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Planeta Criança



Poesia & Contos Infantis

 

 

 


A RECOMPENSA DE DEVIL / Lora Leigh
A RECOMPENSA DE DEVIL / Lora Leigh

 

 

                                                                                                                                                

  

 

 

 

 

 

Uma jovem irlandesa que só agora percebe sua genética da Raça e que agora carrega também um fenômeno casta pouco conhecido, chamado “Combustão genética”. Uma febre que literalmente puxa e ativa a genética casta recessiva de seu esconderijo.

Ela descobriu no pior dos lugares, na Europa, onde os castas são obrigados a submeter-se às instalações de testes ou forçados a essas instalações uma vez que são encontrados. Mas castas raramente saem da mesma forma que entram.

Se Kathleen 'Katy' O' Sullivan não encontrar um milagre, ninguém poderá salvá-la, inclusive seu adorado pai, Barrett O' Sullivan, Chefe de Polícia da Irlanda do Norte pode salvá-la do destino que o país ordenou para ela.

O resgate vem na forma do famoso, Devil Black, o primeiro casta Executor e agora, seu companheiro.

Havia Morte[1], e ela desaparecia entre as sombras.

Havia Slaughter[2], e ele desaparecia como poeira no vento.

Havia o Lyon[3], que buscava vingança na escuridão, para depois encontrar a luz do amor.

Havia o Jaguar[4], que era a própria escuridão, mas que encontrou o coração que salvou sua alma.

Havia tantos.

Havia todos aqueles que conheciam a vingança, que conheciam a retaliação, e que sucumbiam à fraqueza mais fraca que homem ou fera pudera conhecer.

Eles sucumbiam aos corações que jamais deviam possuir.

E agora, as forças do maior Aliado do homem e a do seu mais querido Criador olharam para um coração que todos alegavam ser negro, sem misericórdia ou compaixão, e sentiu-se amolecer.

Pois Sua misericórdia reside em quantidades vastas enquanto a compaixão dilacera Sua alma com cada ato de justiça que ele é forçado a praticar.

Aquele que chamam de “Devil[5]”. Aquele que dizem ser o mais sombrio de todos os Castas já criados.

Aquele que seu Criador instruiu para garantir que sua mão lidasse com o peso da justiça necessária para garantir a existência dos Castas. Aquele para o qual o seu Criador planejou o mais apreciado de todos os dons.

O Lyon agora guia o seu Bando.

Slaughter agora extermina somente os demônios que põe em risco o seu amor.

O Jaguar agora ronda apenas na escuridão de sua própria guarida enquanto o bicho-papão dos Castas, o guerreiro Warrant[6], é o campeão do amor.

Cada um recebeu o mais verdadeiro de todos os presentes, o presente do amor.

Agora o Diabo também receberá.

O Criador levantou as mãos, seu sorriso gentil, compaixão e misericórdia guiando suas ações ao trazer revelações, escondidas dos inimigos de Devil cujos segredos teriam ferido o presente por vir, e pôs cada emoção em seu lugar, cada desejo, cada hormônio e célula separadas, as qualidades necessárias para garantir uma companheira que ninguém teria esperado.

Um acasalamento.

Um amor inestimável e sem fim.

Agora é hora de dar ao Diabo o que ele merece.

 

 

 

 

  Barret O’Sullivan olhou a forma minúscula—extremamente minúscula—da criança que seu melhor amigo seguiu até o inferno para salvar.

  Tão pequena.

  Um fragmento de carne e ossos que tinha nove anos de idade, mas ele jurava que mal podia ter mais de quatro.

  Agora, Jorn Langer, o amigo que revelou o segredo daqueles laboratórios, o segredo daquela criança, estava deitado ao seu lado no chão de cimento, o sangue manchando o piso gelado.

  Deus, estava tão frio.

  Barret podia sentir o frio que o cercava entrar em sua alma, naquele lugar que guardava o seu coração, sua consciência, que lhe trouxe a percepção que, mais uma vez, sua vida mudava.

  Cercado por aquele frio, sua criança nua estava deitada, sua pele quase azul. A riqueza de cachos ruivos irlandeses no chão à sua volta se misturava ao sangue do seu salvador. Pele irlandesa clara sombreada pela tonalidade azul de quem congelava brilhava sob os cachos.

  Ecoando gritos, gritando ordens, rugidos bestiais e rosnados animalescos eram como uma sinfonia infernal invadindo o laboratório onde a maior batalha da vida de Jorn foi travada. A batalha para salvar a criança que, até uns dias atrás, Barret nem sabia que existia.

  — Porra, Bar — sussurrou Jorn com fraqueza, seu sotaque mais presente devido a dor quando as espessas pestanas loiras de Norse levantaram para olhar Barret de maneira embaçada. — Vou morrer, rapaz. Mas que jeito de ir.

  — O inferno que vai. — Ajoelhando-se rapidamente, Barret checou o ferimento em seu peito e soube que seu amigo não mentia. Ele estava morrendo.

  Que Deus o ajudasse. Aquele homem era muito mais seu irmão do que qualquer um de sangue poderia ser, e estava morrendo.

  — Não se atreva a morrer, Jorn — ele sussurrou, desesperado de repente.

  A vida inteira foi Jorn quem tirou Barret de encrencas, e quem fazia que se metesse nelas. Aquele era o homem que cuidou dele, riu com ele, lutou ao seu lado.

  — Não tenho escolha, meu chapa. — Jorn ofegou, seu rosto vermelho agora pálido, o sangue saindo rápido demais pelo seu peito.

  — Sua filha, Bar. — Jorn indicou a criança ao seu lado.

  A respiração dela era lenta e fácil, mas estava rígida demais pelo frio.

  Barret quase rasgou a jaqueta ao tirá-la e a colocou rapidamente em volta do corpo nu da menina, imaginando por que não fez isso no momento em que entrou na sala.

  Ela estava deitada contra o peito ensanguentado de Jorn, seu peso tão leve que não poderia contribuir com o aumento da perda de sangue, mas ainda assim, Barret se moveu para tirá-la do lugar em que repousava.

  — Não! — os braços de Jorn apertaram sua forma imóvel. — Ainda não. Deixe-me abraçar esse anjo por um tempo. Ela me lembra Khileen. Minha doce, pequena Khileen.

  Sua filha. Ela mal tinha cinco anos, e era a luz da vida de Jorn.

  Os dois fitaram a cascata de cabelo. Havia cabelo demais e criança de menos.

  — Esconda-a — sussurrou Jorn, voltando-se para Barret. — Lembre-se do arquivo que encontrei, Bar. Não deixe que ninguém saiba. Eles não podem saber que ela é sua e de Kella. Jure, Bar.

  — Eu juro.

  Ninguém podia saber. Isso significaria mais do que só a sua vida e a de Kella, sua esposa. Podia significar também a vida da filha deles. Uma filha criada do esperma e ovário que ele e sua esposa cederam a uma clínica de fertilidade na esperança de que Kella engravidasse. De uma criança que cultivaria com o próprio corpo e que criariam quando nascesse.

  Mesmo assim, quando ele olhou para a menina que Jorn abraçava, Barret percebeu que amor nenhum podia ser maior do que o que ele sentia pela sua filha, naquele momento.

  Maldição, suas mãos tremiam, notou quando estendeu a mão para tirar o cabelo do seu rosto.

  Piscando ferozmente as lágrimas que teriam caído, seu olhar voltou a Jorn.

  — A filha de Kella — sussurrou Jorn, o sotaque ainda mais evidente agora que a morte se aproximava. — É ela em miniatura, Bar.

  — Como eu escondo a filha dela? — Desespero começou a enchê-lo. — Porra, Jorn. Não me deixe sozinho para proteger essa criança e Khillen. Não faça isso comigo.

  O sorriso extravagante de Jorn repuxou seus lábios pálidos.

— Bem que eu queria…

  — Não, Deus, Jorn, não faça isso. — Como diabos faria o que tinha que fazer sem a ajuda de Jorn?

  — Fique o mais perto possível da verdade — Jorn ofegava. — Tire-a daqui. Contate Lyons da Virgínia americana. Encontre-se com ele. Mostre-lhe a verdade. Ele lhe dará os meios para que cuide dela.

  O homem tentava respirar com dificuldade quando uma trilha de sangue começou a sair pelas suas narinas.

—Não conte a ninguém além de Lyons. — Jorn agarrou a manga da camisa de Barret de repente. — Jure. Nem mesmo Kella pode saber. Ninguém além de Lyons pode saber a verdade.

  — Ninguém além de Lyons — concordou Barret, sabendo que aquele era um segredo que teria que revelar. Não tinha como guardar segredos de Kella, do seu coração. O que ele sabia, Kella sempre sabia.

  — O que Kella sabe ela conta à minha adorável Jess. Jess contará a mãe dela— Ele começou a tossir, sangue jorrando pelos lábios abertos.

  — Guardarei o segredo, Jorn. Ninguém ameaçará minha filha.

  — Minha Khi — John arfou novamente, seus olhos azuis desesperados e cheios de uma tristeza e fúria tão dolorosas que por um momento, Barret teve certeza que pura determinação manteria seu amigo nessa terra.

  Então seus olhos se fecharam.

  — Também juro com relação a Khileen, Jorn. Eu a protegerei como protegeria os meus. Prometo-lhe isso.

  Uma lágrima se libertou — como não poderia, agora? —aquele era o seu amigo mais querido, o irmão que nunca conheceu até que aparecesse em sua vida.

  Uma expressão de paz encheu o rosto de Jorn naquele momento.

— Sim, então agora eu posso ir — ele sussurrou. — Posso ir.

  — Jorn, por favor, Deus, ainda não...

  E num piscar de olhos...

  Barret cerrou os dentes, mostrando-os em um rugido de pura agonia antes de pegar rapidamente sua filha nos braços e se levantar.

  Ele e Jorn tinham ensaiado aquela fuga um milhão de vezes nos últimos dias. Entrar, resgatar a criança, e então sair. Praticaram entrarem juntos, e saírem separados.

  Jorn de algum modo sabia que eles jamais sairiam juntos?

  Abraçando sua filha no calor do corpo, Barret correu rápido até o outro lado da sala e da parede de aço. Assim que chegou lá, pressionou rapidamente a mão no símbolo do Conselho de Genética que havia na parede e esperou com impaciência para que a parede inteira se movesse e revelasse uma saída oculta.

  Deslizando pela estreita abertura, ele pressionou a mão no mesmo emblema do outro lado, esperou que a porta se fechasse, e então correu pelo túnel secreto.

  O tempo inteiro, a criança que carregava dormia profundamente, intocada pelo horror que ecoava em gritos que faziam o sangue gelar do outro lado da sala. Ou os rosnados e a fúria animal que os provocava. Tudo o que importava era tirar aquela criança dali, e escondê-la. Esconder o seu segredo.

  Uma Casta Loba recessiva.

  Aparência perfeitamente humana, caninos retos e perfeitamente humanos, sua genética animal tão profundamente recessiva que mesmo o mais avançado dos testes genéticos não indicavam o fato de que era uma criatura da ciência, e não da natureza.

  Os arquivos que Jorn encontrou tinham marcas de CONFIDENCIAL, CÓPIA ÚNICA. Não tinham duplicatas. Com sorte, não haveriam mesmo outras cópias, nenhuma outra informação que a rotulasse como Casta e não como humana.

  Até onde o mundo saberia, ela era a filha da prima de Kella. Órfã, sozinha no mundo, e agora adotada pelos O’Sullivans.

  Sua filha.

  Sua e de Kella.

  Apressando-se pela chuva e névoas sombrias que cercavam os laboratórios subterrâneos, Barret correu até o veículo para todos os tipos de terrenos, oculto que ele e Jorn esconderam na noite anterior.

  O Dragoon blindado quase encostava no chão. Era feito para ter velocidade e agilidade, carregando pouquíssimos armamentos. Estava parado exatamente onde o deixaram, enterrado debaixo dos ramos fartos dos ciprestes de Lawson que usaram de cobertura.

  Abrindo a porta do passageiro e levantando o banco apressadamente para revelar o local acolchoado escondido embaixo, Barret colocou a filha dentro antes de voltar a cobrir. Fechando a porta com cuidado, foi até o banco do motorista, entrou no carro e ligou o veículo.

  Antes de sair, seu olhar deslizou até a entrada secreta dos fundos dos laboratórios e pelo mais breve segundo, podia jurar que viu Jorn.

  Com a mesma rapidez, a sombra do seu amigo sumiu, a névoa se abrindo para revelar uma árvore sem folhas em seu lugar.

  Não era Jorn.

  Seu amigo de infância se foi para sempre.

 

  — Eles fugiram.         

  A jovem mulher ao seu lado segurava a maior parte do seu peso, sua força era tudo que o mantinha em pé.

  — Estou morrendo, moça. Me deixe ir em paz — ele sussurrou, arrependimento lhe perfurando ao olhar aquela cor âmbar neon incrível dos seus olhos. Aquela moça que arriscou sua própria vida, seus próprios segredos, para lhe falar da criança que eles tinham ordenado exterminar. A criança do homem a quem ele devia tanto.

  E agora o que está feito está feito, como sua pequerrucha Khileen gostava de dizer. Sim, ele fez com toda vontade. Dessa vez pela última vez.

  Deus, a dor era infernal. Parecia que seu peito se abria, que seu coração estava exposto, um ferimento aberto recente e agora exposto ao ar.

  — Não posso fazer isso — ela sussurrou, quase arrastando-o por um caminho comprido até ele tropeçar, quase levando-a consigo.

  De repente, mãos maiores e mais fortes o seguraram, levando-o a um abrigo de escuridão antes de deitá-lo em um chão macio.

  Jorn olhou para os Castas à sua volta—ele sabia que eram Castas. Castas diferentes dos que já tinha visto. Aqueles Castas, eram matérias de boatos, de contos terríveis de mortes lentas e agonizantes. Eram os que as genéticas nunca progrediram totalmente do estado animal.

  — Nephilim — sussurrou.

  Homens que eram animais.

  Animais que eram homens.

  Não havia descrição apurada desses homens. O mito dos Castas Nephilim dizia que eles eram produto de experiências estudadas pelo Conselho de Genética que deram errado e que saíram do controle.

  Estavam agachados em volta dele quando ele sentiu o objeto em que o depositaram se mover de repente. Subindo?

  — Por quê? — sussurrou, direcionando a pergunta para um que sabia ser o líder. Havia lendas incríveis sobre aquelas criaturas. Maiores até que as dos Castas com asas nas Américas que grupos de soldados e cientistas caçavam com tanta dedicação.

  Uma das criaturas agarrou o seu braço, virou sua palma para cima, enquanto outro empurrava uma seringa de aparência antiga em sua veia. Podia sentir o ardor de qualquer que fosse o medicamento que lançaram no seu organismo quando ele começou a correr por suas veias. Conseguiu senti-lo. Pelo braço, ombro...

  — O que estão fazendo? Por que estão fazendo isso? — conseguiu dizer, perguntando ao líder quando ele se agachou ao seu lado.

  Nephilim, pensou outra vez. O verdadeiro terror dos Castas.

  Na Europa, falava-se de Nephilim com o mesmo temor que se falava se vampiros e lobisomens há séculos atrás.

  Branco, seu rosto marcado com as listras de um tigre branco, seu cabelo loiro platinado caindo pelos ombros, o líder deles lhe deu um riso de deboche quando apontou com a cabeça para o lado de Jorn.

— Ela não me daria paz se permitisse que morresse.

  Jorn virou a cabeça lentamente para a pequena moça que o tirou dos laboratórios.

  Mal tinha um metro e meio, cabelo castanho claro, cílios cheios e longos, na mesma cor, com maçãs do rosto proeminentes, lábios quase no formato da boca de um gato, e seus olhos...

  Olhos de gato.

  E tão jovem. Tão pequenininha. Certamente não tinha mais idade que a sua pequena Khileen.

  — Por quê? — perguntou-lhe agora quando se sentiu perdendo os sentidos, erguer-se, tornar-se mais leve que o ar.

  — Porque eu sou sua. — ela sussurrou, seus olhos brilhando como um fogo âmbar. — E você é tudo que posso dizer que é meu. Como poderia permitir que a morte o levasse de tal forma?

  O que aquilo queria dizer? Deus, precisava saber do que ela estava falando. Precisava saber...

  Agonia perfurou seu peito, suas entranhas. Ela levantou seu corpo quando um grito se rasgou dele quando os dentes de serra do demônio da morte morderam e estraçalharam suas entranhas como um cachorro tirando a carne do osso. A dor era horripilante. Brutal.

  A escuridão se fechou sobre ele.

  Ele rezou para que a morte o levasse.

 

  Katie aos 16

  Ela era toda cabelo irlandês ruivo e rebelde, grandes olhos de esmeralda e pele macia de um branco com pêssego.

  Muitas garotas irlandesas tinham sardas hoje em dia, como suas contrapartes americanas. O mundo era muito menor do que já foi, e sangue puro irlandês era praticamente inexistente.

  Quando Devil Black observou Katie Sullivan manobrar pelos obstáculos do curso de treinamento, encheu-se de admiração.

  Com dezesseis anos e puramente humana, embora pudesse correr mais, saltar mais e aguentar o triplo do que as Castas fêmeas que faziam o curso com ela.

  Marie Katherine “Katie” O’Sullivan era a razão dele ser chamado pelo Diretor do centro de Treinamento da Agência de Proteção aos Castas, Gilliam Finneghea. Um ex-soldado das forças especiais americanas e agente secreto da inteligência das Nações Unidas, Gilliam não só treinou os melhores agentes secretos que a ONU já empregou, mas também enfrentou muitos dos melhores, e conseguiu sair vivo de cada batalha.

  Às vezes quase morto, mas vivo.

  Jonas teria jurado que nada impressionaria Gilliam, porque o homem já viu o melhor.

  Até Katie O’Sullivan entrar na agência.

  — Tem certeza que ela não é recessiva? — perguntou Devil, a Irlanda aparecendo em seu sotaque. Isso só acontecia quando ele saia de solo irlandês; não importava o quanto tentasse, o sangue irlandês nele não podia ser escondido.

  Gilliam fez um som de escárnio.

— Ela foi adotada em solo irlandês, Devil. Acha que é recessiva e passou batida? Isso aqui não é a América, meu amigo.

  Os exames na Europa, Irlanda e Escócia eram bem mais abrangentes e frequentes em crianças e adultos adotados do que em quaisquer outros países. Com os exames ficando mais dolorosos a cada ano depois dos vinte e cinco, muitos adultos optavam por países com leis de testes menos rigorosas. Alguns dos Castas da Europa continuavam a se esconder ou a fugir dos países europeus para evitar os cinco exames por ano exigidos de todos eles, sem levar em conta a quantidade de genes recessivos que tinham. Muitos dos Castas forçados em instalações experimentais eram tão radicalmente diferentes, sem nenhuma razão científica de mudança assim que eram libertos, que perguntas começavam a ser feitas.

  Aquela garota também era testada anualmente. Na última varredura genética que ela foi forçada a fazer, foi relatado que ela socou um dos técnicos quando ele foi indelicado demais extraindo as amostras de seu fígado e baço.

  Ela era muito durona, mas parecia tão delicada quanto uma rosa vermelha.

  Cruzando um braço sobre o peito e apoiando o cotovelo no antebraço, Devil acariciou a mandíbula de forma pensativa. Ele estava ali para observar a garota passar por manobras de treinamento. Estaria ali no outro dia para vê-la na sala de controle do centro de comando subterrâneo que a agência instalou há uma década.

  No começo ficava escondida, para proteger os Castas dos laboratórios que haviam escapado. Se conseguissem ir até um local combinado sem serem vistos ou seguidos, então eram levados durante a noite para um esconderijo. Eventualmente, depois de vários dias, tuneis subterrâneos e porões de igrejas depois, eles chegavam ali.

  — Ok, então ela não é uma Casta. — Devil coçou a mandíbula, os olhos estreitos, o corpo mais tenso do que deveria estar ao observá-la passar pelos contundentes obstáculos da agência.

  — Sim, não é. — retorquiu Gilliam, uma pergunta em sua voz ao olhar Devil. — Para você parece novidade.

  Devil deu de ombros. Ela tinha todas as qualidades de uma fêmea Casta. Beleza. Uma aparência frágil e delicada.

  Uma força dissimulada.

  — Certo, então, estou interessado. — Dando um aceno decisivo sem tirar os olhos da garota, Devil rapidamente tomou sua decisão. — Informarei a Tiberian e a checaremos de novo em cinco anos.

  Em cinco anos ela estaria com vinte e um e acima do exigido para se trabalhar na agência. E aos vinte e um anos, seu corpo estaria maduro o suficiente, forte o suficiente, para que fosse treinada para o Departamento de Assuntos dos Castas como uma agente humana.

  O Departamento foi todo construído pelos Castas, e só nos últimos anos é que eles começaram a aceitar humanos em seus postos. Mas era esperança de Devil que ao invés de se juntar ao Departamento, ela ao invés disso se juntasse ao time de segurança de Lobo Reever no deserto do México.

  Enquanto observava, não pôde deixar de permitir que sua curiosidade aumentasse. Uma humana que se movia como uma Casta. Ele sempre foi da opinião que…

  Se parecia…

  Se agia igual…

  Se soava igual…

  Também não acreditava muito em coincidências.

  Naquele momento, com a cabeça levantada, de onde olhava outra recruta deslizar em torno da forma de um edifício abandonado. Seus olhos se encontraram. E naquele breve momento, naquela conexão, Devil jurou que viu muitíssimo mais do que uma humana.

  E mesmo assim ela não era Casta?

 

  Katie - 8 anos depois.

  Mary Kathleen O’Sullivan, Katie para os amigos e a família, não fazia ideia que podiam haver tantos repórteres assim em um só lugar.

Detrás de um dos filtros de proteção que agora cobriam cada uma de suas janelas, ela fitou a multidão de jornalistas competindo por um lugar, vigiando sua casa de perto, microfones e blocos de anotações a postos.

— Os guardiões das massas. — seu pai uma vez chamou os jornalistas. Ele agora os chamava de “filhos da puta”, apesar do fato de não estarem fazendo no presente nada diferente do que fizeram no passado, quando ele fez aquele primeiro comentário.

— Katie, por favor, saia de perto da janela. — pediu sua mãe, sua voz gentil e em cadência cheia de preocupação.

Katie, seus pais sempre lhe chamaram assim. Ela supunha que era melhor do que “Fido ”, ou “Preciosa”, como vários tabloides a apelidaram.

Virando-se, fez como sua mãe pediu, olhando para ela por entre o véu de seus cílios.

Kella O’Sullivan tinha envelhecido um pouco nas últimas semanas. Havia linhas finas de preocupação agora gravadas em sua testa antes lisa, enquanto os seus olhos cor de esmeraldas refletiam um medo que antes não estava presente.

Seus cachos compridos de um ruivo dourado estavam presos na nunca com um pesado prendedor de prata, exibindo as pérolas da família que levava no pescoço.

Katie sempre refletia no quanto sua mãe e ela eram parecidas. As maçãs do rosto altas e os olhos levemente inclinados. Os lábios pequenos, mas preenchidos de maneira sensual e os cílios vermelhos dourados cheios e excepcionalmente longos que emolduravam seus olhos verdes escuros. Olhos que Katie nunca viu tão nublados de medo e preocupação.

Ou já?

Katie sempre pressentiu uma aflição muito bem oculta rondar os seus pais, embora nunca tivesse acreditado de verdade que fosse a raiz do problema. Sempre assumiu que o estresse era provocado pelo trabalho do seu pai como Assistente-Chefe da Policia da Irlanda do Norte, ao invés de pela aberração da natureza que era a filha dos dois.

Mantendo o equilíbrio, ela voltou para a poltrona ao lado da lareira a gás que seu pai acabou de instalar na casa de três pisos em que viveu toda a sua vida. Aquela poltrona foi mudada de posição para encarar os seus “convidados”, igual a uma poltrona onde o entrevistado fica sentado encarando algum emissário de poder, tal como o homem sentado à sua frente.

Callan Lyons, o orgulhoso Líder dos Castas Felinos, estava acompanhado por Jonas Wyatt, o Diretor da Agência de Assuntos dos Castas, Wolfe Gunnar e Dash Sinclair, os Líderes do Bando dos Castas Lobos, Del-Rey Delgado, o Líder do Bando dos Castas Coiotes, bem como o frequentemente elusivo Dylan Killato, o Líder do Bando dos Castas Lobos Europeus determinado a unir os Castas escondidos do seu lado do mundo, a observava, como ela imaginava que os cientistas que a criaram tinham feito bem possivelmente: com uma curiosidade distante.   

  — Katie, sei que está assustada. — Dylan se inclinou para frente, as cores prata e âmbar de seus olhos mutantes frias e calculistas como o pesado sotaque escocês, oferecido para envolvê-la em um falso senso de segurança. — E eu espero que saiba que a nossa única preocupação dessa vez é a sua segurança.

  Katie podia ter rolado os olhos. Killato usava sua bela aparência morena e selvagem, o sotaque antiquado e a cor incomum dos seus olhos o máximo que conseguia sempre que precisava.

  Os emissários americanos ainda estavam calados, observantes, nem oferecendo conselho nem contrariando as alegações de Killato.

  — Está se tornando uma sensação entre os paparazzi bem como os cientistas de muitos países que aceitaram a tarefa de quebrar os códigos genéticos ocultos que os cientistas do Conselho usaram para nos criar. Você é tanto uma fraqueza quanto também uma possível resposta à toda comunidade Casta. Isso a torna um prêmio altamente cobiçado por muitos oponentes e proponentes da comunidade Casta.

  Katie voltou o olhar para o ainda silencioso grupo americano.

— Os Castas têm proponentes? — perguntou quando seu olhar se prendeu ao de Jonas Wyatt.

  Uma sobrancelha negra levantou acima de um olho de mercúrio prateado.

— Não naquele grupo. — ele lhe garantiu quando indicou com a cabeça a multidão lá fora.

  Killato olhou de maneira fria para o Diretor da Agência de Assuntos dos Castas que fez Katie se perguntar sobre a animosidade que podia sentir emanando dele.

  — Posso entender por que está aqui, Sr. Killato. — garantiu ao líder europeu. — Eu entendo que construir e juntar os Bandos Europeus seja uma tarefa assombrosa. — Ela voltou para os representantes americanos. — Mas por que vocês estão aqui? Como posso ser de auxílio ou de lucro para os Castas americanos?

  — Katie. — seu pai repreendeu com gentileza. — Eles poderiam estar preocupados com o seu bem-estar, jovem.

  Katie sacudiu a cabeça.

— Acho difícil de acreditar, Pai. Por que arriscarem as vidas bem como as agendas corridas só por causa de uma Casta qualquer que o mundo descobriu existir?

  — Mas você não é uma Casta qualquer, Mary Katherine — Jonas lhe garantiu, uma pitada de humor enchendo seu olhar quando se inclinou levemente, cruzando os braços e os apoiando na mesa entre eles. — Diferente do líder Killato, não lhe garantirei que nada além da sua segurança importa. Isso não é verdade para nenhum Casta. Somos todos um perigo para nós mesmos bem como para os nossos Bandos e Matilhas. Mas você é mais pelo simples fato da sua genética ter sido tão oculta de todos até o ano passado. Com a revelação da sua genética Casta junto com o fato do seu avô ter sido um dos mais notórios Diretores do laboratório da Europa, isso lhe torna uma sensação. Oponentes dos Castas querem silenciá-la antes que os cientistas possam usar a sua genética para esconder, possivelmente, outros Castas dentro da sociedade, enquanto os proponentes esperam que você possa fazer justo o contrário; e os dois lados admitem a alta margem de lucro de qualquer uma das duas alternativas. Você vale literalmente o seu peso em ouro.

  — Eu não exageraria tanto — retrucou Killato.

  — Dylan, você sabe muito bem que a posição do pai dela como Assistente-Chefe da Polícia, os segredos do avô no Conselho de Genética e a própria genética dela a tornam um prêmio que cientistas entre os Castas, e entre as sociedades mais respeitáveis designadas para estudar a genética dos Castas, matariam para pôr as mãos nela. Mesmo se fosse preciso matá-la — Dash Sinclair argumentou, o brilho de preocupação em seus olhos quando se voltou para ela foi bem surpreendente.

  — E daí? — Ela perguntou a Sinclair. — Como vou dar lucro aos Castas americanos?

  — Garantindo que não seja levada pelos grupos errados e usada contra nós. — Foi a jovem filha de Sinclair, Cassandra, que falou de sua posição no canto da sala, ao invés de seu pai, quem respondeu à pergunta.

  — Isso foi meio rude, Srta. Sinclair — rosnou Killato, seu olhar cheio de uma intensidade sexual quando se virou para olhá-la com raiva.

  Cassandra se levantou da cadeira em que sentava, uma altura bem falsa de um e setenta, graças ao saltos que usava. Elegantemente graciosa, vestida em uma calça soltinha branca e uma blusa também branca estilo colete que revelava um pouco do decote, ela se aproximou do grupo, inteiramente confortável nos saltos de dez centímetros que usava.

  Cassandra deu uma risadinha ritmada.

— Sua ganância não lhe cai muito bem, Dylan — ela murmurou ao caminhar para se pôr de lado do pai. — Nem a sua necessidade de usar a Srta. O’Sullivan e a família dela para os seus propósitos.

  — Algo que vocês não tem intenção alguma de fazer? — Killato mostrou os dentes para ela em uma óbvia exibição de superioridade primitiva.

  Aquilo lhe ganhou nada menos que três olhares furiosos.

  — O que isso nos traria? — Cassandra deu com os delicados ombros. — Como Assistente-Chefe de Polícia, o Sr. O’Sullivan não possui nada que possa beneficiar ou aos bandos ou as matilhas da América. Suas conexões não nos afetam. Nossos times foram os responsáveis pela captura do avô dela, Walter O’Sullivan, o Supervisor responsável por muitos dos laboratórios aqui na Europa, quando ele desapareceu depois que sua verdadeira identidade foi revelada, então não precisamos usá-la com essa finalidade. E as nossas leis proíbem, de qualquer maneira, a iniciação forçada de qualquer Casta em um estudo científico, coisas que as suas leis europeias não proíbem. Não é de se admirar que os Castas que se espalharam pela Grã-Bretanha e Irlanda se recusem a acatar as suas exigências para que se revelem.

  Esse era o pesadelo de Katie. Seu pai já tinha que preencher incontáveis pedidos de adiamentos para os mandados científicos que a forçariam a entrar numa instalação de estudos Castas por um período não menor do que um ano, mas não maior que cinco.

  Quando os Castas desapareciam detrás das paredes daquelas instalações de pesquisa, raramente saíam os mesmos, foi o que leu.

  — Como sou um benefício para vocês, então? — Katie perguntou a ela, mais inclinada a acreditar naquela jovem do que em qualquer um dos homens sentados à sua frente.

  — Garantindo que não sejamos forçados a resgatá-la de uma dessas instalações como fomos forçados a resgatar tantos outros — ela declarou sem hesitação, seus olhos azuis brilhantes na tez de um pêssego cremoso que os rodeava. — A Agência de Assuntos dos Castas já está lidando com mais de doze exigências oficiais de restituição, bem como de extradição de Castas que deixaram a Europa ou foram resgatados de instalações científicas cujos experimentos desumanos o país de vocês alega não ter conhecimento, apesar de financiá-los.

  Aquilo não era nada além da verdade. Seu pai, Barret O’Sullivan, fechou tais instalações e foi sumariamente repreendido publicamente e profissionalmente por não fazer mais na busca e identificação dos Castas escondidos na Irlanda, e forçando o ano mandatório de investigação imposto aos Castas da Europa há alguns anos atrás.

  Até Dylan não podia rebater a declaração de Cassandra, embora Katie visse a sua furiosa necessidade de fazer exatamente isso.

  — Katie, eles não a deixarão em paz — prometeu Cassandra baixinho quando apontou para a porta e para o murmúrio dos jornalistas na rua. — A posição do seu pai não pode salvá-la dos experimentos obrigatórios, e não importa o que Dylan alegue, ele não pode escondê-la disso. Em menos de quarenta e oito horas você se tornará uma sensação mundial pelo simples fato de que, apesar dos testes avançados que identificam Castas, você passou por cada fase que os países europeus ordenam que cada criança adotada seja admitida, sem levar em conta a idade. Passou em cada teste de separação de DNA dos nove até a sua verdadeira genética explodir no mês passado.

  — Explodir— Nossa, que escolha de palavra.

  Sua genética explodiu foi o seu traseiro. Uma febre de quarenta e um graus deveria tê-la matado. Ela ficou deitada quase em estado comatoso por vinte e quatro horas antes de começar a ter convulsões tão violentas que seu noivo a levou correndo para a emergência, onde os médicos perceberam que estavam lidando com um fenômeno só comentado há quinze anos desde a revelação dos Castas.

  Combustão genética. Um despertar repentino e “ardente” da genética Casta antes escondida depois de uma vida inteira de dormência do DNA Casta que possuía.

  Bem, ele não estava mais inativo.

  — A comunidade Casta Felina do Santuário, bem como todas as comunidades Castas Lobos de Haven e Avalon, e os Bandos Coiotes de Del-Rey da Base lhe oferecem refúgio, Srta. Sullivan — falou novamente Dash Sinclair, o olhar prendendo o seu outra vez com a compaixão e a integridade pela qual todos aqueles homens eram conhecidos.

  — A proteção deles excede bem mais a que posso lhe oferecer, Katie — Dylan suspirou, frustração evidente em sua voz. — Até que os Castas europeus se transformem na força que os da América têm, simplesmente não teremos o mesmo poder. Mas ofereço a você o pouco que temos, e eu a protegeria, bem como o seu direito à liberdade com a minha própria vida — jurou Killato com sinceridade.

  Naquele momento, ela sabia que ele faria exatamente aquilo. Pela razão que fosse, egoísta ou altruísta, Dylan teria feito todo o possível para escondê-la. Se não pudesse, então morreria a defendendo.

  Katie levantou o olhar para o de Cassandra mais uma vez.

  — Estou com medo — finalmente admitiu, forçada a lutar contra as lágrimas e o terror que cresciam dentro dela.

  Pelo canto do olho ela viu as lágrimas caírem dos olhos de sua mãe quando ela se apressou para ocultá-las. Viu o seu pai forte e orgulhoso engolir em seco de forma convulsiva enquanto fitava o teto, piscando furiosamente com a sua confissão.

  Podia sentir a pele repuxando, os músculos ficando tensos como se guerreassem entre si. Sentimentos eram extremos demais, emoções de outras pessoas às vezes lhe bombardeavam, e o sentimento de traição que sentia por seus pais terem guardado aquele segredo terrível dela lhe rasgava por dentro.

  Sempre tinha se perguntado por que não conseguia se lembrar de sua vida antes de acordar na casa dos seus pais “adotivos”. A amnésia era o resultado de um medicamento que lhe deram no dia em que o laboratório onde vivia foi atacado. A enfermeira que lhe havia administrado a droga o fez caso a criança Casta pela qual era responsável fosse resgatada. Era uma prática comum nos laboratórios europeus, ela ficou sabendo, injetar nas crianças possíveis de serem resgatadas com drogas que causavam amnésia e que geralmente faziam com que Castas mais velhos retornasse ao estado primitivo. Os cientistas genéticos esperavam garantir que esses Castas jovens tivessem menores chances de serem adotados por humanos.

  — Katie, jovem — seu pai sussurrou quando sua mãe cobriu os lábios trêmulos com os dedos. — Eu daria a minha vida pelo seu perdão se não tivesse tanto medo de que você venha a precisar de mim mais na frente.

  — E acha que é a sua vida que eu quero, Pai? — ela exigiu, a raiva e as lágrimas presas em seu peito quando o fitou de um modo desesperado. Odiava a raiva que sentia. Odiava o sentimento de pavor e traição que a assaltavam. — O quanto a minha existência poderia ficar pior se pressentisse que você ou a mamãe estavam fazendo uma coisa dessas?

  Ele sacudiu sua cabeça de cabelos escuros e grisalhos enquanto os dedos da sua mãe apertaram o braço dele que descansava em sua perna.

  — Estamos apavorados por você. — protestou sua mãe.

— Então esconderam o que eu sou, até mesmo de mim, sem se importarem o quanto eu perguntava sobre a infância que não lembrava — ela os lembrou. — A única pessoa que devia ter sido preparada para isso foi a que mais se surpreendeu. Se eu soubesse, mãe, nunca teria deixado que Douglas me levasse à emergência. Teria ligado para você ou para o Pa no momento em que passei mal e não me sentiria como se todos em quem confiava se importassem mais com os segredos que guardavam do que com o bem-estar do próprio segredo em si.

Não podia continuar ali. Não conseguia mais olhar nos olhos cheios de dor de seu pai nem ver as lágrimas que enchiam o olhar de sua mãe.   

Cada vez que o fazia, aquela batalha travada em seu corpo parecia se intensificar a ponto dela querer rasgar a própria pele e arrancar dos ossos os músculos que se contraíam e trincavam debaixo da sua pele como se tentassem se reajustar, ou de algum modo desaparecerem.

Ela se levantou lentamente, o olhar preso ao de Dash Sinclair.

— Sr. Sinclair...

— Abaixem-se! — Cassie gritou de repente.

Castas reagiram antes que a palavra fosse totalmente formada.

Dash Sinclair tirou a filha de trás de sua cadeira e a empurrou debaixo da mesa seguindo-a no chão. Jonas Wyatt rolou por cima da mesa tão rapidamente que foi um borrão antes de derrubar Katie no chão, enquanto Wolfe Gunnar e Gylan Killato fizeram o mesmo com seus pais. Uma leva de disparos de arma automática cortaram a sala levando pedaços de madeira e argamassa da casa antiga que estava na família de seu pai há quase quinhentos anos.

Sirenes soavam à distância, e os disparos atravessaram a sala novamente enquanto gritos de choque e medo podiam ser ouvidos dos jornalistas do lado de fora.

— É isso que quer? — Jonas de repente chiou em seu ouvido. — Não importa aonde vá ou o que faça, a não ser que deixe a Europa, seu pai tentará te proteger até que leve um tiro destinado a você. E eu te prometo, isso será mais cedo do que pensa. Agora, fique onde está.

Ele saiu de cima dela de repente, empurrou-a na direção de Dylan e dos seus pais enquanto ignorava o rosnado furioso do líder do bando chamando o seu nome e saiu correndo da sala.

— O bastardo vai acabar se matando — disparou Dylan quando todos se aglomeraram debaixo da enorme mesa de jantar que a família de sua mãe manteve impecável desde a segunda década do século passado.

Agora a madeira estava cheia de buracos, sem dúvida das balas que passaram de raspão pela tampa.

— É mais provável que outra pessoa perca a garganta — suspirou Callan. — Não é com Jonas que estou preocupado, e sim com a presa que ele está caçando. — Olhos ambarinos se prenderam aos dela. — Prepare-se, estamos prestes a sermos levados daqui.

Quando ele ainda falava, a porta da sala voou e Castas começaram a entrar.

Castas americanos.

Fortes, silenciosos, não houve gritos de ordem nem códigos berrados ao seu redor. Ela foi retirada do chão, os braços enfiados numa vestimenta pesada e protetora enquanto os corpos que a cercavam a levaram correndo da casa do seu pai até um carro que aguardava no precioso jardim traseiro da sua mãe.

A cerca que rodeava os fundos da casa foi simplesmente derrubada pela meia dúzia de carros que havia ali. Castas armados, com olhos duros e rostos selvagens estavam tensos e prontos, armas a postos.

Eles foram passando como um borrão quando Katie foi colocada no assoalho de trás de um Dragoon Elite blindado, um utilitário rebaixado construído para fornecer agilidade e velocidade em áreas mais populosas. De maneira bem distante ela se lembrou de que esse modelo foi o que substituiu o Dragoon Seargents que seu pai deixava na garagem da propriedade rural dos O’Sullivan que ficava nos arredores de Dublin.

— Transporte três em rota. — Baixa, segura de si e confiante, a voz sombria e desconhecida acima dela fez com que virasse o pescoço para tentar identificar a quem pertencia.

Infelizmente, ele estava quase que deitado em cima dela, o que a impedia de se virar o suficiente para ver muita coisa.

— Afirmativo, transporte três — respondeu uma voz. — Helicóptero preparado e a caminho. Tempo estimado de chegada: trinta.

Trinta o quê? Minutos? Horas? O que diabos significava aquilo?

— Transporte três desligando agora. Atualização em cento e trinta.

Cento e trinta horas?

— Sai de cima de mim! — ela exigiu, tentando levantar o cotovelo. — Está me sufocando!

— É melhor que a alternativa. — O rosnado do homem acima dela não lhe trouxe conforto.

Era brusco, quase incompleto. A voz dele era baixa, grossa, enviando arrepios pelas suas costas quando os músculos altamente ativos sob a sua pele agruparam-se ainda mais, com mais força, determinados a atravessar seus ossos, sua pele e saborearem o calor acima dela.

A resposta foi imediata, assustadora e dolorosa.

Nossa, se ficasse mais quente, ia derreter no assoalho do Dragoon.

O veículo deveria ter a temperatura controlada para mais de quinze metros debaixo d’água. No momento, contudo, estava uma sauna.

Mas o calor não vinha do chão. Vinha do macho Casta em cima dela. Penetrava na sua carne, inundava seu organismo e cerrou os dentes com uma excitação sexual tão ardente e repentina que mal conseguia conter sua necessidade.

A necessidade sexual.

A necessidade de ter aquelas mãos grandes e firmes puxando seu vestido acima do bumbum, apertando seu quadril e enterrando-se dentro dela numa investida forte, profunda e dolorida.

Queria tudo dele ao mesmo tempo.

Sua vagina apertou, ondeando com ânsia. Ela doía, corada de calor e exigindo ser possuída.

Queria-o.

Queria ser tocada.

Possuída.

Oh, Deus, queria que a fodesse e queria isso agora antes de fosse forçada a gritar com uma necessidade tão dolorosa que a matava de medo.

Aterrorizava.

Porque iria exigir. Seus lábios estavam se abrindo, um grito se formando em sua garganta quando ele de repente se levantou o bastante para colocá-la de costas antes de enfiar as coxas entre as suas, o comprimento ereto do pênis apertando o seu sexo quando os dedos cobriram seus lábios.

— Não estamos sozinhos — ele mexeu a boca sem emitir som e os olhos dela se arregalaram cheios de terror. — E não é hora para isso.

Claro que não era.

A hora jamais viria.

 

Ele era o Diabo. O Diabo da Morte[7] dos Castas e tinha vindo para levá-la e garantir que nunca mais se tornasse um perigo para a espécie.

Todos tinham mentido para ela. Era uma fraqueza. Um segredo que eles não queriam arriscar. Sabia disso agora.

Sabia disso, porque o Casta prendendo-a ao chão com a força do seu quadril e com o seu membro altamente excitado não era um amante potencial.

Era um assassino.

Ele era o Diabo, e não teria outra razão para estar ali a não ser...

Para matá-la.

 

Terror.

Raiva.

  Injustiça.

  Fascinação.

  Tantas emoções.

  Katie não conseguia sentir apenas uma delas, nem descobrir qual era a maior. Mas o inequívoco arrependimento, ela finalmente percebeu, era o sentimento que parecia martelar sua mente com mais força.

  Por que o seu corpo escolheu aquele momento, aquele homem, para se tornar sexual? Ela tinha vinte e três anos e sempre reprimiu por tantos anos a sua sexualidade, bem como seu coração, por serem incapazes de reagirem ao sexo oposto como as outras mulheres reagiam.

  Tinha namorado alguns homens. Tentado forçar uma necessidade, uma excitação pelos caras mais atraentes que conheceu, sabendo que eram potenciais amantes, mas nunca teve interesse suficiente para de fato levar algum para a cama. Nem mesmo Douglas, o noivo que havia lhe informado que não tinha intenção de permitir que os genes Castas passassem para qualquer criança que ele trouxesse a esse mundo.

Ele tirou o anel de noivado do seu dedo quando ela estava fraca demais para protestar, mesmo que quisesse, e foi embora sem nem dizer adeus. Mas em seu olhar ela viu o asco puro que ele sentia só em pensar nela.

  Agora, no meio de uma tentativa de fuga de uma situação que ela não entendia, aquela sexualidade foi ativada com força total por um Casta conhecido por ser visto apenas quando alguém se mostrasse uma desvantagem tão grande para a comunidade Casta que já estava marcado para o extermínio.

  Extermínio.

  Como se ela não fosse um ser humano...

  Ah, é, ela não era humana, pensou meio histérica.

  Não era humana, não era um animal. Era uma Casta.

  Era algo no meio, e isso não era uma coisa que esperava.

  Por que os líderes dos Castas, os mesmos que sentaram na sala de estar do seu pai há tão pouco tempo atrás e aparentaram tanta compaixão, a tinham marcado para morrer?

  — Por quê? — ela sussurrou, precisando saber, entender o motivo de precisar morrer pelas mãos daquele homem quando preferia muito mais ser acariciada por elas.

  O sorriso duro e selvagem que repuxou os lábios dele foi acompanhado de um vislumbre de uma luxúria ardente nos olhos com pintinhas ambarinas de uma cor estranha que a olhavam.

  — Ordens, bebê. — Um arrepio correu pelo seu corpo devido a rouquidão daquela voz.

  Ordens? Simplesmente por que foi ordenado?

  Ele a mataria apesar do fato de estar mais duro que o aço e pegando fogo entre suas coxas, o membro ereto pressionado com firmeza em seu sexo.

  Ele a mataria apesar do fato de ser o único homem que já fez o seu corpo ficar quente e lubrificado?

  — Droga — sussurrou. — Isso é foda.

 

  Por que diabos ela achava que ele estava ali? Devil se perguntou. Inferno, não foi ela mesmo quem solicitou asilo enquanto seu avô, Walter O’Sullivan estava sob investigação por ter supervisionado um dos laboratórios de Castas mais conhecido da Irlanda? Inferno, foram até os próprios Castas que conseguiram localizá-lo. Depois, assim que ele desapareceu, foram os Castas que o acharam novamente, e o colocaram sob custódia.

  Não foi como se tivesse se voluntariado para o serviço.

  Com toda certeza não era como se quisesse estar ali, naquele momento, com o corpo tão tenso, o pau tão duro, não acreditando que ainda tivesse a capacidade de respirar.

  Será que tinha mesmo?

  Sentia-se tonto, como se não pudesse absorver o oxigênio suficiente, não pudesse convencer seu corpo de sorver o ar.

  O que diabos ela estava fazendo?

  Tentando tirá-lo de cima?

  Antes que pudesse empurrar seu peito outra vez com suas mãozinhas gostosas, ele pegou seus dois pulsos numa mão só e os prendeu acima de sua cabeça no piso com firmeza.

  Inferno, não, ela não ia tirá-lo de cima. Ele gostava bastante da posição em que estavam. Com suas belas pernas abertas, as coxas apertando o seu quadril como se não tivesse intenção de soltá-lo, enquanto sua boceta quentinha estava colada o máximo que conseguia em seu pau.

  Maldição, ela também era bonita. As fotos que viu na noite anterior não tinham lhe feito justiça.

  Esqueça bonita, ela era maravilhosa.

  Carne de um branco puro com o mínimo de sardas espalhadas por aquelas maçãs do rosto tão altas e aristocráticas. Olhos da cor de esmeraldas lhe piscavam em confusão e dor. Olhos irlandeses. Lindos olhos irlandeses. Os mais lindos que já viu na vida.

  E já viu muitos deles.

  — Você não tem que… — ela não conseguiu mais falar, os cílios piscando quando ele escolheu aquele momento para se esfregar nela, para sentir o líquido morno por entre a barreira da calcinha dela e da sua calça.

  Ele acabaria fodendo-a bem ali se ela não tivesse cuidado, apesar do fato do motorista deles, Flint McCain, fosse ouvir cada ofego faminto e pedinte que tirasse dela.

  — Ordens. É tudo culpa sua, maldição. — Culpa dela que estivesse mais excitado do que nunca, e culpa dela que estivessem a menos de um segundo de transarem até gozarem.

  — Minha culpa? — O ultraje de mulher e o cheiro de uma ânsia o cercaram. — Como isso é culpa minha?

  Ela agia como se nunca tivesse pedido ajuda à Rede de Proteção Casta para fugir da Irlanda e encontrar um lugar seguro para ficar escondida até que o furor se acalmasse um pouco.

  — Bem, com toda certeza não é minha — Devil rosnou para ela, se perguntando se conseguiria se afastar caso se permitisse baixar a cabeça e beijar aqueles lábios lindos em formato de biquinho. Porque era isso mesmo que queria fazer.

  — Bem, é você quem vai fazer o serviço! — Narinas pequeninas se dilataram, e uma pista daquelas covinhas fofas que ele viu nas fotos desapareceu completamente quando ela lhe franziu o cenho.

  Nas fotos que viu ela tinha covinhas.

  — Foi você quem pediu — rosnou para ela, incapaz de resistir de usar a mão livre para deslizar pelo seu corpo, agarrar a curva redonda do seu traseiro e segurá-la onde estava.

  — Eu? — Ela o fitou surpresa por um segundo antes de começar a entender. — Espere, você é da Agência de Proteção Casta?

  Lobo o enviou para resgatar uma louca?

  Estava começando a pensar que o homem deve ter feito exatamente isso, porque agora o olhava como se tivesse pensado em algo totalmente diferente até aquele momento.

  — Por que diabos achou que estivesse aqui?

  Ela piscou antes que aqueles olhos esmeraldas escurecessem com incerteza. — Você é o Diabo. Só vem atrás de Castas marcados para morrer. Certo?

  Inferno.

  Às vezes, ter uma fama de assassino podia ser uma tremenda inconveniência.

  — Não vou te matar. — A não ser que a acabe matando de tanto fodê-la.

  Contanto que não fosse uma ameaça, pessoalmente, aos Reevers... e àqueles que jurou proteger. Duvidava que ela representasse uma ameaça a algo ou a alguém, muito menos à família a quem jurou lealdade.

  Ela baixou os olhos para onde estavam colados, perdendo o fôlego ao se focar naquela área.

  Seu aroma o envolveu. Uma pitada de fascinação, cautela, mas também de algo muito maior... algo que não gostava nem um pouco.

  O cheiro delicioso de pura excitação do fluido feminino que escorria de dentro do seu corpo.

  Doce, com um toque de especiarias. Limpo, com um frescor tentador que o fazia se perguntar se já foi tocada por outro homem.

  Claro, não havia Casta fêmea virgem naquela idade. Infelizmente, a maioria das fêmeas perdia aquela inocência muito antes de terem idade suficiente para entender.

  Ao pensar nisso, ele percebeu que ela não havia respondido à sua declaração de que não tinha intenção de matá-la. Ao invés disso, seu olhar estava focado nos lábios dele, do mesmo jeito que o dele nos dela. O verde-esmeralda escureceu mais, as pupilas dilatando quando ele baixou a cabeça, aproximando lentamente os lábios dos dela.

 

  Ele ia beijá-la.

  Katie já conseguia ver o beijo.

  Adrenalina corria pelo seu corpo, a vontade de esfregar o quadril no dele, de sentir a aspereza do jeans raspando a renda de sua calcinha era devastadora.

  E ela queria o beijo. Queria tão desesperadamente que o gosto selvagem e tempestuoso que imaginava que ele teria começou a provocar os seus sentidos incessantemente.

  — Chefe, estamos nos dirigindo ao ponto de resgate primário e o helicóptero está pousando — o Casta levando o utilitário em alta velocidade até o ponto “primário”, onde quer que ele ficava, informou a Devil de modo imperativo. — Ainda temos dois veículos no nosso rastro e várias câmeras penduradas nas janelas.

  Devil fez uma careta quando uma raiva latente brilhou em seus olhos.

  — Nos leve o mais perto possível da entrada — rosnou, levantando a cabeça para olhar com raiva para o Casta que ousou interrompê-los.

  Então ele se moveu. Ignorando a arfada que ela deu quando ele se levantou de cima do seu corpo antes de colocá-la rapidamente em posição sentada no assoalho do veículo.

  — Prepare-se para correr. — Tensa, curta e fria, sua voz não fez nada para diluir a excitação que sentia.

  Preparar-me para correr?

  Ela olhou para a frente deles quando o enorme helicóptero preto parecido com uma ave de rapina pousava no solo enquanto o Dragoon avançava. Virando-se para olhar detrás deles, ela fez uma careta quando viu os utilitários que os seguiam de perto.

  Se conseguissem entrar no helicóptero antes que as câmeras que estavam acopladas nos tetos dos carros e controladas por controle remoto pelos fotógrafos dentro dos veículos conseguissem focá-los, teriam uma sorte e tanto.

  — Coloque isso. — Um tecido preto foi colocado de repente por cima da sua cabeça.

  — O que está fazendo? — Por um segundo, o mundo ficou escuro até Devil rapidamente ajeitar o pano e colocar as fendas dos olhos no lugar certo.

  Seu cabelo foi enfiado dentro da gola do seu vestido, um tecido preto envolvendo seus ombros quando fitou a máscara negra que ele também usava agora.

  — Três veículos partiram ao mesmo tempo e os passageiros foram pegos por um helicóptero em três localizações diferentes, todos mascarados antes de entrarem no helicóptero. — Os lábios dele se curvaram debaixo do tecido sedoso. — Está prestes a se livrar desses caras, bolinho. Prepare-se para correr.

 

  — Preparem-se! — Gritou Flint quando levantou uma mão do volante tempo suficiente para enfiar a máscara na cabeça.

  Devil passou um braço em volta da sua encomenda, a mão livre segurando a alça de segurança acima quando o Casta deu um giro repentino com o carro, deslizando de lado até que o lado do passageiro quase beijou o helicóptero que esperava por eles.

  As portas foram abertas pelos Castas que corriam da aeronave, e quando ele levantou e empurrou Mary Katherine rapidamente nos braços deles, se perguntou exatamente o que devia fazer agora.

  Ela era a coisa mais doce que já cheirou. A fome mais pura que nunca o tocou. Doce e igualmente tentadora, ela o atraía a um nível que nem sabia que existia. Um nível tão primitivo que só o que queria era marcá-la de vez.

  Marcar o seu corpo delicado com o toque, reivindicar o doce calor da sua boceta. Meter-se dentro dela, bem fundo, com força, inteiro, até que ela gritasse por piedade. Até que gritasse seu orgasmo.

  E, ele percebeu, muito pouca coisa existia além dessa vontade.

  O que também a tornava extremamente perigosa.

 

Cassandra Sinclair levantou os olhos dos papéis que lentamente memorizava e olhou em volta da sala. O que tinha lhe perturbado? Raramente algo conseguia afastá-la da pesquisa que fazia na Legislação Casta, especialmente quando confrontadas com as perguntas que as leis do acasalamento nunca deixavam de gerar. Se não preparasse o argumento exato, usando a estrutura de frase certa, então algum advogado sabichão, provavelmente advogada, acabaria fazendo pedacinhos dela a certo ponto. Os Castas contavam com ela para que racionalizasse e explicasse a lei Casta, mesmo que justificasse ações baseadas no surgir do calor do acasalamento, sem na realidade deixar que alguém suspeitasse o que o calor do acasalamento significava. Ah, sim, as tribulações e os problemas de completar a linguagem começaram no Direito à Liberdade dos Castas que originariamente virou lei. E agora, algo estava causando ainda mais dificuldade que o normal para formar esses argumentos. Levantando-se da cadeira, ela foi até as portas da varanda, abriu-as e saiu.

Aquele era o motivo.

Parando, olhou lentamente em volta, maravilhando-se em silêncio com a beleza da paisagem desértica à sua frente. Então seu olhar parou na colina à distância.

Lanças de pedra que pareciam ter sido enfiadas no solo do deserto juntavam-se e miravam o céu. Era ali onde o problema se escondia.

Ele estava ali, escondido. Esperando.

Podia senti-lo.

Estava lá a observando, esperando por ela, certo de que sua hora viria.

Sombreada, de largura e altura imensas, a rocha não era exatamente uma montanha, mas ainda assim, era mais do que um morro, como ouvia os outros chamá-la. Era ali que ele se escondia.

A mira do seu rifle estava apontada para ela, embora nunca a distanciasse de seu rosto.

Podia sentir seus olhos a observando, tentando enganá-la. Ele tinha toda intenção de vir atrás dela. Em breve. Só não agora.

  Mas podia sentir sua determinação. Ela pairava pesada no ar ao seu redor, garantindo-lhe que ele ainda estava lá.

  Já estava com ela há mais de um ano. Não importava para onde viajasse, o quanto tentasse se esconder, podia senti-lo lá fora em algum lugar, se não a vigiando, então procurando por ela. Desde o dia que o desafiou a puxar aquele maldito gatilho, ele a seguia. Como se o simples fato de desafiá-lo o fizesse hesitar em puxar o gatilho e se dar ao tempo de tentar desvendar alguma coisa a seu respeito.

  O quê?

  E sempre, eram as miras de suas armas que ela sentia acariciarem seu rosto.

  Ele a mataria? Era essa a razão para observar, esperar, o motivo de manter a mira sempre nela?

  — Cassandra, minha querida, você olha fixamente o céu noturno como quem espera por um amante.

  Ela sobressaltou-se, os olhos se arregalando quando Dane Vanderale, o Casta híbrido filho de um que chamavam do Primeiro Leo, apoiou as costas na parede de tijolos da varanda, colocou um cigarro fino nos lábios e o acendeu preguiçosamente, o olhar treinado em seu rosto, avaliando, sempre curioso.

  Pelo mais breve segundo, a luz do fósforo criou sombras nos contornos duros e selvagens de sua expressão e fez o verde-esmeralda dos seus olhos brilhar com pontinhos de luz avermelhada.

  Ele era um Casta Leão no meio de um pequeno Bando de Lobos escondidos no deserto do Novo México, e parecia tão confortável e à vontade como estava na sala de estar da casa dos seus pais nas protegidas selvas do Congo.

  — Dane, você é muito sorrateiro — disse-lhe quando ele sacudiu rápido o pulso para apagar o fósforo.

  — Aqueles de nós que se escondem nas sombras para observarem aqueles que também preferem se esconder aprendem bem o valor da capacidade de sumir e aparecer com eficácia — ele disse baixinho. — Mas realmente me pergunto, por que, minha querida, você provoca as miras de arma que até eu posso sentir acariciando a sua bonita cabecinha?

  Ele podia questioná-la, mas não parecia muito preocupado com o fato. Na verdade, parecia mais achar divertido.

  Ela girou os olhos.

— Sempre se diverte com as particularidades do resto dos mortais ou só com as minhas? — Sua voz nem chegou a tremer, garantiu isso. Virou-se completamente para descansar as costas no parapeito que cercava a varanda.

  — Eu espalho a minha diversão — ele a informou. — Pareço sempre tentado pelas ações daqueles que admitem a mortalidade. Realmente não consigo evitar. Agora, por que não me diverte mais um pouco e satisfaz a minha curiosidade?

  Ela deu de ombros. Gostava de Dane, apesar do seu sarcasmo e cinismo aparentes.

  — Quem disse que tenho medo dele? — perguntou ao invés de respondê-lo. — Pareço preocupada?

  Ela podia sentir muitas coisas, mas no momento, medo não era uma delas.

  — Ah, você espera por ele. — Dane assentiu lentamente em seguida, como se estivesse falando sério. Quem não o conhecesse não teria notado a zombaria que quase repuxava seus lábios. — Se é assim, então por que ele não vem atrás de você?

  E agora ele estava provocando-a.

  — Eu não sei. Nem me importo. — Frustração enchia sua voz agora. O bastardo estava lhe deixando louca.

  — Talvez ele saiba que não é bom o bastante para você. — Ele mesmo fitou a escuridão quando baixou a voz, o sotaque da África do Sul que a maioria das mulheres achava tão charmoso provocando pouco impacto nela.

  — Por que acharia isso? Lembre-se que é a mira da arma dele que eu sinto, Dane, não a carícia da sua mão. Ele não faz sentido.

  Ela duvidava que ele sentisse a necessidade de tocá-la. Afinal, ele simplesmente a observava, tirava fotos ocasionalmente, mas nunca realmente tentou feri-la.

  — Ah, minha querida, com toda a sua simplicidade, os homens podem ser mais complicados que animais.

  — E eu achava que nós mulheres é que tínhamos esse título. — ela o contradisse com facilidade.

  — As mulheres são as mais complicadas de todas as criaturas, não importa a raça ou espécie — ele respondeu. — Machos Castas, porém, e seus homólogos humanos, são os mais complicados dos animais. Nunca ousaria chamar alguém tão linda quanto você de animal.

  — Ainda que eu fosse uma criatura ao invés de um animal, não faria sentido me observar do jeito que ele observa.

  Para matá-la?

  Ou ele tinha outros planos? Planos que Cassie temia que a destruíssem, sua família ou os Castas que lutava para proteger.

  — Venha, minha querida — Dane a encorajou. — Volte para dentro antes que as sombras a cerquem e a prendam para sempre.

  Para sempre? Duvidava disso.

  Não teria tanta sorte.

— Dane, você já se perguntou se talvez nem todos os Castas tenham realmente um companheiro escolhido para eles? — ela perguntou enquanto ele a acompanhava de volta ao seu quarto, parando quando ele fechou as portas da varanda e virou-se lentamente para ela.

  Ele realmente era muito bonito, pensou. Bem mais velho do que aparentava; pelo menos uns sessenta, ouviu alguns sussurros nos últimos anos, embora ele se recusasse a contar a alguém sua verdadeira idade.

  Com a cabeça de cabelos loiros escuros inclinada de lado, olhos verdes também escuros e manchinhas ambarinas que mal eram visíveis e agora brilhavam na íris.

— Acredito que existe um companheiro perfeito para cada Casta, quer seja nascido naturalmente ou criado. — ele finalmente respondeu baixinho quando se inclinou de um jeito indolente na parede, deslizando as mãos nos bolsos da calça parda que usava. — O que a faria perguntar uma coisa dessas, Cassie?

  Ela deu de ombros. Nem sempre era fácil explicar os seus próprios sentimentos, seus próprios medos.

  Ela era uma Casta, uma tri-espécie, ouvia a chamarem.

  Humano, Lobo e ainda o temido Coiote. O DNA Coiote era o que mais temia, bem como suspeitava que seus pais temiam. Como a maioria dos Castas temiam. Todos pareciam temer. Podia sentir. Às vezes, Deus, poderia até mesmo cheirar o medo deles.

  — Com certeza não está com medo que esse futuro não seja para você. — O sotaque sul-africano era quase hipnótico. Cassie muitas vezes se via se concentrando em sua cadência, ao invés de no significado por trás das perguntas que lhe fazia.

  — Pode ser difícil. — Enfiando as mãos nos bolsos de trás do jeans, ela foi até a janela enorme e espelhada da sacada do outro lado do seu quarto e fitou o lugar onde sabia que seu assassino se escondia. — Eu não sou humana, nem uma Casta Loba ou Coiote. Até agora nenhum Casta se acasalou com alguém de fora de sua espécie com exceção dos que estão com humanos. Não torna um pouco difícil para eu encontrar um companheiro?

  Ele a observava de perto. Muito de perto.

  Ele tinha esse hábito. Dane não era um homem do qual se podia esconder muita coisa. Nem era um homem que alguém fosse querer tentar mentir ou enganar de alguma forma.

  Ele poderia ser um inimigo brutal.

  — O que os seus guias lhe dizem, Cassie? — ele perguntou com suavidade, a questão fazendo com que congelasse quando um calafrio forte desceu pela sua espinha.

  Dane era a única pessoa que alguma vez já reconheceu que mais do que apenas intuição havia lhe guiado ao longo dos anos.

  Como ele podia saber? Podia mesmo? Podia sentir aquela bela e antes confortável presença que a seguiu pela vida e que agora a abandonou?

  Ela se virou devagar para ele, seus olhares se prendendo quando fitou o Casta que ninguém conseguia ler, nem mesmo o mais intuitivo de suas espécies. Até mesmo ela, a que parecia atrair os demônios internos e os espíritos violados dos Castas dos lugares em que se escondiam, nunca convenceu o espírito protetor que sempre pairava perto dele a se revelar. Nem a revelar os seus segredos.

  — Ela não me visita mais como visitava. — Cassie finalmente admitiu.

  — E você ainda não tem confiança suficiente em si mesma para usar o que ela te ensinou. — Ele assentiu.

  Cassiu só conseguiu sacudir a cabeça. Seu pai tinha lhe feito aquela mesma pergunta.

  Talvez ela simplesmente não tenha sido inteligente o suficiente para aprender.

  Enquanto considerava o assunto, uma breve batida em sua porta fez com que se virasse do híbrido para olhar a barreira antes de se voltar outra vez para Dane.

  Um sorriso curvava os seus lábios.

  Em um piscar de olhos, ele foi embora.

  De volta ao seu quarto, sem dúvida, onde não hesitava em palpitar que ele ficava planejando dominar o mundo. E se planejasse, conseguiria.

  Exalando o ar de forma cansada, ela respondeu as batidas com um breve:

— Sim?

  A porta abriu alguns centímetros quando uma das empregadas dos Reevers espiou dentro.

— Senhora, seu pai e o Sr. Reever pediu que lhe dissesse que o Sr. Reever está colocando bifes e costelas na grelha para o jantar. Ele disse que a senhora gosta muito.

  A morena alta e rechonchuda a observava com cautela. O cheiro do medo da mulher fez com que o único sentimento que Cassie sentisse fosse arrependimento. Não doía tanto quanto antes.

  — Já descerei. — informou à mulher.

  A empregada assentiu, e fechou a porta, e Cassie pôde senti-la se afastando lentamente do quarto. Se fechasse os olhos, Cassie pensou, então sentiria muito mais que aquilo por parte da empregada. Não só seus medos, mas seus ódios, sua presunção, seu orgulho...

  Cassie não fechou os olhos. Simplesmente não queria saber.

 

Katie não esperava ter a imensa sorte de voltar a encontrar sua amiga mais querida e depois de horas percebeu o motivo. Ela e Khileen nunca falharam em encontrar aventura e agitação na Irlanda. Essa era uma das razões do pai de Katie se preocupar tanto com a amizade das duas.

  Mas quando a mãe de Khileen, Jessica, conheceu e casou com Lobo Reever, parecia que os Castas no geral tinham respirado com mais facilidade. Lobo era considerado um lobo solitário, um que vários lobos independentes queriam seguir.

  Lobo não formava pactos de aliança, não jurava lealdades nem professava nenhuma. Mesmo assim, ele andava com mais de doze dos mais fortes, sombrios e precisamente fabricados Castas Lobo que o Conselho de Genética reconhecia.

  Os rumores diziam que ainda mais doze não registrados pelo Conselho também seguiam Lobo.

  Com o seu casamento, ou “acasalamento” como ela ouviu tantas vezes, e com a mudança de Reever para os desertos americanos, os temores dos Castas de que Lobo de alguma forma tiraria a harmonia entre os Bandos e Matilhas se amenizaram.

  Eles eram um pessoal estranho e bem difícil de lidar em seus melhores dias, mas nada era pior do que quando se sentiam ameaçados.

  — Cassandra Sinclair chegou de avião ontem à noite — Khileen Langer disse, sua voz baixa enquanto elas caminhavam pelos estábulos vários dias depois de Devil Black tê-la levado para o Rancho Reever.

  — O que acha que ela quer? — Katie franziu o cenho quando elas pararam em uma das cancelas para acariciar uma das éguas premiadas de Lobo Reever.

  Ter Cassie Sinclair na mesma casa não poderia ser confortável. Katie ouviu um pouquinho sobre a mulher, e não conseguia se imaginar se sentir à vontade perto dela.

  — Não tenho certeza. — Khillen sacudiu a cabeça, a expressão preocupada. — Sei que Lobo está negociando com os Bandos e Matilhas, mas não sei direito por quê.

  — Achei que o negociador era Tiberian. Como as negociações estão sendo discutidas sem ele?

  Tiberian era o irmão mais novo de Lobo, Katie sabia, um dos Castas que o Conselho tinha destruído os registros.

  Khillen desviou o olhar.

— Tiberian partiu no dia que mamãe morreu. Não o vi mais desde então.

  A morte de Jessica Reevers seis meses atrás em uma queda de cavalo havia devastado a família. Ela sabia que devastou Khileen.

  Mas o sumiço de Tiberian era interessante.

  O fato de Cassandra Sinclair, uma fêmea de Casta mestiça se tornar uma das conselheiras Casta de mais alto nível, estar no rancho ao mesmo tempo em que o negociador estava desaparecido era um mau sinal suficiente. Somando aos rumores que um Casta Bengala desgarrado estava na área procurando por uma fêmea que o Conselho de Genética usou de cobaia. A situação gerava confusão com a nação Navajo, e Lobo devia estar arrancando os cabelos com isso.

  — E com tudo isso, ele ofereceu me proteger? — Inclinando-se do lado da cancela, ela fitou Khileen em surpresa.

  Khileen deu de ombros, perturbando os cachos de cabelo preto e comprido que caíam pelos seus ombros, e seus olhos de um azul viçoso escureceram por um momento.

  — Eu vi o noticiário falar que a propriedade do seu avô foi tomada — ela revelou. — Conheço você, Katie. Teria que fugir. Iria sentir que esse era o único jeito de proteger a sua família. Pedi que Lobo verificasse com a Agência para descobrir se você tinha pedido abrigo, e se fosse o caso, se ele ajudaria.

  — Também estão ameaçando investigarem Pai — revelou Katie. — Ele e Mãe ficaram destruídos com as revelações. Eles não sabiam que o meu avô tinha supervisionado aqueles laboratórios nem que tinha qualquer envolvimento com eles.

  Seus pais foram a uma clínica de fertilidade na tentativa de conceberem o filho que queriam tão desesperadamente, só para que lhe dissessem que os testes iniciais tinham revelado uma rara incompatibilidade genética entre os mesmos. A clínica decidiu que não havia meios de ajudá-los e alegou que as amostras foram descartadas.

  Aquelas amostras foram então enviadas ao Conselho de Genética, que financiavam a clínica, e Katie foi “criada”. Uma Casta Lobo, criada para seduzir e matar. As genéticas de seus pais eram excepcionais, diziam os seus registros. A habilidade potencial de exceder em numerosas áreas que eles consideravam fundamentalmente essenciais no exército que estavam construindo a marcavam como um espécime super valorizado.

  Eles nunca souberam como o seu avô conseguiu garantir que o melhor amigo de Barret, Jorn Langer, pai de Khileen, soubesse dos laboratórios. Assim que Jorn encontrou o laboratório ele soube que o supervisor foi quem recolheu as amostras da clínica de fertilidade que os O’Sullivans doaram para que o Conselho as usasse na criação de um Casta. Depois foi fácil do mesmo modo garantir que Jorn fosse contatado por um grupo de Castas que ele ajudou a escapar de vários laboratórios que fiscalizava.

  A partir dali, o seu resgate pelo seu pai e o melhor amigo dele foi planejado nos mínimos detalhes. Seus pais a adotaram depois de conseguirem uma certidão de nascimento “provando” que ela foi adotada por uma prima de Kella O’Sullivan recentemente enviuvada.

  Katie não sabia como fora localizada por Jorn e seu pai. Não sabia como foi resgatada nem dos riscos calculados que sua família assumiu na tentativa de escondê-la, até ela ficar doente, pouco antes da prisão do seu avô. Depois, quando Walter O’Sullivan escapou dos Castas e apareceu na propriedade rural onde ela e sua família inicialmente foram na tentativa de descobrir o que fazer, eles souberam como o seu avô usou a posição que tinha para garantir que seu filho e sua nora tivessem a criança que tanto desejaram.

  A incompatibilidade genética foi erradicada, mas só com a introdução do DNA Casta.

  Toda a manobra dele foi em vão, mas por causa da sua posição, ele garantiu que seu filho tivesse sua cria e que ela fosse resgatada antes do seu treinamento Casta começar a sério.

  — Lobo respeita muito o seu pai, embora eu saiba que nunca se importou com o seu avô. — Khileen saiu da cancela antes de olhar ao redor em silêncio por um longo momento.

  Quando seu olhar voltou ao de Katie, a diversão nele devia tê-la alertado do que estava por vir.

  — Então — Khilleen disse arrastando a voz. — O que você acha de Devil?

  Lá estava o rubor.

  Katie o sentiu emergir debaixo de sua pele, enchendo seu rosto e revelando, ela temia, muito mais interesse do que ela queria que Khileen percebesse.

  — Oh, definitivamente gosta dele. — Khileen riu. — Sabia que havia alguma coisa quando o ouvi surtando com Lobo por sua causa.

  — Surtando? — Oh, aquilo era tão errado. — O que mereceu um surto? Eu não fiz nada.

  Ela ficou mais que irritada ao pensar nele fazendo uma coisa dessas. Não foi como se o tivesse jogado no carro, esmagado seu corpo no assoalho e ficado ali, na mesma posição, provocando-o com o corpo colado ao seu.

  — Devil consegue surtar com praticamente tudo, sem mencionar o seu nome e mesmo assim tornar bastante claro que você é o objeto do seu descontentamento. — Khileen girou os olhos expressivos quando apoiou as mãos no quadril, e então encarou Katie de maneira curiosa. — Mas tenho que dizer que nunca ouvi Devil surtar por causa de uma mulher pelo simples prazer do ato. Elas geralmente precisam lhe fazer alguma coisa a nível pessoal. O que fez a ele?

  — Porcaria nenhuma. — Mas que atrevimento do homem!

  Afrouxando os punhos lentamente quando percebeu o que estava fazendo, Katie enfiou as mãos nos bolsos da saia de tecido fino que usava com um top sem mangas de seda e sandálias.

  Porém, seu corpo esquentou imediatamente só com o pensamento. Tudo o que fez de verdade foi deixá-lo saber exatamente o quanto estava excitada. Deveria esconder isso?

  Esconder teria sido impossível. Seus sentidos vibraram demais, receptivos demais ao seu toque. Mesmo agora, os mamilos já estavam duros que nem pedras, o clitóris latejando em antecipação.

  Estava no Rancho Reever já fazia três dias. As duas noites que passou no quarto de hóspedes se revirando na cama, o corpo ardendo por ele, foram terríveis. Levava horas para conseguir dormir.

  — Qual é, Katie. — Tirando as mãos do quadril, Khileen a repreendeu com uma descrença de amiga. — Aconteceu alguma coisa. Eu conheço Devil. Ele segue Lobo desde que o vi pela primeira vez. Ele não se irrita com nada.

  — Ele não tinha razão nenhuma para se irritar comigo. — Katie repetiu quando uma chama de raiva incendiou seus sentidos. — Nem ao menos tentei incomodar o homem, Khi.

  Maldito. Não era sua culpa desejá-lo. Foi ele quem ficou esfregando o pênis ereto entre as suas coxas e fazendo com que se doesse por ele.

  Não sabia qual diabos era o problema com ele, mas tinha intenção de descobrir. Recusava-se a permitir que ele estragasse o que encontrou no rancho Reever. Se ele queria reclamar dela para os outros, então podia começar lhe dizendo quais eram exatamente as suas reclamações.

  — Uau, você é tão defensiva com relação a ele como ele foi com você quando Lobo questionou o motivo da irritação dele. O que está acontecendo entre vocês dois? — Khileen andou rápido para ficar atrás dela quando Katie se dirigiu para a casa.

  — Não tem absolutamente nada acontecendo entre nós. — Katie disparou furiosamente antes de murmurar um baixo — ainda.

  Por que Devil Black estava tão determinado a se livrar dela? Ele era um dos homens mais confiáveis de Lobo Reever, atrás somente do ausente Tiberian, o que agora o transformava no mais influente daqueles que cercavam Lobo. Se ele dissesse a Lobo que era perigoso tê-la por ali, então provavelmente seria removida.

  Não podia se dar ao luxo de ser mandada embora. Se fosse, então as autoridades irlandesas poderiam mandar um time para recolhê-la e forçá-la a se submeter aos testes.

  Havia uma razão para os Castas da Europa se esconderem. Uma razão para que fossem avessos a permitir que seus governos soubessem onde estavam, ou quem eram.

  Porque aqueles que saíam dos laboratórios saíam tão modificados, tão traumatizados que simplesmente não eram mais os mesmos. E um deles poderia se lembrar do que provocou o trauma em sua mente, ou o porquê de ter se esquecido de certos lapsos de tempo durante a sua estadia.

  Era isso o que a esperava se Devil a removesse da proteção de Lobo. Ela ficaria sem recursos, e incapaz de chegar até a sua família. Um alvo fácil, por assim dizer, para aqueles determinados a destruí-la.

  — Não, Katie, tenho certeza que Devil não quis fazer mal — Khileen argumentou detrás dela quando alcançaram a casa. — Talvez ele goste de você. Aposto que como um Casta infantil ele puxou as tranças da garotinha casta só para ter a sua atenção.

  — Pare de defendê-lo — exigiu Katie. — Cuidarei dele sozinha ao invés de seguir o exemplo dele e procurar a ajuda dos outros.

  — Ele está no escritório. Eu o vi entrando lá mais cedo — Khileen a informou com uma presteza totalmente aparente enquanto se dirigia a casa. — Acho que ele mencionou alguma papelada hoje no café-da-manhã.

  Ela perdeu o café, Katie pensou furiosamente, porque passou a metade da noite acordada se doendo por um homem que nem ligava se ela tinha ou não outro lugar para ir.

  — Bem, tenha cuidado — Khileen aconselhou quando Katie caminhou com raiva pelo corredor que dava aos escritórios de Devil e de Reever. — Ouvi falar que a mordida dele é feia.

  — Bem, a minha também. — Especialmente desde que tinha permitido que suas presas crescessem e assumissem sua forma correta desde que a notícia da sua genética foi revelada.

  Estava pouco ciente de Khileen se afastando quando chegou perto do escritório de Devil. Parou de prestar atenção na sua amiga. Nada importava mais agora a não ser o homem que se tornava uma ameaça a sua existência e a necessidade que queimava dentro dela e ameaçava o seu controle.

  Isso não podia continuar. Poderia facilmente ficar bem longe dele se a sua excitação sexual o ofendia. Doeria, mas a segurança da sua família era mais importante. Se fosse levada e forçada a entrar nos laboratórios de pesquisas, então seus pais fariam qualquer coisa para vê-la livre. Sem importar o que isso causasse a suas vidas e segurança.

  E isso ela simplesmente não podia permitir.

  Sua própria segurança de lado, recusava-se a ver sua família ameaçada porque algum casta maldito se ofendia por seu tesão por ele.

  Um tesão que ele provocou.

  Não aceitaria de forma alguma.

 

  — Como foi? — Cassandra Sinclair abriu a porta da sua suíte de hóspedes para deixar que Khileen Langer entrasse.

  Ela era uma das poucas mulheres que Cassie conheceu e com quem realmente se identificou. Talvez fosse o cabelo escuro, os olhos azuis e os traços parecidos.

  Elas podiam se passar por parentes.

  Khileen também tinha uma natureza generosa e amável, embora esses fossem atributos que Cassie não achava que possuísse nas mesmas quantidades.

  — Exatamente como disse que seria. — Sorrindo, Khileen apoiou as mãos delicadas no quadril ao abrir mais as pernas.

  Vestida com uma calça e botas de montaria, uma camisa branca fresca e sem mangas a garota parecia pronta para curtir um dia de galopada pelo deserto. Ela não parecia nem de perto se encaixar no papel que desempenhava com tanta frequência, de confidente de Cassie e de uma de suas poucas e raras amigas. Mas, Cassie descobriu com o tempo que Khileen cedia às mesmas manipulações feitas com amor e empurrõezinhos gentis que ela mesma achava tão difíceis de resistir.

  — Excelente. — Cassie foi até a sua mesa onde remexeu em vários papeis até encontrar o pequeno microfone sem fio e receptor que escondeu ali mais cedo.

  Levantando a antena para se conectar com o seu pai, ela esperou até que atendesse o telefone.

  — Cassie? — Havia preocupação em sua voz. Era raro que não se preocupasse sempre que Cassie o convencia a acompanhá-la em uma de suas “aventuras”.

  — Quando é a sua reunião com o Sr. Reever? — Perguntou a ele.

  — Estou esperando no pátio ao lado do escritório dele. — ele respondeu, o rosnado em seu tom confirmando sua irritação.

  — Mantenha-o longe do escritório. A Srta. O’Sullivan está na porta de Devil no momento.

  — Você deve ser parente de Jonas Wyatt. — ele praticamente rosnou.

  — Bem, ele realmente ajudou a me criar — ela o lembrou com um sorriso afetuoso. — E você sabe que eu tenho uma tendência a me adaptar a certos ensinamentos muito bem.

  Houve muitos momentos em que ela foi forçada a ficar no complexo Casta Felino na Virginia enquanto seus pais lutavam para garantir a segurança dela e de seu irmão no passar dos anos.

  — Não me lembre disso — ele retorquiu, embora ela pudesse ouvir e sentir o amor que tinha por ela. — Lobo também não está muito feliz no momento, por estarmos questionando a proteção que ofereceu a essa garota.

  — Contanto que tenhamos os resultados desejados, ele ficará bem com isso depois — ela prometeu.

  Se eles não conseguissem o que ela veio ali para realizar, então haveria problemas. Eram esses problemas que convenceram seu pai a fazer o que ela pediu.

  — Vamos esperar que sim — ele resmungou. — Tenho que ir, ele está saindo do escritório.

  Eles desligaram.

  Voltando-se para Khileen, ela viu que a garota a observava com o cenho franzido.

  — Nunca se cansa, Cassie? — ela perguntou baixinho, com muito mais compaixão do que Cassie achava que tinha o direito de sentir.

  — Cansar?

  — De tentar tanto se esconder do que tenta se esconder.

  — E do que acha que estou tentando me esconder? — Ela teve que forçar um divertimento e uma despreocupação em seu tom. O que aquela mulher tinha visto que ninguém nunca viu?

  — De você — Khileen respondeu suavemente, surpreendendo-a. — Está se escondendo de si mesma, Cassie. Só me perguntava se já estava cansada disso.

  Khileen se virou e saiu do quarto então, sem se importar em esperar uma resposta. Isso foi uma coisa boa, Cassie pensou, porque ela não tinha uma.

 

Devil estreitou os olhos para a jovem que entrou em seu escritório depois de fechar a porta com uma cuidadosa ênfase atrás de si.

Os cachos compridos em espirais que rodeavam sua cabeça e caíam esbelto e firme deveria lhe lembrar demais da enteada de Lobo, exceto pela reação que imediatamente apunhalou seu corpo.

Nunca teve um interesse sexual em Khileen, mesmo contando os flertes inofensivos por parte dela de vez em quando. Quem dera pudesse sentir a mesma afeição fraterna por sua amiga irlandesa.

Olhos da cor de esmeraldas brilharam com uma raiva potente, imediatamente despertando os instintos animais dentro dele. Como se todas as qualidades dominantes de um humano e de um animal que possuía instantaneamente despertassem, seu corpo tenso, enrijecendo até quase pular da cadeira e fodê-la até que os dois caíssem exaustos.

E fazer isso não precisaria de muito esforço de sua parte. Puxar a saiazinha de material transparente que ela usava acima do seu quadril, rasgar o que com certeza seria uma calcinha sexy e de seda do seu corpo—tudo isso poderia ser feito em menos de um segundo. Um piscar de olhos depois, podia estar enterrado, inteiramente, dentro dela.

— Por que não gosta de mim? — Mãos delicadas se curvaram em seu quadril de maneira desafiadora quando ela olhou com raiva do outro lado da sala. — O que fiz para querer me ver morta?

Ele levantou a sobrancelha.

— Garotinha, se eu quisesse vê-la morta, seria bem fácil de se conseguir — ele a informou.

Morta não era exatamente como a queria, e foi isso que o irritou.

— Garotinha? — seus olhos se arregalaram e depois estreitaram de modo suspeito. — Está tão apavorado de me ver como uma mulher que nem consegue reconhecer o fato de que eu sou uma?

Bingo. Dê a garota um prêmio por acertar a resposta de primeira.

Mas ele bufou ao invés disso antes de assumir seu lugar detrás de uma enorme mesa cheia de arquivos e relatórios.

— Por que não vai planejar uma festa ou um passeio ao shopping com Khileen — ele sugeriu, inserindo zombaria suficiente em seu tom para irritá-la ainda mais. — Os adultos desse rancho precisam trabalhar.

Isso era um pouco baixo, ele admitia, mas que Deus o ajudasse, tinha que tirá-la do seu escritório antes que seu pênis explodisse o zíper da calça e os instintos que clamavam que a possuísse superasse a sua determinação de não fazer isso.

Mudando a posição dos arquivos, ele pegou um da mesa, nem viu qual era, não tinha nem certeza se realmente o via, esperando que ela fosse embora.

Ao invés disso, seu aroma se aproximou.

— Por que está deixando que Lobo Reever saiba que está chateado com a sua decisão de me aceitar aqui?

Ela caminhou até a mesa, mas não parou na frente dela como deveria. Inferno, não, ela se colocou bem ao seu lado.

Suas lindas mãos se apoiaram na tampa da mesa em seu campo de visão, suas unhas ovais e delicadas atraindo o seu olhar.

— Você não me respondeu — ela o lembrou.

— Não lhe devo resposta alguma. — Mas ele colocou o arquivo de lado antes de inclinar-se para trás na cadeira e fitá-la. — Deveria sair desse escritório agora.

— Deveria? — ela disparou. — Não antes de saber qual é o seu problema.

Ela queria saber qual era o problema dele? Queria mesmo saber?

Antes que conseguisse se controlar, antes que ela pudesse o impedir, ele saiu da cadeira em um movimento rápido, agarrou seu braço e a puxou para si antes de passar um braço debaixo do seu traseiro e colocá-la em cima da mesa.

No espaço de um segundo ele abriu suas pernas, o jeans cobrindo o tamanho do seu pênis pressionando no seu sexo ao se aproximar mais, e lentamente a forçava a se deitar na mesa.

— É por isso — ele disparou, fitando os seus olhos bem abertos e escurecidos. — Porque só penso em foder você. Isso faz de você um perigo para esse rancho e para todos nele.

— Não, isso faz de você um perigo. — Ela teve que forçar as palavras.

— Mas não estou de passagem — ele a lembrou. — Você sim.

Ela abriu os lábios para discutir, para dizer mais; ao invés de permiti-la ele a calou da única maneira à sua disposição.

Cobriu os seus lábios.

Passou sua língua por entre os lábios dela, enroscando a dela na sua, e uma onda de calor que se dilatava e a enchia começou a pulsar, latejar e encher os dois com um gosto inebriante e picante.

Mas que porra...

Isso devia ser só um boato.

A língua inchada e o apimentado natural de um afrodisíaco de acasalamento que enchia o beijo...

A inabilidade de se afastar, de resistir ao gosto que podia dar a ambos, o prazer que se podia ter...

Porra.

Ele se encheu de choque, que se envolveu em seus sentidos, mas pouco fez para abrandar as chamas que cauterizavam sua carne e a fome que crescia entre os dois. Nada mais importava. Nada importava que não fosse tocá-la, senti-la, abraçá-la a si com os braços e provar daquele gosto viciante do seu beijo.

E ela gostava mesmo do gosto do beijo.

Os lábios dela envolviam sua língua a cada carícia entre as bocas quando ele imitou o ato que o deixou em tal desespero.

Gemendo no beijo, gritando com cada prova do hormônio do acasalamento gotejando em sua língua, ela encontrou sua fome com a dela própria, depois incitou as chamas a arderem mais.

E só então, quando sua língua estava na dela, ousando-a a prová-lo mais a fundo, ele percebeu que o gosto viciante de calor picante não vinha só dele, mas também daquela casta delicada e tentadora demais.

Deitando em cima dela, sentindo seus joelhos delgados agarrarem seu quadril, nada importava a não ser tocá-la ainda mais. Tirar aquela blusa e livrar a sua pele macia do tecido.

Prová-la outra vez, cada vez mais. Beijá-la de boca aberta, com força, prender-se a ela de maneiras que garantissem que jamais tentasse fugir.

Como se lesse suas intenções, ela levantou os braços dos seus ombros tempo suficiente para tirar a blusa e jogá-la para longe.

Deus, ele iria mesmo fodê-la ali? Na sua mesa?

Podia pensar em um lugar ou momento melhor do que o aqui e o agora?

Afastando-se bruscamente dela, rompendo a fome crescente do beijo, Devil a fitou, chocado com suas próprias atitudes, seus próprios pensamentos.

Nunca, em época nenhuma, possuiu uma mulher sem garantir primeiro tanto o conforto quanto o prazer de ambos.

— Por favor. — O apelo suave que saiu dos lábios dela o impediu de se afastar mais.

Respirando com dificuldade Devil olhou aquele verde escurecido dos seus olhos e a sua expressão corada e cheia de prazer antes de se permitir olhar para as curvas com mamilos intumescidos e cobertas de renda dos seus seios.

  Deus, o que estava fazendo?

  Passando a mão pela lateral do seu corpo, ele levou a mão para onde a sua saia havia exposto as suas coxas se amontoando em seu quadril. Ao chegar lá, ele fez o impensável. Fez exatamente o que achava que conseguiria se impedir de fazer.

  Enfiou os dedos na tira de renda da sua calcinha e desceu a peça por suas coxas.

  O cheiro da sua carne de mulher invadiu o seu véu de controle e o deixou indefeso contra a fome que enevoava seu cérebro.

  Afastando o corpo, forçando o quadril a se descolar da carne macia da sua boceta, ele puxou a calcinha pelas suas pernas antes de jogá-las no chão. Passou o braço por suas costas e a levantou em seu abraço.

  — Não devia ter vindo aqui. — O grunhido o surpreendeu, as palavras lhe saindo de um modo totalmente espontâneo.

  Soltando o fecho do sutiã em suas costas, ele passou as alças pelos seus braços antes de também derrubá-lo, esquecido, no chão.

  — É por isso que queria que eu fosse embora — ela o acusou, olhando-o com os olhos esmeraldas cheios de mágoa.

  Deus, sim, era exatamente por isso que queria que fosse embora. Porque não conseguia manter as malditas mãos longe dela.

  — Perigoso demais — ele grunhiu, colocando os lábios em seu ombro e lambendo a pele perfumada dali.

  Maldição, ela tinha o gosto tão bom. Bom até demais.

  Ele fez o impossível para evitar raspar aquela pele macia com os dentes, de marcá-la, reivindicando sua posse de um jeito que nenhum homem ou Casta poderia confundir.

  Lambendo, beijando o caminho enquanto a deitava na mesa, Devil chegou até as curvas firmes e altas dos seus seios, e até os bicos duros que nem pedras dos seus mamilos.

  Não conseguiu resistir a eles.

  Não queria resistir a eles.

  E estava a um segundo de se banquetear...

  — Ei, Devil, está aí dentro?

         

Katie congelou.

Ela abriu os olhos, o olhar encontrando o de Devil quando um pavor começou a inundá-la.

O que estava fazendo?

— Só um minuto, Graeme — ele respondeu, seu corpo tenso, duro de luxúria enquanto parecia estar à beira de perder o controle e voltar a cair em cima dela.

— É importante, Dev — um Graeme sem rosto retrucou. — Uma das éguas está enlouquecendo e tem um cara lá fora perguntando por uma garota irlandesa. Viu uma garota irlandesa por aí? — Uma leve zombaria encheu a sua voz para garantir que Graeme se negava a mostrar que sabia que ela estava ali, mas que estava preocupado.

Quem diabos era Graeme?

Devil se afastou bruscamente como se tivesse usado da última reserva de força que dispunha. E no segundo seguinte ele a tirava de cima da mesa.

— Vista-se — ele ordenou, a voz baixa. — Vá para o seu quarto. Não deixe que ninguém de fora da casa a veja e não ligue para ninguém até que eu a procure.

Katie assentiu, embora duvidasse que a viu quando ele ajeitou as roupas rapidamente antes de caminhar até a porta.

Abrindo-a, Devil entrou no corredor, mantendo a porta aberta o mínimo necessário enquanto ela se vestia às pressas. Segundos depois, Katie também saiu e correu até o quarto de hóspedes que lhe deram.

Entrando, ela pôde ver que as cortinas foram fechadas, bloqueando o pouco sol do fim da tarde ou alguém corajoso o suficiente, ou sortudo o suficiente, para conseguir espiar alguma coisa.

Fechando a porta atrás de si, Katie sentou com as pernas levantadas na poltrona próxima à porta, passou os braços em volta dos seios e fitou o quarto escuro.

Sua vida seria assim de agora em diante? Fugindo? Escondendo-se? Sempre procurando uma segurança sem nunca ter certeza de que ela existia?

Não conseguia se imaginar tendo uma vida dessas. Porque essa vida significaria ter que deixar o rancho Reever e o Casta cujos olhos pareciam fitar a sua alma e cujo toque conseguia fazê-la esquecer de tudo que não fosse da necessidade que sentia dele.

Nunca conheceu uma conexão assim com outra pessoa como sentia com aquele Casta. Nunca quis ficar com alguém, não só sexualmente, mas simplesmente perto, como queria ficar com Devil.

Pela primeira vez desde que soube exatamente o que era e como tinha se transformado nisso, Katie começava a se arrepender. Porque o simples fato de sua criação poderia ser exatamente a razão de Devil lutar com o desejo que corria entre eles com todas as forças que possuía.

Talvez ele simplesmente não quisesse uma mulher cuja vida, cuja a simples existência vinha com os tipos de problemas que a dela trazia. Ele poderia desejar uma mulher agradável e normal que não representasse problemas nem perigos adicionais a sua própria existência.

Podia entender isso.

Diabos que podia.

Nenhuma mulher normal e agradável conseguiria tolerar um homem Casta. Eles eram arrogantes, dominadores, rigorosos, e tão irritantes que às vezes deixavam uma mulher com vontade de matar. Sabia exatamente como eles eram. Lidou com eles desde que tinha dezesseis anos durante seu primeiro ano de treinamento com a Agência de Treinamento Casta.

Homens Castas sempre tinham a certeza de que estavam certos. Eles raramente, não, nunca, em hipótese alguma, aceitavam que uma mulher, quer seja Casta ou humana, pudesse sobreviver sem a sua proteção, e viviam dispostos a provar isso de várias maneiras.

Eles eram peculiares, detalhistas e perversos.

E ela tinha o mau pressentimento de que poderia muito bem estar se apaixonando por um.

 

— Graeme, faça a segurança dos arredores. — Devil ordenou baixinho enquanto observava o Jipe aparecer, a câmera de longo alcance no teto do veículo apontando na direção das terras.

  Ela apontou para a casa quando o carro parou no portão.

  — Está tudo seguro — ele respondeu, e Devil sabia que se Graeme dizia que estava, é porque realmente a situação era de mais segurança impossível.

  O Casta leão era um dos poucos Castas recessivos que Devil conhecia que possuía as características de um verdadeiro Casta. Ele chegou há seis meses ali sem mais do que uma muda de roupas em uma pequena trouxa, uma faca e uma percepção para falhas na segurança que imediatamente foi apreciada na propriedade.

  Alto, largo, descontraído e raramente exibindo um temperamento forte, Devil começava a confiar na precisão exata em que o Casta fazia tudo o que lhe mandavam fazer.

  — A garota ainda está no quarto — relatou Graeme enquanto consultava o monitor sem fio que carregava. — Ela saiu do seu escritório pouco depois de você e foi direto para o quarto.

  Devil olhou de forma breve para o homem.

— Sabia que ela estava lá.

  — Seria bem difícil de não notar o cheiro da necessidade dela — Graeme concordou. — Não tenho dúvida de que o Sr. Reever e o Sr. Sinclair também estavam bem cientes da presença dela lá. Falando disso, o Sr. Reever solicitou um relatório imediatamente. Estaria preparado para perguntas acerca das suas atividades em seu escritório se fosse você.

  Devil parou de forma abrupta, não realmente surpreso por Graeme também conseguir parar no mesmo instante.   

  — Tem algum problema com as atividades que acontecem no meu escritório, Graeme? — ele perguntou ao outro Casta, sabendo que a continua menção do assunto significava que ele tinha sim um problema com aquilo.

  — Não tenho nenhum problema com elas, Sr. Black — Graeme lhe garantiu. — Mas, esperaria perguntas do Sr. Reever bem como do Sr. Sinclair, porque eles definitivamente pareciam ter uma opinião sobre o assunto antes dos repórteres aparecerem.

  Ótimo, exatamente o que ele precisava, não só os questionamentos de Lobo, mas também os de Dash Sinclair.

  Os de Lobo já eram ruins o bastante.

  — Cuidarei de Lobo e Sinclair — ele rosnou. — Você cuida da segurança e continuaremos a nos dar bem, Graeme. Do contrário, sua bisbilhotice pode lhe causar certa inconveniência.

Mais do que o felino iria querer para si, e Devil faria com que ele tivesse certeza disso.

  Mas primeiro, precisava lidar com Lobo e Sinclair. Porque quaisquer interações que tinha com a suntuosa Srta. O’Sullivan era assunto seu e de mais ninguém.

  De mais ninguém mesmo.

 

        Saindo de um banho frio, que não era o primeiro que tomava nas últimas vinte e quatro horas, Katie secou rapidamente a água do seu corpo antes de vestir um roupão e amarrá-lo com irritação.

        Não tinha ideia do que havia de errado com ela.

        Era nova demais para sentir as ondas de calor da menopausa, certo?

        Não tinha sintomas de gripe. Não estava com febre. Mas estava quente demais, o corpo dolorido, e lembrar o gosto do beijo de Devil provocava os seus sentidos com a persistência de um vício. Ou pelo menos o que sempre ouviu dizerem o que se sentia quando se tinha um vício.

        Porém, não era realmente possível se viciar em um beijo, era?

        Do gosto selvagem e quente dos lábios de um homem nos seus, da língua dele acariciando a sua enquanto chamas ardiam pelo seu corpo e uma tensão fazia seu clitóris pulsar, bem como as profundezas fechadas e intactas do seu sexo.

        Seus seios estavam inchados, os mamilos duros e torturados, tirando um gemido irritado dos seus lábios quando ela voltou ao quarto, só para parar de forma repentina.

        Não tinha o ouvido entrar no quarto. Nem sequer suspeitava que fosse estar ali, e normalmente conseguia antecipar as ações da maioria das pessoas.

        — Livrou-se dos repórteres? — ela perguntou antes de limpar a garganta enquanto juntava mais as extremidades do roupão na altura do seio.

        Intenso e estreito, o olhar dele varreu o seu corpo.

        — Por enquanto — ele lhe garantiu. — Mas gostaria que você ficasse na parte fechada da propriedade por alguns dias; os muros cercando a casa estão equipados com difusores especiais para garantir que nenhuma câmera ou outros aparelhos de rastreamento possam penetrá-los.      

        Ela assentiu de maneira nervosa, observando quando ele foi até as janelas e abriu as cortinas vários centímetros para capturar os raios do sol que se punha.

        — As janelas também são feitas especialmente para difundir imagens em qualquer aparelho óptico. Contanto que as mantenha fechadas, estará segura com as cortinas abertas.

        — Não fui eu que fechei — ela disse, fazendo uma careta ao ouvir o leve tremor nervoso que não conseguiu conter. — Estavam fechadas quando vim para o quarto.

        Ele assentiu antes de se virar.

        — Provavelmente foi uma das criadas. Elas não estão cientes das propriedades das janelas, e gostamos de manter esse conhecimento limitado. Ajuda nas vezes em que ligamos os aparelhos dispostos nas janelas para que mostrem as imagens que queremos que mostrem. Se alguém soubesse a respeito, então seriam bem menos efetivos.

        Então, por que contar a ela? Ela não era exatamente um membro da família.

        — Como sabia que repórteres eram o problema? — ele a perguntou.

        — Não foi muito difícil — ela lhe disse, sua expressão tensa com o medo que brilhava em seus olhos. — Afinal, havia uma câmera montada em cima do veículo que dirigiam. Consegui ver isso quando espiei pelas cortinas.

        Katie retorceu as mãos para evitar tocá-lo outra vez quando ele cruzou os braços em cima do peito e a fitou com o cenho franzido.

        — O que eu gostaria de saber é como eles conseguiram encontrá-la aqui. — Ele rosnou. — Mandei um dos meus homens para que descobrisse o máximo possível. Mas, quando se trata daqueles bastardos, é difícil de dizer.

        Ela tinha que concordar com ele naquilo, claro. Mas isso não explicava a pergunta com maior relevância em sua mente no momento.

        — Por que você está aqui no meu quarto, Devil? — optou por outra pergunta. — Não parecia muito chateado quando teve que ir embora mais cedo.

        — Possuir uma virgem na minha mesa de trabalho também não seria exatamente um atestado da minha maturidade e experiência. — O soar de um rugido foi acompanhado por um vislumbre de pura luxúria em seus olhos negros e âmbares.

        — E como decidiu que eu sou virgem?

        Ela era, mas não era exatamente algo que saía anunciando por aí.

        — Como diabos chegou aos vinte e quatro anos de idade sem ter um amante eu ainda não entendi. — O tom baixo das palavras ditas em voz rouca raspou os seus sentidos enquanto ele começou a andar lentamente até ela. — Me diga, Katie, os homens na Irlanda são completamente idiotas?

        — Eu que era completamente desinteressada — ela o corrigiu, embora falar com a batida do coração acelerada não fosse exatamente fácil.

        — Você era noiva — ele a lembrou, sua expressão se transformando, ficando tensa como se a ideia o irritasse de alguma maneira. — Como poderia ser “desinteressada” em sexo e contemplar o casamento ao mesmo tempo?

        Sim, como poderia?

        — Ele também não estava muito interessado — ela suspirou, lamentando o amigo que havia perdido quando as notícias da sua genética foram reveladas. — E estava cansada de ficar sozinha e questionada a respeito do fato de não ter um amante ou mais de um. Estava começando a me sentir um pouco inferior aos outros porque aquele desejo não existia.

        Até ele.

        Agora, parecia não conseguir se livrar do desejo.

        — E agora está interessada. Isso não a confunde um pouco? Talvez a leve a questionar por que isso aconteceu tão de repente? — Parando na sua frente, ele estendeu a mão, os dedos circulando seu pulso e afastando a sua mão lentamente do tecido do seu roupão.

        — Deveria? — Seus sentidos entraram num pandemônio quando ele alisou as extremidades do roupão em cima da curva dos seus seios, as pontas calejadas acariciando a sua pele e fazendo com que sorvesse o ar bruscamente.

        Ela não queria questionar nada que não fosse por que ele ainda não lhe beijou.

        — Vai me odiar depois — ele disse, abaixando a cabeça, os lábios roçando os seus de maneira sensual.

        — Claro que vou. — Não tinha como negar isso. Ele era poderoso demais, dominador demais para alguma vez chegar a entender o valor de lidar com ela de uma forma direta. Ele era um homem a quem poderia confiar a própria vida, mas não o coração.

        Infelizmente, seu coração já pode ter feito sua própria escolha.

        — Sabe que vai me odiar? — Ele parou, os lábios ainda a centímetros dos seus.

        — Acho que isso está destinado — ela suspirou. — Mas se não me beijar, vou odiá-lo mais agora do que depois. Que tal?

        Os lábios dele quase se curvaram.

        Um raio ia mesmo cair em cima dela? Katie jurava que cairia antes que Devil Black desse um sorriso de verdade.

        Quer essa fosse ou não a intenção dele, antes que acontecesse ele colou os lábios nos seus, abriu sua boca, enquanto a puxava mais perto, mostrando-lhe exatamente o pouco que ela sabia beijar.   

        Por exemplo, quando a língua dele passou pelos seus lábios, Katie nunca imaginou que o gosto picante do beijo faria que com fechasse os lábios em volta daquela língua, sorvendo-a conforme ela entrava mais, retirava-se, e entrava novamente impregnando os seus sentidos com um doce calor.

        Katie mal estava ciente de quando o cinto do seu roupão se abriu, a veste caindo pelos seus ombros no chão um segundo antes dele se afastar só o suficiente para tirar a camiseta e também atirá-la no chão.

        Então os lábios procuraram os seus novamente, tomando com vontade, beijos vigorosos quando a colocou nos braços e se voltava para a cama.

        Ela já imaginou que seria assim?

        Esse tipo de prazer correndo pelo seu corpo que nem um fogo incontrolável, queimando a sua carne e marcando os seus sentidos com tantas sensações que mal conseguia respirar devido ao calor e às explosões das chamas dentro dela?

        Ela alguma vez suspeitou que o toque de um homem poderia fazer o que o de Devil fazia com ela?

        Deus, não.

        As mãos dele acariciavam seus braços, iam até a sua cintura e seios enquanto ele espalhava aqueles beijos insanos e ardentes pelo seu pescoço e ombros, depois traçando um caminho inflamável até o bico dos seus seios.

        Seus mamilos latejavam. Estavam tão inchados que doíam de vontade de serem tocados. Então os lábios dele os cobriram, sorvendo-os para o calor de sua boca e os comprimindo.

        Oh, Deus, o raspar da língua dele era demais para se suportar. Brutal e arrebatador conforme lambia o agonizado bico, passando também os dentes enquanto ela enterrava as unhas na pele nua e morna dos ombros dele. Cada toque, cada lambida e carícia eram como um fragmento de sensação correndo até o seu útero e explodindo que nem dedos em chamas cercando o seu clitóris e explodindo o interior do seu canal vaginal.

        E ela não tinha ideia de como controlar aquilo.

        Katie não pôde se controlar. Não podia lutar contra a fome que lhe assolava pelo gosto, pelo toque daquele Casta. Ela não tinha ideia de como processar cada sensação ou de como sobreviver aos resultados destrutivos.

        — Deus! Katie. — A mão dele acariciou o seu quadril, abriu as suas coxas.

        Calejada, com a pele grossa que aumentavam a sua excitação, a palma dele acariciou a parte interna da sua coxa, as pontas dos dedos encontrando a carne naturalmente exposta do meio.

        Uma fêmea Casta não tinha cachos que a protegessem ali. Nada que filtrasse o calor e o prazer da carícia do seu amante nem que escondesse a resposta viçosa de sua excitação. Sua mãe havia lhe falado que era simplesmente um traço genético que havia herdado de uma tataravó distante.

        Deus, devia ter desconfiado mais, mas no momento, só conseguia mesmo era se deleitar com as maravilhosas sensações que aquele fato natural lhe permitia experimentar quando ele tocou sua carne tão sensível.

        Levantando o quadril para ele, seus dedos apertando os lençóis, ela lutou para respirar quando os beijos dele foram dos seus seios à barriga. Cada lambida, cada beijo em sua pele aumentando ainda mais o prazer.

        Ela precisava…

        — Por favor, Dev. — Arqueando para ele, sentindo a carícia dos seus dedos na carne escorregadia entre as suas coxas, Katie conteve um grito de necessidade agonizada. — Por favor, me toque.

        Mas ele já estava lhe tocando.

        Tocando de tantas maneiras, acariciando não só a sua pele, mas também uma parte dela que nem sabia que existia. Uma necessidade desconhecia a encheu.

 

        Que Deus o ajudasse.

        Devil pediu força, pela posse mínima de controle quando moveu os lábios infalivelmente até a doce carne entre as coxas de Katie.

        Nunca em sua vida ele sentiu dor de tanta vontade de sentir o gosto de uma mulher como sentia com essa. Nunca uma fome, necessidade, senso de proteção e uma emoção esmagadora o percorreram em tamanhas ondas de impulsos incontroláveis como faziam agora.

        Abrindo mais as suas coxas com uma mão e roçando os lábios na carne macia que nem uma pétala do meio das suas coxas, não teve como controlar outro grunhido—uma demanda.

        Ela levantou o quadril para ele.

        Brilhosa pela umidade, escorregadia e tentadora, o brotinho do seu clitóris espreitava do meio das suas dobras, atraindo sua língua e a sua fome.

        Doce virgem.

        Como ele, o Diabo dos Castas, mereceria uma mulher intocada, sem instrução sexual e tão faminta por ele. Não era só toque ou sexo, desejo ou gozo que ela ansiava. Ela ansiava ele próprio.

        Ela era sua.

        Daquele momento em diante, atados não só pelas emoções que cresceriam com o tempo, mas que agora inundavam seus sentidos em ondas opressivas, mas também por um calor que nenhum dos dois conseguiria resistir em vida.

        Um calor sensual e sexual—um elo de prazer eterno e cada vez maior...

 

        Por um momento, só um momento, Katie tinha certeza de ter encontrado um ritmo no prazer que conseguia processar. Viajando nas ondas de sensações, forçando o ar nos pulmões, exalando, foi capaz de achar realmente um sentido nas emoções que a rasgavam.

        Podia sentir o coração acelerado, a adrenalina se derramando nele quando uma parte oculta dos seus sentidos pareceu se abrir na tentativa de alcançá-lo.   

        Nunca tinha feito isso. Nunca se abriu para ninguém que não fosse os seus pais. E nunca na vida se abriu tão amplamente quanto agora. Alcançando outra pessoa e de fato sentindo aquela pessoa. Podia senti-lo. Não só fisicamente, não só o seu toque, seu beijo, a língua passando no osso do seu quadril.

        Conseguia sentir a escuridão dentro dele lutando com uma compaixão e uma fome que se igualava à fome que ela conhecia há tantos anos. Uma necessidade de conhecer o fundo da alma de outra pessoa.

        Uma fome de tocar a alma de outro ser do jeito que tocava a dele agora.

        Então, os lábios dele saíram do seu quadril, até a dobra entre coxa e nádega. Eles roçaram o seu monte de Vênus, a respiração batendo no broto inchado e desesperadamente faminto do seu clitóris. 

        Seguindo o sopro de ar, sua língua fez com que ela se revirasse.

        Colada às dobras rechonchudas da sua carne, a língua se enroscou em volta do broto, acariciou-o, depois os lábios o sugaram e a ideia de tudo que não fosse se render às ondas que quebravam disseminando prazer, emoções crescentes, e o mais puro desespero era coisa do passado.

        — Olhe para mim, Kate. — A exigência foi um grunhido áspero e primitivo que abriu os seus olhos, instantaneamente se prendendo aos dele que a olhava de dentre suas coxas.

        Ele não a chamou de Katie, simplesmente Kate. Olhando nos seus olhos, ela percebeu que enquanto outros podiam não ver nem reconhecer a mulher que ela era, aquele Casta o fazia, ou, no mínimo, conseguia sentir.

        Ela não era mais Katie, ao menos em sua própria mente, há muito, muito tempo.

        Quando seus olhos se encontraram, uma sensação incandescente perfurou o seu clitóris, afastando-a da realidade para um lugar onde só o prazer importava.

        A língua dele lambia e as bochechas afundava, sugando o broto mais fundo na boca enquanto parecia ter encontrado o lugar exato com a língua onde a mais leve carícia e a pressão certa começaram a amplificar a tensão que agora se derramava em seu corpo.

        O prazer era agonizante.

        Fez o seu corpo todo se contrair, encurtou sua respiração. Cada pulsar de sensação latejava em seu clitóris, intensificando o prazer e a fome escaldante. Seu corpo se rasgava ao meio. Acariciava suas terminações nervosas hipersensíveis, apertava a sua vagina, queimava os seus sentidos, e então de repente implodiu através dela em uma onda de prazer tão requintado, em êxtase, que ela se perdeu nas sensações.

        Perdeu-se no seu Devil.

        Quando alcançou o cume do prazer e começou a descer devagar, Kate ficou ciente dele subindo entre as suas coxas e chegando mais perto dela quando a largura quente do seu pênis pressionou as dobras inchadas do seu sexo.

        A intensidade do seu orgasmo foi suficientemente chocante, mas quando a glande da sua ereção entrou dentro dela, um jato repentino de umidade quente ejaculou dele nas profundezas contraídas do seu canal e fez com que arregalasse os olhos, encontrando o olhar dele. E se ficou surpresa com a sensação que aquele líquido provocou, então o choque nos olhos dele a garantiu que estava ainda mais surpreso.

        — Já terminou? — ela sussurrou, de repente aterrorizada de que ele tivesse.

        Se havia terminado, como então ela aliviaria a fome dolorosa que apertava as suas carnes?

        — Porra. Não, bebê… — Ele ficou mais rijo, uma careta feroz repuxando a sua expressão quando aconteceu novamente, embora dessa vez, o líquido parecesse mais quente, sua carne interna mais sensível ao pulsar repentino de… do que quer que fosse.

        Ele apertou a mandíbula, os olhos brilhando de prazer ao recuar, e inserir o pênis de novo, balançando o quadril entre as suas coxas, acariciando-a devagar e estirando-a de pouquinho em pouquinho.

        — Dev. — Apertando os seus bíceps, desesperada por segurar alguma parte dele enquanto olhava o âmbar dos seus olhos arder quando saiu outro esguicho de líquido pré-seminal foi como uma carícia de quase êxtase dentro dela.

        A tensão que acreditava ter evaporado com o orgasmo que a acometeu subiu ainda mais do que antes e numa rapidez que fez o seu corpo se contorcer.

        A demanda dolorida que se centralizava na profundeza do seu sexo se tornou insuportável, a necessidade de ser preenchida, de ser tomada, predominou sobre tudo no espaço de um segundo.

        — Estou aqui com você, Kate. — Ele roçou os lábios nos seus, a voz gentil apesar da rouquidão primitiva que a enchia e mandou um frisson de sensação correndo pela sua coluna. — É só me segurar, companheira. Me segure.

        Ele passou os lábios nos seus outra vez, abrindo-os quando a pressão, o estiramento que era uma junção de prazer e dor amplificava o desespero quando a cabeça do seu pênis atravessou a sua entrada antes intocável.

        — Deus, Kate. — Levantando os lábios, ofegando, ele a fitou mais uma vez. — Ah, companheira. Não consigo esperar.

        Ela pediu que esperasse por acaso?

        — Então não espere. — Mal conseguia respirar, muito menos falar.

        Levantando a cabeça, movendo-se contra ele, ela se deleitou com cada sensação intensa que aumentava a tensão nos músculos apertados de sua vagina.

        — Não quero machucar você. — Os dentes dele estavam trincados, o esforço que fazia para se conter era evidente em suas feições bárbaras.

        Machucá-la? Simplesmente não era possível que aquela dor pudesse penetrar a fome que rugia dentro dela.

        Levantando mais o quadril, sentindo a grossa espessura se alojar mais fundo, ela sorriu para ele, arqueou com mais firmeza na penetração e sussurrou:

       — Me tome, Devil. Do jeito que você quer me possuir.

 

        Foi aquele sorriso.

        Selvagem. Temerário. Aquele era o sorriso que ela tinha nas fotos e nos vídeos que a Agência de Proteção Casta tinha dela. Cheio de confiança, desafiando qualquer um a desafiá-la.

        Que Deus o ajudasse, ela roubou o seu coração mesmo antes que fosse chamado para tirá-la da Irlanda.

        Com o calor apertado da vagina dela envolvendo a cabeça do seu pênis enquanto tentava ultrapassar o véu de sua inocência, Devil pôde sentir não só uma posse física dela, mas uma muito maior.

        Seus olhares estavam presos. O esmeralda dos olhos dela, cheios de cílios, sensuais, brilhava com tanto tesão e necessidade que era como fitar duas poças de pura mágica emocional. Eles cintilavam com deslumbre, prazer, fome.

        — Não é suficiente. — O sussurro ofegante fez o seu estômago apertar, o quadril se preparar para empurrar e ajudar a atravessar aquela barreira fina. — Por favor, Dev. Por favor, me possua agora.

        — Me segure, Kate — ele a encorajou outra vez. — Me segure com força, companheira.

        Sua companheira.

        Meu bom Deus, toda sua. Criada para ele. Presenteada a ele.

        Sua mulher.

        A investida repentina o chocou.

        Devil não tinha ciência de ter se retirado novamente. Foi só quando investiu mais uma vez dentro dela, movendo-se rapidamente numa investida que não foi capaz de conter, que o movimento o fez atravessar a fina barreira da inocência dela.

        Os olhos dela se arregalaram, os lábios se abrindo em um grito mudo quando seu pênis se enterrou com força e rapidez dentro dela.

        O aperto ritmado da vagina lubrificada dela, a contração de reflexo do tecido estirado que lutava para se adaptar à espessura que a enchia, cada esguicho forte e nunca antes vivido do líquido pré-seminal do acasalamento, depois a leva da necessidade feminina e viçosa facilitando a sua entrada mais a fundo arrancou um rosnado de puro prazer de sua garganta.

        Feroz, apertando com a força de um punho, a vagina dela ordenhava a carne furiosamente intumescida do seu pênis. Puxando e acariciando, apertando e sugando a cabeça inchada até que nada mais importava a não ser sentir cada vez mais e mais dela. Devil não tinha forças de impedir sua própria resposta.

        Movendo-se contra ela, entrando nela, seu quadril trabalhava no dela, metendo o comprimento ereto do seu pênis dentro daquela carne que latejava cada vez mais forte, ele se entregou à posse daquela mulher, só para se dar conta que também estava sendo possuído por ela.

        O coração que acreditava ter murchado e morrido antes que soubesse o que era emoção agora pulsava com um vigor e em reação a ela de um modo que o surpreendia. Ela possuía a alma que jamais conheceu a necessidade que tinha do toque de alguém até ela chegar. Ela possuía o homem, os seus sonhos, suas esperanças, suas batalhas e fracassos.

 

        Aquela primeira dor tão incandescente quanto um relâmpago deu lugar a um inferno crescente de prazer com o qual Kate não conseguia lutar nem tinha desejo algum de escapar.

        Apertando os dedos em seus poderosos braços, ela se segurou a ele, com força. Ele era sua única segurança no cataclismo daquelas sensações. Cada investida empurrava as profundezas da sua vagina, levando-a mais além, mais a fundo numa tempestade que se recusava a abrandar, que só se aprofundava com cada toque daqueles lábios quando eles desceram para as curvas dos seus seios, cada carícia da língua quando ele dava chupões em seu pescoço.

        Katie se retorcia debaixo dele, encontrando cada arremetida, preparando-se para a próxima. Seus joelhos apertaram o quadril dele, sua cabeça deixou o travesseiro para permitir que beijasse o peito dele, a língua acariciando aquela pele hipersensível.

        Eles estavam voando. Voando por dentro de tal prazer, tal sensação persistente e deliciosa, que Kate largou qualquer tentativa de controlar ou de processar o que acontecia. Tudo que conseguia fazer era voar dentro daquilo, vivenciá-lo, deleitar-se com ele.

        Cada arremetida daquele pênis se enterrando dentro dela a empurrava mais dentro da tempestade. O raspar dos dentes dele na curva do seu ombro e pescoço fez com que gritasse, os músculos da sua vagina se contraindo, apertando furiosamente quando aquela tensão começou a acender chamar arrebatadoras de prazer.

        Ele corria ao seu redor, dentro de si.

        Cada investida vinha mais rápida, penetrando-a, fodendo-a com uma necessidade elevada e uma fome até a convergência das sensações fazê-las baterem de frente e explodirem em um furioso êxtase.

        Ela afundou os dentes no poderoso músculo peitoral debaixo dos seus lábios quando ela sentiu os caninos maiores e mais afiados dele perfurarem a pele bem debaixo do seu pescoço, na curva de seu ombro.

        Sua língua, inchada e quente, lambeu o machucado leve que fez, acariciando-o loucamente quando seu corpo estremeceu e sacudiu com um gozo tão poderoso que explodiu dentro da sua alma.

        A sensação da língua dele fazendo o mesmo no seu pescoço era um prazer adicional, pontinhos ferozes de prazer que se fundiam e se misturavam em um orgasmo tão intenso que a princípio ela não teve conhecimento do significado do estiramento voraz de sua vagina.

        Contraída, dando espasmos em volta do grande membro que a preenchia, os músculos internos começaram a lutar para acomodarem a maciça grossura do pênis dele. Estirando, queimando com a sensação que se misturava à colisão do seu orgasmo e começava a levá-la mais alto, a espessura daquele membro nos músculos do seu estreito canal a chocou.

        Abriu os olhos subitamente, encontrando os dele quando ele levantou a cabeça da mordida que deixou em seu pescoço.

        — Estou aqui — ele grunhiu, êxtase fazendo-o apertar os dentes e a expressão enquanto o âmbar em seus olhos ardiam que nem fogo. — Estou aqui com você, Kate.

        A onda de prazer que enchia o seu organismo explodiu novamente, tirando um grito rasgado dos seus lábios enquanto ela se sacudia a cada onda de prazer arrebatador.

        Não poderia sobreviver àquilo.

        As explosões orgásticas eram destrutivas. As ondas de êxtase impactavam os seus sentidos a cada puxada do membro alargado nos seus músculos internos quando ele ficou preso dentro dela.

        Rajadas quentes do gozo dele encheram as profundezas supersensíveis da sua vagina. Mais sensações. Mais prazer.

        Ele cresceu. Acumulou-se. Um gozo cada vez mais profundo depois de outro golpeou o seu corpo até o êxtase explodir em uma tensão tão poderosa e tão intensa que ela sentiu cada pedacinho de sensação que se liberava dentro dela.

        Exausta, esgotada pelo prazer e pela força de um orgasmo que jamais poderia ter imaginado, Katie desmoronou debaixo dele, definhando que nem uma flor quando a carícia do sol se esvaía e a noite chegava.

        Quando o sono a reivindicou, ela sentiu a carne sensível que o mantinha preso dentro dela abrandar quando Devil tremeu de gozo pela última vez. Mas quando ele se retirou e saiu de cima dela, não foi para deixá-la ao relento. Ao invés disso, ele a puxou para si, fazendo o ombro de travesseiro e permitindo que ela dormisse.

        Um sono completo, profundo e abençoadamente sem sonhos.

 

       Devil tirou o cabelo em cima do rosto da sua companheira ao terminar de limpar o suor e o resto dos fluidos sexuais das coxas, barriga e seios dela.

         Era algo que jamais fez por outra mulher.

         As amantes que conheceu no passado sempre pulavam na cama e corriam direto para o chuveiro como se de alguma forma estivessem sujas e tivessem que tirar a imundície dos corpos.

         Kate, ao invés disso, tinha dormido imediatamente. Seu corpo completamente relaxado, exausto com a força do prazer que explodiu entre eles.

        Pegando um cacho comprido e beijado pelo sol do seu ombro e levando até o rosto, ele roçou a mecha sedosa na bochecha e deixou um sorriso levantar os lábios. Ele era absolutamente fascinado por aqueles cachos. Era como se possuíssem um calor e uma vida próprios quando caíam em volta do seu corpo.

        Inferno, a mulher em si o fascinava. Na semana desde que a tirou da Irlanda, tinha ficado tão encantado com ela que começou a se perguntar se estava enlouquecendo.

        Não era a mente que estava perdendo. Era o coração... em um ritmo acelerado sem esperança de diminuir de velocidade.

        Estimulado por um fenômeno conhecido como calor do acasalamento — uma convergência física e emocional de mudanças hormonais que ocorriam assim que um Casta entrava em contato com a sua companheira destinada, o coração que acreditava que não possuía de repente ganhou vida. Aquela que estava destinado a amar tinha nascido humana.

        Diferente dos humanos, contudo, não havia escolha entre aceitar ou rejeitar o homem ou mulher que o complementasse perfeitamente de maneira física, mental, emocional, e também hormonal.

        Assim que o corpo, mente e coração estabeleciam que aquela pessoa era a que melhor se adequada às vontades e necessidades dentro deles, o animal assumia o comando.

        Hormônios se formavam e aglomeravam debaixo da língua, se derramando naquele primeiro beijo e estabeleciam um laço de paixão sexual tão intensa que não havia como negá-la. Correndo pelos corpos deles, atiçando as suas emoções, cada resposta engatilhada numa velocidade tremenda para unir o par em um acasalamento que os cientistas Castas suspeitavam que sobreviveria uma vida inteira.

        O calor do acasalamento realmente existia.

        As fofocas não tinham relatado uma insanidade de baboseiras geradas pelo medo do desconhecido como geralmente faziam. Para variar, elas ao menos eram parcialmente corretas.

        Colocando o cacho ao lado dos outros que se derramavam no ombro dela, Devil puxou o lençol para cobrir o corpo sonolento de Kate antes de pegar a sua camiseta que estava debaixo da cama e vesti-la.

        Vestido, ele saiu do quarto dela e desceu silenciosamente as escadas.

        Entrando na sala de estar, parou quando Lobo e Dash Sinclair saíram da biblioteca no final da entrada e se encaminhou para a porta.

        — Apareceu — Lobo rosnou, seus olhos escuros ferozes quando selvageria brilhou em sua mirada. — Onde está Graeme?

        — Eu o mandei ir até a cidade checar o paradeiro dos repórteres que vieram aqui — Devil respondeu, ficando tenso ante a violência iminente que vibrava em volta de Lobo. — Por quê?

        — Tem a porra de um agente da Agência no portão com dois irlandeses e agentes da Imigração americana com um mandato para vasculhar a área atrás de Katie. Quero saber como diabos eles descobriram que ela estava aqui.

        — Puta que pariu. — Um vermelho vivo encheu a sua visão pelo mais breve segundo antes dele se voltar para Dash. — Cassie conhece a Lei dos Castas; peça que mande esses vermes de volta ao buraco de onde saíram.

        Dash fez uma careta.

        — Ela está cuidando da parte jurídica no momento, mas simplesmente não tira argumentos desse tipo do nada, Dev. Ela precisa de tempo.

        — Então compre o tempo que ela precisa — ele exigiu. — Essa terra não é americana, é terra Navajo. — Ele se virou para Lobo. — Agentes da Imigração não tem jurisdição nessa terra, nem a Agência de Assuntos dos Castas. Ignore os dois.

        — Não podemos simplesmente ignorá-los — Lobo contestou, os polegares presos no cinto que rodeava o seu quadril e segurava a arma que ele carregava sempre desde a morte de sua mulher. — Tem um agente da Agência lá fora, Dev. Nós assinamos um acordo com a Agência de Assuntos dos Castas que cancela qualquer desejo que possamos sentir de mandá-los se ferrar.

        — Eles não podem levar uma companheira — ele lembrou ao outro homem, de repente lembrando-se de várias leis que ele mesmo leu quando recebeu as ordens judiciais dos Castas. — É uma exceção a todas as outras leis. Não importa o crime, o ato ou a situação em questão, nenhum companheiro pode ser levado, reivindicado ou encarcerado, a não ser por um crime cometido antes do acasalamento.

        Ele sempre se preocupou com a redação da lei. Era explicado que um acasalamento era simplesmente uma linguagem Casta detalhando um relacionamento sério entre um Casta e alguém escolhido como seu companheiro de vida. Ele agora sabia exatamente o que isso significava e por que a redação era tão precisa na palavra usada.

        — Ela é sua companheira? — Os olhos de Dash se estreitaram, suas narinas dilatando quando um divertimento iluminou o seu olhar. — É por isso que o cheiro de tesão vindo do seu escritório hoje mais cedo era tão forte. O cheiro do acasalamento estava ativo quando nos conhecemos, então assumi que já tinha se acasalado.

        Devil sorriu.

        — Não até aquele pedacinho da Irlanda me fisgar. Inferno, eu a conheci quando ela tinha dezesseis anos treinando na Agência de Proteção Casta na Irlanda. Estava lá para treinar os agentes em segurança da informática. Eu a vi por poucos segundos, e não conseguia entender porque não conseguia me esquecer dela. — Ele se voltou para Dash então. — Agora, me diga qual é a nossa situação.

        — A nossa situação é positiva. — Foi Cassie quem respondeu a pergunta.

        De pé no topo da escada, o cabelo amarrado e caído pelas suas costas em massas de cachos escuros, ela usava uma saia cinza escuro, blusa de seda e jaqueta junto com sapatos pretos de salto alto bem comuns, mas obviamente caros.

        Ela não era mais a jovem travessa e precoce que Devil conheceu antes de ir à Irlanda resgatar Kate. A mulher descendo com confiança a escadaria curva era superior de todos os modos a cada um deles, e o seu próprio porte enfatizava isso.

        Olhos azuis frios. Ela não usava maquiagem, nenhum artifício. Em uma mão carregava uma pasta de couro enquanto a outra seguia o corrimão.

        — As leis são bem claras nesse caso — ela declarou ao entrar na sala e se juntar a eles. — Não importa a situação, a circunstância ou qualquer lei prévia, o calor do acasalamento derruba tudo. Especialmente no caso de qualquer lei científica que tenha sido criada depois da Constituição dos Castas, mandatória ou compulsória. Em tempo nenhum e de modo algum sem que ambos os companheiros, bem como o Diretor da Agência de Assuntos dos Castas e três quartos do Gabinete do Governo Casta expressem por escrito um acordo, nenhuma pesquisa científica, experimento ou estudo pode ser realizado em um casal de companheiros, não importa a justificativa ou se o país tenha assinado o mandado das leis Castas. — Ela sorriu em triunfo. — E os líderes de cada seção da Europa, incluindo a Irlanda, assinaram todos os mandados que as leis apresentaram a eles antes do presidente Marion levá-los à ONU, onde cada emissário presente também assinou todos os mandados existentes. — Da pasta de couro ela retirou uma pasta de papel e a passou para Dash Sinclair. — Pai, como membro do Gabinete do Governo Casta, essa é a ordem de um estado de isenção para ser apresentada aos oficiais da Imigração assinada pelo Diretor Wyatt e enviada para mim há cinco minutos. O Diretor neste momento está na linha com o agente da Agência que está em nossos portões. Ele precisará da ordem assinada antes que ele e os homens que trouxe possam forçar os oficiais da Imigração a voltarem à Irlanda.

        Devil fitou Cassie com suspeita.

        — Por que estão tão determinados a levá-la? Perdi a conta dos Castas Europeus que já fugiram para a América, e os oficiais de lá nem sequer contestaram. Agora, eles mandam oficiais da imigração atrás de uma única mulher?

        — Mary Katherine O’Sullivan foi levada do laboratório que o avô dela foi acusado de supervisionar durante o exercício do seu cargo no Conselho de Genética até a liberação do dito laboratório. Um dos cientistas que trabalhou lá foi capturado vários meses depois pelo MI-6 e revelou que Wallace O’Sullivan conspirou para que as amostras do seu filho e nora fornecidas à uma clínica de fertilidade fossem enviadas ao laboratório do qual era encarregado. A partir daí, ele fez com que os cientistas inserissem a genética dos Castas Lobo não só no esperma, mas também no ovário da mãe, antes da fertilização. Um processo que foi proibido pelo próprio Conselho no começo dos experimentos genéticos, por razões pelas quais ainda preciso encontrar explicações.

        Devil inalou lentamente, com cuidado.

        — Foi proibido porque permitia que os Castas concebessem. Gerava Castas homens com uma mistura de esperma compatível com humanos e Castas. Nas mulheres, o ovário poderia ser fertilizado por qualquer espécie sem complicação alguma. Eles permitiram um desses nascimentos, mas descartaram o Casta por volta dos doze anos por motivos que desconhecemos.

        Cassie franziu o cenho.

        — Certamente há boatos sobre o motivo do Casta ter sido exterminado.

  Devil a fitou, lembrando-se desses boatos e da preocupação dos cientistas que comandavam o laboratório que lhe foi designado.

        — Dizem que o Casta criado pelo par não podia ser identificado como Casta por nenhum exame, nem pelos sentidos dos outros Castas. Os instintos animais estavam tão misturados à psique humana em sagacidade e em resposta ao Casta ser tão superior que eles temeram o resultado de permitir que ele vivesse. Aos doze anos, o Casta já possuía a lealdade de qualquer outro Casta dos laboratórios, e os cientistas só souberam depois que um motim aconteceria poucos dias depois que puseram fim à sua vida.

        — Era um menino, então? — Cassie perguntou com curiosidade.

        Devil encolheu os ombros.

        — Eles sempre se referiam ao Casta como o “espécime”, “projeto”, ou “objeto”. Eu mesmo escolhi o sexo por respeito à vida tirada, por nenhuma razão a mais.

        Ela assentiu de maneira pensativa antes de se voltar para o pai.

        — O Diretor Wyatt já deve ter entrado em contato com o agente. Você e eu podemos levar o documento— Ela parou.

        A tensão instantânea que encheu o seu corpo deixou Devil, Lobo e Dash imediatamente de sobreaviso quando Cassie se virou e fitou o topo da escada.

        Devil não esperou para perguntar. Ao invés disso, correu os degraus, ciente dos dois Castas se movendo rapidamente detrás de si. Todo sentido animal em seu corpo, aguçados por anos de treinamento, instinto e pela guerra travada nos bastidores pela sobrevivência dos Castas gritava em alarme. E eles gritavam o nome da sua companheira.

 

  No segundo em que a porta se fechou atrás de Devil, Katie acordou imediatamente.

  Pesar pela sua partida misturou-se ao sutil desejo pelo seu toque quando ela se levantou da cama e se vestiu às pressas, determinada a encontrar Khileen e ver se ela ouvia falar de qualquer coisa que se parecesse com o prazer que encontrou com Devil.

  Sabia que não era normal. Teve amigas a vida inteira até o mundo descobrir que ela na verdade era uma Casta, e aquelas amigas transavam com frequência. Com mais de um homem. Algumas com mulheres. Ela nunca ouviu falar de nada que chegasse perto do prazer que tinha acabado de experimentar.

  Indo até o banheiro, domou rapidamente a selvagem massa de cachos com um pente de cerdas grossas antes de amarrá-la na nuca.

  Quando puxou o cabelo, notou a marca que Devil deixou na curva entre o seu ombro e pescoço. Os dentes dele tinham perfurado a pele, embora não tivesse sentido a dor que teria esperado sentir.

  Ela roçou os dedos pela área avermelhada, a carícia leve enviando um forte tremor pelo seu corpo. Uma sensação de prazer intenso que fez as suas coxas se apertarem seguida por outra de surpresa.

  Aquela não era uma mordida de amor comum.

  — Uau — ela exalou, bastante impressionada no momento. — Definitivamente estranho.

  Enquanto considerava a sensação, seu nariz enrugou com o cheiro esquisito que o provocava.                

        Isso acontecia cada vez mais ultimamente. Cheiros fora de lugar, impressões e instintos com os quais não estava familiarizada.

        Sacudindo a cabeça, ela deu uma olhada rápida na calça jeans, no top estilo camisola e no tênis que vestiu para garantir que estivesse apresentável antes de sair do banheiro. Fechando a porta ao sair, ela parou, a cabeça virando rapidamente para as portas da varanda.

        — Ei. Vamos tentar não fugir — o homem alto de pé dentro do seu quarto mirava o cano de uma arma com laser no seu peito e sorria friamente. — Odiaria ter que me desfazer de você. O preço da sua cabeça não vale nada se ela não estiver viva.

        Seus sentidos começaram a explodir. A impressão de Devil, Lobo e Dash rapidamente se aproximando do quarto, a fúria crescendo nos três ao chegarem mais perto.

        O cheiro de Devil era claro, forte e acre por sua ira. Lobo estava determinado e definitivamente furioso, mas seu cheiro era mais calculista. O de Dash Sinclair era gelado, e todos eles desejavam matar o seu agressor.

        Ela ficou onde estava e esperou.

        — Bem impressionante você ser a companheira de Devil — o estranho de cabelo escuro falou arrastando a voz. — Talvez já tenha até concebido.

        Ela sacudiu a cabeça devagar. Saberia se tivesse.

        — Veio cedo demais — ela disse com suavidade. — É a época errada do mês. Além do mais, Castas de Lobo não concebem facilmente. Lembra-se disso?

        Quando falou isso, ele deu uma risada muda.

        — A maioria não. Você, por outro lado, tão excepcional quanto é, pode definitivamente conceber com facilidade, pelo o que ouvi falar. Agora, por que não vem até aqui, bem devagar, para que eu possa algemá-la e voltar até a nossa carona que nos levará para fora desse rancho?

        Ela pôde ouvir o som abafado de um helicóptero descendo acima da casa. Sem dúvida todos os Castas do lugar também conseguiam ouvir. Era bem baixo, admitia que era um helicóptero especial. Provavelmente para o homem era totalmente silencioso. Alguém definitivamente tinha feito o dever de casa na tentativa de esconder a sua presença. Mas, o sucesso não foi completo.

        — Prefiro morrer a ir com você. — Ela deu de ombros como que despreocupada e preparou-se para se mover. — E o que foi que disse, que o preço não seria nem de perto bom se estivesse morta?

        Ele franziu o cenho.

        — Ouvi falar que Devil está doido por você. Por essa marca no seu pescoço vejo que é a companheira oficial dele. Quer mesmo arriscar deixá-lo para viver uma vida em que nunca poderá ter outra mulher, outra amante ou uma família se eu a matar?

         Ela sacudiu a cabeça.

        — Não valeria a pena ir atrás de mim. — E aí ela sorriu. — Além do mais, eu sou uma vadiazinha bem gulosa. Quero que ele se lembre de mim para sempre.

        Aquilo obviamente o pegou de surpresa.

        Devil e os outros estavam no topo da escada agora, correndo furiosamente na direção do seu quarto. Ela estava no fim do corredor. Sem parar, Devil derrubaria a sua porta instantaneamente, surpreendendo seu quase sequestrador e atraindo a sua atenção contra a vontade.

        Usando a força com a qual atravessou a porta, Devil escaparia do tiro que possivelmente seria disparado, e conhecendo Lobo e Dash, ela anteciparia que um dedo bem rápido no gatilho da parte de um dos dois seria uma promessa certa.

        No máximo, o espelho do guarda-roupa quebraria um segundo antes que Devil arrancasse a cabeça daquele homem.

        — Não banque a difícil, sua puta — ele disparou, os olhos castanhos se estreitando com fúria.

        — Mas eu vivo para ser difícil.

        Ela mergulhou no chão no mesmo segundo em que Devil explodiu contra a porta.

        O tiro foi disparado, vidro quebrou.

        Ficando de pé, Kate pulou em cima do mercenário, ou soldado do Conselho, o que quer que ele fosse. A única chance que ele tinha de viver era se ela chegasse nele primeiro.

        O choque o imobilizou pelo segundo a mais que ela precisava para chutar a arma de sua mão, golpear sua virilha com o joelho e bater o cotovelo em seu pescoço com força suficiente para derrubá-lo no chão, inconsciente, antes de fechar as portas da varanda para não deixar entrar o som do helicóptero circulando a lateral da casa para resgatar o bastardo.

        Quando a porta se fechou ela se virou, ajoelhou-se na frente do soldado caído e encontrou a cara furiosa do seu companheiro quando ele se agachou à sua frente, preparado para saltar em cima de um inimigo que não estava mais na posição certa para morrer com o único golpe que ele ia deferir.

        Os olhos âmbares e negros de Devil foram até o soldado inconsciente, depois até Kate quando ela o fitou de volta, determinação estreitando o olhar.

        — Companheira, por que protege esse lixo? — ele perguntou com uma curiosidade preguiçosa quando sentiu tanto Lobo quanto Dash rapidamente avaliando a situação e relaxando o ímpeto primitivo inicial de sede de sangue.

        — Lixo para uns. — Ela encolheu os ombros com um sorriso sugestivo. — Tesouro para outros?

        Aquilo era ciúme golpeando o cérebro dele e levando o gosto de sangue à sua boca?

        — Para você ele é tesouro, então? — Ele indicou o homem ao chão com a cabeça.

        Katie fez uma careta. Que escolha terrível de adjetivo.

        — Talvez não ele em si — ela admitiu ao se levantar e encarar o homem que lhe diziam ser o seu “companheiro”. — Mas, a informação que ele pode possuir é outra coisa completamente diferente.

        Ela olhou para ele novamente, lembrando-se de onde o tinha visto e do significado que possuiriam as informações que ele podia muito bem ter.

        — Que informação um mercenário poderia ter? — Devil perguntou ao dar dois passos até ela, segurar seu braço e afastá-la, sem cerimônia, do “lixo”.

        — Eu já o vi — ela admitiu, virando-se para também olhá-lo com superioridade. — Papai tem uma foto dele no escritório junto com mais quatro homens que estavam no laboratório na noite em que me encontrou. Eles foram designados para os laboratórios, e um deles atirou no melhor amigo de papai, Jorn Langer. Quando papai foi forçado a abandonar o seu corpo para me esconder, ele voltou depois durante a fase de limpeza da libertação. O corpo de Jorn havia sumido e esse homem e os seus outros três cúmplices foram vistos levando o corpo.

        — Então Langer está vivo? — Lobo questionou, o significado da informação franzindo a sua testa.

        Ela sacudiu a cabeça.

        — Papai tinha certeza de que ele estava morto. A mãe de Khileen o declarou oficialmente morto antes de você casar com ela, então isso não afetaria nem você nem Khileen legalmente. Papai quer cumprir uma promessa que ele e seu amigo fizeram um para o outro quando jovens, uma promessa de garantir que se um se fosse antes do outro, o sobrevivente garantiria que o outro fosse enterrado no cemitério onde a respectiva família estivesse enterrada, na Irlanda. E ele quer saber por que eles levaram o corpo dele. — Isso atormentava o seu pai mais do que qualquer outra coisa, Kate sabia.

        — Não poderia deixar que o matasse, Dev — ela disse em voz baixa. — Papai procurou por esses homens desde a noite em que Jorn desapareceu. Ele o abandonou lá para me salvar. Jorn morreu para ajudar papai a me resgatar antes que qualquer outra pessoa soubesse da minha existência. Não podia deixar que morresse.

        Inferno, aquela mulher provavelmente o surpreenderia até o dia em que desse seu último suspiro. Ela era um enigma que ele não tinha ideia de como decifrar, e não havia modo de compreender porque a merecia.

        — Tire o lixo daqui — ele ordenou a Graeme quando o outro homem entrou correndo no quarto. Claramente o homem não seguiu as ordens de Devil de ir até a cidade. — Depois encontre aqueles repórteres como eu mandei que fizesse.

        — Eu mandei Flint seguir os repórteres — declarou Graeme, seu tom cheio de indignação. — Deleguei a tarefa, Devil. Tem muita coisa acontecendo por aqui para que eu fique fora por muito tempo. Por que diabos não me chamou antes de subir correndo aqui? Se não tivesse ouvido aquele maldito helicóptero, nunca teria adivinhado que estávamos com problemas.

        Devil levantou as sobrancelhas ao fitar o homem, esperando.

        — Estou com cara de trouxa hoje? — o homem exigiu de modo arrogante. — Nosso helicóptero decolou imediatamente, e o time a bordo acabou de relatar que estão com o piloto do outro sob custódia. — Ele bateu no fone sem fio que tinha na orelha.

        É, ele também ia ter que começar a usar um daqueles, Devil decidiu quando se voltou para a sua companheira.

        Ela tinha se virado e se abaixado, apoiando-se nos calcanhares bem longe do homem inconsciente, a cabeça inclinada ao estudá-lo.

        Agora ele sabia exatamente por que a Agência de Proteção Casta Europeia tinha odiado tanto perdê-la. Enquanto ela fitava o homem, sentidos que ela não tinha ciência de possuir, sentidos que eram uma parte tão mais natural dela, o avaliavam, armazenando cada traço na memória, cada cheiro, e colhendo cada pedacinho de informação que seus sentidos primários conseguiam detectar.

        — Kate? — ele a chamou baixinho.

        Não Katie.

        Katie era a garota que ela foi, Kate era a mulher que tinha ido àquela cama com ele e rompido as barreiras que ele construiu para mantê-la fora do coração. Kate era a mulher Casta madura, instintiva e altamente competente que o animal dentro dele reconhecia que era.

        Não era de se admirar que seus próprios instintos básicos a reivindicassem o mais rápido possível. A parte animal dele sabia que nenhuma outra mulher poderia completá-lo tanto quanto aquela.

        — Ele não toma banho há vários dias — ela murmurou. — Ficou na propriedade, observando e esperando. — Ela inclinou a cabeça para o outro lado e Devil jurou que podia senti-la avaliar coisas que nem ela sabia ter a capacidade sensitiva de avaliar.

        — Não estava sozinho. Posso sentir o cheiro de muitos outros nele. Não só um, então ele e o piloto não resumem o time mandado para me capturar. Mas os outros cheiros não estão tão fortes. Ele não esteve com eles há alguns dias.

        Devil olhou para Graeme transmitindo seus pensamentos, e o outro Casta assentiu rapidamente.

        Ele queria aqueles homens, cada um deles. Mandaria uma mensagem para quem quer que os mandou ali. Kate era sua, e o Diabo não tolerava que ninguém, em nenhum momento, atentasse contra algo que lhe pertencia.

        Indo até o lado dela, Devil observou o seu rosto e então viu o cenho que enrugava sua testa e a expressão de confusão que enchia o seu olhar. Também se inclinando, ele sorveu os aromas que cobriam o homem e tentou encontrar o que a confundia.

        Como ela disse, o soldado trabalhava pelo menos com mais dois. Os cheiros distintos eram parte do soldado, e ainda assim não eram fortes o bastante para indicar que ele tenha estado na presença dos demais nos últimos dias. Eles provavelmente o aguardavam em algum lugar com o transporte para tirar Kate dos Estados Unidos e mandá-la de volta a Europa.

        Ele definitivamente estava na propriedade há vários dias. A terra em volta deles tinha um cheiro único, bem como todos os lugares. Uma combinação de terra, do movimento e das plantas que cresciam nela. O cheiro que ele levava definitivamente era da área dentro do muro de pedra que Lobo ergueu em volta dos quatro acres onde a casa ficava bem ao centro.

        Aí então, ele encontrou o cheiro que a confundia. Era sutil, tão sutil que até ele não conseguiu filtrá-lo de modo a identificá-lo, mas definitivamente era um que já sentiu antes. Um que era único, e que provocava o seu faro como se fosse bem conhecido.

        Conhecido não só para Kate, evidentemente, mas também para ele.

        — Já descobriu o que é? — ela o perguntou em voz baixa.

        Ele sacudiu a cabeça.

        — Está fraco demais.

        Ela assentiu, depois se levantou lentamente e se afastou para que Lobo tomasse o seu lugar.

        Se o cheiro era bem familiar para Devil, então era possível, altamente possível, que também era conhecido de Lobo.

        — Familiar. — Lobo murmurou. — Mas não consigo o bastante para identificá-lo.

        — Exatamente o meu problema. — Devil fez uma careta antes de se levantar e ir até Kate.

        Ele passou o braço em volta dela de maneira possessiva, puxando-a para o lado quando se virou para Graeme e acenou para ele.

        Estalando os dedos para os Castas atrás dele, Graeme se moveu de lado para permitir que eles levantassem o soldado que grunhiu baixo com o movimento.

        — Prenda-o nas celas — Graeme ordenou com brusquidão. — Aparecerei mais tarde para interrogá-lo.

        As celas eram realmente celas. Compartimentos de ferro, seguros e impossíveis de se escapar assim que trancados. Elas ficavam enterradas debaixo dos estábulos com apenas uma entrada e uma saída. Assim que o colocassem lá embaixo ele estaria à mercê deles. E Devil sabia que havia pouca, se alguma, misericórdia em Graeme por qualquer pessoa que não fosse ele mesmo.

        Graeme sabia o que era lealdade. Ele entendia compaixão. Misericórdia com o inimigo era uma coisa completamente diferente. Isso não existia no mundinho de Graeme. E ele com toda certeza não se desculpava por isso.

        — Ligue para papai, diga que ele está aqui.

        Devil olhou para ela, depois de volta para Graeme, e leu a rejeição instantânea do Casta ao pedido.

        Bem, não um pedido exatamente, Devil admitiu com uma pitada de divertimento.

        — Ligarei eu mesmo para ele. — Foi Lobo quem concordou com a exigência verbalizada, no último segundo, como um pedido, Devil pensou ao esconder o sorriso e assentir para o homem que seguia desde que foi liberto do laboratório do Conselho.

        — Lilith, tire Jonas daqui. Agora. — Lobo se virou para a pequena Casta que havia entrado no quarto silenciosamente.

        A assistente pessoal de Lobo era uma Casta Lobo quieta e submissa que sempre dava a impressão de ser dolorosamente tímida.

        Empurrando o óculos no nariz, Lilith fez uma anotação rápida no pequeno tablet que carregava.

        — E eu quero um time pronto agora! Por Deus, quero saber onde esse bastardo estava se escondendo e por que não foi detectado antes de entrar na porra da minha casa. — Ele olhou em volta do quarto então, o rosto ficando sombrio. — E encontrem a minha maldita enteada agora.

        A fúria afogada que enchia a voz dele fez com que todos se movessem. Apenas Kate permaneceu no lugar, a mão no braço de Devil apertando quando ele tentou ir atrás de Khileen.

        — Ela está no quarto dela — ela declarou baixinho, embora Lobo claramente tenha lhe ouvido.

        Ele se virou para ela devagar.

        — Como sabe onde ela está? Nem eu consigo captar o cheiro dela a essa distância.

        Kate fez uma careta antes que um pequeno sorriso puxasse seus lábios.

        — Eu meio que coloquei isso depois que saí do banheiro. — Ela removeu o pequeno fone sem fio do ouvido com um dar de ombros. — Ela acabou de acordar do cochilo e ligou a comunicação. Daqui a um minuto ela vai descobrir o que está acontecendo...

        — Oh meu Deus! E você me deixou dormir enquanto isso rolava? Sua vadia filha da mãe! — Khileen berrou do outro lado da linha.

        Um segundo depois a porta do quarto dela bateu mais acima do corredor quando ela veio correndo para o quarto de Kate.

        Ela parou na porta, com os olhos arregalados, chocada, olhando em volta como se procurando pelo o que sobrava do que havia perdido.

        Então seu olhar foi para Kate com o braço de Devil a rodeando. O olhar parou no pescoço da amiga, os lábios abrindo e os olhos estreitando.

        — Porra, não é justo — ela murmurou então.

        — Sua linguagem está se deteriorando, Khi — Lobo a repreendeu com gentileza, em forma de aviso.

        — É, bem, não é exatamente o Lobo Mau em pessoa que está aqui do meu lado — ela resmungou antes de se voltar para Kate e sacudir a cabeça em decepção. — Não é nada justo, Katie — ela repetiu. — Era pra você me dizer se uma coisa dessas acontecesse.

        — Aconteceu. — A risada na voz de Kate fez Devil querer sorrir.

        Ele jurava que conseguia sentir algo parecido, ou talvez algo bem maior, felicidade, quando esse sentimento explodiu dentro dele.

        O braço de Kate apertou em volta das suas costas quando o outro circulou o seu quadril e o abraçou.

        — Vadia — Khileen sussurrou outra vez antes de olhar para Lobo de maneira desafiadora.

        — Enquanto estiver aqui, poderia, por favor, fazer algo a respeito da acústica da droga desse lugar? Se alguma coisa acontece fora do meu quarto nem parece que está acontecendo — ela o acusou sem nenhuma pitada de raiva. — E eu simplesmente não gosto disso.

        Ela se virou e voltou para o quarto dela. Evidentemente, dessa vez, deixou a porta aberta.

        Lobo sacudiu a cabeça.

        — Um dia desses, me lembre de matar Tiberian. Bem lentamente — ele murmurou para o irmão. — Bem lentamente.

        Ele saiu do quarto, jogando as mãos para cima em uma despedida silenciosa e se dirigindo, Devil sabia, para as celas.

        Para onde também iria.

        Virando-se para a sua companheira e levantando o seu queixo com os dedos, ele deu um beijo em seus lábios.

        — Não vou me demorar — ele prometeu.

        — Melhor não — ela o avisou. — Porque acho que quero morder você de novo.

        Ele parou, rapidamente virando-se para ela, fome brilhando em seu olhar quando Kate o fitou com óbvio interesse.        

        — Uma hora — ele prometeu.

        — Você tem quarenta e cinco minutos — ela decidiu.

        Ele estreitou os olhos.

        — Quer tentar quarenta?

        Um rosnado e um grunhido masculino, e ele saindo rápido do quarto, definitivamente determinado a aproveitar os quarenta minutos que tinha ao máximo.

        O que era quarenta minutos em relação ao que teve que esperar, ela decidiu com um sorriso ao olhar a destruição que varria o chão do quarto. Ah, bem, esse tempo seria o suficiente para que se mudasse para o quarto dele. De qualquer maneira, gostava bem mais dessa ideia.

 

       Não sobrou muita coisa do homem para se interrogar.

        O Casta conhecido como Graeme olhou para o rosto ensanguentado, os lábios cortados, os olhos inchados e teve que se forçar para não arrancar a cabeça do bastardo.

        Porém, ele tinha a informação que queria.

        Mas ele tinha a informação que queria já fazia horas. Não levou muito mais do que passar as pontas afiadas das garras de felino que suas unhas se tornavam pelo peito do homem. Agora havia quatro rasgos ensanguentados que precisariam rápido de pontos.

        Se Graeme decidisse permitir que ele vivesse mais.

        O piloto não estava muito melhor, embora tivesse menos informação. Um piloto contratado uma vez só para prestar os seus serviços por uma quantia insignificante, considerando o risco que corria.

        Aquele, ele simplesmente entregaria ao agente da Agência de Assuntos dos Castas que viesse pegá-lo.

        O outro, Graeme queria manter só por um pouco mais. Ele tinha um pressentimento de que seus amigos poderiam vir atrás dele. Às vezes, havia um sentimento de lealdade entre humanos que fazia com que os homens fizessem coisas estúpidas. Coisas como tentar resgatar amigos que decididamente tinham feito péssimas escolhas.

        Além disso, a mulher de Devil queria certa informação para o seu pai. Informação que Lobo Reever também não se importaria em ter. Havia várias questões envolvendo a morte de sua mulher que ainda precisavam ser respondidas. Questões que ele sabia que o Casta Lobo precisava que fossem respondidas antes que trouxesse seu irmão, Tiberian, de volta aos Estados Unidos.

        Até lá, ele simplesmente poderia se divertir e descontar toda a sua agressão no humano por um tempo. Afinal, um Casta que foi conduzido lentamente a loucura ao longo dos anos, só para encontrar essa sanidade abruptamente mais uma vez, precisava de algo para se divertir até que colocasse os próprios planos no lugar.

        — Me mate logo — o soldado pediu ao lutar para abrir os olhos inchados. — Por favor, me mate logo.

        O fedor da urina do homem, derramada pelo terror, ofendia os sentidos de Graeme.

        — Você merece morrer? — ele perguntou, flexionando e retraindo as garras ao lutar para não dar ao homem exatamente o que lhe implorava. — Não acho que mereça morrer ainda. Não me deu informação suficiente para pagar por tal misericórdia.

        O soldado choramingou enquanto Graeme girava os olhos com nojo.

        Quase esfregando a mandíbula de forma pensativa, ele afastou a mão no último segundo fazendo uma careta. A última coisa que precisava era arriscar estragar o disfarce que havia criado. Não podia se dar ao luxo de permitir que sua identidade fosse revelada naquela altura.

        Precisava só de mais um pouco de tempo antes que pudesse se livrar da aparência de Graeme e retornar a reivindicar o que era seu.

        — Não sei de mais nada. — O soldado perturbou os pensamentos de Graeme ao soluçar a declaração. — Eu juro, não sei de mais nada.

        Graeme zombou do juramento.

        — Você fede a mentiroso.

        Cortando as cordas que o prendiam à cadeira, ele arrastou o soldado gemendo até uma cela e o jogou em cima da cama portátil. Agonia ressoou nos gemidos do humano quando ele ficou lá deitado e completamente imóvel.

        Talvez tenha quebrado uma costela, decidiu Graeme despreocupado. Ele mencionaria isso ao médico que solicitou para dar uma olhada no bastardo.

        — Eu fui misericordioso — ele disse ao homem quando trancou a porta da cela. — Já foi esfolado? Ou dissecado? Podia mostrar como é se você quiser. Sei exatamente como se faz.

        E as sensações que provocavam. Como rasgava a sua mente porque as drogas se recusavam a lhe dar compaixão e mantinham a cobaia consciente. Como era ter algum bastardo tocando nas suas tripas sem se preocupar em ser delicado...

        Ele forçou a memória a desaparecer quando uma ira mortífera e uma insanidade sombria tentaram os instintos animais que estavam perto demais da superfície.

        O soldado urinou nas calças outra vez.

        — Porra, filho, pelo menos eu segurei a bexiga até eles começarem de fato a me abrir — ele murmurou. — Mostre um pouquinho de coragem, ok?

        Ele teria se dado muito melhor se não tivesse gritado como uma garotinha quando Graeme mostrou os caninos sinistros nas laterais da boca ao dar um rosnado cruel praticamente colado ao seu rosto.

        — O médico chegará rapidinho — ele disse. — Daremos algo para você comer depois, talvez uma bebida. Depois veremos como a sua pele vai ficar secando pendurada na parede.

        Inferno, quanto mais água havia na bexiga do bastardo? Se ele se mijasse mais, com certeza morreria de desidratação.        

        — Graeme, pare de aterrorizar o prisioneiro — Lobo ordenou quando Graeme entrou na sala de controle e trancou a porta atrás de si.

        — Chefe. — Graeme assentiu. — Surpresa ver o senhor por aqui.

        Inferno, a porra daquele Lobo era que nem um fantasma ou algo parecido. Ele era um dos poucos homens que conseguiam entrar na sala de controle e observá-lo sem que Graeme sentisse a sua presença.

        — Sim, imagino que seja — Lobo respondeu, seu olhar velado o observando com cuidado. — Sabe, a Agência de Assuntos Castas tem um mandado de prisão de um Casta Bengala que uma vez foi dissecado vivo e que depois teve a pele arrancada. Você não saberia nada sobre isso, saberia?

        Graeme piscou em surpresa.

        — Não sei sobre a parte do Bengala, mas posso lhe apresentar um Casta Leão que conheceu bem esses métodos — ele grunhiu, contendo a sua fúria. — Os malditos quase me enlouqueceram.

        Eles tinham lhe roubado a mente. Inferno, podem até ter lhe roubado a alma.

        — Ainda alegando ser Leão, sim? — Lobo perguntou com indolência.

        — Registrado e tudo mais — Graeme rosnou de volta. — Tem algum problema comigo, chefe?

        — Não, nenhum problema. — Lobo sacudiu a cabeça. — Mas talvez você tenha um problema comigo.

        Aquilo o fez parar.

        — Que tipo de problema? — Graeme perguntou com cautela, permitindo que sua suspeita aparecesse ao invés de escondê-la atrás de uma parede de estoicismo como teria feito antes de vir para as terras de Reever.

        — Um problema com relação à minha lealdade aqueles que me juram as suas — ele declarou em voz baixa. — Você já se provou mais do que uma vez, e eu expressei várias vezes que a lealdade aqui funciona dos dois lados. Não sou um homem para quem precise mentir, a não ser que esteja querendo me passar a perna.

        — Falarei isso para todo mundo, chefe — Graeme assentiu, fitando Reever como se não tivesse certeza do que ele queria dizer com a repreensão. — Garantirei que cada um deles receba a minha crença pessoal de que cada palavra que o senhor disse é verdade.

        Sei, certo. Aquele homem e Jonas Wyatt tinham a fama de ser mais íntimos do que unha e carne. E Wyatt estava revirando cada pedra na porra do Novo México procurando pelo Bengala que tinha um mandado de prisão federal nas costas. Ele teria que ser um maldito imbecil de confiar a Lobo a sua identidade.

        Os lábios de Lobo se curvaram achando graça.

        — Faça isso, Graeme — ele murmurou. — Faça isso mesmo. — Então ele se voltou para o vidro de segurança e fitou o prisioneiro ao cruzar os braços e passar a mão na mandíbula de um modo pensativo. — Chamou o médico?

        — Positivo. Ele chegará logo. — Graeme se apoiou na parede, entortando os lábios em divertimento ao olhar para o prisioneiro. — Acho que ele vai precisar tomar soro muito em breve. O bastardo continua se mijando.

        Lobo grunhiu.

        — Covarde.

        — Que é isso, chefe, talvez ele só não tenha a bexiga muito forte, sabe? Como é que chamam isso? Inconsistência ou coisa assim.

        — Incontinência. — zombou Lobo.

        — Uma coisa assim. — Ele encolheu os ombros. — Farei com que o médico faça uma intravenosa no rabo dele e o reidrate para que o ajudemos a se aliviar de novo.

        — Vamos ficar com ele? — Lobo perguntou, nem concordando nem discordando da intenção de Graeme.

        — Por que não — Graeme falou arrastando a voz. — O garoto tem amigos. Amigos do tipo de longa data. Esse tipo de amigo procura você quando você some.

        — Lealdade — Lobo murmurou, ainda fitando o prisioneiro.

        — Estupidez — retorquiu Graeme. — Mas, posso gostar desse tipo de estupidez quando tenho chance.

        Lobo assentiu.

        — Muito bem, veja o que dá para fazer com isso. Você tem três dias para atrair os amigos dele, depois eu o quero costurado, cheio de curativos e pronto para voar até Haven para comparecer diante do Tribunal dos Castas Lobos para receber a sua sentença. Ele atacou uma Casta lobo e conspirou para entregá-la a um laboratório. Esse crime é capital e só o Tribunal é que pode sentenciá-lo por isso.

        — Só se ele sobreviver à transferência. — Graeme sorriu friamente. — Bastardos burros assim tentam fugir, morrem e salvam horas de debate necessário do Tribunal e meses de protestos dos humanos.

        Lobo riu com aquilo.

        — É, mas inferno, eles também curtem as suas diversõezinhas. — O olhar que ele deu a Graeme era um que ele assumia não admitir recusa.

        Graeme deixou que ele pensasse que sim. Por enquanto.

        — Entendido, salvar o cara para o Tribunal poder se divertir um pouco. Ok. — Ele bateu o dedo na testa em uma saudação relaxada.

        — E me informe se aquele Bengala com o mandado na cabeça precisar de um amigo — Lobo o lembrou quando se virou para ir embora. — Eu sou um ótimo amigo, Graeme. Um péssimo inimigo de se fazer, mas um excelente amigo.

        Com uma última olhada por cima do ombro, Lobo saiu da sala e fechou a porta.

        Ufa.

        Agora aquilo era o que um Casta poderia considerar um “foi por pouco”.

        Especialmente um Casta com um mandado de prisão no traseiro e com o Diretor da Agência determinado a pescá-lo como um peixe no anzol.

        Graeme nunca se considerou “pescável”. Nem “fisgável”.

        Ele sorriu com a imagem que se formou antes de sentar e destrancar a fechadura eletrônica da porta que o médico usaria para ter acesso às celas.

        — Tenha cuidado com esse aí, Doutor — ele falou no microfone quando o médico percorreu o chão de cimento. — Ele gosta de fazer xixi na cama.

        — Aterrorizando os prisioneiros novamente, Graeme? — o Casta riu.

        Aquele não era o primeiro prisioneiro que tiveram, nem o primeiro que Graeme fez com que urinasse.

        — Está ficando fácil demais, Doutor — ele respondeu. — Precisamos achar prisioneiros com uma constituição mais sólida. Por que não lança um memorando para todos esses soldados fracotes que o Conselho continua enviando? Precisamos brincar com gente mais forte.

        — Certo. Memorando. Mande gente mais forte — o médico riu quando Graeme abriu a cela e o observou, junto com dois guardas Castas Lobos, entrar no espaço confinado.

        — É — murmurou Graeme. — Gente mais forte. Pelo menos mandem a porra de um desafio de vez em quando.

        Ele zombou da ideia.

        Aquilo não era possível. Não era possível porque o melhor que eles tinham a oferecer em qualquer época já havia jogado com ele. Ele estava vivo, eles mortos. Cada um deles.

        Gritos ecoaram em sua mente, agonia cortando as suas veias. Um grito de ira se formou em sua garganta com as lembranças que passaram pela sua cabeça e tentaram a fera que conseguiu acorrentar.

        Suas garras se flexionaram e seu corpo ficou tenso para saltar da cadeira quando uma ira insana que o atormentou por tantos anos ameaçou se libertar novamente.

        No último segundo, ele conseguiu formar um último pensamento racional.

        Sua tábua de salvação.

        Olhos gentis. O cheiro da luz da lua e uma risada tímida.

        — Quem é você? — ela sussurrou, a cabeça se inclinando para o lado quando as cores do deserto sombreavam a sua cabeça e roçavam pelos seus ombros nas mechas sedosas. — Se estiver aqui para me matar, por que não me mata logo e acaba com isso?

        Oh, estava lá para matá-la.

        O animal conseguia sentir o gosto do seu sangue, salivava por ele quando a insanidade do homem que vivia dentro dele saboreava o momento.

        — O que a faz pensar que estou aqui para te matar? Também não posso apreciar a noite? Além do mais, cheguei aqui primeiro. Foi você que me encontrou, não o contrário.

        Ele sentiu a surpresa dela. Inferno, não era menor do que a que sentia. Ele imaginava que o animal rosnou para ele em completo choque, questionando o tom de voz aparentemente racional que usou.

        — Eu encontrei você? — Ela sorriu. Bem ali, fitando as sombras onde ele se escondia, o sorrisinho mais fraco quando os seus braços relaxaram só um pouquinho onde estavam, cruzados por cima dos seios.

        — Como se chama isso? — ele perguntou ao se escorar na rocha áspera do penhasco ao seu lado. — Eu estava aqui na minha quando você apareceu de surpresa. Chamo isso de me encontrar.

        O que diabos estava acontecendo com ele?

        Ele podia sentir o cheiro dela, sabia que ela era diferente do que os outros pensavam que era. Seu cheiro estava tão doce como sempre, sem a mácula da posse suja de um homem ou do fedor ácido de mentiras e farsas.

        Só havia o cheiro de mulher, da luz da lua, de arrependimento, uma pitada de medo, e talvez, inferno, houvesse o mais leve aroma de cansaço e desejo.

        Ela sacudiu a cabeça, sua confusão perfumando o ar entre eles.

        — Eu nem sabia que você estava aqui. Costumava vir aqui fora o tempo todo só para apreciar a noite.

        — Então, por que parou? Melhor ainda, por que voltar no minuto em que eu decido curtir a vista daqui? Talvez devesse ter medo de você. — Como diabos estava tão calmo? Como conseguiu lembrar como era provocá-la com gentileza e observar aquele prazer tímido começar a aquecer os seus olhos?

        — É, sou mesmo muito assustadora. — Ela rolou os olhos com a ideia, sua expressão traindo a sua crença de que nada poderia estar mais longe da verdade.

        — Podia ser algum tipo de assassina. Uma daquelas sedutoras que o Conselho de Genética manda para atrair Castas inocentes de volta aos laboratórios — ele afirmou.

        Ela inclinou a cabeça de lado e agora observava sua sombra com interesse.

        — Não. — Ela sacudiu a cabeça. — Nada de sedutora.

        Ele tinha sua completa atenção. Estava focada exclusivamente nele e no sutil aroma de atração feminina, misturada a algo mais profundo, algo mais forte que ele sabia que deveria reconhecer, mas não reconheceu.

        — Hum, assassina então? — Ele deixou que visse um sorriso, uma curva provocativa dos lábios quando se mexeu o suficiente para permitir que a luz da lua o revelasse ao mesmo tempo em que mantinha o resto do rosto oculto. — Está aqui para me matar? Eu sou apenas um Casta indefeso escapando por algumas horas antes de ter que salvar o mundo outra vez.

        Aquilo era o que Rule Breaker havia murmurado naquela manhã enquanto caminhava pela luz do amanhecer para se juntar ao time que se dirigia ao deserto para patrulhar: Saí para salvar a porra do mundo outra vez. Me dê uma folga.

        — Com certeza não sou uma assassina — ela jurou, aquele sorrisinho tímido o provocando novamente. — Sou apenas uma secretária que gosta da noite. Um encontro casual no escuro, que nunca será repetido.

        — Nunca? — A ideia daquilo havia forçado o animal a recuar outro passo e permitir que mais um pouco de sanidade enroscasse em seu pescoço, contendo o seu avanço. — Não me diga uma coisa dessas, pode partir meu coração assim.

        — Também não sou uma arrasa corações — ela suspirou, afastando-se. — Melhor eu ir.

        — Prometa que vai voltar. — Ir? Ela ia deixá-lo sozinho. De novo?

        O animal lutou contra as amarras que estavam fracas demais para contê-lo se ele ficasse insistente.

        Ela parou.

        — Eu não deveria voltar.

        Mas ela queria. Ele podia sentir. Sentir o gosto do desejo no ar ao redor deles.

        — Estarei aqui amanhã — ele prometeu. — Só por alguns minutos. Eu prometo. Só conversar um minuto. Não vai lhe tomar muito tempo.

        Ele deveria atacá-la. Deveria estar provando do terror e do seu sangue enquanto ela fitava os seus olhos e percebia que estava prestes a pagar pelos seus crimes. Pagar pelo inferno para o qual o mandou.

        Ela olhou para a paisagem escura por vários segundos antes de dar um suspiro curto e resignado.

        — Mas que diabos — ela finalmente exalou com cansaço. — É melhor que os pesadelos.

        Ela se virou e se afastou dele, uma leve sombra no meio da escuridão, misturando-se a ela por um momento antes de surgir debaixo da luz da lua mais uma vez e retornar à segurança da casa e à proteção dos Castas que desconheciam a verdade.

        É melhor que os pesadelos.

        Ela não tinha ideia, ele percebeu. Exatamente como a outra não tinha conhecimento do passado que a colocava em perigo, essa aqui também não tinha.

        A única coisa que restava da pessoa que um dia ela foi era aquele leve aroma de uma necessidade tímida e faminta. Não uma necessidade sexual, pelo menos, não na época, todos aqueles anos atrás. Mas uma necessidade de afeto, de carinho.

        Tudo mais havia mudado, e ele de repente queria saber por que.

        Por que a garota que ela foi estava tão ofuscada que até o seu cheiro havia sofrido algumas alterações?

        E o que era aquele maldito sabor?

        Ele percebeu então.

        A quantidade de raciocínio suficiente penetrou a fúria e a insanidade para conter o animal tempo bastante para que ele se desse conta do inferno de uma vida inteira.

        O sangue dela havia salvado a sua vida, mas tinha o transformado em um animal furioso.

        Quando os soldados o capturaram novamente, aquela qualidade adicional em seu sangue os incitou a experimentos tão horrendos que tinham destruído a quantidade mínima de sanidade que ele ainda possuía.

        Foi o sangue que lhe foi transferido.

        O cheiro do que os Castas chamavam de calor do acasalamento, o gosto dele em sua boca, as pequenas glândulas inchando debaixo de sua língua toda vez que chegava perto dela.

        Era por isso que encontrá-la o arremessou naquele último passo que faltava para a insanidade.

        Ela era a sua companheira e finalmente a havia encontrado.

        Isso não queria dizer que ela não precisaria pagar por ter fugido dele.

        Não queria dizer que Judd não pagaria por ajudá-la.

        Não queria dizer que estivesse são por hipótese alguma.

        Mas com ela, ele poderia ter uma única chance de encontrar aquela sanidade.

        Pelo menos o suficiente para reivindicar o que lhe pertencia.

 

        — Já dei os pontos nele, Graeme — o médico anunciou ao sair da cela, os guardas com ele trancando as fechaduras quando Graeme esticou o braço e também ativou as travas eletrônicas.

        — Obrigado, Doutor. — Graeme clareou a garganta ao guardar as lembranças. — Vou tentar deixá-lo sossegado enquanto os arranhõezinhos saram.

        O médico riu enquanto ele e os guardas deixavam as celas e Graeme sozinho com os seus pensamentos.

        Suas fantasias.

 

       Duas semanas depois

        — Devil Black, sem-vergonha é o seu nome do meio — Kate riu de alegria ao sair do banheiro, fechando a porta com força antes de trancá-la e encarar o Casta que havia roubado o seu coração com um propósito impiedoso. O calor do acasalamento pode ter começado aquilo, mas o coração dele havia terminado.

        — O Conselho não nos dava nomes do meio, querida — ele a lembrou quando deitou novamente na cama deles, a força firme e muscular do seu corpo nu exibida para o seu olhar voraz. — Eles concentravam os talentos que tinham em alguns aspectos mais importantes.

        Larga e delgada, a mão dele desceu, dedos compridos circulando a espessura dilatada do seu pênis.

        Ah, sim, ela tinha que admitir, alguns cientistas arrojados definitivamente tinham mostrado possuírem um pouco de imaginação programando o DNA de certos aspectos da forma masculina dos Castas Lobos.

        Altos, sem um grama de gordura e poderosos, feições brutalmente talhadas enfatizadas pelos incomuns olhos negros com listras cor de âmbar e de cílios volumosos.

        Não conseguia olhar para ele sem desejá-lo.

        Ele era a personificação de sua fantasia adolescente, e agora era o amante que nunca falhava em lançá-la em um oceano de êxtase.

        Tirando as sandálias lentamente, seus dedos abriram o botão que prendia sua saia ao quadril. Seda e chiffon deslizaram pelas suas coxas, pelas suas pernas e se amontoaram de modo descuidado aos seus pés quando saiu do meio da pilha.

        Quando um rosnado soou no peito dele, Kate se aproximou mais, usando apenas uma calcinha branca do tipo biquíni de lacinho de seda e a camisola preta colada cobrindo seus seios.

        Sem sutiã, ela podia sentir os bicos sensíveis e rijos do mamilo rasparem o tecido, criando um tesão impossível de se ignorar por muito tempo.

        Entre as suas coxas o seu clitóris inchou e pulsou em demanda, a essência escorregadia de sua necessidade feminina cobrindo as dobras sem pelos da sua vulva e molhando sua calcinha quando se aproximou dele.

        O âmbar nos olhos dele brilhava mais, mais quente quando ela levantou a mão, os dedos acariciando a pele exposta entre o elástico da calcinha e a bainha do top que ia até embaixo do umbigo.

        O calor do acasalamento era uma chama que se recusava a separá-los por muito tempo, mas também era a chave para emoções que um Casta calejado e repleto de marcas de batalhas passadas nunca tinha se permitido sentir. A chave de uma sensualidade que uma certa Casta desconfiada e insegura podia ter suprimido, ao menos por um tempo.

        Agora, não havia como conter nada, como esconder, como negar.

        Colocando o joelho no colchão, as palmas apoiadas nas cobertas, Kate subiu na cama, engatinhando devagar entre aquelas pernas compridas e poderosas do homem que esperava por ela.

 

        Observando-a ir até ele, sensualidade enchendo a sua expressão, corando seu rosto, endurecendo os seus seios, seus mamilos, enviando o cheiro doce de sua vontade aos sentidos dele.

        Cachos compridos e sedosos caíam em volta dela como espirais de chamas enquanto os seus olhos verdes brilhavam com uma fome esmeralda por entre cílios longos e espessos.

        Maldição, as bolas dele estavam apertadas, o comprimento dilatado do seu pênis latejando com uma fome crescente quando ela desviou dele e apenas sentou em suas coxas. A seda de sua calcinha, quente e úmida da excitação aumentando dentro dela, tocou naquele membro duro que nem ferro quando roçou os lábios nos seus.

        A cada segundo que se passava o calor crescendo entre eles se elevava, surpreendendo os sentidos de ambos quando a necessidade de tocar e sentir o gosto se tornou imperativa.

        Seus dedos mergulharam nos cachos da nuca dela, segurando-a onde estava quando cobriu os seus lábios, a língua lambendo, abrindo passagem até que ela retribuísse o beijo com o mesmo ardor.

        Picante e doce, o hormônio do acasalamento se derramava das glândulas minúsculas entre as línguas deles e acelerava o pulso enquanto a necessidade se amplificava e inundava os seus corpos.

        Devil não conseguia imaginar uma coisa mais forte do que aquilo. O prazer do beijo da sua companheira, do seu toque, da fome e da necessidade que crescia entre eles que nem um fogo alto a queimar as suas peles.

        Enganchando os dedos no elástico da calcinha dela, foi incrivelmente fácil desatar o laço e removê-la inteiramente.

        A sensação da carne dela, escorregadia e quente contra a amplitude do seu membro ereto fez com que cada músculo em seu corpo ficasse tenso em uma necessidade tão primitiva que era impossível de se negar.

        Mantendo os lábios nos dela com a mão atrás de sua cabeça ele passou o braço livre em volta do seu traseiro para colocá-la no lugar certo e não conseguiu conter o rugido desesperado que saiu de sua garganta.

        Ele amava quando ela ficava por cima. Amava ver tudo o que ela fazia, senti-la o tomando inteiro. Mas os instintos primitivos que o rasgavam agora eram impossíveis de negar.

 

        — Dev — Kate protestou quando seu beijo foi interrompido repentinamente, os olhos arregalados, surpresa a enchendo quando ele a tirou de cima do corpo.

        — O quê...?

        Antes que ela pudesse ao menos ofegar a pergunta, ele a colocou de joelhos, uma mão enorme pressionando os seus ombros para baixo quando ele se pôs detrás dela.

        Segurando-se nos cotovelos e tirando o cabelo de cima dos olhos, ela de repente se viu confrontada com a sua imagem no espelho de corpo inteiro que ficava na parede. Curvada de quatro na frente do seu companheiro, as mãos dele segurando o seu quadril, colocando-a na posição certa quando ele removeu uma mão para segurar a feroz ereção.

        Ela o observou, observou quando os olhos dele se estreitaram no local onde os seus corpos se encontravam, e sentiu a ponta larga abrir os inchados lábios de sua vulva.

        Aquele primeiro jato de líquido pré-seminal jorrou dentro dela, os hormônios únicos que ele continha afundando instantaneamente, acariciando a sua carne e despertando sensações que não conheceria sem ele.

        Ele atirou a cabeça para trás ao pressionar a cabeça alargada dentro da entrada apertada até que ela estivesse completamente alojada no meio dos músculos, que se contraíam em uma espécie de ordenha, da sua vagina.

        O esguicho seguinte fez com que um gemido saísse de seus lábios quando ela sentiu a cabeça do pênis dele se contrair para expelir, sentiu o calor do gozo dentro dela. Porque ela sabia que em poucos segundos ele viria.

        Aquela leva de sensações intensas e ferozes quando sua vagina apertou com força, uma resposta involuntária à estimulação dos hormônios que se derramavam dentro dela. O fogo arrebatador contraiu o seu útero, fazendo com que tremesse em espasmos em um prazer-dor que arrancou um grito entrecortado dos seus lábios.        

        Um segundo depois, tão fortemente quanto a sua carne o apertava, flexionando e ordenhando o comprimento generoso para que penetrasse ainda mais, sua vagina choramingava mesmo assim por mais. O deslizar sedoso dos seus fluidos misturados ao novo esguicho do dele aumentou as sensações quando ele entrou mais nela.

        Era um prazer agonizante, a dor mais doce que podia imaginar. A cada investida superficial do quadril dele, cada deslizar para fora da grossa ereção, as sensações só cresciam. E Kate não conseguia não olhar. Do mesmo modo que ele olhava a penetração do seu corpo.

        — Porra. Tão gostoso — ele rosnou, a respiração pesada com o suor deslizando pela sua têmpora.

        Levantando o olhar, agora completamente âmbar, as chamas ardentes que iluminavam a sua profundeza arrancaram um ofego brusco de surpresa de sua parte.

        — Tão gostosa, Kate — ele rosnou, o olhar voltando para onde ele a estocava devagar, o quadril se mexendo num ritmo fixo enquanto a fodia mais e mais fundo a cada movimento até que em uma última investida, ele se alojou até a base.

        Um último esguicho de fluido atingiu as suas paredes internas, a cabeça grossa pulsando ao expelir, acariciando a sensível carne que ele enchia tão completamente.

        — Dev, por favor. — O grito desesperado saiu dos lábios dela quando ele manteve o quadril parado, recusando-se a permitir que ela se movimentasse, movendo-o dentro e fora de si até que as explosões intensas de doloroso prazer diminuíssem.

        — Deixe eu sentir isso — ele grunhiu. — Essa sua deliciosa vagina me apertando tão forte e quente. Porra, Kate, parece que tem eletricidade em volta do meu pênis.

        Ela choramingou com o prazer que enchia a voz dele e pequenas explosões de sensações continuaram a detonar pela sua vagina.

        Prazer e dor.

        E não terminava. Não terminaria até que ele começasse a se movimentar. Até que o membro inteiro estivesse entrando e saindo até onde conseguia e o mais rápido possível dentro dela. Até lá, o fluido que ele expelia continuaria apertando sua carne enquanto flechas de prazer exigiriam mais dos seus próprios líquidos em uma tortura cheia de êxtase.

        — Por favor, Dev. — Sem fôlego, embarcando em uma onda de sensações tão poderosas que lhe roubava o ar, Kate implorou que ele aliviasse a demanda que crescia entre as suas coxas.

        Seu clitóris estava latejando, pulsando ao mesmo tempo de cada tremor que sofria na vagina, até que em desespero ela baixou a mão entre as coxas, os dedos encontrando o centro rico em nervos e o esfregando com pressa.

        — Isso, brinque com esse clitóris lindo — ele incentivou, abaixando-se sobre ela, os joelhos afastando os dela, o quadril movendo só o suficiente para fazer com que a cabeça do pênis acariciasse seus músculos internos, o bastante para enviar dardos de prazer pelas suas terminações nervosas.

        — Me deixe sentir você gozando assim — ele exigiu, o olhar encontrando o seu no espelho. — Me deixe sentir essa bocetinha apertar mais, companheira. Ordenhe o meu pau, amor. Sugue o meu gozo direto das minhas...

        Um grunhido brusco encheu os seus ouvidos quando os lábios dele foram até a marca do acasalamento em seu pescoço.

        Porque ela o apertou. Quase de maneira impossível, em demoradas e ondulantes contrações quando a estimulação do clitóris começou a eletrizar seus sentidos, levando-a mais perto, mais rápido.

        Dentro do seu canal fervente, Devil mexeu a cabeça do pênis, acariciando centros nervosos ocultos enquanto o membro grosso a estirava, marcando sua carne a fogo. O latejar da ereção dele acariciava cada pedacinho de carne que estirava, queimando os músculos em tremores e contrações que a envolviam.

        Os dedos dela se movimentaram mais rápido, um grito rasgado deixando os seus lábios quando ele encontrou um mamilo com os dedos de uma mão e apertou o ponto rijo de maneira erótica, puxando-o, aplicando apenas a pressão suficiente para...

        Oh, Deus, ela estava tão perto.

        Um chiado de brutal sensação explodiu do seu mamilo ao seu clitóris. Sua vagina se contraiu novamente, apertando, enquanto o quadril dele se movia, batendo em seu traseiro, mais rápido, as estocadas curtas acariciando, esfregando até que por um segundo ofuscante ela girou em um êxtase que consumiu a sua alma.         

        Ela gritou quando sentiu o primeiro jato do gozo dele jorrar dentro de si. No segundo seguinte, a grossura do seu pênis o prendeu onde estava quando o seu quadril começou a se mover, puxando do aperto que sua carne tinha nele a cada jorrar convulsivo de sua semente dentro dela.

        Era como voar num céu de sensações ricas e puras. Tudo que conseguia fazer era sentir o prazer intenso comandando não apenas o seu corpo, mas também a sua alma. Ela forçou um grito desesperado da garganta quando os dentes dele perfuraram a marca do acasalamento mais uma vez, a língua lambendo-a para aliviar a dor, substituindo-a com calor e prazer.

        Ofegando, estremecendo com cada explosão que irrompia dentro dela, ela rezou para que nunca acabasse, mas sabia que não sobreviveria se não terminasse logo.       

        — Eu amo você, Kate — ele grunhiu de repente no seu ouvido. — Deus me ajude, companheira, vou amar você até depois de morrer.

        Ele a amava.

        Nas duas semanas desde que as chamas do calor do acasalamento os enlaçaram, ele não havia falado essas palavras. Ela tinha lhe dado o seu amor, sussurrado todas as noites, mas sem esperar nada.

        Nunca pensou que ele fosse amá-la. Eles eram companheiros. Ele era um homem realista, prático. Amor não combinava com a vida que ele via diante de si.

        Mas ele guardou um lugar para o amor nessa vida.

        Abraçando-a, seu gozo a enchendo quando ela deu um novo tremor de prazer, ele sussurrou novamente.

        — Amo você, companheira.

        — Amo você, companheiro. — ela sussurrou de volta. — Para sempre.

 

        Com ela colada ao corpo, o rosto enterrado em seu pescoço, o corpo estremecendo pelos resultados de um êxtase primordial, Devil sentiu aquela barreira final dentro de sua alma ceder sob as emoções que a golpeavam.

        Ele a amava.

        Com todo o seu coração, com a sua alma cheia de cicatrizes e com a escuridão que provavelmente retornaria com bastante frequência, ele a amava.

        E ele a merecia.

        Por Deus, ele merecia aquela mulher, aquela chama Irlandesa minúscula que queimou a sua resistência e roubou o seu coração.

        Exatamente como era sussurrado pelas propriedades vizinhas e pelas cidades próximas. Ela era a recompensa do Diabo.

        A alma de Devil.

        E todos os sonhos que já sonhou.

 

 

                                                                                                    Lora Leigh

 

 

 

[1] Harmony Lancaster (O Caminho de Harmony).

[2] Matthias Slaughter (No Abraço de um Lobo).

[3] Callan Lyons (Provocando a Besta).

[4] Saban Broussard (Um Beijo do Jaguar).

[5] Diabo.

[6] Mercury Warrant (A Guerra de Mercury).

[7] O conceito de morte como uma entidade tem existido em muitas sociedades, desde o início da história. A partir do século XV, veio a ser mostrada como uma figura esquelética carregando uma foice grande e vestida com um manto preto com capuz. Na cultura ocidental, a Morte é frequentemente associada à figura do "Ceifador Sinistro" (em inglês, Grim Reaper), no oriente é chamada de Shinigami, também é conhecida como Anjo da Morte, Diabo da Morte ou Anjo da Escuridão e daLluz (Malach HaMavet), nomes resultantes da Bíblia.

 

 

 

 

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