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CAPÍTULO DEZOITO
Havia papelada e ainda mais papelada para preencher. Sentei-me enquanto Helen passou por isso com Lena. Felizmente, Helen já era bastante versada em qualquer coisa legal, então Lena passou para ela, apenas cobrindo as coisas básicas.
O passeio de carro para Kings Crescent parecia que passava em um flash. De repente, eu estava sendo conduzida para dentro de uma linda casa e subindo a escada. Helen, animadamente, explicando que já sabia em que quarto me colocariam.
Eu não tinha nada comigo.
Heath e Braydon tinham corrido para a loja mais próxima enquanto estávamos passando pelas questões legais apenas para conseguir sapatos, porque a única coisa que eu tinha eram os meus patins. Eles eram estranhos, muito diferentes dos meus calçados gastos com que vivi praticamente nos últimos dois anos.
Helen abriu uma grande porta e segurou-a enquanto eu entrava.
— Este é geralmente um quarto de hóspedes, então você também tem seu próprio banheiro para um pouco de privacidade. — explicou ela.
Fui até às grandes janelas que me lembravam das que estavam no quarto de Heath do chão ao teto, mas a vista era diferente. O meu dava para o jardim, e você podia ver apenas a borda da piscina abaixo.
Os gramados eram perfeitamente cuidados, e os jardins não tinham uma erva daninha à vista. Com o início da primavera, as flores estavam começando a florescer, e eu me vi encantada com a variedade de plantas e cores, e a maneira como o jardim se curvava e fluía perfeitamente.
— Fable?
Eu pulei e me virei. — Desculpe, o quê?
Ela sorriu suavemente. — Eu preciso ir e fazer alguns telefonemas. Eu realmente gostaria que você se matriculasse na escola logo. Criar uma rotina para você.
Manter a minha mente longe das coisas.
— Oh sim.
— Talvez tomar um duche quente ou um banho? Pode relaxar um pouco. — A ideia parecia incrível, na verdade.
— Sim, eu poderia fazer isso.
— Oh meu Deus, roupas. Precisamos pegar algumas roupas para você.
Eu levantei minhas mãos. — Eu vou ficar bem por agora.
Ela franziu o nariz, mas assentiu. — OK. Desça quando estiver pronta e podemos encontrar algo para jantar.
Ela saiu, fechando a porta atrás dela, e eu aproveitei a oportunidade do silêncio para absorver o espaço ao meu redor.
A cama era incrível. Era enorme e parecia uma nuvem de linho branco. Eu ansiava por sentir como era. Quanto tempo passou desde que dormi em uma cama de verdade?
Meus olhos foram para a porta, envergonhada com o que eu estava prestes a fazer.
Eu chutei meus sapatos, corri e pulei, aterrissando exatamente no centro. Meu corpo afundou no edredom, era quase como se fosse uma nuvem e estava me engolindo. E meu Deus eu senti como era incrível, suave e delicioso.
Eu sabia que teria que lutar contra a maneira como me enterrei nela, mas não me importei. Talvez eu simplesmente não me mexesse.
Meu corpo e minha mente estavam exaustos. Foi um dos dias mais longos da minha vida. Houve tantos altos e baixos, e por enquanto, eu só queria algo para me aconchegar. Sim, como uma criança, eu só queria algo macio para me aconchegar e sentir que não havia mais nada no mundo.
Meu quarto era um santuário e uma prisão. Eu o usei para me esconder dos gritos e insultos, mas ele se transformou em outra coisa quando fui forçada a entrar lá com a porta trancada e sem saída.
Minha pequena tenda na Bayward Street parecia a mesma coisa. Era o lugar onde eu fui me esconder, o lugar onde me sentia segura. Mas também era um lembrete de que era tudo o que eu tinha. Presa em uma pequena tenda, minha única proteção contra os elementos e sombras ao meu redor.
Esta sala não era uma prisão, no entanto. E não era pequena e fechada. Era aberta e livre, era a minha fuga.
Olhei para o banheiro. A porta estava aberta e eu podia ver o branco cintilante das paredes e a vaidade. Tão limpo e perfeito, tudo ao meu redor em total contraste com meus jeans sujos e meu suado suéter desbotado.
Não tinha certeza do que estava sentindo naquele momento. Tantas emoções estavam passando pela minha cabeça. Eu estava animada com a perspectiva deste lugar e tudo o que tinha para oferecer. Mas não poder compartilhar a glória com meus amigos me arrastou de volta à terra.
Eu finalmente entrei para tomar um banho quente, e foi o paraíso. Eu não me apressei aproveitando cada segundo e cada gotinha que me pulverizava. Mas quando terminei, peguei minhas roupas velhas e as vesti novamente. Elas estavam sujas, mas eram confortáveis. E eu não estava pronta para desistir das lembranças de casa ainda.
Estava escuro lá fora quando finalmente desci as escadas, meu estômago gemendo e doendo. Eu tinha comido algo naquele dia, e normalmente me segurava por pelo menos mais um dia antes de começar a me sentir mal. Mas o cheiro de comida estava flutuando, atraindo meus sentidos.
Parei na porta da cozinha, ouvindo vozes lá dentro.
— Você acha que devemos ir checar ela? — Helen perguntou.
— Mãe, ela vai descer quando estiver pronta. — Heath assegurou. Eu podia ouvir o sorriso em sua voz.
— Ela precisa de roupas. E nós vamos ter que ir às compras escolares.
— Mãe. — Heath suspirou.
— Ela é do tamanho de Flick, talvez pudéssemos emprestar algumas de suas coisas por agora.
— Ok...pare! — Ele retrucou, mas eu podia sentir que estava mais divertido com o falar frenético de sua mãe do que irritado. — Por acaso , você realmente acha que Fable seria conquistada com algo do guarda-roupa de Flick? — Eu torci meu nariz, quem era Flick?
— Você não a vê de renda rosa e folhos? — Helen riu. Eu quase engasguei com o pensamento. Nunca fui uma garota feminina enquanto crescia. Meu pai nunca me dava dinheiro para roupas bonitas, então minha mãe pegava coisas baratas das lojas econômicas. Eram sempre camisetas ou jeans que eram muito grandes, então era nisso que eu vivia.
— Se você vai levá-la para comprar roupas, pense em uma loja de departamentos. Não a leve a algum lugar onde um jeans custa mais que uma casa.
Graças a Deus por Heath. Era estranho, mas também era um alívio saber que ele me entendia. Ele sabia quem eu era e como me sentia, sem que precisássemos discutir isso. Era apenas quem ele era. Ele manteve-se razoavelmente tranquilo, mas você poderia dizer que estava sempre absorvendo o que estava ao seu redor e estudando as pessoas.
Ele era esperto.
Ouvi passos na escada atrás de mim e entrei na cozinha, não querendo que parecesse que estava bisbilhotando.
Helen deu um tapinha no rosto de Heath. — Quando você se tornou tão inteligente?
Ele sorriu para ela, uma visão que era rara, então eu levei um momento para apreciar a beleza em seu sorriso e a maneira como seus olhos se iluminaram. — O que você quer dizer quando? Eu sempre fui brilhante. — Ela deu um tapinha na bochecha dele um pouco mais forte e ele se afastou rindo. — Está bem, está bem.
Eles olharam e me viram em pé desajeitadamente na porta.
— Ótimo! Você está aqui. Não vamos mandar uma equipe de busca. — Helen riu, voltando ao balcão onde havia quatro caixas de pizza esperando.
Eu senti alguém chegar atrás de mim e dei um passo para o lado para deixar passar. Era uma jovem garota, talvez pré-adolescente. Seu cabelo era longo e marrom como o de Heath.
— Fable, esta é a nossa mais nova. Felicity, esta é Fable.
Felicity se virou e me deu um sorriso tímido, ela tinha um livro em suas mãos, apenas olhando por um segundo para me cumprimentar. — Oi, bom conhecê-la.
— Você também.
Heath se aproximou e colocou a mão nas minhas costas. O aperto que eu não percebi estava lá solto quando ele me dirigiu para a comida.
— Nós meio que temos um pouco de tudo. Não sabíamos o que você gosta. — explicou ele. Abrindo todas as caixas, o cheiro me atingiu e meu estômago roncou alto.
— Eu comeria qualquer coisa. — eu disse a eles com um sorriso. Helen devolveu meu sorriso, mas pareceu um pouco tensa quando ouviu as palavras.
Eu queria dizer alguma coisa, talvez tranquilizá-la de que estava tudo bem, mas Braydon atravessou as portas como se o diabo estivesse em seus calcanhares. — Pizza. — ele cantou.
Eu ri quando ele empurrou e carregou um prato com um pouco de tudo. A tensão pareceu evaporar quando Heath e Felicity reviraram os olhos, e Helen fez uma careta para seu filho mais novo.
***
Os dias seguintes passaram rapidamente.
Havia compras de roupas e compras de material escolar.
Heath passou um dia de escola em casa, antes que sua mãe exigisse que eu ficaria bem sem ele. Eu concordei, mesmo que fosse bom tê-lo por perto.
Sentia falta dos meus amigos, mas com Heath por perto, senti que talvez ele estivesse preenchendo o vazio. Nós realmente não falamos sobre a última vez que estive lá com ele. Foi quando nossa conexão se tornou mais intensa. Ele estava me permitindo espaço, e eu não tinha certeza se queria. A atração por ele era tão forte. Não houve beijos, mas mesmo os toques suaves aqui e ali, ou os momentos em que ele segurava minha mão quando me levava para algum lugar, me faziam sentir o mesmo calor explosivo de antes.
Com tanta coisa acontecendo, acho que deixei passar. Foi conforto suficiente apenas tê-lo por perto. E toda a família me acolhera de braços abertos, pronta para fazer qualquer coisa que pudesse para que me sentisse como pertencendo ao lugar.
Helen me matriculou na escola na sexta-feira. Eu começaria na próxima semana, e estava animada e nervosa com a ideia disso. A escola sempre foi um amor para mim. Mantinha meu cérebro ocupado e simplesmente adorava aprender. Foi a minha casa longe, mas lembro-me de ir à escola todos os dias a pensar, talvez este seja o dia em que alguém diga alguma coisa.
Sim, este é o dia em que eles me puxarão para o escritório e me dirão que está tudo bem. Você não precisa ir para casa.
Eu desejei todas as manhãs que alguém finalmente olhasse para mim e perguntasse: — Ei, você está bem?
Ninguém nunca perguntou, no entanto.
A escola que freqüentei era grande. Os professores realmente não nos viam como pessoas, não tiravam um tempo para conversar com você ou até perguntar como estava sendo o seu dia. Então eu sentei e nunca disse nada. A única vez que alguém notou, meu pai conseguiu convencê-los do contrário, e eu paguei as consequências por isso.
Eu me perguntei se alguém tivesse acabado por falar comigo, se teria contado tudo. Talvez eu tivesse implorado para eles não me deixarem voltar para lá.
Mas o medo me congelou.
Medo dele, e o que ele faria quando seu charme ganhasse outra pobre alma sem noção.
Desta vez, as coisas seriam diferentes.
Helen explicou que Diamond Cross era uma escola muito particular. Eles mantinham assim devido ao tipo de famílias que participavam, incluindo filhos de celebridades e pessoas de negócios ricas. Um lugar onde as crianças poderiam obter uma educação sem um holofote em todas as partes de suas vidas. Parecia que era exatamente o que eu precisava. Tudo o que eles queriam era trabalhar duro e obter a educação de que precisavam.
Eu sabia que provavelmente iria me destacar. Depois da festa no hotel e do jeito que as pessoas me olhavam, só por ser alguém novo, eu esperava que não houvesse dúvida de que haveria sussurros nos corredores ou sobrancelhas erguidas.
Eu estava pronta para isso. Mas eu realmente não me importava. Eu estava lá por mim. Não por eles. Suas opiniões eram irrelevantes. Eu precisava me concentrar na minha educação e descobrir uma maneira de ajudar meus amigos. No entanto, eu estava prestes a aprender que talvez isso não fosse tão fácil quanto eu pensava.
CAPÍTULO DEZENOVE
Passei o tempo nas ruas sendo ridicularizada e julgada, fazendo com que as pessoas me olhassem de cima a baixo com nojo e puxando seus pertences para mais perto de seus corpos com medo que pulasse neles ou fizesse algo estúpido. Estava acostumada a ser olhada como se fosse escória, e à medida que nos dirigíamos para essa escola particular chique que Heath, Braydon e Felicity frequentavam, eu não esperava nada menos.
Era de três andares, a entrada principal era adornada por três grandes arcos de tijolo, o terceiro tinha os mesmos arcos, mas eles estavam cheios de belos vitrais que representavam uma intrincada cruz no meio. Ambos os lados estavam cheios de grandes pássaros decolando em vôo. Eles eram incrivelmente detalhados e faiscavam ao sol da manhã.
Havia estudantes espalhados pelo estacionamento, sorrindo e rindo uns para os outros, seus pequenos grupos bem evidentes. Eu sabia naquele segundo que nunca iria me encaixar aqui. As suas jaquetas esportivas cuidadosamente adaptadas e vestidos de grife gritavam dinheiro, o logotipo da escola era colorido com ouro e prata. Aproveitei um momento para agradecer a um poder superior que não havia uniforme escolar. Vestuário era uma forma de expressão. Mostrava às pessoas quem você era, a música que você gostaria, os hobbies que você poderia ter e, em tempos como esses, o dinheiro que possuía. Eu sabia que no momento em que saísse do carro, vestida de preto sobre preto,que as pessoas iam olhar para mim e imediatamente iniciariam uma série de fofocas e rumores suspeitos.
Heath estacionou em um espaço de estacionamento e desligou o motor. O carro ficou em silêncio. Era como se os três irmãos estivessem apenas esperando que eu saísse correndo. Como se os julgamentos de alguns adolescentes fossem a coisa que finalmente me magoaria.
Heath me olhou com cautela.
— Nós vamos nos atrasar se todos vocês estiverem apenas sentados e a olhar para mim assim. — eu disse a eles, revirando os olhos.
— Tchau. — Felicity sussurrou em sua voz doce antes de abrir a porta e caminhar em direção à frente da escola. Um pequeno grupo de garotas instantaneamente a engoliu, e eu observei enquanto elas a bombardeavam com perguntas, olhando de volta para o nosso carro.
Ahhh, então a notícia já havia se espalhado que uma estranha estava se movendo para entrar na escola. Eu revirei os olhos. — As pessoas já sabem que eu estou chegando, hein?
Braydon riu no banco de trás enquanto Heath continuava a me estudar em silêncio. — Em uma comunidade como essa, a fofoca faz o mundo girar.
Eu sorri de volta para Braydon. — Bem. Melhor chegarmos lá e adicionar um pouco de combustível ao fogo. — Empurrando a porta, saí. Eu ajustei as minhas meias pretas e puxei a minha mini-saia escura, que estava confortavelmente baixa em meus quadris. Minha camisa xadrez de manga comprida pendia frouxamente sobre um top branco justo e simples, completando meu estilo grunge. Eu puxei minha mochila do chão e joguei por cima do meu ombro, antes de ir para a parte de trás do carro para esperar pelos garotos. As crianças olhavam e sussurravam umas para as outras, algumas com os olhos arregalados, outras principalmente meninas, com um olhar intenso. Um braço foi jogado por cima do meu ombro, e Braydon logo estava me conduzindo para os degraus da frente do prédio, com Heath por perto, do meu outro lado.
— Nós temos a primeira aula juntos. Você é boa em inglês porque eu preciso de alguém para copiar. — Braydon brincou enquanto me guiava através das portas e por um longo corredor. Heath e eu éramos da mesma idade, mas eu tinha sido colocada no ano abaixo dele com Braydon devido à quantidade de escolaridade que perdi. Eu não me importei. Não demoraria muito para recuperar o atraso, pois sempre fui brilhante.
Paramos brevemente em alguns armários, Braydon e Heath estavam um ao lado do outro, e fiquei um pouco surpresa ao descobrir que o meu também estava junto com o deles. Observei os meninos com o canto dos olhos enquanto arrumava meu armário. As pessoas iam e vinham, dividindo os punhos e abraços com Braydon, que riam e os cumprimentavam com entusiasmo. Alguns disseram — Oi. — Para Heath, que simplesmente os reconheceu com um pequeno movimento de cabeça. Isso por si só era esclarecedor. Foi como no momento em que entramos no terreno da escola, ele se transformou de volta no cara sério e taciturno que conheci naquela primeira noite.
Foi-se o Heath que eu tinha chegado a conhecer lentamente nos últimos dias, cuja risada fez as borboletas no meu estômago darem saltos, ele agora foi substituído por uma máscara.
As pessoas olhavam para mim enquanto caminhava pelos corredores lotados. Como se eu fosse um alienígena, tão completamente estranha para eles. Mas mantive minha cabeça erguida, puxando a pele grossa que tinha usado tão bem nos últimos dois anos. Eu sabia que Heath estava nervoso sobre a minha vinda para a escola. Afinal, não era como a festa no hotel de seu pai, onde ninguém sabia meu nome e muito menos de onde eu era. Agora todos eles sabiam e eu estava apenas esperando o momento em que o bando de leões iniciasse o ataque ao fraco membro do rebanho.
Mas eles estavam errados. Eu não era fraca. E se eles viessem para mim, eu lutaria de volta.
As aulas transcorriam sem problemas, os professores me examinando com os mesmos olhos de análise que os alunos.
— Keira, posso falar com você, por favor? — Meu professor de matemática, o Sr. Warren, pediu na frente da turma, enquanto segurava o teste que eu acabara de concluir.
Olhando nervosamente para a minha esquerda, onde Braydon estava sentado, eu o vi estreitando os olhos para o homem.
Eu saí do meu lugar e fui até à frente da classe. — Sim, senhor?
Ele apontou para as equações na parte inferior da página. Eu sabia que eram equações algébricas de alto nível . Havia duas marcadas com um certo e duas com uma cruz. Eu não as fazia há muito tempo, então não fiquei surpresa por ter errado duas.
Eu amava matemática. Era direta, e não aberta a interpretações como o inglês ou as ciências sociais. Um mais um seria sempre igual a dois. Era o mesmo em todos os lugares, e sempre seria o mesmo.
— Este tipo de questão está mais adiante em nosso currículo. Já que você não frequenta a escola há vários anos, estou imaginando como você sabia como respondê-las? — Seus olhos me observaram, acusadoramente. Eu sabia o que ele estava tentando dizer, que eu não podia saber e que devia ter feito batota de alguma forma.
Engoli minha resposta afiada e segurei minha língua. — Eu fiz matemática avançada através de um programa de aprendizagem fora da escola. — Minha explicação foi curta e cortada.
— Você se importaria de me dar o nome deste programa de aprendizado para que possamos verificar isso e obter suas notas para os nossos registros? — Ele falou devagar como se eu fosse idiota, e um sorriso apareceu no canto da boca como se ele soubesse que me pegou em uma mentira. Os olhos dos estudantes atrás de mim queimavam nas minhas costas enquanto esperavam por uma resposta, esperançosamente, algo que eles poderiam usar como fofoca.
Se é isso que eles queriam, eu daria a eles.
Eu sorri docemente para o Sr. Warren. — Com certeza, senhor. Você precisará ligar para o Southwest Juvenile Detention Center29. Eles vão ter tudo lá, tenho certeza.
— Eu acho que não deveria estar surpreso. — ele zombou com desgosto.
Dando de ombros, virei e comecei a caminhar de volta para o meu lugar. — Eu acho que você não deveria, delinquentes como eu e a prisão andam de mãos dadas, não é? — Eu sentei na minha cadeira, ignorando os sussurros e comoção ao meu redor. Braydon riu baixinho, recostando-se na cadeira.
— O quê?
Ele balançou sua cabeça. — Eu sei que Heath está enlouquecendo por você estar aqui, mas acho que vai se sair bem.
Eu não pude deixar de sorrir quando peguei minha caneta e voltei para o meu trabalho.
Quando chegou a hora de almoçar, eu estava farta desse lugar. Os professores ou falavam comigo como se eu fosse burra ou lenta, ou eles me ignoravam completamente, optando por ajudar os alunos cujos pais pagavam seus altos salários. Não é de se estranhar que os pequenos daqui se sentissem no direito de se acharem melhor do que todo mundo. Porque os adultos estúpidos por aqui nunca iriam enfrentá-los, vendo muitos cifrões diante de seus olhos para se importar com o fato de estarem criando uma escola egocêntrica, cheia de idiotas e egoístas.
Vagando pelo corredor movimentado, as pessoas saíam do meu caminho, movendo-se em volta de mim com olhares de lado. Sorri para mim mesma, comparando-me a separadora do Mar Vermelho de adolescentes de alta classe . Eles olhavam para mim como se tivesse algum tipo de doença enquanto afastavam seus amigos para evitar tocar-me. Não durou muito, porém, quando alguém me atingiu bruscamente no ombro, fazendo com que meu corpo se virasse. A garota parou e me olhou de cima a baixo, seus amigos de ambos os lados dela fazendo exatamente o mesmo.
Eu a reconheci imediatamente, Jay.
— Você se importa? — Ela cuspiu, jogando o cabelo loiro descolorado por trás do ombro e cruzando os braços sobre o peito. Eu olhei para ela por um momento, lembrando-me que estava aqui pelas oportunidades de educação, não para brincar com seu comportamento idiota no ensino médio. Sua blusa estava muito apertada em seus seios e não chegava até às calças, mostrando um pedaço de sua barriga lisa que estava escurecida com um óbvio bronzeado falso. Ela combinou com uma saia plissada que deixava muito pouco para a imaginação.
Eu pensei que este lugar deveria ser elegante.
— Oh, se não é a garota de rua. — ela zombou. — Não fique confortável querida. Você vai perceber em breve que não se encaixa aqui, e vai voltar para a sarjeta de onde saiu.
Eu sorri. Suas palavras duras fizeram muito pouco para me chocar. Se ela achava que sua atitude alta e poderosa iria me quebrar, ela teria uma supresa. Eu não recuava, nunca.
— Uau, palavras tão ruins vindas da boca de uma pequena princesa. — Eu me inclinei para frente. — Você sabia que seu lado vadia está aparecendo? Talvez queira esconder isso de volta, querida.
Seu rosto visivelmente se apertou e se tornou um tom mais vermelho. Eu imaginei que finalmente conheci a melhor vadia, e parecia que ela não gostava muito de alguém que não se submetia às suas besteiras. As pessoas estavam começando a parar e observar nossa interação, algumas por diversão, outras em choque.
— Só porque você veio aqui com os Carsons, agora acha que é tudo isso? Você é nada. Ninguém. Um caso de caridade. — Ela riu.
Sorrindo, eu segurei meus braços bem abertos. — Por que você está ficando tão chateada então? É este caso de caridade sacudindo seus nervos? Eu te assusto?
— Eu? Medo de você? Por favor.
— Sim, foi o que a última garota disse... acho que ela desapareceu pouco depois disso. — eu disse com um encolher de ombros. Vi seus olhos se arregalarem um pouco e suspiros vieram das pessoas ao nosso redor. Manter uma cara séria era uma luta enquanto eu ria internamente.
Essa garota queria drama, eu poderia fazer drama.
Jay se recuperou rapidamente, apontando o dedo perfeitamente bem cuidado para mim. — Você não tem ideia de com quem você está cruzando, garota de rua.
Eu cruzei meus braços no meu peito. E disse: — Esclareça-me, princesa.
— Há uma maneira de as coisas funcionarem por aqui. — ela começou, finalmente começando a encontrar sua compostura. Conversar com ela a tinha abalado, algo que não estava acostumada. Mas agora ela estava encontrando seu equilíbrio novamente, circulando lentamente ao meu redor, como se fosse um predador estudando sua presa. — Eu sugiro que você aprenda rápido, ou você vai achar que as coisas ficarão muito, muito desconfortáveis. — Ela virou-se com raiva e saiu pelo corredor, empurrando-se através da multidão, com seu grupo de adoradores sussurrantes correndo atrás dela.
Uma voz que reconheci chamou pela multidão. — Tudo bem, o show acabou! Desapareçam. — Um rapaz abriu caminho entre os corpos que se afastavam rapidamente e ficou na minha frente com um sorriso gentil.
Lucas, amigo de Heath da estação de trem. — Bem, você realmente não é cheia de surpresas? — Ele sorriu para mim.
Revirando meus olhos. — Sim, eu sou uma festa normal. Terei sorte se conseguir passar um dia inteiro sem socar alguém na cara e ser expulsa... — Eu joguei minhas mãos no ar, — ...ou melhor ainda, processada!
Ele riu. — Venha, vamos almoçar. — Então, ele saiu, deixando-me ali um pouco confusa. As pessoas por aqui eram diferentes. Bem, pelo menos os que eu conheci. Era como se eles acreditassem que sua palavra era lei. Eles lhe diziam para fazer alguma coisa e só esperavam que você as seguisse. Como esses adolescentes achavam que tinham tanto poder era completamente surpreendente.
Eu corri para chegar ao lado dele, mantendo seu passo. — Onde estão Heath e Bray? — perguntei.
— Esperando na cafeteria. — Lucas me respondeu.
— Vocês são muito próximos? — Eu perguntei curiosamente.
Lucas sorriu, mas continuou olhando para a frente. — Heath é meu melhor amigo.
— Heath não me parece como o tipo de cara que tem muitos amigos, — eu zombei enquanto caminhávamos por entre pessoas e pelo labirinto de corredores.
Lucas riu. — Heath é suspeito por natureza. Ele vê o mundo pelo que é. Ele tem poder dentro dessas paredes. Os homens querem ser ele, as garotas querem estar com ele e a maioria pelas razões erradas.
— Então, como você se esgueirou através de suas defesas? — perguntei.
E Lucas me respondeu: — Somos amigos desde a escola primária. Eu estava lá por ele antes de ser rei. Cumpri o meu dever.
Eu assenti. Entendi muito bem o conceito da mente desconfiada.
Entramos em uma cafeteria barulhenta e movimentada. Ignorei os olhares e sussurros quando Lucas me entregou uma bandeja e começou a empilhar comida em cima dela.
— Você sabe, eu sou bem capaz de fazer isso sozinha. — eu disse a ele com uma carranca. Ele apenas sorriu, nem mesmo olhando para mim enquanto se afastava. Suspirei quando assumi mais uma vez que era esperado que eu seguisse. Lucas nos levou a uma grande mesa no canto da sala. A primeira coisa que notei foi a relação de quantidade de rapazes para garotas que se sentou nela. Havia talvez dez ou doze meninos e apenas três meninas. Eu avistei Heath, que se sentou na cabeça, exatamente como o rei. Mesmo por trás, eu sabia por que ele era respeitado e adorava o jeito que era. A maneira como ele se mantinha não era com uma atitude arrogante ou depreciativa. Ele não desprezava os outros nem os fazia sentirem-se inferiores. Ele simplesmente exigia respeito e o oferecia em troca. E por essa razão, as pessoas o amavam.
Braydon estava situado à sua esquerda, e quando ele olhou para cima, o sorriso que brilhava dele poderia ter iluminado a sala inteira em um apagão. Mas não foi apenas um sorriso feliz, foi travesso e arrogante. Ele falou baixinho para o cara ao lado dele, que automaticamente arrastou o banco para baixo, Braydon seguindo e abrindo um espaço para mim entre meus dois novos irmãos. Eu suspirei antes de me aproximar e me deixar sentar com toda a graça de um lutador de sumô no banco, minha bandeja fazendo um barulho alto na mesa e fazendo com que o resto da mesa se aquietasse e olhasse para mim.
— Culpa minha. — eu murmurei. Braydon riu alto ao meu lado e vários dos rostos relaxaram e voltaram para suas conversas.
— Você está bem? — Heath me perguntou baixinho, chamando minha atenção para ele, preocupação refletida em seus olhos expressivos.
— Claro? Por que eu não estaria? — perguntei casualmente, apunhalando com meu garfo um dos meus pedaços de frango.
— Ouvi dizer que você foi socorrida no corredor. — disse ele, não removendo seu olhar intenso.
Eu ri, quase engasgando com a mordida de comida que acabara de pegar com o garfo. — Uau, as notícias viajam rápido por aqui.
— Jay estava definitivamente em boa forma hoje. — disse Lucas quando ele se instalou no banco em frente a mim.
— Essa era ela em forma? — Eu zombei. — Isso geralmente funciona para ela? Chamando nomes às pessoas e empurrando-as no corredor?
— Normalmente... — Lucas respondeu com um pequeno sorriso.
— Ela precisa aprender algo sobre como o mundo real funciona, então. Se a cadela apontar suas unhas cor-de-rosa brilhantes para mim de novo, eu vou quebrar as malditas coisas.
A risada de Braydon ecoou por toda a sala, e eu peguei o mais leve dos sorrisos no canto da boca de Heath.
— Então, é verdade? — A voz de um cara veio do fundo da mesa, eu reconheci o rosto dele também.
— Sam. — Heath repreendeu, fazendo-o sentar em sua cadeira novamente.
Eu tomei meu suco. — É verdade o quê? — Eu perguntei curiosamente olhando para os rapazes.
Heath fez uma careta para o resto da mesa e suas bocas ficaram fechadas. — Sério, é verdade?
— Eles querem saber se você realmente 'fez alguém desaparecer'. — Braydon esclareceu usando os dedos para citar. Heath suspirou e beliscou a ponta do nariz. Eu comecei a rir e me senti bem. Foi bom rir.
— Eu sabia que não era verdade. — Sam falou novamente, então ele pensou por um momento. — Não é isso?
Não respondi, apenas continuei a comer meu almoço com um sorriso presunçoso brincando nos meus lábios. Eu não tinha estado aqui nem por meio-dia, e já estava irritando a rainha do drama da escola, almoçando com os miúdos populares, e me tornado a garota louca que dominava as pessoas quando elas atravessavam seu caminho.
Talvez isso não fosse tão ruim.
CAPÍTULO VINTE
— Oi, Felicity. — A jovem pulou ao som da minha voz, e seu telefone voou para fora de sua mão e para o chão. Eu me encolhi, rapidamente me curvando para pegá-lo. — Me desculpe, eu não queria assustar você. — Eu segurei o telefone checando a tela em busca de rachaduras. Um suspiro aliviado deixou minha boca, mas meus olhos notaram a mensagem de texto que estava na tela.
Desconhecido: saudades de você, baby.
Levantando minha sobrancelha, sorri suavemente. — Seus irmãos sabem que você tem um namorado?
Ela rapidamente pegou o telefone da minha mão, segurando-o contra o peito enquanto balançava a cabeça para trás e para frente.
— Está tudo bem... — estendendo a mão e acariciando seu braço suavemente, eu sussurrei. — ...eu não vou contar-lhes.
Seus olhos levantaram enquanto ela continuava a abaixar a cabeça. — Você não vai? — Sua voz era calma e tímida, e eu me perguntei como ela acabou tão tímida quando Heath e Bray ficaram tão confiantes e fortes.
— Claro que não. Será nosso segredo.
Ela respirou fundo e soltou o ar lentamente. — Eles ficariam loucos se soubessem.
Minha cabeça balançou em concordância. — Eu tenho certeza que é uma suposição segura. — Ela riu baixinho. — Ele é legal?
Seus olhos se iluminaram com a minha pergunta. — Sim, ele é tão doce. — Isso é ótimo, Felicity.
Ela limpou a garganta. — Hum... você pode me chamar de Flick.
Meu coração inchou. Eu sabia que apenas sua família e amigos próximos a chamavam assim, e eu não sabia por quê, mas me senti muito bem em ser incluída.
— Flick será.
Sorrimos uma para a outra, uma ligação começando a se formar entre nós.
Uma mão pressionou contra as minhas costas, deslizando lentamente para descansar no meu quadril. Meu corpo vibrou no toque de Heath. Mesmo que tenha se tornado natural para nós agora, eu ainda me excitava toda vez que nossos corpos faziam contato. — Garotas prontas para irem embora? Tenho que voltar para treinar em meia hora, então vou levá-las pra casa.
O carro buzinou e Flick assentiu e sorriu para seu irmão mais velho antes de subir no banco de trás.
— Ela gosta de você. — disse ele, dirigindo-me para a parte da frente do carro para o lado do passageiro. Eu não pude deixar de sorrir para ele, quando virou meu corpo e pressionou minhas costas contra a porta do carro.
— Ela pode ser a única porque tenho a impressão de que as outras pequenas daqui não serão tão facilmente persuadidas.
— Desde quando elas são importantes? — Ele perguntou, levantando a sobrancelha.
— Uma vez que eu não tenho ideia de quanto tempo estarei por aqui, então seria bom poder andar pelo corredor sem as pessoas olhando para mim como se tivesse algo no meu rosto. — Era verdade. Eu não queria fazer amizade com eles, só queria que esquecessem que eu existia. Eu não estava com medo de lutar e defender-me, nunca voltaria a ser aquela garotinha que deixava alguém pisar sobre si. Mas se isso acontecesse todos os dias, eu ficaria exausta. Eu já estava.
— Nós vamos trabalhar nisso. — Ele me puxou para longe do carro e abriu a porta, gesticulando para eu subir.
Olhei para ele com desconfiança. — Heath... Não jogue seu peso ao meu redor. Eu não preciso de você para me proteger.
Ele apenas sorriu, me dando um empurrão suave em direção ao carro. — Entre.
Subindo no banco da frente, continuei a observá-lo quando ele fechou a porta e caminhou para o lado do motorista. Ligou o carro e saiu do estacionamento.
— Heath, deixe isso pra lá. — eu avisei baixinho. Ele me ignorou e continuou dirigindo.
A última coisa que precisava era que Heath fosse meu guarda-costas. Ele chegou onde estava, exigindo respeito de seus colegas. E enquanto eu não dava exatamente a mínima para o que as pessoas aqui pensavam de mim, eu precisava pelo menos ganhar o respeito delas para tornar a vida aqui habitável. E eu não ia conseguir isso com Heath ou Braydon entrando em cena toda vez que eles achavam que precisava ser salva.
Heath nos deixou na porta da frente com um aceno.
— Ele não vai deixá-la sozinha, você sabe. — afirmou Flick quando subimos os degraus da frente e através das portas abertas. Nós paramos ao fundo da escada. — Não é como os rapazes trabalham. Eles cuidam do que consideram deles, e no que diz respeito ao meu irmão mais velho, você é dele.
Meus olhos se arregalaram. — Heath e eu, nós não somos nada um do outro.
Ela começou a rir. — Eu quis dizer que você é parte da família dele e de seus amigos, e ele protege as pessoas que ama.
— Eu não quero proteção, eu passei muito bem cuidando de mim mesma até agora.
Ela balançou a cabeça. — Você vai ver. — Com isso, ela subiu a escada e desapareceu.
O resto da casa estava em silêncio enquanto eu caminhava até à cozinha e jogava minha mochila da escola no chão. O silêncio não era algo que eu gostasse. Sentia falta dos meus amigos rindo desordeiros e da agitação das pessoas nas ruas da cidade. Sentia falta do som da guitarra de Layla, do violino de Daisy e da boca esperta de Eazy.
Meu coração doeu quando se encheu de tristeza e culpa.
Eu não tinha conseguido falar com eles desde que a polícia me arrastou para longe. Eles não sabiam onde eu estava ou se eu estava bem, e aqui estava eu morando nesta casa enorme enquanto eles estavam lá ainda lutando para sobreviver todos os dias.
Mas se eu voltasse para lá para vê-los, a juiza me levaria e colocaria no sistema, e as oportunidades que os Carsons tinham eram boas demais para serem jogadas fora. Não só para mim, mas para meus amigos. Eu já tinha conversado com Helen sobre fazer algo para ajudar, e ela disse que já tinha algo em mente.
Olhei ao redor da casa vazia, tudo estava brilhante e limpo, parecia quase anormal. Estava tudo bem quando Heath e Bray estavam por perto, eles ajudavam a me distrair de como me sentia desconfortável aqui.
Avistei meus patins parados contra a porta do lado de fora, e senti uma onda de conforto me encher. Correndo para cima, vesti um jeans pretos e um moletom cinza com capuz e enfiei a cabeça no quarto de Flick. Ela estava sentada na cama, olhando para o telefone com um sorriso suave.
— Namoradinho de novo? — Ela pulou, mas desta vez conseguiu segurar o telefone com segurança na mão. Corando, ela assentiu com a cabeça.
— Existe um parque de skate em algum lugar por aqui? — Minhas esperanças eram altas, mas as chances que conhecia eram pequenas.
— Se você for para a cidade, há uma ponte à sua esquerda que atravessa os trilhos da ferrovia. Está só ali, mas...
Eu a cortei com um agradecimento e fechei a porta, correndo de volta pelas escadas. Meu corpo se encheu de alegria quando puxei minhas lâminas e cliquei sobre as fivelas. Apenas aquele som foi suficiente para fazer meu corpo ceder de alívio.
Era muito bom tê-los comigo.
Patinar na estrada suave não era o mesmo que rolar ao longo de uma rua da cidade, mas faria por agora até que eu pudesse chegar ao parque de skate que Flick estava falando. O vento soprou no meu rosto enquanto passava pela calçada e ri. Eu nem precisava evitar os pedestres, exceto a pessoa estranha que fazia jogging30 ou passeava com o cachorro. Todos me olhavam de forma estranha, eu sabia que parecia fora de lugar, mas não me importava. Eu estava feliz demais para me importar.
Levei uns trinta minutos para chegar lá, mas finalmente cheguei à ponte exatamente quando um trem passava por baixo, o estrondo das carruagens se movendo sobre minhas rodas e vibrando através do meu corpo. Quando o barulho do trem desapareceu, o ar estava cheio de sons que reconheci, raspando e deslizando as tábuas contra o concreto. Risos de adolescentes e aplausos quando alguém conseguiu um truque.
Puxando meu capuz para cima e enfiando meu cabelo para dentro, eu patinei em direção ao barulho, meus sentidos vibrando. Eu só queria me misturar com a multidão, pegar a energia que precisava e sair por aí. Havia garotos usando jeans rasgados e sapatos usados, duas garotas sentadas ao lado assistindo, mas até elas pareciam diferentes das belezas do mundo de riqueza com quem passei o dia todo na escola.
Rolei em direção a eles lentamente. Alguns me notaram, estreitando os olhos como se estivessem tentando decifrar se eu era amigo ou inimigo. Fazendo meu caminho ao redor do lado de fora da taça, cada vez mais olhos caíram em mim, e os ruídos doces que eu amava pararam.
— Você se perdeu, cara? — Um garoto alto com cabelo loiro despenteado saiu, e eu parei bruscamente. Ele pareceu chocado quando deu uma boa olhada no meu rosto. — Não é um homem, então.
Puxando meu capuz, deixei meu cabelo cair livre. — Não me perdi, só quero andar de skate, então eu irei.
Seus olhos desceram para os meus patins e voltaram para cima. — Nós geralmente usamos pranchas. — Ele sorriu.
Empurrando com o meu pé direito, eu rolei em um círculo ao redor dele. Ele não se virou, mas me observou com os olhos. — Um parque de skate que discrimina o tipo de rodas que você tem. Isso é novo.
Ele riu, cruzando os braços sobre o peito. Ele era bem construído para um adolescente, atlético como Heath e Bray. Ainda sorrindo, ele acenou para o parque. — Vamos ver o que você sabe.
Sorrindo, meu corpo gravitava para a grande taça de skate que lembrava uma piscina vazia. Os olhos me penetraram, mas não senti nenhuma pressão, fiquei bem. Talvez não seja a melhor, mas eu poderia me segurar.
Indo até à beirada, meus músculos se contraíram enquanto eu mantinha meu equilíbrio, voando pela encosta íngreme. Dobrei meus joelhos quando levantei o lado oposto, e girei meu corpo para que estivesse voltando para baixo enquanto minhas lâminas mais uma vez conectavam com o concreto liso. As cores brilharam por mim como um borrão de arco-íris, o grafite manchava o chão debaixo de mim como uma própria obra-prima. Não era apenas a marcação das ruas, era bonita, criativa e intrincada.
Saltando da taça, eu bati na ladeira que levava ao resto do parque. Havia bancos, trilhos e bordas. Pulei e bati em um trilho, deslizando por alguns segundos antes de pular de novo.
A adrenalina e antecipação que percorre seu corpo, no momento em que você está esperando que suas rodas atinjam o chão novamente, são diferentes de qualquer outra coisa. É elevada. Uma sensação de euforia quando você se afasta.
Patinando de volta ao redor da taça, eu me movi lentamente, me permitindo sentir a alegria que se espalhou por todo o meu corpo e mente. Eu precisava disso. A escola tinha sido difícil hoje. Eu não gostava de admitir isso, mas era verdade. Levei muito tempo para construir a solidez que eu tinha com a aparência suja e comentários grosseiros que tinha recebido nas ruas.
No começo, doeu, eu não sabia por que as pessoas não podiam simplesmente ver que eu era uma criança precisando da ajuda de alguém. Em vez disso, eles olhavam para mim como se eu fosse escória, uma praga que eles não poderiam erradicar. Eu tive que aprender a não aceitar seus julgamentos.
— Você é muito boa. — o rapaz disse se aproximando de novo. — Meu nome é Liam.
Eu dei a ele um sorriso doce antes de tirar minha blusa sobre a cabeça e amarrá-la em volta da minha cintura ficando de camiseta e jeans. — Obrigada, Liam. Mas eu não estou procurando aprovação. Eu só quero andar de patins.
Ele sorriu, mostrando-me um conjunto de dentes brancos, mas não tão perfeitamente definidos. — Eu acho que você vai se encaixar aqui muito bem.
CAPÍTULO VINTE E UM
— Nunca te vi por aqui antes, — Liam ponderou enquanto caminhava ao meu lado para o banco do parque.
— Nova na área, — eu disse a ele simplesmente, enquanto me sentava e observava o grupo voltar ao seu negócio.
Ele se sentou ao meu lado. — Você estuda na escola daqui?
Um bufo completamente deselegante saiu de mim. — Sim, infelizmente.
— Ah, uma garota da privada Diamond Cross.
— Nossa, é tão óbvio?
Liam riu levemente. — Não, mas a única outra escola por aqui é a pública East Street. E eu não vi você lá. Parece-me que você se encaixaria melhor conosco do que com aquelas crianças ricas da cidade.
Havia uma questão não tão sutil ali. Reparando em suas roupas, eu não pude deixar de pensar que ele, estava certo. Ele estava vestido com uma bermuda jeans surrada e suja que chegava logo abaixo do joelho, e uma camiseta azul escura casual que não era de marca ou elegante, mas tinha um rasgo no fundo e estava desbotada. Ele ainda parecia bem, porém, eu tinha que admitir isso.
— É uma longa história, — respondi, esperando que isso satisfizesse sua curiosidade.
Ele levantou as mãos. — Hey, eu entendi. Todos têm uma história para contar. A minha também não é só os unicórnios cagando arco-íris, então não se preocupe.
Olhando para ele com o canto do olho, um sorriso começou a se formar em minha boca. — Unicórnios cagando arco-íris?
Ele retribuiu o sorriso. — Sim, não é isso que as pessoas chamam de felicidade? Unicórnios e arco-íris e...
— Cocô? — Eu ri.
Liam encolheu os ombros, estendendo a mão por trás do banco e pegando um skate. Ele colocou no chão e se levantou do banco. — Vamos lá, vamos ver o que mais você tem.
Levantando-me, eu mantive meus braços abertos enquanto patinava para trás, meus olhos o observando o tempo todo. — Você está duvidando das minhas habilidades incríveis?
Ele me seguiu, com um pé no skate e o outro empurrando. Seus sapatos pareciam ter visto muitos dias no parque de skate, e havia ralados e cicatrizes nos cotovelos e joelhos. Acho que ele não tinha medo de entrar aqui e correr riscos.
— Essas são grandes palavras para uma garotinha.
Eu parei de repente. — Desculpe, do que você acabou de me chamar?
Ele agiu inocentemente, assobiando casualmente enquanto passava por mim. — Garota? — Ele sorriu um pouco antes de descer pelas laterais do Bowl31 e desaparecer de vista, apenas para vê-lo aparecer do outro lado, virando seu skate no ar antes de fazer um pouso perfeito no chão plano.
Algumas pessoas ao redor bateram palmas, incluindo as duas garotas que eu notei, admirando-o em silêncio do outro lado do parque.
— Bem... — ele falou. — ...estamos ficando sem luz do dia aqui. — Sua provocação não me perturbou. Não foi dito com malícia, era o tipo de observação inteligente que você faria com seus amigos. E eu recebi com satisfação.
Passei uma hora ou mais, trocando ideia com os outros garotos e até mesmo aprendendo algumas novas habilidades. Eles me acolheram, embora eu pudesse dizer que, no início, eles estavam apreensivos.
Estava começando a escurecer e as pessoas começaram a se despedir. — Para onde você está indo? — Liam perguntou quando rolamos para longe do parque em direção à rua. As luzes da rua estavam acendendo e percebi que deveria ser mais tarde do que eu pensava.
— Kings Crescent, — eu disse a ele, tentando o meu melhor para não me encolher.
Ele soltou um assobio alto antes de dar uma risada. — Uau. De alta classe.
— É, nem me fale.
— É meu caminho, eu acompanho você por um tempo. — Ele enfiou o skate embaixo do braço e segurou-o com as duas mãos enquanto caminhava ao meu lado.
— Então, se você mora deste lado da cidade, como é que não vai à Diamond Cross?
— Bom, por um lado, Diamond Cross é uma escola particular, e dois, eu nem sempre morei deste lado da cidade, — ele explicou. — Vivemos muito mal, até cerca de um ano atrás. Meu pai era um babaca que gastava todo o nosso dinheiro em apostas e álcool. Nós nunca tivemos muito, mal conseguimos pagar o aluguel na maioria das semanas.
Eu balancei a cabeça, sua história era familiar.
— Eu fiquei doente e cansado da sua merda, em uma noite eu o confrontei e ele me bateu, quebrou meu nariz. — Ele abanou suas mãos sujas, mas tinha um sorriso no rosto. — Minha mãe tinha aturado um monte de merda dele, mas isso foi aparentemente a gota de água que fez transbordar o copo. Ela mandou prendê-lo e um mandado de restrição foi emitido contra ele.
— Uau. Isso deve ter exigido muita coragem. — Eu estava completamente maravilhada e admirada.
Ele deu de ombros. — Não é isso que qualquer pai deveria fazer para proteger seu filho.
— Não o meu.
Ele parou por um momento, correndo para me alcançar, enquanto eu continuava a descer a rua. — Como você veio parar aqui?
— Mais como uma sucessão de eventos que me trouxeram aqui. — Eu não tive vontade de contar minha história. Mesmo sabendo que de todas as pessoas que eu conheci neste lugar, ele provavelmente é quem mais entenderia. Eu ainda odiava ver aquele olhar que as pessoas me davam quando eu lhes contava o que tinha feito.
— De qualquer forma... — Liam continuou, obviamente ciente da minha aversão. — ...minha mãe trabalha em dois empregos, mas sem os hábitos do meu pai, somos capazes de pagar um lugar melhor. Foi totalmente válido um nariz quebrado. Além disso, acho que isso me faz parecer um pouco mais rude, e as meninas adoram essa merda.
Seu sorriso brincalhão foi iluminado quando passamos sob uma lâmpada de rua e o riso fluiu livremente de nós dois.
— Você sabe, é bom conhecer alguém com quem eu me sinta à vontade.
— Oh não, problemas em Diamond Cross? — Ele zombou.
— Esse lugar é outro mundo. É sobre quem é o mais popular ou quem usa as roupas mais caras. Até os professores tratam essas crianças como se fossem da realeza. — Revirei os olhos.
— Então, mude de escola. — Liam parou na esquina de uma rua. — Não seria melhor estar perto de pessoas que podem ter empatia com a sua situação? Nem todos nós podemos pagar pelo nosso modo de vida, algumas pessoas precisam lutar pelo futuro. Mas você sabe o quê? Isso só torna o sucesso mais gratificante.
Era verdade. Fiquei imaginando quantos jovens da Diamond Cross continuariam vivendo debaixo das asas de seus pais, fazendo parte dos negócios de seus pais e cavalgando nas costas de seu sucesso.
— Eu gostaria que fosse assim tão fácil.
Liam colocou seu skate no chão. — Onde há uma vontade, existe uma solução. — Ele piscou. — Esta é a minha rua. Talvez eu te veja em breve.
— Espero que sim.
Ele me deu um aceno por cima do ombro enquanto desaparecia na rua. Estava razoavelmente escuro agora, e eu sabia que precisava voltar para casa antes que eles enviassem uma equipe de busca para mim. Empurrei com força, os músculos das minhas pernas queimando enquanto me jogava para a frente, na calçada usando a pequena quantidade de luz.
Pressionei o código no portão e me forcei a subir o caminho da entrada, com o suor encharcando a parte de trás do meu pescoço quando cheguei ao topo com meus pulmões queimando, ofegando por ar.
A luz da varanda estava acesa, mas a casa estava completamente silenciosa quando entrei e me larguei no final da escada para poder remover meus patins.
— Ah, a irmã adotada retornou! — A voz de Bray explodiu do patamar acima de mim.
— Desculpe, eu não tinha ideia de que horas eram, — me desculpei.
Ele saltou escada abaixo, dando três passos de cada vez. Seu cabelo estava molhado e seu corpo ligeiramente corado me dizendo que ele provavelmente tinha tomado banho.
— Seus pais nunca lhe disseram para que você se certificasse de estar em casa antes do anoitecer? — Ele perguntou, jogando um braço por cima do meu ombro no que se tornou um gesto normal entre nós. Eu me encolhi com as palavras dele, e ele se enrolou para justificar seu erro. — Eu quis dizer antes de sair, como quando você era criança e ficava brincando com seus amigos e... — Sua voz sumiu em um silêncio constrangedor. — Ok, eu vou parar por aqui.
— Boa ideia.
— Com fome? — Ele ofereceu sua voz se animando um pouco enquanto tentava disfarçar sua tagarelice.
— Um pouco, — eu admiti meu estômago de repente se sentindo muito vazio. Eu acho que foi uma sensação fácil de ignorar, sendo que era tão normal antes. — Onde está Flick e Heath?
— Flick está no telefone com um amigo, e Heath está nadando na piscina, — ele comentou quando começou a pegar comida para fazer o jantar que estava no freezer.
Eu fiz uma careta. — Ele não teve treinamento de natação depois da escola?
— Sim, — Bray respondeu.
— E ele já está de volta à piscina?
— Heath nada quando está estressado.
Caminhando para a janela, pude ver um corpo se movendo através da água, sob as luzes brilhantes que iluminavam a área. — Por que ele está estressado?
— Porque você não estava aqui quando chegamos a casa.
CAPÍTULO VINTE E DOIS
Meu corpo inconscientemente se dirigiu para a porta que dava para a área da piscina, deixando para trás de mim os sons de panelas e frigideiras batendo na cozinha.
O ar da noite parecia mais frio de repente, talvez porque meu corpo não estivesse mais tão quente, agora que tinha me acalmado da minha corrida para a casa. Meus pés moveram-se levemente ao longo da superfície de paralelepípedos até que cheguei à beira da piscina, onde me sentei e dobrei as barras do meu jeans antes de colocar meus pés na água.
Heath não parou, eu nem tinha certeza se ele estava ciente de que eu estava lá.
Seu corpo se movia através da água como um torpedo, suave e rápido, quase sem perturbar a superfície. Seus braços levantando antes de mergulhar de volta sob as profundezas como uma faca cortando manteiga macia. A forma como ele se movia na água era fascinante, a maneira como a água corria sobre seu corpo bronzeado e esculpido enviava uma onda de calor dentro de mim.
Não era de se admirar por que tantas garotas olhavam para ele do jeito que faziam. Ele era lindo, ouso dizer sexy. Com seus ombros largos e cintura fina, ele era mais do que apenas um adolescente. Ele era um homem. Não havia como duvidar disso.
Sua cabeça surgiu da água quando ele tocou o final da piscina. Ele usou a mão para limpar o rosto e afastar o líquido dos cabelos, fazendo com que se espalhassem.
— Entre comigo. — Sua voz era profunda e ecoou no silêncio.
Eu ri. — Olhe minhas roupas? — Meus pés balançaram dentro da água, apreciando o movimento enquanto empurrava um contra o outro.
— Tire-as. — Não soava mais como um pedido e um rubor me preencheu, começando na ponta dos meus pés e subindo pelo meu corpo.
— Heath...
— Fable... — ele respondeu, flutuando através da água, avançando em mim. — Flick e Bray estão lá dentro.
De repente, ele estava na minha frente, usando seu corpo para separar minhas pernas. — Então é melhor você se apressar.
Engolindo com força, eu consegui me forçar a ficar de pé, verificando por cima do meu ombro enquanto enrolava a bainha da minha camisa em meus dedos.
Respirei fundo, puxando minha blusa sobre a cabeça e trabalhando no botão do meu jeans. Eu sabia que não estava muito atraente quando pulei em um pé, tentando puxar minha calça apertada sobre os meus pés.
Eu joguei minhas roupas na cadeira mais próxima e corri para a beira da piscina onde ele esperava. Seus olhos estavam semicerrados, e ele se afastou para trás da borda, me dando espaço para deslizar pelo lado dentro da água.
Eu me agarrei à borda quando me abaixei, percebendo que não seria capaz de tocar o fundo. Mas quando dois braços fortes se aproximaram rodeando a minha cintura, eu instantaneamente relaxei contra ele e deixei Heath me abraçar. O jeito como o corpo dele estava contra o meu me excitou. Não era nada que eu já tivesse sentido antes, mas algo que não queria abrir mão.
Sua respiração fez cócegas no meu pescoço. — Onde você esteve?
Eu tive que me concentrar muito para simplesmente abrir minha boca para formar uma palavra. — Patinação.
— Você gosta de fazer isso?
Eu me mexi em seus braços, desesperada para ver seu rosto enquanto falava com ele. Ele permitiu, enganchando minhas pernas sobre seus quadris e colocando as mãos sob a minha bunda.
— Eu gosto. Imagino que seja próximo de como você se sente em relação à natação. — Eu estava sem fôlego e lutando para manter a compostura com seu rosto e a boca tão perto de mim. Minhas pernas se esfregaram contra sua sunga, ela era sedosa e pequena, e eu tive que rir ao pensar nela. — Bela sunga.
— Diz a garota que entrou aqui de calcinha. — Ele enfiou um dedo na tira da minha calcinha, puxando-a para trás e deixando-a voltar com um ping. Eu ofeguei.
— Você me disse para fazer isso. — Minha defesa era fraca e eu sabia disso.
Um sorriso lindo surgiu em sua boca. — E você faria qualquer coisa que eu pedisse, hein?
Revirei os olhos, mas não consegui impedir meu corpo de corar. — Sim, continue sonhando, idiota arrogante.
Sua risada suave me aqueceu. Heath não se permitiu relaxar muitas vezes, mas eu estava vendo isso mais e mais. Quanto mais eu o via sorrir ou rir, mais o desejava e me via anotando as coisas que o faziam feliz para que pudesse usá-las mais tarde. Porque Heath sério era quente, misterioso e excitante. Mas quando ele sorria, era como se o mundo estivesse iluminado.
— Bray disse que você estava estressado porque eu não estava em casa.
Heath deu voltas ao redor da piscina enquanto eu me agarrava a ele, simplesmente nos guiando através da água e deixando fluir ao redor de nossos corpos. — Você não teve um dia muito bom na escola hoje.
— Qualquer dia que eu ainda esteja viva é um bom dia. — Seus olhos entristeceram, eu balancei a cabeça, impedindo-o de falar. — Heath, você precisa entender, sim, isso é tudo novo e desconhecido. As coisas aqui são diferentes de qualquer coisa que eu já conheci, mas não vou deixar isso tirar o melhor de mim. Ainda não.
O piso frio da borda da piscina me fez ofegar quando ele pressionou minhas costas contra ela. — Alguém já te disse que não há problema em admitir que você não esteja bem?
Eu sorri quando seu rosto se aproximou meus olhos observando seus lábios com antecipação. — Alguém já lhe disse que às vezes você tem que deixar as pessoas lidarem com seus próprios problemas? Você não pode controlar tudo e, se houver algum problema, eu vou lidar com isso.
— Você sempre responde a uma pergunta com outra pergunta? — Ele brincou.
— Você é sempre tão mandão e exigente?
Sua boca cobriu a minha, e seu corpo me segurou cativa contra a borda enquanto seus dedos deslizavam pelo meu corpo. Eu me contorci contra ele enquanto seu polegar delineava a parte de baixo do meu seio, por baixo do meu sutiã. Eu acho que ele sabia que estava me deixando louca, e ele gostou, me vendo ficar sem ar com apenas esse movimento ou toque mais simples. Era como um jogo e eu era uma jogadora disposta. Apreciando seu tormento tanto quanto ele. Talvez mais.
Tentei não pensar em quão habilidoso ele era na arte da sedução. Eu tinha certeza que ele tinha muita prática. Ao contrário de mim, uma novata cujo primeiro beijo com um menino só tinha sido recentemente.
Ele se afastou, deixando-me inspirando e soprando.
— Como você acabou na rua? — Ele perguntou depois de me permitir um momento para recuperar o fôlego.
Eu fiz uma careta. — Você não sabe?
Ele usou a mão para limpar uma gota de água da minha bochecha. — Mamãe não nos diria. Ela disse que era a sua história para contar quando você estivesse pronta.
— Você vai olhar para mim de forma diferente, — eu disse a ele, meu corpo flácido.
— Não é provável.
— Não é agradável, — falei, na tentativa de dissuadi-lo. Ele balançou a cabeça.
— Eu não me importo.
Soltando um longo suspiro, tentei reunir meus pensamentos quando percebi que ele não deixaria isso passar. Heath já sabia de onde eu viera e ele nunca me fez sentir que isso afetava a maneira como pensava sobre mim. Ele me tratou com respeito e fez o melhor para ter certeza de que eu não estava ferida.
— Meu pai era um bastardo, minha mãe um capacho. Ele era sádico. Ele começou a fazer jogos comigo. Trancando-me no meu quarto por dias. Amarrando-me em um poste no quintal quando acontecia as tempestades. Cozinhando refeições enormes e não me deixando comer. Às vezes eu ficava deitada no meu quarto e ouvia a minha mãe gritar enquanto ele batia nela, por nenhuma outra razão a não ser por ele ser um babaca. — A expressão de Heath nunca mudou, mas notei o modo como seus punhos cerraram e seus músculos pareciam se contorcer contra mim. — Ele nunca colocou um dedo em mim, no entanto. Mas todo dia ele se aproximava um pouco. Quando veio a mim pela primeira vez para tentar me agredir, eu o esfaqueei.
— Puta que pariu, — ele murmurou antes de sugar uma grande lufada de ar.
— Eles me colocaram no reformatório e, quando saí, o juiz decidiu me liberar de volta aos cuidados deles. Ele queria vingança. Saiu em todos os noticiários, e as pessoas começaram a olhar para ele, analisando a nossa vida em casa.
— Você fugiu.
— Ele teria me matado, — eu confirmei suavemente. — Estou com medo que ele ainda vá fazer isso. — A água ainda estava ao nosso redor. Eu tentei agir como se nada me incomodasse como se pudesse lidar com qualquer coisa que aparecesse na minha frente, mas isso não era inteiramente verdade.
Por muito tempo depois que saí de casa e fiz minha vida nas ruas, fiquei com medo de cada sombra, de cada pequeno movimento. Não foi por causa das pessoas lá, aqueles que matariam para roubar suas roupas, ou os homens que raptavam garotas bonitas da calçada, sabendo que ninguém sentiria falta delas. Eu estava com medo de que ele voltasse por mim. Esse foi o meu maior medo, o pensamento de que ele seria o único a finalmente acabar comigo.
— Ele não pode tocar em você aqui.
— Se eu estragar tudo, eles vão me mandar de volta.
— Você não vai estragar tudo.
Eu bufei. — Heath, eu não me encaixo aqui. Todo mundo sabe disso. Se eu ficar contra a parede, vou sair batendo. Eu não tenho medo de me defender quando alguém vem para mim. Mas se isso acontecer, não vai ser um bom presságio a meu favor.
Ele não parecia ter uma resposta. Ou isso, ou ele não sentiu que precisava justificar o que eu disse.
— Ei pessoal. O jantar está pronto. — Bray chamou da porta.
Heath nos afundou ainda mais na água, cobrindo meu corpo com o dele. Ele virou a cabeça para o lado. — Sim, nós estaremos lá em um minuto, — ele respondeu.
Corei a água fria fazendo com que eu estremecesse enquanto meu corpo se aquecia contra ele. — Vou tomar um banho quente antes de comer. Eu não posso exatamente sentar-me à mesa de jantar com a minha calcinha molhada.
Heath nos levou mais para a parte rasa da piscina, me descendo de seu corpo quando sentiu que eu seria capaz de ficar sozinha. Eu escorreguei nele, sentindo cada músculo, cada ondulação de seu físico tonificado. Isso me empolgou. Ele era tão forte e eu era tão pequena. Eu me senti segura em seus braços.
— Talvez você devesse me ensinar a nadar, então você não teria que gastar todo o seu tempo me carregando, — eu brinquei.
Ele finalmente soltou um pequeno sorriso. — Eu não me importo.
— Eu tenho certeza que não. — Eu ri enquanto subia as escadas e peguei a toalha que ele trouxe para si mesmo de uma das cadeiras. Eu sorri quando a envolvi ao meu redor e tirei minhas roupas do chão. Ele apenas balançou a cabeça e riu quando deslizei para dentro da casa, tentando não deixar um rastro de poças enquanto eu fazia meu caminho pelo chão e subia as escadas. Fui direto para o meu banheiro, tirando a roupa íntima molhada e ligando o chuveiro o mais quente que pude, sem escaldar todo o meu corpo. Entrando, deixei a água quente lavar meu corpo, erradicando o frio que parecia se enterrar na minha pele. Reviver meu passado não era algo que eu gostasse, era parte da razão pela qual sempre tentava evitar falar sobre isso. A outra parte era por causa dos olhares que eu geralmente ganho. Raiva, pena, nojo.
Eu não precisava que as pessoas sentissem pena de mim, ou me tratassem de forma diferente só porque sabiam da vida que eu vivia. Eu não era uma daquelas garotas que queriam que as pessoas falassem coitadinha dela, ou, oh ela é assim por causa de como cresceu.
Ninguém fez minhas escolhas para mim, meu passado não definia quem eu era ou o modo como meus pais eram ruins em me criar. Eu era mais forte por isso, era mais forte por causa das escolhas que fiz para tornar minha vida melhor, não por causa das escolhas que eles fizeram para tornar minha vida um inferno.
No momento em que saí do chuveiro, meu estômago estava tão enjoado que nem sequer queria pensar em comida. Eu coloquei uma camiseta e shorts de dormir e entrei embaixo das cobertas da minha cama gigante.
Sentia falta de Layla, Kyle e Lee e meus outros amigos.
Passei tanto tempo com eles ao meu lado, me desenvolvendo e me ensinando a ser forte. Vir aqui e ter que lidar com todo um novo tipo de inferno já estava me desgastando. Era como começar do zero novamente, e tinha sido apenas um dia.
Amanhã será melhor.
Tinha que ser.
CAPÍTULO VINTE E TRÊS
Pensar que hoje seria melhor, obviamente, era esperar demais. Eu nunca esperei que as coisas funcionassem a meu favor, então não sei por que fiquei surpresa quando pisei na escola na manhã seguinte e os olhos me seguiram em todos os lugares. Braydon andou ao meu lado, ele estava quieto e tenso, aparentemente reconhecendo a sensação estranha no ar, assim como eu estava.
Heath havia desaparecido no segundo em que estacionamos o carro, resmungando sobre a necessidade de ver seu treinador sobre uma grande competição de natação neste fim de semana.
Assim que chegamos às portas da frente, elas se abriram, quase me acertando. Eu pulei para trás e Bray agarrou meu braço, estabilizando-me, para que não tropeçasse de volta pelas escadas. Depois de recuperar o controle, olhei para cima para ver Jay sorrindo para mim da porta.
— Oh, me desculpe... — ela engasgou — ...eu não vi você aí.
— Volte para o seu buraco, Jay. — Braydon estalou.
Ela pareceu atordoada por um segundo, mas rapidamente se refez. — Foi um acidente, Bray.
— Nada é um acidente com você, — ele zombou, puxando-me quando passou por ela e pela porta.
— Tenha um bom dia. — ela sussurrou sombriamente. — Se você durar tanto tempo.
Eu queria me virar e interrogá-la, mas um punhado de amigos de Bray nos cercou, cumprimentando-o enquanto nos movíamos pelo corredor. Todos eles riram e brincaram, mas mantiveram distância, seus olhos ocasionalmente passando por mim como se estivessem sendo cautelosos.
Algo estava errado, eu sabia disso.
Um corpo apareceu na minha frente e eu fiz uma careta, irritada. Isso foi até que eu olhei para cima e vi um preocupado Lucas olhando para mim. — Vá para casa, Fay.
— Mano, que diabos? — Braydon rosnou. — É dia do idiota ou algo assim? Eu perdi o memorando?
Lucas o ignorou. — Eu já liguei para Heath, ele vai te encontrar no carro.
— Lucas, sério, o que está acontecendo?
Braydon se aproximou dele e virou o corredor que levava aos nossos armários. — Inferno do caralho. — eu o ouvi gemer.
— Lucas... — eu sussurrei, — ...deixe-me passar, ou eu vou chutar suas bolas com tanta força que você vai engasgar com elas.
Ele forçou um sorriso. — Alguém já te disse que você tem uma veia para a violência? — Ele se encolheu assim que as palavras saíram de sua boca. — Quero dizer...
— Saia, — a voz de Heath ecoou pelo espaço e as pessoas de todos os lugares começaram a se dispersar.
Lucas relaxou um pouco e eu aproveitei o momento para passar por ele. Ele pegou minha mochila, tentando usá-la para me puxar para trás, mas eu apenas permiti que as alças deslizassem dos meus ombros enquanto me movia para a frente, virando no próximo corredor.
Foi uma bagunça. Papéis espalhados por todo o chão, cobrindo os armários que revestiam as paredes. Imediatamente eu soube o que eles estavam fazendo, um enorme pôster meu no alto sendo levada algemada era uma revelação inútil.
Braydon e Heath levantaram suas cabeças ao mesmo tempo. Heath olhou para mim por baixo dos seus olhos azuis geralmente marcantes não mais me lembrando um oceano gentil, em vez disso parecendo uma tempestade selvagem.
Todos os papéis eram os mesmos e eu nem precisava olhar para saber o que dizia. Era uma reportagem, que eu já havia visto antes e que quase havia memorizado palavra por palavra. — Adolescente problemática esfaqueia o pai em um ataque de raiva, — minha voz ecoou no salão agora vazio. — Posso resumir para você, se quiser. Basicamente diz, que eu tenho alguns parafusos soltos e meus pais são anjos por me tolerarem por tanto tempo, e não terem me condenado a uma ala psiquiátrica por meus problemas de raiva e violência.
Eu me lembrei desse artigo especificamente porque tinha sido o único que meu pai me mandou enquanto eu estava no reformatório. Tudo fazia parte dos jogos mentais do meu pai. Ele queria que eu pensasse que ninguém acreditava em mim e que eles eram todos contra mim. Eu lia repetidamente, atormentando-me com as palavras que me descreviam como fora de controle e agressiva.
Os garotos não disseram nada. Braydon apenas olhou para o chão e balançou a cabeça, e Heath, ele apenas me observou, seus punhos fechados a cada lado do seu corpo.
Agachando-me, arranquei um dos papéis do chão antes de forçar minhas pernas trêmulas a levantarem novamente. Meus olhos examinaram o artigo e eu ri baixinho, fazendo com que tanto Heath quanto Braydon alargassem os olhos em surpresa.
— Esta é minha parte favorita. Greg Campbell diz que ainda ama sua filha. Ele não a culpa pelo que aconteceu, mas se culpa por não colocar um freio nisso antes. — Eu revirei os olhos. — Em outras palavras, ele está desapontado por não ter me esfaqueado primeiro e não ter que lidar com os problemas que eu agora causei a ele.
— Vamos para casa, — disse Heath, se aproximando de mim e pegando o papel da minha mão.
Pegando-o antes que ele pudesse levá-lo, perguntei: — Porquê?
— Porque isso é besteira, e você não precisa lidar com isso.
Eu balancei o papel na minha mão. — Eu tenho lidado com isso desde os meus quinze anos. Crítica, julgamento, pessoas dizendo que eu deveria pegar prisão perpetua por esfaquear um homem que fez tanto pela comunidade. — Só de dizer as palavras me fez sentir mal do estômago.
Se as pessoas ao menos soubessem.
Não.
Elas sabiam.
Elas apenas escolheram ignorar.
Elas ficaram do seu lado.
— Aconteceu. Eu fiz isso. Esconder não vai mudar o fato de que as pessoas vão descobrir.
O sino da escola tocou para avisar sobre o primeiro período. Estudantes correram pelos corredores, alguns evitando contato visual e outros olhando descaradamente quando passaram por mim.
— Nós podemos voltar amanhã quando tudo acabar. — Heath argumentou baixinho, estendendo sua mão e pegando a minha.
— Porquê?
Ele se aproximou novamente, abaixando para que nossas testas se tocassem suavemente. — Porque você não merece isso.
— Senhorita Campbell, — a voz autoritária falou atrás de mim. Eu me virei para encontrar uma mulher vestida em um terno cinza imaculado. Seus óculos estavam encaixados na ponta do seu nariz enquanto ela examinava a bagunça ao nosso redor antes de finalmente se voltar para mim. — Posso falar com você no meu escritório, por favor? — Seu tom não era malicioso, mas definitivamente não aceitava nenhuma resposta boba. No crachá em seu peito lia-se escrito vice-diretor e, em minha mente, eu gemi.
Não era com isso que eu queria lidar hoje.
— Claro, — eu respondi sombriamente. Lucas me estendeu minha mochila, que eu peguei com um sorriso agradecido.
— Rapazes, para a aula, por favor. Vocês já estão atrasados. — Braydon e Lucas me deram sorrisos de apoio quando passaram, mas Heath não se mexeu. — Sr. Carson, agradeço que esteja querendo cuidar dela, mas não há necessidade. Eu só quero conversar.
Eu arranquei minha mão do aperto de Heath e coloquei em seu peito. Ele olhou para a mulher como se estivesse transmitindo algum tipo de mensagem silenciosa para ela, antes que finalmente direcionasse sua atenção para mim. — Eu vou te ver na hora do almoço.
Eu balancei a cabeça, observando enquanto ele saía do corredor e desaparecia.
— Vamos para o meu escritório.
Dois homens vestidos com macacão passaram por nós com grandes sacos de lixo enquanto eu a seguia em direção ao bloco da administração da escola. Acho que pelo menos os panfletos desapareceriam em breve, mas sem dúvida o estrago já havia sido feito.
As pessoas sabiam agora.
E tanto quanto eu tentei fazer parecer que não me importava, eu consegui fazer.
A senhora que eu ainda tinha que descobrir o nome, segurou a porta para mim enquanto eu entrava em seu escritório. Havia uma mesa, duas cadeiras, algumas prateleiras de livros e prêmios na parede. Sentei-me enquanto ela fechava a porta e contornava o outro lado da mesa para se sentar em uma grande cadeira de escritório.
— É um prazer conhecer você, Keira. Meu nome é Sra. Fallon. — Ela sorriu ao se apresentar e tentei retribuir.
— Eu prefiro o nome Fable.
Ela olhou para o arquivo em sua mesa que eu percebi que tinha a minha foto presa ao topo. Era uma que eles tinham tirado quando Helen veio me matricular na sexta-feira.
— Oh sim, diz isso aqui. Desculpa.
— Sem problema.
— Eu ia lhe perguntar como seu tempo aqui tem sido até agora, mas tenho um palpite e suponho que não tem sido bom. — Ela reclinou em sua cadeira me lembrando de um conselheiro, pedindo-me para compartilhar meus problemas com ela para que pudesse me analisar.
Dei de ombros. — Sim, você está certa. Quem diria que eu começaria a semana com um estrondo tão grande?
A Sra. Fallon assentiu. — Alguém se deu ao trabalho de dar-lhe as boas vindas, não foi?
A ênfase sombria nas palavras boas vindas não passou por mim. Ela não ficou impressionada com o que tinha acontecido esta manhã, e eu estava grata por finalmente conhecer uma professora que não tolerava o comportamento intocável com a qual essas crianças se mantinham.
Eu zombei. — Oh, tenho a sensação de que sei quem é esse alguém.
— Sério.
Jay tinha sido a única até agora que fez seu aborrecimento bem conhecido. Eu não duvido que, mesmo com minhas poucas e breves palavras com ela, era do tipo que acertava golpes baixos. Agressiva passiva, esse era o estilo dela, eu já podia dizer. Ela gostava de se enterrar sob sua pele e de comer você por dentro, mas eu não ia deixar.
Minha pele era mais grossa do que ela me dava crédito.
— Eu só quero continuar com o meu dia e esquecer isso.
Ela franziu os lábios e soprou uma lufada de ar pelo nariz. — Sim, eu entendo. Eu só queria que você soubesse, Diamond Cross é uma escola muito respeitada. Não só no estado, mas em todo o país. Ter esse tipo de...problema poderia nos trazer muita luz ruim.
Meus olhos se estreitaram. — Você acha que me ter aqui poderia manchar sua reputação? — Ela fechou a pasta em sua mesa e uniu os dedos enquanto os descansava em cima. Sua atitude mudou de repente. Eu percebi agora que a tinha interpretado mal. Ela não ficou desapontada com a maneira como um de seus alunos agiu publicando os panfletos. Ela estava chateada porque minha presença estava afetando-os e à escola.
— Olha Keira...
— Fable. — eu corrigi, minha voz aguda.
Ela franziu a testa com a minha resposta, apenas outra pessoa que não estava acostumada a alguém a desafiando.
— Certo. Fable. Eu sei que isso deve ser difícil para você. Você veio do nada. Sem casa. Sem grandes figuras paternas. — Suas palavras cravaram em mim, mas eu segurei minha língua. — É melhor você tentar se adaptar aqui. Tente manter a cabeça baixa e não interrompa o fluxo. Não queremos que sua presença cause mais problemas.
— Nós terminamos?
A Sra. Fallon assentiu e gesticulou para a porta. — Você está livre para ir para sua primeira aula. Tenha um bom dia, Fable.
Levantei-me e joguei minha mochila por cima do ombro, nem mesmo olhando para trás quando saí do escritório, e ninguém sequer tentou me impedir enquanto eu passava pela recepção e pelas portas principais.
Pra mim já chega.
CAPÍTULO VINTE E QUATRO
A caminhada para casa foi longa e lenta, e eu resmunguei o tempo todo sobre como gostaria de ter ido com os meus patins.
Eu simplesmente não consegui, não hoje. Esse artigo era tão falso como veio. Passei meses no reformatório superando as palavras que usaram para me descrever.
Detestável.
Fora de controle. Enlouquecida.
Em algum momento, acho que até me convenci de que eram verdadeiras. Ele foi distorcido para fazer parecer que eu era a agressora e Greg Campbell era a vítima. Foi ridículo. Ele nunca foi a vítima porque era esperto o suficiente para nunca pegar alguém que pudesse revidar. Ele mantinha uma imagem. Ele era importante, um homem a quem as pessoas prestavam atenção. Ele detinha o poder e outros o apoiaram por causa disso, colocando-o em um pedestal.
Diamond Cross não era muito melhor, e estava começando a pensar que esse era o meu karma pelo que eu fiz. As ruas me davam liberdade para crescer, me forçavam a ser forte, não só para mim, mas para meus amigos. E agora, aqui estava eu novamente, de volta a ser menosprezada e atormentada porque não era boa o suficiente.
A única questão agora é se eu deixaria a história se repetir?
Um carro com o qual eu não estava familiarizada estava na calçada, mas eu o contornei. Abri a porta da frente da casa, jogando minha bolsa na escada e não me importando quando ela caiu os poucos degraus de volta para o final. Vozes suaves fluíram da área da sala de estar, e eu caminhei em direção a elas.
Helen estava sentada na poltrona grande, segurando uma caneca de café na mão. Ela olhou surpresa. — Fable? O que você está fazendo em casa? Ela colocou a xícara na beirada da mesa de vidro e se levantou.
— Alguém decidiu redecorar o corredor da escola. — Peguei o papel que eu tinha enfiado no bolso e entreguei a ela. Seus olhos se arregalaram quando ela examinou o artigo danificado.
— Uau, não sinto falta do ensino médio.
Eu não a reconheci quando entrei, mas me lembrei da voz dela. Lena, a policial da cidade. Ela não estava de uniforme, mas vestida com uma calça e uma camisa de colarinho. Quando ela se levantou para me cumprimentar, notei o crachá que estava preso em seu cinto.
— Hey. — Eu tentei não achar isso estranho, mas não pude deixar de vasculhar pela minha mente, procurando por uma razão pela qual ela estaria aqui.
Helen colocou a mão no meu ombro e acenou para o sofá onde Lena estava sentada. — Sente-se, Fable.
Relutantemente, eu fiz. Lena me olhou com um sorriso gentil, enquanto Helen voltou para sua própria cadeira.
— Lena só queria verificar e falar sobre alguns acontecimentos que foram descobertos.
— Sem mim? — Minha sobrancelha franziu.
Lena tocou minha mão. — Uma vez que você é menor de idade, há regras que eu preciso seguir como discutir as coisas com seus tutores primeiro.
— Ok... então o que está acontecendo?
Lena olhou para Helen, que lhe deu um leve aceno para continuar: — Eu estudei mais a fundo seu caso. Parece que o juiz Morrison que controlou sua liberação está atualmente sob investigação. Ele está sendo acusado de receber subornos.
As palavras que eu queria dizer não vieram. Fiquei impressionada com uma série de emoções diferentes raiva, alegria, frustração.
Lena continuou no meu silêncio. — O advogado que representou seus pais é uma das pessoas sob suspeita. E parece que não é a primeira vez que ele faz isso.
— O advogado solicitou a data em que você seria julgada, dizendo que era o único dia em que seus pais estavam livres para comparecer. Foi também o único dia em que o juiz Morrison executou o processo porque sua esposa estava doente.
Eu balancei a cabeça. Por mais que eu quisesse dizer que não poderia ser verdade, sabia que era. — Ele mantinha todo o dinheiro que ganhava para si mesmo. Sempre que eu ficava doente, ele nem pagava para procurar um médico ou deixava minha mãe ir buscar remédio para mim. — Uma vez eu fui para a escola tão doente que a enfermeira da escola me mandou para o hospital. Eu paguei por isso durante semanas quando cheguei a minha casa. Ele se recusou a deixar tomar o analgésico que me deram.
Meu corpo inteiro estremeceu quando me lembrei de que desejavam que eu morresse. Que eu dormisse e não acordasse.
— Oh, querida... — Os olhos de Helen brilharam com lágrimas. — ...vamos resolver isso. Eu prometo. Ele estará assumindo a responsabilidade pelo que fez. — Suas palavras eram claras e fortes. Ela acreditava nelas com todo seu coração, e isso me fez querer acreditar nelas também.
— Fable, você tem a melhor oportunidade aqui para seguir em frente, — disse Lena, virando o corpo para me encarar. — Eu sei que as pessoas vão pegar sua vida e examiná-la e quebrá-la em pedaços, buscando tudo o que puderem para derrubá-la. — Ela apontou para o papel estragado que Helen ainda segurava em suas mãos. — Mas lembre-se, você é uma sobrevivente. Você fez o que tinha que fazer para ter certeza de que continuaria a viver. Você está viva porque foi corajosa e se manteve firme.
Lágrimas encheram minha garganta, e eu mordi meu lábio com força, tentando mantê-las paradas no mesmo lugar.
— Você não está mais sozinha. — Helen sorriu quando uma única lágrima escorreu pelo seu rosto. — Nós vamos ficar com você. Não sinta que precisa fazer isso sozinha.
Concordar foi a única coisa que pude fazer. Eu soube assim que tentei falar que iria explodir.
— Ok, eu vou embora. Mas vou continuar checando e mantendo você atualizada, — disse Lena, e nós duas nos levantamos, a mão dela ainda cobrindo a minha. — Não tenha medo de ligar se precisar de alguma coisa.
Helen e eu acompanhamos Lena até ao carro dela e acenamos enquanto se afastava. O sol irradiava sobre nós. O tempo de primavera estava morno e eu dei as boas-vindas com alegria.
— Tudo bem, vamos tomar uma bebida e conversar sobre este pedaço de papel estúpido que você trouxe para casa. — Ela pegou minha mão e me levou para dentro, seu humor triste agora cheio de determinação.
Sentei-me no balcão da cozinha enquanto ela tirava uma caixa de suco da geladeira e começou a nos servir um copo.
— Quantos destes estavam lá? — Ela perguntou, deslizando o copo sobre a bancada.
— Um corredor inteiro... — Eu gemi. — ...e eu não tenho dúvidas de que alguém já postou em redes sociais para todas as crianças que perderam isso.
— Ah sim, a internet. Tanto o céu como o inferno.
Correndo meus dedos pelo cabelo, a frustração me encheu. — Dois dias, foi o suficiente para eles me fazerem correr. Eu sobrevivi dois anos vivendo em uma barraca em um beco. Claro que foi difícil, mas eu lutei. Hoje, eu simplesmente não queria brigar.
— Quando você estava morando na cidade, você tinha seus amigos. Eles ficaram com você, e eles te ampararam quando não podia aguentar. — Ela estava certa. Eu nunca fiz nada sozinha. Nós sempre ficamos juntos porque era o mais seguro, e isso fazia as pessoas pensarem duas vezes antes de nos atacar.
— Você precisa perceber que há pessoas aqui que estarão com você também.
— Heath e Bray?
Ela riu. — Sim, meus garotos vão lutar com unhas e dentes para proteger alguém com quem eles se importam. E eu sei de fato, Heath se preocupa muito com você, em particular.
Minhas mãos seguraram firmemente o copo de suco de laranja, esperando por algum milagre que isso esfriaria o rubor que estava subindo pelo meu corpo.
Eu corri para mudar de assunto. — E se eu mudasse de escola e fosse para a escola pública?
Ela pareceu surpresa com a minha admissão. — A Diamond Cross lhe dará a melhor vantagem para o seu futuro. Eu sei que é difícil agora, mas...
— A única razão pela qual eles estão fazendo isso comigo é porque eles foram pagos para isso. — As palavras não tinham a intenção de sair tão frias e acusadoras. Eu tentei suavizar meu tom. — Sra. Fallon me puxou para seu escritório depois que viu os panfletos. Ela deixou bem claro que não queria nada lá que prejudicasse a incrível reputação da escola.
— Sra. Fallon é uma cadela.
Eu olhei para Helen, pega completamente de surpresa.
Ela riu do olhar obviamente horrorizado no meu rosto. — Tina Fallon foi para a escola comigo e com o pai dos garotos. Arthur veio de uma família razoavelmente abastada, mas eu não. Meus pais trabalharam duro para pagar aquela escola para mim, para que pudessem me dar as melhores oportunidades para o meu futuro.
Quando olhei ao redor da sala, não pude deixar de ficar impressionada com o quão bem ela usou essas oportunidades. Seu marido Arthur era famoso e ridiculamente rico. Mas Helen construiu seu próprio império. Ela era uma advogada muito procurada, com uma lista de clientes e associados quase tão impressionante quanto a do marido.
— Tina odiava que eu estivesse lá. Ela acreditava que o Diamond Cross era para a elite, um lugar para futuros líderes fazer... não amigos, mas contatos. Eu não tinha contatos para lhe dar, a menos que ela quisesse seu carro consertado ou seu cabelo feito porque estes eram os trabalhos dos meus pais. Para ela, eu estava ocupando um espaço que poderia ser dado a alguém mais importante e que valesse o tempo dela.
Fazia sentido agora, o modo como Heath a olhara no corredor.
— Não parece que ela tenha mudado muito. — Eu ri. — Mas como é que ela está trabalhando na escola? Não parece que ela fez muitos contatos.
Um pequeno sorriso cresceu na boca de Helen. — O pai dela estava acabado por sonegação fiscal e, depois disso, ninguém queria estar associado à sua família. Então ela conseguiu uma licenciatura de professora e voltou para a Diamond Cross e subiu na hierarquia.
— E agora ela está criando toda uma nova geração de pirralhos mimados, — eu murmurei, revirando os olhos.
Ela assentiu. — Quando alguém como nós entra, isso faz com que essas crianças sintam que não são mais tão importantes. E quando eles passaram a vida inteira ouvindo que são, qualquer um que desafia isso é uma ameaça que deve ser removida. — As palavras me atingiram com força. Eu era uma ameaça, e aquelas crianças que acreditavam que eram as melhores, fariam qualquer coisa para se livrar de mim. Eu posso ter me convencido ao longo dos últimos anos que nunca deixaria alguém me bater e me quebrar de novo, mas havia um limite de rounds que poderia aguentar no ringue antes de ficar muito exausta e desistir.
CAPÍTULO VINTE E CINCO
Helen tinha acabado de sair do telefone com a escola, deixando-os saber que eu não voltaria para lá e que estaria o resto do dia em casa quando a porta da frente se abriu.
— Fable, — a voz de Heath soou no espaço aberto do foyer.
Revirando os olhos, Helen começou a discar novamente enquanto os passos pesados de Heath se aproximavam da cozinha.
— Oi, senhora Carson aqui novamente. Como se vê, meu filho, Heath... — ela deu-lhe um olhar quando ele apareceu na sala. — ...também não está se sentindo bem. Por favor, desculpe-o também.
Ele ignorou descaradamente a carranca de sua mãe quando atravessou a sala até onde eu estava sentada.
— Eu pensei que você ia ficar na escola.
— Eu mudei de ideia depois de conhecer a vadia vice-diretora.
Ele esfregou a mão pelo cabelo. — Eu sabia que deveria ter ido com você.
Dei de ombros. — Não importa agora.
Heath estendeu a mão e segurou em volta do meu pescoço, apertando-o suavemente. Ele fazia isso com frequência quando eu estava tensa, e não tinha certeza de como ele sabia, mas parecia acalmar meu corpo substancialmente. Fez-me sentir que eu poderia relaxar, não apenas por causa da maneira como a mão dele massageava enquanto a tensão nos meus músculos diminuía, mas porque me lembrava que ele estava lá.
— Eu vou embarcar em um avião hoje à noite, mas primeiro eu pensei em te levar e mostrar-lhe uma coisa. — Heath e eu olhamos para Helen. Ela sorriu. — Eu preciso fazer alguns telefonemas primeiro, mas me encontre na porta da frente em vinte minutos, e podemos fazer uma pequena viagem.
Ela pegou o celular do balcão enquanto saía, com os saltos sempre presentes batendo nas tábuas do assoalho enquanto se dirigia pelo corredor até ao escritório.
— Eu preciso me trocar primeiro, andei todo o caminho para casa com essas roupas. — Heath me seguiu enquanto eu subia as escadas para o meu quarto. Ele deslizou pela porta atrás de mim e fez o caminho para a minha cama, sentado na beirada. — Acho que vou me vestir no banheiro, então? — Eu murmurei enquanto pegava uma calça jeans limpa e uma camiseta do meu armário.
Heath ainda estava no mesmo lugar que o deixei quando voltei alguns minutos depois.
— O que está errado?
Ele não se conteve. — Eu disse a você que alguns desses garotos eram implacáveis. — Minhas costas bateram contra a parede enquanto ele continuava a dizer: — Eles não vão parar, não até que você vá embora.
— Você está certo. — Seus olhos se arregalaram com a minha admissão. — Uma parte de mim quer dizer droga, porque eu passei muito tempo da minha vida para chegar a um ponto em que finalmente senti que estava no controle. Palavras não me machucam, eu não me importo se alguém me chama de lixo ou sujeira. Eu não me importo se eles olham para mim como se não fosse digna porque por dentro eu sei que sou.
As mãos de Heath agarraram o cobertor da minha cama, mas o rosto dele permaneceu como uma pedra, uma máscara que ele conseguiu de alguma forma manter sob controle total, apesar da raiva que estava sentindo.
— Mas o passado... ainda dói, Heath. Escapar do meu pai me permitiu a liberdade de finalmente crescer e construir uma pele mais grossa. Mas sempre que a questão volta para ele, volto a ser aquela garotinha assustada de quem ninguém se aproximava e ajudava.
Não fazia o menor sentido. Eu me tornei tão forte, mantive minha cabeça erguida enquanto as pessoas viravam seus narizes para mim na rua. Eu não estava orgulhosa da vida que vivia, mas sabia que estava fazendo o melhor que podia para fazê-lo dia após dia, e o que os outros diziam ou faziam não importava.
Mas era só surgir uma lembrança do meu pai, e eu queria correr e me esconder.
— Você não precisa mais ficar com medo, — ele me disse enquanto se levantava e se aproximava. — Ele não pode te machucar aqui.
— Não, mas ele ainda me machuca aqui. — Eu bati ao lado da minha cabeça. — Às vezes parece que eu ainda estou trancada naquele quarto e ninguém vem me resgatar. — Ele não falou nada quando colocou as mãos contra a parede em ambos os lados do meu corpo. Eu não gostava de me sentir assim, tão indefesa e ferida. Não era a pessoa em que eu me tornei. Eu era mais forte que isso e sabia disso. Então, por que me sentia tão exausta?
— O passado é o passado, e não há nada que eu possa fazer para mudar a merda que você teve que passar. — O tom profundo de sua voz passou por mim, o calor de seu corpo tão perto do meu, me preenchendo com um novo conjunto de emoções. — Mas o que eu posso fazer é garantir que você nunca tenha que passar por isso novamente.
— Você não pode fazer esse tipo de promessa, Heath.
— Sim, eu com toda certeza do caralho posso. — Seus lábios roçaram minha testa, e eu instintivamente me inclinei para ele.
Minhas mãos estenderam e agarraram sua camiseta. — Não é tão fácil. Eu não posso simplesmente esquecer e seguir em frente.
— Você não precisa esquecer. Mas é hora de parar de deixar seu passado te empatar, e começar a usá-lo para empurrar você para a frente.
A mão de Heath passou pelo meu cabelo e meus lábios se abriram quando deslizou os dedos por ele, usando seu aperto para puxar meu rosto um pouco mais perto dele.
— Estou com medo, — eu sussurrei honestamente.
Eu estava com medo, com medo porque ele estava certo. Além de meus amigos, nunca tive nada de bom em minha vida. Tornou-se tão normal ser tratada como se eu não valesse nada. Acabei por aceitar que essa era a minha vida. Mesmo agora, depois de dois dias na escola, eu estava pronta para mandar tudo à merda, considerando mudar para uma escola pública. Onde havia garotos como Liam, que apenas se moviam dia após dia, sobrevivendo. Crianças que sabiam o que era estar na parte inferior da escada olhando para cima.
Foi onde me senti confortável porque era isso que eu conhecia.
Por que deveria ser normal pensar que eu não mereço nada melhor do que já tive?
Eu mereço melhor.
Eu quero melhor.
E talvez fosse hora de sair da zona de conforto.
Meu corpo começou a se mover para trás, direcionado por Heath, passos lentos, como se estivéssemos dançando. Quando a parte de trás das minhas pernas bateu na cama, minhas mãos dispararam para agarrar sua cintura.
— Você acha que o futuro é mais assustador do que o seu passado?
Balançando a cabeça, comecei a tentar me levantar. — Não se você estiver lá.
Eu nem sequer tive a chance de respirar antes que a boca de Heath cobrisse a minha. Ele abaixou seu corpo, e meus braços serpentearam ao redor de seu pescoço, segurando firmemente quando ele me levantou e se inclinou sobre a cama, abaixando-me suavemente. Afundei-me no edredom, apreciando a maneira como ele se moldava ao redor do meu corpo como um protetor de berço.
Heath se afastou enquanto se ajoelhava na cama, aninhando-se entre as minhas pernas. — Eu não vou a lugar nenhum, Fay.
O lugar à nossa volta estalava com energia. Eu adorava como meu corpo se sentia em seus braços, era reconfortante, mas excitante, um sentimento que era tão novo para mim e um que eu queria explorar a fundo.
Eu puxei seu cabelo, e ele sorriu quando me permitiu mais uma vez puxar sua boca para encontrar a minha. Eu nunca soube que o toque de outra pessoa poderia ser tão bom.
Layla me abraçava com frequência, e sempre me deixava à vontade depois de ter crescido conhecendo apenas uma mão pesada e a ausência de qualquer tipo de afeição. Mas o toque de Heath era diferente. Não me confortava apenas, me consumia. Seu cheiro, a aspereza de suas mãos contra a minha pele, o jeito que ele me puxava e não tinha medo de assumir a liderança.
Sua mão se moveu para o meu quadril, seus dedos deslizando sob a bainha da minha camisa. A gentil carícia contra a minha pele nua provocou um suspiro suave dos meus lábios quando ele se afastou.
— Precisamos ir... — Sua respiração se espalhou contra a minha pele quente. Eu levantei minha cabeça, procurando por sua boca, mas ele virou a cabeça com uma risada suave. — Minha mãe disse vinte minutos. E isso não é tempo suficiente para eu fazer o que quero fazer com você.
Seus olhos encontraram os meus, mas a brincadeira logo desapareceu substituída por algo mais intenso. Um nó se formou na minha garganta e minha boca ficou seca. As batidas no meu peito eram quase ensurdecedoras.
— Heath, eu...
— Venham vocês dois. Vamos. Não posso esperar para vocês verem isso! — A voz de Helen me assustou.
Heath apenas riu, dando um beijo suave nos meus lábios antes de recuar. — Venha. — Ele estendeu o braço e agarrou minha mão, me levantando. Eu furiosamente ajustei minha roupa e passei os dedos pelo cabelo, enquanto Heath apenas riu e me seguia descendo as escadas.
Helen sorriu para nós do final das escadas, e eu esperava como o inferno que o calor que ainda preenchia meu corpo não fosse completamente óbvio.
— Você parece mais feliz, — ela comentou quando chegamos à porta da frente. Outro rubor inundou minhas bochechas. — Apenas espere. Eu acho que você vai amar isso.
— Onde estamos indo, mamãe? — Heath perguntou quando saímos para a luz do sol.
— Você vai ver. — ela respondeu enigmaticamente quando Heath segurou a porta da frente do carro de Helen para eu subir, antes de fechá-la e entrar atrás de mim.
Meu corpo finalmente começou a relaxar quando Helen ligou o rádio e cantou junto com a música do One Direction que estava tocando. Heath implorou no banco de trás que ela parasse, mas ela apenas aumentou o som e abafou seus pedidos de desespero.
Eu ri.
Foi tão bom apenas rir.
Amanhã será melhor.
CAPÍTULO VINTE E SEIS
Helen conseguiu cantar uma versão desafinada de 'Time of my Life' e um punhado de outros clássicos antes de finalmente tirar Heath de seu desepero.
Era quase uma hora antes de Helen finalmente estacionar o carro em uma rua tranquila. Eu olhei em volta. As casas que ladeavam as ruas eram incompatíveis, algumas eram novas casas de alvenaria com grandes garagens anexas. Outras, tinham uma aparência mais antiga, em forma de quadrado com belas varandas e persianas emoldurando as janelas.
Helen retirou o cinto de segurança e saiu, Heath e eu seguimos o mesmo caminho.
— O que você acha? — Ela perguntou quando veio ao redor do carro para onde estávamos.
— De quê? — Perguntou Heath.
Ela estendeu a mão e apontou para uma casa grande do outro lado da estrada. Havia uma interseção em T e a velha casa em estilo vitoriano estava orgulhosamente na esquina. Era grande, não enorme. A casa era azul com detalhes em branco e padrões decorativos em torno da moldura da varanda e outras linhas da casa. Tinha dois andares e o que também parecia ser um sótão, com uma pequena janela que dava para a rua.
— Uau. — sussurrei, dando a volta no carro para que pudesse dar uma olhada melhor. Helen se moveu ao meu lado, sua mão vindo descansar em minhas costas.
— Você gosta dela? — Ela perguntou enquanto nós dois admiramos a bela estrutura. Tinha sido bem cuidada. Os jardins ao redor estavam limpos e arrumados, e a pintura parecia quase como se tivesse sido acabada de pintar.
Olhando para ela, eu fiz uma careta. — Eu realmente não entendo. É incrível, mas por que estamos aqui?
Ela se virou para mim. — As pessoas que a possuíram usaram-na como uma pousada. Tem oito quartos e três banheiros, e também está à venda.
Eu ainda não estava a somar dois e dois juntos. Ela queria se mudar?
— Você sabe o que é uma casa de grupo? — Ela perguntou, e de repente tudo fez sentido. Ela deve ter visto a expressão horrorizada no meu rosto e rapidamente levantou as mãos. — Eu sei, eu sei, você provavelmente acha que sou louca.
Eu fiz. Phee tinha me contado histórias de horror sobre a casa de grupo em que ela morava. Ela disse que as pessoas que a dirigiam não queriam estar lá. Elas os puniriam sem motivo e os envergonhariam na frente de todas as outras crianças, a fim de mostrar o seu ponto de vista. Ser estuprada por uma das pessoas que trabalhavam lá foi a última gota, e ela correu.
Eu balancei a cabeça, mas Helen segurou a minha mão, me forçando a olhar em seus olhos. — Nós podemos fazer isto diferente, Fable. Não precisa ser como os outros.
Eu olhei para a casa novamente. Realmente era como uma obra de arte, intrincada e detalhada.
— Eu quero registrá-lo como uma instituição de caridade, um lugar que recebe jovens desabrigados e os ensina as habilidades que eles precisam para conseguir emprego, e viver por conta própria e se sustentar. — Meus olhos se iluminaram com as suas palavras. Ela sabia do que estava falando. Crianças sem teto são jogadas nas ruas, a maioria delas não tem ideia de como sobreviver sozinha, e mesmo quando ficam mais velhas, elas podem reunir as habilidades da rua e aprender a sobreviver, mas essas não são habilidades que um empregador está procurando. Elas precisavam de educação e alguém para se preocupar com elas e ajudá-las a seguir em frente.
O braço de Heath deslizou em volta da minha cintura quando ele pisou ao meu lado. — Escola?
Helen assentiu. — Existia uma nas proximidades, e eu já olhei para ela. Eles têm um ótimo programa e professores incríveis. E não é uma escola grande, então haveria uma ajuda para cada um deles.
— Como você vai financiar isso? — Perguntou Heath.
— Será sem fins lucrativos. Tudo dependerá de doações e apoio de fontes externas e da comunidade. — Explicou ela. — Estou saindo esta tarde para me encontrar com algumas pessoas que estão interessadas em ajudar. E Arthur também está colocando suas antenas para fora, esperando que possamos conseguir alguns clientes que estejam interessados e começar a fazer disso uma realidade.
Enlaçando meus dedos na mão de Heath, lutei para manter as lágrimas dentro dos olhos.
— Há muitos detalhes para resolver. Nós temos que solicitar permissão. Temos que ter um plano claro que cubra todas as possibilidades. Mas eu já comecei o processo, e se conseguir apoio suficiente atrás de nós, não há como os tribunais nos negarem.
Isto era muito mais do que eu imaginava, isto não ajudaria apenas os meus amigos, mas muitas outras crianças perdidas que não tinham mais ninguém a quem recorrer.
— Eu amo isto. — Eu sussurrei. Lágrimas borraram minha visão, e eu pisquei furiosamente para as afugentar. Eu queria memorizar esta casa, o lugar que poderia ser a diferença entre uma criança morrendo e um futuro brilhante.
— Vai ser muito trabalho.
— Estou pronta. — Eu disse, minha voz forte e segura. — Podemos olhar por dentro?
— Ainda não, mas espero que em breve. — Ela me deu uma tapinha no ombro. — Não se preocupe, estamos trabalhando nisso.
— Isto é ótimo, mãe. — Heath apertou minha cintura, e eu ri.
— Eu não posso esperar para lhes contar. — Eu disse, continuando a olhar para a casa em admiração.
— Você vai ter que esperar um pouco. Lembre-se do que o juiz disse sobre você voltar lá. — ela avisou com cuidado. Eu sabia que ela estava tentando não me perturbar, mas instantaneamente afogou a minha euforia.
Eu suspirei, frustrada. — Eu só quero que eles saibam que há esperança. Quando saí, vi a minha família sendo despedaçada. Eu não sei o que aconteceu com alguns deles, se foram mandados para casa ou o quê? Eu odeio não saber se eles estão bem.
O braço de Heath subiu para o meu ombro e levou minha cabeça ao seu peito. Eu inalei profundamente e passei os meus braços ao redor da sua cintura. — Nós vamos descobrir isso.
— A sua vida é importante também, Fable. Eu sei que você quer fazer o certo com os seus amigos, mas precisa pensar em si mesma às vezes também.
Helen estava certa. Se eu voltasse agora e fosse pega, perderia tudo isso. E eu queria fazer parte disso, tanto. Eu sabia como era a vida lá fora, eles só podiam especular.
— Ok, eu preciso chegar em casa e me preparar para pegar um avião para o Texas. — Helen bateu palmas e nos levou de volta para o carro.
— Texas? — Heath riu enquanto entrávamos lá dentro.
— Você sabe o que eles dizem, tudo é maior no Texas... — Ela falou. — ...incluindo as contas bancárias. — Ela se afastou do local, mas os meus olhos ficaram colados na casa até que desapareceu de vista.
O rádio tocava baixinho na volta para casa. Um sinal passou, e a seguir uma placa apontando para a cidade e o meu estômago se contorceu. Eu sentia muita falta dos meus amigos. Eu só precisava saber que eles estavam bem.
— Eu esqueci de perguntar. — Helen falou pela primeira vez desde que saímos. — Se isso vai ser uma instituição de caridade, vai precisar de um nome. Eu estava pensando como Fable's Angels ou algo assim.
Heath grunhiu. — Isso é horrível.
— Bem, o que você acha então, Sr. Sabe Tudo?
A brincadeira entre mãe e filho tornou-se ruído de fundo quando ouvi uma melodia familiar percorrer o rádio.
'7 anos' por Lukas Graham.
Imediatamente pensei no amigo que eu tinha perdido muito cedo. Um lugar como este poderia tê-lo ajudado e ainda poderia estar aqui conosco hoje. Ele queria algo melhor, para si, para mim e para todos os nossos amigos. E por ele, eu faria o que fosse necessário para tornar isso possível.
Pelo menos ele poderia ter algum tipo de paz sabendo que estaríamos bem, e a possibilidade de algo melhor era muito mais acessível.
Eu esperava que isso o ajudasse a ficar tranquilo.
— Descanse Eazy32. — Eu disse sem pensar duas vezes. — Eazy com um Z. Ele teria amado isso também.
Uma mão veio do assento atrás de mim e eu me encostei na palma da mão de Heath.
— Sim. — Ele concordou. — Ele teria.
— Descanse Eazy.
CAPÍTULO VINTE E SETE
Helen nos beijou na bochecha e correu para o andar de cima assim que chegamos a casa. Segui Heath até à sala de estar e caímos sentados no sofá.
— Eu realmente deveria ir e fazer o meu dever de casa. — Eu gemi, afundando nas almofadas macias. Esta casa, sem falha, tinha a mobília mais confortável que já senti. O sofá, as camas, até mesmo os bancos do bar que cercavam o balcão da cozinha foram moldados para caber perfeitamente a bunda.
Heath se arrastou, virando-se para mim. — Então você vai voltar amanhã?
Um longo suspiro de ar saiu da minha boca enquanto exalava. — Acho que preciso aproveitar ao máximo as oportunidades que a escola pode oferecer.
Heath pareceu aliviado com a minha resposta, ele expôs a verdade. — Este provavelmente não é o fim, você sabe.
Eu sabia. Não havia dúvida em minha mente de que este era apenas o começo dos jogos que estavam prestes a ser jogados. Mas o que essas crianças não sabiam era que, independentemente do que fizessem ou dissessem, eu passei por coisas piores e sobrevivi. Talvez eu não tivesse os meus amigos ao meu lado, me ajudando a me levantar quando era jogada no chão, mas eu tinha Heath, Braydon e a família deles, e eu tinha um sonho totalmente novo para trabalhar. E isso era muito mais importante.
— Eu não posso acreditar que você me deixou na escola e fugiu. — Braydon chamou, caminhando para a sala de estar com as mãos no ar. — Vocês dois. Eu pensei que nós éramos família. Mas não, vamos deixar Braydon lá e não o incluir em nosso protesto rebelde.
— Quanto tempo você demorou para chegar a esse pequeno discurso? — Heath riu secamente.
— Eu trabalhei nisso todo o caminho para casa. Que eu tive que andar, a propósito, porque você... — ele apontou o dedo para Heath, — ...pegou o maldito carro.
— Braydon Alexander Carson. — Helen gritou, entrando na sala de estar atrás dele. Ela vestia uma saia lápis rosa macia de cintura alta e uma camisa de negócios branca. — O que você está fazendo em casa?
O nariz de Braydon enrugou-se antes que ele desse um largo sorriso e se voltasse para a mãe. — Heyyy mãe. Pensei que você tivesse um voo na hora do almoço.
Ela franziu a testa para o filho mais novo. — Eu mudei para poder mostrar a Fable um novo projeto.
— Oh, incrível, me conte tudo sobre isso.
— Eu vou estar longe até segunda-feira. Se eu receber uma mensagem sobre vocês, garotos, pulando a escola ou praticando... — ela moveu os olhos entre Braydon e Heath, o olhar de uma mãe com quem não se deve mexer. — ...vocês dois ficarão de castigo. Entendido?
Braydon saudou a mãe com um sorriso radiante, mas ela não ficou impressionada. — Nós vamos ficar bem, mãe, eu juro. — Heath tentou tranquilizá-la.
— E quanto a Fable, ela não leva bronca da mãe? — Braydon choramingou.
Helen revirou os olhos. — Fable é uma garota inteligente. Você, por outro lado, tem genes do seu pai.
— Eu vou dizer a ele que você disse isso.
Helen sorriu. — Eu te desafio. — Braydon calou-se, obviamente sabendo que a sua ameaça não tinha fundo, e ele tinha sido superado. — Vou para o aeroporto, me ligue se houver algum problema e voltarei para casa. Seu pai estará de volta na sexta à noite para o seu encontro de natação no sábado de manhã, Heath. Mas ele sai de novo naquela tarde.
— Nós vamos ficar bem, mãe. — Heath repetiu novamente, levantando-se e caminhando para lhe dar um abraço. Ela beijou sua bochecha, mas quando Braydon ergueu a sua e esperou pela mesma demonstração de afeto, ela bateu-lhe levemente e sorriu.
Bray riu, e eu dei um pequeno aceno quando ela disse adeus.
No segundo em que ouvimos o carro dela começar a desaparecer no caminho, os olhos de Braydon se iluminaram. Ele esfregou as mãos como um gênio maligno conduzindo um plano diabólico.
— Shots33 alguém quer?
Heath riu, mas eu não sabia se ele estava brincando ou não, então apenas balancei a cabeça e sorri.
Braydon apenas pareceu um pouco desapontado.
Heath estendeu a mão para mim e eu deixei ele me puxar do sofá. — Vamos lá, eu vou te ajudar com essa lição de casa.
Pegamos nossas mochilas de onde nós dois as jogamos nos degraus das escadas e as levamos para cima, gastando cerca de uma hora revisando o meu dever de geografia e um pouco da minha matemática. Enquanto a Diamond Cross decidira me manter num grau anterior para que eu pudesse alcançá-los, percebi que mesmo tendo passado apenas um dia inteiro de aulas não estava muito atrás.
A escola tinha sido a única coisa que eu gostava enquanto crescia. Eu passava horas fazendo os problemas de matemática ou escrevendo redações em inglês, sentindo-me desapontada quando ficava sem trabalho. Isso mantinha a minha mente ocupada e me deixava entrar em outro mundo por um curto período de tempo.
— Você está pronta para amanhã? — Heath perguntou, suas costas contra a cabeceira da minha cama e suas pernas esticadas sobre a minha cama. Livros preenchiam o espaço entre nós, enquanto eu me deitava de costas ao pé da cama.
— Tão pronta como eu sempre estarei.
***
O próximo par de dias foram tensos.
Algumas crianças olhavam para mim como se eu fosse puxar uma faca e pular no corredor, algumas simplesmente viravam na outra direção e corriam para longe. Não havia mais pedaços de papel espalhados com o meu rosto neles, mas, em vez disso, os insultos haviam se tornado mais sutis. Na manhã de quarta-feira, encontrei uma pequena faca na porta do meu armário, com ketchup escorrendo pela frente até ao chão, presumi que a intenção era parecer sangue. Eu ri muito facilmente.
Quinta-feira trouxeram cartões de visita com os nomes de terapeutas e psicólogos além de alguns cartazes que nomearam outras escolas na cidade que eram para crianças com necessidades especiais ou deficiências.
Heath e Braydon estavam visivelmente chateados. Ninguém havia assumido os atos de tormento ainda, e apesar do poder dos irmãos Carson na escola, eles ainda não conseguiam descobrir quem estava fazendo isso ou fazê-los parar.
Mas eu sabia. Eu só não tinha decidido como lidar com isso ainda.
Quando chegou sexta-feira, notei que muitos dos alunos que passei no salão pareciam indiferentes. Eles não olhavam ou sussurravam, continuavam com o dia como se eu não estivesse lá.
Eu tinha deixado de ser a conversa da escola, completamente invisível em pouco mais de quarenta e oito horas. Eu acho que era assim que o ensino médio funcionava, no entanto. Lembrando quando eu estava no colegial, sempre havia um novo rumor circulando sobre alguém. As pessoas argumentavam, algumas até se envolviam em brigas, mas alguns dias depois eram amigas de novo, e o trem de fofocas estava cheio de um novo conjunto de histórias.
A surpresa no armário de sexta-feira foi diferente, porém, finalmente confirmou as minhas suspeitas.
Havia uma nota, nada extravagante ou bem pensada. Um simples pedaço de papel que havia sido colocado dentro. Heath e Braydon foram distraídos por seus amigos, então corri para abri-lo antes que eles pudessem ver.
Você não pertence aqui.
Saia antes que as coisas piorem muito.
Fique longe de Diamond Cross e fique longe de Heath.
— Fable. — Chamou Heath.
Eu amassei a nota em uma bola e enfiei-a na manga da minha blusa antes de desenhar um sorriso no rosto e fechar a porta do meu armário.
— Nada? — Perguntou Heath, erguendo a sobrancelha. Braydon e Sam esperavam ansiosamente para ver que forma excitante de abuso agressivo passivo eu poderia encontrar esta manhã.
— Eu acho que sou uma velha notícia. — Eu disse a eles com um encolher de ombros enquanto colocava os meus livros debaixo do meu braço.
O pequeno grupo de amigos de Braydon e Heath tinham sido as únicas crianças em toda a escola a não olhar para mim como se eu fosse uma aberração. Eu não tinha certeza se era porque Heath tinha falado com eles, ou se era apenas porque os garotos estavam bem comigo, e eles apenas concordavam com isso.
Lembrei-me de Heath dizendo-me que eles o respeitavam, o suficiente para saber que ele sabia o que estava fazendo. Isso só me mostrou como isso era verdade.
— Então podemos ir à festa amanhã à noite? — Os olhos de Braydon se iluminaram.
— Há uma festa? — Eu perguntei enquanto nos movíamos pelo corredor.
— Estou fazendo dezoito anos. — Sam sorriu, ficando em uma postura rígida. — Vai ser épico.
— Como um épico andar de hotel inteiro?
Braydon bufou como se a ideia fosse simplesmente absurda, mas Sam apenas sorriu. — Você pode esperar por isso, cara.
Heath andou para a frente e apressei o passo para alcançá-lo. — Você irá a festa? — Meu braço roçou contra o dele e eu tive que dizer a mim mesma para não estender a mão e segurar a sua mão. Heath podia estar aberto com o seu afeto quando estamos em casa, mas notei que na escola ele se retraia.
— Talvez. Você quer ir?
Meus lábios se franziram. — Poderia ser divertido? — Eu senti que poderia realmente gostar de ir com eles. O clima na festa do hotel era louco e excitante. Tudo era novo, e mesmo que eu tenha ficado sentada com Heath e assistido, foi bom relaxar e me divertir sendo uma adolescente pela primeira vez.
Ele parou do lado de fora da sala de aula, e nós fomos para o lado para deixar os outros alunos entrarem. — Nós iremos, se você quiser. — Ele disse enquanto se inclinava contra a parede.
— Sim! — Braydon ergueu o punho no ar e continuou descendo o corredor.
Heath sacudiu a cabeça. — Nós vamos, você fica com Bray ou comigo o tempo todo.
Eu troquei os meus livros pesados para o braço oposto para aliviar um pouco do peso. — Heath, está terminado. As pessoas estão se movendo agora. Eu vou ficar bem.
Mentira. Não está acabado.
Eu não contaria a ele sobre a carta, ainda não. Ele não precisava saber, e eu precisava parar de deixá-lo ficar na minha frente, me protegendo da multidão enfurecida. As pessoas o respeitavam, talvez até o temessem, eu acho. Mas se eu ia ficar aqui e sobreviver, precisava ganhar o meu próprio respeito.
CAPÍTULO VINTE E OITO
— Ei, Fay. — Flick sentou-se ao meu lado enquanto eu examinava as páginas do meu livro de história, durante o período de estudo na biblioteca.
Eu forcei um sorriso.— Ei.
Seus olhos examinaram o quarto com cautela antes de se inclinar para mais perto. — Eu preciso falar com você sobre algo. — Suas bochechas estavam um pouco coradas, e ela se recusava a encontrar os meus olhos.
Eu fechei o meu livro e dei a ela toda a minha atenção. — Claro, o que está acontecendo?
— Eli me pediu para sair com ele neste fim de semana. — Eu aprendi com algumas breves conversas que Eli era o cara com quem ela estava conversando. Ela disse que ele não era realmente o namorado dela, mas eles estavam ficando muito próximos.
— Você e eu sabemos que nem Heath nem Bray concordarão com isso.
Ela torceu o nariz. — Eles são tão irritantes às vezes. Mas é por isso que eu preciso da tua ajuda.
Aqui vem encrenca. — Ok, estou ouvindo.
— Eli disse que ele pode conseguir um amigo para ir com ele, e se dissermos aos garotos que estamos apenas saindo para algum tempo de meninas, eles não vão questionar isso. — Ela segurou as mãos firmemente sobre a mesa, e os olhos dela estavam arregalados e suplicantes. — Por favor, Fay, por favor.
Abaixando minha voz, mergulhei minha cabeça para mais perto dela. — Você quer que eu minta para os seus irmãos para que possa sair em um encontro.
— Eli e o seu amigo são da sua idade, então não é como se fosse algo ruim para você.
— Você está namorando um sênior. — Eu ofeguei.
Flick agarrou a minha mão e me calou, verificando ao redor para ver que ninguém tinha ouvido. — Ele me entende, Fay. Por favor. Se você não gostar, podemos ir embora. Eu só quero vê-lo.
Minha palma pressionou contra a minha testa e eu gemi baixinho. — Se eles descobrirem eu vou ser crucificada.
— Eles não vão, eu prometo. — Ela me assegurou animadamente.
— Ok, quando?
Ela mal conseguia sufocar o som de alegria que vinha de sua boca, e isso me fez sorrir ao vê-la tão feliz. — Domingo de tarde.
— O que há no domingo à tarde?
Nós duas pulamos, e o rosto sorridente de Braydon apareceu do outro lado da pequena mesa. Flick gaguejou e apertei sua mão. — Flick e eu vamos fazer algumas coisas de garotas. Você não está convidado.
— Eh... — ele encolheu os ombros, puxando uma cadeira e sentando-se. — ...mais do que provavelmente eu vou estar dormindo uma ressaca épica de qualquer maneira.
— Obrigada, Fay. — Flick sussurrou, beijando a minha bochecha, movendo-se ao redor da mesa e fazendo o mesmo com o seu irmão antes de saltar para o corredor de livros, com uma nova alegria em seu passo.
— Ela adora ter você por perto. — disse Bray, pensativo. — Eu acho que ela estava meio que dominada, dois irmãos mais velhos superprotetores. Mas agora ela tem você para cuidar dela também, e isso não parece tão intrusivo.
Eu engoli a culpa que me encheu. Não era exatamente o mesmo, com certeza eu cuidaria dela, mas também a ajudava a se esgueirar, e isso não parecia tão bom. — Ela é uma criança legal. Eu gosto de sair com ela.
— Você precisa de uma carona para casa depois da escola? Heath tem treino e eu preciso de ir a essa reunião com o treinador de futebol.
— O futebol não terminou em dezembro? — Meu conhecimento de futebol era muito limitado, eu não sabia muito sobre o desporto, mas Braydon estava obcecado com isso, então queria aprender.
Braydon sorriu, seu sorriso nunca deixando de iluminar um quarto. — Dedicação significa nunca dar um tempo. Eu já estou começando a planejar meu cronograma de treinamento. Este corpo não vem naturalmente, e eu preciso continuar treinando se eu vou pegar as mulheres durante o verão. — Ele me deu uma piscadela, e eu não pude deixar de rir.
— Eu vou ficar bem. Embalei os meus patins hoje. Andar para casa no outro dia não foi tão ruim. — Eu admiti. Bem, a parte de andar era, mas com as minhas rodinhas vai ser legal.
Ele me deu uma continência rápida e desapareceu tão rapidamente quanto apareceu.
***
A viagem para casa foi lenta. Eu gostava de apenas caminhar junto, tomando o ar. O som dos meus patins contra o caminho de concreto era um que eu amava. Isso era familiar.
Pneus de carro pararam ao meu lado, e eu perdi o equilíbrio, caindo na grama macia ao lado do caminho. Uma sensação de dor subiu pela minha espinha quando a minha bunda se chocou primeiro com o chão, e eu soltei um gemido suave.
— Ei, garota de rua. — A provocação estridente veio da rua, seguida por várias portas de carros batendo.
Eu cerrei os dentes e me forcei a ficar de pé, mesmo contra o protesto das minhas pernas. Minhas costas ainda doíam do impacto com o chão, mas eu não estava prestes a enfrentar a rainha cadela olhando para ela do chão.
Elas entraram no caminho, todas as três com sorrisos presunçosos em seus rostos. Uma das garotas atrás dela tinha o cabelo loiro em um corte bonitinho, a outra com cabelo castanho claro puxado para trás em um boné apertado. Liza e Kelly, eu descobri quais os seus nomes, companheiras de Jay que nunca estavam muito atrás dela.
Jay me olhou de cima a baixo, criticando meu jeans rasgados e camiseta branca com um sorriso de escárnio. — Por que você ainda está aqui?
— Eu moro aqui. — O sarcasmo veio naturalmente enquanto eu gesticulava para a garagem dos Carsons, que podia ver claramente na estrada acima.
Ela não ficou impressionada com o meu tom. — Você não pertence aqui.
— Oh, então a pequena nota de amor no meu armário era de você. — Eu suspeitava disso. Jay era a única corajosa o suficiente para fazer a sua repulsa pela minha presença bem conhecida. Outros estavam apenas felizes em se sentar e aproveitar o show, e o papel de vilão parecia apenas encaixar nela tão bem.
Jay era a típica esnobe, do tipo que você achava que só via em filmes como Meninas Malvadas, mas que na verdade não existia na vida real. Eu suponho que não poderia realmente culpá-la, no entanto. Esta cidade e escola pareciam criar filhos intitulados de filmes.
Ela cruzou os braços sobre o peito, os braceletes brilhantes brilhando ao sol suave da tarde. — Volte para a sua sarjeta.
O riso da minha boca veio inesperadamente. — Mesmo? Isso é tudo o que você tem? Eu deveria correr agora?
Ela sacudiu a cabeça e Kelly abriu a porta de trás do pequeno VW de Jay e tirou um taco de beisebol. Eu tentei não agir surpresa, mas isso foi um novo desenvolvimento e por um segundo eu estava com medo. Jay estendeu a mão e Kelly colocou-o na palma da mão.
— Você sabia que eu jogo beisebol? — Sua voz era casual, mas a ameaça era óbvia.
Eu zombei. — Não. Agora me pergunte se eu me importo.
— Eu sou a nossa líder e a capitã da equipe.
— Parabéns. Você gostaria de uma estrela de ouro? — Minha voz conseguiu segurar firme, mas era uma luta desesperada.
O sorriso que apareceu em sua boca era assustador. Era como olhar nos olhos do próprio diabo. Foi sádico e astuto, e finalmente percebi que talvez Heath estivesse certo. No começo, eu tinha pensado em Jay como uma menina burra e rica, mas eu a tinha subestimado. Ela era inteligente e sabia que tinha o dinheiro e o poder para derrubar quem quisesse.
— Fique longe de Heath. — Ela deu um passo em minha direção, e seu rosto se iluminou de prazer quando eu me afastei para longe dela. — Você não é a única que pode fazer alguém desaparecer.
Eu tinha enfrentado viciados e membros de gangues, mas o olhar que ela tinha em seus olhos parecia muito mais perigoso do que qualquer um deles. Havia uma diferença enorme entre os dois, ela tinha absoluta confiança de que tudo o que fizesse comigo, iria se safar por causa de quem ela era.
Ela pode ou não estar errada, mas o fato de acreditar nisso é seriamente perigoso. Ela olhou para mim como se esperasse por algum tipo de resposta, uma desculpa para vir até mim. Era como estar de volta ao quarto com o meu pai. O impasse, a tensão, eu fui transportada de volta para aquela garota assustada, mas desta vez, eu não tinha arma, não tinha nenhum plano de apoio nem maneira de me proteger.
Ela segurou todo o poder.
Um barulho veio de trás de mim, e Jay rapidamente largou o bastão, descansando sobre ele como uma bengala. Seu rosto mudou em um segundo, voltando-se para um sorriso, e fazendo parecer que estávamos tendo uma conversa casual.
— Fable? — Meu corpo afundou em alívio quando ouvi a voz de Liam me chamando. Olhei por cima do ombro para vê-lo parado na esquina da rua com o skate na mão. — Você está pronta para ir? Os garotos estão esperando no parque por nós.
Ele estava me dando uma saída. E enquanto eu debatia se agora era a hora de mostrar fraqueza para essas garotas, sabia que precisava pegá-la e sair daqui o mais rápido possível. Eu estava abalada e agora não era a hora de tentar ser corajosa.
— Sim. — Eu dei a eles um último olhar. Jay bateu suas unhas brilhantes contra o bastão de madeira, o som me incomodando. Eu me virei e patinei em direção a Liam, tentando manter minha velocidade lenta e não como se estivesse fugindo. Risos fluíram pelo ar atrás de mim quando elas subiram em seu carro, dando uma meia volta na rua e passando rapidamente por nós com um aceno casual pela janela.
O meu coração estava acelerado.
Como eu a entendi tão errado?
Ela fez um bom ato, parecendo uma cadela inofensiva que gostava de jogar seu peso ao redor. Mas ela era muito mais. Ela era astuta e cruel, e esses traços misturados com o fato de que achava que era completamente intocável, poderia ser mortal.
CAPÍTULO VINTE E NOVE
— Você com certeza sabe escolher um inimigo. — disse Liam quando finalmente cheguei a ele. — Jay Crowler? Realmente? — Ele balançou a cabeça.
— Você conhece-a?
Nós rolamos os patins e skate pela calçada, minha casa desaparecendo atrás de mim enquanto nos dirigíamos para o parque de skate. Eu poderia ter acabado de entrar, mas agora, precisava de algo para tirar a minha mente do que acabou de acontecer.
— Todo o mundo a conhece. Não apenas seu pai é o chefe de polícia, mas sua mãe também é uma das modelos mais conhecidas do setor.
Isso fazia sentido agora. Ela achava que era invencível.
— Ela e Heath Carson namoraram no ano passado. Eles se separaram alguns meses antes do Natal.
Meu skate pegou a trilha e eu quase caí de cara no chão. — Heath e Jay? — Eu engasguei quando finalmente me estabilizei no chão.
Liam riu. — Sim, eles eram o casal de Diamond Cross.
— Mas ela é como...
— A puta mais desprezível que você já conheceu? — Ele ofereceu, sua voz escurecendo.
Eu bufei. — Eufemismo34. Por que eles se separaram?
— Eu acho que o rei descobriu que a sua rainha não era a pessoa que ele achava que ela era. Jay é uma atriz e uma boa. Teve uma noite que ela deu uma surra numa garota em uma festa porque estava flertando com Heath. Ele viu a verdadeira puta, e desde então eu acho que ela simplesmente decidiu não esconder mais isso.
— Deixa-me adivinhar, o pai dela tirou qualquer tipo de acusação.
Ele riu. — A garota que ela bateu estava com muito medo de prestar queixa. Foi mantido em silêncio. Eu só sei porque estava lá.
Nós rolamos os patins e skate pela ponte que levava ao parque, ela estava cheia de adolescentes, meninos e meninas. A maioria sorriu para mim quando passei com Liam, e dei as boas-vindas à troca que era tão diferente do que eu havia experimentado nos últimos dias.
Liam parou na minha frente e me olhou diretamente nos olhos. — Meu conselho seria ficar longe de Heath Carson. Há algo bastante errado na cabeça daquela garota, e você não quer ser aquela que vai receber esse nível de loucura.
Eu engoli com força. — Um pouco difícil quando eu moro com ele.
Os olhos de Liam se arregalaram mais e mais. — Você está brincando.
— Infelizmente, não.
Ele me agarrou pelo braço e me puxou em direção a um banco vazio. Empurrando os meus ombros e me forçando a sentar. — Isso... eu tenho que ouvir.
A explicação foi curta. Relembrar a minha história de vida não era algo que gostasse, e após a reação do corpo estudantil da Diamond Cross no início da semana, eu não tinha certeza de como seria recebida.
— Então os rumores eram um pouco verdadeiros, huh. — Ele pensou, mais para si mesmo do que para mim.
— Rumores?
Ele riu. — Sim. Dizia-se que algum filho ilegítimo aparecera na soleira da porta.
Eu balancei a cabeça. — Não. Apenas a delinquente juvenil regular.
— Liam! — Nós dois olhamos para cima quando um garoto que deve ter apenas cerca de dez anos veio correndo com um enorme sorriso no rosto. — Você pode me mostrar esse truque novamente, eu vou conseguir desta vez, sei disso.
Eu queria desesperadamente perguntar a ele sobre o relacionamento de Heath e Jay. Mas vendo os olhos brilhantes daquele menino olhando para Liam como se ele fosse um herói, dei-lhe um empurrão. — Continue. Vamos ver as suas habilidades.
Ele balançou a cabeça, rindo baixinho. — Eu não sei se você está pronta para ver as minhas habilidades loucas ainda.
— Liam é o melhor. — disse o garoto animadamente, saltando em seus pés.
— Oh, ele é agora? Não posso esperar para ver. — balancei as minhas sobrancelhas para Liam, e ele apenas sorriu e balançou a cabeça.
— Vamos, Seb. Vamos para lá, então Fable não conseguirá ver quando eu fizer figura de idiota. — Ele me jogou uma piscadela por cima do ombro, e eu ri, levantando-me do banco e indo em direção à pista de skate, pronta para deixar algumas das minhas preocupações para trás e deixar a alegria e a adrenalina tomarem conta.
Suor tinha se construído em minha pele, e a minha respiração estava pesada depois de mais de uma hora a perseguir Liam e o seu pequeno amigo Seb em torno do parque de skate.
— Tudo bem... — Eu ri, inclinando-me e apoiando as mãos nos meus joelhos. — ...você ganhou, eu terminei!
— Sim. — Seb gritou, jogando o punho no ar com triunfo. Liam patinou e juntou suas mãos, Seb dando-lhe uma saudação com alegria.
— Está ficando tarde, você precisa ir para casa. — Liam disse a ele, despenteando-lhe o cabelo.
— Sim. Minha mãe vai surtar. Tchau!
Liam e eu saímos para o passeio e o observamos cuidadosamente enquanto ele se dirigia para uma casa na rua.
— Você é bom com ele. — Observei.
Liam encolheu os ombros, enfiando a prancha debaixo do braço enquanto descíamos a rua em direção a casa. — Ele não passa um bom tempo em casa. Eu acho que só gostaria de ter alguém quando era tão jovem e passando pela merda que ele está.
Eu não pude deixar de sorrir.
— O quê? — Ele perguntou, me presenteando com um sorriso próprio.
— Nada.
Um carro parou na berma ao meu lado, puxando os freios. O braço de Liam veio pelo meu corpo e me puxou para trás como se quisesse me proteger. Mas com apenas uma rápida olhada no carro, soube imediatamente quem era. Ambas as portas da frente se abriram, e Heath e Braydon saíram. Eu estava prestes a cumprimentá-los, mas os olhares severos em ambos os rostos congelaram as palavras na minha boca.
— Heath, Braydon. Muito tempo sem ve-los. — A voz de Liam segurava uma certa vantagem que eu ainda tinha que decifrar. Isso me surpreendeu e me deixou cautelosa. Eu saí do abraço dele e me aproximei dos irmãos, que ainda tinham que falar. O ar estava tenso, e eu pude sentir algo construindo que não estava gostando.
— Vamos, vamos. — Minhas mãos pressionaram contra o peito de Heath, mas ele não se mexeu. Com as minhas rodinhas, lutei para conseguir qualquer tipo de aderência no chão, lutando uma batalha perdida. Tentei uma tática diferente. — Heath, por favor, vamos apenas embora.
— Vamos dar uma festa hoje à noite, talvez vocês garotos devam vir. — Liam ofereceu sarcasticamente.
Braydon estendeu os braços para os lados. — Ou talvez pudéssemos ter a nossa própria festinha aqui mesmo.
Eu ouvi Liam rir, e o barulho de sua prancha contra a calçada enquanto ele a montava. — Eu espero vê-la ao redor, Fable. — Virando-me para olhar por cima do meu ombro, dei-lhe um aceno rápido.
— Não é provável, Liam Bremmer. — Braydon chamou depois que ele desapareceu na rua escura.
Suspirando, soltei Heath e patinei ao redor dele, abrindo a porta de trás do carro. — Vocês ainda estão mijando em tudo ou podemos ir agora? — Eu chamei antes de fechar a porta atrás de mim. Eu os assisti pela janela enquanto eles falavam calmamente juntos. Heath agarrou o braço de Braydon no exato momento em que ele estava prestes a seguir na direção em que Liam partiu.
Heath deu-lhe um empurrão no ombro, voltando-lhe o corpo para o carro. A mandíbula de Braydon estava bem fechada, mas ele pegou o aviso do irmão e apressou-se para o lado do passageiro e subiu. Heath seguiu, os ombros caídos no que pareceu alívio quando entrou e ligou o carro. A atmosfera estava tensa e me perguntei se deveria dizer alguma coisa. Pedir desculpas, talvez? Mas para quê?
O relógio no painel dizia 17h37. Estive fora por mais de duas horas.
— Desculpem, vocês tiveram que vir me pegar. Não me apercebi das horas. — Nenhum dos dois pareceu aceitar as minhas desculpas e fiquei confusa.
— Eu realmente os deixei com raiva?
O resto do passeio foi em silêncio. Os meninos nem sequer falaram quando chegamos à frente da casa. Heath me seguiu pelas escadas depois que eu tirei os meus patins e os coloquei na porta da frente. Eu podia sentir a tensão irradiando dele, mas ainda estava confusa sobre por que ele estava tão chateado. Liam e as crianças do parque de skate pareciam adolescentes normais para mim.
Eles não conduziam carros velozes, e nem tinham piscinas olímpicas nos quintais. Eles tinham famílias de renda média que trabalhavam bastante por muito pouco, mas conseguiam sobreviver.
Quando ouvi Heath fechar a porta do meu quarto atrás de mim, me virei. — Que diabo é o seu problema? Você está me fazendo sentir como uma criminosa e você o meu guarda de prisão.
Ele cruzou os braços sobre o peito. — Liam Bremmer não é alguém com quem você deveria estar saindo.
— Porquê?
— Confie em mim. — Ele gritou.
Minha cabeça sacudia de um lado para o outro. — Não, Heath. Você precisa me dizer mais do que isso, se acha que eu vou mudar de ideia sobre ele.
Heath deu um passo à frente. — Eu pensei que você confiava em mim. — Eu quase podia ouvir uma pontada de dor em sua voz. Mas calculei que devia ter imaginado isso porque a sua postura nunca vacilou, sua carranca me atingiu mais forte do que nunca. — Ele não é quem você acha que ele é.
— Você quer dizer como a sua namoradinha, Jay? — As palavras vieram tão rápido, mas Heath não pareceu surpreso ou chocado. — Quando você ia me dizer?
— Quando eu sentisse que era importante.
Eu joguei minhas mãos no ar, a frustração me enchendo. — Sim Heath, porque a sua palavra é lei. Deus, talvez você seja mais parecido com eles do que eu pensava. — Lágrimas queimaram em meus olhos e a raiva aqueceu minha pele. — Eu continuo pensando que as coisas vão melhorar. Primeiro, foram os meus pais, depois as ruas e agora estou aqui. Não está melhorando, é como mudar de um tipo de inferno para outro.
Mesmo através do borrão das minhas lágrimas, vi o seu rosto suavizar. Ele estava perto de mim em um segundo, envolvendo seus braços à minha volta e me puxando contra ele, colocando minha cabeça sob o queixo dele. Eu lutei contra seus braços, tentando me afastar do seu peito, mas ele só me puxou mais apertado. Eu queria dizer-lhe para se danar, para fugir, mas eu me vi desistindo quando sufocou minhas tentativas de lutar contra ele.
— Vai ficar melhor. — Sua voz sussurrou suavemente.
Eu queria acreditar nele. Mas eu estava começando a pensar que talvez fosse melhor ter ficado com o diabo que conhecia.
CAPÍTULO TRINTA
— Por que você escolheu o nome Fable? — Heath perguntou enquanto estávamos deitados no chão ao pé da minha cama. Ele recostou -se contra a moldura de madeira, e olhei para ele de onde eu estava com a minha cabeça em suas coxas.
— Eu queria ser capaz de fingir que a vida que estava vivendo não era real. — Os dedos de Heath dançaram através do meu cabelo enquanto eu falava, o leve pentear acalmando meu corpo todo. — Eu queria que fosse apenas uma história, uma fábula, para que quando finalmente encontrasse o meu lugar e seguisse em frente, pudesse fechar o livro e voltar a ser Keira.
— Eu deveria estar chamando você de Keira, então?
Minha garganta entupiu. Por mais que eu quisesse dizer sim, sabia que ainda não tinha certeza se encontrara o que procurava a vida inteira. E até então, eu ainda seria Fable, apenas uma garota em uma história. — Você realmente acha que este é o lugar onde eu deveria terminar?
— Por que não? Você é inteligente como o inferno, e com uma escola como a Diamond Cross atrás de você, não há como não conseguir uma bolsa de estudos para uma boa faculdade. Bray e eu estamos contando com desportos para obter bolsas de estudos.
— Sim, sua mãe mencionou o quão incrível era.
Ele suspirou enquanto continuava a passar seus dedos pelas minhas ondas suaves. — Eu sei que os professores podem ser idiotas, e muitos alunos têm suas cabeças tão altas que precisam ser removidas cirurgicamente, mas a escola exige o melhor dos seus alunos. Os meus pais foram para a Diamond Cross, a minha mãe não cresceu rica, mas a minha avó e o meu avô trabalharam duro para ganhar dinheiro suficiente para ela ir para lá.
A mãe de Heath tinha vindo do nada e trabalhou o seu caminho até ao topo. Era admirável e o meu grande respeito por ela só parecia crescer.
— Por que alguns de vocês não começaram a atuar? — Era algo que eu pensava há algum tempo agora. Parecia a escolha óbvia com um pai diretor de cinema.
Ele riu, o som me fazendo sorrir. — Meu pai sentiu que todos nós precisávamos encontrar o nosso próprio caminho. Se quiséssemos entrar em atuação, ele disse que tínhamos que ir a audições e experimentar como todas as outras pessoas tinham que fazer. Mamãe e papai querem que tenhamos sucesso, mas eles também estavam muito certos sobre nos ensinar que o trabalho duro era o caminho para chegar onde queríamos. Não há passeios gratuitos nesta casa.
— Droga, eu estava pensando que esta era a minha chance de ser famosa.
Heath riu. — Desculpe desapontar.
Dei de ombros. — Eu acho que sempre poderia me casar pela fama. Seu pai convida atores frequentemente para visitá-los?
— Lembra da primeira noite que nos conhecemos?
Meu nariz enrugou. — Como eu poderia esquecer.
— Nós estávamos indo para o show do Twisted Transistor, papai estava nos bastidores para se encontrar com os caras sobre fazer um filme, um pouco como o que os One Direction fizeram. Como eles se tornaram famosos e tudo mais.
De jeito nenhum! — Eu engasguei. — Eles estão fazendo isso?
Ele deu de ombros, mas um sorriso brincou em sua boca. — Não sei. Eles ainda não decidiram.
— Você perdeu a reunião deles, não é?
— Sim, mas conhecê-la foi muito melhor.
Seus dedos ficaram enrolados no meu cabelo enquanto eu me levantava e ficava de joelhos. Ele usou o seu abraço em mim para me puxar para mais perto.
— Isso é estúpido. — Minha voz saiu em um sussurro quando meu rosto se moveu, sua outra mão segurando meu quadril.
— Porquê?
— Eu sou apenas uma garota.
Seus lábios roçaram os meus lábios e meus olhos se fecharam. — Você também é linda, forte e teimosa como o inferno.
— Estou feliz que você começou isso com linda. — Ele engoliu meu insulto antes que eu pudesse terminar, pressionando a boca contra a minha e enviando uma onda de excitação através do meu corpo. Heath podia testar a minha paciência e me desafiar a todo o momento, mas, Deus, eu adorava isso. Ele podia parecer quieto, mas com Heath, a paixão enchia tudo o que ele fazia.
Ele mostrou isso na maneira como defendia as pessoas com quem se importava, e do jeito que ele não tinha medo de falar o que pensava. E foi ainda mais presente, com a maneira como ele me atormentava com seu toque e seu beijo. Sua mão enganchou debaixo da minha bunda e levantou meu corpo sobre suas pernas, trazendo seus joelhos para cima, então eu deslizei para a frente. Ele me manteve em cativeiro lá, seus lábios deixando minha boca para queimar uma trilha de fogo através do meu queixo e até ao meu pescoço. Um suspiro satisfeito caiu dos meus lábios quando eu inclinei a cabeça para o lado, apreciando o jeito que ele beijava e beliscava, na brincadeira, a minha pele sensível.
Eu senti ele sorrir. — Você sabe quantas pessoas teriam coragem de me chamar de idiota?
— Dois, Braydon e Lucas. Talvez Flick, se você realmente a deixasse com raiva.
Heath balançou a cabeça, rindo baixinho. Este era o Heath que os outros não conseguiam ver, o carinha que deixou tudo à sua volta desaparecer e apenas viveu no momento. Eu gostaria que ele fizesse isso mais. Ele sempre foi tão sério, tentando controlar todos os aspetos da sua vida. O único outro lugar que ele era assim era quando estava na água.
O fato de que sentia como se pudesse ser ele mesmo ao meu redor me fez sentir superior. Tão superior que não havia nada que pudesse me derrubar.
As ameaças de Jay ressoaram na minha cabeça novamente.
Você não é a única que pode fazer alguém desaparecer.
Neste momento, eu ainda não tinha certeza sobre o quanto ela iria cumprir essa promessa de violência, mas até que eu pudesse descobrir, não ia deixar passar a oportunidade de ver Heath assim. Ele estava feliz e despreocupado, e a tensão que havia entre nós dois estava desaparecendo.
Mesmo que as ameaças de Jay fossem reais, e ela veio até mim, ter Heath por apenas um momento na minha vida valeria a pena.
— Idiota. — eu sussurrei.
Seus lábios estavam em mim novamente, e eu não pude deixar de rir contra sua boca quando senti sua excitação fluir através de mim.
— Olá pombinhos! — A porta se abriu, e Braydon passou, indiferente e alegre, uma mudança completa no humor que ele estava quando me pegaram mais cedo. — Eu percebi que tinha dado a vocês tempo suficiente para beijar e fazer as pazes.
— Vá embora, Bray. — Murmurou Heath, sua cabeça caindo contra a parte de madeira da minha cama.
— De jeito nenhum. Papai está a caminho de casa, e vocês dois não estão nos abandonando apenas para que você possa ficar com ela. — Ele colocou as mãos nos quadris e apontou como uma criança.
Minhas bochechas queimaram de vergonha e a risada de Braydon encheu meu quarto. — Oh merda, eu fiz a pirralha da rua corar.
Heath me olhou com curiosidade, obviamente notando a cor rosa que se espalhou pelo meu rosto. Eu me mexi em uma inútil tentativa de escapar do abraço de Heath, mas ele apenas me segurou mais apertado.
— Oh merda, hum... ele disse que estaria aqui em uma hora. — De repente, Braydon pareceu estranhamente desajeitado enquanto corria para sair do meu quarto. Batendo a porta atrás dele.
— Fable.
— Heath.
Eu olhei ao redor da sala, tentando o meu melhor para evitar os seus olhos.
Eu sabia que Heath tinha feito sexo antes. Bray também. Não era incomum que os adolescentes saíssem e dormissem uns com os outros, não importando o quanto os adultos gostassem de pensar que esperavam até aos vinte e cinco anos. Mas para mim, eu me achava sortuda por conseguir manter essa parte de mim mesma, e não a ter roubada por algum cafetão na esquina de uma rua ou por algum cara que perambulava à noite procurando garotas para atacar.
A sorte estava do meu lado.
— Vamos lá, devemos ir fazer jantar para o seu pai.
Heath não se mexeu, aqueles belos olhos azuis que me atraíam sempre me olhavam com uma intensidade que eu não conseguia descobrir. Eu não tinha certeza se ele queria me devastar35 ou correr e não olhar para trás.
— Nós vamos voltar a isso mais tarde. — Disse ele, suas palavras curtas e diretas. Mesmo que eu ainda estivesse insegura sobre qual era o ponto. Seus lábios beijaram o canto da minha boca antes que ele me levantasse. — Coloque algo legal, eu te encontro lá embaixo.
Eu ri alto. — Isso é tão bom quanto se consegue, Heath. — Eu segurei meus braços e fiz um giro.
— Perfeito. — Foi tudo o que ele murmurou quando desapareceu pela porta deixando-me franzindo a testa para a madeira.
Eu estava nervosa em conhecer Arthur, eu tinha que admitir. Eu me perguntava como ele era, e o que achava de mim apenas invadindo sua casa assim. Helen tinha dito que sua família vinha do dinheiro e ela não, então me fez sentir um pouco melhor sabendo que se ele a amasse, talvez também me aceitasse.
CAPÍTULO TRINTA E UM
O grito estridente de Felicity filtrou-se através da casa, eu podia ouvi-lo claramente da sala de jantar enquanto colocava as facas e os garfos para o jantar.
Eu tinha que ser honesta com Bray, ele era realmente um ótimo cozinheiro. Ele ainda estava na cozinha trabalhando no que era em suas palavras “sua mundialmente famosa galinha carbonara”. Uma declaração que eu não duvidaria ser verdade se o aroma surpreendente fosse qualquer coisa para se provar.
Vozes profundas encheram a cozinha ao lado, seguido pelo que soou como tapas nas costas e apertos de mão.
Eu olhei para a mesa, me perguntando se deveria ter procurado por algo um pouco mais extravagante para apresentar, talvez encontrasse algumas flores para o centro. Meu estômago se contorceu em nós.
Heath espiou pela porta e estendeu a mão para mim. — Hum, eu vou estar aí em um segundo, eu estou apenas...
— Fay, agora.
O brilho que lhe dei só foi devolvido, mas o dele era muito mais poderoso que o meu. Eu não fiz muita luta, pegando sua mão com um suspiro dramático e seguindo-o para a cozinha.
— Papai... — Heath chamou a atenção do seu pai. Ele estava de pé ao lado de Bray no balcão, inalando o cheiro doce da comida que agora estava espalhada em cinco pratos, o vapor subindo no ar. — Esta é a Fable.
A cor dos olhos dele foi a primeira coisa a me atingir, eles eram azuis, idênticos aos de Heath. E enquanto o seu rosto era muito mais suave, mais relaxado do que o olhar normalmente duro de Heath, não havia dúvida de que eles eram pai e filho.
— É tão bom finalmente conhecê-la, Fable. — Ele deu a volta ao balcão e assim que eu pensei que ele iria chegar e apertar a minha mão, seus braços envolveram em volta de mim e ele me puxou para o seu peito. Eu queria dizer que era estranho e que mal podia esperar para escapar. Mas não era, e o abraço paterno me teve sentindo fraca. Sua barba cheia que continha especificações de cinza por toda a parte, fez cócegas na minha bochecha e trouxe um sorriso ao meu rosto.
Quando ele finalmente recuou, me segurou no comprimento de um braço com as mãos nos meus ombros. — Bem, como você é linda. Já pensou em atuar?
— Papai... — Heath avisou.
— Bem, na verdade... — Eu comecei com um largo sorriso.
O riso de Arthur ecoou alto. — Sim, você vai se encaixar muito bem.
— Podemos comer? Eu não fui escravo de um fogão quente para isto esfriar enquanto nós todos elogiamos Fay. — Bray fez beicinho. — Sem ofensa, Fay.
Eu ri. — Não tem problema, cheira incrívelmente e estou com muita fome.
Cada um de nós pegou um prato e se dirigiu para a sala de jantar que continha a mais bela mesa oval de madeira que eu já tinha visto. Braydon sentou-se na cabeceira da mesa, empurrando os ombros para trás orgulhosamente enquanto lambia os lábios e olhava para a refeição à sua frente. Heath e eu nos sentamos em frente a Arthur e Flick, que deitou a cabeça no ombro do pai e sorriu brilhantemente. Você podia ver claramente o quanto essas crianças adoravam ter o pai em casa. Parte de mim se perguntou por que eu não sentia nenhum tipo de inveja deles por ter pai e mãe tão incríveis. Mas eu estava começando a sentir que talvez fosse porque não estava do lado de fora olhando para uma família perfeita mais, eu era uma parte da imagem.
— Como está a escola? — Arthur perguntou antes de encher a boca com uma colher cheia de macarrão.
— Uma parte da minha escrita foi aceita em uma revista. Não é nada grande, mas publica um punhado de peças do ensino médio todos os meses. — Flick sorriu para o pai animadamente.
Ele colocou a mão sobre a dela. — Se é grande para você, então é grande. Não rebaixe. Estou tão orgulhoso de você, baby.
— Obrigado, papai.
Ele voltou sua atenção para a mesa. — Rapazes?
— Nada heróico para relatar, Pops. — Braydon respondeu com uma boca cheia de comida.
— Heath?
— Apenas treinando. Tentando bater o meu melhor breaststroke36 — Heath informou seu pai.
Braydon quase se engasgou com o jantar enquanto tentava sufocar o riso. Heath se aproximou e bateu nas costas dele, um pouco forte demais, talvez.
Arthur estreitou os olhos para o filho mais novo. — Cresça, Braydon.
Bray bateu continência enquanto continuava tossindo e escondendo um sorriso.
— Fable, como vai a escola?
A resposta surgiu antes mesmo que eu pensasse sobre isso. — Diferente.
Ele riu baixinho. — Helen disse que você causou um grande impacto. Espero que não deixe isso te derrubar. A escola secundária está a apenas alguns anos fora da sua vida, então você pode seguir em frente.
A mão de Heath chegou à minha perna e ele deu um aperto suave. Eu sei que era para ser reconfortante, assim como as palavras de Arthur, mas elas serviram mais como um lembrete. Quanto tempo até que eu pudesse realmente passar do que estava começando a parecer uma vida sem fim no final da escada?
Arthur nos contou sobre o seu último filme. Ele só tinha esta noite e amanhã de manhã para passar em casa antes que tivesse que pegar outro avião de volta para a Flórida, onde eles estavam filmando pelas próximas duas semanas antes de seguir para Nova York.
Sua vida parecia um redemoinho, viajando constantemente enquanto eles estavam filmando e voltando para casa a cada duas semanas. Mas a paixão em sua voz quando ele falou sobre o seu trabalho era fascinante, e os três irmãos penduraram em cada palavra sua como se fossem crianças pequenas ouvindo uma história para dormir.
— Oh. — Eu de repente explodi, parando a última história de Arthur sobre uma estrela exigente. — Twisted Transistor acabou concordando em fazer o filme?
Nós podiamos não ter tido nenhuma música além dos instrumentos de Layla e Daisy, mas eu estava obcecada em encontrar velhas revistas de fofocas no lixo e eles, sem falhar, sempre tinham uma história sobre Ryder ou Ryker, os gêmeos que lideravam a banda.
Arthur riu. — Eu não posso dizer que está confirmado ainda, mas eu falei com Ryder apenas algumas noites atrás, e parece que ele estará a bordo.
Eu levei um momento para entender, assim como Flick. Os garotos reviraram os olhos, mas percebi que estavam animados também, incapazes de esconder os seus sorrisos.
Estava ficando muito tarde, e Arthur pedira que Heath fosse para a cama para que estivesse preparado para o seu encontro amanhã. Ele explicou que era quase o final da temporada, e enquanto nadava o ano todo, haveria representantes de faculdades em todo o país neste evento em particular. Por isso, era importante que ele fizesse um impacto, se ganhasse a sua atenção e os atraísse de volta no próximo ano, possivelmente ganharia uma bolsa de estudos.
Nós dissemos boa noite enquanto ele desaparecia para finalmente atender o seu telefone que tinha tocado sem parar durante o jantar, mas que se recusou a atender.
Quando Flick e Bray entraram em seus próprios quartos, Heath parou do lado de fora do meu.
— Dentro, Fay. — Ele andou para a frente, me forçando a recuar até que nós dois estávamos dentro e pôde fechar a porta atrás dele.
Eu engoli o nó na garganta. — Você precisa dormir um pouco. — Heath tinha que acordar às cinco, e estar na piscina às seis para que pudesse se preparar para a sua corrida às 9h00.
— Papai gosta de você. — Suas palavras mergulharam na minha mente e euforia espalhou-se por mim.
— Isso é ótimo. Eu acho que ambos os seus pais são incríveis.
Mais do que incrível.
— Eles são. — Ele concordou com um sorriso. — Eu acho que é por isso que você se encaixa aqui tão bem.
Eu fiz uma careta. — Heath...
— Não. — Ele me parou antes que eu pudesse dizer mais alguma coisa. Sua mão se estendeu, envolvendo meu pescoço e me puxando para mais perto dele. — Você é incrível. Você é corajosa e atenciosa e é honesta. Eu sei que isso tem sido difícil, assustador até, mas não desista. — Suas palavras eram tão suaves e tão doces. Eu as senti no meu corpo e nos meus ossos.
Heath iluminou o meu mundo de uma maneira que só imaginava em sonhos. Suas afeições eram tão novas, mas eu as recebi de braços abertos.
Ele puxou a minha cabeça para ele, roçando os seus lábios macios contra o meu cabelo. — Eu vou vê-la na piscina pela manhã.
Palavras pareciam tão inúteis naquele momento, então apenas observei quando ele saiu e a porta se fechou.
Nós não tínhamos discutido o que estava acontecendo entre nós. Eu não sabia exatamente o que estava construindo, mas sabia de uma coisa, não queria que parasse. Heath era o cara que toda a garota queria, mas por todas as razões erradas. Ele era sexy, misterioso e tinha o mundo à sua disposição. Mas esse não foi o cara que eu vi. Não era sobre quanto dinheiro ele tinha, ou se estar com ele faria outros invejosos. Foi o jeito que ele me construiu, como me fez sentir que não havia nada que pudesse me impedir. Ele era doce, sensível e cheio de vida, e eu podia ver agora exatamente do que Eazy estava falando.
Às vezes você precisava saber que há algo melhor lá fora para você lutar por isso.
Eu queria lutar por isso.
Eu queria lutar por ele.
CAPÍTULO TRINTA E DOIS
Diamond Cross ganhou a competição de natação. Venceu consecutivamente em todos os níveis, com Heath não só batendo sua melhor marca pessoal, mas conquistando completamente o recorde anterior da escola com mais de um segundo de sobra.
Eu fiquei com Arthur, Bray e Flick e todos nós gritamos quando o locutor informou a multidão da volta épica de Heath. Mas eu ainda não pude deixar de rir quando o vi naquela sunga de natação que ele usava. Mas eu estava me afeiçoando a ela.
O calor da área da piscina coberta estava começando a pesar sobre mim, então depois da última disputa de Heath, me desculpei enquanto os outros ficaram para mais uma, para torcer por Lucas. Heath me contou que Lucas morava com o pai dele. Seus pais se separaram quando ele mal tinha completado um ano, e seu pai nunca se casou novamente. Sua mãe morava a cerca de uma hora de distância. Ela não lucrou nada depois da separação, se casou novamente e teve outro filho não muito tempo depois do divórcio. Aparentemente, sua irmãzinha estaria na festa com ele hoje à noite.
O ar frio do banheiro feminino foi uma refrescante mudança de temperatura. Caminhei até à grande pia do banheiro e apertei a torneira, enchendo minhas mãos com água e espirrando no meu rosto. Não notei quando a porta do banheiro se abriu, mas esse erro não ficou impune.
— Eu disse a você para ficar longe dele. — O suave barulho de asas de um morcego balançando no ar foi seguido por um baque surdo quando se chocou com a parte de trás das minhas coxas. Meu grito doloroso ecoou pelo lugar, e minhas pernas cederam, me deixando cair no chão de azulejos sujos. Fechando meus olhos bem apertados, eu não conseguia parar o fluxo de lágrimas quando choraminguei, a parte de trás das minhas pernas latejando em agonia.
— Você deveria ter escutado, — Jay sibilou, de pé sobre mim. O bastão de madeira que ela tinha na mão estava pendurado casualmente por cima do ombro. Eu não pude responder, a dor da pancada que ela tinha me dado entorpeceu meus sentidos. Tentei respirar através disso, mas era insuportável. — Heath não precisa de sua reputação e seu futuro arruinado por um lixo como você.
— Você é louca, — eu finalmente consegui forçar as palavras a saírem através dos meus dentes cerrados. Coloquei minhas mãos na pia e usei-a para me levantar. — Qual é a porra do seu problema?
— Você é o meu problema. Você é como um cachorrinho perdido que alguém chutou para a rua e Heath está obcecado em tentar resgatar você. — Seu nariz enrugou.
— Eu não preciso de resgate.
Ela revirou os olhos. — Você pode pensar que teve uma vida difícil antes, garota de rua. Mas você é fraca. Estou disposta a fazer o que for preciso fazer para garantir meu futuro. Você pode dizer o mesmo?
As palavras com que ela pretendia me afetar e me fazer sentir como merda tiveram o efeito oposto, elas me alimentaram.
— E você deve pensar que ninguém vai se levantar contra você. Todo mundo tem medo de enfrentar a rainha, certo? — Seus olhos se iluminaram. Ela obviamente gostava de ser reconhecida por sua capacidade de governar na escola. — Bem, vou lhe dizer agora, quanto mais alto, maior a queda.
Ela zombou quando olhou para o espelho acima da minha cabeça, afastando uma mecha de cabelo loiro do rosto e endireitando as costas.
— Eu verifiquei seus registros, você sabe. — Seu tom era casual, sociável. — Um passo em falso seu, e eles te mandam para um orfanato, ou pior, de volta ao seu querido e velho pai.
Meu lábio levantou em um sorriso de escárnio. — Qual é o seu jogo afinal aqui, Jay? Trazer Heath de volta? Viver felizes para sempre, porque tenho certeza que ele não quer uma vadia psicótica para namorada.
— Diz a garota que perdeu a cabeça e esfaqueou o pai, — ela bufou. — Você vai contar a Heath? Chamar a polícia? Porque o registro de alguém acreditando em suas besteiras já é nulo.
Eu dei um passo à frente, a fúria crescendo dentro de mim. Ela não recuou, mas seu rosto mudou. Já não era presunçoso. Estava com raiva.
— Vá em frente, garota de rua. Bata em mim. Isso é o que você quer fazer, não é?
Eu queria bater nela. Queria deixá-la no chão e fazer com que ela sentisse a mesma dor que eu estava sentindo. Ela me insultou. Ela queria jogar um jogo. Torturar-me. Fazer-me desistir, assim ela finalmente ia conseguir o que queria, e eu teria que ir embora.
Eu já tinha feito isso antes e ela sabia disso. Eu surtei e esfaqueei meu pai. Pensei que isso melhoraria as coisas. Isso traria a atenção das pessoas para a minha vida e as coisas mudariam. Eu pensei que as coisas iam melhorar. Elas não melhoraram.
Com os contatos e a autoconfiança de Jay, seria a história se repetindo? Ela bateu com o bastão em sua mão. Esse barulho simples me fez lembrar da dor que ela já me causou. Minhas pernas latejavam.
— Vamos lá, Fable. Eu não achei que você fosse daquelas que recua. — Suas palavras queimaram em mim. De qualquer maneira, ela ia ganhar.
Eu bato nela, ela manda me prender e me levar embora.
Eu desisto e dou a ela a vitória, vai se sentir como a rainha que ela pensa que é, e mais uma vez, eu serei a escória.
— Saia, — eu rosnei com os dentes cerrados.
Ela me deu um sorriso assassino. — E eu que pensei que você fosse uma concorrente digna. — Então ela se foi, sem outra palavra.
Eu sabia o que ela queria. Ela queria isso acabasse tanto quanto eu. Mas não acabaria. Ainda não.
Minhas lágrimas começaram a fluir novamente quando agarrei minhas pernas. Depois de alguns minutos, finalmente encontrei forças para mancar até à porta do banheiro e trancá-la. Abri o zíper da calça e me virei para o espelho, puxando-a até aos joelhos e olhando por cima do ombro.
Havia dois vergões brilhantes na parte de trás das minhas coxas, elas estavam inchadas e irritadas, e hematomas roxos já estavam começando a se espalhar. Minhas pernas tremeram com o esforço que fiz para ficar de pé, mas não consegui parar de encarar o estrago.
Ela era psicopata. Jay era louca pelo poder e determinada a conseguir o que ela queria de qualquer maneira que fosse necessário. Eu me perguntei quantas vezes ela tinha se safado desse tipo de abuso sem sofrer nenhuma consequência por seus atos.
Como ela se tornou tão confiante e cruel?
Jay sabia que ela não seria contrariada.
Ela era como meu pai.
O pensamento me arrepiou até ao osso.
Lembrei-me da promessa que fiz a mim mesma de que nunca me tornaria a mulher que minha mãe era, e deixaria outra pessoa me bater e me destruir. Não importa o tipo de poder que eles tivessem. Eu não me permitiria ser aquela pessoa que se encolhia em um canto e agia como se merecesse o abuso.
Jay achou que eu era fraca.
Ela pensou que eu me afastaria como todas as suas outras vítimas e apenas aceitaria o abuso, que não iria revidar. Mas eu já fiz isso antes. E agora eu tinha muito mais pelo que lutar.
Ela jogou bem essa partida, ela sabia que para mim havia muita coisa em risco. Perder acabaria comigo. Eu finalmente poderia ajudar meus amigos a encontrar um novo lar, uma nova vida. E eu ia ser capaz de viver e não simplesmente existir.
Eu tinha muito a perder para desistir agora.
Eu encontrei Arthur, Bray e Flick no estacionamento. Eles estavam todos sorrindo e conversando com entusiasmo sobre as conquistas de Heath.
— Você está pronta para ir, Fable? — Bray perguntou quando me aproximei deles.
— Sim, — eu respondi, tentando ignorar a dor em cada passo quando meu jeans esfregava contra as feridas nas minhas pernas. Eu queria contar-lhes, queria chorar e fazer com que eles me abraçassem e me dissessem que tudo ficaria bem, que ela teria consequências por seu abuso.
Mas eu sabia que não importava o quão rico Arthur era, ou quanto poder eles tinham, podia não ser o suficiente. Eu precisava mais do que apenas minha palavra contra a dela porque ela não estava errada quando disse que as pessoas já tinham duvidado da minha palavra.
Tudo o que ela tinha que fazer era dar a impressão de que a história estava se repetindo, e eu estaria acabada.
— Heath está voltando para casa? — Eu perguntei, mordendo meu lábio enquanto subia no banco de trás. — Alguns olheiros queriam falar com ele sobre suas perspectivas para o futuro, — Arthur sorriu com orgulho. — Infelizmente, isso significa que provavelmente não vou vê-lo antes de ter que ir para o aeroporto, mas valerá a pena.
— Ele é muito bom, não é? — Eu expressei pela primeira vez a minha curiosidade.
Flick sorriu ao meu lado quando Arthur ligou o carro e dirigiu para casa. — Seu treinador acha que ele pode fazer parte da equipe olímpica.
— Uau. — Com uma sensação de orgulho eu estava animada por ele. Eu queria vê-lo se sair bem, e investir em sua vida, suas conquistas e sucesso. Eu estava começando a ter sentimentos por ele que nunca tive antes, e eles me emocionavam e me assustavam.
Eu não estava disposta a desistir tão facilmente do que tínhamos criado. Mas Jay estava me forçando a tomar uma decisão, e logo eu teria que mostrar minhas cartas para ela. Então eu precisava ter certeza de que seria a vencedora.
Despedimo-nos de Arthur na porta da frente. Ele me envolveu em outro de seus grandes abraços, e eu me vi suspirando suavemente enquanto apreciava o carinho reconfortante.
No segundo em que seu carro saiu da garagem, Braydon pulou animadamente. — Hora da festa!
Eu me encolhi. — Bray, eu não estou me sentindo muito bem. Acho que vou ter que ficar fora desta.
Braydon franziu a testa. — De jeito nenhum. Você disse que estava tudo bem, que você viria.
— Eu sei, — eu disse suavemente. — Eu estou apenas... foi uma longa semana.
Eu olhei para ele através dos meus longos cílios. Seu rosto suavizou. Eu me senti culpada sabendo que estava usando essa merda como uma desculpa, mas a realidade era que precisava reunir meus pensamentos. Jay tinha me desestabilizado. Ela estava fazendo exatamente o que queria e enterrando-se sob a minha pele. Eu precisava de tempo para descobrir como lidar com ela antes que tirasse o melhor de mim e eu surtasse.
Eraum grande risco. Minha cabeça precisava estar clara.
Ele suspirou. — Heath vai pirar quando ele descobrir que você não vai estar lá.
— Não o deixe voltar para casa. Ele precisa se divertir para comemorar. Eu vou ficar bem. — Ele assentiu, respirando fundo antes de se virar e se afastar.
Fui para o meu quarto e me enrolei na cama. A dor nas minhas pernas latejava e eu podia sentir o princípio de uma dor de cabeça.
Não demorou muito para que Bray batesse suavemente na porta do meu quarto. Fiquei quieta, me perguntando se era Heath, mas a voz suave de Flick chamou: — Fable, tem alguém aqui para ver você.
Franzindo a testa, eu me levantei da cama e caminhei para o corredor. Flick sorriu brilhantemente para mim. — Eles estão lá embaixo.
Quando cheguei ao topo da escada, meu coração disparou. — Layla!
CAPITLO TRINTA E TRÊS
Eu pulei as escadas. Layla tirou seu violão do ombro quando eu pulei nela.
— Lay... — Eu engasguei atordoada por ela estar aqui. — Minha nossa, você não tem ideia de como estou feliz em vê-la.
— Igualmente irmã, — ela respondeu, se afastando, mas mantendo as mãos nos meus quadris. — Jesus, pensei que você tivesse voltado para casa do seu pai. Eu chorei por dois dias. E aqui está você. Cody veio e nos contou o que estava acontecendo. Eu não pude acreditar. — Eu notei Cody parado desajeitadamente na entrada, um sorriso discreto em seu rosto.
— Ouvi dizer que você estava aqui, — disse ele. — Ouvi dizer que houve alguns problemas na escola e imaginei que você precisaria dela tanto quanto ela precisava de você.
— Aee, Cody. — Eu sorri. Ele passou tempo suficiente ao nosso redor para saber o quão próximas éramos. Estar sem Layla era como perder um pulmão. Eu estava lutando, mas muito mal. Eu acho que a única razão pela qual fiz isso por muito tempo foi porque Heath tinha preenchido o espaço. Mas ao vê-la agora, eu não tinha certeza de como tinha conseguido passar a semana sem ela.
Ela olhou para a enorme casa, seus olhos arregalados como se fosse a primeira vez que estava vendo isso. — Este lugar nunca será menos impressionante, — disse ela, como se estivesse lendo meus pensamentos.
— Eu vou deixar vocês ter algum tempo. — Cody sorriu antes de pegar a maçaneta da porta.
Eu agarrei o braço dele. — Espere, Cody. Obrigada.
Layla correu e colocou os braços ao redor dele. Ele pareceu surpreso no início, mas sorriu e retribuiu o abraço. — Sem problemas.
Cody desapareceu porta afora e eu arrastei Layla até às escadas para o meu quarto. — Eu não posso acreditar que você está aqui. Você não tem ideia do quanto eu precisei de você na semana passada. — Meu corpo, agora parecendo um pouco mais leve caiu sobre a cama grande quando Layla andou pelo vasto espaço, observando cada detalhe.
Ela finalmente parou na janela que dava para um lindo jardim abaixo e parte da piscina. — Eu pensei que algo horrível tivesse acontecido. Fiquei esperando que você voltasse a aparecer em Bayward. — Sua voz era suave agora, a empolgação passando.
— Eu não tenho permissão para ir lá, Lay. — Remorso me encheu, eu aceitei essas condições, mas precisava que ela soubesse que teria ido, se pudesse.
— O que você quer dizer?
Eu suspirei, esfregando meus olhos. A semana mais longa da minha vida finalmente me abalou. — Uma das condições que a juíza me impôs é que eu não pudesse voltar para as ruas. Nem mesmo para te ver. Ela disse que isso mostraria que eu não estava preparada para melhorar minha vida.
Ela passou os dedos pelos cabelos. — É melhor? — Eu podia ouvir a tristeza em sua voz. Ela tentou esconder, mas eu a conhecia muito bem.
— Para ser completamente honesta, a escola tem sido um inferno. Mas Heath e sua família e seus amigos me ajudam a superar.
Ela assentiu. — Estou muito feliz por você estar bem e contente. — Eu podia ouvir as lágrimas em sua voz quando ela disse estas palavras.
— Lay, eu não estou fazendo isso apenas por mim. A mãe de Heath, ela vai me ajudar a tirar vocês das ruas. — Eu pulei para fora da cama, pegando suas mãos nas minhas e segurando-as com força.
Ela mordeu o lábio. Era estranho ver Layla tão frágil, e a culpa se instalou no fundo do meu estômago. — Como ela pode ajudar?
— Vai ser incrível, Layla. Existe uma casa, e todos vocês podem morar lá, ir à escola e conseguir emprego. Eles vão ajudar. — Eu não tinha notícias de Helen, mas Heath disse que ela ligou e disse que tudo estava indo bem. Eu não queria dar esperanças a Layla, mas eu pude ver no fundo dos olhos dela. Ela estava desgastada, e o brilho que eu geralmente via desaparecera. Eu precisava dar algo a ela, algo que pudesse mantê-la lutando.
— Eu não sei, Fay.
— Apenas confie em mim, por favor. Se isso não funcionar, eu voltarei. Foda-se a corte, o juiz e a lei. — Meu coração se contorceu com as palavras. Claro, a escola tinha sido difícil. Mas se eu conseguisse sobreviver e receber uma educação, minhas perspectivas de um emprego e uma vida melhor seriam muito maiores. O pensamento de deixar Heath e sua família me rasgou por dentro, mas tentei não demonstrar.
Minha consciência não me permitia deixar meus amigos sofrerem enquanto eu morava aqui, mesmo depois da briga que tive que enfrentar já que estava aqui só para sobreviver. Isso era injusto e egoísta e fazia-me sentir mal apenas de pensar sobre o que eles estavam passando enquanto eu tinha essa casa grande, cama e comida.
— Não volte. — Lágrimas caíram sobre suas bochechas, e minha geralmente forte, amiga corajosa começou a se desfazer na minha frente.
Meus olhos se estreitaram. — Lay, o que está acontecendo?
Ela enxugou as bochechas, e eu senti meus próprios olhos começarem a se encher. Só de vê-la assim me machucava por dentro.
— Kyle está perdido. Ele está bebendo muito. Lee está pirando. Andre, Coop e Phee estão prontos para arrumar suas coisas e partir. Ninguém sabe onde estão Daisy ou Sketch. Estamos desmoronando. — Seu lábio inferior tremeu.
— Kyle está bebendo?
Kyle sempre foi tão forte. Ele era o único a quem todos procurávamos, aquele que se certificava de que mantivéssemos nosso ânimo. Ele nos uniu, e nos fez ser uma família.
— Lee acha que ele está roubando do clube do tio deles. Ele está com medo que Kyle seja pego, e se isso acontecer seu tio irá demiti-los. Essa foi a chance deles em um emprego de verdade, dinheiro que poderia lhes dar uma casa e uma vida e ele está estragando tudo. — soluçou ela. — Eu não sei o que está acontecendo, Fable. As coisas nunca foram ótimas, mas nós tínhamos uns aos outros. Ele decaiu tão depressa que sinto que vamos atingir o fundo e explodir em pedacinhos.
Eu joguei meus braços ao redor dela, apertando-a com força. — Nós daremos um jeito, eu prometo, — sussurrei em seu ouvido.
— Eu não tenho mais ninguém, — ela sufocou. — Eu não posso te perder também.
Eu a puxei para a cama, e ela deitou com a cabeça no meu ombro, as lágrimas encharcando minha camiseta enquanto ela chorava. Conhecendo Layla, ela estava acordada por dias, estressada e preocupada com o que iria acontecer. Eu me senti horrível, como se minha família estivesse caindo aos pedaços e eu fosse parte dessa causa.
Ficamos em silêncio por alguns minutos enquanto ela chorava todas as lágrimas. Eu a deixei ter esse momento. Era tão raro vê-la assim, mas percebi que todos, em algum momento, precisavam de tempo para desabar e apenas chorar antes de se levantar, dizer foda-se para o mundo e seguir em frente.
— Você quer nadar? — Perguntei.
Os soluços de Layla se transformaram em risos e eu sorri. — Claro que sim,— ela sussurrou.
Nós pulamos da cama, eu peguei o maiô disponível da minha cômoda e joguei para ela.
Entrei no banheiro e comecei a tirar meu jeans. O cós roçou a parte de trás das minhas pernas. — Ai,— eu disse inconscientemente.
A porta do banheiro se abriu atrás de mim. — Você tem cerr... puta merda. — Eu rapidamente os puxei de volta e me virei para encará-la, mas minha cabeça estava baixa, não querendo olhar nos olhos dela. — Que diabos é isso em suas pernas?
— Contusões, — eu murmurei. De repente, nadar não parecia uma boa ideia. Eu corri para fechar o botão do meu jeans.
— E de onde vieram? — Layla perguntou, sua voz firme. — Heath?
— Não... — Eu engasguei, olhando para ela em estado de choque. — Heath nunca faria isso. — Então é melhor você começar a explicar, Fable.
Passei por ela, saí pela porta do banheiro e voltei para o meu quarto. — Eu te disse, a escola não tem sido tão boa.
— Me conta, — ela exigiu, me seguindo e não me deixando escapar.
— Eu estou lidando com isso, ok?
— Diga-me! — Sua voz estava furiosa, e de repente eu tinha minha amiga de volta. Aquela que não aceitava nenhuma merda e encarava todos os problemas de frente. — Deus me ajude, mas se você não me contar eu vou perguntar a Heath ou a Braydon.
Eu estreitei meus olhos para ela, que encarou meu olhar com tanta intensidade, cruzando os braços sobre o peito e me desafiando a enfrentá-la.
— Tem uma garota, hum... ela não foi muito acolhedora. — As palavras eram sarcásticas. Eu contei a ela sobre Jay. Os panfletos, as notas, o encontro no banheiro hoje cedo.
Ela franziu os lábios. — E os meninos não a pararam?
— Eles não sabem.
Ela jogou as mãos no ar. — Por que você não lhes contou, Fable? Isso é grave. Ela bateu em você com um bastão de merda!
Eu cerrei meus punhos. — É minha palavra contra a dela, Layla. E você esqueceu, eu já estive nessa situação antes e olhe como isso acabou. Ela é uma estudante modelo, eu sou a garota que fica com raiva e tenta matar um dos pais. Em quem você acha que eles vão acreditar?
— Não é o mesmo, — disse ela, baixando a voz, tornando-se gentil. — Isso é diferente. Heath acreditaria em você, ele ajudaria você a impedi-la. Ele tem poder, se lembra?
— Eu não posso arriscar. — Meus ombros caíram, minha luta se dissipando tão rápido quanto veio. — Estou me apaixonando por ele, Lay. Se algo acontecer e for levada embora, eu perco tudo. A chance de uma vida real, a chance de estar com ele e, pior de tudo, a chance de ajudar vocês a sair das ruas. Isso tudo significa muito para mim. Eu não posso desistir agora. Não posso voltar e provar que todos estavam certos, que sou apenas uma garota maluca que está fora de controle.
Ela deu um passo à frente. — Ela tem alguma coisa contra você? Qualquer coisa que ela possa usar?
Eu balancei a cabeça. — Não. Eu me contive. Ela está me provocando. Acho que ela percebeu que a abordagem sutil não ia funcionar e precisava piorar as coisas. Ela precisa de mim para revidar.
— Se ela não tem nada, então não há problema. Foda-se ela. Deixe-a jogar suas birras, mas não a deixe pensar que ela ganhou. É aí que eles pensam que podem fazer isso para os outros. Você é mais forte que isso.
Eu olhei nos olhos de Layla. Eles brilharam, a força por trás de suas palavras me enchendo. Ela estava certa. Eu evitei a festa hoje porque eu simplesmente não queria lidar com isso. Eu pensei que estava sendo inteligente. Tomando o tempo para me recuperar. Mas eu estava apenas mostrando que ela tinha o poder sobre mim que ela pensava que tinha.
Eu nunca lutei contra meu pai.
Minha submissão simplesmente o motivou, fez com que ele se sentisse invencível, o deixou mais forte, e a tortura só piorou quanto mais eu recuava. Eu disse que nunca faria isso de novo, e aqui estava eu voltando para àquela mesma rotina, aquele lugar confortável que nunca tinha feito nada para mim antes, mas me trouxe dor.
Eu precisava mostrar a Jay que ela não poderia me arruinar tão facilmente. Eu passei muito tempo colando as peças para deixá-la quebrá-las novamente. Eu não ia desistir de Heath. E eu não desistiria do meu futuro ou do futuro dos meus amigos. Eu não iria me contentar com nada menos do que eu merecia. E eu merecia ser feliz.
Layla me observou pensar. Ela ficou forte ao meu lado, deixando-me reunir meus pensamentos, porque ela sabia que eu voltaria a lutar.
— Dane-se o nadar. Você sente vontade de ir a uma festa?
Seus lábios se voltaram e seu sorriso se alargou. — Dane-se sim.