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Planeta Criança



Poesia & Contos Infantis

 

 

 


A PROPOSIÇÃO
A PROPOSIÇÃO

 

 

                                                                                                                                              

 

 

 

 

 

CAPÍTULO 4

Maggie só ficou totalmente fora de órbita uma vez. Foi
quando nós nos separamos em um lar adotivo quando
tínhamos sete anos. Em três dias, eles nos colocaram de
volta, juntas, sob o mesmo teto. Maggie nunca disse o que ela
fez, só que ela ficou louca e lançou tudo o que tinha contra
eles. O olhar em seus olhos diz que quer colocar as bolas de
Neil em um copo do plástico.

Maggie se balança, em pé, com as calças metade dentro
e metade fora, enquanto sua mandíbula está apertada. Ela
olha para longe de mim e torce seu pescoço, como se ela fosse
matar alguém. Quando ela mexe os olhos verdes de volta para
mim, há um agradável, mas aterrorizante, sorriso em seu
rosto. Quando ela fala, ela parece cordial, como alguém que
trabalha em uma linda loja de flores e ama as pessoas, em
outras palavras, ela soa totalmente demente.

— Ele lhe disse para ir? — Ela ri levemente e pisca seus
cílios para mim, enquanto ela inclina a cabeça para o lado.

— E ele sabia que estava sendo chantageada?

Eu não quero falar sobre isso. Estou tão cansada que,
provavelmente, vou começar a babar em breve.

— Sim, ele sabia. — Eu não quero dizer a ela o resto.
Como está, ela já passa do terceiro estágio de lividez.

— Qual foi o motivo maravilhoso que ele deu, para ser
tão bom? — Ela aperta as mãos com calma, mas eu sei que
há uma erupção prestes a explodir sob a fachada tranquila.

Eu esfrego os olhos e puxo o zíper do meu vestido, mas
parece que ele prendeu no tecido.

— Maggie, coloque o seu pijama e vamos dormir. Eu não
quero falar sobre isso. Obviamente, eu estou brava com Neil
ou eu não estaria aqui com você.

Ela me estuda, por um momento, os olhos apertando
com suspeita, antes de dizer: — Mas Neil não percebe que
você está chateada, e você quer que ele pense em Bryan Ferro
pregado você. — Suas sobrancelhas se elevam quando eu
olho para ela. É o rosto de “eu sei o que você pensa”.

Infelizmente, ela percebe exatamente o que eu estou
pensando, mas isso não me faz querer discutir o assunto.
Neil não deveria ter me dito isso. Parece que ele me
abandonou quando eu precisei dele. Eu tenho problemas com
esse tema específico, que me faz invariavelmente ter uma
segunda suposição sobre mim mesmo, mas não desta vez. Eu
não teria feito isso com ele. Eu não o teria feito dormir com
alguém por dinheiro. Porra, isso me faz soar como uma
prostituta.

Apertando os olhos fechados, eu desvio o olhar.

— Talvez.

Talvez Neil deva sofrer um pouco por ser tão insensível,
porque isso é o que realmente era - insensibilidade. Ao
mesmo tempo, antes desta noite ter acontecido, Neil me deu
minha vida de volta. O cara era uma âncora quando a praia
estava longe da vista. Ele estava lá comigo, em minhas horas
mais escuras e parte de mim se sentia culpada por estar aqui
com Maggie, embora eu saiba que não deveria. Às vezes
desejo que não sentir nada. Parece que assim a vida seria
mais fácil.

No momento, as emoções de Maggie estão estampadas
em seu rosto, como giz de cera derretido.

— Puta merda, Hallie! Por que você está com ele? Neil
veio e pegou-a quando você era...

Eu a cortei. — Eu sei o que eu era, e talvez Neil estivesse
no lugar certo, na hora certa, mas ele nunca fez nada
parecido com isso antes, e nem eu mantive isso dele. — Eu
menti para ela, uma e outra vez.

— E ele está mantendo coisas para você! Será que você o
fez fazer algo que ele não queria? — Ela fez uma pausa, e
acrescentou: — Você não queria ver o Ferro de novo, não é?

Balanço a cabeça e olho para longe. Ela está certa. Não
há nenhuma maneira que eu tivesse feito Neil fazer algo
assim, mas ele realmente não me deu uma escolha. Eu não

tinha escolha, não se eu quisesse ficar com a minha vida. Há
muito dinheiro em jogo. Levantando a minha mão, eu digo: —
Eu não quero mais falar sobre isso hoje à noite.

Maggie faz um som irritado no fundo da garganta e
continuou a se vestir. Depois que ela puxou seu moletom, ela
vai até uma pia com manchas de ferrugem e escovou os
dentes. Embora espumando pela boca, ela se vira e olha para
mim e aponta a escova de dente na minha direção.

— Você sabe que eu chutaria um traseiro por você.
Apenas me diga quem e eu farei. — Na última palavra,
espuma de pasta de dente voa de seus lábios.

Eu ofereço um meio sorriso. — Eu sei que você faria,
mas eu não sei quem me irritou mais - Neil ou Bryan.

Maggie me joga uma camisa de dormir e continua
falando, mas minha mente está se recuperando. Eu estou
com raiva de Neil, mas Bryan... Eu não sei. A maneira como
ele falava, a forma como a sua voz ficou presa na garganta
quando ele disse certas coisas, é quase como se ele não
quisesse fazê-lo, mas ele fez, chantageou-me.

Ele não dormiu com você. Ele a beijou e atirou-a para
fora, aquela voz interior é como sinos tocando dentro da
minha cabeça, como um relógio.

As palavras de Bryan não correspondem às suas ações,
e se ele não dirigisse a faca no ombro do ladrão, eu teria

pensado que o homem que eu vi hoje, era o meu Bryan de
anos atrás, mas não era. O que quer que tenha acontecido
com Bryan, entre aquela época e agora, o mudou, e embora o
novo homem tenha me salvado, ele me assusta.

CAPÍTULO 5

A noite passa devagar, como sempre. Eu ouço a voz de
meu pai, embora ele já não esteja aqui. Minhas memórias
estão presas em retrocesso, repetindo coisas aleatoriamente,
enquanto elas voam para frente da minha mente. Isso me
assombra até onde eu não possa mais suportar.

Maggie está roncando próximo da minha cabeça. Eu
joguei papel e tesoura com ela pela cama, e ela ganhou.
Fizemos um pequeno estrado no chão para mim, mas é mais
como um cobertor e um lençol. Eles estão emaranhados do
meu virar e revirar. Eu os empurro de lado e sento-me,
esfregando os olhos que ardem. O velho relógio de Maggie
brilha suavemente ao lado de sua cama. São quase 6 horas
da manhã.

Meu corpo dói, como se eu tivesse sido empurrada pelo
poço de um elevador, mas eu me levanto do chão e vou até a
janela estreita. Os gritos que enchiam o prédio ontem à noite,
se tranquilizaram. A mulher no piso acima gritou uma última
vez há algumas horas, em seguida, algo pesado caiu no chão.
Gostaria de saber se um deles está morto. Os sons que
fizeram a minha pele se arrepiar, recuaram, agora só tem
silêncio.

Eu me inclino contra a parede e envolvo meus braços
em volta do meu corpo, enquanto olho para fora, pela janela
estreita e nebulosa. O sol ainda está para derramar-se sobre
o horizonte e a cidade ainda está na escuridão. As calçadas
estão quase vazias. Os grupos de pessoas que estavam juntas
se dissolveram. As figuras entre as sombras se foram.

Às vezes eu me pergunto se os monstros em minha
mente são piores do que os da rua. Eu vim das ruas, assim
como Maggie. Nós sobrevivemos e ainda assim, eu não posso
fugir das lembranças que me assombram, noite após noite.
Adicione a morte do meu pai à mistura, e eu sou uma bomba
relógio ambulante. Eu gostaria de poder dizer que eu sei
quem eu sou e que os acontecimentos de meu passado não
me mudaram, mas eu não consigo imaginar minha vida sem
essas ocorrências. Se minha mãe não tivesse me
abandonado, se ela não fizesse o que ela fez, que tipo de
mulher que eu seria? Se ela fosse uma boa pessoa e me
criasse, onde estaríamos agora?

Eu engulo em seco e forço as questões para longe. Elas
não servem para nada e só irão me puxar para baixo. Lutei
tanto para fugir daquela vida, mas ela vive para sempre na
parte de trás da minha mente. Eu ouço sua voz, a sua
familiar fala arrastada. Lembro-me da dor da sua mão no
meu rosto e muitas noites passadas tremendo em um
armário escuro, enquanto ela vivia uma vida na qual não me
incluía. A maioria dos pais querem proteger seus filhos, mas

não minha mãe. Ela não queria me proteger. Ela vivia para si
mesmo e isso é a uma coisa que me assusta, que eu me torne
como ela.

Meus dedos apertam em meus lados, enquanto eu tento
não tremer, porque o apartamento está congelando. Deus,
este lugar me faz lembrar-se daquela vida. Eu não sei como
Maggie aguenta. Olho para ela e penso sobre as coisas que eu
poderia fazer por nós, se eu tivesse esse dinheiro. Eu poderia
salvá-la disso.

Mas quem vai salvar você? A vozinha em minha cabeça
murmura.

Papai não virá e me salvará desta vez. Desta vez, a única
maneira de sair dessa bagunça é através de Bryan Ferro. Eu
tenho sofrido mais dificuldades do que a maioria das pessoas
tem em uma vida, eu posso sobreviver ao que ele quer
vivenciar. — Eu só não sei se vou gostar da mulher que me
tornarei por causa disso.

Algumas coisas não valem o preço. Eu aprendi, em
primeira mão, e agora aqui estou eu, repetindo as ações de
minha mãe.

Travo os dentes e murmuro baixinho: — Eu não sou a
mesma... Não é a mesma coisa.

Meu olhar cai no parapeito da janela e eu
instintivamente inclino-me para ele, pressionando meus
dedos contra o vidro frio. Eu não entendo o que estou vendo

no inicio. Alguém está em pé na sombra do prédio, do outro
lado da rua. Eles estão dentro de uma sala, um andar abaixo
de onde eu estou, no prédio de Maggie. A pessoa é uma
silhueta sem características definidas. Eu acho que é uma
mulher, mas eu não tenho certeza. Ela está pisando para trás
lentamente. As mãos dela levantam, quando um cachorro
está prestes a atacar em seu estômago. De repente, sua
coluna se endireita e ela para de se mover. A janela é tão
estreita que não consigo ver muito mais do que sua figura
esbelta através das cortinas.

Um momento depois, ela fica mole e cai para frente.
Suas cascatas de cabelo atrás dela, caindo em câmera lenta.
Não ouço nada, apenas as respirações nasais de Maggie, mas
seu grito silencioso está tocando em meus ouvidos. Uma
forma alta, um homem, dá passos até o local onde a mulher
estava. Seus ombros são arredondados, como se ele não
estivesse preocupado com uma coisa, enquanto ele balança a
cabeça e examina o chão como se houvesse algo divertido.

Minha garganta aperta enquanto observo com horror,
congelada no lugar. Naquele momento, o homem olha para
cima e olha para a janela. Nossos olhos se encontram e o
tempo para, como se uma força invisível roubasse o meu
fôlego. Os cabelos na parte de trás do meu pescoço arrepiam
enquanto eu olho fixamente, incapaz de desviar o olhar.

Maggie me disse para manter meus olhos para baixo e
não dizer absolutamente nada a ninguém, mas eu não posso,

e ainda pior, eu o reconheço, a ele e seu cabelo loiro
brilhante. É o homem que vive do outro lado do corredor.

CAPÍTULO 6

Eu não tenho certeza se ele percebe quem ele está
olhando, mas eu estou certa de que ele sabe em que
apartamento está. Com o coração acelerado, eu giro sobre os
calcanhares e tropeço na cama de Maggie.

— Levante-se. — Minha voz está sufocada, e quase não
sai. Freneticamente, eu a balanço até acordá-la. —
Precisamos sair. Agora.

Maggie empurra-se nos cotovelos. Sua maquiagem está
manchada em todo o lado direito de seu rosto. Ela se parece
com um palhaço chorando. — O quê? — Ela está muito
grogue e não temos tempo para isso.

— Se mova. Agora. — Eu emito a ordem, atiro uma calça
jeans para ela e começo a recolher qualquer coisa importante.
Eu estou tremendo tanto que largo a braçada de itens e
minha bolsa derrama no chão. Maggie para perguntando o
que está errado. Ela pegou o meu humor e olho para a porta
como se ela já soubesse.

De repente, ela está acordada e se movendo como se ela
tivesse tomado algum energético.

— O que você viu? Foda-se, Hallie! Eu lhe disse para
não olhar para nada.

— Eu não posso acreditar que ela está me xingando,
mas eu não vou perder tempo discutindo com ela.

Ajoelhada, eu puxo todo o conteúdo de roupas e bolsa
em meus braços. — Vai, vai, vai! — Vou para a porta,
deixando o meu vestido de noite para trás. Corremos para o
corredor, meio vestidas, e começamos a descer as escadas.
Eu lanço tudo no banco de trás do carro de Maggie e salto
para frente. — Vai!

Maggie enfia a chave na ignição e o motor liga. Ela
agarra o volante com firmeza e se afasta. Por um segundo eu
acho que conseguimos escapar despercebidas, mas apenas
quando chegamos ao fim do quarteirão, eu olho para trás no
espelho retrovisor do lado. O homem do outro lado do
corredor está olhando nossas lanternas traseiras enquanto
vamos embora.

CAPÍTULO 7

— O que você viu? — Maggie gritou de novo, quando ela
olha para trás pelo espelho retrovisor. Seus olhos se
arregalam, mas ela nem pisca. Ela olha para ele enquanto ele
nos vê no carro.

— Porra, você está falando sério? Esse é Victor! Por que
ele está nos observando? Nós não o queremos nos
observando! Hallie, o que aconteceu? — A voz de Maggie sobe
uma oitava a partir do momento que ela começa a falar até o
momento que termina.

— Seu nome é Victor?

— Sim! Victor Campone. Ele é muito louco! — O corpo
de Maggie está tenso, e eu posso dizer que ele está segurando
um grande esforço para não disparar e fugir. Ela não quer
chamar a atenção para nós, então ela vai a uma velocidade
normal, mesmo que pareça que meu coração vá explodir.

— Ele matou alguém. — Minha voz é suave, quase
inaudível. Meu estômago está torcendo como eu tivesse
comido algo rançoso. A deglutição torna a sensação
incômoda, pior, então eu inclino a cabeça para trás e
pressiono os dedos na minha cara.

— Não, não, não! Diga-me que você não viu nada!

— Eu vi isso. Ele estava no apartamento em frente ao
nosso. Eu estava olhando para fora da janela.

— E ele viu você? — Eu aceno e esfrego a palma da
minha mão em meus olhos. A voz de Maggie sai com um
tremor que é tão diferente dela que me assusta.

— Ele não sabe que você viu alguma uma coisa, certo?
Quero dizer, não é como se ele estivesse a observando
enquanto ele fez isso. Nós não vimos nada. Nós não sabemos
nada. Tudo vai ficar bem. — Ela começa a divagar, mais para
si mesmo do que para mim.

— Quem é ele?

— Ninguém. Ele não é ninguém. Você não sabe o seu
nome, que você nunca viu seu rosto. — Os dedos de Maggie
ficaram brancos de segurar o volante com tanta força. — Nós
não saímos e voamos pela rua, então parece que eu estava
levando-a para casa.

Depois de um tempo, viramos para o meu bairro. Maggie
estaciona na frente do apartamento de Neil e desliga o carro.
— Eu vou voltar mais tarde e agir como se nada tivesse
acontecido. Ele vai ficar bem.

— O inferno que você vai! Você não pode viver assim
Maggie. — Em que ela se meteu? Simpatia atravessa meu
rosto antes que eu possa escondê-la, o que a irrita.

— Não olhe para mim assim. Eu posso cuidar de mim
mesmo.

— Não, não desta vez. Desta vez, você cometeu um erro.
Esse cara é louco. Como você sabe que ele não matou uma
mulher como você? Como você sabe que não vai ser a
próxima? — Ela não olha para mim, em vez disso, Maggie age
como ela não me tivesse ouviu nada. — Maggie, como você
sabe!

Virando-se, ela se encaixa. — Eu não sei, tudo bem!
Ninguém sabe quando seu tempo está acabando ou como eles
vão morrer, e nem eu! Deixe quieto, Hallie. Você já bagunçou
bastante as coisas. Eu posso corrigi-lo.

— Não, você não pode! Isso não é coisa que pode ser
corrigida! — Eu estou gritando com ela, e não posso parar.
Meu coração está batendo tão rápido que está batendo em
minhas costelas e minhas mãos estão tremendo. — A morte
lhe aguarda naquele prédio! Toda vez que você entrar lá, sua
expectativa de vida cai. Você não pode pensar seriamente que
não tem ramificações. Ele matou alguém! O casal que mora
acima de você brigaram, estavam fora de si até que um deles
caiu no chão. Você precisa esperar até que você seja a que
está morta no chão, para ver que você não está segura?

— Eu não tenho escolha! — Ela está respirando forte e
rápido como eu. Eu quero chorar e salvá-la de tudo isso, mas
eu não posso. Um momento se passa e nenhuma de nós fala.

Eu bato a minha cabeça contra o assento e olho para
ela. — O que você faz com ele?

— Eu não posso lhe dizer. — Maggie não olha para mim.
Em vez disso, ela olha fixamente para frente.

— Quem é ele?

— Você não quer saber. — Eu abro minha boca para
pressioná-la, mas ela me silencia com um dedo e me dá um
olhar severo. — Não faça isso. Saber só vai lhe trazer mais
problemas.

Eu não gosto disso, mas eu paro de perguntar. Eu
gostaria muito que as coisas não fossem assim. Eu tenho que
pegar o dinheiro do negócio do livro. Eu preciso disso, para
ela. Ela está sobrecarregada, e a parte horrível é, que eu
também

CAPÍTULO 8

Maggie me segue para a casa depois de pegar todas as
nossas coisas de dentro de seu carro. Depois que eu tomei
banho, fui para a cozinha e encontrei Neil esperando na
mesa. Ele está lendo o jornal como se ele não estivesse
minimamente chateado. Ele o dobra e coloca em cima da
mesa antes de olhar para mim.

— Então, como foi?

— Tudo bem. — Meu queixo está apertado. Eu mal
posso cuspir as palavras. Quero arrancar a sua cabeça fora,
mas se eu fizer isso eu vou ser uma sem-teto. Quando eu
virei uma fraca covarde? Hallie, a prostituta. A palavra que
você está procurando é prostituta. Eu não quero pensar sobre
isso, então eu pego uma xícara de café do armário e uso esse
tempo derramando o líquido quente, então eu não tenho que
olhar para ele.

Antes de eu saber o que está acontecendo, Neil está
andando em minha direção. Eu acho que ele vai brigar, mas
sua voz está tímida. — Eu não deveria ter feito você fazer
isso. Sinto muito, Hallie. — Eu posso sentir seus olhos em
minhas costas e o tom de súplica em sua voz faz meu coração
estilhaçar.

— Não, você não deveria ter feito, — é tudo que eu posso
controlar. Eu mantenho meus olhos focados no líquido negro
na minha xícara, assistindo o subir do vapor para a
superfície.

— Olhe, eu pensei na maneira como vocês dois estavam
atuando no palco, e eu pensei que você ainda gostava dele.

Sua confissão me pega de surpresa. Viro-me devagar e
olho por cima do ombro, para ele. Ele está falando sério? Por
alguma razão, parece que eu estou sendo jogada, mas eu
rejeito isso. Quanto eu estou cansada? O cara está tentando
pedir desculpas e eu quero algo seguro agora. Neil é o
epítome do seguro.

Por um momento, eu não posso falar. Então eu gerencio
um — eu não. — Minhas palavras são evasivas. Eu ia dizer
que eu não tenho sentimentos por ele, mas eu tenho. Eu
sinto algo por Bryan, mas eu não sei o que é. Medo? Luxuria?
Atração não significa nada mesmo, não é?

Neil acena uma vez e observa seus pés. Seu cabelo cor
de areia obscurece os olhos. — Então, você me perdoa?

— Se você puder me perdoar? — De onde veio isso? As
palavras me chocam, mas isso não as impede de sair da
minha boca. Eu não deveria ter que pedir-lhe que me perdoe
por amantes do passado, por coisas que aconteceram antes
de conhecê-lo, mas eu pedi.

Seus lábios puxam para um leve sorriso.

— Eu já perdoei. Eu entendo por que você não disse
nada sobre ele. Quero dizer, é constrangedor, certo? Você não
quer fazer coisas estranhas entre nós, ao mencionar isso. As
pessoas têm manchas escuras em seu passado, e ele é a sua.
Eu entendi. Desculpe-me, eu a empurrei de volta, e eu estou
tão feliz que você voltou para casa novamente. Eu pensei que
odiaria ter perdido você.

— Neil ergue os braços, como se ele quisesse um abraço.

Eu largo minha xícara e caio em seus braços. Neil me
abraça como se eu fosse frágil, e suavemente beija minha
face. Ficamos assim por um momento, até que uma voz nos
rompe.

— Eu deveria ter esclarecido os termos do meu silêncio.
— Bryan está em pé, na nossa frente, na porta entre a sala e
a cozinha. — Não vai haver intimidade de qualquer tipo entre
vocês dois, enquanto Hallie estiver comigo e eu não terminei
com ela ainda.

CAPÍTULO 9

Neil me libera e se distancia. Seu queixo cai, fica de
boca aberta e olha duas vezes, como se ele não pudesse
acreditar que Bryan teve a audácia de entrar em sua casa.

— Você não tem o direito de estar aqui.

Bryan sorri e desliza as mãos nos bolsos. Ele está
vestindo calça jeans escura e uma camiseta que moldava e
revelava o seu delicioso corpo. A jaqueta de couro desgastado
pende dos ombros e seu cabelo ainda está úmido, como se ele
apenas tivesse rolado para fora da cama.

— Eu sinto cheiro de café? — Bryan ignora Neil, o
empurra, passando por nós, e agarra minha xícara fora do
balcão. — Ainda bebe preto, hein, Hallie? — Ele pisca para
mim, antes de engolir a minha bebida.

— Puta merda. — Maggie aparece com o cabelo molhado
pingando e seu queixo arrastando no chão. Seus olhos vão de
Neil para Bryan, como se ela estivesse antecipando uma
explosão.

Bryan se inclina para trás em cima do balcão, o paletó
se abre, revelando mais do seu peito tonificado e essa
camiseta deliciosa. Quando ele sorri, ele parece como o velho

Bryan, com uma covinha lambível. — Ei, Ruiva, — ele acena
com a cabeça em direção a Maggie com seu sorriso mágico.

— Ei para você também. — Maggie ri e olha para mim e,
em seguida, para Neil.

Neil parece chocado e permanece congelado por alguns
segundos, antes de se encher e gritar irritado. — Saia ou eu
vou chamar a polícia.

Bryan dá de ombros como se não se importasse e não se
move. — Vá em frente. Chame-os e eu vou ligar para os meus
amigos, e fazer as coisas rolarem. — Ele puxa o celular do
bolso e o segura. — Bem, vá em frente.

Neil olha para mim e, em seguida, para Bryan. — Você
disse uma noite.

— Sim, mas eu mudei de ideia. Ontem à noite nada
ocorreu como planejado, e eu pensei, por que não pedia
mais? Se você disser não, você perde tudo. É uma espécie de
acéfalo, então eu vim para isso. — Bryan fala com Neil, mas
ele está olhando para Maggie quando fala.

Depois de descansar a minha xícara vazia no balcão,
Bryan caminha para mim. — Pronta?

— Você disse que ia ligar. — Minhas mãos estão
fechadas nas laterais do meu corpo, eu gostaria de ser mais
alta para que eu pudesse gritar com Bryan olho no olho.

Ele oferece um típico sorriso Bryan Ferro e encolhe os
ombros. — Sim, eu sou lunático. Eu pensei em vir fazer uma
visitinha e buscá-la. Além disso, eu precisava ter certeza de
que seu namorado idiota não tocasse em você.

— Estes não eram os termos. Você não pode mudar
suas exigências assim. — Neil está agitado, mas Maggie está
encostada no batente da porta com um olhar divertido no
rosto. Neil inala devagar, tentando manter a calma, mas está
lá, fermentando, e Bryan está atiçando o fogo.

— Na verdade, eu posso. Combina com o acordo que
Hallie e eu fizemos ontem à noite, certo? — Bryan me olha
por um segundo e, em seguida, acrescenta, com falsa
sinceridade: — Oh, me desculpe, você não teve a chance de
dizer a ele?

— Bryan. — Advirto, mas ele não para.

Ele caminha para o meu lado e coloca o braço por cima
dos meus ombros. — Ontem à noite eu disse a ela que uma
noite não era suficiente. Desculpe, eu pensei que você já
soubesse, e não é como se importasse para você de qualquer
maneira, porque é tudo a mesma coisa. Eu dormi com ela
antes, então o que é mais uma noite, certo? — A voz de Bryan
se transforma em navalha afiada quando ele diz as últimas
palavras. Ele me solta e dá passos em direção a Neil, então
eles estão perto o suficiente para socar um ao outro. — Você
disse algo nesse sentido, não é?

Neil apruma os ombros. Ele não vai ser repreendido por
um Ferro. Ele acha que Bryan é uma criança mimada e dá-
lhe o olhar mais condescendente que eu já vi. — Isso é como
se você quisesse uma mulher mais de uma vez. Isso não vai
contra o código de honra dos Ferro? Eu ouvi a sua irmã...

Antes de Neil poder terminar a frase, o braço de Bryan
arremessa para fora. Ele pega Neil pela garganta e sibila: —
Se você valoriza sua vida, você não vai terminar essa
sentença.

— A irmã gêmea de Bryan parece estar muito
frequentemente na imprensa marrom, o que é horrível,
porque ela é muito doce. Os jornais de fofocas nunca
executam esse tipo de história, porém, é sempre coisas sobre
a herdeira Ferro e suas ações irrefletidas e pouco castas.

Bryan reforça o seu aperto e depois o libera. Neil suga o
ar e esfrega sua garganta, mas não desvia o olhar. Eu quero
gritar com Bryan, mas eu não grito. Em vez disso, eu
pergunto: — O que você quer Bryan?

Seus olhos verdes se voltam para mim e seu olhar
suaviza.

— Você.

Ele fala como se eu fosse tudo que ele quer no mundo,
mas eu sei que não é verdade. Eu sou o que ele quer, agora,
para punição ou lazer, eu ainda não tenho certeza. Bryan
estende a mão.

— Vamos lá, eu tenho o nosso dia planejado.

Eu olho para Neil, mas ele não vai olha para mim. Por
um segundo, eu penso em dizer não, mas Maggie está lá
sorrindo. Quero manter essa expressão feliz no seu rosto e
para isso eu preciso de dinheiro. Tomando a mão de Bryan,
eu deslizo meus dedos em seu aperto quente.


CONTINUA

CAPÍTULO 4

Maggie só ficou totalmente fora de órbita uma vez. Foi
quando nós nos separamos em um lar adotivo quando
tínhamos sete anos. Em três dias, eles nos colocaram de
volta, juntas, sob o mesmo teto. Maggie nunca disse o que ela
fez, só que ela ficou louca e lançou tudo o que tinha contra
eles. O olhar em seus olhos diz que quer colocar as bolas de
Neil em um copo do plástico.

Maggie se balança, em pé, com as calças metade dentro
e metade fora, enquanto sua mandíbula está apertada. Ela
olha para longe de mim e torce seu pescoço, como se ela fosse
matar alguém. Quando ela mexe os olhos verdes de volta para
mim, há um agradável, mas aterrorizante, sorriso em seu
rosto. Quando ela fala, ela parece cordial, como alguém que
trabalha em uma linda loja de flores e ama as pessoas, em
outras palavras, ela soa totalmente demente.

— Ele lhe disse para ir? — Ela ri levemente e pisca seus
cílios para mim, enquanto ela inclina a cabeça para o lado.

— E ele sabia que estava sendo chantageada?

Eu não quero falar sobre isso. Estou tão cansada que,
provavelmente, vou começar a babar em breve.

— Sim, ele sabia. — Eu não quero dizer a ela o resto.
Como está, ela já passa do terceiro estágio de lividez.

— Qual foi o motivo maravilhoso que ele deu, para ser
tão bom? — Ela aperta as mãos com calma, mas eu sei que
há uma erupção prestes a explodir sob a fachada tranquila.

Eu esfrego os olhos e puxo o zíper do meu vestido, mas
parece que ele prendeu no tecido.

— Maggie, coloque o seu pijama e vamos dormir. Eu não
quero falar sobre isso. Obviamente, eu estou brava com Neil
ou eu não estaria aqui com você.

Ela me estuda, por um momento, os olhos apertando
com suspeita, antes de dizer: — Mas Neil não percebe que
você está chateada, e você quer que ele pense em Bryan Ferro
pregado você. — Suas sobrancelhas se elevam quando eu
olho para ela. É o rosto de “eu sei o que você pensa”.

Infelizmente, ela percebe exatamente o que eu estou
pensando, mas isso não me faz querer discutir o assunto.
Neil não deveria ter me dito isso. Parece que ele me
abandonou quando eu precisei dele. Eu tenho problemas com
esse tema específico, que me faz invariavelmente ter uma
segunda suposição sobre mim mesmo, mas não desta vez. Eu
não teria feito isso com ele. Eu não o teria feito dormir com
alguém por dinheiro. Porra, isso me faz soar como uma
prostituta.

Apertando os olhos fechados, eu desvio o olhar.

— Talvez.

Talvez Neil deva sofrer um pouco por ser tão insensível,
porque isso é o que realmente era - insensibilidade. Ao
mesmo tempo, antes desta noite ter acontecido, Neil me deu
minha vida de volta. O cara era uma âncora quando a praia
estava longe da vista. Ele estava lá comigo, em minhas horas
mais escuras e parte de mim se sentia culpada por estar aqui
com Maggie, embora eu saiba que não deveria. Às vezes
desejo que não sentir nada. Parece que assim a vida seria
mais fácil.

No momento, as emoções de Maggie estão estampadas
em seu rosto, como giz de cera derretido.

— Puta merda, Hallie! Por que você está com ele? Neil
veio e pegou-a quando você era...

Eu a cortei. — Eu sei o que eu era, e talvez Neil estivesse
no lugar certo, na hora certa, mas ele nunca fez nada
parecido com isso antes, e nem eu mantive isso dele. — Eu
menti para ela, uma e outra vez.

— E ele está mantendo coisas para você! Será que você o
fez fazer algo que ele não queria? — Ela fez uma pausa, e
acrescentou: — Você não queria ver o Ferro de novo, não é?

Balanço a cabeça e olho para longe. Ela está certa. Não
há nenhuma maneira que eu tivesse feito Neil fazer algo
assim, mas ele realmente não me deu uma escolha. Eu não

tinha escolha, não se eu quisesse ficar com a minha vida. Há
muito dinheiro em jogo. Levantando a minha mão, eu digo: —
Eu não quero mais falar sobre isso hoje à noite.

Maggie faz um som irritado no fundo da garganta e
continuou a se vestir. Depois que ela puxou seu moletom, ela
vai até uma pia com manchas de ferrugem e escovou os
dentes. Embora espumando pela boca, ela se vira e olha para
mim e aponta a escova de dente na minha direção.

— Você sabe que eu chutaria um traseiro por você.
Apenas me diga quem e eu farei. — Na última palavra,
espuma de pasta de dente voa de seus lábios.

Eu ofereço um meio sorriso. — Eu sei que você faria,
mas eu não sei quem me irritou mais - Neil ou Bryan.

Maggie me joga uma camisa de dormir e continua
falando, mas minha mente está se recuperando. Eu estou
com raiva de Neil, mas Bryan... Eu não sei. A maneira como
ele falava, a forma como a sua voz ficou presa na garganta
quando ele disse certas coisas, é quase como se ele não
quisesse fazê-lo, mas ele fez, chantageou-me.

Ele não dormiu com você. Ele a beijou e atirou-a para
fora, aquela voz interior é como sinos tocando dentro da
minha cabeça, como um relógio.

As palavras de Bryan não correspondem às suas ações,
e se ele não dirigisse a faca no ombro do ladrão, eu teria

pensado que o homem que eu vi hoje, era o meu Bryan de
anos atrás, mas não era. O que quer que tenha acontecido
com Bryan, entre aquela época e agora, o mudou, e embora o
novo homem tenha me salvado, ele me assusta.

CAPÍTULO 5

A noite passa devagar, como sempre. Eu ouço a voz de
meu pai, embora ele já não esteja aqui. Minhas memórias
estão presas em retrocesso, repetindo coisas aleatoriamente,
enquanto elas voam para frente da minha mente. Isso me
assombra até onde eu não possa mais suportar.

Maggie está roncando próximo da minha cabeça. Eu
joguei papel e tesoura com ela pela cama, e ela ganhou.
Fizemos um pequeno estrado no chão para mim, mas é mais
como um cobertor e um lençol. Eles estão emaranhados do
meu virar e revirar. Eu os empurro de lado e sento-me,
esfregando os olhos que ardem. O velho relógio de Maggie
brilha suavemente ao lado de sua cama. São quase 6 horas
da manhã.

Meu corpo dói, como se eu tivesse sido empurrada pelo
poço de um elevador, mas eu me levanto do chão e vou até a
janela estreita. Os gritos que enchiam o prédio ontem à noite,
se tranquilizaram. A mulher no piso acima gritou uma última
vez há algumas horas, em seguida, algo pesado caiu no chão.
Gostaria de saber se um deles está morto. Os sons que
fizeram a minha pele se arrepiar, recuaram, agora só tem
silêncio.

Eu me inclino contra a parede e envolvo meus braços
em volta do meu corpo, enquanto olho para fora, pela janela
estreita e nebulosa. O sol ainda está para derramar-se sobre
o horizonte e a cidade ainda está na escuridão. As calçadas
estão quase vazias. Os grupos de pessoas que estavam juntas
se dissolveram. As figuras entre as sombras se foram.

Às vezes eu me pergunto se os monstros em minha
mente são piores do que os da rua. Eu vim das ruas, assim
como Maggie. Nós sobrevivemos e ainda assim, eu não posso
fugir das lembranças que me assombram, noite após noite.
Adicione a morte do meu pai à mistura, e eu sou uma bomba
relógio ambulante. Eu gostaria de poder dizer que eu sei
quem eu sou e que os acontecimentos de meu passado não
me mudaram, mas eu não consigo imaginar minha vida sem
essas ocorrências. Se minha mãe não tivesse me
abandonado, se ela não fizesse o que ela fez, que tipo de
mulher que eu seria? Se ela fosse uma boa pessoa e me
criasse, onde estaríamos agora?

Eu engulo em seco e forço as questões para longe. Elas
não servem para nada e só irão me puxar para baixo. Lutei
tanto para fugir daquela vida, mas ela vive para sempre na
parte de trás da minha mente. Eu ouço sua voz, a sua
familiar fala arrastada. Lembro-me da dor da sua mão no
meu rosto e muitas noites passadas tremendo em um
armário escuro, enquanto ela vivia uma vida na qual não me
incluía. A maioria dos pais querem proteger seus filhos, mas

não minha mãe. Ela não queria me proteger. Ela vivia para si
mesmo e isso é a uma coisa que me assusta, que eu me torne
como ela.

Meus dedos apertam em meus lados, enquanto eu tento
não tremer, porque o apartamento está congelando. Deus,
este lugar me faz lembrar-se daquela vida. Eu não sei como
Maggie aguenta. Olho para ela e penso sobre as coisas que eu
poderia fazer por nós, se eu tivesse esse dinheiro. Eu poderia
salvá-la disso.

Mas quem vai salvar você? A vozinha em minha cabeça
murmura.

Papai não virá e me salvará desta vez. Desta vez, a única
maneira de sair dessa bagunça é através de Bryan Ferro. Eu
tenho sofrido mais dificuldades do que a maioria das pessoas
tem em uma vida, eu posso sobreviver ao que ele quer
vivenciar. — Eu só não sei se vou gostar da mulher que me
tornarei por causa disso.

Algumas coisas não valem o preço. Eu aprendi, em
primeira mão, e agora aqui estou eu, repetindo as ações de
minha mãe.

Travo os dentes e murmuro baixinho: — Eu não sou a
mesma... Não é a mesma coisa.

Meu olhar cai no parapeito da janela e eu
instintivamente inclino-me para ele, pressionando meus
dedos contra o vidro frio. Eu não entendo o que estou vendo

no inicio. Alguém está em pé na sombra do prédio, do outro
lado da rua. Eles estão dentro de uma sala, um andar abaixo
de onde eu estou, no prédio de Maggie. A pessoa é uma
silhueta sem características definidas. Eu acho que é uma
mulher, mas eu não tenho certeza. Ela está pisando para trás
lentamente. As mãos dela levantam, quando um cachorro
está prestes a atacar em seu estômago. De repente, sua
coluna se endireita e ela para de se mover. A janela é tão
estreita que não consigo ver muito mais do que sua figura
esbelta através das cortinas.

Um momento depois, ela fica mole e cai para frente.
Suas cascatas de cabelo atrás dela, caindo em câmera lenta.
Não ouço nada, apenas as respirações nasais de Maggie, mas
seu grito silencioso está tocando em meus ouvidos. Uma
forma alta, um homem, dá passos até o local onde a mulher
estava. Seus ombros são arredondados, como se ele não
estivesse preocupado com uma coisa, enquanto ele balança a
cabeça e examina o chão como se houvesse algo divertido.

Minha garganta aperta enquanto observo com horror,
congelada no lugar. Naquele momento, o homem olha para
cima e olha para a janela. Nossos olhos se encontram e o
tempo para, como se uma força invisível roubasse o meu
fôlego. Os cabelos na parte de trás do meu pescoço arrepiam
enquanto eu olho fixamente, incapaz de desviar o olhar.

Maggie me disse para manter meus olhos para baixo e
não dizer absolutamente nada a ninguém, mas eu não posso,

e ainda pior, eu o reconheço, a ele e seu cabelo loiro
brilhante. É o homem que vive do outro lado do corredor.

CAPÍTULO 6

Eu não tenho certeza se ele percebe quem ele está
olhando, mas eu estou certa de que ele sabe em que
apartamento está. Com o coração acelerado, eu giro sobre os
calcanhares e tropeço na cama de Maggie.

— Levante-se. — Minha voz está sufocada, e quase não
sai. Freneticamente, eu a balanço até acordá-la. —
Precisamos sair. Agora.

Maggie empurra-se nos cotovelos. Sua maquiagem está
manchada em todo o lado direito de seu rosto. Ela se parece
com um palhaço chorando. — O quê? — Ela está muito
grogue e não temos tempo para isso.

— Se mova. Agora. — Eu emito a ordem, atiro uma calça
jeans para ela e começo a recolher qualquer coisa importante.
Eu estou tremendo tanto que largo a braçada de itens e
minha bolsa derrama no chão. Maggie para perguntando o
que está errado. Ela pegou o meu humor e olho para a porta
como se ela já soubesse.

De repente, ela está acordada e se movendo como se ela
tivesse tomado algum energético.

— O que você viu? Foda-se, Hallie! Eu lhe disse para
não olhar para nada.

— Eu não posso acreditar que ela está me xingando,
mas eu não vou perder tempo discutindo com ela.

Ajoelhada, eu puxo todo o conteúdo de roupas e bolsa
em meus braços. — Vai, vai, vai! — Vou para a porta,
deixando o meu vestido de noite para trás. Corremos para o
corredor, meio vestidas, e começamos a descer as escadas.
Eu lanço tudo no banco de trás do carro de Maggie e salto
para frente. — Vai!

Maggie enfia a chave na ignição e o motor liga. Ela
agarra o volante com firmeza e se afasta. Por um segundo eu
acho que conseguimos escapar despercebidas, mas apenas
quando chegamos ao fim do quarteirão, eu olho para trás no
espelho retrovisor do lado. O homem do outro lado do
corredor está olhando nossas lanternas traseiras enquanto
vamos embora.

CAPÍTULO 7

— O que você viu? — Maggie gritou de novo, quando ela
olha para trás pelo espelho retrovisor. Seus olhos se
arregalam, mas ela nem pisca. Ela olha para ele enquanto ele
nos vê no carro.

— Porra, você está falando sério? Esse é Victor! Por que
ele está nos observando? Nós não o queremos nos
observando! Hallie, o que aconteceu? — A voz de Maggie sobe
uma oitava a partir do momento que ela começa a falar até o
momento que termina.

— Seu nome é Victor?

— Sim! Victor Campone. Ele é muito louco! — O corpo
de Maggie está tenso, e eu posso dizer que ele está segurando
um grande esforço para não disparar e fugir. Ela não quer
chamar a atenção para nós, então ela vai a uma velocidade
normal, mesmo que pareça que meu coração vá explodir.

— Ele matou alguém. — Minha voz é suave, quase
inaudível. Meu estômago está torcendo como eu tivesse
comido algo rançoso. A deglutição torna a sensação
incômoda, pior, então eu inclino a cabeça para trás e
pressiono os dedos na minha cara.

— Não, não, não! Diga-me que você não viu nada!

— Eu vi isso. Ele estava no apartamento em frente ao
nosso. Eu estava olhando para fora da janela.

— E ele viu você? — Eu aceno e esfrego a palma da
minha mão em meus olhos. A voz de Maggie sai com um
tremor que é tão diferente dela que me assusta.

— Ele não sabe que você viu alguma uma coisa, certo?
Quero dizer, não é como se ele estivesse a observando
enquanto ele fez isso. Nós não vimos nada. Nós não sabemos
nada. Tudo vai ficar bem. — Ela começa a divagar, mais para
si mesmo do que para mim.

— Quem é ele?

— Ninguém. Ele não é ninguém. Você não sabe o seu
nome, que você nunca viu seu rosto. — Os dedos de Maggie
ficaram brancos de segurar o volante com tanta força. — Nós
não saímos e voamos pela rua, então parece que eu estava
levando-a para casa.

Depois de um tempo, viramos para o meu bairro. Maggie
estaciona na frente do apartamento de Neil e desliga o carro.
— Eu vou voltar mais tarde e agir como se nada tivesse
acontecido. Ele vai ficar bem.

— O inferno que você vai! Você não pode viver assim
Maggie. — Em que ela se meteu? Simpatia atravessa meu
rosto antes que eu possa escondê-la, o que a irrita.

— Não olhe para mim assim. Eu posso cuidar de mim
mesmo.

— Não, não desta vez. Desta vez, você cometeu um erro.
Esse cara é louco. Como você sabe que ele não matou uma
mulher como você? Como você sabe que não vai ser a
próxima? — Ela não olha para mim, em vez disso, Maggie age
como ela não me tivesse ouviu nada. — Maggie, como você
sabe!

Virando-se, ela se encaixa. — Eu não sei, tudo bem!
Ninguém sabe quando seu tempo está acabando ou como eles
vão morrer, e nem eu! Deixe quieto, Hallie. Você já bagunçou
bastante as coisas. Eu posso corrigi-lo.

— Não, você não pode! Isso não é coisa que pode ser
corrigida! — Eu estou gritando com ela, e não posso parar.
Meu coração está batendo tão rápido que está batendo em
minhas costelas e minhas mãos estão tremendo. — A morte
lhe aguarda naquele prédio! Toda vez que você entrar lá, sua
expectativa de vida cai. Você não pode pensar seriamente que
não tem ramificações. Ele matou alguém! O casal que mora
acima de você brigaram, estavam fora de si até que um deles
caiu no chão. Você precisa esperar até que você seja a que
está morta no chão, para ver que você não está segura?

— Eu não tenho escolha! — Ela está respirando forte e
rápido como eu. Eu quero chorar e salvá-la de tudo isso, mas
eu não posso. Um momento se passa e nenhuma de nós fala.

Eu bato a minha cabeça contra o assento e olho para
ela. — O que você faz com ele?

— Eu não posso lhe dizer. — Maggie não olha para mim.
Em vez disso, ela olha fixamente para frente.

— Quem é ele?

— Você não quer saber. — Eu abro minha boca para
pressioná-la, mas ela me silencia com um dedo e me dá um
olhar severo. — Não faça isso. Saber só vai lhe trazer mais
problemas.

Eu não gosto disso, mas eu paro de perguntar. Eu
gostaria muito que as coisas não fossem assim. Eu tenho que
pegar o dinheiro do negócio do livro. Eu preciso disso, para
ela. Ela está sobrecarregada, e a parte horrível é, que eu
também

CAPÍTULO 8

Maggie me segue para a casa depois de pegar todas as
nossas coisas de dentro de seu carro. Depois que eu tomei
banho, fui para a cozinha e encontrei Neil esperando na
mesa. Ele está lendo o jornal como se ele não estivesse
minimamente chateado. Ele o dobra e coloca em cima da
mesa antes de olhar para mim.

— Então, como foi?

— Tudo bem. — Meu queixo está apertado. Eu mal
posso cuspir as palavras. Quero arrancar a sua cabeça fora,
mas se eu fizer isso eu vou ser uma sem-teto. Quando eu
virei uma fraca covarde? Hallie, a prostituta. A palavra que
você está procurando é prostituta. Eu não quero pensar sobre
isso, então eu pego uma xícara de café do armário e uso esse
tempo derramando o líquido quente, então eu não tenho que
olhar para ele.

Antes de eu saber o que está acontecendo, Neil está
andando em minha direção. Eu acho que ele vai brigar, mas
sua voz está tímida. — Eu não deveria ter feito você fazer
isso. Sinto muito, Hallie. — Eu posso sentir seus olhos em
minhas costas e o tom de súplica em sua voz faz meu coração
estilhaçar.

— Não, você não deveria ter feito, — é tudo que eu posso
controlar. Eu mantenho meus olhos focados no líquido negro
na minha xícara, assistindo o subir do vapor para a
superfície.

— Olhe, eu pensei na maneira como vocês dois estavam
atuando no palco, e eu pensei que você ainda gostava dele.

Sua confissão me pega de surpresa. Viro-me devagar e
olho por cima do ombro, para ele. Ele está falando sério? Por
alguma razão, parece que eu estou sendo jogada, mas eu
rejeito isso. Quanto eu estou cansada? O cara está tentando
pedir desculpas e eu quero algo seguro agora. Neil é o
epítome do seguro.

Por um momento, eu não posso falar. Então eu gerencio
um — eu não. — Minhas palavras são evasivas. Eu ia dizer
que eu não tenho sentimentos por ele, mas eu tenho. Eu
sinto algo por Bryan, mas eu não sei o que é. Medo? Luxuria?
Atração não significa nada mesmo, não é?

Neil acena uma vez e observa seus pés. Seu cabelo cor
de areia obscurece os olhos. — Então, você me perdoa?

— Se você puder me perdoar? — De onde veio isso? As
palavras me chocam, mas isso não as impede de sair da
minha boca. Eu não deveria ter que pedir-lhe que me perdoe
por amantes do passado, por coisas que aconteceram antes
de conhecê-lo, mas eu pedi.

Seus lábios puxam para um leve sorriso.

— Eu já perdoei. Eu entendo por que você não disse
nada sobre ele. Quero dizer, é constrangedor, certo? Você não
quer fazer coisas estranhas entre nós, ao mencionar isso. As
pessoas têm manchas escuras em seu passado, e ele é a sua.
Eu entendi. Desculpe-me, eu a empurrei de volta, e eu estou
tão feliz que você voltou para casa novamente. Eu pensei que
odiaria ter perdido você.

— Neil ergue os braços, como se ele quisesse um abraço.

Eu largo minha xícara e caio em seus braços. Neil me
abraça como se eu fosse frágil, e suavemente beija minha
face. Ficamos assim por um momento, até que uma voz nos
rompe.

— Eu deveria ter esclarecido os termos do meu silêncio.
— Bryan está em pé, na nossa frente, na porta entre a sala e
a cozinha. — Não vai haver intimidade de qualquer tipo entre
vocês dois, enquanto Hallie estiver comigo e eu não terminei
com ela ainda.

CAPÍTULO 9

Neil me libera e se distancia. Seu queixo cai, fica de
boca aberta e olha duas vezes, como se ele não pudesse
acreditar que Bryan teve a audácia de entrar em sua casa.

— Você não tem o direito de estar aqui.

Bryan sorri e desliza as mãos nos bolsos. Ele está
vestindo calça jeans escura e uma camiseta que moldava e
revelava o seu delicioso corpo. A jaqueta de couro desgastado
pende dos ombros e seu cabelo ainda está úmido, como se ele
apenas tivesse rolado para fora da cama.

— Eu sinto cheiro de café? — Bryan ignora Neil, o
empurra, passando por nós, e agarra minha xícara fora do
balcão. — Ainda bebe preto, hein, Hallie? — Ele pisca para
mim, antes de engolir a minha bebida.

— Puta merda. — Maggie aparece com o cabelo molhado
pingando e seu queixo arrastando no chão. Seus olhos vão de
Neil para Bryan, como se ela estivesse antecipando uma
explosão.

Bryan se inclina para trás em cima do balcão, o paletó
se abre, revelando mais do seu peito tonificado e essa
camiseta deliciosa. Quando ele sorri, ele parece como o velho

Bryan, com uma covinha lambível. — Ei, Ruiva, — ele acena
com a cabeça em direção a Maggie com seu sorriso mágico.

— Ei para você também. — Maggie ri e olha para mim e,
em seguida, para Neil.

Neil parece chocado e permanece congelado por alguns
segundos, antes de se encher e gritar irritado. — Saia ou eu
vou chamar a polícia.

Bryan dá de ombros como se não se importasse e não se
move. — Vá em frente. Chame-os e eu vou ligar para os meus
amigos, e fazer as coisas rolarem. — Ele puxa o celular do
bolso e o segura. — Bem, vá em frente.

Neil olha para mim e, em seguida, para Bryan. — Você
disse uma noite.

— Sim, mas eu mudei de ideia. Ontem à noite nada
ocorreu como planejado, e eu pensei, por que não pedia
mais? Se você disser não, você perde tudo. É uma espécie de
acéfalo, então eu vim para isso. — Bryan fala com Neil, mas
ele está olhando para Maggie quando fala.

Depois de descansar a minha xícara vazia no balcão,
Bryan caminha para mim. — Pronta?

— Você disse que ia ligar. — Minhas mãos estão
fechadas nas laterais do meu corpo, eu gostaria de ser mais
alta para que eu pudesse gritar com Bryan olho no olho.

Ele oferece um típico sorriso Bryan Ferro e encolhe os
ombros. — Sim, eu sou lunático. Eu pensei em vir fazer uma
visitinha e buscá-la. Além disso, eu precisava ter certeza de
que seu namorado idiota não tocasse em você.

— Estes não eram os termos. Você não pode mudar
suas exigências assim. — Neil está agitado, mas Maggie está
encostada no batente da porta com um olhar divertido no
rosto. Neil inala devagar, tentando manter a calma, mas está
lá, fermentando, e Bryan está atiçando o fogo.

— Na verdade, eu posso. Combina com o acordo que
Hallie e eu fizemos ontem à noite, certo? — Bryan me olha
por um segundo e, em seguida, acrescenta, com falsa
sinceridade: — Oh, me desculpe, você não teve a chance de
dizer a ele?

— Bryan. — Advirto, mas ele não para.

Ele caminha para o meu lado e coloca o braço por cima
dos meus ombros. — Ontem à noite eu disse a ela que uma
noite não era suficiente. Desculpe, eu pensei que você já
soubesse, e não é como se importasse para você de qualquer
maneira, porque é tudo a mesma coisa. Eu dormi com ela
antes, então o que é mais uma noite, certo? — A voz de Bryan
se transforma em navalha afiada quando ele diz as últimas
palavras. Ele me solta e dá passos em direção a Neil, então
eles estão perto o suficiente para socar um ao outro. — Você
disse algo nesse sentido, não é?

Neil apruma os ombros. Ele não vai ser repreendido por
um Ferro. Ele acha que Bryan é uma criança mimada e dá-
lhe o olhar mais condescendente que eu já vi. — Isso é como
se você quisesse uma mulher mais de uma vez. Isso não vai
contra o código de honra dos Ferro? Eu ouvi a sua irmã...

Antes de Neil poder terminar a frase, o braço de Bryan
arremessa para fora. Ele pega Neil pela garganta e sibila: —
Se você valoriza sua vida, você não vai terminar essa
sentença.

— A irmã gêmea de Bryan parece estar muito
frequentemente na imprensa marrom, o que é horrível,
porque ela é muito doce. Os jornais de fofocas nunca
executam esse tipo de história, porém, é sempre coisas sobre
a herdeira Ferro e suas ações irrefletidas e pouco castas.

Bryan reforça o seu aperto e depois o libera. Neil suga o
ar e esfrega sua garganta, mas não desvia o olhar. Eu quero
gritar com Bryan, mas eu não grito. Em vez disso, eu
pergunto: — O que você quer Bryan?

Seus olhos verdes se voltam para mim e seu olhar
suaviza.

— Você.

Ele fala como se eu fosse tudo que ele quer no mundo,
mas eu sei que não é verdade. Eu sou o que ele quer, agora,
para punição ou lazer, eu ainda não tenho certeza. Bryan
estende a mão.

— Vamos lá, eu tenho o nosso dia planejado.

Eu olho para Neil, mas ele não vai olha para mim. Por
um segundo, eu penso em dizer não, mas Maggie está lá
sorrindo. Quero manter essa expressão feliz no seu rosto e
para isso eu preciso de dinheiro. Tomando a mão de Bryan,
eu deslizo meus dedos em seu aperto quente.


CONTINUA

CAPÍTULO 4

Maggie só ficou totalmente fora de órbita uma vez. Foi
quando nós nos separamos em um lar adotivo quando
tínhamos sete anos. Em três dias, eles nos colocaram de
volta, juntas, sob o mesmo teto. Maggie nunca disse o que ela
fez, só que ela ficou louca e lançou tudo o que tinha contra
eles. O olhar em seus olhos diz que quer colocar as bolas de
Neil em um copo do plástico.

Maggie se balança, em pé, com as calças metade dentro
e metade fora, enquanto sua mandíbula está apertada. Ela
olha para longe de mim e torce seu pescoço, como se ela fosse
matar alguém. Quando ela mexe os olhos verdes de volta para
mim, há um agradável, mas aterrorizante, sorriso em seu
rosto. Quando ela fala, ela parece cordial, como alguém que
trabalha em uma linda loja de flores e ama as pessoas, em
outras palavras, ela soa totalmente demente.

— Ele lhe disse para ir? — Ela ri levemente e pisca seus
cílios para mim, enquanto ela inclina a cabeça para o lado.

— E ele sabia que estava sendo chantageada?

Eu não quero falar sobre isso. Estou tão cansada que,
provavelmente, vou começar a babar em breve.

— Sim, ele sabia. — Eu não quero dizer a ela o resto.
Como está, ela já passa do terceiro estágio de lividez.

— Qual foi o motivo maravilhoso que ele deu, para ser
tão bom? — Ela aperta as mãos com calma, mas eu sei que
há uma erupção prestes a explodir sob a fachada tranquila.

Eu esfrego os olhos e puxo o zíper do meu vestido, mas
parece que ele prendeu no tecido.

— Maggie, coloque o seu pijama e vamos dormir. Eu não
quero falar sobre isso. Obviamente, eu estou brava com Neil
ou eu não estaria aqui com você.

Ela me estuda, por um momento, os olhos apertando
com suspeita, antes de dizer: — Mas Neil não percebe que
você está chateada, e você quer que ele pense em Bryan Ferro
pregado você. — Suas sobrancelhas se elevam quando eu
olho para ela. É o rosto de “eu sei o que você pensa”.

Infelizmente, ela percebe exatamente o que eu estou
pensando, mas isso não me faz querer discutir o assunto.
Neil não deveria ter me dito isso. Parece que ele me
abandonou quando eu precisei dele. Eu tenho problemas com
esse tema específico, que me faz invariavelmente ter uma
segunda suposição sobre mim mesmo, mas não desta vez. Eu
não teria feito isso com ele. Eu não o teria feito dormir com
alguém por dinheiro. Porra, isso me faz soar como uma
prostituta.

Apertando os olhos fechados, eu desvio o olhar.

— Talvez.

Talvez Neil deva sofrer um pouco por ser tão insensível,
porque isso é o que realmente era - insensibilidade. Ao
mesmo tempo, antes desta noite ter acontecido, Neil me deu
minha vida de volta. O cara era uma âncora quando a praia
estava longe da vista. Ele estava lá comigo, em minhas horas
mais escuras e parte de mim se sentia culpada por estar aqui
com Maggie, embora eu saiba que não deveria. Às vezes
desejo que não sentir nada. Parece que assim a vida seria
mais fácil.

No momento, as emoções de Maggie estão estampadas
em seu rosto, como giz de cera derretido.

— Puta merda, Hallie! Por que você está com ele? Neil
veio e pegou-a quando você era...

Eu a cortei. — Eu sei o que eu era, e talvez Neil estivesse
no lugar certo, na hora certa, mas ele nunca fez nada
parecido com isso antes, e nem eu mantive isso dele. — Eu
menti para ela, uma e outra vez.

— E ele está mantendo coisas para você! Será que você o
fez fazer algo que ele não queria? — Ela fez uma pausa, e
acrescentou: — Você não queria ver o Ferro de novo, não é?

Balanço a cabeça e olho para longe. Ela está certa. Não
há nenhuma maneira que eu tivesse feito Neil fazer algo
assim, mas ele realmente não me deu uma escolha. Eu não

tinha escolha, não se eu quisesse ficar com a minha vida. Há
muito dinheiro em jogo. Levantando a minha mão, eu digo: —
Eu não quero mais falar sobre isso hoje à noite.

Maggie faz um som irritado no fundo da garganta e
continuou a se vestir. Depois que ela puxou seu moletom, ela
vai até uma pia com manchas de ferrugem e escovou os
dentes. Embora espumando pela boca, ela se vira e olha para
mim e aponta a escova de dente na minha direção.

— Você sabe que eu chutaria um traseiro por você.
Apenas me diga quem e eu farei. — Na última palavra,
espuma de pasta de dente voa de seus lábios.

Eu ofereço um meio sorriso. — Eu sei que você faria,
mas eu não sei quem me irritou mais - Neil ou Bryan.

Maggie me joga uma camisa de dormir e continua
falando, mas minha mente está se recuperando. Eu estou
com raiva de Neil, mas Bryan... Eu não sei. A maneira como
ele falava, a forma como a sua voz ficou presa na garganta
quando ele disse certas coisas, é quase como se ele não
quisesse fazê-lo, mas ele fez, chantageou-me.

Ele não dormiu com você. Ele a beijou e atirou-a para
fora, aquela voz interior é como sinos tocando dentro da
minha cabeça, como um relógio.

As palavras de Bryan não correspondem às suas ações,
e se ele não dirigisse a faca no ombro do ladrão, eu teria

pensado que o homem que eu vi hoje, era o meu Bryan de
anos atrás, mas não era. O que quer que tenha acontecido
com Bryan, entre aquela época e agora, o mudou, e embora o
novo homem tenha me salvado, ele me assusta.

CAPÍTULO 5

A noite passa devagar, como sempre. Eu ouço a voz de
meu pai, embora ele já não esteja aqui. Minhas memórias
estão presas em retrocesso, repetindo coisas aleatoriamente,
enquanto elas voam para frente da minha mente. Isso me
assombra até onde eu não possa mais suportar.

Maggie está roncando próximo da minha cabeça. Eu
joguei papel e tesoura com ela pela cama, e ela ganhou.
Fizemos um pequeno estrado no chão para mim, mas é mais
como um cobertor e um lençol. Eles estão emaranhados do
meu virar e revirar. Eu os empurro de lado e sento-me,
esfregando os olhos que ardem. O velho relógio de Maggie
brilha suavemente ao lado de sua cama. São quase 6 horas
da manhã.

Meu corpo dói, como se eu tivesse sido empurrada pelo
poço de um elevador, mas eu me levanto do chão e vou até a
janela estreita. Os gritos que enchiam o prédio ontem à noite,
se tranquilizaram. A mulher no piso acima gritou uma última
vez há algumas horas, em seguida, algo pesado caiu no chão.
Gostaria de saber se um deles está morto. Os sons que
fizeram a minha pele se arrepiar, recuaram, agora só tem
silêncio.

Eu me inclino contra a parede e envolvo meus braços
em volta do meu corpo, enquanto olho para fora, pela janela
estreita e nebulosa. O sol ainda está para derramar-se sobre
o horizonte e a cidade ainda está na escuridão. As calçadas
estão quase vazias. Os grupos de pessoas que estavam juntas
se dissolveram. As figuras entre as sombras se foram.

Às vezes eu me pergunto se os monstros em minha
mente são piores do que os da rua. Eu vim das ruas, assim
como Maggie. Nós sobrevivemos e ainda assim, eu não posso
fugir das lembranças que me assombram, noite após noite.
Adicione a morte do meu pai à mistura, e eu sou uma bomba
relógio ambulante. Eu gostaria de poder dizer que eu sei
quem eu sou e que os acontecimentos de meu passado não
me mudaram, mas eu não consigo imaginar minha vida sem
essas ocorrências. Se minha mãe não tivesse me
abandonado, se ela não fizesse o que ela fez, que tipo de
mulher que eu seria? Se ela fosse uma boa pessoa e me
criasse, onde estaríamos agora?

Eu engulo em seco e forço as questões para longe. Elas
não servem para nada e só irão me puxar para baixo. Lutei
tanto para fugir daquela vida, mas ela vive para sempre na
parte de trás da minha mente. Eu ouço sua voz, a sua
familiar fala arrastada. Lembro-me da dor da sua mão no
meu rosto e muitas noites passadas tremendo em um
armário escuro, enquanto ela vivia uma vida na qual não me
incluía. A maioria dos pais querem proteger seus filhos, mas

não minha mãe. Ela não queria me proteger. Ela vivia para si
mesmo e isso é a uma coisa que me assusta, que eu me torne
como ela.

Meus dedos apertam em meus lados, enquanto eu tento
não tremer, porque o apartamento está congelando. Deus,
este lugar me faz lembrar-se daquela vida. Eu não sei como
Maggie aguenta. Olho para ela e penso sobre as coisas que eu
poderia fazer por nós, se eu tivesse esse dinheiro. Eu poderia
salvá-la disso.

Mas quem vai salvar você? A vozinha em minha cabeça
murmura.

Papai não virá e me salvará desta vez. Desta vez, a única
maneira de sair dessa bagunça é através de Bryan Ferro. Eu
tenho sofrido mais dificuldades do que a maioria das pessoas
tem em uma vida, eu posso sobreviver ao que ele quer
vivenciar. — Eu só não sei se vou gostar da mulher que me
tornarei por causa disso.

Algumas coisas não valem o preço. Eu aprendi, em
primeira mão, e agora aqui estou eu, repetindo as ações de
minha mãe.

Travo os dentes e murmuro baixinho: — Eu não sou a
mesma... Não é a mesma coisa.

Meu olhar cai no parapeito da janela e eu
instintivamente inclino-me para ele, pressionando meus
dedos contra o vidro frio. Eu não entendo o que estou vendo

no inicio. Alguém está em pé na sombra do prédio, do outro
lado da rua. Eles estão dentro de uma sala, um andar abaixo
de onde eu estou, no prédio de Maggie. A pessoa é uma
silhueta sem características definidas. Eu acho que é uma
mulher, mas eu não tenho certeza. Ela está pisando para trás
lentamente. As mãos dela levantam, quando um cachorro
está prestes a atacar em seu estômago. De repente, sua
coluna se endireita e ela para de se mover. A janela é tão
estreita que não consigo ver muito mais do que sua figura
esbelta através das cortinas.

Um momento depois, ela fica mole e cai para frente.
Suas cascatas de cabelo atrás dela, caindo em câmera lenta.
Não ouço nada, apenas as respirações nasais de Maggie, mas
seu grito silencioso está tocando em meus ouvidos. Uma
forma alta, um homem, dá passos até o local onde a mulher
estava. Seus ombros são arredondados, como se ele não
estivesse preocupado com uma coisa, enquanto ele balança a
cabeça e examina o chão como se houvesse algo divertido.

Minha garganta aperta enquanto observo com horror,
congelada no lugar. Naquele momento, o homem olha para
cima e olha para a janela. Nossos olhos se encontram e o
tempo para, como se uma força invisível roubasse o meu
fôlego. Os cabelos na parte de trás do meu pescoço arrepiam
enquanto eu olho fixamente, incapaz de desviar o olhar.

Maggie me disse para manter meus olhos para baixo e
não dizer absolutamente nada a ninguém, mas eu não posso,

e ainda pior, eu o reconheço, a ele e seu cabelo loiro
brilhante. É o homem que vive do outro lado do corredor.

CAPÍTULO 6

Eu não tenho certeza se ele percebe quem ele está
olhando, mas eu estou certa de que ele sabe em que
apartamento está. Com o coração acelerado, eu giro sobre os
calcanhares e tropeço na cama de Maggie.

— Levante-se. — Minha voz está sufocada, e quase não
sai. Freneticamente, eu a balanço até acordá-la. —
Precisamos sair. Agora.

Maggie empurra-se nos cotovelos. Sua maquiagem está
manchada em todo o lado direito de seu rosto. Ela se parece
com um palhaço chorando. — O quê? — Ela está muito
grogue e não temos tempo para isso.

— Se mova. Agora. — Eu emito a ordem, atiro uma calça
jeans para ela e começo a recolher qualquer coisa importante.
Eu estou tremendo tanto que largo a braçada de itens e
minha bolsa derrama no chão. Maggie para perguntando o
que está errado. Ela pegou o meu humor e olho para a porta
como se ela já soubesse.

De repente, ela está acordada e se movendo como se ela
tivesse tomado algum energético.

— O que você viu? Foda-se, Hallie! Eu lhe disse para
não olhar para nada.

— Eu não posso acreditar que ela está me xingando,
mas eu não vou perder tempo discutindo com ela.

Ajoelhada, eu puxo todo o conteúdo de roupas e bolsa
em meus braços. — Vai, vai, vai! — Vou para a porta,
deixando o meu vestido de noite para trás. Corremos para o
corredor, meio vestidas, e começamos a descer as escadas.
Eu lanço tudo no banco de trás do carro de Maggie e salto
para frente. — Vai!

Maggie enfia a chave na ignição e o motor liga. Ela
agarra o volante com firmeza e se afasta. Por um segundo eu
acho que conseguimos escapar despercebidas, mas apenas
quando chegamos ao fim do quarteirão, eu olho para trás no
espelho retrovisor do lado. O homem do outro lado do
corredor está olhando nossas lanternas traseiras enquanto
vamos embora.

CAPÍTULO 7

— O que você viu? — Maggie gritou de novo, quando ela
olha para trás pelo espelho retrovisor. Seus olhos se
arregalam, mas ela nem pisca. Ela olha para ele enquanto ele
nos vê no carro.

— Porra, você está falando sério? Esse é Victor! Por que
ele está nos observando? Nós não o queremos nos
observando! Hallie, o que aconteceu? — A voz de Maggie sobe
uma oitava a partir do momento que ela começa a falar até o
momento que termina.

— Seu nome é Victor?

— Sim! Victor Campone. Ele é muito louco! — O corpo
de Maggie está tenso, e eu posso dizer que ele está segurando
um grande esforço para não disparar e fugir. Ela não quer
chamar a atenção para nós, então ela vai a uma velocidade
normal, mesmo que pareça que meu coração vá explodir.

— Ele matou alguém. — Minha voz é suave, quase
inaudível. Meu estômago está torcendo como eu tivesse
comido algo rançoso. A deglutição torna a sensação
incômoda, pior, então eu inclino a cabeça para trás e
pressiono os dedos na minha cara.

— Não, não, não! Diga-me que você não viu nada!

— Eu vi isso. Ele estava no apartamento em frente ao
nosso. Eu estava olhando para fora da janela.

— E ele viu você? — Eu aceno e esfrego a palma da
minha mão em meus olhos. A voz de Maggie sai com um
tremor que é tão diferente dela que me assusta.

— Ele não sabe que você viu alguma uma coisa, certo?
Quero dizer, não é como se ele estivesse a observando
enquanto ele fez isso. Nós não vimos nada. Nós não sabemos
nada. Tudo vai ficar bem. — Ela começa a divagar, mais para
si mesmo do que para mim.

— Quem é ele?

— Ninguém. Ele não é ninguém. Você não sabe o seu
nome, que você nunca viu seu rosto. — Os dedos de Maggie
ficaram brancos de segurar o volante com tanta força. — Nós
não saímos e voamos pela rua, então parece que eu estava
levando-a para casa.

Depois de um tempo, viramos para o meu bairro. Maggie
estaciona na frente do apartamento de Neil e desliga o carro.
— Eu vou voltar mais tarde e agir como se nada tivesse
acontecido. Ele vai ficar bem.

— O inferno que você vai! Você não pode viver assim
Maggie. — Em que ela se meteu? Simpatia atravessa meu
rosto antes que eu possa escondê-la, o que a irrita.

— Não olhe para mim assim. Eu posso cuidar de mim
mesmo.

— Não, não desta vez. Desta vez, você cometeu um erro.
Esse cara é louco. Como você sabe que ele não matou uma
mulher como você? Como você sabe que não vai ser a
próxima? — Ela não olha para mim, em vez disso, Maggie age
como ela não me tivesse ouviu nada. — Maggie, como você
sabe!

Virando-se, ela se encaixa. — Eu não sei, tudo bem!
Ninguém sabe quando seu tempo está acabando ou como eles
vão morrer, e nem eu! Deixe quieto, Hallie. Você já bagunçou
bastante as coisas. Eu posso corrigi-lo.

— Não, você não pode! Isso não é coisa que pode ser
corrigida! — Eu estou gritando com ela, e não posso parar.
Meu coração está batendo tão rápido que está batendo em
minhas costelas e minhas mãos estão tremendo. — A morte
lhe aguarda naquele prédio! Toda vez que você entrar lá, sua
expectativa de vida cai. Você não pode pensar seriamente que
não tem ramificações. Ele matou alguém! O casal que mora
acima de você brigaram, estavam fora de si até que um deles
caiu no chão. Você precisa esperar até que você seja a que
está morta no chão, para ver que você não está segura?

— Eu não tenho escolha! — Ela está respirando forte e
rápido como eu. Eu quero chorar e salvá-la de tudo isso, mas
eu não posso. Um momento se passa e nenhuma de nós fala.

Eu bato a minha cabeça contra o assento e olho para
ela. — O que você faz com ele?

— Eu não posso lhe dizer. — Maggie não olha para mim.
Em vez disso, ela olha fixamente para frente.

— Quem é ele?

— Você não quer saber. — Eu abro minha boca para
pressioná-la, mas ela me silencia com um dedo e me dá um
olhar severo. — Não faça isso. Saber só vai lhe trazer mais
problemas.

Eu não gosto disso, mas eu paro de perguntar. Eu
gostaria muito que as coisas não fossem assim. Eu tenho que
pegar o dinheiro do negócio do livro. Eu preciso disso, para
ela. Ela está sobrecarregada, e a parte horrível é, que eu
também

CAPÍTULO 8

Maggie me segue para a casa depois de pegar todas as
nossas coisas de dentro de seu carro. Depois que eu tomei
banho, fui para a cozinha e encontrei Neil esperando na
mesa. Ele está lendo o jornal como se ele não estivesse
minimamente chateado. Ele o dobra e coloca em cima da
mesa antes de olhar para mim.

— Então, como foi?

— Tudo bem. — Meu queixo está apertado. Eu mal
posso cuspir as palavras. Quero arrancar a sua cabeça fora,
mas se eu fizer isso eu vou ser uma sem-teto. Quando eu
virei uma fraca covarde? Hallie, a prostituta. A palavra que
você está procurando é prostituta. Eu não quero pensar sobre
isso, então eu pego uma xícara de café do armário e uso esse
tempo derramando o líquido quente, então eu não tenho que
olhar para ele.

Antes de eu saber o que está acontecendo, Neil está
andando em minha direção. Eu acho que ele vai brigar, mas
sua voz está tímida. — Eu não deveria ter feito você fazer
isso. Sinto muito, Hallie. — Eu posso sentir seus olhos em
minhas costas e o tom de súplica em sua voz faz meu coração
estilhaçar.

— Não, você não deveria ter feito, — é tudo que eu posso
controlar. Eu mantenho meus olhos focados no líquido negro
na minha xícara, assistindo o subir do vapor para a
superfície.

— Olhe, eu pensei na maneira como vocês dois estavam
atuando no palco, e eu pensei que você ainda gostava dele.

Sua confissão me pega de surpresa. Viro-me devagar e
olho por cima do ombro, para ele. Ele está falando sério? Por
alguma razão, parece que eu estou sendo jogada, mas eu
rejeito isso. Quanto eu estou cansada? O cara está tentando
pedir desculpas e eu quero algo seguro agora. Neil é o
epítome do seguro.

Por um momento, eu não posso falar. Então eu gerencio
um — eu não. — Minhas palavras são evasivas. Eu ia dizer
que eu não tenho sentimentos por ele, mas eu tenho. Eu
sinto algo por Bryan, mas eu não sei o que é. Medo? Luxuria?
Atração não significa nada mesmo, não é?

Neil acena uma vez e observa seus pés. Seu cabelo cor
de areia obscurece os olhos. — Então, você me perdoa?

— Se você puder me perdoar? — De onde veio isso? As
palavras me chocam, mas isso não as impede de sair da
minha boca. Eu não deveria ter que pedir-lhe que me perdoe
por amantes do passado, por coisas que aconteceram antes
de conhecê-lo, mas eu pedi.

Seus lábios puxam para um leve sorriso.

— Eu já perdoei. Eu entendo por que você não disse
nada sobre ele. Quero dizer, é constrangedor, certo? Você não
quer fazer coisas estranhas entre nós, ao mencionar isso. As
pessoas têm manchas escuras em seu passado, e ele é a sua.
Eu entendi. Desculpe-me, eu a empurrei de volta, e eu estou
tão feliz que você voltou para casa novamente. Eu pensei que
odiaria ter perdido você.

— Neil ergue os braços, como se ele quisesse um abraço.

Eu largo minha xícara e caio em seus braços. Neil me
abraça como se eu fosse frágil, e suavemente beija minha
face. Ficamos assim por um momento, até que uma voz nos
rompe.

— Eu deveria ter esclarecido os termos do meu silêncio.
— Bryan está em pé, na nossa frente, na porta entre a sala e
a cozinha. — Não vai haver intimidade de qualquer tipo entre
vocês dois, enquanto Hallie estiver comigo e eu não terminei
com ela ainda.

CAPÍTULO 9

Neil me libera e se distancia. Seu queixo cai, fica de
boca aberta e olha duas vezes, como se ele não pudesse
acreditar que Bryan teve a audácia de entrar em sua casa.

— Você não tem o direito de estar aqui.

Bryan sorri e desliza as mãos nos bolsos. Ele está
vestindo calça jeans escura e uma camiseta que moldava e
revelava o seu delicioso corpo. A jaqueta de couro desgastado
pende dos ombros e seu cabelo ainda está úmido, como se ele
apenas tivesse rolado para fora da cama.

— Eu sinto cheiro de café? — Bryan ignora Neil, o
empurra, passando por nós, e agarra minha xícara fora do
balcão. — Ainda bebe preto, hein, Hallie? — Ele pisca para
mim, antes de engolir a minha bebida.

— Puta merda. — Maggie aparece com o cabelo molhado
pingando e seu queixo arrastando no chão. Seus olhos vão de
Neil para Bryan, como se ela estivesse antecipando uma
explosão.

Bryan se inclina para trás em cima do balcão, o paletó
se abre, revelando mais do seu peito tonificado e essa
camiseta deliciosa. Quando ele sorri, ele parece como o velho

Bryan, com uma covinha lambível. — Ei, Ruiva, — ele acena
com a cabeça em direção a Maggie com seu sorriso mágico.

— Ei para você também. — Maggie ri e olha para mim e,
em seguida, para Neil.

Neil parece chocado e permanece congelado por alguns
segundos, antes de se encher e gritar irritado. — Saia ou eu
vou chamar a polícia.

Bryan dá de ombros como se não se importasse e não se
move. — Vá em frente. Chame-os e eu vou ligar para os meus
amigos, e fazer as coisas rolarem. — Ele puxa o celular do
bolso e o segura. — Bem, vá em frente.

Neil olha para mim e, em seguida, para Bryan. — Você
disse uma noite.

— Sim, mas eu mudei de ideia. Ontem à noite nada
ocorreu como planejado, e eu pensei, por que não pedia
mais? Se você disser não, você perde tudo. É uma espécie de
acéfalo, então eu vim para isso. — Bryan fala com Neil, mas
ele está olhando para Maggie quando fala.

Depois de descansar a minha xícara vazia no balcão,
Bryan caminha para mim. — Pronta?

— Você disse que ia ligar. — Minhas mãos estão
fechadas nas laterais do meu corpo, eu gostaria de ser mais
alta para que eu pudesse gritar com Bryan olho no olho.

Ele oferece um típico sorriso Bryan Ferro e encolhe os
ombros. — Sim, eu sou lunático. Eu pensei em vir fazer uma
visitinha e buscá-la. Além disso, eu precisava ter certeza de
que seu namorado idiota não tocasse em você.

— Estes não eram os termos. Você não pode mudar
suas exigências assim. — Neil está agitado, mas Maggie está
encostada no batente da porta com um olhar divertido no
rosto. Neil inala devagar, tentando manter a calma, mas está
lá, fermentando, e Bryan está atiçando o fogo.

— Na verdade, eu posso. Combina com o acordo que
Hallie e eu fizemos ontem à noite, certo? — Bryan me olha
por um segundo e, em seguida, acrescenta, com falsa
sinceridade: — Oh, me desculpe, você não teve a chance de
dizer a ele?

— Bryan. — Advirto, mas ele não para.

Ele caminha para o meu lado e coloca o braço por cima
dos meus ombros. — Ontem à noite eu disse a ela que uma
noite não era suficiente. Desculpe, eu pensei que você já
soubesse, e não é como se importasse para você de qualquer
maneira, porque é tudo a mesma coisa. Eu dormi com ela
antes, então o que é mais uma noite, certo? — A voz de Bryan
se transforma em navalha afiada quando ele diz as últimas
palavras. Ele me solta e dá passos em direção a Neil, então
eles estão perto o suficiente para socar um ao outro. — Você
disse algo nesse sentido, não é?

Neil apruma os ombros. Ele não vai ser repreendido por
um Ferro. Ele acha que Bryan é uma criança mimada e dá-
lhe o olhar mais condescendente que eu já vi. — Isso é como
se você quisesse uma mulher mais de uma vez. Isso não vai
contra o código de honra dos Ferro? Eu ouvi a sua irmã...

Antes de Neil poder terminar a frase, o braço de Bryan
arremessa para fora. Ele pega Neil pela garganta e sibila: —
Se você valoriza sua vida, você não vai terminar essa
sentença.

— A irmã gêmea de Bryan parece estar muito
frequentemente na imprensa marrom, o que é horrível,
porque ela é muito doce. Os jornais de fofocas nunca
executam esse tipo de história, porém, é sempre coisas sobre
a herdeira Ferro e suas ações irrefletidas e pouco castas.

Bryan reforça o seu aperto e depois o libera. Neil suga o
ar e esfrega sua garganta, mas não desvia o olhar. Eu quero
gritar com Bryan, mas eu não grito. Em vez disso, eu
pergunto: — O que você quer Bryan?

Seus olhos verdes se voltam para mim e seu olhar
suaviza.

— Você.

Ele fala como se eu fosse tudo que ele quer no mundo,
mas eu sei que não é verdade. Eu sou o que ele quer, agora,
para punição ou lazer, eu ainda não tenho certeza. Bryan
estende a mão.

— Vamos lá, eu tenho o nosso dia planejado.

Eu olho para Neil, mas ele não vai olha para mim. Por
um segundo, eu penso em dizer não, mas Maggie está lá
sorrindo. Quero manter essa expressão feliz no seu rosto e
para isso eu preciso de dinheiro. Tomando a mão de Bryan,
eu deslizo meus dedos em seu aperto quente.


CONTINUA

CAPÍTULO 4

Maggie só ficou totalmente fora de órbita uma vez. Foi
quando nós nos separamos em um lar adotivo quando
tínhamos sete anos. Em três dias, eles nos colocaram de
volta, juntas, sob o mesmo teto. Maggie nunca disse o que ela
fez, só que ela ficou louca e lançou tudo o que tinha contra
eles. O olhar em seus olhos diz que quer colocar as bolas de
Neil em um copo do plástico.

Maggie se balança, em pé, com as calças metade dentro
e metade fora, enquanto sua mandíbula está apertada. Ela
olha para longe de mim e torce seu pescoço, como se ela fosse
matar alguém. Quando ela mexe os olhos verdes de volta para
mim, há um agradável, mas aterrorizante, sorriso em seu
rosto. Quando ela fala, ela parece cordial, como alguém que
trabalha em uma linda loja de flores e ama as pessoas, em
outras palavras, ela soa totalmente demente.

— Ele lhe disse para ir? — Ela ri levemente e pisca seus
cílios para mim, enquanto ela inclina a cabeça para o lado.

— E ele sabia que estava sendo chantageada?

Eu não quero falar sobre isso. Estou tão cansada que,
provavelmente, vou começar a babar em breve.

— Sim, ele sabia. — Eu não quero dizer a ela o resto.
Como está, ela já passa do terceiro estágio de lividez.

— Qual foi o motivo maravilhoso que ele deu, para ser
tão bom? — Ela aperta as mãos com calma, mas eu sei que
há uma erupção prestes a explodir sob a fachada tranquila.

Eu esfrego os olhos e puxo o zíper do meu vestido, mas
parece que ele prendeu no tecido.

— Maggie, coloque o seu pijama e vamos dormir. Eu não
quero falar sobre isso. Obviamente, eu estou brava com Neil
ou eu não estaria aqui com você.

Ela me estuda, por um momento, os olhos apertando
com suspeita, antes de dizer: — Mas Neil não percebe que
você está chateada, e você quer que ele pense em Bryan Ferro
pregado você. — Suas sobrancelhas se elevam quando eu
olho para ela. É o rosto de “eu sei o que você pensa”.

Infelizmente, ela percebe exatamente o que eu estou
pensando, mas isso não me faz querer discutir o assunto.
Neil não deveria ter me dito isso. Parece que ele me
abandonou quando eu precisei dele. Eu tenho problemas com
esse tema específico, que me faz invariavelmente ter uma
segunda suposição sobre mim mesmo, mas não desta vez. Eu
não teria feito isso com ele. Eu não o teria feito dormir com
alguém por dinheiro. Porra, isso me faz soar como uma
prostituta.

Apertando os olhos fechados, eu desvio o olhar.

— Talvez.

Talvez Neil deva sofrer um pouco por ser tão insensível,
porque isso é o que realmente era - insensibilidade. Ao
mesmo tempo, antes desta noite ter acontecido, Neil me deu
minha vida de volta. O cara era uma âncora quando a praia
estava longe da vista. Ele estava lá comigo, em minhas horas
mais escuras e parte de mim se sentia culpada por estar aqui
com Maggie, embora eu saiba que não deveria. Às vezes
desejo que não sentir nada. Parece que assim a vida seria
mais fácil.

No momento, as emoções de Maggie estão estampadas
em seu rosto, como giz de cera derretido.

— Puta merda, Hallie! Por que você está com ele? Neil
veio e pegou-a quando você era...

Eu a cortei. — Eu sei o que eu era, e talvez Neil estivesse
no lugar certo, na hora certa, mas ele nunca fez nada
parecido com isso antes, e nem eu mantive isso dele. — Eu
menti para ela, uma e outra vez.

— E ele está mantendo coisas para você! Será que você o
fez fazer algo que ele não queria? — Ela fez uma pausa, e
acrescentou: — Você não queria ver o Ferro de novo, não é?

Balanço a cabeça e olho para longe. Ela está certa. Não
há nenhuma maneira que eu tivesse feito Neil fazer algo
assim, mas ele realmente não me deu uma escolha. Eu não

tinha escolha, não se eu quisesse ficar com a minha vida. Há
muito dinheiro em jogo. Levantando a minha mão, eu digo: —
Eu não quero mais falar sobre isso hoje à noite.

Maggie faz um som irritado no fundo da garganta e
continuou a se vestir. Depois que ela puxou seu moletom, ela
vai até uma pia com manchas de ferrugem e escovou os
dentes. Embora espumando pela boca, ela se vira e olha para
mim e aponta a escova de dente na minha direção.

— Você sabe que eu chutaria um traseiro por você.
Apenas me diga quem e eu farei. — Na última palavra,
espuma de pasta de dente voa de seus lábios.

Eu ofereço um meio sorriso. — Eu sei que você faria,
mas eu não sei quem me irritou mais - Neil ou Bryan.

Maggie me joga uma camisa de dormir e continua
falando, mas minha mente está se recuperando. Eu estou
com raiva de Neil, mas Bryan... Eu não sei. A maneira como
ele falava, a forma como a sua voz ficou presa na garganta
quando ele disse certas coisas, é quase como se ele não
quisesse fazê-lo, mas ele fez, chantageou-me.

Ele não dormiu com você. Ele a beijou e atirou-a para
fora, aquela voz interior é como sinos tocando dentro da
minha cabeça, como um relógio.

As palavras de Bryan não correspondem às suas ações,
e se ele não dirigisse a faca no ombro do ladrão, eu teria

pensado que o homem que eu vi hoje, era o meu Bryan de
anos atrás, mas não era. O que quer que tenha acontecido
com Bryan, entre aquela época e agora, o mudou, e embora o
novo homem tenha me salvado, ele me assusta.

CAPÍTULO 5

A noite passa devagar, como sempre. Eu ouço a voz de
meu pai, embora ele já não esteja aqui. Minhas memórias
estão presas em retrocesso, repetindo coisas aleatoriamente,
enquanto elas voam para frente da minha mente. Isso me
assombra até onde eu não possa mais suportar.

Maggie está roncando próximo da minha cabeça. Eu
joguei papel e tesoura com ela pela cama, e ela ganhou.
Fizemos um pequeno estrado no chão para mim, mas é mais
como um cobertor e um lençol. Eles estão emaranhados do
meu virar e revirar. Eu os empurro de lado e sento-me,
esfregando os olhos que ardem. O velho relógio de Maggie
brilha suavemente ao lado de sua cama. São quase 6 horas
da manhã.

Meu corpo dói, como se eu tivesse sido empurrada pelo
poço de um elevador, mas eu me levanto do chão e vou até a
janela estreita. Os gritos que enchiam o prédio ontem à noite,
se tranquilizaram. A mulher no piso acima gritou uma última
vez há algumas horas, em seguida, algo pesado caiu no chão.
Gostaria de saber se um deles está morto. Os sons que
fizeram a minha pele se arrepiar, recuaram, agora só tem
silêncio.

Eu me inclino contra a parede e envolvo meus braços
em volta do meu corpo, enquanto olho para fora, pela janela
estreita e nebulosa. O sol ainda está para derramar-se sobre
o horizonte e a cidade ainda está na escuridão. As calçadas
estão quase vazias. Os grupos de pessoas que estavam juntas
se dissolveram. As figuras entre as sombras se foram.

Às vezes eu me pergunto se os monstros em minha
mente são piores do que os da rua. Eu vim das ruas, assim
como Maggie. Nós sobrevivemos e ainda assim, eu não posso
fugir das lembranças que me assombram, noite após noite.
Adicione a morte do meu pai à mistura, e eu sou uma bomba
relógio ambulante. Eu gostaria de poder dizer que eu sei
quem eu sou e que os acontecimentos de meu passado não
me mudaram, mas eu não consigo imaginar minha vida sem
essas ocorrências. Se minha mãe não tivesse me
abandonado, se ela não fizesse o que ela fez, que tipo de
mulher que eu seria? Se ela fosse uma boa pessoa e me
criasse, onde estaríamos agora?

Eu engulo em seco e forço as questões para longe. Elas
não servem para nada e só irão me puxar para baixo. Lutei
tanto para fugir daquela vida, mas ela vive para sempre na
parte de trás da minha mente. Eu ouço sua voz, a sua
familiar fala arrastada. Lembro-me da dor da sua mão no
meu rosto e muitas noites passadas tremendo em um
armário escuro, enquanto ela vivia uma vida na qual não me
incluía. A maioria dos pais querem proteger seus filhos, mas

não minha mãe. Ela não queria me proteger. Ela vivia para si
mesmo e isso é a uma coisa que me assusta, que eu me torne
como ela.

Meus dedos apertam em meus lados, enquanto eu tento
não tremer, porque o apartamento está congelando. Deus,
este lugar me faz lembrar-se daquela vida. Eu não sei como
Maggie aguenta. Olho para ela e penso sobre as coisas que eu
poderia fazer por nós, se eu tivesse esse dinheiro. Eu poderia
salvá-la disso.

Mas quem vai salvar você? A vozinha em minha cabeça
murmura.

Papai não virá e me salvará desta vez. Desta vez, a única
maneira de sair dessa bagunça é através de Bryan Ferro. Eu
tenho sofrido mais dificuldades do que a maioria das pessoas
tem em uma vida, eu posso sobreviver ao que ele quer
vivenciar. — Eu só não sei se vou gostar da mulher que me
tornarei por causa disso.

Algumas coisas não valem o preço. Eu aprendi, em
primeira mão, e agora aqui estou eu, repetindo as ações de
minha mãe.

Travo os dentes e murmuro baixinho: — Eu não sou a
mesma... Não é a mesma coisa.

Meu olhar cai no parapeito da janela e eu
instintivamente inclino-me para ele, pressionando meus
dedos contra o vidro frio. Eu não entendo o que estou vendo

no inicio. Alguém está em pé na sombra do prédio, do outro
lado da rua. Eles estão dentro de uma sala, um andar abaixo
de onde eu estou, no prédio de Maggie. A pessoa é uma
silhueta sem características definidas. Eu acho que é uma
mulher, mas eu não tenho certeza. Ela está pisando para trás
lentamente. As mãos dela levantam, quando um cachorro
está prestes a atacar em seu estômago. De repente, sua
coluna se endireita e ela para de se mover. A janela é tão
estreita que não consigo ver muito mais do que sua figura
esbelta através das cortinas.

Um momento depois, ela fica mole e cai para frente.
Suas cascatas de cabelo atrás dela, caindo em câmera lenta.
Não ouço nada, apenas as respirações nasais de Maggie, mas
seu grito silencioso está tocando em meus ouvidos. Uma
forma alta, um homem, dá passos até o local onde a mulher
estava. Seus ombros são arredondados, como se ele não
estivesse preocupado com uma coisa, enquanto ele balança a
cabeça e examina o chão como se houvesse algo divertido.

Minha garganta aperta enquanto observo com horror,
congelada no lugar. Naquele momento, o homem olha para
cima e olha para a janela. Nossos olhos se encontram e o
tempo para, como se uma força invisível roubasse o meu
fôlego. Os cabelos na parte de trás do meu pescoço arrepiam
enquanto eu olho fixamente, incapaz de desviar o olhar.

Maggie me disse para manter meus olhos para baixo e
não dizer absolutamente nada a ninguém, mas eu não posso,

e ainda pior, eu o reconheço, a ele e seu cabelo loiro
brilhante. É o homem que vive do outro lado do corredor.

CAPÍTULO 6

Eu não tenho certeza se ele percebe quem ele está
olhando, mas eu estou certa de que ele sabe em que
apartamento está. Com o coração acelerado, eu giro sobre os
calcanhares e tropeço na cama de Maggie.

— Levante-se. — Minha voz está sufocada, e quase não
sai. Freneticamente, eu a balanço até acordá-la. —
Precisamos sair. Agora.

Maggie empurra-se nos cotovelos. Sua maquiagem está
manchada em todo o lado direito de seu rosto. Ela se parece
com um palhaço chorando. — O quê? — Ela está muito
grogue e não temos tempo para isso.

— Se mova. Agora. — Eu emito a ordem, atiro uma calça
jeans para ela e começo a recolher qualquer coisa importante.
Eu estou tremendo tanto que largo a braçada de itens e
minha bolsa derrama no chão. Maggie para perguntando o
que está errado. Ela pegou o meu humor e olho para a porta
como se ela já soubesse.

De repente, ela está acordada e se movendo como se ela
tivesse tomado algum energético.

— O que você viu? Foda-se, Hallie! Eu lhe disse para
não olhar para nada.

— Eu não posso acreditar que ela está me xingando,
mas eu não vou perder tempo discutindo com ela.

Ajoelhada, eu puxo todo o conteúdo de roupas e bolsa
em meus braços. — Vai, vai, vai! — Vou para a porta,
deixando o meu vestido de noite para trás. Corremos para o
corredor, meio vestidas, e começamos a descer as escadas.
Eu lanço tudo no banco de trás do carro de Maggie e salto
para frente. — Vai!

Maggie enfia a chave na ignição e o motor liga. Ela
agarra o volante com firmeza e se afasta. Por um segundo eu
acho que conseguimos escapar despercebidas, mas apenas
quando chegamos ao fim do quarteirão, eu olho para trás no
espelho retrovisor do lado. O homem do outro lado do
corredor está olhando nossas lanternas traseiras enquanto
vamos embora.

CAPÍTULO 7

— O que você viu? — Maggie gritou de novo, quando ela
olha para trás pelo espelho retrovisor. Seus olhos se
arregalam, mas ela nem pisca. Ela olha para ele enquanto ele
nos vê no carro.

— Porra, você está falando sério? Esse é Victor! Por que
ele está nos observando? Nós não o queremos nos
observando! Hallie, o que aconteceu? — A voz de Maggie sobe
uma oitava a partir do momento que ela começa a falar até o
momento que termina.

— Seu nome é Victor?

— Sim! Victor Campone. Ele é muito louco! — O corpo
de Maggie está tenso, e eu posso dizer que ele está segurando
um grande esforço para não disparar e fugir. Ela não quer
chamar a atenção para nós, então ela vai a uma velocidade
normal, mesmo que pareça que meu coração vá explodir.

— Ele matou alguém. — Minha voz é suave, quase
inaudível. Meu estômago está torcendo como eu tivesse
comido algo rançoso. A deglutição torna a sensação
incômoda, pior, então eu inclino a cabeça para trás e
pressiono os dedos na minha cara.

— Não, não, não! Diga-me que você não viu nada!

— Eu vi isso. Ele estava no apartamento em frente ao
nosso. Eu estava olhando para fora da janela.

— E ele viu você? — Eu aceno e esfrego a palma da
minha mão em meus olhos. A voz de Maggie sai com um
tremor que é tão diferente dela que me assusta.

— Ele não sabe que você viu alguma uma coisa, certo?
Quero dizer, não é como se ele estivesse a observando
enquanto ele fez isso. Nós não vimos nada. Nós não sabemos
nada. Tudo vai ficar bem. — Ela começa a divagar, mais para
si mesmo do que para mim.

— Quem é ele?

— Ninguém. Ele não é ninguém. Você não sabe o seu
nome, que você nunca viu seu rosto. — Os dedos de Maggie
ficaram brancos de segurar o volante com tanta força. — Nós
não saímos e voamos pela rua, então parece que eu estava
levando-a para casa.

Depois de um tempo, viramos para o meu bairro. Maggie
estaciona na frente do apartamento de Neil e desliga o carro.
— Eu vou voltar mais tarde e agir como se nada tivesse
acontecido. Ele vai ficar bem.

— O inferno que você vai! Você não pode viver assim
Maggie. — Em que ela se meteu? Simpatia atravessa meu
rosto antes que eu possa escondê-la, o que a irrita.

— Não olhe para mim assim. Eu posso cuidar de mim
mesmo.

— Não, não desta vez. Desta vez, você cometeu um erro.
Esse cara é louco. Como você sabe que ele não matou uma
mulher como você? Como você sabe que não vai ser a
próxima? — Ela não olha para mim, em vez disso, Maggie age
como ela não me tivesse ouviu nada. — Maggie, como você
sabe!

Virando-se, ela se encaixa. — Eu não sei, tudo bem!
Ninguém sabe quando seu tempo está acabando ou como eles
vão morrer, e nem eu! Deixe quieto, Hallie. Você já bagunçou
bastante as coisas. Eu posso corrigi-lo.

— Não, você não pode! Isso não é coisa que pode ser
corrigida! — Eu estou gritando com ela, e não posso parar.
Meu coração está batendo tão rápido que está batendo em
minhas costelas e minhas mãos estão tremendo. — A morte
lhe aguarda naquele prédio! Toda vez que você entrar lá, sua
expectativa de vida cai. Você não pode pensar seriamente que
não tem ramificações. Ele matou alguém! O casal que mora
acima de você brigaram, estavam fora de si até que um deles
caiu no chão. Você precisa esperar até que você seja a que
está morta no chão, para ver que você não está segura?

— Eu não tenho escolha! — Ela está respirando forte e
rápido como eu. Eu quero chorar e salvá-la de tudo isso, mas
eu não posso. Um momento se passa e nenhuma de nós fala.

Eu bato a minha cabeça contra o assento e olho para
ela. — O que você faz com ele?

— Eu não posso lhe dizer. — Maggie não olha para mim.
Em vez disso, ela olha fixamente para frente.

— Quem é ele?

— Você não quer saber. — Eu abro minha boca para
pressioná-la, mas ela me silencia com um dedo e me dá um
olhar severo. — Não faça isso. Saber só vai lhe trazer mais
problemas.

Eu não gosto disso, mas eu paro de perguntar. Eu
gostaria muito que as coisas não fossem assim. Eu tenho que
pegar o dinheiro do negócio do livro. Eu preciso disso, para
ela. Ela está sobrecarregada, e a parte horrível é, que eu
também

CAPÍTULO 8

Maggie me segue para a casa depois de pegar todas as
nossas coisas de dentro de seu carro. Depois que eu tomei
banho, fui para a cozinha e encontrei Neil esperando na
mesa. Ele está lendo o jornal como se ele não estivesse
minimamente chateado. Ele o dobra e coloca em cima da
mesa antes de olhar para mim.

— Então, como foi?

— Tudo bem. — Meu queixo está apertado. Eu mal
posso cuspir as palavras. Quero arrancar a sua cabeça fora,
mas se eu fizer isso eu vou ser uma sem-teto. Quando eu
virei uma fraca covarde? Hallie, a prostituta. A palavra que
você está procurando é prostituta. Eu não quero pensar sobre
isso, então eu pego uma xícara de café do armário e uso esse
tempo derramando o líquido quente, então eu não tenho que
olhar para ele.

Antes de eu saber o que está acontecendo, Neil está
andando em minha direção. Eu acho que ele vai brigar, mas
sua voz está tímida. — Eu não deveria ter feito você fazer
isso. Sinto muito, Hallie. — Eu posso sentir seus olhos em
minhas costas e o tom de súplica em sua voz faz meu coração
estilhaçar.

— Não, você não deveria ter feito, — é tudo que eu posso
controlar. Eu mantenho meus olhos focados no líquido negro
na minha xícara, assistindo o subir do vapor para a
superfície.

— Olhe, eu pensei na maneira como vocês dois estavam
atuando no palco, e eu pensei que você ainda gostava dele.

Sua confissão me pega de surpresa. Viro-me devagar e
olho por cima do ombro, para ele. Ele está falando sério? Por
alguma razão, parece que eu estou sendo jogada, mas eu
rejeito isso. Quanto eu estou cansada? O cara está tentando
pedir desculpas e eu quero algo seguro agora. Neil é o
epítome do seguro.

Por um momento, eu não posso falar. Então eu gerencio
um — eu não. — Minhas palavras são evasivas. Eu ia dizer
que eu não tenho sentimentos por ele, mas eu tenho. Eu
sinto algo por Bryan, mas eu não sei o que é. Medo? Luxuria?
Atração não significa nada mesmo, não é?

Neil acena uma vez e observa seus pés. Seu cabelo cor
de areia obscurece os olhos. — Então, você me perdoa?

— Se você puder me perdoar? — De onde veio isso? As
palavras me chocam, mas isso não as impede de sair da
minha boca. Eu não deveria ter que pedir-lhe que me perdoe
por amantes do passado, por coisas que aconteceram antes
de conhecê-lo, mas eu pedi.

Seus lábios puxam para um leve sorriso.

— Eu já perdoei. Eu entendo por que você não disse
nada sobre ele. Quero dizer, é constrangedor, certo? Você não
quer fazer coisas estranhas entre nós, ao mencionar isso. As
pessoas têm manchas escuras em seu passado, e ele é a sua.
Eu entendi. Desculpe-me, eu a empurrei de volta, e eu estou
tão feliz que você voltou para casa novamente. Eu pensei que
odiaria ter perdido você.

— Neil ergue os braços, como se ele quisesse um abraço.

Eu largo minha xícara e caio em seus braços. Neil me
abraça como se eu fosse frágil, e suavemente beija minha
face. Ficamos assim por um momento, até que uma voz nos
rompe.

— Eu deveria ter esclarecido os termos do meu silêncio.
— Bryan está em pé, na nossa frente, na porta entre a sala e
a cozinha. — Não vai haver intimidade de qualquer tipo entre
vocês dois, enquanto Hallie estiver comigo e eu não terminei
com ela ainda.

CAPÍTULO 9

Neil me libera e se distancia. Seu queixo cai, fica de
boca aberta e olha duas vezes, como se ele não pudesse
acreditar que Bryan teve a audácia de entrar em sua casa.

— Você não tem o direito de estar aqui.

Bryan sorri e desliza as mãos nos bolsos. Ele está
vestindo calça jeans escura e uma camiseta que moldava e
revelava o seu delicioso corpo. A jaqueta de couro desgastado
pende dos ombros e seu cabelo ainda está úmido, como se ele
apenas tivesse rolado para fora da cama.

— Eu sinto cheiro de café? — Bryan ignora Neil, o
empurra, passando por nós, e agarra minha xícara fora do
balcão. — Ainda bebe preto, hein, Hallie? — Ele pisca para
mim, antes de engolir a minha bebida.

— Puta merda. — Maggie aparece com o cabelo molhado
pingando e seu queixo arrastando no chão. Seus olhos vão de
Neil para Bryan, como se ela estivesse antecipando uma
explosão.

Bryan se inclina para trás em cima do balcão, o paletó
se abre, revelando mais do seu peito tonificado e essa
camiseta deliciosa. Quando ele sorri, ele parece como o velho

Bryan, com uma covinha lambível. — Ei, Ruiva, — ele acena
com a cabeça em direção a Maggie com seu sorriso mágico.

— Ei para você também. — Maggie ri e olha para mim e,
em seguida, para Neil.

Neil parece chocado e permanece congelado por alguns
segundos, antes de se encher e gritar irritado. — Saia ou eu
vou chamar a polícia.

Bryan dá de ombros como se não se importasse e não se
move. — Vá em frente. Chame-os e eu vou ligar para os meus
amigos, e fazer as coisas rolarem. — Ele puxa o celular do
bolso e o segura. — Bem, vá em frente.

Neil olha para mim e, em seguida, para Bryan. — Você
disse uma noite.

— Sim, mas eu mudei de ideia. Ontem à noite nada
ocorreu como planejado, e eu pensei, por que não pedia
mais? Se você disser não, você perde tudo. É uma espécie de
acéfalo, então eu vim para isso. — Bryan fala com Neil, mas
ele está olhando para Maggie quando fala.

Depois de descansar a minha xícara vazia no balcão,
Bryan caminha para mim. — Pronta?

— Você disse que ia ligar. — Minhas mãos estão
fechadas nas laterais do meu corpo, eu gostaria de ser mais
alta para que eu pudesse gritar com Bryan olho no olho.

Ele oferece um típico sorriso Bryan Ferro e encolhe os
ombros. — Sim, eu sou lunático. Eu pensei em vir fazer uma
visitinha e buscá-la. Além disso, eu precisava ter certeza de
que seu namorado idiota não tocasse em você.

— Estes não eram os termos. Você não pode mudar
suas exigências assim. — Neil está agitado, mas Maggie está
encostada no batente da porta com um olhar divertido no
rosto. Neil inala devagar, tentando manter a calma, mas está
lá, fermentando, e Bryan está atiçando o fogo.

— Na verdade, eu posso. Combina com o acordo que
Hallie e eu fizemos ontem à noite, certo? — Bryan me olha
por um segundo e, em seguida, acrescenta, com falsa
sinceridade: — Oh, me desculpe, você não teve a chance de
dizer a ele?

— Bryan. — Advirto, mas ele não para.

Ele caminha para o meu lado e coloca o braço por cima
dos meus ombros. — Ontem à noite eu disse a ela que uma
noite não era suficiente. Desculpe, eu pensei que você já
soubesse, e não é como se importasse para você de qualquer
maneira, porque é tudo a mesma coisa. Eu dormi com ela
antes, então o que é mais uma noite, certo? — A voz de Bryan
se transforma em navalha afiada quando ele diz as últimas
palavras. Ele me solta e dá passos em direção a Neil, então
eles estão perto o suficiente para socar um ao outro. — Você
disse algo nesse sentido, não é?

Neil apruma os ombros. Ele não vai ser repreendido por
um Ferro. Ele acha que Bryan é uma criança mimada e dá-
lhe o olhar mais condescendente que eu já vi. — Isso é como
se você quisesse uma mulher mais de uma vez. Isso não vai
contra o código de honra dos Ferro? Eu ouvi a sua irmã...

Antes de Neil poder terminar a frase, o braço de Bryan
arremessa para fora. Ele pega Neil pela garganta e sibila: —
Se você valoriza sua vida, você não vai terminar essa
sentença.

— A irmã gêmea de Bryan parece estar muito
frequentemente na imprensa marrom, o que é horrível,
porque ela é muito doce. Os jornais de fofocas nunca
executam esse tipo de história, porém, é sempre coisas sobre
a herdeira Ferro e suas ações irrefletidas e pouco castas.

Bryan reforça o seu aperto e depois o libera. Neil suga o
ar e esfrega sua garganta, mas não desvia o olhar. Eu quero
gritar com Bryan, mas eu não grito. Em vez disso, eu
pergunto: — O que você quer Bryan?

Seus olhos verdes se voltam para mim e seu olhar
suaviza.

— Você.

Ele fala como se eu fosse tudo que ele quer no mundo,
mas eu sei que não é verdade. Eu sou o que ele quer, agora,
para punição ou lazer, eu ainda não tenho certeza. Bryan
estende a mão.

— Vamos lá, eu tenho o nosso dia planejado.

Eu olho para Neil, mas ele não vai olha para mim. Por
um segundo, eu penso em dizer não, mas Maggie está lá
sorrindo. Quero manter essa expressão feliz no seu rosto e
para isso eu preciso de dinheiro. Tomando a mão de Bryan,
eu deslizo meus dedos em seu aperto quente.


CONTINUA

CAPÍTULO 4

Maggie só ficou totalmente fora de órbita uma vez. Foi
quando nós nos separamos em um lar adotivo quando
tínhamos sete anos. Em três dias, eles nos colocaram de
volta, juntas, sob o mesmo teto. Maggie nunca disse o que ela
fez, só que ela ficou louca e lançou tudo o que tinha contra
eles. O olhar em seus olhos diz que quer colocar as bolas de
Neil em um copo do plástico.

Maggie se balança, em pé, com as calças metade dentro
e metade fora, enquanto sua mandíbula está apertada. Ela
olha para longe de mim e torce seu pescoço, como se ela fosse
matar alguém. Quando ela mexe os olhos verdes de volta para
mim, há um agradável, mas aterrorizante, sorriso em seu
rosto. Quando ela fala, ela parece cordial, como alguém que
trabalha em uma linda loja de flores e ama as pessoas, em
outras palavras, ela soa totalmente demente.

— Ele lhe disse para ir? — Ela ri levemente e pisca seus
cílios para mim, enquanto ela inclina a cabeça para o lado.

— E ele sabia que estava sendo chantageada?

Eu não quero falar sobre isso. Estou tão cansada que,
provavelmente, vou começar a babar em breve.

— Sim, ele sabia. — Eu não quero dizer a ela o resto.
Como está, ela já passa do terceiro estágio de lividez.

— Qual foi o motivo maravilhoso que ele deu, para ser
tão bom? — Ela aperta as mãos com calma, mas eu sei que
há uma erupção prestes a explodir sob a fachada tranquila.

Eu esfrego os olhos e puxo o zíper do meu vestido, mas
parece que ele prendeu no tecido.

— Maggie, coloque o seu pijama e vamos dormir. Eu não
quero falar sobre isso. Obviamente, eu estou brava com Neil
ou eu não estaria aqui com você.

Ela me estuda, por um momento, os olhos apertando
com suspeita, antes de dizer: — Mas Neil não percebe que
você está chateada, e você quer que ele pense em Bryan Ferro
pregado você. — Suas sobrancelhas se elevam quando eu
olho para ela. É o rosto de “eu sei o que você pensa”.

Infelizmente, ela percebe exatamente o que eu estou
pensando, mas isso não me faz querer discutir o assunto.
Neil não deveria ter me dito isso. Parece que ele me
abandonou quando eu precisei dele. Eu tenho problemas com
esse tema específico, que me faz invariavelmente ter uma
segunda suposição sobre mim mesmo, mas não desta vez. Eu
não teria feito isso com ele. Eu não o teria feito dormir com
alguém por dinheiro. Porra, isso me faz soar como uma
prostituta.

Apertando os olhos fechados, eu desvio o olhar.

— Talvez.

Talvez Neil deva sofrer um pouco por ser tão insensível,
porque isso é o que realmente era - insensibilidade. Ao
mesmo tempo, antes desta noite ter acontecido, Neil me deu
minha vida de volta. O cara era uma âncora quando a praia
estava longe da vista. Ele estava lá comigo, em minhas horas
mais escuras e parte de mim se sentia culpada por estar aqui
com Maggie, embora eu saiba que não deveria. Às vezes
desejo que não sentir nada. Parece que assim a vida seria
mais fácil.

No momento, as emoções de Maggie estão estampadas
em seu rosto, como giz de cera derretido.

— Puta merda, Hallie! Por que você está com ele? Neil
veio e pegou-a quando você era...

Eu a cortei. — Eu sei o que eu era, e talvez Neil estivesse
no lugar certo, na hora certa, mas ele nunca fez nada
parecido com isso antes, e nem eu mantive isso dele. — Eu
menti para ela, uma e outra vez.

— E ele está mantendo coisas para você! Será que você o
fez fazer algo que ele não queria? — Ela fez uma pausa, e
acrescentou: — Você não queria ver o Ferro de novo, não é?

Balanço a cabeça e olho para longe. Ela está certa. Não
há nenhuma maneira que eu tivesse feito Neil fazer algo
assim, mas ele realmente não me deu uma escolha. Eu não

tinha escolha, não se eu quisesse ficar com a minha vida. Há
muito dinheiro em jogo. Levantando a minha mão, eu digo: —
Eu não quero mais falar sobre isso hoje à noite.

Maggie faz um som irritado no fundo da garganta e
continuou a se vestir. Depois que ela puxou seu moletom, ela
vai até uma pia com manchas de ferrugem e escovou os
dentes. Embora espumando pela boca, ela se vira e olha para
mim e aponta a escova de dente na minha direção.

— Você sabe que eu chutaria um traseiro por você.
Apenas me diga quem e eu farei. — Na última palavra,
espuma de pasta de dente voa de seus lábios.

Eu ofereço um meio sorriso. — Eu sei que você faria,
mas eu não sei quem me irritou mais - Neil ou Bryan.

Maggie me joga uma camisa de dormir e continua
falando, mas minha mente está se recuperando. Eu estou
com raiva de Neil, mas Bryan... Eu não sei. A maneira como
ele falava, a forma como a sua voz ficou presa na garganta
quando ele disse certas coisas, é quase como se ele não
quisesse fazê-lo, mas ele fez, chantageou-me.

Ele não dormiu com você. Ele a beijou e atirou-a para
fora, aquela voz interior é como sinos tocando dentro da
minha cabeça, como um relógio.

As palavras de Bryan não correspondem às suas ações,
e se ele não dirigisse a faca no ombro do ladrão, eu teria

pensado que o homem que eu vi hoje, era o meu Bryan de
anos atrás, mas não era. O que quer que tenha acontecido
com Bryan, entre aquela época e agora, o mudou, e embora o
novo homem tenha me salvado, ele me assusta.

CAPÍTULO 5

A noite passa devagar, como sempre. Eu ouço a voz de
meu pai, embora ele já não esteja aqui. Minhas memórias
estão presas em retrocesso, repetindo coisas aleatoriamente,
enquanto elas voam para frente da minha mente. Isso me
assombra até onde eu não possa mais suportar.

Maggie está roncando próximo da minha cabeça. Eu
joguei papel e tesoura com ela pela cama, e ela ganhou.
Fizemos um pequeno estrado no chão para mim, mas é mais
como um cobertor e um lençol. Eles estão emaranhados do
meu virar e revirar. Eu os empurro de lado e sento-me,
esfregando os olhos que ardem. O velho relógio de Maggie
brilha suavemente ao lado de sua cama. São quase 6 horas
da manhã.

Meu corpo dói, como se eu tivesse sido empurrada pelo
poço de um elevador, mas eu me levanto do chão e vou até a
janela estreita. Os gritos que enchiam o prédio ontem à noite,
se tranquilizaram. A mulher no piso acima gritou uma última
vez há algumas horas, em seguida, algo pesado caiu no chão.
Gostaria de saber se um deles está morto. Os sons que
fizeram a minha pele se arrepiar, recuaram, agora só tem
silêncio.

Eu me inclino contra a parede e envolvo meus braços
em volta do meu corpo, enquanto olho para fora, pela janela
estreita e nebulosa. O sol ainda está para derramar-se sobre
o horizonte e a cidade ainda está na escuridão. As calçadas
estão quase vazias. Os grupos de pessoas que estavam juntas
se dissolveram. As figuras entre as sombras se foram.

Às vezes eu me pergunto se os monstros em minha
mente são piores do que os da rua. Eu vim das ruas, assim
como Maggie. Nós sobrevivemos e ainda assim, eu não posso
fugir das lembranças que me assombram, noite após noite.
Adicione a morte do meu pai à mistura, e eu sou uma bomba
relógio ambulante. Eu gostaria de poder dizer que eu sei
quem eu sou e que os acontecimentos de meu passado não
me mudaram, mas eu não consigo imaginar minha vida sem
essas ocorrências. Se minha mãe não tivesse me
abandonado, se ela não fizesse o que ela fez, que tipo de
mulher que eu seria? Se ela fosse uma boa pessoa e me
criasse, onde estaríamos agora?

Eu engulo em seco e forço as questões para longe. Elas
não servem para nada e só irão me puxar para baixo. Lutei
tanto para fugir daquela vida, mas ela vive para sempre na
parte de trás da minha mente. Eu ouço sua voz, a sua
familiar fala arrastada. Lembro-me da dor da sua mão no
meu rosto e muitas noites passadas tremendo em um
armário escuro, enquanto ela vivia uma vida na qual não me
incluía. A maioria dos pais querem proteger seus filhos, mas

não minha mãe. Ela não queria me proteger. Ela vivia para si
mesmo e isso é a uma coisa que me assusta, que eu me torne
como ela.

Meus dedos apertam em meus lados, enquanto eu tento
não tremer, porque o apartamento está congelando. Deus,
este lugar me faz lembrar-se daquela vida. Eu não sei como
Maggie aguenta. Olho para ela e penso sobre as coisas que eu
poderia fazer por nós, se eu tivesse esse dinheiro. Eu poderia
salvá-la disso.

Mas quem vai salvar você? A vozinha em minha cabeça
murmura.

Papai não virá e me salvará desta vez. Desta vez, a única
maneira de sair dessa bagunça é através de Bryan Ferro. Eu
tenho sofrido mais dificuldades do que a maioria das pessoas
tem em uma vida, eu posso sobreviver ao que ele quer
vivenciar. — Eu só não sei se vou gostar da mulher que me
tornarei por causa disso.

Algumas coisas não valem o preço. Eu aprendi, em
primeira mão, e agora aqui estou eu, repetindo as ações de
minha mãe.

Travo os dentes e murmuro baixinho: — Eu não sou a
mesma... Não é a mesma coisa.

Meu olhar cai no parapeito da janela e eu
instintivamente inclino-me para ele, pressionando meus
dedos contra o vidro frio. Eu não entendo o que estou vendo

no inicio. Alguém está em pé na sombra do prédio, do outro
lado da rua. Eles estão dentro de uma sala, um andar abaixo
de onde eu estou, no prédio de Maggie. A pessoa é uma
silhueta sem características definidas. Eu acho que é uma
mulher, mas eu não tenho certeza. Ela está pisando para trás
lentamente. As mãos dela levantam, quando um cachorro
está prestes a atacar em seu estômago. De repente, sua
coluna se endireita e ela para de se mover. A janela é tão
estreita que não consigo ver muito mais do que sua figura
esbelta através das cortinas.

Um momento depois, ela fica mole e cai para frente.
Suas cascatas de cabelo atrás dela, caindo em câmera lenta.
Não ouço nada, apenas as respirações nasais de Maggie, mas
seu grito silencioso está tocando em meus ouvidos. Uma
forma alta, um homem, dá passos até o local onde a mulher
estava. Seus ombros são arredondados, como se ele não
estivesse preocupado com uma coisa, enquanto ele balança a
cabeça e examina o chão como se houvesse algo divertido.

Minha garganta aperta enquanto observo com horror,
congelada no lugar. Naquele momento, o homem olha para
cima e olha para a janela. Nossos olhos se encontram e o
tempo para, como se uma força invisível roubasse o meu
fôlego. Os cabelos na parte de trás do meu pescoço arrepiam
enquanto eu olho fixamente, incapaz de desviar o olhar.

Maggie me disse para manter meus olhos para baixo e
não dizer absolutamente nada a ninguém, mas eu não posso,

e ainda pior, eu o reconheço, a ele e seu cabelo loiro
brilhante. É o homem que vive do outro lado do corredor.

CAPÍTULO 6

Eu não tenho certeza se ele percebe quem ele está
olhando, mas eu estou certa de que ele sabe em que
apartamento está. Com o coração acelerado, eu giro sobre os
calcanhares e tropeço na cama de Maggie.

— Levante-se. — Minha voz está sufocada, e quase não
sai. Freneticamente, eu a balanço até acordá-la. —
Precisamos sair. Agora.

Maggie empurra-se nos cotovelos. Sua maquiagem está
manchada em todo o lado direito de seu rosto. Ela se parece
com um palhaço chorando. — O quê? — Ela está muito
grogue e não temos tempo para isso.

— Se mova. Agora. — Eu emito a ordem, atiro uma calça
jeans para ela e começo a recolher qualquer coisa importante.
Eu estou tremendo tanto que largo a braçada de itens e
minha bolsa derrama no chão. Maggie para perguntando o
que está errado. Ela pegou o meu humor e olho para a porta
como se ela já soubesse.

De repente, ela está acordada e se movendo como se ela
tivesse tomado algum energético.

— O que você viu? Foda-se, Hallie! Eu lhe disse para
não olhar para nada.

— Eu não posso acreditar que ela está me xingando,
mas eu não vou perder tempo discutindo com ela.

Ajoelhada, eu puxo todo o conteúdo de roupas e bolsa
em meus braços. — Vai, vai, vai! — Vou para a porta,
deixando o meu vestido de noite para trás. Corremos para o
corredor, meio vestidas, e começamos a descer as escadas.
Eu lanço tudo no banco de trás do carro de Maggie e salto
para frente. — Vai!

Maggie enfia a chave na ignição e o motor liga. Ela
agarra o volante com firmeza e se afasta. Por um segundo eu
acho que conseguimos escapar despercebidas, mas apenas
quando chegamos ao fim do quarteirão, eu olho para trás no
espelho retrovisor do lado. O homem do outro lado do
corredor está olhando nossas lanternas traseiras enquanto
vamos embora.

CAPÍTULO 7

— O que você viu? — Maggie gritou de novo, quando ela
olha para trás pelo espelho retrovisor. Seus olhos se
arregalam, mas ela nem pisca. Ela olha para ele enquanto ele
nos vê no carro.

— Porra, você está falando sério? Esse é Victor! Por que
ele está nos observando? Nós não o queremos nos
observando! Hallie, o que aconteceu? — A voz de Maggie sobe
uma oitava a partir do momento que ela começa a falar até o
momento que termina.

— Seu nome é Victor?

— Sim! Victor Campone. Ele é muito louco! — O corpo
de Maggie está tenso, e eu posso dizer que ele está segurando
um grande esforço para não disparar e fugir. Ela não quer
chamar a atenção para nós, então ela vai a uma velocidade
normal, mesmo que pareça que meu coração vá explodir.

— Ele matou alguém. — Minha voz é suave, quase
inaudível. Meu estômago está torcendo como eu tivesse
comido algo rançoso. A deglutição torna a sensação
incômoda, pior, então eu inclino a cabeça para trás e
pressiono os dedos na minha cara.

— Não, não, não! Diga-me que você não viu nada!

— Eu vi isso. Ele estava no apartamento em frente ao
nosso. Eu estava olhando para fora da janela.

— E ele viu você? — Eu aceno e esfrego a palma da
minha mão em meus olhos. A voz de Maggie sai com um
tremor que é tão diferente dela que me assusta.

— Ele não sabe que você viu alguma uma coisa, certo?
Quero dizer, não é como se ele estivesse a observando
enquanto ele fez isso. Nós não vimos nada. Nós não sabemos
nada. Tudo vai ficar bem. — Ela começa a divagar, mais para
si mesmo do que para mim.

— Quem é ele?

— Ninguém. Ele não é ninguém. Você não sabe o seu
nome, que você nunca viu seu rosto. — Os dedos de Maggie
ficaram brancos de segurar o volante com tanta força. — Nós
não saímos e voamos pela rua, então parece que eu estava
levando-a para casa.

Depois de um tempo, viramos para o meu bairro. Maggie
estaciona na frente do apartamento de Neil e desliga o carro.
— Eu vou voltar mais tarde e agir como se nada tivesse
acontecido. Ele vai ficar bem.

— O inferno que você vai! Você não pode viver assim
Maggie. — Em que ela se meteu? Simpatia atravessa meu
rosto antes que eu possa escondê-la, o que a irrita.

— Não olhe para mim assim. Eu posso cuidar de mim
mesmo.

— Não, não desta vez. Desta vez, você cometeu um erro.
Esse cara é louco. Como você sabe que ele não matou uma
mulher como você? Como você sabe que não vai ser a
próxima? — Ela não olha para mim, em vez disso, Maggie age
como ela não me tivesse ouviu nada. — Maggie, como você
sabe!

Virando-se, ela se encaixa. — Eu não sei, tudo bem!
Ninguém sabe quando seu tempo está acabando ou como eles
vão morrer, e nem eu! Deixe quieto, Hallie. Você já bagunçou
bastante as coisas. Eu posso corrigi-lo.

— Não, você não pode! Isso não é coisa que pode ser
corrigida! — Eu estou gritando com ela, e não posso parar.
Meu coração está batendo tão rápido que está batendo em
minhas costelas e minhas mãos estão tremendo. — A morte
lhe aguarda naquele prédio! Toda vez que você entrar lá, sua
expectativa de vida cai. Você não pode pensar seriamente que
não tem ramificações. Ele matou alguém! O casal que mora
acima de você brigaram, estavam fora de si até que um deles
caiu no chão. Você precisa esperar até que você seja a que
está morta no chão, para ver que você não está segura?

— Eu não tenho escolha! — Ela está respirando forte e
rápido como eu. Eu quero chorar e salvá-la de tudo isso, mas
eu não posso. Um momento se passa e nenhuma de nós fala.

Eu bato a minha cabeça contra o assento e olho para
ela. — O que você faz com ele?

— Eu não posso lhe dizer. — Maggie não olha para mim.
Em vez disso, ela olha fixamente para frente.

— Quem é ele?

— Você não quer saber. — Eu abro minha boca para
pressioná-la, mas ela me silencia com um dedo e me dá um
olhar severo. — Não faça isso. Saber só vai lhe trazer mais
problemas.

Eu não gosto disso, mas eu paro de perguntar. Eu
gostaria muito que as coisas não fossem assim. Eu tenho que
pegar o dinheiro do negócio do livro. Eu preciso disso, para
ela. Ela está sobrecarregada, e a parte horrível é, que eu
também

CAPÍTULO 8

Maggie me segue para a casa depois de pegar todas as
nossas coisas de dentro de seu carro. Depois que eu tomei
banho, fui para a cozinha e encontrei Neil esperando na
mesa. Ele está lendo o jornal como se ele não estivesse
minimamente chateado. Ele o dobra e coloca em cima da
mesa antes de olhar para mim.

— Então, como foi?

— Tudo bem. — Meu queixo está apertado. Eu mal
posso cuspir as palavras. Quero arrancar a sua cabeça fora,
mas se eu fizer isso eu vou ser uma sem-teto. Quando eu
virei uma fraca covarde? Hallie, a prostituta. A palavra que
você está procurando é prostituta. Eu não quero pensar sobre
isso, então eu pego uma xícara de café do armário e uso esse
tempo derramando o líquido quente, então eu não tenho que
olhar para ele.

Antes de eu saber o que está acontecendo, Neil está
andando em minha direção. Eu acho que ele vai brigar, mas
sua voz está tímida. — Eu não deveria ter feito você fazer
isso. Sinto muito, Hallie. — Eu posso sentir seus olhos em
minhas costas e o tom de súplica em sua voz faz meu coração
estilhaçar.

— Não, você não deveria ter feito, — é tudo que eu posso
controlar. Eu mantenho meus olhos focados no líquido negro
na minha xícara, assistindo o subir do vapor para a
superfície.

— Olhe, eu pensei na maneira como vocês dois estavam
atuando no palco, e eu pensei que você ainda gostava dele.

Sua confissão me pega de surpresa. Viro-me devagar e
olho por cima do ombro, para ele. Ele está falando sério? Por
alguma razão, parece que eu estou sendo jogada, mas eu
rejeito isso. Quanto eu estou cansada? O cara está tentando
pedir desculpas e eu quero algo seguro agora. Neil é o
epítome do seguro.

Por um momento, eu não posso falar. Então eu gerencio
um — eu não. — Minhas palavras são evasivas. Eu ia dizer
que eu não tenho sentimentos por ele, mas eu tenho. Eu
sinto algo por Bryan, mas eu não sei o que é. Medo? Luxuria?
Atração não significa nada mesmo, não é?

Neil acena uma vez e observa seus pés. Seu cabelo cor
de areia obscurece os olhos. — Então, você me perdoa?

— Se você puder me perdoar? — De onde veio isso? As
palavras me chocam, mas isso não as impede de sair da
minha boca. Eu não deveria ter que pedir-lhe que me perdoe
por amantes do passado, por coisas que aconteceram antes
de conhecê-lo, mas eu pedi.

Seus lábios puxam para um leve sorriso.

— Eu já perdoei. Eu entendo por que você não disse
nada sobre ele. Quero dizer, é constrangedor, certo? Você não
quer fazer coisas estranhas entre nós, ao mencionar isso. As
pessoas têm manchas escuras em seu passado, e ele é a sua.
Eu entendi. Desculpe-me, eu a empurrei de volta, e eu estou
tão feliz que você voltou para casa novamente. Eu pensei que
odiaria ter perdido você.

— Neil ergue os braços, como se ele quisesse um abraço.

Eu largo minha xícara e caio em seus braços. Neil me
abraça como se eu fosse frágil, e suavemente beija minha
face. Ficamos assim por um momento, até que uma voz nos
rompe.

— Eu deveria ter esclarecido os termos do meu silêncio.
— Bryan está em pé, na nossa frente, na porta entre a sala e
a cozinha. — Não vai haver intimidade de qualquer tipo entre
vocês dois, enquanto Hallie estiver comigo e eu não terminei
com ela ainda.

CAPÍTULO 9

Neil me libera e se distancia. Seu queixo cai, fica de
boca aberta e olha duas vezes, como se ele não pudesse
acreditar que Bryan teve a audácia de entrar em sua casa.

— Você não tem o direito de estar aqui.

Bryan sorri e desliza as mãos nos bolsos. Ele está
vestindo calça jeans escura e uma camiseta que moldava e
revelava o seu delicioso corpo. A jaqueta de couro desgastado
pende dos ombros e seu cabelo ainda está úmido, como se ele
apenas tivesse rolado para fora da cama.

— Eu sinto cheiro de café? — Bryan ignora Neil, o
empurra, passando por nós, e agarra minha xícara fora do
balcão. — Ainda bebe preto, hein, Hallie? — Ele pisca para
mim, antes de engolir a minha bebida.

— Puta merda. — Maggie aparece com o cabelo molhado
pingando e seu queixo arrastando no chão. Seus olhos vão de
Neil para Bryan, como se ela estivesse antecipando uma
explosão.

Bryan se inclina para trás em cima do balcão, o paletó
se abre, revelando mais do seu peito tonificado e essa
camiseta deliciosa. Quando ele sorri, ele parece como o velho

Bryan, com uma covinha lambível. — Ei, Ruiva, — ele acena
com a cabeça em direção a Maggie com seu sorriso mágico.

— Ei para você também. — Maggie ri e olha para mim e,
em seguida, para Neil.

Neil parece chocado e permanece congelado por alguns
segundos, antes de se encher e gritar irritado. — Saia ou eu
vou chamar a polícia.

Bryan dá de ombros como se não se importasse e não se
move. — Vá em frente. Chame-os e eu vou ligar para os meus
amigos, e fazer as coisas rolarem. — Ele puxa o celular do
bolso e o segura. — Bem, vá em frente.

Neil olha para mim e, em seguida, para Bryan. — Você
disse uma noite.

— Sim, mas eu mudei de ideia. Ontem à noite nada
ocorreu como planejado, e eu pensei, por que não pedia
mais? Se você disser não, você perde tudo. É uma espécie de
acéfalo, então eu vim para isso. — Bryan fala com Neil, mas
ele está olhando para Maggie quando fala.

Depois de descansar a minha xícara vazia no balcão,
Bryan caminha para mim. — Pronta?

— Você disse que ia ligar. — Minhas mãos estão
fechadas nas laterais do meu corpo, eu gostaria de ser mais
alta para que eu pudesse gritar com Bryan olho no olho.

Ele oferece um típico sorriso Bryan Ferro e encolhe os
ombros. — Sim, eu sou lunático. Eu pensei em vir fazer uma
visitinha e buscá-la. Além disso, eu precisava ter certeza de
que seu namorado idiota não tocasse em você.

— Estes não eram os termos. Você não pode mudar
suas exigências assim. — Neil está agitado, mas Maggie está
encostada no batente da porta com um olhar divertido no
rosto. Neil inala devagar, tentando manter a calma, mas está
lá, fermentando, e Bryan está atiçando o fogo.

— Na verdade, eu posso. Combina com o acordo que
Hallie e eu fizemos ontem à noite, certo? — Bryan me olha
por um segundo e, em seguida, acrescenta, com falsa
sinceridade: — Oh, me desculpe, você não teve a chance de
dizer a ele?

— Bryan. — Advirto, mas ele não para.

Ele caminha para o meu lado e coloca o braço por cima
dos meus ombros. — Ontem à noite eu disse a ela que uma
noite não era suficiente. Desculpe, eu pensei que você já
soubesse, e não é como se importasse para você de qualquer
maneira, porque é tudo a mesma coisa. Eu dormi com ela
antes, então o que é mais uma noite, certo? — A voz de Bryan
se transforma em navalha afiada quando ele diz as últimas
palavras. Ele me solta e dá passos em direção a Neil, então
eles estão perto o suficiente para socar um ao outro. — Você
disse algo nesse sentido, não é?

Neil apruma os ombros. Ele não vai ser repreendido por
um Ferro. Ele acha que Bryan é uma criança mimada e dá-
lhe o olhar mais condescendente que eu já vi. — Isso é como
se você quisesse uma mulher mais de uma vez. Isso não vai
contra o código de honra dos Ferro? Eu ouvi a sua irmã...

Antes de Neil poder terminar a frase, o braço de Bryan
arremessa para fora. Ele pega Neil pela garganta e sibila: —
Se você valoriza sua vida, você não vai terminar essa
sentença.

— A irmã gêmea de Bryan parece estar muito
frequentemente na imprensa marrom, o que é horrível,
porque ela é muito doce. Os jornais de fofocas nunca
executam esse tipo de história, porém, é sempre coisas sobre
a herdeira Ferro e suas ações irrefletidas e pouco castas.

Bryan reforça o seu aperto e depois o libera. Neil suga o
ar e esfrega sua garganta, mas não desvia o olhar. Eu quero
gritar com Bryan, mas eu não grito. Em vez disso, eu
pergunto: — O que você quer Bryan?

Seus olhos verdes se voltam para mim e seu olhar
suaviza.

— Você.

Ele fala como se eu fosse tudo que ele quer no mundo,
mas eu sei que não é verdade. Eu sou o que ele quer, agora,
para punição ou lazer, eu ainda não tenho certeza. Bryan
estende a mão.

— Vamos lá, eu tenho o nosso dia planejado.

Eu olho para Neil, mas ele não vai olha para mim. Por
um segundo, eu penso em dizer não, mas Maggie está lá
sorrindo. Quero manter essa expressão feliz no seu rosto e
para isso eu preciso de dinheiro. Tomando a mão de Bryan,
eu deslizo meus dedos em seu aperto quente.


CONTINUA

CAPÍTULO 4

Maggie só ficou totalmente fora de órbita uma vez. Foi
quando nós nos separamos em um lar adotivo quando
tínhamos sete anos. Em três dias, eles nos colocaram de
volta, juntas, sob o mesmo teto. Maggie nunca disse o que ela
fez, só que ela ficou louca e lançou tudo o que tinha contra
eles. O olhar em seus olhos diz que quer colocar as bolas de
Neil em um copo do plástico.

Maggie se balança, em pé, com as calças metade dentro
e metade fora, enquanto sua mandíbula está apertada. Ela
olha para longe de mim e torce seu pescoço, como se ela fosse
matar alguém. Quando ela mexe os olhos verdes de volta para
mim, há um agradável, mas aterrorizante, sorriso em seu
rosto. Quando ela fala, ela parece cordial, como alguém que
trabalha em uma linda loja de flores e ama as pessoas, em
outras palavras, ela soa totalmente demente.

— Ele lhe disse para ir? — Ela ri levemente e pisca seus
cílios para mim, enquanto ela inclina a cabeça para o lado.

— E ele sabia que estava sendo chantageada?

Eu não quero falar sobre isso. Estou tão cansada que,
provavelmente, vou começar a babar em breve.

— Sim, ele sabia. — Eu não quero dizer a ela o resto.
Como está, ela já passa do terceiro estágio de lividez.

— Qual foi o motivo maravilhoso que ele deu, para ser
tão bom? — Ela aperta as mãos com calma, mas eu sei que
há uma erupção prestes a explodir sob a fachada tranquila.

Eu esfrego os olhos e puxo o zíper do meu vestido, mas
parece que ele prendeu no tecido.

— Maggie, coloque o seu pijama e vamos dormir. Eu não
quero falar sobre isso. Obviamente, eu estou brava com Neil
ou eu não estaria aqui com você.

Ela me estuda, por um momento, os olhos apertando
com suspeita, antes de dizer: — Mas Neil não percebe que
você está chateada, e você quer que ele pense em Bryan Ferro
pregado você. — Suas sobrancelhas se elevam quando eu
olho para ela. É o rosto de “eu sei o que você pensa”.

Infelizmente, ela percebe exatamente o que eu estou
pensando, mas isso não me faz querer discutir o assunto.
Neil não deveria ter me dito isso. Parece que ele me
abandonou quando eu precisei dele. Eu tenho problemas com
esse tema específico, que me faz invariavelmente ter uma
segunda suposição sobre mim mesmo, mas não desta vez. Eu
não teria feito isso com ele. Eu não o teria feito dormir com
alguém por dinheiro. Porra, isso me faz soar como uma
prostituta.

Apertando os olhos fechados, eu desvio o olhar.

— Talvez.

Talvez Neil deva sofrer um pouco por ser tão insensível,
porque isso é o que realmente era - insensibilidade. Ao
mesmo tempo, antes desta noite ter acontecido, Neil me deu
minha vida de volta. O cara era uma âncora quando a praia
estava longe da vista. Ele estava lá comigo, em minhas horas
mais escuras e parte de mim se sentia culpada por estar aqui
com Maggie, embora eu saiba que não deveria. Às vezes
desejo que não sentir nada. Parece que assim a vida seria
mais fácil.

No momento, as emoções de Maggie estão estampadas
em seu rosto, como giz de cera derretido.

— Puta merda, Hallie! Por que você está com ele? Neil
veio e pegou-a quando você era...

Eu a cortei. — Eu sei o que eu era, e talvez Neil estivesse
no lugar certo, na hora certa, mas ele nunca fez nada
parecido com isso antes, e nem eu mantive isso dele. — Eu
menti para ela, uma e outra vez.

— E ele está mantendo coisas para você! Será que você o
fez fazer algo que ele não queria? — Ela fez uma pausa, e
acrescentou: — Você não queria ver o Ferro de novo, não é?

Balanço a cabeça e olho para longe. Ela está certa. Não
há nenhuma maneira que eu tivesse feito Neil fazer algo
assim, mas ele realmente não me deu uma escolha. Eu não

tinha escolha, não se eu quisesse ficar com a minha vida. Há
muito dinheiro em jogo. Levantando a minha mão, eu digo: —
Eu não quero mais falar sobre isso hoje à noite.

Maggie faz um som irritado no fundo da garganta e
continuou a se vestir. Depois que ela puxou seu moletom, ela
vai até uma pia com manchas de ferrugem e escovou os
dentes. Embora espumando pela boca, ela se vira e olha para
mim e aponta a escova de dente na minha direção.

— Você sabe que eu chutaria um traseiro por você.
Apenas me diga quem e eu farei. — Na última palavra,
espuma de pasta de dente voa de seus lábios.

Eu ofereço um meio sorriso. — Eu sei que você faria,
mas eu não sei quem me irritou mais - Neil ou Bryan.

Maggie me joga uma camisa de dormir e continua
falando, mas minha mente está se recuperando. Eu estou
com raiva de Neil, mas Bryan... Eu não sei. A maneira como
ele falava, a forma como a sua voz ficou presa na garganta
quando ele disse certas coisas, é quase como se ele não
quisesse fazê-lo, mas ele fez, chantageou-me.

Ele não dormiu com você. Ele a beijou e atirou-a para
fora, aquela voz interior é como sinos tocando dentro da
minha cabeça, como um relógio.

As palavras de Bryan não correspondem às suas ações,
e se ele não dirigisse a faca no ombro do ladrão, eu teria

pensado que o homem que eu vi hoje, era o meu Bryan de
anos atrás, mas não era. O que quer que tenha acontecido
com Bryan, entre aquela época e agora, o mudou, e embora o
novo homem tenha me salvado, ele me assusta.

CAPÍTULO 5

A noite passa devagar, como sempre. Eu ouço a voz de
meu pai, embora ele já não esteja aqui. Minhas memórias
estão presas em retrocesso, repetindo coisas aleatoriamente,
enquanto elas voam para frente da minha mente. Isso me
assombra até onde eu não possa mais suportar.

Maggie está roncando próximo da minha cabeça. Eu
joguei papel e tesoura com ela pela cama, e ela ganhou.
Fizemos um pequeno estrado no chão para mim, mas é mais
como um cobertor e um lençol. Eles estão emaranhados do
meu virar e revirar. Eu os empurro de lado e sento-me,
esfregando os olhos que ardem. O velho relógio de Maggie
brilha suavemente ao lado de sua cama. São quase 6 horas
da manhã.

Meu corpo dói, como se eu tivesse sido empurrada pelo
poço de um elevador, mas eu me levanto do chão e vou até a
janela estreita. Os gritos que enchiam o prédio ontem à noite,
se tranquilizaram. A mulher no piso acima gritou uma última
vez há algumas horas, em seguida, algo pesado caiu no chão.
Gostaria de saber se um deles está morto. Os sons que
fizeram a minha pele se arrepiar, recuaram, agora só tem
silêncio.

Eu me inclino contra a parede e envolvo meus braços
em volta do meu corpo, enquanto olho para fora, pela janela
estreita e nebulosa. O sol ainda está para derramar-se sobre
o horizonte e a cidade ainda está na escuridão. As calçadas
estão quase vazias. Os grupos de pessoas que estavam juntas
se dissolveram. As figuras entre as sombras se foram.

Às vezes eu me pergunto se os monstros em minha
mente são piores do que os da rua. Eu vim das ruas, assim
como Maggie. Nós sobrevivemos e ainda assim, eu não posso
fugir das lembranças que me assombram, noite após noite.
Adicione a morte do meu pai à mistura, e eu sou uma bomba
relógio ambulante. Eu gostaria de poder dizer que eu sei
quem eu sou e que os acontecimentos de meu passado não
me mudaram, mas eu não consigo imaginar minha vida sem
essas ocorrências. Se minha mãe não tivesse me
abandonado, se ela não fizesse o que ela fez, que tipo de
mulher que eu seria? Se ela fosse uma boa pessoa e me
criasse, onde estaríamos agora?

Eu engulo em seco e forço as questões para longe. Elas
não servem para nada e só irão me puxar para baixo. Lutei
tanto para fugir daquela vida, mas ela vive para sempre na
parte de trás da minha mente. Eu ouço sua voz, a sua
familiar fala arrastada. Lembro-me da dor da sua mão no
meu rosto e muitas noites passadas tremendo em um
armário escuro, enquanto ela vivia uma vida na qual não me
incluía. A maioria dos pais querem proteger seus filhos, mas

não minha mãe. Ela não queria me proteger. Ela vivia para si
mesmo e isso é a uma coisa que me assusta, que eu me torne
como ela.

Meus dedos apertam em meus lados, enquanto eu tento
não tremer, porque o apartamento está congelando. Deus,
este lugar me faz lembrar-se daquela vida. Eu não sei como
Maggie aguenta. Olho para ela e penso sobre as coisas que eu
poderia fazer por nós, se eu tivesse esse dinheiro. Eu poderia
salvá-la disso.

Mas quem vai salvar você? A vozinha em minha cabeça
murmura.

Papai não virá e me salvará desta vez. Desta vez, a única
maneira de sair dessa bagunça é através de Bryan Ferro. Eu
tenho sofrido mais dificuldades do que a maioria das pessoas
tem em uma vida, eu posso sobreviver ao que ele quer
vivenciar. — Eu só não sei se vou gostar da mulher que me
tornarei por causa disso.

Algumas coisas não valem o preço. Eu aprendi, em
primeira mão, e agora aqui estou eu, repetindo as ações de
minha mãe.

Travo os dentes e murmuro baixinho: — Eu não sou a
mesma... Não é a mesma coisa.

Meu olhar cai no parapeito da janela e eu
instintivamente inclino-me para ele, pressionando meus
dedos contra o vidro frio. Eu não entendo o que estou vendo

no inicio. Alguém está em pé na sombra do prédio, do outro
lado da rua. Eles estão dentro de uma sala, um andar abaixo
de onde eu estou, no prédio de Maggie. A pessoa é uma
silhueta sem características definidas. Eu acho que é uma
mulher, mas eu não tenho certeza. Ela está pisando para trás
lentamente. As mãos dela levantam, quando um cachorro
está prestes a atacar em seu estômago. De repente, sua
coluna se endireita e ela para de se mover. A janela é tão
estreita que não consigo ver muito mais do que sua figura
esbelta através das cortinas.

Um momento depois, ela fica mole e cai para frente.
Suas cascatas de cabelo atrás dela, caindo em câmera lenta.
Não ouço nada, apenas as respirações nasais de Maggie, mas
seu grito silencioso está tocando em meus ouvidos. Uma
forma alta, um homem, dá passos até o local onde a mulher
estava. Seus ombros são arredondados, como se ele não
estivesse preocupado com uma coisa, enquanto ele balança a
cabeça e examina o chão como se houvesse algo divertido.

Minha garganta aperta enquanto observo com horror,
congelada no lugar. Naquele momento, o homem olha para
cima e olha para a janela. Nossos olhos se encontram e o
tempo para, como se uma força invisível roubasse o meu
fôlego. Os cabelos na parte de trás do meu pescoço arrepiam
enquanto eu olho fixamente, incapaz de desviar o olhar.

Maggie me disse para manter meus olhos para baixo e
não dizer absolutamente nada a ninguém, mas eu não posso,

e ainda pior, eu o reconheço, a ele e seu cabelo loiro
brilhante. É o homem que vive do outro lado do corredor.

CAPÍTULO 6

Eu não tenho certeza se ele percebe quem ele está
olhando, mas eu estou certa de que ele sabe em que
apartamento está. Com o coração acelerado, eu giro sobre os
calcanhares e tropeço na cama de Maggie.

— Levante-se. — Minha voz está sufocada, e quase não
sai. Freneticamente, eu a balanço até acordá-la. —
Precisamos sair. Agora.

Maggie empurra-se nos cotovelos. Sua maquiagem está
manchada em todo o lado direito de seu rosto. Ela se parece
com um palhaço chorando. — O quê? — Ela está muito
grogue e não temos tempo para isso.

— Se mova. Agora. — Eu emito a ordem, atiro uma calça
jeans para ela e começo a recolher qualquer coisa importante.
Eu estou tremendo tanto que largo a braçada de itens e
minha bolsa derrama no chão. Maggie para perguntando o
que está errado. Ela pegou o meu humor e olho para a porta
como se ela já soubesse.

De repente, ela está acordada e se movendo como se ela
tivesse tomado algum energético.

— O que você viu? Foda-se, Hallie! Eu lhe disse para
não olhar para nada.

— Eu não posso acreditar que ela está me xingando,
mas eu não vou perder tempo discutindo com ela.

Ajoelhada, eu puxo todo o conteúdo de roupas e bolsa
em meus braços. — Vai, vai, vai! — Vou para a porta,
deixando o meu vestido de noite para trás. Corremos para o
corredor, meio vestidas, e começamos a descer as escadas.
Eu lanço tudo no banco de trás do carro de Maggie e salto
para frente. — Vai!

Maggie enfia a chave na ignição e o motor liga. Ela
agarra o volante com firmeza e se afasta. Por um segundo eu
acho que conseguimos escapar despercebidas, mas apenas
quando chegamos ao fim do quarteirão, eu olho para trás no
espelho retrovisor do lado. O homem do outro lado do
corredor está olhando nossas lanternas traseiras enquanto
vamos embora.

CAPÍTULO 7

— O que você viu? — Maggie gritou de novo, quando ela
olha para trás pelo espelho retrovisor. Seus olhos se
arregalam, mas ela nem pisca. Ela olha para ele enquanto ele
nos vê no carro.

— Porra, você está falando sério? Esse é Victor! Por que
ele está nos observando? Nós não o queremos nos
observando! Hallie, o que aconteceu? — A voz de Maggie sobe
uma oitava a partir do momento que ela começa a falar até o
momento que termina.

— Seu nome é Victor?

— Sim! Victor Campone. Ele é muito louco! — O corpo
de Maggie está tenso, e eu posso dizer que ele está segurando
um grande esforço para não disparar e fugir. Ela não quer
chamar a atenção para nós, então ela vai a uma velocidade
normal, mesmo que pareça que meu coração vá explodir.

— Ele matou alguém. — Minha voz é suave, quase
inaudível. Meu estômago está torcendo como eu tivesse
comido algo rançoso. A deglutição torna a sensação
incômoda, pior, então eu inclino a cabeça para trás e
pressiono os dedos na minha cara.

— Não, não, não! Diga-me que você não viu nada!

— Eu vi isso. Ele estava no apartamento em frente ao
nosso. Eu estava olhando para fora da janela.

— E ele viu você? — Eu aceno e esfrego a palma da
minha mão em meus olhos. A voz de Maggie sai com um
tremor que é tão diferente dela que me assusta.

— Ele não sabe que você viu alguma uma coisa, certo?
Quero dizer, não é como se ele estivesse a observando
enquanto ele fez isso. Nós não vimos nada. Nós não sabemos
nada. Tudo vai ficar bem. — Ela começa a divagar, mais para
si mesmo do que para mim.

— Quem é ele?

— Ninguém. Ele não é ninguém. Você não sabe o seu
nome, que você nunca viu seu rosto. — Os dedos de Maggie
ficaram brancos de segurar o volante com tanta força. — Nós
não saímos e voamos pela rua, então parece que eu estava
levando-a para casa.

Depois de um tempo, viramos para o meu bairro. Maggie
estaciona na frente do apartamento de Neil e desliga o carro.
— Eu vou voltar mais tarde e agir como se nada tivesse
acontecido. Ele vai ficar bem.

— O inferno que você vai! Você não pode viver assim
Maggie. — Em que ela se meteu? Simpatia atravessa meu
rosto antes que eu possa escondê-la, o que a irrita.

— Não olhe para mim assim. Eu posso cuidar de mim
mesmo.

— Não, não desta vez. Desta vez, você cometeu um erro.
Esse cara é louco. Como você sabe que ele não matou uma
mulher como você? Como você sabe que não vai ser a
próxima? — Ela não olha para mim, em vez disso, Maggie age
como ela não me tivesse ouviu nada. — Maggie, como você
sabe!

Virando-se, ela se encaixa. — Eu não sei, tudo bem!
Ninguém sabe quando seu tempo está acabando ou como eles
vão morrer, e nem eu! Deixe quieto, Hallie. Você já bagunçou
bastante as coisas. Eu posso corrigi-lo.

— Não, você não pode! Isso não é coisa que pode ser
corrigida! — Eu estou gritando com ela, e não posso parar.
Meu coração está batendo tão rápido que está batendo em
minhas costelas e minhas mãos estão tremendo. — A morte
lhe aguarda naquele prédio! Toda vez que você entrar lá, sua
expectativa de vida cai. Você não pode pensar seriamente que
não tem ramificações. Ele matou alguém! O casal que mora
acima de você brigaram, estavam fora de si até que um deles
caiu no chão. Você precisa esperar até que você seja a que
está morta no chão, para ver que você não está segura?

— Eu não tenho escolha! — Ela está respirando forte e
rápido como eu. Eu quero chorar e salvá-la de tudo isso, mas
eu não posso. Um momento se passa e nenhuma de nós fala.

Eu bato a minha cabeça contra o assento e olho para
ela. — O que você faz com ele?

— Eu não posso lhe dizer. — Maggie não olha para mim.
Em vez disso, ela olha fixamente para frente.

— Quem é ele?

— Você não quer saber. — Eu abro minha boca para
pressioná-la, mas ela me silencia com um dedo e me dá um
olhar severo. — Não faça isso. Saber só vai lhe trazer mais
problemas.

Eu não gosto disso, mas eu paro de perguntar. Eu
gostaria muito que as coisas não fossem assim. Eu tenho que
pegar o dinheiro do negócio do livro. Eu preciso disso, para
ela. Ela está sobrecarregada, e a parte horrível é, que eu
também

CAPÍTULO 8

Maggie me segue para a casa depois de pegar todas as
nossas coisas de dentro de seu carro. Depois que eu tomei
banho, fui para a cozinha e encontrei Neil esperando na
mesa. Ele está lendo o jornal como se ele não estivesse
minimamente chateado. Ele o dobra e coloca em cima da
mesa antes de olhar para mim.

— Então, como foi?

— Tudo bem. — Meu queixo está apertado. Eu mal
posso cuspir as palavras. Quero arrancar a sua cabeça fora,
mas se eu fizer isso eu vou ser uma sem-teto. Quando eu
virei uma fraca covarde? Hallie, a prostituta. A palavra que
você está procurando é prostituta. Eu não quero pensar sobre
isso, então eu pego uma xícara de café do armário e uso esse
tempo derramando o líquido quente, então eu não tenho que
olhar para ele.

Antes de eu saber o que está acontecendo, Neil está
andando em minha direção. Eu acho que ele vai brigar, mas
sua voz está tímida. — Eu não deveria ter feito você fazer
isso. Sinto muito, Hallie. — Eu posso sentir seus olhos em
minhas costas e o tom de súplica em sua voz faz meu coração
estilhaçar.

— Não, você não deveria ter feito, — é tudo que eu posso
controlar. Eu mantenho meus olhos focados no líquido negro
na minha xícara, assistindo o subir do vapor para a
superfície.

— Olhe, eu pensei na maneira como vocês dois estavam
atuando no palco, e eu pensei que você ainda gostava dele.

Sua confissão me pega de surpresa. Viro-me devagar e
olho por cima do ombro, para ele. Ele está falando sério? Por
alguma razão, parece que eu estou sendo jogada, mas eu
rejeito isso. Quanto eu estou cansada? O cara está tentando
pedir desculpas e eu quero algo seguro agora. Neil é o
epítome do seguro.

Por um momento, eu não posso falar. Então eu gerencio
um — eu não. — Minhas palavras são evasivas. Eu ia dizer
que eu não tenho sentimentos por ele, mas eu tenho. Eu
sinto algo por Bryan, mas eu não sei o que é. Medo? Luxuria?
Atração não significa nada mesmo, não é?

Neil acena uma vez e observa seus pés. Seu cabelo cor
de areia obscurece os olhos. — Então, você me perdoa?

— Se você puder me perdoar? — De onde veio isso? As
palavras me chocam, mas isso não as impede de sair da
minha boca. Eu não deveria ter que pedir-lhe que me perdoe
por amantes do passado, por coisas que aconteceram antes
de conhecê-lo, mas eu pedi.

Seus lábios puxam para um leve sorriso.

— Eu já perdoei. Eu entendo por que você não disse
nada sobre ele. Quero dizer, é constrangedor, certo? Você não
quer fazer coisas estranhas entre nós, ao mencionar isso. As
pessoas têm manchas escuras em seu passado, e ele é a sua.
Eu entendi. Desculpe-me, eu a empurrei de volta, e eu estou
tão feliz que você voltou para casa novamente. Eu pensei que
odiaria ter perdido você.

— Neil ergue os braços, como se ele quisesse um abraço.

Eu largo minha xícara e caio em seus braços. Neil me
abraça como se eu fosse frágil, e suavemente beija minha
face. Ficamos assim por um momento, até que uma voz nos
rompe.

— Eu deveria ter esclarecido os termos do meu silêncio.
— Bryan está em pé, na nossa frente, na porta entre a sala e
a cozinha. — Não vai haver intimidade de qualquer tipo entre
vocês dois, enquanto Hallie estiver comigo e eu não terminei
com ela ainda.

CAPÍTULO 9

Neil me libera e se distancia. Seu queixo cai, fica de
boca aberta e olha duas vezes, como se ele não pudesse
acreditar que Bryan teve a audácia de entrar em sua casa.

— Você não tem o direito de estar aqui.

Bryan sorri e desliza as mãos nos bolsos. Ele está
vestindo calça jeans escura e uma camiseta que moldava e
revelava o seu delicioso corpo. A jaqueta de couro desgastado
pende dos ombros e seu cabelo ainda está úmido, como se ele
apenas tivesse rolado para fora da cama.

— Eu sinto cheiro de café? — Bryan ignora Neil, o
empurra, passando por nós, e agarra minha xícara fora do
balcão. — Ainda bebe preto, hein, Hallie? — Ele pisca para
mim, antes de engolir a minha bebida.

— Puta merda. — Maggie aparece com o cabelo molhado
pingando e seu queixo arrastando no chão. Seus olhos vão de
Neil para Bryan, como se ela estivesse antecipando uma
explosão.

Bryan se inclina para trás em cima do balcão, o paletó
se abre, revelando mais do seu peito tonificado e essa
camiseta deliciosa. Quando ele sorri, ele parece como o velho

Bryan, com uma covinha lambível. — Ei, Ruiva, — ele acena
com a cabeça em direção a Maggie com seu sorriso mágico.

— Ei para você também. — Maggie ri e olha para mim e,
em seguida, para Neil.

Neil parece chocado e permanece congelado por alguns
segundos, antes de se encher e gritar irritado. — Saia ou eu
vou chamar a polícia.

Bryan dá de ombros como se não se importasse e não se
move. — Vá em frente. Chame-os e eu vou ligar para os meus
amigos, e fazer as coisas rolarem. — Ele puxa o celular do
bolso e o segura. — Bem, vá em frente.

Neil olha para mim e, em seguida, para Bryan. — Você
disse uma noite.

— Sim, mas eu mudei de ideia. Ontem à noite nada
ocorreu como planejado, e eu pensei, por que não pedia
mais? Se você disser não, você perde tudo. É uma espécie de
acéfalo, então eu vim para isso. — Bryan fala com Neil, mas
ele está olhando para Maggie quando fala.

Depois de descansar a minha xícara vazia no balcão,
Bryan caminha para mim. — Pronta?

— Você disse que ia ligar. — Minhas mãos estão
fechadas nas laterais do meu corpo, eu gostaria de ser mais
alta para que eu pudesse gritar com Bryan olho no olho.

Ele oferece um típico sorriso Bryan Ferro e encolhe os
ombros. — Sim, eu sou lunático. Eu pensei em vir fazer uma
visitinha e buscá-la. Além disso, eu precisava ter certeza de
que seu namorado idiota não tocasse em você.

— Estes não eram os termos. Você não pode mudar
suas exigências assim. — Neil está agitado, mas Maggie está
encostada no batente da porta com um olhar divertido no
rosto. Neil inala devagar, tentando manter a calma, mas está
lá, fermentando, e Bryan está atiçando o fogo.

— Na verdade, eu posso. Combina com o acordo que
Hallie e eu fizemos ontem à noite, certo? — Bryan me olha
por um segundo e, em seguida, acrescenta, com falsa
sinceridade: — Oh, me desculpe, você não teve a chance de
dizer a ele?

— Bryan. — Advirto, mas ele não para.

Ele caminha para o meu lado e coloca o braço por cima
dos meus ombros. — Ontem à noite eu disse a ela que uma
noite não era suficiente. Desculpe, eu pensei que você já
soubesse, e não é como se importasse para você de qualquer
maneira, porque é tudo a mesma coisa. Eu dormi com ela
antes, então o que é mais uma noite, certo? — A voz de Bryan
se transforma em navalha afiada quando ele diz as últimas
palavras. Ele me solta e dá passos em direção a Neil, então
eles estão perto o suficiente para socar um ao outro. — Você
disse algo nesse sentido, não é?

Neil apruma os ombros. Ele não vai ser repreendido por
um Ferro. Ele acha que Bryan é uma criança mimada e dá-
lhe o olhar mais condescendente que eu já vi. — Isso é como
se você quisesse uma mulher mais de uma vez. Isso não vai
contra o código de honra dos Ferro? Eu ouvi a sua irmã...

Antes de Neil poder terminar a frase, o braço de Bryan
arremessa para fora. Ele pega Neil pela garganta e sibila: —
Se você valoriza sua vida, você não vai terminar essa
sentença.

— A irmã gêmea de Bryan parece estar muito
frequentemente na imprensa marrom, o que é horrível,
porque ela é muito doce. Os jornais de fofocas nunca
executam esse tipo de história, porém, é sempre coisas sobre
a herdeira Ferro e suas ações irrefletidas e pouco castas.

Bryan reforça o seu aperto e depois o libera. Neil suga o
ar e esfrega sua garganta, mas não desvia o olhar. Eu quero
gritar com Bryan, mas eu não grito. Em vez disso, eu
pergunto: — O que você quer Bryan?

Seus olhos verdes se voltam para mim e seu olhar
suaviza.

— Você.

Ele fala como se eu fosse tudo que ele quer no mundo,
mas eu sei que não é verdade. Eu sou o que ele quer, agora,
para punição ou lazer, eu ainda não tenho certeza. Bryan
estende a mão.

— Vamos lá, eu tenho o nosso dia planejado.

Eu olho para Neil, mas ele não vai olha para mim. Por
um segundo, eu penso em dizer não, mas Maggie está lá
sorrindo. Quero manter essa expressão feliz no seu rosto e
para isso eu preciso de dinheiro. Tomando a mão de Bryan,
eu deslizo meus dedos em seu aperto quente.


CONTINUA

CAPÍTULO 4

Maggie só ficou totalmente fora de órbita uma vez. Foi
quando nós nos separamos em um lar adotivo quando
tínhamos sete anos. Em três dias, eles nos colocaram de
volta, juntas, sob o mesmo teto. Maggie nunca disse o que ela
fez, só que ela ficou louca e lançou tudo o que tinha contra
eles. O olhar em seus olhos diz que quer colocar as bolas de
Neil em um copo do plástico.

Maggie se balança, em pé, com as calças metade dentro
e metade fora, enquanto sua mandíbula está apertada. Ela
olha para longe de mim e torce seu pescoço, como se ela fosse
matar alguém. Quando ela mexe os olhos verdes de volta para
mim, há um agradável, mas aterrorizante, sorriso em seu
rosto. Quando ela fala, ela parece cordial, como alguém que
trabalha em uma linda loja de flores e ama as pessoas, em
outras palavras, ela soa totalmente demente.

— Ele lhe disse para ir? — Ela ri levemente e pisca seus
cílios para mim, enquanto ela inclina a cabeça para o lado.

— E ele sabia que estava sendo chantageada?

Eu não quero falar sobre isso. Estou tão cansada que,
provavelmente, vou começar a babar em breve.

— Sim, ele sabia. — Eu não quero dizer a ela o resto.
Como está, ela já passa do terceiro estágio de lividez.

— Qual foi o motivo maravilhoso que ele deu, para ser
tão bom? — Ela aperta as mãos com calma, mas eu sei que
há uma erupção prestes a explodir sob a fachada tranquila.

Eu esfrego os olhos e puxo o zíper do meu vestido, mas
parece que ele prendeu no tecido.

— Maggie, coloque o seu pijama e vamos dormir. Eu não
quero falar sobre isso. Obviamente, eu estou brava com Neil
ou eu não estaria aqui com você.

Ela me estuda, por um momento, os olhos apertando
com suspeita, antes de dizer: — Mas Neil não percebe que
você está chateada, e você quer que ele pense em Bryan Ferro
pregado você. — Suas sobrancelhas se elevam quando eu
olho para ela. É o rosto de “eu sei o que você pensa”.

Infelizmente, ela percebe exatamente o que eu estou
pensando, mas isso não me faz querer discutir o assunto.
Neil não deveria ter me dito isso. Parece que ele me
abandonou quando eu precisei dele. Eu tenho problemas com
esse tema específico, que me faz invariavelmente ter uma
segunda suposição sobre mim mesmo, mas não desta vez. Eu
não teria feito isso com ele. Eu não o teria feito dormir com
alguém por dinheiro. Porra, isso me faz soar como uma
prostituta.

Apertando os olhos fechados, eu desvio o olhar.

— Talvez.

Talvez Neil deva sofrer um pouco por ser tão insensível,
porque isso é o que realmente era - insensibilidade. Ao
mesmo tempo, antes desta noite ter acontecido, Neil me deu
minha vida de volta. O cara era uma âncora quando a praia
estava longe da vista. Ele estava lá comigo, em minhas horas
mais escuras e parte de mim se sentia culpada por estar aqui
com Maggie, embora eu saiba que não deveria. Às vezes
desejo que não sentir nada. Parece que assim a vida seria
mais fácil.

No momento, as emoções de Maggie estão estampadas
em seu rosto, como giz de cera derretido.

— Puta merda, Hallie! Por que você está com ele? Neil
veio e pegou-a quando você era...

Eu a cortei. — Eu sei o que eu era, e talvez Neil estivesse
no lugar certo, na hora certa, mas ele nunca fez nada
parecido com isso antes, e nem eu mantive isso dele. — Eu
menti para ela, uma e outra vez.

— E ele está mantendo coisas para você! Será que você o
fez fazer algo que ele não queria? — Ela fez uma pausa, e
acrescentou: — Você não queria ver o Ferro de novo, não é?

Balanço a cabeça e olho para longe. Ela está certa. Não
há nenhuma maneira que eu tivesse feito Neil fazer algo
assim, mas ele realmente não me deu uma escolha. Eu não

tinha escolha, não se eu quisesse ficar com a minha vida. Há
muito dinheiro em jogo. Levantando a minha mão, eu digo: —
Eu não quero mais falar sobre isso hoje à noite.

Maggie faz um som irritado no fundo da garganta e
continuou a se vestir. Depois que ela puxou seu moletom, ela
vai até uma pia com manchas de ferrugem e escovou os
dentes. Embora espumando pela boca, ela se vira e olha para
mim e aponta a escova de dente na minha direção.

— Você sabe que eu chutaria um traseiro por você.
Apenas me diga quem e eu farei. — Na última palavra,
espuma de pasta de dente voa de seus lábios.

Eu ofereço um meio sorriso. — Eu sei que você faria,
mas eu não sei quem me irritou mais - Neil ou Bryan.

Maggie me joga uma camisa de dormir e continua
falando, mas minha mente está se recuperando. Eu estou
com raiva de Neil, mas Bryan... Eu não sei. A maneira como
ele falava, a forma como a sua voz ficou presa na garganta
quando ele disse certas coisas, é quase como se ele não
quisesse fazê-lo, mas ele fez, chantageou-me.

Ele não dormiu com você. Ele a beijou e atirou-a para
fora, aquela voz interior é como sinos tocando dentro da
minha cabeça, como um relógio.

As palavras de Bryan não correspondem às suas ações,
e se ele não dirigisse a faca no ombro do ladrão, eu teria

pensado que o homem que eu vi hoje, era o meu Bryan de
anos atrás, mas não era. O que quer que tenha acontecido
com Bryan, entre aquela época e agora, o mudou, e embora o
novo homem tenha me salvado, ele me assusta.

CAPÍTULO 5

A noite passa devagar, como sempre. Eu ouço a voz de
meu pai, embora ele já não esteja aqui. Minhas memórias
estão presas em retrocesso, repetindo coisas aleatoriamente,
enquanto elas voam para frente da minha mente. Isso me
assombra até onde eu não possa mais suportar.

Maggie está roncando próximo da minha cabeça. Eu
joguei papel e tesoura com ela pela cama, e ela ganhou.
Fizemos um pequeno estrado no chão para mim, mas é mais
como um cobertor e um lençol. Eles estão emaranhados do
meu virar e revirar. Eu os empurro de lado e sento-me,
esfregando os olhos que ardem. O velho relógio de Maggie
brilha suavemente ao lado de sua cama. São quase 6 horas
da manhã.

Meu corpo dói, como se eu tivesse sido empurrada pelo
poço de um elevador, mas eu me levanto do chão e vou até a
janela estreita. Os gritos que enchiam o prédio ontem à noite,
se tranquilizaram. A mulher no piso acima gritou uma última
vez há algumas horas, em seguida, algo pesado caiu no chão.
Gostaria de saber se um deles está morto. Os sons que
fizeram a minha pele se arrepiar, recuaram, agora só tem
silêncio.

Eu me inclino contra a parede e envolvo meus braços
em volta do meu corpo, enquanto olho para fora, pela janela
estreita e nebulosa. O sol ainda está para derramar-se sobre
o horizonte e a cidade ainda está na escuridão. As calçadas
estão quase vazias. Os grupos de pessoas que estavam juntas
se dissolveram. As figuras entre as sombras se foram.

Às vezes eu me pergunto se os monstros em minha
mente são piores do que os da rua. Eu vim das ruas, assim
como Maggie. Nós sobrevivemos e ainda assim, eu não posso
fugir das lembranças que me assombram, noite após noite.
Adicione a morte do meu pai à mistura, e eu sou uma bomba
relógio ambulante. Eu gostaria de poder dizer que eu sei
quem eu sou e que os acontecimentos de meu passado não
me mudaram, mas eu não consigo imaginar minha vida sem
essas ocorrências. Se minha mãe não tivesse me
abandonado, se ela não fizesse o que ela fez, que tipo de
mulher que eu seria? Se ela fosse uma boa pessoa e me
criasse, onde estaríamos agora?

Eu engulo em seco e forço as questões para longe. Elas
não servem para nada e só irão me puxar para baixo. Lutei
tanto para fugir daquela vida, mas ela vive para sempre na
parte de trás da minha mente. Eu ouço sua voz, a sua
familiar fala arrastada. Lembro-me da dor da sua mão no
meu rosto e muitas noites passadas tremendo em um
armário escuro, enquanto ela vivia uma vida na qual não me
incluía. A maioria dos pais querem proteger seus filhos, mas

não minha mãe. Ela não queria me proteger. Ela vivia para si
mesmo e isso é a uma coisa que me assusta, que eu me torne
como ela.

Meus dedos apertam em meus lados, enquanto eu tento
não tremer, porque o apartamento está congelando. Deus,
este lugar me faz lembrar-se daquela vida. Eu não sei como
Maggie aguenta. Olho para ela e penso sobre as coisas que eu
poderia fazer por nós, se eu tivesse esse dinheiro. Eu poderia
salvá-la disso.

Mas quem vai salvar você? A vozinha em minha cabeça
murmura.

Papai não virá e me salvará desta vez. Desta vez, a única
maneira de sair dessa bagunça é através de Bryan Ferro. Eu
tenho sofrido mais dificuldades do que a maioria das pessoas
tem em uma vida, eu posso sobreviver ao que ele quer
vivenciar. — Eu só não sei se vou gostar da mulher que me
tornarei por causa disso.

Algumas coisas não valem o preço. Eu aprendi, em
primeira mão, e agora aqui estou eu, repetindo as ações de
minha mãe.

Travo os dentes e murmuro baixinho: — Eu não sou a
mesma... Não é a mesma coisa.

Meu olhar cai no parapeito da janela e eu
instintivamente inclino-me para ele, pressionando meus
dedos contra o vidro frio. Eu não entendo o que estou vendo

no inicio. Alguém está em pé na sombra do prédio, do outro
lado da rua. Eles estão dentro de uma sala, um andar abaixo
de onde eu estou, no prédio de Maggie. A pessoa é uma
silhueta sem características definidas. Eu acho que é uma
mulher, mas eu não tenho certeza. Ela está pisando para trás
lentamente. As mãos dela levantam, quando um cachorro
está prestes a atacar em seu estômago. De repente, sua
coluna se endireita e ela para de se mover. A janela é tão
estreita que não consigo ver muito mais do que sua figura
esbelta através das cortinas.

Um momento depois, ela fica mole e cai para frente.
Suas cascatas de cabelo atrás dela, caindo em câmera lenta.
Não ouço nada, apenas as respirações nasais de Maggie, mas
seu grito silencioso está tocando em meus ouvidos. Uma
forma alta, um homem, dá passos até o local onde a mulher
estava. Seus ombros são arredondados, como se ele não
estivesse preocupado com uma coisa, enquanto ele balança a
cabeça e examina o chão como se houvesse algo divertido.

Minha garganta aperta enquanto observo com horror,
congelada no lugar. Naquele momento, o homem olha para
cima e olha para a janela. Nossos olhos se encontram e o
tempo para, como se uma força invisível roubasse o meu
fôlego. Os cabelos na parte de trás do meu pescoço arrepiam
enquanto eu olho fixamente, incapaz de desviar o olhar.

Maggie me disse para manter meus olhos para baixo e
não dizer absolutamente nada a ninguém, mas eu não posso,

e ainda pior, eu o reconheço, a ele e seu cabelo loiro
brilhante. É o homem que vive do outro lado do corredor.

CAPÍTULO 6

Eu não tenho certeza se ele percebe quem ele está
olhando, mas eu estou certa de que ele sabe em que
apartamento está. Com o coração acelerado, eu giro sobre os
calcanhares e tropeço na cama de Maggie.

— Levante-se. — Minha voz está sufocada, e quase não
sai. Freneticamente, eu a balanço até acordá-la. —
Precisamos sair. Agora.

Maggie empurra-se nos cotovelos. Sua maquiagem está
manchada em todo o lado direito de seu rosto. Ela se parece
com um palhaço chorando. — O quê? — Ela está muito
grogue e não temos tempo para isso.

— Se mova. Agora. — Eu emito a ordem, atiro uma calça
jeans para ela e começo a recolher qualquer coisa importante.
Eu estou tremendo tanto que largo a braçada de itens e
minha bolsa derrama no chão. Maggie para perguntando o
que está errado. Ela pegou o meu humor e olho para a porta
como se ela já soubesse.

De repente, ela está acordada e se movendo como se ela
tivesse tomado algum energético.

— O que você viu? Foda-se, Hallie! Eu lhe disse para
não olhar para nada.

— Eu não posso acreditar que ela está me xingando,
mas eu não vou perder tempo discutindo com ela.

Ajoelhada, eu puxo todo o conteúdo de roupas e bolsa
em meus braços. — Vai, vai, vai! — Vou para a porta,
deixando o meu vestido de noite para trás. Corremos para o
corredor, meio vestidas, e começamos a descer as escadas.
Eu lanço tudo no banco de trás do carro de Maggie e salto
para frente. — Vai!

Maggie enfia a chave na ignição e o motor liga. Ela
agarra o volante com firmeza e se afasta. Por um segundo eu
acho que conseguimos escapar despercebidas, mas apenas
quando chegamos ao fim do quarteirão, eu olho para trás no
espelho retrovisor do lado. O homem do outro lado do
corredor está olhando nossas lanternas traseiras enquanto
vamos embora.

CAPÍTULO 7

— O que você viu? — Maggie gritou de novo, quando ela
olha para trás pelo espelho retrovisor. Seus olhos se
arregalam, mas ela nem pisca. Ela olha para ele enquanto ele
nos vê no carro.

— Porra, você está falando sério? Esse é Victor! Por que
ele está nos observando? Nós não o queremos nos
observando! Hallie, o que aconteceu? — A voz de Maggie sobe
uma oitava a partir do momento que ela começa a falar até o
momento que termina.

— Seu nome é Victor?

— Sim! Victor Campone. Ele é muito louco! — O corpo
de Maggie está tenso, e eu posso dizer que ele está segurando
um grande esforço para não disparar e fugir. Ela não quer
chamar a atenção para nós, então ela vai a uma velocidade
normal, mesmo que pareça que meu coração vá explodir.

— Ele matou alguém. — Minha voz é suave, quase
inaudível. Meu estômago está torcendo como eu tivesse
comido algo rançoso. A deglutição torna a sensação
incômoda, pior, então eu inclino a cabeça para trás e
pressiono os dedos na minha cara.

— Não, não, não! Diga-me que você não viu nada!

— Eu vi isso. Ele estava no apartamento em frente ao
nosso. Eu estava olhando para fora da janela.

— E ele viu você? — Eu aceno e esfrego a palma da
minha mão em meus olhos. A voz de Maggie sai com um
tremor que é tão diferente dela que me assusta.

— Ele não sabe que você viu alguma uma coisa, certo?
Quero dizer, não é como se ele estivesse a observando
enquanto ele fez isso. Nós não vimos nada. Nós não sabemos
nada. Tudo vai ficar bem. — Ela começa a divagar, mais para
si mesmo do que para mim.

— Quem é ele?

— Ninguém. Ele não é ninguém. Você não sabe o seu
nome, que você nunca viu seu rosto. — Os dedos de Maggie
ficaram brancos de segurar o volante com tanta força. — Nós
não saímos e voamos pela rua, então parece que eu estava
levando-a para casa.

Depois de um tempo, viramos para o meu bairro. Maggie
estaciona na frente do apartamento de Neil e desliga o carro.
— Eu vou voltar mais tarde e agir como se nada tivesse
acontecido. Ele vai ficar bem.

— O inferno que você vai! Você não pode viver assim
Maggie. — Em que ela se meteu? Simpatia atravessa meu
rosto antes que eu possa escondê-la, o que a irrita.

— Não olhe para mim assim. Eu posso cuidar de mim
mesmo.

— Não, não desta vez. Desta vez, você cometeu um erro.
Esse cara é louco. Como você sabe que ele não matou uma
mulher como você? Como você sabe que não vai ser a
próxima? — Ela não olha para mim, em vez disso, Maggie age
como ela não me tivesse ouviu nada. — Maggie, como você
sabe!

Virando-se, ela se encaixa. — Eu não sei, tudo bem!
Ninguém sabe quando seu tempo está acabando ou como eles
vão morrer, e nem eu! Deixe quieto, Hallie. Você já bagunçou
bastante as coisas. Eu posso corrigi-lo.

— Não, você não pode! Isso não é coisa que pode ser
corrigida! — Eu estou gritando com ela, e não posso parar.
Meu coração está batendo tão rápido que está batendo em
minhas costelas e minhas mãos estão tremendo. — A morte
lhe aguarda naquele prédio! Toda vez que você entrar lá, sua
expectativa de vida cai. Você não pode pensar seriamente que
não tem ramificações. Ele matou alguém! O casal que mora
acima de você brigaram, estavam fora de si até que um deles
caiu no chão. Você precisa esperar até que você seja a que
está morta no chão, para ver que você não está segura?

— Eu não tenho escolha! — Ela está respirando forte e
rápido como eu. Eu quero chorar e salvá-la de tudo isso, mas
eu não posso. Um momento se passa e nenhuma de nós fala.

Eu bato a minha cabeça contra o assento e olho para
ela. — O que você faz com ele?

— Eu não posso lhe dizer. — Maggie não olha para mim.
Em vez disso, ela olha fixamente para frente.

— Quem é ele?

— Você não quer saber. — Eu abro minha boca para
pressioná-la, mas ela me silencia com um dedo e me dá um
olhar severo. — Não faça isso. Saber só vai lhe trazer mais
problemas.

Eu não gosto disso, mas eu paro de perguntar. Eu
gostaria muito que as coisas não fossem assim. Eu tenho que
pegar o dinheiro do negócio do livro. Eu preciso disso, para
ela. Ela está sobrecarregada, e a parte horrível é, que eu
também

CAPÍTULO 8

Maggie me segue para a casa depois de pegar todas as
nossas coisas de dentro de seu carro. Depois que eu tomei
banho, fui para a cozinha e encontrei Neil esperando na
mesa. Ele está lendo o jornal como se ele não estivesse
minimamente chateado. Ele o dobra e coloca em cima da
mesa antes de olhar para mim.

— Então, como foi?

— Tudo bem. — Meu queixo está apertado. Eu mal
posso cuspir as palavras. Quero arrancar a sua cabeça fora,
mas se eu fizer isso eu vou ser uma sem-teto. Quando eu
virei uma fraca covarde? Hallie, a prostituta. A palavra que
você está procurando é prostituta. Eu não quero pensar sobre
isso, então eu pego uma xícara de café do armário e uso esse
tempo derramando o líquido quente, então eu não tenho que
olhar para ele.

Antes de eu saber o que está acontecendo, Neil está
andando em minha direção. Eu acho que ele vai brigar, mas
sua voz está tímida. — Eu não deveria ter feito você fazer
isso. Sinto muito, Hallie. — Eu posso sentir seus olhos em
minhas costas e o tom de súplica em sua voz faz meu coração
estilhaçar.

— Não, você não deveria ter feito, — é tudo que eu posso
controlar. Eu mantenho meus olhos focados no líquido negro
na minha xícara, assistindo o subir do vapor para a
superfície.

— Olhe, eu pensei na maneira como vocês dois estavam
atuando no palco, e eu pensei que você ainda gostava dele.

Sua confissão me pega de surpresa. Viro-me devagar e
olho por cima do ombro, para ele. Ele está falando sério? Por
alguma razão, parece que eu estou sendo jogada, mas eu
rejeito isso. Quanto eu estou cansada? O cara está tentando
pedir desculpas e eu quero algo seguro agora. Neil é o
epítome do seguro.

Por um momento, eu não posso falar. Então eu gerencio
um — eu não. — Minhas palavras são evasivas. Eu ia dizer
que eu não tenho sentimentos por ele, mas eu tenho. Eu
sinto algo por Bryan, mas eu não sei o que é. Medo? Luxuria?
Atração não significa nada mesmo, não é?

Neil acena uma vez e observa seus pés. Seu cabelo cor
de areia obscurece os olhos. — Então, você me perdoa?

— Se você puder me perdoar? — De onde veio isso? As
palavras me chocam, mas isso não as impede de sair da
minha boca. Eu não deveria ter que pedir-lhe que me perdoe
por amantes do passado, por coisas que aconteceram antes
de conhecê-lo, mas eu pedi.

Seus lábios puxam para um leve sorriso.

— Eu já perdoei. Eu entendo por que você não disse
nada sobre ele. Quero dizer, é constrangedor, certo? Você não
quer fazer coisas estranhas entre nós, ao mencionar isso. As
pessoas têm manchas escuras em seu passado, e ele é a sua.
Eu entendi. Desculpe-me, eu a empurrei de volta, e eu estou
tão feliz que você voltou para casa novamente. Eu pensei que
odiaria ter perdido você.

— Neil ergue os braços, como se ele quisesse um abraço.

Eu largo minha xícara e caio em seus braços. Neil me
abraça como se eu fosse frágil, e suavemente beija minha
face. Ficamos assim por um momento, até que uma voz nos
rompe.

— Eu deveria ter esclarecido os termos do meu silêncio.
— Bryan está em pé, na nossa frente, na porta entre a sala e
a cozinha. — Não vai haver intimidade de qualquer tipo entre
vocês dois, enquanto Hallie estiver comigo e eu não terminei
com ela ainda.

CAPÍTULO 9

Neil me libera e se distancia. Seu queixo cai, fica de
boca aberta e olha duas vezes, como se ele não pudesse
acreditar que Bryan teve a audácia de entrar em sua casa.

— Você não tem o direito de estar aqui.

Bryan sorri e desliza as mãos nos bolsos. Ele está
vestindo calça jeans escura e uma camiseta que moldava e
revelava o seu delicioso corpo. A jaqueta de couro desgastado
pende dos ombros e seu cabelo ainda está úmido, como se ele
apenas tivesse rolado para fora da cama.

— Eu sinto cheiro de café? — Bryan ignora Neil, o
empurra, passando por nós, e agarra minha xícara fora do
balcão. — Ainda bebe preto, hein, Hallie? — Ele pisca para
mim, antes de engolir a minha bebida.

— Puta merda. — Maggie aparece com o cabelo molhado
pingando e seu queixo arrastando no chão. Seus olhos vão de
Neil para Bryan, como se ela estivesse antecipando uma
explosão.

Bryan se inclina para trás em cima do balcão, o paletó
se abre, revelando mais do seu peito tonificado e essa
camiseta deliciosa. Quando ele sorri, ele parece como o velho

Bryan, com uma covinha lambível. — Ei, Ruiva, — ele acena
com a cabeça em direção a Maggie com seu sorriso mágico.

— Ei para você também. — Maggie ri e olha para mim e,
em seguida, para Neil.

Neil parece chocado e permanece congelado por alguns
segundos, antes de se encher e gritar irritado. — Saia ou eu
vou chamar a polícia.

Bryan dá de ombros como se não se importasse e não se
move. — Vá em frente. Chame-os e eu vou ligar para os meus
amigos, e fazer as coisas rolarem. — Ele puxa o celular do
bolso e o segura. — Bem, vá em frente.

Neil olha para mim e, em seguida, para Bryan. — Você
disse uma noite.

— Sim, mas eu mudei de ideia. Ontem à noite nada
ocorreu como planejado, e eu pensei, por que não pedia
mais? Se você disser não, você perde tudo. É uma espécie de
acéfalo, então eu vim para isso. — Bryan fala com Neil, mas
ele está olhando para Maggie quando fala.

Depois de descansar a minha xícara vazia no balcão,
Bryan caminha para mim. — Pronta?

— Você disse que ia ligar. — Minhas mãos estão
fechadas nas laterais do meu corpo, eu gostaria de ser mais
alta para que eu pudesse gritar com Bryan olho no olho.

Ele oferece um típico sorriso Bryan Ferro e encolhe os
ombros. — Sim, eu sou lunático. Eu pensei em vir fazer uma
visitinha e buscá-la. Além disso, eu precisava ter certeza de
que seu namorado idiota não tocasse em você.

— Estes não eram os termos. Você não pode mudar
suas exigências assim. — Neil está agitado, mas Maggie está
encostada no batente da porta com um olhar divertido no
rosto. Neil inala devagar, tentando manter a calma, mas está
lá, fermentando, e Bryan está atiçando o fogo.

— Na verdade, eu posso. Combina com o acordo que
Hallie e eu fizemos ontem à noite, certo? — Bryan me olha
por um segundo e, em seguida, acrescenta, com falsa
sinceridade: — Oh, me desculpe, você não teve a chance de
dizer a ele?

— Bryan. — Advirto, mas ele não para.

Ele caminha para o meu lado e coloca o braço por cima
dos meus ombros. — Ontem à noite eu disse a ela que uma
noite não era suficiente. Desculpe, eu pensei que você já
soubesse, e não é como se importasse para você de qualquer
maneira, porque é tudo a mesma coisa. Eu dormi com ela
antes, então o que é mais uma noite, certo? — A voz de Bryan
se transforma em navalha afiada quando ele diz as últimas
palavras. Ele me solta e dá passos em direção a Neil, então
eles estão perto o suficiente para socar um ao outro. — Você
disse algo nesse sentido, não é?

Neil apruma os ombros. Ele não vai ser repreendido por
um Ferro. Ele acha que Bryan é uma criança mimada e dá-
lhe o olhar mais condescendente que eu já vi. — Isso é como
se você quisesse uma mulher mais de uma vez. Isso não vai
contra o código de honra dos Ferro? Eu ouvi a sua irmã...

Antes de Neil poder terminar a frase, o braço de Bryan
arremessa para fora. Ele pega Neil pela garganta e sibila: —
Se você valoriza sua vida, você não vai terminar essa
sentença.

— A irmã gêmea de Bryan parece estar muito
frequentemente na imprensa marrom, o que é horrível,
porque ela é muito doce. Os jornais de fofocas nunca
executam esse tipo de história, porém, é sempre coisas sobre
a herdeira Ferro e suas ações irrefletidas e pouco castas.

Bryan reforça o seu aperto e depois o libera. Neil suga o
ar e esfrega sua garganta, mas não desvia o olhar. Eu quero
gritar com Bryan, mas eu não grito. Em vez disso, eu
pergunto: — O que você quer Bryan?

Seus olhos verdes se voltam para mim e seu olhar
suaviza.

— Você.

Ele fala como se eu fosse tudo que ele quer no mundo,
mas eu sei que não é verdade. Eu sou o que ele quer, agora,
para punição ou lazer, eu ainda não tenho certeza. Bryan
estende a mão.

— Vamos lá, eu tenho o nosso dia planejado.

Eu olho para Neil, mas ele não vai olha para mim. Por
um segundo, eu penso em dizer não, mas Maggie está lá
sorrindo. Quero manter essa expressão feliz no seu rosto e
para isso eu preciso de dinheiro. Tomando a mão de Bryan,
eu deslizo meus dedos em seu aperto quente.


CONTINUA

CAPÍTULO 4

Maggie só ficou totalmente fora de órbita uma vez. Foi
quando nós nos separamos em um lar adotivo quando
tínhamos sete anos. Em três dias, eles nos colocaram de
volta, juntas, sob o mesmo teto. Maggie nunca disse o que ela
fez, só que ela ficou louca e lançou tudo o que tinha contra
eles. O olhar em seus olhos diz que quer colocar as bolas de
Neil em um copo do plástico.

Maggie se balança, em pé, com as calças metade dentro
e metade fora, enquanto sua mandíbula está apertada. Ela
olha para longe de mim e torce seu pescoço, como se ela fosse
matar alguém. Quando ela mexe os olhos verdes de volta para
mim, há um agradável, mas aterrorizante, sorriso em seu
rosto. Quando ela fala, ela parece cordial, como alguém que
trabalha em uma linda loja de flores e ama as pessoas, em
outras palavras, ela soa totalmente demente.

— Ele lhe disse para ir? — Ela ri levemente e pisca seus
cílios para mim, enquanto ela inclina a cabeça para o lado.

— E ele sabia que estava sendo chantageada?

Eu não quero falar sobre isso. Estou tão cansada que,
provavelmente, vou começar a babar em breve.

— Sim, ele sabia. — Eu não quero dizer a ela o resto.
Como está, ela já passa do terceiro estágio de lividez.

— Qual foi o motivo maravilhoso que ele deu, para ser
tão bom? — Ela aperta as mãos com calma, mas eu sei que
há uma erupção prestes a explodir sob a fachada tranquila.

Eu esfrego os olhos e puxo o zíper do meu vestido, mas
parece que ele prendeu no tecido.

— Maggie, coloque o seu pijama e vamos dormir. Eu não
quero falar sobre isso. Obviamente, eu estou brava com Neil
ou eu não estaria aqui com você.

Ela me estuda, por um momento, os olhos apertando
com suspeita, antes de dizer: — Mas Neil não percebe que
você está chateada, e você quer que ele pense em Bryan Ferro
pregado você. — Suas sobrancelhas se elevam quando eu
olho para ela. É o rosto de “eu sei o que você pensa”.

Infelizmente, ela percebe exatamente o que eu estou
pensando, mas isso não me faz querer discutir o assunto.
Neil não deveria ter me dito isso. Parece que ele me
abandonou quando eu precisei dele. Eu tenho problemas com
esse tema específico, que me faz invariavelmente ter uma
segunda suposição sobre mim mesmo, mas não desta vez. Eu
não teria feito isso com ele. Eu não o teria feito dormir com
alguém por dinheiro. Porra, isso me faz soar como uma
prostituta.

Apertando os olhos fechados, eu desvio o olhar.

— Talvez.

Talvez Neil deva sofrer um pouco por ser tão insensível,
porque isso é o que realmente era - insensibilidade. Ao
mesmo tempo, antes desta noite ter acontecido, Neil me deu
minha vida de volta. O cara era uma âncora quando a praia
estava longe da vista. Ele estava lá comigo, em minhas horas
mais escuras e parte de mim se sentia culpada por estar aqui
com Maggie, embora eu saiba que não deveria. Às vezes
desejo que não sentir nada. Parece que assim a vida seria
mais fácil.

No momento, as emoções de Maggie estão estampadas
em seu rosto, como giz de cera derretido.

— Puta merda, Hallie! Por que você está com ele? Neil
veio e pegou-a quando você era...

Eu a cortei. — Eu sei o que eu era, e talvez Neil estivesse
no lugar certo, na hora certa, mas ele nunca fez nada
parecido com isso antes, e nem eu mantive isso dele. — Eu
menti para ela, uma e outra vez.

— E ele está mantendo coisas para você! Será que você o
fez fazer algo que ele não queria? — Ela fez uma pausa, e
acrescentou: — Você não queria ver o Ferro de novo, não é?

Balanço a cabeça e olho para longe. Ela está certa. Não
há nenhuma maneira que eu tivesse feito Neil fazer algo
assim, mas ele realmente não me deu uma escolha. Eu não

tinha escolha, não se eu quisesse ficar com a minha vida. Há
muito dinheiro em jogo. Levantando a minha mão, eu digo: —
Eu não quero mais falar sobre isso hoje à noite.

Maggie faz um som irritado no fundo da garganta e
continuou a se vestir. Depois que ela puxou seu moletom, ela
vai até uma pia com manchas de ferrugem e escovou os
dentes. Embora espumando pela boca, ela se vira e olha para
mim e aponta a escova de dente na minha direção.

— Você sabe que eu chutaria um traseiro por você.
Apenas me diga quem e eu farei. — Na última palavra,
espuma de pasta de dente voa de seus lábios.

Eu ofereço um meio sorriso. — Eu sei que você faria,
mas eu não sei quem me irritou mais - Neil ou Bryan.

Maggie me joga uma camisa de dormir e continua
falando, mas minha mente está se recuperando. Eu estou
com raiva de Neil, mas Bryan... Eu não sei. A maneira como
ele falava, a forma como a sua voz ficou presa na garganta
quando ele disse certas coisas, é quase como se ele não
quisesse fazê-lo, mas ele fez, chantageou-me.

Ele não dormiu com você. Ele a beijou e atirou-a para
fora, aquela voz interior é como sinos tocando dentro da
minha cabeça, como um relógio.

As palavras de Bryan não correspondem às suas ações,
e se ele não dirigisse a faca no ombro do ladrão, eu teria

pensado que o homem que eu vi hoje, era o meu Bryan de
anos atrás, mas não era. O que quer que tenha acontecido
com Bryan, entre aquela época e agora, o mudou, e embora o
novo homem tenha me salvado, ele me assusta.

CAPÍTULO 5

A noite passa devagar, como sempre. Eu ouço a voz de
meu pai, embora ele já não esteja aqui. Minhas memórias
estão presas em retrocesso, repetindo coisas aleatoriamente,
enquanto elas voam para frente da minha mente. Isso me
assombra até onde eu não possa mais suportar.

Maggie está roncando próximo da minha cabeça. Eu
joguei papel e tesoura com ela pela cama, e ela ganhou.
Fizemos um pequeno estrado no chão para mim, mas é mais
como um cobertor e um lençol. Eles estão emaranhados do
meu virar e revirar. Eu os empurro de lado e sento-me,
esfregando os olhos que ardem. O velho relógio de Maggie
brilha suavemente ao lado de sua cama. São quase 6 horas
da manhã.

Meu corpo dói, como se eu tivesse sido empurrada pelo
poço de um elevador, mas eu me levanto do chão e vou até a
janela estreita. Os gritos que enchiam o prédio ontem à noite,
se tranquilizaram. A mulher no piso acima gritou uma última
vez há algumas horas, em seguida, algo pesado caiu no chão.
Gostaria de saber se um deles está morto. Os sons que
fizeram a minha pele se arrepiar, recuaram, agora só tem
silêncio.

Eu me inclino contra a parede e envolvo meus braços
em volta do meu corpo, enquanto olho para fora, pela janela
estreita e nebulosa. O sol ainda está para derramar-se sobre
o horizonte e a cidade ainda está na escuridão. As calçadas
estão quase vazias. Os grupos de pessoas que estavam juntas
se dissolveram. As figuras entre as sombras se foram.

Às vezes eu me pergunto se os monstros em minha
mente são piores do que os da rua. Eu vim das ruas, assim
como Maggie. Nós sobrevivemos e ainda assim, eu não posso
fugir das lembranças que me assombram, noite após noite.
Adicione a morte do meu pai à mistura, e eu sou uma bomba
relógio ambulante. Eu gostaria de poder dizer que eu sei
quem eu sou e que os acontecimentos de meu passado não
me mudaram, mas eu não consigo imaginar minha vida sem
essas ocorrências. Se minha mãe não tivesse me
abandonado, se ela não fizesse o que ela fez, que tipo de
mulher que eu seria? Se ela fosse uma boa pessoa e me
criasse, onde estaríamos agora?

Eu engulo em seco e forço as questões para longe. Elas
não servem para nada e só irão me puxar para baixo. Lutei
tanto para fugir daquela vida, mas ela vive para sempre na
parte de trás da minha mente. Eu ouço sua voz, a sua
familiar fala arrastada. Lembro-me da dor da sua mão no
meu rosto e muitas noites passadas tremendo em um
armário escuro, enquanto ela vivia uma vida na qual não me
incluía. A maioria dos pais querem proteger seus filhos, mas

não minha mãe. Ela não queria me proteger. Ela vivia para si
mesmo e isso é a uma coisa que me assusta, que eu me torne
como ela.

Meus dedos apertam em meus lados, enquanto eu tento
não tremer, porque o apartamento está congelando. Deus,
este lugar me faz lembrar-se daquela vida. Eu não sei como
Maggie aguenta. Olho para ela e penso sobre as coisas que eu
poderia fazer por nós, se eu tivesse esse dinheiro. Eu poderia
salvá-la disso.

Mas quem vai salvar você? A vozinha em minha cabeça
murmura.

Papai não virá e me salvará desta vez. Desta vez, a única
maneira de sair dessa bagunça é através de Bryan Ferro. Eu
tenho sofrido mais dificuldades do que a maioria das pessoas
tem em uma vida, eu posso sobreviver ao que ele quer
vivenciar. — Eu só não sei se vou gostar da mulher que me
tornarei por causa disso.

Algumas coisas não valem o preço. Eu aprendi, em
primeira mão, e agora aqui estou eu, repetindo as ações de
minha mãe.

Travo os dentes e murmuro baixinho: — Eu não sou a
mesma... Não é a mesma coisa.

Meu olhar cai no parapeito da janela e eu
instintivamente inclino-me para ele, pressionando meus
dedos contra o vidro frio. Eu não entendo o que estou vendo

no inicio. Alguém está em pé na sombra do prédio, do outro
lado da rua. Eles estão dentro de uma sala, um andar abaixo
de onde eu estou, no prédio de Maggie. A pessoa é uma
silhueta sem características definidas. Eu acho que é uma
mulher, mas eu não tenho certeza. Ela está pisando para trás
lentamente. As mãos dela levantam, quando um cachorro
está prestes a atacar em seu estômago. De repente, sua
coluna se endireita e ela para de se mover. A janela é tão
estreita que não consigo ver muito mais do que sua figura
esbelta através das cortinas.

Um momento depois, ela fica mole e cai para frente.
Suas cascatas de cabelo atrás dela, caindo em câmera lenta.
Não ouço nada, apenas as respirações nasais de Maggie, mas
seu grito silencioso está tocando em meus ouvidos. Uma
forma alta, um homem, dá passos até o local onde a mulher
estava. Seus ombros são arredondados, como se ele não
estivesse preocupado com uma coisa, enquanto ele balança a
cabeça e examina o chão como se houvesse algo divertido.

Minha garganta aperta enquanto observo com horror,
congelada no lugar. Naquele momento, o homem olha para
cima e olha para a janela. Nossos olhos se encontram e o
tempo para, como se uma força invisível roubasse o meu
fôlego. Os cabelos na parte de trás do meu pescoço arrepiam
enquanto eu olho fixamente, incapaz de desviar o olhar.

Maggie me disse para manter meus olhos para baixo e
não dizer absolutamente nada a ninguém, mas eu não posso,

e ainda pior, eu o reconheço, a ele e seu cabelo loiro
brilhante. É o homem que vive do outro lado do corredor.

CAPÍTULO 6

Eu não tenho certeza se ele percebe quem ele está
olhando, mas eu estou certa de que ele sabe em que
apartamento está. Com o coração acelerado, eu giro sobre os
calcanhares e tropeço na cama de Maggie.

— Levante-se. — Minha voz está sufocada, e quase não
sai. Freneticamente, eu a balanço até acordá-la. —
Precisamos sair. Agora.

Maggie empurra-se nos cotovelos. Sua maquiagem está
manchada em todo o lado direito de seu rosto. Ela se parece
com um palhaço chorando. — O quê? — Ela está muito
grogue e não temos tempo para isso.

— Se mova. Agora. — Eu emito a ordem, atiro uma calça
jeans para ela e começo a recolher qualquer coisa importante.
Eu estou tremendo tanto que largo a braçada de itens e
minha bolsa derrama no chão. Maggie para perguntando o
que está errado. Ela pegou o meu humor e olho para a porta
como se ela já soubesse.

De repente, ela está acordada e se movendo como se ela
tivesse tomado algum energético.

— O que você viu? Foda-se, Hallie! Eu lhe disse para
não olhar para nada.

— Eu não posso acreditar que ela está me xingando,
mas eu não vou perder tempo discutindo com ela.

Ajoelhada, eu puxo todo o conteúdo de roupas e bolsa
em meus braços. — Vai, vai, vai! — Vou para a porta,
deixando o meu vestido de noite para trás. Corremos para o
corredor, meio vestidas, e começamos a descer as escadas.
Eu lanço tudo no banco de trás do carro de Maggie e salto
para frente. — Vai!

Maggie enfia a chave na ignição e o motor liga. Ela
agarra o volante com firmeza e se afasta. Por um segundo eu
acho que conseguimos escapar despercebidas, mas apenas
quando chegamos ao fim do quarteirão, eu olho para trás no
espelho retrovisor do lado. O homem do outro lado do
corredor está olhando nossas lanternas traseiras enquanto
vamos embora.

CAPÍTULO 7

— O que você viu? — Maggie gritou de novo, quando ela
olha para trás pelo espelho retrovisor. Seus olhos se
arregalam, mas ela nem pisca. Ela olha para ele enquanto ele
nos vê no carro.

— Porra, você está falando sério? Esse é Victor! Por que
ele está nos observando? Nós não o queremos nos
observando! Hallie, o que aconteceu? — A voz de Maggie sobe
uma oitava a partir do momento que ela começa a falar até o
momento que termina.

— Seu nome é Victor?

— Sim! Victor Campone. Ele é muito louco! — O corpo
de Maggie está tenso, e eu posso dizer que ele está segurando
um grande esforço para não disparar e fugir. Ela não quer
chamar a atenção para nós, então ela vai a uma velocidade
normal, mesmo que pareça que meu coração vá explodir.

— Ele matou alguém. — Minha voz é suave, quase
inaudível. Meu estômago está torcendo como eu tivesse
comido algo rançoso. A deglutição torna a sensação
incômoda, pior, então eu inclino a cabeça para trás e
pressiono os dedos na minha cara.

— Não, não, não! Diga-me que você não viu nada!

— Eu vi isso. Ele estava no apartamento em frente ao
nosso. Eu estava olhando para fora da janela.

— E ele viu você? — Eu aceno e esfrego a palma da
minha mão em meus olhos. A voz de Maggie sai com um
tremor que é tão diferente dela que me assusta.

— Ele não sabe que você viu alguma uma coisa, certo?
Quero dizer, não é como se ele estivesse a observando
enquanto ele fez isso. Nós não vimos nada. Nós não sabemos
nada. Tudo vai ficar bem. — Ela começa a divagar, mais para
si mesmo do que para mim.

— Quem é ele?

— Ninguém. Ele não é ninguém. Você não sabe o seu
nome, que você nunca viu seu rosto. — Os dedos de Maggie
ficaram brancos de segurar o volante com tanta força. — Nós
não saímos e voamos pela rua, então parece que eu estava
levando-a para casa.

Depois de um tempo, viramos para o meu bairro. Maggie
estaciona na frente do apartamento de Neil e desliga o carro.
— Eu vou voltar mais tarde e agir como se nada tivesse
acontecido. Ele vai ficar bem.

— O inferno que você vai! Você não pode viver assim
Maggie. — Em que ela se meteu? Simpatia atravessa meu
rosto antes que eu possa escondê-la, o que a irrita.

— Não olhe para mim assim. Eu posso cuidar de mim
mesmo.

— Não, não desta vez. Desta vez, você cometeu um erro.
Esse cara é louco. Como você sabe que ele não matou uma
mulher como você? Como você sabe que não vai ser a
próxima? — Ela não olha para mim, em vez disso, Maggie age
como ela não me tivesse ouviu nada. — Maggie, como você
sabe!

Virando-se, ela se encaixa. — Eu não sei, tudo bem!
Ninguém sabe quando seu tempo está acabando ou como eles
vão morrer, e nem eu! Deixe quieto, Hallie. Você já bagunçou
bastante as coisas. Eu posso corrigi-lo.

— Não, você não pode! Isso não é coisa que pode ser
corrigida! — Eu estou gritando com ela, e não posso parar.
Meu coração está batendo tão rápido que está batendo em
minhas costelas e minhas mãos estão tremendo. — A morte
lhe aguarda naquele prédio! Toda vez que você entrar lá, sua
expectativa de vida cai. Você não pode pensar seriamente que
não tem ramificações. Ele matou alguém! O casal que mora
acima de você brigaram, estavam fora de si até que um deles
caiu no chão. Você precisa esperar até que você seja a que
está morta no chão, para ver que você não está segura?

— Eu não tenho escolha! — Ela está respirando forte e
rápido como eu. Eu quero chorar e salvá-la de tudo isso, mas
eu não posso. Um momento se passa e nenhuma de nós fala.

Eu bato a minha cabeça contra o assento e olho para
ela. — O que você faz com ele?

— Eu não posso lhe dizer. — Maggie não olha para mim.
Em vez disso, ela olha fixamente para frente.

— Quem é ele?

— Você não quer saber. — Eu abro minha boca para
pressioná-la, mas ela me silencia com um dedo e me dá um
olhar severo. — Não faça isso. Saber só vai lhe trazer mais
problemas.

Eu não gosto disso, mas eu paro de perguntar. Eu
gostaria muito que as coisas não fossem assim. Eu tenho que
pegar o dinheiro do negócio do livro. Eu preciso disso, para
ela. Ela está sobrecarregada, e a parte horrível é, que eu
também

CAPÍTULO 8

Maggie me segue para a casa depois de pegar todas as
nossas coisas de dentro de seu carro. Depois que eu tomei
banho, fui para a cozinha e encontrei Neil esperando na
mesa. Ele está lendo o jornal como se ele não estivesse
minimamente chateado. Ele o dobra e coloca em cima da
mesa antes de olhar para mim.

— Então, como foi?

— Tudo bem. — Meu queixo está apertado. Eu mal
posso cuspir as palavras. Quero arrancar a sua cabeça fora,
mas se eu fizer isso eu vou ser uma sem-teto. Quando eu
virei uma fraca covarde? Hallie, a prostituta. A palavra que
você está procurando é prostituta. Eu não quero pensar sobre
isso, então eu pego uma xícara de café do armário e uso esse
tempo derramando o líquido quente, então eu não tenho que
olhar para ele.

Antes de eu saber o que está acontecendo, Neil está
andando em minha direção. Eu acho que ele vai brigar, mas
sua voz está tímida. — Eu não deveria ter feito você fazer
isso. Sinto muito, Hallie. — Eu posso sentir seus olhos em
minhas costas e o tom de súplica em sua voz faz meu coração
estilhaçar.

— Não, você não deveria ter feito, — é tudo que eu posso
controlar. Eu mantenho meus olhos focados no líquido negro
na minha xícara, assistindo o subir do vapor para a
superfície.

— Olhe, eu pensei na maneira como vocês dois estavam
atuando no palco, e eu pensei que você ainda gostava dele.

Sua confissão me pega de surpresa. Viro-me devagar e
olho por cima do ombro, para ele. Ele está falando sério? Por
alguma razão, parece que eu estou sendo jogada, mas eu
rejeito isso. Quanto eu estou cansada? O cara está tentando
pedir desculpas e eu quero algo seguro agora. Neil é o
epítome do seguro.

Por um momento, eu não posso falar. Então eu gerencio
um — eu não. — Minhas palavras são evasivas. Eu ia dizer
que eu não tenho sentimentos por ele, mas eu tenho. Eu
sinto algo por Bryan, mas eu não sei o que é. Medo? Luxuria?
Atração não significa nada mesmo, não é?

Neil acena uma vez e observa seus pés. Seu cabelo cor
de areia obscurece os olhos. — Então, você me perdoa?

— Se você puder me perdoar? — De onde veio isso? As
palavras me chocam, mas isso não as impede de sair da
minha boca. Eu não deveria ter que pedir-lhe que me perdoe
por amantes do passado, por coisas que aconteceram antes
de conhecê-lo, mas eu pedi.

Seus lábios puxam para um leve sorriso.

— Eu já perdoei. Eu entendo por que você não disse
nada sobre ele. Quero dizer, é constrangedor, certo? Você não
quer fazer coisas estranhas entre nós, ao mencionar isso. As
pessoas têm manchas escuras em seu passado, e ele é a sua.
Eu entendi. Desculpe-me, eu a empurrei de volta, e eu estou
tão feliz que você voltou para casa novamente. Eu pensei que
odiaria ter perdido você.

— Neil ergue os braços, como se ele quisesse um abraço.

Eu largo minha xícara e caio em seus braços. Neil me
abraça como se eu fosse frágil, e suavemente beija minha
face. Ficamos assim por um momento, até que uma voz nos
rompe.

— Eu deveria ter esclarecido os termos do meu silêncio.
— Bryan está em pé, na nossa frente, na porta entre a sala e
a cozinha. — Não vai haver intimidade de qualquer tipo entre
vocês dois, enquanto Hallie estiver comigo e eu não terminei
com ela ainda.

CAPÍTULO 9

Neil me libera e se distancia. Seu queixo cai, fica de
boca aberta e olha duas vezes, como se ele não pudesse
acreditar que Bryan teve a audácia de entrar em sua casa.

— Você não tem o direito de estar aqui.

Bryan sorri e desliza as mãos nos bolsos. Ele está
vestindo calça jeans escura e uma camiseta que moldava e
revelava o seu delicioso corpo. A jaqueta de couro desgastado
pende dos ombros e seu cabelo ainda está úmido, como se ele
apenas tivesse rolado para fora da cama.

— Eu sinto cheiro de café? — Bryan ignora Neil, o
empurra, passando por nós, e agarra minha xícara fora do
balcão. — Ainda bebe preto, hein, Hallie? — Ele pisca para
mim, antes de engolir a minha bebida.

— Puta merda. — Maggie aparece com o cabelo molhado
pingando e seu queixo arrastando no chão. Seus olhos vão de
Neil para Bryan, como se ela estivesse antecipando uma
explosão.

Bryan se inclina para trás em cima do balcão, o paletó
se abre, revelando mais do seu peito tonificado e essa
camiseta deliciosa. Quando ele sorri, ele parece como o velho

Bryan, com uma covinha lambível. — Ei, Ruiva, — ele acena
com a cabeça em direção a Maggie com seu sorriso mágico.

— Ei para você também. — Maggie ri e olha para mim e,
em seguida, para Neil.

Neil parece chocado e permanece congelado por alguns
segundos, antes de se encher e gritar irritado. — Saia ou eu
vou chamar a polícia.

Bryan dá de ombros como se não se importasse e não se
move. — Vá em frente. Chame-os e eu vou ligar para os meus
amigos, e fazer as coisas rolarem. — Ele puxa o celular do
bolso e o segura. — Bem, vá em frente.

Neil olha para mim e, em seguida, para Bryan. — Você
disse uma noite.

— Sim, mas eu mudei de ideia. Ontem à noite nada
ocorreu como planejado, e eu pensei, por que não pedia
mais? Se você disser não, você perde tudo. É uma espécie de
acéfalo, então eu vim para isso. — Bryan fala com Neil, mas
ele está olhando para Maggie quando fala.

Depois de descansar a minha xícara vazia no balcão,
Bryan caminha para mim. — Pronta?

— Você disse que ia ligar. — Minhas mãos estão
fechadas nas laterais do meu corpo, eu gostaria de ser mais
alta para que eu pudesse gritar com Bryan olho no olho.

Ele oferece um típico sorriso Bryan Ferro e encolhe os
ombros. — Sim, eu sou lunático. Eu pensei em vir fazer uma
visitinha e buscá-la. Além disso, eu precisava ter certeza de
que seu namorado idiota não tocasse em você.

— Estes não eram os termos. Você não pode mudar
suas exigências assim. — Neil está agitado, mas Maggie está
encostada no batente da porta com um olhar divertido no
rosto. Neil inala devagar, tentando manter a calma, mas está
lá, fermentando, e Bryan está atiçando o fogo.

— Na verdade, eu posso. Combina com o acordo que
Hallie e eu fizemos ontem à noite, certo? — Bryan me olha
por um segundo e, em seguida, acrescenta, com falsa
sinceridade: — Oh, me desculpe, você não teve a chance de
dizer a ele?

— Bryan. — Advirto, mas ele não para.

Ele caminha para o meu lado e coloca o braço por cima
dos meus ombros. — Ontem à noite eu disse a ela que uma
noite não era suficiente. Desculpe, eu pensei que você já
soubesse, e não é como se importasse para você de qualquer
maneira, porque é tudo a mesma coisa. Eu dormi com ela
antes, então o que é mais uma noite, certo? — A voz de Bryan
se transforma em navalha afiada quando ele diz as últimas
palavras. Ele me solta e dá passos em direção a Neil, então
eles estão perto o suficiente para socar um ao outro. — Você
disse algo nesse sentido, não é?

Neil apruma os ombros. Ele não vai ser repreendido por
um Ferro. Ele acha que Bryan é uma criança mimada e dá-
lhe o olhar mais condescendente que eu já vi. — Isso é como
se você quisesse uma mulher mais de uma vez. Isso não vai
contra o código de honra dos Ferro? Eu ouvi a sua irmã...

Antes de Neil poder terminar a frase, o braço de Bryan
arremessa para fora. Ele pega Neil pela garganta e sibila: —
Se você valoriza sua vida, você não vai terminar essa
sentença.

— A irmã gêmea de Bryan parece estar muito
frequentemente na imprensa marrom, o que é horrível,
porque ela é muito doce. Os jornais de fofocas nunca
executam esse tipo de história, porém, é sempre coisas sobre
a herdeira Ferro e suas ações irrefletidas e pouco castas.

Bryan reforça o seu aperto e depois o libera. Neil suga o
ar e esfrega sua garganta, mas não desvia o olhar. Eu quero
gritar com Bryan, mas eu não grito. Em vez disso, eu
pergunto: — O que você quer Bryan?

Seus olhos verdes se voltam para mim e seu olhar
suaviza.

— Você.

Ele fala como se eu fosse tudo que ele quer no mundo,
mas eu sei que não é verdade. Eu sou o que ele quer, agora,
para punição ou lazer, eu ainda não tenho certeza. Bryan
estende a mão.

— Vamos lá, eu tenho o nosso dia planejado.

Eu olho para Neil, mas ele não vai olha para mim. Por
um segundo, eu penso em dizer não, mas Maggie está lá
sorrindo. Quero manter essa expressão feliz no seu rosto e
para isso eu preciso de dinheiro. Tomando a mão de Bryan,
eu deslizo meus dedos em seu aperto quente.


CONTINUA

CAPÍTULO 4

Maggie só ficou totalmente fora de órbita uma vez. Foi
quando nós nos separamos em um lar adotivo quando
tínhamos sete anos. Em três dias, eles nos colocaram de
volta, juntas, sob o mesmo teto. Maggie nunca disse o que ela
fez, só que ela ficou louca e lançou tudo o que tinha contra
eles. O olhar em seus olhos diz que quer colocar as bolas de
Neil em um copo do plástico.

Maggie se balança, em pé, com as calças metade dentro
e metade fora, enquanto sua mandíbula está apertada. Ela
olha para longe de mim e torce seu pescoço, como se ela fosse
matar alguém. Quando ela mexe os olhos verdes de volta para
mim, há um agradável, mas aterrorizante, sorriso em seu
rosto. Quando ela fala, ela parece cordial, como alguém que
trabalha em uma linda loja de flores e ama as pessoas, em
outras palavras, ela soa totalmente demente.

— Ele lhe disse para ir? — Ela ri levemente e pisca seus
cílios para mim, enquanto ela inclina a cabeça para o lado.

— E ele sabia que estava sendo chantageada?

Eu não quero falar sobre isso. Estou tão cansada que,
provavelmente, vou começar a babar em breve.

— Sim, ele sabia. — Eu não quero dizer a ela o resto.
Como está, ela já passa do terceiro estágio de lividez.

— Qual foi o motivo maravilhoso que ele deu, para ser
tão bom? — Ela aperta as mãos com calma, mas eu sei que
há uma erupção prestes a explodir sob a fachada tranquila.

Eu esfrego os olhos e puxo o zíper do meu vestido, mas
parece que ele prendeu no tecido.

— Maggie, coloque o seu pijama e vamos dormir. Eu não
quero falar sobre isso. Obviamente, eu estou brava com Neil
ou eu não estaria aqui com você.

Ela me estuda, por um momento, os olhos apertando
com suspeita, antes de dizer: — Mas Neil não percebe que
você está chateada, e você quer que ele pense em Bryan Ferro
pregado você. — Suas sobrancelhas se elevam quando eu
olho para ela. É o rosto de “eu sei o que você pensa”.

Infelizmente, ela percebe exatamente o que eu estou
pensando, mas isso não me faz querer discutir o assunto.
Neil não deveria ter me dito isso. Parece que ele me
abandonou quando eu precisei dele. Eu tenho problemas com
esse tema específico, que me faz invariavelmente ter uma
segunda suposição sobre mim mesmo, mas não desta vez. Eu
não teria feito isso com ele. Eu não o teria feito dormir com
alguém por dinheiro. Porra, isso me faz soar como uma
prostituta.

Apertando os olhos fechados, eu desvio o olhar.

— Talvez.

Talvez Neil deva sofrer um pouco por ser tão insensível,
porque isso é o que realmente era - insensibilidade. Ao
mesmo tempo, antes desta noite ter acontecido, Neil me deu
minha vida de volta. O cara era uma âncora quando a praia
estava longe da vista. Ele estava lá comigo, em minhas horas
mais escuras e parte de mim se sentia culpada por estar aqui
com Maggie, embora eu saiba que não deveria. Às vezes
desejo que não sentir nada. Parece que assim a vida seria
mais fácil.

No momento, as emoções de Maggie estão estampadas
em seu rosto, como giz de cera derretido.

— Puta merda, Hallie! Por que você está com ele? Neil
veio e pegou-a quando você era...

Eu a cortei. — Eu sei o que eu era, e talvez Neil estivesse
no lugar certo, na hora certa, mas ele nunca fez nada
parecido com isso antes, e nem eu mantive isso dele. — Eu
menti para ela, uma e outra vez.

— E ele está mantendo coisas para você! Será que você o
fez fazer algo que ele não queria? — Ela fez uma pausa, e
acrescentou: — Você não queria ver o Ferro de novo, não é?

Balanço a cabeça e olho para longe. Ela está certa. Não
há nenhuma maneira que eu tivesse feito Neil fazer algo
assim, mas ele realmente não me deu uma escolha. Eu não

tinha escolha, não se eu quisesse ficar com a minha vida. Há
muito dinheiro em jogo. Levantando a minha mão, eu digo: —
Eu não quero mais falar sobre isso hoje à noite.

Maggie faz um som irritado no fundo da garganta e
continuou a se vestir. Depois que ela puxou seu moletom, ela
vai até uma pia com manchas de ferrugem e escovou os
dentes. Embora espumando pela boca, ela se vira e olha para
mim e aponta a escova de dente na minha direção.

— Você sabe que eu chutaria um traseiro por você.
Apenas me diga quem e eu farei. — Na última palavra,
espuma de pasta de dente voa de seus lábios.

Eu ofereço um meio sorriso. — Eu sei que você faria,
mas eu não sei quem me irritou mais - Neil ou Bryan.

Maggie me joga uma camisa de dormir e continua
falando, mas minha mente está se recuperando. Eu estou
com raiva de Neil, mas Bryan... Eu não sei. A maneira como
ele falava, a forma como a sua voz ficou presa na garganta
quando ele disse certas coisas, é quase como se ele não
quisesse fazê-lo, mas ele fez, chantageou-me.

Ele não dormiu com você. Ele a beijou e atirou-a para
fora, aquela voz interior é como sinos tocando dentro da
minha cabeça, como um relógio.

As palavras de Bryan não correspondem às suas ações,
e se ele não dirigisse a faca no ombro do ladrão, eu teria

pensado que o homem que eu vi hoje, era o meu Bryan de
anos atrás, mas não era. O que quer que tenha acontecido
com Bryan, entre aquela época e agora, o mudou, e embora o
novo homem tenha me salvado, ele me assusta.

CAPÍTULO 5

A noite passa devagar, como sempre. Eu ouço a voz de
meu pai, embora ele já não esteja aqui. Minhas memórias
estão presas em retrocesso, repetindo coisas aleatoriamente,
enquanto elas voam para frente da minha mente. Isso me
assombra até onde eu não possa mais suportar.

Maggie está roncando próximo da minha cabeça. Eu
joguei papel e tesoura com ela pela cama, e ela ganhou.
Fizemos um pequeno estrado no chão para mim, mas é mais
como um cobertor e um lençol. Eles estão emaranhados do
meu virar e revirar. Eu os empurro de lado e sento-me,
esfregando os olhos que ardem. O velho relógio de Maggie
brilha suavemente ao lado de sua cama. São quase 6 horas
da manhã.

Meu corpo dói, como se eu tivesse sido empurrada pelo
poço de um elevador, mas eu me levanto do chão e vou até a
janela estreita. Os gritos que enchiam o prédio ontem à noite,
se tranquilizaram. A mulher no piso acima gritou uma última
vez há algumas horas, em seguida, algo pesado caiu no chão.
Gostaria de saber se um deles está morto. Os sons que
fizeram a minha pele se arrepiar, recuaram, agora só tem
silêncio.

Eu me inclino contra a parede e envolvo meus braços
em volta do meu corpo, enquanto olho para fora, pela janela
estreita e nebulosa. O sol ainda está para derramar-se sobre
o horizonte e a cidade ainda está na escuridão. As calçadas
estão quase vazias. Os grupos de pessoas que estavam juntas
se dissolveram. As figuras entre as sombras se foram.

Às vezes eu me pergunto se os monstros em minha
mente são piores do que os da rua. Eu vim das ruas, assim
como Maggie. Nós sobrevivemos e ainda assim, eu não posso
fugir das lembranças que me assombram, noite após noite.
Adicione a morte do meu pai à mistura, e eu sou uma bomba
relógio ambulante. Eu gostaria de poder dizer que eu sei
quem eu sou e que os acontecimentos de meu passado não
me mudaram, mas eu não consigo imaginar minha vida sem
essas ocorrências. Se minha mãe não tivesse me
abandonado, se ela não fizesse o que ela fez, que tipo de
mulher que eu seria? Se ela fosse uma boa pessoa e me
criasse, onde estaríamos agora?

Eu engulo em seco e forço as questões para longe. Elas
não servem para nada e só irão me puxar para baixo. Lutei
tanto para fugir daquela vida, mas ela vive para sempre na
parte de trás da minha mente. Eu ouço sua voz, a sua
familiar fala arrastada. Lembro-me da dor da sua mão no
meu rosto e muitas noites passadas tremendo em um
armário escuro, enquanto ela vivia uma vida na qual não me
incluía. A maioria dos pais querem proteger seus filhos, mas

não minha mãe. Ela não queria me proteger. Ela vivia para si
mesmo e isso é a uma coisa que me assusta, que eu me torne
como ela.

Meus dedos apertam em meus lados, enquanto eu tento
não tremer, porque o apartamento está congelando. Deus,
este lugar me faz lembrar-se daquela vida. Eu não sei como
Maggie aguenta. Olho para ela e penso sobre as coisas que eu
poderia fazer por nós, se eu tivesse esse dinheiro. Eu poderia
salvá-la disso.

Mas quem vai salvar você? A vozinha em minha cabeça
murmura.

Papai não virá e me salvará desta vez. Desta vez, a única
maneira de sair dessa bagunça é através de Bryan Ferro. Eu
tenho sofrido mais dificuldades do que a maioria das pessoas
tem em uma vida, eu posso sobreviver ao que ele quer
vivenciar. — Eu só não sei se vou gostar da mulher que me
tornarei por causa disso.

Algumas coisas não valem o preço. Eu aprendi, em
primeira mão, e agora aqui estou eu, repetindo as ações de
minha mãe.

Travo os dentes e murmuro baixinho: — Eu não sou a
mesma... Não é a mesma coisa.

Meu olhar cai no parapeito da janela e eu
instintivamente inclino-me para ele, pressionando meus
dedos contra o vidro frio. Eu não entendo o que estou vendo

no inicio. Alguém está em pé na sombra do prédio, do outro
lado da rua. Eles estão dentro de uma sala, um andar abaixo
de onde eu estou, no prédio de Maggie. A pessoa é uma
silhueta sem características definidas. Eu acho que é uma
mulher, mas eu não tenho certeza. Ela está pisando para trás
lentamente. As mãos dela levantam, quando um cachorro
está prestes a atacar em seu estômago. De repente, sua
coluna se endireita e ela para de se mover. A janela é tão
estreita que não consigo ver muito mais do que sua figura
esbelta através das cortinas.

Um momento depois, ela fica mole e cai para frente.
Suas cascatas de cabelo atrás dela, caindo em câmera lenta.
Não ouço nada, apenas as respirações nasais de Maggie, mas
seu grito silencioso está tocando em meus ouvidos. Uma
forma alta, um homem, dá passos até o local onde a mulher
estava. Seus ombros são arredondados, como se ele não
estivesse preocupado com uma coisa, enquanto ele balança a
cabeça e examina o chão como se houvesse algo divertido.

Minha garganta aperta enquanto observo com horror,
congelada no lugar. Naquele momento, o homem olha para
cima e olha para a janela. Nossos olhos se encontram e o
tempo para, como se uma força invisível roubasse o meu
fôlego. Os cabelos na parte de trás do meu pescoço arrepiam
enquanto eu olho fixamente, incapaz de desviar o olhar.

Maggie me disse para manter meus olhos para baixo e
não dizer absolutamente nada a ninguém, mas eu não posso,

e ainda pior, eu o reconheço, a ele e seu cabelo loiro
brilhante. É o homem que vive do outro lado do corredor.

CAPÍTULO 6

Eu não tenho certeza se ele percebe quem ele está
olhando, mas eu estou certa de que ele sabe em que
apartamento está. Com o coração acelerado, eu giro sobre os
calcanhares e tropeço na cama de Maggie.

— Levante-se. — Minha voz está sufocada, e quase não
sai. Freneticamente, eu a balanço até acordá-la. —
Precisamos sair. Agora.

Maggie empurra-se nos cotovelos. Sua maquiagem está
manchada em todo o lado direito de seu rosto. Ela se parece
com um palhaço chorando. — O quê? — Ela está muito
grogue e não temos tempo para isso.

— Se mova. Agora. — Eu emito a ordem, atiro uma calça
jeans para ela e começo a recolher qualquer coisa importante.
Eu estou tremendo tanto que largo a braçada de itens e
minha bolsa derrama no chão. Maggie para perguntando o
que está errado. Ela pegou o meu humor e olho para a porta
como se ela já soubesse.

De repente, ela está acordada e se movendo como se ela
tivesse tomado algum energético.

— O que você viu? Foda-se, Hallie! Eu lhe disse para
não olhar para nada.

— Eu não posso acreditar que ela está me xingando,
mas eu não vou perder tempo discutindo com ela.

Ajoelhada, eu puxo todo o conteúdo de roupas e bolsa
em meus braços. — Vai, vai, vai! — Vou para a porta,
deixando o meu vestido de noite para trás. Corremos para o
corredor, meio vestidas, e começamos a descer as escadas.
Eu lanço tudo no banco de trás do carro de Maggie e salto
para frente. — Vai!

Maggie enfia a chave na ignição e o motor liga. Ela
agarra o volante com firmeza e se afasta. Por um segundo eu
acho que conseguimos escapar despercebidas, mas apenas
quando chegamos ao fim do quarteirão, eu olho para trás no
espelho retrovisor do lado. O homem do outro lado do
corredor está olhando nossas lanternas traseiras enquanto
vamos embora.

CAPÍTULO 7

— O que você viu? — Maggie gritou de novo, quando ela
olha para trás pelo espelho retrovisor. Seus olhos se
arregalam, mas ela nem pisca. Ela olha para ele enquanto ele
nos vê no carro.

— Porra, você está falando sério? Esse é Victor! Por que
ele está nos observando? Nós não o queremos nos
observando! Hallie, o que aconteceu? — A voz de Maggie sobe
uma oitava a partir do momento que ela começa a falar até o
momento que termina.

— Seu nome é Victor?

— Sim! Victor Campone. Ele é muito louco! — O corpo
de Maggie está tenso, e eu posso dizer que ele está segurando
um grande esforço para não disparar e fugir. Ela não quer
chamar a atenção para nós, então ela vai a uma velocidade
normal, mesmo que pareça que meu coração vá explodir.

— Ele matou alguém. — Minha voz é suave, quase
inaudível. Meu estômago está torcendo como eu tivesse
comido algo rançoso. A deglutição torna a sensação
incômoda, pior, então eu inclino a cabeça para trás e
pressiono os dedos na minha cara.

— Não, não, não! Diga-me que você não viu nada!

— Eu vi isso. Ele estava no apartamento em frente ao
nosso. Eu estava olhando para fora da janela.

— E ele viu você? — Eu aceno e esfrego a palma da
minha mão em meus olhos. A voz de Maggie sai com um
tremor que é tão diferente dela que me assusta.

— Ele não sabe que você viu alguma uma coisa, certo?
Quero dizer, não é como se ele estivesse a observando
enquanto ele fez isso. Nós não vimos nada. Nós não sabemos
nada. Tudo vai ficar bem. — Ela começa a divagar, mais para
si mesmo do que para mim.

— Quem é ele?

— Ninguém. Ele não é ninguém. Você não sabe o seu
nome, que você nunca viu seu rosto. — Os dedos de Maggie
ficaram brancos de segurar o volante com tanta força. — Nós
não saímos e voamos pela rua, então parece que eu estava
levando-a para casa.

Depois de um tempo, viramos para o meu bairro. Maggie
estaciona na frente do apartamento de Neil e desliga o carro.
— Eu vou voltar mais tarde e agir como se nada tivesse
acontecido. Ele vai ficar bem.

— O inferno que você vai! Você não pode viver assim
Maggie. — Em que ela se meteu? Simpatia atravessa meu
rosto antes que eu possa escondê-la, o que a irrita.

— Não olhe para mim assim. Eu posso cuidar de mim
mesmo.

— Não, não desta vez. Desta vez, você cometeu um erro.
Esse cara é louco. Como você sabe que ele não matou uma
mulher como você? Como você sabe que não vai ser a
próxima? — Ela não olha para mim, em vez disso, Maggie age
como ela não me tivesse ouviu nada. — Maggie, como você
sabe!

Virando-se, ela se encaixa. — Eu não sei, tudo bem!
Ninguém sabe quando seu tempo está acabando ou como eles
vão morrer, e nem eu! Deixe quieto, Hallie. Você já bagunçou
bastante as coisas. Eu posso corrigi-lo.

— Não, você não pode! Isso não é coisa que pode ser
corrigida! — Eu estou gritando com ela, e não posso parar.
Meu coração está batendo tão rápido que está batendo em
minhas costelas e minhas mãos estão tremendo. — A morte
lhe aguarda naquele prédio! Toda vez que você entrar lá, sua
expectativa de vida cai. Você não pode pensar seriamente que
não tem ramificações. Ele matou alguém! O casal que mora
acima de você brigaram, estavam fora de si até que um deles
caiu no chão. Você precisa esperar até que você seja a que
está morta no chão, para ver que você não está segura?

— Eu não tenho escolha! — Ela está respirando forte e
rápido como eu. Eu quero chorar e salvá-la de tudo isso, mas
eu não posso. Um momento se passa e nenhuma de nós fala.

Eu bato a minha cabeça contra o assento e olho para
ela. — O que você faz com ele?

— Eu não posso lhe dizer. — Maggie não olha para mim.
Em vez disso, ela olha fixamente para frente.

— Quem é ele?

— Você não quer saber. — Eu abro minha boca para
pressioná-la, mas ela me silencia com um dedo e me dá um
olhar severo. — Não faça isso. Saber só vai lhe trazer mais
problemas.

Eu não gosto disso, mas eu paro de perguntar. Eu
gostaria muito que as coisas não fossem assim. Eu tenho que
pegar o dinheiro do negócio do livro. Eu preciso disso, para
ela. Ela está sobrecarregada, e a parte horrível é, que eu
também

CAPÍTULO 8

Maggie me segue para a casa depois de pegar todas as
nossas coisas de dentro de seu carro. Depois que eu tomei
banho, fui para a cozinha e encontrei Neil esperando na
mesa. Ele está lendo o jornal como se ele não estivesse
minimamente chateado. Ele o dobra e coloca em cima da
mesa antes de olhar para mim.

— Então, como foi?

— Tudo bem. — Meu queixo está apertado. Eu mal
posso cuspir as palavras. Quero arrancar a sua cabeça fora,
mas se eu fizer isso eu vou ser uma sem-teto. Quando eu
virei uma fraca covarde? Hallie, a prostituta. A palavra que
você está procurando é prostituta. Eu não quero pensar sobre
isso, então eu pego uma xícara de café do armário e uso esse
tempo derramando o líquido quente, então eu não tenho que
olhar para ele.

Antes de eu saber o que está acontecendo, Neil está
andando em minha direção. Eu acho que ele vai brigar, mas
sua voz está tímida. — Eu não deveria ter feito você fazer
isso. Sinto muito, Hallie. — Eu posso sentir seus olhos em
minhas costas e o tom de súplica em sua voz faz meu coração
estilhaçar.

— Não, você não deveria ter feito, — é tudo que eu posso
controlar. Eu mantenho meus olhos focados no líquido negro
na minha xícara, assistindo o subir do vapor para a
superfície.

— Olhe, eu pensei na maneira como vocês dois estavam
atuando no palco, e eu pensei que você ainda gostava dele.

Sua confissão me pega de surpresa. Viro-me devagar e
olho por cima do ombro, para ele. Ele está falando sério? Por
alguma razão, parece que eu estou sendo jogada, mas eu
rejeito isso. Quanto eu estou cansada? O cara está tentando
pedir desculpas e eu quero algo seguro agora. Neil é o
epítome do seguro.

Por um momento, eu não posso falar. Então eu gerencio
um — eu não. — Minhas palavras são evasivas. Eu ia dizer
que eu não tenho sentimentos por ele, mas eu tenho. Eu
sinto algo por Bryan, mas eu não sei o que é. Medo? Luxuria?
Atração não significa nada mesmo, não é?

Neil acena uma vez e observa seus pés. Seu cabelo cor
de areia obscurece os olhos. — Então, você me perdoa?

— Se você puder me perdoar? — De onde veio isso? As
palavras me chocam, mas isso não as impede de sair da
minha boca. Eu não deveria ter que pedir-lhe que me perdoe
por amantes do passado, por coisas que aconteceram antes
de conhecê-lo, mas eu pedi.

Seus lábios puxam para um leve sorriso.

— Eu já perdoei. Eu entendo por que você não disse
nada sobre ele. Quero dizer, é constrangedor, certo? Você não
quer fazer coisas estranhas entre nós, ao mencionar isso. As
pessoas têm manchas escuras em seu passado, e ele é a sua.
Eu entendi. Desculpe-me, eu a empurrei de volta, e eu estou
tão feliz que você voltou para casa novamente. Eu pensei que
odiaria ter perdido você.

— Neil ergue os braços, como se ele quisesse um abraço.

Eu largo minha xícara e caio em seus braços. Neil me
abraça como se eu fosse frágil, e suavemente beija minha
face. Ficamos assim por um momento, até que uma voz nos
rompe.

— Eu deveria ter esclarecido os termos do meu silêncio.
— Bryan está em pé, na nossa frente, na porta entre a sala e
a cozinha. — Não vai haver intimidade de qualquer tipo entre
vocês dois, enquanto Hallie estiver comigo e eu não terminei
com ela ainda.

CAPÍTULO 9

Neil me libera e se distancia. Seu queixo cai, fica de
boca aberta e olha duas vezes, como se ele não pudesse
acreditar que Bryan teve a audácia de entrar em sua casa.

— Você não tem o direito de estar aqui.

Bryan sorri e desliza as mãos nos bolsos. Ele está
vestindo calça jeans escura e uma camiseta que moldava e
revelava o seu delicioso corpo. A jaqueta de couro desgastado
pende dos ombros e seu cabelo ainda está úmido, como se ele
apenas tivesse rolado para fora da cama.

— Eu sinto cheiro de café? — Bryan ignora Neil, o
empurra, passando por nós, e agarra minha xícara fora do
balcão. — Ainda bebe preto, hein, Hallie? — Ele pisca para
mim, antes de engolir a minha bebida.

— Puta merda. — Maggie aparece com o cabelo molhado
pingando e seu queixo arrastando no chão. Seus olhos vão de
Neil para Bryan, como se ela estivesse antecipando uma
explosão.

Bryan se inclina para trás em cima do balcão, o paletó
se abre, revelando mais do seu peito tonificado e essa
camiseta deliciosa. Quando ele sorri, ele parece como o velho

Bryan, com uma covinha lambível. — Ei, Ruiva, — ele acena
com a cabeça em direção a Maggie com seu sorriso mágico.

— Ei para você também. — Maggie ri e olha para mim e,
em seguida, para Neil.

Neil parece chocado e permanece congelado por alguns
segundos, antes de se encher e gritar irritado. — Saia ou eu
vou chamar a polícia.

Bryan dá de ombros como se não se importasse e não se
move. — Vá em frente. Chame-os e eu vou ligar para os meus
amigos, e fazer as coisas rolarem. — Ele puxa o celular do
bolso e o segura. — Bem, vá em frente.

Neil olha para mim e, em seguida, para Bryan. — Você
disse uma noite.

— Sim, mas eu mudei de ideia. Ontem à noite nada
ocorreu como planejado, e eu pensei, por que não pedia
mais? Se você disser não, você perde tudo. É uma espécie de
acéfalo, então eu vim para isso. — Bryan fala com Neil, mas
ele está olhando para Maggie quando fala.

Depois de descansar a minha xícara vazia no balcão,
Bryan caminha para mim. — Pronta?

— Você disse que ia ligar. — Minhas mãos estão
fechadas nas laterais do meu corpo, eu gostaria de ser mais
alta para que eu pudesse gritar com Bryan olho no olho.

Ele oferece um típico sorriso Bryan Ferro e encolhe os
ombros. — Sim, eu sou lunático. Eu pensei em vir fazer uma
visitinha e buscá-la. Além disso, eu precisava ter certeza de
que seu namorado idiota não tocasse em você.

— Estes não eram os termos. Você não pode mudar
suas exigências assim. — Neil está agitado, mas Maggie está
encostada no batente da porta com um olhar divertido no
rosto. Neil inala devagar, tentando manter a calma, mas está
lá, fermentando, e Bryan está atiçando o fogo.

— Na verdade, eu posso. Combina com o acordo que
Hallie e eu fizemos ontem à noite, certo? — Bryan me olha
por um segundo e, em seguida, acrescenta, com falsa
sinceridade: — Oh, me desculpe, você não teve a chance de
dizer a ele?

— Bryan. — Advirto, mas ele não para.

Ele caminha para o meu lado e coloca o braço por cima
dos meus ombros. — Ontem à noite eu disse a ela que uma
noite não era suficiente. Desculpe, eu pensei que você já
soubesse, e não é como se importasse para você de qualquer
maneira, porque é tudo a mesma coisa. Eu dormi com ela
antes, então o que é mais uma noite, certo? — A voz de Bryan
se transforma em navalha afiada quando ele diz as últimas
palavras. Ele me solta e dá passos em direção a Neil, então
eles estão perto o suficiente para socar um ao outro. — Você
disse algo nesse sentido, não é?

Neil apruma os ombros. Ele não vai ser repreendido por
um Ferro. Ele acha que Bryan é uma criança mimada e dá-
lhe o olhar mais condescendente que eu já vi. — Isso é como
se você quisesse uma mulher mais de uma vez. Isso não vai
contra o código de honra dos Ferro? Eu ouvi a sua irmã...

Antes de Neil poder terminar a frase, o braço de Bryan
arremessa para fora. Ele pega Neil pela garganta e sibila: —
Se você valoriza sua vida, você não vai terminar essa
sentença.

— A irmã gêmea de Bryan parece estar muito
frequentemente na imprensa marrom, o que é horrível,
porque ela é muito doce. Os jornais de fofocas nunca
executam esse tipo de história, porém, é sempre coisas sobre
a herdeira Ferro e suas ações irrefletidas e pouco castas.

Bryan reforça o seu aperto e depois o libera. Neil suga o
ar e esfrega sua garganta, mas não desvia o olhar. Eu quero
gritar com Bryan, mas eu não grito. Em vez disso, eu
pergunto: — O que você quer Bryan?

Seus olhos verdes se voltam para mim e seu olhar
suaviza.

— Você.

Ele fala como se eu fosse tudo que ele quer no mundo,
mas eu sei que não é verdade. Eu sou o que ele quer, agora,
para punição ou lazer, eu ainda não tenho certeza. Bryan
estende a mão.

— Vamos lá, eu tenho o nosso dia planejado.

Eu olho para Neil, mas ele não vai olha para mim. Por
um segundo, eu penso em dizer não, mas Maggie está lá
sorrindo. Quero manter essa expressão feliz no seu rosto e
para isso eu preciso de dinheiro. Tomando a mão de Bryan,
eu deslizo meus dedos em seu aperto quente.


CONTINUA

CAPÍTULO 4

Maggie só ficou totalmente fora de órbita uma vez. Foi
quando nós nos separamos em um lar adotivo quando
tínhamos sete anos. Em três dias, eles nos colocaram de
volta, juntas, sob o mesmo teto. Maggie nunca disse o que ela
fez, só que ela ficou louca e lançou tudo o que tinha contra
eles. O olhar em seus olhos diz que quer colocar as bolas de
Neil em um copo do plástico.

Maggie se balança, em pé, com as calças metade dentro
e metade fora, enquanto sua mandíbula está apertada. Ela
olha para longe de mim e torce seu pescoço, como se ela fosse
matar alguém. Quando ela mexe os olhos verdes de volta para
mim, há um agradável, mas aterrorizante, sorriso em seu
rosto. Quando ela fala, ela parece cordial, como alguém que
trabalha em uma linda loja de flores e ama as pessoas, em
outras palavras, ela soa totalmente demente.

— Ele lhe disse para ir? — Ela ri levemente e pisca seus
cílios para mim, enquanto ela inclina a cabeça para o lado.

— E ele sabia que estava sendo chantageada?

Eu não quero falar sobre isso. Estou tão cansada que,
provavelmente, vou começar a babar em breve.

— Sim, ele sabia. — Eu não quero dizer a ela o resto.
Como está, ela já passa do terceiro estágio de lividez.

— Qual foi o motivo maravilhoso que ele deu, para ser
tão bom? — Ela aperta as mãos com calma, mas eu sei que
há uma erupção prestes a explodir sob a fachada tranquila.

Eu esfrego os olhos e puxo o zíper do meu vestido, mas
parece que ele prendeu no tecido.

— Maggie, coloque o seu pijama e vamos dormir. Eu não
quero falar sobre isso. Obviamente, eu estou brava com Neil
ou eu não estaria aqui com você.

Ela me estuda, por um momento, os olhos apertando
com suspeita, antes de dizer: — Mas Neil não percebe que
você está chateada, e você quer que ele pense em Bryan Ferro
pregado você. — Suas sobrancelhas se elevam quando eu
olho para ela. É o rosto de “eu sei o que você pensa”.

Infelizmente, ela percebe exatamente o que eu estou
pensando, mas isso não me faz querer discutir o assunto.
Neil não deveria ter me dito isso. Parece que ele me
abandonou quando eu precisei dele. Eu tenho problemas com
esse tema específico, que me faz invariavelmente ter uma
segunda suposição sobre mim mesmo, mas não desta vez. Eu
não teria feito isso com ele. Eu não o teria feito dormir com
alguém por dinheiro. Porra, isso me faz soar como uma
prostituta.

Apertando os olhos fechados, eu desvio o olhar.

— Talvez.

Talvez Neil deva sofrer um pouco por ser tão insensível,
porque isso é o que realmente era - insensibilidade. Ao
mesmo tempo, antes desta noite ter acontecido, Neil me deu
minha vida de volta. O cara era uma âncora quando a praia
estava longe da vista. Ele estava lá comigo, em minhas horas
mais escuras e parte de mim se sentia culpada por estar aqui
com Maggie, embora eu saiba que não deveria. Às vezes
desejo que não sentir nada. Parece que assim a vida seria
mais fácil.

No momento, as emoções de Maggie estão estampadas
em seu rosto, como giz de cera derretido.

— Puta merda, Hallie! Por que você está com ele? Neil
veio e pegou-a quando você era...

Eu a cortei. — Eu sei o que eu era, e talvez Neil estivesse
no lugar certo, na hora certa, mas ele nunca fez nada
parecido com isso antes, e nem eu mantive isso dele. — Eu
menti para ela, uma e outra vez.

— E ele está mantendo coisas para você! Será que você o
fez fazer algo que ele não queria? — Ela fez uma pausa, e
acrescentou: — Você não queria ver o Ferro de novo, não é?

Balanço a cabeça e olho para longe. Ela está certa. Não
há nenhuma maneira que eu tivesse feito Neil fazer algo
assim, mas ele realmente não me deu uma escolha. Eu não

tinha escolha, não se eu quisesse ficar com a minha vida. Há
muito dinheiro em jogo. Levantando a minha mão, eu digo: —
Eu não quero mais falar sobre isso hoje à noite.

Maggie faz um som irritado no fundo da garganta e
continuou a se vestir. Depois que ela puxou seu moletom, ela
vai até uma pia com manchas de ferrugem e escovou os
dentes. Embora espumando pela boca, ela se vira e olha para
mim e aponta a escova de dente na minha direção.

— Você sabe que eu chutaria um traseiro por você.
Apenas me diga quem e eu farei. — Na última palavra,
espuma de pasta de dente voa de seus lábios.

Eu ofereço um meio sorriso. — Eu sei que você faria,
mas eu não sei quem me irritou mais - Neil ou Bryan.

Maggie me joga uma camisa de dormir e continua
falando, mas minha mente está se recuperando. Eu estou
com raiva de Neil, mas Bryan... Eu não sei. A maneira como
ele falava, a forma como a sua voz ficou presa na garganta
quando ele disse certas coisas, é quase como se ele não
quisesse fazê-lo, mas ele fez, chantageou-me.

Ele não dormiu com você. Ele a beijou e atirou-a para
fora, aquela voz interior é como sinos tocando dentro da
minha cabeça, como um relógio.

As palavras de Bryan não correspondem às suas ações,
e se ele não dirigisse a faca no ombro do ladrão, eu teria

pensado que o homem que eu vi hoje, era o meu Bryan de
anos atrás, mas não era. O que quer que tenha acontecido
com Bryan, entre aquela época e agora, o mudou, e embora o
novo homem tenha me salvado, ele me assusta.

CAPÍTULO 5

A noite passa devagar, como sempre. Eu ouço a voz de
meu pai, embora ele já não esteja aqui. Minhas memórias
estão presas em retrocesso, repetindo coisas aleatoriamente,
enquanto elas voam para frente da minha mente. Isso me
assombra até onde eu não possa mais suportar.

Maggie está roncando próximo da minha cabeça. Eu
joguei papel e tesoura com ela pela cama, e ela ganhou.
Fizemos um pequeno estrado no chão para mim, mas é mais
como um cobertor e um lençol. Eles estão emaranhados do
meu virar e revirar. Eu os empurro de lado e sento-me,
esfregando os olhos que ardem. O velho relógio de Maggie
brilha suavemente ao lado de sua cama. São quase 6 horas
da manhã.

Meu corpo dói, como se eu tivesse sido empurrada pelo
poço de um elevador, mas eu me levanto do chão e vou até a
janela estreita. Os gritos que enchiam o prédio ontem à noite,
se tranquilizaram. A mulher no piso acima gritou uma última
vez há algumas horas, em seguida, algo pesado caiu no chão.
Gostaria de saber se um deles está morto. Os sons que
fizeram a minha pele se arrepiar, recuaram, agora só tem
silêncio.

Eu me inclino contra a parede e envolvo meus braços
em volta do meu corpo, enquanto olho para fora, pela janela
estreita e nebulosa. O sol ainda está para derramar-se sobre
o horizonte e a cidade ainda está na escuridão. As calçadas
estão quase vazias. Os grupos de pessoas que estavam juntas
se dissolveram. As figuras entre as sombras se foram.

Às vezes eu me pergunto se os monstros em minha
mente são piores do que os da rua. Eu vim das ruas, assim
como Maggie. Nós sobrevivemos e ainda assim, eu não posso
fugir das lembranças que me assombram, noite após noite.
Adicione a morte do meu pai à mistura, e eu sou uma bomba
relógio ambulante. Eu gostaria de poder dizer que eu sei
quem eu sou e que os acontecimentos de meu passado não
me mudaram, mas eu não consigo imaginar minha vida sem
essas ocorrências. Se minha mãe não tivesse me
abandonado, se ela não fizesse o que ela fez, que tipo de
mulher que eu seria? Se ela fosse uma boa pessoa e me
criasse, onde estaríamos agora?

Eu engulo em seco e forço as questões para longe. Elas
não servem para nada e só irão me puxar para baixo. Lutei
tanto para fugir daquela vida, mas ela vive para sempre na
parte de trás da minha mente. Eu ouço sua voz, a sua
familiar fala arrastada. Lembro-me da dor da sua mão no
meu rosto e muitas noites passadas tremendo em um
armário escuro, enquanto ela vivia uma vida na qual não me
incluía. A maioria dos pais querem proteger seus filhos, mas

não minha mãe. Ela não queria me proteger. Ela vivia para si
mesmo e isso é a uma coisa que me assusta, que eu me torne
como ela.

Meus dedos apertam em meus lados, enquanto eu tento
não tremer, porque o apartamento está congelando. Deus,
este lugar me faz lembrar-se daquela vida. Eu não sei como
Maggie aguenta. Olho para ela e penso sobre as coisas que eu
poderia fazer por nós, se eu tivesse esse dinheiro. Eu poderia
salvá-la disso.

Mas quem vai salvar você? A vozinha em minha cabeça
murmura.

Papai não virá e me salvará desta vez. Desta vez, a única
maneira de sair dessa bagunça é através de Bryan Ferro. Eu
tenho sofrido mais dificuldades do que a maioria das pessoas
tem em uma vida, eu posso sobreviver ao que ele quer
vivenciar. — Eu só não sei se vou gostar da mulher que me
tornarei por causa disso.

Algumas coisas não valem o preço. Eu aprendi, em
primeira mão, e agora aqui estou eu, repetindo as ações de
minha mãe.

Travo os dentes e murmuro baixinho: — Eu não sou a
mesma... Não é a mesma coisa.

Meu olhar cai no parapeito da janela e eu
instintivamente inclino-me para ele, pressionando meus
dedos contra o vidro frio. Eu não entendo o que estou vendo

no inicio. Alguém está em pé na sombra do prédio, do outro
lado da rua. Eles estão dentro de uma sala, um andar abaixo
de onde eu estou, no prédio de Maggie. A pessoa é uma
silhueta sem características definidas. Eu acho que é uma
mulher, mas eu não tenho certeza. Ela está pisando para trás
lentamente. As mãos dela levantam, quando um cachorro
está prestes a atacar em seu estômago. De repente, sua
coluna se endireita e ela para de se mover. A janela é tão
estreita que não consigo ver muito mais do que sua figura
esbelta através das cortinas.

Um momento depois, ela fica mole e cai para frente.
Suas cascatas de cabelo atrás dela, caindo em câmera lenta.
Não ouço nada, apenas as respirações nasais de Maggie, mas
seu grito silencioso está tocando em meus ouvidos. Uma
forma alta, um homem, dá passos até o local onde a mulher
estava. Seus ombros são arredondados, como se ele não
estivesse preocupado com uma coisa, enquanto ele balança a
cabeça e examina o chão como se houvesse algo divertido.

Minha garganta aperta enquanto observo com horror,
congelada no lugar. Naquele momento, o homem olha para
cima e olha para a janela. Nossos olhos se encontram e o
tempo para, como se uma força invisível roubasse o meu
fôlego. Os cabelos na parte de trás do meu pescoço arrepiam
enquanto eu olho fixamente, incapaz de desviar o olhar.

Maggie me disse para manter meus olhos para baixo e
não dizer absolutamente nada a ninguém, mas eu não posso,

e ainda pior, eu o reconheço, a ele e seu cabelo loiro
brilhante. É o homem que vive do outro lado do corredor.

CAPÍTULO 6

Eu não tenho certeza se ele percebe quem ele está
olhando, mas eu estou certa de que ele sabe em que
apartamento está. Com o coração acelerado, eu giro sobre os
calcanhares e tropeço na cama de Maggie.

— Levante-se. — Minha voz está sufocada, e quase não
sai. Freneticamente, eu a balanço até acordá-la. —
Precisamos sair. Agora.

Maggie empurra-se nos cotovelos. Sua maquiagem está
manchada em todo o lado direito de seu rosto. Ela se parece
com um palhaço chorando. — O quê? — Ela está muito
grogue e não temos tempo para isso.

— Se mova. Agora. — Eu emito a ordem, atiro uma calça
jeans para ela e começo a recolher qualquer coisa importante.
Eu estou tremendo tanto que largo a braçada de itens e
minha bolsa derrama no chão. Maggie para perguntando o
que está errado. Ela pegou o meu humor e olho para a porta
como se ela já soubesse.

De repente, ela está acordada e se movendo como se ela
tivesse tomado algum energético.

— O que você viu? Foda-se, Hallie! Eu lhe disse para
não olhar para nada.

— Eu não posso acreditar que ela está me xingando,
mas eu não vou perder tempo discutindo com ela.

Ajoelhada, eu puxo todo o conteúdo de roupas e bolsa
em meus braços. — Vai, vai, vai! — Vou para a porta,
deixando o meu vestido de noite para trás. Corremos para o
corredor, meio vestidas, e começamos a descer as escadas.
Eu lanço tudo no banco de trás do carro de Maggie e salto
para frente. — Vai!

Maggie enfia a chave na ignição e o motor liga. Ela
agarra o volante com firmeza e se afasta. Por um segundo eu
acho que conseguimos escapar despercebidas, mas apenas
quando chegamos ao fim do quarteirão, eu olho para trás no
espelho retrovisor do lado. O homem do outro lado do
corredor está olhando nossas lanternas traseiras enquanto
vamos embora.

CAPÍTULO 7

— O que você viu? — Maggie gritou de novo, quando ela
olha para trás pelo espelho retrovisor. Seus olhos se
arregalam, mas ela nem pisca. Ela olha para ele enquanto ele
nos vê no carro.

— Porra, você está falando sério? Esse é Victor! Por que
ele está nos observando? Nós não o queremos nos
observando! Hallie, o que aconteceu? — A voz de Maggie sobe
uma oitava a partir do momento que ela começa a falar até o
momento que termina.

— Seu nome é Victor?

— Sim! Victor Campone. Ele é muito louco! — O corpo
de Maggie está tenso, e eu posso dizer que ele está segurando
um grande esforço para não disparar e fugir. Ela não quer
chamar a atenção para nós, então ela vai a uma velocidade
normal, mesmo que pareça que meu coração vá explodir.

— Ele matou alguém. — Minha voz é suave, quase
inaudível. Meu estômago está torcendo como eu tivesse
comido algo rançoso. A deglutição torna a sensação
incômoda, pior, então eu inclino a cabeça para trás e
pressiono os dedos na minha cara.

— Não, não, não! Diga-me que você não viu nada!

— Eu vi isso. Ele estava no apartamento em frente ao
nosso. Eu estava olhando para fora da janela.

— E ele viu você? — Eu aceno e esfrego a palma da
minha mão em meus olhos. A voz de Maggie sai com um
tremor que é tão diferente dela que me assusta.

— Ele não sabe que você viu alguma uma coisa, certo?
Quero dizer, não é como se ele estivesse a observando
enquanto ele fez isso. Nós não vimos nada. Nós não sabemos
nada. Tudo vai ficar bem. — Ela começa a divagar, mais para
si mesmo do que para mim.

— Quem é ele?

— Ninguém. Ele não é ninguém. Você não sabe o seu
nome, que você nunca viu seu rosto. — Os dedos de Maggie
ficaram brancos de segurar o volante com tanta força. — Nós
não saímos e voamos pela rua, então parece que eu estava
levando-a para casa.

Depois de um tempo, viramos para o meu bairro. Maggie
estaciona na frente do apartamento de Neil e desliga o carro.
— Eu vou voltar mais tarde e agir como se nada tivesse
acontecido. Ele vai ficar bem.

— O inferno que você vai! Você não pode viver assim
Maggie. — Em que ela se meteu? Simpatia atravessa meu
rosto antes que eu possa escondê-la, o que a irrita.

— Não olhe para mim assim. Eu posso cuidar de mim
mesmo.

— Não, não desta vez. Desta vez, você cometeu um erro.
Esse cara é louco. Como você sabe que ele não matou uma
mulher como você? Como você sabe que não vai ser a
próxima? — Ela não olha para mim, em vez disso, Maggie age
como ela não me tivesse ouviu nada. — Maggie, como você
sabe!

Virando-se, ela se encaixa. — Eu não sei, tudo bem!
Ninguém sabe quando seu tempo está acabando ou como eles
vão morrer, e nem eu! Deixe quieto, Hallie. Você já bagunçou
bastante as coisas. Eu posso corrigi-lo.

— Não, você não pode! Isso não é coisa que pode ser
corrigida! — Eu estou gritando com ela, e não posso parar.
Meu coração está batendo tão rápido que está batendo em
minhas costelas e minhas mãos estão tremendo. — A morte
lhe aguarda naquele prédio! Toda vez que você entrar lá, sua
expectativa de vida cai. Você não pode pensar seriamente que
não tem ramificações. Ele matou alguém! O casal que mora
acima de você brigaram, estavam fora de si até que um deles
caiu no chão. Você precisa esperar até que você seja a que
está morta no chão, para ver que você não está segura?

— Eu não tenho escolha! — Ela está respirando forte e
rápido como eu. Eu quero chorar e salvá-la de tudo isso, mas
eu não posso. Um momento se passa e nenhuma de nós fala.

Eu bato a minha cabeça contra o assento e olho para
ela. — O que você faz com ele?

— Eu não posso lhe dizer. — Maggie não olha para mim.
Em vez disso, ela olha fixamente para frente.

— Quem é ele?

— Você não quer saber. — Eu abro minha boca para
pressioná-la, mas ela me silencia com um dedo e me dá um
olhar severo. — Não faça isso. Saber só vai lhe trazer mais
problemas.

Eu não gosto disso, mas eu paro de perguntar. Eu
gostaria muito que as coisas não fossem assim. Eu tenho que
pegar o dinheiro do negócio do livro. Eu preciso disso, para
ela. Ela está sobrecarregada, e a parte horrível é, que eu
também

CAPÍTULO 8

Maggie me segue para a casa depois de pegar todas as
nossas coisas de dentro de seu carro. Depois que eu tomei
banho, fui para a cozinha e encontrei Neil esperando na
mesa. Ele está lendo o jornal como se ele não estivesse
minimamente chateado. Ele o dobra e coloca em cima da
mesa antes de olhar para mim.

— Então, como foi?

— Tudo bem. — Meu queixo está apertado. Eu mal
posso cuspir as palavras. Quero arrancar a sua cabeça fora,
mas se eu fizer isso eu vou ser uma sem-teto. Quando eu
virei uma fraca covarde? Hallie, a prostituta. A palavra que
você está procurando é prostituta. Eu não quero pensar sobre
isso, então eu pego uma xícara de café do armário e uso esse
tempo derramando o líquido quente, então eu não tenho que
olhar para ele.

Antes de eu saber o que está acontecendo, Neil está
andando em minha direção. Eu acho que ele vai brigar, mas
sua voz está tímida. — Eu não deveria ter feito você fazer
isso. Sinto muito, Hallie. — Eu posso sentir seus olhos em
minhas costas e o tom de súplica em sua voz faz meu coração
estilhaçar.

— Não, você não deveria ter feito, — é tudo que eu posso
controlar. Eu mantenho meus olhos focados no líquido negro
na minha xícara, assistindo o subir do vapor para a
superfície.

— Olhe, eu pensei na maneira como vocês dois estavam
atuando no palco, e eu pensei que você ainda gostava dele.

Sua confissão me pega de surpresa. Viro-me devagar e
olho por cima do ombro, para ele. Ele está falando sério? Por
alguma razão, parece que eu estou sendo jogada, mas eu
rejeito isso. Quanto eu estou cansada? O cara está tentando
pedir desculpas e eu quero algo seguro agora. Neil é o
epítome do seguro.

Por um momento, eu não posso falar. Então eu gerencio
um — eu não. — Minhas palavras são evasivas. Eu ia dizer
que eu não tenho sentimentos por ele, mas eu tenho. Eu
sinto algo por Bryan, mas eu não sei o que é. Medo? Luxuria?
Atração não significa nada mesmo, não é?

Neil acena uma vez e observa seus pés. Seu cabelo cor
de areia obscurece os olhos. — Então, você me perdoa?

— Se você puder me perdoar? — De onde veio isso? As
palavras me chocam, mas isso não as impede de sair da
minha boca. Eu não deveria ter que pedir-lhe que me perdoe
por amantes do passado, por coisas que aconteceram antes
de conhecê-lo, mas eu pedi.

Seus lábios puxam para um leve sorriso.

— Eu já perdoei. Eu entendo por que você não disse
nada sobre ele. Quero dizer, é constrangedor, certo? Você não
quer fazer coisas estranhas entre nós, ao mencionar isso. As
pessoas têm manchas escuras em seu passado, e ele é a sua.
Eu entendi. Desculpe-me, eu a empurrei de volta, e eu estou
tão feliz que você voltou para casa novamente. Eu pensei que
odiaria ter perdido você.

— Neil ergue os braços, como se ele quisesse um abraço.

Eu largo minha xícara e caio em seus braços. Neil me
abraça como se eu fosse frágil, e suavemente beija minha
face. Ficamos assim por um momento, até que uma voz nos
rompe.

— Eu deveria ter esclarecido os termos do meu silêncio.
— Bryan está em pé, na nossa frente, na porta entre a sala e
a cozinha. — Não vai haver intimidade de qualquer tipo entre
vocês dois, enquanto Hallie estiver comigo e eu não terminei
com ela ainda.

CAPÍTULO 9

Neil me libera e se distancia. Seu queixo cai, fica de
boca aberta e olha duas vezes, como se ele não pudesse
acreditar que Bryan teve a audácia de entrar em sua casa.

— Você não tem o direito de estar aqui.

Bryan sorri e desliza as mãos nos bolsos. Ele está
vestindo calça jeans escura e uma camiseta que moldava e
revelava o seu delicioso corpo. A jaqueta de couro desgastado
pende dos ombros e seu cabelo ainda está úmido, como se ele
apenas tivesse rolado para fora da cama.

— Eu sinto cheiro de café? — Bryan ignora Neil, o
empurra, passando por nós, e agarra minha xícara fora do
balcão. — Ainda bebe preto, hein, Hallie? — Ele pisca para
mim, antes de engolir a minha bebida.

— Puta merda. — Maggie aparece com o cabelo molhado
pingando e seu queixo arrastando no chão. Seus olhos vão de
Neil para Bryan, como se ela estivesse antecipando uma
explosão.

Bryan se inclina para trás em cima do balcão, o paletó
se abre, revelando mais do seu peito tonificado e essa
camiseta deliciosa. Quando ele sorri, ele parece como o velho

Bryan, com uma covinha lambível. — Ei, Ruiva, — ele acena
com a cabeça em direção a Maggie com seu sorriso mágico.

— Ei para você também. — Maggie ri e olha para mim e,
em seguida, para Neil.

Neil parece chocado e permanece congelado por alguns
segundos, antes de se encher e gritar irritado. — Saia ou eu
vou chamar a polícia.

Bryan dá de ombros como se não se importasse e não se
move. — Vá em frente. Chame-os e eu vou ligar para os meus
amigos, e fazer as coisas rolarem. — Ele puxa o celular do
bolso e o segura. — Bem, vá em frente.

Neil olha para mim e, em seguida, para Bryan. — Você
disse uma noite.

— Sim, mas eu mudei de ideia. Ontem à noite nada
ocorreu como planejado, e eu pensei, por que não pedia
mais? Se você disser não, você perde tudo. É uma espécie de
acéfalo, então eu vim para isso. — Bryan fala com Neil, mas
ele está olhando para Maggie quando fala.

Depois de descansar a minha xícara vazia no balcão,
Bryan caminha para mim. — Pronta?

— Você disse que ia ligar. — Minhas mãos estão
fechadas nas laterais do meu corpo, eu gostaria de ser mais
alta para que eu pudesse gritar com Bryan olho no olho.

Ele oferece um típico sorriso Bryan Ferro e encolhe os
ombros. — Sim, eu sou lunático. Eu pensei em vir fazer uma
visitinha e buscá-la. Além disso, eu precisava ter certeza de
que seu namorado idiota não tocasse em você.

— Estes não eram os termos. Você não pode mudar
suas exigências assim. — Neil está agitado, mas Maggie está
encostada no batente da porta com um olhar divertido no
rosto. Neil inala devagar, tentando manter a calma, mas está
lá, fermentando, e Bryan está atiçando o fogo.

— Na verdade, eu posso. Combina com o acordo que
Hallie e eu fizemos ontem à noite, certo? — Bryan me olha
por um segundo e, em seguida, acrescenta, com falsa
sinceridade: — Oh, me desculpe, você não teve a chance de
dizer a ele?

— Bryan. — Advirto, mas ele não para.

Ele caminha para o meu lado e coloca o braço por cima
dos meus ombros. — Ontem à noite eu disse a ela que uma
noite não era suficiente. Desculpe, eu pensei que você já
soubesse, e não é como se importasse para você de qualquer
maneira, porque é tudo a mesma coisa. Eu dormi com ela
antes, então o que é mais uma noite, certo? — A voz de Bryan
se transforma em navalha afiada quando ele diz as últimas
palavras. Ele me solta e dá passos em direção a Neil, então
eles estão perto o suficiente para socar um ao outro. — Você
disse algo nesse sentido, não é?

Neil apruma os ombros. Ele não vai ser repreendido por
um Ferro. Ele acha que Bryan é uma criança mimada e dá-
lhe o olhar mais condescendente que eu já vi. — Isso é como
se você quisesse uma mulher mais de uma vez. Isso não vai
contra o código de honra dos Ferro? Eu ouvi a sua irmã...

Antes de Neil poder terminar a frase, o braço de Bryan
arremessa para fora. Ele pega Neil pela garganta e sibila: —
Se você valoriza sua vida, você não vai terminar essa
sentença.

— A irmã gêmea de Bryan parece estar muito
frequentemente na imprensa marrom, o que é horrível,
porque ela é muito doce. Os jornais de fofocas nunca
executam esse tipo de história, porém, é sempre coisas sobre
a herdeira Ferro e suas ações irrefletidas e pouco castas.

Bryan reforça o seu aperto e depois o libera. Neil suga o
ar e esfrega sua garganta, mas não desvia o olhar. Eu quero
gritar com Bryan, mas eu não grito. Em vez disso, eu
pergunto: — O que você quer Bryan?

Seus olhos verdes se voltam para mim e seu olhar
suaviza.

— Você.

Ele fala como se eu fosse tudo que ele quer no mundo,
mas eu sei que não é verdade. Eu sou o que ele quer, agora,
para punição ou lazer, eu ainda não tenho certeza. Bryan
estende a mão.

— Vamos lá, eu tenho o nosso dia planejado.

Eu olho para Neil, mas ele não vai olha para mim. Por
um segundo, eu penso em dizer não, mas Maggie está lá
sorrindo. Quero manter essa expressão feliz no seu rosto e
para isso eu preciso de dinheiro. Tomando a mão de Bryan,
eu deslizo meus dedos em seu aperto quente.


CONTINUA

CAPÍTULO 4

Maggie só ficou totalmente fora de órbita uma vez. Foi
quando nós nos separamos em um lar adotivo quando
tínhamos sete anos. Em três dias, eles nos colocaram de
volta, juntas, sob o mesmo teto. Maggie nunca disse o que ela
fez, só que ela ficou louca e lançou tudo o que tinha contra
eles. O olhar em seus olhos diz que quer colocar as bolas de
Neil em um copo do plástico.

Maggie se balança, em pé, com as calças metade dentro
e metade fora, enquanto sua mandíbula está apertada. Ela
olha para longe de mim e torce seu pescoço, como se ela fosse
matar alguém. Quando ela mexe os olhos verdes de volta para
mim, há um agradável, mas aterrorizante, sorriso em seu
rosto. Quando ela fala, ela parece cordial, como alguém que
trabalha em uma linda loja de flores e ama as pessoas, em
outras palavras, ela soa totalmente demente.

— Ele lhe disse para ir? — Ela ri levemente e pisca seus
cílios para mim, enquanto ela inclina a cabeça para o lado.

— E ele sabia que estava sendo chantageada?

Eu não quero falar sobre isso. Estou tão cansada que,
provavelmente, vou começar a babar em breve.

— Sim, ele sabia. — Eu não quero dizer a ela o resto.
Como está, ela já passa do terceiro estágio de lividez.

— Qual foi o motivo maravilhoso que ele deu, para ser
tão bom? — Ela aperta as mãos com calma, mas eu sei que
há uma erupção prestes a explodir sob a fachada tranquila.

Eu esfrego os olhos e puxo o zíper do meu vestido, mas
parece que ele prendeu no tecido.

— Maggie, coloque o seu pijama e vamos dormir. Eu não
quero falar sobre isso. Obviamente, eu estou brava com Neil
ou eu não estaria aqui com você.

Ela me estuda, por um momento, os olhos apertando
com suspeita, antes de dizer: — Mas Neil não percebe que
você está chateada, e você quer que ele pense em Bryan Ferro
pregado você. — Suas sobrancelhas se elevam quando eu
olho para ela. É o rosto de “eu sei o que você pensa”.

Infelizmente, ela percebe exatamente o que eu estou
pensando, mas isso não me faz querer discutir o assunto.
Neil não deveria ter me dito isso. Parece que ele me
abandonou quando eu precisei dele. Eu tenho problemas com
esse tema específico, que me faz invariavelmente ter uma
segunda suposição sobre mim mesmo, mas não desta vez. Eu
não teria feito isso com ele. Eu não o teria feito dormir com
alguém por dinheiro. Porra, isso me faz soar como uma
prostituta.

Apertando os olhos fechados, eu desvio o olhar.

— Talvez.

Talvez Neil deva sofrer um pouco por ser tão insensível,
porque isso é o que realmente era - insensibilidade. Ao
mesmo tempo, antes desta noite ter acontecido, Neil me deu
minha vida de volta. O cara era uma âncora quando a praia
estava longe da vista. Ele estava lá comigo, em minhas horas
mais escuras e parte de mim se sentia culpada por estar aqui
com Maggie, embora eu saiba que não deveria. Às vezes
desejo que não sentir nada. Parece que assim a vida seria
mais fácil.

No momento, as emoções de Maggie estão estampadas
em seu rosto, como giz de cera derretido.

— Puta merda, Hallie! Por que você está com ele? Neil
veio e pegou-a quando você era...

Eu a cortei. — Eu sei o que eu era, e talvez Neil estivesse
no lugar certo, na hora certa, mas ele nunca fez nada
parecido com isso antes, e nem eu mantive isso dele. — Eu
menti para ela, uma e outra vez.

— E ele está mantendo coisas para você! Será que você o
fez fazer algo que ele não queria? — Ela fez uma pausa, e
acrescentou: — Você não queria ver o Ferro de novo, não é?

Balanço a cabeça e olho para longe. Ela está certa. Não
há nenhuma maneira que eu tivesse feito Neil fazer algo
assim, mas ele realmente não me deu uma escolha. Eu não

tinha escolha, não se eu quisesse ficar com a minha vida. Há
muito dinheiro em jogo. Levantando a minha mão, eu digo: —
Eu não quero mais falar sobre isso hoje à noite.

Maggie faz um som irritado no fundo da garganta e
continuou a se vestir. Depois que ela puxou seu moletom, ela
vai até uma pia com manchas de ferrugem e escovou os
dentes. Embora espumando pela boca, ela se vira e olha para
mim e aponta a escova de dente na minha direção.

— Você sabe que eu chutaria um traseiro por você.
Apenas me diga quem e eu farei. — Na última palavra,
espuma de pasta de dente voa de seus lábios.

Eu ofereço um meio sorriso. — Eu sei que você faria,
mas eu não sei quem me irritou mais - Neil ou Bryan.

Maggie me joga uma camisa de dormir e continua
falando, mas minha mente está se recuperando. Eu estou
com raiva de Neil, mas Bryan... Eu não sei. A maneira como
ele falava, a forma como a sua voz ficou presa na garganta
quando ele disse certas coisas, é quase como se ele não
quisesse fazê-lo, mas ele fez, chantageou-me.

Ele não dormiu com você. Ele a beijou e atirou-a para
fora, aquela voz interior é como sinos tocando dentro da
minha cabeça, como um relógio.

As palavras de Bryan não correspondem às suas ações,
e se ele não dirigisse a faca no ombro do ladrão, eu teria

pensado que o homem que eu vi hoje, era o meu Bryan de
anos atrás, mas não era. O que quer que tenha acontecido
com Bryan, entre aquela época e agora, o mudou, e embora o
novo homem tenha me salvado, ele me assusta.

CAPÍTULO 5

A noite passa devagar, como sempre. Eu ouço a voz de
meu pai, embora ele já não esteja aqui. Minhas memórias
estão presas em retrocesso, repetindo coisas aleatoriamente,
enquanto elas voam para frente da minha mente. Isso me
assombra até onde eu não possa mais suportar.

Maggie está roncando próximo da minha cabeça. Eu
joguei papel e tesoura com ela pela cama, e ela ganhou.
Fizemos um pequeno estrado no chão para mim, mas é mais
como um cobertor e um lençol. Eles estão emaranhados do
meu virar e revirar. Eu os empurro de lado e sento-me,
esfregando os olhos que ardem. O velho relógio de Maggie
brilha suavemente ao lado de sua cama. São quase 6 horas
da manhã.

Meu corpo dói, como se eu tivesse sido empurrada pelo
poço de um elevador, mas eu me levanto do chão e vou até a
janela estreita. Os gritos que enchiam o prédio ontem à noite,
se tranquilizaram. A mulher no piso acima gritou uma última
vez há algumas horas, em seguida, algo pesado caiu no chão.
Gostaria de saber se um deles está morto. Os sons que
fizeram a minha pele se arrepiar, recuaram, agora só tem
silêncio.

Eu me inclino contra a parede e envolvo meus braços
em volta do meu corpo, enquanto olho para fora, pela janela
estreita e nebulosa. O sol ainda está para derramar-se sobre
o horizonte e a cidade ainda está na escuridão. As calçadas
estão quase vazias. Os grupos de pessoas que estavam juntas
se dissolveram. As figuras entre as sombras se foram.

Às vezes eu me pergunto se os monstros em minha
mente são piores do que os da rua. Eu vim das ruas, assim
como Maggie. Nós sobrevivemos e ainda assim, eu não posso
fugir das lembranças que me assombram, noite após noite.
Adicione a morte do meu pai à mistura, e eu sou uma bomba
relógio ambulante. Eu gostaria de poder dizer que eu sei
quem eu sou e que os acontecimentos de meu passado não
me mudaram, mas eu não consigo imaginar minha vida sem
essas ocorrências. Se minha mãe não tivesse me
abandonado, se ela não fizesse o que ela fez, que tipo de
mulher que eu seria? Se ela fosse uma boa pessoa e me
criasse, onde estaríamos agora?

Eu engulo em seco e forço as questões para longe. Elas
não servem para nada e só irão me puxar para baixo. Lutei
tanto para fugir daquela vida, mas ela vive para sempre na
parte de trás da minha mente. Eu ouço sua voz, a sua
familiar fala arrastada. Lembro-me da dor da sua mão no
meu rosto e muitas noites passadas tremendo em um
armário escuro, enquanto ela vivia uma vida na qual não me
incluía. A maioria dos pais querem proteger seus filhos, mas

não minha mãe. Ela não queria me proteger. Ela vivia para si
mesmo e isso é a uma coisa que me assusta, que eu me torne
como ela.

Meus dedos apertam em meus lados, enquanto eu tento
não tremer, porque o apartamento está congelando. Deus,
este lugar me faz lembrar-se daquela vida. Eu não sei como
Maggie aguenta. Olho para ela e penso sobre as coisas que eu
poderia fazer por nós, se eu tivesse esse dinheiro. Eu poderia
salvá-la disso.

Mas quem vai salvar você? A vozinha em minha cabeça
murmura.

Papai não virá e me salvará desta vez. Desta vez, a única
maneira de sair dessa bagunça é através de Bryan Ferro. Eu
tenho sofrido mais dificuldades do que a maioria das pessoas
tem em uma vida, eu posso sobreviver ao que ele quer
vivenciar. — Eu só não sei se vou gostar da mulher que me
tornarei por causa disso.

Algumas coisas não valem o preço. Eu aprendi, em
primeira mão, e agora aqui estou eu, repetindo as ações de
minha mãe.

Travo os dentes e murmuro baixinho: — Eu não sou a
mesma... Não é a mesma coisa.

Meu olhar cai no parapeito da janela e eu
instintivamente inclino-me para ele, pressionando meus
dedos contra o vidro frio. Eu não entendo o que estou vendo

no inicio. Alguém está em pé na sombra do prédio, do outro
lado da rua. Eles estão dentro de uma sala, um andar abaixo
de onde eu estou, no prédio de Maggie. A pessoa é uma
silhueta sem características definidas. Eu acho que é uma
mulher, mas eu não tenho certeza. Ela está pisando para trás
lentamente. As mãos dela levantam, quando um cachorro
está prestes a atacar em seu estômago. De repente, sua
coluna se endireita e ela para de se mover. A janela é tão
estreita que não consigo ver muito mais do que sua figura
esbelta através das cortinas.

Um momento depois, ela fica mole e cai para frente.
Suas cascatas de cabelo atrás dela, caindo em câmera lenta.
Não ouço nada, apenas as respirações nasais de Maggie, mas
seu grito silencioso está tocando em meus ouvidos. Uma
forma alta, um homem, dá passos até o local onde a mulher
estava. Seus ombros são arredondados, como se ele não
estivesse preocupado com uma coisa, enquanto ele balança a
cabeça e examina o chão como se houvesse algo divertido.

Minha garganta aperta enquanto observo com horror,
congelada no lugar. Naquele momento, o homem olha para
cima e olha para a janela. Nossos olhos se encontram e o
tempo para, como se uma força invisível roubasse o meu
fôlego. Os cabelos na parte de trás do meu pescoço arrepiam
enquanto eu olho fixamente, incapaz de desviar o olhar.

Maggie me disse para manter meus olhos para baixo e
não dizer absolutamente nada a ninguém, mas eu não posso,

e ainda pior, eu o reconheço, a ele e seu cabelo loiro
brilhante. É o homem que vive do outro lado do corredor.

CAPÍTULO 6

Eu não tenho certeza se ele percebe quem ele está
olhando, mas eu estou certa de que ele sabe em que
apartamento está. Com o coração acelerado, eu giro sobre os
calcanhares e tropeço na cama de Maggie.

— Levante-se. — Minha voz está sufocada, e quase não
sai. Freneticamente, eu a balanço até acordá-la. —
Precisamos sair. Agora.

Maggie empurra-se nos cotovelos. Sua maquiagem está
manchada em todo o lado direito de seu rosto. Ela se parece
com um palhaço chorando. — O quê? — Ela está muito
grogue e não temos tempo para isso.

— Se mova. Agora. — Eu emito a ordem, atiro uma calça
jeans para ela e começo a recolher qualquer coisa importante.
Eu estou tremendo tanto que largo a braçada de itens e
minha bolsa derrama no chão. Maggie para perguntando o
que está errado. Ela pegou o meu humor e olho para a porta
como se ela já soubesse.

De repente, ela está acordada e se movendo como se ela
tivesse tomado algum energético.

— O que você viu? Foda-se, Hallie! Eu lhe disse para
não olhar para nada.

— Eu não posso acreditar que ela está me xingando,
mas eu não vou perder tempo discutindo com ela.

Ajoelhada, eu puxo todo o conteúdo de roupas e bolsa
em meus braços. — Vai, vai, vai! — Vou para a porta,
deixando o meu vestido de noite para trás. Corremos para o
corredor, meio vestidas, e começamos a descer as escadas.
Eu lanço tudo no banco de trás do carro de Maggie e salto
para frente. — Vai!

Maggie enfia a chave na ignição e o motor liga. Ela
agarra o volante com firmeza e se afasta. Por um segundo eu
acho que conseguimos escapar despercebidas, mas apenas
quando chegamos ao fim do quarteirão, eu olho para trás no
espelho retrovisor do lado. O homem do outro lado do
corredor está olhando nossas lanternas traseiras enquanto
vamos embora.

CAPÍTULO 7

— O que você viu? — Maggie gritou de novo, quando ela
olha para trás pelo espelho retrovisor. Seus olhos se
arregalam, mas ela nem pisca. Ela olha para ele enquanto ele
nos vê no carro.

— Porra, você está falando sério? Esse é Victor! Por que
ele está nos observando? Nós não o queremos nos
observando! Hallie, o que aconteceu? — A voz de Maggie sobe
uma oitava a partir do momento que ela começa a falar até o
momento que termina.

— Seu nome é Victor?

— Sim! Victor Campone. Ele é muito louco! — O corpo
de Maggie está tenso, e eu posso dizer que ele está segurando
um grande esforço para não disparar e fugir. Ela não quer
chamar a atenção para nós, então ela vai a uma velocidade
normal, mesmo que pareça que meu coração vá explodir.

— Ele matou alguém. — Minha voz é suave, quase
inaudível. Meu estômago está torcendo como eu tivesse
comido algo rançoso. A deglutição torna a sensação
incômoda, pior, então eu inclino a cabeça para trás e
pressiono os dedos na minha cara.

— Não, não, não! Diga-me que você não viu nada!

— Eu vi isso. Ele estava no apartamento em frente ao
nosso. Eu estava olhando para fora da janela.

— E ele viu você? — Eu aceno e esfrego a palma da
minha mão em meus olhos. A voz de Maggie sai com um
tremor que é tão diferente dela que me assusta.

— Ele não sabe que você viu alguma uma coisa, certo?
Quero dizer, não é como se ele estivesse a observando
enquanto ele fez isso. Nós não vimos nada. Nós não sabemos
nada. Tudo vai ficar bem. — Ela começa a divagar, mais para
si mesmo do que para mim.

— Quem é ele?

— Ninguém. Ele não é ninguém. Você não sabe o seu
nome, que você nunca viu seu rosto. — Os dedos de Maggie
ficaram brancos de segurar o volante com tanta força. — Nós
não saímos e voamos pela rua, então parece que eu estava
levando-a para casa.

Depois de um tempo, viramos para o meu bairro. Maggie
estaciona na frente do apartamento de Neil e desliga o carro.
— Eu vou voltar mais tarde e agir como se nada tivesse
acontecido. Ele vai ficar bem.

— O inferno que você vai! Você não pode viver assim
Maggie. — Em que ela se meteu? Simpatia atravessa meu
rosto antes que eu possa escondê-la, o que a irrita.

— Não olhe para mim assim. Eu posso cuidar de mim
mesmo.

— Não, não desta vez. Desta vez, você cometeu um erro.
Esse cara é louco. Como você sabe que ele não matou uma
mulher como você? Como você sabe que não vai ser a
próxima? — Ela não olha para mim, em vez disso, Maggie age
como ela não me tivesse ouviu nada. — Maggie, como você
sabe!

Virando-se, ela se encaixa. — Eu não sei, tudo bem!
Ninguém sabe quando seu tempo está acabando ou como eles
vão morrer, e nem eu! Deixe quieto, Hallie. Você já bagunçou
bastante as coisas. Eu posso corrigi-lo.

— Não, você não pode! Isso não é coisa que pode ser
corrigida! — Eu estou gritando com ela, e não posso parar.
Meu coração está batendo tão rápido que está batendo em
minhas costelas e minhas mãos estão tremendo. — A morte
lhe aguarda naquele prédio! Toda vez que você entrar lá, sua
expectativa de vida cai. Você não pode pensar seriamente que
não tem ramificações. Ele matou alguém! O casal que mora
acima de você brigaram, estavam fora de si até que um deles
caiu no chão. Você precisa esperar até que você seja a que
está morta no chão, para ver que você não está segura?

— Eu não tenho escolha! — Ela está respirando forte e
rápido como eu. Eu quero chorar e salvá-la de tudo isso, mas
eu não posso. Um momento se passa e nenhuma de nós fala.

Eu bato a minha cabeça contra o assento e olho para
ela. — O que você faz com ele?

— Eu não posso lhe dizer. — Maggie não olha para mim.
Em vez disso, ela olha fixamente para frente.

— Quem é ele?

— Você não quer saber. — Eu abro minha boca para
pressioná-la, mas ela me silencia com um dedo e me dá um
olhar severo. — Não faça isso. Saber só vai lhe trazer mais
problemas.

Eu não gosto disso, mas eu paro de perguntar. Eu
gostaria muito que as coisas não fossem assim. Eu tenho que
pegar o dinheiro do negócio do livro. Eu preciso disso, para
ela. Ela está sobrecarregada, e a parte horrível é, que eu
também

CAPÍTULO 8

Maggie me segue para a casa depois de pegar todas as
nossas coisas de dentro de seu carro. Depois que eu tomei
banho, fui para a cozinha e encontrei Neil esperando na
mesa. Ele está lendo o jornal como se ele não estivesse
minimamente chateado. Ele o dobra e coloca em cima da
mesa antes de olhar para mim.

— Então, como foi?

— Tudo bem. — Meu queixo está apertado. Eu mal
posso cuspir as palavras. Quero arrancar a sua cabeça fora,
mas se eu fizer isso eu vou ser uma sem-teto. Quando eu
virei uma fraca covarde? Hallie, a prostituta. A palavra que
você está procurando é prostituta. Eu não quero pensar sobre
isso, então eu pego uma xícara de café do armário e uso esse
tempo derramando o líquido quente, então eu não tenho que
olhar para ele.

Antes de eu saber o que está acontecendo, Neil está
andando em minha direção. Eu acho que ele vai brigar, mas
sua voz está tímida. — Eu não deveria ter feito você fazer
isso. Sinto muito, Hallie. — Eu posso sentir seus olhos em
minhas costas e o tom de súplica em sua voz faz meu coração
estilhaçar.

— Não, você não deveria ter feito, — é tudo que eu posso
controlar. Eu mantenho meus olhos focados no líquido negro
na minha xícara, assistindo o subir do vapor para a
superfície.

— Olhe, eu pensei na maneira como vocês dois estavam
atuando no palco, e eu pensei que você ainda gostava dele.

Sua confissão me pega de surpresa. Viro-me devagar e
olho por cima do ombro, para ele. Ele está falando sério? Por
alguma razão, parece que eu estou sendo jogada, mas eu
rejeito isso. Quanto eu estou cansada? O cara está tentando
pedir desculpas e eu quero algo seguro agora. Neil é o
epítome do seguro.

Por um momento, eu não posso falar. Então eu gerencio
um — eu não. — Minhas palavras são evasivas. Eu ia dizer
que eu não tenho sentimentos por ele, mas eu tenho. Eu
sinto algo por Bryan, mas eu não sei o que é. Medo? Luxuria?
Atração não significa nada mesmo, não é?

Neil acena uma vez e observa seus pés. Seu cabelo cor
de areia obscurece os olhos. — Então, você me perdoa?

— Se você puder me perdoar? — De onde veio isso? As
palavras me chocam, mas isso não as impede de sair da
minha boca. Eu não deveria ter que pedir-lhe que me perdoe
por amantes do passado, por coisas que aconteceram antes
de conhecê-lo, mas eu pedi.

Seus lábios puxam para um leve sorriso.

— Eu já perdoei. Eu entendo por que você não disse
nada sobre ele. Quero dizer, é constrangedor, certo? Você não
quer fazer coisas estranhas entre nós, ao mencionar isso. As
pessoas têm manchas escuras em seu passado, e ele é a sua.
Eu entendi. Desculpe-me, eu a empurrei de volta, e eu estou
tão feliz que você voltou para casa novamente. Eu pensei que
odiaria ter perdido você.

— Neil ergue os braços, como se ele quisesse um abraço.

Eu largo minha xícara e caio em seus braços. Neil me
abraça como se eu fosse frágil, e suavemente beija minha
face. Ficamos assim por um momento, até que uma voz nos
rompe.

— Eu deveria ter esclarecido os termos do meu silêncio.
— Bryan está em pé, na nossa frente, na porta entre a sala e
a cozinha. — Não vai haver intimidade de qualquer tipo entre
vocês dois, enquanto Hallie estiver comigo e eu não terminei
com ela ainda.

CAPÍTULO 9

Neil me libera e se distancia. Seu queixo cai, fica de
boca aberta e olha duas vezes, como se ele não pudesse
acreditar que Bryan teve a audácia de entrar em sua casa.

— Você não tem o direito de estar aqui.

Bryan sorri e desliza as mãos nos bolsos. Ele está
vestindo calça jeans escura e uma camiseta que moldava e
revelava o seu delicioso corpo. A jaqueta de couro desgastado
pende dos ombros e seu cabelo ainda está úmido, como se ele
apenas tivesse rolado para fora da cama.

— Eu sinto cheiro de café? — Bryan ignora Neil, o
empurra, passando por nós, e agarra minha xícara fora do
balcão. — Ainda bebe preto, hein, Hallie? — Ele pisca para
mim, antes de engolir a minha bebida.

— Puta merda. — Maggie aparece com o cabelo molhado
pingando e seu queixo arrastando no chão. Seus olhos vão de
Neil para Bryan, como se ela estivesse antecipando uma
explosão.

Bryan se inclina para trás em cima do balcão, o paletó
se abre, revelando mais do seu peito tonificado e essa
camiseta deliciosa. Quando ele sorri, ele parece como o velho

Bryan, com uma covinha lambível. — Ei, Ruiva, — ele acena
com a cabeça em direção a Maggie com seu sorriso mágico.

— Ei para você também. — Maggie ri e olha para mim e,
em seguida, para Neil.

Neil parece chocado e permanece congelado por alguns
segundos, antes de se encher e gritar irritado. — Saia ou eu
vou chamar a polícia.

Bryan dá de ombros como se não se importasse e não se
move. — Vá em frente. Chame-os e eu vou ligar para os meus
amigos, e fazer as coisas rolarem. — Ele puxa o celular do
bolso e o segura. — Bem, vá em frente.

Neil olha para mim e, em seguida, para Bryan. — Você
disse uma noite.

— Sim, mas eu mudei de ideia. Ontem à noite nada
ocorreu como planejado, e eu pensei, por que não pedia
mais? Se você disser não, você perde tudo. É uma espécie de
acéfalo, então eu vim para isso. — Bryan fala com Neil, mas
ele está olhando para Maggie quando fala.

Depois de descansar a minha xícara vazia no balcão,
Bryan caminha para mim. — Pronta?

— Você disse que ia ligar. — Minhas mãos estão
fechadas nas laterais do meu corpo, eu gostaria de ser mais
alta para que eu pudesse gritar com Bryan olho no olho.

Ele oferece um típico sorriso Bryan Ferro e encolhe os
ombros. — Sim, eu sou lunático. Eu pensei em vir fazer uma
visitinha e buscá-la. Além disso, eu precisava ter certeza de
que seu namorado idiota não tocasse em você.

— Estes não eram os termos. Você não pode mudar
suas exigências assim. — Neil está agitado, mas Maggie está
encostada no batente da porta com um olhar divertido no
rosto. Neil inala devagar, tentando manter a calma, mas está
lá, fermentando, e Bryan está atiçando o fogo.

— Na verdade, eu posso. Combina com o acordo que
Hallie e eu fizemos ontem à noite, certo? — Bryan me olha
por um segundo e, em seguida, acrescenta, com falsa
sinceridade: — Oh, me desculpe, você não teve a chance de
dizer a ele?

— Bryan. — Advirto, mas ele não para.

Ele caminha para o meu lado e coloca o braço por cima
dos meus ombros. — Ontem à noite eu disse a ela que uma
noite não era suficiente. Desculpe, eu pensei que você já
soubesse, e não é como se importasse para você de qualquer
maneira, porque é tudo a mesma coisa. Eu dormi com ela
antes, então o que é mais uma noite, certo? — A voz de Bryan
se transforma em navalha afiada quando ele diz as últimas
palavras. Ele me solta e dá passos em direção a Neil, então
eles estão perto o suficiente para socar um ao outro. — Você
disse algo nesse sentido, não é?

Neil apruma os ombros. Ele não vai ser repreendido por
um Ferro. Ele acha que Bryan é uma criança mimada e dá-
lhe o olhar mais condescendente que eu já vi. — Isso é como
se você quisesse uma mulher mais de uma vez. Isso não vai
contra o código de honra dos Ferro? Eu ouvi a sua irmã...

Antes de Neil poder terminar a frase, o braço de Bryan
arremessa para fora. Ele pega Neil pela garganta e sibila: —
Se você valoriza sua vida, você não vai terminar essa
sentença.

— A irmã gêmea de Bryan parece estar muito
frequentemente na imprensa marrom, o que é horrível,
porque ela é muito doce. Os jornais de fofocas nunca
executam esse tipo de história, porém, é sempre coisas sobre
a herdeira Ferro e suas ações irrefletidas e pouco castas.

Bryan reforça o seu aperto e depois o libera. Neil suga o
ar e esfrega sua garganta, mas não desvia o olhar. Eu quero
gritar com Bryan, mas eu não grito. Em vez disso, eu
pergunto: — O que você quer Bryan?

Seus olhos verdes se voltam para mim e seu olhar
suaviza.

— Você.

Ele fala como se eu fosse tudo que ele quer no mundo,
mas eu sei que não é verdade. Eu sou o que ele quer, agora,
para punição ou lazer, eu ainda não tenho certeza. Bryan
estende a mão.

— Vamos lá, eu tenho o nosso dia planejado.

Eu olho para Neil, mas ele não vai olha para mim. Por
um segundo, eu penso em dizer não, mas Maggie está lá
sorrindo. Quero manter essa expressão feliz no seu rosto e
para isso eu preciso de dinheiro. Tomando a mão de Bryan,
eu deslizo meus dedos em seu aperto quente.


CONTINUA

CAPÍTULO 4

Maggie só ficou totalmente fora de órbita uma vez. Foi
quando nós nos separamos em um lar adotivo quando
tínhamos sete anos. Em três dias, eles nos colocaram de
volta, juntas, sob o mesmo teto. Maggie nunca disse o que ela
fez, só que ela ficou louca e lançou tudo o que tinha contra
eles. O olhar em seus olhos diz que quer colocar as bolas de
Neil em um copo do plástico.

Maggie se balança, em pé, com as calças metade dentro
e metade fora, enquanto sua mandíbula está apertada. Ela
olha para longe de mim e torce seu pescoço, como se ela fosse
matar alguém. Quando ela mexe os olhos verdes de volta para
mim, há um agradável, mas aterrorizante, sorriso em seu
rosto. Quando ela fala, ela parece cordial, como alguém que
trabalha em uma linda loja de flores e ama as pessoas, em
outras palavras, ela soa totalmente demente.

— Ele lhe disse para ir? — Ela ri levemente e pisca seus
cílios para mim, enquanto ela inclina a cabeça para o lado.

— E ele sabia que estava sendo chantageada?

Eu não quero falar sobre isso. Estou tão cansada que,
provavelmente, vou começar a babar em breve.

— Sim, ele sabia. — Eu não quero dizer a ela o resto.
Como está, ela já passa do terceiro estágio de lividez.

— Qual foi o motivo maravilhoso que ele deu, para ser
tão bom? — Ela aperta as mãos com calma, mas eu sei que
há uma erupção prestes a explodir sob a fachada tranquila.

Eu esfrego os olhos e puxo o zíper do meu vestido, mas
parece que ele prendeu no tecido.

— Maggie, coloque o seu pijama e vamos dormir. Eu não
quero falar sobre isso. Obviamente, eu estou brava com Neil
ou eu não estaria aqui com você.

Ela me estuda, por um momento, os olhos apertando
com suspeita, antes de dizer: — Mas Neil não percebe que
você está chateada, e você quer que ele pense em Bryan Ferro
pregado você. — Suas sobrancelhas se elevam quando eu
olho para ela. É o rosto de “eu sei o que você pensa”.

Infelizmente, ela percebe exatamente o que eu estou
pensando, mas isso não me faz querer discutir o assunto.
Neil não deveria ter me dito isso. Parece que ele me
abandonou quando eu precisei dele. Eu tenho problemas com
esse tema específico, que me faz invariavelmente ter uma
segunda suposição sobre mim mesmo, mas não desta vez. Eu
não teria feito isso com ele. Eu não o teria feito dormir com
alguém por dinheiro. Porra, isso me faz soar como uma
prostituta.

Apertando os olhos fechados, eu desvio o olhar.

— Talvez.

Talvez Neil deva sofrer um pouco por ser tão insensível,
porque isso é o que realmente era - insensibilidade. Ao
mesmo tempo, antes desta noite ter acontecido, Neil me deu
minha vida de volta. O cara era uma âncora quando a praia
estava longe da vista. Ele estava lá comigo, em minhas horas
mais escuras e parte de mim se sentia culpada por estar aqui
com Maggie, embora eu saiba que não deveria. Às vezes
desejo que não sentir nada. Parece que assim a vida seria
mais fácil.

No momento, as emoções de Maggie estão estampadas
em seu rosto, como giz de cera derretido.

— Puta merda, Hallie! Por que você está com ele? Neil
veio e pegou-a quando você era...

Eu a cortei. — Eu sei o que eu era, e talvez Neil estivesse
no lugar certo, na hora certa, mas ele nunca fez nada
parecido com isso antes, e nem eu mantive isso dele. — Eu
menti para ela, uma e outra vez.

— E ele está mantendo coisas para você! Será que você o
fez fazer algo que ele não queria? — Ela fez uma pausa, e
acrescentou: — Você não queria ver o Ferro de novo, não é?

Balanço a cabeça e olho para longe. Ela está certa. Não
há nenhuma maneira que eu tivesse feito Neil fazer algo
assim, mas ele realmente não me deu uma escolha. Eu não

tinha escolha, não se eu quisesse ficar com a minha vida. Há
muito dinheiro em jogo. Levantando a minha mão, eu digo: —
Eu não quero mais falar sobre isso hoje à noite.

Maggie faz um som irritado no fundo da garganta e
continuou a se vestir. Depois que ela puxou seu moletom, ela
vai até uma pia com manchas de ferrugem e escovou os
dentes. Embora espumando pela boca, ela se vira e olha para
mim e aponta a escova de dente na minha direção.

— Você sabe que eu chutaria um traseiro por você.
Apenas me diga quem e eu farei. — Na última palavra,
espuma de pasta de dente voa de seus lábios.

Eu ofereço um meio sorriso. — Eu sei que você faria,
mas eu não sei quem me irritou mais - Neil ou Bryan.

Maggie me joga uma camisa de dormir e continua
falando, mas minha mente está se recuperando. Eu estou
com raiva de Neil, mas Bryan... Eu não sei. A maneira como
ele falava, a forma como a sua voz ficou presa na garganta
quando ele disse certas coisas, é quase como se ele não
quisesse fazê-lo, mas ele fez, chantageou-me.

Ele não dormiu com você. Ele a beijou e atirou-a para
fora, aquela voz interior é como sinos tocando dentro da
minha cabeça, como um relógio.

As palavras de Bryan não correspondem às suas ações,
e se ele não dirigisse a faca no ombro do ladrão, eu teria

pensado que o homem que eu vi hoje, era o meu Bryan de
anos atrás, mas não era. O que quer que tenha acontecido
com Bryan, entre aquela época e agora, o mudou, e embora o
novo homem tenha me salvado, ele me assusta.

CAPÍTULO 5

A noite passa devagar, como sempre. Eu ouço a voz de
meu pai, embora ele já não esteja aqui. Minhas memórias
estão presas em retrocesso, repetindo coisas aleatoriamente,
enquanto elas voam para frente da minha mente. Isso me
assombra até onde eu não possa mais suportar.

Maggie está roncando próximo da minha cabeça. Eu
joguei papel e tesoura com ela pela cama, e ela ganhou.
Fizemos um pequeno estrado no chão para mim, mas é mais
como um cobertor e um lençol. Eles estão emaranhados do
meu virar e revirar. Eu os empurro de lado e sento-me,
esfregando os olhos que ardem. O velho relógio de Maggie
brilha suavemente ao lado de sua cama. São quase 6 horas
da manhã.

Meu corpo dói, como se eu tivesse sido empurrada pelo
poço de um elevador, mas eu me levanto do chão e vou até a
janela estreita. Os gritos que enchiam o prédio ontem à noite,
se tranquilizaram. A mulher no piso acima gritou uma última
vez há algumas horas, em seguida, algo pesado caiu no chão.
Gostaria de saber se um deles está morto. Os sons que
fizeram a minha pele se arrepiar, recuaram, agora só tem
silêncio.

Eu me inclino contra a parede e envolvo meus braços
em volta do meu corpo, enquanto olho para fora, pela janela
estreita e nebulosa. O sol ainda está para derramar-se sobre
o horizonte e a cidade ainda está na escuridão. As calçadas
estão quase vazias. Os grupos de pessoas que estavam juntas
se dissolveram. As figuras entre as sombras se foram.

Às vezes eu me pergunto se os monstros em minha
mente são piores do que os da rua. Eu vim das ruas, assim
como Maggie. Nós sobrevivemos e ainda assim, eu não posso
fugir das lembranças que me assombram, noite após noite.
Adicione a morte do meu pai à mistura, e eu sou uma bomba
relógio ambulante. Eu gostaria de poder dizer que eu sei
quem eu sou e que os acontecimentos de meu passado não
me mudaram, mas eu não consigo imaginar minha vida sem
essas ocorrências. Se minha mãe não tivesse me
abandonado, se ela não fizesse o que ela fez, que tipo de
mulher que eu seria? Se ela fosse uma boa pessoa e me
criasse, onde estaríamos agora?

Eu engulo em seco e forço as questões para longe. Elas
não servem para nada e só irão me puxar para baixo. Lutei
tanto para fugir daquela vida, mas ela vive para sempre na
parte de trás da minha mente. Eu ouço sua voz, a sua
familiar fala arrastada. Lembro-me da dor da sua mão no
meu rosto e muitas noites passadas tremendo em um
armário escuro, enquanto ela vivia uma vida na qual não me
incluía. A maioria dos pais querem proteger seus filhos, mas

não minha mãe. Ela não queria me proteger. Ela vivia para si
mesmo e isso é a uma coisa que me assusta, que eu me torne
como ela.

Meus dedos apertam em meus lados, enquanto eu tento
não tremer, porque o apartamento está congelando. Deus,
este lugar me faz lembrar-se daquela vida. Eu não sei como
Maggie aguenta. Olho para ela e penso sobre as coisas que eu
poderia fazer por nós, se eu tivesse esse dinheiro. Eu poderia
salvá-la disso.

Mas quem vai salvar você? A vozinha em minha cabeça
murmura.

Papai não virá e me salvará desta vez. Desta vez, a única
maneira de sair dessa bagunça é através de Bryan Ferro. Eu
tenho sofrido mais dificuldades do que a maioria das pessoas
tem em uma vida, eu posso sobreviver ao que ele quer
vivenciar. — Eu só não sei se vou gostar da mulher que me
tornarei por causa disso.

Algumas coisas não valem o preço. Eu aprendi, em
primeira mão, e agora aqui estou eu, repetindo as ações de
minha mãe.

Travo os dentes e murmuro baixinho: — Eu não sou a
mesma... Não é a mesma coisa.

Meu olhar cai no parapeito da janela e eu
instintivamente inclino-me para ele, pressionando meus
dedos contra o vidro frio. Eu não entendo o que estou vendo

no inicio. Alguém está em pé na sombra do prédio, do outro
lado da rua. Eles estão dentro de uma sala, um andar abaixo
de onde eu estou, no prédio de Maggie. A pessoa é uma
silhueta sem características definidas. Eu acho que é uma
mulher, mas eu não tenho certeza. Ela está pisando para trás
lentamente. As mãos dela levantam, quando um cachorro
está prestes a atacar em seu estômago. De repente, sua
coluna se endireita e ela para de se mover. A janela é tão
estreita que não consigo ver muito mais do que sua figura
esbelta através das cortinas.

Um momento depois, ela fica mole e cai para frente.
Suas cascatas de cabelo atrás dela, caindo em câmera lenta.
Não ouço nada, apenas as respirações nasais de Maggie, mas
seu grito silencioso está tocando em meus ouvidos. Uma
forma alta, um homem, dá passos até o local onde a mulher
estava. Seus ombros são arredondados, como se ele não
estivesse preocupado com uma coisa, enquanto ele balança a
cabeça e examina o chão como se houvesse algo divertido.

Minha garganta aperta enquanto observo com horror,
congelada no lugar. Naquele momento, o homem olha para
cima e olha para a janela. Nossos olhos se encontram e o
tempo para, como se uma força invisível roubasse o meu
fôlego. Os cabelos na parte de trás do meu pescoço arrepiam
enquanto eu olho fixamente, incapaz de desviar o olhar.

Maggie me disse para manter meus olhos para baixo e
não dizer absolutamente nada a ninguém, mas eu não posso,

e ainda pior, eu o reconheço, a ele e seu cabelo loiro
brilhante. É o homem que vive do outro lado do corredor.

CAPÍTULO 6

Eu não tenho certeza se ele percebe quem ele está
olhando, mas eu estou certa de que ele sabe em que
apartamento está. Com o coração acelerado, eu giro sobre os
calcanhares e tropeço na cama de Maggie.

— Levante-se. — Minha voz está sufocada, e quase não
sai. Freneticamente, eu a balanço até acordá-la. —
Precisamos sair. Agora.

Maggie empurra-se nos cotovelos. Sua maquiagem está
manchada em todo o lado direito de seu rosto. Ela se parece
com um palhaço chorando. — O quê? — Ela está muito
grogue e não temos tempo para isso.

— Se mova. Agora. — Eu emito a ordem, atiro uma calça
jeans para ela e começo a recolher qualquer coisa importante.
Eu estou tremendo tanto que largo a braçada de itens e
minha bolsa derrama no chão. Maggie para perguntando o
que está errado. Ela pegou o meu humor e olho para a porta
como se ela já soubesse.

De repente, ela está acordada e se movendo como se ela
tivesse tomado algum energético.

— O que você viu? Foda-se, Hallie! Eu lhe disse para
não olhar para nada.

— Eu não posso acreditar que ela está me xingando,
mas eu não vou perder tempo discutindo com ela.

Ajoelhada, eu puxo todo o conteúdo de roupas e bolsa
em meus braços. — Vai, vai, vai! — Vou para a porta,
deixando o meu vestido de noite para trás. Corremos para o
corredor, meio vestidas, e começamos a descer as escadas.
Eu lanço tudo no banco de trás do carro de Maggie e salto
para frente. — Vai!

Maggie enfia a chave na ignição e o motor liga. Ela
agarra o volante com firmeza e se afasta. Por um segundo eu
acho que conseguimos escapar despercebidas, mas apenas
quando chegamos ao fim do quarteirão, eu olho para trás no
espelho retrovisor do lado. O homem do outro lado do
corredor está olhando nossas lanternas traseiras enquanto
vamos embora.

CAPÍTULO 7

— O que você viu? — Maggie gritou de novo, quando ela
olha para trás pelo espelho retrovisor. Seus olhos se
arregalam, mas ela nem pisca. Ela olha para ele enquanto ele
nos vê no carro.

— Porra, você está falando sério? Esse é Victor! Por que
ele está nos observando? Nós não o queremos nos
observando! Hallie, o que aconteceu? — A voz de Maggie sobe
uma oitava a partir do momento que ela começa a falar até o
momento que termina.

— Seu nome é Victor?

— Sim! Victor Campone. Ele é muito louco! — O corpo
de Maggie está tenso, e eu posso dizer que ele está segurando
um grande esforço para não disparar e fugir. Ela não quer
chamar a atenção para nós, então ela vai a uma velocidade
normal, mesmo que pareça que meu coração vá explodir.

— Ele matou alguém. — Minha voz é suave, quase
inaudível. Meu estômago está torcendo como eu tivesse
comido algo rançoso. A deglutição torna a sensação
incômoda, pior, então eu inclino a cabeça para trás e
pressiono os dedos na minha cara.

— Não, não, não! Diga-me que você não viu nada!

— Eu vi isso. Ele estava no apartamento em frente ao
nosso. Eu estava olhando para fora da janela.

— E ele viu você? — Eu aceno e esfrego a palma da
minha mão em meus olhos. A voz de Maggie sai com um
tremor que é tão diferente dela que me assusta.

— Ele não sabe que você viu alguma uma coisa, certo?
Quero dizer, não é como se ele estivesse a observando
enquanto ele fez isso. Nós não vimos nada. Nós não sabemos
nada. Tudo vai ficar bem. — Ela começa a divagar, mais para
si mesmo do que para mim.

— Quem é ele?

— Ninguém. Ele não é ninguém. Você não sabe o seu
nome, que você nunca viu seu rosto. — Os dedos de Maggie
ficaram brancos de segurar o volante com tanta força. — Nós
não saímos e voamos pela rua, então parece que eu estava
levando-a para casa.

Depois de um tempo, viramos para o meu bairro. Maggie
estaciona na frente do apartamento de Neil e desliga o carro.
— Eu vou voltar mais tarde e agir como se nada tivesse
acontecido. Ele vai ficar bem.

— O inferno que você vai! Você não pode viver assim
Maggie. — Em que ela se meteu? Simpatia atravessa meu
rosto antes que eu possa escondê-la, o que a irrita.

— Não olhe para mim assim. Eu posso cuidar de mim
mesmo.

— Não, não desta vez. Desta vez, você cometeu um erro.
Esse cara é louco. Como você sabe que ele não matou uma
mulher como você? Como você sabe que não vai ser a
próxima? — Ela não olha para mim, em vez disso, Maggie age
como ela não me tivesse ouviu nada. — Maggie, como você
sabe!

Virando-se, ela se encaixa. — Eu não sei, tudo bem!
Ninguém sabe quando seu tempo está acabando ou como eles
vão morrer, e nem eu! Deixe quieto, Hallie. Você já bagunçou
bastante as coisas. Eu posso corrigi-lo.

— Não, você não pode! Isso não é coisa que pode ser
corrigida! — Eu estou gritando com ela, e não posso parar.
Meu coração está batendo tão rápido que está batendo em
minhas costelas e minhas mãos estão tremendo. — A morte
lhe aguarda naquele prédio! Toda vez que você entrar lá, sua
expectativa de vida cai. Você não pode pensar seriamente que
não tem ramificações. Ele matou alguém! O casal que mora
acima de você brigaram, estavam fora de si até que um deles
caiu no chão. Você precisa esperar até que você seja a que
está morta no chão, para ver que você não está segura?

— Eu não tenho escolha! — Ela está respirando forte e
rápido como eu. Eu quero chorar e salvá-la de tudo isso, mas
eu não posso. Um momento se passa e nenhuma de nós fala.

Eu bato a minha cabeça contra o assento e olho para
ela. — O que você faz com ele?

— Eu não posso lhe dizer. — Maggie não olha para mim.
Em vez disso, ela olha fixamente para frente.

— Quem é ele?

— Você não quer saber. — Eu abro minha boca para
pressioná-la, mas ela me silencia com um dedo e me dá um
olhar severo. — Não faça isso. Saber só vai lhe trazer mais
problemas.

Eu não gosto disso, mas eu paro de perguntar. Eu
gostaria muito que as coisas não fossem assim. Eu tenho que
pegar o dinheiro do negócio do livro. Eu preciso disso, para
ela. Ela está sobrecarregada, e a parte horrível é, que eu
também

CAPÍTULO 8

Maggie me segue para a casa depois de pegar todas as
nossas coisas de dentro de seu carro. Depois que eu tomei
banho, fui para a cozinha e encontrei Neil esperando na
mesa. Ele está lendo o jornal como se ele não estivesse
minimamente chateado. Ele o dobra e coloca em cima da
mesa antes de olhar para mim.

— Então, como foi?

— Tudo bem. — Meu queixo está apertado. Eu mal
posso cuspir as palavras. Quero arrancar a sua cabeça fora,
mas se eu fizer isso eu vou ser uma sem-teto. Quando eu
virei uma fraca covarde? Hallie, a prostituta. A palavra que
você está procurando é prostituta. Eu não quero pensar sobre
isso, então eu pego uma xícara de café do armário e uso esse
tempo derramando o líquido quente, então eu não tenho que
olhar para ele.

Antes de eu saber o que está acontecendo, Neil está
andando em minha direção. Eu acho que ele vai brigar, mas
sua voz está tímida. — Eu não deveria ter feito você fazer
isso. Sinto muito, Hallie. — Eu posso sentir seus olhos em
minhas costas e o tom de súplica em sua voz faz meu coração
estilhaçar.

— Não, você não deveria ter feito, — é tudo que eu posso
controlar. Eu mantenho meus olhos focados no líquido negro
na minha xícara, assistindo o subir do vapor para a
superfície.

— Olhe, eu pensei na maneira como vocês dois estavam
atuando no palco, e eu pensei que você ainda gostava dele.

Sua confissão me pega de surpresa. Viro-me devagar e
olho por cima do ombro, para ele. Ele está falando sério? Por
alguma razão, parece que eu estou sendo jogada, mas eu
rejeito isso. Quanto eu estou cansada? O cara está tentando
pedir desculpas e eu quero algo seguro agora. Neil é o
epítome do seguro.

Por um momento, eu não posso falar. Então eu gerencio
um — eu não. — Minhas palavras são evasivas. Eu ia dizer
que eu não tenho sentimentos por ele, mas eu tenho. Eu
sinto algo por Bryan, mas eu não sei o que é. Medo? Luxuria?
Atração não significa nada mesmo, não é?

Neil acena uma vez e observa seus pés. Seu cabelo cor
de areia obscurece os olhos. — Então, você me perdoa?

— Se você puder me perdoar? — De onde veio isso? As
palavras me chocam, mas isso não as impede de sair da
minha boca. Eu não deveria ter que pedir-lhe que me perdoe
por amantes do passado, por coisas que aconteceram antes
de conhecê-lo, mas eu pedi.

Seus lábios puxam para um leve sorriso.

— Eu já perdoei. Eu entendo por que você não disse
nada sobre ele. Quero dizer, é constrangedor, certo? Você não
quer fazer coisas estranhas entre nós, ao mencionar isso. As
pessoas têm manchas escuras em seu passado, e ele é a sua.
Eu entendi. Desculpe-me, eu a empurrei de volta, e eu estou
tão feliz que você voltou para casa novamente. Eu pensei que
odiaria ter perdido você.

— Neil ergue os braços, como se ele quisesse um abraço.

Eu largo minha xícara e caio em seus braços. Neil me
abraça como se eu fosse frágil, e suavemente beija minha
face. Ficamos assim por um momento, até que uma voz nos
rompe.

— Eu deveria ter esclarecido os termos do meu silêncio.
— Bryan está em pé, na nossa frente, na porta entre a sala e
a cozinha. — Não vai haver intimidade de qualquer tipo entre
vocês dois, enquanto Hallie estiver comigo e eu não terminei
com ela ainda.

CAPÍTULO 9

Neil me libera e se distancia. Seu queixo cai, fica de
boca aberta e olha duas vezes, como se ele não pudesse
acreditar que Bryan teve a audácia de entrar em sua casa.

— Você não tem o direito de estar aqui.

Bryan sorri e desliza as mãos nos bolsos. Ele está
vestindo calça jeans escura e uma camiseta que moldava e
revelava o seu delicioso corpo. A jaqueta de couro desgastado
pende dos ombros e seu cabelo ainda está úmido, como se ele
apenas tivesse rolado para fora da cama.

— Eu sinto cheiro de café? — Bryan ignora Neil, o
empurra, passando por nós, e agarra minha xícara fora do
balcão. — Ainda bebe preto, hein, Hallie? — Ele pisca para
mim, antes de engolir a minha bebida.

— Puta merda. — Maggie aparece com o cabelo molhado
pingando e seu queixo arrastando no chão. Seus olhos vão de
Neil para Bryan, como se ela estivesse antecipando uma
explosão.

Bryan se inclina para trás em cima do balcão, o paletó
se abre, revelando mais do seu peito tonificado e essa
camiseta deliciosa. Quando ele sorri, ele parece como o velho

Bryan, com uma covinha lambível. — Ei, Ruiva, — ele acena
com a cabeça em direção a Maggie com seu sorriso mágico.

— Ei para você também. — Maggie ri e olha para mim e,
em seguida, para Neil.

Neil parece chocado e permanece congelado por alguns
segundos, antes de se encher e gritar irritado. — Saia ou eu
vou chamar a polícia.

Bryan dá de ombros como se não se importasse e não se
move. — Vá em frente. Chame-os e eu vou ligar para os meus
amigos, e fazer as coisas rolarem. — Ele puxa o celular do
bolso e o segura. — Bem, vá em frente.

Neil olha para mim e, em seguida, para Bryan. — Você
disse uma noite.

— Sim, mas eu mudei de ideia. Ontem à noite nada
ocorreu como planejado, e eu pensei, por que não pedia
mais? Se você disser não, você perde tudo. É uma espécie de
acéfalo, então eu vim para isso. — Bryan fala com Neil, mas
ele está olhando para Maggie quando fala.

Depois de descansar a minha xícara vazia no balcão,
Bryan caminha para mim. — Pronta?

— Você disse que ia ligar. — Minhas mãos estão
fechadas nas laterais do meu corpo, eu gostaria de ser mais
alta para que eu pudesse gritar com Bryan olho no olho.

Ele oferece um típico sorriso Bryan Ferro e encolhe os
ombros. — Sim, eu sou lunático. Eu pensei em vir fazer uma
visitinha e buscá-la. Além disso, eu precisava ter certeza de
que seu namorado idiota não tocasse em você.

— Estes não eram os termos. Você não pode mudar
suas exigências assim. — Neil está agitado, mas Maggie está
encostada no batente da porta com um olhar divertido no
rosto. Neil inala devagar, tentando manter a calma, mas está
lá, fermentando, e Bryan está atiçando o fogo.

— Na verdade, eu posso. Combina com o acordo que
Hallie e eu fizemos ontem à noite, certo? — Bryan me olha
por um segundo e, em seguida, acrescenta, com falsa
sinceridade: — Oh, me desculpe, você não teve a chance de
dizer a ele?

— Bryan. — Advirto, mas ele não para.

Ele caminha para o meu lado e coloca o braço por cima
dos meus ombros. — Ontem à noite eu disse a ela que uma
noite não era suficiente. Desculpe, eu pensei que você já
soubesse, e não é como se importasse para você de qualquer
maneira, porque é tudo a mesma coisa. Eu dormi com ela
antes, então o que é mais uma noite, certo? — A voz de Bryan
se transforma em navalha afiada quando ele diz as últimas
palavras. Ele me solta e dá passos em direção a Neil, então
eles estão perto o suficiente para socar um ao outro. — Você
disse algo nesse sentido, não é?

Neil apruma os ombros. Ele não vai ser repreendido por
um Ferro. Ele acha que Bryan é uma criança mimada e dá-
lhe o olhar mais condescendente que eu já vi. — Isso é como
se você quisesse uma mulher mais de uma vez. Isso não vai
contra o código de honra dos Ferro? Eu ouvi a sua irmã...

Antes de Neil poder terminar a frase, o braço de Bryan
arremessa para fora. Ele pega Neil pela garganta e sibila: —
Se você valoriza sua vida, você não vai terminar essa
sentença.

— A irmã gêmea de Bryan parece estar muito
frequentemente na imprensa marrom, o que é horrível,
porque ela é muito doce. Os jornais de fofocas nunca
executam esse tipo de história, porém, é sempre coisas sobre
a herdeira Ferro e suas ações irrefletidas e pouco castas.

Bryan reforça o seu aperto e depois o libera. Neil suga o
ar e esfrega sua garganta, mas não desvia o olhar. Eu quero
gritar com Bryan, mas eu não grito. Em vez disso, eu
pergunto: — O que você quer Bryan?

Seus olhos verdes se voltam para mim e seu olhar
suaviza.

— Você.

Ele fala como se eu fosse tudo que ele quer no mundo,
mas eu sei que não é verdade. Eu sou o que ele quer, agora,
para punição ou lazer, eu ainda não tenho certeza. Bryan
estende a mão.

— Vamos lá, eu tenho o nosso dia planejado.

Eu olho para Neil, mas ele não vai olha para mim. Por
um segundo, eu penso em dizer não, mas Maggie está lá
sorrindo. Quero manter essa expressão feliz no seu rosto e
para isso eu preciso de dinheiro. Tomando a mão de Bryan,
eu deslizo meus dedos em seu aperto quente.

 


                        CONTINUA

 

 

 

                                       

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