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Planeta Criança



Poesia & Contos Infantis

 

 

 


ALEXIOS
ALEXIOS

                                                                                                 

  

 

 

 

 

Sem pensar duas vezes, toco-o, arrastando a mão sobre sua ereção, os pelos do meu braço arrepiando-se pouco a pouco até que a sensação chega à minha nuca e eriça os poucos fios soltos que não consegui prender no coque. Membro duro como pedra, grosso com certeza e muito quente.

Aperto um pouco as coxas, excitada e úmida. A fantasia de me sentar sobre seu colo enquanto dirige é deliciosamente perversa.

Eu queria ser perversa assim também!

— Se você quiser! Eu só quero te foder, não importa como.

Perco o fôlego e já o imagino realizando todas as minhas fantasias, ensinando-me coisas que nunca vivi com nenhum outro parceiro, mostrando-me como Alexios Karamanlis trepa.

Sim, eu quero isso, e quero agora!

Uma buzina alta, disparada longamente, assusta-me, e eu tiro a mão dele. O farol já abriu, mas não percebemos, então Alexios volta a dirigir.

Ao que parece, decidi sobre arriscar ou não um envolvimento sexual com ele. Quero! Sempre fui curiosa sobre ele na cama, ouvi histórias, morri de inveja e ciúmes, então por que agora não aproveitar?

Não saí de casa com essa intenção hoje, e realmente o que disse sobre estar ansiosa sobre a ida até a mansão dos horrores era verdade. Troquei de roupa várias vezes, calcei tênis, depois sapatilhas e, por fim, decidi pelos coturnos. A roupa toda preta de malha me lembrou de quando brincávamos no prédio de explorar locais escuros e vazios e como cumpríamos desafios propostos pelas crianças dos outros blocos.

Kyra, coitada, morria de medo, mas ia, enquanto Alexios e eu, e, por algum tempo, o Tim adorávamos a aventura. Era uma época boa, éramos crianças normais, brincando e sendo felizes. Pena que durou pouco.

Saí do meu apartamento correndo e entrei na primeira loja em que encontrei bonés. Comprei dois pretos, esperando que ele se lembrasse e que isso lhe trouxesse mais leveza e alegria, pois, se entrássemos naquele local temerosos, ele iria nos engolir, por isso era necessário que não levássemos tudo tão a sério, mesmo que fosse.

Já próximo ao local, um bairro bem estranho ao qual nunca vim, noto Alexios mais tenso, a mandíbula apertada, as mãos firmes no volante do carro. Ponho a mão sobre sua coxa e faço pequenos movimentos, acariciando devagar. Vejo seus olhos repuxarem um pouco.

— Quando foi que você ganhou massa muscular? — puxo um assunto qualquer para distraí-lo. — Você era tão magrinho e, de repente, apareceu cheio de gominhos na barriga, braços definidos e essas coxas...

Alexios gargalha.

— De repente? — sua voz soa indignada. — Levei anos malhando, tomando suplemento e fazendo dieta para conseguir o que você acha que apareceu como mágica. Chicão me ajudou porque eu inventei de tomar bomba e, quando ele descobriu, fez um sermão da porra.

— Chicão é ótimo! Ele contribuiu muito para o homem que você se tornou, é um bom exemplo.

Ele faz careta.

— Sim, reconheço isso, mas bom exemplo? — Gargalha. — Aquele filho da puta queria me tornar zen budista, vegano e praticante de ioga. — Agora sou eu quem gargalho com a mera ideia. — Os conselhos, o esporte, a forma como me ajudou a crescer sem precisar tomar bomba, sim, foram ótimos, mas se eu não tivesse personalidade, ele teria me transformado em uma cópia sua: todo zen, mas safado ao extremo!

Arregalo os olhos.

— Chicão é safado ao extremo? — Surpreendo-me, pois ele sempre foi muito respeitoso comigo e com Kyra. — Confesso que ele é muito bonitão, charmoso, se cuida muito e, por onde anda, vejo mulheres – não importa a faixa etária – babando por ele, mas nunca soube de...

— Ele é discreto, mas, pode crer, não vale nada!

— Pior do que você? — provoco.

Alexios me olha de esguelha e, com um movimento rápido, puxa minha mão em sua coxa de volta para seu pau.

— Bem pior...

O gemido que solto é involuntário, apenas de prazer. Essa energia sexual que me percorre toda vez que o toco, ou o ar vibrante cada vez que estamos no mesmo ambiente são coisas que eu já li em livros ou vi em filmes, mas que nunca vivenciei.

Faço o mesmo movimento que fazia em sua coxa agora em seu membro – que incrivelmente continua duro – e escuto sua respiração mais ruidosa.

— Isso está sendo uma tortura! — Ele para o carro e me olha. — Não sei como estaremos após nossa aventura no inferno, mas eu preciso que você diga quando.

Sorrio.

— Deixa acontecer.

Ele se surpreende, e eu tenho vontade de vibrar com minha atitude. Para que planejamento? Tudo sempre foi tão planejado na minha vida, quero coisas diferentes!

Alexios me puxa pela nuca e come minha boca com fome. Sim, ele come meus lábios, morde-os, chupa minha língua, geme, lambe... Uau! Os dedos estão enfiados em meus cabelos presos, a mão me mantendo firme contra ele, a outra fazendo a mesma coisa que a minha, só que em mim.

Eu sei que seria muito non sense, mas queria estar de vestido. Queria sentir a mão dele, que agora acaricia meu sexo por sobre a calça de malha, diretamente na minha pele. Eu abriria seu zíper – faço isso enquanto fantasio –, pegaria em seu pau – nós dois gememos quando toco a pele macia e quente e sinto a dureza molhada –, e ele me puxaria para seu colo, encaixando-se em mim, liberando minha entrada apenas jogando a calcinha de lado.

Ouço um barulho de algo elétrico, e, como se ele lesse meus pensamentos, sou erguida e encaixada exatamente onde eu gostaria de estar. Porcaria, queria um vestido!

Olho para baixo e salivo. Seu pênis grosso é claro, e a ponta vermelha brilha molhada, enquanto mais uma gota translúcida se forma na pequena fenda da cabeça. Alexios está sentado, e sua ereção passa com sobra de onde deve estar seu umbigo por trás da camisa.

Toco-o novamente, curiosa, querendo ter ideia do tamanho, questionando se caberia bem dentro de mim. Nunca vi nada assim, pelo menos não pessoalmente. Circundo-o, admirando a circunferência, as veias altas que consigo sentir na ponta dos meus dedos e a forma como, a cada movimento meu, ele reage de volta.

É muito grande!

— 22 centímetros.

Arregalo os olhos.

— O quê? — rio nervosa.

— Você disse que é muito grande, e eu te informei a medida.

Fico imediatamente vermelha, pois não tinha me dado conta de que tinha falado em voz alta.

— Você fica o medindo?

— Não, deixei de medir no começo da adolescência — diz como se fosse a coisa mais natural do mundo. — Mas já mediram depois de adulto.

Sua arrogância quanto ao assunto não passa despercebida. É óbvio que ele sente orgulho do tamanho de seu membro e gosta do quanto impressiona. Safado convencido! Sinto o ciúme me roer ao pensar na mulher que o mediu.

— Você deve se sentir por causa disso! — provoco-o.

— Na verdade, não, Samara. É complicado quando se tem um pau de 22 centímetros e a maioria das bocetas por aí têm uns 15 de profundidade. Sobram sete centímetros que, ou se aprende a controlar, ou se machuca a parceira.

Penso sobre o que ele me diz e concordo. Esteticamente é bonito, mas realmente não deve ser muito prático.

— É como um carro grande — ele continua. — No começo é complicado parar em qualquer vaga, mas, depois que se pega o jeito, qualquer buraco é estacionamento!

— Que horror!

Rimos juntos, e ele volta a me beijar, porém com menos desespero, apenas saboreando a sensação de nossos lábios juntos. Não é de caso pensado, mas, quando percebo, já estou rebolando sobre seu colo, pressionando seu pau entre mim e ele, subindo e descendo, usando o tecido fino e macio da malha da calça para masturbá-lo.

— Rebola, gostosa! — Alexios fala ainda com a boca na minha e segura meus quadris, adicionando força ao movimento, esmagando-me contra ele.

Um grupo de pessoas passa na calçada, falando e rindo muito, e eu travo, abro os olhos assustada, e ele ri.

— Já tínhamos chegado, mas suas carícias me fizeram esquecer o que viemos fazer. — Concordo, pois o mesmo aconteceu comigo. — Preciso estar dentro de você, ouvir seus gemidos, sentir suas unhas na minha carne enquanto me afundo devagar, medindo sua boceta com meu pau, procurando o encaixe perfeito para te fazer gozar como uma louca.

Seguro o fôlego e sinto o corpo todo tremer. Sinto que poderia gozar como uma louca agora por muito menos do que ele acabou de falar, apenas com a fricção do meu sexo contra o dele, de roupa, apertados neste carro.

Merda, eu queria um vestido!

Alexios respira fundo e olha para o outro lado da rua. Acompanho seu olhar e vejo o sobrado, antigo, todo fechado, as janelas com tapumes e uma enorme grade na porta principal. Movo-me para sair de seu colo, mas ele me detém.

— Podemos voltar outro dia e ir para algum local terminar o que começamos aqui.

Nego, mesmo tentada.

— Estamos aqui, vamos entrar; depois terminaremos o que começamos. Onde você quiser.

Ele sorri maldoso.

— Tenho uma promessa?

— Tem! — Abraço-o e novamente ajo por impulso. — Ainda hoje você poderá fazer todas as sacanagens que gosta comigo.

Alexios geme.

— Samara... — ele me adverte. — Não mexe comigo, você não me conhece, não na cama.

— Cama? — Levanto a sobrancelha e saio de cima dele. — Que coisa mais quadrada... esperava mais criatividade.

Pego a sacola de lona, ajeito minha roupa e dou uma piscadinha antes de sair do carro. A expressão sombria que tomou conta do rosto dele quando olhou a construção sumiu, e Alexios tem os olhos sorridentes.

Puxo o ar profundamente e vou soltando-o devagar. Apesar dessa deliciosa interação dentro do carro, sei que o clima irá mudar assim que abrirmos os portões que trancam esse lugar tão fortemente quanto um presídio.

— Pronta? — ele me pergunta antes de pegar minha mão e atravessarmos juntos a rua.

O tilintar das chaves quando Alexios saca o chaveiro do bolso faz com que eu o compare a um carcereiro, e um frio perpassa meu corpo, fazendo-me estremecer.

Não faço ideia de como ele está se sentindo, mas imagino que infinitamente pior do que eu, afinal, esse lugar fez e ainda faz parte de sua história de vida. Dentro dessas paredes antigas, com pintura desgastada e muitas pichações, podem estar todas as respostas que ele um dia buscou.

Grades abertas, Alexios abre a porta principal, duas folhas enormes e pesadas de madeira maciça, ao que parece. Suas dobradiças enferrujadas rangem quando ele força a abertura, e eu instintivamente me preparo para ver a vermelhidão do fogo, sentir o cheiro de enxofre e a quentura do inferno.

— Só falta aparecer o cão Cérbero! — comento adentrando o hall, lanterna na mão, porque, mesmo de dia, com todas as janelas tampadas não dá para enxergar nada. — Que cheiro horrível!

— Com certeza algum bicho se decompondo.

Tremo.

— Espero que seja mesmo um bicho.

Alexios passa o braço sobre meu ombro.

— Você não precisa fazer isso, Samara.

Paro e olho para ele.

— Não, não preciso, mas quero e vou. — Entrelaço minha mão na dele. — Contigo!

Seguimos andando. Um grande salão aparece, cheio de prateleiras de vidro e espelhos. A maioria está quebrada. O carpete, mesmo puído e imundo, mostra sinais de que um dia foi da cor do carmim. Não há móveis, apenas o que restou do balcão do bar em madeira nobre, sem tampo, provavelmente algum mármore que foi saqueado.

— Como você conseguiu as chaves daqui? Vim pronta para arrombar.

Ele não ri da minha piadinha.

— Kostas é o proprietário.

Pronto, agora, sim, meu queixo está no chão! Konstantinos comprou este sobrado, aonde os dois passaram anos tentando não ir? Com que propósito? Que loucura! Sempre achei que Kostas tinha ficado meio esquisito depois que cresceu – não fisicamente, porque é lindo como um deus grego –, mas estava sempre soturno, debochado, com uma aura tão escura em volta de si que chegava a me dar medo.

— Sinceramente, nunca vou entender vocês! — confesso, e Alexios concorda.

Oh, família complicada!

Paro de pensar nas peculiaridades de cada um dos irmãos e do pai maluco e abro todas as gavetas que ainda restam na parte de alvenaria do balcão, onde deveria ser o caixa, bem como olho todas as prateleiras que ainda estão firmes debaixo desse.

Alexios revira o lixo no chão, à procura de qualquer coisa que possa indicar nomes ou datas.

— Aqui deveria ter um escritório, não? — inquiro.

Ele pensa por um instante, imóvel, como se puxasse as memórias do tempo torturante que passou por aqui.

— Não lembro de ter visto qualquer coisa semelhante, mas certamente há. — Abre uma porta debaixo da enorme escada de madeira. — Chapelaria, porra!

Ele está impaciente, ansioso. A casa vai ficando cada vez mais escura, e eu, achando-me muito inteligente, vou espalhando lanternas para todos os cantos a fim de facilitar as coisas.

— Vou subir — anuncio e piso no primeiro degrau, que range alto.

— Espera! — Alex passa por mim. — Deixe-me ir na frente, não sabemos as condições desta escada.

Subimos devagar, eu bem distante dele, enquanto ele pisa com cuidado e depois coloca seu peso sobre o degrau. Apesar de ruidosa, aparentemente a escada está firme. Dou um berro quando chegamos ao piso superior, pois uma ratazana – sim, porque é quase do tamanho de uma capivara, só pode ser a fêmea – passa em cima das minhas botas.

O desgraçado começa a rir com o meu desespero e depois com minha indignação.

— Eu estava estranhando você tão calma, sabia? — Puxa-me para seus braços. — Lembro bem do seu pavor de baratas voadoras.

— Por que você acha que vim com os cabelos presos? Sempre tive pavor de um inseto desses se agarrar na minha juba; nunca mais iria conseguir sair!

A gargalhada dele ecoa pelo lugar sem vida, e eu o toco no rosto. Alexios fica sério com a carícia, mas não recua ou me impede. Ele é lindo, tem traços perfeitos, que se complementam. Quando mais novo, reclamava do nariz grande, mas a maturidade conseguiu harmonizar todos os seus ângulos.

Eu o vi de tantos jeitos, desde o menino loiríssimo, até se tornar o jovem de cabelos castanho-claros. Acompanhei seu crescimento, assim como ele fez com o meu. Vi seus primeiros sinais de barba, a voz mudar, as espinhas no rosto, o aparelho nos dentes, o ganho dos músculos... e cada vez ele ficava mais lindo. Era como uma pintura de um anjo quando criança, mas hoje sua beleza transcendeu à figura angelical graças a detalhes másculos que foram aparecendo com o passar dos anos.

Alexios segura minha mão e a beija, depois faz o mesmo com meu rosto, fazendo uma trilha de beijos curtos, mas sensuais, até tomar minha boca com carinho.

— Aqui eram os quartos que os clientes usavam. — Abre uma porta. — Foi aqui que eu iniciei minha vida sexual, aos 11 anos de idade.

Não consigo esconder o choque dessa revelação, pois nunca falamos sobre isso. Alexios ficou diferente depois que sua mãe adotiva foi embora, mas nunca imaginei que Nikólaos o tinha trazido para este lugar tão novo.

Eis os fantasmas!, penso ao entrar no cômodo fedendo a mofo e bagunçado.


Demônios!

Não são fantasmas, essa palavra não consegue exprimir o que há dentro deste lugar. Tentei vir sozinho; não passei do salão principal. Era como se eu tivesse voltado no tempo, vindo para cá para satisfazer a tara do Nikkós e trepar com as putas que ele selecionava.

Bastou uma vez, e perdeu a graça para ele. Eu não tinha o mesmo problema do Tim, havia sido criado, até pouco antes de ele enlouquecer, em uma família aparentemente normal. As garotas – inclusive as putas – me achavam bonito, então, sim, no começo eu me diverti.

Qual garoto mimado não ia gostar de ter o pai pagando para fazer algo que lhe dava prazer? Eu não entendia o que estava acontecendo, não tinha um pingo de maturidade sequer para entender o ato e tudo o que ele representava. Na minha inocência, estava tudo certo. Se meu pai me mandava foder, eu fodia; se a puta queria apanhar, eu batia.

Claro que o objetivo de Nikkós não era fazer com que eu me divertisse, e, antes de encerrar minha visita a este lugar, fez questão de abrir meus olhos, levando-me para uma sala onde Kostas estava. Eu chorei quando entendi qual deveria ter sido minha reação e o que havia por trás de tudo aquilo; não era diversão, era tortura.

Nunca disse a Kostas que o tinha visto, mas passei a olhá-lo diferente, com mais amor fraterno, entendendo o motivo de ele estar tão sério e quieto e evitar a todos.

Depois desse dia, Nikkós mudou seu modo de ação e, finalmente, conseguiu abrir, inflamar e infeccionar uma ferida em mim. E ela ainda permanece aqui, voltando a sangrar a partir do momento em que pisei neste lugar, apenas menos dolorida por conta da presença de Samara.

A diferença entre minha primeira incursão até aqui e agora é que, na primeira vez, eu me desestabilizei, travei e ajudei a terminar o caos que alguma invasão anterior começara. A parede ao fundo do bar ainda conservava os espelhos e as prateleiras, então, com um pedaço de madeira que achei no chão, fiz minha pequena demolição particular.

Eu me sentia um covarde, o mesmo que não fez nada para ajudar o irmão dentro daquela maldita sala espelhada, o mesmo que enfiou a cara nas drogas e na zoeira e deixou Kyra desprotegida, por isso a agressividade. Eu queria explodir o prédio comigo dentro!

— Alex? Tudo bem? — a voz de Samara, a lembrança de que ela está aqui para me apoiar, consegue diminuir a revolta e a culpa que começaram a borbulhar dentro de mim. Balanço a cabeça em sinal afirmativo e abro uma cômoda toda capenga; totalmente vazia.

— Acho que será perda de tempo, Samara.

— É muito cedo para dizer isso — ela prontamente rebate. — Já olhei outros três quartos enquanto você estava aqui e notei que, ao final do corredor, perto de uma escada de concreto, há um cômodo trancado.

A informação chama minha atenção, e, antes de eu dizer a ela que não é seguro ficar andando por aqui sozinha, arrasto-a comigo para o tal quarto.

— Não trouxe um pé de cabra — ela faz graça quando eu pego o cadeado.

— Amadora! — Pisco para ela.

Lembro-me então do enorme e maciço pedaço de madeira que usei para quebrar o salão principal. Não sei se será suficiente, mas não custa tentar. Peço a ela que me espere nesse exato lugar onde está e desço correndo. Demoro a encontrar o pau, mas mudo de ideia sobre ele assim que vejo uma barra de ferro, provavelmente alguma que sobrou da grade que Konstantinos mandou instalar e que abandonaram aqui mesmo.

Volto correndo mais uma vez, sem me importar com os barulhos da escada, mas gelo ao perceber que Samara sumiu.

— Samara! — grito por ela. — Porra, Samara, cadê você?!

— Aqui! — sua voz vem do sótão, e eu sinto meu estômago embrulhar.

Puta que pariu!

Subo as escadas de concreto pisando duro, puto demais por ela não ter feito o que pedi e a encontro parada, iluminando o enorme vitral colorido.

— Um puteiro com vitral de igreja! Era para disfarçar?

Dou de ombros.

— Não sei, nunca estive aqui.

Ela se vira para mim.

— Nunca? Por quê? Não fazia parte da área “recreativa” da casa?

Engulo em seco.

— Não. Eu só soube muitos anos depois para que usavam “a escola”. — Ela franze as sobrancelhas com o termo que usei. — Aqui eram iniciadas as putas, em qualquer idade, principalmente crianças e adolescentes. — Samara arregala os olhos e põe a mão sobre a boca. — Isso aqui era área VIP, leilões eram feitos em troca de virgindade, além de servir como local de armazenamento de drogas.

— Como você soube...

— Quando a polícia encerrou as atividades da cafetina e a prendeu, a história toda vazou para a imprensa. Eu reconheci o lugar na hora. Logo depois a casa foi posta em leilão, e o Konstantinos a comprou.

— É asqueroso pensar que existem pessoas capazes de fazer isso. Crianças! — Ela soluça. — Que tipo de monstro o ser humano pode se tornar?

— Muito pior que o Capeta que as religiões pregam.

A imagem do homem que me criou me vem nitidamente à cabeça. Sua voz cortante, seu jeito arrogante, suas bebedeiras e loucuras. Pensar em tudo o que ele representou a nós três é ter a certeza de que os demônios são humanos perversos como ele.

— Quero sair daqui — Samara fala de repente. — Vamos descer, abrir aquele quarto e sair.

Ela desce as escadas rapidamente, e meu coração se aperta, preocupado. Samara não vivenciou nada disso, sempre teve uma família estruturada, pais carinhosos, um irmão protetor. Mesmo que ela tenha convivido comigo nos piores momentos de minha existência, ficava à margem da verdadeira natureza de Nikkós.

Agora, tendo tudo tão às claras, é normal que ela se sinta enojada e abalada com tudo isso.

Vou ao encontro dela, trêmula, esperando à porta do quarto trancado. Ela está se esforçando para cumprir o combinado, mas esse fardo não é dela, Samara não precisava estar aqui, não precisava ser apresentada a essa realidade tão crua e cruel.

— Não precisamos fazer isso. — Ela me olha ainda soluçando, seus olhos úmidos de lágrimas. — Podemos ir embora agora. Essa é a minha história, Samara, ela é suja, cruel, nojenta, mas é minha, e a responsabilidade de pôr fim a ela é minha também, não sua.

— Abre o quarto, Alexios.

— Não sabemos por que isso está trancando. Não quero que você sofra mais do que já...

Samara puxa a barra de ferro da minha mão e, com o mesmo desespero com que quebrei as prateleiras dias atrás, ataca o cadeado. A porta de madeira ganha um rombo enorme enquanto ela desconta toda a sua indignação. Deixo-a; conheço bem o sentimento de revolta e sei que pôr para fora é a melhor forma de deixá-lo ir.

O som metálico da tranca se quebrando é como o sinal de que já basta. Toco seu ombro; está quente, a blusa úmida pelo suor causado pelo esforço, a respiração ofegante. Samara para, deixa a barra de ferro cair e respira fundo.

— Eu poderia matá-lo neste momento por ter submetido vocês a tudo isso.

Fecho os olhos, impactado por suas palavras.

— Não poderia, não, creia-me. — Abraço-a, e ela chora em meu peito. — Eu tentei, tinha todos os motivos do mundo, mas não pude. Sinto-me um covarde por isso, principalmente porque poderia ter evitado muita coisa.

— Você não é covarde, Alexios, nunca foi!

Balaço a cabeça negativamente e dou um bicudo na porta, escancarando-a de uma só vez.

— Eis o escritório!

Samara se vira para olhar o quarto, ainda todo mobiliado, a cama com a colcha puída, cheia de traças, os móveis cobertos de poeira e teias de aranha, um armário antigo, uma cômoda e uma mesa cheia de papéis revirados.

— O quarto da dona?

— Madame Linete — digo o nome sujo antes de entrar.

— Parece que tudo foi revirado — Samara diz, iluminando as roupas e os papéis pelo chão.

— Polícia. — O desânimo toma conta de mim. — Se eu esperava encontrar algo aqui, essa é a prova de que não irei. A polícia deve ter levado todo e qualquer material relevante, como nomes de clientes, contabilidade e qualquer coisa que pudesse nos dar uma pista.

Samara concorda, mexendo nos maços de folhas amareladas e abrindo algumas gavetas.

— Contas de consumo de energia, água, bebidas... nada de mais. — Ela suspira. — Parece que não há mais nada sobre o negócio.

— Não. — Estendo a mão para ela. — Vamos embora!

Saímos mudos. Ela espera eu voltar a trancar tudo. A noite está escura, sem luar ou estrelas, o tempo carregado como se fosse chover. Meu humor não está diferente. A vinda até aqui foi uma total perda de tempo, e a mulher que entrou em contato comigo deveria apenas estar brincando.

Nunca vou saber o que realmente houve!

Entramos no carro mudos. Samara tira o boné, descalça as luvas e as botas com pressa, mas somente quando arranca a blusa é que eu questiono o que está acontecendo.

— Estou me sentindo suja com o pó de lá. — Ela se levanta como se não percebesse que está ficando praticamente nua ao meu lado e tira a calça de malha. — Eu não quero me contaminar com... — o soluço me faz ficar preocupado — aquela podridão. — Ela chora. — Me desculpe por isso, Alexios, mas acho que estou tendo algum tipo de ataque histérico.

Estaciono o carro no primeiro local que encontro, uma rua sem saída, vazia e, talvez, perigosa. Puxo-a para mim, embalando-a, contendo seu pranto, deixando-a lavar a alma depois de tudo o que soube. Eu sabia que seria pesado, que não teria como ela ir comigo e não sentir o que eu sinto.

A diferença entre mim e Samara é que ela consegue expressar, consegue chorar; eu não. Eu acumulo a raiva e a frustração dentro de mim, a desesperança, o desconhecimento de algo que sempre foi tão importante, algo que poderia encher o vazio que trago na alma.

— Psiu... — conforto-a. — Está tudo bem! Acalme-se.

— Desculpe... eu queria ser mais forte, você precisava que eu fosse mais forte...

— Samara, eu precisava de você. Estou aqui, inteiro, lúcido e sóbrio porque você esteve lá comigo. Não teria conseguido sem sua companhia, mesmo me sentindo culpado por ter te deixado assim.

— Não! — Ela me encara. — Você não é culpado, Alexios, por nada, entende? Nada do que aconteceu, no passado ou agora, foi culpa sua.

Ela atinge o ponto mais dolorido dentro de mim com essa frase. Eu gostaria de acreditar nisso; tiraria um peso enorme de sobre meus ombros, mas não posso. Reconheço o que fiz e o que poderia ter feito para evitar muitas coisas que aconteceram.

— Samara, eu não sou inocente nessa história, eu sabia do que ele era capaz e, mesmo assim, arrisquei por conta de egoísmo...

Sou calado por um beijo. E não é um beijo qualquer, apenas um cala-boca, mas um cheio de desejo, desespero e entrega.

Mesmo diante de tudo o que passamos dentro daquele lugar, meu corpo reage ao dela, minhas mãos deslizam sobre suas costas, apertam suas nádegas, circundam sua cintura e seguem em direção ao sutiã que guarda os seus maravilhosos peitos.

Samara geme e se contorce sobre o meu colo. Afasto o banco do volante o máximo que posso, dando-nos espaço. Ela se inclina para trás quando enfio as mãos por dentro de seu sutiã. Assisto-lhe se deleitando com o toque, seus mamilos duros contra a palma das minhas mãos, o corpo ondulando contra o meu.

Posso sentir seu cheiro, sua excitação, tenho certeza de que já está molhada. Salivo de vontade de prová-la, de chupar sua boceta para descobrir seu gosto, brincar com a carne inchada de seu clitóris com a língua, penetrá-la, comê-la e sumir dentro dela.

Abro o fecho frontal do sutiã e libero os peitos perfeitos, cheios, mamilos escuros, bicos salientes. Inclino-me sobre ela e tomo um em minha boca, sugando-o, lambendo, mordendo de leve, enquanto ela segura com força meus cabelos e geme alto.

É loucura, não conheço este bairro, não sei nem onde estamos parados, mas não há possibilidade alguma de interromper este momento.

Não era assim que eu pensava em trepar com ela, parecendo dois adolescentes desesperados dentro de um carro. Contudo, não há força neste mundo que possa me impedir de possuí-la completamente. Precisamos disso, precisamos um do outro. Buscar abrigo no corpo dela é a melhor solução para aplacar todas as cargas negativas daquele lugar.

Eu preciso disso, ela também!

Não penso mais, abro o zíper da minha calça, saco meu pau, que ela toma imediatamente em suas mãos, masturbando-me com força e rapidez. Travo os dentes, acelerado de prazer, contendo meus uivos de tesão.

Puxo o prendedor que mantinha seus cabelos presos. Eles estão lisos hoje, mas ainda assim cheios, fazendo uma moldura perfeita para seu rosto. Seguro-os firmemente, puxo-os, trago-a até mim guiada por eles, a cabeça pendente para trás, o pescoço à minha disposição.

Samara se levanta, e eu aproveito para tocar sua boceta. Molhada, puta que pariu, muito molhada! Afasto a calcinha e afundo o dedo em seu interior. Meu pau pulsa ante a perspectiva de fazer o mesmo caminho, afundar-se na maciez molhada e quente de Samara.

— Alexios... — ela geme alto.

— Peça.

— Por favor...

Rio, o dedo médio entrando e saindo enquanto o polegar circula seu clitóris sem parar.

— Peça!

Samara abre os olhos, as bochechas rosadas em uma mistura causada pela excitação e a vergonha de falar abertamente o que quer que eu faça.

— Me possua!

Travo a mandíbula, mas o gemido soa alto ainda assim.

— Não vou fazer isso. — Sorrio quando ela arregala os olhos. — Não vou possuir você, Samara, vou me juntar a você, vou me tornar parte de você. — Guio meu pau para sua entrada. — Vamos nos possuir.

Ela me recebe lentamente, seu canal apertado se acomodando a mim, causando sensações foda a cada centímetro. Deixo-a ir sozinha, sem forçar, dando-lhe o controle de parar quando sentir que não dá mais. Ela não para, e eu me desespero de prazer, tocando-a profundamente, seus músculos vaginais apertando-me tão forte quanto sua mão o fez.

Seu quadril toca no meu; ela não se move, nem eu. Sinto espasmos, a boca seca de respirar forte, os bufos de prazer se tornando cada vez mais intensos. Nunca foi assim, nunca senti tanto e...

— Camisinha... — gemo a palavra, lembrando-me de que não pus a proteção, e isso nunca ocorreu antes dela. Porra, que sensação! — Samara...

Ela se move, rebolando curto, mantendo-me ainda todo enfiado dentro de si. Minhas bolas são esmagadas pela sua bunda. O roçar constante de sua umidade com a base do meu pau me enche de prazer. Sinto-me febril, o calor dela me fazendo derreter, tirando qualquer racionalidade ou mesmo juízo.

Foda-se!

Forço-a para cima, afastando-a um pouco de mim, mantenho-a erguida apoiando seus peitos, apertando-a contra o volante do carro. Finco meus calcanhares no chão e impulsiono meus quadris, socando em desespero, rápido, firme, profundo.

Samara grita de puro prazer. Eu rebolo, arremeto e estoco. Ela se agarra ao forro do teto do carro, seu abdômen contraído, as coxas trêmulas, a boceta me enforcando de um jeito inacreditável. Então assisto à cena mais foda do mundo, sua entrega ao prazer sem nenhum filtro ou contenção.

O som de seus gemidos sai como se fosse música, a expressão de seu rosto é digna de uma pintura, seu corpo retesado, a pele arrepiada, quente e levemente úmida de suor.

Preciso fechar os olhos para controlar meu próprio gozo. Meu pau desliza com mais facilidade, sinto a cueca e parte da calça encharcada e sei que isso está vindo dela, de dentro dela, do prazer dela.

Porra!

Samara cai em cima de mim, e eu tento desesperadamente me puxar para fora dela, porque sinto que vou explodir a qualquer instante. Ela entende minha agonia, levanta-se um pouco e acompanha, deslumbrada, minha porra jorrar e sujar toda a frente da minha camisa.

Relaxo, encosto a cabeça no banco do carro e a encaro.

Samara ri, rosto corado, cabelos despenteados, satisfatoriamente fodida.

— Você é linda! — declaro, e seu sorriso aumenta.

— Somos loucos!

Concordo.

— Acho melhor irmos, nem sei onde parei. — Ela sai do meu colo e se senta no banco do carona, tentando ajeitar a calcinha e colocar o sutiã. — Tudo bem?

Samara apenas balança a cabeça, sem me olhar, visivelmente constrangida. Fico tenso, não sei o que ela está pensando, agora que o corpo esfriou e a paixão foi satisfeita. Ela estava vulnerável, em uma clara crise, e talvez eu tenha errado ao ter feito sexo com ela.

Samara tem um noivo!

A mera lembrança do espanhol e a possibilidade de que ela esteja estranha assim por causa dele me fazem ferver de raiva. Se ele fosse o homem certo, ela nunca teria ficado comigo, Samara não é assim!

Ela continua muda, sem me olhar, sem nem mesmo se mexer. Aciono o motor do carro e saio o mais depressa possível da rua estranha onde ficamos parados.

Foi uma loucura!

Foi uma delícia!

Mas, porra, o que ela está pensando?!


Que loucura foi essa?!, penso ao estremecer. O calor do momento, da excitação já não está tão mais potente, e eu começo a pensar na loucura que acabamos de fazer. Eu nunca fiz sexo dentro de um carro!, sinto-me nervosa ao pensar sobre isso.

Então, como um clarão, a realidade me atinge, e eu olho para o lado, para o homem que esteve enterrado dentro de mim, gemendo como um touro, há instantes.

Eu fiz sexo com Alexios Karamanlis!

A maior e mais longa fantasia que já tive, desde o começo da minha vida adulta, realizou-se. E, nossa, eu nem cheguei perto de imaginar como seria realmente. Foi mágico, rápido, quente e muito safado!

Suspiro, pensando que nunca gozei com essa intensidade, nem mesmo senti tanta fome e vontade de recebê-lo todo dentro de mim. Não foi fácil, realmente ele é grande, mas a posição e o controle que eu tinha, ajudaram a achar um modo de tê-lo todo sem me machucar.

Bom... estou latejante ainda, um tanto dolorida, mas incrivelmente realizada. Contudo, sem saber como agir.

Claro que não sou inexperiente, tenho 31 anos, nada garotinha, mas reconheço que o sexo louco foi consequência de tudo o que passamos dentro daquele casarão. Foi um modo de extravasar e expurgar todas as lembranças e revelações dolorosas.

Agora como vamos encarar isso?

— Vai mesmo entrar no elevador de calcinha e sutiã? — ele pergunta de repente.

Olho para fora e percebo que estamos próximos ao nosso prédio.

— Nem tinha me dado conta de que estávamos perto. — Sorrio sem graça. — E você?

Alexios dá de ombros.

— Vamos torcer para que não tenham vizinhos no elevador. — Ele tenta rir, mas percebo que está um tanto sem graça também. — Qualquer um que divida um espaço pequeno conosco vai adivinhar rápido o que andamos fazendo.

Sim... cheiro de sexo, cheiro do gozo.

Visto a blusa com o coração disparado.

Não falamos nada depois, apenas aquelas poucas palavras quando saí de cima dele e seguimos mudos. Uma incerteza começa a crescer dentro de mim.

Será que ele gostou?

— Está tudo bem? — arrisco a pergunta.

Ele nega e puxa minha mão, mostrando-me que já está excitado novamente, usando sua ereção para responder à pergunta.

E que resposta!

— Arrependida? — indaga, e meu coração parece pular.

— Não, por que estaria?

Ele não responde, concentrado em entrar na garagem subterrânea do nosso prédio.

— Não sei, talvez por conta do seu compromisso com o espanhol. Sei que você não é assim, agiu por impulso e...

Ai, merda!

— Alexios — interrompo-o, e ele me olha assim que desliga o carro. — Acabou — confesso. — Não tenho mais compromisso, Diego voltou para Madri sozinho.

Ele demonstra surpresa.

— Quando?

— No dia do nosso jantar juntos. Eu já havia terminado com ele, porém Diego estava um tanto resistente a isso. Mas, por fim, ele entendeu, e acabamos. — falo sem dar mais detalhes.

Alexios parece ponderar o que eu disse, e isso me deixa nervosa, pois não sei o que pode estar pensando.

— Éramos compatíveis, você tinha razão, porém somente isso não era o suficiente. — Ele ainda não fala nada, e meu nervosismo aumenta. — Eu não estou pronta para amar alguém ainda.

— Por quê? — ele enfim reage.

— Acho que preciso de um tempo para me amar antes, fazer algumas coisas que fui deixando para trás por conta de outras pessoas.

Tento ser sincera na resposta, mesmo que omita a parte de estar apaixonada por ele e, por esse motivo, não conseguir amar ninguém mais. Alexios não saberia lidar com isso, e essa é uma questão com que apenas eu posso lidar, não é responsabilidade dele.

— O que aconteceu entre nós... — prendo o fôlego quando ele começa. — Eu não quero que afete nossa amizade, tenho receio disso. — Concordo. — Mas não vou mais reprimir o desejo que sinto por você. Só não quero machucá-la. Você me conhece, sabe que um envolvimento comigo não tem futuro.

Uau! Dói admitir, mas ele tem razão. Um envolvimento sexual com ele é somente isso, sexo e diversão passageira. Eu o conheço, talvez mais do que ele imagine, e reconheço que, do jeito que ele está, ferido como está, não consegue amar a si próprio, quiçá outra pessoa

— Eu sei — acalmo-o. — Eu quero o mesmo que você, deixar de reprimir minhas vontades, explorar o que você tem para mim sem culpa, sem pensar no amanhã. Vamos continuar amigos, com a diferença de que, sempre que quisermos, poderemos gozar juntos.

Ele sorri.

— Tem certeza?

Assinto.

— E a sua namorada? Eu não quero magoar ninguém também.

Ele ri.

— Não tenho namorada, Samara, e você sabe disso. Laura floreou as coisas naquela noite, e confesso que me pegou desprevenido. — Ele se aproxima de mim. — Ela só foi comigo porque eu estava com medo.

— Medo?

Alexios lambe meus lábios.

— De parecer um idiota ciumento ao ver outro homem te tocar.

Merda! Não leva para o coração, Samara!

Ouvir que ele tem ciúmes de mim acende a indesejável esperança de um dia ele me amar. Reprimo-a, sufoco-a, mandando-me ser realista e deixar de ilusão. Eu estou entrando em um envolvimento casual com ele, para realizar a fantasia, perceber que realmente nunca poderíamos dar certo juntos e curar essa paixonite.

É isso! Estar junto a ele agora vai me desiludir de vez, e aí, sim, poderei seguir em frente.

— Eu não desejo um amor pela metade, Alexios. Quando chegar a hora, vou amar e ser amada na mesma medida, por isso não me sinto pronta a me comprometer com ninguém.

Ele concorda.

— Você merece tudo o que desejar — sinto os olhos ficarem úmidos ao ouvir isso, pois certamente ele não tem ideia de que sempre foi ele que eu desejei. — Não posso dizer que lamento a saída do espanhol de campo, já que gosta tanto de futebol. Não gostei dele desde que pus os olhos naquela cara comprida. — Rio de sua implicância, mas logo ele muda de assunto, deixando-me com as pernas trêmulas: — Seu apartamento ou o meu? Quero trepar com você sem afobação.

Ele pisca, e pondero sobre o que fazer.

Não quero que ele vá para o meu apartamento. Eu sei que parece loucura isso, mas só habitaram meu espaço homens com quem namorei, com quem tive algum tipo de compromisso. Sexo casual – os poucos que tive – nunca foi na minha cama, e, se levar Alexios para lá, poderei confundir as coisas.

Preciso proteger meu coração acima de tudo!

— No meu não, prefiro no seu — respondo, e ele se surpreende.

Sim, eu sei que ele já fez muita putaria por lá, porém não quero que façamos diferente apenas porque somos amigos. Eu não quero me sentir especial sem ser de verdade, não quero me iludir.

— Tudo bem — ele responde seco e sai do carro.

Demoro um pouco mais a sair com a desculpa de que estou terminando de me ajeitar, quando, na verdade, estou avaliando a reação dele. Alexios pareceu contrariado, como se não me quisesse em seu espaço. Mas ele ofereceu!

 

— Vamos torcer para não encontrar ninguém! — faço piada na porta do elevador, e ele ri.

— Eu mal conheço meus vizinhos. — Dá de ombros. — Eu queria subir sozinho com você no elevador por outro motivo.

Cruzo os braços.

— Qual?

Alexios me puxa pela nuca e me beija com ardor. O elevador chega à garagem, e o som das portas se abrindo me faz abrir os olhos também, porém ele não me solta. Entramos assim, agarrados. Penduro-me nos ombros dele e ligo o foda-se para quem for entrar no elevador conosco. Tudo o que consigo pensar é nele, no prazer que ele me desperta, no poder de saber que ele mal se contém de vontade.

Sou esmagada contra o espelho, como naquela noite do baile dos Villazzas. Alexios levanta uma das minhas pernas, segurando-a por trás do joelho, encaixando sua ereção bem no meu centro.

Há câmeras no elevador e a possibilidade de, a qualquer momento, alguém entrar nele, mas estamos tão envolvidos no beijo, no jeito como nos movemos juntos, mesmo vestidos, que é como se estivéssemos em local isolado.

Eu quero tudo com ele!

Tudo o que ainda não fiz, tudo o que fantasiei e sonhei. Deixar de lado a Samara certinha e controlada, a moça recatada de família e ser apenas uma mulher se descobrindo nos braços do homem que sempre a excitou.

Sua boca sai da minha e se arrasta pelo meu queixo, pescoço e orelha. Gemo alto, sem controle, o tesão renovado com força total, pronta para mais uma viagem louca em direção ao prazer.

O elevador para, e eu abro os olhos rapidamente, porém Alexios não para de me beijar.

— Eita, porra! — Reconheço o roqueiro de madeixas longas, amigo do outro que mora na cobertura. — Eu pego outro!

Ele some rapidamente, e a porta volta a se fechar.

— Era o Luti? — Alexios pergunta com riso na voz.

— Acho que sim. — Encaro-o.

Começamos a rir como loucos da situação constrangedora, mas logo ele volta a rebolar contra mim.

— Eu disse que queria sem afobação, mas a vontade que estou é de te comer aqui mesmo, de pé, subindo e descendo os andares deste prédio.

Arregalo os olhos.

— Seríamos expulsos!

— Eu sei, não é excitante?

Mordo o lábio e concordo. A Samara normal nunca concordaria com isso, nunca acharia excitante, mas esta agora aqui com ele, tomada por volúpia e vontade de ser livre, ficou toda molhada só em pensar na possibilidade.

— Eu quero essa loucura com você — confesso. — Quero que você me mostre tudo o que gosta e que me dará prazer.

— É só me pedir, Samara. Peça, e eu realizo, estou completamente à sua disposição.

— Então me mostre... — Meus olhos escuros se perdem nos dele. — Mostre como Alexios Karamanlis dá prazer a uma mulher.

Ele sorri, safado, malicioso, e morde meu lábio inferior.

— Seu pedido é uma ordem!

Como se fosse combinado, as portas do elevador se abrem no andar dele, e Alexios me arrasta para fora. Eu entrelaço as pernas em sua cintura enquanto ele me carrega, achando tudo muito novo e divertido.

Ele abre o apartamento sem me soltar e só me põe no chão quando volta para trancar a porta.

Olho em torno. Não venho aqui há anos, e pouca coisa mudou. O sofá onde ele estava se divertindo com duas modelos lindas ainda é o mesmo, e sinto uma enorme insegurança tomar conta de mim. Ele já teve muitas mulheres, de todos os tipos, já deve ter realizado muitas coisas, nada mais deve ser novidade, enquanto para mim quase tudo é novo.

Meus relacionamentos foram sempre dentro do mesmo padrão. Eu tinha namorado mais para sair e distrair a cabeça do que efetivamente para sexo. Nunca me considerei boa de cama, nunca tive esse poder de enlouquecer um homem. Era sempre tudo natural. Eu conhecia alguém, a gente tinha afinidades, gostava da companhia um do outro, e aí o sexo rolava.

Alexios, não. Ele certamente sabe o que é enlouquecer uma mulher, sabe o que dizer e o que fazer; nada mais para ele deve ser segredo.

— Samara? — Viro-me para ele tentando não transparecer minhas preocupações. — Vamos para o banho.

Concordo sem falar nada, ainda sentindo um certo incômodo por ter escolhido ir para o apartamento dele, o mesmo lugar onde todas as mulheres que comeu provavelmente já estiveram.

Droga! Por que é tão difícil ser racional? Eu quis vir, eu escolhi aqui exatamente para não me dar uma falsa ilusão do que estamos tendo! Não era para eu estar me sentindo estranha com isso!

Alexios não me leva para a área íntima do apartamento, e estranho, pois pensei que ele iria me levar para o banheiro de sua suíte. Noto que transferiu a lavanderia para perto da cozinha, que é parte integrada à sala, e quando ele abre a porta do que deveria ser a área de serviço, perco o fôlego.

Em um canto, próximo à enorme janela espelhada que dá vista para um pedaço do Ibirapuera, ele instalou uma jacuzzi e alguns equipamentos de ginástica.

— Gosto de malhar pesado e depois receber massagem — explica, ligando a água. — Nos banheiros daqui não cabia uma dessas, então adaptei a planta original e criei uma espécie de SPA. Gostou?

— Claro que sim! — respondo com sinceridade. — Sinto falta de não ter uma banheira. No meu quarto lá na casa dos meus pais tem. Eu gosto muito da sensação de estar cansada e me deitar na água quente.

Alexios liga a água e começa a desabotoar a camisa.

— Eu geralmente me deito em água fria após os exercícios. — Ele tira a calça. — Mas eu sabia que você iria gostar; sempre amou estar na água.

Sempre amei o quê?!

Não consigo acompanhar o raciocínio dele, porque, desde o momento em que tirou a camisa e começou a desbotoar a calça, meu cérebro entrou em stand-by e os hormônios tomaram conta do meu corpo, causando revolução, incendiando tudo.

Ainda não o tinha visto nu!

Claro, já o vi de sunga, sem camisa, mas... – gemo quando ele tira a cueca – nunca nada assim. Que visão ele é! Sua pele clara, coberta por pelos aloirados, o peito definido, a barriga cheia de gomos, as coxas fortes e grossas. Simplesmente congelo o olhar sobre seu membro, que vi apenas parcialmente no carro, tendo noção agora de seu tamanho.

Suspiro.

— Samara? — Alexios me olha preocupado, mas depois parece entender o que eu estou olhando. Ele ri e vem até onde estou. — Também te quero nua! — Lambe minha orelha e começa a erguer minha blusa. — Naquela noite pude sentir, mas não olhei; agora quero tudo, ver, tocar, beijar...

Ajudo-o a se livrar da peça e abro o fecho do sutiã. Alexios se abaixa, retira minhas botas e puxa minha calça juntamente à calcinha.

— Porra... — ele sussurra.

Fecho os olhos assim que sinto a ponta do seu nariz se esfregando contra a parte interna das minhas coxas como se quisesse absorver o cheiro. Suas mãos apertam meu bumbum e me puxam para frente, e, antes que eu entenda o que ele pretende, sinto sua língua dura e quente avançar entre minhas dobras.

— Ah... — gemo e o seguro pelos cabelos.

Ele explora sem nenhum pudor, abre minhas pernas, inclina meu quadril para frente e esfrega a língua vagarosamente. Abro os olhos e o encaro, pois, mesmo me lambendo, ele não deixa de me observar. O brilho e o leve repuxar em seus olhos indicam que está sorrindo, então, sem nenhum aviso, ele fecha a boca sobre meu clitóris e chupa com força, ritmicamente, fazendo-me ter que segurar seus cabelos com mais força para não cair.

Minhas pernas parecem feitas de gelatina, e os músculos tremem tanto que temo não me sustentar de pé. A sucção junto ao aperto de suas mãos em meu corpo me faz vibrar, acender, perder o fôlego, de modo que, quando o orgasmo me toma, despenco sobre ele no chão.

Alexios me ampara em um abraço forte. Seu corpo firme também está trêmulo, sua respiração, irregular, e o coração soca seu peito com tanta força que posso senti-lo em mim. Sorrio extasiada, ainda curtindo os espasmos do êxtase criado por sua boca e os pequenos choques que, involuntariamente, vibram em meu clitóris inchado e sensível.

— Não estava enganado — sua voz rouca ressoa em meu ouvido, o hálito quente fazendo minha pele arrepiar de tesão. — Sua boceta é uma delícia! Gosto de mulher excitada, cheiro de tesão e aparência da porta do paraíso.

Gargalho.

— Exagerado!

— Não, você é um exagero, Samara. — Ele bufa. — Puta que pariu, que exagero!

Levanto o rosto e o olho, esperando encontrá-lo com seu típico sorriso malicioso, mas não, ele está sério, olhos brilhantes e uma expressão cheia de desejo.

Deslizo minha mão entre nossos corpos, procurando aquele pau lindo e assustador que vi há pouco. Os músculos definidos parecem se contrair ao meu toque enquanto ondulo entre os gominhos de sua barriga, passo pelo V em sua bacia e entro na área com pelos aparados, que me espetam levemente.

Nós dois gememos juntos quando seguro seu membro, duro como pedra, quente como brasa e molhado. Passo o polegar pela cabeça avermelhada e espalho sua lubrificação para poder masturbá-lo mais gostoso. Movimento os dedos para baixo e para cima, tocando-o diretamente na carne, pois não há prepúcio, o que indica que, em algum momento, ele fez a retirada da pele.

Já tinha percebido isso no carro, quando estava sentada em seu colo, e seu pau entre nós. Achei tão lindo, tão esteticamente perfeito ter tudo exposto, o contorno da cabeça, a forma como ela é desenhada de forma tão eficiente que parece ter sido calculada por um engenheiro. Ponta fina que vai engrossando até chegar no corpo do pênis, que continua o processo de aumentar de largura até a base.

Aperto-o mais, sinto o sangue correndo para encher cada cavidade, as veias mais grossas pulsando, enquanto ele fica ainda mais duro.

— Você é lindo — declaro sem nenhum pudor. — Eu quero provar você também, descobrir se seu gosto combina com o meu, para depois poder misturá-los e definir se esse novo sabor é gostoso.

Alexios parece surpreso com o que eu disse. Confesso que também estou, pois não sou assim tão direta em relação aos meus desejos. Todavia, com ele me propus a ser, quero explorar tudo o que ele puder me dar, e, como sei de sua limitação emocional, tudo o que vou ter dele é isso: sexo, desejo e realização de fantasias.

— Prove o quanto quiser! Meu pau é seu enquanto você o quiser, para qualquer experimento que desejar fazer.

Sorrio maliciosa e ergo a sobrancelha.

— Tem certeza disso? Pode ser perigoso.

— Perigo é um dos meus sobrenomes! — Pisca para mim.

Aperto-o com mais força, e ele geme, contorcendo-se sob mim. Ergo-me, afastando nossos corpos, contemplando seu membro duro e brilhante em minha mão, a pele esticada ao máximo, a lubrificação criando pequenas gotas translúcidas na ponta. Salivo, louca para experimentar.

Faço um caminho de beijos sobre seu abdômen, sentindo os pelos aparados coçarem meu nariz, até a base de seu pênis. Ergo-o para ter acesso a tudo e começo a lamber desde a virilha até a cabeça.

— Porra, Samara! — Alexios geme em desespero.

Sim, eu também posso ser malvada!, penso ao repetir o movimento, usando somente a ponta da língua para instigá-lo, porém sem chupar ou ficar por muito tempo sobre a parte mais sensível de seu pau.

— Chupa! — Ele ergue o quadril para que eu o tome em minha boca.

— Não...

Passo a língua toda agora, não só a ponta, deixando-o ainda mais molhado. Alexios xinga mais uma vez, impaciente, mas eu não tenho pressa; esperei a vida toda para fazer isso.

Deixo seu pau um pouco de lado e concentro minha atenção em suas bolas, chupando-as, massageando-as, admirando como ficam firmes por ele estar tão excitado. Decido provocá-lo e atinjo a textura do períneo com a ponta do dedo.

Alexios delira com minha boca em suas bolas, uma das mãos em seu pau, masturbando-o sem parar, e a outra brincando no entorno de seu rabo.

Nunca me senti tão excitada fazendo sexo oral, mas agora, talvez por ser ele ou tão somente por estar me permitindo curtir esse ato, sinto minhas coxas melarem, e basta apenas um apertar de coxas para que eu goze novamente.

Só que ele não permite; antes que eu me dê conta, levanta-se e me leva consigo para a banheira, já cheia d’água. Ele não liga os jatos massageadores, entra, senta-se na beirada, o mármore já quente da temperatura tépida que vem da água, ajoelha-se e arreganha minhas pernas sem nenhum pudor, deixando-me escancarada para ele.

Seguro a respiração diante de sua avaliação. Não é fácil deixar de lado todos os pudores e tabus; crescemos com a noção de que nosso sexo não é para ser visto ou notado, enquanto os homens desde meninos exploram e vangloriam-se de seus paus.

— Linda! — O sorriso sincero me faz relaxar, e consigo corresponder. — É incrível pensar que passei anos tentando não notar você como mulher. Eu me culpava quando ficava muito tempo olhando para seus peitos sob alguma camiseta ou quando ficava escondido na sacada, vendo você com a Kyra na piscina do condomínio onde morávamos.

— Você me notava?

Samara, cuidado com isso!, minha cabeça alerta o tempo todo, enquanto meu coração parece derretido.

— Não sou cego, mas precisava ser.

— Por quê? Por que éramos amigos?

Ele concorda, e meu coração dói.

— Eu não queria magoá-la; ainda não quero.

— Você não vai. Sei bem o que estamos fazendo, Alexios, não vou esperar mais do que isso. — Tento sorrir para aliviar o bolo em minha garganta e decido provocá-lo. — Então é bom você fazer isso valer a pena, pois, se não der conta de mim, aí, sim, vamos...

Paro de falar – ou de pensar – no exato momento em que ele me puxa mais para a beirada e mergulha entre minhas coxas. Sim, não é exagero! Eu o sinto todo aqui, não só sua boca, mas todo ele me chupa enlouquecidamente. Grito de tesão, as mãos apoiadas sobre o mármore, segurando meu corpo, enquanto o prazer me inebria sem reservas.

Estou sendo fodida por sua língua, que também lambe cada contorno do meu sexo, brinca com meus lábios, estimula meu clitóris. Alexios vira um pouco a cabeça, e sinto seus dentes se fecharem nas laterais de minha boceta, antes de ele chupá-la com força.

Fecho os olhos, o corpo reagindo a cada movimento, os músculos tensionando, correntes elétricas me cruzando de norte a sul, fazendo minha respiração ficar ofegante e minha mente em branco. Sou toda sentidos agora, não consigo fazer mais nada, apenas desfrutar das sensações, esperando o momento em que tudo irá explodir dentro de mim e me fazer viajar ao encontro de uma nuvem de prazer.

Acontece!

Não me controlo, aperto minhas coxas contra a cabeça dele, não contenho os espasmos, perco o fôlego e me seguro em seus cabelos.

A água quente da banheira me envolve logo em seguida, mas não toco a louça, pois Alexios me senta sobre seu colo devagar, seu sexo encaixando-se no meu, preenchendo-me, inundando meu corpo de sensações.

Ele segura meu rosto junto ao seu, cara a cara. Os arrepios na minha pele obviamente não têm nada a ver com a temperatura do ambiente, mas sim com a reação química que acontece sempre que encostamos um no outro.

— Não se mexa — ele pede. — Esqueci de pegar camisinhas, mas estou limpo, Samara. — Assinto, mas confesso que não estou entendendo o que ele me fala, afinal, minha cabeça ainda parece flutuar. — Eu sei que não devemos arriscar tanto, não sei se você está protegida, então não se mexa.

Movimento-me, e ele xinga alto em meio a gemidos.

— Eu uso contraceptivo — informo-lhe quando compreendo sua preocupação. — Também estou limpa. — Tento me concentrar nele e dizer com seriedade: — Você tem certeza de que...

Alexios não responde, pois começa a se mover sem parar, segurando-me pelos quadris, imobilizando-me enquanto me fode e fazendo boa parte da água transbordar.

Seguro-me em seus ombros, deliciada com a expressão de deleite em seu rosto. Ele geme alto, seu corpo se contorce, seu pau pulsa dentro de mim de um jeito foda e me toca em um ponto específico que faz uma onda de prazer tão forte me atingir que acabo gozando junto a ele.

Abraço-o, trêmula, suada mesmo dentro d’água, sentindo-me satisfeita e feliz por descobrir tantas formas de prazer com ele.

Não precisei me estimular, não precisei fantasiar ou forçar o gozo. Tudo veio naturalmente, fácil, como se eu estivesse esperando pelo toque certo.

Pelo homem certo!


Ter Samara assim, deitada encostada no meu corpo após o delicioso sexo que fizemos, nunca passou pela minha cabeça. Que idiota! Nunca vi entrega maior do que a dela, uma sensação de que eu a guiava ao prazer, mas porque ela me permitia fazer isso.

Eu imaginava que o sexo com ela iria ser foda por conta de nossa amizade, mas não fazia ideia de que seria como foi.

Esplêndido!

Confesso que, no começo, não entendi a preferência dela pelo meu apartamento. Eu jurava que ela iria querer ficar em sua própria cama, mais confortável, e não entendi a recusa. Era como se ela não me quisesse em seu espaço por algum motivo, e me isso me incomodou.

Depois, já aqui, percebi o olhar dela vagueando pela sala e um certo ar de arrependimento. Samara sabe que eu nunca vali nada, acompanhou muitas vezes a legião de mulheres subindo e descendo aqui em festinhas regadas a bebidas e foda.

Senti-me constrangido e por isso decidi que ela teria tratamento diferenciado.

— Gostando da vista? — pergunto a ela, que parece admirar as luzes do parque ao longe.

— Sim — responde baixinho. — Aposto que faz sucesso com todas as mulheres que você traz para cá.

Franzo o cenho ao ouvir isso, pensando que, sim, faria, caso eu já tivesse trazido alguma.

— Não sei, esse espaço é meu, não é uma área que criei para sacanagem. — Ela olha para cima a fim de ver meu rosto. — É a primeira vez que divido essa banheira com alguém.

Samara se senta de repente, afastando-se de mim, e pega uma toalha.

— Acho que já estamos muito tempo na água... — justifica-se, saindo da banheira.

Não entendo a reação dela, parece que o que eu disse a assustou. Abro a boca para questionar, mas logo a fecho, admirando-a se secar. Samara não é grande, tem estatura média, pernas definidas de quem faz alguma atividade física – eu lembro que ela fazia balé quando mais nova, mas não lembro se continuou –, a cintura fina, bumbum redondo e proporcional, peitos fartos, pesados e ombros miúdos. Uma falsa magra, como dizem.

A pele morena, ressaltada pelos cabelos e olhos escuros, me atrai muito. Tudo nela sempre me atraiu, na verdade, pois quase não trepo com loiras.

Ela se enrola na toalha e me encara, ainda aqui deitado na água morna.

— Vou pedir algo para comer. O que você prefere?

— Você! — respondo de pronto. — Samara na banheira, uma especialidade que já experimentei. Samara no carro, uma iguaria perigosa, digna de aventureiros, mas que já desbravei. Faltam muitas opções desse menu ainda: Samara na cama, no balcão da cozinha, em cima da mesa, no tapete da sala, no chuveiro...

— Alexios! — Ela ri. — Estou falando sério.

— Eu também! — Levanto-me. — Porém me satisfaço com uma pizza portuguesa bem grande e com muito ovo, como você gosta.

Ela sorri, alegre, demonstrando que ganhei pontos por ter me lembrado de sua pizza favorita desde a infância.

— Pizza, então. Vou pegar meu celular.

Samara caminha em direção a uma das portas, e eu pulo da banheira a fim de a impedir de abri-la.

— Porta errada. — Abro um sorrisão para disfarçar. — A saída é aquela outra lá.

Eu deveria saber que minha ação iria despertar a curiosidade dela e que meu sorriso só a convenceria de que estou escondendo algo.

— O que tem aqui?

Merda! Não sei se quero mostrar a ela ainda, mesmo que, algum dia, eu decida fazê-lo. Aposto que iria gostar. Não, tenho certeza de que ela iria gostar!

Abro a porta e a deixo ver por si mesma.

— Você voltou a pintar? — pergunta surpreendida.

Ela entra no pequeno quarto que uso como ateliê, o cheiro forte de tinta e solvente no ar, os cavaletes com pinturas inacabadas e a bagunça que “todo artista” faz ao criar.

— Às vezes, como forma de terapia, Chicão sugeriu, e eu gostei. — Dou de ombros como se não tivesse importância, mas ela sabe que tem. — Ainda não terminei nenhuma, mas sigo tentando.

Samara analisa meticulosamente cada uma das telas, olhos brilhando, sorriso orgulhoso a ponto de me fazer sentir vergonha do descaso com que executo esse trabalho.

— Eu me lembro de quando você desenhou meu rosto com carvão, lembra? — Ela ri. — Foi na época do filme Titanic.

— Eu tinha só 12 anos, nem sabia o que estava fazendo.

— Ah, mas amei! Meus pais não me deixaram ver o filme no cinema, mas depois vi na casa de uma amiga, e, quando Jack pintou a Rose, me lembrei de você fazendo o mesmo comigo.

— Só que não nua... — Abraço-a pelas costas e tiro sua toalha. — Eu ainda não tinha como saber, naquela época, que bela pintura nua você daria.

Samara ri, e eu estico a mão para pegar um pincel de marta, de pelo macio e suave, e contorno seus ombros, pescoço e nuca com ele, adorando ver a pele dela se arrepiando a cada movimento.

— Eu tinha medo de fazer besteira e perder sua amizade — confesso.

— Como assim?

Rio, já prevendo o choque e a incredulidade dela.

— Nós crescemos juntos, brincávamos como se fôssemos irmãos, mas teve uma época em que eu me dei conta de que não éramos. — Ela se vira para me olhar. — Eu já tinha feito sexo, já era experiente, e você sempre foi inocente, doce, completamente o oposto de mim.

— E? — sua voz soa um tanto trêmula, e eu rio, balançando a cabeça, receoso do que ela irá pensar se eu lhe disser que senti tesão por ela, masturbei-me algumas vezes olhando para sua foto e fiquei uma semana andando de pau duro quando ela me convidou para o baile de formatura.

— Coisa de adolescente...

— Não, me diz o que você ia contar. Por que você temia perder minha amizade?

Bufo, arrependido de ter começado o assunto, mas faço o que ela me pede.

— Porque eu quis te comer. — Samara arregala os olhos. — Mas percebi a tempo que isso só iria nos afastar, e você não era só minha amiga, mas também da Kyra, e eu não queria fazer merda contigo. Foi por isso que te deixei sozinha no baile de formatura, porque naquela noite eu só pensava naqueles malditos filmes americanos, louco de vontade de terminar a noite desvirginando você no banco de trás do carro. — Faço careta, debochando do meu pensamento, esperando que a cara de espanto que ela faz se desfaça. — Muito idiota eu, não?

Ela solta o ar devagar, como se o estivesse prendendo desde que comecei minha confissão.

— Não tem medo de perder minha amizade mais?

Nego.

— Somos adultos agora, sabemos bem o que queremos. Naquela época eu era um porra-louca, e você, uma menina sonhadora. Certamente iria dar em merda.

Ela concorda balançando a cabeça, mas sua expressão ainda é um enigma para mim. Sinto-me estranho, não sei se foi uma boa ideia falar sobre isso, então decido mudar de assunto.

— Nunca mais pintei nenhuma modelo viva. — Olho-a da cabeça aos pés. — Mas eu gostaria de tentar se você quiser.

Samara arregala os olhos e fica vermelha.

— Me pintar nua?

— Sim, por que não?

Ela ri nervosa.

— Porque é... — Olha em volta e morde o lábio inferior, fazendo meu pau acordar imediatamente. — Não sei, mas é tão... depravado, isso.

Gargalho.

— Samara, as pessoas hoje mandam nudes a torto e a direito.

— Eu sei, mas uma pintura... — Ela respira fundo. — Pode levar muito tempo e...

— É uma ótima ideia, eu acredito. — Toco seu rosto. — Vou adorar captar na tela seu rosto depois de gozar.

— Alex... — ela sussurra quando eu abaixo a cabeça e abocanho seu mamilo — a pizza...

— Foda-se a pizza, Samara! — Ergo-a e a coloco sentada sobre o banco que uso quando pinto. — Eu sinto fome de você!

 

— Não achou nada? — Kyra me pergunta pelo telefone.

— Não — respondo seco. — Kyra, não quero que Samara volte lá. Ela ficou muito abalada com tudo o que lhe contei.

Ouço o suspiro dela.

— Alex, você sabe que, se ela cismar que vai, ela vai.

Não, ela não vai mais!

— Estou abrindo mão de procurar qualquer coisa naquele lugar. Vou devolver as chaves e esquecer essa história. Não sou criança mais.

— Eu sei, mas isso ainda o fere, e ele sabe disso.

Cerro os punhos, tentando conter a raiva que sinto por tal coisa. Raiva de mim mesmo, da minha fraqueza, de ser esse menino assustado querendo saber o que houve com sua mamãe.

— Ele não tem por que se aproximar da gente mais, não teria essa coragem.

— Eu espero que não, não sei o que eu seria capaz de fazer se ele se aproximasse de mim de novo — a dor que sinto ao ouvi-la dizer isso é lancinante.

Eu odeio aquele homem, deveria tê-lo matado quando tive a oportunidade, mas não o fiz. Merecia; mais do que qualquer outro, ele merecia morrer.

— Bom, tenho uma reunião agora, últimos ajustes com minha equipe nos projetos do maior negócio da Karamanlis nos últimos tempos.

— E a situação do Theo? — Kyra parece genuinamente preocupada.

— A Karamanlis ainda está sob auditoria, e Millos tem andado de um lado para o outro para conseguir tudo que os auditores querem. Está um tanto engraçado, mas nem um pouco fácil.

— Ai, Alex, você tem um humor esquisito! — Ela ri.

— Olha quem fala! Depois falamos mais.

— Sim, vou sair com Samara mais tarde. Ela sumiu nesse final de semana, mas nem posso culpá-la, deve ter ficado com a família. — Sorrio malicioso, adorando saber exatamente onde e com quem Samara esteve durante o final de semana todo. — Até mais!

Kyra desliga, e eu entro no prédio da empresa. Ao contrário do que ela disse, não estou com humor esquisito, estou de ótimo humor!

Passei o final de semana todo trancado no apartamento com Samara. Sim, nós não saímos de lá para nada, a não ser ela, que desceu alguns andares para pegar seus itens de higiene e um vestido para o dia que retornasse para lá sem ter que colocar aquela roupa preta de ninja.

Trepamos muito, admito, foi bom “pra caralho”, uma experiência como nunca tive, porque, além do sexo bom, tínhamos conversa boa e muitas coisas em comum. Samara e eu jogamos juntos, ouvimos música, fodemos, vimos séries, fodemos de novo, fizemos comida e... claro, fodemos na cozinha.

É gostoso demais estar com ela, tanto que só de me lembrar, volto a ficar excitado.

Bom, Kyra tem razão sobre ela precisar se concentrar na família, afinal está aqui para acompanhar a mãe durante a luta contra o câncer, e, pelo que sei, dona Ana Cohen já voltou a fazer quimio.

— Alexios? — um dos funcionários da K-Eng me chama. — Deixaram uma pasta para você na sua sala agora de manhã, está marcada com urgência.

— Obrigado, vou olhar.

Sigo para a sala, de terno, todo burguesinho hoje por conta da maldita reunião e abro a pasta despreocupado, mas logo a solto ao ver o recorte da reportagem no jornal sobre o sobrado de Madame Linete.

Sento-me na cadeira sem ação, conferindo a data do periódico, confirmando ser realmente da época em que o bordel foi fechado, e a cafetina, presa.

Procuro por qualquer pista sobre quem possa ter enviado o envelope, mas não tem nada, apenas o maldito jornal velho e fedendo a mofo. Quem iria me mandar uma reportagem de 15 anos atrás? E por quê?

Não há nada naquele maldito lugar que valha a pena mantê-lo de pé, e Kostas já disse que irá demoli-lo, então por que algum filho da puta está me mandando mensagens anônimas sobre aquela porra?

Eu não quero mais Samara naquele lugar, por isso mesmo, não vou contar a ela que vou voltar, mas é algo que eu preciso fazer. Tenho de vasculhar tudo uma última vez e tentar encontrar alguma coisa.

A chave do mistério sobre a minha história está naquele maldito sobrado!


Mudo o layout da sala de reuniões mais uma vez, trocando móveis, decoração e as cores da paleta. Paleta! Suspiro mais uma vez, distraída, cabeça nas nuvens, sorriso frouxo e olhos brilhando.

Parecia um dos meus sonhos, com a diferença de que era real! Eu passei um final de semana inteiro com Alexios, mas não como amiga, como sua amante, em seus braços, recebendo todo o tipo de atenção que fantasiei a vida toda, mas que superou – e muito! – qualquer sonho erótico que eu já havia tido com ele.

Tento não viajar demais no que aconteceu entre nós, porque sei bem que não vai passar disso: sexo. Contudo, preciso ser sincera e dizer que é difícil proteger o coração depois de tudo o que ele me revelou.

Ele me via! Fecho os olhos e sorrio como boba. Ele sentia atração por mim! A menina que eu fui se rejubilou com essa confissão, meu coração ficou tão apertadinho, como se eu pudesse confortar a mim mesma, dizendo que ela era vista e que ele a queria também.

Só quem já amou alguém tanto, platonicamente, pode entender essa sensação. Era um sentimento puro, feito de ilusões e sonhos bobos, que se transformou em desejo na adolescência e em amor na vida adulta. Eu amo Alexios, não tenho dúvida alguma disso!

Tento manter em mente que, apesar de ele me querer, de ter dito que começou a sentir esse desejo desde nossa adolescência, não muda o fato de que não pode me corresponder no que eu mais quero. Alexios não pode me amar, e eu compreendo isso demais! Sou sua amiga acima de tudo, e cada vez que conheço mais um pouco de sua história, penso em como ele poderia ter noção desse sentimento, se só viveu rejeição, brutalidade e loucura.

Alexios não conheceu muito o amor de mãe, porque, muito embora a mãe de Kyra o tenha adotado, aquela vaca não foi mãe da própria filha de seu sangue, imagine de um menino que já carregava o estigma de ser filho de uma prostituta. Quanto ao pai dele...

Sinto arrepios em minha pele ao pensar no homem que, por um bom tempo, frequentou minha casa. Nunca entendi o motivo de, de repente, papai começar a se afastar de Nikólaos, renunciar aos projetos da Karamanlis e distanciar nossas famílias a ponto de nunca aceitar bem minha amizade com Alexios.

Isso foi sempre algo que me incomodou, porque mamãe tratava Kyra como se fosse sua filha, mas papai sempre foi distante dele e evitava Alexios ao máximo.

Agora, sabendo do que o pai deles é capaz, entendo meu pai. Provavelmente ele descobriu sobre as atrocidades cometidas por Nikkós e decidiu se afastar. Benjamin é e sempre foi um homem que preza a honestidade e o bom caráter, tenho certeza de que ter descoberto os podres do amigo o fez terminar a amizade, mas não o aproximou dos meus amigos e muito menos de Alexios.

Alexios... suspiro, o nome dele saindo baixinho pelos meus lábios. Nunca vivi nada parecido com o que fizemos nesse final de semana. Talvez me sinta assim por conta do que sinto. Contudo, posso dizer com certeza que foi a melhor experiência até aqui.

Depois do sexo na banheira e de ter descoberto o pequeno estúdio de pintura, transamos mais uma vez, lá, no meio das tintas e cavaletes. Foi uma rapidinha desenfreada e gostosa, e, quando eu ainda tentava recuperar o fôlego, ele voltou a me pedir:

— Posa para mim.

Fiquei vermelha, imaginando como seria ficar horas parada para que ele pudesse colocar na tela o que via.

— Não seria mais prático você tirar uma foto minha e pintar por ela?

Alexios fez careta.

— E qual seria a graça? — Ele resgatou o pincel de pele macio, que havia caído enquanto trepávamos como coelhos e começou a excitar meus mamilos com ele. — Não vou cansar você, pelo menos não de posar. A ideia é ir devagar, pintando e trepando, não nessa ordem, claro.

— Isso é tão...

— Excitante?

Ri e neguei.

— Safado! É bem a sua cara me propor isso. — Ele fez uma carinha de anjo suplicante linda, e eu não resisti. — Aceito, mas vamos ver se vou gostar dessa coisa de ser modelo...

— Musa! — ele me corrigiu. — Você será minha musa!

Fiquei sem jeito, ganhei um beijo carinhoso na testa e ajuda para me levantar. Meu coração estava completamente rendido a ele, mas minha mente protetora me lembrava o tempo todo do que havíamos combinado e de que eu não deveria criar expectativas.

Mas e esse carinho todo?, questionava-me, mas logo a razão respondia: vocês são amigos, é óbvio que o tratamento seria diferente, afinal, ele não te pegou numa balada, vocês têm história! E se não for isso?, meu coração teimoso voltava a questionar, ao mesmo tempo em que a razão rebatia: ele deve ser assim com todas as mulheres que come!

— Ser assim como?

Arregalei os olhos e percebi que tinha falado em voz alta e que ele me olhava curioso.

— O quê?

— Você disse: ele deve ser assim com todas! E eu perguntei: assim como?

— Atencioso — tentei disfarçar. — Eu vou pedir a pizza pelo aplicativo, agora estou com mais fome ainda.

Alexios se aproximou de mim e levantou meu rosto, segurando meu queixo levemente.

— Sim, eu tento ser atencioso com todas as mulheres com quem me envolvo, mesmo por uma noite só. Não vejo sentido em tratar mal alguém com quem eu estou compartilhando prazer, não sou desse tipo. — Concordei e tentei voltar a olhar para o celular, mas ele continuou mantendo minha cabeça erguida para encará-lo. — Com você é diferente, sim, admito. Somos amigos há muitos anos, você me conhece como ninguém, assim como eu a você. Nada mais normal do que ser mais carinhoso e atencioso, afinal, você não é qualquer mulher.

Sorri, sincera, gostando de que ele me visse assim, sentindo-me agradecida por todos os receios e dúvidas de quando chegara ao apartamento dele terem sido dissipados aos poucos.

Alexios fez questão de fazer sexo comigo em locais de seu apartamento onde ninguém mais havia estado. Tentei não levar isso para o coração, mas foi impossível. Eu só precisava ficar repetindo o tempo todo que tudo aquilo acontecia porque éramos amigos, nada mais do que isso.

Pedimos a pizza e comemos juntos ao balcão da cozinha, porque percebi que ele até então não havia feito os móveis do projeto de decoração que eu tinha feito quando ele fora morar ali.

— Você disse que queria Samara na mesa, mas não há nenhuma aqui. — Apontei para a sala de jantar vazia.

— Tenho um pequeno escritório, tem mesa lá. — Ele se aproximou de mim. — Não ficaremos sem provar essa delícia!

A pizza acabou esquecida ainda pela metade, pois, assim que ele me beijou, eu soube que não iríamos comer mais. Alexios me ergueu, apoiou-me na bancada de pedra e me devorou com toda a fome que dissera que sentia por mim.

Não tive dúvidas, realmente ele estava faminto!

Tomamos banho de chuveiro juntos, e pude ensaboá-lo todo, admirando seu corpo esbelto e firme, enquanto ele lavava meus cabelos.

— Você faz isso bem! — elogiei.

— Treinei muito com a Kyra — contou-me. — Quando Sabrina foi embora, Nikkós ficou sumido por uns dias, e a babá estava de férias. Kostas e eu revezávamos para cuidar dela. Muita coisa a menina já fazia sozinha, mas lavar os cabelos era complicado, então essa tarefa coube a mim, porque Kostas ficou com a parte de fazê-la comer e dormir nos horários certos.

— Eu não me lembro disso. Por muitos anos eu não suspeitei de nada.

— Normal, éramos crianças.

Saímos do boxe, e ele me deu uma camisa de malha para vestir, porque eu queria descer para meu apartamento a fim de buscar itens pessoais, mas ele me fez desistir. Deu-me uma escova de dentes nova, emprestou-me uma camisa e me fez gozar com sexo oral, esparramada em sua cama.

Dormimos quase nada naquela noite, apenas desmaiamos e acordamos tarde no sábado. Tomamos café da manhã juntos, mais um banho na jacuzzi, dessa vez bem demorado, com direito a conversa, carícias e sexo. Ele pediu uma entrega de comida, e entramos em uma disputa de game que levou a tarde toda.

— Quer ir a algum lugar essa noite? — ele me perguntou assim que anoiteceu.

— Não, estou com preguiça.

Era desculpa, pois eu queria ficar com ele o máximo de tempo possível, pois não fazia ideia de até quando iríamos continuar naquela coisa de “amizade colorida”.

Cozinhamos, bebemos, vimos filme e, quando nos deitamos, cansados, não conseguimos tirar as mãos um do outro e acabamos fazendo mais sexo.

— Me conta suas fantasias — Alexios pediu, deitado na cama ao meu lado.

— Ah, não sei... — Ele me olhou como se não acreditasse, e eu resolvi ser sincera. — Não experimentei muita coisa, nunca usei um brinquedo. — Ri sem jeito. — Nunca tive nem um vibrador para chamar de meu.

— Gostaria de ter?

Mordi o lábio. Estava pronta para dizer que preferia um pênis de verdade, o dele, mas então mudei de ideia.

— Gostaria! E de fazer sexo em locais diferentes também.

— Onde, por exemplo?

Foi impossível não revisitar uma das minhas maiores fantasias: o iate dele! Sempre via reportagens em revistas ou em sites de fofoca sobre o barco festeiro de Alexios Karamanlis. Sonhava que, um dia, seria eu lá com ele, viajando pelo litoral, passando os dias quentes na água com ele e às noites frias no mar em seus braços.

— No mar — respondi genericamente. — Parar em alguma praia à noite, com o céu estrelado e...

— Romântico. — Ele riu. — Eu estava esperando descobrir que você gostaria de fazer sexo em um elevador, por exemplo, e você fala do mar à noite.

— Desculpa? — ironizei.

— Malcriada! Eu ia só dizer que essa sua fantasia combina muito mais contigo. Eu consigo te ver na proa de um barco, nua, toda prateada pela luz da lua, deixando o sortudo ao seu lado desnorteado e louco de vontade de estar dentro de você.

— Hum, gosto disso!

Alexios rolou para cima de mim.

— Eu estaria louco para isso. — Levantei a sobrancelha ao sentir seu pênis duro no meio das minhas coxas. — Na verdade, já estou!

No domingo, Kyra me ligou cedo, mas não atendi. Certamente ela me perguntaria onde eu estava, e não poderia lhe mentir. Naquele dia só falei com meu pai, querendo saber notícias sobre mamãe, e, quando soube que ela estava bem, relaxei.

Alexios me pediu para dormir com ele novamente, por isso desci até meu apartamento, peguei algumas coisas e voltei para o dele. Começamos a sessão de pintura à tarde, enquanto o mundo parecia cair em São Paulo, pois começou a chover forte. Nós definimos a posição, e ele começou os esboços.

— Prometa-me que ninguém verá isso! — exigi antes de começar.

— Assim que o quadro estiver pronto, ele será seu!

— Você não o quer?

Alexios me abraçou pela cintura.

— Quero você!

Beijamo-nos longamente. Alexios segurava meu rosto e sugava meus lábios, lambia-os, arrastava a língua contra a minha, e eu gemia. Mesmo com a boca colada na dele, sendo devorada por ele, eu gemia, incendiada, acesa, tão louca de tesão que não parecia que estávamos há três dias fazendo sexo sem parar.

Rio, lembrando-me do banho de assento que terei que fazer hoje, porque, mesmo com lubrificação abundante — minha e dele – minha menininha foi muito usada e precisa de um refresco.

Vim direto trabalhar, e Alexios também seguiu para a Karamanlis, não antes de me contar a confusão que está por lá. Senti pena do Theodoros, mesmo tendo sentido raiva dele quase a vida toda. Na verdade, acho que meu sentimento negativo com relação a ele era em consideração à Kyra, então, a partir do momento em que minha amiga o perdoou, perdeu o sentido continuar xingando-o.

Falei com ela há pouco por telefone e marcamos de sair mais tarde para conversarmos. Ela anda muito tensa esperando o resultado do transplante em sua sobrinha, e nada mais justo do que estar com ela nesse momento, acalmando-a, incentivando-a a acreditar no melhor.

Bom, vai ser complicado esse jantar, porque ela não se convenceu nem um pouco de que passei o final de semana em casa – mentira, mas tentei me justificar dizendo que estava no mesmo prédio pelo menos –, e vou ser tão pressionada que acabarei lhe contando o que está rolando entre mim e Alexios e não imagino a reação dela.

Nem a dele, na verdade, porque não conversamos sobre isso ficar apenas entre nós ou se eu posso dividir com a Kyra. Seja o que Deus quiser!

Meu telefone toca. Não reconheço o número, porém, como ele é o profissional, atendo.

— Samara? — uma voz grave pergunta.

— Sim, quem fala?

— Doutor Konstantinos Karamanlis. Sou irmão de Alexios.

Como se houvesse muitos Konstantinos Karamanlis por aqui!

— Ah, olá, tudo bem? — tento ser educada, mesmo que o ache um tanto arrogante. — Em que posso ajudá-lo?

— Eu preciso de um móvel planejado, mas não poderia ser qualquer planejado, por isso peguei seu número com meu irmão. É um presente e tem significado especial.

Olha, o homem parece ter alguma sensibilidade!

— Eu estou no meio de um megaprojeto. Se não for algo complicado...

— Não, não é! Vou mandar todas as informações para o aplicativo de mensagens desse número.

— Está certo, e, se fecharmos, eu vou até...

— Não! — ele me corta. — Você não poderá ir ao local. — Ele sussurra: — É uma surpresa.

Surpreendida ao quadrado!

— Está certo, então me mande tudo o que conseguir. Vou montar algo e lhe envio para aprovação.

— Consegue mandar fazer com um prazo bem curto?

— Olha, bem curto é impossível, mas posso pressionar, sim.

Ele agradece e desliga, e eu fico parada, pensando no que está acontecendo com o mundo. Konstantinos Karamanlis sensível, cheio de surpresas e educado.

Eu tenho que aproveitar essa maré de mudanças!, penso rindo, refletindo sobre minha própria situação surpreendente.


Ando de um lado para o outro dentro do meu apartamento, olhando as horas de tempos em tempos, como também o aplicativo de mensagens. Samara esteve online há mais de três horas, e Kyra também, um sinal claro de que as duas ainda estão juntas, conversando.

Tentei falar com Samara mais cedo, porém ela não atendeu as minhas ligações, provavelmente ocupada com o projeto que está desenvolvendo. Fiquei me sentindo preso como um bicho enjaulado dentro da empresa, andava para cima e para baixo, tenso, sem saber o que fazer ou como agir.

Tudo no que eu pensava era que queria estar com ela.

Não sei se irei contar sobre o recorte do periódico, pois, como disse à minha irmã, não quero mais submeter Samara àquele lugar, e, se ela souber do recado implícito em forma de jornal, certamente irá querer ir até lá novamente.

Não! É muito pesado!

Abro a geladeira e pego uma cerveja, tentando esfriar a cabeça. Já tomei banho, malhei, entrei no chuveiro de novo, porém nada adiantou. Sinto-me impotente, amarrado, servindo de brinquedo para algum sádico que decidiu se divertir com... paro em seco, a cerveja a meio caminho da boca.

Não! Ele não faria isso!

Nikkós sabe que esse é o único ponto em que ele consegue me acertar, a única situação não resolvida para mim depois que abandonei aquela maldita cobertura e livrei a mim e a Kyra das suas loucuras. A não ser que esteja tentando me desestabilizar novamente, tornar-me louco como ele mesmo é, não creio que estaria lá no raio que o parta tentando me envenenar aqui.

Ele é sádico demais para fazer as coisas “na encolha” e não levar o mérito por suas torturas.

Olho para o aplicativo de mensagens e vejo que Samara visualizou a mensagem e que está digitando algo.


“Oi! Boa noite, ainda acordado?”


Sento-me no sofá, aliviado por apenas saber que ela está online.


“Sim. Como foi a noite?”


Samara digita devagar ou talvez seja minha ansiedade atacada que está impaciente.


“Boa! Kyra é uma companhia divertida, e a comida estava maravilhosa.”


Sorrio ao pensar nas duas juntas, mas fico sério ao lembrar que ambas são lindas e que, certamente, algum abusado tentou se aproximar delas.


“Foram muito assediadas?”


Samara põe um emoji gargalhando.


“Kyra é como uma chama, você sabe. Impossível ela pisar em qualquer local e não deixar meia dúzia de homens e de mulheres babando. Eu sou normal, não chamo tanta atenção assim.”


Que porra de normal é essa? Samara é linda por dentro e por fora, além de fazer sexo com uma fome e uma vontade de experimentar tudo que nunca encontrei em parceira alguma.

Fico excitado ao pensar nisso, mas não resisto.


“Você é linda. Cansada?”


Minhas pernas tremem de impaciência, esperando que ela digite.


“Um pouco. Acho que estou ficando velha, minhas costas estão um pouco doloridas por ter ficado o dia todo sobre a prancheta.”


Levanto-me e sigo até meu quarto, questionando o motivo pelo qual ela não usa programas de computador, mas prefere fazer alguns de seus projetos à mão. Ficam lindos, é quase um trabalho artístico e totalmente personalizado, mas dá uma trabalheira sem fim.

Acho o que estava procurando e saio, indo pelas escadas até o andar dela.


“Um banho quente e uma massagem podem aliviar.”


“Queria, mas estou aqui, sentada na cama, sem roupa, conversando com você.”


Ando mais rápido e chego à porta dela ofegante.


“Então se enrole em um roupão e venha abrir a porta para mim, que prometo deixar suas costas bem relaxadas.”


Samara sai rapidamente do aplicativo de mensagens e, segundo depois, abre a porta para mim, olhar surpreso e um sorriso.

— Achei que não íamos nos ver hoje — ela dispara e me deixa um tanto inseguro.

— Se você não quiser, posso...

Ela olha para o frasco em minha mão e cruza os braços.

— Óleo de massagem? Hum, como recusar? — Arruma o cinto do roupão. — Se eu subir assim vai ficar...

— Por que temos que subir? — inquiro curioso. — Estou aqui, à sua porta, com um óleo de massagem, excitado como um cão no cio, louco de vontade de estar com você. — Aproximo-me. — Deixe-me entrar.

Escuto-a respirar fundo e temo que rejeite. Ainda não sei o motivo pelo qual Samara parece tão resistente a me ter em seu apartamento, mas tenho certeza de que é proposital.

— Entre.

Sorrio e a abraço forte, esquecendo tudo o mais, deixando meus questionamentos, inseguranças e ansiedade do lado de fora do nosso abraço. Aqui, dentro dele, só existe o quanto ela me faz leve e o desejo latente que sinto quando a toco.

— Aconteceu algo? — Samara questiona baixinho, e eu percebo que a estou apertando há muito tempo.

— Dia fodido, precisava de você.

Ela sorri.

— Estou aqui. O que posso fazer para...

— Deixe-me cuidar de você, te fazer relaxar, parar de sentir as costas doloridas e só sentir prazer. — Fecho a porta e abro o seu roupão. — Quero ser escravo do seu tesão, servir você como quiser, para então eu ter meu gozo completo em seu corpo.

— Alexios...

Pego-a no colo e caminho para o seu quarto. O cheiro de Samara está impregnado no ambiente, assim como sua personalidade doce, sonhadora, amigável e compassiva. Eu vejo um pouco da alma dela em cada detalhe, em cada canto e fotografia.

Entro no banheiro e lamento a falta de uma banheira. Seria perfeito tê-la deitada na água quente enquanto eu a massageio.

Coloco-a no chão, ligo o chuveiro e, sob seu olhar apreciativo, dispo-me.

— Você se ofereceu para me mimar... — espalma a mão sobre meu peito e brinca com os pelos curtos — mas não creio que ele — aponta para meu pau — esteja tão paciente para isso.

— Foda-se ele! — Puxo-a para dentro do boxe. — O meu prazer hoje será o seu prazer.

Coloco-me debaixo da ducha de água morna, segurando-a junto ao meu corpo. Samara geme quando sente minhas mãos massageando com calma a base de sua coluna, depois subindo devagar em direção aos ombros.

Ela se rende, fecha os olhos. Eu me abaixo e abocanho seu mamilo, chupando-o com força, brincando com o bico túrgido com a língua.

Fui sincero quando disse que o prazer dela seria o meu. Sinto o pau latejando, duro ao extremo, as bolas contraídas, loucas para pôr para fora tudo o que acumularam no dia de hoje, depois de tantos orgasmos no final de semana. Apenas estar em contato com sua pele, sentir o sabor e o aroma de seu corpo é suficiente para me manter em estado permanente de excitação.

Samara chama meu nome mais algumas vezes enquanto vou intercalando os seios em minha boca. Viro-a de costas para mim, encaixo meu pau entre suas coxas, mas sem penetrá-la e me movimento devagar, usando-o para deixá-la molhada.

Continuo a massagem nas costas, dessa vez já nos ombros, percebendo vários pontos de tensão. O roçar constante do meu pau sobre seus lábios de baixo arrepia minha pele, e sinto a cabeça mais sensível.

Paro de massagear seus ombros e, com uma das mãos, seguro seu seio e, com a outra, invado o meio de suas coxas, pela frente, e encontro o ponto eriçado e duro, dispersor de prazer para todo o seu corpo.

Samara treme quando movimento em círculos seu clitóris sem parar de friccionar o resto de sua boceta com o pau. Ela pende a cabeça para trás, encostando-a em meu peito, a boca levemente entreaberta, soltando gemidos baixos de quem está gostando muito do carinho.

Continuo devagar, um ritmo cadenciado, firme, mas lento. Sei que ela também gosta assim, principalmente hoje, que está mais cansada. Preciso ser atencioso a fim de que possa curtir cada uma das sensações que seu corpo e seu tesão proporcionam.

Ela levanta os braços e agarra minha nuca, rebolando contra mim, melando minha mão e meu pau com sua lubrificação deliciosa. Tiro os dedos do clitóris e os chupo, sentindo na língua o delicioso sabor de mulher, o gosto de Samara.

Com o clitóris bem estimulado e meu pau dando porradinhas nele com a cabeça, sou agarrado com força enquanto ela goza desenfreadamente, inundando meu pau com o líquido maravilhoso de seu tesão.

Não paro, continuo mexendo, rebolando, friccionando-me nela sem parar, até senti-la relaxada, trêmula e febril.

Samara se vira ainda em meus braços e me beija sem nenhum controle, totalmente entregue, o prazer do orgasmo ainda reverberando em seu corpo. Enfio os dedos por entre seus fios de cabelo, desfazendo o nó que ela fez para tomar banho, e eles se encharcam.

Eu não gozei, continuo aqui, duro, mas, de alguma forma, a entrega dela me fez relaxar e esquecer de tudo o que me perturbou o dia todo.

— Vou te dar banho — aviso-lhe ainda sentindo sua boca na minha.

Pego um sabonete e o espalho por sua pele, espumando devagar com a ponta dos dedos, em movimentos circulares. Lavo suas costas, sorrindo a cada arrepio que a faz estremecer e depois desço para suas nádegas.

Ensaboo-a toda, dos pés ao rosto, e depois beijo cuidadosamente cada pedaço seu que fica livre da espuma, cheiroso e tentador. Mordisco áreas específicas como pescoço, orelha, ombros, seios, abdômen e o interior de suas coxas.

Samara retribui o carinho – sem eu esperar ou pedir –, e sou ensaboado também, porém ela se aproveita da espuma para me masturbar gostoso, fazendo com que eu tenha o primeiro gozo seco da noite.

Ah, porra, adoro isso!

Quando saímos, seco-a cuidadosamente, pego o vidro com o óleo e a carrego para a cama. Samara se deita de bruços, nua, e eu despejo um pouco do conteúdo do frasco em suas costas.

— É quente! — exclama surpresa.

— Eu sei, e vai ficar ainda mais.

Começo a trabalhar sobre seus músculos, concentrando-me em realmente relaxá-la. Eu gosto de fazer massagem nos outros, mas a verdade é que aprendi em mim mesmo, depois das surras e contusões que sofria em casa; hoje, contudo, estou usando o que aprendi em um momento de dor para causar alegria a alguém muito especial para mim.

Por muito tempo fui egoísta com Samara, principalmente por medo de me aproximar dela além do que deveríamos, mas agora não. Ela já sabe – e já comprovou – que sinto essa atração forte por ela desde que éramos adolescentes, e nada mais me impede de lhe mostrar como eu gostaria de tê-la tratado todo esse tempo.

Começo a massagear seus músculos doloridos. O óleo, que trouxe em uma das minhas viagens para a Índia, impregna o ambiente com seu cheiro de especiarias. Ele vai esquentando gradualmente, trazendo uma sensação boa, tanto para mim, que executo a massagem, quanto para ela, que a recebe.

— Hum, acho que alguém esconde um dom — sua voz soa preguiçosa, cheia de prazer.

— Não é dom, é só algo que gosto de fazer — explico. — Quando conheci o Chicão, ele me incentivou a tentar descontar minhas frustrações em trabalhos manuais. Tentei cerâmica, escultura, a pintura foi algo natural, porque já desenhava, mas aí me lembrei de quanta massagem fazia em mim mesmo e resolvi arriscar.

— Foi um risco certeiro! Você faz isso muito bem.

— Pode ser, mas não tenho muita prática, se é sua próxima pergunta. — Ela ri, pois certamente iria insinuar que as mulheres que passaram pela minha cama eram sortudas, assim como aconteceu na banheira. — Sexo para mim sempre foi só isso, Samara. Nunca achei necessidade de me conectar com ninguém além do superficial.

— E agora? — ela indaga baixinho.

— Ainda não me vejo fazendo amor. — Rio. — Mas você e eu já temos uma conexão forte, então é diferente.

Ela geme quando alcanço sua cervical, desfaço os nós em sua musculatura e a sinto relaxada.

Sorrio, excitado, consciente de que cumpri o que me propus, relaxá-la. Contudo, ainda tenho outras ideias. Jogo mais óleo sobre sua lombar e o espalho por suas nádegas. Massageio com força, erguendo-as, separando-as, deslizando por suas coxas, roçando de leve em sua boceta, subindo pelo vale de sua bunda, untando seu ânus rosado.

Os gemidos que outrora eram de relaxamento e preguiça se tornam de puro prazer, e ela rebola a cada movimento sobre seu corpo sensível. Sua pele brilhando ao absorver o caro e perfumado óleo, o calor de minhas mãos em contato com seu corpo, o perfume quente e sensual, tudo isso contribui para que a experiência seja única para nós dois.

Samara se entrega em minhas mãos, relaxada, rendida, confiando plenamente no que faço ao seu corpo.

Deito-me sobre ela, beijo sua orelha, gemendo, meu pau encaixado entre as bochechas de sua bunda.

— Eu preciso...

— Eu também! Por favor...

Não penso duas vezes, ergo meus quadris, e meu pênis parece conhecer o caminho para seu sexo quente e molhado. Samara se contrai inteira quando me afundo dentro de si, geme alto, ergue a cabeça, desejando tanto quanto eu as sensações que nossas peles juntas, sem nenhuma barreira, nos causam.

Firmo seus quadris contra o colchão, segurando-o com as duas mãos, ajoelho-me parcialmente e começo a me movimentar, deliciando-me com a visão do meu pau entrando e saindo de suas dobras, fervendo, molhado, fazendo pequenos barulhos que aumentam ainda mais meu tesão.

Fico um tempo assim, comendo-a, degustando-a lentamente, assistindo-lhe e gemendo. O primeiro gozo vem, eu tremo, mas não me deixo esporrar, apenas sentir. Ergo os quadris de Samara para que ela me receba o máximo que conseguir. Vou fundo, e ela grita, mas não de dor, depois ri quando estoco curto, usando apenas a cabecinha para me movimentar dentro dela.

A safada finca os joelhos na cama e aproveita para rebolar no meu pau deliciosamente. Seus movimentos são precisos. Eu travo os dentes de vontade de...

— Eu quero tudo de você, Alexios... — ela geme. — Não se trave...

A percepção que ela tem do meu corpo e das minhas vontades é surpreendente e um tesão. Foda-se! Movimento-me com ela, segurando-a pelos cabelos, fazendo-a arquear as costas. Desdobro uma perna, apoiando a planta do pé no colchão, pegando mais velocidade e força. Aperto-a, escuto-a gemer alto, o prazer me entorpece, eu vibro, encaixo-me, transcendo com ela, por ela, através dela.

Defiro um tapa em sua nádega, e ela ri, provocando-me, rebolando gostoso contra mim. Dou outro, mais forte, arrancando um gemido de puro deleite. O molejo dos seus quadris aumenta. Minhas pernas tremem. Enlaço sua cintura e a ergo comigo, grudando-a contra a parede da cabeceira de sua cama, comendo-a de pé, empalando-a até o máximo que consigo, sentindo no corpo a necessidade de me tornar parte dela, de estar impregnado dentro de si para sempre.

Samara goza alto, sua pele se arrepia, os pelos do seu corpo se levantam. Meu pau se encharca de uma maneira tão poderosa que quase não me sinto mover dentro dela, afogado em seu gozo, em seu prazer.

Quando começo a sentir o orgasmo se aproximar, não o seguro mais, deixo-o me atingir com força e urro como um louco. Espalmo a mão contra a parede, enfio minha cara na curva do pescoço de Samara e gemo, pulsando a porra, misturando meu prazer ao dela.

 

— Isso foi...

— Foda! — completo, e ela concorda.

Depois do gozo, simplesmente tombamos na cama juntos, abraçados, meu pau amolecendo dentro dela devagar, mas sem nenhuma vontade de puxá-lo para fora, pois adoro a sensação da boceta dela se contraindo ainda por conta do orgasmo forte.

Samara passa a mão sobre meu rosto. O carinho me constrange um pouco, mas não o repilo. Não estou acostumado a isso, sempre que me deparei com alguma mulher carinhosa, esquivei-me das carícias, mas com Samara, não. Com ela tudo é diferente!

Perco-me em seus olhos da cor do chocolate, vendo ali tanto que meu coração se contrai.

— Hoje recebi uma correspondência anônima — solto, quase como se estivesse hipnotizado pelo olhar sincero dela, contagiado.

Seu sorriso morre, e vejo a preocupação no franzir de suas sobrancelhas.

— Como assim? O que tinha nessa correspondência?

Bufo, puto comigo mesmo por ter lhe contado isso.

— Um recorte de jornal. — Sento-me, separando-me dela. — Samara, nós não vamos mais voltar àquele sobrado.

— Por que não?

— Não quero te ver daquele jeito de novo. — Ela tenta me interromper, mas não deixo: — Não sei o que querem me atraindo para lá, mas, se fosse algo concreto, já teríamos achado. É como buscar uma agulha no palheiro, não precisamos voltar.

— Tem certeza? — Assinto, e ela suspira. — O que tinha no jornal?

— A notícia do fechamento do bordel.

Samara arregala os olhos e se senta na cama, assustada com o que acabei de revelar. Eu não esperava reação diferente, sabia que ela processaria essa informação como se fosse algo muito importante e que, a partir desse momento, vai insistir para que continuemos a buscar por pistas.

— Não — respondo assim que ela começa a falar. — Nós não vamos voltar lá.

— Alex, é óbvio que alguém está indicando o caminho. Não podemos simplesmente ignorar!

Respiro fundo e saio da cama, negando.

— Não sei qual o propósito disso! Aquele lugar esteve fechado por anos, e nunca ninguém o ligou ao meu nascimento. Por que agora?

— Não sei.

— Pois é! Não vou correr esse risco, Samara, não com você junto.

Samara desvia os olhos de mim, contrariada, e tenho vontade de me dar um soco por a estar chateando com esse assunto depois dos momentos foda que acabamos de ter.

Normalmente eu iria embora depois de uma discussão, evitando mais embates ou simplesmente por falta de saco para ficar próximo da pessoa. Não com ela! Volto a me sentar ao seu lado e a puxo para meus braços, beijando sua testa.

— Se, para descobrir sobre meu passado, eu tiver de pôr você em risco, prefiro continuar não sabendo.

— Mas então você irá sozinho?

Droga, ela é esperta, e eu não tenho como mentir!

Concordo.

— Achei que íamos fazer isso juntos. — Ela se afasta e pega um roupão em cima de um móvel, visivelmente chateada. — Alexios, eu estou mesmo cansada, então, se você puder...

Fico surpreso com sua reação, afinal, estou falando em protegê-la, por isso não quero levá-la comigo. Samara ficou desesperada no local, não entendo essa insistência em querer voltar para lá.

— Samara, eu acho muito perigoso para você...

— Alexios — ela me corta, séria —, você já tomou a decisão por mim, então não há nada mais a falar sobre esse assunto, e eu estou mesmo cansada. — Vai em direção ao banheiro. — Bata a porta quando sair, por favor.

Entra no banheiro, recolhe e traz minhas roupas e faz exatamente o que me mandou fazer, bate a porta na minha cara. Fico um tempo parado, olhando para a maldita porta fechada, sem entender o que fiz para que ela me dispensasse dessa forma. Eu tinha sérias intenções de dormir aqui com ela!

Visto-me rapidamente, ignorando a camisa, e a deixo como pediu, porém, sentindo um gosto amargo na boca e uma enorme sensação de vazio.


Perdi a hora hoje de manhã, pois passei a maior parte da noite em claro, refletindo sobre o que aconteceu para azedar o clima entre mim e Samara. Nunca, nunca mesmo tive uma experiência como a da noite passada e, pasmem, eu achava que já tivesse feito de tudo no quesito sexo.

Entendo que não foi a performance, mas sim as sensações que Samara me trouxe que deixou esse gostinho de algo especial. Depois, quando nos deitamos juntos, eu me sentia acolhido, calmo e até feliz, mas então tive que abrir a boca e estragar tudo.

Bufo, impaciente, saindo do elevador no andar da K-Eng e dando de cara com Evandro, um dos engenheiros de minha equipe direta, esperando-me no corredor.

— Pedi que lhe avisassem assim que você entrasse na empresa — o tom dele me assusta.

— O que houve?

— O doutor Millos está descendo e pediu para que eu reservasse a sala de reuniões para vocês dois, pois tem um assunto sério para conversar. — O engenheiro parece tenso. — Alexios, acho que deu alguma merda com a Ethernium de novo.

— Falei com a equipe responsável ontem...

— Eles ligaram há pouco cobrando agilidade na impressão das pranchas dos projetos-modelo. — Evandro suspira. — O Michel está pressionando todo mundo desde cedo.

Ele mal acaba de falar do marido, e o vejo passar pelo corredor carregado de tubos telescópicos22, falando rápido com a Lia, ambos parecendo muito tensos também.

Porra, o que está acontecendo para deixar minha equipe assim?!

Pego o telefone a fim de ligar para Millos, mas logo vejo uma mensagem do meu primo pedindo para que eu suba até a diretoria, pois não poderá vir até a K-Eng.

— Ele me pediu para subir até sua sala — informo. — Evandro, acalme a equipe, por favor, não quero o pessoal fazendo as coisas no atropelo, e, se puder, não comente sobre Millos com ninguém.

— Pode deixar, Alexios, não comentei e nem vou.

— Ótimo! Vou mantê-lo informado.

Solicito o elevador para ir até o Olimpo e, quando chego, Luiza está no meu aguardo.

— Bom dia — diz tensa, sem perceber que já não estamos de manhã mais. — O doutor Millos está à sua espera.

Entro na sala e o encontro de olhos fechados, sentado em sua cadeira, longe, parecendo que está meditando.

— Millos?

— Alexios, que bom que veio! — a voz dele é lenta, e isso me acelera, porque sei que, para meu primo estar meditando em horário de expediente, a coisa não está boa.

— O que aconteceu? Cheguei à K-Eng e encontrei um dos meus engenheiros a ponto de ter uma síncope.

Millos puxa o ar lentamente e depois o solta de uma vez.

— Perdemos a área da Ethernium.

Arregalo os olhos.

— O quê?! — Imediatamente penso em Kostas, na rivalidade dele para com Theodoros e em tudo o que está havendo na empresa por conta da auditoria. — Kostas?

Millos dá de ombros.

— Houve um vazamento de informações, coisa séria, de dentro da Karamanlis. — Porra! Isso nunca aconteceu, nem sob a gestão do filho da puta de Nikkós. — A Dédalus conseguiu a área para uma concorrente direta da Ethernium.

— Caralho! — Levanto-me indignado, pensando em todo o trabalho que minha equipe e eu desenvolvemos por meses junto com os hunters e vários outros setores da Karamanlis. — Você já falou com Kostas? Eles não tinham fechado acordo lá com o governo?

— Ainda não falei com ele e Kika, estava esperando conseguir uma informação. — Millos treme, a mão cerrada, e vejo a luta que está tendo para manter seu autocontrole. — O documento que vazou é algo exclusivo da Karamanlis, que eles usaram para embasar a instalação da empresa e acelerar o processo de licenciamento.

Um frio sobe pela minha coluna.

— O tal parecer que Konstantinos estava elaborando? — Millos concorda. — Ele não seria tão...

— Não creio que foram eles, Alexios. — Millos se levanta. — Mas, de qualquer forma, a bomba vai estourar lá, e, com a empresa passando por auditoria e o Conselho em cima, não importará muito quem foi, mas sim ver alguma coisa sendo feita.

Concordo com ele que o momento para isso acontecer foi péssimo. Procuro soluções, respostas, mas tudo o que consigo pensar é em apagar o incêndio que essa notícia irá causar.

— Eles pesquisaram várias áreas, não precisamos perder o cliente, o que seria péssimo para a empresa, só trocar a área por outra.

— Mas e todo o material já feito?

Sim, é uma merda ter que mudar tudo agora, mas não tem jeito!

— Vou conversar com minha equipe e trazê-los para junto de nós nesse desafio. Vamos conseguir!

Millos põe a mão sobre meu ombro.

— Vou dar a notícia para Kika e Kostas. Não converse agora com sua equipe, espere para falar com os dois e ver a melhor solução.

— Está certo, vou aguardar aqui.

Millos sai da sala, e então eu exprimo toda a indignação que sinto em um caminhão de palavrões e um soco na parede.

 

Não demorei muito na sala da diretoria, pois fui chamado até a K-Eng para resolver um assunto relacionado a outro cliente. Estava no elevador, vendo mensagens no celular, estranhando não ter recebido nenhuma de Samara, e, então, deixando o orgulho de lado e procurando por ela, quando o elevador parou e de repente Kika entrou, rosto vermelho de chorar.

Ela parecia perdida, destruída, e isso mexeu comigo de uma forma tão intensa que não pensei duas vezes antes de puxá-la para dentro do elevador e abraçá-la forte.

— Tente ficar calma — disse, e ela começou a chorar em desespero. — Eu acabei de saber sobre essa sacanagem, mas nós vamos arranjar um jeito.

Nós continuamos abraçados, mesmo depois que o elevador chegou ao térreo. Sentia que ela precisava de ajuda para não desmoronar e me lembrei de Samara e de todos os momentos em que ela fez papel de contenção para me manter erguido, exatamente como eu estava fazendo com Kika.

— Nossas informações foram passadas para eles, Alexios — falou entre soluços. — Informações que só seu irmão e eu tínhamos.

— Eu sei. — Sequei seu rosto e tentei animá-la. — Nós vamos descobrir como isso aconteceu.

Kika ficou tensa e me olhou.

— Não acha que fui eu? — Neguei com veemência. — Por quê?

— Porque trabalhamos juntos há algum tempo já, e eu sei que você não faria isso e, se fizesse, é inteligente demais para deixar as coisas assim, tão na cara. — Fiz uma pequena pausa, pensando se Kostas teria coragem de fazer isso, prejudicar tanto assim a todos apenas para afundar ainda mais Theodoros. Não, ele está mudado! — Se as coisas estivessem como antes, eu suspeitaria de Kostas, mas agora sei que não foi ele também.

Kika começou a chorar de novo ao ouvir isso, e eu a abracei forte, percebendo que ela não teria condições de ir embora sozinha.

— Vou te levar para casa e...

— Konstantinos tinha motivos para desconfiar de mim — ela me interrompeu, e contou tudo o que meu irmão viu e as suspeitas dele. Kika ficou surpresa por eu não ter desconfiado dela, mas isso não a ajudou a melhorar, pois, enquanto eu dirigia para levá-la para casa, ouvia seus soluços magoados e via muitas lágrimas molharem seu rosto.

Definitivamente essa reação não era somente por conta do trabalho! O modo como ela falou de Kostas, as coisas que disse que ele viu e desconfiou, a diferença que percebi nele ao longo do tempo em que os dois estão trabalhando juntos só me levaram a uma conclusão: ambos estavam envolvidos, e a coisa era séria.

Por causa dessa constatação, fiquei um tempo parado em frente ao prédio onde Kika mora, pensando que dificilmente eu iria imaginá-los como um casal, porém me dei conta de que eram perfeitos um para o outro, principalmente por serem tão diferentes.

Wilka estava trazendo Tim de volta, e isso com certeza era algo positivo, porque eu mesmo fui testemunha da morte do garoto sonhador, carinhoso, cheio de esperanças e doce.

Se ela estava conseguindo ressuscitar o que aquele demônio matou, certamente teria todo o meu apoio!

De repente, ainda parado dentro do carro, lembrei-me do que vi naquele maldito salão na casa de Madame Linete, o que as putas falavam para meu irmão, debochando, esfregando em sua cara que nunca ninguém iria amá-lo ou querê-lo sem interesse, e percebi o que havia acontecido.

Ele pensa que Kika o traiu!

Liguei o carro e saí cantando pneu como um louco, imaginando que ele estaria tão quebrado quanto ela. Não sei o que me levou a dirigir até o sobrado, mas o fato é que cheguei aqui, fiquei um bom tempo dentro do carro, ponderando se deveria entrar ou não e, quando o fiz, encontrei meu irmão em frangalhos.

— Kostas? Caralho, o que aconteceu com você?

— O demônio está de volta ao inferno de onde fugiu, mas que nunca saiu dele! Nunca mais tinha entrado aqui desde que me libertei daquele filho da puta desgraçado.

Aproximei-me dele e assenti.

— Eu sei. — Olhei tudo em volta, as lembranças de quando vim quando jovem me enchendo a cabeça. — Só vim aqui uma vez. Acho que o assustei com minha reação, e ele achou que a técnica de tortura que usou contigo não funcionava comigo.

Sim, o filho da puta não queria que eu me divertisse, então me mostrou qual realmente era o propósito disso aqui ao me colocar naquela maldita sala de espelhos onde Kostas estava.

— Mas ele achou outras, não?

Suspirei, pois nunca contei a ele o que vi naquela maldita noite.

— Achou, ele sempre achava. — Sentei-me ao seu lado. — O que desencadeou essa visita?

Conversamos, ele saiu correndo, e eu fiquei aqui, exatamente onde estou agora, cercado de demônios, fantasmas e da minha própria consciência, que insiste que, na noite passada, cometi um erro ao tentar excluir Samara das minhas tentativas de descobrir o que houve com minha mãe biológica.

Pego o celular e, sem pensar ou medir palavras, escrevo para ela tudo o que estou sentindo e termino com um pedido de desculpas por tê-la feito se sentir rejeitada. Nunca foi minha intenção, eu queria apenas poupá-la de toda a carga negativa daqui, mas não lhe dei direito de escolha. Esse foi meu erro!

Samara pode parecer frágil, mas, lembrando-me de tudo o que já passamos, de tudo o que ela viu ao meu lado, tenho certeza de que é mais forte do que aparenta. Aquela mulher, ainda menina, foi minha fortaleza e meu ponto forte por anos!

Espero um pouco para saber se ela irá me responder, mas Samara não visualiza a mensagem. Decido ir atrás dela, disposto a arrastar a bunda no chão se necessário, mas algo me faz parar e olhar para dentro de um pequeno depósito do sótão.

Ligo a lanterna do celular e ilumino cada pequeno canto, até notar que o forro de madeira está deslocado para o lado, deixando uma abertura suficiente para que alguém coloque ou tire algo de lá.

Casa velha!, penso, ignorando meus instintos, disposto a ir embora. No entanto, uma armação de metal que foi uma cadeira de ferro algum dia me faz recuar na decisão de sair, e eu subo nela, postada exatamente embaixo do forro deslocado.

Esconderijo!

Não dá para ver nada, mas estico o braço e tateio a parte de dentro da madeira. Meu coração dispara ao tocar em algo envolto em plástico. Tiro o objeto devagar, a respiração suspensa, a adrenalina por ter descoberto algo misturada ao medo de não saber do que se trata.

A embalagem plástica nada mais é do que uma sacola, e dentro dela há uma caderneta, que pego em minhas mãos, sentindo o desgaste do couro da capa e o intenso cheiro de mofo que se desprende das folhas.

Desço do ferro retorcido, abro-a aleatoriamente e a ilumino com a lanterna do celular.

Fico lívido.


— Como assim você terminou com o Diego?! — minha mãe fala tão alto que meu pai faz careta ao ouvir sua voz esganiçada.

— Terminando! — é ele quem responde e toma um olhar fuzilador de dona Ana. — Não posso dizer que estou triste com isso, mesmo porque seu irmão me contou que você vem tentando fazê-lo entender o término desde o ano passado.

Fico sem jeito com isso, prometendo a mim mesma que nunca mais conto nada para o fofoqueiro do Dani.

— E por que o trouxe para nos conhecer?

— A culpa foi minha! Fui eu quem invadiu o espaço de Samara e o convidou. — Ele me olha cheio de culpa. — Perdoe-me, filha.

— Tudo bem, pai, o senhor não tinha como ter adivinhado.

— Exatamente! Deveria ter nos falado. Ele veio até ao casamento do seu irmão, Samara!

— Eu sei, mamãe, desculpe por isso! — Suspiro. — Eu o considerava um amigo, mesmo que não quisesse mais continuar com ele. Quando chegou aqui de surpresa, não pensei que seria tão difícil quanto foi, mas Diego fingia não me ouvir e ainda dizia que eu estava em crise.

— Filho da puta! — papai reage, e mamãe o olha repreendendo-o pelo palavrão. — O quê? Ele é mesmo! Nunca vi isso, ficar impondo presença quando a pessoa já disse que não quer mais. — Ele me olha. — Cuidado com esse homem se retornar a Madri; ele parece meio psicopata.

Rio.

— Não, pai, tenho certeza de que Diego não vai fazer nada.

— Você ainda pretende voltar a Madri? — mamãe pergunta.

Respiro fundo, pensando em Alexios, nos momentos que tivemos ontem e em tudo o que significaram para mim. Não sei se vou realmente conseguir manter essa relação em nível sexual, afinal, nunca foi só isso. Somos amigos, conhecemos muito bem um ao outro; já seria difícil não me envolver só com isso, imagine sentindo por ele o amor que sempre senti?

Talvez voltar para Madri não seja mais uma opção, mas sim uma necessidade. Alexios está empolgado com o jeito com que combinamos sexualmente, mas isso vai passar e, quando acontecer, não restará mais nada.

— Vou voltar, sim, mamãe, tenho uma vida lá — respondo-lhe. — Mas só retornarei quando a senhora estiver de volta à sua rotina louca de mulher de negócios.

Ela suspira.

— Não vejo a hora!

Sorrio sem jeito, pensando que, quando isso acontecer, terei que voltar para a minha vida e deixar essa fantasia que estou vivendo com Alexios para trás. O que me conforta nisso tudo é que não tenho ilusões sobre um futuro com ele, sobre ser amada como o amo. Não, não tenho essa ilusão, e isso me conforta e corta meu coração ao mesmo tempo.

— Não vi o Dani desde que chegou de viagem — comento, mudando de assunto.

— Eles também não vieram aqui. — Mamãe não esconde sua contrariedade. — Liguei ontem para a Bianca, mas não me atendeu.

— Ana, eles ficaram alguns dias fora e devem ter retornado à rotina intensa de trabalho. Soube que Daniel ficou na empresa até tarde da noite todos os dias desde que voltou. — Ele me olha. — Você não o encontrou lá ontem e hoje?

Nego.

— Nem sabia que ele estava indo!

Papai franze as sobrancelhas no exato momento em que ouvimos um barulho de carro estacionando no jardim da casa. Mamãe limpa a boca com o guardanapo e se levanta antes mesmo que Cida apareça para dizer quem é o visitante.

— Daniel acaba de chegar — anuncia.

Toda a contrariedade de mamãe vai embora, e seu semblante se ilumina, à espera de seu filho mais velho.

Meu celular vibra, e aproveito a distração que Dani causou para verificar minhas redes sociais. Meu coração dispara ao ler a mensagem de Alexios:

 


                                     CONTINUA