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A SUA ESPERA
A SUA ESPERA

                                                                                 

                                                                                                                                                   

 

 

Biblio VT

 

A SUA ESPERA - Parte II

 

 

 

 

Tinha certeza de que sim. Minha mente brincava com imagens dela desse jeito. Então me juntei a ela em minha imaginação, e a coisa ficou ainda mais interessante. Aquelas pernas compridas e a pinta embaixo da bunda seriam as primeiras coisas que eu exploraria. Uma imagem dela em minha cama, com a bunda para o alto, para que eu pudesse acariciar e beijar aquela pinta, fez meu pau latejar violentamente.

Então o apertei, tentando acalmá-lo. Ele estava quente e não ia esfriar tão cedo. Ainda mais com a voz de Reese me acendendo.

– Reese, me dê um minutinho. Já volto.

– Tudo bem.

Eu odiava ser tão fraco, mas precisava me controlar agora, se queria mantê-la ao telefone até que adormecesse. Ou eu entrava em uma ducha fria ou terminava com essa fantasia na privacidade do banheiro. Eu estava com pressa, e a imagem de Reese em minha cama, com sua bela bundinha redonda para cima, estava me provocando.

Fechei a porta do banheiro, fui até a parede, onde me apoiei, e então peguei meu pau latejante outra vez. Lentamente, comecei a acariciá-lo, enquanto lambia a bunda e a pinta de Reese, então abri as pernas dela, e senti sua fenda quente escorregadia ao meu toque. Minha outra mão acariciaria sua bunda e então deslizaria até sentir os mamilos duros e o peso de seus seios pendendo em direção ao colchão.

Ela gritaria quando eu passasse a língua sobre sua carne macia, e seus peitos dançariam e saltariam na minha mão. Pronto, foi o que bastou. Gemi quando o gozo foi bombeado para fora de mim e cobriu minha mão, ainda fechada firmemente em torno do meu pau.

Desde que conheci Reese, eu vinha fazendo isso cada vez mais. Já tinha tentado alguns banhos frios, mas eu os detestava. Essa era a solução mais fácil. E a menos dolorosa. Além disso, minhas fantasias com Reese estavam ficando cada vez melhores.


Reese

Jimmy apareceu na manhã seguinte para me dizer que avisara ao trabalho que estaria ausente por motivo de saúde pelo restante da semana e que, para escapar do horror da noite anterior, ia fazer uma viagem. Ele não tinha conseguido dormir e estava choroso. Sua preocupação principal era como eu ia chegar ao trabalho. Embora eu lhe garantisse que podia ir andando, ele disse que não seria capaz de relaxar e desligar a cabeça de tudo se estivesse preocupado com o fato de eu ter que ir a pé até as casas. Assim, havia combinado com um cara em quem confiava para ir me pegar e levar para o lugar em que eu trabalhasse no dia. Ele me garantiu que o conhecia desde sempre e que ele era um amigo de confiança do Sr. Kerrington. Tive que prometer a ele que pegaria carona com seu amigo, Thad, antes que ele partisse. Como estava preocupada com ele, concordei. Mas não era algo que eu quisesse fazer, de jeito nenhum. Preferia mil vezes pegar um táxi. Mas Jimmy se recusou a aceitar isso.

Portanto ali estava eu, diante do meu apartamento, esperando um “BMW preto com rodas prateadas reluzentes que você não terá como não ver”. Jimmy também disse que Thad tinha cabelo louro comprido, e que o lugar ideal para ele parecia ser em cima de uma prancha de surf.

Uma fita amarela do tipo que a polícia usa para isolar uma cena de crime cercava a porta e a calçada três portas adiante. Eu me encolhi ao pensar no horror que acontecera ali. Jimmy vira tudo. Eu também estava preocupada com ele. Como ele poderia esquecer aquilo e dar continuidade à vida?

Na noite anterior, eu havia adormecido quando Mase me deixara esperando. Aquilo realmente me surpreendeu. O simples fato de saber que ele estava ali e não ia me deixar foi suficiente para me fazer relaxar. E também houve a estranha conversa sobre o que vestíamos para dormir. Ele dormia nu. A imagem daquele homem nu me excitava. E ia ser estranho quando eu tivesse que vê-lo outra vez.

Era mesmo difícil de não reparar no sofisticado BMW preto que chegou ao estacionamento. Mesmo sem ver as rodas ou o motorista louro no interior, eu sabia que era ele. Ninguém nesse condomínio tinha um carro como aquele. Botei minha mochila no ombro e respirei fundo. Jimmy não mandaria alguém perigoso para me pegar. Eu podia fazer isso. Podia, sim.

A porta do carona se abriu, e um cara alto, cujo cabelo louro encaracolava logo abaixo das orelhas, sorriu para mim. Ele usava óculos escuros, de modo que eu não podia ver seus olhos. No entanto, ele parecia seguro. Seu sorriso era amigável, e – tornei a me lembrar – Jimmy confiava nele.

– Você é Reese? – perguntou ele.

Fiz que sim com a cabeça e desci da calçada, indo para o carro.

– Só o Jimmy mesmo – disse Thad, balançando a cabeça e rindo.

Não perguntei o que aquilo queria dizer.

– Obrigada por me levar. Eu pago a gasolina – garanti, entrando no carro.

Thad franziu a testa.

– Ah, não vai pagar, não. Vou levar uma garota bonita para o trabalho e para casa.

Não fiquei tensa quando ele me elogiou. E isso era um bom sinal. Eu estava melhorando. Nem todos os homens eram maus. Jimmy, Mase e o Dr. Munroe tinham me ensinado isso. Também havia a maneira como Grant Carter adorava a mulher e a filha. Minha opinião sobre os homens estava mudando. Quanto mais tempo eu ficava em Rosemary Beach, mais via o lado bom da humanidade.

– Jimmy pediu a você que me levasse até o Kerrington Club? Posso andar a partir dali.

Ultimamente Jimmy estava me levando até as casas em que eu trabalhava em vez de me deixar ir a pé. Era algo que eu sabia que Mase tinha lhe pedido que fizesse.

– Pediram que eu a levasse à casa de Nan hoje. Ouvi dizer que ela estará de volta em duas semanas. Ah, que alegria – disse Thad, me olhando como se eu entendesse o que ele estava falando.

Eu nunca tinha visto Nan, mas pelo que todos, incluindo o irmão, diziam sobre ela, eu não estava certa se ia querer conhecê-la. Gostava de limpar a casa dela. Precisava daquele trabalho. Mas começava a ficar apavorada com ela. Teria que contar sobre o espelho quando ela retornasse. E temia esse momento.

– Acho que não estou ansiosa por conhecê-la – admiti para Thad. – Parece que ninguém gosta muito dela.

Thad deixou escapar uma gargalhada.

– É o eufemismo do ano.

Ah, puxa. Desejei com toda força que ela pudesse simplesmente ficar em Paris para sempre.

– Você ouviu aqueles tiros na noite passada? – perguntou Thad, mudando de assunto. – Ver as fitas na cena de crime é assustador.

Concordei e afastei a lembrança da noite passada.

– Sim – foi minha única resposta.

Então concentrei a atenção no lado de fora. Não queria falar dos tiros.

– Desculpe se ela era sua amiga ou coisa assim. Não quis ser desrespeitoso.

Continuei olhando pela janela.

– Eu não a conhecia – falei.

Então ele ficou quieto. Provavelmente eu deveria ter falado alguma coisa e não deixado aquele silêncio constrangedor, mas eu não sabia o que dizer.

Quando ele passou pelo portão de Nan e seguiu o caminho que levava até a entrada da casa, eu me senti aliviada. Ansiava por fazer minha faxina e aproveitar aquele tempo sozinha e sossegada.

– Pego você aqui por volta das três.

– Obrigada.

Por mais estranho que fosse pegar carona com um desconhecido, era bom chegar ao trabalho mais rápido.

Thad me dirigiu um sorriso torto.

– Sem problemas.


Naquela noite, contei a Mase sobre Jimmy ter viajado e Thad ter me dado carona. Ele não pareceu animado, mas não lhe perguntei por quê. Éramos amigos, nada mais. Em vez disso, li dois capítulos para ele. Pouco antes de desligarmos, ele perguntou se eu já estava de pijama.

– Sim – respondi, olhando para a calça de moletom cortada e a camiseta.

Ele suspirou e então riu.

– Desculpe. Não pude evitar. Boa noite, Reese.

– Boa noite, Mase.

– Bons sonhos.

Ele não tinha ideia de quanto seriam bons.


Mase

Meu café estava passando e eu não tinha vestido nada além do jeans quando uma batida na porta perturbou minha rotina matinal.

Contrariado, imaginando que fosse Major chegando uma hora mais cedo, fui lá e abri bruscamente a porta, pronto para fuzilá-lo com o olhar. Mas era Cordelia.

Ela não tinha telefonado nem aparecido desde que eu a mandara para casa fazia quase um mês. Não recuei para deixá-la entrar, porque no passado tudo o que fazíamos juntos tinha a ver com sexo e eu não ia mais transar com ela. Não quando meus sentimentos em relação a Reese estavam cada vez mais profundos.

– Estou apaixonada por você – despejou ela, os olhos se enchendo de lágrimas.

Santo Deus, eu não precisava disso hoje. Nem em qualquer outro dia. Cordelia não deveria jamais se apaixonar por mim. Tínhamos feito sexo. Só isso. Nada de carinhos e beijos, apenas trepávamos.

Cacete.

– Cordelia, eu sinto muito. Mas começamos isso sabendo que era só um lance de sexo. Não sabia que você tinha sentimentos mais profundos ou que estava começando a tê-los. Eu teria interrompido há muito tempo, se soubesse.

Ela fungou e seus ombros se curvaram, num gesto de derrota.

– Então você realmente não sente nada? Nada mesmo?

Caramba, eu sentia prazer quando gozava. E, sim, eu aproveitava o corpo dela, mas era isso. Nada de sentimentos. Neguei com a cabeça, odiando magoá-la.

– Não. Para mim era apenas sexo. Pensei que para você fosse só isso também.

– Tem outra pessoa? – perguntou. – É por isso que você não quer mais me ver?

Não sabia como responder. Reese não era da conta dela, mas era a razão para eu pôr um ponto final naquela história.

– Estou sentindo algo por outra pessoa, sim.

Pronto, falei. Ela cobriu a boca ao soluçar.

– Então você se envolveu com outra pessoa enquanto estava trepando comigo?

Fiz que não com a cabeça, deixei escapar um grunhido frustrado. Eu só queria um café. Não isso.

– Não me envolvi com ninguém... ainda – disse a ela. – Mas isso não importa. Eu quero me envolver. Estou esperando por ela.

Cordelia soltou uma risada seca e limpou as lágrimas que escorriam pelo rosto.

– Então a mulher disposta a lhe dar tudo não é suficiente. Você quer a que resiste, é isso? Deus, eu odeio os homens! Vocês são todos uns babacas! – Cordelia gritou a frase final. E apontou para mim. – Você vai se arrepender. Quando precisar de mim, vai se arrepender. Todo aquele sexo ardente que a gente fez foi fantástico, e você sabe disso. Você vai me querer outra vez, e eu não vou dar para você. É isso, Mase. Você teve sua última chance.

Eu não tinha resposta para isso. Observei-a dar meia-volta, ir até sua caminhonete e entrar. Fechei a porta de casa e torci para que ela mantivesse a palavra e que esse fosse mesmo o fim. Não poderia passar por aquilo de novo e deixá-la agir assim. Odiava magoá-la, mas Cordelia estava forçando a barra.

Meu telefone começou a tocar e eu olhei cheio de vontade para o café na cafeteira. Eu queria muito aquele café. Frustrado, peguei o telefone. Por que não me deixavam em paz? Droga, eu só queria uma manhã tranquila.

O nome de Harlow se iluminou na tela.

– Você está bem? – perguntei, pensando que algo pudesse ter acontecido. Ela nunca ligava tão cedo.

– Imaginei que você já estivesse de pé. Grant acabou de me contar algo antes de ir para o trabalho, algo que ele escutou ontem e que eu achei interessante. Queria compartilhar com você.

Estava quase com medo de ouvir. Ela parecia tramar algo. Dava para perceber na voz dela. Qualquer que fosse a informação que tivesse, Harlow estava um pouquinho empenhada demais em me contar.

– São sete da manhã, Harlow. Acabei de levantar e preciso de um café – resmunguei enquanto me servia uma xícara.

– Beba seu café, rabugento. Posso contar o que sei enquanto você bebe.

– Tudo bem – concordei, ouvindo apenas parcialmente o que ela dizia. Estava mais concentrado no líquido escuro na caneca à minha frente.

– Sabe Thad, aquele amigo de Woods Kerrington? Ele levou e buscou Reese no trabalho esta semana.

Essa era a novidade? Revirando os olhos, fui lá fora desfrutar o café.

– Já sei disso – informei a ela.

– Ah. Bem, sabe que ontem ele a convidou para sair neste fim de semana e ela aceitou?

Minha mão parou em pleno ar, a caneca diante dos lábios. Que merda era essa?

– Reese vai sair com Thad? – perguntei, baixando a caneca, ainda sem ter certeza de que fora isso mesmo que eu ouvira.

Reese ficava nervosa com homens. Thad era um mulherengo. Já tinha visto o cara em ação. Era exatamente o tipo de sujeito que eu sabia que Reese não gostaria de ter por perto. Como assim?

– Quem contou isso a Grant? – perguntei, esperando o desfecho.

Tinha que ser piada.

– O próprio Thad. Ele a convidou quando a levou para o trabalho ontem de manhã e ela aceitou. Grant disse que ele parecia um garotinho que tinha acabado de ganhar um brinquedo novo. Ele queria que eu conversasse com Reese sobre Thad. Ele é um galinha, sabe, e Grant não quer que ele magoe Reese. Mas achei melhor contar para você. Já que você é amigo dela, talvez possa ligar para ela e avisá-la.

Ela estava sendo maliciosa. Sabia que isso ia me deixar puto. Harlow me conhecia bem demais. Sem chances de Reese sair com Thad. Se ela queria sair com alguém, então ia sair era comigo.

– Obrigado. Preciso ir. Falo com você mais tarde.

– Tudo bem, mas você vai falar com ela, não vai?

Quase ri de sua falsa preocupação. Ela sabia muito bem que eu não ia deixar aquele encontro acontecer.

– Vou falar com ela – respondi, desligando o telefone.

Engoli o café e deixei que ele queimasse minha garganta. Precisava comprar uma passagem e então chamar Major para que ele assumisse tudo que eu largaria para me assegurar de que Thad mantivesse suas mãos de playboy longe do que era meu.


Reese

Por que fui dizer sim a Thad? Ele me fazia rir e era legal, mas eu não queria sair com ele. Só não sabia como dizer não. Não queria ser grosseira. Ele foi tão prestativo a semana toda, e, depois do constrangimento do primeiro dia, parecíamos ter chegado a um bom termo.

Por sorte eu não precisava trabalhar hoje, assim não teria que vê-lo. Mas, amanhã à noite, quando ele aparecesse para sair comigo, não haveria como escapar. Quase contei a Mase, mas algo me segurou. Só porque eu tinha uma queda por Mase, não significava que o interesse fosse recíproco. Mesmo que ele gostasse de saber quando eu estava de pijama, isso não significava que quisesse me ver usando roupas íntimas.

A ideia fez minhas bochechas ficarem quentes.

Pare com isso, me repreendi. Eu tinha que pensar sobre o que havia combinado com Thad. Um encontro. Um encontro de verdade. Com um cara rico e atraente. Ah, não. Em que eu havia me metido? Não podia fazer isso.

Hoje era a noite em que Jimmy tinha planejado sair comigo, num encontro de casais, até que aconteceu o tiroteio. Então ele viajara e agora só voltaria no domingo. Eu havia falado com ele duas noites atrás. Quando percebi que ele não estaria de volta a tempo para esse encontro duplo, me senti aliviada por ter me livrado. Então me acontece essa.

Mase me ligaria hoje à noite. Será que eu devia comentar com ele? Provavelmente não. Ele não me falava de seus encontros. Será que ele tinha encontros? E se tivesse? Nesse caso, ele voltava para casa cedo, porque conversávamos todos os dias mais ou menos por volta das dez.

Olhei para minha camiseta e minha calça de moletom cortada e suspirei. Estavam mesmo muito surradas, mas eram macias e confortáveis. No mundo de Mase, as mulheres usavam sedas e rendas caras. Eu não tinha nada nem remotamente sexy para vestir na cama. Até Mase, eu nunca havia desejado algo assim. Ele tinha mudado muitas coisas em mim. Talvez ele até tivesse sido o motivo de eu ter dito sim a Thad.

Uma batida forte e aguda na porta me assustou, e eu larguei o telefone no sofá e me levantei para ver quem era. Não estava esperando ninguém, e desejava sinceramente que não fosse Thad me fazendo uma visita. Não quando eu planejava conversar com Mase por telefone nessa noite.

Espiei pelo olho mágico e arquejei.

Como se fosse um sonho, lá estava ele diante de minha porta. Seu rosto parecia determinado, e o cabelo estava puxado para trás de modo que eu podia ver a linha firme de seu maxilar. Ele estava aqui. O choque foi substituído pela preocupação, enquanto eu destrancava e destravava a porta e finalmente a abria.

– Mase, está tudo bem? – perguntei.

Ele me encarou. Começou a se mover na minha direção, mas parou.

– Não. Posso entrar? – pediu, tenso.

Concordei com a cabeça e recuei um passo para que ele entrasse.

– O que aconteceu? – perguntei, com medo de escutar a resposta. Ele estava nervoso.

Mase entrou e seu olhar percorreu meu corpo de cima a baixo, e então tornou a subir. Muito lentamente. Quando retornou ao meu rosto, havia um brilho nele que me fez estremecer.

– É melhor do que imaginei. E acredite, gata, imaginei você nesta roupa muitas vezes.

Ele parecia acariciar as palavras em vez de pronunciá-las. Seu tom soturno me fez estremecer outra vez. Eu não conseguia falar. Não agora. Ele me roubara as palavras com aqueles olhares.

– Não quero que você saia com Thad – disse ele com firmeza, me arrancando de meu estranho torpor.

Seu maxilar estava cerrado com força outra vez, e aquele brilho estranho nos seus olhos havia voltado.

– Como você sabe? – perguntei a ele. E por que se importa?, pensei comigo mesma.

– Ele contou para Grant – respondeu ele.

Isso explicava tudo.

– Eu estava dando tempo a você. Você parecia assustada. Eu não queria pressioná-la. Mas, se vai sair com alguém, vai ser comigo, Reese. Não com o playboy do Thad.

Ele disse a última frase num grunhido que me sobressaltou.

– Ele não conhece você. Não saberá interpretar suas expressões para entender se você gosta ou não de algo. Não saberá quando algo que ele fizer a deixar pouco à vontade ou quando você estiver precisando de ajuda para ler alguma coisa. Ele não saberá que você tem duas risadas diferentes. Uma é a real e a outra é de nervosismo. Ele não saberá nada. Mas eu sei.

Mase Manning estava mesmo tentando me convencer a sair com ele? Ele achava que precisava de “argumentos de venda” para que eu cedesse?

– E ele cometerá um erro. Ele fará alguma coisa que vai magoar você, e eu vou matá-lo. Não sou um cara violento, mas, se ele magoasse você, eu perderia a cabeça. Perderia mesmo. Assim, no meu entender, você precisa cancelar o encontro com ele e fazer novos planos. Comigo.

Antes que ele fizesse qualquer outra tentativa de me convencer, eu sorri.

– Tudo bem.

Ele abriu a boca e depois fechou. Em seus olhos passou um brilho que só podia ser entendido como prazer, então ele deu um passo na minha direção.

– Tudo bem? – perguntou.

Assenti com a cabeça.

– Sim. Tudo bem – repeti.

Um sorrisinho ergueu um canto de sua boca linda.

– Tudo bem quer dizer que você vai cancelar o encontro com Thad e fazer novos planos comigo? Para o fim de semana todo?

O fim de semana todo. Ele estava aqui para ficar o fim de semana todo? Assenti, incapaz de me segurar e não sorrir ainda mais intensamente. Eu ia passar o fim de semana inteiro com Mase. Ele tinha vindo para ficar comigo.

Comigo!

Mase eliminou a distância entre nós, ergueu as mãos e tomou meu rosto entre elas. Meu corpo se retesou, mas relaxou quase imediatamente. O cheiro dele chegou até o meu nariz e isso me tranquilizou.

– Vou beijar você agora, Reese. Não consigo mais me segurar – falou ele, e sua respiração foi um sopro sobre meus lábios antes que a maciez daquela boca carnuda tocasse a minha.

Ele foi delicado ao beijar de leve os cantos da minha boca, antes de a ponta de sua língua deslizar por meu lábio inferior, como se me pedisse para abri-los. Eu tinha visto pessoas se beijarem. Tinha noção de que se abria a boca, mas isso me parecia muito íntimo. Não sabia se estava pronta para isso. Ou se faria direito.

– Abra a boca para mim, por favor – pediu, e percebi que provavelmente eu faria qualquer coisa que ele me pedisse.

Abri a boca – e arquejei quando sua língua deslizou para dentro e roçou a minha, como num desafio para que eu correspondesse ao movimento. O gosto dele era de menta. Um gemido surdo veio de seu peito e uma de suas mãos foi até a base das minhas costas e pressionou, me trazendo mais para perto, enquanto ele entrelaçava os dedos em meu cabelo, chegando até minha nuca. A maneira como ele me segurava era diferente. Ele era cuidadoso comigo.

Sua língua continuou provocando a minha, então deslizei a língua pela dele e comecei a explorar o gosto de menta de sua boca. Quando minha língua correu sobre seu lábio inferior, a mão nas minhas costas se fechou. Mase soltou um arquejo e estremeceu.

Então repeti a dose.

Dessa vez, um murmúrio de prazer saiu de sua garganta. Ele então interrompeu o beijo e encostou a testa na minha.

– Eu sabia que você seria doce. Mas, caramba, gata, você tem o sabor do paraíso.

Meu peito se encheu de alegria e eu sorri. Não tinha feito nada errado. Ele gostara tanto quanto eu.

– Podemos repetir? – perguntei, descansando minhas mãos nos bíceps dele.

Um risinho fez vibrar o peito dele.

– Sim. Podemos nos beijar quanto você quiser.

Seus lábios roçaram os meus outra vez e aumentaram a pressão, fazendo os meus se abrirem. Saboreei a sensação de tocar nele com essa intimidade. As mãos dele descansavam em minha cintura e, sempre que eu brincava com sua língua ou seus lábios, elas me apertavam por breves segundos.

Meu corpo inteiro formigava, e eu queria subir no colo dele e ficar assim a noite inteira. Eu estava gostando, e fiquei impressionada por estar gostando tanto. Meus seios doíam, e meu corpo instintivamente se apertava contra o dele para encontrar alívio.

No instante em que meu peito pressionou o dele, Mase se afastou alguns centímetros. O beijo tinha chegado ao fim.

Ele me observava como se não estivesse certo de como lidar comigo. E agora me mantinha afastada dele.

– Preciso saber onde posso e onde não posso tocar – disse ele, quase sem fôlego. – Sei que certas coisas a deixam hesitante e nervosa. Observei você bastante, sou bom em leitura corporal. Mas você está me confundindo, Reese.

Sem me perguntar sobre o meu passado, ele me mostrou que tinha percebido alguma coisa. Algo que me assombrava. E estava sendo cuidadoso para não me assustar. Aquela partezinha do meu coração sobre a qual eu ainda pensava ter domínio escapou. Mase Manning agora o possuía completamente.

– Gostei do que estávamos fazendo – falei, com a esperança de que todo o amor que eu sentia por aquele homem não estivesse reluzindo em meu rosto como o luminoso raio de sol que aquecia em mim tudo aquilo que há tempos estava frio.

Mase sorriu e então balançou a cabeça.

– É, percebi que você gostou de beijar. Mas ao chegar mais perto e apertar esses doces...

A voz falhou quando seu olhar se fixou no meu peito, e ele deixou escapar um breve gemido antes de me olhar nos olhos.

– Minhas mãos vão querer explorar o seu corpo. Faz algum tempo que venho fantasiando sobre ele. Preciso saber aonde minhas mãos podem e não podem ir.

Ele vinha fantasiando comigo? Ah, meu Deus.

Aonde ele podia ir? Meu coração o queria por toda parte, mas eu sabia que minha cabeça podia não concordar. O problema é que eu não tinha certeza sobre o que me descompensaria. Até ali, o que estávamos fazendo não era nada parecido com o pesadelo que eu vivera. Era maravilhoso. Ajudava a conter as lembranças horríveis. Eu queria mais na esperança de que enterrasse o passado.

– Que parte de mim você quer tocar? – perguntei.

Seus olhos voltaram ao meu peito.

– Queria começar aqui – disse ele num sussurro rouco.

Meus peitos começaram a formigar e os mamilos a doer, como se soubessem que estavam chamando a atenção daquele homem lindo e gostassem dessa ideia. Estavam tão despudorados quanto eu. Assenti, e ele estreitou os olhos enquanto mantinha seu olhar quente fixo no meu peito, que agora arfava. Era difícil respirar de tão excitada que eu estava com a perspectiva de sentir as mãos de Mase em mim.

Ele deu um passo em minha direção e seu olhar expressivo tornou a encontrar o meu. Acho que parei de respirar no momento em que ele levantou o braço e eu senti o calor de sua pele quando sua mão cobriu meu seio, que clamava por contato.

Deixei escapar um arquejo, e ele me estudou com atenção, não se mexendo até que eu voltasse a respirar normalmente. Ou tão normalmente como se pode esperar quando seu peito está sendo acariciado pelo homem por quem você está apaixonada. Seu polegar roçou meu mamilo, e eu me agarrei aos seus bíceps para me equilibrar. Os olhos dele estavam agora fixos no meu peito. Com o polegar, ele descreveu círculos em torno do meu mamilo, provocando-o, me fazendo emitir uns ruídos que eu nunca havia feito antes.

Quando sua outra mão se moveu em minha direção, tive que fechar os olhos e respirar fundo, com medo de desmaiar. Assim como a primeira, essa mão cobriu delicadamente o outro seio e então começou a se concentrar no mamilo. De repente eu odiava aquela camiseta com a qual eu adorava dormir. Ela estava no meio do caminho. Mas a ideia de Mase tirá-la e olhar meus seios nus era tão assustadora quanto excitante.

– Está bom assim? – murmurou ele, quase reverente.

– Sim – respondi.

– Quero beijar você outra vez enquanto a toco – falou, estudando meus lábios. – Podemos nos deitar na sua cama?

Minha cama. Isso era mais. Muito mais. Mas eu tinha Mase na minha cama todas as noites. Mesmo que só pelo telefone.

– Sim – permiti, antes que surtasse e mudasse de ideia.

A mão esquerda dele deslizou pela minha barriga e pelo quadril, e então ele segurou a minha mão. Ele não disse mais nada ao me conduzir até a porta do quarto. A luminária ao lado da cama era a única luz do ambiente.

Ele soltou minha mão e se sentou na beirada da cama. Observei, fascinada, Mase tirar as botas e colocá-las no chão, sem nunca tirar os olhos de mim.

– Venha aqui – chamou, mexendo o indicador.

A essa altura, ele podia me mandar pular de uma ponte, e eu tinha certeza de que perguntaria a ele de qual.

Ele pegou minhas mãos e me puxou para seu colo.

Sentei-me em suas pernas, de frente para ele, com os joelhos apoiados na cama. Ele inclinou a boca para encaixar na minha, e todos os pensamentos sobre os meus bloqueios desapareceram quando ele me beijou novamente. Os milagres que ele podia produzir com a língua. Enlacei seu pescoço com os braços e relaxei de encontro ao seu corpo... até que a rigidez que eu recordava do passado começou a me pressionar. Então eu fiquei paralisada.

Sem aviso, as lembranças voltaram, me desafiando. Estremeci e saltei do colo dele, me afastando, com medo de que ele visse o horror nos meus olhos. Que ele soubesse exatamente quanto eu era suja. Eu não queria sujá-lo. O que eu estava pensando? Eu não podia fazer isso. Mase era tão bom, tão legal e gentil. Ele não me conhecia. Ele achava que sim. Mas não fazia ideia.

– Volte para mim, Reese. Não deixe seus pensamentos saírem daqui – pediu, pegando minhas mãos e me segurando. – Olhe para mim, gata.


Mase

A expressão destroçada e aterrorizada no rosto dela me deixou fisicamente mal. Eu nunca iria querer ser a razão para que uma sombra baixasse sobre ela.

– Por favor, Reese, olhe para mim. Nos meus olhos. Concentre-se em mim. Em nada mais – encorajei-a, enquanto segurava suas mãos com firmeza, permitindo que mantivesse certa distância entre nós.

Meu impulso inicial tinha sido apertá-la com força nos braços e ficar assim. Mas aquele olhar me deteve. Ela piscou várias vezes, e seu olhar foi clareando à medida que ela fazia o que pedi. Ela estava de volta para mim. Os demônios que a atormentavam tinham sido afastados.

– Desculpe – murmurou, com a voz cheia de emoção.

– Não. Nunca se desculpe. Nada é culpa sua. Comigo você não tem que pedir desculpas.

Seus ombros se curvaram, num gesto de derrota, e ela parecia estar à beira das lágrimas. Eu não ia deixar que isso acontecesse. Não agora. Não depois de ela ter me dado tanto, ter confiado tanto em mim.

– Posso só abraçar você? Nada além disso. Só me deixe abraçar você.

Era para ser uma pergunta, mas soou como uma súplica.

Ela assentiu e deu um passo em minha direção. Eu a puxei para mim e a abracei. Lentamente seus braços deslizaram pela minha cintura e ela se agarrou em mim com muita força.

Não falamos nem nos mexemos. Apenas ficamos ali, abraçados, por vários minutos enquanto eu me certificava de que ela estava aqui e ia ficar bem. Eu estaria ali, ao lado dela, até isso passar. O que quer que fosse isso.

Dei um beijo no topo de sua cabeça e então encostei minha bochecha em seus cachos sedosos. O cheiro doce de creme e canela que eu adorava me envolveu, e fechei os olhos, desejando poder apagar tudo de mau que já lhe acontecera.

– Eu o odeio. Não sei quem ele é, mas o abomino com todas as minhas forças – murmurei junto ao seu cabelo.

Ela ficou tensa em meus braços por um instante, e então seu corpo relaxou enquanto ela me agarrava mais forte, como se buscasse segurança e conforto em mim. Eu podia dar isso a Reese. Mesmo que ela não estivesse pronta para que eu lhe desse outras coisas, eu podia lhe dar paz.

– Está tarde. Você precisa ir para cama – falei, desejando apenas me deitar naquela cama com ela. Mesmo que fosse apenas para dormir.

– Você... você vai ficar comigo esta noite? – pediu contra o meu peito.

– Não há outro lugar em que eu queira estar.

Ela se afastou e eu a deixei ir. Ela foi até a cama, puxou as cobertas e enfiou-se embaixo delas. Então deu tapinhas no lugar ao lado dela.

– Durma aqui. Ao meu lado.

O desejo dela era uma ordem. Deitei-me ao seu lado, mas me mantive sobre as cobertas. Como estava totalmente vestido, não precisava mesmo me cobrir. Estendendo o braço, olhei para ela, deitada de lado, me observando.

– Venha aqui – chamei, e ela imediatamente se aninhou no meu braço.

Passei o braço em torno do ombro dela e a mantive junto a mim. Olhando para o teto, me perguntei como voltaria para casa no domingo de manhã. Deixá-la não seria fácil. Não gostava da ideia de ela ali sozinha.

A necessidade de protegê-la se tornara uma coisa arraigada e possessiva dentro de mim. Eu pensava nela o tempo todo e tudo o que eu desejava era que ela estivesse em segurança. Queria ela comigo. Não queria que mais ninguém a tocasse ou confortasse. Apenas eu.

Eu deveria resolver os problemas dela. Era eu quem deveria abraçá-la quando ela chorasse. Ficava louco só de pensar em outra pessoa fazendo por ela algo que eu deveria estar fazendo.

Essa garota estava me deixando maluco. Com ela, eu ficava sem chão. Eu não sabia por que tinha essa necessidade insana de pegá-la e fugir com ela. Isso não podia ser saudável. Eu sempre fora protetor com Harlow e minha mãe. Mas afora elas duas, ninguém era tão importante assim para mim.

Até agora. E Reese tinha um espaço só dela em minha vida.

Por que ela? Por que me afetava assim? Já tinha visto corpos sensuais e sorrisos lindos antes. Era mais que a aparência física. Mulheres bonitas só me interessavam para uma coisa. Reese tinha alcançado algo mais profundo em mim e segurado com firmeza, desde o momento em que entrei na sala de jogos e a encontrei sentada no chão cercada de cacos de vidro.

Na verdade, eu ficara puto com o espelho, por tê-la machucado. Quem fica puto com um objeto?

– Mase? – Sua voz suave soou junto ao meu peito.

O sangue em minhas veias se aqueceu e correu mais rápido com o som do meu nome em seus lábios. Ao menos era a sensação que eu tinha. Meu corpo todo reagia a ela.

– Sim – respondi, enrolando delicadamente um cacho de seu cabelo sedoso no dedo.

– Foi meu padrasto – falou, tão baixinho que eu quase não escutei.

Tudo dentro do meu peito pareceu se revolver até formar nós. Doía respirar. Santo Deus, aquilo doía muito. Tive que forçar o ar para os pulmões enquanto a realidade do que ela acabara de admitir se assentava. Uma raiva diferente de tudo o que eu experimentara até então me tomou e pela primeira vez na vida eu desejei matar um ser humano. Não, queria torturá-lo lentamente antes. Ouvi-lo gritar em agonia. Depois, sim, ia assistir à morte dele.

– Mase? – A voz de Reese me chamou outra vez e eu inspirei profundamente, colocando de lado a vingança e o ódio que sentia por um homem que eu não conhecia.

Minha garota precisava de mim agora. Ela não precisava me ver perdendo a linha. Ela havia me confiado aquilo.

– Sim, gata – respondi.

– Eu odeio ele também.

Aquelas quatro palavras acabaram comigo.

– Vou fazer você esquecer isso tudo. Juro por Deus que vou, Reese. Um dia, tudo que você vai lembrar é de mim e de nós juntos. Eu juro.

Ela virou a cabeça e beijou meu peito, e então se aconchegou mais em mim.

– Eu acredito em você.


Reese

Levei alguns segundos para acordar completamente e lembrar que não estava sozinha em casa. Mas não precisei abrir os olhos para perceber que estava sozinha na cama. Pude sentir a ausência de Mase. O calor dele não estava mais ali.

Mas ele estava em outro cômodo. O cheiro do café tomava conta do pequeno apartamento. E a voz de Mase, embora estivesse falando baixinho, passava pela porta fechada.

Escovei os dentes e penteei o cabelo rapidamente antes de ir para a sala e encará-lo depois da noite passada. O fato de ele ainda estar ali me deixava impressionada. Ele viera para me impedir de sair com Thad. E, em troca, eu surtara com ele ao fazer algo tão simples como beijar e trocar carícias.

Abri a porta para entrar na sala, e meus olhos seguiram direto para a figura alta e perfeita de pé diante da janela, de costas para mim. Ele estava no telefone. Ainda vestia o jeans e a camiseta da noite anterior, mas sua bolsa de viagem estava no sofá. Ele tinha vindo preparado.

– Prefiro não ir, Harlow. Gosto de Tripp e tudo o mais, só que vir neste fim de semana não estava nos meus planos, e não vim por causa da festa dele. Prefiro fazer outras coisas esta noite – disse num tom de voz frustrado, ainda que continuasse falando baixinho.

Seu maxilar se mexia enquanto ele escutava o que a irmã estava dizendo. Parecia que ela realmente queria que ele fosse a uma festa nessa noite. Comecei a dizer que ele deveria ir.

– Tudo bem. Eu vou se Reese quiser ir. Mas, se ela não quiser, faremos outra coisa. Fim de papo. Eu te amo, mas agora preciso ir. Eu ia tentar fazer um café da manhã antes de ela acordar.

Fechei a boca e fiquei olhando, surpresa, para as costas dele. Ele queria me levar? A uma festa, com seus amigos? E ele estava fazendo café da manhã para mim? Não gritar que eu o amava foi difícil, porque, depois de escutar essa conversa, eu queria abrir a janela e contar para todos os vizinhos que estava apaixonada por esse homem.

Ele se virou, e seu olhar se fixou no meu. Um sorriso sexy surgiu lentamente em seus lábios, e eu tive quase certeza de que poderia desmaiar ali mesmo.

– Preciso ir. Ela acordou – disse ele ao telefone, e pôs fim à ligação.

Fiquei exatamente onde estava, incapaz de me mover, com o brilho e o calor daquele olhar percorrendo meu corpo lentamente de cima a baixo e tornando a subir.

– Até acordando você é linda – disse ele num tom gentil.

– Obrigada. – Foi minha resposta boba. Não sabia o que dizer.

– Está com fome? Eu ia fazer um levantamento do que temos para preparar um café da manhã – disse ele, dirigindo-se para a cozinha. – Já fiz o café.

– Certo, mas eu posso preparar o restante. Faço waffles muito gostosos.

Eu o segui até a pequena área da cozinha. Ele me olhou por cima do ombro.

– Waffles? Você ganhou. Só sei fazer ovos e torradas.

– Então sente-se ali, porque nós dois não cabemos nesta cozinha.

Ele estava servindo mais café em sua caneca. Então se virou e saiu do cantinho que eu chamava de cozinha. Eu confesso que estava olhando seu traseiro naqueles jeans. Mas tive que levantar rapidamente a cabeça quando ele se virou para mim.

Um sorriso de quem sacou a situação iluminou seu rosto e ele voltou alguns passos na minha direção e colocou a caneca de café na bancada.

– Vou admitir algo que acho que você deveria saber. Sou um pouco troglodita. A ideia de você cozinhar para mim me excita.

A voz dele ficou mais baixa quando ele disse as últimas palavras, então ele inclinou a cabeça e me deu um selinho.

Eu estava pronta para uma nova rodada de beijos, se ele estivesse. Fiquei na ponta dos pés, ávida. Eu tinha 1,75 metro de altura, mas Mase tinha pelo menos 1,90 metro. Ele fazia com que eu me sentisse baixinha.

Sua mão deslizou para a base das minhas costas e me puxou para ele um segundo antes de sua boca se abrir e eu poder me deliciar com seu gosto de menta. Tirei as mãos dos braços dele e a pus no pescoço para me ajudar a ficar um pouco mais na ponta dos pés.

Mase colocou as mãos no meu traseiro e o segurou, e, por um momento, ficamos ambos imóveis. Ao notar que o pânico não veio, cheguei mais perto, e Mase arquejou, então me puxou mais para cima, segurando minha bunda.

Justamente quando eu me preparava para explorar mais seus lábios, ele interrompeu o beijo e respirou fundo.

– Reese, gatinha, eu tenho um fraco por essa sua bunda. Desde o primeiro dia. E agora que estou com as mãos nela, preciso de um minuto para me acalmar, sem essa sua boquinha quente me dando ainda mais tesão – disse ele numa voz rouca que me fez tremer.

Baixei a cabeça para esconder meu sorriso. Ele gostava da minha bunda. Ela era muito grande, mas ele gostava. Não pude deixar de sorrir.

– Estou vendo esse sorriso – provocou, apertando minha bunda e gemendo. – Caramba... isso é muito gostoso – disse na minha orelha. – Ou eu levo você para o sofá e continuo agarrando a bunda mais deliciosa do mundo enquanto a beijo ou deixo você fazer aqueles waffles. Você escolhe. Quero o que for confortável para você.

Esse homem e as palavras dele me faziam sentir derretida e dengosa por dentro. Além do mais, quem precisa de café da manhã?

– O sofá – murmurei e ele soltou um grunhido satisfeito ao me levantar do chão.

Enrolei as pernas na cintura dele e ele manteve as mãos na minha bunda. Em três longos passos estávamos afundando no sofá. Senti a pressão rígida sob a minha bunda, e ele ficou imóvel.

Eu não ia entrar em pânico. Era Mase. Era Mase.

Mantive os olhos vidrados naquele rosto bonito e observei fascinada quando seus olhos cintilaram de um jeito tão sexy e urgente que tremi nas bases.

– Você pode tirar as pernas e ficar de lado no meu colo, se sentir que o que você faz comigo a deixa nervosa.

A voz dele era tensa, como se ele estivesse sentindo dor.

Mudei de posição, montando nas pernas dele como se eu cavalgasse. Como na noite anterior. Se eu reclinasse, sentiria a ereção dele. Mas eu sentia um formigamento ali que não havia antes. A ideia de pressionar esse ponto me excitou.

As mãos de Mase apertaram a minha bunda e ele soltou o ar pesadamente pelo nariz, enquanto mantínhamos os olhos fixos um no outro. Lentamente deixei meu peso cair sobre o colo dele. A haste rija do pênis dele se encaixou direitinho no espaço entre minhas pernas e eu arfei bem alto quando uma fagulha tão gostosa que quase chegava a doer disparou pelo meu corpo a partir do meio das minhas pernas.

Mase engoliu em seco com tanta força que pude escutar. Sua respiração agora estava pesada e as mãos dele seguravam com mais força o meu traseiro.

– Você está bem? – perguntou ele, numa voz que fazia parecer que ele estava sentindo dor.

– Estou machucando você? – perguntei, horrorizada.

Eu nem havia pensado se aquilo seria gostoso para ele. Comecei a me levantar, e as mãos dele imediatamente foram para minhas coxas, me mantendo onde eu estava.

– Não. Não. Não faça isso. É... cacete, gata. Não sei explicar com palavras – disse ele, e em seguida soltou uma gargalhada forte, enquanto recostava a cabeça no sofá e olhava para o teto. – Preciso de outro minuto.

As mãos dele apertaram minhas coxas enquanto ele ficava ali sentado. Admirei a espessura do pescoço dele. Ele parecia musculoso. Pescoços tinham músculos?

Sentindo-me encorajada, me inclinei para a frente e beijei seu pescoço. Suas mãos pressionaram minhas coxas, mas esse foi o único movimento que ele fez. Então o beijei novamente e inspirei seu perfume, que me lembrava couro e natureza. Meu corpo devia gostar desses dois cheiros, porque eu tive que fazer força para baixo para me aliviar da dor pulsante entre minhas pernas.

– Gata... – murmurou baixinho.

– O que foi? – perguntei, provando o gosto da pele dele com a ponta da língua.

– Cacete – grunhiu, e então eu me vi sendo afastada dele.

Suas mãos estavam na minha cintura, e ele me colocou no sofá enquanto se levantava e afastava o mais rápido que podia.

Eu estivera tão perdida nele que não percebi o que estava acontecendo até que o vi parar e pôr as mãos nos joelhos. Observei enquanto ele respirava fundo várias vezes antes de voltar a ficar de pé. Tive medo de fazer perguntas. Esperei que ele dissesse algo antes.

Pareceu transcorrer uma eternidade até ele finalmente se virar e olhar para mim. Eu havia juntado os joelhos à minha frente e abraçado minhas pernas. Alguma coisa estava errada. Fiquei esperando que ele me dissesse o que era exatamente.

– Eu sinto muito. Eu... Você é... – Ele parou e começou a rir de si mesmo, então sacudiu a cabeça, frustrado. – Eu quero você nua, Reese. Quero minhas mãos e minha boca nesse seu corpinho lindo. Quero fazer você se dobrar para que eu possa beijar aquela pinta que eu sei que está bem embaixo da sua nádega esquerda, a que eu vi no dia em que nos conhecemos. Fui brindado com sua bunda perfeita voltada para cima, à mostra, e sonho com essa sua bundinha desde aquele dia. Mais do que isso, porém, quero que você sempre se sinta segura ao meu lado. Quero ir bem devagar com você, para nunca mais ter que ver aquela expressão assombrada nem aquele horror nos seus olhos novamente. Então devemos ter mais momentos em que você esfrega essa... – Ele fechou os olhos e respirou pelo nariz – ... quando você se aperta de encontro a mim e me toca de um jeito que me deixa tão doido que fico com medo de perder o controle e tocá-la onde você ainda não está pronta para ser tocada.

Ouvi-lo dizer que queria me beijar e tocar em mim nua fez meu coração disparar outra vez, num misto de medo e excitação. A sensação entre minhas pernas ainda estava lá. Havia uma espécie de dor urgente que me fez lembrar de uma vez, quando eu era bem mais nova e um garoto de quem eu gostava na escola me levou para um canto e me tocou, dizendo que eu era linda.

Depois que ele me ignorou e deixou que a namorada me xingasse de coisas horríveis no dia seguinte, aquela sensação nunca mais voltou. Então aconteceram outras coisas que fizeram qualquer excitação naquela parte do meu corpo morrer. Só de lembrar o passado, a sensação dos braços de Mase em mim já se apagava.

Quando levantei, estava aliviada por aquela sensação ter ido embora e triste porque a sessão de beijos com Mase tinha acabado.

– Então acho que é hora do café da manhã – concluí, forçando um sorriso.

Mase estava me estudando cuidadosamente, e eu não queria que ele pensasse, nem por um minuto, que eu estava aborrecida com ele. Ele estava fazendo isso por mim. Ele se importava o suficiente para deixar de lado as próprias necessidades e ser gentil comigo. Isso me fazia amá-lo ainda mais.

– Você entende? – perguntou ele, a voz cheia de preocupação.

Um sorriso verdadeiro formou-se em meus lábios quando olhei para ele.

– Eu entendo. Obrigada. Coisas assim só me fazem confiar mais em você.


Mase

Não era assim que eu queria passar minha última noite com Reese. Eu não sabia dizer quando teria outro fim de semana para ficar com ela. Havia passado a maior parte da manhã olhando para o teto, abraçado com ela, pensando em meios de convencê-la a ir comigo para o Texas. Estava pronto para levá-la para minha casa. Eu tinha chegado a esse ponto, e a gente nem sequer havia transado ainda.

Por sorte, a noiva de Tripp Newark Montgomery, Bethy, não era uma das garotas formais de Rosemary Beach que exigiam black-tie em todas as festas. Ela trabalhara por anos no Kerrington Club com a tia. Ela tinha organizado um evento cujo tema era festa na praia.

Olhei para Reese, que segurava meu braço com firmeza. Ela estava de biquíni por baixo do vestido de verão, e eu podia ver as tiras aparecendo. Roupas de banho eram o traje recomendado.

Depois da cerimônia arrojada que inaugurou o novíssimo hotel cinco estrelas de Tripp, todos estavam indo para a piscina do Kerrington Club, que mais parecia uma ilha tropical com quedas-d’água e palmeiras.

– Parece que minha esposa também consegue fazer você obedecer a suas ordens – disse Grant com um sorriso, vindo até nós. – Olá, Reese. Fico contente que meu cunhado tenha bom gosto.

– Olá, Sr. Carter – cumprimentou, com uma voz que denunciava quanto ela estava nervosa.

Grant franziu a testa.

– Você está saindo com Mase e lanchando com minha mulher. Pode me chamar de Grant. Por favor. – Ele voltou a atenção para mim. – Vai ficar mais tempo por aqui?

Reese ficou tensa ao meu lado, mas apenas por um segundo. Se não estivesse tão ligado em cada reação dela, eu não teria percebido.

– Preciso ir embora amanhã. Deixei as coisas meio bagunçadas por lá – admiti.

Grant riu, e os olhos dele se voltaram para a minha esquerda.

– Sim, soube que você foi rápido e tomou o lugar de Thad esta noite. No momento ele está bebendo sofregamente e tem uma mulher em cada braço. Sinal de que está se recuperando.

Nem me dei o trabalho de olhar. Não duvidei de Grant.

– Onde está Harlow? – perguntei, mudando de assunto.

– Está dando mamadeira para Lila Kate. Eu me ofereci, mas ela disse que eu é que precisava estar aqui, mostrando a cara, não ela.

– Tenho que dizer que gosto deste clima descontraído. Acho que Harlow não conseguiria me trazer aqui se fosse uma ocasião formal.

Grant riu como se não acreditasse em mim.

Uma atendente apareceu com uma bandeja de taças de champanhe. Peguei duas e entreguei uma a Reese.

– Está com sede?

Ela sorriu e olhou para a taça e depois para mim.

– O que é isso?

– Champanhe – respondi, incapaz de desviar os olhos do rosto dela.

Cada nova expressão de Reese era para mim algo a ser gravado na memória.

– Nunca tomei champanhe – falou baixinho.

– Acho que você vai gostar. Experimente.

Ela colocou a taça nos lábios e seus olhos continuaram fixos nos meus enquanto ela provava a bebida rosada. Seus olhos se acenderam de prazer e excitação. Ela gostou. E observar sua experiência era maravilhoso. Era só uma bebida, mas Reese fazia tudo ser uma aventura.

– É bom mesmo. Me dá cócegas no nariz.

Havia vários lugares dela em que eu queria provocar cócegas. Mas guardei esse pensamento para mim. Olhando para o lado, percebi que tinha me esquecido de Grant, mas ele já se afastara de nós.

– Oi, eu sou Della. Você deve ser Reese.

Virei-me para ver Della Kerrington, esposa de Woods, sorrindo para Reese. Della era uma boa pessoa. Eu me senti seguro com ela se aproximando de Reese. Ela também não vinha daquele mundo ali, embora agora fosse a esposa do dono do Kerrington Club.

– Sim, sou eu. É um prazer conhecê-la – disse Reese, menos nervosa dessa vez.

Parecia que apenas os homens a faziam se retrair.

– É um prazer conhecê-la também. Ouvi Harlow falar muito bem de você.

Os olhos de Reese se arregalaram, e ela olhou para mim rapidamente antes de sorrir para Della.

– Ah, bem, eu adoro trabalhar para a Sra. Carter. Eles são realmente uma família linda.

Harlow detestaria o fato de Reese ainda achar que deveria chamá-la de Sra. Carter. Mas eu não a corrigi, embora tenha notado uma faísca de confusão nos olhos de Della. Ela não esperava que Reese fosse tão formal sobre sua relação com minha irmã.

– Sim, eles são – disse Della, sorrindo. – Espero encontrar você em outras oportunidades. – Ela me dirigiu um olhar repleto de cumplicidade. – Divirtam-se, vocês dois. Preciso resgatar meu marido do Sr. Hobes. Com licença.

Ela dirigiu-se apressadamente até Woods, que escutava um velho senhor falar e parecia desejar estar em outro lugar.

– Ela é linda – disse Reese, observando Della se afastar.

– Não reparei – respondi, e então a puxei para mais perto.

Thad vinha em nossa direção com suas duas garotas, uma de cada lado. Não sei o que ele queria, mas não deixaria que dissesse ou fizesse qualquer coisa que embaraçasse Reese.

Ele também precisava entender: ela era minha.

O cabelo de Thad estava preso atrás das orelhas, e seus olhos não estavam vidrados ou vermelhos pelo excesso de bebida. As garotas ao lado dele já tinham abdicado de vestidos ou cangas, diferentemente de todos os outros e estavam de biquíni.

A mão de Reese pegou meu braço mais firme no segundo em que notou a presença dele. Eu a apertei contra mim e dirigi um olhar de advertência para Thad. Ele só sorriu para mim, como se eu estivesse exagerando.

– Reese, Mase, espero que estejam se divertindo – disse Thad, mostrando seu sorriso de idiota com covinhas.

Desejei que Reese não tivesse uma queda por covinhas.

– Sim, obrigada. É um lindo lugar para um hotel – disse Reese, com sinceridade.

– Eu não pensei em vir, mas, já que meus planos para a noite fracassaram, pensei em trazer uma dupla para me entreter – disse ele, com uma piscadela, então fez algo com a garota à sua direita que a fez dar um gritinho e rir.

– Dá para ver que você está arrasado com esses planos fracassados. Se nos dão licença, quero apresentar Reese a Blaire e Rush – falei, colocando uma mão possessiva na base das costas dela.

Não esperei que ele respondesse. Eu vira Rush e Blaire chegando fazia alguns minutos e sabia que Blaire seria uma pessoa tranquila de se conversar; além disso, ela era praticamente parte da família. O pai de Rush e o meu eram da banda de rock Slacker Demon. Ainda que Rush tenha crescido mais naquele mundo do que eu, sabíamos o que era ter pais idolatrados pelo mundo todo.

Rush também não olharia para Reese como se quisesse tirar uma casquinha. Porque eu esganaria Thad se tivesse que vê-lo cobiçando Reese mais um segundo sequer.


Reese

Quando Mase me apresentou a Rush Finlay, as coisas se encaixaram. Manning e Finlay. Rush era o filho de Dean Finlay. Era por isso que Mase o conhecia. Os pais deles. Uau! Se Mase não parecia ser filho de um deus do rock, Rush definitivamente parecia. Do piercing na língua, que brilhava quando ele falava, às tatuagens nos braços e no pescoço, passando pela absoluta confiança que irradiava, tudo em Rush Finlay gritava a quem quisesse ouvir que ele era um dos filhos do Slacker Demon.

Sua mulher, Blaire, era o tipo de beldade que deixava você sem fala por um instante, sem ter certeza se ela era real. Seu cabelo louro quase branco a deixava angelical. Havia uma gentileza em seu sorriso que a tornava ainda mais celestial, mas, quando abria a boca, ouvia-se um sotaque anasalado sulista mais forte que o de Harlow. Não pude deixar de sorrir. Ela não era modelo nem estrela de cinema – e era linda o suficiente para ser qualquer uma dessas coisas, isso era inquestionável –, mesmo assim era o tipo de garota que eu esperava ver nos braços possessivos de Rush Finlay. Ela combinava com ele. Mais do que qualquer outra pessoa.

Conversei com Blaire sobre Harlow e Lila Kate. Ela também me perguntou sobre Jimmy, que me dera o telefone dos Finlays depois que a faxineira deles se aposentara, mas em nenhum momento Blaire falou sobre a possibilidade de eu fazer faxina para eles. De certo modo, fiquei feliz, pois isso só me lembraria de quanto eu não me encaixava naquele ambiente. Mas, por outro lado, eu me perguntava se ela já teria contratado outra pessoa. O dinheiro de mais um trabalho não me faria mal.

Uma coisa que estava ficando mais difícil ignorar eram as mulheres dando em cima de Mase. Ele parecia não notar, mas mesmo as garçonetes lançavam a ele olhares dando a entender que estavam disponíveis.

Se Mase podia ficar com qualquer uma... por que estava comigo?


Duas horas mais tarde, a inovadora cerimônia estava terminada, e a festa havia se mudado para o Kerrington Club. E infelizmente, agora que as mulheres estavam circulando de biquíni, pareciam se atirar ainda mais em cima de Mase. Várias tinham ido abertamente até ele e o convidado para nadar ou dançar. Ele havia casualmente declinado das ofertas, mas era como se eu não estivesse ali. Eu ainda não tinha tirado meu vestido, porque não me sentiria à vontade de biquíni na frente de tanta gente. Mas comecei a pensar que talvez devesse fazer isso se quisesse manter a atenção de Mase.

Vi Blaire do outro lado da piscina, e ela ainda estava com a blusa e a saia de antes. Não estava se exibindo em seu traje de banho. Também não parecia preocupada com as mulheres que lançavam olhares de cobiça para o seu marido.

Mas ela era casada com Rush.

E esse era o meu primeiro encontro com Mase.

– Quer beber alguma coisa? – ofereceu Mase.

A mão deslizou por minha cintura enquanto ele se curvava e murmurava em meu ouvido.

– Sim, por favor – respondi, precisando de algo para me distrair.

– Fique aqui. Vou encarar o bar. Mais champanhe? Ou outra coisa?

Eu não queria ficar ali. Não podíamos esperar um garçom passar com uma bandeja? Mas acho que ele não queria os drinques frutados que eram servidos assim.

– Champanhe está ótimo – respondi.

Ele apertou a lateral do meu corpo.

– Já volto.

Como eu temia, as mulheres aproveitaram a oportunidade e se aproximaram dele no momento em que se afastou de mim. Ele era educado e não parecia interessado, mas ainda assim era difícil ver aquilo. Afinal, aquelas garotas não ficariam nervosas quando ele as tocasse. Elas transariam com ele atrás de uma palmeira lá fora se ele quisesse. Era com isso que eu precisava competir.

Além disso, eu tinha um lado sombrio e feio em meu passado, que eu nunca seria capaz de contar totalmente para Mase. Elas não tinham esse tipo de problema. Eram livres para usufruir de seus corpos e fazer os homens felizes. Eu me senti enjoada.

Uma loira se pendurou em Mase e beijou a bochecha dele. Ele a afastou gentilmente, mas continuou a falar com ela enquanto pegava nossas bebidas. Eu não conseguia olhar aquilo. Procurei voltar a atenção para qualquer outro lugar. Harlow e Grant já tinham ido embora com Lila Kate; não ficaram muito tempo na festa. Não havia ninguém mais ali que eu conhecesse. Mase me apresentara a várias pessoas, mas eu não as conhecia de fato.

Eu não queria olhar para Mase. Também estava pensando em tirar meu vestido. Mas aquelas mulheres tinham corpos muito mais bonitos que o meu. Eram magras, sem nenhum recheio extra nos traseiros. E seus seios eram bonitos, redondos e perfeitamente posicionados. Nem muito grandes, nem muito pequenos.

Tirar meu vestido talvez fosse uma má ideia. Pelo menos se eu ficasse de roupa, Mase não teria a chance de ver exatamente como meu corpo era imperfeito. Meu Deus, eu detestava pensar assim. Eu nunca me comparava com outras mulheres. Pelo menos não no passado. Agora eu estava fazendo isso.

Meu olhar voltou para Mase. Ele segurava duas bebidas e vinha na minha direção. A loira tinha sumido. Ele parecia incomodado. Torci para que não fosse por estar ali comigo, podendo transar nesse momento com várias mulheres lindas e dispostas.

Eu podia perdê-lo.

Tão facilmente.

E tinha acabado de conquistá-lo.

Ao chegar, me entregou o champanhe e disse:

– Quando terminar, vamos embora? Queria ficar a sós com você. Já cumpri meu dever e mostrei a cara por aqui.

Tive a tentação de virar o copo e sorver toda aquela bebida rosada e borbulhante de uma vez. Também estava pronta para ir – antes que ele recebesse uma oferta irrecusável. Estava feliz por seu rancho ficar no Texas. Não imaginava que houvesse herdeiras lindas e magras como modelos se jogando em cima dele por lá.

– Sim. Quero ir quando você quiser – admiti.

Mase estudou meu rosto por um momento, e então pegou o champanhe da minha mão.

– Compro uma garrafa no caminho se você quiser mais. Vamos embora – disse ele, colocando a taça na mesa mais próxima e deixando sua bebida ali, também intacta.

A mão dele pousou na base das minhas costas e ele me guiou através da multidão até onde os manobristas estavam.

Quando entramos em sua caminhonete, Mase pegou minha mão, entrelaçando os dedos aos meus.

– Obrigado por me acompanhar hoje à noite. Só vim porque Harlow achou que eu devia dar as caras, já que estava na cidade. Ela é amiga de Bethy e Tripp. Que bom que tive você comigo. Tornou a noite suportável.

Esse homem e suas palavras. Quase me fez esquecer de como era difícil observar as mulheres flertarem com ele toda vez que ele respirava. No entanto, ele não dava bola para elas. Eu não via nele um paquerador. Não era seu estilo. Mas isso não significava que ele não gostasse da atenção delas. Como não gostaria? Eram lindas e disponíveis.

– Gostei de conhecer seus amigos – falei.

Ele apertou minha mão.

– Eles gostaram de conhecer você.

Quis perguntar de onde ele conhecia a loira que o abraçou e beijou. Mas mantive a boca fechada.

– Quer que eu pare e compre mais champanhe? – perguntou ele, com um tom divertido na voz.

Sacudi a cabeça negativamente e ri.

– Gosto de ouvir você rir. Isso não aconteceu muito esta noite – disse ele, acariciando minha mão com o polegar. – Você riu mais hoje quando estávamos só nós dois.

– Eu estava ocupada demais assimilando aquilo tudo.

– Obrigado por não ter tirado o vestido.

Por que ele disse isso? Estava preocupado com minha aparência sem o vestido?

– Se você tivesse tirado, acho que sairíamos ainda mais cedo, porque eu teria perdido as estribeiras. Não gosto da ideia de outros homens olhando o que é meu.

Opa. Ok. Eu era dele? Ah... nossa.

– Pensei em como reagiria se você tivesse querido nadar. Fiquei tentando inventar desculpas para manter essa bundinha linda coberta.

A sensação entre as minhas pernas recomeçou. Ouvi-lo chamar meu traseiro de bundinha linda me excitava, pelo visto. Gostava de senti-lo tocando minha bunda. Eu me contorci no assento quando a mão dele apertou a minha.

Não dissemos mais nada. No momento em que ele estacionou a caminhonete perto do meu apartamento, o ar estava quente, e eu respirava pesadamente. Olhando para Mase, vi sua mandíbula cerrada com firmeza. Sua mão ainda segurava forte a minha.

Quando ele desligou o motor e finalmente soltou minha mão, abriu a porta e saiu tão rápido que pareceria que o carro estava pegando fogo. Observei-o vir com passos largos até o meu lado da caminhonete para abrir a porta. Eu ia sair, mas ele me impediu, me encurralando.

Suas narinas inflaram quando ele se aproximou mais de mim e em seu rosto cintilou um olhar sedento que compreendi na hora. Meu corpo inteiro parecia febril, mas suas mãos tocavam apenas meus quadris. Sua cabeça baixou até meu ouvido, e ele correu o nariz de cima a baixo por meu pescoço.

– Meu Deus, seu cheiro é tão bom... Eu poderia cheirar você para sempre e ficar feliz com isso.

Agarrei-me aos ombros dele. Palavras assim, vindas de Mase Manning, faziam uma garota perder a cabeça.

– Quando a gente entrar, quero tirar esse vestido. Quero ver você de biquíni. Por favor. Não vou pedir mais nada. Só me deixe olhar e tocar você... Só um pouquinho.

Meu corpo parecia tão quente que eu estava pronta para tirar tudo ali mesmo para ele, mas sabia que, no momento que fizesse isso, entraria em pânico. A realidade viria à tona. Consegui concordar com a cabeça e deixei que me ajudasse a descer do veículo. Ele beijou minha boca de uma forma ardente e impetuosa, mais agressiva que das outras vezes. Retribuí aquele beijo. Não era um de seus doces e suaves, mas era excitante.

Quando afastou a boca, ele praguejou e então me levou até o apartamento, abriu a porta e me conduziu rapidamente para dentro.

Antes que eu pudesse recuperar o fôlego, suas mãos agarraram a barra do meu vestido.

– Só vou tirar isso aqui. Só isso. Só preciso te ver – murmurou no meu ouvido, mas não se mexeu até eu concordar com a cabeça.

Quando dei o sinal verde, ele levantou o vestido lentamente. Quando estava na altura da minha bunda, ele gemeu. Levantei os braços, e ele o tirou. Não me mexi. Sabia o que ele estava olhando e fechei os olhos com força. Não olhava minha bunda no espelho fazia muito tempo. Havia uma boa chance de que estivesse com celulite. Desejei profundamente que não estivesse. Eu ainda caminhava bastante. Tinha certeza de que ter caminhado a vida inteira era uma razão para minha bunda não ter ficado imensa.

A ponta do seu dedo roçou a parte inferior da minha nádega esquerda, e eu arquejei, mas não me mexi. Ele estava me tocando. Muito levemente.

– Você tem uma pinta bem aqui. Adoro essa pinta. A pinta mais linda do mundo – disse ele, com voz rouca.

Então ouvi um movimento e olhei para trás, vendo-o se ajoelhar. Comecei a me virar, mas suas mãos me seguraram pela cintura e me mantiveram parada.

– Por favor, Reese. Não. Ainda não – implorou.

Então fiquei quieta.

Seu hálito quente pairou sobre a minha pele, e eu estremeci. Saber que o rosto dele estava tão perto de qualquer parte do meu corpo era excitante, mas aquilo era quase demais. Então seus lábios roçaram o ponto que ele tocara, e eu soltei um grito sufocado de choque e prazer.

– Eu tinha que beijá-la – disse ele, pressionando os lábios naquele ponto da pele novamente. Então sua mão deslizou pela minha bunda, e ele a apertou, delicadamente. – Juro, Reese, essa bunda é a perfeição – disse ele num tom reverente. – Estou muito feliz que você não tenha ficado de biquíni na frente de outros homens esta noite. Essa bunda é minha. Não quero que outras pessoas vejam este suculento pedacinho do céu.

Fechei os olhos bem apertados. Eu estava mesmo deixando-o se ajoelhar atrás de mim e brincar com a minha bunda? Meu coração estava disparado, e o calor que se espalhava pelo meu corpo estava no ápice.

Mase deslocou uma parte da calcinha, para que uma extensão maior da minha bunda estivesse exposta, e me beijou ali. Ah, meu Deus, ele estava beijando o meu traseiro.

– Até aqui seu cheiro é delicioso. Posso sentir quanto você está excitada. É uma boa mistura com o cheiro de creme e canela que você exala.

Eu precisava me agarrar a alguma coisa para não derreter e me transformar numa poça. Meus joelhos se dobraram um pouco e as mãos de Mase seguraram com mais firmeza minha cintura enquanto ele se punha de pé, ainda atrás de mim. Sem recolocar minha calcinha no lugar, ele deslizou o corpo pelo meu.

Mase beijou meu ombro, então afastou o cabelo do meu pescoço e correu o nariz pela curva da minha orelha.

– Não quero fazer nada para o que você não esteja pronta. Mas quero tocá-la. Só isso. Nada mais. Você está pronta para isso? Se não estiver, tudo bem. Posso ficar só olhando.

A última parte pareceu ter sido arrancada dele, contra a sua vontade.

Todas aquelas mulheres se jogando em cima dele, e ele queria a mim. Ele me escolheu. Eu podia deixar que ele me tocasse. Eu ainda não havia entrado em pânico, e, nesse momento, tudo em que eu conseguia pensar era em Mase e em como ele se sentia. Como ele fazia com que eu me sentisse.

– Sim – respondi, parecendo sem ar.

Ele correu um dedo pelo meu pescoço e o enrolou com um cacho do meu cabelo.

– Obrigado. Por confiar em mim. Você não é obrigada a isso, e saber que você gosta do meu toque é a coisa mais bonita que alguém já me deu.

Ele não começou a tocar meu corpo. Em vez disso, ficamos ali, com ele brincando com meu cabelo e continuando a explorar meu pescoço e minha orelha com os lábios e o nariz. Lentamente, fui me recostando nele à medida que meu corpo relaxava com suas carícias.

– Seu cabelo parece seda – murmurou. – E sua pele. – Ele correu a mão pelo meu braço e pela nádega que deixou descoberta. – Acho que estou obcecado por seda – acrescentou.

Comecei a me contorcer quando sua mão voltou a subir, vindo até a frente e parando na minha barriga.

– Vire para mim e me deixe ver você – disse ele, dando um passo para trás.

Eu respirava pesadamente e sabia que ele podia perceber isso. Mas ficar de frente para ele tornava esse momento mais real. Eu poderia vê-lo enquanto ele me olhava.

Seu olhar varreu meu corpo de cima a baixo, lentamente, e depois tornou a subir. Havia no rosto dele uma veneração que me fez sentir querida. Importante. Protegida.

Três coisas que eu jamais havia sentido.

Eu não ia chorar.

Ele se aproximou e pousou a ponta dos dedos na minha barriga, traçando o contorno do umbigo. Então suas mãos estavam em mim, subindo vagarosamente até roçarem a parte inferior dos meus seios. Com um dedo ele mergulhou no decote, explorando o espaço entre os seios.

– Quero vê-los nus e nas minhas mãos – disse ele, erguendo os olhos até os meus, num pedido mudo.

Arquejei, mas não de medo. Eu também queria aquilo. Meus mamilos doíam muito e a área ao redor dos dois formigava.

– Ok – respondi, sabendo que ele não faria nada até que eu dissesse que podia.

Ele deslizou as mãos até minha nuca e soltou o nó de cima do biquíni, e depois o de trás. O sutiã caiu no chão, e meus peitos saltaram, livres.

– Uau, eles são incríveis – sussurrou ele, tomando os dois seios nas mãos, os polegares brincando com meus mamilos. – Posso sentir o gosto deles? – Mais uma vez sua voz parecia implorar.

– Sim – sussurrei, agarrando seus braços para o caso de meus joelhos fraquejarem por completo.

Mase grunhiu e baixou a cabeça. Então sua língua roçou meu seio direito. De seu peito veio um gemido prazeroso antes que ele colocasse o mamilo inteiro na boca e o sugasse.

Minhas pernas amoleceram e eu gritei quando um raio de prazer atravessou meu corpo.

Mase me segurou antes que eu caísse e me carregou para o sofá, afundando nele comigo em seu colo. Ele beijou meus lábios enquanto eu ofegava, ainda tonta de sentir sua boca em meu peito.

Uma de suas mãos ainda apertava meu seio, e eu queria sua boca neles outra vez.

– Posso sentir o gosto deles de novo?

Assenti, desejando empurrar a cabeça dele para meus seios e nunca mais deixá-lo tirá-la de lá.

A boca quente de Mase sugou o outro mamilo e gritei de novo, agarrando o cabelo dele com as mãos. Temi machucá-lo, mas eu precisava me segurar em algo. Suas mãos seguravam meus seios enquanto ele os beijava e até mordiscava. Gemi e gritei seu nome, segurando a cabeça dele contra o meu corpo. Queria que aquilo durasse para sempre.

A aflição era tão intensa agora que eu não podia evitar me contorcer e contrair as pernas. Queria algo que parasse aquilo. Eu precisava fazer parar.

– Abra as pernas. Vou fazer com que melhore – disse ele num tom exigente que me surpreendeu.

Não estava certa de que queria aquilo. Se abrisse minhas pernas, sabia que ele iria me tocar ali. Meu corpo pedia aquilo, mas minha cabeça me dizia que iria doer. Eu estava suja ali.

– Por favor, Reese. Me deixe cuidar de você. Você está tão molhada que eu posso sentir seu cheiro, gata. Isso está me enlouquecendo. Vou beijá-la lá, se você deixar. Qualquer coisa, gata. Faço qualquer coisa por você. Qualquer coisa mesmo.

Ele parecia desesperado.

Eu o amava.

Não queria perdê-lo para alguma mulher a quem ele não precisasse implorar.

Queria fazê-lo feliz.

Empurrei o medo para o fundo da mente e abri as pernas apenas o suficiente para que sua mão passasse. Delicadamente ele as abriu um pouco mais, e prendi a respiração quando sua mão deslizou pela minha coxa.

Lutei contra o pânico. Tentei contê-lo. Quem estava ali era Mase. Ele era bom para mim. Eu o amava.

Então um dedo deslizou para dentro da calcinha do biquíni, e a sensação de desejo desapareceu no momento em que as memórias desabaram sobre mim. Eu ia vomitar.

Não conseguia fazer aquilo. Ah, meu Deus, eu não conseguia.

Empurrei a mão dele, levantei-me de um salto e corri para o banheiro. Eu não podia vomitar.

Abrindo a torneira, joguei água fria no rosto várias vezes e fiquei dizendo a mim mesma repetidamente que estava tudo bem.


Mase

Nunca odiei ninguém tanto quanto a mim mesmo naquele momento. O único homem que eu odiava mais era o maldito padrasto dela. Com medo de tocá-la, fiquei parado atrás dela enquanto ela jogava água fria no rosto e dizia em voz baixa: “Você está bem. Está tudo bem. Você está bem. Está tudo bem.”

A cada “bem”, eu tinha a sensação de que meu peito estava sendo dilacerado.

Minha cabeça me dissera diversas vezes para parar. Eu estava indo longe demais. Mas não conseguia parar de tocá-la. Ela era tão gostosa. Ver o rosto dela enquanto eu lhe dava prazer era como usar uma droga. Eu queria mais e mais.

No fim, porém, eu a assustara. Eu estava pedindo demais.

Mas não estava disposto a perdê-la. Faria qualquer coisa que ela quisesse. Só não podia perdê-la.

Depois do que pareceu uma eternidade, ela fechou a torneira e pegou uma toalha para secar o rosto. Respirou fundo várias vezes antes de largar a toalha e se virar para mim.

Eu tinha começado a me desculpar quando sua boca formou um biquinho e ela irrompeu em lágrimas. Merda!

Sem esperar, puxei-a para os meus braços. Eu não sabia o que dizer. Não sabia se ela estava chorando por minha causa e pelo que eu fiz ou se estava chorando por causa da sua reação.

– Está tudo bem, querida. Estou aqui com você. Está tudo bem – garanti, tentando confortá-la.

Odiava os soluços que faziam seu corpo tremer nos meus braços.

– Me descu-u-u-ulpe. – Ela chorou alto.

Droga. Peguei-a no colo, levei-a até a cama e me sentei com ela ainda nos braços. Recostei-me na cabeceira da cama e a segurei como se fosse um bebê, aninhando-a junto ao peito.

– Eu disse para não pedir desculpa. Nunca. Sou eu quem deve se desculpar, Reese.

Ela agarrou minha camiseta e chorou ainda mais forte.

– Sou problem-m-má-á-á-á-tica – soluçou. – Você nã-ã-ão te-e-em que fica-a-a-ar com uma garota com proble-e-e-ma. – Ela soltou um uivo, como se estivesse chorando por uma morte.

Por Deus, jurei, se um dia eu encontrasse o homem que fez isso com ela, ele ia pagar.

Aninhei a cabeça dela sob meu queixo e a envolvi em um abraço ainda mais forte.

– Você é perfeita. Tão perfeita que eu chego a ficar sem ar. Estou completamente obcecado por você. Você é tudo que me interessa, Reese. Não há nenhum problema em você. Por favor, nunca mais quero ouvir você dizer uma coisa dessas. Quero que veja a si mesma do mesmo jeito que eu a vejo. Essa beleza deslumbrante que me deixa completamente fascinado. Uma sobrevivente. Forte. Divertida, gentil e honesta. Uma pessoa que não julga os outros. Que aceita as pessoas como elas são. Que nunca espera nada em troca, mas distribui beleza de graça ao mundo à sua volta. É essa pessoa que eu vejo, Reese. Essa é você. Veja-se assim também, querida. Por favor, veja-se assim também.

Seu choro diluiu-se em fungadelas, mas sua mão em minha camiseta apertou ainda mais. Observei-a finalmente reclinar a cabeça para trás para me encarar, com os olhos vermelhos e inchados. Mesmo nesse momento, ela estava maravilhosa.

– Você acha isso... de mim?

Dei um beijo em sua testa.

– Sim, eu acho.

Ela começou a dizer alguma coisa, mas de repente seu corpo se retesou. Só então ela percebera que ainda estava sem sutiã. Com um movimento rápido, tirei a camiseta e a deslizei por sua cabeça. Não queria que ela saísse de onde estava. Ainda não.

Ela me ajudou, passando os braços pelas mangas. A camiseta era grande demais para ela, mas vê-la vestida com minha roupa ativou minha natureza possessiva.

– Obrigada – disse ela, cruzando os braços sobre a barriga, como se estivesse se aninhando na camiseta.

Gostei disso também.

– Pedi demais esta noite. Foi culpa minha. Vou ser mais cuidadoso no futuro. Juro. Por favor, não deixe de confiar em mim – supliquei, precisando que ela acreditasse em mim.

Ela franziu a testa.

– Você me perguntou, pediu permissão a cada gesto. Eu poderia ter dito não. Não foi culpa sua.

Mas foi.

– Da próxima vez que você quiser mais, vai ter que pedir. Não vou forçar outra vez. Eu juro.

Assim nós dois saberíamos que ela queria.

Ela suspirou e cobriu o rosto com as mãos.

– Queria não ser assim.

Eu também. Mas por razões diferentes. Queria que ela não tivesse pesadelos com o passado. Odiava o fato de ela sofrer com algo tão horrível. Caramba, eu odiava o fato de ela sofrer, e ponto.

– Você vai dormir abraçado comigo esta noite, como da outra vez?

– Nem precisa perguntar, Reese. Minha resposta para você será sempre sim.


No fim da manhã seguinte, deixei Reese de pé, na porta, vestindo minha camiseta. Foi a coisa mais difícil que já tive de fazer. Não queria deixá-la. Eu a queria comigo.

– Use a minha camiseta à noite. Gosto de saber que você estará com alguma coisa minha quando eu não estiver aqui.

Ela assentira e me deixara beijá-la antes de eu pegar minha bolsa e voltar para o Texas.


Reese

Na manhã de segunda-feira, Jimmy estava na minha porta com dois cappuccinos. Fiquei tão contente de vê-lo que o abracei forte antes de pegar minha deliciosa dose de cafeína.

– Você voltou. Está melhor? Já está conseguindo dormir?

Ele abriu um sorriso para mim. Adorava atenção.

– Sim, estou bem. Tive algumas noites difíceis, mas estou melhor. Vi que tiraram a fita de isolamento.

Confirmei com a cabeça. Tentava não pensar nos tiros. Do pouco que vira no noticiário, soube que Jacob estava detido sem direito a fiança. Seria julgado por homicídio. E os pais de Melanie tinham vindo buscar o corpo para enterrá-la em Iowa.

– Estou feliz que você esteja de volta.

– Sentiu minha falta, é? Ótimo. Soube que você partiu o coração de Thad enquanto eu estava fora. Mas como o motivo foi Mase Manning, devo dizer que foi uma jogada inteligente, gracinha. Thad pode ser bonito e ter a bunda mais dura que eu já vi, mas ele gosta de mergulhar o pinto numa mulher diferente a cada noite. Nada a ver com você.

Franzi a testa, e então ri de como Jimmy descreveu Thad.

– Mais informação do que eu preciso, mas tudo bem.

– Beba esse cappuccino, querida, porque você vai precisar. Soube que a bruxa louca está de volta. Chegou de Paris ontem à noite. Prepare-se. Nannette é uma megera, uma megera diabólica. Ela vai olhar para você e ficar puta. Não reage bem quando há uma mulher mais gostosa do que ela por perto, e, gata, você é imbatível.

Eu estaria mentindo se dissesse que não tinha curiosidade de conhecer Nan. Ela era irmã de Mase. Mas eu também precisava contar a ela sobre o espelho. Mase não havia mais tocado no assunto, mas eu sabia que devia contar a Nan o que acontecera. Sempre que limpava aquele salão, via o espaço vazio e temia o momento de contar a ela o que tinha feito.

Havia uma boa chance de Nan me demitir. Estava me preparando para isso também. Mas eu ia ligar para Blaire Finlay essa tarde e ver se ficava com a faxina da casa dela. Se eu fosse despedida da casa de Nan, ao menos não sofreria um corte na minha renda.

Peguei minha mochila e segui Jimmy até o carro dele.

– Como é que você ficou sabendo sobre Thad? – perguntei.

Jimmy sorriu, como se soubesse dos segredos mais guardados do mundo.

– Recebi uma ligação de Mase ontem à noite. Ele queria ter certeza de que eu estava em casa e que ia levar você ao trabalho. Ele também me explicou que precisava saber da próxima vez que eu saísse da cidade ou quando não pudesse levar você. Ele não queria que Thad fosse minha primeira opção. Disse que faria os arranjos. – Jimmy ergueu as sobrancelhas. – Claro que, depois desse telefonema bastante intimidador, liguei para Blaire e perguntei a ela o que tinha acontecido. Ela não sabia detalhes, então ligou para Harlow, que obviamente sabia. Então Blaire me ligou de volta e me deu o serviço.

Não pude deixar de rir.

– Não acredito que você ligou para Blaire Finlay e perguntou o que ela sabia.

Jimmy riu e ligou o carro.

– Blaire já era minha garota antes de se tornar uma Finlay. Mesmo casada com o gostoso, supersexy e fodão Rush Finlay, ela ainda é minha garota.

Pela maneira como Rush olhava para a mulher, imagino que ele não gostaria de ouvir ninguém chamá-la de “minha garota” – nem mesmo Jimmy, que aparentemente cobiçava o corpo de Rush, apesar de ele ser marido de sua amiga.

– Agora me conte: tem algum detalhe saboroso sobre Mase que você possa compartilhar?

Pensei na noite passada e no quanto ele me fez sentir prazer. Mesmo depois de eu surtar e estragar o momento, ele fora muito suave e doce.

– Eu o amo.

Pronto, falei. Precisava dizer isso a alguém.

Jimmy meteu o pé no freio e olhou para mim. Ainda bem que ainda não tínhamos saído do estacionamento.

– Você não acabou de dizer isso.

Dei de ombros.

– Não posso evitar. Não vou dizer a ele. Mas ele torna impossível não amá-lo. Ele é exatamente... exatamente o que toda garota sonha. Ele faz com que tudo que parece errado fique perfeito.

Jimmy inclinou a cabeça para trás, apoiando-a no encosto, e gemeu, frustrado.

– Gatinha, o que você está pensando? Você não pode se apaixonar por Mase Manning. Para começar, ele nem sequer mora aqui. Relacionamentos a distância não funcionam. Ele é um homem adulto, muito saudável. Vai precisar se divertir, e certamente terá mulheres se jogando em cima dele no Texas. Você não pode se apaixonar por ele. Ele é daquele tipo para se aproveitar e apreciar. Não para amar.

Meu bom humor evaporou. Senti um nó de náusea se formar em meu estômago.

Jimmy tinha razão? Provavelmente. Ele sabia muito mais sobre relacionamentos do que eu.

Mase precisava de sexo? Eu não dera isso a ele. Ah, Deus.

– Ele provavelmente tem uma mulher no Texas, talvez até duas ou três, de quem ele consegue o que quer. Você precisa saber disso, docinho. E eu aposto que você não transou com ele, não é? Não precisa responder, eu sei que não. Teria visto em seu rosto se tivesse. Isso significa que ele voltou para o Texas com tesão. Ele vai extravasar isso em algum lugar, Reese. Estes são os fatos, e eu não quero que você se machuque.

Machucar? Eu estava arrasada.

– Mas eu o amo. – Foi tudo que consegui dizer.

Jimmy estendeu a mão e apertou minha coxa.

– Eu sinto muito. Não quero que você fique chateada. Mas não precisa se manter cega a respeito disso. Ele disse que ama você?

Balancei a cabeça negativamente.

Jimmy suspirou.

– Garota, o que eu faço com você? O amor é uma das coisas com as quais é preciso ter cuidado. Proteja-se. Ainda tenho aquele amigo com quem podemos marcar o encontro.

Mase tinha dito que eu era dele. Não queria que ninguém mais me visse de biquíni. Não sabia se aquilo significava que nós éramos exclusivamente um do outro; afinal, eu não sabia de muita coisa. Mas eu não queria sair com outro cara. E achava que Mase não quisesse que eu saísse.

Se eu era dele, ele não dormiria com outra pessoa... Dormiria?

O Mase que eu conhecia não faria isso. Não acredito que ele transaria com outra pessoa. Ele não dissera que me amava, mas dissera coisas que me fizeram sentir que eu pertencia a ele... e ele pertencia a mim. Que ele queria ser meu.

– Ele disse que eu era dele – contei a Jimmy.

As sobrancelhas de Jimmy se levantaram.

– Sério? Ele disse isso? Como foi exatamente? Me diga palavra por palavra. Quer dizer, já sei que ele não queria que Thad levasse você por aí, mas imaginei que ele quisesse proteger você daquele galinha, não que estivesse reivindicando sua posse.

Não queria compartilhar com ninguém meus momentos privados com Mase. Mas também não queria cometer um erro e terminar tão completamente destroçada que não fosse capaz de me recuperar.

– Ele disse que estava feliz por eu não ter usado meu biquíni na frente de todo mundo na festa, porque ele não queria outro homem olhando para o que era dele.

Jimmy soltou um assovio baixinho.

– Talvez seja melhor você não sair com outros caras no momento. Pode ser que eu esteja equivocado. Enfim, não quero um caubói furioso vindo para Rosemary Beach pronto para matar alguém. Vamos apenas ser cautelosos, ok? Tente não se apaixonar demais. Proteja o seu coração, se puder.

Já tinha dado meu coração a Mase Manning. Não me restava nada para guardar. Mas não disse isso a Jimmy.


Mase

Quando voltei do almoço com meus pais, a caminhonete de Cordelia estava na entrada de carros da minha casa. Não era algo com que eu quisesse lidar naquele momento, nem depois. Precisava pegar minha carteira e ir para os estábulos. Já estava atrasado.

Abri a porta da casa e me xinguei por não tê-la trancado. Aparentemente, eu teria que começar a fazer isso, porque minha vizinha estava se recusando a me escutar e ficar longe.

– Cord, onde você está? – chamei ao entrar na sala e encontrá-la vazia.

– Me procure – disse ela, provocando.

Merda. Mau sinal.

Joguei minhas luvas de trabalho de lado e tirei as botas para evitar sujar a cama de lama. Então segui para o quarto, a fim de expulsar minha visitante.

De fato, lá estava ela, nua, na minha cama. Ia ter que lavar os lençóis para livrá-los do cheiro dela. Eu estava cansado dessa merda. Dessa vez Cordelia tinha ido longe demais.

– Vista suas roupas e saia.

– Não, Mase. Olhe para mim. Você já quis isso. A gente combinava tão bem. Eu quero você. Muito – disse ela, abrindo as pernas, deslizando a mão entre elas e se tocando.

– Você foi longe demais. Quero que saia da minha casa. Se eu precisar chamar minha mãe para vir tirar você, vou fazer isso – ameacei.

Imaginei que a ideia de minha mãe encontrá-la nua em minha cama seria suficiente para fazer qualquer mulher levantar e ir embora.

– Mase, não faça isso. Por favor. Estou com saudade. Preciso tanto de você. Quero que me foda, do jeito que quiser. Eu faço o que você quiser. Venha aqui, vou chupar seu pau. Você pode me sufocar com ele. Eu sei que você gosta.

– Pare com isso! – Meu grito furioso finalmente a fez calar a boca. – Estou apaixonado por outra pessoa. Ela é tudo o que eu quero. Tudo o que sempre vou querer. Então preciso que você vista suas roupas e saia da minha casa, Cord. Agora.

Eu me virei e a deixei ali, incomodado com a visão dela em minha cama. Era Reese quem devia estar ali. A doce e sexy Reese.

Eu precisaria de novos lençóis e um novo colchão antes de trazer Reese aqui. Tinha que me livrar daquelas coisas onde transei com Cordelia e com algumas outras. Reese era boa demais para estar onde elas tinham estado. Ela era especial.

Os passos de Cordelia finalmente me informaram que ela havia desistido. Quando ergui os olhos, ela estava carregando as roupas e desfilando nua pela minha casa. Caramba, será que ela não tinha nem um pouquinho de vergonha? Virei-me de costas, para que ela não pensasse que de alguma maneira eu estava olhando para ela e curtindo aquela besteira.

Quando ela bateu a porta ao sair e escutei o motor da caminhonete, finalmente deixei escapar um suspiro de alívio e fui para o quarto tirar os malditos lençóis. Por sorte, minha mãe cuidava para que eu sempre tivesse dois jogos de lençóis. Ela dizia que é bom ter um de reserva. Como sempre, minha mãe tinha razão.

Quando terminei, sabia que tinha perdido muito tempo. Teria que ir aos estábulos na primeira hora do dia seguinte. Um sujeito viria às quatro olhar um cavalo que eu estava vendendo. Precisava limpar tudo antes de ele chegar.

Major chegou da casa dos meus pais quando tornei a sair.

– Você não vai aos estábulos? – ele gritou do pé da colina.

– Não, vou esperar até amanhã de manhã. Tenho que limpar aquele quarto de milha que estou vendendo. Não fiz isso depois da corrida matinal.

Major assentiu.

– Vou indo então. Tenho que estar em San Antonio amanhã. Meu pai quer me encontrar.

Eu não o invejava. Seu relacionamento com o pai estava uma merda desde que ele dormira com a madrasta no ano passado.

– Boa sorte. – Foi minha única resposta.

Ele me mostrou o dedo do meio e seguiu para a casa dos meus pais.

Rindo, entrei na minha caminhonete.

Ainda não conseguia acreditar que o imbecil tinha transado com a madrasta. Mesmo que ela fosse só três anos mais velha que ele. Segundo as últimas notícias que tive, ela não era mais sua madrasta. E o contrato pré-nupcial que havia assinado a deixara sem nada.


Reese

Eu havia tomado o cuidado de ficar no primeiro andar e me manter em silêncio enquanto limpava. Não queria acordar a mulher que toda a Rosemary Beach me ensinara a temer. Por outro lado, hoje eu realmente tinha algo para limpar. Ela era bem bagunceira.

Passei mais de uma hora limpando o que parecia ser uma garrafa de vinho que explodira sobre o piso da cozinha. Estilhaços de vidro se espalharam pelo chão e havia bebida seca e grudada por todo lado. Armários, piso, bancadas – tudo. Quando consegui limpar aquela bagunça, pude lavar os pratos e os copos que encontrei espalhados pelo andar.

Então encontrei pilhas de roupas no chão da lavanderia. A maioria delas parecia limpa e eu tinha certeza de que quase todas as sujas precisava ser lavada a seco. Pelo visto ela tinha simplesmente despejado o conteúdo das malas no chão. Precisei de outra hora para separar as de lavagem a seco das outras e então coloquei as brancas na máquina.

Quando o primeiro andar estava brilhando e eu conseguira organizar a lavanderia, já passava do meio-dia. Decidi que podia continuar sem fazer barulho e trabalhar nos quartos mais distantes do dela no segundo andar. Ela estaria dormindo no terceiro piso. Eu sabia qual era o quarto dela.

Os quartos intocados foram fáceis. Só tive que aspirar, varrer e esfregar. A rotina de sempre. Quando cheguei ao salão de jogos, tremi, pensando no espelho que eu teria que contar que quebrara. Havia copos vazios por lá também. Aparentemente ela já sabia que o espelho desaparecera. Ela devia ter recebido convidados. Sobras de comida estavam espalhadas pelos pratos e ainda havia restos de diferentes bebidas nos copos. O chão estava cheio de lixo.

A pior parte foi a camisinha usada num canto ao lado do sofá de couro. Nojento. Coloquei as luvas que comprara quando estava com a mão machucada e fiz um chumaço com uma grande quantidade de papel higiênico antes de pegar a camisinha e colocá-la no lixo. Pelo menos quem a usara dera um nó antes de descartá-la.

Quando terminei o salão de jogos, já eram quase três horas. Normalmente essa era a hora em que eu ia embora, mas ainda tinha o terceiro andar para limpar. E ela continuava dormindo.

Voltei ao térreo, levei o lixo para fora e separei o lixo reciclável nos coletores corretos. Então tornei a entrar e pensei em reorganizar a despensa quando ouvi passos na escada. Finalmente.

Ajeitei minha roupa e prendi o cabelo solto atrás das orelhas. Quando Nannette entrou na cozinha, ela me viu e fez cara feia, então jogou o cabelo por cima do ombro. Como previra, ela era deslumbrante. Longos cabelos louro-avermelhados desciam até as costas. Ela mal estava vestida, com uma camisola preta curta e sedosa que expunha a pele clara perfeita.

– Você é a faxineira? – perguntou ela, parecendo irritada.

– Sim, senhora – respondi.

– Por que ainda está aqui? Já passa das três. Você sempre demora assim?

– Já terminei tudo, exceto o último andar. Estava esperando a senhora acordar.

Ela torceu o nariz para mim.

– Bem, então vá limpar. Estou acordada. Não fique aí parada, me olhando de boca aberta.

Eu precisava contar sobre o espelho, mas ela não parecia nem um pouco a fim de conversa. Então subi a escada rapidamente e me concentrei em limpar tudo o que podia. Não queria que ela tivesse uma única queixa. Além do espelho.

Levei mais duas horas no último andar. Ela havia deixado o quarto em uma situação calamitosa. O resto da casa parecia decididamente imaculado.

Quando fiquei satisfeita, desci e a encontrei enroscada no sofá com o controle remoto na mão e uma xícara de café na mesa ao lado dela. Parecia mais acordada agora.

– Você demorou muito. É lenta. É bom ser mais rápida, ou não continua – disparou.

– Eu sinto muito. Farei isso – repliquei, pensando que era injusto ela supor que eu pudesse fazer mais rápido.

Ela revirou os olhos e me dispensou com um gesto da mão. No entanto, eu precisava contar a ela sobre o espelho. Aquilo me manteria acordada por várias noites até eu falar.

– Durante a sua ausência, houve um acidente quando eu limpava as janelas no salão de jogos. Eu caí e o espelho ao lado da janela que dá para o golfo caiu comigo. Ele se estilhaçou e a moldura quebrou. Eu pago por ele com o que receberia pelo trabalho. Eu sinto muito...

– Uma ova. Você vai me pagar agora mesmo. Aquele espelho custou mais de 5 mil dólares. Ele veio de Paris, como a maior parte da mobília desta casa.

Eu não tinha 5 mil dólares. Tinha economizado 2 mil, mas só. Como um espelho podia custar tanto? Eu não esperava por isso.

– Eu sinto muito. Não tenho isso tudo. Posso lhe dar 2 mil agora e trabalhar até que tudo esteja pago. É o melhor que posso oferecer – expliquei, esperando que a mulher possuísse algum tipo de empatia.

Ela me fuzilou com o olhar; aqueles olhos verdes eram implacáveis. Eu estava encrencada. Muito encrencada.

– Não, não. Vou contatar a agência e eles vão me ressarcir. Eles me mandaram uma idiota, então têm que pagar por isso.

Eu assinara um termo ao começar a trabalhar para eles de que qualquer dano ocorrido seria minha responsabilidade. Mas nunca imaginara que quebraria um espelho de 5 mil dólares.

– Eles não vão pagar. Vão me fazer pagar. É minha responsabilidade. Tudo o que tenho é...

– Nem mesmo a metade. Já ouvi isso. Vá se lamuriar com outra pessoa. Quero meu dinheiro, então se vire ou eu chamo a polícia e deixo que eles resolvam esse roubo.

A polícia. Ah, meu Deus, eu iria para a cadeia por isso.

– Eu não o roubei. Ele quebrou – comecei a explicar.

– Cale a boca! Saia da minha casa. Não há nenhuma prova de que ele tenha quebrado. Ele não está aqui. Eu quero meus 5 mil dólares por ele ou você pode explicar aos policiais que não o roubou. Agora saia da minha casa.

Eu não disse mais nada. Ela parecia pronta para explodir se eu lhe dirigisse a palavra outra vez. Não fora assim que eu imaginara essa conversa. De jeito nenhum. Já imaginava que ela fosse louca, mas pensei que ela fosse ao menos me deixar pagar o espelho.

Fui rapidamente até a porta e peguei minha mochila antes de correr para a rua principal. Para fora da propriedade dela. Eu tinha aula com o Dr. Munroe essa noite, mas não poderia ir. Precisava ir para casa e pensar no que fazer. Liguei para o professor e disse que não estava me sentindo bem, então fui andando para casa devagar.


Mase

Deu dez e meia e Reese ainda não tinha ligado, então resolvi ligar. Alguma coisa estava errada. Ela teria me ligado se estivesse tudo bem. O telefone tocou até entrar a mensagem de voz. Desliguei e tentei de novo. A mesma coisa.

Tentei dizer a mim mesmo para não entrar em pânico e liguei para Jimmy.

Ele atendeu ao terceiro toque.

– Alô...

– Você viu Reese? – perguntei, sem deixá-lo terminar.

– Sim, ela estava indo para casa a pé mais tarde do que de costume e eu dei carona para ela. Ela disse que estava com dor de cabeça e que ia tomar um banho e dormir.

Dor de cabeça era normal. Eu não precisava entrar em pânico, mas, caramba, eu queria saber se ela estava bem. Não ouvir a voz dela não era aceitável para mim.

– Vá ver como ela está. Ela não está atendendo o telefone e eu preciso saber se ela está bem. Ela pode estar doente.

Jimmy suspirou.

– Suponho que esta ordem também me obrigue a continuar ao telefone enquanto cumpro a missão.

Não me importei que ele estivesse bancando o espertinho. Eu só queria saber se ela estava bem.

– Sim, exatamente isso.

– Maravilha. Mas, se ela estiver dormindo, isso vai acordá-la.

Eu havia pensado nisso, mas não podia ficar sem saber. Fiquei imaginando ela doente no banheiro, fraca demais para chamar alguém ou desmaiada no chão. Meus medos iam ficando mais exagerados a cada segundo.

– Você é mesmo bastante protetor com ela. Daria para imaginar que os dois estão numa relação séria – provocou.

– Estamos numa relação séria e muito exclusiva. Ela não contou para você?

Jimmy pigarreou.

– Ela não estava segura sobre o que você pretendia, mas disse que não poderia me acompanhar num encontro a quatro porque achava que você não gostaria disso.

É claro que eu não gostaria. O que Reese achava que tinha sido tudo aquilo no fim de semana? Fui até lá apenas para impedi-la de sair com outra pessoa. Deixei meu interesse muito claro, repetidas vezes.

– Ela achou certo. – Foi minha única resposta.

Essa não era uma conversa que eu precisasse ter com Jimmy.

– Acho que se você não está com nenhuma outra por aí, então...

– Jimmy, você está tentando descobrir se eu estou trepando com outras mulheres aqui no Texas? Porque, se for isso e você estiver tentando proteger Reese, então saiba do seguinte: não quero ninguém mais, apenas Reese. Jamais. Então pare de me perturbar e vá checar se a minha garota está bem. Agora.

Jimmy deu uma risadinha.

– Bem, então está certo. Posso fazer isso.

Soltei um suspiro de alívio. Ela não estava pensando em encontrar outras pessoas. Jimmy só queria ver se eu estava. Eu ficaria furioso com ele, não fosse o fato de ele se importar com ela. Jimmy só estava tentando cuidar de Reese. Gostei disso.

Esperei enquanto Jimmy caminhava até o apartamento de Reese e batia na porta.

– Reese, querida. Se estiver acordada, pode abrir a porta? Estou com um caubói furioso no telefone, me impedindo de ver novela.

Esperei enquanto ouvia Jimmy bater outra vez.

– Estou ouvindo a tranca – disse Jimmy, e o pânico lentamente começou a se dissipar.

– Oi – disse a voz baixinha dela dentro do apartamento.

– Quer falar com ele? – perguntou Jimmy.

Escutei o som abafado deles sussurrando com uma mão tapando o microfone do celular. Detestei isso. Alguma coisa estava mesmo errada. Eu ia ter que largar tudo outra vez e voltar para Rosemary Beach.

– Oi, desculpe. Eu estava dormindo. Foi um longo dia. – Era a voz de Reese ao telefone, pesada de sono.

Ela não estava mentindo. Estava na cama. E ela estava bem.

– Você está se sentindo mal? Peça ao Jimmy para medir sua temperatura – sugeri, ansioso.

– Eu estou bem. Sem febre, juro. Ligo para você amanhã. Só preciso dormir esta noite. Mas não estou doente. Não me sinto doente.

Tinha alguma coisa errada. Eu podia sentir.

– Está bem. Durma então, gata. Mas vou querer ouvir sua voz pela manhã. Não vou conseguir me concentrar até saber que você está melhor.

– Eu vou ligar – garantiu.

– Boa noite. Bons sonhos – sussurrei antes de desligar.

Merda, eu não ia conseguir dormir agora. Alguma coisa estava errada e ela não ia me dizer o que era. Tinha vendido o cavalo, mas precisaria estar aqui quando o comprador viesse buscá-lo, amanhã. Ele também ia trazer o cheque para que pudéssemos terminar os trâmites burocráticos. Depois eu precisava ir aos estábulos e pegar algumas reses. Devia ter ido ontem. Agora eu estava atrasado.

Mas Reese precisava de mim, e eu não podia estar lá. Outra razão para eu querê-la aqui. Caramba, eu não podia dizer isso para ela ainda. Ela não estava pronta nem sequer para me deixar tocá-la.

Larguei o telefone e fui ao refrigerador pegar uma cerveja. Tinha uma longa noite pela frente e, se começasse a pensar em Reese daquele jeito, só ia ficar ainda mais longa.


Reese

Eu não tinha dormido um só segundo depois de Jimmy bater na minha porta. Escutar a voz de Mase e sua preocupação me provocou uma crise de choro. Então me sentei e pensei em todas as possibilidades de ganhar dinheiro, e rápido. Quando recebesse meu pagamento esta semana, teria 2.800 dólares líquidos. Ainda precisaria de mais 2.200 dólares.

Tinha medo de tentar um trabalho noturno como garçonete. Quando me estressava, ou ficava em pânico, eu ainda tinha dificuldade em decifrar as palavras. E minha escrita não era tão boa ainda. Tinha dúvidas se eu sequer conseguiria preencher o formulário. Assisti ao nascer do sol sabendo que inevitavelmente teria que esperar para ver como tudo isso se desdobraria. Se ela dissesse que o espelho havia sido roubado, eles não poderiam me prender sem prova. E eu tinha a mão cortada para confirmar minha versão da história.

O máximo que um juiz faria seria me obrigar a pagá-la pelo prejuízo, o que eu já dissera a ela que faria. Eu sabia que teria que ligar para Mase naquela manhã. Ele estava preocupado na noite passada, mas eu simplesmente não conseguia falar com ele ainda.

Essa confusão toda era muito perturbadora. Se eu dissesse a ele o que a irmã estava ameaçando fazer, ele pensaria que eu queria que ele pagasse o espelho por mim, e eu temia isso. Não poderia deixá-lo fazer isso nem pensar que eu quisesse. Esse era um problema meu, não dele.

Digitei o número dele e mal tocou uma vez antes que ele atendesse.

– Bom dia. Você está melhor? – A voz dele fez toda aquela situação que me afligia desaparecer.

Eu sentia falta dele. Adorava nossas conversas noturnas. Na noite anterior, eu queria falar com ele, mas sabia que não podia. Ele sabia quando eu estava preocupada; eu não conseguiria esconder dele.

– Sim. Muito melhor. Obrigada. Desculpe por ontem.

– Você estar bem é tudo que me interessa. Mas não vou mentir: senti falta de escutar sua voz lendo para mim. Foi difícil dormir sem isso.

Sorri pela primeira vez desde aquele encontro horroroso com Nan. Ele me fazia feliz, mesmo quando as coisas estavam ruins.

– Isso não costuma acontecer comigo. Mas, se acontecer de novo, prometo que ligo antes de dormir. Devia ter pensado em ligar para você mais cedo e contar. Tentar parecer normal não estava sendo fácil. Mas eu estava fazendo o melhor possível.

– Vou deixar você trabalhar. Tenha um bom dia, gata.

Eu me despedi e desliguei, mantendo em mim por quase a manhã toda aquela sensação gostosa que me envolvia quando ele me chamava de “gata”.


Já era quase meio-dia quando recebi um telefonema da agência de limpeza. Eu havia sido despedida. Nan ligara para eles, e eles não queriam ter mais nenhuma ligação comigo. Eu devia passar lá para pegar meu cheque e não comparecer nas outras duas casas para as quais estava agendada naquela semana. Consegui terminar a limpeza no resto da casa dos Carters naquela manhã sem desabar.

Eu ia ficar bem. Ligaria para Blaire Finlay. Duas casas pagariam minhas contas. Como não sobraria nada para poupar, pagar Nan seria difícil. Precisava encontrar mais uma casa, pelo menos, ou então outro trabalho.

Antes de voltar para casa hoje, eu ia entregar a Nan um cheque de 2.400 dólares. Era tudo o que eu tinha no momento. Não pensaria no aluguel agora, ia me preocupar com isso na próxima semana. Naquele momento, eu precisava mostrar que estava tentando pagar o espelho. Não queria a polícia atrás de mim.

A ideia de encarar Nan outra vez era apavorante. Quando, porém, cheguei à casa dela, havia dois carros estacionados do lado de fora: o pequeno e caro carro esportivo de Nan e um utilitário preto. Ela estar acompanhada podia ser melhor para mim. Ela certamente não seria desagradável na frente de visitas.

Depois de tomar coragem, subi os degraus da frente e toquei a campainha. Entregaria o cheque, me desculparia outra vez e prometeria mais dinheiro assim que possível. Então iria embora. Eu conseguiria fazer isso.

A porta se abriu mais cedo do que eu esperava e a expressão de Nan imediatamente se transformou em uma careta desdenhosa.

– O que está fazendo aqui? Liguei para a agência e exigi que a demitissem. Preciso chamar a polícia também?

Segui o que tinha planejado mentalmente.

– Aqui está um cheque com tudo o que tenho no momento. A senhora receberá mais assim que eu puder. Lamento sinceramente pelo espelho – falei, minha voz falhando uma única vez por causa do nervosismo.

Rush Finlay surgiu por trás de Nan. Ele não sorria. O que estava fazendo ali?

– Nan? O que está acontecendo? Você disse que acabou de... – Ele parou e olhou para mim. – É Reese, certo?

Assenti com a cabeça.

– Você fez Reese ser demitida?

– Ela roubou um espelho de 5 mil dólares da minha casa! Sim, eu exigi que a demitissem. Esse cheque não cobre sequer metade do espelho, e ela acha que isso resolve – disparou Nan.

Rush não parecia acreditar nela. Ele se virou para mim.

– Reese, você roubou um espelho?

Neguei com a cabeça.

– Não. Mas eu o quebrei. Eu caí. Foi um acidente. Já expliquei, mas...

– Ela está mentindo! Ela é a faxineira, Rush, pelo amor de Deus! Você sempre tem que tomar o partido dos outros contra mim? Estive fora por meses, e essas são as boas-vindas que recebo? Uma faxineira ladra e meu irmão mais uma vez tomando o partido de terceiros contra mim?

Agora ela estava gritando. Mas o fato de ela se referir a Rush como irmão me confundiu. Como Rush seria irmão dela? Mase era irmão dela, mas Rush e Mase não eram irmãos.

– Ela trouxe um cheque e prometeu trazer mais quando puder. Isso parece a atitude de alguém que roubou seu espelho? Não parece. Acalme-se e pense um pouco. Você não tem mais 10 anos, Nan. Cresça.

Rush estava claramente aborrecido.

– Eu vou indo. Volto com o restante do dinheiro assim que puder – garanti outra vez e desci os degraus da entrada correndo.

Eu provavelmente deveria ter ficado um pouco mais e continuado a me defender. Havia uma boa chance de Rush começar a acreditar nela, e então eu não conseguiria a faxina na casa dele. Teria que esperar para ligar para Blaire e falar sobre a faxina. Pelo menos havia uma testemunha que me vira pagar parte do valor do espelho e prometer pagar mais em breve.

A caminhada dali até em casa era de mais de dez quilômetros. Eu teria tempo suficiente para pensar no que fazer com o restante da semana, já que não tinha mais casas para limpar.


Mase

O telefone tocou quando eu estava chegando em casa, depois de um longo dia nos estábulos.

Era Rush.

– Olá – atendi, curioso, pois não recebia muitas ligações dele.

– Nan voltou – disse ele, não parecendo contente com isso.

Não podia culpá-lo, mas pensei que ele gostasse da irmã.

– Sim – falei, imaginando o que isso teria a ver comigo.

– Você sabe alguma coisa sobre um espelho na casa de Nan?

Merda! Eu havia me esquecido do espelho. E de que Nan poderia voltar para casa. Puta que pariu. Ontem fora dia de Reese fazer faxina lá. De repente sua dor de cabeça fazia muito mais sentido.

– No dia em que conheci Reese, ela caiu limpando a janela e o maldito espelho caiu com ela. Fez um corte feio na mão dela. Tive que acompanhá-la até o hospital para tomar uns pontos.

Tinha me esquecido dessa porcaria. Achei que Nan nem fosse notar. Mas agora sabia que notara. Porque Rush estava ligando para mim. Se ela tivesse sido cruel com Reese, eu iria visitá-la, e não ia ser uma visita de que ela gostaria.

– Provavelmente não teria notado. Só que Reese contou e prometeu pagar pelo espelho – disse Rush, ainda parecendo aborrecido com alguma coisa.

– Merda! Eu devia ter comprado outra porcaria daquelas. É que eu fiquei... ocupado e esqueci.

– É, você deveria ter feito isso. Reese levou para Nan um cheque de 2.400 dólares hoje, depois que ela exigiu que a agência a demitisse. Meu palpite é de que Reese perdeu todos os empregos. E está dura. Eu ia tomar o cheque de Nan, mas tive medo de que ela denunciasse Reese para a polícia ou fizesse alguma outra estupidez. Acho que Reese está precisando de ajuda neste momento.

– Dois mil? Mas que merda! Quanto Nan quer pelo maldito espelho?

Ela era a mulher mais mesquinha e vingativa que eu já tinha visto em toda a minha vida. Quando se ofereceu para doar sangue para a transfusão de Harlow, depois do nascimento de Lila Kate, pensei por um instante que ela possuía um coração. Mas parece que não.

– Ela alega que o espelho custou 5 mil dólares e que veio de Paris. Não acredito nisso, mas ela está determinada a receber a grana. Pensei em pagar e acabar com essa merda, caso você não faça isso. Só que, se fosse Blaire nessa situação, eu ia querer ser o cara a resolver o problema. E não outra pessoa.

– Estarei aí pela manhã. Não deixe Nan chegar perto de Reese outra vez. Vou resolver essa história e trazer Reese comigo para o Texas. Não consigo fazer nada direito, porque minha cabeça está sempre nela. Eu a quero aqui.

– Nan vai deixá-la em paz por ora. Eu não fiquei feliz, e ela sabe disso. Também avisei que a garota era sua namorada. Ela não recebeu bem essa informação. Quando saí, acho que ela estava resmungando algo como “Isso não pode ser verdade”.

Rush deu uma risadinha. Mas minha cabeça já estava em outro lugar. Eu tinha planos para fazer e uma garota para convencer a vir morar comigo no Texas.

Depois de desligar, comecei a fazer as malas e liguei para meu padrasto e para Major. Disse que tinha uns negócios para resolver fora da cidade e passei a eles a lista de coisas que precisariam fazer por mim enquanto eu estivesse fora.

Então fui para o aeroporto e peguei o primeiro voo.


Não ir direto ver Reese foi difícil. Mas eu precisava lidar com minha “querida irmã” primeiro. O avião aterrissou perto da meia-noite. Rush ficaria de enviar para o aeroporto a caminhonete que eu normalmente pegava emprestada quando estava na cidade.

Passava um pouco das duas da manhã quando estacionei no portão de Nan, depois de digitar o código na portaria. As luzes estavam acesas na casa. Ela ainda estava de pé. Ótimo. Não precisaria acordá-la.

Não me dei o trabalho de bater na porta, usei o código e entrei. Pude ouvir a televisão e risadas na sala de TV. Cruzei o hall e fui direto naquela direção.

Nan estava no sofá com uma taça de vinho na mão, contando a uma garota sentada na frente dela algo que aparentemente era hilário. Eu não via Nan como uma pessoa divertida. Nem uma boa contadora de histórias.

Os olhos dela encontraram os meus, e ela deu um pulo antes que a raiva surgisse em seu olhar.

– Você não pode invadir a minha casa assim, Mase. Vou chamar a polícia – disparou.

– Por favor, faça isso. Eu vou só ligar para o nosso pai e deixar que ele resolva com os policiais, já que a casa é dele. E ele me disse mais de uma vez que posso usá-la sempre que quiser.

Como eu sabia que aconteceria, minhas palavras a detiveram. Ela detestava qualquer envolvimento de Kiro em sua vida. E ela também sabia que eu tinha razão. Aquela casa não era dela. Ela não comprara nada que havia ali dentro. Descobri essa última parte quando liguei para Kiro enquanto esperava meu voo. Ele comprara a casa já mobiliada. Aquele espelho não era algo por que ela tivesse pagado. Vaca.

Vaca mesquinha.

– Não acredito que você esteja aqui por causa dela. Ela é faxineira, Mase. Você certamente pode conseguir algo melhor. Parece meio inferior para o filho de Kiro. Será que o papaizinho querido sabe que você andou comendo as empregadas enquanto estava aqui?

Havia uma amargura em Nan que eu jamais vira em alguém da idade dela. Aquilo a corroía. Tornava-a cruel e desalmada. E muito superficial.

– Este será seu único aviso, irmãzinha. Fale mais uma palavra negativa sobre Reese, e vou garantir que você se arrependa dela por muitos anos. Está me entendendo? Porque, juro por Deus, eu estou falando muito sério.

Seu lábio se retorceu num rosnado, e ela se virou para a amiga.

– Desculpe por isso, Laney. Tenho certeza de que ele vai embora assim que terminar o sermão.

Mal olhei para a ruiva, mas vi o suficiente para saber que estava mais interessada na minha presença ali do que Nan.

– Liguei para Kiro. Esta casa foi comprada mobiliada. Aquele maldito espelho não custou 5 mil dólares. Além disso, soube de outras coisas. Reese caiu e cortou a mão na sua casa, trabalhando para você. Então foi demitida por isso. Sou testemunha dela, porque estava aqui e fui eu quem correu com ela para o hospital para tratar o ferimento. Há um registro médico do atendimento. Na minha opinião, Reese precisa de um advogado, porque ela tem uma ótima causa. Ela sofreu um acidente de trabalho e então foi demitida. Ela pode processar a agência e você. Não seria uma ótima manchete?

Os olhos de Nan se arregalaram e eu saboreei cada segundo enquanto minhas palavras eram digeridas.

– Eu até vou sugerir que ela processe você pelo dinheiro que ela já lhe pagou, mais 1 milhão de dólares por danos morais e físicos. Afinal, você é filha de Kiro Manning. Ela pode pedir uma boa grana. Você pode pagar.

Nan soltou uma risada claramente forçada.

– Ela não pode pagar um advogado. Isso não vai acontecer.

– Ela não precisará pagar. Já chamei o meu.

Nan pousou a taça de vinho com violência numa mesinha e então se levantou.

– É mesmo, Mase? Você também? Toda essa maldita família me odeia. Agora você vai tomar o partido de uma garota qualquer com quem está trepando?

Dei um passo na direção dela, me lembrando de que eu não batia em mulheres. Mas, maldição, foi difícil. Eu queria torcer o pescoço dela.

– Nunca. Jamais. Refira-se. A Reese. Assim. Ela é mais do que você jamais conseguirá imaginar. Ela nem sequer sabe que estou aqui, porque ela não me contou nada disso. Foi Rush.

Esperei que ela assimilasse mais essa informação. Então acrescentei outra coisa:

– Você atrai ódio para si mesma, Nan. Deixe de ser filha da puta.

Eu já tinha dito o que viera dizer. Dei as costas e segui em direção à porta.

– Rush ligou para você? – A voz dela soou mais aguda.

Até o irmão que ela adorava, que gostava dela quando ninguém mais a suportava, estava farto das suas besteiras. Ela estava percebendo isso, finalmente.

– Sim. Ele ligou. Ele também detestou ver Reese sofrer nas suas mãos doentias – garanti, olhando para ela.

Ela já não parecia tão furiosa. Abatida era uma descrição mais exata. Pena que não houvesse uma única partezinha de mim que se importasse. Nós tínhamos o mesmo pai, mas eu odiava aquela mulher. Não só pelo que ela havia feito com Reese, mas também pelo modo como tratara Harlow, então recém-chegada a Rosemary Beach. Eu não odiava facilmente as pessoas, mas Nan fazia questão de despertar esse sentimento nos outros.

– Espere. Pegue, leve esse maldito cheque. Não quero mais dinheiro nenhum. Mas também não quero vê-la nunca mais. Ela não vai voltar a trabalhar aqui.

Virei e peguei o cheque de sua mão. Ela deixara tudo o que Reese tinha economizado na vida na mesinha de centro, embaixo de um vaso de frutas, como se fosse um guardanapo.

Colocando o cheque no bolso, lancei a Nan um último olhar de pena.

– Espero que você se dê conta um dia de que essa maldade só a atrapalha. Depois de um tempo, vai acabar afastando todo mundo para sempre. Livre-se dessa coisa que controla a sua cabeça e mude. Porque você já perdeu todo mundo. Não perca Rush também.

A dor que atravessou a expressão dela era suficiente. Fui embora.

Estava pronto para cuidar da minha garota.


Reese

Uma campainha longínqua interrompeu meus sonhos, e eu me virei para descobrir de onde ela vinha. Tudo o que eu via ao meu redor eram nuvens. A campainha parou, mas logo recomeçou. Frustrada, bati o pé no chão, mas então me dei conta. Eu estava sonhando.

Abri os olhos, e a campainha era o meu celular. Esfregando o rosto, sentei-me e olhei o aparelho desorientada. O sol não havia nascido e ainda estava muito escuro lá fora. Eu havia levado uma eternidade para cair no sono.

Meu celular continuou tocando até que finalmente vi a tela brilhando no escuro. Saí da cama e o apanhei no chão, onde tinha caído. Botas de caubói. Mase.

– Alô – respondi num sussurro rouco.

– Tem alguém na sua porta. Pode abrir para que vocês dois possam cair na cama e dormir? – disse ele, naquele seu tom profundo e sexy, do outro lado da linha.

Franzi o cenho e então ouvi a batida. Levei alguns segundos para perceber que Mase estava na minha porta. Larguei o telefone na cama e fui correndo abrir. Por que ele estava aqui? Sua ligação no início da noite tinha sido tão curta que eu havia ficado preocupada. Ele nem sequer me pediu que lesse para ele.

Era por isso. Ele estava vindo me ver.

Abri a porta, e ele entrou lindo como sempre no apartamento. Nesse momento percebi que meu cabelo provavelmente estava todo desgrenhado. Eu nem sequer havia me olhado no espelho.

Mas ele estava aqui. Nada mais importava.

– Desculpe acordar você, mas eu não iria querer dormir na caminhonete a noite inteira se podia ficar na sua cama e dormir com você nos meus braços.

Era de desmaiar. Esse homem e suas palavras.

Sorri. Estava tão feliz de vê-lo que não conseguia esconder. Sabia que estava com um sorriso bobo no rosto. Eu sempre ficava assim quando estava eufórica. Ter Mase aqui me deixava eufórica. Não esperava vê-lo de novo tão rápido e, depois da semana que eu tinha tido, eu precisava disso.

O simples fato de estar com ele já resolvia tudo.

Ele cobriu a distância entre a gente e sua mão correu pelo meu cabelo, com um sorriso divertido nos lábios.

– Gosto disso. De ver você assim.

Eu queria me fundir a ele.

– Você está aqui. – Foi tudo o que consegui dizer.

Ele assentiu com a cabeça.

– Estou. Podemos falar disso amanhã. Deixe-me levá-la de volta para a cama.

Ele ia se deitar comigo. Isso era... Ah, droga. Eu estava sonhando. Teria apostado que era um sonho. Era a única explicação que fazia sentido. Eu não queria que fosse um sonho. Eu queria que ele estivesse aqui, caramba.

– Me belisque – pedi a ele, enquanto a mão dele deslizava até quase a minha cintura.

Ele franziu a testa.

– Por que eu faria isso?

– Para provar que não estou sonhando – expliquei.

Sua risada grave fez meu corpo todo formigar.

– Que tal se eu fizer isso, então? – disse ele antes de cobrir minha boca com a dele.

Comecei a abrir minha boca para ele quando ele mordeu levemente meu lábio inferior, o que me fez pular.

– Viu só, gata? Você está acordada – brincou, deslizando a mão até meu traseiro e apertando uma vez antes de retornar a mão para a base das minhas costas.

Queria mais, mas ele estava me conduzindo de volta ao quarto.

– Por que você está aqui? – perguntei, depois que ele arrumou a bagunça das cobertas e as puxou de volta para mim.

Aninhei-me ali, obediente.

– Porque eu precisava ver você.

Fiquei observando-o tirar as botas e desabotoar a camisa de flanela e jogar tudo na cadeira. A camiseta que ele vestia por baixo era tão justa que se via a beleza de cada linha de seu peito e de suas costas. Quando se virou para subir na cama ao meu lado, puxei as cobertas para ele entrar. Não queria que ele pensasse que ainda tinha que dormir em cima delas. Ele ainda estava de jeans. Não conseguiria dormir bem assim.

– Pode tirar a calça. Vai dormir melhor – falei, antes de ele afundar na cama ao meu lado.

Ele parou um instante e então começou a desabotoar o jeans. Senti seu olhar em mim enquanto se despia, mas eu estava hipnotizada demais para olhar para o rosto dele. Suas mãos grandes rapidamente abriram o zíper da calça, que deslizou por suas coxas grossas e musculosas. Tive que sorver o ar bruscamente. Tinha me esquecido de respirar.

– Tem certeza de que está tudo bem para você? Posso dormir de calça, gata.

Ele estava preocupado com a possibilidade de que eu surtasse por ele estar de cueca. Bem, eu estava surtando, mas por outra razão. Mase Manning realmente fazia uma cueca boxer branca parecer deliciosa. Eu estava em pânico depois da história do espelho, então aproveitar aquela visão não estivera em meus planos aquele dia. Mas agora...

– Eu estou bem. Não, você está bem. Quero dizer, tudo bem e... Ah, venha logo para a cama – chamei, confusa.

Mase sorriu dessa vez. Então ele se deitou ao meu lado, mas tomando cuidado para não me tocar. Reagi tão mal aos beijos e carícias da última vez que agora ele estava apreensivo. Mas eu também não estava segura de que teria coragem de tomar a iniciativa ou pedir para ele fazer alguma coisa. A ideia de tomar todas essas decisões era muito estressante.

Mas isso não interessava. Não agora. Mase estava ali naquela noite, não importava o motivo. Então me enrosquei ao seu lado, e ele me puxou mais para perto, mas não fez nada além disso. Olhando para ele, notei seus longos cílios quase batendo nas maçãs do rosto. Ele já tinha fechado os olhos. Sorrindo, feliz, fechei os meus também.


Quando tornei a abrir os olhos, o sol atravessava as persianas, e Mase estava deitado de lado, comigo aninhada em seus braços. Inclinei a cabeça para trás para ver se ele estava acordado. Seus olhos ainda estavam fechados, mas seus braços me apertaram e um sorrisinho esticou seus lábios.

– Acordada? – perguntou ele, ainda meio grogue, e então lentamente abriu os olhos e me fitou.

– Sim – respondi, me sentindo estranhamente bem para uma garota sem emprego nem dinheiro.

– Hummm... você quer me contar sobre a sua semana agora ou enquanto comemos waffles e tomamos café?

Sorrindo, beijei o braço dele.

– Esse é o seu jeito de me pedir para fazer waffles?

Ele deu de ombros, sorrindo como se soubesse que eu faria qualquer coisa para ele.

– Talvez.

Beijei o braço dele de novo.

– Você vai ter que me deixar levantar para eu poder fazer isso.

Ele baixou a cabeça e passou os lábios suavemente na minha testa.

– Mas você está tão gostosa aconchegada nos meus braços.

Eu tinha que admitir que aquele era mesmo o meu lugar preferido. Em todo o planeta.

– Por que não me conta sobre a sua semana agora? – perguntou ele, num tom mais sério.

Ele falava da minha semana como se já soubesse.

– Conversamos ontem à noite por telefone. Você sabe da minha semana – respondi, testando-o.

– Não... Só sei o que você me contou. Quero a história completa. Sem deixar nada de fora. – O tom de brincadeira em sua voz tinha sumido agora.

Ele sabia. Era por isso que estava ali.

– Quem contou? – perguntei, deslizando um pouco para trás, ou ao menos tentando.

Seu abraço não afrouxou.

– Você devia ter me contado. – Foi a resposta dele.

– Não era problema seu.

Isso chamou a atenção dele. Seus olhos se abriram totalmente, e ele se mexeu com rapidez. Pensei por um segundo que ele ia se levantar, mas o que fez foi me deitar de costas e colocar uma mão de cada lado da minha cabeça, pairando acima de mim.

– Qualquer coisa que afete você é problema meu. Você é minha. Mesmo que eu não soubesse o que havia acontecido naquele dia. Mesmo que Nan não fosse minha irmã. Seria meu problema, porque aflige você. Faz você sofrer. – Sua voz suavizou-se na última frase. Ele baixou o corpo, sem fazer pressão sobre mim. Seu nariz acariciou meu pescoço por um instante, e meu corpo inteiro despertou. Uma sensação de calor se espalhou por mim. – Quando você sofre, isso me dilacera. Quando você está feliz, eu me sinto como se fosse dono do mundo inteiro.

Que homem incrível!

– Você tem um rancho para cuidar e uma vida no Texas. Não quis incomodá-lo com isso.

Mase suspirou e beijou meu rosto antes de voltar a me fitar de cima.

– Eu tenho um rancho para cuidar e ele fica no Texas. Mas você vem antes de qualquer coisa. Se precisar de mim, você vem primeiro.

Eu te amo estava bem ali, na ponta da minha língua. Queria que Mase soubesse. Mas ele não estava me dizendo essas palavras. Tive medo de que ele pensasse que eu era ingênua e que estava confusa quanto ao que estávamos fazendo. Então guardei-as para mim. Mas as gritei na minha cabeça e na minha alma. Eu amava esse homem.

– Seu cheque está no bolso da minha calça. Nan o devolveu ontem à noite. Você não deve nada a ela. Ela não comprou aquele espelho. Kiro comprou a casa mobiliada. É tudo dele, e ele não dá a mínima para aquele espelho.

Fiquei apenas olhando para ele. Não sabia o que responder. Eu vira a fúria no rosto de Nan. Não estava certa de que ela concordaria com isso. Quando Mase saísse, era provável que os policiais viessem me prender. O dinheiro que eu dera a ela era minha prova de que pretendia ressarci-la.

– Preciso que ela fique com aquele dinheiro, Mase.

Ele fez que não com a cabeça.

– Está resolvido. Ela não vai incomodar você outra vez.

Quando ele estivesse longe, ela incomodaria.

– Você não pode me proteger de tudo.

– Posso protegê-la da minha irmã. E, sim, posso proteger você de tudo. É só você me dizer qual é o problema. Eu resolvo.

Ele estava sorrindo, mas eu podia ver a seriedade em seus olhos.

– Mase – comecei, mas ele pôs o dedo sobre meus lábios.

– Já cuidei disso. Ela está com medo que você a processe. Você se machucou na casa dela, trabalhando, e ela a demitiu por isso. Nan não vai voltar a entrar em contato com você. Ela provavelmente não vai respirar o mesmo ar que você por um tempo. Fui muito claro ao explicar o que eu faria se ela se metesse com você outra vez.

– Eu não a processaria porque caí e quebrei um espelho.

– Ela não sabe disso, gata. E isso é o que interessa.

Ele me soltou e se levantou. Fui abençoada com uma vista de sua bunda naquela cueca. A bunda de Mase Manning era perfeita.

– Você vai levantar daí e fazer waffles para mim? Porque, gata, se você continuar me olhando como se eu fosse a refeição, posso ficar tentado a voltar para a cama e conferir exatamente o que você está pensando.

CONTINUA

Tinha certeza de que sim. Minha mente brincava com imagens dela desse jeito. Então me juntei a ela em minha imaginação, e a coisa ficou ainda mais interessante. Aquelas pernas compridas e a pinta embaixo da bunda seriam as primeiras coisas que eu exploraria. Uma imagem dela em minha cama, com a bunda para o alto, para que eu pudesse acariciar e beijar aquela pinta, fez meu pau latejar violentamente.

Então o apertei, tentando acalmá-lo. Ele estava quente e não ia esfriar tão cedo. Ainda mais com a voz de Reese me acendendo.

– Reese, me dê um minutinho. Já volto.

– Tudo bem.

Eu odiava ser tão fraco, mas precisava me controlar agora, se queria mantê-la ao telefone até que adormecesse. Ou eu entrava em uma ducha fria ou terminava com essa fantasia na privacidade do banheiro. Eu estava com pressa, e a imagem de Reese em minha cama, com sua bela bundinha redonda para cima, estava me provocando.

Fechei a porta do banheiro, fui até a parede, onde me apoiei, e então peguei meu pau latejante outra vez. Lentamente, comecei a acariciá-lo, enquanto lambia a bunda e a pinta de Reese, então abri as pernas dela, e senti sua fenda quente escorregadia ao meu toque. Minha outra mão acariciaria sua bunda e então deslizaria até sentir os mamilos duros e o peso de seus seios pendendo em direção ao colchão.

Ela gritaria quando eu passasse a língua sobre sua carne macia, e seus peitos dançariam e saltariam na minha mão. Pronto, foi o que bastou. Gemi quando o gozo foi bombeado para fora de mim e cobriu minha mão, ainda fechada firmemente em torno do meu pau.

Desde que conheci Reese, eu vinha fazendo isso cada vez mais. Já tinha tentado alguns banhos frios, mas eu os detestava. Essa era a solução mais fácil. E a menos dolorosa. Além disso, minhas fantasias com Reese estavam ficando cada vez melhores.


Reese

Jimmy apareceu na manhã seguinte para me dizer que avisara ao trabalho que estaria ausente por motivo de saúde pelo restante da semana e que, para escapar do horror da noite anterior, ia fazer uma viagem. Ele não tinha conseguido dormir e estava choroso. Sua preocupação principal era como eu ia chegar ao trabalho. Embora eu lhe garantisse que podia ir andando, ele disse que não seria capaz de relaxar e desligar a cabeça de tudo se estivesse preocupado com o fato de eu ter que ir a pé até as casas. Assim, havia combinado com um cara em quem confiava para ir me pegar e levar para o lugar em que eu trabalhasse no dia. Ele me garantiu que o conhecia desde sempre e que ele era um amigo de confiança do Sr. Kerrington. Tive que prometer a ele que pegaria carona com seu amigo, Thad, antes que ele partisse. Como estava preocupada com ele, concordei. Mas não era algo que eu quisesse fazer, de jeito nenhum. Preferia mil vezes pegar um táxi. Mas Jimmy se recusou a aceitar isso.

Portanto ali estava eu, diante do meu apartamento, esperando um “BMW preto com rodas prateadas reluzentes que você não terá como não ver”. Jimmy também disse que Thad tinha cabelo louro comprido, e que o lugar ideal para ele parecia ser em cima de uma prancha de surf.

Uma fita amarela do tipo que a polícia usa para isolar uma cena de crime cercava a porta e a calçada três portas adiante. Eu me encolhi ao pensar no horror que acontecera ali. Jimmy vira tudo. Eu também estava preocupada com ele. Como ele poderia esquecer aquilo e dar continuidade à vida?

Na noite anterior, eu havia adormecido quando Mase me deixara esperando. Aquilo realmente me surpreendeu. O simples fato de saber que ele estava ali e não ia me deixar foi suficiente para me fazer relaxar. E também houve a estranha conversa sobre o que vestíamos para dormir. Ele dormia nu. A imagem daquele homem nu me excitava. E ia ser estranho quando eu tivesse que vê-lo outra vez.

Era mesmo difícil de não reparar no sofisticado BMW preto que chegou ao estacionamento. Mesmo sem ver as rodas ou o motorista louro no interior, eu sabia que era ele. Ninguém nesse condomínio tinha um carro como aquele. Botei minha mochila no ombro e respirei fundo. Jimmy não mandaria alguém perigoso para me pegar. Eu podia fazer isso. Podia, sim.

A porta do carona se abriu, e um cara alto, cujo cabelo louro encaracolava logo abaixo das orelhas, sorriu para mim. Ele usava óculos escuros, de modo que eu não podia ver seus olhos. No entanto, ele parecia seguro. Seu sorriso era amigável, e – tornei a me lembrar – Jimmy confiava nele.

– Você é Reese? – perguntou ele.

Fiz que sim com a cabeça e desci da calçada, indo para o carro.

– Só o Jimmy mesmo – disse Thad, balançando a cabeça e rindo.

Não perguntei o que aquilo queria dizer.

– Obrigada por me levar. Eu pago a gasolina – garanti, entrando no carro.

Thad franziu a testa.

– Ah, não vai pagar, não. Vou levar uma garota bonita para o trabalho e para casa.

Não fiquei tensa quando ele me elogiou. E isso era um bom sinal. Eu estava melhorando. Nem todos os homens eram maus. Jimmy, Mase e o Dr. Munroe tinham me ensinado isso. Também havia a maneira como Grant Carter adorava a mulher e a filha. Minha opinião sobre os homens estava mudando. Quanto mais tempo eu ficava em Rosemary Beach, mais via o lado bom da humanidade.

– Jimmy pediu a você que me levasse até o Kerrington Club? Posso andar a partir dali.

Ultimamente Jimmy estava me levando até as casas em que eu trabalhava em vez de me deixar ir a pé. Era algo que eu sabia que Mase tinha lhe pedido que fizesse.

– Pediram que eu a levasse à casa de Nan hoje. Ouvi dizer que ela estará de volta em duas semanas. Ah, que alegria – disse Thad, me olhando como se eu entendesse o que ele estava falando.

Eu nunca tinha visto Nan, mas pelo que todos, incluindo o irmão, diziam sobre ela, eu não estava certa se ia querer conhecê-la. Gostava de limpar a casa dela. Precisava daquele trabalho. Mas começava a ficar apavorada com ela. Teria que contar sobre o espelho quando ela retornasse. E temia esse momento.

– Acho que não estou ansiosa por conhecê-la – admiti para Thad. – Parece que ninguém gosta muito dela.

Thad deixou escapar uma gargalhada.

– É o eufemismo do ano.

Ah, puxa. Desejei com toda força que ela pudesse simplesmente ficar em Paris para sempre.

– Você ouviu aqueles tiros na noite passada? – perguntou Thad, mudando de assunto. – Ver as fitas na cena de crime é assustador.

Concordei e afastei a lembrança da noite passada.

– Sim – foi minha única resposta.

Então concentrei a atenção no lado de fora. Não queria falar dos tiros.

– Desculpe se ela era sua amiga ou coisa assim. Não quis ser desrespeitoso.

Continuei olhando pela janela.

– Eu não a conhecia – falei.

Então ele ficou quieto. Provavelmente eu deveria ter falado alguma coisa e não deixado aquele silêncio constrangedor, mas eu não sabia o que dizer.

Quando ele passou pelo portão de Nan e seguiu o caminho que levava até a entrada da casa, eu me senti aliviada. Ansiava por fazer minha faxina e aproveitar aquele tempo sozinha e sossegada.

– Pego você aqui por volta das três.

– Obrigada.

Por mais estranho que fosse pegar carona com um desconhecido, era bom chegar ao trabalho mais rápido.

Thad me dirigiu um sorriso torto.

– Sem problemas.


Naquela noite, contei a Mase sobre Jimmy ter viajado e Thad ter me dado carona. Ele não pareceu animado, mas não lhe perguntei por quê. Éramos amigos, nada mais. Em vez disso, li dois capítulos para ele. Pouco antes de desligarmos, ele perguntou se eu já estava de pijama.

– Sim – respondi, olhando para a calça de moletom cortada e a camiseta.

Ele suspirou e então riu.

– Desculpe. Não pude evitar. Boa noite, Reese.

– Boa noite, Mase.

– Bons sonhos.

Ele não tinha ideia de quanto seriam bons.


Mase

Meu café estava passando e eu não tinha vestido nada além do jeans quando uma batida na porta perturbou minha rotina matinal.

Contrariado, imaginando que fosse Major chegando uma hora mais cedo, fui lá e abri bruscamente a porta, pronto para fuzilá-lo com o olhar. Mas era Cordelia.

Ela não tinha telefonado nem aparecido desde que eu a mandara para casa fazia quase um mês. Não recuei para deixá-la entrar, porque no passado tudo o que fazíamos juntos tinha a ver com sexo e eu não ia mais transar com ela. Não quando meus sentimentos em relação a Reese estavam cada vez mais profundos.

– Estou apaixonada por você – despejou ela, os olhos se enchendo de lágrimas.

Santo Deus, eu não precisava disso hoje. Nem em qualquer outro dia. Cordelia não deveria jamais se apaixonar por mim. Tínhamos feito sexo. Só isso. Nada de carinhos e beijos, apenas trepávamos.

Cacete.

– Cordelia, eu sinto muito. Mas começamos isso sabendo que era só um lance de sexo. Não sabia que você tinha sentimentos mais profundos ou que estava começando a tê-los. Eu teria interrompido há muito tempo, se soubesse.

Ela fungou e seus ombros se curvaram, num gesto de derrota.

– Então você realmente não sente nada? Nada mesmo?

Caramba, eu sentia prazer quando gozava. E, sim, eu aproveitava o corpo dela, mas era isso. Nada de sentimentos. Neguei com a cabeça, odiando magoá-la.

– Não. Para mim era apenas sexo. Pensei que para você fosse só isso também.

– Tem outra pessoa? – perguntou. – É por isso que você não quer mais me ver?

Não sabia como responder. Reese não era da conta dela, mas era a razão para eu pôr um ponto final naquela história.

– Estou sentindo algo por outra pessoa, sim.

Pronto, falei. Ela cobriu a boca ao soluçar.

– Então você se envolveu com outra pessoa enquanto estava trepando comigo?

Fiz que não com a cabeça, deixei escapar um grunhido frustrado. Eu só queria um café. Não isso.

– Não me envolvi com ninguém... ainda – disse a ela. – Mas isso não importa. Eu quero me envolver. Estou esperando por ela.

Cordelia soltou uma risada seca e limpou as lágrimas que escorriam pelo rosto.

– Então a mulher disposta a lhe dar tudo não é suficiente. Você quer a que resiste, é isso? Deus, eu odeio os homens! Vocês são todos uns babacas! – Cordelia gritou a frase final. E apontou para mim. – Você vai se arrepender. Quando precisar de mim, vai se arrepender. Todo aquele sexo ardente que a gente fez foi fantástico, e você sabe disso. Você vai me querer outra vez, e eu não vou dar para você. É isso, Mase. Você teve sua última chance.

Eu não tinha resposta para isso. Observei-a dar meia-volta, ir até sua caminhonete e entrar. Fechei a porta de casa e torci para que ela mantivesse a palavra e que esse fosse mesmo o fim. Não poderia passar por aquilo de novo e deixá-la agir assim. Odiava magoá-la, mas Cordelia estava forçando a barra.

Meu telefone começou a tocar e eu olhei cheio de vontade para o café na cafeteira. Eu queria muito aquele café. Frustrado, peguei o telefone. Por que não me deixavam em paz? Droga, eu só queria uma manhã tranquila.

O nome de Harlow se iluminou na tela.

– Você está bem? – perguntei, pensando que algo pudesse ter acontecido. Ela nunca ligava tão cedo.

– Imaginei que você já estivesse de pé. Grant acabou de me contar algo antes de ir para o trabalho, algo que ele escutou ontem e que eu achei interessante. Queria compartilhar com você.

Estava quase com medo de ouvir. Ela parecia tramar algo. Dava para perceber na voz dela. Qualquer que fosse a informação que tivesse, Harlow estava um pouquinho empenhada demais em me contar.

– São sete da manhã, Harlow. Acabei de levantar e preciso de um café – resmunguei enquanto me servia uma xícara.

– Beba seu café, rabugento. Posso contar o que sei enquanto você bebe.

– Tudo bem – concordei, ouvindo apenas parcialmente o que ela dizia. Estava mais concentrado no líquido escuro na caneca à minha frente.

– Sabe Thad, aquele amigo de Woods Kerrington? Ele levou e buscou Reese no trabalho esta semana.

Essa era a novidade? Revirando os olhos, fui lá fora desfrutar o café.

– Já sei disso – informei a ela.

– Ah. Bem, sabe que ontem ele a convidou para sair neste fim de semana e ela aceitou?

Minha mão parou em pleno ar, a caneca diante dos lábios. Que merda era essa?

– Reese vai sair com Thad? – perguntei, baixando a caneca, ainda sem ter certeza de que fora isso mesmo que eu ouvira.

Reese ficava nervosa com homens. Thad era um mulherengo. Já tinha visto o cara em ação. Era exatamente o tipo de sujeito que eu sabia que Reese não gostaria de ter por perto. Como assim?

– Quem contou isso a Grant? – perguntei, esperando o desfecho.

Tinha que ser piada.

– O próprio Thad. Ele a convidou quando a levou para o trabalho ontem de manhã e ela aceitou. Grant disse que ele parecia um garotinho que tinha acabado de ganhar um brinquedo novo. Ele queria que eu conversasse com Reese sobre Thad. Ele é um galinha, sabe, e Grant não quer que ele magoe Reese. Mas achei melhor contar para você. Já que você é amigo dela, talvez possa ligar para ela e avisá-la.

Ela estava sendo maliciosa. Sabia que isso ia me deixar puto. Harlow me conhecia bem demais. Sem chances de Reese sair com Thad. Se ela queria sair com alguém, então ia sair era comigo.

– Obrigado. Preciso ir. Falo com você mais tarde.

– Tudo bem, mas você vai falar com ela, não vai?

Quase ri de sua falsa preocupação. Ela sabia muito bem que eu não ia deixar aquele encontro acontecer.

– Vou falar com ela – respondi, desligando o telefone.

Engoli o café e deixei que ele queimasse minha garganta. Precisava comprar uma passagem e então chamar Major para que ele assumisse tudo que eu largaria para me assegurar de que Thad mantivesse suas mãos de playboy longe do que era meu.


Reese

Por que fui dizer sim a Thad? Ele me fazia rir e era legal, mas eu não queria sair com ele. Só não sabia como dizer não. Não queria ser grosseira. Ele foi tão prestativo a semana toda, e, depois do constrangimento do primeiro dia, parecíamos ter chegado a um bom termo.

Por sorte eu não precisava trabalhar hoje, assim não teria que vê-lo. Mas, amanhã à noite, quando ele aparecesse para sair comigo, não haveria como escapar. Quase contei a Mase, mas algo me segurou. Só porque eu tinha uma queda por Mase, não significava que o interesse fosse recíproco. Mesmo que ele gostasse de saber quando eu estava de pijama, isso não significava que quisesse me ver usando roupas íntimas.

A ideia fez minhas bochechas ficarem quentes.

Pare com isso, me repreendi. Eu tinha que pensar sobre o que havia combinado com Thad. Um encontro. Um encontro de verdade. Com um cara rico e atraente. Ah, não. Em que eu havia me metido? Não podia fazer isso.

Hoje era a noite em que Jimmy tinha planejado sair comigo, num encontro de casais, até que aconteceu o tiroteio. Então ele viajara e agora só voltaria no domingo. Eu havia falado com ele duas noites atrás. Quando percebi que ele não estaria de volta a tempo para esse encontro duplo, me senti aliviada por ter me livrado. Então me acontece essa.

Mase me ligaria hoje à noite. Será que eu devia comentar com ele? Provavelmente não. Ele não me falava de seus encontros. Será que ele tinha encontros? E se tivesse? Nesse caso, ele voltava para casa cedo, porque conversávamos todos os dias mais ou menos por volta das dez.

Olhei para minha camiseta e minha calça de moletom cortada e suspirei. Estavam mesmo muito surradas, mas eram macias e confortáveis. No mundo de Mase, as mulheres usavam sedas e rendas caras. Eu não tinha nada nem remotamente sexy para vestir na cama. Até Mase, eu nunca havia desejado algo assim. Ele tinha mudado muitas coisas em mim. Talvez ele até tivesse sido o motivo de eu ter dito sim a Thad.

Uma batida forte e aguda na porta me assustou, e eu larguei o telefone no sofá e me levantei para ver quem era. Não estava esperando ninguém, e desejava sinceramente que não fosse Thad me fazendo uma visita. Não quando eu planejava conversar com Mase por telefone nessa noite.

Espiei pelo olho mágico e arquejei.

Como se fosse um sonho, lá estava ele diante de minha porta. Seu rosto parecia determinado, e o cabelo estava puxado para trás de modo que eu podia ver a linha firme de seu maxilar. Ele estava aqui. O choque foi substituído pela preocupação, enquanto eu destrancava e destravava a porta e finalmente a abria.

– Mase, está tudo bem? – perguntei.

Ele me encarou. Começou a se mover na minha direção, mas parou.

– Não. Posso entrar? – pediu, tenso.

Concordei com a cabeça e recuei um passo para que ele entrasse.

– O que aconteceu? – perguntei, com medo de escutar a resposta. Ele estava nervoso.

Mase entrou e seu olhar percorreu meu corpo de cima a baixo, e então tornou a subir. Muito lentamente. Quando retornou ao meu rosto, havia um brilho nele que me fez estremecer.

– É melhor do que imaginei. E acredite, gata, imaginei você nesta roupa muitas vezes.

Ele parecia acariciar as palavras em vez de pronunciá-las. Seu tom soturno me fez estremecer outra vez. Eu não conseguia falar. Não agora. Ele me roubara as palavras com aqueles olhares.

– Não quero que você saia com Thad – disse ele com firmeza, me arrancando de meu estranho torpor.

Seu maxilar estava cerrado com força outra vez, e aquele brilho estranho nos seus olhos havia voltado.

– Como você sabe? – perguntei a ele. E por que se importa?, pensei comigo mesma.

– Ele contou para Grant – respondeu ele.

Isso explicava tudo.

– Eu estava dando tempo a você. Você parecia assustada. Eu não queria pressioná-la. Mas, se vai sair com alguém, vai ser comigo, Reese. Não com o playboy do Thad.

Ele disse a última frase num grunhido que me sobressaltou.

– Ele não conhece você. Não saberá interpretar suas expressões para entender se você gosta ou não de algo. Não saberá quando algo que ele fizer a deixar pouco à vontade ou quando você estiver precisando de ajuda para ler alguma coisa. Ele não saberá que você tem duas risadas diferentes. Uma é a real e a outra é de nervosismo. Ele não saberá nada. Mas eu sei.

Mase Manning estava mesmo tentando me convencer a sair com ele? Ele achava que precisava de “argumentos de venda” para que eu cedesse?

– E ele cometerá um erro. Ele fará alguma coisa que vai magoar você, e eu vou matá-lo. Não sou um cara violento, mas, se ele magoasse você, eu perderia a cabeça. Perderia mesmo. Assim, no meu entender, você precisa cancelar o encontro com ele e fazer novos planos. Comigo.

Antes que ele fizesse qualquer outra tentativa de me convencer, eu sorri.

– Tudo bem.

Ele abriu a boca e depois fechou. Em seus olhos passou um brilho que só podia ser entendido como prazer, então ele deu um passo na minha direção.

– Tudo bem? – perguntou.

Assenti com a cabeça.

– Sim. Tudo bem – repeti.

Um sorrisinho ergueu um canto de sua boca linda.

– Tudo bem quer dizer que você vai cancelar o encontro com Thad e fazer novos planos comigo? Para o fim de semana todo?

O fim de semana todo. Ele estava aqui para ficar o fim de semana todo? Assenti, incapaz de me segurar e não sorrir ainda mais intensamente. Eu ia passar o fim de semana inteiro com Mase. Ele tinha vindo para ficar comigo.

Comigo!

Mase eliminou a distância entre nós, ergueu as mãos e tomou meu rosto entre elas. Meu corpo se retesou, mas relaxou quase imediatamente. O cheiro dele chegou até o meu nariz e isso me tranquilizou.

– Vou beijar você agora, Reese. Não consigo mais me segurar – falou ele, e sua respiração foi um sopro sobre meus lábios antes que a maciez daquela boca carnuda tocasse a minha.

Ele foi delicado ao beijar de leve os cantos da minha boca, antes de a ponta de sua língua deslizar por meu lábio inferior, como se me pedisse para abri-los. Eu tinha visto pessoas se beijarem. Tinha noção de que se abria a boca, mas isso me parecia muito íntimo. Não sabia se estava pronta para isso. Ou se faria direito.

– Abra a boca para mim, por favor – pediu, e percebi que provavelmente eu faria qualquer coisa que ele me pedisse.

Abri a boca – e arquejei quando sua língua deslizou para dentro e roçou a minha, como num desafio para que eu correspondesse ao movimento. O gosto dele era de menta. Um gemido surdo veio de seu peito e uma de suas mãos foi até a base das minhas costas e pressionou, me trazendo mais para perto, enquanto ele entrelaçava os dedos em meu cabelo, chegando até minha nuca. A maneira como ele me segurava era diferente. Ele era cuidadoso comigo.

Sua língua continuou provocando a minha, então deslizei a língua pela dele e comecei a explorar o gosto de menta de sua boca. Quando minha língua correu sobre seu lábio inferior, a mão nas minhas costas se fechou. Mase soltou um arquejo e estremeceu.

Então repeti a dose.

Dessa vez, um murmúrio de prazer saiu de sua garganta. Ele então interrompeu o beijo e encostou a testa na minha.

– Eu sabia que você seria doce. Mas, caramba, gata, você tem o sabor do paraíso.

Meu peito se encheu de alegria e eu sorri. Não tinha feito nada errado. Ele gostara tanto quanto eu.

– Podemos repetir? – perguntei, descansando minhas mãos nos bíceps dele.

Um risinho fez vibrar o peito dele.

– Sim. Podemos nos beijar quanto você quiser.

Seus lábios roçaram os meus outra vez e aumentaram a pressão, fazendo os meus se abrirem. Saboreei a sensação de tocar nele com essa intimidade. As mãos dele descansavam em minha cintura e, sempre que eu brincava com sua língua ou seus lábios, elas me apertavam por breves segundos.

Meu corpo inteiro formigava, e eu queria subir no colo dele e ficar assim a noite inteira. Eu estava gostando, e fiquei impressionada por estar gostando tanto. Meus seios doíam, e meu corpo instintivamente se apertava contra o dele para encontrar alívio.

No instante em que meu peito pressionou o dele, Mase se afastou alguns centímetros. O beijo tinha chegado ao fim.

Ele me observava como se não estivesse certo de como lidar comigo. E agora me mantinha afastada dele.

– Preciso saber onde posso e onde não posso tocar – disse ele, quase sem fôlego. – Sei que certas coisas a deixam hesitante e nervosa. Observei você bastante, sou bom em leitura corporal. Mas você está me confundindo, Reese.

Sem me perguntar sobre o meu passado, ele me mostrou que tinha percebido alguma coisa. Algo que me assombrava. E estava sendo cuidadoso para não me assustar. Aquela partezinha do meu coração sobre a qual eu ainda pensava ter domínio escapou. Mase Manning agora o possuía completamente.

– Gostei do que estávamos fazendo – falei, com a esperança de que todo o amor que eu sentia por aquele homem não estivesse reluzindo em meu rosto como o luminoso raio de sol que aquecia em mim tudo aquilo que há tempos estava frio.

Mase sorriu e então balançou a cabeça.

– É, percebi que você gostou de beijar. Mas ao chegar mais perto e apertar esses doces...

A voz falhou quando seu olhar se fixou no meu peito, e ele deixou escapar um breve gemido antes de me olhar nos olhos.

– Minhas mãos vão querer explorar o seu corpo. Faz algum tempo que venho fantasiando sobre ele. Preciso saber aonde minhas mãos podem e não podem ir.

Ele vinha fantasiando comigo? Ah, meu Deus.

Aonde ele podia ir? Meu coração o queria por toda parte, mas eu sabia que minha cabeça podia não concordar. O problema é que eu não tinha certeza sobre o que me descompensaria. Até ali, o que estávamos fazendo não era nada parecido com o pesadelo que eu vivera. Era maravilhoso. Ajudava a conter as lembranças horríveis. Eu queria mais na esperança de que enterrasse o passado.

– Que parte de mim você quer tocar? – perguntei.

Seus olhos voltaram ao meu peito.

– Queria começar aqui – disse ele num sussurro rouco.

Meus peitos começaram a formigar e os mamilos a doer, como se soubessem que estavam chamando a atenção daquele homem lindo e gostassem dessa ideia. Estavam tão despudorados quanto eu. Assenti, e ele estreitou os olhos enquanto mantinha seu olhar quente fixo no meu peito, que agora arfava. Era difícil respirar de tão excitada que eu estava com a perspectiva de sentir as mãos de Mase em mim.

Ele deu um passo em minha direção e seu olhar expressivo tornou a encontrar o meu. Acho que parei de respirar no momento em que ele levantou o braço e eu senti o calor de sua pele quando sua mão cobriu meu seio, que clamava por contato.

Deixei escapar um arquejo, e ele me estudou com atenção, não se mexendo até que eu voltasse a respirar normalmente. Ou tão normalmente como se pode esperar quando seu peito está sendo acariciado pelo homem por quem você está apaixonada. Seu polegar roçou meu mamilo, e eu me agarrei aos seus bíceps para me equilibrar. Os olhos dele estavam agora fixos no meu peito. Com o polegar, ele descreveu círculos em torno do meu mamilo, provocando-o, me fazendo emitir uns ruídos que eu nunca havia feito antes.

Quando sua outra mão se moveu em minha direção, tive que fechar os olhos e respirar fundo, com medo de desmaiar. Assim como a primeira, essa mão cobriu delicadamente o outro seio e então começou a se concentrar no mamilo. De repente eu odiava aquela camiseta com a qual eu adorava dormir. Ela estava no meio do caminho. Mas a ideia de Mase tirá-la e olhar meus seios nus era tão assustadora quanto excitante.

– Está bom assim? – murmurou ele, quase reverente.

– Sim – respondi.

– Quero beijar você outra vez enquanto a toco – falou, estudando meus lábios. – Podemos nos deitar na sua cama?

Minha cama. Isso era mais. Muito mais. Mas eu tinha Mase na minha cama todas as noites. Mesmo que só pelo telefone.

– Sim – permiti, antes que surtasse e mudasse de ideia.

A mão esquerda dele deslizou pela minha barriga e pelo quadril, e então ele segurou a minha mão. Ele não disse mais nada ao me conduzir até a porta do quarto. A luminária ao lado da cama era a única luz do ambiente.

Ele soltou minha mão e se sentou na beirada da cama. Observei, fascinada, Mase tirar as botas e colocá-las no chão, sem nunca tirar os olhos de mim.

– Venha aqui – chamou, mexendo o indicador.

A essa altura, ele podia me mandar pular de uma ponte, e eu tinha certeza de que perguntaria a ele de qual.

Ele pegou minhas mãos e me puxou para seu colo.

Sentei-me em suas pernas, de frente para ele, com os joelhos apoiados na cama. Ele inclinou a boca para encaixar na minha, e todos os pensamentos sobre os meus bloqueios desapareceram quando ele me beijou novamente. Os milagres que ele podia produzir com a língua. Enlacei seu pescoço com os braços e relaxei de encontro ao seu corpo... até que a rigidez que eu recordava do passado começou a me pressionar. Então eu fiquei paralisada.

Sem aviso, as lembranças voltaram, me desafiando. Estremeci e saltei do colo dele, me afastando, com medo de que ele visse o horror nos meus olhos. Que ele soubesse exatamente quanto eu era suja. Eu não queria sujá-lo. O que eu estava pensando? Eu não podia fazer isso. Mase era tão bom, tão legal e gentil. Ele não me conhecia. Ele achava que sim. Mas não fazia ideia.

– Volte para mim, Reese. Não deixe seus pensamentos saírem daqui – pediu, pegando minhas mãos e me segurando. – Olhe para mim, gata.


Mase

A expressão destroçada e aterrorizada no rosto dela me deixou fisicamente mal. Eu nunca iria querer ser a razão para que uma sombra baixasse sobre ela.

– Por favor, Reese, olhe para mim. Nos meus olhos. Concentre-se em mim. Em nada mais – encorajei-a, enquanto segurava suas mãos com firmeza, permitindo que mantivesse certa distância entre nós.

Meu impulso inicial tinha sido apertá-la com força nos braços e ficar assim. Mas aquele olhar me deteve. Ela piscou várias vezes, e seu olhar foi clareando à medida que ela fazia o que pedi. Ela estava de volta para mim. Os demônios que a atormentavam tinham sido afastados.

– Desculpe – murmurou, com a voz cheia de emoção.

– Não. Nunca se desculpe. Nada é culpa sua. Comigo você não tem que pedir desculpas.

Seus ombros se curvaram, num gesto de derrota, e ela parecia estar à beira das lágrimas. Eu não ia deixar que isso acontecesse. Não agora. Não depois de ela ter me dado tanto, ter confiado tanto em mim.

– Posso só abraçar você? Nada além disso. Só me deixe abraçar você.

Era para ser uma pergunta, mas soou como uma súplica.

Ela assentiu e deu um passo em minha direção. Eu a puxei para mim e a abracei. Lentamente seus braços deslizaram pela minha cintura e ela se agarrou em mim com muita força.

Não falamos nem nos mexemos. Apenas ficamos ali, abraçados, por vários minutos enquanto eu me certificava de que ela estava aqui e ia ficar bem. Eu estaria ali, ao lado dela, até isso passar. O que quer que fosse isso.

Dei um beijo no topo de sua cabeça e então encostei minha bochecha em seus cachos sedosos. O cheiro doce de creme e canela que eu adorava me envolveu, e fechei os olhos, desejando poder apagar tudo de mau que já lhe acontecera.

– Eu o odeio. Não sei quem ele é, mas o abomino com todas as minhas forças – murmurei junto ao seu cabelo.

Ela ficou tensa em meus braços por um instante, e então seu corpo relaxou enquanto ela me agarrava mais forte, como se buscasse segurança e conforto em mim. Eu podia dar isso a Reese. Mesmo que ela não estivesse pronta para que eu lhe desse outras coisas, eu podia lhe dar paz.

– Está tarde. Você precisa ir para cama – falei, desejando apenas me deitar naquela cama com ela. Mesmo que fosse apenas para dormir.

– Você... você vai ficar comigo esta noite? – pediu contra o meu peito.

– Não há outro lugar em que eu queira estar.

Ela se afastou e eu a deixei ir. Ela foi até a cama, puxou as cobertas e enfiou-se embaixo delas. Então deu tapinhas no lugar ao lado dela.

– Durma aqui. Ao meu lado.

O desejo dela era uma ordem. Deitei-me ao seu lado, mas me mantive sobre as cobertas. Como estava totalmente vestido, não precisava mesmo me cobrir. Estendendo o braço, olhei para ela, deitada de lado, me observando.

– Venha aqui – chamei, e ela imediatamente se aninhou no meu braço.

Passei o braço em torno do ombro dela e a mantive junto a mim. Olhando para o teto, me perguntei como voltaria para casa no domingo de manhã. Deixá-la não seria fácil. Não gostava da ideia de ela ali sozinha.

A necessidade de protegê-la se tornara uma coisa arraigada e possessiva dentro de mim. Eu pensava nela o tempo todo e tudo o que eu desejava era que ela estivesse em segurança. Queria ela comigo. Não queria que mais ninguém a tocasse ou confortasse. Apenas eu.

Eu deveria resolver os problemas dela. Era eu quem deveria abraçá-la quando ela chorasse. Ficava louco só de pensar em outra pessoa fazendo por ela algo que eu deveria estar fazendo.

Essa garota estava me deixando maluco. Com ela, eu ficava sem chão. Eu não sabia por que tinha essa necessidade insana de pegá-la e fugir com ela. Isso não podia ser saudável. Eu sempre fora protetor com Harlow e minha mãe. Mas afora elas duas, ninguém era tão importante assim para mim.

Até agora. E Reese tinha um espaço só dela em minha vida.

Por que ela? Por que me afetava assim? Já tinha visto corpos sensuais e sorrisos lindos antes. Era mais que a aparência física. Mulheres bonitas só me interessavam para uma coisa. Reese tinha alcançado algo mais profundo em mim e segurado com firmeza, desde o momento em que entrei na sala de jogos e a encontrei sentada no chão cercada de cacos de vidro.

Na verdade, eu ficara puto com o espelho, por tê-la machucado. Quem fica puto com um objeto?

– Mase? – Sua voz suave soou junto ao meu peito.

O sangue em minhas veias se aqueceu e correu mais rápido com o som do meu nome em seus lábios. Ao menos era a sensação que eu tinha. Meu corpo todo reagia a ela.

– Sim – respondi, enrolando delicadamente um cacho de seu cabelo sedoso no dedo.

– Foi meu padrasto – falou, tão baixinho que eu quase não escutei.

Tudo dentro do meu peito pareceu se revolver até formar nós. Doía respirar. Santo Deus, aquilo doía muito. Tive que forçar o ar para os pulmões enquanto a realidade do que ela acabara de admitir se assentava. Uma raiva diferente de tudo o que eu experimentara até então me tomou e pela primeira vez na vida eu desejei matar um ser humano. Não, queria torturá-lo lentamente antes. Ouvi-lo gritar em agonia. Depois, sim, ia assistir à morte dele.

– Mase? – A voz de Reese me chamou outra vez e eu inspirei profundamente, colocando de lado a vingança e o ódio que sentia por um homem que eu não conhecia.

Minha garota precisava de mim agora. Ela não precisava me ver perdendo a linha. Ela havia me confiado aquilo.

– Sim, gata – respondi.

– Eu odeio ele também.

Aquelas quatro palavras acabaram comigo.

– Vou fazer você esquecer isso tudo. Juro por Deus que vou, Reese. Um dia, tudo que você vai lembrar é de mim e de nós juntos. Eu juro.

Ela virou a cabeça e beijou meu peito, e então se aconchegou mais em mim.

– Eu acredito em você.


Reese

Levei alguns segundos para acordar completamente e lembrar que não estava sozinha em casa. Mas não precisei abrir os olhos para perceber que estava sozinha na cama. Pude sentir a ausência de Mase. O calor dele não estava mais ali.

Mas ele estava em outro cômodo. O cheiro do café tomava conta do pequeno apartamento. E a voz de Mase, embora estivesse falando baixinho, passava pela porta fechada.

Escovei os dentes e penteei o cabelo rapidamente antes de ir para a sala e encará-lo depois da noite passada. O fato de ele ainda estar ali me deixava impressionada. Ele viera para me impedir de sair com Thad. E, em troca, eu surtara com ele ao fazer algo tão simples como beijar e trocar carícias.

Abri a porta para entrar na sala, e meus olhos seguiram direto para a figura alta e perfeita de pé diante da janela, de costas para mim. Ele estava no telefone. Ainda vestia o jeans e a camiseta da noite anterior, mas sua bolsa de viagem estava no sofá. Ele tinha vindo preparado.

– Prefiro não ir, Harlow. Gosto de Tripp e tudo o mais, só que vir neste fim de semana não estava nos meus planos, e não vim por causa da festa dele. Prefiro fazer outras coisas esta noite – disse num tom de voz frustrado, ainda que continuasse falando baixinho.

Seu maxilar se mexia enquanto ele escutava o que a irmã estava dizendo. Parecia que ela realmente queria que ele fosse a uma festa nessa noite. Comecei a dizer que ele deveria ir.

– Tudo bem. Eu vou se Reese quiser ir. Mas, se ela não quiser, faremos outra coisa. Fim de papo. Eu te amo, mas agora preciso ir. Eu ia tentar fazer um café da manhã antes de ela acordar.

Fechei a boca e fiquei olhando, surpresa, para as costas dele. Ele queria me levar? A uma festa, com seus amigos? E ele estava fazendo café da manhã para mim? Não gritar que eu o amava foi difícil, porque, depois de escutar essa conversa, eu queria abrir a janela e contar para todos os vizinhos que estava apaixonada por esse homem.

Ele se virou, e seu olhar se fixou no meu. Um sorriso sexy surgiu lentamente em seus lábios, e eu tive quase certeza de que poderia desmaiar ali mesmo.

– Preciso ir. Ela acordou – disse ele ao telefone, e pôs fim à ligação.

Fiquei exatamente onde estava, incapaz de me mover, com o brilho e o calor daquele olhar percorrendo meu corpo lentamente de cima a baixo e tornando a subir.

– Até acordando você é linda – disse ele num tom gentil.

– Obrigada. – Foi minha resposta boba. Não sabia o que dizer.

– Está com fome? Eu ia fazer um levantamento do que temos para preparar um café da manhã – disse ele, dirigindo-se para a cozinha. – Já fiz o café.

– Certo, mas eu posso preparar o restante. Faço waffles muito gostosos.

Eu o segui até a pequena área da cozinha. Ele me olhou por cima do ombro.

– Waffles? Você ganhou. Só sei fazer ovos e torradas.

– Então sente-se ali, porque nós dois não cabemos nesta cozinha.

Ele estava servindo mais café em sua caneca. Então se virou e saiu do cantinho que eu chamava de cozinha. Eu confesso que estava olhando seu traseiro naqueles jeans. Mas tive que levantar rapidamente a cabeça quando ele se virou para mim.

Um sorriso de quem sacou a situação iluminou seu rosto e ele voltou alguns passos na minha direção e colocou a caneca de café na bancada.

– Vou admitir algo que acho que você deveria saber. Sou um pouco troglodita. A ideia de você cozinhar para mim me excita.

A voz dele ficou mais baixa quando ele disse as últimas palavras, então ele inclinou a cabeça e me deu um selinho.

Eu estava pronta para uma nova rodada de beijos, se ele estivesse. Fiquei na ponta dos pés, ávida. Eu tinha 1,75 metro de altura, mas Mase tinha pelo menos 1,90 metro. Ele fazia com que eu me sentisse baixinha.

Sua mão deslizou para a base das minhas costas e me puxou para ele um segundo antes de sua boca se abrir e eu poder me deliciar com seu gosto de menta. Tirei as mãos dos braços dele e a pus no pescoço para me ajudar a ficar um pouco mais na ponta dos pés.

Mase colocou as mãos no meu traseiro e o segurou, e, por um momento, ficamos ambos imóveis. Ao notar que o pânico não veio, cheguei mais perto, e Mase arquejou, então me puxou mais para cima, segurando minha bunda.

Justamente quando eu me preparava para explorar mais seus lábios, ele interrompeu o beijo e respirou fundo.

– Reese, gatinha, eu tenho um fraco por essa sua bunda. Desde o primeiro dia. E agora que estou com as mãos nela, preciso de um minuto para me acalmar, sem essa sua boquinha quente me dando ainda mais tesão – disse ele numa voz rouca que me fez tremer.

Baixei a cabeça para esconder meu sorriso. Ele gostava da minha bunda. Ela era muito grande, mas ele gostava. Não pude deixar de sorrir.

– Estou vendo esse sorriso – provocou, apertando minha bunda e gemendo. – Caramba... isso é muito gostoso – disse na minha orelha. – Ou eu levo você para o sofá e continuo agarrando a bunda mais deliciosa do mundo enquanto a beijo ou deixo você fazer aqueles waffles. Você escolhe. Quero o que for confortável para você.

Esse homem e as palavras dele me faziam sentir derretida e dengosa por dentro. Além do mais, quem precisa de café da manhã?

– O sofá – murmurei e ele soltou um grunhido satisfeito ao me levantar do chão.

Enrolei as pernas na cintura dele e ele manteve as mãos na minha bunda. Em três longos passos estávamos afundando no sofá. Senti a pressão rígida sob a minha bunda, e ele ficou imóvel.

Eu não ia entrar em pânico. Era Mase. Era Mase.

Mantive os olhos vidrados naquele rosto bonito e observei fascinada quando seus olhos cintilaram de um jeito tão sexy e urgente que tremi nas bases.

– Você pode tirar as pernas e ficar de lado no meu colo, se sentir que o que você faz comigo a deixa nervosa.

A voz dele era tensa, como se ele estivesse sentindo dor.

Mudei de posição, montando nas pernas dele como se eu cavalgasse. Como na noite anterior. Se eu reclinasse, sentiria a ereção dele. Mas eu sentia um formigamento ali que não havia antes. A ideia de pressionar esse ponto me excitou.

As mãos de Mase apertaram a minha bunda e ele soltou o ar pesadamente pelo nariz, enquanto mantínhamos os olhos fixos um no outro. Lentamente deixei meu peso cair sobre o colo dele. A haste rija do pênis dele se encaixou direitinho no espaço entre minhas pernas e eu arfei bem alto quando uma fagulha tão gostosa que quase chegava a doer disparou pelo meu corpo a partir do meio das minhas pernas.

Mase engoliu em seco com tanta força que pude escutar. Sua respiração agora estava pesada e as mãos dele seguravam com mais força o meu traseiro.

– Você está bem? – perguntou ele, numa voz que fazia parecer que ele estava sentindo dor.

– Estou machucando você? – perguntei, horrorizada.

Eu nem havia pensado se aquilo seria gostoso para ele. Comecei a me levantar, e as mãos dele imediatamente foram para minhas coxas, me mantendo onde eu estava.

– Não. Não. Não faça isso. É... cacete, gata. Não sei explicar com palavras – disse ele, e em seguida soltou uma gargalhada forte, enquanto recostava a cabeça no sofá e olhava para o teto. – Preciso de outro minuto.

As mãos dele apertaram minhas coxas enquanto ele ficava ali sentado. Admirei a espessura do pescoço dele. Ele parecia musculoso. Pescoços tinham músculos?

Sentindo-me encorajada, me inclinei para a frente e beijei seu pescoço. Suas mãos pressionaram minhas coxas, mas esse foi o único movimento que ele fez. Então o beijei novamente e inspirei seu perfume, que me lembrava couro e natureza. Meu corpo devia gostar desses dois cheiros, porque eu tive que fazer força para baixo para me aliviar da dor pulsante entre minhas pernas.

– Gata... – murmurou baixinho.

– O que foi? – perguntei, provando o gosto da pele dele com a ponta da língua.

– Cacete – grunhiu, e então eu me vi sendo afastada dele.

Suas mãos estavam na minha cintura, e ele me colocou no sofá enquanto se levantava e afastava o mais rápido que podia.

Eu estivera tão perdida nele que não percebi o que estava acontecendo até que o vi parar e pôr as mãos nos joelhos. Observei enquanto ele respirava fundo várias vezes antes de voltar a ficar de pé. Tive medo de fazer perguntas. Esperei que ele dissesse algo antes.

Pareceu transcorrer uma eternidade até ele finalmente se virar e olhar para mim. Eu havia juntado os joelhos à minha frente e abraçado minhas pernas. Alguma coisa estava errada. Fiquei esperando que ele me dissesse o que era exatamente.

– Eu sinto muito. Eu... Você é... – Ele parou e começou a rir de si mesmo, então sacudiu a cabeça, frustrado. – Eu quero você nua, Reese. Quero minhas mãos e minha boca nesse seu corpinho lindo. Quero fazer você se dobrar para que eu possa beijar aquela pinta que eu sei que está bem embaixo da sua nádega esquerda, a que eu vi no dia em que nos conhecemos. Fui brindado com sua bunda perfeita voltada para cima, à mostra, e sonho com essa sua bundinha desde aquele dia. Mais do que isso, porém, quero que você sempre se sinta segura ao meu lado. Quero ir bem devagar com você, para nunca mais ter que ver aquela expressão assombrada nem aquele horror nos seus olhos novamente. Então devemos ter mais momentos em que você esfrega essa... – Ele fechou os olhos e respirou pelo nariz – ... quando você se aperta de encontro a mim e me toca de um jeito que me deixa tão doido que fico com medo de perder o controle e tocá-la onde você ainda não está pronta para ser tocada.

Ouvi-lo dizer que queria me beijar e tocar em mim nua fez meu coração disparar outra vez, num misto de medo e excitação. A sensação entre minhas pernas ainda estava lá. Havia uma espécie de dor urgente que me fez lembrar de uma vez, quando eu era bem mais nova e um garoto de quem eu gostava na escola me levou para um canto e me tocou, dizendo que eu era linda.

Depois que ele me ignorou e deixou que a namorada me xingasse de coisas horríveis no dia seguinte, aquela sensação nunca mais voltou. Então aconteceram outras coisas que fizeram qualquer excitação naquela parte do meu corpo morrer. Só de lembrar o passado, a sensação dos braços de Mase em mim já se apagava.

Quando levantei, estava aliviada por aquela sensação ter ido embora e triste porque a sessão de beijos com Mase tinha acabado.

– Então acho que é hora do café da manhã – concluí, forçando um sorriso.

Mase estava me estudando cuidadosamente, e eu não queria que ele pensasse, nem por um minuto, que eu estava aborrecida com ele. Ele estava fazendo isso por mim. Ele se importava o suficiente para deixar de lado as próprias necessidades e ser gentil comigo. Isso me fazia amá-lo ainda mais.

– Você entende? – perguntou ele, a voz cheia de preocupação.

Um sorriso verdadeiro formou-se em meus lábios quando olhei para ele.

– Eu entendo. Obrigada. Coisas assim só me fazem confiar mais em você.


Mase

Não era assim que eu queria passar minha última noite com Reese. Eu não sabia dizer quando teria outro fim de semana para ficar com ela. Havia passado a maior parte da manhã olhando para o teto, abraçado com ela, pensando em meios de convencê-la a ir comigo para o Texas. Estava pronto para levá-la para minha casa. Eu tinha chegado a esse ponto, e a gente nem sequer havia transado ainda.

Por sorte, a noiva de Tripp Newark Montgomery, Bethy, não era uma das garotas formais de Rosemary Beach que exigiam black-tie em todas as festas. Ela trabalhara por anos no Kerrington Club com a tia. Ela tinha organizado um evento cujo tema era festa na praia.

Olhei para Reese, que segurava meu braço com firmeza. Ela estava de biquíni por baixo do vestido de verão, e eu podia ver as tiras aparecendo. Roupas de banho eram o traje recomendado.

Depois da cerimônia arrojada que inaugurou o novíssimo hotel cinco estrelas de Tripp, todos estavam indo para a piscina do Kerrington Club, que mais parecia uma ilha tropical com quedas-d’água e palmeiras.

– Parece que minha esposa também consegue fazer você obedecer a suas ordens – disse Grant com um sorriso, vindo até nós. – Olá, Reese. Fico contente que meu cunhado tenha bom gosto.

– Olá, Sr. Carter – cumprimentou, com uma voz que denunciava quanto ela estava nervosa.

Grant franziu a testa.

– Você está saindo com Mase e lanchando com minha mulher. Pode me chamar de Grant. Por favor. – Ele voltou a atenção para mim. – Vai ficar mais tempo por aqui?

Reese ficou tensa ao meu lado, mas apenas por um segundo. Se não estivesse tão ligado em cada reação dela, eu não teria percebido.

– Preciso ir embora amanhã. Deixei as coisas meio bagunçadas por lá – admiti.

Grant riu, e os olhos dele se voltaram para a minha esquerda.

– Sim, soube que você foi rápido e tomou o lugar de Thad esta noite. No momento ele está bebendo sofregamente e tem uma mulher em cada braço. Sinal de que está se recuperando.

Nem me dei o trabalho de olhar. Não duvidei de Grant.

– Onde está Harlow? – perguntei, mudando de assunto.

– Está dando mamadeira para Lila Kate. Eu me ofereci, mas ela disse que eu é que precisava estar aqui, mostrando a cara, não ela.

– Tenho que dizer que gosto deste clima descontraído. Acho que Harlow não conseguiria me trazer aqui se fosse uma ocasião formal.

Grant riu como se não acreditasse em mim.

Uma atendente apareceu com uma bandeja de taças de champanhe. Peguei duas e entreguei uma a Reese.

– Está com sede?

Ela sorriu e olhou para a taça e depois para mim.

– O que é isso?

– Champanhe – respondi, incapaz de desviar os olhos do rosto dela.

Cada nova expressão de Reese era para mim algo a ser gravado na memória.

– Nunca tomei champanhe – falou baixinho.

– Acho que você vai gostar. Experimente.

Ela colocou a taça nos lábios e seus olhos continuaram fixos nos meus enquanto ela provava a bebida rosada. Seus olhos se acenderam de prazer e excitação. Ela gostou. E observar sua experiência era maravilhoso. Era só uma bebida, mas Reese fazia tudo ser uma aventura.

– É bom mesmo. Me dá cócegas no nariz.

Havia vários lugares dela em que eu queria provocar cócegas. Mas guardei esse pensamento para mim. Olhando para o lado, percebi que tinha me esquecido de Grant, mas ele já se afastara de nós.

– Oi, eu sou Della. Você deve ser Reese.

Virei-me para ver Della Kerrington, esposa de Woods, sorrindo para Reese. Della era uma boa pessoa. Eu me senti seguro com ela se aproximando de Reese. Ela também não vinha daquele mundo ali, embora agora fosse a esposa do dono do Kerrington Club.

– Sim, sou eu. É um prazer conhecê-la – disse Reese, menos nervosa dessa vez.

Parecia que apenas os homens a faziam se retrair.

– É um prazer conhecê-la também. Ouvi Harlow falar muito bem de você.

Os olhos de Reese se arregalaram, e ela olhou para mim rapidamente antes de sorrir para Della.

– Ah, bem, eu adoro trabalhar para a Sra. Carter. Eles são realmente uma família linda.

Harlow detestaria o fato de Reese ainda achar que deveria chamá-la de Sra. Carter. Mas eu não a corrigi, embora tenha notado uma faísca de confusão nos olhos de Della. Ela não esperava que Reese fosse tão formal sobre sua relação com minha irmã.

– Sim, eles são – disse Della, sorrindo. – Espero encontrar você em outras oportunidades. – Ela me dirigiu um olhar repleto de cumplicidade. – Divirtam-se, vocês dois. Preciso resgatar meu marido do Sr. Hobes. Com licença.

Ela dirigiu-se apressadamente até Woods, que escutava um velho senhor falar e parecia desejar estar em outro lugar.

– Ela é linda – disse Reese, observando Della se afastar.

– Não reparei – respondi, e então a puxei para mais perto.

Thad vinha em nossa direção com suas duas garotas, uma de cada lado. Não sei o que ele queria, mas não deixaria que dissesse ou fizesse qualquer coisa que embaraçasse Reese.

Ele também precisava entender: ela era minha.

O cabelo de Thad estava preso atrás das orelhas, e seus olhos não estavam vidrados ou vermelhos pelo excesso de bebida. As garotas ao lado dele já tinham abdicado de vestidos ou cangas, diferentemente de todos os outros e estavam de biquíni.

A mão de Reese pegou meu braço mais firme no segundo em que notou a presença dele. Eu a apertei contra mim e dirigi um olhar de advertência para Thad. Ele só sorriu para mim, como se eu estivesse exagerando.

– Reese, Mase, espero que estejam se divertindo – disse Thad, mostrando seu sorriso de idiota com covinhas.

Desejei que Reese não tivesse uma queda por covinhas.

– Sim, obrigada. É um lindo lugar para um hotel – disse Reese, com sinceridade.

– Eu não pensei em vir, mas, já que meus planos para a noite fracassaram, pensei em trazer uma dupla para me entreter – disse ele, com uma piscadela, então fez algo com a garota à sua direita que a fez dar um gritinho e rir.

– Dá para ver que você está arrasado com esses planos fracassados. Se nos dão licença, quero apresentar Reese a Blaire e Rush – falei, colocando uma mão possessiva na base das costas dela.

Não esperei que ele respondesse. Eu vira Rush e Blaire chegando fazia alguns minutos e sabia que Blaire seria uma pessoa tranquila de se conversar; além disso, ela era praticamente parte da família. O pai de Rush e o meu eram da banda de rock Slacker Demon. Ainda que Rush tenha crescido mais naquele mundo do que eu, sabíamos o que era ter pais idolatrados pelo mundo todo.

Rush também não olharia para Reese como se quisesse tirar uma casquinha. Porque eu esganaria Thad se tivesse que vê-lo cobiçando Reese mais um segundo sequer.


Reese

Quando Mase me apresentou a Rush Finlay, as coisas se encaixaram. Manning e Finlay. Rush era o filho de Dean Finlay. Era por isso que Mase o conhecia. Os pais deles. Uau! Se Mase não parecia ser filho de um deus do rock, Rush definitivamente parecia. Do piercing na língua, que brilhava quando ele falava, às tatuagens nos braços e no pescoço, passando pela absoluta confiança que irradiava, tudo em Rush Finlay gritava a quem quisesse ouvir que ele era um dos filhos do Slacker Demon.

Sua mulher, Blaire, era o tipo de beldade que deixava você sem fala por um instante, sem ter certeza se ela era real. Seu cabelo louro quase branco a deixava angelical. Havia uma gentileza em seu sorriso que a tornava ainda mais celestial, mas, quando abria a boca, ouvia-se um sotaque anasalado sulista mais forte que o de Harlow. Não pude deixar de sorrir. Ela não era modelo nem estrela de cinema – e era linda o suficiente para ser qualquer uma dessas coisas, isso era inquestionável –, mesmo assim era o tipo de garota que eu esperava ver nos braços possessivos de Rush Finlay. Ela combinava com ele. Mais do que qualquer outra pessoa.

Conversei com Blaire sobre Harlow e Lila Kate. Ela também me perguntou sobre Jimmy, que me dera o telefone dos Finlays depois que a faxineira deles se aposentara, mas em nenhum momento Blaire falou sobre a possibilidade de eu fazer faxina para eles. De certo modo, fiquei feliz, pois isso só me lembraria de quanto eu não me encaixava naquele ambiente. Mas, por outro lado, eu me perguntava se ela já teria contratado outra pessoa. O dinheiro de mais um trabalho não me faria mal.

Uma coisa que estava ficando mais difícil ignorar eram as mulheres dando em cima de Mase. Ele parecia não notar, mas mesmo as garçonetes lançavam a ele olhares dando a entender que estavam disponíveis.

Se Mase podia ficar com qualquer uma... por que estava comigo?


Duas horas mais tarde, a inovadora cerimônia estava terminada, e a festa havia se mudado para o Kerrington Club. E infelizmente, agora que as mulheres estavam circulando de biquíni, pareciam se atirar ainda mais em cima de Mase. Várias tinham ido abertamente até ele e o convidado para nadar ou dançar. Ele havia casualmente declinado das ofertas, mas era como se eu não estivesse ali. Eu ainda não tinha tirado meu vestido, porque não me sentiria à vontade de biquíni na frente de tanta gente. Mas comecei a pensar que talvez devesse fazer isso se quisesse manter a atenção de Mase.

Vi Blaire do outro lado da piscina, e ela ainda estava com a blusa e a saia de antes. Não estava se exibindo em seu traje de banho. Também não parecia preocupada com as mulheres que lançavam olhares de cobiça para o seu marido.

Mas ela era casada com Rush.

E esse era o meu primeiro encontro com Mase.

– Quer beber alguma coisa? – ofereceu Mase.

A mão deslizou por minha cintura enquanto ele se curvava e murmurava em meu ouvido.

– Sim, por favor – respondi, precisando de algo para me distrair.

– Fique aqui. Vou encarar o bar. Mais champanhe? Ou outra coisa?

Eu não queria ficar ali. Não podíamos esperar um garçom passar com uma bandeja? Mas acho que ele não queria os drinques frutados que eram servidos assim.

– Champanhe está ótimo – respondi.

Ele apertou a lateral do meu corpo.

– Já volto.

Como eu temia, as mulheres aproveitaram a oportunidade e se aproximaram dele no momento em que se afastou de mim. Ele era educado e não parecia interessado, mas ainda assim era difícil ver aquilo. Afinal, aquelas garotas não ficariam nervosas quando ele as tocasse. Elas transariam com ele atrás de uma palmeira lá fora se ele quisesse. Era com isso que eu precisava competir.

Além disso, eu tinha um lado sombrio e feio em meu passado, que eu nunca seria capaz de contar totalmente para Mase. Elas não tinham esse tipo de problema. Eram livres para usufruir de seus corpos e fazer os homens felizes. Eu me senti enjoada.

Uma loira se pendurou em Mase e beijou a bochecha dele. Ele a afastou gentilmente, mas continuou a falar com ela enquanto pegava nossas bebidas. Eu não conseguia olhar aquilo. Procurei voltar a atenção para qualquer outro lugar. Harlow e Grant já tinham ido embora com Lila Kate; não ficaram muito tempo na festa. Não havia ninguém mais ali que eu conhecesse. Mase me apresentara a várias pessoas, mas eu não as conhecia de fato.

Eu não queria olhar para Mase. Também estava pensando em tirar meu vestido. Mas aquelas mulheres tinham corpos muito mais bonitos que o meu. Eram magras, sem nenhum recheio extra nos traseiros. E seus seios eram bonitos, redondos e perfeitamente posicionados. Nem muito grandes, nem muito pequenos.

Tirar meu vestido talvez fosse uma má ideia. Pelo menos se eu ficasse de roupa, Mase não teria a chance de ver exatamente como meu corpo era imperfeito. Meu Deus, eu detestava pensar assim. Eu nunca me comparava com outras mulheres. Pelo menos não no passado. Agora eu estava fazendo isso.

Meu olhar voltou para Mase. Ele segurava duas bebidas e vinha na minha direção. A loira tinha sumido. Ele parecia incomodado. Torci para que não fosse por estar ali comigo, podendo transar nesse momento com várias mulheres lindas e dispostas.

Eu podia perdê-lo.

Tão facilmente.

E tinha acabado de conquistá-lo.

Ao chegar, me entregou o champanhe e disse:

– Quando terminar, vamos embora? Queria ficar a sós com você. Já cumpri meu dever e mostrei a cara por aqui.

Tive a tentação de virar o copo e sorver toda aquela bebida rosada e borbulhante de uma vez. Também estava pronta para ir – antes que ele recebesse uma oferta irrecusável. Estava feliz por seu rancho ficar no Texas. Não imaginava que houvesse herdeiras lindas e magras como modelos se jogando em cima dele por lá.

– Sim. Quero ir quando você quiser – admiti.

Mase estudou meu rosto por um momento, e então pegou o champanhe da minha mão.

– Compro uma garrafa no caminho se você quiser mais. Vamos embora – disse ele, colocando a taça na mesa mais próxima e deixando sua bebida ali, também intacta.

A mão dele pousou na base das minhas costas e ele me guiou através da multidão até onde os manobristas estavam.

Quando entramos em sua caminhonete, Mase pegou minha mão, entrelaçando os dedos aos meus.

– Obrigado por me acompanhar hoje à noite. Só vim porque Harlow achou que eu devia dar as caras, já que estava na cidade. Ela é amiga de Bethy e Tripp. Que bom que tive você comigo. Tornou a noite suportável.

Esse homem e suas palavras. Quase me fez esquecer de como era difícil observar as mulheres flertarem com ele toda vez que ele respirava. No entanto, ele não dava bola para elas. Eu não via nele um paquerador. Não era seu estilo. Mas isso não significava que ele não gostasse da atenção delas. Como não gostaria? Eram lindas e disponíveis.

– Gostei de conhecer seus amigos – falei.

Ele apertou minha mão.

– Eles gostaram de conhecer você.

Quis perguntar de onde ele conhecia a loira que o abraçou e beijou. Mas mantive a boca fechada.

– Quer que eu pare e compre mais champanhe? – perguntou ele, com um tom divertido na voz.

Sacudi a cabeça negativamente e ri.

– Gosto de ouvir você rir. Isso não aconteceu muito esta noite – disse ele, acariciando minha mão com o polegar. – Você riu mais hoje quando estávamos só nós dois.

– Eu estava ocupada demais assimilando aquilo tudo.

– Obrigado por não ter tirado o vestido.

Por que ele disse isso? Estava preocupado com minha aparência sem o vestido?

– Se você tivesse tirado, acho que sairíamos ainda mais cedo, porque eu teria perdido as estribeiras. Não gosto da ideia de outros homens olhando o que é meu.

Opa. Ok. Eu era dele? Ah... nossa.

– Pensei em como reagiria se você tivesse querido nadar. Fiquei tentando inventar desculpas para manter essa bundinha linda coberta.

A sensação entre as minhas pernas recomeçou. Ouvi-lo chamar meu traseiro de bundinha linda me excitava, pelo visto. Gostava de senti-lo tocando minha bunda. Eu me contorci no assento quando a mão dele apertou a minha.

Não dissemos mais nada. No momento em que ele estacionou a caminhonete perto do meu apartamento, o ar estava quente, e eu respirava pesadamente. Olhando para Mase, vi sua mandíbula cerrada com firmeza. Sua mão ainda segurava forte a minha.

Quando ele desligou o motor e finalmente soltou minha mão, abriu a porta e saiu tão rápido que pareceria que o carro estava pegando fogo. Observei-o vir com passos largos até o meu lado da caminhonete para abrir a porta. Eu ia sair, mas ele me impediu, me encurralando.

Suas narinas inflaram quando ele se aproximou mais de mim e em seu rosto cintilou um olhar sedento que compreendi na hora. Meu corpo inteiro parecia febril, mas suas mãos tocavam apenas meus quadris. Sua cabeça baixou até meu ouvido, e ele correu o nariz de cima a baixo por meu pescoço.

– Meu Deus, seu cheiro é tão bom... Eu poderia cheirar você para sempre e ficar feliz com isso.

Agarrei-me aos ombros dele. Palavras assim, vindas de Mase Manning, faziam uma garota perder a cabeça.

– Quando a gente entrar, quero tirar esse vestido. Quero ver você de biquíni. Por favor. Não vou pedir mais nada. Só me deixe olhar e tocar você... Só um pouquinho.

Meu corpo parecia tão quente que eu estava pronta para tirar tudo ali mesmo para ele, mas sabia que, no momento que fizesse isso, entraria em pânico. A realidade viria à tona. Consegui concordar com a cabeça e deixei que me ajudasse a descer do veículo. Ele beijou minha boca de uma forma ardente e impetuosa, mais agressiva que das outras vezes. Retribuí aquele beijo. Não era um de seus doces e suaves, mas era excitante.

Quando afastou a boca, ele praguejou e então me levou até o apartamento, abriu a porta e me conduziu rapidamente para dentro.

Antes que eu pudesse recuperar o fôlego, suas mãos agarraram a barra do meu vestido.

– Só vou tirar isso aqui. Só isso. Só preciso te ver – murmurou no meu ouvido, mas não se mexeu até eu concordar com a cabeça.

Quando dei o sinal verde, ele levantou o vestido lentamente. Quando estava na altura da minha bunda, ele gemeu. Levantei os braços, e ele o tirou. Não me mexi. Sabia o que ele estava olhando e fechei os olhos com força. Não olhava minha bunda no espelho fazia muito tempo. Havia uma boa chance de que estivesse com celulite. Desejei profundamente que não estivesse. Eu ainda caminhava bastante. Tinha certeza de que ter caminhado a vida inteira era uma razão para minha bunda não ter ficado imensa.

A ponta do seu dedo roçou a parte inferior da minha nádega esquerda, e eu arquejei, mas não me mexi. Ele estava me tocando. Muito levemente.

– Você tem uma pinta bem aqui. Adoro essa pinta. A pinta mais linda do mundo – disse ele, com voz rouca.

Então ouvi um movimento e olhei para trás, vendo-o se ajoelhar. Comecei a me virar, mas suas mãos me seguraram pela cintura e me mantiveram parada.

– Por favor, Reese. Não. Ainda não – implorou.

Então fiquei quieta.

Seu hálito quente pairou sobre a minha pele, e eu estremeci. Saber que o rosto dele estava tão perto de qualquer parte do meu corpo era excitante, mas aquilo era quase demais. Então seus lábios roçaram o ponto que ele tocara, e eu soltei um grito sufocado de choque e prazer.

– Eu tinha que beijá-la – disse ele, pressionando os lábios naquele ponto da pele novamente. Então sua mão deslizou pela minha bunda, e ele a apertou, delicadamente. – Juro, Reese, essa bunda é a perfeição – disse ele num tom reverente. – Estou muito feliz que você não tenha ficado de biquíni na frente de outros homens esta noite. Essa bunda é minha. Não quero que outras pessoas vejam este suculento pedacinho do céu.

Fechei os olhos bem apertados. Eu estava mesmo deixando-o se ajoelhar atrás de mim e brincar com a minha bunda? Meu coração estava disparado, e o calor que se espalhava pelo meu corpo estava no ápice.

Mase deslocou uma parte da calcinha, para que uma extensão maior da minha bunda estivesse exposta, e me beijou ali. Ah, meu Deus, ele estava beijando o meu traseiro.

– Até aqui seu cheiro é delicioso. Posso sentir quanto você está excitada. É uma boa mistura com o cheiro de creme e canela que você exala.

Eu precisava me agarrar a alguma coisa para não derreter e me transformar numa poça. Meus joelhos se dobraram um pouco e as mãos de Mase seguraram com mais firmeza minha cintura enquanto ele se punha de pé, ainda atrás de mim. Sem recolocar minha calcinha no lugar, ele deslizou o corpo pelo meu.

Mase beijou meu ombro, então afastou o cabelo do meu pescoço e correu o nariz pela curva da minha orelha.

– Não quero fazer nada para o que você não esteja pronta. Mas quero tocá-la. Só isso. Nada mais. Você está pronta para isso? Se não estiver, tudo bem. Posso ficar só olhando.

A última parte pareceu ter sido arrancada dele, contra a sua vontade.

Todas aquelas mulheres se jogando em cima dele, e ele queria a mim. Ele me escolheu. Eu podia deixar que ele me tocasse. Eu ainda não havia entrado em pânico, e, nesse momento, tudo em que eu conseguia pensar era em Mase e em como ele se sentia. Como ele fazia com que eu me sentisse.

– Sim – respondi, parecendo sem ar.

Ele correu um dedo pelo meu pescoço e o enrolou com um cacho do meu cabelo.

– Obrigado. Por confiar em mim. Você não é obrigada a isso, e saber que você gosta do meu toque é a coisa mais bonita que alguém já me deu.

Ele não começou a tocar meu corpo. Em vez disso, ficamos ali, com ele brincando com meu cabelo e continuando a explorar meu pescoço e minha orelha com os lábios e o nariz. Lentamente, fui me recostando nele à medida que meu corpo relaxava com suas carícias.

– Seu cabelo parece seda – murmurou. – E sua pele. – Ele correu a mão pelo meu braço e pela nádega que deixou descoberta. – Acho que estou obcecado por seda – acrescentou.

Comecei a me contorcer quando sua mão voltou a subir, vindo até a frente e parando na minha barriga.

– Vire para mim e me deixe ver você – disse ele, dando um passo para trás.

Eu respirava pesadamente e sabia que ele podia perceber isso. Mas ficar de frente para ele tornava esse momento mais real. Eu poderia vê-lo enquanto ele me olhava.

Seu olhar varreu meu corpo de cima a baixo, lentamente, e depois tornou a subir. Havia no rosto dele uma veneração que me fez sentir querida. Importante. Protegida.

Três coisas que eu jamais havia sentido.

Eu não ia chorar.

Ele se aproximou e pousou a ponta dos dedos na minha barriga, traçando o contorno do umbigo. Então suas mãos estavam em mim, subindo vagarosamente até roçarem a parte inferior dos meus seios. Com um dedo ele mergulhou no decote, explorando o espaço entre os seios.

– Quero vê-los nus e nas minhas mãos – disse ele, erguendo os olhos até os meus, num pedido mudo.

Arquejei, mas não de medo. Eu também queria aquilo. Meus mamilos doíam muito e a área ao redor dos dois formigava.

– Ok – respondi, sabendo que ele não faria nada até que eu dissesse que podia.

Ele deslizou as mãos até minha nuca e soltou o nó de cima do biquíni, e depois o de trás. O sutiã caiu no chão, e meus peitos saltaram, livres.

– Uau, eles são incríveis – sussurrou ele, tomando os dois seios nas mãos, os polegares brincando com meus mamilos. – Posso sentir o gosto deles? – Mais uma vez sua voz parecia implorar.

– Sim – sussurrei, agarrando seus braços para o caso de meus joelhos fraquejarem por completo.

Mase grunhiu e baixou a cabeça. Então sua língua roçou meu seio direito. De seu peito veio um gemido prazeroso antes que ele colocasse o mamilo inteiro na boca e o sugasse.

Minhas pernas amoleceram e eu gritei quando um raio de prazer atravessou meu corpo.

Mase me segurou antes que eu caísse e me carregou para o sofá, afundando nele comigo em seu colo. Ele beijou meus lábios enquanto eu ofegava, ainda tonta de sentir sua boca em meu peito.

Uma de suas mãos ainda apertava meu seio, e eu queria sua boca neles outra vez.

– Posso sentir o gosto deles de novo?

Assenti, desejando empurrar a cabeça dele para meus seios e nunca mais deixá-lo tirá-la de lá.

A boca quente de Mase sugou o outro mamilo e gritei de novo, agarrando o cabelo dele com as mãos. Temi machucá-lo, mas eu precisava me segurar em algo. Suas mãos seguravam meus seios enquanto ele os beijava e até mordiscava. Gemi e gritei seu nome, segurando a cabeça dele contra o meu corpo. Queria que aquilo durasse para sempre.

A aflição era tão intensa agora que eu não podia evitar me contorcer e contrair as pernas. Queria algo que parasse aquilo. Eu precisava fazer parar.

– Abra as pernas. Vou fazer com que melhore – disse ele num tom exigente que me surpreendeu.

Não estava certa de que queria aquilo. Se abrisse minhas pernas, sabia que ele iria me tocar ali. Meu corpo pedia aquilo, mas minha cabeça me dizia que iria doer. Eu estava suja ali.

– Por favor, Reese. Me deixe cuidar de você. Você está tão molhada que eu posso sentir seu cheiro, gata. Isso está me enlouquecendo. Vou beijá-la lá, se você deixar. Qualquer coisa, gata. Faço qualquer coisa por você. Qualquer coisa mesmo.

Ele parecia desesperado.

Eu o amava.

Não queria perdê-lo para alguma mulher a quem ele não precisasse implorar.

Queria fazê-lo feliz.

Empurrei o medo para o fundo da mente e abri as pernas apenas o suficiente para que sua mão passasse. Delicadamente ele as abriu um pouco mais, e prendi a respiração quando sua mão deslizou pela minha coxa.

Lutei contra o pânico. Tentei contê-lo. Quem estava ali era Mase. Ele era bom para mim. Eu o amava.

Então um dedo deslizou para dentro da calcinha do biquíni, e a sensação de desejo desapareceu no momento em que as memórias desabaram sobre mim. Eu ia vomitar.

Não conseguia fazer aquilo. Ah, meu Deus, eu não conseguia.

Empurrei a mão dele, levantei-me de um salto e corri para o banheiro. Eu não podia vomitar.

Abrindo a torneira, joguei água fria no rosto várias vezes e fiquei dizendo a mim mesma repetidamente que estava tudo bem.


Mase

Nunca odiei ninguém tanto quanto a mim mesmo naquele momento. O único homem que eu odiava mais era o maldito padrasto dela. Com medo de tocá-la, fiquei parado atrás dela enquanto ela jogava água fria no rosto e dizia em voz baixa: “Você está bem. Está tudo bem. Você está bem. Está tudo bem.”

A cada “bem”, eu tinha a sensação de que meu peito estava sendo dilacerado.

Minha cabeça me dissera diversas vezes para parar. Eu estava indo longe demais. Mas não conseguia parar de tocá-la. Ela era tão gostosa. Ver o rosto dela enquanto eu lhe dava prazer era como usar uma droga. Eu queria mais e mais.

No fim, porém, eu a assustara. Eu estava pedindo demais.

Mas não estava disposto a perdê-la. Faria qualquer coisa que ela quisesse. Só não podia perdê-la.

Depois do que pareceu uma eternidade, ela fechou a torneira e pegou uma toalha para secar o rosto. Respirou fundo várias vezes antes de largar a toalha e se virar para mim.

Eu tinha começado a me desculpar quando sua boca formou um biquinho e ela irrompeu em lágrimas. Merda!

Sem esperar, puxei-a para os meus braços. Eu não sabia o que dizer. Não sabia se ela estava chorando por minha causa e pelo que eu fiz ou se estava chorando por causa da sua reação.

– Está tudo bem, querida. Estou aqui com você. Está tudo bem – garanti, tentando confortá-la.

Odiava os soluços que faziam seu corpo tremer nos meus braços.

– Me descu-u-u-ulpe. – Ela chorou alto.

Droga. Peguei-a no colo, levei-a até a cama e me sentei com ela ainda nos braços. Recostei-me na cabeceira da cama e a segurei como se fosse um bebê, aninhando-a junto ao peito.

– Eu disse para não pedir desculpa. Nunca. Sou eu quem deve se desculpar, Reese.

Ela agarrou minha camiseta e chorou ainda mais forte.

– Sou problem-m-má-á-á-á-tica – soluçou. – Você nã-ã-ão te-e-em que fica-a-a-ar com uma garota com proble-e-e-ma. – Ela soltou um uivo, como se estivesse chorando por uma morte.

Por Deus, jurei, se um dia eu encontrasse o homem que fez isso com ela, ele ia pagar.

Aninhei a cabeça dela sob meu queixo e a envolvi em um abraço ainda mais forte.

– Você é perfeita. Tão perfeita que eu chego a ficar sem ar. Estou completamente obcecado por você. Você é tudo que me interessa, Reese. Não há nenhum problema em você. Por favor, nunca mais quero ouvir você dizer uma coisa dessas. Quero que veja a si mesma do mesmo jeito que eu a vejo. Essa beleza deslumbrante que me deixa completamente fascinado. Uma sobrevivente. Forte. Divertida, gentil e honesta. Uma pessoa que não julga os outros. Que aceita as pessoas como elas são. Que nunca espera nada em troca, mas distribui beleza de graça ao mundo à sua volta. É essa pessoa que eu vejo, Reese. Essa é você. Veja-se assim também, querida. Por favor, veja-se assim também.

Seu choro diluiu-se em fungadelas, mas sua mão em minha camiseta apertou ainda mais. Observei-a finalmente reclinar a cabeça para trás para me encarar, com os olhos vermelhos e inchados. Mesmo nesse momento, ela estava maravilhosa.

– Você acha isso... de mim?

Dei um beijo em sua testa.

– Sim, eu acho.

Ela começou a dizer alguma coisa, mas de repente seu corpo se retesou. Só então ela percebera que ainda estava sem sutiã. Com um movimento rápido, tirei a camiseta e a deslizei por sua cabeça. Não queria que ela saísse de onde estava. Ainda não.

Ela me ajudou, passando os braços pelas mangas. A camiseta era grande demais para ela, mas vê-la vestida com minha roupa ativou minha natureza possessiva.

– Obrigada – disse ela, cruzando os braços sobre a barriga, como se estivesse se aninhando na camiseta.

Gostei disso também.

– Pedi demais esta noite. Foi culpa minha. Vou ser mais cuidadoso no futuro. Juro. Por favor, não deixe de confiar em mim – supliquei, precisando que ela acreditasse em mim.

Ela franziu a testa.

– Você me perguntou, pediu permissão a cada gesto. Eu poderia ter dito não. Não foi culpa sua.

Mas foi.

– Da próxima vez que você quiser mais, vai ter que pedir. Não vou forçar outra vez. Eu juro.

Assim nós dois saberíamos que ela queria.

Ela suspirou e cobriu o rosto com as mãos.

– Queria não ser assim.

Eu também. Mas por razões diferentes. Queria que ela não tivesse pesadelos com o passado. Odiava o fato de ela sofrer com algo tão horrível. Caramba, eu odiava o fato de ela sofrer, e ponto.

– Você vai dormir abraçado comigo esta noite, como da outra vez?

– Nem precisa perguntar, Reese. Minha resposta para você será sempre sim.


No fim da manhã seguinte, deixei Reese de pé, na porta, vestindo minha camiseta. Foi a coisa mais difícil que já tive de fazer. Não queria deixá-la. Eu a queria comigo.

– Use a minha camiseta à noite. Gosto de saber que você estará com alguma coisa minha quando eu não estiver aqui.

Ela assentira e me deixara beijá-la antes de eu pegar minha bolsa e voltar para o Texas.


Reese

Na manhã de segunda-feira, Jimmy estava na minha porta com dois cappuccinos. Fiquei tão contente de vê-lo que o abracei forte antes de pegar minha deliciosa dose de cafeína.

– Você voltou. Está melhor? Já está conseguindo dormir?

Ele abriu um sorriso para mim. Adorava atenção.

– Sim, estou bem. Tive algumas noites difíceis, mas estou melhor. Vi que tiraram a fita de isolamento.

Confirmei com a cabeça. Tentava não pensar nos tiros. Do pouco que vira no noticiário, soube que Jacob estava detido sem direito a fiança. Seria julgado por homicídio. E os pais de Melanie tinham vindo buscar o corpo para enterrá-la em Iowa.

– Estou feliz que você esteja de volta.

– Sentiu minha falta, é? Ótimo. Soube que você partiu o coração de Thad enquanto eu estava fora. Mas como o motivo foi Mase Manning, devo dizer que foi uma jogada inteligente, gracinha. Thad pode ser bonito e ter a bunda mais dura que eu já vi, mas ele gosta de mergulhar o pinto numa mulher diferente a cada noite. Nada a ver com você.

Franzi a testa, e então ri de como Jimmy descreveu Thad.

– Mais informação do que eu preciso, mas tudo bem.

– Beba esse cappuccino, querida, porque você vai precisar. Soube que a bruxa louca está de volta. Chegou de Paris ontem à noite. Prepare-se. Nannette é uma megera, uma megera diabólica. Ela vai olhar para você e ficar puta. Não reage bem quando há uma mulher mais gostosa do que ela por perto, e, gata, você é imbatível.

Eu estaria mentindo se dissesse que não tinha curiosidade de conhecer Nan. Ela era irmã de Mase. Mas eu também precisava contar a ela sobre o espelho. Mase não havia mais tocado no assunto, mas eu sabia que devia contar a Nan o que acontecera. Sempre que limpava aquele salão, via o espaço vazio e temia o momento de contar a ela o que tinha feito.

Havia uma boa chance de Nan me demitir. Estava me preparando para isso também. Mas eu ia ligar para Blaire Finlay essa tarde e ver se ficava com a faxina da casa dela. Se eu fosse despedida da casa de Nan, ao menos não sofreria um corte na minha renda.

Peguei minha mochila e segui Jimmy até o carro dele.

– Como é que você ficou sabendo sobre Thad? – perguntei.

Jimmy sorriu, como se soubesse dos segredos mais guardados do mundo.

– Recebi uma ligação de Mase ontem à noite. Ele queria ter certeza de que eu estava em casa e que ia levar você ao trabalho. Ele também me explicou que precisava saber da próxima vez que eu saísse da cidade ou quando não pudesse levar você. Ele não queria que Thad fosse minha primeira opção. Disse que faria os arranjos. – Jimmy ergueu as sobrancelhas. – Claro que, depois desse telefonema bastante intimidador, liguei para Blaire e perguntei a ela o que tinha acontecido. Ela não sabia detalhes, então ligou para Harlow, que obviamente sabia. Então Blaire me ligou de volta e me deu o serviço.

Não pude deixar de rir.

– Não acredito que você ligou para Blaire Finlay e perguntou o que ela sabia.

Jimmy riu e ligou o carro.

– Blaire já era minha garota antes de se tornar uma Finlay. Mesmo casada com o gostoso, supersexy e fodão Rush Finlay, ela ainda é minha garota.

Pela maneira como Rush olhava para a mulher, imagino que ele não gostaria de ouvir ninguém chamá-la de “minha garota” – nem mesmo Jimmy, que aparentemente cobiçava o corpo de Rush, apesar de ele ser marido de sua amiga.

– Agora me conte: tem algum detalhe saboroso sobre Mase que você possa compartilhar?

Pensei na noite passada e no quanto ele me fez sentir prazer. Mesmo depois de eu surtar e estragar o momento, ele fora muito suave e doce.

– Eu o amo.

Pronto, falei. Precisava dizer isso a alguém.

Jimmy meteu o pé no freio e olhou para mim. Ainda bem que ainda não tínhamos saído do estacionamento.

– Você não acabou de dizer isso.

Dei de ombros.

– Não posso evitar. Não vou dizer a ele. Mas ele torna impossível não amá-lo. Ele é exatamente... exatamente o que toda garota sonha. Ele faz com que tudo que parece errado fique perfeito.

Jimmy inclinou a cabeça para trás, apoiando-a no encosto, e gemeu, frustrado.

– Gatinha, o que você está pensando? Você não pode se apaixonar por Mase Manning. Para começar, ele nem sequer mora aqui. Relacionamentos a distância não funcionam. Ele é um homem adulto, muito saudável. Vai precisar se divertir, e certamente terá mulheres se jogando em cima dele no Texas. Você não pode se apaixonar por ele. Ele é daquele tipo para se aproveitar e apreciar. Não para amar.

Meu bom humor evaporou. Senti um nó de náusea se formar em meu estômago.

Jimmy tinha razão? Provavelmente. Ele sabia muito mais sobre relacionamentos do que eu.

Mase precisava de sexo? Eu não dera isso a ele. Ah, Deus.

– Ele provavelmente tem uma mulher no Texas, talvez até duas ou três, de quem ele consegue o que quer. Você precisa saber disso, docinho. E eu aposto que você não transou com ele, não é? Não precisa responder, eu sei que não. Teria visto em seu rosto se tivesse. Isso significa que ele voltou para o Texas com tesão. Ele vai extravasar isso em algum lugar, Reese. Estes são os fatos, e eu não quero que você se machuque.

Machucar? Eu estava arrasada.

– Mas eu o amo. – Foi tudo que consegui dizer.

Jimmy estendeu a mão e apertou minha coxa.

– Eu sinto muito. Não quero que você fique chateada. Mas não precisa se manter cega a respeito disso. Ele disse que ama você?

Balancei a cabeça negativamente.

Jimmy suspirou.

– Garota, o que eu faço com você? O amor é uma das coisas com as quais é preciso ter cuidado. Proteja-se. Ainda tenho aquele amigo com quem podemos marcar o encontro.

Mase tinha dito que eu era dele. Não queria que ninguém mais me visse de biquíni. Não sabia se aquilo significava que nós éramos exclusivamente um do outro; afinal, eu não sabia de muita coisa. Mas eu não queria sair com outro cara. E achava que Mase não quisesse que eu saísse.

Se eu era dele, ele não dormiria com outra pessoa... Dormiria?

O Mase que eu conhecia não faria isso. Não acredito que ele transaria com outra pessoa. Ele não dissera que me amava, mas dissera coisas que me fizeram sentir que eu pertencia a ele... e ele pertencia a mim. Que ele queria ser meu.

– Ele disse que eu era dele – contei a Jimmy.

As sobrancelhas de Jimmy se levantaram.

– Sério? Ele disse isso? Como foi exatamente? Me diga palavra por palavra. Quer dizer, já sei que ele não queria que Thad levasse você por aí, mas imaginei que ele quisesse proteger você daquele galinha, não que estivesse reivindicando sua posse.

Não queria compartilhar com ninguém meus momentos privados com Mase. Mas também não queria cometer um erro e terminar tão completamente destroçada que não fosse capaz de me recuperar.

– Ele disse que estava feliz por eu não ter usado meu biquíni na frente de todo mundo na festa, porque ele não queria outro homem olhando para o que era dele.

Jimmy soltou um assovio baixinho.

– Talvez seja melhor você não sair com outros caras no momento. Pode ser que eu esteja equivocado. Enfim, não quero um caubói furioso vindo para Rosemary Beach pronto para matar alguém. Vamos apenas ser cautelosos, ok? Tente não se apaixonar demais. Proteja o seu coração, se puder.

Já tinha dado meu coração a Mase Manning. Não me restava nada para guardar. Mas não disse isso a Jimmy.


Mase

Quando voltei do almoço com meus pais, a caminhonete de Cordelia estava na entrada de carros da minha casa. Não era algo com que eu quisesse lidar naquele momento, nem depois. Precisava pegar minha carteira e ir para os estábulos. Já estava atrasado.

Abri a porta da casa e me xinguei por não tê-la trancado. Aparentemente, eu teria que começar a fazer isso, porque minha vizinha estava se recusando a me escutar e ficar longe.

– Cord, onde você está? – chamei ao entrar na sala e encontrá-la vazia.

– Me procure – disse ela, provocando.

Merda. Mau sinal.

Joguei minhas luvas de trabalho de lado e tirei as botas para evitar sujar a cama de lama. Então segui para o quarto, a fim de expulsar minha visitante.

De fato, lá estava ela, nua, na minha cama. Ia ter que lavar os lençóis para livrá-los do cheiro dela. Eu estava cansado dessa merda. Dessa vez Cordelia tinha ido longe demais.

– Vista suas roupas e saia.

– Não, Mase. Olhe para mim. Você já quis isso. A gente combinava tão bem. Eu quero você. Muito – disse ela, abrindo as pernas, deslizando a mão entre elas e se tocando.

– Você foi longe demais. Quero que saia da minha casa. Se eu precisar chamar minha mãe para vir tirar você, vou fazer isso – ameacei.

Imaginei que a ideia de minha mãe encontrá-la nua em minha cama seria suficiente para fazer qualquer mulher levantar e ir embora.

– Mase, não faça isso. Por favor. Estou com saudade. Preciso tanto de você. Quero que me foda, do jeito que quiser. Eu faço o que você quiser. Venha aqui, vou chupar seu pau. Você pode me sufocar com ele. Eu sei que você gosta.

– Pare com isso! – Meu grito furioso finalmente a fez calar a boca. – Estou apaixonado por outra pessoa. Ela é tudo o que eu quero. Tudo o que sempre vou querer. Então preciso que você vista suas roupas e saia da minha casa, Cord. Agora.

Eu me virei e a deixei ali, incomodado com a visão dela em minha cama. Era Reese quem devia estar ali. A doce e sexy Reese.

Eu precisaria de novos lençóis e um novo colchão antes de trazer Reese aqui. Tinha que me livrar daquelas coisas onde transei com Cordelia e com algumas outras. Reese era boa demais para estar onde elas tinham estado. Ela era especial.

Os passos de Cordelia finalmente me informaram que ela havia desistido. Quando ergui os olhos, ela estava carregando as roupas e desfilando nua pela minha casa. Caramba, será que ela não tinha nem um pouquinho de vergonha? Virei-me de costas, para que ela não pensasse que de alguma maneira eu estava olhando para ela e curtindo aquela besteira.

Quando ela bateu a porta ao sair e escutei o motor da caminhonete, finalmente deixei escapar um suspiro de alívio e fui para o quarto tirar os malditos lençóis. Por sorte, minha mãe cuidava para que eu sempre tivesse dois jogos de lençóis. Ela dizia que é bom ter um de reserva. Como sempre, minha mãe tinha razão.

Quando terminei, sabia que tinha perdido muito tempo. Teria que ir aos estábulos na primeira hora do dia seguinte. Um sujeito viria às quatro olhar um cavalo que eu estava vendendo. Precisava limpar tudo antes de ele chegar.

Major chegou da casa dos meus pais quando tornei a sair.

– Você não vai aos estábulos? – ele gritou do pé da colina.

– Não, vou esperar até amanhã de manhã. Tenho que limpar aquele quarto de milha que estou vendendo. Não fiz isso depois da corrida matinal.

Major assentiu.

– Vou indo então. Tenho que estar em San Antonio amanhã. Meu pai quer me encontrar.

Eu não o invejava. Seu relacionamento com o pai estava uma merda desde que ele dormira com a madrasta no ano passado.

– Boa sorte. – Foi minha única resposta.

Ele me mostrou o dedo do meio e seguiu para a casa dos meus pais.

Rindo, entrei na minha caminhonete.

Ainda não conseguia acreditar que o imbecil tinha transado com a madrasta. Mesmo que ela fosse só três anos mais velha que ele. Segundo as últimas notícias que tive, ela não era mais sua madrasta. E o contrato pré-nupcial que havia assinado a deixara sem nada.


Reese

Eu havia tomado o cuidado de ficar no primeiro andar e me manter em silêncio enquanto limpava. Não queria acordar a mulher que toda a Rosemary Beach me ensinara a temer. Por outro lado, hoje eu realmente tinha algo para limpar. Ela era bem bagunceira.

Passei mais de uma hora limpando o que parecia ser uma garrafa de vinho que explodira sobre o piso da cozinha. Estilhaços de vidro se espalharam pelo chão e havia bebida seca e grudada por todo lado. Armários, piso, bancadas – tudo. Quando consegui limpar aquela bagunça, pude lavar os pratos e os copos que encontrei espalhados pelo andar.

Então encontrei pilhas de roupas no chão da lavanderia. A maioria delas parecia limpa e eu tinha certeza de que quase todas as sujas precisava ser lavada a seco. Pelo visto ela tinha simplesmente despejado o conteúdo das malas no chão. Precisei de outra hora para separar as de lavagem a seco das outras e então coloquei as brancas na máquina.

Quando o primeiro andar estava brilhando e eu conseguira organizar a lavanderia, já passava do meio-dia. Decidi que podia continuar sem fazer barulho e trabalhar nos quartos mais distantes do dela no segundo andar. Ela estaria dormindo no terceiro piso. Eu sabia qual era o quarto dela.

Os quartos intocados foram fáceis. Só tive que aspirar, varrer e esfregar. A rotina de sempre. Quando cheguei ao salão de jogos, tremi, pensando no espelho que eu teria que contar que quebrara. Havia copos vazios por lá também. Aparentemente ela já sabia que o espelho desaparecera. Ela devia ter recebido convidados. Sobras de comida estavam espalhadas pelos pratos e ainda havia restos de diferentes bebidas nos copos. O chão estava cheio de lixo.

A pior parte foi a camisinha usada num canto ao lado do sofá de couro. Nojento. Coloquei as luvas que comprara quando estava com a mão machucada e fiz um chumaço com uma grande quantidade de papel higiênico antes de pegar a camisinha e colocá-la no lixo. Pelo menos quem a usara dera um nó antes de descartá-la.

Quando terminei o salão de jogos, já eram quase três horas. Normalmente essa era a hora em que eu ia embora, mas ainda tinha o terceiro andar para limpar. E ela continuava dormindo.

Voltei ao térreo, levei o lixo para fora e separei o lixo reciclável nos coletores corretos. Então tornei a entrar e pensei em reorganizar a despensa quando ouvi passos na escada. Finalmente.

Ajeitei minha roupa e prendi o cabelo solto atrás das orelhas. Quando Nannette entrou na cozinha, ela me viu e fez cara feia, então jogou o cabelo por cima do ombro. Como previra, ela era deslumbrante. Longos cabelos louro-avermelhados desciam até as costas. Ela mal estava vestida, com uma camisola preta curta e sedosa que expunha a pele clara perfeita.

– Você é a faxineira? – perguntou ela, parecendo irritada.

– Sim, senhora – respondi.

– Por que ainda está aqui? Já passa das três. Você sempre demora assim?

– Já terminei tudo, exceto o último andar. Estava esperando a senhora acordar.

Ela torceu o nariz para mim.

– Bem, então vá limpar. Estou acordada. Não fique aí parada, me olhando de boca aberta.

Eu precisava contar sobre o espelho, mas ela não parecia nem um pouco a fim de conversa. Então subi a escada rapidamente e me concentrei em limpar tudo o que podia. Não queria que ela tivesse uma única queixa. Além do espelho.

Levei mais duas horas no último andar. Ela havia deixado o quarto em uma situação calamitosa. O resto da casa parecia decididamente imaculado.

Quando fiquei satisfeita, desci e a encontrei enroscada no sofá com o controle remoto na mão e uma xícara de café na mesa ao lado dela. Parecia mais acordada agora.

– Você demorou muito. É lenta. É bom ser mais rápida, ou não continua – disparou.

– Eu sinto muito. Farei isso – repliquei, pensando que era injusto ela supor que eu pudesse fazer mais rápido.

Ela revirou os olhos e me dispensou com um gesto da mão. No entanto, eu precisava contar a ela sobre o espelho. Aquilo me manteria acordada por várias noites até eu falar.

– Durante a sua ausência, houve um acidente quando eu limpava as janelas no salão de jogos. Eu caí e o espelho ao lado da janela que dá para o golfo caiu comigo. Ele se estilhaçou e a moldura quebrou. Eu pago por ele com o que receberia pelo trabalho. Eu sinto muito...

– Uma ova. Você vai me pagar agora mesmo. Aquele espelho custou mais de 5 mil dólares. Ele veio de Paris, como a maior parte da mobília desta casa.

Eu não tinha 5 mil dólares. Tinha economizado 2 mil, mas só. Como um espelho podia custar tanto? Eu não esperava por isso.

– Eu sinto muito. Não tenho isso tudo. Posso lhe dar 2 mil agora e trabalhar até que tudo esteja pago. É o melhor que posso oferecer – expliquei, esperando que a mulher possuísse algum tipo de empatia.

Ela me fuzilou com o olhar; aqueles olhos verdes eram implacáveis. Eu estava encrencada. Muito encrencada.

– Não, não. Vou contatar a agência e eles vão me ressarcir. Eles me mandaram uma idiota, então têm que pagar por isso.

Eu assinara um termo ao começar a trabalhar para eles de que qualquer dano ocorrido seria minha responsabilidade. Mas nunca imaginara que quebraria um espelho de 5 mil dólares.

– Eles não vão pagar. Vão me fazer pagar. É minha responsabilidade. Tudo o que tenho é...

– Nem mesmo a metade. Já ouvi isso. Vá se lamuriar com outra pessoa. Quero meu dinheiro, então se vire ou eu chamo a polícia e deixo que eles resolvam esse roubo.

A polícia. Ah, meu Deus, eu iria para a cadeia por isso.

– Eu não o roubei. Ele quebrou – comecei a explicar.

– Cale a boca! Saia da minha casa. Não há nenhuma prova de que ele tenha quebrado. Ele não está aqui. Eu quero meus 5 mil dólares por ele ou você pode explicar aos policiais que não o roubou. Agora saia da minha casa.

Eu não disse mais nada. Ela parecia pronta para explodir se eu lhe dirigisse a palavra outra vez. Não fora assim que eu imaginara essa conversa. De jeito nenhum. Já imaginava que ela fosse louca, mas pensei que ela fosse ao menos me deixar pagar o espelho.

Fui rapidamente até a porta e peguei minha mochila antes de correr para a rua principal. Para fora da propriedade dela. Eu tinha aula com o Dr. Munroe essa noite, mas não poderia ir. Precisava ir para casa e pensar no que fazer. Liguei para o professor e disse que não estava me sentindo bem, então fui andando para casa devagar.


Mase

Deu dez e meia e Reese ainda não tinha ligado, então resolvi ligar. Alguma coisa estava errada. Ela teria me ligado se estivesse tudo bem. O telefone tocou até entrar a mensagem de voz. Desliguei e tentei de novo. A mesma coisa.

Tentei dizer a mim mesmo para não entrar em pânico e liguei para Jimmy.

Ele atendeu ao terceiro toque.

– Alô...

– Você viu Reese? – perguntei, sem deixá-lo terminar.

– Sim, ela estava indo para casa a pé mais tarde do que de costume e eu dei carona para ela. Ela disse que estava com dor de cabeça e que ia tomar um banho e dormir.

Dor de cabeça era normal. Eu não precisava entrar em pânico, mas, caramba, eu queria saber se ela estava bem. Não ouvir a voz dela não era aceitável para mim.

– Vá ver como ela está. Ela não está atendendo o telefone e eu preciso saber se ela está bem. Ela pode estar doente.

Jimmy suspirou.

– Suponho que esta ordem também me obrigue a continuar ao telefone enquanto cumpro a missão.

Não me importei que ele estivesse bancando o espertinho. Eu só queria saber se ela estava bem.

– Sim, exatamente isso.

– Maravilha. Mas, se ela estiver dormindo, isso vai acordá-la.

Eu havia pensado nisso, mas não podia ficar sem saber. Fiquei imaginando ela doente no banheiro, fraca demais para chamar alguém ou desmaiada no chão. Meus medos iam ficando mais exagerados a cada segundo.

– Você é mesmo bastante protetor com ela. Daria para imaginar que os dois estão numa relação séria – provocou.

– Estamos numa relação séria e muito exclusiva. Ela não contou para você?

Jimmy pigarreou.

– Ela não estava segura sobre o que você pretendia, mas disse que não poderia me acompanhar num encontro a quatro porque achava que você não gostaria disso.

É claro que eu não gostaria. O que Reese achava que tinha sido tudo aquilo no fim de semana? Fui até lá apenas para impedi-la de sair com outra pessoa. Deixei meu interesse muito claro, repetidas vezes.

– Ela achou certo. – Foi minha única resposta.

Essa não era uma conversa que eu precisasse ter com Jimmy.

– Acho que se você não está com nenhuma outra por aí, então...

– Jimmy, você está tentando descobrir se eu estou trepando com outras mulheres aqui no Texas? Porque, se for isso e você estiver tentando proteger Reese, então saiba do seguinte: não quero ninguém mais, apenas Reese. Jamais. Então pare de me perturbar e vá checar se a minha garota está bem. Agora.

Jimmy deu uma risadinha.

– Bem, então está certo. Posso fazer isso.

Soltei um suspiro de alívio. Ela não estava pensando em encontrar outras pessoas. Jimmy só queria ver se eu estava. Eu ficaria furioso com ele, não fosse o fato de ele se importar com ela. Jimmy só estava tentando cuidar de Reese. Gostei disso.

Esperei enquanto Jimmy caminhava até o apartamento de Reese e batia na porta.

– Reese, querida. Se estiver acordada, pode abrir a porta? Estou com um caubói furioso no telefone, me impedindo de ver novela.

Esperei enquanto ouvia Jimmy bater outra vez.

– Estou ouvindo a tranca – disse Jimmy, e o pânico lentamente começou a se dissipar.

– Oi – disse a voz baixinha dela dentro do apartamento.

– Quer falar com ele? – perguntou Jimmy.

Escutei o som abafado deles sussurrando com uma mão tapando o microfone do celular. Detestei isso. Alguma coisa estava mesmo errada. Eu ia ter que largar tudo outra vez e voltar para Rosemary Beach.

– Oi, desculpe. Eu estava dormindo. Foi um longo dia. – Era a voz de Reese ao telefone, pesada de sono.

Ela não estava mentindo. Estava na cama. E ela estava bem.

– Você está se sentindo mal? Peça ao Jimmy para medir sua temperatura – sugeri, ansioso.

– Eu estou bem. Sem febre, juro. Ligo para você amanhã. Só preciso dormir esta noite. Mas não estou doente. Não me sinto doente.

Tinha alguma coisa errada. Eu podia sentir.

– Está bem. Durma então, gata. Mas vou querer ouvir sua voz pela manhã. Não vou conseguir me concentrar até saber que você está melhor.

– Eu vou ligar – garantiu.

– Boa noite. Bons sonhos – sussurrei antes de desligar.

Merda, eu não ia conseguir dormir agora. Alguma coisa estava errada e ela não ia me dizer o que era. Tinha vendido o cavalo, mas precisaria estar aqui quando o comprador viesse buscá-lo, amanhã. Ele também ia trazer o cheque para que pudéssemos terminar os trâmites burocráticos. Depois eu precisava ir aos estábulos e pegar algumas reses. Devia ter ido ontem. Agora eu estava atrasado.

Mas Reese precisava de mim, e eu não podia estar lá. Outra razão para eu querê-la aqui. Caramba, eu não podia dizer isso para ela ainda. Ela não estava pronta nem sequer para me deixar tocá-la.

Larguei o telefone e fui ao refrigerador pegar uma cerveja. Tinha uma longa noite pela frente e, se começasse a pensar em Reese daquele jeito, só ia ficar ainda mais longa.


Reese

Eu não tinha dormido um só segundo depois de Jimmy bater na minha porta. Escutar a voz de Mase e sua preocupação me provocou uma crise de choro. Então me sentei e pensei em todas as possibilidades de ganhar dinheiro, e rápido. Quando recebesse meu pagamento esta semana, teria 2.800 dólares líquidos. Ainda precisaria de mais 2.200 dólares.

Tinha medo de tentar um trabalho noturno como garçonete. Quando me estressava, ou ficava em pânico, eu ainda tinha dificuldade em decifrar as palavras. E minha escrita não era tão boa ainda. Tinha dúvidas se eu sequer conseguiria preencher o formulário. Assisti ao nascer do sol sabendo que inevitavelmente teria que esperar para ver como tudo isso se desdobraria. Se ela dissesse que o espelho havia sido roubado, eles não poderiam me prender sem prova. E eu tinha a mão cortada para confirmar minha versão da história.

O máximo que um juiz faria seria me obrigar a pagá-la pelo prejuízo, o que eu já dissera a ela que faria. Eu sabia que teria que ligar para Mase naquela manhã. Ele estava preocupado na noite passada, mas eu simplesmente não conseguia falar com ele ainda.

Essa confusão toda era muito perturbadora. Se eu dissesse a ele o que a irmã estava ameaçando fazer, ele pensaria que eu queria que ele pagasse o espelho por mim, e eu temia isso. Não poderia deixá-lo fazer isso nem pensar que eu quisesse. Esse era um problema meu, não dele.

Digitei o número dele e mal tocou uma vez antes que ele atendesse.

– Bom dia. Você está melhor? – A voz dele fez toda aquela situação que me afligia desaparecer.

Eu sentia falta dele. Adorava nossas conversas noturnas. Na noite anterior, eu queria falar com ele, mas sabia que não podia. Ele sabia quando eu estava preocupada; eu não conseguiria esconder dele.

– Sim. Muito melhor. Obrigada. Desculpe por ontem.

– Você estar bem é tudo que me interessa. Mas não vou mentir: senti falta de escutar sua voz lendo para mim. Foi difícil dormir sem isso.

Sorri pela primeira vez desde aquele encontro horroroso com Nan. Ele me fazia feliz, mesmo quando as coisas estavam ruins.

– Isso não costuma acontecer comigo. Mas, se acontecer de novo, prometo que ligo antes de dormir. Devia ter pensado em ligar para você mais cedo e contar. Tentar parecer normal não estava sendo fácil. Mas eu estava fazendo o melhor possível.

– Vou deixar você trabalhar. Tenha um bom dia, gata.

Eu me despedi e desliguei, mantendo em mim por quase a manhã toda aquela sensação gostosa que me envolvia quando ele me chamava de “gata”.


Já era quase meio-dia quando recebi um telefonema da agência de limpeza. Eu havia sido despedida. Nan ligara para eles, e eles não queriam ter mais nenhuma ligação comigo. Eu devia passar lá para pegar meu cheque e não comparecer nas outras duas casas para as quais estava agendada naquela semana. Consegui terminar a limpeza no resto da casa dos Carters naquela manhã sem desabar.

Eu ia ficar bem. Ligaria para Blaire Finlay. Duas casas pagariam minhas contas. Como não sobraria nada para poupar, pagar Nan seria difícil. Precisava encontrar mais uma casa, pelo menos, ou então outro trabalho.

Antes de voltar para casa hoje, eu ia entregar a Nan um cheque de 2.400 dólares. Era tudo o que eu tinha no momento. Não pensaria no aluguel agora, ia me preocupar com isso na próxima semana. Naquele momento, eu precisava mostrar que estava tentando pagar o espelho. Não queria a polícia atrás de mim.

A ideia de encarar Nan outra vez era apavorante. Quando, porém, cheguei à casa dela, havia dois carros estacionados do lado de fora: o pequeno e caro carro esportivo de Nan e um utilitário preto. Ela estar acompanhada podia ser melhor para mim. Ela certamente não seria desagradável na frente de visitas.

Depois de tomar coragem, subi os degraus da frente e toquei a campainha. Entregaria o cheque, me desculparia outra vez e prometeria mais dinheiro assim que possível. Então iria embora. Eu conseguiria fazer isso.

A porta se abriu mais cedo do que eu esperava e a expressão de Nan imediatamente se transformou em uma careta desdenhosa.

– O que está fazendo aqui? Liguei para a agência e exigi que a demitissem. Preciso chamar a polícia também?

Segui o que tinha planejado mentalmente.

– Aqui está um cheque com tudo o que tenho no momento. A senhora receberá mais assim que eu puder. Lamento sinceramente pelo espelho – falei, minha voz falhando uma única vez por causa do nervosismo.

Rush Finlay surgiu por trás de Nan. Ele não sorria. O que estava fazendo ali?

– Nan? O que está acontecendo? Você disse que acabou de... – Ele parou e olhou para mim. – É Reese, certo?

Assenti com a cabeça.

– Você fez Reese ser demitida?

– Ela roubou um espelho de 5 mil dólares da minha casa! Sim, eu exigi que a demitissem. Esse cheque não cobre sequer metade do espelho, e ela acha que isso resolve – disparou Nan.

Rush não parecia acreditar nela. Ele se virou para mim.

– Reese, você roubou um espelho?

Neguei com a cabeça.

– Não. Mas eu o quebrei. Eu caí. Foi um acidente. Já expliquei, mas...

– Ela está mentindo! Ela é a faxineira, Rush, pelo amor de Deus! Você sempre tem que tomar o partido dos outros contra mim? Estive fora por meses, e essas são as boas-vindas que recebo? Uma faxineira ladra e meu irmão mais uma vez tomando o partido de terceiros contra mim?

Agora ela estava gritando. Mas o fato de ela se referir a Rush como irmão me confundiu. Como Rush seria irmão dela? Mase era irmão dela, mas Rush e Mase não eram irmãos.

– Ela trouxe um cheque e prometeu trazer mais quando puder. Isso parece a atitude de alguém que roubou seu espelho? Não parece. Acalme-se e pense um pouco. Você não tem mais 10 anos, Nan. Cresça.

Rush estava claramente aborrecido.

– Eu vou indo. Volto com o restante do dinheiro assim que puder – garanti outra vez e desci os degraus da entrada correndo.

Eu provavelmente deveria ter ficado um pouco mais e continuado a me defender. Havia uma boa chance de Rush começar a acreditar nela, e então eu não conseguiria a faxina na casa dele. Teria que esperar para ligar para Blaire e falar sobre a faxina. Pelo menos havia uma testemunha que me vira pagar parte do valor do espelho e prometer pagar mais em breve.

A caminhada dali até em casa era de mais de dez quilômetros. Eu teria tempo suficiente para pensar no que fazer com o restante da semana, já que não tinha mais casas para limpar.


Mase

O telefone tocou quando eu estava chegando em casa, depois de um longo dia nos estábulos.

Era Rush.

– Olá – atendi, curioso, pois não recebia muitas ligações dele.

– Nan voltou – disse ele, não parecendo contente com isso.

Não podia culpá-lo, mas pensei que ele gostasse da irmã.

– Sim – falei, imaginando o que isso teria a ver comigo.

– Você sabe alguma coisa sobre um espelho na casa de Nan?

Merda! Eu havia me esquecido do espelho. E de que Nan poderia voltar para casa. Puta que pariu. Ontem fora dia de Reese fazer faxina lá. De repente sua dor de cabeça fazia muito mais sentido.

– No dia em que conheci Reese, ela caiu limpando a janela e o maldito espelho caiu com ela. Fez um corte feio na mão dela. Tive que acompanhá-la até o hospital para tomar uns pontos.

Tinha me esquecido dessa porcaria. Achei que Nan nem fosse notar. Mas agora sabia que notara. Porque Rush estava ligando para mim. Se ela tivesse sido cruel com Reese, eu iria visitá-la, e não ia ser uma visita de que ela gostaria.

– Provavelmente não teria notado. Só que Reese contou e prometeu pagar pelo espelho – disse Rush, ainda parecendo aborrecido com alguma coisa.

– Merda! Eu devia ter comprado outra porcaria daquelas. É que eu fiquei... ocupado e esqueci.

– É, você deveria ter feito isso. Reese levou para Nan um cheque de 2.400 dólares hoje, depois que ela exigiu que a agência a demitisse. Meu palpite é de que Reese perdeu todos os empregos. E está dura. Eu ia tomar o cheque de Nan, mas tive medo de que ela denunciasse Reese para a polícia ou fizesse alguma outra estupidez. Acho que Reese está precisando de ajuda neste momento.

– Dois mil? Mas que merda! Quanto Nan quer pelo maldito espelho?

Ela era a mulher mais mesquinha e vingativa que eu já tinha visto em toda a minha vida. Quando se ofereceu para doar sangue para a transfusão de Harlow, depois do nascimento de Lila Kate, pensei por um instante que ela possuía um coração. Mas parece que não.

– Ela alega que o espelho custou 5 mil dólares e que veio de Paris. Não acredito nisso, mas ela está determinada a receber a grana. Pensei em pagar e acabar com essa merda, caso você não faça isso. Só que, se fosse Blaire nessa situação, eu ia querer ser o cara a resolver o problema. E não outra pessoa.

– Estarei aí pela manhã. Não deixe Nan chegar perto de Reese outra vez. Vou resolver essa história e trazer Reese comigo para o Texas. Não consigo fazer nada direito, porque minha cabeça está sempre nela. Eu a quero aqui.

– Nan vai deixá-la em paz por ora. Eu não fiquei feliz, e ela sabe disso. Também avisei que a garota era sua namorada. Ela não recebeu bem essa informação. Quando saí, acho que ela estava resmungando algo como “Isso não pode ser verdade”.

Rush deu uma risadinha. Mas minha cabeça já estava em outro lugar. Eu tinha planos para fazer e uma garota para convencer a vir morar comigo no Texas.

Depois de desligar, comecei a fazer as malas e liguei para meu padrasto e para Major. Disse que tinha uns negócios para resolver fora da cidade e passei a eles a lista de coisas que precisariam fazer por mim enquanto eu estivesse fora.

Então fui para o aeroporto e peguei o primeiro voo.


Não ir direto ver Reese foi difícil. Mas eu precisava lidar com minha “querida irmã” primeiro. O avião aterrissou perto da meia-noite. Rush ficaria de enviar para o aeroporto a caminhonete que eu normalmente pegava emprestada quando estava na cidade.

Passava um pouco das duas da manhã quando estacionei no portão de Nan, depois de digitar o código na portaria. As luzes estavam acesas na casa. Ela ainda estava de pé. Ótimo. Não precisaria acordá-la.

Não me dei o trabalho de bater na porta, usei o código e entrei. Pude ouvir a televisão e risadas na sala de TV. Cruzei o hall e fui direto naquela direção.

Nan estava no sofá com uma taça de vinho na mão, contando a uma garota sentada na frente dela algo que aparentemente era hilário. Eu não via Nan como uma pessoa divertida. Nem uma boa contadora de histórias.

Os olhos dela encontraram os meus, e ela deu um pulo antes que a raiva surgisse em seu olhar.

– Você não pode invadir a minha casa assim, Mase. Vou chamar a polícia – disparou.

– Por favor, faça isso. Eu vou só ligar para o nosso pai e deixar que ele resolva com os policiais, já que a casa é dele. E ele me disse mais de uma vez que posso usá-la sempre que quiser.

Como eu sabia que aconteceria, minhas palavras a detiveram. Ela detestava qualquer envolvimento de Kiro em sua vida. E ela também sabia que eu tinha razão. Aquela casa não era dela. Ela não comprara nada que havia ali dentro. Descobri essa última parte quando liguei para Kiro enquanto esperava meu voo. Ele comprara a casa já mobiliada. Aquele espelho não era algo por que ela tivesse pagado. Vaca.

Vaca mesquinha.

– Não acredito que você esteja aqui por causa dela. Ela é faxineira, Mase. Você certamente pode conseguir algo melhor. Parece meio inferior para o filho de Kiro. Será que o papaizinho querido sabe que você andou comendo as empregadas enquanto estava aqui?

Havia uma amargura em Nan que eu jamais vira em alguém da idade dela. Aquilo a corroía. Tornava-a cruel e desalmada. E muito superficial.

– Este será seu único aviso, irmãzinha. Fale mais uma palavra negativa sobre Reese, e vou garantir que você se arrependa dela por muitos anos. Está me entendendo? Porque, juro por Deus, eu estou falando muito sério.

Seu lábio se retorceu num rosnado, e ela se virou para a amiga.

– Desculpe por isso, Laney. Tenho certeza de que ele vai embora assim que terminar o sermão.

Mal olhei para a ruiva, mas vi o suficiente para saber que estava mais interessada na minha presença ali do que Nan.

– Liguei para Kiro. Esta casa foi comprada mobiliada. Aquele maldito espelho não custou 5 mil dólares. Além disso, soube de outras coisas. Reese caiu e cortou a mão na sua casa, trabalhando para você. Então foi demitida por isso. Sou testemunha dela, porque estava aqui e fui eu quem correu com ela para o hospital para tratar o ferimento. Há um registro médico do atendimento. Na minha opinião, Reese precisa de um advogado, porque ela tem uma ótima causa. Ela sofreu um acidente de trabalho e então foi demitida. Ela pode processar a agência e você. Não seria uma ótima manchete?

Os olhos de Nan se arregalaram e eu saboreei cada segundo enquanto minhas palavras eram digeridas.

– Eu até vou sugerir que ela processe você pelo dinheiro que ela já lhe pagou, mais 1 milhão de dólares por danos morais e físicos. Afinal, você é filha de Kiro Manning. Ela pode pedir uma boa grana. Você pode pagar.

Nan soltou uma risada claramente forçada.

– Ela não pode pagar um advogado. Isso não vai acontecer.

– Ela não precisará pagar. Já chamei o meu.

Nan pousou a taça de vinho com violência numa mesinha e então se levantou.

– É mesmo, Mase? Você também? Toda essa maldita família me odeia. Agora você vai tomar o partido de uma garota qualquer com quem está trepando?

Dei um passo na direção dela, me lembrando de que eu não batia em mulheres. Mas, maldição, foi difícil. Eu queria torcer o pescoço dela.

– Nunca. Jamais. Refira-se. A Reese. Assim. Ela é mais do que você jamais conseguirá imaginar. Ela nem sequer sabe que estou aqui, porque ela não me contou nada disso. Foi Rush.

Esperei que ela assimilasse mais essa informação. Então acrescentei outra coisa:

– Você atrai ódio para si mesma, Nan. Deixe de ser filha da puta.

Eu já tinha dito o que viera dizer. Dei as costas e segui em direção à porta.

– Rush ligou para você? – A voz dela soou mais aguda.

Até o irmão que ela adorava, que gostava dela quando ninguém mais a suportava, estava farto das suas besteiras. Ela estava percebendo isso, finalmente.

– Sim. Ele ligou. Ele também detestou ver Reese sofrer nas suas mãos doentias – garanti, olhando para ela.

Ela já não parecia tão furiosa. Abatida era uma descrição mais exata. Pena que não houvesse uma única partezinha de mim que se importasse. Nós tínhamos o mesmo pai, mas eu odiava aquela mulher. Não só pelo que ela havia feito com Reese, mas também pelo modo como tratara Harlow, então recém-chegada a Rosemary Beach. Eu não odiava facilmente as pessoas, mas Nan fazia questão de despertar esse sentimento nos outros.

– Espere. Pegue, leve esse maldito cheque. Não quero mais dinheiro nenhum. Mas também não quero vê-la nunca mais. Ela não vai voltar a trabalhar aqui.

Virei e peguei o cheque de sua mão. Ela deixara tudo o que Reese tinha economizado na vida na mesinha de centro, embaixo de um vaso de frutas, como se fosse um guardanapo.

Colocando o cheque no bolso, lancei a Nan um último olhar de pena.

– Espero que você se dê conta um dia de que essa maldade só a atrapalha. Depois de um tempo, vai acabar afastando todo mundo para sempre. Livre-se dessa coisa que controla a sua cabeça e mude. Porque você já perdeu todo mundo. Não perca Rush também.

A dor que atravessou a expressão dela era suficiente. Fui embora.

Estava pronto para cuidar da minha garota.


Reese

Uma campainha longínqua interrompeu meus sonhos, e eu me virei para descobrir de onde ela vinha. Tudo o que eu via ao meu redor eram nuvens. A campainha parou, mas logo recomeçou. Frustrada, bati o pé no chão, mas então me dei conta. Eu estava sonhando.

Abri os olhos, e a campainha era o meu celular. Esfregando o rosto, sentei-me e olhei o aparelho desorientada. O sol não havia nascido e ainda estava muito escuro lá fora. Eu havia levado uma eternidade para cair no sono.

Meu celular continuou tocando até que finalmente vi a tela brilhando no escuro. Saí da cama e o apanhei no chão, onde tinha caído. Botas de caubói. Mase.

– Alô – respondi num sussurro rouco.

– Tem alguém na sua porta. Pode abrir para que vocês dois possam cair na cama e dormir? – disse ele, naquele seu tom profundo e sexy, do outro lado da linha.

Franzi o cenho e então ouvi a batida. Levei alguns segundos para perceber que Mase estava na minha porta. Larguei o telefone na cama e fui correndo abrir. Por que ele estava aqui? Sua ligação no início da noite tinha sido tão curta que eu havia ficado preocupada. Ele nem sequer me pediu que lesse para ele.

Era por isso. Ele estava vindo me ver.

Abri a porta, e ele entrou lindo como sempre no apartamento. Nesse momento percebi que meu cabelo provavelmente estava todo desgrenhado. Eu nem sequer havia me olhado no espelho.

Mas ele estava aqui. Nada mais importava.

– Desculpe acordar você, mas eu não iria querer dormir na caminhonete a noite inteira se podia ficar na sua cama e dormir com você nos meus braços.

Era de desmaiar. Esse homem e suas palavras.

Sorri. Estava tão feliz de vê-lo que não conseguia esconder. Sabia que estava com um sorriso bobo no rosto. Eu sempre ficava assim quando estava eufórica. Ter Mase aqui me deixava eufórica. Não esperava vê-lo de novo tão rápido e, depois da semana que eu tinha tido, eu precisava disso.

O simples fato de estar com ele já resolvia tudo.

Ele cobriu a distância entre a gente e sua mão correu pelo meu cabelo, com um sorriso divertido nos lábios.

– Gosto disso. De ver você assim.

Eu queria me fundir a ele.

– Você está aqui. – Foi tudo o que consegui dizer.

Ele assentiu com a cabeça.

– Estou. Podemos falar disso amanhã. Deixe-me levá-la de volta para a cama.

Ele ia se deitar comigo. Isso era... Ah, droga. Eu estava sonhando. Teria apostado que era um sonho. Era a única explicação que fazia sentido. Eu não queria que fosse um sonho. Eu queria que ele estivesse aqui, caramba.

– Me belisque – pedi a ele, enquanto a mão dele deslizava até quase a minha cintura.

Ele franziu a testa.

– Por que eu faria isso?

– Para provar que não estou sonhando – expliquei.

Sua risada grave fez meu corpo todo formigar.

– Que tal se eu fizer isso, então? – disse ele antes de cobrir minha boca com a dele.

Comecei a abrir minha boca para ele quando ele mordeu levemente meu lábio inferior, o que me fez pular.

– Viu só, gata? Você está acordada – brincou, deslizando a mão até meu traseiro e apertando uma vez antes de retornar a mão para a base das minhas costas.

Queria mais, mas ele estava me conduzindo de volta ao quarto.

– Por que você está aqui? – perguntei, depois que ele arrumou a bagunça das cobertas e as puxou de volta para mim.

Aninhei-me ali, obediente.

– Porque eu precisava ver você.

Fiquei observando-o tirar as botas e desabotoar a camisa de flanela e jogar tudo na cadeira. A camiseta que ele vestia por baixo era tão justa que se via a beleza de cada linha de seu peito e de suas costas. Quando se virou para subir na cama ao meu lado, puxei as cobertas para ele entrar. Não queria que ele pensasse que ainda tinha que dormir em cima delas. Ele ainda estava de jeans. Não conseguiria dormir bem assim.

– Pode tirar a calça. Vai dormir melhor – falei, antes de ele afundar na cama ao meu lado.

Ele parou um instante e então começou a desabotoar o jeans. Senti seu olhar em mim enquanto se despia, mas eu estava hipnotizada demais para olhar para o rosto dele. Suas mãos grandes rapidamente abriram o zíper da calça, que deslizou por suas coxas grossas e musculosas. Tive que sorver o ar bruscamente. Tinha me esquecido de respirar.

– Tem certeza de que está tudo bem para você? Posso dormir de calça, gata.

Ele estava preocupado com a possibilidade de que eu surtasse por ele estar de cueca. Bem, eu estava surtando, mas por outra razão. Mase Manning realmente fazia uma cueca boxer branca parecer deliciosa. Eu estava em pânico depois da história do espelho, então aproveitar aquela visão não estivera em meus planos aquele dia. Mas agora...

– Eu estou bem. Não, você está bem. Quero dizer, tudo bem e... Ah, venha logo para a cama – chamei, confusa.

Mase sorriu dessa vez. Então ele se deitou ao meu lado, mas tomando cuidado para não me tocar. Reagi tão mal aos beijos e carícias da última vez que agora ele estava apreensivo. Mas eu também não estava segura de que teria coragem de tomar a iniciativa ou pedir para ele fazer alguma coisa. A ideia de tomar todas essas decisões era muito estressante.

Mas isso não interessava. Não agora. Mase estava ali naquela noite, não importava o motivo. Então me enrosquei ao seu lado, e ele me puxou mais para perto, mas não fez nada além disso. Olhando para ele, notei seus longos cílios quase batendo nas maçãs do rosto. Ele já tinha fechado os olhos. Sorrindo, feliz, fechei os meus também.


Quando tornei a abrir os olhos, o sol atravessava as persianas, e Mase estava deitado de lado, comigo aninhada em seus braços. Inclinei a cabeça para trás para ver se ele estava acordado. Seus olhos ainda estavam fechados, mas seus braços me apertaram e um sorrisinho esticou seus lábios.

– Acordada? – perguntou ele, ainda meio grogue, e então lentamente abriu os olhos e me fitou.

– Sim – respondi, me sentindo estranhamente bem para uma garota sem emprego nem dinheiro.

– Hummm... você quer me contar sobre a sua semana agora ou enquanto comemos waffles e tomamos café?

Sorrindo, beijei o braço dele.

– Esse é o seu jeito de me pedir para fazer waffles?

Ele deu de ombros, sorrindo como se soubesse que eu faria qualquer coisa para ele.

– Talvez.

Beijei o braço dele de novo.

– Você vai ter que me deixar levantar para eu poder fazer isso.

Ele baixou a cabeça e passou os lábios suavemente na minha testa.

– Mas você está tão gostosa aconchegada nos meus braços.

Eu tinha que admitir que aquele era mesmo o meu lugar preferido. Em todo o planeta.

– Por que não me conta sobre a sua semana agora? – perguntou ele, num tom mais sério.

Ele falava da minha semana como se já soubesse.

– Conversamos ontem à noite por telefone. Você sabe da minha semana – respondi, testando-o.

– Não... Só sei o que você me contou. Quero a história completa. Sem deixar nada de fora. – O tom de brincadeira em sua voz tinha sumido agora.

Ele sabia. Era por isso que estava ali.

– Quem contou? – perguntei, deslizando um pouco para trás, ou ao menos tentando.

Seu abraço não afrouxou.

– Você devia ter me contado. – Foi a resposta dele.

– Não era problema seu.

Isso chamou a atenção dele. Seus olhos se abriram totalmente, e ele se mexeu com rapidez. Pensei por um segundo que ele ia se levantar, mas o que fez foi me deitar de costas e colocar uma mão de cada lado da minha cabeça, pairando acima de mim.

– Qualquer coisa que afete você é problema meu. Você é minha. Mesmo que eu não soubesse o que havia acontecido naquele dia. Mesmo que Nan não fosse minha irmã. Seria meu problema, porque aflige você. Faz você sofrer. – Sua voz suavizou-se na última frase. Ele baixou o corpo, sem fazer pressão sobre mim. Seu nariz acariciou meu pescoço por um instante, e meu corpo inteiro despertou. Uma sensação de calor se espalhou por mim. – Quando você sofre, isso me dilacera. Quando você está feliz, eu me sinto como se fosse dono do mundo inteiro.

Que homem incrível!

– Você tem um rancho para cuidar e uma vida no Texas. Não quis incomodá-lo com isso.

Mase suspirou e beijou meu rosto antes de voltar a me fitar de cima.

– Eu tenho um rancho para cuidar e ele fica no Texas. Mas você vem antes de qualquer coisa. Se precisar de mim, você vem primeiro.

Eu te amo estava bem ali, na ponta da minha língua. Queria que Mase soubesse. Mas ele não estava me dizendo essas palavras. Tive medo de que ele pensasse que eu era ingênua e que estava confusa quanto ao que estávamos fazendo. Então guardei-as para mim. Mas as gritei na minha cabeça e na minha alma. Eu amava esse homem.

– Seu cheque está no bolso da minha calça. Nan o devolveu ontem à noite. Você não deve nada a ela. Ela não comprou aquele espelho. Kiro comprou a casa mobiliada. É tudo dele, e ele não dá a mínima para aquele espelho.

Fiquei apenas olhando para ele. Não sabia o que responder. Eu vira a fúria no rosto de Nan. Não estava certa de que ela concordaria com isso. Quando Mase saísse, era provável que os policiais viessem me prender. O dinheiro que eu dera a ela era minha prova de que pretendia ressarci-la.

– Preciso que ela fique com aquele dinheiro, Mase.

Ele fez que não com a cabeça.

– Está resolvido. Ela não vai incomodar você outra vez.

Quando ele estivesse longe, ela incomodaria.

– Você não pode me proteger de tudo.

– Posso protegê-la da minha irmã. E, sim, posso proteger você de tudo. É só você me dizer qual é o problema. Eu resolvo.

Ele estava sorrindo, mas eu podia ver a seriedade em seus olhos.

– Mase – comecei, mas ele pôs o dedo sobre meus lábios.

– Já cuidei disso. Ela está com medo que você a processe. Você se machucou na casa dela, trabalhando, e ela a demitiu por isso. Nan não vai voltar a entrar em contato com você. Ela provavelmente não vai respirar o mesmo ar que você por um tempo. Fui muito claro ao explicar o que eu faria se ela se metesse com você outra vez.

– Eu não a processaria porque caí e quebrei um espelho.

– Ela não sabe disso, gata. E isso é o que interessa.

Ele me soltou e se levantou. Fui abençoada com uma vista de sua bunda naquela cueca. A bunda de Mase Manning era perfeita.

– Você vai levantar daí e fazer waffles para mim? Porque, gata, se você continuar me olhando como se eu fosse a refeição, posso ficar tentado a voltar para a cama e conferir exatamente o que você está pensando.

CONTINUA

Tinha certeza de que sim. Minha mente brincava com imagens dela desse jeito. Então me juntei a ela em minha imaginação, e a coisa ficou ainda mais interessante. Aquelas pernas compridas e a pinta embaixo da bunda seriam as primeiras coisas que eu exploraria. Uma imagem dela em minha cama, com a bunda para o alto, para que eu pudesse acariciar e beijar aquela pinta, fez meu pau latejar violentamente.

Então o apertei, tentando acalmá-lo. Ele estava quente e não ia esfriar tão cedo. Ainda mais com a voz de Reese me acendendo.

– Reese, me dê um minutinho. Já volto.

– Tudo bem.

Eu odiava ser tão fraco, mas precisava me controlar agora, se queria mantê-la ao telefone até que adormecesse. Ou eu entrava em uma ducha fria ou terminava com essa fantasia na privacidade do banheiro. Eu estava com pressa, e a imagem de Reese em minha cama, com sua bela bundinha redonda para cima, estava me provocando.

Fechei a porta do banheiro, fui até a parede, onde me apoiei, e então peguei meu pau latejante outra vez. Lentamente, comecei a acariciá-lo, enquanto lambia a bunda e a pinta de Reese, então abri as pernas dela, e senti sua fenda quente escorregadia ao meu toque. Minha outra mão acariciaria sua bunda e então deslizaria até sentir os mamilos duros e o peso de seus seios pendendo em direção ao colchão.

Ela gritaria quando eu passasse a língua sobre sua carne macia, e seus peitos dançariam e saltariam na minha mão. Pronto, foi o que bastou. Gemi quando o gozo foi bombeado para fora de mim e cobriu minha mão, ainda fechada firmemente em torno do meu pau.

Desde que conheci Reese, eu vinha fazendo isso cada vez mais. Já tinha tentado alguns banhos frios, mas eu os detestava. Essa era a solução mais fácil. E a menos dolorosa. Além disso, minhas fantasias com Reese estavam ficando cada vez melhores.


Reese

Jimmy apareceu na manhã seguinte para me dizer que avisara ao trabalho que estaria ausente por motivo de saúde pelo restante da semana e que, para escapar do horror da noite anterior, ia fazer uma viagem. Ele não tinha conseguido dormir e estava choroso. Sua preocupação principal era como eu ia chegar ao trabalho. Embora eu lhe garantisse que podia ir andando, ele disse que não seria capaz de relaxar e desligar a cabeça de tudo se estivesse preocupado com o fato de eu ter que ir a pé até as casas. Assim, havia combinado com um cara em quem confiava para ir me pegar e levar para o lugar em que eu trabalhasse no dia. Ele me garantiu que o conhecia desde sempre e que ele era um amigo de confiança do Sr. Kerrington. Tive que prometer a ele que pegaria carona com seu amigo, Thad, antes que ele partisse. Como estava preocupada com ele, concordei. Mas não era algo que eu quisesse fazer, de jeito nenhum. Preferia mil vezes pegar um táxi. Mas Jimmy se recusou a aceitar isso.

Portanto ali estava eu, diante do meu apartamento, esperando um “BMW preto com rodas prateadas reluzentes que você não terá como não ver”. Jimmy também disse que Thad tinha cabelo louro comprido, e que o lugar ideal para ele parecia ser em cima de uma prancha de surf.

Uma fita amarela do tipo que a polícia usa para isolar uma cena de crime cercava a porta e a calçada três portas adiante. Eu me encolhi ao pensar no horror que acontecera ali. Jimmy vira tudo. Eu também estava preocupada com ele. Como ele poderia esquecer aquilo e dar continuidade à vida?

Na noite anterior, eu havia adormecido quando Mase me deixara esperando. Aquilo realmente me surpreendeu. O simples fato de saber que ele estava ali e não ia me deixar foi suficiente para me fazer relaxar. E também houve a estranha conversa sobre o que vestíamos para dormir. Ele dormia nu. A imagem daquele homem nu me excitava. E ia ser estranho quando eu tivesse que vê-lo outra vez.

Era mesmo difícil de não reparar no sofisticado BMW preto que chegou ao estacionamento. Mesmo sem ver as rodas ou o motorista louro no interior, eu sabia que era ele. Ninguém nesse condomínio tinha um carro como aquele. Botei minha mochila no ombro e respirei fundo. Jimmy não mandaria alguém perigoso para me pegar. Eu podia fazer isso. Podia, sim.

A porta do carona se abriu, e um cara alto, cujo cabelo louro encaracolava logo abaixo das orelhas, sorriu para mim. Ele usava óculos escuros, de modo que eu não podia ver seus olhos. No entanto, ele parecia seguro. Seu sorriso era amigável, e – tornei a me lembrar – Jimmy confiava nele.

– Você é Reese? – perguntou ele.

Fiz que sim com a cabeça e desci da calçada, indo para o carro.

– Só o Jimmy mesmo – disse Thad, balançando a cabeça e rindo.

Não perguntei o que aquilo queria dizer.

– Obrigada por me levar. Eu pago a gasolina – garanti, entrando no carro.

Thad franziu a testa.

– Ah, não vai pagar, não. Vou levar uma garota bonita para o trabalho e para casa.

Não fiquei tensa quando ele me elogiou. E isso era um bom sinal. Eu estava melhorando. Nem todos os homens eram maus. Jimmy, Mase e o Dr. Munroe tinham me ensinado isso. Também havia a maneira como Grant Carter adorava a mulher e a filha. Minha opinião sobre os homens estava mudando. Quanto mais tempo eu ficava em Rosemary Beach, mais via o lado bom da humanidade.

– Jimmy pediu a você que me levasse até o Kerrington Club? Posso andar a partir dali.

Ultimamente Jimmy estava me levando até as casas em que eu trabalhava em vez de me deixar ir a pé. Era algo que eu sabia que Mase tinha lhe pedido que fizesse.

– Pediram que eu a levasse à casa de Nan hoje. Ouvi dizer que ela estará de volta em duas semanas. Ah, que alegria – disse Thad, me olhando como se eu entendesse o que ele estava falando.

Eu nunca tinha visto Nan, mas pelo que todos, incluindo o irmão, diziam sobre ela, eu não estava certa se ia querer conhecê-la. Gostava de limpar a casa dela. Precisava daquele trabalho. Mas começava a ficar apavorada com ela. Teria que contar sobre o espelho quando ela retornasse. E temia esse momento.

– Acho que não estou ansiosa por conhecê-la – admiti para Thad. – Parece que ninguém gosta muito dela.

Thad deixou escapar uma gargalhada.

– É o eufemismo do ano.

Ah, puxa. Desejei com toda força que ela pudesse simplesmente ficar em Paris para sempre.

– Você ouviu aqueles tiros na noite passada? – perguntou Thad, mudando de assunto. – Ver as fitas na cena de crime é assustador.

Concordei e afastei a lembrança da noite passada.

– Sim – foi minha única resposta.

Então concentrei a atenção no lado de fora. Não queria falar dos tiros.

– Desculpe se ela era sua amiga ou coisa assim. Não quis ser desrespeitoso.

Continuei olhando pela janela.

– Eu não a conhecia – falei.

Então ele ficou quieto. Provavelmente eu deveria ter falado alguma coisa e não deixado aquele silêncio constrangedor, mas eu não sabia o que dizer.

Quando ele passou pelo portão de Nan e seguiu o caminho que levava até a entrada da casa, eu me senti aliviada. Ansiava por fazer minha faxina e aproveitar aquele tempo sozinha e sossegada.

– Pego você aqui por volta das três.

– Obrigada.

Por mais estranho que fosse pegar carona com um desconhecido, era bom chegar ao trabalho mais rápido.

Thad me dirigiu um sorriso torto.

– Sem problemas.


Naquela noite, contei a Mase sobre Jimmy ter viajado e Thad ter me dado carona. Ele não pareceu animado, mas não lhe perguntei por quê. Éramos amigos, nada mais. Em vez disso, li dois capítulos para ele. Pouco antes de desligarmos, ele perguntou se eu já estava de pijama.

– Sim – respondi, olhando para a calça de moletom cortada e a camiseta.

Ele suspirou e então riu.

– Desculpe. Não pude evitar. Boa noite, Reese.

– Boa noite, Mase.

– Bons sonhos.

Ele não tinha ideia de quanto seriam bons.


Mase

Meu café estava passando e eu não tinha vestido nada além do jeans quando uma batida na porta perturbou minha rotina matinal.

Contrariado, imaginando que fosse Major chegando uma hora mais cedo, fui lá e abri bruscamente a porta, pronto para fuzilá-lo com o olhar. Mas era Cordelia.

Ela não tinha telefonado nem aparecido desde que eu a mandara para casa fazia quase um mês. Não recuei para deixá-la entrar, porque no passado tudo o que fazíamos juntos tinha a ver com sexo e eu não ia mais transar com ela. Não quando meus sentimentos em relação a Reese estavam cada vez mais profundos.

– Estou apaixonada por você – despejou ela, os olhos se enchendo de lágrimas.

Santo Deus, eu não precisava disso hoje. Nem em qualquer outro dia. Cordelia não deveria jamais se apaixonar por mim. Tínhamos feito sexo. Só isso. Nada de carinhos e beijos, apenas trepávamos.

Cacete.

– Cordelia, eu sinto muito. Mas começamos isso sabendo que era só um lance de sexo. Não sabia que você tinha sentimentos mais profundos ou que estava começando a tê-los. Eu teria interrompido há muito tempo, se soubesse.

Ela fungou e seus ombros se curvaram, num gesto de derrota.

– Então você realmente não sente nada? Nada mesmo?

Caramba, eu sentia prazer quando gozava. E, sim, eu aproveitava o corpo dela, mas era isso. Nada de sentimentos. Neguei com a cabeça, odiando magoá-la.

– Não. Para mim era apenas sexo. Pensei que para você fosse só isso também.

– Tem outra pessoa? – perguntou. – É por isso que você não quer mais me ver?

Não sabia como responder. Reese não era da conta dela, mas era a razão para eu pôr um ponto final naquela história.

– Estou sentindo algo por outra pessoa, sim.

Pronto, falei. Ela cobriu a boca ao soluçar.

– Então você se envolveu com outra pessoa enquanto estava trepando comigo?

Fiz que não com a cabeça, deixei escapar um grunhido frustrado. Eu só queria um café. Não isso.

– Não me envolvi com ninguém... ainda – disse a ela. – Mas isso não importa. Eu quero me envolver. Estou esperando por ela.

Cordelia soltou uma risada seca e limpou as lágrimas que escorriam pelo rosto.

– Então a mulher disposta a lhe dar tudo não é suficiente. Você quer a que resiste, é isso? Deus, eu odeio os homens! Vocês são todos uns babacas! – Cordelia gritou a frase final. E apontou para mim. – Você vai se arrepender. Quando precisar de mim, vai se arrepender. Todo aquele sexo ardente que a gente fez foi fantástico, e você sabe disso. Você vai me querer outra vez, e eu não vou dar para você. É isso, Mase. Você teve sua última chance.

Eu não tinha resposta para isso. Observei-a dar meia-volta, ir até sua caminhonete e entrar. Fechei a porta de casa e torci para que ela mantivesse a palavra e que esse fosse mesmo o fim. Não poderia passar por aquilo de novo e deixá-la agir assim. Odiava magoá-la, mas Cordelia estava forçando a barra.

Meu telefone começou a tocar e eu olhei cheio de vontade para o café na cafeteira. Eu queria muito aquele café. Frustrado, peguei o telefone. Por que não me deixavam em paz? Droga, eu só queria uma manhã tranquila.

O nome de Harlow se iluminou na tela.

– Você está bem? – perguntei, pensando que algo pudesse ter acontecido. Ela nunca ligava tão cedo.

– Imaginei que você já estivesse de pé. Grant acabou de me contar algo antes de ir para o trabalho, algo que ele escutou ontem e que eu achei interessante. Queria compartilhar com você.

Estava quase com medo de ouvir. Ela parecia tramar algo. Dava para perceber na voz dela. Qualquer que fosse a informação que tivesse, Harlow estava um pouquinho empenhada demais em me contar.

– São sete da manhã, Harlow. Acabei de levantar e preciso de um café – resmunguei enquanto me servia uma xícara.

– Beba seu café, rabugento. Posso contar o que sei enquanto você bebe.

– Tudo bem – concordei, ouvindo apenas parcialmente o que ela dizia. Estava mais concentrado no líquido escuro na caneca à minha frente.

– Sabe Thad, aquele amigo de Woods Kerrington? Ele levou e buscou Reese no trabalho esta semana.

Essa era a novidade? Revirando os olhos, fui lá fora desfrutar o café.

– Já sei disso – informei a ela.

– Ah. Bem, sabe que ontem ele a convidou para sair neste fim de semana e ela aceitou?

Minha mão parou em pleno ar, a caneca diante dos lábios. Que merda era essa?

– Reese vai sair com Thad? – perguntei, baixando a caneca, ainda sem ter certeza de que fora isso mesmo que eu ouvira.

Reese ficava nervosa com homens. Thad era um mulherengo. Já tinha visto o cara em ação. Era exatamente o tipo de sujeito que eu sabia que Reese não gostaria de ter por perto. Como assim?

– Quem contou isso a Grant? – perguntei, esperando o desfecho.

Tinha que ser piada.

– O próprio Thad. Ele a convidou quando a levou para o trabalho ontem de manhã e ela aceitou. Grant disse que ele parecia um garotinho que tinha acabado de ganhar um brinquedo novo. Ele queria que eu conversasse com Reese sobre Thad. Ele é um galinha, sabe, e Grant não quer que ele magoe Reese. Mas achei melhor contar para você. Já que você é amigo dela, talvez possa ligar para ela e avisá-la.

Ela estava sendo maliciosa. Sabia que isso ia me deixar puto. Harlow me conhecia bem demais. Sem chances de Reese sair com Thad. Se ela queria sair com alguém, então ia sair era comigo.

– Obrigado. Preciso ir. Falo com você mais tarde.

– Tudo bem, mas você vai falar com ela, não vai?

Quase ri de sua falsa preocupação. Ela sabia muito bem que eu não ia deixar aquele encontro acontecer.

– Vou falar com ela – respondi, desligando o telefone.

Engoli o café e deixei que ele queimasse minha garganta. Precisava comprar uma passagem e então chamar Major para que ele assumisse tudo que eu largaria para me assegurar de que Thad mantivesse suas mãos de playboy longe do que era meu.


Reese

Por que fui dizer sim a Thad? Ele me fazia rir e era legal, mas eu não queria sair com ele. Só não sabia como dizer não. Não queria ser grosseira. Ele foi tão prestativo a semana toda, e, depois do constrangimento do primeiro dia, parecíamos ter chegado a um bom termo.

Por sorte eu não precisava trabalhar hoje, assim não teria que vê-lo. Mas, amanhã à noite, quando ele aparecesse para sair comigo, não haveria como escapar. Quase contei a Mase, mas algo me segurou. Só porque eu tinha uma queda por Mase, não significava que o interesse fosse recíproco. Mesmo que ele gostasse de saber quando eu estava de pijama, isso não significava que quisesse me ver usando roupas íntimas.

A ideia fez minhas bochechas ficarem quentes.

Pare com isso, me repreendi. Eu tinha que pensar sobre o que havia combinado com Thad. Um encontro. Um encontro de verdade. Com um cara rico e atraente. Ah, não. Em que eu havia me metido? Não podia fazer isso.

Hoje era a noite em que Jimmy tinha planejado sair comigo, num encontro de casais, até que aconteceu o tiroteio. Então ele viajara e agora só voltaria no domingo. Eu havia falado com ele duas noites atrás. Quando percebi que ele não estaria de volta a tempo para esse encontro duplo, me senti aliviada por ter me livrado. Então me acontece essa.

Mase me ligaria hoje à noite. Será que eu devia comentar com ele? Provavelmente não. Ele não me falava de seus encontros. Será que ele tinha encontros? E se tivesse? Nesse caso, ele voltava para casa cedo, porque conversávamos todos os dias mais ou menos por volta das dez.

Olhei para minha camiseta e minha calça de moletom cortada e suspirei. Estavam mesmo muito surradas, mas eram macias e confortáveis. No mundo de Mase, as mulheres usavam sedas e rendas caras. Eu não tinha nada nem remotamente sexy para vestir na cama. Até Mase, eu nunca havia desejado algo assim. Ele tinha mudado muitas coisas em mim. Talvez ele até tivesse sido o motivo de eu ter dito sim a Thad.

Uma batida forte e aguda na porta me assustou, e eu larguei o telefone no sofá e me levantei para ver quem era. Não estava esperando ninguém, e desejava sinceramente que não fosse Thad me fazendo uma visita. Não quando eu planejava conversar com Mase por telefone nessa noite.

Espiei pelo olho mágico e arquejei.

Como se fosse um sonho, lá estava ele diante de minha porta. Seu rosto parecia determinado, e o cabelo estava puxado para trás de modo que eu podia ver a linha firme de seu maxilar. Ele estava aqui. O choque foi substituído pela preocupação, enquanto eu destrancava e destravava a porta e finalmente a abria.

– Mase, está tudo bem? – perguntei.

Ele me encarou. Começou a se mover na minha direção, mas parou.

– Não. Posso entrar? – pediu, tenso.

Concordei com a cabeça e recuei um passo para que ele entrasse.

– O que aconteceu? – perguntei, com medo de escutar a resposta. Ele estava nervoso.

Mase entrou e seu olhar percorreu meu corpo de cima a baixo, e então tornou a subir. Muito lentamente. Quando retornou ao meu rosto, havia um brilho nele que me fez estremecer.

– É melhor do que imaginei. E acredite, gata, imaginei você nesta roupa muitas vezes.

Ele parecia acariciar as palavras em vez de pronunciá-las. Seu tom soturno me fez estremecer outra vez. Eu não conseguia falar. Não agora. Ele me roubara as palavras com aqueles olhares.

– Não quero que você saia com Thad – disse ele com firmeza, me arrancando de meu estranho torpor.

Seu maxilar estava cerrado com força outra vez, e aquele brilho estranho nos seus olhos havia voltado.

– Como você sabe? – perguntei a ele. E por que se importa?, pensei comigo mesma.

– Ele contou para Grant – respondeu ele.

Isso explicava tudo.

– Eu estava dando tempo a você. Você parecia assustada. Eu não queria pressioná-la. Mas, se vai sair com alguém, vai ser comigo, Reese. Não com o playboy do Thad.

Ele disse a última frase num grunhido que me sobressaltou.

– Ele não conhece você. Não saberá interpretar suas expressões para entender se você gosta ou não de algo. Não saberá quando algo que ele fizer a deixar pouco à vontade ou quando você estiver precisando de ajuda para ler alguma coisa. Ele não saberá que você tem duas risadas diferentes. Uma é a real e a outra é de nervosismo. Ele não saberá nada. Mas eu sei.

Mase Manning estava mesmo tentando me convencer a sair com ele? Ele achava que precisava de “argumentos de venda” para que eu cedesse?

– E ele cometerá um erro. Ele fará alguma coisa que vai magoar você, e eu vou matá-lo. Não sou um cara violento, mas, se ele magoasse você, eu perderia a cabeça. Perderia mesmo. Assim, no meu entender, você precisa cancelar o encontro com ele e fazer novos planos. Comigo.

Antes que ele fizesse qualquer outra tentativa de me convencer, eu sorri.

– Tudo bem.

Ele abriu a boca e depois fechou. Em seus olhos passou um brilho que só podia ser entendido como prazer, então ele deu um passo na minha direção.

– Tudo bem? – perguntou.

Assenti com a cabeça.

– Sim. Tudo bem – repeti.

Um sorrisinho ergueu um canto de sua boca linda.

– Tudo bem quer dizer que você vai cancelar o encontro com Thad e fazer novos planos comigo? Para o fim de semana todo?

O fim de semana todo. Ele estava aqui para ficar o fim de semana todo? Assenti, incapaz de me segurar e não sorrir ainda mais intensamente. Eu ia passar o fim de semana inteiro com Mase. Ele tinha vindo para ficar comigo.

Comigo!

Mase eliminou a distância entre nós, ergueu as mãos e tomou meu rosto entre elas. Meu corpo se retesou, mas relaxou quase imediatamente. O cheiro dele chegou até o meu nariz e isso me tranquilizou.

– Vou beijar você agora, Reese. Não consigo mais me segurar – falou ele, e sua respiração foi um sopro sobre meus lábios antes que a maciez daquela boca carnuda tocasse a minha.

Ele foi delicado ao beijar de leve os cantos da minha boca, antes de a ponta de sua língua deslizar por meu lábio inferior, como se me pedisse para abri-los. Eu tinha visto pessoas se beijarem. Tinha noção de que se abria a boca, mas isso me parecia muito íntimo. Não sabia se estava pronta para isso. Ou se faria direito.

– Abra a boca para mim, por favor – pediu, e percebi que provavelmente eu faria qualquer coisa que ele me pedisse.

Abri a boca – e arquejei quando sua língua deslizou para dentro e roçou a minha, como num desafio para que eu correspondesse ao movimento. O gosto dele era de menta. Um gemido surdo veio de seu peito e uma de suas mãos foi até a base das minhas costas e pressionou, me trazendo mais para perto, enquanto ele entrelaçava os dedos em meu cabelo, chegando até minha nuca. A maneira como ele me segurava era diferente. Ele era cuidadoso comigo.

Sua língua continuou provocando a minha, então deslizei a língua pela dele e comecei a explorar o gosto de menta de sua boca. Quando minha língua correu sobre seu lábio inferior, a mão nas minhas costas se fechou. Mase soltou um arquejo e estremeceu.

Então repeti a dose.

Dessa vez, um murmúrio de prazer saiu de sua garganta. Ele então interrompeu o beijo e encostou a testa na minha.

– Eu sabia que você seria doce. Mas, caramba, gata, você tem o sabor do paraíso.

Meu peito se encheu de alegria e eu sorri. Não tinha feito nada errado. Ele gostara tanto quanto eu.

– Podemos repetir? – perguntei, descansando minhas mãos nos bíceps dele.

Um risinho fez vibrar o peito dele.

– Sim. Podemos nos beijar quanto você quiser.

Seus lábios roçaram os meus outra vez e aumentaram a pressão, fazendo os meus se abrirem. Saboreei a sensação de tocar nele com essa intimidade. As mãos dele descansavam em minha cintura e, sempre que eu brincava com sua língua ou seus lábios, elas me apertavam por breves segundos.

Meu corpo inteiro formigava, e eu queria subir no colo dele e ficar assim a noite inteira. Eu estava gostando, e fiquei impressionada por estar gostando tanto. Meus seios doíam, e meu corpo instintivamente se apertava contra o dele para encontrar alívio.

No instante em que meu peito pressionou o dele, Mase se afastou alguns centímetros. O beijo tinha chegado ao fim.

Ele me observava como se não estivesse certo de como lidar comigo. E agora me mantinha afastada dele.

– Preciso saber onde posso e onde não posso tocar – disse ele, quase sem fôlego. – Sei que certas coisas a deixam hesitante e nervosa. Observei você bastante, sou bom em leitura corporal. Mas você está me confundindo, Reese.

Sem me perguntar sobre o meu passado, ele me mostrou que tinha percebido alguma coisa. Algo que me assombrava. E estava sendo cuidadoso para não me assustar. Aquela partezinha do meu coração sobre a qual eu ainda pensava ter domínio escapou. Mase Manning agora o possuía completamente.

– Gostei do que estávamos fazendo – falei, com a esperança de que todo o amor que eu sentia por aquele homem não estivesse reluzindo em meu rosto como o luminoso raio de sol que aquecia em mim tudo aquilo que há tempos estava frio.

Mase sorriu e então balançou a cabeça.

– É, percebi que você gostou de beijar. Mas ao chegar mais perto e apertar esses doces...

A voz falhou quando seu olhar se fixou no meu peito, e ele deixou escapar um breve gemido antes de me olhar nos olhos.

– Minhas mãos vão querer explorar o seu corpo. Faz algum tempo que venho fantasiando sobre ele. Preciso saber aonde minhas mãos podem e não podem ir.

Ele vinha fantasiando comigo? Ah, meu Deus.

Aonde ele podia ir? Meu coração o queria por toda parte, mas eu sabia que minha cabeça podia não concordar. O problema é que eu não tinha certeza sobre o que me descompensaria. Até ali, o que estávamos fazendo não era nada parecido com o pesadelo que eu vivera. Era maravilhoso. Ajudava a conter as lembranças horríveis. Eu queria mais na esperança de que enterrasse o passado.

– Que parte de mim você quer tocar? – perguntei.

Seus olhos voltaram ao meu peito.

– Queria começar aqui – disse ele num sussurro rouco.

Meus peitos começaram a formigar e os mamilos a doer, como se soubessem que estavam chamando a atenção daquele homem lindo e gostassem dessa ideia. Estavam tão despudorados quanto eu. Assenti, e ele estreitou os olhos enquanto mantinha seu olhar quente fixo no meu peito, que agora arfava. Era difícil respirar de tão excitada que eu estava com a perspectiva de sentir as mãos de Mase em mim.

Ele deu um passo em minha direção e seu olhar expressivo tornou a encontrar o meu. Acho que parei de respirar no momento em que ele levantou o braço e eu senti o calor de sua pele quando sua mão cobriu meu seio, que clamava por contato.

Deixei escapar um arquejo, e ele me estudou com atenção, não se mexendo até que eu voltasse a respirar normalmente. Ou tão normalmente como se pode esperar quando seu peito está sendo acariciado pelo homem por quem você está apaixonada. Seu polegar roçou meu mamilo, e eu me agarrei aos seus bíceps para me equilibrar. Os olhos dele estavam agora fixos no meu peito. Com o polegar, ele descreveu círculos em torno do meu mamilo, provocando-o, me fazendo emitir uns ruídos que eu nunca havia feito antes.

Quando sua outra mão se moveu em minha direção, tive que fechar os olhos e respirar fundo, com medo de desmaiar. Assim como a primeira, essa mão cobriu delicadamente o outro seio e então começou a se concentrar no mamilo. De repente eu odiava aquela camiseta com a qual eu adorava dormir. Ela estava no meio do caminho. Mas a ideia de Mase tirá-la e olhar meus seios nus era tão assustadora quanto excitante.

– Está bom assim? – murmurou ele, quase reverente.

– Sim – respondi.

– Quero beijar você outra vez enquanto a toco – falou, estudando meus lábios. – Podemos nos deitar na sua cama?

Minha cama. Isso era mais. Muito mais. Mas eu tinha Mase na minha cama todas as noites. Mesmo que só pelo telefone.

– Sim – permiti, antes que surtasse e mudasse de ideia.

A mão esquerda dele deslizou pela minha barriga e pelo quadril, e então ele segurou a minha mão. Ele não disse mais nada ao me conduzir até a porta do quarto. A luminária ao lado da cama era a única luz do ambiente.

Ele soltou minha mão e se sentou na beirada da cama. Observei, fascinada, Mase tirar as botas e colocá-las no chão, sem nunca tirar os olhos de mim.

– Venha aqui – chamou, mexendo o indicador.

A essa altura, ele podia me mandar pular de uma ponte, e eu tinha certeza de que perguntaria a ele de qual.

Ele pegou minhas mãos e me puxou para seu colo.

Sentei-me em suas pernas, de frente para ele, com os joelhos apoiados na cama. Ele inclinou a boca para encaixar na minha, e todos os pensamentos sobre os meus bloqueios desapareceram quando ele me beijou novamente. Os milagres que ele podia produzir com a língua. Enlacei seu pescoço com os braços e relaxei de encontro ao seu corpo... até que a rigidez que eu recordava do passado começou a me pressionar. Então eu fiquei paralisada.

Sem aviso, as lembranças voltaram, me desafiando. Estremeci e saltei do colo dele, me afastando, com medo de que ele visse o horror nos meus olhos. Que ele soubesse exatamente quanto eu era suja. Eu não queria sujá-lo. O que eu estava pensando? Eu não podia fazer isso. Mase era tão bom, tão legal e gentil. Ele não me conhecia. Ele achava que sim. Mas não fazia ideia.

– Volte para mim, Reese. Não deixe seus pensamentos saírem daqui – pediu, pegando minhas mãos e me segurando. – Olhe para mim, gata.


Mase

A expressão destroçada e aterrorizada no rosto dela me deixou fisicamente mal. Eu nunca iria querer ser a razão para que uma sombra baixasse sobre ela.

– Por favor, Reese, olhe para mim. Nos meus olhos. Concentre-se em mim. Em nada mais – encorajei-a, enquanto segurava suas mãos com firmeza, permitindo que mantivesse certa distância entre nós.

Meu impulso inicial tinha sido apertá-la com força nos braços e ficar assim. Mas aquele olhar me deteve. Ela piscou várias vezes, e seu olhar foi clareando à medida que ela fazia o que pedi. Ela estava de volta para mim. Os demônios que a atormentavam tinham sido afastados.

– Desculpe – murmurou, com a voz cheia de emoção.

– Não. Nunca se desculpe. Nada é culpa sua. Comigo você não tem que pedir desculpas.

Seus ombros se curvaram, num gesto de derrota, e ela parecia estar à beira das lágrimas. Eu não ia deixar que isso acontecesse. Não agora. Não depois de ela ter me dado tanto, ter confiado tanto em mim.

– Posso só abraçar você? Nada além disso. Só me deixe abraçar você.

Era para ser uma pergunta, mas soou como uma súplica.

Ela assentiu e deu um passo em minha direção. Eu a puxei para mim e a abracei. Lentamente seus braços deslizaram pela minha cintura e ela se agarrou em mim com muita força.

Não falamos nem nos mexemos. Apenas ficamos ali, abraçados, por vários minutos enquanto eu me certificava de que ela estava aqui e ia ficar bem. Eu estaria ali, ao lado dela, até isso passar. O que quer que fosse isso.

Dei um beijo no topo de sua cabeça e então encostei minha bochecha em seus cachos sedosos. O cheiro doce de creme e canela que eu adorava me envolveu, e fechei os olhos, desejando poder apagar tudo de mau que já lhe acontecera.

– Eu o odeio. Não sei quem ele é, mas o abomino com todas as minhas forças – murmurei junto ao seu cabelo.

Ela ficou tensa em meus braços por um instante, e então seu corpo relaxou enquanto ela me agarrava mais forte, como se buscasse segurança e conforto em mim. Eu podia dar isso a Reese. Mesmo que ela não estivesse pronta para que eu lhe desse outras coisas, eu podia lhe dar paz.

– Está tarde. Você precisa ir para cama – falei, desejando apenas me deitar naquela cama com ela. Mesmo que fosse apenas para dormir.

– Você... você vai ficar comigo esta noite? – pediu contra o meu peito.

– Não há outro lugar em que eu queira estar.

Ela se afastou e eu a deixei ir. Ela foi até a cama, puxou as cobertas e enfiou-se embaixo delas. Então deu tapinhas no lugar ao lado dela.

– Durma aqui. Ao meu lado.

O desejo dela era uma ordem. Deitei-me ao seu lado, mas me mantive sobre as cobertas. Como estava totalmente vestido, não precisava mesmo me cobrir. Estendendo o braço, olhei para ela, deitada de lado, me observando.

– Venha aqui – chamei, e ela imediatamente se aninhou no meu braço.

Passei o braço em torno do ombro dela e a mantive junto a mim. Olhando para o teto, me perguntei como voltaria para casa no domingo de manhã. Deixá-la não seria fácil. Não gostava da ideia de ela ali sozinha.

A necessidade de protegê-la se tornara uma coisa arraigada e possessiva dentro de mim. Eu pensava nela o tempo todo e tudo o que eu desejava era que ela estivesse em segurança. Queria ela comigo. Não queria que mais ninguém a tocasse ou confortasse. Apenas eu.

Eu deveria resolver os problemas dela. Era eu quem deveria abraçá-la quando ela chorasse. Ficava louco só de pensar em outra pessoa fazendo por ela algo que eu deveria estar fazendo.

Essa garota estava me deixando maluco. Com ela, eu ficava sem chão. Eu não sabia por que tinha essa necessidade insana de pegá-la e fugir com ela. Isso não podia ser saudável. Eu sempre fora protetor com Harlow e minha mãe. Mas afora elas duas, ninguém era tão importante assim para mim.

Até agora. E Reese tinha um espaço só dela em minha vida.

Por que ela? Por que me afetava assim? Já tinha visto corpos sensuais e sorrisos lindos antes. Era mais que a aparência física. Mulheres bonitas só me interessavam para uma coisa. Reese tinha alcançado algo mais profundo em mim e segurado com firmeza, desde o momento em que entrei na sala de jogos e a encontrei sentada no chão cercada de cacos de vidro.

Na verdade, eu ficara puto com o espelho, por tê-la machucado. Quem fica puto com um objeto?

– Mase? – Sua voz suave soou junto ao meu peito.

O sangue em minhas veias se aqueceu e correu mais rápido com o som do meu nome em seus lábios. Ao menos era a sensação que eu tinha. Meu corpo todo reagia a ela.

– Sim – respondi, enrolando delicadamente um cacho de seu cabelo sedoso no dedo.

– Foi meu padrasto – falou, tão baixinho que eu quase não escutei.

Tudo dentro do meu peito pareceu se revolver até formar nós. Doía respirar. Santo Deus, aquilo doía muito. Tive que forçar o ar para os pulmões enquanto a realidade do que ela acabara de admitir se assentava. Uma raiva diferente de tudo o que eu experimentara até então me tomou e pela primeira vez na vida eu desejei matar um ser humano. Não, queria torturá-lo lentamente antes. Ouvi-lo gritar em agonia. Depois, sim, ia assistir à morte dele.

– Mase? – A voz de Reese me chamou outra vez e eu inspirei profundamente, colocando de lado a vingança e o ódio que sentia por um homem que eu não conhecia.

Minha garota precisava de mim agora. Ela não precisava me ver perdendo a linha. Ela havia me confiado aquilo.

– Sim, gata – respondi.

– Eu odeio ele também.

Aquelas quatro palavras acabaram comigo.

– Vou fazer você esquecer isso tudo. Juro por Deus que vou, Reese. Um dia, tudo que você vai lembrar é de mim e de nós juntos. Eu juro.

Ela virou a cabeça e beijou meu peito, e então se aconchegou mais em mim.

– Eu acredito em você.


Reese

Levei alguns segundos para acordar completamente e lembrar que não estava sozinha em casa. Mas não precisei abrir os olhos para perceber que estava sozinha na cama. Pude sentir a ausência de Mase. O calor dele não estava mais ali.

Mas ele estava em outro cômodo. O cheiro do café tomava conta do pequeno apartamento. E a voz de Mase, embora estivesse falando baixinho, passava pela porta fechada.

Escovei os dentes e penteei o cabelo rapidamente antes de ir para a sala e encará-lo depois da noite passada. O fato de ele ainda estar ali me deixava impressionada. Ele viera para me impedir de sair com Thad. E, em troca, eu surtara com ele ao fazer algo tão simples como beijar e trocar carícias.

Abri a porta para entrar na sala, e meus olhos seguiram direto para a figura alta e perfeita de pé diante da janela, de costas para mim. Ele estava no telefone. Ainda vestia o jeans e a camiseta da noite anterior, mas sua bolsa de viagem estava no sofá. Ele tinha vindo preparado.

– Prefiro não ir, Harlow. Gosto de Tripp e tudo o mais, só que vir neste fim de semana não estava nos meus planos, e não vim por causa da festa dele. Prefiro fazer outras coisas esta noite – disse num tom de voz frustrado, ainda que continuasse falando baixinho.

Seu maxilar se mexia enquanto ele escutava o que a irmã estava dizendo. Parecia que ela realmente queria que ele fosse a uma festa nessa noite. Comecei a dizer que ele deveria ir.

– Tudo bem. Eu vou se Reese quiser ir. Mas, se ela não quiser, faremos outra coisa. Fim de papo. Eu te amo, mas agora preciso ir. Eu ia tentar fazer um café da manhã antes de ela acordar.

Fechei a boca e fiquei olhando, surpresa, para as costas dele. Ele queria me levar? A uma festa, com seus amigos? E ele estava fazendo café da manhã para mim? Não gritar que eu o amava foi difícil, porque, depois de escutar essa conversa, eu queria abrir a janela e contar para todos os vizinhos que estava apaixonada por esse homem.

Ele se virou, e seu olhar se fixou no meu. Um sorriso sexy surgiu lentamente em seus lábios, e eu tive quase certeza de que poderia desmaiar ali mesmo.

– Preciso ir. Ela acordou – disse ele ao telefone, e pôs fim à ligação.

Fiquei exatamente onde estava, incapaz de me mover, com o brilho e o calor daquele olhar percorrendo meu corpo lentamente de cima a baixo e tornando a subir.

– Até acordando você é linda – disse ele num tom gentil.

– Obrigada. – Foi minha resposta boba. Não sabia o que dizer.

– Está com fome? Eu ia fazer um levantamento do que temos para preparar um café da manhã – disse ele, dirigindo-se para a cozinha. – Já fiz o café.

– Certo, mas eu posso preparar o restante. Faço waffles muito gostosos.

Eu o segui até a pequena área da cozinha. Ele me olhou por cima do ombro.

– Waffles? Você ganhou. Só sei fazer ovos e torradas.

– Então sente-se ali, porque nós dois não cabemos nesta cozinha.

Ele estava servindo mais café em sua caneca. Então se virou e saiu do cantinho que eu chamava de cozinha. Eu confesso que estava olhando seu traseiro naqueles jeans. Mas tive que levantar rapidamente a cabeça quando ele se virou para mim.

Um sorriso de quem sacou a situação iluminou seu rosto e ele voltou alguns passos na minha direção e colocou a caneca de café na bancada.

– Vou admitir algo que acho que você deveria saber. Sou um pouco troglodita. A ideia de você cozinhar para mim me excita.

A voz dele ficou mais baixa quando ele disse as últimas palavras, então ele inclinou a cabeça e me deu um selinho.

Eu estava pronta para uma nova rodada de beijos, se ele estivesse. Fiquei na ponta dos pés, ávida. Eu tinha 1,75 metro de altura, mas Mase tinha pelo menos 1,90 metro. Ele fazia com que eu me sentisse baixinha.

Sua mão deslizou para a base das minhas costas e me puxou para ele um segundo antes de sua boca se abrir e eu poder me deliciar com seu gosto de menta. Tirei as mãos dos braços dele e a pus no pescoço para me ajudar a ficar um pouco mais na ponta dos pés.

Mase colocou as mãos no meu traseiro e o segurou, e, por um momento, ficamos ambos imóveis. Ao notar que o pânico não veio, cheguei mais perto, e Mase arquejou, então me puxou mais para cima, segurando minha bunda.

Justamente quando eu me preparava para explorar mais seus lábios, ele interrompeu o beijo e respirou fundo.

– Reese, gatinha, eu tenho um fraco por essa sua bunda. Desde o primeiro dia. E agora que estou com as mãos nela, preciso de um minuto para me acalmar, sem essa sua boquinha quente me dando ainda mais tesão – disse ele numa voz rouca que me fez tremer.

Baixei a cabeça para esconder meu sorriso. Ele gostava da minha bunda. Ela era muito grande, mas ele gostava. Não pude deixar de sorrir.

– Estou vendo esse sorriso – provocou, apertando minha bunda e gemendo. – Caramba... isso é muito gostoso – disse na minha orelha. – Ou eu levo você para o sofá e continuo agarrando a bunda mais deliciosa do mundo enquanto a beijo ou deixo você fazer aqueles waffles. Você escolhe. Quero o que for confortável para você.

Esse homem e as palavras dele me faziam sentir derretida e dengosa por dentro. Além do mais, quem precisa de café da manhã?

– O sofá – murmurei e ele soltou um grunhido satisfeito ao me levantar do chão.

Enrolei as pernas na cintura dele e ele manteve as mãos na minha bunda. Em três longos passos estávamos afundando no sofá. Senti a pressão rígida sob a minha bunda, e ele ficou imóvel.

Eu não ia entrar em pânico. Era Mase. Era Mase.

Mantive os olhos vidrados naquele rosto bonito e observei fascinada quando seus olhos cintilaram de um jeito tão sexy e urgente que tremi nas bases.

– Você pode tirar as pernas e ficar de lado no meu colo, se sentir que o que você faz comigo a deixa nervosa.

A voz dele era tensa, como se ele estivesse sentindo dor.

Mudei de posição, montando nas pernas dele como se eu cavalgasse. Como na noite anterior. Se eu reclinasse, sentiria a ereção dele. Mas eu sentia um formigamento ali que não havia antes. A ideia de pressionar esse ponto me excitou.

As mãos de Mase apertaram a minha bunda e ele soltou o ar pesadamente pelo nariz, enquanto mantínhamos os olhos fixos um no outro. Lentamente deixei meu peso cair sobre o colo dele. A haste rija do pênis dele se encaixou direitinho no espaço entre minhas pernas e eu arfei bem alto quando uma fagulha tão gostosa que quase chegava a doer disparou pelo meu corpo a partir do meio das minhas pernas.

Mase engoliu em seco com tanta força que pude escutar. Sua respiração agora estava pesada e as mãos dele seguravam com mais força o meu traseiro.

– Você está bem? – perguntou ele, numa voz que fazia parecer que ele estava sentindo dor.

– Estou machucando você? – perguntei, horrorizada.

Eu nem havia pensado se aquilo seria gostoso para ele. Comecei a me levantar, e as mãos dele imediatamente foram para minhas coxas, me mantendo onde eu estava.

– Não. Não. Não faça isso. É... cacete, gata. Não sei explicar com palavras – disse ele, e em seguida soltou uma gargalhada forte, enquanto recostava a cabeça no sofá e olhava para o teto. – Preciso de outro minuto.

As mãos dele apertaram minhas coxas enquanto ele ficava ali sentado. Admirei a espessura do pescoço dele. Ele parecia musculoso. Pescoços tinham músculos?

Sentindo-me encorajada, me inclinei para a frente e beijei seu pescoço. Suas mãos pressionaram minhas coxas, mas esse foi o único movimento que ele fez. Então o beijei novamente e inspirei seu perfume, que me lembrava couro e natureza. Meu corpo devia gostar desses dois cheiros, porque eu tive que fazer força para baixo para me aliviar da dor pulsante entre minhas pernas.

– Gata... – murmurou baixinho.

– O que foi? – perguntei, provando o gosto da pele dele com a ponta da língua.

– Cacete – grunhiu, e então eu me vi sendo afastada dele.

Suas mãos estavam na minha cintura, e ele me colocou no sofá enquanto se levantava e afastava o mais rápido que podia.

Eu estivera tão perdida nele que não percebi o que estava acontecendo até que o vi parar e pôr as mãos nos joelhos. Observei enquanto ele respirava fundo várias vezes antes de voltar a ficar de pé. Tive medo de fazer perguntas. Esperei que ele dissesse algo antes.

Pareceu transcorrer uma eternidade até ele finalmente se virar e olhar para mim. Eu havia juntado os joelhos à minha frente e abraçado minhas pernas. Alguma coisa estava errada. Fiquei esperando que ele me dissesse o que era exatamente.

– Eu sinto muito. Eu... Você é... – Ele parou e começou a rir de si mesmo, então sacudiu a cabeça, frustrado. – Eu quero você nua, Reese. Quero minhas mãos e minha boca nesse seu corpinho lindo. Quero fazer você se dobrar para que eu possa beijar aquela pinta que eu sei que está bem embaixo da sua nádega esquerda, a que eu vi no dia em que nos conhecemos. Fui brindado com sua bunda perfeita voltada para cima, à mostra, e sonho com essa sua bundinha desde aquele dia. Mais do que isso, porém, quero que você sempre se sinta segura ao meu lado. Quero ir bem devagar com você, para nunca mais ter que ver aquela expressão assombrada nem aquele horror nos seus olhos novamente. Então devemos ter mais momentos em que você esfrega essa... – Ele fechou os olhos e respirou pelo nariz – ... quando você se aperta de encontro a mim e me toca de um jeito que me deixa tão doido que fico com medo de perder o controle e tocá-la onde você ainda não está pronta para ser tocada.

Ouvi-lo dizer que queria me beijar e tocar em mim nua fez meu coração disparar outra vez, num misto de medo e excitação. A sensação entre minhas pernas ainda estava lá. Havia uma espécie de dor urgente que me fez lembrar de uma vez, quando eu era bem mais nova e um garoto de quem eu gostava na escola me levou para um canto e me tocou, dizendo que eu era linda.

Depois que ele me ignorou e deixou que a namorada me xingasse de coisas horríveis no dia seguinte, aquela sensação nunca mais voltou. Então aconteceram outras coisas que fizeram qualquer excitação naquela parte do meu corpo morrer. Só de lembrar o passado, a sensação dos braços de Mase em mim já se apagava.

Quando levantei, estava aliviada por aquela sensação ter ido embora e triste porque a sessão de beijos com Mase tinha acabado.

– Então acho que é hora do café da manhã – concluí, forçando um sorriso.

Mase estava me estudando cuidadosamente, e eu não queria que ele pensasse, nem por um minuto, que eu estava aborrecida com ele. Ele estava fazendo isso por mim. Ele se importava o suficiente para deixar de lado as próprias necessidades e ser gentil comigo. Isso me fazia amá-lo ainda mais.

– Você entende? – perguntou ele, a voz cheia de preocupação.

Um sorriso verdadeiro formou-se em meus lábios quando olhei para ele.

– Eu entendo. Obrigada. Coisas assim só me fazem confiar mais em você.


Mase

Não era assim que eu queria passar minha última noite com Reese. Eu não sabia dizer quando teria outro fim de semana para ficar com ela. Havia passado a maior parte da manhã olhando para o teto, abraçado com ela, pensando em meios de convencê-la a ir comigo para o Texas. Estava pronto para levá-la para minha casa. Eu tinha chegado a esse ponto, e a gente nem sequer havia transado ainda.

Por sorte, a noiva de Tripp Newark Montgomery, Bethy, não era uma das garotas formais de Rosemary Beach que exigiam black-tie em todas as festas. Ela trabalhara por anos no Kerrington Club com a tia. Ela tinha organizado um evento cujo tema era festa na praia.

Olhei para Reese, que segurava meu braço com firmeza. Ela estava de biquíni por baixo do vestido de verão, e eu podia ver as tiras aparecendo. Roupas de banho eram o traje recomendado.

Depois da cerimônia arrojada que inaugurou o novíssimo hotel cinco estrelas de Tripp, todos estavam indo para a piscina do Kerrington Club, que mais parecia uma ilha tropical com quedas-d’água e palmeiras.

– Parece que minha esposa também consegue fazer você obedecer a suas ordens – disse Grant com um sorriso, vindo até nós. – Olá, Reese. Fico contente que meu cunhado tenha bom gosto.

– Olá, Sr. Carter – cumprimentou, com uma voz que denunciava quanto ela estava nervosa.

Grant franziu a testa.

– Você está saindo com Mase e lanchando com minha mulher. Pode me chamar de Grant. Por favor. – Ele voltou a atenção para mim. – Vai ficar mais tempo por aqui?

Reese ficou tensa ao meu lado, mas apenas por um segundo. Se não estivesse tão ligado em cada reação dela, eu não teria percebido.

– Preciso ir embora amanhã. Deixei as coisas meio bagunçadas por lá – admiti.

Grant riu, e os olhos dele se voltaram para a minha esquerda.

– Sim, soube que você foi rápido e tomou o lugar de Thad esta noite. No momento ele está bebendo sofregamente e tem uma mulher em cada braço. Sinal de que está se recuperando.

Nem me dei o trabalho de olhar. Não duvidei de Grant.

– Onde está Harlow? – perguntei, mudando de assunto.

– Está dando mamadeira para Lila Kate. Eu me ofereci, mas ela disse que eu é que precisava estar aqui, mostrando a cara, não ela.

– Tenho que dizer que gosto deste clima descontraído. Acho que Harlow não conseguiria me trazer aqui se fosse uma ocasião formal.

Grant riu como se não acreditasse em mim.

Uma atendente apareceu com uma bandeja de taças de champanhe. Peguei duas e entreguei uma a Reese.

– Está com sede?

Ela sorriu e olhou para a taça e depois para mim.

– O que é isso?

– Champanhe – respondi, incapaz de desviar os olhos do rosto dela.

Cada nova expressão de Reese era para mim algo a ser gravado na memória.

– Nunca tomei champanhe – falou baixinho.

– Acho que você vai gostar. Experimente.

Ela colocou a taça nos lábios e seus olhos continuaram fixos nos meus enquanto ela provava a bebida rosada. Seus olhos se acenderam de prazer e excitação. Ela gostou. E observar sua experiência era maravilhoso. Era só uma bebida, mas Reese fazia tudo ser uma aventura.

– É bom mesmo. Me dá cócegas no nariz.

Havia vários lugares dela em que eu queria provocar cócegas. Mas guardei esse pensamento para mim. Olhando para o lado, percebi que tinha me esquecido de Grant, mas ele já se afastara de nós.

– Oi, eu sou Della. Você deve ser Reese.

Virei-me para ver Della Kerrington, esposa de Woods, sorrindo para Reese. Della era uma boa pessoa. Eu me senti seguro com ela se aproximando de Reese. Ela também não vinha daquele mundo ali, embora agora fosse a esposa do dono do Kerrington Club.

– Sim, sou eu. É um prazer conhecê-la – disse Reese, menos nervosa dessa vez.

Parecia que apenas os homens a faziam se retrair.

– É um prazer conhecê-la também. Ouvi Harlow falar muito bem de você.

Os olhos de Reese se arregalaram, e ela olhou para mim rapidamente antes de sorrir para Della.

– Ah, bem, eu adoro trabalhar para a Sra. Carter. Eles são realmente uma família linda.

Harlow detestaria o fato de Reese ainda achar que deveria chamá-la de Sra. Carter. Mas eu não a corrigi, embora tenha notado uma faísca de confusão nos olhos de Della. Ela não esperava que Reese fosse tão formal sobre sua relação com minha irmã.

– Sim, eles são – disse Della, sorrindo. – Espero encontrar você em outras oportunidades. – Ela me dirigiu um olhar repleto de cumplicidade. – Divirtam-se, vocês dois. Preciso resgatar meu marido do Sr. Hobes. Com licença.

Ela dirigiu-se apressadamente até Woods, que escutava um velho senhor falar e parecia desejar estar em outro lugar.

– Ela é linda – disse Reese, observando Della se afastar.

– Não reparei – respondi, e então a puxei para mais perto.

Thad vinha em nossa direção com suas duas garotas, uma de cada lado. Não sei o que ele queria, mas não deixaria que dissesse ou fizesse qualquer coisa que embaraçasse Reese.

Ele também precisava entender: ela era minha.

O cabelo de Thad estava preso atrás das orelhas, e seus olhos não estavam vidrados ou vermelhos pelo excesso de bebida. As garotas ao lado dele já tinham abdicado de vestidos ou cangas, diferentemente de todos os outros e estavam de biquíni.

A mão de Reese pegou meu braço mais firme no segundo em que notou a presença dele. Eu a apertei contra mim e dirigi um olhar de advertência para Thad. Ele só sorriu para mim, como se eu estivesse exagerando.

– Reese, Mase, espero que estejam se divertindo – disse Thad, mostrando seu sorriso de idiota com covinhas.

Desejei que Reese não tivesse uma queda por covinhas.

– Sim, obrigada. É um lindo lugar para um hotel – disse Reese, com sinceridade.

– Eu não pensei em vir, mas, já que meus planos para a noite fracassaram, pensei em trazer uma dupla para me entreter – disse ele, com uma piscadela, então fez algo com a garota à sua direita que a fez dar um gritinho e rir.

– Dá para ver que você está arrasado com esses planos fracassados. Se nos dão licença, quero apresentar Reese a Blaire e Rush – falei, colocando uma mão possessiva na base das costas dela.

Não esperei que ele respondesse. Eu vira Rush e Blaire chegando fazia alguns minutos e sabia que Blaire seria uma pessoa tranquila de se conversar; além disso, ela era praticamente parte da família. O pai de Rush e o meu eram da banda de rock Slacker Demon. Ainda que Rush tenha crescido mais naquele mundo do que eu, sabíamos o que era ter pais idolatrados pelo mundo todo.

Rush também não olharia para Reese como se quisesse tirar uma casquinha. Porque eu esganaria Thad se tivesse que vê-lo cobiçando Reese mais um segundo sequer.


Reese

Quando Mase me apresentou a Rush Finlay, as coisas se encaixaram. Manning e Finlay. Rush era o filho de Dean Finlay. Era por isso que Mase o conhecia. Os pais deles. Uau! Se Mase não parecia ser filho de um deus do rock, Rush definitivamente parecia. Do piercing na língua, que brilhava quando ele falava, às tatuagens nos braços e no pescoço, passando pela absoluta confiança que irradiava, tudo em Rush Finlay gritava a quem quisesse ouvir que ele era um dos filhos do Slacker Demon.

Sua mulher, Blaire, era o tipo de beldade que deixava você sem fala por um instante, sem ter certeza se ela era real. Seu cabelo louro quase branco a deixava angelical. Havia uma gentileza em seu sorriso que a tornava ainda mais celestial, mas, quando abria a boca, ouvia-se um sotaque anasalado sulista mais forte que o de Harlow. Não pude deixar de sorrir. Ela não era modelo nem estrela de cinema – e era linda o suficiente para ser qualquer uma dessas coisas, isso era inquestionável –, mesmo assim era o tipo de garota que eu esperava ver nos braços possessivos de Rush Finlay. Ela combinava com ele. Mais do que qualquer outra pessoa.

Conversei com Blaire sobre Harlow e Lila Kate. Ela também me perguntou sobre Jimmy, que me dera o telefone dos Finlays depois que a faxineira deles se aposentara, mas em nenhum momento Blaire falou sobre a possibilidade de eu fazer faxina para eles. De certo modo, fiquei feliz, pois isso só me lembraria de quanto eu não me encaixava naquele ambiente. Mas, por outro lado, eu me perguntava se ela já teria contratado outra pessoa. O dinheiro de mais um trabalho não me faria mal.

Uma coisa que estava ficando mais difícil ignorar eram as mulheres dando em cima de Mase. Ele parecia não notar, mas mesmo as garçonetes lançavam a ele olhares dando a entender que estavam disponíveis.

Se Mase podia ficar com qualquer uma... por que estava comigo?


Duas horas mais tarde, a inovadora cerimônia estava terminada, e a festa havia se mudado para o Kerrington Club. E infelizmente, agora que as mulheres estavam circulando de biquíni, pareciam se atirar ainda mais em cima de Mase. Várias tinham ido abertamente até ele e o convidado para nadar ou dançar. Ele havia casualmente declinado das ofertas, mas era como se eu não estivesse ali. Eu ainda não tinha tirado meu vestido, porque não me sentiria à vontade de biquíni na frente de tanta gente. Mas comecei a pensar que talvez devesse fazer isso se quisesse manter a atenção de Mase.

Vi Blaire do outro lado da piscina, e ela ainda estava com a blusa e a saia de antes. Não estava se exibindo em seu traje de banho. Também não parecia preocupada com as mulheres que lançavam olhares de cobiça para o seu marido.

Mas ela era casada com Rush.

E esse era o meu primeiro encontro com Mase.

– Quer beber alguma coisa? – ofereceu Mase.

A mão deslizou por minha cintura enquanto ele se curvava e murmurava em meu ouvido.

– Sim, por favor – respondi, precisando de algo para me distrair.

– Fique aqui. Vou encarar o bar. Mais champanhe? Ou outra coisa?

Eu não queria ficar ali. Não podíamos esperar um garçom passar com uma bandeja? Mas acho que ele não queria os drinques frutados que eram servidos assim.

– Champanhe está ótimo – respondi.

Ele apertou a lateral do meu corpo.

– Já volto.

Como eu temia, as mulheres aproveitaram a oportunidade e se aproximaram dele no momento em que se afastou de mim. Ele era educado e não parecia interessado, mas ainda assim era difícil ver aquilo. Afinal, aquelas garotas não ficariam nervosas quando ele as tocasse. Elas transariam com ele atrás de uma palmeira lá fora se ele quisesse. Era com isso que eu precisava competir.

Além disso, eu tinha um lado sombrio e feio em meu passado, que eu nunca seria capaz de contar totalmente para Mase. Elas não tinham esse tipo de problema. Eram livres para usufruir de seus corpos e fazer os homens felizes. Eu me senti enjoada.

Uma loira se pendurou em Mase e beijou a bochecha dele. Ele a afastou gentilmente, mas continuou a falar com ela enquanto pegava nossas bebidas. Eu não conseguia olhar aquilo. Procurei voltar a atenção para qualquer outro lugar. Harlow e Grant já tinham ido embora com Lila Kate; não ficaram muito tempo na festa. Não havia ninguém mais ali que eu conhecesse. Mase me apresentara a várias pessoas, mas eu não as conhecia de fato.

Eu não queria olhar para Mase. Também estava pensando em tirar meu vestido. Mas aquelas mulheres tinham corpos muito mais bonitos que o meu. Eram magras, sem nenhum recheio extra nos traseiros. E seus seios eram bonitos, redondos e perfeitamente posicionados. Nem muito grandes, nem muito pequenos.

Tirar meu vestido talvez fosse uma má ideia. Pelo menos se eu ficasse de roupa, Mase não teria a chance de ver exatamente como meu corpo era imperfeito. Meu Deus, eu detestava pensar assim. Eu nunca me comparava com outras mulheres. Pelo menos não no passado. Agora eu estava fazendo isso.

Meu olhar voltou para Mase. Ele segurava duas bebidas e vinha na minha direção. A loira tinha sumido. Ele parecia incomodado. Torci para que não fosse por estar ali comigo, podendo transar nesse momento com várias mulheres lindas e dispostas.

Eu podia perdê-lo.

Tão facilmente.

E tinha acabado de conquistá-lo.

Ao chegar, me entregou o champanhe e disse:

– Quando terminar, vamos embora? Queria ficar a sós com você. Já cumpri meu dever e mostrei a cara por aqui.

Tive a tentação de virar o copo e sorver toda aquela bebida rosada e borbulhante de uma vez. Também estava pronta para ir – antes que ele recebesse uma oferta irrecusável. Estava feliz por seu rancho ficar no Texas. Não imaginava que houvesse herdeiras lindas e magras como modelos se jogando em cima dele por lá.

– Sim. Quero ir quando você quiser – admiti.

Mase estudou meu rosto por um momento, e então pegou o champanhe da minha mão.

– Compro uma garrafa no caminho se você quiser mais. Vamos embora – disse ele, colocando a taça na mesa mais próxima e deixando sua bebida ali, também intacta.

A mão dele pousou na base das minhas costas e ele me guiou através da multidão até onde os manobristas estavam.

Quando entramos em sua caminhonete, Mase pegou minha mão, entrelaçando os dedos aos meus.

– Obrigado por me acompanhar hoje à noite. Só vim porque Harlow achou que eu devia dar as caras, já que estava na cidade. Ela é amiga de Bethy e Tripp. Que bom que tive você comigo. Tornou a noite suportável.

Esse homem e suas palavras. Quase me fez esquecer de como era difícil observar as mulheres flertarem com ele toda vez que ele respirava. No entanto, ele não dava bola para elas. Eu não via nele um paquerador. Não era seu estilo. Mas isso não significava que ele não gostasse da atenção delas. Como não gostaria? Eram lindas e disponíveis.

– Gostei de conhecer seus amigos – falei.

Ele apertou minha mão.

– Eles gostaram de conhecer você.

Quis perguntar de onde ele conhecia a loira que o abraçou e beijou. Mas mantive a boca fechada.

– Quer que eu pare e compre mais champanhe? – perguntou ele, com um tom divertido na voz.

Sacudi a cabeça negativamente e ri.

– Gosto de ouvir você rir. Isso não aconteceu muito esta noite – disse ele, acariciando minha mão com o polegar. – Você riu mais hoje quando estávamos só nós dois.

– Eu estava ocupada demais assimilando aquilo tudo.

– Obrigado por não ter tirado o vestido.

Por que ele disse isso? Estava preocupado com minha aparência sem o vestido?

– Se você tivesse tirado, acho que sairíamos ainda mais cedo, porque eu teria perdido as estribeiras. Não gosto da ideia de outros homens olhando o que é meu.

Opa. Ok. Eu era dele? Ah... nossa.

– Pensei em como reagiria se você tivesse querido nadar. Fiquei tentando inventar desculpas para manter essa bundinha linda coberta.

A sensação entre as minhas pernas recomeçou. Ouvi-lo chamar meu traseiro de bundinha linda me excitava, pelo visto. Gostava de senti-lo tocando minha bunda. Eu me contorci no assento quando a mão dele apertou a minha.

Não dissemos mais nada. No momento em que ele estacionou a caminhonete perto do meu apartamento, o ar estava quente, e eu respirava pesadamente. Olhando para Mase, vi sua mandíbula cerrada com firmeza. Sua mão ainda segurava forte a minha.

Quando ele desligou o motor e finalmente soltou minha mão, abriu a porta e saiu tão rápido que pareceria que o carro estava pegando fogo. Observei-o vir com passos largos até o meu lado da caminhonete para abrir a porta. Eu ia sair, mas ele me impediu, me encurralando.

Suas narinas inflaram quando ele se aproximou mais de mim e em seu rosto cintilou um olhar sedento que compreendi na hora. Meu corpo inteiro parecia febril, mas suas mãos tocavam apenas meus quadris. Sua cabeça baixou até meu ouvido, e ele correu o nariz de cima a baixo por meu pescoço.

– Meu Deus, seu cheiro é tão bom... Eu poderia cheirar você para sempre e ficar feliz com isso.

Agarrei-me aos ombros dele. Palavras assim, vindas de Mase Manning, faziam uma garota perder a cabeça.

– Quando a gente entrar, quero tirar esse vestido. Quero ver você de biquíni. Por favor. Não vou pedir mais nada. Só me deixe olhar e tocar você... Só um pouquinho.

Meu corpo parecia tão quente que eu estava pronta para tirar tudo ali mesmo para ele, mas sabia que, no momento que fizesse isso, entraria em pânico. A realidade viria à tona. Consegui concordar com a cabeça e deixei que me ajudasse a descer do veículo. Ele beijou minha boca de uma forma ardente e impetuosa, mais agressiva que das outras vezes. Retribuí aquele beijo. Não era um de seus doces e suaves, mas era excitante.

Quando afastou a boca, ele praguejou e então me levou até o apartamento, abriu a porta e me conduziu rapidamente para dentro.

Antes que eu pudesse recuperar o fôlego, suas mãos agarraram a barra do meu vestido.

– Só vou tirar isso aqui. Só isso. Só preciso te ver – murmurou no meu ouvido, mas não se mexeu até eu concordar com a cabeça.

Quando dei o sinal verde, ele levantou o vestido lentamente. Quando estava na altura da minha bunda, ele gemeu. Levantei os braços, e ele o tirou. Não me mexi. Sabia o que ele estava olhando e fechei os olhos com força. Não olhava minha bunda no espelho fazia muito tempo. Havia uma boa chance de que estivesse com celulite. Desejei profundamente que não estivesse. Eu ainda caminhava bastante. Tinha certeza de que ter caminhado a vida inteira era uma razão para minha bunda não ter ficado imensa.

A ponta do seu dedo roçou a parte inferior da minha nádega esquerda, e eu arquejei, mas não me mexi. Ele estava me tocando. Muito levemente.

– Você tem uma pinta bem aqui. Adoro essa pinta. A pinta mais linda do mundo – disse ele, com voz rouca.

Então ouvi um movimento e olhei para trás, vendo-o se ajoelhar. Comecei a me virar, mas suas mãos me seguraram pela cintura e me mantiveram parada.

– Por favor, Reese. Não. Ainda não – implorou.

Então fiquei quieta.

Seu hálito quente pairou sobre a minha pele, e eu estremeci. Saber que o rosto dele estava tão perto de qualquer parte do meu corpo era excitante, mas aquilo era quase demais. Então seus lábios roçaram o ponto que ele tocara, e eu soltei um grito sufocado de choque e prazer.

– Eu tinha que beijá-la – disse ele, pressionando os lábios naquele ponto da pele novamente. Então sua mão deslizou pela minha bunda, e ele a apertou, delicadamente. – Juro, Reese, essa bunda é a perfeição – disse ele num tom reverente. – Estou muito feliz que você não tenha ficado de biquíni na frente de outros homens esta noite. Essa bunda é minha. Não quero que outras pessoas vejam este suculento pedacinho do céu.

Fechei os olhos bem apertados. Eu estava mesmo deixando-o se ajoelhar atrás de mim e brincar com a minha bunda? Meu coração estava disparado, e o calor que se espalhava pelo meu corpo estava no ápice.

Mase deslocou uma parte da calcinha, para que uma extensão maior da minha bunda estivesse exposta, e me beijou ali. Ah, meu Deus, ele estava beijando o meu traseiro.

– Até aqui seu cheiro é delicioso. Posso sentir quanto você está excitada. É uma boa mistura com o cheiro de creme e canela que você exala.

Eu precisava me agarrar a alguma coisa para não derreter e me transformar numa poça. Meus joelhos se dobraram um pouco e as mãos de Mase seguraram com mais firmeza minha cintura enquanto ele se punha de pé, ainda atrás de mim. Sem recolocar minha calcinha no lugar, ele deslizou o corpo pelo meu.

Mase beijou meu ombro, então afastou o cabelo do meu pescoço e correu o nariz pela curva da minha orelha.

– Não quero fazer nada para o que você não esteja pronta. Mas quero tocá-la. Só isso. Nada mais. Você está pronta para isso? Se não estiver, tudo bem. Posso ficar só olhando.

A última parte pareceu ter sido arrancada dele, contra a sua vontade.

Todas aquelas mulheres se jogando em cima dele, e ele queria a mim. Ele me escolheu. Eu podia deixar que ele me tocasse. Eu ainda não havia entrado em pânico, e, nesse momento, tudo em que eu conseguia pensar era em Mase e em como ele se sentia. Como ele fazia com que eu me sentisse.

– Sim – respondi, parecendo sem ar.

Ele correu um dedo pelo meu pescoço e o enrolou com um cacho do meu cabelo.

– Obrigado. Por confiar em mim. Você não é obrigada a isso, e saber que você gosta do meu toque é a coisa mais bonita que alguém já me deu.

Ele não começou a tocar meu corpo. Em vez disso, ficamos ali, com ele brincando com meu cabelo e continuando a explorar meu pescoço e minha orelha com os lábios e o nariz. Lentamente, fui me recostando nele à medida que meu corpo relaxava com suas carícias.

– Seu cabelo parece seda – murmurou. – E sua pele. – Ele correu a mão pelo meu braço e pela nádega que deixou descoberta. – Acho que estou obcecado por seda – acrescentou.

Comecei a me contorcer quando sua mão voltou a subir, vindo até a frente e parando na minha barriga.

– Vire para mim e me deixe ver você – disse ele, dando um passo para trás.

Eu respirava pesadamente e sabia que ele podia perceber isso. Mas ficar de frente para ele tornava esse momento mais real. Eu poderia vê-lo enquanto ele me olhava.

Seu olhar varreu meu corpo de cima a baixo, lentamente, e depois tornou a subir. Havia no rosto dele uma veneração que me fez sentir querida. Importante. Protegida.

Três coisas que eu jamais havia sentido.

Eu não ia chorar.

Ele se aproximou e pousou a ponta dos dedos na minha barriga, traçando o contorno do umbigo. Então suas mãos estavam em mim, subindo vagarosamente até roçarem a parte inferior dos meus seios. Com um dedo ele mergulhou no decote, explorando o espaço entre os seios.

– Quero vê-los nus e nas minhas mãos – disse ele, erguendo os olhos até os meus, num pedido mudo.

Arquejei, mas não de medo. Eu também queria aquilo. Meus mamilos doíam muito e a área ao redor dos dois formigava.

– Ok – respondi, sabendo que ele não faria nada até que eu dissesse que podia.

Ele deslizou as mãos até minha nuca e soltou o nó de cima do biquíni, e depois o de trás. O sutiã caiu no chão, e meus peitos saltaram, livres.

– Uau, eles são incríveis – sussurrou ele, tomando os dois seios nas mãos, os polegares brincando com meus mamilos. – Posso sentir o gosto deles? – Mais uma vez sua voz parecia implorar.

– Sim – sussurrei, agarrando seus braços para o caso de meus joelhos fraquejarem por completo.

Mase grunhiu e baixou a cabeça. Então sua língua roçou meu seio direito. De seu peito veio um gemido prazeroso antes que ele colocasse o mamilo inteiro na boca e o sugasse.

Minhas pernas amoleceram e eu gritei quando um raio de prazer atravessou meu corpo.

Mase me segurou antes que eu caísse e me carregou para o sofá, afundando nele comigo em seu colo. Ele beijou meus lábios enquanto eu ofegava, ainda tonta de sentir sua boca em meu peito.

Uma de suas mãos ainda apertava meu seio, e eu queria sua boca neles outra vez.

– Posso sentir o gosto deles de novo?

Assenti, desejando empurrar a cabeça dele para meus seios e nunca mais deixá-lo tirá-la de lá.

A boca quente de Mase sugou o outro mamilo e gritei de novo, agarrando o cabelo dele com as mãos. Temi machucá-lo, mas eu precisava me segurar em algo. Suas mãos seguravam meus seios enquanto ele os beijava e até mordiscava. Gemi e gritei seu nome, segurando a cabeça dele contra o meu corpo. Queria que aquilo durasse para sempre.

A aflição era tão intensa agora que eu não podia evitar me contorcer e contrair as pernas. Queria algo que parasse aquilo. Eu precisava fazer parar.

– Abra as pernas. Vou fazer com que melhore – disse ele num tom exigente que me surpreendeu.

Não estava certa de que queria aquilo. Se abrisse minhas pernas, sabia que ele iria me tocar ali. Meu corpo pedia aquilo, mas minha cabeça me dizia que iria doer. Eu estava suja ali.

– Por favor, Reese. Me deixe cuidar de você. Você está tão molhada que eu posso sentir seu cheiro, gata. Isso está me enlouquecendo. Vou beijá-la lá, se você deixar. Qualquer coisa, gata. Faço qualquer coisa por você. Qualquer coisa mesmo.

Ele parecia desesperado.

Eu o amava.

Não queria perdê-lo para alguma mulher a quem ele não precisasse implorar.

Queria fazê-lo feliz.

Empurrei o medo para o fundo da mente e abri as pernas apenas o suficiente para que sua mão passasse. Delicadamente ele as abriu um pouco mais, e prendi a respiração quando sua mão deslizou pela minha coxa.

Lutei contra o pânico. Tentei contê-lo. Quem estava ali era Mase. Ele era bom para mim. Eu o amava.

Então um dedo deslizou para dentro da calcinha do biquíni, e a sensação de desejo desapareceu no momento em que as memórias desabaram sobre mim. Eu ia vomitar.

Não conseguia fazer aquilo. Ah, meu Deus, eu não conseguia.

Empurrei a mão dele, levantei-me de um salto e corri para o banheiro. Eu não podia vomitar.

Abrindo a torneira, joguei água fria no rosto várias vezes e fiquei dizendo a mim mesma repetidamente que estava tudo bem.


Mase

Nunca odiei ninguém tanto quanto a mim mesmo naquele momento. O único homem que eu odiava mais era o maldito padrasto dela. Com medo de tocá-la, fiquei parado atrás dela enquanto ela jogava água fria no rosto e dizia em voz baixa: “Você está bem. Está tudo bem. Você está bem. Está tudo bem.”

A cada “bem”, eu tinha a sensação de que meu peito estava sendo dilacerado.

Minha cabeça me dissera diversas vezes para parar. Eu estava indo longe demais. Mas não conseguia parar de tocá-la. Ela era tão gostosa. Ver o rosto dela enquanto eu lhe dava prazer era como usar uma droga. Eu queria mais e mais.

No fim, porém, eu a assustara. Eu estava pedindo demais.

Mas não estava disposto a perdê-la. Faria qualquer coisa que ela quisesse. Só não podia perdê-la.

Depois do que pareceu uma eternidade, ela fechou a torneira e pegou uma toalha para secar o rosto. Respirou fundo várias vezes antes de largar a toalha e se virar para mim.

Eu tinha começado a me desculpar quando sua boca formou um biquinho e ela irrompeu em lágrimas. Merda!

Sem esperar, puxei-a para os meus braços. Eu não sabia o que dizer. Não sabia se ela estava chorando por minha causa e pelo que eu fiz ou se estava chorando por causa da sua reação.

– Está tudo bem, querida. Estou aqui com você. Está tudo bem – garanti, tentando confortá-la.

Odiava os soluços que faziam seu corpo tremer nos meus braços.

– Me descu-u-u-ulpe. – Ela chorou alto.

Droga. Peguei-a no colo, levei-a até a cama e me sentei com ela ainda nos braços. Recostei-me na cabeceira da cama e a segurei como se fosse um bebê, aninhando-a junto ao peito.

– Eu disse para não pedir desculpa. Nunca. Sou eu quem deve se desculpar, Reese.

Ela agarrou minha camiseta e chorou ainda mais forte.

– Sou problem-m-má-á-á-á-tica – soluçou. – Você nã-ã-ão te-e-em que fica-a-a-ar com uma garota com proble-e-e-ma. – Ela soltou um uivo, como se estivesse chorando por uma morte.

Por Deus, jurei, se um dia eu encontrasse o homem que fez isso com ela, ele ia pagar.

Aninhei a cabeça dela sob meu queixo e a envolvi em um abraço ainda mais forte.

– Você é perfeita. Tão perfeita que eu chego a ficar sem ar. Estou completamente obcecado por você. Você é tudo que me interessa, Reese. Não há nenhum problema em você. Por favor, nunca mais quero ouvir você dizer uma coisa dessas. Quero que veja a si mesma do mesmo jeito que eu a vejo. Essa beleza deslumbrante que me deixa completamente fascinado. Uma sobrevivente. Forte. Divertida, gentil e honesta. Uma pessoa que não julga os outros. Que aceita as pessoas como elas são. Que nunca espera nada em troca, mas distribui beleza de graça ao mundo à sua volta. É essa pessoa que eu vejo, Reese. Essa é você. Veja-se assim também, querida. Por favor, veja-se assim também.

Seu choro diluiu-se em fungadelas, mas sua mão em minha camiseta apertou ainda mais. Observei-a finalmente reclinar a cabeça para trás para me encarar, com os olhos vermelhos e inchados. Mesmo nesse momento, ela estava maravilhosa.

– Você acha isso... de mim?

Dei um beijo em sua testa.

– Sim, eu acho.

Ela começou a dizer alguma coisa, mas de repente seu corpo se retesou. Só então ela percebera que ainda estava sem sutiã. Com um movimento rápido, tirei a camiseta e a deslizei por sua cabeça. Não queria que ela saísse de onde estava. Ainda não.

Ela me ajudou, passando os braços pelas mangas. A camiseta era grande demais para ela, mas vê-la vestida com minha roupa ativou minha natureza possessiva.

– Obrigada – disse ela, cruzando os braços sobre a barriga, como se estivesse se aninhando na camiseta.

Gostei disso também.

– Pedi demais esta noite. Foi culpa minha. Vou ser mais cuidadoso no futuro. Juro. Por favor, não deixe de confiar em mim – supliquei, precisando que ela acreditasse em mim.

Ela franziu a testa.

– Você me perguntou, pediu permissão a cada gesto. Eu poderia ter dito não. Não foi culpa sua.

Mas foi.

– Da próxima vez que você quiser mais, vai ter que pedir. Não vou forçar outra vez. Eu juro.

Assim nós dois saberíamos que ela queria.

Ela suspirou e cobriu o rosto com as mãos.

– Queria não ser assim.

Eu também. Mas por razões diferentes. Queria que ela não tivesse pesadelos com o passado. Odiava o fato de ela sofrer com algo tão horrível. Caramba, eu odiava o fato de ela sofrer, e ponto.

– Você vai dormir abraçado comigo esta noite, como da outra vez?

– Nem precisa perguntar, Reese. Minha resposta para você será sempre sim.


No fim da manhã seguinte, deixei Reese de pé, na porta, vestindo minha camiseta. Foi a coisa mais difícil que já tive de fazer. Não queria deixá-la. Eu a queria comigo.

– Use a minha camiseta à noite. Gosto de saber que você estará com alguma coisa minha quando eu não estiver aqui.

Ela assentira e me deixara beijá-la antes de eu pegar minha bolsa e voltar para o Texas.


Reese

Na manhã de segunda-feira, Jimmy estava na minha porta com dois cappuccinos. Fiquei tão contente de vê-lo que o abracei forte antes de pegar minha deliciosa dose de cafeína.

– Você voltou. Está melhor? Já está conseguindo dormir?

Ele abriu um sorriso para mim. Adorava atenção.

– Sim, estou bem. Tive algumas noites difíceis, mas estou melhor. Vi que tiraram a fita de isolamento.

Confirmei com a cabeça. Tentava não pensar nos tiros. Do pouco que vira no noticiário, soube que Jacob estava detido sem direito a fiança. Seria julgado por homicídio. E os pais de Melanie tinham vindo buscar o corpo para enterrá-la em Iowa.

– Estou feliz que você esteja de volta.

– Sentiu minha falta, é? Ótimo. Soube que você partiu o coração de Thad enquanto eu estava fora. Mas como o motivo foi Mase Manning, devo dizer que foi uma jogada inteligente, gracinha. Thad pode ser bonito e ter a bunda mais dura que eu já vi, mas ele gosta de mergulhar o pinto numa mulher diferente a cada noite. Nada a ver com você.

Franzi a testa, e então ri de como Jimmy descreveu Thad.

– Mais informação do que eu preciso, mas tudo bem.

– Beba esse cappuccino, querida, porque você vai precisar. Soube que a bruxa louca está de volta. Chegou de Paris ontem à noite. Prepare-se. Nannette é uma megera, uma megera diabólica. Ela vai olhar para você e ficar puta. Não reage bem quando há uma mulher mais gostosa do que ela por perto, e, gata, você é imbatível.

Eu estaria mentindo se dissesse que não tinha curiosidade de conhecer Nan. Ela era irmã de Mase. Mas eu também precisava contar a ela sobre o espelho. Mase não havia mais tocado no assunto, mas eu sabia que devia contar a Nan o que acontecera. Sempre que limpava aquele salão, via o espaço vazio e temia o momento de contar a ela o que tinha feito.

Havia uma boa chance de Nan me demitir. Estava me preparando para isso também. Mas eu ia ligar para Blaire Finlay essa tarde e ver se ficava com a faxina da casa dela. Se eu fosse despedida da casa de Nan, ao menos não sofreria um corte na minha renda.

Peguei minha mochila e segui Jimmy até o carro dele.

– Como é que você ficou sabendo sobre Thad? – perguntei.

Jimmy sorriu, como se soubesse dos segredos mais guardados do mundo.

– Recebi uma ligação de Mase ontem à noite. Ele queria ter certeza de que eu estava em casa e que ia levar você ao trabalho. Ele também me explicou que precisava saber da próxima vez que eu saísse da cidade ou quando não pudesse levar você. Ele não queria que Thad fosse minha primeira opção. Disse que faria os arranjos. – Jimmy ergueu as sobrancelhas. – Claro que, depois desse telefonema bastante intimidador, liguei para Blaire e perguntei a ela o que tinha acontecido. Ela não sabia detalhes, então ligou para Harlow, que obviamente sabia. Então Blaire me ligou de volta e me deu o serviço.

Não pude deixar de rir.

– Não acredito que você ligou para Blaire Finlay e perguntou o que ela sabia.

Jimmy riu e ligou o carro.

– Blaire já era minha garota antes de se tornar uma Finlay. Mesmo casada com o gostoso, supersexy e fodão Rush Finlay, ela ainda é minha garota.

Pela maneira como Rush olhava para a mulher, imagino que ele não gostaria de ouvir ninguém chamá-la de “minha garota” – nem mesmo Jimmy, que aparentemente cobiçava o corpo de Rush, apesar de ele ser marido de sua amiga.

– Agora me conte: tem algum detalhe saboroso sobre Mase que você possa compartilhar?

Pensei na noite passada e no quanto ele me fez sentir prazer. Mesmo depois de eu surtar e estragar o momento, ele fora muito suave e doce.

– Eu o amo.

Pronto, falei. Precisava dizer isso a alguém.

Jimmy meteu o pé no freio e olhou para mim. Ainda bem que ainda não tínhamos saído do estacionamento.

– Você não acabou de dizer isso.

Dei de ombros.

– Não posso evitar. Não vou dizer a ele. Mas ele torna impossível não amá-lo. Ele é exatamente... exatamente o que toda garota sonha. Ele faz com que tudo que parece errado fique perfeito.

Jimmy inclinou a cabeça para trás, apoiando-a no encosto, e gemeu, frustrado.

– Gatinha, o que você está pensando? Você não pode se apaixonar por Mase Manning. Para começar, ele nem sequer mora aqui. Relacionamentos a distância não funcionam. Ele é um homem adulto, muito saudável. Vai precisar se divertir, e certamente terá mulheres se jogando em cima dele no Texas. Você não pode se apaixonar por ele. Ele é daquele tipo para se aproveitar e apreciar. Não para amar.

Meu bom humor evaporou. Senti um nó de náusea se formar em meu estômago.

Jimmy tinha razão? Provavelmente. Ele sabia muito mais sobre relacionamentos do que eu.

Mase precisava de sexo? Eu não dera isso a ele. Ah, Deus.

– Ele provavelmente tem uma mulher no Texas, talvez até duas ou três, de quem ele consegue o que quer. Você precisa saber disso, docinho. E eu aposto que você não transou com ele, não é? Não precisa responder, eu sei que não. Teria visto em seu rosto se tivesse. Isso significa que ele voltou para o Texas com tesão. Ele vai extravasar isso em algum lugar, Reese. Estes são os fatos, e eu não quero que você se machuque.

Machucar? Eu estava arrasada.

– Mas eu o amo. – Foi tudo que consegui dizer.

Jimmy estendeu a mão e apertou minha coxa.

– Eu sinto muito. Não quero que você fique chateada. Mas não precisa se manter cega a respeito disso. Ele disse que ama você?

Balancei a cabeça negativamente.

Jimmy suspirou.

– Garota, o que eu faço com você? O amor é uma das coisas com as quais é preciso ter cuidado. Proteja-se. Ainda tenho aquele amigo com quem podemos marcar o encontro.

Mase tinha dito que eu era dele. Não queria que ninguém mais me visse de biquíni. Não sabia se aquilo significava que nós éramos exclusivamente um do outro; afinal, eu não sabia de muita coisa. Mas eu não queria sair com outro cara. E achava que Mase não quisesse que eu saísse.

Se eu era dele, ele não dormiria com outra pessoa... Dormiria?

O Mase que eu conhecia não faria isso. Não acredito que ele transaria com outra pessoa. Ele não dissera que me amava, mas dissera coisas que me fizeram sentir que eu pertencia a ele... e ele pertencia a mim. Que ele queria ser meu.

– Ele disse que eu era dele – contei a Jimmy.

As sobrancelhas de Jimmy se levantaram.

– Sério? Ele disse isso? Como foi exatamente? Me diga palavra por palavra. Quer dizer, já sei que ele não queria que Thad levasse você por aí, mas imaginei que ele quisesse proteger você daquele galinha, não que estivesse reivindicando sua posse.

Não queria compartilhar com ninguém meus momentos privados com Mase. Mas também não queria cometer um erro e terminar tão completamente destroçada que não fosse capaz de me recuperar.

– Ele disse que estava feliz por eu não ter usado meu biquíni na frente de todo mundo na festa, porque ele não queria outro homem olhando para o que era dele.

Jimmy soltou um assovio baixinho.

– Talvez seja melhor você não sair com outros caras no momento. Pode ser que eu esteja equivocado. Enfim, não quero um caubói furioso vindo para Rosemary Beach pronto para matar alguém. Vamos apenas ser cautelosos, ok? Tente não se apaixonar demais. Proteja o seu coração, se puder.

Já tinha dado meu coração a Mase Manning. Não me restava nada para guardar. Mas não disse isso a Jimmy.


Mase

Quando voltei do almoço com meus pais, a caminhonete de Cordelia estava na entrada de carros da minha casa. Não era algo com que eu quisesse lidar naquele momento, nem depois. Precisava pegar minha carteira e ir para os estábulos. Já estava atrasado.

Abri a porta da casa e me xinguei por não tê-la trancado. Aparentemente, eu teria que começar a fazer isso, porque minha vizinha estava se recusando a me escutar e ficar longe.

– Cord, onde você está? – chamei ao entrar na sala e encontrá-la vazia.

– Me procure – disse ela, provocando.

Merda. Mau sinal.

Joguei minhas luvas de trabalho de lado e tirei as botas para evitar sujar a cama de lama. Então segui para o quarto, a fim de expulsar minha visitante.

De fato, lá estava ela, nua, na minha cama. Ia ter que lavar os lençóis para livrá-los do cheiro dela. Eu estava cansado dessa merda. Dessa vez Cordelia tinha ido longe demais.

– Vista suas roupas e saia.

– Não, Mase. Olhe para mim. Você já quis isso. A gente combinava tão bem. Eu quero você. Muito – disse ela, abrindo as pernas, deslizando a mão entre elas e se tocando.

– Você foi longe demais. Quero que saia da minha casa. Se eu precisar chamar minha mãe para vir tirar você, vou fazer isso – ameacei.

Imaginei que a ideia de minha mãe encontrá-la nua em minha cama seria suficiente para fazer qualquer mulher levantar e ir embora.

– Mase, não faça isso. Por favor. Estou com saudade. Preciso tanto de você. Quero que me foda, do jeito que quiser. Eu faço o que você quiser. Venha aqui, vou chupar seu pau. Você pode me sufocar com ele. Eu sei que você gosta.

– Pare com isso! – Meu grito furioso finalmente a fez calar a boca. – Estou apaixonado por outra pessoa. Ela é tudo o que eu quero. Tudo o que sempre vou querer. Então preciso que você vista suas roupas e saia da minha casa, Cord. Agora.

Eu me virei e a deixei ali, incomodado com a visão dela em minha cama. Era Reese quem devia estar ali. A doce e sexy Reese.

Eu precisaria de novos lençóis e um novo colchão antes de trazer Reese aqui. Tinha que me livrar daquelas coisas onde transei com Cordelia e com algumas outras. Reese era boa demais para estar onde elas tinham estado. Ela era especial.

Os passos de Cordelia finalmente me informaram que ela havia desistido. Quando ergui os olhos, ela estava carregando as roupas e desfilando nua pela minha casa. Caramba, será que ela não tinha nem um pouquinho de vergonha? Virei-me de costas, para que ela não pensasse que de alguma maneira eu estava olhando para ela e curtindo aquela besteira.

Quando ela bateu a porta ao sair e escutei o motor da caminhonete, finalmente deixei escapar um suspiro de alívio e fui para o quarto tirar os malditos lençóis. Por sorte, minha mãe cuidava para que eu sempre tivesse dois jogos de lençóis. Ela dizia que é bom ter um de reserva. Como sempre, minha mãe tinha razão.

Quando terminei, sabia que tinha perdido muito tempo. Teria que ir aos estábulos na primeira hora do dia seguinte. Um sujeito viria às quatro olhar um cavalo que eu estava vendendo. Precisava limpar tudo antes de ele chegar.

Major chegou da casa dos meus pais quando tornei a sair.

– Você não vai aos estábulos? – ele gritou do pé da colina.

– Não, vou esperar até amanhã de manhã. Tenho que limpar aquele quarto de milha que estou vendendo. Não fiz isso depois da corrida matinal.

Major assentiu.

– Vou indo então. Tenho que estar em San Antonio amanhã. Meu pai quer me encontrar.

Eu não o invejava. Seu relacionamento com o pai estava uma merda desde que ele dormira com a madrasta no ano passado.

– Boa sorte. – Foi minha única resposta.

Ele me mostrou o dedo do meio e seguiu para a casa dos meus pais.

Rindo, entrei na minha caminhonete.

Ainda não conseguia acreditar que o imbecil tinha transado com a madrasta. Mesmo que ela fosse só três anos mais velha que ele. Segundo as últimas notícias que tive, ela não era mais sua madrasta. E o contrato pré-nupcial que havia assinado a deixara sem nada.


Reese

Eu havia tomado o cuidado de ficar no primeiro andar e me manter em silêncio enquanto limpava. Não queria acordar a mulher que toda a Rosemary Beach me ensinara a temer. Por outro lado, hoje eu realmente tinha algo para limpar. Ela era bem bagunceira.

Passei mais de uma hora limpando o que parecia ser uma garrafa de vinho que explodira sobre o piso da cozinha. Estilhaços de vidro se espalharam pelo chão e havia bebida seca e grudada por todo lado. Armários, piso, bancadas – tudo. Quando consegui limpar aquela bagunça, pude lavar os pratos e os copos que encontrei espalhados pelo andar.

Então encontrei pilhas de roupas no chão da lavanderia. A maioria delas parecia limpa e eu tinha certeza de que quase todas as sujas precisava ser lavada a seco. Pelo visto ela tinha simplesmente despejado o conteúdo das malas no chão. Precisei de outra hora para separar as de lavagem a seco das outras e então coloquei as brancas na máquina.

Quando o primeiro andar estava brilhando e eu conseguira organizar a lavanderia, já passava do meio-dia. Decidi que podia continuar sem fazer barulho e trabalhar nos quartos mais distantes do dela no segundo andar. Ela estaria dormindo no terceiro piso. Eu sabia qual era o quarto dela.

Os quartos intocados foram fáceis. Só tive que aspirar, varrer e esfregar. A rotina de sempre. Quando cheguei ao salão de jogos, tremi, pensando no espelho que eu teria que contar que quebrara. Havia copos vazios por lá também. Aparentemente ela já sabia que o espelho desaparecera. Ela devia ter recebido convidados. Sobras de comida estavam espalhadas pelos pratos e ainda havia restos de diferentes bebidas nos copos. O chão estava cheio de lixo.

A pior parte foi a camisinha usada num canto ao lado do sofá de couro. Nojento. Coloquei as luvas que comprara quando estava com a mão machucada e fiz um chumaço com uma grande quantidade de papel higiênico antes de pegar a camisinha e colocá-la no lixo. Pelo menos quem a usara dera um nó antes de descartá-la.

Quando terminei o salão de jogos, já eram quase três horas. Normalmente essa era a hora em que eu ia embora, mas ainda tinha o terceiro andar para limpar. E ela continuava dormindo.

Voltei ao térreo, levei o lixo para fora e separei o lixo reciclável nos coletores corretos. Então tornei a entrar e pensei em reorganizar a despensa quando ouvi passos na escada. Finalmente.

Ajeitei minha roupa e prendi o cabelo solto atrás das orelhas. Quando Nannette entrou na cozinha, ela me viu e fez cara feia, então jogou o cabelo por cima do ombro. Como previra, ela era deslumbrante. Longos cabelos louro-avermelhados desciam até as costas. Ela mal estava vestida, com uma camisola preta curta e sedosa que expunha a pele clara perfeita.

– Você é a faxineira? – perguntou ela, parecendo irritada.

– Sim, senhora – respondi.

– Por que ainda está aqui? Já passa das três. Você sempre demora assim?

– Já terminei tudo, exceto o último andar. Estava esperando a senhora acordar.

Ela torceu o nariz para mim.

– Bem, então vá limpar. Estou acordada. Não fique aí parada, me olhando de boca aberta.

Eu precisava contar sobre o espelho, mas ela não parecia nem um pouco a fim de conversa. Então subi a escada rapidamente e me concentrei em limpar tudo o que podia. Não queria que ela tivesse uma única queixa. Além do espelho.

Levei mais duas horas no último andar. Ela havia deixado o quarto em uma situação calamitosa. O resto da casa parecia decididamente imaculado.

Quando fiquei satisfeita, desci e a encontrei enroscada no sofá com o controle remoto na mão e uma xícara de café na mesa ao lado dela. Parecia mais acordada agora.

– Você demorou muito. É lenta. É bom ser mais rápida, ou não continua – disparou.

– Eu sinto muito. Farei isso – repliquei, pensando que era injusto ela supor que eu pudesse fazer mais rápido.

Ela revirou os olhos e me dispensou com um gesto da mão. No entanto, eu precisava contar a ela sobre o espelho. Aquilo me manteria acordada por várias noites até eu falar.

– Durante a sua ausência, houve um acidente quando eu limpava as janelas no salão de jogos. Eu caí e o espelho ao lado da janela que dá para o golfo caiu comigo. Ele se estilhaçou e a moldura quebrou. Eu pago por ele com o que receberia pelo trabalho. Eu sinto muito...

– Uma ova. Você vai me pagar agora mesmo. Aquele espelho custou mais de 5 mil dólares. Ele veio de Paris, como a maior parte da mobília desta casa.

Eu não tinha 5 mil dólares. Tinha economizado 2 mil, mas só. Como um espelho podia custar tanto? Eu não esperava por isso.

– Eu sinto muito. Não tenho isso tudo. Posso lhe dar 2 mil agora e trabalhar até que tudo esteja pago. É o melhor que posso oferecer – expliquei, esperando que a mulher possuísse algum tipo de empatia.

Ela me fuzilou com o olhar; aqueles olhos verdes eram implacáveis. Eu estava encrencada. Muito encrencada.

– Não, não. Vou contatar a agência e eles vão me ressarcir. Eles me mandaram uma idiota, então têm que pagar por isso.

Eu assinara um termo ao começar a trabalhar para eles de que qualquer dano ocorrido seria minha responsabilidade. Mas nunca imaginara que quebraria um espelho de 5 mil dólares.

– Eles não vão pagar. Vão me fazer pagar. É minha responsabilidade. Tudo o que tenho é...

– Nem mesmo a metade. Já ouvi isso. Vá se lamuriar com outra pessoa. Quero meu dinheiro, então se vire ou eu chamo a polícia e deixo que eles resolvam esse roubo.

A polícia. Ah, meu Deus, eu iria para a cadeia por isso.

– Eu não o roubei. Ele quebrou – comecei a explicar.

– Cale a boca! Saia da minha casa. Não há nenhuma prova de que ele tenha quebrado. Ele não está aqui. Eu quero meus 5 mil dólares por ele ou você pode explicar aos policiais que não o roubou. Agora saia da minha casa.

Eu não disse mais nada. Ela parecia pronta para explodir se eu lhe dirigisse a palavra outra vez. Não fora assim que eu imaginara essa conversa. De jeito nenhum. Já imaginava que ela fosse louca, mas pensei que ela fosse ao menos me deixar pagar o espelho.

Fui rapidamente até a porta e peguei minha mochila antes de correr para a rua principal. Para fora da propriedade dela. Eu tinha aula com o Dr. Munroe essa noite, mas não poderia ir. Precisava ir para casa e pensar no que fazer. Liguei para o professor e disse que não estava me sentindo bem, então fui andando para casa devagar.


Mase

Deu dez e meia e Reese ainda não tinha ligado, então resolvi ligar. Alguma coisa estava errada. Ela teria me ligado se estivesse tudo bem. O telefone tocou até entrar a mensagem de voz. Desliguei e tentei de novo. A mesma coisa.

Tentei dizer a mim mesmo para não entrar em pânico e liguei para Jimmy.

Ele atendeu ao terceiro toque.

– Alô...

– Você viu Reese? – perguntei, sem deixá-lo terminar.

– Sim, ela estava indo para casa a pé mais tarde do que de costume e eu dei carona para ela. Ela disse que estava com dor de cabeça e que ia tomar um banho e dormir.

Dor de cabeça era normal. Eu não precisava entrar em pânico, mas, caramba, eu queria saber se ela estava bem. Não ouvir a voz dela não era aceitável para mim.

– Vá ver como ela está. Ela não está atendendo o telefone e eu preciso saber se ela está bem. Ela pode estar doente.

Jimmy suspirou.

– Suponho que esta ordem também me obrigue a continuar ao telefone enquanto cumpro a missão.

Não me importei que ele estivesse bancando o espertinho. Eu só queria saber se ela estava bem.

– Sim, exatamente isso.

– Maravilha. Mas, se ela estiver dormindo, isso vai acordá-la.

Eu havia pensado nisso, mas não podia ficar sem saber. Fiquei imaginando ela doente no banheiro, fraca demais para chamar alguém ou desmaiada no chão. Meus medos iam ficando mais exagerados a cada segundo.

– Você é mesmo bastante protetor com ela. Daria para imaginar que os dois estão numa relação séria – provocou.

– Estamos numa relação séria e muito exclusiva. Ela não contou para você?

Jimmy pigarreou.

– Ela não estava segura sobre o que você pretendia, mas disse que não poderia me acompanhar num encontro a quatro porque achava que você não gostaria disso.

É claro que eu não gostaria. O que Reese achava que tinha sido tudo aquilo no fim de semana? Fui até lá apenas para impedi-la de sair com outra pessoa. Deixei meu interesse muito claro, repetidas vezes.

– Ela achou certo. – Foi minha única resposta.

Essa não era uma conversa que eu precisasse ter com Jimmy.

– Acho que se você não está com nenhuma outra por aí, então...

– Jimmy, você está tentando descobrir se eu estou trepando com outras mulheres aqui no Texas? Porque, se for isso e você estiver tentando proteger Reese, então saiba do seguinte: não quero ninguém mais, apenas Reese. Jamais. Então pare de me perturbar e vá checar se a minha garota está bem. Agora.

Jimmy deu uma risadinha.

– Bem, então está certo. Posso fazer isso.

Soltei um suspiro de alívio. Ela não estava pensando em encontrar outras pessoas. Jimmy só queria ver se eu estava. Eu ficaria furioso com ele, não fosse o fato de ele se importar com ela. Jimmy só estava tentando cuidar de Reese. Gostei disso.

Esperei enquanto Jimmy caminhava até o apartamento de Reese e batia na porta.

– Reese, querida. Se estiver acordada, pode abrir a porta? Estou com um caubói furioso no telefone, me impedindo de ver novela.

Esperei enquanto ouvia Jimmy bater outra vez.

– Estou ouvindo a tranca – disse Jimmy, e o pânico lentamente começou a se dissipar.

– Oi – disse a voz baixinha dela dentro do apartamento.

– Quer falar com ele? – perguntou Jimmy.

Escutei o som abafado deles sussurrando com uma mão tapando o microfone do celular. Detestei isso. Alguma coisa estava mesmo errada. Eu ia ter que largar tudo outra vez e voltar para Rosemary Beach.

– Oi, desculpe. Eu estava dormindo. Foi um longo dia. – Era a voz de Reese ao telefone, pesada de sono.

Ela não estava mentindo. Estava na cama. E ela estava bem.

– Você está se sentindo mal? Peça ao Jimmy para medir sua temperatura – sugeri, ansioso.

– Eu estou bem. Sem febre, juro. Ligo para você amanhã. Só preciso dormir esta noite. Mas não estou doente. Não me sinto doente.

Tinha alguma coisa errada. Eu podia sentir.

– Está bem. Durma então, gata. Mas vou querer ouvir sua voz pela manhã. Não vou conseguir me concentrar até saber que você está melhor.

– Eu vou ligar – garantiu.

– Boa noite. Bons sonhos – sussurrei antes de desligar.

Merda, eu não ia conseguir dormir agora. Alguma coisa estava errada e ela não ia me dizer o que era. Tinha vendido o cavalo, mas precisaria estar aqui quando o comprador viesse buscá-lo, amanhã. Ele também ia trazer o cheque para que pudéssemos terminar os trâmites burocráticos. Depois eu precisava ir aos estábulos e pegar algumas reses. Devia ter ido ontem. Agora eu estava atrasado.

Mas Reese precisava de mim, e eu não podia estar lá. Outra razão para eu querê-la aqui. Caramba, eu não podia dizer isso para ela ainda. Ela não estava pronta nem sequer para me deixar tocá-la.

Larguei o telefone e fui ao refrigerador pegar uma cerveja. Tinha uma longa noite pela frente e, se começasse a pensar em Reese daquele jeito, só ia ficar ainda mais longa.


Reese

Eu não tinha dormido um só segundo depois de Jimmy bater na minha porta. Escutar a voz de Mase e sua preocupação me provocou uma crise de choro. Então me sentei e pensei em todas as possibilidades de ganhar dinheiro, e rápido. Quando recebesse meu pagamento esta semana, teria 2.800 dólares líquidos. Ainda precisaria de mais 2.200 dólares.

Tinha medo de tentar um trabalho noturno como garçonete. Quando me estressava, ou ficava em pânico, eu ainda tinha dificuldade em decifrar as palavras. E minha escrita não era tão boa ainda. Tinha dúvidas se eu sequer conseguiria preencher o formulário. Assisti ao nascer do sol sabendo que inevitavelmente teria que esperar para ver como tudo isso se desdobraria. Se ela dissesse que o espelho havia sido roubado, eles não poderiam me prender sem prova. E eu tinha a mão cortada para confirmar minha versão da história.

O máximo que um juiz faria seria me obrigar a pagá-la pelo prejuízo, o que eu já dissera a ela que faria. Eu sabia que teria que ligar para Mase naquela manhã. Ele estava preocupado na noite passada, mas eu simplesmente não conseguia falar com ele ainda.

Essa confusão toda era muito perturbadora. Se eu dissesse a ele o que a irmã estava ameaçando fazer, ele pensaria que eu queria que ele pagasse o espelho por mim, e eu temia isso. Não poderia deixá-lo fazer isso nem pensar que eu quisesse. Esse era um problema meu, não dele.

Digitei o número dele e mal tocou uma vez antes que ele atendesse.

– Bom dia. Você está melhor? – A voz dele fez toda aquela situação que me afligia desaparecer.

Eu sentia falta dele. Adorava nossas conversas noturnas. Na noite anterior, eu queria falar com ele, mas sabia que não podia. Ele sabia quando eu estava preocupada; eu não conseguiria esconder dele.

– Sim. Muito melhor. Obrigada. Desculpe por ontem.

– Você estar bem é tudo que me interessa. Mas não vou mentir: senti falta de escutar sua voz lendo para mim. Foi difícil dormir sem isso.

Sorri pela primeira vez desde aquele encontro horroroso com Nan. Ele me fazia feliz, mesmo quando as coisas estavam ruins.

– Isso não costuma acontecer comigo. Mas, se acontecer de novo, prometo que ligo antes de dormir. Devia ter pensado em ligar para você mais cedo e contar. Tentar parecer normal não estava sendo fácil. Mas eu estava fazendo o melhor possível.

– Vou deixar você trabalhar. Tenha um bom dia, gata.

Eu me despedi e desliguei, mantendo em mim por quase a manhã toda aquela sensação gostosa que me envolvia quando ele me chamava de “gata”.


Já era quase meio-dia quando recebi um telefonema da agência de limpeza. Eu havia sido despedida. Nan ligara para eles, e eles não queriam ter mais nenhuma ligação comigo. Eu devia passar lá para pegar meu cheque e não comparecer nas outras duas casas para as quais estava agendada naquela semana. Consegui terminar a limpeza no resto da casa dos Carters naquela manhã sem desabar.

Eu ia ficar bem. Ligaria para Blaire Finlay. Duas casas pagariam minhas contas. Como não sobraria nada para poupar, pagar Nan seria difícil. Precisava encontrar mais uma casa, pelo menos, ou então outro trabalho.

Antes de voltar para casa hoje, eu ia entregar a Nan um cheque de 2.400 dólares. Era tudo o que eu tinha no momento. Não pensaria no aluguel agora, ia me preocupar com isso na próxima semana. Naquele momento, eu precisava mostrar que estava tentando pagar o espelho. Não queria a polícia atrás de mim.

A ideia de encarar Nan outra vez era apavorante. Quando, porém, cheguei à casa dela, havia dois carros estacionados do lado de fora: o pequeno e caro carro esportivo de Nan e um utilitário preto. Ela estar acompanhada podia ser melhor para mim. Ela certamente não seria desagradável na frente de visitas.

Depois de tomar coragem, subi os degraus da frente e toquei a campainha. Entregaria o cheque, me desculparia outra vez e prometeria mais dinheiro assim que possível. Então iria embora. Eu conseguiria fazer isso.

A porta se abriu mais cedo do que eu esperava e a expressão de Nan imediatamente se transformou em uma careta desdenhosa.

– O que está fazendo aqui? Liguei para a agência e exigi que a demitissem. Preciso chamar a polícia também?

Segui o que tinha planejado mentalmente.

– Aqui está um cheque com tudo o que tenho no momento. A senhora receberá mais assim que eu puder. Lamento sinceramente pelo espelho – falei, minha voz falhando uma única vez por causa do nervosismo.

Rush Finlay surgiu por trás de Nan. Ele não sorria. O que estava fazendo ali?

– Nan? O que está acontecendo? Você disse que acabou de... – Ele parou e olhou para mim. – É Reese, certo?

Assenti com a cabeça.

– Você fez Reese ser demitida?

– Ela roubou um espelho de 5 mil dólares da minha casa! Sim, eu exigi que a demitissem. Esse cheque não cobre sequer metade do espelho, e ela acha que isso resolve – disparou Nan.

Rush não parecia acreditar nela. Ele se virou para mim.

– Reese, você roubou um espelho?

Neguei com a cabeça.

– Não. Mas eu o quebrei. Eu caí. Foi um acidente. Já expliquei, mas...

– Ela está mentindo! Ela é a faxineira, Rush, pelo amor de Deus! Você sempre tem que tomar o partido dos outros contra mim? Estive fora por meses, e essas são as boas-vindas que recebo? Uma faxineira ladra e meu irmão mais uma vez tomando o partido de terceiros contra mim?

Agora ela estava gritando. Mas o fato de ela se referir a Rush como irmão me confundiu. Como Rush seria irmão dela? Mase era irmão dela, mas Rush e Mase não eram irmãos.

– Ela trouxe um cheque e prometeu trazer mais quando puder. Isso parece a atitude de alguém que roubou seu espelho? Não parece. Acalme-se e pense um pouco. Você não tem mais 10 anos, Nan. Cresça.

Rush estava claramente aborrecido.

– Eu vou indo. Volto com o restante do dinheiro assim que puder – garanti outra vez e desci os degraus da entrada correndo.

Eu provavelmente deveria ter ficado um pouco mais e continuado a me defender. Havia uma boa chance de Rush começar a acreditar nela, e então eu não conseguiria a faxina na casa dele. Teria que esperar para ligar para Blaire e falar sobre a faxina. Pelo menos havia uma testemunha que me vira pagar parte do valor do espelho e prometer pagar mais em breve.

A caminhada dali até em casa era de mais de dez quilômetros. Eu teria tempo suficiente para pensar no que fazer com o restante da semana, já que não tinha mais casas para limpar.


Mase

O telefone tocou quando eu estava chegando em casa, depois de um longo dia nos estábulos.

Era Rush.

– Olá – atendi, curioso, pois não recebia muitas ligações dele.

– Nan voltou – disse ele, não parecendo contente com isso.

Não podia culpá-lo, mas pensei que ele gostasse da irmã.

– Sim – falei, imaginando o que isso teria a ver comigo.

– Você sabe alguma coisa sobre um espelho na casa de Nan?

Merda! Eu havia me esquecido do espelho. E de que Nan poderia voltar para casa. Puta que pariu. Ontem fora dia de Reese fazer faxina lá. De repente sua dor de cabeça fazia muito mais sentido.

– No dia em que conheci Reese, ela caiu limpando a janela e o maldito espelho caiu com ela. Fez um corte feio na mão dela. Tive que acompanhá-la até o hospital para tomar uns pontos.

Tinha me esquecido dessa porcaria. Achei que Nan nem fosse notar. Mas agora sabia que notara. Porque Rush estava ligando para mim. Se ela tivesse sido cruel com Reese, eu iria visitá-la, e não ia ser uma visita de que ela gostaria.

– Provavelmente não teria notado. Só que Reese contou e prometeu pagar pelo espelho – disse Rush, ainda parecendo aborrecido com alguma coisa.

– Merda! Eu devia ter comprado outra porcaria daquelas. É que eu fiquei... ocupado e esqueci.

– É, você deveria ter feito isso. Reese levou para Nan um cheque de 2.400 dólares hoje, depois que ela exigiu que a agência a demitisse. Meu palpite é de que Reese perdeu todos os empregos. E está dura. Eu ia tomar o cheque de Nan, mas tive medo de que ela denunciasse Reese para a polícia ou fizesse alguma outra estupidez. Acho que Reese está precisando de ajuda neste momento.

– Dois mil? Mas que merda! Quanto Nan quer pelo maldito espelho?

Ela era a mulher mais mesquinha e vingativa que eu já tinha visto em toda a minha vida. Quando se ofereceu para doar sangue para a transfusão de Harlow, depois do nascimento de Lila Kate, pensei por um instante que ela possuía um coração. Mas parece que não.

– Ela alega que o espelho custou 5 mil dólares e que veio de Paris. Não acredito nisso, mas ela está determinada a receber a grana. Pensei em pagar e acabar com essa merda, caso você não faça isso. Só que, se fosse Blaire nessa situação, eu ia querer ser o cara a resolver o problema. E não outra pessoa.

– Estarei aí pela manhã. Não deixe Nan chegar perto de Reese outra vez. Vou resolver essa história e trazer Reese comigo para o Texas. Não consigo fazer nada direito, porque minha cabeça está sempre nela. Eu a quero aqui.

– Nan vai deixá-la em paz por ora. Eu não fiquei feliz, e ela sabe disso. Também avisei que a garota era sua namorada. Ela não recebeu bem essa informação. Quando saí, acho que ela estava resmungando algo como “Isso não pode ser verdade”.

Rush deu uma risadinha. Mas minha cabeça já estava em outro lugar. Eu tinha planos para fazer e uma garota para convencer a vir morar comigo no Texas.

Depois de desligar, comecei a fazer as malas e liguei para meu padrasto e para Major. Disse que tinha uns negócios para resolver fora da cidade e passei a eles a lista de coisas que precisariam fazer por mim enquanto eu estivesse fora.

Então fui para o aeroporto e peguei o primeiro voo.


Não ir direto ver Reese foi difícil. Mas eu precisava lidar com minha “querida irmã” primeiro. O avião aterrissou perto da meia-noite. Rush ficaria de enviar para o aeroporto a caminhonete que eu normalmente pegava emprestada quando estava na cidade.

Passava um pouco das duas da manhã quando estacionei no portão de Nan, depois de digitar o código na portaria. As luzes estavam acesas na casa. Ela ainda estava de pé. Ótimo. Não precisaria acordá-la.

Não me dei o trabalho de bater na porta, usei o código e entrei. Pude ouvir a televisão e risadas na sala de TV. Cruzei o hall e fui direto naquela direção.

Nan estava no sofá com uma taça de vinho na mão, contando a uma garota sentada na frente dela algo que aparentemente era hilário. Eu não via Nan como uma pessoa divertida. Nem uma boa contadora de histórias.

Os olhos dela encontraram os meus, e ela deu um pulo antes que a raiva surgisse em seu olhar.

– Você não pode invadir a minha casa assim, Mase. Vou chamar a polícia – disparou.

– Por favor, faça isso. Eu vou só ligar para o nosso pai e deixar que ele resolva com os policiais, já que a casa é dele. E ele me disse mais de uma vez que posso usá-la sempre que quiser.

Como eu sabia que aconteceria, minhas palavras a detiveram. Ela detestava qualquer envolvimento de Kiro em sua vida. E ela também sabia que eu tinha razão. Aquela casa não era dela. Ela não comprara nada que havia ali dentro. Descobri essa última parte quando liguei para Kiro enquanto esperava meu voo. Ele comprara a casa já mobiliada. Aquele espelho não era algo por que ela tivesse pagado. Vaca.

Vaca mesquinha.

– Não acredito que você esteja aqui por causa dela. Ela é faxineira, Mase. Você certamente pode conseguir algo melhor. Parece meio inferior para o filho de Kiro. Será que o papaizinho querido sabe que você andou comendo as empregadas enquanto estava aqui?

Havia uma amargura em Nan que eu jamais vira em alguém da idade dela. Aquilo a corroía. Tornava-a cruel e desalmada. E muito superficial.

– Este será seu único aviso, irmãzinha. Fale mais uma palavra negativa sobre Reese, e vou garantir que você se arrependa dela por muitos anos. Está me entendendo? Porque, juro por Deus, eu estou falando muito sério.

Seu lábio se retorceu num rosnado, e ela se virou para a amiga.

– Desculpe por isso, Laney. Tenho certeza de que ele vai embora assim que terminar o sermão.

Mal olhei para a ruiva, mas vi o suficiente para saber que estava mais interessada na minha presença ali do que Nan.

– Liguei para Kiro. Esta casa foi comprada mobiliada. Aquele maldito espelho não custou 5 mil dólares. Além disso, soube de outras coisas. Reese caiu e cortou a mão na sua casa, trabalhando para você. Então foi demitida por isso. Sou testemunha dela, porque estava aqui e fui eu quem correu com ela para o hospital para tratar o ferimento. Há um registro médico do atendimento. Na minha opinião, Reese precisa de um advogado, porque ela tem uma ótima causa. Ela sofreu um acidente de trabalho e então foi demitida. Ela pode processar a agência e você. Não seria uma ótima manchete?

Os olhos de Nan se arregalaram e eu saboreei cada segundo enquanto minhas palavras eram digeridas.

– Eu até vou sugerir que ela processe você pelo dinheiro que ela já lhe pagou, mais 1 milhão de dólares por danos morais e físicos. Afinal, você é filha de Kiro Manning. Ela pode pedir uma boa grana. Você pode pagar.

Nan soltou uma risada claramente forçada.

– Ela não pode pagar um advogado. Isso não vai acontecer.

– Ela não precisará pagar. Já chamei o meu.

Nan pousou a taça de vinho com violência numa mesinha e então se levantou.

– É mesmo, Mase? Você também? Toda essa maldita família me odeia. Agora você vai tomar o partido de uma garota qualquer com quem está trepando?

Dei um passo na direção dela, me lembrando de que eu não batia em mulheres. Mas, maldição, foi difícil. Eu queria torcer o pescoço dela.

– Nunca. Jamais. Refira-se. A Reese. Assim. Ela é mais do que você jamais conseguirá imaginar. Ela nem sequer sabe que estou aqui, porque ela não me contou nada disso. Foi Rush.

Esperei que ela assimilasse mais essa informação. Então acrescentei outra coisa:

– Você atrai ódio para si mesma, Nan. Deixe de ser filha da puta.

Eu já tinha dito o que viera dizer. Dei as costas e segui em direção à porta.

– Rush ligou para você? – A voz dela soou mais aguda.

Até o irmão que ela adorava, que gostava dela quando ninguém mais a suportava, estava farto das suas besteiras. Ela estava percebendo isso, finalmente.

– Sim. Ele ligou. Ele também detestou ver Reese sofrer nas suas mãos doentias – garanti, olhando para ela.

Ela já não parecia tão furiosa. Abatida era uma descrição mais exata. Pena que não houvesse uma única partezinha de mim que se importasse. Nós tínhamos o mesmo pai, mas eu odiava aquela mulher. Não só pelo que ela havia feito com Reese, mas também pelo modo como tratara Harlow, então recém-chegada a Rosemary Beach. Eu não odiava facilmente as pessoas, mas Nan fazia questão de despertar esse sentimento nos outros.

– Espere. Pegue, leve esse maldito cheque. Não quero mais dinheiro nenhum. Mas também não quero vê-la nunca mais. Ela não vai voltar a trabalhar aqui.

Virei e peguei o cheque de sua mão. Ela deixara tudo o que Reese tinha economizado na vida na mesinha de centro, embaixo de um vaso de frutas, como se fosse um guardanapo.

Colocando o cheque no bolso, lancei a Nan um último olhar de pena.

– Espero que você se dê conta um dia de que essa maldade só a atrapalha. Depois de um tempo, vai acabar afastando todo mundo para sempre. Livre-se dessa coisa que controla a sua cabeça e mude. Porque você já perdeu todo mundo. Não perca Rush também.

A dor que atravessou a expressão dela era suficiente. Fui embora.

Estava pronto para cuidar da minha garota.


Reese

Uma campainha longínqua interrompeu meus sonhos, e eu me virei para descobrir de onde ela vinha. Tudo o que eu via ao meu redor eram nuvens. A campainha parou, mas logo recomeçou. Frustrada, bati o pé no chão, mas então me dei conta. Eu estava sonhando.

Abri os olhos, e a campainha era o meu celular. Esfregando o rosto, sentei-me e olhei o aparelho desorientada. O sol não havia nascido e ainda estava muito escuro lá fora. Eu havia levado uma eternidade para cair no sono.

Meu celular continuou tocando até que finalmente vi a tela brilhando no escuro. Saí da cama e o apanhei no chão, onde tinha caído. Botas de caubói. Mase.

– Alô – respondi num sussurro rouco.

– Tem alguém na sua porta. Pode abrir para que vocês dois possam cair na cama e dormir? – disse ele, naquele seu tom profundo e sexy, do outro lado da linha.

Franzi o cenho e então ouvi a batida. Levei alguns segundos para perceber que Mase estava na minha porta. Larguei o telefone na cama e fui correndo abrir. Por que ele estava aqui? Sua ligação no início da noite tinha sido tão curta que eu havia ficado preocupada. Ele nem sequer me pediu que lesse para ele.

Era por isso. Ele estava vindo me ver.

Abri a porta, e ele entrou lindo como sempre no apartamento. Nesse momento percebi que meu cabelo provavelmente estava todo desgrenhado. Eu nem sequer havia me olhado no espelho.

Mas ele estava aqui. Nada mais importava.

– Desculpe acordar você, mas eu não iria querer dormir na caminhonete a noite inteira se podia ficar na sua cama e dormir com você nos meus braços.

Era de desmaiar. Esse homem e suas palavras.

Sorri. Estava tão feliz de vê-lo que não conseguia esconder. Sabia que estava com um sorriso bobo no rosto. Eu sempre ficava assim quando estava eufórica. Ter Mase aqui me deixava eufórica. Não esperava vê-lo de novo tão rápido e, depois da semana que eu tinha tido, eu precisava disso.

O simples fato de estar com ele já resolvia tudo.

Ele cobriu a distância entre a gente e sua mão correu pelo meu cabelo, com um sorriso divertido nos lábios.

– Gosto disso. De ver você assim.

Eu queria me fundir a ele.

– Você está aqui. – Foi tudo o que consegui dizer.

Ele assentiu com a cabeça.

– Estou. Podemos falar disso amanhã. Deixe-me levá-la de volta para a cama.

Ele ia se deitar comigo. Isso era... Ah, droga. Eu estava sonhando. Teria apostado que era um sonho. Era a única explicação que fazia sentido. Eu não queria que fosse um sonho. Eu queria que ele estivesse aqui, caramba.

– Me belisque – pedi a ele, enquanto a mão dele deslizava até quase a minha cintura.

Ele franziu a testa.

– Por que eu faria isso?

– Para provar que não estou sonhando – expliquei.

Sua risada grave fez meu corpo todo formigar.

– Que tal se eu fizer isso, então? – disse ele antes de cobrir minha boca com a dele.

Comecei a abrir minha boca para ele quando ele mordeu levemente meu lábio inferior, o que me fez pular.

– Viu só, gata? Você está acordada – brincou, deslizando a mão até meu traseiro e apertando uma vez antes de retornar a mão para a base das minhas costas.

Queria mais, mas ele estava me conduzindo de volta ao quarto.

– Por que você está aqui? – perguntei, depois que ele arrumou a bagunça das cobertas e as puxou de volta para mim.

Aninhei-me ali, obediente.

– Porque eu precisava ver você.

Fiquei observando-o tirar as botas e desabotoar a camisa de flanela e jogar tudo na cadeira. A camiseta que ele vestia por baixo era tão justa que se via a beleza de cada linha de seu peito e de suas costas. Quando se virou para subir na cama ao meu lado, puxei as cobertas para ele entrar. Não queria que ele pensasse que ainda tinha que dormir em cima delas. Ele ainda estava de jeans. Não conseguiria dormir bem assim.

– Pode tirar a calça. Vai dormir melhor – falei, antes de ele afundar na cama ao meu lado.

Ele parou um instante e então começou a desabotoar o jeans. Senti seu olhar em mim enquanto se despia, mas eu estava hipnotizada demais para olhar para o rosto dele. Suas mãos grandes rapidamente abriram o zíper da calça, que deslizou por suas coxas grossas e musculosas. Tive que sorver o ar bruscamente. Tinha me esquecido de respirar.

– Tem certeza de que está tudo bem para você? Posso dormir de calça, gata.

Ele estava preocupado com a possibilidade de que eu surtasse por ele estar de cueca. Bem, eu estava surtando, mas por outra razão. Mase Manning realmente fazia uma cueca boxer branca parecer deliciosa. Eu estava em pânico depois da história do espelho, então aproveitar aquela visão não estivera em meus planos aquele dia. Mas agora...

– Eu estou bem. Não, você está bem. Quero dizer, tudo bem e... Ah, venha logo para a cama – chamei, confusa.

Mase sorriu dessa vez. Então ele se deitou ao meu lado, mas tomando cuidado para não me tocar. Reagi tão mal aos beijos e carícias da última vez que agora ele estava apreensivo. Mas eu também não estava segura de que teria coragem de tomar a iniciativa ou pedir para ele fazer alguma coisa. A ideia de tomar todas essas decisões era muito estressante.

Mas isso não interessava. Não agora. Mase estava ali naquela noite, não importava o motivo. Então me enrosquei ao seu lado, e ele me puxou mais para perto, mas não fez nada além disso. Olhando para ele, notei seus longos cílios quase batendo nas maçãs do rosto. Ele já tinha fechado os olhos. Sorrindo, feliz, fechei os meus também.


Quando tornei a abrir os olhos, o sol atravessava as persianas, e Mase estava deitado de lado, comigo aninhada em seus braços. Inclinei a cabeça para trás para ver se ele estava acordado. Seus olhos ainda estavam fechados, mas seus braços me apertaram e um sorrisinho esticou seus lábios.

– Acordada? – perguntou ele, ainda meio grogue, e então lentamente abriu os olhos e me fitou.

– Sim – respondi, me sentindo estranhamente bem para uma garota sem emprego nem dinheiro.

– Hummm... você quer me contar sobre a sua semana agora ou enquanto comemos waffles e tomamos café?

Sorrindo, beijei o braço dele.

– Esse é o seu jeito de me pedir para fazer waffles?

Ele deu de ombros, sorrindo como se soubesse que eu faria qualquer coisa para ele.

– Talvez.

Beijei o braço dele de novo.

– Você vai ter que me deixar levantar para eu poder fazer isso.

Ele baixou a cabeça e passou os lábios suavemente na minha testa.

– Mas você está tão gostosa aconchegada nos meus braços.

Eu tinha que admitir que aquele era mesmo o meu lugar preferido. Em todo o planeta.

– Por que não me conta sobre a sua semana agora? – perguntou ele, num tom mais sério.

Ele falava da minha semana como se já soubesse.

– Conversamos ontem à noite por telefone. Você sabe da minha semana – respondi, testando-o.

– Não... Só sei o que você me contou. Quero a história completa. Sem deixar nada de fora. – O tom de brincadeira em sua voz tinha sumido agora.

Ele sabia. Era por isso que estava ali.

– Quem contou? – perguntei, deslizando um pouco para trás, ou ao menos tentando.

Seu abraço não afrouxou.

– Você devia ter me contado. – Foi a resposta dele.

– Não era problema seu.

Isso chamou a atenção dele. Seus olhos se abriram totalmente, e ele se mexeu com rapidez. Pensei por um segundo que ele ia se levantar, mas o que fez foi me deitar de costas e colocar uma mão de cada lado da minha cabeça, pairando acima de mim.

– Qualquer coisa que afete você é problema meu. Você é minha. Mesmo que eu não soubesse o que havia acontecido naquele dia. Mesmo que Nan não fosse minha irmã. Seria meu problema, porque aflige você. Faz você sofrer. – Sua voz suavizou-se na última frase. Ele baixou o corpo, sem fazer pressão sobre mim. Seu nariz acariciou meu pescoço por um instante, e meu corpo inteiro despertou. Uma sensação de calor se espalhou por mim. – Quando você sofre, isso me dilacera. Quando você está feliz, eu me sinto como se fosse dono do mundo inteiro.

Que homem incrível!

– Você tem um rancho para cuidar e uma vida no Texas. Não quis incomodá-lo com isso.

Mase suspirou e beijou meu rosto antes de voltar a me fitar de cima.

– Eu tenho um rancho para cuidar e ele fica no Texas. Mas você vem antes de qualquer coisa. Se precisar de mim, você vem primeiro.

Eu te amo estava bem ali, na ponta da minha língua. Queria que Mase soubesse. Mas ele não estava me dizendo essas palavras. Tive medo de que ele pensasse que eu era ingênua e que estava confusa quanto ao que estávamos fazendo. Então guardei-as para mim. Mas as gritei na minha cabeça e na minha alma. Eu amava esse homem.

– Seu cheque está no bolso da minha calça. Nan o devolveu ontem à noite. Você não deve nada a ela. Ela não comprou aquele espelho. Kiro comprou a casa mobiliada. É tudo dele, e ele não dá a mínima para aquele espelho.

Fiquei apenas olhando para ele. Não sabia o que responder. Eu vira a fúria no rosto de Nan. Não estava certa de que ela concordaria com isso. Quando Mase saísse, era provável que os policiais viessem me prender. O dinheiro que eu dera a ela era minha prova de que pretendia ressarci-la.

– Preciso que ela fique com aquele dinheiro, Mase.

Ele fez que não com a cabeça.

– Está resolvido. Ela não vai incomodar você outra vez.

Quando ele estivesse longe, ela incomodaria.

– Você não pode me proteger de tudo.

– Posso protegê-la da minha irmã. E, sim, posso proteger você de tudo. É só você me dizer qual é o problema. Eu resolvo.

Ele estava sorrindo, mas eu podia ver a seriedade em seus olhos.

– Mase – comecei, mas ele pôs o dedo sobre meus lábios.

– Já cuidei disso. Ela está com medo que você a processe. Você se machucou na casa dela, trabalhando, e ela a demitiu por isso. Nan não vai voltar a entrar em contato com você. Ela provavelmente não vai respirar o mesmo ar que você por um tempo. Fui muito claro ao explicar o que eu faria se ela se metesse com você outra vez.

– Eu não a processaria porque caí e quebrei um espelho.

– Ela não sabe disso, gata. E isso é o que interessa.

Ele me soltou e se levantou. Fui abençoada com uma vista de sua bunda naquela cueca. A bunda de Mase Manning era perfeita.

– Você vai levantar daí e fazer waffles para mim? Porque, gata, se você continuar me olhando como se eu fosse a refeição, posso ficar tentado a voltar para a cama e conferir exatamente o que você está pensando.

 

 

                                                          CONTINUA