela conforme nos movemos com a fila para dentro da pequena
loja, e nos aproximamos da bandeja do pão assado. Maggie pede em primeiro lugar,
então eu peço e pago por nossos itens. Pegamos o nosso café da manhã, cortamos
de volta através da fila, para fora da porta, em direção ao estacionamento. Fico ali
na frente dela querendo falar, mas incapaz de encontrar palavras, em seguida,
entrego para ela o pão e suco de laranja.

Minha boca se abre duas vezes, mas as palavras não saem. Eu finalmente
olho nos olhos dela e explico. — Eu não estou louca. Bem, eu estou - mas não quero
estar. É um desperdício de tempo e eu não tenho tempo de sobra. Eu estou
pensando em ficar com ele, Maggie. Seja qual for o tempo que lhe resta, eu quero
estar lá.

— Eu entendo, e eu estou aqui para você. — Ela pega a minha mão, mas eu
não posso olhar para ela.

— Não faça promessas que não pode cumprir, Maggie.

— Eu estou as mantendo desta vez.

— Eu prefiro saber agora que você vai desaparecer. Eu posso lidar com isso
sozinha. Eu estou bem, realmente. Eu sei o que isso faz para você e... — Eu arranjo
desculpas para ela até que ela me corta.

— Não. A última vez eu não estava lá para você, porque Victor era um idiota.
Eu não tive escolha. Isso fazia parte da maneira como ele estava me controlando,
mas ele já se foi, Hallie. Eu não vou fugir. Eu estarei lá para você. Você não terá que
lidar com isso sozinha. Eu prometo. Podemos passar por qualquer coisa, você e
eu. Eu não vou deixar você Hallie. Nós somos irmãs. Eu vou estar lá neste
momento. — Ela sorri sem jeito e olha para o chão sob suas botas.

Ela muda o seu peso para o outro pé e olha para mim debaixo de muito
rímel. Sua boca fica aberta por um segundo e seus lábios enrolam, como se ela não
quisesse dizer o que está prestes a cair de sua boca. — Há algo que você precisa
saber, e eu não sei se você vai gostar ou não com tudo o que aconteceu, mas precisa

saber. Você precisa. E eu odeio dizer isso agora, mas talvez seja melhor assim. Eu
esperaria se eu achasse que ajudaria.

— Maggie, diga-me. O que é?

Ela puxa um monte de ar e cospe para fora. — Ontem à noite, enquanto você
não estava em casa, entrei e vi o que parecia ser Neil e Cecily fazendo coisas que
estava muito além da zona do amigo. — Seus lábios são esmagados em conjunto,
enquanto ela tenta permanecer inexpressiva. Eu posso dizer que ela quer castrar
Neil conforme ela luta para manter seus lábios em uma linha reta.

Eu pisco, e isso é tudo. A raiva não vomita da minha boca e minhas mãos
não estão cerradas em punhos. Eu não me sinto quebrada ou até mesmo chocada.

Eu não sinto nada.

Se eu amasse Neil, eu estaria irada, mas eu não estou. Concordo com a
cabeça.

O rosto preocupado de Maggie franze enquanto ela empurra seu brilhante
cabelo atrás da orelha. — Eu não sei se eu deveria dizer. Eu o odeio, mas pensei
que você gostava do cara. — Ela me olha com tal preocupação que eu não posso
deixar de sorrir para ela.

Meu olhar abaixa para o chão e eu tomo uma respiração profunda, antes de
dar-lhe um abraço de lado. Quando eu a deixo ir, murmuro: — Eu estou feliz que
você me disse. Desgraça pouca é bobagem, certo? — Eu ofereço um sorriso de
novo, mas é falso neste momento. Há muitas lembranças correndo pela minha
mente, e o movimento faz minha pele parecer como se fosse rachar.

— Yeah. — Ela ri. — Pelo menos não temos que nos preocupar com Victor.
Devo-lhe muito por isso. Os jornais disseram que um dos seus homens o matou no
meu apartamento. Se você não tivesse me arrastado para fora, naquela noite eu
teria levado um tiro, também.

Eu sou insensível ao que eu fiz, pelo menos no momento. Às vezes, quando
eu não consigo dormir, o pensamento de que fiz desliza em minha mente, não
desejado. Victor é um pesadelo que não vai morrer, mas não posso perder o meu
tempo.

— Somos eu e você, agora. — Eu digo a ela com firmeza. Ela sorri
tristemente para mim e assente. — Maggie, você pode ir a casa de Neil e pegar
minhas coisas? Há apenas algumas caixas. Eu nunca desembalei, não
realmente. Neil queria que eu fizesse, mas eu empurrei a maioria delas na parte de
trás de um armário. — Eu retiro minha bolsa e escrevo-lhe um cheque. — Isso
deve cobrir o aluguel do nosso novo apartamento e tudo o mais que
precisamos. Deixe-o bonito, ok? Vai ser bom ter um novo lugar bonito para ir para
casa quando isso acabar.

Maggie pega o cheque e olha para todos os zeros, antes de olhar para mim.
Uma mecha de cabelo vermelho cai na frente de seus olhos. — Hallie, eu não posso
aceitar isso.

— Sim, você pode. Vai fazê-lo. Precisamos de um lugar para viver. Eu
gostaria de ter mais a oferecer, mas essa discussão é para outro dia. Entretanto,
isso vai nos colocar em uma boa vizinhança e nós estaremos confortáveis.

— Você vai processar Neil e Cecily? Eles praticamente gastaram todo o seu
dinheiro.

Concordo com a cabeça. — Provavelmente, mas não agora. Eu preciso fazer
um telefonema. — Maggie balança a cabeça e eu disco para o meu banco enquanto
seguimos para o meu carro. Eu explico a um funcionário do banco muito prestativo
que o nome de Neil deve ser retirado da minha conta imediatamente e todas as
transações em andamento com a sua assinatura, devem ser transferidas para a sua
conta. Verificação conjunta foi ideia dele. Eu esfrego minhas mãos sobre meu rosto
e sento com força no capô do meu carro. A coisa está suja, mas eu não me
importo. O funcionário do banco me pede para ir em breve para assinar os papéis,
e fazer as alterações em minha conta oficial. Quando eu insisto que eles precisam
ser assinados agora, ela diz para vir quando for mais conveniente.

Eu desligo e olho fixamente para as portas fechadas da mercearia. — Eu não
posso fazer isso de novo, não tão cedo. — A perda do meu pai ainda paira pesado
em meu coração, ameaçando me puxar para baixo. Minha dor não diminuiu e a
fama não ajudou. A única coisa que me faz sentir melhor é Bryan e agora vou
perdê-lo também.

Eu não posso respirar. Inclinando minha cabeça para trás com os olhos
cheios de lágrimas, eu olho para o céu e as nuvens brancas onduladas. O céu estava
aqui muito antes de eu nascer e vai estar aqui muito tempo depois. Faz-me sentir
pequena, como se a minha vida não importasse em tudo.

Maggie me bate com sua bota. — Bagel?

— Eu não estou com fome. — Eu estava com fome apenas um momento
atrás, mas agora não sinto nada parecido com isso.

— Merda resistente. Eu estou cuidando de você, o que significa que você
come isso ou vou enfiar na sua cara. — Ela está sorrindo para mim. — Eu vou fazer
isso.

Eu roubo a minha comida de sua mão. — Eu sei que você vai. —
Desempacotando a coisa, dou uma mordida e percebo que eu estou morrendo de
fome.

— A vida não é sobre a morte, você sabe. — Diz Maggie de repente. Ela está
sentada ao meu lado no capô, olhando para uma nuvem, pegando arrancando
pedaços de seu bagel, e os jogando em sua boca um de cada vez.

— Então o que se trata? — Eu pensei que eu sabia em um ponto, mas não
tenho ideia, não mais. A vida parece uma piada cruel.

— É sobre as relações que você faz, a bondade que oferece e você mostrar
compaixão. É a sua chance de mostrar ao mundo quem você é e o que faz você.
Hallie, você é a pessoa mais forte que conheço. Em vez de sentar aqui chorando
comigo, você deve estar com Bryan. Aqui. — Ela me dá o bagel extra. — Cheque de
vez em quando e quando você precisar de mim, eu vou. Nesse meio tempo, vou
deixar nossa casa pronta, eu prometo. Nada me manterá longe desta vez. Quando
você precisar de mim, eu estarei lá - se estiver no hospital, a funerária ou apenas
quando você precisar de uma pausa.

Eu sinto uma vibe nervosa vindo dela. — Você não é fraca, Maggie. Somos
sobreviventes, eu e você. — Quando eu digo isso, quero dizer para confortá-la, mas
uma bola dá um nó na minha garganta.

Ela pega a minha mão e se inclina, descansando a cabeça no meu ombro. —
Nós vamos sobreviver a isto também “juntas”.

Capítulo 3

Eu não quero pensar em Neil, então eu volto para a mansão Ferro e me
esgueiro para dentro. Ainda é cedo. As únicas pessoas que vejo são os empregados.
Eles me veem e não dizem nada. Deve ser estranho viver como uma estátua dia
após dia, sem ninguém, mas outros funcionários, na verdade, reconhecem que você
é humano. Eu não posso evitar isso. Eu sorrio para o mordomo que está sempre
ocupado, correndo para algum lugar. Ele inclina a cabeça em saudação, mas não
abranda.

Depois que ele passa, se vira para trás. — Você precisa de alguma coisa, Sra.
Raymond?

Eu sorrio e balanço a cabeça. — Não, é apenas bom vê-lo. — Eu olho para
ele. Este homem tem sido constante na vida de Bryan por anos. Eu me pergunto se
ele sabe que Bryan tem um segredo, porque nada lhe escapa, pelo menos não
quando éramos mais jovens. Eu me lembro de receber olhares severos dele quando
éramos muito jovens e fazíamos coisas muito loucas, enquanto a mãe de Bryan não
estava por perto. Mas o cara nunca nos entregou.

— Da mesma forma, Sra. Raymond. Diga ao Sr. Ferro que se ele precisar de
ajuda pode pedir qualquer coisa para mim. — Seus olhos perfuraram os meus por
um momento antes que ele olhe para o lado.

Ele sabe.

Concordo com a cabeça e vou para o modo de super mocinha. Antes que eu
possa me parar, lanço o meu corpo para ele e meus braços em volta do velho,
abraçando-o em um abraço de urso em estilo desleixado. Ele endurece com choque
e, em seguida, dá um tapinha minhas costas. — As pessoas vão dizer-lhe que ele
vai ficar bem. Ao longo dos próximos meses, você vai ouvir isso de novo e de novo,
mas a perda não é assim que funciona. As coisas não vão voltar ao normal, mas a
vida continua. Converse com ele sobre isso, enquanto você tem a chance.

Meu queixo cai. — O quê? Isso seria tão mau. Eu não posso...

— Isso não é o problema meu, mas se você fosse minha filha, era o que eu
diria a você. Tempos sombrios estão chegando, se este homem é o seu raio de luz,
mergulhe no sol tanto quanto puder e quando puder.

Acho que entendo o que ele quer dizer, então balanço minha cabeça para
cima e para baixo lentamente. Falar sobre a morte com alguém que está morrendo
é o que ele quer dizer. Vamos acabar discutindo todas as coisas que queríamos
fazer, mas nunca teremos a chance. Minha garganta aperta com o pensamento e os
meus olhos lacrimejam. — Obrigada.

— Qualquer hora, Sra. Raymond. — Ele inclina a cabeça para mim como se
eu fosse uma rainha e se vira para correr para longe.

Eu não gosto da sua sugestão, mas parte dela me chama. E se a gente falar
sobre isso? Eu balanço minha cabeça e aperto as mãos. Não! Eu não quero! Isso não
é justo e não posso simplesmente aceitar que vou perdê-lo - não depois que
finalmente nos encontramos novamente. Não depois de todo esse tempo.

No momento que estou dentro da mansão de Bryan, paro na porta. Minha
intenção era ir à ponta dos pés para o quarto de Bryan, mas sou presa pelo Ferro
que eu mais temo - Sean. Ele está encostado na parede, os braços cruzados sobre o
peito. Ele se parece com sua mãe, toda acusação não dita claramente visível em
seus olhos. Suas roupas escuras - casaco de couro, calça jeans, camisa preta e botas
shitkicker. — Você e eu temos algo a discutir.

Minha intenção é passar por ele. — Não tenho nada para lhe dizer.

Sean libera seus braços e caminha em minha frente. Ele é silencioso e letal,
com vibes malucas irradiando dele como micro ondas. Ding! — Bem, eu tenho algo
que você precisa ouvir - sobre um homem chamado Victor. — Minha respiração
para na minha garganta enquanto minhas mãos vão para o meu coração. Sean me
puxa pela curva do meu cotovelo para longe da porta de Bryan. — Sim, eu achei
que você soubesse alguma coisa sobre isso. Os jornais estão dizendo que um dos
seus homens o matou, mas os policiais estão bisbilhotando, me fazendo perguntas
sobre um traficante de merda. Eu não gosto de policiais e não gosto ainda menos
de perguntas. Então, me diga, como é que eles rastrearam até aqui? O que você
deixou para trás?

Eu rio, mas ele ignora. — Você acha que eu o matei? — Estou pressionando
meus dedos em meu peito, piscando, com meu queixo caído. Embora seja um
excelente desempenho, algo que me afasta. Sean pode ver isso.

Ele dá um passo no meu espaço de uma maneira ameaçadora. Sua voz
ressoa: — Eu sei que você o matou.

— Não, você não sabe. — Eu agarro, tentando me empurrar por ele
novamente, mas Sean não me deixa passar. Ele bloqueia o lugar com seu corpo
maciço.

Inclinando-se perto do meu rosto, ele sussurra baixinho: — Se eu sei, a
minha mãe sabe e você não quer pegadas sujas que levam direto para a porta da
frente. Você precisa se separar de Bryan e sair daqui antes que descubram isso.

Eu balanço minha cabeça e mordo meu lábio inferior. Eu provavelmente
pareci como um moleque teimoso, mas não vou deixar Bryan.

Os olhos de Sean travam com os meus e sua voz cai para um sussurro letal.
— Eu posso fazê-la desaparecer.

Algo desperta dentro de mim, essa mesma característica de proteção que
me fez cortar a garganta de Victor, em primeiro lugar. Minha coluna se endireita e
eu fico na frente do seu rosto. — Da mesma forma.

Depois de um momento de reflexão, o homem na verdade ri. Sean esfrega o
queixo com a mão. Eu não posso dizer se ele está se divertindo ou pensa que sou
louca. Ele finalmente pergunta: — Por que você fez isso?

— Por que você acha? O homem era um estuprador assassino. Vamos
apenas dizer que eu estava no lugar errado na hora errada. Acidentes acontecem e
eu não ia deixar que qualquer outra coisa acontecesse com a minha amiga. Ela é a
única família que me resta. — Eu sugo o ar, tentando inchar, então não sou tão
pequena, mas em comparação com Sean Ferro, sou um palito.

Seus olhos azuis mudam para o lado antes que ele passe as mãos pelo
cabelo. — Então, você protegeu sua família, deixe-me proteger a minha. Vá
embora. Não puxe Bryan para isso.

— Para quê? Os mortos não puxam qualquer um para qualquer coisa.

— Victor Campone está vivo.

Capítulo 4

Um pequeno grito escapa dos meus lábios e eu quase caio no chão. Meus
joelhos cedem, mas antes de eu ir para baixo, Sean agarra meus braços. Ele me
mantém de pé e continua suavemente. — Os policiais suspeitam que ele esteja
vivo. No momento em que chegaram lá, o corpo tinha desaparecido. Devido à
quantidade de sangue que encontraram, sua suposição natural era que um de seus
homens o matou e jogou o corpo. Os policiais ainda estavam indo por esse caminho
até recentemente, quando pegaram Campone bisbilhotando meu hotel. Então, a
menos que viram um fantasma, o homem ainda está vivo.

— Ele não pode estar. — Eu balanço minha cabeça e meus olhos vidrados
quando me lembro daquela noite. A quantidade de sangue, a forma que sua cabeça
pendia para trás e a ferida era tão profunda. — Não é possível.

Sean suspira e olha para mim com uma expressão que está perdida em
algum lugar entre pena e admiração. Inclinando-se perto, ele diz: — O corte foi
muito superficial. É como apontar para o coração e não acertar. O cara foi
subestimado, os que estavam dispostos e aceitaram fazer isso uma vez, mas ele não
vai ser subestimado novamente. E eu aposto qualquer coisa que ele vai
permanecer morto por um tempo, deixar que os outros façam o trabalho sujo, até
que lhe convenha encenar uma ressurreição.

— Como você sabe tudo isso?

Ele engole em seco, seu olhar se afastando e depois de volta para os meus
olhos. — Periodicamente nossos empreendimentos comerciais se sobrepõem. Eu
ouço coisas. E posso dizer-lhe que se eu ouvi, minha mãe ouviu e você com certeza
não quer irritá-la. Se Campone acabar aqui, você está morta. Se ele não te matar,
minha mãe vai.

Ele agarra meus ombros e me pede: — Hallie, pega a sua amiga e dá o fora
daqui antes que Campone a encontre. — Sean me libera. — Este foi um aviso de
cortesia. Se você ficar por perto e Bryan for morto por sua causa, bem, é melhor

esperar que Victor a encontre antes de mim. — Seus olhos firmam em mim uma
vez com as suas intenções claras.

Eu fico lá por um segundo mal respirando. Nossos olhos estão bloqueados,
nós dois estamos desafiando, mas será que ele não sabe, Sean não sabe sobre seu
primo? Talvez eu devesse pegar Bryan e correr, mas não posso. Não enquanto ele
está doente. Ele vai precisar de ajuda e cuidados paliativos. Eu não posso dar-lhe
essas coisas se eu corro. Minha voz racha quando eu falo. — Eu não posso.

— Não é opcional.

— Não, você não entende. Eu não posso ir embora. Eu não posso correr
mais de Victor e não vou. Eu vou cuidar disso. Eu vou terminar o que comecei. —
Eu não tenho ideia de como, mas vou. Se eu não fizer isso, ele virá atrás de mim e
Maggie. O homem é cruel, ele nunca vai parar de nos caçar. Eu sei disso com
certeza.

Sean levanta a sobrancelha escura. — Você está louca? Você nunca vai ter
outra chance de matá-lo. Ele pensou que era insignificante antes, mas agora ele a
conhece melhor.

Eu me empurro passando por ele. — Eu vou cuidar disso. Ele não virá aqui,
e desta vez, quando eu matá-lo, ele vai morrer.

— Hallie. — Sean quase implora meu nome, quase, mas eu não paro.

Eu entro no quarto de Bryan e fecho a porta. Eu fico lá por um segundo e
derrubo minha cabeça para trás, respirando com dificuldade. Eu nunca soquei uma
pessoa antes. Agora eu simplesmente confessei ao mais assustador de todos os
Ferro que vou dar um fim no senhor das drogas mais notório da cidade. Super foda.

Eu ainda estou segurando o saco com café da manhã de Bryan. Quando
aperto o meu punho, o jornal faz um ruído de crepitação e ele se senta. Um belo
sorriso ilumina seu rosto pálido. — Hey, Menina Bonita. Para onde você correu?

— Para pegar o café da manhã e conseguir alguma sujeira em sua tia. Foi
uma manhã interessante. — Eu sorrio, preocupada com ele e entrego o saco.

— Sujeira na minha tia?

Balanço a cabeça e me sento ao lado dele na cama. — Sim, eu descobri
porque ela me odeia. Ela pensa que eu sei de algo todos esses anos, mas eu não
descobri o que eu sabia até esta manhã.

Bryan desembrulha o seu bagel enquanto estou falando e morde. Seus
firmes olhos verdes encontram os meus. Com a boca cheia, ele me pergunta. — E
então?

Eu penso em manter seu segredo, mas não sinto nenhuma lealdade para
com ela. Além disso, Bryan não vai contar a ninguém. — Ela é gay. Eu a peguei com
sua amante na cozinha de sua mãe esta manhã.

Seu queixo cai e o pedaço de bagel rola para fora da boca, indo para a
colcha. — De jeito nenhum.

Concordo com a cabeça e olho para o pedaço de comida. — Um choque e
tanto, hein?

— Claro que sim. Ela é tão recatada e adequada. — Seu nariz franze com o
pensamento da sua tia ser sexualmente algo.

— E, aparentemente, ela gosta de garotas.

Bryan pisca e sorri. — Bem, isso explica um monte de coisas.

— Sim, como por que ela ainda é casada e permite que prostitutas meio
vestidas andem pela sua casa.

Bryan sorri. — Claro, todo mundo gosta de um pouco de colírio para os
olhos.

Eu bato em seu ombro. — Bryan!

— Vamos lá, pense nisso. Houve uma garota naquela casa desde que Jon era
um bebê. É a família mais estranha que eu já vi. Minha mãe não teria tolerado. Eu
sempre me perguntei por que a tia Constance tolerava.

— Seu pai não tem uma puta coabitante?

Ele inclina a cabeça para mim. — Meu pai não tem tempo para isso. Ele está
muito ocupado ganhando dinheiro para ser incomodado com relacionamentos ou
senhoras de compra. Mas, ainda assim, a tia Connie gosta das garotas. Quem teria

pensado? — Ele balança a cabeça. — Então o que diabos eu vi no dia que
terminamos?

Boa pergunta. Eu suspiro e tenho uma boa ideia de para quem perguntar. Eu
sorrio grande. — Qual é o quarto que Constance usa quando está aqui?

Bryan parece confuso e então seus olhos se arregalam. — Você está louca?

— Só um pouco. — Eu rio e quase aperto meus dedos juntos.


CONTINUA

A luz do amanhecer brilha através das pesadas cortinas que revestem as paredes formando uma fina fenda de branco puro no tapete escuro. Eu fico olhando para ele, perdida em seus pensamentos. Perto de mim, Bryan está dormindo. Eu envolvo meus braços ao redor dele e seu corpo se parece tão forte. É por isso que isto é tão difícil. Não faz nenhum sentido. Para além da dor, eu não posso ver o que está acontecendo com ele. É interno. Seu corpo o está matando segundo a segundo. Eventualmente, ele irá respirar e não haverá outro. Eu não posso suportar a ideia.
Minha vida tem sido moldada por morte. Todo mundo que me importa, todos, exceto Maggie, partem. Eu escorrego para fora da cama, agarrando o meu telefone antes de ir para fundo do corredor. Eu envio uma mensagem de texto para ela, embora eu duvide que ela esteja acordada.
Eu digito: Estou com Bryan. Apenas verificando para ter certeza que está tudo bem.
Para minha surpresa ela envia uma mensagem de volta: Eu estou, mas tenho uma coisa horrível para lhe dizer.
Nada poderia ser pior do que perder Bryan. Eu digito de volta: Eu também.
Volto logo para casa e podemos conversar.
Ela responde: Ok.

 


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Eu enfio meu celular no bolso antes de pegar a camiseta de Bryan e a puxo
sobre minha cabeça. Eu enfio minhas mãos sob as mangas e vagueio pela mansão
até encontrar a cozinha. Sinto o cheiro do café e preciso desesperadamente de uma
xícara. Infelizmente, a besta “a tia” de Bryan está sentada à mesa com outra
mulher. Ambas estão vestidas em robe. Eu pisco conforme o choque lava seus
rostos. Eu não posso imaginar por que ela está aqui tão cedo, não vestida. Quão
estranho é isso?

Dentro de um batimento cardíaco, Constance está fora de seu assento e no
meu rosto. — Como você ousa desfilar na casa da minha irmã usando coisas do
meu sobrinho? Saia agora mesmo, sua puta! — Ela tenta bater no meu rosto, mas
eu agarro seu pulso.

As coisas finalmente clicam no lugar. A forma como as mulheres estavam
olhando uma para a outra, o toque de suas mãos, a forma como os seus olhos
permanecem naquele olhar fixo familiar, o fato de que ela está aqui, quando sua
irmã e cunhado já se foram e a forma como Constance se transforma em um tigre
quando ela me vê - faz sentido. Ela está escondendo um segredo há anos que
poderia arruiná-la para sempre. É por isso que ela suporta as infidelidades do Sr.
Ferro e porque permite que suas mulheres valsem pela sua casa.

Constance é gay - e esta mulher é sua amante. Ela pensou que eu soubesse,
mas eu nunca percebi antes.

Ela puxa sua mão do meu aperto e se prepara para começar a gritar
novamente. Eu a interrompo, cansada. — Eu não me importo com sua vida ou
suas preferências. Eu entendo que seja um tabu para você ser vista com ela. Eu
entendo isso, Constance, eu realmente entendo. Eu não a julgo por isso, então pare
de me julgar. A única coisa de que eu quero vocês é o café. — Eu caminho,
passando por ela.

O queixo de Constance está no chão. Sua namorada, uma mulher pelo menos
dez anos mais nova que ela, fica rígida, olhando-me com medo. Relações do mesmo
sexo podem ser ultramodernas e estarem na moda em Nova York, mas não entre
antigas famílias endinheiradas como esta. Isso a arruinaria. É por isso que ela me
odeia. Ela acha que eu tenho andado por aí esperando para soltar uma bomba em
sua vida.

Quando Constance fala, seu tom é cético: — Você sabe há muito tempo e não
disse nada. Por quê?

— Porque eu não me importo com você. — Eu mantenho minhas costas
para ela enquanto despejo o líquido escuro em uma xícara pesada. É muito cedo. As
pessoas normais não estão acordadas às cinco da manhã. Elas provavelmente
estavam tomando café da manhã antes de se separarem para o dia. Quando me viro

para falar, as duas mulheres estão me olhando mortificadas. — Eu me preocupo
com Bryan. Você não percebeu nada sobre ele que lhe diz respeito?

Seu olhar se estreita. — Não brinque comigo. Eu conheço minha família,
cada um deles.

— Sim, bem, você pode querer falar com ele. — Ela bloqueia seu maxilar,
preparando-se para ordenar que eu saia, mas eu acrescento: — O tempo é uma
coisa engraçada. Todos nós pensamos que temos uma tonelada dele até que seja
tirado de nós, então nos damos conta de que nunca foi o suficiente, para começar.
Use o tempo que você tem, Constance. Ame as pessoas que queira e se certifique de
que eles saibam disso. Chegará o dia em que você lamentará que não o fez e a
chance passou por você.

Ela endurece quando eu falo. — Você está me ameaçando?

Eu rio alto com o ridículo de sua declaração. Ela não tem nenhuma pista. Eu
estava me referindo a mim e Bryan, para a piscina constante de arrependimento
que enche meu estômago. Poderíamos ter estado juntos, mas essa oportunidade
está perdida agora, o tempo que nunca teremos.

— Você está tão errada sobre tudo, lacrada em sua pequena bolha, fora de
contato com o mundo real. Isso não é sobre você, então você acha que está segura,
mas você nunca está, não do tempo - não da morte. Seu sobrinho... — Eu engulo
em seco, mas não quebro o contato visual. — Certifique-se que sua mãe descubra.
Isso é tudo que eu quero.

A suposição de que eu estou fazendo é enorme - aquela que Elizabeth Ferro
se importará se seu filho vive ou morre. Bryan não contou a ninguém sobre sua
doença, exceto eu. Jon pode ver isso, mas os outros não têm ideia. Eu não sei
quanto tempo resta à Bryan, mas não quero que ele o gaste se preocupando ou
brigando. Eu quero estar lá para protegê-lo e, por alertar o Ferro de seu estado, eu
provavelmente só fiz isso mais difícil de acontecer - mas que é a coisa certa a fazer.
Se eu tivesse um segundo extra para gastar com o meu pai... O pensamento se
esconde em minha mente, sol a sol. Quando a noite lava o céu com tons roxos de
tinta e manchas de âmbar cintilante, eu gostaria de ter mais uma oportunidade de
dizer todas as coisas que nunca tive a chance de expressar. Agora, esses
pensamentos estão presos dentro da minha alma, me segurando cativa. Eu nunca

vou ser livre. Eu nunca tive a chance de dizer adeus. Eu estou dando aos Ferro essa
oportunidade e esperando além da esperança de que eles não me joguem para fora
na minha bunda em recompensa.

Empurrando de lado meus pensamentos, eu coloco meu copo vazio para
baixo e saio, deixando Constance e sua amante, boquiabertas, no meu despertar. As
duas mulheres atrás de mim são crianças brincando de casinha. Eu posso ser mais
jovem do que elas em anos, mas minha alma parece velha. É imaturo pensar que a
sua vida seja apenas sobre você. A vida é sobre as pessoas ao seu redor. Como eu
gostaria de nunca crescer, mas desejar é desperdício de tempo e eu me recuso a
desperdiçar mais um segundo.

Capítulo 2

Maggie e eu planejamos, através de mensagens de texto, nos encontrar em
algum lugar que tenha um bagel logo após o amanhecer. Os únicos carros no
estacionamento são da loja. O resto do centro de compras ainda está fechado. Eu
não espero muito tempo, quando ela se junta a mim no final da fila.

— Hey. — Diz Maggie, me envolvendo em um abraço.

Eu a abraço de volta, segurando-a um segundo muito longo. Ela vai fugir
novamente. Eu sei disso. Ela não lida bem com a morte também. Acho que
ninguém faz, mas Maggie viu muito dela. Quando eu a solto, me forço a perdoá-la
com antecedência. Uma alma só pode tomar tanto abuso antes que não possa
evitar, exceto reagir. É como o cão de Pavlov. A campainha da morte soa e Maggie
corre.

Eu enfio um pedaço de cabelo atrás da minha orelha e encosto contra a
vitrine de vidro, antes de enfiar as mãos nos bolsos. — Hey. Como tem passado?

A fila faz a volta para fora da porta e para baixo da frente do centro
comercial com pessoas que já pararam para um bagel e café em seu caminho para
o trabalho. A fila se aproxima alguns centímetros mais próxima da comida e nos
movemos com ela, antes de retornar nossas posições contra o vidro. Meu estômago
ronca com o cheiro de fermento e eu mal posso esperar para provar o pão macio,
quente e mordê-lo, saboreando o cream cheese espesso. Eu aprendi a não dar por
certo pequenas coisas. Bagels me ajudam a encontrar meu lugar feliz.

Eu pretendo pegar um para Bryan também - sementes de papoula com
manteiga, exatamente como ele pedia na escola. Viemos aqui tantas vezes. Eu fico
olhando para fora, no estacionamento, minha mente vagando em uma memória de
Bryan me levantando em um carrinho de compras e empurrando-me como um
louco pelo mercado, rindo o tempo todo.

Outro cliente perguntou: — Que corredor você a encontrou? Eu quero uma!

Bryan apenas sorriu, os olhos deslizando sobre mim no carrinho. —
Desculpe, cara. Esta era a única e é toda minha. Eu nunca a deixarei ir. — A

memória ecoa fortemente em meus ouvidos. Parece que poderia ter acontecido
ontem.

A voz de Maggie me encaixa de volta ao presente. Ela encolhe os ombros e
puxa a alça da bolsa para cima de seu ombro. — Eu estou bem. Acho que encontrei
um apartamento para nós, mas eu ouvi que Neil comprou para vocês uma casa. —
Ela faz uma cara de, bem, tenta não fazer uma cara, que faz sua expressão de dor
ainda pior. A fila se move de novo e, com um passo à frente, ela deixa escapar: —
Você realmente vai se casar com ele? Achei que você amasse Bryan? Parecia que
estava totalmente encantada com o gatinho do sexo. Bem, você é a gatinha.
Rapazes são o quê, tigres? Tigre sexual soa mal. — Ela ri, mas sua risada leve
desaparece quando ela vê o meu sorriso falso. — O que há de errado, Hallie?

Eu tento manter minha voz firme, mas treme sem minha permissão. Não há
nenhum ponto em protelar por mais tempo, e além disso, eu preciso dela. Mesmo
que ela vá correr, eu tenho que falar com alguém enquanto eu tiver a chance. —
Maggie, ele está morrendo.

— Mas, ele não pode estar! Ele... — Maggie deixa escapar muitas palavras de
uma só vez e quase começa a chorar. Ela é a pessoa mais empática que eu já
conheci. A minha dor está representada em seu rosto quando ela para, aperta
minha mão e me puxa para um abraço de urso que poderia explodir minha cabeça.
— Eu sinto muito, Hallie. — Ela enxuga as lágrimas com as costas da mão e olha
para o meu ombro, não querendo perguntar. Cada palavra é como se enfiasse uma
faca no meu lado. — O que há de errado com ele?

Eu a atualizo com o que sei que aconteceu até agora. Minha voz continua
difícil quando eu chego ao fim da história. — Nós terminamos por causa de sua tia
Constance. Ela achou que eu iria arruiná-la com informações que eu não deveria
saber, então ela descobriu uma maneira de nos separar. — A raiva eu não tinha
notado até agora borbulha sob a superfície da minha mente. Eu não vou ficar com
raiva, eu não posso ficar. Eu me recuso a perder meu tempo com ela ou o que ela
fez. — Maggie, eu não poderia me importar menos com ela, mas eu quis Bryan
todo esse tempo e não o tive por causa dela.

— E, no entanto, você não soa como louca. Você parece mais
assustadoramente tranquila sobre isso. — Uma sobrancelha vermelha levanta
levemente em sua testa sardenta.

Eu olho para ela conforme nos movemos com a fila para dentro da pequena
loja, e nos aproximamos da bandeja do pão assado. Maggie pede em primeiro lugar,
então eu peço e pago por nossos itens. Pegamos o nosso café da manhã, cortamos
de volta através da fila, para fora da porta, em direção ao estacionamento. Fico ali
na frente dela querendo falar, mas incapaz de encontrar palavras, em seguida,
entrego para ela o pão e suco de laranja.

Minha boca se abre duas vezes, mas as palavras não saem. Eu finalmente
olho nos olhos dela e explico. — Eu não estou louca. Bem, eu estou - mas não quero
estar. É um desperdício de tempo e eu não tenho tempo de sobra. Eu estou
pensando em ficar com ele, Maggie. Seja qual for o tempo que lhe resta, eu quero
estar lá.

— Eu entendo, e eu estou aqui para você. — Ela pega a minha mão, mas eu
não posso olhar para ela.

— Não faça promessas que não pode cumprir, Maggie.

— Eu estou as mantendo desta vez.

— Eu prefiro saber agora que você vai desaparecer. Eu posso lidar com isso
sozinha. Eu estou bem, realmente. Eu sei o que isso faz para você e... — Eu arranjo
desculpas para ela até que ela me corta.

— Não. A última vez eu não estava lá para você, porque Victor era um idiota.
Eu não tive escolha. Isso fazia parte da maneira como ele estava me controlando,
mas ele já se foi, Hallie. Eu não vou fugir. Eu estarei lá para você. Você não terá que
lidar com isso sozinha. Eu prometo. Podemos passar por qualquer coisa, você e
eu. Eu não vou deixar você Hallie. Nós somos irmãs. Eu vou estar lá neste
momento. — Ela sorri sem jeito e olha para o chão sob suas botas.

Ela muda o seu peso para o outro pé e olha para mim debaixo de muito
rímel. Sua boca fica aberta por um segundo e seus lábios enrolam, como se ela não
quisesse dizer o que está prestes a cair de sua boca. — Há algo que você precisa
saber, e eu não sei se você vai gostar ou não com tudo o que aconteceu, mas precisa

saber. Você precisa. E eu odeio dizer isso agora, mas talvez seja melhor assim. Eu
esperaria se eu achasse que ajudaria.

— Maggie, diga-me. O que é?

Ela puxa um monte de ar e cospe para fora. — Ontem à noite, enquanto você
não estava em casa, entrei e vi o que parecia ser Neil e Cecily fazendo coisas que
estava muito além da zona do amigo. — Seus lábios são esmagados em conjunto,
enquanto ela tenta permanecer inexpressiva. Eu posso dizer que ela quer castrar
Neil conforme ela luta para manter seus lábios em uma linha reta.

Eu pisco, e isso é tudo. A raiva não vomita da minha boca e minhas mãos
não estão cerradas em punhos. Eu não me sinto quebrada ou até mesmo chocada.

Eu não sinto nada.

Se eu amasse Neil, eu estaria irada, mas eu não estou. Concordo com a
cabeça.

O rosto preocupado de Maggie franze enquanto ela empurra seu brilhante
cabelo atrás da orelha. — Eu não sei se eu deveria dizer. Eu o odeio, mas pensei
que você gostava do cara. — Ela me olha com tal preocupação que eu não posso
deixar de sorrir para ela.

Meu olhar abaixa para o chão e eu tomo uma respiração profunda, antes de
dar-lhe um abraço de lado. Quando eu a deixo ir, murmuro: — Eu estou feliz que
você me disse. Desgraça pouca é bobagem, certo? — Eu ofereço um sorriso de
novo, mas é falso neste momento. Há muitas lembranças correndo pela minha
mente, e o movimento faz minha pele parecer como se fosse rachar.

— Yeah. — Ela ri. — Pelo menos não temos que nos preocupar com Victor.
Devo-lhe muito por isso. Os jornais disseram que um dos seus homens o matou no
meu apartamento. Se você não tivesse me arrastado para fora, naquela noite eu
teria levado um tiro, também.

Eu sou insensível ao que eu fiz, pelo menos no momento. Às vezes, quando
eu não consigo dormir, o pensamento de que fiz desliza em minha mente, não
desejado. Victor é um pesadelo que não vai morrer, mas não posso perder o meu
tempo.

— Somos eu e você, agora. — Eu digo a ela com firmeza. Ela sorri
tristemente para mim e assente. — Maggie, você pode ir a casa de Neil e pegar
minhas coisas? Há apenas algumas caixas. Eu nunca desembalei, não
realmente. Neil queria que eu fizesse, mas eu empurrei a maioria delas na parte de
trás de um armário. — Eu retiro minha bolsa e escrevo-lhe um cheque. — Isso
deve cobrir o aluguel do nosso novo apartamento e tudo o mais que
precisamos. Deixe-o bonito, ok? Vai ser bom ter um novo lugar bonito para ir para
casa quando isso acabar.

Maggie pega o cheque e olha para todos os zeros, antes de olhar para mim.
Uma mecha de cabelo vermelho cai na frente de seus olhos. — Hallie, eu não posso
aceitar isso.

— Sim, você pode. Vai fazê-lo. Precisamos de um lugar para viver. Eu
gostaria de ter mais a oferecer, mas essa discussão é para outro dia. Entretanto,
isso vai nos colocar em uma boa vizinhança e nós estaremos confortáveis.

— Você vai processar Neil e Cecily? Eles praticamente gastaram todo o seu
dinheiro.

Concordo com a cabeça. — Provavelmente, mas não agora. Eu preciso fazer
um telefonema. — Maggie balança a cabeça e eu disco para o meu banco enquanto
seguimos para o meu carro. Eu explico a um funcionário do banco muito prestativo
que o nome de Neil deve ser retirado da minha conta imediatamente e todas as
transações em andamento com a sua assinatura, devem ser transferidas para a sua
conta. Verificação conjunta foi ideia dele. Eu esfrego minhas mãos sobre meu rosto
e sento com força no capô do meu carro. A coisa está suja, mas eu não me
importo. O funcionário do banco me pede para ir em breve para assinar os papéis,
e fazer as alterações em minha conta oficial. Quando eu insisto que eles precisam
ser assinados agora, ela diz para vir quando for mais conveniente.

Eu desligo e olho fixamente para as portas fechadas da mercearia. — Eu não
posso fazer isso de novo, não tão cedo. — A perda do meu pai ainda paira pesado
em meu coração, ameaçando me puxar para baixo. Minha dor não diminuiu e a
fama não ajudou. A única coisa que me faz sentir melhor é Bryan e agora vou
perdê-lo também.

Eu não posso respirar. Inclinando minha cabeça para trás com os olhos
cheios de lágrimas, eu olho para o céu e as nuvens brancas onduladas. O céu estava
aqui muito antes de eu nascer e vai estar aqui muito tempo depois. Faz-me sentir
pequena, como se a minha vida não importasse em tudo.

Maggie me bate com sua bota. — Bagel?

— Eu não estou com fome. — Eu estava com fome apenas um momento
atrás, mas agora não sinto nada parecido com isso.

— Merda resistente. Eu estou cuidando de você, o que significa que você
come isso ou vou enfiar na sua cara. — Ela está sorrindo para mim. — Eu vou fazer
isso.

Eu roubo a minha comida de sua mão. — Eu sei que você vai. —
Desempacotando a coisa, dou uma mordida e percebo que eu estou morrendo de
fome.

— A vida não é sobre a morte, você sabe. — Diz Maggie de repente. Ela está
sentada ao meu lado no capô, olhando para uma nuvem, pegando arrancando
pedaços de seu bagel, e os jogando em sua boca um de cada vez.

— Então o que se trata? — Eu pensei que eu sabia em um ponto, mas não
tenho ideia, não mais. A vida parece uma piada cruel.

— É sobre as relações que você faz, a bondade que oferece e você mostrar
compaixão. É a sua chance de mostrar ao mundo quem você é e o que faz você.
Hallie, você é a pessoa mais forte que conheço. Em vez de sentar aqui chorando
comigo, você deve estar com Bryan. Aqui. — Ela me dá o bagel extra. — Cheque de
vez em quando e quando você precisar de mim, eu vou. Nesse meio tempo, vou
deixar nossa casa pronta, eu prometo. Nada me manterá longe desta vez. Quando
você precisar de mim, eu estarei lá - se estiver no hospital, a funerária ou apenas
quando você precisar de uma pausa.

Eu sinto uma vibe nervosa vindo dela. — Você não é fraca, Maggie. Somos
sobreviventes, eu e você. — Quando eu digo isso, quero dizer para confortá-la, mas
uma bola dá um nó na minha garganta.

Ela pega a minha mão e se inclina, descansando a cabeça no meu ombro. —
Nós vamos sobreviver a isto também “juntas”.

Capítulo 3

Eu não quero pensar em Neil, então eu volto para a mansão Ferro e me
esgueiro para dentro. Ainda é cedo. As únicas pessoas que vejo são os empregados.
Eles me veem e não dizem nada. Deve ser estranho viver como uma estátua dia
após dia, sem ninguém, mas outros funcionários, na verdade, reconhecem que você
é humano. Eu não posso evitar isso. Eu sorrio para o mordomo que está sempre
ocupado, correndo para algum lugar. Ele inclina a cabeça em saudação, mas não
abranda.

Depois que ele passa, se vira para trás. — Você precisa de alguma coisa, Sra.
Raymond?

Eu sorrio e balanço a cabeça. — Não, é apenas bom vê-lo. — Eu olho para
ele. Este homem tem sido constante na vida de Bryan por anos. Eu me pergunto se
ele sabe que Bryan tem um segredo, porque nada lhe escapa, pelo menos não
quando éramos mais jovens. Eu me lembro de receber olhares severos dele quando
éramos muito jovens e fazíamos coisas muito loucas, enquanto a mãe de Bryan não
estava por perto. Mas o cara nunca nos entregou.

— Da mesma forma, Sra. Raymond. Diga ao Sr. Ferro que se ele precisar de
ajuda pode pedir qualquer coisa para mim. — Seus olhos perfuraram os meus por
um momento antes que ele olhe para o lado.

Ele sabe.

Concordo com a cabeça e vou para o modo de super mocinha. Antes que eu
possa me parar, lanço o meu corpo para ele e meus braços em volta do velho,
abraçando-o em um abraço de urso em estilo desleixado. Ele endurece com choque
e, em seguida, dá um tapinha minhas costas. — As pessoas vão dizer-lhe que ele
vai ficar bem. Ao longo dos próximos meses, você vai ouvir isso de novo e de novo,
mas a perda não é assim que funciona. As coisas não vão voltar ao normal, mas a
vida continua. Converse com ele sobre isso, enquanto você tem a chance.

Meu queixo cai. — O quê? Isso seria tão mau. Eu não posso...

— Isso não é o problema meu, mas se você fosse minha filha, era o que eu
diria a você. Tempos sombrios estão chegando, se este homem é o seu raio de luz,
mergulhe no sol tanto quanto puder e quando puder.

Acho que entendo o que ele quer dizer, então balanço minha cabeça para
cima e para baixo lentamente. Falar sobre a morte com alguém que está morrendo
é o que ele quer dizer. Vamos acabar discutindo todas as coisas que queríamos
fazer, mas nunca teremos a chance. Minha garganta aperta com o pensamento e os
meus olhos lacrimejam. — Obrigada.

— Qualquer hora, Sra. Raymond. — Ele inclina a cabeça para mim como se
eu fosse uma rainha e se vira para correr para longe.

Eu não gosto da sua sugestão, mas parte dela me chama. E se a gente falar
sobre isso? Eu balanço minha cabeça e aperto as mãos. Não! Eu não quero! Isso não
é justo e não posso simplesmente aceitar que vou perdê-lo - não depois que
finalmente nos encontramos novamente. Não depois de todo esse tempo.

No momento que estou dentro da mansão de Bryan, paro na porta. Minha
intenção era ir à ponta dos pés para o quarto de Bryan, mas sou presa pelo Ferro
que eu mais temo - Sean. Ele está encostado na parede, os braços cruzados sobre o
peito. Ele se parece com sua mãe, toda acusação não dita claramente visível em
seus olhos. Suas roupas escuras - casaco de couro, calça jeans, camisa preta e botas
shitkicker. — Você e eu temos algo a discutir.

Minha intenção é passar por ele. — Não tenho nada para lhe dizer.

Sean libera seus braços e caminha em minha frente. Ele é silencioso e letal,
com vibes malucas irradiando dele como micro ondas. Ding! — Bem, eu tenho algo
que você precisa ouvir - sobre um homem chamado Victor. — Minha respiração
para na minha garganta enquanto minhas mãos vão para o meu coração. Sean me
puxa pela curva do meu cotovelo para longe da porta de Bryan. — Sim, eu achei
que você soubesse alguma coisa sobre isso. Os jornais estão dizendo que um dos
seus homens o matou, mas os policiais estão bisbilhotando, me fazendo perguntas
sobre um traficante de merda. Eu não gosto de policiais e não gosto ainda menos
de perguntas. Então, me diga, como é que eles rastrearam até aqui? O que você
deixou para trás?

Eu rio, mas ele ignora. — Você acha que eu o matei? — Estou pressionando
meus dedos em meu peito, piscando, com meu queixo caído. Embora seja um
excelente desempenho, algo que me afasta. Sean pode ver isso.

Ele dá um passo no meu espaço de uma maneira ameaçadora. Sua voz
ressoa: — Eu sei que você o matou.

— Não, você não sabe. — Eu agarro, tentando me empurrar por ele
novamente, mas Sean não me deixa passar. Ele bloqueia o lugar com seu corpo
maciço.

Inclinando-se perto do meu rosto, ele sussurra baixinho: — Se eu sei, a
minha mãe sabe e você não quer pegadas sujas que levam direto para a porta da
frente. Você precisa se separar de Bryan e sair daqui antes que descubram isso.

Eu balanço minha cabeça e mordo meu lábio inferior. Eu provavelmente
pareci como um moleque teimoso, mas não vou deixar Bryan.

Os olhos de Sean travam com os meus e sua voz cai para um sussurro letal.
— Eu posso fazê-la desaparecer.

Algo desperta dentro de mim, essa mesma característica de proteção que
me fez cortar a garganta de Victor, em primeiro lugar. Minha coluna se endireita e
eu fico na frente do seu rosto. — Da mesma forma.

Depois de um momento de reflexão, o homem na verdade ri. Sean esfrega o
queixo com a mão. Eu não posso dizer se ele está se divertindo ou pensa que sou
louca. Ele finalmente pergunta: — Por que você fez isso?

— Por que você acha? O homem era um estuprador assassino. Vamos
apenas dizer que eu estava no lugar errado na hora errada. Acidentes acontecem e
eu não ia deixar que qualquer outra coisa acontecesse com a minha amiga. Ela é a
única família que me resta. — Eu sugo o ar, tentando inchar, então não sou tão
pequena, mas em comparação com Sean Ferro, sou um palito.

Seus olhos azuis mudam para o lado antes que ele passe as mãos pelo
cabelo. — Então, você protegeu sua família, deixe-me proteger a minha. Vá
embora. Não puxe Bryan para isso.

— Para quê? Os mortos não puxam qualquer um para qualquer coisa.

— Victor Campone está vivo.

Capítulo 4

Um pequeno grito escapa dos meus lábios e eu quase caio no chão. Meus
joelhos cedem, mas antes de eu ir para baixo, Sean agarra meus braços. Ele me
mantém de pé e continua suavemente. — Os policiais suspeitam que ele esteja
vivo. No momento em que chegaram lá, o corpo tinha desaparecido. Devido à
quantidade de sangue que encontraram, sua suposição natural era que um de seus
homens o matou e jogou o corpo. Os policiais ainda estavam indo por esse caminho
até recentemente, quando pegaram Campone bisbilhotando meu hotel. Então, a
menos que viram um fantasma, o homem ainda está vivo.

— Ele não pode estar. — Eu balanço minha cabeça e meus olhos vidrados
quando me lembro daquela noite. A quantidade de sangue, a forma que sua cabeça
pendia para trás e a ferida era tão profunda. — Não é possível.

Sean suspira e olha para mim com uma expressão que está perdida em
algum lugar entre pena e admiração. Inclinando-se perto, ele diz: — O corte foi
muito superficial. É como apontar para o coração e não acertar. O cara foi
subestimado, os que estavam dispostos e aceitaram fazer isso uma vez, mas ele não
vai ser subestimado novamente. E eu aposto qualquer coisa que ele vai
permanecer morto por um tempo, deixar que os outros façam o trabalho sujo, até
que lhe convenha encenar uma ressurreição.

— Como você sabe tudo isso?

Ele engole em seco, seu olhar se afastando e depois de volta para os meus
olhos. — Periodicamente nossos empreendimentos comerciais se sobrepõem. Eu
ouço coisas. E posso dizer-lhe que se eu ouvi, minha mãe ouviu e você com certeza
não quer irritá-la. Se Campone acabar aqui, você está morta. Se ele não te matar,
minha mãe vai.

Ele agarra meus ombros e me pede: — Hallie, pega a sua amiga e dá o fora
daqui antes que Campone a encontre. — Sean me libera. — Este foi um aviso de
cortesia. Se você ficar por perto e Bryan for morto por sua causa, bem, é melhor

esperar que Victor a encontre antes de mim. — Seus olhos firmam em mim uma
vez com as suas intenções claras.

Eu fico lá por um segundo mal respirando. Nossos olhos estão bloqueados,
nós dois estamos desafiando, mas será que ele não sabe, Sean não sabe sobre seu
primo? Talvez eu devesse pegar Bryan e correr, mas não posso. Não enquanto ele
está doente. Ele vai precisar de ajuda e cuidados paliativos. Eu não posso dar-lhe
essas coisas se eu corro. Minha voz racha quando eu falo. — Eu não posso.

— Não é opcional.

— Não, você não entende. Eu não posso ir embora. Eu não posso correr
mais de Victor e não vou. Eu vou cuidar disso. Eu vou terminar o que comecei. —
Eu não tenho ideia de como, mas vou. Se eu não fizer isso, ele virá atrás de mim e
Maggie. O homem é cruel, ele nunca vai parar de nos caçar. Eu sei disso com
certeza.

Sean levanta a sobrancelha escura. — Você está louca? Você nunca vai ter
outra chance de matá-lo. Ele pensou que era insignificante antes, mas agora ele a
conhece melhor.

Eu me empurro passando por ele. — Eu vou cuidar disso. Ele não virá aqui,
e desta vez, quando eu matá-lo, ele vai morrer.

— Hallie. — Sean quase implora meu nome, quase, mas eu não paro.

Eu entro no quarto de Bryan e fecho a porta. Eu fico lá por um segundo e
derrubo minha cabeça para trás, respirando com dificuldade. Eu nunca soquei uma
pessoa antes. Agora eu simplesmente confessei ao mais assustador de todos os
Ferro que vou dar um fim no senhor das drogas mais notório da cidade. Super foda.

Eu ainda estou segurando o saco com café da manhã de Bryan. Quando
aperto o meu punho, o jornal faz um ruído de crepitação e ele se senta. Um belo
sorriso ilumina seu rosto pálido. — Hey, Menina Bonita. Para onde você correu?

— Para pegar o café da manhã e conseguir alguma sujeira em sua tia. Foi
uma manhã interessante. — Eu sorrio, preocupada com ele e entrego o saco.

— Sujeira na minha tia?

Balanço a cabeça e me sento ao lado dele na cama. — Sim, eu descobri
porque ela me odeia. Ela pensa que eu sei de algo todos esses anos, mas eu não
descobri o que eu sabia até esta manhã.

Bryan desembrulha o seu bagel enquanto estou falando e morde. Seus
firmes olhos verdes encontram os meus. Com a boca cheia, ele me pergunta. — E
então?

Eu penso em manter seu segredo, mas não sinto nenhuma lealdade para
com ela. Além disso, Bryan não vai contar a ninguém. — Ela é gay. Eu a peguei com
sua amante na cozinha de sua mãe esta manhã.

Seu queixo cai e o pedaço de bagel rola para fora da boca, indo para a
colcha. — De jeito nenhum.

Concordo com a cabeça e olho para o pedaço de comida. — Um choque e
tanto, hein?

— Claro que sim. Ela é tão recatada e adequada. — Seu nariz franze com o
pensamento da sua tia ser sexualmente algo.

— E, aparentemente, ela gosta de garotas.

Bryan pisca e sorri. — Bem, isso explica um monte de coisas.

— Sim, como por que ela ainda é casada e permite que prostitutas meio
vestidas andem pela sua casa.

Bryan sorri. — Claro, todo mundo gosta de um pouco de colírio para os
olhos.

Eu bato em seu ombro. — Bryan!

— Vamos lá, pense nisso. Houve uma garota naquela casa desde que Jon era
um bebê. É a família mais estranha que eu já vi. Minha mãe não teria tolerado. Eu
sempre me perguntei por que a tia Constance tolerava.

— Seu pai não tem uma puta coabitante?

Ele inclina a cabeça para mim. — Meu pai não tem tempo para isso. Ele está
muito ocupado ganhando dinheiro para ser incomodado com relacionamentos ou
senhoras de compra. Mas, ainda assim, a tia Connie gosta das garotas. Quem teria

pensado? — Ele balança a cabeça. — Então o que diabos eu vi no dia que
terminamos?

Boa pergunta. Eu suspiro e tenho uma boa ideia de para quem perguntar. Eu
sorrio grande. — Qual é o quarto que Constance usa quando está aqui?

Bryan parece confuso e então seus olhos se arregalam. — Você está louca?

— Só um pouco. — Eu rio e quase aperto meus dedos juntos.


CONTINUA

A luz do amanhecer brilha através das pesadas cortinas que revestem as paredes formando uma fina fenda de branco puro no tapete escuro. Eu fico olhando para ele, perdida em seus pensamentos. Perto de mim, Bryan está dormindo. Eu envolvo meus braços ao redor dele e seu corpo se parece tão forte. É por isso que isto é tão difícil. Não faz nenhum sentido. Para além da dor, eu não posso ver o que está acontecendo com ele. É interno. Seu corpo o está matando segundo a segundo. Eventualmente, ele irá respirar e não haverá outro. Eu não posso suportar a ideia.
Minha vida tem sido moldada por morte. Todo mundo que me importa, todos, exceto Maggie, partem. Eu escorrego para fora da cama, agarrando o meu telefone antes de ir para fundo do corredor. Eu envio uma mensagem de texto para ela, embora eu duvide que ela esteja acordada.
Eu digito: Estou com Bryan. Apenas verificando para ter certeza que está tudo bem.
Para minha surpresa ela envia uma mensagem de volta: Eu estou, mas tenho uma coisa horrível para lhe dizer.
Nada poderia ser pior do que perder Bryan. Eu digito de volta: Eu também.
Volto logo para casa e podemos conversar.
Ela responde: Ok.

 


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Eu enfio meu celular no bolso antes de pegar a camiseta de Bryan e a puxo
sobre minha cabeça. Eu enfio minhas mãos sob as mangas e vagueio pela mansão
até encontrar a cozinha. Sinto o cheiro do café e preciso desesperadamente de uma
xícara. Infelizmente, a besta “a tia” de Bryan está sentada à mesa com outra
mulher. Ambas estão vestidas em robe. Eu pisco conforme o choque lava seus
rostos. Eu não posso imaginar por que ela está aqui tão cedo, não vestida. Quão
estranho é isso?

Dentro de um batimento cardíaco, Constance está fora de seu assento e no
meu rosto. — Como você ousa desfilar na casa da minha irmã usando coisas do
meu sobrinho? Saia agora mesmo, sua puta! — Ela tenta bater no meu rosto, mas
eu agarro seu pulso.

As coisas finalmente clicam no lugar. A forma como as mulheres estavam
olhando uma para a outra, o toque de suas mãos, a forma como os seus olhos
permanecem naquele olhar fixo familiar, o fato de que ela está aqui, quando sua
irmã e cunhado já se foram e a forma como Constance se transforma em um tigre
quando ela me vê - faz sentido. Ela está escondendo um segredo há anos que
poderia arruiná-la para sempre. É por isso que ela suporta as infidelidades do Sr.
Ferro e porque permite que suas mulheres valsem pela sua casa.

Constance é gay - e esta mulher é sua amante. Ela pensou que eu soubesse,
mas eu nunca percebi antes.

Ela puxa sua mão do meu aperto e se prepara para começar a gritar
novamente. Eu a interrompo, cansada. — Eu não me importo com sua vida ou
suas preferências. Eu entendo que seja um tabu para você ser vista com ela. Eu
entendo isso, Constance, eu realmente entendo. Eu não a julgo por isso, então pare
de me julgar. A única coisa de que eu quero vocês é o café. — Eu caminho,
passando por ela.

O queixo de Constance está no chão. Sua namorada, uma mulher pelo menos
dez anos mais nova que ela, fica rígida, olhando-me com medo. Relações do mesmo
sexo podem ser ultramodernas e estarem na moda em Nova York, mas não entre
antigas famílias endinheiradas como esta. Isso a arruinaria. É por isso que ela me
odeia. Ela acha que eu tenho andado por aí esperando para soltar uma bomba em
sua vida.

Quando Constance fala, seu tom é cético: — Você sabe há muito tempo e não
disse nada. Por quê?

— Porque eu não me importo com você. — Eu mantenho minhas costas
para ela enquanto despejo o líquido escuro em uma xícara pesada. É muito cedo. As
pessoas normais não estão acordadas às cinco da manhã. Elas provavelmente
estavam tomando café da manhã antes de se separarem para o dia. Quando me viro

para falar, as duas mulheres estão me olhando mortificadas. — Eu me preocupo
com Bryan. Você não percebeu nada sobre ele que lhe diz respeito?

Seu olhar se estreita. — Não brinque comigo. Eu conheço minha família,
cada um deles.

— Sim, bem, você pode querer falar com ele. — Ela bloqueia seu maxilar,
preparando-se para ordenar que eu saia, mas eu acrescento: — O tempo é uma
coisa engraçada. Todos nós pensamos que temos uma tonelada dele até que seja
tirado de nós, então nos damos conta de que nunca foi o suficiente, para começar.
Use o tempo que você tem, Constance. Ame as pessoas que queira e se certifique de
que eles saibam disso. Chegará o dia em que você lamentará que não o fez e a
chance passou por você.

Ela endurece quando eu falo. — Você está me ameaçando?

Eu rio alto com o ridículo de sua declaração. Ela não tem nenhuma pista. Eu
estava me referindo a mim e Bryan, para a piscina constante de arrependimento
que enche meu estômago. Poderíamos ter estado juntos, mas essa oportunidade
está perdida agora, o tempo que nunca teremos.

— Você está tão errada sobre tudo, lacrada em sua pequena bolha, fora de
contato com o mundo real. Isso não é sobre você, então você acha que está segura,
mas você nunca está, não do tempo - não da morte. Seu sobrinho... — Eu engulo
em seco, mas não quebro o contato visual. — Certifique-se que sua mãe descubra.
Isso é tudo que eu quero.

A suposição de que eu estou fazendo é enorme - aquela que Elizabeth Ferro
se importará se seu filho vive ou morre. Bryan não contou a ninguém sobre sua
doença, exceto eu. Jon pode ver isso, mas os outros não têm ideia. Eu não sei
quanto tempo resta à Bryan, mas não quero que ele o gaste se preocupando ou
brigando. Eu quero estar lá para protegê-lo e, por alertar o Ferro de seu estado, eu
provavelmente só fiz isso mais difícil de acontecer - mas que é a coisa certa a fazer.
Se eu tivesse um segundo extra para gastar com o meu pai... O pensamento se
esconde em minha mente, sol a sol. Quando a noite lava o céu com tons roxos de
tinta e manchas de âmbar cintilante, eu gostaria de ter mais uma oportunidade de
dizer todas as coisas que nunca tive a chance de expressar. Agora, esses
pensamentos estão presos dentro da minha alma, me segurando cativa. Eu nunca

vou ser livre. Eu nunca tive a chance de dizer adeus. Eu estou dando aos Ferro essa
oportunidade e esperando além da esperança de que eles não me joguem para fora
na minha bunda em recompensa.

Empurrando de lado meus pensamentos, eu coloco meu copo vazio para
baixo e saio, deixando Constance e sua amante, boquiabertas, no meu despertar. As
duas mulheres atrás de mim são crianças brincando de casinha. Eu posso ser mais
jovem do que elas em anos, mas minha alma parece velha. É imaturo pensar que a
sua vida seja apenas sobre você. A vida é sobre as pessoas ao seu redor. Como eu
gostaria de nunca crescer, mas desejar é desperdício de tempo e eu me recuso a
desperdiçar mais um segundo.

Capítulo 2

Maggie e eu planejamos, através de mensagens de texto, nos encontrar em
algum lugar que tenha um bagel logo após o amanhecer. Os únicos carros no
estacionamento são da loja. O resto do centro de compras ainda está fechado. Eu
não espero muito tempo, quando ela se junta a mim no final da fila.

— Hey. — Diz Maggie, me envolvendo em um abraço.

Eu a abraço de volta, segurando-a um segundo muito longo. Ela vai fugir
novamente. Eu sei disso. Ela não lida bem com a morte também. Acho que
ninguém faz, mas Maggie viu muito dela. Quando eu a solto, me forço a perdoá-la
com antecedência. Uma alma só pode tomar tanto abuso antes que não possa
evitar, exceto reagir. É como o cão de Pavlov. A campainha da morte soa e Maggie
corre.

Eu enfio um pedaço de cabelo atrás da minha orelha e encosto contra a
vitrine de vidro, antes de enfiar as mãos nos bolsos. — Hey. Como tem passado?

A fila faz a volta para fora da porta e para baixo da frente do centro
comercial com pessoas que já pararam para um bagel e café em seu caminho para
o trabalho. A fila se aproxima alguns centímetros mais próxima da comida e nos
movemos com ela, antes de retornar nossas posições contra o vidro. Meu estômago
ronca com o cheiro de fermento e eu mal posso esperar para provar o pão macio,
quente e mordê-lo, saboreando o cream cheese espesso. Eu aprendi a não dar por
certo pequenas coisas. Bagels me ajudam a encontrar meu lugar feliz.

Eu pretendo pegar um para Bryan também - sementes de papoula com
manteiga, exatamente como ele pedia na escola. Viemos aqui tantas vezes. Eu fico
olhando para fora, no estacionamento, minha mente vagando em uma memória de
Bryan me levantando em um carrinho de compras e empurrando-me como um
louco pelo mercado, rindo o tempo todo.

Outro cliente perguntou: — Que corredor você a encontrou? Eu quero uma!

Bryan apenas sorriu, os olhos deslizando sobre mim no carrinho. —
Desculpe, cara. Esta era a única e é toda minha. Eu nunca a deixarei ir. — A

memória ecoa fortemente em meus ouvidos. Parece que poderia ter acontecido
ontem.

A voz de Maggie me encaixa de volta ao presente. Ela encolhe os ombros e
puxa a alça da bolsa para cima de seu ombro. — Eu estou bem. Acho que encontrei
um apartamento para nós, mas eu ouvi que Neil comprou para vocês uma casa. —
Ela faz uma cara de, bem, tenta não fazer uma cara, que faz sua expressão de dor
ainda pior. A fila se move de novo e, com um passo à frente, ela deixa escapar: —
Você realmente vai se casar com ele? Achei que você amasse Bryan? Parecia que
estava totalmente encantada com o gatinho do sexo. Bem, você é a gatinha.
Rapazes são o quê, tigres? Tigre sexual soa mal. — Ela ri, mas sua risada leve
desaparece quando ela vê o meu sorriso falso. — O que há de errado, Hallie?

Eu tento manter minha voz firme, mas treme sem minha permissão. Não há
nenhum ponto em protelar por mais tempo, e além disso, eu preciso dela. Mesmo
que ela vá correr, eu tenho que falar com alguém enquanto eu tiver a chance. —
Maggie, ele está morrendo.

— Mas, ele não pode estar! Ele... — Maggie deixa escapar muitas palavras de
uma só vez e quase começa a chorar. Ela é a pessoa mais empática que eu já
conheci. A minha dor está representada em seu rosto quando ela para, aperta
minha mão e me puxa para um abraço de urso que poderia explodir minha cabeça.
— Eu sinto muito, Hallie. — Ela enxuga as lágrimas com as costas da mão e olha
para o meu ombro, não querendo perguntar. Cada palavra é como se enfiasse uma
faca no meu lado. — O que há de errado com ele?

Eu a atualizo com o que sei que aconteceu até agora. Minha voz continua
difícil quando eu chego ao fim da história. — Nós terminamos por causa de sua tia
Constance. Ela achou que eu iria arruiná-la com informações que eu não deveria
saber, então ela descobriu uma maneira de nos separar. — A raiva eu não tinha
notado até agora borbulha sob a superfície da minha mente. Eu não vou ficar com
raiva, eu não posso ficar. Eu me recuso a perder meu tempo com ela ou o que ela
fez. — Maggie, eu não poderia me importar menos com ela, mas eu quis Bryan
todo esse tempo e não o tive por causa dela.

— E, no entanto, você não soa como louca. Você parece mais
assustadoramente tranquila sobre isso. — Uma sobrancelha vermelha levanta
levemente em sua testa sardenta.

Eu olho para ela conforme nos movemos com a fila para dentro da pequena
loja, e nos aproximamos da bandeja do pão assado. Maggie pede em primeiro lugar,
então eu peço e pago por nossos itens. Pegamos o nosso café da manhã, cortamos
de volta através da fila, para fora da porta, em direção ao estacionamento. Fico ali
na frente dela querendo falar, mas incapaz de encontrar palavras, em seguida,
entrego para ela o pão e suco de laranja.

Minha boca se abre duas vezes, mas as palavras não saem. Eu finalmente
olho nos olhos dela e explico. — Eu não estou louca. Bem, eu estou - mas não quero
estar. É um desperdício de tempo e eu não tenho tempo de sobra. Eu estou
pensando em ficar com ele, Maggie. Seja qual for o tempo que lhe resta, eu quero
estar lá.

— Eu entendo, e eu estou aqui para você. — Ela pega a minha mão, mas eu
não posso olhar para ela.

— Não faça promessas que não pode cumprir, Maggie.

— Eu estou as mantendo desta vez.

— Eu prefiro saber agora que você vai desaparecer. Eu posso lidar com isso
sozinha. Eu estou bem, realmente. Eu sei o que isso faz para você e... — Eu arranjo
desculpas para ela até que ela me corta.

— Não. A última vez eu não estava lá para você, porque Victor era um idiota.
Eu não tive escolha. Isso fazia parte da maneira como ele estava me controlando,
mas ele já se foi, Hallie. Eu não vou fugir. Eu estarei lá para você. Você não terá que
lidar com isso sozinha. Eu prometo. Podemos passar por qualquer coisa, você e
eu. Eu não vou deixar você Hallie. Nós somos irmãs. Eu vou estar lá neste
momento. — Ela sorri sem jeito e olha para o chão sob suas botas.

Ela muda o seu peso para o outro pé e olha para mim debaixo de muito
rímel. Sua boca fica aberta por um segundo e seus lábios enrolam, como se ela não
quisesse dizer o que está prestes a cair de sua boca. — Há algo que você precisa
saber, e eu não sei se você vai gostar ou não com tudo o que aconteceu, mas precisa

saber. Você precisa. E eu odeio dizer isso agora, mas talvez seja melhor assim. Eu
esperaria se eu achasse que ajudaria.

— Maggie, diga-me. O que é?

Ela puxa um monte de ar e cospe para fora. — Ontem à noite, enquanto você
não estava em casa, entrei e vi o que parecia ser Neil e Cecily fazendo coisas que
estava muito além da zona do amigo. — Seus lábios são esmagados em conjunto,
enquanto ela tenta permanecer inexpressiva. Eu posso dizer que ela quer castrar
Neil conforme ela luta para manter seus lábios em uma linha reta.

Eu pisco, e isso é tudo. A raiva não vomita da minha boca e minhas mãos
não estão cerradas em punhos. Eu não me sinto quebrada ou até mesmo chocada.

Eu não sinto nada.

Se eu amasse Neil, eu estaria irada, mas eu não estou. Concordo com a
cabeça.

O rosto preocupado de Maggie franze enquanto ela empurra seu brilhante
cabelo atrás da orelha. — Eu não sei se eu deveria dizer. Eu o odeio, mas pensei
que você gostava do cara. — Ela me olha com tal preocupação que eu não posso
deixar de sorrir para ela.

Meu olhar abaixa para o chão e eu tomo uma respiração profunda, antes de
dar-lhe um abraço de lado. Quando eu a deixo ir, murmuro: — Eu estou feliz que
você me disse. Desgraça pouca é bobagem, certo? — Eu ofereço um sorriso de
novo, mas é falso neste momento. Há muitas lembranças correndo pela minha
mente, e o movimento faz minha pele parecer como se fosse rachar.

— Yeah. — Ela ri. — Pelo menos não temos que nos preocupar com Victor.
Devo-lhe muito por isso. Os jornais disseram que um dos seus homens o matou no
meu apartamento. Se você não tivesse me arrastado para fora, naquela noite eu
teria levado um tiro, também.

Eu sou insensível ao que eu fiz, pelo menos no momento. Às vezes, quando
eu não consigo dormir, o pensamento de que fiz desliza em minha mente, não
desejado. Victor é um pesadelo que não vai morrer, mas não posso perder o meu
tempo.

— Somos eu e você, agora. — Eu digo a ela com firmeza. Ela sorri
tristemente para mim e assente. — Maggie, você pode ir a casa de Neil e pegar
minhas coisas? Há apenas algumas caixas. Eu nunca desembalei, não
realmente. Neil queria que eu fizesse, mas eu empurrei a maioria delas na parte de
trás de um armário. — Eu retiro minha bolsa e escrevo-lhe um cheque. — Isso
deve cobrir o aluguel do nosso novo apartamento e tudo o mais que
precisamos. Deixe-o bonito, ok? Vai ser bom ter um novo lugar bonito para ir para
casa quando isso acabar.

Maggie pega o cheque e olha para todos os zeros, antes de olhar para mim.
Uma mecha de cabelo vermelho cai na frente de seus olhos. — Hallie, eu não posso
aceitar isso.

— Sim, você pode. Vai fazê-lo. Precisamos de um lugar para viver. Eu
gostaria de ter mais a oferecer, mas essa discussão é para outro dia. Entretanto,
isso vai nos colocar em uma boa vizinhança e nós estaremos confortáveis.

— Você vai processar Neil e Cecily? Eles praticamente gastaram todo o seu
dinheiro.

Concordo com a cabeça. — Provavelmente, mas não agora. Eu preciso fazer
um telefonema. — Maggie balança a cabeça e eu disco para o meu banco enquanto
seguimos para o meu carro. Eu explico a um funcionário do banco muito prestativo
que o nome de Neil deve ser retirado da minha conta imediatamente e todas as
transações em andamento com a sua assinatura, devem ser transferidas para a sua
conta. Verificação conjunta foi ideia dele. Eu esfrego minhas mãos sobre meu rosto
e sento com força no capô do meu carro. A coisa está suja, mas eu não me
importo. O funcionário do banco me pede para ir em breve para assinar os papéis,
e fazer as alterações em minha conta oficial. Quando eu insisto que eles precisam
ser assinados agora, ela diz para vir quando for mais conveniente.

Eu desligo e olho fixamente para as portas fechadas da mercearia. — Eu não
posso fazer isso de novo, não tão cedo. — A perda do meu pai ainda paira pesado
em meu coração, ameaçando me puxar para baixo. Minha dor não diminuiu e a
fama não ajudou. A única coisa que me faz sentir melhor é Bryan e agora vou
perdê-lo também.

Eu não posso respirar. Inclinando minha cabeça para trás com os olhos
cheios de lágrimas, eu olho para o céu e as nuvens brancas onduladas. O céu estava
aqui muito antes de eu nascer e vai estar aqui muito tempo depois. Faz-me sentir
pequena, como se a minha vida não importasse em tudo.

Maggie me bate com sua bota. — Bagel?

— Eu não estou com fome. — Eu estava com fome apenas um momento
atrás, mas agora não sinto nada parecido com isso.

— Merda resistente. Eu estou cuidando de você, o que significa que você
come isso ou vou enfiar na sua cara. — Ela está sorrindo para mim. — Eu vou fazer
isso.

Eu roubo a minha comida de sua mão. — Eu sei que você vai. —
Desempacotando a coisa, dou uma mordida e percebo que eu estou morrendo de
fome.

— A vida não é sobre a morte, você sabe. — Diz Maggie de repente. Ela está
sentada ao meu lado no capô, olhando para uma nuvem, pegando arrancando
pedaços de seu bagel, e os jogando em sua boca um de cada vez.

— Então o que se trata? — Eu pensei que eu sabia em um ponto, mas não
tenho ideia, não mais. A vida parece uma piada cruel.

— É sobre as relações que você faz, a bondade que oferece e você mostrar
compaixão. É a sua chance de mostrar ao mundo quem você é e o que faz você.
Hallie, você é a pessoa mais forte que conheço. Em vez de sentar aqui chorando
comigo, você deve estar com Bryan. Aqui. — Ela me dá o bagel extra. — Cheque de
vez em quando e quando você precisar de mim, eu vou. Nesse meio tempo, vou
deixar nossa casa pronta, eu prometo. Nada me manterá longe desta vez. Quando
você precisar de mim, eu estarei lá - se estiver no hospital, a funerária ou apenas
quando você precisar de uma pausa.

Eu sinto uma vibe nervosa vindo dela. — Você não é fraca, Maggie. Somos
sobreviventes, eu e você. — Quando eu digo isso, quero dizer para confortá-la, mas
uma bola dá um nó na minha garganta.

Ela pega a minha mão e se inclina, descansando a cabeça no meu ombro. —
Nós vamos sobreviver a isto também “juntas”.

Capítulo 3

Eu não quero pensar em Neil, então eu volto para a mansão Ferro e me
esgueiro para dentro. Ainda é cedo. As únicas pessoas que vejo são os empregados.
Eles me veem e não dizem nada. Deve ser estranho viver como uma estátua dia
após dia, sem ninguém, mas outros funcionários, na verdade, reconhecem que você
é humano. Eu não posso evitar isso. Eu sorrio para o mordomo que está sempre
ocupado, correndo para algum lugar. Ele inclina a cabeça em saudação, mas não
abranda.

Depois que ele passa, se vira para trás. — Você precisa de alguma coisa, Sra.
Raymond?

Eu sorrio e balanço a cabeça. — Não, é apenas bom vê-lo. — Eu olho para
ele. Este homem tem sido constante na vida de Bryan por anos. Eu me pergunto se
ele sabe que Bryan tem um segredo, porque nada lhe escapa, pelo menos não
quando éramos mais jovens. Eu me lembro de receber olhares severos dele quando
éramos muito jovens e fazíamos coisas muito loucas, enquanto a mãe de Bryan não
estava por perto. Mas o cara nunca nos entregou.

— Da mesma forma, Sra. Raymond. Diga ao Sr. Ferro que se ele precisar de
ajuda pode pedir qualquer coisa para mim. — Seus olhos perfuraram os meus por
um momento antes que ele olhe para o lado.

Ele sabe.

Concordo com a cabeça e vou para o modo de super mocinha. Antes que eu
possa me parar, lanço o meu corpo para ele e meus braços em volta do velho,
abraçando-o em um abraço de urso em estilo desleixado. Ele endurece com choque
e, em seguida, dá um tapinha minhas costas. — As pessoas vão dizer-lhe que ele
vai ficar bem. Ao longo dos próximos meses, você vai ouvir isso de novo e de novo,
mas a perda não é assim que funciona. As coisas não vão voltar ao normal, mas a
vida continua. Converse com ele sobre isso, enquanto você tem a chance.

Meu queixo cai. — O quê? Isso seria tão mau. Eu não posso...

— Isso não é o problema meu, mas se você fosse minha filha, era o que eu
diria a você. Tempos sombrios estão chegando, se este homem é o seu raio de luz,
mergulhe no sol tanto quanto puder e quando puder.

Acho que entendo o que ele quer dizer, então balanço minha cabeça para
cima e para baixo lentamente. Falar sobre a morte com alguém que está morrendo
é o que ele quer dizer. Vamos acabar discutindo todas as coisas que queríamos
fazer, mas nunca teremos a chance. Minha garganta aperta com o pensamento e os
meus olhos lacrimejam. — Obrigada.

— Qualquer hora, Sra. Raymond. — Ele inclina a cabeça para mim como se
eu fosse uma rainha e se vira para correr para longe.

Eu não gosto da sua sugestão, mas parte dela me chama. E se a gente falar
sobre isso? Eu balanço minha cabeça e aperto as mãos. Não! Eu não quero! Isso não
é justo e não posso simplesmente aceitar que vou perdê-lo - não depois que
finalmente nos encontramos novamente. Não depois de todo esse tempo.

No momento que estou dentro da mansão de Bryan, paro na porta. Minha
intenção era ir à ponta dos pés para o quarto de Bryan, mas sou presa pelo Ferro
que eu mais temo - Sean. Ele está encostado na parede, os braços cruzados sobre o
peito. Ele se parece com sua mãe, toda acusação não dita claramente visível em
seus olhos. Suas roupas escuras - casaco de couro, calça jeans, camisa preta e botas
shitkicker. — Você e eu temos algo a discutir.

Minha intenção é passar por ele. — Não tenho nada para lhe dizer.

Sean libera seus braços e caminha em minha frente. Ele é silencioso e letal,
com vibes malucas irradiando dele como micro ondas. Ding! — Bem, eu tenho algo
que você precisa ouvir - sobre um homem chamado Victor. — Minha respiração
para na minha garganta enquanto minhas mãos vão para o meu coração. Sean me
puxa pela curva do meu cotovelo para longe da porta de Bryan. — Sim, eu achei
que você soubesse alguma coisa sobre isso. Os jornais estão dizendo que um dos
seus homens o matou, mas os policiais estão bisbilhotando, me fazendo perguntas
sobre um traficante de merda. Eu não gosto de policiais e não gosto ainda menos
de perguntas. Então, me diga, como é que eles rastrearam até aqui? O que você
deixou para trás?

Eu rio, mas ele ignora. — Você acha que eu o matei? — Estou pressionando
meus dedos em meu peito, piscando, com meu queixo caído. Embora seja um
excelente desempenho, algo que me afasta. Sean pode ver isso.

Ele dá um passo no meu espaço de uma maneira ameaçadora. Sua voz
ressoa: — Eu sei que você o matou.

— Não, você não sabe. — Eu agarro, tentando me empurrar por ele
novamente, mas Sean não me deixa passar. Ele bloqueia o lugar com seu corpo
maciço.

Inclinando-se perto do meu rosto, ele sussurra baixinho: — Se eu sei, a
minha mãe sabe e você não quer pegadas sujas que levam direto para a porta da
frente. Você precisa se separar de Bryan e sair daqui antes que descubram isso.

Eu balanço minha cabeça e mordo meu lábio inferior. Eu provavelmente
pareci como um moleque teimoso, mas não vou deixar Bryan.

Os olhos de Sean travam com os meus e sua voz cai para um sussurro letal.
— Eu posso fazê-la desaparecer.

Algo desperta dentro de mim, essa mesma característica de proteção que
me fez cortar a garganta de Victor, em primeiro lugar. Minha coluna se endireita e
eu fico na frente do seu rosto. — Da mesma forma.

Depois de um momento de reflexão, o homem na verdade ri. Sean esfrega o
queixo com a mão. Eu não posso dizer se ele está se divertindo ou pensa que sou
louca. Ele finalmente pergunta: — Por que você fez isso?

— Por que você acha? O homem era um estuprador assassino. Vamos
apenas dizer que eu estava no lugar errado na hora errada. Acidentes acontecem e
eu não ia deixar que qualquer outra coisa acontecesse com a minha amiga. Ela é a
única família que me resta. — Eu sugo o ar, tentando inchar, então não sou tão
pequena, mas em comparação com Sean Ferro, sou um palito.

Seus olhos azuis mudam para o lado antes que ele passe as mãos pelo
cabelo. — Então, você protegeu sua família, deixe-me proteger a minha. Vá
embora. Não puxe Bryan para isso.

— Para quê? Os mortos não puxam qualquer um para qualquer coisa.

— Victor Campone está vivo.

Capítulo 4

Um pequeno grito escapa dos meus lábios e eu quase caio no chão. Meus
joelhos cedem, mas antes de eu ir para baixo, Sean agarra meus braços. Ele me
mantém de pé e continua suavemente. — Os policiais suspeitam que ele esteja
vivo. No momento em que chegaram lá, o corpo tinha desaparecido. Devido à
quantidade de sangue que encontraram, sua suposição natural era que um de seus
homens o matou e jogou o corpo. Os policiais ainda estavam indo por esse caminho
até recentemente, quando pegaram Campone bisbilhotando meu hotel. Então, a
menos que viram um fantasma, o homem ainda está vivo.

— Ele não pode estar. — Eu balanço minha cabeça e meus olhos vidrados
quando me lembro daquela noite. A quantidade de sangue, a forma que sua cabeça
pendia para trás e a ferida era tão profunda. — Não é possível.

Sean suspira e olha para mim com uma expressão que está perdida em
algum lugar entre pena e admiração. Inclinando-se perto, ele diz: — O corte foi
muito superficial. É como apontar para o coração e não acertar. O cara foi
subestimado, os que estavam dispostos e aceitaram fazer isso uma vez, mas ele não
vai ser subestimado novamente. E eu aposto qualquer coisa que ele vai
permanecer morto por um tempo, deixar que os outros façam o trabalho sujo, até
que lhe convenha encenar uma ressurreição.

— Como você sabe tudo isso?

Ele engole em seco, seu olhar se afastando e depois de volta para os meus
olhos. — Periodicamente nossos empreendimentos comerciais se sobrepõem. Eu
ouço coisas. E posso dizer-lhe que se eu ouvi, minha mãe ouviu e você com certeza
não quer irritá-la. Se Campone acabar aqui, você está morta. Se ele não te matar,
minha mãe vai.

Ele agarra meus ombros e me pede: — Hallie, pega a sua amiga e dá o fora
daqui antes que Campone a encontre. — Sean me libera. — Este foi um aviso de
cortesia. Se você ficar por perto e Bryan for morto por sua causa, bem, é melhor

esperar que Victor a encontre antes de mim. — Seus olhos firmam em mim uma
vez com as suas intenções claras.

Eu fico lá por um segundo mal respirando. Nossos olhos estão bloqueados,
nós dois estamos desafiando, mas será que ele não sabe, Sean não sabe sobre seu
primo? Talvez eu devesse pegar Bryan e correr, mas não posso. Não enquanto ele
está doente. Ele vai precisar de ajuda e cuidados paliativos. Eu não posso dar-lhe
essas coisas se eu corro. Minha voz racha quando eu falo. — Eu não posso.

— Não é opcional.

— Não, você não entende. Eu não posso ir embora. Eu não posso correr
mais de Victor e não vou. Eu vou cuidar disso. Eu vou terminar o que comecei. —
Eu não tenho ideia de como, mas vou. Se eu não fizer isso, ele virá atrás de mim e
Maggie. O homem é cruel, ele nunca vai parar de nos caçar. Eu sei disso com
certeza.

Sean levanta a sobrancelha escura. — Você está louca? Você nunca vai ter
outra chance de matá-lo. Ele pensou que era insignificante antes, mas agora ele a
conhece melhor.

Eu me empurro passando por ele. — Eu vou cuidar disso. Ele não virá aqui,
e desta vez, quando eu matá-lo, ele vai morrer.

— Hallie. — Sean quase implora meu nome, quase, mas eu não paro.

Eu entro no quarto de Bryan e fecho a porta. Eu fico lá por um segundo e
derrubo minha cabeça para trás, respirando com dificuldade. Eu nunca soquei uma
pessoa antes. Agora eu simplesmente confessei ao mais assustador de todos os
Ferro que vou dar um fim no senhor das drogas mais notório da cidade. Super foda.

Eu ainda estou segurando o saco com café da manhã de Bryan. Quando
aperto o meu punho, o jornal faz um ruído de crepitação e ele se senta. Um belo
sorriso ilumina seu rosto pálido. — Hey, Menina Bonita. Para onde você correu?

— Para pegar o café da manhã e conseguir alguma sujeira em sua tia. Foi
uma manhã interessante. — Eu sorrio, preocupada com ele e entrego o saco.

— Sujeira na minha tia?

Balanço a cabeça e me sento ao lado dele na cama. — Sim, eu descobri
porque ela me odeia. Ela pensa que eu sei de algo todos esses anos, mas eu não
descobri o que eu sabia até esta manhã.

Bryan desembrulha o seu bagel enquanto estou falando e morde. Seus
firmes olhos verdes encontram os meus. Com a boca cheia, ele me pergunta. — E
então?

Eu penso em manter seu segredo, mas não sinto nenhuma lealdade para
com ela. Além disso, Bryan não vai contar a ninguém. — Ela é gay. Eu a peguei com
sua amante na cozinha de sua mãe esta manhã.

Seu queixo cai e o pedaço de bagel rola para fora da boca, indo para a
colcha. — De jeito nenhum.

Concordo com a cabeça e olho para o pedaço de comida. — Um choque e
tanto, hein?

— Claro que sim. Ela é tão recatada e adequada. — Seu nariz franze com o
pensamento da sua tia ser sexualmente algo.

— E, aparentemente, ela gosta de garotas.

Bryan pisca e sorri. — Bem, isso explica um monte de coisas.

— Sim, como por que ela ainda é casada e permite que prostitutas meio
vestidas andem pela sua casa.

Bryan sorri. — Claro, todo mundo gosta de um pouco de colírio para os
olhos.

Eu bato em seu ombro. — Bryan!

— Vamos lá, pense nisso. Houve uma garota naquela casa desde que Jon era
um bebê. É a família mais estranha que eu já vi. Minha mãe não teria tolerado. Eu
sempre me perguntei por que a tia Constance tolerava.

— Seu pai não tem uma puta coabitante?

Ele inclina a cabeça para mim. — Meu pai não tem tempo para isso. Ele está
muito ocupado ganhando dinheiro para ser incomodado com relacionamentos ou
senhoras de compra. Mas, ainda assim, a tia Connie gosta das garotas. Quem teria

pensado? — Ele balança a cabeça. — Então o que diabos eu vi no dia que
terminamos?

Boa pergunta. Eu suspiro e tenho uma boa ideia de para quem perguntar. Eu
sorrio grande. — Qual é o quarto que Constance usa quando está aqui?

Bryan parece confuso e então seus olhos se arregalam. — Você está louca?

— Só um pouco. — Eu rio e quase aperto meus dedos juntos.


CONTINUA

A luz do amanhecer brilha através das pesadas cortinas que revestem as paredes formando uma fina fenda de branco puro no tapete escuro. Eu fico olhando para ele, perdida em seus pensamentos. Perto de mim, Bryan está dormindo. Eu envolvo meus braços ao redor dele e seu corpo se parece tão forte. É por isso que isto é tão difícil. Não faz nenhum sentido. Para além da dor, eu não posso ver o que está acontecendo com ele. É interno. Seu corpo o está matando segundo a segundo. Eventualmente, ele irá respirar e não haverá outro. Eu não posso suportar a ideia.
Minha vida tem sido moldada por morte. Todo mundo que me importa, todos, exceto Maggie, partem. Eu escorrego para fora da cama, agarrando o meu telefone antes de ir para fundo do corredor. Eu envio uma mensagem de texto para ela, embora eu duvide que ela esteja acordada.
Eu digito: Estou com Bryan. Apenas verificando para ter certeza que está tudo bem.
Para minha surpresa ela envia uma mensagem de volta: Eu estou, mas tenho uma coisa horrível para lhe dizer.
Nada poderia ser pior do que perder Bryan. Eu digito de volta: Eu também.
Volto logo para casa e podemos conversar.
Ela responde: Ok.

 


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Eu enfio meu celular no bolso antes de pegar a camiseta de Bryan e a puxo
sobre minha cabeça. Eu enfio minhas mãos sob as mangas e vagueio pela mansão
até encontrar a cozinha. Sinto o cheiro do café e preciso desesperadamente de uma
xícara. Infelizmente, a besta “a tia” de Bryan está sentada à mesa com outra
mulher. Ambas estão vestidas em robe. Eu pisco conforme o choque lava seus
rostos. Eu não posso imaginar por que ela está aqui tão cedo, não vestida. Quão
estranho é isso?

Dentro de um batimento cardíaco, Constance está fora de seu assento e no
meu rosto. — Como você ousa desfilar na casa da minha irmã usando coisas do
meu sobrinho? Saia agora mesmo, sua puta! — Ela tenta bater no meu rosto, mas
eu agarro seu pulso.

As coisas finalmente clicam no lugar. A forma como as mulheres estavam
olhando uma para a outra, o toque de suas mãos, a forma como os seus olhos
permanecem naquele olhar fixo familiar, o fato de que ela está aqui, quando sua
irmã e cunhado já se foram e a forma como Constance se transforma em um tigre
quando ela me vê - faz sentido. Ela está escondendo um segredo há anos que
poderia arruiná-la para sempre. É por isso que ela suporta as infidelidades do Sr.
Ferro e porque permite que suas mulheres valsem pela sua casa.

Constance é gay - e esta mulher é sua amante. Ela pensou que eu soubesse,
mas eu nunca percebi antes.

Ela puxa sua mão do meu aperto e se prepara para começar a gritar
novamente. Eu a interrompo, cansada. — Eu não me importo com sua vida ou
suas preferências. Eu entendo que seja um tabu para você ser vista com ela. Eu
entendo isso, Constance, eu realmente entendo. Eu não a julgo por isso, então pare
de me julgar. A única coisa de que eu quero vocês é o café. — Eu caminho,
passando por ela.

O queixo de Constance está no chão. Sua namorada, uma mulher pelo menos
dez anos mais nova que ela, fica rígida, olhando-me com medo. Relações do mesmo
sexo podem ser ultramodernas e estarem na moda em Nova York, mas não entre
antigas famílias endinheiradas como esta. Isso a arruinaria. É por isso que ela me
odeia. Ela acha que eu tenho andado por aí esperando para soltar uma bomba em
sua vida.

Quando Constance fala, seu tom é cético: — Você sabe há muito tempo e não
disse nada. Por quê?

— Porque eu não me importo com você. — Eu mantenho minhas costas
para ela enquanto despejo o líquido escuro em uma xícara pesada. É muito cedo. As
pessoas normais não estão acordadas às cinco da manhã. Elas provavelmente
estavam tomando café da manhã antes de se separarem para o dia. Quando me viro

para falar, as duas mulheres estão me olhando mortificadas. — Eu me preocupo
com Bryan. Você não percebeu nada sobre ele que lhe diz respeito?

Seu olhar se estreita. — Não brinque comigo. Eu conheço minha família,
cada um deles.

— Sim, bem, você pode querer falar com ele. — Ela bloqueia seu maxilar,
preparando-se para ordenar que eu saia, mas eu acrescento: — O tempo é uma
coisa engraçada. Todos nós pensamos que temos uma tonelada dele até que seja
tirado de nós, então nos damos conta de que nunca foi o suficiente, para começar.
Use o tempo que você tem, Constance. Ame as pessoas que queira e se certifique de
que eles saibam disso. Chegará o dia em que você lamentará que não o fez e a
chance passou por você.

Ela endurece quando eu falo. — Você está me ameaçando?

Eu rio alto com o ridículo de sua declaração. Ela não tem nenhuma pista. Eu
estava me referindo a mim e Bryan, para a piscina constante de arrependimento
que enche meu estômago. Poderíamos ter estado juntos, mas essa oportunidade
está perdida agora, o tempo que nunca teremos.

— Você está tão errada sobre tudo, lacrada em sua pequena bolha, fora de
contato com o mundo real. Isso não é sobre você, então você acha que está segura,
mas você nunca está, não do tempo - não da morte. Seu sobrinho... — Eu engulo
em seco, mas não quebro o contato visual. — Certifique-se que sua mãe descubra.
Isso é tudo que eu quero.

A suposição de que eu estou fazendo é enorme - aquela que Elizabeth Ferro
se importará se seu filho vive ou morre. Bryan não contou a ninguém sobre sua
doença, exceto eu. Jon pode ver isso, mas os outros não têm ideia. Eu não sei
quanto tempo resta à Bryan, mas não quero que ele o gaste se preocupando ou
brigando. Eu quero estar lá para protegê-lo e, por alertar o Ferro de seu estado, eu
provavelmente só fiz isso mais difícil de acontecer - mas que é a coisa certa a fazer.
Se eu tivesse um segundo extra para gastar com o meu pai... O pensamento se
esconde em minha mente, sol a sol. Quando a noite lava o céu com tons roxos de
tinta e manchas de âmbar cintilante, eu gostaria de ter mais uma oportunidade de
dizer todas as coisas que nunca tive a chance de expressar. Agora, esses
pensamentos estão presos dentro da minha alma, me segurando cativa. Eu nunca

vou ser livre. Eu nunca tive a chance de dizer adeus. Eu estou dando aos Ferro essa
oportunidade e esperando além da esperança de que eles não me joguem para fora
na minha bunda em recompensa.

Empurrando de lado meus pensamentos, eu coloco meu copo vazio para
baixo e saio, deixando Constance e sua amante, boquiabertas, no meu despertar. As
duas mulheres atrás de mim são crianças brincando de casinha. Eu posso ser mais
jovem do que elas em anos, mas minha alma parece velha. É imaturo pensar que a
sua vida seja apenas sobre você. A vida é sobre as pessoas ao seu redor. Como eu
gostaria de nunca crescer, mas desejar é desperdício de tempo e eu me recuso a
desperdiçar mais um segundo.

Capítulo 2

Maggie e eu planejamos, através de mensagens de texto, nos encontrar em
algum lugar que tenha um bagel logo após o amanhecer. Os únicos carros no
estacionamento são da loja. O resto do centro de compras ainda está fechado. Eu
não espero muito tempo, quando ela se junta a mim no final da fila.

— Hey. — Diz Maggie, me envolvendo em um abraço.

Eu a abraço de volta, segurando-a um segundo muito longo. Ela vai fugir
novamente. Eu sei disso. Ela não lida bem com a morte também. Acho que
ninguém faz, mas Maggie viu muito dela. Quando eu a solto, me forço a perdoá-la
com antecedência. Uma alma só pode tomar tanto abuso antes que não possa
evitar, exceto reagir. É como o cão de Pavlov. A campainha da morte soa e Maggie
corre.

Eu enfio um pedaço de cabelo atrás da minha orelha e encosto contra a
vitrine de vidro, antes de enfiar as mãos nos bolsos. — Hey. Como tem passado?

A fila faz a volta para fora da porta e para baixo da frente do centro
comercial com pessoas que já pararam para um bagel e café em seu caminho para
o trabalho. A fila se aproxima alguns centímetros mais próxima da comida e nos
movemos com ela, antes de retornar nossas posições contra o vidro. Meu estômago
ronca com o cheiro de fermento e eu mal posso esperar para provar o pão macio,
quente e mordê-lo, saboreando o cream cheese espesso. Eu aprendi a não dar por
certo pequenas coisas. Bagels me ajudam a encontrar meu lugar feliz.

Eu pretendo pegar um para Bryan também - sementes de papoula com
manteiga, exatamente como ele pedia na escola. Viemos aqui tantas vezes. Eu fico
olhando para fora, no estacionamento, minha mente vagando em uma memória de
Bryan me levantando em um carrinho de compras e empurrando-me como um
louco pelo mercado, rindo o tempo todo.

Outro cliente perguntou: — Que corredor você a encontrou? Eu quero uma!

Bryan apenas sorriu, os olhos deslizando sobre mim no carrinho. —
Desculpe, cara. Esta era a única e é toda minha. Eu nunca a deixarei ir. — A

memória ecoa fortemente em meus ouvidos. Parece que poderia ter acontecido
ontem.

A voz de Maggie me encaixa de volta ao presente. Ela encolhe os ombros e
puxa a alça da bolsa para cima de seu ombro. — Eu estou bem. Acho que encontrei
um apartamento para nós, mas eu ouvi que Neil comprou para vocês uma casa. —
Ela faz uma cara de, bem, tenta não fazer uma cara, que faz sua expressão de dor
ainda pior. A fila se move de novo e, com um passo à frente, ela deixa escapar: —
Você realmente vai se casar com ele? Achei que você amasse Bryan? Parecia que
estava totalmente encantada com o gatinho do sexo. Bem, você é a gatinha.
Rapazes são o quê, tigres? Tigre sexual soa mal. — Ela ri, mas sua risada leve
desaparece quando ela vê o meu sorriso falso. — O que há de errado, Hallie?

Eu tento manter minha voz firme, mas treme sem minha permissão. Não há
nenhum ponto em protelar por mais tempo, e além disso, eu preciso dela. Mesmo
que ela vá correr, eu tenho que falar com alguém enquanto eu tiver a chance. —
Maggie, ele está morrendo.

— Mas, ele não pode estar! Ele... — Maggie deixa escapar muitas palavras de
uma só vez e quase começa a chorar. Ela é a pessoa mais empática que eu já
conheci. A minha dor está representada em seu rosto quando ela para, aperta
minha mão e me puxa para um abraço de urso que poderia explodir minha cabeça.
— Eu sinto muito, Hallie. — Ela enxuga as lágrimas com as costas da mão e olha
para o meu ombro, não querendo perguntar. Cada palavra é como se enfiasse uma
faca no meu lado. — O que há de errado com ele?

Eu a atualizo com o que sei que aconteceu até agora. Minha voz continua
difícil quando eu chego ao fim da história. — Nós terminamos por causa de sua tia
Constance. Ela achou que eu iria arruiná-la com informações que eu não deveria
saber, então ela descobriu uma maneira de nos separar. — A raiva eu não tinha
notado até agora borbulha sob a superfície da minha mente. Eu não vou ficar com
raiva, eu não posso ficar. Eu me recuso a perder meu tempo com ela ou o que ela
fez. — Maggie, eu não poderia me importar menos com ela, mas eu quis Bryan
todo esse tempo e não o tive por causa dela.

— E, no entanto, você não soa como louca. Você parece mais
assustadoramente tranquila sobre isso. — Uma sobrancelha vermelha levanta
levemente em sua testa sardenta.

Eu olho para ela conforme nos movemos com a fila para dentro da pequena
loja, e nos aproximamos da bandeja do pão assado. Maggie pede em primeiro lugar,
então eu peço e pago por nossos itens. Pegamos o nosso café da manhã, cortamos
de volta através da fila, para fora da porta, em direção ao estacionamento. Fico ali
na frente dela querendo falar, mas incapaz de encontrar palavras, em seguida,
entrego para ela o pão e suco de laranja.

Minha boca se abre duas vezes, mas as palavras não saem. Eu finalmente
olho nos olhos dela e explico. — Eu não estou louca. Bem, eu estou - mas não quero
estar. É um desperdício de tempo e eu não tenho tempo de sobra. Eu estou
pensando em ficar com ele, Maggie. Seja qual for o tempo que lhe resta, eu quero
estar lá.

— Eu entendo, e eu estou aqui para você. — Ela pega a minha mão, mas eu
não posso olhar para ela.

— Não faça promessas que não pode cumprir, Maggie.

— Eu estou as mantendo desta vez.

— Eu prefiro saber agora que você vai desaparecer. Eu posso lidar com isso
sozinha. Eu estou bem, realmente. Eu sei o que isso faz para você e... — Eu arranjo
desculpas para ela até que ela me corta.

— Não. A última vez eu não estava lá para você, porque Victor era um idiota.
Eu não tive escolha. Isso fazia parte da maneira como ele estava me controlando,
mas ele já se foi, Hallie. Eu não vou fugir. Eu estarei lá para você. Você não terá que
lidar com isso sozinha. Eu prometo. Podemos passar por qualquer coisa, você e
eu. Eu não vou deixar você Hallie. Nós somos irmãs. Eu vou estar lá neste
momento. — Ela sorri sem jeito e olha para o chão sob suas botas.

Ela muda o seu peso para o outro pé e olha para mim debaixo de muito
rímel. Sua boca fica aberta por um segundo e seus lábios enrolam, como se ela não
quisesse dizer o que está prestes a cair de sua boca. — Há algo que você precisa
saber, e eu não sei se você vai gostar ou não com tudo o que aconteceu, mas precisa

saber. Você precisa. E eu odeio dizer isso agora, mas talvez seja melhor assim. Eu
esperaria se eu achasse que ajudaria.

— Maggie, diga-me. O que é?

Ela puxa um monte de ar e cospe para fora. — Ontem à noite, enquanto você
não estava em casa, entrei e vi o que parecia ser Neil e Cecily fazendo coisas que
estava muito além da zona do amigo. — Seus lábios são esmagados em conjunto,
enquanto ela tenta permanecer inexpressiva. Eu posso dizer que ela quer castrar
Neil conforme ela luta para manter seus lábios em uma linha reta.

Eu pisco, e isso é tudo. A raiva não vomita da minha boca e minhas mãos
não estão cerradas em punhos. Eu não me sinto quebrada ou até mesmo chocada.

Eu não sinto nada.

Se eu amasse Neil, eu estaria irada, mas eu não estou. Concordo com a
cabeça.

O rosto preocupado de Maggie franze enquanto ela empurra seu brilhante
cabelo atrás da orelha. — Eu não sei se eu deveria dizer. Eu o odeio, mas pensei
que você gostava do cara. — Ela me olha com tal preocupação que eu não posso
deixar de sorrir para ela.

Meu olhar abaixa para o chão e eu tomo uma respiração profunda, antes de
dar-lhe um abraço de lado. Quando eu a deixo ir, murmuro: — Eu estou feliz que
você me disse. Desgraça pouca é bobagem, certo? — Eu ofereço um sorriso de
novo, mas é falso neste momento. Há muitas lembranças correndo pela minha
mente, e o movimento faz minha pele parecer como se fosse rachar.

— Yeah. — Ela ri. — Pelo menos não temos que nos preocupar com Victor.
Devo-lhe muito por isso. Os jornais disseram que um dos seus homens o matou no
meu apartamento. Se você não tivesse me arrastado para fora, naquela noite eu
teria levado um tiro, também.

Eu sou insensível ao que eu fiz, pelo menos no momento. Às vezes, quando
eu não consigo dormir, o pensamento de que fiz desliza em minha mente, não
desejado. Victor é um pesadelo que não vai morrer, mas não posso perder o meu
tempo.

— Somos eu e você, agora. — Eu digo a ela com firmeza. Ela sorri
tristemente para mim e assente. — Maggie, você pode ir a casa de Neil e pegar
minhas coisas? Há apenas algumas caixas. Eu nunca desembalei, não
realmente. Neil queria que eu fizesse, mas eu empurrei a maioria delas na parte de
trás de um armário. — Eu retiro minha bolsa e escrevo-lhe um cheque. — Isso
deve cobrir o aluguel do nosso novo apartamento e tudo o mais que
precisamos. Deixe-o bonito, ok? Vai ser bom ter um novo lugar bonito para ir para
casa quando isso acabar.

Maggie pega o cheque e olha para todos os zeros, antes de olhar para mim.
Uma mecha de cabelo vermelho cai na frente de seus olhos. — Hallie, eu não posso
aceitar isso.

— Sim, você pode. Vai fazê-lo. Precisamos de um lugar para viver. Eu
gostaria de ter mais a oferecer, mas essa discussão é para outro dia. Entretanto,
isso vai nos colocar em uma boa vizinhança e nós estaremos confortáveis.

— Você vai processar Neil e Cecily? Eles praticamente gastaram todo o seu
dinheiro.

Concordo com a cabeça. — Provavelmente, mas não agora. Eu preciso fazer
um telefonema. — Maggie balança a cabeça e eu disco para o meu banco enquanto
seguimos para o meu carro. Eu explico a um funcionário do banco muito prestativo
que o nome de Neil deve ser retirado da minha conta imediatamente e todas as
transações em andamento com a sua assinatura, devem ser transferidas para a sua
conta. Verificação conjunta foi ideia dele. Eu esfrego minhas mãos sobre meu rosto
e sento com força no capô do meu carro. A coisa está suja, mas eu não me
importo. O funcionário do banco me pede para ir em breve para assinar os papéis,
e fazer as alterações em minha conta oficial. Quando eu insisto que eles precisam
ser assinados agora, ela diz para vir quando for mais conveniente.

Eu desligo e olho fixamente para as portas fechadas da mercearia. — Eu não
posso fazer isso de novo, não tão cedo. — A perda do meu pai ainda paira pesado
em meu coração, ameaçando me puxar para baixo. Minha dor não diminuiu e a
fama não ajudou. A única coisa que me faz sentir melhor é Bryan e agora vou
perdê-lo também.

Eu não posso respirar. Inclinando minha cabeça para trás com os olhos
cheios de lágrimas, eu olho para o céu e as nuvens brancas onduladas. O céu estava
aqui muito antes de eu nascer e vai estar aqui muito tempo depois. Faz-me sentir
pequena, como se a minha vida não importasse em tudo.

Maggie me bate com sua bota. — Bagel?

— Eu não estou com fome. — Eu estava com fome apenas um momento
atrás, mas agora não sinto nada parecido com isso.

— Merda resistente. Eu estou cuidando de você, o que significa que você
come isso ou vou enfiar na sua cara. — Ela está sorrindo para mim. — Eu vou fazer
isso.

Eu roubo a minha comida de sua mão. — Eu sei que você vai. —
Desempacotando a coisa, dou uma mordida e percebo que eu estou morrendo de
fome.

— A vida não é sobre a morte, você sabe. — Diz Maggie de repente. Ela está
sentada ao meu lado no capô, olhando para uma nuvem, pegando arrancando
pedaços de seu bagel, e os jogando em sua boca um de cada vez.

— Então o que se trata? — Eu pensei que eu sabia em um ponto, mas não
tenho ideia, não mais. A vida parece uma piada cruel.

— É sobre as relações que você faz, a bondade que oferece e você mostrar
compaixão. É a sua chance de mostrar ao mundo quem você é e o que faz você.
Hallie, você é a pessoa mais forte que conheço. Em vez de sentar aqui chorando
comigo, você deve estar com Bryan. Aqui. — Ela me dá o bagel extra. — Cheque de
vez em quando e quando você precisar de mim, eu vou. Nesse meio tempo, vou
deixar nossa casa pronta, eu prometo. Nada me manterá longe desta vez. Quando
você precisar de mim, eu estarei lá - se estiver no hospital, a funerária ou apenas
quando você precisar de uma pausa.

Eu sinto uma vibe nervosa vindo dela. — Você não é fraca, Maggie. Somos
sobreviventes, eu e você. — Quando eu digo isso, quero dizer para confortá-la, mas
uma bola dá um nó na minha garganta.

Ela pega a minha mão e se inclina, descansando a cabeça no meu ombro. —
Nós vamos sobreviver a isto também “juntas”.

Capítulo 3

Eu não quero pensar em Neil, então eu volto para a mansão Ferro e me
esgueiro para dentro. Ainda é cedo. As únicas pessoas que vejo são os empregados.
Eles me veem e não dizem nada. Deve ser estranho viver como uma estátua dia
após dia, sem ninguém, mas outros funcionários, na verdade, reconhecem que você
é humano. Eu não posso evitar isso. Eu sorrio para o mordomo que está sempre
ocupado, correndo para algum lugar. Ele inclina a cabeça em saudação, mas não
abranda.

Depois que ele passa, se vira para trás. — Você precisa de alguma coisa, Sra.
Raymond?

Eu sorrio e balanço a cabeça. — Não, é apenas bom vê-lo. — Eu olho para
ele. Este homem tem sido constante na vida de Bryan por anos. Eu me pergunto se
ele sabe que Bryan tem um segredo, porque nada lhe escapa, pelo menos não
quando éramos mais jovens. Eu me lembro de receber olhares severos dele quando
éramos muito jovens e fazíamos coisas muito loucas, enquanto a mãe de Bryan não
estava por perto. Mas o cara nunca nos entregou.

— Da mesma forma, Sra. Raymond. Diga ao Sr. Ferro que se ele precisar de
ajuda pode pedir qualquer coisa para mim. — Seus olhos perfuraram os meus por
um momento antes que ele olhe para o lado.

Ele sabe.

Concordo com a cabeça e vou para o modo de super mocinha. Antes que eu
possa me parar, lanço o meu corpo para ele e meus braços em volta do velho,
abraçando-o em um abraço de urso em estilo desleixado. Ele endurece com choque
e, em seguida, dá um tapinha minhas costas. — As pessoas vão dizer-lhe que ele
vai ficar bem. Ao longo dos próximos meses, você vai ouvir isso de novo e de novo,
mas a perda não é assim que funciona. As coisas não vão voltar ao normal, mas a
vida continua. Converse com ele sobre isso, enquanto você tem a chance.

Meu queixo cai. — O quê? Isso seria tão mau. Eu não posso...

— Isso não é o problema meu, mas se você fosse minha filha, era o que eu
diria a você. Tempos sombrios estão chegando, se este homem é o seu raio de luz,
mergulhe no sol tanto quanto puder e quando puder.

Acho que entendo o que ele quer dizer, então balanço minha cabeça para
cima e para baixo lentamente. Falar sobre a morte com alguém que está morrendo
é o que ele quer dizer. Vamos acabar discutindo todas as coisas que queríamos
fazer, mas nunca teremos a chance. Minha garganta aperta com o pensamento e os
meus olhos lacrimejam. — Obrigada.

— Qualquer hora, Sra. Raymond. — Ele inclina a cabeça para mim como se
eu fosse uma rainha e se vira para correr para longe.

Eu não gosto da sua sugestão, mas parte dela me chama. E se a gente falar
sobre isso? Eu balanço minha cabeça e aperto as mãos. Não! Eu não quero! Isso não
é justo e não posso simplesmente aceitar que vou perdê-lo - não depois que
finalmente nos encontramos novamente. Não depois de todo esse tempo.

No momento que estou dentro da mansão de Bryan, paro na porta. Minha
intenção era ir à ponta dos pés para o quarto de Bryan, mas sou presa pelo Ferro
que eu mais temo - Sean. Ele está encostado na parede, os braços cruzados sobre o
peito. Ele se parece com sua mãe, toda acusação não dita claramente visível em
seus olhos. Suas roupas escuras - casaco de couro, calça jeans, camisa preta e botas
shitkicker. — Você e eu temos algo a discutir.

Minha intenção é passar por ele. — Não tenho nada para lhe dizer.

Sean libera seus braços e caminha em minha frente. Ele é silencioso e letal,
com vibes malucas irradiando dele como micro ondas. Ding! — Bem, eu tenho algo
que você precisa ouvir - sobre um homem chamado Victor. — Minha respiração
para na minha garganta enquanto minhas mãos vão para o meu coração. Sean me
puxa pela curva do meu cotovelo para longe da porta de Bryan. — Sim, eu achei
que você soubesse alguma coisa sobre isso. Os jornais estão dizendo que um dos
seus homens o matou, mas os policiais estão bisbilhotando, me fazendo perguntas
sobre um traficante de merda. Eu não gosto de policiais e não gosto ainda menos
de perguntas. Então, me diga, como é que eles rastrearam até aqui? O que você
deixou para trás?

Eu rio, mas ele ignora. — Você acha que eu o matei? — Estou pressionando
meus dedos em meu peito, piscando, com meu queixo caído. Embora seja um
excelente desempenho, algo que me afasta. Sean pode ver isso.

Ele dá um passo no meu espaço de uma maneira ameaçadora. Sua voz
ressoa: — Eu sei que você o matou.

— Não, você não sabe. — Eu agarro, tentando me empurrar por ele
novamente, mas Sean não me deixa passar. Ele bloqueia o lugar com seu corpo
maciço.

Inclinando-se perto do meu rosto, ele sussurra baixinho: — Se eu sei, a
minha mãe sabe e você não quer pegadas sujas que levam direto para a porta da
frente. Você precisa se separar de Bryan e sair daqui antes que descubram isso.

Eu balanço minha cabeça e mordo meu lábio inferior. Eu provavelmente
pareci como um moleque teimoso, mas não vou deixar Bryan.

Os olhos de Sean travam com os meus e sua voz cai para um sussurro letal.
— Eu posso fazê-la desaparecer.

Algo desperta dentro de mim, essa mesma característica de proteção que
me fez cortar a garganta de Victor, em primeiro lugar. Minha coluna se endireita e
eu fico na frente do seu rosto. — Da mesma forma.

Depois de um momento de reflexão, o homem na verdade ri. Sean esfrega o
queixo com a mão. Eu não posso dizer se ele está se divertindo ou pensa que sou
louca. Ele finalmente pergunta: — Por que você fez isso?

— Por que você acha? O homem era um estuprador assassino. Vamos
apenas dizer que eu estava no lugar errado na hora errada. Acidentes acontecem e
eu não ia deixar que qualquer outra coisa acontecesse com a minha amiga. Ela é a
única família que me resta. — Eu sugo o ar, tentando inchar, então não sou tão
pequena, mas em comparação com Sean Ferro, sou um palito.

Seus olhos azuis mudam para o lado antes que ele passe as mãos pelo
cabelo. — Então, você protegeu sua família, deixe-me proteger a minha. Vá
embora. Não puxe Bryan para isso.

— Para quê? Os mortos não puxam qualquer um para qualquer coisa.

— Victor Campone está vivo.

Capítulo 4

Um pequeno grito escapa dos meus lábios e eu quase caio no chão. Meus
joelhos cedem, mas antes de eu ir para baixo, Sean agarra meus braços. Ele me
mantém de pé e continua suavemente. — Os policiais suspeitam que ele esteja
vivo. No momento em que chegaram lá, o corpo tinha desaparecido. Devido à
quantidade de sangue que encontraram, sua suposição natural era que um de seus
homens o matou e jogou o corpo. Os policiais ainda estavam indo por esse caminho
até recentemente, quando pegaram Campone bisbilhotando meu hotel. Então, a
menos que viram um fantasma, o homem ainda está vivo.

— Ele não pode estar. — Eu balanço minha cabeça e meus olhos vidrados
quando me lembro daquela noite. A quantidade de sangue, a forma que sua cabeça
pendia para trás e a ferida era tão profunda. — Não é possível.

Sean suspira e olha para mim com uma expressão que está perdida em
algum lugar entre pena e admiração. Inclinando-se perto, ele diz: — O corte foi
muito superficial. É como apontar para o coração e não acertar. O cara foi
subestimado, os que estavam dispostos e aceitaram fazer isso uma vez, mas ele não
vai ser subestimado novamente. E eu aposto qualquer coisa que ele vai
permanecer morto por um tempo, deixar que os outros façam o trabalho sujo, até
que lhe convenha encenar uma ressurreição.

— Como você sabe tudo isso?

Ele engole em seco, seu olhar se afastando e depois de volta para os meus
olhos. — Periodicamente nossos empreendimentos comerciais se sobrepõem. Eu
ouço coisas. E posso dizer-lhe que se eu ouvi, minha mãe ouviu e você com certeza
não quer irritá-la. Se Campone acabar aqui, você está morta. Se ele não te matar,
minha mãe vai.

Ele agarra meus ombros e me pede: — Hallie, pega a sua amiga e dá o fora
daqui antes que Campone a encontre. — Sean me libera. — Este foi um aviso de
cortesia. Se você ficar por perto e Bryan for morto por sua causa, bem, é melhor

esperar que Victor a encontre antes de mim. — Seus olhos firmam em mim uma
vez com as suas intenções claras.

Eu fico lá por um segundo mal respirando. Nossos olhos estão bloqueados,
nós dois estamos desafiando, mas será que ele não sabe, Sean não sabe sobre seu
primo? Talvez eu devesse pegar Bryan e correr, mas não posso. Não enquanto ele
está doente. Ele vai precisar de ajuda e cuidados paliativos. Eu não posso dar-lhe
essas coisas se eu corro. Minha voz racha quando eu falo. — Eu não posso.

— Não é opcional.

— Não, você não entende. Eu não posso ir embora. Eu não posso correr
mais de Victor e não vou. Eu vou cuidar disso. Eu vou terminar o que comecei. —
Eu não tenho ideia de como, mas vou. Se eu não fizer isso, ele virá atrás de mim e
Maggie. O homem é cruel, ele nunca vai parar de nos caçar. Eu sei disso com
certeza.

Sean levanta a sobrancelha escura. — Você está louca? Você nunca vai ter
outra chance de matá-lo. Ele pensou que era insignificante antes, mas agora ele a
conhece melhor.

Eu me empurro passando por ele. — Eu vou cuidar disso. Ele não virá aqui,
e desta vez, quando eu matá-lo, ele vai morrer.

— Hallie. — Sean quase implora meu nome, quase, mas eu não paro.

Eu entro no quarto de Bryan e fecho a porta. Eu fico lá por um segundo e
derrubo minha cabeça para trás, respirando com dificuldade. Eu nunca soquei uma
pessoa antes. Agora eu simplesmente confessei ao mais assustador de todos os
Ferro que vou dar um fim no senhor das drogas mais notório da cidade. Super foda.

Eu ainda estou segurando o saco com café da manhã de Bryan. Quando
aperto o meu punho, o jornal faz um ruído de crepitação e ele se senta. Um belo
sorriso ilumina seu rosto pálido. — Hey, Menina Bonita. Para onde você correu?

— Para pegar o café da manhã e conseguir alguma sujeira em sua tia. Foi
uma manhã interessante. — Eu sorrio, preocupada com ele e entrego o saco.

— Sujeira na minha tia?

Balanço a cabeça e me sento ao lado dele na cama. — Sim, eu descobri
porque ela me odeia. Ela pensa que eu sei de algo todos esses anos, mas eu não
descobri o que eu sabia até esta manhã.

Bryan desembrulha o seu bagel enquanto estou falando e morde. Seus
firmes olhos verdes encontram os meus. Com a boca cheia, ele me pergunta. — E
então?

Eu penso em manter seu segredo, mas não sinto nenhuma lealdade para
com ela. Além disso, Bryan não vai contar a ninguém. — Ela é gay. Eu a peguei com
sua amante na cozinha de sua mãe esta manhã.

Seu queixo cai e o pedaço de bagel rola para fora da boca, indo para a
colcha. — De jeito nenhum.

Concordo com a cabeça e olho para o pedaço de comida. — Um choque e
tanto, hein?

— Claro que sim. Ela é tão recatada e adequada. — Seu nariz franze com o
pensamento da sua tia ser sexualmente algo.

— E, aparentemente, ela gosta de garotas.

Bryan pisca e sorri. — Bem, isso explica um monte de coisas.

— Sim, como por que ela ainda é casada e permite que prostitutas meio
vestidas andem pela sua casa.

Bryan sorri. — Claro, todo mundo gosta de um pouco de colírio para os
olhos.

Eu bato em seu ombro. — Bryan!

— Vamos lá, pense nisso. Houve uma garota naquela casa desde que Jon era
um bebê. É a família mais estranha que eu já vi. Minha mãe não teria tolerado. Eu
sempre me perguntei por que a tia Constance tolerava.

— Seu pai não tem uma puta coabitante?

Ele inclina a cabeça para mim. — Meu pai não tem tempo para isso. Ele está
muito ocupado ganhando dinheiro para ser incomodado com relacionamentos ou
senhoras de compra. Mas, ainda assim, a tia Connie gosta das garotas. Quem teria

pensado? — Ele balança a cabeça. — Então o que diabos eu vi no dia que
terminamos?

Boa pergunta. Eu suspiro e tenho uma boa ideia de para quem perguntar. Eu
sorrio grande. — Qual é o quarto que Constance usa quando está aqui?

Bryan parece confuso e então seus olhos se arregalam. — Você está louca?

— Só um pouco. — Eu rio e quase aperto meus dedos juntos.


CONTINUA

A luz do amanhecer brilha através das pesadas cortinas que revestem as paredes formando uma fina fenda de branco puro no tapete escuro. Eu fico olhando para ele, perdida em seus pensamentos. Perto de mim, Bryan está dormindo. Eu envolvo meus braços ao redor dele e seu corpo se parece tão forte. É por isso que isto é tão difícil. Não faz nenhum sentido. Para além da dor, eu não posso ver o que está acontecendo com ele. É interno. Seu corpo o está matando segundo a segundo. Eventualmente, ele irá respirar e não haverá outro. Eu não posso suportar a ideia.
Minha vida tem sido moldada por morte. Todo mundo que me importa, todos, exceto Maggie, partem. Eu escorrego para fora da cama, agarrando o meu telefone antes de ir para fundo do corredor. Eu envio uma mensagem de texto para ela, embora eu duvide que ela esteja acordada.
Eu digito: Estou com Bryan. Apenas verificando para ter certeza que está tudo bem.
Para minha surpresa ela envia uma mensagem de volta: Eu estou, mas tenho uma coisa horrível para lhe dizer.
Nada poderia ser pior do que perder Bryan. Eu digito de volta: Eu também.
Volto logo para casa e podemos conversar.
Ela responde: Ok.

 


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Eu enfio meu celular no bolso antes de pegar a camiseta de Bryan e a puxo
sobre minha cabeça. Eu enfio minhas mãos sob as mangas e vagueio pela mansão
até encontrar a cozinha. Sinto o cheiro do café e preciso desesperadamente de uma
xícara. Infelizmente, a besta “a tia” de Bryan está sentada à mesa com outra
mulher. Ambas estão vestidas em robe. Eu pisco conforme o choque lava seus
rostos. Eu não posso imaginar por que ela está aqui tão cedo, não vestida. Quão
estranho é isso?

Dentro de um batimento cardíaco, Constance está fora de seu assento e no
meu rosto. — Como você ousa desfilar na casa da minha irmã usando coisas do
meu sobrinho? Saia agora mesmo, sua puta! — Ela tenta bater no meu rosto, mas
eu agarro seu pulso.

As coisas finalmente clicam no lugar. A forma como as mulheres estavam
olhando uma para a outra, o toque de suas mãos, a forma como os seus olhos
permanecem naquele olhar fixo familiar, o fato de que ela está aqui, quando sua
irmã e cunhado já se foram e a forma como Constance se transforma em um tigre
quando ela me vê - faz sentido. Ela está escondendo um segredo há anos que
poderia arruiná-la para sempre. É por isso que ela suporta as infidelidades do Sr.
Ferro e porque permite que suas mulheres valsem pela sua casa.

Constance é gay - e esta mulher é sua amante. Ela pensou que eu soubesse,
mas eu nunca percebi antes.

Ela puxa sua mão do meu aperto e se prepara para começar a gritar
novamente. Eu a interrompo, cansada. — Eu não me importo com sua vida ou
suas preferências. Eu entendo que seja um tabu para você ser vista com ela. Eu
entendo isso, Constance, eu realmente entendo. Eu não a julgo por isso, então pare
de me julgar. A única coisa de que eu quero vocês é o café. — Eu caminho,
passando por ela.

O queixo de Constance está no chão. Sua namorada, uma mulher pelo menos
dez anos mais nova que ela, fica rígida, olhando-me com medo. Relações do mesmo
sexo podem ser ultramodernas e estarem na moda em Nova York, mas não entre
antigas famílias endinheiradas como esta. Isso a arruinaria. É por isso que ela me
odeia. Ela acha que eu tenho andado por aí esperando para soltar uma bomba em
sua vida.

Quando Constance fala, seu tom é cético: — Você sabe há muito tempo e não
disse nada. Por quê?

— Porque eu não me importo com você. — Eu mantenho minhas costas
para ela enquanto despejo o líquido escuro em uma xícara pesada. É muito cedo. As
pessoas normais não estão acordadas às cinco da manhã. Elas provavelmente
estavam tomando café da manhã antes de se separarem para o dia. Quando me viro

para falar, as duas mulheres estão me olhando mortificadas. — Eu me preocupo
com Bryan. Você não percebeu nada sobre ele que lhe diz respeito?

Seu olhar se estreita. — Não brinque comigo. Eu conheço minha família,
cada um deles.

— Sim, bem, você pode querer falar com ele. — Ela bloqueia seu maxilar,
preparando-se para ordenar que eu saia, mas eu acrescento: — O tempo é uma
coisa engraçada. Todos nós pensamos que temos uma tonelada dele até que seja
tirado de nós, então nos damos conta de que nunca foi o suficiente, para começar.
Use o tempo que você tem, Constance. Ame as pessoas que queira e se certifique de
que eles saibam disso. Chegará o dia em que você lamentará que não o fez e a
chance passou por você.

Ela endurece quando eu falo. — Você está me ameaçando?

Eu rio alto com o ridículo de sua declaração. Ela não tem nenhuma pista. Eu
estava me referindo a mim e Bryan, para a piscina constante de arrependimento
que enche meu estômago. Poderíamos ter estado juntos, mas essa oportunidade
está perdida agora, o tempo que nunca teremos.

— Você está tão errada sobre tudo, lacrada em sua pequena bolha, fora de
contato com o mundo real. Isso não é sobre você, então você acha que está segura,
mas você nunca está, não do tempo - não da morte. Seu sobrinho... — Eu engulo
em seco, mas não quebro o contato visual. — Certifique-se que sua mãe descubra.
Isso é tudo que eu quero.

A suposição de que eu estou fazendo é enorme - aquela que Elizabeth Ferro
se importará se seu filho vive ou morre. Bryan não contou a ninguém sobre sua
doença, exceto eu. Jon pode ver isso, mas os outros não têm ideia. Eu não sei
quanto tempo resta à Bryan, mas não quero que ele o gaste se preocupando ou
brigando. Eu quero estar lá para protegê-lo e, por alertar o Ferro de seu estado, eu
provavelmente só fiz isso mais difícil de acontecer - mas que é a coisa certa a fazer.
Se eu tivesse um segundo extra para gastar com o meu pai... O pensamento se
esconde em minha mente, sol a sol. Quando a noite lava o céu com tons roxos de
tinta e manchas de âmbar cintilante, eu gostaria de ter mais uma oportunidade de
dizer todas as coisas que nunca tive a chance de expressar. Agora, esses
pensamentos estão presos dentro da minha alma, me segurando cativa. Eu nunca

vou ser livre. Eu nunca tive a chance de dizer adeus. Eu estou dando aos Ferro essa
oportunidade e esperando além da esperança de que eles não me joguem para fora
na minha bunda em recompensa.

Empurrando de lado meus pensamentos, eu coloco meu copo vazio para
baixo e saio, deixando Constance e sua amante, boquiabertas, no meu despertar. As
duas mulheres atrás de mim são crianças brincando de casinha. Eu posso ser mais
jovem do que elas em anos, mas minha alma parece velha. É imaturo pensar que a
sua vida seja apenas sobre você. A vida é sobre as pessoas ao seu redor. Como eu
gostaria de nunca crescer, mas desejar é desperdício de tempo e eu me recuso a
desperdiçar mais um segundo.

Capítulo 2

Maggie e eu planejamos, através de mensagens de texto, nos encontrar em
algum lugar que tenha um bagel logo após o amanhecer. Os únicos carros no
estacionamento são da loja. O resto do centro de compras ainda está fechado. Eu
não espero muito tempo, quando ela se junta a mim no final da fila.

— Hey. — Diz Maggie, me envolvendo em um abraço.

Eu a abraço de volta, segurando-a um segundo muito longo. Ela vai fugir
novamente. Eu sei disso. Ela não lida bem com a morte também. Acho que
ninguém faz, mas Maggie viu muito dela. Quando eu a solto, me forço a perdoá-la
com antecedência. Uma alma só pode tomar tanto abuso antes que não possa
evitar, exceto reagir. É como o cão de Pavlov. A campainha da morte soa e Maggie
corre.

Eu enfio um pedaço de cabelo atrás da minha orelha e encosto contra a
vitrine de vidro, antes de enfiar as mãos nos bolsos. — Hey. Como tem passado?

A fila faz a volta para fora da porta e para baixo da frente do centro
comercial com pessoas que já pararam para um bagel e café em seu caminho para
o trabalho. A fila se aproxima alguns centímetros mais próxima da comida e nos
movemos com ela, antes de retornar nossas posições contra o vidro. Meu estômago
ronca com o cheiro de fermento e eu mal posso esperar para provar o pão macio,
quente e mordê-lo, saboreando o cream cheese espesso. Eu aprendi a não dar por
certo pequenas coisas. Bagels me ajudam a encontrar meu lugar feliz.

Eu pretendo pegar um para Bryan também - sementes de papoula com
manteiga, exatamente como ele pedia na escola. Viemos aqui tantas vezes. Eu fico
olhando para fora, no estacionamento, minha mente vagando em uma memória de
Bryan me levantando em um carrinho de compras e empurrando-me como um
louco pelo mercado, rindo o tempo todo.

Outro cliente perguntou: — Que corredor você a encontrou? Eu quero uma!

Bryan apenas sorriu, os olhos deslizando sobre mim no carrinho. —
Desculpe, cara. Esta era a única e é toda minha. Eu nunca a deixarei ir. — A

memória ecoa fortemente em meus ouvidos. Parece que poderia ter acontecido
ontem.

A voz de Maggie me encaixa de volta ao presente. Ela encolhe os ombros e
puxa a alça da bolsa para cima de seu ombro. — Eu estou bem. Acho que encontrei
um apartamento para nós, mas eu ouvi que Neil comprou para vocês uma casa. —
Ela faz uma cara de, bem, tenta não fazer uma cara, que faz sua expressão de dor
ainda pior. A fila se move de novo e, com um passo à frente, ela deixa escapar: —
Você realmente vai se casar com ele? Achei que você amasse Bryan? Parecia que
estava totalmente encantada com o gatinho do sexo. Bem, você é a gatinha.
Rapazes são o quê, tigres? Tigre sexual soa mal. — Ela ri, mas sua risada leve
desaparece quando ela vê o meu sorriso falso. — O que há de errado, Hallie?

Eu tento manter minha voz firme, mas treme sem minha permissão. Não há
nenhum ponto em protelar por mais tempo, e além disso, eu preciso dela. Mesmo
que ela vá correr, eu tenho que falar com alguém enquanto eu tiver a chance. —
Maggie, ele está morrendo.

— Mas, ele não pode estar! Ele... — Maggie deixa escapar muitas palavras de
uma só vez e quase começa a chorar. Ela é a pessoa mais empática que eu já
conheci. A minha dor está representada em seu rosto quando ela para, aperta
minha mão e me puxa para um abraço de urso que poderia explodir minha cabeça.
— Eu sinto muito, Hallie. — Ela enxuga as lágrimas com as costas da mão e olha
para o meu ombro, não querendo perguntar. Cada palavra é como se enfiasse uma
faca no meu lado. — O que há de errado com ele?

Eu a atualizo com o que sei que aconteceu até agora. Minha voz continua
difícil quando eu chego ao fim da história. — Nós terminamos por causa de sua tia
Constance. Ela achou que eu iria arruiná-la com informações que eu não deveria
saber, então ela descobriu uma maneira de nos separar. — A raiva eu não tinha
notado até agora borbulha sob a superfície da minha mente. Eu não vou ficar com
raiva, eu não posso ficar. Eu me recuso a perder meu tempo com ela ou o que ela
fez. — Maggie, eu não poderia me importar menos com ela, mas eu quis Bryan
todo esse tempo e não o tive por causa dela.

— E, no entanto, você não soa como louca. Você parece mais
assustadoramente tranquila sobre isso. — Uma sobrancelha vermelha levanta
levemente em sua testa sardenta.

Eu olho para ela conforme nos movemos com a fila para dentro da pequena
loja, e nos aproximamos da bandeja do pão assado. Maggie pede em primeiro lugar,
então eu peço e pago por nossos itens. Pegamos o nosso café da manhã, cortamos
de volta através da fila, para fora da porta, em direção ao estacionamento. Fico ali
na frente dela querendo falar, mas incapaz de encontrar palavras, em seguida,
entrego para ela o pão e suco de laranja.

Minha boca se abre duas vezes, mas as palavras não saem. Eu finalmente
olho nos olhos dela e explico. — Eu não estou louca. Bem, eu estou - mas não quero
estar. É um desperdício de tempo e eu não tenho tempo de sobra. Eu estou
pensando em ficar com ele, Maggie. Seja qual for o tempo que lhe resta, eu quero
estar lá.

— Eu entendo, e eu estou aqui para você. — Ela pega a minha mão, mas eu
não posso olhar para ela.

— Não faça promessas que não pode cumprir, Maggie.

— Eu estou as mantendo desta vez.

— Eu prefiro saber agora que você vai desaparecer. Eu posso lidar com isso
sozinha. Eu estou bem, realmente. Eu sei o que isso faz para você e... — Eu arranjo
desculpas para ela até que ela me corta.

— Não. A última vez eu não estava lá para você, porque Victor era um idiota.
Eu não tive escolha. Isso fazia parte da maneira como ele estava me controlando,
mas ele já se foi, Hallie. Eu não vou fugir. Eu estarei lá para você. Você não terá que
lidar com isso sozinha. Eu prometo. Podemos passar por qualquer coisa, você e
eu. Eu não vou deixar você Hallie. Nós somos irmãs. Eu vou estar lá neste
momento. — Ela sorri sem jeito e olha para o chão sob suas botas.

Ela muda o seu peso para o outro pé e olha para mim debaixo de muito
rímel. Sua boca fica aberta por um segundo e seus lábios enrolam, como se ela não
quisesse dizer o que está prestes a cair de sua boca. — Há algo que você precisa
saber, e eu não sei se você vai gostar ou não com tudo o que aconteceu, mas precisa

saber. Você precisa. E eu odeio dizer isso agora, mas talvez seja melhor assim. Eu
esperaria se eu achasse que ajudaria.

— Maggie, diga-me. O que é?

Ela puxa um monte de ar e cospe para fora. — Ontem à noite, enquanto você
não estava em casa, entrei e vi o que parecia ser Neil e Cecily fazendo coisas que
estava muito além da zona do amigo. — Seus lábios são esmagados em conjunto,
enquanto ela tenta permanecer inexpressiva. Eu posso dizer que ela quer castrar
Neil conforme ela luta para manter seus lábios em uma linha reta.

Eu pisco, e isso é tudo. A raiva não vomita da minha boca e minhas mãos
não estão cerradas em punhos. Eu não me sinto quebrada ou até mesmo chocada.

Eu não sinto nada.

Se eu amasse Neil, eu estaria irada, mas eu não estou. Concordo com a
cabeça.

O rosto preocupado de Maggie franze enquanto ela empurra seu brilhante
cabelo atrás da orelha. — Eu não sei se eu deveria dizer. Eu o odeio, mas pensei
que você gostava do cara. — Ela me olha com tal preocupação que eu não posso
deixar de sorrir para ela.

Meu olhar abaixa para o chão e eu tomo uma respiração profunda, antes de
dar-lhe um abraço de lado. Quando eu a deixo ir, murmuro: — Eu estou feliz que
você me disse. Desgraça pouca é bobagem, certo? — Eu ofereço um sorriso de
novo, mas é falso neste momento. Há muitas lembranças correndo pela minha
mente, e o movimento faz minha pele parecer como se fosse rachar.

— Yeah. — Ela ri. — Pelo menos não temos que nos preocupar com Victor.
Devo-lhe muito por isso. Os jornais disseram que um dos seus homens o matou no
meu apartamento. Se você não tivesse me arrastado para fora, naquela noite eu
teria levado um tiro, também.

Eu sou insensível ao que eu fiz, pelo menos no momento. Às vezes, quando
eu não consigo dormir, o pensamento de que fiz desliza em minha mente, não
desejado. Victor é um pesadelo que não vai morrer, mas não posso perder o meu
tempo.

— Somos eu e você, agora. — Eu digo a ela com firmeza. Ela sorri
tristemente para mim e assente. — Maggie, você pode ir a casa de Neil e pegar
minhas coisas? Há apenas algumas caixas. Eu nunca desembalei, não
realmente. Neil queria que eu fizesse, mas eu empurrei a maioria delas na parte de
trás de um armário. — Eu retiro minha bolsa e escrevo-lhe um cheque. — Isso
deve cobrir o aluguel do nosso novo apartamento e tudo o mais que
precisamos. Deixe-o bonito, ok? Vai ser bom ter um novo lugar bonito para ir para
casa quando isso acabar.

Maggie pega o cheque e olha para todos os zeros, antes de olhar para mim.
Uma mecha de cabelo vermelho cai na frente de seus olhos. — Hallie, eu não posso
aceitar isso.

— Sim, você pode. Vai fazê-lo. Precisamos de um lugar para viver. Eu
gostaria de ter mais a oferecer, mas essa discussão é para outro dia. Entretanto,
isso vai nos colocar em uma boa vizinhança e nós estaremos confortáveis.

— Você vai processar Neil e Cecily? Eles praticamente gastaram todo o seu
dinheiro.

Concordo com a cabeça. — Provavelmente, mas não agora. Eu preciso fazer
um telefonema. — Maggie balança a cabeça e eu disco para o meu banco enquanto
seguimos para o meu carro. Eu explico a um funcionário do banco muito prestativo
que o nome de Neil deve ser retirado da minha conta imediatamente e todas as
transações em andamento com a sua assinatura, devem ser transferidas para a sua
conta. Verificação conjunta foi ideia dele. Eu esfrego minhas mãos sobre meu rosto
e sento com força no capô do meu carro. A coisa está suja, mas eu não me
importo. O funcionário do banco me pede para ir em breve para assinar os papéis,
e fazer as alterações em minha conta oficial. Quando eu insisto que eles precisam
ser assinados agora, ela diz para vir quando for mais conveniente.

Eu desligo e olho fixamente para as portas fechadas da mercearia. — Eu não
posso fazer isso de novo, não tão cedo. — A perda do meu pai ainda paira pesado
em meu coração, ameaçando me puxar para baixo. Minha dor não diminuiu e a
fama não ajudou. A única coisa que me faz sentir melhor é Bryan e agora vou
perdê-lo também.

Eu não posso respirar. Inclinando minha cabeça para trás com os olhos
cheios de lágrimas, eu olho para o céu e as nuvens brancas onduladas. O céu estava
aqui muito antes de eu nascer e vai estar aqui muito tempo depois. Faz-me sentir
pequena, como se a minha vida não importasse em tudo.

Maggie me bate com sua bota. — Bagel?

— Eu não estou com fome. — Eu estava com fome apenas um momento
atrás, mas agora não sinto nada parecido com isso.

— Merda resistente. Eu estou cuidando de você, o que significa que você
come isso ou vou enfiar na sua cara. — Ela está sorrindo para mim. — Eu vou fazer
isso.

Eu roubo a minha comida de sua mão. — Eu sei que você vai. —
Desempacotando a coisa, dou uma mordida e percebo que eu estou morrendo de
fome.

— A vida não é sobre a morte, você sabe. — Diz Maggie de repente. Ela está
sentada ao meu lado no capô, olhando para uma nuvem, pegando arrancando
pedaços de seu bagel, e os jogando em sua boca um de cada vez.

— Então o que se trata? — Eu pensei que eu sabia em um ponto, mas não
tenho ideia, não mais. A vida parece uma piada cruel.

— É sobre as relações que você faz, a bondade que oferece e você mostrar
compaixão. É a sua chance de mostrar ao mundo quem você é e o que faz você.
Hallie, você é a pessoa mais forte que conheço. Em vez de sentar aqui chorando
comigo, você deve estar com Bryan. Aqui. — Ela me dá o bagel extra. — Cheque de
vez em quando e quando você precisar de mim, eu vou. Nesse meio tempo, vou
deixar nossa casa pronta, eu prometo. Nada me manterá longe desta vez. Quando
você precisar de mim, eu estarei lá - se estiver no hospital, a funerária ou apenas
quando você precisar de uma pausa.

Eu sinto uma vibe nervosa vindo dela. — Você não é fraca, Maggie. Somos
sobreviventes, eu e você. — Quando eu digo isso, quero dizer para confortá-la, mas
uma bola dá um nó na minha garganta.

Ela pega a minha mão e se inclina, descansando a cabeça no meu ombro. —
Nós vamos sobreviver a isto também “juntas”.

Capítulo 3

Eu não quero pensar em Neil, então eu volto para a mansão Ferro e me
esgueiro para dentro. Ainda é cedo. As únicas pessoas que vejo são os empregados.
Eles me veem e não dizem nada. Deve ser estranho viver como uma estátua dia
após dia, sem ninguém, mas outros funcionários, na verdade, reconhecem que você
é humano. Eu não posso evitar isso. Eu sorrio para o mordomo que está sempre
ocupado, correndo para algum lugar. Ele inclina a cabeça em saudação, mas não
abranda.

Depois que ele passa, se vira para trás. — Você precisa de alguma coisa, Sra.
Raymond?

Eu sorrio e balanço a cabeça. — Não, é apenas bom vê-lo. — Eu olho para
ele. Este homem tem sido constante na vida de Bryan por anos. Eu me pergunto se
ele sabe que Bryan tem um segredo, porque nada lhe escapa, pelo menos não
quando éramos mais jovens. Eu me lembro de receber olhares severos dele quando
éramos muito jovens e fazíamos coisas muito loucas, enquanto a mãe de Bryan não
estava por perto. Mas o cara nunca nos entregou.

— Da mesma forma, Sra. Raymond. Diga ao Sr. Ferro que se ele precisar de
ajuda pode pedir qualquer coisa para mim. — Seus olhos perfuraram os meus por
um momento antes que ele olhe para o lado.

Ele sabe.

Concordo com a cabeça e vou para o modo de super mocinha. Antes que eu
possa me parar, lanço o meu corpo para ele e meus braços em volta do velho,
abraçando-o em um abraço de urso em estilo desleixado. Ele endurece com choque
e, em seguida, dá um tapinha minhas costas. — As pessoas vão dizer-lhe que ele
vai ficar bem. Ao longo dos próximos meses, você vai ouvir isso de novo e de novo,
mas a perda não é assim que funciona. As coisas não vão voltar ao normal, mas a
vida continua. Converse com ele sobre isso, enquanto você tem a chance.

Meu queixo cai. — O quê? Isso seria tão mau. Eu não posso...

— Isso não é o problema meu, mas se você fosse minha filha, era o que eu
diria a você. Tempos sombrios estão chegando, se este homem é o seu raio de luz,
mergulhe no sol tanto quanto puder e quando puder.

Acho que entendo o que ele quer dizer, então balanço minha cabeça para
cima e para baixo lentamente. Falar sobre a morte com alguém que está morrendo
é o que ele quer dizer. Vamos acabar discutindo todas as coisas que queríamos
fazer, mas nunca teremos a chance. Minha garganta aperta com o pensamento e os
meus olhos lacrimejam. — Obrigada.

— Qualquer hora, Sra. Raymond. — Ele inclina a cabeça para mim como se
eu fosse uma rainha e se vira para correr para longe.

Eu não gosto da sua sugestão, mas parte dela me chama. E se a gente falar
sobre isso? Eu balanço minha cabeça e aperto as mãos. Não! Eu não quero! Isso não
é justo e não posso simplesmente aceitar que vou perdê-lo - não depois que
finalmente nos encontramos novamente. Não depois de todo esse tempo.

No momento que estou dentro da mansão de Bryan, paro na porta. Minha
intenção era ir à ponta dos pés para o quarto de Bryan, mas sou presa pelo Ferro
que eu mais temo - Sean. Ele está encostado na parede, os braços cruzados sobre o
peito. Ele se parece com sua mãe, toda acusação não dita claramente visível em
seus olhos. Suas roupas escuras - casaco de couro, calça jeans, camisa preta e botas
shitkicker. — Você e eu temos algo a discutir.

Minha intenção é passar por ele. — Não tenho nada para lhe dizer.

Sean libera seus braços e caminha em minha frente. Ele é silencioso e letal,
com vibes malucas irradiando dele como micro ondas. Ding! — Bem, eu tenho algo
que você precisa ouvir - sobre um homem chamado Victor. — Minha respiração
para na minha garganta enquanto minhas mãos vão para o meu coração. Sean me
puxa pela curva do meu cotovelo para longe da porta de Bryan. — Sim, eu achei
que você soubesse alguma coisa sobre isso. Os jornais estão dizendo que um dos
seus homens o matou, mas os policiais estão bisbilhotando, me fazendo perguntas
sobre um traficante de merda. Eu não gosto de policiais e não gosto ainda menos
de perguntas. Então, me diga, como é que eles rastrearam até aqui? O que você
deixou para trás?

Eu rio, mas ele ignora. — Você acha que eu o matei? — Estou pressionando
meus dedos em meu peito, piscando, com meu queixo caído. Embora seja um
excelente desempenho, algo que me afasta. Sean pode ver isso.

Ele dá um passo no meu espaço de uma maneira ameaçadora. Sua voz
ressoa: — Eu sei que você o matou.

— Não, você não sabe. — Eu agarro, tentando me empurrar por ele
novamente, mas Sean não me deixa passar. Ele bloqueia o lugar com seu corpo
maciço.

Inclinando-se perto do meu rosto, ele sussurra baixinho: — Se eu sei, a
minha mãe sabe e você não quer pegadas sujas que levam direto para a porta da
frente. Você precisa se separar de Bryan e sair daqui antes que descubram isso.

Eu balanço minha cabeça e mordo meu lábio inferior. Eu provavelmente
pareci como um moleque teimoso, mas não vou deixar Bryan.

Os olhos de Sean travam com os meus e sua voz cai para um sussurro letal.
— Eu posso fazê-la desaparecer.

Algo desperta dentro de mim, essa mesma característica de proteção que
me fez cortar a garganta de Victor, em primeiro lugar. Minha coluna se endireita e
eu fico na frente do seu rosto. — Da mesma forma.

Depois de um momento de reflexão, o homem na verdade ri. Sean esfrega o
queixo com a mão. Eu não posso dizer se ele está se divertindo ou pensa que sou
louca. Ele finalmente pergunta: — Por que você fez isso?

— Por que você acha? O homem era um estuprador assassino. Vamos
apenas dizer que eu estava no lugar errado na hora errada. Acidentes acontecem e
eu não ia deixar que qualquer outra coisa acontecesse com a minha amiga. Ela é a
única família que me resta. — Eu sugo o ar, tentando inchar, então não sou tão
pequena, mas em comparação com Sean Ferro, sou um palito.

Seus olhos azuis mudam para o lado antes que ele passe as mãos pelo
cabelo. — Então, você protegeu sua família, deixe-me proteger a minha. Vá
embora. Não puxe Bryan para isso.

— Para quê? Os mortos não puxam qualquer um para qualquer coisa.

— Victor Campone está vivo.

Capítulo 4

Um pequeno grito escapa dos meus lábios e eu quase caio no chão. Meus
joelhos cedem, mas antes de eu ir para baixo, Sean agarra meus braços. Ele me
mantém de pé e continua suavemente. — Os policiais suspeitam que ele esteja
vivo. No momento em que chegaram lá, o corpo tinha desaparecido. Devido à
quantidade de sangue que encontraram, sua suposição natural era que um de seus
homens o matou e jogou o corpo. Os policiais ainda estavam indo por esse caminho
até recentemente, quando pegaram Campone bisbilhotando meu hotel. Então, a
menos que viram um fantasma, o homem ainda está vivo.

— Ele não pode estar. — Eu balanço minha cabeça e meus olhos vidrados
quando me lembro daquela noite. A quantidade de sangue, a forma que sua cabeça
pendia para trás e a ferida era tão profunda. — Não é possível.

Sean suspira e olha para mim com uma expressão que está perdida em
algum lugar entre pena e admiração. Inclinando-se perto, ele diz: — O corte foi
muito superficial. É como apontar para o coração e não acertar. O cara foi
subestimado, os que estavam dispostos e aceitaram fazer isso uma vez, mas ele não
vai ser subestimado novamente. E eu aposto qualquer coisa que ele vai
permanecer morto por um tempo, deixar que os outros façam o trabalho sujo, até
que lhe convenha encenar uma ressurreição.

— Como você sabe tudo isso?

Ele engole em seco, seu olhar se afastando e depois de volta para os meus
olhos. — Periodicamente nossos empreendimentos comerciais se sobrepõem. Eu
ouço coisas. E posso dizer-lhe que se eu ouvi, minha mãe ouviu e você com certeza
não quer irritá-la. Se Campone acabar aqui, você está morta. Se ele não te matar,
minha mãe vai.

Ele agarra meus ombros e me pede: — Hallie, pega a sua amiga e dá o fora
daqui antes que Campone a encontre. — Sean me libera. — Este foi um aviso de
cortesia. Se você ficar por perto e Bryan for morto por sua causa, bem, é melhor

esperar que Victor a encontre antes de mim. — Seus olhos firmam em mim uma
vez com as suas intenções claras.

Eu fico lá por um segundo mal respirando. Nossos olhos estão bloqueados,
nós dois estamos desafiando, mas será que ele não sabe, Sean não sabe sobre seu
primo? Talvez eu devesse pegar Bryan e correr, mas não posso. Não enquanto ele
está doente. Ele vai precisar de ajuda e cuidados paliativos. Eu não posso dar-lhe
essas coisas se eu corro. Minha voz racha quando eu falo. — Eu não posso.

— Não é opcional.

— Não, você não entende. Eu não posso ir embora. Eu não posso correr
mais de Victor e não vou. Eu vou cuidar disso. Eu vou terminar o que comecei. —
Eu não tenho ideia de como, mas vou. Se eu não fizer isso, ele virá atrás de mim e
Maggie. O homem é cruel, ele nunca vai parar de nos caçar. Eu sei disso com
certeza.

Sean levanta a sobrancelha escura. — Você está louca? Você nunca vai ter
outra chance de matá-lo. Ele pensou que era insignificante antes, mas agora ele a
conhece melhor.

Eu me empurro passando por ele. — Eu vou cuidar disso. Ele não virá aqui,
e desta vez, quando eu matá-lo, ele vai morrer.

— Hallie. — Sean quase implora meu nome, quase, mas eu não paro.

Eu entro no quarto de Bryan e fecho a porta. Eu fico lá por um segundo e
derrubo minha cabeça para trás, respirando com dificuldade. Eu nunca soquei uma
pessoa antes. Agora eu simplesmente confessei ao mais assustador de todos os
Ferro que vou dar um fim no senhor das drogas mais notório da cidade. Super foda.

Eu ainda estou segurando o saco com café da manhã de Bryan. Quando
aperto o meu punho, o jornal faz um ruído de crepitação e ele se senta. Um belo
sorriso ilumina seu rosto pálido. — Hey, Menina Bonita. Para onde você correu?

— Para pegar o café da manhã e conseguir alguma sujeira em sua tia. Foi
uma manhã interessante. — Eu sorrio, preocupada com ele e entrego o saco.

— Sujeira na minha tia?

Balanço a cabeça e me sento ao lado dele na cama. — Sim, eu descobri
porque ela me odeia. Ela pensa que eu sei de algo todos esses anos, mas eu não
descobri o que eu sabia até esta manhã.

Bryan desembrulha o seu bagel enquanto estou falando e morde. Seus
firmes olhos verdes encontram os meus. Com a boca cheia, ele me pergunta. — E
então?

Eu penso em manter seu segredo, mas não sinto nenhuma lealdade para
com ela. Além disso, Bryan não vai contar a ninguém. — Ela é gay. Eu a peguei com
sua amante na cozinha de sua mãe esta manhã.

Seu queixo cai e o pedaço de bagel rola para fora da boca, indo para a
colcha. — De jeito nenhum.

Concordo com a cabeça e olho para o pedaço de comida. — Um choque e
tanto, hein?

— Claro que sim. Ela é tão recatada e adequada. — Seu nariz franze com o
pensamento da sua tia ser sexualmente algo.

— E, aparentemente, ela gosta de garotas.

Bryan pisca e sorri. — Bem, isso explica um monte de coisas.

— Sim, como por que ela ainda é casada e permite que prostitutas meio
vestidas andem pela sua casa.

Bryan sorri. — Claro, todo mundo gosta de um pouco de colírio para os
olhos.

Eu bato em seu ombro. — Bryan!

— Vamos lá, pense nisso. Houve uma garota naquela casa desde que Jon era
um bebê. É a família mais estranha que eu já vi. Minha mãe não teria tolerado. Eu
sempre me perguntei por que a tia Constance tolerava.

— Seu pai não tem uma puta coabitante?

Ele inclina a cabeça para mim. — Meu pai não tem tempo para isso. Ele está
muito ocupado ganhando dinheiro para ser incomodado com relacionamentos ou
senhoras de compra. Mas, ainda assim, a tia Connie gosta das garotas. Quem teria

pensado? — Ele balança a cabeça. — Então o que diabos eu vi no dia que
terminamos?

Boa pergunta. Eu suspiro e tenho uma boa ideia de para quem perguntar. Eu
sorrio grande. — Qual é o quarto que Constance usa quando está aqui?

Bryan parece confuso e então seus olhos se arregalam. — Você está louca?

— Só um pouco. — Eu rio e quase aperto meus dedos juntos.

 


                                                    CONTINUA

 

 

                                                                                                    H. M. Ward

 

 

 

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