Bryan está de queixo caído e boca aberta, com aqueles olhos verdes semicerrados, em chamas. Fúria e choque não parecem bons para ele. As emoções distorcem seu belo rosto,
estragam as linhas suaves de sua pele, fazendo-o parecer bem mais velho. Seus punhos estão fechados, apertados em seus lados, mas ele pisca uma vez e a reação diminui. Há muitas coisas que eu não sei sobre Bryan Ferro, mas uma coisa eu sei, ele é uma merda em manter as coisas escondidas. Seus pensamentos dançam em seu rosto de vez em quando, e é por isso que ele está desconfiado de mim.
Virando abruptamente, Bryan pressiona seus dedos em sua têmpora direita. Sua voz sai como um grunhido.
— Eu lhe disse para ir embora.
— Seus ombros estão tensos, cada músculo está apertado a ponto de eu poder ver as curvas de seu corpo sob essa camisa. Ele flexiona a mão que está ao seu lado antes de deslizar em seu bolso. Bryan pode ser capaz de esconder tudo, de todos os outros, mas não de mim.
— Sim, eu ouvi essa parte. — Eu ajo como se eu não me importasse, deito-me no tapete, e dobro as minhas mãos atrás da minha cabeça. O piso é suave e difuso. Levanto os meus joelhos, eu deixo a queda do meu vestido em torno dos meus tornozelos e até meus pés, para sentir a pilha macia entre os dedos dos pés. O tapete no meu antigo quarto parecia como um saco de batata, em relação a este material.
Mesmo com Bryan irado, eu estou sorrindo. A vozinha na parte de trás da minha cabeça me diz que eu perdi minha mente. Eu respondo de volta que eu nunca tive um controle firme sobre isso de qualquer maneira.
Bryan pode ver meu reflexo no espelho, mas eu não
posso ver mais do que as suas costas e a maneira como ele
agarra sua cabeça como se fosse explodir. Ele está furioso
comigo? Não consigo entender sua raiva, mas transborda
para fora de sua boca de novo, espetando como espinhos,
neste momento.
— Se você não consegue entender os termos deste
acordo, então eu temo que nós não tenhamos um.
— O quê? — Sento-me e giro em torno, de modo que
estou de frente para as suas costas.
Bryan se vira, e a tensão que está estampada no seu
rosto é horrível. Eu encontro o seu olhar, mas eu não posso
olha-lo sem querer corrigir o que está fazendo com ele. Todas
as imagens na imprensa mostram a versão de Bryan que eu
conhecia, leve e despreocupado, mas este homem, aqui, não é
nenhuma dessas coisas. Algo está esmagando-o de dentro
para fora e deixando-o em pedaços. Seu corpo está tremendo,
ele está tão bravo. Ele tenta respirar fundo, mas isso só faz o
seu rosto ficar mais apertado.
— Você me ouviu. Se você não fizer as coisas do meu
jeito, eu vou arruinar você. Este não é o meu jeito, você sabe
muito bem disso. Saia daqui.
Ele não grita, mas suas palavras me fazem tremer. Não
há calor, não há compaixão. Talvez eu não o conheça mais e
ele está certo. Apertando os lábios, eu engulo minha resposta,
mas esta incha dentro de mim e enche meu peito. Eu peguei
meus sapatos saltos de volta e calcei em meus pés cansados
antes de levantar. Eu ando mais e pego minha bolsa.
Eu deveria sair. A vozinha dentro de mim canta como
um duende com uma voz agradável, sim, vá. Faça isso.
Agora.
Meus olhos estão fixos na porta como se fosse o
caminho para o inferno. Algo sobre sair agora parece errado,
mas não posso entender sobre o que está prendendo meus
pés no lugar. Caramba, é o pensamento que está me
segurando. Ele está me prendendo aqui e eu não posso me
mover. Parece como engolir o vômito e eu não posso fazê-lo.
Eu sou o cérebro danificado, mas não posso ser algo que não sou.
Girando sobre meus pés, eu atravesso o piso acarpetado
e elegante, e caminho até ele. Bryan não se vira para olhar
para mim. Em vez disso, suas mãos estão segurando a parte
superior do bar como se ele quisesse arrancá-lo da parede.
Suas costas estão curvadas e sua cabeça está pendurada
entre os ombros, como se ele estivesse tentando não me
rasgar em pedaços. Outra mulher teria corrido agora mesmo,
mas eu sou a dopada que anda mais perto.
— Eu sou uma idiota, — eu digo, enquanto olho para os
meus sapatos, e rio de leve. É o tipo de som que não tem
alegria e revela uma alma torturada. Meus olhos levantam
para seus ombros. Eu fico lá por um momento esperando que
ele se vire, mas ele não vira. Bryan não fala ou levanta o
olhar. Ele permanece debruçado sobre o bar como um troll 1.
Eu continuo, — vê-lo hoje à noite foi terrível e
maravilhoso. Isso evocou memórias e sentimentos que eu
tinha tempo esquecido há muito. Escrever sobre, é uma
coisa, mas vê-lo novamente está além das palavras.
Desculpe-me se eu o machuquei, mesmo que eu não entenda
o que eu fiz. E seu eu pudesse corrigir. Eu...
Por que estou fazendo isso? Eu estou me desculpando
com as suas costas, o homem não tem sequer a decência de
se virar e encarar-me. Eu respiro fundo e endireito a minha
espinha.
— As pessoas cometem erros, Bryan, e parece que o
meu maior erro foi conhecê-lo.
1
Troll – é uma gíria que designa uma pessoa cujo comportamento tende sistematicamente a desestabilizar uma
discussão, provocar e enfurecer as pessoas envolvidas nela. Há trolls de todo tipo, desde o mais ignorante e rude
que xinga e provoca, até o mais apto intelectualmente que discursa com o objetivo de desestabilizar o interlocutor
e levá-lo a fúria, para depois desqualificá-lo, matando seu argumento e abalando sua reputação.
A fúria me inunda quando eu corro pela sala. Eu agarro
a maçaneta da porta e não olho para trás, apesar de sentir
seus olhos em mim. Dane-se ele. Eu vivi coisas piores. Eu
digo essas palavras uma e outra vez, porque aconteceu.
Depois corro pelo corredor, aperto o botão para baixo no
elevador uma e outra vez, perguntando por que eu estou tão
chateada. Depois de um momento, eu sinto o pensamento
picar os meus olhos e apertar a minha garganta e eu sei
exatamente por que estou tão chateada.
É possível que as coisas estejam invertidas, e como eu
não conhecesse o verdadeiro Bryan Ferro, aquele com quem
dormi todos esses anos, era o falso.
CAPÍTULO 2
Eu não posso ir para casa e enfrentar Neil, por isso eu
telefono para Maggie. Ela atende no terceiro toque. Eu estou
andando na rua em frente ao hotel com o meu telefone
pressionado ao meu ouvido. É tarde e escuro. Evitando as
sombras, eu ando mais perto da rua do que no hotel.
— Maggie. — Eu tento esconder a tensão na minha voz,
mas ela ouve. Nós nos conhecemos há muito tempo. — Vou
tirar suas bolas fora.
— O que diabo aconteceu? Onde você está? — Ela me
enche de perguntas, até que eu possa finalmente fazê-la calar
a boca.
— Eu preciso de um lugar para dormir. Eu não posso
ver Neil agora e eu não tenho outro lugar para ir.
Maggie fica em silêncio.
— O que é meu, é seu. Você sabe disso, mas eu não
tenho certeza que você vá gostar.
— Em qualquer lugar é melhor do que aqui ou com Neil.
— Eu sinto uma náusea fazendo seu caminho até a minha
garganta. Lágrimas estão chegando, e tenho a sensação de
que vai ser um maremoto.
— Claro, claro. Eu estarei aí em cinco minutos.
— A linha de Maggie desliga, e eu fecho o meu telefone e
o coloco em minha bolsa.
A cidade se move em torno de mim, mas parece que eu
estou em uma bolha. As pessoas passam na calçada, mas eu
não as noto. Eu passeio, perdida em pensamentos, agarrando
minha bolsa perto do meu corpo. O ar da noite tem aquele
cheiro que é distintamente de Nova York. Eu o inspiro e
quando me viro, quase bato em alguém. O cara é uma
parede, de marrom e preto. Seu casaco tem cheiro de cigarros
velhos e naftalina.
Antes de eu ter tempo para descobrir o que está
acontecendo, ele pega a minha bolsa, em seguida, coloca a
mão no centro do meu peito e me empurra, com força. Eu
grito, tropeço e caio para trás, enquanto minha bolsa é
arrancada de minhas mãos. O cara se vira e está pronto para
correr, mas eu não estou com disposição para perder a bolsa.
Eu estou fodidamente quebrada. Todo o dinheiro que eu
tenho está lá dentro.
Antes que eu saiba o que estou fazendo, eu pego um dos
meus sapatos de salto alto e atiro em sua cabeça. Acerto e ele
cai na calçada. Poucas pessoas param para assistir, mas
ninguém faz nada - típico dos nova-iorquinos. Todo mundo
quer ver, mas ninguém ajuda.
Nesse ponto, tudo acontece em câmera lenta. Eu estou
em pé, mesmo que eu não me lembre de ficar pé. Um pé está
congelado, sobre o cimento frio, enquanto o outro ainda está
calçado. O ladrão levanta a mão e bota na parte de trás de
sua cabeça e puxa-a. Ele olha para os seus dedos, seus olhos
escuros apreciando o sangue vermelho e pegajoso em sua
mão. A ponta do meu salto que bateu com a parte traseira de
seu couro cabeludo, deve tê-lo cortado.
Meu coração para, quando o sujeito se vira para mim.
Seus olhos têm um olhar enlouquecido e os ombros tremem
como se ele fosse me rasgar ao meio.
— Você. — Ele diz isso como se fosse o meu nome e ele
me odeia.
O homem dá passos em direção a mim e fala
novamente, mas suas mãos lentamente movem para cima,
como se ele fosse me atacar ou me estrangular. Eu suspiro
alguma coisa, mas ele não sai antes de eu dar um passo para
trás, aterrorizada. Meu pulso ruge em meus ouvidos, então
olho em volta a procura de ajuda, mas não vejo ninguém. A
multidão se afastou, ou talvez eu tenha ido embora. Onde
está um policial quando eu preciso de um?
O resto acontece freneticamente rápido. Alguém grita
comigo, enquanto o homem procura o meu pescoço. Eu caio,
mas ele pega no meu ombro. Ele aperta-me com força,
fazendo com que o meu pescoço estale para trás enquanto ele
grita na minha cara.
— Sua pequena vadia!
O resto de suas palavras se tornam zumbidos, enquanto
ele me aperta mais. Estou ciente do vento, do ar da noite, e
do homem que está me estrangulando. Em algum momento,
as mãos deslizam até o pescoço. Eu agarro em suas mãos e
tento gritar, mas não sai nada. Eu não entendo por que
ninguém nos vê, por que eles simplesmente deixam esse
ladrão me machucar.
Balançando as minhas pernas, eu o chuto, mas não
adianta. Eu não sou forte o suficiente. Eu tentei tudo o que
sabia fazer e nada funcionou. O homem me atira e bate
minhas costas contra uma parede de tijolos. O frio me sacode
e me pergunto como chegamos ao beco ao lado do hotel, mas
os pensamentos cessam quando vejo o olhar em seus olhos.
Um sorriso mal aparece em seu rosto quando ele rasga o
ombro do meu vestido. O tecido sai em sua mão e permite
que o vestido deslizar alguns centímetros.
Abro a boca para gritar, mas sua mão imunda me cobre,
impedindo a saída do som. Sua mão me tateia, sentindo
meus seios enquanto ele sussurra em meu ouvido todas as
coisas horríveis que ele pretende fazer comigo. — Então, eu
vou levar a minha faca e... — Suas palavras desagradáveis
param imediatamente, após o som do estalar de madeira.
Assim como, de repente, a mão no meu pescoço se foi e
eu suspiro em uma respiração trêmula e olho para cima. Está
muito escuro para ver, mas há um homem vestido de
smoking, avançando sobre o ladrão. Ele lança socos uma e
outra vez, até que eles estão na parte de trás do beco, presos
por uma parede de tijolos. O ladrão é espancado e sangra,
mas ele não para de lutar. Nem o homem de smoking. Ele
distribui socos como um boxeador, tanto assim que é
hipnótico assistir. Quando a faca aparece, eu esperava que as
coisas se transformassem em favor do ladrão, mas isso não
acontece. O homem de smoking desarma o idiota e toma a
arma. Aconteceu tão rápido que eu não posso dizer como foi
feito. O homem de smoking recua seu braço como se
estivesse para empurrar a faca no peito do cara.
— Pare! — Eu chamo antes de perceber o que estou
fazendo. Uma das minhas mãos está segurando meu vestido
no busto e a outra está mal tocando meus lábios. Eu não
posso ver o cara morrer, mas eu não consigo desviar o olhar
também.
O homem de smoking não para. Um grito tremendo sai
dilacerado da minha garganta quando ele bate a faca no
ombro do ladrão. O bandido pega no seu braço e desliza para
baixo da parede, segurando seu ombro enquanto o casaco
fica encharcado de sangue. Ele olha diretamente para mim
com raiva.
O homem de smoking chuta o ladrão uma vez, e uma
voz familiar disse:
— Vá embora.
Eu tremo quando ouço isso, porque eu sei quem é ele,
Bryan. Ele deve ter me seguido. O medo agarra e azeda
dentro do meu estômago, enquanto eu olho para as suas
costas. Bryan não vira o rosto para mim. O ladrão comprime
os lábios e se levanta do chão do beco. Ele faz o seu caminho
passando por mim, e não diz nada.
Um tremor se apodera de mim e escorre pela minha
espinha, me fazendo ofegar. É quando ele se vira. O rosto de
Bryan está pálido e coberto de um brilho fino de suor. Ele
caminha de volta para mim e eu posso ver onde ele tomou
algumas pancadas. Há um rasgo em sua camisa, sob a lapela
do paletó, onde a faca cortou antes Bryan tomá-la do ladrão.
Passo a passo, ele caminha em minha direção, e eu
estou mais assustada por Bryan que qualquer coisa que já
encontrei. O que foi isso? Ele teria matado o homem se eu
não tivesse gritado? Eu não consigo parar de tremer.
Bryan alcança os meus ombros para me firmar, e eu
sinto aquele choque familiar que acompanha o seu toque.
Seu polegar esfrega suavemente sobre minha pele. — Você
está bem?
Mas, é muito. Eu não posso. Eu não posso. Eu não posso.
O pensamento não faz sentido, mas eu sei que tenho que
fazer com que ele me liberte. Seu toque tem uma maneira de
me desfazer, e eu estou caindo aos pedaços. Recuso-me a
deixá-lo ser o único a testemunhar isso. Eu empurro para
longe, e aceno com a cabeça rapidamente.
— Eu estou bem.
As mãos de Bryan permanecem paradas no ar por um
momento, antes de ele abaixa-las junto com seu olhar. Ele
observa o chão por um segundo e quando ele levanta o
queixo, vejo um sorriso nos seus lábios.
— Mentirosa. Você está longe de estar bem, mas eu
estou contente que você esteja parada.
Eu fico olhando para ele, incapaz de encontrar uma
resposta. Sua voz soa carinhosa, quase arrependida. Ele olha
por cima do meu ombro para alguém e, em seguida, diz:
— A sua carona está aqui. Da próxima vez, não tente
derrubar um assaltante por si mesmo.
Eu falo sem querer, mas as palavras saem e caem fora.
— Da próxima vez, não mate um homem por roubar minha
bolsa.
O canto dos lábios de Bryan puxa para cima, como se
quisesse sorrir, mas ele não sorri.
— Eu não iria matar um homem por roubar uma bolsa.
Que tipo de pessoa você acha que eu sou?
— Honestamente, eu não sei mais. Eu achava que sabia,
mas depois disso... — Eu balanço minha cabeça e fico sem
palavras. Bryan mudou o ataque no último segundo. Essa
faca não estava voltada para o ombro do homem — estava
dirigida para o seu coração. — Você ia matá-lo. Eu vi, você
não pode me dizer que não iria.
Bryan se inclina mais perto, e quando ele fala seu hálito
quente sussurra contra a minha orelha.
— Talvez, mas não foi porque ele pegou sua bolsa. — Ele
se inclina para trás e desliza as mãos nos bolsos, enquanto
seus olhos verdes me percorrem. — Ninguém toca em você,
enquanto você está comigo.
— Eu engulo em seco e olho para ele, com o coração
ainda disparando.
Maggie aparece atrás de mim um segundo depois. Ela
pega meu ombro e me vira.
— Hallie, diabo está acontecendo, e por que você está
aqui no beco sozinha? — Ela vê a maneira que eu estou
segurando meu vestido e o tecido rasgado. A preocupação
persiste em seu rosto, esperando pela minha resposta.
— Eu não estou sozinha, — mas quando me viro para
olhar, Bryan já se foi.
CAPÍTULO 3
Eu estive em um casulo de tristeza e este evento o
quebrou. Minha atordoada indiferença fratura e estilhaça,
como vidro barato. Eu olho para a bolsa presa em minha mão
e me pergunto o que há de errado comigo, mas ainda mais,
eu não consigo parar de pensar em Bryan, como ele veio do
nada e quase matou o homem que tentou me machucar.
Pare de pensar assim, eu me repreendo. Bryan agiu
como um lunático. A imagem de Bryan esfaqueando o cara
persiste através dos meus olhos mais uma vez e faz o meu
estômago embrulhar.
Maggie está falando, mas eu não disse muito. Estamos
em seu velho Ford Escort. A coisa corre mal, mas eu não
posso reclamar. Eu nem mesmo tenho um carro, não mais.
Maggie olha para mim por trás do volante, enquanto suas
mãos o seguram com firmeza.
— Hallie, se você estiver com vontade de vomitar, baixe
a janela. Aqui já cheira estranho o suficiente. — Ela está
certa, o carro tem um odor não identificável que está lá desde
que ela comprou.
— Eu estou bem, — eu digo novamente, embora seja
uma mentira. Meus braços envolvem meu peito para
esconder como minhas mãos tremem.
— Ah, Hallie, eu sei que você não quer falar e que está
tudo bem, mas eu quero informa-la sobre a minha nova casa.
— Eu olho para ela, sem entender o que ela quer dizer.
Maggie me dá um sorriso tímido e encolhe os ombros até as
suas orelhas, enquanto dirige. — Vamos apenas dizer que
não é algo que você aprovaria.
Eu não tenho paciência para lidar com seus enigmas
neste momento. A vida de Maggie é mais difícil do que a
minha, e eu sei disso, mas ela nunca tinha escondido coisas
de mim antes. Desta vez, é claro que ela escondeu, e isso me
preocupa. As únicas coisas que eu desaprovo são as que
possam matá-la. A menina não tem nenhum senso. Às vezes
me pergunto sobre ela, e como ela escolhe o que faz. Sorrio
sem jeito e olho para o tapete sujo no chão, que alguma vez
foi azul.
— O que é tão engraçado? — Maggie parece indignada,
como se eu a tivesse ofendido.
— Nada. Vamos apenas dizer que, se você soubesse o
que eu estava fazendo esta noite, você não se sentiria tão na
defensiva. Tenho certeza de que sua casa é boa.
Maggie se tranquiliza. Ela suspira quando vira em uma
rua lateral e começamos a fazer o nosso caminho através de
um bairro degradado. As casas são marcadas e branqueadas
pelo Sol, com gramados mortos, mas os carros são
customizados e caros. Mesmo que seja tarde, as pessoas
movem-se, sem fazer nada. Eu olho para a minha porta,
querendo trancá-la, mas eu não me mexo. Enquanto nós
rodamos passando pelos grupos de pessoas, os olhos deles
viram e nos assistem passar, antes de voltar para o que eles
estavam fazendo.
Maggie finalmente diz: — Não é muito, mas acho que
vale a pena.
— Você não tem que defender o seu apartamento para
mim, Maggie. Eu sou uma maldita sem-teto. — Eu olho para
ela e inclino a cabeça para trás no assento. Minhas palavras
não a consolam, então eu acrescento: — Além disso, eu não
sou uma garota-propaganda da moralidade, também. Você
não vai acreditar no que eu fiz hoje à noite, e o que eu vou
fazer. — Minha voz falha e eu balanço a cabeça, pensando
nos lábios de Bryan. Estou horrorizada por reagir da maneira
como o faço, mesmo que com a memória.
Ela ri uma vez, rapidamente. — Sim, certo. Hallie, você
nunca faz nada de mau. Estúpido, sim. Mau, não.
Eu olho para fora da janela e não vejo nada. As casas
deram lugar a apartamentos que se estendem para o céu na
noite. Fachadas de tijolos já viram dias melhores. Muitos
parecem vazios, como se ninguém vivesse lá, por muitos
anos. Meu peito se aperta e eu me contorço na cadeira. Meu
Deus, ela mora aqui? Por que ela não me contou? Há carros
queimados, latas de lixo viradas e entulho, tudo espalhado
por toda parte. Parece que a rua foi saqueada e esquecida,
assim como Maggie.
Segundas decisões são as que mudam vidas. Eu faço a
minha e cuspo fora antes de me acovardar.
— Bryan Ferro está me chantageando. Se eu não dormir
com ele sempre que ele quiser, vai dizer às pessoas que ele é
o cara no livro e fazer o que for preciso para me arruinar. Ele
disse que ia usar tudo o que tem contra mim e me deu um
ultimato.
Os grandes olhos de Maggie viram em minha direção,
com o queixo caído e boca aberta.
— Puta merda! Quando isso aconteceu? Como você vai
detê-lo? — Ela pisca para mim e vira os olhos de volta para a
estrada, embora eu saiba que ela não quer.
Esta é a parte que me faz sentir um lixo. Eu não sou
quem ela pensa que eu sou. Eu não tenho uma estrutura
moral de aço. Eu não posso nem olhar para ela.
— Esta noite eu acabei fazendo o anúncio do prêmio no
show com ele, e então ele me encontrou no banquete. — Eu
digo. Eu tento fazer a minha boca mover-se para formar as
palavras, mas não vão sair.
— De jeito nenhum. — Ela estaciona em um parque de
estacionamento que parece que foi usado como um local de
explosão da força aérea e desliga o carro. — Pegue suas
coisas e tranque a porta. — Eu faço como ela diz e me
apresso atrás dela. — Mantenha seus olhos baixos e me siga.
Não fale ou olhe para ninguém.
Entramos no lado de um desses prédios de tijolos
antigos e subimos alguns lances de escadas, até o quarto
andar. No momento que chegamos ao seu andar, eu quero
jogar o resto do meu sapato para fora da janela. Eu poderia,
não há vidro no painel. Eu a sigo, até a porta e por um longo
corredor mal iluminado. Nós paramos em frente à sua porta.
Enquanto ela se atrapalha com a chave, a porta contrária à
dela se abre. Um homem pálido, com cabelo loiro descolorido
e vestindo uma camiseta regata branca e cueca está lá e olha
para nós. Eu posso sentir seus olhos nas minhas costas. Ele
se inclina contra o batente da porta e cruza os braços sobre o
peito.
Quando ele fala, soa rouco, como se ele fumasse um
maço de cigarros todos os dias desde que ele tinha dois anos
de idade. — Trouxe-me outra?
— Não, — Maggie diz com firmeza. Ela não se vira para
olhar para o cara. Se eu não a conhecesse melhor, eu acharia
que ela estava com medo dele. Eu não aguento mais stress
esta noite. Meu cérebro parece que vai partir em dois, antes
que eu murche e morra. Maggie pega a chave para abrir, mas
porta emperra. Ela chuta uma vez com o pé e a porta mexe
ligeiramente. — Maldita porta, — ela murmura.
— Qual é o seu nome, docinho? — O cara está falando
comigo. Viro-me e olho por cima do ombro, e nossos olhos se
encontram. Ele envia um olhar frio para mim, ao ver o jeito
como ele está olhando de soslaio. O cara é enorme, ele é todo
músculos e agora ele está sorrindo para mim, revelando uma
coroa de ouro em seu dente canino.
— Oi, — eu digo timidamente, e arrumo o meu cabelo
para atrás da minha orelha, tentando evitar o olhar dele
enquanto não respondo sua pergunta.
Enquanto o cara está de boca aberta, Maggie chuta na
porta. A porta se abre, ela agarra meu braço e me puxa. Eu
sigo, voando atrás dela enquanto ela grita por cima do ombro,
— eu vou lhe trazer alguém amanhã, eu juro. Boa noite, Vic.
— Ela bate a porta com o pé e parece abalada.
Seu apartamento é aproximadamente o mesmo tamanho
de um pequeno corredor. Há uma pequena janela com uma
folha grampeada sobre ela e sem móveis. Algumas das roupas
de Maggie estão jogadas ao redor do lugar, como se ela
tivesse saído com pressa. Se eu morasse aqui, eu iria embora
rapidamente, também.
— Obrigado por me deixar ficar com você.
— Sim, não há problema. É uma merda como este é o
pior lugar que eu já vivi, mas é um refúgio. Eu durmo aqui e,
em seguida, dou o fora. O aluguel não é horrível. — Ela
oferece um sorriso torto, mas é franco.
Eu preciso dela, e não há um muro entre nós. Ela acha
que eu sou perfeita, mas eu não sou. Eu fiz coisas que ela
não sabe. As palavras estão na minha língua e eu enrolo-as
em torno de minha boca, tentando descobrir como dizer isso,
enquanto a Maggie tagarela, enchendo o ambiente com sua
voz.
Um casal está brigando nas proximidades, e o som está
cada vez mais alto. Estão lutando, eu não quero dizer
discutindo. Há coisas batendo nas paredes e quebrando.
Chove gesso para baixo sobre nós como flocos de neve
quando algo cai de cima. Maggie olha horrorizada quando ela
puxa sua cama Murphy 2 para baixo da parede. Tomando
quase toda a sala. — Você pode dormir aqui. Eu vou dormir
no chão.
— Não.
Ela sorri. — Não seja boba, você é minha convidada. —
Palavrões ressoam acima de nós quando um homem irritado
grita. É prontamente seguido de um grito agudo. Maggie
morde as unhas do jeito que ela fazia quando éramos
crianças e olha em volta, como se ela desejasse poder
queimar o lugar.
2
— Eu não vou fazer você dormir no chão, mas há outra
coisa que eu preciso lhe dizer.
— Maggie olha para mim por debaixo de sua massa de
cabelo vermelho. Eu sou sua única amiga de verdade, sua
única família e ela a minha. Deus, o que é que ela vai pensar
de mim quando eu lhe disser o que eu concordei em fazer?
Eu não acho que eu vou ser capaz de suportá-lo. Meus
braços ainda estão dobrados sobre o peito, com as mãos
firmemente aninhadas nos meus braços.
— Hallie, qual o problema? — Maggie deixa de fazer a
cama e se senta. Ela dá um tapinha no lugar ao lado dela e
me sento.
Olhando para frente, eu engulo em seco e digo a ela.
— Eu disse que sim. — Você disse sim para o quê?
Hallie, você não está fazendo sentido, do que você está
falando?
Quando me viro para olhar para ela, e encontro com
aqueles grandes olhos verdes e sinto medo. Minha pele fica
arrepiada, mas eu não consigo desviar o olhar.
— Eu disse a Bryan Ferro que sim. Eu cedi. Ele ganhou
e eu perdi.
— O quê? — Ela está furiosa, pronta para voar para fora
do seu assento e defender-me até a morte.
Eu coloco minha mão no colo dela para fazê-la parar. —
Eu fui ao seu quarto de hotel para dizer-lhe para ir chupar
um prego, mas eu mudei de ideia quando ouvi sua voz. Eu
pensei que algo estava errado e esta era a sua maneira de
merda para me dizer. Conheci-o uma vez, pelo menos eu
pensei que tinha conhecido. Então, quando eu estava
esperando por você do lado de fora, eu... — minha voz está
trêmula e eu não posso mais esconder o meu horror, — um
cara tentou roubar minha bolsa. Para encurtar a história, ele
me pegou por trás do prédio e ia me machucar. Bryan
apareceu e ele... — Eu não posso dizer isso. Meu Bryan
perfeito fez algo que era tão diferente dele, tão terrivelmente
selvagem, que eu não sei o que pensar. Ele me protegeu, mas
ainda parece errado.
— Ele a machucou? — Maggie está furiosa, eu posso
ouvir em sua voz. Mas a forma como ela fala suas palavras
ondulando entre muito alta e baixa, dão a deixa.
— Não, ele atacou o homem, e esfaqueou-o. Se eu não
dissesse a Bryan para parar, acho que ele teria matado o
cara. — Olho para ela, mas eu não posso mais enxergar.
Meus olhos têm brilham com lágrimas que tudo fica
desfocado.
Maggie ergue os braços e eu caio neles. Ela sempre foi
como uma irmã para mim. Estivemos sempre uma para a
outra, e eu temo que a história com Bryan e o que eu me
tornei vá fazê-la me odiar. Meu pai teria vergonha de me
chamar de filha, e eu espero o mesmo de Maggie. Em vez
disso, ela fica lá no colchão gasto e me acalma.
Depois de um forte abraço, ela libera meus ombros e
pega meu queixo. — Você e eu passamos por tudo juntas.
Não pense que eu a estou socorrendo por causa disso. Se não
for por qualquer coisa, a vida fica mais interessante, isso é
tudo.
Eu enxugo as lágrimas dos meus olhos e rio, porque ela
está tão errada. — Esse é o eufemismo do ano.
— O meu ponto é, eu estou aqui por você. Eu sempre
estarei aqui para você. — Ela bate no meu ombro com a dela.
— Então, Bryan Ferro tem um lado negro por trás de todo o
brilho e deslumbre?
— Aparentemente.
— Foi divertido ou ele fez coisas estranhas?
Eu sorrio e limpo meus olhos novamente. — Não, não
hoje à noite de qualquer maneira. Ele me chamou para seu
quarto, eu fui, e nos beijamos. Então, ele me mandou ir
embora.
Os lábios de Maggie puxaram um pouco para cima. —
Ele a jogou para fora? Mas que inferno...?
— Eu não sei. É como se ele estivesse louco e deixando o
Hulk sair ou algo assim. Ele não olhava para mim. As coisas
estavam quentes e pesadas até então. — A intuição continua
me dizendo que algo estava errado, mas não posso entender o
quê.
Maggie sorri: — Ele foi melhor do que Neil, certo?
Eu faço uma careta e olhou para ela como se ela fosse
louca. — Uh, Bryan está me chantageando.
— E ele é mais quente do que Neil. Vá em frente, diga.
Eu sou sua amiga, então eu já sei.
Eu baixei meus olhos em direção ao chão e não disse
nada. Eu não tenho que dizer nada, a minha expressão diz
tudo. Bryan é muito mais quente do que Neil, não há
comparação. Os dois homens são noite e dia, e Bryan é a
noite sexy. Neil a voz racional que soa como o FDA 3,
lembrando-me de fazer todas as coisas com moderação, mas
não todas as coisas, somente as ações que ele aprova. Droga.
Eu enterro meu rosto em minhas mãos e suspiro.
Maggie acaricia minhas costas. — Está tudo bem.
Qualquer um é mais quente do que Neil. Não se sinta
culpada, mas eu não contaria exatamente ao Senhor Calças
Perfeitamente Passadas. Ele vai surtar ao saber que alguém
tocou em você. — Maggie está tirando as roupas e puxando
uma camisa de dormir e calças, enquanto ela fala.
— Na verdade, Neil sabe.
3 FDA - Food and Drug Administration - Agencia reguladora de remédios e alimentos.
— O quê? — Ela está pulando em um pé, tentando
enfiar o pé pela perna da calça e cai. — Como é que ele sabe?
Você disse que acabou de acontecer.
— Neil sabe por que foi ele quem me disse para fazer
isso.
CONTINUA
Bryan está de queixo caído e boca aberta, com aqueles olhos verdes semicerrados, em chamas. Fúria e choque não parecem bons para ele. As emoções distorcem seu belo rosto,
estragam as linhas suaves de sua pele, fazendo-o parecer bem mais velho. Seus punhos estão fechados, apertados em seus lados, mas ele pisca uma vez e a reação diminui. Há muitas coisas que eu não sei sobre Bryan Ferro, mas uma coisa eu sei, ele é uma merda em manter as coisas escondidas. Seus pensamentos dançam em seu rosto de vez em quando, e é por isso que ele está desconfiado de mim.
Virando abruptamente, Bryan pressiona seus dedos em sua têmpora direita. Sua voz sai como um grunhido.
— Eu lhe disse para ir embora.
— Seus ombros estão tensos, cada músculo está apertado a ponto de eu poder ver as curvas de seu corpo sob essa camisa. Ele flexiona a mão que está ao seu lado antes de deslizar em seu bolso. Bryan pode ser capaz de esconder tudo, de todos os outros, mas não de mim.
— Sim, eu ouvi essa parte. — Eu ajo como se eu não me importasse, deito-me no tapete, e dobro as minhas mãos atrás da minha cabeça. O piso é suave e difuso. Levanto os meus joelhos, eu deixo a queda do meu vestido em torno dos meus tornozelos e até meus pés, para sentir a pilha macia entre os dedos dos pés. O tapete no meu antigo quarto parecia como um saco de batata, em relação a este material.
Mesmo com Bryan irado, eu estou sorrindo. A vozinha na parte de trás da minha cabeça me diz que eu perdi minha mente. Eu respondo de volta que eu nunca tive um controle firme sobre isso de qualquer maneira.
https://img.comunidades.net/bib/bibliotecasemlimites/2_A_PROPOSI_O.jpg
Bryan pode ver meu reflexo no espelho, mas eu não
posso ver mais do que as suas costas e a maneira como ele
agarra sua cabeça como se fosse explodir. Ele está furioso
comigo? Não consigo entender sua raiva, mas transborda
para fora de sua boca de novo, espetando como espinhos,
neste momento.
— Se você não consegue entender os termos deste
acordo, então eu temo que nós não tenhamos um.
— O quê? — Sento-me e giro em torno, de modo que
estou de frente para as suas costas.
Bryan se vira, e a tensão que está estampada no seu
rosto é horrível. Eu encontro o seu olhar, mas eu não posso
olha-lo sem querer corrigir o que está fazendo com ele. Todas
as imagens na imprensa mostram a versão de Bryan que eu
conhecia, leve e despreocupado, mas este homem, aqui, não é
nenhuma dessas coisas. Algo está esmagando-o de dentro
para fora e deixando-o em pedaços. Seu corpo está tremendo,
ele está tão bravo. Ele tenta respirar fundo, mas isso só faz o
seu rosto ficar mais apertado.
— Você me ouviu. Se você não fizer as coisas do meu
jeito, eu vou arruinar você. Este não é o meu jeito, você sabe
muito bem disso. Saia daqui.
Ele não grita, mas suas palavras me fazem tremer. Não
há calor, não há compaixão. Talvez eu não o conheça mais e
ele está certo. Apertando os lábios, eu engulo minha resposta,
mas esta incha dentro de mim e enche meu peito. Eu peguei
meus sapatos saltos de volta e calcei em meus pés cansados
antes de levantar. Eu ando mais e pego minha bolsa.
Eu deveria sair. A vozinha dentro de mim canta como
um duende com uma voz agradável, sim, vá. Faça isso.
Agora.
Meus olhos estão fixos na porta como se fosse o
caminho para o inferno. Algo sobre sair agora parece errado,
mas não posso entender sobre o que está prendendo meus
pés no lugar. Caramba, é o pensamento que está me
segurando. Ele está me prendendo aqui e eu não posso me
mover. Parece como engolir o vômito e eu não posso fazê-lo.
Eu sou o cérebro danificado, mas não posso ser algo que não sou.
Girando sobre meus pés, eu atravesso o piso acarpetado
e elegante, e caminho até ele. Bryan não se vira para olhar
para mim. Em vez disso, suas mãos estão segurando a parte
superior do bar como se ele quisesse arrancá-lo da parede.
Suas costas estão curvadas e sua cabeça está pendurada
entre os ombros, como se ele estivesse tentando não me
rasgar em pedaços. Outra mulher teria corrido agora mesmo,
mas eu sou a dopada que anda mais perto.
— Eu sou uma idiota, — eu digo, enquanto olho para os
meus sapatos, e rio de leve. É o tipo de som que não tem
alegria e revela uma alma torturada. Meus olhos levantam
para seus ombros. Eu fico lá por um momento esperando que
ele se vire, mas ele não vira. Bryan não fala ou levanta o
olhar. Ele permanece debruçado sobre o bar como um troll 1.
Eu continuo, — vê-lo hoje à noite foi terrível e
maravilhoso. Isso evocou memórias e sentimentos que eu
tinha tempo esquecido há muito. Escrever sobre, é uma
coisa, mas vê-lo novamente está além das palavras.
Desculpe-me se eu o machuquei, mesmo que eu não entenda
o que eu fiz. E seu eu pudesse corrigir. Eu...
Por que estou fazendo isso? Eu estou me desculpando
com as suas costas, o homem não tem sequer a decência de
se virar e encarar-me. Eu respiro fundo e endireito a minha
espinha.
— As pessoas cometem erros, Bryan, e parece que o
meu maior erro foi conhecê-lo.
1
Troll – é uma gíria que designa uma pessoa cujo comportamento tende sistematicamente a desestabilizar uma
discussão, provocar e enfurecer as pessoas envolvidas nela. Há trolls de todo tipo, desde o mais ignorante e rude
que xinga e provoca, até o mais apto intelectualmente que discursa com o objetivo de desestabilizar o interlocutor
e levá-lo a fúria, para depois desqualificá-lo, matando seu argumento e abalando sua reputação.
A fúria me inunda quando eu corro pela sala. Eu agarro
a maçaneta da porta e não olho para trás, apesar de sentir
seus olhos em mim. Dane-se ele. Eu vivi coisas piores. Eu
digo essas palavras uma e outra vez, porque aconteceu.
Depois corro pelo corredor, aperto o botão para baixo no
elevador uma e outra vez, perguntando por que eu estou tão
chateada. Depois de um momento, eu sinto o pensamento
picar os meus olhos e apertar a minha garganta e eu sei
exatamente por que estou tão chateada.
É possível que as coisas estejam invertidas, e como eu
não conhecesse o verdadeiro Bryan Ferro, aquele com quem
dormi todos esses anos, era o falso.
CAPÍTULO 2
Eu não posso ir para casa e enfrentar Neil, por isso eu
telefono para Maggie. Ela atende no terceiro toque. Eu estou
andando na rua em frente ao hotel com o meu telefone
pressionado ao meu ouvido. É tarde e escuro. Evitando as
sombras, eu ando mais perto da rua do que no hotel.
— Maggie. — Eu tento esconder a tensão na minha voz,
mas ela ouve. Nós nos conhecemos há muito tempo. — Vou
tirar suas bolas fora.
— O que diabo aconteceu? Onde você está? — Ela me
enche de perguntas, até que eu possa finalmente fazê-la calar
a boca.
— Eu preciso de um lugar para dormir. Eu não posso
ver Neil agora e eu não tenho outro lugar para ir.
Maggie fica em silêncio.
— O que é meu, é seu. Você sabe disso, mas eu não
tenho certeza que você vá gostar.
— Em qualquer lugar é melhor do que aqui ou com Neil.
— Eu sinto uma náusea fazendo seu caminho até a minha
garganta. Lágrimas estão chegando, e tenho a sensação de
que vai ser um maremoto.
— Claro, claro. Eu estarei aí em cinco minutos.
— A linha de Maggie desliga, e eu fecho o meu telefone e
o coloco em minha bolsa.
A cidade se move em torno de mim, mas parece que eu
estou em uma bolha. As pessoas passam na calçada, mas eu
não as noto. Eu passeio, perdida em pensamentos, agarrando
minha bolsa perto do meu corpo. O ar da noite tem aquele
cheiro que é distintamente de Nova York. Eu o inspiro e
quando me viro, quase bato em alguém. O cara é uma
parede, de marrom e preto. Seu casaco tem cheiro de cigarros
velhos e naftalina.
Antes de eu ter tempo para descobrir o que está
acontecendo, ele pega a minha bolsa, em seguida, coloca a
mão no centro do meu peito e me empurra, com força. Eu
grito, tropeço e caio para trás, enquanto minha bolsa é
arrancada de minhas mãos. O cara se vira e está pronto para
correr, mas eu não estou com disposição para perder a bolsa.
Eu estou fodidamente quebrada. Todo o dinheiro que eu
tenho está lá dentro.
Antes que eu saiba o que estou fazendo, eu pego um dos
meus sapatos de salto alto e atiro em sua cabeça. Acerto e ele
cai na calçada. Poucas pessoas param para assistir, mas
ninguém faz nada - típico dos nova-iorquinos. Todo mundo
quer ver, mas ninguém ajuda.
Nesse ponto, tudo acontece em câmera lenta. Eu estou
em pé, mesmo que eu não me lembre de ficar pé. Um pé está
congelado, sobre o cimento frio, enquanto o outro ainda está
calçado. O ladrão levanta a mão e bota na parte de trás de
sua cabeça e puxa-a. Ele olha para os seus dedos, seus olhos
escuros apreciando o sangue vermelho e pegajoso em sua
mão. A ponta do meu salto que bateu com a parte traseira de
seu couro cabeludo, deve tê-lo cortado.
Meu coração para, quando o sujeito se vira para mim.
Seus olhos têm um olhar enlouquecido e os ombros tremem
como se ele fosse me rasgar ao meio.
— Você. — Ele diz isso como se fosse o meu nome e ele
me odeia.
O homem dá passos em direção a mim e fala
novamente, mas suas mãos lentamente movem para cima,
como se ele fosse me atacar ou me estrangular. Eu suspiro
alguma coisa, mas ele não sai antes de eu dar um passo para
trás, aterrorizada. Meu pulso ruge em meus ouvidos, então
olho em volta a procura de ajuda, mas não vejo ninguém. A
multidão se afastou, ou talvez eu tenha ido embora. Onde
está um policial quando eu preciso de um?
O resto acontece freneticamente rápido. Alguém grita
comigo, enquanto o homem procura o meu pescoço. Eu caio,
mas ele pega no meu ombro. Ele aperta-me com força,
fazendo com que o meu pescoço estale para trás enquanto ele
grita na minha cara.
— Sua pequena vadia!
O resto de suas palavras se tornam zumbidos, enquanto
ele me aperta mais. Estou ciente do vento, do ar da noite, e
do homem que está me estrangulando. Em algum momento,
as mãos deslizam até o pescoço. Eu agarro em suas mãos e
tento gritar, mas não sai nada. Eu não entendo por que
ninguém nos vê, por que eles simplesmente deixam esse
ladrão me machucar.
Balançando as minhas pernas, eu o chuto, mas não
adianta. Eu não sou forte o suficiente. Eu tentei tudo o que
sabia fazer e nada funcionou. O homem me atira e bate
minhas costas contra uma parede de tijolos. O frio me sacode
e me pergunto como chegamos ao beco ao lado do hotel, mas
os pensamentos cessam quando vejo o olhar em seus olhos.
Um sorriso mal aparece em seu rosto quando ele rasga o
ombro do meu vestido. O tecido sai em sua mão e permite
que o vestido deslizar alguns centímetros.
Abro a boca para gritar, mas sua mão imunda me cobre,
impedindo a saída do som. Sua mão me tateia, sentindo
meus seios enquanto ele sussurra em meu ouvido todas as
coisas horríveis que ele pretende fazer comigo. — Então, eu
vou levar a minha faca e... — Suas palavras desagradáveis
param imediatamente, após o som do estalar de madeira.
Assim como, de repente, a mão no meu pescoço se foi e
eu suspiro em uma respiração trêmula e olho para cima. Está
muito escuro para ver, mas há um homem vestido de
smoking, avançando sobre o ladrão. Ele lança socos uma e
outra vez, até que eles estão na parte de trás do beco, presos
por uma parede de tijolos. O ladrão é espancado e sangra,
mas ele não para de lutar. Nem o homem de smoking. Ele
distribui socos como um boxeador, tanto assim que é
hipnótico assistir. Quando a faca aparece, eu esperava que as
coisas se transformassem em favor do ladrão, mas isso não
acontece. O homem de smoking desarma o idiota e toma a
arma. Aconteceu tão rápido que eu não posso dizer como foi
feito. O homem de smoking recua seu braço como se
estivesse para empurrar a faca no peito do cara.
— Pare! — Eu chamo antes de perceber o que estou
fazendo. Uma das minhas mãos está segurando meu vestido
no busto e a outra está mal tocando meus lábios. Eu não
posso ver o cara morrer, mas eu não consigo desviar o olhar
também.
O homem de smoking não para. Um grito tremendo sai
dilacerado da minha garganta quando ele bate a faca no
ombro do ladrão. O bandido pega no seu braço e desliza para
baixo da parede, segurando seu ombro enquanto o casaco
fica encharcado de sangue. Ele olha diretamente para mim
com raiva.
O homem de smoking chuta o ladrão uma vez, e uma
voz familiar disse:
— Vá embora.
Eu tremo quando ouço isso, porque eu sei quem é ele,
Bryan. Ele deve ter me seguido. O medo agarra e azeda
dentro do meu estômago, enquanto eu olho para as suas
costas. Bryan não vira o rosto para mim. O ladrão comprime
os lábios e se levanta do chão do beco. Ele faz o seu caminho
passando por mim, e não diz nada.
Um tremor se apodera de mim e escorre pela minha
espinha, me fazendo ofegar. É quando ele se vira. O rosto de
Bryan está pálido e coberto de um brilho fino de suor. Ele
caminha de volta para mim e eu posso ver onde ele tomou
algumas pancadas. Há um rasgo em sua camisa, sob a lapela
do paletó, onde a faca cortou antes Bryan tomá-la do ladrão.
Passo a passo, ele caminha em minha direção, e eu
estou mais assustada por Bryan que qualquer coisa que já
encontrei. O que foi isso? Ele teria matado o homem se eu
não tivesse gritado? Eu não consigo parar de tremer.
Bryan alcança os meus ombros para me firmar, e eu
sinto aquele choque familiar que acompanha o seu toque.
Seu polegar esfrega suavemente sobre minha pele. — Você
está bem?
Mas, é muito. Eu não posso. Eu não posso. Eu não posso.
O pensamento não faz sentido, mas eu sei que tenho que
fazer com que ele me liberte. Seu toque tem uma maneira de
me desfazer, e eu estou caindo aos pedaços. Recuso-me a
deixá-lo ser o único a testemunhar isso. Eu empurro para
longe, e aceno com a cabeça rapidamente.
— Eu estou bem.
As mãos de Bryan permanecem paradas no ar por um
momento, antes de ele abaixa-las junto com seu olhar. Ele
observa o chão por um segundo e quando ele levanta o
queixo, vejo um sorriso nos seus lábios.
— Mentirosa. Você está longe de estar bem, mas eu
estou contente que você esteja parada.
Eu fico olhando para ele, incapaz de encontrar uma
resposta. Sua voz soa carinhosa, quase arrependida. Ele olha
por cima do meu ombro para alguém e, em seguida, diz:
— A sua carona está aqui. Da próxima vez, não tente
derrubar um assaltante por si mesmo.
Eu falo sem querer, mas as palavras saem e caem fora.
— Da próxima vez, não mate um homem por roubar minha
bolsa.
O canto dos lábios de Bryan puxa para cima, como se
quisesse sorrir, mas ele não sorri.
— Eu não iria matar um homem por roubar uma bolsa.
Que tipo de pessoa você acha que eu sou?
— Honestamente, eu não sei mais. Eu achava que sabia,
mas depois disso... — Eu balanço minha cabeça e fico sem
palavras. Bryan mudou o ataque no último segundo. Essa
faca não estava voltada para o ombro do homem — estava
dirigida para o seu coração. — Você ia matá-lo. Eu vi, você
não pode me dizer que não iria.
Bryan se inclina mais perto, e quando ele fala seu hálito
quente sussurra contra a minha orelha.
— Talvez, mas não foi porque ele pegou sua bolsa. — Ele
se inclina para trás e desliza as mãos nos bolsos, enquanto
seus olhos verdes me percorrem. — Ninguém toca em você,
enquanto você está comigo.
— Eu engulo em seco e olho para ele, com o coração
ainda disparando.
Maggie aparece atrás de mim um segundo depois. Ela
pega meu ombro e me vira.
— Hallie, diabo está acontecendo, e por que você está
aqui no beco sozinha? — Ela vê a maneira que eu estou
segurando meu vestido e o tecido rasgado. A preocupação
persiste em seu rosto, esperando pela minha resposta.
— Eu não estou sozinha, — mas quando me viro para
olhar, Bryan já se foi.
CAPÍTULO 3
Eu estive em um casulo de tristeza e este evento o
quebrou. Minha atordoada indiferença fratura e estilhaça,
como vidro barato. Eu olho para a bolsa presa em minha mão
e me pergunto o que há de errado comigo, mas ainda mais,
eu não consigo parar de pensar em Bryan, como ele veio do
nada e quase matou o homem que tentou me machucar.
Pare de pensar assim, eu me repreendo. Bryan agiu
como um lunático. A imagem de Bryan esfaqueando o cara
persiste através dos meus olhos mais uma vez e faz o meu
estômago embrulhar.
Maggie está falando, mas eu não disse muito. Estamos
em seu velho Ford Escort. A coisa corre mal, mas eu não
posso reclamar. Eu nem mesmo tenho um carro, não mais.
Maggie olha para mim por trás do volante, enquanto suas
mãos o seguram com firmeza.
— Hallie, se você estiver com vontade de vomitar, baixe
a janela. Aqui já cheira estranho o suficiente. — Ela está
certa, o carro tem um odor não identificável que está lá desde
que ela comprou.
— Eu estou bem, — eu digo novamente, embora seja
uma mentira. Meus braços envolvem meu peito para
esconder como minhas mãos tremem.
— Ah, Hallie, eu sei que você não quer falar e que está
tudo bem, mas eu quero informa-la sobre a minha nova casa.
— Eu olho para ela, sem entender o que ela quer dizer.
Maggie me dá um sorriso tímido e encolhe os ombros até as
suas orelhas, enquanto dirige. — Vamos apenas dizer que
não é algo que você aprovaria.
Eu não tenho paciência para lidar com seus enigmas
neste momento. A vida de Maggie é mais difícil do que a
minha, e eu sei disso, mas ela nunca tinha escondido coisas
de mim antes. Desta vez, é claro que ela escondeu, e isso me
preocupa. As únicas coisas que eu desaprovo são as que
possam matá-la. A menina não tem nenhum senso. Às vezes
me pergunto sobre ela, e como ela escolhe o que faz. Sorrio
sem jeito e olho para o tapete sujo no chão, que alguma vez
foi azul.
— O que é tão engraçado? — Maggie parece indignada,
como se eu a tivesse ofendido.
— Nada. Vamos apenas dizer que, se você soubesse o
que eu estava fazendo esta noite, você não se sentiria tão na
defensiva. Tenho certeza de que sua casa é boa.
Maggie se tranquiliza. Ela suspira quando vira em uma
rua lateral e começamos a fazer o nosso caminho através de
um bairro degradado. As casas são marcadas e branqueadas
pelo Sol, com gramados mortos, mas os carros são
customizados e caros. Mesmo que seja tarde, as pessoas
movem-se, sem fazer nada. Eu olho para a minha porta,
querendo trancá-la, mas eu não me mexo. Enquanto nós
rodamos passando pelos grupos de pessoas, os olhos deles
viram e nos assistem passar, antes de voltar para o que eles
estavam fazendo.
Maggie finalmente diz: — Não é muito, mas acho que
vale a pena.
— Você não tem que defender o seu apartamento para
mim, Maggie. Eu sou uma maldita sem-teto. — Eu olho para
ela e inclino a cabeça para trás no assento. Minhas palavras
não a consolam, então eu acrescento: — Além disso, eu não
sou uma garota-propaganda da moralidade, também. Você
não vai acreditar no que eu fiz hoje à noite, e o que eu vou
fazer. — Minha voz falha e eu balanço a cabeça, pensando
nos lábios de Bryan. Estou horrorizada por reagir da maneira
como o faço, mesmo que com a memória.
Ela ri uma vez, rapidamente. — Sim, certo. Hallie, você
nunca faz nada de mau. Estúpido, sim. Mau, não.
Eu olho para fora da janela e não vejo nada. As casas
deram lugar a apartamentos que se estendem para o céu na
noite. Fachadas de tijolos já viram dias melhores. Muitos
parecem vazios, como se ninguém vivesse lá, por muitos
anos. Meu peito se aperta e eu me contorço na cadeira. Meu
Deus, ela mora aqui? Por que ela não me contou? Há carros
queimados, latas de lixo viradas e entulho, tudo espalhado
por toda parte. Parece que a rua foi saqueada e esquecida,
assim como Maggie.
Segundas decisões são as que mudam vidas. Eu faço a
minha e cuspo fora antes de me acovardar.
— Bryan Ferro está me chantageando. Se eu não dormir
com ele sempre que ele quiser, vai dizer às pessoas que ele é
o cara no livro e fazer o que for preciso para me arruinar. Ele
disse que ia usar tudo o que tem contra mim e me deu um
ultimato.
Os grandes olhos de Maggie viram em minha direção,
com o queixo caído e boca aberta.
— Puta merda! Quando isso aconteceu? Como você vai
detê-lo? — Ela pisca para mim e vira os olhos de volta para a
estrada, embora eu saiba que ela não quer.
Esta é a parte que me faz sentir um lixo. Eu não sou
quem ela pensa que eu sou. Eu não tenho uma estrutura
moral de aço. Eu não posso nem olhar para ela.
— Esta noite eu acabei fazendo o anúncio do prêmio no
show com ele, e então ele me encontrou no banquete. — Eu
digo. Eu tento fazer a minha boca mover-se para formar as
palavras, mas não vão sair.
— De jeito nenhum. — Ela estaciona em um parque de
estacionamento que parece que foi usado como um local de
explosão da força aérea e desliga o carro. — Pegue suas
coisas e tranque a porta. — Eu faço como ela diz e me
apresso atrás dela. — Mantenha seus olhos baixos e me siga.
Não fale ou olhe para ninguém.
Entramos no lado de um desses prédios de tijolos
antigos e subimos alguns lances de escadas, até o quarto
andar. No momento que chegamos ao seu andar, eu quero
jogar o resto do meu sapato para fora da janela. Eu poderia,
não há vidro no painel. Eu a sigo, até a porta e por um longo
corredor mal iluminado. Nós paramos em frente à sua porta.
Enquanto ela se atrapalha com a chave, a porta contrária à
dela se abre. Um homem pálido, com cabelo loiro descolorido
e vestindo uma camiseta regata branca e cueca está lá e olha
para nós. Eu posso sentir seus olhos nas minhas costas. Ele
se inclina contra o batente da porta e cruza os braços sobre o
peito.
Quando ele fala, soa rouco, como se ele fumasse um
maço de cigarros todos os dias desde que ele tinha dois anos
de idade. — Trouxe-me outra?
— Não, — Maggie diz com firmeza. Ela não se vira para
olhar para o cara. Se eu não a conhecesse melhor, eu acharia
que ela estava com medo dele. Eu não aguento mais stress
esta noite. Meu cérebro parece que vai partir em dois, antes
que eu murche e morra. Maggie pega a chave para abrir, mas
porta emperra. Ela chuta uma vez com o pé e a porta mexe
ligeiramente. — Maldita porta, — ela murmura.
— Qual é o seu nome, docinho? — O cara está falando
comigo. Viro-me e olho por cima do ombro, e nossos olhos se
encontram. Ele envia um olhar frio para mim, ao ver o jeito
como ele está olhando de soslaio. O cara é enorme, ele é todo
músculos e agora ele está sorrindo para mim, revelando uma
coroa de ouro em seu dente canino.
— Oi, — eu digo timidamente, e arrumo o meu cabelo
para atrás da minha orelha, tentando evitar o olhar dele
enquanto não respondo sua pergunta.
Enquanto o cara está de boca aberta, Maggie chuta na
porta. A porta se abre, ela agarra meu braço e me puxa. Eu
sigo, voando atrás dela enquanto ela grita por cima do ombro,
— eu vou lhe trazer alguém amanhã, eu juro. Boa noite, Vic.
— Ela bate a porta com o pé e parece abalada.
Seu apartamento é aproximadamente o mesmo tamanho
de um pequeno corredor. Há uma pequena janela com uma
folha grampeada sobre ela e sem móveis. Algumas das roupas
de Maggie estão jogadas ao redor do lugar, como se ela
tivesse saído com pressa. Se eu morasse aqui, eu iria embora
rapidamente, também.
— Obrigado por me deixar ficar com você.
— Sim, não há problema. É uma merda como este é o
pior lugar que eu já vivi, mas é um refúgio. Eu durmo aqui e,
em seguida, dou o fora. O aluguel não é horrível. — Ela
oferece um sorriso torto, mas é franco.
Eu preciso dela, e não há um muro entre nós. Ela acha
que eu sou perfeita, mas eu não sou. Eu fiz coisas que ela
não sabe. As palavras estão na minha língua e eu enrolo-as
em torno de minha boca, tentando descobrir como dizer isso,
enquanto a Maggie tagarela, enchendo o ambiente com sua
voz.
Um casal está brigando nas proximidades, e o som está
cada vez mais alto. Estão lutando, eu não quero dizer
discutindo. Há coisas batendo nas paredes e quebrando.
Chove gesso para baixo sobre nós como flocos de neve
quando algo cai de cima. Maggie olha horrorizada quando ela
puxa sua cama Murphy 2 para baixo da parede. Tomando
quase toda a sala. — Você pode dormir aqui. Eu vou dormir
no chão.
— Não.
Ela sorri. — Não seja boba, você é minha convidada. —
Palavrões ressoam acima de nós quando um homem irritado
grita. É prontamente seguido de um grito agudo. Maggie
morde as unhas do jeito que ela fazia quando éramos
crianças e olha em volta, como se ela desejasse poder
queimar o lugar.
2
— Eu não vou fazer você dormir no chão, mas há outra
coisa que eu preciso lhe dizer.
— Maggie olha para mim por debaixo de sua massa de
cabelo vermelho. Eu sou sua única amiga de verdade, sua
única família e ela a minha. Deus, o que é que ela vai pensar
de mim quando eu lhe disser o que eu concordei em fazer?
Eu não acho que eu vou ser capaz de suportá-lo. Meus
braços ainda estão dobrados sobre o peito, com as mãos
firmemente aninhadas nos meus braços.
— Hallie, qual o problema? — Maggie deixa de fazer a
cama e se senta. Ela dá um tapinha no lugar ao lado dela e
me sento.
Olhando para frente, eu engulo em seco e digo a ela.
— Eu disse que sim. — Você disse sim para o quê?
Hallie, você não está fazendo sentido, do que você está
falando?
Quando me viro para olhar para ela, e encontro com
aqueles grandes olhos verdes e sinto medo. Minha pele fica
arrepiada, mas eu não consigo desviar o olhar.
— Eu disse a Bryan Ferro que sim. Eu cedi. Ele ganhou
e eu perdi.
— O quê? — Ela está furiosa, pronta para voar para fora
do seu assento e defender-me até a morte.
Eu coloco minha mão no colo dela para fazê-la parar. —
Eu fui ao seu quarto de hotel para dizer-lhe para ir chupar
um prego, mas eu mudei de ideia quando ouvi sua voz. Eu
pensei que algo estava errado e esta era a sua maneira de
merda para me dizer. Conheci-o uma vez, pelo menos eu
pensei que tinha conhecido. Então, quando eu estava
esperando por você do lado de fora, eu... — minha voz está
trêmula e eu não posso mais esconder o meu horror, — um
cara tentou roubar minha bolsa. Para encurtar a história, ele
me pegou por trás do prédio e ia me machucar. Bryan
apareceu e ele... — Eu não posso dizer isso. Meu Bryan
perfeito fez algo que era tão diferente dele, tão terrivelmente
selvagem, que eu não sei o que pensar. Ele me protegeu, mas
ainda parece errado.
— Ele a machucou? — Maggie está furiosa, eu posso
ouvir em sua voz. Mas a forma como ela fala suas palavras
ondulando entre muito alta e baixa, dão a deixa.
— Não, ele atacou o homem, e esfaqueou-o. Se eu não
dissesse a Bryan para parar, acho que ele teria matado o
cara. — Olho para ela, mas eu não posso mais enxergar.
Meus olhos têm brilham com lágrimas que tudo fica
desfocado.
Maggie ergue os braços e eu caio neles. Ela sempre foi
como uma irmã para mim. Estivemos sempre uma para a
outra, e eu temo que a história com Bryan e o que eu me
tornei vá fazê-la me odiar. Meu pai teria vergonha de me
chamar de filha, e eu espero o mesmo de Maggie. Em vez
disso, ela fica lá no colchão gasto e me acalma.
Depois de um forte abraço, ela libera meus ombros e
pega meu queixo. — Você e eu passamos por tudo juntas.
Não pense que eu a estou socorrendo por causa disso. Se não
for por qualquer coisa, a vida fica mais interessante, isso é
tudo.
Eu enxugo as lágrimas dos meus olhos e rio, porque ela
está tão errada. — Esse é o eufemismo do ano.
— O meu ponto é, eu estou aqui por você. Eu sempre
estarei aqui para você. — Ela bate no meu ombro com a dela.
— Então, Bryan Ferro tem um lado negro por trás de todo o
brilho e deslumbre?
— Aparentemente.
— Foi divertido ou ele fez coisas estranhas?
Eu sorrio e limpo meus olhos novamente. — Não, não
hoje à noite de qualquer maneira. Ele me chamou para seu
quarto, eu fui, e nos beijamos. Então, ele me mandou ir
embora.
Os lábios de Maggie puxaram um pouco para cima. —
Ele a jogou para fora? Mas que inferno...?
— Eu não sei. É como se ele estivesse louco e deixando o
Hulk sair ou algo assim. Ele não olhava para mim. As coisas
estavam quentes e pesadas até então. — A intuição continua
me dizendo que algo estava errado, mas não posso entender o
quê.
Maggie sorri: — Ele foi melhor do que Neil, certo?
Eu faço uma careta e olhou para ela como se ela fosse
louca. — Uh, Bryan está me chantageando.
— E ele é mais quente do que Neil. Vá em frente, diga.
Eu sou sua amiga, então eu já sei.
Eu baixei meus olhos em direção ao chão e não disse
nada. Eu não tenho que dizer nada, a minha expressão diz
tudo. Bryan é muito mais quente do que Neil, não há
comparação. Os dois homens são noite e dia, e Bryan é a
noite sexy. Neil a voz racional que soa como o FDA 3,
lembrando-me de fazer todas as coisas com moderação, mas
não todas as coisas, somente as ações que ele aprova. Droga.
Eu enterro meu rosto em minhas mãos e suspiro.
Maggie acaricia minhas costas. — Está tudo bem.
Qualquer um é mais quente do que Neil. Não se sinta
culpada, mas eu não contaria exatamente ao Senhor Calças
Perfeitamente Passadas. Ele vai surtar ao saber que alguém
tocou em você. — Maggie está tirando as roupas e puxando
uma camisa de dormir e calças, enquanto ela fala.
— Na verdade, Neil sabe.
3 FDA - Food and Drug Administration - Agencia reguladora de remédios e alimentos.
— O quê? — Ela está pulando em um pé, tentando
enfiar o pé pela perna da calça e cai. — Como é que ele sabe?
Você disse que acabou de acontecer.
— Neil sabe por que foi ele quem me disse para fazer
isso.
CONTINUA
Bryan está de queixo caído e boca aberta, com aqueles olhos verdes semicerrados, em chamas. Fúria e choque não parecem bons para ele. As emoções distorcem seu belo rosto,
estragam as linhas suaves de sua pele, fazendo-o parecer bem mais velho. Seus punhos estão fechados, apertados em seus lados, mas ele pisca uma vez e a reação diminui. Há muitas coisas que eu não sei sobre Bryan Ferro, mas uma coisa eu sei, ele é uma merda em manter as coisas escondidas. Seus pensamentos dançam em seu rosto de vez em quando, e é por isso que ele está desconfiado de mim.
Virando abruptamente, Bryan pressiona seus dedos em sua têmpora direita. Sua voz sai como um grunhido.
— Eu lhe disse para ir embora.
— Seus ombros estão tensos, cada músculo está apertado a ponto de eu poder ver as curvas de seu corpo sob essa camisa. Ele flexiona a mão que está ao seu lado antes de deslizar em seu bolso. Bryan pode ser capaz de esconder tudo, de todos os outros, mas não de mim.
— Sim, eu ouvi essa parte. — Eu ajo como se eu não me importasse, deito-me no tapete, e dobro as minhas mãos atrás da minha cabeça. O piso é suave e difuso. Levanto os meus joelhos, eu deixo a queda do meu vestido em torno dos meus tornozelos e até meus pés, para sentir a pilha macia entre os dedos dos pés. O tapete no meu antigo quarto parecia como um saco de batata, em relação a este material.
Mesmo com Bryan irado, eu estou sorrindo. A vozinha na parte de trás da minha cabeça me diz que eu perdi minha mente. Eu respondo de volta que eu nunca tive um controle firme sobre isso de qualquer maneira.
https://img.comunidades.net/bib/bibliotecasemlimites/2_A_PROPOSI_O.jpg
Bryan pode ver meu reflexo no espelho, mas eu não
posso ver mais do que as suas costas e a maneira como ele
agarra sua cabeça como se fosse explodir. Ele está furioso
comigo? Não consigo entender sua raiva, mas transborda
para fora de sua boca de novo, espetando como espinhos,
neste momento.
— Se você não consegue entender os termos deste
acordo, então eu temo que nós não tenhamos um.
— O quê? — Sento-me e giro em torno, de modo que
estou de frente para as suas costas.
Bryan se vira, e a tensão que está estampada no seu
rosto é horrível. Eu encontro o seu olhar, mas eu não posso
olha-lo sem querer corrigir o que está fazendo com ele. Todas
as imagens na imprensa mostram a versão de Bryan que eu
conhecia, leve e despreocupado, mas este homem, aqui, não é
nenhuma dessas coisas. Algo está esmagando-o de dentro
para fora e deixando-o em pedaços. Seu corpo está tremendo,
ele está tão bravo. Ele tenta respirar fundo, mas isso só faz o
seu rosto ficar mais apertado.
— Você me ouviu. Se você não fizer as coisas do meu
jeito, eu vou arruinar você. Este não é o meu jeito, você sabe
muito bem disso. Saia daqui.
Ele não grita, mas suas palavras me fazem tremer. Não
há calor, não há compaixão. Talvez eu não o conheça mais e
ele está certo. Apertando os lábios, eu engulo minha resposta,
mas esta incha dentro de mim e enche meu peito. Eu peguei
meus sapatos saltos de volta e calcei em meus pés cansados
antes de levantar. Eu ando mais e pego minha bolsa.
Eu deveria sair. A vozinha dentro de mim canta como
um duende com uma voz agradável, sim, vá. Faça isso.
Agora.
Meus olhos estão fixos na porta como se fosse o
caminho para o inferno. Algo sobre sair agora parece errado,
mas não posso entender sobre o que está prendendo meus
pés no lugar. Caramba, é o pensamento que está me
segurando. Ele está me prendendo aqui e eu não posso me
mover. Parece como engolir o vômito e eu não posso fazê-lo.
Eu sou o cérebro danificado, mas não posso ser algo que não sou.
Girando sobre meus pés, eu atravesso o piso acarpetado
e elegante, e caminho até ele. Bryan não se vira para olhar
para mim. Em vez disso, suas mãos estão segurando a parte
superior do bar como se ele quisesse arrancá-lo da parede.
Suas costas estão curvadas e sua cabeça está pendurada
entre os ombros, como se ele estivesse tentando não me
rasgar em pedaços. Outra mulher teria corrido agora mesmo,
mas eu sou a dopada que anda mais perto.
— Eu sou uma idiota, — eu digo, enquanto olho para os
meus sapatos, e rio de leve. É o tipo de som que não tem
alegria e revela uma alma torturada. Meus olhos levantam
para seus ombros. Eu fico lá por um momento esperando que
ele se vire, mas ele não vira. Bryan não fala ou levanta o
olhar. Ele permanece debruçado sobre o bar como um troll 1.
Eu continuo, — vê-lo hoje à noite foi terrível e
maravilhoso. Isso evocou memórias e sentimentos que eu
tinha tempo esquecido há muito. Escrever sobre, é uma
coisa, mas vê-lo novamente está além das palavras.
Desculpe-me se eu o machuquei, mesmo que eu não entenda
o que eu fiz. E seu eu pudesse corrigir. Eu...
Por que estou fazendo isso? Eu estou me desculpando
com as suas costas, o homem não tem sequer a decência de
se virar e encarar-me. Eu respiro fundo e endireito a minha
espinha.
— As pessoas cometem erros, Bryan, e parece que o
meu maior erro foi conhecê-lo.
1
Troll – é uma gíria que designa uma pessoa cujo comportamento tende sistematicamente a desestabilizar uma
discussão, provocar e enfurecer as pessoas envolvidas nela. Há trolls de todo tipo, desde o mais ignorante e rude
que xinga e provoca, até o mais apto intelectualmente que discursa com o objetivo de desestabilizar o interlocutor
e levá-lo a fúria, para depois desqualificá-lo, matando seu argumento e abalando sua reputação.
A fúria me inunda quando eu corro pela sala. Eu agarro
a maçaneta da porta e não olho para trás, apesar de sentir
seus olhos em mim. Dane-se ele. Eu vivi coisas piores. Eu
digo essas palavras uma e outra vez, porque aconteceu.
Depois corro pelo corredor, aperto o botão para baixo no
elevador uma e outra vez, perguntando por que eu estou tão
chateada. Depois de um momento, eu sinto o pensamento
picar os meus olhos e apertar a minha garganta e eu sei
exatamente por que estou tão chateada.
É possível que as coisas estejam invertidas, e como eu
não conhecesse o verdadeiro Bryan Ferro, aquele com quem
dormi todos esses anos, era o falso.
CAPÍTULO 2
Eu não posso ir para casa e enfrentar Neil, por isso eu
telefono para Maggie. Ela atende no terceiro toque. Eu estou
andando na rua em frente ao hotel com o meu telefone
pressionado ao meu ouvido. É tarde e escuro. Evitando as
sombras, eu ando mais perto da rua do que no hotel.
— Maggie. — Eu tento esconder a tensão na minha voz,
mas ela ouve. Nós nos conhecemos há muito tempo. — Vou
tirar suas bolas fora.
— O que diabo aconteceu? Onde você está? — Ela me
enche de perguntas, até que eu possa finalmente fazê-la calar
a boca.
— Eu preciso de um lugar para dormir. Eu não posso
ver Neil agora e eu não tenho outro lugar para ir.
Maggie fica em silêncio.
— O que é meu, é seu. Você sabe disso, mas eu não
tenho certeza que você vá gostar.
— Em qualquer lugar é melhor do que aqui ou com Neil.
— Eu sinto uma náusea fazendo seu caminho até a minha
garganta. Lágrimas estão chegando, e tenho a sensação de
que vai ser um maremoto.
— Claro, claro. Eu estarei aí em cinco minutos.
— A linha de Maggie desliga, e eu fecho o meu telefone e
o coloco em minha bolsa.
A cidade se move em torno de mim, mas parece que eu
estou em uma bolha. As pessoas passam na calçada, mas eu
não as noto. Eu passeio, perdida em pensamentos, agarrando
minha bolsa perto do meu corpo. O ar da noite tem aquele
cheiro que é distintamente de Nova York. Eu o inspiro e
quando me viro, quase bato em alguém. O cara é uma
parede, de marrom e preto. Seu casaco tem cheiro de cigarros
velhos e naftalina.
Antes de eu ter tempo para descobrir o que está
acontecendo, ele pega a minha bolsa, em seguida, coloca a
mão no centro do meu peito e me empurra, com força. Eu
grito, tropeço e caio para trás, enquanto minha bolsa é
arrancada de minhas mãos. O cara se vira e está pronto para
correr, mas eu não estou com disposição para perder a bolsa.
Eu estou fodidamente quebrada. Todo o dinheiro que eu
tenho está lá dentro.
Antes que eu saiba o que estou fazendo, eu pego um dos
meus sapatos de salto alto e atiro em sua cabeça. Acerto e ele
cai na calçada. Poucas pessoas param para assistir, mas
ninguém faz nada - típico dos nova-iorquinos. Todo mundo
quer ver, mas ninguém ajuda.
Nesse ponto, tudo acontece em câmera lenta. Eu estou
em pé, mesmo que eu não me lembre de ficar pé. Um pé está
congelado, sobre o cimento frio, enquanto o outro ainda está
calçado. O ladrão levanta a mão e bota na parte de trás de
sua cabeça e puxa-a. Ele olha para os seus dedos, seus olhos
escuros apreciando o sangue vermelho e pegajoso em sua
mão. A ponta do meu salto que bateu com a parte traseira de
seu couro cabeludo, deve tê-lo cortado.
Meu coração para, quando o sujeito se vira para mim.
Seus olhos têm um olhar enlouquecido e os ombros tremem
como se ele fosse me rasgar ao meio.
— Você. — Ele diz isso como se fosse o meu nome e ele
me odeia.
O homem dá passos em direção a mim e fala
novamente, mas suas mãos lentamente movem para cima,
como se ele fosse me atacar ou me estrangular. Eu suspiro
alguma coisa, mas ele não sai antes de eu dar um passo para
trás, aterrorizada. Meu pulso ruge em meus ouvidos, então
olho em volta a procura de ajuda, mas não vejo ninguém. A
multidão se afastou, ou talvez eu tenha ido embora. Onde
está um policial quando eu preciso de um?
O resto acontece freneticamente rápido. Alguém grita
comigo, enquanto o homem procura o meu pescoço. Eu caio,
mas ele pega no meu ombro. Ele aperta-me com força,
fazendo com que o meu pescoço estale para trás enquanto ele
grita na minha cara.
— Sua pequena vadia!
O resto de suas palavras se tornam zumbidos, enquanto
ele me aperta mais. Estou ciente do vento, do ar da noite, e
do homem que está me estrangulando. Em algum momento,
as mãos deslizam até o pescoço. Eu agarro em suas mãos e
tento gritar, mas não sai nada. Eu não entendo por que
ninguém nos vê, por que eles simplesmente deixam esse
ladrão me machucar.
Balançando as minhas pernas, eu o chuto, mas não
adianta. Eu não sou forte o suficiente. Eu tentei tudo o que
sabia fazer e nada funcionou. O homem me atira e bate
minhas costas contra uma parede de tijolos. O frio me sacode
e me pergunto como chegamos ao beco ao lado do hotel, mas
os pensamentos cessam quando vejo o olhar em seus olhos.
Um sorriso mal aparece em seu rosto quando ele rasga o
ombro do meu vestido. O tecido sai em sua mão e permite
que o vestido deslizar alguns centímetros.
Abro a boca para gritar, mas sua mão imunda me cobre,
impedindo a saída do som. Sua mão me tateia, sentindo
meus seios enquanto ele sussurra em meu ouvido todas as
coisas horríveis que ele pretende fazer comigo. — Então, eu
vou levar a minha faca e... — Suas palavras desagradáveis
param imediatamente, após o som do estalar de madeira.
Assim como, de repente, a mão no meu pescoço se foi e
eu suspiro em uma respiração trêmula e olho para cima. Está
muito escuro para ver, mas há um homem vestido de
smoking, avançando sobre o ladrão. Ele lança socos uma e
outra vez, até que eles estão na parte de trás do beco, presos
por uma parede de tijolos. O ladrão é espancado e sangra,
mas ele não para de lutar. Nem o homem de smoking. Ele
distribui socos como um boxeador, tanto assim que é
hipnótico assistir. Quando a faca aparece, eu esperava que as
coisas se transformassem em favor do ladrão, mas isso não
acontece. O homem de smoking desarma o idiota e toma a
arma. Aconteceu tão rápido que eu não posso dizer como foi
feito. O homem de smoking recua seu braço como se
estivesse para empurrar a faca no peito do cara.
— Pare! — Eu chamo antes de perceber o que estou
fazendo. Uma das minhas mãos está segurando meu vestido
no busto e a outra está mal tocando meus lábios. Eu não
posso ver o cara morrer, mas eu não consigo desviar o olhar
também.
O homem de smoking não para. Um grito tremendo sai
dilacerado da minha garganta quando ele bate a faca no
ombro do ladrão. O bandido pega no seu braço e desliza para
baixo da parede, segurando seu ombro enquanto o casaco
fica encharcado de sangue. Ele olha diretamente para mim
com raiva.
O homem de smoking chuta o ladrão uma vez, e uma
voz familiar disse:
— Vá embora.
Eu tremo quando ouço isso, porque eu sei quem é ele,
Bryan. Ele deve ter me seguido. O medo agarra e azeda
dentro do meu estômago, enquanto eu olho para as suas
costas. Bryan não vira o rosto para mim. O ladrão comprime
os lábios e se levanta do chão do beco. Ele faz o seu caminho
passando por mim, e não diz nada.
Um tremor se apodera de mim e escorre pela minha
espinha, me fazendo ofegar. É quando ele se vira. O rosto de
Bryan está pálido e coberto de um brilho fino de suor. Ele
caminha de volta para mim e eu posso ver onde ele tomou
algumas pancadas. Há um rasgo em sua camisa, sob a lapela
do paletó, onde a faca cortou antes Bryan tomá-la do ladrão.
Passo a passo, ele caminha em minha direção, e eu
estou mais assustada por Bryan que qualquer coisa que já
encontrei. O que foi isso? Ele teria matado o homem se eu
não tivesse gritado? Eu não consigo parar de tremer.
Bryan alcança os meus ombros para me firmar, e eu
sinto aquele choque familiar que acompanha o seu toque.
Seu polegar esfrega suavemente sobre minha pele. — Você
está bem?
Mas, é muito. Eu não posso. Eu não posso. Eu não posso.
O pensamento não faz sentido, mas eu sei que tenho que
fazer com que ele me liberte. Seu toque tem uma maneira de
me desfazer, e eu estou caindo aos pedaços. Recuso-me a
deixá-lo ser o único a testemunhar isso. Eu empurro para
longe, e aceno com a cabeça rapidamente.
— Eu estou bem.
As mãos de Bryan permanecem paradas no ar por um
momento, antes de ele abaixa-las junto com seu olhar. Ele
observa o chão por um segundo e quando ele levanta o
queixo, vejo um sorriso nos seus lábios.
— Mentirosa. Você está longe de estar bem, mas eu
estou contente que você esteja parada.
Eu fico olhando para ele, incapaz de encontrar uma
resposta. Sua voz soa carinhosa, quase arrependida. Ele olha
por cima do meu ombro para alguém e, em seguida, diz:
— A sua carona está aqui. Da próxima vez, não tente
derrubar um assaltante por si mesmo.
Eu falo sem querer, mas as palavras saem e caem fora.
— Da próxima vez, não mate um homem por roubar minha
bolsa.
O canto dos lábios de Bryan puxa para cima, como se
quisesse sorrir, mas ele não sorri.
— Eu não iria matar um homem por roubar uma bolsa.
Que tipo de pessoa você acha que eu sou?
— Honestamente, eu não sei mais. Eu achava que sabia,
mas depois disso... — Eu balanço minha cabeça e fico sem
palavras. Bryan mudou o ataque no último segundo. Essa
faca não estava voltada para o ombro do homem — estava
dirigida para o seu coração. — Você ia matá-lo. Eu vi, você
não pode me dizer que não iria.
Bryan se inclina mais perto, e quando ele fala seu hálito
quente sussurra contra a minha orelha.
— Talvez, mas não foi porque ele pegou sua bolsa. — Ele
se inclina para trás e desliza as mãos nos bolsos, enquanto
seus olhos verdes me percorrem. — Ninguém toca em você,
enquanto você está comigo.
— Eu engulo em seco e olho para ele, com o coração
ainda disparando.
Maggie aparece atrás de mim um segundo depois. Ela
pega meu ombro e me vira.
— Hallie, diabo está acontecendo, e por que você está
aqui no beco sozinha? — Ela vê a maneira que eu estou
segurando meu vestido e o tecido rasgado. A preocupação
persiste em seu rosto, esperando pela minha resposta.
— Eu não estou sozinha, — mas quando me viro para
olhar, Bryan já se foi.
CAPÍTULO 3
Eu estive em um casulo de tristeza e este evento o
quebrou. Minha atordoada indiferença fratura e estilhaça,
como vidro barato. Eu olho para a bolsa presa em minha mão
e me pergunto o que há de errado comigo, mas ainda mais,
eu não consigo parar de pensar em Bryan, como ele veio do
nada e quase matou o homem que tentou me machucar.
Pare de pensar assim, eu me repreendo. Bryan agiu
como um lunático. A imagem de Bryan esfaqueando o cara
persiste através dos meus olhos mais uma vez e faz o meu
estômago embrulhar.
Maggie está falando, mas eu não disse muito. Estamos
em seu velho Ford Escort. A coisa corre mal, mas eu não
posso reclamar. Eu nem mesmo tenho um carro, não mais.
Maggie olha para mim por trás do volante, enquanto suas
mãos o seguram com firmeza.
— Hallie, se você estiver com vontade de vomitar, baixe
a janela. Aqui já cheira estranho o suficiente. — Ela está
certa, o carro tem um odor não identificável que está lá desde
que ela comprou.
— Eu estou bem, — eu digo novamente, embora seja
uma mentira. Meus braços envolvem meu peito para
esconder como minhas mãos tremem.
— Ah, Hallie, eu sei que você não quer falar e que está
tudo bem, mas eu quero informa-la sobre a minha nova casa.
— Eu olho para ela, sem entender o que ela quer dizer.
Maggie me dá um sorriso tímido e encolhe os ombros até as
suas orelhas, enquanto dirige. — Vamos apenas dizer que
não é algo que você aprovaria.
Eu não tenho paciência para lidar com seus enigmas
neste momento. A vida de Maggie é mais difícil do que a
minha, e eu sei disso, mas ela nunca tinha escondido coisas
de mim antes. Desta vez, é claro que ela escondeu, e isso me
preocupa. As únicas coisas que eu desaprovo são as que
possam matá-la. A menina não tem nenhum senso. Às vezes
me pergunto sobre ela, e como ela escolhe o que faz. Sorrio
sem jeito e olho para o tapete sujo no chão, que alguma vez
foi azul.
— O que é tão engraçado? — Maggie parece indignada,
como se eu a tivesse ofendido.
— Nada. Vamos apenas dizer que, se você soubesse o
que eu estava fazendo esta noite, você não se sentiria tão na
defensiva. Tenho certeza de que sua casa é boa.
Maggie se tranquiliza. Ela suspira quando vira em uma
rua lateral e começamos a fazer o nosso caminho através de
um bairro degradado. As casas são marcadas e branqueadas
pelo Sol, com gramados mortos, mas os carros são
customizados e caros. Mesmo que seja tarde, as pessoas
movem-se, sem fazer nada. Eu olho para a minha porta,
querendo trancá-la, mas eu não me mexo. Enquanto nós
rodamos passando pelos grupos de pessoas, os olhos deles
viram e nos assistem passar, antes de voltar para o que eles
estavam fazendo.
Maggie finalmente diz: — Não é muito, mas acho que
vale a pena.
— Você não tem que defender o seu apartamento para
mim, Maggie. Eu sou uma maldita sem-teto. — Eu olho para
ela e inclino a cabeça para trás no assento. Minhas palavras
não a consolam, então eu acrescento: — Além disso, eu não
sou uma garota-propaganda da moralidade, também. Você
não vai acreditar no que eu fiz hoje à noite, e o que eu vou
fazer. — Minha voz falha e eu balanço a cabeça, pensando
nos lábios de Bryan. Estou horrorizada por reagir da maneira
como o faço, mesmo que com a memória.
Ela ri uma vez, rapidamente. — Sim, certo. Hallie, você
nunca faz nada de mau. Estúpido, sim. Mau, não.
Eu olho para fora da janela e não vejo nada. As casas
deram lugar a apartamentos que se estendem para o céu na
noite. Fachadas de tijolos já viram dias melhores. Muitos
parecem vazios, como se ninguém vivesse lá, por muitos
anos. Meu peito se aperta e eu me contorço na cadeira. Meu
Deus, ela mora aqui? Por que ela não me contou? Há carros
queimados, latas de lixo viradas e entulho, tudo espalhado
por toda parte. Parece que a rua foi saqueada e esquecida,
assim como Maggie.
Segundas decisões são as que mudam vidas. Eu faço a
minha e cuspo fora antes de me acovardar.
— Bryan Ferro está me chantageando. Se eu não dormir
com ele sempre que ele quiser, vai dizer às pessoas que ele é
o cara no livro e fazer o que for preciso para me arruinar. Ele
disse que ia usar tudo o que tem contra mim e me deu um
ultimato.
Os grandes olhos de Maggie viram em minha direção,
com o queixo caído e boca aberta.
— Puta merda! Quando isso aconteceu? Como você vai
detê-lo? — Ela pisca para mim e vira os olhos de volta para a
estrada, embora eu saiba que ela não quer.
Esta é a parte que me faz sentir um lixo. Eu não sou
quem ela pensa que eu sou. Eu não tenho uma estrutura
moral de aço. Eu não posso nem olhar para ela.
— Esta noite eu acabei fazendo o anúncio do prêmio no
show com ele, e então ele me encontrou no banquete. — Eu
digo. Eu tento fazer a minha boca mover-se para formar as
palavras, mas não vão sair.
— De jeito nenhum. — Ela estaciona em um parque de
estacionamento que parece que foi usado como um local de
explosão da força aérea e desliga o carro. — Pegue suas
coisas e tranque a porta. — Eu faço como ela diz e me
apresso atrás dela. — Mantenha seus olhos baixos e me siga.
Não fale ou olhe para ninguém.
Entramos no lado de um desses prédios de tijolos
antigos e subimos alguns lances de escadas, até o quarto
andar. No momento que chegamos ao seu andar, eu quero
jogar o resto do meu sapato para fora da janela. Eu poderia,
não há vidro no painel. Eu a sigo, até a porta e por um longo
corredor mal iluminado. Nós paramos em frente à sua porta.
Enquanto ela se atrapalha com a chave, a porta contrária à
dela se abre. Um homem pálido, com cabelo loiro descolorido
e vestindo uma camiseta regata branca e cueca está lá e olha
para nós. Eu posso sentir seus olhos nas minhas costas. Ele
se inclina contra o batente da porta e cruza os braços sobre o
peito.
Quando ele fala, soa rouco, como se ele fumasse um
maço de cigarros todos os dias desde que ele tinha dois anos
de idade. — Trouxe-me outra?
— Não, — Maggie diz com firmeza. Ela não se vira para
olhar para o cara. Se eu não a conhecesse melhor, eu acharia
que ela estava com medo dele. Eu não aguento mais stress
esta noite. Meu cérebro parece que vai partir em dois, antes
que eu murche e morra. Maggie pega a chave para abrir, mas
porta emperra. Ela chuta uma vez com o pé e a porta mexe
ligeiramente. — Maldita porta, — ela murmura.
— Qual é o seu nome, docinho? — O cara está falando
comigo. Viro-me e olho por cima do ombro, e nossos olhos se
encontram. Ele envia um olhar frio para mim, ao ver o jeito
como ele está olhando de soslaio. O cara é enorme, ele é todo
músculos e agora ele está sorrindo para mim, revelando uma
coroa de ouro em seu dente canino.
— Oi, — eu digo timidamente, e arrumo o meu cabelo
para atrás da minha orelha, tentando evitar o olhar dele
enquanto não respondo sua pergunta.
Enquanto o cara está de boca aberta, Maggie chuta na
porta. A porta se abre, ela agarra meu braço e me puxa. Eu
sigo, voando atrás dela enquanto ela grita por cima do ombro,
— eu vou lhe trazer alguém amanhã, eu juro. Boa noite, Vic.
— Ela bate a porta com o pé e parece abalada.
Seu apartamento é aproximadamente o mesmo tamanho
de um pequeno corredor. Há uma pequena janela com uma
folha grampeada sobre ela e sem móveis. Algumas das roupas
de Maggie estão jogadas ao redor do lugar, como se ela
tivesse saído com pressa. Se eu morasse aqui, eu iria embora
rapidamente, também.
— Obrigado por me deixar ficar com você.
— Sim, não há problema. É uma merda como este é o
pior lugar que eu já vivi, mas é um refúgio. Eu durmo aqui e,
em seguida, dou o fora. O aluguel não é horrível. — Ela
oferece um sorriso torto, mas é franco.
Eu preciso dela, e não há um muro entre nós. Ela acha
que eu sou perfeita, mas eu não sou. Eu fiz coisas que ela
não sabe. As palavras estão na minha língua e eu enrolo-as
em torno de minha boca, tentando descobrir como dizer isso,
enquanto a Maggie tagarela, enchendo o ambiente com sua
voz.
Um casal está brigando nas proximidades, e o som está
cada vez mais alto. Estão lutando, eu não quero dizer
discutindo. Há coisas batendo nas paredes e quebrando.
Chove gesso para baixo sobre nós como flocos de neve
quando algo cai de cima. Maggie olha horrorizada quando ela
puxa sua cama Murphy 2 para baixo da parede. Tomando
quase toda a sala. — Você pode dormir aqui. Eu vou dormir
no chão.
— Não.
Ela sorri. — Não seja boba, você é minha convidada. —
Palavrões ressoam acima de nós quando um homem irritado
grita. É prontamente seguido de um grito agudo. Maggie
morde as unhas do jeito que ela fazia quando éramos
crianças e olha em volta, como se ela desejasse poder
queimar o lugar.
2
— Eu não vou fazer você dormir no chão, mas há outra
coisa que eu preciso lhe dizer.
— Maggie olha para mim por debaixo de sua massa de
cabelo vermelho. Eu sou sua única amiga de verdade, sua
única família e ela a minha. Deus, o que é que ela vai pensar
de mim quando eu lhe disser o que eu concordei em fazer?
Eu não acho que eu vou ser capaz de suportá-lo. Meus
braços ainda estão dobrados sobre o peito, com as mãos
firmemente aninhadas nos meus braços.
— Hallie, qual o problema? — Maggie deixa de fazer a
cama e se senta. Ela dá um tapinha no lugar ao lado dela e
me sento.
Olhando para frente, eu engulo em seco e digo a ela.
— Eu disse que sim. — Você disse sim para o quê?
Hallie, você não está fazendo sentido, do que você está
falando?
Quando me viro para olhar para ela, e encontro com
aqueles grandes olhos verdes e sinto medo. Minha pele fica
arrepiada, mas eu não consigo desviar o olhar.
— Eu disse a Bryan Ferro que sim. Eu cedi. Ele ganhou
e eu perdi.
— O quê? — Ela está furiosa, pronta para voar para fora
do seu assento e defender-me até a morte.
Eu coloco minha mão no colo dela para fazê-la parar. —
Eu fui ao seu quarto de hotel para dizer-lhe para ir chupar
um prego, mas eu mudei de ideia quando ouvi sua voz. Eu
pensei que algo estava errado e esta era a sua maneira de
merda para me dizer. Conheci-o uma vez, pelo menos eu
pensei que tinha conhecido. Então, quando eu estava
esperando por você do lado de fora, eu... — minha voz está
trêmula e eu não posso mais esconder o meu horror, — um
cara tentou roubar minha bolsa. Para encurtar a história, ele
me pegou por trás do prédio e ia me machucar. Bryan
apareceu e ele... — Eu não posso dizer isso. Meu Bryan
perfeito fez algo que era tão diferente dele, tão terrivelmente
selvagem, que eu não sei o que pensar. Ele me protegeu, mas
ainda parece errado.
— Ele a machucou? — Maggie está furiosa, eu posso
ouvir em sua voz. Mas a forma como ela fala suas palavras
ondulando entre muito alta e baixa, dão a deixa.
— Não, ele atacou o homem, e esfaqueou-o. Se eu não
dissesse a Bryan para parar, acho que ele teria matado o
cara. — Olho para ela, mas eu não posso mais enxergar.
Meus olhos têm brilham com lágrimas que tudo fica
desfocado.
Maggie ergue os braços e eu caio neles. Ela sempre foi
como uma irmã para mim. Estivemos sempre uma para a
outra, e eu temo que a história com Bryan e o que eu me
tornei vá fazê-la me odiar. Meu pai teria vergonha de me
chamar de filha, e eu espero o mesmo de Maggie. Em vez
disso, ela fica lá no colchão gasto e me acalma.
Depois de um forte abraço, ela libera meus ombros e
pega meu queixo. — Você e eu passamos por tudo juntas.
Não pense que eu a estou socorrendo por causa disso. Se não
for por qualquer coisa, a vida fica mais interessante, isso é
tudo.
Eu enxugo as lágrimas dos meus olhos e rio, porque ela
está tão errada. — Esse é o eufemismo do ano.
— O meu ponto é, eu estou aqui por você. Eu sempre
estarei aqui para você. — Ela bate no meu ombro com a dela.
— Então, Bryan Ferro tem um lado negro por trás de todo o
brilho e deslumbre?
— Aparentemente.
— Foi divertido ou ele fez coisas estranhas?
Eu sorrio e limpo meus olhos novamente. — Não, não
hoje à noite de qualquer maneira. Ele me chamou para seu
quarto, eu fui, e nos beijamos. Então, ele me mandou ir
embora.
Os lábios de Maggie puxaram um pouco para cima. —
Ele a jogou para fora? Mas que inferno...?
— Eu não sei. É como se ele estivesse louco e deixando o
Hulk sair ou algo assim. Ele não olhava para mim. As coisas
estavam quentes e pesadas até então. — A intuição continua
me dizendo que algo estava errado, mas não posso entender o
quê.
Maggie sorri: — Ele foi melhor do que Neil, certo?
Eu faço uma careta e olhou para ela como se ela fosse
louca. — Uh, Bryan está me chantageando.
— E ele é mais quente do que Neil. Vá em frente, diga.
Eu sou sua amiga, então eu já sei.
Eu baixei meus olhos em direção ao chão e não disse
nada. Eu não tenho que dizer nada, a minha expressão diz
tudo. Bryan é muito mais quente do que Neil, não há
comparação. Os dois homens são noite e dia, e Bryan é a
noite sexy. Neil a voz racional que soa como o FDA 3,
lembrando-me de fazer todas as coisas com moderação, mas
não todas as coisas, somente as ações que ele aprova. Droga.
Eu enterro meu rosto em minhas mãos e suspiro.
Maggie acaricia minhas costas. — Está tudo bem.
Qualquer um é mais quente do que Neil. Não se sinta
culpada, mas eu não contaria exatamente ao Senhor Calças
Perfeitamente Passadas. Ele vai surtar ao saber que alguém
tocou em você. — Maggie está tirando as roupas e puxando
uma camisa de dormir e calças, enquanto ela fala.
— Na verdade, Neil sabe.
3 FDA - Food and Drug Administration - Agencia reguladora de remédios e alimentos.
— O quê? — Ela está pulando em um pé, tentando
enfiar o pé pela perna da calça e cai. — Como é que ele sabe?
Você disse que acabou de acontecer.
— Neil sabe por que foi ele quem me disse para fazer
isso.
CONTINUA
Bryan está de queixo caído e boca aberta, com aqueles olhos verdes semicerrados, em chamas. Fúria e choque não parecem bons para ele. As emoções distorcem seu belo rosto,
estragam as linhas suaves de sua pele, fazendo-o parecer bem mais velho. Seus punhos estão fechados, apertados em seus lados, mas ele pisca uma vez e a reação diminui. Há muitas coisas que eu não sei sobre Bryan Ferro, mas uma coisa eu sei, ele é uma merda em manter as coisas escondidas. Seus pensamentos dançam em seu rosto de vez em quando, e é por isso que ele está desconfiado de mim.
Virando abruptamente, Bryan pressiona seus dedos em sua têmpora direita. Sua voz sai como um grunhido.
— Eu lhe disse para ir embora.
— Seus ombros estão tensos, cada músculo está apertado a ponto de eu poder ver as curvas de seu corpo sob essa camisa. Ele flexiona a mão que está ao seu lado antes de deslizar em seu bolso. Bryan pode ser capaz de esconder tudo, de todos os outros, mas não de mim.
— Sim, eu ouvi essa parte. — Eu ajo como se eu não me importasse, deito-me no tapete, e dobro as minhas mãos atrás da minha cabeça. O piso é suave e difuso. Levanto os meus joelhos, eu deixo a queda do meu vestido em torno dos meus tornozelos e até meus pés, para sentir a pilha macia entre os dedos dos pés. O tapete no meu antigo quarto parecia como um saco de batata, em relação a este material.
Mesmo com Bryan irado, eu estou sorrindo. A vozinha na parte de trás da minha cabeça me diz que eu perdi minha mente. Eu respondo de volta que eu nunca tive um controle firme sobre isso de qualquer maneira.
https://img.comunidades.net/bib/bibliotecasemlimites/2_A_PROPOSI_O.jpg
Bryan pode ver meu reflexo no espelho, mas eu não
posso ver mais do que as suas costas e a maneira como ele
agarra sua cabeça como se fosse explodir. Ele está furioso
comigo? Não consigo entender sua raiva, mas transborda
para fora de sua boca de novo, espetando como espinhos,
neste momento.
— Se você não consegue entender os termos deste
acordo, então eu temo que nós não tenhamos um.
— O quê? — Sento-me e giro em torno, de modo que
estou de frente para as suas costas.
Bryan se vira, e a tensão que está estampada no seu
rosto é horrível. Eu encontro o seu olhar, mas eu não posso
olha-lo sem querer corrigir o que está fazendo com ele. Todas
as imagens na imprensa mostram a versão de Bryan que eu
conhecia, leve e despreocupado, mas este homem, aqui, não é
nenhuma dessas coisas. Algo está esmagando-o de dentro
para fora e deixando-o em pedaços. Seu corpo está tremendo,
ele está tão bravo. Ele tenta respirar fundo, mas isso só faz o
seu rosto ficar mais apertado.
— Você me ouviu. Se você não fizer as coisas do meu
jeito, eu vou arruinar você. Este não é o meu jeito, você sabe
muito bem disso. Saia daqui.
Ele não grita, mas suas palavras me fazem tremer. Não
há calor, não há compaixão. Talvez eu não o conheça mais e
ele está certo. Apertando os lábios, eu engulo minha resposta,
mas esta incha dentro de mim e enche meu peito. Eu peguei
meus sapatos saltos de volta e calcei em meus pés cansados
antes de levantar. Eu ando mais e pego minha bolsa.
Eu deveria sair. A vozinha dentro de mim canta como
um duende com uma voz agradável, sim, vá. Faça isso.
Agora.
Meus olhos estão fixos na porta como se fosse o
caminho para o inferno. Algo sobre sair agora parece errado,
mas não posso entender sobre o que está prendendo meus
pés no lugar. Caramba, é o pensamento que está me
segurando. Ele está me prendendo aqui e eu não posso me
mover. Parece como engolir o vômito e eu não posso fazê-lo.
Eu sou o cérebro danificado, mas não posso ser algo que não sou.
Girando sobre meus pés, eu atravesso o piso acarpetado
e elegante, e caminho até ele. Bryan não se vira para olhar
para mim. Em vez disso, suas mãos estão segurando a parte
superior do bar como se ele quisesse arrancá-lo da parede.
Suas costas estão curvadas e sua cabeça está pendurada
entre os ombros, como se ele estivesse tentando não me
rasgar em pedaços. Outra mulher teria corrido agora mesmo,
mas eu sou a dopada que anda mais perto.
— Eu sou uma idiota, — eu digo, enquanto olho para os
meus sapatos, e rio de leve. É o tipo de som que não tem
alegria e revela uma alma torturada. Meus olhos levantam
para seus ombros. Eu fico lá por um momento esperando que
ele se vire, mas ele não vira. Bryan não fala ou levanta o
olhar. Ele permanece debruçado sobre o bar como um troll 1.
Eu continuo, — vê-lo hoje à noite foi terrível e
maravilhoso. Isso evocou memórias e sentimentos que eu
tinha tempo esquecido há muito. Escrever sobre, é uma
coisa, mas vê-lo novamente está além das palavras.
Desculpe-me se eu o machuquei, mesmo que eu não entenda
o que eu fiz. E seu eu pudesse corrigir. Eu...
Por que estou fazendo isso? Eu estou me desculpando
com as suas costas, o homem não tem sequer a decência de
se virar e encarar-me. Eu respiro fundo e endireito a minha
espinha.
— As pessoas cometem erros, Bryan, e parece que o
meu maior erro foi conhecê-lo.
1
Troll – é uma gíria que designa uma pessoa cujo comportamento tende sistematicamente a desestabilizar uma
discussão, provocar e enfurecer as pessoas envolvidas nela. Há trolls de todo tipo, desde o mais ignorante e rude
que xinga e provoca, até o mais apto intelectualmente que discursa com o objetivo de desestabilizar o interlocutor
e levá-lo a fúria, para depois desqualificá-lo, matando seu argumento e abalando sua reputação.
A fúria me inunda quando eu corro pela sala. Eu agarro
a maçaneta da porta e não olho para trás, apesar de sentir
seus olhos em mim. Dane-se ele. Eu vivi coisas piores. Eu
digo essas palavras uma e outra vez, porque aconteceu.
Depois corro pelo corredor, aperto o botão para baixo no
elevador uma e outra vez, perguntando por que eu estou tão
chateada. Depois de um momento, eu sinto o pensamento
picar os meus olhos e apertar a minha garganta e eu sei
exatamente por que estou tão chateada.
É possível que as coisas estejam invertidas, e como eu
não conhecesse o verdadeiro Bryan Ferro, aquele com quem
dormi todos esses anos, era o falso.
CAPÍTULO 2
Eu não posso ir para casa e enfrentar Neil, por isso eu
telefono para Maggie. Ela atende no terceiro toque. Eu estou
andando na rua em frente ao hotel com o meu telefone
pressionado ao meu ouvido. É tarde e escuro. Evitando as
sombras, eu ando mais perto da rua do que no hotel.
— Maggie. — Eu tento esconder a tensão na minha voz,
mas ela ouve. Nós nos conhecemos há muito tempo. — Vou
tirar suas bolas fora.
— O que diabo aconteceu? Onde você está? — Ela me
enche de perguntas, até que eu possa finalmente fazê-la calar
a boca.
— Eu preciso de um lugar para dormir. Eu não posso
ver Neil agora e eu não tenho outro lugar para ir.
Maggie fica em silêncio.
— O que é meu, é seu. Você sabe disso, mas eu não
tenho certeza que você vá gostar.
— Em qualquer lugar é melhor do que aqui ou com Neil.
— Eu sinto uma náusea fazendo seu caminho até a minha
garganta. Lágrimas estão chegando, e tenho a sensação de
que vai ser um maremoto.
— Claro, claro. Eu estarei aí em cinco minutos.
— A linha de Maggie desliga, e eu fecho o meu telefone e
o coloco em minha bolsa.
A cidade se move em torno de mim, mas parece que eu
estou em uma bolha. As pessoas passam na calçada, mas eu
não as noto. Eu passeio, perdida em pensamentos, agarrando
minha bolsa perto do meu corpo. O ar da noite tem aquele
cheiro que é distintamente de Nova York. Eu o inspiro e
quando me viro, quase bato em alguém. O cara é uma
parede, de marrom e preto. Seu casaco tem cheiro de cigarros
velhos e naftalina.
Antes de eu ter tempo para descobrir o que está
acontecendo, ele pega a minha bolsa, em seguida, coloca a
mão no centro do meu peito e me empurra, com força. Eu
grito, tropeço e caio para trás, enquanto minha bolsa é
arrancada de minhas mãos. O cara se vira e está pronto para
correr, mas eu não estou com disposição para perder a bolsa.
Eu estou fodidamente quebrada. Todo o dinheiro que eu
tenho está lá dentro.
Antes que eu saiba o que estou fazendo, eu pego um dos
meus sapatos de salto alto e atiro em sua cabeça. Acerto e ele
cai na calçada. Poucas pessoas param para assistir, mas
ninguém faz nada - típico dos nova-iorquinos. Todo mundo
quer ver, mas ninguém ajuda.
Nesse ponto, tudo acontece em câmera lenta. Eu estou
em pé, mesmo que eu não me lembre de ficar pé. Um pé está
congelado, sobre o cimento frio, enquanto o outro ainda está
calçado. O ladrão levanta a mão e bota na parte de trás de
sua cabeça e puxa-a. Ele olha para os seus dedos, seus olhos
escuros apreciando o sangue vermelho e pegajoso em sua
mão. A ponta do meu salto que bateu com a parte traseira de
seu couro cabeludo, deve tê-lo cortado.
Meu coração para, quando o sujeito se vira para mim.
Seus olhos têm um olhar enlouquecido e os ombros tremem
como se ele fosse me rasgar ao meio.
— Você. — Ele diz isso como se fosse o meu nome e ele
me odeia.
O homem dá passos em direção a mim e fala
novamente, mas suas mãos lentamente movem para cima,
como se ele fosse me atacar ou me estrangular. Eu suspiro
alguma coisa, mas ele não sai antes de eu dar um passo para
trás, aterrorizada. Meu pulso ruge em meus ouvidos, então
olho em volta a procura de ajuda, mas não vejo ninguém. A
multidão se afastou, ou talvez eu tenha ido embora. Onde
está um policial quando eu preciso de um?
O resto acontece freneticamente rápido. Alguém grita
comigo, enquanto o homem procura o meu pescoço. Eu caio,
mas ele pega no meu ombro. Ele aperta-me com força,
fazendo com que o meu pescoço estale para trás enquanto ele
grita na minha cara.
— Sua pequena vadia!
O resto de suas palavras se tornam zumbidos, enquanto
ele me aperta mais. Estou ciente do vento, do ar da noite, e
do homem que está me estrangulando. Em algum momento,
as mãos deslizam até o pescoço. Eu agarro em suas mãos e
tento gritar, mas não sai nada. Eu não entendo por que
ninguém nos vê, por que eles simplesmente deixam esse
ladrão me machucar.
Balançando as minhas pernas, eu o chuto, mas não
adianta. Eu não sou forte o suficiente. Eu tentei tudo o que
sabia fazer e nada funcionou. O homem me atira e bate
minhas costas contra uma parede de tijolos. O frio me sacode
e me pergunto como chegamos ao beco ao lado do hotel, mas
os pensamentos cessam quando vejo o olhar em seus olhos.
Um sorriso mal aparece em seu rosto quando ele rasga o
ombro do meu vestido. O tecido sai em sua mão e permite
que o vestido deslizar alguns centímetros.
Abro a boca para gritar, mas sua mão imunda me cobre,
impedindo a saída do som. Sua mão me tateia, sentindo
meus seios enquanto ele sussurra em meu ouvido todas as
coisas horríveis que ele pretende fazer comigo. — Então, eu
vou levar a minha faca e... — Suas palavras desagradáveis
param imediatamente, após o som do estalar de madeira.
Assim como, de repente, a mão no meu pescoço se foi e
eu suspiro em uma respiração trêmula e olho para cima. Está
muito escuro para ver, mas há um homem vestido de
smoking, avançando sobre o ladrão. Ele lança socos uma e
outra vez, até que eles estão na parte de trás do beco, presos
por uma parede de tijolos. O ladrão é espancado e sangra,
mas ele não para de lutar. Nem o homem de smoking. Ele
distribui socos como um boxeador, tanto assim que é
hipnótico assistir. Quando a faca aparece, eu esperava que as
coisas se transformassem em favor do ladrão, mas isso não
acontece. O homem de smoking desarma o idiota e toma a
arma. Aconteceu tão rápido que eu não posso dizer como foi
feito. O homem de smoking recua seu braço como se
estivesse para empurrar a faca no peito do cara.
— Pare! — Eu chamo antes de perceber o que estou
fazendo. Uma das minhas mãos está segurando meu vestido
no busto e a outra está mal tocando meus lábios. Eu não
posso ver o cara morrer, mas eu não consigo desviar o olhar
também.
O homem de smoking não para. Um grito tremendo sai
dilacerado da minha garganta quando ele bate a faca no
ombro do ladrão. O bandido pega no seu braço e desliza para
baixo da parede, segurando seu ombro enquanto o casaco
fica encharcado de sangue. Ele olha diretamente para mim
com raiva.
O homem de smoking chuta o ladrão uma vez, e uma
voz familiar disse:
— Vá embora.
Eu tremo quando ouço isso, porque eu sei quem é ele,
Bryan. Ele deve ter me seguido. O medo agarra e azeda
dentro do meu estômago, enquanto eu olho para as suas
costas. Bryan não vira o rosto para mim. O ladrão comprime
os lábios e se levanta do chão do beco. Ele faz o seu caminho
passando por mim, e não diz nada.
Um tremor se apodera de mim e escorre pela minha
espinha, me fazendo ofegar. É quando ele se vira. O rosto de
Bryan está pálido e coberto de um brilho fino de suor. Ele
caminha de volta para mim e eu posso ver onde ele tomou
algumas pancadas. Há um rasgo em sua camisa, sob a lapela
do paletó, onde a faca cortou antes Bryan tomá-la do ladrão.
Passo a passo, ele caminha em minha direção, e eu
estou mais assustada por Bryan que qualquer coisa que já
encontrei. O que foi isso? Ele teria matado o homem se eu
não tivesse gritado? Eu não consigo parar de tremer.
Bryan alcança os meus ombros para me firmar, e eu
sinto aquele choque familiar que acompanha o seu toque.
Seu polegar esfrega suavemente sobre minha pele. — Você
está bem?
Mas, é muito. Eu não posso. Eu não posso. Eu não posso.
O pensamento não faz sentido, mas eu sei que tenho que
fazer com que ele me liberte. Seu toque tem uma maneira de
me desfazer, e eu estou caindo aos pedaços. Recuso-me a
deixá-lo ser o único a testemunhar isso. Eu empurro para
longe, e aceno com a cabeça rapidamente.
— Eu estou bem.
As mãos de Bryan permanecem paradas no ar por um
momento, antes de ele abaixa-las junto com seu olhar. Ele
observa o chão por um segundo e quando ele levanta o
queixo, vejo um sorriso nos seus lábios.
— Mentirosa. Você está longe de estar bem, mas eu
estou contente que você esteja parada.
Eu fico olhando para ele, incapaz de encontrar uma
resposta. Sua voz soa carinhosa, quase arrependida. Ele olha
por cima do meu ombro para alguém e, em seguida, diz:
— A sua carona está aqui. Da próxima vez, não tente
derrubar um assaltante por si mesmo.
Eu falo sem querer, mas as palavras saem e caem fora.
— Da próxima vez, não mate um homem por roubar minha
bolsa.
O canto dos lábios de Bryan puxa para cima, como se
quisesse sorrir, mas ele não sorri.
— Eu não iria matar um homem por roubar uma bolsa.
Que tipo de pessoa você acha que eu sou?
— Honestamente, eu não sei mais. Eu achava que sabia,
mas depois disso... — Eu balanço minha cabeça e fico sem
palavras. Bryan mudou o ataque no último segundo. Essa
faca não estava voltada para o ombro do homem — estava
dirigida para o seu coração. — Você ia matá-lo. Eu vi, você
não pode me dizer que não iria.
Bryan se inclina mais perto, e quando ele fala seu hálito
quente sussurra contra a minha orelha.
— Talvez, mas não foi porque ele pegou sua bolsa. — Ele
se inclina para trás e desliza as mãos nos bolsos, enquanto
seus olhos verdes me percorrem. — Ninguém toca em você,
enquanto você está comigo.
— Eu engulo em seco e olho para ele, com o coração
ainda disparando.
Maggie aparece atrás de mim um segundo depois. Ela
pega meu ombro e me vira.
— Hallie, diabo está acontecendo, e por que você está
aqui no beco sozinha? — Ela vê a maneira que eu estou
segurando meu vestido e o tecido rasgado. A preocupação
persiste em seu rosto, esperando pela minha resposta.
— Eu não estou sozinha, — mas quando me viro para
olhar, Bryan já se foi.
CAPÍTULO 3
Eu estive em um casulo de tristeza e este evento o
quebrou. Minha atordoada indiferença fratura e estilhaça,
como vidro barato. Eu olho para a bolsa presa em minha mão
e me pergunto o que há de errado comigo, mas ainda mais,
eu não consigo parar de pensar em Bryan, como ele veio do
nada e quase matou o homem que tentou me machucar.
Pare de pensar assim, eu me repreendo. Bryan agiu
como um lunático. A imagem de Bryan esfaqueando o cara
persiste através dos meus olhos mais uma vez e faz o meu
estômago embrulhar.
Maggie está falando, mas eu não disse muito. Estamos
em seu velho Ford Escort. A coisa corre mal, mas eu não
posso reclamar. Eu nem mesmo tenho um carro, não mais.
Maggie olha para mim por trás do volante, enquanto suas
mãos o seguram com firmeza.
— Hallie, se você estiver com vontade de vomitar, baixe
a janela. Aqui já cheira estranho o suficiente. — Ela está
certa, o carro tem um odor não identificável que está lá desde
que ela comprou.
— Eu estou bem, — eu digo novamente, embora seja
uma mentira. Meus braços envolvem meu peito para
esconder como minhas mãos tremem.
— Ah, Hallie, eu sei que você não quer falar e que está
tudo bem, mas eu quero informa-la sobre a minha nova casa.
— Eu olho para ela, sem entender o que ela quer dizer.
Maggie me dá um sorriso tímido e encolhe os ombros até as
suas orelhas, enquanto dirige. — Vamos apenas dizer que
não é algo que você aprovaria.
Eu não tenho paciência para lidar com seus enigmas
neste momento. A vida de Maggie é mais difícil do que a
minha, e eu sei disso, mas ela nunca tinha escondido coisas
de mim antes. Desta vez, é claro que ela escondeu, e isso me
preocupa. As únicas coisas que eu desaprovo são as que
possam matá-la. A menina não tem nenhum senso. Às vezes
me pergunto sobre ela, e como ela escolhe o que faz. Sorrio
sem jeito e olho para o tapete sujo no chão, que alguma vez
foi azul.
— O que é tão engraçado? — Maggie parece indignada,
como se eu a tivesse ofendido.
— Nada. Vamos apenas dizer que, se você soubesse o
que eu estava fazendo esta noite, você não se sentiria tão na
defensiva. Tenho certeza de que sua casa é boa.
Maggie se tranquiliza. Ela suspira quando vira em uma
rua lateral e começamos a fazer o nosso caminho através de
um bairro degradado. As casas são marcadas e branqueadas
pelo Sol, com gramados mortos, mas os carros são
customizados e caros. Mesmo que seja tarde, as pessoas
movem-se, sem fazer nada. Eu olho para a minha porta,
querendo trancá-la, mas eu não me mexo. Enquanto nós
rodamos passando pelos grupos de pessoas, os olhos deles
viram e nos assistem passar, antes de voltar para o que eles
estavam fazendo.
Maggie finalmente diz: — Não é muito, mas acho que
vale a pena.
— Você não tem que defender o seu apartamento para
mim, Maggie. Eu sou uma maldita sem-teto. — Eu olho para
ela e inclino a cabeça para trás no assento. Minhas palavras
não a consolam, então eu acrescento: — Além disso, eu não
sou uma garota-propaganda da moralidade, também. Você
não vai acreditar no que eu fiz hoje à noite, e o que eu vou
fazer. — Minha voz falha e eu balanço a cabeça, pensando
nos lábios de Bryan. Estou horrorizada por reagir da maneira
como o faço, mesmo que com a memória.
Ela ri uma vez, rapidamente. — Sim, certo. Hallie, você
nunca faz nada de mau. Estúpido, sim. Mau, não.
Eu olho para fora da janela e não vejo nada. As casas
deram lugar a apartamentos que se estendem para o céu na
noite. Fachadas de tijolos já viram dias melhores. Muitos
parecem vazios, como se ninguém vivesse lá, por muitos
anos. Meu peito se aperta e eu me contorço na cadeira. Meu
Deus, ela mora aqui? Por que ela não me contou? Há carros
queimados, latas de lixo viradas e entulho, tudo espalhado
por toda parte. Parece que a rua foi saqueada e esquecida,
assim como Maggie.
Segundas decisões são as que mudam vidas. Eu faço a
minha e cuspo fora antes de me acovardar.
— Bryan Ferro está me chantageando. Se eu não dormir
com ele sempre que ele quiser, vai dizer às pessoas que ele é
o cara no livro e fazer o que for preciso para me arruinar. Ele
disse que ia usar tudo o que tem contra mim e me deu um
ultimato.
Os grandes olhos de Maggie viram em minha direção,
com o queixo caído e boca aberta.
— Puta merda! Quando isso aconteceu? Como você vai
detê-lo? — Ela pisca para mim e vira os olhos de volta para a
estrada, embora eu saiba que ela não quer.
Esta é a parte que me faz sentir um lixo. Eu não sou
quem ela pensa que eu sou. Eu não tenho uma estrutura
moral de aço. Eu não posso nem olhar para ela.
— Esta noite eu acabei fazendo o anúncio do prêmio no
show com ele, e então ele me encontrou no banquete. — Eu
digo. Eu tento fazer a minha boca mover-se para formar as
palavras, mas não vão sair.
— De jeito nenhum. — Ela estaciona em um parque de
estacionamento que parece que foi usado como um local de
explosão da força aérea e desliga o carro. — Pegue suas
coisas e tranque a porta. — Eu faço como ela diz e me
apresso atrás dela. — Mantenha seus olhos baixos e me siga.
Não fale ou olhe para ninguém.
Entramos no lado de um desses prédios de tijolos
antigos e subimos alguns lances de escadas, até o quarto
andar. No momento que chegamos ao seu andar, eu quero
jogar o resto do meu sapato para fora da janela. Eu poderia,
não há vidro no painel. Eu a sigo, até a porta e por um longo
corredor mal iluminado. Nós paramos em frente à sua porta.
Enquanto ela se atrapalha com a chave, a porta contrária à
dela se abre. Um homem pálido, com cabelo loiro descolorido
e vestindo uma camiseta regata branca e cueca está lá e olha
para nós. Eu posso sentir seus olhos nas minhas costas. Ele
se inclina contra o batente da porta e cruza os braços sobre o
peito.
Quando ele fala, soa rouco, como se ele fumasse um
maço de cigarros todos os dias desde que ele tinha dois anos
de idade. — Trouxe-me outra?
— Não, — Maggie diz com firmeza. Ela não se vira para
olhar para o cara. Se eu não a conhecesse melhor, eu acharia
que ela estava com medo dele. Eu não aguento mais stress
esta noite. Meu cérebro parece que vai partir em dois, antes
que eu murche e morra. Maggie pega a chave para abrir, mas
porta emperra. Ela chuta uma vez com o pé e a porta mexe
ligeiramente. — Maldita porta, — ela murmura.
— Qual é o seu nome, docinho? — O cara está falando
comigo. Viro-me e olho por cima do ombro, e nossos olhos se
encontram. Ele envia um olhar frio para mim, ao ver o jeito
como ele está olhando de soslaio. O cara é enorme, ele é todo
músculos e agora ele está sorrindo para mim, revelando uma
coroa de ouro em seu dente canino.
— Oi, — eu digo timidamente, e arrumo o meu cabelo
para atrás da minha orelha, tentando evitar o olhar dele
enquanto não respondo sua pergunta.
Enquanto o cara está de boca aberta, Maggie chuta na
porta. A porta se abre, ela agarra meu braço e me puxa. Eu
sigo, voando atrás dela enquanto ela grita por cima do ombro,
— eu vou lhe trazer alguém amanhã, eu juro. Boa noite, Vic.
— Ela bate a porta com o pé e parece abalada.
Seu apartamento é aproximadamente o mesmo tamanho
de um pequeno corredor. Há uma pequena janela com uma
folha grampeada sobre ela e sem móveis. Algumas das roupas
de Maggie estão jogadas ao redor do lugar, como se ela
tivesse saído com pressa. Se eu morasse aqui, eu iria embora
rapidamente, também.
— Obrigado por me deixar ficar com você.
— Sim, não há problema. É uma merda como este é o
pior lugar que eu já vivi, mas é um refúgio. Eu durmo aqui e,
em seguida, dou o fora. O aluguel não é horrível. — Ela
oferece um sorriso torto, mas é franco.
Eu preciso dela, e não há um muro entre nós. Ela acha
que eu sou perfeita, mas eu não sou. Eu fiz coisas que ela
não sabe. As palavras estão na minha língua e eu enrolo-as
em torno de minha boca, tentando descobrir como dizer isso,
enquanto a Maggie tagarela, enchendo o ambiente com sua
voz.
Um casal está brigando nas proximidades, e o som está
cada vez mais alto. Estão lutando, eu não quero dizer
discutindo. Há coisas batendo nas paredes e quebrando.
Chove gesso para baixo sobre nós como flocos de neve
quando algo cai de cima. Maggie olha horrorizada quando ela
puxa sua cama Murphy 2 para baixo da parede. Tomando
quase toda a sala. — Você pode dormir aqui. Eu vou dormir
no chão.
— Não.
Ela sorri. — Não seja boba, você é minha convidada. —
Palavrões ressoam acima de nós quando um homem irritado
grita. É prontamente seguido de um grito agudo. Maggie
morde as unhas do jeito que ela fazia quando éramos
crianças e olha em volta, como se ela desejasse poder
queimar o lugar.
2
— Eu não vou fazer você dormir no chão, mas há outra
coisa que eu preciso lhe dizer.
— Maggie olha para mim por debaixo de sua massa de
cabelo vermelho. Eu sou sua única amiga de verdade, sua
única família e ela a minha. Deus, o que é que ela vai pensar
de mim quando eu lhe disser o que eu concordei em fazer?
Eu não acho que eu vou ser capaz de suportá-lo. Meus
braços ainda estão dobrados sobre o peito, com as mãos
firmemente aninhadas nos meus braços.
— Hallie, qual o problema? — Maggie deixa de fazer a
cama e se senta. Ela dá um tapinha no lugar ao lado dela e
me sento.
Olhando para frente, eu engulo em seco e digo a ela.
— Eu disse que sim. — Você disse sim para o quê?
Hallie, você não está fazendo sentido, do que você está
falando?
Quando me viro para olhar para ela, e encontro com
aqueles grandes olhos verdes e sinto medo. Minha pele fica
arrepiada, mas eu não consigo desviar o olhar.
— Eu disse a Bryan Ferro que sim. Eu cedi. Ele ganhou
e eu perdi.
— O quê? — Ela está furiosa, pronta para voar para fora
do seu assento e defender-me até a morte.
Eu coloco minha mão no colo dela para fazê-la parar. —
Eu fui ao seu quarto de hotel para dizer-lhe para ir chupar
um prego, mas eu mudei de ideia quando ouvi sua voz. Eu
pensei que algo estava errado e esta era a sua maneira de
merda para me dizer. Conheci-o uma vez, pelo menos eu
pensei que tinha conhecido. Então, quando eu estava
esperando por você do lado de fora, eu... — minha voz está
trêmula e eu não posso mais esconder o meu horror, — um
cara tentou roubar minha bolsa. Para encurtar a história, ele
me pegou por trás do prédio e ia me machucar. Bryan
apareceu e ele... — Eu não posso dizer isso. Meu Bryan
perfeito fez algo que era tão diferente dele, tão terrivelmente
selvagem, que eu não sei o que pensar. Ele me protegeu, mas
ainda parece errado.
— Ele a machucou? — Maggie está furiosa, eu posso
ouvir em sua voz. Mas a forma como ela fala suas palavras
ondulando entre muito alta e baixa, dão a deixa.
— Não, ele atacou o homem, e esfaqueou-o. Se eu não
dissesse a Bryan para parar, acho que ele teria matado o
cara. — Olho para ela, mas eu não posso mais enxergar.
Meus olhos têm brilham com lágrimas que tudo fica
desfocado.
Maggie ergue os braços e eu caio neles. Ela sempre foi
como uma irmã para mim. Estivemos sempre uma para a
outra, e eu temo que a história com Bryan e o que eu me
tornei vá fazê-la me odiar. Meu pai teria vergonha de me
chamar de filha, e eu espero o mesmo de Maggie. Em vez
disso, ela fica lá no colchão gasto e me acalma.
Depois de um forte abraço, ela libera meus ombros e
pega meu queixo. — Você e eu passamos por tudo juntas.
Não pense que eu a estou socorrendo por causa disso. Se não
for por qualquer coisa, a vida fica mais interessante, isso é
tudo.
Eu enxugo as lágrimas dos meus olhos e rio, porque ela
está tão errada. — Esse é o eufemismo do ano.
— O meu ponto é, eu estou aqui por você. Eu sempre
estarei aqui para você. — Ela bate no meu ombro com a dela.
— Então, Bryan Ferro tem um lado negro por trás de todo o
brilho e deslumbre?
— Aparentemente.
— Foi divertido ou ele fez coisas estranhas?
Eu sorrio e limpo meus olhos novamente. — Não, não
hoje à noite de qualquer maneira. Ele me chamou para seu
quarto, eu fui, e nos beijamos. Então, ele me mandou ir
embora.
Os lábios de Maggie puxaram um pouco para cima. —
Ele a jogou para fora? Mas que inferno...?
— Eu não sei. É como se ele estivesse louco e deixando o
Hulk sair ou algo assim. Ele não olhava para mim. As coisas
estavam quentes e pesadas até então. — A intuição continua
me dizendo que algo estava errado, mas não posso entender o
quê.
Maggie sorri: — Ele foi melhor do que Neil, certo?
Eu faço uma careta e olhou para ela como se ela fosse
louca. — Uh, Bryan está me chantageando.
— E ele é mais quente do que Neil. Vá em frente, diga.
Eu sou sua amiga, então eu já sei.
Eu baixei meus olhos em direção ao chão e não disse
nada. Eu não tenho que dizer nada, a minha expressão diz
tudo. Bryan é muito mais quente do que Neil, não há
comparação. Os dois homens são noite e dia, e Bryan é a
noite sexy. Neil a voz racional que soa como o FDA 3,
lembrando-me de fazer todas as coisas com moderação, mas
não todas as coisas, somente as ações que ele aprova. Droga.
Eu enterro meu rosto em minhas mãos e suspiro.
Maggie acaricia minhas costas. — Está tudo bem.
Qualquer um é mais quente do que Neil. Não se sinta
culpada, mas eu não contaria exatamente ao Senhor Calças
Perfeitamente Passadas. Ele vai surtar ao saber que alguém
tocou em você. — Maggie está tirando as roupas e puxando
uma camisa de dormir e calças, enquanto ela fala.
— Na verdade, Neil sabe.
3 FDA - Food and Drug Administration - Agencia reguladora de remédios e alimentos.
— O quê? — Ela está pulando em um pé, tentando
enfiar o pé pela perna da calça e cai. — Como é que ele sabe?
Você disse que acabou de acontecer.
— Neil sabe por que foi ele quem me disse para fazer
isso.
CONTINUA
Bryan está de queixo caído e boca aberta, com aqueles olhos verdes semicerrados, em chamas. Fúria e choque não parecem bons para ele. As emoções distorcem seu belo rosto,
estragam as linhas suaves de sua pele, fazendo-o parecer bem mais velho. Seus punhos estão fechados, apertados em seus lados, mas ele pisca uma vez e a reação diminui. Há muitas coisas que eu não sei sobre Bryan Ferro, mas uma coisa eu sei, ele é uma merda em manter as coisas escondidas. Seus pensamentos dançam em seu rosto de vez em quando, e é por isso que ele está desconfiado de mim.
Virando abruptamente, Bryan pressiona seus dedos em sua têmpora direita. Sua voz sai como um grunhido.
— Eu lhe disse para ir embora.
— Seus ombros estão tensos, cada músculo está apertado a ponto de eu poder ver as curvas de seu corpo sob essa camisa. Ele flexiona a mão que está ao seu lado antes de deslizar em seu bolso. Bryan pode ser capaz de esconder tudo, de todos os outros, mas não de mim.
— Sim, eu ouvi essa parte. — Eu ajo como se eu não me importasse, deito-me no tapete, e dobro as minhas mãos atrás da minha cabeça. O piso é suave e difuso. Levanto os meus joelhos, eu deixo a queda do meu vestido em torno dos meus tornozelos e até meus pés, para sentir a pilha macia entre os dedos dos pés. O tapete no meu antigo quarto parecia como um saco de batata, em relação a este material.
Mesmo com Bryan irado, eu estou sorrindo. A vozinha na parte de trás da minha cabeça me diz que eu perdi minha mente. Eu respondo de volta que eu nunca tive um controle firme sobre isso de qualquer maneira.
https://img.comunidades.net/bib/bibliotecasemlimites/2_A_PROPOSI_O.jpg
Bryan pode ver meu reflexo no espelho, mas eu não
posso ver mais do que as suas costas e a maneira como ele
agarra sua cabeça como se fosse explodir. Ele está furioso
comigo? Não consigo entender sua raiva, mas transborda
para fora de sua boca de novo, espetando como espinhos,
neste momento.
— Se você não consegue entender os termos deste
acordo, então eu temo que nós não tenhamos um.
— O quê? — Sento-me e giro em torno, de modo que
estou de frente para as suas costas.
Bryan se vira, e a tensão que está estampada no seu
rosto é horrível. Eu encontro o seu olhar, mas eu não posso
olha-lo sem querer corrigir o que está fazendo com ele. Todas
as imagens na imprensa mostram a versão de Bryan que eu
conhecia, leve e despreocupado, mas este homem, aqui, não é
nenhuma dessas coisas. Algo está esmagando-o de dentro
para fora e deixando-o em pedaços. Seu corpo está tremendo,
ele está tão bravo. Ele tenta respirar fundo, mas isso só faz o
seu rosto ficar mais apertado.
— Você me ouviu. Se você não fizer as coisas do meu
jeito, eu vou arruinar você. Este não é o meu jeito, você sabe
muito bem disso. Saia daqui.
Ele não grita, mas suas palavras me fazem tremer. Não
há calor, não há compaixão. Talvez eu não o conheça mais e
ele está certo. Apertando os lábios, eu engulo minha resposta,
mas esta incha dentro de mim e enche meu peito. Eu peguei
meus sapatos saltos de volta e calcei em meus pés cansados
antes de levantar. Eu ando mais e pego minha bolsa.
Eu deveria sair. A vozinha dentro de mim canta como
um duende com uma voz agradável, sim, vá. Faça isso.
Agora.
Meus olhos estão fixos na porta como se fosse o
caminho para o inferno. Algo sobre sair agora parece errado,
mas não posso entender sobre o que está prendendo meus
pés no lugar. Caramba, é o pensamento que está me
segurando. Ele está me prendendo aqui e eu não posso me
mover. Parece como engolir o vômito e eu não posso fazê-lo.
Eu sou o cérebro danificado, mas não posso ser algo que não sou.
Girando sobre meus pés, eu atravesso o piso acarpetado
e elegante, e caminho até ele. Bryan não se vira para olhar
para mim. Em vez disso, suas mãos estão segurando a parte
superior do bar como se ele quisesse arrancá-lo da parede.
Suas costas estão curvadas e sua cabeça está pendurada
entre os ombros, como se ele estivesse tentando não me
rasgar em pedaços. Outra mulher teria corrido agora mesmo,
mas eu sou a dopada que anda mais perto.
— Eu sou uma idiota, — eu digo, enquanto olho para os
meus sapatos, e rio de leve. É o tipo de som que não tem
alegria e revela uma alma torturada. Meus olhos levantam
para seus ombros. Eu fico lá por um momento esperando que
ele se vire, mas ele não vira. Bryan não fala ou levanta o
olhar. Ele permanece debruçado sobre o bar como um troll 1.
Eu continuo, — vê-lo hoje à noite foi terrível e
maravilhoso. Isso evocou memórias e sentimentos que eu
tinha tempo esquecido há muito. Escrever sobre, é uma
coisa, mas vê-lo novamente está além das palavras.
Desculpe-me se eu o machuquei, mesmo que eu não entenda
o que eu fiz. E seu eu pudesse corrigir. Eu...
Por que estou fazendo isso? Eu estou me desculpando
com as suas costas, o homem não tem sequer a decência de
se virar e encarar-me. Eu respiro fundo e endireito a minha
espinha.
— As pessoas cometem erros, Bryan, e parece que o
meu maior erro foi conhecê-lo.
1
Troll – é uma gíria que designa uma pessoa cujo comportamento tende sistematicamente a desestabilizar uma
discussão, provocar e enfurecer as pessoas envolvidas nela. Há trolls de todo tipo, desde o mais ignorante e rude
que xinga e provoca, até o mais apto intelectualmente que discursa com o objetivo de desestabilizar o interlocutor
e levá-lo a fúria, para depois desqualificá-lo, matando seu argumento e abalando sua reputação.
A fúria me inunda quando eu corro pela sala. Eu agarro
a maçaneta da porta e não olho para trás, apesar de sentir
seus olhos em mim. Dane-se ele. Eu vivi coisas piores. Eu
digo essas palavras uma e outra vez, porque aconteceu.
Depois corro pelo corredor, aperto o botão para baixo no
elevador uma e outra vez, perguntando por que eu estou tão
chateada. Depois de um momento, eu sinto o pensamento
picar os meus olhos e apertar a minha garganta e eu sei
exatamente por que estou tão chateada.
É possível que as coisas estejam invertidas, e como eu
não conhecesse o verdadeiro Bryan Ferro, aquele com quem
dormi todos esses anos, era o falso.
CAPÍTULO 2
Eu não posso ir para casa e enfrentar Neil, por isso eu
telefono para Maggie. Ela atende no terceiro toque. Eu estou
andando na rua em frente ao hotel com o meu telefone
pressionado ao meu ouvido. É tarde e escuro. Evitando as
sombras, eu ando mais perto da rua do que no hotel.
— Maggie. — Eu tento esconder a tensão na minha voz,
mas ela ouve. Nós nos conhecemos há muito tempo. — Vou
tirar suas bolas fora.
— O que diabo aconteceu? Onde você está? — Ela me
enche de perguntas, até que eu possa finalmente fazê-la calar
a boca.
— Eu preciso de um lugar para dormir. Eu não posso
ver Neil agora e eu não tenho outro lugar para ir.
Maggie fica em silêncio.
— O que é meu, é seu. Você sabe disso, mas eu não
tenho certeza que você vá gostar.
— Em qualquer lugar é melhor do que aqui ou com Neil.
— Eu sinto uma náusea fazendo seu caminho até a minha
garganta. Lágrimas estão chegando, e tenho a sensação de
que vai ser um maremoto.
— Claro, claro. Eu estarei aí em cinco minutos.
— A linha de Maggie desliga, e eu fecho o meu telefone e
o coloco em minha bolsa.
A cidade se move em torno de mim, mas parece que eu
estou em uma bolha. As pessoas passam na calçada, mas eu
não as noto. Eu passeio, perdida em pensamentos, agarrando
minha bolsa perto do meu corpo. O ar da noite tem aquele
cheiro que é distintamente de Nova York. Eu o inspiro e
quando me viro, quase bato em alguém. O cara é uma
parede, de marrom e preto. Seu casaco tem cheiro de cigarros
velhos e naftalina.
Antes de eu ter tempo para descobrir o que está
acontecendo, ele pega a minha bolsa, em seguida, coloca a
mão no centro do meu peito e me empurra, com força. Eu
grito, tropeço e caio para trás, enquanto minha bolsa é
arrancada de minhas mãos. O cara se vira e está pronto para
correr, mas eu não estou com disposição para perder a bolsa.
Eu estou fodidamente quebrada. Todo o dinheiro que eu
tenho está lá dentro.
Antes que eu saiba o que estou fazendo, eu pego um dos
meus sapatos de salto alto e atiro em sua cabeça. Acerto e ele
cai na calçada. Poucas pessoas param para assistir, mas
ninguém faz nada - típico dos nova-iorquinos. Todo mundo
quer ver, mas ninguém ajuda.
Nesse ponto, tudo acontece em câmera lenta. Eu estou
em pé, mesmo que eu não me lembre de ficar pé. Um pé está
congelado, sobre o cimento frio, enquanto o outro ainda está
calçado. O ladrão levanta a mão e bota na parte de trás de
sua cabeça e puxa-a. Ele olha para os seus dedos, seus olhos
escuros apreciando o sangue vermelho e pegajoso em sua
mão. A ponta do meu salto que bateu com a parte traseira de
seu couro cabeludo, deve tê-lo cortado.
Meu coração para, quando o sujeito se vira para mim.
Seus olhos têm um olhar enlouquecido e os ombros tremem
como se ele fosse me rasgar ao meio.
— Você. — Ele diz isso como se fosse o meu nome e ele
me odeia.
O homem dá passos em direção a mim e fala
novamente, mas suas mãos lentamente movem para cima,
como se ele fosse me atacar ou me estrangular. Eu suspiro
alguma coisa, mas ele não sai antes de eu dar um passo para
trás, aterrorizada. Meu pulso ruge em meus ouvidos, então
olho em volta a procura de ajuda, mas não vejo ninguém. A
multidão se afastou, ou talvez eu tenha ido embora. Onde
está um policial quando eu preciso de um?
O resto acontece freneticamente rápido. Alguém grita
comigo, enquanto o homem procura o meu pescoço. Eu caio,
mas ele pega no meu ombro. Ele aperta-me com força,
fazendo com que o meu pescoço estale para trás enquanto ele
grita na minha cara.
— Sua pequena vadia!
O resto de suas palavras se tornam zumbidos, enquanto
ele me aperta mais. Estou ciente do vento, do ar da noite, e
do homem que está me estrangulando. Em algum momento,
as mãos deslizam até o pescoço. Eu agarro em suas mãos e
tento gritar, mas não sai nada. Eu não entendo por que
ninguém nos vê, por que eles simplesmente deixam esse
ladrão me machucar.
Balançando as minhas pernas, eu o chuto, mas não
adianta. Eu não sou forte o suficiente. Eu tentei tudo o que
sabia fazer e nada funcionou. O homem me atira e bate
minhas costas contra uma parede de tijolos. O frio me sacode
e me pergunto como chegamos ao beco ao lado do hotel, mas
os pensamentos cessam quando vejo o olhar em seus olhos.
Um sorriso mal aparece em seu rosto quando ele rasga o
ombro do meu vestido. O tecido sai em sua mão e permite
que o vestido deslizar alguns centímetros.
Abro a boca para gritar, mas sua mão imunda me cobre,
impedindo a saída do som. Sua mão me tateia, sentindo
meus seios enquanto ele sussurra em meu ouvido todas as
coisas horríveis que ele pretende fazer comigo. — Então, eu
vou levar a minha faca e... — Suas palavras desagradáveis
param imediatamente, após o som do estalar de madeira.
Assim como, de repente, a mão no meu pescoço se foi e
eu suspiro em uma respiração trêmula e olho para cima. Está
muito escuro para ver, mas há um homem vestido de
smoking, avançando sobre o ladrão. Ele lança socos uma e
outra vez, até que eles estão na parte de trás do beco, presos
por uma parede de tijolos. O ladrão é espancado e sangra,
mas ele não para de lutar. Nem o homem de smoking. Ele
distribui socos como um boxeador, tanto assim que é
hipnótico assistir. Quando a faca aparece, eu esperava que as
coisas se transformassem em favor do ladrão, mas isso não
acontece. O homem de smoking desarma o idiota e toma a
arma. Aconteceu tão rápido que eu não posso dizer como foi
feito. O homem de smoking recua seu braço como se
estivesse para empurrar a faca no peito do cara.
— Pare! — Eu chamo antes de perceber o que estou
fazendo. Uma das minhas mãos está segurando meu vestido
no busto e a outra está mal tocando meus lábios. Eu não
posso ver o cara morrer, mas eu não consigo desviar o olhar
também.
O homem de smoking não para. Um grito tremendo sai
dilacerado da minha garganta quando ele bate a faca no
ombro do ladrão. O bandido pega no seu braço e desliza para
baixo da parede, segurando seu ombro enquanto o casaco
fica encharcado de sangue. Ele olha diretamente para mim
com raiva.
O homem de smoking chuta o ladrão uma vez, e uma
voz familiar disse:
— Vá embora.
Eu tremo quando ouço isso, porque eu sei quem é ele,
Bryan. Ele deve ter me seguido. O medo agarra e azeda
dentro do meu estômago, enquanto eu olho para as suas
costas. Bryan não vira o rosto para mim. O ladrão comprime
os lábios e se levanta do chão do beco. Ele faz o seu caminho
passando por mim, e não diz nada.
Um tremor se apodera de mim e escorre pela minha
espinha, me fazendo ofegar. É quando ele se vira. O rosto de
Bryan está pálido e coberto de um brilho fino de suor. Ele
caminha de volta para mim e eu posso ver onde ele tomou
algumas pancadas. Há um rasgo em sua camisa, sob a lapela
do paletó, onde a faca cortou antes Bryan tomá-la do ladrão.
Passo a passo, ele caminha em minha direção, e eu
estou mais assustada por Bryan que qualquer coisa que já
encontrei. O que foi isso? Ele teria matado o homem se eu
não tivesse gritado? Eu não consigo parar de tremer.
Bryan alcança os meus ombros para me firmar, e eu
sinto aquele choque familiar que acompanha o seu toque.
Seu polegar esfrega suavemente sobre minha pele. — Você
está bem?
Mas, é muito. Eu não posso. Eu não posso. Eu não posso.
O pensamento não faz sentido, mas eu sei que tenho que
fazer com que ele me liberte. Seu toque tem uma maneira de
me desfazer, e eu estou caindo aos pedaços. Recuso-me a
deixá-lo ser o único a testemunhar isso. Eu empurro para
longe, e aceno com a cabeça rapidamente.
— Eu estou bem.
As mãos de Bryan permanecem paradas no ar por um
momento, antes de ele abaixa-las junto com seu olhar. Ele
observa o chão por um segundo e quando ele levanta o
queixo, vejo um sorriso nos seus lábios.
— Mentirosa. Você está longe de estar bem, mas eu
estou contente que você esteja parada.
Eu fico olhando para ele, incapaz de encontrar uma
resposta. Sua voz soa carinhosa, quase arrependida. Ele olha
por cima do meu ombro para alguém e, em seguida, diz:
— A sua carona está aqui. Da próxima vez, não tente
derrubar um assaltante por si mesmo.
Eu falo sem querer, mas as palavras saem e caem fora.
— Da próxima vez, não mate um homem por roubar minha
bolsa.
O canto dos lábios de Bryan puxa para cima, como se
quisesse sorrir, mas ele não sorri.
— Eu não iria matar um homem por roubar uma bolsa.
Que tipo de pessoa você acha que eu sou?
— Honestamente, eu não sei mais. Eu achava que sabia,
mas depois disso... — Eu balanço minha cabeça e fico sem
palavras. Bryan mudou o ataque no último segundo. Essa
faca não estava voltada para o ombro do homem — estava
dirigida para o seu coração. — Você ia matá-lo. Eu vi, você
não pode me dizer que não iria.
Bryan se inclina mais perto, e quando ele fala seu hálito
quente sussurra contra a minha orelha.
— Talvez, mas não foi porque ele pegou sua bolsa. — Ele
se inclina para trás e desliza as mãos nos bolsos, enquanto
seus olhos verdes me percorrem. — Ninguém toca em você,
enquanto você está comigo.
— Eu engulo em seco e olho para ele, com o coração
ainda disparando.
Maggie aparece atrás de mim um segundo depois. Ela
pega meu ombro e me vira.
— Hallie, diabo está acontecendo, e por que você está
aqui no beco sozinha? — Ela vê a maneira que eu estou
segurando meu vestido e o tecido rasgado. A preocupação
persiste em seu rosto, esperando pela minha resposta.
— Eu não estou sozinha, — mas quando me viro para
olhar, Bryan já se foi.
CAPÍTULO 3
Eu estive em um casulo de tristeza e este evento o
quebrou. Minha atordoada indiferença fratura e estilhaça,
como vidro barato. Eu olho para a bolsa presa em minha mão
e me pergunto o que há de errado comigo, mas ainda mais,
eu não consigo parar de pensar em Bryan, como ele veio do
nada e quase matou o homem que tentou me machucar.
Pare de pensar assim, eu me repreendo. Bryan agiu
como um lunático. A imagem de Bryan esfaqueando o cara
persiste através dos meus olhos mais uma vez e faz o meu
estômago embrulhar.
Maggie está falando, mas eu não disse muito. Estamos
em seu velho Ford Escort. A coisa corre mal, mas eu não
posso reclamar. Eu nem mesmo tenho um carro, não mais.
Maggie olha para mim por trás do volante, enquanto suas
mãos o seguram com firmeza.
— Hallie, se você estiver com vontade de vomitar, baixe
a janela. Aqui já cheira estranho o suficiente. — Ela está
certa, o carro tem um odor não identificável que está lá desde
que ela comprou.
— Eu estou bem, — eu digo novamente, embora seja
uma mentira. Meus braços envolvem meu peito para
esconder como minhas mãos tremem.
— Ah, Hallie, eu sei que você não quer falar e que está
tudo bem, mas eu quero informa-la sobre a minha nova casa.
— Eu olho para ela, sem entender o que ela quer dizer.
Maggie me dá um sorriso tímido e encolhe os ombros até as
suas orelhas, enquanto dirige. — Vamos apenas dizer que
não é algo que você aprovaria.
Eu não tenho paciência para lidar com seus enigmas
neste momento. A vida de Maggie é mais difícil do que a
minha, e eu sei disso, mas ela nunca tinha escondido coisas
de mim antes. Desta vez, é claro que ela escondeu, e isso me
preocupa. As únicas coisas que eu desaprovo são as que
possam matá-la. A menina não tem nenhum senso. Às vezes
me pergunto sobre ela, e como ela escolhe o que faz. Sorrio
sem jeito e olho para o tapete sujo no chão, que alguma vez
foi azul.
— O que é tão engraçado? — Maggie parece indignada,
como se eu a tivesse ofendido.
— Nada. Vamos apenas dizer que, se você soubesse o
que eu estava fazendo esta noite, você não se sentiria tão na
defensiva. Tenho certeza de que sua casa é boa.
Maggie se tranquiliza. Ela suspira quando vira em uma
rua lateral e começamos a fazer o nosso caminho através de
um bairro degradado. As casas são marcadas e branqueadas
pelo Sol, com gramados mortos, mas os carros são
customizados e caros. Mesmo que seja tarde, as pessoas
movem-se, sem fazer nada. Eu olho para a minha porta,
querendo trancá-la, mas eu não me mexo. Enquanto nós
rodamos passando pelos grupos de pessoas, os olhos deles
viram e nos assistem passar, antes de voltar para o que eles
estavam fazendo.
Maggie finalmente diz: — Não é muito, mas acho que
vale a pena.
— Você não tem que defender o seu apartamento para
mim, Maggie. Eu sou uma maldita sem-teto. — Eu olho para
ela e inclino a cabeça para trás no assento. Minhas palavras
não a consolam, então eu acrescento: — Além disso, eu não
sou uma garota-propaganda da moralidade, também. Você
não vai acreditar no que eu fiz hoje à noite, e o que eu vou
fazer. — Minha voz falha e eu balanço a cabeça, pensando
nos lábios de Bryan. Estou horrorizada por reagir da maneira
como o faço, mesmo que com a memória.
Ela ri uma vez, rapidamente. — Sim, certo. Hallie, você
nunca faz nada de mau. Estúpido, sim. Mau, não.
Eu olho para fora da janela e não vejo nada. As casas
deram lugar a apartamentos que se estendem para o céu na
noite. Fachadas de tijolos já viram dias melhores. Muitos
parecem vazios, como se ninguém vivesse lá, por muitos
anos. Meu peito se aperta e eu me contorço na cadeira. Meu
Deus, ela mora aqui? Por que ela não me contou? Há carros
queimados, latas de lixo viradas e entulho, tudo espalhado
por toda parte. Parece que a rua foi saqueada e esquecida,
assim como Maggie.
Segundas decisões são as que mudam vidas. Eu faço a
minha e cuspo fora antes de me acovardar.
— Bryan Ferro está me chantageando. Se eu não dormir
com ele sempre que ele quiser, vai dizer às pessoas que ele é
o cara no livro e fazer o que for preciso para me arruinar. Ele
disse que ia usar tudo o que tem contra mim e me deu um
ultimato.
Os grandes olhos de Maggie viram em minha direção,
com o queixo caído e boca aberta.
— Puta merda! Quando isso aconteceu? Como você vai
detê-lo? — Ela pisca para mim e vira os olhos de volta para a
estrada, embora eu saiba que ela não quer.
Esta é a parte que me faz sentir um lixo. Eu não sou
quem ela pensa que eu sou. Eu não tenho uma estrutura
moral de aço. Eu não posso nem olhar para ela.
— Esta noite eu acabei fazendo o anúncio do prêmio no
show com ele, e então ele me encontrou no banquete. — Eu
digo. Eu tento fazer a minha boca mover-se para formar as
palavras, mas não vão sair.
— De jeito nenhum. — Ela estaciona em um parque de
estacionamento que parece que foi usado como um local de
explosão da força aérea e desliga o carro. — Pegue suas
coisas e tranque a porta. — Eu faço como ela diz e me
apresso atrás dela. — Mantenha seus olhos baixos e me siga.
Não fale ou olhe para ninguém.
Entramos no lado de um desses prédios de tijolos
antigos e subimos alguns lances de escadas, até o quarto
andar. No momento que chegamos ao seu andar, eu quero
jogar o resto do meu sapato para fora da janela. Eu poderia,
não há vidro no painel. Eu a sigo, até a porta e por um longo
corredor mal iluminado. Nós paramos em frente à sua porta.
Enquanto ela se atrapalha com a chave, a porta contrária à
dela se abre. Um homem pálido, com cabelo loiro descolorido
e vestindo uma camiseta regata branca e cueca está lá e olha
para nós. Eu posso sentir seus olhos nas minhas costas. Ele
se inclina contra o batente da porta e cruza os braços sobre o
peito.
Quando ele fala, soa rouco, como se ele fumasse um
maço de cigarros todos os dias desde que ele tinha dois anos
de idade. — Trouxe-me outra?
— Não, — Maggie diz com firmeza. Ela não se vira para
olhar para o cara. Se eu não a conhecesse melhor, eu acharia
que ela estava com medo dele. Eu não aguento mais stress
esta noite. Meu cérebro parece que vai partir em dois, antes
que eu murche e morra. Maggie pega a chave para abrir, mas
porta emperra. Ela chuta uma vez com o pé e a porta mexe
ligeiramente. — Maldita porta, — ela murmura.
— Qual é o seu nome, docinho? — O cara está falando
comigo. Viro-me e olho por cima do ombro, e nossos olhos se
encontram. Ele envia um olhar frio para mim, ao ver o jeito
como ele está olhando de soslaio. O cara é enorme, ele é todo
músculos e agora ele está sorrindo para mim, revelando uma
coroa de ouro em seu dente canino.
— Oi, — eu digo timidamente, e arrumo o meu cabelo
para atrás da minha orelha, tentando evitar o olhar dele
enquanto não respondo sua pergunta.
Enquanto o cara está de boca aberta, Maggie chuta na
porta. A porta se abre, ela agarra meu braço e me puxa. Eu
sigo, voando atrás dela enquanto ela grita por cima do ombro,
— eu vou lhe trazer alguém amanhã, eu juro. Boa noite, Vic.
— Ela bate a porta com o pé e parece abalada.
Seu apartamento é aproximadamente o mesmo tamanho
de um pequeno corredor. Há uma pequena janela com uma
folha grampeada sobre ela e sem móveis. Algumas das roupas
de Maggie estão jogadas ao redor do lugar, como se ela
tivesse saído com pressa. Se eu morasse aqui, eu iria embora
rapidamente, também.
— Obrigado por me deixar ficar com você.
— Sim, não há problema. É uma merda como este é o
pior lugar que eu já vivi, mas é um refúgio. Eu durmo aqui e,
em seguida, dou o fora. O aluguel não é horrível. — Ela
oferece um sorriso torto, mas é franco.
Eu preciso dela, e não há um muro entre nós. Ela acha
que eu sou perfeita, mas eu não sou. Eu fiz coisas que ela
não sabe. As palavras estão na minha língua e eu enrolo-as
em torno de minha boca, tentando descobrir como dizer isso,
enquanto a Maggie tagarela, enchendo o ambiente com sua
voz.
Um casal está brigando nas proximidades, e o som está
cada vez mais alto. Estão lutando, eu não quero dizer
discutindo. Há coisas batendo nas paredes e quebrando.
Chove gesso para baixo sobre nós como flocos de neve
quando algo cai de cima. Maggie olha horrorizada quando ela
puxa sua cama Murphy 2 para baixo da parede. Tomando
quase toda a sala. — Você pode dormir aqui. Eu vou dormir
no chão.
— Não.
Ela sorri. — Não seja boba, você é minha convidada. —
Palavrões ressoam acima de nós quando um homem irritado
grita. É prontamente seguido de um grito agudo. Maggie
morde as unhas do jeito que ela fazia quando éramos
crianças e olha em volta, como se ela desejasse poder
queimar o lugar.
2
— Eu não vou fazer você dormir no chão, mas há outra
coisa que eu preciso lhe dizer.
— Maggie olha para mim por debaixo de sua massa de
cabelo vermelho. Eu sou sua única amiga de verdade, sua
única família e ela a minha. Deus, o que é que ela vai pensar
de mim quando eu lhe disser o que eu concordei em fazer?
Eu não acho que eu vou ser capaz de suportá-lo. Meus
braços ainda estão dobrados sobre o peito, com as mãos
firmemente aninhadas nos meus braços.
— Hallie, qual o problema? — Maggie deixa de fazer a
cama e se senta. Ela dá um tapinha no lugar ao lado dela e
me sento.
Olhando para frente, eu engulo em seco e digo a ela.
— Eu disse que sim. — Você disse sim para o quê?
Hallie, você não está fazendo sentido, do que você está
falando?
Quando me viro para olhar para ela, e encontro com
aqueles grandes olhos verdes e sinto medo. Minha pele fica
arrepiada, mas eu não consigo desviar o olhar.
— Eu disse a Bryan Ferro que sim. Eu cedi. Ele ganhou
e eu perdi.
— O quê? — Ela está furiosa, pronta para voar para fora
do seu assento e defender-me até a morte.
Eu coloco minha mão no colo dela para fazê-la parar. —
Eu fui ao seu quarto de hotel para dizer-lhe para ir chupar
um prego, mas eu mudei de ideia quando ouvi sua voz. Eu
pensei que algo estava errado e esta era a sua maneira de
merda para me dizer. Conheci-o uma vez, pelo menos eu
pensei que tinha conhecido. Então, quando eu estava
esperando por você do lado de fora, eu... — minha voz está
trêmula e eu não posso mais esconder o meu horror, — um
cara tentou roubar minha bolsa. Para encurtar a história, ele
me pegou por trás do prédio e ia me machucar. Bryan
apareceu e ele... — Eu não posso dizer isso. Meu Bryan
perfeito fez algo que era tão diferente dele, tão terrivelmente
selvagem, que eu não sei o que pensar. Ele me protegeu, mas
ainda parece errado.
— Ele a machucou? — Maggie está furiosa, eu posso
ouvir em sua voz. Mas a forma como ela fala suas palavras
ondulando entre muito alta e baixa, dão a deixa.
— Não, ele atacou o homem, e esfaqueou-o. Se eu não
dissesse a Bryan para parar, acho que ele teria matado o
cara. — Olho para ela, mas eu não posso mais enxergar.
Meus olhos têm brilham com lágrimas que tudo fica
desfocado.
Maggie ergue os braços e eu caio neles. Ela sempre foi
como uma irmã para mim. Estivemos sempre uma para a
outra, e eu temo que a história com Bryan e o que eu me
tornei vá fazê-la me odiar. Meu pai teria vergonha de me
chamar de filha, e eu espero o mesmo de Maggie. Em vez
disso, ela fica lá no colchão gasto e me acalma.
Depois de um forte abraço, ela libera meus ombros e
pega meu queixo. — Você e eu passamos por tudo juntas.
Não pense que eu a estou socorrendo por causa disso. Se não
for por qualquer coisa, a vida fica mais interessante, isso é
tudo.
Eu enxugo as lágrimas dos meus olhos e rio, porque ela
está tão errada. — Esse é o eufemismo do ano.
— O meu ponto é, eu estou aqui por você. Eu sempre
estarei aqui para você. — Ela bate no meu ombro com a dela.
— Então, Bryan Ferro tem um lado negro por trás de todo o
brilho e deslumbre?
— Aparentemente.
— Foi divertido ou ele fez coisas estranhas?
Eu sorrio e limpo meus olhos novamente. — Não, não
hoje à noite de qualquer maneira. Ele me chamou para seu
quarto, eu fui, e nos beijamos. Então, ele me mandou ir
embora.
Os lábios de Maggie puxaram um pouco para cima. —
Ele a jogou para fora? Mas que inferno...?
— Eu não sei. É como se ele estivesse louco e deixando o
Hulk sair ou algo assim. Ele não olhava para mim. As coisas
estavam quentes e pesadas até então. — A intuição continua
me dizendo que algo estava errado, mas não posso entender o
quê.
Maggie sorri: — Ele foi melhor do que Neil, certo?
Eu faço uma careta e olhou para ela como se ela fosse
louca. — Uh, Bryan está me chantageando.
— E ele é mais quente do que Neil. Vá em frente, diga.
Eu sou sua amiga, então eu já sei.
Eu baixei meus olhos em direção ao chão e não disse
nada. Eu não tenho que dizer nada, a minha expressão diz
tudo. Bryan é muito mais quente do que Neil, não há
comparação. Os dois homens são noite e dia, e Bryan é a
noite sexy. Neil a voz racional que soa como o FDA 3,
lembrando-me de fazer todas as coisas com moderação, mas
não todas as coisas, somente as ações que ele aprova. Droga.
Eu enterro meu rosto em minhas mãos e suspiro.
Maggie acaricia minhas costas. — Está tudo bem.
Qualquer um é mais quente do que Neil. Não se sinta
culpada, mas eu não contaria exatamente ao Senhor Calças
Perfeitamente Passadas. Ele vai surtar ao saber que alguém
tocou em você. — Maggie está tirando as roupas e puxando
uma camisa de dormir e calças, enquanto ela fala.
— Na verdade, Neil sabe.
3 FDA - Food and Drug Administration - Agencia reguladora de remédios e alimentos.
— O quê? — Ela está pulando em um pé, tentando
enfiar o pé pela perna da calça e cai. — Como é que ele sabe?
Você disse que acabou de acontecer.
— Neil sabe por que foi ele quem me disse para fazer
isso.
CONTINUA
Bryan está de queixo caído e boca aberta, com aqueles olhos verdes semicerrados, em chamas. Fúria e choque não parecem bons para ele. As emoções distorcem seu belo rosto,
estragam as linhas suaves de sua pele, fazendo-o parecer bem mais velho. Seus punhos estão fechados, apertados em seus lados, mas ele pisca uma vez e a reação diminui. Há muitas coisas que eu não sei sobre Bryan Ferro, mas uma coisa eu sei, ele é uma merda em manter as coisas escondidas. Seus pensamentos dançam em seu rosto de vez em quando, e é por isso que ele está desconfiado de mim.
Virando abruptamente, Bryan pressiona seus dedos em sua têmpora direita. Sua voz sai como um grunhido.
— Eu lhe disse para ir embora.
— Seus ombros estão tensos, cada músculo está apertado a ponto de eu poder ver as curvas de seu corpo sob essa camisa. Ele flexiona a mão que está ao seu lado antes de deslizar em seu bolso. Bryan pode ser capaz de esconder tudo, de todos os outros, mas não de mim.
— Sim, eu ouvi essa parte. — Eu ajo como se eu não me importasse, deito-me no tapete, e dobro as minhas mãos atrás da minha cabeça. O piso é suave e difuso. Levanto os meus joelhos, eu deixo a queda do meu vestido em torno dos meus tornozelos e até meus pés, para sentir a pilha macia entre os dedos dos pés. O tapete no meu antigo quarto parecia como um saco de batata, em relação a este material.
Mesmo com Bryan irado, eu estou sorrindo. A vozinha na parte de trás da minha cabeça me diz que eu perdi minha mente. Eu respondo de volta que eu nunca tive um controle firme sobre isso de qualquer maneira.
https://img.comunidades.net/bib/bibliotecasemlimites/2_A_PROPOSI_O.jpg
Bryan pode ver meu reflexo no espelho, mas eu não
posso ver mais do que as suas costas e a maneira como ele
agarra sua cabeça como se fosse explodir. Ele está furioso
comigo? Não consigo entender sua raiva, mas transborda
para fora de sua boca de novo, espetando como espinhos,
neste momento.
— Se você não consegue entender os termos deste
acordo, então eu temo que nós não tenhamos um.
— O quê? — Sento-me e giro em torno, de modo que
estou de frente para as suas costas.
Bryan se vira, e a tensão que está estampada no seu
rosto é horrível. Eu encontro o seu olhar, mas eu não posso
olha-lo sem querer corrigir o que está fazendo com ele. Todas
as imagens na imprensa mostram a versão de Bryan que eu
conhecia, leve e despreocupado, mas este homem, aqui, não é
nenhuma dessas coisas. Algo está esmagando-o de dentro
para fora e deixando-o em pedaços. Seu corpo está tremendo,
ele está tão bravo. Ele tenta respirar fundo, mas isso só faz o
seu rosto ficar mais apertado.
— Você me ouviu. Se você não fizer as coisas do meu
jeito, eu vou arruinar você. Este não é o meu jeito, você sabe
muito bem disso. Saia daqui.
Ele não grita, mas suas palavras me fazem tremer. Não
há calor, não há compaixão. Talvez eu não o conheça mais e
ele está certo. Apertando os lábios, eu engulo minha resposta,
mas esta incha dentro de mim e enche meu peito. Eu peguei
meus sapatos saltos de volta e calcei em meus pés cansados
antes de levantar. Eu ando mais e pego minha bolsa.
Eu deveria sair. A vozinha dentro de mim canta como
um duende com uma voz agradável, sim, vá. Faça isso.
Agora.
Meus olhos estão fixos na porta como se fosse o
caminho para o inferno. Algo sobre sair agora parece errado,
mas não posso entender sobre o que está prendendo meus
pés no lugar. Caramba, é o pensamento que está me
segurando. Ele está me prendendo aqui e eu não posso me
mover. Parece como engolir o vômito e eu não posso fazê-lo.
Eu sou o cérebro danificado, mas não posso ser algo que não sou.
Girando sobre meus pés, eu atravesso o piso acarpetado
e elegante, e caminho até ele. Bryan não se vira para olhar
para mim. Em vez disso, suas mãos estão segurando a parte
superior do bar como se ele quisesse arrancá-lo da parede.
Suas costas estão curvadas e sua cabeça está pendurada
entre os ombros, como se ele estivesse tentando não me
rasgar em pedaços. Outra mulher teria corrido agora mesmo,
mas eu sou a dopada que anda mais perto.
— Eu sou uma idiota, — eu digo, enquanto olho para os
meus sapatos, e rio de leve. É o tipo de som que não tem
alegria e revela uma alma torturada. Meus olhos levantam
para seus ombros. Eu fico lá por um momento esperando que
ele se vire, mas ele não vira. Bryan não fala ou levanta o
olhar. Ele permanece debruçado sobre o bar como um troll 1.
Eu continuo, — vê-lo hoje à noite foi terrível e
maravilhoso. Isso evocou memórias e sentimentos que eu
tinha tempo esquecido há muito. Escrever sobre, é uma
coisa, mas vê-lo novamente está além das palavras.
Desculpe-me se eu o machuquei, mesmo que eu não entenda
o que eu fiz. E seu eu pudesse corrigir. Eu...
Por que estou fazendo isso? Eu estou me desculpando
com as suas costas, o homem não tem sequer a decência de
se virar e encarar-me. Eu respiro fundo e endireito a minha
espinha.
— As pessoas cometem erros, Bryan, e parece que o
meu maior erro foi conhecê-lo.
1
Troll – é uma gíria que designa uma pessoa cujo comportamento tende sistematicamente a desestabilizar uma
discussão, provocar e enfurecer as pessoas envolvidas nela. Há trolls de todo tipo, desde o mais ignorante e rude
que xinga e provoca, até o mais apto intelectualmente que discursa com o objetivo de desestabilizar o interlocutor
e levá-lo a fúria, para depois desqualificá-lo, matando seu argumento e abalando sua reputação.
A fúria me inunda quando eu corro pela sala. Eu agarro
a maçaneta da porta e não olho para trás, apesar de sentir
seus olhos em mim. Dane-se ele. Eu vivi coisas piores. Eu
digo essas palavras uma e outra vez, porque aconteceu.
Depois corro pelo corredor, aperto o botão para baixo no
elevador uma e outra vez, perguntando por que eu estou tão
chateada. Depois de um momento, eu sinto o pensamento
picar os meus olhos e apertar a minha garganta e eu sei
exatamente por que estou tão chateada.
É possível que as coisas estejam invertidas, e como eu
não conhecesse o verdadeiro Bryan Ferro, aquele com quem
dormi todos esses anos, era o falso.
CAPÍTULO 2
Eu não posso ir para casa e enfrentar Neil, por isso eu
telefono para Maggie. Ela atende no terceiro toque. Eu estou
andando na rua em frente ao hotel com o meu telefone
pressionado ao meu ouvido. É tarde e escuro. Evitando as
sombras, eu ando mais perto da rua do que no hotel.
— Maggie. — Eu tento esconder a tensão na minha voz,
mas ela ouve. Nós nos conhecemos há muito tempo. — Vou
tirar suas bolas fora.
— O que diabo aconteceu? Onde você está? — Ela me
enche de perguntas, até que eu possa finalmente fazê-la calar
a boca.
— Eu preciso de um lugar para dormir. Eu não posso
ver Neil agora e eu não tenho outro lugar para ir.
Maggie fica em silêncio.
— O que é meu, é seu. Você sabe disso, mas eu não
tenho certeza que você vá gostar.
— Em qualquer lugar é melhor do que aqui ou com Neil.
— Eu sinto uma náusea fazendo seu caminho até a minha
garganta. Lágrimas estão chegando, e tenho a sensação de
que vai ser um maremoto.
— Claro, claro. Eu estarei aí em cinco minutos.
— A linha de Maggie desliga, e eu fecho o meu telefone e
o coloco em minha bolsa.
A cidade se move em torno de mim, mas parece que eu
estou em uma bolha. As pessoas passam na calçada, mas eu
não as noto. Eu passeio, perdida em pensamentos, agarrando
minha bolsa perto do meu corpo. O ar da noite tem aquele
cheiro que é distintamente de Nova York. Eu o inspiro e
quando me viro, quase bato em alguém. O cara é uma
parede, de marrom e preto. Seu casaco tem cheiro de cigarros
velhos e naftalina.
Antes de eu ter tempo para descobrir o que está
acontecendo, ele pega a minha bolsa, em seguida, coloca a
mão no centro do meu peito e me empurra, com força. Eu
grito, tropeço e caio para trás, enquanto minha bolsa é
arrancada de minhas mãos. O cara se vira e está pronto para
correr, mas eu não estou com disposição para perder a bolsa.
Eu estou fodidamente quebrada. Todo o dinheiro que eu
tenho está lá dentro.
Antes que eu saiba o que estou fazendo, eu pego um dos
meus sapatos de salto alto e atiro em sua cabeça. Acerto e ele
cai na calçada. Poucas pessoas param para assistir, mas
ninguém faz nada - típico dos nova-iorquinos. Todo mundo
quer ver, mas ninguém ajuda.
Nesse ponto, tudo acontece em câmera lenta. Eu estou
em pé, mesmo que eu não me lembre de ficar pé. Um pé está
congelado, sobre o cimento frio, enquanto o outro ainda está
calçado. O ladrão levanta a mão e bota na parte de trás de
sua cabeça e puxa-a. Ele olha para os seus dedos, seus olhos
escuros apreciando o sangue vermelho e pegajoso em sua
mão. A ponta do meu salto que bateu com a parte traseira de
seu couro cabeludo, deve tê-lo cortado.
Meu coração para, quando o sujeito se vira para mim.
Seus olhos têm um olhar enlouquecido e os ombros tremem
como se ele fosse me rasgar ao meio.
— Você. — Ele diz isso como se fosse o meu nome e ele
me odeia.
O homem dá passos em direção a mim e fala
novamente, mas suas mãos lentamente movem para cima,
como se ele fosse me atacar ou me estrangular. Eu suspiro
alguma coisa, mas ele não sai antes de eu dar um passo para
trás, aterrorizada. Meu pulso ruge em meus ouvidos, então
olho em volta a procura de ajuda, mas não vejo ninguém. A
multidão se afastou, ou talvez eu tenha ido embora. Onde
está um policial quando eu preciso de um?
O resto acontece freneticamente rápido. Alguém grita
comigo, enquanto o homem procura o meu pescoço. Eu caio,
mas ele pega no meu ombro. Ele aperta-me com força,
fazendo com que o meu pescoço estale para trás enquanto ele
grita na minha cara.
— Sua pequena vadia!
O resto de suas palavras se tornam zumbidos, enquanto
ele me aperta mais. Estou ciente do vento, do ar da noite, e
do homem que está me estrangulando. Em algum momento,
as mãos deslizam até o pescoço. Eu agarro em suas mãos e
tento gritar, mas não sai nada. Eu não entendo por que
ninguém nos vê, por que eles simplesmente deixam esse
ladrão me machucar.
Balançando as minhas pernas, eu o chuto, mas não
adianta. Eu não sou forte o suficiente. Eu tentei tudo o que
sabia fazer e nada funcionou. O homem me atira e bate
minhas costas contra uma parede de tijolos. O frio me sacode
e me pergunto como chegamos ao beco ao lado do hotel, mas
os pensamentos cessam quando vejo o olhar em seus olhos.
Um sorriso mal aparece em seu rosto quando ele rasga o
ombro do meu vestido. O tecido sai em sua mão e permite
que o vestido deslizar alguns centímetros.
Abro a boca para gritar, mas sua mão imunda me cobre,
impedindo a saída do som. Sua mão me tateia, sentindo
meus seios enquanto ele sussurra em meu ouvido todas as
coisas horríveis que ele pretende fazer comigo. — Então, eu
vou levar a minha faca e... — Suas palavras desagradáveis
param imediatamente, após o som do estalar de madeira.
Assim como, de repente, a mão no meu pescoço se foi e
eu suspiro em uma respiração trêmula e olho para cima. Está
muito escuro para ver, mas há um homem vestido de
smoking, avançando sobre o ladrão. Ele lança socos uma e
outra vez, até que eles estão na parte de trás do beco, presos
por uma parede de tijolos. O ladrão é espancado e sangra,
mas ele não para de lutar. Nem o homem de smoking. Ele
distribui socos como um boxeador, tanto assim que é
hipnótico assistir. Quando a faca aparece, eu esperava que as
coisas se transformassem em favor do ladrão, mas isso não
acontece. O homem de smoking desarma o idiota e toma a
arma. Aconteceu tão rápido que eu não posso dizer como foi
feito. O homem de smoking recua seu braço como se
estivesse para empurrar a faca no peito do cara.
— Pare! — Eu chamo antes de perceber o que estou
fazendo. Uma das minhas mãos está segurando meu vestido
no busto e a outra está mal tocando meus lábios. Eu não
posso ver o cara morrer, mas eu não consigo desviar o olhar
também.
O homem de smoking não para. Um grito tremendo sai
dilacerado da minha garganta quando ele bate a faca no
ombro do ladrão. O bandido pega no seu braço e desliza para
baixo da parede, segurando seu ombro enquanto o casaco
fica encharcado de sangue. Ele olha diretamente para mim
com raiva.
O homem de smoking chuta o ladrão uma vez, e uma
voz familiar disse:
— Vá embora.
Eu tremo quando ouço isso, porque eu sei quem é ele,
Bryan. Ele deve ter me seguido. O medo agarra e azeda
dentro do meu estômago, enquanto eu olho para as suas
costas. Bryan não vira o rosto para mim. O ladrão comprime
os lábios e se levanta do chão do beco. Ele faz o seu caminho
passando por mim, e não diz nada.
Um tremor se apodera de mim e escorre pela minha
espinha, me fazendo ofegar. É quando ele se vira. O rosto de
Bryan está pálido e coberto de um brilho fino de suor. Ele
caminha de volta para mim e eu posso ver onde ele tomou
algumas pancadas. Há um rasgo em sua camisa, sob a lapela
do paletó, onde a faca cortou antes Bryan tomá-la do ladrão.
Passo a passo, ele caminha em minha direção, e eu
estou mais assustada por Bryan que qualquer coisa que já
encontrei. O que foi isso? Ele teria matado o homem se eu
não tivesse gritado? Eu não consigo parar de tremer.
Bryan alcança os meus ombros para me firmar, e eu
sinto aquele choque familiar que acompanha o seu toque.
Seu polegar esfrega suavemente sobre minha pele. — Você
está bem?
Mas, é muito. Eu não posso. Eu não posso. Eu não posso.
O pensamento não faz sentido, mas eu sei que tenho que
fazer com que ele me liberte. Seu toque tem uma maneira de
me desfazer, e eu estou caindo aos pedaços. Recuso-me a
deixá-lo ser o único a testemunhar isso. Eu empurro para
longe, e aceno com a cabeça rapidamente.
— Eu estou bem.
As mãos de Bryan permanecem paradas no ar por um
momento, antes de ele abaixa-las junto com seu olhar. Ele
observa o chão por um segundo e quando ele levanta o
queixo, vejo um sorriso nos seus lábios.
— Mentirosa. Você está longe de estar bem, mas eu
estou contente que você esteja parada.
Eu fico olhando para ele, incapaz de encontrar uma
resposta. Sua voz soa carinhosa, quase arrependida. Ele olha
por cima do meu ombro para alguém e, em seguida, diz:
— A sua carona está aqui. Da próxima vez, não tente
derrubar um assaltante por si mesmo.
Eu falo sem querer, mas as palavras saem e caem fora.
— Da próxima vez, não mate um homem por roubar minha
bolsa.
O canto dos lábios de Bryan puxa para cima, como se
quisesse sorrir, mas ele não sorri.
— Eu não iria matar um homem por roubar uma bolsa.
Que tipo de pessoa você acha que eu sou?
— Honestamente, eu não sei mais. Eu achava que sabia,
mas depois disso... — Eu balanço minha cabeça e fico sem
palavras. Bryan mudou o ataque no último segundo. Essa
faca não estava voltada para o ombro do homem — estava
dirigida para o seu coração. — Você ia matá-lo. Eu vi, você
não pode me dizer que não iria.
Bryan se inclina mais perto, e quando ele fala seu hálito
quente sussurra contra a minha orelha.
— Talvez, mas não foi porque ele pegou sua bolsa. — Ele
se inclina para trás e desliza as mãos nos bolsos, enquanto
seus olhos verdes me percorrem. — Ninguém toca em você,
enquanto você está comigo.
— Eu engulo em seco e olho para ele, com o coração
ainda disparando.
Maggie aparece atrás de mim um segundo depois. Ela
pega meu ombro e me vira.
— Hallie, diabo está acontecendo, e por que você está
aqui no beco sozinha? — Ela vê a maneira que eu estou
segurando meu vestido e o tecido rasgado. A preocupação
persiste em seu rosto, esperando pela minha resposta.
— Eu não estou sozinha, — mas quando me viro para
olhar, Bryan já se foi.
CAPÍTULO 3
Eu estive em um casulo de tristeza e este evento o
quebrou. Minha atordoada indiferença fratura e estilhaça,
como vidro barato. Eu olho para a bolsa presa em minha mão
e me pergunto o que há de errado comigo, mas ainda mais,
eu não consigo parar de pensar em Bryan, como ele veio do
nada e quase matou o homem que tentou me machucar.
Pare de pensar assim, eu me repreendo. Bryan agiu
como um lunático. A imagem de Bryan esfaqueando o cara
persiste através dos meus olhos mais uma vez e faz o meu
estômago embrulhar.
Maggie está falando, mas eu não disse muito. Estamos
em seu velho Ford Escort. A coisa corre mal, mas eu não
posso reclamar. Eu nem mesmo tenho um carro, não mais.
Maggie olha para mim por trás do volante, enquanto suas
mãos o seguram com firmeza.
— Hallie, se você estiver com vontade de vomitar, baixe
a janela. Aqui já cheira estranho o suficiente. — Ela está
certa, o carro tem um odor não identificável que está lá desde
que ela comprou.
— Eu estou bem, — eu digo novamente, embora seja
uma mentira. Meus braços envolvem meu peito para
esconder como minhas mãos tremem.
— Ah, Hallie, eu sei que você não quer falar e que está
tudo bem, mas eu quero informa-la sobre a minha nova casa.
— Eu olho para ela, sem entender o que ela quer dizer.
Maggie me dá um sorriso tímido e encolhe os ombros até as
suas orelhas, enquanto dirige. — Vamos apenas dizer que
não é algo que você aprovaria.
Eu não tenho paciência para lidar com seus enigmas
neste momento. A vida de Maggie é mais difícil do que a
minha, e eu sei disso, mas ela nunca tinha escondido coisas
de mim antes. Desta vez, é claro que ela escondeu, e isso me
preocupa. As únicas coisas que eu desaprovo são as que
possam matá-la. A menina não tem nenhum senso. Às vezes
me pergunto sobre ela, e como ela escolhe o que faz. Sorrio
sem jeito e olho para o tapete sujo no chão, que alguma vez
foi azul.
— O que é tão engraçado? — Maggie parece indignada,
como se eu a tivesse ofendido.
— Nada. Vamos apenas dizer que, se você soubesse o
que eu estava fazendo esta noite, você não se sentiria tão na
defensiva. Tenho certeza de que sua casa é boa.
Maggie se tranquiliza. Ela suspira quando vira em uma
rua lateral e começamos a fazer o nosso caminho através de
um bairro degradado. As casas são marcadas e branqueadas
pelo Sol, com gramados mortos, mas os carros são
customizados e caros. Mesmo que seja tarde, as pessoas
movem-se, sem fazer nada. Eu olho para a minha porta,
querendo trancá-la, mas eu não me mexo. Enquanto nós
rodamos passando pelos grupos de pessoas, os olhos deles
viram e nos assistem passar, antes de voltar para o que eles
estavam fazendo.
Maggie finalmente diz: — Não é muito, mas acho que
vale a pena.
— Você não tem que defender o seu apartamento para
mim, Maggie. Eu sou uma maldita sem-teto. — Eu olho para
ela e inclino a cabeça para trás no assento. Minhas palavras
não a consolam, então eu acrescento: — Além disso, eu não
sou uma garota-propaganda da moralidade, também. Você
não vai acreditar no que eu fiz hoje à noite, e o que eu vou
fazer. — Minha voz falha e eu balanço a cabeça, pensando
nos lábios de Bryan. Estou horrorizada por reagir da maneira
como o faço, mesmo que com a memória.
Ela ri uma vez, rapidamente. — Sim, certo. Hallie, você
nunca faz nada de mau. Estúpido, sim. Mau, não.
Eu olho para fora da janela e não vejo nada. As casas
deram lugar a apartamentos que se estendem para o céu na
noite. Fachadas de tijolos já viram dias melhores. Muitos
parecem vazios, como se ninguém vivesse lá, por muitos
anos. Meu peito se aperta e eu me contorço na cadeira. Meu
Deus, ela mora aqui? Por que ela não me contou? Há carros
queimados, latas de lixo viradas e entulho, tudo espalhado
por toda parte. Parece que a rua foi saqueada e esquecida,
assim como Maggie.
Segundas decisões são as que mudam vidas. Eu faço a
minha e cuspo fora antes de me acovardar.
— Bryan Ferro está me chantageando. Se eu não dormir
com ele sempre que ele quiser, vai dizer às pessoas que ele é
o cara no livro e fazer o que for preciso para me arruinar. Ele
disse que ia usar tudo o que tem contra mim e me deu um
ultimato.
Os grandes olhos de Maggie viram em minha direção,
com o queixo caído e boca aberta.
— Puta merda! Quando isso aconteceu? Como você vai
detê-lo? — Ela pisca para mim e vira os olhos de volta para a
estrada, embora eu saiba que ela não quer.
Esta é a parte que me faz sentir um lixo. Eu não sou
quem ela pensa que eu sou. Eu não tenho uma estrutura
moral de aço. Eu não posso nem olhar para ela.
— Esta noite eu acabei fazendo o anúncio do prêmio no
show com ele, e então ele me encontrou no banquete. — Eu
digo. Eu tento fazer a minha boca mover-se para formar as
palavras, mas não vão sair.
— De jeito nenhum. — Ela estaciona em um parque de
estacionamento que parece que foi usado como um local de
explosão da força aérea e desliga o carro. — Pegue suas
coisas e tranque a porta. — Eu faço como ela diz e me
apresso atrás dela. — Mantenha seus olhos baixos e me siga.
Não fale ou olhe para ninguém.
Entramos no lado de um desses prédios de tijolos
antigos e subimos alguns lances de escadas, até o quarto
andar. No momento que chegamos ao seu andar, eu quero
jogar o resto do meu sapato para fora da janela. Eu poderia,
não há vidro no painel. Eu a sigo, até a porta e por um longo
corredor mal iluminado. Nós paramos em frente à sua porta.
Enquanto ela se atrapalha com a chave, a porta contrária à
dela se abre. Um homem pálido, com cabelo loiro descolorido
e vestindo uma camiseta regata branca e cueca está lá e olha
para nós. Eu posso sentir seus olhos nas minhas costas. Ele
se inclina contra o batente da porta e cruza os braços sobre o
peito.
Quando ele fala, soa rouco, como se ele fumasse um
maço de cigarros todos os dias desde que ele tinha dois anos
de idade. — Trouxe-me outra?
— Não, — Maggie diz com firmeza. Ela não se vira para
olhar para o cara. Se eu não a conhecesse melhor, eu acharia
que ela estava com medo dele. Eu não aguento mais stress
esta noite. Meu cérebro parece que vai partir em dois, antes
que eu murche e morra. Maggie pega a chave para abrir, mas
porta emperra. Ela chuta uma vez com o pé e a porta mexe
ligeiramente. — Maldita porta, — ela murmura.
— Qual é o seu nome, docinho? — O cara está falando
comigo. Viro-me e olho por cima do ombro, e nossos olhos se
encontram. Ele envia um olhar frio para mim, ao ver o jeito
como ele está olhando de soslaio. O cara é enorme, ele é todo
músculos e agora ele está sorrindo para mim, revelando uma
coroa de ouro em seu dente canino.
— Oi, — eu digo timidamente, e arrumo o meu cabelo
para atrás da minha orelha, tentando evitar o olhar dele
enquanto não respondo sua pergunta.
Enquanto o cara está de boca aberta, Maggie chuta na
porta. A porta se abre, ela agarra meu braço e me puxa. Eu
sigo, voando atrás dela enquanto ela grita por cima do ombro,
— eu vou lhe trazer alguém amanhã, eu juro. Boa noite, Vic.
— Ela bate a porta com o pé e parece abalada.
Seu apartamento é aproximadamente o mesmo tamanho
de um pequeno corredor. Há uma pequena janela com uma
folha grampeada sobre ela e sem móveis. Algumas das roupas
de Maggie estão jogadas ao redor do lugar, como se ela
tivesse saído com pressa. Se eu morasse aqui, eu iria embora
rapidamente, também.
— Obrigado por me deixar ficar com você.
— Sim, não há problema. É uma merda como este é o
pior lugar que eu já vivi, mas é um refúgio. Eu durmo aqui e,
em seguida, dou o fora. O aluguel não é horrível. — Ela
oferece um sorriso torto, mas é franco.
Eu preciso dela, e não há um muro entre nós. Ela acha
que eu sou perfeita, mas eu não sou. Eu fiz coisas que ela
não sabe. As palavras estão na minha língua e eu enrolo-as
em torno de minha boca, tentando descobrir como dizer isso,
enquanto a Maggie tagarela, enchendo o ambiente com sua
voz.
Um casal está brigando nas proximidades, e o som está
cada vez mais alto. Estão lutando, eu não quero dizer
discutindo. Há coisas batendo nas paredes e quebrando.
Chove gesso para baixo sobre nós como flocos de neve
quando algo cai de cima. Maggie olha horrorizada quando ela
puxa sua cama Murphy 2 para baixo da parede. Tomando
quase toda a sala. — Você pode dormir aqui. Eu vou dormir
no chão.
— Não.
Ela sorri. — Não seja boba, você é minha convidada. —
Palavrões ressoam acima de nós quando um homem irritado
grita. É prontamente seguido de um grito agudo. Maggie
morde as unhas do jeito que ela fazia quando éramos
crianças e olha em volta, como se ela desejasse poder
queimar o lugar.
2
— Eu não vou fazer você dormir no chão, mas há outra
coisa que eu preciso lhe dizer.
— Maggie olha para mim por debaixo de sua massa de
cabelo vermelho. Eu sou sua única amiga de verdade, sua
única família e ela a minha. Deus, o que é que ela vai pensar
de mim quando eu lhe disser o que eu concordei em fazer?
Eu não acho que eu vou ser capaz de suportá-lo. Meus
braços ainda estão dobrados sobre o peito, com as mãos
firmemente aninhadas nos meus braços.
— Hallie, qual o problema? — Maggie deixa de fazer a
cama e se senta. Ela dá um tapinha no lugar ao lado dela e
me sento.
Olhando para frente, eu engulo em seco e digo a ela.
— Eu disse que sim. — Você disse sim para o quê?
Hallie, você não está fazendo sentido, do que você está
falando?
Quando me viro para olhar para ela, e encontro com
aqueles grandes olhos verdes e sinto medo. Minha pele fica
arrepiada, mas eu não consigo desviar o olhar.
— Eu disse a Bryan Ferro que sim. Eu cedi. Ele ganhou
e eu perdi.
— O quê? — Ela está furiosa, pronta para voar para fora
do seu assento e defender-me até a morte.
Eu coloco minha mão no colo dela para fazê-la parar. —
Eu fui ao seu quarto de hotel para dizer-lhe para ir chupar
um prego, mas eu mudei de ideia quando ouvi sua voz. Eu
pensei que algo estava errado e esta era a sua maneira de
merda para me dizer. Conheci-o uma vez, pelo menos eu
pensei que tinha conhecido. Então, quando eu estava
esperando por você do lado de fora, eu... — minha voz está
trêmula e eu não posso mais esconder o meu horror, — um
cara tentou roubar minha bolsa. Para encurtar a história, ele
me pegou por trás do prédio e ia me machucar. Bryan
apareceu e ele... — Eu não posso dizer isso. Meu Bryan
perfeito fez algo que era tão diferente dele, tão terrivelmente
selvagem, que eu não sei o que pensar. Ele me protegeu, mas
ainda parece errado.
— Ele a machucou? — Maggie está furiosa, eu posso
ouvir em sua voz. Mas a forma como ela fala suas palavras
ondulando entre muito alta e baixa, dão a deixa.
— Não, ele atacou o homem, e esfaqueou-o. Se eu não
dissesse a Bryan para parar, acho que ele teria matado o
cara. — Olho para ela, mas eu não posso mais enxergar.
Meus olhos têm brilham com lágrimas que tudo fica
desfocado.
Maggie ergue os braços e eu caio neles. Ela sempre foi
como uma irmã para mim. Estivemos sempre uma para a
outra, e eu temo que a história com Bryan e o que eu me
tornei vá fazê-la me odiar. Meu pai teria vergonha de me
chamar de filha, e eu espero o mesmo de Maggie. Em vez
disso, ela fica lá no colchão gasto e me acalma.
Depois de um forte abraço, ela libera meus ombros e
pega meu queixo. — Você e eu passamos por tudo juntas.
Não pense que eu a estou socorrendo por causa disso. Se não
for por qualquer coisa, a vida fica mais interessante, isso é
tudo.
Eu enxugo as lágrimas dos meus olhos e rio, porque ela
está tão errada. — Esse é o eufemismo do ano.
— O meu ponto é, eu estou aqui por você. Eu sempre
estarei aqui para você. — Ela bate no meu ombro com a dela.
— Então, Bryan Ferro tem um lado negro por trás de todo o
brilho e deslumbre?
— Aparentemente.
— Foi divertido ou ele fez coisas estranhas?
Eu sorrio e limpo meus olhos novamente. — Não, não
hoje à noite de qualquer maneira. Ele me chamou para seu
quarto, eu fui, e nos beijamos. Então, ele me mandou ir
embora.
Os lábios de Maggie puxaram um pouco para cima. —
Ele a jogou para fora? Mas que inferno...?
— Eu não sei. É como se ele estivesse louco e deixando o
Hulk sair ou algo assim. Ele não olhava para mim. As coisas
estavam quentes e pesadas até então. — A intuição continua
me dizendo que algo estava errado, mas não posso entender o
quê.
Maggie sorri: — Ele foi melhor do que Neil, certo?
Eu faço uma careta e olhou para ela como se ela fosse
louca. — Uh, Bryan está me chantageando.
— E ele é mais quente do que Neil. Vá em frente, diga.
Eu sou sua amiga, então eu já sei.
Eu baixei meus olhos em direção ao chão e não disse
nada. Eu não tenho que dizer nada, a minha expressão diz
tudo. Bryan é muito mais quente do que Neil, não há
comparação. Os dois homens são noite e dia, e Bryan é a
noite sexy. Neil a voz racional que soa como o FDA 3,
lembrando-me de fazer todas as coisas com moderação, mas
não todas as coisas, somente as ações que ele aprova. Droga.
Eu enterro meu rosto em minhas mãos e suspiro.
Maggie acaricia minhas costas. — Está tudo bem.
Qualquer um é mais quente do que Neil. Não se sinta
culpada, mas eu não contaria exatamente ao Senhor Calças
Perfeitamente Passadas. Ele vai surtar ao saber que alguém
tocou em você. — Maggie está tirando as roupas e puxando
uma camisa de dormir e calças, enquanto ela fala.
— Na verdade, Neil sabe.
3 FDA - Food and Drug Administration - Agencia reguladora de remédios e alimentos.
— O quê? — Ela está pulando em um pé, tentando
enfiar o pé pela perna da calça e cai. — Como é que ele sabe?
Você disse que acabou de acontecer.
— Neil sabe por que foi ele quem me disse para fazer
isso.
CONTINUA
Bryan está de queixo caído e boca aberta, com aqueles olhos verdes semicerrados, em chamas. Fúria e choque não parecem bons para ele. As emoções distorcem seu belo rosto,
estragam as linhas suaves de sua pele, fazendo-o parecer bem mais velho. Seus punhos estão fechados, apertados em seus lados, mas ele pisca uma vez e a reação diminui. Há muitas coisas que eu não sei sobre Bryan Ferro, mas uma coisa eu sei, ele é uma merda em manter as coisas escondidas. Seus pensamentos dançam em seu rosto de vez em quando, e é por isso que ele está desconfiado de mim.
Virando abruptamente, Bryan pressiona seus dedos em sua têmpora direita. Sua voz sai como um grunhido.
— Eu lhe disse para ir embora.
— Seus ombros estão tensos, cada músculo está apertado a ponto de eu poder ver as curvas de seu corpo sob essa camisa. Ele flexiona a mão que está ao seu lado antes de deslizar em seu bolso. Bryan pode ser capaz de esconder tudo, de todos os outros, mas não de mim.
— Sim, eu ouvi essa parte. — Eu ajo como se eu não me importasse, deito-me no tapete, e dobro as minhas mãos atrás da minha cabeça. O piso é suave e difuso. Levanto os meus joelhos, eu deixo a queda do meu vestido em torno dos meus tornozelos e até meus pés, para sentir a pilha macia entre os dedos dos pés. O tapete no meu antigo quarto parecia como um saco de batata, em relação a este material.
Mesmo com Bryan irado, eu estou sorrindo. A vozinha na parte de trás da minha cabeça me diz que eu perdi minha mente. Eu respondo de volta que eu nunca tive um controle firme sobre isso de qualquer maneira.
https://img.comunidades.net/bib/bibliotecasemlimites/2_A_PROPOSI_O.jpg
Bryan pode ver meu reflexo no espelho, mas eu não
posso ver mais do que as suas costas e a maneira como ele
agarra sua cabeça como se fosse explodir. Ele está furioso
comigo? Não consigo entender sua raiva, mas transborda
para fora de sua boca de novo, espetando como espinhos,
neste momento.
— Se você não consegue entender os termos deste
acordo, então eu temo que nós não tenhamos um.
— O quê? — Sento-me e giro em torno, de modo que
estou de frente para as suas costas.
Bryan se vira, e a tensão que está estampada no seu
rosto é horrível. Eu encontro o seu olhar, mas eu não posso
olha-lo sem querer corrigir o que está fazendo com ele. Todas
as imagens na imprensa mostram a versão de Bryan que eu
conhecia, leve e despreocupado, mas este homem, aqui, não é
nenhuma dessas coisas. Algo está esmagando-o de dentro
para fora e deixando-o em pedaços. Seu corpo está tremendo,
ele está tão bravo. Ele tenta respirar fundo, mas isso só faz o
seu rosto ficar mais apertado.
— Você me ouviu. Se você não fizer as coisas do meu
jeito, eu vou arruinar você. Este não é o meu jeito, você sabe
muito bem disso. Saia daqui.
Ele não grita, mas suas palavras me fazem tremer. Não
há calor, não há compaixão. Talvez eu não o conheça mais e
ele está certo. Apertando os lábios, eu engulo minha resposta,
mas esta incha dentro de mim e enche meu peito. Eu peguei
meus sapatos saltos de volta e calcei em meus pés cansados
antes de levantar. Eu ando mais e pego minha bolsa.
Eu deveria sair. A vozinha dentro de mim canta como
um duende com uma voz agradável, sim, vá. Faça isso.
Agora.
Meus olhos estão fixos na porta como se fosse o
caminho para o inferno. Algo sobre sair agora parece errado,
mas não posso entender sobre o que está prendendo meus
pés no lugar. Caramba, é o pensamento que está me
segurando. Ele está me prendendo aqui e eu não posso me
mover. Parece como engolir o vômito e eu não posso fazê-lo.
Eu sou o cérebro danificado, mas não posso ser algo que não sou.
Girando sobre meus pés, eu atravesso o piso acarpetado
e elegante, e caminho até ele. Bryan não se vira para olhar
para mim. Em vez disso, suas mãos estão segurando a parte
superior do bar como se ele quisesse arrancá-lo da parede.
Suas costas estão curvadas e sua cabeça está pendurada
entre os ombros, como se ele estivesse tentando não me
rasgar em pedaços. Outra mulher teria corrido agora mesmo,
mas eu sou a dopada que anda mais perto.
— Eu sou uma idiota, — eu digo, enquanto olho para os
meus sapatos, e rio de leve. É o tipo de som que não tem
alegria e revela uma alma torturada. Meus olhos levantam
para seus ombros. Eu fico lá por um momento esperando que
ele se vire, mas ele não vira. Bryan não fala ou levanta o
olhar. Ele permanece debruçado sobre o bar como um troll 1.
Eu continuo, — vê-lo hoje à noite foi terrível e
maravilhoso. Isso evocou memórias e sentimentos que eu
tinha tempo esquecido há muito. Escrever sobre, é uma
coisa, mas vê-lo novamente está além das palavras.
Desculpe-me se eu o machuquei, mesmo que eu não entenda
o que eu fiz. E seu eu pudesse corrigir. Eu...
Por que estou fazendo isso? Eu estou me desculpando
com as suas costas, o homem não tem sequer a decência de
se virar e encarar-me. Eu respiro fundo e endireito a minha
espinha.
— As pessoas cometem erros, Bryan, e parece que o
meu maior erro foi conhecê-lo.
1
Troll – é uma gíria que designa uma pessoa cujo comportamento tende sistematicamente a desestabilizar uma
discussão, provocar e enfurecer as pessoas envolvidas nela. Há trolls de todo tipo, desde o mais ignorante e rude
que xinga e provoca, até o mais apto intelectualmente que discursa com o objetivo de desestabilizar o interlocutor
e levá-lo a fúria, para depois desqualificá-lo, matando seu argumento e abalando sua reputação.
A fúria me inunda quando eu corro pela sala. Eu agarro
a maçaneta da porta e não olho para trás, apesar de sentir
seus olhos em mim. Dane-se ele. Eu vivi coisas piores. Eu
digo essas palavras uma e outra vez, porque aconteceu.
Depois corro pelo corredor, aperto o botão para baixo no
elevador uma e outra vez, perguntando por que eu estou tão
chateada. Depois de um momento, eu sinto o pensamento
picar os meus olhos e apertar a minha garganta e eu sei
exatamente por que estou tão chateada.
É possível que as coisas estejam invertidas, e como eu
não conhecesse o verdadeiro Bryan Ferro, aquele com quem
dormi todos esses anos, era o falso.
CAPÍTULO 2
Eu não posso ir para casa e enfrentar Neil, por isso eu
telefono para Maggie. Ela atende no terceiro toque. Eu estou
andando na rua em frente ao hotel com o meu telefone
pressionado ao meu ouvido. É tarde e escuro. Evitando as
sombras, eu ando mais perto da rua do que no hotel.
— Maggie. — Eu tento esconder a tensão na minha voz,
mas ela ouve. Nós nos conhecemos há muito tempo. — Vou
tirar suas bolas fora.
— O que diabo aconteceu? Onde você está? — Ela me
enche de perguntas, até que eu possa finalmente fazê-la calar
a boca.
— Eu preciso de um lugar para dormir. Eu não posso
ver Neil agora e eu não tenho outro lugar para ir.
Maggie fica em silêncio.
— O que é meu, é seu. Você sabe disso, mas eu não
tenho certeza que você vá gostar.
— Em qualquer lugar é melhor do que aqui ou com Neil.
— Eu sinto uma náusea fazendo seu caminho até a minha
garganta. Lágrimas estão chegando, e tenho a sensação de
que vai ser um maremoto.
— Claro, claro. Eu estarei aí em cinco minutos.
— A linha de Maggie desliga, e eu fecho o meu telefone e
o coloco em minha bolsa.
A cidade se move em torno de mim, mas parece que eu
estou em uma bolha. As pessoas passam na calçada, mas eu
não as noto. Eu passeio, perdida em pensamentos, agarrando
minha bolsa perto do meu corpo. O ar da noite tem aquele
cheiro que é distintamente de Nova York. Eu o inspiro e
quando me viro, quase bato em alguém. O cara é uma
parede, de marrom e preto. Seu casaco tem cheiro de cigarros
velhos e naftalina.
Antes de eu ter tempo para descobrir o que está
acontecendo, ele pega a minha bolsa, em seguida, coloca a
mão no centro do meu peito e me empurra, com força. Eu
grito, tropeço e caio para trás, enquanto minha bolsa é
arrancada de minhas mãos. O cara se vira e está pronto para
correr, mas eu não estou com disposição para perder a bolsa.
Eu estou fodidamente quebrada. Todo o dinheiro que eu
tenho está lá dentro.
Antes que eu saiba o que estou fazendo, eu pego um dos
meus sapatos de salto alto e atiro em sua cabeça. Acerto e ele
cai na calçada. Poucas pessoas param para assistir, mas
ninguém faz nada - típico dos nova-iorquinos. Todo mundo
quer ver, mas ninguém ajuda.
Nesse ponto, tudo acontece em câmera lenta. Eu estou
em pé, mesmo que eu não me lembre de ficar pé. Um pé está
congelado, sobre o cimento frio, enquanto o outro ainda está
calçado. O ladrão levanta a mão e bota na parte de trás de
sua cabeça e puxa-a. Ele olha para os seus dedos, seus olhos
escuros apreciando o sangue vermelho e pegajoso em sua
mão. A ponta do meu salto que bateu com a parte traseira de
seu couro cabeludo, deve tê-lo cortado.
Meu coração para, quando o sujeito se vira para mim.
Seus olhos têm um olhar enlouquecido e os ombros tremem
como se ele fosse me rasgar ao meio.
— Você. — Ele diz isso como se fosse o meu nome e ele
me odeia.
O homem dá passos em direção a mim e fala
novamente, mas suas mãos lentamente movem para cima,
como se ele fosse me atacar ou me estrangular. Eu suspiro
alguma coisa, mas ele não sai antes de eu dar um passo para
trás, aterrorizada. Meu pulso ruge em meus ouvidos, então
olho em volta a procura de ajuda, mas não vejo ninguém. A
multidão se afastou, ou talvez eu tenha ido embora. Onde
está um policial quando eu preciso de um?
O resto acontece freneticamente rápido. Alguém grita
comigo, enquanto o homem procura o meu pescoço. Eu caio,
mas ele pega no meu ombro. Ele aperta-me com força,
fazendo com que o meu pescoço estale para trás enquanto ele
grita na minha cara.
— Sua pequena vadia!
O resto de suas palavras se tornam zumbidos, enquanto
ele me aperta mais. Estou ciente do vento, do ar da noite, e
do homem que está me estrangulando. Em algum momento,
as mãos deslizam até o pescoço. Eu agarro em suas mãos e
tento gritar, mas não sai nada. Eu não entendo por que
ninguém nos vê, por que eles simplesmente deixam esse
ladrão me machucar.
Balançando as minhas pernas, eu o chuto, mas não
adianta. Eu não sou forte o suficiente. Eu tentei tudo o que
sabia fazer e nada funcionou. O homem me atira e bate
minhas costas contra uma parede de tijolos. O frio me sacode
e me pergunto como chegamos ao beco ao lado do hotel, mas
os pensamentos cessam quando vejo o olhar em seus olhos.
Um sorriso mal aparece em seu rosto quando ele rasga o
ombro do meu vestido. O tecido sai em sua mão e permite
que o vestido deslizar alguns centímetros.
Abro a boca para gritar, mas sua mão imunda me cobre,
impedindo a saída do som. Sua mão me tateia, sentindo
meus seios enquanto ele sussurra em meu ouvido todas as
coisas horríveis que ele pretende fazer comigo. — Então, eu
vou levar a minha faca e... — Suas palavras desagradáveis
param imediatamente, após o som do estalar de madeira.
Assim como, de repente, a mão no meu pescoço se foi e
eu suspiro em uma respiração trêmula e olho para cima. Está
muito escuro para ver, mas há um homem vestido de
smoking, avançando sobre o ladrão. Ele lança socos uma e
outra vez, até que eles estão na parte de trás do beco, presos
por uma parede de tijolos. O ladrão é espancado e sangra,
mas ele não para de lutar. Nem o homem de smoking. Ele
distribui socos como um boxeador, tanto assim que é
hipnótico assistir. Quando a faca aparece, eu esperava que as
coisas se transformassem em favor do ladrão, mas isso não
acontece. O homem de smoking desarma o idiota e toma a
arma. Aconteceu tão rápido que eu não posso dizer como foi
feito. O homem de smoking recua seu braço como se
estivesse para empurrar a faca no peito do cara.
— Pare! — Eu chamo antes de perceber o que estou
fazendo. Uma das minhas mãos está segurando meu vestido
no busto e a outra está mal tocando meus lábios. Eu não
posso ver o cara morrer, mas eu não consigo desviar o olhar
também.
O homem de smoking não para. Um grito tremendo sai
dilacerado da minha garganta quando ele bate a faca no
ombro do ladrão. O bandido pega no seu braço e desliza para
baixo da parede, segurando seu ombro enquanto o casaco
fica encharcado de sangue. Ele olha diretamente para mim
com raiva.
O homem de smoking chuta o ladrão uma vez, e uma
voz familiar disse:
— Vá embora.
Eu tremo quando ouço isso, porque eu sei quem é ele,
Bryan. Ele deve ter me seguido. O medo agarra e azeda
dentro do meu estômago, enquanto eu olho para as suas
costas. Bryan não vira o rosto para mim. O ladrão comprime
os lábios e se levanta do chão do beco. Ele faz o seu caminho
passando por mim, e não diz nada.
Um tremor se apodera de mim e escorre pela minha
espinha, me fazendo ofegar. É quando ele se vira. O rosto de
Bryan está pálido e coberto de um brilho fino de suor. Ele
caminha de volta para mim e eu posso ver onde ele tomou
algumas pancadas. Há um rasgo em sua camisa, sob a lapela
do paletó, onde a faca cortou antes Bryan tomá-la do ladrão.
Passo a passo, ele caminha em minha direção, e eu
estou mais assustada por Bryan que qualquer coisa que já
encontrei. O que foi isso? Ele teria matado o homem se eu
não tivesse gritado? Eu não consigo parar de tremer.
Bryan alcança os meus ombros para me firmar, e eu
sinto aquele choque familiar que acompanha o seu toque.
Seu polegar esfrega suavemente sobre minha pele. — Você
está bem?
Mas, é muito. Eu não posso. Eu não posso. Eu não posso.
O pensamento não faz sentido, mas eu sei que tenho que
fazer com que ele me liberte. Seu toque tem uma maneira de
me desfazer, e eu estou caindo aos pedaços. Recuso-me a
deixá-lo ser o único a testemunhar isso. Eu empurro para
longe, e aceno com a cabeça rapidamente.
— Eu estou bem.
As mãos de Bryan permanecem paradas no ar por um
momento, antes de ele abaixa-las junto com seu olhar. Ele
observa o chão por um segundo e quando ele levanta o
queixo, vejo um sorriso nos seus lábios.
— Mentirosa. Você está longe de estar bem, mas eu
estou contente que você esteja parada.
Eu fico olhando para ele, incapaz de encontrar uma
resposta. Sua voz soa carinhosa, quase arrependida. Ele olha
por cima do meu ombro para alguém e, em seguida, diz:
— A sua carona está aqui. Da próxima vez, não tente
derrubar um assaltante por si mesmo.
Eu falo sem querer, mas as palavras saem e caem fora.
— Da próxima vez, não mate um homem por roubar minha
bolsa.
O canto dos lábios de Bryan puxa para cima, como se
quisesse sorrir, mas ele não sorri.
— Eu não iria matar um homem por roubar uma bolsa.
Que tipo de pessoa você acha que eu sou?
— Honestamente, eu não sei mais. Eu achava que sabia,
mas depois disso... — Eu balanço minha cabeça e fico sem
palavras. Bryan mudou o ataque no último segundo. Essa
faca não estava voltada para o ombro do homem — estava
dirigida para o seu coração. — Você ia matá-lo. Eu vi, você
não pode me dizer que não iria.
Bryan se inclina mais perto, e quando ele fala seu hálito
quente sussurra contra a minha orelha.
— Talvez, mas não foi porque ele pegou sua bolsa. — Ele
se inclina para trás e desliza as mãos nos bolsos, enquanto
seus olhos verdes me percorrem. — Ninguém toca em você,
enquanto você está comigo.
— Eu engulo em seco e olho para ele, com o coração
ainda disparando.
Maggie aparece atrás de mim um segundo depois. Ela
pega meu ombro e me vira.
— Hallie, diabo está acontecendo, e por que você está
aqui no beco sozinha? — Ela vê a maneira que eu estou
segurando meu vestido e o tecido rasgado. A preocupação
persiste em seu rosto, esperando pela minha resposta.
— Eu não estou sozinha, — mas quando me viro para
olhar, Bryan já se foi.
CAPÍTULO 3
Eu estive em um casulo de tristeza e este evento o
quebrou. Minha atordoada indiferença fratura e estilhaça,
como vidro barato. Eu olho para a bolsa presa em minha mão
e me pergunto o que há de errado comigo, mas ainda mais,
eu não consigo parar de pensar em Bryan, como ele veio do
nada e quase matou o homem que tentou me machucar.
Pare de pensar assim, eu me repreendo. Bryan agiu
como um lunático. A imagem de Bryan esfaqueando o cara
persiste através dos meus olhos mais uma vez e faz o meu
estômago embrulhar.
Maggie está falando, mas eu não disse muito. Estamos
em seu velho Ford Escort. A coisa corre mal, mas eu não
posso reclamar. Eu nem mesmo tenho um carro, não mais.
Maggie olha para mim por trás do volante, enquanto suas
mãos o seguram com firmeza.
— Hallie, se você estiver com vontade de vomitar, baixe
a janela. Aqui já cheira estranho o suficiente. — Ela está
certa, o carro tem um odor não identificável que está lá desde
que ela comprou.
— Eu estou bem, — eu digo novamente, embora seja
uma mentira. Meus braços envolvem meu peito para
esconder como minhas mãos tremem.
— Ah, Hallie, eu sei que você não quer falar e que está
tudo bem, mas eu quero informa-la sobre a minha nova casa.
— Eu olho para ela, sem entender o que ela quer dizer.
Maggie me dá um sorriso tímido e encolhe os ombros até as
suas orelhas, enquanto dirige. — Vamos apenas dizer que
não é algo que você aprovaria.
Eu não tenho paciência para lidar com seus enigmas
neste momento. A vida de Maggie é mais difícil do que a
minha, e eu sei disso, mas ela nunca tinha escondido coisas
de mim antes. Desta vez, é claro que ela escondeu, e isso me
preocupa. As únicas coisas que eu desaprovo são as que
possam matá-la. A menina não tem nenhum senso. Às vezes
me pergunto sobre ela, e como ela escolhe o que faz. Sorrio
sem jeito e olho para o tapete sujo no chão, que alguma vez
foi azul.
— O que é tão engraçado? — Maggie parece indignada,
como se eu a tivesse ofendido.
— Nada. Vamos apenas dizer que, se você soubesse o
que eu estava fazendo esta noite, você não se sentiria tão na
defensiva. Tenho certeza de que sua casa é boa.
Maggie se tranquiliza. Ela suspira quando vira em uma
rua lateral e começamos a fazer o nosso caminho através de
um bairro degradado. As casas são marcadas e branqueadas
pelo Sol, com gramados mortos, mas os carros são
customizados e caros. Mesmo que seja tarde, as pessoas
movem-se, sem fazer nada. Eu olho para a minha porta,
querendo trancá-la, mas eu não me mexo. Enquanto nós
rodamos passando pelos grupos de pessoas, os olhos deles
viram e nos assistem passar, antes de voltar para o que eles
estavam fazendo.
Maggie finalmente diz: — Não é muito, mas acho que
vale a pena.
— Você não tem que defender o seu apartamento para
mim, Maggie. Eu sou uma maldita sem-teto. — Eu olho para
ela e inclino a cabeça para trás no assento. Minhas palavras
não a consolam, então eu acrescento: — Além disso, eu não
sou uma garota-propaganda da moralidade, também. Você
não vai acreditar no que eu fiz hoje à noite, e o que eu vou
fazer. — Minha voz falha e eu balanço a cabeça, pensando
nos lábios de Bryan. Estou horrorizada por reagir da maneira
como o faço, mesmo que com a memória.
Ela ri uma vez, rapidamente. — Sim, certo. Hallie, você
nunca faz nada de mau. Estúpido, sim. Mau, não.
Eu olho para fora da janela e não vejo nada. As casas
deram lugar a apartamentos que se estendem para o céu na
noite. Fachadas de tijolos já viram dias melhores. Muitos
parecem vazios, como se ninguém vivesse lá, por muitos
anos. Meu peito se aperta e eu me contorço na cadeira. Meu
Deus, ela mora aqui? Por que ela não me contou? Há carros
queimados, latas de lixo viradas e entulho, tudo espalhado
por toda parte. Parece que a rua foi saqueada e esquecida,
assim como Maggie.
Segundas decisões são as que mudam vidas. Eu faço a
minha e cuspo fora antes de me acovardar.
— Bryan Ferro está me chantageando. Se eu não dormir
com ele sempre que ele quiser, vai dizer às pessoas que ele é
o cara no livro e fazer o que for preciso para me arruinar. Ele
disse que ia usar tudo o que tem contra mim e me deu um
ultimato.
Os grandes olhos de Maggie viram em minha direção,
com o queixo caído e boca aberta.
— Puta merda! Quando isso aconteceu? Como você vai
detê-lo? — Ela pisca para mim e vira os olhos de volta para a
estrada, embora eu saiba que ela não quer.
Esta é a parte que me faz sentir um lixo. Eu não sou
quem ela pensa que eu sou. Eu não tenho uma estrutura
moral de aço. Eu não posso nem olhar para ela.
— Esta noite eu acabei fazendo o anúncio do prêmio no
show com ele, e então ele me encontrou no banquete. — Eu
digo. Eu tento fazer a minha boca mover-se para formar as
palavras, mas não vão sair.
— De jeito nenhum. — Ela estaciona em um parque de
estacionamento que parece que foi usado como um local de
explosão da força aérea e desliga o carro. — Pegue suas
coisas e tranque a porta. — Eu faço como ela diz e me
apresso atrás dela. — Mantenha seus olhos baixos e me siga.
Não fale ou olhe para ninguém.
Entramos no lado de um desses prédios de tijolos
antigos e subimos alguns lances de escadas, até o quarto
andar. No momento que chegamos ao seu andar, eu quero
jogar o resto do meu sapato para fora da janela. Eu poderia,
não há vidro no painel. Eu a sigo, até a porta e por um longo
corredor mal iluminado. Nós paramos em frente à sua porta.
Enquanto ela se atrapalha com a chave, a porta contrária à
dela se abre. Um homem pálido, com cabelo loiro descolorido
e vestindo uma camiseta regata branca e cueca está lá e olha
para nós. Eu posso sentir seus olhos nas minhas costas. Ele
se inclina contra o batente da porta e cruza os braços sobre o
peito.
Quando ele fala, soa rouco, como se ele fumasse um
maço de cigarros todos os dias desde que ele tinha dois anos
de idade. — Trouxe-me outra?
— Não, — Maggie diz com firmeza. Ela não se vira para
olhar para o cara. Se eu não a conhecesse melhor, eu acharia
que ela estava com medo dele. Eu não aguento mais stress
esta noite. Meu cérebro parece que vai partir em dois, antes
que eu murche e morra. Maggie pega a chave para abrir, mas
porta emperra. Ela chuta uma vez com o pé e a porta mexe
ligeiramente. — Maldita porta, — ela murmura.
— Qual é o seu nome, docinho? — O cara está falando
comigo. Viro-me e olho por cima do ombro, e nossos olhos se
encontram. Ele envia um olhar frio para mim, ao ver o jeito
como ele está olhando de soslaio. O cara é enorme, ele é todo
músculos e agora ele está sorrindo para mim, revelando uma
coroa de ouro em seu dente canino.
— Oi, — eu digo timidamente, e arrumo o meu cabelo
para atrás da minha orelha, tentando evitar o olhar dele
enquanto não respondo sua pergunta.
Enquanto o cara está de boca aberta, Maggie chuta na
porta. A porta se abre, ela agarra meu braço e me puxa. Eu
sigo, voando atrás dela enquanto ela grita por cima do ombro,
— eu vou lhe trazer alguém amanhã, eu juro. Boa noite, Vic.
— Ela bate a porta com o pé e parece abalada.
Seu apartamento é aproximadamente o mesmo tamanho
de um pequeno corredor. Há uma pequena janela com uma
folha grampeada sobre ela e sem móveis. Algumas das roupas
de Maggie estão jogadas ao redor do lugar, como se ela
tivesse saído com pressa. Se eu morasse aqui, eu iria embora
rapidamente, também.
— Obrigado por me deixar ficar com você.
— Sim, não há problema. É uma merda como este é o
pior lugar que eu já vivi, mas é um refúgio. Eu durmo aqui e,
em seguida, dou o fora. O aluguel não é horrível. — Ela
oferece um sorriso torto, mas é franco.
Eu preciso dela, e não há um muro entre nós. Ela acha
que eu sou perfeita, mas eu não sou. Eu fiz coisas que ela
não sabe. As palavras estão na minha língua e eu enrolo-as
em torno de minha boca, tentando descobrir como dizer isso,
enquanto a Maggie tagarela, enchendo o ambiente com sua
voz.
Um casal está brigando nas proximidades, e o som está
cada vez mais alto. Estão lutando, eu não quero dizer
discutindo. Há coisas batendo nas paredes e quebrando.
Chove gesso para baixo sobre nós como flocos de neve
quando algo cai de cima. Maggie olha horrorizada quando ela
puxa sua cama Murphy 2 para baixo da parede. Tomando
quase toda a sala. — Você pode dormir aqui. Eu vou dormir
no chão.
— Não.
Ela sorri. — Não seja boba, você é minha convidada. —
Palavrões ressoam acima de nós quando um homem irritado
grita. É prontamente seguido de um grito agudo. Maggie
morde as unhas do jeito que ela fazia quando éramos
crianças e olha em volta, como se ela desejasse poder
queimar o lugar.
2
— Eu não vou fazer você dormir no chão, mas há outra
coisa que eu preciso lhe dizer.
— Maggie olha para mim por debaixo de sua massa de
cabelo vermelho. Eu sou sua única amiga de verdade, sua
única família e ela a minha. Deus, o que é que ela vai pensar
de mim quando eu lhe disser o que eu concordei em fazer?
Eu não acho que eu vou ser capaz de suportá-lo. Meus
braços ainda estão dobrados sobre o peito, com as mãos
firmemente aninhadas nos meus braços.
— Hallie, qual o problema? — Maggie deixa de fazer a
cama e se senta. Ela dá um tapinha no lugar ao lado dela e
me sento.
Olhando para frente, eu engulo em seco e digo a ela.
— Eu disse que sim. — Você disse sim para o quê?
Hallie, você não está fazendo sentido, do que você está
falando?
Quando me viro para olhar para ela, e encontro com
aqueles grandes olhos verdes e sinto medo. Minha pele fica
arrepiada, mas eu não consigo desviar o olhar.
— Eu disse a Bryan Ferro que sim. Eu cedi. Ele ganhou
e eu perdi.
— O quê? — Ela está furiosa, pronta para voar para fora
do seu assento e defender-me até a morte.
Eu coloco minha mão no colo dela para fazê-la parar. —
Eu fui ao seu quarto de hotel para dizer-lhe para ir chupar
um prego, mas eu mudei de ideia quando ouvi sua voz. Eu
pensei que algo estava errado e esta era a sua maneira de
merda para me dizer. Conheci-o uma vez, pelo menos eu
pensei que tinha conhecido. Então, quando eu estava
esperando por você do lado de fora, eu... — minha voz está
trêmula e eu não posso mais esconder o meu horror, — um
cara tentou roubar minha bolsa. Para encurtar a história, ele
me pegou por trás do prédio e ia me machucar. Bryan
apareceu e ele... — Eu não posso dizer isso. Meu Bryan
perfeito fez algo que era tão diferente dele, tão terrivelmente
selvagem, que eu não sei o que pensar. Ele me protegeu, mas
ainda parece errado.
— Ele a machucou? — Maggie está furiosa, eu posso
ouvir em sua voz. Mas a forma como ela fala suas palavras
ondulando entre muito alta e baixa, dão a deixa.
— Não, ele atacou o homem, e esfaqueou-o. Se eu não
dissesse a Bryan para parar, acho que ele teria matado o
cara. — Olho para ela, mas eu não posso mais enxergar.
Meus olhos têm brilham com lágrimas que tudo fica
desfocado.
Maggie ergue os braços e eu caio neles. Ela sempre foi
como uma irmã para mim. Estivemos sempre uma para a
outra, e eu temo que a história com Bryan e o que eu me
tornei vá fazê-la me odiar. Meu pai teria vergonha de me
chamar de filha, e eu espero o mesmo de Maggie. Em vez
disso, ela fica lá no colchão gasto e me acalma.
Depois de um forte abraço, ela libera meus ombros e
pega meu queixo. — Você e eu passamos por tudo juntas.
Não pense que eu a estou socorrendo por causa disso. Se não
for por qualquer coisa, a vida fica mais interessante, isso é
tudo.
Eu enxugo as lágrimas dos meus olhos e rio, porque ela
está tão errada. — Esse é o eufemismo do ano.
— O meu ponto é, eu estou aqui por você. Eu sempre
estarei aqui para você. — Ela bate no meu ombro com a dela.
— Então, Bryan Ferro tem um lado negro por trás de todo o
brilho e deslumbre?
— Aparentemente.
— Foi divertido ou ele fez coisas estranhas?
Eu sorrio e limpo meus olhos novamente. — Não, não
hoje à noite de qualquer maneira. Ele me chamou para seu
quarto, eu fui, e nos beijamos. Então, ele me mandou ir
embora.
Os lábios de Maggie puxaram um pouco para cima. —
Ele a jogou para fora? Mas que inferno...?
— Eu não sei. É como se ele estivesse louco e deixando o
Hulk sair ou algo assim. Ele não olhava para mim. As coisas
estavam quentes e pesadas até então. — A intuição continua
me dizendo que algo estava errado, mas não posso entender o
quê.
Maggie sorri: — Ele foi melhor do que Neil, certo?
Eu faço uma careta e olhou para ela como se ela fosse
louca. — Uh, Bryan está me chantageando.
— E ele é mais quente do que Neil. Vá em frente, diga.
Eu sou sua amiga, então eu já sei.
Eu baixei meus olhos em direção ao chão e não disse
nada. Eu não tenho que dizer nada, a minha expressão diz
tudo. Bryan é muito mais quente do que Neil, não há
comparação. Os dois homens são noite e dia, e Bryan é a
noite sexy. Neil a voz racional que soa como o FDA 3,
lembrando-me de fazer todas as coisas com moderação, mas
não todas as coisas, somente as ações que ele aprova. Droga.
Eu enterro meu rosto em minhas mãos e suspiro.
Maggie acaricia minhas costas. — Está tudo bem.
Qualquer um é mais quente do que Neil. Não se sinta
culpada, mas eu não contaria exatamente ao Senhor Calças
Perfeitamente Passadas. Ele vai surtar ao saber que alguém
tocou em você. — Maggie está tirando as roupas e puxando
uma camisa de dormir e calças, enquanto ela fala.
— Na verdade, Neil sabe.
3 FDA - Food and Drug Administration - Agencia reguladora de remédios e alimentos.
— O quê? — Ela está pulando em um pé, tentando
enfiar o pé pela perna da calça e cai. — Como é que ele sabe?
Você disse que acabou de acontecer.
— Neil sabe por que foi ele quem me disse para fazer
isso.
CONTINUA
Bryan está de queixo caído e boca aberta, com aqueles olhos verdes semicerrados, em chamas. Fúria e choque não parecem bons para ele. As emoções distorcem seu belo rosto,
estragam as linhas suaves de sua pele, fazendo-o parecer bem mais velho. Seus punhos estão fechados, apertados em seus lados, mas ele pisca uma vez e a reação diminui. Há muitas coisas que eu não sei sobre Bryan Ferro, mas uma coisa eu sei, ele é uma merda em manter as coisas escondidas. Seus pensamentos dançam em seu rosto de vez em quando, e é por isso que ele está desconfiado de mim.
Virando abruptamente, Bryan pressiona seus dedos em sua têmpora direita. Sua voz sai como um grunhido.
— Eu lhe disse para ir embora.
— Seus ombros estão tensos, cada músculo está apertado a ponto de eu poder ver as curvas de seu corpo sob essa camisa. Ele flexiona a mão que está ao seu lado antes de deslizar em seu bolso. Bryan pode ser capaz de esconder tudo, de todos os outros, mas não de mim.
— Sim, eu ouvi essa parte. — Eu ajo como se eu não me importasse, deito-me no tapete, e dobro as minhas mãos atrás da minha cabeça. O piso é suave e difuso. Levanto os meus joelhos, eu deixo a queda do meu vestido em torno dos meus tornozelos e até meus pés, para sentir a pilha macia entre os dedos dos pés. O tapete no meu antigo quarto parecia como um saco de batata, em relação a este material.
Mesmo com Bryan irado, eu estou sorrindo. A vozinha na parte de trás da minha cabeça me diz que eu perdi minha mente. Eu respondo de volta que eu nunca tive um controle firme sobre isso de qualquer maneira.
https://img.comunidades.net/bib/bibliotecasemlimites/2_A_PROPOSI_O.jpg
Bryan pode ver meu reflexo no espelho, mas eu não
posso ver mais do que as suas costas e a maneira como ele
agarra sua cabeça como se fosse explodir. Ele está furioso
comigo? Não consigo entender sua raiva, mas transborda
para fora de sua boca de novo, espetando como espinhos,
neste momento.
— Se você não consegue entender os termos deste
acordo, então eu temo que nós não tenhamos um.
— O quê? — Sento-me e giro em torno, de modo que
estou de frente para as suas costas.
Bryan se vira, e a tensão que está estampada no seu
rosto é horrível. Eu encontro o seu olhar, mas eu não posso
olha-lo sem querer corrigir o que está fazendo com ele. Todas
as imagens na imprensa mostram a versão de Bryan que eu
conhecia, leve e despreocupado, mas este homem, aqui, não é
nenhuma dessas coisas. Algo está esmagando-o de dentro
para fora e deixando-o em pedaços. Seu corpo está tremendo,
ele está tão bravo. Ele tenta respirar fundo, mas isso só faz o
seu rosto ficar mais apertado.
— Você me ouviu. Se você não fizer as coisas do meu
jeito, eu vou arruinar você. Este não é o meu jeito, você sabe
muito bem disso. Saia daqui.
Ele não grita, mas suas palavras me fazem tremer. Não
há calor, não há compaixão. Talvez eu não o conheça mais e
ele está certo. Apertando os lábios, eu engulo minha resposta,
mas esta incha dentro de mim e enche meu peito. Eu peguei
meus sapatos saltos de volta e calcei em meus pés cansados
antes de levantar. Eu ando mais e pego minha bolsa.
Eu deveria sair. A vozinha dentro de mim canta como
um duende com uma voz agradável, sim, vá. Faça isso.
Agora.
Meus olhos estão fixos na porta como se fosse o
caminho para o inferno. Algo sobre sair agora parece errado,
mas não posso entender sobre o que está prendendo meus
pés no lugar. Caramba, é o pensamento que está me
segurando. Ele está me prendendo aqui e eu não posso me
mover. Parece como engolir o vômito e eu não posso fazê-lo.
Eu sou o cérebro danificado, mas não posso ser algo que não sou.
Girando sobre meus pés, eu atravesso o piso acarpetado
e elegante, e caminho até ele. Bryan não se vira para olhar
para mim. Em vez disso, suas mãos estão segurando a parte
superior do bar como se ele quisesse arrancá-lo da parede.
Suas costas estão curvadas e sua cabeça está pendurada
entre os ombros, como se ele estivesse tentando não me
rasgar em pedaços. Outra mulher teria corrido agora mesmo,
mas eu sou a dopada que anda mais perto.
— Eu sou uma idiota, — eu digo, enquanto olho para os
meus sapatos, e rio de leve. É o tipo de som que não tem
alegria e revela uma alma torturada. Meus olhos levantam
para seus ombros. Eu fico lá por um momento esperando que
ele se vire, mas ele não vira. Bryan não fala ou levanta o
olhar. Ele permanece debruçado sobre o bar como um troll 1.
Eu continuo, — vê-lo hoje à noite foi terrível e
maravilhoso. Isso evocou memórias e sentimentos que eu
tinha tempo esquecido há muito. Escrever sobre, é uma
coisa, mas vê-lo novamente está além das palavras.
Desculpe-me se eu o machuquei, mesmo que eu não entenda
o que eu fiz. E seu eu pudesse corrigir. Eu...
Por que estou fazendo isso? Eu estou me desculpando
com as suas costas, o homem não tem sequer a decência de
se virar e encarar-me. Eu respiro fundo e endireito a minha
espinha.
— As pessoas cometem erros, Bryan, e parece que o
meu maior erro foi conhecê-lo.
1
Troll – é uma gíria que designa uma pessoa cujo comportamento tende sistematicamente a desestabilizar uma
discussão, provocar e enfurecer as pessoas envolvidas nela. Há trolls de todo tipo, desde o mais ignorante e rude
que xinga e provoca, até o mais apto intelectualmente que discursa com o objetivo de desestabilizar o interlocutor
e levá-lo a fúria, para depois desqualificá-lo, matando seu argumento e abalando sua reputação.
A fúria me inunda quando eu corro pela sala. Eu agarro
a maçaneta da porta e não olho para trás, apesar de sentir
seus olhos em mim. Dane-se ele. Eu vivi coisas piores. Eu
digo essas palavras uma e outra vez, porque aconteceu.
Depois corro pelo corredor, aperto o botão para baixo no
elevador uma e outra vez, perguntando por que eu estou tão
chateada. Depois de um momento, eu sinto o pensamento
picar os meus olhos e apertar a minha garganta e eu sei
exatamente por que estou tão chateada.
É possível que as coisas estejam invertidas, e como eu
não conhecesse o verdadeiro Bryan Ferro, aquele com quem
dormi todos esses anos, era o falso.
CAPÍTULO 2
Eu não posso ir para casa e enfrentar Neil, por isso eu
telefono para Maggie. Ela atende no terceiro toque. Eu estou
andando na rua em frente ao hotel com o meu telefone
pressionado ao meu ouvido. É tarde e escuro. Evitando as
sombras, eu ando mais perto da rua do que no hotel.
— Maggie. — Eu tento esconder a tensão na minha voz,
mas ela ouve. Nós nos conhecemos há muito tempo. — Vou
tirar suas bolas fora.
— O que diabo aconteceu? Onde você está? — Ela me
enche de perguntas, até que eu possa finalmente fazê-la calar
a boca.
— Eu preciso de um lugar para dormir. Eu não posso
ver Neil agora e eu não tenho outro lugar para ir.
Maggie fica em silêncio.
— O que é meu, é seu. Você sabe disso, mas eu não
tenho certeza que você vá gostar.
— Em qualquer lugar é melhor do que aqui ou com Neil.
— Eu sinto uma náusea fazendo seu caminho até a minha
garganta. Lágrimas estão chegando, e tenho a sensação de
que vai ser um maremoto.
— Claro, claro. Eu estarei aí em cinco minutos.
— A linha de Maggie desliga, e eu fecho o meu telefone e
o coloco em minha bolsa.
A cidade se move em torno de mim, mas parece que eu
estou em uma bolha. As pessoas passam na calçada, mas eu
não as noto. Eu passeio, perdida em pensamentos, agarrando
minha bolsa perto do meu corpo. O ar da noite tem aquele
cheiro que é distintamente de Nova York. Eu o inspiro e
quando me viro, quase bato em alguém. O cara é uma
parede, de marrom e preto. Seu casaco tem cheiro de cigarros
velhos e naftalina.
Antes de eu ter tempo para descobrir o que está
acontecendo, ele pega a minha bolsa, em seguida, coloca a
mão no centro do meu peito e me empurra, com força. Eu
grito, tropeço e caio para trás, enquanto minha bolsa é
arrancada de minhas mãos. O cara se vira e está pronto para
correr, mas eu não estou com disposição para perder a bolsa.
Eu estou fodidamente quebrada. Todo o dinheiro que eu
tenho está lá dentro.
Antes que eu saiba o que estou fazendo, eu pego um dos
meus sapatos de salto alto e atiro em sua cabeça. Acerto e ele
cai na calçada. Poucas pessoas param para assistir, mas
ninguém faz nada - típico dos nova-iorquinos. Todo mundo
quer ver, mas ninguém ajuda.
Nesse ponto, tudo acontece em câmera lenta. Eu estou
em pé, mesmo que eu não me lembre de ficar pé. Um pé está
congelado, sobre o cimento frio, enquanto o outro ainda está
calçado. O ladrão levanta a mão e bota na parte de trás de
sua cabeça e puxa-a. Ele olha para os seus dedos, seus olhos
escuros apreciando o sangue vermelho e pegajoso em sua
mão. A ponta do meu salto que bateu com a parte traseira de
seu couro cabeludo, deve tê-lo cortado.
Meu coração para, quando o sujeito se vira para mim.
Seus olhos têm um olhar enlouquecido e os ombros tremem
como se ele fosse me rasgar ao meio.
— Você. — Ele diz isso como se fosse o meu nome e ele
me odeia.
O homem dá passos em direção a mim e fala
novamente, mas suas mãos lentamente movem para cima,
como se ele fosse me atacar ou me estrangular. Eu suspiro
alguma coisa, mas ele não sai antes de eu dar um passo para
trás, aterrorizada. Meu pulso ruge em meus ouvidos, então
olho em volta a procura de ajuda, mas não vejo ninguém. A
multidão se afastou, ou talvez eu tenha ido embora. Onde
está um policial quando eu preciso de um?
O resto acontece freneticamente rápido. Alguém grita
comigo, enquanto o homem procura o meu pescoço. Eu caio,
mas ele pega no meu ombro. Ele aperta-me com força,
fazendo com que o meu pescoço estale para trás enquanto ele
grita na minha cara.
— Sua pequena vadia!
O resto de suas palavras se tornam zumbidos, enquanto
ele me aperta mais. Estou ciente do vento, do ar da noite, e
do homem que está me estrangulando. Em algum momento,
as mãos deslizam até o pescoço. Eu agarro em suas mãos e
tento gritar, mas não sai nada. Eu não entendo por que
ninguém nos vê, por que eles simplesmente deixam esse
ladrão me machucar.
Balançando as minhas pernas, eu o chuto, mas não
adianta. Eu não sou forte o suficiente. Eu tentei tudo o que
sabia fazer e nada funcionou. O homem me atira e bate
minhas costas contra uma parede de tijolos. O frio me sacode
e me pergunto como chegamos ao beco ao lado do hotel, mas
os pensamentos cessam quando vejo o olhar em seus olhos.
Um sorriso mal aparece em seu rosto quando ele rasga o
ombro do meu vestido. O tecido sai em sua mão e permite
que o vestido deslizar alguns centímetros.
Abro a boca para gritar, mas sua mão imunda me cobre,
impedindo a saída do som. Sua mão me tateia, sentindo
meus seios enquanto ele sussurra em meu ouvido todas as
coisas horríveis que ele pretende fazer comigo. — Então, eu
vou levar a minha faca e... — Suas palavras desagradáveis
param imediatamente, após o som do estalar de madeira.
Assim como, de repente, a mão no meu pescoço se foi e
eu suspiro em uma respiração trêmula e olho para cima. Está
muito escuro para ver, mas há um homem vestido de
smoking, avançando sobre o ladrão. Ele lança socos uma e
outra vez, até que eles estão na parte de trás do beco, presos
por uma parede de tijolos. O ladrão é espancado e sangra,
mas ele não para de lutar. Nem o homem de smoking. Ele
distribui socos como um boxeador, tanto assim que é
hipnótico assistir. Quando a faca aparece, eu esperava que as
coisas se transformassem em favor do ladrão, mas isso não
acontece. O homem de smoking desarma o idiota e toma a
arma. Aconteceu tão rápido que eu não posso dizer como foi
feito. O homem de smoking recua seu braço como se
estivesse para empurrar a faca no peito do cara.
— Pare! — Eu chamo antes de perceber o que estou
fazendo. Uma das minhas mãos está segurando meu vestido
no busto e a outra está mal tocando meus lábios. Eu não
posso ver o cara morrer, mas eu não consigo desviar o olhar
também.
O homem de smoking não para. Um grito tremendo sai
dilacerado da minha garganta quando ele bate a faca no
ombro do ladrão. O bandido pega no seu braço e desliza para
baixo da parede, segurando seu ombro enquanto o casaco
fica encharcado de sangue. Ele olha diretamente para mim
com raiva.
O homem de smoking chuta o ladrão uma vez, e uma
voz familiar disse:
— Vá embora.
Eu tremo quando ouço isso, porque eu sei quem é ele,
Bryan. Ele deve ter me seguido. O medo agarra e azeda
dentro do meu estômago, enquanto eu olho para as suas
costas. Bryan não vira o rosto para mim. O ladrão comprime
os lábios e se levanta do chão do beco. Ele faz o seu caminho
passando por mim, e não diz nada.
Um tremor se apodera de mim e escorre pela minha
espinha, me fazendo ofegar. É quando ele se vira. O rosto de
Bryan está pálido e coberto de um brilho fino de suor. Ele
caminha de volta para mim e eu posso ver onde ele tomou
algumas pancadas. Há um rasgo em sua camisa, sob a lapela
do paletó, onde a faca cortou antes Bryan tomá-la do ladrão.
Passo a passo, ele caminha em minha direção, e eu
estou mais assustada por Bryan que qualquer coisa que já
encontrei. O que foi isso? Ele teria matado o homem se eu
não tivesse gritado? Eu não consigo parar de tremer.
Bryan alcança os meus ombros para me firmar, e eu
sinto aquele choque familiar que acompanha o seu toque.
Seu polegar esfrega suavemente sobre minha pele. — Você
está bem?
Mas, é muito. Eu não posso. Eu não posso. Eu não posso.
O pensamento não faz sentido, mas eu sei que tenho que
fazer com que ele me liberte. Seu toque tem uma maneira de
me desfazer, e eu estou caindo aos pedaços. Recuso-me a
deixá-lo ser o único a testemunhar isso. Eu empurro para
longe, e aceno com a cabeça rapidamente.
— Eu estou bem.
As mãos de Bryan permanecem paradas no ar por um
momento, antes de ele abaixa-las junto com seu olhar. Ele
observa o chão por um segundo e quando ele levanta o
queixo, vejo um sorriso nos seus lábios.
— Mentirosa. Você está longe de estar bem, mas eu
estou contente que você esteja parada.
Eu fico olhando para ele, incapaz de encontrar uma
resposta. Sua voz soa carinhosa, quase arrependida. Ele olha
por cima do meu ombro para alguém e, em seguida, diz:
— A sua carona está aqui. Da próxima vez, não tente
derrubar um assaltante por si mesmo.
Eu falo sem querer, mas as palavras saem e caem fora.
— Da próxima vez, não mate um homem por roubar minha
bolsa.
O canto dos lábios de Bryan puxa para cima, como se
quisesse sorrir, mas ele não sorri.
— Eu não iria matar um homem por roubar uma bolsa.
Que tipo de pessoa você acha que eu sou?
— Honestamente, eu não sei mais. Eu achava que sabia,
mas depois disso... — Eu balanço minha cabeça e fico sem
palavras. Bryan mudou o ataque no último segundo. Essa
faca não estava voltada para o ombro do homem — estava
dirigida para o seu coração. — Você ia matá-lo. Eu vi, você
não pode me dizer que não iria.
Bryan se inclina mais perto, e quando ele fala seu hálito
quente sussurra contra a minha orelha.
— Talvez, mas não foi porque ele pegou sua bolsa. — Ele
se inclina para trás e desliza as mãos nos bolsos, enquanto
seus olhos verdes me percorrem. — Ninguém toca em você,
enquanto você está comigo.
— Eu engulo em seco e olho para ele, com o coração
ainda disparando.
Maggie aparece atrás de mim um segundo depois. Ela
pega meu ombro e me vira.
— Hallie, diabo está acontecendo, e por que você está
aqui no beco sozinha? — Ela vê a maneira que eu estou
segurando meu vestido e o tecido rasgado. A preocupação
persiste em seu rosto, esperando pela minha resposta.
— Eu não estou sozinha, — mas quando me viro para
olhar, Bryan já se foi.
CAPÍTULO 3
Eu estive em um casulo de tristeza e este evento o
quebrou. Minha atordoada indiferença fratura e estilhaça,
como vidro barato. Eu olho para a bolsa presa em minha mão
e me pergunto o que há de errado comigo, mas ainda mais,
eu não consigo parar de pensar em Bryan, como ele veio do
nada e quase matou o homem que tentou me machucar.
Pare de pensar assim, eu me repreendo. Bryan agiu
como um lunático. A imagem de Bryan esfaqueando o cara
persiste através dos meus olhos mais uma vez e faz o meu
estômago embrulhar.
Maggie está falando, mas eu não disse muito. Estamos
em seu velho Ford Escort. A coisa corre mal, mas eu não
posso reclamar. Eu nem mesmo tenho um carro, não mais.
Maggie olha para mim por trás do volante, enquanto suas
mãos o seguram com firmeza.
— Hallie, se você estiver com vontade de vomitar, baixe
a janela. Aqui já cheira estranho o suficiente. — Ela está
certa, o carro tem um odor não identificável que está lá desde
que ela comprou.
— Eu estou bem, — eu digo novamente, embora seja
uma mentira. Meus braços envolvem meu peito para
esconder como minhas mãos tremem.
— Ah, Hallie, eu sei que você não quer falar e que está
tudo bem, mas eu quero informa-la sobre a minha nova casa.
— Eu olho para ela, sem entender o que ela quer dizer.
Maggie me dá um sorriso tímido e encolhe os ombros até as
suas orelhas, enquanto dirige. — Vamos apenas dizer que
não é algo que você aprovaria.
Eu não tenho paciência para lidar com seus enigmas
neste momento. A vida de Maggie é mais difícil do que a
minha, e eu sei disso, mas ela nunca tinha escondido coisas
de mim antes. Desta vez, é claro que ela escondeu, e isso me
preocupa. As únicas coisas que eu desaprovo são as que
possam matá-la. A menina não tem nenhum senso. Às vezes
me pergunto sobre ela, e como ela escolhe o que faz. Sorrio
sem jeito e olho para o tapete sujo no chão, que alguma vez
foi azul.
— O que é tão engraçado? — Maggie parece indignada,
como se eu a tivesse ofendido.
— Nada. Vamos apenas dizer que, se você soubesse o
que eu estava fazendo esta noite, você não se sentiria tão na
defensiva. Tenho certeza de que sua casa é boa.
Maggie se tranquiliza. Ela suspira quando vira em uma
rua lateral e começamos a fazer o nosso caminho através de
um bairro degradado. As casas são marcadas e branqueadas
pelo Sol, com gramados mortos, mas os carros são
customizados e caros. Mesmo que seja tarde, as pessoas
movem-se, sem fazer nada. Eu olho para a minha porta,
querendo trancá-la, mas eu não me mexo. Enquanto nós
rodamos passando pelos grupos de pessoas, os olhos deles
viram e nos assistem passar, antes de voltar para o que eles
estavam fazendo.
Maggie finalmente diz: — Não é muito, mas acho que
vale a pena.
— Você não tem que defender o seu apartamento para
mim, Maggie. Eu sou uma maldita sem-teto. — Eu olho para
ela e inclino a cabeça para trás no assento. Minhas palavras
não a consolam, então eu acrescento: — Além disso, eu não
sou uma garota-propaganda da moralidade, também. Você
não vai acreditar no que eu fiz hoje à noite, e o que eu vou
fazer. — Minha voz falha e eu balanço a cabeça, pensando
nos lábios de Bryan. Estou horrorizada por reagir da maneira
como o faço, mesmo que com a memória.
Ela ri uma vez, rapidamente. — Sim, certo. Hallie, você
nunca faz nada de mau. Estúpido, sim. Mau, não.
Eu olho para fora da janela e não vejo nada. As casas
deram lugar a apartamentos que se estendem para o céu na
noite. Fachadas de tijolos já viram dias melhores. Muitos
parecem vazios, como se ninguém vivesse lá, por muitos
anos. Meu peito se aperta e eu me contorço na cadeira. Meu
Deus, ela mora aqui? Por que ela não me contou? Há carros
queimados, latas de lixo viradas e entulho, tudo espalhado
por toda parte. Parece que a rua foi saqueada e esquecida,
assim como Maggie.
Segundas decisões são as que mudam vidas. Eu faço a
minha e cuspo fora antes de me acovardar.
— Bryan Ferro está me chantageando. Se eu não dormir
com ele sempre que ele quiser, vai dizer às pessoas que ele é
o cara no livro e fazer o que for preciso para me arruinar. Ele
disse que ia usar tudo o que tem contra mim e me deu um
ultimato.
Os grandes olhos de Maggie viram em minha direção,
com o queixo caído e boca aberta.
— Puta merda! Quando isso aconteceu? Como você vai
detê-lo? — Ela pisca para mim e vira os olhos de volta para a
estrada, embora eu saiba que ela não quer.
Esta é a parte que me faz sentir um lixo. Eu não sou
quem ela pensa que eu sou. Eu não tenho uma estrutura
moral de aço. Eu não posso nem olhar para ela.
— Esta noite eu acabei fazendo o anúncio do prêmio no
show com ele, e então ele me encontrou no banquete. — Eu
digo. Eu tento fazer a minha boca mover-se para formar as
palavras, mas não vão sair.
— De jeito nenhum. — Ela estaciona em um parque de
estacionamento que parece que foi usado como um local de
explosão da força aérea e desliga o carro. — Pegue suas
coisas e tranque a porta. — Eu faço como ela diz e me
apresso atrás dela. — Mantenha seus olhos baixos e me siga.
Não fale ou olhe para ninguém.
Entramos no lado de um desses prédios de tijolos
antigos e subimos alguns lances de escadas, até o quarto
andar. No momento que chegamos ao seu andar, eu quero
jogar o resto do meu sapato para fora da janela. Eu poderia,
não há vidro no painel. Eu a sigo, até a porta e por um longo
corredor mal iluminado. Nós paramos em frente à sua porta.
Enquanto ela se atrapalha com a chave, a porta contrária à
dela se abre. Um homem pálido, com cabelo loiro descolorido
e vestindo uma camiseta regata branca e cueca está lá e olha
para nós. Eu posso sentir seus olhos nas minhas costas. Ele
se inclina contra o batente da porta e cruza os braços sobre o
peito.
Quando ele fala, soa rouco, como se ele fumasse um
maço de cigarros todos os dias desde que ele tinha dois anos
de idade. — Trouxe-me outra?
— Não, — Maggie diz com firmeza. Ela não se vira para
olhar para o cara. Se eu não a conhecesse melhor, eu acharia
que ela estava com medo dele. Eu não aguento mais stress
esta noite. Meu cérebro parece que vai partir em dois, antes
que eu murche e morra. Maggie pega a chave para abrir, mas
porta emperra. Ela chuta uma vez com o pé e a porta mexe
ligeiramente. — Maldita porta, — ela murmura.
— Qual é o seu nome, docinho? — O cara está falando
comigo. Viro-me e olho por cima do ombro, e nossos olhos se
encontram. Ele envia um olhar frio para mim, ao ver o jeito
como ele está olhando de soslaio. O cara é enorme, ele é todo
músculos e agora ele está sorrindo para mim, revelando uma
coroa de ouro em seu dente canino.
— Oi, — eu digo timidamente, e arrumo o meu cabelo
para atrás da minha orelha, tentando evitar o olhar dele
enquanto não respondo sua pergunta.
Enquanto o cara está de boca aberta, Maggie chuta na
porta. A porta se abre, ela agarra meu braço e me puxa. Eu
sigo, voando atrás dela enquanto ela grita por cima do ombro,
— eu vou lhe trazer alguém amanhã, eu juro. Boa noite, Vic.
— Ela bate a porta com o pé e parece abalada.
Seu apartamento é aproximadamente o mesmo tamanho
de um pequeno corredor. Há uma pequena janela com uma
folha grampeada sobre ela e sem móveis. Algumas das roupas
de Maggie estão jogadas ao redor do lugar, como se ela
tivesse saído com pressa. Se eu morasse aqui, eu iria embora
rapidamente, também.
— Obrigado por me deixar ficar com você.
— Sim, não há problema. É uma merda como este é o
pior lugar que eu já vivi, mas é um refúgio. Eu durmo aqui e,
em seguida, dou o fora. O aluguel não é horrível. — Ela
oferece um sorriso torto, mas é franco.
Eu preciso dela, e não há um muro entre nós. Ela acha
que eu sou perfeita, mas eu não sou. Eu fiz coisas que ela
não sabe. As palavras estão na minha língua e eu enrolo-as
em torno de minha boca, tentando descobrir como dizer isso,
enquanto a Maggie tagarela, enchendo o ambiente com sua
voz.
Um casal está brigando nas proximidades, e o som está
cada vez mais alto. Estão lutando, eu não quero dizer
discutindo. Há coisas batendo nas paredes e quebrando.
Chove gesso para baixo sobre nós como flocos de neve
quando algo cai de cima. Maggie olha horrorizada quando ela
puxa sua cama Murphy 2 para baixo da parede. Tomando
quase toda a sala. — Você pode dormir aqui. Eu vou dormir
no chão.
— Não.
Ela sorri. — Não seja boba, você é minha convidada. —
Palavrões ressoam acima de nós quando um homem irritado
grita. É prontamente seguido de um grito agudo. Maggie
morde as unhas do jeito que ela fazia quando éramos
crianças e olha em volta, como se ela desejasse poder
queimar o lugar.
2
— Eu não vou fazer você dormir no chão, mas há outra
coisa que eu preciso lhe dizer.
— Maggie olha para mim por debaixo de sua massa de
cabelo vermelho. Eu sou sua única amiga de verdade, sua
única família e ela a minha. Deus, o que é que ela vai pensar
de mim quando eu lhe disser o que eu concordei em fazer?
Eu não acho que eu vou ser capaz de suportá-lo. Meus
braços ainda estão dobrados sobre o peito, com as mãos
firmemente aninhadas nos meus braços.
— Hallie, qual o problema? — Maggie deixa de fazer a
cama e se senta. Ela dá um tapinha no lugar ao lado dela e
me sento.
Olhando para frente, eu engulo em seco e digo a ela.
— Eu disse que sim. — Você disse sim para o quê?
Hallie, você não está fazendo sentido, do que você está
falando?
Quando me viro para olhar para ela, e encontro com
aqueles grandes olhos verdes e sinto medo. Minha pele fica
arrepiada, mas eu não consigo desviar o olhar.
— Eu disse a Bryan Ferro que sim. Eu cedi. Ele ganhou
e eu perdi.
— O quê? — Ela está furiosa, pronta para voar para fora
do seu assento e defender-me até a morte.
Eu coloco minha mão no colo dela para fazê-la parar. —
Eu fui ao seu quarto de hotel para dizer-lhe para ir chupar
um prego, mas eu mudei de ideia quando ouvi sua voz. Eu
pensei que algo estava errado e esta era a sua maneira de
merda para me dizer. Conheci-o uma vez, pelo menos eu
pensei que tinha conhecido. Então, quando eu estava
esperando por você do lado de fora, eu... — minha voz está
trêmula e eu não posso mais esconder o meu horror, — um
cara tentou roubar minha bolsa. Para encurtar a história, ele
me pegou por trás do prédio e ia me machucar. Bryan
apareceu e ele... — Eu não posso dizer isso. Meu Bryan
perfeito fez algo que era tão diferente dele, tão terrivelmente
selvagem, que eu não sei o que pensar. Ele me protegeu, mas
ainda parece errado.
— Ele a machucou? — Maggie está furiosa, eu posso
ouvir em sua voz. Mas a forma como ela fala suas palavras
ondulando entre muito alta e baixa, dão a deixa.
— Não, ele atacou o homem, e esfaqueou-o. Se eu não
dissesse a Bryan para parar, acho que ele teria matado o
cara. — Olho para ela, mas eu não posso mais enxergar.
Meus olhos têm brilham com lágrimas que tudo fica
desfocado.
Maggie ergue os braços e eu caio neles. Ela sempre foi
como uma irmã para mim. Estivemos sempre uma para a
outra, e eu temo que a história com Bryan e o que eu me
tornei vá fazê-la me odiar. Meu pai teria vergonha de me
chamar de filha, e eu espero o mesmo de Maggie. Em vez
disso, ela fica lá no colchão gasto e me acalma.
Depois de um forte abraço, ela libera meus ombros e
pega meu queixo. — Você e eu passamos por tudo juntas.
Não pense que eu a estou socorrendo por causa disso. Se não
for por qualquer coisa, a vida fica mais interessante, isso é
tudo.
Eu enxugo as lágrimas dos meus olhos e rio, porque ela
está tão errada. — Esse é o eufemismo do ano.
— O meu ponto é, eu estou aqui por você. Eu sempre
estarei aqui para você. — Ela bate no meu ombro com a dela.
— Então, Bryan Ferro tem um lado negro por trás de todo o
brilho e deslumbre?
— Aparentemente.
— Foi divertido ou ele fez coisas estranhas?
Eu sorrio e limpo meus olhos novamente. — Não, não
hoje à noite de qualquer maneira. Ele me chamou para seu
quarto, eu fui, e nos beijamos. Então, ele me mandou ir
embora.
Os lábios de Maggie puxaram um pouco para cima. —
Ele a jogou para fora? Mas que inferno...?
— Eu não sei. É como se ele estivesse louco e deixando o
Hulk sair ou algo assim. Ele não olhava para mim. As coisas
estavam quentes e pesadas até então. — A intuição continua
me dizendo que algo estava errado, mas não posso entender o
quê.
Maggie sorri: — Ele foi melhor do que Neil, certo?
Eu faço uma careta e olhou para ela como se ela fosse
louca. — Uh, Bryan está me chantageando.
— E ele é mais quente do que Neil. Vá em frente, diga.
Eu sou sua amiga, então eu já sei.
Eu baixei meus olhos em direção ao chão e não disse
nada. Eu não tenho que dizer nada, a minha expressão diz
tudo. Bryan é muito mais quente do que Neil, não há
comparação. Os dois homens são noite e dia, e Bryan é a
noite sexy. Neil a voz racional que soa como o FDA 3,
lembrando-me de fazer todas as coisas com moderação, mas
não todas as coisas, somente as ações que ele aprova. Droga.
Eu enterro meu rosto em minhas mãos e suspiro.
Maggie acaricia minhas costas. — Está tudo bem.
Qualquer um é mais quente do que Neil. Não se sinta
culpada, mas eu não contaria exatamente ao Senhor Calças
Perfeitamente Passadas. Ele vai surtar ao saber que alguém
tocou em você. — Maggie está tirando as roupas e puxando
uma camisa de dormir e calças, enquanto ela fala.
— Na verdade, Neil sabe.
3 FDA - Food and Drug Administration - Agencia reguladora de remédios e alimentos.
— O quê? — Ela está pulando em um pé, tentando
enfiar o pé pela perna da calça e cai. — Como é que ele sabe?
Você disse que acabou de acontecer.
— Neil sabe por que foi ele quem me disse para fazer
isso.
CONTINUA
Bryan está de queixo caído e boca aberta, com aqueles olhos verdes semicerrados, em chamas. Fúria e choque não parecem bons para ele. As emoções distorcem seu belo rosto,
estragam as linhas suaves de sua pele, fazendo-o parecer bem mais velho. Seus punhos estão fechados, apertados em seus lados, mas ele pisca uma vez e a reação diminui. Há muitas coisas que eu não sei sobre Bryan Ferro, mas uma coisa eu sei, ele é uma merda em manter as coisas escondidas. Seus pensamentos dançam em seu rosto de vez em quando, e é por isso que ele está desconfiado de mim.
Virando abruptamente, Bryan pressiona seus dedos em sua têmpora direita. Sua voz sai como um grunhido.
— Eu lhe disse para ir embora.
— Seus ombros estão tensos, cada músculo está apertado a ponto de eu poder ver as curvas de seu corpo sob essa camisa. Ele flexiona a mão que está ao seu lado antes de deslizar em seu bolso. Bryan pode ser capaz de esconder tudo, de todos os outros, mas não de mim.
— Sim, eu ouvi essa parte. — Eu ajo como se eu não me importasse, deito-me no tapete, e dobro as minhas mãos atrás da minha cabeça. O piso é suave e difuso. Levanto os meus joelhos, eu deixo a queda do meu vestido em torno dos meus tornozelos e até meus pés, para sentir a pilha macia entre os dedos dos pés. O tapete no meu antigo quarto parecia como um saco de batata, em relação a este material.
Mesmo com Bryan irado, eu estou sorrindo. A vozinha na parte de trás da minha cabeça me diz que eu perdi minha mente. Eu respondo de volta que eu nunca tive um controle firme sobre isso de qualquer maneira.
https://img.comunidades.net/bib/bibliotecasemlimites/2_A_PROPOSI_O.jpg
Bryan pode ver meu reflexo no espelho, mas eu não
posso ver mais do que as suas costas e a maneira como ele
agarra sua cabeça como se fosse explodir. Ele está furioso
comigo? Não consigo entender sua raiva, mas transborda
para fora de sua boca de novo, espetando como espinhos,
neste momento.
— Se você não consegue entender os termos deste
acordo, então eu temo que nós não tenhamos um.
— O quê? — Sento-me e giro em torno, de modo que
estou de frente para as suas costas.
Bryan se vira, e a tensão que está estampada no seu
rosto é horrível. Eu encontro o seu olhar, mas eu não posso
olha-lo sem querer corrigir o que está fazendo com ele. Todas
as imagens na imprensa mostram a versão de Bryan que eu
conhecia, leve e despreocupado, mas este homem, aqui, não é
nenhuma dessas coisas. Algo está esmagando-o de dentro
para fora e deixando-o em pedaços. Seu corpo está tremendo,
ele está tão bravo. Ele tenta respirar fundo, mas isso só faz o
seu rosto ficar mais apertado.
— Você me ouviu. Se você não fizer as coisas do meu
jeito, eu vou arruinar você. Este não é o meu jeito, você sabe
muito bem disso. Saia daqui.
Ele não grita, mas suas palavras me fazem tremer. Não
há calor, não há compaixão. Talvez eu não o conheça mais e
ele está certo. Apertando os lábios, eu engulo minha resposta,
mas esta incha dentro de mim e enche meu peito. Eu peguei
meus sapatos saltos de volta e calcei em meus pés cansados
antes de levantar. Eu ando mais e pego minha bolsa.
Eu deveria sair. A vozinha dentro de mim canta como
um duende com uma voz agradável, sim, vá. Faça isso.
Agora.
Meus olhos estão fixos na porta como se fosse o
caminho para o inferno. Algo sobre sair agora parece errado,
mas não posso entender sobre o que está prendendo meus
pés no lugar. Caramba, é o pensamento que está me
segurando. Ele está me prendendo aqui e eu não posso me
mover. Parece como engolir o vômito e eu não posso fazê-lo.
Eu sou o cérebro danificado, mas não posso ser algo que não sou.
Girando sobre meus pés, eu atravesso o piso acarpetado
e elegante, e caminho até ele. Bryan não se vira para olhar
para mim. Em vez disso, suas mãos estão segurando a parte
superior do bar como se ele quisesse arrancá-lo da parede.
Suas costas estão curvadas e sua cabeça está pendurada
entre os ombros, como se ele estivesse tentando não me
rasgar em pedaços. Outra mulher teria corrido agora mesmo,
mas eu sou a dopada que anda mais perto.
— Eu sou uma idiota, — eu digo, enquanto olho para os
meus sapatos, e rio de leve. É o tipo de som que não tem
alegria e revela uma alma torturada. Meus olhos levantam
para seus ombros. Eu fico lá por um momento esperando que
ele se vire, mas ele não vira. Bryan não fala ou levanta o
olhar. Ele permanece debruçado sobre o bar como um troll 1.
Eu continuo, — vê-lo hoje à noite foi terrível e
maravilhoso. Isso evocou memórias e sentimentos que eu
tinha tempo esquecido há muito. Escrever sobre, é uma
coisa, mas vê-lo novamente está além das palavras.
Desculpe-me se eu o machuquei, mesmo que eu não entenda
o que eu fiz. E seu eu pudesse corrigir. Eu...
Por que estou fazendo isso? Eu estou me desculpando
com as suas costas, o homem não tem sequer a decência de
se virar e encarar-me. Eu respiro fundo e endireito a minha
espinha.
— As pessoas cometem erros, Bryan, e parece que o
meu maior erro foi conhecê-lo.
1
Troll – é uma gíria que designa uma pessoa cujo comportamento tende sistematicamente a desestabilizar uma
discussão, provocar e enfurecer as pessoas envolvidas nela. Há trolls de todo tipo, desde o mais ignorante e rude
que xinga e provoca, até o mais apto intelectualmente que discursa com o objetivo de desestabilizar o interlocutor
e levá-lo a fúria, para depois desqualificá-lo, matando seu argumento e abalando sua reputação.
A fúria me inunda quando eu corro pela sala. Eu agarro
a maçaneta da porta e não olho para trás, apesar de sentir
seus olhos em mim. Dane-se ele. Eu vivi coisas piores. Eu
digo essas palavras uma e outra vez, porque aconteceu.
Depois corro pelo corredor, aperto o botão para baixo no
elevador uma e outra vez, perguntando por que eu estou tão
chateada. Depois de um momento, eu sinto o pensamento
picar os meus olhos e apertar a minha garganta e eu sei
exatamente por que estou tão chateada.
É possível que as coisas estejam invertidas, e como eu
não conhecesse o verdadeiro Bryan Ferro, aquele com quem
dormi todos esses anos, era o falso.
CAPÍTULO 2
Eu não posso ir para casa e enfrentar Neil, por isso eu
telefono para Maggie. Ela atende no terceiro toque. Eu estou
andando na rua em frente ao hotel com o meu telefone
pressionado ao meu ouvido. É tarde e escuro. Evitando as
sombras, eu ando mais perto da rua do que no hotel.
— Maggie. — Eu tento esconder a tensão na minha voz,
mas ela ouve. Nós nos conhecemos há muito tempo. — Vou
tirar suas bolas fora.
— O que diabo aconteceu? Onde você está? — Ela me
enche de perguntas, até que eu possa finalmente fazê-la calar
a boca.
— Eu preciso de um lugar para dormir. Eu não posso
ver Neil agora e eu não tenho outro lugar para ir.
Maggie fica em silêncio.
— O que é meu, é seu. Você sabe disso, mas eu não
tenho certeza que você vá gostar.
— Em qualquer lugar é melhor do que aqui ou com Neil.
— Eu sinto uma náusea fazendo seu caminho até a minha
garganta. Lágrimas estão chegando, e tenho a sensação de
que vai ser um maremoto.
— Claro, claro. Eu estarei aí em cinco minutos.
— A linha de Maggie desliga, e eu fecho o meu telefone e
o coloco em minha bolsa.
A cidade se move em torno de mim, mas parece que eu
estou em uma bolha. As pessoas passam na calçada, mas eu
não as noto. Eu passeio, perdida em pensamentos, agarrando
minha bolsa perto do meu corpo. O ar da noite tem aquele
cheiro que é distintamente de Nova York. Eu o inspiro e
quando me viro, quase bato em alguém. O cara é uma
parede, de marrom e preto. Seu casaco tem cheiro de cigarros
velhos e naftalina.
Antes de eu ter tempo para descobrir o que está
acontecendo, ele pega a minha bolsa, em seguida, coloca a
mão no centro do meu peito e me empurra, com força. Eu
grito, tropeço e caio para trás, enquanto minha bolsa é
arrancada de minhas mãos. O cara se vira e está pronto para
correr, mas eu não estou com disposição para perder a bolsa.
Eu estou fodidamente quebrada. Todo o dinheiro que eu
tenho está lá dentro.
Antes que eu saiba o que estou fazendo, eu pego um dos
meus sapatos de salto alto e atiro em sua cabeça. Acerto e ele
cai na calçada. Poucas pessoas param para assistir, mas
ninguém faz nada - típico dos nova-iorquinos. Todo mundo
quer ver, mas ninguém ajuda.
Nesse ponto, tudo acontece em câmera lenta. Eu estou
em pé, mesmo que eu não me lembre de ficar pé. Um pé está
congelado, sobre o cimento frio, enquanto o outro ainda está
calçado. O ladrão levanta a mão e bota na parte de trás de
sua cabeça e puxa-a. Ele olha para os seus dedos, seus olhos
escuros apreciando o sangue vermelho e pegajoso em sua
mão. A ponta do meu salto que bateu com a parte traseira de
seu couro cabeludo, deve tê-lo cortado.
Meu coração para, quando o sujeito se vira para mim.
Seus olhos têm um olhar enlouquecido e os ombros tremem
como se ele fosse me rasgar ao meio.
— Você. — Ele diz isso como se fosse o meu nome e ele
me odeia.
O homem dá passos em direção a mim e fala
novamente, mas suas mãos lentamente movem para cima,
como se ele fosse me atacar ou me estrangular. Eu suspiro
alguma coisa, mas ele não sai antes de eu dar um passo para
trás, aterrorizada. Meu pulso ruge em meus ouvidos, então
olho em volta a procura de ajuda, mas não vejo ninguém. A
multidão se afastou, ou talvez eu tenha ido embora. Onde
está um policial quando eu preciso de um?
O resto acontece freneticamente rápido. Alguém grita
comigo, enquanto o homem procura o meu pescoço. Eu caio,
mas ele pega no meu ombro. Ele aperta-me com força,
fazendo com que o meu pescoço estale para trás enquanto ele
grita na minha cara.
— Sua pequena vadia!
O resto de suas palavras se tornam zumbidos, enquanto
ele me aperta mais. Estou ciente do vento, do ar da noite, e
do homem que está me estrangulando. Em algum momento,
as mãos deslizam até o pescoço. Eu agarro em suas mãos e
tento gritar, mas não sai nada. Eu não entendo por que
ninguém nos vê, por que eles simplesmente deixam esse
ladrão me machucar.
Balançando as minhas pernas, eu o chuto, mas não
adianta. Eu não sou forte o suficiente. Eu tentei tudo o que
sabia fazer e nada funcionou. O homem me atira e bate
minhas costas contra uma parede de tijolos. O frio me sacode
e me pergunto como chegamos ao beco ao lado do hotel, mas
os pensamentos cessam quando vejo o olhar em seus olhos.
Um sorriso mal aparece em seu rosto quando ele rasga o
ombro do meu vestido. O tecido sai em sua mão e permite
que o vestido deslizar alguns centímetros.
Abro a boca para gritar, mas sua mão imunda me cobre,
impedindo a saída do som. Sua mão me tateia, sentindo
meus seios enquanto ele sussurra em meu ouvido todas as
coisas horríveis que ele pretende fazer comigo. — Então, eu
vou levar a minha faca e... — Suas palavras desagradáveis
param imediatamente, após o som do estalar de madeira.
Assim como, de repente, a mão no meu pescoço se foi e
eu suspiro em uma respiração trêmula e olho para cima. Está
muito escuro para ver, mas há um homem vestido de
smoking, avançando sobre o ladrão. Ele lança socos uma e
outra vez, até que eles estão na parte de trás do beco, presos
por uma parede de tijolos. O ladrão é espancado e sangra,
mas ele não para de lutar. Nem o homem de smoking. Ele
distribui socos como um boxeador, tanto assim que é
hipnótico assistir. Quando a faca aparece, eu esperava que as
coisas se transformassem em favor do ladrão, mas isso não
acontece. O homem de smoking desarma o idiota e toma a
arma. Aconteceu tão rápido que eu não posso dizer como foi
feito. O homem de smoking recua seu braço como se
estivesse para empurrar a faca no peito do cara.
— Pare! — Eu chamo antes de perceber o que estou
fazendo. Uma das minhas mãos está segurando meu vestido
no busto e a outra está mal tocando meus lábios. Eu não
posso ver o cara morrer, mas eu não consigo desviar o olhar
também.
O homem de smoking não para. Um grito tremendo sai
dilacerado da minha garganta quando ele bate a faca no
ombro do ladrão. O bandido pega no seu braço e desliza para
baixo da parede, segurando seu ombro enquanto o casaco
fica encharcado de sangue. Ele olha diretamente para mim
com raiva.
O homem de smoking chuta o ladrão uma vez, e uma
voz familiar disse:
— Vá embora.
Eu tremo quando ouço isso, porque eu sei quem é ele,
Bryan. Ele deve ter me seguido. O medo agarra e azeda
dentro do meu estômago, enquanto eu olho para as suas
costas. Bryan não vira o rosto para mim. O ladrão comprime
os lábios e se levanta do chão do beco. Ele faz o seu caminho
passando por mim, e não diz nada.
Um tremor se apodera de mim e escorre pela minha
espinha, me fazendo ofegar. É quando ele se vira. O rosto de
Bryan está pálido e coberto de um brilho fino de suor. Ele
caminha de volta para mim e eu posso ver onde ele tomou
algumas pancadas. Há um rasgo em sua camisa, sob a lapela
do paletó, onde a faca cortou antes Bryan tomá-la do ladrão.
Passo a passo, ele caminha em minha direção, e eu
estou mais assustada por Bryan que qualquer coisa que já
encontrei. O que foi isso? Ele teria matado o homem se eu
não tivesse gritado? Eu não consigo parar de tremer.
Bryan alcança os meus ombros para me firmar, e eu
sinto aquele choque familiar que acompanha o seu toque.
Seu polegar esfrega suavemente sobre minha pele. — Você
está bem?
Mas, é muito. Eu não posso. Eu não posso. Eu não posso.
O pensamento não faz sentido, mas eu sei que tenho que
fazer com que ele me liberte. Seu toque tem uma maneira de
me desfazer, e eu estou caindo aos pedaços. Recuso-me a
deixá-lo ser o único a testemunhar isso. Eu empurro para
longe, e aceno com a cabeça rapidamente.
— Eu estou bem.
As mãos de Bryan permanecem paradas no ar por um
momento, antes de ele abaixa-las junto com seu olhar. Ele
observa o chão por um segundo e quando ele levanta o
queixo, vejo um sorriso nos seus lábios.
— Mentirosa. Você está longe de estar bem, mas eu
estou contente que você esteja parada.
Eu fico olhando para ele, incapaz de encontrar uma
resposta. Sua voz soa carinhosa, quase arrependida. Ele olha
por cima do meu ombro para alguém e, em seguida, diz:
— A sua carona está aqui. Da próxima vez, não tente
derrubar um assaltante por si mesmo.
Eu falo sem querer, mas as palavras saem e caem fora.
— Da próxima vez, não mate um homem por roubar minha
bolsa.
O canto dos lábios de Bryan puxa para cima, como se
quisesse sorrir, mas ele não sorri.
— Eu não iria matar um homem por roubar uma bolsa.
Que tipo de pessoa você acha que eu sou?
— Honestamente, eu não sei mais. Eu achava que sabia,
mas depois disso... — Eu balanço minha cabeça e fico sem
palavras. Bryan mudou o ataque no último segundo. Essa
faca não estava voltada para o ombro do homem — estava
dirigida para o seu coração. — Você ia matá-lo. Eu vi, você
não pode me dizer que não iria.
Bryan se inclina mais perto, e quando ele fala seu hálito
quente sussurra contra a minha orelha.
— Talvez, mas não foi porque ele pegou sua bolsa. — Ele
se inclina para trás e desliza as mãos nos bolsos, enquanto
seus olhos verdes me percorrem. — Ninguém toca em você,
enquanto você está comigo.
— Eu engulo em seco e olho para ele, com o coração
ainda disparando.
Maggie aparece atrás de mim um segundo depois. Ela
pega meu ombro e me vira.
— Hallie, diabo está acontecendo, e por que você está
aqui no beco sozinha? — Ela vê a maneira que eu estou
segurando meu vestido e o tecido rasgado. A preocupação
persiste em seu rosto, esperando pela minha resposta.
— Eu não estou sozinha, — mas quando me viro para
olhar, Bryan já se foi.
CAPÍTULO 3
Eu estive em um casulo de tristeza e este evento o
quebrou. Minha atordoada indiferença fratura e estilhaça,
como vidro barato. Eu olho para a bolsa presa em minha mão
e me pergunto o que há de errado comigo, mas ainda mais,
eu não consigo parar de pensar em Bryan, como ele veio do
nada e quase matou o homem que tentou me machucar.
Pare de pensar assim, eu me repreendo. Bryan agiu
como um lunático. A imagem de Bryan esfaqueando o cara
persiste através dos meus olhos mais uma vez e faz o meu
estômago embrulhar.
Maggie está falando, mas eu não disse muito. Estamos
em seu velho Ford Escort. A coisa corre mal, mas eu não
posso reclamar. Eu nem mesmo tenho um carro, não mais.
Maggie olha para mim por trás do volante, enquanto suas
mãos o seguram com firmeza.
— Hallie, se você estiver com vontade de vomitar, baixe
a janela. Aqui já cheira estranho o suficiente. — Ela está
certa, o carro tem um odor não identificável que está lá desde
que ela comprou.
— Eu estou bem, — eu digo novamente, embora seja
uma mentira. Meus braços envolvem meu peito para
esconder como minhas mãos tremem.
— Ah, Hallie, eu sei que você não quer falar e que está
tudo bem, mas eu quero informa-la sobre a minha nova casa.
— Eu olho para ela, sem entender o que ela quer dizer.
Maggie me dá um sorriso tímido e encolhe os ombros até as
suas orelhas, enquanto dirige. — Vamos apenas dizer que
não é algo que você aprovaria.
Eu não tenho paciência para lidar com seus enigmas
neste momento. A vida de Maggie é mais difícil do que a
minha, e eu sei disso, mas ela nunca tinha escondido coisas
de mim antes. Desta vez, é claro que ela escondeu, e isso me
preocupa. As únicas coisas que eu desaprovo são as que
possam matá-la. A menina não tem nenhum senso. Às vezes
me pergunto sobre ela, e como ela escolhe o que faz. Sorrio
sem jeito e olho para o tapete sujo no chão, que alguma vez
foi azul.
— O que é tão engraçado? — Maggie parece indignada,
como se eu a tivesse ofendido.
— Nada. Vamos apenas dizer que, se você soubesse o
que eu estava fazendo esta noite, você não se sentiria tão na
defensiva. Tenho certeza de que sua casa é boa.
Maggie se tranquiliza. Ela suspira quando vira em uma
rua lateral e começamos a fazer o nosso caminho através de
um bairro degradado. As casas são marcadas e branqueadas
pelo Sol, com gramados mortos, mas os carros são
customizados e caros. Mesmo que seja tarde, as pessoas
movem-se, sem fazer nada. Eu olho para a minha porta,
querendo trancá-la, mas eu não me mexo. Enquanto nós
rodamos passando pelos grupos de pessoas, os olhos deles
viram e nos assistem passar, antes de voltar para o que eles
estavam fazendo.
Maggie finalmente diz: — Não é muito, mas acho que
vale a pena.
— Você não tem que defender o seu apartamento para
mim, Maggie. Eu sou uma maldita sem-teto. — Eu olho para
ela e inclino a cabeça para trás no assento. Minhas palavras
não a consolam, então eu acrescento: — Além disso, eu não
sou uma garota-propaganda da moralidade, também. Você
não vai acreditar no que eu fiz hoje à noite, e o que eu vou
fazer. — Minha voz falha e eu balanço a cabeça, pensando
nos lábios de Bryan. Estou horrorizada por reagir da maneira
como o faço, mesmo que com a memória.
Ela ri uma vez, rapidamente. — Sim, certo. Hallie, você
nunca faz nada de mau. Estúpido, sim. Mau, não.
Eu olho para fora da janela e não vejo nada. As casas
deram lugar a apartamentos que se estendem para o céu na
noite. Fachadas de tijolos já viram dias melhores. Muitos
parecem vazios, como se ninguém vivesse lá, por muitos
anos. Meu peito se aperta e eu me contorço na cadeira. Meu
Deus, ela mora aqui? Por que ela não me contou? Há carros
queimados, latas de lixo viradas e entulho, tudo espalhado
por toda parte. Parece que a rua foi saqueada e esquecida,
assim como Maggie.
Segundas decisões são as que mudam vidas. Eu faço a
minha e cuspo fora antes de me acovardar.
— Bryan Ferro está me chantageando. Se eu não dormir
com ele sempre que ele quiser, vai dizer às pessoas que ele é
o cara no livro e fazer o que for preciso para me arruinar. Ele
disse que ia usar tudo o que tem contra mim e me deu um
ultimato.
Os grandes olhos de Maggie viram em minha direção,
com o queixo caído e boca aberta.
— Puta merda! Quando isso aconteceu? Como você vai
detê-lo? — Ela pisca para mim e vira os olhos de volta para a
estrada, embora eu saiba que ela não quer.
Esta é a parte que me faz sentir um lixo. Eu não sou
quem ela pensa que eu sou. Eu não tenho uma estrutura
moral de aço. Eu não posso nem olhar para ela.
— Esta noite eu acabei fazendo o anúncio do prêmio no
show com ele, e então ele me encontrou no banquete. — Eu
digo. Eu tento fazer a minha boca mover-se para formar as
palavras, mas não vão sair.
— De jeito nenhum. — Ela estaciona em um parque de
estacionamento que parece que foi usado como um local de
explosão da força aérea e desliga o carro. — Pegue suas
coisas e tranque a porta. — Eu faço como ela diz e me
apresso atrás dela. — Mantenha seus olhos baixos e me siga.
Não fale ou olhe para ninguém.
Entramos no lado de um desses prédios de tijolos
antigos e subimos alguns lances de escadas, até o quarto
andar. No momento que chegamos ao seu andar, eu quero
jogar o resto do meu sapato para fora da janela. Eu poderia,
não há vidro no painel. Eu a sigo, até a porta e por um longo
corredor mal iluminado. Nós paramos em frente à sua porta.
Enquanto ela se atrapalha com a chave, a porta contrária à
dela se abre. Um homem pálido, com cabelo loiro descolorido
e vestindo uma camiseta regata branca e cueca está lá e olha
para nós. Eu posso sentir seus olhos nas minhas costas. Ele
se inclina contra o batente da porta e cruza os braços sobre o
peito.
Quando ele fala, soa rouco, como se ele fumasse um
maço de cigarros todos os dias desde que ele tinha dois anos
de idade. — Trouxe-me outra?
— Não, — Maggie diz com firmeza. Ela não se vira para
olhar para o cara. Se eu não a conhecesse melhor, eu acharia
que ela estava com medo dele. Eu não aguento mais stress
esta noite. Meu cérebro parece que vai partir em dois, antes
que eu murche e morra. Maggie pega a chave para abrir, mas
porta emperra. Ela chuta uma vez com o pé e a porta mexe
ligeiramente. — Maldita porta, — ela murmura.
— Qual é o seu nome, docinho? — O cara está falando
comigo. Viro-me e olho por cima do ombro, e nossos olhos se
encontram. Ele envia um olhar frio para mim, ao ver o jeito
como ele está olhando de soslaio. O cara é enorme, ele é todo
músculos e agora ele está sorrindo para mim, revelando uma
coroa de ouro em seu dente canino.
— Oi, — eu digo timidamente, e arrumo o meu cabelo
para atrás da minha orelha, tentando evitar o olhar dele
enquanto não respondo sua pergunta.
Enquanto o cara está de boca aberta, Maggie chuta na
porta. A porta se abre, ela agarra meu braço e me puxa. Eu
sigo, voando atrás dela enquanto ela grita por cima do ombro,
— eu vou lhe trazer alguém amanhã, eu juro. Boa noite, Vic.
— Ela bate a porta com o pé e parece abalada.
Seu apartamento é aproximadamente o mesmo tamanho
de um pequeno corredor. Há uma pequena janela com uma
folha grampeada sobre ela e sem móveis. Algumas das roupas
de Maggie estão jogadas ao redor do lugar, como se ela
tivesse saído com pressa. Se eu morasse aqui, eu iria embora
rapidamente, também.
— Obrigado por me deixar ficar com você.
— Sim, não há problema. É uma merda como este é o
pior lugar que eu já vivi, mas é um refúgio. Eu durmo aqui e,
em seguida, dou o fora. O aluguel não é horrível. — Ela
oferece um sorriso torto, mas é franco.
Eu preciso dela, e não há um muro entre nós. Ela acha
que eu sou perfeita, mas eu não sou. Eu fiz coisas que ela
não sabe. As palavras estão na minha língua e eu enrolo-as
em torno de minha boca, tentando descobrir como dizer isso,
enquanto a Maggie tagarela, enchendo o ambiente com sua
voz.
Um casal está brigando nas proximidades, e o som está
cada vez mais alto. Estão lutando, eu não quero dizer
discutindo. Há coisas batendo nas paredes e quebrando.
Chove gesso para baixo sobre nós como flocos de neve
quando algo cai de cima. Maggie olha horrorizada quando ela
puxa sua cama Murphy 2 para baixo da parede. Tomando
quase toda a sala. — Você pode dormir aqui. Eu vou dormir
no chão.
— Não.
Ela sorri. — Não seja boba, você é minha convidada. —
Palavrões ressoam acima de nós quando um homem irritado
grita. É prontamente seguido de um grito agudo. Maggie
morde as unhas do jeito que ela fazia quando éramos
crianças e olha em volta, como se ela desejasse poder
queimar o lugar.
2
— Eu não vou fazer você dormir no chão, mas há outra
coisa que eu preciso lhe dizer.
— Maggie olha para mim por debaixo de sua massa de
cabelo vermelho. Eu sou sua única amiga de verdade, sua
única família e ela a minha. Deus, o que é que ela vai pensar
de mim quando eu lhe disser o que eu concordei em fazer?
Eu não acho que eu vou ser capaz de suportá-lo. Meus
braços ainda estão dobrados sobre o peito, com as mãos
firmemente aninhadas nos meus braços.
— Hallie, qual o problema? — Maggie deixa de fazer a
cama e se senta. Ela dá um tapinha no lugar ao lado dela e
me sento.
Olhando para frente, eu engulo em seco e digo a ela.
— Eu disse que sim. — Você disse sim para o quê?
Hallie, você não está fazendo sentido, do que você está
falando?
Quando me viro para olhar para ela, e encontro com
aqueles grandes olhos verdes e sinto medo. Minha pele fica
arrepiada, mas eu não consigo desviar o olhar.
— Eu disse a Bryan Ferro que sim. Eu cedi. Ele ganhou
e eu perdi.
— O quê? — Ela está furiosa, pronta para voar para fora
do seu assento e defender-me até a morte.
Eu coloco minha mão no colo dela para fazê-la parar. —
Eu fui ao seu quarto de hotel para dizer-lhe para ir chupar
um prego, mas eu mudei de ideia quando ouvi sua voz. Eu
pensei que algo estava errado e esta era a sua maneira de
merda para me dizer. Conheci-o uma vez, pelo menos eu
pensei que tinha conhecido. Então, quando eu estava
esperando por você do lado de fora, eu... — minha voz está
trêmula e eu não posso mais esconder o meu horror, — um
cara tentou roubar minha bolsa. Para encurtar a história, ele
me pegou por trás do prédio e ia me machucar. Bryan
apareceu e ele... — Eu não posso dizer isso. Meu Bryan
perfeito fez algo que era tão diferente dele, tão terrivelmente
selvagem, que eu não sei o que pensar. Ele me protegeu, mas
ainda parece errado.
— Ele a machucou? — Maggie está furiosa, eu posso
ouvir em sua voz. Mas a forma como ela fala suas palavras
ondulando entre muito alta e baixa, dão a deixa.
— Não, ele atacou o homem, e esfaqueou-o. Se eu não
dissesse a Bryan para parar, acho que ele teria matado o
cara. — Olho para ela, mas eu não posso mais enxergar.
Meus olhos têm brilham com lágrimas que tudo fica
desfocado.
Maggie ergue os braços e eu caio neles. Ela sempre foi
como uma irmã para mim. Estivemos sempre uma para a
outra, e eu temo que a história com Bryan e o que eu me
tornei vá fazê-la me odiar. Meu pai teria vergonha de me
chamar de filha, e eu espero o mesmo de Maggie. Em vez
disso, ela fica lá no colchão gasto e me acalma.
Depois de um forte abraço, ela libera meus ombros e
pega meu queixo. — Você e eu passamos por tudo juntas.
Não pense que eu a estou socorrendo por causa disso. Se não
for por qualquer coisa, a vida fica mais interessante, isso é
tudo.
Eu enxugo as lágrimas dos meus olhos e rio, porque ela
está tão errada. — Esse é o eufemismo do ano.
— O meu ponto é, eu estou aqui por você. Eu sempre
estarei aqui para você. — Ela bate no meu ombro com a dela.
— Então, Bryan Ferro tem um lado negro por trás de todo o
brilho e deslumbre?
— Aparentemente.
— Foi divertido ou ele fez coisas estranhas?
Eu sorrio e limpo meus olhos novamente. — Não, não
hoje à noite de qualquer maneira. Ele me chamou para seu
quarto, eu fui, e nos beijamos. Então, ele me mandou ir
embora.
Os lábios de Maggie puxaram um pouco para cima. —
Ele a jogou para fora? Mas que inferno...?
— Eu não sei. É como se ele estivesse louco e deixando o
Hulk sair ou algo assim. Ele não olhava para mim. As coisas
estavam quentes e pesadas até então. — A intuição continua
me dizendo que algo estava errado, mas não posso entender o
quê.
Maggie sorri: — Ele foi melhor do que Neil, certo?
Eu faço uma careta e olhou para ela como se ela fosse
louca. — Uh, Bryan está me chantageando.
— E ele é mais quente do que Neil. Vá em frente, diga.
Eu sou sua amiga, então eu já sei.
Eu baixei meus olhos em direção ao chão e não disse
nada. Eu não tenho que dizer nada, a minha expressão diz
tudo. Bryan é muito mais quente do que Neil, não há
comparação. Os dois homens são noite e dia, e Bryan é a
noite sexy. Neil a voz racional que soa como o FDA 3,
lembrando-me de fazer todas as coisas com moderação, mas
não todas as coisas, somente as ações que ele aprova. Droga.
Eu enterro meu rosto em minhas mãos e suspiro.
Maggie acaricia minhas costas. — Está tudo bem.
Qualquer um é mais quente do que Neil. Não se sinta
culpada, mas eu não contaria exatamente ao Senhor Calças
Perfeitamente Passadas. Ele vai surtar ao saber que alguém
tocou em você. — Maggie está tirando as roupas e puxando
uma camisa de dormir e calças, enquanto ela fala.
— Na verdade, Neil sabe.
3 FDA - Food and Drug Administration - Agencia reguladora de remédios e alimentos.
— O quê? — Ela está pulando em um pé, tentando
enfiar o pé pela perna da calça e cai. — Como é que ele sabe?
Você disse que acabou de acontecer.
— Neil sabe por que foi ele quem me disse para fazer
isso.
CONTINUA
Bryan está de queixo caído e boca aberta, com aqueles olhos verdes semicerrados, em chamas. Fúria e choque não parecem bons para ele. As emoções distorcem seu belo rosto,
estragam as linhas suaves de sua pele, fazendo-o parecer bem mais velho. Seus punhos estão fechados, apertados em seus lados, mas ele pisca uma vez e a reação diminui. Há muitas coisas que eu não sei sobre Bryan Ferro, mas uma coisa eu sei, ele é uma merda em manter as coisas escondidas. Seus pensamentos dançam em seu rosto de vez em quando, e é por isso que ele está desconfiado de mim.
Virando abruptamente, Bryan pressiona seus dedos em sua têmpora direita. Sua voz sai como um grunhido.
— Eu lhe disse para ir embora.
— Seus ombros estão tensos, cada músculo está apertado a ponto de eu poder ver as curvas de seu corpo sob essa camisa. Ele flexiona a mão que está ao seu lado antes de deslizar em seu bolso. Bryan pode ser capaz de esconder tudo, de todos os outros, mas não de mim.
— Sim, eu ouvi essa parte. — Eu ajo como se eu não me importasse, deito-me no tapete, e dobro as minhas mãos atrás da minha cabeça. O piso é suave e difuso. Levanto os meus joelhos, eu deixo a queda do meu vestido em torno dos meus tornozelos e até meus pés, para sentir a pilha macia entre os dedos dos pés. O tapete no meu antigo quarto parecia como um saco de batata, em relação a este material.
Mesmo com Bryan irado, eu estou sorrindo. A vozinha na parte de trás da minha cabeça me diz que eu perdi minha mente. Eu respondo de volta que eu nunca tive um controle firme sobre isso de qualquer maneira.
https://img.comunidades.net/bib/bibliotecasemlimites/2_A_PROPOSI_O.jpg
Bryan pode ver meu reflexo no espelho, mas eu não
posso ver mais do que as suas costas e a maneira como ele
agarra sua cabeça como se fosse explodir. Ele está furioso
comigo? Não consigo entender sua raiva, mas transborda
para fora de sua boca de novo, espetando como espinhos,
neste momento.
— Se você não consegue entender os termos deste
acordo, então eu temo que nós não tenhamos um.
— O quê? — Sento-me e giro em torno, de modo que
estou de frente para as suas costas.
Bryan se vira, e a tensão que está estampada no seu
rosto é horrível. Eu encontro o seu olhar, mas eu não posso
olha-lo sem querer corrigir o que está fazendo com ele. Todas
as imagens na imprensa mostram a versão de Bryan que eu
conhecia, leve e despreocupado, mas este homem, aqui, não é
nenhuma dessas coisas. Algo está esmagando-o de dentro
para fora e deixando-o em pedaços. Seu corpo está tremendo,
ele está tão bravo. Ele tenta respirar fundo, mas isso só faz o
seu rosto ficar mais apertado.
— Você me ouviu. Se você não fizer as coisas do meu
jeito, eu vou arruinar você. Este não é o meu jeito, você sabe
muito bem disso. Saia daqui.
Ele não grita, mas suas palavras me fazem tremer. Não
há calor, não há compaixão. Talvez eu não o conheça mais e
ele está certo. Apertando os lábios, eu engulo minha resposta,
mas esta incha dentro de mim e enche meu peito. Eu peguei
meus sapatos saltos de volta e calcei em meus pés cansados
antes de levantar. Eu ando mais e pego minha bolsa.
Eu deveria sair. A vozinha dentro de mim canta como
um duende com uma voz agradável, sim, vá. Faça isso.
Agora.
Meus olhos estão fixos na porta como se fosse o
caminho para o inferno. Algo sobre sair agora parece errado,
mas não posso entender sobre o que está prendendo meus
pés no lugar. Caramba, é o pensamento que está me
segurando. Ele está me prendendo aqui e eu não posso me
mover. Parece como engolir o vômito e eu não posso fazê-lo.
Eu sou o cérebro danificado, mas não posso ser algo que não sou.
Girando sobre meus pés, eu atravesso o piso acarpetado
e elegante, e caminho até ele. Bryan não se vira para olhar
para mim. Em vez disso, suas mãos estão segurando a parte
superior do bar como se ele quisesse arrancá-lo da parede.
Suas costas estão curvadas e sua cabeça está pendurada
entre os ombros, como se ele estivesse tentando não me
rasgar em pedaços. Outra mulher teria corrido agora mesmo,
mas eu sou a dopada que anda mais perto.
— Eu sou uma idiota, — eu digo, enquanto olho para os
meus sapatos, e rio de leve. É o tipo de som que não tem
alegria e revela uma alma torturada. Meus olhos levantam
para seus ombros. Eu fico lá por um momento esperando que
ele se vire, mas ele não vira. Bryan não fala ou levanta o
olhar. Ele permanece debruçado sobre o bar como um troll 1.
Eu continuo, — vê-lo hoje à noite foi terrível e
maravilhoso. Isso evocou memórias e sentimentos que eu
tinha tempo esquecido há muito. Escrever sobre, é uma
coisa, mas vê-lo novamente está além das palavras.
Desculpe-me se eu o machuquei, mesmo que eu não entenda
o que eu fiz. E seu eu pudesse corrigir. Eu...
Por que estou fazendo isso? Eu estou me desculpando
com as suas costas, o homem não tem sequer a decência de
se virar e encarar-me. Eu respiro fundo e endireito a minha
espinha.
— As pessoas cometem erros, Bryan, e parece que o
meu maior erro foi conhecê-lo.
1
Troll – é uma gíria que designa uma pessoa cujo comportamento tende sistematicamente a desestabilizar uma
discussão, provocar e enfurecer as pessoas envolvidas nela. Há trolls de todo tipo, desde o mais ignorante e rude
que xinga e provoca, até o mais apto intelectualmente que discursa com o objetivo de desestabilizar o interlocutor
e levá-lo a fúria, para depois desqualificá-lo, matando seu argumento e abalando sua reputação.
A fúria me inunda quando eu corro pela sala. Eu agarro
a maçaneta da porta e não olho para trás, apesar de sentir
seus olhos em mim. Dane-se ele. Eu vivi coisas piores. Eu
digo essas palavras uma e outra vez, porque aconteceu.
Depois corro pelo corredor, aperto o botão para baixo no
elevador uma e outra vez, perguntando por que eu estou tão
chateada. Depois de um momento, eu sinto o pensamento
picar os meus olhos e apertar a minha garganta e eu sei
exatamente por que estou tão chateada.
É possível que as coisas estejam invertidas, e como eu
não conhecesse o verdadeiro Bryan Ferro, aquele com quem
dormi todos esses anos, era o falso.
CAPÍTULO 2
Eu não posso ir para casa e enfrentar Neil, por isso eu
telefono para Maggie. Ela atende no terceiro toque. Eu estou
andando na rua em frente ao hotel com o meu telefone
pressionado ao meu ouvido. É tarde e escuro. Evitando as
sombras, eu ando mais perto da rua do que no hotel.
— Maggie. — Eu tento esconder a tensão na minha voz,
mas ela ouve. Nós nos conhecemos há muito tempo. — Vou
tirar suas bolas fora.
— O que diabo aconteceu? Onde você está? — Ela me
enche de perguntas, até que eu possa finalmente fazê-la calar
a boca.
— Eu preciso de um lugar para dormir. Eu não posso
ver Neil agora e eu não tenho outro lugar para ir.
Maggie fica em silêncio.
— O que é meu, é seu. Você sabe disso, mas eu não
tenho certeza que você vá gostar.
— Em qualquer lugar é melhor do que aqui ou com Neil.
— Eu sinto uma náusea fazendo seu caminho até a minha
garganta. Lágrimas estão chegando, e tenho a sensação de
que vai ser um maremoto.
— Claro, claro. Eu estarei aí em cinco minutos.
— A linha de Maggie desliga, e eu fecho o meu telefone e
o coloco em minha bolsa.
A cidade se move em torno de mim, mas parece que eu
estou em uma bolha. As pessoas passam na calçada, mas eu
não as noto. Eu passeio, perdida em pensamentos, agarrando
minha bolsa perto do meu corpo. O ar da noite tem aquele
cheiro que é distintamente de Nova York. Eu o inspiro e
quando me viro, quase bato em alguém. O cara é uma
parede, de marrom e preto. Seu casaco tem cheiro de cigarros
velhos e naftalina.
Antes de eu ter tempo para descobrir o que está
acontecendo, ele pega a minha bolsa, em seguida, coloca a
mão no centro do meu peito e me empurra, com força. Eu
grito, tropeço e caio para trás, enquanto minha bolsa é
arrancada de minhas mãos. O cara se vira e está pronto para
correr, mas eu não estou com disposição para perder a bolsa.
Eu estou fodidamente quebrada. Todo o dinheiro que eu
tenho está lá dentro.
Antes que eu saiba o que estou fazendo, eu pego um dos
meus sapatos de salto alto e atiro em sua cabeça. Acerto e ele
cai na calçada. Poucas pessoas param para assistir, mas
ninguém faz nada - típico dos nova-iorquinos. Todo mundo
quer ver, mas ninguém ajuda.
Nesse ponto, tudo acontece em câmera lenta. Eu estou
em pé, mesmo que eu não me lembre de ficar pé. Um pé está
congelado, sobre o cimento frio, enquanto o outro ainda está
calçado. O ladrão levanta a mão e bota na parte de trás de
sua cabeça e puxa-a. Ele olha para os seus dedos, seus olhos
escuros apreciando o sangue vermelho e pegajoso em sua
mão. A ponta do meu salto que bateu com a parte traseira de
seu couro cabeludo, deve tê-lo cortado.
Meu coração para, quando o sujeito se vira para mim.
Seus olhos têm um olhar enlouquecido e os ombros tremem
como se ele fosse me rasgar ao meio.
— Você. — Ele diz isso como se fosse o meu nome e ele
me odeia.
O homem dá passos em direção a mim e fala
novamente, mas suas mãos lentamente movem para cima,
como se ele fosse me atacar ou me estrangular. Eu suspiro
alguma coisa, mas ele não sai antes de eu dar um passo para
trás, aterrorizada. Meu pulso ruge em meus ouvidos, então
olho em volta a procura de ajuda, mas não vejo ninguém. A
multidão se afastou, ou talvez eu tenha ido embora. Onde
está um policial quando eu preciso de um?
O resto acontece freneticamente rápido. Alguém grita
comigo, enquanto o homem procura o meu pescoço. Eu caio,
mas ele pega no meu ombro. Ele aperta-me com força,
fazendo com que o meu pescoço estale para trás enquanto ele
grita na minha cara.
— Sua pequena vadia!
O resto de suas palavras se tornam zumbidos, enquanto
ele me aperta mais. Estou ciente do vento, do ar da noite, e
do homem que está me estrangulando. Em algum momento,
as mãos deslizam até o pescoço. Eu agarro em suas mãos e
tento gritar, mas não sai nada. Eu não entendo por que
ninguém nos vê, por que eles simplesmente deixam esse
ladrão me machucar.
Balançando as minhas pernas, eu o chuto, mas não
adianta. Eu não sou forte o suficiente. Eu tentei tudo o que
sabia fazer e nada funcionou. O homem me atira e bate
minhas costas contra uma parede de tijolos. O frio me sacode
e me pergunto como chegamos ao beco ao lado do hotel, mas
os pensamentos cessam quando vejo o olhar em seus olhos.
Um sorriso mal aparece em seu rosto quando ele rasga o
ombro do meu vestido. O tecido sai em sua mão e permite
que o vestido deslizar alguns centímetros.
Abro a boca para gritar, mas sua mão imunda me cobre,
impedindo a saída do som. Sua mão me tateia, sentindo
meus seios enquanto ele sussurra em meu ouvido todas as
coisas horríveis que ele pretende fazer comigo. — Então, eu
vou levar a minha faca e... — Suas palavras desagradáveis
param imediatamente, após o som do estalar de madeira.
Assim como, de repente, a mão no meu pescoço se foi e
eu suspiro em uma respiração trêmula e olho para cima. Está
muito escuro para ver, mas há um homem vestido de
smoking, avançando sobre o ladrão. Ele lança socos uma e
outra vez, até que eles estão na parte de trás do beco, presos
por uma parede de tijolos. O ladrão é espancado e sangra,
mas ele não para de lutar. Nem o homem de smoking. Ele
distribui socos como um boxeador, tanto assim que é
hipnótico assistir. Quando a faca aparece, eu esperava que as
coisas se transformassem em favor do ladrão, mas isso não
acontece. O homem de smoking desarma o idiota e toma a
arma. Aconteceu tão rápido que eu não posso dizer como foi
feito. O homem de smoking recua seu braço como se
estivesse para empurrar a faca no peito do cara.
— Pare! — Eu chamo antes de perceber o que estou
fazendo. Uma das minhas mãos está segurando meu vestido
no busto e a outra está mal tocando meus lábios. Eu não
posso ver o cara morrer, mas eu não consigo desviar o olhar
também.
O homem de smoking não para. Um grito tremendo sai
dilacerado da minha garganta quando ele bate a faca no
ombro do ladrão. O bandido pega no seu braço e desliza para
baixo da parede, segurando seu ombro enquanto o casaco
fica encharcado de sangue. Ele olha diretamente para mim
com raiva.
O homem de smoking chuta o ladrão uma vez, e uma
voz familiar disse:
— Vá embora.
Eu tremo quando ouço isso, porque eu sei quem é ele,
Bryan. Ele deve ter me seguido. O medo agarra e azeda
dentro do meu estômago, enquanto eu olho para as suas
costas. Bryan não vira o rosto para mim. O ladrão comprime
os lábios e se levanta do chão do beco. Ele faz o seu caminho
passando por mim, e não diz nada.
Um tremor se apodera de mim e escorre pela minha
espinha, me fazendo ofegar. É quando ele se vira. O rosto de
Bryan está pálido e coberto de um brilho fino de suor. Ele
caminha de volta para mim e eu posso ver onde ele tomou
algumas pancadas. Há um rasgo em sua camisa, sob a lapela
do paletó, onde a faca cortou antes Bryan tomá-la do ladrão.
Passo a passo, ele caminha em minha direção, e eu
estou mais assustada por Bryan que qualquer coisa que já
encontrei. O que foi isso? Ele teria matado o homem se eu
não tivesse gritado? Eu não consigo parar de tremer.
Bryan alcança os meus ombros para me firmar, e eu
sinto aquele choque familiar que acompanha o seu toque.
Seu polegar esfrega suavemente sobre minha pele. — Você
está bem?
Mas, é muito. Eu não posso. Eu não posso. Eu não posso.
O pensamento não faz sentido, mas eu sei que tenho que
fazer com que ele me liberte. Seu toque tem uma maneira de
me desfazer, e eu estou caindo aos pedaços. Recuso-me a
deixá-lo ser o único a testemunhar isso. Eu empurro para
longe, e aceno com a cabeça rapidamente.
— Eu estou bem.
As mãos de Bryan permanecem paradas no ar por um
momento, antes de ele abaixa-las junto com seu olhar. Ele
observa o chão por um segundo e quando ele levanta o
queixo, vejo um sorriso nos seus lábios.
— Mentirosa. Você está longe de estar bem, mas eu
estou contente que você esteja parada.
Eu fico olhando para ele, incapaz de encontrar uma
resposta. Sua voz soa carinhosa, quase arrependida. Ele olha
por cima do meu ombro para alguém e, em seguida, diz:
— A sua carona está aqui. Da próxima vez, não tente
derrubar um assaltante por si mesmo.
Eu falo sem querer, mas as palavras saem e caem fora.
— Da próxima vez, não mate um homem por roubar minha
bolsa.
O canto dos lábios de Bryan puxa para cima, como se
quisesse sorrir, mas ele não sorri.
— Eu não iria matar um homem por roubar uma bolsa.
Que tipo de pessoa você acha que eu sou?
— Honestamente, eu não sei mais. Eu achava que sabia,
mas depois disso... — Eu balanço minha cabeça e fico sem
palavras. Bryan mudou o ataque no último segundo. Essa
faca não estava voltada para o ombro do homem — estava
dirigida para o seu coração. — Você ia matá-lo. Eu vi, você
não pode me dizer que não iria.
Bryan se inclina mais perto, e quando ele fala seu hálito
quente sussurra contra a minha orelha.
— Talvez, mas não foi porque ele pegou sua bolsa. — Ele
se inclina para trás e desliza as mãos nos bolsos, enquanto
seus olhos verdes me percorrem. — Ninguém toca em você,
enquanto você está comigo.
— Eu engulo em seco e olho para ele, com o coração
ainda disparando.
Maggie aparece atrás de mim um segundo depois. Ela
pega meu ombro e me vira.
— Hallie, diabo está acontecendo, e por que você está
aqui no beco sozinha? — Ela vê a maneira que eu estou
segurando meu vestido e o tecido rasgado. A preocupação
persiste em seu rosto, esperando pela minha resposta.
— Eu não estou sozinha, — mas quando me viro para
olhar, Bryan já se foi.
CAPÍTULO 3
Eu estive em um casulo de tristeza e este evento o
quebrou. Minha atordoada indiferença fratura e estilhaça,
como vidro barato. Eu olho para a bolsa presa em minha mão
e me pergunto o que há de errado comigo, mas ainda mais,
eu não consigo parar de pensar em Bryan, como ele veio do
nada e quase matou o homem que tentou me machucar.
Pare de pensar assim, eu me repreendo. Bryan agiu
como um lunático. A imagem de Bryan esfaqueando o cara
persiste através dos meus olhos mais uma vez e faz o meu
estômago embrulhar.
Maggie está falando, mas eu não disse muito. Estamos
em seu velho Ford Escort. A coisa corre mal, mas eu não
posso reclamar. Eu nem mesmo tenho um carro, não mais.
Maggie olha para mim por trás do volante, enquanto suas
mãos o seguram com firmeza.
— Hallie, se você estiver com vontade de vomitar, baixe
a janela. Aqui já cheira estranho o suficiente. — Ela está
certa, o carro tem um odor não identificável que está lá desde
que ela comprou.
— Eu estou bem, — eu digo novamente, embora seja
uma mentira. Meus braços envolvem meu peito para
esconder como minhas mãos tremem.
— Ah, Hallie, eu sei que você não quer falar e que está
tudo bem, mas eu quero informa-la sobre a minha nova casa.
— Eu olho para ela, sem entender o que ela quer dizer.
Maggie me dá um sorriso tímido e encolhe os ombros até as
suas orelhas, enquanto dirige. — Vamos apenas dizer que
não é algo que você aprovaria.
Eu não tenho paciência para lidar com seus enigmas
neste momento. A vida de Maggie é mais difícil do que a
minha, e eu sei disso, mas ela nunca tinha escondido coisas
de mim antes. Desta vez, é claro que ela escondeu, e isso me
preocupa. As únicas coisas que eu desaprovo são as que
possam matá-la. A menina não tem nenhum senso. Às vezes
me pergunto sobre ela, e como ela escolhe o que faz. Sorrio
sem jeito e olho para o tapete sujo no chão, que alguma vez
foi azul.
— O que é tão engraçado? — Maggie parece indignada,
como se eu a tivesse ofendido.
— Nada. Vamos apenas dizer que, se você soubesse o
que eu estava fazendo esta noite, você não se sentiria tão na
defensiva. Tenho certeza de que sua casa é boa.
Maggie se tranquiliza. Ela suspira quando vira em uma
rua lateral e começamos a fazer o nosso caminho através de
um bairro degradado. As casas são marcadas e branqueadas
pelo Sol, com gramados mortos, mas os carros são
customizados e caros. Mesmo que seja tarde, as pessoas
movem-se, sem fazer nada. Eu olho para a minha porta,
querendo trancá-la, mas eu não me mexo. Enquanto nós
rodamos passando pelos grupos de pessoas, os olhos deles
viram e nos assistem passar, antes de voltar para o que eles
estavam fazendo.
Maggie finalmente diz: — Não é muito, mas acho que
vale a pena.
— Você não tem que defender o seu apartamento para
mim, Maggie. Eu sou uma maldita sem-teto. — Eu olho para
ela e inclino a cabeça para trás no assento. Minhas palavras
não a consolam, então eu acrescento: — Além disso, eu não
sou uma garota-propaganda da moralidade, também. Você
não vai acreditar no que eu fiz hoje à noite, e o que eu vou
fazer. — Minha voz falha e eu balanço a cabeça, pensando
nos lábios de Bryan. Estou horrorizada por reagir da maneira
como o faço, mesmo que com a memória.
Ela ri uma vez, rapidamente. — Sim, certo. Hallie, você
nunca faz nada de mau. Estúpido, sim. Mau, não.
Eu olho para fora da janela e não vejo nada. As casas
deram lugar a apartamentos que se estendem para o céu na
noite. Fachadas de tijolos já viram dias melhores. Muitos
parecem vazios, como se ninguém vivesse lá, por muitos
anos. Meu peito se aperta e eu me contorço na cadeira. Meu
Deus, ela mora aqui? Por que ela não me contou? Há carros
queimados, latas de lixo viradas e entulho, tudo espalhado
por toda parte. Parece que a rua foi saqueada e esquecida,
assim como Maggie.
Segundas decisões são as que mudam vidas. Eu faço a
minha e cuspo fora antes de me acovardar.
— Bryan Ferro está me chantageando. Se eu não dormir
com ele sempre que ele quiser, vai dizer às pessoas que ele é
o cara no livro e fazer o que for preciso para me arruinar. Ele
disse que ia usar tudo o que tem contra mim e me deu um
ultimato.
Os grandes olhos de Maggie viram em minha direção,
com o queixo caído e boca aberta.
— Puta merda! Quando isso aconteceu? Como você vai
detê-lo? — Ela pisca para mim e vira os olhos de volta para a
estrada, embora eu saiba que ela não quer.
Esta é a parte que me faz sentir um lixo. Eu não sou
quem ela pensa que eu sou. Eu não tenho uma estrutura
moral de aço. Eu não posso nem olhar para ela.
— Esta noite eu acabei fazendo o anúncio do prêmio no
show com ele, e então ele me encontrou no banquete. — Eu
digo. Eu tento fazer a minha boca mover-se para formar as
palavras, mas não vão sair.
— De jeito nenhum. — Ela estaciona em um parque de
estacionamento que parece que foi usado como um local de
explosão da força aérea e desliga o carro. — Pegue suas
coisas e tranque a porta. — Eu faço como ela diz e me
apresso atrás dela. — Mantenha seus olhos baixos e me siga.
Não fale ou olhe para ninguém.
Entramos no lado de um desses prédios de tijolos
antigos e subimos alguns lances de escadas, até o quarto
andar. No momento que chegamos ao seu andar, eu quero
jogar o resto do meu sapato para fora da janela. Eu poderia,
não há vidro no painel. Eu a sigo, até a porta e por um longo
corredor mal iluminado. Nós paramos em frente à sua porta.
Enquanto ela se atrapalha com a chave, a porta contrária à
dela se abre. Um homem pálido, com cabelo loiro descolorido
e vestindo uma camiseta regata branca e cueca está lá e olha
para nós. Eu posso sentir seus olhos nas minhas costas. Ele
se inclina contra o batente da porta e cruza os braços sobre o
peito.
Quando ele fala, soa rouco, como se ele fumasse um
maço de cigarros todos os dias desde que ele tinha dois anos
de idade. — Trouxe-me outra?
— Não, — Maggie diz com firmeza. Ela não se vira para
olhar para o cara. Se eu não a conhecesse melhor, eu acharia
que ela estava com medo dele. Eu não aguento mais stress
esta noite. Meu cérebro parece que vai partir em dois, antes
que eu murche e morra. Maggie pega a chave para abrir, mas
porta emperra. Ela chuta uma vez com o pé e a porta mexe
ligeiramente. — Maldita porta, — ela murmura.
— Qual é o seu nome, docinho? — O cara está falando
comigo. Viro-me e olho por cima do ombro, e nossos olhos se
encontram. Ele envia um olhar frio para mim, ao ver o jeito
como ele está olhando de soslaio. O cara é enorme, ele é todo
músculos e agora ele está sorrindo para mim, revelando uma
coroa de ouro em seu dente canino.
— Oi, — eu digo timidamente, e arrumo o meu cabelo
para atrás da minha orelha, tentando evitar o olhar dele
enquanto não respondo sua pergunta.
Enquanto o cara está de boca aberta, Maggie chuta na
porta. A porta se abre, ela agarra meu braço e me puxa. Eu
sigo, voando atrás dela enquanto ela grita por cima do ombro,
— eu vou lhe trazer alguém amanhã, eu juro. Boa noite, Vic.
— Ela bate a porta com o pé e parece abalada.
Seu apartamento é aproximadamente o mesmo tamanho
de um pequeno corredor. Há uma pequena janela com uma
folha grampeada sobre ela e sem móveis. Algumas das roupas
de Maggie estão jogadas ao redor do lugar, como se ela
tivesse saído com pressa. Se eu morasse aqui, eu iria embora
rapidamente, também.
— Obrigado por me deixar ficar com você.
— Sim, não há problema. É uma merda como este é o
pior lugar que eu já vivi, mas é um refúgio. Eu durmo aqui e,
em seguida, dou o fora. O aluguel não é horrível. — Ela
oferece um sorriso torto, mas é franco.
Eu preciso dela, e não há um muro entre nós. Ela acha
que eu sou perfeita, mas eu não sou. Eu fiz coisas que ela
não sabe. As palavras estão na minha língua e eu enrolo-as
em torno de minha boca, tentando descobrir como dizer isso,
enquanto a Maggie tagarela, enchendo o ambiente com sua
voz.
Um casal está brigando nas proximidades, e o som está
cada vez mais alto. Estão lutando, eu não quero dizer
discutindo. Há coisas batendo nas paredes e quebrando.
Chove gesso para baixo sobre nós como flocos de neve
quando algo cai de cima. Maggie olha horrorizada quando ela
puxa sua cama Murphy 2 para baixo da parede. Tomando
quase toda a sala. — Você pode dormir aqui. Eu vou dormir
no chão.
— Não.
Ela sorri. — Não seja boba, você é minha convidada. —
Palavrões ressoam acima de nós quando um homem irritado
grita. É prontamente seguido de um grito agudo. Maggie
morde as unhas do jeito que ela fazia quando éramos
crianças e olha em volta, como se ela desejasse poder
queimar o lugar.
2
— Eu não vou fazer você dormir no chão, mas há outra
coisa que eu preciso lhe dizer.
— Maggie olha para mim por debaixo de sua massa de
cabelo vermelho. Eu sou sua única amiga de verdade, sua
única família e ela a minha. Deus, o que é que ela vai pensar
de mim quando eu lhe disser o que eu concordei em fazer?
Eu não acho que eu vou ser capaz de suportá-lo. Meus
braços ainda estão dobrados sobre o peito, com as mãos
firmemente aninhadas nos meus braços.
— Hallie, qual o problema? — Maggie deixa de fazer a
cama e se senta. Ela dá um tapinha no lugar ao lado dela e
me sento.
Olhando para frente, eu engulo em seco e digo a ela.
— Eu disse que sim. — Você disse sim para o quê?
Hallie, você não está fazendo sentido, do que você está
falando?
Quando me viro para olhar para ela, e encontro com
aqueles grandes olhos verdes e sinto medo. Minha pele fica
arrepiada, mas eu não consigo desviar o olhar.
— Eu disse a Bryan Ferro que sim. Eu cedi. Ele ganhou
e eu perdi.
— O quê? — Ela está furiosa, pronta para voar para fora
do seu assento e defender-me até a morte.
Eu coloco minha mão no colo dela para fazê-la parar. —
Eu fui ao seu quarto de hotel para dizer-lhe para ir chupar
um prego, mas eu mudei de ideia quando ouvi sua voz. Eu
pensei que algo estava errado e esta era a sua maneira de
merda para me dizer. Conheci-o uma vez, pelo menos eu
pensei que tinha conhecido. Então, quando eu estava
esperando por você do lado de fora, eu... — minha voz está
trêmula e eu não posso mais esconder o meu horror, — um
cara tentou roubar minha bolsa. Para encurtar a história, ele
me pegou por trás do prédio e ia me machucar. Bryan
apareceu e ele... — Eu não posso dizer isso. Meu Bryan
perfeito fez algo que era tão diferente dele, tão terrivelmente
selvagem, que eu não sei o que pensar. Ele me protegeu, mas
ainda parece errado.
— Ele a machucou? — Maggie está furiosa, eu posso
ouvir em sua voz. Mas a forma como ela fala suas palavras
ondulando entre muito alta e baixa, dão a deixa.
— Não, ele atacou o homem, e esfaqueou-o. Se eu não
dissesse a Bryan para parar, acho que ele teria matado o
cara. — Olho para ela, mas eu não posso mais enxergar.
Meus olhos têm brilham com lágrimas que tudo fica
desfocado.
Maggie ergue os braços e eu caio neles. Ela sempre foi
como uma irmã para mim. Estivemos sempre uma para a
outra, e eu temo que a história com Bryan e o que eu me
tornei vá fazê-la me odiar. Meu pai teria vergonha de me
chamar de filha, e eu espero o mesmo de Maggie. Em vez
disso, ela fica lá no colchão gasto e me acalma.
Depois de um forte abraço, ela libera meus ombros e
pega meu queixo. — Você e eu passamos por tudo juntas.
Não pense que eu a estou socorrendo por causa disso. Se não
for por qualquer coisa, a vida fica mais interessante, isso é
tudo.
Eu enxugo as lágrimas dos meus olhos e rio, porque ela
está tão errada. — Esse é o eufemismo do ano.
— O meu ponto é, eu estou aqui por você. Eu sempre
estarei aqui para você. — Ela bate no meu ombro com a dela.
— Então, Bryan Ferro tem um lado negro por trás de todo o
brilho e deslumbre?
— Aparentemente.
— Foi divertido ou ele fez coisas estranhas?
Eu sorrio e limpo meus olhos novamente. — Não, não
hoje à noite de qualquer maneira. Ele me chamou para seu
quarto, eu fui, e nos beijamos. Então, ele me mandou ir
embora.
Os lábios de Maggie puxaram um pouco para cima. —
Ele a jogou para fora? Mas que inferno...?
— Eu não sei. É como se ele estivesse louco e deixando o
Hulk sair ou algo assim. Ele não olhava para mim. As coisas
estavam quentes e pesadas até então. — A intuição continua
me dizendo que algo estava errado, mas não posso entender o
quê.
Maggie sorri: — Ele foi melhor do que Neil, certo?
Eu faço uma careta e olhou para ela como se ela fosse
louca. — Uh, Bryan está me chantageando.
— E ele é mais quente do que Neil. Vá em frente, diga.
Eu sou sua amiga, então eu já sei.
Eu baixei meus olhos em direção ao chão e não disse
nada. Eu não tenho que dizer nada, a minha expressão diz
tudo. Bryan é muito mais quente do que Neil, não há
comparação. Os dois homens são noite e dia, e Bryan é a
noite sexy. Neil a voz racional que soa como o FDA 3,
lembrando-me de fazer todas as coisas com moderação, mas
não todas as coisas, somente as ações que ele aprova. Droga.
Eu enterro meu rosto em minhas mãos e suspiro.
Maggie acaricia minhas costas. — Está tudo bem.
Qualquer um é mais quente do que Neil. Não se sinta
culpada, mas eu não contaria exatamente ao Senhor Calças
Perfeitamente Passadas. Ele vai surtar ao saber que alguém
tocou em você. — Maggie está tirando as roupas e puxando
uma camisa de dormir e calças, enquanto ela fala.
— Na verdade, Neil sabe.
3 FDA - Food and Drug Administration - Agencia reguladora de remédios e alimentos.
— O quê? — Ela está pulando em um pé, tentando
enfiar o pé pela perna da calça e cai. — Como é que ele sabe?
Você disse que acabou de acontecer.
— Neil sabe por que foi ele quem me disse para fazer
isso.
CONTINUA
Bryan está de queixo caído e boca aberta, com aqueles olhos verdes semicerrados, em chamas. Fúria e choque não parecem bons para ele. As emoções distorcem seu belo rosto,
estragam as linhas suaves de sua pele, fazendo-o parecer bem mais velho. Seus punhos estão fechados, apertados em seus lados, mas ele pisca uma vez e a reação diminui. Há muitas coisas que eu não sei sobre Bryan Ferro, mas uma coisa eu sei, ele é uma merda em manter as coisas escondidas. Seus pensamentos dançam em seu rosto de vez em quando, e é por isso que ele está desconfiado de mim.
Virando abruptamente, Bryan pressiona seus dedos em sua têmpora direita. Sua voz sai como um grunhido.
— Eu lhe disse para ir embora.
— Seus ombros estão tensos, cada músculo está apertado a ponto de eu poder ver as curvas de seu corpo sob essa camisa. Ele flexiona a mão que está ao seu lado antes de deslizar em seu bolso. Bryan pode ser capaz de esconder tudo, de todos os outros, mas não de mim.
— Sim, eu ouvi essa parte. — Eu ajo como se eu não me importasse, deito-me no tapete, e dobro as minhas mãos atrás da minha cabeça. O piso é suave e difuso. Levanto os meus joelhos, eu deixo a queda do meu vestido em torno dos meus tornozelos e até meus pés, para sentir a pilha macia entre os dedos dos pés. O tapete no meu antigo quarto parecia como um saco de batata, em relação a este material.
Mesmo com Bryan irado, eu estou sorrindo. A vozinha na parte de trás da minha cabeça me diz que eu perdi minha mente. Eu respondo de volta que eu nunca tive um controle firme sobre isso de qualquer maneira.
https://img.comunidades.net/bib/bibliotecasemlimites/2_A_PROPOSI_O.jpg
Bryan pode ver meu reflexo no espelho, mas eu não
posso ver mais do que as suas costas e a maneira como ele
agarra sua cabeça como se fosse explodir. Ele está furioso
comigo? Não consigo entender sua raiva, mas transborda
para fora de sua boca de novo, espetando como espinhos,
neste momento.
— Se você não consegue entender os termos deste
acordo, então eu temo que nós não tenhamos um.
— O quê? — Sento-me e giro em torno, de modo que
estou de frente para as suas costas.
Bryan se vira, e a tensão que está estampada no seu
rosto é horrível. Eu encontro o seu olhar, mas eu não posso
olha-lo sem querer corrigir o que está fazendo com ele. Todas
as imagens na imprensa mostram a versão de Bryan que eu
conhecia, leve e despreocupado, mas este homem, aqui, não é
nenhuma dessas coisas. Algo está esmagando-o de dentro
para fora e deixando-o em pedaços. Seu corpo está tremendo,
ele está tão bravo. Ele tenta respirar fundo, mas isso só faz o
seu rosto ficar mais apertado.
— Você me ouviu. Se você não fizer as coisas do meu
jeito, eu vou arruinar você. Este não é o meu jeito, você sabe
muito bem disso. Saia daqui.
Ele não grita, mas suas palavras me fazem tremer. Não
há calor, não há compaixão. Talvez eu não o conheça mais e
ele está certo. Apertando os lábios, eu engulo minha resposta,
mas esta incha dentro de mim e enche meu peito. Eu peguei
meus sapatos saltos de volta e calcei em meus pés cansados
antes de levantar. Eu ando mais e pego minha bolsa.
Eu deveria sair. A vozinha dentro de mim canta como
um duende com uma voz agradável, sim, vá. Faça isso.
Agora.
Meus olhos estão fixos na porta como se fosse o
caminho para o inferno. Algo sobre sair agora parece errado,
mas não posso entender sobre o que está prendendo meus
pés no lugar. Caramba, é o pensamento que está me
segurando. Ele está me prendendo aqui e eu não posso me
mover. Parece como engolir o vômito e eu não posso fazê-lo.
Eu sou o cérebro danificado, mas não posso ser algo que não sou.
Girando sobre meus pés, eu atravesso o piso acarpetado
e elegante, e caminho até ele. Bryan não se vira para olhar
para mim. Em vez disso, suas mãos estão segurando a parte
superior do bar como se ele quisesse arrancá-lo da parede.
Suas costas estão curvadas e sua cabeça está pendurada
entre os ombros, como se ele estivesse tentando não me
rasgar em pedaços. Outra mulher teria corrido agora mesmo,
mas eu sou a dopada que anda mais perto.
— Eu sou uma idiota, — eu digo, enquanto olho para os
meus sapatos, e rio de leve. É o tipo de som que não tem
alegria e revela uma alma torturada. Meus olhos levantam
para seus ombros. Eu fico lá por um momento esperando que
ele se vire, mas ele não vira. Bryan não fala ou levanta o
olhar. Ele permanece debruçado sobre o bar como um troll 1.
Eu continuo, — vê-lo hoje à noite foi terrível e
maravilhoso. Isso evocou memórias e sentimentos que eu
tinha tempo esquecido há muito. Escrever sobre, é uma
coisa, mas vê-lo novamente está além das palavras.
Desculpe-me se eu o machuquei, mesmo que eu não entenda
o que eu fiz. E seu eu pudesse corrigir. Eu...
Por que estou fazendo isso? Eu estou me desculpando
com as suas costas, o homem não tem sequer a decência de
se virar e encarar-me. Eu respiro fundo e endireito a minha
espinha.
— As pessoas cometem erros, Bryan, e parece que o
meu maior erro foi conhecê-lo.
1
Troll – é uma gíria que designa uma pessoa cujo comportamento tende sistematicamente a desestabilizar uma
discussão, provocar e enfurecer as pessoas envolvidas nela. Há trolls de todo tipo, desde o mais ignorante e rude
que xinga e provoca, até o mais apto intelectualmente que discursa com o objetivo de desestabilizar o interlocutor
e levá-lo a fúria, para depois desqualificá-lo, matando seu argumento e abalando sua reputação.
A fúria me inunda quando eu corro pela sala. Eu agarro
a maçaneta da porta e não olho para trás, apesar de sentir
seus olhos em mim. Dane-se ele. Eu vivi coisas piores. Eu
digo essas palavras uma e outra vez, porque aconteceu.
Depois corro pelo corredor, aperto o botão para baixo no
elevador uma e outra vez, perguntando por que eu estou tão
chateada. Depois de um momento, eu sinto o pensamento
picar os meus olhos e apertar a minha garganta e eu sei
exatamente por que estou tão chateada.
É possível que as coisas estejam invertidas, e como eu
não conhecesse o verdadeiro Bryan Ferro, aquele com quem
dormi todos esses anos, era o falso.
CAPÍTULO 2
Eu não posso ir para casa e enfrentar Neil, por isso eu
telefono para Maggie. Ela atende no terceiro toque. Eu estou
andando na rua em frente ao hotel com o meu telefone
pressionado ao meu ouvido. É tarde e escuro. Evitando as
sombras, eu ando mais perto da rua do que no hotel.
— Maggie. — Eu tento esconder a tensão na minha voz,
mas ela ouve. Nós nos conhecemos há muito tempo. — Vou
tirar suas bolas fora.
— O que diabo aconteceu? Onde você está? — Ela me
enche de perguntas, até que eu possa finalmente fazê-la calar
a boca.
— Eu preciso de um lugar para dormir. Eu não posso
ver Neil agora e eu não tenho outro lugar para ir.
Maggie fica em silêncio.
— O que é meu, é seu. Você sabe disso, mas eu não
tenho certeza que você vá gostar.
— Em qualquer lugar é melhor do que aqui ou com Neil.
— Eu sinto uma náusea fazendo seu caminho até a minha
garganta. Lágrimas estão chegando, e tenho a sensação de
que vai ser um maremoto.
— Claro, claro. Eu estarei aí em cinco minutos.
— A linha de Maggie desliga, e eu fecho o meu telefone e
o coloco em minha bolsa.
A cidade se move em torno de mim, mas parece que eu
estou em uma bolha. As pessoas passam na calçada, mas eu
não as noto. Eu passeio, perdida em pensamentos, agarrando
minha bolsa perto do meu corpo. O ar da noite tem aquele
cheiro que é distintamente de Nova York. Eu o inspiro e
quando me viro, quase bato em alguém. O cara é uma
parede, de marrom e preto. Seu casaco tem cheiro de cigarros
velhos e naftalina.
Antes de eu ter tempo para descobrir o que está
acontecendo, ele pega a minha bolsa, em seguida, coloca a
mão no centro do meu peito e me empurra, com força. Eu
grito, tropeço e caio para trás, enquanto minha bolsa é
arrancada de minhas mãos. O cara se vira e está pronto para
correr, mas eu não estou com disposição para perder a bolsa.
Eu estou fodidamente quebrada. Todo o dinheiro que eu
tenho está lá dentro.
Antes que eu saiba o que estou fazendo, eu pego um dos
meus sapatos de salto alto e atiro em sua cabeça. Acerto e ele
cai na calçada. Poucas pessoas param para assistir, mas
ninguém faz nada - típico dos nova-iorquinos. Todo mundo
quer ver, mas ninguém ajuda.
Nesse ponto, tudo acontece em câmera lenta. Eu estou
em pé, mesmo que eu não me lembre de ficar pé. Um pé está
congelado, sobre o cimento frio, enquanto o outro ainda está
calçado. O ladrão levanta a mão e bota na parte de trás de
sua cabeça e puxa-a. Ele olha para os seus dedos, seus olhos
escuros apreciando o sangue vermelho e pegajoso em sua
mão. A ponta do meu salto que bateu com a parte traseira de
seu couro cabeludo, deve tê-lo cortado.
Meu coração para, quando o sujeito se vira para mim.
Seus olhos têm um olhar enlouquecido e os ombros tremem
como se ele fosse me rasgar ao meio.
— Você. — Ele diz isso como se fosse o meu nome e ele
me odeia.
O homem dá passos em direção a mim e fala
novamente, mas suas mãos lentamente movem para cima,
como se ele fosse me atacar ou me estrangular. Eu suspiro
alguma coisa, mas ele não sai antes de eu dar um passo para
trás, aterrorizada. Meu pulso ruge em meus ouvidos, então
olho em volta a procura de ajuda, mas não vejo ninguém. A
multidão se afastou, ou talvez eu tenha ido embora. Onde
está um policial quando eu preciso de um?
O resto acontece freneticamente rápido. Alguém grita
comigo, enquanto o homem procura o meu pescoço. Eu caio,
mas ele pega no meu ombro. Ele aperta-me com força,
fazendo com que o meu pescoço estale para trás enquanto ele
grita na minha cara.
— Sua pequena vadia!
O resto de suas palavras se tornam zumbidos, enquanto
ele me aperta mais. Estou ciente do vento, do ar da noite, e
do homem que está me estrangulando. Em algum momento,
as mãos deslizam até o pescoço. Eu agarro em suas mãos e
tento gritar, mas não sai nada. Eu não entendo por que
ninguém nos vê, por que eles simplesmente deixam esse
ladrão me machucar.
Balançando as minhas pernas, eu o chuto, mas não
adianta. Eu não sou forte o suficiente. Eu tentei tudo o que
sabia fazer e nada funcionou. O homem me atira e bate
minhas costas contra uma parede de tijolos. O frio me sacode
e me pergunto como chegamos ao beco ao lado do hotel, mas
os pensamentos cessam quando vejo o olhar em seus olhos.
Um sorriso mal aparece em seu rosto quando ele rasga o
ombro do meu vestido. O tecido sai em sua mão e permite
que o vestido deslizar alguns centímetros.
Abro a boca para gritar, mas sua mão imunda me cobre,
impedindo a saída do som. Sua mão me tateia, sentindo
meus seios enquanto ele sussurra em meu ouvido todas as
coisas horríveis que ele pretende fazer comigo. — Então, eu
vou levar a minha faca e... — Suas palavras desagradáveis
param imediatamente, após o som do estalar de madeira.
Assim como, de repente, a mão no meu pescoço se foi e
eu suspiro em uma respiração trêmula e olho para cima. Está
muito escuro para ver, mas há um homem vestido de
smoking, avançando sobre o ladrão. Ele lança socos uma e
outra vez, até que eles estão na parte de trás do beco, presos
por uma parede de tijolos. O ladrão é espancado e sangra,
mas ele não para de lutar. Nem o homem de smoking. Ele
distribui socos como um boxeador, tanto assim que é
hipnótico assistir. Quando a faca aparece, eu esperava que as
coisas se transformassem em favor do ladrão, mas isso não
acontece. O homem de smoking desarma o idiota e toma a
arma. Aconteceu tão rápido que eu não posso dizer como foi
feito. O homem de smoking recua seu braço como se
estivesse para empurrar a faca no peito do cara.
— Pare! — Eu chamo antes de perceber o que estou
fazendo. Uma das minhas mãos está segurando meu vestido
no busto e a outra está mal tocando meus lábios. Eu não
posso ver o cara morrer, mas eu não consigo desviar o olhar
também.
O homem de smoking não para. Um grito tremendo sai
dilacerado da minha garganta quando ele bate a faca no
ombro do ladrão. O bandido pega no seu braço e desliza para
baixo da parede, segurando seu ombro enquanto o casaco
fica encharcado de sangue. Ele olha diretamente para mim
com raiva.
O homem de smoking chuta o ladrão uma vez, e uma
voz familiar disse:
— Vá embora.
Eu tremo quando ouço isso, porque eu sei quem é ele,
Bryan. Ele deve ter me seguido. O medo agarra e azeda
dentro do meu estômago, enquanto eu olho para as suas
costas. Bryan não vira o rosto para mim. O ladrão comprime
os lábios e se levanta do chão do beco. Ele faz o seu caminho
passando por mim, e não diz nada.
Um tremor se apodera de mim e escorre pela minha
espinha, me fazendo ofegar. É quando ele se vira. O rosto de
Bryan está pálido e coberto de um brilho fino de suor. Ele
caminha de volta para mim e eu posso ver onde ele tomou
algumas pancadas. Há um rasgo em sua camisa, sob a lapela
do paletó, onde a faca cortou antes Bryan tomá-la do ladrão.
Passo a passo, ele caminha em minha direção, e eu
estou mais assustada por Bryan que qualquer coisa que já
encontrei. O que foi isso? Ele teria matado o homem se eu
não tivesse gritado? Eu não consigo parar de tremer.
Bryan alcança os meus ombros para me firmar, e eu
sinto aquele choque familiar que acompanha o seu toque.
Seu polegar esfrega suavemente sobre minha pele. — Você
está bem?
Mas, é muito. Eu não posso. Eu não posso. Eu não posso.
O pensamento não faz sentido, mas eu sei que tenho que
fazer com que ele me liberte. Seu toque tem uma maneira de
me desfazer, e eu estou caindo aos pedaços. Recuso-me a
deixá-lo ser o único a testemunhar isso. Eu empurro para
longe, e aceno com a cabeça rapidamente.
— Eu estou bem.
As mãos de Bryan permanecem paradas no ar por um
momento, antes de ele abaixa-las junto com seu olhar. Ele
observa o chão por um segundo e quando ele levanta o
queixo, vejo um sorriso nos seus lábios.
— Mentirosa. Você está longe de estar bem, mas eu
estou contente que você esteja parada.
Eu fico olhando para ele, incapaz de encontrar uma
resposta. Sua voz soa carinhosa, quase arrependida. Ele olha
por cima do meu ombro para alguém e, em seguida, diz:
— A sua carona está aqui. Da próxima vez, não tente
derrubar um assaltante por si mesmo.
Eu falo sem querer, mas as palavras saem e caem fora.
— Da próxima vez, não mate um homem por roubar minha
bolsa.
O canto dos lábios de Bryan puxa para cima, como se
quisesse sorrir, mas ele não sorri.
— Eu não iria matar um homem por roubar uma bolsa.
Que tipo de pessoa você acha que eu sou?
— Honestamente, eu não sei mais. Eu achava que sabia,
mas depois disso... — Eu balanço minha cabeça e fico sem
palavras. Bryan mudou o ataque no último segundo. Essa
faca não estava voltada para o ombro do homem — estava
dirigida para o seu coração. — Você ia matá-lo. Eu vi, você
não pode me dizer que não iria.
Bryan se inclina mais perto, e quando ele fala seu hálito
quente sussurra contra a minha orelha.
— Talvez, mas não foi porque ele pegou sua bolsa. — Ele
se inclina para trás e desliza as mãos nos bolsos, enquanto
seus olhos verdes me percorrem. — Ninguém toca em você,
enquanto você está comigo.
— Eu engulo em seco e olho para ele, com o coração
ainda disparando.
Maggie aparece atrás de mim um segundo depois. Ela
pega meu ombro e me vira.
— Hallie, diabo está acontecendo, e por que você está
aqui no beco sozinha? — Ela vê a maneira que eu estou
segurando meu vestido e o tecido rasgado. A preocupação
persiste em seu rosto, esperando pela minha resposta.
— Eu não estou sozinha, — mas quando me viro para
olhar, Bryan já se foi.
CAPÍTULO 3
Eu estive em um casulo de tristeza e este evento o
quebrou. Minha atordoada indiferença fratura e estilhaça,
como vidro barato. Eu olho para a bolsa presa em minha mão
e me pergunto o que há de errado comigo, mas ainda mais,
eu não consigo parar de pensar em Bryan, como ele veio do
nada e quase matou o homem que tentou me machucar.
Pare de pensar assim, eu me repreendo. Bryan agiu
como um lunático. A imagem de Bryan esfaqueando o cara
persiste através dos meus olhos mais uma vez e faz o meu
estômago embrulhar.
Maggie está falando, mas eu não disse muito. Estamos
em seu velho Ford Escort. A coisa corre mal, mas eu não
posso reclamar. Eu nem mesmo tenho um carro, não mais.
Maggie olha para mim por trás do volante, enquanto suas
mãos o seguram com firmeza.
— Hallie, se você estiver com vontade de vomitar, baixe
a janela. Aqui já cheira estranho o suficiente. — Ela está
certa, o carro tem um odor não identificável que está lá desde
que ela comprou.
— Eu estou bem, — eu digo novamente, embora seja
uma mentira. Meus braços envolvem meu peito para
esconder como minhas mãos tremem.
— Ah, Hallie, eu sei que você não quer falar e que está
tudo bem, mas eu quero informa-la sobre a minha nova casa.
— Eu olho para ela, sem entender o que ela quer dizer.
Maggie me dá um sorriso tímido e encolhe os ombros até as
suas orelhas, enquanto dirige. — Vamos apenas dizer que
não é algo que você aprovaria.
Eu não tenho paciência para lidar com seus enigmas
neste momento. A vida de Maggie é mais difícil do que a
minha, e eu sei disso, mas ela nunca tinha escondido coisas
de mim antes. Desta vez, é claro que ela escondeu, e isso me
preocupa. As únicas coisas que eu desaprovo são as que
possam matá-la. A menina não tem nenhum senso. Às vezes
me pergunto sobre ela, e como ela escolhe o que faz. Sorrio
sem jeito e olho para o tapete sujo no chão, que alguma vez
foi azul.
— O que é tão engraçado? — Maggie parece indignada,
como se eu a tivesse ofendido.
— Nada. Vamos apenas dizer que, se você soubesse o
que eu estava fazendo esta noite, você não se sentiria tão na
defensiva. Tenho certeza de que sua casa é boa.
Maggie se tranquiliza. Ela suspira quando vira em uma
rua lateral e começamos a fazer o nosso caminho através de
um bairro degradado. As casas são marcadas e branqueadas
pelo Sol, com gramados mortos, mas os carros são
customizados e caros. Mesmo que seja tarde, as pessoas
movem-se, sem fazer nada. Eu olho para a minha porta,
querendo trancá-la, mas eu não me mexo. Enquanto nós
rodamos passando pelos grupos de pessoas, os olhos deles
viram e nos assistem passar, antes de voltar para o que eles
estavam fazendo.
Maggie finalmente diz: — Não é muito, mas acho que
vale a pena.
— Você não tem que defender o seu apartamento para
mim, Maggie. Eu sou uma maldita sem-teto. — Eu olho para
ela e inclino a cabeça para trás no assento. Minhas palavras
não a consolam, então eu acrescento: — Além disso, eu não
sou uma garota-propaganda da moralidade, também. Você
não vai acreditar no que eu fiz hoje à noite, e o que eu vou
fazer. — Minha voz falha e eu balanço a cabeça, pensando
nos lábios de Bryan. Estou horrorizada por reagir da maneira
como o faço, mesmo que com a memória.
Ela ri uma vez, rapidamente. — Sim, certo. Hallie, você
nunca faz nada de mau. Estúpido, sim. Mau, não.
Eu olho para fora da janela e não vejo nada. As casas
deram lugar a apartamentos que se estendem para o céu na
noite. Fachadas de tijolos já viram dias melhores. Muitos
parecem vazios, como se ninguém vivesse lá, por muitos
anos. Meu peito se aperta e eu me contorço na cadeira. Meu
Deus, ela mora aqui? Por que ela não me contou? Há carros
queimados, latas de lixo viradas e entulho, tudo espalhado
por toda parte. Parece que a rua foi saqueada e esquecida,
assim como Maggie.
Segundas decisões são as que mudam vidas. Eu faço a
minha e cuspo fora antes de me acovardar.
— Bryan Ferro está me chantageando. Se eu não dormir
com ele sempre que ele quiser, vai dizer às pessoas que ele é
o cara no livro e fazer o que for preciso para me arruinar. Ele
disse que ia usar tudo o que tem contra mim e me deu um
ultimato.
Os grandes olhos de Maggie viram em minha direção,
com o queixo caído e boca aberta.
— Puta merda! Quando isso aconteceu? Como você vai
detê-lo? — Ela pisca para mim e vira os olhos de volta para a
estrada, embora eu saiba que ela não quer.
Esta é a parte que me faz sentir um lixo. Eu não sou
quem ela pensa que eu sou. Eu não tenho uma estrutura
moral de aço. Eu não posso nem olhar para ela.
— Esta noite eu acabei fazendo o anúncio do prêmio no
show com ele, e então ele me encontrou no banquete. — Eu
digo. Eu tento fazer a minha boca mover-se para formar as
palavras, mas não vão sair.
— De jeito nenhum. — Ela estaciona em um parque de
estacionamento que parece que foi usado como um local de
explosão da força aérea e desliga o carro. — Pegue suas
coisas e tranque a porta. — Eu faço como ela diz e me
apresso atrás dela. — Mantenha seus olhos baixos e me siga.
Não fale ou olhe para ninguém.
Entramos no lado de um desses prédios de tijolos
antigos e subimos alguns lances de escadas, até o quarto
andar. No momento que chegamos ao seu andar, eu quero
jogar o resto do meu sapato para fora da janela. Eu poderia,
não há vidro no painel. Eu a sigo, até a porta e por um longo
corredor mal iluminado. Nós paramos em frente à sua porta.
Enquanto ela se atrapalha com a chave, a porta contrária à
dela se abre. Um homem pálido, com cabelo loiro descolorido
e vestindo uma camiseta regata branca e cueca está lá e olha
para nós. Eu posso sentir seus olhos nas minhas costas. Ele
se inclina contra o batente da porta e cruza os braços sobre o
peito.
Quando ele fala, soa rouco, como se ele fumasse um
maço de cigarros todos os dias desde que ele tinha dois anos
de idade. — Trouxe-me outra?
— Não, — Maggie diz com firmeza. Ela não se vira para
olhar para o cara. Se eu não a conhecesse melhor, eu acharia
que ela estava com medo dele. Eu não aguento mais stress
esta noite. Meu cérebro parece que vai partir em dois, antes
que eu murche e morra. Maggie pega a chave para abrir, mas
porta emperra. Ela chuta uma vez com o pé e a porta mexe
ligeiramente. — Maldita porta, — ela murmura.
— Qual é o seu nome, docinho? — O cara está falando
comigo. Viro-me e olho por cima do ombro, e nossos olhos se
encontram. Ele envia um olhar frio para mim, ao ver o jeito
como ele está olhando de soslaio. O cara é enorme, ele é todo
músculos e agora ele está sorrindo para mim, revelando uma
coroa de ouro em seu dente canino.
— Oi, — eu digo timidamente, e arrumo o meu cabelo
para atrás da minha orelha, tentando evitar o olhar dele
enquanto não respondo sua pergunta.
Enquanto o cara está de boca aberta, Maggie chuta na
porta. A porta se abre, ela agarra meu braço e me puxa. Eu
sigo, voando atrás dela enquanto ela grita por cima do ombro,
— eu vou lhe trazer alguém amanhã, eu juro. Boa noite, Vic.
— Ela bate a porta com o pé e parece abalada.
Seu apartamento é aproximadamente o mesmo tamanho
de um pequeno corredor. Há uma pequena janela com uma
folha grampeada sobre ela e sem móveis. Algumas das roupas
de Maggie estão jogadas ao redor do lugar, como se ela
tivesse saído com pressa. Se eu morasse aqui, eu iria embora
rapidamente, também.
— Obrigado por me deixar ficar com você.
— Sim, não há problema. É uma merda como este é o
pior lugar que eu já vivi, mas é um refúgio. Eu durmo aqui e,
em seguida, dou o fora. O aluguel não é horrível. — Ela
oferece um sorriso torto, mas é franco.
Eu preciso dela, e não há um muro entre nós. Ela acha
que eu sou perfeita, mas eu não sou. Eu fiz coisas que ela
não sabe. As palavras estão na minha língua e eu enrolo-as
em torno de minha boca, tentando descobrir como dizer isso,
enquanto a Maggie tagarela, enchendo o ambiente com sua
voz.
Um casal está brigando nas proximidades, e o som está
cada vez mais alto. Estão lutando, eu não quero dizer
discutindo. Há coisas batendo nas paredes e quebrando.
Chove gesso para baixo sobre nós como flocos de neve
quando algo cai de cima. Maggie olha horrorizada quando ela
puxa sua cama Murphy 2 para baixo da parede. Tomando
quase toda a sala. — Você pode dormir aqui. Eu vou dormir
no chão.
— Não.
Ela sorri. — Não seja boba, você é minha convidada. —
Palavrões ressoam acima de nós quando um homem irritado
grita. É prontamente seguido de um grito agudo. Maggie
morde as unhas do jeito que ela fazia quando éramos
crianças e olha em volta, como se ela desejasse poder
queimar o lugar.
2
— Eu não vou fazer você dormir no chão, mas há outra
coisa que eu preciso lhe dizer.
— Maggie olha para mim por debaixo de sua massa de
cabelo vermelho. Eu sou sua única amiga de verdade, sua
única família e ela a minha. Deus, o que é que ela vai pensar
de mim quando eu lhe disser o que eu concordei em fazer?
Eu não acho que eu vou ser capaz de suportá-lo. Meus
braços ainda estão dobrados sobre o peito, com as mãos
firmemente aninhadas nos meus braços.
— Hallie, qual o problema? — Maggie deixa de fazer a
cama e se senta. Ela dá um tapinha no lugar ao lado dela e
me sento.
Olhando para frente, eu engulo em seco e digo a ela.
— Eu disse que sim. — Você disse sim para o quê?
Hallie, você não está fazendo sentido, do que você está
falando?
Quando me viro para olhar para ela, e encontro com
aqueles grandes olhos verdes e sinto medo. Minha pele fica
arrepiada, mas eu não consigo desviar o olhar.
— Eu disse a Bryan Ferro que sim. Eu cedi. Ele ganhou
e eu perdi.
— O quê? — Ela está furiosa, pronta para voar para fora
do seu assento e defender-me até a morte.
Eu coloco minha mão no colo dela para fazê-la parar. —
Eu fui ao seu quarto de hotel para dizer-lhe para ir chupar
um prego, mas eu mudei de ideia quando ouvi sua voz. Eu
pensei que algo estava errado e esta era a sua maneira de
merda para me dizer. Conheci-o uma vez, pelo menos eu
pensei que tinha conhecido. Então, quando eu estava
esperando por você do lado de fora, eu... — minha voz está
trêmula e eu não posso mais esconder o meu horror, — um
cara tentou roubar minha bolsa. Para encurtar a história, ele
me pegou por trás do prédio e ia me machucar. Bryan
apareceu e ele... — Eu não posso dizer isso. Meu Bryan
perfeito fez algo que era tão diferente dele, tão terrivelmente
selvagem, que eu não sei o que pensar. Ele me protegeu, mas
ainda parece errado.
— Ele a machucou? — Maggie está furiosa, eu posso
ouvir em sua voz. Mas a forma como ela fala suas palavras
ondulando entre muito alta e baixa, dão a deixa.
— Não, ele atacou o homem, e esfaqueou-o. Se eu não
dissesse a Bryan para parar, acho que ele teria matado o
cara. — Olho para ela, mas eu não posso mais enxergar.
Meus olhos têm brilham com lágrimas que tudo fica
desfocado.
Maggie ergue os braços e eu caio neles. Ela sempre foi
como uma irmã para mim. Estivemos sempre uma para a
outra, e eu temo que a história com Bryan e o que eu me
tornei vá fazê-la me odiar. Meu pai teria vergonha de me
chamar de filha, e eu espero o mesmo de Maggie. Em vez
disso, ela fica lá no colchão gasto e me acalma.
Depois de um forte abraço, ela libera meus ombros e
pega meu queixo. — Você e eu passamos por tudo juntas.
Não pense que eu a estou socorrendo por causa disso. Se não
for por qualquer coisa, a vida fica mais interessante, isso é
tudo.
Eu enxugo as lágrimas dos meus olhos e rio, porque ela
está tão errada. — Esse é o eufemismo do ano.
— O meu ponto é, eu estou aqui por você. Eu sempre
estarei aqui para você. — Ela bate no meu ombro com a dela.
— Então, Bryan Ferro tem um lado negro por trás de todo o
brilho e deslumbre?
— Aparentemente.
— Foi divertido ou ele fez coisas estranhas?
Eu sorrio e limpo meus olhos novamente. — Não, não
hoje à noite de qualquer maneira. Ele me chamou para seu
quarto, eu fui, e nos beijamos. Então, ele me mandou ir
embora.
Os lábios de Maggie puxaram um pouco para cima. —
Ele a jogou para fora? Mas que inferno...?
— Eu não sei. É como se ele estivesse louco e deixando o
Hulk sair ou algo assim. Ele não olhava para mim. As coisas
estavam quentes e pesadas até então. — A intuição continua
me dizendo que algo estava errado, mas não posso entender o
quê.
Maggie sorri: — Ele foi melhor do que Neil, certo?
Eu faço uma careta e olhou para ela como se ela fosse
louca. — Uh, Bryan está me chantageando.
— E ele é mais quente do que Neil. Vá em frente, diga.
Eu sou sua amiga, então eu já sei.
Eu baixei meus olhos em direção ao chão e não disse
nada. Eu não tenho que dizer nada, a minha expressão diz
tudo. Bryan é muito mais quente do que Neil, não há
comparação. Os dois homens são noite e dia, e Bryan é a
noite sexy. Neil a voz racional que soa como o FDA 3,
lembrando-me de fazer todas as coisas com moderação, mas
não todas as coisas, somente as ações que ele aprova. Droga.
Eu enterro meu rosto em minhas mãos e suspiro.
Maggie acaricia minhas costas. — Está tudo bem.
Qualquer um é mais quente do que Neil. Não se sinta
culpada, mas eu não contaria exatamente ao Senhor Calças
Perfeitamente Passadas. Ele vai surtar ao saber que alguém
tocou em você. — Maggie está tirando as roupas e puxando
uma camisa de dormir e calças, enquanto ela fala.
— Na verdade, Neil sabe.
3 FDA - Food and Drug Administration - Agencia reguladora de remédios e alimentos.
— O quê? — Ela está pulando em um pé, tentando
enfiar o pé pela perna da calça e cai. — Como é que ele sabe?
Você disse que acabou de acontecer.
— Neil sabe por que foi ele quem me disse para fazer
isso.
CONTINUA
Bryan está de queixo caído e boca aberta, com aqueles olhos verdes semicerrados, em chamas. Fúria e choque não parecem bons para ele. As emoções distorcem seu belo rosto,
estragam as linhas suaves de sua pele, fazendo-o parecer bem mais velho. Seus punhos estão fechados, apertados em seus lados, mas ele pisca uma vez e a reação diminui. Há muitas coisas que eu não sei sobre Bryan Ferro, mas uma coisa eu sei, ele é uma merda em manter as coisas escondidas. Seus pensamentos dançam em seu rosto de vez em quando, e é por isso que ele está desconfiado de mim.
Virando abruptamente, Bryan pressiona seus dedos em sua têmpora direita. Sua voz sai como um grunhido.
— Eu lhe disse para ir embora.
— Seus ombros estão tensos, cada músculo está apertado a ponto de eu poder ver as curvas de seu corpo sob essa camisa. Ele flexiona a mão que está ao seu lado antes de deslizar em seu bolso. Bryan pode ser capaz de esconder tudo, de todos os outros, mas não de mim.
— Sim, eu ouvi essa parte. — Eu ajo como se eu não me importasse, deito-me no tapete, e dobro as minhas mãos atrás da minha cabeça. O piso é suave e difuso. Levanto os meus joelhos, eu deixo a queda do meu vestido em torno dos meus tornozelos e até meus pés, para sentir a pilha macia entre os dedos dos pés. O tapete no meu antigo quarto parecia como um saco de batata, em relação a este material.
Mesmo com Bryan irado, eu estou sorrindo. A vozinha na parte de trás da minha cabeça me diz que eu perdi minha mente. Eu respondo de volta que eu nunca tive um controle firme sobre isso de qualquer maneira.
https://img.comunidades.net/bib/bibliotecasemlimites/2_A_PROPOSI_O.jpg
Bryan pode ver meu reflexo no espelho, mas eu não
posso ver mais do que as suas costas e a maneira como ele
agarra sua cabeça como se fosse explodir. Ele está furioso
comigo? Não consigo entender sua raiva, mas transborda
para fora de sua boca de novo, espetando como espinhos,
neste momento.
— Se você não consegue entender os termos deste
acordo, então eu temo que nós não tenhamos um.
— O quê? — Sento-me e giro em torno, de modo que
estou de frente para as suas costas.
Bryan se vira, e a tensão que está estampada no seu
rosto é horrível. Eu encontro o seu olhar, mas eu não posso
olha-lo sem querer corrigir o que está fazendo com ele. Todas
as imagens na imprensa mostram a versão de Bryan que eu
conhecia, leve e despreocupado, mas este homem, aqui, não é
nenhuma dessas coisas. Algo está esmagando-o de dentro
para fora e deixando-o em pedaços. Seu corpo está tremendo,
ele está tão bravo. Ele tenta respirar fundo, mas isso só faz o
seu rosto ficar mais apertado.
— Você me ouviu. Se você não fizer as coisas do meu
jeito, eu vou arruinar você. Este não é o meu jeito, você sabe
muito bem disso. Saia daqui.
Ele não grita, mas suas palavras me fazem tremer. Não
há calor, não há compaixão. Talvez eu não o conheça mais e
ele está certo. Apertando os lábios, eu engulo minha resposta,
mas esta incha dentro de mim e enche meu peito. Eu peguei
meus sapatos saltos de volta e calcei em meus pés cansados
antes de levantar. Eu ando mais e pego minha bolsa.
Eu deveria sair. A vozinha dentro de mim canta como
um duende com uma voz agradável, sim, vá. Faça isso.
Agora.
Meus olhos estão fixos na porta como se fosse o
caminho para o inferno. Algo sobre sair agora parece errado,
mas não posso entender sobre o que está prendendo meus
pés no lugar. Caramba, é o pensamento que está me
segurando. Ele está me prendendo aqui e eu não posso me
mover. Parece como engolir o vômito e eu não posso fazê-lo.
Eu sou o cérebro danificado, mas não posso ser algo que não sou.
Girando sobre meus pés, eu atravesso o piso acarpetado
e elegante, e caminho até ele. Bryan não se vira para olhar
para mim. Em vez disso, suas mãos estão segurando a parte
superior do bar como se ele quisesse arrancá-lo da parede.
Suas costas estão curvadas e sua cabeça está pendurada
entre os ombros, como se ele estivesse tentando não me
rasgar em pedaços. Outra mulher teria corrido agora mesmo,
mas eu sou a dopada que anda mais perto.
— Eu sou uma idiota, — eu digo, enquanto olho para os
meus sapatos, e rio de leve. É o tipo de som que não tem
alegria e revela uma alma torturada. Meus olhos levantam
para seus ombros. Eu fico lá por um momento esperando que
ele se vire, mas ele não vira. Bryan não fala ou levanta o
olhar. Ele permanece debruçado sobre o bar como um troll 1.
Eu continuo, — vê-lo hoje à noite foi terrível e
maravilhoso. Isso evocou memórias e sentimentos que eu
tinha tempo esquecido há muito. Escrever sobre, é uma
coisa, mas vê-lo novamente está além das palavras.
Desculpe-me se eu o machuquei, mesmo que eu não entenda
o que eu fiz. E seu eu pudesse corrigir. Eu...
Por que estou fazendo isso? Eu estou me desculpando
com as suas costas, o homem não tem sequer a decência de
se virar e encarar-me. Eu respiro fundo e endireito a minha
espinha.
— As pessoas cometem erros, Bryan, e parece que o
meu maior erro foi conhecê-lo.
1
Troll – é uma gíria que designa uma pessoa cujo comportamento tende sistematicamente a desestabilizar uma
discussão, provocar e enfurecer as pessoas envolvidas nela. Há trolls de todo tipo, desde o mais ignorante e rude
que xinga e provoca, até o mais apto intelectualmente que discursa com o objetivo de desestabilizar o interlocutor
e levá-lo a fúria, para depois desqualificá-lo, matando seu argumento e abalando sua reputação.
A fúria me inunda quando eu corro pela sala. Eu agarro
a maçaneta da porta e não olho para trás, apesar de sentir
seus olhos em mim. Dane-se ele. Eu vivi coisas piores. Eu
digo essas palavras uma e outra vez, porque aconteceu.
Depois corro pelo corredor, aperto o botão para baixo no
elevador uma e outra vez, perguntando por que eu estou tão
chateada. Depois de um momento, eu sinto o pensamento
picar os meus olhos e apertar a minha garganta e eu sei
exatamente por que estou tão chateada.
É possível que as coisas estejam invertidas, e como eu
não conhecesse o verdadeiro Bryan Ferro, aquele com quem
dormi todos esses anos, era o falso.
CAPÍTULO 2
Eu não posso ir para casa e enfrentar Neil, por isso eu
telefono para Maggie. Ela atende no terceiro toque. Eu estou
andando na rua em frente ao hotel com o meu telefone
pressionado ao meu ouvido. É tarde e escuro. Evitando as
sombras, eu ando mais perto da rua do que no hotel.
— Maggie. — Eu tento esconder a tensão na minha voz,
mas ela ouve. Nós nos conhecemos há muito tempo. — Vou
tirar suas bolas fora.
— O que diabo aconteceu? Onde você está? — Ela me
enche de perguntas, até que eu possa finalmente fazê-la calar
a boca.
— Eu preciso de um lugar para dormir. Eu não posso
ver Neil agora e eu não tenho outro lugar para ir.
Maggie fica em silêncio.
— O que é meu, é seu. Você sabe disso, mas eu não
tenho certeza que você vá gostar.
— Em qualquer lugar é melhor do que aqui ou com Neil.
— Eu sinto uma náusea fazendo seu caminho até a minha
garganta. Lágrimas estão chegando, e tenho a sensação de
que vai ser um maremoto.
— Claro, claro. Eu estarei aí em cinco minutos.
— A linha de Maggie desliga, e eu fecho o meu telefone e
o coloco em minha bolsa.
A cidade se move em torno de mim, mas parece que eu
estou em uma bolha. As pessoas passam na calçada, mas eu
não as noto. Eu passeio, perdida em pensamentos, agarrando
minha bolsa perto do meu corpo. O ar da noite tem aquele
cheiro que é distintamente de Nova York. Eu o inspiro e
quando me viro, quase bato em alguém. O cara é uma
parede, de marrom e preto. Seu casaco tem cheiro de cigarros
velhos e naftalina.
Antes de eu ter tempo para descobrir o que está
acontecendo, ele pega a minha bolsa, em seguida, coloca a
mão no centro do meu peito e me empurra, com força. Eu
grito, tropeço e caio para trás, enquanto minha bolsa é
arrancada de minhas mãos. O cara se vira e está pronto para
correr, mas eu não estou com disposição para perder a bolsa.
Eu estou fodidamente quebrada. Todo o dinheiro que eu
tenho está lá dentro.
Antes que eu saiba o que estou fazendo, eu pego um dos
meus sapatos de salto alto e atiro em sua cabeça. Acerto e ele
cai na calçada. Poucas pessoas param para assistir, mas
ninguém faz nada - típico dos nova-iorquinos. Todo mundo
quer ver, mas ninguém ajuda.
Nesse ponto, tudo acontece em câmera lenta. Eu estou
em pé, mesmo que eu não me lembre de ficar pé. Um pé está
congelado, sobre o cimento frio, enquanto o outro ainda está
calçado. O ladrão levanta a mão e bota na parte de trás de
sua cabeça e puxa-a. Ele olha para os seus dedos, seus olhos
escuros apreciando o sangue vermelho e pegajoso em sua
mão. A ponta do meu salto que bateu com a parte traseira de
seu couro cabeludo, deve tê-lo cortado.
Meu coração para, quando o sujeito se vira para mim.
Seus olhos têm um olhar enlouquecido e os ombros tremem
como se ele fosse me rasgar ao meio.
— Você. — Ele diz isso como se fosse o meu nome e ele
me odeia.
O homem dá passos em direção a mim e fala
novamente, mas suas mãos lentamente movem para cima,
como se ele fosse me atacar ou me estrangular. Eu suspiro
alguma coisa, mas ele não sai antes de eu dar um passo para
trás, aterrorizada. Meu pulso ruge em meus ouvidos, então
olho em volta a procura de ajuda, mas não vejo ninguém. A
multidão se afastou, ou talvez eu tenha ido embora. Onde
está um policial quando eu preciso de um?
O resto acontece freneticamente rápido. Alguém grita
comigo, enquanto o homem procura o meu pescoço. Eu caio,
mas ele pega no meu ombro. Ele aperta-me com força,
fazendo com que o meu pescoço estale para trás enquanto ele
grita na minha cara.
— Sua pequena vadia!
O resto de suas palavras se tornam zumbidos, enquanto
ele me aperta mais. Estou ciente do vento, do ar da noite, e
do homem que está me estrangulando. Em algum momento,
as mãos deslizam até o pescoço. Eu agarro em suas mãos e
tento gritar, mas não sai nada. Eu não entendo por que
ninguém nos vê, por que eles simplesmente deixam esse
ladrão me machucar.
Balançando as minhas pernas, eu o chuto, mas não
adianta. Eu não sou forte o suficiente. Eu tentei tudo o que
sabia fazer e nada funcionou. O homem me atira e bate
minhas costas contra uma parede de tijolos. O frio me sacode
e me pergunto como chegamos ao beco ao lado do hotel, mas
os pensamentos cessam quando vejo o olhar em seus olhos.
Um sorriso mal aparece em seu rosto quando ele rasga o
ombro do meu vestido. O tecido sai em sua mão e permite
que o vestido deslizar alguns centímetros.
Abro a boca para gritar, mas sua mão imunda me cobre,
impedindo a saída do som. Sua mão me tateia, sentindo
meus seios enquanto ele sussurra em meu ouvido todas as
coisas horríveis que ele pretende fazer comigo. — Então, eu
vou levar a minha faca e... — Suas palavras desagradáveis
param imediatamente, após o som do estalar de madeira.
Assim como, de repente, a mão no meu pescoço se foi e
eu suspiro em uma respiração trêmula e olho para cima. Está
muito escuro para ver, mas há um homem vestido de
smoking, avançando sobre o ladrão. Ele lança socos uma e
outra vez, até que eles estão na parte de trás do beco, presos
por uma parede de tijolos. O ladrão é espancado e sangra,
mas ele não para de lutar. Nem o homem de smoking. Ele
distribui socos como um boxeador, tanto assim que é
hipnótico assistir. Quando a faca aparece, eu esperava que as
coisas se transformassem em favor do ladrão, mas isso não
acontece. O homem de smoking desarma o idiota e toma a
arma. Aconteceu tão rápido que eu não posso dizer como foi
feito. O homem de smoking recua seu braço como se
estivesse para empurrar a faca no peito do cara.
— Pare! — Eu chamo antes de perceber o que estou
fazendo. Uma das minhas mãos está segurando meu vestido
no busto e a outra está mal tocando meus lábios. Eu não
posso ver o cara morrer, mas eu não consigo desviar o olhar
também.
O homem de smoking não para. Um grito tremendo sai
dilacerado da minha garganta quando ele bate a faca no
ombro do ladrão. O bandido pega no seu braço e desliza para
baixo da parede, segurando seu ombro enquanto o casaco
fica encharcado de sangue. Ele olha diretamente para mim
com raiva.
O homem de smoking chuta o ladrão uma vez, e uma
voz familiar disse:
— Vá embora.
Eu tremo quando ouço isso, porque eu sei quem é ele,
Bryan. Ele deve ter me seguido. O medo agarra e azeda
dentro do meu estômago, enquanto eu olho para as suas
costas. Bryan não vira o rosto para mim. O ladrão comprime
os lábios e se levanta do chão do beco. Ele faz o seu caminho
passando por mim, e não diz nada.
Um tremor se apodera de mim e escorre pela minha
espinha, me fazendo ofegar. É quando ele se vira. O rosto de
Bryan está pálido e coberto de um brilho fino de suor. Ele
caminha de volta para mim e eu posso ver onde ele tomou
algumas pancadas. Há um rasgo em sua camisa, sob a lapela
do paletó, onde a faca cortou antes Bryan tomá-la do ladrão.
Passo a passo, ele caminha em minha direção, e eu
estou mais assustada por Bryan que qualquer coisa que já
encontrei. O que foi isso? Ele teria matado o homem se eu
não tivesse gritado? Eu não consigo parar de tremer.
Bryan alcança os meus ombros para me firmar, e eu
sinto aquele choque familiar que acompanha o seu toque.
Seu polegar esfrega suavemente sobre minha pele. — Você
está bem?
Mas, é muito. Eu não posso. Eu não posso. Eu não posso.
O pensamento não faz sentido, mas eu sei que tenho que
fazer com que ele me liberte. Seu toque tem uma maneira de
me desfazer, e eu estou caindo aos pedaços. Recuso-me a
deixá-lo ser o único a testemunhar isso. Eu empurro para
longe, e aceno com a cabeça rapidamente.
— Eu estou bem.
As mãos de Bryan permanecem paradas no ar por um
momento, antes de ele abaixa-las junto com seu olhar. Ele
observa o chão por um segundo e quando ele levanta o
queixo, vejo um sorriso nos seus lábios.
— Mentirosa. Você está longe de estar bem, mas eu
estou contente que você esteja parada.
Eu fico olhando para ele, incapaz de encontrar uma
resposta. Sua voz soa carinhosa, quase arrependida. Ele olha
por cima do meu ombro para alguém e, em seguida, diz:
— A sua carona está aqui. Da próxima vez, não tente
derrubar um assaltante por si mesmo.
Eu falo sem querer, mas as palavras saem e caem fora.
— Da próxima vez, não mate um homem por roubar minha
bolsa.
O canto dos lábios de Bryan puxa para cima, como se
quisesse sorrir, mas ele não sorri.
— Eu não iria matar um homem por roubar uma bolsa.
Que tipo de pessoa você acha que eu sou?
— Honestamente, eu não sei mais. Eu achava que sabia,
mas depois disso... — Eu balanço minha cabeça e fico sem
palavras. Bryan mudou o ataque no último segundo. Essa
faca não estava voltada para o ombro do homem — estava
dirigida para o seu coração. — Você ia matá-lo. Eu vi, você
não pode me dizer que não iria.
Bryan se inclina mais perto, e quando ele fala seu hálito
quente sussurra contra a minha orelha.
— Talvez, mas não foi porque ele pegou sua bolsa. — Ele
se inclina para trás e desliza as mãos nos bolsos, enquanto
seus olhos verdes me percorrem. — Ninguém toca em você,
enquanto você está comigo.
— Eu engulo em seco e olho para ele, com o coração
ainda disparando.
Maggie aparece atrás de mim um segundo depois. Ela
pega meu ombro e me vira.
— Hallie, diabo está acontecendo, e por que você está
aqui no beco sozinha? — Ela vê a maneira que eu estou
segurando meu vestido e o tecido rasgado. A preocupação
persiste em seu rosto, esperando pela minha resposta.
— Eu não estou sozinha, — mas quando me viro para
olhar, Bryan já se foi.
CAPÍTULO 3
Eu estive em um casulo de tristeza e este evento o
quebrou. Minha atordoada indiferença fratura e estilhaça,
como vidro barato. Eu olho para a bolsa presa em minha mão
e me pergunto o que há de errado comigo, mas ainda mais,
eu não consigo parar de pensar em Bryan, como ele veio do
nada e quase matou o homem que tentou me machucar.
Pare de pensar assim, eu me repreendo. Bryan agiu
como um lunático. A imagem de Bryan esfaqueando o cara
persiste através dos meus olhos mais uma vez e faz o meu
estômago embrulhar.
Maggie está falando, mas eu não disse muito. Estamos
em seu velho Ford Escort. A coisa corre mal, mas eu não
posso reclamar. Eu nem mesmo tenho um carro, não mais.
Maggie olha para mim por trás do volante, enquanto suas
mãos o seguram com firmeza.
— Hallie, se você estiver com vontade de vomitar, baixe
a janela. Aqui já cheira estranho o suficiente. — Ela está
certa, o carro tem um odor não identificável que está lá desde
que ela comprou.
— Eu estou bem, — eu digo novamente, embora seja
uma mentira. Meus braços envolvem meu peito para
esconder como minhas mãos tremem.
— Ah, Hallie, eu sei que você não quer falar e que está
tudo bem, mas eu quero informa-la sobre a minha nova casa.
— Eu olho para ela, sem entender o que ela quer dizer.
Maggie me dá um sorriso tímido e encolhe os ombros até as
suas orelhas, enquanto dirige. — Vamos apenas dizer que
não é algo que você aprovaria.
Eu não tenho paciência para lidar com seus enigmas
neste momento. A vida de Maggie é mais difícil do que a
minha, e eu sei disso, mas ela nunca tinha escondido coisas
de mim antes. Desta vez, é claro que ela escondeu, e isso me
preocupa. As únicas coisas que eu desaprovo são as que
possam matá-la. A menina não tem nenhum senso. Às vezes
me pergunto sobre ela, e como ela escolhe o que faz. Sorrio
sem jeito e olho para o tapete sujo no chão, que alguma vez
foi azul.
— O que é tão engraçado? — Maggie parece indignada,
como se eu a tivesse ofendido.
— Nada. Vamos apenas dizer que, se você soubesse o
que eu estava fazendo esta noite, você não se sentiria tão na
defensiva. Tenho certeza de que sua casa é boa.
Maggie se tranquiliza. Ela suspira quando vira em uma
rua lateral e começamos a fazer o nosso caminho através de
um bairro degradado. As casas são marcadas e branqueadas
pelo Sol, com gramados mortos, mas os carros são
customizados e caros. Mesmo que seja tarde, as pessoas
movem-se, sem fazer nada. Eu olho para a minha porta,
querendo trancá-la, mas eu não me mexo. Enquanto nós
rodamos passando pelos grupos de pessoas, os olhos deles
viram e nos assistem passar, antes de voltar para o que eles
estavam fazendo.
Maggie finalmente diz: — Não é muito, mas acho que
vale a pena.
— Você não tem que defender o seu apartamento para
mim, Maggie. Eu sou uma maldita sem-teto. — Eu olho para
ela e inclino a cabeça para trás no assento. Minhas palavras
não a consolam, então eu acrescento: — Além disso, eu não
sou uma garota-propaganda da moralidade, também. Você
não vai acreditar no que eu fiz hoje à noite, e o que eu vou
fazer. — Minha voz falha e eu balanço a cabeça, pensando
nos lábios de Bryan. Estou horrorizada por reagir da maneira
como o faço, mesmo que com a memória.
Ela ri uma vez, rapidamente. — Sim, certo. Hallie, você
nunca faz nada de mau. Estúpido, sim. Mau, não.
Eu olho para fora da janela e não vejo nada. As casas
deram lugar a apartamentos que se estendem para o céu na
noite. Fachadas de tijolos já viram dias melhores. Muitos
parecem vazios, como se ninguém vivesse lá, por muitos
anos. Meu peito se aperta e eu me contorço na cadeira. Meu
Deus, ela mora aqui? Por que ela não me contou? Há carros
queimados, latas de lixo viradas e entulho, tudo espalhado
por toda parte. Parece que a rua foi saqueada e esquecida,
assim como Maggie.
Segundas decisões são as que mudam vidas. Eu faço a
minha e cuspo fora antes de me acovardar.
— Bryan Ferro está me chantageando. Se eu não dormir
com ele sempre que ele quiser, vai dizer às pessoas que ele é
o cara no livro e fazer o que for preciso para me arruinar. Ele
disse que ia usar tudo o que tem contra mim e me deu um
ultimato.
Os grandes olhos de Maggie viram em minha direção,
com o queixo caído e boca aberta.
— Puta merda! Quando isso aconteceu? Como você vai
detê-lo? — Ela pisca para mim e vira os olhos de volta para a
estrada, embora eu saiba que ela não quer.
Esta é a parte que me faz sentir um lixo. Eu não sou
quem ela pensa que eu sou. Eu não tenho uma estrutura
moral de aço. Eu não posso nem olhar para ela.
— Esta noite eu acabei fazendo o anúncio do prêmio no
show com ele, e então ele me encontrou no banquete. — Eu
digo. Eu tento fazer a minha boca mover-se para formar as
palavras, mas não vão sair.
— De jeito nenhum. — Ela estaciona em um parque de
estacionamento que parece que foi usado como um local de
explosão da força aérea e desliga o carro. — Pegue suas
coisas e tranque a porta. — Eu faço como ela diz e me
apresso atrás dela. — Mantenha seus olhos baixos e me siga.
Não fale ou olhe para ninguém.
Entramos no lado de um desses prédios de tijolos
antigos e subimos alguns lances de escadas, até o quarto
andar. No momento que chegamos ao seu andar, eu quero
jogar o resto do meu sapato para fora da janela. Eu poderia,
não há vidro no painel. Eu a sigo, até a porta e por um longo
corredor mal iluminado. Nós paramos em frente à sua porta.
Enquanto ela se atrapalha com a chave, a porta contrária à
dela se abre. Um homem pálido, com cabelo loiro descolorido
e vestindo uma camiseta regata branca e cueca está lá e olha
para nós. Eu posso sentir seus olhos nas minhas costas. Ele
se inclina contra o batente da porta e cruza os braços sobre o
peito.
Quando ele fala, soa rouco, como se ele fumasse um
maço de cigarros todos os dias desde que ele tinha dois anos
de idade. — Trouxe-me outra?
— Não, — Maggie diz com firmeza. Ela não se vira para
olhar para o cara. Se eu não a conhecesse melhor, eu acharia
que ela estava com medo dele. Eu não aguento mais stress
esta noite. Meu cérebro parece que vai partir em dois, antes
que eu murche e morra. Maggie pega a chave para abrir, mas
porta emperra. Ela chuta uma vez com o pé e a porta mexe
ligeiramente. — Maldita porta, — ela murmura.
— Qual é o seu nome, docinho? — O cara está falando
comigo. Viro-me e olho por cima do ombro, e nossos olhos se
encontram. Ele envia um olhar frio para mim, ao ver o jeito
como ele está olhando de soslaio. O cara é enorme, ele é todo
músculos e agora ele está sorrindo para mim, revelando uma
coroa de ouro em seu dente canino.
— Oi, — eu digo timidamente, e arrumo o meu cabelo
para atrás da minha orelha, tentando evitar o olhar dele
enquanto não respondo sua pergunta.
Enquanto o cara está de boca aberta, Maggie chuta na
porta. A porta se abre, ela agarra meu braço e me puxa. Eu
sigo, voando atrás dela enquanto ela grita por cima do ombro,
— eu vou lhe trazer alguém amanhã, eu juro. Boa noite, Vic.
— Ela bate a porta com o pé e parece abalada.
Seu apartamento é aproximadamente o mesmo tamanho
de um pequeno corredor. Há uma pequena janela com uma
folha grampeada sobre ela e sem móveis. Algumas das roupas
de Maggie estão jogadas ao redor do lugar, como se ela
tivesse saído com pressa. Se eu morasse aqui, eu iria embora
rapidamente, também.
— Obrigado por me deixar ficar com você.
— Sim, não há problema. É uma merda como este é o
pior lugar que eu já vivi, mas é um refúgio. Eu durmo aqui e,
em seguida, dou o fora. O aluguel não é horrível. — Ela
oferece um sorriso torto, mas é franco.
Eu preciso dela, e não há um muro entre nós. Ela acha
que eu sou perfeita, mas eu não sou. Eu fiz coisas que ela
não sabe. As palavras estão na minha língua e eu enrolo-as
em torno de minha boca, tentando descobrir como dizer isso,
enquanto a Maggie tagarela, enchendo o ambiente com sua
voz.
Um casal está brigando nas proximidades, e o som está
cada vez mais alto. Estão lutando, eu não quero dizer
discutindo. Há coisas batendo nas paredes e quebrando.
Chove gesso para baixo sobre nós como flocos de neve
quando algo cai de cima. Maggie olha horrorizada quando ela
puxa sua cama Murphy 2 para baixo da parede. Tomando
quase toda a sala. — Você pode dormir aqui. Eu vou dormir
no chão.
— Não.
Ela sorri. — Não seja boba, você é minha convidada. —
Palavrões ressoam acima de nós quando um homem irritado
grita. É prontamente seguido de um grito agudo. Maggie
morde as unhas do jeito que ela fazia quando éramos
crianças e olha em volta, como se ela desejasse poder
queimar o lugar.
2
— Eu não vou fazer você dormir no chão, mas há outra
coisa que eu preciso lhe dizer.
— Maggie olha para mim por debaixo de sua massa de
cabelo vermelho. Eu sou sua única amiga de verdade, sua
única família e ela a minha. Deus, o que é que ela vai pensar
de mim quando eu lhe disser o que eu concordei em fazer?
Eu não acho que eu vou ser capaz de suportá-lo. Meus
braços ainda estão dobrados sobre o peito, com as mãos
firmemente aninhadas nos meus braços.
— Hallie, qual o problema? — Maggie deixa de fazer a
cama e se senta. Ela dá um tapinha no lugar ao lado dela e
me sento.
Olhando para frente, eu engulo em seco e digo a ela.
— Eu disse que sim. — Você disse sim para o quê?
Hallie, você não está fazendo sentido, do que você está
falando?
Quando me viro para olhar para ela, e encontro com
aqueles grandes olhos verdes e sinto medo. Minha pele fica
arrepiada, mas eu não consigo desviar o olhar.
— Eu disse a Bryan Ferro que sim. Eu cedi. Ele ganhou
e eu perdi.
— O quê? — Ela está furiosa, pronta para voar para fora
do seu assento e defender-me até a morte.
Eu coloco minha mão no colo dela para fazê-la parar. —
Eu fui ao seu quarto de hotel para dizer-lhe para ir chupar
um prego, mas eu mudei de ideia quando ouvi sua voz. Eu
pensei que algo estava errado e esta era a sua maneira de
merda para me dizer. Conheci-o uma vez, pelo menos eu
pensei que tinha conhecido. Então, quando eu estava
esperando por você do lado de fora, eu... — minha voz está
trêmula e eu não posso mais esconder o meu horror, — um
cara tentou roubar minha bolsa. Para encurtar a história, ele
me pegou por trás do prédio e ia me machucar. Bryan
apareceu e ele... — Eu não posso dizer isso. Meu Bryan
perfeito fez algo que era tão diferente dele, tão terrivelmente
selvagem, que eu não sei o que pensar. Ele me protegeu, mas
ainda parece errado.
— Ele a machucou? — Maggie está furiosa, eu posso
ouvir em sua voz. Mas a forma como ela fala suas palavras
ondulando entre muito alta e baixa, dão a deixa.
— Não, ele atacou o homem, e esfaqueou-o. Se eu não
dissesse a Bryan para parar, acho que ele teria matado o
cara. — Olho para ela, mas eu não posso mais enxergar.
Meus olhos têm brilham com lágrimas que tudo fica
desfocado.
Maggie ergue os braços e eu caio neles. Ela sempre foi
como uma irmã para mim. Estivemos sempre uma para a
outra, e eu temo que a história com Bryan e o que eu me
tornei vá fazê-la me odiar. Meu pai teria vergonha de me
chamar de filha, e eu espero o mesmo de Maggie. Em vez
disso, ela fica lá no colchão gasto e me acalma.
Depois de um forte abraço, ela libera meus ombros e
pega meu queixo. — Você e eu passamos por tudo juntas.
Não pense que eu a estou socorrendo por causa disso. Se não
for por qualquer coisa, a vida fica mais interessante, isso é
tudo.
Eu enxugo as lágrimas dos meus olhos e rio, porque ela
está tão errada. — Esse é o eufemismo do ano.
— O meu ponto é, eu estou aqui por você. Eu sempre
estarei aqui para você. — Ela bate no meu ombro com a dela.
— Então, Bryan Ferro tem um lado negro por trás de todo o
brilho e deslumbre?
— Aparentemente.
— Foi divertido ou ele fez coisas estranhas?
Eu sorrio e limpo meus olhos novamente. — Não, não
hoje à noite de qualquer maneira. Ele me chamou para seu
quarto, eu fui, e nos beijamos. Então, ele me mandou ir
embora.
Os lábios de Maggie puxaram um pouco para cima. —
Ele a jogou para fora? Mas que inferno...?
— Eu não sei. É como se ele estivesse louco e deixando o
Hulk sair ou algo assim. Ele não olhava para mim. As coisas
estavam quentes e pesadas até então. — A intuição continua
me dizendo que algo estava errado, mas não posso entender o
quê.
Maggie sorri: — Ele foi melhor do que Neil, certo?
Eu faço uma careta e olhou para ela como se ela fosse
louca. — Uh, Bryan está me chantageando.
— E ele é mais quente do que Neil. Vá em frente, diga.
Eu sou sua amiga, então eu já sei.
Eu baixei meus olhos em direção ao chão e não disse
nada. Eu não tenho que dizer nada, a minha expressão diz
tudo. Bryan é muito mais quente do que Neil, não há
comparação. Os dois homens são noite e dia, e Bryan é a
noite sexy. Neil a voz racional que soa como o FDA 3,
lembrando-me de fazer todas as coisas com moderação, mas
não todas as coisas, somente as ações que ele aprova. Droga.
Eu enterro meu rosto em minhas mãos e suspiro.
Maggie acaricia minhas costas. — Está tudo bem.
Qualquer um é mais quente do que Neil. Não se sinta
culpada, mas eu não contaria exatamente ao Senhor Calças
Perfeitamente Passadas. Ele vai surtar ao saber que alguém
tocou em você. — Maggie está tirando as roupas e puxando
uma camisa de dormir e calças, enquanto ela fala.
— Na verdade, Neil sabe.
3 FDA - Food and Drug Administration - Agencia reguladora de remédios e alimentos.
— O quê? — Ela está pulando em um pé, tentando
enfiar o pé pela perna da calça e cai. — Como é que ele sabe?
Você disse que acabou de acontecer.
— Neil sabe por que foi ele quem me disse para fazer
isso.
CONTINUA
Bryan está de queixo caído e boca aberta, com aqueles olhos verdes semicerrados, em chamas. Fúria e choque não parecem bons para ele. As emoções distorcem seu belo rosto,
estragam as linhas suaves de sua pele, fazendo-o parecer bem mais velho. Seus punhos estão fechados, apertados em seus lados, mas ele pisca uma vez e a reação diminui. Há muitas coisas que eu não sei sobre Bryan Ferro, mas uma coisa eu sei, ele é uma merda em manter as coisas escondidas. Seus pensamentos dançam em seu rosto de vez em quando, e é por isso que ele está desconfiado de mim.
Virando abruptamente, Bryan pressiona seus dedos em sua têmpora direita. Sua voz sai como um grunhido.
— Eu lhe disse para ir embora.
— Seus ombros estão tensos, cada músculo está apertado a ponto de eu poder ver as curvas de seu corpo sob essa camisa. Ele flexiona a mão que está ao seu lado antes de deslizar em seu bolso. Bryan pode ser capaz de esconder tudo, de todos os outros, mas não de mim.
— Sim, eu ouvi essa parte. — Eu ajo como se eu não me importasse, deito-me no tapete, e dobro as minhas mãos atrás da minha cabeça. O piso é suave e difuso. Levanto os meus joelhos, eu deixo a queda do meu vestido em torno dos meus tornozelos e até meus pés, para sentir a pilha macia entre os dedos dos pés. O tapete no meu antigo quarto parecia como um saco de batata, em relação a este material.
Mesmo com Bryan irado, eu estou sorrindo. A vozinha na parte de trás da minha cabeça me diz que eu perdi minha mente. Eu respondo de volta que eu nunca tive um controle firme sobre isso de qualquer maneira.
https://img.comunidades.net/bib/bibliotecasemlimites/2_A_PROPOSI_O.jpg
Bryan pode ver meu reflexo no espelho, mas eu não
posso ver mais do que as suas costas e a maneira como ele
agarra sua cabeça como se fosse explodir. Ele está furioso
comigo? Não consigo entender sua raiva, mas transborda
para fora de sua boca de novo, espetando como espinhos,
neste momento.
— Se você não consegue entender os termos deste
acordo, então eu temo que nós não tenhamos um.
— O quê? — Sento-me e giro em torno, de modo que
estou de frente para as suas costas.
Bryan se vira, e a tensão que está estampada no seu
rosto é horrível. Eu encontro o seu olhar, mas eu não posso
olha-lo sem querer corrigir o que está fazendo com ele. Todas
as imagens na imprensa mostram a versão de Bryan que eu
conhecia, leve e despreocupado, mas este homem, aqui, não é
nenhuma dessas coisas. Algo está esmagando-o de dentro
para fora e deixando-o em pedaços. Seu corpo está tremendo,
ele está tão bravo. Ele tenta respirar fundo, mas isso só faz o
seu rosto ficar mais apertado.
— Você me ouviu. Se você não fizer as coisas do meu
jeito, eu vou arruinar você. Este não é o meu jeito, você sabe
muito bem disso. Saia daqui.
Ele não grita, mas suas palavras me fazem tremer. Não
há calor, não há compaixão. Talvez eu não o conheça mais e
ele está certo. Apertando os lábios, eu engulo minha resposta,
mas esta incha dentro de mim e enche meu peito. Eu peguei
meus sapatos saltos de volta e calcei em meus pés cansados
antes de levantar. Eu ando mais e pego minha bolsa.
Eu deveria sair. A vozinha dentro de mim canta como
um duende com uma voz agradável, sim, vá. Faça isso.
Agora.
Meus olhos estão fixos na porta como se fosse o
caminho para o inferno. Algo sobre sair agora parece errado,
mas não posso entender sobre o que está prendendo meus
pés no lugar. Caramba, é o pensamento que está me
segurando. Ele está me prendendo aqui e eu não posso me
mover. Parece como engolir o vômito e eu não posso fazê-lo.
Eu sou o cérebro danificado, mas não posso ser algo que não sou.
Girando sobre meus pés, eu atravesso o piso acarpetado
e elegante, e caminho até ele. Bryan não se vira para olhar
para mim. Em vez disso, suas mãos estão segurando a parte
superior do bar como se ele quisesse arrancá-lo da parede.
Suas costas estão curvadas e sua cabeça está pendurada
entre os ombros, como se ele estivesse tentando não me
rasgar em pedaços. Outra mulher teria corrido agora mesmo,
mas eu sou a dopada que anda mais perto.
— Eu sou uma idiota, — eu digo, enquanto olho para os
meus sapatos, e rio de leve. É o tipo de som que não tem
alegria e revela uma alma torturada. Meus olhos levantam
para seus ombros. Eu fico lá por um momento esperando que
ele se vire, mas ele não vira. Bryan não fala ou levanta o
olhar. Ele permanece debruçado sobre o bar como um troll 1.
Eu continuo, — vê-lo hoje à noite foi terrível e
maravilhoso. Isso evocou memórias e sentimentos que eu
tinha tempo esquecido há muito. Escrever sobre, é uma
coisa, mas vê-lo novamente está além das palavras.
Desculpe-me se eu o machuquei, mesmo que eu não entenda
o que eu fiz. E seu eu pudesse corrigir. Eu...
Por que estou fazendo isso? Eu estou me desculpando
com as suas costas, o homem não tem sequer a decência de
se virar e encarar-me. Eu respiro fundo e endireito a minha
espinha.
— As pessoas cometem erros, Bryan, e parece que o
meu maior erro foi conhecê-lo.
1
Troll – é uma gíria que designa uma pessoa cujo comportamento tende sistematicamente a desestabilizar uma
discussão, provocar e enfurecer as pessoas envolvidas nela. Há trolls de todo tipo, desde o mais ignorante e rude
que xinga e provoca, até o mais apto intelectualmente que discursa com o objetivo de desestabilizar o interlocutor
e levá-lo a fúria, para depois desqualificá-lo, matando seu argumento e abalando sua reputação.
A fúria me inunda quando eu corro pela sala. Eu agarro
a maçaneta da porta e não olho para trás, apesar de sentir
seus olhos em mim. Dane-se ele. Eu vivi coisas piores. Eu
digo essas palavras uma e outra vez, porque aconteceu.
Depois corro pelo corredor, aperto o botão para baixo no
elevador uma e outra vez, perguntando por que eu estou tão
chateada. Depois de um momento, eu sinto o pensamento
picar os meus olhos e apertar a minha garganta e eu sei
exatamente por que estou tão chateada.
É possível que as coisas estejam invertidas, e como eu
não conhecesse o verdadeiro Bryan Ferro, aquele com quem
dormi todos esses anos, era o falso.
CAPÍTULO 2
Eu não posso ir para casa e enfrentar Neil, por isso eu
telefono para Maggie. Ela atende no terceiro toque. Eu estou
andando na rua em frente ao hotel com o meu telefone
pressionado ao meu ouvido. É tarde e escuro. Evitando as
sombras, eu ando mais perto da rua do que no hotel.
— Maggie. — Eu tento esconder a tensão na minha voz,
mas ela ouve. Nós nos conhecemos há muito tempo. — Vou
tirar suas bolas fora.
— O que diabo aconteceu? Onde você está? — Ela me
enche de perguntas, até que eu possa finalmente fazê-la calar
a boca.
— Eu preciso de um lugar para dormir. Eu não posso
ver Neil agora e eu não tenho outro lugar para ir.
Maggie fica em silêncio.
— O que é meu, é seu. Você sabe disso, mas eu não
tenho certeza que você vá gostar.
— Em qualquer lugar é melhor do que aqui ou com Neil.
— Eu sinto uma náusea fazendo seu caminho até a minha
garganta. Lágrimas estão chegando, e tenho a sensação de
que vai ser um maremoto.
— Claro, claro. Eu estarei aí em cinco minutos.
— A linha de Maggie desliga, e eu fecho o meu telefone e
o coloco em minha bolsa.
A cidade se move em torno de mim, mas parece que eu
estou em uma bolha. As pessoas passam na calçada, mas eu
não as noto. Eu passeio, perdida em pensamentos, agarrando
minha bolsa perto do meu corpo. O ar da noite tem aquele
cheiro que é distintamente de Nova York. Eu o inspiro e
quando me viro, quase bato em alguém. O cara é uma
parede, de marrom e preto. Seu casaco tem cheiro de cigarros
velhos e naftalina.
Antes de eu ter tempo para descobrir o que está
acontecendo, ele pega a minha bolsa, em seguida, coloca a
mão no centro do meu peito e me empurra, com força. Eu
grito, tropeço e caio para trás, enquanto minha bolsa é
arrancada de minhas mãos. O cara se vira e está pronto para
correr, mas eu não estou com disposição para perder a bolsa.
Eu estou fodidamente quebrada. Todo o dinheiro que eu
tenho está lá dentro.
Antes que eu saiba o que estou fazendo, eu pego um dos
meus sapatos de salto alto e atiro em sua cabeça. Acerto e ele
cai na calçada. Poucas pessoas param para assistir, mas
ninguém faz nada - típico dos nova-iorquinos. Todo mundo
quer ver, mas ninguém ajuda.
Nesse ponto, tudo acontece em câmera lenta. Eu estou
em pé, mesmo que eu não me lembre de ficar pé. Um pé está
congelado, sobre o cimento frio, enquanto o outro ainda está
calçado. O ladrão levanta a mão e bota na parte de trás de
sua cabeça e puxa-a. Ele olha para os seus dedos, seus olhos
escuros apreciando o sangue vermelho e pegajoso em sua
mão. A ponta do meu salto que bateu com a parte traseira de
seu couro cabeludo, deve tê-lo cortado.
Meu coração para, quando o sujeito se vira para mim.
Seus olhos têm um olhar enlouquecido e os ombros tremem
como se ele fosse me rasgar ao meio.
— Você. — Ele diz isso como se fosse o meu nome e ele
me odeia.
O homem dá passos em direção a mim e fala
novamente, mas suas mãos lentamente movem para cima,
como se ele fosse me atacar ou me estrangular. Eu suspiro
alguma coisa, mas ele não sai antes de eu dar um passo para
trás, aterrorizada. Meu pulso ruge em meus ouvidos, então
olho em volta a procura de ajuda, mas não vejo ninguém. A
multidão se afastou, ou talvez eu tenha ido embora. Onde
está um policial quando eu preciso de um?
O resto acontece freneticamente rápido. Alguém grita
comigo, enquanto o homem procura o meu pescoço. Eu caio,
mas ele pega no meu ombro. Ele aperta-me com força,
fazendo com que o meu pescoço estale para trás enquanto ele
grita na minha cara.
— Sua pequena vadia!
O resto de suas palavras se tornam zumbidos, enquanto
ele me aperta mais. Estou ciente do vento, do ar da noite, e
do homem que está me estrangulando. Em algum momento,
as mãos deslizam até o pescoço. Eu agarro em suas mãos e
tento gritar, mas não sai nada. Eu não entendo por que
ninguém nos vê, por que eles simplesmente deixam esse
ladrão me machucar.
Balançando as minhas pernas, eu o chuto, mas não
adianta. Eu não sou forte o suficiente. Eu tentei tudo o que
sabia fazer e nada funcionou. O homem me atira e bate
minhas costas contra uma parede de tijolos. O frio me sacode
e me pergunto como chegamos ao beco ao lado do hotel, mas
os pensamentos cessam quando vejo o olhar em seus olhos.
Um sorriso mal aparece em seu rosto quando ele rasga o
ombro do meu vestido. O tecido sai em sua mão e permite
que o vestido deslizar alguns centímetros.
Abro a boca para gritar, mas sua mão imunda me cobre,
impedindo a saída do som. Sua mão me tateia, sentindo
meus seios enquanto ele sussurra em meu ouvido todas as
coisas horríveis que ele pretende fazer comigo. — Então, eu
vou levar a minha faca e... — Suas palavras desagradáveis
param imediatamente, após o som do estalar de madeira.
Assim como, de repente, a mão no meu pescoço se foi e
eu suspiro em uma respiração trêmula e olho para cima. Está
muito escuro para ver, mas há um homem vestido de
smoking, avançando sobre o ladrão. Ele lança socos uma e
outra vez, até que eles estão na parte de trás do beco, presos
por uma parede de tijolos. O ladrão é espancado e sangra,
mas ele não para de lutar. Nem o homem de smoking. Ele
distribui socos como um boxeador, tanto assim que é
hipnótico assistir. Quando a faca aparece, eu esperava que as
coisas se transformassem em favor do ladrão, mas isso não
acontece. O homem de smoking desarma o idiota e toma a
arma. Aconteceu tão rápido que eu não posso dizer como foi
feito. O homem de smoking recua seu braço como se
estivesse para empurrar a faca no peito do cara.
— Pare! — Eu chamo antes de perceber o que estou
fazendo. Uma das minhas mãos está segurando meu vestido
no busto e a outra está mal tocando meus lábios. Eu não
posso ver o cara morrer, mas eu não consigo desviar o olhar
também.
O homem de smoking não para. Um grito tremendo sai
dilacerado da minha garganta quando ele bate a faca no
ombro do ladrão. O bandido pega no seu braço e desliza para
baixo da parede, segurando seu ombro enquanto o casaco
fica encharcado de sangue. Ele olha diretamente para mim
com raiva.
O homem de smoking chuta o ladrão uma vez, e uma
voz familiar disse:
— Vá embora.
Eu tremo quando ouço isso, porque eu sei quem é ele,
Bryan. Ele deve ter me seguido. O medo agarra e azeda
dentro do meu estômago, enquanto eu olho para as suas
costas. Bryan não vira o rosto para mim. O ladrão comprime
os lábios e se levanta do chão do beco. Ele faz o seu caminho
passando por mim, e não diz nada.
Um tremor se apodera de mim e escorre pela minha
espinha, me fazendo ofegar. É quando ele se vira. O rosto de
Bryan está pálido e coberto de um brilho fino de suor. Ele
caminha de volta para mim e eu posso ver onde ele tomou
algumas pancadas. Há um rasgo em sua camisa, sob a lapela
do paletó, onde a faca cortou antes Bryan tomá-la do ladrão.
Passo a passo, ele caminha em minha direção, e eu
estou mais assustada por Bryan que qualquer coisa que já
encontrei. O que foi isso? Ele teria matado o homem se eu
não tivesse gritado? Eu não consigo parar de tremer.
Bryan alcança os meus ombros para me firmar, e eu
sinto aquele choque familiar que acompanha o seu toque.
Seu polegar esfrega suavemente sobre minha pele. — Você
está bem?
Mas, é muito. Eu não posso. Eu não posso. Eu não posso.
O pensamento não faz sentido, mas eu sei que tenho que
fazer com que ele me liberte. Seu toque tem uma maneira de
me desfazer, e eu estou caindo aos pedaços. Recuso-me a
deixá-lo ser o único a testemunhar isso. Eu empurro para
longe, e aceno com a cabeça rapidamente.
— Eu estou bem.
As mãos de Bryan permanecem paradas no ar por um
momento, antes de ele abaixa-las junto com seu olhar. Ele
observa o chão por um segundo e quando ele levanta o
queixo, vejo um sorriso nos seus lábios.
— Mentirosa. Você está longe de estar bem, mas eu
estou contente que você esteja parada.
Eu fico olhando para ele, incapaz de encontrar uma
resposta. Sua voz soa carinhosa, quase arrependida. Ele olha
por cima do meu ombro para alguém e, em seguida, diz:
— A sua carona está aqui. Da próxima vez, não tente
derrubar um assaltante por si mesmo.
Eu falo sem querer, mas as palavras saem e caem fora.
— Da próxima vez, não mate um homem por roubar minha
bolsa.
O canto dos lábios de Bryan puxa para cima, como se
quisesse sorrir, mas ele não sorri.
— Eu não iria matar um homem por roubar uma bolsa.
Que tipo de pessoa você acha que eu sou?
— Honestamente, eu não sei mais. Eu achava que sabia,
mas depois disso... — Eu balanço minha cabeça e fico sem
palavras. Bryan mudou o ataque no último segundo. Essa
faca não estava voltada para o ombro do homem — estava
dirigida para o seu coração. — Você ia matá-lo. Eu vi, você
não pode me dizer que não iria.
Bryan se inclina mais perto, e quando ele fala seu hálito
quente sussurra contra a minha orelha.
— Talvez, mas não foi porque ele pegou sua bolsa. — Ele
se inclina para trás e desliza as mãos nos bolsos, enquanto
seus olhos verdes me percorrem. — Ninguém toca em você,
enquanto você está comigo.
— Eu engulo em seco e olho para ele, com o coração
ainda disparando.
Maggie aparece atrás de mim um segundo depois. Ela
pega meu ombro e me vira.
— Hallie, diabo está acontecendo, e por que você está
aqui no beco sozinha? — Ela vê a maneira que eu estou
segurando meu vestido e o tecido rasgado. A preocupação
persiste em seu rosto, esperando pela minha resposta.
— Eu não estou sozinha, — mas quando me viro para
olhar, Bryan já se foi.
CAPÍTULO 3
Eu estive em um casulo de tristeza e este evento o
quebrou. Minha atordoada indiferença fratura e estilhaça,
como vidro barato. Eu olho para a bolsa presa em minha mão
e me pergunto o que há de errado comigo, mas ainda mais,
eu não consigo parar de pensar em Bryan, como ele veio do
nada e quase matou o homem que tentou me machucar.
Pare de pensar assim, eu me repreendo. Bryan agiu
como um lunático. A imagem de Bryan esfaqueando o cara
persiste através dos meus olhos mais uma vez e faz o meu
estômago embrulhar.
Maggie está falando, mas eu não disse muito. Estamos
em seu velho Ford Escort. A coisa corre mal, mas eu não
posso reclamar. Eu nem mesmo tenho um carro, não mais.
Maggie olha para mim por trás do volante, enquanto suas
mãos o seguram com firmeza.
— Hallie, se você estiver com vontade de vomitar, baixe
a janela. Aqui já cheira estranho o suficiente. — Ela está
certa, o carro tem um odor não identificável que está lá desde
que ela comprou.
— Eu estou bem, — eu digo novamente, embora seja
uma mentira. Meus braços envolvem meu peito para
esconder como minhas mãos tremem.
— Ah, Hallie, eu sei que você não quer falar e que está
tudo bem, mas eu quero informa-la sobre a minha nova casa.
— Eu olho para ela, sem entender o que ela quer dizer.
Maggie me dá um sorriso tímido e encolhe os ombros até as
suas orelhas, enquanto dirige. — Vamos apenas dizer que
não é algo que você aprovaria.
Eu não tenho paciência para lidar com seus enigmas
neste momento. A vida de Maggie é mais difícil do que a
minha, e eu sei disso, mas ela nunca tinha escondido coisas
de mim antes. Desta vez, é claro que ela escondeu, e isso me
preocupa. As únicas coisas que eu desaprovo são as que
possam matá-la. A menina não tem nenhum senso. Às vezes
me pergunto sobre ela, e como ela escolhe o que faz. Sorrio
sem jeito e olho para o tapete sujo no chão, que alguma vez
foi azul.
— O que é tão engraçado? — Maggie parece indignada,
como se eu a tivesse ofendido.
— Nada. Vamos apenas dizer que, se você soubesse o
que eu estava fazendo esta noite, você não se sentiria tão na
defensiva. Tenho certeza de que sua casa é boa.
Maggie se tranquiliza. Ela suspira quando vira em uma
rua lateral e começamos a fazer o nosso caminho através de
um bairro degradado. As casas são marcadas e branqueadas
pelo Sol, com gramados mortos, mas os carros são
customizados e caros. Mesmo que seja tarde, as pessoas
movem-se, sem fazer nada. Eu olho para a minha porta,
querendo trancá-la, mas eu não me mexo. Enquanto nós
rodamos passando pelos grupos de pessoas, os olhos deles
viram e nos assistem passar, antes de voltar para o que eles
estavam fazendo.
Maggie finalmente diz: — Não é muito, mas acho que
vale a pena.
— Você não tem que defender o seu apartamento para
mim, Maggie. Eu sou uma maldita sem-teto. — Eu olho para
ela e inclino a cabeça para trás no assento. Minhas palavras
não a consolam, então eu acrescento: — Além disso, eu não
sou uma garota-propaganda da moralidade, também. Você
não vai acreditar no que eu fiz hoje à noite, e o que eu vou
fazer. — Minha voz falha e eu balanço a cabeça, pensando
nos lábios de Bryan. Estou horrorizada por reagir da maneira
como o faço, mesmo que com a memória.
Ela ri uma vez, rapidamente. — Sim, certo. Hallie, você
nunca faz nada de mau. Estúpido, sim. Mau, não.
Eu olho para fora da janela e não vejo nada. As casas
deram lugar a apartamentos que se estendem para o céu na
noite. Fachadas de tijolos já viram dias melhores. Muitos
parecem vazios, como se ninguém vivesse lá, por muitos
anos. Meu peito se aperta e eu me contorço na cadeira. Meu
Deus, ela mora aqui? Por que ela não me contou? Há carros
queimados, latas de lixo viradas e entulho, tudo espalhado
por toda parte. Parece que a rua foi saqueada e esquecida,
assim como Maggie.
Segundas decisões são as que mudam vidas. Eu faço a
minha e cuspo fora antes de me acovardar.
— Bryan Ferro está me chantageando. Se eu não dormir
com ele sempre que ele quiser, vai dizer às pessoas que ele é
o cara no livro e fazer o que for preciso para me arruinar. Ele
disse que ia usar tudo o que tem contra mim e me deu um
ultimato.
Os grandes olhos de Maggie viram em minha direção,
com o queixo caído e boca aberta.
— Puta merda! Quando isso aconteceu? Como você vai
detê-lo? — Ela pisca para mim e vira os olhos de volta para a
estrada, embora eu saiba que ela não quer.
Esta é a parte que me faz sentir um lixo. Eu não sou
quem ela pensa que eu sou. Eu não tenho uma estrutura
moral de aço. Eu não posso nem olhar para ela.
— Esta noite eu acabei fazendo o anúncio do prêmio no
show com ele, e então ele me encontrou no banquete. — Eu
digo. Eu tento fazer a minha boca mover-se para formar as
palavras, mas não vão sair.
— De jeito nenhum. — Ela estaciona em um parque de
estacionamento que parece que foi usado como um local de
explosão da força aérea e desliga o carro. — Pegue suas
coisas e tranque a porta. — Eu faço como ela diz e me
apresso atrás dela. — Mantenha seus olhos baixos e me siga.
Não fale ou olhe para ninguém.
Entramos no lado de um desses prédios de tijolos
antigos e subimos alguns lances de escadas, até o quarto
andar. No momento que chegamos ao seu andar, eu quero
jogar o resto do meu sapato para fora da janela. Eu poderia,
não há vidro no painel. Eu a sigo, até a porta e por um longo
corredor mal iluminado. Nós paramos em frente à sua porta.
Enquanto ela se atrapalha com a chave, a porta contrária à
dela se abre. Um homem pálido, com cabelo loiro descolorido
e vestindo uma camiseta regata branca e cueca está lá e olha
para nós. Eu posso sentir seus olhos nas minhas costas. Ele
se inclina contra o batente da porta e cruza os braços sobre o
peito.
Quando ele fala, soa rouco, como se ele fumasse um
maço de cigarros todos os dias desde que ele tinha dois anos
de idade. — Trouxe-me outra?
— Não, — Maggie diz com firmeza. Ela não se vira para
olhar para o cara. Se eu não a conhecesse melhor, eu acharia
que ela estava com medo dele. Eu não aguento mais stress
esta noite. Meu cérebro parece que vai partir em dois, antes
que eu murche e morra. Maggie pega a chave para abrir, mas
porta emperra. Ela chuta uma vez com o pé e a porta mexe
ligeiramente. — Maldita porta, — ela murmura.
— Qual é o seu nome, docinho? — O cara está falando
comigo. Viro-me e olho por cima do ombro, e nossos olhos se
encontram. Ele envia um olhar frio para mim, ao ver o jeito
como ele está olhando de soslaio. O cara é enorme, ele é todo
músculos e agora ele está sorrindo para mim, revelando uma
coroa de ouro em seu dente canino.
— Oi, — eu digo timidamente, e arrumo o meu cabelo
para atrás da minha orelha, tentando evitar o olhar dele
enquanto não respondo sua pergunta.
Enquanto o cara está de boca aberta, Maggie chuta na
porta. A porta se abre, ela agarra meu braço e me puxa. Eu
sigo, voando atrás dela enquanto ela grita por cima do ombro,
— eu vou lhe trazer alguém amanhã, eu juro. Boa noite, Vic.
— Ela bate a porta com o pé e parece abalada.
Seu apartamento é aproximadamente o mesmo tamanho
de um pequeno corredor. Há uma pequena janela com uma
folha grampeada sobre ela e sem móveis. Algumas das roupas
de Maggie estão jogadas ao redor do lugar, como se ela
tivesse saído com pressa. Se eu morasse aqui, eu iria embora
rapidamente, também.
— Obrigado por me deixar ficar com você.
— Sim, não há problema. É uma merda como este é o
pior lugar que eu já vivi, mas é um refúgio. Eu durmo aqui e,
em seguida, dou o fora. O aluguel não é horrível. — Ela
oferece um sorriso torto, mas é franco.
Eu preciso dela, e não há um muro entre nós. Ela acha
que eu sou perfeita, mas eu não sou. Eu fiz coisas que ela
não sabe. As palavras estão na minha língua e eu enrolo-as
em torno de minha boca, tentando descobrir como dizer isso,
enquanto a Maggie tagarela, enchendo o ambiente com sua
voz.
Um casal está brigando nas proximidades, e o som está
cada vez mais alto. Estão lutando, eu não quero dizer
discutindo. Há coisas batendo nas paredes e quebrando.
Chove gesso para baixo sobre nós como flocos de neve
quando algo cai de cima. Maggie olha horrorizada quando ela
puxa sua cama Murphy 2 para baixo da parede. Tomando
quase toda a sala. — Você pode dormir aqui. Eu vou dormir
no chão.
— Não.
Ela sorri. — Não seja boba, você é minha convidada. —
Palavrões ressoam acima de nós quando um homem irritado
grita. É prontamente seguido de um grito agudo. Maggie
morde as unhas do jeito que ela fazia quando éramos
crianças e olha em volta, como se ela desejasse poder
queimar o lugar.
2
— Eu não vou fazer você dormir no chão, mas há outra
coisa que eu preciso lhe dizer.
— Maggie olha para mim por debaixo de sua massa de
cabelo vermelho. Eu sou sua única amiga de verdade, sua
única família e ela a minha. Deus, o que é que ela vai pensar
de mim quando eu lhe disser o que eu concordei em fazer?
Eu não acho que eu vou ser capaz de suportá-lo. Meus
braços ainda estão dobrados sobre o peito, com as mãos
firmemente aninhadas nos meus braços.
— Hallie, qual o problema? — Maggie deixa de fazer a
cama e se senta. Ela dá um tapinha no lugar ao lado dela e
me sento.
Olhando para frente, eu engulo em seco e digo a ela.
— Eu disse que sim. — Você disse sim para o quê?
Hallie, você não está fazendo sentido, do que você está
falando?
Quando me viro para olhar para ela, e encontro com
aqueles grandes olhos verdes e sinto medo. Minha pele fica
arrepiada, mas eu não consigo desviar o olhar.
— Eu disse a Bryan Ferro que sim. Eu cedi. Ele ganhou
e eu perdi.
— O quê? — Ela está furiosa, pronta para voar para fora
do seu assento e defender-me até a morte.
Eu coloco minha mão no colo dela para fazê-la parar. —
Eu fui ao seu quarto de hotel para dizer-lhe para ir chupar
um prego, mas eu mudei de ideia quando ouvi sua voz. Eu
pensei que algo estava errado e esta era a sua maneira de
merda para me dizer. Conheci-o uma vez, pelo menos eu
pensei que tinha conhecido. Então, quando eu estava
esperando por você do lado de fora, eu... — minha voz está
trêmula e eu não posso mais esconder o meu horror, — um
cara tentou roubar minha bolsa. Para encurtar a história, ele
me pegou por trás do prédio e ia me machucar. Bryan
apareceu e ele... — Eu não posso dizer isso. Meu Bryan
perfeito fez algo que era tão diferente dele, tão terrivelmente
selvagem, que eu não sei o que pensar. Ele me protegeu, mas
ainda parece errado.
— Ele a machucou? — Maggie está furiosa, eu posso
ouvir em sua voz. Mas a forma como ela fala suas palavras
ondulando entre muito alta e baixa, dão a deixa.
— Não, ele atacou o homem, e esfaqueou-o. Se eu não
dissesse a Bryan para parar, acho que ele teria matado o
cara. — Olho para ela, mas eu não posso mais enxergar.
Meus olhos têm brilham com lágrimas que tudo fica
desfocado.
Maggie ergue os braços e eu caio neles. Ela sempre foi
como uma irmã para mim. Estivemos sempre uma para a
outra, e eu temo que a história com Bryan e o que eu me
tornei vá fazê-la me odiar. Meu pai teria vergonha de me
chamar de filha, e eu espero o mesmo de Maggie. Em vez
disso, ela fica lá no colchão gasto e me acalma.
Depois de um forte abraço, ela libera meus ombros e
pega meu queixo. — Você e eu passamos por tudo juntas.
Não pense que eu a estou socorrendo por causa disso. Se não
for por qualquer coisa, a vida fica mais interessante, isso é
tudo.
Eu enxugo as lágrimas dos meus olhos e rio, porque ela
está tão errada. — Esse é o eufemismo do ano.
— O meu ponto é, eu estou aqui por você. Eu sempre
estarei aqui para você. — Ela bate no meu ombro com a dela.
— Então, Bryan Ferro tem um lado negro por trás de todo o
brilho e deslumbre?
— Aparentemente.
— Foi divertido ou ele fez coisas estranhas?
Eu sorrio e limpo meus olhos novamente. — Não, não
hoje à noite de qualquer maneira. Ele me chamou para seu
quarto, eu fui, e nos beijamos. Então, ele me mandou ir
embora.
Os lábios de Maggie puxaram um pouco para cima. —
Ele a jogou para fora? Mas que inferno...?
— Eu não sei. É como se ele estivesse louco e deixando o
Hulk sair ou algo assim. Ele não olhava para mim. As coisas
estavam quentes e pesadas até então. — A intuição continua
me dizendo que algo estava errado, mas não posso entender o
quê.
Maggie sorri: — Ele foi melhor do que Neil, certo?
Eu faço uma careta e olhou para ela como se ela fosse
louca. — Uh, Bryan está me chantageando.
— E ele é mais quente do que Neil. Vá em frente, diga.
Eu sou sua amiga, então eu já sei.
Eu baixei meus olhos em direção ao chão e não disse
nada. Eu não tenho que dizer nada, a minha expressão diz
tudo. Bryan é muito mais quente do que Neil, não há
comparação. Os dois homens são noite e dia, e Bryan é a
noite sexy. Neil a voz racional que soa como o FDA 3,
lembrando-me de fazer todas as coisas com moderação, mas
não todas as coisas, somente as ações que ele aprova. Droga.
Eu enterro meu rosto em minhas mãos e suspiro.
Maggie acaricia minhas costas. — Está tudo bem.
Qualquer um é mais quente do que Neil. Não se sinta
culpada, mas eu não contaria exatamente ao Senhor Calças
Perfeitamente Passadas. Ele vai surtar ao saber que alguém
tocou em você. — Maggie está tirando as roupas e puxando
uma camisa de dormir e calças, enquanto ela fala.
— Na verdade, Neil sabe.
3 FDA - Food and Drug Administration - Agencia reguladora de remédios e alimentos.
— O quê? — Ela está pulando em um pé, tentando
enfiar o pé pela perna da calça e cai. — Como é que ele sabe?
Você disse que acabou de acontecer.
— Neil sabe por que foi ele quem me disse para fazer
isso.
CONTINUA
Bryan está de queixo caído e boca aberta, com aqueles olhos verdes semicerrados, em chamas. Fúria e choque não parecem bons para ele. As emoções distorcem seu belo rosto,
estragam as linhas suaves de sua pele, fazendo-o parecer bem mais velho. Seus punhos estão fechados, apertados em seus lados, mas ele pisca uma vez e a reação diminui. Há muitas coisas que eu não sei sobre Bryan Ferro, mas uma coisa eu sei, ele é uma merda em manter as coisas escondidas. Seus pensamentos dançam em seu rosto de vez em quando, e é por isso que ele está desconfiado de mim.
Virando abruptamente, Bryan pressiona seus dedos em sua têmpora direita. Sua voz sai como um grunhido.
— Eu lhe disse para ir embora.
— Seus ombros estão tensos, cada músculo está apertado a ponto de eu poder ver as curvas de seu corpo sob essa camisa. Ele flexiona a mão que está ao seu lado antes de deslizar em seu bolso. Bryan pode ser capaz de esconder tudo, de todos os outros, mas não de mim.
— Sim, eu ouvi essa parte. — Eu ajo como se eu não me importasse, deito-me no tapete, e dobro as minhas mãos atrás da minha cabeça. O piso é suave e difuso. Levanto os meus joelhos, eu deixo a queda do meu vestido em torno dos meus tornozelos e até meus pés, para sentir a pilha macia entre os dedos dos pés. O tapete no meu antigo quarto parecia como um saco de batata, em relação a este material.
Mesmo com Bryan irado, eu estou sorrindo. A vozinha na parte de trás da minha cabeça me diz que eu perdi minha mente. Eu respondo de volta que eu nunca tive um controle firme sobre isso de qualquer maneira.
https://img.comunidades.net/bib/bibliotecasemlimites/2_A_PROPOSI_O.jpg
Bryan pode ver meu reflexo no espelho, mas eu não
posso ver mais do que as suas costas e a maneira como ele
agarra sua cabeça como se fosse explodir. Ele está furioso
comigo? Não consigo entender sua raiva, mas transborda
para fora de sua boca de novo, espetando como espinhos,
neste momento.
— Se você não consegue entender os termos deste
acordo, então eu temo que nós não tenhamos um.
— O quê? — Sento-me e giro em torno, de modo que
estou de frente para as suas costas.
Bryan se vira, e a tensão que está estampada no seu
rosto é horrível. Eu encontro o seu olhar, mas eu não posso
olha-lo sem querer corrigir o que está fazendo com ele. Todas
as imagens na imprensa mostram a versão de Bryan que eu
conhecia, leve e despreocupado, mas este homem, aqui, não é
nenhuma dessas coisas. Algo está esmagando-o de dentro
para fora e deixando-o em pedaços. Seu corpo está tremendo,
ele está tão bravo. Ele tenta respirar fundo, mas isso só faz o
seu rosto ficar mais apertado.
— Você me ouviu. Se você não fizer as coisas do meu
jeito, eu vou arruinar você. Este não é o meu jeito, você sabe
muito bem disso. Saia daqui.
Ele não grita, mas suas palavras me fazem tremer. Não
há calor, não há compaixão. Talvez eu não o conheça mais e
ele está certo. Apertando os lábios, eu engulo minha resposta,
mas esta incha dentro de mim e enche meu peito. Eu peguei
meus sapatos saltos de volta e calcei em meus pés cansados
antes de levantar. Eu ando mais e pego minha bolsa.
Eu deveria sair. A vozinha dentro de mim canta como
um duende com uma voz agradável, sim, vá. Faça isso.
Agora.
Meus olhos estão fixos na porta como se fosse o
caminho para o inferno. Algo sobre sair agora parece errado,
mas não posso entender sobre o que está prendendo meus
pés no lugar. Caramba, é o pensamento que está me
segurando. Ele está me prendendo aqui e eu não posso me
mover. Parece como engolir o vômito e eu não posso fazê-lo.
Eu sou o cérebro danificado, mas não posso ser algo que não sou.
Girando sobre meus pés, eu atravesso o piso acarpetado
e elegante, e caminho até ele. Bryan não se vira para olhar
para mim. Em vez disso, suas mãos estão segurando a parte
superior do bar como se ele quisesse arrancá-lo da parede.
Suas costas estão curvadas e sua cabeça está pendurada
entre os ombros, como se ele estivesse tentando não me
rasgar em pedaços. Outra mulher teria corrido agora mesmo,
mas eu sou a dopada que anda mais perto.
— Eu sou uma idiota, — eu digo, enquanto olho para os
meus sapatos, e rio de leve. É o tipo de som que não tem
alegria e revela uma alma torturada. Meus olhos levantam
para seus ombros. Eu fico lá por um momento esperando que
ele se vire, mas ele não vira. Bryan não fala ou levanta o
olhar. Ele permanece debruçado sobre o bar como um troll 1.
Eu continuo, — vê-lo hoje à noite foi terrível e
maravilhoso. Isso evocou memórias e sentimentos que eu
tinha tempo esquecido há muito. Escrever sobre, é uma
coisa, mas vê-lo novamente está além das palavras.
Desculpe-me se eu o machuquei, mesmo que eu não entenda
o que eu fiz. E seu eu pudesse corrigir. Eu...
Por que estou fazendo isso? Eu estou me desculpando
com as suas costas, o homem não tem sequer a decência de
se virar e encarar-me. Eu respiro fundo e endireito a minha
espinha.
— As pessoas cometem erros, Bryan, e parece que o
meu maior erro foi conhecê-lo.
1
Troll – é uma gíria que designa uma pessoa cujo comportamento tende sistematicamente a desestabilizar uma
discussão, provocar e enfurecer as pessoas envolvidas nela. Há trolls de todo tipo, desde o mais ignorante e rude
que xinga e provoca, até o mais apto intelectualmente que discursa com o objetivo de desestabilizar o interlocutor
e levá-lo a fúria, para depois desqualificá-lo, matando seu argumento e abalando sua reputação.
A fúria me inunda quando eu corro pela sala. Eu agarro
a maçaneta da porta e não olho para trás, apesar de sentir
seus olhos em mim. Dane-se ele. Eu vivi coisas piores. Eu
digo essas palavras uma e outra vez, porque aconteceu.
Depois corro pelo corredor, aperto o botão para baixo no
elevador uma e outra vez, perguntando por que eu estou tão
chateada. Depois de um momento, eu sinto o pensamento
picar os meus olhos e apertar a minha garganta e eu sei
exatamente por que estou tão chateada.
É possível que as coisas estejam invertidas, e como eu
não conhecesse o verdadeiro Bryan Ferro, aquele com quem
dormi todos esses anos, era o falso.
CAPÍTULO 2
Eu não posso ir para casa e enfrentar Neil, por isso eu
telefono para Maggie. Ela atende no terceiro toque. Eu estou
andando na rua em frente ao hotel com o meu telefone
pressionado ao meu ouvido. É tarde e escuro. Evitando as
sombras, eu ando mais perto da rua do que no hotel.
— Maggie. — Eu tento esconder a tensão na minha voz,
mas ela ouve. Nós nos conhecemos há muito tempo. — Vou
tirar suas bolas fora.
— O que diabo aconteceu? Onde você está? — Ela me
enche de perguntas, até que eu possa finalmente fazê-la calar
a boca.
— Eu preciso de um lugar para dormir. Eu não posso
ver Neil agora e eu não tenho outro lugar para ir.
Maggie fica em silêncio.
— O que é meu, é seu. Você sabe disso, mas eu não
tenho certeza que você vá gostar.
— Em qualquer lugar é melhor do que aqui ou com Neil.
— Eu sinto uma náusea fazendo seu caminho até a minha
garganta. Lágrimas estão chegando, e tenho a sensação de
que vai ser um maremoto.
— Claro, claro. Eu estarei aí em cinco minutos.
— A linha de Maggie desliga, e eu fecho o meu telefone e
o coloco em minha bolsa.
A cidade se move em torno de mim, mas parece que eu
estou em uma bolha. As pessoas passam na calçada, mas eu
não as noto. Eu passeio, perdida em pensamentos, agarrando
minha bolsa perto do meu corpo. O ar da noite tem aquele
cheiro que é distintamente de Nova York. Eu o inspiro e
quando me viro, quase bato em alguém. O cara é uma
parede, de marrom e preto. Seu casaco tem cheiro de cigarros
velhos e naftalina.
Antes de eu ter tempo para descobrir o que está
acontecendo, ele pega a minha bolsa, em seguida, coloca a
mão no centro do meu peito e me empurra, com força. Eu
grito, tropeço e caio para trás, enquanto minha bolsa é
arrancada de minhas mãos. O cara se vira e está pronto para
correr, mas eu não estou com disposição para perder a bolsa.
Eu estou fodidamente quebrada. Todo o dinheiro que eu
tenho está lá dentro.
Antes que eu saiba o que estou fazendo, eu pego um dos
meus sapatos de salto alto e atiro em sua cabeça. Acerto e ele
cai na calçada. Poucas pessoas param para assistir, mas
ninguém faz nada - típico dos nova-iorquinos. Todo mundo
quer ver, mas ninguém ajuda.
Nesse ponto, tudo acontece em câmera lenta. Eu estou
em pé, mesmo que eu não me lembre de ficar pé. Um pé está
congelado, sobre o cimento frio, enquanto o outro ainda está
calçado. O ladrão levanta a mão e bota na parte de trás de
sua cabeça e puxa-a. Ele olha para os seus dedos, seus olhos
escuros apreciando o sangue vermelho e pegajoso em sua
mão. A ponta do meu salto que bateu com a parte traseira de
seu couro cabeludo, deve tê-lo cortado.
Meu coração para, quando o sujeito se vira para mim.
Seus olhos têm um olhar enlouquecido e os ombros tremem
como se ele fosse me rasgar ao meio.
— Você. — Ele diz isso como se fosse o meu nome e ele
me odeia.
O homem dá passos em direção a mim e fala
novamente, mas suas mãos lentamente movem para cima,
como se ele fosse me atacar ou me estrangular. Eu suspiro
alguma coisa, mas ele não sai antes de eu dar um passo para
trás, aterrorizada. Meu pulso ruge em meus ouvidos, então
olho em volta a procura de ajuda, mas não vejo ninguém. A
multidão se afastou, ou talvez eu tenha ido embora. Onde
está um policial quando eu preciso de um?
O resto acontece freneticamente rápido. Alguém grita
comigo, enquanto o homem procura o meu pescoço. Eu caio,
mas ele pega no meu ombro. Ele aperta-me com força,
fazendo com que o meu pescoço estale para trás enquanto ele
grita na minha cara.
— Sua pequena vadia!
O resto de suas palavras se tornam zumbidos, enquanto
ele me aperta mais. Estou ciente do vento, do ar da noite, e
do homem que está me estrangulando. Em algum momento,
as mãos deslizam até o pescoço. Eu agarro em suas mãos e
tento gritar, mas não sai nada. Eu não entendo por que
ninguém nos vê, por que eles simplesmente deixam esse
ladrão me machucar.
Balançando as minhas pernas, eu o chuto, mas não
adianta. Eu não sou forte o suficiente. Eu tentei tudo o que
sabia fazer e nada funcionou. O homem me atira e bate
minhas costas contra uma parede de tijolos. O frio me sacode
e me pergunto como chegamos ao beco ao lado do hotel, mas
os pensamentos cessam quando vejo o olhar em seus olhos.
Um sorriso mal aparece em seu rosto quando ele rasga o
ombro do meu vestido. O tecido sai em sua mão e permite
que o vestido deslizar alguns centímetros.
Abro a boca para gritar, mas sua mão imunda me cobre,
impedindo a saída do som. Sua mão me tateia, sentindo
meus seios enquanto ele sussurra em meu ouvido todas as
coisas horríveis que ele pretende fazer comigo. — Então, eu
vou levar a minha faca e... — Suas palavras desagradáveis
param imediatamente, após o som do estalar de madeira.
Assim como, de repente, a mão no meu pescoço se foi e
eu suspiro em uma respiração trêmula e olho para cima. Está
muito escuro para ver, mas há um homem vestido de
smoking, avançando sobre o ladrão. Ele lança socos uma e
outra vez, até que eles estão na parte de trás do beco, presos
por uma parede de tijolos. O ladrão é espancado e sangra,
mas ele não para de lutar. Nem o homem de smoking. Ele
distribui socos como um boxeador, tanto assim que é
hipnótico assistir. Quando a faca aparece, eu esperava que as
coisas se transformassem em favor do ladrão, mas isso não
acontece. O homem de smoking desarma o idiota e toma a
arma. Aconteceu tão rápido que eu não posso dizer como foi
feito. O homem de smoking recua seu braço como se
estivesse para empurrar a faca no peito do cara.
— Pare! — Eu chamo antes de perceber o que estou
fazendo. Uma das minhas mãos está segurando meu vestido
no busto e a outra está mal tocando meus lábios. Eu não
posso ver o cara morrer, mas eu não consigo desviar o olhar
também.
O homem de smoking não para. Um grito tremendo sai
dilacerado da minha garganta quando ele bate a faca no
ombro do ladrão. O bandido pega no seu braço e desliza para
baixo da parede, segurando seu ombro enquanto o casaco
fica encharcado de sangue. Ele olha diretamente para mim
com raiva.
O homem de smoking chuta o ladrão uma vez, e uma
voz familiar disse:
— Vá embora.
Eu tremo quando ouço isso, porque eu sei quem é ele,
Bryan. Ele deve ter me seguido. O medo agarra e azeda
dentro do meu estômago, enquanto eu olho para as suas
costas. Bryan não vira o rosto para mim. O ladrão comprime
os lábios e se levanta do chão do beco. Ele faz o seu caminho
passando por mim, e não diz nada.
Um tremor se apodera de mim e escorre pela minha
espinha, me fazendo ofegar. É quando ele se vira. O rosto de
Bryan está pálido e coberto de um brilho fino de suor. Ele
caminha de volta para mim e eu posso ver onde ele tomou
algumas pancadas. Há um rasgo em sua camisa, sob a lapela
do paletó, onde a faca cortou antes Bryan tomá-la do ladrão.
Passo a passo, ele caminha em minha direção, e eu
estou mais assustada por Bryan que qualquer coisa que já
encontrei. O que foi isso? Ele teria matado o homem se eu
não tivesse gritado? Eu não consigo parar de tremer.
Bryan alcança os meus ombros para me firmar, e eu
sinto aquele choque familiar que acompanha o seu toque.
Seu polegar esfrega suavemente sobre minha pele. — Você
está bem?
Mas, é muito. Eu não posso. Eu não posso. Eu não posso.
O pensamento não faz sentido, mas eu sei que tenho que
fazer com que ele me liberte. Seu toque tem uma maneira de
me desfazer, e eu estou caindo aos pedaços. Recuso-me a
deixá-lo ser o único a testemunhar isso. Eu empurro para
longe, e aceno com a cabeça rapidamente.
— Eu estou bem.
As mãos de Bryan permanecem paradas no ar por um
momento, antes de ele abaixa-las junto com seu olhar. Ele
observa o chão por um segundo e quando ele levanta o
queixo, vejo um sorriso nos seus lábios.
— Mentirosa. Você está longe de estar bem, mas eu
estou contente que você esteja parada.
Eu fico olhando para ele, incapaz de encontrar uma
resposta. Sua voz soa carinhosa, quase arrependida. Ele olha
por cima do meu ombro para alguém e, em seguida, diz:
— A sua carona está aqui. Da próxima vez, não tente
derrubar um assaltante por si mesmo.
Eu falo sem querer, mas as palavras saem e caem fora.
— Da próxima vez, não mate um homem por roubar minha
bolsa.
O canto dos lábios de Bryan puxa para cima, como se
quisesse sorrir, mas ele não sorri.
— Eu não iria matar um homem por roubar uma bolsa.
Que tipo de pessoa você acha que eu sou?
— Honestamente, eu não sei mais. Eu achava que sabia,
mas depois disso... — Eu balanço minha cabeça e fico sem
palavras. Bryan mudou o ataque no último segundo. Essa
faca não estava voltada para o ombro do homem — estava
dirigida para o seu coração. — Você ia matá-lo. Eu vi, você
não pode me dizer que não iria.
Bryan se inclina mais perto, e quando ele fala seu hálito
quente sussurra contra a minha orelha.
— Talvez, mas não foi porque ele pegou sua bolsa. — Ele
se inclina para trás e desliza as mãos nos bolsos, enquanto
seus olhos verdes me percorrem. — Ninguém toca em você,
enquanto você está comigo.
— Eu engulo em seco e olho para ele, com o coração
ainda disparando.
Maggie aparece atrás de mim um segundo depois. Ela
pega meu ombro e me vira.
— Hallie, diabo está acontecendo, e por que você está
aqui no beco sozinha? — Ela vê a maneira que eu estou
segurando meu vestido e o tecido rasgado. A preocupação
persiste em seu rosto, esperando pela minha resposta.
— Eu não estou sozinha, — mas quando me viro para
olhar, Bryan já se foi.
CAPÍTULO 3
Eu estive em um casulo de tristeza e este evento o
quebrou. Minha atordoada indiferença fratura e estilhaça,
como vidro barato. Eu olho para a bolsa presa em minha mão
e me pergunto o que há de errado comigo, mas ainda mais,
eu não consigo parar de pensar em Bryan, como ele veio do
nada e quase matou o homem que tentou me machucar.
Pare de pensar assim, eu me repreendo. Bryan agiu
como um lunático. A imagem de Bryan esfaqueando o cara
persiste através dos meus olhos mais uma vez e faz o meu
estômago embrulhar.
Maggie está falando, mas eu não disse muito. Estamos
em seu velho Ford Escort. A coisa corre mal, mas eu não
posso reclamar. Eu nem mesmo tenho um carro, não mais.
Maggie olha para mim por trás do volante, enquanto suas
mãos o seguram com firmeza.
— Hallie, se você estiver com vontade de vomitar, baixe
a janela. Aqui já cheira estranho o suficiente. — Ela está
certa, o carro tem um odor não identificável que está lá desde
que ela comprou.
— Eu estou bem, — eu digo novamente, embora seja
uma mentira. Meus braços envolvem meu peito para
esconder como minhas mãos tremem.
— Ah, Hallie, eu sei que você não quer falar e que está
tudo bem, mas eu quero informa-la sobre a minha nova casa.
— Eu olho para ela, sem entender o que ela quer dizer.
Maggie me dá um sorriso tímido e encolhe os ombros até as
suas orelhas, enquanto dirige. — Vamos apenas dizer que
não é algo que você aprovaria.
Eu não tenho paciência para lidar com seus enigmas
neste momento. A vida de Maggie é mais difícil do que a
minha, e eu sei disso, mas ela nunca tinha escondido coisas
de mim antes. Desta vez, é claro que ela escondeu, e isso me
preocupa. As únicas coisas que eu desaprovo são as que
possam matá-la. A menina não tem nenhum senso. Às vezes
me pergunto sobre ela, e como ela escolhe o que faz. Sorrio
sem jeito e olho para o tapete sujo no chão, que alguma vez
foi azul.
— O que é tão engraçado? — Maggie parece indignada,
como se eu a tivesse ofendido.
— Nada. Vamos apenas dizer que, se você soubesse o
que eu estava fazendo esta noite, você não se sentiria tão na
defensiva. Tenho certeza de que sua casa é boa.
Maggie se tranquiliza. Ela suspira quando vira em uma
rua lateral e começamos a fazer o nosso caminho através de
um bairro degradado. As casas são marcadas e branqueadas
pelo Sol, com gramados mortos, mas os carros são
customizados e caros. Mesmo que seja tarde, as pessoas
movem-se, sem fazer nada. Eu olho para a minha porta,
querendo trancá-la, mas eu não me mexo. Enquanto nós
rodamos passando pelos grupos de pessoas, os olhos deles
viram e nos assistem passar, antes de voltar para o que eles
estavam fazendo.
Maggie finalmente diz: — Não é muito, mas acho que
vale a pena.
— Você não tem que defender o seu apartamento para
mim, Maggie. Eu sou uma maldita sem-teto. — Eu olho para
ela e inclino a cabeça para trás no assento. Minhas palavras
não a consolam, então eu acrescento: — Além disso, eu não
sou uma garota-propaganda da moralidade, também. Você
não vai acreditar no que eu fiz hoje à noite, e o que eu vou
fazer. — Minha voz falha e eu balanço a cabeça, pensando
nos lábios de Bryan. Estou horrorizada por reagir da maneira
como o faço, mesmo que com a memória.
Ela ri uma vez, rapidamente. — Sim, certo. Hallie, você
nunca faz nada de mau. Estúpido, sim. Mau, não.
Eu olho para fora da janela e não vejo nada. As casas
deram lugar a apartamentos que se estendem para o céu na
noite. Fachadas de tijolos já viram dias melhores. Muitos
parecem vazios, como se ninguém vivesse lá, por muitos
anos. Meu peito se aperta e eu me contorço na cadeira. Meu
Deus, ela mora aqui? Por que ela não me contou? Há carros
queimados, latas de lixo viradas e entulho, tudo espalhado
por toda parte. Parece que a rua foi saqueada e esquecida,
assim como Maggie.
Segundas decisões são as que mudam vidas. Eu faço a
minha e cuspo fora antes de me acovardar.
— Bryan Ferro está me chantageando. Se eu não dormir
com ele sempre que ele quiser, vai dizer às pessoas que ele é
o cara no livro e fazer o que for preciso para me arruinar. Ele
disse que ia usar tudo o que tem contra mim e me deu um
ultimato.
Os grandes olhos de Maggie viram em minha direção,
com o queixo caído e boca aberta.
— Puta merda! Quando isso aconteceu? Como você vai
detê-lo? — Ela pisca para mim e vira os olhos de volta para a
estrada, embora eu saiba que ela não quer.
Esta é a parte que me faz sentir um lixo. Eu não sou
quem ela pensa que eu sou. Eu não tenho uma estrutura
moral de aço. Eu não posso nem olhar para ela.
— Esta noite eu acabei fazendo o anúncio do prêmio no
show com ele, e então ele me encontrou no banquete. — Eu
digo. Eu tento fazer a minha boca mover-se para formar as
palavras, mas não vão sair.
— De jeito nenhum. — Ela estaciona em um parque de
estacionamento que parece que foi usado como um local de
explosão da força aérea e desliga o carro. — Pegue suas
coisas e tranque a porta. — Eu faço como ela diz e me
apresso atrás dela. — Mantenha seus olhos baixos e me siga.
Não fale ou olhe para ninguém.
Entramos no lado de um desses prédios de tijolos
antigos e subimos alguns lances de escadas, até o quarto
andar. No momento que chegamos ao seu andar, eu quero
jogar o resto do meu sapato para fora da janela. Eu poderia,
não há vidro no painel. Eu a sigo, até a porta e por um longo
corredor mal iluminado. Nós paramos em frente à sua porta.
Enquanto ela se atrapalha com a chave, a porta contrária à
dela se abre. Um homem pálido, com cabelo loiro descolorido
e vestindo uma camiseta regata branca e cueca está lá e olha
para nós. Eu posso sentir seus olhos nas minhas costas. Ele
se inclina contra o batente da porta e cruza os braços sobre o
peito.
Quando ele fala, soa rouco, como se ele fumasse um
maço de cigarros todos os dias desde que ele tinha dois anos
de idade. — Trouxe-me outra?
— Não, — Maggie diz com firmeza. Ela não se vira para
olhar para o cara. Se eu não a conhecesse melhor, eu acharia
que ela estava com medo dele. Eu não aguento mais stress
esta noite. Meu cérebro parece que vai partir em dois, antes
que eu murche e morra. Maggie pega a chave para abrir, mas
porta emperra. Ela chuta uma vez com o pé e a porta mexe
ligeiramente. — Maldita porta, — ela murmura.
— Qual é o seu nome, docinho? — O cara está falando
comigo. Viro-me e olho por cima do ombro, e nossos olhos se
encontram. Ele envia um olhar frio para mim, ao ver o jeito
como ele está olhando de soslaio. O cara é enorme, ele é todo
músculos e agora ele está sorrindo para mim, revelando uma
coroa de ouro em seu dente canino.
— Oi, — eu digo timidamente, e arrumo o meu cabelo
para atrás da minha orelha, tentando evitar o olhar dele
enquanto não respondo sua pergunta.
Enquanto o cara está de boca aberta, Maggie chuta na
porta. A porta se abre, ela agarra meu braço e me puxa. Eu
sigo, voando atrás dela enquanto ela grita por cima do ombro,
— eu vou lhe trazer alguém amanhã, eu juro. Boa noite, Vic.
— Ela bate a porta com o pé e parece abalada.
Seu apartamento é aproximadamente o mesmo tamanho
de um pequeno corredor. Há uma pequena janela com uma
folha grampeada sobre ela e sem móveis. Algumas das roupas
de Maggie estão jogadas ao redor do lugar, como se ela
tivesse saído com pressa. Se eu morasse aqui, eu iria embora
rapidamente, também.
— Obrigado por me deixar ficar com você.
— Sim, não há problema. É uma merda como este é o
pior lugar que eu já vivi, mas é um refúgio. Eu durmo aqui e,
em seguida, dou o fora. O aluguel não é horrível. — Ela
oferece um sorriso torto, mas é franco.
Eu preciso dela, e não há um muro entre nós. Ela acha
que eu sou perfeita, mas eu não sou. Eu fiz coisas que ela
não sabe. As palavras estão na minha língua e eu enrolo-as
em torno de minha boca, tentando descobrir como dizer isso,
enquanto a Maggie tagarela, enchendo o ambiente com sua
voz.
Um casal está brigando nas proximidades, e o som está
cada vez mais alto. Estão lutando, eu não quero dizer
discutindo. Há coisas batendo nas paredes e quebrando.
Chove gesso para baixo sobre nós como flocos de neve
quando algo cai de cima. Maggie olha horrorizada quando ela
puxa sua cama Murphy 2 para baixo da parede. Tomando
quase toda a sala. — Você pode dormir aqui. Eu vou dormir
no chão.
— Não.
Ela sorri. — Não seja boba, você é minha convidada. —
Palavrões ressoam acima de nós quando um homem irritado
grita. É prontamente seguido de um grito agudo. Maggie
morde as unhas do jeito que ela fazia quando éramos
crianças e olha em volta, como se ela desejasse poder
queimar o lugar.
2
— Eu não vou fazer você dormir no chão, mas há outra
coisa que eu preciso lhe dizer.
— Maggie olha para mim por debaixo de sua massa de
cabelo vermelho. Eu sou sua única amiga de verdade, sua
única família e ela a minha. Deus, o que é que ela vai pensar
de mim quando eu lhe disser o que eu concordei em fazer?
Eu não acho que eu vou ser capaz de suportá-lo. Meus
braços ainda estão dobrados sobre o peito, com as mãos
firmemente aninhadas nos meus braços.
— Hallie, qual o problema? — Maggie deixa de fazer a
cama e se senta. Ela dá um tapinha no lugar ao lado dela e
me sento.
Olhando para frente, eu engulo em seco e digo a ela.
— Eu disse que sim. — Você disse sim para o quê?
Hallie, você não está fazendo sentido, do que você está
falando?
Quando me viro para olhar para ela, e encontro com
aqueles grandes olhos verdes e sinto medo. Minha pele fica
arrepiada, mas eu não consigo desviar o olhar.
— Eu disse a Bryan Ferro que sim. Eu cedi. Ele ganhou
e eu perdi.
— O quê? — Ela está furiosa, pronta para voar para fora
do seu assento e defender-me até a morte.
Eu coloco minha mão no colo dela para fazê-la parar. —
Eu fui ao seu quarto de hotel para dizer-lhe para ir chupar
um prego, mas eu mudei de ideia quando ouvi sua voz. Eu
pensei que algo estava errado e esta era a sua maneira de
merda para me dizer. Conheci-o uma vez, pelo menos eu
pensei que tinha conhecido. Então, quando eu estava
esperando por você do lado de fora, eu... — minha voz está
trêmula e eu não posso mais esconder o meu horror, — um
cara tentou roubar minha bolsa. Para encurtar a história, ele
me pegou por trás do prédio e ia me machucar. Bryan
apareceu e ele... — Eu não posso dizer isso. Meu Bryan
perfeito fez algo que era tão diferente dele, tão terrivelmente
selvagem, que eu não sei o que pensar. Ele me protegeu, mas
ainda parece errado.
— Ele a machucou? — Maggie está furiosa, eu posso
ouvir em sua voz. Mas a forma como ela fala suas palavras
ondulando entre muito alta e baixa, dão a deixa.
— Não, ele atacou o homem, e esfaqueou-o. Se eu não
dissesse a Bryan para parar, acho que ele teria matado o
cara. — Olho para ela, mas eu não posso mais enxergar.
Meus olhos têm brilham com lágrimas que tudo fica
desfocado.
Maggie ergue os braços e eu caio neles. Ela sempre foi
como uma irmã para mim. Estivemos sempre uma para a
outra, e eu temo que a história com Bryan e o que eu me
tornei vá fazê-la me odiar. Meu pai teria vergonha de me
chamar de filha, e eu espero o mesmo de Maggie. Em vez
disso, ela fica lá no colchão gasto e me acalma.
Depois de um forte abraço, ela libera meus ombros e
pega meu queixo. — Você e eu passamos por tudo juntas.
Não pense que eu a estou socorrendo por causa disso. Se não
for por qualquer coisa, a vida fica mais interessante, isso é
tudo.
Eu enxugo as lágrimas dos meus olhos e rio, porque ela
está tão errada. — Esse é o eufemismo do ano.
— O meu ponto é, eu estou aqui por você. Eu sempre
estarei aqui para você. — Ela bate no meu ombro com a dela.
— Então, Bryan Ferro tem um lado negro por trás de todo o
brilho e deslumbre?
— Aparentemente.
— Foi divertido ou ele fez coisas estranhas?
Eu sorrio e limpo meus olhos novamente. — Não, não
hoje à noite de qualquer maneira. Ele me chamou para seu
quarto, eu fui, e nos beijamos. Então, ele me mandou ir
embora.
Os lábios de Maggie puxaram um pouco para cima. —
Ele a jogou para fora? Mas que inferno...?
— Eu não sei. É como se ele estivesse louco e deixando o
Hulk sair ou algo assim. Ele não olhava para mim. As coisas
estavam quentes e pesadas até então. — A intuição continua
me dizendo que algo estava errado, mas não posso entender o
quê.
Maggie sorri: — Ele foi melhor do que Neil, certo?
Eu faço uma careta e olhou para ela como se ela fosse
louca. — Uh, Bryan está me chantageando.
— E ele é mais quente do que Neil. Vá em frente, diga.
Eu sou sua amiga, então eu já sei.
Eu baixei meus olhos em direção ao chão e não disse
nada. Eu não tenho que dizer nada, a minha expressão diz
tudo. Bryan é muito mais quente do que Neil, não há
comparação. Os dois homens são noite e dia, e Bryan é a
noite sexy. Neil a voz racional que soa como o FDA 3,
lembrando-me de fazer todas as coisas com moderação, mas
não todas as coisas, somente as ações que ele aprova. Droga.
Eu enterro meu rosto em minhas mãos e suspiro.
Maggie acaricia minhas costas. — Está tudo bem.
Qualquer um é mais quente do que Neil. Não se sinta
culpada, mas eu não contaria exatamente ao Senhor Calças
Perfeitamente Passadas. Ele vai surtar ao saber que alguém
tocou em você. — Maggie está tirando as roupas e puxando
uma camisa de dormir e calças, enquanto ela fala.
— Na verdade, Neil sabe.
3 FDA - Food and Drug Administration - Agencia reguladora de remédios e alimentos.
— O quê? — Ela está pulando em um pé, tentando
enfiar o pé pela perna da calça e cai. — Como é que ele sabe?
Você disse que acabou de acontecer.
— Neil sabe por que foi ele quem me disse para fazer
isso.
CONTINUA
Bryan está de queixo caído e boca aberta, com aqueles olhos verdes semicerrados, em chamas. Fúria e choque não parecem bons para ele. As emoções distorcem seu belo rosto,
estragam as linhas suaves de sua pele, fazendo-o parecer bem mais velho. Seus punhos estão fechados, apertados em seus lados, mas ele pisca uma vez e a reação diminui. Há muitas coisas que eu não sei sobre Bryan Ferro, mas uma coisa eu sei, ele é uma merda em manter as coisas escondidas. Seus pensamentos dançam em seu rosto de vez em quando, e é por isso que ele está desconfiado de mim.
Virando abruptamente, Bryan pressiona seus dedos em sua têmpora direita. Sua voz sai como um grunhido.
— Eu lhe disse para ir embora.
— Seus ombros estão tensos, cada músculo está apertado a ponto de eu poder ver as curvas de seu corpo sob essa camisa. Ele flexiona a mão que está ao seu lado antes de deslizar em seu bolso. Bryan pode ser capaz de esconder tudo, de todos os outros, mas não de mim.
— Sim, eu ouvi essa parte. — Eu ajo como se eu não me importasse, deito-me no tapete, e dobro as minhas mãos atrás da minha cabeça. O piso é suave e difuso. Levanto os meus joelhos, eu deixo a queda do meu vestido em torno dos meus tornozelos e até meus pés, para sentir a pilha macia entre os dedos dos pés. O tapete no meu antigo quarto parecia como um saco de batata, em relação a este material.
Mesmo com Bryan irado, eu estou sorrindo. A vozinha na parte de trás da minha cabeça me diz que eu perdi minha mente. Eu respondo de volta que eu nunca tive um controle firme sobre isso de qualquer maneira.
https://img.comunidades.net/bib/bibliotecasemlimites/2_A_PROPOSI_O.jpg
Bryan pode ver meu reflexo no espelho, mas eu não
posso ver mais do que as suas costas e a maneira como ele
agarra sua cabeça como se fosse explodir. Ele está furioso
comigo? Não consigo entender sua raiva, mas transborda
para fora de sua boca de novo, espetando como espinhos,
neste momento.
— Se você não consegue entender os termos deste
acordo, então eu temo que nós não tenhamos um.
— O quê? — Sento-me e giro em torno, de modo que
estou de frente para as suas costas.
Bryan se vira, e a tensão que está estampada no seu
rosto é horrível. Eu encontro o seu olhar, mas eu não posso
olha-lo sem querer corrigir o que está fazendo com ele. Todas
as imagens na imprensa mostram a versão de Bryan que eu
conhecia, leve e despreocupado, mas este homem, aqui, não é
nenhuma dessas coisas. Algo está esmagando-o de dentro
para fora e deixando-o em pedaços. Seu corpo está tremendo,
ele está tão bravo. Ele tenta respirar fundo, mas isso só faz o
seu rosto ficar mais apertado.
— Você me ouviu. Se você não fizer as coisas do meu
jeito, eu vou arruinar você. Este não é o meu jeito, você sabe
muito bem disso. Saia daqui.
Ele não grita, mas suas palavras me fazem tremer. Não
há calor, não há compaixão. Talvez eu não o conheça mais e
ele está certo. Apertando os lábios, eu engulo minha resposta,
mas esta incha dentro de mim e enche meu peito. Eu peguei
meus sapatos saltos de volta e calcei em meus pés cansados
antes de levantar. Eu ando mais e pego minha bolsa.
Eu deveria sair. A vozinha dentro de mim canta como
um duende com uma voz agradável, sim, vá. Faça isso.
Agora.
Meus olhos estão fixos na porta como se fosse o
caminho para o inferno. Algo sobre sair agora parece errado,
mas não posso entender sobre o que está prendendo meus
pés no lugar. Caramba, é o pensamento que está me
segurando. Ele está me prendendo aqui e eu não posso me
mover. Parece como engolir o vômito e eu não posso fazê-lo.
Eu sou o cérebro danificado, mas não posso ser algo que não sou.
Girando sobre meus pés, eu atravesso o piso acarpetado
e elegante, e caminho até ele. Bryan não se vira para olhar
para mim. Em vez disso, suas mãos estão segurando a parte
superior do bar como se ele quisesse arrancá-lo da parede.
Suas costas estão curvadas e sua cabeça está pendurada
entre os ombros, como se ele estivesse tentando não me
rasgar em pedaços. Outra mulher teria corrido agora mesmo,
mas eu sou a dopada que anda mais perto.
— Eu sou uma idiota, — eu digo, enquanto olho para os
meus sapatos, e rio de leve. É o tipo de som que não tem
alegria e revela uma alma torturada. Meus olhos levantam
para seus ombros. Eu fico lá por um momento esperando que
ele se vire, mas ele não vira. Bryan não fala ou levanta o
olhar. Ele permanece debruçado sobre o bar como um troll 1.
Eu continuo, — vê-lo hoje à noite foi terrível e
maravilhoso. Isso evocou memórias e sentimentos que eu
tinha tempo esquecido há muito. Escrever sobre, é uma
coisa, mas vê-lo novamente está além das palavras.
Desculpe-me se eu o machuquei, mesmo que eu não entenda
o que eu fiz. E seu eu pudesse corrigir. Eu...
Por que estou fazendo isso? Eu estou me desculpando
com as suas costas, o homem não tem sequer a decência de
se virar e encarar-me. Eu respiro fundo e endireito a minha
espinha.
— As pessoas cometem erros, Bryan, e parece que o
meu maior erro foi conhecê-lo.
1
Troll – é uma gíria que designa uma pessoa cujo comportamento tende sistematicamente a desestabilizar uma
discussão, provocar e enfurecer as pessoas envolvidas nela. Há trolls de todo tipo, desde o mais ignorante e rude
que xinga e provoca, até o mais apto intelectualmente que discursa com o objetivo de desestabilizar o interlocutor
e levá-lo a fúria, para depois desqualificá-lo, matando seu argumento e abalando sua reputação.
A fúria me inunda quando eu corro pela sala. Eu agarro
a maçaneta da porta e não olho para trás, apesar de sentir
seus olhos em mim. Dane-se ele. Eu vivi coisas piores. Eu
digo essas palavras uma e outra vez, porque aconteceu.
Depois corro pelo corredor, aperto o botão para baixo no
elevador uma e outra vez, perguntando por que eu estou tão
chateada. Depois de um momento, eu sinto o pensamento
picar os meus olhos e apertar a minha garganta e eu sei
exatamente por que estou tão chateada.
É possível que as coisas estejam invertidas, e como eu
não conhecesse o verdadeiro Bryan Ferro, aquele com quem
dormi todos esses anos, era o falso.
CAPÍTULO 2
Eu não posso ir para casa e enfrentar Neil, por isso eu
telefono para Maggie. Ela atende no terceiro toque. Eu estou
andando na rua em frente ao hotel com o meu telefone
pressionado ao meu ouvido. É tarde e escuro. Evitando as
sombras, eu ando mais perto da rua do que no hotel.
— Maggie. — Eu tento esconder a tensão na minha voz,
mas ela ouve. Nós nos conhecemos há muito tempo. — Vou
tirar suas bolas fora.
— O que diabo aconteceu? Onde você está? — Ela me
enche de perguntas, até que eu possa finalmente fazê-la calar
a boca.
— Eu preciso de um lugar para dormir. Eu não posso
ver Neil agora e eu não tenho outro lugar para ir.
Maggie fica em silêncio.
— O que é meu, é seu. Você sabe disso, mas eu não
tenho certeza que você vá gostar.
— Em qualquer lugar é melhor do que aqui ou com Neil.
— Eu sinto uma náusea fazendo seu caminho até a minha
garganta. Lágrimas estão chegando, e tenho a sensação de
que vai ser um maremoto.
— Claro, claro. Eu estarei aí em cinco minutos.
— A linha de Maggie desliga, e eu fecho o meu telefone e
o coloco em minha bolsa.
A cidade se move em torno de mim, mas parece que eu
estou em uma bolha. As pessoas passam na calçada, mas eu
não as noto. Eu passeio, perdida em pensamentos, agarrando
minha bolsa perto do meu corpo. O ar da noite tem aquele
cheiro que é distintamente de Nova York. Eu o inspiro e
quando me viro, quase bato em alguém. O cara é uma
parede, de marrom e preto. Seu casaco tem cheiro de cigarros
velhos e naftalina.
Antes de eu ter tempo para descobrir o que está
acontecendo, ele pega a minha bolsa, em seguida, coloca a
mão no centro do meu peito e me empurra, com força. Eu
grito, tropeço e caio para trás, enquanto minha bolsa é
arrancada de minhas mãos. O cara se vira e está pronto para
correr, mas eu não estou com disposição para perder a bolsa.
Eu estou fodidamente quebrada. Todo o dinheiro que eu
tenho está lá dentro.
Antes que eu saiba o que estou fazendo, eu pego um dos
meus sapatos de salto alto e atiro em sua cabeça. Acerto e ele
cai na calçada. Poucas pessoas param para assistir, mas
ninguém faz nada - típico dos nova-iorquinos. Todo mundo
quer ver, mas ninguém ajuda.
Nesse ponto, tudo acontece em câmera lenta. Eu estou
em pé, mesmo que eu não me lembre de ficar pé. Um pé está
congelado, sobre o cimento frio, enquanto o outro ainda está
calçado. O ladrão levanta a mão e bota na parte de trás de
sua cabeça e puxa-a. Ele olha para os seus dedos, seus olhos
escuros apreciando o sangue vermelho e pegajoso em sua
mão. A ponta do meu salto que bateu com a parte traseira de
seu couro cabeludo, deve tê-lo cortado.
Meu coração para, quando o sujeito se vira para mim.
Seus olhos têm um olhar enlouquecido e os ombros tremem
como se ele fosse me rasgar ao meio.
— Você. — Ele diz isso como se fosse o meu nome e ele
me odeia.
O homem dá passos em direção a mim e fala
novamente, mas suas mãos lentamente movem para cima,
como se ele fosse me atacar ou me estrangular. Eu suspiro
alguma coisa, mas ele não sai antes de eu dar um passo para
trás, aterrorizada. Meu pulso ruge em meus ouvidos, então
olho em volta a procura de ajuda, mas não vejo ninguém. A
multidão se afastou, ou talvez eu tenha ido embora. Onde
está um policial quando eu preciso de um?
O resto acontece freneticamente rápido. Alguém grita
comigo, enquanto o homem procura o meu pescoço. Eu caio,
mas ele pega no meu ombro. Ele aperta-me com força,
fazendo com que o meu pescoço estale para trás enquanto ele
grita na minha cara.
— Sua pequena vadia!
O resto de suas palavras se tornam zumbidos, enquanto
ele me aperta mais. Estou ciente do vento, do ar da noite, e
do homem que está me estrangulando. Em algum momento,
as mãos deslizam até o pescoço. Eu agarro em suas mãos e
tento gritar, mas não sai nada. Eu não entendo por que
ninguém nos vê, por que eles simplesmente deixam esse
ladrão me machucar.
Balançando as minhas pernas, eu o chuto, mas não
adianta. Eu não sou forte o suficiente. Eu tentei tudo o que
sabia fazer e nada funcionou. O homem me atira e bate
minhas costas contra uma parede de tijolos. O frio me sacode
e me pergunto como chegamos ao beco ao lado do hotel, mas
os pensamentos cessam quando vejo o olhar em seus olhos.
Um sorriso mal aparece em seu rosto quando ele rasga o
ombro do meu vestido. O tecido sai em sua mão e permite
que o vestido deslizar alguns centímetros.
Abro a boca para gritar, mas sua mão imunda me cobre,
impedindo a saída do som. Sua mão me tateia, sentindo
meus seios enquanto ele sussurra em meu ouvido todas as
coisas horríveis que ele pretende fazer comigo. — Então, eu
vou levar a minha faca e... — Suas palavras desagradáveis
param imediatamente, após o som do estalar de madeira.
Assim como, de repente, a mão no meu pescoço se foi e
eu suspiro em uma respiração trêmula e olho para cima. Está
muito escuro para ver, mas há um homem vestido de
smoking, avançando sobre o ladrão. Ele lança socos uma e
outra vez, até que eles estão na parte de trás do beco, presos
por uma parede de tijolos. O ladrão é espancado e sangra,
mas ele não para de lutar. Nem o homem de smoking. Ele
distribui socos como um boxeador, tanto assim que é
hipnótico assistir. Quando a faca aparece, eu esperava que as
coisas se transformassem em favor do ladrão, mas isso não
acontece. O homem de smoking desarma o idiota e toma a
arma. Aconteceu tão rápido que eu não posso dizer como foi
feito. O homem de smoking recua seu braço como se
estivesse para empurrar a faca no peito do cara.
— Pare! — Eu chamo antes de perceber o que estou
fazendo. Uma das minhas mãos está segurando meu vestido
no busto e a outra está mal tocando meus lábios. Eu não
posso ver o cara morrer, mas eu não consigo desviar o olhar
também.
O homem de smoking não para. Um grito tremendo sai
dilacerado da minha garganta quando ele bate a faca no
ombro do ladrão. O bandido pega no seu braço e desliza para
baixo da parede, segurando seu ombro enquanto o casaco
fica encharcado de sangue. Ele olha diretamente para mim
com raiva.
O homem de smoking chuta o ladrão uma vez, e uma
voz familiar disse:
— Vá embora.
Eu tremo quando ouço isso, porque eu sei quem é ele,
Bryan. Ele deve ter me seguido. O medo agarra e azeda
dentro do meu estômago, enquanto eu olho para as suas
costas. Bryan não vira o rosto para mim. O ladrão comprime
os lábios e se levanta do chão do beco. Ele faz o seu caminho
passando por mim, e não diz nada.
Um tremor se apodera de mim e escorre pela minha
espinha, me fazendo ofegar. É quando ele se vira. O rosto de
Bryan está pálido e coberto de um brilho fino de suor. Ele
caminha de volta para mim e eu posso ver onde ele tomou
algumas pancadas. Há um rasgo em sua camisa, sob a lapela
do paletó, onde a faca cortou antes Bryan tomá-la do ladrão.
Passo a passo, ele caminha em minha direção, e eu
estou mais assustada por Bryan que qualquer coisa que já
encontrei. O que foi isso? Ele teria matado o homem se eu
não tivesse gritado? Eu não consigo parar de tremer.
Bryan alcança os meus ombros para me firmar, e eu
sinto aquele choque familiar que acompanha o seu toque.
Seu polegar esfrega suavemente sobre minha pele. — Você
está bem?
Mas, é muito. Eu não posso. Eu não posso. Eu não posso.
O pensamento não faz sentido, mas eu sei que tenho que
fazer com que ele me liberte. Seu toque tem uma maneira de
me desfazer, e eu estou caindo aos pedaços. Recuso-me a
deixá-lo ser o único a testemunhar isso. Eu empurro para
longe, e aceno com a cabeça rapidamente.
— Eu estou bem.
As mãos de Bryan permanecem paradas no ar por um
momento, antes de ele abaixa-las junto com seu olhar. Ele
observa o chão por um segundo e quando ele levanta o
queixo, vejo um sorriso nos seus lábios.
— Mentirosa. Você está longe de estar bem, mas eu
estou contente que você esteja parada.
Eu fico olhando para ele, incapaz de encontrar uma
resposta. Sua voz soa carinhosa, quase arrependida. Ele olha
por cima do meu ombro para alguém e, em seguida, diz:
— A sua carona está aqui. Da próxima vez, não tente
derrubar um assaltante por si mesmo.
Eu falo sem querer, mas as palavras saem e caem fora.
— Da próxima vez, não mate um homem por roubar minha
bolsa.
O canto dos lábios de Bryan puxa para cima, como se
quisesse sorrir, mas ele não sorri.
— Eu não iria matar um homem por roubar uma bolsa.
Que tipo de pessoa você acha que eu sou?
— Honestamente, eu não sei mais. Eu achava que sabia,
mas depois disso... — Eu balanço minha cabeça e fico sem
palavras. Bryan mudou o ataque no último segundo. Essa
faca não estava voltada para o ombro do homem — estava
dirigida para o seu coração. — Você ia matá-lo. Eu vi, você
não pode me dizer que não iria.
Bryan se inclina mais perto, e quando ele fala seu hálito
quente sussurra contra a minha orelha.
— Talvez, mas não foi porque ele pegou sua bolsa. — Ele
se inclina para trás e desliza as mãos nos bolsos, enquanto
seus olhos verdes me percorrem. — Ninguém toca em você,
enquanto você está comigo.
— Eu engulo em seco e olho para ele, com o coração
ainda disparando.
Maggie aparece atrás de mim um segundo depois. Ela
pega meu ombro e me vira.
— Hallie, diabo está acontecendo, e por que você está
aqui no beco sozinha? — Ela vê a maneira que eu estou
segurando meu vestido e o tecido rasgado. A preocupação
persiste em seu rosto, esperando pela minha resposta.
— Eu não estou sozinha, — mas quando me viro para
olhar, Bryan já se foi.
CAPÍTULO 3
Eu estive em um casulo de tristeza e este evento o
quebrou. Minha atordoada indiferença fratura e estilhaça,
como vidro barato. Eu olho para a bolsa presa em minha mão
e me pergunto o que há de errado comigo, mas ainda mais,
eu não consigo parar de pensar em Bryan, como ele veio do
nada e quase matou o homem que tentou me machucar.
Pare de pensar assim, eu me repreendo. Bryan agiu
como um lunático. A imagem de Bryan esfaqueando o cara
persiste através dos meus olhos mais uma vez e faz o meu
estômago embrulhar.
Maggie está falando, mas eu não disse muito. Estamos
em seu velho Ford Escort. A coisa corre mal, mas eu não
posso reclamar. Eu nem mesmo tenho um carro, não mais.
Maggie olha para mim por trás do volante, enquanto suas
mãos o seguram com firmeza.
— Hallie, se você estiver com vontade de vomitar, baixe
a janela. Aqui já cheira estranho o suficiente. — Ela está
certa, o carro tem um odor não identificável que está lá desde
que ela comprou.
— Eu estou bem, — eu digo novamente, embora seja
uma mentira. Meus braços envolvem meu peito para
esconder como minhas mãos tremem.
— Ah, Hallie, eu sei que você não quer falar e que está
tudo bem, mas eu quero informa-la sobre a minha nova casa.
— Eu olho para ela, sem entender o que ela quer dizer.
Maggie me dá um sorriso tímido e encolhe os ombros até as
suas orelhas, enquanto dirige. — Vamos apenas dizer que
não é algo que você aprovaria.
Eu não tenho paciência para lidar com seus enigmas
neste momento. A vida de Maggie é mais difícil do que a
minha, e eu sei disso, mas ela nunca tinha escondido coisas
de mim antes. Desta vez, é claro que ela escondeu, e isso me
preocupa. As únicas coisas que eu desaprovo são as que
possam matá-la. A menina não tem nenhum senso. Às vezes
me pergunto sobre ela, e como ela escolhe o que faz. Sorrio
sem jeito e olho para o tapete sujo no chão, que alguma vez
foi azul.
— O que é tão engraçado? — Maggie parece indignada,
como se eu a tivesse ofendido.
— Nada. Vamos apenas dizer que, se você soubesse o
que eu estava fazendo esta noite, você não se sentiria tão na
defensiva. Tenho certeza de que sua casa é boa.
Maggie se tranquiliza. Ela suspira quando vira em uma
rua lateral e começamos a fazer o nosso caminho através de
um bairro degradado. As casas são marcadas e branqueadas
pelo Sol, com gramados mortos, mas os carros são
customizados e caros. Mesmo que seja tarde, as pessoas
movem-se, sem fazer nada. Eu olho para a minha porta,
querendo trancá-la, mas eu não me mexo. Enquanto nós
rodamos passando pelos grupos de pessoas, os olhos deles
viram e nos assistem passar, antes de voltar para o que eles
estavam fazendo.
Maggie finalmente diz: — Não é muito, mas acho que
vale a pena.
— Você não tem que defender o seu apartamento para
mim, Maggie. Eu sou uma maldita sem-teto. — Eu olho para
ela e inclino a cabeça para trás no assento. Minhas palavras
não a consolam, então eu acrescento: — Além disso, eu não
sou uma garota-propaganda da moralidade, também. Você
não vai acreditar no que eu fiz hoje à noite, e o que eu vou
fazer. — Minha voz falha e eu balanço a cabeça, pensando
nos lábios de Bryan. Estou horrorizada por reagir da maneira
como o faço, mesmo que com a memória.
Ela ri uma vez, rapidamente. — Sim, certo. Hallie, você
nunca faz nada de mau. Estúpido, sim. Mau, não.
Eu olho para fora da janela e não vejo nada. As casas
deram lugar a apartamentos que se estendem para o céu na
noite. Fachadas de tijolos já viram dias melhores. Muitos
parecem vazios, como se ninguém vivesse lá, por muitos
anos. Meu peito se aperta e eu me contorço na cadeira. Meu
Deus, ela mora aqui? Por que ela não me contou? Há carros
queimados, latas de lixo viradas e entulho, tudo espalhado
por toda parte. Parece que a rua foi saqueada e esquecida,
assim como Maggie.
Segundas decisões são as que mudam vidas. Eu faço a
minha e cuspo fora antes de me acovardar.
— Bryan Ferro está me chantageando. Se eu não dormir
com ele sempre que ele quiser, vai dizer às pessoas que ele é
o cara no livro e fazer o que for preciso para me arruinar. Ele
disse que ia usar tudo o que tem contra mim e me deu um
ultimato.
Os grandes olhos de Maggie viram em minha direção,
com o queixo caído e boca aberta.
— Puta merda! Quando isso aconteceu? Como você vai
detê-lo? — Ela pisca para mim e vira os olhos de volta para a
estrada, embora eu saiba que ela não quer.
Esta é a parte que me faz sentir um lixo. Eu não sou
quem ela pensa que eu sou. Eu não tenho uma estrutura
moral de aço. Eu não posso nem olhar para ela.
— Esta noite eu acabei fazendo o anúncio do prêmio no
show com ele, e então ele me encontrou no banquete. — Eu
digo. Eu tento fazer a minha boca mover-se para formar as
palavras, mas não vão sair.
— De jeito nenhum. — Ela estaciona em um parque de
estacionamento que parece que foi usado como um local de
explosão da força aérea e desliga o carro. — Pegue suas
coisas e tranque a porta. — Eu faço como ela diz e me
apresso atrás dela. — Mantenha seus olhos baixos e me siga.
Não fale ou olhe para ninguém.
Entramos no lado de um desses prédios de tijolos
antigos e subimos alguns lances de escadas, até o quarto
andar. No momento que chegamos ao seu andar, eu quero
jogar o resto do meu sapato para fora da janela. Eu poderia,
não há vidro no painel. Eu a sigo, até a porta e por um longo
corredor mal iluminado. Nós paramos em frente à sua porta.
Enquanto ela se atrapalha com a chave, a porta contrária à
dela se abre. Um homem pálido, com cabelo loiro descolorido
e vestindo uma camiseta regata branca e cueca está lá e olha
para nós. Eu posso sentir seus olhos nas minhas costas. Ele
se inclina contra o batente da porta e cruza os braços sobre o
peito.
Quando ele fala, soa rouco, como se ele fumasse um
maço de cigarros todos os dias desde que ele tinha dois anos
de idade. — Trouxe-me outra?
— Não, — Maggie diz com firmeza. Ela não se vira para
olhar para o cara. Se eu não a conhecesse melhor, eu acharia
que ela estava com medo dele. Eu não aguento mais stress
esta noite. Meu cérebro parece que vai partir em dois, antes
que eu murche e morra. Maggie pega a chave para abrir, mas
porta emperra. Ela chuta uma vez com o pé e a porta mexe
ligeiramente. — Maldita porta, — ela murmura.
— Qual é o seu nome, docinho? — O cara está falando
comigo. Viro-me e olho por cima do ombro, e nossos olhos se
encontram. Ele envia um olhar frio para mim, ao ver o jeito
como ele está olhando de soslaio. O cara é enorme, ele é todo
músculos e agora ele está sorrindo para mim, revelando uma
coroa de ouro em seu dente canino.
— Oi, — eu digo timidamente, e arrumo o meu cabelo
para atrás da minha orelha, tentando evitar o olhar dele
enquanto não respondo sua pergunta.
Enquanto o cara está de boca aberta, Maggie chuta na
porta. A porta se abre, ela agarra meu braço e me puxa. Eu
sigo, voando atrás dela enquanto ela grita por cima do ombro,
— eu vou lhe trazer alguém amanhã, eu juro. Boa noite, Vic.
— Ela bate a porta com o pé e parece abalada.
Seu apartamento é aproximadamente o mesmo tamanho
de um pequeno corredor. Há uma pequena janela com uma
folha grampeada sobre ela e sem móveis. Algumas das roupas
de Maggie estão jogadas ao redor do lugar, como se ela
tivesse saído com pressa. Se eu morasse aqui, eu iria embora
rapidamente, também.
— Obrigado por me deixar ficar com você.
— Sim, não há problema. É uma merda como este é o
pior lugar que eu já vivi, mas é um refúgio. Eu durmo aqui e,
em seguida, dou o fora. O aluguel não é horrível. — Ela
oferece um sorriso torto, mas é franco.
Eu preciso dela, e não há um muro entre nós. Ela acha
que eu sou perfeita, mas eu não sou. Eu fiz coisas que ela
não sabe. As palavras estão na minha língua e eu enrolo-as
em torno de minha boca, tentando descobrir como dizer isso,
enquanto a Maggie tagarela, enchendo o ambiente com sua
voz.
Um casal está brigando nas proximidades, e o som está
cada vez mais alto. Estão lutando, eu não quero dizer
discutindo. Há coisas batendo nas paredes e quebrando.
Chove gesso para baixo sobre nós como flocos de neve
quando algo cai de cima. Maggie olha horrorizada quando ela
puxa sua cama Murphy 2 para baixo da parede. Tomando
quase toda a sala. — Você pode dormir aqui. Eu vou dormir
no chão.
— Não.
Ela sorri. — Não seja boba, você é minha convidada. —
Palavrões ressoam acima de nós quando um homem irritado
grita. É prontamente seguido de um grito agudo. Maggie
morde as unhas do jeito que ela fazia quando éramos
crianças e olha em volta, como se ela desejasse poder
queimar o lugar.
2
— Eu não vou fazer você dormir no chão, mas há outra
coisa que eu preciso lhe dizer.
— Maggie olha para mim por debaixo de sua massa de
cabelo vermelho. Eu sou sua única amiga de verdade, sua
única família e ela a minha. Deus, o que é que ela vai pensar
de mim quando eu lhe disser o que eu concordei em fazer?
Eu não acho que eu vou ser capaz de suportá-lo. Meus
braços ainda estão dobrados sobre o peito, com as mãos
firmemente aninhadas nos meus braços.
— Hallie, qual o problema? — Maggie deixa de fazer a
cama e se senta. Ela dá um tapinha no lugar ao lado dela e
me sento.
Olhando para frente, eu engulo em seco e digo a ela.
— Eu disse que sim. — Você disse sim para o quê?
Hallie, você não está fazendo sentido, do que você está
falando?
Quando me viro para olhar para ela, e encontro com
aqueles grandes olhos verdes e sinto medo. Minha pele fica
arrepiada, mas eu não consigo desviar o olhar.
— Eu disse a Bryan Ferro que sim. Eu cedi. Ele ganhou
e eu perdi.
— O quê? — Ela está furiosa, pronta para voar para fora
do seu assento e defender-me até a morte.
Eu coloco minha mão no colo dela para fazê-la parar. —
Eu fui ao seu quarto de hotel para dizer-lhe para ir chupar
um prego, mas eu mudei de ideia quando ouvi sua voz. Eu
pensei que algo estava errado e esta era a sua maneira de
merda para me dizer. Conheci-o uma vez, pelo menos eu
pensei que tinha conhecido. Então, quando eu estava
esperando por você do lado de fora, eu... — minha voz está
trêmula e eu não posso mais esconder o meu horror, — um
cara tentou roubar minha bolsa. Para encurtar a história, ele
me pegou por trás do prédio e ia me machucar. Bryan
apareceu e ele... — Eu não posso dizer isso. Meu Bryan
perfeito fez algo que era tão diferente dele, tão terrivelmente
selvagem, que eu não sei o que pensar. Ele me protegeu, mas
ainda parece errado.
— Ele a machucou? — Maggie está furiosa, eu posso
ouvir em sua voz. Mas a forma como ela fala suas palavras
ondulando entre muito alta e baixa, dão a deixa.
— Não, ele atacou o homem, e esfaqueou-o. Se eu não
dissesse a Bryan para parar, acho que ele teria matado o
cara. — Olho para ela, mas eu não posso mais enxergar.
Meus olhos têm brilham com lágrimas que tudo fica
desfocado.
Maggie ergue os braços e eu caio neles. Ela sempre foi
como uma irmã para mim. Estivemos sempre uma para a
outra, e eu temo que a história com Bryan e o que eu me
tornei vá fazê-la me odiar. Meu pai teria vergonha de me
chamar de filha, e eu espero o mesmo de Maggie. Em vez
disso, ela fica lá no colchão gasto e me acalma.
Depois de um forte abraço, ela libera meus ombros e
pega meu queixo. — Você e eu passamos por tudo juntas.
Não pense que eu a estou socorrendo por causa disso. Se não
for por qualquer coisa, a vida fica mais interessante, isso é
tudo.
Eu enxugo as lágrimas dos meus olhos e rio, porque ela
está tão errada. — Esse é o eufemismo do ano.
— O meu ponto é, eu estou aqui por você. Eu sempre
estarei aqui para você. — Ela bate no meu ombro com a dela.
— Então, Bryan Ferro tem um lado negro por trás de todo o
brilho e deslumbre?
— Aparentemente.
— Foi divertido ou ele fez coisas estranhas?
Eu sorrio e limpo meus olhos novamente. — Não, não
hoje à noite de qualquer maneira. Ele me chamou para seu
quarto, eu fui, e nos beijamos. Então, ele me mandou ir
embora.
Os lábios de Maggie puxaram um pouco para cima. —
Ele a jogou para fora? Mas que inferno...?
— Eu não sei. É como se ele estivesse louco e deixando o
Hulk sair ou algo assim. Ele não olhava para mim. As coisas
estavam quentes e pesadas até então. — A intuição continua
me dizendo que algo estava errado, mas não posso entender o
quê.
Maggie sorri: — Ele foi melhor do que Neil, certo?
Eu faço uma careta e olhou para ela como se ela fosse
louca. — Uh, Bryan está me chantageando.
— E ele é mais quente do que Neil. Vá em frente, diga.
Eu sou sua amiga, então eu já sei.
Eu baixei meus olhos em direção ao chão e não disse
nada. Eu não tenho que dizer nada, a minha expressão diz
tudo. Bryan é muito mais quente do que Neil, não há
comparação. Os dois homens são noite e dia, e Bryan é a
noite sexy. Neil a voz racional que soa como o FDA 3,
lembrando-me de fazer todas as coisas com moderação, mas
não todas as coisas, somente as ações que ele aprova. Droga.
Eu enterro meu rosto em minhas mãos e suspiro.
Maggie acaricia minhas costas. — Está tudo bem.
Qualquer um é mais quente do que Neil. Não se sinta
culpada, mas eu não contaria exatamente ao Senhor Calças
Perfeitamente Passadas. Ele vai surtar ao saber que alguém
tocou em você. — Maggie está tirando as roupas e puxando
uma camisa de dormir e calças, enquanto ela fala.
— Na verdade, Neil sabe.
3 FDA - Food and Drug Administration - Agencia reguladora de remédios e alimentos.
— O quê? — Ela está pulando em um pé, tentando
enfiar o pé pela perna da calça e cai. — Como é que ele sabe?
Você disse que acabou de acontecer.
— Neil sabe por que foi ele quem me disse para fazer
isso.
CONTINUA
Bryan está de queixo caído e boca aberta, com aqueles olhos verdes semicerrados, em chamas. Fúria e choque não parecem bons para ele. As emoções distorcem seu belo rosto,
estragam as linhas suaves de sua pele, fazendo-o parecer bem mais velho. Seus punhos estão fechados, apertados em seus lados, mas ele pisca uma vez e a reação diminui. Há muitas coisas que eu não sei sobre Bryan Ferro, mas uma coisa eu sei, ele é uma merda em manter as coisas escondidas. Seus pensamentos dançam em seu rosto de vez em quando, e é por isso que ele está desconfiado de mim.
Virando abruptamente, Bryan pressiona seus dedos em sua têmpora direita. Sua voz sai como um grunhido.
— Eu lhe disse para ir embora.
— Seus ombros estão tensos, cada músculo está apertado a ponto de eu poder ver as curvas de seu corpo sob essa camisa. Ele flexiona a mão que está ao seu lado antes de deslizar em seu bolso. Bryan pode ser capaz de esconder tudo, de todos os outros, mas não de mim.
— Sim, eu ouvi essa parte. — Eu ajo como se eu não me importasse, deito-me no tapete, e dobro as minhas mãos atrás da minha cabeça. O piso é suave e difuso. Levanto os meus joelhos, eu deixo a queda do meu vestido em torno dos meus tornozelos e até meus pés, para sentir a pilha macia entre os dedos dos pés. O tapete no meu antigo quarto parecia como um saco de batata, em relação a este material.
Mesmo com Bryan irado, eu estou sorrindo. A vozinha na parte de trás da minha cabeça me diz que eu perdi minha mente. Eu respondo de volta que eu nunca tive um controle firme sobre isso de qualquer maneira.
https://img.comunidades.net/bib/bibliotecasemlimites/2_A_PROPOSI_O.jpg
Bryan pode ver meu reflexo no espelho, mas eu não
posso ver mais do que as suas costas e a maneira como ele
agarra sua cabeça como se fosse explodir. Ele está furioso
comigo? Não consigo entender sua raiva, mas transborda
para fora de sua boca de novo, espetando como espinhos,
neste momento.
— Se você não consegue entender os termos deste
acordo, então eu temo que nós não tenhamos um.
— O quê? — Sento-me e giro em torno, de modo que
estou de frente para as suas costas.
Bryan se vira, e a tensão que está estampada no seu
rosto é horrível. Eu encontro o seu olhar, mas eu não posso
olha-lo sem querer corrigir o que está fazendo com ele. Todas
as imagens na imprensa mostram a versão de Bryan que eu
conhecia, leve e despreocupado, mas este homem, aqui, não é
nenhuma dessas coisas. Algo está esmagando-o de dentro
para fora e deixando-o em pedaços. Seu corpo está tremendo,
ele está tão bravo. Ele tenta respirar fundo, mas isso só faz o
seu rosto ficar mais apertado.
— Você me ouviu. Se você não fizer as coisas do meu
jeito, eu vou arruinar você. Este não é o meu jeito, você sabe
muito bem disso. Saia daqui.
Ele não grita, mas suas palavras me fazem tremer. Não
há calor, não há compaixão. Talvez eu não o conheça mais e
ele está certo. Apertando os lábios, eu engulo minha resposta,
mas esta incha dentro de mim e enche meu peito. Eu peguei
meus sapatos saltos de volta e calcei em meus pés cansados
antes de levantar. Eu ando mais e pego minha bolsa.
Eu deveria sair. A vozinha dentro de mim canta como
um duende com uma voz agradável, sim, vá. Faça isso.
Agora.
Meus olhos estão fixos na porta como se fosse o
caminho para o inferno. Algo sobre sair agora parece errado,
mas não posso entender sobre o que está prendendo meus
pés no lugar. Caramba, é o pensamento que está me
segurando. Ele está me prendendo aqui e eu não posso me
mover. Parece como engolir o vômito e eu não posso fazê-lo.
Eu sou o cérebro danificado, mas não posso ser algo que não sou.
Girando sobre meus pés, eu atravesso o piso acarpetado
e elegante, e caminho até ele. Bryan não se vira para olhar
para mim. Em vez disso, suas mãos estão segurando a parte
superior do bar como se ele quisesse arrancá-lo da parede.
Suas costas estão curvadas e sua cabeça está pendurada
entre os ombros, como se ele estivesse tentando não me
rasgar em pedaços. Outra mulher teria corrido agora mesmo,
mas eu sou a dopada que anda mais perto.
— Eu sou uma idiota, — eu digo, enquanto olho para os
meus sapatos, e rio de leve. É o tipo de som que não tem
alegria e revela uma alma torturada. Meus olhos levantam
para seus ombros. Eu fico lá por um momento esperando que
ele se vire, mas ele não vira. Bryan não fala ou levanta o
olhar. Ele permanece debruçado sobre o bar como um troll 1.
Eu continuo, — vê-lo hoje à noite foi terrível e
maravilhoso. Isso evocou memórias e sentimentos que eu
tinha tempo esquecido há muito. Escrever sobre, é uma
coisa, mas vê-lo novamente está além das palavras.
Desculpe-me se eu o machuquei, mesmo que eu não entenda
o que eu fiz. E seu eu pudesse corrigir. Eu...
Por que estou fazendo isso? Eu estou me desculpando
com as suas costas, o homem não tem sequer a decência de
se virar e encarar-me. Eu respiro fundo e endireito a minha
espinha.
— As pessoas cometem erros, Bryan, e parece que o
meu maior erro foi conhecê-lo.
1
Troll – é uma gíria que designa uma pessoa cujo comportamento tende sistematicamente a desestabilizar uma
discussão, provocar e enfurecer as pessoas envolvidas nela. Há trolls de todo tipo, desde o mais ignorante e rude
que xinga e provoca, até o mais apto intelectualmente que discursa com o objetivo de desestabilizar o interlocutor
e levá-lo a fúria, para depois desqualificá-lo, matando seu argumento e abalando sua reputação.
A fúria me inunda quando eu corro pela sala. Eu agarro
a maçaneta da porta e não olho para trás, apesar de sentir
seus olhos em mim. Dane-se ele. Eu vivi coisas piores. Eu
digo essas palavras uma e outra vez, porque aconteceu.
Depois corro pelo corredor, aperto o botão para baixo no
elevador uma e outra vez, perguntando por que eu estou tão
chateada. Depois de um momento, eu sinto o pensamento
picar os meus olhos e apertar a minha garganta e eu sei
exatamente por que estou tão chateada.
É possível que as coisas estejam invertidas, e como eu
não conhecesse o verdadeiro Bryan Ferro, aquele com quem
dormi todos esses anos, era o falso.
CAPÍTULO 2
Eu não posso ir para casa e enfrentar Neil, por isso eu
telefono para Maggie. Ela atende no terceiro toque. Eu estou
andando na rua em frente ao hotel com o meu telefone
pressionado ao meu ouvido. É tarde e escuro. Evitando as
sombras, eu ando mais perto da rua do que no hotel.
— Maggie. — Eu tento esconder a tensão na minha voz,
mas ela ouve. Nós nos conhecemos há muito tempo. — Vou
tirar suas bolas fora.
— O que diabo aconteceu? Onde você está? — Ela me
enche de perguntas, até que eu possa finalmente fazê-la calar
a boca.
— Eu preciso de um lugar para dormir. Eu não posso
ver Neil agora e eu não tenho outro lugar para ir.
Maggie fica em silêncio.
— O que é meu, é seu. Você sabe disso, mas eu não
tenho certeza que você vá gostar.
— Em qualquer lugar é melhor do que aqui ou com Neil.
— Eu sinto uma náusea fazendo seu caminho até a minha
garganta. Lágrimas estão chegando, e tenho a sensação de
que vai ser um maremoto.
— Claro, claro. Eu estarei aí em cinco minutos.
— A linha de Maggie desliga, e eu fecho o meu telefone e
o coloco em minha bolsa.
A cidade se move em torno de mim, mas parece que eu
estou em uma bolha. As pessoas passam na calçada, mas eu
não as noto. Eu passeio, perdida em pensamentos, agarrando
minha bolsa perto do meu corpo. O ar da noite tem aquele
cheiro que é distintamente de Nova York. Eu o inspiro e
quando me viro, quase bato em alguém. O cara é uma
parede, de marrom e preto. Seu casaco tem cheiro de cigarros
velhos e naftalina.
Antes de eu ter tempo para descobrir o que está
acontecendo, ele pega a minha bolsa, em seguida, coloca a
mão no centro do meu peito e me empurra, com força. Eu
grito, tropeço e caio para trás, enquanto minha bolsa é
arrancada de minhas mãos. O cara se vira e está pronto para
correr, mas eu não estou com disposição para perder a bolsa.
Eu estou fodidamente quebrada. Todo o dinheiro que eu
tenho está lá dentro.
Antes que eu saiba o que estou fazendo, eu pego um dos
meus sapatos de salto alto e atiro em sua cabeça. Acerto e ele
cai na calçada. Poucas pessoas param para assistir, mas
ninguém faz nada - típico dos nova-iorquinos. Todo mundo
quer ver, mas ninguém ajuda.
Nesse ponto, tudo acontece em câmera lenta. Eu estou
em pé, mesmo que eu não me lembre de ficar pé. Um pé está
congelado, sobre o cimento frio, enquanto o outro ainda está
calçado. O ladrão levanta a mão e bota na parte de trás de
sua cabeça e puxa-a. Ele olha para os seus dedos, seus olhos
escuros apreciando o sangue vermelho e pegajoso em sua
mão. A ponta do meu salto que bateu com a parte traseira de
seu couro cabeludo, deve tê-lo cortado.
Meu coração para, quando o sujeito se vira para mim.
Seus olhos têm um olhar enlouquecido e os ombros tremem
como se ele fosse me rasgar ao meio.
— Você. — Ele diz isso como se fosse o meu nome e ele
me odeia.
O homem dá passos em direção a mim e fala
novamente, mas suas mãos lentamente movem para cima,
como se ele fosse me atacar ou me estrangular. Eu suspiro
alguma coisa, mas ele não sai antes de eu dar um passo para
trás, aterrorizada. Meu pulso ruge em meus ouvidos, então
olho em volta a procura de ajuda, mas não vejo ninguém. A
multidão se afastou, ou talvez eu tenha ido embora. Onde
está um policial quando eu preciso de um?
O resto acontece freneticamente rápido. Alguém grita
comigo, enquanto o homem procura o meu pescoço. Eu caio,
mas ele pega no meu ombro. Ele aperta-me com força,
fazendo com que o meu pescoço estale para trás enquanto ele
grita na minha cara.
— Sua pequena vadia!
O resto de suas palavras se tornam zumbidos, enquanto
ele me aperta mais. Estou ciente do vento, do ar da noite, e
do homem que está me estrangulando. Em algum momento,
as mãos deslizam até o pescoço. Eu agarro em suas mãos e
tento gritar, mas não sai nada. Eu não entendo por que
ninguém nos vê, por que eles simplesmente deixam esse
ladrão me machucar.
Balançando as minhas pernas, eu o chuto, mas não
adianta. Eu não sou forte o suficiente. Eu tentei tudo o que
sabia fazer e nada funcionou. O homem me atira e bate
minhas costas contra uma parede de tijolos. O frio me sacode
e me pergunto como chegamos ao beco ao lado do hotel, mas
os pensamentos cessam quando vejo o olhar em seus olhos.
Um sorriso mal aparece em seu rosto quando ele rasga o
ombro do meu vestido. O tecido sai em sua mão e permite
que o vestido deslizar alguns centímetros.
Abro a boca para gritar, mas sua mão imunda me cobre,
impedindo a saída do som. Sua mão me tateia, sentindo
meus seios enquanto ele sussurra em meu ouvido todas as
coisas horríveis que ele pretende fazer comigo. — Então, eu
vou levar a minha faca e... — Suas palavras desagradáveis
param imediatamente, após o som do estalar de madeira.
Assim como, de repente, a mão no meu pescoço se foi e
eu suspiro em uma respiração trêmula e olho para cima. Está
muito escuro para ver, mas há um homem vestido de
smoking, avançando sobre o ladrão. Ele lança socos uma e
outra vez, até que eles estão na parte de trás do beco, presos
por uma parede de tijolos. O ladrão é espancado e sangra,
mas ele não para de lutar. Nem o homem de smoking. Ele
distribui socos como um boxeador, tanto assim que é
hipnótico assistir. Quando a faca aparece, eu esperava que as
coisas se transformassem em favor do ladrão, mas isso não
acontece. O homem de smoking desarma o idiota e toma a
arma. Aconteceu tão rápido que eu não posso dizer como foi
feito. O homem de smoking recua seu braço como se
estivesse para empurrar a faca no peito do cara.
— Pare! — Eu chamo antes de perceber o que estou
fazendo. Uma das minhas mãos está segurando meu vestido
no busto e a outra está mal tocando meus lábios. Eu não
posso ver o cara morrer, mas eu não consigo desviar o olhar
também.
O homem de smoking não para. Um grito tremendo sai
dilacerado da minha garganta quando ele bate a faca no
ombro do ladrão. O bandido pega no seu braço e desliza para
baixo da parede, segurando seu ombro enquanto o casaco
fica encharcado de sangue. Ele olha diretamente para mim
com raiva.
O homem de smoking chuta o ladrão uma vez, e uma
voz familiar disse:
— Vá embora.
Eu tremo quando ouço isso, porque eu sei quem é ele,
Bryan. Ele deve ter me seguido. O medo agarra e azeda
dentro do meu estômago, enquanto eu olho para as suas
costas. Bryan não vira o rosto para mim. O ladrão comprime
os lábios e se levanta do chão do beco. Ele faz o seu caminho
passando por mim, e não diz nada.
Um tremor se apodera de mim e escorre pela minha
espinha, me fazendo ofegar. É quando ele se vira. O rosto de
Bryan está pálido e coberto de um brilho fino de suor. Ele
caminha de volta para mim e eu posso ver onde ele tomou
algumas pancadas. Há um rasgo em sua camisa, sob a lapela
do paletó, onde a faca cortou antes Bryan tomá-la do ladrão.
Passo a passo, ele caminha em minha direção, e eu
estou mais assustada por Bryan que qualquer coisa que já
encontrei. O que foi isso? Ele teria matado o homem se eu
não tivesse gritado? Eu não consigo parar de tremer.
Bryan alcança os meus ombros para me firmar, e eu
sinto aquele choque familiar que acompanha o seu toque.
Seu polegar esfrega suavemente sobre minha pele. — Você
está bem?
Mas, é muito. Eu não posso. Eu não posso. Eu não posso.
O pensamento não faz sentido, mas eu sei que tenho que
fazer com que ele me liberte. Seu toque tem uma maneira de
me desfazer, e eu estou caindo aos pedaços. Recuso-me a
deixá-lo ser o único a testemunhar isso. Eu empurro para
longe, e aceno com a cabeça rapidamente.
— Eu estou bem.
As mãos de Bryan permanecem paradas no ar por um
momento, antes de ele abaixa-las junto com seu olhar. Ele
observa o chão por um segundo e quando ele levanta o
queixo, vejo um sorriso nos seus lábios.
— Mentirosa. Você está longe de estar bem, mas eu
estou contente que você esteja parada.
Eu fico olhando para ele, incapaz de encontrar uma
resposta. Sua voz soa carinhosa, quase arrependida. Ele olha
por cima do meu ombro para alguém e, em seguida, diz:
— A sua carona está aqui. Da próxima vez, não tente
derrubar um assaltante por si mesmo.
Eu falo sem querer, mas as palavras saem e caem fora.
— Da próxima vez, não mate um homem por roubar minha
bolsa.
O canto dos lábios de Bryan puxa para cima, como se
quisesse sorrir, mas ele não sorri.
— Eu não iria matar um homem por roubar uma bolsa.
Que tipo de pessoa você acha que eu sou?
— Honestamente, eu não sei mais. Eu achava que sabia,
mas depois disso... — Eu balanço minha cabeça e fico sem
palavras. Bryan mudou o ataque no último segundo. Essa
faca não estava voltada para o ombro do homem — estava
dirigida para o seu coração. — Você ia matá-lo. Eu vi, você
não pode me dizer que não iria.
Bryan se inclina mais perto, e quando ele fala seu hálito
quente sussurra contra a minha orelha.
— Talvez, mas não foi porque ele pegou sua bolsa. — Ele
se inclina para trás e desliza as mãos nos bolsos, enquanto
seus olhos verdes me percorrem. — Ninguém toca em você,
enquanto você está comigo.
— Eu engulo em seco e olho para ele, com o coração
ainda disparando.
Maggie aparece atrás de mim um segundo depois. Ela
pega meu ombro e me vira.
— Hallie, diabo está acontecendo, e por que você está
aqui no beco sozinha? — Ela vê a maneira que eu estou
segurando meu vestido e o tecido rasgado. A preocupação
persiste em seu rosto, esperando pela minha resposta.
— Eu não estou sozinha, — mas quando me viro para
olhar, Bryan já se foi.
CAPÍTULO 3
Eu estive em um casulo de tristeza e este evento o
quebrou. Minha atordoada indiferença fratura e estilhaça,
como vidro barato. Eu olho para a bolsa presa em minha mão
e me pergunto o que há de errado comigo, mas ainda mais,
eu não consigo parar de pensar em Bryan, como ele veio do
nada e quase matou o homem que tentou me machucar.
Pare de pensar assim, eu me repreendo. Bryan agiu
como um lunático. A imagem de Bryan esfaqueando o cara
persiste através dos meus olhos mais uma vez e faz o meu
estômago embrulhar.
Maggie está falando, mas eu não disse muito. Estamos
em seu velho Ford Escort. A coisa corre mal, mas eu não
posso reclamar. Eu nem mesmo tenho um carro, não mais.
Maggie olha para mim por trás do volante, enquanto suas
mãos o seguram com firmeza.
— Hallie, se você estiver com vontade de vomitar, baixe
a janela. Aqui já cheira estranho o suficiente. — Ela está
certa, o carro tem um odor não identificável que está lá desde
que ela comprou.
— Eu estou bem, — eu digo novamente, embora seja
uma mentira. Meus braços envolvem meu peito para
esconder como minhas mãos tremem.
— Ah, Hallie, eu sei que você não quer falar e que está
tudo bem, mas eu quero informa-la sobre a minha nova casa.
— Eu olho para ela, sem entender o que ela quer dizer.
Maggie me dá um sorriso tímido e encolhe os ombros até as
suas orelhas, enquanto dirige. — Vamos apenas dizer que
não é algo que você aprovaria.
Eu não tenho paciência para lidar com seus enigmas
neste momento. A vida de Maggie é mais difícil do que a
minha, e eu sei disso, mas ela nunca tinha escondido coisas
de mim antes. Desta vez, é claro que ela escondeu, e isso me
preocupa. As únicas coisas que eu desaprovo são as que
possam matá-la. A menina não tem nenhum senso. Às vezes
me pergunto sobre ela, e como ela escolhe o que faz. Sorrio
sem jeito e olho para o tapete sujo no chão, que alguma vez
foi azul.
— O que é tão engraçado? — Maggie parece indignada,
como se eu a tivesse ofendido.
— Nada. Vamos apenas dizer que, se você soubesse o
que eu estava fazendo esta noite, você não se sentiria tão na
defensiva. Tenho certeza de que sua casa é boa.
Maggie se tranquiliza. Ela suspira quando vira em uma
rua lateral e começamos a fazer o nosso caminho através de
um bairro degradado. As casas são marcadas e branqueadas
pelo Sol, com gramados mortos, mas os carros são
customizados e caros. Mesmo que seja tarde, as pessoas
movem-se, sem fazer nada. Eu olho para a minha porta,
querendo trancá-la, mas eu não me mexo. Enquanto nós
rodamos passando pelos grupos de pessoas, os olhos deles
viram e nos assistem passar, antes de voltar para o que eles
estavam fazendo.
Maggie finalmente diz: — Não é muito, mas acho que
vale a pena.
— Você não tem que defender o seu apartamento para
mim, Maggie. Eu sou uma maldita sem-teto. — Eu olho para
ela e inclino a cabeça para trás no assento. Minhas palavras
não a consolam, então eu acrescento: — Além disso, eu não
sou uma garota-propaganda da moralidade, também. Você
não vai acreditar no que eu fiz hoje à noite, e o que eu vou
fazer. — Minha voz falha e eu balanço a cabeça, pensando
nos lábios de Bryan. Estou horrorizada por reagir da maneira
como o faço, mesmo que com a memória.
Ela ri uma vez, rapidamente. — Sim, certo. Hallie, você
nunca faz nada de mau. Estúpido, sim. Mau, não.
Eu olho para fora da janela e não vejo nada. As casas
deram lugar a apartamentos que se estendem para o céu na
noite. Fachadas de tijolos já viram dias melhores. Muitos
parecem vazios, como se ninguém vivesse lá, por muitos
anos. Meu peito se aperta e eu me contorço na cadeira. Meu
Deus, ela mora aqui? Por que ela não me contou? Há carros
queimados, latas de lixo viradas e entulho, tudo espalhado
por toda parte. Parece que a rua foi saqueada e esquecida,
assim como Maggie.
Segundas decisões são as que mudam vidas. Eu faço a
minha e cuspo fora antes de me acovardar.
— Bryan Ferro está me chantageando. Se eu não dormir
com ele sempre que ele quiser, vai dizer às pessoas que ele é
o cara no livro e fazer o que for preciso para me arruinar. Ele
disse que ia usar tudo o que tem contra mim e me deu um
ultimato.
Os grandes olhos de Maggie viram em minha direção,
com o queixo caído e boca aberta.
— Puta merda! Quando isso aconteceu? Como você vai
detê-lo? — Ela pisca para mim e vira os olhos de volta para a
estrada, embora eu saiba que ela não quer.
Esta é a parte que me faz sentir um lixo. Eu não sou
quem ela pensa que eu sou. Eu não tenho uma estrutura
moral de aço. Eu não posso nem olhar para ela.
— Esta noite eu acabei fazendo o anúncio do prêmio no
show com ele, e então ele me encontrou no banquete. — Eu
digo. Eu tento fazer a minha boca mover-se para formar as
palavras, mas não vão sair.
— De jeito nenhum. — Ela estaciona em um parque de
estacionamento que parece que foi usado como um local de
explosão da força aérea e desliga o carro. — Pegue suas
coisas e tranque a porta. — Eu faço como ela diz e me
apresso atrás dela. — Mantenha seus olhos baixos e me siga.
Não fale ou olhe para ninguém.
Entramos no lado de um desses prédios de tijolos
antigos e subimos alguns lances de escadas, até o quarto
andar. No momento que chegamos ao seu andar, eu quero
jogar o resto do meu sapato para fora da janela. Eu poderia,
não há vidro no painel. Eu a sigo, até a porta e por um longo
corredor mal iluminado. Nós paramos em frente à sua porta.
Enquanto ela se atrapalha com a chave, a porta contrária à
dela se abre. Um homem pálido, com cabelo loiro descolorido
e vestindo uma camiseta regata branca e cueca está lá e olha
para nós. Eu posso sentir seus olhos nas minhas costas. Ele
se inclina contra o batente da porta e cruza os braços sobre o
peito.
Quando ele fala, soa rouco, como se ele fumasse um
maço de cigarros todos os dias desde que ele tinha dois anos
de idade. — Trouxe-me outra?
— Não, — Maggie diz com firmeza. Ela não se vira para
olhar para o cara. Se eu não a conhecesse melhor, eu acharia
que ela estava com medo dele. Eu não aguento mais stress
esta noite. Meu cérebro parece que vai partir em dois, antes
que eu murche e morra. Maggie pega a chave para abrir, mas
porta emperra. Ela chuta uma vez com o pé e a porta mexe
ligeiramente. — Maldita porta, — ela murmura.
— Qual é o seu nome, docinho? — O cara está falando
comigo. Viro-me e olho por cima do ombro, e nossos olhos se
encontram. Ele envia um olhar frio para mim, ao ver o jeito
como ele está olhando de soslaio. O cara é enorme, ele é todo
músculos e agora ele está sorrindo para mim, revelando uma
coroa de ouro em seu dente canino.
— Oi, — eu digo timidamente, e arrumo o meu cabelo
para atrás da minha orelha, tentando evitar o olhar dele
enquanto não respondo sua pergunta.
Enquanto o cara está de boca aberta, Maggie chuta na
porta. A porta se abre, ela agarra meu braço e me puxa. Eu
sigo, voando atrás dela enquanto ela grita por cima do ombro,
— eu vou lhe trazer alguém amanhã, eu juro. Boa noite, Vic.
— Ela bate a porta com o pé e parece abalada.
Seu apartamento é aproximadamente o mesmo tamanho
de um pequeno corredor. Há uma pequena janela com uma
folha grampeada sobre ela e sem móveis. Algumas das roupas
de Maggie estão jogadas ao redor do lugar, como se ela
tivesse saído com pressa. Se eu morasse aqui, eu iria embora
rapidamente, também.
— Obrigado por me deixar ficar com você.
— Sim, não há problema. É uma merda como este é o
pior lugar que eu já vivi, mas é um refúgio. Eu durmo aqui e,
em seguida, dou o fora. O aluguel não é horrível. — Ela
oferece um sorriso torto, mas é franco.
Eu preciso dela, e não há um muro entre nós. Ela acha
que eu sou perfeita, mas eu não sou. Eu fiz coisas que ela
não sabe. As palavras estão na minha língua e eu enrolo-as
em torno de minha boca, tentando descobrir como dizer isso,
enquanto a Maggie tagarela, enchendo o ambiente com sua
voz.
Um casal está brigando nas proximidades, e o som está
cada vez mais alto. Estão lutando, eu não quero dizer
discutindo. Há coisas batendo nas paredes e quebrando.
Chove gesso para baixo sobre nós como flocos de neve
quando algo cai de cima. Maggie olha horrorizada quando ela
puxa sua cama Murphy 2 para baixo da parede. Tomando
quase toda a sala. — Você pode dormir aqui. Eu vou dormir
no chão.
— Não.
Ela sorri. — Não seja boba, você é minha convidada. —
Palavrões ressoam acima de nós quando um homem irritado
grita. É prontamente seguido de um grito agudo. Maggie
morde as unhas do jeito que ela fazia quando éramos
crianças e olha em volta, como se ela desejasse poder
queimar o lugar.
2
— Eu não vou fazer você dormir no chão, mas há outra
coisa que eu preciso lhe dizer.
— Maggie olha para mim por debaixo de sua massa de
cabelo vermelho. Eu sou sua única amiga de verdade, sua
única família e ela a minha. Deus, o que é que ela vai pensar
de mim quando eu lhe disser o que eu concordei em fazer?
Eu não acho que eu vou ser capaz de suportá-lo. Meus
braços ainda estão dobrados sobre o peito, com as mãos
firmemente aninhadas nos meus braços.
— Hallie, qual o problema? — Maggie deixa de fazer a
cama e se senta. Ela dá um tapinha no lugar ao lado dela e
me sento.
Olhando para frente, eu engulo em seco e digo a ela.
— Eu disse que sim. — Você disse sim para o quê?
Hallie, você não está fazendo sentido, do que você está
falando?
Quando me viro para olhar para ela, e encontro com
aqueles grandes olhos verdes e sinto medo. Minha pele fica
arrepiada, mas eu não consigo desviar o olhar.
— Eu disse a Bryan Ferro que sim. Eu cedi. Ele ganhou
e eu perdi.
— O quê? — Ela está furiosa, pronta para voar para fora
do seu assento e defender-me até a morte.
Eu coloco minha mão no colo dela para fazê-la parar. —
Eu fui ao seu quarto de hotel para dizer-lhe para ir chupar
um prego, mas eu mudei de ideia quando ouvi sua voz. Eu
pensei que algo estava errado e esta era a sua maneira de
merda para me dizer. Conheci-o uma vez, pelo menos eu
pensei que tinha conhecido. Então, quando eu estava
esperando por você do lado de fora, eu... — minha voz está
trêmula e eu não posso mais esconder o meu horror, — um
cara tentou roubar minha bolsa. Para encurtar a história, ele
me pegou por trás do prédio e ia me machucar. Bryan
apareceu e ele... — Eu não posso dizer isso. Meu Bryan
perfeito fez algo que era tão diferente dele, tão terrivelmente
selvagem, que eu não sei o que pensar. Ele me protegeu, mas
ainda parece errado.
— Ele a machucou? — Maggie está furiosa, eu posso
ouvir em sua voz. Mas a forma como ela fala suas palavras
ondulando entre muito alta e baixa, dão a deixa.
— Não, ele atacou o homem, e esfaqueou-o. Se eu não
dissesse a Bryan para parar, acho que ele teria matado o
cara. — Olho para ela, mas eu não posso mais enxergar.
Meus olhos têm brilham com lágrimas que tudo fica
desfocado.
Maggie ergue os braços e eu caio neles. Ela sempre foi
como uma irmã para mim. Estivemos sempre uma para a
outra, e eu temo que a história com Bryan e o que eu me
tornei vá fazê-la me odiar. Meu pai teria vergonha de me
chamar de filha, e eu espero o mesmo de Maggie. Em vez
disso, ela fica lá no colchão gasto e me acalma.
Depois de um forte abraço, ela libera meus ombros e
pega meu queixo. — Você e eu passamos por tudo juntas.
Não pense que eu a estou socorrendo por causa disso. Se não
for por qualquer coisa, a vida fica mais interessante, isso é
tudo.
Eu enxugo as lágrimas dos meus olhos e rio, porque ela
está tão errada. — Esse é o eufemismo do ano.
— O meu ponto é, eu estou aqui por você. Eu sempre
estarei aqui para você. — Ela bate no meu ombro com a dela.
— Então, Bryan Ferro tem um lado negro por trás de todo o
brilho e deslumbre?
— Aparentemente.
— Foi divertido ou ele fez coisas estranhas?
Eu sorrio e limpo meus olhos novamente. — Não, não
hoje à noite de qualquer maneira. Ele me chamou para seu
quarto, eu fui, e nos beijamos. Então, ele me mandou ir
embora.
Os lábios de Maggie puxaram um pouco para cima. —
Ele a jogou para fora? Mas que inferno...?
— Eu não sei. É como se ele estivesse louco e deixando o
Hulk sair ou algo assim. Ele não olhava para mim. As coisas
estavam quentes e pesadas até então. — A intuição continua
me dizendo que algo estava errado, mas não posso entender o
quê.
Maggie sorri: — Ele foi melhor do que Neil, certo?
Eu faço uma careta e olhou para ela como se ela fosse
louca. — Uh, Bryan está me chantageando.
— E ele é mais quente do que Neil. Vá em frente, diga.
Eu sou sua amiga, então eu já sei.
Eu baixei meus olhos em direção ao chão e não disse
nada. Eu não tenho que dizer nada, a minha expressão diz
tudo. Bryan é muito mais quente do que Neil, não há
comparação. Os dois homens são noite e dia, e Bryan é a
noite sexy. Neil a voz racional que soa como o FDA 3,
lembrando-me de fazer todas as coisas com moderação, mas
não todas as coisas, somente as ações que ele aprova. Droga.
Eu enterro meu rosto em minhas mãos e suspiro.
Maggie acaricia minhas costas. — Está tudo bem.
Qualquer um é mais quente do que Neil. Não se sinta
culpada, mas eu não contaria exatamente ao Senhor Calças
Perfeitamente Passadas. Ele vai surtar ao saber que alguém
tocou em você. — Maggie está tirando as roupas e puxando
uma camisa de dormir e calças, enquanto ela fala.
— Na verdade, Neil sabe.
3 FDA - Food and Drug Administration - Agencia reguladora de remédios e alimentos.
— O quê? — Ela está pulando em um pé, tentando
enfiar o pé pela perna da calça e cai. — Como é que ele sabe?
Você disse que acabou de acontecer.
— Neil sabe por que foi ele quem me disse para fazer
isso.
CONTINUA
Bryan está de queixo caído e boca aberta, com aqueles olhos verdes semicerrados, em chamas. Fúria e choque não parecem bons para ele. As emoções distorcem seu belo rosto,
estragam as linhas suaves de sua pele, fazendo-o parecer bem mais velho. Seus punhos estão fechados, apertados em seus lados, mas ele pisca uma vez e a reação diminui. Há muitas coisas que eu não sei sobre Bryan Ferro, mas uma coisa eu sei, ele é uma merda em manter as coisas escondidas. Seus pensamentos dançam em seu rosto de vez em quando, e é por isso que ele está desconfiado de mim.
Virando abruptamente, Bryan pressiona seus dedos em sua têmpora direita. Sua voz sai como um grunhido.
— Eu lhe disse para ir embora.
— Seus ombros estão tensos, cada músculo está apertado a ponto de eu poder ver as curvas de seu corpo sob essa camisa. Ele flexiona a mão que está ao seu lado antes de deslizar em seu bolso. Bryan pode ser capaz de esconder tudo, de todos os outros, mas não de mim.
— Sim, eu ouvi essa parte. — Eu ajo como se eu não me importasse, deito-me no tapete, e dobro as minhas mãos atrás da minha cabeça. O piso é suave e difuso. Levanto os meus joelhos, eu deixo a queda do meu vestido em torno dos meus tornozelos e até meus pés, para sentir a pilha macia entre os dedos dos pés. O tapete no meu antigo quarto parecia como um saco de batata, em relação a este material.
Mesmo com Bryan irado, eu estou sorrindo. A vozinha na parte de trás da minha cabeça me diz que eu perdi minha mente. Eu respondo de volta que eu nunca tive um controle firme sobre isso de qualquer maneira.
https://img.comunidades.net/bib/bibliotecasemlimites/2_A_PROPOSI_O.jpg
Bryan pode ver meu reflexo no espelho, mas eu não
posso ver mais do que as suas costas e a maneira como ele
agarra sua cabeça como se fosse explodir. Ele está furioso
comigo? Não consigo entender sua raiva, mas transborda
para fora de sua boca de novo, espetando como espinhos,
neste momento.
— Se você não consegue entender os termos deste
acordo, então eu temo que nós não tenhamos um.
— O quê? — Sento-me e giro em torno, de modo que
estou de frente para as suas costas.
Bryan se vira, e a tensão que está estampada no seu
rosto é horrível. Eu encontro o seu olhar, mas eu não posso
olha-lo sem querer corrigir o que está fazendo com ele. Todas
as imagens na imprensa mostram a versão de Bryan que eu
conhecia, leve e despreocupado, mas este homem, aqui, não é
nenhuma dessas coisas. Algo está esmagando-o de dentro
para fora e deixando-o em pedaços. Seu corpo está tremendo,
ele está tão bravo. Ele tenta respirar fundo, mas isso só faz o
seu rosto ficar mais apertado.
— Você me ouviu. Se você não fizer as coisas do meu
jeito, eu vou arruinar você. Este não é o meu jeito, você sabe
muito bem disso. Saia daqui.
Ele não grita, mas suas palavras me fazem tremer. Não
há calor, não há compaixão. Talvez eu não o conheça mais e
ele está certo. Apertando os lábios, eu engulo minha resposta,
mas esta incha dentro de mim e enche meu peito. Eu peguei
meus sapatos saltos de volta e calcei em meus pés cansados
antes de levantar. Eu ando mais e pego minha bolsa.
Eu deveria sair. A vozinha dentro de mim canta como
um duende com uma voz agradável, sim, vá. Faça isso.
Agora.
Meus olhos estão fixos na porta como se fosse o
caminho para o inferno. Algo sobre sair agora parece errado,
mas não posso entender sobre o que está prendendo meus
pés no lugar. Caramba, é o pensamento que está me
segurando. Ele está me prendendo aqui e eu não posso me
mover. Parece como engolir o vômito e eu não posso fazê-lo.
Eu sou o cérebro danificado, mas não posso ser algo que não sou.
Girando sobre meus pés, eu atravesso o piso acarpetado
e elegante, e caminho até ele. Bryan não se vira para olhar
para mim. Em vez disso, suas mãos estão segurando a parte
superior do bar como se ele quisesse arrancá-lo da parede.
Suas costas estão curvadas e sua cabeça está pendurada
entre os ombros, como se ele estivesse tentando não me
rasgar em pedaços. Outra mulher teria corrido agora mesmo,
mas eu sou a dopada que anda mais perto.
— Eu sou uma idiota, — eu digo, enquanto olho para os
meus sapatos, e rio de leve. É o tipo de som que não tem
alegria e revela uma alma torturada. Meus olhos levantam
para seus ombros. Eu fico lá por um momento esperando que
ele se vire, mas ele não vira. Bryan não fala ou levanta o
olhar. Ele permanece debruçado sobre o bar como um troll 1.
Eu continuo, — vê-lo hoje à noite foi terrível e
maravilhoso. Isso evocou memórias e sentimentos que eu
tinha tempo esquecido há muito. Escrever sobre, é uma
coisa, mas vê-lo novamente está além das palavras.
Desculpe-me se eu o machuquei, mesmo que eu não entenda
o que eu fiz. E seu eu pudesse corrigir. Eu...
Por que estou fazendo isso? Eu estou me desculpando
com as suas costas, o homem não tem sequer a decência de
se virar e encarar-me. Eu respiro fundo e endireito a minha
espinha.
— As pessoas cometem erros, Bryan, e parece que o
meu maior erro foi conhecê-lo.
1
Troll – é uma gíria que designa uma pessoa cujo comportamento tende sistematicamente a desestabilizar uma
discussão, provocar e enfurecer as pessoas envolvidas nela. Há trolls de todo tipo, desde o mais ignorante e rude
que xinga e provoca, até o mais apto intelectualmente que discursa com o objetivo de desestabilizar o interlocutor
e levá-lo a fúria, para depois desqualificá-lo, matando seu argumento e abalando sua reputação.
A fúria me inunda quando eu corro pela sala. Eu agarro
a maçaneta da porta e não olho para trás, apesar de sentir
seus olhos em mim. Dane-se ele. Eu vivi coisas piores. Eu
digo essas palavras uma e outra vez, porque aconteceu.
Depois corro pelo corredor, aperto o botão para baixo no
elevador uma e outra vez, perguntando por que eu estou tão
chateada. Depois de um momento, eu sinto o pensamento
picar os meus olhos e apertar a minha garganta e eu sei
exatamente por que estou tão chateada.
É possível que as coisas estejam invertidas, e como eu
não conhecesse o verdadeiro Bryan Ferro, aquele com quem
dormi todos esses anos, era o falso.
CAPÍTULO 2
Eu não posso ir para casa e enfrentar Neil, por isso eu
telefono para Maggie. Ela atende no terceiro toque. Eu estou
andando na rua em frente ao hotel com o meu telefone
pressionado ao meu ouvido. É tarde e escuro. Evitando as
sombras, eu ando mais perto da rua do que no hotel.
— Maggie. — Eu tento esconder a tensão na minha voz,
mas ela ouve. Nós nos conhecemos há muito tempo. — Vou
tirar suas bolas fora.
— O que diabo aconteceu? Onde você está? — Ela me
enche de perguntas, até que eu possa finalmente fazê-la calar
a boca.
— Eu preciso de um lugar para dormir. Eu não posso
ver Neil agora e eu não tenho outro lugar para ir.
Maggie fica em silêncio.
— O que é meu, é seu. Você sabe disso, mas eu não
tenho certeza que você vá gostar.
— Em qualquer lugar é melhor do que aqui ou com Neil.
— Eu sinto uma náusea fazendo seu caminho até a minha
garganta. Lágrimas estão chegando, e tenho a sensação de
que vai ser um maremoto.
— Claro, claro. Eu estarei aí em cinco minutos.
— A linha de Maggie desliga, e eu fecho o meu telefone e
o coloco em minha bolsa.
A cidade se move em torno de mim, mas parece que eu
estou em uma bolha. As pessoas passam na calçada, mas eu
não as noto. Eu passeio, perdida em pensamentos, agarrando
minha bolsa perto do meu corpo. O ar da noite tem aquele
cheiro que é distintamente de Nova York. Eu o inspiro e
quando me viro, quase bato em alguém. O cara é uma
parede, de marrom e preto. Seu casaco tem cheiro de cigarros
velhos e naftalina.
Antes de eu ter tempo para descobrir o que está
acontecendo, ele pega a minha bolsa, em seguida, coloca a
mão no centro do meu peito e me empurra, com força. Eu
grito, tropeço e caio para trás, enquanto minha bolsa é
arrancada de minhas mãos. O cara se vira e está pronto para
correr, mas eu não estou com disposição para perder a bolsa.
Eu estou fodidamente quebrada. Todo o dinheiro que eu
tenho está lá dentro.
Antes que eu saiba o que estou fazendo, eu pego um dos
meus sapatos de salto alto e atiro em sua cabeça. Acerto e ele
cai na calçada. Poucas pessoas param para assistir, mas
ninguém faz nada - típico dos nova-iorquinos. Todo mundo
quer ver, mas ninguém ajuda.
Nesse ponto, tudo acontece em câmera lenta. Eu estou
em pé, mesmo que eu não me lembre de ficar pé. Um pé está
congelado, sobre o cimento frio, enquanto o outro ainda está
calçado. O ladrão levanta a mão e bota na parte de trás de
sua cabeça e puxa-a. Ele olha para os seus dedos, seus olhos
escuros apreciando o sangue vermelho e pegajoso em sua
mão. A ponta do meu salto que bateu com a parte traseira de
seu couro cabeludo, deve tê-lo cortado.
Meu coração para, quando o sujeito se vira para mim.
Seus olhos têm um olhar enlouquecido e os ombros tremem
como se ele fosse me rasgar ao meio.
— Você. — Ele diz isso como se fosse o meu nome e ele
me odeia.
O homem dá passos em direção a mim e fala
novamente, mas suas mãos lentamente movem para cima,
como se ele fosse me atacar ou me estrangular. Eu suspiro
alguma coisa, mas ele não sai antes de eu dar um passo para
trás, aterrorizada. Meu pulso ruge em meus ouvidos, então
olho em volta a procura de ajuda, mas não vejo ninguém. A
multidão se afastou, ou talvez eu tenha ido embora. Onde
está um policial quando eu preciso de um?
O resto acontece freneticamente rápido. Alguém grita
comigo, enquanto o homem procura o meu pescoço. Eu caio,
mas ele pega no meu ombro. Ele aperta-me com força,
fazendo com que o meu pescoço estale para trás enquanto ele
grita na minha cara.
— Sua pequena vadia!
O resto de suas palavras se tornam zumbidos, enquanto
ele me aperta mais. Estou ciente do vento, do ar da noite, e
do homem que está me estrangulando. Em algum momento,
as mãos deslizam até o pescoço. Eu agarro em suas mãos e
tento gritar, mas não sai nada. Eu não entendo por que
ninguém nos vê, por que eles simplesmente deixam esse
ladrão me machucar.
Balançando as minhas pernas, eu o chuto, mas não
adianta. Eu não sou forte o suficiente. Eu tentei tudo o que
sabia fazer e nada funcionou. O homem me atira e bate
minhas costas contra uma parede de tijolos. O frio me sacode
e me pergunto como chegamos ao beco ao lado do hotel, mas
os pensamentos cessam quando vejo o olhar em seus olhos.
Um sorriso mal aparece em seu rosto quando ele rasga o
ombro do meu vestido. O tecido sai em sua mão e permite
que o vestido deslizar alguns centímetros.
Abro a boca para gritar, mas sua mão imunda me cobre,
impedindo a saída do som. Sua mão me tateia, sentindo
meus seios enquanto ele sussurra em meu ouvido todas as
coisas horríveis que ele pretende fazer comigo. — Então, eu
vou levar a minha faca e... — Suas palavras desagradáveis
param imediatamente, após o som do estalar de madeira.
Assim como, de repente, a mão no meu pescoço se foi e
eu suspiro em uma respiração trêmula e olho para cima. Está
muito escuro para ver, mas há um homem vestido de
smoking, avançando sobre o ladrão. Ele lança socos uma e
outra vez, até que eles estão na parte de trás do beco, presos
por uma parede de tijolos. O ladrão é espancado e sangra,
mas ele não para de lutar. Nem o homem de smoking. Ele
distribui socos como um boxeador, tanto assim que é
hipnótico assistir. Quando a faca aparece, eu esperava que as
coisas se transformassem em favor do ladrão, mas isso não
acontece. O homem de smoking desarma o idiota e toma a
arma. Aconteceu tão rápido que eu não posso dizer como foi
feito. O homem de smoking recua seu braço como se
estivesse para empurrar a faca no peito do cara.
— Pare! — Eu chamo antes de perceber o que estou
fazendo. Uma das minhas mãos está segurando meu vestido
no busto e a outra está mal tocando meus lábios. Eu não
posso ver o cara morrer, mas eu não consigo desviar o olhar
também.
O homem de smoking não para. Um grito tremendo sai
dilacerado da minha garganta quando ele bate a faca no
ombro do ladrão. O bandido pega no seu braço e desliza para
baixo da parede, segurando seu ombro enquanto o casaco
fica encharcado de sangue. Ele olha diretamente para mim
com raiva.
O homem de smoking chuta o ladrão uma vez, e uma
voz familiar disse:
— Vá embora.
Eu tremo quando ouço isso, porque eu sei quem é ele,
Bryan. Ele deve ter me seguido. O medo agarra e azeda
dentro do meu estômago, enquanto eu olho para as suas
costas. Bryan não vira o rosto para mim. O ladrão comprime
os lábios e se levanta do chão do beco. Ele faz o seu caminho
passando por mim, e não diz nada.
Um tremor se apodera de mim e escorre pela minha
espinha, me fazendo ofegar. É quando ele se vira. O rosto de
Bryan está pálido e coberto de um brilho fino de suor. Ele
caminha de volta para mim e eu posso ver onde ele tomou
algumas pancadas. Há um rasgo em sua camisa, sob a lapela
do paletó, onde a faca cortou antes Bryan tomá-la do ladrão.
Passo a passo, ele caminha em minha direção, e eu
estou mais assustada por Bryan que qualquer coisa que já
encontrei. O que foi isso? Ele teria matado o homem se eu
não tivesse gritado? Eu não consigo parar de tremer.
Bryan alcança os meus ombros para me firmar, e eu
sinto aquele choque familiar que acompanha o seu toque.
Seu polegar esfrega suavemente sobre minha pele. — Você
está bem?
Mas, é muito. Eu não posso. Eu não posso. Eu não posso.
O pensamento não faz sentido, mas eu sei que tenho que
fazer com que ele me liberte. Seu toque tem uma maneira de
me desfazer, e eu estou caindo aos pedaços. Recuso-me a
deixá-lo ser o único a testemunhar isso. Eu empurro para
longe, e aceno com a cabeça rapidamente.
— Eu estou bem.
As mãos de Bryan permanecem paradas no ar por um
momento, antes de ele abaixa-las junto com seu olhar. Ele
observa o chão por um segundo e quando ele levanta o
queixo, vejo um sorriso nos seus lábios.
— Mentirosa. Você está longe de estar bem, mas eu
estou contente que você esteja parada.
Eu fico olhando para ele, incapaz de encontrar uma
resposta. Sua voz soa carinhosa, quase arrependida. Ele olha
por cima do meu ombro para alguém e, em seguida, diz:
— A sua carona está aqui. Da próxima vez, não tente
derrubar um assaltante por si mesmo.
Eu falo sem querer, mas as palavras saem e caem fora.
— Da próxima vez, não mate um homem por roubar minha
bolsa.
O canto dos lábios de Bryan puxa para cima, como se
quisesse sorrir, mas ele não sorri.
— Eu não iria matar um homem por roubar uma bolsa.
Que tipo de pessoa você acha que eu sou?
— Honestamente, eu não sei mais. Eu achava que sabia,
mas depois disso... — Eu balanço minha cabeça e fico sem
palavras. Bryan mudou o ataque no último segundo. Essa
faca não estava voltada para o ombro do homem — estava
dirigida para o seu coração. — Você ia matá-lo. Eu vi, você
não pode me dizer que não iria.
Bryan se inclina mais perto, e quando ele fala seu hálito
quente sussurra contra a minha orelha.
— Talvez, mas não foi porque ele pegou sua bolsa. — Ele
se inclina para trás e desliza as mãos nos bolsos, enquanto
seus olhos verdes me percorrem. — Ninguém toca em você,
enquanto você está comigo.
— Eu engulo em seco e olho para ele, com o coração
ainda disparando.
Maggie aparece atrás de mim um segundo depois. Ela
pega meu ombro e me vira.
— Hallie, diabo está acontecendo, e por que você está
aqui no beco sozinha? — Ela vê a maneira que eu estou
segurando meu vestido e o tecido rasgado. A preocupação
persiste em seu rosto, esperando pela minha resposta.
— Eu não estou sozinha, — mas quando me viro para
olhar, Bryan já se foi.
CAPÍTULO 3
Eu estive em um casulo de tristeza e este evento o
quebrou. Minha atordoada indiferença fratura e estilhaça,
como vidro barato. Eu olho para a bolsa presa em minha mão
e me pergunto o que há de errado comigo, mas ainda mais,
eu não consigo parar de pensar em Bryan, como ele veio do
nada e quase matou o homem que tentou me machucar.
Pare de pensar assim, eu me repreendo. Bryan agiu
como um lunático. A imagem de Bryan esfaqueando o cara
persiste através dos meus olhos mais uma vez e faz o meu
estômago embrulhar.
Maggie está falando, mas eu não disse muito. Estamos
em seu velho Ford Escort. A coisa corre mal, mas eu não
posso reclamar. Eu nem mesmo tenho um carro, não mais.
Maggie olha para mim por trás do volante, enquanto suas
mãos o seguram com firmeza.
— Hallie, se você estiver com vontade de vomitar, baixe
a janela. Aqui já cheira estranho o suficiente. — Ela está
certa, o carro tem um odor não identificável que está lá desde
que ela comprou.
— Eu estou bem, — eu digo novamente, embora seja
uma mentira. Meus braços envolvem meu peito para
esconder como minhas mãos tremem.
— Ah, Hallie, eu sei que você não quer falar e que está
tudo bem, mas eu quero informa-la sobre a minha nova casa.
— Eu olho para ela, sem entender o que ela quer dizer.
Maggie me dá um sorriso tímido e encolhe os ombros até as
suas orelhas, enquanto dirige. — Vamos apenas dizer que
não é algo que você aprovaria.
Eu não tenho paciência para lidar com seus enigmas
neste momento. A vida de Maggie é mais difícil do que a
minha, e eu sei disso, mas ela nunca tinha escondido coisas
de mim antes. Desta vez, é claro que ela escondeu, e isso me
preocupa. As únicas coisas que eu desaprovo são as que
possam matá-la. A menina não tem nenhum senso. Às vezes
me pergunto sobre ela, e como ela escolhe o que faz. Sorrio
sem jeito e olho para o tapete sujo no chão, que alguma vez
foi azul.
— O que é tão engraçado? — Maggie parece indignada,
como se eu a tivesse ofendido.
— Nada. Vamos apenas dizer que, se você soubesse o
que eu estava fazendo esta noite, você não se sentiria tão na
defensiva. Tenho certeza de que sua casa é boa.
Maggie se tranquiliza. Ela suspira quando vira em uma
rua lateral e começamos a fazer o nosso caminho através de
um bairro degradado. As casas são marcadas e branqueadas
pelo Sol, com gramados mortos, mas os carros são
customizados e caros. Mesmo que seja tarde, as pessoas
movem-se, sem fazer nada. Eu olho para a minha porta,
querendo trancá-la, mas eu não me mexo. Enquanto nós
rodamos passando pelos grupos de pessoas, os olhos deles
viram e nos assistem passar, antes de voltar para o que eles
estavam fazendo.
Maggie finalmente diz: — Não é muito, mas acho que
vale a pena.
— Você não tem que defender o seu apartamento para
mim, Maggie. Eu sou uma maldita sem-teto. — Eu olho para
ela e inclino a cabeça para trás no assento. Minhas palavras
não a consolam, então eu acrescento: — Além disso, eu não
sou uma garota-propaganda da moralidade, também. Você
não vai acreditar no que eu fiz hoje à noite, e o que eu vou
fazer. — Minha voz falha e eu balanço a cabeça, pensando
nos lábios de Bryan. Estou horrorizada por reagir da maneira
como o faço, mesmo que com a memória.
Ela ri uma vez, rapidamente. — Sim, certo. Hallie, você
nunca faz nada de mau. Estúpido, sim. Mau, não.
Eu olho para fora da janela e não vejo nada. As casas
deram lugar a apartamentos que se estendem para o céu na
noite. Fachadas de tijolos já viram dias melhores. Muitos
parecem vazios, como se ninguém vivesse lá, por muitos
anos. Meu peito se aperta e eu me contorço na cadeira. Meu
Deus, ela mora aqui? Por que ela não me contou? Há carros
queimados, latas de lixo viradas e entulho, tudo espalhado
por toda parte. Parece que a rua foi saqueada e esquecida,
assim como Maggie.
Segundas decisões são as que mudam vidas. Eu faço a
minha e cuspo fora antes de me acovardar.
— Bryan Ferro está me chantageando. Se eu não dormir
com ele sempre que ele quiser, vai dizer às pessoas que ele é
o cara no livro e fazer o que for preciso para me arruinar. Ele
disse que ia usar tudo o que tem contra mim e me deu um
ultimato.
Os grandes olhos de Maggie viram em minha direção,
com o queixo caído e boca aberta.
— Puta merda! Quando isso aconteceu? Como você vai
detê-lo? — Ela pisca para mim e vira os olhos de volta para a
estrada, embora eu saiba que ela não quer.
Esta é a parte que me faz sentir um lixo. Eu não sou
quem ela pensa que eu sou. Eu não tenho uma estrutura
moral de aço. Eu não posso nem olhar para ela.
— Esta noite eu acabei fazendo o anúncio do prêmio no
show com ele, e então ele me encontrou no banquete. — Eu
digo. Eu tento fazer a minha boca mover-se para formar as
palavras, mas não vão sair.
— De jeito nenhum. — Ela estaciona em um parque de
estacionamento que parece que foi usado como um local de
explosão da força aérea e desliga o carro. — Pegue suas
coisas e tranque a porta. — Eu faço como ela diz e me
apresso atrás dela. — Mantenha seus olhos baixos e me siga.
Não fale ou olhe para ninguém.
Entramos no lado de um desses prédios de tijolos
antigos e subimos alguns lances de escadas, até o quarto
andar. No momento que chegamos ao seu andar, eu quero
jogar o resto do meu sapato para fora da janela. Eu poderia,
não há vidro no painel. Eu a sigo, até a porta e por um longo
corredor mal iluminado. Nós paramos em frente à sua porta.
Enquanto ela se atrapalha com a chave, a porta contrária à
dela se abre. Um homem pálido, com cabelo loiro descolorido
e vestindo uma camiseta regata branca e cueca está lá e olha
para nós. Eu posso sentir seus olhos nas minhas costas. Ele
se inclina contra o batente da porta e cruza os braços sobre o
peito.
Quando ele fala, soa rouco, como se ele fumasse um
maço de cigarros todos os dias desde que ele tinha dois anos
de idade. — Trouxe-me outra?
— Não, — Maggie diz com firmeza. Ela não se vira para
olhar para o cara. Se eu não a conhecesse melhor, eu acharia
que ela estava com medo dele. Eu não aguento mais stress
esta noite. Meu cérebro parece que vai partir em dois, antes
que eu murche e morra. Maggie pega a chave para abrir, mas
porta emperra. Ela chuta uma vez com o pé e a porta mexe
ligeiramente. — Maldita porta, — ela murmura.
— Qual é o seu nome, docinho? — O cara está falando
comigo. Viro-me e olho por cima do ombro, e nossos olhos se
encontram. Ele envia um olhar frio para mim, ao ver o jeito
como ele está olhando de soslaio. O cara é enorme, ele é todo
músculos e agora ele está sorrindo para mim, revelando uma
coroa de ouro em seu dente canino.
— Oi, — eu digo timidamente, e arrumo o meu cabelo
para atrás da minha orelha, tentando evitar o olhar dele
enquanto não respondo sua pergunta.
Enquanto o cara está de boca aberta, Maggie chuta na
porta. A porta se abre, ela agarra meu braço e me puxa. Eu
sigo, voando atrás dela enquanto ela grita por cima do ombro,
— eu vou lhe trazer alguém amanhã, eu juro. Boa noite, Vic.
— Ela bate a porta com o pé e parece abalada.
Seu apartamento é aproximadamente o mesmo tamanho
de um pequeno corredor. Há uma pequena janela com uma
folha grampeada sobre ela e sem móveis. Algumas das roupas
de Maggie estão jogadas ao redor do lugar, como se ela
tivesse saído com pressa. Se eu morasse aqui, eu iria embora
rapidamente, também.
— Obrigado por me deixar ficar com você.
— Sim, não há problema. É uma merda como este é o
pior lugar que eu já vivi, mas é um refúgio. Eu durmo aqui e,
em seguida, dou o fora. O aluguel não é horrível. — Ela
oferece um sorriso torto, mas é franco.
Eu preciso dela, e não há um muro entre nós. Ela acha
que eu sou perfeita, mas eu não sou. Eu fiz coisas que ela
não sabe. As palavras estão na minha língua e eu enrolo-as
em torno de minha boca, tentando descobrir como dizer isso,
enquanto a Maggie tagarela, enchendo o ambiente com sua
voz.
Um casal está brigando nas proximidades, e o som está
cada vez mais alto. Estão lutando, eu não quero dizer
discutindo. Há coisas batendo nas paredes e quebrando.
Chove gesso para baixo sobre nós como flocos de neve
quando algo cai de cima. Maggie olha horrorizada quando ela
puxa sua cama Murphy 2 para baixo da parede. Tomando
quase toda a sala. — Você pode dormir aqui. Eu vou dormir
no chão.
— Não.
Ela sorri. — Não seja boba, você é minha convidada. —
Palavrões ressoam acima de nós quando um homem irritado
grita. É prontamente seguido de um grito agudo. Maggie
morde as unhas do jeito que ela fazia quando éramos
crianças e olha em volta, como se ela desejasse poder
queimar o lugar.
2
— Eu não vou fazer você dormir no chão, mas há outra
coisa que eu preciso lhe dizer.
— Maggie olha para mim por debaixo de sua massa de
cabelo vermelho. Eu sou sua única amiga de verdade, sua
única família e ela a minha. Deus, o que é que ela vai pensar
de mim quando eu lhe disser o que eu concordei em fazer?
Eu não acho que eu vou ser capaz de suportá-lo. Meus
braços ainda estão dobrados sobre o peito, com as mãos
firmemente aninhadas nos meus braços.
— Hallie, qual o problema? — Maggie deixa de fazer a
cama e se senta. Ela dá um tapinha no lugar ao lado dela e
me sento.
Olhando para frente, eu engulo em seco e digo a ela.
— Eu disse que sim. — Você disse sim para o quê?
Hallie, você não está fazendo sentido, do que você está
falando?
Quando me viro para olhar para ela, e encontro com
aqueles grandes olhos verdes e sinto medo. Minha pele fica
arrepiada, mas eu não consigo desviar o olhar.
— Eu disse a Bryan Ferro que sim. Eu cedi. Ele ganhou
e eu perdi.
— O quê? — Ela está furiosa, pronta para voar para fora
do seu assento e defender-me até a morte.
Eu coloco minha mão no colo dela para fazê-la parar. —
Eu fui ao seu quarto de hotel para dizer-lhe para ir chupar
um prego, mas eu mudei de ideia quando ouvi sua voz. Eu
pensei que algo estava errado e esta era a sua maneira de
merda para me dizer. Conheci-o uma vez, pelo menos eu
pensei que tinha conhecido. Então, quando eu estava
esperando por você do lado de fora, eu... — minha voz está
trêmula e eu não posso mais esconder o meu horror, — um
cara tentou roubar minha bolsa. Para encurtar a história, ele
me pegou por trás do prédio e ia me machucar. Bryan
apareceu e ele... — Eu não posso dizer isso. Meu Bryan
perfeito fez algo que era tão diferente dele, tão terrivelmente
selvagem, que eu não sei o que pensar. Ele me protegeu, mas
ainda parece errado.
— Ele a machucou? — Maggie está furiosa, eu posso
ouvir em sua voz. Mas a forma como ela fala suas palavras
ondulando entre muito alta e baixa, dão a deixa.
— Não, ele atacou o homem, e esfaqueou-o. Se eu não
dissesse a Bryan para parar, acho que ele teria matado o
cara. — Olho para ela, mas eu não posso mais enxergar.
Meus olhos têm brilham com lágrimas que tudo fica
desfocado.
Maggie ergue os braços e eu caio neles. Ela sempre foi
como uma irmã para mim. Estivemos sempre uma para a
outra, e eu temo que a história com Bryan e o que eu me
tornei vá fazê-la me odiar. Meu pai teria vergonha de me
chamar de filha, e eu espero o mesmo de Maggie. Em vez
disso, ela fica lá no colchão gasto e me acalma.
Depois de um forte abraço, ela libera meus ombros e
pega meu queixo. — Você e eu passamos por tudo juntas.
Não pense que eu a estou socorrendo por causa disso. Se não
for por qualquer coisa, a vida fica mais interessante, isso é
tudo.
Eu enxugo as lágrimas dos meus olhos e rio, porque ela
está tão errada. — Esse é o eufemismo do ano.
— O meu ponto é, eu estou aqui por você. Eu sempre
estarei aqui para você. — Ela bate no meu ombro com a dela.
— Então, Bryan Ferro tem um lado negro por trás de todo o
brilho e deslumbre?
— Aparentemente.
— Foi divertido ou ele fez coisas estranhas?
Eu sorrio e limpo meus olhos novamente. — Não, não
hoje à noite de qualquer maneira. Ele me chamou para seu
quarto, eu fui, e nos beijamos. Então, ele me mandou ir
embora.
Os lábios de Maggie puxaram um pouco para cima. —
Ele a jogou para fora? Mas que inferno...?
— Eu não sei. É como se ele estivesse louco e deixando o
Hulk sair ou algo assim. Ele não olhava para mim. As coisas
estavam quentes e pesadas até então. — A intuição continua
me dizendo que algo estava errado, mas não posso entender o
quê.
Maggie sorri: — Ele foi melhor do que Neil, certo?
Eu faço uma careta e olhou para ela como se ela fosse
louca. — Uh, Bryan está me chantageando.
— E ele é mais quente do que Neil. Vá em frente, diga.
Eu sou sua amiga, então eu já sei.
Eu baixei meus olhos em direção ao chão e não disse
nada. Eu não tenho que dizer nada, a minha expressão diz
tudo. Bryan é muito mais quente do que Neil, não há
comparação. Os dois homens são noite e dia, e Bryan é a
noite sexy. Neil a voz racional que soa como o FDA 3,
lembrando-me de fazer todas as coisas com moderação, mas
não todas as coisas, somente as ações que ele aprova. Droga.
Eu enterro meu rosto em minhas mãos e suspiro.
Maggie acaricia minhas costas. — Está tudo bem.
Qualquer um é mais quente do que Neil. Não se sinta
culpada, mas eu não contaria exatamente ao Senhor Calças
Perfeitamente Passadas. Ele vai surtar ao saber que alguém
tocou em você. — Maggie está tirando as roupas e puxando
uma camisa de dormir e calças, enquanto ela fala.
— Na verdade, Neil sabe.
3 FDA - Food and Drug Administration - Agencia reguladora de remédios e alimentos.
— O quê? — Ela está pulando em um pé, tentando
enfiar o pé pela perna da calça e cai. — Como é que ele sabe?
Você disse que acabou de acontecer.
— Neil sabe por que foi ele quem me disse para fazer
isso.
CONTINUA
Bryan está de queixo caído e boca aberta, com aqueles olhos verdes semicerrados, em chamas. Fúria e choque não parecem bons para ele. As emoções distorcem seu belo rosto,
estragam as linhas suaves de sua pele, fazendo-o parecer bem mais velho. Seus punhos estão fechados, apertados em seus lados, mas ele pisca uma vez e a reação diminui. Há muitas coisas que eu não sei sobre Bryan Ferro, mas uma coisa eu sei, ele é uma merda em manter as coisas escondidas. Seus pensamentos dançam em seu rosto de vez em quando, e é por isso que ele está desconfiado de mim.
Virando abruptamente, Bryan pressiona seus dedos em sua têmpora direita. Sua voz sai como um grunhido.
— Eu lhe disse para ir embora.
— Seus ombros estão tensos, cada músculo está apertado a ponto de eu poder ver as curvas de seu corpo sob essa camisa. Ele flexiona a mão que está ao seu lado antes de deslizar em seu bolso. Bryan pode ser capaz de esconder tudo, de todos os outros, mas não de mim.
— Sim, eu ouvi essa parte. — Eu ajo como se eu não me importasse, deito-me no tapete, e dobro as minhas mãos atrás da minha cabeça. O piso é suave e difuso. Levanto os meus joelhos, eu deixo a queda do meu vestido em torno dos meus tornozelos e até meus pés, para sentir a pilha macia entre os dedos dos pés. O tapete no meu antigo quarto parecia como um saco de batata, em relação a este material.
Mesmo com Bryan irado, eu estou sorrindo. A vozinha na parte de trás da minha cabeça me diz que eu perdi minha mente. Eu respondo de volta que eu nunca tive um controle firme sobre isso de qualquer maneira.
https://img.comunidades.net/bib/bibliotecasemlimites/2_A_PROPOSI_O.jpg
Bryan pode ver meu reflexo no espelho, mas eu não
posso ver mais do que as suas costas e a maneira como ele
agarra sua cabeça como se fosse explodir. Ele está furioso
comigo? Não consigo entender sua raiva, mas transborda
para fora de sua boca de novo, espetando como espinhos,
neste momento.
— Se você não consegue entender os termos deste
acordo, então eu temo que nós não tenhamos um.
— O quê? — Sento-me e giro em torno, de modo que
estou de frente para as suas costas.
Bryan se vira, e a tensão que está estampada no seu
rosto é horrível. Eu encontro o seu olhar, mas eu não posso
olha-lo sem querer corrigir o que está fazendo com ele. Todas
as imagens na imprensa mostram a versão de Bryan que eu
conhecia, leve e despreocupado, mas este homem, aqui, não é
nenhuma dessas coisas. Algo está esmagando-o de dentro
para fora e deixando-o em pedaços. Seu corpo está tremendo,
ele está tão bravo. Ele tenta respirar fundo, mas isso só faz o
seu rosto ficar mais apertado.
— Você me ouviu. Se você não fizer as coisas do meu
jeito, eu vou arruinar você. Este não é o meu jeito, você sabe
muito bem disso. Saia daqui.
Ele não grita, mas suas palavras me fazem tremer. Não
há calor, não há compaixão. Talvez eu não o conheça mais e
ele está certo. Apertando os lábios, eu engulo minha resposta,
mas esta incha dentro de mim e enche meu peito. Eu peguei
meus sapatos saltos de volta e calcei em meus pés cansados
antes de levantar. Eu ando mais e pego minha bolsa.
Eu deveria sair. A vozinha dentro de mim canta como
um duende com uma voz agradável, sim, vá. Faça isso.
Agora.
Meus olhos estão fixos na porta como se fosse o
caminho para o inferno. Algo sobre sair agora parece errado,
mas não posso entender sobre o que está prendendo meus
pés no lugar. Caramba, é o pensamento que está me
segurando. Ele está me prendendo aqui e eu não posso me
mover. Parece como engolir o vômito e eu não posso fazê-lo.
Eu sou o cérebro danificado, mas não posso ser algo que não sou.
Girando sobre meus pés, eu atravesso o piso acarpetado
e elegante, e caminho até ele. Bryan não se vira para olhar
para mim. Em vez disso, suas mãos estão segurando a parte
superior do bar como se ele quisesse arrancá-lo da parede.
Suas costas estão curvadas e sua cabeça está pendurada
entre os ombros, como se ele estivesse tentando não me
rasgar em pedaços. Outra mulher teria corrido agora mesmo,
mas eu sou a dopada que anda mais perto.
— Eu sou uma idiota, — eu digo, enquanto olho para os
meus sapatos, e rio de leve. É o tipo de som que não tem
alegria e revela uma alma torturada. Meus olhos levantam
para seus ombros. Eu fico lá por um momento esperando que
ele se vire, mas ele não vira. Bryan não fala ou levanta o
olhar. Ele permanece debruçado sobre o bar como um troll 1.
Eu continuo, — vê-lo hoje à noite foi terrível e
maravilhoso. Isso evocou memórias e sentimentos que eu
tinha tempo esquecido há muito. Escrever sobre, é uma
coisa, mas vê-lo novamente está além das palavras.
Desculpe-me se eu o machuquei, mesmo que eu não entenda
o que eu fiz. E seu eu pudesse corrigir. Eu...
Por que estou fazendo isso? Eu estou me desculpando
com as suas costas, o homem não tem sequer a decência de
se virar e encarar-me. Eu respiro fundo e endireito a minha
espinha.
— As pessoas cometem erros, Bryan, e parece que o
meu maior erro foi conhecê-lo.
1
Troll – é uma gíria que designa uma pessoa cujo comportamento tende sistematicamente a desestabilizar uma
discussão, provocar e enfurecer as pessoas envolvidas nela. Há trolls de todo tipo, desde o mais ignorante e rude
que xinga e provoca, até o mais apto intelectualmente que discursa com o objetivo de desestabilizar o interlocutor
e levá-lo a fúria, para depois desqualificá-lo, matando seu argumento e abalando sua reputação.
A fúria me inunda quando eu corro pela sala. Eu agarro
a maçaneta da porta e não olho para trás, apesar de sentir
seus olhos em mim. Dane-se ele. Eu vivi coisas piores. Eu
digo essas palavras uma e outra vez, porque aconteceu.
Depois corro pelo corredor, aperto o botão para baixo no
elevador uma e outra vez, perguntando por que eu estou tão
chateada. Depois de um momento, eu sinto o pensamento
picar os meus olhos e apertar a minha garganta e eu sei
exatamente por que estou tão chateada.
É possível que as coisas estejam invertidas, e como eu
não conhecesse o verdadeiro Bryan Ferro, aquele com quem
dormi todos esses anos, era o falso.
CAPÍTULO 2
Eu não posso ir para casa e enfrentar Neil, por isso eu
telefono para Maggie. Ela atende no terceiro toque. Eu estou
andando na rua em frente ao hotel com o meu telefone
pressionado ao meu ouvido. É tarde e escuro. Evitando as
sombras, eu ando mais perto da rua do que no hotel.
— Maggie. — Eu tento esconder a tensão na minha voz,
mas ela ouve. Nós nos conhecemos há muito tempo. — Vou
tirar suas bolas fora.
— O que diabo aconteceu? Onde você está? — Ela me
enche de perguntas, até que eu possa finalmente fazê-la calar
a boca.
— Eu preciso de um lugar para dormir. Eu não posso
ver Neil agora e eu não tenho outro lugar para ir.
Maggie fica em silêncio.
— O que é meu, é seu. Você sabe disso, mas eu não
tenho certeza que você vá gostar.
— Em qualquer lugar é melhor do que aqui ou com Neil.
— Eu sinto uma náusea fazendo seu caminho até a minha
garganta. Lágrimas estão chegando, e tenho a sensação de
que vai ser um maremoto.
— Claro, claro. Eu estarei aí em cinco minutos.
— A linha de Maggie desliga, e eu fecho o meu telefone e
o coloco em minha bolsa.
A cidade se move em torno de mim, mas parece que eu
estou em uma bolha. As pessoas passam na calçada, mas eu
não as noto. Eu passeio, perdida em pensamentos, agarrando
minha bolsa perto do meu corpo. O ar da noite tem aquele
cheiro que é distintamente de Nova York. Eu o inspiro e
quando me viro, quase bato em alguém. O cara é uma
parede, de marrom e preto. Seu casaco tem cheiro de cigarros
velhos e naftalina.
Antes de eu ter tempo para descobrir o que está
acontecendo, ele pega a minha bolsa, em seguida, coloca a
mão no centro do meu peito e me empurra, com força. Eu
grito, tropeço e caio para trás, enquanto minha bolsa é
arrancada de minhas mãos. O cara se vira e está pronto para
correr, mas eu não estou com disposição para perder a bolsa.
Eu estou fodidamente quebrada. Todo o dinheiro que eu
tenho está lá dentro.
Antes que eu saiba o que estou fazendo, eu pego um dos
meus sapatos de salto alto e atiro em sua cabeça. Acerto e ele
cai na calçada. Poucas pessoas param para assistir, mas
ninguém faz nada - típico dos nova-iorquinos. Todo mundo
quer ver, mas ninguém ajuda.
Nesse ponto, tudo acontece em câmera lenta. Eu estou
em pé, mesmo que eu não me lembre de ficar pé. Um pé está
congelado, sobre o cimento frio, enquanto o outro ainda está
calçado. O ladrão levanta a mão e bota na parte de trás de
sua cabeça e puxa-a. Ele olha para os seus dedos, seus olhos
escuros apreciando o sangue vermelho e pegajoso em sua
mão. A ponta do meu salto que bateu com a parte traseira de
seu couro cabeludo, deve tê-lo cortado.
Meu coração para, quando o sujeito se vira para mim.
Seus olhos têm um olhar enlouquecido e os ombros tremem
como se ele fosse me rasgar ao meio.
— Você. — Ele diz isso como se fosse o meu nome e ele
me odeia.
O homem dá passos em direção a mim e fala
novamente, mas suas mãos lentamente movem para cima,
como se ele fosse me atacar ou me estrangular. Eu suspiro
alguma coisa, mas ele não sai antes de eu dar um passo para
trás, aterrorizada. Meu pulso ruge em meus ouvidos, então
olho em volta a procura de ajuda, mas não vejo ninguém. A
multidão se afastou, ou talvez eu tenha ido embora. Onde
está um policial quando eu preciso de um?
O resto acontece freneticamente rápido. Alguém grita
comigo, enquanto o homem procura o meu pescoço. Eu caio,
mas ele pega no meu ombro. Ele aperta-me com força,
fazendo com que o meu pescoço estale para trás enquanto ele
grita na minha cara.
— Sua pequena vadia!
O resto de suas palavras se tornam zumbidos, enquanto
ele me aperta mais. Estou ciente do vento, do ar da noite, e
do homem que está me estrangulando. Em algum momento,
as mãos deslizam até o pescoço. Eu agarro em suas mãos e
tento gritar, mas não sai nada. Eu não entendo por que
ninguém nos vê, por que eles simplesmente deixam esse
ladrão me machucar.
Balançando as minhas pernas, eu o chuto, mas não
adianta. Eu não sou forte o suficiente. Eu tentei tudo o que
sabia fazer e nada funcionou. O homem me atira e bate
minhas costas contra uma parede de tijolos. O frio me sacode
e me pergunto como chegamos ao beco ao lado do hotel, mas
os pensamentos cessam quando vejo o olhar em seus olhos.
Um sorriso mal aparece em seu rosto quando ele rasga o
ombro do meu vestido. O tecido sai em sua mão e permite
que o vestido deslizar alguns centímetros.
Abro a boca para gritar, mas sua mão imunda me cobre,
impedindo a saída do som. Sua mão me tateia, sentindo
meus seios enquanto ele sussurra em meu ouvido todas as
coisas horríveis que ele pretende fazer comigo. — Então, eu
vou levar a minha faca e... — Suas palavras desagradáveis
param imediatamente, após o som do estalar de madeira.
Assim como, de repente, a mão no meu pescoço se foi e
eu suspiro em uma respiração trêmula e olho para cima. Está
muito escuro para ver, mas há um homem vestido de
smoking, avançando sobre o ladrão. Ele lança socos uma e
outra vez, até que eles estão na parte de trás do beco, presos
por uma parede de tijolos. O ladrão é espancado e sangra,
mas ele não para de lutar. Nem o homem de smoking. Ele
distribui socos como um boxeador, tanto assim que é
hipnótico assistir. Quando a faca aparece, eu esperava que as
coisas se transformassem em favor do ladrão, mas isso não
acontece. O homem de smoking desarma o idiota e toma a
arma. Aconteceu tão rápido que eu não posso dizer como foi
feito. O homem de smoking recua seu braço como se
estivesse para empurrar a faca no peito do cara.
— Pare! — Eu chamo antes de perceber o que estou
fazendo. Uma das minhas mãos está segurando meu vestido
no busto e a outra está mal tocando meus lábios. Eu não
posso ver o cara morrer, mas eu não consigo desviar o olhar
também.
O homem de smoking não para. Um grito tremendo sai
dilacerado da minha garganta quando ele bate a faca no
ombro do ladrão. O bandido pega no seu braço e desliza para
baixo da parede, segurando seu ombro enquanto o casaco
fica encharcado de sangue. Ele olha diretamente para mim
com raiva.
O homem de smoking chuta o ladrão uma vez, e uma
voz familiar disse:
— Vá embora.
Eu tremo quando ouço isso, porque eu sei quem é ele,
Bryan. Ele deve ter me seguido. O medo agarra e azeda
dentro do meu estômago, enquanto eu olho para as suas
costas. Bryan não vira o rosto para mim. O ladrão comprime
os lábios e se levanta do chão do beco. Ele faz o seu caminho
passando por mim, e não diz nada.
Um tremor se apodera de mim e escorre pela minha
espinha, me fazendo ofegar. É quando ele se vira. O rosto de
Bryan está pálido e coberto de um brilho fino de suor. Ele
caminha de volta para mim e eu posso ver onde ele tomou
algumas pancadas. Há um rasgo em sua camisa, sob a lapela
do paletó, onde a faca cortou antes Bryan tomá-la do ladrão.
Passo a passo, ele caminha em minha direção, e eu
estou mais assustada por Bryan que qualquer coisa que já
encontrei. O que foi isso? Ele teria matado o homem se eu
não tivesse gritado? Eu não consigo parar de tremer.
Bryan alcança os meus ombros para me firmar, e eu
sinto aquele choque familiar que acompanha o seu toque.
Seu polegar esfrega suavemente sobre minha pele. — Você
está bem?
Mas, é muito. Eu não posso. Eu não posso. Eu não posso.
O pensamento não faz sentido, mas eu sei que tenho que
fazer com que ele me liberte. Seu toque tem uma maneira de
me desfazer, e eu estou caindo aos pedaços. Recuso-me a
deixá-lo ser o único a testemunhar isso. Eu empurro para
longe, e aceno com a cabeça rapidamente.
— Eu estou bem.
As mãos de Bryan permanecem paradas no ar por um
momento, antes de ele abaixa-las junto com seu olhar. Ele
observa o chão por um segundo e quando ele levanta o
queixo, vejo um sorriso nos seus lábios.
— Mentirosa. Você está longe de estar bem, mas eu
estou contente que você esteja parada.
Eu fico olhando para ele, incapaz de encontrar uma
resposta. Sua voz soa carinhosa, quase arrependida. Ele olha
por cima do meu ombro para alguém e, em seguida, diz:
— A sua carona está aqui. Da próxima vez, não tente
derrubar um assaltante por si mesmo.
Eu falo sem querer, mas as palavras saem e caem fora.
— Da próxima vez, não mate um homem por roubar minha
bolsa.
O canto dos lábios de Bryan puxa para cima, como se
quisesse sorrir, mas ele não sorri.
— Eu não iria matar um homem por roubar uma bolsa.
Que tipo de pessoa você acha que eu sou?
— Honestamente, eu não sei mais. Eu achava que sabia,
mas depois disso... — Eu balanço minha cabeça e fico sem
palavras. Bryan mudou o ataque no último segundo. Essa
faca não estava voltada para o ombro do homem — estava
dirigida para o seu coração. — Você ia matá-lo. Eu vi, você
não pode me dizer que não iria.
Bryan se inclina mais perto, e quando ele fala seu hálito
quente sussurra contra a minha orelha.
— Talvez, mas não foi porque ele pegou sua bolsa. — Ele
se inclina para trás e desliza as mãos nos bolsos, enquanto
seus olhos verdes me percorrem. — Ninguém toca em você,
enquanto você está comigo.
— Eu engulo em seco e olho para ele, com o coração
ainda disparando.
Maggie aparece atrás de mim um segundo depois. Ela
pega meu ombro e me vira.
— Hallie, diabo está acontecendo, e por que você está
aqui no beco sozinha? — Ela vê a maneira que eu estou
segurando meu vestido e o tecido rasgado. A preocupação
persiste em seu rosto, esperando pela minha resposta.
— Eu não estou sozinha, — mas quando me viro para
olhar, Bryan já se foi.
CAPÍTULO 3
Eu estive em um casulo de tristeza e este evento o
quebrou. Minha atordoada indiferença fratura e estilhaça,
como vidro barato. Eu olho para a bolsa presa em minha mão
e me pergunto o que há de errado comigo, mas ainda mais,
eu não consigo parar de pensar em Bryan, como ele veio do
nada e quase matou o homem que tentou me machucar.
Pare de pensar assim, eu me repreendo. Bryan agiu
como um lunático. A imagem de Bryan esfaqueando o cara
persiste através dos meus olhos mais uma vez e faz o meu
estômago embrulhar.
Maggie está falando, mas eu não disse muito. Estamos
em seu velho Ford Escort. A coisa corre mal, mas eu não
posso reclamar. Eu nem mesmo tenho um carro, não mais.
Maggie olha para mim por trás do volante, enquanto suas
mãos o seguram com firmeza.
— Hallie, se você estiver com vontade de vomitar, baixe
a janela. Aqui já cheira estranho o suficiente. — Ela está
certa, o carro tem um odor não identificável que está lá desde
que ela comprou.
— Eu estou bem, — eu digo novamente, embora seja
uma mentira. Meus braços envolvem meu peito para
esconder como minhas mãos tremem.
— Ah, Hallie, eu sei que você não quer falar e que está
tudo bem, mas eu quero informa-la sobre a minha nova casa.
— Eu olho para ela, sem entender o que ela quer dizer.
Maggie me dá um sorriso tímido e encolhe os ombros até as
suas orelhas, enquanto dirige. — Vamos apenas dizer que
não é algo que você aprovaria.
Eu não tenho paciência para lidar com seus enigmas
neste momento. A vida de Maggie é mais difícil do que a
minha, e eu sei disso, mas ela nunca tinha escondido coisas
de mim antes. Desta vez, é claro que ela escondeu, e isso me
preocupa. As únicas coisas que eu desaprovo são as que
possam matá-la. A menina não tem nenhum senso. Às vezes
me pergunto sobre ela, e como ela escolhe o que faz. Sorrio
sem jeito e olho para o tapete sujo no chão, que alguma vez
foi azul.
— O que é tão engraçado? — Maggie parece indignada,
como se eu a tivesse ofendido.
— Nada. Vamos apenas dizer que, se você soubesse o
que eu estava fazendo esta noite, você não se sentiria tão na
defensiva. Tenho certeza de que sua casa é boa.
Maggie se tranquiliza. Ela suspira quando vira em uma
rua lateral e começamos a fazer o nosso caminho através de
um bairro degradado. As casas são marcadas e branqueadas
pelo Sol, com gramados mortos, mas os carros são
customizados e caros. Mesmo que seja tarde, as pessoas
movem-se, sem fazer nada. Eu olho para a minha porta,
querendo trancá-la, mas eu não me mexo. Enquanto nós
rodamos passando pelos grupos de pessoas, os olhos deles
viram e nos assistem passar, antes de voltar para o que eles
estavam fazendo.
Maggie finalmente diz: — Não é muito, mas acho que
vale a pena.
— Você não tem que defender o seu apartamento para
mim, Maggie. Eu sou uma maldita sem-teto. — Eu olho para
ela e inclino a cabeça para trás no assento. Minhas palavras
não a consolam, então eu acrescento: — Além disso, eu não
sou uma garota-propaganda da moralidade, também. Você
não vai acreditar no que eu fiz hoje à noite, e o que eu vou
fazer. — Minha voz falha e eu balanço a cabeça, pensando
nos lábios de Bryan. Estou horrorizada por reagir da maneira
como o faço, mesmo que com a memória.
Ela ri uma vez, rapidamente. — Sim, certo. Hallie, você
nunca faz nada de mau. Estúpido, sim. Mau, não.
Eu olho para fora da janela e não vejo nada. As casas
deram lugar a apartamentos que se estendem para o céu na
noite. Fachadas de tijolos já viram dias melhores. Muitos
parecem vazios, como se ninguém vivesse lá, por muitos
anos. Meu peito se aperta e eu me contorço na cadeira. Meu
Deus, ela mora aqui? Por que ela não me contou? Há carros
queimados, latas de lixo viradas e entulho, tudo espalhado
por toda parte. Parece que a rua foi saqueada e esquecida,
assim como Maggie.
Segundas decisões são as que mudam vidas. Eu faço a
minha e cuspo fora antes de me acovardar.
— Bryan Ferro está me chantageando. Se eu não dormir
com ele sempre que ele quiser, vai dizer às pessoas que ele é
o cara no livro e fazer o que for preciso para me arruinar. Ele
disse que ia usar tudo o que tem contra mim e me deu um
ultimato.
Os grandes olhos de Maggie viram em minha direção,
com o queixo caído e boca aberta.
— Puta merda! Quando isso aconteceu? Como você vai
detê-lo? — Ela pisca para mim e vira os olhos de volta para a
estrada, embora eu saiba que ela não quer.
Esta é a parte que me faz sentir um lixo. Eu não sou
quem ela pensa que eu sou. Eu não tenho uma estrutura
moral de aço. Eu não posso nem olhar para ela.
— Esta noite eu acabei fazendo o anúncio do prêmio no
show com ele, e então ele me encontrou no banquete. — Eu
digo. Eu tento fazer a minha boca mover-se para formar as
palavras, mas não vão sair.
— De jeito nenhum. — Ela estaciona em um parque de
estacionamento que parece que foi usado como um local de
explosão da força aérea e desliga o carro. — Pegue suas
coisas e tranque a porta. — Eu faço como ela diz e me
apresso atrás dela. — Mantenha seus olhos baixos e me siga.
Não fale ou olhe para ninguém.
Entramos no lado de um desses prédios de tijolos
antigos e subimos alguns lances de escadas, até o quarto
andar. No momento que chegamos ao seu andar, eu quero
jogar o resto do meu sapato para fora da janela. Eu poderia,
não há vidro no painel. Eu a sigo, até a porta e por um longo
corredor mal iluminado. Nós paramos em frente à sua porta.
Enquanto ela se atrapalha com a chave, a porta contrária à
dela se abre. Um homem pálido, com cabelo loiro descolorido
e vestindo uma camiseta regata branca e cueca está lá e olha
para nós. Eu posso sentir seus olhos nas minhas costas. Ele
se inclina contra o batente da porta e cruza os braços sobre o
peito.
Quando ele fala, soa rouco, como se ele fumasse um
maço de cigarros todos os dias desde que ele tinha dois anos
de idade. — Trouxe-me outra?
— Não, — Maggie diz com firmeza. Ela não se vira para
olhar para o cara. Se eu não a conhecesse melhor, eu acharia
que ela estava com medo dele. Eu não aguento mais stress
esta noite. Meu cérebro parece que vai partir em dois, antes
que eu murche e morra. Maggie pega a chave para abrir, mas
porta emperra. Ela chuta uma vez com o pé e a porta mexe
ligeiramente. — Maldita porta, — ela murmura.
— Qual é o seu nome, docinho? — O cara está falando
comigo. Viro-me e olho por cima do ombro, e nossos olhos se
encontram. Ele envia um olhar frio para mim, ao ver o jeito
como ele está olhando de soslaio. O cara é enorme, ele é todo
músculos e agora ele está sorrindo para mim, revelando uma
coroa de ouro em seu dente canino.
— Oi, — eu digo timidamente, e arrumo o meu cabelo
para atrás da minha orelha, tentando evitar o olhar dele
enquanto não respondo sua pergunta.
Enquanto o cara está de boca aberta, Maggie chuta na
porta. A porta se abre, ela agarra meu braço e me puxa. Eu
sigo, voando atrás dela enquanto ela grita por cima do ombro,
— eu vou lhe trazer alguém amanhã, eu juro. Boa noite, Vic.
— Ela bate a porta com o pé e parece abalada.
Seu apartamento é aproximadamente o mesmo tamanho
de um pequeno corredor. Há uma pequena janela com uma
folha grampeada sobre ela e sem móveis. Algumas das roupas
de Maggie estão jogadas ao redor do lugar, como se ela
tivesse saído com pressa. Se eu morasse aqui, eu iria embora
rapidamente, também.
— Obrigado por me deixar ficar com você.
— Sim, não há problema. É uma merda como este é o
pior lugar que eu já vivi, mas é um refúgio. Eu durmo aqui e,
em seguida, dou o fora. O aluguel não é horrível. — Ela
oferece um sorriso torto, mas é franco.
Eu preciso dela, e não há um muro entre nós. Ela acha
que eu sou perfeita, mas eu não sou. Eu fiz coisas que ela
não sabe. As palavras estão na minha língua e eu enrolo-as
em torno de minha boca, tentando descobrir como dizer isso,
enquanto a Maggie tagarela, enchendo o ambiente com sua
voz.
Um casal está brigando nas proximidades, e o som está
cada vez mais alto. Estão lutando, eu não quero dizer
discutindo. Há coisas batendo nas paredes e quebrando.
Chove gesso para baixo sobre nós como flocos de neve
quando algo cai de cima. Maggie olha horrorizada quando ela
puxa sua cama Murphy 2 para baixo da parede. Tomando
quase toda a sala. — Você pode dormir aqui. Eu vou dormir
no chão.
— Não.
Ela sorri. — Não seja boba, você é minha convidada. —
Palavrões ressoam acima de nós quando um homem irritado
grita. É prontamente seguido de um grito agudo. Maggie
morde as unhas do jeito que ela fazia quando éramos
crianças e olha em volta, como se ela desejasse poder
queimar o lugar.
2
— Eu não vou fazer você dormir no chão, mas há outra
coisa que eu preciso lhe dizer.
— Maggie olha para mim por debaixo de sua massa de
cabelo vermelho. Eu sou sua única amiga de verdade, sua
única família e ela a minha. Deus, o que é que ela vai pensar
de mim quando eu lhe disser o que eu concordei em fazer?
Eu não acho que eu vou ser capaz de suportá-lo. Meus
braços ainda estão dobrados sobre o peito, com as mãos
firmemente aninhadas nos meus braços.
— Hallie, qual o problema? — Maggie deixa de fazer a
cama e se senta. Ela dá um tapinha no lugar ao lado dela e
me sento.
Olhando para frente, eu engulo em seco e digo a ela.
— Eu disse que sim. — Você disse sim para o quê?
Hallie, você não está fazendo sentido, do que você está
falando?
Quando me viro para olhar para ela, e encontro com
aqueles grandes olhos verdes e sinto medo. Minha pele fica
arrepiada, mas eu não consigo desviar o olhar.
— Eu disse a Bryan Ferro que sim. Eu cedi. Ele ganhou
e eu perdi.
— O quê? — Ela está furiosa, pronta para voar para fora
do seu assento e defender-me até a morte.
Eu coloco minha mão no colo dela para fazê-la parar. —
Eu fui ao seu quarto de hotel para dizer-lhe para ir chupar
um prego, mas eu mudei de ideia quando ouvi sua voz. Eu
pensei que algo estava errado e esta era a sua maneira de
merda para me dizer. Conheci-o uma vez, pelo menos eu
pensei que tinha conhecido. Então, quando eu estava
esperando por você do lado de fora, eu... — minha voz está
trêmula e eu não posso mais esconder o meu horror, — um
cara tentou roubar minha bolsa. Para encurtar a história, ele
me pegou por trás do prédio e ia me machucar. Bryan
apareceu e ele... — Eu não posso dizer isso. Meu Bryan
perfeito fez algo que era tão diferente dele, tão terrivelmente
selvagem, que eu não sei o que pensar. Ele me protegeu, mas
ainda parece errado.
— Ele a machucou? — Maggie está furiosa, eu posso
ouvir em sua voz. Mas a forma como ela fala suas palavras
ondulando entre muito alta e baixa, dão a deixa.
— Não, ele atacou o homem, e esfaqueou-o. Se eu não
dissesse a Bryan para parar, acho que ele teria matado o
cara. — Olho para ela, mas eu não posso mais enxergar.
Meus olhos têm brilham com lágrimas que tudo fica
desfocado.
Maggie ergue os braços e eu caio neles. Ela sempre foi
como uma irmã para mim. Estivemos sempre uma para a
outra, e eu temo que a história com Bryan e o que eu me
tornei vá fazê-la me odiar. Meu pai teria vergonha de me
chamar de filha, e eu espero o mesmo de Maggie. Em vez
disso, ela fica lá no colchão gasto e me acalma.
Depois de um forte abraço, ela libera meus ombros e
pega meu queixo. — Você e eu passamos por tudo juntas.
Não pense que eu a estou socorrendo por causa disso. Se não
for por qualquer coisa, a vida fica mais interessante, isso é
tudo.
Eu enxugo as lágrimas dos meus olhos e rio, porque ela
está tão errada. — Esse é o eufemismo do ano.
— O meu ponto é, eu estou aqui por você. Eu sempre
estarei aqui para você. — Ela bate no meu ombro com a dela.
— Então, Bryan Ferro tem um lado negro por trás de todo o
brilho e deslumbre?
— Aparentemente.
— Foi divertido ou ele fez coisas estranhas?
Eu sorrio e limpo meus olhos novamente. — Não, não
hoje à noite de qualquer maneira. Ele me chamou para seu
quarto, eu fui, e nos beijamos. Então, ele me mandou ir
embora.
Os lábios de Maggie puxaram um pouco para cima. —
Ele a jogou para fora? Mas que inferno...?
— Eu não sei. É como se ele estivesse louco e deixando o
Hulk sair ou algo assim. Ele não olhava para mim. As coisas
estavam quentes e pesadas até então. — A intuição continua
me dizendo que algo estava errado, mas não posso entender o
quê.
Maggie sorri: — Ele foi melhor do que Neil, certo?
Eu faço uma careta e olhou para ela como se ela fosse
louca. — Uh, Bryan está me chantageando.
— E ele é mais quente do que Neil. Vá em frente, diga.
Eu sou sua amiga, então eu já sei.
Eu baixei meus olhos em direção ao chão e não disse
nada. Eu não tenho que dizer nada, a minha expressão diz
tudo. Bryan é muito mais quente do que Neil, não há
comparação. Os dois homens são noite e dia, e Bryan é a
noite sexy. Neil a voz racional que soa como o FDA 3,
lembrando-me de fazer todas as coisas com moderação, mas
não todas as coisas, somente as ações que ele aprova. Droga.
Eu enterro meu rosto em minhas mãos e suspiro.
Maggie acaricia minhas costas. — Está tudo bem.
Qualquer um é mais quente do que Neil. Não se sinta
culpada, mas eu não contaria exatamente ao Senhor Calças
Perfeitamente Passadas. Ele vai surtar ao saber que alguém
tocou em você. — Maggie está tirando as roupas e puxando
uma camisa de dormir e calças, enquanto ela fala.
— Na verdade, Neil sabe.
3 FDA - Food and Drug Administration - Agencia reguladora de remédios e alimentos.
— O quê? — Ela está pulando em um pé, tentando
enfiar o pé pela perna da calça e cai. — Como é que ele sabe?
Você disse que acabou de acontecer.
— Neil sabe por que foi ele quem me disse para fazer
isso.
CONTINUA
Bryan está de queixo caído e boca aberta, com aqueles olhos verdes semicerrados, em chamas. Fúria e choque não parecem bons para ele. As emoções distorcem seu belo rosto,
estragam as linhas suaves de sua pele, fazendo-o parecer bem mais velho. Seus punhos estão fechados, apertados em seus lados, mas ele pisca uma vez e a reação diminui. Há muitas coisas que eu não sei sobre Bryan Ferro, mas uma coisa eu sei, ele é uma merda em manter as coisas escondidas. Seus pensamentos dançam em seu rosto de vez em quando, e é por isso que ele está desconfiado de mim.
Virando abruptamente, Bryan pressiona seus dedos em sua têmpora direita. Sua voz sai como um grunhido.
— Eu lhe disse para ir embora.
— Seus ombros estão tensos, cada músculo está apertado a ponto de eu poder ver as curvas de seu corpo sob essa camisa. Ele flexiona a mão que está ao seu lado antes de deslizar em seu bolso. Bryan pode ser capaz de esconder tudo, de todos os outros, mas não de mim.
— Sim, eu ouvi essa parte. — Eu ajo como se eu não me importasse, deito-me no tapete, e dobro as minhas mãos atrás da minha cabeça. O piso é suave e difuso. Levanto os meus joelhos, eu deixo a queda do meu vestido em torno dos meus tornozelos e até meus pés, para sentir a pilha macia entre os dedos dos pés. O tapete no meu antigo quarto parecia como um saco de batata, em relação a este material.
Mesmo com Bryan irado, eu estou sorrindo. A vozinha na parte de trás da minha cabeça me diz que eu perdi minha mente. Eu respondo de volta que eu nunca tive um controle firme sobre isso de qualquer maneira.
https://img.comunidades.net/bib/bibliotecasemlimites/2_A_PROPOSI_O.jpg
Bryan pode ver meu reflexo no espelho, mas eu não
posso ver mais do que as suas costas e a maneira como ele
agarra sua cabeça como se fosse explodir. Ele está furioso
comigo? Não consigo entender sua raiva, mas transborda
para fora de sua boca de novo, espetando como espinhos,
neste momento.
— Se você não consegue entender os termos deste
acordo, então eu temo que nós não tenhamos um.
— O quê? — Sento-me e giro em torno, de modo que
estou de frente para as suas costas.
Bryan se vira, e a tensão que está estampada no seu
rosto é horrível. Eu encontro o seu olhar, mas eu não posso
olha-lo sem querer corrigir o que está fazendo com ele. Todas
as imagens na imprensa mostram a versão de Bryan que eu
conhecia, leve e despreocupado, mas este homem, aqui, não é
nenhuma dessas coisas. Algo está esmagando-o de dentro
para fora e deixando-o em pedaços. Seu corpo está tremendo,
ele está tão bravo. Ele tenta respirar fundo, mas isso só faz o
seu rosto ficar mais apertado.
— Você me ouviu. Se você não fizer as coisas do meu
jeito, eu vou arruinar você. Este não é o meu jeito, você sabe
muito bem disso. Saia daqui.
Ele não grita, mas suas palavras me fazem tremer. Não
há calor, não há compaixão. Talvez eu não o conheça mais e
ele está certo. Apertando os lábios, eu engulo minha resposta,
mas esta incha dentro de mim e enche meu peito. Eu peguei
meus sapatos saltos de volta e calcei em meus pés cansados
antes de levantar. Eu ando mais e pego minha bolsa.
Eu deveria sair. A vozinha dentro de mim canta como
um duende com uma voz agradável, sim, vá. Faça isso.
Agora.
Meus olhos estão fixos na porta como se fosse o
caminho para o inferno. Algo sobre sair agora parece errado,
mas não posso entender sobre o que está prendendo meus
pés no lugar. Caramba, é o pensamento que está me
segurando. Ele está me prendendo aqui e eu não posso me
mover. Parece como engolir o vômito e eu não posso fazê-lo.
Eu sou o cérebro danificado, mas não posso ser algo que não sou.
Girando sobre meus pés, eu atravesso o piso acarpetado
e elegante, e caminho até ele. Bryan não se vira para olhar
para mim. Em vez disso, suas mãos estão segurando a parte
superior do bar como se ele quisesse arrancá-lo da parede.
Suas costas estão curvadas e sua cabeça está pendurada
entre os ombros, como se ele estivesse tentando não me
rasgar em pedaços. Outra mulher teria corrido agora mesmo,
mas eu sou a dopada que anda mais perto.
— Eu sou uma idiota, — eu digo, enquanto olho para os
meus sapatos, e rio de leve. É o tipo de som que não tem
alegria e revela uma alma torturada. Meus olhos levantam
para seus ombros. Eu fico lá por um momento esperando que
ele se vire, mas ele não vira. Bryan não fala ou levanta o
olhar. Ele permanece debruçado sobre o bar como um troll 1.
Eu continuo, — vê-lo hoje à noite foi terrível e
maravilhoso. Isso evocou memórias e sentimentos que eu
tinha tempo esquecido há muito. Escrever sobre, é uma
coisa, mas vê-lo novamente está além das palavras.
Desculpe-me se eu o machuquei, mesmo que eu não entenda
o que eu fiz. E seu eu pudesse corrigir. Eu...
Por que estou fazendo isso? Eu estou me desculpando
com as suas costas, o homem não tem sequer a decência de
se virar e encarar-me. Eu respiro fundo e endireito a minha
espinha.
— As pessoas cometem erros, Bryan, e parece que o
meu maior erro foi conhecê-lo.
1
Troll – é uma gíria que designa uma pessoa cujo comportamento tende sistematicamente a desestabilizar uma
discussão, provocar e enfurecer as pessoas envolvidas nela. Há trolls de todo tipo, desde o mais ignorante e rude
que xinga e provoca, até o mais apto intelectualmente que discursa com o objetivo de desestabilizar o interlocutor
e levá-lo a fúria, para depois desqualificá-lo, matando seu argumento e abalando sua reputação.
A fúria me inunda quando eu corro pela sala. Eu agarro
a maçaneta da porta e não olho para trás, apesar de sentir
seus olhos em mim. Dane-se ele. Eu vivi coisas piores. Eu
digo essas palavras uma e outra vez, porque aconteceu.
Depois corro pelo corredor, aperto o botão para baixo no
elevador uma e outra vez, perguntando por que eu estou tão
chateada. Depois de um momento, eu sinto o pensamento
picar os meus olhos e apertar a minha garganta e eu sei
exatamente por que estou tão chateada.
É possível que as coisas estejam invertidas, e como eu
não conhecesse o verdadeiro Bryan Ferro, aquele com quem
dormi todos esses anos, era o falso.
CAPÍTULO 2
Eu não posso ir para casa e enfrentar Neil, por isso eu
telefono para Maggie. Ela atende no terceiro toque. Eu estou
andando na rua em frente ao hotel com o meu telefone
pressionado ao meu ouvido. É tarde e escuro. Evitando as
sombras, eu ando mais perto da rua do que no hotel.
— Maggie. — Eu tento esconder a tensão na minha voz,
mas ela ouve. Nós nos conhecemos há muito tempo. — Vou
tirar suas bolas fora.
— O que diabo aconteceu? Onde você está? — Ela me
enche de perguntas, até que eu possa finalmente fazê-la calar
a boca.
— Eu preciso de um lugar para dormir. Eu não posso
ver Neil agora e eu não tenho outro lugar para ir.
Maggie fica em silêncio.
— O que é meu, é seu. Você sabe disso, mas eu não
tenho certeza que você vá gostar.
— Em qualquer lugar é melhor do que aqui ou com Neil.
— Eu sinto uma náusea fazendo seu caminho até a minha
garganta. Lágrimas estão chegando, e tenho a sensação de
que vai ser um maremoto.
— Claro, claro. Eu estarei aí em cinco minutos.
— A linha de Maggie desliga, e eu fecho o meu telefone e
o coloco em minha bolsa.
A cidade se move em torno de mim, mas parece que eu
estou em uma bolha. As pessoas passam na calçada, mas eu
não as noto. Eu passeio, perdida em pensamentos, agarrando
minha bolsa perto do meu corpo. O ar da noite tem aquele
cheiro que é distintamente de Nova York. Eu o inspiro e
quando me viro, quase bato em alguém. O cara é uma
parede, de marrom e preto. Seu casaco tem cheiro de cigarros
velhos e naftalina.
Antes de eu ter tempo para descobrir o que está
acontecendo, ele pega a minha bolsa, em seguida, coloca a
mão no centro do meu peito e me empurra, com força. Eu
grito, tropeço e caio para trás, enquanto minha bolsa é
arrancada de minhas mãos. O cara se vira e está pronto para
correr, mas eu não estou com disposição para perder a bolsa.
Eu estou fodidamente quebrada. Todo o dinheiro que eu
tenho está lá dentro.
Antes que eu saiba o que estou fazendo, eu pego um dos
meus sapatos de salto alto e atiro em sua cabeça. Acerto e ele
cai na calçada. Poucas pessoas param para assistir, mas
ninguém faz nada - típico dos nova-iorquinos. Todo mundo
quer ver, mas ninguém ajuda.
Nesse ponto, tudo acontece em câmera lenta. Eu estou
em pé, mesmo que eu não me lembre de ficar pé. Um pé está
congelado, sobre o cimento frio, enquanto o outro ainda está
calçado. O ladrão levanta a mão e bota na parte de trás de
sua cabeça e puxa-a. Ele olha para os seus dedos, seus olhos
escuros apreciando o sangue vermelho e pegajoso em sua
mão. A ponta do meu salto que bateu com a parte traseira de
seu couro cabeludo, deve tê-lo cortado.
Meu coração para, quando o sujeito se vira para mim.
Seus olhos têm um olhar enlouquecido e os ombros tremem
como se ele fosse me rasgar ao meio.
— Você. — Ele diz isso como se fosse o meu nome e ele
me odeia.
O homem dá passos em direção a mim e fala
novamente, mas suas mãos lentamente movem para cima,
como se ele fosse me atacar ou me estrangular. Eu suspiro
alguma coisa, mas ele não sai antes de eu dar um passo para
trás, aterrorizada. Meu pulso ruge em meus ouvidos, então
olho em volta a procura de ajuda, mas não vejo ninguém. A
multidão se afastou, ou talvez eu tenha ido embora. Onde
está um policial quando eu preciso de um?
O resto acontece freneticamente rápido. Alguém grita
comigo, enquanto o homem procura o meu pescoço. Eu caio,
mas ele pega no meu ombro. Ele aperta-me com força,
fazendo com que o meu pescoço estale para trás enquanto ele
grita na minha cara.
— Sua pequena vadia!
O resto de suas palavras se tornam zumbidos, enquanto
ele me aperta mais. Estou ciente do vento, do ar da noite, e
do homem que está me estrangulando. Em algum momento,
as mãos deslizam até o pescoço. Eu agarro em suas mãos e
tento gritar, mas não sai nada. Eu não entendo por que
ninguém nos vê, por que eles simplesmente deixam esse
ladrão me machucar.
Balançando as minhas pernas, eu o chuto, mas não
adianta. Eu não sou forte o suficiente. Eu tentei tudo o que
sabia fazer e nada funcionou. O homem me atira e bate
minhas costas contra uma parede de tijolos. O frio me sacode
e me pergunto como chegamos ao beco ao lado do hotel, mas
os pensamentos cessam quando vejo o olhar em seus olhos.
Um sorriso mal aparece em seu rosto quando ele rasga o
ombro do meu vestido. O tecido sai em sua mão e permite
que o vestido deslizar alguns centímetros.
Abro a boca para gritar, mas sua mão imunda me cobre,
impedindo a saída do som. Sua mão me tateia, sentindo
meus seios enquanto ele sussurra em meu ouvido todas as
coisas horríveis que ele pretende fazer comigo. — Então, eu
vou levar a minha faca e... — Suas palavras desagradáveis
param imediatamente, após o som do estalar de madeira.
Assim como, de repente, a mão no meu pescoço se foi e
eu suspiro em uma respiração trêmula e olho para cima. Está
muito escuro para ver, mas há um homem vestido de
smoking, avançando sobre o ladrão. Ele lança socos uma e
outra vez, até que eles estão na parte de trás do beco, presos
por uma parede de tijolos. O ladrão é espancado e sangra,
mas ele não para de lutar. Nem o homem de smoking. Ele
distribui socos como um boxeador, tanto assim que é
hipnótico assistir. Quando a faca aparece, eu esperava que as
coisas se transformassem em favor do ladrão, mas isso não
acontece. O homem de smoking desarma o idiota e toma a
arma. Aconteceu tão rápido que eu não posso dizer como foi
feito. O homem de smoking recua seu braço como se
estivesse para empurrar a faca no peito do cara.
— Pare! — Eu chamo antes de perceber o que estou
fazendo. Uma das minhas mãos está segurando meu vestido
no busto e a outra está mal tocando meus lábios. Eu não
posso ver o cara morrer, mas eu não consigo desviar o olhar
também.
O homem de smoking não para. Um grito tremendo sai
dilacerado da minha garganta quando ele bate a faca no
ombro do ladrão. O bandido pega no seu braço e desliza para
baixo da parede, segurando seu ombro enquanto o casaco
fica encharcado de sangue. Ele olha diretamente para mim
com raiva.
O homem de smoking chuta o ladrão uma vez, e uma
voz familiar disse:
— Vá embora.
Eu tremo quando ouço isso, porque eu sei quem é ele,
Bryan. Ele deve ter me seguido. O medo agarra e azeda
dentro do meu estômago, enquanto eu olho para as suas
costas. Bryan não vira o rosto para mim. O ladrão comprime
os lábios e se levanta do chão do beco. Ele faz o seu caminho
passando por mim, e não diz nada.
Um tremor se apodera de mim e escorre pela minha
espinha, me fazendo ofegar. É quando ele se vira. O rosto de
Bryan está pálido e coberto de um brilho fino de suor. Ele
caminha de volta para mim e eu posso ver onde ele tomou
algumas pancadas. Há um rasgo em sua camisa, sob a lapela
do paletó, onde a faca cortou antes Bryan tomá-la do ladrão.
Passo a passo, ele caminha em minha direção, e eu
estou mais assustada por Bryan que qualquer coisa que já
encontrei. O que foi isso? Ele teria matado o homem se eu
não tivesse gritado? Eu não consigo parar de tremer.
Bryan alcança os meus ombros para me firmar, e eu
sinto aquele choque familiar que acompanha o seu toque.
Seu polegar esfrega suavemente sobre minha pele. — Você
está bem?
Mas, é muito. Eu não posso. Eu não posso. Eu não posso.
O pensamento não faz sentido, mas eu sei que tenho que
fazer com que ele me liberte. Seu toque tem uma maneira de
me desfazer, e eu estou caindo aos pedaços. Recuso-me a
deixá-lo ser o único a testemunhar isso. Eu empurro para
longe, e aceno com a cabeça rapidamente.
— Eu estou bem.
As mãos de Bryan permanecem paradas no ar por um
momento, antes de ele abaixa-las junto com seu olhar. Ele
observa o chão por um segundo e quando ele levanta o
queixo, vejo um sorriso nos seus lábios.
— Mentirosa. Você está longe de estar bem, mas eu
estou contente que você esteja parada.
Eu fico olhando para ele, incapaz de encontrar uma
resposta. Sua voz soa carinhosa, quase arrependida. Ele olha
por cima do meu ombro para alguém e, em seguida, diz:
— A sua carona está aqui. Da próxima vez, não tente
derrubar um assaltante por si mesmo.
Eu falo sem querer, mas as palavras saem e caem fora.
— Da próxima vez, não mate um homem por roubar minha
bolsa.
O canto dos lábios de Bryan puxa para cima, como se
quisesse sorrir, mas ele não sorri.
— Eu não iria matar um homem por roubar uma bolsa.
Que tipo de pessoa você acha que eu sou?
— Honestamente, eu não sei mais. Eu achava que sabia,
mas depois disso... — Eu balanço minha cabeça e fico sem
palavras. Bryan mudou o ataque no último segundo. Essa
faca não estava voltada para o ombro do homem — estava
dirigida para o seu coração. — Você ia matá-lo. Eu vi, você
não pode me dizer que não iria.
Bryan se inclina mais perto, e quando ele fala seu hálito
quente sussurra contra a minha orelha.
— Talvez, mas não foi porque ele pegou sua bolsa. — Ele
se inclina para trás e desliza as mãos nos bolsos, enquanto
seus olhos verdes me percorrem. — Ninguém toca em você,
enquanto você está comigo.
— Eu engulo em seco e olho para ele, com o coração
ainda disparando.
Maggie aparece atrás de mim um segundo depois. Ela
pega meu ombro e me vira.
— Hallie, diabo está acontecendo, e por que você está
aqui no beco sozinha? — Ela vê a maneira que eu estou
segurando meu vestido e o tecido rasgado. A preocupação
persiste em seu rosto, esperando pela minha resposta.
— Eu não estou sozinha, — mas quando me viro para
olhar, Bryan já se foi.
CAPÍTULO 3
Eu estive em um casulo de tristeza e este evento o
quebrou. Minha atordoada indiferença fratura e estilhaça,
como vidro barato. Eu olho para a bolsa presa em minha mão
e me pergunto o que há de errado comigo, mas ainda mais,
eu não consigo parar de pensar em Bryan, como ele veio do
nada e quase matou o homem que tentou me machucar.
Pare de pensar assim, eu me repreendo. Bryan agiu
como um lunático. A imagem de Bryan esfaqueando o cara
persiste através dos meus olhos mais uma vez e faz o meu
estômago embrulhar.
Maggie está falando, mas eu não disse muito. Estamos
em seu velho Ford Escort. A coisa corre mal, mas eu não
posso reclamar. Eu nem mesmo tenho um carro, não mais.
Maggie olha para mim por trás do volante, enquanto suas
mãos o seguram com firmeza.
— Hallie, se você estiver com vontade de vomitar, baixe
a janela. Aqui já cheira estranho o suficiente. — Ela está
certa, o carro tem um odor não identificável que está lá desde
que ela comprou.
— Eu estou bem, — eu digo novamente, embora seja
uma mentira. Meus braços envolvem meu peito para
esconder como minhas mãos tremem.
— Ah, Hallie, eu sei que você não quer falar e que está
tudo bem, mas eu quero informa-la sobre a minha nova casa.
— Eu olho para ela, sem entender o que ela quer dizer.
Maggie me dá um sorriso tímido e encolhe os ombros até as
suas orelhas, enquanto dirige. — Vamos apenas dizer que
não é algo que você aprovaria.
Eu não tenho paciência para lidar com seus enigmas
neste momento. A vida de Maggie é mais difícil do que a
minha, e eu sei disso, mas ela nunca tinha escondido coisas
de mim antes. Desta vez, é claro que ela escondeu, e isso me
preocupa. As únicas coisas que eu desaprovo são as que
possam matá-la. A menina não tem nenhum senso. Às vezes
me pergunto sobre ela, e como ela escolhe o que faz. Sorrio
sem jeito e olho para o tapete sujo no chão, que alguma vez
foi azul.
— O que é tão engraçado? — Maggie parece indignada,
como se eu a tivesse ofendido.
— Nada. Vamos apenas dizer que, se você soubesse o
que eu estava fazendo esta noite, você não se sentiria tão na
defensiva. Tenho certeza de que sua casa é boa.
Maggie se tranquiliza. Ela suspira quando vira em uma
rua lateral e começamos a fazer o nosso caminho através de
um bairro degradado. As casas são marcadas e branqueadas
pelo Sol, com gramados mortos, mas os carros são
customizados e caros. Mesmo que seja tarde, as pessoas
movem-se, sem fazer nada. Eu olho para a minha porta,
querendo trancá-la, mas eu não me mexo. Enquanto nós
rodamos passando pelos grupos de pessoas, os olhos deles
viram e nos assistem passar, antes de voltar para o que eles
estavam fazendo.
Maggie finalmente diz: — Não é muito, mas acho que
vale a pena.
— Você não tem que defender o seu apartamento para
mim, Maggie. Eu sou uma maldita sem-teto. — Eu olho para
ela e inclino a cabeça para trás no assento. Minhas palavras
não a consolam, então eu acrescento: — Além disso, eu não
sou uma garota-propaganda da moralidade, também. Você
não vai acreditar no que eu fiz hoje à noite, e o que eu vou
fazer. — Minha voz falha e eu balanço a cabeça, pensando
nos lábios de Bryan. Estou horrorizada por reagir da maneira
como o faço, mesmo que com a memória.
Ela ri uma vez, rapidamente. — Sim, certo. Hallie, você
nunca faz nada de mau. Estúpido, sim. Mau, não.
Eu olho para fora da janela e não vejo nada. As casas
deram lugar a apartamentos que se estendem para o céu na
noite. Fachadas de tijolos já viram dias melhores. Muitos
parecem vazios, como se ninguém vivesse lá, por muitos
anos. Meu peito se aperta e eu me contorço na cadeira. Meu
Deus, ela mora aqui? Por que ela não me contou? Há carros
queimados, latas de lixo viradas e entulho, tudo espalhado
por toda parte. Parece que a rua foi saqueada e esquecida,
assim como Maggie.
Segundas decisões são as que mudam vidas. Eu faço a
minha e cuspo fora antes de me acovardar.
— Bryan Ferro está me chantageando. Se eu não dormir
com ele sempre que ele quiser, vai dizer às pessoas que ele é
o cara no livro e fazer o que for preciso para me arruinar. Ele
disse que ia usar tudo o que tem contra mim e me deu um
ultimato.
Os grandes olhos de Maggie viram em minha direção,
com o queixo caído e boca aberta.
— Puta merda! Quando isso aconteceu? Como você vai
detê-lo? — Ela pisca para mim e vira os olhos de volta para a
estrada, embora eu saiba que ela não quer.
Esta é a parte que me faz sentir um lixo. Eu não sou
quem ela pensa que eu sou. Eu não tenho uma estrutura
moral de aço. Eu não posso nem olhar para ela.
— Esta noite eu acabei fazendo o anúncio do prêmio no
show com ele, e então ele me encontrou no banquete. — Eu
digo. Eu tento fazer a minha boca mover-se para formar as
palavras, mas não vão sair.
— De jeito nenhum. — Ela estaciona em um parque de
estacionamento que parece que foi usado como um local de
explosão da força aérea e desliga o carro. — Pegue suas
coisas e tranque a porta. — Eu faço como ela diz e me
apresso atrás dela. — Mantenha seus olhos baixos e me siga.
Não fale ou olhe para ninguém.
Entramos no lado de um desses prédios de tijolos
antigos e subimos alguns lances de escadas, até o quarto
andar. No momento que chegamos ao seu andar, eu quero
jogar o resto do meu sapato para fora da janela. Eu poderia,
não há vidro no painel. Eu a sigo, até a porta e por um longo
corredor mal iluminado. Nós paramos em frente à sua porta.
Enquanto ela se atrapalha com a chave, a porta contrária à
dela se abre. Um homem pálido, com cabelo loiro descolorido
e vestindo uma camiseta regata branca e cueca está lá e olha
para nós. Eu posso sentir seus olhos nas minhas costas. Ele
se inclina contra o batente da porta e cruza os braços sobre o
peito.
Quando ele fala, soa rouco, como se ele fumasse um
maço de cigarros todos os dias desde que ele tinha dois anos
de idade. — Trouxe-me outra?
— Não, — Maggie diz com firmeza. Ela não se vira para
olhar para o cara. Se eu não a conhecesse melhor, eu acharia
que ela estava com medo dele. Eu não aguento mais stress
esta noite. Meu cérebro parece que vai partir em dois, antes
que eu murche e morra. Maggie pega a chave para abrir, mas
porta emperra. Ela chuta uma vez com o pé e a porta mexe
ligeiramente. — Maldita porta, — ela murmura.
— Qual é o seu nome, docinho? — O cara está falando
comigo. Viro-me e olho por cima do ombro, e nossos olhos se
encontram. Ele envia um olhar frio para mim, ao ver o jeito
como ele está olhando de soslaio. O cara é enorme, ele é todo
músculos e agora ele está sorrindo para mim, revelando uma
coroa de ouro em seu dente canino.
— Oi, — eu digo timidamente, e arrumo o meu cabelo
para atrás da minha orelha, tentando evitar o olhar dele
enquanto não respondo sua pergunta.
Enquanto o cara está de boca aberta, Maggie chuta na
porta. A porta se abre, ela agarra meu braço e me puxa. Eu
sigo, voando atrás dela enquanto ela grita por cima do ombro,
— eu vou lhe trazer alguém amanhã, eu juro. Boa noite, Vic.
— Ela bate a porta com o pé e parece abalada.
Seu apartamento é aproximadamente o mesmo tamanho
de um pequeno corredor. Há uma pequena janela com uma
folha grampeada sobre ela e sem móveis. Algumas das roupas
de Maggie estão jogadas ao redor do lugar, como se ela
tivesse saído com pressa. Se eu morasse aqui, eu iria embora
rapidamente, também.
— Obrigado por me deixar ficar com você.
— Sim, não há problema. É uma merda como este é o
pior lugar que eu já vivi, mas é um refúgio. Eu durmo aqui e,
em seguida, dou o fora. O aluguel não é horrível. — Ela
oferece um sorriso torto, mas é franco.
Eu preciso dela, e não há um muro entre nós. Ela acha
que eu sou perfeita, mas eu não sou. Eu fiz coisas que ela
não sabe. As palavras estão na minha língua e eu enrolo-as
em torno de minha boca, tentando descobrir como dizer isso,
enquanto a Maggie tagarela, enchendo o ambiente com sua
voz.
Um casal está brigando nas proximidades, e o som está
cada vez mais alto. Estão lutando, eu não quero dizer
discutindo. Há coisas batendo nas paredes e quebrando.
Chove gesso para baixo sobre nós como flocos de neve
quando algo cai de cima. Maggie olha horrorizada quando ela
puxa sua cama Murphy 2 para baixo da parede. Tomando
quase toda a sala. — Você pode dormir aqui. Eu vou dormir
no chão.
— Não.
Ela sorri. — Não seja boba, você é minha convidada. —
Palavrões ressoam acima de nós quando um homem irritado
grita. É prontamente seguido de um grito agudo. Maggie
morde as unhas do jeito que ela fazia quando éramos
crianças e olha em volta, como se ela desejasse poder
queimar o lugar.
2
— Eu não vou fazer você dormir no chão, mas há outra
coisa que eu preciso lhe dizer.
— Maggie olha para mim por debaixo de sua massa de
cabelo vermelho. Eu sou sua única amiga de verdade, sua
única família e ela a minha. Deus, o que é que ela vai pensar
de mim quando eu lhe disser o que eu concordei em fazer?
Eu não acho que eu vou ser capaz de suportá-lo. Meus
braços ainda estão dobrados sobre o peito, com as mãos
firmemente aninhadas nos meus braços.
— Hallie, qual o problema? — Maggie deixa de fazer a
cama e se senta. Ela dá um tapinha no lugar ao lado dela e
me sento.
Olhando para frente, eu engulo em seco e digo a ela.
— Eu disse que sim. — Você disse sim para o quê?
Hallie, você não está fazendo sentido, do que você está
falando?
Quando me viro para olhar para ela, e encontro com
aqueles grandes olhos verdes e sinto medo. Minha pele fica
arrepiada, mas eu não consigo desviar o olhar.
— Eu disse a Bryan Ferro que sim. Eu cedi. Ele ganhou
e eu perdi.
— O quê? — Ela está furiosa, pronta para voar para fora
do seu assento e defender-me até a morte.
Eu coloco minha mão no colo dela para fazê-la parar. —
Eu fui ao seu quarto de hotel para dizer-lhe para ir chupar
um prego, mas eu mudei de ideia quando ouvi sua voz. Eu
pensei que algo estava errado e esta era a sua maneira de
merda para me dizer. Conheci-o uma vez, pelo menos eu
pensei que tinha conhecido. Então, quando eu estava
esperando por você do lado de fora, eu... — minha voz está
trêmula e eu não posso mais esconder o meu horror, — um
cara tentou roubar minha bolsa. Para encurtar a história, ele
me pegou por trás do prédio e ia me machucar. Bryan
apareceu e ele... — Eu não posso dizer isso. Meu Bryan
perfeito fez algo que era tão diferente dele, tão terrivelmente
selvagem, que eu não sei o que pensar. Ele me protegeu, mas
ainda parece errado.
— Ele a machucou? — Maggie está furiosa, eu posso
ouvir em sua voz. Mas a forma como ela fala suas palavras
ondulando entre muito alta e baixa, dão a deixa.
— Não, ele atacou o homem, e esfaqueou-o. Se eu não
dissesse a Bryan para parar, acho que ele teria matado o
cara. — Olho para ela, mas eu não posso mais enxergar.
Meus olhos têm brilham com lágrimas que tudo fica
desfocado.
Maggie ergue os braços e eu caio neles. Ela sempre foi
como uma irmã para mim. Estivemos sempre uma para a
outra, e eu temo que a história com Bryan e o que eu me
tornei vá fazê-la me odiar. Meu pai teria vergonha de me
chamar de filha, e eu espero o mesmo de Maggie. Em vez
disso, ela fica lá no colchão gasto e me acalma.
Depois de um forte abraço, ela libera meus ombros e
pega meu queixo. — Você e eu passamos por tudo juntas.
Não pense que eu a estou socorrendo por causa disso. Se não
for por qualquer coisa, a vida fica mais interessante, isso é
tudo.
Eu enxugo as lágrimas dos meus olhos e rio, porque ela
está tão errada. — Esse é o eufemismo do ano.
— O meu ponto é, eu estou aqui por você. Eu sempre
estarei aqui para você. — Ela bate no meu ombro com a dela.
— Então, Bryan Ferro tem um lado negro por trás de todo o
brilho e deslumbre?
— Aparentemente.
— Foi divertido ou ele fez coisas estranhas?
Eu sorrio e limpo meus olhos novamente. — Não, não
hoje à noite de qualquer maneira. Ele me chamou para seu
quarto, eu fui, e nos beijamos. Então, ele me mandou ir
embora.
Os lábios de Maggie puxaram um pouco para cima. —
Ele a jogou para fora? Mas que inferno...?
— Eu não sei. É como se ele estivesse louco e deixando o
Hulk sair ou algo assim. Ele não olhava para mim. As coisas
estavam quentes e pesadas até então. — A intuição continua
me dizendo que algo estava errado, mas não posso entender o
quê.
Maggie sorri: — Ele foi melhor do que Neil, certo?
Eu faço uma careta e olhou para ela como se ela fosse
louca. — Uh, Bryan está me chantageando.
— E ele é mais quente do que Neil. Vá em frente, diga.
Eu sou sua amiga, então eu já sei.
Eu baixei meus olhos em direção ao chão e não disse
nada. Eu não tenho que dizer nada, a minha expressão diz
tudo. Bryan é muito mais quente do que Neil, não há
comparação. Os dois homens são noite e dia, e Bryan é a
noite sexy. Neil a voz racional que soa como o FDA 3,
lembrando-me de fazer todas as coisas com moderação, mas
não todas as coisas, somente as ações que ele aprova. Droga.
Eu enterro meu rosto em minhas mãos e suspiro.
Maggie acaricia minhas costas. — Está tudo bem.
Qualquer um é mais quente do que Neil. Não se sinta
culpada, mas eu não contaria exatamente ao Senhor Calças
Perfeitamente Passadas. Ele vai surtar ao saber que alguém
tocou em você. — Maggie está tirando as roupas e puxando
uma camisa de dormir e calças, enquanto ela fala.
— Na verdade, Neil sabe.
3 FDA - Food and Drug Administration - Agencia reguladora de remédios e alimentos.
— O quê? — Ela está pulando em um pé, tentando
enfiar o pé pela perna da calça e cai. — Como é que ele sabe?
Você disse que acabou de acontecer.
— Neil sabe por que foi ele quem me disse para fazer
isso.
CONTINUA
Bryan está de queixo caído e boca aberta, com aqueles olhos verdes semicerrados, em chamas. Fúria e choque não parecem bons para ele. As emoções distorcem seu belo rosto,
estragam as linhas suaves de sua pele, fazendo-o parecer bem mais velho. Seus punhos estão fechados, apertados em seus lados, mas ele pisca uma vez e a reação diminui. Há muitas coisas que eu não sei sobre Bryan Ferro, mas uma coisa eu sei, ele é uma merda em manter as coisas escondidas. Seus pensamentos dançam em seu rosto de vez em quando, e é por isso que ele está desconfiado de mim.
Virando abruptamente, Bryan pressiona seus dedos em sua têmpora direita. Sua voz sai como um grunhido.
— Eu lhe disse para ir embora.
— Seus ombros estão tensos, cada músculo está apertado a ponto de eu poder ver as curvas de seu corpo sob essa camisa. Ele flexiona a mão que está ao seu lado antes de deslizar em seu bolso. Bryan pode ser capaz de esconder tudo, de todos os outros, mas não de mim.
— Sim, eu ouvi essa parte. — Eu ajo como se eu não me importasse, deito-me no tapete, e dobro as minhas mãos atrás da minha cabeça. O piso é suave e difuso. Levanto os meus joelhos, eu deixo a queda do meu vestido em torno dos meus tornozelos e até meus pés, para sentir a pilha macia entre os dedos dos pés. O tapete no meu antigo quarto parecia como um saco de batata, em relação a este material.
Mesmo com Bryan irado, eu estou sorrindo. A vozinha na parte de trás da minha cabeça me diz que eu perdi minha mente. Eu respondo de volta que eu nunca tive um controle firme sobre isso de qualquer maneira.
https://img.comunidades.net/bib/bibliotecasemlimites/2_A_PROPOSI_O.jpg
Bryan pode ver meu reflexo no espelho, mas eu não
posso ver mais do que as suas costas e a maneira como ele
agarra sua cabeça como se fosse explodir. Ele está furioso
comigo? Não consigo entender sua raiva, mas transborda
para fora de sua boca de novo, espetando como espinhos,
neste momento.
— Se você não consegue entender os termos deste
acordo, então eu temo que nós não tenhamos um.
— O quê? — Sento-me e giro em torno, de modo que
estou de frente para as suas costas.
Bryan se vira, e a tensão que está estampada no seu
rosto é horrível. Eu encontro o seu olhar, mas eu não posso
olha-lo sem querer corrigir o que está fazendo com ele. Todas
as imagens na imprensa mostram a versão de Bryan que eu
conhecia, leve e despreocupado, mas este homem, aqui, não é
nenhuma dessas coisas. Algo está esmagando-o de dentro
para fora e deixando-o em pedaços. Seu corpo está tremendo,
ele está tão bravo. Ele tenta respirar fundo, mas isso só faz o
seu rosto ficar mais apertado.
— Você me ouviu. Se você não fizer as coisas do meu
jeito, eu vou arruinar você. Este não é o meu jeito, você sabe
muito bem disso. Saia daqui.
Ele não grita, mas suas palavras me fazem tremer. Não
há calor, não há compaixão. Talvez eu não o conheça mais e
ele está certo. Apertando os lábios, eu engulo minha resposta,
mas esta incha dentro de mim e enche meu peito. Eu peguei
meus sapatos saltos de volta e calcei em meus pés cansados
antes de levantar. Eu ando mais e pego minha bolsa.
Eu deveria sair. A vozinha dentro de mim canta como
um duende com uma voz agradável, sim, vá. Faça isso.
Agora.
Meus olhos estão fixos na porta como se fosse o
caminho para o inferno. Algo sobre sair agora parece errado,
mas não posso entender sobre o que está prendendo meus
pés no lugar. Caramba, é o pensamento que está me
segurando. Ele está me prendendo aqui e eu não posso me
mover. Parece como engolir o vômito e eu não posso fazê-lo.
Eu sou o cérebro danificado, mas não posso ser algo que não sou.
Girando sobre meus pés, eu atravesso o piso acarpetado
e elegante, e caminho até ele. Bryan não se vira para olhar
para mim. Em vez disso, suas mãos estão segurando a parte
superior do bar como se ele quisesse arrancá-lo da parede.
Suas costas estão curvadas e sua cabeça está pendurada
entre os ombros, como se ele estivesse tentando não me
rasgar em pedaços. Outra mulher teria corrido agora mesmo,
mas eu sou a dopada que anda mais perto.
— Eu sou uma idiota, — eu digo, enquanto olho para os
meus sapatos, e rio de leve. É o tipo de som que não tem
alegria e revela uma alma torturada. Meus olhos levantam
para seus ombros. Eu fico lá por um momento esperando que
ele se vire, mas ele não vira. Bryan não fala ou levanta o
olhar. Ele permanece debruçado sobre o bar como um troll 1.
Eu continuo, — vê-lo hoje à noite foi terrível e
maravilhoso. Isso evocou memórias e sentimentos que eu
tinha tempo esquecido há muito. Escrever sobre, é uma
coisa, mas vê-lo novamente está além das palavras.
Desculpe-me se eu o machuquei, mesmo que eu não entenda
o que eu fiz. E seu eu pudesse corrigir. Eu...
Por que estou fazendo isso? Eu estou me desculpando
com as suas costas, o homem não tem sequer a decência de
se virar e encarar-me. Eu respiro fundo e endireito a minha
espinha.
— As pessoas cometem erros, Bryan, e parece que o
meu maior erro foi conhecê-lo.
1
Troll – é uma gíria que designa uma pessoa cujo comportamento tende sistematicamente a desestabilizar uma
discussão, provocar e enfurecer as pessoas envolvidas nela. Há trolls de todo tipo, desde o mais ignorante e rude
que xinga e provoca, até o mais apto intelectualmente que discursa com o objetivo de desestabilizar o interlocutor
e levá-lo a fúria, para depois desqualificá-lo, matando seu argumento e abalando sua reputação.
A fúria me inunda quando eu corro pela sala. Eu agarro
a maçaneta da porta e não olho para trás, apesar de sentir
seus olhos em mim. Dane-se ele. Eu vivi coisas piores. Eu
digo essas palavras uma e outra vez, porque aconteceu.
Depois corro pelo corredor, aperto o botão para baixo no
elevador uma e outra vez, perguntando por que eu estou tão
chateada. Depois de um momento, eu sinto o pensamento
picar os meus olhos e apertar a minha garganta e eu sei
exatamente por que estou tão chateada.
É possível que as coisas estejam invertidas, e como eu
não conhecesse o verdadeiro Bryan Ferro, aquele com quem
dormi todos esses anos, era o falso.
CAPÍTULO 2
Eu não posso ir para casa e enfrentar Neil, por isso eu
telefono para Maggie. Ela atende no terceiro toque. Eu estou
andando na rua em frente ao hotel com o meu telefone
pressionado ao meu ouvido. É tarde e escuro. Evitando as
sombras, eu ando mais perto da rua do que no hotel.
— Maggie. — Eu tento esconder a tensão na minha voz,
mas ela ouve. Nós nos conhecemos há muito tempo. — Vou
tirar suas bolas fora.
— O que diabo aconteceu? Onde você está? — Ela me
enche de perguntas, até que eu possa finalmente fazê-la calar
a boca.
— Eu preciso de um lugar para dormir. Eu não posso
ver Neil agora e eu não tenho outro lugar para ir.
Maggie fica em silêncio.
— O que é meu, é seu. Você sabe disso, mas eu não
tenho certeza que você vá gostar.
— Em qualquer lugar é melhor do que aqui ou com Neil.
— Eu sinto uma náusea fazendo seu caminho até a minha
garganta. Lágrimas estão chegando, e tenho a sensação de
que vai ser um maremoto.
— Claro, claro. Eu estarei aí em cinco minutos.
— A linha de Maggie desliga, e eu fecho o meu telefone e
o coloco em minha bolsa.
A cidade se move em torno de mim, mas parece que eu
estou em uma bolha. As pessoas passam na calçada, mas eu
não as noto. Eu passeio, perdida em pensamentos, agarrando
minha bolsa perto do meu corpo. O ar da noite tem aquele
cheiro que é distintamente de Nova York. Eu o inspiro e
quando me viro, quase bato em alguém. O cara é uma
parede, de marrom e preto. Seu casaco tem cheiro de cigarros
velhos e naftalina.
Antes de eu ter tempo para descobrir o que está
acontecendo, ele pega a minha bolsa, em seguida, coloca a
mão no centro do meu peito e me empurra, com força. Eu
grito, tropeço e caio para trás, enquanto minha bolsa é
arrancada de minhas mãos. O cara se vira e está pronto para
correr, mas eu não estou com disposição para perder a bolsa.
Eu estou fodidamente quebrada. Todo o dinheiro que eu
tenho está lá dentro.
Antes que eu saiba o que estou fazendo, eu pego um dos
meus sapatos de salto alto e atiro em sua cabeça. Acerto e ele
cai na calçada. Poucas pessoas param para assistir, mas
ninguém faz nada - típico dos nova-iorquinos. Todo mundo
quer ver, mas ninguém ajuda.
Nesse ponto, tudo acontece em câmera lenta. Eu estou
em pé, mesmo que eu não me lembre de ficar pé. Um pé está
congelado, sobre o cimento frio, enquanto o outro ainda está
calçado. O ladrão levanta a mão e bota na parte de trás de
sua cabeça e puxa-a. Ele olha para os seus dedos, seus olhos
escuros apreciando o sangue vermelho e pegajoso em sua
mão. A ponta do meu salto que bateu com a parte traseira de
seu couro cabeludo, deve tê-lo cortado.
Meu coração para, quando o sujeito se vira para mim.
Seus olhos têm um olhar enlouquecido e os ombros tremem
como se ele fosse me rasgar ao meio.
— Você. — Ele diz isso como se fosse o meu nome e ele
me odeia.
O homem dá passos em direção a mim e fala
novamente, mas suas mãos lentamente movem para cima,
como se ele fosse me atacar ou me estrangular. Eu suspiro
alguma coisa, mas ele não sai antes de eu dar um passo para
trás, aterrorizada. Meu pulso ruge em meus ouvidos, então
olho em volta a procura de ajuda, mas não vejo ninguém. A
multidão se afastou, ou talvez eu tenha ido embora. Onde
está um policial quando eu preciso de um?
O resto acontece freneticamente rápido. Alguém grita
comigo, enquanto o homem procura o meu pescoço. Eu caio,
mas ele pega no meu ombro. Ele aperta-me com força,
fazendo com que o meu pescoço estale para trás enquanto ele
grita na minha cara.
— Sua pequena vadia!
O resto de suas palavras se tornam zumbidos, enquanto
ele me aperta mais. Estou ciente do vento, do ar da noite, e
do homem que está me estrangulando. Em algum momento,
as mãos deslizam até o pescoço. Eu agarro em suas mãos e
tento gritar, mas não sai nada. Eu não entendo por que
ninguém nos vê, por que eles simplesmente deixam esse
ladrão me machucar.
Balançando as minhas pernas, eu o chuto, mas não
adianta. Eu não sou forte o suficiente. Eu tentei tudo o que
sabia fazer e nada funcionou. O homem me atira e bate
minhas costas contra uma parede de tijolos. O frio me sacode
e me pergunto como chegamos ao beco ao lado do hotel, mas
os pensamentos cessam quando vejo o olhar em seus olhos.
Um sorriso mal aparece em seu rosto quando ele rasga o
ombro do meu vestido. O tecido sai em sua mão e permite
que o vestido deslizar alguns centímetros.
Abro a boca para gritar, mas sua mão imunda me cobre,
impedindo a saída do som. Sua mão me tateia, sentindo
meus seios enquanto ele sussurra em meu ouvido todas as
coisas horríveis que ele pretende fazer comigo. — Então, eu
vou levar a minha faca e... — Suas palavras desagradáveis
param imediatamente, após o som do estalar de madeira.
Assim como, de repente, a mão no meu pescoço se foi e
eu suspiro em uma respiração trêmula e olho para cima. Está
muito escuro para ver, mas há um homem vestido de
smoking, avançando sobre o ladrão. Ele lança socos uma e
outra vez, até que eles estão na parte de trás do beco, presos
por uma parede de tijolos. O ladrão é espancado e sangra,
mas ele não para de lutar. Nem o homem de smoking. Ele
distribui socos como um boxeador, tanto assim que é
hipnótico assistir. Quando a faca aparece, eu esperava que as
coisas se transformassem em favor do ladrão, mas isso não
acontece. O homem de smoking desarma o idiota e toma a
arma. Aconteceu tão rápido que eu não posso dizer como foi
feito. O homem de smoking recua seu braço como se
estivesse para empurrar a faca no peito do cara.
— Pare! — Eu chamo antes de perceber o que estou
fazendo. Uma das minhas mãos está segurando meu vestido
no busto e a outra está mal tocando meus lábios. Eu não
posso ver o cara morrer, mas eu não consigo desviar o olhar
também.
O homem de smoking não para. Um grito tremendo sai
dilacerado da minha garganta quando ele bate a faca no
ombro do ladrão. O bandido pega no seu braço e desliza para
baixo da parede, segurando seu ombro enquanto o casaco
fica encharcado de sangue. Ele olha diretamente para mim
com raiva.
O homem de smoking chuta o ladrão uma vez, e uma
voz familiar disse:
— Vá embora.
Eu tremo quando ouço isso, porque eu sei quem é ele,
Bryan. Ele deve ter me seguido. O medo agarra e azeda
dentro do meu estômago, enquanto eu olho para as suas
costas. Bryan não vira o rosto para mim. O ladrão comprime
os lábios e se levanta do chão do beco. Ele faz o seu caminho
passando por mim, e não diz nada.
Um tremor se apodera de mim e escorre pela minha
espinha, me fazendo ofegar. É quando ele se vira. O rosto de
Bryan está pálido e coberto de um brilho fino de suor. Ele
caminha de volta para mim e eu posso ver onde ele tomou
algumas pancadas. Há um rasgo em sua camisa, sob a lapela
do paletó, onde a faca cortou antes Bryan tomá-la do ladrão.
Passo a passo, ele caminha em minha direção, e eu
estou mais assustada por Bryan que qualquer coisa que já
encontrei. O que foi isso? Ele teria matado o homem se eu
não tivesse gritado? Eu não consigo parar de tremer.
Bryan alcança os meus ombros para me firmar, e eu
sinto aquele choque familiar que acompanha o seu toque.
Seu polegar esfrega suavemente sobre minha pele. — Você
está bem?
Mas, é muito. Eu não posso. Eu não posso. Eu não posso.
O pensamento não faz sentido, mas eu sei que tenho que
fazer com que ele me liberte. Seu toque tem uma maneira de
me desfazer, e eu estou caindo aos pedaços. Recuso-me a
deixá-lo ser o único a testemunhar isso. Eu empurro para
longe, e aceno com a cabeça rapidamente.
— Eu estou bem.
As mãos de Bryan permanecem paradas no ar por um
momento, antes de ele abaixa-las junto com seu olhar. Ele
observa o chão por um segundo e quando ele levanta o
queixo, vejo um sorriso nos seus lábios.
— Mentirosa. Você está longe de estar bem, mas eu
estou contente que você esteja parada.
Eu fico olhando para ele, incapaz de encontrar uma
resposta. Sua voz soa carinhosa, quase arrependida. Ele olha
por cima do meu ombro para alguém e, em seguida, diz:
— A sua carona está aqui. Da próxima vez, não tente
derrubar um assaltante por si mesmo.
Eu falo sem querer, mas as palavras saem e caem fora.
— Da próxima vez, não mate um homem por roubar minha
bolsa.
O canto dos lábios de Bryan puxa para cima, como se
quisesse sorrir, mas ele não sorri.
— Eu não iria matar um homem por roubar uma bolsa.
Que tipo de pessoa você acha que eu sou?
— Honestamente, eu não sei mais. Eu achava que sabia,
mas depois disso... — Eu balanço minha cabeça e fico sem
palavras. Bryan mudou o ataque no último segundo. Essa
faca não estava voltada para o ombro do homem — estava
dirigida para o seu coração. — Você ia matá-lo. Eu vi, você
não pode me dizer que não iria.
Bryan se inclina mais perto, e quando ele fala seu hálito
quente sussurra contra a minha orelha.
— Talvez, mas não foi porque ele pegou sua bolsa. — Ele
se inclina para trás e desliza as mãos nos bolsos, enquanto
seus olhos verdes me percorrem. — Ninguém toca em você,
enquanto você está comigo.
— Eu engulo em seco e olho para ele, com o coração
ainda disparando.
Maggie aparece atrás de mim um segundo depois. Ela
pega meu ombro e me vira.
— Hallie, diabo está acontecendo, e por que você está
aqui no beco sozinha? — Ela vê a maneira que eu estou
segurando meu vestido e o tecido rasgado. A preocupação
persiste em seu rosto, esperando pela minha resposta.
— Eu não estou sozinha, — mas quando me viro para
olhar, Bryan já se foi.
CAPÍTULO 3
Eu estive em um casulo de tristeza e este evento o
quebrou. Minha atordoada indiferença fratura e estilhaça,
como vidro barato. Eu olho para a bolsa presa em minha mão
e me pergunto o que há de errado comigo, mas ainda mais,
eu não consigo parar de pensar em Bryan, como ele veio do
nada e quase matou o homem que tentou me machucar.
Pare de pensar assim, eu me repreendo. Bryan agiu
como um lunático. A imagem de Bryan esfaqueando o cara
persiste através dos meus olhos mais uma vez e faz o meu
estômago embrulhar.
Maggie está falando, mas eu não disse muito. Estamos
em seu velho Ford Escort. A coisa corre mal, mas eu não
posso reclamar. Eu nem mesmo tenho um carro, não mais.
Maggie olha para mim por trás do volante, enquanto suas
mãos o seguram com firmeza.
— Hallie, se você estiver com vontade de vomitar, baixe
a janela. Aqui já cheira estranho o suficiente. — Ela está
certa, o carro tem um odor não identificável que está lá desde
que ela comprou.
— Eu estou bem, — eu digo novamente, embora seja
uma mentira. Meus braços envolvem meu peito para
esconder como minhas mãos tremem.
— Ah, Hallie, eu sei que você não quer falar e que está
tudo bem, mas eu quero informa-la sobre a minha nova casa.
— Eu olho para ela, sem entender o que ela quer dizer.
Maggie me dá um sorriso tímido e encolhe os ombros até as
suas orelhas, enquanto dirige. — Vamos apenas dizer que
não é algo que você aprovaria.
Eu não tenho paciência para lidar com seus enigmas
neste momento. A vida de Maggie é mais difícil do que a
minha, e eu sei disso, mas ela nunca tinha escondido coisas
de mim antes. Desta vez, é claro que ela escondeu, e isso me
preocupa. As únicas coisas que eu desaprovo são as que
possam matá-la. A menina não tem nenhum senso. Às vezes
me pergunto sobre ela, e como ela escolhe o que faz. Sorrio
sem jeito e olho para o tapete sujo no chão, que alguma vez
foi azul.
— O que é tão engraçado? — Maggie parece indignada,
como se eu a tivesse ofendido.
— Nada. Vamos apenas dizer que, se você soubesse o
que eu estava fazendo esta noite, você não se sentiria tão na
defensiva. Tenho certeza de que sua casa é boa.
Maggie se tranquiliza. Ela suspira quando vira em uma
rua lateral e começamos a fazer o nosso caminho através de
um bairro degradado. As casas são marcadas e branqueadas
pelo Sol, com gramados mortos, mas os carros são
customizados e caros. Mesmo que seja tarde, as pessoas
movem-se, sem fazer nada. Eu olho para a minha porta,
querendo trancá-la, mas eu não me mexo. Enquanto nós
rodamos passando pelos grupos de pessoas, os olhos deles
viram e nos assistem passar, antes de voltar para o que eles
estavam fazendo.
Maggie finalmente diz: — Não é muito, mas acho que
vale a pena.
— Você não tem que defender o seu apartamento para
mim, Maggie. Eu sou uma maldita sem-teto. — Eu olho para
ela e inclino a cabeça para trás no assento. Minhas palavras
não a consolam, então eu acrescento: — Além disso, eu não
sou uma garota-propaganda da moralidade, também. Você
não vai acreditar no que eu fiz hoje à noite, e o que eu vou
fazer. — Minha voz falha e eu balanço a cabeça, pensando
nos lábios de Bryan. Estou horrorizada por reagir da maneira
como o faço, mesmo que com a memória.
Ela ri uma vez, rapidamente. — Sim, certo. Hallie, você
nunca faz nada de mau. Estúpido, sim. Mau, não.
Eu olho para fora da janela e não vejo nada. As casas
deram lugar a apartamentos que se estendem para o céu na
noite. Fachadas de tijolos já viram dias melhores. Muitos
parecem vazios, como se ninguém vivesse lá, por muitos
anos. Meu peito se aperta e eu me contorço na cadeira. Meu
Deus, ela mora aqui? Por que ela não me contou? Há carros
queimados, latas de lixo viradas e entulho, tudo espalhado
por toda parte. Parece que a rua foi saqueada e esquecida,
assim como Maggie.
Segundas decisões são as que mudam vidas. Eu faço a
minha e cuspo fora antes de me acovardar.
— Bryan Ferro está me chantageando. Se eu não dormir
com ele sempre que ele quiser, vai dizer às pessoas que ele é
o cara no livro e fazer o que for preciso para me arruinar. Ele
disse que ia usar tudo o que tem contra mim e me deu um
ultimato.
Os grandes olhos de Maggie viram em minha direção,
com o queixo caído e boca aberta.
— Puta merda! Quando isso aconteceu? Como você vai
detê-lo? — Ela pisca para mim e vira os olhos de volta para a
estrada, embora eu saiba que ela não quer.
Esta é a parte que me faz sentir um lixo. Eu não sou
quem ela pensa que eu sou. Eu não tenho uma estrutura
moral de aço. Eu não posso nem olhar para ela.
— Esta noite eu acabei fazendo o anúncio do prêmio no
show com ele, e então ele me encontrou no banquete. — Eu
digo. Eu tento fazer a minha boca mover-se para formar as
palavras, mas não vão sair.
— De jeito nenhum. — Ela estaciona em um parque de
estacionamento que parece que foi usado como um local de
explosão da força aérea e desliga o carro. — Pegue suas
coisas e tranque a porta. — Eu faço como ela diz e me
apresso atrás dela. — Mantenha seus olhos baixos e me siga.
Não fale ou olhe para ninguém.
Entramos no lado de um desses prédios de tijolos
antigos e subimos alguns lances de escadas, até o quarto
andar. No momento que chegamos ao seu andar, eu quero
jogar o resto do meu sapato para fora da janela. Eu poderia,
não há vidro no painel. Eu a sigo, até a porta e por um longo
corredor mal iluminado. Nós paramos em frente à sua porta.
Enquanto ela se atrapalha com a chave, a porta contrária à
dela se abre. Um homem pálido, com cabelo loiro descolorido
e vestindo uma camiseta regata branca e cueca está lá e olha
para nós. Eu posso sentir seus olhos nas minhas costas. Ele
se inclina contra o batente da porta e cruza os braços sobre o
peito.
Quando ele fala, soa rouco, como se ele fumasse um
maço de cigarros todos os dias desde que ele tinha dois anos
de idade. — Trouxe-me outra?
— Não, — Maggie diz com firmeza. Ela não se vira para
olhar para o cara. Se eu não a conhecesse melhor, eu acharia
que ela estava com medo dele. Eu não aguento mais stress
esta noite. Meu cérebro parece que vai partir em dois, antes
que eu murche e morra. Maggie pega a chave para abrir, mas
porta emperra. Ela chuta uma vez com o pé e a porta mexe
ligeiramente. — Maldita porta, — ela murmura.
— Qual é o seu nome, docinho? — O cara está falando
comigo. Viro-me e olho por cima do ombro, e nossos olhos se
encontram. Ele envia um olhar frio para mim, ao ver o jeito
como ele está olhando de soslaio. O cara é enorme, ele é todo
músculos e agora ele está sorrindo para mim, revelando uma
coroa de ouro em seu dente canino.
— Oi, — eu digo timidamente, e arrumo o meu cabelo
para atrás da minha orelha, tentando evitar o olhar dele
enquanto não respondo sua pergunta.
Enquanto o cara está de boca aberta, Maggie chuta na
porta. A porta se abre, ela agarra meu braço e me puxa. Eu
sigo, voando atrás dela enquanto ela grita por cima do ombro,
— eu vou lhe trazer alguém amanhã, eu juro. Boa noite, Vic.
— Ela bate a porta com o pé e parece abalada.
Seu apartamento é aproximadamente o mesmo tamanho
de um pequeno corredor. Há uma pequena janela com uma
folha grampeada sobre ela e sem móveis. Algumas das roupas
de Maggie estão jogadas ao redor do lugar, como se ela
tivesse saído com pressa. Se eu morasse aqui, eu iria embora
rapidamente, também.
— Obrigado por me deixar ficar com você.
— Sim, não há problema. É uma merda como este é o
pior lugar que eu já vivi, mas é um refúgio. Eu durmo aqui e,
em seguida, dou o fora. O aluguel não é horrível. — Ela
oferece um sorriso torto, mas é franco.
Eu preciso dela, e não há um muro entre nós. Ela acha
que eu sou perfeita, mas eu não sou. Eu fiz coisas que ela
não sabe. As palavras estão na minha língua e eu enrolo-as
em torno de minha boca, tentando descobrir como dizer isso,
enquanto a Maggie tagarela, enchendo o ambiente com sua
voz.
Um casal está brigando nas proximidades, e o som está
cada vez mais alto. Estão lutando, eu não quero dizer
discutindo. Há coisas batendo nas paredes e quebrando.
Chove gesso para baixo sobre nós como flocos de neve
quando algo cai de cima. Maggie olha horrorizada quando ela
puxa sua cama Murphy 2 para baixo da parede. Tomando
quase toda a sala. — Você pode dormir aqui. Eu vou dormir
no chão.
— Não.
Ela sorri. — Não seja boba, você é minha convidada. —
Palavrões ressoam acima de nós quando um homem irritado
grita. É prontamente seguido de um grito agudo. Maggie
morde as unhas do jeito que ela fazia quando éramos
crianças e olha em volta, como se ela desejasse poder
queimar o lugar.
2
— Eu não vou fazer você dormir no chão, mas há outra
coisa que eu preciso lhe dizer.
— Maggie olha para mim por debaixo de sua massa de
cabelo vermelho. Eu sou sua única amiga de verdade, sua
única família e ela a minha. Deus, o que é que ela vai pensar
de mim quando eu lhe disser o que eu concordei em fazer?
Eu não acho que eu vou ser capaz de suportá-lo. Meus
braços ainda estão dobrados sobre o peito, com as mãos
firmemente aninhadas nos meus braços.
— Hallie, qual o problema? — Maggie deixa de fazer a
cama e se senta. Ela dá um tapinha no lugar ao lado dela e
me sento.
Olhando para frente, eu engulo em seco e digo a ela.
— Eu disse que sim. — Você disse sim para o quê?
Hallie, você não está fazendo sentido, do que você está
falando?
Quando me viro para olhar para ela, e encontro com
aqueles grandes olhos verdes e sinto medo. Minha pele fica
arrepiada, mas eu não consigo desviar o olhar.
— Eu disse a Bryan Ferro que sim. Eu cedi. Ele ganhou
e eu perdi.
— O quê? — Ela está furiosa, pronta para voar para fora
do seu assento e defender-me até a morte.
Eu coloco minha mão no colo dela para fazê-la parar. —
Eu fui ao seu quarto de hotel para dizer-lhe para ir chupar
um prego, mas eu mudei de ideia quando ouvi sua voz. Eu
pensei que algo estava errado e esta era a sua maneira de
merda para me dizer. Conheci-o uma vez, pelo menos eu
pensei que tinha conhecido. Então, quando eu estava
esperando por você do lado de fora, eu... — minha voz está
trêmula e eu não posso mais esconder o meu horror, — um
cara tentou roubar minha bolsa. Para encurtar a história, ele
me pegou por trás do prédio e ia me machucar. Bryan
apareceu e ele... — Eu não posso dizer isso. Meu Bryan
perfeito fez algo que era tão diferente dele, tão terrivelmente
selvagem, que eu não sei o que pensar. Ele me protegeu, mas
ainda parece errado.
— Ele a machucou? — Maggie está furiosa, eu posso
ouvir em sua voz. Mas a forma como ela fala suas palavras
ondulando entre muito alta e baixa, dão a deixa.
— Não, ele atacou o homem, e esfaqueou-o. Se eu não
dissesse a Bryan para parar, acho que ele teria matado o
cara. — Olho para ela, mas eu não posso mais enxergar.
Meus olhos têm brilham com lágrimas que tudo fica
desfocado.
Maggie ergue os braços e eu caio neles. Ela sempre foi
como uma irmã para mim. Estivemos sempre uma para a
outra, e eu temo que a história com Bryan e o que eu me
tornei vá fazê-la me odiar. Meu pai teria vergonha de me
chamar de filha, e eu espero o mesmo de Maggie. Em vez
disso, ela fica lá no colchão gasto e me acalma.
Depois de um forte abraço, ela libera meus ombros e
pega meu queixo. — Você e eu passamos por tudo juntas.
Não pense que eu a estou socorrendo por causa disso. Se não
for por qualquer coisa, a vida fica mais interessante, isso é
tudo.
Eu enxugo as lágrimas dos meus olhos e rio, porque ela
está tão errada. — Esse é o eufemismo do ano.
— O meu ponto é, eu estou aqui por você. Eu sempre
estarei aqui para você. — Ela bate no meu ombro com a dela.
— Então, Bryan Ferro tem um lado negro por trás de todo o
brilho e deslumbre?
— Aparentemente.
— Foi divertido ou ele fez coisas estranhas?
Eu sorrio e limpo meus olhos novamente. — Não, não
hoje à noite de qualquer maneira. Ele me chamou para seu
quarto, eu fui, e nos beijamos. Então, ele me mandou ir
embora.
Os lábios de Maggie puxaram um pouco para cima. —
Ele a jogou para fora? Mas que inferno...?
— Eu não sei. É como se ele estivesse louco e deixando o
Hulk sair ou algo assim. Ele não olhava para mim. As coisas
estavam quentes e pesadas até então. — A intuição continua
me dizendo que algo estava errado, mas não posso entender o
quê.
Maggie sorri: — Ele foi melhor do que Neil, certo?
Eu faço uma careta e olhou para ela como se ela fosse
louca. — Uh, Bryan está me chantageando.
— E ele é mais quente do que Neil. Vá em frente, diga.
Eu sou sua amiga, então eu já sei.
Eu baixei meus olhos em direção ao chão e não disse
nada. Eu não tenho que dizer nada, a minha expressão diz
tudo. Bryan é muito mais quente do que Neil, não há
comparação. Os dois homens são noite e dia, e Bryan é a
noite sexy. Neil a voz racional que soa como o FDA 3,
lembrando-me de fazer todas as coisas com moderação, mas
não todas as coisas, somente as ações que ele aprova. Droga.
Eu enterro meu rosto em minhas mãos e suspiro.
Maggie acaricia minhas costas. — Está tudo bem.
Qualquer um é mais quente do que Neil. Não se sinta
culpada, mas eu não contaria exatamente ao Senhor Calças
Perfeitamente Passadas. Ele vai surtar ao saber que alguém
tocou em você. — Maggie está tirando as roupas e puxando
uma camisa de dormir e calças, enquanto ela fala.
— Na verdade, Neil sabe.
3 FDA - Food and Drug Administration - Agencia reguladora de remédios e alimentos.
— O quê? — Ela está pulando em um pé, tentando
enfiar o pé pela perna da calça e cai. — Como é que ele sabe?
Você disse que acabou de acontecer.
— Neil sabe por que foi ele quem me disse para fazer
isso.
CONTINUA
Bryan está de queixo caído e boca aberta, com aqueles olhos verdes semicerrados, em chamas. Fúria e choque não parecem bons para ele. As emoções distorcem seu belo rosto,
estragam as linhas suaves de sua pele, fazendo-o parecer bem mais velho. Seus punhos estão fechados, apertados em seus lados, mas ele pisca uma vez e a reação diminui. Há muitas coisas que eu não sei sobre Bryan Ferro, mas uma coisa eu sei, ele é uma merda em manter as coisas escondidas. Seus pensamentos dançam em seu rosto de vez em quando, e é por isso que ele está desconfiado de mim.
Virando abruptamente, Bryan pressiona seus dedos em sua têmpora direita. Sua voz sai como um grunhido.
— Eu lhe disse para ir embora.
— Seus ombros estão tensos, cada músculo está apertado a ponto de eu poder ver as curvas de seu corpo sob essa camisa. Ele flexiona a mão que está ao seu lado antes de deslizar em seu bolso. Bryan pode ser capaz de esconder tudo, de todos os outros, mas não de mim.
— Sim, eu ouvi essa parte. — Eu ajo como se eu não me importasse, deito-me no tapete, e dobro as minhas mãos atrás da minha cabeça. O piso é suave e difuso. Levanto os meus joelhos, eu deixo a queda do meu vestido em torno dos meus tornozelos e até meus pés, para sentir a pilha macia entre os dedos dos pés. O tapete no meu antigo quarto parecia como um saco de batata, em relação a este material.
Mesmo com Bryan irado, eu estou sorrindo. A vozinha na parte de trás da minha cabeça me diz que eu perdi minha mente. Eu respondo de volta que eu nunca tive um controle firme sobre isso de qualquer maneira.
https://img.comunidades.net/bib/bibliotecasemlimites/2_A_PROPOSI_O.jpg
Bryan pode ver meu reflexo no espelho, mas eu não
posso ver mais do que as suas costas e a maneira como ele
agarra sua cabeça como se fosse explodir. Ele está furioso
comigo? Não consigo entender sua raiva, mas transborda
para fora de sua boca de novo, espetando como espinhos,
neste momento.
— Se você não consegue entender os termos deste
acordo, então eu temo que nós não tenhamos um.
— O quê? — Sento-me e giro em torno, de modo que
estou de frente para as suas costas.
Bryan se vira, e a tensão que está estampada no seu
rosto é horrível. Eu encontro o seu olhar, mas eu não posso
olha-lo sem querer corrigir o que está fazendo com ele. Todas
as imagens na imprensa mostram a versão de Bryan que eu
conhecia, leve e despreocupado, mas este homem, aqui, não é
nenhuma dessas coisas. Algo está esmagando-o de dentro
para fora e deixando-o em pedaços. Seu corpo está tremendo,
ele está tão bravo. Ele tenta respirar fundo, mas isso só faz o
seu rosto ficar mais apertado.
— Você me ouviu. Se você não fizer as coisas do meu
jeito, eu vou arruinar você. Este não é o meu jeito, você sabe
muito bem disso. Saia daqui.
Ele não grita, mas suas palavras me fazem tremer. Não
há calor, não há compaixão. Talvez eu não o conheça mais e
ele está certo. Apertando os lábios, eu engulo minha resposta,
mas esta incha dentro de mim e enche meu peito. Eu peguei
meus sapatos saltos de volta e calcei em meus pés cansados
antes de levantar. Eu ando mais e pego minha bolsa.
Eu deveria sair. A vozinha dentro de mim canta como
um duende com uma voz agradável, sim, vá. Faça isso.
Agora.
Meus olhos estão fixos na porta como se fosse o
caminho para o inferno. Algo sobre sair agora parece errado,
mas não posso entender sobre o que está prendendo meus
pés no lugar. Caramba, é o pensamento que está me
segurando. Ele está me prendendo aqui e eu não posso me
mover. Parece como engolir o vômito e eu não posso fazê-lo.
Eu sou o cérebro danificado, mas não posso ser algo que não sou.
Girando sobre meus pés, eu atravesso o piso acarpetado
e elegante, e caminho até ele. Bryan não se vira para olhar
para mim. Em vez disso, suas mãos estão segurando a parte
superior do bar como se ele quisesse arrancá-lo da parede.
Suas costas estão curvadas e sua cabeça está pendurada
entre os ombros, como se ele estivesse tentando não me
rasgar em pedaços. Outra mulher teria corrido agora mesmo,
mas eu sou a dopada que anda mais perto.
— Eu sou uma idiota, — eu digo, enquanto olho para os
meus sapatos, e rio de leve. É o tipo de som que não tem
alegria e revela uma alma torturada. Meus olhos levantam
para seus ombros. Eu fico lá por um momento esperando que
ele se vire, mas ele não vira. Bryan não fala ou levanta o
olhar. Ele permanece debruçado sobre o bar como um troll 1.
Eu continuo, — vê-lo hoje à noite foi terrível e
maravilhoso. Isso evocou memórias e sentimentos que eu
tinha tempo esquecido há muito. Escrever sobre, é uma
coisa, mas vê-lo novamente está além das palavras.
Desculpe-me se eu o machuquei, mesmo que eu não entenda
o que eu fiz. E seu eu pudesse corrigir. Eu...
Por que estou fazendo isso? Eu estou me desculpando
com as suas costas, o homem não tem sequer a decência de
se virar e encarar-me. Eu respiro fundo e endireito a minha
espinha.
— As pessoas cometem erros, Bryan, e parece que o
meu maior erro foi conhecê-lo.
1
Troll – é uma gíria que designa uma pessoa cujo comportamento tende sistematicamente a desestabilizar uma
discussão, provocar e enfurecer as pessoas envolvidas nela. Há trolls de todo tipo, desde o mais ignorante e rude
que xinga e provoca, até o mais apto intelectualmente que discursa com o objetivo de desestabilizar o interlocutor
e levá-lo a fúria, para depois desqualificá-lo, matando seu argumento e abalando sua reputação.
A fúria me inunda quando eu corro pela sala. Eu agarro
a maçaneta da porta e não olho para trás, apesar de sentir
seus olhos em mim. Dane-se ele. Eu vivi coisas piores. Eu
digo essas palavras uma e outra vez, porque aconteceu.
Depois corro pelo corredor, aperto o botão para baixo no
elevador uma e outra vez, perguntando por que eu estou tão
chateada. Depois de um momento, eu sinto o pensamento
picar os meus olhos e apertar a minha garganta e eu sei
exatamente por que estou tão chateada.
É possível que as coisas estejam invertidas, e como eu
não conhecesse o verdadeiro Bryan Ferro, aquele com quem
dormi todos esses anos, era o falso.
CAPÍTULO 2
Eu não posso ir para casa e enfrentar Neil, por isso eu
telefono para Maggie. Ela atende no terceiro toque. Eu estou
andando na rua em frente ao hotel com o meu telefone
pressionado ao meu ouvido. É tarde e escuro. Evitando as
sombras, eu ando mais perto da rua do que no hotel.
— Maggie. — Eu tento esconder a tensão na minha voz,
mas ela ouve. Nós nos conhecemos há muito tempo. — Vou
tirar suas bolas fora.
— O que diabo aconteceu? Onde você está? — Ela me
enche de perguntas, até que eu possa finalmente fazê-la calar
a boca.
— Eu preciso de um lugar para dormir. Eu não posso
ver Neil agora e eu não tenho outro lugar para ir.
Maggie fica em silêncio.
— O que é meu, é seu. Você sabe disso, mas eu não
tenho certeza que você vá gostar.
— Em qualquer lugar é melhor do que aqui ou com Neil.
— Eu sinto uma náusea fazendo seu caminho até a minha
garganta. Lágrimas estão chegando, e tenho a sensação de
que vai ser um maremoto.
— Claro, claro. Eu estarei aí em cinco minutos.
— A linha de Maggie desliga, e eu fecho o meu telefone e
o coloco em minha bolsa.
A cidade se move em torno de mim, mas parece que eu
estou em uma bolha. As pessoas passam na calçada, mas eu
não as noto. Eu passeio, perdida em pensamentos, agarrando
minha bolsa perto do meu corpo. O ar da noite tem aquele
cheiro que é distintamente de Nova York. Eu o inspiro e
quando me viro, quase bato em alguém. O cara é uma
parede, de marrom e preto. Seu casaco tem cheiro de cigarros
velhos e naftalina.
Antes de eu ter tempo para descobrir o que está
acontecendo, ele pega a minha bolsa, em seguida, coloca a
mão no centro do meu peito e me empurra, com força. Eu
grito, tropeço e caio para trás, enquanto minha bolsa é
arrancada de minhas mãos. O cara se vira e está pronto para
correr, mas eu não estou com disposição para perder a bolsa.
Eu estou fodidamente quebrada. Todo o dinheiro que eu
tenho está lá dentro.
Antes que eu saiba o que estou fazendo, eu pego um dos
meus sapatos de salto alto e atiro em sua cabeça. Acerto e ele
cai na calçada. Poucas pessoas param para assistir, mas
ninguém faz nada - típico dos nova-iorquinos. Todo mundo
quer ver, mas ninguém ajuda.
Nesse ponto, tudo acontece em câmera lenta. Eu estou
em pé, mesmo que eu não me lembre de ficar pé. Um pé está
congelado, sobre o cimento frio, enquanto o outro ainda está
calçado. O ladrão levanta a mão e bota na parte de trás de
sua cabeça e puxa-a. Ele olha para os seus dedos, seus olhos
escuros apreciando o sangue vermelho e pegajoso em sua
mão. A ponta do meu salto que bateu com a parte traseira de
seu couro cabeludo, deve tê-lo cortado.
Meu coração para, quando o sujeito se vira para mim.
Seus olhos têm um olhar enlouquecido e os ombros tremem
como se ele fosse me rasgar ao meio.
— Você. — Ele diz isso como se fosse o meu nome e ele
me odeia.
O homem dá passos em direção a mim e fala
novamente, mas suas mãos lentamente movem para cima,
como se ele fosse me atacar ou me estrangular. Eu suspiro
alguma coisa, mas ele não sai antes de eu dar um passo para
trás, aterrorizada. Meu pulso ruge em meus ouvidos, então
olho em volta a procura de ajuda, mas não vejo ninguém. A
multidão se afastou, ou talvez eu tenha ido embora. Onde
está um policial quando eu preciso de um?
O resto acontece freneticamente rápido. Alguém grita
comigo, enquanto o homem procura o meu pescoço. Eu caio,
mas ele pega no meu ombro. Ele aperta-me com força,
fazendo com que o meu pescoço estale para trás enquanto ele
grita na minha cara.
— Sua pequena vadia!
O resto de suas palavras se tornam zumbidos, enquanto
ele me aperta mais. Estou ciente do vento, do ar da noite, e
do homem que está me estrangulando. Em algum momento,
as mãos deslizam até o pescoço. Eu agarro em suas mãos e
tento gritar, mas não sai nada. Eu não entendo por que
ninguém nos vê, por que eles simplesmente deixam esse
ladrão me machucar.
Balançando as minhas pernas, eu o chuto, mas não
adianta. Eu não sou forte o suficiente. Eu tentei tudo o que
sabia fazer e nada funcionou. O homem me atira e bate
minhas costas contra uma parede de tijolos. O frio me sacode
e me pergunto como chegamos ao beco ao lado do hotel, mas
os pensamentos cessam quando vejo o olhar em seus olhos.
Um sorriso mal aparece em seu rosto quando ele rasga o
ombro do meu vestido. O tecido sai em sua mão e permite
que o vestido deslizar alguns centímetros.
Abro a boca para gritar, mas sua mão imunda me cobre,
impedindo a saída do som. Sua mão me tateia, sentindo
meus seios enquanto ele sussurra em meu ouvido todas as
coisas horríveis que ele pretende fazer comigo. — Então, eu
vou levar a minha faca e... — Suas palavras desagradáveis
param imediatamente, após o som do estalar de madeira.
Assim como, de repente, a mão no meu pescoço se foi e
eu suspiro em uma respiração trêmula e olho para cima. Está
muito escuro para ver, mas há um homem vestido de
smoking, avançando sobre o ladrão. Ele lança socos uma e
outra vez, até que eles estão na parte de trás do beco, presos
por uma parede de tijolos. O ladrão é espancado e sangra,
mas ele não para de lutar. Nem o homem de smoking. Ele
distribui socos como um boxeador, tanto assim que é
hipnótico assistir. Quando a faca aparece, eu esperava que as
coisas se transformassem em favor do ladrão, mas isso não
acontece. O homem de smoking desarma o idiota e toma a
arma. Aconteceu tão rápido que eu não posso dizer como foi
feito. O homem de smoking recua seu braço como se
estivesse para empurrar a faca no peito do cara.
— Pare! — Eu chamo antes de perceber o que estou
fazendo. Uma das minhas mãos está segurando meu vestido
no busto e a outra está mal tocando meus lábios. Eu não
posso ver o cara morrer, mas eu não consigo desviar o olhar
também.
O homem de smoking não para. Um grito tremendo sai
dilacerado da minha garganta quando ele bate a faca no
ombro do ladrão. O bandido pega no seu braço e desliza para
baixo da parede, segurando seu ombro enquanto o casaco
fica encharcado de sangue. Ele olha diretamente para mim
com raiva.
O homem de smoking chuta o ladrão uma vez, e uma
voz familiar disse:
— Vá embora.
Eu tremo quando ouço isso, porque eu sei quem é ele,
Bryan. Ele deve ter me seguido. O medo agarra e azeda
dentro do meu estômago, enquanto eu olho para as suas
costas. Bryan não vira o rosto para mim. O ladrão comprime
os lábios e se levanta do chão do beco. Ele faz o seu caminho
passando por mim, e não diz nada.
Um tremor se apodera de mim e escorre pela minha
espinha, me fazendo ofegar. É quando ele se vira. O rosto de
Bryan está pálido e coberto de um brilho fino de suor. Ele
caminha de volta para mim e eu posso ver onde ele tomou
algumas pancadas. Há um rasgo em sua camisa, sob a lapela
do paletó, onde a faca cortou antes Bryan tomá-la do ladrão.
Passo a passo, ele caminha em minha direção, e eu
estou mais assustada por Bryan que qualquer coisa que já
encontrei. O que foi isso? Ele teria matado o homem se eu
não tivesse gritado? Eu não consigo parar de tremer.
Bryan alcança os meus ombros para me firmar, e eu
sinto aquele choque familiar que acompanha o seu toque.
Seu polegar esfrega suavemente sobre minha pele. — Você
está bem?
Mas, é muito. Eu não posso. Eu não posso. Eu não posso.
O pensamento não faz sentido, mas eu sei que tenho que
fazer com que ele me liberte. Seu toque tem uma maneira de
me desfazer, e eu estou caindo aos pedaços. Recuso-me a
deixá-lo ser o único a testemunhar isso. Eu empurro para
longe, e aceno com a cabeça rapidamente.
— Eu estou bem.
As mãos de Bryan permanecem paradas no ar por um
momento, antes de ele abaixa-las junto com seu olhar. Ele
observa o chão por um segundo e quando ele levanta o
queixo, vejo um sorriso nos seus lábios.
— Mentirosa. Você está longe de estar bem, mas eu
estou contente que você esteja parada.
Eu fico olhando para ele, incapaz de encontrar uma
resposta. Sua voz soa carinhosa, quase arrependida. Ele olha
por cima do meu ombro para alguém e, em seguida, diz:
— A sua carona está aqui. Da próxima vez, não tente
derrubar um assaltante por si mesmo.
Eu falo sem querer, mas as palavras saem e caem fora.
— Da próxima vez, não mate um homem por roubar minha
bolsa.
O canto dos lábios de Bryan puxa para cima, como se
quisesse sorrir, mas ele não sorri.
— Eu não iria matar um homem por roubar uma bolsa.
Que tipo de pessoa você acha que eu sou?
— Honestamente, eu não sei mais. Eu achava que sabia,
mas depois disso... — Eu balanço minha cabeça e fico sem
palavras. Bryan mudou o ataque no último segundo. Essa
faca não estava voltada para o ombro do homem — estava
dirigida para o seu coração. — Você ia matá-lo. Eu vi, você
não pode me dizer que não iria.
Bryan se inclina mais perto, e quando ele fala seu hálito
quente sussurra contra a minha orelha.
— Talvez, mas não foi porque ele pegou sua bolsa. — Ele
se inclina para trás e desliza as mãos nos bolsos, enquanto
seus olhos verdes me percorrem. — Ninguém toca em você,
enquanto você está comigo.
— Eu engulo em seco e olho para ele, com o coração
ainda disparando.
Maggie aparece atrás de mim um segundo depois. Ela
pega meu ombro e me vira.
— Hallie, diabo está acontecendo, e por que você está
aqui no beco sozinha? — Ela vê a maneira que eu estou
segurando meu vestido e o tecido rasgado. A preocupação
persiste em seu rosto, esperando pela minha resposta.
— Eu não estou sozinha, — mas quando me viro para
olhar, Bryan já se foi.
CAPÍTULO 3
Eu estive em um casulo de tristeza e este evento o
quebrou. Minha atordoada indiferença fratura e estilhaça,
como vidro barato. Eu olho para a bolsa presa em minha mão
e me pergunto o que há de errado comigo, mas ainda mais,
eu não consigo parar de pensar em Bryan, como ele veio do
nada e quase matou o homem que tentou me machucar.
Pare de pensar assim, eu me repreendo. Bryan agiu
como um lunático. A imagem de Bryan esfaqueando o cara
persiste através dos meus olhos mais uma vez e faz o meu
estômago embrulhar.
Maggie está falando, mas eu não disse muito. Estamos
em seu velho Ford Escort. A coisa corre mal, mas eu não
posso reclamar. Eu nem mesmo tenho um carro, não mais.
Maggie olha para mim por trás do volante, enquanto suas
mãos o seguram com firmeza.
— Hallie, se você estiver com vontade de vomitar, baixe
a janela. Aqui já cheira estranho o suficiente. — Ela está
certa, o carro tem um odor não identificável que está lá desde
que ela comprou.
— Eu estou bem, — eu digo novamente, embora seja
uma mentira. Meus braços envolvem meu peito para
esconder como minhas mãos tremem.
— Ah, Hallie, eu sei que você não quer falar e que está
tudo bem, mas eu quero informa-la sobre a minha nova casa.
— Eu olho para ela, sem entender o que ela quer dizer.
Maggie me dá um sorriso tímido e encolhe os ombros até as
suas orelhas, enquanto dirige. — Vamos apenas dizer que
não é algo que você aprovaria.
Eu não tenho paciência para lidar com seus enigmas
neste momento. A vida de Maggie é mais difícil do que a
minha, e eu sei disso, mas ela nunca tinha escondido coisas
de mim antes. Desta vez, é claro que ela escondeu, e isso me
preocupa. As únicas coisas que eu desaprovo são as que
possam matá-la. A menina não tem nenhum senso. Às vezes
me pergunto sobre ela, e como ela escolhe o que faz. Sorrio
sem jeito e olho para o tapete sujo no chão, que alguma vez
foi azul.
— O que é tão engraçado? — Maggie parece indignada,
como se eu a tivesse ofendido.
— Nada. Vamos apenas dizer que, se você soubesse o
que eu estava fazendo esta noite, você não se sentiria tão na
defensiva. Tenho certeza de que sua casa é boa.
Maggie se tranquiliza. Ela suspira quando vira em uma
rua lateral e começamos a fazer o nosso caminho através de
um bairro degradado. As casas são marcadas e branqueadas
pelo Sol, com gramados mortos, mas os carros são
customizados e caros. Mesmo que seja tarde, as pessoas
movem-se, sem fazer nada. Eu olho para a minha porta,
querendo trancá-la, mas eu não me mexo. Enquanto nós
rodamos passando pelos grupos de pessoas, os olhos deles
viram e nos assistem passar, antes de voltar para o que eles
estavam fazendo.
Maggie finalmente diz: — Não é muito, mas acho que
vale a pena.
— Você não tem que defender o seu apartamento para
mim, Maggie. Eu sou uma maldita sem-teto. — Eu olho para
ela e inclino a cabeça para trás no assento. Minhas palavras
não a consolam, então eu acrescento: — Além disso, eu não
sou uma garota-propaganda da moralidade, também. Você
não vai acreditar no que eu fiz hoje à noite, e o que eu vou
fazer. — Minha voz falha e eu balanço a cabeça, pensando
nos lábios de Bryan. Estou horrorizada por reagir da maneira
como o faço, mesmo que com a memória.
Ela ri uma vez, rapidamente. — Sim, certo. Hallie, você
nunca faz nada de mau. Estúpido, sim. Mau, não.
Eu olho para fora da janela e não vejo nada. As casas
deram lugar a apartamentos que se estendem para o céu na
noite. Fachadas de tijolos já viram dias melhores. Muitos
parecem vazios, como se ninguém vivesse lá, por muitos
anos. Meu peito se aperta e eu me contorço na cadeira. Meu
Deus, ela mora aqui? Por que ela não me contou? Há carros
queimados, latas de lixo viradas e entulho, tudo espalhado
por toda parte. Parece que a rua foi saqueada e esquecida,
assim como Maggie.
Segundas decisões são as que mudam vidas. Eu faço a
minha e cuspo fora antes de me acovardar.
— Bryan Ferro está me chantageando. Se eu não dormir
com ele sempre que ele quiser, vai dizer às pessoas que ele é
o cara no livro e fazer o que for preciso para me arruinar. Ele
disse que ia usar tudo o que tem contra mim e me deu um
ultimato.
Os grandes olhos de Maggie viram em minha direção,
com o queixo caído e boca aberta.
— Puta merda! Quando isso aconteceu? Como você vai
detê-lo? — Ela pisca para mim e vira os olhos de volta para a
estrada, embora eu saiba que ela não quer.
Esta é a parte que me faz sentir um lixo. Eu não sou
quem ela pensa que eu sou. Eu não tenho uma estrutura
moral de aço. Eu não posso nem olhar para ela.
— Esta noite eu acabei fazendo o anúncio do prêmio no
show com ele, e então ele me encontrou no banquete. — Eu
digo. Eu tento fazer a minha boca mover-se para formar as
palavras, mas não vão sair.
— De jeito nenhum. — Ela estaciona em um parque de
estacionamento que parece que foi usado como um local de
explosão da força aérea e desliga o carro. — Pegue suas
coisas e tranque a porta. — Eu faço como ela diz e me
apresso atrás dela. — Mantenha seus olhos baixos e me siga.
Não fale ou olhe para ninguém.
Entramos no lado de um desses prédios de tijolos
antigos e subimos alguns lances de escadas, até o quarto
andar. No momento que chegamos ao seu andar, eu quero
jogar o resto do meu sapato para fora da janela. Eu poderia,
não há vidro no painel. Eu a sigo, até a porta e por um longo
corredor mal iluminado. Nós paramos em frente à sua porta.
Enquanto ela se atrapalha com a chave, a porta contrária à
dela se abre. Um homem pálido, com cabelo loiro descolorido
e vestindo uma camiseta regata branca e cueca está lá e olha
para nós. Eu posso sentir seus olhos nas minhas costas. Ele
se inclina contra o batente da porta e cruza os braços sobre o
peito.
Quando ele fala, soa rouco, como se ele fumasse um
maço de cigarros todos os dias desde que ele tinha dois anos
de idade. — Trouxe-me outra?
— Não, — Maggie diz com firmeza. Ela não se vira para
olhar para o cara. Se eu não a conhecesse melhor, eu acharia
que ela estava com medo dele. Eu não aguento mais stress
esta noite. Meu cérebro parece que vai partir em dois, antes
que eu murche e morra. Maggie pega a chave para abrir, mas
porta emperra. Ela chuta uma vez com o pé e a porta mexe
ligeiramente. — Maldita porta, — ela murmura.
— Qual é o seu nome, docinho? — O cara está falando
comigo. Viro-me e olho por cima do ombro, e nossos olhos se
encontram. Ele envia um olhar frio para mim, ao ver o jeito
como ele está olhando de soslaio. O cara é enorme, ele é todo
músculos e agora ele está sorrindo para mim, revelando uma
coroa de ouro em seu dente canino.
— Oi, — eu digo timidamente, e arrumo o meu cabelo
para atrás da minha orelha, tentando evitar o olhar dele
enquanto não respondo sua pergunta.
Enquanto o cara está de boca aberta, Maggie chuta na
porta. A porta se abre, ela agarra meu braço e me puxa. Eu
sigo, voando atrás dela enquanto ela grita por cima do ombro,
— eu vou lhe trazer alguém amanhã, eu juro. Boa noite, Vic.
— Ela bate a porta com o pé e parece abalada.
Seu apartamento é aproximadamente o mesmo tamanho
de um pequeno corredor. Há uma pequena janela com uma
folha grampeada sobre ela e sem móveis. Algumas das roupas
de Maggie estão jogadas ao redor do lugar, como se ela
tivesse saído com pressa. Se eu morasse aqui, eu iria embora
rapidamente, também.
— Obrigado por me deixar ficar com você.
— Sim, não há problema. É uma merda como este é o
pior lugar que eu já vivi, mas é um refúgio. Eu durmo aqui e,
em seguida, dou o fora. O aluguel não é horrível. — Ela
oferece um sorriso torto, mas é franco.
Eu preciso dela, e não há um muro entre nós. Ela acha
que eu sou perfeita, mas eu não sou. Eu fiz coisas que ela
não sabe. As palavras estão na minha língua e eu enrolo-as
em torno de minha boca, tentando descobrir como dizer isso,
enquanto a Maggie tagarela, enchendo o ambiente com sua
voz.
Um casal está brigando nas proximidades, e o som está
cada vez mais alto. Estão lutando, eu não quero dizer
discutindo. Há coisas batendo nas paredes e quebrando.
Chove gesso para baixo sobre nós como flocos de neve
quando algo cai de cima. Maggie olha horrorizada quando ela
puxa sua cama Murphy 2 para baixo da parede. Tomando
quase toda a sala. — Você pode dormir aqui. Eu vou dormir
no chão.
— Não.
Ela sorri. — Não seja boba, você é minha convidada. —
Palavrões ressoam acima de nós quando um homem irritado
grita. É prontamente seguido de um grito agudo. Maggie
morde as unhas do jeito que ela fazia quando éramos
crianças e olha em volta, como se ela desejasse poder
queimar o lugar.
2
— Eu não vou fazer você dormir no chão, mas há outra
coisa que eu preciso lhe dizer.
— Maggie olha para mim por debaixo de sua massa de
cabelo vermelho. Eu sou sua única amiga de verdade, sua
única família e ela a minha. Deus, o que é que ela vai pensar
de mim quando eu lhe disser o que eu concordei em fazer?
Eu não acho que eu vou ser capaz de suportá-lo. Meus
braços ainda estão dobrados sobre o peito, com as mãos
firmemente aninhadas nos meus braços.
— Hallie, qual o problema? — Maggie deixa de fazer a
cama e se senta. Ela dá um tapinha no lugar ao lado dela e
me sento.
Olhando para frente, eu engulo em seco e digo a ela.
— Eu disse que sim. — Você disse sim para o quê?
Hallie, você não está fazendo sentido, do que você está
falando?
Quando me viro para olhar para ela, e encontro com
aqueles grandes olhos verdes e sinto medo. Minha pele fica
arrepiada, mas eu não consigo desviar o olhar.
— Eu disse a Bryan Ferro que sim. Eu cedi. Ele ganhou
e eu perdi.
— O quê? — Ela está furiosa, pronta para voar para fora
do seu assento e defender-me até a morte.
Eu coloco minha mão no colo dela para fazê-la parar. —
Eu fui ao seu quarto de hotel para dizer-lhe para ir chupar
um prego, mas eu mudei de ideia quando ouvi sua voz. Eu
pensei que algo estava errado e esta era a sua maneira de
merda para me dizer. Conheci-o uma vez, pelo menos eu
pensei que tinha conhecido. Então, quando eu estava
esperando por você do lado de fora, eu... — minha voz está
trêmula e eu não posso mais esconder o meu horror, — um
cara tentou roubar minha bolsa. Para encurtar a história, ele
me pegou por trás do prédio e ia me machucar. Bryan
apareceu e ele... — Eu não posso dizer isso. Meu Bryan
perfeito fez algo que era tão diferente dele, tão terrivelmente
selvagem, que eu não sei o que pensar. Ele me protegeu, mas
ainda parece errado.
— Ele a machucou? — Maggie está furiosa, eu posso
ouvir em sua voz. Mas a forma como ela fala suas palavras
ondulando entre muito alta e baixa, dão a deixa.
— Não, ele atacou o homem, e esfaqueou-o. Se eu não
dissesse a Bryan para parar, acho que ele teria matado o
cara. — Olho para ela, mas eu não posso mais enxergar.
Meus olhos têm brilham com lágrimas que tudo fica
desfocado.
Maggie ergue os braços e eu caio neles. Ela sempre foi
como uma irmã para mim. Estivemos sempre uma para a
outra, e eu temo que a história com Bryan e o que eu me
tornei vá fazê-la me odiar. Meu pai teria vergonha de me
chamar de filha, e eu espero o mesmo de Maggie. Em vez
disso, ela fica lá no colchão gasto e me acalma.
Depois de um forte abraço, ela libera meus ombros e
pega meu queixo. — Você e eu passamos por tudo juntas.
Não pense que eu a estou socorrendo por causa disso. Se não
for por qualquer coisa, a vida fica mais interessante, isso é
tudo.
Eu enxugo as lágrimas dos meus olhos e rio, porque ela
está tão errada. — Esse é o eufemismo do ano.
— O meu ponto é, eu estou aqui por você. Eu sempre
estarei aqui para você. — Ela bate no meu ombro com a dela.
— Então, Bryan Ferro tem um lado negro por trás de todo o
brilho e deslumbre?
— Aparentemente.
— Foi divertido ou ele fez coisas estranhas?
Eu sorrio e limpo meus olhos novamente. — Não, não
hoje à noite de qualquer maneira. Ele me chamou para seu
quarto, eu fui, e nos beijamos. Então, ele me mandou ir
embora.
Os lábios de Maggie puxaram um pouco para cima. —
Ele a jogou para fora? Mas que inferno...?
— Eu não sei. É como se ele estivesse louco e deixando o
Hulk sair ou algo assim. Ele não olhava para mim. As coisas
estavam quentes e pesadas até então. — A intuição continua
me dizendo que algo estava errado, mas não posso entender o
quê.
Maggie sorri: — Ele foi melhor do que Neil, certo?
Eu faço uma careta e olhou para ela como se ela fosse
louca. — Uh, Bryan está me chantageando.
— E ele é mais quente do que Neil. Vá em frente, diga.
Eu sou sua amiga, então eu já sei.
Eu baixei meus olhos em direção ao chão e não disse
nada. Eu não tenho que dizer nada, a minha expressão diz
tudo. Bryan é muito mais quente do que Neil, não há
comparação. Os dois homens são noite e dia, e Bryan é a
noite sexy. Neil a voz racional que soa como o FDA 3,
lembrando-me de fazer todas as coisas com moderação, mas
não todas as coisas, somente as ações que ele aprova. Droga.
Eu enterro meu rosto em minhas mãos e suspiro.
Maggie acaricia minhas costas. — Está tudo bem.
Qualquer um é mais quente do que Neil. Não se sinta
culpada, mas eu não contaria exatamente ao Senhor Calças
Perfeitamente Passadas. Ele vai surtar ao saber que alguém
tocou em você. — Maggie está tirando as roupas e puxando
uma camisa de dormir e calças, enquanto ela fala.
— Na verdade, Neil sabe.
3 FDA - Food and Drug Administration - Agencia reguladora de remédios e alimentos.
— O quê? — Ela está pulando em um pé, tentando
enfiar o pé pela perna da calça e cai. — Como é que ele sabe?
Você disse que acabou de acontecer.
— Neil sabe por que foi ele quem me disse para fazer
isso.
CONTINUA
Bryan está de queixo caído e boca aberta, com aqueles olhos verdes semicerrados, em chamas. Fúria e choque não parecem bons para ele. As emoções distorcem seu belo rosto,
estragam as linhas suaves de sua pele, fazendo-o parecer bem mais velho. Seus punhos estão fechados, apertados em seus lados, mas ele pisca uma vez e a reação diminui. Há muitas coisas que eu não sei sobre Bryan Ferro, mas uma coisa eu sei, ele é uma merda em manter as coisas escondidas. Seus pensamentos dançam em seu rosto de vez em quando, e é por isso que ele está desconfiado de mim.
Virando abruptamente, Bryan pressiona seus dedos em sua têmpora direita. Sua voz sai como um grunhido.
— Eu lhe disse para ir embora.
— Seus ombros estão tensos, cada músculo está apertado a ponto de eu poder ver as curvas de seu corpo sob essa camisa. Ele flexiona a mão que está ao seu lado antes de deslizar em seu bolso. Bryan pode ser capaz de esconder tudo, de todos os outros, mas não de mim.
— Sim, eu ouvi essa parte. — Eu ajo como se eu não me importasse, deito-me no tapete, e dobro as minhas mãos atrás da minha cabeça. O piso é suave e difuso. Levanto os meus joelhos, eu deixo a queda do meu vestido em torno dos meus tornozelos e até meus pés, para sentir a pilha macia entre os dedos dos pés. O tapete no meu antigo quarto parecia como um saco de batata, em relação a este material.
Mesmo com Bryan irado, eu estou sorrindo. A vozinha na parte de trás da minha cabeça me diz que eu perdi minha mente. Eu respondo de volta que eu nunca tive um controle firme sobre isso de qualquer maneira.
https://img.comunidades.net/bib/bibliotecasemlimites/2_A_PROPOSI_O.jpg
Bryan pode ver meu reflexo no espelho, mas eu não
posso ver mais do que as suas costas e a maneira como ele
agarra sua cabeça como se fosse explodir. Ele está furioso
comigo? Não consigo entender sua raiva, mas transborda
para fora de sua boca de novo, espetando como espinhos,
neste momento.
— Se você não consegue entender os termos deste
acordo, então eu temo que nós não tenhamos um.
— O quê? — Sento-me e giro em torno, de modo que
estou de frente para as suas costas.
Bryan se vira, e a tensão que está estampada no seu
rosto é horrível. Eu encontro o seu olhar, mas eu não posso
olha-lo sem querer corrigir o que está fazendo com ele. Todas
as imagens na imprensa mostram a versão de Bryan que eu
conhecia, leve e despreocupado, mas este homem, aqui, não é
nenhuma dessas coisas. Algo está esmagando-o de dentro
para fora e deixando-o em pedaços. Seu corpo está tremendo,
ele está tão bravo. Ele tenta respirar fundo, mas isso só faz o
seu rosto ficar mais apertado.
— Você me ouviu. Se você não fizer as coisas do meu
jeito, eu vou arruinar você. Este não é o meu jeito, você sabe
muito bem disso. Saia daqui.
Ele não grita, mas suas palavras me fazem tremer. Não
há calor, não há compaixão. Talvez eu não o conheça mais e
ele está certo. Apertando os lábios, eu engulo minha resposta,
mas esta incha dentro de mim e enche meu peito. Eu peguei
meus sapatos saltos de volta e calcei em meus pés cansados
antes de levantar. Eu ando mais e pego minha bolsa.
Eu deveria sair. A vozinha dentro de mim canta como
um duende com uma voz agradável, sim, vá. Faça isso.
Agora.
Meus olhos estão fixos na porta como se fosse o
caminho para o inferno. Algo sobre sair agora parece errado,
mas não posso entender sobre o que está prendendo meus
pés no lugar. Caramba, é o pensamento que está me
segurando. Ele está me prendendo aqui e eu não posso me
mover. Parece como engolir o vômito e eu não posso fazê-lo.
Eu sou o cérebro danificado, mas não posso ser algo que não sou.
Girando sobre meus pés, eu atravesso o piso acarpetado
e elegante, e caminho até ele. Bryan não se vira para olhar
para mim. Em vez disso, suas mãos estão segurando a parte
superior do bar como se ele quisesse arrancá-lo da parede.
Suas costas estão curvadas e sua cabeça está pendurada
entre os ombros, como se ele estivesse tentando não me
rasgar em pedaços. Outra mulher teria corrido agora mesmo,
mas eu sou a dopada que anda mais perto.
— Eu sou uma idiota, — eu digo, enquanto olho para os
meus sapatos, e rio de leve. É o tipo de som que não tem
alegria e revela uma alma torturada. Meus olhos levantam
para seus ombros. Eu fico lá por um momento esperando que
ele se vire, mas ele não vira. Bryan não fala ou levanta o
olhar. Ele permanece debruçado sobre o bar como um troll 1.
Eu continuo, — vê-lo hoje à noite foi terrível e
maravilhoso. Isso evocou memórias e sentimentos que eu
tinha tempo esquecido há muito. Escrever sobre, é uma
coisa, mas vê-lo novamente está além das palavras.
Desculpe-me se eu o machuquei, mesmo que eu não entenda
o que eu fiz. E seu eu pudesse corrigir. Eu...
Por que estou fazendo isso? Eu estou me desculpando
com as suas costas, o homem não tem sequer a decência de
se virar e encarar-me. Eu respiro fundo e endireito a minha
espinha.
— As pessoas cometem erros, Bryan, e parece que o
meu maior erro foi conhecê-lo.
1
Troll – é uma gíria que designa uma pessoa cujo comportamento tende sistematicamente a desestabilizar uma
discussão, provocar e enfurecer as pessoas envolvidas nela. Há trolls de todo tipo, desde o mais ignorante e rude
que xinga e provoca, até o mais apto intelectualmente que discursa com o objetivo de desestabilizar o interlocutor
e levá-lo a fúria, para depois desqualificá-lo, matando seu argumento e abalando sua reputação.
A fúria me inunda quando eu corro pela sala. Eu agarro
a maçaneta da porta e não olho para trás, apesar de sentir
seus olhos em mim. Dane-se ele. Eu vivi coisas piores. Eu
digo essas palavras uma e outra vez, porque aconteceu.
Depois corro pelo corredor, aperto o botão para baixo no
elevador uma e outra vez, perguntando por que eu estou tão
chateada. Depois de um momento, eu sinto o pensamento
picar os meus olhos e apertar a minha garganta e eu sei
exatamente por que estou tão chateada.
É possível que as coisas estejam invertidas, e como eu
não conhecesse o verdadeiro Bryan Ferro, aquele com quem
dormi todos esses anos, era o falso.
CAPÍTULO 2
Eu não posso ir para casa e enfrentar Neil, por isso eu
telefono para Maggie. Ela atende no terceiro toque. Eu estou
andando na rua em frente ao hotel com o meu telefone
pressionado ao meu ouvido. É tarde e escuro. Evitando as
sombras, eu ando mais perto da rua do que no hotel.
— Maggie. — Eu tento esconder a tensão na minha voz,
mas ela ouve. Nós nos conhecemos há muito tempo. — Vou
tirar suas bolas fora.
— O que diabo aconteceu? Onde você está? — Ela me
enche de perguntas, até que eu possa finalmente fazê-la calar
a boca.
— Eu preciso de um lugar para dormir. Eu não posso
ver Neil agora e eu não tenho outro lugar para ir.
Maggie fica em silêncio.
— O que é meu, é seu. Você sabe disso, mas eu não
tenho certeza que você vá gostar.
— Em qualquer lugar é melhor do que aqui ou com Neil.
— Eu sinto uma náusea fazendo seu caminho até a minha
garganta. Lágrimas estão chegando, e tenho a sensação de
que vai ser um maremoto.
— Claro, claro. Eu estarei aí em cinco minutos.
— A linha de Maggie desliga, e eu fecho o meu telefone e
o coloco em minha bolsa.
A cidade se move em torno de mim, mas parece que eu
estou em uma bolha. As pessoas passam na calçada, mas eu
não as noto. Eu passeio, perdida em pensamentos, agarrando
minha bolsa perto do meu corpo. O ar da noite tem aquele
cheiro que é distintamente de Nova York. Eu o inspiro e
quando me viro, quase bato em alguém. O cara é uma
parede, de marrom e preto. Seu casaco tem cheiro de cigarros
velhos e naftalina.
Antes de eu ter tempo para descobrir o que está
acontecendo, ele pega a minha bolsa, em seguida, coloca a
mão no centro do meu peito e me empurra, com força. Eu
grito, tropeço e caio para trás, enquanto minha bolsa é
arrancada de minhas mãos. O cara se vira e está pronto para
correr, mas eu não estou com disposição para perder a bolsa.
Eu estou fodidamente quebrada. Todo o dinheiro que eu
tenho está lá dentro.
Antes que eu saiba o que estou fazendo, eu pego um dos
meus sapatos de salto alto e atiro em sua cabeça. Acerto e ele
cai na calçada. Poucas pessoas param para assistir, mas
ninguém faz nada - típico dos nova-iorquinos. Todo mundo
quer ver, mas ninguém ajuda.
Nesse ponto, tudo acontece em câmera lenta. Eu estou
em pé, mesmo que eu não me lembre de ficar pé. Um pé está
congelado, sobre o cimento frio, enquanto o outro ainda está
calçado. O ladrão levanta a mão e bota na parte de trás de
sua cabeça e puxa-a. Ele olha para os seus dedos, seus olhos
escuros apreciando o sangue vermelho e pegajoso em sua
mão. A ponta do meu salto que bateu com a parte traseira de
seu couro cabeludo, deve tê-lo cortado.
Meu coração para, quando o sujeito se vira para mim.
Seus olhos têm um olhar enlouquecido e os ombros tremem
como se ele fosse me rasgar ao meio.
— Você. — Ele diz isso como se fosse o meu nome e ele
me odeia.
O homem dá passos em direção a mim e fala
novamente, mas suas mãos lentamente movem para cima,
como se ele fosse me atacar ou me estrangular. Eu suspiro
alguma coisa, mas ele não sai antes de eu dar um passo para
trás, aterrorizada. Meu pulso ruge em meus ouvidos, então
olho em volta a procura de ajuda, mas não vejo ninguém. A
multidão se afastou, ou talvez eu tenha ido embora. Onde
está um policial quando eu preciso de um?
O resto acontece freneticamente rápido. Alguém grita
comigo, enquanto o homem procura o meu pescoço. Eu caio,
mas ele pega no meu ombro. Ele aperta-me com força,
fazendo com que o meu pescoço estale para trás enquanto ele
grita na minha cara.
— Sua pequena vadia!
O resto de suas palavras se tornam zumbidos, enquanto
ele me aperta mais. Estou ciente do vento, do ar da noite, e
do homem que está me estrangulando. Em algum momento,
as mãos deslizam até o pescoço. Eu agarro em suas mãos e
tento gritar, mas não sai nada. Eu não entendo por que
ninguém nos vê, por que eles simplesmente deixam esse
ladrão me machucar.
Balançando as minhas pernas, eu o chuto, mas não
adianta. Eu não sou forte o suficiente. Eu tentei tudo o que
sabia fazer e nada funcionou. O homem me atira e bate
minhas costas contra uma parede de tijolos. O frio me sacode
e me pergunto como chegamos ao beco ao lado do hotel, mas
os pensamentos cessam quando vejo o olhar em seus olhos.
Um sorriso mal aparece em seu rosto quando ele rasga o
ombro do meu vestido. O tecido sai em sua mão e permite
que o vestido deslizar alguns centímetros.
Abro a boca para gritar, mas sua mão imunda me cobre,
impedindo a saída do som. Sua mão me tateia, sentindo
meus seios enquanto ele sussurra em meu ouvido todas as
coisas horríveis que ele pretende fazer comigo. — Então, eu
vou levar a minha faca e... — Suas palavras desagradáveis
param imediatamente, após o som do estalar de madeira.
Assim como, de repente, a mão no meu pescoço se foi e
eu suspiro em uma respiração trêmula e olho para cima. Está
muito escuro para ver, mas há um homem vestido de
smoking, avançando sobre o ladrão. Ele lança socos uma e
outra vez, até que eles estão na parte de trás do beco, presos
por uma parede de tijolos. O ladrão é espancado e sangra,
mas ele não para de lutar. Nem o homem de smoking. Ele
distribui socos como um boxeador, tanto assim que é
hipnótico assistir. Quando a faca aparece, eu esperava que as
coisas se transformassem em favor do ladrão, mas isso não
acontece. O homem de smoking desarma o idiota e toma a
arma. Aconteceu tão rápido que eu não posso dizer como foi
feito. O homem de smoking recua seu braço como se
estivesse para empurrar a faca no peito do cara.
— Pare! — Eu chamo antes de perceber o que estou
fazendo. Uma das minhas mãos está segurando meu vestido
no busto e a outra está mal tocando meus lábios. Eu não
posso ver o cara morrer, mas eu não consigo desviar o olhar
também.
O homem de smoking não para. Um grito tremendo sai
dilacerado da minha garganta quando ele bate a faca no
ombro do ladrão. O bandido pega no seu braço e desliza para
baixo da parede, segurando seu ombro enquanto o casaco
fica encharcado de sangue. Ele olha diretamente para mim
com raiva.
O homem de smoking chuta o ladrão uma vez, e uma
voz familiar disse:
— Vá embora.
Eu tremo quando ouço isso, porque eu sei quem é ele,
Bryan. Ele deve ter me seguido. O medo agarra e azeda
dentro do meu estômago, enquanto eu olho para as suas
costas. Bryan não vira o rosto para mim. O ladrão comprime
os lábios e se levanta do chão do beco. Ele faz o seu caminho
passando por mim, e não diz nada.
Um tremor se apodera de mim e escorre pela minha
espinha, me fazendo ofegar. É quando ele se vira. O rosto de
Bryan está pálido e coberto de um brilho fino de suor. Ele
caminha de volta para mim e eu posso ver onde ele tomou
algumas pancadas. Há um rasgo em sua camisa, sob a lapela
do paletó, onde a faca cortou antes Bryan tomá-la do ladrão.
Passo a passo, ele caminha em minha direção, e eu
estou mais assustada por Bryan que qualquer coisa que já
encontrei. O que foi isso? Ele teria matado o homem se eu
não tivesse gritado? Eu não consigo parar de tremer.
Bryan alcança os meus ombros para me firmar, e eu
sinto aquele choque familiar que acompanha o seu toque.
Seu polegar esfrega suavemente sobre minha pele. — Você
está bem?
Mas, é muito. Eu não posso. Eu não posso. Eu não posso.
O pensamento não faz sentido, mas eu sei que tenho que
fazer com que ele me liberte. Seu toque tem uma maneira de
me desfazer, e eu estou caindo aos pedaços. Recuso-me a
deixá-lo ser o único a testemunhar isso. Eu empurro para
longe, e aceno com a cabeça rapidamente.
— Eu estou bem.
As mãos de Bryan permanecem paradas no ar por um
momento, antes de ele abaixa-las junto com seu olhar. Ele
observa o chão por um segundo e quando ele levanta o
queixo, vejo um sorriso nos seus lábios.
— Mentirosa. Você está longe de estar bem, mas eu
estou contente que você esteja parada.
Eu fico olhando para ele, incapaz de encontrar uma
resposta. Sua voz soa carinhosa, quase arrependida. Ele olha
por cima do meu ombro para alguém e, em seguida, diz:
— A sua carona está aqui. Da próxima vez, não tente
derrubar um assaltante por si mesmo.
Eu falo sem querer, mas as palavras saem e caem fora.
— Da próxima vez, não mate um homem por roubar minha
bolsa.
O canto dos lábios de Bryan puxa para cima, como se
quisesse sorrir, mas ele não sorri.
— Eu não iria matar um homem por roubar uma bolsa.
Que tipo de pessoa você acha que eu sou?
— Honestamente, eu não sei mais. Eu achava que sabia,
mas depois disso... — Eu balanço minha cabeça e fico sem
palavras. Bryan mudou o ataque no último segundo. Essa
faca não estava voltada para o ombro do homem — estava
dirigida para o seu coração. — Você ia matá-lo. Eu vi, você
não pode me dizer que não iria.
Bryan se inclina mais perto, e quando ele fala seu hálito
quente sussurra contra a minha orelha.
— Talvez, mas não foi porque ele pegou sua bolsa. — Ele
se inclina para trás e desliza as mãos nos bolsos, enquanto
seus olhos verdes me percorrem. — Ninguém toca em você,
enquanto você está comigo.
— Eu engulo em seco e olho para ele, com o coração
ainda disparando.
Maggie aparece atrás de mim um segundo depois. Ela
pega meu ombro e me vira.
— Hallie, diabo está acontecendo, e por que você está
aqui no beco sozinha? — Ela vê a maneira que eu estou
segurando meu vestido e o tecido rasgado. A preocupação
persiste em seu rosto, esperando pela minha resposta.
— Eu não estou sozinha, — mas quando me viro para
olhar, Bryan já se foi.
CAPÍTULO 3
Eu estive em um casulo de tristeza e este evento o
quebrou. Minha atordoada indiferença fratura e estilhaça,
como vidro barato. Eu olho para a bolsa presa em minha mão
e me pergunto o que há de errado comigo, mas ainda mais,
eu não consigo parar de pensar em Bryan, como ele veio do
nada e quase matou o homem que tentou me machucar.
Pare de pensar assim, eu me repreendo. Bryan agiu
como um lunático. A imagem de Bryan esfaqueando o cara
persiste através dos meus olhos mais uma vez e faz o meu
estômago embrulhar.
Maggie está falando, mas eu não disse muito. Estamos
em seu velho Ford Escort. A coisa corre mal, mas eu não
posso reclamar. Eu nem mesmo tenho um carro, não mais.
Maggie olha para mim por trás do volante, enquanto suas
mãos o seguram com firmeza.
— Hallie, se você estiver com vontade de vomitar, baixe
a janela. Aqui já cheira estranho o suficiente. — Ela está
certa, o carro tem um odor não identificável que está lá desde
que ela comprou.
— Eu estou bem, — eu digo novamente, embora seja
uma mentira. Meus braços envolvem meu peito para
esconder como minhas mãos tremem.
— Ah, Hallie, eu sei que você não quer falar e que está
tudo bem, mas eu quero informa-la sobre a minha nova casa.
— Eu olho para ela, sem entender o que ela quer dizer.
Maggie me dá um sorriso tímido e encolhe os ombros até as
suas orelhas, enquanto dirige. — Vamos apenas dizer que
não é algo que você aprovaria.
Eu não tenho paciência para lidar com seus enigmas
neste momento. A vida de Maggie é mais difícil do que a
minha, e eu sei disso, mas ela nunca tinha escondido coisas
de mim antes. Desta vez, é claro que ela escondeu, e isso me
preocupa. As únicas coisas que eu desaprovo são as que
possam matá-la. A menina não tem nenhum senso. Às vezes
me pergunto sobre ela, e como ela escolhe o que faz. Sorrio
sem jeito e olho para o tapete sujo no chão, que alguma vez
foi azul.
— O que é tão engraçado? — Maggie parece indignada,
como se eu a tivesse ofendido.
— Nada. Vamos apenas dizer que, se você soubesse o
que eu estava fazendo esta noite, você não se sentiria tão na
defensiva. Tenho certeza de que sua casa é boa.
Maggie se tranquiliza. Ela suspira quando vira em uma
rua lateral e começamos a fazer o nosso caminho através de
um bairro degradado. As casas são marcadas e branqueadas
pelo Sol, com gramados mortos, mas os carros são
customizados e caros. Mesmo que seja tarde, as pessoas
movem-se, sem fazer nada. Eu olho para a minha porta,
querendo trancá-la, mas eu não me mexo. Enquanto nós
rodamos passando pelos grupos de pessoas, os olhos deles
viram e nos assistem passar, antes de voltar para o que eles
estavam fazendo.
Maggie finalmente diz: — Não é muito, mas acho que
vale a pena.
— Você não tem que defender o seu apartamento para
mim, Maggie. Eu sou uma maldita sem-teto. — Eu olho para
ela e inclino a cabeça para trás no assento. Minhas palavras
não a consolam, então eu acrescento: — Além disso, eu não
sou uma garota-propaganda da moralidade, também. Você
não vai acreditar no que eu fiz hoje à noite, e o que eu vou
fazer. — Minha voz falha e eu balanço a cabeça, pensando
nos lábios de Bryan. Estou horrorizada por reagir da maneira
como o faço, mesmo que com a memória.
Ela ri uma vez, rapidamente. — Sim, certo. Hallie, você
nunca faz nada de mau. Estúpido, sim. Mau, não.
Eu olho para fora da janela e não vejo nada. As casas
deram lugar a apartamentos que se estendem para o céu na
noite. Fachadas de tijolos já viram dias melhores. Muitos
parecem vazios, como se ninguém vivesse lá, por muitos
anos. Meu peito se aperta e eu me contorço na cadeira. Meu
Deus, ela mora aqui? Por que ela não me contou? Há carros
queimados, latas de lixo viradas e entulho, tudo espalhado
por toda parte. Parece que a rua foi saqueada e esquecida,
assim como Maggie.
Segundas decisões são as que mudam vidas. Eu faço a
minha e cuspo fora antes de me acovardar.
— Bryan Ferro está me chantageando. Se eu não dormir
com ele sempre que ele quiser, vai dizer às pessoas que ele é
o cara no livro e fazer o que for preciso para me arruinar. Ele
disse que ia usar tudo o que tem contra mim e me deu um
ultimato.
Os grandes olhos de Maggie viram em minha direção,
com o queixo caído e boca aberta.
— Puta merda! Quando isso aconteceu? Como você vai
detê-lo? — Ela pisca para mim e vira os olhos de volta para a
estrada, embora eu saiba que ela não quer.
Esta é a parte que me faz sentir um lixo. Eu não sou
quem ela pensa que eu sou. Eu não tenho uma estrutura
moral de aço. Eu não posso nem olhar para ela.
— Esta noite eu acabei fazendo o anúncio do prêmio no
show com ele, e então ele me encontrou no banquete. — Eu
digo. Eu tento fazer a minha boca mover-se para formar as
palavras, mas não vão sair.
— De jeito nenhum. — Ela estaciona em um parque de
estacionamento que parece que foi usado como um local de
explosão da força aérea e desliga o carro. — Pegue suas
coisas e tranque a porta. — Eu faço como ela diz e me
apresso atrás dela. — Mantenha seus olhos baixos e me siga.
Não fale ou olhe para ninguém.
Entramos no lado de um desses prédios de tijolos
antigos e subimos alguns lances de escadas, até o quarto
andar. No momento que chegamos ao seu andar, eu quero
jogar o resto do meu sapato para fora da janela. Eu poderia,
não há vidro no painel. Eu a sigo, até a porta e por um longo
corredor mal iluminado. Nós paramos em frente à sua porta.
Enquanto ela se atrapalha com a chave, a porta contrária à
dela se abre. Um homem pálido, com cabelo loiro descolorido
e vestindo uma camiseta regata branca e cueca está lá e olha
para nós. Eu posso sentir seus olhos nas minhas costas. Ele
se inclina contra o batente da porta e cruza os braços sobre o
peito.
Quando ele fala, soa rouco, como se ele fumasse um
maço de cigarros todos os dias desde que ele tinha dois anos
de idade. — Trouxe-me outra?
— Não, — Maggie diz com firmeza. Ela não se vira para
olhar para o cara. Se eu não a conhecesse melhor, eu acharia
que ela estava com medo dele. Eu não aguento mais stress
esta noite. Meu cérebro parece que vai partir em dois, antes
que eu murche e morra. Maggie pega a chave para abrir, mas
porta emperra. Ela chuta uma vez com o pé e a porta mexe
ligeiramente. — Maldita porta, — ela murmura.
— Qual é o seu nome, docinho? — O cara está falando
comigo. Viro-me e olho por cima do ombro, e nossos olhos se
encontram. Ele envia um olhar frio para mim, ao ver o jeito
como ele está olhando de soslaio. O cara é enorme, ele é todo
músculos e agora ele está sorrindo para mim, revelando uma
coroa de ouro em seu dente canino.
— Oi, — eu digo timidamente, e arrumo o meu cabelo
para atrás da minha orelha, tentando evitar o olhar dele
enquanto não respondo sua pergunta.
Enquanto o cara está de boca aberta, Maggie chuta na
porta. A porta se abre, ela agarra meu braço e me puxa. Eu
sigo, voando atrás dela enquanto ela grita por cima do ombro,
— eu vou lhe trazer alguém amanhã, eu juro. Boa noite, Vic.
— Ela bate a porta com o pé e parece abalada.
Seu apartamento é aproximadamente o mesmo tamanho
de um pequeno corredor. Há uma pequena janela com uma
folha grampeada sobre ela e sem móveis. Algumas das roupas
de Maggie estão jogadas ao redor do lugar, como se ela
tivesse saído com pressa. Se eu morasse aqui, eu iria embora
rapidamente, também.
— Obrigado por me deixar ficar com você.
— Sim, não há problema. É uma merda como este é o
pior lugar que eu já vivi, mas é um refúgio. Eu durmo aqui e,
em seguida, dou o fora. O aluguel não é horrível. — Ela
oferece um sorriso torto, mas é franco.
Eu preciso dela, e não há um muro entre nós. Ela acha
que eu sou perfeita, mas eu não sou. Eu fiz coisas que ela
não sabe. As palavras estão na minha língua e eu enrolo-as
em torno de minha boca, tentando descobrir como dizer isso,
enquanto a Maggie tagarela, enchendo o ambiente com sua
voz.
Um casal está brigando nas proximidades, e o som está
cada vez mais alto. Estão lutando, eu não quero dizer
discutindo. Há coisas batendo nas paredes e quebrando.
Chove gesso para baixo sobre nós como flocos de neve
quando algo cai de cima. Maggie olha horrorizada quando ela
puxa sua cama Murphy 2 para baixo da parede. Tomando
quase toda a sala. — Você pode dormir aqui. Eu vou dormir
no chão.
— Não.
Ela sorri. — Não seja boba, você é minha convidada. —
Palavrões ressoam acima de nós quando um homem irritado
grita. É prontamente seguido de um grito agudo. Maggie
morde as unhas do jeito que ela fazia quando éramos
crianças e olha em volta, como se ela desejasse poder
queimar o lugar.
2
— Eu não vou fazer você dormir no chão, mas há outra
coisa que eu preciso lhe dizer.
— Maggie olha para mim por debaixo de sua massa de
cabelo vermelho. Eu sou sua única amiga de verdade, sua
única família e ela a minha. Deus, o que é que ela vai pensar
de mim quando eu lhe disser o que eu concordei em fazer?
Eu não acho que eu vou ser capaz de suportá-lo. Meus
braços ainda estão dobrados sobre o peito, com as mãos
firmemente aninhadas nos meus braços.
— Hallie, qual o problema? — Maggie deixa de fazer a
cama e se senta. Ela dá um tapinha no lugar ao lado dela e
me sento.
Olhando para frente, eu engulo em seco e digo a ela.
— Eu disse que sim. — Você disse sim para o quê?
Hallie, você não está fazendo sentido, do que você está
falando?
Quando me viro para olhar para ela, e encontro com
aqueles grandes olhos verdes e sinto medo. Minha pele fica
arrepiada, mas eu não consigo desviar o olhar.
— Eu disse a Bryan Ferro que sim. Eu cedi. Ele ganhou
e eu perdi.
— O quê? — Ela está furiosa, pronta para voar para fora
do seu assento e defender-me até a morte.
Eu coloco minha mão no colo dela para fazê-la parar. —
Eu fui ao seu quarto de hotel para dizer-lhe para ir chupar
um prego, mas eu mudei de ideia quando ouvi sua voz. Eu
pensei que algo estava errado e esta era a sua maneira de
merda para me dizer. Conheci-o uma vez, pelo menos eu
pensei que tinha conhecido. Então, quando eu estava
esperando por você do lado de fora, eu... — minha voz está
trêmula e eu não posso mais esconder o meu horror, — um
cara tentou roubar minha bolsa. Para encurtar a história, ele
me pegou por trás do prédio e ia me machucar. Bryan
apareceu e ele... — Eu não posso dizer isso. Meu Bryan
perfeito fez algo que era tão diferente dele, tão terrivelmente
selvagem, que eu não sei o que pensar. Ele me protegeu, mas
ainda parece errado.
— Ele a machucou? — Maggie está furiosa, eu posso
ouvir em sua voz. Mas a forma como ela fala suas palavras
ondulando entre muito alta e baixa, dão a deixa.
— Não, ele atacou o homem, e esfaqueou-o. Se eu não
dissesse a Bryan para parar, acho que ele teria matado o
cara. — Olho para ela, mas eu não posso mais enxergar.
Meus olhos têm brilham com lágrimas que tudo fica
desfocado.
Maggie ergue os braços e eu caio neles. Ela sempre foi
como uma irmã para mim. Estivemos sempre uma para a
outra, e eu temo que a história com Bryan e o que eu me
tornei vá fazê-la me odiar. Meu pai teria vergonha de me
chamar de filha, e eu espero o mesmo de Maggie. Em vez
disso, ela fica lá no colchão gasto e me acalma.
Depois de um forte abraço, ela libera meus ombros e
pega meu queixo. — Você e eu passamos por tudo juntas.
Não pense que eu a estou socorrendo por causa disso. Se não
for por qualquer coisa, a vida fica mais interessante, isso é
tudo.
Eu enxugo as lágrimas dos meus olhos e rio, porque ela
está tão errada. — Esse é o eufemismo do ano.
— O meu ponto é, eu estou aqui por você. Eu sempre
estarei aqui para você. — Ela bate no meu ombro com a dela.
— Então, Bryan Ferro tem um lado negro por trás de todo o
brilho e deslumbre?
— Aparentemente.
— Foi divertido ou ele fez coisas estranhas?
Eu sorrio e limpo meus olhos novamente. — Não, não
hoje à noite de qualquer maneira. Ele me chamou para seu
quarto, eu fui, e nos beijamos. Então, ele me mandou ir
embora.
Os lábios de Maggie puxaram um pouco para cima. —
Ele a jogou para fora? Mas que inferno...?
— Eu não sei. É como se ele estivesse louco e deixando o
Hulk sair ou algo assim. Ele não olhava para mim. As coisas
estavam quentes e pesadas até então. — A intuição continua
me dizendo que algo estava errado, mas não posso entender o
quê.
Maggie sorri: — Ele foi melhor do que Neil, certo?
Eu faço uma careta e olhou para ela como se ela fosse
louca. — Uh, Bryan está me chantageando.
— E ele é mais quente do que Neil. Vá em frente, diga.
Eu sou sua amiga, então eu já sei.
Eu baixei meus olhos em direção ao chão e não disse
nada. Eu não tenho que dizer nada, a minha expressão diz
tudo. Bryan é muito mais quente do que Neil, não há
comparação. Os dois homens são noite e dia, e Bryan é a
noite sexy. Neil a voz racional que soa como o FDA 3,
lembrando-me de fazer todas as coisas com moderação, mas
não todas as coisas, somente as ações que ele aprova. Droga.
Eu enterro meu rosto em minhas mãos e suspiro.
Maggie acaricia minhas costas. — Está tudo bem.
Qualquer um é mais quente do que Neil. Não se sinta
culpada, mas eu não contaria exatamente ao Senhor Calças
Perfeitamente Passadas. Ele vai surtar ao saber que alguém
tocou em você. — Maggie está tirando as roupas e puxando
uma camisa de dormir e calças, enquanto ela fala.
— Na verdade, Neil sabe.
3 FDA - Food and Drug Administration - Agencia reguladora de remédios e alimentos.
— O quê? — Ela está pulando em um pé, tentando
enfiar o pé pela perna da calça e cai. — Como é que ele sabe?
Você disse que acabou de acontecer.
— Neil sabe por que foi ele quem me disse para fazer
isso.
CONTINUA
Bryan está de queixo caído e boca aberta, com aqueles olhos verdes semicerrados, em chamas. Fúria e choque não parecem bons para ele. As emoções distorcem seu belo rosto,
estragam as linhas suaves de sua pele, fazendo-o parecer bem mais velho. Seus punhos estão fechados, apertados em seus lados, mas ele pisca uma vez e a reação diminui. Há muitas coisas que eu não sei sobre Bryan Ferro, mas uma coisa eu sei, ele é uma merda em manter as coisas escondidas. Seus pensamentos dançam em seu rosto de vez em quando, e é por isso que ele está desconfiado de mim.
Virando abruptamente, Bryan pressiona seus dedos em sua têmpora direita. Sua voz sai como um grunhido.
— Eu lhe disse para ir embora.
— Seus ombros estão tensos, cada músculo está apertado a ponto de eu poder ver as curvas de seu corpo sob essa camisa. Ele flexiona a mão que está ao seu lado antes de deslizar em seu bolso. Bryan pode ser capaz de esconder tudo, de todos os outros, mas não de mim.
— Sim, eu ouvi essa parte. — Eu ajo como se eu não me importasse, deito-me no tapete, e dobro as minhas mãos atrás da minha cabeça. O piso é suave e difuso. Levanto os meus joelhos, eu deixo a queda do meu vestido em torno dos meus tornozelos e até meus pés, para sentir a pilha macia entre os dedos dos pés. O tapete no meu antigo quarto parecia como um saco de batata, em relação a este material.
Mesmo com Bryan irado, eu estou sorrindo. A vozinha na parte de trás da minha cabeça me diz que eu perdi minha mente. Eu respondo de volta que eu nunca tive um controle firme sobre isso de qualquer maneira.
https://img.comunidades.net/bib/bibliotecasemlimites/2_A_PROPOSI_O.jpg
Bryan pode ver meu reflexo no espelho, mas eu não
posso ver mais do que as suas costas e a maneira como ele
agarra sua cabeça como se fosse explodir. Ele está furioso
comigo? Não consigo entender sua raiva, mas transborda
para fora de sua boca de novo, espetando como espinhos,
neste momento.
— Se você não consegue entender os termos deste
acordo, então eu temo que nós não tenhamos um.
— O quê? — Sento-me e giro em torno, de modo que
estou de frente para as suas costas.
Bryan se vira, e a tensão que está estampada no seu
rosto é horrível. Eu encontro o seu olhar, mas eu não posso
olha-lo sem querer corrigir o que está fazendo com ele. Todas
as imagens na imprensa mostram a versão de Bryan que eu
conhecia, leve e despreocupado, mas este homem, aqui, não é
nenhuma dessas coisas. Algo está esmagando-o de dentro
para fora e deixando-o em pedaços. Seu corpo está tremendo,
ele está tão bravo. Ele tenta respirar fundo, mas isso só faz o
seu rosto ficar mais apertado.
— Você me ouviu. Se você não fizer as coisas do meu
jeito, eu vou arruinar você. Este não é o meu jeito, você sabe
muito bem disso. Saia daqui.
Ele não grita, mas suas palavras me fazem tremer. Não
há calor, não há compaixão. Talvez eu não o conheça mais e
ele está certo. Apertando os lábios, eu engulo minha resposta,
mas esta incha dentro de mim e enche meu peito. Eu peguei
meus sapatos saltos de volta e calcei em meus pés cansados
antes de levantar. Eu ando mais e pego minha bolsa.
Eu deveria sair. A vozinha dentro de mim canta como
um duende com uma voz agradável, sim, vá. Faça isso.
Agora.
Meus olhos estão fixos na porta como se fosse o
caminho para o inferno. Algo sobre sair agora parece errado,
mas não posso entender sobre o que está prendendo meus
pés no lugar. Caramba, é o pensamento que está me
segurando. Ele está me prendendo aqui e eu não posso me
mover. Parece como engolir o vômito e eu não posso fazê-lo.
Eu sou o cérebro danificado, mas não posso ser algo que não sou.
Girando sobre meus pés, eu atravesso o piso acarpetado
e elegante, e caminho até ele. Bryan não se vira para olhar
para mim. Em vez disso, suas mãos estão segurando a parte
superior do bar como se ele quisesse arrancá-lo da parede.
Suas costas estão curvadas e sua cabeça está pendurada
entre os ombros, como se ele estivesse tentando não me
rasgar em pedaços. Outra mulher teria corrido agora mesmo,
mas eu sou a dopada que anda mais perto.
— Eu sou uma idiota, — eu digo, enquanto olho para os
meus sapatos, e rio de leve. É o tipo de som que não tem
alegria e revela uma alma torturada. Meus olhos levantam
para seus ombros. Eu fico lá por um momento esperando que
ele se vire, mas ele não vira. Bryan não fala ou levanta o
olhar. Ele permanece debruçado sobre o bar como um troll 1.
Eu continuo, — vê-lo hoje à noite foi terrível e
maravilhoso. Isso evocou memórias e sentimentos que eu
tinha tempo esquecido há muito. Escrever sobre, é uma
coisa, mas vê-lo novamente está além das palavras.
Desculpe-me se eu o machuquei, mesmo que eu não entenda
o que eu fiz. E seu eu pudesse corrigir. Eu...
Por que estou fazendo isso? Eu estou me desculpando
com as suas costas, o homem não tem sequer a decência de
se virar e encarar-me. Eu respiro fundo e endireito a minha
espinha.
— As pessoas cometem erros, Bryan, e parece que o
meu maior erro foi conhecê-lo.
1
Troll – é uma gíria que designa uma pessoa cujo comportamento tende sistematicamente a desestabilizar uma
discussão, provocar e enfurecer as pessoas envolvidas nela. Há trolls de todo tipo, desde o mais ignorante e rude
que xinga e provoca, até o mais apto intelectualmente que discursa com o objetivo de desestabilizar o interlocutor
e levá-lo a fúria, para depois desqualificá-lo, matando seu argumento e abalando sua reputação.
A fúria me inunda quando eu corro pela sala. Eu agarro
a maçaneta da porta e não olho para trás, apesar de sentir
seus olhos em mim. Dane-se ele. Eu vivi coisas piores. Eu
digo essas palavras uma e outra vez, porque aconteceu.
Depois corro pelo corredor, aperto o botão para baixo no
elevador uma e outra vez, perguntando por que eu estou tão
chateada. Depois de um momento, eu sinto o pensamento
picar os meus olhos e apertar a minha garganta e eu sei
exatamente por que estou tão chateada.
É possível que as coisas estejam invertidas, e como eu
não conhecesse o verdadeiro Bryan Ferro, aquele com quem
dormi todos esses anos, era o falso.
CAPÍTULO 2
Eu não posso ir para casa e enfrentar Neil, por isso eu
telefono para Maggie. Ela atende no terceiro toque. Eu estou
andando na rua em frente ao hotel com o meu telefone
pressionado ao meu ouvido. É tarde e escuro. Evitando as
sombras, eu ando mais perto da rua do que no hotel.
— Maggie. — Eu tento esconder a tensão na minha voz,
mas ela ouve. Nós nos conhecemos há muito tempo. — Vou
tirar suas bolas fora.
— O que diabo aconteceu? Onde você está? — Ela me
enche de perguntas, até que eu possa finalmente fazê-la calar
a boca.
— Eu preciso de um lugar para dormir. Eu não posso
ver Neil agora e eu não tenho outro lugar para ir.
Maggie fica em silêncio.
— O que é meu, é seu. Você sabe disso, mas eu não
tenho certeza que você vá gostar.
— Em qualquer lugar é melhor do que aqui ou com Neil.
— Eu sinto uma náusea fazendo seu caminho até a minha
garganta. Lágrimas estão chegando, e tenho a sensação de
que vai ser um maremoto.
— Claro, claro. Eu estarei aí em cinco minutos.
— A linha de Maggie desliga, e eu fecho o meu telefone e
o coloco em minha bolsa.
A cidade se move em torno de mim, mas parece que eu
estou em uma bolha. As pessoas passam na calçada, mas eu
não as noto. Eu passeio, perdida em pensamentos, agarrando
minha bolsa perto do meu corpo. O ar da noite tem aquele
cheiro que é distintamente de Nova York. Eu o inspiro e
quando me viro, quase bato em alguém. O cara é uma
parede, de marrom e preto. Seu casaco tem cheiro de cigarros
velhos e naftalina.
Antes de eu ter tempo para descobrir o que está
acontecendo, ele pega a minha bolsa, em seguida, coloca a
mão no centro do meu peito e me empurra, com força. Eu
grito, tropeço e caio para trás, enquanto minha bolsa é
arrancada de minhas mãos. O cara se vira e está pronto para
correr, mas eu não estou com disposição para perder a bolsa.
Eu estou fodidamente quebrada. Todo o dinheiro que eu
tenho está lá dentro.
Antes que eu saiba o que estou fazendo, eu pego um dos
meus sapatos de salto alto e atiro em sua cabeça. Acerto e ele
cai na calçada. Poucas pessoas param para assistir, mas
ninguém faz nada - típico dos nova-iorquinos. Todo mundo
quer ver, mas ninguém ajuda.
Nesse ponto, tudo acontece em câmera lenta. Eu estou
em pé, mesmo que eu não me lembre de ficar pé. Um pé está
congelado, sobre o cimento frio, enquanto o outro ainda está
calçado. O ladrão levanta a mão e bota na parte de trás de
sua cabeça e puxa-a. Ele olha para os seus dedos, seus olhos
escuros apreciando o sangue vermelho e pegajoso em sua
mão. A ponta do meu salto que bateu com a parte traseira de
seu couro cabeludo, deve tê-lo cortado.
Meu coração para, quando o sujeito se vira para mim.
Seus olhos têm um olhar enlouquecido e os ombros tremem
como se ele fosse me rasgar ao meio.
— Você. — Ele diz isso como se fosse o meu nome e ele
me odeia.
O homem dá passos em direção a mim e fala
novamente, mas suas mãos lentamente movem para cima,
como se ele fosse me atacar ou me estrangular. Eu suspiro
alguma coisa, mas ele não sai antes de eu dar um passo para
trás, aterrorizada. Meu pulso ruge em meus ouvidos, então
olho em volta a procura de ajuda, mas não vejo ninguém. A
multidão se afastou, ou talvez eu tenha ido embora. Onde
está um policial quando eu preciso de um?
O resto acontece freneticamente rápido. Alguém grita
comigo, enquanto o homem procura o meu pescoço. Eu caio,
mas ele pega no meu ombro. Ele aperta-me com força,
fazendo com que o meu pescoço estale para trás enquanto ele
grita na minha cara.
— Sua pequena vadia!
O resto de suas palavras se tornam zumbidos, enquanto
ele me aperta mais. Estou ciente do vento, do ar da noite, e
do homem que está me estrangulando. Em algum momento,
as mãos deslizam até o pescoço. Eu agarro em suas mãos e
tento gritar, mas não sai nada. Eu não entendo por que
ninguém nos vê, por que eles simplesmente deixam esse
ladrão me machucar.
Balançando as minhas pernas, eu o chuto, mas não
adianta. Eu não sou forte o suficiente. Eu tentei tudo o que
sabia fazer e nada funcionou. O homem me atira e bate
minhas costas contra uma parede de tijolos. O frio me sacode
e me pergunto como chegamos ao beco ao lado do hotel, mas
os pensamentos cessam quando vejo o olhar em seus olhos.
Um sorriso mal aparece em seu rosto quando ele rasga o
ombro do meu vestido. O tecido sai em sua mão e permite
que o vestido deslizar alguns centímetros.
Abro a boca para gritar, mas sua mão imunda me cobre,
impedindo a saída do som. Sua mão me tateia, sentindo
meus seios enquanto ele sussurra em meu ouvido todas as
coisas horríveis que ele pretende fazer comigo. — Então, eu
vou levar a minha faca e... — Suas palavras desagradáveis
param imediatamente, após o som do estalar de madeira.
Assim como, de repente, a mão no meu pescoço se foi e
eu suspiro em uma respiração trêmula e olho para cima. Está
muito escuro para ver, mas há um homem vestido de
smoking, avançando sobre o ladrão. Ele lança socos uma e
outra vez, até que eles estão na parte de trás do beco, presos
por uma parede de tijolos. O ladrão é espancado e sangra,
mas ele não para de lutar. Nem o homem de smoking. Ele
distribui socos como um boxeador, tanto assim que é
hipnótico assistir. Quando a faca aparece, eu esperava que as
coisas se transformassem em favor do ladrão, mas isso não
acontece. O homem de smoking desarma o idiota e toma a
arma. Aconteceu tão rápido que eu não posso dizer como foi
feito. O homem de smoking recua seu braço como se
estivesse para empurrar a faca no peito do cara.
— Pare! — Eu chamo antes de perceber o que estou
fazendo. Uma das minhas mãos está segurando meu vestido
no busto e a outra está mal tocando meus lábios. Eu não
posso ver o cara morrer, mas eu não consigo desviar o olhar
também.
O homem de smoking não para. Um grito tremendo sai
dilacerado da minha garganta quando ele bate a faca no
ombro do ladrão. O bandido pega no seu braço e desliza para
baixo da parede, segurando seu ombro enquanto o casaco
fica encharcado de sangue. Ele olha diretamente para mim
com raiva.
O homem de smoking chuta o ladrão uma vez, e uma
voz familiar disse:
— Vá embora.
Eu tremo quando ouço isso, porque eu sei quem é ele,
Bryan. Ele deve ter me seguido. O medo agarra e azeda
dentro do meu estômago, enquanto eu olho para as suas
costas. Bryan não vira o rosto para mim. O ladrão comprime
os lábios e se levanta do chão do beco. Ele faz o seu caminho
passando por mim, e não diz nada.
Um tremor se apodera de mim e escorre pela minha
espinha, me fazendo ofegar. É quando ele se vira. O rosto de
Bryan está pálido e coberto de um brilho fino de suor. Ele
caminha de volta para mim e eu posso ver onde ele tomou
algumas pancadas. Há um rasgo em sua camisa, sob a lapela
do paletó, onde a faca cortou antes Bryan tomá-la do ladrão.
Passo a passo, ele caminha em minha direção, e eu
estou mais assustada por Bryan que qualquer coisa que já
encontrei. O que foi isso? Ele teria matado o homem se eu
não tivesse gritado? Eu não consigo parar de tremer.
Bryan alcança os meus ombros para me firmar, e eu
sinto aquele choque familiar que acompanha o seu toque.
Seu polegar esfrega suavemente sobre minha pele. — Você
está bem?
Mas, é muito. Eu não posso. Eu não posso. Eu não posso.
O pensamento não faz sentido, mas eu sei que tenho que
fazer com que ele me liberte. Seu toque tem uma maneira de
me desfazer, e eu estou caindo aos pedaços. Recuso-me a
deixá-lo ser o único a testemunhar isso. Eu empurro para
longe, e aceno com a cabeça rapidamente.
— Eu estou bem.
As mãos de Bryan permanecem paradas no ar por um
momento, antes de ele abaixa-las junto com seu olhar. Ele
observa o chão por um segundo e quando ele levanta o
queixo, vejo um sorriso nos seus lábios.
— Mentirosa. Você está longe de estar bem, mas eu
estou contente que você esteja parada.
Eu fico olhando para ele, incapaz de encontrar uma
resposta. Sua voz soa carinhosa, quase arrependida. Ele olha
por cima do meu ombro para alguém e, em seguida, diz:
— A sua carona está aqui. Da próxima vez, não tente
derrubar um assaltante por si mesmo.
Eu falo sem querer, mas as palavras saem e caem fora.
— Da próxima vez, não mate um homem por roubar minha
bolsa.
O canto dos lábios de Bryan puxa para cima, como se
quisesse sorrir, mas ele não sorri.
— Eu não iria matar um homem por roubar uma bolsa.
Que tipo de pessoa você acha que eu sou?
— Honestamente, eu não sei mais. Eu achava que sabia,
mas depois disso... — Eu balanço minha cabeça e fico sem
palavras. Bryan mudou o ataque no último segundo. Essa
faca não estava voltada para o ombro do homem — estava
dirigida para o seu coração. — Você ia matá-lo. Eu vi, você
não pode me dizer que não iria.
Bryan se inclina mais perto, e quando ele fala seu hálito
quente sussurra contra a minha orelha.
— Talvez, mas não foi porque ele pegou sua bolsa. — Ele
se inclina para trás e desliza as mãos nos bolsos, enquanto
seus olhos verdes me percorrem. — Ninguém toca em você,
enquanto você está comigo.
— Eu engulo em seco e olho para ele, com o coração
ainda disparando.
Maggie aparece atrás de mim um segundo depois. Ela
pega meu ombro e me vira.
— Hallie, diabo está acontecendo, e por que você está
aqui no beco sozinha? — Ela vê a maneira que eu estou
segurando meu vestido e o tecido rasgado. A preocupação
persiste em seu rosto, esperando pela minha resposta.
— Eu não estou sozinha, — mas quando me viro para
olhar, Bryan já se foi.
CAPÍTULO 3
Eu estive em um casulo de tristeza e este evento o
quebrou. Minha atordoada indiferença fratura e estilhaça,
como vidro barato. Eu olho para a bolsa presa em minha mão
e me pergunto o que há de errado comigo, mas ainda mais,
eu não consigo parar de pensar em Bryan, como ele veio do
nada e quase matou o homem que tentou me machucar.
Pare de pensar assim, eu me repreendo. Bryan agiu
como um lunático. A imagem de Bryan esfaqueando o cara
persiste através dos meus olhos mais uma vez e faz o meu
estômago embrulhar.
Maggie está falando, mas eu não disse muito. Estamos
em seu velho Ford Escort. A coisa corre mal, mas eu não
posso reclamar. Eu nem mesmo tenho um carro, não mais.
Maggie olha para mim por trás do volante, enquanto suas
mãos o seguram com firmeza.
— Hallie, se você estiver com vontade de vomitar, baixe
a janela. Aqui já cheira estranho o suficiente. — Ela está
certa, o carro tem um odor não identificável que está lá desde
que ela comprou.
— Eu estou bem, — eu digo novamente, embora seja
uma mentira. Meus braços envolvem meu peito para
esconder como minhas mãos tremem.
— Ah, Hallie, eu sei que você não quer falar e que está
tudo bem, mas eu quero informa-la sobre a minha nova casa.
— Eu olho para ela, sem entender o que ela quer dizer.
Maggie me dá um sorriso tímido e encolhe os ombros até as
suas orelhas, enquanto dirige. — Vamos apenas dizer que
não é algo que você aprovaria.
Eu não tenho paciência para lidar com seus enigmas
neste momento. A vida de Maggie é mais difícil do que a
minha, e eu sei disso, mas ela nunca tinha escondido coisas
de mim antes. Desta vez, é claro que ela escondeu, e isso me
preocupa. As únicas coisas que eu desaprovo são as que
possam matá-la. A menina não tem nenhum senso. Às vezes
me pergunto sobre ela, e como ela escolhe o que faz. Sorrio
sem jeito e olho para o tapete sujo no chão, que alguma vez
foi azul.
— O que é tão engraçado? — Maggie parece indignada,
como se eu a tivesse ofendido.
— Nada. Vamos apenas dizer que, se você soubesse o
que eu estava fazendo esta noite, você não se sentiria tão na
defensiva. Tenho certeza de que sua casa é boa.
Maggie se tranquiliza. Ela suspira quando vira em uma
rua lateral e começamos a fazer o nosso caminho através de
um bairro degradado. As casas são marcadas e branqueadas
pelo Sol, com gramados mortos, mas os carros são
customizados e caros. Mesmo que seja tarde, as pessoas
movem-se, sem fazer nada. Eu olho para a minha porta,
querendo trancá-la, mas eu não me mexo. Enquanto nós
rodamos passando pelos grupos de pessoas, os olhos deles
viram e nos assistem passar, antes de voltar para o que eles
estavam fazendo.
Maggie finalmente diz: — Não é muito, mas acho que
vale a pena.
— Você não tem que defender o seu apartamento para
mim, Maggie. Eu sou uma maldita sem-teto. — Eu olho para
ela e inclino a cabeça para trás no assento. Minhas palavras
não a consolam, então eu acrescento: — Além disso, eu não
sou uma garota-propaganda da moralidade, também. Você
não vai acreditar no que eu fiz hoje à noite, e o que eu vou
fazer. — Minha voz falha e eu balanço a cabeça, pensando
nos lábios de Bryan. Estou horrorizada por reagir da maneira
como o faço, mesmo que com a memória.
Ela ri uma vez, rapidamente. — Sim, certo. Hallie, você
nunca faz nada de mau. Estúpido, sim. Mau, não.
Eu olho para fora da janela e não vejo nada. As casas
deram lugar a apartamentos que se estendem para o céu na
noite. Fachadas de tijolos já viram dias melhores. Muitos
parecem vazios, como se ninguém vivesse lá, por muitos
anos. Meu peito se aperta e eu me contorço na cadeira. Meu
Deus, ela mora aqui? Por que ela não me contou? Há carros
queimados, latas de lixo viradas e entulho, tudo espalhado
por toda parte. Parece que a rua foi saqueada e esquecida,
assim como Maggie.
Segundas decisões são as que mudam vidas. Eu faço a
minha e cuspo fora antes de me acovardar.
— Bryan Ferro está me chantageando. Se eu não dormir
com ele sempre que ele quiser, vai dizer às pessoas que ele é
o cara no livro e fazer o que for preciso para me arruinar. Ele
disse que ia usar tudo o que tem contra mim e me deu um
ultimato.
Os grandes olhos de Maggie viram em minha direção,
com o queixo caído e boca aberta.
— Puta merda! Quando isso aconteceu? Como você vai
detê-lo? — Ela pisca para mim e vira os olhos de volta para a
estrada, embora eu saiba que ela não quer.
Esta é a parte que me faz sentir um lixo. Eu não sou
quem ela pensa que eu sou. Eu não tenho uma estrutura
moral de aço. Eu não posso nem olhar para ela.
— Esta noite eu acabei fazendo o anúncio do prêmio no
show com ele, e então ele me encontrou no banquete. — Eu
digo. Eu tento fazer a minha boca mover-se para formar as
palavras, mas não vão sair.
— De jeito nenhum. — Ela estaciona em um parque de
estacionamento que parece que foi usado como um local de
explosão da força aérea e desliga o carro. — Pegue suas
coisas e tranque a porta. — Eu faço como ela diz e me
apresso atrás dela. — Mantenha seus olhos baixos e me siga.
Não fale ou olhe para ninguém.
Entramos no lado de um desses prédios de tijolos
antigos e subimos alguns lances de escadas, até o quarto
andar. No momento que chegamos ao seu andar, eu quero
jogar o resto do meu sapato para fora da janela. Eu poderia,
não há vidro no painel. Eu a sigo, até a porta e por um longo
corredor mal iluminado. Nós paramos em frente à sua porta.
Enquanto ela se atrapalha com a chave, a porta contrária à
dela se abre. Um homem pálido, com cabelo loiro descolorido
e vestindo uma camiseta regata branca e cueca está lá e olha
para nós. Eu posso sentir seus olhos nas minhas costas. Ele
se inclina contra o batente da porta e cruza os braços sobre o
peito.
Quando ele fala, soa rouco, como se ele fumasse um
maço de cigarros todos os dias desde que ele tinha dois anos
de idade. — Trouxe-me outra?
— Não, — Maggie diz com firmeza. Ela não se vira para
olhar para o cara. Se eu não a conhecesse melhor, eu acharia
que ela estava com medo dele. Eu não aguento mais stress
esta noite. Meu cérebro parece que vai partir em dois, antes
que eu murche e morra. Maggie pega a chave para abrir, mas
porta emperra. Ela chuta uma vez com o pé e a porta mexe
ligeiramente. — Maldita porta, — ela murmura.
— Qual é o seu nome, docinho? — O cara está falando
comigo. Viro-me e olho por cima do ombro, e nossos olhos se
encontram. Ele envia um olhar frio para mim, ao ver o jeito
como ele está olhando de soslaio. O cara é enorme, ele é todo
músculos e agora ele está sorrindo para mim, revelando uma
coroa de ouro em seu dente canino.
— Oi, — eu digo timidamente, e arrumo o meu cabelo
para atrás da minha orelha, tentando evitar o olhar dele
enquanto não respondo sua pergunta.
Enquanto o cara está de boca aberta, Maggie chuta na
porta. A porta se abre, ela agarra meu braço e me puxa. Eu
sigo, voando atrás dela enquanto ela grita por cima do ombro,
— eu vou lhe trazer alguém amanhã, eu juro. Boa noite, Vic.
— Ela bate a porta com o pé e parece abalada.
Seu apartamento é aproximadamente o mesmo tamanho
de um pequeno corredor. Há uma pequena janela com uma
folha grampeada sobre ela e sem móveis. Algumas das roupas
de Maggie estão jogadas ao redor do lugar, como se ela
tivesse saído com pressa. Se eu morasse aqui, eu iria embora
rapidamente, também.
— Obrigado por me deixar ficar com você.
— Sim, não há problema. É uma merda como este é o
pior lugar que eu já vivi, mas é um refúgio. Eu durmo aqui e,
em seguida, dou o fora. O aluguel não é horrível. — Ela
oferece um sorriso torto, mas é franco.
Eu preciso dela, e não há um muro entre nós. Ela acha
que eu sou perfeita, mas eu não sou. Eu fiz coisas que ela
não sabe. As palavras estão na minha língua e eu enrolo-as
em torno de minha boca, tentando descobrir como dizer isso,
enquanto a Maggie tagarela, enchendo o ambiente com sua
voz.
Um casal está brigando nas proximidades, e o som está
cada vez mais alto. Estão lutando, eu não quero dizer
discutindo. Há coisas batendo nas paredes e quebrando.
Chove gesso para baixo sobre nós como flocos de neve
quando algo cai de cima. Maggie olha horrorizada quando ela
puxa sua cama Murphy 2 para baixo da parede. Tomando
quase toda a sala. — Você pode dormir aqui. Eu vou dormir
no chão.
— Não.
Ela sorri. — Não seja boba, você é minha convidada. —
Palavrões ressoam acima de nós quando um homem irritado
grita. É prontamente seguido de um grito agudo. Maggie
morde as unhas do jeito que ela fazia quando éramos
crianças e olha em volta, como se ela desejasse poder
queimar o lugar.
2
— Eu não vou fazer você dormir no chão, mas há outra
coisa que eu preciso lhe dizer.
— Maggie olha para mim por debaixo de sua massa de
cabelo vermelho. Eu sou sua única amiga de verdade, sua
única família e ela a minha. Deus, o que é que ela vai pensar
de mim quando eu lhe disser o que eu concordei em fazer?
Eu não acho que eu vou ser capaz de suportá-lo. Meus
braços ainda estão dobrados sobre o peito, com as mãos
firmemente aninhadas nos meus braços.
— Hallie, qual o problema? — Maggie deixa de fazer a
cama e se senta. Ela dá um tapinha no lugar ao lado dela e
me sento.
Olhando para frente, eu engulo em seco e digo a ela.
— Eu disse que sim. — Você disse sim para o quê?
Hallie, você não está fazendo sentido, do que você está
falando?
Quando me viro para olhar para ela, e encontro com
aqueles grandes olhos verdes e sinto medo. Minha pele fica
arrepiada, mas eu não consigo desviar o olhar.
— Eu disse a Bryan Ferro que sim. Eu cedi. Ele ganhou
e eu perdi.
— O quê? — Ela está furiosa, pronta para voar para fora
do seu assento e defender-me até a morte.
Eu coloco minha mão no colo dela para fazê-la parar. —
Eu fui ao seu quarto de hotel para dizer-lhe para ir chupar
um prego, mas eu mudei de ideia quando ouvi sua voz. Eu
pensei que algo estava errado e esta era a sua maneira de
merda para me dizer. Conheci-o uma vez, pelo menos eu
pensei que tinha conhecido. Então, quando eu estava
esperando por você do lado de fora, eu... — minha voz está
trêmula e eu não posso mais esconder o meu horror, — um
cara tentou roubar minha bolsa. Para encurtar a história, ele
me pegou por trás do prédio e ia me machucar. Bryan
apareceu e ele... — Eu não posso dizer isso. Meu Bryan
perfeito fez algo que era tão diferente dele, tão terrivelmente
selvagem, que eu não sei o que pensar. Ele me protegeu, mas
ainda parece errado.
— Ele a machucou? — Maggie está furiosa, eu posso
ouvir em sua voz. Mas a forma como ela fala suas palavras
ondulando entre muito alta e baixa, dão a deixa.
— Não, ele atacou o homem, e esfaqueou-o. Se eu não
dissesse a Bryan para parar, acho que ele teria matado o
cara. — Olho para ela, mas eu não posso mais enxergar.
Meus olhos têm brilham com lágrimas que tudo fica
desfocado.
Maggie ergue os braços e eu caio neles. Ela sempre foi
como uma irmã para mim. Estivemos sempre uma para a
outra, e eu temo que a história com Bryan e o que eu me
tornei vá fazê-la me odiar. Meu pai teria vergonha de me
chamar de filha, e eu espero o mesmo de Maggie. Em vez
disso, ela fica lá no colchão gasto e me acalma.
Depois de um forte abraço, ela libera meus ombros e
pega meu queixo. — Você e eu passamos por tudo juntas.
Não pense que eu a estou socorrendo por causa disso. Se não
for por qualquer coisa, a vida fica mais interessante, isso é
tudo.
Eu enxugo as lágrimas dos meus olhos e rio, porque ela
está tão errada. — Esse é o eufemismo do ano.
— O meu ponto é, eu estou aqui por você. Eu sempre
estarei aqui para você. — Ela bate no meu ombro com a dela.
— Então, Bryan Ferro tem um lado negro por trás de todo o
brilho e deslumbre?
— Aparentemente.
— Foi divertido ou ele fez coisas estranhas?
Eu sorrio e limpo meus olhos novamente. — Não, não
hoje à noite de qualquer maneira. Ele me chamou para seu
quarto, eu fui, e nos beijamos. Então, ele me mandou ir
embora.
Os lábios de Maggie puxaram um pouco para cima. —
Ele a jogou para fora? Mas que inferno...?
— Eu não sei. É como se ele estivesse louco e deixando o
Hulk sair ou algo assim. Ele não olhava para mim. As coisas
estavam quentes e pesadas até então. — A intuição continua
me dizendo que algo estava errado, mas não posso entender o
quê.
Maggie sorri: — Ele foi melhor do que Neil, certo?
Eu faço uma careta e olhou para ela como se ela fosse
louca. — Uh, Bryan está me chantageando.
— E ele é mais quente do que Neil. Vá em frente, diga.
Eu sou sua amiga, então eu já sei.
Eu baixei meus olhos em direção ao chão e não disse
nada. Eu não tenho que dizer nada, a minha expressão diz
tudo. Bryan é muito mais quente do que Neil, não há
comparação. Os dois homens são noite e dia, e Bryan é a
noite sexy. Neil a voz racional que soa como o FDA 3,
lembrando-me de fazer todas as coisas com moderação, mas
não todas as coisas, somente as ações que ele aprova. Droga.
Eu enterro meu rosto em minhas mãos e suspiro.
Maggie acaricia minhas costas. — Está tudo bem.
Qualquer um é mais quente do que Neil. Não se sinta
culpada, mas eu não contaria exatamente ao Senhor Calças
Perfeitamente Passadas. Ele vai surtar ao saber que alguém
tocou em você. — Maggie está tirando as roupas e puxando
uma camisa de dormir e calças, enquanto ela fala.
— Na verdade, Neil sabe.
3 FDA - Food and Drug Administration - Agencia reguladora de remédios e alimentos.
— O quê? — Ela está pulando em um pé, tentando
enfiar o pé pela perna da calça e cai. — Como é que ele sabe?
Você disse que acabou de acontecer.
— Neil sabe por que foi ele quem me disse para fazer
isso.
CONTINUA
Bryan está de queixo caído e boca aberta, com aqueles olhos verdes semicerrados, em chamas. Fúria e choque não parecem bons para ele. As emoções distorcem seu belo rosto,
estragam as linhas suaves de sua pele, fazendo-o parecer bem mais velho. Seus punhos estão fechados, apertados em seus lados, mas ele pisca uma vez e a reação diminui. Há muitas coisas que eu não sei sobre Bryan Ferro, mas uma coisa eu sei, ele é uma merda em manter as coisas escondidas. Seus pensamentos dançam em seu rosto de vez em quando, e é por isso que ele está desconfiado de mim.
Virando abruptamente, Bryan pressiona seus dedos em sua têmpora direita. Sua voz sai como um grunhido.
— Eu lhe disse para ir embora.
— Seus ombros estão tensos, cada músculo está apertado a ponto de eu poder ver as curvas de seu corpo sob essa camisa. Ele flexiona a mão que está ao seu lado antes de deslizar em seu bolso. Bryan pode ser capaz de esconder tudo, de todos os outros, mas não de mim.
— Sim, eu ouvi essa parte. — Eu ajo como se eu não me importasse, deito-me no tapete, e dobro as minhas mãos atrás da minha cabeça. O piso é suave e difuso. Levanto os meus joelhos, eu deixo a queda do meu vestido em torno dos meus tornozelos e até meus pés, para sentir a pilha macia entre os dedos dos pés. O tapete no meu antigo quarto parecia como um saco de batata, em relação a este material.
Mesmo com Bryan irado, eu estou sorrindo. A vozinha na parte de trás da minha cabeça me diz que eu perdi minha mente. Eu respondo de volta que eu nunca tive um controle firme sobre isso de qualquer maneira.
https://img.comunidades.net/bib/bibliotecasemlimites/2_A_PROPOSI_O.jpg
Bryan pode ver meu reflexo no espelho, mas eu não
posso ver mais do que as suas costas e a maneira como ele
agarra sua cabeça como se fosse explodir. Ele está furioso
comigo? Não consigo entender sua raiva, mas transborda
para fora de sua boca de novo, espetando como espinhos,
neste momento.
— Se você não consegue entender os termos deste
acordo, então eu temo que nós não tenhamos um.
— O quê? — Sento-me e giro em torno, de modo que
estou de frente para as suas costas.
Bryan se vira, e a tensão que está estampada no seu
rosto é horrível. Eu encontro o seu olhar, mas eu não posso
olha-lo sem querer corrigir o que está fazendo com ele. Todas
as imagens na imprensa mostram a versão de Bryan que eu
conhecia, leve e despreocupado, mas este homem, aqui, não é
nenhuma dessas coisas. Algo está esmagando-o de dentro
para fora e deixando-o em pedaços. Seu corpo está tremendo,
ele está tão bravo. Ele tenta respirar fundo, mas isso só faz o
seu rosto ficar mais apertado.
— Você me ouviu. Se você não fizer as coisas do meu
jeito, eu vou arruinar você. Este não é o meu jeito, você sabe
muito bem disso. Saia daqui.
Ele não grita, mas suas palavras me fazem tremer. Não
há calor, não há compaixão. Talvez eu não o conheça mais e
ele está certo. Apertando os lábios, eu engulo minha resposta,
mas esta incha dentro de mim e enche meu peito. Eu peguei
meus sapatos saltos de volta e calcei em meus pés cansados
antes de levantar. Eu ando mais e pego minha bolsa.
Eu deveria sair. A vozinha dentro de mim canta como
um duende com uma voz agradável, sim, vá. Faça isso.
Agora.
Meus olhos estão fixos na porta como se fosse o
caminho para o inferno. Algo sobre sair agora parece errado,
mas não posso entender sobre o que está prendendo meus
pés no lugar. Caramba, é o pensamento que está me
segurando. Ele está me prendendo aqui e eu não posso me
mover. Parece como engolir o vômito e eu não posso fazê-lo.
Eu sou o cérebro danificado, mas não posso ser algo que não sou.
Girando sobre meus pés, eu atravesso o piso acarpetado
e elegante, e caminho até ele. Bryan não se vira para olhar
para mim. Em vez disso, suas mãos estão segurando a parte
superior do bar como se ele quisesse arrancá-lo da parede.
Suas costas estão curvadas e sua cabeça está pendurada
entre os ombros, como se ele estivesse tentando não me
rasgar em pedaços. Outra mulher teria corrido agora mesmo,
mas eu sou a dopada que anda mais perto.
— Eu sou uma idiota, — eu digo, enquanto olho para os
meus sapatos, e rio de leve. É o tipo de som que não tem
alegria e revela uma alma torturada. Meus olhos levantam
para seus ombros. Eu fico lá por um momento esperando que
ele se vire, mas ele não vira. Bryan não fala ou levanta o
olhar. Ele permanece debruçado sobre o bar como um troll 1.
Eu continuo, — vê-lo hoje à noite foi terrível e
maravilhoso. Isso evocou memórias e sentimentos que eu
tinha tempo esquecido há muito. Escrever sobre, é uma
coisa, mas vê-lo novamente está além das palavras.
Desculpe-me se eu o machuquei, mesmo que eu não entenda
o que eu fiz. E seu eu pudesse corrigir. Eu...
Por que estou fazendo isso? Eu estou me desculpando
com as suas costas, o homem não tem sequer a decência de
se virar e encarar-me. Eu respiro fundo e endireito a minha
espinha.
— As pessoas cometem erros, Bryan, e parece que o
meu maior erro foi conhecê-lo.
1
Troll – é uma gíria que designa uma pessoa cujo comportamento tende sistematicamente a desestabilizar uma
discussão, provocar e enfurecer as pessoas envolvidas nela. Há trolls de todo tipo, desde o mais ignorante e rude
que xinga e provoca, até o mais apto intelectualmente que discursa com o objetivo de desestabilizar o interlocutor
e levá-lo a fúria, para depois desqualificá-lo, matando seu argumento e abalando sua reputação.
A fúria me inunda quando eu corro pela sala. Eu agarro
a maçaneta da porta e não olho para trás, apesar de sentir
seus olhos em mim. Dane-se ele. Eu vivi coisas piores. Eu
digo essas palavras uma e outra vez, porque aconteceu.
Depois corro pelo corredor, aperto o botão para baixo no
elevador uma e outra vez, perguntando por que eu estou tão
chateada. Depois de um momento, eu sinto o pensamento
picar os meus olhos e apertar a minha garganta e eu sei
exatamente por que estou tão chateada.
É possível que as coisas estejam invertidas, e como eu
não conhecesse o verdadeiro Bryan Ferro, aquele com quem
dormi todos esses anos, era o falso.
CAPÍTULO 2
Eu não posso ir para casa e enfrentar Neil, por isso eu
telefono para Maggie. Ela atende no terceiro toque. Eu estou
andando na rua em frente ao hotel com o meu telefone
pressionado ao meu ouvido. É tarde e escuro. Evitando as
sombras, eu ando mais perto da rua do que no hotel.
— Maggie. — Eu tento esconder a tensão na minha voz,
mas ela ouve. Nós nos conhecemos há muito tempo. — Vou
tirar suas bolas fora.
— O que diabo aconteceu? Onde você está? — Ela me
enche de perguntas, até que eu possa finalmente fazê-la calar
a boca.
— Eu preciso de um lugar para dormir. Eu não posso
ver Neil agora e eu não tenho outro lugar para ir.
Maggie fica em silêncio.
— O que é meu, é seu. Você sabe disso, mas eu não
tenho certeza que você vá gostar.
— Em qualquer lugar é melhor do que aqui ou com Neil.
— Eu sinto uma náusea fazendo seu caminho até a minha
garganta. Lágrimas estão chegando, e tenho a sensação de
que vai ser um maremoto.
— Claro, claro. Eu estarei aí em cinco minutos.
— A linha de Maggie desliga, e eu fecho o meu telefone e
o coloco em minha bolsa.
A cidade se move em torno de mim, mas parece que eu
estou em uma bolha. As pessoas passam na calçada, mas eu
não as noto. Eu passeio, perdida em pensamentos, agarrando
minha bolsa perto do meu corpo. O ar da noite tem aquele
cheiro que é distintamente de Nova York. Eu o inspiro e
quando me viro, quase bato em alguém. O cara é uma
parede, de marrom e preto. Seu casaco tem cheiro de cigarros
velhos e naftalina.
Antes de eu ter tempo para descobrir o que está
acontecendo, ele pega a minha bolsa, em seguida, coloca a
mão no centro do meu peito e me empurra, com força. Eu
grito, tropeço e caio para trás, enquanto minha bolsa é
arrancada de minhas mãos. O cara se vira e está pronto para
correr, mas eu não estou com disposição para perder a bolsa.
Eu estou fodidamente quebrada. Todo o dinheiro que eu
tenho está lá dentro.
Antes que eu saiba o que estou fazendo, eu pego um dos
meus sapatos de salto alto e atiro em sua cabeça. Acerto e ele
cai na calçada. Poucas pessoas param para assistir, mas
ninguém faz nada - típico dos nova-iorquinos. Todo mundo
quer ver, mas ninguém ajuda.
Nesse ponto, tudo acontece em câmera lenta. Eu estou
em pé, mesmo que eu não me lembre de ficar pé. Um pé está
congelado, sobre o cimento frio, enquanto o outro ainda está
calçado. O ladrão levanta a mão e bota na parte de trás de
sua cabeça e puxa-a. Ele olha para os seus dedos, seus olhos
escuros apreciando o sangue vermelho e pegajoso em sua
mão. A ponta do meu salto que bateu com a parte traseira de
seu couro cabeludo, deve tê-lo cortado.
Meu coração para, quando o sujeito se vira para mim.
Seus olhos têm um olhar enlouquecido e os ombros tremem
como se ele fosse me rasgar ao meio.
— Você. — Ele diz isso como se fosse o meu nome e ele
me odeia.
O homem dá passos em direção a mim e fala
novamente, mas suas mãos lentamente movem para cima,
como se ele fosse me atacar ou me estrangular. Eu suspiro
alguma coisa, mas ele não sai antes de eu dar um passo para
trás, aterrorizada. Meu pulso ruge em meus ouvidos, então
olho em volta a procura de ajuda, mas não vejo ninguém. A
multidão se afastou, ou talvez eu tenha ido embora. Onde
está um policial quando eu preciso de um?
O resto acontece freneticamente rápido. Alguém grita
comigo, enquanto o homem procura o meu pescoço. Eu caio,
mas ele pega no meu ombro. Ele aperta-me com força,
fazendo com que o meu pescoço estale para trás enquanto ele
grita na minha cara.
— Sua pequena vadia!
O resto de suas palavras se tornam zumbidos, enquanto
ele me aperta mais. Estou ciente do vento, do ar da noite, e
do homem que está me estrangulando. Em algum momento,
as mãos deslizam até o pescoço. Eu agarro em suas mãos e
tento gritar, mas não sai nada. Eu não entendo por que
ninguém nos vê, por que eles simplesmente deixam esse
ladrão me machucar.
Balançando as minhas pernas, eu o chuto, mas não
adianta. Eu não sou forte o suficiente. Eu tentei tudo o que
sabia fazer e nada funcionou. O homem me atira e bate
minhas costas contra uma parede de tijolos. O frio me sacode
e me pergunto como chegamos ao beco ao lado do hotel, mas
os pensamentos cessam quando vejo o olhar em seus olhos.
Um sorriso mal aparece em seu rosto quando ele rasga o
ombro do meu vestido. O tecido sai em sua mão e permite
que o vestido deslizar alguns centímetros.
Abro a boca para gritar, mas sua mão imunda me cobre,
impedindo a saída do som. Sua mão me tateia, sentindo
meus seios enquanto ele sussurra em meu ouvido todas as
coisas horríveis que ele pretende fazer comigo. — Então, eu
vou levar a minha faca e... — Suas palavras desagradáveis
param imediatamente, após o som do estalar de madeira.
Assim como, de repente, a mão no meu pescoço se foi e
eu suspiro em uma respiração trêmula e olho para cima. Está
muito escuro para ver, mas há um homem vestido de
smoking, avançando sobre o ladrão. Ele lança socos uma e
outra vez, até que eles estão na parte de trás do beco, presos
por uma parede de tijolos. O ladrão é espancado e sangra,
mas ele não para de lutar. Nem o homem de smoking. Ele
distribui socos como um boxeador, tanto assim que é
hipnótico assistir. Quando a faca aparece, eu esperava que as
coisas se transformassem em favor do ladrão, mas isso não
acontece. O homem de smoking desarma o idiota e toma a
arma. Aconteceu tão rápido que eu não posso dizer como foi
feito. O homem de smoking recua seu braço como se
estivesse para empurrar a faca no peito do cara.
— Pare! — Eu chamo antes de perceber o que estou
fazendo. Uma das minhas mãos está segurando meu vestido
no busto e a outra está mal tocando meus lábios. Eu não
posso ver o cara morrer, mas eu não consigo desviar o olhar
também.
O homem de smoking não para. Um grito tremendo sai
dilacerado da minha garganta quando ele bate a faca no
ombro do ladrão. O bandido pega no seu braço e desliza para
baixo da parede, segurando seu ombro enquanto o casaco
fica encharcado de sangue. Ele olha diretamente para mim
com raiva.
O homem de smoking chuta o ladrão uma vez, e uma
voz familiar disse:
— Vá embora.
Eu tremo quando ouço isso, porque eu sei quem é ele,
Bryan. Ele deve ter me seguido. O medo agarra e azeda
dentro do meu estômago, enquanto eu olho para as suas
costas. Bryan não vira o rosto para mim. O ladrão comprime
os lábios e se levanta do chão do beco. Ele faz o seu caminho
passando por mim, e não diz nada.
Um tremor se apodera de mim e escorre pela minha
espinha, me fazendo ofegar. É quando ele se vira. O rosto de
Bryan está pálido e coberto de um brilho fino de suor. Ele
caminha de volta para mim e eu posso ver onde ele tomou
algumas pancadas. Há um rasgo em sua camisa, sob a lapela
do paletó, onde a faca cortou antes Bryan tomá-la do ladrão.
Passo a passo, ele caminha em minha direção, e eu
estou mais assustada por Bryan que qualquer coisa que já
encontrei. O que foi isso? Ele teria matado o homem se eu
não tivesse gritado? Eu não consigo parar de tremer.
Bryan alcança os meus ombros para me firmar, e eu
sinto aquele choque familiar que acompanha o seu toque.
Seu polegar esfrega suavemente sobre minha pele. — Você
está bem?
Mas, é muito. Eu não posso. Eu não posso. Eu não posso.
O pensamento não faz sentido, mas eu sei que tenho que
fazer com que ele me liberte. Seu toque tem uma maneira de
me desfazer, e eu estou caindo aos pedaços. Recuso-me a
deixá-lo ser o único a testemunhar isso. Eu empurro para
longe, e aceno com a cabeça rapidamente.
— Eu estou bem.
As mãos de Bryan permanecem paradas no ar por um
momento, antes de ele abaixa-las junto com seu olhar. Ele
observa o chão por um segundo e quando ele levanta o
queixo, vejo um sorriso nos seus lábios.
— Mentirosa. Você está longe de estar bem, mas eu
estou contente que você esteja parada.
Eu fico olhando para ele, incapaz de encontrar uma
resposta. Sua voz soa carinhosa, quase arrependida. Ele olha
por cima do meu ombro para alguém e, em seguida, diz:
— A sua carona está aqui. Da próxima vez, não tente
derrubar um assaltante por si mesmo.
Eu falo sem querer, mas as palavras saem e caem fora.
— Da próxima vez, não mate um homem por roubar minha
bolsa.
O canto dos lábios de Bryan puxa para cima, como se
quisesse sorrir, mas ele não sorri.
— Eu não iria matar um homem por roubar uma bolsa.
Que tipo de pessoa você acha que eu sou?
— Honestamente, eu não sei mais. Eu achava que sabia,
mas depois disso... — Eu balanço minha cabeça e fico sem
palavras. Bryan mudou o ataque no último segundo. Essa
faca não estava voltada para o ombro do homem — estava
dirigida para o seu coração. — Você ia matá-lo. Eu vi, você
não pode me dizer que não iria.
Bryan se inclina mais perto, e quando ele fala seu hálito
quente sussurra contra a minha orelha.
— Talvez, mas não foi porque ele pegou sua bolsa. — Ele
se inclina para trás e desliza as mãos nos bolsos, enquanto
seus olhos verdes me percorrem. — Ninguém toca em você,
enquanto você está comigo.
— Eu engulo em seco e olho para ele, com o coração
ainda disparando.
Maggie aparece atrás de mim um segundo depois. Ela
pega meu ombro e me vira.
— Hallie, diabo está acontecendo, e por que você está
aqui no beco sozinha? — Ela vê a maneira que eu estou
segurando meu vestido e o tecido rasgado. A preocupação
persiste em seu rosto, esperando pela minha resposta.
— Eu não estou sozinha, — mas quando me viro para
olhar, Bryan já se foi.
CAPÍTULO 3
Eu estive em um casulo de tristeza e este evento o
quebrou. Minha atordoada indiferença fratura e estilhaça,
como vidro barato. Eu olho para a bolsa presa em minha mão
e me pergunto o que há de errado comigo, mas ainda mais,
eu não consigo parar de pensar em Bryan, como ele veio do
nada e quase matou o homem que tentou me machucar.
Pare de pensar assim, eu me repreendo. Bryan agiu
como um lunático. A imagem de Bryan esfaqueando o cara
persiste através dos meus olhos mais uma vez e faz o meu
estômago embrulhar.
Maggie está falando, mas eu não disse muito. Estamos
em seu velho Ford Escort. A coisa corre mal, mas eu não
posso reclamar. Eu nem mesmo tenho um carro, não mais.
Maggie olha para mim por trás do volante, enquanto suas
mãos o seguram com firmeza.
— Hallie, se você estiver com vontade de vomitar, baixe
a janela. Aqui já cheira estranho o suficiente. — Ela está
certa, o carro tem um odor não identificável que está lá desde
que ela comprou.
— Eu estou bem, — eu digo novamente, embora seja
uma mentira. Meus braços envolvem meu peito para
esconder como minhas mãos tremem.
— Ah, Hallie, eu sei que você não quer falar e que está
tudo bem, mas eu quero informa-la sobre a minha nova casa.
— Eu olho para ela, sem entender o que ela quer dizer.
Maggie me dá um sorriso tímido e encolhe os ombros até as
suas orelhas, enquanto dirige. — Vamos apenas dizer que
não é algo que você aprovaria.
Eu não tenho paciência para lidar com seus enigmas
neste momento. A vida de Maggie é mais difícil do que a
minha, e eu sei disso, mas ela nunca tinha escondido coisas
de mim antes. Desta vez, é claro que ela escondeu, e isso me
preocupa. As únicas coisas que eu desaprovo são as que
possam matá-la. A menina não tem nenhum senso. Às vezes
me pergunto sobre ela, e como ela escolhe o que faz. Sorrio
sem jeito e olho para o tapete sujo no chão, que alguma vez
foi azul.
— O que é tão engraçado? — Maggie parece indignada,
como se eu a tivesse ofendido.
— Nada. Vamos apenas dizer que, se você soubesse o
que eu estava fazendo esta noite, você não se sentiria tão na
defensiva. Tenho certeza de que sua casa é boa.
Maggie se tranquiliza. Ela suspira quando vira em uma
rua lateral e começamos a fazer o nosso caminho através de
um bairro degradado. As casas são marcadas e branqueadas
pelo Sol, com gramados mortos, mas os carros são
customizados e caros. Mesmo que seja tarde, as pessoas
movem-se, sem fazer nada. Eu olho para a minha porta,
querendo trancá-la, mas eu não me mexo. Enquanto nós
rodamos passando pelos grupos de pessoas, os olhos deles
viram e nos assistem passar, antes de voltar para o que eles
estavam fazendo.
Maggie finalmente diz: — Não é muito, mas acho que
vale a pena.
— Você não tem que defender o seu apartamento para
mim, Maggie. Eu sou uma maldita sem-teto. — Eu olho para
ela e inclino a cabeça para trás no assento. Minhas palavras
não a consolam, então eu acrescento: — Além disso, eu não
sou uma garota-propaganda da moralidade, também. Você
não vai acreditar no que eu fiz hoje à noite, e o que eu vou
fazer. — Minha voz falha e eu balanço a cabeça, pensando
nos lábios de Bryan. Estou horrorizada por reagir da maneira
como o faço, mesmo que com a memória.
Ela ri uma vez, rapidamente. — Sim, certo. Hallie, você
nunca faz nada de mau. Estúpido, sim. Mau, não.
Eu olho para fora da janela e não vejo nada. As casas
deram lugar a apartamentos que se estendem para o céu na
noite. Fachadas de tijolos já viram dias melhores. Muitos
parecem vazios, como se ninguém vivesse lá, por muitos
anos. Meu peito se aperta e eu me contorço na cadeira. Meu
Deus, ela mora aqui? Por que ela não me contou? Há carros
queimados, latas de lixo viradas e entulho, tudo espalhado
por toda parte. Parece que a rua foi saqueada e esquecida,
assim como Maggie.
Segundas decisões são as que mudam vidas. Eu faço a
minha e cuspo fora antes de me acovardar.
— Bryan Ferro está me chantageando. Se eu não dormir
com ele sempre que ele quiser, vai dizer às pessoas que ele é
o cara no livro e fazer o que for preciso para me arruinar. Ele
disse que ia usar tudo o que tem contra mim e me deu um
ultimato.
Os grandes olhos de Maggie viram em minha direção,
com o queixo caído e boca aberta.
— Puta merda! Quando isso aconteceu? Como você vai
detê-lo? — Ela pisca para mim e vira os olhos de volta para a
estrada, embora eu saiba que ela não quer.
Esta é a parte que me faz sentir um lixo. Eu não sou
quem ela pensa que eu sou. Eu não tenho uma estrutura
moral de aço. Eu não posso nem olhar para ela.
— Esta noite eu acabei fazendo o anúncio do prêmio no
show com ele, e então ele me encontrou no banquete. — Eu
digo. Eu tento fazer a minha boca mover-se para formar as
palavras, mas não vão sair.
— De jeito nenhum. — Ela estaciona em um parque de
estacionamento que parece que foi usado como um local de
explosão da força aérea e desliga o carro. — Pegue suas
coisas e tranque a porta. — Eu faço como ela diz e me
apresso atrás dela. — Mantenha seus olhos baixos e me siga.
Não fale ou olhe para ninguém.
Entramos no lado de um desses prédios de tijolos
antigos e subimos alguns lances de escadas, até o quarto
andar. No momento que chegamos ao seu andar, eu quero
jogar o resto do meu sapato para fora da janela. Eu poderia,
não há vidro no painel. Eu a sigo, até a porta e por um longo
corredor mal iluminado. Nós paramos em frente à sua porta.
Enquanto ela se atrapalha com a chave, a porta contrária à
dela se abre. Um homem pálido, com cabelo loiro descolorido
e vestindo uma camiseta regata branca e cueca está lá e olha
para nós. Eu posso sentir seus olhos nas minhas costas. Ele
se inclina contra o batente da porta e cruza os braços sobre o
peito.
Quando ele fala, soa rouco, como se ele fumasse um
maço de cigarros todos os dias desde que ele tinha dois anos
de idade. — Trouxe-me outra?
— Não, — Maggie diz com firmeza. Ela não se vira para
olhar para o cara. Se eu não a conhecesse melhor, eu acharia
que ela estava com medo dele. Eu não aguento mais stress
esta noite. Meu cérebro parece que vai partir em dois, antes
que eu murche e morra. Maggie pega a chave para abrir, mas
porta emperra. Ela chuta uma vez com o pé e a porta mexe
ligeiramente. — Maldita porta, — ela murmura.
— Qual é o seu nome, docinho? — O cara está falando
comigo. Viro-me e olho por cima do ombro, e nossos olhos se
encontram. Ele envia um olhar frio para mim, ao ver o jeito
como ele está olhando de soslaio. O cara é enorme, ele é todo
músculos e agora ele está sorrindo para mim, revelando uma
coroa de ouro em seu dente canino.
— Oi, — eu digo timidamente, e arrumo o meu cabelo
para atrás da minha orelha, tentando evitar o olhar dele
enquanto não respondo sua pergunta.
Enquanto o cara está de boca aberta, Maggie chuta na
porta. A porta se abre, ela agarra meu braço e me puxa. Eu
sigo, voando atrás dela enquanto ela grita por cima do ombro,
— eu vou lhe trazer alguém amanhã, eu juro. Boa noite, Vic.
— Ela bate a porta com o pé e parece abalada.
Seu apartamento é aproximadamente o mesmo tamanho
de um pequeno corredor. Há uma pequena janela com uma
folha grampeada sobre ela e sem móveis. Algumas das roupas
de Maggie estão jogadas ao redor do lugar, como se ela
tivesse saído com pressa. Se eu morasse aqui, eu iria embora
rapidamente, também.
— Obrigado por me deixar ficar com você.
— Sim, não há problema. É uma merda como este é o
pior lugar que eu já vivi, mas é um refúgio. Eu durmo aqui e,
em seguida, dou o fora. O aluguel não é horrível. — Ela
oferece um sorriso torto, mas é franco.
Eu preciso dela, e não há um muro entre nós. Ela acha
que eu sou perfeita, mas eu não sou. Eu fiz coisas que ela
não sabe. As palavras estão na minha língua e eu enrolo-as
em torno de minha boca, tentando descobrir como dizer isso,
enquanto a Maggie tagarela, enchendo o ambiente com sua
voz.
Um casal está brigando nas proximidades, e o som está
cada vez mais alto. Estão lutando, eu não quero dizer
discutindo. Há coisas batendo nas paredes e quebrando.
Chove gesso para baixo sobre nós como flocos de neve
quando algo cai de cima. Maggie olha horrorizada quando ela
puxa sua cama Murphy 2 para baixo da parede. Tomando
quase toda a sala. — Você pode dormir aqui. Eu vou dormir
no chão.
— Não.
Ela sorri. — Não seja boba, você é minha convidada. —
Palavrões ressoam acima de nós quando um homem irritado
grita. É prontamente seguido de um grito agudo. Maggie
morde as unhas do jeito que ela fazia quando éramos
crianças e olha em volta, como se ela desejasse poder
queimar o lugar.
2
— Eu não vou fazer você dormir no chão, mas há outra
coisa que eu preciso lhe dizer.
— Maggie olha para mim por debaixo de sua massa de
cabelo vermelho. Eu sou sua única amiga de verdade, sua
única família e ela a minha. Deus, o que é que ela vai pensar
de mim quando eu lhe disser o que eu concordei em fazer?
Eu não acho que eu vou ser capaz de suportá-lo. Meus
braços ainda estão dobrados sobre o peito, com as mãos
firmemente aninhadas nos meus braços.
— Hallie, qual o problema? — Maggie deixa de fazer a
cama e se senta. Ela dá um tapinha no lugar ao lado dela e
me sento.
Olhando para frente, eu engulo em seco e digo a ela.
— Eu disse que sim. — Você disse sim para o quê?
Hallie, você não está fazendo sentido, do que você está
falando?
Quando me viro para olhar para ela, e encontro com
aqueles grandes olhos verdes e sinto medo. Minha pele fica
arrepiada, mas eu não consigo desviar o olhar.
— Eu disse a Bryan Ferro que sim. Eu cedi. Ele ganhou
e eu perdi.
— O quê? — Ela está furiosa, pronta para voar para fora
do seu assento e defender-me até a morte.
Eu coloco minha mão no colo dela para fazê-la parar. —
Eu fui ao seu quarto de hotel para dizer-lhe para ir chupar
um prego, mas eu mudei de ideia quando ouvi sua voz. Eu
pensei que algo estava errado e esta era a sua maneira de
merda para me dizer. Conheci-o uma vez, pelo menos eu
pensei que tinha conhecido. Então, quando eu estava
esperando por você do lado de fora, eu... — minha voz está
trêmula e eu não posso mais esconder o meu horror, — um
cara tentou roubar minha bolsa. Para encurtar a história, ele
me pegou por trás do prédio e ia me machucar. Bryan
apareceu e ele... — Eu não posso dizer isso. Meu Bryan
perfeito fez algo que era tão diferente dele, tão terrivelmente
selvagem, que eu não sei o que pensar. Ele me protegeu, mas
ainda parece errado.
— Ele a machucou? — Maggie está furiosa, eu posso
ouvir em sua voz. Mas a forma como ela fala suas palavras
ondulando entre muito alta e baixa, dão a deixa.
— Não, ele atacou o homem, e esfaqueou-o. Se eu não
dissesse a Bryan para parar, acho que ele teria matado o
cara. — Olho para ela, mas eu não posso mais enxergar.
Meus olhos têm brilham com lágrimas que tudo fica
desfocado.
Maggie ergue os braços e eu caio neles. Ela sempre foi
como uma irmã para mim. Estivemos sempre uma para a
outra, e eu temo que a história com Bryan e o que eu me
tornei vá fazê-la me odiar. Meu pai teria vergonha de me
chamar de filha, e eu espero o mesmo de Maggie. Em vez
disso, ela fica lá no colchão gasto e me acalma.
Depois de um forte abraço, ela libera meus ombros e
pega meu queixo. — Você e eu passamos por tudo juntas.
Não pense que eu a estou socorrendo por causa disso. Se não
for por qualquer coisa, a vida fica mais interessante, isso é
tudo.
Eu enxugo as lágrimas dos meus olhos e rio, porque ela
está tão errada. — Esse é o eufemismo do ano.
— O meu ponto é, eu estou aqui por você. Eu sempre
estarei aqui para você. — Ela bate no meu ombro com a dela.
— Então, Bryan Ferro tem um lado negro por trás de todo o
brilho e deslumbre?
— Aparentemente.
— Foi divertido ou ele fez coisas estranhas?
Eu sorrio e limpo meus olhos novamente. — Não, não
hoje à noite de qualquer maneira. Ele me chamou para seu
quarto, eu fui, e nos beijamos. Então, ele me mandou ir
embora.
Os lábios de Maggie puxaram um pouco para cima. —
Ele a jogou para fora? Mas que inferno...?
— Eu não sei. É como se ele estivesse louco e deixando o
Hulk sair ou algo assim. Ele não olhava para mim. As coisas
estavam quentes e pesadas até então. — A intuição continua
me dizendo que algo estava errado, mas não posso entender o
quê.
Maggie sorri: — Ele foi melhor do que Neil, certo?
Eu faço uma careta e olhou para ela como se ela fosse
louca. — Uh, Bryan está me chantageando.
— E ele é mais quente do que Neil. Vá em frente, diga.
Eu sou sua amiga, então eu já sei.
Eu baixei meus olhos em direção ao chão e não disse
nada. Eu não tenho que dizer nada, a minha expressão diz
tudo. Bryan é muito mais quente do que Neil, não há
comparação. Os dois homens são noite e dia, e Bryan é a
noite sexy. Neil a voz racional que soa como o FDA 3,
lembrando-me de fazer todas as coisas com moderação, mas
não todas as coisas, somente as ações que ele aprova. Droga.
Eu enterro meu rosto em minhas mãos e suspiro.
Maggie acaricia minhas costas. — Está tudo bem.
Qualquer um é mais quente do que Neil. Não se sinta
culpada, mas eu não contaria exatamente ao Senhor Calças
Perfeitamente Passadas. Ele vai surtar ao saber que alguém
tocou em você. — Maggie está tirando as roupas e puxando
uma camisa de dormir e calças, enquanto ela fala.
— Na verdade, Neil sabe.
3 FDA - Food and Drug Administration - Agencia reguladora de remédios e alimentos.
— O quê? — Ela está pulando em um pé, tentando
enfiar o pé pela perna da calça e cai. — Como é que ele sabe?
Você disse que acabou de acontecer.
— Neil sabe por que foi ele quem me disse para fazer
isso.
CONTINUA
Bryan está de queixo caído e boca aberta, com aqueles olhos verdes semicerrados, em chamas. Fúria e choque não parecem bons para ele. As emoções distorcem seu belo rosto,
estragam as linhas suaves de sua pele, fazendo-o parecer bem mais velho. Seus punhos estão fechados, apertados em seus lados, mas ele pisca uma vez e a reação diminui. Há muitas coisas que eu não sei sobre Bryan Ferro, mas uma coisa eu sei, ele é uma merda em manter as coisas escondidas. Seus pensamentos dançam em seu rosto de vez em quando, e é por isso que ele está desconfiado de mim.
Virando abruptamente, Bryan pressiona seus dedos em sua têmpora direita. Sua voz sai como um grunhido.
— Eu lhe disse para ir embora.
— Seus ombros estão tensos, cada músculo está apertado a ponto de eu poder ver as curvas de seu corpo sob essa camisa. Ele flexiona a mão que está ao seu lado antes de deslizar em seu bolso. Bryan pode ser capaz de esconder tudo, de todos os outros, mas não de mim.
— Sim, eu ouvi essa parte. — Eu ajo como se eu não me importasse, deito-me no tapete, e dobro as minhas mãos atrás da minha cabeça. O piso é suave e difuso. Levanto os meus joelhos, eu deixo a queda do meu vestido em torno dos meus tornozelos e até meus pés, para sentir a pilha macia entre os dedos dos pés. O tapete no meu antigo quarto parecia como um saco de batata, em relação a este material.
Mesmo com Bryan irado, eu estou sorrindo. A vozinha na parte de trás da minha cabeça me diz que eu perdi minha mente. Eu respondo de volta que eu nunca tive um controle firme sobre isso de qualquer maneira.
https://img.comunidades.net/bib/bibliotecasemlimites/2_A_PROPOSI_O.jpg
Bryan pode ver meu reflexo no espelho, mas eu não
posso ver mais do que as suas costas e a maneira como ele
agarra sua cabeça como se fosse explodir. Ele está furioso
comigo? Não consigo entender sua raiva, mas transborda
para fora de sua boca de novo, espetando como espinhos,
neste momento.
— Se você não consegue entender os termos deste
acordo, então eu temo que nós não tenhamos um.
— O quê? — Sento-me e giro em torno, de modo que
estou de frente para as suas costas.
Bryan se vira, e a tensão que está estampada no seu
rosto é horrível. Eu encontro o seu olhar, mas eu não posso
olha-lo sem querer corrigir o que está fazendo com ele. Todas
as imagens na imprensa mostram a versão de Bryan que eu
conhecia, leve e despreocupado, mas este homem, aqui, não é
nenhuma dessas coisas. Algo está esmagando-o de dentro
para fora e deixando-o em pedaços. Seu corpo está tremendo,
ele está tão bravo. Ele tenta respirar fundo, mas isso só faz o
seu rosto ficar mais apertado.
— Você me ouviu. Se você não fizer as coisas do meu
jeito, eu vou arruinar você. Este não é o meu jeito, você sabe
muito bem disso. Saia daqui.
Ele não grita, mas suas palavras me fazem tremer. Não
há calor, não há compaixão. Talvez eu não o conheça mais e
ele está certo. Apertando os lábios, eu engulo minha resposta,
mas esta incha dentro de mim e enche meu peito. Eu peguei
meus sapatos saltos de volta e calcei em meus pés cansados
antes de levantar. Eu ando mais e pego minha bolsa.
Eu deveria sair. A vozinha dentro de mim canta como
um duende com uma voz agradável, sim, vá. Faça isso.
Agora.
Meus olhos estão fixos na porta como se fosse o
caminho para o inferno. Algo sobre sair agora parece errado,
mas não posso entender sobre o que está prendendo meus
pés no lugar. Caramba, é o pensamento que está me
segurando. Ele está me prendendo aqui e eu não posso me
mover. Parece como engolir o vômito e eu não posso fazê-lo.
Eu sou o cérebro danificado, mas não posso ser algo que não sou.
Girando sobre meus pés, eu atravesso o piso acarpetado
e elegante, e caminho até ele. Bryan não se vira para olhar
para mim. Em vez disso, suas mãos estão segurando a parte
superior do bar como se ele quisesse arrancá-lo da parede.
Suas costas estão curvadas e sua cabeça está pendurada
entre os ombros, como se ele estivesse tentando não me
rasgar em pedaços. Outra mulher teria corrido agora mesmo,
mas eu sou a dopada que anda mais perto.
— Eu sou uma idiota, — eu digo, enquanto olho para os
meus sapatos, e rio de leve. É o tipo de som que não tem
alegria e revela uma alma torturada. Meus olhos levantam
para seus ombros. Eu fico lá por um momento esperando que
ele se vire, mas ele não vira. Bryan não fala ou levanta o
olhar. Ele permanece debruçado sobre o bar como um troll 1.
Eu continuo, — vê-lo hoje à noite foi terrível e
maravilhoso. Isso evocou memórias e sentimentos que eu
tinha tempo esquecido há muito. Escrever sobre, é uma
coisa, mas vê-lo novamente está além das palavras.
Desculpe-me se eu o machuquei, mesmo que eu não entenda
o que eu fiz. E seu eu pudesse corrigir. Eu...
Por que estou fazendo isso? Eu estou me desculpando
com as suas costas, o homem não tem sequer a decência de
se virar e encarar-me. Eu respiro fundo e endireito a minha
espinha.
— As pessoas cometem erros, Bryan, e parece que o
meu maior erro foi conhecê-lo.
1
Troll – é uma gíria que designa uma pessoa cujo comportamento tende sistematicamente a desestabilizar uma
discussão, provocar e enfurecer as pessoas envolvidas nela. Há trolls de todo tipo, desde o mais ignorante e rude
que xinga e provoca, até o mais apto intelectualmente que discursa com o objetivo de desestabilizar o interlocutor
e levá-lo a fúria, para depois desqualificá-lo, matando seu argumento e abalando sua reputação.
A fúria me inunda quando eu corro pela sala. Eu agarro
a maçaneta da porta e não olho para trás, apesar de sentir
seus olhos em mim. Dane-se ele. Eu vivi coisas piores. Eu
digo essas palavras uma e outra vez, porque aconteceu.
Depois corro pelo corredor, aperto o botão para baixo no
elevador uma e outra vez, perguntando por que eu estou tão
chateada. Depois de um momento, eu sinto o pensamento
picar os meus olhos e apertar a minha garganta e eu sei
exatamente por que estou tão chateada.
É possível que as coisas estejam invertidas, e como eu
não conhecesse o verdadeiro Bryan Ferro, aquele com quem
dormi todos esses anos, era o falso.
CAPÍTULO 2
Eu não posso ir para casa e enfrentar Neil, por isso eu
telefono para Maggie. Ela atende no terceiro toque. Eu estou
andando na rua em frente ao hotel com o meu telefone
pressionado ao meu ouvido. É tarde e escuro. Evitando as
sombras, eu ando mais perto da rua do que no hotel.
— Maggie. — Eu tento esconder a tensão na minha voz,
mas ela ouve. Nós nos conhecemos há muito tempo. — Vou
tirar suas bolas fora.
— O que diabo aconteceu? Onde você está? — Ela me
enche de perguntas, até que eu possa finalmente fazê-la calar
a boca.
— Eu preciso de um lugar para dormir. Eu não posso
ver Neil agora e eu não tenho outro lugar para ir.
Maggie fica em silêncio.
— O que é meu, é seu. Você sabe disso, mas eu não
tenho certeza que você vá gostar.
— Em qualquer lugar é melhor do que aqui ou com Neil.
— Eu sinto uma náusea fazendo seu caminho até a minha
garganta. Lágrimas estão chegando, e tenho a sensação de
que vai ser um maremoto.
— Claro, claro. Eu estarei aí em cinco minutos.
— A linha de Maggie desliga, e eu fecho o meu telefone e
o coloco em minha bolsa.
A cidade se move em torno de mim, mas parece que eu
estou em uma bolha. As pessoas passam na calçada, mas eu
não as noto. Eu passeio, perdida em pensamentos, agarrando
minha bolsa perto do meu corpo. O ar da noite tem aquele
cheiro que é distintamente de Nova York. Eu o inspiro e
quando me viro, quase bato em alguém. O cara é uma
parede, de marrom e preto. Seu casaco tem cheiro de cigarros
velhos e naftalina.
Antes de eu ter tempo para descobrir o que está
acontecendo, ele pega a minha bolsa, em seguida, coloca a
mão no centro do meu peito e me empurra, com força. Eu
grito, tropeço e caio para trás, enquanto minha bolsa é
arrancada de minhas mãos. O cara se vira e está pronto para
correr, mas eu não estou com disposição para perder a bolsa.
Eu estou fodidamente quebrada. Todo o dinheiro que eu
tenho está lá dentro.
Antes que eu saiba o que estou fazendo, eu pego um dos
meus sapatos de salto alto e atiro em sua cabeça. Acerto e ele
cai na calçada. Poucas pessoas param para assistir, mas
ninguém faz nada - típico dos nova-iorquinos. Todo mundo
quer ver, mas ninguém ajuda.
Nesse ponto, tudo acontece em câmera lenta. Eu estou
em pé, mesmo que eu não me lembre de ficar pé. Um pé está
congelado, sobre o cimento frio, enquanto o outro ainda está
calçado. O ladrão levanta a mão e bota na parte de trás de
sua cabeça e puxa-a. Ele olha para os seus dedos, seus olhos
escuros apreciando o sangue vermelho e pegajoso em sua
mão. A ponta do meu salto que bateu com a parte traseira de
seu couro cabeludo, deve tê-lo cortado.
Meu coração para, quando o sujeito se vira para mim.
Seus olhos têm um olhar enlouquecido e os ombros tremem
como se ele fosse me rasgar ao meio.
— Você. — Ele diz isso como se fosse o meu nome e ele
me odeia.
O homem dá passos em direção a mim e fala
novamente, mas suas mãos lentamente movem para cima,
como se ele fosse me atacar ou me estrangular. Eu suspiro
alguma coisa, mas ele não sai antes de eu dar um passo para
trás, aterrorizada. Meu pulso ruge em meus ouvidos, então
olho em volta a procura de ajuda, mas não vejo ninguém. A
multidão se afastou, ou talvez eu tenha ido embora. Onde
está um policial quando eu preciso de um?
O resto acontece freneticamente rápido. Alguém grita
comigo, enquanto o homem procura o meu pescoço. Eu caio,
mas ele pega no meu ombro. Ele aperta-me com força,
fazendo com que o meu pescoço estale para trás enquanto ele
grita na minha cara.
— Sua pequena vadia!
O resto de suas palavras se tornam zumbidos, enquanto
ele me aperta mais. Estou ciente do vento, do ar da noite, e
do homem que está me estrangulando. Em algum momento,
as mãos deslizam até o pescoço. Eu agarro em suas mãos e
tento gritar, mas não sai nada. Eu não entendo por que
ninguém nos vê, por que eles simplesmente deixam esse
ladrão me machucar.
Balançando as minhas pernas, eu o chuto, mas não
adianta. Eu não sou forte o suficiente. Eu tentei tudo o que
sabia fazer e nada funcionou. O homem me atira e bate
minhas costas contra uma parede de tijolos. O frio me sacode
e me pergunto como chegamos ao beco ao lado do hotel, mas
os pensamentos cessam quando vejo o olhar em seus olhos.
Um sorriso mal aparece em seu rosto quando ele rasga o
ombro do meu vestido. O tecido sai em sua mão e permite
que o vestido deslizar alguns centímetros.
Abro a boca para gritar, mas sua mão imunda me cobre,
impedindo a saída do som. Sua mão me tateia, sentindo
meus seios enquanto ele sussurra em meu ouvido todas as
coisas horríveis que ele pretende fazer comigo. — Então, eu
vou levar a minha faca e... — Suas palavras desagradáveis
param imediatamente, após o som do estalar de madeira.
Assim como, de repente, a mão no meu pescoço se foi e
eu suspiro em uma respiração trêmula e olho para cima. Está
muito escuro para ver, mas há um homem vestido de
smoking, avançando sobre o ladrão. Ele lança socos uma e
outra vez, até que eles estão na parte de trás do beco, presos
por uma parede de tijolos. O ladrão é espancado e sangra,
mas ele não para de lutar. Nem o homem de smoking. Ele
distribui socos como um boxeador, tanto assim que é
hipnótico assistir. Quando a faca aparece, eu esperava que as
coisas se transformassem em favor do ladrão, mas isso não
acontece. O homem de smoking desarma o idiota e toma a
arma. Aconteceu tão rápido que eu não posso dizer como foi
feito. O homem de smoking recua seu braço como se
estivesse para empurrar a faca no peito do cara.
— Pare! — Eu chamo antes de perceber o que estou
fazendo. Uma das minhas mãos está segurando meu vestido
no busto e a outra está mal tocando meus lábios. Eu não
posso ver o cara morrer, mas eu não consigo desviar o olhar
também.
O homem de smoking não para. Um grito tremendo sai
dilacerado da minha garganta quando ele bate a faca no
ombro do ladrão. O bandido pega no seu braço e desliza para
baixo da parede, segurando seu ombro enquanto o casaco
fica encharcado de sangue. Ele olha diretamente para mim
com raiva.
O homem de smoking chuta o ladrão uma vez, e uma
voz familiar disse:
— Vá embora.
Eu tremo quando ouço isso, porque eu sei quem é ele,
Bryan. Ele deve ter me seguido. O medo agarra e azeda
dentro do meu estômago, enquanto eu olho para as suas
costas. Bryan não vira o rosto para mim. O ladrão comprime
os lábios e se levanta do chão do beco. Ele faz o seu caminho
passando por mim, e não diz nada.
Um tremor se apodera de mim e escorre pela minha
espinha, me fazendo ofegar. É quando ele se vira. O rosto de
Bryan está pálido e coberto de um brilho fino de suor. Ele
caminha de volta para mim e eu posso ver onde ele tomou
algumas pancadas. Há um rasgo em sua camisa, sob a lapela
do paletó, onde a faca cortou antes Bryan tomá-la do ladrão.
Passo a passo, ele caminha em minha direção, e eu
estou mais assustada por Bryan que qualquer coisa que já
encontrei. O que foi isso? Ele teria matado o homem se eu
não tivesse gritado? Eu não consigo parar de tremer.
Bryan alcança os meus ombros para me firmar, e eu
sinto aquele choque familiar que acompanha o seu toque.
Seu polegar esfrega suavemente sobre minha pele. — Você
está bem?
Mas, é muito. Eu não posso. Eu não posso. Eu não posso.
O pensamento não faz sentido, mas eu sei que tenho que
fazer com que ele me liberte. Seu toque tem uma maneira de
me desfazer, e eu estou caindo aos pedaços. Recuso-me a
deixá-lo ser o único a testemunhar isso. Eu empurro para
longe, e aceno com a cabeça rapidamente.
— Eu estou bem.
As mãos de Bryan permanecem paradas no ar por um
momento, antes de ele abaixa-las junto com seu olhar. Ele
observa o chão por um segundo e quando ele levanta o
queixo, vejo um sorriso nos seus lábios.
— Mentirosa. Você está longe de estar bem, mas eu
estou contente que você esteja parada.
Eu fico olhando para ele, incapaz de encontrar uma
resposta. Sua voz soa carinhosa, quase arrependida. Ele olha
por cima do meu ombro para alguém e, em seguida, diz:
— A sua carona está aqui. Da próxima vez, não tente
derrubar um assaltante por si mesmo.
Eu falo sem querer, mas as palavras saem e caem fora.
— Da próxima vez, não mate um homem por roubar minha
bolsa.
O canto dos lábios de Bryan puxa para cima, como se
quisesse sorrir, mas ele não sorri.
— Eu não iria matar um homem por roubar uma bolsa.
Que tipo de pessoa você acha que eu sou?
— Honestamente, eu não sei mais. Eu achava que sabia,
mas depois disso... — Eu balanço minha cabeça e fico sem
palavras. Bryan mudou o ataque no último segundo. Essa
faca não estava voltada para o ombro do homem — estava
dirigida para o seu coração. — Você ia matá-lo. Eu vi, você
não pode me dizer que não iria.
Bryan se inclina mais perto, e quando ele fala seu hálito
quente sussurra contra a minha orelha.
— Talvez, mas não foi porque ele pegou sua bolsa. — Ele
se inclina para trás e desliza as mãos nos bolsos, enquanto
seus olhos verdes me percorrem. — Ninguém toca em você,
enquanto você está comigo.
— Eu engulo em seco e olho para ele, com o coração
ainda disparando.
Maggie aparece atrás de mim um segundo depois. Ela
pega meu ombro e me vira.
— Hallie, diabo está acontecendo, e por que você está
aqui no beco sozinha? — Ela vê a maneira que eu estou
segurando meu vestido e o tecido rasgado. A preocupação
persiste em seu rosto, esperando pela minha resposta.
— Eu não estou sozinha, — mas quando me viro para
olhar, Bryan já se foi.
CAPÍTULO 3
Eu estive em um casulo de tristeza e este evento o
quebrou. Minha atordoada indiferença fratura e estilhaça,
como vidro barato. Eu olho para a bolsa presa em minha mão
e me pergunto o que há de errado comigo, mas ainda mais,
eu não consigo parar de pensar em Bryan, como ele veio do
nada e quase matou o homem que tentou me machucar.
Pare de pensar assim, eu me repreendo. Bryan agiu
como um lunático. A imagem de Bryan esfaqueando o cara
persiste através dos meus olhos mais uma vez e faz o meu
estômago embrulhar.
Maggie está falando, mas eu não disse muito. Estamos
em seu velho Ford Escort. A coisa corre mal, mas eu não
posso reclamar. Eu nem mesmo tenho um carro, não mais.
Maggie olha para mim por trás do volante, enquanto suas
mãos o seguram com firmeza.
— Hallie, se você estiver com vontade de vomitar, baixe
a janela. Aqui já cheira estranho o suficiente. — Ela está
certa, o carro tem um odor não identificável que está lá desde
que ela comprou.
— Eu estou bem, — eu digo novamente, embora seja
uma mentira. Meus braços envolvem meu peito para
esconder como minhas mãos tremem.
— Ah, Hallie, eu sei que você não quer falar e que está
tudo bem, mas eu quero informa-la sobre a minha nova casa.
— Eu olho para ela, sem entender o que ela quer dizer.
Maggie me dá um sorriso tímido e encolhe os ombros até as
suas orelhas, enquanto dirige. — Vamos apenas dizer que
não é algo que você aprovaria.
Eu não tenho paciência para lidar com seus enigmas
neste momento. A vida de Maggie é mais difícil do que a
minha, e eu sei disso, mas ela nunca tinha escondido coisas
de mim antes. Desta vez, é claro que ela escondeu, e isso me
preocupa. As únicas coisas que eu desaprovo são as que
possam matá-la. A menina não tem nenhum senso. Às vezes
me pergunto sobre ela, e como ela escolhe o que faz. Sorrio
sem jeito e olho para o tapete sujo no chão, que alguma vez
foi azul.
— O que é tão engraçado? — Maggie parece indignada,
como se eu a tivesse ofendido.
— Nada. Vamos apenas dizer que, se você soubesse o
que eu estava fazendo esta noite, você não se sentiria tão na
defensiva. Tenho certeza de que sua casa é boa.
Maggie se tranquiliza. Ela suspira quando vira em uma
rua lateral e começamos a fazer o nosso caminho através de
um bairro degradado. As casas são marcadas e branqueadas
pelo Sol, com gramados mortos, mas os carros são
customizados e caros. Mesmo que seja tarde, as pessoas
movem-se, sem fazer nada. Eu olho para a minha porta,
querendo trancá-la, mas eu não me mexo. Enquanto nós
rodamos passando pelos grupos de pessoas, os olhos deles
viram e nos assistem passar, antes de voltar para o que eles
estavam fazendo.
Maggie finalmente diz: — Não é muito, mas acho que
vale a pena.
— Você não tem que defender o seu apartamento para
mim, Maggie. Eu sou uma maldita sem-teto. — Eu olho para
ela e inclino a cabeça para trás no assento. Minhas palavras
não a consolam, então eu acrescento: — Além disso, eu não
sou uma garota-propaganda da moralidade, também. Você
não vai acreditar no que eu fiz hoje à noite, e o que eu vou
fazer. — Minha voz falha e eu balanço a cabeça, pensando
nos lábios de Bryan. Estou horrorizada por reagir da maneira
como o faço, mesmo que com a memória.
Ela ri uma vez, rapidamente. — Sim, certo. Hallie, você
nunca faz nada de mau. Estúpido, sim. Mau, não.
Eu olho para fora da janela e não vejo nada. As casas
deram lugar a apartamentos que se estendem para o céu na
noite. Fachadas de tijolos já viram dias melhores. Muitos
parecem vazios, como se ninguém vivesse lá, por muitos
anos. Meu peito se aperta e eu me contorço na cadeira. Meu
Deus, ela mora aqui? Por que ela não me contou? Há carros
queimados, latas de lixo viradas e entulho, tudo espalhado
por toda parte. Parece que a rua foi saqueada e esquecida,
assim como Maggie.
Segundas decisões são as que mudam vidas. Eu faço a
minha e cuspo fora antes de me acovardar.
— Bryan Ferro está me chantageando. Se eu não dormir
com ele sempre que ele quiser, vai dizer às pessoas que ele é
o cara no livro e fazer o que for preciso para me arruinar. Ele
disse que ia usar tudo o que tem contra mim e me deu um
ultimato.
Os grandes olhos de Maggie viram em minha direção,
com o queixo caído e boca aberta.
— Puta merda! Quando isso aconteceu? Como você vai
detê-lo? — Ela pisca para mim e vira os olhos de volta para a
estrada, embora eu saiba que ela não quer.
Esta é a parte que me faz sentir um lixo. Eu não sou
quem ela pensa que eu sou. Eu não tenho uma estrutura
moral de aço. Eu não posso nem olhar para ela.
— Esta noite eu acabei fazendo o anúncio do prêmio no
show com ele, e então ele me encontrou no banquete. — Eu
digo. Eu tento fazer a minha boca mover-se para formar as
palavras, mas não vão sair.
— De jeito nenhum. — Ela estaciona em um parque de
estacionamento que parece que foi usado como um local de
explosão da força aérea e desliga o carro. — Pegue suas
coisas e tranque a porta. — Eu faço como ela diz e me
apresso atrás dela. — Mantenha seus olhos baixos e me siga.
Não fale ou olhe para ninguém.
Entramos no lado de um desses prédios de tijolos
antigos e subimos alguns lances de escadas, até o quarto
andar. No momento que chegamos ao seu andar, eu quero
jogar o resto do meu sapato para fora da janela. Eu poderia,
não há vidro no painel. Eu a sigo, até a porta e por um longo
corredor mal iluminado. Nós paramos em frente à sua porta.
Enquanto ela se atrapalha com a chave, a porta contrária à
dela se abre. Um homem pálido, com cabelo loiro descolorido
e vestindo uma camiseta regata branca e cueca está lá e olha
para nós. Eu posso sentir seus olhos nas minhas costas. Ele
se inclina contra o batente da porta e cruza os braços sobre o
peito.
Quando ele fala, soa rouco, como se ele fumasse um
maço de cigarros todos os dias desde que ele tinha dois anos
de idade. — Trouxe-me outra?
— Não, — Maggie diz com firmeza. Ela não se vira para
olhar para o cara. Se eu não a conhecesse melhor, eu acharia
que ela estava com medo dele. Eu não aguento mais stress
esta noite. Meu cérebro parece que vai partir em dois, antes
que eu murche e morra. Maggie pega a chave para abrir, mas
porta emperra. Ela chuta uma vez com o pé e a porta mexe
ligeiramente. — Maldita porta, — ela murmura.
— Qual é o seu nome, docinho? — O cara está falando
comigo. Viro-me e olho por cima do ombro, e nossos olhos se
encontram. Ele envia um olhar frio para mim, ao ver o jeito
como ele está olhando de soslaio. O cara é enorme, ele é todo
músculos e agora ele está sorrindo para mim, revelando uma
coroa de ouro em seu dente canino.
— Oi, — eu digo timidamente, e arrumo o meu cabelo
para atrás da minha orelha, tentando evitar o olhar dele
enquanto não respondo sua pergunta.
Enquanto o cara está de boca aberta, Maggie chuta na
porta. A porta se abre, ela agarra meu braço e me puxa. Eu
sigo, voando atrás dela enquanto ela grita por cima do ombro,
— eu vou lhe trazer alguém amanhã, eu juro. Boa noite, Vic.
— Ela bate a porta com o pé e parece abalada.
Seu apartamento é aproximadamente o mesmo tamanho
de um pequeno corredor. Há uma pequena janela com uma
folha grampeada sobre ela e sem móveis. Algumas das roupas
de Maggie estão jogadas ao redor do lugar, como se ela
tivesse saído com pressa. Se eu morasse aqui, eu iria embora
rapidamente, também.
— Obrigado por me deixar ficar com você.
— Sim, não há problema. É uma merda como este é o
pior lugar que eu já vivi, mas é um refúgio. Eu durmo aqui e,
em seguida, dou o fora. O aluguel não é horrível. — Ela
oferece um sorriso torto, mas é franco.
Eu preciso dela, e não há um muro entre nós. Ela acha
que eu sou perfeita, mas eu não sou. Eu fiz coisas que ela
não sabe. As palavras estão na minha língua e eu enrolo-as
em torno de minha boca, tentando descobrir como dizer isso,
enquanto a Maggie tagarela, enchendo o ambiente com sua
voz.
Um casal está brigando nas proximidades, e o som está
cada vez mais alto. Estão lutando, eu não quero dizer
discutindo. Há coisas batendo nas paredes e quebrando.
Chove gesso para baixo sobre nós como flocos de neve
quando algo cai de cima. Maggie olha horrorizada quando ela
puxa sua cama Murphy 2 para baixo da parede. Tomando
quase toda a sala. — Você pode dormir aqui. Eu vou dormir
no chão.
— Não.
Ela sorri. — Não seja boba, você é minha convidada. —
Palavrões ressoam acima de nós quando um homem irritado
grita. É prontamente seguido de um grito agudo. Maggie
morde as unhas do jeito que ela fazia quando éramos
crianças e olha em volta, como se ela desejasse poder
queimar o lugar.
2
— Eu não vou fazer você dormir no chão, mas há outra
coisa que eu preciso lhe dizer.
— Maggie olha para mim por debaixo de sua massa de
cabelo vermelho. Eu sou sua única amiga de verdade, sua
única família e ela a minha. Deus, o que é que ela vai pensar
de mim quando eu lhe disser o que eu concordei em fazer?
Eu não acho que eu vou ser capaz de suportá-lo. Meus
braços ainda estão dobrados sobre o peito, com as mãos
firmemente aninhadas nos meus braços.
— Hallie, qual o problema? — Maggie deixa de fazer a
cama e se senta. Ela dá um tapinha no lugar ao lado dela e
me sento.
Olhando para frente, eu engulo em seco e digo a ela.
— Eu disse que sim. — Você disse sim para o quê?
Hallie, você não está fazendo sentido, do que você está
falando?
Quando me viro para olhar para ela, e encontro com
aqueles grandes olhos verdes e sinto medo. Minha pele fica
arrepiada, mas eu não consigo desviar o olhar.
— Eu disse a Bryan Ferro que sim. Eu cedi. Ele ganhou
e eu perdi.
— O quê? — Ela está furiosa, pronta para voar para fora
do seu assento e defender-me até a morte.
Eu coloco minha mão no colo dela para fazê-la parar. —
Eu fui ao seu quarto de hotel para dizer-lhe para ir chupar
um prego, mas eu mudei de ideia quando ouvi sua voz. Eu
pensei que algo estava errado e esta era a sua maneira de
merda para me dizer. Conheci-o uma vez, pelo menos eu
pensei que tinha conhecido. Então, quando eu estava
esperando por você do lado de fora, eu... — minha voz está
trêmula e eu não posso mais esconder o meu horror, — um
cara tentou roubar minha bolsa. Para encurtar a história, ele
me pegou por trás do prédio e ia me machucar. Bryan
apareceu e ele... — Eu não posso dizer isso. Meu Bryan
perfeito fez algo que era tão diferente dele, tão terrivelmente
selvagem, que eu não sei o que pensar. Ele me protegeu, mas
ainda parece errado.
— Ele a machucou? — Maggie está furiosa, eu posso
ouvir em sua voz. Mas a forma como ela fala suas palavras
ondulando entre muito alta e baixa, dão a deixa.
— Não, ele atacou o homem, e esfaqueou-o. Se eu não
dissesse a Bryan para parar, acho que ele teria matado o
cara. — Olho para ela, mas eu não posso mais enxergar.
Meus olhos têm brilham com lágrimas que tudo fica
desfocado.
Maggie ergue os braços e eu caio neles. Ela sempre foi
como uma irmã para mim. Estivemos sempre uma para a
outra, e eu temo que a história com Bryan e o que eu me
tornei vá fazê-la me odiar. Meu pai teria vergonha de me
chamar de filha, e eu espero o mesmo de Maggie. Em vez
disso, ela fica lá no colchão gasto e me acalma.
Depois de um forte abraço, ela libera meus ombros e
pega meu queixo. — Você e eu passamos por tudo juntas.
Não pense que eu a estou socorrendo por causa disso. Se não
for por qualquer coisa, a vida fica mais interessante, isso é
tudo.
Eu enxugo as lágrimas dos meus olhos e rio, porque ela
está tão errada. — Esse é o eufemismo do ano.
— O meu ponto é, eu estou aqui por você. Eu sempre
estarei aqui para você. — Ela bate no meu ombro com a dela.
— Então, Bryan Ferro tem um lado negro por trás de todo o
brilho e deslumbre?
— Aparentemente.
— Foi divertido ou ele fez coisas estranhas?
Eu sorrio e limpo meus olhos novamente. — Não, não
hoje à noite de qualquer maneira. Ele me chamou para seu
quarto, eu fui, e nos beijamos. Então, ele me mandou ir
embora.
Os lábios de Maggie puxaram um pouco para cima. —
Ele a jogou para fora? Mas que inferno...?
— Eu não sei. É como se ele estivesse louco e deixando o
Hulk sair ou algo assim. Ele não olhava para mim. As coisas
estavam quentes e pesadas até então. — A intuição continua
me dizendo que algo estava errado, mas não posso entender o
quê.
Maggie sorri: — Ele foi melhor do que Neil, certo?
Eu faço uma careta e olhou para ela como se ela fosse
louca. — Uh, Bryan está me chantageando.
— E ele é mais quente do que Neil. Vá em frente, diga.
Eu sou sua amiga, então eu já sei.
Eu baixei meus olhos em direção ao chão e não disse
nada. Eu não tenho que dizer nada, a minha expressão diz
tudo. Bryan é muito mais quente do que Neil, não há
comparação. Os dois homens são noite e dia, e Bryan é a
noite sexy. Neil a voz racional que soa como o FDA 3,
lembrando-me de fazer todas as coisas com moderação, mas
não todas as coisas, somente as ações que ele aprova. Droga.
Eu enterro meu rosto em minhas mãos e suspiro.
Maggie acaricia minhas costas. — Está tudo bem.
Qualquer um é mais quente do que Neil. Não se sinta
culpada, mas eu não contaria exatamente ao Senhor Calças
Perfeitamente Passadas. Ele vai surtar ao saber que alguém
tocou em você. — Maggie está tirando as roupas e puxando
uma camisa de dormir e calças, enquanto ela fala.
— Na verdade, Neil sabe.
3 FDA - Food and Drug Administration - Agencia reguladora de remédios e alimentos.
— O quê? — Ela está pulando em um pé, tentando
enfiar o pé pela perna da calça e cai. — Como é que ele sabe?
Você disse que acabou de acontecer.
— Neil sabe por que foi ele quem me disse para fazer
isso.
CONTINUA
Bryan está de queixo caído e boca aberta, com aqueles olhos verdes semicerrados, em chamas. Fúria e choque não parecem bons para ele. As emoções distorcem seu belo rosto,
estragam as linhas suaves de sua pele, fazendo-o parecer bem mais velho. Seus punhos estão fechados, apertados em seus lados, mas ele pisca uma vez e a reação diminui. Há muitas coisas que eu não sei sobre Bryan Ferro, mas uma coisa eu sei, ele é uma merda em manter as coisas escondidas. Seus pensamentos dançam em seu rosto de vez em quando, e é por isso que ele está desconfiado de mim.
Virando abruptamente, Bryan pressiona seus dedos em sua têmpora direita. Sua voz sai como um grunhido.
— Eu lhe disse para ir embora.
— Seus ombros estão tensos, cada músculo está apertado a ponto de eu poder ver as curvas de seu corpo sob essa camisa. Ele flexiona a mão que está ao seu lado antes de deslizar em seu bolso. Bryan pode ser capaz de esconder tudo, de todos os outros, mas não de mim.
— Sim, eu ouvi essa parte. — Eu ajo como se eu não me importasse, deito-me no tapete, e dobro as minhas mãos atrás da minha cabeça. O piso é suave e difuso. Levanto os meus joelhos, eu deixo a queda do meu vestido em torno dos meus tornozelos e até meus pés, para sentir a pilha macia entre os dedos dos pés. O tapete no meu antigo quarto parecia como um saco de batata, em relação a este material.
Mesmo com Bryan irado, eu estou sorrindo. A vozinha na parte de trás da minha cabeça me diz que eu perdi minha mente. Eu respondo de volta que eu nunca tive um controle firme sobre isso de qualquer maneira.
https://img.comunidades.net/bib/bibliotecasemlimites/2_A_PROPOSI_O.jpg
Bryan pode ver meu reflexo no espelho, mas eu não
posso ver mais do que as suas costas e a maneira como ele
agarra sua cabeça como se fosse explodir. Ele está furioso
comigo? Não consigo entender sua raiva, mas transborda
para fora de sua boca de novo, espetando como espinhos,
neste momento.
— Se você não consegue entender os termos deste
acordo, então eu temo que nós não tenhamos um.
— O quê? — Sento-me e giro em torno, de modo que
estou de frente para as suas costas.
Bryan se vira, e a tensão que está estampada no seu
rosto é horrível. Eu encontro o seu olhar, mas eu não posso
olha-lo sem querer corrigir o que está fazendo com ele. Todas
as imagens na imprensa mostram a versão de Bryan que eu
conhecia, leve e despreocupado, mas este homem, aqui, não é
nenhuma dessas coisas. Algo está esmagando-o de dentro
para fora e deixando-o em pedaços. Seu corpo está tremendo,
ele está tão bravo. Ele tenta respirar fundo, mas isso só faz o
seu rosto ficar mais apertado.
— Você me ouviu. Se você não fizer as coisas do meu
jeito, eu vou arruinar você. Este não é o meu jeito, você sabe
muito bem disso. Saia daqui.
Ele não grita, mas suas palavras me fazem tremer. Não
há calor, não há compaixão. Talvez eu não o conheça mais e
ele está certo. Apertando os lábios, eu engulo minha resposta,
mas esta incha dentro de mim e enche meu peito. Eu peguei
meus sapatos saltos de volta e calcei em meus pés cansados
antes de levantar. Eu ando mais e pego minha bolsa.
Eu deveria sair. A vozinha dentro de mim canta como
um duende com uma voz agradável, sim, vá. Faça isso.
Agora.
Meus olhos estão fixos na porta como se fosse o
caminho para o inferno. Algo sobre sair agora parece errado,
mas não posso entender sobre o que está prendendo meus
pés no lugar. Caramba, é o pensamento que está me
segurando. Ele está me prendendo aqui e eu não posso me
mover. Parece como engolir o vômito e eu não posso fazê-lo.
Eu sou o cérebro danificado, mas não posso ser algo que não sou.
Girando sobre meus pés, eu atravesso o piso acarpetado
e elegante, e caminho até ele. Bryan não se vira para olhar
para mim. Em vez disso, suas mãos estão segurando a parte
superior do bar como se ele quisesse arrancá-lo da parede.
Suas costas estão curvadas e sua cabeça está pendurada
entre os ombros, como se ele estivesse tentando não me
rasgar em pedaços. Outra mulher teria corrido agora mesmo,
mas eu sou a dopada que anda mais perto.
— Eu sou uma idiota, — eu digo, enquanto olho para os
meus sapatos, e rio de leve. É o tipo de som que não tem
alegria e revela uma alma torturada. Meus olhos levantam
para seus ombros. Eu fico lá por um momento esperando que
ele se vire, mas ele não vira. Bryan não fala ou levanta o
olhar. Ele permanece debruçado sobre o bar como um troll 1.
Eu continuo, — vê-lo hoje à noite foi terrível e
maravilhoso. Isso evocou memórias e sentimentos que eu
tinha tempo esquecido há muito. Escrever sobre, é uma
coisa, mas vê-lo novamente está além das palavras.
Desculpe-me se eu o machuquei, mesmo que eu não entenda
o que eu fiz. E seu eu pudesse corrigir. Eu...
Por que estou fazendo isso? Eu estou me desculpando
com as suas costas, o homem não tem sequer a decência de
se virar e encarar-me. Eu respiro fundo e endireito a minha
espinha.
— As pessoas cometem erros, Bryan, e parece que o
meu maior erro foi conhecê-lo.
1
Troll – é uma gíria que designa uma pessoa cujo comportamento tende sistematicamente a desestabilizar uma
discussão, provocar e enfurecer as pessoas envolvidas nela. Há trolls de todo tipo, desde o mais ignorante e rude
que xinga e provoca, até o mais apto intelectualmente que discursa com o objetivo de desestabilizar o interlocutor
e levá-lo a fúria, para depois desqualificá-lo, matando seu argumento e abalando sua reputação.
A fúria me inunda quando eu corro pela sala. Eu agarro
a maçaneta da porta e não olho para trás, apesar de sentir
seus olhos em mim. Dane-se ele. Eu vivi coisas piores. Eu
digo essas palavras uma e outra vez, porque aconteceu.
Depois corro pelo corredor, aperto o botão para baixo no
elevador uma e outra vez, perguntando por que eu estou tão
chateada. Depois de um momento, eu sinto o pensamento
picar os meus olhos e apertar a minha garganta e eu sei
exatamente por que estou tão chateada.
É possível que as coisas estejam invertidas, e como eu
não conhecesse o verdadeiro Bryan Ferro, aquele com quem
dormi todos esses anos, era o falso.
CAPÍTULO 2
Eu não posso ir para casa e enfrentar Neil, por isso eu
telefono para Maggie. Ela atende no terceiro toque. Eu estou
andando na rua em frente ao hotel com o meu telefone
pressionado ao meu ouvido. É tarde e escuro. Evitando as
sombras, eu ando mais perto da rua do que no hotel.
— Maggie. — Eu tento esconder a tensão na minha voz,
mas ela ouve. Nós nos conhecemos há muito tempo. — Vou
tirar suas bolas fora.
— O que diabo aconteceu? Onde você está? — Ela me
enche de perguntas, até que eu possa finalmente fazê-la calar
a boca.
— Eu preciso de um lugar para dormir. Eu não posso
ver Neil agora e eu não tenho outro lugar para ir.
Maggie fica em silêncio.
— O que é meu, é seu. Você sabe disso, mas eu não
tenho certeza que você vá gostar.
— Em qualquer lugar é melhor do que aqui ou com Neil.
— Eu sinto uma náusea fazendo seu caminho até a minha
garganta. Lágrimas estão chegando, e tenho a sensação de
que vai ser um maremoto.
— Claro, claro. Eu estarei aí em cinco minutos.
— A linha de Maggie desliga, e eu fecho o meu telefone e
o coloco em minha bolsa.
A cidade se move em torno de mim, mas parece que eu
estou em uma bolha. As pessoas passam na calçada, mas eu
não as noto. Eu passeio, perdida em pensamentos, agarrando
minha bolsa perto do meu corpo. O ar da noite tem aquele
cheiro que é distintamente de Nova York. Eu o inspiro e
quando me viro, quase bato em alguém. O cara é uma
parede, de marrom e preto. Seu casaco tem cheiro de cigarros
velhos e naftalina.
Antes de eu ter tempo para descobrir o que está
acontecendo, ele pega a minha bolsa, em seguida, coloca a
mão no centro do meu peito e me empurra, com força. Eu
grito, tropeço e caio para trás, enquanto minha bolsa é
arrancada de minhas mãos. O cara se vira e está pronto para
correr, mas eu não estou com disposição para perder a bolsa.
Eu estou fodidamente quebrada. Todo o dinheiro que eu
tenho está lá dentro.
Antes que eu saiba o que estou fazendo, eu pego um dos
meus sapatos de salto alto e atiro em sua cabeça. Acerto e ele
cai na calçada. Poucas pessoas param para assistir, mas
ninguém faz nada - típico dos nova-iorquinos. Todo mundo
quer ver, mas ninguém ajuda.
Nesse ponto, tudo acontece em câmera lenta. Eu estou
em pé, mesmo que eu não me lembre de ficar pé. Um pé está
congelado, sobre o cimento frio, enquanto o outro ainda está
calçado. O ladrão levanta a mão e bota na parte de trás de
sua cabeça e puxa-a. Ele olha para os seus dedos, seus olhos
escuros apreciando o sangue vermelho e pegajoso em sua
mão. A ponta do meu salto que bateu com a parte traseira de
seu couro cabeludo, deve tê-lo cortado.
Meu coração para, quando o sujeito se vira para mim.
Seus olhos têm um olhar enlouquecido e os ombros tremem
como se ele fosse me rasgar ao meio.
— Você. — Ele diz isso como se fosse o meu nome e ele
me odeia.
O homem dá passos em direção a mim e fala
novamente, mas suas mãos lentamente movem para cima,
como se ele fosse me atacar ou me estrangular. Eu suspiro
alguma coisa, mas ele não sai antes de eu dar um passo para
trás, aterrorizada. Meu pulso ruge em meus ouvidos, então
olho em volta a procura de ajuda, mas não vejo ninguém. A
multidão se afastou, ou talvez eu tenha ido embora. Onde
está um policial quando eu preciso de um?
O resto acontece freneticamente rápido. Alguém grita
comigo, enquanto o homem procura o meu pescoço. Eu caio,
mas ele pega no meu ombro. Ele aperta-me com força,
fazendo com que o meu pescoço estale para trás enquanto ele
grita na minha cara.
— Sua pequena vadia!
O resto de suas palavras se tornam zumbidos, enquanto
ele me aperta mais. Estou ciente do vento, do ar da noite, e
do homem que está me estrangulando. Em algum momento,
as mãos deslizam até o pescoço. Eu agarro em suas mãos e
tento gritar, mas não sai nada. Eu não entendo por que
ninguém nos vê, por que eles simplesmente deixam esse
ladrão me machucar.
Balançando as minhas pernas, eu o chuto, mas não
adianta. Eu não sou forte o suficiente. Eu tentei tudo o que
sabia fazer e nada funcionou. O homem me atira e bate
minhas costas contra uma parede de tijolos. O frio me sacode
e me pergunto como chegamos ao beco ao lado do hotel, mas
os pensamentos cessam quando vejo o olhar em seus olhos.
Um sorriso mal aparece em seu rosto quando ele rasga o
ombro do meu vestido. O tecido sai em sua mão e permite
que o vestido deslizar alguns centímetros.
Abro a boca para gritar, mas sua mão imunda me cobre,
impedindo a saída do som. Sua mão me tateia, sentindo
meus seios enquanto ele sussurra em meu ouvido todas as
coisas horríveis que ele pretende fazer comigo. — Então, eu
vou levar a minha faca e... — Suas palavras desagradáveis
param imediatamente, após o som do estalar de madeira.
Assim como, de repente, a mão no meu pescoço se foi e
eu suspiro em uma respiração trêmula e olho para cima. Está
muito escuro para ver, mas há um homem vestido de
smoking, avançando sobre o ladrão. Ele lança socos uma e
outra vez, até que eles estão na parte de trás do beco, presos
por uma parede de tijolos. O ladrão é espancado e sangra,
mas ele não para de lutar. Nem o homem de smoking. Ele
distribui socos como um boxeador, tanto assim que é
hipnótico assistir. Quando a faca aparece, eu esperava que as
coisas se transformassem em favor do ladrão, mas isso não
acontece. O homem de smoking desarma o idiota e toma a
arma. Aconteceu tão rápido que eu não posso dizer como foi
feito. O homem de smoking recua seu braço como se
estivesse para empurrar a faca no peito do cara.
— Pare! — Eu chamo antes de perceber o que estou
fazendo. Uma das minhas mãos está segurando meu vestido
no busto e a outra está mal tocando meus lábios. Eu não
posso ver o cara morrer, mas eu não consigo desviar o olhar
também.
O homem de smoking não para. Um grito tremendo sai
dilacerado da minha garganta quando ele bate a faca no
ombro do ladrão. O bandido pega no seu braço e desliza para
baixo da parede, segurando seu ombro enquanto o casaco
fica encharcado de sangue. Ele olha diretamente para mim
com raiva.
O homem de smoking chuta o ladrão uma vez, e uma
voz familiar disse:
— Vá embora.
Eu tremo quando ouço isso, porque eu sei quem é ele,
Bryan. Ele deve ter me seguido. O medo agarra e azeda
dentro do meu estômago, enquanto eu olho para as suas
costas. Bryan não vira o rosto para mim. O ladrão comprime
os lábios e se levanta do chão do beco. Ele faz o seu caminho
passando por mim, e não diz nada.
Um tremor se apodera de mim e escorre pela minha
espinha, me fazendo ofegar. É quando ele se vira. O rosto de
Bryan está pálido e coberto de um brilho fino de suor. Ele
caminha de volta para mim e eu posso ver onde ele tomou
algumas pancadas. Há um rasgo em sua camisa, sob a lapela
do paletó, onde a faca cortou antes Bryan tomá-la do ladrão.
Passo a passo, ele caminha em minha direção, e eu
estou mais assustada por Bryan que qualquer coisa que já
encontrei. O que foi isso? Ele teria matado o homem se eu
não tivesse gritado? Eu não consigo parar de tremer.
Bryan alcança os meus ombros para me firmar, e eu
sinto aquele choque familiar que acompanha o seu toque.
Seu polegar esfrega suavemente sobre minha pele. — Você
está bem?
Mas, é muito. Eu não posso. Eu não posso. Eu não posso.
O pensamento não faz sentido, mas eu sei que tenho que
fazer com que ele me liberte. Seu toque tem uma maneira de
me desfazer, e eu estou caindo aos pedaços. Recuso-me a
deixá-lo ser o único a testemunhar isso. Eu empurro para
longe, e aceno com a cabeça rapidamente.
— Eu estou bem.
As mãos de Bryan permanecem paradas no ar por um
momento, antes de ele abaixa-las junto com seu olhar. Ele
observa o chão por um segundo e quando ele levanta o
queixo, vejo um sorriso nos seus lábios.
— Mentirosa. Você está longe de estar bem, mas eu
estou contente que você esteja parada.
Eu fico olhando para ele, incapaz de encontrar uma
resposta. Sua voz soa carinhosa, quase arrependida. Ele olha
por cima do meu ombro para alguém e, em seguida, diz:
— A sua carona está aqui. Da próxima vez, não tente
derrubar um assaltante por si mesmo.
Eu falo sem querer, mas as palavras saem e caem fora.
— Da próxima vez, não mate um homem por roubar minha
bolsa.
O canto dos lábios de Bryan puxa para cima, como se
quisesse sorrir, mas ele não sorri.
— Eu não iria matar um homem por roubar uma bolsa.
Que tipo de pessoa você acha que eu sou?
— Honestamente, eu não sei mais. Eu achava que sabia,
mas depois disso... — Eu balanço minha cabeça e fico sem
palavras. Bryan mudou o ataque no último segundo. Essa
faca não estava voltada para o ombro do homem — estava
dirigida para o seu coração. — Você ia matá-lo. Eu vi, você
não pode me dizer que não iria.
Bryan se inclina mais perto, e quando ele fala seu hálito
quente sussurra contra a minha orelha.
— Talvez, mas não foi porque ele pegou sua bolsa. — Ele
se inclina para trás e desliza as mãos nos bolsos, enquanto
seus olhos verdes me percorrem. — Ninguém toca em você,
enquanto você está comigo.
— Eu engulo em seco e olho para ele, com o coração
ainda disparando.
Maggie aparece atrás de mim um segundo depois. Ela
pega meu ombro e me vira.
— Hallie, diabo está acontecendo, e por que você está
aqui no beco sozinha? — Ela vê a maneira que eu estou
segurando meu vestido e o tecido rasgado. A preocupação
persiste em seu rosto, esperando pela minha resposta.
— Eu não estou sozinha, — mas quando me viro para
olhar, Bryan já se foi.
CAPÍTULO 3
Eu estive em um casulo de tristeza e este evento o
quebrou. Minha atordoada indiferença fratura e estilhaça,
como vidro barato. Eu olho para a bolsa presa em minha mão
e me pergunto o que há de errado comigo, mas ainda mais,
eu não consigo parar de pensar em Bryan, como ele veio do
nada e quase matou o homem que tentou me machucar.
Pare de pensar assim, eu me repreendo. Bryan agiu
como um lunático. A imagem de Bryan esfaqueando o cara
persiste através dos meus olhos mais uma vez e faz o meu
estômago embrulhar.
Maggie está falando, mas eu não disse muito. Estamos
em seu velho Ford Escort. A coisa corre mal, mas eu não
posso reclamar. Eu nem mesmo tenho um carro, não mais.
Maggie olha para mim por trás do volante, enquanto suas
mãos o seguram com firmeza.
— Hallie, se você estiver com vontade de vomitar, baixe
a janela. Aqui já cheira estranho o suficiente. — Ela está
certa, o carro tem um odor não identificável que está lá desde
que ela comprou.
— Eu estou bem, — eu digo novamente, embora seja
uma mentira. Meus braços envolvem meu peito para
esconder como minhas mãos tremem.
— Ah, Hallie, eu sei que você não quer falar e que está
tudo bem, mas eu quero informa-la sobre a minha nova casa.
— Eu olho para ela, sem entender o que ela quer dizer.
Maggie me dá um sorriso tímido e encolhe os ombros até as
suas orelhas, enquanto dirige. — Vamos apenas dizer que
não é algo que você aprovaria.
Eu não tenho paciência para lidar com seus enigmas
neste momento. A vida de Maggie é mais difícil do que a
minha, e eu sei disso, mas ela nunca tinha escondido coisas
de mim antes. Desta vez, é claro que ela escondeu, e isso me
preocupa. As únicas coisas que eu desaprovo são as que
possam matá-la. A menina não tem nenhum senso. Às vezes
me pergunto sobre ela, e como ela escolhe o que faz. Sorrio
sem jeito e olho para o tapete sujo no chão, que alguma vez
foi azul.
— O que é tão engraçado? — Maggie parece indignada,
como se eu a tivesse ofendido.
— Nada. Vamos apenas dizer que, se você soubesse o
que eu estava fazendo esta noite, você não se sentiria tão na
defensiva. Tenho certeza de que sua casa é boa.
Maggie se tranquiliza. Ela suspira quando vira em uma
rua lateral e começamos a fazer o nosso caminho através de
um bairro degradado. As casas são marcadas e branqueadas
pelo Sol, com gramados mortos, mas os carros são
customizados e caros. Mesmo que seja tarde, as pessoas
movem-se, sem fazer nada. Eu olho para a minha porta,
querendo trancá-la, mas eu não me mexo. Enquanto nós
rodamos passando pelos grupos de pessoas, os olhos deles
viram e nos assistem passar, antes de voltar para o que eles
estavam fazendo.
Maggie finalmente diz: — Não é muito, mas acho que
vale a pena.
— Você não tem que defender o seu apartamento para
mim, Maggie. Eu sou uma maldita sem-teto. — Eu olho para
ela e inclino a cabeça para trás no assento. Minhas palavras
não a consolam, então eu acrescento: — Além disso, eu não
sou uma garota-propaganda da moralidade, também. Você
não vai acreditar no que eu fiz hoje à noite, e o que eu vou
fazer. — Minha voz falha e eu balanço a cabeça, pensando
nos lábios de Bryan. Estou horrorizada por reagir da maneira
como o faço, mesmo que com a memória.
Ela ri uma vez, rapidamente. — Sim, certo. Hallie, você
nunca faz nada de mau. Estúpido, sim. Mau, não.
Eu olho para fora da janela e não vejo nada. As casas
deram lugar a apartamentos que se estendem para o céu na
noite. Fachadas de tijolos já viram dias melhores. Muitos
parecem vazios, como se ninguém vivesse lá, por muitos
anos. Meu peito se aperta e eu me contorço na cadeira. Meu
Deus, ela mora aqui? Por que ela não me contou? Há carros
queimados, latas de lixo viradas e entulho, tudo espalhado
por toda parte. Parece que a rua foi saqueada e esquecida,
assim como Maggie.
Segundas decisões são as que mudam vidas. Eu faço a
minha e cuspo fora antes de me acovardar.
— Bryan Ferro está me chantageando. Se eu não dormir
com ele sempre que ele quiser, vai dizer às pessoas que ele é
o cara no livro e fazer o que for preciso para me arruinar. Ele
disse que ia usar tudo o que tem contra mim e me deu um
ultimato.
Os grandes olhos de Maggie viram em minha direção,
com o queixo caído e boca aberta.
— Puta merda! Quando isso aconteceu? Como você vai
detê-lo? — Ela pisca para mim e vira os olhos de volta para a
estrada, embora eu saiba que ela não quer.
Esta é a parte que me faz sentir um lixo. Eu não sou
quem ela pensa que eu sou. Eu não tenho uma estrutura
moral de aço. Eu não posso nem olhar para ela.
— Esta noite eu acabei fazendo o anúncio do prêmio no
show com ele, e então ele me encontrou no banquete. — Eu
digo. Eu tento fazer a minha boca mover-se para formar as
palavras, mas não vão sair.
— De jeito nenhum. — Ela estaciona em um parque de
estacionamento que parece que foi usado como um local de
explosão da força aérea e desliga o carro. — Pegue suas
coisas e tranque a porta. — Eu faço como ela diz e me
apresso atrás dela. — Mantenha seus olhos baixos e me siga.
Não fale ou olhe para ninguém.
Entramos no lado de um desses prédios de tijolos
antigos e subimos alguns lances de escadas, até o quarto
andar. No momento que chegamos ao seu andar, eu quero
jogar o resto do meu sapato para fora da janela. Eu poderia,
não há vidro no painel. Eu a sigo, até a porta e por um longo
corredor mal iluminado. Nós paramos em frente à sua porta.
Enquanto ela se atrapalha com a chave, a porta contrária à
dela se abre. Um homem pálido, com cabelo loiro descolorido
e vestindo uma camiseta regata branca e cueca está lá e olha
para nós. Eu posso sentir seus olhos nas minhas costas. Ele
se inclina contra o batente da porta e cruza os braços sobre o
peito.
Quando ele fala, soa rouco, como se ele fumasse um
maço de cigarros todos os dias desde que ele tinha dois anos
de idade. — Trouxe-me outra?
— Não, — Maggie diz com firmeza. Ela não se vira para
olhar para o cara. Se eu não a conhecesse melhor, eu acharia
que ela estava com medo dele. Eu não aguento mais stress
esta noite. Meu cérebro parece que vai partir em dois, antes
que eu murche e morra. Maggie pega a chave para abrir, mas
porta emperra. Ela chuta uma vez com o pé e a porta mexe
ligeiramente. — Maldita porta, — ela murmura.
— Qual é o seu nome, docinho? — O cara está falando
comigo. Viro-me e olho por cima do ombro, e nossos olhos se
encontram. Ele envia um olhar frio para mim, ao ver o jeito
como ele está olhando de soslaio. O cara é enorme, ele é todo
músculos e agora ele está sorrindo para mim, revelando uma
coroa de ouro em seu dente canino.
— Oi, — eu digo timidamente, e arrumo o meu cabelo
para atrás da minha orelha, tentando evitar o olhar dele
enquanto não respondo sua pergunta.
Enquanto o cara está de boca aberta, Maggie chuta na
porta. A porta se abre, ela agarra meu braço e me puxa. Eu
sigo, voando atrás dela enquanto ela grita por cima do ombro,
— eu vou lhe trazer alguém amanhã, eu juro. Boa noite, Vic.
— Ela bate a porta com o pé e parece abalada.
Seu apartamento é aproximadamente o mesmo tamanho
de um pequeno corredor. Há uma pequena janela com uma
folha grampeada sobre ela e sem móveis. Algumas das roupas
de Maggie estão jogadas ao redor do lugar, como se ela
tivesse saído com pressa. Se eu morasse aqui, eu iria embora
rapidamente, também.
— Obrigado por me deixar ficar com você.
— Sim, não há problema. É uma merda como este é o
pior lugar que eu já vivi, mas é um refúgio. Eu durmo aqui e,
em seguida, dou o fora. O aluguel não é horrível. — Ela
oferece um sorriso torto, mas é franco.
Eu preciso dela, e não há um muro entre nós. Ela acha
que eu sou perfeita, mas eu não sou. Eu fiz coisas que ela
não sabe. As palavras estão na minha língua e eu enrolo-as
em torno de minha boca, tentando descobrir como dizer isso,
enquanto a Maggie tagarela, enchendo o ambiente com sua
voz.
Um casal está brigando nas proximidades, e o som está
cada vez mais alto. Estão lutando, eu não quero dizer
discutindo. Há coisas batendo nas paredes e quebrando.
Chove gesso para baixo sobre nós como flocos de neve
quando algo cai de cima. Maggie olha horrorizada quando ela
puxa sua cama Murphy 2 para baixo da parede. Tomando
quase toda a sala. — Você pode dormir aqui. Eu vou dormir
no chão.
— Não.
Ela sorri. — Não seja boba, você é minha convidada. —
Palavrões ressoam acima de nós quando um homem irritado
grita. É prontamente seguido de um grito agudo. Maggie
morde as unhas do jeito que ela fazia quando éramos
crianças e olha em volta, como se ela desejasse poder
queimar o lugar.
2
— Eu não vou fazer você dormir no chão, mas há outra
coisa que eu preciso lhe dizer.
— Maggie olha para mim por debaixo de sua massa de
cabelo vermelho. Eu sou sua única amiga de verdade, sua
única família e ela a minha. Deus, o que é que ela vai pensar
de mim quando eu lhe disser o que eu concordei em fazer?
Eu não acho que eu vou ser capaz de suportá-lo. Meus
braços ainda estão dobrados sobre o peito, com as mãos
firmemente aninhadas nos meus braços.
— Hallie, qual o problema? — Maggie deixa de fazer a
cama e se senta. Ela dá um tapinha no lugar ao lado dela e
me sento.
Olhando para frente, eu engulo em seco e digo a ela.
— Eu disse que sim. — Você disse sim para o quê?
Hallie, você não está fazendo sentido, do que você está
falando?
Quando me viro para olhar para ela, e encontro com
aqueles grandes olhos verdes e sinto medo. Minha pele fica
arrepiada, mas eu não consigo desviar o olhar.
— Eu disse a Bryan Ferro que sim. Eu cedi. Ele ganhou
e eu perdi.
— O quê? — Ela está furiosa, pronta para voar para fora
do seu assento e defender-me até a morte.
Eu coloco minha mão no colo dela para fazê-la parar. —
Eu fui ao seu quarto de hotel para dizer-lhe para ir chupar
um prego, mas eu mudei de ideia quando ouvi sua voz. Eu
pensei que algo estava errado e esta era a sua maneira de
merda para me dizer. Conheci-o uma vez, pelo menos eu
pensei que tinha conhecido. Então, quando eu estava
esperando por você do lado de fora, eu... — minha voz está
trêmula e eu não posso mais esconder o meu horror, — um
cara tentou roubar minha bolsa. Para encurtar a história, ele
me pegou por trás do prédio e ia me machucar. Bryan
apareceu e ele... — Eu não posso dizer isso. Meu Bryan
perfeito fez algo que era tão diferente dele, tão terrivelmente
selvagem, que eu não sei o que pensar. Ele me protegeu, mas
ainda parece errado.
— Ele a machucou? — Maggie está furiosa, eu posso
ouvir em sua voz. Mas a forma como ela fala suas palavras
ondulando entre muito alta e baixa, dão a deixa.
— Não, ele atacou o homem, e esfaqueou-o. Se eu não
dissesse a Bryan para parar, acho que ele teria matado o
cara. — Olho para ela, mas eu não posso mais enxergar.
Meus olhos têm brilham com lágrimas que tudo fica
desfocado.
Maggie ergue os braços e eu caio neles. Ela sempre foi
como uma irmã para mim. Estivemos sempre uma para a
outra, e eu temo que a história com Bryan e o que eu me
tornei vá fazê-la me odiar. Meu pai teria vergonha de me
chamar de filha, e eu espero o mesmo de Maggie. Em vez
disso, ela fica lá no colchão gasto e me acalma.
Depois de um forte abraço, ela libera meus ombros e
pega meu queixo. — Você e eu passamos por tudo juntas.
Não pense que eu a estou socorrendo por causa disso. Se não
for por qualquer coisa, a vida fica mais interessante, isso é
tudo.
Eu enxugo as lágrimas dos meus olhos e rio, porque ela
está tão errada. — Esse é o eufemismo do ano.
— O meu ponto é, eu estou aqui por você. Eu sempre
estarei aqui para você. — Ela bate no meu ombro com a dela.
— Então, Bryan Ferro tem um lado negro por trás de todo o
brilho e deslumbre?
— Aparentemente.
— Foi divertido ou ele fez coisas estranhas?
Eu sorrio e limpo meus olhos novamente. — Não, não
hoje à noite de qualquer maneira. Ele me chamou para seu
quarto, eu fui, e nos beijamos. Então, ele me mandou ir
embora.
Os lábios de Maggie puxaram um pouco para cima. —
Ele a jogou para fora? Mas que inferno...?
— Eu não sei. É como se ele estivesse louco e deixando o
Hulk sair ou algo assim. Ele não olhava para mim. As coisas
estavam quentes e pesadas até então. — A intuição continua
me dizendo que algo estava errado, mas não posso entender o
quê.
Maggie sorri: — Ele foi melhor do que Neil, certo?
Eu faço uma careta e olhou para ela como se ela fosse
louca. — Uh, Bryan está me chantageando.
— E ele é mais quente do que Neil. Vá em frente, diga.
Eu sou sua amiga, então eu já sei.
Eu baixei meus olhos em direção ao chão e não disse
nada. Eu não tenho que dizer nada, a minha expressão diz
tudo. Bryan é muito mais quente do que Neil, não há
comparação. Os dois homens são noite e dia, e Bryan é a
noite sexy. Neil a voz racional que soa como o FDA 3,
lembrando-me de fazer todas as coisas com moderação, mas
não todas as coisas, somente as ações que ele aprova. Droga.
Eu enterro meu rosto em minhas mãos e suspiro.
Maggie acaricia minhas costas. — Está tudo bem.
Qualquer um é mais quente do que Neil. Não se sinta
culpada, mas eu não contaria exatamente ao Senhor Calças
Perfeitamente Passadas. Ele vai surtar ao saber que alguém
tocou em você. — Maggie está tirando as roupas e puxando
uma camisa de dormir e calças, enquanto ela fala.
— Na verdade, Neil sabe.
3 FDA - Food and Drug Administration - Agencia reguladora de remédios e alimentos.
— O quê? — Ela está pulando em um pé, tentando
enfiar o pé pela perna da calça e cai. — Como é que ele sabe?
Você disse que acabou de acontecer.
— Neil sabe por que foi ele quem me disse para fazer
isso.
CONTINUA
Bryan está de queixo caído e boca aberta, com aqueles olhos verdes semicerrados, em chamas. Fúria e choque não parecem bons para ele. As emoções distorcem seu belo rosto,
estragam as linhas suaves de sua pele, fazendo-o parecer bem mais velho. Seus punhos estão fechados, apertados em seus lados, mas ele pisca uma vez e a reação diminui. Há muitas coisas que eu não sei sobre Bryan Ferro, mas uma coisa eu sei, ele é uma merda em manter as coisas escondidas. Seus pensamentos dançam em seu rosto de vez em quando, e é por isso que ele está desconfiado de mim.
Virando abruptamente, Bryan pressiona seus dedos em sua têmpora direita. Sua voz sai como um grunhido.
— Eu lhe disse para ir embora.
— Seus ombros estão tensos, cada músculo está apertado a ponto de eu poder ver as curvas de seu corpo sob essa camisa. Ele flexiona a mão que está ao seu lado antes de deslizar em seu bolso. Bryan pode ser capaz de esconder tudo, de todos os outros, mas não de mim.
— Sim, eu ouvi essa parte. — Eu ajo como se eu não me importasse, deito-me no tapete, e dobro as minhas mãos atrás da minha cabeça. O piso é suave e difuso. Levanto os meus joelhos, eu deixo a queda do meu vestido em torno dos meus tornozelos e até meus pés, para sentir a pilha macia entre os dedos dos pés. O tapete no meu antigo quarto parecia como um saco de batata, em relação a este material.
Mesmo com Bryan irado, eu estou sorrindo. A vozinha na parte de trás da minha cabeça me diz que eu perdi minha mente. Eu respondo de volta que eu nunca tive um controle firme sobre isso de qualquer maneira.
https://img.comunidades.net/bib/bibliotecasemlimites/2_A_PROPOSI_O.jpg
Bryan pode ver meu reflexo no espelho, mas eu não
posso ver mais do que as suas costas e a maneira como ele
agarra sua cabeça como se fosse explodir. Ele está furioso
comigo? Não consigo entender sua raiva, mas transborda
para fora de sua boca de novo, espetando como espinhos,
neste momento.
— Se você não consegue entender os termos deste
acordo, então eu temo que nós não tenhamos um.
— O quê? — Sento-me e giro em torno, de modo que
estou de frente para as suas costas.
Bryan se vira, e a tensão que está estampada no seu
rosto é horrível. Eu encontro o seu olhar, mas eu não posso
olha-lo sem querer corrigir o que está fazendo com ele. Todas
as imagens na imprensa mostram a versão de Bryan que eu
conhecia, leve e despreocupado, mas este homem, aqui, não é
nenhuma dessas coisas. Algo está esmagando-o de dentro
para fora e deixando-o em pedaços. Seu corpo está tremendo,
ele está tão bravo. Ele tenta respirar fundo, mas isso só faz o
seu rosto ficar mais apertado.
— Você me ouviu. Se você não fizer as coisas do meu
jeito, eu vou arruinar você. Este não é o meu jeito, você sabe
muito bem disso. Saia daqui.
Ele não grita, mas suas palavras me fazem tremer. Não
há calor, não há compaixão. Talvez eu não o conheça mais e
ele está certo. Apertando os lábios, eu engulo minha resposta,
mas esta incha dentro de mim e enche meu peito. Eu peguei
meus sapatos saltos de volta e calcei em meus pés cansados
antes de levantar. Eu ando mais e pego minha bolsa.
Eu deveria sair. A vozinha dentro de mim canta como
um duende com uma voz agradável, sim, vá. Faça isso.
Agora.
Meus olhos estão fixos na porta como se fosse o
caminho para o inferno. Algo sobre sair agora parece errado,
mas não posso entender sobre o que está prendendo meus
pés no lugar. Caramba, é o pensamento que está me
segurando. Ele está me prendendo aqui e eu não posso me
mover. Parece como engolir o vômito e eu não posso fazê-lo.
Eu sou o cérebro danificado, mas não posso ser algo que não sou.
Girando sobre meus pés, eu atravesso o piso acarpetado
e elegante, e caminho até ele. Bryan não se vira para olhar
para mim. Em vez disso, suas mãos estão segurando a parte
superior do bar como se ele quisesse arrancá-lo da parede.
Suas costas estão curvadas e sua cabeça está pendurada
entre os ombros, como se ele estivesse tentando não me
rasgar em pedaços. Outra mulher teria corrido agora mesmo,
mas eu sou a dopada que anda mais perto.
— Eu sou uma idiota, — eu digo, enquanto olho para os
meus sapatos, e rio de leve. É o tipo de som que não tem
alegria e revela uma alma torturada. Meus olhos levantam
para seus ombros. Eu fico lá por um momento esperando que
ele se vire, mas ele não vira. Bryan não fala ou levanta o
olhar. Ele permanece debruçado sobre o bar como um troll 1.
Eu continuo, — vê-lo hoje à noite foi terrível e
maravilhoso. Isso evocou memórias e sentimentos que eu
tinha tempo esquecido há muito. Escrever sobre, é uma
coisa, mas vê-lo novamente está além das palavras.
Desculpe-me se eu o machuquei, mesmo que eu não entenda
o que eu fiz. E seu eu pudesse corrigir. Eu...
Por que estou fazendo isso? Eu estou me desculpando
com as suas costas, o homem não tem sequer a decência de
se virar e encarar-me. Eu respiro fundo e endireito a minha
espinha.
— As pessoas cometem erros, Bryan, e parece que o
meu maior erro foi conhecê-lo.
1
Troll – é uma gíria que designa uma pessoa cujo comportamento tende sistematicamente a desestabilizar uma
discussão, provocar e enfurecer as pessoas envolvidas nela. Há trolls de todo tipo, desde o mais ignorante e rude
que xinga e provoca, até o mais apto intelectualmente que discursa com o objetivo de desestabilizar o interlocutor
e levá-lo a fúria, para depois desqualificá-lo, matando seu argumento e abalando sua reputação.
A fúria me inunda quando eu corro pela sala. Eu agarro
a maçaneta da porta e não olho para trás, apesar de sentir
seus olhos em mim. Dane-se ele. Eu vivi coisas piores. Eu
digo essas palavras uma e outra vez, porque aconteceu.
Depois corro pelo corredor, aperto o botão para baixo no
elevador uma e outra vez, perguntando por que eu estou tão
chateada. Depois de um momento, eu sinto o pensamento
picar os meus olhos e apertar a minha garganta e eu sei
exatamente por que estou tão chateada.
É possível que as coisas estejam invertidas, e como eu
não conhecesse o verdadeiro Bryan Ferro, aquele com quem
dormi todos esses anos, era o falso.
CAPÍTULO 2
Eu não posso ir para casa e enfrentar Neil, por isso eu
telefono para Maggie. Ela atende no terceiro toque. Eu estou
andando na rua em frente ao hotel com o meu telefone
pressionado ao meu ouvido. É tarde e escuro. Evitando as
sombras, eu ando mais perto da rua do que no hotel.
— Maggie. — Eu tento esconder a tensão na minha voz,
mas ela ouve. Nós nos conhecemos há muito tempo. — Vou
tirar suas bolas fora.
— O que diabo aconteceu? Onde você está? — Ela me
enche de perguntas, até que eu possa finalmente fazê-la calar
a boca.
— Eu preciso de um lugar para dormir. Eu não posso
ver Neil agora e eu não tenho outro lugar para ir.
Maggie fica em silêncio.
— O que é meu, é seu. Você sabe disso, mas eu não
tenho certeza que você vá gostar.
— Em qualquer lugar é melhor do que aqui ou com Neil.
— Eu sinto uma náusea fazendo seu caminho até a minha
garganta. Lágrimas estão chegando, e tenho a sensação de
que vai ser um maremoto.
— Claro, claro. Eu estarei aí em cinco minutos.
— A linha de Maggie desliga, e eu fecho o meu telefone e
o coloco em minha bolsa.
A cidade se move em torno de mim, mas parece que eu
estou em uma bolha. As pessoas passam na calçada, mas eu
não as noto. Eu passeio, perdida em pensamentos, agarrando
minha bolsa perto do meu corpo. O ar da noite tem aquele
cheiro que é distintamente de Nova York. Eu o inspiro e
quando me viro, quase bato em alguém. O cara é uma
parede, de marrom e preto. Seu casaco tem cheiro de cigarros
velhos e naftalina.
Antes de eu ter tempo para descobrir o que está
acontecendo, ele pega a minha bolsa, em seguida, coloca a
mão no centro do meu peito e me empurra, com força. Eu
grito, tropeço e caio para trás, enquanto minha bolsa é
arrancada de minhas mãos. O cara se vira e está pronto para
correr, mas eu não estou com disposição para perder a bolsa.
Eu estou fodidamente quebrada. Todo o dinheiro que eu
tenho está lá dentro.
Antes que eu saiba o que estou fazendo, eu pego um dos
meus sapatos de salto alto e atiro em sua cabeça. Acerto e ele
cai na calçada. Poucas pessoas param para assistir, mas
ninguém faz nada - típico dos nova-iorquinos. Todo mundo
quer ver, mas ninguém ajuda.
Nesse ponto, tudo acontece em câmera lenta. Eu estou
em pé, mesmo que eu não me lembre de ficar pé. Um pé está
congelado, sobre o cimento frio, enquanto o outro ainda está
calçado. O ladrão levanta a mão e bota na parte de trás de
sua cabeça e puxa-a. Ele olha para os seus dedos, seus olhos
escuros apreciando o sangue vermelho e pegajoso em sua
mão. A ponta do meu salto que bateu com a parte traseira de
seu couro cabeludo, deve tê-lo cortado.
Meu coração para, quando o sujeito se vira para mim.
Seus olhos têm um olhar enlouquecido e os ombros tremem
como se ele fosse me rasgar ao meio.
— Você. — Ele diz isso como se fosse o meu nome e ele
me odeia.
O homem dá passos em direção a mim e fala
novamente, mas suas mãos lentamente movem para cima,
como se ele fosse me atacar ou me estrangular. Eu suspiro
alguma coisa, mas ele não sai antes de eu dar um passo para
trás, aterrorizada. Meu pulso ruge em meus ouvidos, então
olho em volta a procura de ajuda, mas não vejo ninguém. A
multidão se afastou, ou talvez eu tenha ido embora. Onde
está um policial quando eu preciso de um?
O resto acontece freneticamente rápido. Alguém grita
comigo, enquanto o homem procura o meu pescoço. Eu caio,
mas ele pega no meu ombro. Ele aperta-me com força,
fazendo com que o meu pescoço estale para trás enquanto ele
grita na minha cara.
— Sua pequena vadia!
O resto de suas palavras se tornam zumbidos, enquanto
ele me aperta mais. Estou ciente do vento, do ar da noite, e
do homem que está me estrangulando. Em algum momento,
as mãos deslizam até o pescoço. Eu agarro em suas mãos e
tento gritar, mas não sai nada. Eu não entendo por que
ninguém nos vê, por que eles simplesmente deixam esse
ladrão me machucar.
Balançando as minhas pernas, eu o chuto, mas não
adianta. Eu não sou forte o suficiente. Eu tentei tudo o que
sabia fazer e nada funcionou. O homem me atira e bate
minhas costas contra uma parede de tijolos. O frio me sacode
e me pergunto como chegamos ao beco ao lado do hotel, mas
os pensamentos cessam quando vejo o olhar em seus olhos.
Um sorriso mal aparece em seu rosto quando ele rasga o
ombro do meu vestido. O tecido sai em sua mão e permite
que o vestido deslizar alguns centímetros.
Abro a boca para gritar, mas sua mão imunda me cobre,
impedindo a saída do som. Sua mão me tateia, sentindo
meus seios enquanto ele sussurra em meu ouvido todas as
coisas horríveis que ele pretende fazer comigo. — Então, eu
vou levar a minha faca e... — Suas palavras desagradáveis
param imediatamente, após o som do estalar de madeira.
Assim como, de repente, a mão no meu pescoço se foi e
eu suspiro em uma respiração trêmula e olho para cima. Está
muito escuro para ver, mas há um homem vestido de
smoking, avançando sobre o ladrão. Ele lança socos uma e
outra vez, até que eles estão na parte de trás do beco, presos
por uma parede de tijolos. O ladrão é espancado e sangra,
mas ele não para de lutar. Nem o homem de smoking. Ele
distribui socos como um boxeador, tanto assim que é
hipnótico assistir. Quando a faca aparece, eu esperava que as
coisas se transformassem em favor do ladrão, mas isso não
acontece. O homem de smoking desarma o idiota e toma a
arma. Aconteceu tão rápido que eu não posso dizer como foi
feito. O homem de smoking recua seu braço como se
estivesse para empurrar a faca no peito do cara.
— Pare! — Eu chamo antes de perceber o que estou
fazendo. Uma das minhas mãos está segurando meu vestido
no busto e a outra está mal tocando meus lábios. Eu não
posso ver o cara morrer, mas eu não consigo desviar o olhar
também.
O homem de smoking não para. Um grito tremendo sai
dilacerado da minha garganta quando ele bate a faca no
ombro do ladrão. O bandido pega no seu braço e desliza para
baixo da parede, segurando seu ombro enquanto o casaco
fica encharcado de sangue. Ele olha diretamente para mim
com raiva.
O homem de smoking chuta o ladrão uma vez, e uma
voz familiar disse:
— Vá embora.
Eu tremo quando ouço isso, porque eu sei quem é ele,
Bryan. Ele deve ter me seguido. O medo agarra e azeda
dentro do meu estômago, enquanto eu olho para as suas
costas. Bryan não vira o rosto para mim. O ladrão comprime
os lábios e se levanta do chão do beco. Ele faz o seu caminho
passando por mim, e não diz nada.
Um tremor se apodera de mim e escorre pela minha
espinha, me fazendo ofegar. É quando ele se vira. O rosto de
Bryan está pálido e coberto de um brilho fino de suor. Ele
caminha de volta para mim e eu posso ver onde ele tomou
algumas pancadas. Há um rasgo em sua camisa, sob a lapela
do paletó, onde a faca cortou antes Bryan tomá-la do ladrão.
Passo a passo, ele caminha em minha direção, e eu
estou mais assustada por Bryan que qualquer coisa que já
encontrei. O que foi isso? Ele teria matado o homem se eu
não tivesse gritado? Eu não consigo parar de tremer.
Bryan alcança os meus ombros para me firmar, e eu
sinto aquele choque familiar que acompanha o seu toque.
Seu polegar esfrega suavemente sobre minha pele. — Você
está bem?
Mas, é muito. Eu não posso. Eu não posso. Eu não posso.
O pensamento não faz sentido, mas eu sei que tenho que
fazer com que ele me liberte. Seu toque tem uma maneira de
me desfazer, e eu estou caindo aos pedaços. Recuso-me a
deixá-lo ser o único a testemunhar isso. Eu empurro para
longe, e aceno com a cabeça rapidamente.
— Eu estou bem.
As mãos de Bryan permanecem paradas no ar por um
momento, antes de ele abaixa-las junto com seu olhar. Ele
observa o chão por um segundo e quando ele levanta o
queixo, vejo um sorriso nos seus lábios.
— Mentirosa. Você está longe de estar bem, mas eu
estou contente que você esteja parada.
Eu fico olhando para ele, incapaz de encontrar uma
resposta. Sua voz soa carinhosa, quase arrependida. Ele olha
por cima do meu ombro para alguém e, em seguida, diz:
— A sua carona está aqui. Da próxima vez, não tente
derrubar um assaltante por si mesmo.
Eu falo sem querer, mas as palavras saem e caem fora.
— Da próxima vez, não mate um homem por roubar minha
bolsa.
O canto dos lábios de Bryan puxa para cima, como se
quisesse sorrir, mas ele não sorri.
— Eu não iria matar um homem por roubar uma bolsa.
Que tipo de pessoa você acha que eu sou?
— Honestamente, eu não sei mais. Eu achava que sabia,
mas depois disso... — Eu balanço minha cabeça e fico sem
palavras. Bryan mudou o ataque no último segundo. Essa
faca não estava voltada para o ombro do homem — estava
dirigida para o seu coração. — Você ia matá-lo. Eu vi, você
não pode me dizer que não iria.
Bryan se inclina mais perto, e quando ele fala seu hálito
quente sussurra contra a minha orelha.
— Talvez, mas não foi porque ele pegou sua bolsa. — Ele
se inclina para trás e desliza as mãos nos bolsos, enquanto
seus olhos verdes me percorrem. — Ninguém toca em você,
enquanto você está comigo.
— Eu engulo em seco e olho para ele, com o coração
ainda disparando.
Maggie aparece atrás de mim um segundo depois. Ela
pega meu ombro e me vira.
— Hallie, diabo está acontecendo, e por que você está
aqui no beco sozinha? — Ela vê a maneira que eu estou
segurando meu vestido e o tecido rasgado. A preocupação
persiste em seu rosto, esperando pela minha resposta.
— Eu não estou sozinha, — mas quando me viro para
olhar, Bryan já se foi.
CAPÍTULO 3
Eu estive em um casulo de tristeza e este evento o
quebrou. Minha atordoada indiferença fratura e estilhaça,
como vidro barato. Eu olho para a bolsa presa em minha mão
e me pergunto o que há de errado comigo, mas ainda mais,
eu não consigo parar de pensar em Bryan, como ele veio do
nada e quase matou o homem que tentou me machucar.
Pare de pensar assim, eu me repreendo. Bryan agiu
como um lunático. A imagem de Bryan esfaqueando o cara
persiste através dos meus olhos mais uma vez e faz o meu
estômago embrulhar.
Maggie está falando, mas eu não disse muito. Estamos
em seu velho Ford Escort. A coisa corre mal, mas eu não
posso reclamar. Eu nem mesmo tenho um carro, não mais.
Maggie olha para mim por trás do volante, enquanto suas
mãos o seguram com firmeza.
— Hallie, se você estiver com vontade de vomitar, baixe
a janela. Aqui já cheira estranho o suficiente. — Ela está
certa, o carro tem um odor não identificável que está lá desde
que ela comprou.
— Eu estou bem, — eu digo novamente, embora seja
uma mentira. Meus braços envolvem meu peito para
esconder como minhas mãos tremem.
— Ah, Hallie, eu sei que você não quer falar e que está
tudo bem, mas eu quero informa-la sobre a minha nova casa.
— Eu olho para ela, sem entender o que ela quer dizer.
Maggie me dá um sorriso tímido e encolhe os ombros até as
suas orelhas, enquanto dirige. — Vamos apenas dizer que
não é algo que você aprovaria.
Eu não tenho paciência para lidar com seus enigmas
neste momento. A vida de Maggie é mais difícil do que a
minha, e eu sei disso, mas ela nunca tinha escondido coisas
de mim antes. Desta vez, é claro que ela escondeu, e isso me
preocupa. As únicas coisas que eu desaprovo são as que
possam matá-la. A menina não tem nenhum senso. Às vezes
me pergunto sobre ela, e como ela escolhe o que faz. Sorrio
sem jeito e olho para o tapete sujo no chão, que alguma vez
foi azul.
— O que é tão engraçado? — Maggie parece indignada,
como se eu a tivesse ofendido.
— Nada. Vamos apenas dizer que, se você soubesse o
que eu estava fazendo esta noite, você não se sentiria tão na
defensiva. Tenho certeza de que sua casa é boa.
Maggie se tranquiliza. Ela suspira quando vira em uma
rua lateral e começamos a fazer o nosso caminho através de
um bairro degradado. As casas são marcadas e branqueadas
pelo Sol, com gramados mortos, mas os carros são
customizados e caros. Mesmo que seja tarde, as pessoas
movem-se, sem fazer nada. Eu olho para a minha porta,
querendo trancá-la, mas eu não me mexo. Enquanto nós
rodamos passando pelos grupos de pessoas, os olhos deles
viram e nos assistem passar, antes de voltar para o que eles
estavam fazendo.
Maggie finalmente diz: — Não é muito, mas acho que
vale a pena.
— Você não tem que defender o seu apartamento para
mim, Maggie. Eu sou uma maldita sem-teto. — Eu olho para
ela e inclino a cabeça para trás no assento. Minhas palavras
não a consolam, então eu acrescento: — Além disso, eu não
sou uma garota-propaganda da moralidade, também. Você
não vai acreditar no que eu fiz hoje à noite, e o que eu vou
fazer. — Minha voz falha e eu balanço a cabeça, pensando
nos lábios de Bryan. Estou horrorizada por reagir da maneira
como o faço, mesmo que com a memória.
Ela ri uma vez, rapidamente. — Sim, certo. Hallie, você
nunca faz nada de mau. Estúpido, sim. Mau, não.
Eu olho para fora da janela e não vejo nada. As casas
deram lugar a apartamentos que se estendem para o céu na
noite. Fachadas de tijolos já viram dias melhores. Muitos
parecem vazios, como se ninguém vivesse lá, por muitos
anos. Meu peito se aperta e eu me contorço na cadeira. Meu
Deus, ela mora aqui? Por que ela não me contou? Há carros
queimados, latas de lixo viradas e entulho, tudo espalhado
por toda parte. Parece que a rua foi saqueada e esquecida,
assim como Maggie.
Segundas decisões são as que mudam vidas. Eu faço a
minha e cuspo fora antes de me acovardar.
— Bryan Ferro está me chantageando. Se eu não dormir
com ele sempre que ele quiser, vai dizer às pessoas que ele é
o cara no livro e fazer o que for preciso para me arruinar. Ele
disse que ia usar tudo o que tem contra mim e me deu um
ultimato.
Os grandes olhos de Maggie viram em minha direção,
com o queixo caído e boca aberta.
— Puta merda! Quando isso aconteceu? Como você vai
detê-lo? — Ela pisca para mim e vira os olhos de volta para a
estrada, embora eu saiba que ela não quer.
Esta é a parte que me faz sentir um lixo. Eu não sou
quem ela pensa que eu sou. Eu não tenho uma estrutura
moral de aço. Eu não posso nem olhar para ela.
— Esta noite eu acabei fazendo o anúncio do prêmio no
show com ele, e então ele me encontrou no banquete. — Eu
digo. Eu tento fazer a minha boca mover-se para formar as
palavras, mas não vão sair.
— De jeito nenhum. — Ela estaciona em um parque de
estacionamento que parece que foi usado como um local de
explosão da força aérea e desliga o carro. — Pegue suas
coisas e tranque a porta. — Eu faço como ela diz e me
apresso atrás dela. — Mantenha seus olhos baixos e me siga.
Não fale ou olhe para ninguém.
Entramos no lado de um desses prédios de tijolos
antigos e subimos alguns lances de escadas, até o quarto
andar. No momento que chegamos ao seu andar, eu quero
jogar o resto do meu sapato para fora da janela. Eu poderia,
não há vidro no painel. Eu a sigo, até a porta e por um longo
corredor mal iluminado. Nós paramos em frente à sua porta.
Enquanto ela se atrapalha com a chave, a porta contrária à
dela se abre. Um homem pálido, com cabelo loiro descolorido
e vestindo uma camiseta regata branca e cueca está lá e olha
para nós. Eu posso sentir seus olhos nas minhas costas. Ele
se inclina contra o batente da porta e cruza os braços sobre o
peito.
Quando ele fala, soa rouco, como se ele fumasse um
maço de cigarros todos os dias desde que ele tinha dois anos
de idade. — Trouxe-me outra?
— Não, — Maggie diz com firmeza. Ela não se vira para
olhar para o cara. Se eu não a conhecesse melhor, eu acharia
que ela estava com medo dele. Eu não aguento mais stress
esta noite. Meu cérebro parece que vai partir em dois, antes
que eu murche e morra. Maggie pega a chave para abrir, mas
porta emperra. Ela chuta uma vez com o pé e a porta mexe
ligeiramente. — Maldita porta, — ela murmura.
— Qual é o seu nome, docinho? — O cara está falando
comigo. Viro-me e olho por cima do ombro, e nossos olhos se
encontram. Ele envia um olhar frio para mim, ao ver o jeito
como ele está olhando de soslaio. O cara é enorme, ele é todo
músculos e agora ele está sorrindo para mim, revelando uma
coroa de ouro em seu dente canino.
— Oi, — eu digo timidamente, e arrumo o meu cabelo
para atrás da minha orelha, tentando evitar o olhar dele
enquanto não respondo sua pergunta.
Enquanto o cara está de boca aberta, Maggie chuta na
porta. A porta se abre, ela agarra meu braço e me puxa. Eu
sigo, voando atrás dela enquanto ela grita por cima do ombro,
— eu vou lhe trazer alguém amanhã, eu juro. Boa noite, Vic.
— Ela bate a porta com o pé e parece abalada.
Seu apartamento é aproximadamente o mesmo tamanho
de um pequeno corredor. Há uma pequena janela com uma
folha grampeada sobre ela e sem móveis. Algumas das roupas
de Maggie estão jogadas ao redor do lugar, como se ela
tivesse saído com pressa. Se eu morasse aqui, eu iria embora
rapidamente, também.
— Obrigado por me deixar ficar com você.
— Sim, não há problema. É uma merda como este é o
pior lugar que eu já vivi, mas é um refúgio. Eu durmo aqui e,
em seguida, dou o fora. O aluguel não é horrível. — Ela
oferece um sorriso torto, mas é franco.
Eu preciso dela, e não há um muro entre nós. Ela acha
que eu sou perfeita, mas eu não sou. Eu fiz coisas que ela
não sabe. As palavras estão na minha língua e eu enrolo-as
em torno de minha boca, tentando descobrir como dizer isso,
enquanto a Maggie tagarela, enchendo o ambiente com sua
voz.
Um casal está brigando nas proximidades, e o som está
cada vez mais alto. Estão lutando, eu não quero dizer
discutindo. Há coisas batendo nas paredes e quebrando.
Chove gesso para baixo sobre nós como flocos de neve
quando algo cai de cima. Maggie olha horrorizada quando ela
puxa sua cama Murphy 2 para baixo da parede. Tomando
quase toda a sala. — Você pode dormir aqui. Eu vou dormir
no chão.
— Não.
Ela sorri. — Não seja boba, você é minha convidada. —
Palavrões ressoam acima de nós quando um homem irritado
grita. É prontamente seguido de um grito agudo. Maggie
morde as unhas do jeito que ela fazia quando éramos
crianças e olha em volta, como se ela desejasse poder
queimar o lugar.
2
— Eu não vou fazer você dormir no chão, mas há outra
coisa que eu preciso lhe dizer.
— Maggie olha para mim por debaixo de sua massa de
cabelo vermelho. Eu sou sua única amiga de verdade, sua
única família e ela a minha. Deus, o que é que ela vai pensar
de mim quando eu lhe disser o que eu concordei em fazer?
Eu não acho que eu vou ser capaz de suportá-lo. Meus
braços ainda estão dobrados sobre o peito, com as mãos
firmemente aninhadas nos meus braços.
— Hallie, qual o problema? — Maggie deixa de fazer a
cama e se senta. Ela dá um tapinha no lugar ao lado dela e
me sento.
Olhando para frente, eu engulo em seco e digo a ela.
— Eu disse que sim. — Você disse sim para o quê?
Hallie, você não está fazendo sentido, do que você está
falando?
Quando me viro para olhar para ela, e encontro com
aqueles grandes olhos verdes e sinto medo. Minha pele fica
arrepiada, mas eu não consigo desviar o olhar.
— Eu disse a Bryan Ferro que sim. Eu cedi. Ele ganhou
e eu perdi.
— O quê? — Ela está furiosa, pronta para voar para fora
do seu assento e defender-me até a morte.
Eu coloco minha mão no colo dela para fazê-la parar. —
Eu fui ao seu quarto de hotel para dizer-lhe para ir chupar
um prego, mas eu mudei de ideia quando ouvi sua voz. Eu
pensei que algo estava errado e esta era a sua maneira de
merda para me dizer. Conheci-o uma vez, pelo menos eu
pensei que tinha conhecido. Então, quando eu estava
esperando por você do lado de fora, eu... — minha voz está
trêmula e eu não posso mais esconder o meu horror, — um
cara tentou roubar minha bolsa. Para encurtar a história, ele
me pegou por trás do prédio e ia me machucar. Bryan
apareceu e ele... — Eu não posso dizer isso. Meu Bryan
perfeito fez algo que era tão diferente dele, tão terrivelmente
selvagem, que eu não sei o que pensar. Ele me protegeu, mas
ainda parece errado.
— Ele a machucou? — Maggie está furiosa, eu posso
ouvir em sua voz. Mas a forma como ela fala suas palavras
ondulando entre muito alta e baixa, dão a deixa.
— Não, ele atacou o homem, e esfaqueou-o. Se eu não
dissesse a Bryan para parar, acho que ele teria matado o
cara. — Olho para ela, mas eu não posso mais enxergar.
Meus olhos têm brilham com lágrimas que tudo fica
desfocado.
Maggie ergue os braços e eu caio neles. Ela sempre foi
como uma irmã para mim. Estivemos sempre uma para a
outra, e eu temo que a história com Bryan e o que eu me
tornei vá fazê-la me odiar. Meu pai teria vergonha de me
chamar de filha, e eu espero o mesmo de Maggie. Em vez
disso, ela fica lá no colchão gasto e me acalma.
Depois de um forte abraço, ela libera meus ombros e
pega meu queixo. — Você e eu passamos por tudo juntas.
Não pense que eu a estou socorrendo por causa disso. Se não
for por qualquer coisa, a vida fica mais interessante, isso é
tudo.
Eu enxugo as lágrimas dos meus olhos e rio, porque ela
está tão errada. — Esse é o eufemismo do ano.
— O meu ponto é, eu estou aqui por você. Eu sempre
estarei aqui para você. — Ela bate no meu ombro com a dela.
— Então, Bryan Ferro tem um lado negro por trás de todo o
brilho e deslumbre?
— Aparentemente.
— Foi divertido ou ele fez coisas estranhas?
Eu sorrio e limpo meus olhos novamente. — Não, não
hoje à noite de qualquer maneira. Ele me chamou para seu
quarto, eu fui, e nos beijamos. Então, ele me mandou ir
embora.
Os lábios de Maggie puxaram um pouco para cima. —
Ele a jogou para fora? Mas que inferno...?
— Eu não sei. É como se ele estivesse louco e deixando o
Hulk sair ou algo assim. Ele não olhava para mim. As coisas
estavam quentes e pesadas até então. — A intuição continua
me dizendo que algo estava errado, mas não posso entender o
quê.
Maggie sorri: — Ele foi melhor do que Neil, certo?
Eu faço uma careta e olhou para ela como se ela fosse
louca. — Uh, Bryan está me chantageando.
— E ele é mais quente do que Neil. Vá em frente, diga.
Eu sou sua amiga, então eu já sei.
Eu baixei meus olhos em direção ao chão e não disse
nada. Eu não tenho que dizer nada, a minha expressão diz
tudo. Bryan é muito mais quente do que Neil, não há
comparação. Os dois homens são noite e dia, e Bryan é a
noite sexy. Neil a voz racional que soa como o FDA 3,
lembrando-me de fazer todas as coisas com moderação, mas
não todas as coisas, somente as ações que ele aprova. Droga.
Eu enterro meu rosto em minhas mãos e suspiro.
Maggie acaricia minhas costas. — Está tudo bem.
Qualquer um é mais quente do que Neil. Não se sinta
culpada, mas eu não contaria exatamente ao Senhor Calças
Perfeitamente Passadas. Ele vai surtar ao saber que alguém
tocou em você. — Maggie está tirando as roupas e puxando
uma camisa de dormir e calças, enquanto ela fala.
— Na verdade, Neil sabe.
3 FDA - Food and Drug Administration - Agencia reguladora de remédios e alimentos.
— O quê? — Ela está pulando em um pé, tentando
enfiar o pé pela perna da calça e cai. — Como é que ele sabe?
Você disse que acabou de acontecer.
— Neil sabe por que foi ele quem me disse para fazer
isso.
CONTINUA
Bryan está de queixo caído e boca aberta, com aqueles olhos verdes semicerrados, em chamas. Fúria e choque não parecem bons para ele. As emoções distorcem seu belo rosto,
estragam as linhas suaves de sua pele, fazendo-o parecer bem mais velho. Seus punhos estão fechados, apertados em seus lados, mas ele pisca uma vez e a reação diminui. Há muitas coisas que eu não sei sobre Bryan Ferro, mas uma coisa eu sei, ele é uma merda em manter as coisas escondidas. Seus pensamentos dançam em seu rosto de vez em quando, e é por isso que ele está desconfiado de mim.
Virando abruptamente, Bryan pressiona seus dedos em sua têmpora direita. Sua voz sai como um grunhido.
— Eu lhe disse para ir embora.
— Seus ombros estão tensos, cada músculo está apertado a ponto de eu poder ver as curvas de seu corpo sob essa camisa. Ele flexiona a mão que está ao seu lado antes de deslizar em seu bolso. Bryan pode ser capaz de esconder tudo, de todos os outros, mas não de mim.
— Sim, eu ouvi essa parte. — Eu ajo como se eu não me importasse, deito-me no tapete, e dobro as minhas mãos atrás da minha cabeça. O piso é suave e difuso. Levanto os meus joelhos, eu deixo a queda do meu vestido em torno dos meus tornozelos e até meus pés, para sentir a pilha macia entre os dedos dos pés. O tapete no meu antigo quarto parecia como um saco de batata, em relação a este material.
Mesmo com Bryan irado, eu estou sorrindo. A vozinha na parte de trás da minha cabeça me diz que eu perdi minha mente. Eu respondo de volta que eu nunca tive um controle firme sobre isso de qualquer maneira.
https://img.comunidades.net/bib/bibliotecasemlimites/2_A_PROPOSI_O.jpg
Bryan pode ver meu reflexo no espelho, mas eu não
posso ver mais do que as suas costas e a maneira como ele
agarra sua cabeça como se fosse explodir. Ele está furioso
comigo? Não consigo entender sua raiva, mas transborda
para fora de sua boca de novo, espetando como espinhos,
neste momento.
— Se você não consegue entender os termos deste
acordo, então eu temo que nós não tenhamos um.
— O quê? — Sento-me e giro em torno, de modo que
estou de frente para as suas costas.
Bryan se vira, e a tensão que está estampada no seu
rosto é horrível. Eu encontro o seu olhar, mas eu não posso
olha-lo sem querer corrigir o que está fazendo com ele. Todas
as imagens na imprensa mostram a versão de Bryan que eu
conhecia, leve e despreocupado, mas este homem, aqui, não é
nenhuma dessas coisas. Algo está esmagando-o de dentro
para fora e deixando-o em pedaços. Seu corpo está tremendo,
ele está tão bravo. Ele tenta respirar fundo, mas isso só faz o
seu rosto ficar mais apertado.
— Você me ouviu. Se você não fizer as coisas do meu
jeito, eu vou arruinar você. Este não é o meu jeito, você sabe
muito bem disso. Saia daqui.
Ele não grita, mas suas palavras me fazem tremer. Não
há calor, não há compaixão. Talvez eu não o conheça mais e
ele está certo. Apertando os lábios, eu engulo minha resposta,
mas esta incha dentro de mim e enche meu peito. Eu peguei
meus sapatos saltos de volta e calcei em meus pés cansados
antes de levantar. Eu ando mais e pego minha bolsa.
Eu deveria sair. A vozinha dentro de mim canta como
um duende com uma voz agradável, sim, vá. Faça isso.
Agora.
Meus olhos estão fixos na porta como se fosse o
caminho para o inferno. Algo sobre sair agora parece errado,
mas não posso entender sobre o que está prendendo meus
pés no lugar. Caramba, é o pensamento que está me
segurando. Ele está me prendendo aqui e eu não posso me
mover. Parece como engolir o vômito e eu não posso fazê-lo.
Eu sou o cérebro danificado, mas não posso ser algo que não sou.
Girando sobre meus pés, eu atravesso o piso acarpetado
e elegante, e caminho até ele. Bryan não se vira para olhar
para mim. Em vez disso, suas mãos estão segurando a parte
superior do bar como se ele quisesse arrancá-lo da parede.
Suas costas estão curvadas e sua cabeça está pendurada
entre os ombros, como se ele estivesse tentando não me
rasgar em pedaços. Outra mulher teria corrido agora mesmo,
mas eu sou a dopada que anda mais perto.
— Eu sou uma idiota, — eu digo, enquanto olho para os
meus sapatos, e rio de leve. É o tipo de som que não tem
alegria e revela uma alma torturada. Meus olhos levantam
para seus ombros. Eu fico lá por um momento esperando que
ele se vire, mas ele não vira. Bryan não fala ou levanta o
olhar. Ele permanece debruçado sobre o bar como um troll 1.
Eu continuo, — vê-lo hoje à noite foi terrível e
maravilhoso. Isso evocou memórias e sentimentos que eu
tinha tempo esquecido há muito. Escrever sobre, é uma
coisa, mas vê-lo novamente está além das palavras.
Desculpe-me se eu o machuquei, mesmo que eu não entenda
o que eu fiz. E seu eu pudesse corrigir. Eu...
Por que estou fazendo isso? Eu estou me desculpando
com as suas costas, o homem não tem sequer a decência de
se virar e encarar-me. Eu respiro fundo e endireito a minha
espinha.
— As pessoas cometem erros, Bryan, e parece que o
meu maior erro foi conhecê-lo.
1
Troll – é uma gíria que designa uma pessoa cujo comportamento tende sistematicamente a desestabilizar uma
discussão, provocar e enfurecer as pessoas envolvidas nela. Há trolls de todo tipo, desde o mais ignorante e rude
que xinga e provoca, até o mais apto intelectualmente que discursa com o objetivo de desestabilizar o interlocutor
e levá-lo a fúria, para depois desqualificá-lo, matando seu argumento e abalando sua reputação.
A fúria me inunda quando eu corro pela sala. Eu agarro
a maçaneta da porta e não olho para trás, apesar de sentir
seus olhos em mim. Dane-se ele. Eu vivi coisas piores. Eu
digo essas palavras uma e outra vez, porque aconteceu.
Depois corro pelo corredor, aperto o botão para baixo no
elevador uma e outra vez, perguntando por que eu estou tão
chateada. Depois de um momento, eu sinto o pensamento
picar os meus olhos e apertar a minha garganta e eu sei
exatamente por que estou tão chateada.
É possível que as coisas estejam invertidas, e como eu
não conhecesse o verdadeiro Bryan Ferro, aquele com quem
dormi todos esses anos, era o falso.
CAPÍTULO 2
Eu não posso ir para casa e enfrentar Neil, por isso eu
telefono para Maggie. Ela atende no terceiro toque. Eu estou
andando na rua em frente ao hotel com o meu telefone
pressionado ao meu ouvido. É tarde e escuro. Evitando as
sombras, eu ando mais perto da rua do que no hotel.
— Maggie. — Eu tento esconder a tensão na minha voz,
mas ela ouve. Nós nos conhecemos há muito tempo. — Vou
tirar suas bolas fora.
— O que diabo aconteceu? Onde você está? — Ela me
enche de perguntas, até que eu possa finalmente fazê-la calar
a boca.
— Eu preciso de um lugar para dormir. Eu não posso
ver Neil agora e eu não tenho outro lugar para ir.
Maggie fica em silêncio.
— O que é meu, é seu. Você sabe disso, mas eu não
tenho certeza que você vá gostar.
— Em qualquer lugar é melhor do que aqui ou com Neil.
— Eu sinto uma náusea fazendo seu caminho até a minha
garganta. Lágrimas estão chegando, e tenho a sensação de
que vai ser um maremoto.
— Claro, claro. Eu estarei aí em cinco minutos.
— A linha de Maggie desliga, e eu fecho o meu telefone e
o coloco em minha bolsa.
A cidade se move em torno de mim, mas parece que eu
estou em uma bolha. As pessoas passam na calçada, mas eu
não as noto. Eu passeio, perdida em pensamentos, agarrando
minha bolsa perto do meu corpo. O ar da noite tem aquele
cheiro que é distintamente de Nova York. Eu o inspiro e
quando me viro, quase bato em alguém. O cara é uma
parede, de marrom e preto. Seu casaco tem cheiro de cigarros
velhos e naftalina.
Antes de eu ter tempo para descobrir o que está
acontecendo, ele pega a minha bolsa, em seguida, coloca a
mão no centro do meu peito e me empurra, com força. Eu
grito, tropeço e caio para trás, enquanto minha bolsa é
arrancada de minhas mãos. O cara se vira e está pronto para
correr, mas eu não estou com disposição para perder a bolsa.
Eu estou fodidamente quebrada. Todo o dinheiro que eu
tenho está lá dentro.
Antes que eu saiba o que estou fazendo, eu pego um dos
meus sapatos de salto alto e atiro em sua cabeça. Acerto e ele
cai na calçada. Poucas pessoas param para assistir, mas
ninguém faz nada - típico dos nova-iorquinos. Todo mundo
quer ver, mas ninguém ajuda.
Nesse ponto, tudo acontece em câmera lenta. Eu estou
em pé, mesmo que eu não me lembre de ficar pé. Um pé está
congelado, sobre o cimento frio, enquanto o outro ainda está
calçado. O ladrão levanta a mão e bota na parte de trás de
sua cabeça e puxa-a. Ele olha para os seus dedos, seus olhos
escuros apreciando o sangue vermelho e pegajoso em sua
mão. A ponta do meu salto que bateu com a parte traseira de
seu couro cabeludo, deve tê-lo cortado.
Meu coração para, quando o sujeito se vira para mim.
Seus olhos têm um olhar enlouquecido e os ombros tremem
como se ele fosse me rasgar ao meio.
— Você. — Ele diz isso como se fosse o meu nome e ele
me odeia.
O homem dá passos em direção a mim e fala
novamente, mas suas mãos lentamente movem para cima,
como se ele fosse me atacar ou me estrangular. Eu suspiro
alguma coisa, mas ele não sai antes de eu dar um passo para
trás, aterrorizada. Meu pulso ruge em meus ouvidos, então
olho em volta a procura de ajuda, mas não vejo ninguém. A
multidão se afastou, ou talvez eu tenha ido embora. Onde
está um policial quando eu preciso de um?
O resto acontece freneticamente rápido. Alguém grita
comigo, enquanto o homem procura o meu pescoço. Eu caio,
mas ele pega no meu ombro. Ele aperta-me com força,
fazendo com que o meu pescoço estale para trás enquanto ele
grita na minha cara.
— Sua pequena vadia!
O resto de suas palavras se tornam zumbidos, enquanto
ele me aperta mais. Estou ciente do vento, do ar da noite, e
do homem que está me estrangulando. Em algum momento,
as mãos deslizam até o pescoço. Eu agarro em suas mãos e
tento gritar, mas não sai nada. Eu não entendo por que
ninguém nos vê, por que eles simplesmente deixam esse
ladrão me machucar.
Balançando as minhas pernas, eu o chuto, mas não
adianta. Eu não sou forte o suficiente. Eu tentei tudo o que
sabia fazer e nada funcionou. O homem me atira e bate
minhas costas contra uma parede de tijolos. O frio me sacode
e me pergunto como chegamos ao beco ao lado do hotel, mas
os pensamentos cessam quando vejo o olhar em seus olhos.
Um sorriso mal aparece em seu rosto quando ele rasga o
ombro do meu vestido. O tecido sai em sua mão e permite
que o vestido deslizar alguns centímetros.
Abro a boca para gritar, mas sua mão imunda me cobre,
impedindo a saída do som. Sua mão me tateia, sentindo
meus seios enquanto ele sussurra em meu ouvido todas as
coisas horríveis que ele pretende fazer comigo. — Então, eu
vou levar a minha faca e... — Suas palavras desagradáveis
param imediatamente, após o som do estalar de madeira.
Assim como, de repente, a mão no meu pescoço se foi e
eu suspiro em uma respiração trêmula e olho para cima. Está
muito escuro para ver, mas há um homem vestido de
smoking, avançando sobre o ladrão. Ele lança socos uma e
outra vez, até que eles estão na parte de trás do beco, presos
por uma parede de tijolos. O ladrão é espancado e sangra,
mas ele não para de lutar. Nem o homem de smoking. Ele
distribui socos como um boxeador, tanto assim que é
hipnótico assistir. Quando a faca aparece, eu esperava que as
coisas se transformassem em favor do ladrão, mas isso não
acontece. O homem de smoking desarma o idiota e toma a
arma. Aconteceu tão rápido que eu não posso dizer como foi
feito. O homem de smoking recua seu braço como se
estivesse para empurrar a faca no peito do cara.
— Pare! — Eu chamo antes de perceber o que estou
fazendo. Uma das minhas mãos está segurando meu vestido
no busto e a outra está mal tocando meus lábios. Eu não
posso ver o cara morrer, mas eu não consigo desviar o olhar
também.
O homem de smoking não para. Um grito tremendo sai
dilacerado da minha garganta quando ele bate a faca no
ombro do ladrão. O bandido pega no seu braço e desliza para
baixo da parede, segurando seu ombro enquanto o casaco
fica encharcado de sangue. Ele olha diretamente para mim
com raiva.
O homem de smoking chuta o ladrão uma vez, e uma
voz familiar disse:
— Vá embora.
Eu tremo quando ouço isso, porque eu sei quem é ele,
Bryan. Ele deve ter me seguido. O medo agarra e azeda
dentro do meu estômago, enquanto eu olho para as suas
costas. Bryan não vira o rosto para mim. O ladrão comprime
os lábios e se levanta do chão do beco. Ele faz o seu caminho
passando por mim, e não diz nada.
Um tremor se apodera de mim e escorre pela minha
espinha, me fazendo ofegar. É quando ele se vira. O rosto de
Bryan está pálido e coberto de um brilho fino de suor. Ele
caminha de volta para mim e eu posso ver onde ele tomou
algumas pancadas. Há um rasgo em sua camisa, sob a lapela
do paletó, onde a faca cortou antes Bryan tomá-la do ladrão.
Passo a passo, ele caminha em minha direção, e eu
estou mais assustada por Bryan que qualquer coisa que já
encontrei. O que foi isso? Ele teria matado o homem se eu
não tivesse gritado? Eu não consigo parar de tremer.
Bryan alcança os meus ombros para me firmar, e eu
sinto aquele choque familiar que acompanha o seu toque.
Seu polegar esfrega suavemente sobre minha pele. — Você
está bem?
Mas, é muito. Eu não posso. Eu não posso. Eu não posso.
O pensamento não faz sentido, mas eu sei que tenho que
fazer com que ele me liberte. Seu toque tem uma maneira de
me desfazer, e eu estou caindo aos pedaços. Recuso-me a
deixá-lo ser o único a testemunhar isso. Eu empurro para
longe, e aceno com a cabeça rapidamente.
— Eu estou bem.
As mãos de Bryan permanecem paradas no ar por um
momento, antes de ele abaixa-las junto com seu olhar. Ele
observa o chão por um segundo e quando ele levanta o
queixo, vejo um sorriso nos seus lábios.
— Mentirosa. Você está longe de estar bem, mas eu
estou contente que você esteja parada.
Eu fico olhando para ele, incapaz de encontrar uma
resposta. Sua voz soa carinhosa, quase arrependida. Ele olha
por cima do meu ombro para alguém e, em seguida, diz:
— A sua carona está aqui. Da próxima vez, não tente
derrubar um assaltante por si mesmo.
Eu falo sem querer, mas as palavras saem e caem fora.
— Da próxima vez, não mate um homem por roubar minha
bolsa.
O canto dos lábios de Bryan puxa para cima, como se
quisesse sorrir, mas ele não sorri.
— Eu não iria matar um homem por roubar uma bolsa.
Que tipo de pessoa você acha que eu sou?
— Honestamente, eu não sei mais. Eu achava que sabia,
mas depois disso... — Eu balanço minha cabeça e fico sem
palavras. Bryan mudou o ataque no último segundo. Essa
faca não estava voltada para o ombro do homem — estava
dirigida para o seu coração. — Você ia matá-lo. Eu vi, você
não pode me dizer que não iria.
Bryan se inclina mais perto, e quando ele fala seu hálito
quente sussurra contra a minha orelha.
— Talvez, mas não foi porque ele pegou sua bolsa. — Ele
se inclina para trás e desliza as mãos nos bolsos, enquanto
seus olhos verdes me percorrem. — Ninguém toca em você,
enquanto você está comigo.
— Eu engulo em seco e olho para ele, com o coração
ainda disparando.
Maggie aparece atrás de mim um segundo depois. Ela
pega meu ombro e me vira.
— Hallie, diabo está acontecendo, e por que você está
aqui no beco sozinha? — Ela vê a maneira que eu estou
segurando meu vestido e o tecido rasgado. A preocupação
persiste em seu rosto, esperando pela minha resposta.
— Eu não estou sozinha, — mas quando me viro para
olhar, Bryan já se foi.
CAPÍTULO 3
Eu estive em um casulo de tristeza e este evento o
quebrou. Minha atordoada indiferença fratura e estilhaça,
como vidro barato. Eu olho para a bolsa presa em minha mão
e me pergunto o que há de errado comigo, mas ainda mais,
eu não consigo parar de pensar em Bryan, como ele veio do
nada e quase matou o homem que tentou me machucar.
Pare de pensar assim, eu me repreendo. Bryan agiu
como um lunático. A imagem de Bryan esfaqueando o cara
persiste através dos meus olhos mais uma vez e faz o meu
estômago embrulhar.
Maggie está falando, mas eu não disse muito. Estamos
em seu velho Ford Escort. A coisa corre mal, mas eu não
posso reclamar. Eu nem mesmo tenho um carro, não mais.
Maggie olha para mim por trás do volante, enquanto suas
mãos o seguram com firmeza.
— Hallie, se você estiver com vontade de vomitar, baixe
a janela. Aqui já cheira estranho o suficiente. — Ela está
certa, o carro tem um odor não identificável que está lá desde
que ela comprou.
— Eu estou bem, — eu digo novamente, embora seja
uma mentira. Meus braços envolvem meu peito para
esconder como minhas mãos tremem.
— Ah, Hallie, eu sei que você não quer falar e que está
tudo bem, mas eu quero informa-la sobre a minha nova casa.
— Eu olho para ela, sem entender o que ela quer dizer.
Maggie me dá um sorriso tímido e encolhe os ombros até as
suas orelhas, enquanto dirige. — Vamos apenas dizer que
não é algo que você aprovaria.
Eu não tenho paciência para lidar com seus enigmas
neste momento. A vida de Maggie é mais difícil do que a
minha, e eu sei disso, mas ela nunca tinha escondido coisas
de mim antes. Desta vez, é claro que ela escondeu, e isso me
preocupa. As únicas coisas que eu desaprovo são as que
possam matá-la. A menina não tem nenhum senso. Às vezes
me pergunto sobre ela, e como ela escolhe o que faz. Sorrio
sem jeito e olho para o tapete sujo no chão, que alguma vez
foi azul.
— O que é tão engraçado? — Maggie parece indignada,
como se eu a tivesse ofendido.
— Nada. Vamos apenas dizer que, se você soubesse o
que eu estava fazendo esta noite, você não se sentiria tão na
defensiva. Tenho certeza de que sua casa é boa.
Maggie se tranquiliza. Ela suspira quando vira em uma
rua lateral e começamos a fazer o nosso caminho através de
um bairro degradado. As casas são marcadas e branqueadas
pelo Sol, com gramados mortos, mas os carros são
customizados e caros. Mesmo que seja tarde, as pessoas
movem-se, sem fazer nada. Eu olho para a minha porta,
querendo trancá-la, mas eu não me mexo. Enquanto nós
rodamos passando pelos grupos de pessoas, os olhos deles
viram e nos assistem passar, antes de voltar para o que eles
estavam fazendo.
Maggie finalmente diz: — Não é muito, mas acho que
vale a pena.
— Você não tem que defender o seu apartamento para
mim, Maggie. Eu sou uma maldita sem-teto. — Eu olho para
ela e inclino a cabeça para trás no assento. Minhas palavras
não a consolam, então eu acrescento: — Além disso, eu não
sou uma garota-propaganda da moralidade, também. Você
não vai acreditar no que eu fiz hoje à noite, e o que eu vou
fazer. — Minha voz falha e eu balanço a cabeça, pensando
nos lábios de Bryan. Estou horrorizada por reagir da maneira
como o faço, mesmo que com a memória.
Ela ri uma vez, rapidamente. — Sim, certo. Hallie, você
nunca faz nada de mau. Estúpido, sim. Mau, não.
Eu olho para fora da janela e não vejo nada. As casas
deram lugar a apartamentos que se estendem para o céu na
noite. Fachadas de tijolos já viram dias melhores. Muitos
parecem vazios, como se ninguém vivesse lá, por muitos
anos. Meu peito se aperta e eu me contorço na cadeira. Meu
Deus, ela mora aqui? Por que ela não me contou? Há carros
queimados, latas de lixo viradas e entulho, tudo espalhado
por toda parte. Parece que a rua foi saqueada e esquecida,
assim como Maggie.
Segundas decisões são as que mudam vidas. Eu faço a
minha e cuspo fora antes de me acovardar.
— Bryan Ferro está me chantageando. Se eu não dormir
com ele sempre que ele quiser, vai dizer às pessoas que ele é
o cara no livro e fazer o que for preciso para me arruinar. Ele
disse que ia usar tudo o que tem contra mim e me deu um
ultimato.
Os grandes olhos de Maggie viram em minha direção,
com o queixo caído e boca aberta.
— Puta merda! Quando isso aconteceu? Como você vai
detê-lo? — Ela pisca para mim e vira os olhos de volta para a
estrada, embora eu saiba que ela não quer.
Esta é a parte que me faz sentir um lixo. Eu não sou
quem ela pensa que eu sou. Eu não tenho uma estrutura
moral de aço. Eu não posso nem olhar para ela.
— Esta noite eu acabei fazendo o anúncio do prêmio no
show com ele, e então ele me encontrou no banquete. — Eu
digo. Eu tento fazer a minha boca mover-se para formar as
palavras, mas não vão sair.
— De jeito nenhum. — Ela estaciona em um parque de
estacionamento que parece que foi usado como um local de
explosão da força aérea e desliga o carro. — Pegue suas
coisas e tranque a porta. — Eu faço como ela diz e me
apresso atrás dela. — Mantenha seus olhos baixos e me siga.
Não fale ou olhe para ninguém.
Entramos no lado de um desses prédios de tijolos
antigos e subimos alguns lances de escadas, até o quarto
andar. No momento que chegamos ao seu andar, eu quero
jogar o resto do meu sapato para fora da janela. Eu poderia,
não há vidro no painel. Eu a sigo, até a porta e por um longo
corredor mal iluminado. Nós paramos em frente à sua porta.
Enquanto ela se atrapalha com a chave, a porta contrária à
dela se abre. Um homem pálido, com cabelo loiro descolorido
e vestindo uma camiseta regata branca e cueca está lá e olha
para nós. Eu posso sentir seus olhos nas minhas costas. Ele
se inclina contra o batente da porta e cruza os braços sobre o
peito.
Quando ele fala, soa rouco, como se ele fumasse um
maço de cigarros todos os dias desde que ele tinha dois anos
de idade. — Trouxe-me outra?
— Não, — Maggie diz com firmeza. Ela não se vira para
olhar para o cara. Se eu não a conhecesse melhor, eu acharia
que ela estava com medo dele. Eu não aguento mais stress
esta noite. Meu cérebro parece que vai partir em dois, antes
que eu murche e morra. Maggie pega a chave para abrir, mas
porta emperra. Ela chuta uma vez com o pé e a porta mexe
ligeiramente. — Maldita porta, — ela murmura.
— Qual é o seu nome, docinho? — O cara está falando
comigo. Viro-me e olho por cima do ombro, e nossos olhos se
encontram. Ele envia um olhar frio para mim, ao ver o jeito
como ele está olhando de soslaio. O cara é enorme, ele é todo
músculos e agora ele está sorrindo para mim, revelando uma
coroa de ouro em seu dente canino.
— Oi, — eu digo timidamente, e arrumo o meu cabelo
para atrás da minha orelha, tentando evitar o olhar dele
enquanto não respondo sua pergunta.
Enquanto o cara está de boca aberta, Maggie chuta na
porta. A porta se abre, ela agarra meu braço e me puxa. Eu
sigo, voando atrás dela enquanto ela grita por cima do ombro,
— eu vou lhe trazer alguém amanhã, eu juro. Boa noite, Vic.
— Ela bate a porta com o pé e parece abalada.
Seu apartamento é aproximadamente o mesmo tamanho
de um pequeno corredor. Há uma pequena janela com uma
folha grampeada sobre ela e sem móveis. Algumas das roupas
de Maggie estão jogadas ao redor do lugar, como se ela
tivesse saído com pressa. Se eu morasse aqui, eu iria embora
rapidamente, também.
— Obrigado por me deixar ficar com você.
— Sim, não há problema. É uma merda como este é o
pior lugar que eu já vivi, mas é um refúgio. Eu durmo aqui e,
em seguida, dou o fora. O aluguel não é horrível. — Ela
oferece um sorriso torto, mas é franco.
Eu preciso dela, e não há um muro entre nós. Ela acha
que eu sou perfeita, mas eu não sou. Eu fiz coisas que ela
não sabe. As palavras estão na minha língua e eu enrolo-as
em torno de minha boca, tentando descobrir como dizer isso,
enquanto a Maggie tagarela, enchendo o ambiente com sua
voz.
Um casal está brigando nas proximidades, e o som está
cada vez mais alto. Estão lutando, eu não quero dizer
discutindo. Há coisas batendo nas paredes e quebrando.
Chove gesso para baixo sobre nós como flocos de neve
quando algo cai de cima. Maggie olha horrorizada quando ela
puxa sua cama Murphy 2 para baixo da parede. Tomando
quase toda a sala. — Você pode dormir aqui. Eu vou dormir
no chão.
— Não.
Ela sorri. — Não seja boba, você é minha convidada. —
Palavrões ressoam acima de nós quando um homem irritado
grita. É prontamente seguido de um grito agudo. Maggie
morde as unhas do jeito que ela fazia quando éramos
crianças e olha em volta, como se ela desejasse poder
queimar o lugar.
2
— Eu não vou fazer você dormir no chão, mas há outra
coisa que eu preciso lhe dizer.
— Maggie olha para mim por debaixo de sua massa de
cabelo vermelho. Eu sou sua única amiga de verdade, sua
única família e ela a minha. Deus, o que é que ela vai pensar
de mim quando eu lhe disser o que eu concordei em fazer?
Eu não acho que eu vou ser capaz de suportá-lo. Meus
braços ainda estão dobrados sobre o peito, com as mãos
firmemente aninhadas nos meus braços.
— Hallie, qual o problema? — Maggie deixa de fazer a
cama e se senta. Ela dá um tapinha no lugar ao lado dela e
me sento.
Olhando para frente, eu engulo em seco e digo a ela.
— Eu disse que sim. — Você disse sim para o quê?
Hallie, você não está fazendo sentido, do que você está
falando?
Quando me viro para olhar para ela, e encontro com
aqueles grandes olhos verdes e sinto medo. Minha pele fica
arrepiada, mas eu não consigo desviar o olhar.
— Eu disse a Bryan Ferro que sim. Eu cedi. Ele ganhou
e eu perdi.
— O quê? — Ela está furiosa, pronta para voar para fora
do seu assento e defender-me até a morte.
Eu coloco minha mão no colo dela para fazê-la parar. —
Eu fui ao seu quarto de hotel para dizer-lhe para ir chupar
um prego, mas eu mudei de ideia quando ouvi sua voz. Eu
pensei que algo estava errado e esta era a sua maneira de
merda para me dizer. Conheci-o uma vez, pelo menos eu
pensei que tinha conhecido. Então, quando eu estava
esperando por você do lado de fora, eu... — minha voz está
trêmula e eu não posso mais esconder o meu horror, — um
cara tentou roubar minha bolsa. Para encurtar a história, ele
me pegou por trás do prédio e ia me machucar. Bryan
apareceu e ele... — Eu não posso dizer isso. Meu Bryan
perfeito fez algo que era tão diferente dele, tão terrivelmente
selvagem, que eu não sei o que pensar. Ele me protegeu, mas
ainda parece errado.
— Ele a machucou? — Maggie está furiosa, eu posso
ouvir em sua voz. Mas a forma como ela fala suas palavras
ondulando entre muito alta e baixa, dão a deixa.
— Não, ele atacou o homem, e esfaqueou-o. Se eu não
dissesse a Bryan para parar, acho que ele teria matado o
cara. — Olho para ela, mas eu não posso mais enxergar.
Meus olhos têm brilham com lágrimas que tudo fica
desfocado.
Maggie ergue os braços e eu caio neles. Ela sempre foi
como uma irmã para mim. Estivemos sempre uma para a
outra, e eu temo que a história com Bryan e o que eu me
tornei vá fazê-la me odiar. Meu pai teria vergonha de me
chamar de filha, e eu espero o mesmo de Maggie. Em vez
disso, ela fica lá no colchão gasto e me acalma.
Depois de um forte abraço, ela libera meus ombros e
pega meu queixo. — Você e eu passamos por tudo juntas.
Não pense que eu a estou socorrendo por causa disso. Se não
for por qualquer coisa, a vida fica mais interessante, isso é
tudo.
Eu enxugo as lágrimas dos meus olhos e rio, porque ela
está tão errada. — Esse é o eufemismo do ano.
— O meu ponto é, eu estou aqui por você. Eu sempre
estarei aqui para você. — Ela bate no meu ombro com a dela.
— Então, Bryan Ferro tem um lado negro por trás de todo o
brilho e deslumbre?
— Aparentemente.
— Foi divertido ou ele fez coisas estranhas?
Eu sorrio e limpo meus olhos novamente. — Não, não
hoje à noite de qualquer maneira. Ele me chamou para seu
quarto, eu fui, e nos beijamos. Então, ele me mandou ir
embora.
Os lábios de Maggie puxaram um pouco para cima. —
Ele a jogou para fora? Mas que inferno...?
— Eu não sei. É como se ele estivesse louco e deixando o
Hulk sair ou algo assim. Ele não olhava para mim. As coisas
estavam quentes e pesadas até então. — A intuição continua
me dizendo que algo estava errado, mas não posso entender o
quê.
Maggie sorri: — Ele foi melhor do que Neil, certo?
Eu faço uma careta e olhou para ela como se ela fosse
louca. — Uh, Bryan está me chantageando.
— E ele é mais quente do que Neil. Vá em frente, diga.
Eu sou sua amiga, então eu já sei.
Eu baixei meus olhos em direção ao chão e não disse
nada. Eu não tenho que dizer nada, a minha expressão diz
tudo. Bryan é muito mais quente do que Neil, não há
comparação. Os dois homens são noite e dia, e Bryan é a
noite sexy. Neil a voz racional que soa como o FDA 3,
lembrando-me de fazer todas as coisas com moderação, mas
não todas as coisas, somente as ações que ele aprova. Droga.
Eu enterro meu rosto em minhas mãos e suspiro.
Maggie acaricia minhas costas. — Está tudo bem.
Qualquer um é mais quente do que Neil. Não se sinta
culpada, mas eu não contaria exatamente ao Senhor Calças
Perfeitamente Passadas. Ele vai surtar ao saber que alguém
tocou em você. — Maggie está tirando as roupas e puxando
uma camisa de dormir e calças, enquanto ela fala.
— Na verdade, Neil sabe.
3 FDA - Food and Drug Administration - Agencia reguladora de remédios e alimentos.
— O quê? — Ela está pulando em um pé, tentando
enfiar o pé pela perna da calça e cai. — Como é que ele sabe?
Você disse que acabou de acontecer.
— Neil sabe por que foi ele quem me disse para fazer
isso.
CONTINUA
Bryan está de queixo caído e boca aberta, com aqueles olhos verdes semicerrados, em chamas. Fúria e choque não parecem bons para ele. As emoções distorcem seu belo rosto,
estragam as linhas suaves de sua pele, fazendo-o parecer bem mais velho. Seus punhos estão fechados, apertados em seus lados, mas ele pisca uma vez e a reação diminui. Há muitas coisas que eu não sei sobre Bryan Ferro, mas uma coisa eu sei, ele é uma merda em manter as coisas escondidas. Seus pensamentos dançam em seu rosto de vez em quando, e é por isso que ele está desconfiado de mim.
Virando abruptamente, Bryan pressiona seus dedos em sua têmpora direita. Sua voz sai como um grunhido.
— Eu lhe disse para ir embora.
— Seus ombros estão tensos, cada músculo está apertado a ponto de eu poder ver as curvas de seu corpo sob essa camisa. Ele flexiona a mão que está ao seu lado antes de deslizar em seu bolso. Bryan pode ser capaz de esconder tudo, de todos os outros, mas não de mim.
— Sim, eu ouvi essa parte. — Eu ajo como se eu não me importasse, deito-me no tapete, e dobro as minhas mãos atrás da minha cabeça. O piso é suave e difuso. Levanto os meus joelhos, eu deixo a queda do meu vestido em torno dos meus tornozelos e até meus pés, para sentir a pilha macia entre os dedos dos pés. O tapete no meu antigo quarto parecia como um saco de batata, em relação a este material.
Mesmo com Bryan irado, eu estou sorrindo. A vozinha na parte de trás da minha cabeça me diz que eu perdi minha mente. Eu respondo de volta que eu nunca tive um controle firme sobre isso de qualquer maneira.
https://img.comunidades.net/bib/bibliotecasemlimites/2_A_PROPOSI_O.jpg
Bryan pode ver meu reflexo no espelho, mas eu não
posso ver mais do que as suas costas e a maneira como ele
agarra sua cabeça como se fosse explodir. Ele está furioso
comigo? Não consigo entender sua raiva, mas transborda
para fora de sua boca de novo, espetando como espinhos,
neste momento.
— Se você não consegue entender os termos deste
acordo, então eu temo que nós não tenhamos um.
— O quê? — Sento-me e giro em torno, de modo que
estou de frente para as suas costas.
Bryan se vira, e a tensão que está estampada no seu
rosto é horrível. Eu encontro o seu olhar, mas eu não posso
olha-lo sem querer corrigir o que está fazendo com ele. Todas
as imagens na imprensa mostram a versão de Bryan que eu
conhecia, leve e despreocupado, mas este homem, aqui, não é
nenhuma dessas coisas. Algo está esmagando-o de dentro
para fora e deixando-o em pedaços. Seu corpo está tremendo,
ele está tão bravo. Ele tenta respirar fundo, mas isso só faz o
seu rosto ficar mais apertado.
— Você me ouviu. Se você não fizer as coisas do meu
jeito, eu vou arruinar você. Este não é o meu jeito, você sabe
muito bem disso. Saia daqui.
Ele não grita, mas suas palavras me fazem tremer. Não
há calor, não há compaixão. Talvez eu não o conheça mais e
ele está certo. Apertando os lábios, eu engulo minha resposta,
mas esta incha dentro de mim e enche meu peito. Eu peguei
meus sapatos saltos de volta e calcei em meus pés cansados
antes de levantar. Eu ando mais e pego minha bolsa.
Eu deveria sair. A vozinha dentro de mim canta como
um duende com uma voz agradável, sim, vá. Faça isso.
Agora.
Meus olhos estão fixos na porta como se fosse o
caminho para o inferno. Algo sobre sair agora parece errado,
mas não posso entender sobre o que está prendendo meus
pés no lugar. Caramba, é o pensamento que está me
segurando. Ele está me prendendo aqui e eu não posso me
mover. Parece como engolir o vômito e eu não posso fazê-lo.
Eu sou o cérebro danificado, mas não posso ser algo que não sou.
Girando sobre meus pés, eu atravesso o piso acarpetado
e elegante, e caminho até ele. Bryan não se vira para olhar
para mim. Em vez disso, suas mãos estão segurando a parte
superior do bar como se ele quisesse arrancá-lo da parede.
Suas costas estão curvadas e sua cabeça está pendurada
entre os ombros, como se ele estivesse tentando não me
rasgar em pedaços. Outra mulher teria corrido agora mesmo,
mas eu sou a dopada que anda mais perto.
— Eu sou uma idiota, — eu digo, enquanto olho para os
meus sapatos, e rio de leve. É o tipo de som que não tem
alegria e revela uma alma torturada. Meus olhos levantam
para seus ombros. Eu fico lá por um momento esperando que
ele se vire, mas ele não vira. Bryan não fala ou levanta o
olhar. Ele permanece debruçado sobre o bar como um troll 1.
Eu continuo, — vê-lo hoje à noite foi terrível e
maravilhoso. Isso evocou memórias e sentimentos que eu
tinha tempo esquecido há muito. Escrever sobre, é uma
coisa, mas vê-lo novamente está além das palavras.
Desculpe-me se eu o machuquei, mesmo que eu não entenda
o que eu fiz. E seu eu pudesse corrigir. Eu...
Por que estou fazendo isso? Eu estou me desculpando
com as suas costas, o homem não tem sequer a decência de
se virar e encarar-me. Eu respiro fundo e endireito a minha
espinha.
— As pessoas cometem erros, Bryan, e parece que o
meu maior erro foi conhecê-lo.
1
Troll – é uma gíria que designa uma pessoa cujo comportamento tende sistematicamente a desestabilizar uma
discussão, provocar e enfurecer as pessoas envolvidas nela. Há trolls de todo tipo, desde o mais ignorante e rude
que xinga e provoca, até o mais apto intelectualmente que discursa com o objetivo de desestabilizar o interlocutor
e levá-lo a fúria, para depois desqualificá-lo, matando seu argumento e abalando sua reputação.
A fúria me inunda quando eu corro pela sala. Eu agarro
a maçaneta da porta e não olho para trás, apesar de sentir
seus olhos em mim. Dane-se ele. Eu vivi coisas piores. Eu
digo essas palavras uma e outra vez, porque aconteceu.
Depois corro pelo corredor, aperto o botão para baixo no
elevador uma e outra vez, perguntando por que eu estou tão
chateada. Depois de um momento, eu sinto o pensamento
picar os meus olhos e apertar a minha garganta e eu sei
exatamente por que estou tão chateada.
É possível que as coisas estejam invertidas, e como eu
não conhecesse o verdadeiro Bryan Ferro, aquele com quem
dormi todos esses anos, era o falso.
CAPÍTULO 2
Eu não posso ir para casa e enfrentar Neil, por isso eu
telefono para Maggie. Ela atende no terceiro toque. Eu estou
andando na rua em frente ao hotel com o meu telefone
pressionado ao meu ouvido. É tarde e escuro. Evitando as
sombras, eu ando mais perto da rua do que no hotel.
— Maggie. — Eu tento esconder a tensão na minha voz,
mas ela ouve. Nós nos conhecemos há muito tempo. — Vou
tirar suas bolas fora.
— O que diabo aconteceu? Onde você está? — Ela me
enche de perguntas, até que eu possa finalmente fazê-la calar
a boca.
— Eu preciso de um lugar para dormir. Eu não posso
ver Neil agora e eu não tenho outro lugar para ir.
Maggie fica em silêncio.
— O que é meu, é seu. Você sabe disso, mas eu não
tenho certeza que você vá gostar.
— Em qualquer lugar é melhor do que aqui ou com Neil.
— Eu sinto uma náusea fazendo seu caminho até a minha
garganta. Lágrimas estão chegando, e tenho a sensação de
que vai ser um maremoto.
— Claro, claro. Eu estarei aí em cinco minutos.
— A linha de Maggie desliga, e eu fecho o meu telefone e
o coloco em minha bolsa.
A cidade se move em torno de mim, mas parece que eu
estou em uma bolha. As pessoas passam na calçada, mas eu
não as noto. Eu passeio, perdida em pensamentos, agarrando
minha bolsa perto do meu corpo. O ar da noite tem aquele
cheiro que é distintamente de Nova York. Eu o inspiro e
quando me viro, quase bato em alguém. O cara é uma
parede, de marrom e preto. Seu casaco tem cheiro de cigarros
velhos e naftalina.
Antes de eu ter tempo para descobrir o que está
acontecendo, ele pega a minha bolsa, em seguida, coloca a
mão no centro do meu peito e me empurra, com força. Eu
grito, tropeço e caio para trás, enquanto minha bolsa é
arrancada de minhas mãos. O cara se vira e está pronto para
correr, mas eu não estou com disposição para perder a bolsa.
Eu estou fodidamente quebrada. Todo o dinheiro que eu
tenho está lá dentro.
Antes que eu saiba o que estou fazendo, eu pego um dos
meus sapatos de salto alto e atiro em sua cabeça. Acerto e ele
cai na calçada. Poucas pessoas param para assistir, mas
ninguém faz nada - típico dos nova-iorquinos. Todo mundo
quer ver, mas ninguém ajuda.
Nesse ponto, tudo acontece em câmera lenta. Eu estou
em pé, mesmo que eu não me lembre de ficar pé. Um pé está
congelado, sobre o cimento frio, enquanto o outro ainda está
calçado. O ladrão levanta a mão e bota na parte de trás de
sua cabeça e puxa-a. Ele olha para os seus dedos, seus olhos
escuros apreciando o sangue vermelho e pegajoso em sua
mão. A ponta do meu salto que bateu com a parte traseira de
seu couro cabeludo, deve tê-lo cortado.
Meu coração para, quando o sujeito se vira para mim.
Seus olhos têm um olhar enlouquecido e os ombros tremem
como se ele fosse me rasgar ao meio.
— Você. — Ele diz isso como se fosse o meu nome e ele
me odeia.
O homem dá passos em direção a mim e fala
novamente, mas suas mãos lentamente movem para cima,
como se ele fosse me atacar ou me estrangular. Eu suspiro
alguma coisa, mas ele não sai antes de eu dar um passo para
trás, aterrorizada. Meu pulso ruge em meus ouvidos, então
olho em volta a procura de ajuda, mas não vejo ninguém. A
multidão se afastou, ou talvez eu tenha ido embora. Onde
está um policial quando eu preciso de um?
O resto acontece freneticamente rápido. Alguém grita
comigo, enquanto o homem procura o meu pescoço. Eu caio,
mas ele pega no meu ombro. Ele aperta-me com força,
fazendo com que o meu pescoço estale para trás enquanto ele
grita na minha cara.
— Sua pequena vadia!
O resto de suas palavras se tornam zumbidos, enquanto
ele me aperta mais. Estou ciente do vento, do ar da noite, e
do homem que está me estrangulando. Em algum momento,
as mãos deslizam até o pescoço. Eu agarro em suas mãos e
tento gritar, mas não sai nada. Eu não entendo por que
ninguém nos vê, por que eles simplesmente deixam esse
ladrão me machucar.
Balançando as minhas pernas, eu o chuto, mas não
adianta. Eu não sou forte o suficiente. Eu tentei tudo o que
sabia fazer e nada funcionou. O homem me atira e bate
minhas costas contra uma parede de tijolos. O frio me sacode
e me pergunto como chegamos ao beco ao lado do hotel, mas
os pensamentos cessam quando vejo o olhar em seus olhos.
Um sorriso mal aparece em seu rosto quando ele rasga o
ombro do meu vestido. O tecido sai em sua mão e permite
que o vestido deslizar alguns centímetros.
Abro a boca para gritar, mas sua mão imunda me cobre,
impedindo a saída do som. Sua mão me tateia, sentindo
meus seios enquanto ele sussurra em meu ouvido todas as
coisas horríveis que ele pretende fazer comigo. — Então, eu
vou levar a minha faca e... — Suas palavras desagradáveis
param imediatamente, após o som do estalar de madeira.
Assim como, de repente, a mão no meu pescoço se foi e
eu suspiro em uma respiração trêmula e olho para cima. Está
muito escuro para ver, mas há um homem vestido de
smoking, avançando sobre o ladrão. Ele lança socos uma e
outra vez, até que eles estão na parte de trás do beco, presos
por uma parede de tijolos. O ladrão é espancado e sangra,
mas ele não para de lutar. Nem o homem de smoking. Ele
distribui socos como um boxeador, tanto assim que é
hipnótico assistir. Quando a faca aparece, eu esperava que as
coisas se transformassem em favor do ladrão, mas isso não
acontece. O homem de smoking desarma o idiota e toma a
arma. Aconteceu tão rápido que eu não posso dizer como foi
feito. O homem de smoking recua seu braço como se
estivesse para empurrar a faca no peito do cara.
— Pare! — Eu chamo antes de perceber o que estou
fazendo. Uma das minhas mãos está segurando meu vestido
no busto e a outra está mal tocando meus lábios. Eu não
posso ver o cara morrer, mas eu não consigo desviar o olhar
também.
O homem de smoking não para. Um grito tremendo sai
dilacerado da minha garganta quando ele bate a faca no
ombro do ladrão. O bandido pega no seu braço e desliza para
baixo da parede, segurando seu ombro enquanto o casaco
fica encharcado de sangue. Ele olha diretamente para mim
com raiva.
O homem de smoking chuta o ladrão uma vez, e uma
voz familiar disse:
— Vá embora.
Eu tremo quando ouço isso, porque eu sei quem é ele,
Bryan. Ele deve ter me seguido. O medo agarra e azeda
dentro do meu estômago, enquanto eu olho para as suas
costas. Bryan não vira o rosto para mim. O ladrão comprime
os lábios e se levanta do chão do beco. Ele faz o seu caminho
passando por mim, e não diz nada.
Um tremor se apodera de mim e escorre pela minha
espinha, me fazendo ofegar. É quando ele se vira. O rosto de
Bryan está pálido e coberto de um brilho fino de suor. Ele
caminha de volta para mim e eu posso ver onde ele tomou
algumas pancadas. Há um rasgo em sua camisa, sob a lapela
do paletó, onde a faca cortou antes Bryan tomá-la do ladrão.
Passo a passo, ele caminha em minha direção, e eu
estou mais assustada por Bryan que qualquer coisa que já
encontrei. O que foi isso? Ele teria matado o homem se eu
não tivesse gritado? Eu não consigo parar de tremer.
Bryan alcança os meus ombros para me firmar, e eu
sinto aquele choque familiar que acompanha o seu toque.
Seu polegar esfrega suavemente sobre minha pele. — Você
está bem?
Mas, é muito. Eu não posso. Eu não posso. Eu não posso.
O pensamento não faz sentido, mas eu sei que tenho que
fazer com que ele me liberte. Seu toque tem uma maneira de
me desfazer, e eu estou caindo aos pedaços. Recuso-me a
deixá-lo ser o único a testemunhar isso. Eu empurro para
longe, e aceno com a cabeça rapidamente.
— Eu estou bem.
As mãos de Bryan permanecem paradas no ar por um
momento, antes de ele abaixa-las junto com seu olhar. Ele
observa o chão por um segundo e quando ele levanta o
queixo, vejo um sorriso nos seus lábios.
— Mentirosa. Você está longe de estar bem, mas eu
estou contente que você esteja parada.
Eu fico olhando para ele, incapaz de encontrar uma
resposta. Sua voz soa carinhosa, quase arrependida. Ele olha
por cima do meu ombro para alguém e, em seguida, diz:
— A sua carona está aqui. Da próxima vez, não tente
derrubar um assaltante por si mesmo.
Eu falo sem querer, mas as palavras saem e caem fora.
— Da próxima vez, não mate um homem por roubar minha
bolsa.
O canto dos lábios de Bryan puxa para cima, como se
quisesse sorrir, mas ele não sorri.
— Eu não iria matar um homem por roubar uma bolsa.
Que tipo de pessoa você acha que eu sou?
— Honestamente, eu não sei mais. Eu achava que sabia,
mas depois disso... — Eu balanço minha cabeça e fico sem
palavras. Bryan mudou o ataque no último segundo. Essa
faca não estava voltada para o ombro do homem — estava
dirigida para o seu coração. — Você ia matá-lo. Eu vi, você
não pode me dizer que não iria.
Bryan se inclina mais perto, e quando ele fala seu hálito
quente sussurra contra a minha orelha.
— Talvez, mas não foi porque ele pegou sua bolsa. — Ele
se inclina para trás e desliza as mãos nos bolsos, enquanto
seus olhos verdes me percorrem. — Ninguém toca em você,
enquanto você está comigo.
— Eu engulo em seco e olho para ele, com o coração
ainda disparando.
Maggie aparece atrás de mim um segundo depois. Ela
pega meu ombro e me vira.
— Hallie, diabo está acontecendo, e por que você está
aqui no beco sozinha? — Ela vê a maneira que eu estou
segurando meu vestido e o tecido rasgado. A preocupação
persiste em seu rosto, esperando pela minha resposta.
— Eu não estou sozinha, — mas quando me viro para
olhar, Bryan já se foi.
CAPÍTULO 3
Eu estive em um casulo de tristeza e este evento o
quebrou. Minha atordoada indiferença fratura e estilhaça,
como vidro barato. Eu olho para a bolsa presa em minha mão
e me pergunto o que há de errado comigo, mas ainda mais,
eu não consigo parar de pensar em Bryan, como ele veio do
nada e quase matou o homem que tentou me machucar.
Pare de pensar assim, eu me repreendo. Bryan agiu
como um lunático. A imagem de Bryan esfaqueando o cara
persiste através dos meus olhos mais uma vez e faz o meu
estômago embrulhar.
Maggie está falando, mas eu não disse muito. Estamos
em seu velho Ford Escort. A coisa corre mal, mas eu não
posso reclamar. Eu nem mesmo tenho um carro, não mais.
Maggie olha para mim por trás do volante, enquanto suas
mãos o seguram com firmeza.
— Hallie, se você estiver com vontade de vomitar, baixe
a janela. Aqui já cheira estranho o suficiente. — Ela está
certa, o carro tem um odor não identificável que está lá desde
que ela comprou.
— Eu estou bem, — eu digo novamente, embora seja
uma mentira. Meus braços envolvem meu peito para
esconder como minhas mãos tremem.
— Ah, Hallie, eu sei que você não quer falar e que está
tudo bem, mas eu quero informa-la sobre a minha nova casa.
— Eu olho para ela, sem entender o que ela quer dizer.
Maggie me dá um sorriso tímido e encolhe os ombros até as
suas orelhas, enquanto dirige. — Vamos apenas dizer que
não é algo que você aprovaria.
Eu não tenho paciência para lidar com seus enigmas
neste momento. A vida de Maggie é mais difícil do que a
minha, e eu sei disso, mas ela nunca tinha escondido coisas
de mim antes. Desta vez, é claro que ela escondeu, e isso me
preocupa. As únicas coisas que eu desaprovo são as que
possam matá-la. A menina não tem nenhum senso. Às vezes
me pergunto sobre ela, e como ela escolhe o que faz. Sorrio
sem jeito e olho para o tapete sujo no chão, que alguma vez
foi azul.
— O que é tão engraçado? — Maggie parece indignada,
como se eu a tivesse ofendido.
— Nada. Vamos apenas dizer que, se você soubesse o
que eu estava fazendo esta noite, você não se sentiria tão na
defensiva. Tenho certeza de que sua casa é boa.
Maggie se tranquiliza. Ela suspira quando vira em uma
rua lateral e começamos a fazer o nosso caminho através de
um bairro degradado. As casas são marcadas e branqueadas
pelo Sol, com gramados mortos, mas os carros são
customizados e caros. Mesmo que seja tarde, as pessoas
movem-se, sem fazer nada. Eu olho para a minha porta,
querendo trancá-la, mas eu não me mexo. Enquanto nós
rodamos passando pelos grupos de pessoas, os olhos deles
viram e nos assistem passar, antes de voltar para o que eles
estavam fazendo.
Maggie finalmente diz: — Não é muito, mas acho que
vale a pena.
— Você não tem que defender o seu apartamento para
mim, Maggie. Eu sou uma maldita sem-teto. — Eu olho para
ela e inclino a cabeça para trás no assento. Minhas palavras
não a consolam, então eu acrescento: — Além disso, eu não
sou uma garota-propaganda da moralidade, também. Você
não vai acreditar no que eu fiz hoje à noite, e o que eu vou
fazer. — Minha voz falha e eu balanço a cabeça, pensando
nos lábios de Bryan. Estou horrorizada por reagir da maneira
como o faço, mesmo que com a memória.
Ela ri uma vez, rapidamente. — Sim, certo. Hallie, você
nunca faz nada de mau. Estúpido, sim. Mau, não.
Eu olho para fora da janela e não vejo nada. As casas
deram lugar a apartamentos que se estendem para o céu na
noite. Fachadas de tijolos já viram dias melhores. Muitos
parecem vazios, como se ninguém vivesse lá, por muitos
anos. Meu peito se aperta e eu me contorço na cadeira. Meu
Deus, ela mora aqui? Por que ela não me contou? Há carros
queimados, latas de lixo viradas e entulho, tudo espalhado
por toda parte. Parece que a rua foi saqueada e esquecida,
assim como Maggie.
Segundas decisões são as que mudam vidas. Eu faço a
minha e cuspo fora antes de me acovardar.
— Bryan Ferro está me chantageando. Se eu não dormir
com ele sempre que ele quiser, vai dizer às pessoas que ele é
o cara no livro e fazer o que for preciso para me arruinar. Ele
disse que ia usar tudo o que tem contra mim e me deu um
ultimato.
Os grandes olhos de Maggie viram em minha direção,
com o queixo caído e boca aberta.
— Puta merda! Quando isso aconteceu? Como você vai
detê-lo? — Ela pisca para mim e vira os olhos de volta para a
estrada, embora eu saiba que ela não quer.
Esta é a parte que me faz sentir um lixo. Eu não sou
quem ela pensa que eu sou. Eu não tenho uma estrutura
moral de aço. Eu não posso nem olhar para ela.
— Esta noite eu acabei fazendo o anúncio do prêmio no
show com ele, e então ele me encontrou no banquete. — Eu
digo. Eu tento fazer a minha boca mover-se para formar as
palavras, mas não vão sair.
— De jeito nenhum. — Ela estaciona em um parque de
estacionamento que parece que foi usado como um local de
explosão da força aérea e desliga o carro. — Pegue suas
coisas e tranque a porta. — Eu faço como ela diz e me
apresso atrás dela. — Mantenha seus olhos baixos e me siga.
Não fale ou olhe para ninguém.
Entramos no lado de um desses prédios de tijolos
antigos e subimos alguns lances de escadas, até o quarto
andar. No momento que chegamos ao seu andar, eu quero
jogar o resto do meu sapato para fora da janela. Eu poderia,
não há vidro no painel. Eu a sigo, até a porta e por um longo
corredor mal iluminado. Nós paramos em frente à sua porta.
Enquanto ela se atrapalha com a chave, a porta contrária à
dela se abre. Um homem pálido, com cabelo loiro descolorido
e vestindo uma camiseta regata branca e cueca está lá e olha
para nós. Eu posso sentir seus olhos nas minhas costas. Ele
se inclina contra o batente da porta e cruza os braços sobre o
peito.
Quando ele fala, soa rouco, como se ele fumasse um
maço de cigarros todos os dias desde que ele tinha dois anos
de idade. — Trouxe-me outra?
— Não, — Maggie diz com firmeza. Ela não se vira para
olhar para o cara. Se eu não a conhecesse melhor, eu acharia
que ela estava com medo dele. Eu não aguento mais stress
esta noite. Meu cérebro parece que vai partir em dois, antes
que eu murche e morra. Maggie pega a chave para abrir, mas
porta emperra. Ela chuta uma vez com o pé e a porta mexe
ligeiramente. — Maldita porta, — ela murmura.
— Qual é o seu nome, docinho? — O cara está falando
comigo. Viro-me e olho por cima do ombro, e nossos olhos se
encontram. Ele envia um olhar frio para mim, ao ver o jeito
como ele está olhando de soslaio. O cara é enorme, ele é todo
músculos e agora ele está sorrindo para mim, revelando uma
coroa de ouro em seu dente canino.
— Oi, — eu digo timidamente, e arrumo o meu cabelo
para atrás da minha orelha, tentando evitar o olhar dele
enquanto não respondo sua pergunta.
Enquanto o cara está de boca aberta, Maggie chuta na
porta. A porta se abre, ela agarra meu braço e me puxa. Eu
sigo, voando atrás dela enquanto ela grita por cima do ombro,
— eu vou lhe trazer alguém amanhã, eu juro. Boa noite, Vic.
— Ela bate a porta com o pé e parece abalada.
Seu apartamento é aproximadamente o mesmo tamanho
de um pequeno corredor. Há uma pequena janela com uma
folha grampeada sobre ela e sem móveis. Algumas das roupas
de Maggie estão jogadas ao redor do lugar, como se ela
tivesse saído com pressa. Se eu morasse aqui, eu iria embora
rapidamente, também.
— Obrigado por me deixar ficar com você.
— Sim, não há problema. É uma merda como este é o
pior lugar que eu já vivi, mas é um refúgio. Eu durmo aqui e,
em seguida, dou o fora. O aluguel não é horrível. — Ela
oferece um sorriso torto, mas é franco.
Eu preciso dela, e não há um muro entre nós. Ela acha
que eu sou perfeita, mas eu não sou. Eu fiz coisas que ela
não sabe. As palavras estão na minha língua e eu enrolo-as
em torno de minha boca, tentando descobrir como dizer isso,
enquanto a Maggie tagarela, enchendo o ambiente com sua
voz.
Um casal está brigando nas proximidades, e o som está
cada vez mais alto. Estão lutando, eu não quero dizer
discutindo. Há coisas batendo nas paredes e quebrando.
Chove gesso para baixo sobre nós como flocos de neve
quando algo cai de cima. Maggie olha horrorizada quando ela
puxa sua cama Murphy 2 para baixo da parede. Tomando
quase toda a sala. — Você pode dormir aqui. Eu vou dormir
no chão.
— Não.
Ela sorri. — Não seja boba, você é minha convidada. —
Palavrões ressoam acima de nós quando um homem irritado
grita. É prontamente seguido de um grito agudo. Maggie
morde as unhas do jeito que ela fazia quando éramos
crianças e olha em volta, como se ela desejasse poder
queimar o lugar.
2
— Eu não vou fazer você dormir no chão, mas há outra
coisa que eu preciso lhe dizer.
— Maggie olha para mim por debaixo de sua massa de
cabelo vermelho. Eu sou sua única amiga de verdade, sua
única família e ela a minha. Deus, o que é que ela vai pensar
de mim quando eu lhe disser o que eu concordei em fazer?
Eu não acho que eu vou ser capaz de suportá-lo. Meus
braços ainda estão dobrados sobre o peito, com as mãos
firmemente aninhadas nos meus braços.
— Hallie, qual o problema? — Maggie deixa de fazer a
cama e se senta. Ela dá um tapinha no lugar ao lado dela e
me sento.
Olhando para frente, eu engulo em seco e digo a ela.
— Eu disse que sim. — Você disse sim para o quê?
Hallie, você não está fazendo sentido, do que você está
falando?
Quando me viro para olhar para ela, e encontro com
aqueles grandes olhos verdes e sinto medo. Minha pele fica
arrepiada, mas eu não consigo desviar o olhar.
— Eu disse a Bryan Ferro que sim. Eu cedi. Ele ganhou
e eu perdi.
— O quê? — Ela está furiosa, pronta para voar para fora
do seu assento e defender-me até a morte.
Eu coloco minha mão no colo dela para fazê-la parar. —
Eu fui ao seu quarto de hotel para dizer-lhe para ir chupar
um prego, mas eu mudei de ideia quando ouvi sua voz. Eu
pensei que algo estava errado e esta era a sua maneira de
merda para me dizer. Conheci-o uma vez, pelo menos eu
pensei que tinha conhecido. Então, quando eu estava
esperando por você do lado de fora, eu... — minha voz está
trêmula e eu não posso mais esconder o meu horror, — um
cara tentou roubar minha bolsa. Para encurtar a história, ele
me pegou por trás do prédio e ia me machucar. Bryan
apareceu e ele... — Eu não posso dizer isso. Meu Bryan
perfeito fez algo que era tão diferente dele, tão terrivelmente
selvagem, que eu não sei o que pensar. Ele me protegeu, mas
ainda parece errado.
— Ele a machucou? — Maggie está furiosa, eu posso
ouvir em sua voz. Mas a forma como ela fala suas palavras
ondulando entre muito alta e baixa, dão a deixa.
— Não, ele atacou o homem, e esfaqueou-o. Se eu não
dissesse a Bryan para parar, acho que ele teria matado o
cara. — Olho para ela, mas eu não posso mais enxergar.
Meus olhos têm brilham com lágrimas que tudo fica
desfocado.
Maggie ergue os braços e eu caio neles. Ela sempre foi
como uma irmã para mim. Estivemos sempre uma para a
outra, e eu temo que a história com Bryan e o que eu me
tornei vá fazê-la me odiar. Meu pai teria vergonha de me
chamar de filha, e eu espero o mesmo de Maggie. Em vez
disso, ela fica lá no colchão gasto e me acalma.
Depois de um forte abraço, ela libera meus ombros e
pega meu queixo. — Você e eu passamos por tudo juntas.
Não pense que eu a estou socorrendo por causa disso. Se não
for por qualquer coisa, a vida fica mais interessante, isso é
tudo.
Eu enxugo as lágrimas dos meus olhos e rio, porque ela
está tão errada. — Esse é o eufemismo do ano.
— O meu ponto é, eu estou aqui por você. Eu sempre
estarei aqui para você. — Ela bate no meu ombro com a dela.
— Então, Bryan Ferro tem um lado negro por trás de todo o
brilho e deslumbre?
— Aparentemente.
— Foi divertido ou ele fez coisas estranhas?
Eu sorrio e limpo meus olhos novamente. — Não, não
hoje à noite de qualquer maneira. Ele me chamou para seu
quarto, eu fui, e nos beijamos. Então, ele me mandou ir
embora.
Os lábios de Maggie puxaram um pouco para cima. —
Ele a jogou para fora? Mas que inferno...?
— Eu não sei. É como se ele estivesse louco e deixando o
Hulk sair ou algo assim. Ele não olhava para mim. As coisas
estavam quentes e pesadas até então. — A intuição continua
me dizendo que algo estava errado, mas não posso entender o
quê.
Maggie sorri: — Ele foi melhor do que Neil, certo?
Eu faço uma careta e olhou para ela como se ela fosse
louca. — Uh, Bryan está me chantageando.
— E ele é mais quente do que Neil. Vá em frente, diga.
Eu sou sua amiga, então eu já sei.
Eu baixei meus olhos em direção ao chão e não disse
nada. Eu não tenho que dizer nada, a minha expressão diz
tudo. Bryan é muito mais quente do que Neil, não há
comparação. Os dois homens são noite e dia, e Bryan é a
noite sexy. Neil a voz racional que soa como o FDA 3,
lembrando-me de fazer todas as coisas com moderação, mas
não todas as coisas, somente as ações que ele aprova. Droga.
Eu enterro meu rosto em minhas mãos e suspiro.
Maggie acaricia minhas costas. — Está tudo bem.
Qualquer um é mais quente do que Neil. Não se sinta
culpada, mas eu não contaria exatamente ao Senhor Calças
Perfeitamente Passadas. Ele vai surtar ao saber que alguém
tocou em você. — Maggie está tirando as roupas e puxando
uma camisa de dormir e calças, enquanto ela fala.
— Na verdade, Neil sabe.
3 FDA - Food and Drug Administration - Agencia reguladora de remédios e alimentos.
— O quê? — Ela está pulando em um pé, tentando
enfiar o pé pela perna da calça e cai. — Como é que ele sabe?
Você disse que acabou de acontecer.
— Neil sabe por que foi ele quem me disse para fazer
isso.
O melhor da literatura para todos os gostos e idades