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Series & Trilogias Literarias
Raccoon Times - 26 de Agosto de 1998
Plano "manter a cidade segura"
RACCOON CITY - Na frente da prefeitura, o Prefeito Harris anunciou ontem à tarde, em uma coletiva, que o conselho da cidade estará contratando pelo menos dez novos policiais para se juntar à polícia de Raccoon, por causa dos assassinatos brutais que atormentaram Raccoon no começo deste verão e devido a suspensão do S.T.A.R.S.. Junto com o Chefe Irons e todo os membros do conselho de Raccoon, Harris assegurou os cidadão e repórteres que a cidade será mais uma vez uma comunidade segura na qual se vive e trabalha, e que a investigação dos onze assassinatos "canibais" e dos três ataques animais fatais estão longe da solução.
"Só porque ninguém foi atacado no mês passado significa que os oficiais eleitos desta cidade podem relaxar" declarou Harris. "As boas pessoas de Raccoon merecem ter confiança em sua força policial e estarem seguras de que seus representantes políticos estão fazendo de tudo para dar segurança aos cidadãos. Como muitos de vocês sabem, a suspensão do S.T.A.R.S. será provavelmente permanente. Aquela unidade de investigação de assassinatos e sua subseqüente desaparição de Raccoon City sugere que eles não se importam com essa comunidade - mas eu quero assegurar vocês que nós nos importamos, e que eu, o Chefe Irons e os homens e mulheres que vocês vêem aqui, não queremos mais nada senão fazer de Raccoon um lugar a qual nossas crianças possam crescer sem medo".
Harris continuou a detalhar um plano de três pontos feito para reforçar a confiança e manter os cidadãos de Raccoon longe da violência.
Além de contratar de dez a doze policiais, o horário de recolher permanecerá ao menos até Setembro, e o Chefe Irons irá pessoalmente comandar uma força tarefa de alguns oficiais e detetives para continuar a busca dos assassinos que tiraram as vidas de onze pessoas entre Maio e Julho deste ano...
Cityside - 4 de Setembro de 1998
Renovação do complexo da Umbrella
RACCOON CITY - A instalação química da Umbrella no sul do centro da cidade começará a ser reformada na próxima Segunda-feira. Esta será a terceira renovação estrutural semelhante a do ano passado para a companhia. De acordo com a porta-voz da Umbrella, Amanda Whitney, dois dos laboratórios dentro da instalação principal serão adaptados com novos equipamentos projetados para síntese de vacinas e receberá um moderno sistema de segurança. Em adição, todos os escritórios conectados terão seus computadores atualizados na próxima semana.
Mas será isso um problema para o trânsito do centro da cidade? Whitney diz, "com o prédio do R.P.D. ainda terminando uma de suas reformas, os passantes locais já estão ficando cansados de ruas bloqueadas. Nós estamos fazendo de tudo para não interferir no trânsito; a maior parte da construção será interna e o resto será feito depois das horas de trabalho". O pátio do R.P.D., nossos leitores devem se lembrar, foi repavimentado e ajardinado depois que algumas rachaduras misteriosas apareceram no cimento; o tráfego teve que ser desviado por dois quarteirões na Rua Oak durante seis dias.
Ao perguntarmos porque tantos "reparos" ultimamente, Whitney respondeu, "a Umbrella tem estado na frente da competição há tanto tempo quanto continua com a atual tecnologia. Estes serão meses de trabalho, mas eu acho que valerá o esforço...”.
Raccoon Weekly Editorial - 17 de Setembro de 1998
Irons vai se candidatar?
RACCOON CITY - O Prefeito Harris pode estar numa difícil corrida na próxima primavera. Notícias de dentro do R.P.D. estão dizendo que Irons, Chefe da Polícia pelos últimos quatro anos e meio; pode estar concorrendo para chegar ao topo do ministério na próxima eleição, contra o popular, e sem oposição Devlin Harris, já no poder por três períodos consecutivos. Embora Irons não tenha confirmado os fatos, o ex-membro do S.T.A.R.S. recusou a negação do rumor.
Com sua popularidade bem alta desde o encerramento do caso dos assassinatos neste verão (ainda não resolvido) e da expansão planejada do RPD, Irons pode ser o homem que tirará Harris da Prefeitura; a questão é, serão os eleitores capazes de esquecer o suposto envolvimento de Irons nos fundos de campanha ilegais em Cider District? Ou seus caros gostos em arte e design interior, o qual tornaram o RPD em algo mais parecido com um museu?...
Raccoon Times - 22 de setembro de 1998
Adolescente atacada no parque
RACCOON CITY - Há aproximadamente 18:30h da noite passada, Shanna Williamson de quatorze anos foi surpreendida por um estranho no parque da Rua Birch no centro da cidade, quando voltava do treino para casa.
O homem veio de trás de uma cerca no parque e a derrubou de sua bicicleta antes de tentar agarrá-la. A jovem conseguiu sair de lá com alguns arranhões, e correu para a residência de Tom e Clara Atkin; Clara chamou as autoridades, que conduziram uma busca no parque, mas não acharam nenhum sinal do agressor.
De acordo com a garota (através de um depoimento hoje de manhã), o homem pareceu ser um pedestre: suas roupas e cabelos estavam sujos, e cheirava mal, "um cheiro de fruta podre". Ela disse que ele parecia bêbado, vacilando e caindo depois dela.
Com a onda de assassinatos de Maio para Julho ainda não resolvidos, o RPD está levando este fato seriamente: o agressor mostrou uma evidente semelhança com os membros da "gangue" do Victory Park em Junho deste ano.
Harris convocou uma coletiva para hoje, e Irons já declarou que o primeiro dos novos policiais chega na próxima semana, e que viaturas patrulharão os parques do centro da cidade...
[1]
Com o pessoal esperando no carro de Barry lá fora, Jill fez o possível para se apressar. Não era fácil, a casa tinha
sido revirada desde a última vez que esteve lá. Livros e papéis espalhados pelo chão, e estava muito escuro para
andar facilmente. O fato de sua casa ter sido violada era preocupante, mas já era de se esperar. Ela devia estar
agradecida por não ser do tipo sentimental - e pelos intrusos não terem achado seu passaporte.
Na escuridão de seu quarto, Jill pegou meias limpas e calcinhas e as colocou em sua mochila, desejando poder
acender as luzes. Fazer as malas no escuro era mais difícil do que se imaginava, mais ainda com a casa
bagunçada; mas eles não podiam se arriscar. Era improvável que suas casas estavam sendo vigiadas, mas se
alguém estiver olhando, uma luz poderia abrir fogo.
Pelo menos você vai embora. Chega de se esconder.
Eles estavam indo para território estrangeiro, invadir o quartel inimigo e provavelmente serem mortos no
processo, mas pelo menos ela não ficará mais em Raccoon. Pelo que ela leu nos jornais ultimamente, era a
melhor escolha. Dois ataques na semana passada... Chris e Barry estavam cientes do perigo, mesmo sabendo o
que o T-virus fazia com as pessoas - Barry pensou que isso era algum tipo de truque, que a Umbrella "salvaria"
Raccoon antes de alguém se machucar. Chris concordou, mas Jill não estava preparada para assumir nada; a
Umbrella já mostrou que não consegue conter suas experiências. E com o que Rebecca, David e sua equipe
enfretaram em *Maine...
Agora não é hora para pensar nisso - eles tinham um avião para pegar. Jill pegou a lanterna da penteadeira e
estava indo para a sala quando lembrou que só tinha um sutiã consigo. De cara feia, ela virou para a gaveta
aberta e começou a procurar. Ela já tinha roupas o bastante, escolhidas do que Brad deixou para trás quando
fugiu de Raccoon; ela e os outros ficaram na casa dele por várias semanas, desde que a Umbrella atacou a casa
de Barry. Nenhuma roupa de Brad serviu em Chris nem em Barry. Lingerie não era algo que o piloto do
S.T.A.R.S. tinha guardado. Ela não queria parar o avião para comprar roupas íntimas.
Colocando-os na mochila, Jill voltou para a pequena sala da casa. Tinha uma foto de seu pai em uma das
estantes que ela queria pegar. Era a segunda vez que foi lá desde que começaram a se esconder. Ela sente que
não voltará tão cedo.
Andando agilmente pelo escuro, ela ergueu a lanterna e a apontou para o canto onde a estante estava. A
Umbrella bagunçou tudo. Só Deus sabe o que eles estavam procurando. Pistas do nosso esconderijo,
provavelmente; depois do ataque na casa de Barry e a desastrosa missão à Caliban Cove, ela não acha que a
Umbrella ignoraria essas informações.
Jill iluminou o livro que queria, o título era Prison Life; seu pai teria rido. Ela pegou o livro e começou a folheá-lo,
parando quando a luz caiu sobre o sorriso de Dick Valentine. Ele tinha mandado a foto junto com sua última carta.
Ela tinha posto no livro para não perdê-la. Esconder coisas importantes era um hábito que adquiriu quando jovem.
Ela soltou o livro, a pressa foi embora de repente, ao olhar para a foto. Um leve sorriso surgiu em seu rosto. Ele
era o único homem que ficava bem no uniforme laranja da prisão.
Jill pensou no que ele acharia da situação atual; ele foi o responsável pelo envolvimento dela com o S.T.A.R.S..
Depois de preso, ele a encorajou a abandonar essa vida, dizendo que foi um erro treiná-la como uma ladra...
... aí eu peguei um trabalho legítimo, trabalhando para a sociedade ao invés de contra ela - aí as pessoas em
Raccoon começaram a morrer. O S.T.A.R.S. descobriu uma conspiração para criar armas biológicas com um vírus
que torna coisas vivas em mortas. Obviamente ninguém acreditou em nós. Os S.T.A.R.S. que não podem ser
comprados pela Umbrella, perdem a credibilidade ou são eliminados. Agora nós iremos para uma missão suicida na
Europa, tentar invadir o quartel general de uma corporação multibilionária e impedi-los de destruir esse maldito
planeta. O que você acharia? Sendo que você nunca acreditou nessa história, o que você acha?
"Você se orgulharia de mim, Dick". Ela suspirou, incerta se seria verdade. Seu pai queria vê-la em uma linha de
trabalho menos perigosa, e comparado ao que ela e os outros iriam fazer...
Depois de um longo momento, ela colocou a foto cuidadosamente no bolso e olhou para sua casa bagunçada,
ainda pensando na opinião de seu pai sobre tudo isso; se tudo correr bem, talvez ela possa perguntar
pessoalmente. Rebecca e os outros sobreviventes de Maine ainda estavam escondidos, investigando a
organização S.T.A.R.S. e esperando notícias sobre o quartel general da Umbrella. O quartel oficial fica na Europa,
mas eles suspeitavam de que os cabeças por trás do T-virus tinham um complexo secreto em outro lugar -
- a qual você não achará se ficar aí parada; o pessoal achará que você parou para tirar um cochilo.
Jill colocou a mochila e olhou em volta pela última vez antes de voltar para a porta dos fundos, na cozinha. Havia
um leve cheiro de fruta estragada no ar, vindo de uma tigela de maçãs e pêras em cima da geladeira. Apesar de
conhecer bem o cheiro, ela sentiu um calafrio em sua espinha. Ela foi para a porta fechada, tentando bloquear as
súbitas memórias do que eles acharam na mansão de Spencer...
"Jill?".
A porta abriu, a silhueta de Chris na escuridão pela distante luz da rua.
"Bem aqui". Ela disse, andando. "Desculpe pela demora. A Umbrella veio aqui com um trator".
Mesmo com pouca luz, ela pode ver um meio sorriso no rosto dele. "Nós estávamos achando que um zumbi
tinha pego você". Ele disse claramente, mas ela sentiu a preocupação.
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*Maine – Estado localizado na costa leste dos E.U.A.
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Muitas pessoas morreram por causa do que a Umbrella fez na
floresta fora da cidade. Se o acidente tivesse ocorrido mais perto de Raccoon...
"Não teve graça". Ela disse suavemente.
O sorriso de Chris sumiu. "Eu sei. Está pronta?".
Jill acenou, apesar de não se sentir preparada pelo que virá a seguir, tampouco pelo que estão deixando para
trás. Em algumas semanas, seu conceito de realidade transformou pesadelos em rotina.
Corporações malvadas. Cientistas loucos, vírus assassinos. E os mortos-vivos...
"Estou". Ela disse finalmente. "Estou pronta".
Juntos, eles saíram. Assim que ela fechou a porta, sentiu um súbito ar de incerteza - de que ela nunca mais
colocaria os pés em casa novamente, de que os três nunca mais voltariam para Raccoon City...
... mas não acontecerá nada com a gente. Algo acontecerá, mas não conosco.
Franzindo, mão na fechadura, ela tentou dar sentido ao pensamento. Se eles sobreviverem a essa missão, se
eles tiverem sucesso contra a Umbrella, por que não voltariam para casa? Ela não sabia, mas o sentimento era
desconfortavelmente forte. Algo ruim iria acontecer, algo -
"Ei, você está bem?".
Jill olhou para Chris, viu a mesma preocupação em seu rosto. Eles se aproximaram bastante nas últimas
semanas, apesar de achar que Chris queira se aproximar mais ainda.
E você não quer?
Jill se balançou mentalmente e acenou para Chris, deixando os sentimentos irem. O vôo para Nova Iorque não irá
esperar por ela.
Ainda aquele sentimento...
"Vamos sair daqui". Ela disse.
Eles andaram pela noite, deixando a escura casa para trás, tão quieta e sozinha quanto um túmulo.
[2]
29 de Setembro de 1998
O resto da luz do dia já estava atrás das montanhas, pintando o horizonte com o violeta do pôr do sol. As
montanhas corriam pela escuridão do céu sem nuvens, se esticando para alcançar o fraco brilho das estrelas.
Leon poderia ter apreciado mais a paisagem se não estivesse tão atrasado. Ele vai chegar a tempo, claro, mas
antes pretendia chegar em seu novo apartamento, tomar um banho, comer algo; mas do jeito que está, ele só
tem tempo para passar numa lanchonete a caminho da delegacia. Colocar seu uniforme na última parada lhe deu
alguns minutos, mas basicamente ele estava apertado.
Isso aí, Oficial Kennedy. Primeiro dia de trabalho e você estará tirando sanduíche dos dentes durante as
chamadas. Muito profissional.
Seu turno começava às nove e já era mais de oito. Leon pisou um pouco mais forte no acelerador ao passar por
uma placa que dizia restar meia hora para chegar em Raccoon City. Pelo menos a estrada estava livre. Ele não
viu ninguém em horas, exceto pelo apressadinho no sentido oposto.
Uma boa mudança considerando o trânsito depois de Nova Iorque, a qual lhe custou toda tarde. Ele tentou deixar
um recado para o sargento na noite passada, mas só ouviu o sinal de ocupado.
Os poucos móveis que tinha, já estavam no apartamento num bom bairro de Raccoon. Havia um parque à duas
quadras de lá, e só cinco minutos de carro até a delegacia. Chega de engarrafamentos, bairros violentos e ações
brutais. Ele procurava viver numa comunidade pacífica.
... bom, exceto pelos últimos meses. Aqueles assassinatos...
O que aconteceu em Raccoon foi horrível, doentio - mas os agressores nunca foram pegos e a investigação só
estava começando. Se Irons gostar dele como gostaram na academia, talvez Leon possa trabalhar nesse caso.
Mesmo Chefe Irons sendo uma praga, ele ficará um pouco impressionado. Leon se formou entre os dez
melhores e não era um estranho em Raccoon. Ele costumava passar os verões lá quando criança, quando seus
avós ainda eram vivos. O R.P.D. era uma biblioteca e a Umbrella estava a vários anos de distância de transforma
Raccoon numa verdadeira cidade. Mesmo assim, ainda é o mesmo calmo lugar de sua infância. Quando os
assassinos forem presos, Raccoon City será ideal de novo - bonita, limpa, uma comunidade escondida nas
montanhas como um paraíso secreto.
Aí eu me estabeleço lá. Uma ou duas semanas se passam e Irons percebe o quanto bem os meus relatórios
estão sendo escritos, ou vê o quanto bom eu sou atirando no alvo. Ele me chama para ver os documentos do
caso - e eu vejo algo que ninguém mais viu. Ninguém mais percebeu por que eles viveram muito com isso, e
esse policial novato vem e resolve o caso, nem um mês fora da academia e eu -
"Jesus!". Algo correu em frente ao seu Jeep.
Leon pisou no freio e desviou, tirado de seu sonho enquanto recuperava o controle do carro. Os freios travaram e
os pneus derraparam no asfalto. O Jeep parou de frente para as escuras árvores que cercavam a estrada -
desligando depois de uma última sacudida.
De coração acelerado, Leon abaixou o vidro e levantou o pescoço, varrendo as sombras pelo animal que tinha
cruzado a pista. Ele não o atropelou, mas foi por pouco. Algum tipo de cachorro, ele não viu direito - um dos
grandes, talvez um Doberman, mas de alguma forma parecia errado. Leon só o viu por uma fração de segundo,
um brilho de olhos vermelhos e o corpo inclinado de um lobo. E tinha algo mais, parecia algum tipo de...
... lodo? Não, truque de luz, ou você só estava se borrando de medo e acabou vendo errado. Você está bem e
não o atropelou, isso é o que importa.
"Jesus". Ele disse de novo, mais suave, sentindo-se aliviado e bravo enquanto a adrenalina saia de seu sistema.
Pessoas que deixam seus cães soltos são idiotas - depois agem surpresos quando o Totó é pego por um carro.
O Jeep parou a alguns metros de uma placa que dizia RACCOON CITY 10; ele só conseguia ver as letras no
escuro. Leon olhou no relógio; ele ainda tinha meia hora para chegar na delegacia, pouco tempo - mas por algum
motivo, ele simplesmente parou por um momento, fechando os olhos e respirando profundamente.
Uma brisa fresca passou pelo seu rosto; o deserto trecho de estrada parecendo sobrenaturalmente quieto.
Os assassinatos em Raccoon. Algumas pessoas foram mortas por animais, não foram? Cães selvagens? Talvez
aquele não tenha dono.
Um perturbante pensamento - mais ainda quando sentiu que o cachorro ainda estava por perto, o escondido nas
árvores.
Bem vindo a Raccoon City, Oficial Kennedy. Cuidado com as coisa que o observam...
"Não seja idiota". Leon disse para si mesmo, imaginado se algum dia se livrará de sua imaginação.
Sonhando em pegar caras maus, depois inventar monstros assassinos vagando pela floresta - vamos agir de
acordo com nossas idades, né, Leon? Você é um policial, pelo amor de Deus, um adulto...
Ele ligou o motor e voltou para a estrada. Ele tinha um emprego novo, um bom apartamento numa boa cidade;
ele era competente, consciente, e de boa aparência; usando sua criatividade, tudo ficará bem.
"E já estou a caminho". Ele disse, forçando um sorriso para se acalmar. Ele estava a caminho de Raccoon City,
para uma nova vida - não tinha nada com o que se preocupar...
Claire estava exausta, psicológica e emocionalmente, e o fato de seu traseiro estar doendo pelas últimas horas,
não estava ajudando. O motor de sua Harley parecia entrar em seus ossos, e mais, estava escurecendo. E por
idiotice, ela não estava usando suas roupas de couro; Chris não aprovaria.
Ele vai gritar comigo, e eu nem vou ligar. Deus, Chris, por favor, esteja lá para isso...
O barulho da moto ecoou pelos barrancos inclinados. Ela fez as curvas cuidadosamente, bem consciente do
quanto desertas as estradas estavam; se ela cair, levará um bom tempo até alguém aparecer.
Como se importasse. Sem seu equipamento, eles recolheriam seus pedaços com um rodo.
Era burrice, ela sabia que era burrice - mas algo aconteceu com Chris. Droga, algo deve ter acontecido com a
cidade toda. Pelas últimas semanas, a suspeita aumentou - e as ligações que tinha feito aquela manhã a tiraram
do lugar.
Ninguém em casa. Ninguém em lugar nenhum. Como se a cidade tivesse se mudado.
Ela não se importava com Raccoon, mas sim com seu irmão que estava lá, e se algo de ruim aconteceu com ele
-
Ela não podia, não pensaria desse jeito. Chris era tudo o que lhe restava. Seu pai morreu em seu emprego na
construção quando ainda eram crianças. Quando sua mãe morreu num acidente de carro três anos atrás, Chris
fez o melhor para substituir os pais. Mesmo sendo poucos anos mais velho, ele a ajudou a escolher uma
faculdade - ele até a mandava dinheiro todo mês. Além disso, ele ligava para ela toda semana.
Mas essas ligações pararam no último mês e meio, e as dela não foram retornadas. Ela tentou se convencer de
que era besteira se preocupar - talvez ele finalmente achou uma namorada, ou algum problema com o S.T.A.R.S.
Mas depois de três cartas não correspondidas e dias esperando o telefone tocar, ela finalmente decidiu ligar para
o R.P.D. naquela tarde, esperando que alguém pudesse dizer o havia acontecido. Ela só ouviu o sinal de ocupado.
Sentada em seu quarto, ouvindo aquele som, ela começou a se preocupar mesmo. Ela procurou em sua agenda
com mãos trêmulas, discando os poucos números dos amigos dele, pessoas ou lugares que mandou ligar em
caso de emergência - Barry Burton, Emmy's Diner, um policial que ela nunca conheceu chamado David Ford. Ela
até tentou o telefone de Bill Rabbitson, apesar de Chris ter dito que ele desapareceu alguns meses atrás. Só deu
ocupado.
A preocupação se transformou em algo perto de pânico. A viagem para Raccoon City levava seis horas e meia da
universidade. Sua amiga de quarto pegou seu equipamento de moto emprestado para sair com o namorado, mas
Claire tinha outro capacete - e com aquele pânico passando pelos seus pensamentos assustados, ela
simplesmente pegou o capacete e saiu.
Burrice, talvez. Impulsiva, certamente. E se Chris estiver bem, nós poderemos rir sobre o quanto ridícula essa
paranóia foi. Mas enquanto eu não souber o que está acontecendo, não terei um momento de paz.
O resto da luz do dia estava sumindo no céu sem nuvens, mas a brilhante lua cheia e o farol da moto eram
suficientes para enxergar - para ver a pequena placa adiante: RACCOON CITY 10.
Dizendo a si mesma que Chris estava bem, que algo de estranho aconteceu em Raccoon, alguém já teria
verificado. Claire passou a se concentrar na estrada. Daqui a pouco estará escuro, mas ela chegará em Raccoon
antes de ficar perigoso para dirigir.
Estando Raccoon City bem ou não, ela descobrirá em breve.
#
[3]
Leon alcançou os limites da cidade com vinte minutos restando, e decidiu que um jantar quente irá esperar. De
sua última visita à delegacia, ele sabia que haviam algumas máquinas de venda onde podia comprar algo. O
pensamento de ter doces e amendoins em seu estômago não caía bem, mas foi culpa dele por não te se livrado
do trânsito de Nova Iorque a tempo.
Ele passou por algumas fazendas que ficavam a leste da cidade, antes de ver a parada de caminhões que
separava a zona rural da urbana.
Assim que virou na ByBee, indo para uma das ruas norte-sul principais que o levariam para o R.P.D., ele
conseguiu a primeira dica de que algo estava errado. Nos primeiros quarteirões, ele se surpreendeu. No quinto ele
se sentiu um estranho no deserto. Não era estranho, era impossível.
ByBee era a primeira rua real da cidade, vinda do leste. Havia vários bares e restaurantes baratos, tal como um
cinema que nunca deve ter mostrado nada além de filmes de terror e comédias sensuais - e mesmo assim era o
mais popular lugar da juventude de Raccoon. Havia algumas tavernas que serviam cervejas e bebidas quentes
para os universitários. Às oito e quarenta e cinco da noite, ByBee deveria estar cheia de vida.
Exceto por algumas lojas e restaurantes, Leon viu que quase toda a rua estava escura - e mesmo as que tinham
luz não mostravam presença humana. Haviam carros parados na rua, e ainda nenhuma pessoa. ByBee, o ponto
de encontro de adolescentes e estudantes, estava totalmente deserta.
Onde está todo mundo?
Ele continuou dirigindo, procurando respostas - e tentando aliviar a suave ansiedade que sentia. Talvez há algum
tipo de evento acontecendo, uma missa ou uma festa da macarronada. Ou Raccoon decidiu antecipar a
Oktoberfest para hoje à noite.
Tá, mas todos ao mesmo tempo?
Leon percebeu que não tinha visto um carro se quer desde o cachorro há dezesseis quilômetros. Nem um. Sendo
assim, um pensamento menos dramático lhe ocorreu.
Algo não cheirava bem. De fato, algo cheirava como podre.
Ele diminuiu a velocidade para virar na Powell, uma quadra à frente - mas o cheiro e a ausência de vida estavam
lhe dando uma ruim sensação. Talvez ele deva parar e verificar, procurar algum sinal de -
Leon sorriu aliviado. Havia duas pessoas de pé na esquina, bem à frente; a luz estava apagada perto deles, mas
ele pode ver suas sombras claramente - um casal, uma mulher de saia e um homem alto usando botas. Indo a
sul na Powell, chegando mais perto deles, Leon pode ver como andavam, pareciam bêbados. Ambos estavam na
sombra de uma loja de escritório e fora de visão; mas Leon estava naquela direção - não custava parar e
perguntar?
Devem ter saído do O'Kelly's. Um copo ou dois, mas não estando dirigindo, ótimo. Eu me sentirei um idiota
quando eles me dizerem que hoje é o grande concerto gratuito ou o dia da churrascada.
Aliviado, Leon virou a esquina e olhou para as sombras, procurando pelo par. Ele não os viu, mas tinha um beco
entre a loja e a joalheria. Talvez eles tenham parado para ir ao banheiro ou fazer outra coisa mais ilegal -
"Merda!".
Leon pisou no freio assim que meia dúzia de escuras figuras voaram do chão, pegas pelos faróis do Jeep.
Assustado, levou alguns segundos para perceber que tinha visto pássaros; eles não berraram, apesar de ter
estado perto o bastante para ouvir o bater de asas.
Oh, meu Deus.
Havia um corpo humano no meio da rua, a seis metros do carro. Debruçada, mas parecia uma mulher - e
julgando pelo líquido vermelho que cobria boa parte da blusa branca, não era uma estudante bêbada que decidiu
dormir no lugar errado.
Atropelamento. Algum imbecil a acertou e fugiu.
Leon desligou o motor e abriu a porta. Ele hesitou, um pé no asfalto, o cheiro de morte intenso no ar. Sua mente
#
trouxe uma idéia que não queria considerar, mas deveria; isso não é um treinamento, é a sua vida.
E se não foi um atropelamento? E se o fato de não haver pessoas por perto é por causa de um maluco armado
que decidiu praticar tiro ao alvo? Talvez todos estão em casa, abaixados - o R.P.D. pode estar a caminho e
aqueles dois bêbados podiam estar feridos e procurando ajuda...
Ele se esticou no Jeep e procurou seu presente de formatura debaixo do banco do passageiro, uma H&K VP70
com dezoito balas.
Apontando ela para o chão, Leon saiu do carro e deu uma olhada em volta. Ele não conhecia muito bem a noite
de Raccoon, mas sabia que não deveria estar tão escuro. Várias luminárias da rua estavam apagadas; se não
fossem os faróis do carro, ele não teria visto o corpo.
Ele se aproximou, sentindo-se desprotegido sem o carro, mas ciente de que ela podia estar viva. Era impossível,
mas ele tinha que ver.
Alguns passos mais próximo e viu que era um a jovem mulher. O cabelo ruivo e liso cobria o rosto. A maioria dos
ferimentos estavam escondidos pela blusa ensangüentada. Parecia haver alguns deles - rasgos na roupa
expunham claros e cortados pedaços de carne e os músculos vermelhos abaixo.
Exalando forte, Leon colocou a arma na mão esquerda e se agachou, tocando a fria pele do pescoço dela. Alguns
segundos passaram, segundos que lhe causaram medo, tentando se lembrar do procedimento de ressuscitarão,
esperando sentir o pulso.
Cinco compressões, dois e curtos sopros, cotovelo parados e, por favor, não esteja morta -
Ele não sentiu o pulso e não queria esperar. Guardando a arma, ele agarrou os ombros para vira-la - mas quando
começou a erguê-la, sua blusa saiu da calça, mostrando algo que o fez soltá-la. Sua coluna e parte das costelas
estavam expostas. As vértebras brancas brilhando entre a carne vermelha. Parece que ela foi mastigada. Coisa
que Leon não quis acreditar.
Os corvos não fizeram isso, teria levado horas, e quem disse que corvos se reúnem à noite para comer? E aquele
cheiro, não está vindo dela, ela morreu recentemente, e -
Canibais. Assassinos.
Não. Nem pensar. Para uma pessoas ser morta e devorada no meio da rua sem ninguém para impedir -
- e com tempo suficiente para comedores de mortos virem - os assassinos devem ter matado toda a população.
Parece certo? Então que cheiro é esse? E onde estão todos?
Atrás de Leon, houve um baixo e suave gemido. Depois, passos.
Levou um segundo para Leon se levantar, virar e empunhar a arma. Era o casal, os bêbados, vindo em sua
direção, junto com um terceiro, um cara musculoso com -
- com sangue por toda a camisa. E nas mãos. E pendurado em sua boca, algo vermelho e mole. O outro homem
com as botas e suspensórios, parecia igual.
O trio se aproximava, passando do Jeep, erguendo as mãos e gemendo. Leon estava impressionado com a
descoberta de que o cheiro vinha deles -
- e apareceu outro, saindo da porta do outro lado da rua, uma mulher de camiseta e cabelo amarrado para trás.
Outro gemido atrás dele. Leon olhou sobre o ombro e viu um jovem de cabelos escuros e braços podres sair das
sombras da calçada.
Leon apontou a arma para o que estava mais perto, o de suspensórios, enquanto seus instintos gritavam para
fugir. Ele estava aterrorizado, mas sua lógica insistia que havia uma explicação para o que via, que não estava
vendo um morto-vivo.
"Certo! Já chega! Não se mexam!".
Sua voz foi forte e autoritária. Ele vestia seu uniforme, e Deus, por que eles não param? O de suspensórios
gemeu de novo, cego para a arma apontada para seu peito, e ainda seguido pelos outros, agora a menos de
três metros de distância.
"Não se mexa!". Leon disse de novo, e o som de seu próprio pânico o fez recuar um passo, olhando para os
lados e vendo mais dois saindo das sombras.
Algo agarrou seu calcanhar.
"Não!". Ele gritou, virando a arma -
#
- e viu que a atropelada estava segurando sua bota com uma mão ensangüentada, tentando mover seu corpo.
O gemido dela se juntou ao dos outros enquanto tentava morder seu pé, vermelhos fios de saliva escorrendo
pelo queixo, caindo no couro.
Leon atirou nas costas dela. Pela distância deve ter acertado seu coração. Tremendo, ela voltou para o chão.
- e ele virou e viu os outros a menos de um metro e meio, e atirou mais duas vezes, os tiros abrindo buracos no
peito do mais próximo.
O de suspensórios não se intimidou com os tiros em seu peito, seu equilíbrio se abalando por apenas um segundo.
Ele abriu a boca e soltou um grito de fome, mãos erguidas de novo na direção de seu alívio.
Recuando, Leon atirou de novo. E de novo. E de novo. Mais tiros e eles continuaram vindo. Era como um sonho
ruim, um filme ruim, não era real - e Leon sabia que se não começasse a acreditar, acabará morrendo. Comido
por esses -
Vá em frente. Diga. Esses zumbis.
Longe do carro, Leon correu, ainda atirando.
[4]
Que vida noturna; esse lugar está morto.
Claire não viu tantas pessoas como deveria desde que chegou em Raccoon, só algumas, só algumas vagando
por aí. O lugar parecia totalmente deserto; o capacete bloqueava muito a visão, mas definitivamente os negócios
não iam bem naquela parte da cidade. Tal como o trânsito.
Ela planejou ir direto ao apartamento de Chris, mas se lembrou de que passaria em frente ao Emmy's. Chris não
sabia cozinhar nada; sendo assim, ele vivia de cereais, sanduíches frios e jantares no Emmy's seis vezes por
semana; mesmo não estando lá, vale a pena parar e perguntar se alguma garçonete o viu.
Assim que Claire parou em frente ao Emmy's, viu ratos procurando abrigo numa lata de lixo na calçada. Ela
abaixou o apoio e desceu da moto, tirando o capacete e o colocando no assento. Balançando seu rabo de cavalo,
ela franziu o nariz de nojo; pelo cheiro, o lixo estava lá por um bom tempo. Independente do que jogavam fora,
aquilo tinha um cheiro tóxico.
Antes de entrar, ela esfregou seus braços e pernas tanto para aquecê-los, quanto para limpá-los da sujeira da
estrada.
Através do vidro da frente do restaurante era possível ver o confortável de bem iluminado interior.
Das banquetas vermelhas do balcão que cercava o canto esquerdo ao fundo - não tinha uma alma à vista. Claire
franziu, desapontada. Tendo visitado Chris regularmente nos últimos anos, ela esteve lá todas as horas do dia e
da noite; os dois eram corujas, decidindo comer sanduíches às três da manhã - o que significa Emmy's. E sempre
tinha alguém lá, conversando com uma das garçonetes de avental vermelho ou curvado sobre uma xícara de
café e um jornal, não importava que horas fossem.
Então onde eles estão? Nem são nove horas...
A placa dizia Aberto, e ela não ficou parada na rua, esperando. Uma última olhada na moto e ela entrou.
Respirando fundo ela disse esperançosa.
"Olá? Tem alguém aqui?".
Sua voz correu pelo silêncio do restaurante vazio. Exceto pela suavidade dos ventiladores de teto, não havia outro
som. Tinha um familiar cheiro de gordura no ar e algo mais - um cheiro amargo e ainda fraco de flores podres.
O lugar era em L, se esticando para frente dela e para a esquerda. Andando devagar, Claire seguiu em frente.
Atrás do balcão ficava o caminho da cozinha. Se o restaurante estava aberto, os funcionários deviam estar lá,
talvez surpresos com a falta de clientes -
- mas isso não explica a bagunça, né?
Não estava tão bagunçado. A desordem nem foi percebida do lado de fora. Menus no chão, um copo d'água
virado no balcão, e talheres eram os únicos objetos fora de ordem - mas era demais.
Que se dane a cozinha, isso é muito estranho, algo está errado nessa cidade - talvez eles foram assaltados ou
preparando uma festa surpresa. Quem se importa?
#
Do espaço escondido no final do balcão, ela ouviu um movimento, um deslizante sor de roupas seguido por um
ronco. Alguém está lá, agachado.
De coração batendo forte, Claire chamou de novo. "Olá?".
E nada.
- outro gemido, um som que arrepiou os pêlos do seu pescoço.
Apesar do medo, Claire foi até lá. Talvez houve um assalto, os clientes podem estar amarrados - ou pior, tão
machucados que não conseguiam gritar. De qualquer modo, ela estava envolvida.
Claire chegou no fim do balcão, olhou para a esquerda -
- e gelou, de olhos arregalados, sentindo-se psicologicamente estapeada. Perto de uma prateleira com bandejas
estava um calvo homem de avental branco, de costas para ela. Ele estava agachado sobre o corpo de uma
garçonete; mas tinha algo muito errado sobre ela, tão errado que Claire não conseguiu aceitar tão cedo. Seu olhar
chocado passou pelo uniforme vermelho, sapatos, até pelo crachá de plástico no peito dela, "Julia" ou "Julie".
... a cabeça. A cabeça dela não estava lá.
Percebendo o que estava errado, Claire não conseguiu desacreditar por mais que queira. Só tinha uma poça de
sangue no lugar da cabeça dela, cercada por fragmentos do crânio e mechas de cabelo escuro. O cozinheiro tinha
as mãos no rosto e Claire, olhando para o corpo, soltou um leve suspiro.
Ela abriu a boca, incerta sobre o que falar.
Gritar, perguntar por que, como, oferecer ajuda - ela não sabia, e assim que o homem virou para ela, abaixando
as mãos, nada foi dito definitivamente.
Ele estava comendo a garçonete. Seus dedos estavam vestidos com carne; a estranha face que ele mostrou
estava suja de sangue.
Zumbi.
Sua mente aceitou isso no momento em que pensou; ela não era idiota. Ele estava mortalmente pálido e com
aquele cheiro de podridão. Seus olhos brancos.
Zumbis em Raccoon. Eu nunca esperei isso.
Com esse calmo e lógico pensamento veio uma súbita onda de terror. Claire recuou, enquanto o homem
continuava se virando, se levantando.
Ele era enorme, quase dois metros, grande como um armário -
- e morto! Ele está morto e comendo a mulher, não o deixe se aproximar!
O cozinheiro começou a andar. Claire recuou mais rápido, quase escorregando num menu. Um garfo entortou sob
seus pés.
SAIA DAQUI, AGORA.
"Eu já estou de saída". Ela falou. "Mesmo, não precisa mostrar a porta -".
O cozinheiro continuou andando, seus cegos olhos arregalados de fome. Outro passo para trás - e Claire sentiu o
frio metal da maçaneta da porta. Uma triunfal adrenalina passou por ela enquanto virava, tocava a maçaneta -
- e gritou, um curto grito de terror. Havia dois, três deles lá fora, suas carnes decompostas pressionando o vidro.
Um deles só tinha um olho; outro só o lábio superior. Do outro lado da rua, escuras figuras saiam da penumbra.
Sem saída, presa -
- Jesus, a porta dos fundos!
No final de seu campo visual, a verde luz da saída brilhava como uma estrela. Claire virou de novo e mal viu o
cozinheiro chegando onde estava, uma atenção virada para sua única esperança.
Ela correu. A porta daria no beco, se estiver trancada Claire estará morta.
Claire golpeou a porta e ela abriu, acertando os tijolos da parede do beco - e tinha uma arma apontada para seu
rosto, a única coisa que podia pará-la, um homem armado.
Ela congelou, erguendo os braços instintivamente.
"Espere! Não atire!".
Ele não se moveu, a arma ainda apontada para sua cabeça -
- ele vai me matar -
"Abaixe-se!". Ele gritou, e Claire obedeceu.
Boom! Boom!
O homem atirou e Claire olhou em volta, viu o cozinheiro morto caindo de costas bem atrás dela, um buraco em
sua testa.
#
Claire voltou-se para o homem que salvou sua vida, reparando no uniforme. Policial. Ele era jovem, alto - tão
aterrorizado quanto ela se sentia, seus olhos azuis bem abertos e sem piscar. Pelo menos sua voz foi forte ao se
abaixar para ajudá-la.
"Não podemos ficar aqui. Venha comigo, nós estaremos a salvo na delegacia".
Assim que ele falou, ela ouviu um coro de gemidos vindos da rua, aumentando. Claire se deixou ser levantada,
segurando a mão dele bem forte, se confortando ao percebeu que sua mão estava trêmulas igual a dele.
Eles correram.
[5]
Leon correu junto com a garota, tentando lembrar o mapa da cidade. O beco deve dar na Ash, não muito longe
da rua do R.P.D., a Rua Oak - mas a delegacia estava a pelo menos uns quinze quarteirões à leste; sem
transporte eles não conseguirão. Ele só tinha quatro balas, e pelo som vindo do beco, havia dezenas de criaturas
em cada ponta.
Saindo do beco, Leon ergueu a mão e parou de correr, examinado a escura rua. Ele não viu muito, mas de onde
estavam, perto da luminária, havia onze ou doze zumbis à direita e só três à esquerda, não muito longe de uma -
Aleluia!
"Ali!".
Leon apontou para uma viatura estacionada do outro lado da rua. Não havia policiais por perto; seria querer
demais - mas as portas estavam abertas. Eles podem alcançar o carro antes das três coisas ali perto. Se não
tiver chave, pelo menos há um rádio e vidros à prova de balas. Eles podem ficar lá até a ajuda chegar -
- e é a única chance. Vá!
Eles correram para o preto e branco. Leon apontando sua arma para as criaturas mais próximas, a uns vintes
metros. Ele queria atirar, mas não podia desperdiçar munição.
Deus, que tenha chaves.
Eles alcançaram a viatura ao mesmo tempo e se dividiram, a garota indo para o lado do passageiro, fazendo
Leon perceber que ela achava que o carro era seu. Ele a esperou fechar a porta antes de entrar, uma pequena
voz dentro dele gritando que esse era seu primeiro dia.
A chave estava na ignição. Leon guardou a arma e a tocou.
"Aperte os cintos". Ele disse, pouco ouvindo o consentimento da garota enquanto girava a chave e as sirenes
ligavam. A Rua Ash foi iluminada por azul e vermelho, as sombras mudando de forma e densidade. Era a visão do
inferno - e ele pisou no acelerador, querendo sair de lá o mais rápido possível.
O carro saiu derrapando. Leon virou para a direita depois para a esquerda, quase acertando uma mulher cuja
metade do couro cabeludo foi arrancado.
Ajuda, chamar ajuda -
Leon pegou o rádio sem tirar os olhos da rua. Criaturas saíam da escuridão como se chamadas pelo carro veloz.
Assim que o carro cruzou a Powell e continuou, Leon desviou de mais zumbis.
A garota estava cochichando, olhando para a desolada paisagem enquanto Leon apertava o botão do rádio, o
desamparo crescendo. Sem estática, sem nada.
"Que diabos está acontecendo. Eu chego em Raccoon e o lugar está de cabeça para baixo -".
"Ótimo, o rádio está desligado". Leon a interrompeu, soltando o rádio. A cidade parecia um mundo alienígena, as
ruas estranhamente assombradas. Parecia um sonho, mas o cheiro dizia que estavam acordados. O cheiro tinha
tomado conta da viatura, ficando difícil de dirigir. Pelo menos não tinha trânsito, nem pessoas, pessoas de
verdade...
... exceto eu e a garota. Eu tenho que fazer o meu trabalho, não deixá-la se machucar. Pobre menina, não deve
#
ter mais de dezenove ou vinte anos, deve estar aterrorizada.
"Você é policial, né?".
Ele olhou para ela, o tom sarcástico e humorado em sua voz deu uma forte impressão de que ela não era fraca.
Uma boa coisa apesar das circunstâncias.
"Sou. Primeiro dia no trabalho; que ótimo, hein? Eu sou Leon S. Kennedy".
"Claire,". Ela disse. "Claire Redfield. Eu vim procurar meu irmão, Chris...".
Ela parou, olhando para a rua. Duas criaturas estavam entrando no caminho do carro, e Leon acelerou, passando
entre eles. A grade de metal que divide a parte de trás do carro estava quebrada, fornecendo uma clara visão do
retrovisor interno; os dois zumbis vagando desatentamente atrás deles.
Famintos. Como nos filmes.
Por um momento, ninguém falou, a pergunta mais obvia não respondida. Seja lá o que tornou Raccoon numa
casa dos horrores, não importava tanto quanto suas vidas. Eles chegarão na delegacia em alguns minutos. Tinha
um estacionamento subterrâneo - ele tentará lá primeiro - mas se os portões estiverem fechados, eles terão que
andar um pouco. Tinha um pequeno jardim em frente ao prédio.
Quatro balas - e uma cidade cheia daquelas coisas. Precisamos de outra arma.
"Ei, abra o porta-luvas". Ele disse.
Claire apertou o botão e se curvou, mostrando as costas de seu colete vermelho; "Made in Heaven" (Feito no
Paraíso) estava estampado sobre um voluptuoso anjo segurando uma bomba. Combinava com ela.
"Tem uma arma aqui". Ela disse, e pegou a semi-automática, erguendo-a cuidadosamente para ver se estava
carregada, antes de pegar os dois clips. Era uma das velhas armas do R.P.D., uma Browning HP de 9 mm.
Desde a onda de assassinatos, a polícia tem usado as H&K VP70, outra 9 mm - a diferença é que a Browning
carrega treze balas enquanto a outra podia carregar dezoito, dezenove se você deixar uma engatilhada. Do modo
que a manuseava, Leon viu que ela sabia o que fazia.
"É bom ficar com ela". Ele disse.
Assim que Leon fez uma curva um pouco rápido demais, o pensamento do R.P.D. estar infestado de zumbis o
acertou. Tudo ocorreu tão rápido que ele nem tinha pensado nisso. Talvez haja uma defesa organizada na
delegacia - mas era difícil pensar com o cheiro de podridão tão forte no ar.
Temos três quartos de tanque, mais do que suficiente para chegar às montanhas; podemos estar em Latham
em menos de uma hora.
Eles poderiam desviar da delegacia se parecesse insegura. Sair da cidade soava bom para ele. Ele ia contar para
Claire, ver o que ela achava quando -
- o terrível cheiro de morte se intensificou e algo pulou do banco traseiro.
Claire gritou e o monstro que esteve na viatura o tempo todo agarrou o ombro de Leon, levando seu braço direto
para frente com uma incrível força.
"Não!". Leon gritou assim que o carro virou violentamente para a direita, subindo na calçada e deslizando na
parede de um prédio. A criatura estava desequilibrada, perdendo apoio; Leon virou o volante para a esquerda,
mas não evitou a parede por completo. Ruídos de metal e faíscas iluminaram o interior.
A coisa jogou seus braços em Claire e, sem pensar, Leon acelerou e jogou o carro para a direita. O carro
ziguezagueou, derrapando lateralmente, a traseira acertando uma pick-up azul estacionada. Faíscas e o som de
borracha no asfalto.
O morto foi para o banco, mas voltou imediatamente para frente, na direção da garota.
Eles desciam a Terceira (uma rua), Leon tentando controlar o carro enquanto pegava sua arma e se virava. Ele
não pensou em desacelerar, só pensava no zumbi cravando seus dentes no ombro de Claire.
Segurando a arma pelo cano, ele desceu a coronha no rosto do monstro, arrancando pele igual a uma banana.
Gemendo, a criatura tocou o rosto sangrando e Leon pode sentir um segundo de triunfo, até que -
- Claire gritou, "Cuidado!".
- e Leon viu que eles iam bater.
Leon tinha batido no zumbi com a arma quando seu olhar aterrorizado viu que a rua ia acabar.
"Cuidado!".
Ela só pode ver os dedos dele grudados no volante -
- e o carro começou a girar, derrapando, prédios e luzes piscando tão rápido que ela só viu borrões, e de repente
#
- BAM!
Houve uma explosão de som, de vidro quebrando e metal esmagando, assim que o carro bateu em algo sólido,
arremessando Claire contra o assento. Ao mesmo tempo, o impacto jogou o zumbi violentamente para trás,
atravessando o vidro traseiro -
- e tudo ficou quieto. Só o seu coração pulsando nos ouvidos. Claire viu que Leon já estava recuperado, olhando
para o corpo lá atrás, sua cabeça fora de visão. Não estava se mexendo.
"Você está bem?".
Claire virou para Leon, subitamente querendo evitar uma risada. A cidade estava infestada por mortos-vivos, e
acabaram de sofrer um acidente por que um cadáver queria comê-los. Considerando isso, "bem" não é primeira
palavra a vir na cabeça.
"Inteira". Ela disse, e o jovem policial acenou, parecendo aliviado.
Claire respirou fundo e olhou onde estavam. Leon tinha girado 180 graus com o carro no final da rua em T, o
carro completamente danificado estava de frente para o sentido de onde vieram. Não havia zumbis por perto. Ela
segurou sua arma fortemente, tentando se controlar.
"Nós -". Leon começou a falar algo, mas parou, seus olhos arregalados para o que via. Claire também viu - e por
um segundo, sentiu que seu caminho foi amaldiçoado desde que saiu da universidade.
Um caminhão descia a rua, ainda a vários quarteirões de distância, mas perto o bastante para ver que estava
fora de controle. O caminhão ziguezagueava, batendo na mesma pick-up azul de um lado da rua e uma caixa de
correio do outro. Claire percebeu com terror que era um caminhão tanque. No segundo que levou para entender,
rezar para que não seja gás ou óleo, o caminhão diminuiu a distância entre eles. Ela já via o acidente quando
Leon quebrou o silêncio.
"- ele vai esmagar a gente". Ambos tocaram os cintos de segurança, Claire rezando para não estarem presos.
O som dos cintos soltando foram inaudíveis perante o crescente eco do caminhão. Ele chegará em um segundo.
"Corra!". Leon gritou, e ela saiu do carro, ar fresco em sua suada pele. O ronco do motor do caminhão
bloqueando tudo mais.
Ela deu três passos gigantes, tanto sentindo quanto ouvindo o impacto, o chão tremendo sob seus pés assim que
metal se retorcia atrás dela.
Mais um pouco, e -
KABOOM!
- ela foi jogada, literalmente tirada de suas botas por uma incrível onda de pressão, calor e som. Ela tentou
alcançar o chão enquanto a explosão tornava a noite em dia. Um estranho giro, poeira em sua pele, e Claire
aterrissou perto de um *De Lorean prateado estacionado na frente de uma *delicatessen.
Houve uma breve chuva de destroços enfumaçados e Claire se levantou, procurando nas labaredas por Leon.
Seu coração parou. O caminhão tanque, a viatura, tudo estava envolvido por fogo. A rua completamente
bloqueada por uma massa de destruição.
"Claire -".
A voz de Leon, abafada, mas audível através da parede de fogo.
"Leon?".
"Eu estou bem!". Ele gritou. "Vá para a delegacia, eu te encontro lá!".
Claire hesitou por um segundo, olhando para a arma que ainda segurava firmemente em sua trêmula mão. Ela
estava com medo, aterrorizada por estar só numa cidade que virou um cemitério - mas não tinha escolha.
"Tá bom!".
Ela virou. O portão de trás da delegacia estava a alguns metros dali -
- e criaturas estavam saindo das sombras, de trás dos carros e de dentro dos prédios escuros. Com um
pensamento em mente, eles entraram na estranha luz do acidente, gemendo de fome - dois, três, quatro deles.
Por trás do fogo, ela ouviu tiros - dois tiros, depois nada - nada além do fogo e os suaves gemidos.
Leon já foi, agora VÁ!
Claire respirou fundo e correu.
#
[6]
Ada Wong colocou, na cavidade da estátua, o brilhante disco de metal dourado com um unicórnio entalhado,
dando um tapinha até a peça encaixar no mármore. Ela ouviu um movimento na estátua e se afastou para ver o
que acontece. Seus passos ecoaram pelo grande hall principal da delegacia, o som passando pelos parapeitos do
segundo e terceiro andar.
Outra chave? Uma das medalhas do esgoto? Ou quem sabe a própria amostra... não seria uma feliz surpresa.
A ninfa segurando uma jarra d'água feita de pedra deslizou para trás, a jarra em seu ombro jogando um fino
pedaço de metal. A chave de *espadas (*spade key).
Ela suspirou, pegando-a. Ela já tem as chaves; de fato, ela já tem tudo o que precisa para vasculhar a delegacia,
e quase tudo para o laboratório. Se a Umbrella tivesse facilitado, o trabalho teria sido moleza. Dinheiro fácil.
Mas acabei ganhando férias de três dias na cidade dos monstros, brinquei de Por Uma Bala na Cabeça e Vamos
Achar o Repórter. As amostras podem estar em qualquer lugar, dependendo de quem sobreviveu. Se eu sair
daqui com as belezinhas, vou pedir um grande bônus; ninguém deve trabalhar nessas condições.
Ada guardou a chave e olhou para o parapeito superior, mentalmente visualizando as salas que já foi. Bertolucci
parece não estar em lugar algum da asa leste do R.P.D.. Ela passou horas encarando mortos em busca do
queixo quadrado e rabo de cavalo dele. Claro, ele pode estar se movendo - mas pelo que sabia dele, era
improvável; o repórter se escondia diante do perigo.
Por falar em perigo...
Ada foi para a porta que dava na parte inferior da asa leste. O hall principal estava a salvo dos infectados, eles
não pareciam conhecer uma maçaneta - mas havia ameaças além deles. Só deus sabe o que a Umbrella
mandará para arrumar tudo isso... ou o que foi solto no laboratório após a contaminação. Menos assustador,
mas não menos preocupante quanto os policiais vivos procurando alguém para salvar. Ela já ouviu tiros, alguns
distantes, outros não, toda hora desde que chegou; deve haver alguns não-infectados no grande e velho prédio.
Na ponta dos pés para evitar barulho, ela cruzou a porta e se encostou nela, decidindo onde ir; ela ainda não
checou o subterrâneo e haviam vários portadores na sala dos detetives.
Ah, a excitante vida de uma agente autônoma. Viajar pelo mundo! Ganhar dinheiro roubando coisas importantes!
Combater mortos-vivos sem ter tomado um banho ou comido algo decente por três dias - isso impressiona os
amigos!
Ela se lembrou de pedir aquele bônus de novo. Quando chegou em Raccoon há menos de uma semana, ela se
achava preparada; os mapas foram estudados, os dados do repórter memorizados, sua história falsa na ponta
da língua - uma mulher procurando pelo namorado, um cientista da Umbrella. Essa parte era quase verdade; de
fato, foi seu breve relacionamento com John Howe dez meses antes de ela ter arrumado o emprego. Mas John
pensou de outra forma e sua conexão com a Umbrella provavelmente o matou. Tudo isso se tornou uma boa
dica para ela.
Aí ela já estava pronta. Mas nas primeiras vinte e quatro horas de estadia, sua sorte mudou; enquanto comia no
quase vazio restaurante do hotel, ela ouviu os primeiros gritos do lado de fora. Os primeiros, mas não os últimos.
De algum modo, o desastre foi uma vantagem; não haverá guardas no laboratório. O estudo que fez no T-virus
a assegurou de que o aerotransmissível se dissipa rapidamente; o único modo de se contaminar agora é entrando
em contato com um portador, então não haverá problema.
Objetivos: interrogar o repórter, descobrir o quanto ele sabe e matá-lo ou ignorá-lo, depende. Recuperar uma
amostra do novo vírus, a mais nova maravilha do Dr. Birkin. Sem problema, certo?
Três dias antes, sabendo como o laboratório da Umbrella era conectado ao sistema de esgoto e com Bertolucci
na sua frente, o trabalho teria siso moleza. Foi quando as coisas começaram a dar errado.
Pessoas desaparecendo, barricadas caindo...
Ela observou Bertolucci de perto o bastante para ver que ele fugiria. Ela nem teve tempo de fazer contato antes
#
dele desaparecer. Ada decidiu continuar sozinha quando três quartos dos civis foram mortos por que ninguém se
preocupou em fechar os portões da garagem. Ela não queria morrer tentando proteger sua imagem de turista
assustada procurando o namorado.
Aí veio a espera. Quase quinze horas esperando as coisas se acalmarem, escondida no maquinário do relógio do
terceiro andar, entre o eco de tiros e gritos...
Ótimo. O que fazer agora? Sentar e refletir ou acabar logo com isso; quanto mais cedo acabar mais tempo de
férias terá numa ilha qualquer.
Quieta, Ada não se mexeu, batendo sua Beretta na perna. Haviam corpos espalhados no corredor; ela não
conseguia parar de olhar um deles, caído debaixo da janela-bancada do escritório. Uma mulher ensangüentada.
Os outros dois eram policiais e ela não os conhecia - mas a mulher foi uma das pessoas com a qual conversou
quando chegou na delegacia. Seu nome era Stacy, uma nervosa, mas forte garota de vinte e poucos anos.
Stacy Kelso, isso mesmo. Ela queria comprar sorvete e acabou aqui - apesar de sua situação, ela estava mais
preocupada com os pais e o irmão em casa. Uma garota consciente. Uma boa garota.
Por que ela está pensando nisso? Stacy estava morta e não foi Ada que a matou. Ela veio aqui para trabalhar;
não foi sua culpa por Raccoon estar assim.
Talvez não seja culpa. Talvez só esteja triste porque Stacy não conseguiu.
Ela era uma pessoa, e agora está morta, como sua família provavelmente.
"Saia dessa". Ela disse, suave, mas irritadamente. Ada desviou o olhar, fixando-o num cinzeiro quebrado no fim
do corredor, onde virava à direita. Sentia-se mau com as coisas que não conseguia controlar, não era seu estilo,
não foi assim que chegou até aqui - e considerando o esforço que o Sr. Trent estava fazendo para manter Ada
trabalhando, agora não é a melhor hora para analisar suas habilidades.
Objetivos: falar com Bertolucci e pegar a amostra do G-virus. É tudo com o que ela precisa se preocupar.
Ainda há um mecanismo que Ada precisa ver, na sala de entrevistas. As últimas adições do arquiteto foram
detalhadas por Trent, mas ela sabia que tinha a ver com as lâmpadas de gás e uma pintura a óleo. A pessoa que
fez tudo isso teve uma séria vida secreta; havia passagens secretas escada acima, atrás de uma parede. Ela
ainda não foi lá, mas uma breve olhada revelou um escritório. Julgando pela decoração neurótica e estofada, só
podia ser de Irons. Mesmo tendo estado em sua companhia por pouco tempo, ele era o homem mais instável
que já conheceu; não havia dúvidas de que estava na lista de pagamento da Umbrella, mas também havia algo
sobre ele que parecia bem defeituoso.
Ada desceu o corredor, seus sapatos contra os ladrilhos esverdeados; ela já temia outro mecanismo. Nada que
não tinha dicas; ela assumia que o vírus ainda estava no laboratório. Os dados diziam que havia cerca de doze
frascos da coisa, informação de um vídeo de duas semanas - e o laboratório de Birkin não era impenetrável.
Sendo o laboratório subterrâneo conectado à delegacia pelo esgoto, ela deve considerar que as amostras foram
movidas. Além disso, Bertolucci pode estar escondido na biblioteca ou no escritório do S.T.A.R.S., na asa oeste,
talvez na sala de revelação; vivo ou morto, ele precisa ser encontrado.
Ela virou no corredor, passando por uma pequena área de espera com máquinas de venda já saqueadas. Como
todo o R.P.D., o corredor estava frio e com falta de ar fresco; ela já se acostumou com o cheiro, mas o frio era
a pior parte. Pela centésima vez desde que saiu o hotel, Ada desejou ter colocado outra roupa.
O vestido vermelho sem mangas, meia calça preta e sapatos barulhentos eram ótimos como disfarce; como
equipamento, a roupa estava longe de prática.
Chegando no fim do corredor, ela abriu a porta cuidadosamente, de arma na mão. Como antes, o corredor
estava vazio, outra prova da desbotada elegância do prédio - paredes cor de areia e lajotas padronizadas. A
delegacia já deve ter sido magnífica, mas os anos de uso como prestador de serviços, o prédio perdeu seu
encanto; com a mansão de um filme, a fria atmosfera dando uma distinta sensação sinistra - como se a qualquer
momento uma fria mão pudesse tocar seu ombro, uma suave respiração em seu pescoço...
Ada franziu de novo; depois dessa missão, ela tirará longas férias. Senão isso, tentará outra carreira. Sua
concentração já não é como antes. E em seu trabalho, um erro pode levar à morte.
Um grande bônus. Trent cheira como dinheiro. Eu vou pedir sete dígitos, seis no mínimo.
Em suas tentativas de bloquear os pensamentos, só um ainda persistia - a jovem Stacy Kelso pondo o cabelo
atrás da orelha enquanto falava de seu irmão bebê...
Depois do que pareceu um longo tempo, Ada apagou essa visão e continuou andando, prometendo a si mesma
#
de que não haverá mais lapsos de concentração - e imaginando por que não acha que conseguirá.
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*De Lorean - Carro conhecido mundialmente por ter sido a máquina do tempo nos filmes da trilogia "De volta para
o Futuro".
*Delicatessen - Casa de comestíveis; mercearia.
*Espadas - Referência aos naipes do baralho:
Heart = Copas
Diamond = Ouros
Spade = Espadas
Club = Paus
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[7]
As botas de Leon esmagavam cacos de vidro na loja de armas Kendo, enquanto abria as gavetas. Se ele não
achar balas rápido terá problemas; as armas restantes da loja estavam inacessíveis, presas com cabos de aço, e
a janela da frente estava completamente quebrada. Não demorará muito para as criaturas o acharem, ele só
tinha uma bala e muito o que andar.
"Isso!".
Quarta gaveta, munição. Leon pegou a caixa e a pôs no balcão enquanto vigiava a frente da loja. Ninguém ainda,
sem contar o dono da loja morto. Ele não se movia. Por ter morrido há alguns minutos, não se sabe quando
voltará à vida, e Leon não queria estar lá para descobrir.
Vigiando a pequena loja, ele começou a recarregar. Leon tinha se esquecido da loja depois do acidente,
achando-a casualmente. Estando o caminho mais rápido para a delegacia bloqueado, a Kendo's era a melhor
opção.
"Uuuuunh...".
Uma horripilante e esquelética forma saiu das sombras da rua, vindo cegamente para frente da loja.
"Droga". Leon disse, seus dedos trabalhando mais rápido. Um clip pronto, mais um e pode levar o resto.
De repente, outra figura apareceu.
- dezesseis... dezessete...pronto!
Ele pegou a H&K e ejetou o clip, colocando o novo assim que o vazio caiu no chão. A criatura estava passando
pela armação do vidro, algo líquido em sua garganta soando levemente.
Mochila, ele precisa de uma. Leon olhou debaixo do balcão, vendo uma mochila de ginástica no fim dele. Material
de limpeza se espalhou no balcão enquanto Leon colocava os clips na mala, ignorando as balas espalhadas na
gaveta.
O monstro podre vinha em sua direção, tropeçando no dono da loja. Leon ergueu a arma e mirou no rosto da
criatura.
Na cabeça, igual aos outros dois lá fora -
Com um tremendo e alto som, a bala explodiu o rosto do zumbi, sangue respingando nas paredes.
Antes da coisa cair, Leon virou e ajoelhou perto da gaveta de munição, jogando as pesadas caixas na mochila.
Seu estômago dando um nó e tremendo de medo; o beco de trás pode estar cheio de zumbis.
Umas cento e cinqüenta balas, agora saia -
Levantando-se, Leon vestiu a mochila e correu para a porta de trás. Pelo canto do olho, viu outra criatura
entrando na loja; pelos cracks do vidro, havia mais deles.
Ele abriu a porta de saída e a cruzou, olhando para os lados assim que a porta se fechou. Nada além de latas de
lixo e caixas de papelão. De onde estava, o beco continuava à esquerda e depois virava à direita; se seu senso
de direção estiver intacto, a estreita passagem o levará direto para a Oak.
Até agora ele teve sorte; tudo o que podia fazer era esperar que isso não mudasse, e que pudesse chegar inteiro
#
no R.P.D. - e que lá houvesse um monte de pessoas armadas que saibam o que aconteceu.
E Claire. Esteja bem, Claire Redfield, e se chegar lá primeiro, não tranque a porta.
Leon ajustou a mochila nas costas e andou pelo beco mau iluminado, pronto para explodir o que cruzar seu
caminho.
Claire conseguiu quase sem dar um tiro; os zumbis eram cruéis, mas lentos, e a adrenalina em seu corpo tornou
fácil desviar deles. Talvez o som do acidente desviou suas atenções, aí foi só seguir seus olfatos, ou o que sobrou
deles. Dos dez zumbis que viu, pelo menos metade estava num avançado estágio de decomposição, carne
caindo dos ossos.
Ela já esteve no R.P.D. duas vezes com Chris, mas nunca entrou pela parte de trás. Viaturas estacionadas e
alguns policiais zumbificados a receberam na pequena área, levando-a para uma pequena cabana. Depois havia
um pátio - o pátio o qual ela e Chris almoçaram uma vez, sentados nos degraus que levavam ao heliporto do
segundo andar.
Desviar dos zumbis policiais no pátio em forma de L foi fácil, e um alívio por estar num lugar que conhecia.
Uma mulher de um único braço pendurado e roupas ensangüentadas, tinha saído das sombras debaixo da
escada e tocou Claire com frias mãos; Claire soltou um suspiro de surpresa, livrando-se da criatura - e quase caiu
nos braços de outro, um alto homem que também saiu de debaixo da escada de metal, grosseiro e silencioso.
Ela conseguiu evitá-lo e se afastou, apontando a 9 mm para o homem, recuando um passo e -
- esbarrou no corrimão. A mulher estava a um metro e meio à direita. O homem a um passo de distância.
Claire apertou o gatilho e houve um gigantesco boom, a arma quase pulando fora de sua mão. A parte direita do
rosto dele desapareceu numa explosão de líquido escuro.
Ela girou a arma, apontando para a pálida face da mulher. Outro tiro e o gemido foi interrompido, a testa
implodindo num espirro de sangue e pedaços de ossos. A mulher caiu de costas no chão como um -
- como um cadáver, o qual ela já era. Eles não sairão mais daqui.
Por um momento, Claire não se moveu. Ela olhou para os dois corpos e sentiu que esteve a um centímetro de
errá-los.
Ela cresceu em volta de armas, atirando em alvos dezenas de vezes - mas era com uma pistola .22 e alvos de
papel. Alvos que não sangravam ou espirravam miolos como os dois seres humanos que acabou de matar -
Não. Uma voz interna a interrompeu. Humanos, não, não mais. Não se engane e não perca tempo com
remorso. Leon já deve ter entrado, e está procurando por você. E se o S.T.A.R.S. foi chamado, Chris pode estar
lá também.
Se isso não foi motivação o bastante, os dois zumbis que deixou para trás estavam vindo. É hora de ir.
Ela subiu a escada, mal ouvindo seus passos por causa do zumbido em seu ouvido. Os tiros não fizeram bem à
sua audição - por isso só ouviu o helicóptero quando estava chegando lá em cima.
Claire parou, o vento batendo ritmadamente em seu corpo enquanto o veículo entrava em visão, perdido na
sombra. Estava de frente para a antiga torre d'água. Ela não sabia se ia pousar ou se já tinha decolado.
Não sabia e não se importava. "Ei!". Ela gritou, erguendo sua mão esquerda. "Ei, aqui!".
Suas palavras se perderam na poeira levantada pelas pás do helicóptero. Claire acenou como se tivesse ganhado
na loteria.
Alguém veio. Graças a Deus, obrigado!
O holofote da aeronave foi ligado - mas estava indo na direção errada, não para ela. Claire balançou os braços
mais freneticamente, respirando para gritar de novo até que -
- viu o que a luz iluminava, mesmo enquanto ouvia o desesperado e praticamente inaudível grito sob o motor do
helicóptero. Um homem, um policial, de pé no meio do heliporto. Ele segurava uma metralhadora, e parecia bem
vivo.
"- venha até aqui -".
O policial gritou para o alto, sua voz cheia de pânico; Claire viu o porquê e seu alívio evaporou. Havia dois zumbis
saindo do escuro e indo para o alvo bem iluminado que estava gritando. Ela ergueu a arma, mas a abaixou de
novo, com medo de acertar o policial.
A luz não se movia, iluminando o terror com sua brilhante claridade. O homem não devia saber o quanto perto os
#
zumbis estavam até que foi tocado.
"Afastem-se! Não se aproximem!". Ele gritou. Com o terror em sua voz, Claire pode ouvi-lo claramente. As duas
figuras o encurralaram no canto sudoeste do heliporto.
O som da metralhadora foi alto. Mesmo com o helicóptero acima, Claire ouviu as balas cortando ar. Ela se
ajoelhou enquanto os tiro continuavam para todos os lados - e para cima -
- e houve uma mudança no som do helicóptero, um estranho hum que fico mais alto. Claire olhou para cima e viu
a nave branca mergulhando, a cauda balançando num instável arco.
Jesus, ele acertou o helicóptero.
O holofote ia em todas as direções, passando por canos de metal, concreto e o policial sendo atacado pelos
zumbis, de alguma forma ainda atirando -
- e de repente o helicóptero começou a descer, balançando. As pás batendo no telhado com muita força. Antes
que Claire pudesse piscar, o nariz da nave bateu - cruzando o heliporto num curto arranhão de faíscas e cacos de
vidro.
A explosão ocorreu assim que a máquina caiu na parede sudoeste - diretamente sobre o policial e seus dois
assassinos. No mesmo instante, o nariz do helicóptero atravessou a parede de tijolos bem à frente.
A rajada de tiros finalmente parou sob as chamas que vieram depois do boom, iluminando o lugar num ardente
calor alaranjado.
Claire ergueu-se nas pernas que mal sentia, olhando desacreditada para o fogo que tomava conta de quase
metade do heliporto. Tudo aconteceu tão rápido que pareceu ser mentira. Um ácido e enjoativo odor de metal
derretido passou por ela numa onda de calor, e no súbito silêncio ela pode ouvir o gemido dos zumbis no pátio lá
embaixo.
Ela olhou para as escadas e viu que ambos os policiais zumbis estavam na base, cegamente tropeçando no
primeiro degrau. Pelo menos eles não estavam subindo...
Claire virou seu assustado olhar na direção da porta a uns dez metros dali. Exceto pela escada, a porta era o
único modo de chegar lá. E se zumbis não conseguiam subir - e tinha dois no heliporto -
- então tenho problemas. A delegacia não é segura.
Ela olhou para os destroços queimando, medindo opções. Ela ainda tinha muita munição; ela pode voltar para a
rua, procurar um carro com chave e buscar ajuda.
E Leon? Se aquele policial estava vivo, pode haver mais lá dentro planejando uma fuga?
Ela não podia ir embora sem avisar Leon; e se ele morrer procurando por ela...
Decidida, Claire foi até a porta, procurando movimento nas sombras. Chegando lá, fechou os olhos por um
segundo, a mão suada na fechadura.
"Eu vou conseguir". Ela disse. Apesar de não ter parecido confiante como queria, sua voz não tremeu. Ela abriu
os olhos, depois a porta; quando nada saiu do escuro corredor, ela entrou.
[8]
O Chefe da polícia, Brian Irons, estava parado em um de seus corredores particulares, tentando recuperar o
fôlego, quando sentiu um tremendo impacto no prédio. Ele o ouviu, também - ouviu algo. Um distante som,
pesado e brutal.
O telhado. Ele pensou. Algo no telhado...
Ele não se preocupou em tirar conclusões. Seja lá o que for, não tornará as coisas piores.
Irons se afastou da parede de pedra e ergueu Beverly o mais gentilmente possível. Eles estarão no elevador em
um minuto, depois uma pequena caminhada até o escritório; ele pode descansar lá, e depois -
"E depois,". Ele resmungou. "essa é a questão, não é?. Depois o que?".
Beverly não respondeu. Seus traços perfeitos permaneceram parados, seus olhos fechados - mas ela parecia se
aconchegar com ele, seu longo e magro corpo perto do peito dele. Devia ser sua imaginação...
#
Beverly Harris, a filha do prefeito. Bela e jovem Beverly, que, com sua beleza loira, já assombrava os sonhos
culposos de Brian. Ele a segurou e continuou indo para o elevador, tentando não demonstrar exaustão caso ela
acorde.
Seus braços e costas estavam doendo quando chegou no elevador. Ele deveria tê-la deixado em sua sala de
hobby, a sala a qual sempre considerou como um Santuário - era clamo lá, e provavelmente um dos lugares mais
seguros da delegacia. Quando ele decidiu voltar para o escritório, pegar seu diário e outros itens pessoais, ele
percebeu que simplesmente não podia deixá-la para trás. Ela parecia tão vulnerável, tão inocente; ele tinha
prometido a Harris de que cuidaria dela; e se ela fosse atacada em sua ausência? E se ele voltar e ela não estiver
lá?
Uma década de trabalho. Fazendo conexões, se posicionando... tudo isso, desse jeito.
Irons a pôs no frio chão e abriu as grades, tentando não pensar no que perdeu. Beverly era o mais importante
agora.
"Te dar segurança". Ele disse. Por acaso ela mexeu a boca, sorrindo? Será que ela sabe que está a salvo com o
tio Brian? Quando ela era criança, quando ele visitava a família Harris para jantar, ela o chamava assim. "Tio
Brian".
Ela sabe. Claro que sabe.
Ele a colocou no elevador, olhando seu angelical rosto. Ele foi pego subitamente por uma onda de amor paterno,
e não ficou surpreso ao sentir lágrimas nos olhos, lágrimas de orgulho e afeição. Nos últimos dias, ele tem sido
alvo das emoções - raiva, terror, até mesmo alegria. Ele nunca foi um homem emotivo, mas teve que aprender a
conviver com os sentimentos; pelo menos não eram confusos.
Chega deles, nada mais pode dar errado agora; Beverly está comigo, e uma vez pegas as minhas coisas, nos
esconderemos no Santuário e descansaremos. Ela precisará de tempo para se recuperar.
Ele piscou as esquecidas lágrimas assim que a jaula de metal começou a subir, checando a arma para ver
quantas balas restavam. Sua sala subterrânea era segura, mas o escritório era outra história; ele quer estar
preparado.
O elevador parou e Irons abriu a grade com o pé antes de levantar a garota, gemendo com o esforço. Ele a
carregou como uma criança, sua cabeça caída para trás.
Ele apertou o botão na parede com o joelho. A parede deslizou para cima, revelando a aveludada decoração de
seu escritório sem; só os vazios olhares de seus animais empalhados o receberam.
A grande mesa de madeira que importou da Itália estava bem à sua esquerda, e sua força acabando; Beverly
era magra, mas ele não estava em forma, como antigamente. Ele rapidamente a colocou na mesa, empurrando
um porta-lápis com o cotovelo.
Ele tinha ficado preocupado quando a achou desacordada ao lado do Oficial Scott no corredor de trás; George
Scott estava morto, coberto de ferimentos. Ao ver a mancha vermelha no estômago dela, Irons achou que
também estivesse morta. Mas quando ele a levou para seu Santuário, ela cochichou para ele - que não se sentia
bem, que estava ferida, que queria ir para casa.
... não é? Não disse?
Irons franziu, tirado da incerta lembrança por algo, algo que sentiu quando a deitou na mesa e arrumou seu
vestido branco manchado de sangue, algo que não se lembrava. Não parecia importante, mas agora, longe da
segurança de seu Santuário, isso o estava incomodando. Lembrando-o de que sofreu um daqueles momentos
confusos quando ele, quando ele - senti os frios e moles intestinos entre meus dedos -
- quando ele a tocou.
"Beverly?". Ele cochichou, sentando na cadeira de sua mesa quando de repente sentiu suas pernas fracas.
Beverly continuou calada - e o turbulento dilúvio de emoções o acertou, lotando sua mente com imagens,
memórias e verdades que não queria aceitar; Recuar as barricadas depois dos primeiros ataques. A Umbrella,
Birkin e os mortos-vivos. O massacre na garagem. O crescente número de mortos na primeira e terrível noite - e
a brutal percepção de que sua cidade - já era.
Depois disso veio a confusão. A estranha alegria que veio ao perceber que não haverá conseqüências para seus
atos. Irons se lembrou do jogo que fez na segunda noite, depois que alguns bichinhos de Birkin acharam alguns
#
policiais. Ele achou Neil Carlsen escondido na biblioteca e... o caçou, perseguindo o sargento como um animal.
Qual seria o problema, já que a minha vida em Raccoon está acabada?
Tudo o que restava era seu Santuário - e a parte dele que ajudou a criar o lugar, a parte escura e gloriosa de seu
coração que sempre escondeu. Esta parte está livre agora...
Irons olhou para o corpo de Beverly e sentiu que pode ser destruído pelos sentimentos de medo e dúvida que
lutavam dentro dele. Irons a matou? Ele não conseguia se lembrar.
Tio Brian. Dez anos atrás, eu era o Tio Brian dela. Em que me tornei?
Era demais. Sem tirar os olhos do rosto sem vida de Beverly, ele tirou a VP70 carregada do coldre e começou a
esfregar o cano com os dedos, leves toques que o asseguraram enquanto a arma girava em sua direção.
Quando o cano foi pressionado contra sua macia barriga, ele sentiu que algum tipo de paz ficou ao seu alcance.
Seu dedo encostou no gatilho, e foi quando Beverly cochichou para ele de novo, os lábios dela parados, mas sua
leve e musical voz vindo do nada e de todos os lados ao mesmo tempo.
- não me deixe, Tio Brian. Você prometeu que me daria segurança, que cuidaria de mim. Pense no que você
pode fazer agora sem que nada o impeça.
"Você está morta". Ele sussurrou, mas ela continuou falando, suave e persistente.
... nada o impedirá de se realizar de verdade pela primeira vez na vida...
Torturado, Irons vagarosamente tirou a 9mm de seu estômago. Depois de um momento, ele descansou sua
testa no ombro dela e fechou os olhos.
Ela estava certa, ele não podia deixá-la. Ele tinha prometido - e ela disse algo sobre o que podia fazer. Sua mesa
de hobby era grande o bastante para acomodar qualquer tipo de animal...
Isso mesmo. Ele vai descansar e depois cuidará dos negócios; afinal, ele é o chefe da polícia.
Sob controle de novo, Brian Irons começou a dormir, a fria pele de Beverly em sua testa.
[9]
Graças a um furgão parado no beco, o atalho para a delegacia sofreu mudanças - uma quadra de basquete
infestada de zumbis, outro beco, um ônibus que fedia por causa dos mortos lá dentro. Foi um pesadelo, os
gemidos, o cheiro e a distante explosão que fez suas pernas tremerem. Apesar de tudo, Leon manteve a
esperança de que havia algum tipo de mobilização no R.P.D., com policiais e paramédicos - autoridades tomando
decisões e equipes organizadas. Não era uma esperança, era uma necessidade.
Quando ele finalmente saiu na rua em frente ao R.P.D. sentiu-se espancado vendo viaturas pegando fogo. Mas
foi a visão de zumbis policiais gemendo entre as chamas que acabaram com sua esperança. O R.P.D. tinha uma
equipe de cinqüenta ou sessenta policiais, e um terço deles estavam vagando ou mortos perto da entrada do
prédio.
Leon tentou esquecer o desespero, fixando seu olhar no portão do jardim. Tendo ou não alguém sobrevivido, ele
tinha que chamar ajuda - e achar Claire.
Ele correu para o portão, desviando dos zumbis uniformizados, abrindo e fechando o portão de metal. A pequena
área gramada à sua direita estava iluminada o bastante para ver que havia três ex-humanos lá, e que não
representavam ameaça. Ele pode ver as duas bandeiras que enfeitavam a entrada da delegacia, penduradas
sem se mover. A visão reconsiderou suas esperanças, pelo menos está num lugar que conhece e que deve ser
mais seguro do que na rua.
Leon correu entre o trio de zumbis - dois homens e uma mulher; todos pareciam normais se não fosse por seus
gemidos famintos. Devem ter morrido recentemente.
A porta de entrada não estava trancada; por tudo o que passou desde que chegou na cidade, Leon preferiu
manter suas expectativas no mínimo. Ele girou a maçaneta e entrou, de arma erguida e dedo no gatilho.
Vazio. Não havia sinal de vida no grande e velho saguão do R.P.D. - e nenhum sinal do desastre que tomou conta
de Raccoon. Leon fechou a porta e desceu os degraus para o piso mais baixo.
#
"Olá?". Leon disse baixo, e o som ecoou de volta com um suspiro. Tudo parecia do mesmo jeito; três andares de
clássica arquitetura em madeira e mármore. Havia a estátua de uma mulher segurando um vaso no ombro bem
no meio do lugar, uma rampa de cada lado levando à recepção e o logotipo do R.P.D. no chão em frente ao
suave brilho da estátua, proveniente das arandelas na parede.
Sem corpos, sem sangue... nem um cartucho de bala. Se houve um ataque aqui, onde diabos estão as provas?
No profundo silêncio do lugar, Leon subiu a rampa da esquerda, parando no balcão da recepção, curvando-se
sobre ele; tudo no lugar. Tinha um telefone na mesa sob o balcão. Leon pegou o receptor e o colocou entre a
cabeça e o ombro, tocando os botões com os dedos. Nem discava; tudo o que ouvia era o som de seu próprio
coração.
Ele virou para a sala vazia, decidindo por onde começar. Ele recebeu um memorando do R.P.D. semanas atrás,
dizendo que as salas seriam mudadas. Mas isso não importava; os policiais não se preocupariam em ficar ao lado
de suas mesas nessa situação.
Haviam três portas no saguão que davam em diferentes lugares da delegacia; duas no lado oeste e uma no
leste. Das duas no lado oeste uma leva a uma série de corredores para a parte de trás do prédio, depois da sala
de arquivos e da sala de pronunciamentos; a segunda dava num escritório e armários, que então leva às escadas
para o segundo andar. O lado leste do primeiro andar era primeiramente para os detetives - escritórios,
interrogatórios e sala de entrevistas; tinha também acesso ao subsolo e escadas no lado de fora.
Claire provavelmente veio pela garagem... ou pelo telhado.
Ou então ela contornou o prédio e veio pelo mesmo lugar que ele - se ela conseguiu chegar aqui, pode estar em
qualquer lugar. E considerando que o R.P.D. ocupa quase um quarteirão, ainda tinha muito chão pela frente.
Ele optou pela segunda porta do lado oeste, onde seu armário estaria.
Leon entrou devagar, esperando ver as mesmas condições do saguão; silêncio e organização. Mas o que viu
confirmou seus medos: as criaturas estiveram lá - com a vingança.
A longa sala estava arrasada, mesas e cadeiras jogadas e derrubadas em todo canto. Borrões de sangue
decoravam as paredes, rastros do mesmo em poças no chão, indo em frente.
"Meu Deus -".
Um policial estava sentado contra os armários à sua esquerda, suas pernas esticadas, meio escondidas pela
mesa virada. Ao som da voz de Leon, ele fracamente ergueu o braço, apontando vagamente uma arma na
direção de Leon - e a abaixou de novo, parecendo exausto com o esforço. Seu peito estava pintado de sangue,
suas expressões cheias de dor. Leon se abaixou ao lado dele em dois passos, gentilmente tocando seu ombro.
Ele não via o ferimento, mas tinha tanto sangue que a gravidade era óbvia -
"Quem é você?". O policial suspirou.
Eles nunca foram apresentados, mas Leon já o viu antes. O jovem policial afro-americano se chamava Marvin
Branagh...
"Eu sou Leon S. Kennedy. O que aconteceu aqui?".
"A cerca de dois meses," Marvin disse, "os assassinatos canibais... o S.T.A.R.S. encontrou zumbis na mansão da
floresta...".
Ele tossiu e Leon começou a dizer para descansar, mas Marvin parecia determinado a contar a história.
"Chris e os outros descobriram que a Umbrella estava por trás de tudo... arriscaram suas vidas, mas ninguém
acreditou... depois isto".
Chris... Chris Redfield, o irmão de Claire.
Leon sabia algo sobre o problema com o S.T.A.R.S. ele só ouviu trechos da história - a suspensão do grupo de
ações táticas especiais e resgate, após serem acusados de má conduta, foi o motivo da contratação de novos
policiais.
Ele até leu o nome dos membros num jornal, listados juntos com alguns de seus recordes.
- e a Umbrella destrói a cidade. Algum tipo de vazamento químico que tentaram esconder se livrando do
S.T.A.R.S. -
Tudo isso saia de sua mente até que Marvin tossiu de novo, mais fraco.
"Agüenta aí". Leon disse, procurando algo para estancar o sangramento. Ele achou uma camiseta no armário
atrás do policial e a enrolou, pressionando contra o estômago de dele. O próprio policial segurou-a com as mãos,
fechando os olhos enquanto falava novamente.
"Não se preocupe comigo. Há... você deve tentar salvar os sobreviventes...".
#
Leon balançou a cabeça, querendo negar a verdade, querendo fazer algo para aliviar a do de Marvin - mas ele
estava morrendo, e não podia chamar ajuda.
"Vá". Marvin disse, ainda de olhos fechados.
Ele estava certo, Leon não podia fazer mais nada - e não conseguiu se mover por um momento - até Marvin
erguer sua arma de novo, apontando-a para Leon numa erupção de energia que aumentou sua voz num grito.
"Vá!". O policial ordenou e Leon se levantou.
"Eu voltarei". Leon disse firmemente, o braço de Marvin já caindo.
Leon voltou para a porta, respirando fundo e aceitando a mudança de plano que pode acabar o matando - mas
que não podia evitar. Ele era um policial. Se houvessem sobreviventes, é sua civil e moral conduta ajudá-los.
Tem um depósito de armas no subsolo, perto da garagem. Leon abriu a porta e voltou para o saguão, rezando
para que o depósito esteja bem equipado - e que haja alguém para salvar.
[10]
Depois do ardente telhado, Claire cruzou um zigue-zagueado corredor cheio de cacos de vidro no chão - e depois
de um policial morto no chão, seu medo sobre a segurança da delegacia aumentou. Ela pulou o corpo e continuou
andando. Uma fraca brisa passou pelas janelas quebradas que decoravam a parede externa, dando vida à
escuridão; haviam brilhantes penas pretas junto às marcas de sangue no chão, que fizeram Claire mirar o
revólver a cada suave balanço.
Ela passou por uma porta que dava nas escadas externas do lugar, mas continuou andando, virando à direita. O
modo como o helicóptero acertou o prédio perturbou Claire, inspirando visões da velha delegacia pegando fogo.
Só faltava essa...
Cadáveres e marcas de sangue nas paredes; Claire não estava feliz com a idéia de vagar pela delegacia. E mais,
tiros não são tão eficientes; ela precisa ver o quanto ruim está a situação antes de procurar Leon.
O corredor terminava numa porta. Claire a abriu - e recuou assim que a nuvem de fumaça passou por ela, o
cheiro de metal e madeira queimados no ar. Ela se agachou e deu uma espiada no corredor que ia para a direita.
Mais para frente ele virava à direita de novo, e ainda assim não se podia ver o fogo; sua brilhante luz alaranjada
refletia nas paredes cinzas.
Droga. O que foi agora?
Havia outra porta diagonalmente de sua posição, a alguns passos; Claire respirou fundo e andou abaixada para
evitar a fumaça, esperando achar um extintor de incêndio - e que fosse suficiente.
A porta dava numa sala de espera vazia - sofás de vinil verdes, um balcão de canto e uma porta no outro lado. A
pequena sala parecia intocada, clama e quieta, igual aos outros lugares que passou essa noite - só que não havia
sinais de desastre nas suaves sombras criadas pelas fluorescentes acima. Nenhum zumbi morto no chão de
madeira escura e nenhum espirro de sangue nas paredes cor de creme.
E nenhum extintor...
Nenhum à vista. Ela fechou a porta e foi até o balcão, levantando a tampa de entrada com o cano da arma.
Tinha uma velha máquina de escrever no balcão - e perto de um telefone. Claire o pegou esperançosa, mas só
ouviu silêncio. Suspirando, ela se abaixou para ver as prateleiras sob o balcão. Uma agenda, papéis - e meio
escondido entre uma bolsa, o familiar cilindro vermelho, com uma fina camada de pó.
"Aí está você". Ela sussurrou, guardando a 9mm no colete e levantando o extintor. Ela nunca usou um antes,
mas parecia fácil - uma alavanca de metal com um pino de segurança e um bocal de borracha preto. Pelo peso
parecia estar cheio.
Respirando várias vezes e armada com o extintor, Claire abriu a porta e voltou para o corredor. A fumaça tinha
se intensificado, acumulando-se no teto.
Ela fez a curva e viu destroços queimando no fim do corredor, sentindo-se aliviada e triste ao mesmo tempo. O
fogo não era tão grande quanto pensava. As chamas se estendiam até uma porta de madeira destruída. Era o
#
nariz do helicóptero que chamou sua atenção - a ardente cabine - e o ardente corpo do piloto ainda preso no
assento, sua boca queimada bocejando como um grito silencioso. Não dava para saber se era homem ou mulher.
Claire tirou o pino e mirou o cano nas chamas. Ela apertou a alavanca e um jato de neve espirrou, acertando os
destroços com uma nuvem. Mal vendo através da fumaça, ela direcionou o jato sobre tudo. Dentro de um
minuto, o fogo pareceu ter acabado, mas ela continuou usando o extintor até acabar.
A última tossida de gás veio e Claire soltou a válvula, suspirando algumas vezes, procurando algum foco que
tenha passado despercebido. Nenhuma chama, mas a porta de madeira ao lado da cabine ainda soltava filetes de
fumaça. A área em volta da porta já foi arrebentada e Claire decidiu arriscar. Ela recuou e deu um sólido chute na
porta, mirando perto das dobraduras.
A porta abriu com um crack, a madeira carbonizada desfazendo-se em uma chuva de cinzas. Algumas caíram em
suas botas, mas Claire rapidamente levantou a arma, ainda as sacudindo, mais assustada com o que pode estar
esperando do outro lado.
Um curto e vazio corredor tinha seu começo cheio de pedaços de madeira queimados, e uma porta ao fundo, à
esquerda. Claire foi até lá, tanto para respirar ar puro quanto para ver onde dava.
A porta seguinte estava destrancada. Claire a abriu, pronta para atirar em qualquer -
- e parou, chocada com a bizarra atmosfera da sala. Era como uma sátira de um clube de homens dos anos
cinqüenta, um grande escritório decorado com uma extravagância beirando o ridículo. As paredes tinham grandes
estantes de mogno e mesas cercando uma espécie de área de descanso, feita com acolchoadas cadeiras de
couro e uma mesa de mármore, tudo sob um provável tapete oriental. Um elaborado lustre vinha do teto,
jogando uma melodiosa luz sobre tudo. Quadros e delicados vasos estavam por toda parte - mas seus clássicos
designs eram ofuscados pelas empalhadas cabeças de animais e pássaros que dominavam um canto, ao lado de
uma grande mesa -
- Oh, Jesus -
Deitada na mesa, como a personagem de uma história de terror, estava uma bonita e jovem mulher de vestido
longo e branco, seu abdômen tomado por sangue. Era como um enfeite, sendo olhado pelos animais empalhados
- tinha um falcão que parecia estar voando, cabeças de alce e veado. O efeito foi tão pavoroso que por um
momento Claire não respirou -
- foi quando a alta poltrona atrás da mesa girou de repente. Claire mal conteve o grito de terror, esperando ver a
Morte sorrindo para ela. Mas era um homem - com uma arma apontada para ela.
Pela segunda vez hoje...
Por um segundo, ninguém se moveu - então o homem abaixou a arma, um sorriso amarelo surgindo em seu
gorducho rosto.
"Eu sinto muito," ele disse, sua voz tão oleosa quanto a de um político ruim. "pensei que você fosse um daqueles
zumbis".
Ele alisava seu cheio bigode enquanto falava. Apesar de Claire nunca tê-lo conhecido, ela subitamente sabia quem
ele era, Chris já tinha falado sobre ele.
Gordo, bigode - era o chefe da polícia, Brian Irons.
Ele não parecia bem. De fato, parecia desconectado da realidade.
"Você é o chefe Irons?". Ela perguntou, tentando parecer agradável ao se aproximar da mesa.
"Sim, sou eu, e quem é você?".
Antes de ela falar, Irons continuou calmamente, confirmando a suspeita de Claire com o que disse depois - em
seu tom petulante. "Não, não se preocupe em me dizer. Não fará diferença. Você acabará como todos os
outros...".
Ele parou, olhando para o corpo à sua frente, com uma emoção que Claire não podia decifrar. Ela sentiu-se mal
por ele, ao contrário do que Chris disse sobre sua personalidade podre e incompetência profissional; só Deus sabe
que horrores ele presenciou, ou o que teve de fazer para viver.
Leon e eu entramos nesse terror há alguns minutos; Irons já estava aqui, provavelmente vendo seus amigos
morrendo.
Ele olhou para o corpo e falou, sua voz triste e pomposa ao mesmo tempo.
"É a filha do prefeito. Eu deveria cuidar dela, mas falhei miseravelmente...".
Claire procurou palavras de conforto, querendo dizer que tinha sorte por estar vivo, que não foi sua culpa - mas
ele continuou lamentando, as palavras dela morrendo na garganta, junto com a dó.
#
"Olhe para ela. É linda, sua pele perfeita. Mas logo apodrecerá... e em uma hora se tornará uma daquelas coisas.
Bem como os outros".
Claire não queria tirar conclusões, mas sua descrição e olhar faminto a fizeram se arrepiar. O jeito que ele olhava
para a garota morta -
- você fica imaginando coisas. Ele é o chefe da polícia, não um pervertido lunático. Ele é o único vivo que
encontrou. Peça informações!
"Deve haver um jeito de parar...". Claire disse gentilmente.
"Sim... uma bala no cérebro - ou decapitação".
Ele finalmente desviou o olhar do corpo, mas não para Claire. Ele olhou para os bichos ao lado de sua mesa, sua
voz adquirindo um tom alegre.
"Em pensar que - taxidermia costumava ser o meu hobby. Não mais...".
Os alarmes de Claire dispararam. Taxidermia? O que diabos um corpo humano fazia na mesa dele?
Irons finalmente olhou para Claire, que não gostou nem um pouco. Ele olhava em seu rosto mas não parecia
enxergá-la. Ocorreu-lhe que ele não havia perguntado como chegou lá, ou sobre a fumaça que entrou no
escritório. E o jeito que falava sobre a filha do prefeito... nenhuma dor real, só auto-piedade e algum tipo de
admiração.
Oh, Deus, ele não está só abalado, ele está em outro planeta -
"Por favor,". Irons disse. "eu queria ficar sozinho agora".
Ele se acomodou na cadeira e fechou os olhos, parecendo exausto. Tão simples assim, ela foi dispensada,
mesmo com milhões de perguntas - muitas delas que ele poderia responder - mas ela achou melhor só sair de
perto dele, pelo menos agora -
Houve um suave som atrás dela, à esquerda, tão baixo que ela não tinha certeza se realmente o ouviu.
Claire virou, franzindo, e viu outra porta no canto da sala. Ela não a tinha visto antes - e aquele som veio de lá.
Outro zumbi? Ou alguém se escondendo...?
Ela olhou para Irons que nem se moveu.
Então - volto por onde vim, ou vejo o que tem atrás da porta?
Leon - ela tinha que achá-lo e Irons não parecia querer unir forças. Mas se houver outra pessoa no prédio que
precise de ajuda ou possa ajudar...
Não vai demorar. Ela olhou para Irons, perto do corpo da filha do prefeito, cercado por seus animais sem vida;
Claire foi até a segunda porta, esperando não estar cometendo um erro.
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*Taxidermia - Arte de empalhar animais.
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[11]
Sherry tem se escondido por um longo na delegacia, uns três ou quatro dias, e ainda não viu sua mãe. Nenhuma
vez, nem quando havia muita gente restando. Ela encontrou a Sra. Addison - uma das professoras da escola -
logo depois de chegar lá, mas ela já estava morta. Um zumbi a comeu. Não muito depois disso, Sherry achou um
tubo de ventilação que cobre quase todo prédio, e decidiu que se esconder era mais seguro do que ficar com os
adultos - porque eles morriam, e porque havia um monstro na delegacia bem pior que os zumbis e os homens do
avesso. Ela tinha certeza que esse monstro a procurava. Era idiotice, ela nunca pensou que monstros
perseguissem uma única pessoa - mas ela também nunca pensou que monstros existissem.
Assim, Sherry vem se escondendo na sala de armaduras; ninguém morto lá e o único jeito de entrar - exceto o
tubo de ventilação atrás das armaduras - era passando por um longo corredor vigiado por um tigre gigante.
Empalhado, mas assustador - Sherry pensou que ele pudesse afugentar o monstro. Ela sabia que era besteira,
#
mas a fazia se sentir melhor.
Sendo que os zumbis tomaram conta da delegacia, ela passou a maior parte do tempo dormindo. Assim, ela no
pensava no que aconteceu com os pais ou o que vai acontecer consigo mesma. O tubo de ventilação era quente
e tinha muita comida na máquina de doces, escada abaixo - mas ela estava assustada, e pior que isso, sozinha.
Ela dormia atrás das armaduras quando houve um tremendo barulho lá fora. Ela estava certa que era o monstro;
Sherry só o viu uma vez antes, suas grandes e terríveis costas, pela grade de metal - desde então, ela o ouviu
gritar pelo prédio várias vezes. Ela sabia que ele era mau, mau, violento e faminto.
Às vezes ele desaparecia por horas, fazendo Sherry pensar que tinha ido embora - mas sempre voltava, não
importa onde ela estava, mas sempre parecia surgir por perto.
O barulho que a tirou do sono parecia o de um monstro quebrando as paredes, fazendo-a correr para seu
esconderijo caso o som se aproxima, mas não se aproximou. Por um longo tempo não se moveu, segurando seu
amuleto da sorte - um bonito colar de ouro que sua mãe havia lhe dado semana passada, tão grande que
preenchia toda sua mão. Como antes, ele funcionou; o horrível barulho não se repetiu. Ou talvez o tigre cumpriu
seu papel. Mesmo assim, quando ouviu suaves passos no escritório, Sherry sentiu-se segura o bastante, para ir
até o corredor e escutar. Os zumbis e homens do avesso não podiam abrir portas. Se fosse o monstro, já teria
vindo para ela.
Tem que ser uma pessoa. Talvez mamãe...
Na metade do corredor onde virava à direita, ela ouviu pessoas falando no escritório, sentindo um estouro de
esperança e solidão ao mesmo tempo. Ela não sabia o que falavam, mas pela primeira vez em dois dias ela ouviu
alguém que não gemesse. Podia ser a ajuda que finalmente chegou a Raccoon.
O exército, marinha, talvez todos eles...
Curiosa, ela correu para a porta de frente para o tigre, quando as vozes pararam. Sherry ficou imóvel.
Se a ajuda veio, porque não ouvia os caminhões e aviões? Não haveria tiros, bombas e alto-falantes alertando
para que todos saíssem?
Talvez sejam vozes de pessoas más; loucas como aquele homem...
Não muito depois que Sherry começou a se esconder, ela viu uma coisa terrível pela grade da sala de armários.
Um homem de cabelo vermelho estava lá, falando sozinho, balançando para frente e para trás numa cadeira. No
começo, Sherry pensou em chamá-lo para ajudar, mas o modo como falava, sorria e balançava, a deixou
desconfiada. Então ela o observou por um tempo. Ele segurava uma grande faca, e depois de um longo tempo,
ainda rindo, resmungando e balançando, ele se esfaqueou no estômago. O homem a tinha assustado mais do
que os zumbis, porque não fazia sentido. Ele era louco e se matou, e ela engatinhou de volta, chorando, porque
não fazia sentido.
Se as pessoas no escritório são boas, elas podem querer tirá-la de seu esconderijo e tentar protegê-la - e isso
significaria sua morte, porque o monstro certamente não tinha medo de adultos.
Parecia ruim ter que voltar, mas não tinha outra escolha. Sherry começou a voltar para a sala de armaduras
quando -
Crack!
- ela congelou assim que a madeira do chão rangeu. O som pareceu incrivelmente alto e ela prendeu a
respiração, agarrando seu colar e rezando para que a porta não abrisse, que nenhum maluco aparecesse - e a
pegasse.
Ela não ouviu mais nada, mas achou que as batidas do seu coração a denunciariam, era tão alto. Depois de dez
segundos ela continuou andando, na ponta dos pés como se estivesse num ninho de cobras. Ela tinha que usar
toda sua força para não correr até a curva - uma coisa que ela aprendeu nos filmes era que, correr do perigo
sempre significava uma morte horrível.
Quando ela finalmente chegou à porta, sentiu-se aliviada e só queria pegar o cobertor que a Sr. Addison achou e -
A porta do escritório abriu, abriu e fechou. Um segundo depois, passos. Indo para ela.
Sherry voou pela sala, não pensando um mais nada por causa do pânico. Ela passou pelos três cavaleiros,
esquecendo seu lugar seguro. Tudo o que queria era ir o mais longe possível. Havia uma escura e pequena sala
sem porta depois da caixa de vidro no meio da sala -
- e ela ouviu os passos correndo atrás dela. Sherry se abaixou entre os tijolos da lareira e tentou se encolher,
abraçando os joelhos e escondendo o rosto. A escuridão da sala do fundo era tudo o que precisava.
Por favor, por favor, por favor, não apareça, não me veja, eu não estou aqui.
#
Os passos entraram na sala das armaduras e mais calmos, hesitantes, passando pela caixa de vidro. Sherry
pensou em seu tubo de ventilação, que a levaria embora, e segurou as lágrimas de arrependimento. A sala da
lareira não tinha saída.
Os passos se aproximaram da sala que Sherry estava. Ela prometia fazer qualquer coisa caso o estranho fosse
embora -
Thump. Thump. Thump -
De repente a sala se iluminou, o leve click do interruptor sobre o choro de Sherry. Ela não agüentou, se levantou e
correu, gritando, esperando chegar até o tubo de ventilação quando -
- uma quente mão segurou seu braço, apertado. Ela gritou de novo, puxando o mais forte que podia, mas o
estranho era forte -
"Espere!". Era uma mulher.
"Me deixe ir". Sherry choramingou, mas a mulher continuou segurando, puxando.
"Calma, calma - eu não sou um zumbi, fique calma, está tudo bem -".
A voz da mulher soou mais gentilmente. A doce e musical voz repetiu-se de novo e de novo.
"- calma, está tudo bem, eu não vou te machucar, você está segura agora".
Sherry finalmente olhou para a moça, e viu o quanto bonita era, o quanto seus olhos eram preocupados e
simpáticos. Sherry parou de tentar fugir e sentiu as quentes lágrimas em seu rosto. Ela instintivamente abraçou a
bonita jovem - e a moça retribuiu, seus finos braços em volta dos trêmulos ombros de Sherry.
Sherry chorou, deixando a mulher acariciar seu cabelo e dizer palavras tranqüilizantes - pelo menos o pior acabou.
Por mais que quisesse cair nos braços da moça e esquecer os medos, acreditar que estava a salvo, ela sabia que
não dava. Além, disso, ela não era mais um bebê; fez doze anos mês passado.
Sherry se afastou da mulher e secou os olhos, olhando para a estranha. Ela não era velha, por volta dos vinte, e
tinha roupas legais - botas, shorts vermelho de tecido grosso e um colete do mesmo conjunto, sem mangas. Seu
cabelo castanho era amarrado para trás, e quando sorriu, parecia uma atriz de cinema.
"Meu nome é Claire. Qual é o seu?".
Sherry se envergonhou de repente, por ter corrido de uma pessoa tão boa. Seus pais diziam que agia como um
bebê, que era "muito imaginativa", e aqui está a prova; Claire não iria machucá-la.
"Sherry Birkin". Ela disse e sorriu, esperando que Claire não fosse má para ela; ela não parecia brava, e sim
agradecia pela resposta.
"Você sabe onde estão seus pais?". Claire perguntou.
"Eles trabalham no laboratório químico da Umbrella". Sherry respondeu.
"Laboratório químico... então o que você está fazendo aqui?".
"Minha mãe ligou e me disse para vir aqui. Ela disse que é muito mais perigoso ficar em casa".
Claire acenou. "Pelo que parece, ela estava certa. Mas aqui também é perigoso...".
Claire franziu pensativamente, depois sorriu de novo. "É melhor você vir comigo".
Sherry balançou a cabeça, pensando em como explicar que não era uma boa idéia, que era uma idéia muito ruim.
Ela não queria ficar sozinha, mas não seria seguro ir.
Se eu for e o monstro nos achar...
Claire morreria. Apesar de ser magra, Claire não caberia no tubo de ventilação.
"Tem algo aqui". Sherry finalmente disse. "Eu vi, é maior que os zumbis. E quer me pegar".
Claire balançou a cabeça, abrindo a boca para dizer algo quando um terrível e furioso som encheu a sala, ecoando
em violentas ondas de algum lugar do prédio. Por perto.
"Rrraaahh - ".
Sherry sentiu seu sangue virar gelo. Claire arregalou os olhos, pálida.
"O que foi aquilo?".
Sherry recuou, ofegante, mentalmente correndo para o tubo de ventilação atrás das armaduras.
"É disso que eu estava falando". Ela disse, e antes que Claire pudesse pará-la, ela virou e correu.
"Sherry!".
Sherry ignorou o apelo e continuou. Ela se pôs de joelhos sobre o pedestal, colocou a cabeça e se arrastou para
dentro do buraco no rodapé da parede.
Sua única chance, a única chance de Claire, era que ficasse o mais longe possível. Talvez se encontrem de novo
quando o monstro se for.
#
Assim que Sherry engatinhou pelo apertado e escuro tubo, esperou que não fosse muito tarde.
[12]
Ada sentou na cadeira da desarrumada mesa do chefe dos detetives, descansando seus pés doloridos e olhando
cegamente para o cofre vazio no canto da sala. Sua paciência estava se esgotando. Primeiro a amostra do
G-virus, agora Bertolucci, que também não foi encontrado. Ela passou pela sala de descanso, o escritório do
S.T.A.R.S., a biblioteca - todos os lugares onde o repórter teria fácil acesso. E gastou dois clips inteiros para isso.
O problema não foi 23 balas, foi o tempo perdido e sem resultados - exceto por ter matado mais alguns zumbis.
E duas aberrações híbridas da Umbrella.
Ada tremeu, lembrando da contorcida carne vermelha e gritos das criaturas que matou na sala de entrevistas.
Trent alertou sobre os Tyrants modi-ficados - que agradecidamente ainda não apareceram - mas os sanguinários
linguarudos com garras eram uma afronta à suas sensibilidades. E são muito mais difíceis de matar que os
zumbis. Se eles foram produtos do T-virus, ela deverá rezar para que Birkin não tenha feito nada com o novo.
Segundo Trent, a série G ainda não foi usada, e deve ser duas vezes mais potente...
Ada soltou a imaginação. O escritório não era tão inspirante para descansar, mas pelo menos não tinha sangue.
De porta fechada, ela mal sentia o cheiro dos policiais lá fora. Eles já estavam bem afetados quando ela os
matou, o estágio que aparentemente precede o colapso total.
O problema não é senti-los. Meu cabelo e roupas já absorveram o maldito cheiro.
Ela sabia para que servia o T-virus, mas eles não pensaram em pesquisar os efeitos físico-químicos. Quem se
importa? Ela não tinha motivos para acreditar que a Umbrella infectaria sua própria cidade. Ela estava recebendo
várias informações sobre o funcionamento do vírus, mas seria bom saber como ele modifica a mente humana.
Ela só podia tentar adivinhar através de suas observações.
Pelo que parece, leva algumas horas para alguém infectado virar um zumbi. Às vezes, a vítima passa por uma
febre-coma antes, que provavelmente queima partes do cérebro - e pareciam estar acordando da morte em
busca de carne fresca logo depois. Os sintomas eram os mesmos para todos, mas não a velocidade do
processo; ela viu uns três casos em que a vítima virou zumbi alguns momentos após ser infectada, o estágio que
ela chamou de "catarata". Apesar de a deterioração física começar imediatamente, alguns caem aos pedaços
mais rápido do que outros.
... e por que você está pensando nisso? Seu trabalho não inclui achar a cura?
Ela suspirou, curvando-se para coçar os pés. Verdade. Mesmo assim, era algo para se considerar. Pensar em
ficar viva era cansativo; ela não podia fazer isso enquanto limpava os corredores. Ela estava descansando, e
precisava pensar em assuntos mais intrigantes.
E não são poucos... Trent, o que Bertolucci sabe ou deveria saber... o S.T.A.R.S. - e o que diabos aconteceu
com eles?
Pelos artigos que Trent incluiu no pacote de informações, ela sabia sobre a suspensão do grupo - e considerando
o que estavam investigando, não precisava ser gênio para ver que estavam na cola da Umbrella para revelar seu
segredo. A Umbrella já deve ter se livrado deles caso não tenham se escondido - e Ada tem que ver se Trent
participou da aventura do S.T.A.R.S..
Não que ela diria, mas Trent era um enigma. Ela só o encontrou uma vez, apesar de tê-la contatado para ir até
Raccoon, na maioria das vezes por telefone. Ela sempre se orgulhou da capacidade de ler as pessoas, mas não
sabia onde os interesses dele estavam, por que queria o G-virus ou que função exercia na Umbrella. Era óbvio
que tinha contatos lá dentro, ele sabia demais sobre a companhia - mas se era o caso, porque ele não pega sua
própria amostra e pede demissão? Contratar uma agente secreta era o ato de alguém querendo evitar
complicação - mas complicações do que?
Não é da minha conta...
Um bom princípio para se viver; ela também não era paga para investigar Trent. Mesmo que fosse, seria difícil;
#
ela nunca conheceu um homem tão sob-controle como Sr. Trent. Em todo contato que tiveram, ela percebeu
que ele ria por dentro, como se soubesse de um ótimo segredo - e ainda não demonstrou arrogância e
pretensão. Ele era frio, sua genialidade tão natural que ela mal se intimidou; ela não conseguiu decifrar os motivos
dele, mas já tinha visto aquele calmo humor antes - era a face do verdadeiro poder, de um homem com um
plano e meios de executá-lo.
Então a contaminação atrapalhou seus planos, sejam lá quais sejam? Ou ele já estava preparado...? Eu não
imagino o termo "pego de surpresa" no vocabulário de Trent...
Ada girou a cabeça vagarosamente antes de se calçar. O intervalo acabou, pois ela ainda tinha que procurar
Bertolucci em mais alguns lugares, antes de ir para o esgoto. Ela sabia que as persianas de segurança do primeiro
andar não eram tão sólidas assim; ela não quer se deparar com mais zumbis lá de fora.
Havia passagens "secretas" na asa leste e celas no subsolo, depois do estacionamento. Se achá-lo em algum
desses lugares, poderá concentrar-se em obter a amostra.
Ela decidiu começar pelo subsolo; ele não conseguiria achar os corredores escondidos. Pelo que ela leu sobre seu
trabalho, ele não era um repórter tão bom...
Ada saiu do escritório, os ventiladores de teto levando o cheiro de podre até ela. Devia haver sete ou oito corpos
lá, todos policiais...
... mas eu não tinha deixado cinco vivos da última vez?
Ada parou, olhando para o estreito corredor que levava às escadas de trás.
Havia cinco. Eu não estou no meu máximo, mas ainda posso contar.
Havendo ou não, os zumbis estavam invadindo e a Umbrella virá em breve caso ainda não tenha vindo. A
companhia não ignoraria esse problema. Já deve ter criado um plano *derrota segura e está enchendo a cabeça
da mídia com mentiras. Mas é claro que antes, eles devem recuperar a pesquisa de Birkin. Trent estava confiante
de que a Umbrella mandaria uma equipe para isso.
Uma equipe de humanos, tomara. Eu posso lidar com eles. Um Tyrant... eu não preciso disso.
Ada foi para o corredor do fundo da sala, à esquerda de onde estava. Foi na direção da porta que a levaria para
a escada do subsolo. Tyrant era o nome de uma série particular na pesquisa de armas biológicas da Umbrella,
uma série que incorpora as mais destrutivas aplicações do T-virus. De acordo com Trent, os cientistas da White
Umbrella - que trabalham nos laboratórios secretos - acabaram de iniciar os testes num tipo de humanóide
sanguinário, desenvolvido para caçar qualquer cheiro ou substância com a qual foi treinado. Um Tyrant avançado,
outra construção de carne infectada e ligamentos implantados - o tipo de coisa que podem mandar em busca do
G-virus...
Ada foi para o subsolo, tentar achar o repórter.
Leon estava no saqueado depósito de armas do subsolo, ajustando seu coldre e pensando onde Claire estaria.
Pelo pouco que viu, a delegacia estava muito ruim. Fria, escura e cheirando mal, mas não tão perigosa quanto a
rua. Nem tanto para se agradecer, mas Leon vai tirar o máximo de proveito.
Ele matou três companheiros a caminho do subsolo - dois homens escada acima e uma mulher em frente ao
necrotério - a alguns metros da sala onde ficava o arsenal do R.P.D.. Entre os mortos e o número de armas
faltando, Marvin pode estar certo sobre haver sobreviventes.
Marvin Branagh... já deve estar morto. Será que virou zumbi? Se a Umbrella está por trás disso, deve ser algum
tipo de praga ou doença, afinal, eles são uma companhia farmacêutica - então, como se pega a doença? Pelo
contato ou pelo ar -
O pensamento de ser infectado pelos zumbis o fez suar. E se ele a pegou enquanto dirigia para cá?
Antes do pânico, ele ouviu sua mente dizer sobre a realidade - e a aceitação da realidade também, afugentando o
medo.
Se você está doente, está doente. Você pode comer uma bala antes de piorar. Se não está doente, sobreviverá
para contar aos seus netos sobre tudo isso. De qualquer jeito, não há nada que você pode fazer - exceto tentar
ser um policial.
--------------------------------------------------------------
*Derrota Segura - Método para impedir ataque atômico equivocado.
-------------------------------------------------------------- Leon concordou, suspirando. Em sua primeira busca pela sala,
#
houve desapontamento. Nenhum revólver e pouca munição nos armários - mas ele achou uma caixa de munição
para espingarda, e depois de um segundo procurando, ele descobriu uma calibre doze escondida atrás de
algumas caixas. Haviam alguns arreios de ombro para o modelo Remington pendurados na parede, tal como um
cinto de utilidade maior do que o que já usava; tinha até um bolso fundo o bastante para colocar os clips.
Com o último aperto no arreio, ele decidiu que seria melhor começar pelos lugares mais óbvios primeiro, cada
corredor de cada possível entrada. Primeiro ele voltará para o saguão e deixar uma mensagem no -
Bam! Bam! Bam!
Tiros, bem perto, e o eco dizia vir do corredor lá fora. Leon empunhou o revólver e correu para a porta, preciosos
segundos desperdiçados enquanto manejava a fechadura giratória.
O corredor estava deserto, exceto pelo guarda de trânsito no chão à sua direita. Para a direita ficava o
estacionamento, e Leon correu para lá, lembrando-se para ir com clama e não ser baleado por alguém
aterrorizado.
Vá devagar, olhe bem antes de se mover, identifique-se claramente -
O corredor virava à esquerda, e no final dele, estava a porta na parede do lado direito, aberta - e quando Leon
deu uma olhada no grande e aberto espaço, seu corpo encostou na parede, vendo algo que o fez esquecer do
atirador.
O cachorro. É o mesmo maldito cachorro.
Impossível - mas o caído e sem vida animal no meio de dois carros parecia o mesmo. Mesmo com o breve
avistamento que teve antes, o melequento demônio canino era igual àquele que o tinha jogado fora da estrada.
Sob as fluorescentes que iluminavam a garagem, Leon pode ver o quanto anormal ele era.
Nada parecia se mover, e nenhum som exceto o zumbido das luzes. Ainda segurando sua arma, Leon entrou na
garagem, determinado a olhar a criatura de perto - e viu um outro perto de uma viatura, aparentemente morto
como o primeiro. Ambos estavam no meio de uma poça vermelha de sangue.
Umbrella. Os ataques animais, a doença - há quanto tempo isso está acontecendo? E como conseguiram manter
isso escondido depois de todas aquelas mortes?
Mais confuso era o fato de Raccoon ainda não ter recebido ajuda; a Umbrella deve ter conseguido esconder seu
envolvimento nos assassinatos "canibais", mas como ela impediu as pessoas de pedir ajuda lá fora?
Esses cães, como cópias em carbono... outra coisa que a Umbrella fez em seus laboratórios?
Ele deu outro passo na direção das criaturas, não gostando das teorias de conspiração que estavam se formando
em sua mente, mas incapaz de ignorá-las. Do que ele menos gostava, eram das poças de óleo no chão de
cimento; pareciam enferrujadas, secas - e haviam muitas delas para contar. Ele se curvou para olhar de perto,
tão intrigado que só percebeu o tiro quando a bala ricocheteou no chão.
Bam!
Leon virou para a esquerda, erguendo a arma e gritando ao mesmo tempo -
"Pare de atirar!".
- e viu a atiradora abaixar sua arma, uma mulher de vestido vermelho e longas meias pretas, parada ao lado de
um furgão no final da garagem. Ela começou a ir até ele, suas pernas finas movendo-se suavemente, cabeça
erguida e ombros para trás. Parecia estar numa festa.
Leon sentiu uma onda de raiva, de como ela parecia clama após quase tê-lo matado - mas assim que se
aproximou, ele quis pedir desculpas. Ela era bonita, e parecia sentir prazer em vê-lo; uma visão bem vinda depois
de tanta morte.
"Desculpe-me por aquilo". Ela disse. "Quando vi o uniforme, pensei que fosse outro zumbi".
Mestiça, magra e alta, cabelo curto, liso e escuro. Sua acentuada voz contrastava estranhamente com seu olhar.
Seu frágil sorriso não combinava com os olhos amendoados que o examinavam cuidadosamente.
"Quem é você?". Leon perguntou.
"Ada Wong'. Aquele tom de novo. Ela inclinou a cabeça, ainda sorrindo.
"Eu sou Leon S. Kennedy". Ele disse reflexivamente, incerto sobre o que perguntar ou por onde começar. "Eu - o
que você faz aqui embaixo?".
Ada olhou para o furgão do R.P.D. que bloqueava a área das celas. "Eu vim para Raccoon em busca de um
homem, um repórter chamado Bertolucci; eu tenho motivos para crer que ele esteja em uma das celas, e acho
#
que ele pode me ajudar a achar meu namorado...".
O sorriso dela sumiu, o agudo, quase elétrico olhar achando o dele... "E acho que ele sabe tudo sobre o que
aconteceu aqui. Você me ajuda a empurrar o furgão?".
Se o repórter estiver trancado lá, poderá dizer algo; Leon quer conhecê-lo. Ele não confiava muito na história de
Ada, mas não imaginava porque mentiria. O lugar não é seguro, e ele estava procurando por sobreviventes,
como ela.
"Tá bom". Ele disse, sentindo-se pego pelos suaves modos dela. Parecia que ela tinha assumido o controle, uma
súbita mas proposital manipulação que a pôs no comando -
Não seja paranóico; mulheres fortes existem. E quanto mais pessoa encontrar, mais ajuda eu terei para procurar
a Claire.
Leon guardou a arma e foi atrás dela, esperando que o repórter estivesse lá - e que as coisas começassem a
fazer sentido o quanto antes.
[13]
Sherry Birkin se foi e Claire não conseguiu entrar no duto. Seja lá o que ou quem tinha gritado, não apareceu. Ela
devia estar se escondendo no duto por algum tempo; haviam embalagens abertas de doces e um velho lençol
perto da abertura, atrás de três armaduras.
Percebendo que Sherry não voltaria, Claire correu para a sala de Irons, esperando que ele pudesse dizer onde a
tubulação dava, mas ele tinha sumido - junto com o corpo da filha do prefeito.
Claire parou no escritório, sendo observada pelos olhos de vidro da mórbida decoração, e se sentiu incerta pela
primeira vez desde que chegou na cidade. Desviar de cães e zumbis, encontrar Leon e evitar o Chefe Irons
foram tarefas inclusas na busca por Chris. Nos poucos momentos entre encontrar aquela garotinha e aquele
estranho grito, suas prioridades mudaram dramaticamente. Havia uma criança nesse pesadelo, que acreditava
estar sendo seguida por um monstro.
Talvez esteja. Se Raccoon tem zumbis, por que não monstros? Droga, por que não vampiros ou robôs
assassinos?
Ela queria achar Sherry, mas não sabia por onde começar. Ela queria seu irmão, mas não sabia onde estava - e
ela começou a imaginar se ele sabia o que tinha acontecido na cidade.
Na última vez que conversaram, ele evitou falar sobre a suspensão do S.T.A.R.S., insistindo que não era nada
para se preocupar - que ele e os outros entraram em problemas políticos e tudo se resolveria. Ela estava
acostumada com a proteção dele, mas pensando melhor, ele não parece evasivo demais? E o S.T.A.R.S. estava
investigando os assassinatos canibais, não seria difícil conectá-los com a atual...
... o que quer dizer? Que Chris descobriu algo ruim e estava mantendo segredo?
Ela não sabia. Mas sabia que ele estava vivo, e que achar Sherry era mais importante no momento. Ruim como a
situação estava, Claire tinha defesas - ela tinha uma arma, pelo menos um pouco de maturidade emocional, e
depois de 8KM diários, estava em excelente forma. Mas Sherry não devia ter mais do que doze anos, parecia
frágil em todos os sentidos; pela sujeira em seu cabelo loiro e desespero em seus olhos azuis - Sherry inspirou
todos os sentidos protetores de Claire -
Thump!
Uma pesada vibração correu pelo teto, fazendo o lustre do escritório tremer. Claire olhou para cima
reflexivamente, apontando a arma. Não havia nada e o som não se repetiu.
Algo no telhado... mas o que fez aquele barulho? Um elefante caindo do céu?
Talvez fosse o monstro de Sherry. Claire não queria encontrá-lo, mas Sherry parecia certa de estar sendo
seguida...
... então achar o monstro para achar a garota? Não é o plano perfeito mas é tudo o que tenho.
Talvez seja Irons lá em cima. Ela não podia saber até verificar.
Claire virou e abriu a porta para o corredor de fora, onde tinha apagado o fogo. A fumaça diminuiu apesar de
ainda estar quente. Pelo menos nisso ela foi bem sucedida...
#
Claire saiu do corredor, virando os olhos para o que sobrou do piloto quando -
- Craa-ack!
- e ela congelou, ouvindo um massivo despedaçamento de madeira, seguido por poderosos passos de alguém
enorme andando pelo corredor, depois da curva.
Deve pesar uma tonelada, e Jesus, diga-me que não foi uma porta sendo destruída -
Claire olhou para o corredor do escritório, seus instintos dizendo para correr, seu cérebro dizendo que não tinha
saída, seu corpo paralisado entre os dois -
- quando o maior homem que já viu apareceu, escurecido pela fina fumaça do corredor. Ele vestia um longo
sobretudo verde-exército que só aumentava seu tamanho, tão alto quanto um jogador de basquete - bem mais
alto, e com uma cabeça proporcional. Um grande cinto de utilidade estava preso em sua cintura, e apesar de não
ver armas, ela pôde sentir a violência radiando dele em ondas invisíveis. Ela só conseguia ver a palidez no rosto
dele, a cabeça careca - e de repente, Claire estava certa de que ele era um monstro, um assassino usando luvas
pretas, cada uma do tamanho de um crânio humano -
Atire nele! Atire!
Claire mirou, mas hesitou, com medo de estar cometendo um terrível erro - até que ele deu um passo na direção
dela, ouvindo os cracks na madeira causados por seus pés de Frankenstein, e ela viu os olhos negros, negros e
corados com vermelho. Vazios, mas não cegos, o olhar dele achou o dela - e ele ergueu o punho, a ameaça
eminente.
- atireatireatire -
Ela apertou o gatilho, uma, duas vezes, e viu o impacto - um pedaço de tecido rasgou bem abaixo de sua
clavícula, o segundo tiro cortando um lado do pescoço -
- e ele deu outro passo, nenhuma expressão em seu rosto, o punho ainda erguido, procurando um alvo,
querendo esmagar -
- o escuro e enfumaçado buraco no pescoço não sangrava.
Droga
Numa onda de adrenalina, Claire apontou o revólver para o coração da criatura e atirou repetidamente, o gigante
dando outro passo, cruzando o fogo sem acovardar-se -
- e Claire perdeu a linha dos tiros, incapaz de acreditar que ele ainda se movia, a menos de três metros com as
balas acertando seu peito -
- e a arma clicou, vazia, na mesma hora que o monstro balançou de um lado para o outro como um prédio no
vento. Sem tirar os olhos dele, Claire pegou outro clip do colete e recarregou a arma, sua mente tentando
desesperadamente dar um nome à coisa.
Exterminador, O monstro de Frankenstein, Dr. Mal, Mr. X -
De qualquer modo as balas finalmente fizeram efeito. Silenciosamente, ele inclinou para a direita, caindo contra a
parede chamuscada, e permanecendo lá - sem tremer nem se mexer.
Estranho, isso é tudo, está morto, derrubado por seu próprio peso -
Claire não se aproximou, ainda mirando no gigante. Foi ele que gritou? Ela não achava.
"Morto, não importa". Claire cochichou. Precisava pensar no que ele significava - ele não era um zumbi qualquer,
mas o que então? Ela esvaziou um clip inteiro - será que alguém por perto ouviu? Ela deveria ficar onde estava?
A criatura que começou a chamar de Mr. X não estava respirando, seu corpo imóvel, seu rosto bem perto da
morte. Claire mordeu o lábio inferior, olhando para a ainda impossível criatura quando -
- ele abriu os olhos negros e brilhantes. Sem muita força, Mr. X levantou-se, bloqueando o corredor, suas mãos
erguendo-se de novo -
- e com um forte impulso, ele cortou o ar com a mão, seus longos braços bem na frente dela enquanto recuava.
O movimento foi suficiente para cravar o punho na parede, prendendo-o.
Eu, poderia ter sido EU -
Voltar para o escritório a deixaria cercada. Sem pensar mais, Claire correu, passando por Mr. X, seu braço direito
esfregando no pesado casaco dele, seu coração pulando uma batida quando o material a tocou.
Ela correu, virou à esquerda e desceu o corredor, tentando não ouvir Mr. X libertando a mão.
Jesus, o que é aquela COISA -
Ela voltou para a sala de espera, batendo a porta enquanto corria. Claire não pensava em outra coisa senão
correr mais rápido.
#
Ben Bertolucci estava na última cela, deitado na cama de metal pendurada na parede, roncando levemente.
Mantendo suas expressões cuidadosa-mente neutras, Ada deixou Leon acordá-lo. Ela não queria parecer ansiosa,
mas se havia algo que sabia sobre os homens era que eles são mais fáceis de lidar quando pensam estar no
controle. Ada olhou para Leon com a paciência que não sentia.
Eles tinham passado por um corredor vazio e um canil antes de achá-lo. Apesar do frio e úmido ar cheirando
sangue e podridão, eles não viram nenhum corpo - o que era estranho, já que Ada sabia o que tinha acontecido
na garagem. Ela pensou em perguntar a Leon o que tinha acontecido, mas decidiu que quanto menos falar
melhor; ele não devia se acostumar com a presença dela. Ela chegou a ver a tampa do bueiro no canil,
enferrujando num canto escuro, e agradecida por ver um pé-de-cabra ali perto. Com Bertolucci dormindo ali, Ada
sentiu que as coisas finalmente começaram a dar certo -
"Deixe-me adivinhar". Leon disse bem alto, batendo a arma nas barras de metal. "Você deve ser Bertolucci,
certo? Levante-se, agora."
Bertolucci suspirou e sentou-se devagar, esfregando a mão no queixo. Ada quis sorrir; ele estava mau - roupa
amarrotada, rabo de cavalo desarrumado.
Ainda de gravata. O coitado deve achar que isso o faz parecer um repórter...
"O que você quer? Eu estava tentando dormir aqui". Ele parecia nervoso, e de novo Ada teve que conter um
sorriso.
Leon olhou para Ada, parecendo incerto. "É ele?".
Ela acenou, percebendo que Leon o considerava um prisioneiro. A conversa esclareceria tudo, mas ela não queria
que Leon ouvisse demais; Ada precisa escolher bem as palavras.
"Ben, você disse aos oficiais da cidade que sabia o que estava acontecendo aqui, não foi? O que você disse a
eles?".
Bertolucci levantou e a encarou. "Quem diabos é você?".
Fingindo que não ouviu, Ada aumentou o desespero, mas só um pouco; ela não devia parecer uma coitada,
poderia contrariar o fato de ter sobrevivido todo esse tempo.
"Eu estou tentando achar um - amigo meu, John Howe. Ele trabalhava para uma divisão da Umbrella em Chicago,
mas desapareceu há alguns meses atrás - e eu ouvi dizer que ele está aqui, nesta cidade...".
Ela parou, vendo a expressão do repórter. Ele sabia de algo, sem dúvida - mas ela não achava que ele fosse
desistir.
"Eu não sei de nada". Ele disse, irritado. "e mesmo se eu soubesse, por que eu deveria dizer?".
Original. Se o policial não estivesse aqui, eu só daria um tiro no repórter.
Na verdade, ela não atiraria: Ada não estava lá para diversão. Ela podia usar um de seus métodos mais
persuasivos - se seu charme feminino não funcionar, uma bala no joelho ajudaria. Infelizmente, ela não podia
fazer nada com Leon por perto. Ela não tinha planejado esse encontro.
O policial não estava feliz com as respostas de Ben. "Tá bom, podemos deixá-lo aí". Leon disse, falando com
Ada, mas olhando bem irritado para Ben.
Bertolucci sorriu, tirando um anel redondo com as chaves da cela. Ada não se surpreendeu e Leon ficou mais
irritado.
"Por mim tudo bem". Bertolucci disse. "Eu não quero sair daqui mesmo. É o lugar mais seguro do prédio. Tem
mais do que zumbis por aí, acreditem em mim".
Pelo jeito que falou, Ada pensou em ter mesmo que matá-lo. As instruções de Trent foram claras - se o repórter
souber de alguma coisa sobre o trabalho de Birkin no G-virus, ele deve ser eliminado; por que, exatamente, ela
não estava certa, mas esta é a missão. Se ela pudesse ficar um momento a sós com ele, conseguiria descobrir o
quanto ele sabe.
Mas como? Ela não queria matar Leon; como regra, ela não mata inocentes - além disso, ela gostava de policiais.
"Ggrraaa!".
Um violento e inumano grito furou o silêncio. Ada girou o braço, mirando no portão que dava para o corredor. E
estava no subsolo -
"O que foi aquilo?". Leon disse. Ada esperava que ele soubesse a resposta. O eco do furioso grito não se
#
comparava à nada que ela já tinha ouvido - mesmo sabendo o que a Umbrella fazia, isso não era esperado.
"Como eu disse, eu não saio daqui". Bertolucci disse. "Agora vão embora antes que o tragam direto para mim!".
Covarde chorão -
"Olha, eu posso se o único policial vivo nesse prédio". Leon disse, a combinação de medo e força em sua voz fez
Ada olhar para ele. O olhar do policial estava fixado em Bertolucci, seus olhos azuis agudos e firmes.
"... e se você quiser viver, terá que vir conosco".
"Esqueça". Ben disse. "Eu vou ficar aqui até a cavalgaria chegar - e se forem espertos, farão a mesma coisa".
Leon balançou a cabeça. "E se eles demorarem dias para vir, é melhor acharmos um jeito de sair de Raccoon - e
você escutou aquele grito. Você quer ser visitado pelo que fez aquilo?".
Ela se impressionou; alguma criatura da Umbrella por aí e Leon tentando salvar um repórter inútil.
"Eu vou correr o risco". Disse Bertolucci. "e boa sorte para fugir, vocês vão precisar...".
O repórter foi até as barras, olhando entre elas, passando a mão no cabelo.
"Olha,". Disse suavemente. 'tem um canil lá atrás, com um poço no chão vocês podem chegar ao esgoto por lá,
deve ser o caminho mais rápido para fora da cidade".
Ada suspirou intensamente. Ótimo; revelou sua passagem secreta para o laboratório. Se ela correr de Leon
agora, vai levar uns cinco minutos para ele alcançá-la.
Você pode matá-lo se necessário. Ou... você o faz se perder nos esgotos e volta para Bertolucci.
Como o repórter, ela não queria ver a coisa que gritou - sendo que ele não vai fugir, enganar o policial é a melhor
saída.
O que eu não faço para evitar derramamento de sangue.
"Certo, eu vou verificar". Ela disse, e sem esperar a resposta de Leon, virou e correu.
"Ada! Ada, espere!".
Ela o ignorou, passando pelas celas e voltando para o corredor, aliviada por ainda estar vazio. Tudo poderia ser
mais fácil se ela tivesse matado os dois, mas a situação é diferente. Ela estava cansada de tantas mortes, e
cansada do que a Umbrella fez; ela não vai matar um policial, exceto se precisar.
E se ela precisar, será pela vida de um inocente ou pela finalização da missão?
Essa pergunta a disse mais sobre sua consciência do que queria admitir. Ela chegou na porta do canil; respirando
fundo e apagando qualquer emoção de sua mente, Ada entrou para esperar Leon S. Kennedy.
[14]
Tão bonita... mesmo morta, Beverly Harris era radiante. Irons não podia esperar que ela acordasse enquanto
olhava; ele a colocou cuidadosamente no gabinete de pedra debaixo da pia e trancou, prometendo que a tiraria
dali assim que tiver mais tempo. Ela se tornará o animal mais delicado que já transformou, posando eternamente
perfeita assim que prepará-la do modo certo... um sonho se realizando.
Se eu tiver tempo. Se houver tempo restando.
Ele sabia que estava sentindo pena de si mesmo de novo. Não tinha ninguém para dividir a magnitude de tudo o
que já sofreu. Ele se sentiu terrível - triste, bravo e sozinho - mas também sentiu que tudo ficou claro. Agora ele
sabia por que estava sendo perseguido.
Umbrella. Uma conspiração para me destruir, todo esse tempo...
Irons sentou na manchada mesa de seu san-tuário, seu especial e particular lugar, pensando em quanto tempo
levará para a jovem mulher aparecer.
A do corpo atlético que não disse seu nome. De certo modo, ela foi responsável por sua descoberta.
Ela o achará, claro; era uma espiã da Umbrella, a companhia que o tem observado por um tempo. Eles deviam
ter uma lista de todos os seus pertences, relatórios psicológicos e até cópias de suas contas bancárias. Tudo fazia
sentido, agora que tinha tempo para pensar; ele era o homem mais poderoso em Raccoon, e a Umbrella
designou sua queda.
#
Irons olhou para seus tesouros, as ferramentas e troféus que estavam nas estantes à sua frente, e não sentiu o
prazer que costumavam inspirá-lo. Os ossos polidos eram só algo para olhar enquanto sua mente trabalhava,
absorvida com a traição da Umbrella.
Anos atrás, quando ele passou a receber dinheiro da companhia para ficar cego sobre seus feitos, as coisas eram
diferentes; aí era só uma questão de política, achar uma boa posição na poderosa estrutura que controlava
Raccoon. E tudo funcionou bem por um longo tempo - sua carreira prosseguiu como previsto, ganhou o respeito
dos oficiais e cidadãos, e na maior parte, seus investimentos valeram a pena. A vida estava sendo boa.
Depois apareceu Birkin. William Birkin e sua neurótica esposa, e a filha.
Depois do que aconteceu na mansão de Spencer, ele quase se convenceu de que o S.T.A.R.S. foi o responsável,
mas agora ele percebe que foi mesmo Birkin, um ano antes da bola começar a rolar; a destruição da mansão só
adiantou as coisas. A Umbrella deve ter começado a monitorá-lo desde que conheceu Birkin - primeiro só o
observavam, instalando câmeras e microfones ocultos. Os espiões viriam depois...
Os Birkin vieram para Raccoon tal que William pudesse se dedicar ao desenvolvimento de uma versão superior ao
T-virus, baseado na pesquisa do laboratório da mansão. Por mais que William fosse esquisito e desagradável,
Irons gostava dele, desde o começo. William era o menino gênio da Umbrella, e como Irons, não reclamava de
seu cargo; Birkin era humilde, só interessado em desempenhar seu papel. Ambos eram muito ocupados para
manter uma amizade, mas havia respeito entre os dois: às vezes Irons percebia que William o observava...
E o meu erro foi deixar. Deixar o meu respeito por ele nublar meus instintos, não me deixar perceber que estava
sendo observado desde o começo.
A perda do laboratório da mansão fez passar algumas ondas pela hierarquia da Umbrella, e alguns dias depois de
explosão, Annette Birkin foi até ele com uma mensagem do marido - uma mensagem e um favor. Birkin estava
preocupado, a Umbrella iria exigir o G-virus antes de ser terminado; ele não estava satisfeito com a aplicação de
seu último trabalho, parece que a Umbrella não o deixou aperfeiçoar o processo de replicação, Irons não se
lembra direito - e com a Umbrella tentando recuperar as perdas financeiras da mansão, Birkin ficou com medo de
eles comprometerem a integridade do não-testado vírus.
Através de Annette, William pediu ajuda - e ofereceu um pequeno incentivo extra. Por cem mil, Irons teria que
ajudar a manter o G-virus encoberto - resumindo, tomar cuidado com espiões da Umbrella e ficar de olho nos
sobreviventes do S.T.A.R.S.
Dinheiro fácil, exceto por ser uma armadilha da Umbrella...
Irons foi direto para ela, e foi quando a companhia começou a conspirara contra ele, usando as informações que
conseguiram selar seu destino. Como tudo aconteceu tão rápido? O S.T.A.R.S. desapareceu, depois Birkin - e
antes de entender a situação, os ataques recomeçaram.
Irons desceu da mesa e caminhou por ela, vagarosamente tocando os cortes na madeira. Havia uma história em
cada marca, a memória de um feito - e de novo, não lhe davam prazer. A fria e calma atmosfera de seu
santuário sempre o consolou, onde praticava seus hobbies, onde ele podia ser ele mesmo - e agora não é mais
seu. Nada era, a Umbrella tirou tudo dele, tal como a cidade. Será que soltaram o vírus para pegá-lo, para roubar
seu poder - e depois mandaram aquela garota de roupa provocante para ele se divertir? Por que ela era atraente?
Eles conheciam suas fraquezas...
...e em breve ela voltará, talvez bancando a perdida, tentando me seduzir com seu indefeso comportamento.
Uma assassina da Umbrella, uma espiã exploradora, tudo o que ela é, provavelmente rindo de mim por trás
daquele rosto bonito...
Talvez a contaminação foi um acidente; da última vez que se viram, William estava instável, paranóico e exausto,
e acidentes acontecem na melhor das circunstâncias. O resto era fato, não tinha outra explicação para o quanto
arruinado Irons estava. Aquela garota estava vindo pegá-lo, ela era da Umbrella e foi enviada para matá-lo. E não
pararia aí, oh, não, ela vai achar Beverly e... e sujá-la de algum modo, só para ter certeza de que nada de Irons
sobrará.
Irons olhou em volta da pequena e suavemente iluminada sala que um dia foi sua, olhando orgulhosamente para
as bem usadas ferramentas e móveis, o doce e familiar cheiro de desinfetante emanando das irregulares paredes
de pedra.
Meu santuário. Meu.
#
Ele pegou o revólver que estava em sua especial mesa de corte, a VP70 ainda era sua, e sentiu um pequeno
sorriso nos lábios. Sua vida estava acabada. Tudo começou com Birkin e vai terminar aqui, pelas suas próprias
mãos. Mas não agora.
A garota vai voltar, e ele vai matá-la, antes de dizer adeus para Beverly, antes de admitir sua derrota com um
tiro. Mas ele a fará sentir seu sofrimento antes. Por cada tortura que ele sofreu, a garota iria pagar, a conta
descontada em cada osso o mais dolorosamente possível.
Ele iria morrer, mas não sozinho. Não sem ouvir a garota gritar de agonia, criando a voz para a morte de seus
sonhos - uma voz tão verdadeira que o eco atingiria o coração dos executivos da companhia que o traiu.
A sala do S.T.A.R.S. estava vazia, desarrumada, fria e empoeirada, mas Claire não queria sair. Depois de seu
aterrorizante vôo pelos corredores do segundo andar, achar o lugar de trabalho de seu irmão a deixou aliviada.
Mr. X não a seguiu, e mesmo querendo achar Sherry e Leon, ficou com medo de voltar para o corredor - e
hesitante em deixar o único lugar que se parecia com Chris.
Onde você está meu irmão? E o que vou fazer? Zumbis, fogo, morte, seu estranho chefe e a garota perdida - e
quando as coisas não podiam ficar piores, eu dou de cara com a-coisa-que-não-quer-morrer, o monstro dos
monstros. Como eu saio dessa?
Ela sentou na mesa de Chris, olhando as fotos preto e brancas que achou no findo da gaveta; as quatro eram
deles dois, sorrindo e posando na semana que passaram em Nova Iorque no natal passado. Primeiro ela quis
chorar, mas os dois sorrindo a fizeram se sentir melhor. Mais calma. Mais forte. Ela o amava, e onde quer que
ele esteja, a amará de volta - e se ambos sobreviveram a perda dos pais, reconstruíram suas vidas e dividiram
um bobo natal por não ter um lar para ir, então eles podiam enfrentar tudo. Claire podia.
Pode e vai. Eu vou achar Sherry, Leon e se Deus quiser, meu irmão - e nós vamos sair de Raccoon.
A verdade era, ela não tinha outra escolha - mas ela precisa aceitar a falta de opções antes de agir. Uma vez ela
ouviu que bravura não era a ausência do medo, era aceitar o medo e fazer o que for necessário.
Claire respirou fundo, colocou as fotos no colete e levantou da cadeira. Ela não sabe para onde Mr. X foi, e ele
não parece ser alguém que fica esperando. Ela vai voltar para a sala de Irons e ver se Sherry voltou - ou Irons.
Se X ainda estiver lá, ela pode correr.
Além disso, eu devia vasculhar a sala e tentar achar algo sobre o S.T.A.R.S.
De pé, ela olhou em volta, desejando ter achado mais informações. Tudo o que achou de útil foi uma mochila
engraçada na mesa de trás; segundo o cartão vencido da biblioteca, a mesa era de Jill Valentine. Claire nunca a
conheceu mas Chris já falou dela algumas vezes, disse que era boa com armas...
Pena que não deixou uma para trás.
Eles devem ter deixado para trás tudo o que não era importante depois da suspensão, apesar de ainda haverem
muitos itens pessoais lá. Porta retratos, copos de café e o de costume. Ela olhou para a mesa de Barry, havia
uma arma de montar quase terminada. Barry Burton era um dos amigos mais próximos de Chris, um grande e
amigável homem, maluco por armas. Claire esperou que onde quer que Chris esteja, Barry esteja cuidando dele.
Com um lança-chamas.
Falando nisso...
Ela precisa achar outra arma, ou mais munição; ela só tinha treze balas restando, um clip inteiro. Talvez ela deva
checar alguns corpos na volta para a asa leste; mesmo correndo apavorada, ela percebeu que alguns deles eram
policiais, e seu revólver era um equipamento do R.P.D.. Claire não gostou da idéia de ter que tocar cadáveres,
mas ficar sem balas era pior - principalmente com Mr. X por aí.
Claire voltou para a porta e a abriu, organizando seus pensamentos enquanto voltava para o escuro corredor.
Deixar o escritório a fez apagar a ainda vívida imagem de Mr. X, sentindo-se vulnerável de repente. Ela foi para a
direita e começou a voltar para a biblioteca, decidindo que não pensará mais no gigante, exceto se precisar, não
insistiria na memória daqueles olhos vazios, ou do modo que ergueu o punho, como se fosse destruir tudo em
seu caminho...
... então apague tudo isso. Pense em Sherry, em como achar munição ou como lidar com Irons, caso o ache.
Pense em ficar viva.
Bem à frente o corredor virava à esquerda e Claire tentou ignorar a tarefa seguinte; se não lhe falhe a memória,
tinha um policial morto perto da curva.
- como se eu não soubesse pelo cheiro -
#
- e ela tinha que vasculhá-lo. Ele não parecia tão nojento -
Claire fez a curva e congelou, olhando. Seu estômago deu um nó, dizendo-a que estava em perigo antes mesmo
de seus sentidos. O corpo que ela tinha pulado a caminho do escritório do S.T.A.R.S. tinha virado uma enrolada e
sangrenta massa de carne, ossos quebrados e uniforme rasgado. A cabeça se foi, apesar de não saber se foi
arrancada ou se estava dissolvida na polpa. Parece que alguém martelou o corpo depois que passou por ele.
Mas como, eu não ouvi nada -
Algo se mexeu. Uma suave sombra sobre os restos a alguns metros dela, e na mesma hora, Claire ouviu um
áspero som, respirando -
- e ela olhou para cima, ainda incerta sobre o que via ou ouvia - a respiração e o tick das garras na madeira,
grossas e curvas, as garras de uma criatura que não podia existir. Grande, do tamanho de um homem adulto,
mas a semelhança terminava aí - era tão impossível que só o via por partes, sua mente forçando para juntá-las.
A inflamada e avermelhada carne da criatura pelada, seus longos membros que aderiam no teto. A inchada
massa cinzenta do cérebro parcialmente exposto. Um coroa cicatrizada onde os olhos deveriam estar.
- não estou vendo isso -
A cabeça da criatura rolou para o lado, sua grande boca abrindo, um longo fio de baba caindo e acertando o que
tinha sobrado do policial. Ele estendeu a língua, lisa e rosa, a superfície brilhando enquanto deslizava para fora. E
para fora. E para fora, a comprida língua ia de um lado para o outro, tão longa que tocou os restos do policial.
Ainda congelada, Claire olhava desacreditada enquanto a língua era recolhida, deixando pingar sangue. O processo
inteiro só levou um segundo, mas o tempo começou a passar, o coração de Claire batia tão forte que tudo mais
estava em câmera lenta - até quando a criatura pulou no chão de madeira, seu corpo girando no ar e
aterrissando agachado em cima do corpo mutilado.
A criatura abriu a boca de novo e gritou -
- e Claire finalmente conseguiu se mexer, apontando e atirando. O trovão das balas ecoaram pelo corredor,
bam-bam-bam -
- e ainda gritando, a criatura caiu de costas, seus braços batendo. As pernas chutaram pedaços de carne do
cadáver no chão; Claire viu um pedaço de pele, ainda com uma orelha grudada, voar pelo corredor e bater na
parede, deslizando até o chão -
- e a criatura se desvirou, partindo em um arremesso. Ele engatinhou até ela, rápido como um raio, agarrando o
chão com suas garras e uivando.
Claire atirou de novo, não ciente de que também estava gritando enquanto três balas acertaram a coisa,
atravessando a cinza massa que saia de seu crânio. Ela ia morrer, estará nela em menos de um segundo, as
garras estavam a centímetros de suas pernas -
- e tão subitamente quanto o ataque foi, estava acabado. Cada parte do robusto corpo tremeu, balançou
enquanto um líquido claro gotejava de sua cabeça, as grossas garras batendo no chão de madeira
ritimadamente. Com um último choro, a criatura morreu. Não houve erro desta vez. Ela acertou o cérebro, não
vai se levantar.
Ela olhou para o monstro, sua mente procurando por algo parecido, algum animal - mas ela desistiu, percebendo
que era uma causa perdida. Não era uma criatura natural e por mais que parecesse, ela finalmente sentiu o
cheiro - o odor não era tão picante quanto o dos zumbis. Era um amargo e oleoso cheiro, mais químico do que
animal...
... podia cheirar como bolachas de chocolate, quem se importa? Raccoon City ganhou monstros, é hora de parar
de ficar tão surpresa ao ver um deles.
Por mais que quisesse se sentir brava e determinada, pensou seriamente em voltar para o escritório do
S.T.A.R.S. e trancar a porta. Poderia se esconder e esperar a ajuda, poderia estar a salvo -
Decida. Faça algo, de um jeito ou de outro, pare de hesitar e choramingar, por que não é só você. Estará Sherry
a salvo? Você quer viver às custas da vida dela.
Claire deu um cuidadoso passo sobre a criatura e agachou perto do que sobrou do policial, usando a ponta da
arma para virar um pedaço do uniforme. Ela respirou bile enquanto vasculhava os restos, tentando não imaginar
quem o policial foi ou como morreu.
Nada, e agora ela só tem sete balas - mas ela rejeitou o pânico, deixando a decepção abastecer sua
determinação. Se ela examinou um monte de carne, poderia examinar outro.
Com um último olhar para a criatura, Claire levantou e andou rápido para o fim do corredor, decidida: sem se
#
esconder e sem correr do medo. Pelo menos ela pode levar algum monstro consigo, aumentando as chances de
Sherry sobreviver.
Seria melhor morrer tentando do que não tentar. Ela não vai hesitar novamente.
[15]
Leon encontrou Ada no canil, fazendo força para erguer a enferrujada tampa do poço que tinha sido mencionada
pelo repórter. Ela tinha achado um pé-de-cabra e o colocou sob a tampa, seu bem definido bíceps brilhava com o
suor enquanto puxava a tampa. Ela conseguiu erguer a tampa um centímetro, mas deixou cair assim que ele
apareceu, o som metálico bem alto no vazio lugar.
Antes que ele pudesse dizer alguma coisa, ela soltou a barra no chão de cimento e olhou para cima, dando um
meio sorriso, esfregando as mãos sujas.
"Ainda bem que está aqui. Não acho que sou forte o bastante para conseguir sozinha...".
Ele não tinha certeza antes mas aquele indefeso sorrisinho apertou o nó; ela estava enganando ele, ou tentando.
Ele conheceu Ada há vinte minutos e nunca achou que ela fosse indefesa para nada.
"Parece estar indo bem". Ele disse, guardando a arma e sem se mexer para ajudar. Ele cruzou os braços,
franzindo. Não estava bravo, só curioso.
"Qual é a pressa? Pensei que você quisesse falar com o repórter. Sobre John, seu amigo da Umbrella...".
As expressões dela ficaram frias e duras, mas não de um modo ruim; ela foi bem cuidadosa para evitar as
perguntas de Leon, mas desta vez a Sra. Wong terá que explicar algumas coisas.
Ada se levantou e o olhou. "Você ouviu - ele não ia contar nada para nós. E perigoso como esse lugar é, eu não
quero ficar esperando por aí...".
A voz dela suavizou. "... e eu nem sei se John está em Raccoon. Mas eu sei que não está aqui - e eu quero sair
da delegacia antes que seja completamente dominada".
Parecia bom, mas por algum motivo, ele sentia que Ada estava escondendo algo. Por alguns segundos, ele fez
força para achar o modo correto de fazê-la se abrir - depois deixou de lado; sob as circunstâncias, agrados ficarão
suspensos.
"O que está acontecendo, Ada? Você sabe de algo e não quer me contar?".
Ela olhou para ele de novo, e de novo, ele acha que a surpreendeu - mas o olhar dela estava mais ilegível do que
nunca.
"Eu só quero sair daqui". Ela disse, e a sinceridade na sua voz era inegável. Ele podia não acreditar em nada do
que ela disse, mas nisso ele tinha que acreditar.
Queria que fosse fácil assim, mas tem a Claire, Ben, nosso amigo idiota, e só Deus sabe lá quantos outros.
Leon balançou a cabeça. "Eu não posso ir. Como eu disse, eu posso ser o único policial restando. Se ainda houver
sobreviventes, eu preciso tentar ajudá-los. E eu acho melhor você vir comigo".
Ada deu outro sorrisinho. "Eu aprecio sua preocupação, Leon, mas eu posso cuidar de mim mesma".
Ele não duvidava - mas também não queria vê-la testar suas habilidades. Ele também não foi bem testado, mas
foi treinado para lidar com situações críticas, era seu trabalho.
E seja honesto consigo mesmo - você perdeu Claire, não pode ajudar Branagh, e Ben não quis saber de sua
proteção; você não quer falhar com Ada. E você não quer ficar sozinho.
Ada parecia saber o que ele pensava. Antes que ele pudesse falar algo convincente, ela se aproximou e tocou o
braço de Leon, o humor sumindo de seus olhos.
"Eu sei que precisa fazer sua parte aqui - nós temos que sair de Raccoon, tentar sair e pedir ajuda. E os esgotos
devem ser a melhor chance que temos...".
O toque o surpreendeu - e mandou um tremor para sua barriga, deixando-o confuso e incerto. Ele tentou
esconder a sensação, mas só um pouco.
Ada continuou, franzindo, pensativamente. "Que tal isso - me ajude com a tampa e vemos o que tem lá
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embaixo. Se for perigoso, eu volto com você... mas se estiver ruim - bom, nós conversamos sobre isso depois".
Ele queria protestar, mas a verdade era, ele não podia obrigá-la a fazer algo que não queria - e ele queria muito
que ela não pensasse que ele era do tipo "machão", que ele estava aberto a um compromisso...
... e o nome John te lembra algo? Pare de pensar em seus hormônios.
Sentindo-se estranho ao pensar nisso com ela ainda o tocando, Leon se afastou, acenando ligeiramente. Juntos,
eles se agacharam perto da tampa. Leon pegou o pé-de-cabra e encaixou na tampa; assim que ele a levantava,
Ada empurrou a barra. Com um alto rangido metálico a tampa abriu -
- e ambos se afastaram por causa do cheiro que saiu do buraco, um sufocante cheiro de sangue, vômito e urina.
"Eca, o que é isso?". Leon tossiu.
Ada sentou nos calcanhares, tampando a boca com a mão. "Os corpos da garagem, devem ter sido jogados
aqui -".
Antes que ele pudesse perguntar do que ela estava falando, um grito de puro terror ecoou pelo subsolo, filtrado
pela porta fechada. O grito continuou e continuou, um homem, o aterrorizado grito mudando para um berro de
dor.
O repórter.
Leon travou seu olhar com o de Ada, viu a mesma percepção nela - e já estavam correndo, empunhando armas
e cruzando a porta antes dos ecos morrerem.
Eu o deixei, eu não devia -
Eles correram para a área das celas, a culpa fazendo Leon correr o mais rápido que podia. Alguém ou algo achou
Bertolucci.
Sherry parou no escritório de Irons, esfregando seu colar da sorte e rezando para que Claire voltasse. Ela
engatinhou por vários túneis empoeirados para se livrar do monstro e mantê-lo longe de Claire, e tinha certeza de
que funcionou - ela não o ouviu de novo e voltou só para descobrir que Claire tinha partido; se o monstro a
tivesse achado, estaria morta e partida ao meio.
Mas ela não está aqui. Ninguém está...
Sherry sentou na ponta da mesa no meio da sala, pensando no que faria. Ela tinha se acostumado com a solidão,
mas Claire mudou tudo, queria vê-la de novo, queria estar com outras pessoas, queria tanto os pais que
começou a doer. Até Sr. Irons seria bom, apesar de Sherry não gostar dele; ela só o viu algumas vezes e ele era
estranho, orgulhoso e falso - e seu escritório era pavoroso.
Mesmo assim, ela ficaria grata com a presença dele, só para não ficar sozinha -
Passos. No corredor fora da sala.
Sherry levantou e correu para a porta aberta que ia para a sala das armaduras, esperando que fosse Claire e
pronta para correr se não fosse. Ela se escondeu atrás da porta e prendeu a respiração, olhando para o tigre
empalhado e rezando.
A porta externa abriu e fechou. Abafados e vagarosos passos no carpete, e Sherry tentou correr, ao mesmo
tempo criando coragem para dar uma olhada -
"Sherry?".
Claire.
"Estou aqui!".
Ela correu par o escritório e lá estava Claire, iluminada com um sorriso. Sherry voou nos braços dela, tão feliz em
vê-la que quis chorar.
"Eu estava procurando você". Claire disse, abraçando-a fortemente. "Não corra daquele jeito de novo, está
bem?".
Claire se ajoelhou na frente dela, ainda sorrindo - mas Sherry pôde ver a preocupação em seu olhar.
"Eu sinto muito". Sherry disse. "Eu tive que correr senão o monstro viria".
Como ele se parece?". Claire perguntou, apagando o sorriso. "Ele é meio vermelho com garras?".
Sherry suspirou. "Os homens do avesso! Você viu um, não viu?".
Claire riu, balançando a cabeça. "É, é exatamente o que eu vi, um homem do avesso... boa descrição".
Claire olhou mais seriamente para Sherry, franzindo "Homens? Existem mais deles?".
"Sim, mas nem se comparam com o monstro. Eu só o vi uma vez, de costas, e é gigante -".
"Careca? Vestindo um longo casaco?".
#
"Não, ele tinha cabelo, cabelo claro. E um de seus braços era todo estragado, bem mais comprido que o outro".
Claire suspirou. "Ótimo. Raccoon tem algo diferente para cada um, parece que...".
Ela segurou a mão de Sherry, esfregando-a "... e é mais uma razão para ficar comigo. Você fez um ótimo
trabalho cuidando de si mesma, foi muito corajosa - mas até acharmos seus pais, é meu dever cuidar de você. E
se o monstro vier, eu vou - eu vou chutar o traseiro dele, tá bom?".
Sherry riu, surpresa. Ela gostava de Claire falando para cima com ela. Sherry acenou e Claire esfregou sua mão
de novo.
"Bom. Então nós temos zumbis, homens do avesso, e um monstro. E um grandão careca... Sherry, você sabe o
que aconteceu em Raccoon? Como tudo isso começou, pode dizer qualquer coisa - pode ser importante".
Sherry franziu, pensando. "Bom, houve um monte de mortes em Maio e Junho passado, acho - umas dez
pessoas foram mortas. Depois a mortes pararam, e algumas semanas atrás alguém foi atacado de novo".
Claire acenou. "Certo. Mais alguém foi atacado, ou... o que a polícia fez?".
Sherry balançou a cabeça. "Eu não sei. Logo depois que aquela garota foi atacada, minha mãe ligou do trabalho
muito preocupada, disse que eu não podia sair de casa. A Sra. Willis - nossa vizinha - veio fazer o jantar para mim
e assim soube daquela garota. Mamãe ligou de novo no dia seguinte, e me disse que papai e ela estavam presos
no laboratório e não voltariam por um tempo - e então, três dias atrás, ela pediu que eu viesse para cá. Eu fui
ver se a Sra. Willis viria comigo, mas sua casa estava escura e vazia. Acho que as coisas já estão bem ruins".
Claire ouvia atentamente "Você ficou sozinha todo esse tempo? Mesmo depois que chegou aqui?".
"Bem, sim, mas eu sempre fico sozinha. Meus pais são cientistas; seus trabalhos são importantes e às vezes não
podem interrompê-los. Minha mãe sempre diz que eu sou auto-suficiente quando quero".
"Você sabe que tipo de trabalho seus pais fazem? Na Umbrella?
"Eles fazem curas para coisas, para doenças". Sherry disse orgulhosa. "Eles fazem remédios, soros que hospitais
usam...".
Sherry parou, percebendo que Claire parecia distraída, seu olhar bem distante. Era o olhar que viu muitas vezes
nos rostos de seus pais - e significava que não estavam mais ouvindo. Mas assim que parou de falar, Claire
voltou para ela, tocando seu ombro - e por algum motivo bobo, aquilo a fez querer chorar novamente.
Deve ser porque ela está me ouvindo. Porque ela quer cuidar de mim.
"Sua mãe está certa,". Claire disse gentilmente. "você é muito auto-suficiente, e o que fez até agora diz que é
muito corajosa, também. Isso é bom, por que nós duas precisamos ser fortes para sairmos daqui".
Sherry abriu mais os olhos. "Como assim. Deixar a delegacia? Mas tem zumbis por toda a parte, e eu não sei
onde os meus pais estão, e se eles precisam de ajuda ou estão me procurando -".
"Meu bem, eu tenho certeza de que eles estão bem". Claire disse rapidamente. "Eles ainda devem estar no
laboratório, escondidos em segurança, igual você esteve - esperando ajuda para, para fazer tudo ficar melhor -".
"Você diz, matar todo mundo,". Sherry disse. "eu tenho doze anos, sabe, não sou mais um bebê".
Claire sorriu. "Desculpe. É, para matar todo mundo, sim. Mas até os homens bons virem, nós ficaremos juntas. E
a melhor e mais inteligente coisa a fazer é sair do caminho deles - o mais longe possível. Você tem razão, as ruas
não são seguras, mas quem sabe nós achamos um carro...".
Claire se levantou e foi até a mesa de Irons, olhando em volta. "Talvez Chefe Irons tenha deixado as chaves do
carro aqui, ou outra arma, algo que possamos usar -".
Claire viu algo no chão atrás da mesa. Ela se agachou e Sherry foi atrás, tanto para ficar perto quanto para ver o
que ela tinha achado.
"Tem sangue aqui". Claire disse tão baixo que parecia não ter dito nada.
"E?".
Claire olhou para a parede, franzindo, depois voltou para a grande mancha de sangue no chão. "Ainda está
úmido. Repare como ela é simplesmente cortada. Devia ter mais na parede aqui...".
Ela bateu na parede, ouvindo um som vazio, oco.
"Tem alguma sala aí atrás?". Sherry perguntou.
"Eu não sei, parece que sim. E explicaria para onde ele levou... por onde ele tinha saído antes. Chefe Irons".
Claire olhou para Sherry enquanto corria a mão pela parede e empurrando. "Sherry, veja se tem algum botão ou
alavanca perto da mesa. Acho que deve estar escondido em algum lugar, talvez em uma das gavetas...".
#
Sherry começou a andar atrás da mesa - e tropeçou, seu pé deslizando em algum lápis. Ela se segurou na mesa
para recuperar o equilíbrio, mas ainda assim caiu de joelhos.
"Ai!".
Claire estava à sua direita, já segurando seus ombros. "Você está bem?".
"Estou. Eu só - ei! Olha!".
Sherry apontou para um botão sob a mesa, no meio de uma placa de metal. Parecia um interruptor de luz, mas
tinha que ser para a porta secreta, ela sabia.
Eu achei!
Claire viu e apertou - e atrás delas, um seção da parede deslizou para cima, desaparecendo no teto, e expondo
uma outra sala de tijolos. Um frio e úmido ar entrou no escritório; era uma passagem secreta, igual às dos filmes.
Juntas, se levantaram e entraram na abertura, Claire segurando Sherry até olhar primeiro. A pe-quena sala
estava vazia - três paredes de tijolos, chão de madeira e uma grande e antiga grade de elevador na parede da
direita, daquelas que abrem para o lado.
"Nós vamos pegá-lo? Sherry perguntou. Ela estava ansiosa e nervosa.
Claire pegou sua arma, se agachou para Sherry e sorriu - mas não era um sorriso feliz, e Sherry já sabia o que ia
ouvir.
"Meu bem, acho que vai ser mais seguro se eu descer e dar uma olhada, e você ficar aqui -".
"Mas você disse que ficaríamos juntas! Você disse que podíamos pegar um carro e fugir! E se o monstro voltar e
você não estiver aqui, ou se você morrer?".
Claire a abraçou, e Sherry quase enjoou de tanta raiva. Ela ia dizer para não se preocupar, que o monstro não vai
voltar, que nada ruim ia acontecer - e depois iria embora.
Adultos mentirosos -
Claire se afastou, tirando o cabelo do rosto de Sherry. "Eu não a culpo por estar assustada. Eu também estou.
Esta é uma situação ruim - e sinceramente, eu não sei o que vai acontecer. Mas eu quero fazer a coisa certa por
você, e isso quer dizer que eu não vou levá-la para um lugar onde pode se machucar, não se eu puder ajudar".
Sherry guardou as lágrimas e tentou de novo. "Mas eu quero ir com você... e se você não voltar?".
"Eu vou voltar,". Claire disse. "eu prometo. E se - se eu não voltar, eu quero que se esconda novamente. Alguém
virá ajudar em breve, e vão te achar".
Pelo menos estava sendo honesta; Sherry não estava gostando, e não tinha nada que pudesse mudar a decisão
de Claire. Poderia agir como um bebê ou apenas aceitar.
"Tome cuidado". Claire disse, e abraçou Sherry antes de ficar de pé e ir para a o elevador. Ela apertou o botão ao
lado da grade e um leve hum foi ouvido; depois de alguns segundos a cabine veio de baixo, parando gentilmente.
Claire abriu a grade e entrou, virando para ver Sherry.
"Fique aqui, querida, eu voltarei em alguns minutos".
Sherry forçou um aceno - e Claire fechou a grade. Ela apertou algo lá dentro e a cabine desceu, seu sorriso
saindo de visão, deixando a garota sozinha na fria passagem.
Sherry sentou-se no chão empoeirado e abraçou os joelhos. Claire era corajosa e esperta, ela voltará logo, ela
tem que voltar logo...
"Eu quero minha mãe". Sherry cochichou, mas ninguém estava lá para ouvir. Ela estava só de novo; tudo o que
menos queria.
Mas eu sou forte. Eu sou forte e posso esperar.
Ela descansou a bochecha em um joelho, tocando seu colar da sorte, e começou a esperar por Claire.
[16]
Annette Birkin sentou-se na sala de monitoramento, exausta, observando a parede de monitores centrada sobre
a mesa de vigilância. Ela tem estado lá pelo que parecem anos, esperando William aparecer, e começou a pensar
#
que não iria. Ela vai esperar mais um pouco - mas se não vê-lo em breve, terá que fazer outra busca.
Maldita tecnologia...
É um sistema novinho em folha, tem menos de um mês - vinte e cinco telas com um controle de canais que
deveria permiti-la ver cada canto desse laboratório. Um brilhante avanço na segurança - exceto por onze ainda
estarem funcionando, e mais da metade dessas estarem mostrando estática. Das cinco que ainda podia ver
claramente, tudo o que via - e tinha o que ver - estava morto, corpos podres e o ocasional Re3, que comia ou
dormia.
"Lickers (linguarudos). Você os chama de lickers por causa de suas línguas...".
Ela achou que tinha passado pelo pior da dor, mas o solitário som de sua voz na fria e cavernosa câmara, a fez
perceber que não tinha ninguém para responder - não haverá mais ninguém para responder. William se foi, se foi
e ela estava falando sozinha.
Annette abaixou a cabeça na mesa de controle, fechando seus cansados olhos. Pelo menos não haviam mais
lágrimas; ela já tinha despejado um oceano delas desde que a Umbrella veio atrás do G-virus. Agora só há dor,
combinada com fúria pelo que a Umbrella tinha feito.
Mais um mês, talvez dois, e nós teríamos dado a eles, sem nenhuma força. E William teria entrado para a
comissão de executivos e nós ficaríamos felizes. Todos ficariam -
Houve um fraco ruído vindo de um dos monitores. Annette olhou para cima esperando e tremendo - mas era só
um licker, um andar acima, no centro cirúrgico. Ele tinha acordado e caído do teto para jantar um dos técnicos,
uivando estupidamente para si mesmo enquanto rasgava o abdômen do corpo. O homem morto parecia ser Don
Weller, um dos intermediários do laboratório químico; ele estava tão mutilado quanto a inumana aparência do Re3
que o comia.
Ela observou o licker se alimentar, olhando para o monitor mas não o vendo; sua mente pensando no que tinha
sobrado para fazer. Ela já tinha apagado todos os computadores e os travado com códigos; o laboratório estava
pronto e sua rota de fuga era segura. Só que ela não podia terminar tudo até vê-lo de novo, ver que ele tinha
voltado para o laboratório da Umbrella. Destruir o lugar não adiantaria nada se ele não estivesse na zona de
explosão; eles o encontrariam e extrairiam o vírus de seu sangue...
... mas a Umbrella não vai consegui-lo. Eu vou morrer antes de deixá-los conseguir, então me ajude, Deus.
Seu único consolo era que a Umbrella não conseguiria por suas mãos gananciosas na síntese de William. E nunca
porão. Tudo o que foi usado na criação do G-virus será enterrado sobre toneladas de destroços, junto com
William e todos os monstros que eles criaram para a companhia. Depois ela irá se esconder por um tempo, se
recuperar e considerar suas opções - e então, venderá o G-virus para a concorrência. A Umbrella era a maior,
mas não era a única trabalhando em armas biológicas - quando Annette estiver quite com ela, não será mais a
maior. A vingança era tudo o que tinha restado.
"Exceto por Sherry". Annette cochichou, e a lembrança de sua jovem filha fez seu coração doer. Desde que
Sherry nasceu, Annette quis ter passado mais tempo com ela, se concentrar no bebê ao invés de ser parte do
brilhante trabalho de William.
Os anos se passaram e as promoções de William continuaram vindo, o trabalho ficou mais interessante e valioso -
e apesar de ambos terem prometido fazer um esforço para desenvolver a vida familiar, continuaram adiando.
E agora é tarde demais. Nunca seremos uma família, nunca seremos pais juntos. Todo aquele tempo perdido,
trabalhando para uma companhia que acabou nos esgotando...
Não adianta mais pensar em como teria sido. Tudo o que podia fazer era não deixar a Umbrella tirar mais nada
da família Birkin. William se foi, mas ainda tinha Sherry; essa parte dele continuará, e Annette poderá ser a mãe
que deveria ter sido. Claro, ela terá de esperar alguns meses antes de pegar Sherry, esperar a coisas se
acalmarem. Mas a garota ficará bem; os policiais a levarão para morar com a irmão de William, estava em ambos
os testamentos...
... a não ser que Irons ainda esteja vivo. Aquele gordo ganancioso achará um jeito de estragar até isso.
Ela esperava que estivesse morto; mesmo se não fosse responsável pelo que a Umbrella fez, Brian Irons era
nojento e arrogante, com a moral de uma lesma. Depois de anos de lealdade à companhia, foi comprado por
míseros cem mil dólares. Até William, que tinha uma opinião mais baixa sobre o chefe da polícia do que ela, se
surpreendeu...
Na tela, o Re3 terminou de comer. Tudo o que sobrou do corpo foram as costelas ensangüentadas e a parte de
trás do crânio. O licker saiu de visão, deixando um rastro escuro no chão. Graças ao T-virus, todas séries répteis
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foram eficientes assassinos, apesar dos Re3 terem apresentado falhas - o cérebro exposto era a mais óbvia, e
também tinham um ridículo alto índice de metabolismo; mantê-los alimentados foi uma discussão constante.
Não é mais problema. Tem vários corpos por aí - mais cedo ou mais tarde poderão comer algo quente...
Annette sentiu falta de energia, não queria sair da sala - mas não podia ficar esperando William aparecer. Ela o
ouviu no nível três uns dois dias atrás, mas não o via a quase quatro; ela não podia ficar esperando. O pessoal da
Umbrella já deve estar pensando em como entrar - mesmo com o computador central apagado, haviam outros
modos de passar pelas portas -
- e William pode ter saído. Não posso mais negar isso, não importa o quanto eu queira.
Havia uma fábrica à oeste do laboratório, uma companhia de transporte que foi comprada pela Umbrella, para
assegurar que os níveis subterrâneos ficassem secretos; foi assim que a Umbrella conseguiu construir o complexo
sem levantar suspeitas, escondendo equipamentos e materiais nos galpões, e usando a grande plataforma móvel
para transportá-los. Apesar das entradas da fábrica ainda estarem fechadas, desde que verificou pela última vez,
havia uma possibilidade de que William possa ter saído - e se chegou na fábrica, podia chegar aos esgotos.
Annette esforçou-se para levantar, ignorando as cãibras nas pernas e costas enquanto pegava a arma da mesa.
Ela não sabia muito sobre armas, mas aprendeu bem rápido depois que -
- que eles vieram pegar o G-virus, os homens usando máscaras de gás, atirando e correndo - e William, pobre
William, morrendo numa poça de sangue, e eu não vi a seringa antes de ser tarde demais -
Ela respirou fundo, tentando esquecer essa terrível memória, tentando esquecer o incidente que tirou William dela
e transformou Raccoon na cidade dos mortos. Isso não importava mais. A jornada à frente não será prazerosa,
e ela tinha que se concentrar. Fuja dos Re3, humanos no primeiro e segundo estagio de infecção, os
experimentos de botânica e a série de aracnídeos - ela podia se deparar com qualquer um deles, sem mencionar
o que a Umbrella possa ter enviado.
E William. Meu marido, meu amado - o primeiro humano portador do G-virus, que já não é mais humano.
Annette estava errada sobre achar que não tinha mais lágrimas. Ela parou no meio da vasta e esterilizada sala,
cinco andares sob a superfície de Raccoon, e chorou, perdida, respondendo aos estímulos que nunca se quer
tinham tocado a dor de sua solidão.
A Umbrella sentirá muito. Uma vez certa de que William esteja fora do alcance deles, ela destruirá o laboratório,
fugirá com o G-virus, os fará entender como estragaram tudo - e que Deus ajude quem tentar impedi-la.
[17]
Ada correu pelo bloco das celas, a um passo atrás de Leon, bem a tempo de ver o repórter sair da cela e cair no
chão. "Ajude-o!".
Leon gritou, e passou por Bertolucci para verificar a cela. Ada parou em frente ao sufocado repórter, mas ignorou
a ordem, esperando ver a criatura que o atacou sair da cela -
- ele estava atrás das grades, como isso aconteceu -
Ela esperou, mirando na cela, seu coração pulando - e viu a confusão no olhar de Leon. Pelo modo como olhava,
a disse que a cela estava vazia. A não ser que o agressor fosse invisível...
Sem chance. Não comece a pensar nisso.
Ada se ajoelhou ao lado do repórter, percebendo imediatamente que ele não estava bem - nada bem. Ele tinha
se sentado e encostado na parede que dividia as duas celas. Ele ainda respirava. Ada já tinha visto essa
aparência antes, o distante olhar, a tremedeira, a palidez - mas ela não via o porquê, e isso a assustava. Não
havia ferimentos. Deve ter sido um ataque cardíaco, talvez um derrame -
- mas aquele grito.
"Ben? Ben, o que aconteceu?".
#
Seu vacilante olhar vidrado no dela, e Ada viu que os cantos de sua boca estavam rasgados e sangrando. Ele
abriu a boca para falar, mas tudo o que saiu foi um resmungo.
Leon se agachou junto a eles, confuso, também. Ele balançou a cabeça para ela, respondendo a pergunta que
não tinha feito; não haviam sinais do que tinha acontecido.
Ada olhou para Bertolucci e tentou novamente.
"O que foi, Ben? Você consegue nos dizer o que aconteceu?".
As trêmulas mãos do repórter subiram pelo corpo até pararem no peito. Com um esforço visível, ele tentou dizer
uma palavra.
"...abertura...".
Ada não tinha certeza. As aberturas nas paredes das celas eram muito pequenas e muito distantes do chão -
nada mais do que um tubo de ventilação que dava na garagem. Nada podia ter passado por lá.
Bertolucci ainda tentava falar. Ada e Leon se aproximaram, tentando entender suas palavras.
"... peito. Queima, tá... queimando...".
Ele estendeu a mão de repente e agarrou o braço dela, encarando-a com uma intensidade que a surpreendeu.
Ele apertou fracamente, com desespero em seus olhos.
"Eu nuca falei... sobre Irons". Ele respirou, fazendo força para continuar vivo até dizer tudo. "Ele está -
trabalhando para a Umbrella... todo esse tempo. Os zumbis - são pesquisas da Umbrella... e ele acobertou os
assassinatos, mas eu não consegui - provar, ainda... ia ser meu - furo".
Bertolucci fechou os olhos, respirando forte enquanto soltava o braço dela, e ela sentiu pena dele ao invés de si
mesma. Seu grande segredo era que a Umbrella tinha armas biológicas e Irons estava nessa. Teria sido um
grande furo.
Ele não sabe nada sobre o G-virus, nunca soube - e vai morrer sem reconhecimento.
"Jesus," Leon disse suavemente. "o chefe Irons..."
Bertolucci começou a ter convulsões, suas mãos apertando seu peito enquanto gemia de agonia. Suas costas se
curvaram, seus dedos como garras -
- e o gemido virou líquido enquanto sangue começou a borbulhar em sua boca. Engasgando e tremendo, seus
membros se debateram violentamente, espirros de sangue voando a cada tossida -
- e Ada viu vermelho surgir na camisa branca sob as mãos dele, ao som de ossos quebrando. Ela se afastou
assim que Leon tentou segurar as mãos de Ben, incerto do que estava acontecendo, mas certo de que não era
um ataque cardíaco -
- Santo Deus, o que é aquilo?
Tudo ao mesmo tempo, Ben foi para a frente e seus olhos viraram. Sangue ainda saía de sua boca e houve um
som, um horrível som de carne sendo rasgada, e sob sua camisa, algo mexeu.
"Afaste-se". Ada gritou apontando sua Beretta para Ben, e no segundo que levou para ela mirar, uma coisa
emergiu do ensangüentado peito de Bertolucci. Uma coisa do tamanho de uma mão, que abriu a boca e deu um
baixo berro, mostrando afiados e vermelhos dentes. O bicho saltou do corpo com uma chicoteante cauda, caindo
no cimento junto com pedaços de pele e carne - e correu como uma bala na direção do portão aberto para o
corredor, sua cauda balançando e pernas que Ada não conseguia ver, deixando um rastro vermelho para trás.
A coisa passou pelo portão antes de ela se lembrar que tinha uma arma; ela estava tão chocada que não pensou
em reagir. Uma criatura parasita que rasga seu peito - direto de um filme de ficção...
"O que era - você viu -". Leon disse, sem fôlego.
"Eu vi". Ada cochichou, interrompendo-o. Ela virou e olhou para Bertolucci, para seu rosto, estático numa
contorção angustiosa, e para o rasgo em seu peito.
A boca, rasgada nos cantos...
A criatura foi implantada nele - mas pelo que? Ela não sabia, e nem queria saber. Ela queria completar a missão e
sair de Raccoon o mais rápido possível. De fato, ela nunca quis tanto uma coisa. Quando se deu conta de que
houve um acidente com o T-virus, não esperava ter que lidar com organismos desagradáveis.
Ela olhou para Leon, desistindo de tentar ser razoável. Ela ia para o laboratório e não tinha o que discutir.
"Estou saindo daqui". Ela disse, e sem esperar respostas, virou-se e andou rapidamente para o portão, atenta
para não pisar no rastro de sangue.
"Espere! Olha, eu acho - Ada? Ei...".
Ela saiu no corredor de arma erguida, mas a criatura já tinha sumido. O rastro desaparecia no meio do corredor -
#
e viu que eles tinham esquecido a porta do canil aberta -
- e a tampa do poço também. Que ótimo.
Leon a alcançou e parou na sua frente. Por um momento, Ada achou que ele a fosse parar fisicamente.
Não faça isso. Eu não quero te machucar, mas vou se for preciso.
"Ada, por favor, não vá". Leon disse, não uma ordem, mas sim um pedido. "Eu - quando cheguei em Raccoon,
conheci uma garota e acho que ela está na delegacia. Se você puder me ajudar a encontrá-la, poderemos fugir
juntos. Teríamos mais chances -".
"Sinto muito, Leon, mas esse é um maldito país livre. Você faz o que tem que fazer, e boa sorte - mas eu não
vou ficar. Já foi o bastante. Se - quando eu sair, mandarei ajuda".
Ada passou por ele, esperando que não houvesse violência e que ele não tentasse impedi-la - vai ser muito
perigoso se ele tentar - foi quando ele a surpreendeu de novo.
"Então eu vou com você". Ele disse, seu olhar firme, decidido - e assustado. "Eu não vou deixar você ir sozinha.
Nem ninguém - não quero que você se machuque".
Ada olhou, sem saber o que dizer. Depois que Bertolucci morreu, ela não queria enganar Leon nos esgotos,
considerando o quanto extenso o sistema era... mas ele era tão bom, tão determinado em ajudar que ela estava
começando a - a não querer fazer mal a ele. Tudo seria mais fácil se ele fosse algum idiota metido a machão...
Tá bom, tire seu disfarce. Diga que é uma agente particular querendo roubar o G-virus e não quer companhia;
diga sobre o alívio que sentiu ao saber que o repórter iria morrer, ou que não tem problemas para tirar uma vida,
se for por uma boa causa - como ser paga. Veja o quanto bom ele será depois disso.
Não é uma opção. Mas havia uma parte dela que não queria admitir, uma parte que não queria ficar só. Ver o
que aconteceu com Bertolucci a fez perceber que não era tão invulnerável quanto gostava de pensar.
Então deixe-o vir, ache um lugar seguro no laboratório para deixá-lo. Sem danos nem sujeira.
Leon a olhava de perto, estudando-a - esperando sua aprovação.
"Vamos". Ela disse, e o sorriso que ele deu, apesar de vitorioso, a fez se sentir mais desconfortável.
Sem outra palavra, eles foram para o canil, Ada pensando no que estava fazendo - mas ainda capaz de fazer o
que for necessário para completar a missão.
Claire parou na frente de uma porta medieval no fim do escuro corredor o qual o elevador a tinha levado. A
delegacia era fria, mas a gelada umidade das pedras na parede do corredor fazia a delegacia parecer o verão; é
como se ela tivesse descido no calabouço de um castelo assombrado da Idade Média.
Ela respirou fundo, decidindo como entrar; ela estava certa de que Irons não gostaria de uma visita surpresa,
mas a idéia de bater era absurda - e perigosa. Haviam tochas acesas em suportes, uma de cada lado da porta
de madeira, a mesma envolta numa moldura de metal enferrujado.
Um túnel secreto, uma porta escondida com iluminação ambiente... que pessoa sã moraria aqui? Não foi o
desastre que fez isso - Irons devia ser louco bem antes do acidente da Umbrella...
Quando Sherry disse o que seus pais faziam para viver e o que aconteceu antes de chegar à delegacia, algo
clicou. A Umbrella trabalhava com doenças e a população de Raccoon certamente teve um grave caso de algo.
Deve ter sido algum tipo de acidente, um vazamento que soltou a estranha praga zumbi...
Claire mordeu o lábio, incerta do que fazer. Ela sabia que Irons estava em algum lugar lá embaixo, e não queria
vê-lo de novo; talvez ela deva voltar, pegar Sherry e tentar achar outra saída. Só porque é uma área secreta não
significa que haja uma saída lá.
Sherry estava lá em cima sozinha. E você tem uma arma, lembre-se?
Uma arma com poucas balas. Se for o esconderijo de Irons, devem haver armas lá dentro... ou apenas outro
corredor. Mas imaginar não a dirá nada.
Claire tocou a maçaneta e respirou fundo. A pesada porta abriu vagarosamente em dobradiças bem cuidadas. Ela
recuou apontando a arma -
Jesus.
Uma sala vazia, tão úmida e não receptiva quanto o corredor - mas com móveis e uma decoração que fez sua
pele arrepiar. Uma única lâmpada estava pendurada no teto, iluminando a mais pavorosa câmara que já tinha
visto. Tinha uma mesa no meio da sala, manchada e batida, um serrote e outros objetos cortantes espalhados
em cima; um balde de metal e um esfregão encostados numa parede, ao lado de uma estante cheia de
recipientes empoeirados - e o que pareciam ossos humanos, polidos e brancos, postos como troféus. Isso, e o
cheiro - um pesado e ácido cheiro químico que envolvia um outro pior. Um cheiro como loucura.
Só de olhar a sala a fez enjoar; "louco" devia ser o nome do ano do chefe da polícia - mas não havia ninguém lá.
Isso quer dizer que deve haver outra passagem secreta lá dentro. Pelo menos ela pode procurar por armas.
Engolindo, Claire entrou na sala, grata por não ter trazido Sherry; olhar para essa câmara de tortura a daria
pesadelos -
"Parada, mocinha, ou eu atiro".
Claire congelou. Cada músculo de seu corpo travou assim que Irons começou a rir atrás dela, de trás da porta
onde não pensou em olhar.
Oh, meu Deus, oh, Deus, oh, Sherry eu sinto muito -
O riso de Irons cresceu para a pura e alegre gargalhada de um louco, e Claire entendeu que iria morrer.
CONTINUA
Raccoon Times - 26 de Agosto de 1998
Plano "manter a cidade segura"
RACCOON CITY - Na frente da prefeitura, o Prefeito Harris anunciou ontem à tarde, em uma coletiva, que o conselho da cidade estará contratando pelo menos dez novos policiais para se juntar à polícia de Raccoon, por causa dos assassinatos brutais que atormentaram Raccoon no começo deste verão e devido a suspensão do S.T.A.R.S.. Junto com o Chefe Irons e todo os membros do conselho de Raccoon, Harris assegurou os cidadão e repórteres que a cidade será mais uma vez uma comunidade segura na qual se vive e trabalha, e que a investigação dos onze assassinatos "canibais" e dos três ataques animais fatais estão longe da solução.
"Só porque ninguém foi atacado no mês passado significa que os oficiais eleitos desta cidade podem relaxar" declarou Harris. "As boas pessoas de Raccoon merecem ter confiança em sua força policial e estarem seguras de que seus representantes políticos estão fazendo de tudo para dar segurança aos cidadãos. Como muitos de vocês sabem, a suspensão do S.T.A.R.S. será provavelmente permanente. Aquela unidade de investigação de assassinatos e sua subseqüente desaparição de Raccoon City sugere que eles não se importam com essa comunidade - mas eu quero assegurar vocês que nós nos importamos, e que eu, o Chefe Irons e os homens e mulheres que vocês vêem aqui, não queremos mais nada senão fazer de Raccoon um lugar a qual nossas crianças possam crescer sem medo".
Harris continuou a detalhar um plano de três pontos feito para reforçar a confiança e manter os cidadãos de Raccoon longe da violência.
Além de contratar de dez a doze policiais, o horário de recolher permanecerá ao menos até Setembro, e o Chefe Irons irá pessoalmente comandar uma força tarefa de alguns oficiais e detetives para continuar a busca dos assassinos que tiraram as vidas de onze pessoas entre Maio e Julho deste ano...
Cityside - 4 de Setembro de 1998
Renovação do complexo da Umbrella
RACCOON CITY - A instalação química da Umbrella no sul do centro da cidade começará a ser reformada na próxima Segunda-feira. Esta será a terceira renovação estrutural semelhante a do ano passado para a companhia. De acordo com a porta-voz da Umbrella, Amanda Whitney, dois dos laboratórios dentro da instalação principal serão adaptados com novos equipamentos projetados para síntese de vacinas e receberá um moderno sistema de segurança. Em adição, todos os escritórios conectados terão seus computadores atualizados na próxima semana.
Mas será isso um problema para o trânsito do centro da cidade? Whitney diz, "com o prédio do R.P.D. ainda terminando uma de suas reformas, os passantes locais já estão ficando cansados de ruas bloqueadas. Nós estamos fazendo de tudo para não interferir no trânsito; a maior parte da construção será interna e o resto será feito depois das horas de trabalho". O pátio do R.P.D., nossos leitores devem se lembrar, foi repavimentado e ajardinado depois que algumas rachaduras misteriosas apareceram no cimento; o tráfego teve que ser desviado por dois quarteirões na Rua Oak durante seis dias.
Ao perguntarmos porque tantos "reparos" ultimamente, Whitney respondeu, "a Umbrella tem estado na frente da competição há tanto tempo quanto continua com a atual tecnologia. Estes serão meses de trabalho, mas eu acho que valerá o esforço...”.
Raccoon Weekly Editorial - 17 de Setembro de 1998
Irons vai se candidatar?
RACCOON CITY - O Prefeito Harris pode estar numa difícil corrida na próxima primavera. Notícias de dentro do R.P.D. estão dizendo que Irons, Chefe da Polícia pelos últimos quatro anos e meio; pode estar concorrendo para chegar ao topo do ministério na próxima eleição, contra o popular, e sem oposição Devlin Harris, já no poder por três períodos consecutivos. Embora Irons não tenha confirmado os fatos, o ex-membro do S.T.A.R.S. recusou a negação do rumor.
Com sua popularidade bem alta desde o encerramento do caso dos assassinatos neste verão (ainda não resolvido) e da expansão planejada do RPD, Irons pode ser o homem que tirará Harris da Prefeitura; a questão é, serão os eleitores capazes de esquecer o suposto envolvimento de Irons nos fundos de campanha ilegais em Cider District? Ou seus caros gostos em arte e design interior, o qual tornaram o RPD em algo mais parecido com um museu?...
Raccoon Times - 22 de setembro de 1998
Adolescente atacada no parque
RACCOON CITY - Há aproximadamente 18:30h da noite passada, Shanna Williamson de quatorze anos foi surpreendida por um estranho no parque da Rua Birch no centro da cidade, quando voltava do treino para casa.
O homem veio de trás de uma cerca no parque e a derrubou de sua bicicleta antes de tentar agarrá-la. A jovem conseguiu sair de lá com alguns arranhões, e correu para a residência de Tom e Clara Atkin; Clara chamou as autoridades, que conduziram uma busca no parque, mas não acharam nenhum sinal do agressor.
De acordo com a garota (através de um depoimento hoje de manhã), o homem pareceu ser um pedestre: suas roupas e cabelos estavam sujos, e cheirava mal, "um cheiro de fruta podre". Ela disse que ele parecia bêbado, vacilando e caindo depois dela.
Com a onda de assassinatos de Maio para Julho ainda não resolvidos, o RPD está levando este fato seriamente: o agressor mostrou uma evidente semelhança com os membros da "gangue" do Victory Park em Junho deste ano.
Harris convocou uma coletiva para hoje, e Irons já declarou que o primeiro dos novos policiais chega na próxima semana, e que viaturas patrulharão os parques do centro da cidade...
https://img.comunidades.net/bib/bibliotecasemlimites/3_CITY_OF_THE_DEAD.jpg
[1]
Com o pessoal esperando no carro de Barry lá fora, Jill fez o possível para se apressar. Não era fácil, a casa tinha
sido revirada desde a última vez que esteve lá. Livros e papéis espalhados pelo chão, e estava muito escuro para
andar facilmente. O fato de sua casa ter sido violada era preocupante, mas já era de se esperar. Ela devia estar
agradecida por não ser do tipo sentimental - e pelos intrusos não terem achado seu passaporte.
Na escuridão de seu quarto, Jill pegou meias limpas e calcinhas e as colocou em sua mochila, desejando poder
acender as luzes. Fazer as malas no escuro era mais difícil do que se imaginava, mais ainda com a casa
bagunçada; mas eles não podiam se arriscar. Era improvável que suas casas estavam sendo vigiadas, mas se
alguém estiver olhando, uma luz poderia abrir fogo.
Pelo menos você vai embora. Chega de se esconder.
Eles estavam indo para território estrangeiro, invadir o quartel inimigo e provavelmente serem mortos no
processo, mas pelo menos ela não ficará mais em Raccoon. Pelo que ela leu nos jornais ultimamente, era a
melhor escolha. Dois ataques na semana passada... Chris e Barry estavam cientes do perigo, mesmo sabendo o
que o T-virus fazia com as pessoas - Barry pensou que isso era algum tipo de truque, que a Umbrella "salvaria"
Raccoon antes de alguém se machucar. Chris concordou, mas Jill não estava preparada para assumir nada; a
Umbrella já mostrou que não consegue conter suas experiências. E com o que Rebecca, David e sua equipe
enfretaram em *Maine...
Agora não é hora para pensar nisso - eles tinham um avião para pegar. Jill pegou a lanterna da penteadeira e
estava indo para a sala quando lembrou que só tinha um sutiã consigo. De cara feia, ela virou para a gaveta
aberta e começou a procurar. Ela já tinha roupas o bastante, escolhidas do que Brad deixou para trás quando
fugiu de Raccoon; ela e os outros ficaram na casa dele por várias semanas, desde que a Umbrella atacou a casa
de Barry. Nenhuma roupa de Brad serviu em Chris nem em Barry. Lingerie não era algo que o piloto do
S.T.A.R.S. tinha guardado. Ela não queria parar o avião para comprar roupas íntimas.
Colocando-os na mochila, Jill voltou para a pequena sala da casa. Tinha uma foto de seu pai em uma das
estantes que ela queria pegar. Era a segunda vez que foi lá desde que começaram a se esconder. Ela sente que
não voltará tão cedo.
Andando agilmente pelo escuro, ela ergueu a lanterna e a apontou para o canto onde a estante estava. A
Umbrella bagunçou tudo. Só Deus sabe o que eles estavam procurando. Pistas do nosso esconderijo,
provavelmente; depois do ataque na casa de Barry e a desastrosa missão à Caliban Cove, ela não acha que a
Umbrella ignoraria essas informações.
Jill iluminou o livro que queria, o título era Prison Life; seu pai teria rido. Ela pegou o livro e começou a folheá-lo,
parando quando a luz caiu sobre o sorriso de Dick Valentine. Ele tinha mandado a foto junto com sua última carta.
Ela tinha posto no livro para não perdê-la. Esconder coisas importantes era um hábito que adquiriu quando jovem.
Ela soltou o livro, a pressa foi embora de repente, ao olhar para a foto. Um leve sorriso surgiu em seu rosto. Ele
era o único homem que ficava bem no uniforme laranja da prisão.
Jill pensou no que ele acharia da situação atual; ele foi o responsável pelo envolvimento dela com o S.T.A.R.S..
Depois de preso, ele a encorajou a abandonar essa vida, dizendo que foi um erro treiná-la como uma ladra...
... aí eu peguei um trabalho legítimo, trabalhando para a sociedade ao invés de contra ela - aí as pessoas em
Raccoon começaram a morrer. O S.T.A.R.S. descobriu uma conspiração para criar armas biológicas com um vírus
que torna coisas vivas em mortas. Obviamente ninguém acreditou em nós. Os S.T.A.R.S. que não podem ser
comprados pela Umbrella, perdem a credibilidade ou são eliminados. Agora nós iremos para uma missão suicida na
Europa, tentar invadir o quartel general de uma corporação multibilionária e impedi-los de destruir esse maldito
planeta. O que você acharia? Sendo que você nunca acreditou nessa história, o que você acha?
"Você se orgulharia de mim, Dick". Ela suspirou, incerta se seria verdade. Seu pai queria vê-la em uma linha de
trabalho menos perigosa, e comparado ao que ela e os outros iriam fazer...
Depois de um longo momento, ela colocou a foto cuidadosamente no bolso e olhou para sua casa bagunçada,
ainda pensando na opinião de seu pai sobre tudo isso; se tudo correr bem, talvez ela possa perguntar
pessoalmente. Rebecca e os outros sobreviventes de Maine ainda estavam escondidos, investigando a
organização S.T.A.R.S. e esperando notícias sobre o quartel general da Umbrella. O quartel oficial fica na Europa,
mas eles suspeitavam de que os cabeças por trás do T-virus tinham um complexo secreto em outro lugar -
- a qual você não achará se ficar aí parada; o pessoal achará que você parou para tirar um cochilo.
Jill colocou a mochila e olhou em volta pela última vez antes de voltar para a porta dos fundos, na cozinha. Havia
um leve cheiro de fruta estragada no ar, vindo de uma tigela de maçãs e pêras em cima da geladeira. Apesar de
conhecer bem o cheiro, ela sentiu um calafrio em sua espinha. Ela foi para a porta fechada, tentando bloquear as
súbitas memórias do que eles acharam na mansão de Spencer...
"Jill?".
A porta abriu, a silhueta de Chris na escuridão pela distante luz da rua.
"Bem aqui". Ela disse, andando. "Desculpe pela demora. A Umbrella veio aqui com um trator".
Mesmo com pouca luz, ela pode ver um meio sorriso no rosto dele. "Nós estávamos achando que um zumbi
tinha pego você". Ele disse claramente, mas ela sentiu a preocupação.
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*Maine – Estado localizado na costa leste dos E.U.A.
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Muitas pessoas morreram por causa do que a Umbrella fez na
floresta fora da cidade. Se o acidente tivesse ocorrido mais perto de Raccoon...
"Não teve graça". Ela disse suavemente.
O sorriso de Chris sumiu. "Eu sei. Está pronta?".
Jill acenou, apesar de não se sentir preparada pelo que virá a seguir, tampouco pelo que estão deixando para
trás. Em algumas semanas, seu conceito de realidade transformou pesadelos em rotina.
Corporações malvadas. Cientistas loucos, vírus assassinos. E os mortos-vivos...
"Estou". Ela disse finalmente. "Estou pronta".
Juntos, eles saíram. Assim que ela fechou a porta, sentiu um súbito ar de incerteza - de que ela nunca mais
colocaria os pés em casa novamente, de que os três nunca mais voltariam para Raccoon City...
... mas não acontecerá nada com a gente. Algo acontecerá, mas não conosco.
Franzindo, mão na fechadura, ela tentou dar sentido ao pensamento. Se eles sobreviverem a essa missão, se
eles tiverem sucesso contra a Umbrella, por que não voltariam para casa? Ela não sabia, mas o sentimento era
desconfortavelmente forte. Algo ruim iria acontecer, algo -
"Ei, você está bem?".
Jill olhou para Chris, viu a mesma preocupação em seu rosto. Eles se aproximaram bastante nas últimas
semanas, apesar de achar que Chris queira se aproximar mais ainda.
E você não quer?
Jill se balançou mentalmente e acenou para Chris, deixando os sentimentos irem. O vôo para Nova Iorque não irá
esperar por ela.
Ainda aquele sentimento...
"Vamos sair daqui". Ela disse.
Eles andaram pela noite, deixando a escura casa para trás, tão quieta e sozinha quanto um túmulo.
[2]
29 de Setembro de 1998
O resto da luz do dia já estava atrás das montanhas, pintando o horizonte com o violeta do pôr do sol. As
montanhas corriam pela escuridão do céu sem nuvens, se esticando para alcançar o fraco brilho das estrelas.
Leon poderia ter apreciado mais a paisagem se não estivesse tão atrasado. Ele vai chegar a tempo, claro, mas
antes pretendia chegar em seu novo apartamento, tomar um banho, comer algo; mas do jeito que está, ele só
tem tempo para passar numa lanchonete a caminho da delegacia. Colocar seu uniforme na última parada lhe deu
alguns minutos, mas basicamente ele estava apertado.
Isso aí, Oficial Kennedy. Primeiro dia de trabalho e você estará tirando sanduíche dos dentes durante as
chamadas. Muito profissional.
Seu turno começava às nove e já era mais de oito. Leon pisou um pouco mais forte no acelerador ao passar por
uma placa que dizia restar meia hora para chegar em Raccoon City. Pelo menos a estrada estava livre. Ele não
viu ninguém em horas, exceto pelo apressadinho no sentido oposto.
Uma boa mudança considerando o trânsito depois de Nova Iorque, a qual lhe custou toda tarde. Ele tentou deixar
um recado para o sargento na noite passada, mas só ouviu o sinal de ocupado.
Os poucos móveis que tinha, já estavam no apartamento num bom bairro de Raccoon. Havia um parque à duas
quadras de lá, e só cinco minutos de carro até a delegacia. Chega de engarrafamentos, bairros violentos e ações
brutais. Ele procurava viver numa comunidade pacífica.
... bom, exceto pelos últimos meses. Aqueles assassinatos...
O que aconteceu em Raccoon foi horrível, doentio - mas os agressores nunca foram pegos e a investigação só
estava começando. Se Irons gostar dele como gostaram na academia, talvez Leon possa trabalhar nesse caso.
Mesmo Chefe Irons sendo uma praga, ele ficará um pouco impressionado. Leon se formou entre os dez
melhores e não era um estranho em Raccoon. Ele costumava passar os verões lá quando criança, quando seus
avós ainda eram vivos. O R.P.D. era uma biblioteca e a Umbrella estava a vários anos de distância de transforma
Raccoon numa verdadeira cidade. Mesmo assim, ainda é o mesmo calmo lugar de sua infância. Quando os
assassinos forem presos, Raccoon City será ideal de novo - bonita, limpa, uma comunidade escondida nas
montanhas como um paraíso secreto.
Aí eu me estabeleço lá. Uma ou duas semanas se passam e Irons percebe o quanto bem os meus relatórios
estão sendo escritos, ou vê o quanto bom eu sou atirando no alvo. Ele me chama para ver os documentos do
caso - e eu vejo algo que ninguém mais viu. Ninguém mais percebeu por que eles viveram muito com isso, e
esse policial novato vem e resolve o caso, nem um mês fora da academia e eu -
"Jesus!". Algo correu em frente ao seu Jeep.
Leon pisou no freio e desviou, tirado de seu sonho enquanto recuperava o controle do carro. Os freios travaram e
os pneus derraparam no asfalto. O Jeep parou de frente para as escuras árvores que cercavam a estrada -
desligando depois de uma última sacudida.
De coração acelerado, Leon abaixou o vidro e levantou o pescoço, varrendo as sombras pelo animal que tinha
cruzado a pista. Ele não o atropelou, mas foi por pouco. Algum tipo de cachorro, ele não viu direito - um dos
grandes, talvez um Doberman, mas de alguma forma parecia errado. Leon só o viu por uma fração de segundo,
um brilho de olhos vermelhos e o corpo inclinado de um lobo. E tinha algo mais, parecia algum tipo de...
... lodo? Não, truque de luz, ou você só estava se borrando de medo e acabou vendo errado. Você está bem e
não o atropelou, isso é o que importa.
"Jesus". Ele disse de novo, mais suave, sentindo-se aliviado e bravo enquanto a adrenalina saia de seu sistema.
Pessoas que deixam seus cães soltos são idiotas - depois agem surpresos quando o Totó é pego por um carro.
O Jeep parou a alguns metros de uma placa que dizia RACCOON CITY 10; ele só conseguia ver as letras no
escuro. Leon olhou no relógio; ele ainda tinha meia hora para chegar na delegacia, pouco tempo - mas por algum
motivo, ele simplesmente parou por um momento, fechando os olhos e respirando profundamente.
Uma brisa fresca passou pelo seu rosto; o deserto trecho de estrada parecendo sobrenaturalmente quieto.
Os assassinatos em Raccoon. Algumas pessoas foram mortas por animais, não foram? Cães selvagens? Talvez
aquele não tenha dono.
Um perturbante pensamento - mais ainda quando sentiu que o cachorro ainda estava por perto, o escondido nas
árvores.
Bem vindo a Raccoon City, Oficial Kennedy. Cuidado com as coisa que o observam...
"Não seja idiota". Leon disse para si mesmo, imaginado se algum dia se livrará de sua imaginação.
Sonhando em pegar caras maus, depois inventar monstros assassinos vagando pela floresta - vamos agir de
acordo com nossas idades, né, Leon? Você é um policial, pelo amor de Deus, um adulto...
Ele ligou o motor e voltou para a estrada. Ele tinha um emprego novo, um bom apartamento numa boa cidade;
ele era competente, consciente, e de boa aparência; usando sua criatividade, tudo ficará bem.
"E já estou a caminho". Ele disse, forçando um sorriso para se acalmar. Ele estava a caminho de Raccoon City,
para uma nova vida - não tinha nada com o que se preocupar...
Claire estava exausta, psicológica e emocionalmente, e o fato de seu traseiro estar doendo pelas últimas horas,
não estava ajudando. O motor de sua Harley parecia entrar em seus ossos, e mais, estava escurecendo. E por
idiotice, ela não estava usando suas roupas de couro; Chris não aprovaria.
Ele vai gritar comigo, e eu nem vou ligar. Deus, Chris, por favor, esteja lá para isso...
O barulho da moto ecoou pelos barrancos inclinados. Ela fez as curvas cuidadosamente, bem consciente do
quanto desertas as estradas estavam; se ela cair, levará um bom tempo até alguém aparecer.
Como se importasse. Sem seu equipamento, eles recolheriam seus pedaços com um rodo.
Era burrice, ela sabia que era burrice - mas algo aconteceu com Chris. Droga, algo deve ter acontecido com a
cidade toda. Pelas últimas semanas, a suspeita aumentou - e as ligações que tinha feito aquela manhã a tiraram
do lugar.
Ninguém em casa. Ninguém em lugar nenhum. Como se a cidade tivesse se mudado.
Ela não se importava com Raccoon, mas sim com seu irmão que estava lá, e se algo de ruim aconteceu com ele
-
Ela não podia, não pensaria desse jeito. Chris era tudo o que lhe restava. Seu pai morreu em seu emprego na
construção quando ainda eram crianças. Quando sua mãe morreu num acidente de carro três anos atrás, Chris
fez o melhor para substituir os pais. Mesmo sendo poucos anos mais velho, ele a ajudou a escolher uma
faculdade - ele até a mandava dinheiro todo mês. Além disso, ele ligava para ela toda semana.
Mas essas ligações pararam no último mês e meio, e as dela não foram retornadas. Ela tentou se convencer de
que era besteira se preocupar - talvez ele finalmente achou uma namorada, ou algum problema com o S.T.A.R.S.
Mas depois de três cartas não correspondidas e dias esperando o telefone tocar, ela finalmente decidiu ligar para
o R.P.D. naquela tarde, esperando que alguém pudesse dizer o havia acontecido. Ela só ouviu o sinal de ocupado.
Sentada em seu quarto, ouvindo aquele som, ela começou a se preocupar mesmo. Ela procurou em sua agenda
com mãos trêmulas, discando os poucos números dos amigos dele, pessoas ou lugares que mandou ligar em
caso de emergência - Barry Burton, Emmy's Diner, um policial que ela nunca conheceu chamado David Ford. Ela
até tentou o telefone de Bill Rabbitson, apesar de Chris ter dito que ele desapareceu alguns meses atrás. Só deu
ocupado.
A preocupação se transformou em algo perto de pânico. A viagem para Raccoon City levava seis horas e meia da
universidade. Sua amiga de quarto pegou seu equipamento de moto emprestado para sair com o namorado, mas
Claire tinha outro capacete - e com aquele pânico passando pelos seus pensamentos assustados, ela
simplesmente pegou o capacete e saiu.
Burrice, talvez. Impulsiva, certamente. E se Chris estiver bem, nós poderemos rir sobre o quanto ridícula essa
paranóia foi. Mas enquanto eu não souber o que está acontecendo, não terei um momento de paz.
O resto da luz do dia estava sumindo no céu sem nuvens, mas a brilhante lua cheia e o farol da moto eram
suficientes para enxergar - para ver a pequena placa adiante: RACCOON CITY 10.
Dizendo a si mesma que Chris estava bem, que algo de estranho aconteceu em Raccoon, alguém já teria
verificado. Claire passou a se concentrar na estrada. Daqui a pouco estará escuro, mas ela chegará em Raccoon
antes de ficar perigoso para dirigir.
Estando Raccoon City bem ou não, ela descobrirá em breve.
#
[3]
Leon alcançou os limites da cidade com vinte minutos restando, e decidiu que um jantar quente irá esperar. De
sua última visita à delegacia, ele sabia que haviam algumas máquinas de venda onde podia comprar algo. O
pensamento de ter doces e amendoins em seu estômago não caía bem, mas foi culpa dele por não te se livrado
do trânsito de Nova Iorque a tempo.
Ele passou por algumas fazendas que ficavam a leste da cidade, antes de ver a parada de caminhões que
separava a zona rural da urbana.
Assim que virou na ByBee, indo para uma das ruas norte-sul principais que o levariam para o R.P.D., ele
conseguiu a primeira dica de que algo estava errado. Nos primeiros quarteirões, ele se surpreendeu. No quinto ele
se sentiu um estranho no deserto. Não era estranho, era impossível.
ByBee era a primeira rua real da cidade, vinda do leste. Havia vários bares e restaurantes baratos, tal como um
cinema que nunca deve ter mostrado nada além de filmes de terror e comédias sensuais - e mesmo assim era o
mais popular lugar da juventude de Raccoon. Havia algumas tavernas que serviam cervejas e bebidas quentes
para os universitários. Às oito e quarenta e cinco da noite, ByBee deveria estar cheia de vida.
Exceto por algumas lojas e restaurantes, Leon viu que quase toda a rua estava escura - e mesmo as que tinham
luz não mostravam presença humana. Haviam carros parados na rua, e ainda nenhuma pessoa. ByBee, o ponto
de encontro de adolescentes e estudantes, estava totalmente deserta.
Onde está todo mundo?
Ele continuou dirigindo, procurando respostas - e tentando aliviar a suave ansiedade que sentia. Talvez há algum
tipo de evento acontecendo, uma missa ou uma festa da macarronada. Ou Raccoon decidiu antecipar a
Oktoberfest para hoje à noite.
Tá, mas todos ao mesmo tempo?
Leon percebeu que não tinha visto um carro se quer desde o cachorro há dezesseis quilômetros. Nem um. Sendo
assim, um pensamento menos dramático lhe ocorreu.
Algo não cheirava bem. De fato, algo cheirava como podre.
Ele diminuiu a velocidade para virar na Powell, uma quadra à frente - mas o cheiro e a ausência de vida estavam
lhe dando uma ruim sensação. Talvez ele deva parar e verificar, procurar algum sinal de -
Leon sorriu aliviado. Havia duas pessoas de pé na esquina, bem à frente; a luz estava apagada perto deles, mas
ele pode ver suas sombras claramente - um casal, uma mulher de saia e um homem alto usando botas. Indo a
sul na Powell, chegando mais perto deles, Leon pode ver como andavam, pareciam bêbados. Ambos estavam na
sombra de uma loja de escritório e fora de visão; mas Leon estava naquela direção - não custava parar e
perguntar?
Devem ter saído do O'Kelly's. Um copo ou dois, mas não estando dirigindo, ótimo. Eu me sentirei um idiota
quando eles me dizerem que hoje é o grande concerto gratuito ou o dia da churrascada.
Aliviado, Leon virou a esquina e olhou para as sombras, procurando pelo par. Ele não os viu, mas tinha um beco
entre a loja e a joalheria. Talvez eles tenham parado para ir ao banheiro ou fazer outra coisa mais ilegal -
"Merda!".
Leon pisou no freio assim que meia dúzia de escuras figuras voaram do chão, pegas pelos faróis do Jeep.
Assustado, levou alguns segundos para perceber que tinha visto pássaros; eles não berraram, apesar de ter
estado perto o bastante para ouvir o bater de asas.
Oh, meu Deus.
Havia um corpo humano no meio da rua, a seis metros do carro. Debruçada, mas parecia uma mulher - e
julgando pelo líquido vermelho que cobria boa parte da blusa branca, não era uma estudante bêbada que decidiu
dormir no lugar errado.
Atropelamento. Algum imbecil a acertou e fugiu.
Leon desligou o motor e abriu a porta. Ele hesitou, um pé no asfalto, o cheiro de morte intenso no ar. Sua mente
#
trouxe uma idéia que não queria considerar, mas deveria; isso não é um treinamento, é a sua vida.
E se não foi um atropelamento? E se o fato de não haver pessoas por perto é por causa de um maluco armado
que decidiu praticar tiro ao alvo? Talvez todos estão em casa, abaixados - o R.P.D. pode estar a caminho e
aqueles dois bêbados podiam estar feridos e procurando ajuda...
Ele se esticou no Jeep e procurou seu presente de formatura debaixo do banco do passageiro, uma H&K VP70
com dezoito balas.
Apontando ela para o chão, Leon saiu do carro e deu uma olhada em volta. Ele não conhecia muito bem a noite
de Raccoon, mas sabia que não deveria estar tão escuro. Várias luminárias da rua estavam apagadas; se não
fossem os faróis do carro, ele não teria visto o corpo.
Ele se aproximou, sentindo-se desprotegido sem o carro, mas ciente de que ela podia estar viva. Era impossível,
mas ele tinha que ver.
Alguns passos mais próximo e viu que era um a jovem mulher. O cabelo ruivo e liso cobria o rosto. A maioria dos
ferimentos estavam escondidos pela blusa ensangüentada. Parecia haver alguns deles - rasgos na roupa
expunham claros e cortados pedaços de carne e os músculos vermelhos abaixo.
Exalando forte, Leon colocou a arma na mão esquerda e se agachou, tocando a fria pele do pescoço dela. Alguns
segundos passaram, segundos que lhe causaram medo, tentando se lembrar do procedimento de ressuscitarão,
esperando sentir o pulso.
Cinco compressões, dois e curtos sopros, cotovelo parados e, por favor, não esteja morta -
Ele não sentiu o pulso e não queria esperar. Guardando a arma, ele agarrou os ombros para vira-la - mas quando
começou a erguê-la, sua blusa saiu da calça, mostrando algo que o fez soltá-la. Sua coluna e parte das costelas
estavam expostas. As vértebras brancas brilhando entre a carne vermelha. Parece que ela foi mastigada. Coisa
que Leon não quis acreditar.
Os corvos não fizeram isso, teria levado horas, e quem disse que corvos se reúnem à noite para comer? E aquele
cheiro, não está vindo dela, ela morreu recentemente, e -
Canibais. Assassinos.
Não. Nem pensar. Para uma pessoas ser morta e devorada no meio da rua sem ninguém para impedir -
- e com tempo suficiente para comedores de mortos virem - os assassinos devem ter matado toda a população.
Parece certo? Então que cheiro é esse? E onde estão todos?
Atrás de Leon, houve um baixo e suave gemido. Depois, passos.
Levou um segundo para Leon se levantar, virar e empunhar a arma. Era o casal, os bêbados, vindo em sua
direção, junto com um terceiro, um cara musculoso com -
- com sangue por toda a camisa. E nas mãos. E pendurado em sua boca, algo vermelho e mole. O outro homem
com as botas e suspensórios, parecia igual.
O trio se aproximava, passando do Jeep, erguendo as mãos e gemendo. Leon estava impressionado com a
descoberta de que o cheiro vinha deles -
- e apareceu outro, saindo da porta do outro lado da rua, uma mulher de camiseta e cabelo amarrado para trás.
Outro gemido atrás dele. Leon olhou sobre o ombro e viu um jovem de cabelos escuros e braços podres sair das
sombras da calçada.
Leon apontou a arma para o que estava mais perto, o de suspensórios, enquanto seus instintos gritavam para
fugir. Ele estava aterrorizado, mas sua lógica insistia que havia uma explicação para o que via, que não estava
vendo um morto-vivo.
"Certo! Já chega! Não se mexam!".
Sua voz foi forte e autoritária. Ele vestia seu uniforme, e Deus, por que eles não param? O de suspensórios
gemeu de novo, cego para a arma apontada para seu peito, e ainda seguido pelos outros, agora a menos de
três metros de distância.
"Não se mexa!". Leon disse de novo, e o som de seu próprio pânico o fez recuar um passo, olhando para os
lados e vendo mais dois saindo das sombras.
Algo agarrou seu calcanhar.
"Não!". Ele gritou, virando a arma -
#
- e viu que a atropelada estava segurando sua bota com uma mão ensangüentada, tentando mover seu corpo.
O gemido dela se juntou ao dos outros enquanto tentava morder seu pé, vermelhos fios de saliva escorrendo
pelo queixo, caindo no couro.
Leon atirou nas costas dela. Pela distância deve ter acertado seu coração. Tremendo, ela voltou para o chão.
- e ele virou e viu os outros a menos de um metro e meio, e atirou mais duas vezes, os tiros abrindo buracos no
peito do mais próximo.
O de suspensórios não se intimidou com os tiros em seu peito, seu equilíbrio se abalando por apenas um segundo.
Ele abriu a boca e soltou um grito de fome, mãos erguidas de novo na direção de seu alívio.
Recuando, Leon atirou de novo. E de novo. E de novo. Mais tiros e eles continuaram vindo. Era como um sonho
ruim, um filme ruim, não era real - e Leon sabia que se não começasse a acreditar, acabará morrendo. Comido
por esses -
Vá em frente. Diga. Esses zumbis.
Longe do carro, Leon correu, ainda atirando.
[4]
Que vida noturna; esse lugar está morto.
Claire não viu tantas pessoas como deveria desde que chegou em Raccoon, só algumas, só algumas vagando
por aí. O lugar parecia totalmente deserto; o capacete bloqueava muito a visão, mas definitivamente os negócios
não iam bem naquela parte da cidade. Tal como o trânsito.
Ela planejou ir direto ao apartamento de Chris, mas se lembrou de que passaria em frente ao Emmy's. Chris não
sabia cozinhar nada; sendo assim, ele vivia de cereais, sanduíches frios e jantares no Emmy's seis vezes por
semana; mesmo não estando lá, vale a pena parar e perguntar se alguma garçonete o viu.
Assim que Claire parou em frente ao Emmy's, viu ratos procurando abrigo numa lata de lixo na calçada. Ela
abaixou o apoio e desceu da moto, tirando o capacete e o colocando no assento. Balançando seu rabo de cavalo,
ela franziu o nariz de nojo; pelo cheiro, o lixo estava lá por um bom tempo. Independente do que jogavam fora,
aquilo tinha um cheiro tóxico.
Antes de entrar, ela esfregou seus braços e pernas tanto para aquecê-los, quanto para limpá-los da sujeira da
estrada.
Através do vidro da frente do restaurante era possível ver o confortável de bem iluminado interior.
Das banquetas vermelhas do balcão que cercava o canto esquerdo ao fundo - não tinha uma alma à vista. Claire
franziu, desapontada. Tendo visitado Chris regularmente nos últimos anos, ela esteve lá todas as horas do dia e
da noite; os dois eram corujas, decidindo comer sanduíches às três da manhã - o que significa Emmy's. E sempre
tinha alguém lá, conversando com uma das garçonetes de avental vermelho ou curvado sobre uma xícara de
café e um jornal, não importava que horas fossem.
Então onde eles estão? Nem são nove horas...
A placa dizia Aberto, e ela não ficou parada na rua, esperando. Uma última olhada na moto e ela entrou.
Respirando fundo ela disse esperançosa.
"Olá? Tem alguém aqui?".
Sua voz correu pelo silêncio do restaurante vazio. Exceto pela suavidade dos ventiladores de teto, não havia outro
som. Tinha um familiar cheiro de gordura no ar e algo mais - um cheiro amargo e ainda fraco de flores podres.
O lugar era em L, se esticando para frente dela e para a esquerda. Andando devagar, Claire seguiu em frente.
Atrás do balcão ficava o caminho da cozinha. Se o restaurante estava aberto, os funcionários deviam estar lá,
talvez surpresos com a falta de clientes -
- mas isso não explica a bagunça, né?
Não estava tão bagunçado. A desordem nem foi percebida do lado de fora. Menus no chão, um copo d'água
virado no balcão, e talheres eram os únicos objetos fora de ordem - mas era demais.
Que se dane a cozinha, isso é muito estranho, algo está errado nessa cidade - talvez eles foram assaltados ou
preparando uma festa surpresa. Quem se importa?
#
Do espaço escondido no final do balcão, ela ouviu um movimento, um deslizante sor de roupas seguido por um
ronco. Alguém está lá, agachado.
De coração batendo forte, Claire chamou de novo. "Olá?".
E nada.
- outro gemido, um som que arrepiou os pêlos do seu pescoço.
Apesar do medo, Claire foi até lá. Talvez houve um assalto, os clientes podem estar amarrados - ou pior, tão
machucados que não conseguiam gritar. De qualquer modo, ela estava envolvida.
Claire chegou no fim do balcão, olhou para a esquerda -
- e gelou, de olhos arregalados, sentindo-se psicologicamente estapeada. Perto de uma prateleira com bandejas
estava um calvo homem de avental branco, de costas para ela. Ele estava agachado sobre o corpo de uma
garçonete; mas tinha algo muito errado sobre ela, tão errado que Claire não conseguiu aceitar tão cedo. Seu olhar
chocado passou pelo uniforme vermelho, sapatos, até pelo crachá de plástico no peito dela, "Julia" ou "Julie".
... a cabeça. A cabeça dela não estava lá.
Percebendo o que estava errado, Claire não conseguiu desacreditar por mais que queira. Só tinha uma poça de
sangue no lugar da cabeça dela, cercada por fragmentos do crânio e mechas de cabelo escuro. O cozinheiro tinha
as mãos no rosto e Claire, olhando para o corpo, soltou um leve suspiro.
Ela abriu a boca, incerta sobre o que falar.
Gritar, perguntar por que, como, oferecer ajuda - ela não sabia, e assim que o homem virou para ela, abaixando
as mãos, nada foi dito definitivamente.
Ele estava comendo a garçonete. Seus dedos estavam vestidos com carne; a estranha face que ele mostrou
estava suja de sangue.
Zumbi.
Sua mente aceitou isso no momento em que pensou; ela não era idiota. Ele estava mortalmente pálido e com
aquele cheiro de podridão. Seus olhos brancos.
Zumbis em Raccoon. Eu nunca esperei isso.
Com esse calmo e lógico pensamento veio uma súbita onda de terror. Claire recuou, enquanto o homem
continuava se virando, se levantando.
Ele era enorme, quase dois metros, grande como um armário -
- e morto! Ele está morto e comendo a mulher, não o deixe se aproximar!
O cozinheiro começou a andar. Claire recuou mais rápido, quase escorregando num menu. Um garfo entortou sob
seus pés.
SAIA DAQUI, AGORA.
"Eu já estou de saída". Ela falou. "Mesmo, não precisa mostrar a porta -".
O cozinheiro continuou andando, seus cegos olhos arregalados de fome. Outro passo para trás - e Claire sentiu o
frio metal da maçaneta da porta. Uma triunfal adrenalina passou por ela enquanto virava, tocava a maçaneta -
- e gritou, um curto grito de terror. Havia dois, três deles lá fora, suas carnes decompostas pressionando o vidro.
Um deles só tinha um olho; outro só o lábio superior. Do outro lado da rua, escuras figuras saiam da penumbra.
Sem saída, presa -
- Jesus, a porta dos fundos!
No final de seu campo visual, a verde luz da saída brilhava como uma estrela. Claire virou de novo e mal viu o
cozinheiro chegando onde estava, uma atenção virada para sua única esperança.
Ela correu. A porta daria no beco, se estiver trancada Claire estará morta.
Claire golpeou a porta e ela abriu, acertando os tijolos da parede do beco - e tinha uma arma apontada para seu
rosto, a única coisa que podia pará-la, um homem armado.
Ela congelou, erguendo os braços instintivamente.
"Espere! Não atire!".
Ele não se moveu, a arma ainda apontada para sua cabeça -
- ele vai me matar -
"Abaixe-se!". Ele gritou, e Claire obedeceu.
Boom! Boom!
O homem atirou e Claire olhou em volta, viu o cozinheiro morto caindo de costas bem atrás dela, um buraco em
sua testa.
#
Claire voltou-se para o homem que salvou sua vida, reparando no uniforme. Policial. Ele era jovem, alto - tão
aterrorizado quanto ela se sentia, seus olhos azuis bem abertos e sem piscar. Pelo menos sua voz foi forte ao se
abaixar para ajudá-la.
"Não podemos ficar aqui. Venha comigo, nós estaremos a salvo na delegacia".
Assim que ele falou, ela ouviu um coro de gemidos vindos da rua, aumentando. Claire se deixou ser levantada,
segurando a mão dele bem forte, se confortando ao percebeu que sua mão estava trêmulas igual a dele.
Eles correram.
[5]
Leon correu junto com a garota, tentando lembrar o mapa da cidade. O beco deve dar na Ash, não muito longe
da rua do R.P.D., a Rua Oak - mas a delegacia estava a pelo menos uns quinze quarteirões à leste; sem
transporte eles não conseguirão. Ele só tinha quatro balas, e pelo som vindo do beco, havia dezenas de criaturas
em cada ponta.
Saindo do beco, Leon ergueu a mão e parou de correr, examinado a escura rua. Ele não viu muito, mas de onde
estavam, perto da luminária, havia onze ou doze zumbis à direita e só três à esquerda, não muito longe de uma -
Aleluia!
"Ali!".
Leon apontou para uma viatura estacionada do outro lado da rua. Não havia policiais por perto; seria querer
demais - mas as portas estavam abertas. Eles podem alcançar o carro antes das três coisas ali perto. Se não
tiver chave, pelo menos há um rádio e vidros à prova de balas. Eles podem ficar lá até a ajuda chegar -
- e é a única chance. Vá!
Eles correram para o preto e branco. Leon apontando sua arma para as criaturas mais próximas, a uns vintes
metros. Ele queria atirar, mas não podia desperdiçar munição.
Deus, que tenha chaves.
Eles alcançaram a viatura ao mesmo tempo e se dividiram, a garota indo para o lado do passageiro, fazendo
Leon perceber que ela achava que o carro era seu. Ele a esperou fechar a porta antes de entrar, uma pequena
voz dentro dele gritando que esse era seu primeiro dia.
A chave estava na ignição. Leon guardou a arma e a tocou.
"Aperte os cintos". Ele disse, pouco ouvindo o consentimento da garota enquanto girava a chave e as sirenes
ligavam. A Rua Ash foi iluminada por azul e vermelho, as sombras mudando de forma e densidade. Era a visão do
inferno - e ele pisou no acelerador, querendo sair de lá o mais rápido possível.
O carro saiu derrapando. Leon virou para a direita depois para a esquerda, quase acertando uma mulher cuja
metade do couro cabeludo foi arrancado.
Ajuda, chamar ajuda -
Leon pegou o rádio sem tirar os olhos da rua. Criaturas saíam da escuridão como se chamadas pelo carro veloz.
Assim que o carro cruzou a Powell e continuou, Leon desviou de mais zumbis.
A garota estava cochichando, olhando para a desolada paisagem enquanto Leon apertava o botão do rádio, o
desamparo crescendo. Sem estática, sem nada.
"Que diabos está acontecendo. Eu chego em Raccoon e o lugar está de cabeça para baixo -".
"Ótimo, o rádio está desligado". Leon a interrompeu, soltando o rádio. A cidade parecia um mundo alienígena, as
ruas estranhamente assombradas. Parecia um sonho, mas o cheiro dizia que estavam acordados. O cheiro tinha
tomado conta da viatura, ficando difícil de dirigir. Pelo menos não tinha trânsito, nem pessoas, pessoas de
verdade...
... exceto eu e a garota. Eu tenho que fazer o meu trabalho, não deixá-la se machucar. Pobre menina, não deve
#
ter mais de dezenove ou vinte anos, deve estar aterrorizada.
"Você é policial, né?".
Ele olhou para ela, o tom sarcástico e humorado em sua voz deu uma forte impressão de que ela não era fraca.
Uma boa coisa apesar das circunstâncias.
"Sou. Primeiro dia no trabalho; que ótimo, hein? Eu sou Leon S. Kennedy".
"Claire,". Ela disse. "Claire Redfield. Eu vim procurar meu irmão, Chris...".
Ela parou, olhando para a rua. Duas criaturas estavam entrando no caminho do carro, e Leon acelerou, passando
entre eles. A grade de metal que divide a parte de trás do carro estava quebrada, fornecendo uma clara visão do
retrovisor interno; os dois zumbis vagando desatentamente atrás deles.
Famintos. Como nos filmes.
Por um momento, ninguém falou, a pergunta mais obvia não respondida. Seja lá o que tornou Raccoon numa
casa dos horrores, não importava tanto quanto suas vidas. Eles chegarão na delegacia em alguns minutos. Tinha
um estacionamento subterrâneo - ele tentará lá primeiro - mas se os portões estiverem fechados, eles terão que
andar um pouco. Tinha um pequeno jardim em frente ao prédio.
Quatro balas - e uma cidade cheia daquelas coisas. Precisamos de outra arma.
"Ei, abra o porta-luvas". Ele disse.
Claire apertou o botão e se curvou, mostrando as costas de seu colete vermelho; "Made in Heaven" (Feito no
Paraíso) estava estampado sobre um voluptuoso anjo segurando uma bomba. Combinava com ela.
"Tem uma arma aqui". Ela disse, e pegou a semi-automática, erguendo-a cuidadosamente para ver se estava
carregada, antes de pegar os dois clips. Era uma das velhas armas do R.P.D., uma Browning HP de 9 mm.
Desde a onda de assassinatos, a polícia tem usado as H&K VP70, outra 9 mm - a diferença é que a Browning
carrega treze balas enquanto a outra podia carregar dezoito, dezenove se você deixar uma engatilhada. Do modo
que a manuseava, Leon viu que ela sabia o que fazia.
"É bom ficar com ela". Ele disse.
Assim que Leon fez uma curva um pouco rápido demais, o pensamento do R.P.D. estar infestado de zumbis o
acertou. Tudo ocorreu tão rápido que ele nem tinha pensado nisso. Talvez haja uma defesa organizada na
delegacia - mas era difícil pensar com o cheiro de podridão tão forte no ar.
Temos três quartos de tanque, mais do que suficiente para chegar às montanhas; podemos estar em Latham
em menos de uma hora.
Eles poderiam desviar da delegacia se parecesse insegura. Sair da cidade soava bom para ele. Ele ia contar para
Claire, ver o que ela achava quando -
- o terrível cheiro de morte se intensificou e algo pulou do banco traseiro.
Claire gritou e o monstro que esteve na viatura o tempo todo agarrou o ombro de Leon, levando seu braço direto
para frente com uma incrível força.
"Não!". Leon gritou assim que o carro virou violentamente para a direita, subindo na calçada e deslizando na
parede de um prédio. A criatura estava desequilibrada, perdendo apoio; Leon virou o volante para a esquerda,
mas não evitou a parede por completo. Ruídos de metal e faíscas iluminaram o interior.
A coisa jogou seus braços em Claire e, sem pensar, Leon acelerou e jogou o carro para a direita. O carro
ziguezagueou, derrapando lateralmente, a traseira acertando uma pick-up azul estacionada. Faíscas e o som de
borracha no asfalto.
O morto foi para o banco, mas voltou imediatamente para frente, na direção da garota.
Eles desciam a Terceira (uma rua), Leon tentando controlar o carro enquanto pegava sua arma e se virava. Ele
não pensou em desacelerar, só pensava no zumbi cravando seus dentes no ombro de Claire.
Segurando a arma pelo cano, ele desceu a coronha no rosto do monstro, arrancando pele igual a uma banana.
Gemendo, a criatura tocou o rosto sangrando e Leon pode sentir um segundo de triunfo, até que -
- Claire gritou, "Cuidado!".
- e Leon viu que eles iam bater.
Leon tinha batido no zumbi com a arma quando seu olhar aterrorizado viu que a rua ia acabar.
"Cuidado!".
Ela só pode ver os dedos dele grudados no volante -
- e o carro começou a girar, derrapando, prédios e luzes piscando tão rápido que ela só viu borrões, e de repente
#
- BAM!
Houve uma explosão de som, de vidro quebrando e metal esmagando, assim que o carro bateu em algo sólido,
arremessando Claire contra o assento. Ao mesmo tempo, o impacto jogou o zumbi violentamente para trás,
atravessando o vidro traseiro -
- e tudo ficou quieto. Só o seu coração pulsando nos ouvidos. Claire viu que Leon já estava recuperado, olhando
para o corpo lá atrás, sua cabeça fora de visão. Não estava se mexendo.
"Você está bem?".
Claire virou para Leon, subitamente querendo evitar uma risada. A cidade estava infestada por mortos-vivos, e
acabaram de sofrer um acidente por que um cadáver queria comê-los. Considerando isso, "bem" não é primeira
palavra a vir na cabeça.
"Inteira". Ela disse, e o jovem policial acenou, parecendo aliviado.
Claire respirou fundo e olhou onde estavam. Leon tinha girado 180 graus com o carro no final da rua em T, o
carro completamente danificado estava de frente para o sentido de onde vieram. Não havia zumbis por perto. Ela
segurou sua arma fortemente, tentando se controlar.
"Nós -". Leon começou a falar algo, mas parou, seus olhos arregalados para o que via. Claire também viu - e por
um segundo, sentiu que seu caminho foi amaldiçoado desde que saiu da universidade.
Um caminhão descia a rua, ainda a vários quarteirões de distância, mas perto o bastante para ver que estava
fora de controle. O caminhão ziguezagueava, batendo na mesma pick-up azul de um lado da rua e uma caixa de
correio do outro. Claire percebeu com terror que era um caminhão tanque. No segundo que levou para entender,
rezar para que não seja gás ou óleo, o caminhão diminuiu a distância entre eles. Ela já via o acidente quando
Leon quebrou o silêncio.
"- ele vai esmagar a gente". Ambos tocaram os cintos de segurança, Claire rezando para não estarem presos.
O som dos cintos soltando foram inaudíveis perante o crescente eco do caminhão. Ele chegará em um segundo.
"Corra!". Leon gritou, e ela saiu do carro, ar fresco em sua suada pele. O ronco do motor do caminhão
bloqueando tudo mais.
Ela deu três passos gigantes, tanto sentindo quanto ouvindo o impacto, o chão tremendo sob seus pés assim que
metal se retorcia atrás dela.
Mais um pouco, e -
KABOOM!
- ela foi jogada, literalmente tirada de suas botas por uma incrível onda de pressão, calor e som. Ela tentou
alcançar o chão enquanto a explosão tornava a noite em dia. Um estranho giro, poeira em sua pele, e Claire
aterrissou perto de um *De Lorean prateado estacionado na frente de uma *delicatessen.
Houve uma breve chuva de destroços enfumaçados e Claire se levantou, procurando nas labaredas por Leon.
Seu coração parou. O caminhão tanque, a viatura, tudo estava envolvido por fogo. A rua completamente
bloqueada por uma massa de destruição.
"Claire -".
A voz de Leon, abafada, mas audível através da parede de fogo.
"Leon?".
"Eu estou bem!". Ele gritou. "Vá para a delegacia, eu te encontro lá!".
Claire hesitou por um segundo, olhando para a arma que ainda segurava firmemente em sua trêmula mão. Ela
estava com medo, aterrorizada por estar só numa cidade que virou um cemitério - mas não tinha escolha.
"Tá bom!".
Ela virou. O portão de trás da delegacia estava a alguns metros dali -
- e criaturas estavam saindo das sombras, de trás dos carros e de dentro dos prédios escuros. Com um
pensamento em mente, eles entraram na estranha luz do acidente, gemendo de fome - dois, três, quatro deles.
Por trás do fogo, ela ouviu tiros - dois tiros, depois nada - nada além do fogo e os suaves gemidos.
Leon já foi, agora VÁ!
Claire respirou fundo e correu.
#
[6]
Ada Wong colocou, na cavidade da estátua, o brilhante disco de metal dourado com um unicórnio entalhado,
dando um tapinha até a peça encaixar no mármore. Ela ouviu um movimento na estátua e se afastou para ver o
que acontece. Seus passos ecoaram pelo grande hall principal da delegacia, o som passando pelos parapeitos do
segundo e terceiro andar.
Outra chave? Uma das medalhas do esgoto? Ou quem sabe a própria amostra... não seria uma feliz surpresa.
A ninfa segurando uma jarra d'água feita de pedra deslizou para trás, a jarra em seu ombro jogando um fino
pedaço de metal. A chave de *espadas (*spade key).
Ela suspirou, pegando-a. Ela já tem as chaves; de fato, ela já tem tudo o que precisa para vasculhar a delegacia,
e quase tudo para o laboratório. Se a Umbrella tivesse facilitado, o trabalho teria sido moleza. Dinheiro fácil.
Mas acabei ganhando férias de três dias na cidade dos monstros, brinquei de Por Uma Bala na Cabeça e Vamos
Achar o Repórter. As amostras podem estar em qualquer lugar, dependendo de quem sobreviveu. Se eu sair
daqui com as belezinhas, vou pedir um grande bônus; ninguém deve trabalhar nessas condições.
Ada guardou a chave e olhou para o parapeito superior, mentalmente visualizando as salas que já foi. Bertolucci
parece não estar em lugar algum da asa leste do R.P.D.. Ela passou horas encarando mortos em busca do
queixo quadrado e rabo de cavalo dele. Claro, ele pode estar se movendo - mas pelo que sabia dele, era
improvável; o repórter se escondia diante do perigo.
Por falar em perigo...
Ada foi para a porta que dava na parte inferior da asa leste. O hall principal estava a salvo dos infectados, eles
não pareciam conhecer uma maçaneta - mas havia ameaças além deles. Só deus sabe o que a Umbrella
mandará para arrumar tudo isso... ou o que foi solto no laboratório após a contaminação. Menos assustador,
mas não menos preocupante quanto os policiais vivos procurando alguém para salvar. Ela já ouviu tiros, alguns
distantes, outros não, toda hora desde que chegou; deve haver alguns não-infectados no grande e velho prédio.
Na ponta dos pés para evitar barulho, ela cruzou a porta e se encostou nela, decidindo onde ir; ela ainda não
checou o subterrâneo e haviam vários portadores na sala dos detetives.
Ah, a excitante vida de uma agente autônoma. Viajar pelo mundo! Ganhar dinheiro roubando coisas importantes!
Combater mortos-vivos sem ter tomado um banho ou comido algo decente por três dias - isso impressiona os
amigos!
Ela se lembrou de pedir aquele bônus de novo. Quando chegou em Raccoon há menos de uma semana, ela se
achava preparada; os mapas foram estudados, os dados do repórter memorizados, sua história falsa na ponta
da língua - uma mulher procurando pelo namorado, um cientista da Umbrella. Essa parte era quase verdade; de
fato, foi seu breve relacionamento com John Howe dez meses antes de ela ter arrumado o emprego. Mas John
pensou de outra forma e sua conexão com a Umbrella provavelmente o matou. Tudo isso se tornou uma boa
dica para ela.
Aí ela já estava pronta. Mas nas primeiras vinte e quatro horas de estadia, sua sorte mudou; enquanto comia no
quase vazio restaurante do hotel, ela ouviu os primeiros gritos do lado de fora. Os primeiros, mas não os últimos.
De algum modo, o desastre foi uma vantagem; não haverá guardas no laboratório. O estudo que fez no T-virus
a assegurou de que o aerotransmissível se dissipa rapidamente; o único modo de se contaminar agora é entrando
em contato com um portador, então não haverá problema.
Objetivos: interrogar o repórter, descobrir o quanto ele sabe e matá-lo ou ignorá-lo, depende. Recuperar uma
amostra do novo vírus, a mais nova maravilha do Dr. Birkin. Sem problema, certo?
Três dias antes, sabendo como o laboratório da Umbrella era conectado ao sistema de esgoto e com Bertolucci
na sua frente, o trabalho teria siso moleza. Foi quando as coisas começaram a dar errado.
Pessoas desaparecendo, barricadas caindo...
Ela observou Bertolucci de perto o bastante para ver que ele fugiria. Ela nem teve tempo de fazer contato antes
#
dele desaparecer. Ada decidiu continuar sozinha quando três quartos dos civis foram mortos por que ninguém se
preocupou em fechar os portões da garagem. Ela não queria morrer tentando proteger sua imagem de turista
assustada procurando o namorado.
Aí veio a espera. Quase quinze horas esperando as coisas se acalmarem, escondida no maquinário do relógio do
terceiro andar, entre o eco de tiros e gritos...
Ótimo. O que fazer agora? Sentar e refletir ou acabar logo com isso; quanto mais cedo acabar mais tempo de
férias terá numa ilha qualquer.
Quieta, Ada não se mexeu, batendo sua Beretta na perna. Haviam corpos espalhados no corredor; ela não
conseguia parar de olhar um deles, caído debaixo da janela-bancada do escritório. Uma mulher ensangüentada.
Os outros dois eram policiais e ela não os conhecia - mas a mulher foi uma das pessoas com a qual conversou
quando chegou na delegacia. Seu nome era Stacy, uma nervosa, mas forte garota de vinte e poucos anos.
Stacy Kelso, isso mesmo. Ela queria comprar sorvete e acabou aqui - apesar de sua situação, ela estava mais
preocupada com os pais e o irmão em casa. Uma garota consciente. Uma boa garota.
Por que ela está pensando nisso? Stacy estava morta e não foi Ada que a matou. Ela veio aqui para trabalhar;
não foi sua culpa por Raccoon estar assim.
Talvez não seja culpa. Talvez só esteja triste porque Stacy não conseguiu.
Ela era uma pessoa, e agora está morta, como sua família provavelmente.
"Saia dessa". Ela disse, suave, mas irritadamente. Ada desviou o olhar, fixando-o num cinzeiro quebrado no fim
do corredor, onde virava à direita. Sentia-se mau com as coisas que não conseguia controlar, não era seu estilo,
não foi assim que chegou até aqui - e considerando o esforço que o Sr. Trent estava fazendo para manter Ada
trabalhando, agora não é a melhor hora para analisar suas habilidades.
Objetivos: falar com Bertolucci e pegar a amostra do G-virus. É tudo com o que ela precisa se preocupar.
Ainda há um mecanismo que Ada precisa ver, na sala de entrevistas. As últimas adições do arquiteto foram
detalhadas por Trent, mas ela sabia que tinha a ver com as lâmpadas de gás e uma pintura a óleo. A pessoa que
fez tudo isso teve uma séria vida secreta; havia passagens secretas escada acima, atrás de uma parede. Ela
ainda não foi lá, mas uma breve olhada revelou um escritório. Julgando pela decoração neurótica e estofada, só
podia ser de Irons. Mesmo tendo estado em sua companhia por pouco tempo, ele era o homem mais instável
que já conheceu; não havia dúvidas de que estava na lista de pagamento da Umbrella, mas também havia algo
sobre ele que parecia bem defeituoso.
Ada desceu o corredor, seus sapatos contra os ladrilhos esverdeados; ela já temia outro mecanismo. Nada que
não tinha dicas; ela assumia que o vírus ainda estava no laboratório. Os dados diziam que havia cerca de doze
frascos da coisa, informação de um vídeo de duas semanas - e o laboratório de Birkin não era impenetrável.
Sendo o laboratório subterrâneo conectado à delegacia pelo esgoto, ela deve considerar que as amostras foram
movidas. Além disso, Bertolucci pode estar escondido na biblioteca ou no escritório do S.T.A.R.S., na asa oeste,
talvez na sala de revelação; vivo ou morto, ele precisa ser encontrado.
Ela virou no corredor, passando por uma pequena área de espera com máquinas de venda já saqueadas. Como
todo o R.P.D., o corredor estava frio e com falta de ar fresco; ela já se acostumou com o cheiro, mas o frio era
a pior parte. Pela centésima vez desde que saiu o hotel, Ada desejou ter colocado outra roupa.
O vestido vermelho sem mangas, meia calça preta e sapatos barulhentos eram ótimos como disfarce; como
equipamento, a roupa estava longe de prática.
Chegando no fim do corredor, ela abriu a porta cuidadosamente, de arma na mão. Como antes, o corredor
estava vazio, outra prova da desbotada elegância do prédio - paredes cor de areia e lajotas padronizadas. A
delegacia já deve ter sido magnífica, mas os anos de uso como prestador de serviços, o prédio perdeu seu
encanto; com a mansão de um filme, a fria atmosfera dando uma distinta sensação sinistra - como se a qualquer
momento uma fria mão pudesse tocar seu ombro, uma suave respiração em seu pescoço...
Ada franziu de novo; depois dessa missão, ela tirará longas férias. Senão isso, tentará outra carreira. Sua
concentração já não é como antes. E em seu trabalho, um erro pode levar à morte.
Um grande bônus. Trent cheira como dinheiro. Eu vou pedir sete dígitos, seis no mínimo.
Em suas tentativas de bloquear os pensamentos, só um ainda persistia - a jovem Stacy Kelso pondo o cabelo
atrás da orelha enquanto falava de seu irmão bebê...
Depois do que pareceu um longo tempo, Ada apagou essa visão e continuou andando, prometendo a si mesma
#
de que não haverá mais lapsos de concentração - e imaginando por que não acha que conseguirá.
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*De Lorean - Carro conhecido mundialmente por ter sido a máquina do tempo nos filmes da trilogia "De volta para
o Futuro".
*Delicatessen - Casa de comestíveis; mercearia.
*Espadas - Referência aos naipes do baralho:
Heart = Copas
Diamond = Ouros
Spade = Espadas
Club = Paus
--------------------------------------------------------------
[7]
As botas de Leon esmagavam cacos de vidro na loja de armas Kendo, enquanto abria as gavetas. Se ele não
achar balas rápido terá problemas; as armas restantes da loja estavam inacessíveis, presas com cabos de aço, e
a janela da frente estava completamente quebrada. Não demorará muito para as criaturas o acharem, ele só
tinha uma bala e muito o que andar.
"Isso!".
Quarta gaveta, munição. Leon pegou a caixa e a pôs no balcão enquanto vigiava a frente da loja. Ninguém ainda,
sem contar o dono da loja morto. Ele não se movia. Por ter morrido há alguns minutos, não se sabe quando
voltará à vida, e Leon não queria estar lá para descobrir.
Vigiando a pequena loja, ele começou a recarregar. Leon tinha se esquecido da loja depois do acidente,
achando-a casualmente. Estando o caminho mais rápido para a delegacia bloqueado, a Kendo's era a melhor
opção.
"Uuuuunh...".
Uma horripilante e esquelética forma saiu das sombras da rua, vindo cegamente para frente da loja.
"Droga". Leon disse, seus dedos trabalhando mais rápido. Um clip pronto, mais um e pode levar o resto.
De repente, outra figura apareceu.
- dezesseis... dezessete...pronto!
Ele pegou a H&K e ejetou o clip, colocando o novo assim que o vazio caiu no chão. A criatura estava passando
pela armação do vidro, algo líquido em sua garganta soando levemente.
Mochila, ele precisa de uma. Leon olhou debaixo do balcão, vendo uma mochila de ginástica no fim dele. Material
de limpeza se espalhou no balcão enquanto Leon colocava os clips na mala, ignorando as balas espalhadas na
gaveta.
O monstro podre vinha em sua direção, tropeçando no dono da loja. Leon ergueu a arma e mirou no rosto da
criatura.
Na cabeça, igual aos outros dois lá fora -
Com um tremendo e alto som, a bala explodiu o rosto do zumbi, sangue respingando nas paredes.
Antes da coisa cair, Leon virou e ajoelhou perto da gaveta de munição, jogando as pesadas caixas na mochila.
Seu estômago dando um nó e tremendo de medo; o beco de trás pode estar cheio de zumbis.
Umas cento e cinqüenta balas, agora saia -
Levantando-se, Leon vestiu a mochila e correu para a porta de trás. Pelo canto do olho, viu outra criatura
entrando na loja; pelos cracks do vidro, havia mais deles.
Ele abriu a porta de saída e a cruzou, olhando para os lados assim que a porta se fechou. Nada além de latas de
lixo e caixas de papelão. De onde estava, o beco continuava à esquerda e depois virava à direita; se seu senso
de direção estiver intacto, a estreita passagem o levará direto para a Oak.
Até agora ele teve sorte; tudo o que podia fazer era esperar que isso não mudasse, e que pudesse chegar inteiro
#
no R.P.D. - e que lá houvesse um monte de pessoas armadas que saibam o que aconteceu.
E Claire. Esteja bem, Claire Redfield, e se chegar lá primeiro, não tranque a porta.
Leon ajustou a mochila nas costas e andou pelo beco mau iluminado, pronto para explodir o que cruzar seu
caminho.
Claire conseguiu quase sem dar um tiro; os zumbis eram cruéis, mas lentos, e a adrenalina em seu corpo tornou
fácil desviar deles. Talvez o som do acidente desviou suas atenções, aí foi só seguir seus olfatos, ou o que sobrou
deles. Dos dez zumbis que viu, pelo menos metade estava num avançado estágio de decomposição, carne
caindo dos ossos.
Ela já esteve no R.P.D. duas vezes com Chris, mas nunca entrou pela parte de trás. Viaturas estacionadas e
alguns policiais zumbificados a receberam na pequena área, levando-a para uma pequena cabana. Depois havia
um pátio - o pátio o qual ela e Chris almoçaram uma vez, sentados nos degraus que levavam ao heliporto do
segundo andar.
Desviar dos zumbis policiais no pátio em forma de L foi fácil, e um alívio por estar num lugar que conhecia.
Uma mulher de um único braço pendurado e roupas ensangüentadas, tinha saído das sombras debaixo da
escada e tocou Claire com frias mãos; Claire soltou um suspiro de surpresa, livrando-se da criatura - e quase caiu
nos braços de outro, um alto homem que também saiu de debaixo da escada de metal, grosseiro e silencioso.
Ela conseguiu evitá-lo e se afastou, apontando a 9 mm para o homem, recuando um passo e -
- esbarrou no corrimão. A mulher estava a um metro e meio à direita. O homem a um passo de distância.
Claire apertou o gatilho e houve um gigantesco boom, a arma quase pulando fora de sua mão. A parte direita do
rosto dele desapareceu numa explosão de líquido escuro.
Ela girou a arma, apontando para a pálida face da mulher. Outro tiro e o gemido foi interrompido, a testa
implodindo num espirro de sangue e pedaços de ossos. A mulher caiu de costas no chão como um -
- como um cadáver, o qual ela já era. Eles não sairão mais daqui.
Por um momento, Claire não se moveu. Ela olhou para os dois corpos e sentiu que esteve a um centímetro de
errá-los.
Ela cresceu em volta de armas, atirando em alvos dezenas de vezes - mas era com uma pistola .22 e alvos de
papel. Alvos que não sangravam ou espirravam miolos como os dois seres humanos que acabou de matar -
Não. Uma voz interna a interrompeu. Humanos, não, não mais. Não se engane e não perca tempo com
remorso. Leon já deve ter entrado, e está procurando por você. E se o S.T.A.R.S. foi chamado, Chris pode estar
lá também.
Se isso não foi motivação o bastante, os dois zumbis que deixou para trás estavam vindo. É hora de ir.
Ela subiu a escada, mal ouvindo seus passos por causa do zumbido em seu ouvido. Os tiros não fizeram bem à
sua audição - por isso só ouviu o helicóptero quando estava chegando lá em cima.
Claire parou, o vento batendo ritmadamente em seu corpo enquanto o veículo entrava em visão, perdido na
sombra. Estava de frente para a antiga torre d'água. Ela não sabia se ia pousar ou se já tinha decolado.
Não sabia e não se importava. "Ei!". Ela gritou, erguendo sua mão esquerda. "Ei, aqui!".
Suas palavras se perderam na poeira levantada pelas pás do helicóptero. Claire acenou como se tivesse ganhado
na loteria.
Alguém veio. Graças a Deus, obrigado!
O holofote da aeronave foi ligado - mas estava indo na direção errada, não para ela. Claire balançou os braços
mais freneticamente, respirando para gritar de novo até que -
- viu o que a luz iluminava, mesmo enquanto ouvia o desesperado e praticamente inaudível grito sob o motor do
helicóptero. Um homem, um policial, de pé no meio do heliporto. Ele segurava uma metralhadora, e parecia bem
vivo.
"- venha até aqui -".
O policial gritou para o alto, sua voz cheia de pânico; Claire viu o porquê e seu alívio evaporou. Havia dois zumbis
saindo do escuro e indo para o alvo bem iluminado que estava gritando. Ela ergueu a arma, mas a abaixou de
novo, com medo de acertar o policial.
A luz não se movia, iluminando o terror com sua brilhante claridade. O homem não devia saber o quanto perto os
#
zumbis estavam até que foi tocado.
"Afastem-se! Não se aproximem!". Ele gritou. Com o terror em sua voz, Claire pode ouvi-lo claramente. As duas
figuras o encurralaram no canto sudoeste do heliporto.
O som da metralhadora foi alto. Mesmo com o helicóptero acima, Claire ouviu as balas cortando ar. Ela se
ajoelhou enquanto os tiro continuavam para todos os lados - e para cima -
- e houve uma mudança no som do helicóptero, um estranho hum que fico mais alto. Claire olhou para cima e viu
a nave branca mergulhando, a cauda balançando num instável arco.
Jesus, ele acertou o helicóptero.
O holofote ia em todas as direções, passando por canos de metal, concreto e o policial sendo atacado pelos
zumbis, de alguma forma ainda atirando -
- e de repente o helicóptero começou a descer, balançando. As pás batendo no telhado com muita força. Antes
que Claire pudesse piscar, o nariz da nave bateu - cruzando o heliporto num curto arranhão de faíscas e cacos de
vidro.
A explosão ocorreu assim que a máquina caiu na parede sudoeste - diretamente sobre o policial e seus dois
assassinos. No mesmo instante, o nariz do helicóptero atravessou a parede de tijolos bem à frente.
A rajada de tiros finalmente parou sob as chamas que vieram depois do boom, iluminando o lugar num ardente
calor alaranjado.
Claire ergueu-se nas pernas que mal sentia, olhando desacreditada para o fogo que tomava conta de quase
metade do heliporto. Tudo aconteceu tão rápido que pareceu ser mentira. Um ácido e enjoativo odor de metal
derretido passou por ela numa onda de calor, e no súbito silêncio ela pode ouvir o gemido dos zumbis no pátio lá
embaixo.
Ela olhou para as escadas e viu que ambos os policiais zumbis estavam na base, cegamente tropeçando no
primeiro degrau. Pelo menos eles não estavam subindo...
Claire virou seu assustado olhar na direção da porta a uns dez metros dali. Exceto pela escada, a porta era o
único modo de chegar lá. E se zumbis não conseguiam subir - e tinha dois no heliporto -
- então tenho problemas. A delegacia não é segura.
Ela olhou para os destroços queimando, medindo opções. Ela ainda tinha muita munição; ela pode voltar para a
rua, procurar um carro com chave e buscar ajuda.
E Leon? Se aquele policial estava vivo, pode haver mais lá dentro planejando uma fuga?
Ela não podia ir embora sem avisar Leon; e se ele morrer procurando por ela...
Decidida, Claire foi até a porta, procurando movimento nas sombras. Chegando lá, fechou os olhos por um
segundo, a mão suada na fechadura.
"Eu vou conseguir". Ela disse. Apesar de não ter parecido confiante como queria, sua voz não tremeu. Ela abriu
os olhos, depois a porta; quando nada saiu do escuro corredor, ela entrou.
[8]
O Chefe da polícia, Brian Irons, estava parado em um de seus corredores particulares, tentando recuperar o
fôlego, quando sentiu um tremendo impacto no prédio. Ele o ouviu, também - ouviu algo. Um distante som,
pesado e brutal.
O telhado. Ele pensou. Algo no telhado...
Ele não se preocupou em tirar conclusões. Seja lá o que for, não tornará as coisas piores.
Irons se afastou da parede de pedra e ergueu Beverly o mais gentilmente possível. Eles estarão no elevador em
um minuto, depois uma pequena caminhada até o escritório; ele pode descansar lá, e depois -
"E depois,". Ele resmungou. "essa é a questão, não é?. Depois o que?".
Beverly não respondeu. Seus traços perfeitos permaneceram parados, seus olhos fechados - mas ela parecia se
aconchegar com ele, seu longo e magro corpo perto do peito dele. Devia ser sua imaginação...
#
Beverly Harris, a filha do prefeito. Bela e jovem Beverly, que, com sua beleza loira, já assombrava os sonhos
culposos de Brian. Ele a segurou e continuou indo para o elevador, tentando não demonstrar exaustão caso ela
acorde.
Seus braços e costas estavam doendo quando chegou no elevador. Ele deveria tê-la deixado em sua sala de
hobby, a sala a qual sempre considerou como um Santuário - era clamo lá, e provavelmente um dos lugares mais
seguros da delegacia. Quando ele decidiu voltar para o escritório, pegar seu diário e outros itens pessoais, ele
percebeu que simplesmente não podia deixá-la para trás. Ela parecia tão vulnerável, tão inocente; ele tinha
prometido a Harris de que cuidaria dela; e se ela fosse atacada em sua ausência? E se ele voltar e ela não estiver
lá?
Uma década de trabalho. Fazendo conexões, se posicionando... tudo isso, desse jeito.
Irons a pôs no frio chão e abriu as grades, tentando não pensar no que perdeu. Beverly era o mais importante
agora.
"Te dar segurança". Ele disse. Por acaso ela mexeu a boca, sorrindo? Será que ela sabe que está a salvo com o
tio Brian? Quando ela era criança, quando ele visitava a família Harris para jantar, ela o chamava assim. "Tio
Brian".
Ela sabe. Claro que sabe.
Ele a colocou no elevador, olhando seu angelical rosto. Ele foi pego subitamente por uma onda de amor paterno,
e não ficou surpreso ao sentir lágrimas nos olhos, lágrimas de orgulho e afeição. Nos últimos dias, ele tem sido
alvo das emoções - raiva, terror, até mesmo alegria. Ele nunca foi um homem emotivo, mas teve que aprender a
conviver com os sentimentos; pelo menos não eram confusos.
Chega deles, nada mais pode dar errado agora; Beverly está comigo, e uma vez pegas as minhas coisas, nos
esconderemos no Santuário e descansaremos. Ela precisará de tempo para se recuperar.
Ele piscou as esquecidas lágrimas assim que a jaula de metal começou a subir, checando a arma para ver
quantas balas restavam. Sua sala subterrânea era segura, mas o escritório era outra história; ele quer estar
preparado.
O elevador parou e Irons abriu a grade com o pé antes de levantar a garota, gemendo com o esforço. Ele a
carregou como uma criança, sua cabeça caída para trás.
Ele apertou o botão na parede com o joelho. A parede deslizou para cima, revelando a aveludada decoração de
seu escritório sem; só os vazios olhares de seus animais empalhados o receberam.
A grande mesa de madeira que importou da Itália estava bem à sua esquerda, e sua força acabando; Beverly
era magra, mas ele não estava em forma, como antigamente. Ele rapidamente a colocou na mesa, empurrando
um porta-lápis com o cotovelo.
Ele tinha ficado preocupado quando a achou desacordada ao lado do Oficial Scott no corredor de trás; George
Scott estava morto, coberto de ferimentos. Ao ver a mancha vermelha no estômago dela, Irons achou que
também estivesse morta. Mas quando ele a levou para seu Santuário, ela cochichou para ele - que não se sentia
bem, que estava ferida, que queria ir para casa.
... não é? Não disse?
Irons franziu, tirado da incerta lembrança por algo, algo que sentiu quando a deitou na mesa e arrumou seu
vestido branco manchado de sangue, algo que não se lembrava. Não parecia importante, mas agora, longe da
segurança de seu Santuário, isso o estava incomodando. Lembrando-o de que sofreu um daqueles momentos
confusos quando ele, quando ele - senti os frios e moles intestinos entre meus dedos -
- quando ele a tocou.
"Beverly?". Ele cochichou, sentando na cadeira de sua mesa quando de repente sentiu suas pernas fracas.
Beverly continuou calada - e o turbulento dilúvio de emoções o acertou, lotando sua mente com imagens,
memórias e verdades que não queria aceitar; Recuar as barricadas depois dos primeiros ataques. A Umbrella,
Birkin e os mortos-vivos. O massacre na garagem. O crescente número de mortos na primeira e terrível noite - e
a brutal percepção de que sua cidade - já era.
Depois disso veio a confusão. A estranha alegria que veio ao perceber que não haverá conseqüências para seus
atos. Irons se lembrou do jogo que fez na segunda noite, depois que alguns bichinhos de Birkin acharam alguns
#
policiais. Ele achou Neil Carlsen escondido na biblioteca e... o caçou, perseguindo o sargento como um animal.
Qual seria o problema, já que a minha vida em Raccoon está acabada?
Tudo o que restava era seu Santuário - e a parte dele que ajudou a criar o lugar, a parte escura e gloriosa de seu
coração que sempre escondeu. Esta parte está livre agora...
Irons olhou para o corpo de Beverly e sentiu que pode ser destruído pelos sentimentos de medo e dúvida que
lutavam dentro dele. Irons a matou? Ele não conseguia se lembrar.
Tio Brian. Dez anos atrás, eu era o Tio Brian dela. Em que me tornei?
Era demais. Sem tirar os olhos do rosto sem vida de Beverly, ele tirou a VP70 carregada do coldre e começou a
esfregar o cano com os dedos, leves toques que o asseguraram enquanto a arma girava em sua direção.
Quando o cano foi pressionado contra sua macia barriga, ele sentiu que algum tipo de paz ficou ao seu alcance.
Seu dedo encostou no gatilho, e foi quando Beverly cochichou para ele de novo, os lábios dela parados, mas sua
leve e musical voz vindo do nada e de todos os lados ao mesmo tempo.
- não me deixe, Tio Brian. Você prometeu que me daria segurança, que cuidaria de mim. Pense no que você
pode fazer agora sem que nada o impeça.
"Você está morta". Ele sussurrou, mas ela continuou falando, suave e persistente.
... nada o impedirá de se realizar de verdade pela primeira vez na vida...
Torturado, Irons vagarosamente tirou a 9mm de seu estômago. Depois de um momento, ele descansou sua
testa no ombro dela e fechou os olhos.
Ela estava certa, ele não podia deixá-la. Ele tinha prometido - e ela disse algo sobre o que podia fazer. Sua mesa
de hobby era grande o bastante para acomodar qualquer tipo de animal...
Isso mesmo. Ele vai descansar e depois cuidará dos negócios; afinal, ele é o chefe da polícia.
Sob controle de novo, Brian Irons começou a dormir, a fria pele de Beverly em sua testa.
[9]
Graças a um furgão parado no beco, o atalho para a delegacia sofreu mudanças - uma quadra de basquete
infestada de zumbis, outro beco, um ônibus que fedia por causa dos mortos lá dentro. Foi um pesadelo, os
gemidos, o cheiro e a distante explosão que fez suas pernas tremerem. Apesar de tudo, Leon manteve a
esperança de que havia algum tipo de mobilização no R.P.D., com policiais e paramédicos - autoridades tomando
decisões e equipes organizadas. Não era uma esperança, era uma necessidade.
Quando ele finalmente saiu na rua em frente ao R.P.D. sentiu-se espancado vendo viaturas pegando fogo. Mas
foi a visão de zumbis policiais gemendo entre as chamas que acabaram com sua esperança. O R.P.D. tinha uma
equipe de cinqüenta ou sessenta policiais, e um terço deles estavam vagando ou mortos perto da entrada do
prédio.
Leon tentou esquecer o desespero, fixando seu olhar no portão do jardim. Tendo ou não alguém sobrevivido, ele
tinha que chamar ajuda - e achar Claire.
Ele correu para o portão, desviando dos zumbis uniformizados, abrindo e fechando o portão de metal. A pequena
área gramada à sua direita estava iluminada o bastante para ver que havia três ex-humanos lá, e que não
representavam ameaça. Ele pode ver as duas bandeiras que enfeitavam a entrada da delegacia, penduradas
sem se mover. A visão reconsiderou suas esperanças, pelo menos está num lugar que conhece e que deve ser
mais seguro do que na rua.
Leon correu entre o trio de zumbis - dois homens e uma mulher; todos pareciam normais se não fosse por seus
gemidos famintos. Devem ter morrido recentemente.
A porta de entrada não estava trancada; por tudo o que passou desde que chegou na cidade, Leon preferiu
manter suas expectativas no mínimo. Ele girou a maçaneta e entrou, de arma erguida e dedo no gatilho.
Vazio. Não havia sinal de vida no grande e velho saguão do R.P.D. - e nenhum sinal do desastre que tomou conta
de Raccoon. Leon fechou a porta e desceu os degraus para o piso mais baixo.
#
"Olá?". Leon disse baixo, e o som ecoou de volta com um suspiro. Tudo parecia do mesmo jeito; três andares de
clássica arquitetura em madeira e mármore. Havia a estátua de uma mulher segurando um vaso no ombro bem
no meio do lugar, uma rampa de cada lado levando à recepção e o logotipo do R.P.D. no chão em frente ao
suave brilho da estátua, proveniente das arandelas na parede.
Sem corpos, sem sangue... nem um cartucho de bala. Se houve um ataque aqui, onde diabos estão as provas?
No profundo silêncio do lugar, Leon subiu a rampa da esquerda, parando no balcão da recepção, curvando-se
sobre ele; tudo no lugar. Tinha um telefone na mesa sob o balcão. Leon pegou o receptor e o colocou entre a
cabeça e o ombro, tocando os botões com os dedos. Nem discava; tudo o que ouvia era o som de seu próprio
coração.
Ele virou para a sala vazia, decidindo por onde começar. Ele recebeu um memorando do R.P.D. semanas atrás,
dizendo que as salas seriam mudadas. Mas isso não importava; os policiais não se preocupariam em ficar ao lado
de suas mesas nessa situação.
Haviam três portas no saguão que davam em diferentes lugares da delegacia; duas no lado oeste e uma no
leste. Das duas no lado oeste uma leva a uma série de corredores para a parte de trás do prédio, depois da sala
de arquivos e da sala de pronunciamentos; a segunda dava num escritório e armários, que então leva às escadas
para o segundo andar. O lado leste do primeiro andar era primeiramente para os detetives - escritórios,
interrogatórios e sala de entrevistas; tinha também acesso ao subsolo e escadas no lado de fora.
Claire provavelmente veio pela garagem... ou pelo telhado.
Ou então ela contornou o prédio e veio pelo mesmo lugar que ele - se ela conseguiu chegar aqui, pode estar em
qualquer lugar. E considerando que o R.P.D. ocupa quase um quarteirão, ainda tinha muito chão pela frente.
Ele optou pela segunda porta do lado oeste, onde seu armário estaria.
Leon entrou devagar, esperando ver as mesmas condições do saguão; silêncio e organização. Mas o que viu
confirmou seus medos: as criaturas estiveram lá - com a vingança.
A longa sala estava arrasada, mesas e cadeiras jogadas e derrubadas em todo canto. Borrões de sangue
decoravam as paredes, rastros do mesmo em poças no chão, indo em frente.
"Meu Deus -".
Um policial estava sentado contra os armários à sua esquerda, suas pernas esticadas, meio escondidas pela
mesa virada. Ao som da voz de Leon, ele fracamente ergueu o braço, apontando vagamente uma arma na
direção de Leon - e a abaixou de novo, parecendo exausto com o esforço. Seu peito estava pintado de sangue,
suas expressões cheias de dor. Leon se abaixou ao lado dele em dois passos, gentilmente tocando seu ombro.
Ele não via o ferimento, mas tinha tanto sangue que a gravidade era óbvia -
"Quem é você?". O policial suspirou.
Eles nunca foram apresentados, mas Leon já o viu antes. O jovem policial afro-americano se chamava Marvin
Branagh...
"Eu sou Leon S. Kennedy. O que aconteceu aqui?".
"A cerca de dois meses," Marvin disse, "os assassinatos canibais... o S.T.A.R.S. encontrou zumbis na mansão da
floresta...".
Ele tossiu e Leon começou a dizer para descansar, mas Marvin parecia determinado a contar a história.
"Chris e os outros descobriram que a Umbrella estava por trás de tudo... arriscaram suas vidas, mas ninguém
acreditou... depois isto".
Chris... Chris Redfield, o irmão de Claire.
Leon sabia algo sobre o problema com o S.T.A.R.S. ele só ouviu trechos da história - a suspensão do grupo de
ações táticas especiais e resgate, após serem acusados de má conduta, foi o motivo da contratação de novos
policiais.
Ele até leu o nome dos membros num jornal, listados juntos com alguns de seus recordes.
- e a Umbrella destrói a cidade. Algum tipo de vazamento químico que tentaram esconder se livrando do
S.T.A.R.S. -
Tudo isso saia de sua mente até que Marvin tossiu de novo, mais fraco.
"Agüenta aí". Leon disse, procurando algo para estancar o sangramento. Ele achou uma camiseta no armário
atrás do policial e a enrolou, pressionando contra o estômago de dele. O próprio policial segurou-a com as mãos,
fechando os olhos enquanto falava novamente.
"Não se preocupe comigo. Há... você deve tentar salvar os sobreviventes...".
#
Leon balançou a cabeça, querendo negar a verdade, querendo fazer algo para aliviar a do de Marvin - mas ele
estava morrendo, e não podia chamar ajuda.
"Vá". Marvin disse, ainda de olhos fechados.
Ele estava certo, Leon não podia fazer mais nada - e não conseguiu se mover por um momento - até Marvin
erguer sua arma de novo, apontando-a para Leon numa erupção de energia que aumentou sua voz num grito.
"Vá!". O policial ordenou e Leon se levantou.
"Eu voltarei". Leon disse firmemente, o braço de Marvin já caindo.
Leon voltou para a porta, respirando fundo e aceitando a mudança de plano que pode acabar o matando - mas
que não podia evitar. Ele era um policial. Se houvessem sobreviventes, é sua civil e moral conduta ajudá-los.
Tem um depósito de armas no subsolo, perto da garagem. Leon abriu a porta e voltou para o saguão, rezando
para que o depósito esteja bem equipado - e que haja alguém para salvar.
[10]
Depois do ardente telhado, Claire cruzou um zigue-zagueado corredor cheio de cacos de vidro no chão - e depois
de um policial morto no chão, seu medo sobre a segurança da delegacia aumentou. Ela pulou o corpo e continuou
andando. Uma fraca brisa passou pelas janelas quebradas que decoravam a parede externa, dando vida à
escuridão; haviam brilhantes penas pretas junto às marcas de sangue no chão, que fizeram Claire mirar o
revólver a cada suave balanço.
Ela passou por uma porta que dava nas escadas externas do lugar, mas continuou andando, virando à direita. O
modo como o helicóptero acertou o prédio perturbou Claire, inspirando visões da velha delegacia pegando fogo.
Só faltava essa...
Cadáveres e marcas de sangue nas paredes; Claire não estava feliz com a idéia de vagar pela delegacia. E mais,
tiros não são tão eficientes; ela precisa ver o quanto ruim está a situação antes de procurar Leon.
O corredor terminava numa porta. Claire a abriu - e recuou assim que a nuvem de fumaça passou por ela, o
cheiro de metal e madeira queimados no ar. Ela se agachou e deu uma espiada no corredor que ia para a direita.
Mais para frente ele virava à direita de novo, e ainda assim não se podia ver o fogo; sua brilhante luz alaranjada
refletia nas paredes cinzas.
Droga. O que foi agora?
Havia outra porta diagonalmente de sua posição, a alguns passos; Claire respirou fundo e andou abaixada para
evitar a fumaça, esperando achar um extintor de incêndio - e que fosse suficiente.
A porta dava numa sala de espera vazia - sofás de vinil verdes, um balcão de canto e uma porta no outro lado. A
pequena sala parecia intocada, clama e quieta, igual aos outros lugares que passou essa noite - só que não havia
sinais de desastre nas suaves sombras criadas pelas fluorescentes acima. Nenhum zumbi morto no chão de
madeira escura e nenhum espirro de sangue nas paredes cor de creme.
E nenhum extintor...
Nenhum à vista. Ela fechou a porta e foi até o balcão, levantando a tampa de entrada com o cano da arma.
Tinha uma velha máquina de escrever no balcão - e perto de um telefone. Claire o pegou esperançosa, mas só
ouviu silêncio. Suspirando, ela se abaixou para ver as prateleiras sob o balcão. Uma agenda, papéis - e meio
escondido entre uma bolsa, o familiar cilindro vermelho, com uma fina camada de pó.
"Aí está você". Ela sussurrou, guardando a 9mm no colete e levantando o extintor. Ela nunca usou um antes,
mas parecia fácil - uma alavanca de metal com um pino de segurança e um bocal de borracha preto. Pelo peso
parecia estar cheio.
Respirando várias vezes e armada com o extintor, Claire abriu a porta e voltou para o corredor. A fumaça tinha
se intensificado, acumulando-se no teto.
Ela fez a curva e viu destroços queimando no fim do corredor, sentindo-se aliviada e triste ao mesmo tempo. O
fogo não era tão grande quanto pensava. As chamas se estendiam até uma porta de madeira destruída. Era o
#
nariz do helicóptero que chamou sua atenção - a ardente cabine - e o ardente corpo do piloto ainda preso no
assento, sua boca queimada bocejando como um grito silencioso. Não dava para saber se era homem ou mulher.
Claire tirou o pino e mirou o cano nas chamas. Ela apertou a alavanca e um jato de neve espirrou, acertando os
destroços com uma nuvem. Mal vendo através da fumaça, ela direcionou o jato sobre tudo. Dentro de um
minuto, o fogo pareceu ter acabado, mas ela continuou usando o extintor até acabar.
A última tossida de gás veio e Claire soltou a válvula, suspirando algumas vezes, procurando algum foco que
tenha passado despercebido. Nenhuma chama, mas a porta de madeira ao lado da cabine ainda soltava filetes de
fumaça. A área em volta da porta já foi arrebentada e Claire decidiu arriscar. Ela recuou e deu um sólido chute na
porta, mirando perto das dobraduras.
A porta abriu com um crack, a madeira carbonizada desfazendo-se em uma chuva de cinzas. Algumas caíram em
suas botas, mas Claire rapidamente levantou a arma, ainda as sacudindo, mais assustada com o que pode estar
esperando do outro lado.
Um curto e vazio corredor tinha seu começo cheio de pedaços de madeira queimados, e uma porta ao fundo, à
esquerda. Claire foi até lá, tanto para respirar ar puro quanto para ver onde dava.
A porta seguinte estava destrancada. Claire a abriu, pronta para atirar em qualquer -
- e parou, chocada com a bizarra atmosfera da sala. Era como uma sátira de um clube de homens dos anos
cinqüenta, um grande escritório decorado com uma extravagância beirando o ridículo. As paredes tinham grandes
estantes de mogno e mesas cercando uma espécie de área de descanso, feita com acolchoadas cadeiras de
couro e uma mesa de mármore, tudo sob um provável tapete oriental. Um elaborado lustre vinha do teto,
jogando uma melodiosa luz sobre tudo. Quadros e delicados vasos estavam por toda parte - mas seus clássicos
designs eram ofuscados pelas empalhadas cabeças de animais e pássaros que dominavam um canto, ao lado de
uma grande mesa -
- Oh, Jesus -
Deitada na mesa, como a personagem de uma história de terror, estava uma bonita e jovem mulher de vestido
longo e branco, seu abdômen tomado por sangue. Era como um enfeite, sendo olhado pelos animais empalhados
- tinha um falcão que parecia estar voando, cabeças de alce e veado. O efeito foi tão pavoroso que por um
momento Claire não respirou -
- foi quando a alta poltrona atrás da mesa girou de repente. Claire mal conteve o grito de terror, esperando ver a
Morte sorrindo para ela. Mas era um homem - com uma arma apontada para ela.
Pela segunda vez hoje...
Por um segundo, ninguém se moveu - então o homem abaixou a arma, um sorriso amarelo surgindo em seu
gorducho rosto.
"Eu sinto muito," ele disse, sua voz tão oleosa quanto a de um político ruim. "pensei que você fosse um daqueles
zumbis".
Ele alisava seu cheio bigode enquanto falava. Apesar de Claire nunca tê-lo conhecido, ela subitamente sabia quem
ele era, Chris já tinha falado sobre ele.
Gordo, bigode - era o chefe da polícia, Brian Irons.
Ele não parecia bem. De fato, parecia desconectado da realidade.
"Você é o chefe Irons?". Ela perguntou, tentando parecer agradável ao se aproximar da mesa.
"Sim, sou eu, e quem é você?".
Antes de ela falar, Irons continuou calmamente, confirmando a suspeita de Claire com o que disse depois - em
seu tom petulante. "Não, não se preocupe em me dizer. Não fará diferença. Você acabará como todos os
outros...".
Ele parou, olhando para o corpo à sua frente, com uma emoção que Claire não podia decifrar. Ela sentiu-se mal
por ele, ao contrário do que Chris disse sobre sua personalidade podre e incompetência profissional; só Deus sabe
que horrores ele presenciou, ou o que teve de fazer para viver.
Leon e eu entramos nesse terror há alguns minutos; Irons já estava aqui, provavelmente vendo seus amigos
morrendo.
Ele olhou para o corpo e falou, sua voz triste e pomposa ao mesmo tempo.
"É a filha do prefeito. Eu deveria cuidar dela, mas falhei miseravelmente...".
Claire procurou palavras de conforto, querendo dizer que tinha sorte por estar vivo, que não foi sua culpa - mas
ele continuou lamentando, as palavras dela morrendo na garganta, junto com a dó.
#
"Olhe para ela. É linda, sua pele perfeita. Mas logo apodrecerá... e em uma hora se tornará uma daquelas coisas.
Bem como os outros".
Claire não queria tirar conclusões, mas sua descrição e olhar faminto a fizeram se arrepiar. O jeito que ele olhava
para a garota morta -
- você fica imaginando coisas. Ele é o chefe da polícia, não um pervertido lunático. Ele é o único vivo que
encontrou. Peça informações!
"Deve haver um jeito de parar...". Claire disse gentilmente.
"Sim... uma bala no cérebro - ou decapitação".
Ele finalmente desviou o olhar do corpo, mas não para Claire. Ele olhou para os bichos ao lado de sua mesa, sua
voz adquirindo um tom alegre.
"Em pensar que - taxidermia costumava ser o meu hobby. Não mais...".
Os alarmes de Claire dispararam. Taxidermia? O que diabos um corpo humano fazia na mesa dele?
Irons finalmente olhou para Claire, que não gostou nem um pouco. Ele olhava em seu rosto mas não parecia
enxergá-la. Ocorreu-lhe que ele não havia perguntado como chegou lá, ou sobre a fumaça que entrou no
escritório. E o jeito que falava sobre a filha do prefeito... nenhuma dor real, só auto-piedade e algum tipo de
admiração.
Oh, Deus, ele não está só abalado, ele está em outro planeta -
"Por favor,". Irons disse. "eu queria ficar sozinho agora".
Ele se acomodou na cadeira e fechou os olhos, parecendo exausto. Tão simples assim, ela foi dispensada,
mesmo com milhões de perguntas - muitas delas que ele poderia responder - mas ela achou melhor só sair de
perto dele, pelo menos agora -
Houve um suave som atrás dela, à esquerda, tão baixo que ela não tinha certeza se realmente o ouviu.
Claire virou, franzindo, e viu outra porta no canto da sala. Ela não a tinha visto antes - e aquele som veio de lá.
Outro zumbi? Ou alguém se escondendo...?
Ela olhou para Irons que nem se moveu.
Então - volto por onde vim, ou vejo o que tem atrás da porta?
Leon - ela tinha que achá-lo e Irons não parecia querer unir forças. Mas se houver outra pessoa no prédio que
precise de ajuda ou possa ajudar...
Não vai demorar. Ela olhou para Irons, perto do corpo da filha do prefeito, cercado por seus animais sem vida;
Claire foi até a segunda porta, esperando não estar cometendo um erro.
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*Taxidermia - Arte de empalhar animais.
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[11]
Sherry tem se escondido por um longo na delegacia, uns três ou quatro dias, e ainda não viu sua mãe. Nenhuma
vez, nem quando havia muita gente restando. Ela encontrou a Sra. Addison - uma das professoras da escola -
logo depois de chegar lá, mas ela já estava morta. Um zumbi a comeu. Não muito depois disso, Sherry achou um
tubo de ventilação que cobre quase todo prédio, e decidiu que se esconder era mais seguro do que ficar com os
adultos - porque eles morriam, e porque havia um monstro na delegacia bem pior que os zumbis e os homens do
avesso. Ela tinha certeza que esse monstro a procurava. Era idiotice, ela nunca pensou que monstros
perseguissem uma única pessoa - mas ela também nunca pensou que monstros existissem.
Assim, Sherry vem se escondendo na sala de armaduras; ninguém morto lá e o único jeito de entrar - exceto o
tubo de ventilação atrás das armaduras - era passando por um longo corredor vigiado por um tigre gigante.
Empalhado, mas assustador - Sherry pensou que ele pudesse afugentar o monstro. Ela sabia que era besteira,
#
mas a fazia se sentir melhor.
Sendo que os zumbis tomaram conta da delegacia, ela passou a maior parte do tempo dormindo. Assim, ela no
pensava no que aconteceu com os pais ou o que vai acontecer consigo mesma. O tubo de ventilação era quente
e tinha muita comida na máquina de doces, escada abaixo - mas ela estava assustada, e pior que isso, sozinha.
Ela dormia atrás das armaduras quando houve um tremendo barulho lá fora. Ela estava certa que era o monstro;
Sherry só o viu uma vez antes, suas grandes e terríveis costas, pela grade de metal - desde então, ela o ouviu
gritar pelo prédio várias vezes. Ela sabia que ele era mau, mau, violento e faminto.
Às vezes ele desaparecia por horas, fazendo Sherry pensar que tinha ido embora - mas sempre voltava, não
importa onde ela estava, mas sempre parecia surgir por perto.
O barulho que a tirou do sono parecia o de um monstro quebrando as paredes, fazendo-a correr para seu
esconderijo caso o som se aproxima, mas não se aproximou. Por um longo tempo não se moveu, segurando seu
amuleto da sorte - um bonito colar de ouro que sua mãe havia lhe dado semana passada, tão grande que
preenchia toda sua mão. Como antes, ele funcionou; o horrível barulho não se repetiu. Ou talvez o tigre cumpriu
seu papel. Mesmo assim, quando ouviu suaves passos no escritório, Sherry sentiu-se segura o bastante, para ir
até o corredor e escutar. Os zumbis e homens do avesso não podiam abrir portas. Se fosse o monstro, já teria
vindo para ela.
Tem que ser uma pessoa. Talvez mamãe...
Na metade do corredor onde virava à direita, ela ouviu pessoas falando no escritório, sentindo um estouro de
esperança e solidão ao mesmo tempo. Ela não sabia o que falavam, mas pela primeira vez em dois dias ela ouviu
alguém que não gemesse. Podia ser a ajuda que finalmente chegou a Raccoon.
O exército, marinha, talvez todos eles...
Curiosa, ela correu para a porta de frente para o tigre, quando as vozes pararam. Sherry ficou imóvel.
Se a ajuda veio, porque não ouvia os caminhões e aviões? Não haveria tiros, bombas e alto-falantes alertando
para que todos saíssem?
Talvez sejam vozes de pessoas más; loucas como aquele homem...
Não muito depois que Sherry começou a se esconder, ela viu uma coisa terrível pela grade da sala de armários.
Um homem de cabelo vermelho estava lá, falando sozinho, balançando para frente e para trás numa cadeira. No
começo, Sherry pensou em chamá-lo para ajudar, mas o modo como falava, sorria e balançava, a deixou
desconfiada. Então ela o observou por um tempo. Ele segurava uma grande faca, e depois de um longo tempo,
ainda rindo, resmungando e balançando, ele se esfaqueou no estômago. O homem a tinha assustado mais do
que os zumbis, porque não fazia sentido. Ele era louco e se matou, e ela engatinhou de volta, chorando, porque
não fazia sentido.
Se as pessoas no escritório são boas, elas podem querer tirá-la de seu esconderijo e tentar protegê-la - e isso
significaria sua morte, porque o monstro certamente não tinha medo de adultos.
Parecia ruim ter que voltar, mas não tinha outra escolha. Sherry começou a voltar para a sala de armaduras
quando -
Crack!
- ela congelou assim que a madeira do chão rangeu. O som pareceu incrivelmente alto e ela prendeu a
respiração, agarrando seu colar e rezando para que a porta não abrisse, que nenhum maluco aparecesse - e a
pegasse.
Ela não ouviu mais nada, mas achou que as batidas do seu coração a denunciariam, era tão alto. Depois de dez
segundos ela continuou andando, na ponta dos pés como se estivesse num ninho de cobras. Ela tinha que usar
toda sua força para não correr até a curva - uma coisa que ela aprendeu nos filmes era que, correr do perigo
sempre significava uma morte horrível.
Quando ela finalmente chegou à porta, sentiu-se aliviada e só queria pegar o cobertor que a Sr. Addison achou e -
A porta do escritório abriu, abriu e fechou. Um segundo depois, passos. Indo para ela.
Sherry voou pela sala, não pensando um mais nada por causa do pânico. Ela passou pelos três cavaleiros,
esquecendo seu lugar seguro. Tudo o que queria era ir o mais longe possível. Havia uma escura e pequena sala
sem porta depois da caixa de vidro no meio da sala -
- e ela ouviu os passos correndo atrás dela. Sherry se abaixou entre os tijolos da lareira e tentou se encolher,
abraçando os joelhos e escondendo o rosto. A escuridão da sala do fundo era tudo o que precisava.
Por favor, por favor, por favor, não apareça, não me veja, eu não estou aqui.
#
Os passos entraram na sala das armaduras e mais calmos, hesitantes, passando pela caixa de vidro. Sherry
pensou em seu tubo de ventilação, que a levaria embora, e segurou as lágrimas de arrependimento. A sala da
lareira não tinha saída.
Os passos se aproximaram da sala que Sherry estava. Ela prometia fazer qualquer coisa caso o estranho fosse
embora -
Thump. Thump. Thump -
De repente a sala se iluminou, o leve click do interruptor sobre o choro de Sherry. Ela não agüentou, se levantou e
correu, gritando, esperando chegar até o tubo de ventilação quando -
- uma quente mão segurou seu braço, apertado. Ela gritou de novo, puxando o mais forte que podia, mas o
estranho era forte -
"Espere!". Era uma mulher.
"Me deixe ir". Sherry choramingou, mas a mulher continuou segurando, puxando.
"Calma, calma - eu não sou um zumbi, fique calma, está tudo bem -".
A voz da mulher soou mais gentilmente. A doce e musical voz repetiu-se de novo e de novo.
"- calma, está tudo bem, eu não vou te machucar, você está segura agora".
Sherry finalmente olhou para a moça, e viu o quanto bonita era, o quanto seus olhos eram preocupados e
simpáticos. Sherry parou de tentar fugir e sentiu as quentes lágrimas em seu rosto. Ela instintivamente abraçou a
bonita jovem - e a moça retribuiu, seus finos braços em volta dos trêmulos ombros de Sherry.
Sherry chorou, deixando a mulher acariciar seu cabelo e dizer palavras tranqüilizantes - pelo menos o pior acabou.
Por mais que quisesse cair nos braços da moça e esquecer os medos, acreditar que estava a salvo, ela sabia que
não dava. Além, disso, ela não era mais um bebê; fez doze anos mês passado.
Sherry se afastou da mulher e secou os olhos, olhando para a estranha. Ela não era velha, por volta dos vinte, e
tinha roupas legais - botas, shorts vermelho de tecido grosso e um colete do mesmo conjunto, sem mangas. Seu
cabelo castanho era amarrado para trás, e quando sorriu, parecia uma atriz de cinema.
"Meu nome é Claire. Qual é o seu?".
Sherry se envergonhou de repente, por ter corrido de uma pessoa tão boa. Seus pais diziam que agia como um
bebê, que era "muito imaginativa", e aqui está a prova; Claire não iria machucá-la.
"Sherry Birkin". Ela disse e sorriu, esperando que Claire não fosse má para ela; ela não parecia brava, e sim
agradecia pela resposta.
"Você sabe onde estão seus pais?". Claire perguntou.
"Eles trabalham no laboratório químico da Umbrella". Sherry respondeu.
"Laboratório químico... então o que você está fazendo aqui?".
"Minha mãe ligou e me disse para vir aqui. Ela disse que é muito mais perigoso ficar em casa".
Claire acenou. "Pelo que parece, ela estava certa. Mas aqui também é perigoso...".
Claire franziu pensativamente, depois sorriu de novo. "É melhor você vir comigo".
Sherry balançou a cabeça, pensando em como explicar que não era uma boa idéia, que era uma idéia muito ruim.
Ela não queria ficar sozinha, mas não seria seguro ir.
Se eu for e o monstro nos achar...
Claire morreria. Apesar de ser magra, Claire não caberia no tubo de ventilação.
"Tem algo aqui". Sherry finalmente disse. "Eu vi, é maior que os zumbis. E quer me pegar".
Claire balançou a cabeça, abrindo a boca para dizer algo quando um terrível e furioso som encheu a sala, ecoando
em violentas ondas de algum lugar do prédio. Por perto.
"Rrraaahh - ".
Sherry sentiu seu sangue virar gelo. Claire arregalou os olhos, pálida.
"O que foi aquilo?".
Sherry recuou, ofegante, mentalmente correndo para o tubo de ventilação atrás das armaduras.
"É disso que eu estava falando". Ela disse, e antes que Claire pudesse pará-la, ela virou e correu.
"Sherry!".
Sherry ignorou o apelo e continuou. Ela se pôs de joelhos sobre o pedestal, colocou a cabeça e se arrastou para
dentro do buraco no rodapé da parede.
Sua única chance, a única chance de Claire, era que ficasse o mais longe possível. Talvez se encontrem de novo
quando o monstro se for.
#
Assim que Sherry engatinhou pelo apertado e escuro tubo, esperou que não fosse muito tarde.
[12]
Ada sentou na cadeira da desarrumada mesa do chefe dos detetives, descansando seus pés doloridos e olhando
cegamente para o cofre vazio no canto da sala. Sua paciência estava se esgotando. Primeiro a amostra do
G-virus, agora Bertolucci, que também não foi encontrado. Ela passou pela sala de descanso, o escritório do
S.T.A.R.S., a biblioteca - todos os lugares onde o repórter teria fácil acesso. E gastou dois clips inteiros para isso.
O problema não foi 23 balas, foi o tempo perdido e sem resultados - exceto por ter matado mais alguns zumbis.
E duas aberrações híbridas da Umbrella.
Ada tremeu, lembrando da contorcida carne vermelha e gritos das criaturas que matou na sala de entrevistas.
Trent alertou sobre os Tyrants modi-ficados - que agradecidamente ainda não apareceram - mas os sanguinários
linguarudos com garras eram uma afronta à suas sensibilidades. E são muito mais difíceis de matar que os
zumbis. Se eles foram produtos do T-virus, ela deverá rezar para que Birkin não tenha feito nada com o novo.
Segundo Trent, a série G ainda não foi usada, e deve ser duas vezes mais potente...
Ada soltou a imaginação. O escritório não era tão inspirante para descansar, mas pelo menos não tinha sangue.
De porta fechada, ela mal sentia o cheiro dos policiais lá fora. Eles já estavam bem afetados quando ela os
matou, o estágio que aparentemente precede o colapso total.
O problema não é senti-los. Meu cabelo e roupas já absorveram o maldito cheiro.
Ela sabia para que servia o T-virus, mas eles não pensaram em pesquisar os efeitos físico-químicos. Quem se
importa? Ela não tinha motivos para acreditar que a Umbrella infectaria sua própria cidade. Ela estava recebendo
várias informações sobre o funcionamento do vírus, mas seria bom saber como ele modifica a mente humana.
Ela só podia tentar adivinhar através de suas observações.
Pelo que parece, leva algumas horas para alguém infectado virar um zumbi. Às vezes, a vítima passa por uma
febre-coma antes, que provavelmente queima partes do cérebro - e pareciam estar acordando da morte em
busca de carne fresca logo depois. Os sintomas eram os mesmos para todos, mas não a velocidade do
processo; ela viu uns três casos em que a vítima virou zumbi alguns momentos após ser infectada, o estágio que
ela chamou de "catarata". Apesar de a deterioração física começar imediatamente, alguns caem aos pedaços
mais rápido do que outros.
... e por que você está pensando nisso? Seu trabalho não inclui achar a cura?
Ela suspirou, curvando-se para coçar os pés. Verdade. Mesmo assim, era algo para se considerar. Pensar em
ficar viva era cansativo; ela não podia fazer isso enquanto limpava os corredores. Ela estava descansando, e
precisava pensar em assuntos mais intrigantes.
E não são poucos... Trent, o que Bertolucci sabe ou deveria saber... o S.T.A.R.S. - e o que diabos aconteceu
com eles?
Pelos artigos que Trent incluiu no pacote de informações, ela sabia sobre a suspensão do grupo - e considerando
o que estavam investigando, não precisava ser gênio para ver que estavam na cola da Umbrella para revelar seu
segredo. A Umbrella já deve ter se livrado deles caso não tenham se escondido - e Ada tem que ver se Trent
participou da aventura do S.T.A.R.S..
Não que ela diria, mas Trent era um enigma. Ela só o encontrou uma vez, apesar de tê-la contatado para ir até
Raccoon, na maioria das vezes por telefone. Ela sempre se orgulhou da capacidade de ler as pessoas, mas não
sabia onde os interesses dele estavam, por que queria o G-virus ou que função exercia na Umbrella. Era óbvio
que tinha contatos lá dentro, ele sabia demais sobre a companhia - mas se era o caso, porque ele não pega sua
própria amostra e pede demissão? Contratar uma agente secreta era o ato de alguém querendo evitar
complicação - mas complicações do que?
Não é da minha conta...
Um bom princípio para se viver; ela também não era paga para investigar Trent. Mesmo que fosse, seria difícil;
#
ela nunca conheceu um homem tão sob-controle como Sr. Trent. Em todo contato que tiveram, ela percebeu
que ele ria por dentro, como se soubesse de um ótimo segredo - e ainda não demonstrou arrogância e
pretensão. Ele era frio, sua genialidade tão natural que ela mal se intimidou; ela não conseguiu decifrar os motivos
dele, mas já tinha visto aquele calmo humor antes - era a face do verdadeiro poder, de um homem com um
plano e meios de executá-lo.
Então a contaminação atrapalhou seus planos, sejam lá quais sejam? Ou ele já estava preparado...? Eu não
imagino o termo "pego de surpresa" no vocabulário de Trent...
Ada girou a cabeça vagarosamente antes de se calçar. O intervalo acabou, pois ela ainda tinha que procurar
Bertolucci em mais alguns lugares, antes de ir para o esgoto. Ela sabia que as persianas de segurança do primeiro
andar não eram tão sólidas assim; ela não quer se deparar com mais zumbis lá de fora.
Havia passagens "secretas" na asa leste e celas no subsolo, depois do estacionamento. Se achá-lo em algum
desses lugares, poderá concentrar-se em obter a amostra.
Ela decidiu começar pelo subsolo; ele não conseguiria achar os corredores escondidos. Pelo que ela leu sobre seu
trabalho, ele não era um repórter tão bom...
Ada saiu do escritório, os ventiladores de teto levando o cheiro de podre até ela. Devia haver sete ou oito corpos
lá, todos policiais...
... mas eu não tinha deixado cinco vivos da última vez?
Ada parou, olhando para o estreito corredor que levava às escadas de trás.
Havia cinco. Eu não estou no meu máximo, mas ainda posso contar.
Havendo ou não, os zumbis estavam invadindo e a Umbrella virá em breve caso ainda não tenha vindo. A
companhia não ignoraria esse problema. Já deve ter criado um plano *derrota segura e está enchendo a cabeça
da mídia com mentiras. Mas é claro que antes, eles devem recuperar a pesquisa de Birkin. Trent estava confiante
de que a Umbrella mandaria uma equipe para isso.
Uma equipe de humanos, tomara. Eu posso lidar com eles. Um Tyrant... eu não preciso disso.
Ada foi para o corredor do fundo da sala, à esquerda de onde estava. Foi na direção da porta que a levaria para
a escada do subsolo. Tyrant era o nome de uma série particular na pesquisa de armas biológicas da Umbrella,
uma série que incorpora as mais destrutivas aplicações do T-virus. De acordo com Trent, os cientistas da White
Umbrella - que trabalham nos laboratórios secretos - acabaram de iniciar os testes num tipo de humanóide
sanguinário, desenvolvido para caçar qualquer cheiro ou substância com a qual foi treinado. Um Tyrant avançado,
outra construção de carne infectada e ligamentos implantados - o tipo de coisa que podem mandar em busca do
G-virus...
Ada foi para o subsolo, tentar achar o repórter.
Leon estava no saqueado depósito de armas do subsolo, ajustando seu coldre e pensando onde Claire estaria.
Pelo pouco que viu, a delegacia estava muito ruim. Fria, escura e cheirando mal, mas não tão perigosa quanto a
rua. Nem tanto para se agradecer, mas Leon vai tirar o máximo de proveito.
Ele matou três companheiros a caminho do subsolo - dois homens escada acima e uma mulher em frente ao
necrotério - a alguns metros da sala onde ficava o arsenal do R.P.D.. Entre os mortos e o número de armas
faltando, Marvin pode estar certo sobre haver sobreviventes.
Marvin Branagh... já deve estar morto. Será que virou zumbi? Se a Umbrella está por trás disso, deve ser algum
tipo de praga ou doença, afinal, eles são uma companhia farmacêutica - então, como se pega a doença? Pelo
contato ou pelo ar -
O pensamento de ser infectado pelos zumbis o fez suar. E se ele a pegou enquanto dirigia para cá?
Antes do pânico, ele ouviu sua mente dizer sobre a realidade - e a aceitação da realidade também, afugentando o
medo.
Se você está doente, está doente. Você pode comer uma bala antes de piorar. Se não está doente, sobreviverá
para contar aos seus netos sobre tudo isso. De qualquer jeito, não há nada que você pode fazer - exceto tentar
ser um policial.
--------------------------------------------------------------
*Derrota Segura - Método para impedir ataque atômico equivocado.
-------------------------------------------------------------- Leon concordou, suspirando. Em sua primeira busca pela sala,
#
houve desapontamento. Nenhum revólver e pouca munição nos armários - mas ele achou uma caixa de munição
para espingarda, e depois de um segundo procurando, ele descobriu uma calibre doze escondida atrás de
algumas caixas. Haviam alguns arreios de ombro para o modelo Remington pendurados na parede, tal como um
cinto de utilidade maior do que o que já usava; tinha até um bolso fundo o bastante para colocar os clips.
Com o último aperto no arreio, ele decidiu que seria melhor começar pelos lugares mais óbvios primeiro, cada
corredor de cada possível entrada. Primeiro ele voltará para o saguão e deixar uma mensagem no -
Bam! Bam! Bam!
Tiros, bem perto, e o eco dizia vir do corredor lá fora. Leon empunhou o revólver e correu para a porta, preciosos
segundos desperdiçados enquanto manejava a fechadura giratória.
O corredor estava deserto, exceto pelo guarda de trânsito no chão à sua direita. Para a direita ficava o
estacionamento, e Leon correu para lá, lembrando-se para ir com clama e não ser baleado por alguém
aterrorizado.
Vá devagar, olhe bem antes de se mover, identifique-se claramente -
O corredor virava à esquerda, e no final dele, estava a porta na parede do lado direito, aberta - e quando Leon
deu uma olhada no grande e aberto espaço, seu corpo encostou na parede, vendo algo que o fez esquecer do
atirador.
O cachorro. É o mesmo maldito cachorro.
Impossível - mas o caído e sem vida animal no meio de dois carros parecia o mesmo. Mesmo com o breve
avistamento que teve antes, o melequento demônio canino era igual àquele que o tinha jogado fora da estrada.
Sob as fluorescentes que iluminavam a garagem, Leon pode ver o quanto anormal ele era.
Nada parecia se mover, e nenhum som exceto o zumbido das luzes. Ainda segurando sua arma, Leon entrou na
garagem, determinado a olhar a criatura de perto - e viu um outro perto de uma viatura, aparentemente morto
como o primeiro. Ambos estavam no meio de uma poça vermelha de sangue.
Umbrella. Os ataques animais, a doença - há quanto tempo isso está acontecendo? E como conseguiram manter
isso escondido depois de todas aquelas mortes?
Mais confuso era o fato de Raccoon ainda não ter recebido ajuda; a Umbrella deve ter conseguido esconder seu
envolvimento nos assassinatos "canibais", mas como ela impediu as pessoas de pedir ajuda lá fora?
Esses cães, como cópias em carbono... outra coisa que a Umbrella fez em seus laboratórios?
Ele deu outro passo na direção das criaturas, não gostando das teorias de conspiração que estavam se formando
em sua mente, mas incapaz de ignorá-las. Do que ele menos gostava, eram das poças de óleo no chão de
cimento; pareciam enferrujadas, secas - e haviam muitas delas para contar. Ele se curvou para olhar de perto,
tão intrigado que só percebeu o tiro quando a bala ricocheteou no chão.
Bam!
Leon virou para a esquerda, erguendo a arma e gritando ao mesmo tempo -
"Pare de atirar!".
- e viu a atiradora abaixar sua arma, uma mulher de vestido vermelho e longas meias pretas, parada ao lado de
um furgão no final da garagem. Ela começou a ir até ele, suas pernas finas movendo-se suavemente, cabeça
erguida e ombros para trás. Parecia estar numa festa.
Leon sentiu uma onda de raiva, de como ela parecia clama após quase tê-lo matado - mas assim que se
aproximou, ele quis pedir desculpas. Ela era bonita, e parecia sentir prazer em vê-lo; uma visão bem vinda depois
de tanta morte.
"Desculpe-me por aquilo". Ela disse. "Quando vi o uniforme, pensei que fosse outro zumbi".
Mestiça, magra e alta, cabelo curto, liso e escuro. Sua acentuada voz contrastava estranhamente com seu olhar.
Seu frágil sorriso não combinava com os olhos amendoados que o examinavam cuidadosamente.
"Quem é você?". Leon perguntou.
"Ada Wong'. Aquele tom de novo. Ela inclinou a cabeça, ainda sorrindo.
"Eu sou Leon S. Kennedy". Ele disse reflexivamente, incerto sobre o que perguntar ou por onde começar. "Eu - o
que você faz aqui embaixo?".
Ada olhou para o furgão do R.P.D. que bloqueava a área das celas. "Eu vim para Raccoon em busca de um
homem, um repórter chamado Bertolucci; eu tenho motivos para crer que ele esteja em uma das celas, e acho
#
que ele pode me ajudar a achar meu namorado...".
O sorriso dela sumiu, o agudo, quase elétrico olhar achando o dele... "E acho que ele sabe tudo sobre o que
aconteceu aqui. Você me ajuda a empurrar o furgão?".
Se o repórter estiver trancado lá, poderá dizer algo; Leon quer conhecê-lo. Ele não confiava muito na história de
Ada, mas não imaginava porque mentiria. O lugar não é seguro, e ele estava procurando por sobreviventes,
como ela.
"Tá bom". Ele disse, sentindo-se pego pelos suaves modos dela. Parecia que ela tinha assumido o controle, uma
súbita mas proposital manipulação que a pôs no comando -
Não seja paranóico; mulheres fortes existem. E quanto mais pessoa encontrar, mais ajuda eu terei para procurar
a Claire.
Leon guardou a arma e foi atrás dela, esperando que o repórter estivesse lá - e que as coisas começassem a
fazer sentido o quanto antes.
[13]
Sherry Birkin se foi e Claire não conseguiu entrar no duto. Seja lá o que ou quem tinha gritado, não apareceu. Ela
devia estar se escondendo no duto por algum tempo; haviam embalagens abertas de doces e um velho lençol
perto da abertura, atrás de três armaduras.
Percebendo que Sherry não voltaria, Claire correu para a sala de Irons, esperando que ele pudesse dizer onde a
tubulação dava, mas ele tinha sumido - junto com o corpo da filha do prefeito.
Claire parou no escritório, sendo observada pelos olhos de vidro da mórbida decoração, e se sentiu incerta pela
primeira vez desde que chegou na cidade. Desviar de cães e zumbis, encontrar Leon e evitar o Chefe Irons
foram tarefas inclusas na busca por Chris. Nos poucos momentos entre encontrar aquela garotinha e aquele
estranho grito, suas prioridades mudaram dramaticamente. Havia uma criança nesse pesadelo, que acreditava
estar sendo seguida por um monstro.
Talvez esteja. Se Raccoon tem zumbis, por que não monstros? Droga, por que não vampiros ou robôs
assassinos?
Ela queria achar Sherry, mas não sabia por onde começar. Ela queria seu irmão, mas não sabia onde estava - e
ela começou a imaginar se ele sabia o que tinha acontecido na cidade.
Na última vez que conversaram, ele evitou falar sobre a suspensão do S.T.A.R.S., insistindo que não era nada
para se preocupar - que ele e os outros entraram em problemas políticos e tudo se resolveria. Ela estava
acostumada com a proteção dele, mas pensando melhor, ele não parece evasivo demais? E o S.T.A.R.S. estava
investigando os assassinatos canibais, não seria difícil conectá-los com a atual...
... o que quer dizer? Que Chris descobriu algo ruim e estava mantendo segredo?
Ela não sabia. Mas sabia que ele estava vivo, e que achar Sherry era mais importante no momento. Ruim como a
situação estava, Claire tinha defesas - ela tinha uma arma, pelo menos um pouco de maturidade emocional, e
depois de 8KM diários, estava em excelente forma. Mas Sherry não devia ter mais do que doze anos, parecia
frágil em todos os sentidos; pela sujeira em seu cabelo loiro e desespero em seus olhos azuis - Sherry inspirou
todos os sentidos protetores de Claire -
Thump!
Uma pesada vibração correu pelo teto, fazendo o lustre do escritório tremer. Claire olhou para cima
reflexivamente, apontando a arma. Não havia nada e o som não se repetiu.
Algo no telhado... mas o que fez aquele barulho? Um elefante caindo do céu?
Talvez fosse o monstro de Sherry. Claire não queria encontrá-lo, mas Sherry parecia certa de estar sendo
seguida...
... então achar o monstro para achar a garota? Não é o plano perfeito mas é tudo o que tenho.
Talvez seja Irons lá em cima. Ela não podia saber até verificar.
Claire virou e abriu a porta para o corredor de fora, onde tinha apagado o fogo. A fumaça diminuiu apesar de
ainda estar quente. Pelo menos nisso ela foi bem sucedida...
#
Claire saiu do corredor, virando os olhos para o que sobrou do piloto quando -
- Craa-ack!
- e ela congelou, ouvindo um massivo despedaçamento de madeira, seguido por poderosos passos de alguém
enorme andando pelo corredor, depois da curva.
Deve pesar uma tonelada, e Jesus, diga-me que não foi uma porta sendo destruída -
Claire olhou para o corredor do escritório, seus instintos dizendo para correr, seu cérebro dizendo que não tinha
saída, seu corpo paralisado entre os dois -
- quando o maior homem que já viu apareceu, escurecido pela fina fumaça do corredor. Ele vestia um longo
sobretudo verde-exército que só aumentava seu tamanho, tão alto quanto um jogador de basquete - bem mais
alto, e com uma cabeça proporcional. Um grande cinto de utilidade estava preso em sua cintura, e apesar de não
ver armas, ela pôde sentir a violência radiando dele em ondas invisíveis. Ela só conseguia ver a palidez no rosto
dele, a cabeça careca - e de repente, Claire estava certa de que ele era um monstro, um assassino usando luvas
pretas, cada uma do tamanho de um crânio humano -
Atire nele! Atire!
Claire mirou, mas hesitou, com medo de estar cometendo um terrível erro - até que ele deu um passo na direção
dela, ouvindo os cracks na madeira causados por seus pés de Frankenstein, e ela viu os olhos negros, negros e
corados com vermelho. Vazios, mas não cegos, o olhar dele achou o dela - e ele ergueu o punho, a ameaça
eminente.
- atireatireatire -
Ela apertou o gatilho, uma, duas vezes, e viu o impacto - um pedaço de tecido rasgou bem abaixo de sua
clavícula, o segundo tiro cortando um lado do pescoço -
- e ele deu outro passo, nenhuma expressão em seu rosto, o punho ainda erguido, procurando um alvo,
querendo esmagar -
- o escuro e enfumaçado buraco no pescoço não sangrava.
Droga
Numa onda de adrenalina, Claire apontou o revólver para o coração da criatura e atirou repetidamente, o gigante
dando outro passo, cruzando o fogo sem acovardar-se -
- e Claire perdeu a linha dos tiros, incapaz de acreditar que ele ainda se movia, a menos de três metros com as
balas acertando seu peito -
- e a arma clicou, vazia, na mesma hora que o monstro balançou de um lado para o outro como um prédio no
vento. Sem tirar os olhos dele, Claire pegou outro clip do colete e recarregou a arma, sua mente tentando
desesperadamente dar um nome à coisa.
Exterminador, O monstro de Frankenstein, Dr. Mal, Mr. X -
De qualquer modo as balas finalmente fizeram efeito. Silenciosamente, ele inclinou para a direita, caindo contra a
parede chamuscada, e permanecendo lá - sem tremer nem se mexer.
Estranho, isso é tudo, está morto, derrubado por seu próprio peso -
Claire não se aproximou, ainda mirando no gigante. Foi ele que gritou? Ela não achava.
"Morto, não importa". Claire cochichou. Precisava pensar no que ele significava - ele não era um zumbi qualquer,
mas o que então? Ela esvaziou um clip inteiro - será que alguém por perto ouviu? Ela deveria ficar onde estava?
A criatura que começou a chamar de Mr. X não estava respirando, seu corpo imóvel, seu rosto bem perto da
morte. Claire mordeu o lábio inferior, olhando para a ainda impossível criatura quando -
- ele abriu os olhos negros e brilhantes. Sem muita força, Mr. X levantou-se, bloqueando o corredor, suas mãos
erguendo-se de novo -
- e com um forte impulso, ele cortou o ar com a mão, seus longos braços bem na frente dela enquanto recuava.
O movimento foi suficiente para cravar o punho na parede, prendendo-o.
Eu, poderia ter sido EU -
Voltar para o escritório a deixaria cercada. Sem pensar mais, Claire correu, passando por Mr. X, seu braço direito
esfregando no pesado casaco dele, seu coração pulando uma batida quando o material a tocou.
Ela correu, virou à esquerda e desceu o corredor, tentando não ouvir Mr. X libertando a mão.
Jesus, o que é aquela COISA -
Ela voltou para a sala de espera, batendo a porta enquanto corria. Claire não pensava em outra coisa senão
correr mais rápido.
#
Ben Bertolucci estava na última cela, deitado na cama de metal pendurada na parede, roncando levemente.
Mantendo suas expressões cuidadosa-mente neutras, Ada deixou Leon acordá-lo. Ela não queria parecer ansiosa,
mas se havia algo que sabia sobre os homens era que eles são mais fáceis de lidar quando pensam estar no
controle. Ada olhou para Leon com a paciência que não sentia.
Eles tinham passado por um corredor vazio e um canil antes de achá-lo. Apesar do frio e úmido ar cheirando
sangue e podridão, eles não viram nenhum corpo - o que era estranho, já que Ada sabia o que tinha acontecido
na garagem. Ela pensou em perguntar a Leon o que tinha acontecido, mas decidiu que quanto menos falar
melhor; ele não devia se acostumar com a presença dela. Ela chegou a ver a tampa do bueiro no canil,
enferrujando num canto escuro, e agradecida por ver um pé-de-cabra ali perto. Com Bertolucci dormindo ali, Ada
sentiu que as coisas finalmente começaram a dar certo -
"Deixe-me adivinhar". Leon disse bem alto, batendo a arma nas barras de metal. "Você deve ser Bertolucci,
certo? Levante-se, agora."
Bertolucci suspirou e sentou-se devagar, esfregando a mão no queixo. Ada quis sorrir; ele estava mau - roupa
amarrotada, rabo de cavalo desarrumado.
Ainda de gravata. O coitado deve achar que isso o faz parecer um repórter...
"O que você quer? Eu estava tentando dormir aqui". Ele parecia nervoso, e de novo Ada teve que conter um
sorriso.
Leon olhou para Ada, parecendo incerto. "É ele?".
Ela acenou, percebendo que Leon o considerava um prisioneiro. A conversa esclareceria tudo, mas ela não queria
que Leon ouvisse demais; Ada precisa escolher bem as palavras.
"Ben, você disse aos oficiais da cidade que sabia o que estava acontecendo aqui, não foi? O que você disse a
eles?".
Bertolucci levantou e a encarou. "Quem diabos é você?".
Fingindo que não ouviu, Ada aumentou o desespero, mas só um pouco; ela não devia parecer uma coitada,
poderia contrariar o fato de ter sobrevivido todo esse tempo.
"Eu estou tentando achar um - amigo meu, John Howe. Ele trabalhava para uma divisão da Umbrella em Chicago,
mas desapareceu há alguns meses atrás - e eu ouvi dizer que ele está aqui, nesta cidade...".
Ela parou, vendo a expressão do repórter. Ele sabia de algo, sem dúvida - mas ela não achava que ele fosse
desistir.
"Eu não sei de nada". Ele disse, irritado. "e mesmo se eu soubesse, por que eu deveria dizer?".
Original. Se o policial não estivesse aqui, eu só daria um tiro no repórter.
Na verdade, ela não atiraria: Ada não estava lá para diversão. Ela podia usar um de seus métodos mais
persuasivos - se seu charme feminino não funcionar, uma bala no joelho ajudaria. Infelizmente, ela não podia
fazer nada com Leon por perto. Ela não tinha planejado esse encontro.
O policial não estava feliz com as respostas de Ben. "Tá bom, podemos deixá-lo aí". Leon disse, falando com
Ada, mas olhando bem irritado para Ben.
Bertolucci sorriu, tirando um anel redondo com as chaves da cela. Ada não se surpreendeu e Leon ficou mais
irritado.
"Por mim tudo bem". Bertolucci disse. "Eu não quero sair daqui mesmo. É o lugar mais seguro do prédio. Tem
mais do que zumbis por aí, acreditem em mim".
Pelo jeito que falou, Ada pensou em ter mesmo que matá-lo. As instruções de Trent foram claras - se o repórter
souber de alguma coisa sobre o trabalho de Birkin no G-virus, ele deve ser eliminado; por que, exatamente, ela
não estava certa, mas esta é a missão. Se ela pudesse ficar um momento a sós com ele, conseguiria descobrir o
quanto ele sabe.
Mas como? Ela não queria matar Leon; como regra, ela não mata inocentes - além disso, ela gostava de policiais.
"Ggrraaa!".
Um violento e inumano grito furou o silêncio. Ada girou o braço, mirando no portão que dava para o corredor. E
estava no subsolo -
"O que foi aquilo?". Leon disse. Ada esperava que ele soubesse a resposta. O eco do furioso grito não se
#
comparava à nada que ela já tinha ouvido - mesmo sabendo o que a Umbrella fazia, isso não era esperado.
"Como eu disse, eu não saio daqui". Bertolucci disse. "Agora vão embora antes que o tragam direto para mim!".
Covarde chorão -
"Olha, eu posso se o único policial vivo nesse prédio". Leon disse, a combinação de medo e força em sua voz fez
Ada olhar para ele. O olhar do policial estava fixado em Bertolucci, seus olhos azuis agudos e firmes.
"... e se você quiser viver, terá que vir conosco".
"Esqueça". Ben disse. "Eu vou ficar aqui até a cavalgaria chegar - e se forem espertos, farão a mesma coisa".
Leon balançou a cabeça. "E se eles demorarem dias para vir, é melhor acharmos um jeito de sair de Raccoon - e
você escutou aquele grito. Você quer ser visitado pelo que fez aquilo?".
Ela se impressionou; alguma criatura da Umbrella por aí e Leon tentando salvar um repórter inútil.
"Eu vou correr o risco". Disse Bertolucci. "e boa sorte para fugir, vocês vão precisar...".
O repórter foi até as barras, olhando entre elas, passando a mão no cabelo.
"Olha,". Disse suavemente. 'tem um canil lá atrás, com um poço no chão vocês podem chegar ao esgoto por lá,
deve ser o caminho mais rápido para fora da cidade".
Ada suspirou intensamente. Ótimo; revelou sua passagem secreta para o laboratório. Se ela correr de Leon
agora, vai levar uns cinco minutos para ele alcançá-la.
Você pode matá-lo se necessário. Ou... você o faz se perder nos esgotos e volta para Bertolucci.
Como o repórter, ela não queria ver a coisa que gritou - sendo que ele não vai fugir, enganar o policial é a melhor
saída.
O que eu não faço para evitar derramamento de sangue.
"Certo, eu vou verificar". Ela disse, e sem esperar a resposta de Leon, virou e correu.
"Ada! Ada, espere!".
Ela o ignorou, passando pelas celas e voltando para o corredor, aliviada por ainda estar vazio. Tudo poderia ser
mais fácil se ela tivesse matado os dois, mas a situação é diferente. Ela estava cansada de tantas mortes, e
cansada do que a Umbrella fez; ela não vai matar um policial, exceto se precisar.
E se ela precisar, será pela vida de um inocente ou pela finalização da missão?
Essa pergunta a disse mais sobre sua consciência do que queria admitir. Ela chegou na porta do canil; respirando
fundo e apagando qualquer emoção de sua mente, Ada entrou para esperar Leon S. Kennedy.
[14]
Tão bonita... mesmo morta, Beverly Harris era radiante. Irons não podia esperar que ela acordasse enquanto
olhava; ele a colocou cuidadosamente no gabinete de pedra debaixo da pia e trancou, prometendo que a tiraria
dali assim que tiver mais tempo. Ela se tornará o animal mais delicado que já transformou, posando eternamente
perfeita assim que prepará-la do modo certo... um sonho se realizando.
Se eu tiver tempo. Se houver tempo restando.
Ele sabia que estava sentindo pena de si mesmo de novo. Não tinha ninguém para dividir a magnitude de tudo o
que já sofreu. Ele se sentiu terrível - triste, bravo e sozinho - mas também sentiu que tudo ficou claro. Agora ele
sabia por que estava sendo perseguido.
Umbrella. Uma conspiração para me destruir, todo esse tempo...
Irons sentou na manchada mesa de seu san-tuário, seu especial e particular lugar, pensando em quanto tempo
levará para a jovem mulher aparecer.
A do corpo atlético que não disse seu nome. De certo modo, ela foi responsável por sua descoberta.
Ela o achará, claro; era uma espiã da Umbrella, a companhia que o tem observado por um tempo. Eles deviam
ter uma lista de todos os seus pertences, relatórios psicológicos e até cópias de suas contas bancárias. Tudo fazia
sentido, agora que tinha tempo para pensar; ele era o homem mais poderoso em Raccoon, e a Umbrella
designou sua queda.
#
Irons olhou para seus tesouros, as ferramentas e troféus que estavam nas estantes à sua frente, e não sentiu o
prazer que costumavam inspirá-lo. Os ossos polidos eram só algo para olhar enquanto sua mente trabalhava,
absorvida com a traição da Umbrella.
Anos atrás, quando ele passou a receber dinheiro da companhia para ficar cego sobre seus feitos, as coisas eram
diferentes; aí era só uma questão de política, achar uma boa posição na poderosa estrutura que controlava
Raccoon. E tudo funcionou bem por um longo tempo - sua carreira prosseguiu como previsto, ganhou o respeito
dos oficiais e cidadãos, e na maior parte, seus investimentos valeram a pena. A vida estava sendo boa.
Depois apareceu Birkin. William Birkin e sua neurótica esposa, e a filha.
Depois do que aconteceu na mansão de Spencer, ele quase se convenceu de que o S.T.A.R.S. foi o responsável,
mas agora ele percebe que foi mesmo Birkin, um ano antes da bola começar a rolar; a destruição da mansão só
adiantou as coisas. A Umbrella deve ter começado a monitorá-lo desde que conheceu Birkin - primeiro só o
observavam, instalando câmeras e microfones ocultos. Os espiões viriam depois...
Os Birkin vieram para Raccoon tal que William pudesse se dedicar ao desenvolvimento de uma versão superior ao
T-virus, baseado na pesquisa do laboratório da mansão. Por mais que William fosse esquisito e desagradável,
Irons gostava dele, desde o começo. William era o menino gênio da Umbrella, e como Irons, não reclamava de
seu cargo; Birkin era humilde, só interessado em desempenhar seu papel. Ambos eram muito ocupados para
manter uma amizade, mas havia respeito entre os dois: às vezes Irons percebia que William o observava...
E o meu erro foi deixar. Deixar o meu respeito por ele nublar meus instintos, não me deixar perceber que estava
sendo observado desde o começo.
A perda do laboratório da mansão fez passar algumas ondas pela hierarquia da Umbrella, e alguns dias depois de
explosão, Annette Birkin foi até ele com uma mensagem do marido - uma mensagem e um favor. Birkin estava
preocupado, a Umbrella iria exigir o G-virus antes de ser terminado; ele não estava satisfeito com a aplicação de
seu último trabalho, parece que a Umbrella não o deixou aperfeiçoar o processo de replicação, Irons não se
lembra direito - e com a Umbrella tentando recuperar as perdas financeiras da mansão, Birkin ficou com medo de
eles comprometerem a integridade do não-testado vírus.
Através de Annette, William pediu ajuda - e ofereceu um pequeno incentivo extra. Por cem mil, Irons teria que
ajudar a manter o G-virus encoberto - resumindo, tomar cuidado com espiões da Umbrella e ficar de olho nos
sobreviventes do S.T.A.R.S.
Dinheiro fácil, exceto por ser uma armadilha da Umbrella...
Irons foi direto para ela, e foi quando a companhia começou a conspirara contra ele, usando as informações que
conseguiram selar seu destino. Como tudo aconteceu tão rápido? O S.T.A.R.S. desapareceu, depois Birkin - e
antes de entender a situação, os ataques recomeçaram.
Irons desceu da mesa e caminhou por ela, vagarosamente tocando os cortes na madeira. Havia uma história em
cada marca, a memória de um feito - e de novo, não lhe davam prazer. A fria e calma atmosfera de seu
santuário sempre o consolou, onde praticava seus hobbies, onde ele podia ser ele mesmo - e agora não é mais
seu. Nada era, a Umbrella tirou tudo dele, tal como a cidade. Será que soltaram o vírus para pegá-lo, para roubar
seu poder - e depois mandaram aquela garota de roupa provocante para ele se divertir? Por que ela era atraente?
Eles conheciam suas fraquezas...
...e em breve ela voltará, talvez bancando a perdida, tentando me seduzir com seu indefeso comportamento.
Uma assassina da Umbrella, uma espiã exploradora, tudo o que ela é, provavelmente rindo de mim por trás
daquele rosto bonito...
Talvez a contaminação foi um acidente; da última vez que se viram, William estava instável, paranóico e exausto,
e acidentes acontecem na melhor das circunstâncias. O resto era fato, não tinha outra explicação para o quanto
arruinado Irons estava. Aquela garota estava vindo pegá-lo, ela era da Umbrella e foi enviada para matá-lo. E não
pararia aí, oh, não, ela vai achar Beverly e... e sujá-la de algum modo, só para ter certeza de que nada de Irons
sobrará.
Irons olhou em volta da pequena e suavemente iluminada sala que um dia foi sua, olhando orgulhosamente para
as bem usadas ferramentas e móveis, o doce e familiar cheiro de desinfetante emanando das irregulares paredes
de pedra.
Meu santuário. Meu.
#
Ele pegou o revólver que estava em sua especial mesa de corte, a VP70 ainda era sua, e sentiu um pequeno
sorriso nos lábios. Sua vida estava acabada. Tudo começou com Birkin e vai terminar aqui, pelas suas próprias
mãos. Mas não agora.
A garota vai voltar, e ele vai matá-la, antes de dizer adeus para Beverly, antes de admitir sua derrota com um
tiro. Mas ele a fará sentir seu sofrimento antes. Por cada tortura que ele sofreu, a garota iria pagar, a conta
descontada em cada osso o mais dolorosamente possível.
Ele iria morrer, mas não sozinho. Não sem ouvir a garota gritar de agonia, criando a voz para a morte de seus
sonhos - uma voz tão verdadeira que o eco atingiria o coração dos executivos da companhia que o traiu.
A sala do S.T.A.R.S. estava vazia, desarrumada, fria e empoeirada, mas Claire não queria sair. Depois de seu
aterrorizante vôo pelos corredores do segundo andar, achar o lugar de trabalho de seu irmão a deixou aliviada.
Mr. X não a seguiu, e mesmo querendo achar Sherry e Leon, ficou com medo de voltar para o corredor - e
hesitante em deixar o único lugar que se parecia com Chris.
Onde você está meu irmão? E o que vou fazer? Zumbis, fogo, morte, seu estranho chefe e a garota perdida - e
quando as coisas não podiam ficar piores, eu dou de cara com a-coisa-que-não-quer-morrer, o monstro dos
monstros. Como eu saio dessa?
Ela sentou na mesa de Chris, olhando as fotos preto e brancas que achou no findo da gaveta; as quatro eram
deles dois, sorrindo e posando na semana que passaram em Nova Iorque no natal passado. Primeiro ela quis
chorar, mas os dois sorrindo a fizeram se sentir melhor. Mais calma. Mais forte. Ela o amava, e onde quer que
ele esteja, a amará de volta - e se ambos sobreviveram a perda dos pais, reconstruíram suas vidas e dividiram
um bobo natal por não ter um lar para ir, então eles podiam enfrentar tudo. Claire podia.
Pode e vai. Eu vou achar Sherry, Leon e se Deus quiser, meu irmão - e nós vamos sair de Raccoon.
A verdade era, ela não tinha outra escolha - mas ela precisa aceitar a falta de opções antes de agir. Uma vez ela
ouviu que bravura não era a ausência do medo, era aceitar o medo e fazer o que for necessário.
Claire respirou fundo, colocou as fotos no colete e levantou da cadeira. Ela não sabe para onde Mr. X foi, e ele
não parece ser alguém que fica esperando. Ela vai voltar para a sala de Irons e ver se Sherry voltou - ou Irons.
Se X ainda estiver lá, ela pode correr.
Além disso, eu devia vasculhar a sala e tentar achar algo sobre o S.T.A.R.S.
De pé, ela olhou em volta, desejando ter achado mais informações. Tudo o que achou de útil foi uma mochila
engraçada na mesa de trás; segundo o cartão vencido da biblioteca, a mesa era de Jill Valentine. Claire nunca a
conheceu mas Chris já falou dela algumas vezes, disse que era boa com armas...
Pena que não deixou uma para trás.
Eles devem ter deixado para trás tudo o que não era importante depois da suspensão, apesar de ainda haverem
muitos itens pessoais lá. Porta retratos, copos de café e o de costume. Ela olhou para a mesa de Barry, havia
uma arma de montar quase terminada. Barry Burton era um dos amigos mais próximos de Chris, um grande e
amigável homem, maluco por armas. Claire esperou que onde quer que Chris esteja, Barry esteja cuidando dele.
Com um lança-chamas.
Falando nisso...
Ela precisa achar outra arma, ou mais munição; ela só tinha treze balas restando, um clip inteiro. Talvez ela deva
checar alguns corpos na volta para a asa leste; mesmo correndo apavorada, ela percebeu que alguns deles eram
policiais, e seu revólver era um equipamento do R.P.D.. Claire não gostou da idéia de ter que tocar cadáveres,
mas ficar sem balas era pior - principalmente com Mr. X por aí.
Claire voltou para a porta e a abriu, organizando seus pensamentos enquanto voltava para o escuro corredor.
Deixar o escritório a fez apagar a ainda vívida imagem de Mr. X, sentindo-se vulnerável de repente. Ela foi para a
direita e começou a voltar para a biblioteca, decidindo que não pensará mais no gigante, exceto se precisar, não
insistiria na memória daqueles olhos vazios, ou do modo que ergueu o punho, como se fosse destruir tudo em
seu caminho...
... então apague tudo isso. Pense em Sherry, em como achar munição ou como lidar com Irons, caso o ache.
Pense em ficar viva.
Bem à frente o corredor virava à esquerda e Claire tentou ignorar a tarefa seguinte; se não lhe falhe a memória,
tinha um policial morto perto da curva.
- como se eu não soubesse pelo cheiro -
#
- e ela tinha que vasculhá-lo. Ele não parecia tão nojento -
Claire fez a curva e congelou, olhando. Seu estômago deu um nó, dizendo-a que estava em perigo antes mesmo
de seus sentidos. O corpo que ela tinha pulado a caminho do escritório do S.T.A.R.S. tinha virado uma enrolada e
sangrenta massa de carne, ossos quebrados e uniforme rasgado. A cabeça se foi, apesar de não saber se foi
arrancada ou se estava dissolvida na polpa. Parece que alguém martelou o corpo depois que passou por ele.
Mas como, eu não ouvi nada -
Algo se mexeu. Uma suave sombra sobre os restos a alguns metros dela, e na mesma hora, Claire ouviu um
áspero som, respirando -
- e ela olhou para cima, ainda incerta sobre o que via ou ouvia - a respiração e o tick das garras na madeira,
grossas e curvas, as garras de uma criatura que não podia existir. Grande, do tamanho de um homem adulto,
mas a semelhança terminava aí - era tão impossível que só o via por partes, sua mente forçando para juntá-las.
A inflamada e avermelhada carne da criatura pelada, seus longos membros que aderiam no teto. A inchada
massa cinzenta do cérebro parcialmente exposto. Um coroa cicatrizada onde os olhos deveriam estar.
- não estou vendo isso -
A cabeça da criatura rolou para o lado, sua grande boca abrindo, um longo fio de baba caindo e acertando o que
tinha sobrado do policial. Ele estendeu a língua, lisa e rosa, a superfície brilhando enquanto deslizava para fora. E
para fora. E para fora, a comprida língua ia de um lado para o outro, tão longa que tocou os restos do policial.
Ainda congelada, Claire olhava desacreditada enquanto a língua era recolhida, deixando pingar sangue. O processo
inteiro só levou um segundo, mas o tempo começou a passar, o coração de Claire batia tão forte que tudo mais
estava em câmera lenta - até quando a criatura pulou no chão de madeira, seu corpo girando no ar e
aterrissando agachado em cima do corpo mutilado.
A criatura abriu a boca de novo e gritou -
- e Claire finalmente conseguiu se mexer, apontando e atirando. O trovão das balas ecoaram pelo corredor,
bam-bam-bam -
- e ainda gritando, a criatura caiu de costas, seus braços batendo. As pernas chutaram pedaços de carne do
cadáver no chão; Claire viu um pedaço de pele, ainda com uma orelha grudada, voar pelo corredor e bater na
parede, deslizando até o chão -
- e a criatura se desvirou, partindo em um arremesso. Ele engatinhou até ela, rápido como um raio, agarrando o
chão com suas garras e uivando.
Claire atirou de novo, não ciente de que também estava gritando enquanto três balas acertaram a coisa,
atravessando a cinza massa que saia de seu crânio. Ela ia morrer, estará nela em menos de um segundo, as
garras estavam a centímetros de suas pernas -
- e tão subitamente quanto o ataque foi, estava acabado. Cada parte do robusto corpo tremeu, balançou
enquanto um líquido claro gotejava de sua cabeça, as grossas garras batendo no chão de madeira
ritimadamente. Com um último choro, a criatura morreu. Não houve erro desta vez. Ela acertou o cérebro, não
vai se levantar.
Ela olhou para o monstro, sua mente procurando por algo parecido, algum animal - mas ela desistiu, percebendo
que era uma causa perdida. Não era uma criatura natural e por mais que parecesse, ela finalmente sentiu o
cheiro - o odor não era tão picante quanto o dos zumbis. Era um amargo e oleoso cheiro, mais químico do que
animal...
... podia cheirar como bolachas de chocolate, quem se importa? Raccoon City ganhou monstros, é hora de parar
de ficar tão surpresa ao ver um deles.
Por mais que quisesse se sentir brava e determinada, pensou seriamente em voltar para o escritório do
S.T.A.R.S. e trancar a porta. Poderia se esconder e esperar a ajuda, poderia estar a salvo -
Decida. Faça algo, de um jeito ou de outro, pare de hesitar e choramingar, por que não é só você. Estará Sherry
a salvo? Você quer viver às custas da vida dela.
Claire deu um cuidadoso passo sobre a criatura e agachou perto do que sobrou do policial, usando a ponta da
arma para virar um pedaço do uniforme. Ela respirou bile enquanto vasculhava os restos, tentando não imaginar
quem o policial foi ou como morreu.
Nada, e agora ela só tem sete balas - mas ela rejeitou o pânico, deixando a decepção abastecer sua
determinação. Se ela examinou um monte de carne, poderia examinar outro.
Com um último olhar para a criatura, Claire levantou e andou rápido para o fim do corredor, decidida: sem se
#
esconder e sem correr do medo. Pelo menos ela pode levar algum monstro consigo, aumentando as chances de
Sherry sobreviver.
Seria melhor morrer tentando do que não tentar. Ela não vai hesitar novamente.
[15]
Leon encontrou Ada no canil, fazendo força para erguer a enferrujada tampa do poço que tinha sido mencionada
pelo repórter. Ela tinha achado um pé-de-cabra e o colocou sob a tampa, seu bem definido bíceps brilhava com o
suor enquanto puxava a tampa. Ela conseguiu erguer a tampa um centímetro, mas deixou cair assim que ele
apareceu, o som metálico bem alto no vazio lugar.
Antes que ele pudesse dizer alguma coisa, ela soltou a barra no chão de cimento e olhou para cima, dando um
meio sorriso, esfregando as mãos sujas.
"Ainda bem que está aqui. Não acho que sou forte o bastante para conseguir sozinha...".
Ele não tinha certeza antes mas aquele indefeso sorrisinho apertou o nó; ela estava enganando ele, ou tentando.
Ele conheceu Ada há vinte minutos e nunca achou que ela fosse indefesa para nada.
"Parece estar indo bem". Ele disse, guardando a arma e sem se mexer para ajudar. Ele cruzou os braços,
franzindo. Não estava bravo, só curioso.
"Qual é a pressa? Pensei que você quisesse falar com o repórter. Sobre John, seu amigo da Umbrella...".
As expressões dela ficaram frias e duras, mas não de um modo ruim; ela foi bem cuidadosa para evitar as
perguntas de Leon, mas desta vez a Sra. Wong terá que explicar algumas coisas.
Ada se levantou e o olhou. "Você ouviu - ele não ia contar nada para nós. E perigoso como esse lugar é, eu não
quero ficar esperando por aí...".
A voz dela suavizou. "... e eu nem sei se John está em Raccoon. Mas eu sei que não está aqui - e eu quero sair
da delegacia antes que seja completamente dominada".
Parecia bom, mas por algum motivo, ele sentia que Ada estava escondendo algo. Por alguns segundos, ele fez
força para achar o modo correto de fazê-la se abrir - depois deixou de lado; sob as circunstâncias, agrados ficarão
suspensos.
"O que está acontecendo, Ada? Você sabe de algo e não quer me contar?".
Ela olhou para ele de novo, e de novo, ele acha que a surpreendeu - mas o olhar dela estava mais ilegível do que
nunca.
"Eu só quero sair daqui". Ela disse, e a sinceridade na sua voz era inegável. Ele podia não acreditar em nada do
que ela disse, mas nisso ele tinha que acreditar.
Queria que fosse fácil assim, mas tem a Claire, Ben, nosso amigo idiota, e só Deus sabe lá quantos outros.
Leon balançou a cabeça. "Eu não posso ir. Como eu disse, eu posso ser o único policial restando. Se ainda houver
sobreviventes, eu preciso tentar ajudá-los. E eu acho melhor você vir comigo".
Ada deu outro sorrisinho. "Eu aprecio sua preocupação, Leon, mas eu posso cuidar de mim mesma".
Ele não duvidava - mas também não queria vê-la testar suas habilidades. Ele também não foi bem testado, mas
foi treinado para lidar com situações críticas, era seu trabalho.
E seja honesto consigo mesmo - você perdeu Claire, não pode ajudar Branagh, e Ben não quis saber de sua
proteção; você não quer falhar com Ada. E você não quer ficar sozinho.
Ada parecia saber o que ele pensava. Antes que ele pudesse falar algo convincente, ela se aproximou e tocou o
braço de Leon, o humor sumindo de seus olhos.
"Eu sei que precisa fazer sua parte aqui - nós temos que sair de Raccoon, tentar sair e pedir ajuda. E os esgotos
devem ser a melhor chance que temos...".
O toque o surpreendeu - e mandou um tremor para sua barriga, deixando-o confuso e incerto. Ele tentou
esconder a sensação, mas só um pouco.
Ada continuou, franzindo, pensativamente. "Que tal isso - me ajude com a tampa e vemos o que tem lá
#
embaixo. Se for perigoso, eu volto com você... mas se estiver ruim - bom, nós conversamos sobre isso depois".
Ele queria protestar, mas a verdade era, ele não podia obrigá-la a fazer algo que não queria - e ele queria muito
que ela não pensasse que ele era do tipo "machão", que ele estava aberto a um compromisso...
... e o nome John te lembra algo? Pare de pensar em seus hormônios.
Sentindo-se estranho ao pensar nisso com ela ainda o tocando, Leon se afastou, acenando ligeiramente. Juntos,
eles se agacharam perto da tampa. Leon pegou o pé-de-cabra e encaixou na tampa; assim que ele a levantava,
Ada empurrou a barra. Com um alto rangido metálico a tampa abriu -
- e ambos se afastaram por causa do cheiro que saiu do buraco, um sufocante cheiro de sangue, vômito e urina.
"Eca, o que é isso?". Leon tossiu.
Ada sentou nos calcanhares, tampando a boca com a mão. "Os corpos da garagem, devem ter sido jogados
aqui -".
Antes que ele pudesse perguntar do que ela estava falando, um grito de puro terror ecoou pelo subsolo, filtrado
pela porta fechada. O grito continuou e continuou, um homem, o aterrorizado grito mudando para um berro de
dor.
O repórter.
Leon travou seu olhar com o de Ada, viu a mesma percepção nela - e já estavam correndo, empunhando armas
e cruzando a porta antes dos ecos morrerem.
Eu o deixei, eu não devia -
Eles correram para a área das celas, a culpa fazendo Leon correr o mais rápido que podia. Alguém ou algo achou
Bertolucci.
Sherry parou no escritório de Irons, esfregando seu colar da sorte e rezando para que Claire voltasse. Ela
engatinhou por vários túneis empoeirados para se livrar do monstro e mantê-lo longe de Claire, e tinha certeza de
que funcionou - ela não o ouviu de novo e voltou só para descobrir que Claire tinha partido; se o monstro a
tivesse achado, estaria morta e partida ao meio.
Mas ela não está aqui. Ninguém está...
Sherry sentou na ponta da mesa no meio da sala, pensando no que faria. Ela tinha se acostumado com a solidão,
mas Claire mudou tudo, queria vê-la de novo, queria estar com outras pessoas, queria tanto os pais que
começou a doer. Até Sr. Irons seria bom, apesar de Sherry não gostar dele; ela só o viu algumas vezes e ele era
estranho, orgulhoso e falso - e seu escritório era pavoroso.
Mesmo assim, ela ficaria grata com a presença dele, só para não ficar sozinha -
Passos. No corredor fora da sala.
Sherry levantou e correu para a porta aberta que ia para a sala das armaduras, esperando que fosse Claire e
pronta para correr se não fosse. Ela se escondeu atrás da porta e prendeu a respiração, olhando para o tigre
empalhado e rezando.
A porta externa abriu e fechou. Abafados e vagarosos passos no carpete, e Sherry tentou correr, ao mesmo
tempo criando coragem para dar uma olhada -
"Sherry?".
Claire.
"Estou aqui!".
Ela correu par o escritório e lá estava Claire, iluminada com um sorriso. Sherry voou nos braços dela, tão feliz em
vê-la que quis chorar.
"Eu estava procurando você". Claire disse, abraçando-a fortemente. "Não corra daquele jeito de novo, está
bem?".
Claire se ajoelhou na frente dela, ainda sorrindo - mas Sherry pôde ver a preocupação em seu olhar.
"Eu sinto muito". Sherry disse. "Eu tive que correr senão o monstro viria".
Como ele se parece?". Claire perguntou, apagando o sorriso. "Ele é meio vermelho com garras?".
Sherry suspirou. "Os homens do avesso! Você viu um, não viu?".
Claire riu, balançando a cabeça. "É, é exatamente o que eu vi, um homem do avesso... boa descrição".
Claire olhou mais seriamente para Sherry, franzindo "Homens? Existem mais deles?".
"Sim, mas nem se comparam com o monstro. Eu só o vi uma vez, de costas, e é gigante -".
"Careca? Vestindo um longo casaco?".
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"Não, ele tinha cabelo, cabelo claro. E um de seus braços era todo estragado, bem mais comprido que o outro".
Claire suspirou. "Ótimo. Raccoon tem algo diferente para cada um, parece que...".
Ela segurou a mão de Sherry, esfregando-a "... e é mais uma razão para ficar comigo. Você fez um ótimo
trabalho cuidando de si mesma, foi muito corajosa - mas até acharmos seus pais, é meu dever cuidar de você. E
se o monstro vier, eu vou - eu vou chutar o traseiro dele, tá bom?".
Sherry riu, surpresa. Ela gostava de Claire falando para cima com ela. Sherry acenou e Claire esfregou sua mão
de novo.
"Bom. Então nós temos zumbis, homens do avesso, e um monstro. E um grandão careca... Sherry, você sabe o
que aconteceu em Raccoon? Como tudo isso começou, pode dizer qualquer coisa - pode ser importante".
Sherry franziu, pensando. "Bom, houve um monte de mortes em Maio e Junho passado, acho - umas dez
pessoas foram mortas. Depois a mortes pararam, e algumas semanas atrás alguém foi atacado de novo".
Claire acenou. "Certo. Mais alguém foi atacado, ou... o que a polícia fez?".
Sherry balançou a cabeça. "Eu não sei. Logo depois que aquela garota foi atacada, minha mãe ligou do trabalho
muito preocupada, disse que eu não podia sair de casa. A Sra. Willis - nossa vizinha - veio fazer o jantar para mim
e assim soube daquela garota. Mamãe ligou de novo no dia seguinte, e me disse que papai e ela estavam presos
no laboratório e não voltariam por um tempo - e então, três dias atrás, ela pediu que eu viesse para cá. Eu fui
ver se a Sra. Willis viria comigo, mas sua casa estava escura e vazia. Acho que as coisas já estão bem ruins".
Claire ouvia atentamente "Você ficou sozinha todo esse tempo? Mesmo depois que chegou aqui?".
"Bem, sim, mas eu sempre fico sozinha. Meus pais são cientistas; seus trabalhos são importantes e às vezes não
podem interrompê-los. Minha mãe sempre diz que eu sou auto-suficiente quando quero".
"Você sabe que tipo de trabalho seus pais fazem? Na Umbrella?
"Eles fazem curas para coisas, para doenças". Sherry disse orgulhosa. "Eles fazem remédios, soros que hospitais
usam...".
Sherry parou, percebendo que Claire parecia distraída, seu olhar bem distante. Era o olhar que viu muitas vezes
nos rostos de seus pais - e significava que não estavam mais ouvindo. Mas assim que parou de falar, Claire
voltou para ela, tocando seu ombro - e por algum motivo bobo, aquilo a fez querer chorar novamente.
Deve ser porque ela está me ouvindo. Porque ela quer cuidar de mim.
"Sua mãe está certa,". Claire disse gentilmente. "você é muito auto-suficiente, e o que fez até agora diz que é
muito corajosa, também. Isso é bom, por que nós duas precisamos ser fortes para sairmos daqui".
Sherry abriu mais os olhos. "Como assim. Deixar a delegacia? Mas tem zumbis por toda a parte, e eu não sei
onde os meus pais estão, e se eles precisam de ajuda ou estão me procurando -".
"Meu bem, eu tenho certeza de que eles estão bem". Claire disse rapidamente. "Eles ainda devem estar no
laboratório, escondidos em segurança, igual você esteve - esperando ajuda para, para fazer tudo ficar melhor -".
"Você diz, matar todo mundo,". Sherry disse. "eu tenho doze anos, sabe, não sou mais um bebê".
Claire sorriu. "Desculpe. É, para matar todo mundo, sim. Mas até os homens bons virem, nós ficaremos juntas. E
a melhor e mais inteligente coisa a fazer é sair do caminho deles - o mais longe possível. Você tem razão, as ruas
não são seguras, mas quem sabe nós achamos um carro...".
Claire se levantou e foi até a mesa de Irons, olhando em volta. "Talvez Chefe Irons tenha deixado as chaves do
carro aqui, ou outra arma, algo que possamos usar -".
Claire viu algo no chão atrás da mesa. Ela se agachou e Sherry foi atrás, tanto para ficar perto quanto para ver o
que ela tinha achado.
"Tem sangue aqui". Claire disse tão baixo que parecia não ter dito nada.
"E?".
Claire olhou para a parede, franzindo, depois voltou para a grande mancha de sangue no chão. "Ainda está
úmido. Repare como ela é simplesmente cortada. Devia ter mais na parede aqui...".
Ela bateu na parede, ouvindo um som vazio, oco.
"Tem alguma sala aí atrás?". Sherry perguntou.
"Eu não sei, parece que sim. E explicaria para onde ele levou... por onde ele tinha saído antes. Chefe Irons".
Claire olhou para Sherry enquanto corria a mão pela parede e empurrando. "Sherry, veja se tem algum botão ou
alavanca perto da mesa. Acho que deve estar escondido em algum lugar, talvez em uma das gavetas...".
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Sherry começou a andar atrás da mesa - e tropeçou, seu pé deslizando em algum lápis. Ela se segurou na mesa
para recuperar o equilíbrio, mas ainda assim caiu de joelhos.
"Ai!".
Claire estava à sua direita, já segurando seus ombros. "Você está bem?".
"Estou. Eu só - ei! Olha!".
Sherry apontou para um botão sob a mesa, no meio de uma placa de metal. Parecia um interruptor de luz, mas
tinha que ser para a porta secreta, ela sabia.
Eu achei!
Claire viu e apertou - e atrás delas, um seção da parede deslizou para cima, desaparecendo no teto, e expondo
uma outra sala de tijolos. Um frio e úmido ar entrou no escritório; era uma passagem secreta, igual às dos filmes.
Juntas, se levantaram e entraram na abertura, Claire segurando Sherry até olhar primeiro. A pe-quena sala
estava vazia - três paredes de tijolos, chão de madeira e uma grande e antiga grade de elevador na parede da
direita, daquelas que abrem para o lado.
"Nós vamos pegá-lo? Sherry perguntou. Ela estava ansiosa e nervosa.
Claire pegou sua arma, se agachou para Sherry e sorriu - mas não era um sorriso feliz, e Sherry já sabia o que ia
ouvir.
"Meu bem, acho que vai ser mais seguro se eu descer e dar uma olhada, e você ficar aqui -".
"Mas você disse que ficaríamos juntas! Você disse que podíamos pegar um carro e fugir! E se o monstro voltar e
você não estiver aqui, ou se você morrer?".
Claire a abraçou, e Sherry quase enjoou de tanta raiva. Ela ia dizer para não se preocupar, que o monstro não vai
voltar, que nada ruim ia acontecer - e depois iria embora.
Adultos mentirosos -
Claire se afastou, tirando o cabelo do rosto de Sherry. "Eu não a culpo por estar assustada. Eu também estou.
Esta é uma situação ruim - e sinceramente, eu não sei o que vai acontecer. Mas eu quero fazer a coisa certa por
você, e isso quer dizer que eu não vou levá-la para um lugar onde pode se machucar, não se eu puder ajudar".
Sherry guardou as lágrimas e tentou de novo. "Mas eu quero ir com você... e se você não voltar?".
"Eu vou voltar,". Claire disse. "eu prometo. E se - se eu não voltar, eu quero que se esconda novamente. Alguém
virá ajudar em breve, e vão te achar".
Pelo menos estava sendo honesta; Sherry não estava gostando, e não tinha nada que pudesse mudar a decisão
de Claire. Poderia agir como um bebê ou apenas aceitar.
"Tome cuidado". Claire disse, e abraçou Sherry antes de ficar de pé e ir para a o elevador. Ela apertou o botão ao
lado da grade e um leve hum foi ouvido; depois de alguns segundos a cabine veio de baixo, parando gentilmente.
Claire abriu a grade e entrou, virando para ver Sherry.
"Fique aqui, querida, eu voltarei em alguns minutos".
Sherry forçou um aceno - e Claire fechou a grade. Ela apertou algo lá dentro e a cabine desceu, seu sorriso
saindo de visão, deixando a garota sozinha na fria passagem.
Sherry sentou-se no chão empoeirado e abraçou os joelhos. Claire era corajosa e esperta, ela voltará logo, ela
tem que voltar logo...
"Eu quero minha mãe". Sherry cochichou, mas ninguém estava lá para ouvir. Ela estava só de novo; tudo o que
menos queria.
Mas eu sou forte. Eu sou forte e posso esperar.
Ela descansou a bochecha em um joelho, tocando seu colar da sorte, e começou a esperar por Claire.
[16]
Annette Birkin sentou-se na sala de monitoramento, exausta, observando a parede de monitores centrada sobre
a mesa de vigilância. Ela tem estado lá pelo que parecem anos, esperando William aparecer, e começou a pensar
#
que não iria. Ela vai esperar mais um pouco - mas se não vê-lo em breve, terá que fazer outra busca.
Maldita tecnologia...
É um sistema novinho em folha, tem menos de um mês - vinte e cinco telas com um controle de canais que
deveria permiti-la ver cada canto desse laboratório. Um brilhante avanço na segurança - exceto por onze ainda
estarem funcionando, e mais da metade dessas estarem mostrando estática. Das cinco que ainda podia ver
claramente, tudo o que via - e tinha o que ver - estava morto, corpos podres e o ocasional Re3, que comia ou
dormia.
"Lickers (linguarudos). Você os chama de lickers por causa de suas línguas...".
Ela achou que tinha passado pelo pior da dor, mas o solitário som de sua voz na fria e cavernosa câmara, a fez
perceber que não tinha ninguém para responder - não haverá mais ninguém para responder. William se foi, se foi
e ela estava falando sozinha.
Annette abaixou a cabeça na mesa de controle, fechando seus cansados olhos. Pelo menos não haviam mais
lágrimas; ela já tinha despejado um oceano delas desde que a Umbrella veio atrás do G-virus. Agora só há dor,
combinada com fúria pelo que a Umbrella tinha feito.
Mais um mês, talvez dois, e nós teríamos dado a eles, sem nenhuma força. E William teria entrado para a
comissão de executivos e nós ficaríamos felizes. Todos ficariam -
Houve um fraco ruído vindo de um dos monitores. Annette olhou para cima esperando e tremendo - mas era só
um licker, um andar acima, no centro cirúrgico. Ele tinha acordado e caído do teto para jantar um dos técnicos,
uivando estupidamente para si mesmo enquanto rasgava o abdômen do corpo. O homem morto parecia ser Don
Weller, um dos intermediários do laboratório químico; ele estava tão mutilado quanto a inumana aparência do Re3
que o comia.
Ela observou o licker se alimentar, olhando para o monitor mas não o vendo; sua mente pensando no que tinha
sobrado para fazer. Ela já tinha apagado todos os computadores e os travado com códigos; o laboratório estava
pronto e sua rota de fuga era segura. Só que ela não podia terminar tudo até vê-lo de novo, ver que ele tinha
voltado para o laboratório da Umbrella. Destruir o lugar não adiantaria nada se ele não estivesse na zona de
explosão; eles o encontrariam e extrairiam o vírus de seu sangue...
... mas a Umbrella não vai consegui-lo. Eu vou morrer antes de deixá-los conseguir, então me ajude, Deus.
Seu único consolo era que a Umbrella não conseguiria por suas mãos gananciosas na síntese de William. E nunca
porão. Tudo o que foi usado na criação do G-virus será enterrado sobre toneladas de destroços, junto com
William e todos os monstros que eles criaram para a companhia. Depois ela irá se esconder por um tempo, se
recuperar e considerar suas opções - e então, venderá o G-virus para a concorrência. A Umbrella era a maior,
mas não era a única trabalhando em armas biológicas - quando Annette estiver quite com ela, não será mais a
maior. A vingança era tudo o que tinha restado.
"Exceto por Sherry". Annette cochichou, e a lembrança de sua jovem filha fez seu coração doer. Desde que
Sherry nasceu, Annette quis ter passado mais tempo com ela, se concentrar no bebê ao invés de ser parte do
brilhante trabalho de William.
Os anos se passaram e as promoções de William continuaram vindo, o trabalho ficou mais interessante e valioso -
e apesar de ambos terem prometido fazer um esforço para desenvolver a vida familiar, continuaram adiando.
E agora é tarde demais. Nunca seremos uma família, nunca seremos pais juntos. Todo aquele tempo perdido,
trabalhando para uma companhia que acabou nos esgotando...
Não adianta mais pensar em como teria sido. Tudo o que podia fazer era não deixar a Umbrella tirar mais nada
da família Birkin. William se foi, mas ainda tinha Sherry; essa parte dele continuará, e Annette poderá ser a mãe
que deveria ter sido. Claro, ela terá de esperar alguns meses antes de pegar Sherry, esperar a coisas se
acalmarem. Mas a garota ficará bem; os policiais a levarão para morar com a irmão de William, estava em ambos
os testamentos...
... a não ser que Irons ainda esteja vivo. Aquele gordo ganancioso achará um jeito de estragar até isso.
Ela esperava que estivesse morto; mesmo se não fosse responsável pelo que a Umbrella fez, Brian Irons era
nojento e arrogante, com a moral de uma lesma. Depois de anos de lealdade à companhia, foi comprado por
míseros cem mil dólares. Até William, que tinha uma opinião mais baixa sobre o chefe da polícia do que ela, se
surpreendeu...
Na tela, o Re3 terminou de comer. Tudo o que sobrou do corpo foram as costelas ensangüentadas e a parte de
trás do crânio. O licker saiu de visão, deixando um rastro escuro no chão. Graças ao T-virus, todas séries répteis
#
foram eficientes assassinos, apesar dos Re3 terem apresentado falhas - o cérebro exposto era a mais óbvia, e
também tinham um ridículo alto índice de metabolismo; mantê-los alimentados foi uma discussão constante.
Não é mais problema. Tem vários corpos por aí - mais cedo ou mais tarde poderão comer algo quente...
Annette sentiu falta de energia, não queria sair da sala - mas não podia ficar esperando William aparecer. Ela o
ouviu no nível três uns dois dias atrás, mas não o via a quase quatro; ela não podia ficar esperando. O pessoal da
Umbrella já deve estar pensando em como entrar - mesmo com o computador central apagado, haviam outros
modos de passar pelas portas -
- e William pode ter saído. Não posso mais negar isso, não importa o quanto eu queira.
Havia uma fábrica à oeste do laboratório, uma companhia de transporte que foi comprada pela Umbrella, para
assegurar que os níveis subterrâneos ficassem secretos; foi assim que a Umbrella conseguiu construir o complexo
sem levantar suspeitas, escondendo equipamentos e materiais nos galpões, e usando a grande plataforma móvel
para transportá-los. Apesar das entradas da fábrica ainda estarem fechadas, desde que verificou pela última vez,
havia uma possibilidade de que William possa ter saído - e se chegou na fábrica, podia chegar aos esgotos.
Annette esforçou-se para levantar, ignorando as cãibras nas pernas e costas enquanto pegava a arma da mesa.
Ela não sabia muito sobre armas, mas aprendeu bem rápido depois que -
- que eles vieram pegar o G-virus, os homens usando máscaras de gás, atirando e correndo - e William, pobre
William, morrendo numa poça de sangue, e eu não vi a seringa antes de ser tarde demais -
Ela respirou fundo, tentando esquecer essa terrível memória, tentando esquecer o incidente que tirou William dela
e transformou Raccoon na cidade dos mortos. Isso não importava mais. A jornada à frente não será prazerosa,
e ela tinha que se concentrar. Fuja dos Re3, humanos no primeiro e segundo estagio de infecção, os
experimentos de botânica e a série de aracnídeos - ela podia se deparar com qualquer um deles, sem mencionar
o que a Umbrella possa ter enviado.
E William. Meu marido, meu amado - o primeiro humano portador do G-virus, que já não é mais humano.
Annette estava errada sobre achar que não tinha mais lágrimas. Ela parou no meio da vasta e esterilizada sala,
cinco andares sob a superfície de Raccoon, e chorou, perdida, respondendo aos estímulos que nunca se quer
tinham tocado a dor de sua solidão.
A Umbrella sentirá muito. Uma vez certa de que William esteja fora do alcance deles, ela destruirá o laboratório,
fugirá com o G-virus, os fará entender como estragaram tudo - e que Deus ajude quem tentar impedi-la.
[17]
Ada correu pelo bloco das celas, a um passo atrás de Leon, bem a tempo de ver o repórter sair da cela e cair no
chão. "Ajude-o!".
Leon gritou, e passou por Bertolucci para verificar a cela. Ada parou em frente ao sufocado repórter, mas ignorou
a ordem, esperando ver a criatura que o atacou sair da cela -
- ele estava atrás das grades, como isso aconteceu -
Ela esperou, mirando na cela, seu coração pulando - e viu a confusão no olhar de Leon. Pelo modo como olhava,
a disse que a cela estava vazia. A não ser que o agressor fosse invisível...
Sem chance. Não comece a pensar nisso.
Ada se ajoelhou ao lado do repórter, percebendo imediatamente que ele não estava bem - nada bem. Ele tinha
se sentado e encostado na parede que dividia as duas celas. Ele ainda respirava. Ada já tinha visto essa
aparência antes, o distante olhar, a tremedeira, a palidez - mas ela não via o porquê, e isso a assustava. Não
havia ferimentos. Deve ter sido um ataque cardíaco, talvez um derrame -
- mas aquele grito.
"Ben? Ben, o que aconteceu?".
#
Seu vacilante olhar vidrado no dela, e Ada viu que os cantos de sua boca estavam rasgados e sangrando. Ele
abriu a boca para falar, mas tudo o que saiu foi um resmungo.
Leon se agachou junto a eles, confuso, também. Ele balançou a cabeça para ela, respondendo a pergunta que
não tinha feito; não haviam sinais do que tinha acontecido.
Ada olhou para Bertolucci e tentou novamente.
"O que foi, Ben? Você consegue nos dizer o que aconteceu?".
As trêmulas mãos do repórter subiram pelo corpo até pararem no peito. Com um esforço visível, ele tentou dizer
uma palavra.
"...abertura...".
Ada não tinha certeza. As aberturas nas paredes das celas eram muito pequenas e muito distantes do chão -
nada mais do que um tubo de ventilação que dava na garagem. Nada podia ter passado por lá.
Bertolucci ainda tentava falar. Ada e Leon se aproximaram, tentando entender suas palavras.
"... peito. Queima, tá... queimando...".
Ele estendeu a mão de repente e agarrou o braço dela, encarando-a com uma intensidade que a surpreendeu.
Ele apertou fracamente, com desespero em seus olhos.
"Eu nuca falei... sobre Irons". Ele respirou, fazendo força para continuar vivo até dizer tudo. "Ele está -
trabalhando para a Umbrella... todo esse tempo. Os zumbis - são pesquisas da Umbrella... e ele acobertou os
assassinatos, mas eu não consegui - provar, ainda... ia ser meu - furo".
Bertolucci fechou os olhos, respirando forte enquanto soltava o braço dela, e ela sentiu pena dele ao invés de si
mesma. Seu grande segredo era que a Umbrella tinha armas biológicas e Irons estava nessa. Teria sido um
grande furo.
Ele não sabe nada sobre o G-virus, nunca soube - e vai morrer sem reconhecimento.
"Jesus," Leon disse suavemente. "o chefe Irons..."
Bertolucci começou a ter convulsões, suas mãos apertando seu peito enquanto gemia de agonia. Suas costas se
curvaram, seus dedos como garras -
- e o gemido virou líquido enquanto sangue começou a borbulhar em sua boca. Engasgando e tremendo, seus
membros se debateram violentamente, espirros de sangue voando a cada tossida -
- e Ada viu vermelho surgir na camisa branca sob as mãos dele, ao som de ossos quebrando. Ela se afastou
assim que Leon tentou segurar as mãos de Ben, incerto do que estava acontecendo, mas certo de que não era
um ataque cardíaco -
- Santo Deus, o que é aquilo?
Tudo ao mesmo tempo, Ben foi para a frente e seus olhos viraram. Sangue ainda saía de sua boca e houve um
som, um horrível som de carne sendo rasgada, e sob sua camisa, algo mexeu.
"Afaste-se". Ada gritou apontando sua Beretta para Ben, e no segundo que levou para ela mirar, uma coisa
emergiu do ensangüentado peito de Bertolucci. Uma coisa do tamanho de uma mão, que abriu a boca e deu um
baixo berro, mostrando afiados e vermelhos dentes. O bicho saltou do corpo com uma chicoteante cauda, caindo
no cimento junto com pedaços de pele e carne - e correu como uma bala na direção do portão aberto para o
corredor, sua cauda balançando e pernas que Ada não conseguia ver, deixando um rastro vermelho para trás.
A coisa passou pelo portão antes de ela se lembrar que tinha uma arma; ela estava tão chocada que não pensou
em reagir. Uma criatura parasita que rasga seu peito - direto de um filme de ficção...
"O que era - você viu -". Leon disse, sem fôlego.
"Eu vi". Ada cochichou, interrompendo-o. Ela virou e olhou para Bertolucci, para seu rosto, estático numa
contorção angustiosa, e para o rasgo em seu peito.
A boca, rasgada nos cantos...
A criatura foi implantada nele - mas pelo que? Ela não sabia, e nem queria saber. Ela queria completar a missão e
sair de Raccoon o mais rápido possível. De fato, ela nunca quis tanto uma coisa. Quando se deu conta de que
houve um acidente com o T-virus, não esperava ter que lidar com organismos desagradáveis.
Ela olhou para Leon, desistindo de tentar ser razoável. Ela ia para o laboratório e não tinha o que discutir.
"Estou saindo daqui". Ela disse, e sem esperar respostas, virou-se e andou rapidamente para o portão, atenta
para não pisar no rastro de sangue.
"Espere! Olha, eu acho - Ada? Ei...".
Ela saiu no corredor de arma erguida, mas a criatura já tinha sumido. O rastro desaparecia no meio do corredor -
#
e viu que eles tinham esquecido a porta do canil aberta -
- e a tampa do poço também. Que ótimo.
Leon a alcançou e parou na sua frente. Por um momento, Ada achou que ele a fosse parar fisicamente.
Não faça isso. Eu não quero te machucar, mas vou se for preciso.
"Ada, por favor, não vá". Leon disse, não uma ordem, mas sim um pedido. "Eu - quando cheguei em Raccoon,
conheci uma garota e acho que ela está na delegacia. Se você puder me ajudar a encontrá-la, poderemos fugir
juntos. Teríamos mais chances -".
"Sinto muito, Leon, mas esse é um maldito país livre. Você faz o que tem que fazer, e boa sorte - mas eu não
vou ficar. Já foi o bastante. Se - quando eu sair, mandarei ajuda".
Ada passou por ele, esperando que não houvesse violência e que ele não tentasse impedi-la - vai ser muito
perigoso se ele tentar - foi quando ele a surpreendeu de novo.
"Então eu vou com você". Ele disse, seu olhar firme, decidido - e assustado. "Eu não vou deixar você ir sozinha.
Nem ninguém - não quero que você se machuque".
Ada olhou, sem saber o que dizer. Depois que Bertolucci morreu, ela não queria enganar Leon nos esgotos,
considerando o quanto extenso o sistema era... mas ele era tão bom, tão determinado em ajudar que ela estava
começando a - a não querer fazer mal a ele. Tudo seria mais fácil se ele fosse algum idiota metido a machão...
Tá bom, tire seu disfarce. Diga que é uma agente particular querendo roubar o G-virus e não quer companhia;
diga sobre o alívio que sentiu ao saber que o repórter iria morrer, ou que não tem problemas para tirar uma vida,
se for por uma boa causa - como ser paga. Veja o quanto bom ele será depois disso.
Não é uma opção. Mas havia uma parte dela que não queria admitir, uma parte que não queria ficar só. Ver o
que aconteceu com Bertolucci a fez perceber que não era tão invulnerável quanto gostava de pensar.
Então deixe-o vir, ache um lugar seguro no laboratório para deixá-lo. Sem danos nem sujeira.
Leon a olhava de perto, estudando-a - esperando sua aprovação.
"Vamos". Ela disse, e o sorriso que ele deu, apesar de vitorioso, a fez se sentir mais desconfortável.
Sem outra palavra, eles foram para o canil, Ada pensando no que estava fazendo - mas ainda capaz de fazer o
que for necessário para completar a missão.
Claire parou na frente de uma porta medieval no fim do escuro corredor o qual o elevador a tinha levado. A
delegacia era fria, mas a gelada umidade das pedras na parede do corredor fazia a delegacia parecer o verão; é
como se ela tivesse descido no calabouço de um castelo assombrado da Idade Média.
Ela respirou fundo, decidindo como entrar; ela estava certa de que Irons não gostaria de uma visita surpresa,
mas a idéia de bater era absurda - e perigosa. Haviam tochas acesas em suportes, uma de cada lado da porta
de madeira, a mesma envolta numa moldura de metal enferrujado.
Um túnel secreto, uma porta escondida com iluminação ambiente... que pessoa sã moraria aqui? Não foi o
desastre que fez isso - Irons devia ser louco bem antes do acidente da Umbrella...
Quando Sherry disse o que seus pais faziam para viver e o que aconteceu antes de chegar à delegacia, algo
clicou. A Umbrella trabalhava com doenças e a população de Raccoon certamente teve um grave caso de algo.
Deve ter sido algum tipo de acidente, um vazamento que soltou a estranha praga zumbi...
Claire mordeu o lábio, incerta do que fazer. Ela sabia que Irons estava em algum lugar lá embaixo, e não queria
vê-lo de novo; talvez ela deva voltar, pegar Sherry e tentar achar outra saída. Só porque é uma área secreta não
significa que haja uma saída lá.
Sherry estava lá em cima sozinha. E você tem uma arma, lembre-se?
Uma arma com poucas balas. Se for o esconderijo de Irons, devem haver armas lá dentro... ou apenas outro
corredor. Mas imaginar não a dirá nada.
Claire tocou a maçaneta e respirou fundo. A pesada porta abriu vagarosamente em dobradiças bem cuidadas. Ela
recuou apontando a arma -
Jesus.
Uma sala vazia, tão úmida e não receptiva quanto o corredor - mas com móveis e uma decoração que fez sua
pele arrepiar. Uma única lâmpada estava pendurada no teto, iluminando a mais pavorosa câmara que já tinha
visto. Tinha uma mesa no meio da sala, manchada e batida, um serrote e outros objetos cortantes espalhados
em cima; um balde de metal e um esfregão encostados numa parede, ao lado de uma estante cheia de
recipientes empoeirados - e o que pareciam ossos humanos, polidos e brancos, postos como troféus. Isso, e o
cheiro - um pesado e ácido cheiro químico que envolvia um outro pior. Um cheiro como loucura.
Só de olhar a sala a fez enjoar; "louco" devia ser o nome do ano do chefe da polícia - mas não havia ninguém lá.
Isso quer dizer que deve haver outra passagem secreta lá dentro. Pelo menos ela pode procurar por armas.
Engolindo, Claire entrou na sala, grata por não ter trazido Sherry; olhar para essa câmara de tortura a daria
pesadelos -
"Parada, mocinha, ou eu atiro".
Claire congelou. Cada músculo de seu corpo travou assim que Irons começou a rir atrás dela, de trás da porta
onde não pensou em olhar.
Oh, meu Deus, oh, Deus, oh, Sherry eu sinto muito -
O riso de Irons cresceu para a pura e alegre gargalhada de um louco, e Claire entendeu que iria morrer.
CONTINUA
Raccoon Times - 26 de Agosto de 1998
Plano "manter a cidade segura"
RACCOON CITY - Na frente da prefeitura, o Prefeito Harris anunciou ontem à tarde, em uma coletiva, que o conselho da cidade estará contratando pelo menos dez novos policiais para se juntar à polícia de Raccoon, por causa dos assassinatos brutais que atormentaram Raccoon no começo deste verão e devido a suspensão do S.T.A.R.S.. Junto com o Chefe Irons e todo os membros do conselho de Raccoon, Harris assegurou os cidadão e repórteres que a cidade será mais uma vez uma comunidade segura na qual se vive e trabalha, e que a investigação dos onze assassinatos "canibais" e dos três ataques animais fatais estão longe da solução.
"Só porque ninguém foi atacado no mês passado significa que os oficiais eleitos desta cidade podem relaxar" declarou Harris. "As boas pessoas de Raccoon merecem ter confiança em sua força policial e estarem seguras de que seus representantes políticos estão fazendo de tudo para dar segurança aos cidadãos. Como muitos de vocês sabem, a suspensão do S.T.A.R.S. será provavelmente permanente. Aquela unidade de investigação de assassinatos e sua subseqüente desaparição de Raccoon City sugere que eles não se importam com essa comunidade - mas eu quero assegurar vocês que nós nos importamos, e que eu, o Chefe Irons e os homens e mulheres que vocês vêem aqui, não queremos mais nada senão fazer de Raccoon um lugar a qual nossas crianças possam crescer sem medo".
Harris continuou a detalhar um plano de três pontos feito para reforçar a confiança e manter os cidadãos de Raccoon longe da violência.
Além de contratar de dez a doze policiais, o horário de recolher permanecerá ao menos até Setembro, e o Chefe Irons irá pessoalmente comandar uma força tarefa de alguns oficiais e detetives para continuar a busca dos assassinos que tiraram as vidas de onze pessoas entre Maio e Julho deste ano...
Cityside - 4 de Setembro de 1998
Renovação do complexo da Umbrella
RACCOON CITY - A instalação química da Umbrella no sul do centro da cidade começará a ser reformada na próxima Segunda-feira. Esta será a terceira renovação estrutural semelhante a do ano passado para a companhia. De acordo com a porta-voz da Umbrella, Amanda Whitney, dois dos laboratórios dentro da instalação principal serão adaptados com novos equipamentos projetados para síntese de vacinas e receberá um moderno sistema de segurança. Em adição, todos os escritórios conectados terão seus computadores atualizados na próxima semana.
Mas será isso um problema para o trânsito do centro da cidade? Whitney diz, "com o prédio do R.P.D. ainda terminando uma de suas reformas, os passantes locais já estão ficando cansados de ruas bloqueadas. Nós estamos fazendo de tudo para não interferir no trânsito; a maior parte da construção será interna e o resto será feito depois das horas de trabalho". O pátio do R.P.D., nossos leitores devem se lembrar, foi repavimentado e ajardinado depois que algumas rachaduras misteriosas apareceram no cimento; o tráfego teve que ser desviado por dois quarteirões na Rua Oak durante seis dias.
Ao perguntarmos porque tantos "reparos" ultimamente, Whitney respondeu, "a Umbrella tem estado na frente da competição há tanto tempo quanto continua com a atual tecnologia. Estes serão meses de trabalho, mas eu acho que valerá o esforço...”.
Raccoon Weekly Editorial - 17 de Setembro de 1998
Irons vai se candidatar?
RACCOON CITY - O Prefeito Harris pode estar numa difícil corrida na próxima primavera. Notícias de dentro do R.P.D. estão dizendo que Irons, Chefe da Polícia pelos últimos quatro anos e meio; pode estar concorrendo para chegar ao topo do ministério na próxima eleição, contra o popular, e sem oposição Devlin Harris, já no poder por três períodos consecutivos. Embora Irons não tenha confirmado os fatos, o ex-membro do S.T.A.R.S. recusou a negação do rumor.
Com sua popularidade bem alta desde o encerramento do caso dos assassinatos neste verão (ainda não resolvido) e da expansão planejada do RPD, Irons pode ser o homem que tirará Harris da Prefeitura; a questão é, serão os eleitores capazes de esquecer o suposto envolvimento de Irons nos fundos de campanha ilegais em Cider District? Ou seus caros gostos em arte e design interior, o qual tornaram o RPD em algo mais parecido com um museu?...
Raccoon Times - 22 de setembro de 1998
Adolescente atacada no parque
RACCOON CITY - Há aproximadamente 18:30h da noite passada, Shanna Williamson de quatorze anos foi surpreendida por um estranho no parque da Rua Birch no centro da cidade, quando voltava do treino para casa.
O homem veio de trás de uma cerca no parque e a derrubou de sua bicicleta antes de tentar agarrá-la. A jovem conseguiu sair de lá com alguns arranhões, e correu para a residência de Tom e Clara Atkin; Clara chamou as autoridades, que conduziram uma busca no parque, mas não acharam nenhum sinal do agressor.
De acordo com a garota (através de um depoimento hoje de manhã), o homem pareceu ser um pedestre: suas roupas e cabelos estavam sujos, e cheirava mal, "um cheiro de fruta podre". Ela disse que ele parecia bêbado, vacilando e caindo depois dela.
Com a onda de assassinatos de Maio para Julho ainda não resolvidos, o RPD está levando este fato seriamente: o agressor mostrou uma evidente semelhança com os membros da "gangue" do Victory Park em Junho deste ano.
Harris convocou uma coletiva para hoje, e Irons já declarou que o primeiro dos novos policiais chega na próxima semana, e que viaturas patrulharão os parques do centro da cidade...
https://img.comunidades.net/bib/bibliotecasemlimites/3_CITY_OF_THE_DEAD.jpg
[1]
Com o pessoal esperando no carro de Barry lá fora, Jill fez o possível para se apressar. Não era fácil, a casa tinha
sido revirada desde a última vez que esteve lá. Livros e papéis espalhados pelo chão, e estava muito escuro para
andar facilmente. O fato de sua casa ter sido violada era preocupante, mas já era de se esperar. Ela devia estar
agradecida por não ser do tipo sentimental - e pelos intrusos não terem achado seu passaporte.
Na escuridão de seu quarto, Jill pegou meias limpas e calcinhas e as colocou em sua mochila, desejando poder
acender as luzes. Fazer as malas no escuro era mais difícil do que se imaginava, mais ainda com a casa
bagunçada; mas eles não podiam se arriscar. Era improvável que suas casas estavam sendo vigiadas, mas se
alguém estiver olhando, uma luz poderia abrir fogo.
Pelo menos você vai embora. Chega de se esconder.
Eles estavam indo para território estrangeiro, invadir o quartel inimigo e provavelmente serem mortos no
processo, mas pelo menos ela não ficará mais em Raccoon. Pelo que ela leu nos jornais ultimamente, era a
melhor escolha. Dois ataques na semana passada... Chris e Barry estavam cientes do perigo, mesmo sabendo o
que o T-virus fazia com as pessoas - Barry pensou que isso era algum tipo de truque, que a Umbrella "salvaria"
Raccoon antes de alguém se machucar. Chris concordou, mas Jill não estava preparada para assumir nada; a
Umbrella já mostrou que não consegue conter suas experiências. E com o que Rebecca, David e sua equipe
enfretaram em *Maine...
Agora não é hora para pensar nisso - eles tinham um avião para pegar. Jill pegou a lanterna da penteadeira e
estava indo para a sala quando lembrou que só tinha um sutiã consigo. De cara feia, ela virou para a gaveta
aberta e começou a procurar. Ela já tinha roupas o bastante, escolhidas do que Brad deixou para trás quando
fugiu de Raccoon; ela e os outros ficaram na casa dele por várias semanas, desde que a Umbrella atacou a casa
de Barry. Nenhuma roupa de Brad serviu em Chris nem em Barry. Lingerie não era algo que o piloto do
S.T.A.R.S. tinha guardado. Ela não queria parar o avião para comprar roupas íntimas.
Colocando-os na mochila, Jill voltou para a pequena sala da casa. Tinha uma foto de seu pai em uma das
estantes que ela queria pegar. Era a segunda vez que foi lá desde que começaram a se esconder. Ela sente que
não voltará tão cedo.
Andando agilmente pelo escuro, ela ergueu a lanterna e a apontou para o canto onde a estante estava. A
Umbrella bagunçou tudo. Só Deus sabe o que eles estavam procurando. Pistas do nosso esconderijo,
provavelmente; depois do ataque na casa de Barry e a desastrosa missão à Caliban Cove, ela não acha que a
Umbrella ignoraria essas informações.
Jill iluminou o livro que queria, o título era Prison Life; seu pai teria rido. Ela pegou o livro e começou a folheá-lo,
parando quando a luz caiu sobre o sorriso de Dick Valentine. Ele tinha mandado a foto junto com sua última carta.
Ela tinha posto no livro para não perdê-la. Esconder coisas importantes era um hábito que adquiriu quando jovem.
Ela soltou o livro, a pressa foi embora de repente, ao olhar para a foto. Um leve sorriso surgiu em seu rosto. Ele
era o único homem que ficava bem no uniforme laranja da prisão.
Jill pensou no que ele acharia da situação atual; ele foi o responsável pelo envolvimento dela com o S.T.A.R.S..
Depois de preso, ele a encorajou a abandonar essa vida, dizendo que foi um erro treiná-la como uma ladra...
... aí eu peguei um trabalho legítimo, trabalhando para a sociedade ao invés de contra ela - aí as pessoas em
Raccoon começaram a morrer. O S.T.A.R.S. descobriu uma conspiração para criar armas biológicas com um vírus
que torna coisas vivas em mortas. Obviamente ninguém acreditou em nós. Os S.T.A.R.S. que não podem ser
comprados pela Umbrella, perdem a credibilidade ou são eliminados. Agora nós iremos para uma missão suicida na
Europa, tentar invadir o quartel general de uma corporação multibilionária e impedi-los de destruir esse maldito
planeta. O que você acharia? Sendo que você nunca acreditou nessa história, o que você acha?
"Você se orgulharia de mim, Dick". Ela suspirou, incerta se seria verdade. Seu pai queria vê-la em uma linha de
trabalho menos perigosa, e comparado ao que ela e os outros iriam fazer...
Depois de um longo momento, ela colocou a foto cuidadosamente no bolso e olhou para sua casa bagunçada,
ainda pensando na opinião de seu pai sobre tudo isso; se tudo correr bem, talvez ela possa perguntar
pessoalmente. Rebecca e os outros sobreviventes de Maine ainda estavam escondidos, investigando a
organização S.T.A.R.S. e esperando notícias sobre o quartel general da Umbrella. O quartel oficial fica na Europa,
mas eles suspeitavam de que os cabeças por trás do T-virus tinham um complexo secreto em outro lugar -
- a qual você não achará se ficar aí parada; o pessoal achará que você parou para tirar um cochilo.
Jill colocou a mochila e olhou em volta pela última vez antes de voltar para a porta dos fundos, na cozinha. Havia
um leve cheiro de fruta estragada no ar, vindo de uma tigela de maçãs e pêras em cima da geladeira. Apesar de
conhecer bem o cheiro, ela sentiu um calafrio em sua espinha. Ela foi para a porta fechada, tentando bloquear as
súbitas memórias do que eles acharam na mansão de Spencer...
"Jill?".
A porta abriu, a silhueta de Chris na escuridão pela distante luz da rua.
"Bem aqui". Ela disse, andando. "Desculpe pela demora. A Umbrella veio aqui com um trator".
Mesmo com pouca luz, ela pode ver um meio sorriso no rosto dele. "Nós estávamos achando que um zumbi
tinha pego você". Ele disse claramente, mas ela sentiu a preocupação.
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*Maine – Estado localizado na costa leste dos E.U.A.
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Muitas pessoas morreram por causa do que a Umbrella fez na
floresta fora da cidade. Se o acidente tivesse ocorrido mais perto de Raccoon...
"Não teve graça". Ela disse suavemente.
O sorriso de Chris sumiu. "Eu sei. Está pronta?".
Jill acenou, apesar de não se sentir preparada pelo que virá a seguir, tampouco pelo que estão deixando para
trás. Em algumas semanas, seu conceito de realidade transformou pesadelos em rotina.
Corporações malvadas. Cientistas loucos, vírus assassinos. E os mortos-vivos...
"Estou". Ela disse finalmente. "Estou pronta".
Juntos, eles saíram. Assim que ela fechou a porta, sentiu um súbito ar de incerteza - de que ela nunca mais
colocaria os pés em casa novamente, de que os três nunca mais voltariam para Raccoon City...
... mas não acontecerá nada com a gente. Algo acontecerá, mas não conosco.
Franzindo, mão na fechadura, ela tentou dar sentido ao pensamento. Se eles sobreviverem a essa missão, se
eles tiverem sucesso contra a Umbrella, por que não voltariam para casa? Ela não sabia, mas o sentimento era
desconfortavelmente forte. Algo ruim iria acontecer, algo -
"Ei, você está bem?".
Jill olhou para Chris, viu a mesma preocupação em seu rosto. Eles se aproximaram bastante nas últimas
semanas, apesar de achar que Chris queira se aproximar mais ainda.
E você não quer?
Jill se balançou mentalmente e acenou para Chris, deixando os sentimentos irem. O vôo para Nova Iorque não irá
esperar por ela.
Ainda aquele sentimento...
"Vamos sair daqui". Ela disse.
Eles andaram pela noite, deixando a escura casa para trás, tão quieta e sozinha quanto um túmulo.
[2]
29 de Setembro de 1998
O resto da luz do dia já estava atrás das montanhas, pintando o horizonte com o violeta do pôr do sol. As
montanhas corriam pela escuridão do céu sem nuvens, se esticando para alcançar o fraco brilho das estrelas.
Leon poderia ter apreciado mais a paisagem se não estivesse tão atrasado. Ele vai chegar a tempo, claro, mas
antes pretendia chegar em seu novo apartamento, tomar um banho, comer algo; mas do jeito que está, ele só
tem tempo para passar numa lanchonete a caminho da delegacia. Colocar seu uniforme na última parada lhe deu
alguns minutos, mas basicamente ele estava apertado.
Isso aí, Oficial Kennedy. Primeiro dia de trabalho e você estará tirando sanduíche dos dentes durante as
chamadas. Muito profissional.
Seu turno começava às nove e já era mais de oito. Leon pisou um pouco mais forte no acelerador ao passar por
uma placa que dizia restar meia hora para chegar em Raccoon City. Pelo menos a estrada estava livre. Ele não
viu ninguém em horas, exceto pelo apressadinho no sentido oposto.
Uma boa mudança considerando o trânsito depois de Nova Iorque, a qual lhe custou toda tarde. Ele tentou deixar
um recado para o sargento na noite passada, mas só ouviu o sinal de ocupado.
Os poucos móveis que tinha, já estavam no apartamento num bom bairro de Raccoon. Havia um parque à duas
quadras de lá, e só cinco minutos de carro até a delegacia. Chega de engarrafamentos, bairros violentos e ações
brutais. Ele procurava viver numa comunidade pacífica.
... bom, exceto pelos últimos meses. Aqueles assassinatos...
O que aconteceu em Raccoon foi horrível, doentio - mas os agressores nunca foram pegos e a investigação só
estava começando. Se Irons gostar dele como gostaram na academia, talvez Leon possa trabalhar nesse caso.
Mesmo Chefe Irons sendo uma praga, ele ficará um pouco impressionado. Leon se formou entre os dez
melhores e não era um estranho em Raccoon. Ele costumava passar os verões lá quando criança, quando seus
avós ainda eram vivos. O R.P.D. era uma biblioteca e a Umbrella estava a vários anos de distância de transforma
Raccoon numa verdadeira cidade. Mesmo assim, ainda é o mesmo calmo lugar de sua infância. Quando os
assassinos forem presos, Raccoon City será ideal de novo - bonita, limpa, uma comunidade escondida nas
montanhas como um paraíso secreto.
Aí eu me estabeleço lá. Uma ou duas semanas se passam e Irons percebe o quanto bem os meus relatórios
estão sendo escritos, ou vê o quanto bom eu sou atirando no alvo. Ele me chama para ver os documentos do
caso - e eu vejo algo que ninguém mais viu. Ninguém mais percebeu por que eles viveram muito com isso, e
esse policial novato vem e resolve o caso, nem um mês fora da academia e eu -
"Jesus!". Algo correu em frente ao seu Jeep.
Leon pisou no freio e desviou, tirado de seu sonho enquanto recuperava o controle do carro. Os freios travaram e
os pneus derraparam no asfalto. O Jeep parou de frente para as escuras árvores que cercavam a estrada -
desligando depois de uma última sacudida.
De coração acelerado, Leon abaixou o vidro e levantou o pescoço, varrendo as sombras pelo animal que tinha
cruzado a pista. Ele não o atropelou, mas foi por pouco. Algum tipo de cachorro, ele não viu direito - um dos
grandes, talvez um Doberman, mas de alguma forma parecia errado. Leon só o viu por uma fração de segundo,
um brilho de olhos vermelhos e o corpo inclinado de um lobo. E tinha algo mais, parecia algum tipo de...
... lodo? Não, truque de luz, ou você só estava se borrando de medo e acabou vendo errado. Você está bem e
não o atropelou, isso é o que importa.
"Jesus". Ele disse de novo, mais suave, sentindo-se aliviado e bravo enquanto a adrenalina saia de seu sistema.
Pessoas que deixam seus cães soltos são idiotas - depois agem surpresos quando o Totó é pego por um carro.
O Jeep parou a alguns metros de uma placa que dizia RACCOON CITY 10; ele só conseguia ver as letras no
escuro. Leon olhou no relógio; ele ainda tinha meia hora para chegar na delegacia, pouco tempo - mas por algum
motivo, ele simplesmente parou por um momento, fechando os olhos e respirando profundamente.
Uma brisa fresca passou pelo seu rosto; o deserto trecho de estrada parecendo sobrenaturalmente quieto.
Os assassinatos em Raccoon. Algumas pessoas foram mortas por animais, não foram? Cães selvagens? Talvez
aquele não tenha dono.
Um perturbante pensamento - mais ainda quando sentiu que o cachorro ainda estava por perto, o escondido nas
árvores.
Bem vindo a Raccoon City, Oficial Kennedy. Cuidado com as coisa que o observam...
"Não seja idiota". Leon disse para si mesmo, imaginado se algum dia se livrará de sua imaginação.
Sonhando em pegar caras maus, depois inventar monstros assassinos vagando pela floresta - vamos agir de
acordo com nossas idades, né, Leon? Você é um policial, pelo amor de Deus, um adulto...
Ele ligou o motor e voltou para a estrada. Ele tinha um emprego novo, um bom apartamento numa boa cidade;
ele era competente, consciente, e de boa aparência; usando sua criatividade, tudo ficará bem.
"E já estou a caminho". Ele disse, forçando um sorriso para se acalmar. Ele estava a caminho de Raccoon City,
para uma nova vida - não tinha nada com o que se preocupar...
Claire estava exausta, psicológica e emocionalmente, e o fato de seu traseiro estar doendo pelas últimas horas,
não estava ajudando. O motor de sua Harley parecia entrar em seus ossos, e mais, estava escurecendo. E por
idiotice, ela não estava usando suas roupas de couro; Chris não aprovaria.
Ele vai gritar comigo, e eu nem vou ligar. Deus, Chris, por favor, esteja lá para isso...
O barulho da moto ecoou pelos barrancos inclinados. Ela fez as curvas cuidadosamente, bem consciente do
quanto desertas as estradas estavam; se ela cair, levará um bom tempo até alguém aparecer.
Como se importasse. Sem seu equipamento, eles recolheriam seus pedaços com um rodo.
Era burrice, ela sabia que era burrice - mas algo aconteceu com Chris. Droga, algo deve ter acontecido com a
cidade toda. Pelas últimas semanas, a suspeita aumentou - e as ligações que tinha feito aquela manhã a tiraram
do lugar.
Ninguém em casa. Ninguém em lugar nenhum. Como se a cidade tivesse se mudado.
Ela não se importava com Raccoon, mas sim com seu irmão que estava lá, e se algo de ruim aconteceu com ele
-
Ela não podia, não pensaria desse jeito. Chris era tudo o que lhe restava. Seu pai morreu em seu emprego na
construção quando ainda eram crianças. Quando sua mãe morreu num acidente de carro três anos atrás, Chris
fez o melhor para substituir os pais. Mesmo sendo poucos anos mais velho, ele a ajudou a escolher uma
faculdade - ele até a mandava dinheiro todo mês. Além disso, ele ligava para ela toda semana.
Mas essas ligações pararam no último mês e meio, e as dela não foram retornadas. Ela tentou se convencer de
que era besteira se preocupar - talvez ele finalmente achou uma namorada, ou algum problema com o S.T.A.R.S.
Mas depois de três cartas não correspondidas e dias esperando o telefone tocar, ela finalmente decidiu ligar para
o R.P.D. naquela tarde, esperando que alguém pudesse dizer o havia acontecido. Ela só ouviu o sinal de ocupado.
Sentada em seu quarto, ouvindo aquele som, ela começou a se preocupar mesmo. Ela procurou em sua agenda
com mãos trêmulas, discando os poucos números dos amigos dele, pessoas ou lugares que mandou ligar em
caso de emergência - Barry Burton, Emmy's Diner, um policial que ela nunca conheceu chamado David Ford. Ela
até tentou o telefone de Bill Rabbitson, apesar de Chris ter dito que ele desapareceu alguns meses atrás. Só deu
ocupado.
A preocupação se transformou em algo perto de pânico. A viagem para Raccoon City levava seis horas e meia da
universidade. Sua amiga de quarto pegou seu equipamento de moto emprestado para sair com o namorado, mas
Claire tinha outro capacete - e com aquele pânico passando pelos seus pensamentos assustados, ela
simplesmente pegou o capacete e saiu.
Burrice, talvez. Impulsiva, certamente. E se Chris estiver bem, nós poderemos rir sobre o quanto ridícula essa
paranóia foi. Mas enquanto eu não souber o que está acontecendo, não terei um momento de paz.
O resto da luz do dia estava sumindo no céu sem nuvens, mas a brilhante lua cheia e o farol da moto eram
suficientes para enxergar - para ver a pequena placa adiante: RACCOON CITY 10.
Dizendo a si mesma que Chris estava bem, que algo de estranho aconteceu em Raccoon, alguém já teria
verificado. Claire passou a se concentrar na estrada. Daqui a pouco estará escuro, mas ela chegará em Raccoon
antes de ficar perigoso para dirigir.
Estando Raccoon City bem ou não, ela descobrirá em breve.
#
[3]
Leon alcançou os limites da cidade com vinte minutos restando, e decidiu que um jantar quente irá esperar. De
sua última visita à delegacia, ele sabia que haviam algumas máquinas de venda onde podia comprar algo. O
pensamento de ter doces e amendoins em seu estômago não caía bem, mas foi culpa dele por não te se livrado
do trânsito de Nova Iorque a tempo.
Ele passou por algumas fazendas que ficavam a leste da cidade, antes de ver a parada de caminhões que
separava a zona rural da urbana.
Assim que virou na ByBee, indo para uma das ruas norte-sul principais que o levariam para o R.P.D., ele
conseguiu a primeira dica de que algo estava errado. Nos primeiros quarteirões, ele se surpreendeu. No quinto ele
se sentiu um estranho no deserto. Não era estranho, era impossível.
ByBee era a primeira rua real da cidade, vinda do leste. Havia vários bares e restaurantes baratos, tal como um
cinema que nunca deve ter mostrado nada além de filmes de terror e comédias sensuais - e mesmo assim era o
mais popular lugar da juventude de Raccoon. Havia algumas tavernas que serviam cervejas e bebidas quentes
para os universitários. Às oito e quarenta e cinco da noite, ByBee deveria estar cheia de vida.
Exceto por algumas lojas e restaurantes, Leon viu que quase toda a rua estava escura - e mesmo as que tinham
luz não mostravam presença humana. Haviam carros parados na rua, e ainda nenhuma pessoa. ByBee, o ponto
de encontro de adolescentes e estudantes, estava totalmente deserta.
Onde está todo mundo?
Ele continuou dirigindo, procurando respostas - e tentando aliviar a suave ansiedade que sentia. Talvez há algum
tipo de evento acontecendo, uma missa ou uma festa da macarronada. Ou Raccoon decidiu antecipar a
Oktoberfest para hoje à noite.
Tá, mas todos ao mesmo tempo?
Leon percebeu que não tinha visto um carro se quer desde o cachorro há dezesseis quilômetros. Nem um. Sendo
assim, um pensamento menos dramático lhe ocorreu.
Algo não cheirava bem. De fato, algo cheirava como podre.
Ele diminuiu a velocidade para virar na Powell, uma quadra à frente - mas o cheiro e a ausência de vida estavam
lhe dando uma ruim sensação. Talvez ele deva parar e verificar, procurar algum sinal de -
Leon sorriu aliviado. Havia duas pessoas de pé na esquina, bem à frente; a luz estava apagada perto deles, mas
ele pode ver suas sombras claramente - um casal, uma mulher de saia e um homem alto usando botas. Indo a
sul na Powell, chegando mais perto deles, Leon pode ver como andavam, pareciam bêbados. Ambos estavam na
sombra de uma loja de escritório e fora de visão; mas Leon estava naquela direção - não custava parar e
perguntar?
Devem ter saído do O'Kelly's. Um copo ou dois, mas não estando dirigindo, ótimo. Eu me sentirei um idiota
quando eles me dizerem que hoje é o grande concerto gratuito ou o dia da churrascada.
Aliviado, Leon virou a esquina e olhou para as sombras, procurando pelo par. Ele não os viu, mas tinha um beco
entre a loja e a joalheria. Talvez eles tenham parado para ir ao banheiro ou fazer outra coisa mais ilegal -
"Merda!".
Leon pisou no freio assim que meia dúzia de escuras figuras voaram do chão, pegas pelos faróis do Jeep.
Assustado, levou alguns segundos para perceber que tinha visto pássaros; eles não berraram, apesar de ter
estado perto o bastante para ouvir o bater de asas.
Oh, meu Deus.
Havia um corpo humano no meio da rua, a seis metros do carro. Debruçada, mas parecia uma mulher - e
julgando pelo líquido vermelho que cobria boa parte da blusa branca, não era uma estudante bêbada que decidiu
dormir no lugar errado.
Atropelamento. Algum imbecil a acertou e fugiu.
Leon desligou o motor e abriu a porta. Ele hesitou, um pé no asfalto, o cheiro de morte intenso no ar. Sua mente
#
trouxe uma idéia que não queria considerar, mas deveria; isso não é um treinamento, é a sua vida.
E se não foi um atropelamento? E se o fato de não haver pessoas por perto é por causa de um maluco armado
que decidiu praticar tiro ao alvo? Talvez todos estão em casa, abaixados - o R.P.D. pode estar a caminho e
aqueles dois bêbados podiam estar feridos e procurando ajuda...
Ele se esticou no Jeep e procurou seu presente de formatura debaixo do banco do passageiro, uma H&K VP70
com dezoito balas.
Apontando ela para o chão, Leon saiu do carro e deu uma olhada em volta. Ele não conhecia muito bem a noite
de Raccoon, mas sabia que não deveria estar tão escuro. Várias luminárias da rua estavam apagadas; se não
fossem os faróis do carro, ele não teria visto o corpo.
Ele se aproximou, sentindo-se desprotegido sem o carro, mas ciente de que ela podia estar viva. Era impossível,
mas ele tinha que ver.
Alguns passos mais próximo e viu que era um a jovem mulher. O cabelo ruivo e liso cobria o rosto. A maioria dos
ferimentos estavam escondidos pela blusa ensangüentada. Parecia haver alguns deles - rasgos na roupa
expunham claros e cortados pedaços de carne e os músculos vermelhos abaixo.
Exalando forte, Leon colocou a arma na mão esquerda e se agachou, tocando a fria pele do pescoço dela. Alguns
segundos passaram, segundos que lhe causaram medo, tentando se lembrar do procedimento de ressuscitarão,
esperando sentir o pulso.
Cinco compressões, dois e curtos sopros, cotovelo parados e, por favor, não esteja morta -
Ele não sentiu o pulso e não queria esperar. Guardando a arma, ele agarrou os ombros para vira-la - mas quando
começou a erguê-la, sua blusa saiu da calça, mostrando algo que o fez soltá-la. Sua coluna e parte das costelas
estavam expostas. As vértebras brancas brilhando entre a carne vermelha. Parece que ela foi mastigada. Coisa
que Leon não quis acreditar.
Os corvos não fizeram isso, teria levado horas, e quem disse que corvos se reúnem à noite para comer? E aquele
cheiro, não está vindo dela, ela morreu recentemente, e -
Canibais. Assassinos.
Não. Nem pensar. Para uma pessoas ser morta e devorada no meio da rua sem ninguém para impedir -
- e com tempo suficiente para comedores de mortos virem - os assassinos devem ter matado toda a população.
Parece certo? Então que cheiro é esse? E onde estão todos?
Atrás de Leon, houve um baixo e suave gemido. Depois, passos.
Levou um segundo para Leon se levantar, virar e empunhar a arma. Era o casal, os bêbados, vindo em sua
direção, junto com um terceiro, um cara musculoso com -
- com sangue por toda a camisa. E nas mãos. E pendurado em sua boca, algo vermelho e mole. O outro homem
com as botas e suspensórios, parecia igual.
O trio se aproximava, passando do Jeep, erguendo as mãos e gemendo. Leon estava impressionado com a
descoberta de que o cheiro vinha deles -
- e apareceu outro, saindo da porta do outro lado da rua, uma mulher de camiseta e cabelo amarrado para trás.
Outro gemido atrás dele. Leon olhou sobre o ombro e viu um jovem de cabelos escuros e braços podres sair das
sombras da calçada.
Leon apontou a arma para o que estava mais perto, o de suspensórios, enquanto seus instintos gritavam para
fugir. Ele estava aterrorizado, mas sua lógica insistia que havia uma explicação para o que via, que não estava
vendo um morto-vivo.
"Certo! Já chega! Não se mexam!".
Sua voz foi forte e autoritária. Ele vestia seu uniforme, e Deus, por que eles não param? O de suspensórios
gemeu de novo, cego para a arma apontada para seu peito, e ainda seguido pelos outros, agora a menos de
três metros de distância.
"Não se mexa!". Leon disse de novo, e o som de seu próprio pânico o fez recuar um passo, olhando para os
lados e vendo mais dois saindo das sombras.
Algo agarrou seu calcanhar.
"Não!". Ele gritou, virando a arma -
#
- e viu que a atropelada estava segurando sua bota com uma mão ensangüentada, tentando mover seu corpo.
O gemido dela se juntou ao dos outros enquanto tentava morder seu pé, vermelhos fios de saliva escorrendo
pelo queixo, caindo no couro.
Leon atirou nas costas dela. Pela distância deve ter acertado seu coração. Tremendo, ela voltou para o chão.
- e ele virou e viu os outros a menos de um metro e meio, e atirou mais duas vezes, os tiros abrindo buracos no
peito do mais próximo.
O de suspensórios não se intimidou com os tiros em seu peito, seu equilíbrio se abalando por apenas um segundo.
Ele abriu a boca e soltou um grito de fome, mãos erguidas de novo na direção de seu alívio.
Recuando, Leon atirou de novo. E de novo. E de novo. Mais tiros e eles continuaram vindo. Era como um sonho
ruim, um filme ruim, não era real - e Leon sabia que se não começasse a acreditar, acabará morrendo. Comido
por esses -
Vá em frente. Diga. Esses zumbis.
Longe do carro, Leon correu, ainda atirando.
[4]
Que vida noturna; esse lugar está morto.
Claire não viu tantas pessoas como deveria desde que chegou em Raccoon, só algumas, só algumas vagando
por aí. O lugar parecia totalmente deserto; o capacete bloqueava muito a visão, mas definitivamente os negócios
não iam bem naquela parte da cidade. Tal como o trânsito.
Ela planejou ir direto ao apartamento de Chris, mas se lembrou de que passaria em frente ao Emmy's. Chris não
sabia cozinhar nada; sendo assim, ele vivia de cereais, sanduíches frios e jantares no Emmy's seis vezes por
semana; mesmo não estando lá, vale a pena parar e perguntar se alguma garçonete o viu.
Assim que Claire parou em frente ao Emmy's, viu ratos procurando abrigo numa lata de lixo na calçada. Ela
abaixou o apoio e desceu da moto, tirando o capacete e o colocando no assento. Balançando seu rabo de cavalo,
ela franziu o nariz de nojo; pelo cheiro, o lixo estava lá por um bom tempo. Independente do que jogavam fora,
aquilo tinha um cheiro tóxico.
Antes de entrar, ela esfregou seus braços e pernas tanto para aquecê-los, quanto para limpá-los da sujeira da
estrada.
Através do vidro da frente do restaurante era possível ver o confortável de bem iluminado interior.
Das banquetas vermelhas do balcão que cercava o canto esquerdo ao fundo - não tinha uma alma à vista. Claire
franziu, desapontada. Tendo visitado Chris regularmente nos últimos anos, ela esteve lá todas as horas do dia e
da noite; os dois eram corujas, decidindo comer sanduíches às três da manhã - o que significa Emmy's. E sempre
tinha alguém lá, conversando com uma das garçonetes de avental vermelho ou curvado sobre uma xícara de
café e um jornal, não importava que horas fossem.
Então onde eles estão? Nem são nove horas...
A placa dizia Aberto, e ela não ficou parada na rua, esperando. Uma última olhada na moto e ela entrou.
Respirando fundo ela disse esperançosa.
"Olá? Tem alguém aqui?".
Sua voz correu pelo silêncio do restaurante vazio. Exceto pela suavidade dos ventiladores de teto, não havia outro
som. Tinha um familiar cheiro de gordura no ar e algo mais - um cheiro amargo e ainda fraco de flores podres.
O lugar era em L, se esticando para frente dela e para a esquerda. Andando devagar, Claire seguiu em frente.
Atrás do balcão ficava o caminho da cozinha. Se o restaurante estava aberto, os funcionários deviam estar lá,
talvez surpresos com a falta de clientes -
- mas isso não explica a bagunça, né?
Não estava tão bagunçado. A desordem nem foi percebida do lado de fora. Menus no chão, um copo d'água
virado no balcão, e talheres eram os únicos objetos fora de ordem - mas era demais.
Que se dane a cozinha, isso é muito estranho, algo está errado nessa cidade - talvez eles foram assaltados ou
preparando uma festa surpresa. Quem se importa?
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Do espaço escondido no final do balcão, ela ouviu um movimento, um deslizante sor de roupas seguido por um
ronco. Alguém está lá, agachado.
De coração batendo forte, Claire chamou de novo. "Olá?".
E nada.
- outro gemido, um som que arrepiou os pêlos do seu pescoço.
Apesar do medo, Claire foi até lá. Talvez houve um assalto, os clientes podem estar amarrados - ou pior, tão
machucados que não conseguiam gritar. De qualquer modo, ela estava envolvida.
Claire chegou no fim do balcão, olhou para a esquerda -
- e gelou, de olhos arregalados, sentindo-se psicologicamente estapeada. Perto de uma prateleira com bandejas
estava um calvo homem de avental branco, de costas para ela. Ele estava agachado sobre o corpo de uma
garçonete; mas tinha algo muito errado sobre ela, tão errado que Claire não conseguiu aceitar tão cedo. Seu olhar
chocado passou pelo uniforme vermelho, sapatos, até pelo crachá de plástico no peito dela, "Julia" ou "Julie".
... a cabeça. A cabeça dela não estava lá.
Percebendo o que estava errado, Claire não conseguiu desacreditar por mais que queira. Só tinha uma poça de
sangue no lugar da cabeça dela, cercada por fragmentos do crânio e mechas de cabelo escuro. O cozinheiro tinha
as mãos no rosto e Claire, olhando para o corpo, soltou um leve suspiro.
Ela abriu a boca, incerta sobre o que falar.
Gritar, perguntar por que, como, oferecer ajuda - ela não sabia, e assim que o homem virou para ela, abaixando
as mãos, nada foi dito definitivamente.
Ele estava comendo a garçonete. Seus dedos estavam vestidos com carne; a estranha face que ele mostrou
estava suja de sangue.
Zumbi.
Sua mente aceitou isso no momento em que pensou; ela não era idiota. Ele estava mortalmente pálido e com
aquele cheiro de podridão. Seus olhos brancos.
Zumbis em Raccoon. Eu nunca esperei isso.
Com esse calmo e lógico pensamento veio uma súbita onda de terror. Claire recuou, enquanto o homem
continuava se virando, se levantando.
Ele era enorme, quase dois metros, grande como um armário -
- e morto! Ele está morto e comendo a mulher, não o deixe se aproximar!
O cozinheiro começou a andar. Claire recuou mais rápido, quase escorregando num menu. Um garfo entortou sob
seus pés.
SAIA DAQUI, AGORA.
"Eu já estou de saída". Ela falou. "Mesmo, não precisa mostrar a porta -".
O cozinheiro continuou andando, seus cegos olhos arregalados de fome. Outro passo para trás - e Claire sentiu o
frio metal da maçaneta da porta. Uma triunfal adrenalina passou por ela enquanto virava, tocava a maçaneta -
- e gritou, um curto grito de terror. Havia dois, três deles lá fora, suas carnes decompostas pressionando o vidro.
Um deles só tinha um olho; outro só o lábio superior. Do outro lado da rua, escuras figuras saiam da penumbra.
Sem saída, presa -
- Jesus, a porta dos fundos!
No final de seu campo visual, a verde luz da saída brilhava como uma estrela. Claire virou de novo e mal viu o
cozinheiro chegando onde estava, uma atenção virada para sua única esperança.
Ela correu. A porta daria no beco, se estiver trancada Claire estará morta.
Claire golpeou a porta e ela abriu, acertando os tijolos da parede do beco - e tinha uma arma apontada para seu
rosto, a única coisa que podia pará-la, um homem armado.
Ela congelou, erguendo os braços instintivamente.
"Espere! Não atire!".
Ele não se moveu, a arma ainda apontada para sua cabeça -
- ele vai me matar -
"Abaixe-se!". Ele gritou, e Claire obedeceu.
Boom! Boom!
O homem atirou e Claire olhou em volta, viu o cozinheiro morto caindo de costas bem atrás dela, um buraco em
sua testa.
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Claire voltou-se para o homem que salvou sua vida, reparando no uniforme. Policial. Ele era jovem, alto - tão
aterrorizado quanto ela se sentia, seus olhos azuis bem abertos e sem piscar. Pelo menos sua voz foi forte ao se
abaixar para ajudá-la.
"Não podemos ficar aqui. Venha comigo, nós estaremos a salvo na delegacia".
Assim que ele falou, ela ouviu um coro de gemidos vindos da rua, aumentando. Claire se deixou ser levantada,
segurando a mão dele bem forte, se confortando ao percebeu que sua mão estava trêmulas igual a dele.
Eles correram.
[5]
Leon correu junto com a garota, tentando lembrar o mapa da cidade. O beco deve dar na Ash, não muito longe
da rua do R.P.D., a Rua Oak - mas a delegacia estava a pelo menos uns quinze quarteirões à leste; sem
transporte eles não conseguirão. Ele só tinha quatro balas, e pelo som vindo do beco, havia dezenas de criaturas
em cada ponta.
Saindo do beco, Leon ergueu a mão e parou de correr, examinado a escura rua. Ele não viu muito, mas de onde
estavam, perto da luminária, havia onze ou doze zumbis à direita e só três à esquerda, não muito longe de uma -
Aleluia!
"Ali!".
Leon apontou para uma viatura estacionada do outro lado da rua. Não havia policiais por perto; seria querer
demais - mas as portas estavam abertas. Eles podem alcançar o carro antes das três coisas ali perto. Se não
tiver chave, pelo menos há um rádio e vidros à prova de balas. Eles podem ficar lá até a ajuda chegar -
- e é a única chance. Vá!
Eles correram para o preto e branco. Leon apontando sua arma para as criaturas mais próximas, a uns vintes
metros. Ele queria atirar, mas não podia desperdiçar munição.
Deus, que tenha chaves.
Eles alcançaram a viatura ao mesmo tempo e se dividiram, a garota indo para o lado do passageiro, fazendo
Leon perceber que ela achava que o carro era seu. Ele a esperou fechar a porta antes de entrar, uma pequena
voz dentro dele gritando que esse era seu primeiro dia.
A chave estava na ignição. Leon guardou a arma e a tocou.
"Aperte os cintos". Ele disse, pouco ouvindo o consentimento da garota enquanto girava a chave e as sirenes
ligavam. A Rua Ash foi iluminada por azul e vermelho, as sombras mudando de forma e densidade. Era a visão do
inferno - e ele pisou no acelerador, querendo sair de lá o mais rápido possível.
O carro saiu derrapando. Leon virou para a direita depois para a esquerda, quase acertando uma mulher cuja
metade do couro cabeludo foi arrancado.
Ajuda, chamar ajuda -
Leon pegou o rádio sem tirar os olhos da rua. Criaturas saíam da escuridão como se chamadas pelo carro veloz.
Assim que o carro cruzou a Powell e continuou, Leon desviou de mais zumbis.
A garota estava cochichando, olhando para a desolada paisagem enquanto Leon apertava o botão do rádio, o
desamparo crescendo. Sem estática, sem nada.
"Que diabos está acontecendo. Eu chego em Raccoon e o lugar está de cabeça para baixo -".
"Ótimo, o rádio está desligado". Leon a interrompeu, soltando o rádio. A cidade parecia um mundo alienígena, as
ruas estranhamente assombradas. Parecia um sonho, mas o cheiro dizia que estavam acordados. O cheiro tinha
tomado conta da viatura, ficando difícil de dirigir. Pelo menos não tinha trânsito, nem pessoas, pessoas de
verdade...
... exceto eu e a garota. Eu tenho que fazer o meu trabalho, não deixá-la se machucar. Pobre menina, não deve
#
ter mais de dezenove ou vinte anos, deve estar aterrorizada.
"Você é policial, né?".
Ele olhou para ela, o tom sarcástico e humorado em sua voz deu uma forte impressão de que ela não era fraca.
Uma boa coisa apesar das circunstâncias.
"Sou. Primeiro dia no trabalho; que ótimo, hein? Eu sou Leon S. Kennedy".
"Claire,". Ela disse. "Claire Redfield. Eu vim procurar meu irmão, Chris...".
Ela parou, olhando para a rua. Duas criaturas estavam entrando no caminho do carro, e Leon acelerou, passando
entre eles. A grade de metal que divide a parte de trás do carro estava quebrada, fornecendo uma clara visão do
retrovisor interno; os dois zumbis vagando desatentamente atrás deles.
Famintos. Como nos filmes.
Por um momento, ninguém falou, a pergunta mais obvia não respondida. Seja lá o que tornou Raccoon numa
casa dos horrores, não importava tanto quanto suas vidas. Eles chegarão na delegacia em alguns minutos. Tinha
um estacionamento subterrâneo - ele tentará lá primeiro - mas se os portões estiverem fechados, eles terão que
andar um pouco. Tinha um pequeno jardim em frente ao prédio.
Quatro balas - e uma cidade cheia daquelas coisas. Precisamos de outra arma.
"Ei, abra o porta-luvas". Ele disse.
Claire apertou o botão e se curvou, mostrando as costas de seu colete vermelho; "Made in Heaven" (Feito no
Paraíso) estava estampado sobre um voluptuoso anjo segurando uma bomba. Combinava com ela.
"Tem uma arma aqui". Ela disse, e pegou a semi-automática, erguendo-a cuidadosamente para ver se estava
carregada, antes de pegar os dois clips. Era uma das velhas armas do R.P.D., uma Browning HP de 9 mm.
Desde a onda de assassinatos, a polícia tem usado as H&K VP70, outra 9 mm - a diferença é que a Browning
carrega treze balas enquanto a outra podia carregar dezoito, dezenove se você deixar uma engatilhada. Do modo
que a manuseava, Leon viu que ela sabia o que fazia.
"É bom ficar com ela". Ele disse.
Assim que Leon fez uma curva um pouco rápido demais, o pensamento do R.P.D. estar infestado de zumbis o
acertou. Tudo ocorreu tão rápido que ele nem tinha pensado nisso. Talvez haja uma defesa organizada na
delegacia - mas era difícil pensar com o cheiro de podridão tão forte no ar.
Temos três quartos de tanque, mais do que suficiente para chegar às montanhas; podemos estar em Latham
em menos de uma hora.
Eles poderiam desviar da delegacia se parecesse insegura. Sair da cidade soava bom para ele. Ele ia contar para
Claire, ver o que ela achava quando -
- o terrível cheiro de morte se intensificou e algo pulou do banco traseiro.
Claire gritou e o monstro que esteve na viatura o tempo todo agarrou o ombro de Leon, levando seu braço direto
para frente com uma incrível força.
"Não!". Leon gritou assim que o carro virou violentamente para a direita, subindo na calçada e deslizando na
parede de um prédio. A criatura estava desequilibrada, perdendo apoio; Leon virou o volante para a esquerda,
mas não evitou a parede por completo. Ruídos de metal e faíscas iluminaram o interior.
A coisa jogou seus braços em Claire e, sem pensar, Leon acelerou e jogou o carro para a direita. O carro
ziguezagueou, derrapando lateralmente, a traseira acertando uma pick-up azul estacionada. Faíscas e o som de
borracha no asfalto.
O morto foi para o banco, mas voltou imediatamente para frente, na direção da garota.
Eles desciam a Terceira (uma rua), Leon tentando controlar o carro enquanto pegava sua arma e se virava. Ele
não pensou em desacelerar, só pensava no zumbi cravando seus dentes no ombro de Claire.
Segurando a arma pelo cano, ele desceu a coronha no rosto do monstro, arrancando pele igual a uma banana.
Gemendo, a criatura tocou o rosto sangrando e Leon pode sentir um segundo de triunfo, até que -
- Claire gritou, "Cuidado!".
- e Leon viu que eles iam bater.
Leon tinha batido no zumbi com a arma quando seu olhar aterrorizado viu que a rua ia acabar.
"Cuidado!".
Ela só pode ver os dedos dele grudados no volante -
- e o carro começou a girar, derrapando, prédios e luzes piscando tão rápido que ela só viu borrões, e de repente
#
- BAM!
Houve uma explosão de som, de vidro quebrando e metal esmagando, assim que o carro bateu em algo sólido,
arremessando Claire contra o assento. Ao mesmo tempo, o impacto jogou o zumbi violentamente para trás,
atravessando o vidro traseiro -
- e tudo ficou quieto. Só o seu coração pulsando nos ouvidos. Claire viu que Leon já estava recuperado, olhando
para o corpo lá atrás, sua cabeça fora de visão. Não estava se mexendo.
"Você está bem?".
Claire virou para Leon, subitamente querendo evitar uma risada. A cidade estava infestada por mortos-vivos, e
acabaram de sofrer um acidente por que um cadáver queria comê-los. Considerando isso, "bem" não é primeira
palavra a vir na cabeça.
"Inteira". Ela disse, e o jovem policial acenou, parecendo aliviado.
Claire respirou fundo e olhou onde estavam. Leon tinha girado 180 graus com o carro no final da rua em T, o
carro completamente danificado estava de frente para o sentido de onde vieram. Não havia zumbis por perto. Ela
segurou sua arma fortemente, tentando se controlar.
"Nós -". Leon começou a falar algo, mas parou, seus olhos arregalados para o que via. Claire também viu - e por
um segundo, sentiu que seu caminho foi amaldiçoado desde que saiu da universidade.
Um caminhão descia a rua, ainda a vários quarteirões de distância, mas perto o bastante para ver que estava
fora de controle. O caminhão ziguezagueava, batendo na mesma pick-up azul de um lado da rua e uma caixa de
correio do outro. Claire percebeu com terror que era um caminhão tanque. No segundo que levou para entender,
rezar para que não seja gás ou óleo, o caminhão diminuiu a distância entre eles. Ela já via o acidente quando
Leon quebrou o silêncio.
"- ele vai esmagar a gente". Ambos tocaram os cintos de segurança, Claire rezando para não estarem presos.
O som dos cintos soltando foram inaudíveis perante o crescente eco do caminhão. Ele chegará em um segundo.
"Corra!". Leon gritou, e ela saiu do carro, ar fresco em sua suada pele. O ronco do motor do caminhão
bloqueando tudo mais.
Ela deu três passos gigantes, tanto sentindo quanto ouvindo o impacto, o chão tremendo sob seus pés assim que
metal se retorcia atrás dela.
Mais um pouco, e -
KABOOM!
- ela foi jogada, literalmente tirada de suas botas por uma incrível onda de pressão, calor e som. Ela tentou
alcançar o chão enquanto a explosão tornava a noite em dia. Um estranho giro, poeira em sua pele, e Claire
aterrissou perto de um *De Lorean prateado estacionado na frente de uma *delicatessen.
Houve uma breve chuva de destroços enfumaçados e Claire se levantou, procurando nas labaredas por Leon.
Seu coração parou. O caminhão tanque, a viatura, tudo estava envolvido por fogo. A rua completamente
bloqueada por uma massa de destruição.
"Claire -".
A voz de Leon, abafada, mas audível através da parede de fogo.
"Leon?".
"Eu estou bem!". Ele gritou. "Vá para a delegacia, eu te encontro lá!".
Claire hesitou por um segundo, olhando para a arma que ainda segurava firmemente em sua trêmula mão. Ela
estava com medo, aterrorizada por estar só numa cidade que virou um cemitério - mas não tinha escolha.
"Tá bom!".
Ela virou. O portão de trás da delegacia estava a alguns metros dali -
- e criaturas estavam saindo das sombras, de trás dos carros e de dentro dos prédios escuros. Com um
pensamento em mente, eles entraram na estranha luz do acidente, gemendo de fome - dois, três, quatro deles.
Por trás do fogo, ela ouviu tiros - dois tiros, depois nada - nada além do fogo e os suaves gemidos.
Leon já foi, agora VÁ!
Claire respirou fundo e correu.
#
[6]
Ada Wong colocou, na cavidade da estátua, o brilhante disco de metal dourado com um unicórnio entalhado,
dando um tapinha até a peça encaixar no mármore. Ela ouviu um movimento na estátua e se afastou para ver o
que acontece. Seus passos ecoaram pelo grande hall principal da delegacia, o som passando pelos parapeitos do
segundo e terceiro andar.
Outra chave? Uma das medalhas do esgoto? Ou quem sabe a própria amostra... não seria uma feliz surpresa.
A ninfa segurando uma jarra d'água feita de pedra deslizou para trás, a jarra em seu ombro jogando um fino
pedaço de metal. A chave de *espadas (*spade key).
Ela suspirou, pegando-a. Ela já tem as chaves; de fato, ela já tem tudo o que precisa para vasculhar a delegacia,
e quase tudo para o laboratório. Se a Umbrella tivesse facilitado, o trabalho teria sido moleza. Dinheiro fácil.
Mas acabei ganhando férias de três dias na cidade dos monstros, brinquei de Por Uma Bala na Cabeça e Vamos
Achar o Repórter. As amostras podem estar em qualquer lugar, dependendo de quem sobreviveu. Se eu sair
daqui com as belezinhas, vou pedir um grande bônus; ninguém deve trabalhar nessas condições.
Ada guardou a chave e olhou para o parapeito superior, mentalmente visualizando as salas que já foi. Bertolucci
parece não estar em lugar algum da asa leste do R.P.D.. Ela passou horas encarando mortos em busca do
queixo quadrado e rabo de cavalo dele. Claro, ele pode estar se movendo - mas pelo que sabia dele, era
improvável; o repórter se escondia diante do perigo.
Por falar em perigo...
Ada foi para a porta que dava na parte inferior da asa leste. O hall principal estava a salvo dos infectados, eles
não pareciam conhecer uma maçaneta - mas havia ameaças além deles. Só deus sabe o que a Umbrella
mandará para arrumar tudo isso... ou o que foi solto no laboratório após a contaminação. Menos assustador,
mas não menos preocupante quanto os policiais vivos procurando alguém para salvar. Ela já ouviu tiros, alguns
distantes, outros não, toda hora desde que chegou; deve haver alguns não-infectados no grande e velho prédio.
Na ponta dos pés para evitar barulho, ela cruzou a porta e se encostou nela, decidindo onde ir; ela ainda não
checou o subterrâneo e haviam vários portadores na sala dos detetives.
Ah, a excitante vida de uma agente autônoma. Viajar pelo mundo! Ganhar dinheiro roubando coisas importantes!
Combater mortos-vivos sem ter tomado um banho ou comido algo decente por três dias - isso impressiona os
amigos!
Ela se lembrou de pedir aquele bônus de novo. Quando chegou em Raccoon há menos de uma semana, ela se
achava preparada; os mapas foram estudados, os dados do repórter memorizados, sua história falsa na ponta
da língua - uma mulher procurando pelo namorado, um cientista da Umbrella. Essa parte era quase verdade; de
fato, foi seu breve relacionamento com John Howe dez meses antes de ela ter arrumado o emprego. Mas John
pensou de outra forma e sua conexão com a Umbrella provavelmente o matou. Tudo isso se tornou uma boa
dica para ela.
Aí ela já estava pronta. Mas nas primeiras vinte e quatro horas de estadia, sua sorte mudou; enquanto comia no
quase vazio restaurante do hotel, ela ouviu os primeiros gritos do lado de fora. Os primeiros, mas não os últimos.
De algum modo, o desastre foi uma vantagem; não haverá guardas no laboratório. O estudo que fez no T-virus
a assegurou de que o aerotransmissível se dissipa rapidamente; o único modo de se contaminar agora é entrando
em contato com um portador, então não haverá problema.
Objetivos: interrogar o repórter, descobrir o quanto ele sabe e matá-lo ou ignorá-lo, depende. Recuperar uma
amostra do novo vírus, a mais nova maravilha do Dr. Birkin. Sem problema, certo?
Três dias antes, sabendo como o laboratório da Umbrella era conectado ao sistema de esgoto e com Bertolucci
na sua frente, o trabalho teria siso moleza. Foi quando as coisas começaram a dar errado.
Pessoas desaparecendo, barricadas caindo...
Ela observou Bertolucci de perto o bastante para ver que ele fugiria. Ela nem teve tempo de fazer contato antes
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dele desaparecer. Ada decidiu continuar sozinha quando três quartos dos civis foram mortos por que ninguém se
preocupou em fechar os portões da garagem. Ela não queria morrer tentando proteger sua imagem de turista
assustada procurando o namorado.
Aí veio a espera. Quase quinze horas esperando as coisas se acalmarem, escondida no maquinário do relógio do
terceiro andar, entre o eco de tiros e gritos...
Ótimo. O que fazer agora? Sentar e refletir ou acabar logo com isso; quanto mais cedo acabar mais tempo de
férias terá numa ilha qualquer.
Quieta, Ada não se mexeu, batendo sua Beretta na perna. Haviam corpos espalhados no corredor; ela não
conseguia parar de olhar um deles, caído debaixo da janela-bancada do escritório. Uma mulher ensangüentada.
Os outros dois eram policiais e ela não os conhecia - mas a mulher foi uma das pessoas com a qual conversou
quando chegou na delegacia. Seu nome era Stacy, uma nervosa, mas forte garota de vinte e poucos anos.
Stacy Kelso, isso mesmo. Ela queria comprar sorvete e acabou aqui - apesar de sua situação, ela estava mais
preocupada com os pais e o irmão em casa. Uma garota consciente. Uma boa garota.
Por que ela está pensando nisso? Stacy estava morta e não foi Ada que a matou. Ela veio aqui para trabalhar;
não foi sua culpa por Raccoon estar assim.
Talvez não seja culpa. Talvez só esteja triste porque Stacy não conseguiu.
Ela era uma pessoa, e agora está morta, como sua família provavelmente.
"Saia dessa". Ela disse, suave, mas irritadamente. Ada desviou o olhar, fixando-o num cinzeiro quebrado no fim
do corredor, onde virava à direita. Sentia-se mau com as coisas que não conseguia controlar, não era seu estilo,
não foi assim que chegou até aqui - e considerando o esforço que o Sr. Trent estava fazendo para manter Ada
trabalhando, agora não é a melhor hora para analisar suas habilidades.
Objetivos: falar com Bertolucci e pegar a amostra do G-virus. É tudo com o que ela precisa se preocupar.
Ainda há um mecanismo que Ada precisa ver, na sala de entrevistas. As últimas adições do arquiteto foram
detalhadas por Trent, mas ela sabia que tinha a ver com as lâmpadas de gás e uma pintura a óleo. A pessoa que
fez tudo isso teve uma séria vida secreta; havia passagens secretas escada acima, atrás de uma parede. Ela
ainda não foi lá, mas uma breve olhada revelou um escritório. Julgando pela decoração neurótica e estofada, só
podia ser de Irons. Mesmo tendo estado em sua companhia por pouco tempo, ele era o homem mais instável
que já conheceu; não havia dúvidas de que estava na lista de pagamento da Umbrella, mas também havia algo
sobre ele que parecia bem defeituoso.
Ada desceu o corredor, seus sapatos contra os ladrilhos esverdeados; ela já temia outro mecanismo. Nada que
não tinha dicas; ela assumia que o vírus ainda estava no laboratório. Os dados diziam que havia cerca de doze
frascos da coisa, informação de um vídeo de duas semanas - e o laboratório de Birkin não era impenetrável.
Sendo o laboratório subterrâneo conectado à delegacia pelo esgoto, ela deve considerar que as amostras foram
movidas. Além disso, Bertolucci pode estar escondido na biblioteca ou no escritório do S.T.A.R.S., na asa oeste,
talvez na sala de revelação; vivo ou morto, ele precisa ser encontrado.
Ela virou no corredor, passando por uma pequena área de espera com máquinas de venda já saqueadas. Como
todo o R.P.D., o corredor estava frio e com falta de ar fresco; ela já se acostumou com o cheiro, mas o frio era
a pior parte. Pela centésima vez desde que saiu o hotel, Ada desejou ter colocado outra roupa.
O vestido vermelho sem mangas, meia calça preta e sapatos barulhentos eram ótimos como disfarce; como
equipamento, a roupa estava longe de prática.
Chegando no fim do corredor, ela abriu a porta cuidadosamente, de arma na mão. Como antes, o corredor
estava vazio, outra prova da desbotada elegância do prédio - paredes cor de areia e lajotas padronizadas. A
delegacia já deve ter sido magnífica, mas os anos de uso como prestador de serviços, o prédio perdeu seu
encanto; com a mansão de um filme, a fria atmosfera dando uma distinta sensação sinistra - como se a qualquer
momento uma fria mão pudesse tocar seu ombro, uma suave respiração em seu pescoço...
Ada franziu de novo; depois dessa missão, ela tirará longas férias. Senão isso, tentará outra carreira. Sua
concentração já não é como antes. E em seu trabalho, um erro pode levar à morte.
Um grande bônus. Trent cheira como dinheiro. Eu vou pedir sete dígitos, seis no mínimo.
Em suas tentativas de bloquear os pensamentos, só um ainda persistia - a jovem Stacy Kelso pondo o cabelo
atrás da orelha enquanto falava de seu irmão bebê...
Depois do que pareceu um longo tempo, Ada apagou essa visão e continuou andando, prometendo a si mesma
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de que não haverá mais lapsos de concentração - e imaginando por que não acha que conseguirá.
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*De Lorean - Carro conhecido mundialmente por ter sido a máquina do tempo nos filmes da trilogia "De volta para
o Futuro".
*Delicatessen - Casa de comestíveis; mercearia.
*Espadas - Referência aos naipes do baralho:
Heart = Copas
Diamond = Ouros
Spade = Espadas
Club = Paus
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[7]
As botas de Leon esmagavam cacos de vidro na loja de armas Kendo, enquanto abria as gavetas. Se ele não
achar balas rápido terá problemas; as armas restantes da loja estavam inacessíveis, presas com cabos de aço, e
a janela da frente estava completamente quebrada. Não demorará muito para as criaturas o acharem, ele só
tinha uma bala e muito o que andar.
"Isso!".
Quarta gaveta, munição. Leon pegou a caixa e a pôs no balcão enquanto vigiava a frente da loja. Ninguém ainda,
sem contar o dono da loja morto. Ele não se movia. Por ter morrido há alguns minutos, não se sabe quando
voltará à vida, e Leon não queria estar lá para descobrir.
Vigiando a pequena loja, ele começou a recarregar. Leon tinha se esquecido da loja depois do acidente,
achando-a casualmente. Estando o caminho mais rápido para a delegacia bloqueado, a Kendo's era a melhor
opção.
"Uuuuunh...".
Uma horripilante e esquelética forma saiu das sombras da rua, vindo cegamente para frente da loja.
"Droga". Leon disse, seus dedos trabalhando mais rápido. Um clip pronto, mais um e pode levar o resto.
De repente, outra figura apareceu.
- dezesseis... dezessete...pronto!
Ele pegou a H&K e ejetou o clip, colocando o novo assim que o vazio caiu no chão. A criatura estava passando
pela armação do vidro, algo líquido em sua garganta soando levemente.
Mochila, ele precisa de uma. Leon olhou debaixo do balcão, vendo uma mochila de ginástica no fim dele. Material
de limpeza se espalhou no balcão enquanto Leon colocava os clips na mala, ignorando as balas espalhadas na
gaveta.
O monstro podre vinha em sua direção, tropeçando no dono da loja. Leon ergueu a arma e mirou no rosto da
criatura.
Na cabeça, igual aos outros dois lá fora -
Com um tremendo e alto som, a bala explodiu o rosto do zumbi, sangue respingando nas paredes.
Antes da coisa cair, Leon virou e ajoelhou perto da gaveta de munição, jogando as pesadas caixas na mochila.
Seu estômago dando um nó e tremendo de medo; o beco de trás pode estar cheio de zumbis.
Umas cento e cinqüenta balas, agora saia -
Levantando-se, Leon vestiu a mochila e correu para a porta de trás. Pelo canto do olho, viu outra criatura
entrando na loja; pelos cracks do vidro, havia mais deles.
Ele abriu a porta de saída e a cruzou, olhando para os lados assim que a porta se fechou. Nada além de latas de
lixo e caixas de papelão. De onde estava, o beco continuava à esquerda e depois virava à direita; se seu senso
de direção estiver intacto, a estreita passagem o levará direto para a Oak.
Até agora ele teve sorte; tudo o que podia fazer era esperar que isso não mudasse, e que pudesse chegar inteiro
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no R.P.D. - e que lá houvesse um monte de pessoas armadas que saibam o que aconteceu.
E Claire. Esteja bem, Claire Redfield, e se chegar lá primeiro, não tranque a porta.
Leon ajustou a mochila nas costas e andou pelo beco mau iluminado, pronto para explodir o que cruzar seu
caminho.
Claire conseguiu quase sem dar um tiro; os zumbis eram cruéis, mas lentos, e a adrenalina em seu corpo tornou
fácil desviar deles. Talvez o som do acidente desviou suas atenções, aí foi só seguir seus olfatos, ou o que sobrou
deles. Dos dez zumbis que viu, pelo menos metade estava num avançado estágio de decomposição, carne
caindo dos ossos.
Ela já esteve no R.P.D. duas vezes com Chris, mas nunca entrou pela parte de trás. Viaturas estacionadas e
alguns policiais zumbificados a receberam na pequena área, levando-a para uma pequena cabana. Depois havia
um pátio - o pátio o qual ela e Chris almoçaram uma vez, sentados nos degraus que levavam ao heliporto do
segundo andar.
Desviar dos zumbis policiais no pátio em forma de L foi fácil, e um alívio por estar num lugar que conhecia.
Uma mulher de um único braço pendurado e roupas ensangüentadas, tinha saído das sombras debaixo da
escada e tocou Claire com frias mãos; Claire soltou um suspiro de surpresa, livrando-se da criatura - e quase caiu
nos braços de outro, um alto homem que também saiu de debaixo da escada de metal, grosseiro e silencioso.
Ela conseguiu evitá-lo e se afastou, apontando a 9 mm para o homem, recuando um passo e -
- esbarrou no corrimão. A mulher estava a um metro e meio à direita. O homem a um passo de distância.
Claire apertou o gatilho e houve um gigantesco boom, a arma quase pulando fora de sua mão. A parte direita do
rosto dele desapareceu numa explosão de líquido escuro.
Ela girou a arma, apontando para a pálida face da mulher. Outro tiro e o gemido foi interrompido, a testa
implodindo num espirro de sangue e pedaços de ossos. A mulher caiu de costas no chão como um -
- como um cadáver, o qual ela já era. Eles não sairão mais daqui.
Por um momento, Claire não se moveu. Ela olhou para os dois corpos e sentiu que esteve a um centímetro de
errá-los.
Ela cresceu em volta de armas, atirando em alvos dezenas de vezes - mas era com uma pistola .22 e alvos de
papel. Alvos que não sangravam ou espirravam miolos como os dois seres humanos que acabou de matar -
Não. Uma voz interna a interrompeu. Humanos, não, não mais. Não se engane e não perca tempo com
remorso. Leon já deve ter entrado, e está procurando por você. E se o S.T.A.R.S. foi chamado, Chris pode estar
lá também.
Se isso não foi motivação o bastante, os dois zumbis que deixou para trás estavam vindo. É hora de ir.
Ela subiu a escada, mal ouvindo seus passos por causa do zumbido em seu ouvido. Os tiros não fizeram bem à
sua audição - por isso só ouviu o helicóptero quando estava chegando lá em cima.
Claire parou, o vento batendo ritmadamente em seu corpo enquanto o veículo entrava em visão, perdido na
sombra. Estava de frente para a antiga torre d'água. Ela não sabia se ia pousar ou se já tinha decolado.
Não sabia e não se importava. "Ei!". Ela gritou, erguendo sua mão esquerda. "Ei, aqui!".
Suas palavras se perderam na poeira levantada pelas pás do helicóptero. Claire acenou como se tivesse ganhado
na loteria.
Alguém veio. Graças a Deus, obrigado!
O holofote da aeronave foi ligado - mas estava indo na direção errada, não para ela. Claire balançou os braços
mais freneticamente, respirando para gritar de novo até que -
- viu o que a luz iluminava, mesmo enquanto ouvia o desesperado e praticamente inaudível grito sob o motor do
helicóptero. Um homem, um policial, de pé no meio do heliporto. Ele segurava uma metralhadora, e parecia bem
vivo.
"- venha até aqui -".
O policial gritou para o alto, sua voz cheia de pânico; Claire viu o porquê e seu alívio evaporou. Havia dois zumbis
saindo do escuro e indo para o alvo bem iluminado que estava gritando. Ela ergueu a arma, mas a abaixou de
novo, com medo de acertar o policial.
A luz não se movia, iluminando o terror com sua brilhante claridade. O homem não devia saber o quanto perto os
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zumbis estavam até que foi tocado.
"Afastem-se! Não se aproximem!". Ele gritou. Com o terror em sua voz, Claire pode ouvi-lo claramente. As duas
figuras o encurralaram no canto sudoeste do heliporto.
O som da metralhadora foi alto. Mesmo com o helicóptero acima, Claire ouviu as balas cortando ar. Ela se
ajoelhou enquanto os tiro continuavam para todos os lados - e para cima -
- e houve uma mudança no som do helicóptero, um estranho hum que fico mais alto. Claire olhou para cima e viu
a nave branca mergulhando, a cauda balançando num instável arco.
Jesus, ele acertou o helicóptero.
O holofote ia em todas as direções, passando por canos de metal, concreto e o policial sendo atacado pelos
zumbis, de alguma forma ainda atirando -
- e de repente o helicóptero começou a descer, balançando. As pás batendo no telhado com muita força. Antes
que Claire pudesse piscar, o nariz da nave bateu - cruzando o heliporto num curto arranhão de faíscas e cacos de
vidro.
A explosão ocorreu assim que a máquina caiu na parede sudoeste - diretamente sobre o policial e seus dois
assassinos. No mesmo instante, o nariz do helicóptero atravessou a parede de tijolos bem à frente.
A rajada de tiros finalmente parou sob as chamas que vieram depois do boom, iluminando o lugar num ardente
calor alaranjado.
Claire ergueu-se nas pernas que mal sentia, olhando desacreditada para o fogo que tomava conta de quase
metade do heliporto. Tudo aconteceu tão rápido que pareceu ser mentira. Um ácido e enjoativo odor de metal
derretido passou por ela numa onda de calor, e no súbito silêncio ela pode ouvir o gemido dos zumbis no pátio lá
embaixo.
Ela olhou para as escadas e viu que ambos os policiais zumbis estavam na base, cegamente tropeçando no
primeiro degrau. Pelo menos eles não estavam subindo...
Claire virou seu assustado olhar na direção da porta a uns dez metros dali. Exceto pela escada, a porta era o
único modo de chegar lá. E se zumbis não conseguiam subir - e tinha dois no heliporto -
- então tenho problemas. A delegacia não é segura.
Ela olhou para os destroços queimando, medindo opções. Ela ainda tinha muita munição; ela pode voltar para a
rua, procurar um carro com chave e buscar ajuda.
E Leon? Se aquele policial estava vivo, pode haver mais lá dentro planejando uma fuga?
Ela não podia ir embora sem avisar Leon; e se ele morrer procurando por ela...
Decidida, Claire foi até a porta, procurando movimento nas sombras. Chegando lá, fechou os olhos por um
segundo, a mão suada na fechadura.
"Eu vou conseguir". Ela disse. Apesar de não ter parecido confiante como queria, sua voz não tremeu. Ela abriu
os olhos, depois a porta; quando nada saiu do escuro corredor, ela entrou.
[8]
O Chefe da polícia, Brian Irons, estava parado em um de seus corredores particulares, tentando recuperar o
fôlego, quando sentiu um tremendo impacto no prédio. Ele o ouviu, também - ouviu algo. Um distante som,
pesado e brutal.
O telhado. Ele pensou. Algo no telhado...
Ele não se preocupou em tirar conclusões. Seja lá o que for, não tornará as coisas piores.
Irons se afastou da parede de pedra e ergueu Beverly o mais gentilmente possível. Eles estarão no elevador em
um minuto, depois uma pequena caminhada até o escritório; ele pode descansar lá, e depois -
"E depois,". Ele resmungou. "essa é a questão, não é?. Depois o que?".
Beverly não respondeu. Seus traços perfeitos permaneceram parados, seus olhos fechados - mas ela parecia se
aconchegar com ele, seu longo e magro corpo perto do peito dele. Devia ser sua imaginação...
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Beverly Harris, a filha do prefeito. Bela e jovem Beverly, que, com sua beleza loira, já assombrava os sonhos
culposos de Brian. Ele a segurou e continuou indo para o elevador, tentando não demonstrar exaustão caso ela
acorde.
Seus braços e costas estavam doendo quando chegou no elevador. Ele deveria tê-la deixado em sua sala de
hobby, a sala a qual sempre considerou como um Santuário - era clamo lá, e provavelmente um dos lugares mais
seguros da delegacia. Quando ele decidiu voltar para o escritório, pegar seu diário e outros itens pessoais, ele
percebeu que simplesmente não podia deixá-la para trás. Ela parecia tão vulnerável, tão inocente; ele tinha
prometido a Harris de que cuidaria dela; e se ela fosse atacada em sua ausência? E se ele voltar e ela não estiver
lá?
Uma década de trabalho. Fazendo conexões, se posicionando... tudo isso, desse jeito.
Irons a pôs no frio chão e abriu as grades, tentando não pensar no que perdeu. Beverly era o mais importante
agora.
"Te dar segurança". Ele disse. Por acaso ela mexeu a boca, sorrindo? Será que ela sabe que está a salvo com o
tio Brian? Quando ela era criança, quando ele visitava a família Harris para jantar, ela o chamava assim. "Tio
Brian".
Ela sabe. Claro que sabe.
Ele a colocou no elevador, olhando seu angelical rosto. Ele foi pego subitamente por uma onda de amor paterno,
e não ficou surpreso ao sentir lágrimas nos olhos, lágrimas de orgulho e afeição. Nos últimos dias, ele tem sido
alvo das emoções - raiva, terror, até mesmo alegria. Ele nunca foi um homem emotivo, mas teve que aprender a
conviver com os sentimentos; pelo menos não eram confusos.
Chega deles, nada mais pode dar errado agora; Beverly está comigo, e uma vez pegas as minhas coisas, nos
esconderemos no Santuário e descansaremos. Ela precisará de tempo para se recuperar.
Ele piscou as esquecidas lágrimas assim que a jaula de metal começou a subir, checando a arma para ver
quantas balas restavam. Sua sala subterrânea era segura, mas o escritório era outra história; ele quer estar
preparado.
O elevador parou e Irons abriu a grade com o pé antes de levantar a garota, gemendo com o esforço. Ele a
carregou como uma criança, sua cabeça caída para trás.
Ele apertou o botão na parede com o joelho. A parede deslizou para cima, revelando a aveludada decoração de
seu escritório sem; só os vazios olhares de seus animais empalhados o receberam.
A grande mesa de madeira que importou da Itália estava bem à sua esquerda, e sua força acabando; Beverly
era magra, mas ele não estava em forma, como antigamente. Ele rapidamente a colocou na mesa, empurrando
um porta-lápis com o cotovelo.
Ele tinha ficado preocupado quando a achou desacordada ao lado do Oficial Scott no corredor de trás; George
Scott estava morto, coberto de ferimentos. Ao ver a mancha vermelha no estômago dela, Irons achou que
também estivesse morta. Mas quando ele a levou para seu Santuário, ela cochichou para ele - que não se sentia
bem, que estava ferida, que queria ir para casa.
... não é? Não disse?
Irons franziu, tirado da incerta lembrança por algo, algo que sentiu quando a deitou na mesa e arrumou seu
vestido branco manchado de sangue, algo que não se lembrava. Não parecia importante, mas agora, longe da
segurança de seu Santuário, isso o estava incomodando. Lembrando-o de que sofreu um daqueles momentos
confusos quando ele, quando ele - senti os frios e moles intestinos entre meus dedos -
- quando ele a tocou.
"Beverly?". Ele cochichou, sentando na cadeira de sua mesa quando de repente sentiu suas pernas fracas.
Beverly continuou calada - e o turbulento dilúvio de emoções o acertou, lotando sua mente com imagens,
memórias e verdades que não queria aceitar; Recuar as barricadas depois dos primeiros ataques. A Umbrella,
Birkin e os mortos-vivos. O massacre na garagem. O crescente número de mortos na primeira e terrível noite - e
a brutal percepção de que sua cidade - já era.
Depois disso veio a confusão. A estranha alegria que veio ao perceber que não haverá conseqüências para seus
atos. Irons se lembrou do jogo que fez na segunda noite, depois que alguns bichinhos de Birkin acharam alguns
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policiais. Ele achou Neil Carlsen escondido na biblioteca e... o caçou, perseguindo o sargento como um animal.
Qual seria o problema, já que a minha vida em Raccoon está acabada?
Tudo o que restava era seu Santuário - e a parte dele que ajudou a criar o lugar, a parte escura e gloriosa de seu
coração que sempre escondeu. Esta parte está livre agora...
Irons olhou para o corpo de Beverly e sentiu que pode ser destruído pelos sentimentos de medo e dúvida que
lutavam dentro dele. Irons a matou? Ele não conseguia se lembrar.
Tio Brian. Dez anos atrás, eu era o Tio Brian dela. Em que me tornei?
Era demais. Sem tirar os olhos do rosto sem vida de Beverly, ele tirou a VP70 carregada do coldre e começou a
esfregar o cano com os dedos, leves toques que o asseguraram enquanto a arma girava em sua direção.
Quando o cano foi pressionado contra sua macia barriga, ele sentiu que algum tipo de paz ficou ao seu alcance.
Seu dedo encostou no gatilho, e foi quando Beverly cochichou para ele de novo, os lábios dela parados, mas sua
leve e musical voz vindo do nada e de todos os lados ao mesmo tempo.
- não me deixe, Tio Brian. Você prometeu que me daria segurança, que cuidaria de mim. Pense no que você
pode fazer agora sem que nada o impeça.
"Você está morta". Ele sussurrou, mas ela continuou falando, suave e persistente.
... nada o impedirá de se realizar de verdade pela primeira vez na vida...
Torturado, Irons vagarosamente tirou a 9mm de seu estômago. Depois de um momento, ele descansou sua
testa no ombro dela e fechou os olhos.
Ela estava certa, ele não podia deixá-la. Ele tinha prometido - e ela disse algo sobre o que podia fazer. Sua mesa
de hobby era grande o bastante para acomodar qualquer tipo de animal...
Isso mesmo. Ele vai descansar e depois cuidará dos negócios; afinal, ele é o chefe da polícia.
Sob controle de novo, Brian Irons começou a dormir, a fria pele de Beverly em sua testa.
[9]
Graças a um furgão parado no beco, o atalho para a delegacia sofreu mudanças - uma quadra de basquete
infestada de zumbis, outro beco, um ônibus que fedia por causa dos mortos lá dentro. Foi um pesadelo, os
gemidos, o cheiro e a distante explosão que fez suas pernas tremerem. Apesar de tudo, Leon manteve a
esperança de que havia algum tipo de mobilização no R.P.D., com policiais e paramédicos - autoridades tomando
decisões e equipes organizadas. Não era uma esperança, era uma necessidade.
Quando ele finalmente saiu na rua em frente ao R.P.D. sentiu-se espancado vendo viaturas pegando fogo. Mas
foi a visão de zumbis policiais gemendo entre as chamas que acabaram com sua esperança. O R.P.D. tinha uma
equipe de cinqüenta ou sessenta policiais, e um terço deles estavam vagando ou mortos perto da entrada do
prédio.
Leon tentou esquecer o desespero, fixando seu olhar no portão do jardim. Tendo ou não alguém sobrevivido, ele
tinha que chamar ajuda - e achar Claire.
Ele correu para o portão, desviando dos zumbis uniformizados, abrindo e fechando o portão de metal. A pequena
área gramada à sua direita estava iluminada o bastante para ver que havia três ex-humanos lá, e que não
representavam ameaça. Ele pode ver as duas bandeiras que enfeitavam a entrada da delegacia, penduradas
sem se mover. A visão reconsiderou suas esperanças, pelo menos está num lugar que conhece e que deve ser
mais seguro do que na rua.
Leon correu entre o trio de zumbis - dois homens e uma mulher; todos pareciam normais se não fosse por seus
gemidos famintos. Devem ter morrido recentemente.
A porta de entrada não estava trancada; por tudo o que passou desde que chegou na cidade, Leon preferiu
manter suas expectativas no mínimo. Ele girou a maçaneta e entrou, de arma erguida e dedo no gatilho.
Vazio. Não havia sinal de vida no grande e velho saguão do R.P.D. - e nenhum sinal do desastre que tomou conta
de Raccoon. Leon fechou a porta e desceu os degraus para o piso mais baixo.
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"Olá?". Leon disse baixo, e o som ecoou de volta com um suspiro. Tudo parecia do mesmo jeito; três andares de
clássica arquitetura em madeira e mármore. Havia a estátua de uma mulher segurando um vaso no ombro bem
no meio do lugar, uma rampa de cada lado levando à recepção e o logotipo do R.P.D. no chão em frente ao
suave brilho da estátua, proveniente das arandelas na parede.
Sem corpos, sem sangue... nem um cartucho de bala. Se houve um ataque aqui, onde diabos estão as provas?
No profundo silêncio do lugar, Leon subiu a rampa da esquerda, parando no balcão da recepção, curvando-se
sobre ele; tudo no lugar. Tinha um telefone na mesa sob o balcão. Leon pegou o receptor e o colocou entre a
cabeça e o ombro, tocando os botões com os dedos. Nem discava; tudo o que ouvia era o som de seu próprio
coração.
Ele virou para a sala vazia, decidindo por onde começar. Ele recebeu um memorando do R.P.D. semanas atrás,
dizendo que as salas seriam mudadas. Mas isso não importava; os policiais não se preocupariam em ficar ao lado
de suas mesas nessa situação.
Haviam três portas no saguão que davam em diferentes lugares da delegacia; duas no lado oeste e uma no
leste. Das duas no lado oeste uma leva a uma série de corredores para a parte de trás do prédio, depois da sala
de arquivos e da sala de pronunciamentos; a segunda dava num escritório e armários, que então leva às escadas
para o segundo andar. O lado leste do primeiro andar era primeiramente para os detetives - escritórios,
interrogatórios e sala de entrevistas; tinha também acesso ao subsolo e escadas no lado de fora.
Claire provavelmente veio pela garagem... ou pelo telhado.
Ou então ela contornou o prédio e veio pelo mesmo lugar que ele - se ela conseguiu chegar aqui, pode estar em
qualquer lugar. E considerando que o R.P.D. ocupa quase um quarteirão, ainda tinha muito chão pela frente.
Ele optou pela segunda porta do lado oeste, onde seu armário estaria.
Leon entrou devagar, esperando ver as mesmas condições do saguão; silêncio e organização. Mas o que viu
confirmou seus medos: as criaturas estiveram lá - com a vingança.
A longa sala estava arrasada, mesas e cadeiras jogadas e derrubadas em todo canto. Borrões de sangue
decoravam as paredes, rastros do mesmo em poças no chão, indo em frente.
"Meu Deus -".
Um policial estava sentado contra os armários à sua esquerda, suas pernas esticadas, meio escondidas pela
mesa virada. Ao som da voz de Leon, ele fracamente ergueu o braço, apontando vagamente uma arma na
direção de Leon - e a abaixou de novo, parecendo exausto com o esforço. Seu peito estava pintado de sangue,
suas expressões cheias de dor. Leon se abaixou ao lado dele em dois passos, gentilmente tocando seu ombro.
Ele não via o ferimento, mas tinha tanto sangue que a gravidade era óbvia -
"Quem é você?". O policial suspirou.
Eles nunca foram apresentados, mas Leon já o viu antes. O jovem policial afro-americano se chamava Marvin
Branagh...
"Eu sou Leon S. Kennedy. O que aconteceu aqui?".
"A cerca de dois meses," Marvin disse, "os assassinatos canibais... o S.T.A.R.S. encontrou zumbis na mansão da
floresta...".
Ele tossiu e Leon começou a dizer para descansar, mas Marvin parecia determinado a contar a história.
"Chris e os outros descobriram que a Umbrella estava por trás de tudo... arriscaram suas vidas, mas ninguém
acreditou... depois isto".
Chris... Chris Redfield, o irmão de Claire.
Leon sabia algo sobre o problema com o S.T.A.R.S. ele só ouviu trechos da história - a suspensão do grupo de
ações táticas especiais e resgate, após serem acusados de má conduta, foi o motivo da contratação de novos
policiais.
Ele até leu o nome dos membros num jornal, listados juntos com alguns de seus recordes.
- e a Umbrella destrói a cidade. Algum tipo de vazamento químico que tentaram esconder se livrando do
S.T.A.R.S. -
Tudo isso saia de sua mente até que Marvin tossiu de novo, mais fraco.
"Agüenta aí". Leon disse, procurando algo para estancar o sangramento. Ele achou uma camiseta no armário
atrás do policial e a enrolou, pressionando contra o estômago de dele. O próprio policial segurou-a com as mãos,
fechando os olhos enquanto falava novamente.
"Não se preocupe comigo. Há... você deve tentar salvar os sobreviventes...".
#
Leon balançou a cabeça, querendo negar a verdade, querendo fazer algo para aliviar a do de Marvin - mas ele
estava morrendo, e não podia chamar ajuda.
"Vá". Marvin disse, ainda de olhos fechados.
Ele estava certo, Leon não podia fazer mais nada - e não conseguiu se mover por um momento - até Marvin
erguer sua arma de novo, apontando-a para Leon numa erupção de energia que aumentou sua voz num grito.
"Vá!". O policial ordenou e Leon se levantou.
"Eu voltarei". Leon disse firmemente, o braço de Marvin já caindo.
Leon voltou para a porta, respirando fundo e aceitando a mudança de plano que pode acabar o matando - mas
que não podia evitar. Ele era um policial. Se houvessem sobreviventes, é sua civil e moral conduta ajudá-los.
Tem um depósito de armas no subsolo, perto da garagem. Leon abriu a porta e voltou para o saguão, rezando
para que o depósito esteja bem equipado - e que haja alguém para salvar.
[10]
Depois do ardente telhado, Claire cruzou um zigue-zagueado corredor cheio de cacos de vidro no chão - e depois
de um policial morto no chão, seu medo sobre a segurança da delegacia aumentou. Ela pulou o corpo e continuou
andando. Uma fraca brisa passou pelas janelas quebradas que decoravam a parede externa, dando vida à
escuridão; haviam brilhantes penas pretas junto às marcas de sangue no chão, que fizeram Claire mirar o
revólver a cada suave balanço.
Ela passou por uma porta que dava nas escadas externas do lugar, mas continuou andando, virando à direita. O
modo como o helicóptero acertou o prédio perturbou Claire, inspirando visões da velha delegacia pegando fogo.
Só faltava essa...
Cadáveres e marcas de sangue nas paredes; Claire não estava feliz com a idéia de vagar pela delegacia. E mais,
tiros não são tão eficientes; ela precisa ver o quanto ruim está a situação antes de procurar Leon.
O corredor terminava numa porta. Claire a abriu - e recuou assim que a nuvem de fumaça passou por ela, o
cheiro de metal e madeira queimados no ar. Ela se agachou e deu uma espiada no corredor que ia para a direita.
Mais para frente ele virava à direita de novo, e ainda assim não se podia ver o fogo; sua brilhante luz alaranjada
refletia nas paredes cinzas.
Droga. O que foi agora?
Havia outra porta diagonalmente de sua posição, a alguns passos; Claire respirou fundo e andou abaixada para
evitar a fumaça, esperando achar um extintor de incêndio - e que fosse suficiente.
A porta dava numa sala de espera vazia - sofás de vinil verdes, um balcão de canto e uma porta no outro lado. A
pequena sala parecia intocada, clama e quieta, igual aos outros lugares que passou essa noite - só que não havia
sinais de desastre nas suaves sombras criadas pelas fluorescentes acima. Nenhum zumbi morto no chão de
madeira escura e nenhum espirro de sangue nas paredes cor de creme.
E nenhum extintor...
Nenhum à vista. Ela fechou a porta e foi até o balcão, levantando a tampa de entrada com o cano da arma.
Tinha uma velha máquina de escrever no balcão - e perto de um telefone. Claire o pegou esperançosa, mas só
ouviu silêncio. Suspirando, ela se abaixou para ver as prateleiras sob o balcão. Uma agenda, papéis - e meio
escondido entre uma bolsa, o familiar cilindro vermelho, com uma fina camada de pó.
"Aí está você". Ela sussurrou, guardando a 9mm no colete e levantando o extintor. Ela nunca usou um antes,
mas parecia fácil - uma alavanca de metal com um pino de segurança e um bocal de borracha preto. Pelo peso
parecia estar cheio.
Respirando várias vezes e armada com o extintor, Claire abriu a porta e voltou para o corredor. A fumaça tinha
se intensificado, acumulando-se no teto.
Ela fez a curva e viu destroços queimando no fim do corredor, sentindo-se aliviada e triste ao mesmo tempo. O
fogo não era tão grande quanto pensava. As chamas se estendiam até uma porta de madeira destruída. Era o
#
nariz do helicóptero que chamou sua atenção - a ardente cabine - e o ardente corpo do piloto ainda preso no
assento, sua boca queimada bocejando como um grito silencioso. Não dava para saber se era homem ou mulher.
Claire tirou o pino e mirou o cano nas chamas. Ela apertou a alavanca e um jato de neve espirrou, acertando os
destroços com uma nuvem. Mal vendo através da fumaça, ela direcionou o jato sobre tudo. Dentro de um
minuto, o fogo pareceu ter acabado, mas ela continuou usando o extintor até acabar.
A última tossida de gás veio e Claire soltou a válvula, suspirando algumas vezes, procurando algum foco que
tenha passado despercebido. Nenhuma chama, mas a porta de madeira ao lado da cabine ainda soltava filetes de
fumaça. A área em volta da porta já foi arrebentada e Claire decidiu arriscar. Ela recuou e deu um sólido chute na
porta, mirando perto das dobraduras.
A porta abriu com um crack, a madeira carbonizada desfazendo-se em uma chuva de cinzas. Algumas caíram em
suas botas, mas Claire rapidamente levantou a arma, ainda as sacudindo, mais assustada com o que pode estar
esperando do outro lado.
Um curto e vazio corredor tinha seu começo cheio de pedaços de madeira queimados, e uma porta ao fundo, à
esquerda. Claire foi até lá, tanto para respirar ar puro quanto para ver onde dava.
A porta seguinte estava destrancada. Claire a abriu, pronta para atirar em qualquer -
- e parou, chocada com a bizarra atmosfera da sala. Era como uma sátira de um clube de homens dos anos
cinqüenta, um grande escritório decorado com uma extravagância beirando o ridículo. As paredes tinham grandes
estantes de mogno e mesas cercando uma espécie de área de descanso, feita com acolchoadas cadeiras de
couro e uma mesa de mármore, tudo sob um provável tapete oriental. Um elaborado lustre vinha do teto,
jogando uma melodiosa luz sobre tudo. Quadros e delicados vasos estavam por toda parte - mas seus clássicos
designs eram ofuscados pelas empalhadas cabeças de animais e pássaros que dominavam um canto, ao lado de
uma grande mesa -
- Oh, Jesus -
Deitada na mesa, como a personagem de uma história de terror, estava uma bonita e jovem mulher de vestido
longo e branco, seu abdômen tomado por sangue. Era como um enfeite, sendo olhado pelos animais empalhados
- tinha um falcão que parecia estar voando, cabeças de alce e veado. O efeito foi tão pavoroso que por um
momento Claire não respirou -
- foi quando a alta poltrona atrás da mesa girou de repente. Claire mal conteve o grito de terror, esperando ver a
Morte sorrindo para ela. Mas era um homem - com uma arma apontada para ela.
Pela segunda vez hoje...
Por um segundo, ninguém se moveu - então o homem abaixou a arma, um sorriso amarelo surgindo em seu
gorducho rosto.
"Eu sinto muito," ele disse, sua voz tão oleosa quanto a de um político ruim. "pensei que você fosse um daqueles
zumbis".
Ele alisava seu cheio bigode enquanto falava. Apesar de Claire nunca tê-lo conhecido, ela subitamente sabia quem
ele era, Chris já tinha falado sobre ele.
Gordo, bigode - era o chefe da polícia, Brian Irons.
Ele não parecia bem. De fato, parecia desconectado da realidade.
"Você é o chefe Irons?". Ela perguntou, tentando parecer agradável ao se aproximar da mesa.
"Sim, sou eu, e quem é você?".
Antes de ela falar, Irons continuou calmamente, confirmando a suspeita de Claire com o que disse depois - em
seu tom petulante. "Não, não se preocupe em me dizer. Não fará diferença. Você acabará como todos os
outros...".
Ele parou, olhando para o corpo à sua frente, com uma emoção que Claire não podia decifrar. Ela sentiu-se mal
por ele, ao contrário do que Chris disse sobre sua personalidade podre e incompetência profissional; só Deus sabe
que horrores ele presenciou, ou o que teve de fazer para viver.
Leon e eu entramos nesse terror há alguns minutos; Irons já estava aqui, provavelmente vendo seus amigos
morrendo.
Ele olhou para o corpo e falou, sua voz triste e pomposa ao mesmo tempo.
"É a filha do prefeito. Eu deveria cuidar dela, mas falhei miseravelmente...".
Claire procurou palavras de conforto, querendo dizer que tinha sorte por estar vivo, que não foi sua culpa - mas
ele continuou lamentando, as palavras dela morrendo na garganta, junto com a dó.
#
"Olhe para ela. É linda, sua pele perfeita. Mas logo apodrecerá... e em uma hora se tornará uma daquelas coisas.
Bem como os outros".
Claire não queria tirar conclusões, mas sua descrição e olhar faminto a fizeram se arrepiar. O jeito que ele olhava
para a garota morta -
- você fica imaginando coisas. Ele é o chefe da polícia, não um pervertido lunático. Ele é o único vivo que
encontrou. Peça informações!
"Deve haver um jeito de parar...". Claire disse gentilmente.
"Sim... uma bala no cérebro - ou decapitação".
Ele finalmente desviou o olhar do corpo, mas não para Claire. Ele olhou para os bichos ao lado de sua mesa, sua
voz adquirindo um tom alegre.
"Em pensar que - taxidermia costumava ser o meu hobby. Não mais...".
Os alarmes de Claire dispararam. Taxidermia? O que diabos um corpo humano fazia na mesa dele?
Irons finalmente olhou para Claire, que não gostou nem um pouco. Ele olhava em seu rosto mas não parecia
enxergá-la. Ocorreu-lhe que ele não havia perguntado como chegou lá, ou sobre a fumaça que entrou no
escritório. E o jeito que falava sobre a filha do prefeito... nenhuma dor real, só auto-piedade e algum tipo de
admiração.
Oh, Deus, ele não está só abalado, ele está em outro planeta -
"Por favor,". Irons disse. "eu queria ficar sozinho agora".
Ele se acomodou na cadeira e fechou os olhos, parecendo exausto. Tão simples assim, ela foi dispensada,
mesmo com milhões de perguntas - muitas delas que ele poderia responder - mas ela achou melhor só sair de
perto dele, pelo menos agora -
Houve um suave som atrás dela, à esquerda, tão baixo que ela não tinha certeza se realmente o ouviu.
Claire virou, franzindo, e viu outra porta no canto da sala. Ela não a tinha visto antes - e aquele som veio de lá.
Outro zumbi? Ou alguém se escondendo...?
Ela olhou para Irons que nem se moveu.
Então - volto por onde vim, ou vejo o que tem atrás da porta?
Leon - ela tinha que achá-lo e Irons não parecia querer unir forças. Mas se houver outra pessoa no prédio que
precise de ajuda ou possa ajudar...
Não vai demorar. Ela olhou para Irons, perto do corpo da filha do prefeito, cercado por seus animais sem vida;
Claire foi até a segunda porta, esperando não estar cometendo um erro.
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*Taxidermia - Arte de empalhar animais.
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[11]
Sherry tem se escondido por um longo na delegacia, uns três ou quatro dias, e ainda não viu sua mãe. Nenhuma
vez, nem quando havia muita gente restando. Ela encontrou a Sra. Addison - uma das professoras da escola -
logo depois de chegar lá, mas ela já estava morta. Um zumbi a comeu. Não muito depois disso, Sherry achou um
tubo de ventilação que cobre quase todo prédio, e decidiu que se esconder era mais seguro do que ficar com os
adultos - porque eles morriam, e porque havia um monstro na delegacia bem pior que os zumbis e os homens do
avesso. Ela tinha certeza que esse monstro a procurava. Era idiotice, ela nunca pensou que monstros
perseguissem uma única pessoa - mas ela também nunca pensou que monstros existissem.
Assim, Sherry vem se escondendo na sala de armaduras; ninguém morto lá e o único jeito de entrar - exceto o
tubo de ventilação atrás das armaduras - era passando por um longo corredor vigiado por um tigre gigante.
Empalhado, mas assustador - Sherry pensou que ele pudesse afugentar o monstro. Ela sabia que era besteira,
#
mas a fazia se sentir melhor.
Sendo que os zumbis tomaram conta da delegacia, ela passou a maior parte do tempo dormindo. Assim, ela no
pensava no que aconteceu com os pais ou o que vai acontecer consigo mesma. O tubo de ventilação era quente
e tinha muita comida na máquina de doces, escada abaixo - mas ela estava assustada, e pior que isso, sozinha.
Ela dormia atrás das armaduras quando houve um tremendo barulho lá fora. Ela estava certa que era o monstro;
Sherry só o viu uma vez antes, suas grandes e terríveis costas, pela grade de metal - desde então, ela o ouviu
gritar pelo prédio várias vezes. Ela sabia que ele era mau, mau, violento e faminto.
Às vezes ele desaparecia por horas, fazendo Sherry pensar que tinha ido embora - mas sempre voltava, não
importa onde ela estava, mas sempre parecia surgir por perto.
O barulho que a tirou do sono parecia o de um monstro quebrando as paredes, fazendo-a correr para seu
esconderijo caso o som se aproxima, mas não se aproximou. Por um longo tempo não se moveu, segurando seu
amuleto da sorte - um bonito colar de ouro que sua mãe havia lhe dado semana passada, tão grande que
preenchia toda sua mão. Como antes, ele funcionou; o horrível barulho não se repetiu. Ou talvez o tigre cumpriu
seu papel. Mesmo assim, quando ouviu suaves passos no escritório, Sherry sentiu-se segura o bastante, para ir
até o corredor e escutar. Os zumbis e homens do avesso não podiam abrir portas. Se fosse o monstro, já teria
vindo para ela.
Tem que ser uma pessoa. Talvez mamãe...
Na metade do corredor onde virava à direita, ela ouviu pessoas falando no escritório, sentindo um estouro de
esperança e solidão ao mesmo tempo. Ela não sabia o que falavam, mas pela primeira vez em dois dias ela ouviu
alguém que não gemesse. Podia ser a ajuda que finalmente chegou a Raccoon.
O exército, marinha, talvez todos eles...
Curiosa, ela correu para a porta de frente para o tigre, quando as vozes pararam. Sherry ficou imóvel.
Se a ajuda veio, porque não ouvia os caminhões e aviões? Não haveria tiros, bombas e alto-falantes alertando
para que todos saíssem?
Talvez sejam vozes de pessoas más; loucas como aquele homem...
Não muito depois que Sherry começou a se esconder, ela viu uma coisa terrível pela grade da sala de armários.
Um homem de cabelo vermelho estava lá, falando sozinho, balançando para frente e para trás numa cadeira. No
começo, Sherry pensou em chamá-lo para ajudar, mas o modo como falava, sorria e balançava, a deixou
desconfiada. Então ela o observou por um tempo. Ele segurava uma grande faca, e depois de um longo tempo,
ainda rindo, resmungando e balançando, ele se esfaqueou no estômago. O homem a tinha assustado mais do
que os zumbis, porque não fazia sentido. Ele era louco e se matou, e ela engatinhou de volta, chorando, porque
não fazia sentido.
Se as pessoas no escritório são boas, elas podem querer tirá-la de seu esconderijo e tentar protegê-la - e isso
significaria sua morte, porque o monstro certamente não tinha medo de adultos.
Parecia ruim ter que voltar, mas não tinha outra escolha. Sherry começou a voltar para a sala de armaduras
quando -
Crack!
- ela congelou assim que a madeira do chão rangeu. O som pareceu incrivelmente alto e ela prendeu a
respiração, agarrando seu colar e rezando para que a porta não abrisse, que nenhum maluco aparecesse - e a
pegasse.
Ela não ouviu mais nada, mas achou que as batidas do seu coração a denunciariam, era tão alto. Depois de dez
segundos ela continuou andando, na ponta dos pés como se estivesse num ninho de cobras. Ela tinha que usar
toda sua força para não correr até a curva - uma coisa que ela aprendeu nos filmes era que, correr do perigo
sempre significava uma morte horrível.
Quando ela finalmente chegou à porta, sentiu-se aliviada e só queria pegar o cobertor que a Sr. Addison achou e -
A porta do escritório abriu, abriu e fechou. Um segundo depois, passos. Indo para ela.
Sherry voou pela sala, não pensando um mais nada por causa do pânico. Ela passou pelos três cavaleiros,
esquecendo seu lugar seguro. Tudo o que queria era ir o mais longe possível. Havia uma escura e pequena sala
sem porta depois da caixa de vidro no meio da sala -
- e ela ouviu os passos correndo atrás dela. Sherry se abaixou entre os tijolos da lareira e tentou se encolher,
abraçando os joelhos e escondendo o rosto. A escuridão da sala do fundo era tudo o que precisava.
Por favor, por favor, por favor, não apareça, não me veja, eu não estou aqui.
#
Os passos entraram na sala das armaduras e mais calmos, hesitantes, passando pela caixa de vidro. Sherry
pensou em seu tubo de ventilação, que a levaria embora, e segurou as lágrimas de arrependimento. A sala da
lareira não tinha saída.
Os passos se aproximaram da sala que Sherry estava. Ela prometia fazer qualquer coisa caso o estranho fosse
embora -
Thump. Thump. Thump -
De repente a sala se iluminou, o leve click do interruptor sobre o choro de Sherry. Ela não agüentou, se levantou e
correu, gritando, esperando chegar até o tubo de ventilação quando -
- uma quente mão segurou seu braço, apertado. Ela gritou de novo, puxando o mais forte que podia, mas o
estranho era forte -
"Espere!". Era uma mulher.
"Me deixe ir". Sherry choramingou, mas a mulher continuou segurando, puxando.
"Calma, calma - eu não sou um zumbi, fique calma, está tudo bem -".
A voz da mulher soou mais gentilmente. A doce e musical voz repetiu-se de novo e de novo.
"- calma, está tudo bem, eu não vou te machucar, você está segura agora".
Sherry finalmente olhou para a moça, e viu o quanto bonita era, o quanto seus olhos eram preocupados e
simpáticos. Sherry parou de tentar fugir e sentiu as quentes lágrimas em seu rosto. Ela instintivamente abraçou a
bonita jovem - e a moça retribuiu, seus finos braços em volta dos trêmulos ombros de Sherry.
Sherry chorou, deixando a mulher acariciar seu cabelo e dizer palavras tranqüilizantes - pelo menos o pior acabou.
Por mais que quisesse cair nos braços da moça e esquecer os medos, acreditar que estava a salvo, ela sabia que
não dava. Além, disso, ela não era mais um bebê; fez doze anos mês passado.
Sherry se afastou da mulher e secou os olhos, olhando para a estranha. Ela não era velha, por volta dos vinte, e
tinha roupas legais - botas, shorts vermelho de tecido grosso e um colete do mesmo conjunto, sem mangas. Seu
cabelo castanho era amarrado para trás, e quando sorriu, parecia uma atriz de cinema.
"Meu nome é Claire. Qual é o seu?".
Sherry se envergonhou de repente, por ter corrido de uma pessoa tão boa. Seus pais diziam que agia como um
bebê, que era "muito imaginativa", e aqui está a prova; Claire não iria machucá-la.
"Sherry Birkin". Ela disse e sorriu, esperando que Claire não fosse má para ela; ela não parecia brava, e sim
agradecia pela resposta.
"Você sabe onde estão seus pais?". Claire perguntou.
"Eles trabalham no laboratório químico da Umbrella". Sherry respondeu.
"Laboratório químico... então o que você está fazendo aqui?".
"Minha mãe ligou e me disse para vir aqui. Ela disse que é muito mais perigoso ficar em casa".
Claire acenou. "Pelo que parece, ela estava certa. Mas aqui também é perigoso...".
Claire franziu pensativamente, depois sorriu de novo. "É melhor você vir comigo".
Sherry balançou a cabeça, pensando em como explicar que não era uma boa idéia, que era uma idéia muito ruim.
Ela não queria ficar sozinha, mas não seria seguro ir.
Se eu for e o monstro nos achar...
Claire morreria. Apesar de ser magra, Claire não caberia no tubo de ventilação.
"Tem algo aqui". Sherry finalmente disse. "Eu vi, é maior que os zumbis. E quer me pegar".
Claire balançou a cabeça, abrindo a boca para dizer algo quando um terrível e furioso som encheu a sala, ecoando
em violentas ondas de algum lugar do prédio. Por perto.
"Rrraaahh - ".
Sherry sentiu seu sangue virar gelo. Claire arregalou os olhos, pálida.
"O que foi aquilo?".
Sherry recuou, ofegante, mentalmente correndo para o tubo de ventilação atrás das armaduras.
"É disso que eu estava falando". Ela disse, e antes que Claire pudesse pará-la, ela virou e correu.
"Sherry!".
Sherry ignorou o apelo e continuou. Ela se pôs de joelhos sobre o pedestal, colocou a cabeça e se arrastou para
dentro do buraco no rodapé da parede.
Sua única chance, a única chance de Claire, era que ficasse o mais longe possível. Talvez se encontrem de novo
quando o monstro se for.
#
Assim que Sherry engatinhou pelo apertado e escuro tubo, esperou que não fosse muito tarde.
[12]
Ada sentou na cadeira da desarrumada mesa do chefe dos detetives, descansando seus pés doloridos e olhando
cegamente para o cofre vazio no canto da sala. Sua paciência estava se esgotando. Primeiro a amostra do
G-virus, agora Bertolucci, que também não foi encontrado. Ela passou pela sala de descanso, o escritório do
S.T.A.R.S., a biblioteca - todos os lugares onde o repórter teria fácil acesso. E gastou dois clips inteiros para isso.
O problema não foi 23 balas, foi o tempo perdido e sem resultados - exceto por ter matado mais alguns zumbis.
E duas aberrações híbridas da Umbrella.
Ada tremeu, lembrando da contorcida carne vermelha e gritos das criaturas que matou na sala de entrevistas.
Trent alertou sobre os Tyrants modi-ficados - que agradecidamente ainda não apareceram - mas os sanguinários
linguarudos com garras eram uma afronta à suas sensibilidades. E são muito mais difíceis de matar que os
zumbis. Se eles foram produtos do T-virus, ela deverá rezar para que Birkin não tenha feito nada com o novo.
Segundo Trent, a série G ainda não foi usada, e deve ser duas vezes mais potente...
Ada soltou a imaginação. O escritório não era tão inspirante para descansar, mas pelo menos não tinha sangue.
De porta fechada, ela mal sentia o cheiro dos policiais lá fora. Eles já estavam bem afetados quando ela os
matou, o estágio que aparentemente precede o colapso total.
O problema não é senti-los. Meu cabelo e roupas já absorveram o maldito cheiro.
Ela sabia para que servia o T-virus, mas eles não pensaram em pesquisar os efeitos físico-químicos. Quem se
importa? Ela não tinha motivos para acreditar que a Umbrella infectaria sua própria cidade. Ela estava recebendo
várias informações sobre o funcionamento do vírus, mas seria bom saber como ele modifica a mente humana.
Ela só podia tentar adivinhar através de suas observações.
Pelo que parece, leva algumas horas para alguém infectado virar um zumbi. Às vezes, a vítima passa por uma
febre-coma antes, que provavelmente queima partes do cérebro - e pareciam estar acordando da morte em
busca de carne fresca logo depois. Os sintomas eram os mesmos para todos, mas não a velocidade do
processo; ela viu uns três casos em que a vítima virou zumbi alguns momentos após ser infectada, o estágio que
ela chamou de "catarata". Apesar de a deterioração física começar imediatamente, alguns caem aos pedaços
mais rápido do que outros.
... e por que você está pensando nisso? Seu trabalho não inclui achar a cura?
Ela suspirou, curvando-se para coçar os pés. Verdade. Mesmo assim, era algo para se considerar. Pensar em
ficar viva era cansativo; ela não podia fazer isso enquanto limpava os corredores. Ela estava descansando, e
precisava pensar em assuntos mais intrigantes.
E não são poucos... Trent, o que Bertolucci sabe ou deveria saber... o S.T.A.R.S. - e o que diabos aconteceu
com eles?
Pelos artigos que Trent incluiu no pacote de informações, ela sabia sobre a suspensão do grupo - e considerando
o que estavam investigando, não precisava ser gênio para ver que estavam na cola da Umbrella para revelar seu
segredo. A Umbrella já deve ter se livrado deles caso não tenham se escondido - e Ada tem que ver se Trent
participou da aventura do S.T.A.R.S..
Não que ela diria, mas Trent era um enigma. Ela só o encontrou uma vez, apesar de tê-la contatado para ir até
Raccoon, na maioria das vezes por telefone. Ela sempre se orgulhou da capacidade de ler as pessoas, mas não
sabia onde os interesses dele estavam, por que queria o G-virus ou que função exercia na Umbrella. Era óbvio
que tinha contatos lá dentro, ele sabia demais sobre a companhia - mas se era o caso, porque ele não pega sua
própria amostra e pede demissão? Contratar uma agente secreta era o ato de alguém querendo evitar
complicação - mas complicações do que?
Não é da minha conta...
Um bom princípio para se viver; ela também não era paga para investigar Trent. Mesmo que fosse, seria difícil;
#
ela nunca conheceu um homem tão sob-controle como Sr. Trent. Em todo contato que tiveram, ela percebeu
que ele ria por dentro, como se soubesse de um ótimo segredo - e ainda não demonstrou arrogância e
pretensão. Ele era frio, sua genialidade tão natural que ela mal se intimidou; ela não conseguiu decifrar os motivos
dele, mas já tinha visto aquele calmo humor antes - era a face do verdadeiro poder, de um homem com um
plano e meios de executá-lo.
Então a contaminação atrapalhou seus planos, sejam lá quais sejam? Ou ele já estava preparado...? Eu não
imagino o termo "pego de surpresa" no vocabulário de Trent...
Ada girou a cabeça vagarosamente antes de se calçar. O intervalo acabou, pois ela ainda tinha que procurar
Bertolucci em mais alguns lugares, antes de ir para o esgoto. Ela sabia que as persianas de segurança do primeiro
andar não eram tão sólidas assim; ela não quer se deparar com mais zumbis lá de fora.
Havia passagens "secretas" na asa leste e celas no subsolo, depois do estacionamento. Se achá-lo em algum
desses lugares, poderá concentrar-se em obter a amostra.
Ela decidiu começar pelo subsolo; ele não conseguiria achar os corredores escondidos. Pelo que ela leu sobre seu
trabalho, ele não era um repórter tão bom...
Ada saiu do escritório, os ventiladores de teto levando o cheiro de podre até ela. Devia haver sete ou oito corpos
lá, todos policiais...
... mas eu não tinha deixado cinco vivos da última vez?
Ada parou, olhando para o estreito corredor que levava às escadas de trás.
Havia cinco. Eu não estou no meu máximo, mas ainda posso contar.
Havendo ou não, os zumbis estavam invadindo e a Umbrella virá em breve caso ainda não tenha vindo. A
companhia não ignoraria esse problema. Já deve ter criado um plano *derrota segura e está enchendo a cabeça
da mídia com mentiras. Mas é claro que antes, eles devem recuperar a pesquisa de Birkin. Trent estava confiante
de que a Umbrella mandaria uma equipe para isso.
Uma equipe de humanos, tomara. Eu posso lidar com eles. Um Tyrant... eu não preciso disso.
Ada foi para o corredor do fundo da sala, à esquerda de onde estava. Foi na direção da porta que a levaria para
a escada do subsolo. Tyrant era o nome de uma série particular na pesquisa de armas biológicas da Umbrella,
uma série que incorpora as mais destrutivas aplicações do T-virus. De acordo com Trent, os cientistas da White
Umbrella - que trabalham nos laboratórios secretos - acabaram de iniciar os testes num tipo de humanóide
sanguinário, desenvolvido para caçar qualquer cheiro ou substância com a qual foi treinado. Um Tyrant avançado,
outra construção de carne infectada e ligamentos implantados - o tipo de coisa que podem mandar em busca do
G-virus...
Ada foi para o subsolo, tentar achar o repórter.
Leon estava no saqueado depósito de armas do subsolo, ajustando seu coldre e pensando onde Claire estaria.
Pelo pouco que viu, a delegacia estava muito ruim. Fria, escura e cheirando mal, mas não tão perigosa quanto a
rua. Nem tanto para se agradecer, mas Leon vai tirar o máximo de proveito.
Ele matou três companheiros a caminho do subsolo - dois homens escada acima e uma mulher em frente ao
necrotério - a alguns metros da sala onde ficava o arsenal do R.P.D.. Entre os mortos e o número de armas
faltando, Marvin pode estar certo sobre haver sobreviventes.
Marvin Branagh... já deve estar morto. Será que virou zumbi? Se a Umbrella está por trás disso, deve ser algum
tipo de praga ou doença, afinal, eles são uma companhia farmacêutica - então, como se pega a doença? Pelo
contato ou pelo ar -
O pensamento de ser infectado pelos zumbis o fez suar. E se ele a pegou enquanto dirigia para cá?
Antes do pânico, ele ouviu sua mente dizer sobre a realidade - e a aceitação da realidade também, afugentando o
medo.
Se você está doente, está doente. Você pode comer uma bala antes de piorar. Se não está doente, sobreviverá
para contar aos seus netos sobre tudo isso. De qualquer jeito, não há nada que você pode fazer - exceto tentar
ser um policial.
--------------------------------------------------------------
*Derrota Segura - Método para impedir ataque atômico equivocado.
-------------------------------------------------------------- Leon concordou, suspirando. Em sua primeira busca pela sala,
#
houve desapontamento. Nenhum revólver e pouca munição nos armários - mas ele achou uma caixa de munição
para espingarda, e depois de um segundo procurando, ele descobriu uma calibre doze escondida atrás de
algumas caixas. Haviam alguns arreios de ombro para o modelo Remington pendurados na parede, tal como um
cinto de utilidade maior do que o que já usava; tinha até um bolso fundo o bastante para colocar os clips.
Com o último aperto no arreio, ele decidiu que seria melhor começar pelos lugares mais óbvios primeiro, cada
corredor de cada possível entrada. Primeiro ele voltará para o saguão e deixar uma mensagem no -
Bam! Bam! Bam!
Tiros, bem perto, e o eco dizia vir do corredor lá fora. Leon empunhou o revólver e correu para a porta, preciosos
segundos desperdiçados enquanto manejava a fechadura giratória.
O corredor estava deserto, exceto pelo guarda de trânsito no chão à sua direita. Para a direita ficava o
estacionamento, e Leon correu para lá, lembrando-se para ir com clama e não ser baleado por alguém
aterrorizado.
Vá devagar, olhe bem antes de se mover, identifique-se claramente -
O corredor virava à esquerda, e no final dele, estava a porta na parede do lado direito, aberta - e quando Leon
deu uma olhada no grande e aberto espaço, seu corpo encostou na parede, vendo algo que o fez esquecer do
atirador.
O cachorro. É o mesmo maldito cachorro.
Impossível - mas o caído e sem vida animal no meio de dois carros parecia o mesmo. Mesmo com o breve
avistamento que teve antes, o melequento demônio canino era igual àquele que o tinha jogado fora da estrada.
Sob as fluorescentes que iluminavam a garagem, Leon pode ver o quanto anormal ele era.
Nada parecia se mover, e nenhum som exceto o zumbido das luzes. Ainda segurando sua arma, Leon entrou na
garagem, determinado a olhar a criatura de perto - e viu um outro perto de uma viatura, aparentemente morto
como o primeiro. Ambos estavam no meio de uma poça vermelha de sangue.
Umbrella. Os ataques animais, a doença - há quanto tempo isso está acontecendo? E como conseguiram manter
isso escondido depois de todas aquelas mortes?
Mais confuso era o fato de Raccoon ainda não ter recebido ajuda; a Umbrella deve ter conseguido esconder seu
envolvimento nos assassinatos "canibais", mas como ela impediu as pessoas de pedir ajuda lá fora?
Esses cães, como cópias em carbono... outra coisa que a Umbrella fez em seus laboratórios?
Ele deu outro passo na direção das criaturas, não gostando das teorias de conspiração que estavam se formando
em sua mente, mas incapaz de ignorá-las. Do que ele menos gostava, eram das poças de óleo no chão de
cimento; pareciam enferrujadas, secas - e haviam muitas delas para contar. Ele se curvou para olhar de perto,
tão intrigado que só percebeu o tiro quando a bala ricocheteou no chão.
Bam!
Leon virou para a esquerda, erguendo a arma e gritando ao mesmo tempo -
"Pare de atirar!".
- e viu a atiradora abaixar sua arma, uma mulher de vestido vermelho e longas meias pretas, parada ao lado de
um furgão no final da garagem. Ela começou a ir até ele, suas pernas finas movendo-se suavemente, cabeça
erguida e ombros para trás. Parecia estar numa festa.
Leon sentiu uma onda de raiva, de como ela parecia clama após quase tê-lo matado - mas assim que se
aproximou, ele quis pedir desculpas. Ela era bonita, e parecia sentir prazer em vê-lo; uma visão bem vinda depois
de tanta morte.
"Desculpe-me por aquilo". Ela disse. "Quando vi o uniforme, pensei que fosse outro zumbi".
Mestiça, magra e alta, cabelo curto, liso e escuro. Sua acentuada voz contrastava estranhamente com seu olhar.
Seu frágil sorriso não combinava com os olhos amendoados que o examinavam cuidadosamente.
"Quem é você?". Leon perguntou.
"Ada Wong'. Aquele tom de novo. Ela inclinou a cabeça, ainda sorrindo.
"Eu sou Leon S. Kennedy". Ele disse reflexivamente, incerto sobre o que perguntar ou por onde começar. "Eu - o
que você faz aqui embaixo?".
Ada olhou para o furgão do R.P.D. que bloqueava a área das celas. "Eu vim para Raccoon em busca de um
homem, um repórter chamado Bertolucci; eu tenho motivos para crer que ele esteja em uma das celas, e acho
#
que ele pode me ajudar a achar meu namorado...".
O sorriso dela sumiu, o agudo, quase elétrico olhar achando o dele... "E acho que ele sabe tudo sobre o que
aconteceu aqui. Você me ajuda a empurrar o furgão?".
Se o repórter estiver trancado lá, poderá dizer algo; Leon quer conhecê-lo. Ele não confiava muito na história de
Ada, mas não imaginava porque mentiria. O lugar não é seguro, e ele estava procurando por sobreviventes,
como ela.
"Tá bom". Ele disse, sentindo-se pego pelos suaves modos dela. Parecia que ela tinha assumido o controle, uma
súbita mas proposital manipulação que a pôs no comando -
Não seja paranóico; mulheres fortes existem. E quanto mais pessoa encontrar, mais ajuda eu terei para procurar
a Claire.
Leon guardou a arma e foi atrás dela, esperando que o repórter estivesse lá - e que as coisas começassem a
fazer sentido o quanto antes.
[13]
Sherry Birkin se foi e Claire não conseguiu entrar no duto. Seja lá o que ou quem tinha gritado, não apareceu. Ela
devia estar se escondendo no duto por algum tempo; haviam embalagens abertas de doces e um velho lençol
perto da abertura, atrás de três armaduras.
Percebendo que Sherry não voltaria, Claire correu para a sala de Irons, esperando que ele pudesse dizer onde a
tubulação dava, mas ele tinha sumido - junto com o corpo da filha do prefeito.
Claire parou no escritório, sendo observada pelos olhos de vidro da mórbida decoração, e se sentiu incerta pela
primeira vez desde que chegou na cidade. Desviar de cães e zumbis, encontrar Leon e evitar o Chefe Irons
foram tarefas inclusas na busca por Chris. Nos poucos momentos entre encontrar aquela garotinha e aquele
estranho grito, suas prioridades mudaram dramaticamente. Havia uma criança nesse pesadelo, que acreditava
estar sendo seguida por um monstro.
Talvez esteja. Se Raccoon tem zumbis, por que não monstros? Droga, por que não vampiros ou robôs
assassinos?
Ela queria achar Sherry, mas não sabia por onde começar. Ela queria seu irmão, mas não sabia onde estava - e
ela começou a imaginar se ele sabia o que tinha acontecido na cidade.
Na última vez que conversaram, ele evitou falar sobre a suspensão do S.T.A.R.S., insistindo que não era nada
para se preocupar - que ele e os outros entraram em problemas políticos e tudo se resolveria. Ela estava
acostumada com a proteção dele, mas pensando melhor, ele não parece evasivo demais? E o S.T.A.R.S. estava
investigando os assassinatos canibais, não seria difícil conectá-los com a atual...
... o que quer dizer? Que Chris descobriu algo ruim e estava mantendo segredo?
Ela não sabia. Mas sabia que ele estava vivo, e que achar Sherry era mais importante no momento. Ruim como a
situação estava, Claire tinha defesas - ela tinha uma arma, pelo menos um pouco de maturidade emocional, e
depois de 8KM diários, estava em excelente forma. Mas Sherry não devia ter mais do que doze anos, parecia
frágil em todos os sentidos; pela sujeira em seu cabelo loiro e desespero em seus olhos azuis - Sherry inspirou
todos os sentidos protetores de Claire -
Thump!
Uma pesada vibração correu pelo teto, fazendo o lustre do escritório tremer. Claire olhou para cima
reflexivamente, apontando a arma. Não havia nada e o som não se repetiu.
Algo no telhado... mas o que fez aquele barulho? Um elefante caindo do céu?
Talvez fosse o monstro de Sherry. Claire não queria encontrá-lo, mas Sherry parecia certa de estar sendo
seguida...
... então achar o monstro para achar a garota? Não é o plano perfeito mas é tudo o que tenho.
Talvez seja Irons lá em cima. Ela não podia saber até verificar.
Claire virou e abriu a porta para o corredor de fora, onde tinha apagado o fogo. A fumaça diminuiu apesar de
ainda estar quente. Pelo menos nisso ela foi bem sucedida...
#
Claire saiu do corredor, virando os olhos para o que sobrou do piloto quando -
- Craa-ack!
- e ela congelou, ouvindo um massivo despedaçamento de madeira, seguido por poderosos passos de alguém
enorme andando pelo corredor, depois da curva.
Deve pesar uma tonelada, e Jesus, diga-me que não foi uma porta sendo destruída -
Claire olhou para o corredor do escritório, seus instintos dizendo para correr, seu cérebro dizendo que não tinha
saída, seu corpo paralisado entre os dois -
- quando o maior homem que já viu apareceu, escurecido pela fina fumaça do corredor. Ele vestia um longo
sobretudo verde-exército que só aumentava seu tamanho, tão alto quanto um jogador de basquete - bem mais
alto, e com uma cabeça proporcional. Um grande cinto de utilidade estava preso em sua cintura, e apesar de não
ver armas, ela pôde sentir a violência radiando dele em ondas invisíveis. Ela só conseguia ver a palidez no rosto
dele, a cabeça careca - e de repente, Claire estava certa de que ele era um monstro, um assassino usando luvas
pretas, cada uma do tamanho de um crânio humano -
Atire nele! Atire!
Claire mirou, mas hesitou, com medo de estar cometendo um terrível erro - até que ele deu um passo na direção
dela, ouvindo os cracks na madeira causados por seus pés de Frankenstein, e ela viu os olhos negros, negros e
corados com vermelho. Vazios, mas não cegos, o olhar dele achou o dela - e ele ergueu o punho, a ameaça
eminente.
- atireatireatire -
Ela apertou o gatilho, uma, duas vezes, e viu o impacto - um pedaço de tecido rasgou bem abaixo de sua
clavícula, o segundo tiro cortando um lado do pescoço -
- e ele deu outro passo, nenhuma expressão em seu rosto, o punho ainda erguido, procurando um alvo,
querendo esmagar -
- o escuro e enfumaçado buraco no pescoço não sangrava.
Droga
Numa onda de adrenalina, Claire apontou o revólver para o coração da criatura e atirou repetidamente, o gigante
dando outro passo, cruzando o fogo sem acovardar-se -
- e Claire perdeu a linha dos tiros, incapaz de acreditar que ele ainda se movia, a menos de três metros com as
balas acertando seu peito -
- e a arma clicou, vazia, na mesma hora que o monstro balançou de um lado para o outro como um prédio no
vento. Sem tirar os olhos dele, Claire pegou outro clip do colete e recarregou a arma, sua mente tentando
desesperadamente dar um nome à coisa.
Exterminador, O monstro de Frankenstein, Dr. Mal, Mr. X -
De qualquer modo as balas finalmente fizeram efeito. Silenciosamente, ele inclinou para a direita, caindo contra a
parede chamuscada, e permanecendo lá - sem tremer nem se mexer.
Estranho, isso é tudo, está morto, derrubado por seu próprio peso -
Claire não se aproximou, ainda mirando no gigante. Foi ele que gritou? Ela não achava.
"Morto, não importa". Claire cochichou. Precisava pensar no que ele significava - ele não era um zumbi qualquer,
mas o que então? Ela esvaziou um clip inteiro - será que alguém por perto ouviu? Ela deveria ficar onde estava?
A criatura que começou a chamar de Mr. X não estava respirando, seu corpo imóvel, seu rosto bem perto da
morte. Claire mordeu o lábio inferior, olhando para a ainda impossível criatura quando -
- ele abriu os olhos negros e brilhantes. Sem muita força, Mr. X levantou-se, bloqueando o corredor, suas mãos
erguendo-se de novo -
- e com um forte impulso, ele cortou o ar com a mão, seus longos braços bem na frente dela enquanto recuava.
O movimento foi suficiente para cravar o punho na parede, prendendo-o.
Eu, poderia ter sido EU -
Voltar para o escritório a deixaria cercada. Sem pensar mais, Claire correu, passando por Mr. X, seu braço direito
esfregando no pesado casaco dele, seu coração pulando uma batida quando o material a tocou.
Ela correu, virou à esquerda e desceu o corredor, tentando não ouvir Mr. X libertando a mão.
Jesus, o que é aquela COISA -
Ela voltou para a sala de espera, batendo a porta enquanto corria. Claire não pensava em outra coisa senão
correr mais rápido.
#
Ben Bertolucci estava na última cela, deitado na cama de metal pendurada na parede, roncando levemente.
Mantendo suas expressões cuidadosa-mente neutras, Ada deixou Leon acordá-lo. Ela não queria parecer ansiosa,
mas se havia algo que sabia sobre os homens era que eles são mais fáceis de lidar quando pensam estar no
controle. Ada olhou para Leon com a paciência que não sentia.
Eles tinham passado por um corredor vazio e um canil antes de achá-lo. Apesar do frio e úmido ar cheirando
sangue e podridão, eles não viram nenhum corpo - o que era estranho, já que Ada sabia o que tinha acontecido
na garagem. Ela pensou em perguntar a Leon o que tinha acontecido, mas decidiu que quanto menos falar
melhor; ele não devia se acostumar com a presença dela. Ela chegou a ver a tampa do bueiro no canil,
enferrujando num canto escuro, e agradecida por ver um pé-de-cabra ali perto. Com Bertolucci dormindo ali, Ada
sentiu que as coisas finalmente começaram a dar certo -
"Deixe-me adivinhar". Leon disse bem alto, batendo a arma nas barras de metal. "Você deve ser Bertolucci,
certo? Levante-se, agora."
Bertolucci suspirou e sentou-se devagar, esfregando a mão no queixo. Ada quis sorrir; ele estava mau - roupa
amarrotada, rabo de cavalo desarrumado.
Ainda de gravata. O coitado deve achar que isso o faz parecer um repórter...
"O que você quer? Eu estava tentando dormir aqui". Ele parecia nervoso, e de novo Ada teve que conter um
sorriso.
Leon olhou para Ada, parecendo incerto. "É ele?".
Ela acenou, percebendo que Leon o considerava um prisioneiro. A conversa esclareceria tudo, mas ela não queria
que Leon ouvisse demais; Ada precisa escolher bem as palavras.
"Ben, você disse aos oficiais da cidade que sabia o que estava acontecendo aqui, não foi? O que você disse a
eles?".
Bertolucci levantou e a encarou. "Quem diabos é você?".
Fingindo que não ouviu, Ada aumentou o desespero, mas só um pouco; ela não devia parecer uma coitada,
poderia contrariar o fato de ter sobrevivido todo esse tempo.
"Eu estou tentando achar um - amigo meu, John Howe. Ele trabalhava para uma divisão da Umbrella em Chicago,
mas desapareceu há alguns meses atrás - e eu ouvi dizer que ele está aqui, nesta cidade...".
Ela parou, vendo a expressão do repórter. Ele sabia de algo, sem dúvida - mas ela não achava que ele fosse
desistir.
"Eu não sei de nada". Ele disse, irritado. "e mesmo se eu soubesse, por que eu deveria dizer?".
Original. Se o policial não estivesse aqui, eu só daria um tiro no repórter.
Na verdade, ela não atiraria: Ada não estava lá para diversão. Ela podia usar um de seus métodos mais
persuasivos - se seu charme feminino não funcionar, uma bala no joelho ajudaria. Infelizmente, ela não podia
fazer nada com Leon por perto. Ela não tinha planejado esse encontro.
O policial não estava feliz com as respostas de Ben. "Tá bom, podemos deixá-lo aí". Leon disse, falando com
Ada, mas olhando bem irritado para Ben.
Bertolucci sorriu, tirando um anel redondo com as chaves da cela. Ada não se surpreendeu e Leon ficou mais
irritado.
"Por mim tudo bem". Bertolucci disse. "Eu não quero sair daqui mesmo. É o lugar mais seguro do prédio. Tem
mais do que zumbis por aí, acreditem em mim".
Pelo jeito que falou, Ada pensou em ter mesmo que matá-lo. As instruções de Trent foram claras - se o repórter
souber de alguma coisa sobre o trabalho de Birkin no G-virus, ele deve ser eliminado; por que, exatamente, ela
não estava certa, mas esta é a missão. Se ela pudesse ficar um momento a sós com ele, conseguiria descobrir o
quanto ele sabe.
Mas como? Ela não queria matar Leon; como regra, ela não mata inocentes - além disso, ela gostava de policiais.
"Ggrraaa!".
Um violento e inumano grito furou o silêncio. Ada girou o braço, mirando no portão que dava para o corredor. E
estava no subsolo -
"O que foi aquilo?". Leon disse. Ada esperava que ele soubesse a resposta. O eco do furioso grito não se
#
comparava à nada que ela já tinha ouvido - mesmo sabendo o que a Umbrella fazia, isso não era esperado.
"Como eu disse, eu não saio daqui". Bertolucci disse. "Agora vão embora antes que o tragam direto para mim!".
Covarde chorão -
"Olha, eu posso se o único policial vivo nesse prédio". Leon disse, a combinação de medo e força em sua voz fez
Ada olhar para ele. O olhar do policial estava fixado em Bertolucci, seus olhos azuis agudos e firmes.
"... e se você quiser viver, terá que vir conosco".
"Esqueça". Ben disse. "Eu vou ficar aqui até a cavalgaria chegar - e se forem espertos, farão a mesma coisa".
Leon balançou a cabeça. "E se eles demorarem dias para vir, é melhor acharmos um jeito de sair de Raccoon - e
você escutou aquele grito. Você quer ser visitado pelo que fez aquilo?".
Ela se impressionou; alguma criatura da Umbrella por aí e Leon tentando salvar um repórter inútil.
"Eu vou correr o risco". Disse Bertolucci. "e boa sorte para fugir, vocês vão precisar...".
O repórter foi até as barras, olhando entre elas, passando a mão no cabelo.
"Olha,". Disse suavemente. 'tem um canil lá atrás, com um poço no chão vocês podem chegar ao esgoto por lá,
deve ser o caminho mais rápido para fora da cidade".
Ada suspirou intensamente. Ótimo; revelou sua passagem secreta para o laboratório. Se ela correr de Leon
agora, vai levar uns cinco minutos para ele alcançá-la.
Você pode matá-lo se necessário. Ou... você o faz se perder nos esgotos e volta para Bertolucci.
Como o repórter, ela não queria ver a coisa que gritou - sendo que ele não vai fugir, enganar o policial é a melhor
saída.
O que eu não faço para evitar derramamento de sangue.
"Certo, eu vou verificar". Ela disse, e sem esperar a resposta de Leon, virou e correu.
"Ada! Ada, espere!".
Ela o ignorou, passando pelas celas e voltando para o corredor, aliviada por ainda estar vazio. Tudo poderia ser
mais fácil se ela tivesse matado os dois, mas a situação é diferente. Ela estava cansada de tantas mortes, e
cansada do que a Umbrella fez; ela não vai matar um policial, exceto se precisar.
E se ela precisar, será pela vida de um inocente ou pela finalização da missão?
Essa pergunta a disse mais sobre sua consciência do que queria admitir. Ela chegou na porta do canil; respirando
fundo e apagando qualquer emoção de sua mente, Ada entrou para esperar Leon S. Kennedy.
[14]
Tão bonita... mesmo morta, Beverly Harris era radiante. Irons não podia esperar que ela acordasse enquanto
olhava; ele a colocou cuidadosamente no gabinete de pedra debaixo da pia e trancou, prometendo que a tiraria
dali assim que tiver mais tempo. Ela se tornará o animal mais delicado que já transformou, posando eternamente
perfeita assim que prepará-la do modo certo... um sonho se realizando.
Se eu tiver tempo. Se houver tempo restando.
Ele sabia que estava sentindo pena de si mesmo de novo. Não tinha ninguém para dividir a magnitude de tudo o
que já sofreu. Ele se sentiu terrível - triste, bravo e sozinho - mas também sentiu que tudo ficou claro. Agora ele
sabia por que estava sendo perseguido.
Umbrella. Uma conspiração para me destruir, todo esse tempo...
Irons sentou na manchada mesa de seu san-tuário, seu especial e particular lugar, pensando em quanto tempo
levará para a jovem mulher aparecer.
A do corpo atlético que não disse seu nome. De certo modo, ela foi responsável por sua descoberta.
Ela o achará, claro; era uma espiã da Umbrella, a companhia que o tem observado por um tempo. Eles deviam
ter uma lista de todos os seus pertences, relatórios psicológicos e até cópias de suas contas bancárias. Tudo fazia
sentido, agora que tinha tempo para pensar; ele era o homem mais poderoso em Raccoon, e a Umbrella
designou sua queda.
#
Irons olhou para seus tesouros, as ferramentas e troféus que estavam nas estantes à sua frente, e não sentiu o
prazer que costumavam inspirá-lo. Os ossos polidos eram só algo para olhar enquanto sua mente trabalhava,
absorvida com a traição da Umbrella.
Anos atrás, quando ele passou a receber dinheiro da companhia para ficar cego sobre seus feitos, as coisas eram
diferentes; aí era só uma questão de política, achar uma boa posição na poderosa estrutura que controlava
Raccoon. E tudo funcionou bem por um longo tempo - sua carreira prosseguiu como previsto, ganhou o respeito
dos oficiais e cidadãos, e na maior parte, seus investimentos valeram a pena. A vida estava sendo boa.
Depois apareceu Birkin. William Birkin e sua neurótica esposa, e a filha.
Depois do que aconteceu na mansão de Spencer, ele quase se convenceu de que o S.T.A.R.S. foi o responsável,
mas agora ele percebe que foi mesmo Birkin, um ano antes da bola começar a rolar; a destruição da mansão só
adiantou as coisas. A Umbrella deve ter começado a monitorá-lo desde que conheceu Birkin - primeiro só o
observavam, instalando câmeras e microfones ocultos. Os espiões viriam depois...
Os Birkin vieram para Raccoon tal que William pudesse se dedicar ao desenvolvimento de uma versão superior ao
T-virus, baseado na pesquisa do laboratório da mansão. Por mais que William fosse esquisito e desagradável,
Irons gostava dele, desde o começo. William era o menino gênio da Umbrella, e como Irons, não reclamava de
seu cargo; Birkin era humilde, só interessado em desempenhar seu papel. Ambos eram muito ocupados para
manter uma amizade, mas havia respeito entre os dois: às vezes Irons percebia que William o observava...
E o meu erro foi deixar. Deixar o meu respeito por ele nublar meus instintos, não me deixar perceber que estava
sendo observado desde o começo.
A perda do laboratório da mansão fez passar algumas ondas pela hierarquia da Umbrella, e alguns dias depois de
explosão, Annette Birkin foi até ele com uma mensagem do marido - uma mensagem e um favor. Birkin estava
preocupado, a Umbrella iria exigir o G-virus antes de ser terminado; ele não estava satisfeito com a aplicação de
seu último trabalho, parece que a Umbrella não o deixou aperfeiçoar o processo de replicação, Irons não se
lembra direito - e com a Umbrella tentando recuperar as perdas financeiras da mansão, Birkin ficou com medo de
eles comprometerem a integridade do não-testado vírus.
Através de Annette, William pediu ajuda - e ofereceu um pequeno incentivo extra. Por cem mil, Irons teria que
ajudar a manter o G-virus encoberto - resumindo, tomar cuidado com espiões da Umbrella e ficar de olho nos
sobreviventes do S.T.A.R.S.
Dinheiro fácil, exceto por ser uma armadilha da Umbrella...
Irons foi direto para ela, e foi quando a companhia começou a conspirara contra ele, usando as informações que
conseguiram selar seu destino. Como tudo aconteceu tão rápido? O S.T.A.R.S. desapareceu, depois Birkin - e
antes de entender a situação, os ataques recomeçaram.
Irons desceu da mesa e caminhou por ela, vagarosamente tocando os cortes na madeira. Havia uma história em
cada marca, a memória de um feito - e de novo, não lhe davam prazer. A fria e calma atmosfera de seu
santuário sempre o consolou, onde praticava seus hobbies, onde ele podia ser ele mesmo - e agora não é mais
seu. Nada era, a Umbrella tirou tudo dele, tal como a cidade. Será que soltaram o vírus para pegá-lo, para roubar
seu poder - e depois mandaram aquela garota de roupa provocante para ele se divertir? Por que ela era atraente?
Eles conheciam suas fraquezas...
...e em breve ela voltará, talvez bancando a perdida, tentando me seduzir com seu indefeso comportamento.
Uma assassina da Umbrella, uma espiã exploradora, tudo o que ela é, provavelmente rindo de mim por trás
daquele rosto bonito...
Talvez a contaminação foi um acidente; da última vez que se viram, William estava instável, paranóico e exausto,
e acidentes acontecem na melhor das circunstâncias. O resto era fato, não tinha outra explicação para o quanto
arruinado Irons estava. Aquela garota estava vindo pegá-lo, ela era da Umbrella e foi enviada para matá-lo. E não
pararia aí, oh, não, ela vai achar Beverly e... e sujá-la de algum modo, só para ter certeza de que nada de Irons
sobrará.
Irons olhou em volta da pequena e suavemente iluminada sala que um dia foi sua, olhando orgulhosamente para
as bem usadas ferramentas e móveis, o doce e familiar cheiro de desinfetante emanando das irregulares paredes
de pedra.
Meu santuário. Meu.
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Ele pegou o revólver que estava em sua especial mesa de corte, a VP70 ainda era sua, e sentiu um pequeno
sorriso nos lábios. Sua vida estava acabada. Tudo começou com Birkin e vai terminar aqui, pelas suas próprias
mãos. Mas não agora.
A garota vai voltar, e ele vai matá-la, antes de dizer adeus para Beverly, antes de admitir sua derrota com um
tiro. Mas ele a fará sentir seu sofrimento antes. Por cada tortura que ele sofreu, a garota iria pagar, a conta
descontada em cada osso o mais dolorosamente possível.
Ele iria morrer, mas não sozinho. Não sem ouvir a garota gritar de agonia, criando a voz para a morte de seus
sonhos - uma voz tão verdadeira que o eco atingiria o coração dos executivos da companhia que o traiu.
A sala do S.T.A.R.S. estava vazia, desarrumada, fria e empoeirada, mas Claire não queria sair. Depois de seu
aterrorizante vôo pelos corredores do segundo andar, achar o lugar de trabalho de seu irmão a deixou aliviada.
Mr. X não a seguiu, e mesmo querendo achar Sherry e Leon, ficou com medo de voltar para o corredor - e
hesitante em deixar o único lugar que se parecia com Chris.
Onde você está meu irmão? E o que vou fazer? Zumbis, fogo, morte, seu estranho chefe e a garota perdida - e
quando as coisas não podiam ficar piores, eu dou de cara com a-coisa-que-não-quer-morrer, o monstro dos
monstros. Como eu saio dessa?
Ela sentou na mesa de Chris, olhando as fotos preto e brancas que achou no findo da gaveta; as quatro eram
deles dois, sorrindo e posando na semana que passaram em Nova Iorque no natal passado. Primeiro ela quis
chorar, mas os dois sorrindo a fizeram se sentir melhor. Mais calma. Mais forte. Ela o amava, e onde quer que
ele esteja, a amará de volta - e se ambos sobreviveram a perda dos pais, reconstruíram suas vidas e dividiram
um bobo natal por não ter um lar para ir, então eles podiam enfrentar tudo. Claire podia.
Pode e vai. Eu vou achar Sherry, Leon e se Deus quiser, meu irmão - e nós vamos sair de Raccoon.
A verdade era, ela não tinha outra escolha - mas ela precisa aceitar a falta de opções antes de agir. Uma vez ela
ouviu que bravura não era a ausência do medo, era aceitar o medo e fazer o que for necessário.
Claire respirou fundo, colocou as fotos no colete e levantou da cadeira. Ela não sabe para onde Mr. X foi, e ele
não parece ser alguém que fica esperando. Ela vai voltar para a sala de Irons e ver se Sherry voltou - ou Irons.
Se X ainda estiver lá, ela pode correr.
Além disso, eu devia vasculhar a sala e tentar achar algo sobre o S.T.A.R.S.
De pé, ela olhou em volta, desejando ter achado mais informações. Tudo o que achou de útil foi uma mochila
engraçada na mesa de trás; segundo o cartão vencido da biblioteca, a mesa era de Jill Valentine. Claire nunca a
conheceu mas Chris já falou dela algumas vezes, disse que era boa com armas...
Pena que não deixou uma para trás.
Eles devem ter deixado para trás tudo o que não era importante depois da suspensão, apesar de ainda haverem
muitos itens pessoais lá. Porta retratos, copos de café e o de costume. Ela olhou para a mesa de Barry, havia
uma arma de montar quase terminada. Barry Burton era um dos amigos mais próximos de Chris, um grande e
amigável homem, maluco por armas. Claire esperou que onde quer que Chris esteja, Barry esteja cuidando dele.
Com um lança-chamas.
Falando nisso...
Ela precisa achar outra arma, ou mais munição; ela só tinha treze balas restando, um clip inteiro. Talvez ela deva
checar alguns corpos na volta para a asa leste; mesmo correndo apavorada, ela percebeu que alguns deles eram
policiais, e seu revólver era um equipamento do R.P.D.. Claire não gostou da idéia de ter que tocar cadáveres,
mas ficar sem balas era pior - principalmente com Mr. X por aí.
Claire voltou para a porta e a abriu, organizando seus pensamentos enquanto voltava para o escuro corredor.
Deixar o escritório a fez apagar a ainda vívida imagem de Mr. X, sentindo-se vulnerável de repente. Ela foi para a
direita e começou a voltar para a biblioteca, decidindo que não pensará mais no gigante, exceto se precisar, não
insistiria na memória daqueles olhos vazios, ou do modo que ergueu o punho, como se fosse destruir tudo em
seu caminho...
... então apague tudo isso. Pense em Sherry, em como achar munição ou como lidar com Irons, caso o ache.
Pense em ficar viva.
Bem à frente o corredor virava à esquerda e Claire tentou ignorar a tarefa seguinte; se não lhe falhe a memória,
tinha um policial morto perto da curva.
- como se eu não soubesse pelo cheiro -
#
- e ela tinha que vasculhá-lo. Ele não parecia tão nojento -
Claire fez a curva e congelou, olhando. Seu estômago deu um nó, dizendo-a que estava em perigo antes mesmo
de seus sentidos. O corpo que ela tinha pulado a caminho do escritório do S.T.A.R.S. tinha virado uma enrolada e
sangrenta massa de carne, ossos quebrados e uniforme rasgado. A cabeça se foi, apesar de não saber se foi
arrancada ou se estava dissolvida na polpa. Parece que alguém martelou o corpo depois que passou por ele.
Mas como, eu não ouvi nada -
Algo se mexeu. Uma suave sombra sobre os restos a alguns metros dela, e na mesma hora, Claire ouviu um
áspero som, respirando -
- e ela olhou para cima, ainda incerta sobre o que via ou ouvia - a respiração e o tick das garras na madeira,
grossas e curvas, as garras de uma criatura que não podia existir. Grande, do tamanho de um homem adulto,
mas a semelhança terminava aí - era tão impossível que só o via por partes, sua mente forçando para juntá-las.
A inflamada e avermelhada carne da criatura pelada, seus longos membros que aderiam no teto. A inchada
massa cinzenta do cérebro parcialmente exposto. Um coroa cicatrizada onde os olhos deveriam estar.
- não estou vendo isso -
A cabeça da criatura rolou para o lado, sua grande boca abrindo, um longo fio de baba caindo e acertando o que
tinha sobrado do policial. Ele estendeu a língua, lisa e rosa, a superfície brilhando enquanto deslizava para fora. E
para fora. E para fora, a comprida língua ia de um lado para o outro, tão longa que tocou os restos do policial.
Ainda congelada, Claire olhava desacreditada enquanto a língua era recolhida, deixando pingar sangue. O processo
inteiro só levou um segundo, mas o tempo começou a passar, o coração de Claire batia tão forte que tudo mais
estava em câmera lenta - até quando a criatura pulou no chão de madeira, seu corpo girando no ar e
aterrissando agachado em cima do corpo mutilado.
A criatura abriu a boca de novo e gritou -
- e Claire finalmente conseguiu se mexer, apontando e atirando. O trovão das balas ecoaram pelo corredor,
bam-bam-bam -
- e ainda gritando, a criatura caiu de costas, seus braços batendo. As pernas chutaram pedaços de carne do
cadáver no chão; Claire viu um pedaço de pele, ainda com uma orelha grudada, voar pelo corredor e bater na
parede, deslizando até o chão -
- e a criatura se desvirou, partindo em um arremesso. Ele engatinhou até ela, rápido como um raio, agarrando o
chão com suas garras e uivando.
Claire atirou de novo, não ciente de que também estava gritando enquanto três balas acertaram a coisa,
atravessando a cinza massa que saia de seu crânio. Ela ia morrer, estará nela em menos de um segundo, as
garras estavam a centímetros de suas pernas -
- e tão subitamente quanto o ataque foi, estava acabado. Cada parte do robusto corpo tremeu, balançou
enquanto um líquido claro gotejava de sua cabeça, as grossas garras batendo no chão de madeira
ritimadamente. Com um último choro, a criatura morreu. Não houve erro desta vez. Ela acertou o cérebro, não
vai se levantar.
Ela olhou para o monstro, sua mente procurando por algo parecido, algum animal - mas ela desistiu, percebendo
que era uma causa perdida. Não era uma criatura natural e por mais que parecesse, ela finalmente sentiu o
cheiro - o odor não era tão picante quanto o dos zumbis. Era um amargo e oleoso cheiro, mais químico do que
animal...
... podia cheirar como bolachas de chocolate, quem se importa? Raccoon City ganhou monstros, é hora de parar
de ficar tão surpresa ao ver um deles.
Por mais que quisesse se sentir brava e determinada, pensou seriamente em voltar para o escritório do
S.T.A.R.S. e trancar a porta. Poderia se esconder e esperar a ajuda, poderia estar a salvo -
Decida. Faça algo, de um jeito ou de outro, pare de hesitar e choramingar, por que não é só você. Estará Sherry
a salvo? Você quer viver às custas da vida dela.
Claire deu um cuidadoso passo sobre a criatura e agachou perto do que sobrou do policial, usando a ponta da
arma para virar um pedaço do uniforme. Ela respirou bile enquanto vasculhava os restos, tentando não imaginar
quem o policial foi ou como morreu.
Nada, e agora ela só tem sete balas - mas ela rejeitou o pânico, deixando a decepção abastecer sua
determinação. Se ela examinou um monte de carne, poderia examinar outro.
Com um último olhar para a criatura, Claire levantou e andou rápido para o fim do corredor, decidida: sem se
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esconder e sem correr do medo. Pelo menos ela pode levar algum monstro consigo, aumentando as chances de
Sherry sobreviver.
Seria melhor morrer tentando do que não tentar. Ela não vai hesitar novamente.
[15]
Leon encontrou Ada no canil, fazendo força para erguer a enferrujada tampa do poço que tinha sido mencionada
pelo repórter. Ela tinha achado um pé-de-cabra e o colocou sob a tampa, seu bem definido bíceps brilhava com o
suor enquanto puxava a tampa. Ela conseguiu erguer a tampa um centímetro, mas deixou cair assim que ele
apareceu, o som metálico bem alto no vazio lugar.
Antes que ele pudesse dizer alguma coisa, ela soltou a barra no chão de cimento e olhou para cima, dando um
meio sorriso, esfregando as mãos sujas.
"Ainda bem que está aqui. Não acho que sou forte o bastante para conseguir sozinha...".
Ele não tinha certeza antes mas aquele indefeso sorrisinho apertou o nó; ela estava enganando ele, ou tentando.
Ele conheceu Ada há vinte minutos e nunca achou que ela fosse indefesa para nada.
"Parece estar indo bem". Ele disse, guardando a arma e sem se mexer para ajudar. Ele cruzou os braços,
franzindo. Não estava bravo, só curioso.
"Qual é a pressa? Pensei que você quisesse falar com o repórter. Sobre John, seu amigo da Umbrella...".
As expressões dela ficaram frias e duras, mas não de um modo ruim; ela foi bem cuidadosa para evitar as
perguntas de Leon, mas desta vez a Sra. Wong terá que explicar algumas coisas.
Ada se levantou e o olhou. "Você ouviu - ele não ia contar nada para nós. E perigoso como esse lugar é, eu não
quero ficar esperando por aí...".
A voz dela suavizou. "... e eu nem sei se John está em Raccoon. Mas eu sei que não está aqui - e eu quero sair
da delegacia antes que seja completamente dominada".
Parecia bom, mas por algum motivo, ele sentia que Ada estava escondendo algo. Por alguns segundos, ele fez
força para achar o modo correto de fazê-la se abrir - depois deixou de lado; sob as circunstâncias, agrados ficarão
suspensos.
"O que está acontecendo, Ada? Você sabe de algo e não quer me contar?".
Ela olhou para ele de novo, e de novo, ele acha que a surpreendeu - mas o olhar dela estava mais ilegível do que
nunca.
"Eu só quero sair daqui". Ela disse, e a sinceridade na sua voz era inegável. Ele podia não acreditar em nada do
que ela disse, mas nisso ele tinha que acreditar.
Queria que fosse fácil assim, mas tem a Claire, Ben, nosso amigo idiota, e só Deus sabe lá quantos outros.
Leon balançou a cabeça. "Eu não posso ir. Como eu disse, eu posso ser o único policial restando. Se ainda houver
sobreviventes, eu preciso tentar ajudá-los. E eu acho melhor você vir comigo".
Ada deu outro sorrisinho. "Eu aprecio sua preocupação, Leon, mas eu posso cuidar de mim mesma".
Ele não duvidava - mas também não queria vê-la testar suas habilidades. Ele também não foi bem testado, mas
foi treinado para lidar com situações críticas, era seu trabalho.
E seja honesto consigo mesmo - você perdeu Claire, não pode ajudar Branagh, e Ben não quis saber de sua
proteção; você não quer falhar com Ada. E você não quer ficar sozinho.
Ada parecia saber o que ele pensava. Antes que ele pudesse falar algo convincente, ela se aproximou e tocou o
braço de Leon, o humor sumindo de seus olhos.
"Eu sei que precisa fazer sua parte aqui - nós temos que sair de Raccoon, tentar sair e pedir ajuda. E os esgotos
devem ser a melhor chance que temos...".
O toque o surpreendeu - e mandou um tremor para sua barriga, deixando-o confuso e incerto. Ele tentou
esconder a sensação, mas só um pouco.
Ada continuou, franzindo, pensativamente. "Que tal isso - me ajude com a tampa e vemos o que tem lá
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embaixo. Se for perigoso, eu volto com você... mas se estiver ruim - bom, nós conversamos sobre isso depois".
Ele queria protestar, mas a verdade era, ele não podia obrigá-la a fazer algo que não queria - e ele queria muito
que ela não pensasse que ele era do tipo "machão", que ele estava aberto a um compromisso...
... e o nome John te lembra algo? Pare de pensar em seus hormônios.
Sentindo-se estranho ao pensar nisso com ela ainda o tocando, Leon se afastou, acenando ligeiramente. Juntos,
eles se agacharam perto da tampa. Leon pegou o pé-de-cabra e encaixou na tampa; assim que ele a levantava,
Ada empurrou a barra. Com um alto rangido metálico a tampa abriu -
- e ambos se afastaram por causa do cheiro que saiu do buraco, um sufocante cheiro de sangue, vômito e urina.
"Eca, o que é isso?". Leon tossiu.
Ada sentou nos calcanhares, tampando a boca com a mão. "Os corpos da garagem, devem ter sido jogados
aqui -".
Antes que ele pudesse perguntar do que ela estava falando, um grito de puro terror ecoou pelo subsolo, filtrado
pela porta fechada. O grito continuou e continuou, um homem, o aterrorizado grito mudando para um berro de
dor.
O repórter.
Leon travou seu olhar com o de Ada, viu a mesma percepção nela - e já estavam correndo, empunhando armas
e cruzando a porta antes dos ecos morrerem.
Eu o deixei, eu não devia -
Eles correram para a área das celas, a culpa fazendo Leon correr o mais rápido que podia. Alguém ou algo achou
Bertolucci.
Sherry parou no escritório de Irons, esfregando seu colar da sorte e rezando para que Claire voltasse. Ela
engatinhou por vários túneis empoeirados para se livrar do monstro e mantê-lo longe de Claire, e tinha certeza de
que funcionou - ela não o ouviu de novo e voltou só para descobrir que Claire tinha partido; se o monstro a
tivesse achado, estaria morta e partida ao meio.
Mas ela não está aqui. Ninguém está...
Sherry sentou na ponta da mesa no meio da sala, pensando no que faria. Ela tinha se acostumado com a solidão,
mas Claire mudou tudo, queria vê-la de novo, queria estar com outras pessoas, queria tanto os pais que
começou a doer. Até Sr. Irons seria bom, apesar de Sherry não gostar dele; ela só o viu algumas vezes e ele era
estranho, orgulhoso e falso - e seu escritório era pavoroso.
Mesmo assim, ela ficaria grata com a presença dele, só para não ficar sozinha -
Passos. No corredor fora da sala.
Sherry levantou e correu para a porta aberta que ia para a sala das armaduras, esperando que fosse Claire e
pronta para correr se não fosse. Ela se escondeu atrás da porta e prendeu a respiração, olhando para o tigre
empalhado e rezando.
A porta externa abriu e fechou. Abafados e vagarosos passos no carpete, e Sherry tentou correr, ao mesmo
tempo criando coragem para dar uma olhada -
"Sherry?".
Claire.
"Estou aqui!".
Ela correu par o escritório e lá estava Claire, iluminada com um sorriso. Sherry voou nos braços dela, tão feliz em
vê-la que quis chorar.
"Eu estava procurando você". Claire disse, abraçando-a fortemente. "Não corra daquele jeito de novo, está
bem?".
Claire se ajoelhou na frente dela, ainda sorrindo - mas Sherry pôde ver a preocupação em seu olhar.
"Eu sinto muito". Sherry disse. "Eu tive que correr senão o monstro viria".
Como ele se parece?". Claire perguntou, apagando o sorriso. "Ele é meio vermelho com garras?".
Sherry suspirou. "Os homens do avesso! Você viu um, não viu?".
Claire riu, balançando a cabeça. "É, é exatamente o que eu vi, um homem do avesso... boa descrição".
Claire olhou mais seriamente para Sherry, franzindo "Homens? Existem mais deles?".
"Sim, mas nem se comparam com o monstro. Eu só o vi uma vez, de costas, e é gigante -".
"Careca? Vestindo um longo casaco?".
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"Não, ele tinha cabelo, cabelo claro. E um de seus braços era todo estragado, bem mais comprido que o outro".
Claire suspirou. "Ótimo. Raccoon tem algo diferente para cada um, parece que...".
Ela segurou a mão de Sherry, esfregando-a "... e é mais uma razão para ficar comigo. Você fez um ótimo
trabalho cuidando de si mesma, foi muito corajosa - mas até acharmos seus pais, é meu dever cuidar de você. E
se o monstro vier, eu vou - eu vou chutar o traseiro dele, tá bom?".
Sherry riu, surpresa. Ela gostava de Claire falando para cima com ela. Sherry acenou e Claire esfregou sua mão
de novo.
"Bom. Então nós temos zumbis, homens do avesso, e um monstro. E um grandão careca... Sherry, você sabe o
que aconteceu em Raccoon? Como tudo isso começou, pode dizer qualquer coisa - pode ser importante".
Sherry franziu, pensando. "Bom, houve um monte de mortes em Maio e Junho passado, acho - umas dez
pessoas foram mortas. Depois a mortes pararam, e algumas semanas atrás alguém foi atacado de novo".
Claire acenou. "Certo. Mais alguém foi atacado, ou... o que a polícia fez?".
Sherry balançou a cabeça. "Eu não sei. Logo depois que aquela garota foi atacada, minha mãe ligou do trabalho
muito preocupada, disse que eu não podia sair de casa. A Sra. Willis - nossa vizinha - veio fazer o jantar para mim
e assim soube daquela garota. Mamãe ligou de novo no dia seguinte, e me disse que papai e ela estavam presos
no laboratório e não voltariam por um tempo - e então, três dias atrás, ela pediu que eu viesse para cá. Eu fui
ver se a Sra. Willis viria comigo, mas sua casa estava escura e vazia. Acho que as coisas já estão bem ruins".
Claire ouvia atentamente "Você ficou sozinha todo esse tempo? Mesmo depois que chegou aqui?".
"Bem, sim, mas eu sempre fico sozinha. Meus pais são cientistas; seus trabalhos são importantes e às vezes não
podem interrompê-los. Minha mãe sempre diz que eu sou auto-suficiente quando quero".
"Você sabe que tipo de trabalho seus pais fazem? Na Umbrella?
"Eles fazem curas para coisas, para doenças". Sherry disse orgulhosa. "Eles fazem remédios, soros que hospitais
usam...".
Sherry parou, percebendo que Claire parecia distraída, seu olhar bem distante. Era o olhar que viu muitas vezes
nos rostos de seus pais - e significava que não estavam mais ouvindo. Mas assim que parou de falar, Claire
voltou para ela, tocando seu ombro - e por algum motivo bobo, aquilo a fez querer chorar novamente.
Deve ser porque ela está me ouvindo. Porque ela quer cuidar de mim.
"Sua mãe está certa,". Claire disse gentilmente. "você é muito auto-suficiente, e o que fez até agora diz que é
muito corajosa, também. Isso é bom, por que nós duas precisamos ser fortes para sairmos daqui".
Sherry abriu mais os olhos. "Como assim. Deixar a delegacia? Mas tem zumbis por toda a parte, e eu não sei
onde os meus pais estão, e se eles precisam de ajuda ou estão me procurando -".
"Meu bem, eu tenho certeza de que eles estão bem". Claire disse rapidamente. "Eles ainda devem estar no
laboratório, escondidos em segurança, igual você esteve - esperando ajuda para, para fazer tudo ficar melhor -".
"Você diz, matar todo mundo,". Sherry disse. "eu tenho doze anos, sabe, não sou mais um bebê".
Claire sorriu. "Desculpe. É, para matar todo mundo, sim. Mas até os homens bons virem, nós ficaremos juntas. E
a melhor e mais inteligente coisa a fazer é sair do caminho deles - o mais longe possível. Você tem razão, as ruas
não são seguras, mas quem sabe nós achamos um carro...".
Claire se levantou e foi até a mesa de Irons, olhando em volta. "Talvez Chefe Irons tenha deixado as chaves do
carro aqui, ou outra arma, algo que possamos usar -".
Claire viu algo no chão atrás da mesa. Ela se agachou e Sherry foi atrás, tanto para ficar perto quanto para ver o
que ela tinha achado.
"Tem sangue aqui". Claire disse tão baixo que parecia não ter dito nada.
"E?".
Claire olhou para a parede, franzindo, depois voltou para a grande mancha de sangue no chão. "Ainda está
úmido. Repare como ela é simplesmente cortada. Devia ter mais na parede aqui...".
Ela bateu na parede, ouvindo um som vazio, oco.
"Tem alguma sala aí atrás?". Sherry perguntou.
"Eu não sei, parece que sim. E explicaria para onde ele levou... por onde ele tinha saído antes. Chefe Irons".
Claire olhou para Sherry enquanto corria a mão pela parede e empurrando. "Sherry, veja se tem algum botão ou
alavanca perto da mesa. Acho que deve estar escondido em algum lugar, talvez em uma das gavetas...".
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Sherry começou a andar atrás da mesa - e tropeçou, seu pé deslizando em algum lápis. Ela se segurou na mesa
para recuperar o equilíbrio, mas ainda assim caiu de joelhos.
"Ai!".
Claire estava à sua direita, já segurando seus ombros. "Você está bem?".
"Estou. Eu só - ei! Olha!".
Sherry apontou para um botão sob a mesa, no meio de uma placa de metal. Parecia um interruptor de luz, mas
tinha que ser para a porta secreta, ela sabia.
Eu achei!
Claire viu e apertou - e atrás delas, um seção da parede deslizou para cima, desaparecendo no teto, e expondo
uma outra sala de tijolos. Um frio e úmido ar entrou no escritório; era uma passagem secreta, igual às dos filmes.
Juntas, se levantaram e entraram na abertura, Claire segurando Sherry até olhar primeiro. A pe-quena sala
estava vazia - três paredes de tijolos, chão de madeira e uma grande e antiga grade de elevador na parede da
direita, daquelas que abrem para o lado.
"Nós vamos pegá-lo? Sherry perguntou. Ela estava ansiosa e nervosa.
Claire pegou sua arma, se agachou para Sherry e sorriu - mas não era um sorriso feliz, e Sherry já sabia o que ia
ouvir.
"Meu bem, acho que vai ser mais seguro se eu descer e dar uma olhada, e você ficar aqui -".
"Mas você disse que ficaríamos juntas! Você disse que podíamos pegar um carro e fugir! E se o monstro voltar e
você não estiver aqui, ou se você morrer?".
Claire a abraçou, e Sherry quase enjoou de tanta raiva. Ela ia dizer para não se preocupar, que o monstro não vai
voltar, que nada ruim ia acontecer - e depois iria embora.
Adultos mentirosos -
Claire se afastou, tirando o cabelo do rosto de Sherry. "Eu não a culpo por estar assustada. Eu também estou.
Esta é uma situação ruim - e sinceramente, eu não sei o que vai acontecer. Mas eu quero fazer a coisa certa por
você, e isso quer dizer que eu não vou levá-la para um lugar onde pode se machucar, não se eu puder ajudar".
Sherry guardou as lágrimas e tentou de novo. "Mas eu quero ir com você... e se você não voltar?".
"Eu vou voltar,". Claire disse. "eu prometo. E se - se eu não voltar, eu quero que se esconda novamente. Alguém
virá ajudar em breve, e vão te achar".
Pelo menos estava sendo honesta; Sherry não estava gostando, e não tinha nada que pudesse mudar a decisão
de Claire. Poderia agir como um bebê ou apenas aceitar.
"Tome cuidado". Claire disse, e abraçou Sherry antes de ficar de pé e ir para a o elevador. Ela apertou o botão ao
lado da grade e um leve hum foi ouvido; depois de alguns segundos a cabine veio de baixo, parando gentilmente.
Claire abriu a grade e entrou, virando para ver Sherry.
"Fique aqui, querida, eu voltarei em alguns minutos".
Sherry forçou um aceno - e Claire fechou a grade. Ela apertou algo lá dentro e a cabine desceu, seu sorriso
saindo de visão, deixando a garota sozinha na fria passagem.
Sherry sentou-se no chão empoeirado e abraçou os joelhos. Claire era corajosa e esperta, ela voltará logo, ela
tem que voltar logo...
"Eu quero minha mãe". Sherry cochichou, mas ninguém estava lá para ouvir. Ela estava só de novo; tudo o que
menos queria.
Mas eu sou forte. Eu sou forte e posso esperar.
Ela descansou a bochecha em um joelho, tocando seu colar da sorte, e começou a esperar por Claire.
[16]
Annette Birkin sentou-se na sala de monitoramento, exausta, observando a parede de monitores centrada sobre
a mesa de vigilância. Ela tem estado lá pelo que parecem anos, esperando William aparecer, e começou a pensar
#
que não iria. Ela vai esperar mais um pouco - mas se não vê-lo em breve, terá que fazer outra busca.
Maldita tecnologia...
É um sistema novinho em folha, tem menos de um mês - vinte e cinco telas com um controle de canais que
deveria permiti-la ver cada canto desse laboratório. Um brilhante avanço na segurança - exceto por onze ainda
estarem funcionando, e mais da metade dessas estarem mostrando estática. Das cinco que ainda podia ver
claramente, tudo o que via - e tinha o que ver - estava morto, corpos podres e o ocasional Re3, que comia ou
dormia.
"Lickers (linguarudos). Você os chama de lickers por causa de suas línguas...".
Ela achou que tinha passado pelo pior da dor, mas o solitário som de sua voz na fria e cavernosa câmara, a fez
perceber que não tinha ninguém para responder - não haverá mais ninguém para responder. William se foi, se foi
e ela estava falando sozinha.
Annette abaixou a cabeça na mesa de controle, fechando seus cansados olhos. Pelo menos não haviam mais
lágrimas; ela já tinha despejado um oceano delas desde que a Umbrella veio atrás do G-virus. Agora só há dor,
combinada com fúria pelo que a Umbrella tinha feito.
Mais um mês, talvez dois, e nós teríamos dado a eles, sem nenhuma força. E William teria entrado para a
comissão de executivos e nós ficaríamos felizes. Todos ficariam -
Houve um fraco ruído vindo de um dos monitores. Annette olhou para cima esperando e tremendo - mas era só
um licker, um andar acima, no centro cirúrgico. Ele tinha acordado e caído do teto para jantar um dos técnicos,
uivando estupidamente para si mesmo enquanto rasgava o abdômen do corpo. O homem morto parecia ser Don
Weller, um dos intermediários do laboratório químico; ele estava tão mutilado quanto a inumana aparência do Re3
que o comia.
Ela observou o licker se alimentar, olhando para o monitor mas não o vendo; sua mente pensando no que tinha
sobrado para fazer. Ela já tinha apagado todos os computadores e os travado com códigos; o laboratório estava
pronto e sua rota de fuga era segura. Só que ela não podia terminar tudo até vê-lo de novo, ver que ele tinha
voltado para o laboratório da Umbrella. Destruir o lugar não adiantaria nada se ele não estivesse na zona de
explosão; eles o encontrariam e extrairiam o vírus de seu sangue...
... mas a Umbrella não vai consegui-lo. Eu vou morrer antes de deixá-los conseguir, então me ajude, Deus.
Seu único consolo era que a Umbrella não conseguiria por suas mãos gananciosas na síntese de William. E nunca
porão. Tudo o que foi usado na criação do G-virus será enterrado sobre toneladas de destroços, junto com
William e todos os monstros que eles criaram para a companhia. Depois ela irá se esconder por um tempo, se
recuperar e considerar suas opções - e então, venderá o G-virus para a concorrência. A Umbrella era a maior,
mas não era a única trabalhando em armas biológicas - quando Annette estiver quite com ela, não será mais a
maior. A vingança era tudo o que tinha restado.
"Exceto por Sherry". Annette cochichou, e a lembrança de sua jovem filha fez seu coração doer. Desde que
Sherry nasceu, Annette quis ter passado mais tempo com ela, se concentrar no bebê ao invés de ser parte do
brilhante trabalho de William.
Os anos se passaram e as promoções de William continuaram vindo, o trabalho ficou mais interessante e valioso -
e apesar de ambos terem prometido fazer um esforço para desenvolver a vida familiar, continuaram adiando.
E agora é tarde demais. Nunca seremos uma família, nunca seremos pais juntos. Todo aquele tempo perdido,
trabalhando para uma companhia que acabou nos esgotando...
Não adianta mais pensar em como teria sido. Tudo o que podia fazer era não deixar a Umbrella tirar mais nada
da família Birkin. William se foi, mas ainda tinha Sherry; essa parte dele continuará, e Annette poderá ser a mãe
que deveria ter sido. Claro, ela terá de esperar alguns meses antes de pegar Sherry, esperar a coisas se
acalmarem. Mas a garota ficará bem; os policiais a levarão para morar com a irmão de William, estava em ambos
os testamentos...
... a não ser que Irons ainda esteja vivo. Aquele gordo ganancioso achará um jeito de estragar até isso.
Ela esperava que estivesse morto; mesmo se não fosse responsável pelo que a Umbrella fez, Brian Irons era
nojento e arrogante, com a moral de uma lesma. Depois de anos de lealdade à companhia, foi comprado por
míseros cem mil dólares. Até William, que tinha uma opinião mais baixa sobre o chefe da polícia do que ela, se
surpreendeu...
Na tela, o Re3 terminou de comer. Tudo o que sobrou do corpo foram as costelas ensangüentadas e a parte de
trás do crânio. O licker saiu de visão, deixando um rastro escuro no chão. Graças ao T-virus, todas séries répteis
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foram eficientes assassinos, apesar dos Re3 terem apresentado falhas - o cérebro exposto era a mais óbvia, e
também tinham um ridículo alto índice de metabolismo; mantê-los alimentados foi uma discussão constante.
Não é mais problema. Tem vários corpos por aí - mais cedo ou mais tarde poderão comer algo quente...
Annette sentiu falta de energia, não queria sair da sala - mas não podia ficar esperando William aparecer. Ela o
ouviu no nível três uns dois dias atrás, mas não o via a quase quatro; ela não podia ficar esperando. O pessoal da
Umbrella já deve estar pensando em como entrar - mesmo com o computador central apagado, haviam outros
modos de passar pelas portas -
- e William pode ter saído. Não posso mais negar isso, não importa o quanto eu queira.
Havia uma fábrica à oeste do laboratório, uma companhia de transporte que foi comprada pela Umbrella, para
assegurar que os níveis subterrâneos ficassem secretos; foi assim que a Umbrella conseguiu construir o complexo
sem levantar suspeitas, escondendo equipamentos e materiais nos galpões, e usando a grande plataforma móvel
para transportá-los. Apesar das entradas da fábrica ainda estarem fechadas, desde que verificou pela última vez,
havia uma possibilidade de que William possa ter saído - e se chegou na fábrica, podia chegar aos esgotos.
Annette esforçou-se para levantar, ignorando as cãibras nas pernas e costas enquanto pegava a arma da mesa.
Ela não sabia muito sobre armas, mas aprendeu bem rápido depois que -
- que eles vieram pegar o G-virus, os homens usando máscaras de gás, atirando e correndo - e William, pobre
William, morrendo numa poça de sangue, e eu não vi a seringa antes de ser tarde demais -
Ela respirou fundo, tentando esquecer essa terrível memória, tentando esquecer o incidente que tirou William dela
e transformou Raccoon na cidade dos mortos. Isso não importava mais. A jornada à frente não será prazerosa,
e ela tinha que se concentrar. Fuja dos Re3, humanos no primeiro e segundo estagio de infecção, os
experimentos de botânica e a série de aracnídeos - ela podia se deparar com qualquer um deles, sem mencionar
o que a Umbrella possa ter enviado.
E William. Meu marido, meu amado - o primeiro humano portador do G-virus, que já não é mais humano.
Annette estava errada sobre achar que não tinha mais lágrimas. Ela parou no meio da vasta e esterilizada sala,
cinco andares sob a superfície de Raccoon, e chorou, perdida, respondendo aos estímulos que nunca se quer
tinham tocado a dor de sua solidão.
A Umbrella sentirá muito. Uma vez certa de que William esteja fora do alcance deles, ela destruirá o laboratório,
fugirá com o G-virus, os fará entender como estragaram tudo - e que Deus ajude quem tentar impedi-la.
[17]
Ada correu pelo bloco das celas, a um passo atrás de Leon, bem a tempo de ver o repórter sair da cela e cair no
chão. "Ajude-o!".
Leon gritou, e passou por Bertolucci para verificar a cela. Ada parou em frente ao sufocado repórter, mas ignorou
a ordem, esperando ver a criatura que o atacou sair da cela -
- ele estava atrás das grades, como isso aconteceu -
Ela esperou, mirando na cela, seu coração pulando - e viu a confusão no olhar de Leon. Pelo modo como olhava,
a disse que a cela estava vazia. A não ser que o agressor fosse invisível...
Sem chance. Não comece a pensar nisso.
Ada se ajoelhou ao lado do repórter, percebendo imediatamente que ele não estava bem - nada bem. Ele tinha
se sentado e encostado na parede que dividia as duas celas. Ele ainda respirava. Ada já tinha visto essa
aparência antes, o distante olhar, a tremedeira, a palidez - mas ela não via o porquê, e isso a assustava. Não
havia ferimentos. Deve ter sido um ataque cardíaco, talvez um derrame -
- mas aquele grito.
"Ben? Ben, o que aconteceu?".
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Seu vacilante olhar vidrado no dela, e Ada viu que os cantos de sua boca estavam rasgados e sangrando. Ele
abriu a boca para falar, mas tudo o que saiu foi um resmungo.
Leon se agachou junto a eles, confuso, também. Ele balançou a cabeça para ela, respondendo a pergunta que
não tinha feito; não haviam sinais do que tinha acontecido.
Ada olhou para Bertolucci e tentou novamente.
"O que foi, Ben? Você consegue nos dizer o que aconteceu?".
As trêmulas mãos do repórter subiram pelo corpo até pararem no peito. Com um esforço visível, ele tentou dizer
uma palavra.
"...abertura...".
Ada não tinha certeza. As aberturas nas paredes das celas eram muito pequenas e muito distantes do chão -
nada mais do que um tubo de ventilação que dava na garagem. Nada podia ter passado por lá.
Bertolucci ainda tentava falar. Ada e Leon se aproximaram, tentando entender suas palavras.
"... peito. Queima, tá... queimando...".
Ele estendeu a mão de repente e agarrou o braço dela, encarando-a com uma intensidade que a surpreendeu.
Ele apertou fracamente, com desespero em seus olhos.
"Eu nuca falei... sobre Irons". Ele respirou, fazendo força para continuar vivo até dizer tudo. "Ele está -
trabalhando para a Umbrella... todo esse tempo. Os zumbis - são pesquisas da Umbrella... e ele acobertou os
assassinatos, mas eu não consegui - provar, ainda... ia ser meu - furo".
Bertolucci fechou os olhos, respirando forte enquanto soltava o braço dela, e ela sentiu pena dele ao invés de si
mesma. Seu grande segredo era que a Umbrella tinha armas biológicas e Irons estava nessa. Teria sido um
grande furo.
Ele não sabe nada sobre o G-virus, nunca soube - e vai morrer sem reconhecimento.
"Jesus," Leon disse suavemente. "o chefe Irons..."
Bertolucci começou a ter convulsões, suas mãos apertando seu peito enquanto gemia de agonia. Suas costas se
curvaram, seus dedos como garras -
- e o gemido virou líquido enquanto sangue começou a borbulhar em sua boca. Engasgando e tremendo, seus
membros se debateram violentamente, espirros de sangue voando a cada tossida -
- e Ada viu vermelho surgir na camisa branca sob as mãos dele, ao som de ossos quebrando. Ela se afastou
assim que Leon tentou segurar as mãos de Ben, incerto do que estava acontecendo, mas certo de que não era
um ataque cardíaco -
- Santo Deus, o que é aquilo?
Tudo ao mesmo tempo, Ben foi para a frente e seus olhos viraram. Sangue ainda saía de sua boca e houve um
som, um horrível som de carne sendo rasgada, e sob sua camisa, algo mexeu.
"Afaste-se". Ada gritou apontando sua Beretta para Ben, e no segundo que levou para ela mirar, uma coisa
emergiu do ensangüentado peito de Bertolucci. Uma coisa do tamanho de uma mão, que abriu a boca e deu um
baixo berro, mostrando afiados e vermelhos dentes. O bicho saltou do corpo com uma chicoteante cauda, caindo
no cimento junto com pedaços de pele e carne - e correu como uma bala na direção do portão aberto para o
corredor, sua cauda balançando e pernas que Ada não conseguia ver, deixando um rastro vermelho para trás.
A coisa passou pelo portão antes de ela se lembrar que tinha uma arma; ela estava tão chocada que não pensou
em reagir. Uma criatura parasita que rasga seu peito - direto de um filme de ficção...
"O que era - você viu -". Leon disse, sem fôlego.
"Eu vi". Ada cochichou, interrompendo-o. Ela virou e olhou para Bertolucci, para seu rosto, estático numa
contorção angustiosa, e para o rasgo em seu peito.
A boca, rasgada nos cantos...
A criatura foi implantada nele - mas pelo que? Ela não sabia, e nem queria saber. Ela queria completar a missão e
sair de Raccoon o mais rápido possível. De fato, ela nunca quis tanto uma coisa. Quando se deu conta de que
houve um acidente com o T-virus, não esperava ter que lidar com organismos desagradáveis.
Ela olhou para Leon, desistindo de tentar ser razoável. Ela ia para o laboratório e não tinha o que discutir.
"Estou saindo daqui". Ela disse, e sem esperar respostas, virou-se e andou rapidamente para o portão, atenta
para não pisar no rastro de sangue.
"Espere! Olha, eu acho - Ada? Ei...".
Ela saiu no corredor de arma erguida, mas a criatura já tinha sumido. O rastro desaparecia no meio do corredor -
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e viu que eles tinham esquecido a porta do canil aberta -
- e a tampa do poço também. Que ótimo.
Leon a alcançou e parou na sua frente. Por um momento, Ada achou que ele a fosse parar fisicamente.
Não faça isso. Eu não quero te machucar, mas vou se for preciso.
"Ada, por favor, não vá". Leon disse, não uma ordem, mas sim um pedido. "Eu - quando cheguei em Raccoon,
conheci uma garota e acho que ela está na delegacia. Se você puder me ajudar a encontrá-la, poderemos fugir
juntos. Teríamos mais chances -".
"Sinto muito, Leon, mas esse é um maldito país livre. Você faz o que tem que fazer, e boa sorte - mas eu não
vou ficar. Já foi o bastante. Se - quando eu sair, mandarei ajuda".
Ada passou por ele, esperando que não houvesse violência e que ele não tentasse impedi-la - vai ser muito
perigoso se ele tentar - foi quando ele a surpreendeu de novo.
"Então eu vou com você". Ele disse, seu olhar firme, decidido - e assustado. "Eu não vou deixar você ir sozinha.
Nem ninguém - não quero que você se machuque".
Ada olhou, sem saber o que dizer. Depois que Bertolucci morreu, ela não queria enganar Leon nos esgotos,
considerando o quanto extenso o sistema era... mas ele era tão bom, tão determinado em ajudar que ela estava
começando a - a não querer fazer mal a ele. Tudo seria mais fácil se ele fosse algum idiota metido a machão...
Tá bom, tire seu disfarce. Diga que é uma agente particular querendo roubar o G-virus e não quer companhia;
diga sobre o alívio que sentiu ao saber que o repórter iria morrer, ou que não tem problemas para tirar uma vida,
se for por uma boa causa - como ser paga. Veja o quanto bom ele será depois disso.
Não é uma opção. Mas havia uma parte dela que não queria admitir, uma parte que não queria ficar só. Ver o
que aconteceu com Bertolucci a fez perceber que não era tão invulnerável quanto gostava de pensar.
Então deixe-o vir, ache um lugar seguro no laboratório para deixá-lo. Sem danos nem sujeira.
Leon a olhava de perto, estudando-a - esperando sua aprovação.
"Vamos". Ela disse, e o sorriso que ele deu, apesar de vitorioso, a fez se sentir mais desconfortável.
Sem outra palavra, eles foram para o canil, Ada pensando no que estava fazendo - mas ainda capaz de fazer o
que for necessário para completar a missão.
Claire parou na frente de uma porta medieval no fim do escuro corredor o qual o elevador a tinha levado. A
delegacia era fria, mas a gelada umidade das pedras na parede do corredor fazia a delegacia parecer o verão; é
como se ela tivesse descido no calabouço de um castelo assombrado da Idade Média.
Ela respirou fundo, decidindo como entrar; ela estava certa de que Irons não gostaria de uma visita surpresa,
mas a idéia de bater era absurda - e perigosa. Haviam tochas acesas em suportes, uma de cada lado da porta
de madeira, a mesma envolta numa moldura de metal enferrujado.
Um túnel secreto, uma porta escondida com iluminação ambiente... que pessoa sã moraria aqui? Não foi o
desastre que fez isso - Irons devia ser louco bem antes do acidente da Umbrella...
Quando Sherry disse o que seus pais faziam para viver e o que aconteceu antes de chegar à delegacia, algo
clicou. A Umbrella trabalhava com doenças e a população de Raccoon certamente teve um grave caso de algo.
Deve ter sido algum tipo de acidente, um vazamento que soltou a estranha praga zumbi...
Claire mordeu o lábio, incerta do que fazer. Ela sabia que Irons estava em algum lugar lá embaixo, e não queria
vê-lo de novo; talvez ela deva voltar, pegar Sherry e tentar achar outra saída. Só porque é uma área secreta não
significa que haja uma saída lá.
Sherry estava lá em cima sozinha. E você tem uma arma, lembre-se?
Uma arma com poucas balas. Se for o esconderijo de Irons, devem haver armas lá dentro... ou apenas outro
corredor. Mas imaginar não a dirá nada.
Claire tocou a maçaneta e respirou fundo. A pesada porta abriu vagarosamente em dobradiças bem cuidadas. Ela
recuou apontando a arma -
Jesus.
Uma sala vazia, tão úmida e não receptiva quanto o corredor - mas com móveis e uma decoração que fez sua
pele arrepiar. Uma única lâmpada estava pendurada no teto, iluminando a mais pavorosa câmara que já tinha
visto. Tinha uma mesa no meio da sala, manchada e batida, um serrote e outros objetos cortantes espalhados
em cima; um balde de metal e um esfregão encostados numa parede, ao lado de uma estante cheia de
recipientes empoeirados - e o que pareciam ossos humanos, polidos e brancos, postos como troféus. Isso, e o
cheiro - um pesado e ácido cheiro químico que envolvia um outro pior. Um cheiro como loucura.
Só de olhar a sala a fez enjoar; "louco" devia ser o nome do ano do chefe da polícia - mas não havia ninguém lá.
Isso quer dizer que deve haver outra passagem secreta lá dentro. Pelo menos ela pode procurar por armas.
Engolindo, Claire entrou na sala, grata por não ter trazido Sherry; olhar para essa câmara de tortura a daria
pesadelos -
"Parada, mocinha, ou eu atiro".
Claire congelou. Cada músculo de seu corpo travou assim que Irons começou a rir atrás dela, de trás da porta
onde não pensou em olhar.
Oh, meu Deus, oh, Deus, oh, Sherry eu sinto muito -
O riso de Irons cresceu para a pura e alegre gargalhada de um louco, e Claire entendeu que iria morrer.
CONTINUA
Raccoon Times - 26 de Agosto de 1998
Plano "manter a cidade segura"
RACCOON CITY - Na frente da prefeitura, o Prefeito Harris anunciou ontem à tarde, em uma coletiva, que o conselho da cidade estará contratando pelo menos dez novos policiais para se juntar à polícia de Raccoon, por causa dos assassinatos brutais que atormentaram Raccoon no começo deste verão e devido a suspensão do S.T.A.R.S.. Junto com o Chefe Irons e todo os membros do conselho de Raccoon, Harris assegurou os cidadão e repórteres que a cidade será mais uma vez uma comunidade segura na qual se vive e trabalha, e que a investigação dos onze assassinatos "canibais" e dos três ataques animais fatais estão longe da solução.
"Só porque ninguém foi atacado no mês passado significa que os oficiais eleitos desta cidade podem relaxar" declarou Harris. "As boas pessoas de Raccoon merecem ter confiança em sua força policial e estarem seguras de que seus representantes políticos estão fazendo de tudo para dar segurança aos cidadãos. Como muitos de vocês sabem, a suspensão do S.T.A.R.S. será provavelmente permanente. Aquela unidade de investigação de assassinatos e sua subseqüente desaparição de Raccoon City sugere que eles não se importam com essa comunidade - mas eu quero assegurar vocês que nós nos importamos, e que eu, o Chefe Irons e os homens e mulheres que vocês vêem aqui, não queremos mais nada senão fazer de Raccoon um lugar a qual nossas crianças possam crescer sem medo".
Harris continuou a detalhar um plano de três pontos feito para reforçar a confiança e manter os cidadãos de Raccoon longe da violência.
Além de contratar de dez a doze policiais, o horário de recolher permanecerá ao menos até Setembro, e o Chefe Irons irá pessoalmente comandar uma força tarefa de alguns oficiais e detetives para continuar a busca dos assassinos que tiraram as vidas de onze pessoas entre Maio e Julho deste ano...
Cityside - 4 de Setembro de 1998
Renovação do complexo da Umbrella
RACCOON CITY - A instalação química da Umbrella no sul do centro da cidade começará a ser reformada na próxima Segunda-feira. Esta será a terceira renovação estrutural semelhante a do ano passado para a companhia. De acordo com a porta-voz da Umbrella, Amanda Whitney, dois dos laboratórios dentro da instalação principal serão adaptados com novos equipamentos projetados para síntese de vacinas e receberá um moderno sistema de segurança. Em adição, todos os escritórios conectados terão seus computadores atualizados na próxima semana.
Mas será isso um problema para o trânsito do centro da cidade? Whitney diz, "com o prédio do R.P.D. ainda terminando uma de suas reformas, os passantes locais já estão ficando cansados de ruas bloqueadas. Nós estamos fazendo de tudo para não interferir no trânsito; a maior parte da construção será interna e o resto será feito depois das horas de trabalho". O pátio do R.P.D., nossos leitores devem se lembrar, foi repavimentado e ajardinado depois que algumas rachaduras misteriosas apareceram no cimento; o tráfego teve que ser desviado por dois quarteirões na Rua Oak durante seis dias.
Ao perguntarmos porque tantos "reparos" ultimamente, Whitney respondeu, "a Umbrella tem estado na frente da competição há tanto tempo quanto continua com a atual tecnologia. Estes serão meses de trabalho, mas eu acho que valerá o esforço...”.
Raccoon Weekly Editorial - 17 de Setembro de 1998
Irons vai se candidatar?
RACCOON CITY - O Prefeito Harris pode estar numa difícil corrida na próxima primavera. Notícias de dentro do R.P.D. estão dizendo que Irons, Chefe da Polícia pelos últimos quatro anos e meio; pode estar concorrendo para chegar ao topo do ministério na próxima eleição, contra o popular, e sem oposição Devlin Harris, já no poder por três períodos consecutivos. Embora Irons não tenha confirmado os fatos, o ex-membro do S.T.A.R.S. recusou a negação do rumor.
Com sua popularidade bem alta desde o encerramento do caso dos assassinatos neste verão (ainda não resolvido) e da expansão planejada do RPD, Irons pode ser o homem que tirará Harris da Prefeitura; a questão é, serão os eleitores capazes de esquecer o suposto envolvimento de Irons nos fundos de campanha ilegais em Cider District? Ou seus caros gostos em arte e design interior, o qual tornaram o RPD em algo mais parecido com um museu?...
Raccoon Times - 22 de setembro de 1998
Adolescente atacada no parque
RACCOON CITY - Há aproximadamente 18:30h da noite passada, Shanna Williamson de quatorze anos foi surpreendida por um estranho no parque da Rua Birch no centro da cidade, quando voltava do treino para casa.
O homem veio de trás de uma cerca no parque e a derrubou de sua bicicleta antes de tentar agarrá-la. A jovem conseguiu sair de lá com alguns arranhões, e correu para a residência de Tom e Clara Atkin; Clara chamou as autoridades, que conduziram uma busca no parque, mas não acharam nenhum sinal do agressor.
De acordo com a garota (através de um depoimento hoje de manhã), o homem pareceu ser um pedestre: suas roupas e cabelos estavam sujos, e cheirava mal, "um cheiro de fruta podre". Ela disse que ele parecia bêbado, vacilando e caindo depois dela.
Com a onda de assassinatos de Maio para Julho ainda não resolvidos, o RPD está levando este fato seriamente: o agressor mostrou uma evidente semelhança com os membros da "gangue" do Victory Park em Junho deste ano.
Harris convocou uma coletiva para hoje, e Irons já declarou que o primeiro dos novos policiais chega na próxima semana, e que viaturas patrulharão os parques do centro da cidade...
https://img.comunidades.net/bib/bibliotecasemlimites/3_CITY_OF_THE_DEAD.jpg
[1]
Com o pessoal esperando no carro de Barry lá fora, Jill fez o possível para se apressar. Não era fácil, a casa tinha
sido revirada desde a última vez que esteve lá. Livros e papéis espalhados pelo chão, e estava muito escuro para
andar facilmente. O fato de sua casa ter sido violada era preocupante, mas já era de se esperar. Ela devia estar
agradecida por não ser do tipo sentimental - e pelos intrusos não terem achado seu passaporte.
Na escuridão de seu quarto, Jill pegou meias limpas e calcinhas e as colocou em sua mochila, desejando poder
acender as luzes. Fazer as malas no escuro era mais difícil do que se imaginava, mais ainda com a casa
bagunçada; mas eles não podiam se arriscar. Era improvável que suas casas estavam sendo vigiadas, mas se
alguém estiver olhando, uma luz poderia abrir fogo.
Pelo menos você vai embora. Chega de se esconder.
Eles estavam indo para território estrangeiro, invadir o quartel inimigo e provavelmente serem mortos no
processo, mas pelo menos ela não ficará mais em Raccoon. Pelo que ela leu nos jornais ultimamente, era a
melhor escolha. Dois ataques na semana passada... Chris e Barry estavam cientes do perigo, mesmo sabendo o
que o T-virus fazia com as pessoas - Barry pensou que isso era algum tipo de truque, que a Umbrella "salvaria"
Raccoon antes de alguém se machucar. Chris concordou, mas Jill não estava preparada para assumir nada; a
Umbrella já mostrou que não consegue conter suas experiências. E com o que Rebecca, David e sua equipe
enfretaram em *Maine...
Agora não é hora para pensar nisso - eles tinham um avião para pegar. Jill pegou a lanterna da penteadeira e
estava indo para a sala quando lembrou que só tinha um sutiã consigo. De cara feia, ela virou para a gaveta
aberta e começou a procurar. Ela já tinha roupas o bastante, escolhidas do que Brad deixou para trás quando
fugiu de Raccoon; ela e os outros ficaram na casa dele por várias semanas, desde que a Umbrella atacou a casa
de Barry. Nenhuma roupa de Brad serviu em Chris nem em Barry. Lingerie não era algo que o piloto do
S.T.A.R.S. tinha guardado. Ela não queria parar o avião para comprar roupas íntimas.
Colocando-os na mochila, Jill voltou para a pequena sala da casa. Tinha uma foto de seu pai em uma das
estantes que ela queria pegar. Era a segunda vez que foi lá desde que começaram a se esconder. Ela sente que
não voltará tão cedo.
Andando agilmente pelo escuro, ela ergueu a lanterna e a apontou para o canto onde a estante estava. A
Umbrella bagunçou tudo. Só Deus sabe o que eles estavam procurando. Pistas do nosso esconderijo,
provavelmente; depois do ataque na casa de Barry e a desastrosa missão à Caliban Cove, ela não acha que a
Umbrella ignoraria essas informações.
Jill iluminou o livro que queria, o título era Prison Life; seu pai teria rido. Ela pegou o livro e começou a folheá-lo,
parando quando a luz caiu sobre o sorriso de Dick Valentine. Ele tinha mandado a foto junto com sua última carta.
Ela tinha posto no livro para não perdê-la. Esconder coisas importantes era um hábito que adquiriu quando jovem.
Ela soltou o livro, a pressa foi embora de repente, ao olhar para a foto. Um leve sorriso surgiu em seu rosto. Ele
era o único homem que ficava bem no uniforme laranja da prisão.
Jill pensou no que ele acharia da situação atual; ele foi o responsável pelo envolvimento dela com o S.T.A.R.S..
Depois de preso, ele a encorajou a abandonar essa vida, dizendo que foi um erro treiná-la como uma ladra...
... aí eu peguei um trabalho legítimo, trabalhando para a sociedade ao invés de contra ela - aí as pessoas em
Raccoon começaram a morrer. O S.T.A.R.S. descobriu uma conspiração para criar armas biológicas com um vírus
que torna coisas vivas em mortas. Obviamente ninguém acreditou em nós. Os S.T.A.R.S. que não podem ser
comprados pela Umbrella, perdem a credibilidade ou são eliminados. Agora nós iremos para uma missão suicida na
Europa, tentar invadir o quartel general de uma corporação multibilionária e impedi-los de destruir esse maldito
planeta. O que você acharia? Sendo que você nunca acreditou nessa história, o que você acha?
"Você se orgulharia de mim, Dick". Ela suspirou, incerta se seria verdade. Seu pai queria vê-la em uma linha de
trabalho menos perigosa, e comparado ao que ela e os outros iriam fazer...
Depois de um longo momento, ela colocou a foto cuidadosamente no bolso e olhou para sua casa bagunçada,
ainda pensando na opinião de seu pai sobre tudo isso; se tudo correr bem, talvez ela possa perguntar
pessoalmente. Rebecca e os outros sobreviventes de Maine ainda estavam escondidos, investigando a
organização S.T.A.R.S. e esperando notícias sobre o quartel general da Umbrella. O quartel oficial fica na Europa,
mas eles suspeitavam de que os cabeças por trás do T-virus tinham um complexo secreto em outro lugar -
- a qual você não achará se ficar aí parada; o pessoal achará que você parou para tirar um cochilo.
Jill colocou a mochila e olhou em volta pela última vez antes de voltar para a porta dos fundos, na cozinha. Havia
um leve cheiro de fruta estragada no ar, vindo de uma tigela de maçãs e pêras em cima da geladeira. Apesar de
conhecer bem o cheiro, ela sentiu um calafrio em sua espinha. Ela foi para a porta fechada, tentando bloquear as
súbitas memórias do que eles acharam na mansão de Spencer...
"Jill?".
A porta abriu, a silhueta de Chris na escuridão pela distante luz da rua.
"Bem aqui". Ela disse, andando. "Desculpe pela demora. A Umbrella veio aqui com um trator".
Mesmo com pouca luz, ela pode ver um meio sorriso no rosto dele. "Nós estávamos achando que um zumbi
tinha pego você". Ele disse claramente, mas ela sentiu a preocupação.
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*Maine – Estado localizado na costa leste dos E.U.A.
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Muitas pessoas morreram por causa do que a Umbrella fez na
floresta fora da cidade. Se o acidente tivesse ocorrido mais perto de Raccoon...
"Não teve graça". Ela disse suavemente.
O sorriso de Chris sumiu. "Eu sei. Está pronta?".
Jill acenou, apesar de não se sentir preparada pelo que virá a seguir, tampouco pelo que estão deixando para
trás. Em algumas semanas, seu conceito de realidade transformou pesadelos em rotina.
Corporações malvadas. Cientistas loucos, vírus assassinos. E os mortos-vivos...
"Estou". Ela disse finalmente. "Estou pronta".
Juntos, eles saíram. Assim que ela fechou a porta, sentiu um súbito ar de incerteza - de que ela nunca mais
colocaria os pés em casa novamente, de que os três nunca mais voltariam para Raccoon City...
... mas não acontecerá nada com a gente. Algo acontecerá, mas não conosco.
Franzindo, mão na fechadura, ela tentou dar sentido ao pensamento. Se eles sobreviverem a essa missão, se
eles tiverem sucesso contra a Umbrella, por que não voltariam para casa? Ela não sabia, mas o sentimento era
desconfortavelmente forte. Algo ruim iria acontecer, algo -
"Ei, você está bem?".
Jill olhou para Chris, viu a mesma preocupação em seu rosto. Eles se aproximaram bastante nas últimas
semanas, apesar de achar que Chris queira se aproximar mais ainda.
E você não quer?
Jill se balançou mentalmente e acenou para Chris, deixando os sentimentos irem. O vôo para Nova Iorque não irá
esperar por ela.
Ainda aquele sentimento...
"Vamos sair daqui". Ela disse.
Eles andaram pela noite, deixando a escura casa para trás, tão quieta e sozinha quanto um túmulo.
[2]
29 de Setembro de 1998
O resto da luz do dia já estava atrás das montanhas, pintando o horizonte com o violeta do pôr do sol. As
montanhas corriam pela escuridão do céu sem nuvens, se esticando para alcançar o fraco brilho das estrelas.
Leon poderia ter apreciado mais a paisagem se não estivesse tão atrasado. Ele vai chegar a tempo, claro, mas
antes pretendia chegar em seu novo apartamento, tomar um banho, comer algo; mas do jeito que está, ele só
tem tempo para passar numa lanchonete a caminho da delegacia. Colocar seu uniforme na última parada lhe deu
alguns minutos, mas basicamente ele estava apertado.
Isso aí, Oficial Kennedy. Primeiro dia de trabalho e você estará tirando sanduíche dos dentes durante as
chamadas. Muito profissional.
Seu turno começava às nove e já era mais de oito. Leon pisou um pouco mais forte no acelerador ao passar por
uma placa que dizia restar meia hora para chegar em Raccoon City. Pelo menos a estrada estava livre. Ele não
viu ninguém em horas, exceto pelo apressadinho no sentido oposto.
Uma boa mudança considerando o trânsito depois de Nova Iorque, a qual lhe custou toda tarde. Ele tentou deixar
um recado para o sargento na noite passada, mas só ouviu o sinal de ocupado.
Os poucos móveis que tinha, já estavam no apartamento num bom bairro de Raccoon. Havia um parque à duas
quadras de lá, e só cinco minutos de carro até a delegacia. Chega de engarrafamentos, bairros violentos e ações
brutais. Ele procurava viver numa comunidade pacífica.
... bom, exceto pelos últimos meses. Aqueles assassinatos...
O que aconteceu em Raccoon foi horrível, doentio - mas os agressores nunca foram pegos e a investigação só
estava começando. Se Irons gostar dele como gostaram na academia, talvez Leon possa trabalhar nesse caso.
Mesmo Chefe Irons sendo uma praga, ele ficará um pouco impressionado. Leon se formou entre os dez
melhores e não era um estranho em Raccoon. Ele costumava passar os verões lá quando criança, quando seus
avós ainda eram vivos. O R.P.D. era uma biblioteca e a Umbrella estava a vários anos de distância de transforma
Raccoon numa verdadeira cidade. Mesmo assim, ainda é o mesmo calmo lugar de sua infância. Quando os
assassinos forem presos, Raccoon City será ideal de novo - bonita, limpa, uma comunidade escondida nas
montanhas como um paraíso secreto.
Aí eu me estabeleço lá. Uma ou duas semanas se passam e Irons percebe o quanto bem os meus relatórios
estão sendo escritos, ou vê o quanto bom eu sou atirando no alvo. Ele me chama para ver os documentos do
caso - e eu vejo algo que ninguém mais viu. Ninguém mais percebeu por que eles viveram muito com isso, e
esse policial novato vem e resolve o caso, nem um mês fora da academia e eu -
"Jesus!". Algo correu em frente ao seu Jeep.
Leon pisou no freio e desviou, tirado de seu sonho enquanto recuperava o controle do carro. Os freios travaram e
os pneus derraparam no asfalto. O Jeep parou de frente para as escuras árvores que cercavam a estrada -
desligando depois de uma última sacudida.
De coração acelerado, Leon abaixou o vidro e levantou o pescoço, varrendo as sombras pelo animal que tinha
cruzado a pista. Ele não o atropelou, mas foi por pouco. Algum tipo de cachorro, ele não viu direito - um dos
grandes, talvez um Doberman, mas de alguma forma parecia errado. Leon só o viu por uma fração de segundo,
um brilho de olhos vermelhos e o corpo inclinado de um lobo. E tinha algo mais, parecia algum tipo de...
... lodo? Não, truque de luz, ou você só estava se borrando de medo e acabou vendo errado. Você está bem e
não o atropelou, isso é o que importa.
"Jesus". Ele disse de novo, mais suave, sentindo-se aliviado e bravo enquanto a adrenalina saia de seu sistema.
Pessoas que deixam seus cães soltos são idiotas - depois agem surpresos quando o Totó é pego por um carro.
O Jeep parou a alguns metros de uma placa que dizia RACCOON CITY 10; ele só conseguia ver as letras no
escuro. Leon olhou no relógio; ele ainda tinha meia hora para chegar na delegacia, pouco tempo - mas por algum
motivo, ele simplesmente parou por um momento, fechando os olhos e respirando profundamente.
Uma brisa fresca passou pelo seu rosto; o deserto trecho de estrada parecendo sobrenaturalmente quieto.
Os assassinatos em Raccoon. Algumas pessoas foram mortas por animais, não foram? Cães selvagens? Talvez
aquele não tenha dono.
Um perturbante pensamento - mais ainda quando sentiu que o cachorro ainda estava por perto, o escondido nas
árvores.
Bem vindo a Raccoon City, Oficial Kennedy. Cuidado com as coisa que o observam...
"Não seja idiota". Leon disse para si mesmo, imaginado se algum dia se livrará de sua imaginação.
Sonhando em pegar caras maus, depois inventar monstros assassinos vagando pela floresta - vamos agir de
acordo com nossas idades, né, Leon? Você é um policial, pelo amor de Deus, um adulto...
Ele ligou o motor e voltou para a estrada. Ele tinha um emprego novo, um bom apartamento numa boa cidade;
ele era competente, consciente, e de boa aparência; usando sua criatividade, tudo ficará bem.
"E já estou a caminho". Ele disse, forçando um sorriso para se acalmar. Ele estava a caminho de Raccoon City,
para uma nova vida - não tinha nada com o que se preocupar...
Claire estava exausta, psicológica e emocionalmente, e o fato de seu traseiro estar doendo pelas últimas horas,
não estava ajudando. O motor de sua Harley parecia entrar em seus ossos, e mais, estava escurecendo. E por
idiotice, ela não estava usando suas roupas de couro; Chris não aprovaria.
Ele vai gritar comigo, e eu nem vou ligar. Deus, Chris, por favor, esteja lá para isso...
O barulho da moto ecoou pelos barrancos inclinados. Ela fez as curvas cuidadosamente, bem consciente do
quanto desertas as estradas estavam; se ela cair, levará um bom tempo até alguém aparecer.
Como se importasse. Sem seu equipamento, eles recolheriam seus pedaços com um rodo.
Era burrice, ela sabia que era burrice - mas algo aconteceu com Chris. Droga, algo deve ter acontecido com a
cidade toda. Pelas últimas semanas, a suspeita aumentou - e as ligações que tinha feito aquela manhã a tiraram
do lugar.
Ninguém em casa. Ninguém em lugar nenhum. Como se a cidade tivesse se mudado.
Ela não se importava com Raccoon, mas sim com seu irmão que estava lá, e se algo de ruim aconteceu com ele
-
Ela não podia, não pensaria desse jeito. Chris era tudo o que lhe restava. Seu pai morreu em seu emprego na
construção quando ainda eram crianças. Quando sua mãe morreu num acidente de carro três anos atrás, Chris
fez o melhor para substituir os pais. Mesmo sendo poucos anos mais velho, ele a ajudou a escolher uma
faculdade - ele até a mandava dinheiro todo mês. Além disso, ele ligava para ela toda semana.
Mas essas ligações pararam no último mês e meio, e as dela não foram retornadas. Ela tentou se convencer de
que era besteira se preocupar - talvez ele finalmente achou uma namorada, ou algum problema com o S.T.A.R.S.
Mas depois de três cartas não correspondidas e dias esperando o telefone tocar, ela finalmente decidiu ligar para
o R.P.D. naquela tarde, esperando que alguém pudesse dizer o havia acontecido. Ela só ouviu o sinal de ocupado.
Sentada em seu quarto, ouvindo aquele som, ela começou a se preocupar mesmo. Ela procurou em sua agenda
com mãos trêmulas, discando os poucos números dos amigos dele, pessoas ou lugares que mandou ligar em
caso de emergência - Barry Burton, Emmy's Diner, um policial que ela nunca conheceu chamado David Ford. Ela
até tentou o telefone de Bill Rabbitson, apesar de Chris ter dito que ele desapareceu alguns meses atrás. Só deu
ocupado.
A preocupação se transformou em algo perto de pânico. A viagem para Raccoon City levava seis horas e meia da
universidade. Sua amiga de quarto pegou seu equipamento de moto emprestado para sair com o namorado, mas
Claire tinha outro capacete - e com aquele pânico passando pelos seus pensamentos assustados, ela
simplesmente pegou o capacete e saiu.
Burrice, talvez. Impulsiva, certamente. E se Chris estiver bem, nós poderemos rir sobre o quanto ridícula essa
paranóia foi. Mas enquanto eu não souber o que está acontecendo, não terei um momento de paz.
O resto da luz do dia estava sumindo no céu sem nuvens, mas a brilhante lua cheia e o farol da moto eram
suficientes para enxergar - para ver a pequena placa adiante: RACCOON CITY 10.
Dizendo a si mesma que Chris estava bem, que algo de estranho aconteceu em Raccoon, alguém já teria
verificado. Claire passou a se concentrar na estrada. Daqui a pouco estará escuro, mas ela chegará em Raccoon
antes de ficar perigoso para dirigir.
Estando Raccoon City bem ou não, ela descobrirá em breve.
#
[3]
Leon alcançou os limites da cidade com vinte minutos restando, e decidiu que um jantar quente irá esperar. De
sua última visita à delegacia, ele sabia que haviam algumas máquinas de venda onde podia comprar algo. O
pensamento de ter doces e amendoins em seu estômago não caía bem, mas foi culpa dele por não te se livrado
do trânsito de Nova Iorque a tempo.
Ele passou por algumas fazendas que ficavam a leste da cidade, antes de ver a parada de caminhões que
separava a zona rural da urbana.
Assim que virou na ByBee, indo para uma das ruas norte-sul principais que o levariam para o R.P.D., ele
conseguiu a primeira dica de que algo estava errado. Nos primeiros quarteirões, ele se surpreendeu. No quinto ele
se sentiu um estranho no deserto. Não era estranho, era impossível.
ByBee era a primeira rua real da cidade, vinda do leste. Havia vários bares e restaurantes baratos, tal como um
cinema que nunca deve ter mostrado nada além de filmes de terror e comédias sensuais - e mesmo assim era o
mais popular lugar da juventude de Raccoon. Havia algumas tavernas que serviam cervejas e bebidas quentes
para os universitários. Às oito e quarenta e cinco da noite, ByBee deveria estar cheia de vida.
Exceto por algumas lojas e restaurantes, Leon viu que quase toda a rua estava escura - e mesmo as que tinham
luz não mostravam presença humana. Haviam carros parados na rua, e ainda nenhuma pessoa. ByBee, o ponto
de encontro de adolescentes e estudantes, estava totalmente deserta.
Onde está todo mundo?
Ele continuou dirigindo, procurando respostas - e tentando aliviar a suave ansiedade que sentia. Talvez há algum
tipo de evento acontecendo, uma missa ou uma festa da macarronada. Ou Raccoon decidiu antecipar a
Oktoberfest para hoje à noite.
Tá, mas todos ao mesmo tempo?
Leon percebeu que não tinha visto um carro se quer desde o cachorro há dezesseis quilômetros. Nem um. Sendo
assim, um pensamento menos dramático lhe ocorreu.
Algo não cheirava bem. De fato, algo cheirava como podre.
Ele diminuiu a velocidade para virar na Powell, uma quadra à frente - mas o cheiro e a ausência de vida estavam
lhe dando uma ruim sensação. Talvez ele deva parar e verificar, procurar algum sinal de -
Leon sorriu aliviado. Havia duas pessoas de pé na esquina, bem à frente; a luz estava apagada perto deles, mas
ele pode ver suas sombras claramente - um casal, uma mulher de saia e um homem alto usando botas. Indo a
sul na Powell, chegando mais perto deles, Leon pode ver como andavam, pareciam bêbados. Ambos estavam na
sombra de uma loja de escritório e fora de visão; mas Leon estava naquela direção - não custava parar e
perguntar?
Devem ter saído do O'Kelly's. Um copo ou dois, mas não estando dirigindo, ótimo. Eu me sentirei um idiota
quando eles me dizerem que hoje é o grande concerto gratuito ou o dia da churrascada.
Aliviado, Leon virou a esquina e olhou para as sombras, procurando pelo par. Ele não os viu, mas tinha um beco
entre a loja e a joalheria. Talvez eles tenham parado para ir ao banheiro ou fazer outra coisa mais ilegal -
"Merda!".
Leon pisou no freio assim que meia dúzia de escuras figuras voaram do chão, pegas pelos faróis do Jeep.
Assustado, levou alguns segundos para perceber que tinha visto pássaros; eles não berraram, apesar de ter
estado perto o bastante para ouvir o bater de asas.
Oh, meu Deus.
Havia um corpo humano no meio da rua, a seis metros do carro. Debruçada, mas parecia uma mulher - e
julgando pelo líquido vermelho que cobria boa parte da blusa branca, não era uma estudante bêbada que decidiu
dormir no lugar errado.
Atropelamento. Algum imbecil a acertou e fugiu.
Leon desligou o motor e abriu a porta. Ele hesitou, um pé no asfalto, o cheiro de morte intenso no ar. Sua mente
#
trouxe uma idéia que não queria considerar, mas deveria; isso não é um treinamento, é a sua vida.
E se não foi um atropelamento? E se o fato de não haver pessoas por perto é por causa de um maluco armado
que decidiu praticar tiro ao alvo? Talvez todos estão em casa, abaixados - o R.P.D. pode estar a caminho e
aqueles dois bêbados podiam estar feridos e procurando ajuda...
Ele se esticou no Jeep e procurou seu presente de formatura debaixo do banco do passageiro, uma H&K VP70
com dezoito balas.
Apontando ela para o chão, Leon saiu do carro e deu uma olhada em volta. Ele não conhecia muito bem a noite
de Raccoon, mas sabia que não deveria estar tão escuro. Várias luminárias da rua estavam apagadas; se não
fossem os faróis do carro, ele não teria visto o corpo.
Ele se aproximou, sentindo-se desprotegido sem o carro, mas ciente de que ela podia estar viva. Era impossível,
mas ele tinha que ver.
Alguns passos mais próximo e viu que era um a jovem mulher. O cabelo ruivo e liso cobria o rosto. A maioria dos
ferimentos estavam escondidos pela blusa ensangüentada. Parecia haver alguns deles - rasgos na roupa
expunham claros e cortados pedaços de carne e os músculos vermelhos abaixo.
Exalando forte, Leon colocou a arma na mão esquerda e se agachou, tocando a fria pele do pescoço dela. Alguns
segundos passaram, segundos que lhe causaram medo, tentando se lembrar do procedimento de ressuscitarão,
esperando sentir o pulso.
Cinco compressões, dois e curtos sopros, cotovelo parados e, por favor, não esteja morta -
Ele não sentiu o pulso e não queria esperar. Guardando a arma, ele agarrou os ombros para vira-la - mas quando
começou a erguê-la, sua blusa saiu da calça, mostrando algo que o fez soltá-la. Sua coluna e parte das costelas
estavam expostas. As vértebras brancas brilhando entre a carne vermelha. Parece que ela foi mastigada. Coisa
que Leon não quis acreditar.
Os corvos não fizeram isso, teria levado horas, e quem disse que corvos se reúnem à noite para comer? E aquele
cheiro, não está vindo dela, ela morreu recentemente, e -
Canibais. Assassinos.
Não. Nem pensar. Para uma pessoas ser morta e devorada no meio da rua sem ninguém para impedir -
- e com tempo suficiente para comedores de mortos virem - os assassinos devem ter matado toda a população.
Parece certo? Então que cheiro é esse? E onde estão todos?
Atrás de Leon, houve um baixo e suave gemido. Depois, passos.
Levou um segundo para Leon se levantar, virar e empunhar a arma. Era o casal, os bêbados, vindo em sua
direção, junto com um terceiro, um cara musculoso com -
- com sangue por toda a camisa. E nas mãos. E pendurado em sua boca, algo vermelho e mole. O outro homem
com as botas e suspensórios, parecia igual.
O trio se aproximava, passando do Jeep, erguendo as mãos e gemendo. Leon estava impressionado com a
descoberta de que o cheiro vinha deles -
- e apareceu outro, saindo da porta do outro lado da rua, uma mulher de camiseta e cabelo amarrado para trás.
Outro gemido atrás dele. Leon olhou sobre o ombro e viu um jovem de cabelos escuros e braços podres sair das
sombras da calçada.
Leon apontou a arma para o que estava mais perto, o de suspensórios, enquanto seus instintos gritavam para
fugir. Ele estava aterrorizado, mas sua lógica insistia que havia uma explicação para o que via, que não estava
vendo um morto-vivo.
"Certo! Já chega! Não se mexam!".
Sua voz foi forte e autoritária. Ele vestia seu uniforme, e Deus, por que eles não param? O de suspensórios
gemeu de novo, cego para a arma apontada para seu peito, e ainda seguido pelos outros, agora a menos de
três metros de distância.
"Não se mexa!". Leon disse de novo, e o som de seu próprio pânico o fez recuar um passo, olhando para os
lados e vendo mais dois saindo das sombras.
Algo agarrou seu calcanhar.
"Não!". Ele gritou, virando a arma -
#
- e viu que a atropelada estava segurando sua bota com uma mão ensangüentada, tentando mover seu corpo.
O gemido dela se juntou ao dos outros enquanto tentava morder seu pé, vermelhos fios de saliva escorrendo
pelo queixo, caindo no couro.
Leon atirou nas costas dela. Pela distância deve ter acertado seu coração. Tremendo, ela voltou para o chão.
- e ele virou e viu os outros a menos de um metro e meio, e atirou mais duas vezes, os tiros abrindo buracos no
peito do mais próximo.
O de suspensórios não se intimidou com os tiros em seu peito, seu equilíbrio se abalando por apenas um segundo.
Ele abriu a boca e soltou um grito de fome, mãos erguidas de novo na direção de seu alívio.
Recuando, Leon atirou de novo. E de novo. E de novo. Mais tiros e eles continuaram vindo. Era como um sonho
ruim, um filme ruim, não era real - e Leon sabia que se não começasse a acreditar, acabará morrendo. Comido
por esses -
Vá em frente. Diga. Esses zumbis.
Longe do carro, Leon correu, ainda atirando.
[4]
Que vida noturna; esse lugar está morto.
Claire não viu tantas pessoas como deveria desde que chegou em Raccoon, só algumas, só algumas vagando
por aí. O lugar parecia totalmente deserto; o capacete bloqueava muito a visão, mas definitivamente os negócios
não iam bem naquela parte da cidade. Tal como o trânsito.
Ela planejou ir direto ao apartamento de Chris, mas se lembrou de que passaria em frente ao Emmy's. Chris não
sabia cozinhar nada; sendo assim, ele vivia de cereais, sanduíches frios e jantares no Emmy's seis vezes por
semana; mesmo não estando lá, vale a pena parar e perguntar se alguma garçonete o viu.
Assim que Claire parou em frente ao Emmy's, viu ratos procurando abrigo numa lata de lixo na calçada. Ela
abaixou o apoio e desceu da moto, tirando o capacete e o colocando no assento. Balançando seu rabo de cavalo,
ela franziu o nariz de nojo; pelo cheiro, o lixo estava lá por um bom tempo. Independente do que jogavam fora,
aquilo tinha um cheiro tóxico.
Antes de entrar, ela esfregou seus braços e pernas tanto para aquecê-los, quanto para limpá-los da sujeira da
estrada.
Através do vidro da frente do restaurante era possível ver o confortável de bem iluminado interior.
Das banquetas vermelhas do balcão que cercava o canto esquerdo ao fundo - não tinha uma alma à vista. Claire
franziu, desapontada. Tendo visitado Chris regularmente nos últimos anos, ela esteve lá todas as horas do dia e
da noite; os dois eram corujas, decidindo comer sanduíches às três da manhã - o que significa Emmy's. E sempre
tinha alguém lá, conversando com uma das garçonetes de avental vermelho ou curvado sobre uma xícara de
café e um jornal, não importava que horas fossem.
Então onde eles estão? Nem são nove horas...
A placa dizia Aberto, e ela não ficou parada na rua, esperando. Uma última olhada na moto e ela entrou.
Respirando fundo ela disse esperançosa.
"Olá? Tem alguém aqui?".
Sua voz correu pelo silêncio do restaurante vazio. Exceto pela suavidade dos ventiladores de teto, não havia outro
som. Tinha um familiar cheiro de gordura no ar e algo mais - um cheiro amargo e ainda fraco de flores podres.
O lugar era em L, se esticando para frente dela e para a esquerda. Andando devagar, Claire seguiu em frente.
Atrás do balcão ficava o caminho da cozinha. Se o restaurante estava aberto, os funcionários deviam estar lá,
talvez surpresos com a falta de clientes -
- mas isso não explica a bagunça, né?
Não estava tão bagunçado. A desordem nem foi percebida do lado de fora. Menus no chão, um copo d'água
virado no balcão, e talheres eram os únicos objetos fora de ordem - mas era demais.
Que se dane a cozinha, isso é muito estranho, algo está errado nessa cidade - talvez eles foram assaltados ou
preparando uma festa surpresa. Quem se importa?
#
Do espaço escondido no final do balcão, ela ouviu um movimento, um deslizante sor de roupas seguido por um
ronco. Alguém está lá, agachado.
De coração batendo forte, Claire chamou de novo. "Olá?".
E nada.
- outro gemido, um som que arrepiou os pêlos do seu pescoço.
Apesar do medo, Claire foi até lá. Talvez houve um assalto, os clientes podem estar amarrados - ou pior, tão
machucados que não conseguiam gritar. De qualquer modo, ela estava envolvida.
Claire chegou no fim do balcão, olhou para a esquerda -
- e gelou, de olhos arregalados, sentindo-se psicologicamente estapeada. Perto de uma prateleira com bandejas
estava um calvo homem de avental branco, de costas para ela. Ele estava agachado sobre o corpo de uma
garçonete; mas tinha algo muito errado sobre ela, tão errado que Claire não conseguiu aceitar tão cedo. Seu olhar
chocado passou pelo uniforme vermelho, sapatos, até pelo crachá de plástico no peito dela, "Julia" ou "Julie".
... a cabeça. A cabeça dela não estava lá.
Percebendo o que estava errado, Claire não conseguiu desacreditar por mais que queira. Só tinha uma poça de
sangue no lugar da cabeça dela, cercada por fragmentos do crânio e mechas de cabelo escuro. O cozinheiro tinha
as mãos no rosto e Claire, olhando para o corpo, soltou um leve suspiro.
Ela abriu a boca, incerta sobre o que falar.
Gritar, perguntar por que, como, oferecer ajuda - ela não sabia, e assim que o homem virou para ela, abaixando
as mãos, nada foi dito definitivamente.
Ele estava comendo a garçonete. Seus dedos estavam vestidos com carne; a estranha face que ele mostrou
estava suja de sangue.
Zumbi.
Sua mente aceitou isso no momento em que pensou; ela não era idiota. Ele estava mortalmente pálido e com
aquele cheiro de podridão. Seus olhos brancos.
Zumbis em Raccoon. Eu nunca esperei isso.
Com esse calmo e lógico pensamento veio uma súbita onda de terror. Claire recuou, enquanto o homem
continuava se virando, se levantando.
Ele era enorme, quase dois metros, grande como um armário -
- e morto! Ele está morto e comendo a mulher, não o deixe se aproximar!
O cozinheiro começou a andar. Claire recuou mais rápido, quase escorregando num menu. Um garfo entortou sob
seus pés.
SAIA DAQUI, AGORA.
"Eu já estou de saída". Ela falou. "Mesmo, não precisa mostrar a porta -".
O cozinheiro continuou andando, seus cegos olhos arregalados de fome. Outro passo para trás - e Claire sentiu o
frio metal da maçaneta da porta. Uma triunfal adrenalina passou por ela enquanto virava, tocava a maçaneta -
- e gritou, um curto grito de terror. Havia dois, três deles lá fora, suas carnes decompostas pressionando o vidro.
Um deles só tinha um olho; outro só o lábio superior. Do outro lado da rua, escuras figuras saiam da penumbra.
Sem saída, presa -
- Jesus, a porta dos fundos!
No final de seu campo visual, a verde luz da saída brilhava como uma estrela. Claire virou de novo e mal viu o
cozinheiro chegando onde estava, uma atenção virada para sua única esperança.
Ela correu. A porta daria no beco, se estiver trancada Claire estará morta.
Claire golpeou a porta e ela abriu, acertando os tijolos da parede do beco - e tinha uma arma apontada para seu
rosto, a única coisa que podia pará-la, um homem armado.
Ela congelou, erguendo os braços instintivamente.
"Espere! Não atire!".
Ele não se moveu, a arma ainda apontada para sua cabeça -
- ele vai me matar -
"Abaixe-se!". Ele gritou, e Claire obedeceu.
Boom! Boom!
O homem atirou e Claire olhou em volta, viu o cozinheiro morto caindo de costas bem atrás dela, um buraco em
sua testa.
#
Claire voltou-se para o homem que salvou sua vida, reparando no uniforme. Policial. Ele era jovem, alto - tão
aterrorizado quanto ela se sentia, seus olhos azuis bem abertos e sem piscar. Pelo menos sua voz foi forte ao se
abaixar para ajudá-la.
"Não podemos ficar aqui. Venha comigo, nós estaremos a salvo na delegacia".
Assim que ele falou, ela ouviu um coro de gemidos vindos da rua, aumentando. Claire se deixou ser levantada,
segurando a mão dele bem forte, se confortando ao percebeu que sua mão estava trêmulas igual a dele.
Eles correram.
[5]
Leon correu junto com a garota, tentando lembrar o mapa da cidade. O beco deve dar na Ash, não muito longe
da rua do R.P.D., a Rua Oak - mas a delegacia estava a pelo menos uns quinze quarteirões à leste; sem
transporte eles não conseguirão. Ele só tinha quatro balas, e pelo som vindo do beco, havia dezenas de criaturas
em cada ponta.
Saindo do beco, Leon ergueu a mão e parou de correr, examinado a escura rua. Ele não viu muito, mas de onde
estavam, perto da luminária, havia onze ou doze zumbis à direita e só três à esquerda, não muito longe de uma -
Aleluia!
"Ali!".
Leon apontou para uma viatura estacionada do outro lado da rua. Não havia policiais por perto; seria querer
demais - mas as portas estavam abertas. Eles podem alcançar o carro antes das três coisas ali perto. Se não
tiver chave, pelo menos há um rádio e vidros à prova de balas. Eles podem ficar lá até a ajuda chegar -
- e é a única chance. Vá!
Eles correram para o preto e branco. Leon apontando sua arma para as criaturas mais próximas, a uns vintes
metros. Ele queria atirar, mas não podia desperdiçar munição.
Deus, que tenha chaves.
Eles alcançaram a viatura ao mesmo tempo e se dividiram, a garota indo para o lado do passageiro, fazendo
Leon perceber que ela achava que o carro era seu. Ele a esperou fechar a porta antes de entrar, uma pequena
voz dentro dele gritando que esse era seu primeiro dia.
A chave estava na ignição. Leon guardou a arma e a tocou.
"Aperte os cintos". Ele disse, pouco ouvindo o consentimento da garota enquanto girava a chave e as sirenes
ligavam. A Rua Ash foi iluminada por azul e vermelho, as sombras mudando de forma e densidade. Era a visão do
inferno - e ele pisou no acelerador, querendo sair de lá o mais rápido possível.
O carro saiu derrapando. Leon virou para a direita depois para a esquerda, quase acertando uma mulher cuja
metade do couro cabeludo foi arrancado.
Ajuda, chamar ajuda -
Leon pegou o rádio sem tirar os olhos da rua. Criaturas saíam da escuridão como se chamadas pelo carro veloz.
Assim que o carro cruzou a Powell e continuou, Leon desviou de mais zumbis.
A garota estava cochichando, olhando para a desolada paisagem enquanto Leon apertava o botão do rádio, o
desamparo crescendo. Sem estática, sem nada.
"Que diabos está acontecendo. Eu chego em Raccoon e o lugar está de cabeça para baixo -".
"Ótimo, o rádio está desligado". Leon a interrompeu, soltando o rádio. A cidade parecia um mundo alienígena, as
ruas estranhamente assombradas. Parecia um sonho, mas o cheiro dizia que estavam acordados. O cheiro tinha
tomado conta da viatura, ficando difícil de dirigir. Pelo menos não tinha trânsito, nem pessoas, pessoas de
verdade...
... exceto eu e a garota. Eu tenho que fazer o meu trabalho, não deixá-la se machucar. Pobre menina, não deve
#
ter mais de dezenove ou vinte anos, deve estar aterrorizada.
"Você é policial, né?".
Ele olhou para ela, o tom sarcástico e humorado em sua voz deu uma forte impressão de que ela não era fraca.
Uma boa coisa apesar das circunstâncias.
"Sou. Primeiro dia no trabalho; que ótimo, hein? Eu sou Leon S. Kennedy".
"Claire,". Ela disse. "Claire Redfield. Eu vim procurar meu irmão, Chris...".
Ela parou, olhando para a rua. Duas criaturas estavam entrando no caminho do carro, e Leon acelerou, passando
entre eles. A grade de metal que divide a parte de trás do carro estava quebrada, fornecendo uma clara visão do
retrovisor interno; os dois zumbis vagando desatentamente atrás deles.
Famintos. Como nos filmes.
Por um momento, ninguém falou, a pergunta mais obvia não respondida. Seja lá o que tornou Raccoon numa
casa dos horrores, não importava tanto quanto suas vidas. Eles chegarão na delegacia em alguns minutos. Tinha
um estacionamento subterrâneo - ele tentará lá primeiro - mas se os portões estiverem fechados, eles terão que
andar um pouco. Tinha um pequeno jardim em frente ao prédio.
Quatro balas - e uma cidade cheia daquelas coisas. Precisamos de outra arma.
"Ei, abra o porta-luvas". Ele disse.
Claire apertou o botão e se curvou, mostrando as costas de seu colete vermelho; "Made in Heaven" (Feito no
Paraíso) estava estampado sobre um voluptuoso anjo segurando uma bomba. Combinava com ela.
"Tem uma arma aqui". Ela disse, e pegou a semi-automática, erguendo-a cuidadosamente para ver se estava
carregada, antes de pegar os dois clips. Era uma das velhas armas do R.P.D., uma Browning HP de 9 mm.
Desde a onda de assassinatos, a polícia tem usado as H&K VP70, outra 9 mm - a diferença é que a Browning
carrega treze balas enquanto a outra podia carregar dezoito, dezenove se você deixar uma engatilhada. Do modo
que a manuseava, Leon viu que ela sabia o que fazia.
"É bom ficar com ela". Ele disse.
Assim que Leon fez uma curva um pouco rápido demais, o pensamento do R.P.D. estar infestado de zumbis o
acertou. Tudo ocorreu tão rápido que ele nem tinha pensado nisso. Talvez haja uma defesa organizada na
delegacia - mas era difícil pensar com o cheiro de podridão tão forte no ar.
Temos três quartos de tanque, mais do que suficiente para chegar às montanhas; podemos estar em Latham
em menos de uma hora.
Eles poderiam desviar da delegacia se parecesse insegura. Sair da cidade soava bom para ele. Ele ia contar para
Claire, ver o que ela achava quando -
- o terrível cheiro de morte se intensificou e algo pulou do banco traseiro.
Claire gritou e o monstro que esteve na viatura o tempo todo agarrou o ombro de Leon, levando seu braço direto
para frente com uma incrível força.
"Não!". Leon gritou assim que o carro virou violentamente para a direita, subindo na calçada e deslizando na
parede de um prédio. A criatura estava desequilibrada, perdendo apoio; Leon virou o volante para a esquerda,
mas não evitou a parede por completo. Ruídos de metal e faíscas iluminaram o interior.
A coisa jogou seus braços em Claire e, sem pensar, Leon acelerou e jogou o carro para a direita. O carro
ziguezagueou, derrapando lateralmente, a traseira acertando uma pick-up azul estacionada. Faíscas e o som de
borracha no asfalto.
O morto foi para o banco, mas voltou imediatamente para frente, na direção da garota.
Eles desciam a Terceira (uma rua), Leon tentando controlar o carro enquanto pegava sua arma e se virava. Ele
não pensou em desacelerar, só pensava no zumbi cravando seus dentes no ombro de Claire.
Segurando a arma pelo cano, ele desceu a coronha no rosto do monstro, arrancando pele igual a uma banana.
Gemendo, a criatura tocou o rosto sangrando e Leon pode sentir um segundo de triunfo, até que -
- Claire gritou, "Cuidado!".
- e Leon viu que eles iam bater.
Leon tinha batido no zumbi com a arma quando seu olhar aterrorizado viu que a rua ia acabar.
"Cuidado!".
Ela só pode ver os dedos dele grudados no volante -
- e o carro começou a girar, derrapando, prédios e luzes piscando tão rápido que ela só viu borrões, e de repente
#
- BAM!
Houve uma explosão de som, de vidro quebrando e metal esmagando, assim que o carro bateu em algo sólido,
arremessando Claire contra o assento. Ao mesmo tempo, o impacto jogou o zumbi violentamente para trás,
atravessando o vidro traseiro -
- e tudo ficou quieto. Só o seu coração pulsando nos ouvidos. Claire viu que Leon já estava recuperado, olhando
para o corpo lá atrás, sua cabeça fora de visão. Não estava se mexendo.
"Você está bem?".
Claire virou para Leon, subitamente querendo evitar uma risada. A cidade estava infestada por mortos-vivos, e
acabaram de sofrer um acidente por que um cadáver queria comê-los. Considerando isso, "bem" não é primeira
palavra a vir na cabeça.
"Inteira". Ela disse, e o jovem policial acenou, parecendo aliviado.
Claire respirou fundo e olhou onde estavam. Leon tinha girado 180 graus com o carro no final da rua em T, o
carro completamente danificado estava de frente para o sentido de onde vieram. Não havia zumbis por perto. Ela
segurou sua arma fortemente, tentando se controlar.
"Nós -". Leon começou a falar algo, mas parou, seus olhos arregalados para o que via. Claire também viu - e por
um segundo, sentiu que seu caminho foi amaldiçoado desde que saiu da universidade.
Um caminhão descia a rua, ainda a vários quarteirões de distância, mas perto o bastante para ver que estava
fora de controle. O caminhão ziguezagueava, batendo na mesma pick-up azul de um lado da rua e uma caixa de
correio do outro. Claire percebeu com terror que era um caminhão tanque. No segundo que levou para entender,
rezar para que não seja gás ou óleo, o caminhão diminuiu a distância entre eles. Ela já via o acidente quando
Leon quebrou o silêncio.
"- ele vai esmagar a gente". Ambos tocaram os cintos de segurança, Claire rezando para não estarem presos.
O som dos cintos soltando foram inaudíveis perante o crescente eco do caminhão. Ele chegará em um segundo.
"Corra!". Leon gritou, e ela saiu do carro, ar fresco em sua suada pele. O ronco do motor do caminhão
bloqueando tudo mais.
Ela deu três passos gigantes, tanto sentindo quanto ouvindo o impacto, o chão tremendo sob seus pés assim que
metal se retorcia atrás dela.
Mais um pouco, e -
KABOOM!
- ela foi jogada, literalmente tirada de suas botas por uma incrível onda de pressão, calor e som. Ela tentou
alcançar o chão enquanto a explosão tornava a noite em dia. Um estranho giro, poeira em sua pele, e Claire
aterrissou perto de um *De Lorean prateado estacionado na frente de uma *delicatessen.
Houve uma breve chuva de destroços enfumaçados e Claire se levantou, procurando nas labaredas por Leon.
Seu coração parou. O caminhão tanque, a viatura, tudo estava envolvido por fogo. A rua completamente
bloqueada por uma massa de destruição.
"Claire -".
A voz de Leon, abafada, mas audível através da parede de fogo.
"Leon?".
"Eu estou bem!". Ele gritou. "Vá para a delegacia, eu te encontro lá!".
Claire hesitou por um segundo, olhando para a arma que ainda segurava firmemente em sua trêmula mão. Ela
estava com medo, aterrorizada por estar só numa cidade que virou um cemitério - mas não tinha escolha.
"Tá bom!".
Ela virou. O portão de trás da delegacia estava a alguns metros dali -
- e criaturas estavam saindo das sombras, de trás dos carros e de dentro dos prédios escuros. Com um
pensamento em mente, eles entraram na estranha luz do acidente, gemendo de fome - dois, três, quatro deles.
Por trás do fogo, ela ouviu tiros - dois tiros, depois nada - nada além do fogo e os suaves gemidos.
Leon já foi, agora VÁ!
Claire respirou fundo e correu.
#
[6]
Ada Wong colocou, na cavidade da estátua, o brilhante disco de metal dourado com um unicórnio entalhado,
dando um tapinha até a peça encaixar no mármore. Ela ouviu um movimento na estátua e se afastou para ver o
que acontece. Seus passos ecoaram pelo grande hall principal da delegacia, o som passando pelos parapeitos do
segundo e terceiro andar.
Outra chave? Uma das medalhas do esgoto? Ou quem sabe a própria amostra... não seria uma feliz surpresa.
A ninfa segurando uma jarra d'água feita de pedra deslizou para trás, a jarra em seu ombro jogando um fino
pedaço de metal. A chave de *espadas (*spade key).
Ela suspirou, pegando-a. Ela já tem as chaves; de fato, ela já tem tudo o que precisa para vasculhar a delegacia,
e quase tudo para o laboratório. Se a Umbrella tivesse facilitado, o trabalho teria sido moleza. Dinheiro fácil.
Mas acabei ganhando férias de três dias na cidade dos monstros, brinquei de Por Uma Bala na Cabeça e Vamos
Achar o Repórter. As amostras podem estar em qualquer lugar, dependendo de quem sobreviveu. Se eu sair
daqui com as belezinhas, vou pedir um grande bônus; ninguém deve trabalhar nessas condições.
Ada guardou a chave e olhou para o parapeito superior, mentalmente visualizando as salas que já foi. Bertolucci
parece não estar em lugar algum da asa leste do R.P.D.. Ela passou horas encarando mortos em busca do
queixo quadrado e rabo de cavalo dele. Claro, ele pode estar se movendo - mas pelo que sabia dele, era
improvável; o repórter se escondia diante do perigo.
Por falar em perigo...
Ada foi para a porta que dava na parte inferior da asa leste. O hall principal estava a salvo dos infectados, eles
não pareciam conhecer uma maçaneta - mas havia ameaças além deles. Só deus sabe o que a Umbrella
mandará para arrumar tudo isso... ou o que foi solto no laboratório após a contaminação. Menos assustador,
mas não menos preocupante quanto os policiais vivos procurando alguém para salvar. Ela já ouviu tiros, alguns
distantes, outros não, toda hora desde que chegou; deve haver alguns não-infectados no grande e velho prédio.
Na ponta dos pés para evitar barulho, ela cruzou a porta e se encostou nela, decidindo onde ir; ela ainda não
checou o subterrâneo e haviam vários portadores na sala dos detetives.
Ah, a excitante vida de uma agente autônoma. Viajar pelo mundo! Ganhar dinheiro roubando coisas importantes!
Combater mortos-vivos sem ter tomado um banho ou comido algo decente por três dias - isso impressiona os
amigos!
Ela se lembrou de pedir aquele bônus de novo. Quando chegou em Raccoon há menos de uma semana, ela se
achava preparada; os mapas foram estudados, os dados do repórter memorizados, sua história falsa na ponta
da língua - uma mulher procurando pelo namorado, um cientista da Umbrella. Essa parte era quase verdade; de
fato, foi seu breve relacionamento com John Howe dez meses antes de ela ter arrumado o emprego. Mas John
pensou de outra forma e sua conexão com a Umbrella provavelmente o matou. Tudo isso se tornou uma boa
dica para ela.
Aí ela já estava pronta. Mas nas primeiras vinte e quatro horas de estadia, sua sorte mudou; enquanto comia no
quase vazio restaurante do hotel, ela ouviu os primeiros gritos do lado de fora. Os primeiros, mas não os últimos.
De algum modo, o desastre foi uma vantagem; não haverá guardas no laboratório. O estudo que fez no T-virus
a assegurou de que o aerotransmissível se dissipa rapidamente; o único modo de se contaminar agora é entrando
em contato com um portador, então não haverá problema.
Objetivos: interrogar o repórter, descobrir o quanto ele sabe e matá-lo ou ignorá-lo, depende. Recuperar uma
amostra do novo vírus, a mais nova maravilha do Dr. Birkin. Sem problema, certo?
Três dias antes, sabendo como o laboratório da Umbrella era conectado ao sistema de esgoto e com Bertolucci
na sua frente, o trabalho teria siso moleza. Foi quando as coisas começaram a dar errado.
Pessoas desaparecendo, barricadas caindo...
Ela observou Bertolucci de perto o bastante para ver que ele fugiria. Ela nem teve tempo de fazer contato antes
#
dele desaparecer. Ada decidiu continuar sozinha quando três quartos dos civis foram mortos por que ninguém se
preocupou em fechar os portões da garagem. Ela não queria morrer tentando proteger sua imagem de turista
assustada procurando o namorado.
Aí veio a espera. Quase quinze horas esperando as coisas se acalmarem, escondida no maquinário do relógio do
terceiro andar, entre o eco de tiros e gritos...
Ótimo. O que fazer agora? Sentar e refletir ou acabar logo com isso; quanto mais cedo acabar mais tempo de
férias terá numa ilha qualquer.
Quieta, Ada não se mexeu, batendo sua Beretta na perna. Haviam corpos espalhados no corredor; ela não
conseguia parar de olhar um deles, caído debaixo da janela-bancada do escritório. Uma mulher ensangüentada.
Os outros dois eram policiais e ela não os conhecia - mas a mulher foi uma das pessoas com a qual conversou
quando chegou na delegacia. Seu nome era Stacy, uma nervosa, mas forte garota de vinte e poucos anos.
Stacy Kelso, isso mesmo. Ela queria comprar sorvete e acabou aqui - apesar de sua situação, ela estava mais
preocupada com os pais e o irmão em casa. Uma garota consciente. Uma boa garota.
Por que ela está pensando nisso? Stacy estava morta e não foi Ada que a matou. Ela veio aqui para trabalhar;
não foi sua culpa por Raccoon estar assim.
Talvez não seja culpa. Talvez só esteja triste porque Stacy não conseguiu.
Ela era uma pessoa, e agora está morta, como sua família provavelmente.
"Saia dessa". Ela disse, suave, mas irritadamente. Ada desviou o olhar, fixando-o num cinzeiro quebrado no fim
do corredor, onde virava à direita. Sentia-se mau com as coisas que não conseguia controlar, não era seu estilo,
não foi assim que chegou até aqui - e considerando o esforço que o Sr. Trent estava fazendo para manter Ada
trabalhando, agora não é a melhor hora para analisar suas habilidades.
Objetivos: falar com Bertolucci e pegar a amostra do G-virus. É tudo com o que ela precisa se preocupar.
Ainda há um mecanismo que Ada precisa ver, na sala de entrevistas. As últimas adições do arquiteto foram
detalhadas por Trent, mas ela sabia que tinha a ver com as lâmpadas de gás e uma pintura a óleo. A pessoa que
fez tudo isso teve uma séria vida secreta; havia passagens secretas escada acima, atrás de uma parede. Ela
ainda não foi lá, mas uma breve olhada revelou um escritório. Julgando pela decoração neurótica e estofada, só
podia ser de Irons. Mesmo tendo estado em sua companhia por pouco tempo, ele era o homem mais instável
que já conheceu; não havia dúvidas de que estava na lista de pagamento da Umbrella, mas também havia algo
sobre ele que parecia bem defeituoso.
Ada desceu o corredor, seus sapatos contra os ladrilhos esverdeados; ela já temia outro mecanismo. Nada que
não tinha dicas; ela assumia que o vírus ainda estava no laboratório. Os dados diziam que havia cerca de doze
frascos da coisa, informação de um vídeo de duas semanas - e o laboratório de Birkin não era impenetrável.
Sendo o laboratório subterrâneo conectado à delegacia pelo esgoto, ela deve considerar que as amostras foram
movidas. Além disso, Bertolucci pode estar escondido na biblioteca ou no escritório do S.T.A.R.S., na asa oeste,
talvez na sala de revelação; vivo ou morto, ele precisa ser encontrado.
Ela virou no corredor, passando por uma pequena área de espera com máquinas de venda já saqueadas. Como
todo o R.P.D., o corredor estava frio e com falta de ar fresco; ela já se acostumou com o cheiro, mas o frio era
a pior parte. Pela centésima vez desde que saiu o hotel, Ada desejou ter colocado outra roupa.
O vestido vermelho sem mangas, meia calça preta e sapatos barulhentos eram ótimos como disfarce; como
equipamento, a roupa estava longe de prática.
Chegando no fim do corredor, ela abriu a porta cuidadosamente, de arma na mão. Como antes, o corredor
estava vazio, outra prova da desbotada elegância do prédio - paredes cor de areia e lajotas padronizadas. A
delegacia já deve ter sido magnífica, mas os anos de uso como prestador de serviços, o prédio perdeu seu
encanto; com a mansão de um filme, a fria atmosfera dando uma distinta sensação sinistra - como se a qualquer
momento uma fria mão pudesse tocar seu ombro, uma suave respiração em seu pescoço...
Ada franziu de novo; depois dessa missão, ela tirará longas férias. Senão isso, tentará outra carreira. Sua
concentração já não é como antes. E em seu trabalho, um erro pode levar à morte.
Um grande bônus. Trent cheira como dinheiro. Eu vou pedir sete dígitos, seis no mínimo.
Em suas tentativas de bloquear os pensamentos, só um ainda persistia - a jovem Stacy Kelso pondo o cabelo
atrás da orelha enquanto falava de seu irmão bebê...
Depois do que pareceu um longo tempo, Ada apagou essa visão e continuou andando, prometendo a si mesma
#
de que não haverá mais lapsos de concentração - e imaginando por que não acha que conseguirá.
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*De Lorean - Carro conhecido mundialmente por ter sido a máquina do tempo nos filmes da trilogia "De volta para
o Futuro".
*Delicatessen - Casa de comestíveis; mercearia.
*Espadas - Referência aos naipes do baralho:
Heart = Copas
Diamond = Ouros
Spade = Espadas
Club = Paus
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[7]
As botas de Leon esmagavam cacos de vidro na loja de armas Kendo, enquanto abria as gavetas. Se ele não
achar balas rápido terá problemas; as armas restantes da loja estavam inacessíveis, presas com cabos de aço, e
a janela da frente estava completamente quebrada. Não demorará muito para as criaturas o acharem, ele só
tinha uma bala e muito o que andar.
"Isso!".
Quarta gaveta, munição. Leon pegou a caixa e a pôs no balcão enquanto vigiava a frente da loja. Ninguém ainda,
sem contar o dono da loja morto. Ele não se movia. Por ter morrido há alguns minutos, não se sabe quando
voltará à vida, e Leon não queria estar lá para descobrir.
Vigiando a pequena loja, ele começou a recarregar. Leon tinha se esquecido da loja depois do acidente,
achando-a casualmente. Estando o caminho mais rápido para a delegacia bloqueado, a Kendo's era a melhor
opção.
"Uuuuunh...".
Uma horripilante e esquelética forma saiu das sombras da rua, vindo cegamente para frente da loja.
"Droga". Leon disse, seus dedos trabalhando mais rápido. Um clip pronto, mais um e pode levar o resto.
De repente, outra figura apareceu.
- dezesseis... dezessete...pronto!
Ele pegou a H&K e ejetou o clip, colocando o novo assim que o vazio caiu no chão. A criatura estava passando
pela armação do vidro, algo líquido em sua garganta soando levemente.
Mochila, ele precisa de uma. Leon olhou debaixo do balcão, vendo uma mochila de ginástica no fim dele. Material
de limpeza se espalhou no balcão enquanto Leon colocava os clips na mala, ignorando as balas espalhadas na
gaveta.
O monstro podre vinha em sua direção, tropeçando no dono da loja. Leon ergueu a arma e mirou no rosto da
criatura.
Na cabeça, igual aos outros dois lá fora -
Com um tremendo e alto som, a bala explodiu o rosto do zumbi, sangue respingando nas paredes.
Antes da coisa cair, Leon virou e ajoelhou perto da gaveta de munição, jogando as pesadas caixas na mochila.
Seu estômago dando um nó e tremendo de medo; o beco de trás pode estar cheio de zumbis.
Umas cento e cinqüenta balas, agora saia -
Levantando-se, Leon vestiu a mochila e correu para a porta de trás. Pelo canto do olho, viu outra criatura
entrando na loja; pelos cracks do vidro, havia mais deles.
Ele abriu a porta de saída e a cruzou, olhando para os lados assim que a porta se fechou. Nada além de latas de
lixo e caixas de papelão. De onde estava, o beco continuava à esquerda e depois virava à direita; se seu senso
de direção estiver intacto, a estreita passagem o levará direto para a Oak.
Até agora ele teve sorte; tudo o que podia fazer era esperar que isso não mudasse, e que pudesse chegar inteiro
#
no R.P.D. - e que lá houvesse um monte de pessoas armadas que saibam o que aconteceu.
E Claire. Esteja bem, Claire Redfield, e se chegar lá primeiro, não tranque a porta.
Leon ajustou a mochila nas costas e andou pelo beco mau iluminado, pronto para explodir o que cruzar seu
caminho.
Claire conseguiu quase sem dar um tiro; os zumbis eram cruéis, mas lentos, e a adrenalina em seu corpo tornou
fácil desviar deles. Talvez o som do acidente desviou suas atenções, aí foi só seguir seus olfatos, ou o que sobrou
deles. Dos dez zumbis que viu, pelo menos metade estava num avançado estágio de decomposição, carne
caindo dos ossos.
Ela já esteve no R.P.D. duas vezes com Chris, mas nunca entrou pela parte de trás. Viaturas estacionadas e
alguns policiais zumbificados a receberam na pequena área, levando-a para uma pequena cabana. Depois havia
um pátio - o pátio o qual ela e Chris almoçaram uma vez, sentados nos degraus que levavam ao heliporto do
segundo andar.
Desviar dos zumbis policiais no pátio em forma de L foi fácil, e um alívio por estar num lugar que conhecia.
Uma mulher de um único braço pendurado e roupas ensangüentadas, tinha saído das sombras debaixo da
escada e tocou Claire com frias mãos; Claire soltou um suspiro de surpresa, livrando-se da criatura - e quase caiu
nos braços de outro, um alto homem que também saiu de debaixo da escada de metal, grosseiro e silencioso.
Ela conseguiu evitá-lo e se afastou, apontando a 9 mm para o homem, recuando um passo e -
- esbarrou no corrimão. A mulher estava a um metro e meio à direita. O homem a um passo de distância.
Claire apertou o gatilho e houve um gigantesco boom, a arma quase pulando fora de sua mão. A parte direita do
rosto dele desapareceu numa explosão de líquido escuro.
Ela girou a arma, apontando para a pálida face da mulher. Outro tiro e o gemido foi interrompido, a testa
implodindo num espirro de sangue e pedaços de ossos. A mulher caiu de costas no chão como um -
- como um cadáver, o qual ela já era. Eles não sairão mais daqui.
Por um momento, Claire não se moveu. Ela olhou para os dois corpos e sentiu que esteve a um centímetro de
errá-los.
Ela cresceu em volta de armas, atirando em alvos dezenas de vezes - mas era com uma pistola .22 e alvos de
papel. Alvos que não sangravam ou espirravam miolos como os dois seres humanos que acabou de matar -
Não. Uma voz interna a interrompeu. Humanos, não, não mais. Não se engane e não perca tempo com
remorso. Leon já deve ter entrado, e está procurando por você. E se o S.T.A.R.S. foi chamado, Chris pode estar
lá também.
Se isso não foi motivação o bastante, os dois zumbis que deixou para trás estavam vindo. É hora de ir.
Ela subiu a escada, mal ouvindo seus passos por causa do zumbido em seu ouvido. Os tiros não fizeram bem à
sua audição - por isso só ouviu o helicóptero quando estava chegando lá em cima.
Claire parou, o vento batendo ritmadamente em seu corpo enquanto o veículo entrava em visão, perdido na
sombra. Estava de frente para a antiga torre d'água. Ela não sabia se ia pousar ou se já tinha decolado.
Não sabia e não se importava. "Ei!". Ela gritou, erguendo sua mão esquerda. "Ei, aqui!".
Suas palavras se perderam na poeira levantada pelas pás do helicóptero. Claire acenou como se tivesse ganhado
na loteria.
Alguém veio. Graças a Deus, obrigado!
O holofote da aeronave foi ligado - mas estava indo na direção errada, não para ela. Claire balançou os braços
mais freneticamente, respirando para gritar de novo até que -
- viu o que a luz iluminava, mesmo enquanto ouvia o desesperado e praticamente inaudível grito sob o motor do
helicóptero. Um homem, um policial, de pé no meio do heliporto. Ele segurava uma metralhadora, e parecia bem
vivo.
"- venha até aqui -".
O policial gritou para o alto, sua voz cheia de pânico; Claire viu o porquê e seu alívio evaporou. Havia dois zumbis
saindo do escuro e indo para o alvo bem iluminado que estava gritando. Ela ergueu a arma, mas a abaixou de
novo, com medo de acertar o policial.
A luz não se movia, iluminando o terror com sua brilhante claridade. O homem não devia saber o quanto perto os
#
zumbis estavam até que foi tocado.
"Afastem-se! Não se aproximem!". Ele gritou. Com o terror em sua voz, Claire pode ouvi-lo claramente. As duas
figuras o encurralaram no canto sudoeste do heliporto.
O som da metralhadora foi alto. Mesmo com o helicóptero acima, Claire ouviu as balas cortando ar. Ela se
ajoelhou enquanto os tiro continuavam para todos os lados - e para cima -
- e houve uma mudança no som do helicóptero, um estranho hum que fico mais alto. Claire olhou para cima e viu
a nave branca mergulhando, a cauda balançando num instável arco.
Jesus, ele acertou o helicóptero.
O holofote ia em todas as direções, passando por canos de metal, concreto e o policial sendo atacado pelos
zumbis, de alguma forma ainda atirando -
- e de repente o helicóptero começou a descer, balançando. As pás batendo no telhado com muita força. Antes
que Claire pudesse piscar, o nariz da nave bateu - cruzando o heliporto num curto arranhão de faíscas e cacos de
vidro.
A explosão ocorreu assim que a máquina caiu na parede sudoeste - diretamente sobre o policial e seus dois
assassinos. No mesmo instante, o nariz do helicóptero atravessou a parede de tijolos bem à frente.
A rajada de tiros finalmente parou sob as chamas que vieram depois do boom, iluminando o lugar num ardente
calor alaranjado.
Claire ergueu-se nas pernas que mal sentia, olhando desacreditada para o fogo que tomava conta de quase
metade do heliporto. Tudo aconteceu tão rápido que pareceu ser mentira. Um ácido e enjoativo odor de metal
derretido passou por ela numa onda de calor, e no súbito silêncio ela pode ouvir o gemido dos zumbis no pátio lá
embaixo.
Ela olhou para as escadas e viu que ambos os policiais zumbis estavam na base, cegamente tropeçando no
primeiro degrau. Pelo menos eles não estavam subindo...
Claire virou seu assustado olhar na direção da porta a uns dez metros dali. Exceto pela escada, a porta era o
único modo de chegar lá. E se zumbis não conseguiam subir - e tinha dois no heliporto -
- então tenho problemas. A delegacia não é segura.
Ela olhou para os destroços queimando, medindo opções. Ela ainda tinha muita munição; ela pode voltar para a
rua, procurar um carro com chave e buscar ajuda.
E Leon? Se aquele policial estava vivo, pode haver mais lá dentro planejando uma fuga?
Ela não podia ir embora sem avisar Leon; e se ele morrer procurando por ela...
Decidida, Claire foi até a porta, procurando movimento nas sombras. Chegando lá, fechou os olhos por um
segundo, a mão suada na fechadura.
"Eu vou conseguir". Ela disse. Apesar de não ter parecido confiante como queria, sua voz não tremeu. Ela abriu
os olhos, depois a porta; quando nada saiu do escuro corredor, ela entrou.
[8]
O Chefe da polícia, Brian Irons, estava parado em um de seus corredores particulares, tentando recuperar o
fôlego, quando sentiu um tremendo impacto no prédio. Ele o ouviu, também - ouviu algo. Um distante som,
pesado e brutal.
O telhado. Ele pensou. Algo no telhado...
Ele não se preocupou em tirar conclusões. Seja lá o que for, não tornará as coisas piores.
Irons se afastou da parede de pedra e ergueu Beverly o mais gentilmente possível. Eles estarão no elevador em
um minuto, depois uma pequena caminhada até o escritório; ele pode descansar lá, e depois -
"E depois,". Ele resmungou. "essa é a questão, não é?. Depois o que?".
Beverly não respondeu. Seus traços perfeitos permaneceram parados, seus olhos fechados - mas ela parecia se
aconchegar com ele, seu longo e magro corpo perto do peito dele. Devia ser sua imaginação...
#
Beverly Harris, a filha do prefeito. Bela e jovem Beverly, que, com sua beleza loira, já assombrava os sonhos
culposos de Brian. Ele a segurou e continuou indo para o elevador, tentando não demonstrar exaustão caso ela
acorde.
Seus braços e costas estavam doendo quando chegou no elevador. Ele deveria tê-la deixado em sua sala de
hobby, a sala a qual sempre considerou como um Santuário - era clamo lá, e provavelmente um dos lugares mais
seguros da delegacia. Quando ele decidiu voltar para o escritório, pegar seu diário e outros itens pessoais, ele
percebeu que simplesmente não podia deixá-la para trás. Ela parecia tão vulnerável, tão inocente; ele tinha
prometido a Harris de que cuidaria dela; e se ela fosse atacada em sua ausência? E se ele voltar e ela não estiver
lá?
Uma década de trabalho. Fazendo conexões, se posicionando... tudo isso, desse jeito.
Irons a pôs no frio chão e abriu as grades, tentando não pensar no que perdeu. Beverly era o mais importante
agora.
"Te dar segurança". Ele disse. Por acaso ela mexeu a boca, sorrindo? Será que ela sabe que está a salvo com o
tio Brian? Quando ela era criança, quando ele visitava a família Harris para jantar, ela o chamava assim. "Tio
Brian".
Ela sabe. Claro que sabe.
Ele a colocou no elevador, olhando seu angelical rosto. Ele foi pego subitamente por uma onda de amor paterno,
e não ficou surpreso ao sentir lágrimas nos olhos, lágrimas de orgulho e afeição. Nos últimos dias, ele tem sido
alvo das emoções - raiva, terror, até mesmo alegria. Ele nunca foi um homem emotivo, mas teve que aprender a
conviver com os sentimentos; pelo menos não eram confusos.
Chega deles, nada mais pode dar errado agora; Beverly está comigo, e uma vez pegas as minhas coisas, nos
esconderemos no Santuário e descansaremos. Ela precisará de tempo para se recuperar.
Ele piscou as esquecidas lágrimas assim que a jaula de metal começou a subir, checando a arma para ver
quantas balas restavam. Sua sala subterrânea era segura, mas o escritório era outra história; ele quer estar
preparado.
O elevador parou e Irons abriu a grade com o pé antes de levantar a garota, gemendo com o esforço. Ele a
carregou como uma criança, sua cabeça caída para trás.
Ele apertou o botão na parede com o joelho. A parede deslizou para cima, revelando a aveludada decoração de
seu escritório sem; só os vazios olhares de seus animais empalhados o receberam.
A grande mesa de madeira que importou da Itália estava bem à sua esquerda, e sua força acabando; Beverly
era magra, mas ele não estava em forma, como antigamente. Ele rapidamente a colocou na mesa, empurrando
um porta-lápis com o cotovelo.
Ele tinha ficado preocupado quando a achou desacordada ao lado do Oficial Scott no corredor de trás; George
Scott estava morto, coberto de ferimentos. Ao ver a mancha vermelha no estômago dela, Irons achou que
também estivesse morta. Mas quando ele a levou para seu Santuário, ela cochichou para ele - que não se sentia
bem, que estava ferida, que queria ir para casa.
... não é? Não disse?
Irons franziu, tirado da incerta lembrança por algo, algo que sentiu quando a deitou na mesa e arrumou seu
vestido branco manchado de sangue, algo que não se lembrava. Não parecia importante, mas agora, longe da
segurança de seu Santuário, isso o estava incomodando. Lembrando-o de que sofreu um daqueles momentos
confusos quando ele, quando ele - senti os frios e moles intestinos entre meus dedos -
- quando ele a tocou.
"Beverly?". Ele cochichou, sentando na cadeira de sua mesa quando de repente sentiu suas pernas fracas.
Beverly continuou calada - e o turbulento dilúvio de emoções o acertou, lotando sua mente com imagens,
memórias e verdades que não queria aceitar; Recuar as barricadas depois dos primeiros ataques. A Umbrella,
Birkin e os mortos-vivos. O massacre na garagem. O crescente número de mortos na primeira e terrível noite - e
a brutal percepção de que sua cidade - já era.
Depois disso veio a confusão. A estranha alegria que veio ao perceber que não haverá conseqüências para seus
atos. Irons se lembrou do jogo que fez na segunda noite, depois que alguns bichinhos de Birkin acharam alguns
#
policiais. Ele achou Neil Carlsen escondido na biblioteca e... o caçou, perseguindo o sargento como um animal.
Qual seria o problema, já que a minha vida em Raccoon está acabada?
Tudo o que restava era seu Santuário - e a parte dele que ajudou a criar o lugar, a parte escura e gloriosa de seu
coração que sempre escondeu. Esta parte está livre agora...
Irons olhou para o corpo de Beverly e sentiu que pode ser destruído pelos sentimentos de medo e dúvida que
lutavam dentro dele. Irons a matou? Ele não conseguia se lembrar.
Tio Brian. Dez anos atrás, eu era o Tio Brian dela. Em que me tornei?
Era demais. Sem tirar os olhos do rosto sem vida de Beverly, ele tirou a VP70 carregada do coldre e começou a
esfregar o cano com os dedos, leves toques que o asseguraram enquanto a arma girava em sua direção.
Quando o cano foi pressionado contra sua macia barriga, ele sentiu que algum tipo de paz ficou ao seu alcance.
Seu dedo encostou no gatilho, e foi quando Beverly cochichou para ele de novo, os lábios dela parados, mas sua
leve e musical voz vindo do nada e de todos os lados ao mesmo tempo.
- não me deixe, Tio Brian. Você prometeu que me daria segurança, que cuidaria de mim. Pense no que você
pode fazer agora sem que nada o impeça.
"Você está morta". Ele sussurrou, mas ela continuou falando, suave e persistente.
... nada o impedirá de se realizar de verdade pela primeira vez na vida...
Torturado, Irons vagarosamente tirou a 9mm de seu estômago. Depois de um momento, ele descansou sua
testa no ombro dela e fechou os olhos.
Ela estava certa, ele não podia deixá-la. Ele tinha prometido - e ela disse algo sobre o que podia fazer. Sua mesa
de hobby era grande o bastante para acomodar qualquer tipo de animal...
Isso mesmo. Ele vai descansar e depois cuidará dos negócios; afinal, ele é o chefe da polícia.
Sob controle de novo, Brian Irons começou a dormir, a fria pele de Beverly em sua testa.
[9]
Graças a um furgão parado no beco, o atalho para a delegacia sofreu mudanças - uma quadra de basquete
infestada de zumbis, outro beco, um ônibus que fedia por causa dos mortos lá dentro. Foi um pesadelo, os
gemidos, o cheiro e a distante explosão que fez suas pernas tremerem. Apesar de tudo, Leon manteve a
esperança de que havia algum tipo de mobilização no R.P.D., com policiais e paramédicos - autoridades tomando
decisões e equipes organizadas. Não era uma esperança, era uma necessidade.
Quando ele finalmente saiu na rua em frente ao R.P.D. sentiu-se espancado vendo viaturas pegando fogo. Mas
foi a visão de zumbis policiais gemendo entre as chamas que acabaram com sua esperança. O R.P.D. tinha uma
equipe de cinqüenta ou sessenta policiais, e um terço deles estavam vagando ou mortos perto da entrada do
prédio.
Leon tentou esquecer o desespero, fixando seu olhar no portão do jardim. Tendo ou não alguém sobrevivido, ele
tinha que chamar ajuda - e achar Claire.
Ele correu para o portão, desviando dos zumbis uniformizados, abrindo e fechando o portão de metal. A pequena
área gramada à sua direita estava iluminada o bastante para ver que havia três ex-humanos lá, e que não
representavam ameaça. Ele pode ver as duas bandeiras que enfeitavam a entrada da delegacia, penduradas
sem se mover. A visão reconsiderou suas esperanças, pelo menos está num lugar que conhece e que deve ser
mais seguro do que na rua.
Leon correu entre o trio de zumbis - dois homens e uma mulher; todos pareciam normais se não fosse por seus
gemidos famintos. Devem ter morrido recentemente.
A porta de entrada não estava trancada; por tudo o que passou desde que chegou na cidade, Leon preferiu
manter suas expectativas no mínimo. Ele girou a maçaneta e entrou, de arma erguida e dedo no gatilho.
Vazio. Não havia sinal de vida no grande e velho saguão do R.P.D. - e nenhum sinal do desastre que tomou conta
de Raccoon. Leon fechou a porta e desceu os degraus para o piso mais baixo.
#
"Olá?". Leon disse baixo, e o som ecoou de volta com um suspiro. Tudo parecia do mesmo jeito; três andares de
clássica arquitetura em madeira e mármore. Havia a estátua de uma mulher segurando um vaso no ombro bem
no meio do lugar, uma rampa de cada lado levando à recepção e o logotipo do R.P.D. no chão em frente ao
suave brilho da estátua, proveniente das arandelas na parede.
Sem corpos, sem sangue... nem um cartucho de bala. Se houve um ataque aqui, onde diabos estão as provas?
No profundo silêncio do lugar, Leon subiu a rampa da esquerda, parando no balcão da recepção, curvando-se
sobre ele; tudo no lugar. Tinha um telefone na mesa sob o balcão. Leon pegou o receptor e o colocou entre a
cabeça e o ombro, tocando os botões com os dedos. Nem discava; tudo o que ouvia era o som de seu próprio
coração.
Ele virou para a sala vazia, decidindo por onde começar. Ele recebeu um memorando do R.P.D. semanas atrás,
dizendo que as salas seriam mudadas. Mas isso não importava; os policiais não se preocupariam em ficar ao lado
de suas mesas nessa situação.
Haviam três portas no saguão que davam em diferentes lugares da delegacia; duas no lado oeste e uma no
leste. Das duas no lado oeste uma leva a uma série de corredores para a parte de trás do prédio, depois da sala
de arquivos e da sala de pronunciamentos; a segunda dava num escritório e armários, que então leva às escadas
para o segundo andar. O lado leste do primeiro andar era primeiramente para os detetives - escritórios,
interrogatórios e sala de entrevistas; tinha também acesso ao subsolo e escadas no lado de fora.
Claire provavelmente veio pela garagem... ou pelo telhado.
Ou então ela contornou o prédio e veio pelo mesmo lugar que ele - se ela conseguiu chegar aqui, pode estar em
qualquer lugar. E considerando que o R.P.D. ocupa quase um quarteirão, ainda tinha muito chão pela frente.
Ele optou pela segunda porta do lado oeste, onde seu armário estaria.
Leon entrou devagar, esperando ver as mesmas condições do saguão; silêncio e organização. Mas o que viu
confirmou seus medos: as criaturas estiveram lá - com a vingança.
A longa sala estava arrasada, mesas e cadeiras jogadas e derrubadas em todo canto. Borrões de sangue
decoravam as paredes, rastros do mesmo em poças no chão, indo em frente.
"Meu Deus -".
Um policial estava sentado contra os armários à sua esquerda, suas pernas esticadas, meio escondidas pela
mesa virada. Ao som da voz de Leon, ele fracamente ergueu o braço, apontando vagamente uma arma na
direção de Leon - e a abaixou de novo, parecendo exausto com o esforço. Seu peito estava pintado de sangue,
suas expressões cheias de dor. Leon se abaixou ao lado dele em dois passos, gentilmente tocando seu ombro.
Ele não via o ferimento, mas tinha tanto sangue que a gravidade era óbvia -
"Quem é você?". O policial suspirou.
Eles nunca foram apresentados, mas Leon já o viu antes. O jovem policial afro-americano se chamava Marvin
Branagh...
"Eu sou Leon S. Kennedy. O que aconteceu aqui?".
"A cerca de dois meses," Marvin disse, "os assassinatos canibais... o S.T.A.R.S. encontrou zumbis na mansão da
floresta...".
Ele tossiu e Leon começou a dizer para descansar, mas Marvin parecia determinado a contar a história.
"Chris e os outros descobriram que a Umbrella estava por trás de tudo... arriscaram suas vidas, mas ninguém
acreditou... depois isto".
Chris... Chris Redfield, o irmão de Claire.
Leon sabia algo sobre o problema com o S.T.A.R.S. ele só ouviu trechos da história - a suspensão do grupo de
ações táticas especiais e resgate, após serem acusados de má conduta, foi o motivo da contratação de novos
policiais.
Ele até leu o nome dos membros num jornal, listados juntos com alguns de seus recordes.
- e a Umbrella destrói a cidade. Algum tipo de vazamento químico que tentaram esconder se livrando do
S.T.A.R.S. -
Tudo isso saia de sua mente até que Marvin tossiu de novo, mais fraco.
"Agüenta aí". Leon disse, procurando algo para estancar o sangramento. Ele achou uma camiseta no armário
atrás do policial e a enrolou, pressionando contra o estômago de dele. O próprio policial segurou-a com as mãos,
fechando os olhos enquanto falava novamente.
"Não se preocupe comigo. Há... você deve tentar salvar os sobreviventes...".
#
Leon balançou a cabeça, querendo negar a verdade, querendo fazer algo para aliviar a do de Marvin - mas ele
estava morrendo, e não podia chamar ajuda.
"Vá". Marvin disse, ainda de olhos fechados.
Ele estava certo, Leon não podia fazer mais nada - e não conseguiu se mover por um momento - até Marvin
erguer sua arma de novo, apontando-a para Leon numa erupção de energia que aumentou sua voz num grito.
"Vá!". O policial ordenou e Leon se levantou.
"Eu voltarei". Leon disse firmemente, o braço de Marvin já caindo.
Leon voltou para a porta, respirando fundo e aceitando a mudança de plano que pode acabar o matando - mas
que não podia evitar. Ele era um policial. Se houvessem sobreviventes, é sua civil e moral conduta ajudá-los.
Tem um depósito de armas no subsolo, perto da garagem. Leon abriu a porta e voltou para o saguão, rezando
para que o depósito esteja bem equipado - e que haja alguém para salvar.
[10]
Depois do ardente telhado, Claire cruzou um zigue-zagueado corredor cheio de cacos de vidro no chão - e depois
de um policial morto no chão, seu medo sobre a segurança da delegacia aumentou. Ela pulou o corpo e continuou
andando. Uma fraca brisa passou pelas janelas quebradas que decoravam a parede externa, dando vida à
escuridão; haviam brilhantes penas pretas junto às marcas de sangue no chão, que fizeram Claire mirar o
revólver a cada suave balanço.
Ela passou por uma porta que dava nas escadas externas do lugar, mas continuou andando, virando à direita. O
modo como o helicóptero acertou o prédio perturbou Claire, inspirando visões da velha delegacia pegando fogo.
Só faltava essa...
Cadáveres e marcas de sangue nas paredes; Claire não estava feliz com a idéia de vagar pela delegacia. E mais,
tiros não são tão eficientes; ela precisa ver o quanto ruim está a situação antes de procurar Leon.
O corredor terminava numa porta. Claire a abriu - e recuou assim que a nuvem de fumaça passou por ela, o
cheiro de metal e madeira queimados no ar. Ela se agachou e deu uma espiada no corredor que ia para a direita.
Mais para frente ele virava à direita de novo, e ainda assim não se podia ver o fogo; sua brilhante luz alaranjada
refletia nas paredes cinzas.
Droga. O que foi agora?
Havia outra porta diagonalmente de sua posição, a alguns passos; Claire respirou fundo e andou abaixada para
evitar a fumaça, esperando achar um extintor de incêndio - e que fosse suficiente.
A porta dava numa sala de espera vazia - sofás de vinil verdes, um balcão de canto e uma porta no outro lado. A
pequena sala parecia intocada, clama e quieta, igual aos outros lugares que passou essa noite - só que não havia
sinais de desastre nas suaves sombras criadas pelas fluorescentes acima. Nenhum zumbi morto no chão de
madeira escura e nenhum espirro de sangue nas paredes cor de creme.
E nenhum extintor...
Nenhum à vista. Ela fechou a porta e foi até o balcão, levantando a tampa de entrada com o cano da arma.
Tinha uma velha máquina de escrever no balcão - e perto de um telefone. Claire o pegou esperançosa, mas só
ouviu silêncio. Suspirando, ela se abaixou para ver as prateleiras sob o balcão. Uma agenda, papéis - e meio
escondido entre uma bolsa, o familiar cilindro vermelho, com uma fina camada de pó.
"Aí está você". Ela sussurrou, guardando a 9mm no colete e levantando o extintor. Ela nunca usou um antes,
mas parecia fácil - uma alavanca de metal com um pino de segurança e um bocal de borracha preto. Pelo peso
parecia estar cheio.
Respirando várias vezes e armada com o extintor, Claire abriu a porta e voltou para o corredor. A fumaça tinha
se intensificado, acumulando-se no teto.
Ela fez a curva e viu destroços queimando no fim do corredor, sentindo-se aliviada e triste ao mesmo tempo. O
fogo não era tão grande quanto pensava. As chamas se estendiam até uma porta de madeira destruída. Era o
#
nariz do helicóptero que chamou sua atenção - a ardente cabine - e o ardente corpo do piloto ainda preso no
assento, sua boca queimada bocejando como um grito silencioso. Não dava para saber se era homem ou mulher.
Claire tirou o pino e mirou o cano nas chamas. Ela apertou a alavanca e um jato de neve espirrou, acertando os
destroços com uma nuvem. Mal vendo através da fumaça, ela direcionou o jato sobre tudo. Dentro de um
minuto, o fogo pareceu ter acabado, mas ela continuou usando o extintor até acabar.
A última tossida de gás veio e Claire soltou a válvula, suspirando algumas vezes, procurando algum foco que
tenha passado despercebido. Nenhuma chama, mas a porta de madeira ao lado da cabine ainda soltava filetes de
fumaça. A área em volta da porta já foi arrebentada e Claire decidiu arriscar. Ela recuou e deu um sólido chute na
porta, mirando perto das dobraduras.
A porta abriu com um crack, a madeira carbonizada desfazendo-se em uma chuva de cinzas. Algumas caíram em
suas botas, mas Claire rapidamente levantou a arma, ainda as sacudindo, mais assustada com o que pode estar
esperando do outro lado.
Um curto e vazio corredor tinha seu começo cheio de pedaços de madeira queimados, e uma porta ao fundo, à
esquerda. Claire foi até lá, tanto para respirar ar puro quanto para ver onde dava.
A porta seguinte estava destrancada. Claire a abriu, pronta para atirar em qualquer -
- e parou, chocada com a bizarra atmosfera da sala. Era como uma sátira de um clube de homens dos anos
cinqüenta, um grande escritório decorado com uma extravagância beirando o ridículo. As paredes tinham grandes
estantes de mogno e mesas cercando uma espécie de área de descanso, feita com acolchoadas cadeiras de
couro e uma mesa de mármore, tudo sob um provável tapete oriental. Um elaborado lustre vinha do teto,
jogando uma melodiosa luz sobre tudo. Quadros e delicados vasos estavam por toda parte - mas seus clássicos
designs eram ofuscados pelas empalhadas cabeças de animais e pássaros que dominavam um canto, ao lado de
uma grande mesa -
- Oh, Jesus -
Deitada na mesa, como a personagem de uma história de terror, estava uma bonita e jovem mulher de vestido
longo e branco, seu abdômen tomado por sangue. Era como um enfeite, sendo olhado pelos animais empalhados
- tinha um falcão que parecia estar voando, cabeças de alce e veado. O efeito foi tão pavoroso que por um
momento Claire não respirou -
- foi quando a alta poltrona atrás da mesa girou de repente. Claire mal conteve o grito de terror, esperando ver a
Morte sorrindo para ela. Mas era um homem - com uma arma apontada para ela.
Pela segunda vez hoje...
Por um segundo, ninguém se moveu - então o homem abaixou a arma, um sorriso amarelo surgindo em seu
gorducho rosto.
"Eu sinto muito," ele disse, sua voz tão oleosa quanto a de um político ruim. "pensei que você fosse um daqueles
zumbis".
Ele alisava seu cheio bigode enquanto falava. Apesar de Claire nunca tê-lo conhecido, ela subitamente sabia quem
ele era, Chris já tinha falado sobre ele.
Gordo, bigode - era o chefe da polícia, Brian Irons.
Ele não parecia bem. De fato, parecia desconectado da realidade.
"Você é o chefe Irons?". Ela perguntou, tentando parecer agradável ao se aproximar da mesa.
"Sim, sou eu, e quem é você?".
Antes de ela falar, Irons continuou calmamente, confirmando a suspeita de Claire com o que disse depois - em
seu tom petulante. "Não, não se preocupe em me dizer. Não fará diferença. Você acabará como todos os
outros...".
Ele parou, olhando para o corpo à sua frente, com uma emoção que Claire não podia decifrar. Ela sentiu-se mal
por ele, ao contrário do que Chris disse sobre sua personalidade podre e incompetência profissional; só Deus sabe
que horrores ele presenciou, ou o que teve de fazer para viver.
Leon e eu entramos nesse terror há alguns minutos; Irons já estava aqui, provavelmente vendo seus amigos
morrendo.
Ele olhou para o corpo e falou, sua voz triste e pomposa ao mesmo tempo.
"É a filha do prefeito. Eu deveria cuidar dela, mas falhei miseravelmente...".
Claire procurou palavras de conforto, querendo dizer que tinha sorte por estar vivo, que não foi sua culpa - mas
ele continuou lamentando, as palavras dela morrendo na garganta, junto com a dó.
#
"Olhe para ela. É linda, sua pele perfeita. Mas logo apodrecerá... e em uma hora se tornará uma daquelas coisas.
Bem como os outros".
Claire não queria tirar conclusões, mas sua descrição e olhar faminto a fizeram se arrepiar. O jeito que ele olhava
para a garota morta -
- você fica imaginando coisas. Ele é o chefe da polícia, não um pervertido lunático. Ele é o único vivo que
encontrou. Peça informações!
"Deve haver um jeito de parar...". Claire disse gentilmente.
"Sim... uma bala no cérebro - ou decapitação".
Ele finalmente desviou o olhar do corpo, mas não para Claire. Ele olhou para os bichos ao lado de sua mesa, sua
voz adquirindo um tom alegre.
"Em pensar que - taxidermia costumava ser o meu hobby. Não mais...".
Os alarmes de Claire dispararam. Taxidermia? O que diabos um corpo humano fazia na mesa dele?
Irons finalmente olhou para Claire, que não gostou nem um pouco. Ele olhava em seu rosto mas não parecia
enxergá-la. Ocorreu-lhe que ele não havia perguntado como chegou lá, ou sobre a fumaça que entrou no
escritório. E o jeito que falava sobre a filha do prefeito... nenhuma dor real, só auto-piedade e algum tipo de
admiração.
Oh, Deus, ele não está só abalado, ele está em outro planeta -
"Por favor,". Irons disse. "eu queria ficar sozinho agora".
Ele se acomodou na cadeira e fechou os olhos, parecendo exausto. Tão simples assim, ela foi dispensada,
mesmo com milhões de perguntas - muitas delas que ele poderia responder - mas ela achou melhor só sair de
perto dele, pelo menos agora -
Houve um suave som atrás dela, à esquerda, tão baixo que ela não tinha certeza se realmente o ouviu.
Claire virou, franzindo, e viu outra porta no canto da sala. Ela não a tinha visto antes - e aquele som veio de lá.
Outro zumbi? Ou alguém se escondendo...?
Ela olhou para Irons que nem se moveu.
Então - volto por onde vim, ou vejo o que tem atrás da porta?
Leon - ela tinha que achá-lo e Irons não parecia querer unir forças. Mas se houver outra pessoa no prédio que
precise de ajuda ou possa ajudar...
Não vai demorar. Ela olhou para Irons, perto do corpo da filha do prefeito, cercado por seus animais sem vida;
Claire foi até a segunda porta, esperando não estar cometendo um erro.
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*Taxidermia - Arte de empalhar animais.
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[11]
Sherry tem se escondido por um longo na delegacia, uns três ou quatro dias, e ainda não viu sua mãe. Nenhuma
vez, nem quando havia muita gente restando. Ela encontrou a Sra. Addison - uma das professoras da escola -
logo depois de chegar lá, mas ela já estava morta. Um zumbi a comeu. Não muito depois disso, Sherry achou um
tubo de ventilação que cobre quase todo prédio, e decidiu que se esconder era mais seguro do que ficar com os
adultos - porque eles morriam, e porque havia um monstro na delegacia bem pior que os zumbis e os homens do
avesso. Ela tinha certeza que esse monstro a procurava. Era idiotice, ela nunca pensou que monstros
perseguissem uma única pessoa - mas ela também nunca pensou que monstros existissem.
Assim, Sherry vem se escondendo na sala de armaduras; ninguém morto lá e o único jeito de entrar - exceto o
tubo de ventilação atrás das armaduras - era passando por um longo corredor vigiado por um tigre gigante.
Empalhado, mas assustador - Sherry pensou que ele pudesse afugentar o monstro. Ela sabia que era besteira,
#
mas a fazia se sentir melhor.
Sendo que os zumbis tomaram conta da delegacia, ela passou a maior parte do tempo dormindo. Assim, ela no
pensava no que aconteceu com os pais ou o que vai acontecer consigo mesma. O tubo de ventilação era quente
e tinha muita comida na máquina de doces, escada abaixo - mas ela estava assustada, e pior que isso, sozinha.
Ela dormia atrás das armaduras quando houve um tremendo barulho lá fora. Ela estava certa que era o monstro;
Sherry só o viu uma vez antes, suas grandes e terríveis costas, pela grade de metal - desde então, ela o ouviu
gritar pelo prédio várias vezes. Ela sabia que ele era mau, mau, violento e faminto.
Às vezes ele desaparecia por horas, fazendo Sherry pensar que tinha ido embora - mas sempre voltava, não
importa onde ela estava, mas sempre parecia surgir por perto.
O barulho que a tirou do sono parecia o de um monstro quebrando as paredes, fazendo-a correr para seu
esconderijo caso o som se aproxima, mas não se aproximou. Por um longo tempo não se moveu, segurando seu
amuleto da sorte - um bonito colar de ouro que sua mãe havia lhe dado semana passada, tão grande que
preenchia toda sua mão. Como antes, ele funcionou; o horrível barulho não se repetiu. Ou talvez o tigre cumpriu
seu papel. Mesmo assim, quando ouviu suaves passos no escritório, Sherry sentiu-se segura o bastante, para ir
até o corredor e escutar. Os zumbis e homens do avesso não podiam abrir portas. Se fosse o monstro, já teria
vindo para ela.
Tem que ser uma pessoa. Talvez mamãe...
Na metade do corredor onde virava à direita, ela ouviu pessoas falando no escritório, sentindo um estouro de
esperança e solidão ao mesmo tempo. Ela não sabia o que falavam, mas pela primeira vez em dois dias ela ouviu
alguém que não gemesse. Podia ser a ajuda que finalmente chegou a Raccoon.
O exército, marinha, talvez todos eles...
Curiosa, ela correu para a porta de frente para o tigre, quando as vozes pararam. Sherry ficou imóvel.
Se a ajuda veio, porque não ouvia os caminhões e aviões? Não haveria tiros, bombas e alto-falantes alertando
para que todos saíssem?
Talvez sejam vozes de pessoas más; loucas como aquele homem...
Não muito depois que Sherry começou a se esconder, ela viu uma coisa terrível pela grade da sala de armários.
Um homem de cabelo vermelho estava lá, falando sozinho, balançando para frente e para trás numa cadeira. No
começo, Sherry pensou em chamá-lo para ajudar, mas o modo como falava, sorria e balançava, a deixou
desconfiada. Então ela o observou por um tempo. Ele segurava uma grande faca, e depois de um longo tempo,
ainda rindo, resmungando e balançando, ele se esfaqueou no estômago. O homem a tinha assustado mais do
que os zumbis, porque não fazia sentido. Ele era louco e se matou, e ela engatinhou de volta, chorando, porque
não fazia sentido.
Se as pessoas no escritório são boas, elas podem querer tirá-la de seu esconderijo e tentar protegê-la - e isso
significaria sua morte, porque o monstro certamente não tinha medo de adultos.
Parecia ruim ter que voltar, mas não tinha outra escolha. Sherry começou a voltar para a sala de armaduras
quando -
Crack!
- ela congelou assim que a madeira do chão rangeu. O som pareceu incrivelmente alto e ela prendeu a
respiração, agarrando seu colar e rezando para que a porta não abrisse, que nenhum maluco aparecesse - e a
pegasse.
Ela não ouviu mais nada, mas achou que as batidas do seu coração a denunciariam, era tão alto. Depois de dez
segundos ela continuou andando, na ponta dos pés como se estivesse num ninho de cobras. Ela tinha que usar
toda sua força para não correr até a curva - uma coisa que ela aprendeu nos filmes era que, correr do perigo
sempre significava uma morte horrível.
Quando ela finalmente chegou à porta, sentiu-se aliviada e só queria pegar o cobertor que a Sr. Addison achou e -
A porta do escritório abriu, abriu e fechou. Um segundo depois, passos. Indo para ela.
Sherry voou pela sala, não pensando um mais nada por causa do pânico. Ela passou pelos três cavaleiros,
esquecendo seu lugar seguro. Tudo o que queria era ir o mais longe possível. Havia uma escura e pequena sala
sem porta depois da caixa de vidro no meio da sala -
- e ela ouviu os passos correndo atrás dela. Sherry se abaixou entre os tijolos da lareira e tentou se encolher,
abraçando os joelhos e escondendo o rosto. A escuridão da sala do fundo era tudo o que precisava.
Por favor, por favor, por favor, não apareça, não me veja, eu não estou aqui.
#
Os passos entraram na sala das armaduras e mais calmos, hesitantes, passando pela caixa de vidro. Sherry
pensou em seu tubo de ventilação, que a levaria embora, e segurou as lágrimas de arrependimento. A sala da
lareira não tinha saída.
Os passos se aproximaram da sala que Sherry estava. Ela prometia fazer qualquer coisa caso o estranho fosse
embora -
Thump. Thump. Thump -
De repente a sala se iluminou, o leve click do interruptor sobre o choro de Sherry. Ela não agüentou, se levantou e
correu, gritando, esperando chegar até o tubo de ventilação quando -
- uma quente mão segurou seu braço, apertado. Ela gritou de novo, puxando o mais forte que podia, mas o
estranho era forte -
"Espere!". Era uma mulher.
"Me deixe ir". Sherry choramingou, mas a mulher continuou segurando, puxando.
"Calma, calma - eu não sou um zumbi, fique calma, está tudo bem -".
A voz da mulher soou mais gentilmente. A doce e musical voz repetiu-se de novo e de novo.
"- calma, está tudo bem, eu não vou te machucar, você está segura agora".
Sherry finalmente olhou para a moça, e viu o quanto bonita era, o quanto seus olhos eram preocupados e
simpáticos. Sherry parou de tentar fugir e sentiu as quentes lágrimas em seu rosto. Ela instintivamente abraçou a
bonita jovem - e a moça retribuiu, seus finos braços em volta dos trêmulos ombros de Sherry.
Sherry chorou, deixando a mulher acariciar seu cabelo e dizer palavras tranqüilizantes - pelo menos o pior acabou.
Por mais que quisesse cair nos braços da moça e esquecer os medos, acreditar que estava a salvo, ela sabia que
não dava. Além, disso, ela não era mais um bebê; fez doze anos mês passado.
Sherry se afastou da mulher e secou os olhos, olhando para a estranha. Ela não era velha, por volta dos vinte, e
tinha roupas legais - botas, shorts vermelho de tecido grosso e um colete do mesmo conjunto, sem mangas. Seu
cabelo castanho era amarrado para trás, e quando sorriu, parecia uma atriz de cinema.
"Meu nome é Claire. Qual é o seu?".
Sherry se envergonhou de repente, por ter corrido de uma pessoa tão boa. Seus pais diziam que agia como um
bebê, que era "muito imaginativa", e aqui está a prova; Claire não iria machucá-la.
"Sherry Birkin". Ela disse e sorriu, esperando que Claire não fosse má para ela; ela não parecia brava, e sim
agradecia pela resposta.
"Você sabe onde estão seus pais?". Claire perguntou.
"Eles trabalham no laboratório químico da Umbrella". Sherry respondeu.
"Laboratório químico... então o que você está fazendo aqui?".
"Minha mãe ligou e me disse para vir aqui. Ela disse que é muito mais perigoso ficar em casa".
Claire acenou. "Pelo que parece, ela estava certa. Mas aqui também é perigoso...".
Claire franziu pensativamente, depois sorriu de novo. "É melhor você vir comigo".
Sherry balançou a cabeça, pensando em como explicar que não era uma boa idéia, que era uma idéia muito ruim.
Ela não queria ficar sozinha, mas não seria seguro ir.
Se eu for e o monstro nos achar...
Claire morreria. Apesar de ser magra, Claire não caberia no tubo de ventilação.
"Tem algo aqui". Sherry finalmente disse. "Eu vi, é maior que os zumbis. E quer me pegar".
Claire balançou a cabeça, abrindo a boca para dizer algo quando um terrível e furioso som encheu a sala, ecoando
em violentas ondas de algum lugar do prédio. Por perto.
"Rrraaahh - ".
Sherry sentiu seu sangue virar gelo. Claire arregalou os olhos, pálida.
"O que foi aquilo?".
Sherry recuou, ofegante, mentalmente correndo para o tubo de ventilação atrás das armaduras.
"É disso que eu estava falando". Ela disse, e antes que Claire pudesse pará-la, ela virou e correu.
"Sherry!".
Sherry ignorou o apelo e continuou. Ela se pôs de joelhos sobre o pedestal, colocou a cabeça e se arrastou para
dentro do buraco no rodapé da parede.
Sua única chance, a única chance de Claire, era que ficasse o mais longe possível. Talvez se encontrem de novo
quando o monstro se for.
#
Assim que Sherry engatinhou pelo apertado e escuro tubo, esperou que não fosse muito tarde.
[12]
Ada sentou na cadeira da desarrumada mesa do chefe dos detetives, descansando seus pés doloridos e olhando
cegamente para o cofre vazio no canto da sala. Sua paciência estava se esgotando. Primeiro a amostra do
G-virus, agora Bertolucci, que também não foi encontrado. Ela passou pela sala de descanso, o escritório do
S.T.A.R.S., a biblioteca - todos os lugares onde o repórter teria fácil acesso. E gastou dois clips inteiros para isso.
O problema não foi 23 balas, foi o tempo perdido e sem resultados - exceto por ter matado mais alguns zumbis.
E duas aberrações híbridas da Umbrella.
Ada tremeu, lembrando da contorcida carne vermelha e gritos das criaturas que matou na sala de entrevistas.
Trent alertou sobre os Tyrants modi-ficados - que agradecidamente ainda não apareceram - mas os sanguinários
linguarudos com garras eram uma afronta à suas sensibilidades. E são muito mais difíceis de matar que os
zumbis. Se eles foram produtos do T-virus, ela deverá rezar para que Birkin não tenha feito nada com o novo.
Segundo Trent, a série G ainda não foi usada, e deve ser duas vezes mais potente...
Ada soltou a imaginação. O escritório não era tão inspirante para descansar, mas pelo menos não tinha sangue.
De porta fechada, ela mal sentia o cheiro dos policiais lá fora. Eles já estavam bem afetados quando ela os
matou, o estágio que aparentemente precede o colapso total.
O problema não é senti-los. Meu cabelo e roupas já absorveram o maldito cheiro.
Ela sabia para que servia o T-virus, mas eles não pensaram em pesquisar os efeitos físico-químicos. Quem se
importa? Ela não tinha motivos para acreditar que a Umbrella infectaria sua própria cidade. Ela estava recebendo
várias informações sobre o funcionamento do vírus, mas seria bom saber como ele modifica a mente humana.
Ela só podia tentar adivinhar através de suas observações.
Pelo que parece, leva algumas horas para alguém infectado virar um zumbi. Às vezes, a vítima passa por uma
febre-coma antes, que provavelmente queima partes do cérebro - e pareciam estar acordando da morte em
busca de carne fresca logo depois. Os sintomas eram os mesmos para todos, mas não a velocidade do
processo; ela viu uns três casos em que a vítima virou zumbi alguns momentos após ser infectada, o estágio que
ela chamou de "catarata". Apesar de a deterioração física começar imediatamente, alguns caem aos pedaços
mais rápido do que outros.
... e por que você está pensando nisso? Seu trabalho não inclui achar a cura?
Ela suspirou, curvando-se para coçar os pés. Verdade. Mesmo assim, era algo para se considerar. Pensar em
ficar viva era cansativo; ela não podia fazer isso enquanto limpava os corredores. Ela estava descansando, e
precisava pensar em assuntos mais intrigantes.
E não são poucos... Trent, o que Bertolucci sabe ou deveria saber... o S.T.A.R.S. - e o que diabos aconteceu
com eles?
Pelos artigos que Trent incluiu no pacote de informações, ela sabia sobre a suspensão do grupo - e considerando
o que estavam investigando, não precisava ser gênio para ver que estavam na cola da Umbrella para revelar seu
segredo. A Umbrella já deve ter se livrado deles caso não tenham se escondido - e Ada tem que ver se Trent
participou da aventura do S.T.A.R.S..
Não que ela diria, mas Trent era um enigma. Ela só o encontrou uma vez, apesar de tê-la contatado para ir até
Raccoon, na maioria das vezes por telefone. Ela sempre se orgulhou da capacidade de ler as pessoas, mas não
sabia onde os interesses dele estavam, por que queria o G-virus ou que função exercia na Umbrella. Era óbvio
que tinha contatos lá dentro, ele sabia demais sobre a companhia - mas se era o caso, porque ele não pega sua
própria amostra e pede demissão? Contratar uma agente secreta era o ato de alguém querendo evitar
complicação - mas complicações do que?
Não é da minha conta...
Um bom princípio para se viver; ela também não era paga para investigar Trent. Mesmo que fosse, seria difícil;
#
ela nunca conheceu um homem tão sob-controle como Sr. Trent. Em todo contato que tiveram, ela percebeu
que ele ria por dentro, como se soubesse de um ótimo segredo - e ainda não demonstrou arrogância e
pretensão. Ele era frio, sua genialidade tão natural que ela mal se intimidou; ela não conseguiu decifrar os motivos
dele, mas já tinha visto aquele calmo humor antes - era a face do verdadeiro poder, de um homem com um
plano e meios de executá-lo.
Então a contaminação atrapalhou seus planos, sejam lá quais sejam? Ou ele já estava preparado...? Eu não
imagino o termo "pego de surpresa" no vocabulário de Trent...
Ada girou a cabeça vagarosamente antes de se calçar. O intervalo acabou, pois ela ainda tinha que procurar
Bertolucci em mais alguns lugares, antes de ir para o esgoto. Ela sabia que as persianas de segurança do primeiro
andar não eram tão sólidas assim; ela não quer se deparar com mais zumbis lá de fora.
Havia passagens "secretas" na asa leste e celas no subsolo, depois do estacionamento. Se achá-lo em algum
desses lugares, poderá concentrar-se em obter a amostra.
Ela decidiu começar pelo subsolo; ele não conseguiria achar os corredores escondidos. Pelo que ela leu sobre seu
trabalho, ele não era um repórter tão bom...
Ada saiu do escritório, os ventiladores de teto levando o cheiro de podre até ela. Devia haver sete ou oito corpos
lá, todos policiais...
... mas eu não tinha deixado cinco vivos da última vez?
Ada parou, olhando para o estreito corredor que levava às escadas de trás.
Havia cinco. Eu não estou no meu máximo, mas ainda posso contar.
Havendo ou não, os zumbis estavam invadindo e a Umbrella virá em breve caso ainda não tenha vindo. A
companhia não ignoraria esse problema. Já deve ter criado um plano *derrota segura e está enchendo a cabeça
da mídia com mentiras. Mas é claro que antes, eles devem recuperar a pesquisa de Birkin. Trent estava confiante
de que a Umbrella mandaria uma equipe para isso.
Uma equipe de humanos, tomara. Eu posso lidar com eles. Um Tyrant... eu não preciso disso.
Ada foi para o corredor do fundo da sala, à esquerda de onde estava. Foi na direção da porta que a levaria para
a escada do subsolo. Tyrant era o nome de uma série particular na pesquisa de armas biológicas da Umbrella,
uma série que incorpora as mais destrutivas aplicações do T-virus. De acordo com Trent, os cientistas da White
Umbrella - que trabalham nos laboratórios secretos - acabaram de iniciar os testes num tipo de humanóide
sanguinário, desenvolvido para caçar qualquer cheiro ou substância com a qual foi treinado. Um Tyrant avançado,
outra construção de carne infectada e ligamentos implantados - o tipo de coisa que podem mandar em busca do
G-virus...
Ada foi para o subsolo, tentar achar o repórter.
Leon estava no saqueado depósito de armas do subsolo, ajustando seu coldre e pensando onde Claire estaria.
Pelo pouco que viu, a delegacia estava muito ruim. Fria, escura e cheirando mal, mas não tão perigosa quanto a
rua. Nem tanto para se agradecer, mas Leon vai tirar o máximo de proveito.
Ele matou três companheiros a caminho do subsolo - dois homens escada acima e uma mulher em frente ao
necrotério - a alguns metros da sala onde ficava o arsenal do R.P.D.. Entre os mortos e o número de armas
faltando, Marvin pode estar certo sobre haver sobreviventes.
Marvin Branagh... já deve estar morto. Será que virou zumbi? Se a Umbrella está por trás disso, deve ser algum
tipo de praga ou doença, afinal, eles são uma companhia farmacêutica - então, como se pega a doença? Pelo
contato ou pelo ar -
O pensamento de ser infectado pelos zumbis o fez suar. E se ele a pegou enquanto dirigia para cá?
Antes do pânico, ele ouviu sua mente dizer sobre a realidade - e a aceitação da realidade também, afugentando o
medo.
Se você está doente, está doente. Você pode comer uma bala antes de piorar. Se não está doente, sobreviverá
para contar aos seus netos sobre tudo isso. De qualquer jeito, não há nada que você pode fazer - exceto tentar
ser um policial.
--------------------------------------------------------------
*Derrota Segura - Método para impedir ataque atômico equivocado.
-------------------------------------------------------------- Leon concordou, suspirando. Em sua primeira busca pela sala,
#
houve desapontamento. Nenhum revólver e pouca munição nos armários - mas ele achou uma caixa de munição
para espingarda, e depois de um segundo procurando, ele descobriu uma calibre doze escondida atrás de
algumas caixas. Haviam alguns arreios de ombro para o modelo Remington pendurados na parede, tal como um
cinto de utilidade maior do que o que já usava; tinha até um bolso fundo o bastante para colocar os clips.
Com o último aperto no arreio, ele decidiu que seria melhor começar pelos lugares mais óbvios primeiro, cada
corredor de cada possível entrada. Primeiro ele voltará para o saguão e deixar uma mensagem no -
Bam! Bam! Bam!
Tiros, bem perto, e o eco dizia vir do corredor lá fora. Leon empunhou o revólver e correu para a porta, preciosos
segundos desperdiçados enquanto manejava a fechadura giratória.
O corredor estava deserto, exceto pelo guarda de trânsito no chão à sua direita. Para a direita ficava o
estacionamento, e Leon correu para lá, lembrando-se para ir com clama e não ser baleado por alguém
aterrorizado.
Vá devagar, olhe bem antes de se mover, identifique-se claramente -
O corredor virava à esquerda, e no final dele, estava a porta na parede do lado direito, aberta - e quando Leon
deu uma olhada no grande e aberto espaço, seu corpo encostou na parede, vendo algo que o fez esquecer do
atirador.
O cachorro. É o mesmo maldito cachorro.
Impossível - mas o caído e sem vida animal no meio de dois carros parecia o mesmo. Mesmo com o breve
avistamento que teve antes, o melequento demônio canino era igual àquele que o tinha jogado fora da estrada.
Sob as fluorescentes que iluminavam a garagem, Leon pode ver o quanto anormal ele era.
Nada parecia se mover, e nenhum som exceto o zumbido das luzes. Ainda segurando sua arma, Leon entrou na
garagem, determinado a olhar a criatura de perto - e viu um outro perto de uma viatura, aparentemente morto
como o primeiro. Ambos estavam no meio de uma poça vermelha de sangue.
Umbrella. Os ataques animais, a doença - há quanto tempo isso está acontecendo? E como conseguiram manter
isso escondido depois de todas aquelas mortes?
Mais confuso era o fato de Raccoon ainda não ter recebido ajuda; a Umbrella deve ter conseguido esconder seu
envolvimento nos assassinatos "canibais", mas como ela impediu as pessoas de pedir ajuda lá fora?
Esses cães, como cópias em carbono... outra coisa que a Umbrella fez em seus laboratórios?
Ele deu outro passo na direção das criaturas, não gostando das teorias de conspiração que estavam se formando
em sua mente, mas incapaz de ignorá-las. Do que ele menos gostava, eram das poças de óleo no chão de
cimento; pareciam enferrujadas, secas - e haviam muitas delas para contar. Ele se curvou para olhar de perto,
tão intrigado que só percebeu o tiro quando a bala ricocheteou no chão.
Bam!
Leon virou para a esquerda, erguendo a arma e gritando ao mesmo tempo -
"Pare de atirar!".
- e viu a atiradora abaixar sua arma, uma mulher de vestido vermelho e longas meias pretas, parada ao lado de
um furgão no final da garagem. Ela começou a ir até ele, suas pernas finas movendo-se suavemente, cabeça
erguida e ombros para trás. Parecia estar numa festa.
Leon sentiu uma onda de raiva, de como ela parecia clama após quase tê-lo matado - mas assim que se
aproximou, ele quis pedir desculpas. Ela era bonita, e parecia sentir prazer em vê-lo; uma visão bem vinda depois
de tanta morte.
"Desculpe-me por aquilo". Ela disse. "Quando vi o uniforme, pensei que fosse outro zumbi".
Mestiça, magra e alta, cabelo curto, liso e escuro. Sua acentuada voz contrastava estranhamente com seu olhar.
Seu frágil sorriso não combinava com os olhos amendoados que o examinavam cuidadosamente.
"Quem é você?". Leon perguntou.
"Ada Wong'. Aquele tom de novo. Ela inclinou a cabeça, ainda sorrindo.
"Eu sou Leon S. Kennedy". Ele disse reflexivamente, incerto sobre o que perguntar ou por onde começar. "Eu - o
que você faz aqui embaixo?".
Ada olhou para o furgão do R.P.D. que bloqueava a área das celas. "Eu vim para Raccoon em busca de um
homem, um repórter chamado Bertolucci; eu tenho motivos para crer que ele esteja em uma das celas, e acho
#
que ele pode me ajudar a achar meu namorado...".
O sorriso dela sumiu, o agudo, quase elétrico olhar achando o dele... "E acho que ele sabe tudo sobre o que
aconteceu aqui. Você me ajuda a empurrar o furgão?".
Se o repórter estiver trancado lá, poderá dizer algo; Leon quer conhecê-lo. Ele não confiava muito na história de
Ada, mas não imaginava porque mentiria. O lugar não é seguro, e ele estava procurando por sobreviventes,
como ela.
"Tá bom". Ele disse, sentindo-se pego pelos suaves modos dela. Parecia que ela tinha assumido o controle, uma
súbita mas proposital manipulação que a pôs no comando -
Não seja paranóico; mulheres fortes existem. E quanto mais pessoa encontrar, mais ajuda eu terei para procurar
a Claire.
Leon guardou a arma e foi atrás dela, esperando que o repórter estivesse lá - e que as coisas começassem a
fazer sentido o quanto antes.
[13]
Sherry Birkin se foi e Claire não conseguiu entrar no duto. Seja lá o que ou quem tinha gritado, não apareceu. Ela
devia estar se escondendo no duto por algum tempo; haviam embalagens abertas de doces e um velho lençol
perto da abertura, atrás de três armaduras.
Percebendo que Sherry não voltaria, Claire correu para a sala de Irons, esperando que ele pudesse dizer onde a
tubulação dava, mas ele tinha sumido - junto com o corpo da filha do prefeito.
Claire parou no escritório, sendo observada pelos olhos de vidro da mórbida decoração, e se sentiu incerta pela
primeira vez desde que chegou na cidade. Desviar de cães e zumbis, encontrar Leon e evitar o Chefe Irons
foram tarefas inclusas na busca por Chris. Nos poucos momentos entre encontrar aquela garotinha e aquele
estranho grito, suas prioridades mudaram dramaticamente. Havia uma criança nesse pesadelo, que acreditava
estar sendo seguida por um monstro.
Talvez esteja. Se Raccoon tem zumbis, por que não monstros? Droga, por que não vampiros ou robôs
assassinos?
Ela queria achar Sherry, mas não sabia por onde começar. Ela queria seu irmão, mas não sabia onde estava - e
ela começou a imaginar se ele sabia o que tinha acontecido na cidade.
Na última vez que conversaram, ele evitou falar sobre a suspensão do S.T.A.R.S., insistindo que não era nada
para se preocupar - que ele e os outros entraram em problemas políticos e tudo se resolveria. Ela estava
acostumada com a proteção dele, mas pensando melhor, ele não parece evasivo demais? E o S.T.A.R.S. estava
investigando os assassinatos canibais, não seria difícil conectá-los com a atual...
... o que quer dizer? Que Chris descobriu algo ruim e estava mantendo segredo?
Ela não sabia. Mas sabia que ele estava vivo, e que achar Sherry era mais importante no momento. Ruim como a
situação estava, Claire tinha defesas - ela tinha uma arma, pelo menos um pouco de maturidade emocional, e
depois de 8KM diários, estava em excelente forma. Mas Sherry não devia ter mais do que doze anos, parecia
frágil em todos os sentidos; pela sujeira em seu cabelo loiro e desespero em seus olhos azuis - Sherry inspirou
todos os sentidos protetores de Claire -
Thump!
Uma pesada vibração correu pelo teto, fazendo o lustre do escritório tremer. Claire olhou para cima
reflexivamente, apontando a arma. Não havia nada e o som não se repetiu.
Algo no telhado... mas o que fez aquele barulho? Um elefante caindo do céu?
Talvez fosse o monstro de Sherry. Claire não queria encontrá-lo, mas Sherry parecia certa de estar sendo
seguida...
... então achar o monstro para achar a garota? Não é o plano perfeito mas é tudo o que tenho.
Talvez seja Irons lá em cima. Ela não podia saber até verificar.
Claire virou e abriu a porta para o corredor de fora, onde tinha apagado o fogo. A fumaça diminuiu apesar de
ainda estar quente. Pelo menos nisso ela foi bem sucedida...
#
Claire saiu do corredor, virando os olhos para o que sobrou do piloto quando -
- Craa-ack!
- e ela congelou, ouvindo um massivo despedaçamento de madeira, seguido por poderosos passos de alguém
enorme andando pelo corredor, depois da curva.
Deve pesar uma tonelada, e Jesus, diga-me que não foi uma porta sendo destruída -
Claire olhou para o corredor do escritório, seus instintos dizendo para correr, seu cérebro dizendo que não tinha
saída, seu corpo paralisado entre os dois -
- quando o maior homem que já viu apareceu, escurecido pela fina fumaça do corredor. Ele vestia um longo
sobretudo verde-exército que só aumentava seu tamanho, tão alto quanto um jogador de basquete - bem mais
alto, e com uma cabeça proporcional. Um grande cinto de utilidade estava preso em sua cintura, e apesar de não
ver armas, ela pôde sentir a violência radiando dele em ondas invisíveis. Ela só conseguia ver a palidez no rosto
dele, a cabeça careca - e de repente, Claire estava certa de que ele era um monstro, um assassino usando luvas
pretas, cada uma do tamanho de um crânio humano -
Atire nele! Atire!
Claire mirou, mas hesitou, com medo de estar cometendo um terrível erro - até que ele deu um passo na direção
dela, ouvindo os cracks na madeira causados por seus pés de Frankenstein, e ela viu os olhos negros, negros e
corados com vermelho. Vazios, mas não cegos, o olhar dele achou o dela - e ele ergueu o punho, a ameaça
eminente.
- atireatireatire -
Ela apertou o gatilho, uma, duas vezes, e viu o impacto - um pedaço de tecido rasgou bem abaixo de sua
clavícula, o segundo tiro cortando um lado do pescoço -
- e ele deu outro passo, nenhuma expressão em seu rosto, o punho ainda erguido, procurando um alvo,
querendo esmagar -
- o escuro e enfumaçado buraco no pescoço não sangrava.
Droga
Numa onda de adrenalina, Claire apontou o revólver para o coração da criatura e atirou repetidamente, o gigante
dando outro passo, cruzando o fogo sem acovardar-se -
- e Claire perdeu a linha dos tiros, incapaz de acreditar que ele ainda se movia, a menos de três metros com as
balas acertando seu peito -
- e a arma clicou, vazia, na mesma hora que o monstro balançou de um lado para o outro como um prédio no
vento. Sem tirar os olhos dele, Claire pegou outro clip do colete e recarregou a arma, sua mente tentando
desesperadamente dar um nome à coisa.
Exterminador, O monstro de Frankenstein, Dr. Mal, Mr. X -
De qualquer modo as balas finalmente fizeram efeito. Silenciosamente, ele inclinou para a direita, caindo contra a
parede chamuscada, e permanecendo lá - sem tremer nem se mexer.
Estranho, isso é tudo, está morto, derrubado por seu próprio peso -
Claire não se aproximou, ainda mirando no gigante. Foi ele que gritou? Ela não achava.
"Morto, não importa". Claire cochichou. Precisava pensar no que ele significava - ele não era um zumbi qualquer,
mas o que então? Ela esvaziou um clip inteiro - será que alguém por perto ouviu? Ela deveria ficar onde estava?
A criatura que começou a chamar de Mr. X não estava respirando, seu corpo imóvel, seu rosto bem perto da
morte. Claire mordeu o lábio inferior, olhando para a ainda impossível criatura quando -
- ele abriu os olhos negros e brilhantes. Sem muita força, Mr. X levantou-se, bloqueando o corredor, suas mãos
erguendo-se de novo -
- e com um forte impulso, ele cortou o ar com a mão, seus longos braços bem na frente dela enquanto recuava.
O movimento foi suficiente para cravar o punho na parede, prendendo-o.
Eu, poderia ter sido EU -
Voltar para o escritório a deixaria cercada. Sem pensar mais, Claire correu, passando por Mr. X, seu braço direito
esfregando no pesado casaco dele, seu coração pulando uma batida quando o material a tocou.
Ela correu, virou à esquerda e desceu o corredor, tentando não ouvir Mr. X libertando a mão.
Jesus, o que é aquela COISA -
Ela voltou para a sala de espera, batendo a porta enquanto corria. Claire não pensava em outra coisa senão
correr mais rápido.
#
Ben Bertolucci estava na última cela, deitado na cama de metal pendurada na parede, roncando levemente.
Mantendo suas expressões cuidadosa-mente neutras, Ada deixou Leon acordá-lo. Ela não queria parecer ansiosa,
mas se havia algo que sabia sobre os homens era que eles são mais fáceis de lidar quando pensam estar no
controle. Ada olhou para Leon com a paciência que não sentia.
Eles tinham passado por um corredor vazio e um canil antes de achá-lo. Apesar do frio e úmido ar cheirando
sangue e podridão, eles não viram nenhum corpo - o que era estranho, já que Ada sabia o que tinha acontecido
na garagem. Ela pensou em perguntar a Leon o que tinha acontecido, mas decidiu que quanto menos falar
melhor; ele não devia se acostumar com a presença dela. Ela chegou a ver a tampa do bueiro no canil,
enferrujando num canto escuro, e agradecida por ver um pé-de-cabra ali perto. Com Bertolucci dormindo ali, Ada
sentiu que as coisas finalmente começaram a dar certo -
"Deixe-me adivinhar". Leon disse bem alto, batendo a arma nas barras de metal. "Você deve ser Bertolucci,
certo? Levante-se, agora."
Bertolucci suspirou e sentou-se devagar, esfregando a mão no queixo. Ada quis sorrir; ele estava mau - roupa
amarrotada, rabo de cavalo desarrumado.
Ainda de gravata. O coitado deve achar que isso o faz parecer um repórter...
"O que você quer? Eu estava tentando dormir aqui". Ele parecia nervoso, e de novo Ada teve que conter um
sorriso.
Leon olhou para Ada, parecendo incerto. "É ele?".
Ela acenou, percebendo que Leon o considerava um prisioneiro. A conversa esclareceria tudo, mas ela não queria
que Leon ouvisse demais; Ada precisa escolher bem as palavras.
"Ben, você disse aos oficiais da cidade que sabia o que estava acontecendo aqui, não foi? O que você disse a
eles?".
Bertolucci levantou e a encarou. "Quem diabos é você?".
Fingindo que não ouviu, Ada aumentou o desespero, mas só um pouco; ela não devia parecer uma coitada,
poderia contrariar o fato de ter sobrevivido todo esse tempo.
"Eu estou tentando achar um - amigo meu, John Howe. Ele trabalhava para uma divisão da Umbrella em Chicago,
mas desapareceu há alguns meses atrás - e eu ouvi dizer que ele está aqui, nesta cidade...".
Ela parou, vendo a expressão do repórter. Ele sabia de algo, sem dúvida - mas ela não achava que ele fosse
desistir.
"Eu não sei de nada". Ele disse, irritado. "e mesmo se eu soubesse, por que eu deveria dizer?".
Original. Se o policial não estivesse aqui, eu só daria um tiro no repórter.
Na verdade, ela não atiraria: Ada não estava lá para diversão. Ela podia usar um de seus métodos mais
persuasivos - se seu charme feminino não funcionar, uma bala no joelho ajudaria. Infelizmente, ela não podia
fazer nada com Leon por perto. Ela não tinha planejado esse encontro.
O policial não estava feliz com as respostas de Ben. "Tá bom, podemos deixá-lo aí". Leon disse, falando com
Ada, mas olhando bem irritado para Ben.
Bertolucci sorriu, tirando um anel redondo com as chaves da cela. Ada não se surpreendeu e Leon ficou mais
irritado.
"Por mim tudo bem". Bertolucci disse. "Eu não quero sair daqui mesmo. É o lugar mais seguro do prédio. Tem
mais do que zumbis por aí, acreditem em mim".
Pelo jeito que falou, Ada pensou em ter mesmo que matá-lo. As instruções de Trent foram claras - se o repórter
souber de alguma coisa sobre o trabalho de Birkin no G-virus, ele deve ser eliminado; por que, exatamente, ela
não estava certa, mas esta é a missão. Se ela pudesse ficar um momento a sós com ele, conseguiria descobrir o
quanto ele sabe.
Mas como? Ela não queria matar Leon; como regra, ela não mata inocentes - além disso, ela gostava de policiais.
"Ggrraaa!".
Um violento e inumano grito furou o silêncio. Ada girou o braço, mirando no portão que dava para o corredor. E
estava no subsolo -
"O que foi aquilo?". Leon disse. Ada esperava que ele soubesse a resposta. O eco do furioso grito não se
#
comparava à nada que ela já tinha ouvido - mesmo sabendo o que a Umbrella fazia, isso não era esperado.
"Como eu disse, eu não saio daqui". Bertolucci disse. "Agora vão embora antes que o tragam direto para mim!".
Covarde chorão -
"Olha, eu posso se o único policial vivo nesse prédio". Leon disse, a combinação de medo e força em sua voz fez
Ada olhar para ele. O olhar do policial estava fixado em Bertolucci, seus olhos azuis agudos e firmes.
"... e se você quiser viver, terá que vir conosco".
"Esqueça". Ben disse. "Eu vou ficar aqui até a cavalgaria chegar - e se forem espertos, farão a mesma coisa".
Leon balançou a cabeça. "E se eles demorarem dias para vir, é melhor acharmos um jeito de sair de Raccoon - e
você escutou aquele grito. Você quer ser visitado pelo que fez aquilo?".
Ela se impressionou; alguma criatura da Umbrella por aí e Leon tentando salvar um repórter inútil.
"Eu vou correr o risco". Disse Bertolucci. "e boa sorte para fugir, vocês vão precisar...".
O repórter foi até as barras, olhando entre elas, passando a mão no cabelo.
"Olha,". Disse suavemente. 'tem um canil lá atrás, com um poço no chão vocês podem chegar ao esgoto por lá,
deve ser o caminho mais rápido para fora da cidade".
Ada suspirou intensamente. Ótimo; revelou sua passagem secreta para o laboratório. Se ela correr de Leon
agora, vai levar uns cinco minutos para ele alcançá-la.
Você pode matá-lo se necessário. Ou... você o faz se perder nos esgotos e volta para Bertolucci.
Como o repórter, ela não queria ver a coisa que gritou - sendo que ele não vai fugir, enganar o policial é a melhor
saída.
O que eu não faço para evitar derramamento de sangue.
"Certo, eu vou verificar". Ela disse, e sem esperar a resposta de Leon, virou e correu.
"Ada! Ada, espere!".
Ela o ignorou, passando pelas celas e voltando para o corredor, aliviada por ainda estar vazio. Tudo poderia ser
mais fácil se ela tivesse matado os dois, mas a situação é diferente. Ela estava cansada de tantas mortes, e
cansada do que a Umbrella fez; ela não vai matar um policial, exceto se precisar.
E se ela precisar, será pela vida de um inocente ou pela finalização da missão?
Essa pergunta a disse mais sobre sua consciência do que queria admitir. Ela chegou na porta do canil; respirando
fundo e apagando qualquer emoção de sua mente, Ada entrou para esperar Leon S. Kennedy.
[14]
Tão bonita... mesmo morta, Beverly Harris era radiante. Irons não podia esperar que ela acordasse enquanto
olhava; ele a colocou cuidadosamente no gabinete de pedra debaixo da pia e trancou, prometendo que a tiraria
dali assim que tiver mais tempo. Ela se tornará o animal mais delicado que já transformou, posando eternamente
perfeita assim que prepará-la do modo certo... um sonho se realizando.
Se eu tiver tempo. Se houver tempo restando.
Ele sabia que estava sentindo pena de si mesmo de novo. Não tinha ninguém para dividir a magnitude de tudo o
que já sofreu. Ele se sentiu terrível - triste, bravo e sozinho - mas também sentiu que tudo ficou claro. Agora ele
sabia por que estava sendo perseguido.
Umbrella. Uma conspiração para me destruir, todo esse tempo...
Irons sentou na manchada mesa de seu san-tuário, seu especial e particular lugar, pensando em quanto tempo
levará para a jovem mulher aparecer.
A do corpo atlético que não disse seu nome. De certo modo, ela foi responsável por sua descoberta.
Ela o achará, claro; era uma espiã da Umbrella, a companhia que o tem observado por um tempo. Eles deviam
ter uma lista de todos os seus pertences, relatórios psicológicos e até cópias de suas contas bancárias. Tudo fazia
sentido, agora que tinha tempo para pensar; ele era o homem mais poderoso em Raccoon, e a Umbrella
designou sua queda.
#
Irons olhou para seus tesouros, as ferramentas e troféus que estavam nas estantes à sua frente, e não sentiu o
prazer que costumavam inspirá-lo. Os ossos polidos eram só algo para olhar enquanto sua mente trabalhava,
absorvida com a traição da Umbrella.
Anos atrás, quando ele passou a receber dinheiro da companhia para ficar cego sobre seus feitos, as coisas eram
diferentes; aí era só uma questão de política, achar uma boa posição na poderosa estrutura que controlava
Raccoon. E tudo funcionou bem por um longo tempo - sua carreira prosseguiu como previsto, ganhou o respeito
dos oficiais e cidadãos, e na maior parte, seus investimentos valeram a pena. A vida estava sendo boa.
Depois apareceu Birkin. William Birkin e sua neurótica esposa, e a filha.
Depois do que aconteceu na mansão de Spencer, ele quase se convenceu de que o S.T.A.R.S. foi o responsável,
mas agora ele percebe que foi mesmo Birkin, um ano antes da bola começar a rolar; a destruição da mansão só
adiantou as coisas. A Umbrella deve ter começado a monitorá-lo desde que conheceu Birkin - primeiro só o
observavam, instalando câmeras e microfones ocultos. Os espiões viriam depois...
Os Birkin vieram para Raccoon tal que William pudesse se dedicar ao desenvolvimento de uma versão superior ao
T-virus, baseado na pesquisa do laboratório da mansão. Por mais que William fosse esquisito e desagradável,
Irons gostava dele, desde o começo. William era o menino gênio da Umbrella, e como Irons, não reclamava de
seu cargo; Birkin era humilde, só interessado em desempenhar seu papel. Ambos eram muito ocupados para
manter uma amizade, mas havia respeito entre os dois: às vezes Irons percebia que William o observava...
E o meu erro foi deixar. Deixar o meu respeito por ele nublar meus instintos, não me deixar perceber que estava
sendo observado desde o começo.
A perda do laboratório da mansão fez passar algumas ondas pela hierarquia da Umbrella, e alguns dias depois de
explosão, Annette Birkin foi até ele com uma mensagem do marido - uma mensagem e um favor. Birkin estava
preocupado, a Umbrella iria exigir o G-virus antes de ser terminado; ele não estava satisfeito com a aplicação de
seu último trabalho, parece que a Umbrella não o deixou aperfeiçoar o processo de replicação, Irons não se
lembra direito - e com a Umbrella tentando recuperar as perdas financeiras da mansão, Birkin ficou com medo de
eles comprometerem a integridade do não-testado vírus.
Através de Annette, William pediu ajuda - e ofereceu um pequeno incentivo extra. Por cem mil, Irons teria que
ajudar a manter o G-virus encoberto - resumindo, tomar cuidado com espiões da Umbrella e ficar de olho nos
sobreviventes do S.T.A.R.S.
Dinheiro fácil, exceto por ser uma armadilha da Umbrella...
Irons foi direto para ela, e foi quando a companhia começou a conspirara contra ele, usando as informações que
conseguiram selar seu destino. Como tudo aconteceu tão rápido? O S.T.A.R.S. desapareceu, depois Birkin - e
antes de entender a situação, os ataques recomeçaram.
Irons desceu da mesa e caminhou por ela, vagarosamente tocando os cortes na madeira. Havia uma história em
cada marca, a memória de um feito - e de novo, não lhe davam prazer. A fria e calma atmosfera de seu
santuário sempre o consolou, onde praticava seus hobbies, onde ele podia ser ele mesmo - e agora não é mais
seu. Nada era, a Umbrella tirou tudo dele, tal como a cidade. Será que soltaram o vírus para pegá-lo, para roubar
seu poder - e depois mandaram aquela garota de roupa provocante para ele se divertir? Por que ela era atraente?
Eles conheciam suas fraquezas...
...e em breve ela voltará, talvez bancando a perdida, tentando me seduzir com seu indefeso comportamento.
Uma assassina da Umbrella, uma espiã exploradora, tudo o que ela é, provavelmente rindo de mim por trás
daquele rosto bonito...
Talvez a contaminação foi um acidente; da última vez que se viram, William estava instável, paranóico e exausto,
e acidentes acontecem na melhor das circunstâncias. O resto era fato, não tinha outra explicação para o quanto
arruinado Irons estava. Aquela garota estava vindo pegá-lo, ela era da Umbrella e foi enviada para matá-lo. E não
pararia aí, oh, não, ela vai achar Beverly e... e sujá-la de algum modo, só para ter certeza de que nada de Irons
sobrará.
Irons olhou em volta da pequena e suavemente iluminada sala que um dia foi sua, olhando orgulhosamente para
as bem usadas ferramentas e móveis, o doce e familiar cheiro de desinfetante emanando das irregulares paredes
de pedra.
Meu santuário. Meu.
#
Ele pegou o revólver que estava em sua especial mesa de corte, a VP70 ainda era sua, e sentiu um pequeno
sorriso nos lábios. Sua vida estava acabada. Tudo começou com Birkin e vai terminar aqui, pelas suas próprias
mãos. Mas não agora.
A garota vai voltar, e ele vai matá-la, antes de dizer adeus para Beverly, antes de admitir sua derrota com um
tiro. Mas ele a fará sentir seu sofrimento antes. Por cada tortura que ele sofreu, a garota iria pagar, a conta
descontada em cada osso o mais dolorosamente possível.
Ele iria morrer, mas não sozinho. Não sem ouvir a garota gritar de agonia, criando a voz para a morte de seus
sonhos - uma voz tão verdadeira que o eco atingiria o coração dos executivos da companhia que o traiu.
A sala do S.T.A.R.S. estava vazia, desarrumada, fria e empoeirada, mas Claire não queria sair. Depois de seu
aterrorizante vôo pelos corredores do segundo andar, achar o lugar de trabalho de seu irmão a deixou aliviada.
Mr. X não a seguiu, e mesmo querendo achar Sherry e Leon, ficou com medo de voltar para o corredor - e
hesitante em deixar o único lugar que se parecia com Chris.
Onde você está meu irmão? E o que vou fazer? Zumbis, fogo, morte, seu estranho chefe e a garota perdida - e
quando as coisas não podiam ficar piores, eu dou de cara com a-coisa-que-não-quer-morrer, o monstro dos
monstros. Como eu saio dessa?
Ela sentou na mesa de Chris, olhando as fotos preto e brancas que achou no findo da gaveta; as quatro eram
deles dois, sorrindo e posando na semana que passaram em Nova Iorque no natal passado. Primeiro ela quis
chorar, mas os dois sorrindo a fizeram se sentir melhor. Mais calma. Mais forte. Ela o amava, e onde quer que
ele esteja, a amará de volta - e se ambos sobreviveram a perda dos pais, reconstruíram suas vidas e dividiram
um bobo natal por não ter um lar para ir, então eles podiam enfrentar tudo. Claire podia.
Pode e vai. Eu vou achar Sherry, Leon e se Deus quiser, meu irmão - e nós vamos sair de Raccoon.
A verdade era, ela não tinha outra escolha - mas ela precisa aceitar a falta de opções antes de agir. Uma vez ela
ouviu que bravura não era a ausência do medo, era aceitar o medo e fazer o que for necessário.
Claire respirou fundo, colocou as fotos no colete e levantou da cadeira. Ela não sabe para onde Mr. X foi, e ele
não parece ser alguém que fica esperando. Ela vai voltar para a sala de Irons e ver se Sherry voltou - ou Irons.
Se X ainda estiver lá, ela pode correr.
Além disso, eu devia vasculhar a sala e tentar achar algo sobre o S.T.A.R.S.
De pé, ela olhou em volta, desejando ter achado mais informações. Tudo o que achou de útil foi uma mochila
engraçada na mesa de trás; segundo o cartão vencido da biblioteca, a mesa era de Jill Valentine. Claire nunca a
conheceu mas Chris já falou dela algumas vezes, disse que era boa com armas...
Pena que não deixou uma para trás.
Eles devem ter deixado para trás tudo o que não era importante depois da suspensão, apesar de ainda haverem
muitos itens pessoais lá. Porta retratos, copos de café e o de costume. Ela olhou para a mesa de Barry, havia
uma arma de montar quase terminada. Barry Burton era um dos amigos mais próximos de Chris, um grande e
amigável homem, maluco por armas. Claire esperou que onde quer que Chris esteja, Barry esteja cuidando dele.
Com um lança-chamas.
Falando nisso...
Ela precisa achar outra arma, ou mais munição; ela só tinha treze balas restando, um clip inteiro. Talvez ela deva
checar alguns corpos na volta para a asa leste; mesmo correndo apavorada, ela percebeu que alguns deles eram
policiais, e seu revólver era um equipamento do R.P.D.. Claire não gostou da idéia de ter que tocar cadáveres,
mas ficar sem balas era pior - principalmente com Mr. X por aí.
Claire voltou para a porta e a abriu, organizando seus pensamentos enquanto voltava para o escuro corredor.
Deixar o escritório a fez apagar a ainda vívida imagem de Mr. X, sentindo-se vulnerável de repente. Ela foi para a
direita e começou a voltar para a biblioteca, decidindo que não pensará mais no gigante, exceto se precisar, não
insistiria na memória daqueles olhos vazios, ou do modo que ergueu o punho, como se fosse destruir tudo em
seu caminho...
... então apague tudo isso. Pense em Sherry, em como achar munição ou como lidar com Irons, caso o ache.
Pense em ficar viva.
Bem à frente o corredor virava à esquerda e Claire tentou ignorar a tarefa seguinte; se não lhe falhe a memória,
tinha um policial morto perto da curva.
- como se eu não soubesse pelo cheiro -
#
- e ela tinha que vasculhá-lo. Ele não parecia tão nojento -
Claire fez a curva e congelou, olhando. Seu estômago deu um nó, dizendo-a que estava em perigo antes mesmo
de seus sentidos. O corpo que ela tinha pulado a caminho do escritório do S.T.A.R.S. tinha virado uma enrolada e
sangrenta massa de carne, ossos quebrados e uniforme rasgado. A cabeça se foi, apesar de não saber se foi
arrancada ou se estava dissolvida na polpa. Parece que alguém martelou o corpo depois que passou por ele.
Mas como, eu não ouvi nada -
Algo se mexeu. Uma suave sombra sobre os restos a alguns metros dela, e na mesma hora, Claire ouviu um
áspero som, respirando -
- e ela olhou para cima, ainda incerta sobre o que via ou ouvia - a respiração e o tick das garras na madeira,
grossas e curvas, as garras de uma criatura que não podia existir. Grande, do tamanho de um homem adulto,
mas a semelhança terminava aí - era tão impossível que só o via por partes, sua mente forçando para juntá-las.
A inflamada e avermelhada carne da criatura pelada, seus longos membros que aderiam no teto. A inchada
massa cinzenta do cérebro parcialmente exposto. Um coroa cicatrizada onde os olhos deveriam estar.
- não estou vendo isso -
A cabeça da criatura rolou para o lado, sua grande boca abrindo, um longo fio de baba caindo e acertando o que
tinha sobrado do policial. Ele estendeu a língua, lisa e rosa, a superfície brilhando enquanto deslizava para fora. E
para fora. E para fora, a comprida língua ia de um lado para o outro, tão longa que tocou os restos do policial.
Ainda congelada, Claire olhava desacreditada enquanto a língua era recolhida, deixando pingar sangue. O processo
inteiro só levou um segundo, mas o tempo começou a passar, o coração de Claire batia tão forte que tudo mais
estava em câmera lenta - até quando a criatura pulou no chão de madeira, seu corpo girando no ar e
aterrissando agachado em cima do corpo mutilado.
A criatura abriu a boca de novo e gritou -
- e Claire finalmente conseguiu se mexer, apontando e atirando. O trovão das balas ecoaram pelo corredor,
bam-bam-bam -
- e ainda gritando, a criatura caiu de costas, seus braços batendo. As pernas chutaram pedaços de carne do
cadáver no chão; Claire viu um pedaço de pele, ainda com uma orelha grudada, voar pelo corredor e bater na
parede, deslizando até o chão -
- e a criatura se desvirou, partindo em um arremesso. Ele engatinhou até ela, rápido como um raio, agarrando o
chão com suas garras e uivando.
Claire atirou de novo, não ciente de que também estava gritando enquanto três balas acertaram a coisa,
atravessando a cinza massa que saia de seu crânio. Ela ia morrer, estará nela em menos de um segundo, as
garras estavam a centímetros de suas pernas -
- e tão subitamente quanto o ataque foi, estava acabado. Cada parte do robusto corpo tremeu, balançou
enquanto um líquido claro gotejava de sua cabeça, as grossas garras batendo no chão de madeira
ritimadamente. Com um último choro, a criatura morreu. Não houve erro desta vez. Ela acertou o cérebro, não
vai se levantar.
Ela olhou para o monstro, sua mente procurando por algo parecido, algum animal - mas ela desistiu, percebendo
que era uma causa perdida. Não era uma criatura natural e por mais que parecesse, ela finalmente sentiu o
cheiro - o odor não era tão picante quanto o dos zumbis. Era um amargo e oleoso cheiro, mais químico do que
animal...
... podia cheirar como bolachas de chocolate, quem se importa? Raccoon City ganhou monstros, é hora de parar
de ficar tão surpresa ao ver um deles.
Por mais que quisesse se sentir brava e determinada, pensou seriamente em voltar para o escritório do
S.T.A.R.S. e trancar a porta. Poderia se esconder e esperar a ajuda, poderia estar a salvo -
Decida. Faça algo, de um jeito ou de outro, pare de hesitar e choramingar, por que não é só você. Estará Sherry
a salvo? Você quer viver às custas da vida dela.
Claire deu um cuidadoso passo sobre a criatura e agachou perto do que sobrou do policial, usando a ponta da
arma para virar um pedaço do uniforme. Ela respirou bile enquanto vasculhava os restos, tentando não imaginar
quem o policial foi ou como morreu.
Nada, e agora ela só tem sete balas - mas ela rejeitou o pânico, deixando a decepção abastecer sua
determinação. Se ela examinou um monte de carne, poderia examinar outro.
Com um último olhar para a criatura, Claire levantou e andou rápido para o fim do corredor, decidida: sem se
#
esconder e sem correr do medo. Pelo menos ela pode levar algum monstro consigo, aumentando as chances de
Sherry sobreviver.
Seria melhor morrer tentando do que não tentar. Ela não vai hesitar novamente.
[15]
Leon encontrou Ada no canil, fazendo força para erguer a enferrujada tampa do poço que tinha sido mencionada
pelo repórter. Ela tinha achado um pé-de-cabra e o colocou sob a tampa, seu bem definido bíceps brilhava com o
suor enquanto puxava a tampa. Ela conseguiu erguer a tampa um centímetro, mas deixou cair assim que ele
apareceu, o som metálico bem alto no vazio lugar.
Antes que ele pudesse dizer alguma coisa, ela soltou a barra no chão de cimento e olhou para cima, dando um
meio sorriso, esfregando as mãos sujas.
"Ainda bem que está aqui. Não acho que sou forte o bastante para conseguir sozinha...".
Ele não tinha certeza antes mas aquele indefeso sorrisinho apertou o nó; ela estava enganando ele, ou tentando.
Ele conheceu Ada há vinte minutos e nunca achou que ela fosse indefesa para nada.
"Parece estar indo bem". Ele disse, guardando a arma e sem se mexer para ajudar. Ele cruzou os braços,
franzindo. Não estava bravo, só curioso.
"Qual é a pressa? Pensei que você quisesse falar com o repórter. Sobre John, seu amigo da Umbrella...".
As expressões dela ficaram frias e duras, mas não de um modo ruim; ela foi bem cuidadosa para evitar as
perguntas de Leon, mas desta vez a Sra. Wong terá que explicar algumas coisas.
Ada se levantou e o olhou. "Você ouviu - ele não ia contar nada para nós. E perigoso como esse lugar é, eu não
quero ficar esperando por aí...".
A voz dela suavizou. "... e eu nem sei se John está em Raccoon. Mas eu sei que não está aqui - e eu quero sair
da delegacia antes que seja completamente dominada".
Parecia bom, mas por algum motivo, ele sentia que Ada estava escondendo algo. Por alguns segundos, ele fez
força para achar o modo correto de fazê-la se abrir - depois deixou de lado; sob as circunstâncias, agrados ficarão
suspensos.
"O que está acontecendo, Ada? Você sabe de algo e não quer me contar?".
Ela olhou para ele de novo, e de novo, ele acha que a surpreendeu - mas o olhar dela estava mais ilegível do que
nunca.
"Eu só quero sair daqui". Ela disse, e a sinceridade na sua voz era inegável. Ele podia não acreditar em nada do
que ela disse, mas nisso ele tinha que acreditar.
Queria que fosse fácil assim, mas tem a Claire, Ben, nosso amigo idiota, e só Deus sabe lá quantos outros.
Leon balançou a cabeça. "Eu não posso ir. Como eu disse, eu posso ser o único policial restando. Se ainda houver
sobreviventes, eu preciso tentar ajudá-los. E eu acho melhor você vir comigo".
Ada deu outro sorrisinho. "Eu aprecio sua preocupação, Leon, mas eu posso cuidar de mim mesma".
Ele não duvidava - mas também não queria vê-la testar suas habilidades. Ele também não foi bem testado, mas
foi treinado para lidar com situações críticas, era seu trabalho.
E seja honesto consigo mesmo - você perdeu Claire, não pode ajudar Branagh, e Ben não quis saber de sua
proteção; você não quer falhar com Ada. E você não quer ficar sozinho.
Ada parecia saber o que ele pensava. Antes que ele pudesse falar algo convincente, ela se aproximou e tocou o
braço de Leon, o humor sumindo de seus olhos.
"Eu sei que precisa fazer sua parte aqui - nós temos que sair de Raccoon, tentar sair e pedir ajuda. E os esgotos
devem ser a melhor chance que temos...".
O toque o surpreendeu - e mandou um tremor para sua barriga, deixando-o confuso e incerto. Ele tentou
esconder a sensação, mas só um pouco.
Ada continuou, franzindo, pensativamente. "Que tal isso - me ajude com a tampa e vemos o que tem lá
#
embaixo. Se for perigoso, eu volto com você... mas se estiver ruim - bom, nós conversamos sobre isso depois".
Ele queria protestar, mas a verdade era, ele não podia obrigá-la a fazer algo que não queria - e ele queria muito
que ela não pensasse que ele era do tipo "machão", que ele estava aberto a um compromisso...
... e o nome John te lembra algo? Pare de pensar em seus hormônios.
Sentindo-se estranho ao pensar nisso com ela ainda o tocando, Leon se afastou, acenando ligeiramente. Juntos,
eles se agacharam perto da tampa. Leon pegou o pé-de-cabra e encaixou na tampa; assim que ele a levantava,
Ada empurrou a barra. Com um alto rangido metálico a tampa abriu -
- e ambos se afastaram por causa do cheiro que saiu do buraco, um sufocante cheiro de sangue, vômito e urina.
"Eca, o que é isso?". Leon tossiu.
Ada sentou nos calcanhares, tampando a boca com a mão. "Os corpos da garagem, devem ter sido jogados
aqui -".
Antes que ele pudesse perguntar do que ela estava falando, um grito de puro terror ecoou pelo subsolo, filtrado
pela porta fechada. O grito continuou e continuou, um homem, o aterrorizado grito mudando para um berro de
dor.
O repórter.
Leon travou seu olhar com o de Ada, viu a mesma percepção nela - e já estavam correndo, empunhando armas
e cruzando a porta antes dos ecos morrerem.
Eu o deixei, eu não devia -
Eles correram para a área das celas, a culpa fazendo Leon correr o mais rápido que podia. Alguém ou algo achou
Bertolucci.
Sherry parou no escritório de Irons, esfregando seu colar da sorte e rezando para que Claire voltasse. Ela
engatinhou por vários túneis empoeirados para se livrar do monstro e mantê-lo longe de Claire, e tinha certeza de
que funcionou - ela não o ouviu de novo e voltou só para descobrir que Claire tinha partido; se o monstro a
tivesse achado, estaria morta e partida ao meio.
Mas ela não está aqui. Ninguém está...
Sherry sentou na ponta da mesa no meio da sala, pensando no que faria. Ela tinha se acostumado com a solidão,
mas Claire mudou tudo, queria vê-la de novo, queria estar com outras pessoas, queria tanto os pais que
começou a doer. Até Sr. Irons seria bom, apesar de Sherry não gostar dele; ela só o viu algumas vezes e ele era
estranho, orgulhoso e falso - e seu escritório era pavoroso.
Mesmo assim, ela ficaria grata com a presença dele, só para não ficar sozinha -
Passos. No corredor fora da sala.
Sherry levantou e correu para a porta aberta que ia para a sala das armaduras, esperando que fosse Claire e
pronta para correr se não fosse. Ela se escondeu atrás da porta e prendeu a respiração, olhando para o tigre
empalhado e rezando.
A porta externa abriu e fechou. Abafados e vagarosos passos no carpete, e Sherry tentou correr, ao mesmo
tempo criando coragem para dar uma olhada -
"Sherry?".
Claire.
"Estou aqui!".
Ela correu par o escritório e lá estava Claire, iluminada com um sorriso. Sherry voou nos braços dela, tão feliz em
vê-la que quis chorar.
"Eu estava procurando você". Claire disse, abraçando-a fortemente. "Não corra daquele jeito de novo, está
bem?".
Claire se ajoelhou na frente dela, ainda sorrindo - mas Sherry pôde ver a preocupação em seu olhar.
"Eu sinto muito". Sherry disse. "Eu tive que correr senão o monstro viria".
Como ele se parece?". Claire perguntou, apagando o sorriso. "Ele é meio vermelho com garras?".
Sherry suspirou. "Os homens do avesso! Você viu um, não viu?".
Claire riu, balançando a cabeça. "É, é exatamente o que eu vi, um homem do avesso... boa descrição".
Claire olhou mais seriamente para Sherry, franzindo "Homens? Existem mais deles?".
"Sim, mas nem se comparam com o monstro. Eu só o vi uma vez, de costas, e é gigante -".
"Careca? Vestindo um longo casaco?".
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"Não, ele tinha cabelo, cabelo claro. E um de seus braços era todo estragado, bem mais comprido que o outro".
Claire suspirou. "Ótimo. Raccoon tem algo diferente para cada um, parece que...".
Ela segurou a mão de Sherry, esfregando-a "... e é mais uma razão para ficar comigo. Você fez um ótimo
trabalho cuidando de si mesma, foi muito corajosa - mas até acharmos seus pais, é meu dever cuidar de você. E
se o monstro vier, eu vou - eu vou chutar o traseiro dele, tá bom?".
Sherry riu, surpresa. Ela gostava de Claire falando para cima com ela. Sherry acenou e Claire esfregou sua mão
de novo.
"Bom. Então nós temos zumbis, homens do avesso, e um monstro. E um grandão careca... Sherry, você sabe o
que aconteceu em Raccoon? Como tudo isso começou, pode dizer qualquer coisa - pode ser importante".
Sherry franziu, pensando. "Bom, houve um monte de mortes em Maio e Junho passado, acho - umas dez
pessoas foram mortas. Depois a mortes pararam, e algumas semanas atrás alguém foi atacado de novo".
Claire acenou. "Certo. Mais alguém foi atacado, ou... o que a polícia fez?".
Sherry balançou a cabeça. "Eu não sei. Logo depois que aquela garota foi atacada, minha mãe ligou do trabalho
muito preocupada, disse que eu não podia sair de casa. A Sra. Willis - nossa vizinha - veio fazer o jantar para mim
e assim soube daquela garota. Mamãe ligou de novo no dia seguinte, e me disse que papai e ela estavam presos
no laboratório e não voltariam por um tempo - e então, três dias atrás, ela pediu que eu viesse para cá. Eu fui
ver se a Sra. Willis viria comigo, mas sua casa estava escura e vazia. Acho que as coisas já estão bem ruins".
Claire ouvia atentamente "Você ficou sozinha todo esse tempo? Mesmo depois que chegou aqui?".
"Bem, sim, mas eu sempre fico sozinha. Meus pais são cientistas; seus trabalhos são importantes e às vezes não
podem interrompê-los. Minha mãe sempre diz que eu sou auto-suficiente quando quero".
"Você sabe que tipo de trabalho seus pais fazem? Na Umbrella?
"Eles fazem curas para coisas, para doenças". Sherry disse orgulhosa. "Eles fazem remédios, soros que hospitais
usam...".
Sherry parou, percebendo que Claire parecia distraída, seu olhar bem distante. Era o olhar que viu muitas vezes
nos rostos de seus pais - e significava que não estavam mais ouvindo. Mas assim que parou de falar, Claire
voltou para ela, tocando seu ombro - e por algum motivo bobo, aquilo a fez querer chorar novamente.
Deve ser porque ela está me ouvindo. Porque ela quer cuidar de mim.
"Sua mãe está certa,". Claire disse gentilmente. "você é muito auto-suficiente, e o que fez até agora diz que é
muito corajosa, também. Isso é bom, por que nós duas precisamos ser fortes para sairmos daqui".
Sherry abriu mais os olhos. "Como assim. Deixar a delegacia? Mas tem zumbis por toda a parte, e eu não sei
onde os meus pais estão, e se eles precisam de ajuda ou estão me procurando -".
"Meu bem, eu tenho certeza de que eles estão bem". Claire disse rapidamente. "Eles ainda devem estar no
laboratório, escondidos em segurança, igual você esteve - esperando ajuda para, para fazer tudo ficar melhor -".
"Você diz, matar todo mundo,". Sherry disse. "eu tenho doze anos, sabe, não sou mais um bebê".
Claire sorriu. "Desculpe. É, para matar todo mundo, sim. Mas até os homens bons virem, nós ficaremos juntas. E
a melhor e mais inteligente coisa a fazer é sair do caminho deles - o mais longe possível. Você tem razão, as ruas
não são seguras, mas quem sabe nós achamos um carro...".
Claire se levantou e foi até a mesa de Irons, olhando em volta. "Talvez Chefe Irons tenha deixado as chaves do
carro aqui, ou outra arma, algo que possamos usar -".
Claire viu algo no chão atrás da mesa. Ela se agachou e Sherry foi atrás, tanto para ficar perto quanto para ver o
que ela tinha achado.
"Tem sangue aqui". Claire disse tão baixo que parecia não ter dito nada.
"E?".
Claire olhou para a parede, franzindo, depois voltou para a grande mancha de sangue no chão. "Ainda está
úmido. Repare como ela é simplesmente cortada. Devia ter mais na parede aqui...".
Ela bateu na parede, ouvindo um som vazio, oco.
"Tem alguma sala aí atrás?". Sherry perguntou.
"Eu não sei, parece que sim. E explicaria para onde ele levou... por onde ele tinha saído antes. Chefe Irons".
Claire olhou para Sherry enquanto corria a mão pela parede e empurrando. "Sherry, veja se tem algum botão ou
alavanca perto da mesa. Acho que deve estar escondido em algum lugar, talvez em uma das gavetas...".
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Sherry começou a andar atrás da mesa - e tropeçou, seu pé deslizando em algum lápis. Ela se segurou na mesa
para recuperar o equilíbrio, mas ainda assim caiu de joelhos.
"Ai!".
Claire estava à sua direita, já segurando seus ombros. "Você está bem?".
"Estou. Eu só - ei! Olha!".
Sherry apontou para um botão sob a mesa, no meio de uma placa de metal. Parecia um interruptor de luz, mas
tinha que ser para a porta secreta, ela sabia.
Eu achei!
Claire viu e apertou - e atrás delas, um seção da parede deslizou para cima, desaparecendo no teto, e expondo
uma outra sala de tijolos. Um frio e úmido ar entrou no escritório; era uma passagem secreta, igual às dos filmes.
Juntas, se levantaram e entraram na abertura, Claire segurando Sherry até olhar primeiro. A pe-quena sala
estava vazia - três paredes de tijolos, chão de madeira e uma grande e antiga grade de elevador na parede da
direita, daquelas que abrem para o lado.
"Nós vamos pegá-lo? Sherry perguntou. Ela estava ansiosa e nervosa.
Claire pegou sua arma, se agachou para Sherry e sorriu - mas não era um sorriso feliz, e Sherry já sabia o que ia
ouvir.
"Meu bem, acho que vai ser mais seguro se eu descer e dar uma olhada, e você ficar aqui -".
"Mas você disse que ficaríamos juntas! Você disse que podíamos pegar um carro e fugir! E se o monstro voltar e
você não estiver aqui, ou se você morrer?".
Claire a abraçou, e Sherry quase enjoou de tanta raiva. Ela ia dizer para não se preocupar, que o monstro não vai
voltar, que nada ruim ia acontecer - e depois iria embora.
Adultos mentirosos -
Claire se afastou, tirando o cabelo do rosto de Sherry. "Eu não a culpo por estar assustada. Eu também estou.
Esta é uma situação ruim - e sinceramente, eu não sei o que vai acontecer. Mas eu quero fazer a coisa certa por
você, e isso quer dizer que eu não vou levá-la para um lugar onde pode se machucar, não se eu puder ajudar".
Sherry guardou as lágrimas e tentou de novo. "Mas eu quero ir com você... e se você não voltar?".
"Eu vou voltar,". Claire disse. "eu prometo. E se - se eu não voltar, eu quero que se esconda novamente. Alguém
virá ajudar em breve, e vão te achar".
Pelo menos estava sendo honesta; Sherry não estava gostando, e não tinha nada que pudesse mudar a decisão
de Claire. Poderia agir como um bebê ou apenas aceitar.
"Tome cuidado". Claire disse, e abraçou Sherry antes de ficar de pé e ir para a o elevador. Ela apertou o botão ao
lado da grade e um leve hum foi ouvido; depois de alguns segundos a cabine veio de baixo, parando gentilmente.
Claire abriu a grade e entrou, virando para ver Sherry.
"Fique aqui, querida, eu voltarei em alguns minutos".
Sherry forçou um aceno - e Claire fechou a grade. Ela apertou algo lá dentro e a cabine desceu, seu sorriso
saindo de visão, deixando a garota sozinha na fria passagem.
Sherry sentou-se no chão empoeirado e abraçou os joelhos. Claire era corajosa e esperta, ela voltará logo, ela
tem que voltar logo...
"Eu quero minha mãe". Sherry cochichou, mas ninguém estava lá para ouvir. Ela estava só de novo; tudo o que
menos queria.
Mas eu sou forte. Eu sou forte e posso esperar.
Ela descansou a bochecha em um joelho, tocando seu colar da sorte, e começou a esperar por Claire.
[16]
Annette Birkin sentou-se na sala de monitoramento, exausta, observando a parede de monitores centrada sobre
a mesa de vigilância. Ela tem estado lá pelo que parecem anos, esperando William aparecer, e começou a pensar
#
que não iria. Ela vai esperar mais um pouco - mas se não vê-lo em breve, terá que fazer outra busca.
Maldita tecnologia...
É um sistema novinho em folha, tem menos de um mês - vinte e cinco telas com um controle de canais que
deveria permiti-la ver cada canto desse laboratório. Um brilhante avanço na segurança - exceto por onze ainda
estarem funcionando, e mais da metade dessas estarem mostrando estática. Das cinco que ainda podia ver
claramente, tudo o que via - e tinha o que ver - estava morto, corpos podres e o ocasional Re3, que comia ou
dormia.
"Lickers (linguarudos). Você os chama de lickers por causa de suas línguas...".
Ela achou que tinha passado pelo pior da dor, mas o solitário som de sua voz na fria e cavernosa câmara, a fez
perceber que não tinha ninguém para responder - não haverá mais ninguém para responder. William se foi, se foi
e ela estava falando sozinha.
Annette abaixou a cabeça na mesa de controle, fechando seus cansados olhos. Pelo menos não haviam mais
lágrimas; ela já tinha despejado um oceano delas desde que a Umbrella veio atrás do G-virus. Agora só há dor,
combinada com fúria pelo que a Umbrella tinha feito.
Mais um mês, talvez dois, e nós teríamos dado a eles, sem nenhuma força. E William teria entrado para a
comissão de executivos e nós ficaríamos felizes. Todos ficariam -
Houve um fraco ruído vindo de um dos monitores. Annette olhou para cima esperando e tremendo - mas era só
um licker, um andar acima, no centro cirúrgico. Ele tinha acordado e caído do teto para jantar um dos técnicos,
uivando estupidamente para si mesmo enquanto rasgava o abdômen do corpo. O homem morto parecia ser Don
Weller, um dos intermediários do laboratório químico; ele estava tão mutilado quanto a inumana aparência do Re3
que o comia.
Ela observou o licker se alimentar, olhando para o monitor mas não o vendo; sua mente pensando no que tinha
sobrado para fazer. Ela já tinha apagado todos os computadores e os travado com códigos; o laboratório estava
pronto e sua rota de fuga era segura. Só que ela não podia terminar tudo até vê-lo de novo, ver que ele tinha
voltado para o laboratório da Umbrella. Destruir o lugar não adiantaria nada se ele não estivesse na zona de
explosão; eles o encontrariam e extrairiam o vírus de seu sangue...
... mas a Umbrella não vai consegui-lo. Eu vou morrer antes de deixá-los conseguir, então me ajude, Deus.
Seu único consolo era que a Umbrella não conseguiria por suas mãos gananciosas na síntese de William. E nunca
porão. Tudo o que foi usado na criação do G-virus será enterrado sobre toneladas de destroços, junto com
William e todos os monstros que eles criaram para a companhia. Depois ela irá se esconder por um tempo, se
recuperar e considerar suas opções - e então, venderá o G-virus para a concorrência. A Umbrella era a maior,
mas não era a única trabalhando em armas biológicas - quando Annette estiver quite com ela, não será mais a
maior. A vingança era tudo o que tinha restado.
"Exceto por Sherry". Annette cochichou, e a lembrança de sua jovem filha fez seu coração doer. Desde que
Sherry nasceu, Annette quis ter passado mais tempo com ela, se concentrar no bebê ao invés de ser parte do
brilhante trabalho de William.
Os anos se passaram e as promoções de William continuaram vindo, o trabalho ficou mais interessante e valioso -
e apesar de ambos terem prometido fazer um esforço para desenvolver a vida familiar, continuaram adiando.
E agora é tarde demais. Nunca seremos uma família, nunca seremos pais juntos. Todo aquele tempo perdido,
trabalhando para uma companhia que acabou nos esgotando...
Não adianta mais pensar em como teria sido. Tudo o que podia fazer era não deixar a Umbrella tirar mais nada
da família Birkin. William se foi, mas ainda tinha Sherry; essa parte dele continuará, e Annette poderá ser a mãe
que deveria ter sido. Claro, ela terá de esperar alguns meses antes de pegar Sherry, esperar a coisas se
acalmarem. Mas a garota ficará bem; os policiais a levarão para morar com a irmão de William, estava em ambos
os testamentos...
... a não ser que Irons ainda esteja vivo. Aquele gordo ganancioso achará um jeito de estragar até isso.
Ela esperava que estivesse morto; mesmo se não fosse responsável pelo que a Umbrella fez, Brian Irons era
nojento e arrogante, com a moral de uma lesma. Depois de anos de lealdade à companhia, foi comprado por
míseros cem mil dólares. Até William, que tinha uma opinião mais baixa sobre o chefe da polícia do que ela, se
surpreendeu...
Na tela, o Re3 terminou de comer. Tudo o que sobrou do corpo foram as costelas ensangüentadas e a parte de
trás do crânio. O licker saiu de visão, deixando um rastro escuro no chão. Graças ao T-virus, todas séries répteis
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foram eficientes assassinos, apesar dos Re3 terem apresentado falhas - o cérebro exposto era a mais óbvia, e
também tinham um ridículo alto índice de metabolismo; mantê-los alimentados foi uma discussão constante.
Não é mais problema. Tem vários corpos por aí - mais cedo ou mais tarde poderão comer algo quente...
Annette sentiu falta de energia, não queria sair da sala - mas não podia ficar esperando William aparecer. Ela o
ouviu no nível três uns dois dias atrás, mas não o via a quase quatro; ela não podia ficar esperando. O pessoal da
Umbrella já deve estar pensando em como entrar - mesmo com o computador central apagado, haviam outros
modos de passar pelas portas -
- e William pode ter saído. Não posso mais negar isso, não importa o quanto eu queira.
Havia uma fábrica à oeste do laboratório, uma companhia de transporte que foi comprada pela Umbrella, para
assegurar que os níveis subterrâneos ficassem secretos; foi assim que a Umbrella conseguiu construir o complexo
sem levantar suspeitas, escondendo equipamentos e materiais nos galpões, e usando a grande plataforma móvel
para transportá-los. Apesar das entradas da fábrica ainda estarem fechadas, desde que verificou pela última vez,
havia uma possibilidade de que William possa ter saído - e se chegou na fábrica, podia chegar aos esgotos.
Annette esforçou-se para levantar, ignorando as cãibras nas pernas e costas enquanto pegava a arma da mesa.
Ela não sabia muito sobre armas, mas aprendeu bem rápido depois que -
- que eles vieram pegar o G-virus, os homens usando máscaras de gás, atirando e correndo - e William, pobre
William, morrendo numa poça de sangue, e eu não vi a seringa antes de ser tarde demais -
Ela respirou fundo, tentando esquecer essa terrível memória, tentando esquecer o incidente que tirou William dela
e transformou Raccoon na cidade dos mortos. Isso não importava mais. A jornada à frente não será prazerosa,
e ela tinha que se concentrar. Fuja dos Re3, humanos no primeiro e segundo estagio de infecção, os
experimentos de botânica e a série de aracnídeos - ela podia se deparar com qualquer um deles, sem mencionar
o que a Umbrella possa ter enviado.
E William. Meu marido, meu amado - o primeiro humano portador do G-virus, que já não é mais humano.
Annette estava errada sobre achar que não tinha mais lágrimas. Ela parou no meio da vasta e esterilizada sala,
cinco andares sob a superfície de Raccoon, e chorou, perdida, respondendo aos estímulos que nunca se quer
tinham tocado a dor de sua solidão.
A Umbrella sentirá muito. Uma vez certa de que William esteja fora do alcance deles, ela destruirá o laboratório,
fugirá com o G-virus, os fará entender como estragaram tudo - e que Deus ajude quem tentar impedi-la.
[17]
Ada correu pelo bloco das celas, a um passo atrás de Leon, bem a tempo de ver o repórter sair da cela e cair no
chão. "Ajude-o!".
Leon gritou, e passou por Bertolucci para verificar a cela. Ada parou em frente ao sufocado repórter, mas ignorou
a ordem, esperando ver a criatura que o atacou sair da cela -
- ele estava atrás das grades, como isso aconteceu -
Ela esperou, mirando na cela, seu coração pulando - e viu a confusão no olhar de Leon. Pelo modo como olhava,
a disse que a cela estava vazia. A não ser que o agressor fosse invisível...
Sem chance. Não comece a pensar nisso.
Ada se ajoelhou ao lado do repórter, percebendo imediatamente que ele não estava bem - nada bem. Ele tinha
se sentado e encostado na parede que dividia as duas celas. Ele ainda respirava. Ada já tinha visto essa
aparência antes, o distante olhar, a tremedeira, a palidez - mas ela não via o porquê, e isso a assustava. Não
havia ferimentos. Deve ter sido um ataque cardíaco, talvez um derrame -
- mas aquele grito.
"Ben? Ben, o que aconteceu?".
#
Seu vacilante olhar vidrado no dela, e Ada viu que os cantos de sua boca estavam rasgados e sangrando. Ele
abriu a boca para falar, mas tudo o que saiu foi um resmungo.
Leon se agachou junto a eles, confuso, também. Ele balançou a cabeça para ela, respondendo a pergunta que
não tinha feito; não haviam sinais do que tinha acontecido.
Ada olhou para Bertolucci e tentou novamente.
"O que foi, Ben? Você consegue nos dizer o que aconteceu?".
As trêmulas mãos do repórter subiram pelo corpo até pararem no peito. Com um esforço visível, ele tentou dizer
uma palavra.
"...abertura...".
Ada não tinha certeza. As aberturas nas paredes das celas eram muito pequenas e muito distantes do chão -
nada mais do que um tubo de ventilação que dava na garagem. Nada podia ter passado por lá.
Bertolucci ainda tentava falar. Ada e Leon se aproximaram, tentando entender suas palavras.
"... peito. Queima, tá... queimando...".
Ele estendeu a mão de repente e agarrou o braço dela, encarando-a com uma intensidade que a surpreendeu.
Ele apertou fracamente, com desespero em seus olhos.
"Eu nuca falei... sobre Irons". Ele respirou, fazendo força para continuar vivo até dizer tudo. "Ele está -
trabalhando para a Umbrella... todo esse tempo. Os zumbis - são pesquisas da Umbrella... e ele acobertou os
assassinatos, mas eu não consegui - provar, ainda... ia ser meu - furo".
Bertolucci fechou os olhos, respirando forte enquanto soltava o braço dela, e ela sentiu pena dele ao invés de si
mesma. Seu grande segredo era que a Umbrella tinha armas biológicas e Irons estava nessa. Teria sido um
grande furo.
Ele não sabe nada sobre o G-virus, nunca soube - e vai morrer sem reconhecimento.
"Jesus," Leon disse suavemente. "o chefe Irons..."
Bertolucci começou a ter convulsões, suas mãos apertando seu peito enquanto gemia de agonia. Suas costas se
curvaram, seus dedos como garras -
- e o gemido virou líquido enquanto sangue começou a borbulhar em sua boca. Engasgando e tremendo, seus
membros se debateram violentamente, espirros de sangue voando a cada tossida -
- e Ada viu vermelho surgir na camisa branca sob as mãos dele, ao som de ossos quebrando. Ela se afastou
assim que Leon tentou segurar as mãos de Ben, incerto do que estava acontecendo, mas certo de que não era
um ataque cardíaco -
- Santo Deus, o que é aquilo?
Tudo ao mesmo tempo, Ben foi para a frente e seus olhos viraram. Sangue ainda saía de sua boca e houve um
som, um horrível som de carne sendo rasgada, e sob sua camisa, algo mexeu.
"Afaste-se". Ada gritou apontando sua Beretta para Ben, e no segundo que levou para ela mirar, uma coisa
emergiu do ensangüentado peito de Bertolucci. Uma coisa do tamanho de uma mão, que abriu a boca e deu um
baixo berro, mostrando afiados e vermelhos dentes. O bicho saltou do corpo com uma chicoteante cauda, caindo
no cimento junto com pedaços de pele e carne - e correu como uma bala na direção do portão aberto para o
corredor, sua cauda balançando e pernas que Ada não conseguia ver, deixando um rastro vermelho para trás.
A coisa passou pelo portão antes de ela se lembrar que tinha uma arma; ela estava tão chocada que não pensou
em reagir. Uma criatura parasita que rasga seu peito - direto de um filme de ficção...
"O que era - você viu -". Leon disse, sem fôlego.
"Eu vi". Ada cochichou, interrompendo-o. Ela virou e olhou para Bertolucci, para seu rosto, estático numa
contorção angustiosa, e para o rasgo em seu peito.
A boca, rasgada nos cantos...
A criatura foi implantada nele - mas pelo que? Ela não sabia, e nem queria saber. Ela queria completar a missão e
sair de Raccoon o mais rápido possível. De fato, ela nunca quis tanto uma coisa. Quando se deu conta de que
houve um acidente com o T-virus, não esperava ter que lidar com organismos desagradáveis.
Ela olhou para Leon, desistindo de tentar ser razoável. Ela ia para o laboratório e não tinha o que discutir.
"Estou saindo daqui". Ela disse, e sem esperar respostas, virou-se e andou rapidamente para o portão, atenta
para não pisar no rastro de sangue.
"Espere! Olha, eu acho - Ada? Ei...".
Ela saiu no corredor de arma erguida, mas a criatura já tinha sumido. O rastro desaparecia no meio do corredor -
#
e viu que eles tinham esquecido a porta do canil aberta -
- e a tampa do poço também. Que ótimo.
Leon a alcançou e parou na sua frente. Por um momento, Ada achou que ele a fosse parar fisicamente.
Não faça isso. Eu não quero te machucar, mas vou se for preciso.
"Ada, por favor, não vá". Leon disse, não uma ordem, mas sim um pedido. "Eu - quando cheguei em Raccoon,
conheci uma garota e acho que ela está na delegacia. Se você puder me ajudar a encontrá-la, poderemos fugir
juntos. Teríamos mais chances -".
"Sinto muito, Leon, mas esse é um maldito país livre. Você faz o que tem que fazer, e boa sorte - mas eu não
vou ficar. Já foi o bastante. Se - quando eu sair, mandarei ajuda".
Ada passou por ele, esperando que não houvesse violência e que ele não tentasse impedi-la - vai ser muito
perigoso se ele tentar - foi quando ele a surpreendeu de novo.
"Então eu vou com você". Ele disse, seu olhar firme, decidido - e assustado. "Eu não vou deixar você ir sozinha.
Nem ninguém - não quero que você se machuque".
Ada olhou, sem saber o que dizer. Depois que Bertolucci morreu, ela não queria enganar Leon nos esgotos,
considerando o quanto extenso o sistema era... mas ele era tão bom, tão determinado em ajudar que ela estava
começando a - a não querer fazer mal a ele. Tudo seria mais fácil se ele fosse algum idiota metido a machão...
Tá bom, tire seu disfarce. Diga que é uma agente particular querendo roubar o G-virus e não quer companhia;
diga sobre o alívio que sentiu ao saber que o repórter iria morrer, ou que não tem problemas para tirar uma vida,
se for por uma boa causa - como ser paga. Veja o quanto bom ele será depois disso.
Não é uma opção. Mas havia uma parte dela que não queria admitir, uma parte que não queria ficar só. Ver o
que aconteceu com Bertolucci a fez perceber que não era tão invulnerável quanto gostava de pensar.
Então deixe-o vir, ache um lugar seguro no laboratório para deixá-lo. Sem danos nem sujeira.
Leon a olhava de perto, estudando-a - esperando sua aprovação.
"Vamos". Ela disse, e o sorriso que ele deu, apesar de vitorioso, a fez se sentir mais desconfortável.
Sem outra palavra, eles foram para o canil, Ada pensando no que estava fazendo - mas ainda capaz de fazer o
que for necessário para completar a missão.
Claire parou na frente de uma porta medieval no fim do escuro corredor o qual o elevador a tinha levado. A
delegacia era fria, mas a gelada umidade das pedras na parede do corredor fazia a delegacia parecer o verão; é
como se ela tivesse descido no calabouço de um castelo assombrado da Idade Média.
Ela respirou fundo, decidindo como entrar; ela estava certa de que Irons não gostaria de uma visita surpresa,
mas a idéia de bater era absurda - e perigosa. Haviam tochas acesas em suportes, uma de cada lado da porta
de madeira, a mesma envolta numa moldura de metal enferrujado.
Um túnel secreto, uma porta escondida com iluminação ambiente... que pessoa sã moraria aqui? Não foi o
desastre que fez isso - Irons devia ser louco bem antes do acidente da Umbrella...
Quando Sherry disse o que seus pais faziam para viver e o que aconteceu antes de chegar à delegacia, algo
clicou. A Umbrella trabalhava com doenças e a população de Raccoon certamente teve um grave caso de algo.
Deve ter sido algum tipo de acidente, um vazamento que soltou a estranha praga zumbi...
Claire mordeu o lábio, incerta do que fazer. Ela sabia que Irons estava em algum lugar lá embaixo, e não queria
vê-lo de novo; talvez ela deva voltar, pegar Sherry e tentar achar outra saída. Só porque é uma área secreta não
significa que haja uma saída lá.
Sherry estava lá em cima sozinha. E você tem uma arma, lembre-se?
Uma arma com poucas balas. Se for o esconderijo de Irons, devem haver armas lá dentro... ou apenas outro
corredor. Mas imaginar não a dirá nada.
Claire tocou a maçaneta e respirou fundo. A pesada porta abriu vagarosamente em dobradiças bem cuidadas. Ela
recuou apontando a arma -
Jesus.
Uma sala vazia, tão úmida e não receptiva quanto o corredor - mas com móveis e uma decoração que fez sua
pele arrepiar. Uma única lâmpada estava pendurada no teto, iluminando a mais pavorosa câmara que já tinha
visto. Tinha uma mesa no meio da sala, manchada e batida, um serrote e outros objetos cortantes espalhados
em cima; um balde de metal e um esfregão encostados numa parede, ao lado de uma estante cheia de
recipientes empoeirados - e o que pareciam ossos humanos, polidos e brancos, postos como troféus. Isso, e o
cheiro - um pesado e ácido cheiro químico que envolvia um outro pior. Um cheiro como loucura.
Só de olhar a sala a fez enjoar; "louco" devia ser o nome do ano do chefe da polícia - mas não havia ninguém lá.
Isso quer dizer que deve haver outra passagem secreta lá dentro. Pelo menos ela pode procurar por armas.
Engolindo, Claire entrou na sala, grata por não ter trazido Sherry; olhar para essa câmara de tortura a daria
pesadelos -
"Parada, mocinha, ou eu atiro".
Claire congelou. Cada músculo de seu corpo travou assim que Irons começou a rir atrás dela, de trás da porta
onde não pensou em olhar.
Oh, meu Deus, oh, Deus, oh, Sherry eu sinto muito -
O riso de Irons cresceu para a pura e alegre gargalhada de um louco, e Claire entendeu que iria morrer.
CONTINUA
Raccoon Times - 26 de Agosto de 1998
Plano "manter a cidade segura"
RACCOON CITY - Na frente da prefeitura, o Prefeito Harris anunciou ontem à tarde, em uma coletiva, que o conselho da cidade estará contratando pelo menos dez novos policiais para se juntar à polícia de Raccoon, por causa dos assassinatos brutais que atormentaram Raccoon no começo deste verão e devido a suspensão do S.T.A.R.S.. Junto com o Chefe Irons e todo os membros do conselho de Raccoon, Harris assegurou os cidadão e repórteres que a cidade será mais uma vez uma comunidade segura na qual se vive e trabalha, e que a investigação dos onze assassinatos "canibais" e dos três ataques animais fatais estão longe da solução.
"Só porque ninguém foi atacado no mês passado significa que os oficiais eleitos desta cidade podem relaxar" declarou Harris. "As boas pessoas de Raccoon merecem ter confiança em sua força policial e estarem seguras de que seus representantes políticos estão fazendo de tudo para dar segurança aos cidadãos. Como muitos de vocês sabem, a suspensão do S.T.A.R.S. será provavelmente permanente. Aquela unidade de investigação de assassinatos e sua subseqüente desaparição de Raccoon City sugere que eles não se importam com essa comunidade - mas eu quero assegurar vocês que nós nos importamos, e que eu, o Chefe Irons e os homens e mulheres que vocês vêem aqui, não queremos mais nada senão fazer de Raccoon um lugar a qual nossas crianças possam crescer sem medo".
Harris continuou a detalhar um plano de três pontos feito para reforçar a confiança e manter os cidadãos de Raccoon longe da violência.
Além de contratar de dez a doze policiais, o horário de recolher permanecerá ao menos até Setembro, e o Chefe Irons irá pessoalmente comandar uma força tarefa de alguns oficiais e detetives para continuar a busca dos assassinos que tiraram as vidas de onze pessoas entre Maio e Julho deste ano...
Cityside - 4 de Setembro de 1998
Renovação do complexo da Umbrella
RACCOON CITY - A instalação química da Umbrella no sul do centro da cidade começará a ser reformada na próxima Segunda-feira. Esta será a terceira renovação estrutural semelhante a do ano passado para a companhia. De acordo com a porta-voz da Umbrella, Amanda Whitney, dois dos laboratórios dentro da instalação principal serão adaptados com novos equipamentos projetados para síntese de vacinas e receberá um moderno sistema de segurança. Em adição, todos os escritórios conectados terão seus computadores atualizados na próxima semana.
Mas será isso um problema para o trânsito do centro da cidade? Whitney diz, "com o prédio do R.P.D. ainda terminando uma de suas reformas, os passantes locais já estão ficando cansados de ruas bloqueadas. Nós estamos fazendo de tudo para não interferir no trânsito; a maior parte da construção será interna e o resto será feito depois das horas de trabalho". O pátio do R.P.D., nossos leitores devem se lembrar, foi repavimentado e ajardinado depois que algumas rachaduras misteriosas apareceram no cimento; o tráfego teve que ser desviado por dois quarteirões na Rua Oak durante seis dias.
Ao perguntarmos porque tantos "reparos" ultimamente, Whitney respondeu, "a Umbrella tem estado na frente da competição há tanto tempo quanto continua com a atual tecnologia. Estes serão meses de trabalho, mas eu acho que valerá o esforço...”.
Raccoon Weekly Editorial - 17 de Setembro de 1998
Irons vai se candidatar?
RACCOON CITY - O Prefeito Harris pode estar numa difícil corrida na próxima primavera. Notícias de dentro do R.P.D. estão dizendo que Irons, Chefe da Polícia pelos últimos quatro anos e meio; pode estar concorrendo para chegar ao topo do ministério na próxima eleição, contra o popular, e sem oposição Devlin Harris, já no poder por três períodos consecutivos. Embora Irons não tenha confirmado os fatos, o ex-membro do S.T.A.R.S. recusou a negação do rumor.
Com sua popularidade bem alta desde o encerramento do caso dos assassinatos neste verão (ainda não resolvido) e da expansão planejada do RPD, Irons pode ser o homem que tirará Harris da Prefeitura; a questão é, serão os eleitores capazes de esquecer o suposto envolvimento de Irons nos fundos de campanha ilegais em Cider District? Ou seus caros gostos em arte e design interior, o qual tornaram o RPD em algo mais parecido com um museu?...
Raccoon Times - 22 de setembro de 1998
Adolescente atacada no parque
RACCOON CITY - Há aproximadamente 18:30h da noite passada, Shanna Williamson de quatorze anos foi surpreendida por um estranho no parque da Rua Birch no centro da cidade, quando voltava do treino para casa.
O homem veio de trás de uma cerca no parque e a derrubou de sua bicicleta antes de tentar agarrá-la. A jovem conseguiu sair de lá com alguns arranhões, e correu para a residência de Tom e Clara Atkin; Clara chamou as autoridades, que conduziram uma busca no parque, mas não acharam nenhum sinal do agressor.
De acordo com a garota (através de um depoimento hoje de manhã), o homem pareceu ser um pedestre: suas roupas e cabelos estavam sujos, e cheirava mal, "um cheiro de fruta podre". Ela disse que ele parecia bêbado, vacilando e caindo depois dela.
Com a onda de assassinatos de Maio para Julho ainda não resolvidos, o RPD está levando este fato seriamente: o agressor mostrou uma evidente semelhança com os membros da "gangue" do Victory Park em Junho deste ano.
Harris convocou uma coletiva para hoje, e Irons já declarou que o primeiro dos novos policiais chega na próxima semana, e que viaturas patrulharão os parques do centro da cidade...
https://img.comunidades.net/bib/bibliotecasemlimites/3_CITY_OF_THE_DEAD.jpg
[1]
Com o pessoal esperando no carro de Barry lá fora, Jill fez o possível para se apressar. Não era fácil, a casa tinha
sido revirada desde a última vez que esteve lá. Livros e papéis espalhados pelo chão, e estava muito escuro para
andar facilmente. O fato de sua casa ter sido violada era preocupante, mas já era de se esperar. Ela devia estar
agradecida por não ser do tipo sentimental - e pelos intrusos não terem achado seu passaporte.
Na escuridão de seu quarto, Jill pegou meias limpas e calcinhas e as colocou em sua mochila, desejando poder
acender as luzes. Fazer as malas no escuro era mais difícil do que se imaginava, mais ainda com a casa
bagunçada; mas eles não podiam se arriscar. Era improvável que suas casas estavam sendo vigiadas, mas se
alguém estiver olhando, uma luz poderia abrir fogo.
Pelo menos você vai embora. Chega de se esconder.
Eles estavam indo para território estrangeiro, invadir o quartel inimigo e provavelmente serem mortos no
processo, mas pelo menos ela não ficará mais em Raccoon. Pelo que ela leu nos jornais ultimamente, era a
melhor escolha. Dois ataques na semana passada... Chris e Barry estavam cientes do perigo, mesmo sabendo o
que o T-virus fazia com as pessoas - Barry pensou que isso era algum tipo de truque, que a Umbrella "salvaria"
Raccoon antes de alguém se machucar. Chris concordou, mas Jill não estava preparada para assumir nada; a
Umbrella já mostrou que não consegue conter suas experiências. E com o que Rebecca, David e sua equipe
enfretaram em *Maine...
Agora não é hora para pensar nisso - eles tinham um avião para pegar. Jill pegou a lanterna da penteadeira e
estava indo para a sala quando lembrou que só tinha um sutiã consigo. De cara feia, ela virou para a gaveta
aberta e começou a procurar. Ela já tinha roupas o bastante, escolhidas do que Brad deixou para trás quando
fugiu de Raccoon; ela e os outros ficaram na casa dele por várias semanas, desde que a Umbrella atacou a casa
de Barry. Nenhuma roupa de Brad serviu em Chris nem em Barry. Lingerie não era algo que o piloto do
S.T.A.R.S. tinha guardado. Ela não queria parar o avião para comprar roupas íntimas.
Colocando-os na mochila, Jill voltou para a pequena sala da casa. Tinha uma foto de seu pai em uma das
estantes que ela queria pegar. Era a segunda vez que foi lá desde que começaram a se esconder. Ela sente que
não voltará tão cedo.
Andando agilmente pelo escuro, ela ergueu a lanterna e a apontou para o canto onde a estante estava. A
Umbrella bagunçou tudo. Só Deus sabe o que eles estavam procurando. Pistas do nosso esconderijo,
provavelmente; depois do ataque na casa de Barry e a desastrosa missão à Caliban Cove, ela não acha que a
Umbrella ignoraria essas informações.
Jill iluminou o livro que queria, o título era Prison Life; seu pai teria rido. Ela pegou o livro e começou a folheá-lo,
parando quando a luz caiu sobre o sorriso de Dick Valentine. Ele tinha mandado a foto junto com sua última carta.
Ela tinha posto no livro para não perdê-la. Esconder coisas importantes era um hábito que adquiriu quando jovem.
Ela soltou o livro, a pressa foi embora de repente, ao olhar para a foto. Um leve sorriso surgiu em seu rosto. Ele
era o único homem que ficava bem no uniforme laranja da prisão.
Jill pensou no que ele acharia da situação atual; ele foi o responsável pelo envolvimento dela com o S.T.A.R.S..
Depois de preso, ele a encorajou a abandonar essa vida, dizendo que foi um erro treiná-la como uma ladra...
... aí eu peguei um trabalho legítimo, trabalhando para a sociedade ao invés de contra ela - aí as pessoas em
Raccoon começaram a morrer. O S.T.A.R.S. descobriu uma conspiração para criar armas biológicas com um vírus
que torna coisas vivas em mortas. Obviamente ninguém acreditou em nós. Os S.T.A.R.S. que não podem ser
comprados pela Umbrella, perdem a credibilidade ou são eliminados. Agora nós iremos para uma missão suicida na
Europa, tentar invadir o quartel general de uma corporação multibilionária e impedi-los de destruir esse maldito
planeta. O que você acharia? Sendo que você nunca acreditou nessa história, o que você acha?
"Você se orgulharia de mim, Dick". Ela suspirou, incerta se seria verdade. Seu pai queria vê-la em uma linha de
trabalho menos perigosa, e comparado ao que ela e os outros iriam fazer...
Depois de um longo momento, ela colocou a foto cuidadosamente no bolso e olhou para sua casa bagunçada,
ainda pensando na opinião de seu pai sobre tudo isso; se tudo correr bem, talvez ela possa perguntar
pessoalmente. Rebecca e os outros sobreviventes de Maine ainda estavam escondidos, investigando a
organização S.T.A.R.S. e esperando notícias sobre o quartel general da Umbrella. O quartel oficial fica na Europa,
mas eles suspeitavam de que os cabeças por trás do T-virus tinham um complexo secreto em outro lugar -
- a qual você não achará se ficar aí parada; o pessoal achará que você parou para tirar um cochilo.
Jill colocou a mochila e olhou em volta pela última vez antes de voltar para a porta dos fundos, na cozinha. Havia
um leve cheiro de fruta estragada no ar, vindo de uma tigela de maçãs e pêras em cima da geladeira. Apesar de
conhecer bem o cheiro, ela sentiu um calafrio em sua espinha. Ela foi para a porta fechada, tentando bloquear as
súbitas memórias do que eles acharam na mansão de Spencer...
"Jill?".
A porta abriu, a silhueta de Chris na escuridão pela distante luz da rua.
"Bem aqui". Ela disse, andando. "Desculpe pela demora. A Umbrella veio aqui com um trator".
Mesmo com pouca luz, ela pode ver um meio sorriso no rosto dele. "Nós estávamos achando que um zumbi
tinha pego você". Ele disse claramente, mas ela sentiu a preocupação.
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*Maine – Estado localizado na costa leste dos E.U.A.
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Muitas pessoas morreram por causa do que a Umbrella fez na
floresta fora da cidade. Se o acidente tivesse ocorrido mais perto de Raccoon...
"Não teve graça". Ela disse suavemente.
O sorriso de Chris sumiu. "Eu sei. Está pronta?".
Jill acenou, apesar de não se sentir preparada pelo que virá a seguir, tampouco pelo que estão deixando para
trás. Em algumas semanas, seu conceito de realidade transformou pesadelos em rotina.
Corporações malvadas. Cientistas loucos, vírus assassinos. E os mortos-vivos...
"Estou". Ela disse finalmente. "Estou pronta".
Juntos, eles saíram. Assim que ela fechou a porta, sentiu um súbito ar de incerteza - de que ela nunca mais
colocaria os pés em casa novamente, de que os três nunca mais voltariam para Raccoon City...
... mas não acontecerá nada com a gente. Algo acontecerá, mas não conosco.
Franzindo, mão na fechadura, ela tentou dar sentido ao pensamento. Se eles sobreviverem a essa missão, se
eles tiverem sucesso contra a Umbrella, por que não voltariam para casa? Ela não sabia, mas o sentimento era
desconfortavelmente forte. Algo ruim iria acontecer, algo -
"Ei, você está bem?".
Jill olhou para Chris, viu a mesma preocupação em seu rosto. Eles se aproximaram bastante nas últimas
semanas, apesar de achar que Chris queira se aproximar mais ainda.
E você não quer?
Jill se balançou mentalmente e acenou para Chris, deixando os sentimentos irem. O vôo para Nova Iorque não irá
esperar por ela.
Ainda aquele sentimento...
"Vamos sair daqui". Ela disse.
Eles andaram pela noite, deixando a escura casa para trás, tão quieta e sozinha quanto um túmulo.
[2]
29 de Setembro de 1998
O resto da luz do dia já estava atrás das montanhas, pintando o horizonte com o violeta do pôr do sol. As
montanhas corriam pela escuridão do céu sem nuvens, se esticando para alcançar o fraco brilho das estrelas.
Leon poderia ter apreciado mais a paisagem se não estivesse tão atrasado. Ele vai chegar a tempo, claro, mas
antes pretendia chegar em seu novo apartamento, tomar um banho, comer algo; mas do jeito que está, ele só
tem tempo para passar numa lanchonete a caminho da delegacia. Colocar seu uniforme na última parada lhe deu
alguns minutos, mas basicamente ele estava apertado.
Isso aí, Oficial Kennedy. Primeiro dia de trabalho e você estará tirando sanduíche dos dentes durante as
chamadas. Muito profissional.
Seu turno começava às nove e já era mais de oito. Leon pisou um pouco mais forte no acelerador ao passar por
uma placa que dizia restar meia hora para chegar em Raccoon City. Pelo menos a estrada estava livre. Ele não
viu ninguém em horas, exceto pelo apressadinho no sentido oposto.
Uma boa mudança considerando o trânsito depois de Nova Iorque, a qual lhe custou toda tarde. Ele tentou deixar
um recado para o sargento na noite passada, mas só ouviu o sinal de ocupado.
Os poucos móveis que tinha, já estavam no apartamento num bom bairro de Raccoon. Havia um parque à duas
quadras de lá, e só cinco minutos de carro até a delegacia. Chega de engarrafamentos, bairros violentos e ações
brutais. Ele procurava viver numa comunidade pacífica.
... bom, exceto pelos últimos meses. Aqueles assassinatos...
O que aconteceu em Raccoon foi horrível, doentio - mas os agressores nunca foram pegos e a investigação só
estava começando. Se Irons gostar dele como gostaram na academia, talvez Leon possa trabalhar nesse caso.
Mesmo Chefe Irons sendo uma praga, ele ficará um pouco impressionado. Leon se formou entre os dez
melhores e não era um estranho em Raccoon. Ele costumava passar os verões lá quando criança, quando seus
avós ainda eram vivos. O R.P.D. era uma biblioteca e a Umbrella estava a vários anos de distância de transforma
Raccoon numa verdadeira cidade. Mesmo assim, ainda é o mesmo calmo lugar de sua infância. Quando os
assassinos forem presos, Raccoon City será ideal de novo - bonita, limpa, uma comunidade escondida nas
montanhas como um paraíso secreto.
Aí eu me estabeleço lá. Uma ou duas semanas se passam e Irons percebe o quanto bem os meus relatórios
estão sendo escritos, ou vê o quanto bom eu sou atirando no alvo. Ele me chama para ver os documentos do
caso - e eu vejo algo que ninguém mais viu. Ninguém mais percebeu por que eles viveram muito com isso, e
esse policial novato vem e resolve o caso, nem um mês fora da academia e eu -
"Jesus!". Algo correu em frente ao seu Jeep.
Leon pisou no freio e desviou, tirado de seu sonho enquanto recuperava o controle do carro. Os freios travaram e
os pneus derraparam no asfalto. O Jeep parou de frente para as escuras árvores que cercavam a estrada -
desligando depois de uma última sacudida.
De coração acelerado, Leon abaixou o vidro e levantou o pescoço, varrendo as sombras pelo animal que tinha
cruzado a pista. Ele não o atropelou, mas foi por pouco. Algum tipo de cachorro, ele não viu direito - um dos
grandes, talvez um Doberman, mas de alguma forma parecia errado. Leon só o viu por uma fração de segundo,
um brilho de olhos vermelhos e o corpo inclinado de um lobo. E tinha algo mais, parecia algum tipo de...
... lodo? Não, truque de luz, ou você só estava se borrando de medo e acabou vendo errado. Você está bem e
não o atropelou, isso é o que importa.
"Jesus". Ele disse de novo, mais suave, sentindo-se aliviado e bravo enquanto a adrenalina saia de seu sistema.
Pessoas que deixam seus cães soltos são idiotas - depois agem surpresos quando o Totó é pego por um carro.
O Jeep parou a alguns metros de uma placa que dizia RACCOON CITY 10; ele só conseguia ver as letras no
escuro. Leon olhou no relógio; ele ainda tinha meia hora para chegar na delegacia, pouco tempo - mas por algum
motivo, ele simplesmente parou por um momento, fechando os olhos e respirando profundamente.
Uma brisa fresca passou pelo seu rosto; o deserto trecho de estrada parecendo sobrenaturalmente quieto.
Os assassinatos em Raccoon. Algumas pessoas foram mortas por animais, não foram? Cães selvagens? Talvez
aquele não tenha dono.
Um perturbante pensamento - mais ainda quando sentiu que o cachorro ainda estava por perto, o escondido nas
árvores.
Bem vindo a Raccoon City, Oficial Kennedy. Cuidado com as coisa que o observam...
"Não seja idiota". Leon disse para si mesmo, imaginado se algum dia se livrará de sua imaginação.
Sonhando em pegar caras maus, depois inventar monstros assassinos vagando pela floresta - vamos agir de
acordo com nossas idades, né, Leon? Você é um policial, pelo amor de Deus, um adulto...
Ele ligou o motor e voltou para a estrada. Ele tinha um emprego novo, um bom apartamento numa boa cidade;
ele era competente, consciente, e de boa aparência; usando sua criatividade, tudo ficará bem.
"E já estou a caminho". Ele disse, forçando um sorriso para se acalmar. Ele estava a caminho de Raccoon City,
para uma nova vida - não tinha nada com o que se preocupar...
Claire estava exausta, psicológica e emocionalmente, e o fato de seu traseiro estar doendo pelas últimas horas,
não estava ajudando. O motor de sua Harley parecia entrar em seus ossos, e mais, estava escurecendo. E por
idiotice, ela não estava usando suas roupas de couro; Chris não aprovaria.
Ele vai gritar comigo, e eu nem vou ligar. Deus, Chris, por favor, esteja lá para isso...
O barulho da moto ecoou pelos barrancos inclinados. Ela fez as curvas cuidadosamente, bem consciente do
quanto desertas as estradas estavam; se ela cair, levará um bom tempo até alguém aparecer.
Como se importasse. Sem seu equipamento, eles recolheriam seus pedaços com um rodo.
Era burrice, ela sabia que era burrice - mas algo aconteceu com Chris. Droga, algo deve ter acontecido com a
cidade toda. Pelas últimas semanas, a suspeita aumentou - e as ligações que tinha feito aquela manhã a tiraram
do lugar.
Ninguém em casa. Ninguém em lugar nenhum. Como se a cidade tivesse se mudado.
Ela não se importava com Raccoon, mas sim com seu irmão que estava lá, e se algo de ruim aconteceu com ele
-
Ela não podia, não pensaria desse jeito. Chris era tudo o que lhe restava. Seu pai morreu em seu emprego na
construção quando ainda eram crianças. Quando sua mãe morreu num acidente de carro três anos atrás, Chris
fez o melhor para substituir os pais. Mesmo sendo poucos anos mais velho, ele a ajudou a escolher uma
faculdade - ele até a mandava dinheiro todo mês. Além disso, ele ligava para ela toda semana.
Mas essas ligações pararam no último mês e meio, e as dela não foram retornadas. Ela tentou se convencer de
que era besteira se preocupar - talvez ele finalmente achou uma namorada, ou algum problema com o S.T.A.R.S.
Mas depois de três cartas não correspondidas e dias esperando o telefone tocar, ela finalmente decidiu ligar para
o R.P.D. naquela tarde, esperando que alguém pudesse dizer o havia acontecido. Ela só ouviu o sinal de ocupado.
Sentada em seu quarto, ouvindo aquele som, ela começou a se preocupar mesmo. Ela procurou em sua agenda
com mãos trêmulas, discando os poucos números dos amigos dele, pessoas ou lugares que mandou ligar em
caso de emergência - Barry Burton, Emmy's Diner, um policial que ela nunca conheceu chamado David Ford. Ela
até tentou o telefone de Bill Rabbitson, apesar de Chris ter dito que ele desapareceu alguns meses atrás. Só deu
ocupado.
A preocupação se transformou em algo perto de pânico. A viagem para Raccoon City levava seis horas e meia da
universidade. Sua amiga de quarto pegou seu equipamento de moto emprestado para sair com o namorado, mas
Claire tinha outro capacete - e com aquele pânico passando pelos seus pensamentos assustados, ela
simplesmente pegou o capacete e saiu.
Burrice, talvez. Impulsiva, certamente. E se Chris estiver bem, nós poderemos rir sobre o quanto ridícula essa
paranóia foi. Mas enquanto eu não souber o que está acontecendo, não terei um momento de paz.
O resto da luz do dia estava sumindo no céu sem nuvens, mas a brilhante lua cheia e o farol da moto eram
suficientes para enxergar - para ver a pequena placa adiante: RACCOON CITY 10.
Dizendo a si mesma que Chris estava bem, que algo de estranho aconteceu em Raccoon, alguém já teria
verificado. Claire passou a se concentrar na estrada. Daqui a pouco estará escuro, mas ela chegará em Raccoon
antes de ficar perigoso para dirigir.
Estando Raccoon City bem ou não, ela descobrirá em breve.
#
[3]
Leon alcançou os limites da cidade com vinte minutos restando, e decidiu que um jantar quente irá esperar. De
sua última visita à delegacia, ele sabia que haviam algumas máquinas de venda onde podia comprar algo. O
pensamento de ter doces e amendoins em seu estômago não caía bem, mas foi culpa dele por não te se livrado
do trânsito de Nova Iorque a tempo.
Ele passou por algumas fazendas que ficavam a leste da cidade, antes de ver a parada de caminhões que
separava a zona rural da urbana.
Assim que virou na ByBee, indo para uma das ruas norte-sul principais que o levariam para o R.P.D., ele
conseguiu a primeira dica de que algo estava errado. Nos primeiros quarteirões, ele se surpreendeu. No quinto ele
se sentiu um estranho no deserto. Não era estranho, era impossível.
ByBee era a primeira rua real da cidade, vinda do leste. Havia vários bares e restaurantes baratos, tal como um
cinema que nunca deve ter mostrado nada além de filmes de terror e comédias sensuais - e mesmo assim era o
mais popular lugar da juventude de Raccoon. Havia algumas tavernas que serviam cervejas e bebidas quentes
para os universitários. Às oito e quarenta e cinco da noite, ByBee deveria estar cheia de vida.
Exceto por algumas lojas e restaurantes, Leon viu que quase toda a rua estava escura - e mesmo as que tinham
luz não mostravam presença humana. Haviam carros parados na rua, e ainda nenhuma pessoa. ByBee, o ponto
de encontro de adolescentes e estudantes, estava totalmente deserta.
Onde está todo mundo?
Ele continuou dirigindo, procurando respostas - e tentando aliviar a suave ansiedade que sentia. Talvez há algum
tipo de evento acontecendo, uma missa ou uma festa da macarronada. Ou Raccoon decidiu antecipar a
Oktoberfest para hoje à noite.
Tá, mas todos ao mesmo tempo?
Leon percebeu que não tinha visto um carro se quer desde o cachorro há dezesseis quilômetros. Nem um. Sendo
assim, um pensamento menos dramático lhe ocorreu.
Algo não cheirava bem. De fato, algo cheirava como podre.
Ele diminuiu a velocidade para virar na Powell, uma quadra à frente - mas o cheiro e a ausência de vida estavam
lhe dando uma ruim sensação. Talvez ele deva parar e verificar, procurar algum sinal de -
Leon sorriu aliviado. Havia duas pessoas de pé na esquina, bem à frente; a luz estava apagada perto deles, mas
ele pode ver suas sombras claramente - um casal, uma mulher de saia e um homem alto usando botas. Indo a
sul na Powell, chegando mais perto deles, Leon pode ver como andavam, pareciam bêbados. Ambos estavam na
sombra de uma loja de escritório e fora de visão; mas Leon estava naquela direção - não custava parar e
perguntar?
Devem ter saído do O'Kelly's. Um copo ou dois, mas não estando dirigindo, ótimo. Eu me sentirei um idiota
quando eles me dizerem que hoje é o grande concerto gratuito ou o dia da churrascada.
Aliviado, Leon virou a esquina e olhou para as sombras, procurando pelo par. Ele não os viu, mas tinha um beco
entre a loja e a joalheria. Talvez eles tenham parado para ir ao banheiro ou fazer outra coisa mais ilegal -
"Merda!".
Leon pisou no freio assim que meia dúzia de escuras figuras voaram do chão, pegas pelos faróis do Jeep.
Assustado, levou alguns segundos para perceber que tinha visto pássaros; eles não berraram, apesar de ter
estado perto o bastante para ouvir o bater de asas.
Oh, meu Deus.
Havia um corpo humano no meio da rua, a seis metros do carro. Debruçada, mas parecia uma mulher - e
julgando pelo líquido vermelho que cobria boa parte da blusa branca, não era uma estudante bêbada que decidiu
dormir no lugar errado.
Atropelamento. Algum imbecil a acertou e fugiu.
Leon desligou o motor e abriu a porta. Ele hesitou, um pé no asfalto, o cheiro de morte intenso no ar. Sua mente
#
trouxe uma idéia que não queria considerar, mas deveria; isso não é um treinamento, é a sua vida.
E se não foi um atropelamento? E se o fato de não haver pessoas por perto é por causa de um maluco armado
que decidiu praticar tiro ao alvo? Talvez todos estão em casa, abaixados - o R.P.D. pode estar a caminho e
aqueles dois bêbados podiam estar feridos e procurando ajuda...
Ele se esticou no Jeep e procurou seu presente de formatura debaixo do banco do passageiro, uma H&K VP70
com dezoito balas.
Apontando ela para o chão, Leon saiu do carro e deu uma olhada em volta. Ele não conhecia muito bem a noite
de Raccoon, mas sabia que não deveria estar tão escuro. Várias luminárias da rua estavam apagadas; se não
fossem os faróis do carro, ele não teria visto o corpo.
Ele se aproximou, sentindo-se desprotegido sem o carro, mas ciente de que ela podia estar viva. Era impossível,
mas ele tinha que ver.
Alguns passos mais próximo e viu que era um a jovem mulher. O cabelo ruivo e liso cobria o rosto. A maioria dos
ferimentos estavam escondidos pela blusa ensangüentada. Parecia haver alguns deles - rasgos na roupa
expunham claros e cortados pedaços de carne e os músculos vermelhos abaixo.
Exalando forte, Leon colocou a arma na mão esquerda e se agachou, tocando a fria pele do pescoço dela. Alguns
segundos passaram, segundos que lhe causaram medo, tentando se lembrar do procedimento de ressuscitarão,
esperando sentir o pulso.
Cinco compressões, dois e curtos sopros, cotovelo parados e, por favor, não esteja morta -
Ele não sentiu o pulso e não queria esperar. Guardando a arma, ele agarrou os ombros para vira-la - mas quando
começou a erguê-la, sua blusa saiu da calça, mostrando algo que o fez soltá-la. Sua coluna e parte das costelas
estavam expostas. As vértebras brancas brilhando entre a carne vermelha. Parece que ela foi mastigada. Coisa
que Leon não quis acreditar.
Os corvos não fizeram isso, teria levado horas, e quem disse que corvos se reúnem à noite para comer? E aquele
cheiro, não está vindo dela, ela morreu recentemente, e -
Canibais. Assassinos.
Não. Nem pensar. Para uma pessoas ser morta e devorada no meio da rua sem ninguém para impedir -
- e com tempo suficiente para comedores de mortos virem - os assassinos devem ter matado toda a população.
Parece certo? Então que cheiro é esse? E onde estão todos?
Atrás de Leon, houve um baixo e suave gemido. Depois, passos.
Levou um segundo para Leon se levantar, virar e empunhar a arma. Era o casal, os bêbados, vindo em sua
direção, junto com um terceiro, um cara musculoso com -
- com sangue por toda a camisa. E nas mãos. E pendurado em sua boca, algo vermelho e mole. O outro homem
com as botas e suspensórios, parecia igual.
O trio se aproximava, passando do Jeep, erguendo as mãos e gemendo. Leon estava impressionado com a
descoberta de que o cheiro vinha deles -
- e apareceu outro, saindo da porta do outro lado da rua, uma mulher de camiseta e cabelo amarrado para trás.
Outro gemido atrás dele. Leon olhou sobre o ombro e viu um jovem de cabelos escuros e braços podres sair das
sombras da calçada.
Leon apontou a arma para o que estava mais perto, o de suspensórios, enquanto seus instintos gritavam para
fugir. Ele estava aterrorizado, mas sua lógica insistia que havia uma explicação para o que via, que não estava
vendo um morto-vivo.
"Certo! Já chega! Não se mexam!".
Sua voz foi forte e autoritária. Ele vestia seu uniforme, e Deus, por que eles não param? O de suspensórios
gemeu de novo, cego para a arma apontada para seu peito, e ainda seguido pelos outros, agora a menos de
três metros de distância.
"Não se mexa!". Leon disse de novo, e o som de seu próprio pânico o fez recuar um passo, olhando para os
lados e vendo mais dois saindo das sombras.
Algo agarrou seu calcanhar.
"Não!". Ele gritou, virando a arma -
#
- e viu que a atropelada estava segurando sua bota com uma mão ensangüentada, tentando mover seu corpo.
O gemido dela se juntou ao dos outros enquanto tentava morder seu pé, vermelhos fios de saliva escorrendo
pelo queixo, caindo no couro.
Leon atirou nas costas dela. Pela distância deve ter acertado seu coração. Tremendo, ela voltou para o chão.
- e ele virou e viu os outros a menos de um metro e meio, e atirou mais duas vezes, os tiros abrindo buracos no
peito do mais próximo.
O de suspensórios não se intimidou com os tiros em seu peito, seu equilíbrio se abalando por apenas um segundo.
Ele abriu a boca e soltou um grito de fome, mãos erguidas de novo na direção de seu alívio.
Recuando, Leon atirou de novo. E de novo. E de novo. Mais tiros e eles continuaram vindo. Era como um sonho
ruim, um filme ruim, não era real - e Leon sabia que se não começasse a acreditar, acabará morrendo. Comido
por esses -
Vá em frente. Diga. Esses zumbis.
Longe do carro, Leon correu, ainda atirando.
[4]
Que vida noturna; esse lugar está morto.
Claire não viu tantas pessoas como deveria desde que chegou em Raccoon, só algumas, só algumas vagando
por aí. O lugar parecia totalmente deserto; o capacete bloqueava muito a visão, mas definitivamente os negócios
não iam bem naquela parte da cidade. Tal como o trânsito.
Ela planejou ir direto ao apartamento de Chris, mas se lembrou de que passaria em frente ao Emmy's. Chris não
sabia cozinhar nada; sendo assim, ele vivia de cereais, sanduíches frios e jantares no Emmy's seis vezes por
semana; mesmo não estando lá, vale a pena parar e perguntar se alguma garçonete o viu.
Assim que Claire parou em frente ao Emmy's, viu ratos procurando abrigo numa lata de lixo na calçada. Ela
abaixou o apoio e desceu da moto, tirando o capacete e o colocando no assento. Balançando seu rabo de cavalo,
ela franziu o nariz de nojo; pelo cheiro, o lixo estava lá por um bom tempo. Independente do que jogavam fora,
aquilo tinha um cheiro tóxico.
Antes de entrar, ela esfregou seus braços e pernas tanto para aquecê-los, quanto para limpá-los da sujeira da
estrada.
Através do vidro da frente do restaurante era possível ver o confortável de bem iluminado interior.
Das banquetas vermelhas do balcão que cercava o canto esquerdo ao fundo - não tinha uma alma à vista. Claire
franziu, desapontada. Tendo visitado Chris regularmente nos últimos anos, ela esteve lá todas as horas do dia e
da noite; os dois eram corujas, decidindo comer sanduíches às três da manhã - o que significa Emmy's. E sempre
tinha alguém lá, conversando com uma das garçonetes de avental vermelho ou curvado sobre uma xícara de
café e um jornal, não importava que horas fossem.
Então onde eles estão? Nem são nove horas...
A placa dizia Aberto, e ela não ficou parada na rua, esperando. Uma última olhada na moto e ela entrou.
Respirando fundo ela disse esperançosa.
"Olá? Tem alguém aqui?".
Sua voz correu pelo silêncio do restaurante vazio. Exceto pela suavidade dos ventiladores de teto, não havia outro
som. Tinha um familiar cheiro de gordura no ar e algo mais - um cheiro amargo e ainda fraco de flores podres.
O lugar era em L, se esticando para frente dela e para a esquerda. Andando devagar, Claire seguiu em frente.
Atrás do balcão ficava o caminho da cozinha. Se o restaurante estava aberto, os funcionários deviam estar lá,
talvez surpresos com a falta de clientes -
- mas isso não explica a bagunça, né?
Não estava tão bagunçado. A desordem nem foi percebida do lado de fora. Menus no chão, um copo d'água
virado no balcão, e talheres eram os únicos objetos fora de ordem - mas era demais.
Que se dane a cozinha, isso é muito estranho, algo está errado nessa cidade - talvez eles foram assaltados ou
preparando uma festa surpresa. Quem se importa?
#
Do espaço escondido no final do balcão, ela ouviu um movimento, um deslizante sor de roupas seguido por um
ronco. Alguém está lá, agachado.
De coração batendo forte, Claire chamou de novo. "Olá?".
E nada.
- outro gemido, um som que arrepiou os pêlos do seu pescoço.
Apesar do medo, Claire foi até lá. Talvez houve um assalto, os clientes podem estar amarrados - ou pior, tão
machucados que não conseguiam gritar. De qualquer modo, ela estava envolvida.
Claire chegou no fim do balcão, olhou para a esquerda -
- e gelou, de olhos arregalados, sentindo-se psicologicamente estapeada. Perto de uma prateleira com bandejas
estava um calvo homem de avental branco, de costas para ela. Ele estava agachado sobre o corpo de uma
garçonete; mas tinha algo muito errado sobre ela, tão errado que Claire não conseguiu aceitar tão cedo. Seu olhar
chocado passou pelo uniforme vermelho, sapatos, até pelo crachá de plástico no peito dela, "Julia" ou "Julie".
... a cabeça. A cabeça dela não estava lá.
Percebendo o que estava errado, Claire não conseguiu desacreditar por mais que queira. Só tinha uma poça de
sangue no lugar da cabeça dela, cercada por fragmentos do crânio e mechas de cabelo escuro. O cozinheiro tinha
as mãos no rosto e Claire, olhando para o corpo, soltou um leve suspiro.
Ela abriu a boca, incerta sobre o que falar.
Gritar, perguntar por que, como, oferecer ajuda - ela não sabia, e assim que o homem virou para ela, abaixando
as mãos, nada foi dito definitivamente.
Ele estava comendo a garçonete. Seus dedos estavam vestidos com carne; a estranha face que ele mostrou
estava suja de sangue.
Zumbi.
Sua mente aceitou isso no momento em que pensou; ela não era idiota. Ele estava mortalmente pálido e com
aquele cheiro de podridão. Seus olhos brancos.
Zumbis em Raccoon. Eu nunca esperei isso.
Com esse calmo e lógico pensamento veio uma súbita onda de terror. Claire recuou, enquanto o homem
continuava se virando, se levantando.
Ele era enorme, quase dois metros, grande como um armário -
- e morto! Ele está morto e comendo a mulher, não o deixe se aproximar!
O cozinheiro começou a andar. Claire recuou mais rápido, quase escorregando num menu. Um garfo entortou sob
seus pés.
SAIA DAQUI, AGORA.
"Eu já estou de saída". Ela falou. "Mesmo, não precisa mostrar a porta -".
O cozinheiro continuou andando, seus cegos olhos arregalados de fome. Outro passo para trás - e Claire sentiu o
frio metal da maçaneta da porta. Uma triunfal adrenalina passou por ela enquanto virava, tocava a maçaneta -
- e gritou, um curto grito de terror. Havia dois, três deles lá fora, suas carnes decompostas pressionando o vidro.
Um deles só tinha um olho; outro só o lábio superior. Do outro lado da rua, escuras figuras saiam da penumbra.
Sem saída, presa -
- Jesus, a porta dos fundos!
No final de seu campo visual, a verde luz da saída brilhava como uma estrela. Claire virou de novo e mal viu o
cozinheiro chegando onde estava, uma atenção virada para sua única esperança.
Ela correu. A porta daria no beco, se estiver trancada Claire estará morta.
Claire golpeou a porta e ela abriu, acertando os tijolos da parede do beco - e tinha uma arma apontada para seu
rosto, a única coisa que podia pará-la, um homem armado.
Ela congelou, erguendo os braços instintivamente.
"Espere! Não atire!".
Ele não se moveu, a arma ainda apontada para sua cabeça -
- ele vai me matar -
"Abaixe-se!". Ele gritou, e Claire obedeceu.
Boom! Boom!
O homem atirou e Claire olhou em volta, viu o cozinheiro morto caindo de costas bem atrás dela, um buraco em
sua testa.
#
Claire voltou-se para o homem que salvou sua vida, reparando no uniforme. Policial. Ele era jovem, alto - tão
aterrorizado quanto ela se sentia, seus olhos azuis bem abertos e sem piscar. Pelo menos sua voz foi forte ao se
abaixar para ajudá-la.
"Não podemos ficar aqui. Venha comigo, nós estaremos a salvo na delegacia".
Assim que ele falou, ela ouviu um coro de gemidos vindos da rua, aumentando. Claire se deixou ser levantada,
segurando a mão dele bem forte, se confortando ao percebeu que sua mão estava trêmulas igual a dele.
Eles correram.
[5]
Leon correu junto com a garota, tentando lembrar o mapa da cidade. O beco deve dar na Ash, não muito longe
da rua do R.P.D., a Rua Oak - mas a delegacia estava a pelo menos uns quinze quarteirões à leste; sem
transporte eles não conseguirão. Ele só tinha quatro balas, e pelo som vindo do beco, havia dezenas de criaturas
em cada ponta.
Saindo do beco, Leon ergueu a mão e parou de correr, examinado a escura rua. Ele não viu muito, mas de onde
estavam, perto da luminária, havia onze ou doze zumbis à direita e só três à esquerda, não muito longe de uma -
Aleluia!
"Ali!".
Leon apontou para uma viatura estacionada do outro lado da rua. Não havia policiais por perto; seria querer
demais - mas as portas estavam abertas. Eles podem alcançar o carro antes das três coisas ali perto. Se não
tiver chave, pelo menos há um rádio e vidros à prova de balas. Eles podem ficar lá até a ajuda chegar -
- e é a única chance. Vá!
Eles correram para o preto e branco. Leon apontando sua arma para as criaturas mais próximas, a uns vintes
metros. Ele queria atirar, mas não podia desperdiçar munição.
Deus, que tenha chaves.
Eles alcançaram a viatura ao mesmo tempo e se dividiram, a garota indo para o lado do passageiro, fazendo
Leon perceber que ela achava que o carro era seu. Ele a esperou fechar a porta antes de entrar, uma pequena
voz dentro dele gritando que esse era seu primeiro dia.
A chave estava na ignição. Leon guardou a arma e a tocou.
"Aperte os cintos". Ele disse, pouco ouvindo o consentimento da garota enquanto girava a chave e as sirenes
ligavam. A Rua Ash foi iluminada por azul e vermelho, as sombras mudando de forma e densidade. Era a visão do
inferno - e ele pisou no acelerador, querendo sair de lá o mais rápido possível.
O carro saiu derrapando. Leon virou para a direita depois para a esquerda, quase acertando uma mulher cuja
metade do couro cabeludo foi arrancado.
Ajuda, chamar ajuda -
Leon pegou o rádio sem tirar os olhos da rua. Criaturas saíam da escuridão como se chamadas pelo carro veloz.
Assim que o carro cruzou a Powell e continuou, Leon desviou de mais zumbis.
A garota estava cochichando, olhando para a desolada paisagem enquanto Leon apertava o botão do rádio, o
desamparo crescendo. Sem estática, sem nada.
"Que diabos está acontecendo. Eu chego em Raccoon e o lugar está de cabeça para baixo -".
"Ótimo, o rádio está desligado". Leon a interrompeu, soltando o rádio. A cidade parecia um mundo alienígena, as
ruas estranhamente assombradas. Parecia um sonho, mas o cheiro dizia que estavam acordados. O cheiro tinha
tomado conta da viatura, ficando difícil de dirigir. Pelo menos não tinha trânsito, nem pessoas, pessoas de
verdade...
... exceto eu e a garota. Eu tenho que fazer o meu trabalho, não deixá-la se machucar. Pobre menina, não deve
#
ter mais de dezenove ou vinte anos, deve estar aterrorizada.
"Você é policial, né?".
Ele olhou para ela, o tom sarcástico e humorado em sua voz deu uma forte impressão de que ela não era fraca.
Uma boa coisa apesar das circunstâncias.
"Sou. Primeiro dia no trabalho; que ótimo, hein? Eu sou Leon S. Kennedy".
"Claire,". Ela disse. "Claire Redfield. Eu vim procurar meu irmão, Chris...".
Ela parou, olhando para a rua. Duas criaturas estavam entrando no caminho do carro, e Leon acelerou, passando
entre eles. A grade de metal que divide a parte de trás do carro estava quebrada, fornecendo uma clara visão do
retrovisor interno; os dois zumbis vagando desatentamente atrás deles.
Famintos. Como nos filmes.
Por um momento, ninguém falou, a pergunta mais obvia não respondida. Seja lá o que tornou Raccoon numa
casa dos horrores, não importava tanto quanto suas vidas. Eles chegarão na delegacia em alguns minutos. Tinha
um estacionamento subterrâneo - ele tentará lá primeiro - mas se os portões estiverem fechados, eles terão que
andar um pouco. Tinha um pequeno jardim em frente ao prédio.
Quatro balas - e uma cidade cheia daquelas coisas. Precisamos de outra arma.
"Ei, abra o porta-luvas". Ele disse.
Claire apertou o botão e se curvou, mostrando as costas de seu colete vermelho; "Made in Heaven" (Feito no
Paraíso) estava estampado sobre um voluptuoso anjo segurando uma bomba. Combinava com ela.
"Tem uma arma aqui". Ela disse, e pegou a semi-automática, erguendo-a cuidadosamente para ver se estava
carregada, antes de pegar os dois clips. Era uma das velhas armas do R.P.D., uma Browning HP de 9 mm.
Desde a onda de assassinatos, a polícia tem usado as H&K VP70, outra 9 mm - a diferença é que a Browning
carrega treze balas enquanto a outra podia carregar dezoito, dezenove se você deixar uma engatilhada. Do modo
que a manuseava, Leon viu que ela sabia o que fazia.
"É bom ficar com ela". Ele disse.
Assim que Leon fez uma curva um pouco rápido demais, o pensamento do R.P.D. estar infestado de zumbis o
acertou. Tudo ocorreu tão rápido que ele nem tinha pensado nisso. Talvez haja uma defesa organizada na
delegacia - mas era difícil pensar com o cheiro de podridão tão forte no ar.
Temos três quartos de tanque, mais do que suficiente para chegar às montanhas; podemos estar em Latham
em menos de uma hora.
Eles poderiam desviar da delegacia se parecesse insegura. Sair da cidade soava bom para ele. Ele ia contar para
Claire, ver o que ela achava quando -
- o terrível cheiro de morte se intensificou e algo pulou do banco traseiro.
Claire gritou e o monstro que esteve na viatura o tempo todo agarrou o ombro de Leon, levando seu braço direto
para frente com uma incrível força.
"Não!". Leon gritou assim que o carro virou violentamente para a direita, subindo na calçada e deslizando na
parede de um prédio. A criatura estava desequilibrada, perdendo apoio; Leon virou o volante para a esquerda,
mas não evitou a parede por completo. Ruídos de metal e faíscas iluminaram o interior.
A coisa jogou seus braços em Claire e, sem pensar, Leon acelerou e jogou o carro para a direita. O carro
ziguezagueou, derrapando lateralmente, a traseira acertando uma pick-up azul estacionada. Faíscas e o som de
borracha no asfalto.
O morto foi para o banco, mas voltou imediatamente para frente, na direção da garota.
Eles desciam a Terceira (uma rua), Leon tentando controlar o carro enquanto pegava sua arma e se virava. Ele
não pensou em desacelerar, só pensava no zumbi cravando seus dentes no ombro de Claire.
Segurando a arma pelo cano, ele desceu a coronha no rosto do monstro, arrancando pele igual a uma banana.
Gemendo, a criatura tocou o rosto sangrando e Leon pode sentir um segundo de triunfo, até que -
- Claire gritou, "Cuidado!".
- e Leon viu que eles iam bater.
Leon tinha batido no zumbi com a arma quando seu olhar aterrorizado viu que a rua ia acabar.
"Cuidado!".
Ela só pode ver os dedos dele grudados no volante -
- e o carro começou a girar, derrapando, prédios e luzes piscando tão rápido que ela só viu borrões, e de repente
#
- BAM!
Houve uma explosão de som, de vidro quebrando e metal esmagando, assim que o carro bateu em algo sólido,
arremessando Claire contra o assento. Ao mesmo tempo, o impacto jogou o zumbi violentamente para trás,
atravessando o vidro traseiro -
- e tudo ficou quieto. Só o seu coração pulsando nos ouvidos. Claire viu que Leon já estava recuperado, olhando
para o corpo lá atrás, sua cabeça fora de visão. Não estava se mexendo.
"Você está bem?".
Claire virou para Leon, subitamente querendo evitar uma risada. A cidade estava infestada por mortos-vivos, e
acabaram de sofrer um acidente por que um cadáver queria comê-los. Considerando isso, "bem" não é primeira
palavra a vir na cabeça.
"Inteira". Ela disse, e o jovem policial acenou, parecendo aliviado.
Claire respirou fundo e olhou onde estavam. Leon tinha girado 180 graus com o carro no final da rua em T, o
carro completamente danificado estava de frente para o sentido de onde vieram. Não havia zumbis por perto. Ela
segurou sua arma fortemente, tentando se controlar.
"Nós -". Leon começou a falar algo, mas parou, seus olhos arregalados para o que via. Claire também viu - e por
um segundo, sentiu que seu caminho foi amaldiçoado desde que saiu da universidade.
Um caminhão descia a rua, ainda a vários quarteirões de distância, mas perto o bastante para ver que estava
fora de controle. O caminhão ziguezagueava, batendo na mesma pick-up azul de um lado da rua e uma caixa de
correio do outro. Claire percebeu com terror que era um caminhão tanque. No segundo que levou para entender,
rezar para que não seja gás ou óleo, o caminhão diminuiu a distância entre eles. Ela já via o acidente quando
Leon quebrou o silêncio.
"- ele vai esmagar a gente". Ambos tocaram os cintos de segurança, Claire rezando para não estarem presos.
O som dos cintos soltando foram inaudíveis perante o crescente eco do caminhão. Ele chegará em um segundo.
"Corra!". Leon gritou, e ela saiu do carro, ar fresco em sua suada pele. O ronco do motor do caminhão
bloqueando tudo mais.
Ela deu três passos gigantes, tanto sentindo quanto ouvindo o impacto, o chão tremendo sob seus pés assim que
metal se retorcia atrás dela.
Mais um pouco, e -
KABOOM!
- ela foi jogada, literalmente tirada de suas botas por uma incrível onda de pressão, calor e som. Ela tentou
alcançar o chão enquanto a explosão tornava a noite em dia. Um estranho giro, poeira em sua pele, e Claire
aterrissou perto de um *De Lorean prateado estacionado na frente de uma *delicatessen.
Houve uma breve chuva de destroços enfumaçados e Claire se levantou, procurando nas labaredas por Leon.
Seu coração parou. O caminhão tanque, a viatura, tudo estava envolvido por fogo. A rua completamente
bloqueada por uma massa de destruição.
"Claire -".
A voz de Leon, abafada, mas audível através da parede de fogo.
"Leon?".
"Eu estou bem!". Ele gritou. "Vá para a delegacia, eu te encontro lá!".
Claire hesitou por um segundo, olhando para a arma que ainda segurava firmemente em sua trêmula mão. Ela
estava com medo, aterrorizada por estar só numa cidade que virou um cemitério - mas não tinha escolha.
"Tá bom!".
Ela virou. O portão de trás da delegacia estava a alguns metros dali -
- e criaturas estavam saindo das sombras, de trás dos carros e de dentro dos prédios escuros. Com um
pensamento em mente, eles entraram na estranha luz do acidente, gemendo de fome - dois, três, quatro deles.
Por trás do fogo, ela ouviu tiros - dois tiros, depois nada - nada além do fogo e os suaves gemidos.
Leon já foi, agora VÁ!
Claire respirou fundo e correu.
#
[6]
Ada Wong colocou, na cavidade da estátua, o brilhante disco de metal dourado com um unicórnio entalhado,
dando um tapinha até a peça encaixar no mármore. Ela ouviu um movimento na estátua e se afastou para ver o
que acontece. Seus passos ecoaram pelo grande hall principal da delegacia, o som passando pelos parapeitos do
segundo e terceiro andar.
Outra chave? Uma das medalhas do esgoto? Ou quem sabe a própria amostra... não seria uma feliz surpresa.
A ninfa segurando uma jarra d'água feita de pedra deslizou para trás, a jarra em seu ombro jogando um fino
pedaço de metal. A chave de *espadas (*spade key).
Ela suspirou, pegando-a. Ela já tem as chaves; de fato, ela já tem tudo o que precisa para vasculhar a delegacia,
e quase tudo para o laboratório. Se a Umbrella tivesse facilitado, o trabalho teria sido moleza. Dinheiro fácil.
Mas acabei ganhando férias de três dias na cidade dos monstros, brinquei de Por Uma Bala na Cabeça e Vamos
Achar o Repórter. As amostras podem estar em qualquer lugar, dependendo de quem sobreviveu. Se eu sair
daqui com as belezinhas, vou pedir um grande bônus; ninguém deve trabalhar nessas condições.
Ada guardou a chave e olhou para o parapeito superior, mentalmente visualizando as salas que já foi. Bertolucci
parece não estar em lugar algum da asa leste do R.P.D.. Ela passou horas encarando mortos em busca do
queixo quadrado e rabo de cavalo dele. Claro, ele pode estar se movendo - mas pelo que sabia dele, era
improvável; o repórter se escondia diante do perigo.
Por falar em perigo...
Ada foi para a porta que dava na parte inferior da asa leste. O hall principal estava a salvo dos infectados, eles
não pareciam conhecer uma maçaneta - mas havia ameaças além deles. Só deus sabe o que a Umbrella
mandará para arrumar tudo isso... ou o que foi solto no laboratório após a contaminação. Menos assustador,
mas não menos preocupante quanto os policiais vivos procurando alguém para salvar. Ela já ouviu tiros, alguns
distantes, outros não, toda hora desde que chegou; deve haver alguns não-infectados no grande e velho prédio.
Na ponta dos pés para evitar barulho, ela cruzou a porta e se encostou nela, decidindo onde ir; ela ainda não
checou o subterrâneo e haviam vários portadores na sala dos detetives.
Ah, a excitante vida de uma agente autônoma. Viajar pelo mundo! Ganhar dinheiro roubando coisas importantes!
Combater mortos-vivos sem ter tomado um banho ou comido algo decente por três dias - isso impressiona os
amigos!
Ela se lembrou de pedir aquele bônus de novo. Quando chegou em Raccoon há menos de uma semana, ela se
achava preparada; os mapas foram estudados, os dados do repórter memorizados, sua história falsa na ponta
da língua - uma mulher procurando pelo namorado, um cientista da Umbrella. Essa parte era quase verdade; de
fato, foi seu breve relacionamento com John Howe dez meses antes de ela ter arrumado o emprego. Mas John
pensou de outra forma e sua conexão com a Umbrella provavelmente o matou. Tudo isso se tornou uma boa
dica para ela.
Aí ela já estava pronta. Mas nas primeiras vinte e quatro horas de estadia, sua sorte mudou; enquanto comia no
quase vazio restaurante do hotel, ela ouviu os primeiros gritos do lado de fora. Os primeiros, mas não os últimos.
De algum modo, o desastre foi uma vantagem; não haverá guardas no laboratório. O estudo que fez no T-virus
a assegurou de que o aerotransmissível se dissipa rapidamente; o único modo de se contaminar agora é entrando
em contato com um portador, então não haverá problema.
Objetivos: interrogar o repórter, descobrir o quanto ele sabe e matá-lo ou ignorá-lo, depende. Recuperar uma
amostra do novo vírus, a mais nova maravilha do Dr. Birkin. Sem problema, certo?
Três dias antes, sabendo como o laboratório da Umbrella era conectado ao sistema de esgoto e com Bertolucci
na sua frente, o trabalho teria siso moleza. Foi quando as coisas começaram a dar errado.
Pessoas desaparecendo, barricadas caindo...
Ela observou Bertolucci de perto o bastante para ver que ele fugiria. Ela nem teve tempo de fazer contato antes
#
dele desaparecer. Ada decidiu continuar sozinha quando três quartos dos civis foram mortos por que ninguém se
preocupou em fechar os portões da garagem. Ela não queria morrer tentando proteger sua imagem de turista
assustada procurando o namorado.
Aí veio a espera. Quase quinze horas esperando as coisas se acalmarem, escondida no maquinário do relógio do
terceiro andar, entre o eco de tiros e gritos...
Ótimo. O que fazer agora? Sentar e refletir ou acabar logo com isso; quanto mais cedo acabar mais tempo de
férias terá numa ilha qualquer.
Quieta, Ada não se mexeu, batendo sua Beretta na perna. Haviam corpos espalhados no corredor; ela não
conseguia parar de olhar um deles, caído debaixo da janela-bancada do escritório. Uma mulher ensangüentada.
Os outros dois eram policiais e ela não os conhecia - mas a mulher foi uma das pessoas com a qual conversou
quando chegou na delegacia. Seu nome era Stacy, uma nervosa, mas forte garota de vinte e poucos anos.
Stacy Kelso, isso mesmo. Ela queria comprar sorvete e acabou aqui - apesar de sua situação, ela estava mais
preocupada com os pais e o irmão em casa. Uma garota consciente. Uma boa garota.
Por que ela está pensando nisso? Stacy estava morta e não foi Ada que a matou. Ela veio aqui para trabalhar;
não foi sua culpa por Raccoon estar assim.
Talvez não seja culpa. Talvez só esteja triste porque Stacy não conseguiu.
Ela era uma pessoa, e agora está morta, como sua família provavelmente.
"Saia dessa". Ela disse, suave, mas irritadamente. Ada desviou o olhar, fixando-o num cinzeiro quebrado no fim
do corredor, onde virava à direita. Sentia-se mau com as coisas que não conseguia controlar, não era seu estilo,
não foi assim que chegou até aqui - e considerando o esforço que o Sr. Trent estava fazendo para manter Ada
trabalhando, agora não é a melhor hora para analisar suas habilidades.
Objetivos: falar com Bertolucci e pegar a amostra do G-virus. É tudo com o que ela precisa se preocupar.
Ainda há um mecanismo que Ada precisa ver, na sala de entrevistas. As últimas adições do arquiteto foram
detalhadas por Trent, mas ela sabia que tinha a ver com as lâmpadas de gás e uma pintura a óleo. A pessoa que
fez tudo isso teve uma séria vida secreta; havia passagens secretas escada acima, atrás de uma parede. Ela
ainda não foi lá, mas uma breve olhada revelou um escritório. Julgando pela decoração neurótica e estofada, só
podia ser de Irons. Mesmo tendo estado em sua companhia por pouco tempo, ele era o homem mais instável
que já conheceu; não havia dúvidas de que estava na lista de pagamento da Umbrella, mas também havia algo
sobre ele que parecia bem defeituoso.
Ada desceu o corredor, seus sapatos contra os ladrilhos esverdeados; ela já temia outro mecanismo. Nada que
não tinha dicas; ela assumia que o vírus ainda estava no laboratório. Os dados diziam que havia cerca de doze
frascos da coisa, informação de um vídeo de duas semanas - e o laboratório de Birkin não era impenetrável.
Sendo o laboratório subterrâneo conectado à delegacia pelo esgoto, ela deve considerar que as amostras foram
movidas. Além disso, Bertolucci pode estar escondido na biblioteca ou no escritório do S.T.A.R.S., na asa oeste,
talvez na sala de revelação; vivo ou morto, ele precisa ser encontrado.
Ela virou no corredor, passando por uma pequena área de espera com máquinas de venda já saqueadas. Como
todo o R.P.D., o corredor estava frio e com falta de ar fresco; ela já se acostumou com o cheiro, mas o frio era
a pior parte. Pela centésima vez desde que saiu o hotel, Ada desejou ter colocado outra roupa.
O vestido vermelho sem mangas, meia calça preta e sapatos barulhentos eram ótimos como disfarce; como
equipamento, a roupa estava longe de prática.
Chegando no fim do corredor, ela abriu a porta cuidadosamente, de arma na mão. Como antes, o corredor
estava vazio, outra prova da desbotada elegância do prédio - paredes cor de areia e lajotas padronizadas. A
delegacia já deve ter sido magnífica, mas os anos de uso como prestador de serviços, o prédio perdeu seu
encanto; com a mansão de um filme, a fria atmosfera dando uma distinta sensação sinistra - como se a qualquer
momento uma fria mão pudesse tocar seu ombro, uma suave respiração em seu pescoço...
Ada franziu de novo; depois dessa missão, ela tirará longas férias. Senão isso, tentará outra carreira. Sua
concentração já não é como antes. E em seu trabalho, um erro pode levar à morte.
Um grande bônus. Trent cheira como dinheiro. Eu vou pedir sete dígitos, seis no mínimo.
Em suas tentativas de bloquear os pensamentos, só um ainda persistia - a jovem Stacy Kelso pondo o cabelo
atrás da orelha enquanto falava de seu irmão bebê...
Depois do que pareceu um longo tempo, Ada apagou essa visão e continuou andando, prometendo a si mesma
#
de que não haverá mais lapsos de concentração - e imaginando por que não acha que conseguirá.
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*De Lorean - Carro conhecido mundialmente por ter sido a máquina do tempo nos filmes da trilogia "De volta para
o Futuro".
*Delicatessen - Casa de comestíveis; mercearia.
*Espadas - Referência aos naipes do baralho:
Heart = Copas
Diamond = Ouros
Spade = Espadas
Club = Paus
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[7]
As botas de Leon esmagavam cacos de vidro na loja de armas Kendo, enquanto abria as gavetas. Se ele não
achar balas rápido terá problemas; as armas restantes da loja estavam inacessíveis, presas com cabos de aço, e
a janela da frente estava completamente quebrada. Não demorará muito para as criaturas o acharem, ele só
tinha uma bala e muito o que andar.
"Isso!".
Quarta gaveta, munição. Leon pegou a caixa e a pôs no balcão enquanto vigiava a frente da loja. Ninguém ainda,
sem contar o dono da loja morto. Ele não se movia. Por ter morrido há alguns minutos, não se sabe quando
voltará à vida, e Leon não queria estar lá para descobrir.
Vigiando a pequena loja, ele começou a recarregar. Leon tinha se esquecido da loja depois do acidente,
achando-a casualmente. Estando o caminho mais rápido para a delegacia bloqueado, a Kendo's era a melhor
opção.
"Uuuuunh...".
Uma horripilante e esquelética forma saiu das sombras da rua, vindo cegamente para frente da loja.
"Droga". Leon disse, seus dedos trabalhando mais rápido. Um clip pronto, mais um e pode levar o resto.
De repente, outra figura apareceu.
- dezesseis... dezessete...pronto!
Ele pegou a H&K e ejetou o clip, colocando o novo assim que o vazio caiu no chão. A criatura estava passando
pela armação do vidro, algo líquido em sua garganta soando levemente.
Mochila, ele precisa de uma. Leon olhou debaixo do balcão, vendo uma mochila de ginástica no fim dele. Material
de limpeza se espalhou no balcão enquanto Leon colocava os clips na mala, ignorando as balas espalhadas na
gaveta.
O monstro podre vinha em sua direção, tropeçando no dono da loja. Leon ergueu a arma e mirou no rosto da
criatura.
Na cabeça, igual aos outros dois lá fora -
Com um tremendo e alto som, a bala explodiu o rosto do zumbi, sangue respingando nas paredes.
Antes da coisa cair, Leon virou e ajoelhou perto da gaveta de munição, jogando as pesadas caixas na mochila.
Seu estômago dando um nó e tremendo de medo; o beco de trás pode estar cheio de zumbis.
Umas cento e cinqüenta balas, agora saia -
Levantando-se, Leon vestiu a mochila e correu para a porta de trás. Pelo canto do olho, viu outra criatura
entrando na loja; pelos cracks do vidro, havia mais deles.
Ele abriu a porta de saída e a cruzou, olhando para os lados assim que a porta se fechou. Nada além de latas de
lixo e caixas de papelão. De onde estava, o beco continuava à esquerda e depois virava à direita; se seu senso
de direção estiver intacto, a estreita passagem o levará direto para a Oak.
Até agora ele teve sorte; tudo o que podia fazer era esperar que isso não mudasse, e que pudesse chegar inteiro
#
no R.P.D. - e que lá houvesse um monte de pessoas armadas que saibam o que aconteceu.
E Claire. Esteja bem, Claire Redfield, e se chegar lá primeiro, não tranque a porta.
Leon ajustou a mochila nas costas e andou pelo beco mau iluminado, pronto para explodir o que cruzar seu
caminho.
Claire conseguiu quase sem dar um tiro; os zumbis eram cruéis, mas lentos, e a adrenalina em seu corpo tornou
fácil desviar deles. Talvez o som do acidente desviou suas atenções, aí foi só seguir seus olfatos, ou o que sobrou
deles. Dos dez zumbis que viu, pelo menos metade estava num avançado estágio de decomposição, carne
caindo dos ossos.
Ela já esteve no R.P.D. duas vezes com Chris, mas nunca entrou pela parte de trás. Viaturas estacionadas e
alguns policiais zumbificados a receberam na pequena área, levando-a para uma pequena cabana. Depois havia
um pátio - o pátio o qual ela e Chris almoçaram uma vez, sentados nos degraus que levavam ao heliporto do
segundo andar.
Desviar dos zumbis policiais no pátio em forma de L foi fácil, e um alívio por estar num lugar que conhecia.
Uma mulher de um único braço pendurado e roupas ensangüentadas, tinha saído das sombras debaixo da
escada e tocou Claire com frias mãos; Claire soltou um suspiro de surpresa, livrando-se da criatura - e quase caiu
nos braços de outro, um alto homem que também saiu de debaixo da escada de metal, grosseiro e silencioso.
Ela conseguiu evitá-lo e se afastou, apontando a 9 mm para o homem, recuando um passo e -
- esbarrou no corrimão. A mulher estava a um metro e meio à direita. O homem a um passo de distância.
Claire apertou o gatilho e houve um gigantesco boom, a arma quase pulando fora de sua mão. A parte direita do
rosto dele desapareceu numa explosão de líquido escuro.
Ela girou a arma, apontando para a pálida face da mulher. Outro tiro e o gemido foi interrompido, a testa
implodindo num espirro de sangue e pedaços de ossos. A mulher caiu de costas no chão como um -
- como um cadáver, o qual ela já era. Eles não sairão mais daqui.
Por um momento, Claire não se moveu. Ela olhou para os dois corpos e sentiu que esteve a um centímetro de
errá-los.
Ela cresceu em volta de armas, atirando em alvos dezenas de vezes - mas era com uma pistola .22 e alvos de
papel. Alvos que não sangravam ou espirravam miolos como os dois seres humanos que acabou de matar -
Não. Uma voz interna a interrompeu. Humanos, não, não mais. Não se engane e não perca tempo com
remorso. Leon já deve ter entrado, e está procurando por você. E se o S.T.A.R.S. foi chamado, Chris pode estar
lá também.
Se isso não foi motivação o bastante, os dois zumbis que deixou para trás estavam vindo. É hora de ir.
Ela subiu a escada, mal ouvindo seus passos por causa do zumbido em seu ouvido. Os tiros não fizeram bem à
sua audição - por isso só ouviu o helicóptero quando estava chegando lá em cima.
Claire parou, o vento batendo ritmadamente em seu corpo enquanto o veículo entrava em visão, perdido na
sombra. Estava de frente para a antiga torre d'água. Ela não sabia se ia pousar ou se já tinha decolado.
Não sabia e não se importava. "Ei!". Ela gritou, erguendo sua mão esquerda. "Ei, aqui!".
Suas palavras se perderam na poeira levantada pelas pás do helicóptero. Claire acenou como se tivesse ganhado
na loteria.
Alguém veio. Graças a Deus, obrigado!
O holofote da aeronave foi ligado - mas estava indo na direção errada, não para ela. Claire balançou os braços
mais freneticamente, respirando para gritar de novo até que -
- viu o que a luz iluminava, mesmo enquanto ouvia o desesperado e praticamente inaudível grito sob o motor do
helicóptero. Um homem, um policial, de pé no meio do heliporto. Ele segurava uma metralhadora, e parecia bem
vivo.
"- venha até aqui -".
O policial gritou para o alto, sua voz cheia de pânico; Claire viu o porquê e seu alívio evaporou. Havia dois zumbis
saindo do escuro e indo para o alvo bem iluminado que estava gritando. Ela ergueu a arma, mas a abaixou de
novo, com medo de acertar o policial.
A luz não se movia, iluminando o terror com sua brilhante claridade. O homem não devia saber o quanto perto os
#
zumbis estavam até que foi tocado.
"Afastem-se! Não se aproximem!". Ele gritou. Com o terror em sua voz, Claire pode ouvi-lo claramente. As duas
figuras o encurralaram no canto sudoeste do heliporto.
O som da metralhadora foi alto. Mesmo com o helicóptero acima, Claire ouviu as balas cortando ar. Ela se
ajoelhou enquanto os tiro continuavam para todos os lados - e para cima -
- e houve uma mudança no som do helicóptero, um estranho hum que fico mais alto. Claire olhou para cima e viu
a nave branca mergulhando, a cauda balançando num instável arco.
Jesus, ele acertou o helicóptero.
O holofote ia em todas as direções, passando por canos de metal, concreto e o policial sendo atacado pelos
zumbis, de alguma forma ainda atirando -
- e de repente o helicóptero começou a descer, balançando. As pás batendo no telhado com muita força. Antes
que Claire pudesse piscar, o nariz da nave bateu - cruzando o heliporto num curto arranhão de faíscas e cacos de
vidro.
A explosão ocorreu assim que a máquina caiu na parede sudoeste - diretamente sobre o policial e seus dois
assassinos. No mesmo instante, o nariz do helicóptero atravessou a parede de tijolos bem à frente.
A rajada de tiros finalmente parou sob as chamas que vieram depois do boom, iluminando o lugar num ardente
calor alaranjado.
Claire ergueu-se nas pernas que mal sentia, olhando desacreditada para o fogo que tomava conta de quase
metade do heliporto. Tudo aconteceu tão rápido que pareceu ser mentira. Um ácido e enjoativo odor de metal
derretido passou por ela numa onda de calor, e no súbito silêncio ela pode ouvir o gemido dos zumbis no pátio lá
embaixo.
Ela olhou para as escadas e viu que ambos os policiais zumbis estavam na base, cegamente tropeçando no
primeiro degrau. Pelo menos eles não estavam subindo...
Claire virou seu assustado olhar na direção da porta a uns dez metros dali. Exceto pela escada, a porta era o
único modo de chegar lá. E se zumbis não conseguiam subir - e tinha dois no heliporto -
- então tenho problemas. A delegacia não é segura.
Ela olhou para os destroços queimando, medindo opções. Ela ainda tinha muita munição; ela pode voltar para a
rua, procurar um carro com chave e buscar ajuda.
E Leon? Se aquele policial estava vivo, pode haver mais lá dentro planejando uma fuga?
Ela não podia ir embora sem avisar Leon; e se ele morrer procurando por ela...
Decidida, Claire foi até a porta, procurando movimento nas sombras. Chegando lá, fechou os olhos por um
segundo, a mão suada na fechadura.
"Eu vou conseguir". Ela disse. Apesar de não ter parecido confiante como queria, sua voz não tremeu. Ela abriu
os olhos, depois a porta; quando nada saiu do escuro corredor, ela entrou.
[8]
O Chefe da polícia, Brian Irons, estava parado em um de seus corredores particulares, tentando recuperar o
fôlego, quando sentiu um tremendo impacto no prédio. Ele o ouviu, também - ouviu algo. Um distante som,
pesado e brutal.
O telhado. Ele pensou. Algo no telhado...
Ele não se preocupou em tirar conclusões. Seja lá o que for, não tornará as coisas piores.
Irons se afastou da parede de pedra e ergueu Beverly o mais gentilmente possível. Eles estarão no elevador em
um minuto, depois uma pequena caminhada até o escritório; ele pode descansar lá, e depois -
"E depois,". Ele resmungou. "essa é a questão, não é?. Depois o que?".
Beverly não respondeu. Seus traços perfeitos permaneceram parados, seus olhos fechados - mas ela parecia se
aconchegar com ele, seu longo e magro corpo perto do peito dele. Devia ser sua imaginação...
#
Beverly Harris, a filha do prefeito. Bela e jovem Beverly, que, com sua beleza loira, já assombrava os sonhos
culposos de Brian. Ele a segurou e continuou indo para o elevador, tentando não demonstrar exaustão caso ela
acorde.
Seus braços e costas estavam doendo quando chegou no elevador. Ele deveria tê-la deixado em sua sala de
hobby, a sala a qual sempre considerou como um Santuário - era clamo lá, e provavelmente um dos lugares mais
seguros da delegacia. Quando ele decidiu voltar para o escritório, pegar seu diário e outros itens pessoais, ele
percebeu que simplesmente não podia deixá-la para trás. Ela parecia tão vulnerável, tão inocente; ele tinha
prometido a Harris de que cuidaria dela; e se ela fosse atacada em sua ausência? E se ele voltar e ela não estiver
lá?
Uma década de trabalho. Fazendo conexões, se posicionando... tudo isso, desse jeito.
Irons a pôs no frio chão e abriu as grades, tentando não pensar no que perdeu. Beverly era o mais importante
agora.
"Te dar segurança". Ele disse. Por acaso ela mexeu a boca, sorrindo? Será que ela sabe que está a salvo com o
tio Brian? Quando ela era criança, quando ele visitava a família Harris para jantar, ela o chamava assim. "Tio
Brian".
Ela sabe. Claro que sabe.
Ele a colocou no elevador, olhando seu angelical rosto. Ele foi pego subitamente por uma onda de amor paterno,
e não ficou surpreso ao sentir lágrimas nos olhos, lágrimas de orgulho e afeição. Nos últimos dias, ele tem sido
alvo das emoções - raiva, terror, até mesmo alegria. Ele nunca foi um homem emotivo, mas teve que aprender a
conviver com os sentimentos; pelo menos não eram confusos.
Chega deles, nada mais pode dar errado agora; Beverly está comigo, e uma vez pegas as minhas coisas, nos
esconderemos no Santuário e descansaremos. Ela precisará de tempo para se recuperar.
Ele piscou as esquecidas lágrimas assim que a jaula de metal começou a subir, checando a arma para ver
quantas balas restavam. Sua sala subterrânea era segura, mas o escritório era outra história; ele quer estar
preparado.
O elevador parou e Irons abriu a grade com o pé antes de levantar a garota, gemendo com o esforço. Ele a
carregou como uma criança, sua cabeça caída para trás.
Ele apertou o botão na parede com o joelho. A parede deslizou para cima, revelando a aveludada decoração de
seu escritório sem; só os vazios olhares de seus animais empalhados o receberam.
A grande mesa de madeira que importou da Itália estava bem à sua esquerda, e sua força acabando; Beverly
era magra, mas ele não estava em forma, como antigamente. Ele rapidamente a colocou na mesa, empurrando
um porta-lápis com o cotovelo.
Ele tinha ficado preocupado quando a achou desacordada ao lado do Oficial Scott no corredor de trás; George
Scott estava morto, coberto de ferimentos. Ao ver a mancha vermelha no estômago dela, Irons achou que
também estivesse morta. Mas quando ele a levou para seu Santuário, ela cochichou para ele - que não se sentia
bem, que estava ferida, que queria ir para casa.
... não é? Não disse?
Irons franziu, tirado da incerta lembrança por algo, algo que sentiu quando a deitou na mesa e arrumou seu
vestido branco manchado de sangue, algo que não se lembrava. Não parecia importante, mas agora, longe da
segurança de seu Santuário, isso o estava incomodando. Lembrando-o de que sofreu um daqueles momentos
confusos quando ele, quando ele - senti os frios e moles intestinos entre meus dedos -
- quando ele a tocou.
"Beverly?". Ele cochichou, sentando na cadeira de sua mesa quando de repente sentiu suas pernas fracas.
Beverly continuou calada - e o turbulento dilúvio de emoções o acertou, lotando sua mente com imagens,
memórias e verdades que não queria aceitar; Recuar as barricadas depois dos primeiros ataques. A Umbrella,
Birkin e os mortos-vivos. O massacre na garagem. O crescente número de mortos na primeira e terrível noite - e
a brutal percepção de que sua cidade - já era.
Depois disso veio a confusão. A estranha alegria que veio ao perceber que não haverá conseqüências para seus
atos. Irons se lembrou do jogo que fez na segunda noite, depois que alguns bichinhos de Birkin acharam alguns
#
policiais. Ele achou Neil Carlsen escondido na biblioteca e... o caçou, perseguindo o sargento como um animal.
Qual seria o problema, já que a minha vida em Raccoon está acabada?
Tudo o que restava era seu Santuário - e a parte dele que ajudou a criar o lugar, a parte escura e gloriosa de seu
coração que sempre escondeu. Esta parte está livre agora...
Irons olhou para o corpo de Beverly e sentiu que pode ser destruído pelos sentimentos de medo e dúvida que
lutavam dentro dele. Irons a matou? Ele não conseguia se lembrar.
Tio Brian. Dez anos atrás, eu era o Tio Brian dela. Em que me tornei?
Era demais. Sem tirar os olhos do rosto sem vida de Beverly, ele tirou a VP70 carregada do coldre e começou a
esfregar o cano com os dedos, leves toques que o asseguraram enquanto a arma girava em sua direção.
Quando o cano foi pressionado contra sua macia barriga, ele sentiu que algum tipo de paz ficou ao seu alcance.
Seu dedo encostou no gatilho, e foi quando Beverly cochichou para ele de novo, os lábios dela parados, mas sua
leve e musical voz vindo do nada e de todos os lados ao mesmo tempo.
- não me deixe, Tio Brian. Você prometeu que me daria segurança, que cuidaria de mim. Pense no que você
pode fazer agora sem que nada o impeça.
"Você está morta". Ele sussurrou, mas ela continuou falando, suave e persistente.
... nada o impedirá de se realizar de verdade pela primeira vez na vida...
Torturado, Irons vagarosamente tirou a 9mm de seu estômago. Depois de um momento, ele descansou sua
testa no ombro dela e fechou os olhos.
Ela estava certa, ele não podia deixá-la. Ele tinha prometido - e ela disse algo sobre o que podia fazer. Sua mesa
de hobby era grande o bastante para acomodar qualquer tipo de animal...
Isso mesmo. Ele vai descansar e depois cuidará dos negócios; afinal, ele é o chefe da polícia.
Sob controle de novo, Brian Irons começou a dormir, a fria pele de Beverly em sua testa.
[9]
Graças a um furgão parado no beco, o atalho para a delegacia sofreu mudanças - uma quadra de basquete
infestada de zumbis, outro beco, um ônibus que fedia por causa dos mortos lá dentro. Foi um pesadelo, os
gemidos, o cheiro e a distante explosão que fez suas pernas tremerem. Apesar de tudo, Leon manteve a
esperança de que havia algum tipo de mobilização no R.P.D., com policiais e paramédicos - autoridades tomando
decisões e equipes organizadas. Não era uma esperança, era uma necessidade.
Quando ele finalmente saiu na rua em frente ao R.P.D. sentiu-se espancado vendo viaturas pegando fogo. Mas
foi a visão de zumbis policiais gemendo entre as chamas que acabaram com sua esperança. O R.P.D. tinha uma
equipe de cinqüenta ou sessenta policiais, e um terço deles estavam vagando ou mortos perto da entrada do
prédio.
Leon tentou esquecer o desespero, fixando seu olhar no portão do jardim. Tendo ou não alguém sobrevivido, ele
tinha que chamar ajuda - e achar Claire.
Ele correu para o portão, desviando dos zumbis uniformizados, abrindo e fechando o portão de metal. A pequena
área gramada à sua direita estava iluminada o bastante para ver que havia três ex-humanos lá, e que não
representavam ameaça. Ele pode ver as duas bandeiras que enfeitavam a entrada da delegacia, penduradas
sem se mover. A visão reconsiderou suas esperanças, pelo menos está num lugar que conhece e que deve ser
mais seguro do que na rua.
Leon correu entre o trio de zumbis - dois homens e uma mulher; todos pareciam normais se não fosse por seus
gemidos famintos. Devem ter morrido recentemente.
A porta de entrada não estava trancada; por tudo o que passou desde que chegou na cidade, Leon preferiu
manter suas expectativas no mínimo. Ele girou a maçaneta e entrou, de arma erguida e dedo no gatilho.
Vazio. Não havia sinal de vida no grande e velho saguão do R.P.D. - e nenhum sinal do desastre que tomou conta
de Raccoon. Leon fechou a porta e desceu os degraus para o piso mais baixo.
#
"Olá?". Leon disse baixo, e o som ecoou de volta com um suspiro. Tudo parecia do mesmo jeito; três andares de
clássica arquitetura em madeira e mármore. Havia a estátua de uma mulher segurando um vaso no ombro bem
no meio do lugar, uma rampa de cada lado levando à recepção e o logotipo do R.P.D. no chão em frente ao
suave brilho da estátua, proveniente das arandelas na parede.
Sem corpos, sem sangue... nem um cartucho de bala. Se houve um ataque aqui, onde diabos estão as provas?
No profundo silêncio do lugar, Leon subiu a rampa da esquerda, parando no balcão da recepção, curvando-se
sobre ele; tudo no lugar. Tinha um telefone na mesa sob o balcão. Leon pegou o receptor e o colocou entre a
cabeça e o ombro, tocando os botões com os dedos. Nem discava; tudo o que ouvia era o som de seu próprio
coração.
Ele virou para a sala vazia, decidindo por onde começar. Ele recebeu um memorando do R.P.D. semanas atrás,
dizendo que as salas seriam mudadas. Mas isso não importava; os policiais não se preocupariam em ficar ao lado
de suas mesas nessa situação.
Haviam três portas no saguão que davam em diferentes lugares da delegacia; duas no lado oeste e uma no
leste. Das duas no lado oeste uma leva a uma série de corredores para a parte de trás do prédio, depois da sala
de arquivos e da sala de pronunciamentos; a segunda dava num escritório e armários, que então leva às escadas
para o segundo andar. O lado leste do primeiro andar era primeiramente para os detetives - escritórios,
interrogatórios e sala de entrevistas; tinha também acesso ao subsolo e escadas no lado de fora.
Claire provavelmente veio pela garagem... ou pelo telhado.
Ou então ela contornou o prédio e veio pelo mesmo lugar que ele - se ela conseguiu chegar aqui, pode estar em
qualquer lugar. E considerando que o R.P.D. ocupa quase um quarteirão, ainda tinha muito chão pela frente.
Ele optou pela segunda porta do lado oeste, onde seu armário estaria.
Leon entrou devagar, esperando ver as mesmas condições do saguão; silêncio e organização. Mas o que viu
confirmou seus medos: as criaturas estiveram lá - com a vingança.
A longa sala estava arrasada, mesas e cadeiras jogadas e derrubadas em todo canto. Borrões de sangue
decoravam as paredes, rastros do mesmo em poças no chão, indo em frente.
"Meu Deus -".
Um policial estava sentado contra os armários à sua esquerda, suas pernas esticadas, meio escondidas pela
mesa virada. Ao som da voz de Leon, ele fracamente ergueu o braço, apontando vagamente uma arma na
direção de Leon - e a abaixou de novo, parecendo exausto com o esforço. Seu peito estava pintado de sangue,
suas expressões cheias de dor. Leon se abaixou ao lado dele em dois passos, gentilmente tocando seu ombro.
Ele não via o ferimento, mas tinha tanto sangue que a gravidade era óbvia -
"Quem é você?". O policial suspirou.
Eles nunca foram apresentados, mas Leon já o viu antes. O jovem policial afro-americano se chamava Marvin
Branagh...
"Eu sou Leon S. Kennedy. O que aconteceu aqui?".
"A cerca de dois meses," Marvin disse, "os assassinatos canibais... o S.T.A.R.S. encontrou zumbis na mansão da
floresta...".
Ele tossiu e Leon começou a dizer para descansar, mas Marvin parecia determinado a contar a história.
"Chris e os outros descobriram que a Umbrella estava por trás de tudo... arriscaram suas vidas, mas ninguém
acreditou... depois isto".
Chris... Chris Redfield, o irmão de Claire.
Leon sabia algo sobre o problema com o S.T.A.R.S. ele só ouviu trechos da história - a suspensão do grupo de
ações táticas especiais e resgate, após serem acusados de má conduta, foi o motivo da contratação de novos
policiais.
Ele até leu o nome dos membros num jornal, listados juntos com alguns de seus recordes.
- e a Umbrella destrói a cidade. Algum tipo de vazamento químico que tentaram esconder se livrando do
S.T.A.R.S. -
Tudo isso saia de sua mente até que Marvin tossiu de novo, mais fraco.
"Agüenta aí". Leon disse, procurando algo para estancar o sangramento. Ele achou uma camiseta no armário
atrás do policial e a enrolou, pressionando contra o estômago de dele. O próprio policial segurou-a com as mãos,
fechando os olhos enquanto falava novamente.
"Não se preocupe comigo. Há... você deve tentar salvar os sobreviventes...".
#
Leon balançou a cabeça, querendo negar a verdade, querendo fazer algo para aliviar a do de Marvin - mas ele
estava morrendo, e não podia chamar ajuda.
"Vá". Marvin disse, ainda de olhos fechados.
Ele estava certo, Leon não podia fazer mais nada - e não conseguiu se mover por um momento - até Marvin
erguer sua arma de novo, apontando-a para Leon numa erupção de energia que aumentou sua voz num grito.
"Vá!". O policial ordenou e Leon se levantou.
"Eu voltarei". Leon disse firmemente, o braço de Marvin já caindo.
Leon voltou para a porta, respirando fundo e aceitando a mudança de plano que pode acabar o matando - mas
que não podia evitar. Ele era um policial. Se houvessem sobreviventes, é sua civil e moral conduta ajudá-los.
Tem um depósito de armas no subsolo, perto da garagem. Leon abriu a porta e voltou para o saguão, rezando
para que o depósito esteja bem equipado - e que haja alguém para salvar.
[10]
Depois do ardente telhado, Claire cruzou um zigue-zagueado corredor cheio de cacos de vidro no chão - e depois
de um policial morto no chão, seu medo sobre a segurança da delegacia aumentou. Ela pulou o corpo e continuou
andando. Uma fraca brisa passou pelas janelas quebradas que decoravam a parede externa, dando vida à
escuridão; haviam brilhantes penas pretas junto às marcas de sangue no chão, que fizeram Claire mirar o
revólver a cada suave balanço.
Ela passou por uma porta que dava nas escadas externas do lugar, mas continuou andando, virando à direita. O
modo como o helicóptero acertou o prédio perturbou Claire, inspirando visões da velha delegacia pegando fogo.
Só faltava essa...
Cadáveres e marcas de sangue nas paredes; Claire não estava feliz com a idéia de vagar pela delegacia. E mais,
tiros não são tão eficientes; ela precisa ver o quanto ruim está a situação antes de procurar Leon.
O corredor terminava numa porta. Claire a abriu - e recuou assim que a nuvem de fumaça passou por ela, o
cheiro de metal e madeira queimados no ar. Ela se agachou e deu uma espiada no corredor que ia para a direita.
Mais para frente ele virava à direita de novo, e ainda assim não se podia ver o fogo; sua brilhante luz alaranjada
refletia nas paredes cinzas.
Droga. O que foi agora?
Havia outra porta diagonalmente de sua posição, a alguns passos; Claire respirou fundo e andou abaixada para
evitar a fumaça, esperando achar um extintor de incêndio - e que fosse suficiente.
A porta dava numa sala de espera vazia - sofás de vinil verdes, um balcão de canto e uma porta no outro lado. A
pequena sala parecia intocada, clama e quieta, igual aos outros lugares que passou essa noite - só que não havia
sinais de desastre nas suaves sombras criadas pelas fluorescentes acima. Nenhum zumbi morto no chão de
madeira escura e nenhum espirro de sangue nas paredes cor de creme.
E nenhum extintor...
Nenhum à vista. Ela fechou a porta e foi até o balcão, levantando a tampa de entrada com o cano da arma.
Tinha uma velha máquina de escrever no balcão - e perto de um telefone. Claire o pegou esperançosa, mas só
ouviu silêncio. Suspirando, ela se abaixou para ver as prateleiras sob o balcão. Uma agenda, papéis - e meio
escondido entre uma bolsa, o familiar cilindro vermelho, com uma fina camada de pó.
"Aí está você". Ela sussurrou, guardando a 9mm no colete e levantando o extintor. Ela nunca usou um antes,
mas parecia fácil - uma alavanca de metal com um pino de segurança e um bocal de borracha preto. Pelo peso
parecia estar cheio.
Respirando várias vezes e armada com o extintor, Claire abriu a porta e voltou para o corredor. A fumaça tinha
se intensificado, acumulando-se no teto.
Ela fez a curva e viu destroços queimando no fim do corredor, sentindo-se aliviada e triste ao mesmo tempo. O
fogo não era tão grande quanto pensava. As chamas se estendiam até uma porta de madeira destruída. Era o
#
nariz do helicóptero que chamou sua atenção - a ardente cabine - e o ardente corpo do piloto ainda preso no
assento, sua boca queimada bocejando como um grito silencioso. Não dava para saber se era homem ou mulher.
Claire tirou o pino e mirou o cano nas chamas. Ela apertou a alavanca e um jato de neve espirrou, acertando os
destroços com uma nuvem. Mal vendo através da fumaça, ela direcionou o jato sobre tudo. Dentro de um
minuto, o fogo pareceu ter acabado, mas ela continuou usando o extintor até acabar.
A última tossida de gás veio e Claire soltou a válvula, suspirando algumas vezes, procurando algum foco que
tenha passado despercebido. Nenhuma chama, mas a porta de madeira ao lado da cabine ainda soltava filetes de
fumaça. A área em volta da porta já foi arrebentada e Claire decidiu arriscar. Ela recuou e deu um sólido chute na
porta, mirando perto das dobraduras.
A porta abriu com um crack, a madeira carbonizada desfazendo-se em uma chuva de cinzas. Algumas caíram em
suas botas, mas Claire rapidamente levantou a arma, ainda as sacudindo, mais assustada com o que pode estar
esperando do outro lado.
Um curto e vazio corredor tinha seu começo cheio de pedaços de madeira queimados, e uma porta ao fundo, à
esquerda. Claire foi até lá, tanto para respirar ar puro quanto para ver onde dava.
A porta seguinte estava destrancada. Claire a abriu, pronta para atirar em qualquer -
- e parou, chocada com a bizarra atmosfera da sala. Era como uma sátira de um clube de homens dos anos
cinqüenta, um grande escritório decorado com uma extravagância beirando o ridículo. As paredes tinham grandes
estantes de mogno e mesas cercando uma espécie de área de descanso, feita com acolchoadas cadeiras de
couro e uma mesa de mármore, tudo sob um provável tapete oriental. Um elaborado lustre vinha do teto,
jogando uma melodiosa luz sobre tudo. Quadros e delicados vasos estavam por toda parte - mas seus clássicos
designs eram ofuscados pelas empalhadas cabeças de animais e pássaros que dominavam um canto, ao lado de
uma grande mesa -
- Oh, Jesus -
Deitada na mesa, como a personagem de uma história de terror, estava uma bonita e jovem mulher de vestido
longo e branco, seu abdômen tomado por sangue. Era como um enfeite, sendo olhado pelos animais empalhados
- tinha um falcão que parecia estar voando, cabeças de alce e veado. O efeito foi tão pavoroso que por um
momento Claire não respirou -
- foi quando a alta poltrona atrás da mesa girou de repente. Claire mal conteve o grito de terror, esperando ver a
Morte sorrindo para ela. Mas era um homem - com uma arma apontada para ela.
Pela segunda vez hoje...
Por um segundo, ninguém se moveu - então o homem abaixou a arma, um sorriso amarelo surgindo em seu
gorducho rosto.
"Eu sinto muito," ele disse, sua voz tão oleosa quanto a de um político ruim. "pensei que você fosse um daqueles
zumbis".
Ele alisava seu cheio bigode enquanto falava. Apesar de Claire nunca tê-lo conhecido, ela subitamente sabia quem
ele era, Chris já tinha falado sobre ele.
Gordo, bigode - era o chefe da polícia, Brian Irons.
Ele não parecia bem. De fato, parecia desconectado da realidade.
"Você é o chefe Irons?". Ela perguntou, tentando parecer agradável ao se aproximar da mesa.
"Sim, sou eu, e quem é você?".
Antes de ela falar, Irons continuou calmamente, confirmando a suspeita de Claire com o que disse depois - em
seu tom petulante. "Não, não se preocupe em me dizer. Não fará diferença. Você acabará como todos os
outros...".
Ele parou, olhando para o corpo à sua frente, com uma emoção que Claire não podia decifrar. Ela sentiu-se mal
por ele, ao contrário do que Chris disse sobre sua personalidade podre e incompetência profissional; só Deus sabe
que horrores ele presenciou, ou o que teve de fazer para viver.
Leon e eu entramos nesse terror há alguns minutos; Irons já estava aqui, provavelmente vendo seus amigos
morrendo.
Ele olhou para o corpo e falou, sua voz triste e pomposa ao mesmo tempo.
"É a filha do prefeito. Eu deveria cuidar dela, mas falhei miseravelmente...".
Claire procurou palavras de conforto, querendo dizer que tinha sorte por estar vivo, que não foi sua culpa - mas
ele continuou lamentando, as palavras dela morrendo na garganta, junto com a dó.
#
"Olhe para ela. É linda, sua pele perfeita. Mas logo apodrecerá... e em uma hora se tornará uma daquelas coisas.
Bem como os outros".
Claire não queria tirar conclusões, mas sua descrição e olhar faminto a fizeram se arrepiar. O jeito que ele olhava
para a garota morta -
- você fica imaginando coisas. Ele é o chefe da polícia, não um pervertido lunático. Ele é o único vivo que
encontrou. Peça informações!
"Deve haver um jeito de parar...". Claire disse gentilmente.
"Sim... uma bala no cérebro - ou decapitação".
Ele finalmente desviou o olhar do corpo, mas não para Claire. Ele olhou para os bichos ao lado de sua mesa, sua
voz adquirindo um tom alegre.
"Em pensar que - taxidermia costumava ser o meu hobby. Não mais...".
Os alarmes de Claire dispararam. Taxidermia? O que diabos um corpo humano fazia na mesa dele?
Irons finalmente olhou para Claire, que não gostou nem um pouco. Ele olhava em seu rosto mas não parecia
enxergá-la. Ocorreu-lhe que ele não havia perguntado como chegou lá, ou sobre a fumaça que entrou no
escritório. E o jeito que falava sobre a filha do prefeito... nenhuma dor real, só auto-piedade e algum tipo de
admiração.
Oh, Deus, ele não está só abalado, ele está em outro planeta -
"Por favor,". Irons disse. "eu queria ficar sozinho agora".
Ele se acomodou na cadeira e fechou os olhos, parecendo exausto. Tão simples assim, ela foi dispensada,
mesmo com milhões de perguntas - muitas delas que ele poderia responder - mas ela achou melhor só sair de
perto dele, pelo menos agora -
Houve um suave som atrás dela, à esquerda, tão baixo que ela não tinha certeza se realmente o ouviu.
Claire virou, franzindo, e viu outra porta no canto da sala. Ela não a tinha visto antes - e aquele som veio de lá.
Outro zumbi? Ou alguém se escondendo...?
Ela olhou para Irons que nem se moveu.
Então - volto por onde vim, ou vejo o que tem atrás da porta?
Leon - ela tinha que achá-lo e Irons não parecia querer unir forças. Mas se houver outra pessoa no prédio que
precise de ajuda ou possa ajudar...
Não vai demorar. Ela olhou para Irons, perto do corpo da filha do prefeito, cercado por seus animais sem vida;
Claire foi até a segunda porta, esperando não estar cometendo um erro.
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*Taxidermia - Arte de empalhar animais.
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[11]
Sherry tem se escondido por um longo na delegacia, uns três ou quatro dias, e ainda não viu sua mãe. Nenhuma
vez, nem quando havia muita gente restando. Ela encontrou a Sra. Addison - uma das professoras da escola -
logo depois de chegar lá, mas ela já estava morta. Um zumbi a comeu. Não muito depois disso, Sherry achou um
tubo de ventilação que cobre quase todo prédio, e decidiu que se esconder era mais seguro do que ficar com os
adultos - porque eles morriam, e porque havia um monstro na delegacia bem pior que os zumbis e os homens do
avesso. Ela tinha certeza que esse monstro a procurava. Era idiotice, ela nunca pensou que monstros
perseguissem uma única pessoa - mas ela também nunca pensou que monstros existissem.
Assim, Sherry vem se escondendo na sala de armaduras; ninguém morto lá e o único jeito de entrar - exceto o
tubo de ventilação atrás das armaduras - era passando por um longo corredor vigiado por um tigre gigante.
Empalhado, mas assustador - Sherry pensou que ele pudesse afugentar o monstro. Ela sabia que era besteira,
#
mas a fazia se sentir melhor.
Sendo que os zumbis tomaram conta da delegacia, ela passou a maior parte do tempo dormindo. Assim, ela no
pensava no que aconteceu com os pais ou o que vai acontecer consigo mesma. O tubo de ventilação era quente
e tinha muita comida na máquina de doces, escada abaixo - mas ela estava assustada, e pior que isso, sozinha.
Ela dormia atrás das armaduras quando houve um tremendo barulho lá fora. Ela estava certa que era o monstro;
Sherry só o viu uma vez antes, suas grandes e terríveis costas, pela grade de metal - desde então, ela o ouviu
gritar pelo prédio várias vezes. Ela sabia que ele era mau, mau, violento e faminto.
Às vezes ele desaparecia por horas, fazendo Sherry pensar que tinha ido embora - mas sempre voltava, não
importa onde ela estava, mas sempre parecia surgir por perto.
O barulho que a tirou do sono parecia o de um monstro quebrando as paredes, fazendo-a correr para seu
esconderijo caso o som se aproxima, mas não se aproximou. Por um longo tempo não se moveu, segurando seu
amuleto da sorte - um bonito colar de ouro que sua mãe havia lhe dado semana passada, tão grande que
preenchia toda sua mão. Como antes, ele funcionou; o horrível barulho não se repetiu. Ou talvez o tigre cumpriu
seu papel. Mesmo assim, quando ouviu suaves passos no escritório, Sherry sentiu-se segura o bastante, para ir
até o corredor e escutar. Os zumbis e homens do avesso não podiam abrir portas. Se fosse o monstro, já teria
vindo para ela.
Tem que ser uma pessoa. Talvez mamãe...
Na metade do corredor onde virava à direita, ela ouviu pessoas falando no escritório, sentindo um estouro de
esperança e solidão ao mesmo tempo. Ela não sabia o que falavam, mas pela primeira vez em dois dias ela ouviu
alguém que não gemesse. Podia ser a ajuda que finalmente chegou a Raccoon.
O exército, marinha, talvez todos eles...
Curiosa, ela correu para a porta de frente para o tigre, quando as vozes pararam. Sherry ficou imóvel.
Se a ajuda veio, porque não ouvia os caminhões e aviões? Não haveria tiros, bombas e alto-falantes alertando
para que todos saíssem?
Talvez sejam vozes de pessoas más; loucas como aquele homem...
Não muito depois que Sherry começou a se esconder, ela viu uma coisa terrível pela grade da sala de armários.
Um homem de cabelo vermelho estava lá, falando sozinho, balançando para frente e para trás numa cadeira. No
começo, Sherry pensou em chamá-lo para ajudar, mas o modo como falava, sorria e balançava, a deixou
desconfiada. Então ela o observou por um tempo. Ele segurava uma grande faca, e depois de um longo tempo,
ainda rindo, resmungando e balançando, ele se esfaqueou no estômago. O homem a tinha assustado mais do
que os zumbis, porque não fazia sentido. Ele era louco e se matou, e ela engatinhou de volta, chorando, porque
não fazia sentido.
Se as pessoas no escritório são boas, elas podem querer tirá-la de seu esconderijo e tentar protegê-la - e isso
significaria sua morte, porque o monstro certamente não tinha medo de adultos.
Parecia ruim ter que voltar, mas não tinha outra escolha. Sherry começou a voltar para a sala de armaduras
quando -
Crack!
- ela congelou assim que a madeira do chão rangeu. O som pareceu incrivelmente alto e ela prendeu a
respiração, agarrando seu colar e rezando para que a porta não abrisse, que nenhum maluco aparecesse - e a
pegasse.
Ela não ouviu mais nada, mas achou que as batidas do seu coração a denunciariam, era tão alto. Depois de dez
segundos ela continuou andando, na ponta dos pés como se estivesse num ninho de cobras. Ela tinha que usar
toda sua força para não correr até a curva - uma coisa que ela aprendeu nos filmes era que, correr do perigo
sempre significava uma morte horrível.
Quando ela finalmente chegou à porta, sentiu-se aliviada e só queria pegar o cobertor que a Sr. Addison achou e -
A porta do escritório abriu, abriu e fechou. Um segundo depois, passos. Indo para ela.
Sherry voou pela sala, não pensando um mais nada por causa do pânico. Ela passou pelos três cavaleiros,
esquecendo seu lugar seguro. Tudo o que queria era ir o mais longe possível. Havia uma escura e pequena sala
sem porta depois da caixa de vidro no meio da sala -
- e ela ouviu os passos correndo atrás dela. Sherry se abaixou entre os tijolos da lareira e tentou se encolher,
abraçando os joelhos e escondendo o rosto. A escuridão da sala do fundo era tudo o que precisava.
Por favor, por favor, por favor, não apareça, não me veja, eu não estou aqui.
#
Os passos entraram na sala das armaduras e mais calmos, hesitantes, passando pela caixa de vidro. Sherry
pensou em seu tubo de ventilação, que a levaria embora, e segurou as lágrimas de arrependimento. A sala da
lareira não tinha saída.
Os passos se aproximaram da sala que Sherry estava. Ela prometia fazer qualquer coisa caso o estranho fosse
embora -
Thump. Thump. Thump -
De repente a sala se iluminou, o leve click do interruptor sobre o choro de Sherry. Ela não agüentou, se levantou e
correu, gritando, esperando chegar até o tubo de ventilação quando -
- uma quente mão segurou seu braço, apertado. Ela gritou de novo, puxando o mais forte que podia, mas o
estranho era forte -
"Espere!". Era uma mulher.
"Me deixe ir". Sherry choramingou, mas a mulher continuou segurando, puxando.
"Calma, calma - eu não sou um zumbi, fique calma, está tudo bem -".
A voz da mulher soou mais gentilmente. A doce e musical voz repetiu-se de novo e de novo.
"- calma, está tudo bem, eu não vou te machucar, você está segura agora".
Sherry finalmente olhou para a moça, e viu o quanto bonita era, o quanto seus olhos eram preocupados e
simpáticos. Sherry parou de tentar fugir e sentiu as quentes lágrimas em seu rosto. Ela instintivamente abraçou a
bonita jovem - e a moça retribuiu, seus finos braços em volta dos trêmulos ombros de Sherry.
Sherry chorou, deixando a mulher acariciar seu cabelo e dizer palavras tranqüilizantes - pelo menos o pior acabou.
Por mais que quisesse cair nos braços da moça e esquecer os medos, acreditar que estava a salvo, ela sabia que
não dava. Além, disso, ela não era mais um bebê; fez doze anos mês passado.
Sherry se afastou da mulher e secou os olhos, olhando para a estranha. Ela não era velha, por volta dos vinte, e
tinha roupas legais - botas, shorts vermelho de tecido grosso e um colete do mesmo conjunto, sem mangas. Seu
cabelo castanho era amarrado para trás, e quando sorriu, parecia uma atriz de cinema.
"Meu nome é Claire. Qual é o seu?".
Sherry se envergonhou de repente, por ter corrido de uma pessoa tão boa. Seus pais diziam que agia como um
bebê, que era "muito imaginativa", e aqui está a prova; Claire não iria machucá-la.
"Sherry Birkin". Ela disse e sorriu, esperando que Claire não fosse má para ela; ela não parecia brava, e sim
agradecia pela resposta.
"Você sabe onde estão seus pais?". Claire perguntou.
"Eles trabalham no laboratório químico da Umbrella". Sherry respondeu.
"Laboratório químico... então o que você está fazendo aqui?".
"Minha mãe ligou e me disse para vir aqui. Ela disse que é muito mais perigoso ficar em casa".
Claire acenou. "Pelo que parece, ela estava certa. Mas aqui também é perigoso...".
Claire franziu pensativamente, depois sorriu de novo. "É melhor você vir comigo".
Sherry balançou a cabeça, pensando em como explicar que não era uma boa idéia, que era uma idéia muito ruim.
Ela não queria ficar sozinha, mas não seria seguro ir.
Se eu for e o monstro nos achar...
Claire morreria. Apesar de ser magra, Claire não caberia no tubo de ventilação.
"Tem algo aqui". Sherry finalmente disse. "Eu vi, é maior que os zumbis. E quer me pegar".
Claire balançou a cabeça, abrindo a boca para dizer algo quando um terrível e furioso som encheu a sala, ecoando
em violentas ondas de algum lugar do prédio. Por perto.
"Rrraaahh - ".
Sherry sentiu seu sangue virar gelo. Claire arregalou os olhos, pálida.
"O que foi aquilo?".
Sherry recuou, ofegante, mentalmente correndo para o tubo de ventilação atrás das armaduras.
"É disso que eu estava falando". Ela disse, e antes que Claire pudesse pará-la, ela virou e correu.
"Sherry!".
Sherry ignorou o apelo e continuou. Ela se pôs de joelhos sobre o pedestal, colocou a cabeça e se arrastou para
dentro do buraco no rodapé da parede.
Sua única chance, a única chance de Claire, era que ficasse o mais longe possível. Talvez se encontrem de novo
quando o monstro se for.
#
Assim que Sherry engatinhou pelo apertado e escuro tubo, esperou que não fosse muito tarde.
[12]
Ada sentou na cadeira da desarrumada mesa do chefe dos detetives, descansando seus pés doloridos e olhando
cegamente para o cofre vazio no canto da sala. Sua paciência estava se esgotando. Primeiro a amostra do
G-virus, agora Bertolucci, que também não foi encontrado. Ela passou pela sala de descanso, o escritório do
S.T.A.R.S., a biblioteca - todos os lugares onde o repórter teria fácil acesso. E gastou dois clips inteiros para isso.
O problema não foi 23 balas, foi o tempo perdido e sem resultados - exceto por ter matado mais alguns zumbis.
E duas aberrações híbridas da Umbrella.
Ada tremeu, lembrando da contorcida carne vermelha e gritos das criaturas que matou na sala de entrevistas.
Trent alertou sobre os Tyrants modi-ficados - que agradecidamente ainda não apareceram - mas os sanguinários
linguarudos com garras eram uma afronta à suas sensibilidades. E são muito mais difíceis de matar que os
zumbis. Se eles foram produtos do T-virus, ela deverá rezar para que Birkin não tenha feito nada com o novo.
Segundo Trent, a série G ainda não foi usada, e deve ser duas vezes mais potente...
Ada soltou a imaginação. O escritório não era tão inspirante para descansar, mas pelo menos não tinha sangue.
De porta fechada, ela mal sentia o cheiro dos policiais lá fora. Eles já estavam bem afetados quando ela os
matou, o estágio que aparentemente precede o colapso total.
O problema não é senti-los. Meu cabelo e roupas já absorveram o maldito cheiro.
Ela sabia para que servia o T-virus, mas eles não pensaram em pesquisar os efeitos físico-químicos. Quem se
importa? Ela não tinha motivos para acreditar que a Umbrella infectaria sua própria cidade. Ela estava recebendo
várias informações sobre o funcionamento do vírus, mas seria bom saber como ele modifica a mente humana.
Ela só podia tentar adivinhar através de suas observações.
Pelo que parece, leva algumas horas para alguém infectado virar um zumbi. Às vezes, a vítima passa por uma
febre-coma antes, que provavelmente queima partes do cérebro - e pareciam estar acordando da morte em
busca de carne fresca logo depois. Os sintomas eram os mesmos para todos, mas não a velocidade do
processo; ela viu uns três casos em que a vítima virou zumbi alguns momentos após ser infectada, o estágio que
ela chamou de "catarata". Apesar de a deterioração física começar imediatamente, alguns caem aos pedaços
mais rápido do que outros.
... e por que você está pensando nisso? Seu trabalho não inclui achar a cura?
Ela suspirou, curvando-se para coçar os pés. Verdade. Mesmo assim, era algo para se considerar. Pensar em
ficar viva era cansativo; ela não podia fazer isso enquanto limpava os corredores. Ela estava descansando, e
precisava pensar em assuntos mais intrigantes.
E não são poucos... Trent, o que Bertolucci sabe ou deveria saber... o S.T.A.R.S. - e o que diabos aconteceu
com eles?
Pelos artigos que Trent incluiu no pacote de informações, ela sabia sobre a suspensão do grupo - e considerando
o que estavam investigando, não precisava ser gênio para ver que estavam na cola da Umbrella para revelar seu
segredo. A Umbrella já deve ter se livrado deles caso não tenham se escondido - e Ada tem que ver se Trent
participou da aventura do S.T.A.R.S..
Não que ela diria, mas Trent era um enigma. Ela só o encontrou uma vez, apesar de tê-la contatado para ir até
Raccoon, na maioria das vezes por telefone. Ela sempre se orgulhou da capacidade de ler as pessoas, mas não
sabia onde os interesses dele estavam, por que queria o G-virus ou que função exercia na Umbrella. Era óbvio
que tinha contatos lá dentro, ele sabia demais sobre a companhia - mas se era o caso, porque ele não pega sua
própria amostra e pede demissão? Contratar uma agente secreta era o ato de alguém querendo evitar
complicação - mas complicações do que?
Não é da minha conta...
Um bom princípio para se viver; ela também não era paga para investigar Trent. Mesmo que fosse, seria difícil;
#
ela nunca conheceu um homem tão sob-controle como Sr. Trent. Em todo contato que tiveram, ela percebeu
que ele ria por dentro, como se soubesse de um ótimo segredo - e ainda não demonstrou arrogância e
pretensão. Ele era frio, sua genialidade tão natural que ela mal se intimidou; ela não conseguiu decifrar os motivos
dele, mas já tinha visto aquele calmo humor antes - era a face do verdadeiro poder, de um homem com um
plano e meios de executá-lo.
Então a contaminação atrapalhou seus planos, sejam lá quais sejam? Ou ele já estava preparado...? Eu não
imagino o termo "pego de surpresa" no vocabulário de Trent...
Ada girou a cabeça vagarosamente antes de se calçar. O intervalo acabou, pois ela ainda tinha que procurar
Bertolucci em mais alguns lugares, antes de ir para o esgoto. Ela sabia que as persianas de segurança do primeiro
andar não eram tão sólidas assim; ela não quer se deparar com mais zumbis lá de fora.
Havia passagens "secretas" na asa leste e celas no subsolo, depois do estacionamento. Se achá-lo em algum
desses lugares, poderá concentrar-se em obter a amostra.
Ela decidiu começar pelo subsolo; ele não conseguiria achar os corredores escondidos. Pelo que ela leu sobre seu
trabalho, ele não era um repórter tão bom...
Ada saiu do escritório, os ventiladores de teto levando o cheiro de podre até ela. Devia haver sete ou oito corpos
lá, todos policiais...
... mas eu não tinha deixado cinco vivos da última vez?
Ada parou, olhando para o estreito corredor que levava às escadas de trás.
Havia cinco. Eu não estou no meu máximo, mas ainda posso contar.
Havendo ou não, os zumbis estavam invadindo e a Umbrella virá em breve caso ainda não tenha vindo. A
companhia não ignoraria esse problema. Já deve ter criado um plano *derrota segura e está enchendo a cabeça
da mídia com mentiras. Mas é claro que antes, eles devem recuperar a pesquisa de Birkin. Trent estava confiante
de que a Umbrella mandaria uma equipe para isso.
Uma equipe de humanos, tomara. Eu posso lidar com eles. Um Tyrant... eu não preciso disso.
Ada foi para o corredor do fundo da sala, à esquerda de onde estava. Foi na direção da porta que a levaria para
a escada do subsolo. Tyrant era o nome de uma série particular na pesquisa de armas biológicas da Umbrella,
uma série que incorpora as mais destrutivas aplicações do T-virus. De acordo com Trent, os cientistas da White
Umbrella - que trabalham nos laboratórios secretos - acabaram de iniciar os testes num tipo de humanóide
sanguinário, desenvolvido para caçar qualquer cheiro ou substância com a qual foi treinado. Um Tyrant avançado,
outra construção de carne infectada e ligamentos implantados - o tipo de coisa que podem mandar em busca do
G-virus...
Ada foi para o subsolo, tentar achar o repórter.
Leon estava no saqueado depósito de armas do subsolo, ajustando seu coldre e pensando onde Claire estaria.
Pelo pouco que viu, a delegacia estava muito ruim. Fria, escura e cheirando mal, mas não tão perigosa quanto a
rua. Nem tanto para se agradecer, mas Leon vai tirar o máximo de proveito.
Ele matou três companheiros a caminho do subsolo - dois homens escada acima e uma mulher em frente ao
necrotério - a alguns metros da sala onde ficava o arsenal do R.P.D.. Entre os mortos e o número de armas
faltando, Marvin pode estar certo sobre haver sobreviventes.
Marvin Branagh... já deve estar morto. Será que virou zumbi? Se a Umbrella está por trás disso, deve ser algum
tipo de praga ou doença, afinal, eles são uma companhia farmacêutica - então, como se pega a doença? Pelo
contato ou pelo ar -
O pensamento de ser infectado pelos zumbis o fez suar. E se ele a pegou enquanto dirigia para cá?
Antes do pânico, ele ouviu sua mente dizer sobre a realidade - e a aceitação da realidade também, afugentando o
medo.
Se você está doente, está doente. Você pode comer uma bala antes de piorar. Se não está doente, sobreviverá
para contar aos seus netos sobre tudo isso. De qualquer jeito, não há nada que você pode fazer - exceto tentar
ser um policial.
--------------------------------------------------------------
*Derrota Segura - Método para impedir ataque atômico equivocado.
-------------------------------------------------------------- Leon concordou, suspirando. Em sua primeira busca pela sala,
#
houve desapontamento. Nenhum revólver e pouca munição nos armários - mas ele achou uma caixa de munição
para espingarda, e depois de um segundo procurando, ele descobriu uma calibre doze escondida atrás de
algumas caixas. Haviam alguns arreios de ombro para o modelo Remington pendurados na parede, tal como um
cinto de utilidade maior do que o que já usava; tinha até um bolso fundo o bastante para colocar os clips.
Com o último aperto no arreio, ele decidiu que seria melhor começar pelos lugares mais óbvios primeiro, cada
corredor de cada possível entrada. Primeiro ele voltará para o saguão e deixar uma mensagem no -
Bam! Bam! Bam!
Tiros, bem perto, e o eco dizia vir do corredor lá fora. Leon empunhou o revólver e correu para a porta, preciosos
segundos desperdiçados enquanto manejava a fechadura giratória.
O corredor estava deserto, exceto pelo guarda de trânsito no chão à sua direita. Para a direita ficava o
estacionamento, e Leon correu para lá, lembrando-se para ir com clama e não ser baleado por alguém
aterrorizado.
Vá devagar, olhe bem antes de se mover, identifique-se claramente -
O corredor virava à esquerda, e no final dele, estava a porta na parede do lado direito, aberta - e quando Leon
deu uma olhada no grande e aberto espaço, seu corpo encostou na parede, vendo algo que o fez esquecer do
atirador.
O cachorro. É o mesmo maldito cachorro.
Impossível - mas o caído e sem vida animal no meio de dois carros parecia o mesmo. Mesmo com o breve
avistamento que teve antes, o melequento demônio canino era igual àquele que o tinha jogado fora da estrada.
Sob as fluorescentes que iluminavam a garagem, Leon pode ver o quanto anormal ele era.
Nada parecia se mover, e nenhum som exceto o zumbido das luzes. Ainda segurando sua arma, Leon entrou na
garagem, determinado a olhar a criatura de perto - e viu um outro perto de uma viatura, aparentemente morto
como o primeiro. Ambos estavam no meio de uma poça vermelha de sangue.
Umbrella. Os ataques animais, a doença - há quanto tempo isso está acontecendo? E como conseguiram manter
isso escondido depois de todas aquelas mortes?
Mais confuso era o fato de Raccoon ainda não ter recebido ajuda; a Umbrella deve ter conseguido esconder seu
envolvimento nos assassinatos "canibais", mas como ela impediu as pessoas de pedir ajuda lá fora?
Esses cães, como cópias em carbono... outra coisa que a Umbrella fez em seus laboratórios?
Ele deu outro passo na direção das criaturas, não gostando das teorias de conspiração que estavam se formando
em sua mente, mas incapaz de ignorá-las. Do que ele menos gostava, eram das poças de óleo no chão de
cimento; pareciam enferrujadas, secas - e haviam muitas delas para contar. Ele se curvou para olhar de perto,
tão intrigado que só percebeu o tiro quando a bala ricocheteou no chão.
Bam!
Leon virou para a esquerda, erguendo a arma e gritando ao mesmo tempo -
"Pare de atirar!".
- e viu a atiradora abaixar sua arma, uma mulher de vestido vermelho e longas meias pretas, parada ao lado de
um furgão no final da garagem. Ela começou a ir até ele, suas pernas finas movendo-se suavemente, cabeça
erguida e ombros para trás. Parecia estar numa festa.
Leon sentiu uma onda de raiva, de como ela parecia clama após quase tê-lo matado - mas assim que se
aproximou, ele quis pedir desculpas. Ela era bonita, e parecia sentir prazer em vê-lo; uma visão bem vinda depois
de tanta morte.
"Desculpe-me por aquilo". Ela disse. "Quando vi o uniforme, pensei que fosse outro zumbi".
Mestiça, magra e alta, cabelo curto, liso e escuro. Sua acentuada voz contrastava estranhamente com seu olhar.
Seu frágil sorriso não combinava com os olhos amendoados que o examinavam cuidadosamente.
"Quem é você?". Leon perguntou.
"Ada Wong'. Aquele tom de novo. Ela inclinou a cabeça, ainda sorrindo.
"Eu sou Leon S. Kennedy". Ele disse reflexivamente, incerto sobre o que perguntar ou por onde começar. "Eu - o
que você faz aqui embaixo?".
Ada olhou para o furgão do R.P.D. que bloqueava a área das celas. "Eu vim para Raccoon em busca de um
homem, um repórter chamado Bertolucci; eu tenho motivos para crer que ele esteja em uma das celas, e acho
#
que ele pode me ajudar a achar meu namorado...".
O sorriso dela sumiu, o agudo, quase elétrico olhar achando o dele... "E acho que ele sabe tudo sobre o que
aconteceu aqui. Você me ajuda a empurrar o furgão?".
Se o repórter estiver trancado lá, poderá dizer algo; Leon quer conhecê-lo. Ele não confiava muito na história de
Ada, mas não imaginava porque mentiria. O lugar não é seguro, e ele estava procurando por sobreviventes,
como ela.
"Tá bom". Ele disse, sentindo-se pego pelos suaves modos dela. Parecia que ela tinha assumido o controle, uma
súbita mas proposital manipulação que a pôs no comando -
Não seja paranóico; mulheres fortes existem. E quanto mais pessoa encontrar, mais ajuda eu terei para procurar
a Claire.
Leon guardou a arma e foi atrás dela, esperando que o repórter estivesse lá - e que as coisas começassem a
fazer sentido o quanto antes.
[13]
Sherry Birkin se foi e Claire não conseguiu entrar no duto. Seja lá o que ou quem tinha gritado, não apareceu. Ela
devia estar se escondendo no duto por algum tempo; haviam embalagens abertas de doces e um velho lençol
perto da abertura, atrás de três armaduras.
Percebendo que Sherry não voltaria, Claire correu para a sala de Irons, esperando que ele pudesse dizer onde a
tubulação dava, mas ele tinha sumido - junto com o corpo da filha do prefeito.
Claire parou no escritório, sendo observada pelos olhos de vidro da mórbida decoração, e se sentiu incerta pela
primeira vez desde que chegou na cidade. Desviar de cães e zumbis, encontrar Leon e evitar o Chefe Irons
foram tarefas inclusas na busca por Chris. Nos poucos momentos entre encontrar aquela garotinha e aquele
estranho grito, suas prioridades mudaram dramaticamente. Havia uma criança nesse pesadelo, que acreditava
estar sendo seguida por um monstro.
Talvez esteja. Se Raccoon tem zumbis, por que não monstros? Droga, por que não vampiros ou robôs
assassinos?
Ela queria achar Sherry, mas não sabia por onde começar. Ela queria seu irmão, mas não sabia onde estava - e
ela começou a imaginar se ele sabia o que tinha acontecido na cidade.
Na última vez que conversaram, ele evitou falar sobre a suspensão do S.T.A.R.S., insistindo que não era nada
para se preocupar - que ele e os outros entraram em problemas políticos e tudo se resolveria. Ela estava
acostumada com a proteção dele, mas pensando melhor, ele não parece evasivo demais? E o S.T.A.R.S. estava
investigando os assassinatos canibais, não seria difícil conectá-los com a atual...
... o que quer dizer? Que Chris descobriu algo ruim e estava mantendo segredo?
Ela não sabia. Mas sabia que ele estava vivo, e que achar Sherry era mais importante no momento. Ruim como a
situação estava, Claire tinha defesas - ela tinha uma arma, pelo menos um pouco de maturidade emocional, e
depois de 8KM diários, estava em excelente forma. Mas Sherry não devia ter mais do que doze anos, parecia
frágil em todos os sentidos; pela sujeira em seu cabelo loiro e desespero em seus olhos azuis - Sherry inspirou
todos os sentidos protetores de Claire -
Thump!
Uma pesada vibração correu pelo teto, fazendo o lustre do escritório tremer. Claire olhou para cima
reflexivamente, apontando a arma. Não havia nada e o som não se repetiu.
Algo no telhado... mas o que fez aquele barulho? Um elefante caindo do céu?
Talvez fosse o monstro de Sherry. Claire não queria encontrá-lo, mas Sherry parecia certa de estar sendo
seguida...
... então achar o monstro para achar a garota? Não é o plano perfeito mas é tudo o que tenho.
Talvez seja Irons lá em cima. Ela não podia saber até verificar.
Claire virou e abriu a porta para o corredor de fora, onde tinha apagado o fogo. A fumaça diminuiu apesar de
ainda estar quente. Pelo menos nisso ela foi bem sucedida...
#
Claire saiu do corredor, virando os olhos para o que sobrou do piloto quando -
- Craa-ack!
- e ela congelou, ouvindo um massivo despedaçamento de madeira, seguido por poderosos passos de alguém
enorme andando pelo corredor, depois da curva.
Deve pesar uma tonelada, e Jesus, diga-me que não foi uma porta sendo destruída -
Claire olhou para o corredor do escritório, seus instintos dizendo para correr, seu cérebro dizendo que não tinha
saída, seu corpo paralisado entre os dois -
- quando o maior homem que já viu apareceu, escurecido pela fina fumaça do corredor. Ele vestia um longo
sobretudo verde-exército que só aumentava seu tamanho, tão alto quanto um jogador de basquete - bem mais
alto, e com uma cabeça proporcional. Um grande cinto de utilidade estava preso em sua cintura, e apesar de não
ver armas, ela pôde sentir a violência radiando dele em ondas invisíveis. Ela só conseguia ver a palidez no rosto
dele, a cabeça careca - e de repente, Claire estava certa de que ele era um monstro, um assassino usando luvas
pretas, cada uma do tamanho de um crânio humano -
Atire nele! Atire!
Claire mirou, mas hesitou, com medo de estar cometendo um terrível erro - até que ele deu um passo na direção
dela, ouvindo os cracks na madeira causados por seus pés de Frankenstein, e ela viu os olhos negros, negros e
corados com vermelho. Vazios, mas não cegos, o olhar dele achou o dela - e ele ergueu o punho, a ameaça
eminente.
- atireatireatire -
Ela apertou o gatilho, uma, duas vezes, e viu o impacto - um pedaço de tecido rasgou bem abaixo de sua
clavícula, o segundo tiro cortando um lado do pescoço -
- e ele deu outro passo, nenhuma expressão em seu rosto, o punho ainda erguido, procurando um alvo,
querendo esmagar -
- o escuro e enfumaçado buraco no pescoço não sangrava.
Droga
Numa onda de adrenalina, Claire apontou o revólver para o coração da criatura e atirou repetidamente, o gigante
dando outro passo, cruzando o fogo sem acovardar-se -
- e Claire perdeu a linha dos tiros, incapaz de acreditar que ele ainda se movia, a menos de três metros com as
balas acertando seu peito -
- e a arma clicou, vazia, na mesma hora que o monstro balançou de um lado para o outro como um prédio no
vento. Sem tirar os olhos dele, Claire pegou outro clip do colete e recarregou a arma, sua mente tentando
desesperadamente dar um nome à coisa.
Exterminador, O monstro de Frankenstein, Dr. Mal, Mr. X -
De qualquer modo as balas finalmente fizeram efeito. Silenciosamente, ele inclinou para a direita, caindo contra a
parede chamuscada, e permanecendo lá - sem tremer nem se mexer.
Estranho, isso é tudo, está morto, derrubado por seu próprio peso -
Claire não se aproximou, ainda mirando no gigante. Foi ele que gritou? Ela não achava.
"Morto, não importa". Claire cochichou. Precisava pensar no que ele significava - ele não era um zumbi qualquer,
mas o que então? Ela esvaziou um clip inteiro - será que alguém por perto ouviu? Ela deveria ficar onde estava?
A criatura que começou a chamar de Mr. X não estava respirando, seu corpo imóvel, seu rosto bem perto da
morte. Claire mordeu o lábio inferior, olhando para a ainda impossível criatura quando -
- ele abriu os olhos negros e brilhantes. Sem muita força, Mr. X levantou-se, bloqueando o corredor, suas mãos
erguendo-se de novo -
- e com um forte impulso, ele cortou o ar com a mão, seus longos braços bem na frente dela enquanto recuava.
O movimento foi suficiente para cravar o punho na parede, prendendo-o.
Eu, poderia ter sido EU -
Voltar para o escritório a deixaria cercada. Sem pensar mais, Claire correu, passando por Mr. X, seu braço direito
esfregando no pesado casaco dele, seu coração pulando uma batida quando o material a tocou.
Ela correu, virou à esquerda e desceu o corredor, tentando não ouvir Mr. X libertando a mão.
Jesus, o que é aquela COISA -
Ela voltou para a sala de espera, batendo a porta enquanto corria. Claire não pensava em outra coisa senão
correr mais rápido.
#
Ben Bertolucci estava na última cela, deitado na cama de metal pendurada na parede, roncando levemente.
Mantendo suas expressões cuidadosa-mente neutras, Ada deixou Leon acordá-lo. Ela não queria parecer ansiosa,
mas se havia algo que sabia sobre os homens era que eles são mais fáceis de lidar quando pensam estar no
controle. Ada olhou para Leon com a paciência que não sentia.
Eles tinham passado por um corredor vazio e um canil antes de achá-lo. Apesar do frio e úmido ar cheirando
sangue e podridão, eles não viram nenhum corpo - o que era estranho, já que Ada sabia o que tinha acontecido
na garagem. Ela pensou em perguntar a Leon o que tinha acontecido, mas decidiu que quanto menos falar
melhor; ele não devia se acostumar com a presença dela. Ela chegou a ver a tampa do bueiro no canil,
enferrujando num canto escuro, e agradecida por ver um pé-de-cabra ali perto. Com Bertolucci dormindo ali, Ada
sentiu que as coisas finalmente começaram a dar certo -
"Deixe-me adivinhar". Leon disse bem alto, batendo a arma nas barras de metal. "Você deve ser Bertolucci,
certo? Levante-se, agora."
Bertolucci suspirou e sentou-se devagar, esfregando a mão no queixo. Ada quis sorrir; ele estava mau - roupa
amarrotada, rabo de cavalo desarrumado.
Ainda de gravata. O coitado deve achar que isso o faz parecer um repórter...
"O que você quer? Eu estava tentando dormir aqui". Ele parecia nervoso, e de novo Ada teve que conter um
sorriso.
Leon olhou para Ada, parecendo incerto. "É ele?".
Ela acenou, percebendo que Leon o considerava um prisioneiro. A conversa esclareceria tudo, mas ela não queria
que Leon ouvisse demais; Ada precisa escolher bem as palavras.
"Ben, você disse aos oficiais da cidade que sabia o que estava acontecendo aqui, não foi? O que você disse a
eles?".
Bertolucci levantou e a encarou. "Quem diabos é você?".
Fingindo que não ouviu, Ada aumentou o desespero, mas só um pouco; ela não devia parecer uma coitada,
poderia contrariar o fato de ter sobrevivido todo esse tempo.
"Eu estou tentando achar um - amigo meu, John Howe. Ele trabalhava para uma divisão da Umbrella em Chicago,
mas desapareceu há alguns meses atrás - e eu ouvi dizer que ele está aqui, nesta cidade...".
Ela parou, vendo a expressão do repórter. Ele sabia de algo, sem dúvida - mas ela não achava que ele fosse
desistir.
"Eu não sei de nada". Ele disse, irritado. "e mesmo se eu soubesse, por que eu deveria dizer?".
Original. Se o policial não estivesse aqui, eu só daria um tiro no repórter.
Na verdade, ela não atiraria: Ada não estava lá para diversão. Ela podia usar um de seus métodos mais
persuasivos - se seu charme feminino não funcionar, uma bala no joelho ajudaria. Infelizmente, ela não podia
fazer nada com Leon por perto. Ela não tinha planejado esse encontro.
O policial não estava feliz com as respostas de Ben. "Tá bom, podemos deixá-lo aí". Leon disse, falando com
Ada, mas olhando bem irritado para Ben.
Bertolucci sorriu, tirando um anel redondo com as chaves da cela. Ada não se surpreendeu e Leon ficou mais
irritado.
"Por mim tudo bem". Bertolucci disse. "Eu não quero sair daqui mesmo. É o lugar mais seguro do prédio. Tem
mais do que zumbis por aí, acreditem em mim".
Pelo jeito que falou, Ada pensou em ter mesmo que matá-lo. As instruções de Trent foram claras - se o repórter
souber de alguma coisa sobre o trabalho de Birkin no G-virus, ele deve ser eliminado; por que, exatamente, ela
não estava certa, mas esta é a missão. Se ela pudesse ficar um momento a sós com ele, conseguiria descobrir o
quanto ele sabe.
Mas como? Ela não queria matar Leon; como regra, ela não mata inocentes - além disso, ela gostava de policiais.
"Ggrraaa!".
Um violento e inumano grito furou o silêncio. Ada girou o braço, mirando no portão que dava para o corredor. E
estava no subsolo -
"O que foi aquilo?". Leon disse. Ada esperava que ele soubesse a resposta. O eco do furioso grito não se
#
comparava à nada que ela já tinha ouvido - mesmo sabendo o que a Umbrella fazia, isso não era esperado.
"Como eu disse, eu não saio daqui". Bertolucci disse. "Agora vão embora antes que o tragam direto para mim!".
Covarde chorão -
"Olha, eu posso se o único policial vivo nesse prédio". Leon disse, a combinação de medo e força em sua voz fez
Ada olhar para ele. O olhar do policial estava fixado em Bertolucci, seus olhos azuis agudos e firmes.
"... e se você quiser viver, terá que vir conosco".
"Esqueça". Ben disse. "Eu vou ficar aqui até a cavalgaria chegar - e se forem espertos, farão a mesma coisa".
Leon balançou a cabeça. "E se eles demorarem dias para vir, é melhor acharmos um jeito de sair de Raccoon - e
você escutou aquele grito. Você quer ser visitado pelo que fez aquilo?".
Ela se impressionou; alguma criatura da Umbrella por aí e Leon tentando salvar um repórter inútil.
"Eu vou correr o risco". Disse Bertolucci. "e boa sorte para fugir, vocês vão precisar...".
O repórter foi até as barras, olhando entre elas, passando a mão no cabelo.
"Olha,". Disse suavemente. 'tem um canil lá atrás, com um poço no chão vocês podem chegar ao esgoto por lá,
deve ser o caminho mais rápido para fora da cidade".
Ada suspirou intensamente. Ótimo; revelou sua passagem secreta para o laboratório. Se ela correr de Leon
agora, vai levar uns cinco minutos para ele alcançá-la.
Você pode matá-lo se necessário. Ou... você o faz se perder nos esgotos e volta para Bertolucci.
Como o repórter, ela não queria ver a coisa que gritou - sendo que ele não vai fugir, enganar o policial é a melhor
saída.
O que eu não faço para evitar derramamento de sangue.
"Certo, eu vou verificar". Ela disse, e sem esperar a resposta de Leon, virou e correu.
"Ada! Ada, espere!".
Ela o ignorou, passando pelas celas e voltando para o corredor, aliviada por ainda estar vazio. Tudo poderia ser
mais fácil se ela tivesse matado os dois, mas a situação é diferente. Ela estava cansada de tantas mortes, e
cansada do que a Umbrella fez; ela não vai matar um policial, exceto se precisar.
E se ela precisar, será pela vida de um inocente ou pela finalização da missão?
Essa pergunta a disse mais sobre sua consciência do que queria admitir. Ela chegou na porta do canil; respirando
fundo e apagando qualquer emoção de sua mente, Ada entrou para esperar Leon S. Kennedy.
[14]
Tão bonita... mesmo morta, Beverly Harris era radiante. Irons não podia esperar que ela acordasse enquanto
olhava; ele a colocou cuidadosamente no gabinete de pedra debaixo da pia e trancou, prometendo que a tiraria
dali assim que tiver mais tempo. Ela se tornará o animal mais delicado que já transformou, posando eternamente
perfeita assim que prepará-la do modo certo... um sonho se realizando.
Se eu tiver tempo. Se houver tempo restando.
Ele sabia que estava sentindo pena de si mesmo de novo. Não tinha ninguém para dividir a magnitude de tudo o
que já sofreu. Ele se sentiu terrível - triste, bravo e sozinho - mas também sentiu que tudo ficou claro. Agora ele
sabia por que estava sendo perseguido.
Umbrella. Uma conspiração para me destruir, todo esse tempo...
Irons sentou na manchada mesa de seu san-tuário, seu especial e particular lugar, pensando em quanto tempo
levará para a jovem mulher aparecer.
A do corpo atlético que não disse seu nome. De certo modo, ela foi responsável por sua descoberta.
Ela o achará, claro; era uma espiã da Umbrella, a companhia que o tem observado por um tempo. Eles deviam
ter uma lista de todos os seus pertences, relatórios psicológicos e até cópias de suas contas bancárias. Tudo fazia
sentido, agora que tinha tempo para pensar; ele era o homem mais poderoso em Raccoon, e a Umbrella
designou sua queda.
#
Irons olhou para seus tesouros, as ferramentas e troféus que estavam nas estantes à sua frente, e não sentiu o
prazer que costumavam inspirá-lo. Os ossos polidos eram só algo para olhar enquanto sua mente trabalhava,
absorvida com a traição da Umbrella.
Anos atrás, quando ele passou a receber dinheiro da companhia para ficar cego sobre seus feitos, as coisas eram
diferentes; aí era só uma questão de política, achar uma boa posição na poderosa estrutura que controlava
Raccoon. E tudo funcionou bem por um longo tempo - sua carreira prosseguiu como previsto, ganhou o respeito
dos oficiais e cidadãos, e na maior parte, seus investimentos valeram a pena. A vida estava sendo boa.
Depois apareceu Birkin. William Birkin e sua neurótica esposa, e a filha.
Depois do que aconteceu na mansão de Spencer, ele quase se convenceu de que o S.T.A.R.S. foi o responsável,
mas agora ele percebe que foi mesmo Birkin, um ano antes da bola começar a rolar; a destruição da mansão só
adiantou as coisas. A Umbrella deve ter começado a monitorá-lo desde que conheceu Birkin - primeiro só o
observavam, instalando câmeras e microfones ocultos. Os espiões viriam depois...
Os Birkin vieram para Raccoon tal que William pudesse se dedicar ao desenvolvimento de uma versão superior ao
T-virus, baseado na pesquisa do laboratório da mansão. Por mais que William fosse esquisito e desagradável,
Irons gostava dele, desde o começo. William era o menino gênio da Umbrella, e como Irons, não reclamava de
seu cargo; Birkin era humilde, só interessado em desempenhar seu papel. Ambos eram muito ocupados para
manter uma amizade, mas havia respeito entre os dois: às vezes Irons percebia que William o observava...
E o meu erro foi deixar. Deixar o meu respeito por ele nublar meus instintos, não me deixar perceber que estava
sendo observado desde o começo.
A perda do laboratório da mansão fez passar algumas ondas pela hierarquia da Umbrella, e alguns dias depois de
explosão, Annette Birkin foi até ele com uma mensagem do marido - uma mensagem e um favor. Birkin estava
preocupado, a Umbrella iria exigir o G-virus antes de ser terminado; ele não estava satisfeito com a aplicação de
seu último trabalho, parece que a Umbrella não o deixou aperfeiçoar o processo de replicação, Irons não se
lembra direito - e com a Umbrella tentando recuperar as perdas financeiras da mansão, Birkin ficou com medo de
eles comprometerem a integridade do não-testado vírus.
Através de Annette, William pediu ajuda - e ofereceu um pequeno incentivo extra. Por cem mil, Irons teria que
ajudar a manter o G-virus encoberto - resumindo, tomar cuidado com espiões da Umbrella e ficar de olho nos
sobreviventes do S.T.A.R.S.
Dinheiro fácil, exceto por ser uma armadilha da Umbrella...
Irons foi direto para ela, e foi quando a companhia começou a conspirara contra ele, usando as informações que
conseguiram selar seu destino. Como tudo aconteceu tão rápido? O S.T.A.R.S. desapareceu, depois Birkin - e
antes de entender a situação, os ataques recomeçaram.
Irons desceu da mesa e caminhou por ela, vagarosamente tocando os cortes na madeira. Havia uma história em
cada marca, a memória de um feito - e de novo, não lhe davam prazer. A fria e calma atmosfera de seu
santuário sempre o consolou, onde praticava seus hobbies, onde ele podia ser ele mesmo - e agora não é mais
seu. Nada era, a Umbrella tirou tudo dele, tal como a cidade. Será que soltaram o vírus para pegá-lo, para roubar
seu poder - e depois mandaram aquela garota de roupa provocante para ele se divertir? Por que ela era atraente?
Eles conheciam suas fraquezas...
...e em breve ela voltará, talvez bancando a perdida, tentando me seduzir com seu indefeso comportamento.
Uma assassina da Umbrella, uma espiã exploradora, tudo o que ela é, provavelmente rindo de mim por trás
daquele rosto bonito...
Talvez a contaminação foi um acidente; da última vez que se viram, William estava instável, paranóico e exausto,
e acidentes acontecem na melhor das circunstâncias. O resto era fato, não tinha outra explicação para o quanto
arruinado Irons estava. Aquela garota estava vindo pegá-lo, ela era da Umbrella e foi enviada para matá-lo. E não
pararia aí, oh, não, ela vai achar Beverly e... e sujá-la de algum modo, só para ter certeza de que nada de Irons
sobrará.
Irons olhou em volta da pequena e suavemente iluminada sala que um dia foi sua, olhando orgulhosamente para
as bem usadas ferramentas e móveis, o doce e familiar cheiro de desinfetante emanando das irregulares paredes
de pedra.
Meu santuário. Meu.
#
Ele pegou o revólver que estava em sua especial mesa de corte, a VP70 ainda era sua, e sentiu um pequeno
sorriso nos lábios. Sua vida estava acabada. Tudo começou com Birkin e vai terminar aqui, pelas suas próprias
mãos. Mas não agora.
A garota vai voltar, e ele vai matá-la, antes de dizer adeus para Beverly, antes de admitir sua derrota com um
tiro. Mas ele a fará sentir seu sofrimento antes. Por cada tortura que ele sofreu, a garota iria pagar, a conta
descontada em cada osso o mais dolorosamente possível.
Ele iria morrer, mas não sozinho. Não sem ouvir a garota gritar de agonia, criando a voz para a morte de seus
sonhos - uma voz tão verdadeira que o eco atingiria o coração dos executivos da companhia que o traiu.
A sala do S.T.A.R.S. estava vazia, desarrumada, fria e empoeirada, mas Claire não queria sair. Depois de seu
aterrorizante vôo pelos corredores do segundo andar, achar o lugar de trabalho de seu irmão a deixou aliviada.
Mr. X não a seguiu, e mesmo querendo achar Sherry e Leon, ficou com medo de voltar para o corredor - e
hesitante em deixar o único lugar que se parecia com Chris.
Onde você está meu irmão? E o que vou fazer? Zumbis, fogo, morte, seu estranho chefe e a garota perdida - e
quando as coisas não podiam ficar piores, eu dou de cara com a-coisa-que-não-quer-morrer, o monstro dos
monstros. Como eu saio dessa?
Ela sentou na mesa de Chris, olhando as fotos preto e brancas que achou no findo da gaveta; as quatro eram
deles dois, sorrindo e posando na semana que passaram em Nova Iorque no natal passado. Primeiro ela quis
chorar, mas os dois sorrindo a fizeram se sentir melhor. Mais calma. Mais forte. Ela o amava, e onde quer que
ele esteja, a amará de volta - e se ambos sobreviveram a perda dos pais, reconstruíram suas vidas e dividiram
um bobo natal por não ter um lar para ir, então eles podiam enfrentar tudo. Claire podia.
Pode e vai. Eu vou achar Sherry, Leon e se Deus quiser, meu irmão - e nós vamos sair de Raccoon.
A verdade era, ela não tinha outra escolha - mas ela precisa aceitar a falta de opções antes de agir. Uma vez ela
ouviu que bravura não era a ausência do medo, era aceitar o medo e fazer o que for necessário.
Claire respirou fundo, colocou as fotos no colete e levantou da cadeira. Ela não sabe para onde Mr. X foi, e ele
não parece ser alguém que fica esperando. Ela vai voltar para a sala de Irons e ver se Sherry voltou - ou Irons.
Se X ainda estiver lá, ela pode correr.
Além disso, eu devia vasculhar a sala e tentar achar algo sobre o S.T.A.R.S.
De pé, ela olhou em volta, desejando ter achado mais informações. Tudo o que achou de útil foi uma mochila
engraçada na mesa de trás; segundo o cartão vencido da biblioteca, a mesa era de Jill Valentine. Claire nunca a
conheceu mas Chris já falou dela algumas vezes, disse que era boa com armas...
Pena que não deixou uma para trás.
Eles devem ter deixado para trás tudo o que não era importante depois da suspensão, apesar de ainda haverem
muitos itens pessoais lá. Porta retratos, copos de café e o de costume. Ela olhou para a mesa de Barry, havia
uma arma de montar quase terminada. Barry Burton era um dos amigos mais próximos de Chris, um grande e
amigável homem, maluco por armas. Claire esperou que onde quer que Chris esteja, Barry esteja cuidando dele.
Com um lança-chamas.
Falando nisso...
Ela precisa achar outra arma, ou mais munição; ela só tinha treze balas restando, um clip inteiro. Talvez ela deva
checar alguns corpos na volta para a asa leste; mesmo correndo apavorada, ela percebeu que alguns deles eram
policiais, e seu revólver era um equipamento do R.P.D.. Claire não gostou da idéia de ter que tocar cadáveres,
mas ficar sem balas era pior - principalmente com Mr. X por aí.
Claire voltou para a porta e a abriu, organizando seus pensamentos enquanto voltava para o escuro corredor.
Deixar o escritório a fez apagar a ainda vívida imagem de Mr. X, sentindo-se vulnerável de repente. Ela foi para a
direita e começou a voltar para a biblioteca, decidindo que não pensará mais no gigante, exceto se precisar, não
insistiria na memória daqueles olhos vazios, ou do modo que ergueu o punho, como se fosse destruir tudo em
seu caminho...
... então apague tudo isso. Pense em Sherry, em como achar munição ou como lidar com Irons, caso o ache.
Pense em ficar viva.
Bem à frente o corredor virava à esquerda e Claire tentou ignorar a tarefa seguinte; se não lhe falhe a memória,
tinha um policial morto perto da curva.
- como se eu não soubesse pelo cheiro -
#
- e ela tinha que vasculhá-lo. Ele não parecia tão nojento -
Claire fez a curva e congelou, olhando. Seu estômago deu um nó, dizendo-a que estava em perigo antes mesmo
de seus sentidos. O corpo que ela tinha pulado a caminho do escritório do S.T.A.R.S. tinha virado uma enrolada e
sangrenta massa de carne, ossos quebrados e uniforme rasgado. A cabeça se foi, apesar de não saber se foi
arrancada ou se estava dissolvida na polpa. Parece que alguém martelou o corpo depois que passou por ele.
Mas como, eu não ouvi nada -
Algo se mexeu. Uma suave sombra sobre os restos a alguns metros dela, e na mesma hora, Claire ouviu um
áspero som, respirando -
- e ela olhou para cima, ainda incerta sobre o que via ou ouvia - a respiração e o tick das garras na madeira,
grossas e curvas, as garras de uma criatura que não podia existir. Grande, do tamanho de um homem adulto,
mas a semelhança terminava aí - era tão impossível que só o via por partes, sua mente forçando para juntá-las.
A inflamada e avermelhada carne da criatura pelada, seus longos membros que aderiam no teto. A inchada
massa cinzenta do cérebro parcialmente exposto. Um coroa cicatrizada onde os olhos deveriam estar.
- não estou vendo isso -
A cabeça da criatura rolou para o lado, sua grande boca abrindo, um longo fio de baba caindo e acertando o que
tinha sobrado do policial. Ele estendeu a língua, lisa e rosa, a superfície brilhando enquanto deslizava para fora. E
para fora. E para fora, a comprida língua ia de um lado para o outro, tão longa que tocou os restos do policial.
Ainda congelada, Claire olhava desacreditada enquanto a língua era recolhida, deixando pingar sangue. O processo
inteiro só levou um segundo, mas o tempo começou a passar, o coração de Claire batia tão forte que tudo mais
estava em câmera lenta - até quando a criatura pulou no chão de madeira, seu corpo girando no ar e
aterrissando agachado em cima do corpo mutilado.
A criatura abriu a boca de novo e gritou -
- e Claire finalmente conseguiu se mexer, apontando e atirando. O trovão das balas ecoaram pelo corredor,
bam-bam-bam -
- e ainda gritando, a criatura caiu de costas, seus braços batendo. As pernas chutaram pedaços de carne do
cadáver no chão; Claire viu um pedaço de pele, ainda com uma orelha grudada, voar pelo corredor e bater na
parede, deslizando até o chão -
- e a criatura se desvirou, partindo em um arremesso. Ele engatinhou até ela, rápido como um raio, agarrando o
chão com suas garras e uivando.
Claire atirou de novo, não ciente de que também estava gritando enquanto três balas acertaram a coisa,
atravessando a cinza massa que saia de seu crânio. Ela ia morrer, estará nela em menos de um segundo, as
garras estavam a centímetros de suas pernas -
- e tão subitamente quanto o ataque foi, estava acabado. Cada parte do robusto corpo tremeu, balançou
enquanto um líquido claro gotejava de sua cabeça, as grossas garras batendo no chão de madeira
ritimadamente. Com um último choro, a criatura morreu. Não houve erro desta vez. Ela acertou o cérebro, não
vai se levantar.
Ela olhou para o monstro, sua mente procurando por algo parecido, algum animal - mas ela desistiu, percebendo
que era uma causa perdida. Não era uma criatura natural e por mais que parecesse, ela finalmente sentiu o
cheiro - o odor não era tão picante quanto o dos zumbis. Era um amargo e oleoso cheiro, mais químico do que
animal...
... podia cheirar como bolachas de chocolate, quem se importa? Raccoon City ganhou monstros, é hora de parar
de ficar tão surpresa ao ver um deles.
Por mais que quisesse se sentir brava e determinada, pensou seriamente em voltar para o escritório do
S.T.A.R.S. e trancar a porta. Poderia se esconder e esperar a ajuda, poderia estar a salvo -
Decida. Faça algo, de um jeito ou de outro, pare de hesitar e choramingar, por que não é só você. Estará Sherry
a salvo? Você quer viver às custas da vida dela.
Claire deu um cuidadoso passo sobre a criatura e agachou perto do que sobrou do policial, usando a ponta da
arma para virar um pedaço do uniforme. Ela respirou bile enquanto vasculhava os restos, tentando não imaginar
quem o policial foi ou como morreu.
Nada, e agora ela só tem sete balas - mas ela rejeitou o pânico, deixando a decepção abastecer sua
determinação. Se ela examinou um monte de carne, poderia examinar outro.
Com um último olhar para a criatura, Claire levantou e andou rápido para o fim do corredor, decidida: sem se
#
esconder e sem correr do medo. Pelo menos ela pode levar algum monstro consigo, aumentando as chances de
Sherry sobreviver.
Seria melhor morrer tentando do que não tentar. Ela não vai hesitar novamente.
[15]
Leon encontrou Ada no canil, fazendo força para erguer a enferrujada tampa do poço que tinha sido mencionada
pelo repórter. Ela tinha achado um pé-de-cabra e o colocou sob a tampa, seu bem definido bíceps brilhava com o
suor enquanto puxava a tampa. Ela conseguiu erguer a tampa um centímetro, mas deixou cair assim que ele
apareceu, o som metálico bem alto no vazio lugar.
Antes que ele pudesse dizer alguma coisa, ela soltou a barra no chão de cimento e olhou para cima, dando um
meio sorriso, esfregando as mãos sujas.
"Ainda bem que está aqui. Não acho que sou forte o bastante para conseguir sozinha...".
Ele não tinha certeza antes mas aquele indefeso sorrisinho apertou o nó; ela estava enganando ele, ou tentando.
Ele conheceu Ada há vinte minutos e nunca achou que ela fosse indefesa para nada.
"Parece estar indo bem". Ele disse, guardando a arma e sem se mexer para ajudar. Ele cruzou os braços,
franzindo. Não estava bravo, só curioso.
"Qual é a pressa? Pensei que você quisesse falar com o repórter. Sobre John, seu amigo da Umbrella...".
As expressões dela ficaram frias e duras, mas não de um modo ruim; ela foi bem cuidadosa para evitar as
perguntas de Leon, mas desta vez a Sra. Wong terá que explicar algumas coisas.
Ada se levantou e o olhou. "Você ouviu - ele não ia contar nada para nós. E perigoso como esse lugar é, eu não
quero ficar esperando por aí...".
A voz dela suavizou. "... e eu nem sei se John está em Raccoon. Mas eu sei que não está aqui - e eu quero sair
da delegacia antes que seja completamente dominada".
Parecia bom, mas por algum motivo, ele sentia que Ada estava escondendo algo. Por alguns segundos, ele fez
força para achar o modo correto de fazê-la se abrir - depois deixou de lado; sob as circunstâncias, agrados ficarão
suspensos.
"O que está acontecendo, Ada? Você sabe de algo e não quer me contar?".
Ela olhou para ele de novo, e de novo, ele acha que a surpreendeu - mas o olhar dela estava mais ilegível do que
nunca.
"Eu só quero sair daqui". Ela disse, e a sinceridade na sua voz era inegável. Ele podia não acreditar em nada do
que ela disse, mas nisso ele tinha que acreditar.
Queria que fosse fácil assim, mas tem a Claire, Ben, nosso amigo idiota, e só Deus sabe lá quantos outros.
Leon balançou a cabeça. "Eu não posso ir. Como eu disse, eu posso ser o único policial restando. Se ainda houver
sobreviventes, eu preciso tentar ajudá-los. E eu acho melhor você vir comigo".
Ada deu outro sorrisinho. "Eu aprecio sua preocupação, Leon, mas eu posso cuidar de mim mesma".
Ele não duvidava - mas também não queria vê-la testar suas habilidades. Ele também não foi bem testado, mas
foi treinado para lidar com situações críticas, era seu trabalho.
E seja honesto consigo mesmo - você perdeu Claire, não pode ajudar Branagh, e Ben não quis saber de sua
proteção; você não quer falhar com Ada. E você não quer ficar sozinho.
Ada parecia saber o que ele pensava. Antes que ele pudesse falar algo convincente, ela se aproximou e tocou o
braço de Leon, o humor sumindo de seus olhos.
"Eu sei que precisa fazer sua parte aqui - nós temos que sair de Raccoon, tentar sair e pedir ajuda. E os esgotos
devem ser a melhor chance que temos...".
O toque o surpreendeu - e mandou um tremor para sua barriga, deixando-o confuso e incerto. Ele tentou
esconder a sensação, mas só um pouco.
Ada continuou, franzindo, pensativamente. "Que tal isso - me ajude com a tampa e vemos o que tem lá
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embaixo. Se for perigoso, eu volto com você... mas se estiver ruim - bom, nós conversamos sobre isso depois".
Ele queria protestar, mas a verdade era, ele não podia obrigá-la a fazer algo que não queria - e ele queria muito
que ela não pensasse que ele era do tipo "machão", que ele estava aberto a um compromisso...
... e o nome John te lembra algo? Pare de pensar em seus hormônios.
Sentindo-se estranho ao pensar nisso com ela ainda o tocando, Leon se afastou, acenando ligeiramente. Juntos,
eles se agacharam perto da tampa. Leon pegou o pé-de-cabra e encaixou na tampa; assim que ele a levantava,
Ada empurrou a barra. Com um alto rangido metálico a tampa abriu -
- e ambos se afastaram por causa do cheiro que saiu do buraco, um sufocante cheiro de sangue, vômito e urina.
"Eca, o que é isso?". Leon tossiu.
Ada sentou nos calcanhares, tampando a boca com a mão. "Os corpos da garagem, devem ter sido jogados
aqui -".
Antes que ele pudesse perguntar do que ela estava falando, um grito de puro terror ecoou pelo subsolo, filtrado
pela porta fechada. O grito continuou e continuou, um homem, o aterrorizado grito mudando para um berro de
dor.
O repórter.
Leon travou seu olhar com o de Ada, viu a mesma percepção nela - e já estavam correndo, empunhando armas
e cruzando a porta antes dos ecos morrerem.
Eu o deixei, eu não devia -
Eles correram para a área das celas, a culpa fazendo Leon correr o mais rápido que podia. Alguém ou algo achou
Bertolucci.
Sherry parou no escritório de Irons, esfregando seu colar da sorte e rezando para que Claire voltasse. Ela
engatinhou por vários túneis empoeirados para se livrar do monstro e mantê-lo longe de Claire, e tinha certeza de
que funcionou - ela não o ouviu de novo e voltou só para descobrir que Claire tinha partido; se o monstro a
tivesse achado, estaria morta e partida ao meio.
Mas ela não está aqui. Ninguém está...
Sherry sentou na ponta da mesa no meio da sala, pensando no que faria. Ela tinha se acostumado com a solidão,
mas Claire mudou tudo, queria vê-la de novo, queria estar com outras pessoas, queria tanto os pais que
começou a doer. Até Sr. Irons seria bom, apesar de Sherry não gostar dele; ela só o viu algumas vezes e ele era
estranho, orgulhoso e falso - e seu escritório era pavoroso.
Mesmo assim, ela ficaria grata com a presença dele, só para não ficar sozinha -
Passos. No corredor fora da sala.
Sherry levantou e correu para a porta aberta que ia para a sala das armaduras, esperando que fosse Claire e
pronta para correr se não fosse. Ela se escondeu atrás da porta e prendeu a respiração, olhando para o tigre
empalhado e rezando.
A porta externa abriu e fechou. Abafados e vagarosos passos no carpete, e Sherry tentou correr, ao mesmo
tempo criando coragem para dar uma olhada -
"Sherry?".
Claire.
"Estou aqui!".
Ela correu par o escritório e lá estava Claire, iluminada com um sorriso. Sherry voou nos braços dela, tão feliz em
vê-la que quis chorar.
"Eu estava procurando você". Claire disse, abraçando-a fortemente. "Não corra daquele jeito de novo, está
bem?".
Claire se ajoelhou na frente dela, ainda sorrindo - mas Sherry pôde ver a preocupação em seu olhar.
"Eu sinto muito". Sherry disse. "Eu tive que correr senão o monstro viria".
Como ele se parece?". Claire perguntou, apagando o sorriso. "Ele é meio vermelho com garras?".
Sherry suspirou. "Os homens do avesso! Você viu um, não viu?".
Claire riu, balançando a cabeça. "É, é exatamente o que eu vi, um homem do avesso... boa descrição".
Claire olhou mais seriamente para Sherry, franzindo "Homens? Existem mais deles?".
"Sim, mas nem se comparam com o monstro. Eu só o vi uma vez, de costas, e é gigante -".
"Careca? Vestindo um longo casaco?".
#
"Não, ele tinha cabelo, cabelo claro. E um de seus braços era todo estragado, bem mais comprido que o outro".
Claire suspirou. "Ótimo. Raccoon tem algo diferente para cada um, parece que...".
Ela segurou a mão de Sherry, esfregando-a "... e é mais uma razão para ficar comigo. Você fez um ótimo
trabalho cuidando de si mesma, foi muito corajosa - mas até acharmos seus pais, é meu dever cuidar de você. E
se o monstro vier, eu vou - eu vou chutar o traseiro dele, tá bom?".
Sherry riu, surpresa. Ela gostava de Claire falando para cima com ela. Sherry acenou e Claire esfregou sua mão
de novo.
"Bom. Então nós temos zumbis, homens do avesso, e um monstro. E um grandão careca... Sherry, você sabe o
que aconteceu em Raccoon? Como tudo isso começou, pode dizer qualquer coisa - pode ser importante".
Sherry franziu, pensando. "Bom, houve um monte de mortes em Maio e Junho passado, acho - umas dez
pessoas foram mortas. Depois a mortes pararam, e algumas semanas atrás alguém foi atacado de novo".
Claire acenou. "Certo. Mais alguém foi atacado, ou... o que a polícia fez?".
Sherry balançou a cabeça. "Eu não sei. Logo depois que aquela garota foi atacada, minha mãe ligou do trabalho
muito preocupada, disse que eu não podia sair de casa. A Sra. Willis - nossa vizinha - veio fazer o jantar para mim
e assim soube daquela garota. Mamãe ligou de novo no dia seguinte, e me disse que papai e ela estavam presos
no laboratório e não voltariam por um tempo - e então, três dias atrás, ela pediu que eu viesse para cá. Eu fui
ver se a Sra. Willis viria comigo, mas sua casa estava escura e vazia. Acho que as coisas já estão bem ruins".
Claire ouvia atentamente "Você ficou sozinha todo esse tempo? Mesmo depois que chegou aqui?".
"Bem, sim, mas eu sempre fico sozinha. Meus pais são cientistas; seus trabalhos são importantes e às vezes não
podem interrompê-los. Minha mãe sempre diz que eu sou auto-suficiente quando quero".
"Você sabe que tipo de trabalho seus pais fazem? Na Umbrella?
"Eles fazem curas para coisas, para doenças". Sherry disse orgulhosa. "Eles fazem remédios, soros que hospitais
usam...".
Sherry parou, percebendo que Claire parecia distraída, seu olhar bem distante. Era o olhar que viu muitas vezes
nos rostos de seus pais - e significava que não estavam mais ouvindo. Mas assim que parou de falar, Claire
voltou para ela, tocando seu ombro - e por algum motivo bobo, aquilo a fez querer chorar novamente.
Deve ser porque ela está me ouvindo. Porque ela quer cuidar de mim.
"Sua mãe está certa,". Claire disse gentilmente. "você é muito auto-suficiente, e o que fez até agora diz que é
muito corajosa, também. Isso é bom, por que nós duas precisamos ser fortes para sairmos daqui".
Sherry abriu mais os olhos. "Como assim. Deixar a delegacia? Mas tem zumbis por toda a parte, e eu não sei
onde os meus pais estão, e se eles precisam de ajuda ou estão me procurando -".
"Meu bem, eu tenho certeza de que eles estão bem". Claire disse rapidamente. "Eles ainda devem estar no
laboratório, escondidos em segurança, igual você esteve - esperando ajuda para, para fazer tudo ficar melhor -".
"Você diz, matar todo mundo,". Sherry disse. "eu tenho doze anos, sabe, não sou mais um bebê".
Claire sorriu. "Desculpe. É, para matar todo mundo, sim. Mas até os homens bons virem, nós ficaremos juntas. E
a melhor e mais inteligente coisa a fazer é sair do caminho deles - o mais longe possível. Você tem razão, as ruas
não são seguras, mas quem sabe nós achamos um carro...".
Claire se levantou e foi até a mesa de Irons, olhando em volta. "Talvez Chefe Irons tenha deixado as chaves do
carro aqui, ou outra arma, algo que possamos usar -".
Claire viu algo no chão atrás da mesa. Ela se agachou e Sherry foi atrás, tanto para ficar perto quanto para ver o
que ela tinha achado.
"Tem sangue aqui". Claire disse tão baixo que parecia não ter dito nada.
"E?".
Claire olhou para a parede, franzindo, depois voltou para a grande mancha de sangue no chão. "Ainda está
úmido. Repare como ela é simplesmente cortada. Devia ter mais na parede aqui...".
Ela bateu na parede, ouvindo um som vazio, oco.
"Tem alguma sala aí atrás?". Sherry perguntou.
"Eu não sei, parece que sim. E explicaria para onde ele levou... por onde ele tinha saído antes. Chefe Irons".
Claire olhou para Sherry enquanto corria a mão pela parede e empurrando. "Sherry, veja se tem algum botão ou
alavanca perto da mesa. Acho que deve estar escondido em algum lugar, talvez em uma das gavetas...".
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Sherry começou a andar atrás da mesa - e tropeçou, seu pé deslizando em algum lápis. Ela se segurou na mesa
para recuperar o equilíbrio, mas ainda assim caiu de joelhos.
"Ai!".
Claire estava à sua direita, já segurando seus ombros. "Você está bem?".
"Estou. Eu só - ei! Olha!".
Sherry apontou para um botão sob a mesa, no meio de uma placa de metal. Parecia um interruptor de luz, mas
tinha que ser para a porta secreta, ela sabia.
Eu achei!
Claire viu e apertou - e atrás delas, um seção da parede deslizou para cima, desaparecendo no teto, e expondo
uma outra sala de tijolos. Um frio e úmido ar entrou no escritório; era uma passagem secreta, igual às dos filmes.
Juntas, se levantaram e entraram na abertura, Claire segurando Sherry até olhar primeiro. A pe-quena sala
estava vazia - três paredes de tijolos, chão de madeira e uma grande e antiga grade de elevador na parede da
direita, daquelas que abrem para o lado.
"Nós vamos pegá-lo? Sherry perguntou. Ela estava ansiosa e nervosa.
Claire pegou sua arma, se agachou para Sherry e sorriu - mas não era um sorriso feliz, e Sherry já sabia o que ia
ouvir.
"Meu bem, acho que vai ser mais seguro se eu descer e dar uma olhada, e você ficar aqui -".
"Mas você disse que ficaríamos juntas! Você disse que podíamos pegar um carro e fugir! E se o monstro voltar e
você não estiver aqui, ou se você morrer?".
Claire a abraçou, e Sherry quase enjoou de tanta raiva. Ela ia dizer para não se preocupar, que o monstro não vai
voltar, que nada ruim ia acontecer - e depois iria embora.
Adultos mentirosos -
Claire se afastou, tirando o cabelo do rosto de Sherry. "Eu não a culpo por estar assustada. Eu também estou.
Esta é uma situação ruim - e sinceramente, eu não sei o que vai acontecer. Mas eu quero fazer a coisa certa por
você, e isso quer dizer que eu não vou levá-la para um lugar onde pode se machucar, não se eu puder ajudar".
Sherry guardou as lágrimas e tentou de novo. "Mas eu quero ir com você... e se você não voltar?".
"Eu vou voltar,". Claire disse. "eu prometo. E se - se eu não voltar, eu quero que se esconda novamente. Alguém
virá ajudar em breve, e vão te achar".
Pelo menos estava sendo honesta; Sherry não estava gostando, e não tinha nada que pudesse mudar a decisão
de Claire. Poderia agir como um bebê ou apenas aceitar.
"Tome cuidado". Claire disse, e abraçou Sherry antes de ficar de pé e ir para a o elevador. Ela apertou o botão ao
lado da grade e um leve hum foi ouvido; depois de alguns segundos a cabine veio de baixo, parando gentilmente.
Claire abriu a grade e entrou, virando para ver Sherry.
"Fique aqui, querida, eu voltarei em alguns minutos".
Sherry forçou um aceno - e Claire fechou a grade. Ela apertou algo lá dentro e a cabine desceu, seu sorriso
saindo de visão, deixando a garota sozinha na fria passagem.
Sherry sentou-se no chão empoeirado e abraçou os joelhos. Claire era corajosa e esperta, ela voltará logo, ela
tem que voltar logo...
"Eu quero minha mãe". Sherry cochichou, mas ninguém estava lá para ouvir. Ela estava só de novo; tudo o que
menos queria.
Mas eu sou forte. Eu sou forte e posso esperar.
Ela descansou a bochecha em um joelho, tocando seu colar da sorte, e começou a esperar por Claire.
[16]
Annette Birkin sentou-se na sala de monitoramento, exausta, observando a parede de monitores centrada sobre
a mesa de vigilância. Ela tem estado lá pelo que parecem anos, esperando William aparecer, e começou a pensar
#
que não iria. Ela vai esperar mais um pouco - mas se não vê-lo em breve, terá que fazer outra busca.
Maldita tecnologia...
É um sistema novinho em folha, tem menos de um mês - vinte e cinco telas com um controle de canais que
deveria permiti-la ver cada canto desse laboratório. Um brilhante avanço na segurança - exceto por onze ainda
estarem funcionando, e mais da metade dessas estarem mostrando estática. Das cinco que ainda podia ver
claramente, tudo o que via - e tinha o que ver - estava morto, corpos podres e o ocasional Re3, que comia ou
dormia.
"Lickers (linguarudos). Você os chama de lickers por causa de suas línguas...".
Ela achou que tinha passado pelo pior da dor, mas o solitário som de sua voz na fria e cavernosa câmara, a fez
perceber que não tinha ninguém para responder - não haverá mais ninguém para responder. William se foi, se foi
e ela estava falando sozinha.
Annette abaixou a cabeça na mesa de controle, fechando seus cansados olhos. Pelo menos não haviam mais
lágrimas; ela já tinha despejado um oceano delas desde que a Umbrella veio atrás do G-virus. Agora só há dor,
combinada com fúria pelo que a Umbrella tinha feito.
Mais um mês, talvez dois, e nós teríamos dado a eles, sem nenhuma força. E William teria entrado para a
comissão de executivos e nós ficaríamos felizes. Todos ficariam -
Houve um fraco ruído vindo de um dos monitores. Annette olhou para cima esperando e tremendo - mas era só
um licker, um andar acima, no centro cirúrgico. Ele tinha acordado e caído do teto para jantar um dos técnicos,
uivando estupidamente para si mesmo enquanto rasgava o abdômen do corpo. O homem morto parecia ser Don
Weller, um dos intermediários do laboratório químico; ele estava tão mutilado quanto a inumana aparência do Re3
que o comia.
Ela observou o licker se alimentar, olhando para o monitor mas não o vendo; sua mente pensando no que tinha
sobrado para fazer. Ela já tinha apagado todos os computadores e os travado com códigos; o laboratório estava
pronto e sua rota de fuga era segura. Só que ela não podia terminar tudo até vê-lo de novo, ver que ele tinha
voltado para o laboratório da Umbrella. Destruir o lugar não adiantaria nada se ele não estivesse na zona de
explosão; eles o encontrariam e extrairiam o vírus de seu sangue...
... mas a Umbrella não vai consegui-lo. Eu vou morrer antes de deixá-los conseguir, então me ajude, Deus.
Seu único consolo era que a Umbrella não conseguiria por suas mãos gananciosas na síntese de William. E nunca
porão. Tudo o que foi usado na criação do G-virus será enterrado sobre toneladas de destroços, junto com
William e todos os monstros que eles criaram para a companhia. Depois ela irá se esconder por um tempo, se
recuperar e considerar suas opções - e então, venderá o G-virus para a concorrência. A Umbrella era a maior,
mas não era a única trabalhando em armas biológicas - quando Annette estiver quite com ela, não será mais a
maior. A vingança era tudo o que tinha restado.
"Exceto por Sherry". Annette cochichou, e a lembrança de sua jovem filha fez seu coração doer. Desde que
Sherry nasceu, Annette quis ter passado mais tempo com ela, se concentrar no bebê ao invés de ser parte do
brilhante trabalho de William.
Os anos se passaram e as promoções de William continuaram vindo, o trabalho ficou mais interessante e valioso -
e apesar de ambos terem prometido fazer um esforço para desenvolver a vida familiar, continuaram adiando.
E agora é tarde demais. Nunca seremos uma família, nunca seremos pais juntos. Todo aquele tempo perdido,
trabalhando para uma companhia que acabou nos esgotando...
Não adianta mais pensar em como teria sido. Tudo o que podia fazer era não deixar a Umbrella tirar mais nada
da família Birkin. William se foi, mas ainda tinha Sherry; essa parte dele continuará, e Annette poderá ser a mãe
que deveria ter sido. Claro, ela terá de esperar alguns meses antes de pegar Sherry, esperar a coisas se
acalmarem. Mas a garota ficará bem; os policiais a levarão para morar com a irmão de William, estava em ambos
os testamentos...
... a não ser que Irons ainda esteja vivo. Aquele gordo ganancioso achará um jeito de estragar até isso.
Ela esperava que estivesse morto; mesmo se não fosse responsável pelo que a Umbrella fez, Brian Irons era
nojento e arrogante, com a moral de uma lesma. Depois de anos de lealdade à companhia, foi comprado por
míseros cem mil dólares. Até William, que tinha uma opinião mais baixa sobre o chefe da polícia do que ela, se
surpreendeu...
Na tela, o Re3 terminou de comer. Tudo o que sobrou do corpo foram as costelas ensangüentadas e a parte de
trás do crânio. O licker saiu de visão, deixando um rastro escuro no chão. Graças ao T-virus, todas séries répteis
#
foram eficientes assassinos, apesar dos Re3 terem apresentado falhas - o cérebro exposto era a mais óbvia, e
também tinham um ridículo alto índice de metabolismo; mantê-los alimentados foi uma discussão constante.
Não é mais problema. Tem vários corpos por aí - mais cedo ou mais tarde poderão comer algo quente...
Annette sentiu falta de energia, não queria sair da sala - mas não podia ficar esperando William aparecer. Ela o
ouviu no nível três uns dois dias atrás, mas não o via a quase quatro; ela não podia ficar esperando. O pessoal da
Umbrella já deve estar pensando em como entrar - mesmo com o computador central apagado, haviam outros
modos de passar pelas portas -
- e William pode ter saído. Não posso mais negar isso, não importa o quanto eu queira.
Havia uma fábrica à oeste do laboratório, uma companhia de transporte que foi comprada pela Umbrella, para
assegurar que os níveis subterrâneos ficassem secretos; foi assim que a Umbrella conseguiu construir o complexo
sem levantar suspeitas, escondendo equipamentos e materiais nos galpões, e usando a grande plataforma móvel
para transportá-los. Apesar das entradas da fábrica ainda estarem fechadas, desde que verificou pela última vez,
havia uma possibilidade de que William possa ter saído - e se chegou na fábrica, podia chegar aos esgotos.
Annette esforçou-se para levantar, ignorando as cãibras nas pernas e costas enquanto pegava a arma da mesa.
Ela não sabia muito sobre armas, mas aprendeu bem rápido depois que -
- que eles vieram pegar o G-virus, os homens usando máscaras de gás, atirando e correndo - e William, pobre
William, morrendo numa poça de sangue, e eu não vi a seringa antes de ser tarde demais -
Ela respirou fundo, tentando esquecer essa terrível memória, tentando esquecer o incidente que tirou William dela
e transformou Raccoon na cidade dos mortos. Isso não importava mais. A jornada à frente não será prazerosa,
e ela tinha que se concentrar. Fuja dos Re3, humanos no primeiro e segundo estagio de infecção, os
experimentos de botânica e a série de aracnídeos - ela podia se deparar com qualquer um deles, sem mencionar
o que a Umbrella possa ter enviado.
E William. Meu marido, meu amado - o primeiro humano portador do G-virus, que já não é mais humano.
Annette estava errada sobre achar que não tinha mais lágrimas. Ela parou no meio da vasta e esterilizada sala,
cinco andares sob a superfície de Raccoon, e chorou, perdida, respondendo aos estímulos que nunca se quer
tinham tocado a dor de sua solidão.
A Umbrella sentirá muito. Uma vez certa de que William esteja fora do alcance deles, ela destruirá o laboratório,
fugirá com o G-virus, os fará entender como estragaram tudo - e que Deus ajude quem tentar impedi-la.
[17]
Ada correu pelo bloco das celas, a um passo atrás de Leon, bem a tempo de ver o repórter sair da cela e cair no
chão. "Ajude-o!".
Leon gritou, e passou por Bertolucci para verificar a cela. Ada parou em frente ao sufocado repórter, mas ignorou
a ordem, esperando ver a criatura que o atacou sair da cela -
- ele estava atrás das grades, como isso aconteceu -
Ela esperou, mirando na cela, seu coração pulando - e viu a confusão no olhar de Leon. Pelo modo como olhava,
a disse que a cela estava vazia. A não ser que o agressor fosse invisível...
Sem chance. Não comece a pensar nisso.
Ada se ajoelhou ao lado do repórter, percebendo imediatamente que ele não estava bem - nada bem. Ele tinha
se sentado e encostado na parede que dividia as duas celas. Ele ainda respirava. Ada já tinha visto essa
aparência antes, o distante olhar, a tremedeira, a palidez - mas ela não via o porquê, e isso a assustava. Não
havia ferimentos. Deve ter sido um ataque cardíaco, talvez um derrame -
- mas aquele grito.
"Ben? Ben, o que aconteceu?".
#
Seu vacilante olhar vidrado no dela, e Ada viu que os cantos de sua boca estavam rasgados e sangrando. Ele
abriu a boca para falar, mas tudo o que saiu foi um resmungo.
Leon se agachou junto a eles, confuso, também. Ele balançou a cabeça para ela, respondendo a pergunta que
não tinha feito; não haviam sinais do que tinha acontecido.
Ada olhou para Bertolucci e tentou novamente.
"O que foi, Ben? Você consegue nos dizer o que aconteceu?".
As trêmulas mãos do repórter subiram pelo corpo até pararem no peito. Com um esforço visível, ele tentou dizer
uma palavra.
"...abertura...".
Ada não tinha certeza. As aberturas nas paredes das celas eram muito pequenas e muito distantes do chão -
nada mais do que um tubo de ventilação que dava na garagem. Nada podia ter passado por lá.
Bertolucci ainda tentava falar. Ada e Leon se aproximaram, tentando entender suas palavras.
"... peito. Queima, tá... queimando...".
Ele estendeu a mão de repente e agarrou o braço dela, encarando-a com uma intensidade que a surpreendeu.
Ele apertou fracamente, com desespero em seus olhos.
"Eu nuca falei... sobre Irons". Ele respirou, fazendo força para continuar vivo até dizer tudo. "Ele está -
trabalhando para a Umbrella... todo esse tempo. Os zumbis - são pesquisas da Umbrella... e ele acobertou os
assassinatos, mas eu não consegui - provar, ainda... ia ser meu - furo".
Bertolucci fechou os olhos, respirando forte enquanto soltava o braço dela, e ela sentiu pena dele ao invés de si
mesma. Seu grande segredo era que a Umbrella tinha armas biológicas e Irons estava nessa. Teria sido um
grande furo.
Ele não sabe nada sobre o G-virus, nunca soube - e vai morrer sem reconhecimento.
"Jesus," Leon disse suavemente. "o chefe Irons..."
Bertolucci começou a ter convulsões, suas mãos apertando seu peito enquanto gemia de agonia. Suas costas se
curvaram, seus dedos como garras -
- e o gemido virou líquido enquanto sangue começou a borbulhar em sua boca. Engasgando e tremendo, seus
membros se debateram violentamente, espirros de sangue voando a cada tossida -
- e Ada viu vermelho surgir na camisa branca sob as mãos dele, ao som de ossos quebrando. Ela se afastou
assim que Leon tentou segurar as mãos de Ben, incerto do que estava acontecendo, mas certo de que não era
um ataque cardíaco -
- Santo Deus, o que é aquilo?
Tudo ao mesmo tempo, Ben foi para a frente e seus olhos viraram. Sangue ainda saía de sua boca e houve um
som, um horrível som de carne sendo rasgada, e sob sua camisa, algo mexeu.
"Afaste-se". Ada gritou apontando sua Beretta para Ben, e no segundo que levou para ela mirar, uma coisa
emergiu do ensangüentado peito de Bertolucci. Uma coisa do tamanho de uma mão, que abriu a boca e deu um
baixo berro, mostrando afiados e vermelhos dentes. O bicho saltou do corpo com uma chicoteante cauda, caindo
no cimento junto com pedaços de pele e carne - e correu como uma bala na direção do portão aberto para o
corredor, sua cauda balançando e pernas que Ada não conseguia ver, deixando um rastro vermelho para trás.
A coisa passou pelo portão antes de ela se lembrar que tinha uma arma; ela estava tão chocada que não pensou
em reagir. Uma criatura parasita que rasga seu peito - direto de um filme de ficção...
"O que era - você viu -". Leon disse, sem fôlego.
"Eu vi". Ada cochichou, interrompendo-o. Ela virou e olhou para Bertolucci, para seu rosto, estático numa
contorção angustiosa, e para o rasgo em seu peito.
A boca, rasgada nos cantos...
A criatura foi implantada nele - mas pelo que? Ela não sabia, e nem queria saber. Ela queria completar a missão e
sair de Raccoon o mais rápido possível. De fato, ela nunca quis tanto uma coisa. Quando se deu conta de que
houve um acidente com o T-virus, não esperava ter que lidar com organismos desagradáveis.
Ela olhou para Leon, desistindo de tentar ser razoável. Ela ia para o laboratório e não tinha o que discutir.
"Estou saindo daqui". Ela disse, e sem esperar respostas, virou-se e andou rapidamente para o portão, atenta
para não pisar no rastro de sangue.
"Espere! Olha, eu acho - Ada? Ei...".
Ela saiu no corredor de arma erguida, mas a criatura já tinha sumido. O rastro desaparecia no meio do corredor -
#
e viu que eles tinham esquecido a porta do canil aberta -
- e a tampa do poço também. Que ótimo.
Leon a alcançou e parou na sua frente. Por um momento, Ada achou que ele a fosse parar fisicamente.
Não faça isso. Eu não quero te machucar, mas vou se for preciso.
"Ada, por favor, não vá". Leon disse, não uma ordem, mas sim um pedido. "Eu - quando cheguei em Raccoon,
conheci uma garota e acho que ela está na delegacia. Se você puder me ajudar a encontrá-la, poderemos fugir
juntos. Teríamos mais chances -".
"Sinto muito, Leon, mas esse é um maldito país livre. Você faz o que tem que fazer, e boa sorte - mas eu não
vou ficar. Já foi o bastante. Se - quando eu sair, mandarei ajuda".
Ada passou por ele, esperando que não houvesse violência e que ele não tentasse impedi-la - vai ser muito
perigoso se ele tentar - foi quando ele a surpreendeu de novo.
"Então eu vou com você". Ele disse, seu olhar firme, decidido - e assustado. "Eu não vou deixar você ir sozinha.
Nem ninguém - não quero que você se machuque".
Ada olhou, sem saber o que dizer. Depois que Bertolucci morreu, ela não queria enganar Leon nos esgotos,
considerando o quanto extenso o sistema era... mas ele era tão bom, tão determinado em ajudar que ela estava
começando a - a não querer fazer mal a ele. Tudo seria mais fácil se ele fosse algum idiota metido a machão...
Tá bom, tire seu disfarce. Diga que é uma agente particular querendo roubar o G-virus e não quer companhia;
diga sobre o alívio que sentiu ao saber que o repórter iria morrer, ou que não tem problemas para tirar uma vida,
se for por uma boa causa - como ser paga. Veja o quanto bom ele será depois disso.
Não é uma opção. Mas havia uma parte dela que não queria admitir, uma parte que não queria ficar só. Ver o
que aconteceu com Bertolucci a fez perceber que não era tão invulnerável quanto gostava de pensar.
Então deixe-o vir, ache um lugar seguro no laboratório para deixá-lo. Sem danos nem sujeira.
Leon a olhava de perto, estudando-a - esperando sua aprovação.
"Vamos". Ela disse, e o sorriso que ele deu, apesar de vitorioso, a fez se sentir mais desconfortável.
Sem outra palavra, eles foram para o canil, Ada pensando no que estava fazendo - mas ainda capaz de fazer o
que for necessário para completar a missão.
Claire parou na frente de uma porta medieval no fim do escuro corredor o qual o elevador a tinha levado. A
delegacia era fria, mas a gelada umidade das pedras na parede do corredor fazia a delegacia parecer o verão; é
como se ela tivesse descido no calabouço de um castelo assombrado da Idade Média.
Ela respirou fundo, decidindo como entrar; ela estava certa de que Irons não gostaria de uma visita surpresa,
mas a idéia de bater era absurda - e perigosa. Haviam tochas acesas em suportes, uma de cada lado da porta
de madeira, a mesma envolta numa moldura de metal enferrujado.
Um túnel secreto, uma porta escondida com iluminação ambiente... que pessoa sã moraria aqui? Não foi o
desastre que fez isso - Irons devia ser louco bem antes do acidente da Umbrella...
Quando Sherry disse o que seus pais faziam para viver e o que aconteceu antes de chegar à delegacia, algo
clicou. A Umbrella trabalhava com doenças e a população de Raccoon certamente teve um grave caso de algo.
Deve ter sido algum tipo de acidente, um vazamento que soltou a estranha praga zumbi...
Claire mordeu o lábio, incerta do que fazer. Ela sabia que Irons estava em algum lugar lá embaixo, e não queria
vê-lo de novo; talvez ela deva voltar, pegar Sherry e tentar achar outra saída. Só porque é uma área secreta não
significa que haja uma saída lá.
Sherry estava lá em cima sozinha. E você tem uma arma, lembre-se?
Uma arma com poucas balas. Se for o esconderijo de Irons, devem haver armas lá dentro... ou apenas outro
corredor. Mas imaginar não a dirá nada.
Claire tocou a maçaneta e respirou fundo. A pesada porta abriu vagarosamente em dobradiças bem cuidadas. Ela
recuou apontando a arma -
Jesus.
Uma sala vazia, tão úmida e não receptiva quanto o corredor - mas com móveis e uma decoração que fez sua
pele arrepiar. Uma única lâmpada estava pendurada no teto, iluminando a mais pavorosa câmara que já tinha
visto. Tinha uma mesa no meio da sala, manchada e batida, um serrote e outros objetos cortantes espalhados
em cima; um balde de metal e um esfregão encostados numa parede, ao lado de uma estante cheia de
recipientes empoeirados - e o que pareciam ossos humanos, polidos e brancos, postos como troféus. Isso, e o
cheiro - um pesado e ácido cheiro químico que envolvia um outro pior. Um cheiro como loucura.
Só de olhar a sala a fez enjoar; "louco" devia ser o nome do ano do chefe da polícia - mas não havia ninguém lá.
Isso quer dizer que deve haver outra passagem secreta lá dentro. Pelo menos ela pode procurar por armas.
Engolindo, Claire entrou na sala, grata por não ter trazido Sherry; olhar para essa câmara de tortura a daria
pesadelos -
"Parada, mocinha, ou eu atiro".
Claire congelou. Cada músculo de seu corpo travou assim que Irons começou a rir atrás dela, de trás da porta
onde não pensou em olhar.
Oh, meu Deus, oh, Deus, oh, Sherry eu sinto muito -
O riso de Irons cresceu para a pura e alegre gargalhada de um louco, e Claire entendeu que iria morrer.
CONTINUA
Raccoon Times - 26 de Agosto de 1998
Plano "manter a cidade segura"
RACCOON CITY - Na frente da prefeitura, o Prefeito Harris anunciou ontem à tarde, em uma coletiva, que o conselho da cidade estará contratando pelo menos dez novos policiais para se juntar à polícia de Raccoon, por causa dos assassinatos brutais que atormentaram Raccoon no começo deste verão e devido a suspensão do S.T.A.R.S.. Junto com o Chefe Irons e todo os membros do conselho de Raccoon, Harris assegurou os cidadão e repórteres que a cidade será mais uma vez uma comunidade segura na qual se vive e trabalha, e que a investigação dos onze assassinatos "canibais" e dos três ataques animais fatais estão longe da solução.
"Só porque ninguém foi atacado no mês passado significa que os oficiais eleitos desta cidade podem relaxar" declarou Harris. "As boas pessoas de Raccoon merecem ter confiança em sua força policial e estarem seguras de que seus representantes políticos estão fazendo de tudo para dar segurança aos cidadãos. Como muitos de vocês sabem, a suspensão do S.T.A.R.S. será provavelmente permanente. Aquela unidade de investigação de assassinatos e sua subseqüente desaparição de Raccoon City sugere que eles não se importam com essa comunidade - mas eu quero assegurar vocês que nós nos importamos, e que eu, o Chefe Irons e os homens e mulheres que vocês vêem aqui, não queremos mais nada senão fazer de Raccoon um lugar a qual nossas crianças possam crescer sem medo".
Harris continuou a detalhar um plano de três pontos feito para reforçar a confiança e manter os cidadãos de Raccoon longe da violência.
Além de contratar de dez a doze policiais, o horário de recolher permanecerá ao menos até Setembro, e o Chefe Irons irá pessoalmente comandar uma força tarefa de alguns oficiais e detetives para continuar a busca dos assassinos que tiraram as vidas de onze pessoas entre Maio e Julho deste ano...
Cityside - 4 de Setembro de 1998
Renovação do complexo da Umbrella
RACCOON CITY - A instalação química da Umbrella no sul do centro da cidade começará a ser reformada na próxima Segunda-feira. Esta será a terceira renovação estrutural semelhante a do ano passado para a companhia. De acordo com a porta-voz da Umbrella, Amanda Whitney, dois dos laboratórios dentro da instalação principal serão adaptados com novos equipamentos projetados para síntese de vacinas e receberá um moderno sistema de segurança. Em adição, todos os escritórios conectados terão seus computadores atualizados na próxima semana.
Mas será isso um problema para o trânsito do centro da cidade? Whitney diz, "com o prédio do R.P.D. ainda terminando uma de suas reformas, os passantes locais já estão ficando cansados de ruas bloqueadas. Nós estamos fazendo de tudo para não interferir no trânsito; a maior parte da construção será interna e o resto será feito depois das horas de trabalho". O pátio do R.P.D., nossos leitores devem se lembrar, foi repavimentado e ajardinado depois que algumas rachaduras misteriosas apareceram no cimento; o tráfego teve que ser desviado por dois quarteirões na Rua Oak durante seis dias.
Ao perguntarmos porque tantos "reparos" ultimamente, Whitney respondeu, "a Umbrella tem estado na frente da competição há tanto tempo quanto continua com a atual tecnologia. Estes serão meses de trabalho, mas eu acho que valerá o esforço...”.
Raccoon Weekly Editorial - 17 de Setembro de 1998
Irons vai se candidatar?
RACCOON CITY - O Prefeito Harris pode estar numa difícil corrida na próxima primavera. Notícias de dentro do R.P.D. estão dizendo que Irons, Chefe da Polícia pelos últimos quatro anos e meio; pode estar concorrendo para chegar ao topo do ministério na próxima eleição, contra o popular, e sem oposição Devlin Harris, já no poder por três períodos consecutivos. Embora Irons não tenha confirmado os fatos, o ex-membro do S.T.A.R.S. recusou a negação do rumor.
Com sua popularidade bem alta desde o encerramento do caso dos assassinatos neste verão (ainda não resolvido) e da expansão planejada do RPD, Irons pode ser o homem que tirará Harris da Prefeitura; a questão é, serão os eleitores capazes de esquecer o suposto envolvimento de Irons nos fundos de campanha ilegais em Cider District? Ou seus caros gostos em arte e design interior, o qual tornaram o RPD em algo mais parecido com um museu?...
Raccoon Times - 22 de setembro de 1998
Adolescente atacada no parque
RACCOON CITY - Há aproximadamente 18:30h da noite passada, Shanna Williamson de quatorze anos foi surpreendida por um estranho no parque da Rua Birch no centro da cidade, quando voltava do treino para casa.
O homem veio de trás de uma cerca no parque e a derrubou de sua bicicleta antes de tentar agarrá-la. A jovem conseguiu sair de lá com alguns arranhões, e correu para a residência de Tom e Clara Atkin; Clara chamou as autoridades, que conduziram uma busca no parque, mas não acharam nenhum sinal do agressor.
De acordo com a garota (através de um depoimento hoje de manhã), o homem pareceu ser um pedestre: suas roupas e cabelos estavam sujos, e cheirava mal, "um cheiro de fruta podre". Ela disse que ele parecia bêbado, vacilando e caindo depois dela.
Com a onda de assassinatos de Maio para Julho ainda não resolvidos, o RPD está levando este fato seriamente: o agressor mostrou uma evidente semelhança com os membros da "gangue" do Victory Park em Junho deste ano.
Harris convocou uma coletiva para hoje, e Irons já declarou que o primeiro dos novos policiais chega na próxima semana, e que viaturas patrulharão os parques do centro da cidade...
https://img.comunidades.net/bib/bibliotecasemlimites/3_CITY_OF_THE_DEAD.jpg
[1]
Com o pessoal esperando no carro de Barry lá fora, Jill fez o possível para se apressar. Não era fácil, a casa tinha
sido revirada desde a última vez que esteve lá. Livros e papéis espalhados pelo chão, e estava muito escuro para
andar facilmente. O fato de sua casa ter sido violada era preocupante, mas já era de se esperar. Ela devia estar
agradecida por não ser do tipo sentimental - e pelos intrusos não terem achado seu passaporte.
Na escuridão de seu quarto, Jill pegou meias limpas e calcinhas e as colocou em sua mochila, desejando poder
acender as luzes. Fazer as malas no escuro era mais difícil do que se imaginava, mais ainda com a casa
bagunçada; mas eles não podiam se arriscar. Era improvável que suas casas estavam sendo vigiadas, mas se
alguém estiver olhando, uma luz poderia abrir fogo.
Pelo menos você vai embora. Chega de se esconder.
Eles estavam indo para território estrangeiro, invadir o quartel inimigo e provavelmente serem mortos no
processo, mas pelo menos ela não ficará mais em Raccoon. Pelo que ela leu nos jornais ultimamente, era a
melhor escolha. Dois ataques na semana passada... Chris e Barry estavam cientes do perigo, mesmo sabendo o
que o T-virus fazia com as pessoas - Barry pensou que isso era algum tipo de truque, que a Umbrella "salvaria"
Raccoon antes de alguém se machucar. Chris concordou, mas Jill não estava preparada para assumir nada; a
Umbrella já mostrou que não consegue conter suas experiências. E com o que Rebecca, David e sua equipe
enfretaram em *Maine...
Agora não é hora para pensar nisso - eles tinham um avião para pegar. Jill pegou a lanterna da penteadeira e
estava indo para a sala quando lembrou que só tinha um sutiã consigo. De cara feia, ela virou para a gaveta
aberta e começou a procurar. Ela já tinha roupas o bastante, escolhidas do que Brad deixou para trás quando
fugiu de Raccoon; ela e os outros ficaram na casa dele por várias semanas, desde que a Umbrella atacou a casa
de Barry. Nenhuma roupa de Brad serviu em Chris nem em Barry. Lingerie não era algo que o piloto do
S.T.A.R.S. tinha guardado. Ela não queria parar o avião para comprar roupas íntimas.
Colocando-os na mochila, Jill voltou para a pequena sala da casa. Tinha uma foto de seu pai em uma das
estantes que ela queria pegar. Era a segunda vez que foi lá desde que começaram a se esconder. Ela sente que
não voltará tão cedo.
Andando agilmente pelo escuro, ela ergueu a lanterna e a apontou para o canto onde a estante estava. A
Umbrella bagunçou tudo. Só Deus sabe o que eles estavam procurando. Pistas do nosso esconderijo,
provavelmente; depois do ataque na casa de Barry e a desastrosa missão à Caliban Cove, ela não acha que a
Umbrella ignoraria essas informações.
Jill iluminou o livro que queria, o título era Prison Life; seu pai teria rido. Ela pegou o livro e começou a folheá-lo,
parando quando a luz caiu sobre o sorriso de Dick Valentine. Ele tinha mandado a foto junto com sua última carta.
Ela tinha posto no livro para não perdê-la. Esconder coisas importantes era um hábito que adquiriu quando jovem.
Ela soltou o livro, a pressa foi embora de repente, ao olhar para a foto. Um leve sorriso surgiu em seu rosto. Ele
era o único homem que ficava bem no uniforme laranja da prisão.
Jill pensou no que ele acharia da situação atual; ele foi o responsável pelo envolvimento dela com o S.T.A.R.S..
Depois de preso, ele a encorajou a abandonar essa vida, dizendo que foi um erro treiná-la como uma ladra...
... aí eu peguei um trabalho legítimo, trabalhando para a sociedade ao invés de contra ela - aí as pessoas em
Raccoon começaram a morrer. O S.T.A.R.S. descobriu uma conspiração para criar armas biológicas com um vírus
que torna coisas vivas em mortas. Obviamente ninguém acreditou em nós. Os S.T.A.R.S. que não podem ser
comprados pela Umbrella, perdem a credibilidade ou são eliminados. Agora nós iremos para uma missão suicida na
Europa, tentar invadir o quartel general de uma corporação multibilionária e impedi-los de destruir esse maldito
planeta. O que você acharia? Sendo que você nunca acreditou nessa história, o que você acha?
"Você se orgulharia de mim, Dick". Ela suspirou, incerta se seria verdade. Seu pai queria vê-la em uma linha de
trabalho menos perigosa, e comparado ao que ela e os outros iriam fazer...
Depois de um longo momento, ela colocou a foto cuidadosamente no bolso e olhou para sua casa bagunçada,
ainda pensando na opinião de seu pai sobre tudo isso; se tudo correr bem, talvez ela possa perguntar
pessoalmente. Rebecca e os outros sobreviventes de Maine ainda estavam escondidos, investigando a
organização S.T.A.R.S. e esperando notícias sobre o quartel general da Umbrella. O quartel oficial fica na Europa,
mas eles suspeitavam de que os cabeças por trás do T-virus tinham um complexo secreto em outro lugar -
- a qual você não achará se ficar aí parada; o pessoal achará que você parou para tirar um cochilo.
Jill colocou a mochila e olhou em volta pela última vez antes de voltar para a porta dos fundos, na cozinha. Havia
um leve cheiro de fruta estragada no ar, vindo de uma tigela de maçãs e pêras em cima da geladeira. Apesar de
conhecer bem o cheiro, ela sentiu um calafrio em sua espinha. Ela foi para a porta fechada, tentando bloquear as
súbitas memórias do que eles acharam na mansão de Spencer...
"Jill?".
A porta abriu, a silhueta de Chris na escuridão pela distante luz da rua.
"Bem aqui". Ela disse, andando. "Desculpe pela demora. A Umbrella veio aqui com um trator".
Mesmo com pouca luz, ela pode ver um meio sorriso no rosto dele. "Nós estávamos achando que um zumbi
tinha pego você". Ele disse claramente, mas ela sentiu a preocupação.
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*Maine – Estado localizado na costa leste dos E.U.A.
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Muitas pessoas morreram por causa do que a Umbrella fez na
floresta fora da cidade. Se o acidente tivesse ocorrido mais perto de Raccoon...
"Não teve graça". Ela disse suavemente.
O sorriso de Chris sumiu. "Eu sei. Está pronta?".
Jill acenou, apesar de não se sentir preparada pelo que virá a seguir, tampouco pelo que estão deixando para
trás. Em algumas semanas, seu conceito de realidade transformou pesadelos em rotina.
Corporações malvadas. Cientistas loucos, vírus assassinos. E os mortos-vivos...
"Estou". Ela disse finalmente. "Estou pronta".
Juntos, eles saíram. Assim que ela fechou a porta, sentiu um súbito ar de incerteza - de que ela nunca mais
colocaria os pés em casa novamente, de que os três nunca mais voltariam para Raccoon City...
... mas não acontecerá nada com a gente. Algo acontecerá, mas não conosco.
Franzindo, mão na fechadura, ela tentou dar sentido ao pensamento. Se eles sobreviverem a essa missão, se
eles tiverem sucesso contra a Umbrella, por que não voltariam para casa? Ela não sabia, mas o sentimento era
desconfortavelmente forte. Algo ruim iria acontecer, algo -
"Ei, você está bem?".
Jill olhou para Chris, viu a mesma preocupação em seu rosto. Eles se aproximaram bastante nas últimas
semanas, apesar de achar que Chris queira se aproximar mais ainda.
E você não quer?
Jill se balançou mentalmente e acenou para Chris, deixando os sentimentos irem. O vôo para Nova Iorque não irá
esperar por ela.
Ainda aquele sentimento...
"Vamos sair daqui". Ela disse.
Eles andaram pela noite, deixando a escura casa para trás, tão quieta e sozinha quanto um túmulo.
[2]
29 de Setembro de 1998
O resto da luz do dia já estava atrás das montanhas, pintando o horizonte com o violeta do pôr do sol. As
montanhas corriam pela escuridão do céu sem nuvens, se esticando para alcançar o fraco brilho das estrelas.
Leon poderia ter apreciado mais a paisagem se não estivesse tão atrasado. Ele vai chegar a tempo, claro, mas
antes pretendia chegar em seu novo apartamento, tomar um banho, comer algo; mas do jeito que está, ele só
tem tempo para passar numa lanchonete a caminho da delegacia. Colocar seu uniforme na última parada lhe deu
alguns minutos, mas basicamente ele estava apertado.
Isso aí, Oficial Kennedy. Primeiro dia de trabalho e você estará tirando sanduíche dos dentes durante as
chamadas. Muito profissional.
Seu turno começava às nove e já era mais de oito. Leon pisou um pouco mais forte no acelerador ao passar por
uma placa que dizia restar meia hora para chegar em Raccoon City. Pelo menos a estrada estava livre. Ele não
viu ninguém em horas, exceto pelo apressadinho no sentido oposto.
Uma boa mudança considerando o trânsito depois de Nova Iorque, a qual lhe custou toda tarde. Ele tentou deixar
um recado para o sargento na noite passada, mas só ouviu o sinal de ocupado.
Os poucos móveis que tinha, já estavam no apartamento num bom bairro de Raccoon. Havia um parque à duas
quadras de lá, e só cinco minutos de carro até a delegacia. Chega de engarrafamentos, bairros violentos e ações
brutais. Ele procurava viver numa comunidade pacífica.
... bom, exceto pelos últimos meses. Aqueles assassinatos...
O que aconteceu em Raccoon foi horrível, doentio - mas os agressores nunca foram pegos e a investigação só
estava começando. Se Irons gostar dele como gostaram na academia, talvez Leon possa trabalhar nesse caso.
Mesmo Chefe Irons sendo uma praga, ele ficará um pouco impressionado. Leon se formou entre os dez
melhores e não era um estranho em Raccoon. Ele costumava passar os verões lá quando criança, quando seus
avós ainda eram vivos. O R.P.D. era uma biblioteca e a Umbrella estava a vários anos de distância de transforma
Raccoon numa verdadeira cidade. Mesmo assim, ainda é o mesmo calmo lugar de sua infância. Quando os
assassinos forem presos, Raccoon City será ideal de novo - bonita, limpa, uma comunidade escondida nas
montanhas como um paraíso secreto.
Aí eu me estabeleço lá. Uma ou duas semanas se passam e Irons percebe o quanto bem os meus relatórios
estão sendo escritos, ou vê o quanto bom eu sou atirando no alvo. Ele me chama para ver os documentos do
caso - e eu vejo algo que ninguém mais viu. Ninguém mais percebeu por que eles viveram muito com isso, e
esse policial novato vem e resolve o caso, nem um mês fora da academia e eu -
"Jesus!". Algo correu em frente ao seu Jeep.
Leon pisou no freio e desviou, tirado de seu sonho enquanto recuperava o controle do carro. Os freios travaram e
os pneus derraparam no asfalto. O Jeep parou de frente para as escuras árvores que cercavam a estrada -
desligando depois de uma última sacudida.
De coração acelerado, Leon abaixou o vidro e levantou o pescoço, varrendo as sombras pelo animal que tinha
cruzado a pista. Ele não o atropelou, mas foi por pouco. Algum tipo de cachorro, ele não viu direito - um dos
grandes, talvez um Doberman, mas de alguma forma parecia errado. Leon só o viu por uma fração de segundo,
um brilho de olhos vermelhos e o corpo inclinado de um lobo. E tinha algo mais, parecia algum tipo de...
... lodo? Não, truque de luz, ou você só estava se borrando de medo e acabou vendo errado. Você está bem e
não o atropelou, isso é o que importa.
"Jesus". Ele disse de novo, mais suave, sentindo-se aliviado e bravo enquanto a adrenalina saia de seu sistema.
Pessoas que deixam seus cães soltos são idiotas - depois agem surpresos quando o Totó é pego por um carro.
O Jeep parou a alguns metros de uma placa que dizia RACCOON CITY 10; ele só conseguia ver as letras no
escuro. Leon olhou no relógio; ele ainda tinha meia hora para chegar na delegacia, pouco tempo - mas por algum
motivo, ele simplesmente parou por um momento, fechando os olhos e respirando profundamente.
Uma brisa fresca passou pelo seu rosto; o deserto trecho de estrada parecendo sobrenaturalmente quieto.
Os assassinatos em Raccoon. Algumas pessoas foram mortas por animais, não foram? Cães selvagens? Talvez
aquele não tenha dono.
Um perturbante pensamento - mais ainda quando sentiu que o cachorro ainda estava por perto, o escondido nas
árvores.
Bem vindo a Raccoon City, Oficial Kennedy. Cuidado com as coisa que o observam...
"Não seja idiota". Leon disse para si mesmo, imaginado se algum dia se livrará de sua imaginação.
Sonhando em pegar caras maus, depois inventar monstros assassinos vagando pela floresta - vamos agir de
acordo com nossas idades, né, Leon? Você é um policial, pelo amor de Deus, um adulto...
Ele ligou o motor e voltou para a estrada. Ele tinha um emprego novo, um bom apartamento numa boa cidade;
ele era competente, consciente, e de boa aparência; usando sua criatividade, tudo ficará bem.
"E já estou a caminho". Ele disse, forçando um sorriso para se acalmar. Ele estava a caminho de Raccoon City,
para uma nova vida - não tinha nada com o que se preocupar...
Claire estava exausta, psicológica e emocionalmente, e o fato de seu traseiro estar doendo pelas últimas horas,
não estava ajudando. O motor de sua Harley parecia entrar em seus ossos, e mais, estava escurecendo. E por
idiotice, ela não estava usando suas roupas de couro; Chris não aprovaria.
Ele vai gritar comigo, e eu nem vou ligar. Deus, Chris, por favor, esteja lá para isso...
O barulho da moto ecoou pelos barrancos inclinados. Ela fez as curvas cuidadosamente, bem consciente do
quanto desertas as estradas estavam; se ela cair, levará um bom tempo até alguém aparecer.
Como se importasse. Sem seu equipamento, eles recolheriam seus pedaços com um rodo.
Era burrice, ela sabia que era burrice - mas algo aconteceu com Chris. Droga, algo deve ter acontecido com a
cidade toda. Pelas últimas semanas, a suspeita aumentou - e as ligações que tinha feito aquela manhã a tiraram
do lugar.
Ninguém em casa. Ninguém em lugar nenhum. Como se a cidade tivesse se mudado.
Ela não se importava com Raccoon, mas sim com seu irmão que estava lá, e se algo de ruim aconteceu com ele
-
Ela não podia, não pensaria desse jeito. Chris era tudo o que lhe restava. Seu pai morreu em seu emprego na
construção quando ainda eram crianças. Quando sua mãe morreu num acidente de carro três anos atrás, Chris
fez o melhor para substituir os pais. Mesmo sendo poucos anos mais velho, ele a ajudou a escolher uma
faculdade - ele até a mandava dinheiro todo mês. Além disso, ele ligava para ela toda semana.
Mas essas ligações pararam no último mês e meio, e as dela não foram retornadas. Ela tentou se convencer de
que era besteira se preocupar - talvez ele finalmente achou uma namorada, ou algum problema com o S.T.A.R.S.
Mas depois de três cartas não correspondidas e dias esperando o telefone tocar, ela finalmente decidiu ligar para
o R.P.D. naquela tarde, esperando que alguém pudesse dizer o havia acontecido. Ela só ouviu o sinal de ocupado.
Sentada em seu quarto, ouvindo aquele som, ela começou a se preocupar mesmo. Ela procurou em sua agenda
com mãos trêmulas, discando os poucos números dos amigos dele, pessoas ou lugares que mandou ligar em
caso de emergência - Barry Burton, Emmy's Diner, um policial que ela nunca conheceu chamado David Ford. Ela
até tentou o telefone de Bill Rabbitson, apesar de Chris ter dito que ele desapareceu alguns meses atrás. Só deu
ocupado.
A preocupação se transformou em algo perto de pânico. A viagem para Raccoon City levava seis horas e meia da
universidade. Sua amiga de quarto pegou seu equipamento de moto emprestado para sair com o namorado, mas
Claire tinha outro capacete - e com aquele pânico passando pelos seus pensamentos assustados, ela
simplesmente pegou o capacete e saiu.
Burrice, talvez. Impulsiva, certamente. E se Chris estiver bem, nós poderemos rir sobre o quanto ridícula essa
paranóia foi. Mas enquanto eu não souber o que está acontecendo, não terei um momento de paz.
O resto da luz do dia estava sumindo no céu sem nuvens, mas a brilhante lua cheia e o farol da moto eram
suficientes para enxergar - para ver a pequena placa adiante: RACCOON CITY 10.
Dizendo a si mesma que Chris estava bem, que algo de estranho aconteceu em Raccoon, alguém já teria
verificado. Claire passou a se concentrar na estrada. Daqui a pouco estará escuro, mas ela chegará em Raccoon
antes de ficar perigoso para dirigir.
Estando Raccoon City bem ou não, ela descobrirá em breve.
#
[3]
Leon alcançou os limites da cidade com vinte minutos restando, e decidiu que um jantar quente irá esperar. De
sua última visita à delegacia, ele sabia que haviam algumas máquinas de venda onde podia comprar algo. O
pensamento de ter doces e amendoins em seu estômago não caía bem, mas foi culpa dele por não te se livrado
do trânsito de Nova Iorque a tempo.
Ele passou por algumas fazendas que ficavam a leste da cidade, antes de ver a parada de caminhões que
separava a zona rural da urbana.
Assim que virou na ByBee, indo para uma das ruas norte-sul principais que o levariam para o R.P.D., ele
conseguiu a primeira dica de que algo estava errado. Nos primeiros quarteirões, ele se surpreendeu. No quinto ele
se sentiu um estranho no deserto. Não era estranho, era impossível.
ByBee era a primeira rua real da cidade, vinda do leste. Havia vários bares e restaurantes baratos, tal como um
cinema que nunca deve ter mostrado nada além de filmes de terror e comédias sensuais - e mesmo assim era o
mais popular lugar da juventude de Raccoon. Havia algumas tavernas que serviam cervejas e bebidas quentes
para os universitários. Às oito e quarenta e cinco da noite, ByBee deveria estar cheia de vida.
Exceto por algumas lojas e restaurantes, Leon viu que quase toda a rua estava escura - e mesmo as que tinham
luz não mostravam presença humana. Haviam carros parados na rua, e ainda nenhuma pessoa. ByBee, o ponto
de encontro de adolescentes e estudantes, estava totalmente deserta.
Onde está todo mundo?
Ele continuou dirigindo, procurando respostas - e tentando aliviar a suave ansiedade que sentia. Talvez há algum
tipo de evento acontecendo, uma missa ou uma festa da macarronada. Ou Raccoon decidiu antecipar a
Oktoberfest para hoje à noite.
Tá, mas todos ao mesmo tempo?
Leon percebeu que não tinha visto um carro se quer desde o cachorro há dezesseis quilômetros. Nem um. Sendo
assim, um pensamento menos dramático lhe ocorreu.
Algo não cheirava bem. De fato, algo cheirava como podre.
Ele diminuiu a velocidade para virar na Powell, uma quadra à frente - mas o cheiro e a ausência de vida estavam
lhe dando uma ruim sensação. Talvez ele deva parar e verificar, procurar algum sinal de -
Leon sorriu aliviado. Havia duas pessoas de pé na esquina, bem à frente; a luz estava apagada perto deles, mas
ele pode ver suas sombras claramente - um casal, uma mulher de saia e um homem alto usando botas. Indo a
sul na Powell, chegando mais perto deles, Leon pode ver como andavam, pareciam bêbados. Ambos estavam na
sombra de uma loja de escritório e fora de visão; mas Leon estava naquela direção - não custava parar e
perguntar?
Devem ter saído do O'Kelly's. Um copo ou dois, mas não estando dirigindo, ótimo. Eu me sentirei um idiota
quando eles me dizerem que hoje é o grande concerto gratuito ou o dia da churrascada.
Aliviado, Leon virou a esquina e olhou para as sombras, procurando pelo par. Ele não os viu, mas tinha um beco
entre a loja e a joalheria. Talvez eles tenham parado para ir ao banheiro ou fazer outra coisa mais ilegal -
"Merda!".
Leon pisou no freio assim que meia dúzia de escuras figuras voaram do chão, pegas pelos faróis do Jeep.
Assustado, levou alguns segundos para perceber que tinha visto pássaros; eles não berraram, apesar de ter
estado perto o bastante para ouvir o bater de asas.
Oh, meu Deus.
Havia um corpo humano no meio da rua, a seis metros do carro. Debruçada, mas parecia uma mulher - e
julgando pelo líquido vermelho que cobria boa parte da blusa branca, não era uma estudante bêbada que decidiu
dormir no lugar errado.
Atropelamento. Algum imbecil a acertou e fugiu.
Leon desligou o motor e abriu a porta. Ele hesitou, um pé no asfalto, o cheiro de morte intenso no ar. Sua mente
#
trouxe uma idéia que não queria considerar, mas deveria; isso não é um treinamento, é a sua vida.
E se não foi um atropelamento? E se o fato de não haver pessoas por perto é por causa de um maluco armado
que decidiu praticar tiro ao alvo? Talvez todos estão em casa, abaixados - o R.P.D. pode estar a caminho e
aqueles dois bêbados podiam estar feridos e procurando ajuda...
Ele se esticou no Jeep e procurou seu presente de formatura debaixo do banco do passageiro, uma H&K VP70
com dezoito balas.
Apontando ela para o chão, Leon saiu do carro e deu uma olhada em volta. Ele não conhecia muito bem a noite
de Raccoon, mas sabia que não deveria estar tão escuro. Várias luminárias da rua estavam apagadas; se não
fossem os faróis do carro, ele não teria visto o corpo.
Ele se aproximou, sentindo-se desprotegido sem o carro, mas ciente de que ela podia estar viva. Era impossível,
mas ele tinha que ver.
Alguns passos mais próximo e viu que era um a jovem mulher. O cabelo ruivo e liso cobria o rosto. A maioria dos
ferimentos estavam escondidos pela blusa ensangüentada. Parecia haver alguns deles - rasgos na roupa
expunham claros e cortados pedaços de carne e os músculos vermelhos abaixo.
Exalando forte, Leon colocou a arma na mão esquerda e se agachou, tocando a fria pele do pescoço dela. Alguns
segundos passaram, segundos que lhe causaram medo, tentando se lembrar do procedimento de ressuscitarão,
esperando sentir o pulso.
Cinco compressões, dois e curtos sopros, cotovelo parados e, por favor, não esteja morta -
Ele não sentiu o pulso e não queria esperar. Guardando a arma, ele agarrou os ombros para vira-la - mas quando
começou a erguê-la, sua blusa saiu da calça, mostrando algo que o fez soltá-la. Sua coluna e parte das costelas
estavam expostas. As vértebras brancas brilhando entre a carne vermelha. Parece que ela foi mastigada. Coisa
que Leon não quis acreditar.
Os corvos não fizeram isso, teria levado horas, e quem disse que corvos se reúnem à noite para comer? E aquele
cheiro, não está vindo dela, ela morreu recentemente, e -
Canibais. Assassinos.
Não. Nem pensar. Para uma pessoas ser morta e devorada no meio da rua sem ninguém para impedir -
- e com tempo suficiente para comedores de mortos virem - os assassinos devem ter matado toda a população.
Parece certo? Então que cheiro é esse? E onde estão todos?
Atrás de Leon, houve um baixo e suave gemido. Depois, passos.
Levou um segundo para Leon se levantar, virar e empunhar a arma. Era o casal, os bêbados, vindo em sua
direção, junto com um terceiro, um cara musculoso com -
- com sangue por toda a camisa. E nas mãos. E pendurado em sua boca, algo vermelho e mole. O outro homem
com as botas e suspensórios, parecia igual.
O trio se aproximava, passando do Jeep, erguendo as mãos e gemendo. Leon estava impressionado com a
descoberta de que o cheiro vinha deles -
- e apareceu outro, saindo da porta do outro lado da rua, uma mulher de camiseta e cabelo amarrado para trás.
Outro gemido atrás dele. Leon olhou sobre o ombro e viu um jovem de cabelos escuros e braços podres sair das
sombras da calçada.
Leon apontou a arma para o que estava mais perto, o de suspensórios, enquanto seus instintos gritavam para
fugir. Ele estava aterrorizado, mas sua lógica insistia que havia uma explicação para o que via, que não estava
vendo um morto-vivo.
"Certo! Já chega! Não se mexam!".
Sua voz foi forte e autoritária. Ele vestia seu uniforme, e Deus, por que eles não param? O de suspensórios
gemeu de novo, cego para a arma apontada para seu peito, e ainda seguido pelos outros, agora a menos de
três metros de distância.
"Não se mexa!". Leon disse de novo, e o som de seu próprio pânico o fez recuar um passo, olhando para os
lados e vendo mais dois saindo das sombras.
Algo agarrou seu calcanhar.
"Não!". Ele gritou, virando a arma -
#
- e viu que a atropelada estava segurando sua bota com uma mão ensangüentada, tentando mover seu corpo.
O gemido dela se juntou ao dos outros enquanto tentava morder seu pé, vermelhos fios de saliva escorrendo
pelo queixo, caindo no couro.
Leon atirou nas costas dela. Pela distância deve ter acertado seu coração. Tremendo, ela voltou para o chão.
- e ele virou e viu os outros a menos de um metro e meio, e atirou mais duas vezes, os tiros abrindo buracos no
peito do mais próximo.
O de suspensórios não se intimidou com os tiros em seu peito, seu equilíbrio se abalando por apenas um segundo.
Ele abriu a boca e soltou um grito de fome, mãos erguidas de novo na direção de seu alívio.
Recuando, Leon atirou de novo. E de novo. E de novo. Mais tiros e eles continuaram vindo. Era como um sonho
ruim, um filme ruim, não era real - e Leon sabia que se não começasse a acreditar, acabará morrendo. Comido
por esses -
Vá em frente. Diga. Esses zumbis.
Longe do carro, Leon correu, ainda atirando.
[4]
Que vida noturna; esse lugar está morto.
Claire não viu tantas pessoas como deveria desde que chegou em Raccoon, só algumas, só algumas vagando
por aí. O lugar parecia totalmente deserto; o capacete bloqueava muito a visão, mas definitivamente os negócios
não iam bem naquela parte da cidade. Tal como o trânsito.
Ela planejou ir direto ao apartamento de Chris, mas se lembrou de que passaria em frente ao Emmy's. Chris não
sabia cozinhar nada; sendo assim, ele vivia de cereais, sanduíches frios e jantares no Emmy's seis vezes por
semana; mesmo não estando lá, vale a pena parar e perguntar se alguma garçonete o viu.
Assim que Claire parou em frente ao Emmy's, viu ratos procurando abrigo numa lata de lixo na calçada. Ela
abaixou o apoio e desceu da moto, tirando o capacete e o colocando no assento. Balançando seu rabo de cavalo,
ela franziu o nariz de nojo; pelo cheiro, o lixo estava lá por um bom tempo. Independente do que jogavam fora,
aquilo tinha um cheiro tóxico.
Antes de entrar, ela esfregou seus braços e pernas tanto para aquecê-los, quanto para limpá-los da sujeira da
estrada.
Através do vidro da frente do restaurante era possível ver o confortável de bem iluminado interior.
Das banquetas vermelhas do balcão que cercava o canto esquerdo ao fundo - não tinha uma alma à vista. Claire
franziu, desapontada. Tendo visitado Chris regularmente nos últimos anos, ela esteve lá todas as horas do dia e
da noite; os dois eram corujas, decidindo comer sanduíches às três da manhã - o que significa Emmy's. E sempre
tinha alguém lá, conversando com uma das garçonetes de avental vermelho ou curvado sobre uma xícara de
café e um jornal, não importava que horas fossem.
Então onde eles estão? Nem são nove horas...
A placa dizia Aberto, e ela não ficou parada na rua, esperando. Uma última olhada na moto e ela entrou.
Respirando fundo ela disse esperançosa.
"Olá? Tem alguém aqui?".
Sua voz correu pelo silêncio do restaurante vazio. Exceto pela suavidade dos ventiladores de teto, não havia outro
som. Tinha um familiar cheiro de gordura no ar e algo mais - um cheiro amargo e ainda fraco de flores podres.
O lugar era em L, se esticando para frente dela e para a esquerda. Andando devagar, Claire seguiu em frente.
Atrás do balcão ficava o caminho da cozinha. Se o restaurante estava aberto, os funcionários deviam estar lá,
talvez surpresos com a falta de clientes -
- mas isso não explica a bagunça, né?
Não estava tão bagunçado. A desordem nem foi percebida do lado de fora. Menus no chão, um copo d'água
virado no balcão, e talheres eram os únicos objetos fora de ordem - mas era demais.
Que se dane a cozinha, isso é muito estranho, algo está errado nessa cidade - talvez eles foram assaltados ou
preparando uma festa surpresa. Quem se importa?
#
Do espaço escondido no final do balcão, ela ouviu um movimento, um deslizante sor de roupas seguido por um
ronco. Alguém está lá, agachado.
De coração batendo forte, Claire chamou de novo. "Olá?".
E nada.
- outro gemido, um som que arrepiou os pêlos do seu pescoço.
Apesar do medo, Claire foi até lá. Talvez houve um assalto, os clientes podem estar amarrados - ou pior, tão
machucados que não conseguiam gritar. De qualquer modo, ela estava envolvida.
Claire chegou no fim do balcão, olhou para a esquerda -
- e gelou, de olhos arregalados, sentindo-se psicologicamente estapeada. Perto de uma prateleira com bandejas
estava um calvo homem de avental branco, de costas para ela. Ele estava agachado sobre o corpo de uma
garçonete; mas tinha algo muito errado sobre ela, tão errado que Claire não conseguiu aceitar tão cedo. Seu olhar
chocado passou pelo uniforme vermelho, sapatos, até pelo crachá de plástico no peito dela, "Julia" ou "Julie".
... a cabeça. A cabeça dela não estava lá.
Percebendo o que estava errado, Claire não conseguiu desacreditar por mais que queira. Só tinha uma poça de
sangue no lugar da cabeça dela, cercada por fragmentos do crânio e mechas de cabelo escuro. O cozinheiro tinha
as mãos no rosto e Claire, olhando para o corpo, soltou um leve suspiro.
Ela abriu a boca, incerta sobre o que falar.
Gritar, perguntar por que, como, oferecer ajuda - ela não sabia, e assim que o homem virou para ela, abaixando
as mãos, nada foi dito definitivamente.
Ele estava comendo a garçonete. Seus dedos estavam vestidos com carne; a estranha face que ele mostrou
estava suja de sangue.
Zumbi.
Sua mente aceitou isso no momento em que pensou; ela não era idiota. Ele estava mortalmente pálido e com
aquele cheiro de podridão. Seus olhos brancos.
Zumbis em Raccoon. Eu nunca esperei isso.
Com esse calmo e lógico pensamento veio uma súbita onda de terror. Claire recuou, enquanto o homem
continuava se virando, se levantando.
Ele era enorme, quase dois metros, grande como um armário -
- e morto! Ele está morto e comendo a mulher, não o deixe se aproximar!
O cozinheiro começou a andar. Claire recuou mais rápido, quase escorregando num menu. Um garfo entortou sob
seus pés.
SAIA DAQUI, AGORA.
"Eu já estou de saída". Ela falou. "Mesmo, não precisa mostrar a porta -".
O cozinheiro continuou andando, seus cegos olhos arregalados de fome. Outro passo para trás - e Claire sentiu o
frio metal da maçaneta da porta. Uma triunfal adrenalina passou por ela enquanto virava, tocava a maçaneta -
- e gritou, um curto grito de terror. Havia dois, três deles lá fora, suas carnes decompostas pressionando o vidro.
Um deles só tinha um olho; outro só o lábio superior. Do outro lado da rua, escuras figuras saiam da penumbra.
Sem saída, presa -
- Jesus, a porta dos fundos!
No final de seu campo visual, a verde luz da saída brilhava como uma estrela. Claire virou de novo e mal viu o
cozinheiro chegando onde estava, uma atenção virada para sua única esperança.
Ela correu. A porta daria no beco, se estiver trancada Claire estará morta.
Claire golpeou a porta e ela abriu, acertando os tijolos da parede do beco - e tinha uma arma apontada para seu
rosto, a única coisa que podia pará-la, um homem armado.
Ela congelou, erguendo os braços instintivamente.
"Espere! Não atire!".
Ele não se moveu, a arma ainda apontada para sua cabeça -
- ele vai me matar -
"Abaixe-se!". Ele gritou, e Claire obedeceu.
Boom! Boom!
O homem atirou e Claire olhou em volta, viu o cozinheiro morto caindo de costas bem atrás dela, um buraco em
sua testa.
#
Claire voltou-se para o homem que salvou sua vida, reparando no uniforme. Policial. Ele era jovem, alto - tão
aterrorizado quanto ela se sentia, seus olhos azuis bem abertos e sem piscar. Pelo menos sua voz foi forte ao se
abaixar para ajudá-la.
"Não podemos ficar aqui. Venha comigo, nós estaremos a salvo na delegacia".
Assim que ele falou, ela ouviu um coro de gemidos vindos da rua, aumentando. Claire se deixou ser levantada,
segurando a mão dele bem forte, se confortando ao percebeu que sua mão estava trêmulas igual a dele.
Eles correram.
[5]
Leon correu junto com a garota, tentando lembrar o mapa da cidade. O beco deve dar na Ash, não muito longe
da rua do R.P.D., a Rua Oak - mas a delegacia estava a pelo menos uns quinze quarteirões à leste; sem
transporte eles não conseguirão. Ele só tinha quatro balas, e pelo som vindo do beco, havia dezenas de criaturas
em cada ponta.
Saindo do beco, Leon ergueu a mão e parou de correr, examinado a escura rua. Ele não viu muito, mas de onde
estavam, perto da luminária, havia onze ou doze zumbis à direita e só três à esquerda, não muito longe de uma -
Aleluia!
"Ali!".
Leon apontou para uma viatura estacionada do outro lado da rua. Não havia policiais por perto; seria querer
demais - mas as portas estavam abertas. Eles podem alcançar o carro antes das três coisas ali perto. Se não
tiver chave, pelo menos há um rádio e vidros à prova de balas. Eles podem ficar lá até a ajuda chegar -
- e é a única chance. Vá!
Eles correram para o preto e branco. Leon apontando sua arma para as criaturas mais próximas, a uns vintes
metros. Ele queria atirar, mas não podia desperdiçar munição.
Deus, que tenha chaves.
Eles alcançaram a viatura ao mesmo tempo e se dividiram, a garota indo para o lado do passageiro, fazendo
Leon perceber que ela achava que o carro era seu. Ele a esperou fechar a porta antes de entrar, uma pequena
voz dentro dele gritando que esse era seu primeiro dia.
A chave estava na ignição. Leon guardou a arma e a tocou.
"Aperte os cintos". Ele disse, pouco ouvindo o consentimento da garota enquanto girava a chave e as sirenes
ligavam. A Rua Ash foi iluminada por azul e vermelho, as sombras mudando de forma e densidade. Era a visão do
inferno - e ele pisou no acelerador, querendo sair de lá o mais rápido possível.
O carro saiu derrapando. Leon virou para a direita depois para a esquerda, quase acertando uma mulher cuja
metade do couro cabeludo foi arrancado.
Ajuda, chamar ajuda -
Leon pegou o rádio sem tirar os olhos da rua. Criaturas saíam da escuridão como se chamadas pelo carro veloz.
Assim que o carro cruzou a Powell e continuou, Leon desviou de mais zumbis.
A garota estava cochichando, olhando para a desolada paisagem enquanto Leon apertava o botão do rádio, o
desamparo crescendo. Sem estática, sem nada.
"Que diabos está acontecendo. Eu chego em Raccoon e o lugar está de cabeça para baixo -".
"Ótimo, o rádio está desligado". Leon a interrompeu, soltando o rádio. A cidade parecia um mundo alienígena, as
ruas estranhamente assombradas. Parecia um sonho, mas o cheiro dizia que estavam acordados. O cheiro tinha
tomado conta da viatura, ficando difícil de dirigir. Pelo menos não tinha trânsito, nem pessoas, pessoas de
verdade...
... exceto eu e a garota. Eu tenho que fazer o meu trabalho, não deixá-la se machucar. Pobre menina, não deve
#
ter mais de dezenove ou vinte anos, deve estar aterrorizada.
"Você é policial, né?".
Ele olhou para ela, o tom sarcástico e humorado em sua voz deu uma forte impressão de que ela não era fraca.
Uma boa coisa apesar das circunstâncias.
"Sou. Primeiro dia no trabalho; que ótimo, hein? Eu sou Leon S. Kennedy".
"Claire,". Ela disse. "Claire Redfield. Eu vim procurar meu irmão, Chris...".
Ela parou, olhando para a rua. Duas criaturas estavam entrando no caminho do carro, e Leon acelerou, passando
entre eles. A grade de metal que divide a parte de trás do carro estava quebrada, fornecendo uma clara visão do
retrovisor interno; os dois zumbis vagando desatentamente atrás deles.
Famintos. Como nos filmes.
Por um momento, ninguém falou, a pergunta mais obvia não respondida. Seja lá o que tornou Raccoon numa
casa dos horrores, não importava tanto quanto suas vidas. Eles chegarão na delegacia em alguns minutos. Tinha
um estacionamento subterrâneo - ele tentará lá primeiro - mas se os portões estiverem fechados, eles terão que
andar um pouco. Tinha um pequeno jardim em frente ao prédio.
Quatro balas - e uma cidade cheia daquelas coisas. Precisamos de outra arma.
"Ei, abra o porta-luvas". Ele disse.
Claire apertou o botão e se curvou, mostrando as costas de seu colete vermelho; "Made in Heaven" (Feito no
Paraíso) estava estampado sobre um voluptuoso anjo segurando uma bomba. Combinava com ela.
"Tem uma arma aqui". Ela disse, e pegou a semi-automática, erguendo-a cuidadosamente para ver se estava
carregada, antes de pegar os dois clips. Era uma das velhas armas do R.P.D., uma Browning HP de 9 mm.
Desde a onda de assassinatos, a polícia tem usado as H&K VP70, outra 9 mm - a diferença é que a Browning
carrega treze balas enquanto a outra podia carregar dezoito, dezenove se você deixar uma engatilhada. Do modo
que a manuseava, Leon viu que ela sabia o que fazia.
"É bom ficar com ela". Ele disse.
Assim que Leon fez uma curva um pouco rápido demais, o pensamento do R.P.D. estar infestado de zumbis o
acertou. Tudo ocorreu tão rápido que ele nem tinha pensado nisso. Talvez haja uma defesa organizada na
delegacia - mas era difícil pensar com o cheiro de podridão tão forte no ar.
Temos três quartos de tanque, mais do que suficiente para chegar às montanhas; podemos estar em Latham
em menos de uma hora.
Eles poderiam desviar da delegacia se parecesse insegura. Sair da cidade soava bom para ele. Ele ia contar para
Claire, ver o que ela achava quando -
- o terrível cheiro de morte se intensificou e algo pulou do banco traseiro.
Claire gritou e o monstro que esteve na viatura o tempo todo agarrou o ombro de Leon, levando seu braço direto
para frente com uma incrível força.
"Não!". Leon gritou assim que o carro virou violentamente para a direita, subindo na calçada e deslizando na
parede de um prédio. A criatura estava desequilibrada, perdendo apoio; Leon virou o volante para a esquerda,
mas não evitou a parede por completo. Ruídos de metal e faíscas iluminaram o interior.
A coisa jogou seus braços em Claire e, sem pensar, Leon acelerou e jogou o carro para a direita. O carro
ziguezagueou, derrapando lateralmente, a traseira acertando uma pick-up azul estacionada. Faíscas e o som de
borracha no asfalto.
O morto foi para o banco, mas voltou imediatamente para frente, na direção da garota.
Eles desciam a Terceira (uma rua), Leon tentando controlar o carro enquanto pegava sua arma e se virava. Ele
não pensou em desacelerar, só pensava no zumbi cravando seus dentes no ombro de Claire.
Segurando a arma pelo cano, ele desceu a coronha no rosto do monstro, arrancando pele igual a uma banana.
Gemendo, a criatura tocou o rosto sangrando e Leon pode sentir um segundo de triunfo, até que -
- Claire gritou, "Cuidado!".
- e Leon viu que eles iam bater.
Leon tinha batido no zumbi com a arma quando seu olhar aterrorizado viu que a rua ia acabar.
"Cuidado!".
Ela só pode ver os dedos dele grudados no volante -
- e o carro começou a girar, derrapando, prédios e luzes piscando tão rápido que ela só viu borrões, e de repente
#
- BAM!
Houve uma explosão de som, de vidro quebrando e metal esmagando, assim que o carro bateu em algo sólido,
arremessando Claire contra o assento. Ao mesmo tempo, o impacto jogou o zumbi violentamente para trás,
atravessando o vidro traseiro -
- e tudo ficou quieto. Só o seu coração pulsando nos ouvidos. Claire viu que Leon já estava recuperado, olhando
para o corpo lá atrás, sua cabeça fora de visão. Não estava se mexendo.
"Você está bem?".
Claire virou para Leon, subitamente querendo evitar uma risada. A cidade estava infestada por mortos-vivos, e
acabaram de sofrer um acidente por que um cadáver queria comê-los. Considerando isso, "bem" não é primeira
palavra a vir na cabeça.
"Inteira". Ela disse, e o jovem policial acenou, parecendo aliviado.
Claire respirou fundo e olhou onde estavam. Leon tinha girado 180 graus com o carro no final da rua em T, o
carro completamente danificado estava de frente para o sentido de onde vieram. Não havia zumbis por perto. Ela
segurou sua arma fortemente, tentando se controlar.
"Nós -". Leon começou a falar algo, mas parou, seus olhos arregalados para o que via. Claire também viu - e por
um segundo, sentiu que seu caminho foi amaldiçoado desde que saiu da universidade.
Um caminhão descia a rua, ainda a vários quarteirões de distância, mas perto o bastante para ver que estava
fora de controle. O caminhão ziguezagueava, batendo na mesma pick-up azul de um lado da rua e uma caixa de
correio do outro. Claire percebeu com terror que era um caminhão tanque. No segundo que levou para entender,
rezar para que não seja gás ou óleo, o caminhão diminuiu a distância entre eles. Ela já via o acidente quando
Leon quebrou o silêncio.
"- ele vai esmagar a gente". Ambos tocaram os cintos de segurança, Claire rezando para não estarem presos.
O som dos cintos soltando foram inaudíveis perante o crescente eco do caminhão. Ele chegará em um segundo.
"Corra!". Leon gritou, e ela saiu do carro, ar fresco em sua suada pele. O ronco do motor do caminhão
bloqueando tudo mais.
Ela deu três passos gigantes, tanto sentindo quanto ouvindo o impacto, o chão tremendo sob seus pés assim que
metal se retorcia atrás dela.
Mais um pouco, e -
KABOOM!
- ela foi jogada, literalmente tirada de suas botas por uma incrível onda de pressão, calor e som. Ela tentou
alcançar o chão enquanto a explosão tornava a noite em dia. Um estranho giro, poeira em sua pele, e Claire
aterrissou perto de um *De Lorean prateado estacionado na frente de uma *delicatessen.
Houve uma breve chuva de destroços enfumaçados e Claire se levantou, procurando nas labaredas por Leon.
Seu coração parou. O caminhão tanque, a viatura, tudo estava envolvido por fogo. A rua completamente
bloqueada por uma massa de destruição.
"Claire -".
A voz de Leon, abafada, mas audível através da parede de fogo.
"Leon?".
"Eu estou bem!". Ele gritou. "Vá para a delegacia, eu te encontro lá!".
Claire hesitou por um segundo, olhando para a arma que ainda segurava firmemente em sua trêmula mão. Ela
estava com medo, aterrorizada por estar só numa cidade que virou um cemitério - mas não tinha escolha.
"Tá bom!".
Ela virou. O portão de trás da delegacia estava a alguns metros dali -
- e criaturas estavam saindo das sombras, de trás dos carros e de dentro dos prédios escuros. Com um
pensamento em mente, eles entraram na estranha luz do acidente, gemendo de fome - dois, três, quatro deles.
Por trás do fogo, ela ouviu tiros - dois tiros, depois nada - nada além do fogo e os suaves gemidos.
Leon já foi, agora VÁ!
Claire respirou fundo e correu.
#
[6]
Ada Wong colocou, na cavidade da estátua, o brilhante disco de metal dourado com um unicórnio entalhado,
dando um tapinha até a peça encaixar no mármore. Ela ouviu um movimento na estátua e se afastou para ver o
que acontece. Seus passos ecoaram pelo grande hall principal da delegacia, o som passando pelos parapeitos do
segundo e terceiro andar.
Outra chave? Uma das medalhas do esgoto? Ou quem sabe a própria amostra... não seria uma feliz surpresa.
A ninfa segurando uma jarra d'água feita de pedra deslizou para trás, a jarra em seu ombro jogando um fino
pedaço de metal. A chave de *espadas (*spade key).
Ela suspirou, pegando-a. Ela já tem as chaves; de fato, ela já tem tudo o que precisa para vasculhar a delegacia,
e quase tudo para o laboratório. Se a Umbrella tivesse facilitado, o trabalho teria sido moleza. Dinheiro fácil.
Mas acabei ganhando férias de três dias na cidade dos monstros, brinquei de Por Uma Bala na Cabeça e Vamos
Achar o Repórter. As amostras podem estar em qualquer lugar, dependendo de quem sobreviveu. Se eu sair
daqui com as belezinhas, vou pedir um grande bônus; ninguém deve trabalhar nessas condições.
Ada guardou a chave e olhou para o parapeito superior, mentalmente visualizando as salas que já foi. Bertolucci
parece não estar em lugar algum da asa leste do R.P.D.. Ela passou horas encarando mortos em busca do
queixo quadrado e rabo de cavalo dele. Claro, ele pode estar se movendo - mas pelo que sabia dele, era
improvável; o repórter se escondia diante do perigo.
Por falar em perigo...
Ada foi para a porta que dava na parte inferior da asa leste. O hall principal estava a salvo dos infectados, eles
não pareciam conhecer uma maçaneta - mas havia ameaças além deles. Só deus sabe o que a Umbrella
mandará para arrumar tudo isso... ou o que foi solto no laboratório após a contaminação. Menos assustador,
mas não menos preocupante quanto os policiais vivos procurando alguém para salvar. Ela já ouviu tiros, alguns
distantes, outros não, toda hora desde que chegou; deve haver alguns não-infectados no grande e velho prédio.
Na ponta dos pés para evitar barulho, ela cruzou a porta e se encostou nela, decidindo onde ir; ela ainda não
checou o subterrâneo e haviam vários portadores na sala dos detetives.
Ah, a excitante vida de uma agente autônoma. Viajar pelo mundo! Ganhar dinheiro roubando coisas importantes!
Combater mortos-vivos sem ter tomado um banho ou comido algo decente por três dias - isso impressiona os
amigos!
Ela se lembrou de pedir aquele bônus de novo. Quando chegou em Raccoon há menos de uma semana, ela se
achava preparada; os mapas foram estudados, os dados do repórter memorizados, sua história falsa na ponta
da língua - uma mulher procurando pelo namorado, um cientista da Umbrella. Essa parte era quase verdade; de
fato, foi seu breve relacionamento com John Howe dez meses antes de ela ter arrumado o emprego. Mas John
pensou de outra forma e sua conexão com a Umbrella provavelmente o matou. Tudo isso se tornou uma boa
dica para ela.
Aí ela já estava pronta. Mas nas primeiras vinte e quatro horas de estadia, sua sorte mudou; enquanto comia no
quase vazio restaurante do hotel, ela ouviu os primeiros gritos do lado de fora. Os primeiros, mas não os últimos.
De algum modo, o desastre foi uma vantagem; não haverá guardas no laboratório. O estudo que fez no T-virus
a assegurou de que o aerotransmissível se dissipa rapidamente; o único modo de se contaminar agora é entrando
em contato com um portador, então não haverá problema.
Objetivos: interrogar o repórter, descobrir o quanto ele sabe e matá-lo ou ignorá-lo, depende. Recuperar uma
amostra do novo vírus, a mais nova maravilha do Dr. Birkin. Sem problema, certo?
Três dias antes, sabendo como o laboratório da Umbrella era conectado ao sistema de esgoto e com Bertolucci
na sua frente, o trabalho teria siso moleza. Foi quando as coisas começaram a dar errado.
Pessoas desaparecendo, barricadas caindo...
Ela observou Bertolucci de perto o bastante para ver que ele fugiria. Ela nem teve tempo de fazer contato antes
#
dele desaparecer. Ada decidiu continuar sozinha quando três quartos dos civis foram mortos por que ninguém se
preocupou em fechar os portões da garagem. Ela não queria morrer tentando proteger sua imagem de turista
assustada procurando o namorado.
Aí veio a espera. Quase quinze horas esperando as coisas se acalmarem, escondida no maquinário do relógio do
terceiro andar, entre o eco de tiros e gritos...
Ótimo. O que fazer agora? Sentar e refletir ou acabar logo com isso; quanto mais cedo acabar mais tempo de
férias terá numa ilha qualquer.
Quieta, Ada não se mexeu, batendo sua Beretta na perna. Haviam corpos espalhados no corredor; ela não
conseguia parar de olhar um deles, caído debaixo da janela-bancada do escritório. Uma mulher ensangüentada.
Os outros dois eram policiais e ela não os conhecia - mas a mulher foi uma das pessoas com a qual conversou
quando chegou na delegacia. Seu nome era Stacy, uma nervosa, mas forte garota de vinte e poucos anos.
Stacy Kelso, isso mesmo. Ela queria comprar sorvete e acabou aqui - apesar de sua situação, ela estava mais
preocupada com os pais e o irmão em casa. Uma garota consciente. Uma boa garota.
Por que ela está pensando nisso? Stacy estava morta e não foi Ada que a matou. Ela veio aqui para trabalhar;
não foi sua culpa por Raccoon estar assim.
Talvez não seja culpa. Talvez só esteja triste porque Stacy não conseguiu.
Ela era uma pessoa, e agora está morta, como sua família provavelmente.
"Saia dessa". Ela disse, suave, mas irritadamente. Ada desviou o olhar, fixando-o num cinzeiro quebrado no fim
do corredor, onde virava à direita. Sentia-se mau com as coisas que não conseguia controlar, não era seu estilo,
não foi assim que chegou até aqui - e considerando o esforço que o Sr. Trent estava fazendo para manter Ada
trabalhando, agora não é a melhor hora para analisar suas habilidades.
Objetivos: falar com Bertolucci e pegar a amostra do G-virus. É tudo com o que ela precisa se preocupar.
Ainda há um mecanismo que Ada precisa ver, na sala de entrevistas. As últimas adições do arquiteto foram
detalhadas por Trent, mas ela sabia que tinha a ver com as lâmpadas de gás e uma pintura a óleo. A pessoa que
fez tudo isso teve uma séria vida secreta; havia passagens secretas escada acima, atrás de uma parede. Ela
ainda não foi lá, mas uma breve olhada revelou um escritório. Julgando pela decoração neurótica e estofada, só
podia ser de Irons. Mesmo tendo estado em sua companhia por pouco tempo, ele era o homem mais instável
que já conheceu; não havia dúvidas de que estava na lista de pagamento da Umbrella, mas também havia algo
sobre ele que parecia bem defeituoso.
Ada desceu o corredor, seus sapatos contra os ladrilhos esverdeados; ela já temia outro mecanismo. Nada que
não tinha dicas; ela assumia que o vírus ainda estava no laboratório. Os dados diziam que havia cerca de doze
frascos da coisa, informação de um vídeo de duas semanas - e o laboratório de Birkin não era impenetrável.
Sendo o laboratório subterrâneo conectado à delegacia pelo esgoto, ela deve considerar que as amostras foram
movidas. Além disso, Bertolucci pode estar escondido na biblioteca ou no escritório do S.T.A.R.S., na asa oeste,
talvez na sala de revelação; vivo ou morto, ele precisa ser encontrado.
Ela virou no corredor, passando por uma pequena área de espera com máquinas de venda já saqueadas. Como
todo o R.P.D., o corredor estava frio e com falta de ar fresco; ela já se acostumou com o cheiro, mas o frio era
a pior parte. Pela centésima vez desde que saiu o hotel, Ada desejou ter colocado outra roupa.
O vestido vermelho sem mangas, meia calça preta e sapatos barulhentos eram ótimos como disfarce; como
equipamento, a roupa estava longe de prática.
Chegando no fim do corredor, ela abriu a porta cuidadosamente, de arma na mão. Como antes, o corredor
estava vazio, outra prova da desbotada elegância do prédio - paredes cor de areia e lajotas padronizadas. A
delegacia já deve ter sido magnífica, mas os anos de uso como prestador de serviços, o prédio perdeu seu
encanto; com a mansão de um filme, a fria atmosfera dando uma distinta sensação sinistra - como se a qualquer
momento uma fria mão pudesse tocar seu ombro, uma suave respiração em seu pescoço...
Ada franziu de novo; depois dessa missão, ela tirará longas férias. Senão isso, tentará outra carreira. Sua
concentração já não é como antes. E em seu trabalho, um erro pode levar à morte.
Um grande bônus. Trent cheira como dinheiro. Eu vou pedir sete dígitos, seis no mínimo.
Em suas tentativas de bloquear os pensamentos, só um ainda persistia - a jovem Stacy Kelso pondo o cabelo
atrás da orelha enquanto falava de seu irmão bebê...
Depois do que pareceu um longo tempo, Ada apagou essa visão e continuou andando, prometendo a si mesma
#
de que não haverá mais lapsos de concentração - e imaginando por que não acha que conseguirá.
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*De Lorean - Carro conhecido mundialmente por ter sido a máquina do tempo nos filmes da trilogia "De volta para
o Futuro".
*Delicatessen - Casa de comestíveis; mercearia.
*Espadas - Referência aos naipes do baralho:
Heart = Copas
Diamond = Ouros
Spade = Espadas
Club = Paus
--------------------------------------------------------------
[7]
As botas de Leon esmagavam cacos de vidro na loja de armas Kendo, enquanto abria as gavetas. Se ele não
achar balas rápido terá problemas; as armas restantes da loja estavam inacessíveis, presas com cabos de aço, e
a janela da frente estava completamente quebrada. Não demorará muito para as criaturas o acharem, ele só
tinha uma bala e muito o que andar.
"Isso!".
Quarta gaveta, munição. Leon pegou a caixa e a pôs no balcão enquanto vigiava a frente da loja. Ninguém ainda,
sem contar o dono da loja morto. Ele não se movia. Por ter morrido há alguns minutos, não se sabe quando
voltará à vida, e Leon não queria estar lá para descobrir.
Vigiando a pequena loja, ele começou a recarregar. Leon tinha se esquecido da loja depois do acidente,
achando-a casualmente. Estando o caminho mais rápido para a delegacia bloqueado, a Kendo's era a melhor
opção.
"Uuuuunh...".
Uma horripilante e esquelética forma saiu das sombras da rua, vindo cegamente para frente da loja.
"Droga". Leon disse, seus dedos trabalhando mais rápido. Um clip pronto, mais um e pode levar o resto.
De repente, outra figura apareceu.
- dezesseis... dezessete...pronto!
Ele pegou a H&K e ejetou o clip, colocando o novo assim que o vazio caiu no chão. A criatura estava passando
pela armação do vidro, algo líquido em sua garganta soando levemente.
Mochila, ele precisa de uma. Leon olhou debaixo do balcão, vendo uma mochila de ginástica no fim dele. Material
de limpeza se espalhou no balcão enquanto Leon colocava os clips na mala, ignorando as balas espalhadas na
gaveta.
O monstro podre vinha em sua direção, tropeçando no dono da loja. Leon ergueu a arma e mirou no rosto da
criatura.
Na cabeça, igual aos outros dois lá fora -
Com um tremendo e alto som, a bala explodiu o rosto do zumbi, sangue respingando nas paredes.
Antes da coisa cair, Leon virou e ajoelhou perto da gaveta de munição, jogando as pesadas caixas na mochila.
Seu estômago dando um nó e tremendo de medo; o beco de trás pode estar cheio de zumbis.
Umas cento e cinqüenta balas, agora saia -
Levantando-se, Leon vestiu a mochila e correu para a porta de trás. Pelo canto do olho, viu outra criatura
entrando na loja; pelos cracks do vidro, havia mais deles.
Ele abriu a porta de saída e a cruzou, olhando para os lados assim que a porta se fechou. Nada além de latas de
lixo e caixas de papelão. De onde estava, o beco continuava à esquerda e depois virava à direita; se seu senso
de direção estiver intacto, a estreita passagem o levará direto para a Oak.
Até agora ele teve sorte; tudo o que podia fazer era esperar que isso não mudasse, e que pudesse chegar inteiro
#
no R.P.D. - e que lá houvesse um monte de pessoas armadas que saibam o que aconteceu.
E Claire. Esteja bem, Claire Redfield, e se chegar lá primeiro, não tranque a porta.
Leon ajustou a mochila nas costas e andou pelo beco mau iluminado, pronto para explodir o que cruzar seu
caminho.
Claire conseguiu quase sem dar um tiro; os zumbis eram cruéis, mas lentos, e a adrenalina em seu corpo tornou
fácil desviar deles. Talvez o som do acidente desviou suas atenções, aí foi só seguir seus olfatos, ou o que sobrou
deles. Dos dez zumbis que viu, pelo menos metade estava num avançado estágio de decomposição, carne
caindo dos ossos.
Ela já esteve no R.P.D. duas vezes com Chris, mas nunca entrou pela parte de trás. Viaturas estacionadas e
alguns policiais zumbificados a receberam na pequena área, levando-a para uma pequena cabana. Depois havia
um pátio - o pátio o qual ela e Chris almoçaram uma vez, sentados nos degraus que levavam ao heliporto do
segundo andar.
Desviar dos zumbis policiais no pátio em forma de L foi fácil, e um alívio por estar num lugar que conhecia.
Uma mulher de um único braço pendurado e roupas ensangüentadas, tinha saído das sombras debaixo da
escada e tocou Claire com frias mãos; Claire soltou um suspiro de surpresa, livrando-se da criatura - e quase caiu
nos braços de outro, um alto homem que também saiu de debaixo da escada de metal, grosseiro e silencioso.
Ela conseguiu evitá-lo e se afastou, apontando a 9 mm para o homem, recuando um passo e -
- esbarrou no corrimão. A mulher estava a um metro e meio à direita. O homem a um passo de distância.
Claire apertou o gatilho e houve um gigantesco boom, a arma quase pulando fora de sua mão. A parte direita do
rosto dele desapareceu numa explosão de líquido escuro.
Ela girou a arma, apontando para a pálida face da mulher. Outro tiro e o gemido foi interrompido, a testa
implodindo num espirro de sangue e pedaços de ossos. A mulher caiu de costas no chão como um -
- como um cadáver, o qual ela já era. Eles não sairão mais daqui.
Por um momento, Claire não se moveu. Ela olhou para os dois corpos e sentiu que esteve a um centímetro de
errá-los.
Ela cresceu em volta de armas, atirando em alvos dezenas de vezes - mas era com uma pistola .22 e alvos de
papel. Alvos que não sangravam ou espirravam miolos como os dois seres humanos que acabou de matar -
Não. Uma voz interna a interrompeu. Humanos, não, não mais. Não se engane e não perca tempo com
remorso. Leon já deve ter entrado, e está procurando por você. E se o S.T.A.R.S. foi chamado, Chris pode estar
lá também.
Se isso não foi motivação o bastante, os dois zumbis que deixou para trás estavam vindo. É hora de ir.
Ela subiu a escada, mal ouvindo seus passos por causa do zumbido em seu ouvido. Os tiros não fizeram bem à
sua audição - por isso só ouviu o helicóptero quando estava chegando lá em cima.
Claire parou, o vento batendo ritmadamente em seu corpo enquanto o veículo entrava em visão, perdido na
sombra. Estava de frente para a antiga torre d'água. Ela não sabia se ia pousar ou se já tinha decolado.
Não sabia e não se importava. "Ei!". Ela gritou, erguendo sua mão esquerda. "Ei, aqui!".
Suas palavras se perderam na poeira levantada pelas pás do helicóptero. Claire acenou como se tivesse ganhado
na loteria.
Alguém veio. Graças a Deus, obrigado!
O holofote da aeronave foi ligado - mas estava indo na direção errada, não para ela. Claire balançou os braços
mais freneticamente, respirando para gritar de novo até que -
- viu o que a luz iluminava, mesmo enquanto ouvia o desesperado e praticamente inaudível grito sob o motor do
helicóptero. Um homem, um policial, de pé no meio do heliporto. Ele segurava uma metralhadora, e parecia bem
vivo.
"- venha até aqui -".
O policial gritou para o alto, sua voz cheia de pânico; Claire viu o porquê e seu alívio evaporou. Havia dois zumbis
saindo do escuro e indo para o alvo bem iluminado que estava gritando. Ela ergueu a arma, mas a abaixou de
novo, com medo de acertar o policial.
A luz não se movia, iluminando o terror com sua brilhante claridade. O homem não devia saber o quanto perto os
#
zumbis estavam até que foi tocado.
"Afastem-se! Não se aproximem!". Ele gritou. Com o terror em sua voz, Claire pode ouvi-lo claramente. As duas
figuras o encurralaram no canto sudoeste do heliporto.
O som da metralhadora foi alto. Mesmo com o helicóptero acima, Claire ouviu as balas cortando ar. Ela se
ajoelhou enquanto os tiro continuavam para todos os lados - e para cima -
- e houve uma mudança no som do helicóptero, um estranho hum que fico mais alto. Claire olhou para cima e viu
a nave branca mergulhando, a cauda balançando num instável arco.
Jesus, ele acertou o helicóptero.
O holofote ia em todas as direções, passando por canos de metal, concreto e o policial sendo atacado pelos
zumbis, de alguma forma ainda atirando -
- e de repente o helicóptero começou a descer, balançando. As pás batendo no telhado com muita força. Antes
que Claire pudesse piscar, o nariz da nave bateu - cruzando o heliporto num curto arranhão de faíscas e cacos de
vidro.
A explosão ocorreu assim que a máquina caiu na parede sudoeste - diretamente sobre o policial e seus dois
assassinos. No mesmo instante, o nariz do helicóptero atravessou a parede de tijolos bem à frente.
A rajada de tiros finalmente parou sob as chamas que vieram depois do boom, iluminando o lugar num ardente
calor alaranjado.
Claire ergueu-se nas pernas que mal sentia, olhando desacreditada para o fogo que tomava conta de quase
metade do heliporto. Tudo aconteceu tão rápido que pareceu ser mentira. Um ácido e enjoativo odor de metal
derretido passou por ela numa onda de calor, e no súbito silêncio ela pode ouvir o gemido dos zumbis no pátio lá
embaixo.
Ela olhou para as escadas e viu que ambos os policiais zumbis estavam na base, cegamente tropeçando no
primeiro degrau. Pelo menos eles não estavam subindo...
Claire virou seu assustado olhar na direção da porta a uns dez metros dali. Exceto pela escada, a porta era o
único modo de chegar lá. E se zumbis não conseguiam subir - e tinha dois no heliporto -
- então tenho problemas. A delegacia não é segura.
Ela olhou para os destroços queimando, medindo opções. Ela ainda tinha muita munição; ela pode voltar para a
rua, procurar um carro com chave e buscar ajuda.
E Leon? Se aquele policial estava vivo, pode haver mais lá dentro planejando uma fuga?
Ela não podia ir embora sem avisar Leon; e se ele morrer procurando por ela...
Decidida, Claire foi até a porta, procurando movimento nas sombras. Chegando lá, fechou os olhos por um
segundo, a mão suada na fechadura.
"Eu vou conseguir". Ela disse. Apesar de não ter parecido confiante como queria, sua voz não tremeu. Ela abriu
os olhos, depois a porta; quando nada saiu do escuro corredor, ela entrou.
[8]
O Chefe da polícia, Brian Irons, estava parado em um de seus corredores particulares, tentando recuperar o
fôlego, quando sentiu um tremendo impacto no prédio. Ele o ouviu, também - ouviu algo. Um distante som,
pesado e brutal.
O telhado. Ele pensou. Algo no telhado...
Ele não se preocupou em tirar conclusões. Seja lá o que for, não tornará as coisas piores.
Irons se afastou da parede de pedra e ergueu Beverly o mais gentilmente possível. Eles estarão no elevador em
um minuto, depois uma pequena caminhada até o escritório; ele pode descansar lá, e depois -
"E depois,". Ele resmungou. "essa é a questão, não é?. Depois o que?".
Beverly não respondeu. Seus traços perfeitos permaneceram parados, seus olhos fechados - mas ela parecia se
aconchegar com ele, seu longo e magro corpo perto do peito dele. Devia ser sua imaginação...
#
Beverly Harris, a filha do prefeito. Bela e jovem Beverly, que, com sua beleza loira, já assombrava os sonhos
culposos de Brian. Ele a segurou e continuou indo para o elevador, tentando não demonstrar exaustão caso ela
acorde.
Seus braços e costas estavam doendo quando chegou no elevador. Ele deveria tê-la deixado em sua sala de
hobby, a sala a qual sempre considerou como um Santuário - era clamo lá, e provavelmente um dos lugares mais
seguros da delegacia. Quando ele decidiu voltar para o escritório, pegar seu diário e outros itens pessoais, ele
percebeu que simplesmente não podia deixá-la para trás. Ela parecia tão vulnerável, tão inocente; ele tinha
prometido a Harris de que cuidaria dela; e se ela fosse atacada em sua ausência? E se ele voltar e ela não estiver
lá?
Uma década de trabalho. Fazendo conexões, se posicionando... tudo isso, desse jeito.
Irons a pôs no frio chão e abriu as grades, tentando não pensar no que perdeu. Beverly era o mais importante
agora.
"Te dar segurança". Ele disse. Por acaso ela mexeu a boca, sorrindo? Será que ela sabe que está a salvo com o
tio Brian? Quando ela era criança, quando ele visitava a família Harris para jantar, ela o chamava assim. "Tio
Brian".
Ela sabe. Claro que sabe.
Ele a colocou no elevador, olhando seu angelical rosto. Ele foi pego subitamente por uma onda de amor paterno,
e não ficou surpreso ao sentir lágrimas nos olhos, lágrimas de orgulho e afeição. Nos últimos dias, ele tem sido
alvo das emoções - raiva, terror, até mesmo alegria. Ele nunca foi um homem emotivo, mas teve que aprender a
conviver com os sentimentos; pelo menos não eram confusos.
Chega deles, nada mais pode dar errado agora; Beverly está comigo, e uma vez pegas as minhas coisas, nos
esconderemos no Santuário e descansaremos. Ela precisará de tempo para se recuperar.
Ele piscou as esquecidas lágrimas assim que a jaula de metal começou a subir, checando a arma para ver
quantas balas restavam. Sua sala subterrânea era segura, mas o escritório era outra história; ele quer estar
preparado.
O elevador parou e Irons abriu a grade com o pé antes de levantar a garota, gemendo com o esforço. Ele a
carregou como uma criança, sua cabeça caída para trás.
Ele apertou o botão na parede com o joelho. A parede deslizou para cima, revelando a aveludada decoração de
seu escritório sem; só os vazios olhares de seus animais empalhados o receberam.
A grande mesa de madeira que importou da Itália estava bem à sua esquerda, e sua força acabando; Beverly
era magra, mas ele não estava em forma, como antigamente. Ele rapidamente a colocou na mesa, empurrando
um porta-lápis com o cotovelo.
Ele tinha ficado preocupado quando a achou desacordada ao lado do Oficial Scott no corredor de trás; George
Scott estava morto, coberto de ferimentos. Ao ver a mancha vermelha no estômago dela, Irons achou que
também estivesse morta. Mas quando ele a levou para seu Santuário, ela cochichou para ele - que não se sentia
bem, que estava ferida, que queria ir para casa.
... não é? Não disse?
Irons franziu, tirado da incerta lembrança por algo, algo que sentiu quando a deitou na mesa e arrumou seu
vestido branco manchado de sangue, algo que não se lembrava. Não parecia importante, mas agora, longe da
segurança de seu Santuário, isso o estava incomodando. Lembrando-o de que sofreu um daqueles momentos
confusos quando ele, quando ele - senti os frios e moles intestinos entre meus dedos -
- quando ele a tocou.
"Beverly?". Ele cochichou, sentando na cadeira de sua mesa quando de repente sentiu suas pernas fracas.
Beverly continuou calada - e o turbulento dilúvio de emoções o acertou, lotando sua mente com imagens,
memórias e verdades que não queria aceitar; Recuar as barricadas depois dos primeiros ataques. A Umbrella,
Birkin e os mortos-vivos. O massacre na garagem. O crescente número de mortos na primeira e terrível noite - e
a brutal percepção de que sua cidade - já era.
Depois disso veio a confusão. A estranha alegria que veio ao perceber que não haverá conseqüências para seus
atos. Irons se lembrou do jogo que fez na segunda noite, depois que alguns bichinhos de Birkin acharam alguns
#
policiais. Ele achou Neil Carlsen escondido na biblioteca e... o caçou, perseguindo o sargento como um animal.
Qual seria o problema, já que a minha vida em Raccoon está acabada?
Tudo o que restava era seu Santuário - e a parte dele que ajudou a criar o lugar, a parte escura e gloriosa de seu
coração que sempre escondeu. Esta parte está livre agora...
Irons olhou para o corpo de Beverly e sentiu que pode ser destruído pelos sentimentos de medo e dúvida que
lutavam dentro dele. Irons a matou? Ele não conseguia se lembrar.
Tio Brian. Dez anos atrás, eu era o Tio Brian dela. Em que me tornei?
Era demais. Sem tirar os olhos do rosto sem vida de Beverly, ele tirou a VP70 carregada do coldre e começou a
esfregar o cano com os dedos, leves toques que o asseguraram enquanto a arma girava em sua direção.
Quando o cano foi pressionado contra sua macia barriga, ele sentiu que algum tipo de paz ficou ao seu alcance.
Seu dedo encostou no gatilho, e foi quando Beverly cochichou para ele de novo, os lábios dela parados, mas sua
leve e musical voz vindo do nada e de todos os lados ao mesmo tempo.
- não me deixe, Tio Brian. Você prometeu que me daria segurança, que cuidaria de mim. Pense no que você
pode fazer agora sem que nada o impeça.
"Você está morta". Ele sussurrou, mas ela continuou falando, suave e persistente.
... nada o impedirá de se realizar de verdade pela primeira vez na vida...
Torturado, Irons vagarosamente tirou a 9mm de seu estômago. Depois de um momento, ele descansou sua
testa no ombro dela e fechou os olhos.
Ela estava certa, ele não podia deixá-la. Ele tinha prometido - e ela disse algo sobre o que podia fazer. Sua mesa
de hobby era grande o bastante para acomodar qualquer tipo de animal...
Isso mesmo. Ele vai descansar e depois cuidará dos negócios; afinal, ele é o chefe da polícia.
Sob controle de novo, Brian Irons começou a dormir, a fria pele de Beverly em sua testa.
[9]
Graças a um furgão parado no beco, o atalho para a delegacia sofreu mudanças - uma quadra de basquete
infestada de zumbis, outro beco, um ônibus que fedia por causa dos mortos lá dentro. Foi um pesadelo, os
gemidos, o cheiro e a distante explosão que fez suas pernas tremerem. Apesar de tudo, Leon manteve a
esperança de que havia algum tipo de mobilização no R.P.D., com policiais e paramédicos - autoridades tomando
decisões e equipes organizadas. Não era uma esperança, era uma necessidade.
Quando ele finalmente saiu na rua em frente ao R.P.D. sentiu-se espancado vendo viaturas pegando fogo. Mas
foi a visão de zumbis policiais gemendo entre as chamas que acabaram com sua esperança. O R.P.D. tinha uma
equipe de cinqüenta ou sessenta policiais, e um terço deles estavam vagando ou mortos perto da entrada do
prédio.
Leon tentou esquecer o desespero, fixando seu olhar no portão do jardim. Tendo ou não alguém sobrevivido, ele
tinha que chamar ajuda - e achar Claire.
Ele correu para o portão, desviando dos zumbis uniformizados, abrindo e fechando o portão de metal. A pequena
área gramada à sua direita estava iluminada o bastante para ver que havia três ex-humanos lá, e que não
representavam ameaça. Ele pode ver as duas bandeiras que enfeitavam a entrada da delegacia, penduradas
sem se mover. A visão reconsiderou suas esperanças, pelo menos está num lugar que conhece e que deve ser
mais seguro do que na rua.
Leon correu entre o trio de zumbis - dois homens e uma mulher; todos pareciam normais se não fosse por seus
gemidos famintos. Devem ter morrido recentemente.
A porta de entrada não estava trancada; por tudo o que passou desde que chegou na cidade, Leon preferiu
manter suas expectativas no mínimo. Ele girou a maçaneta e entrou, de arma erguida e dedo no gatilho.
Vazio. Não havia sinal de vida no grande e velho saguão do R.P.D. - e nenhum sinal do desastre que tomou conta
de Raccoon. Leon fechou a porta e desceu os degraus para o piso mais baixo.
#
"Olá?". Leon disse baixo, e o som ecoou de volta com um suspiro. Tudo parecia do mesmo jeito; três andares de
clássica arquitetura em madeira e mármore. Havia a estátua de uma mulher segurando um vaso no ombro bem
no meio do lugar, uma rampa de cada lado levando à recepção e o logotipo do R.P.D. no chão em frente ao
suave brilho da estátua, proveniente das arandelas na parede.
Sem corpos, sem sangue... nem um cartucho de bala. Se houve um ataque aqui, onde diabos estão as provas?
No profundo silêncio do lugar, Leon subiu a rampa da esquerda, parando no balcão da recepção, curvando-se
sobre ele; tudo no lugar. Tinha um telefone na mesa sob o balcão. Leon pegou o receptor e o colocou entre a
cabeça e o ombro, tocando os botões com os dedos. Nem discava; tudo o que ouvia era o som de seu próprio
coração.
Ele virou para a sala vazia, decidindo por onde começar. Ele recebeu um memorando do R.P.D. semanas atrás,
dizendo que as salas seriam mudadas. Mas isso não importava; os policiais não se preocupariam em ficar ao lado
de suas mesas nessa situação.
Haviam três portas no saguão que davam em diferentes lugares da delegacia; duas no lado oeste e uma no
leste. Das duas no lado oeste uma leva a uma série de corredores para a parte de trás do prédio, depois da sala
de arquivos e da sala de pronunciamentos; a segunda dava num escritório e armários, que então leva às escadas
para o segundo andar. O lado leste do primeiro andar era primeiramente para os detetives - escritórios,
interrogatórios e sala de entrevistas; tinha também acesso ao subsolo e escadas no lado de fora.
Claire provavelmente veio pela garagem... ou pelo telhado.
Ou então ela contornou o prédio e veio pelo mesmo lugar que ele - se ela conseguiu chegar aqui, pode estar em
qualquer lugar. E considerando que o R.P.D. ocupa quase um quarteirão, ainda tinha muito chão pela frente.
Ele optou pela segunda porta do lado oeste, onde seu armário estaria.
Leon entrou devagar, esperando ver as mesmas condições do saguão; silêncio e organização. Mas o que viu
confirmou seus medos: as criaturas estiveram lá - com a vingança.
A longa sala estava arrasada, mesas e cadeiras jogadas e derrubadas em todo canto. Borrões de sangue
decoravam as paredes, rastros do mesmo em poças no chão, indo em frente.
"Meu Deus -".
Um policial estava sentado contra os armários à sua esquerda, suas pernas esticadas, meio escondidas pela
mesa virada. Ao som da voz de Leon, ele fracamente ergueu o braço, apontando vagamente uma arma na
direção de Leon - e a abaixou de novo, parecendo exausto com o esforço. Seu peito estava pintado de sangue,
suas expressões cheias de dor. Leon se abaixou ao lado dele em dois passos, gentilmente tocando seu ombro.
Ele não via o ferimento, mas tinha tanto sangue que a gravidade era óbvia -
"Quem é você?". O policial suspirou.
Eles nunca foram apresentados, mas Leon já o viu antes. O jovem policial afro-americano se chamava Marvin
Branagh...
"Eu sou Leon S. Kennedy. O que aconteceu aqui?".
"A cerca de dois meses," Marvin disse, "os assassinatos canibais... o S.T.A.R.S. encontrou zumbis na mansão da
floresta...".
Ele tossiu e Leon começou a dizer para descansar, mas Marvin parecia determinado a contar a história.
"Chris e os outros descobriram que a Umbrella estava por trás de tudo... arriscaram suas vidas, mas ninguém
acreditou... depois isto".
Chris... Chris Redfield, o irmão de Claire.
Leon sabia algo sobre o problema com o S.T.A.R.S. ele só ouviu trechos da história - a suspensão do grupo de
ações táticas especiais e resgate, após serem acusados de má conduta, foi o motivo da contratação de novos
policiais.
Ele até leu o nome dos membros num jornal, listados juntos com alguns de seus recordes.
- e a Umbrella destrói a cidade. Algum tipo de vazamento químico que tentaram esconder se livrando do
S.T.A.R.S. -
Tudo isso saia de sua mente até que Marvin tossiu de novo, mais fraco.
"Agüenta aí". Leon disse, procurando algo para estancar o sangramento. Ele achou uma camiseta no armário
atrás do policial e a enrolou, pressionando contra o estômago de dele. O próprio policial segurou-a com as mãos,
fechando os olhos enquanto falava novamente.
"Não se preocupe comigo. Há... você deve tentar salvar os sobreviventes...".
#
Leon balançou a cabeça, querendo negar a verdade, querendo fazer algo para aliviar a do de Marvin - mas ele
estava morrendo, e não podia chamar ajuda.
"Vá". Marvin disse, ainda de olhos fechados.
Ele estava certo, Leon não podia fazer mais nada - e não conseguiu se mover por um momento - até Marvin
erguer sua arma de novo, apontando-a para Leon numa erupção de energia que aumentou sua voz num grito.
"Vá!". O policial ordenou e Leon se levantou.
"Eu voltarei". Leon disse firmemente, o braço de Marvin já caindo.
Leon voltou para a porta, respirando fundo e aceitando a mudança de plano que pode acabar o matando - mas
que não podia evitar. Ele era um policial. Se houvessem sobreviventes, é sua civil e moral conduta ajudá-los.
Tem um depósito de armas no subsolo, perto da garagem. Leon abriu a porta e voltou para o saguão, rezando
para que o depósito esteja bem equipado - e que haja alguém para salvar.
[10]
Depois do ardente telhado, Claire cruzou um zigue-zagueado corredor cheio de cacos de vidro no chão - e depois
de um policial morto no chão, seu medo sobre a segurança da delegacia aumentou. Ela pulou o corpo e continuou
andando. Uma fraca brisa passou pelas janelas quebradas que decoravam a parede externa, dando vida à
escuridão; haviam brilhantes penas pretas junto às marcas de sangue no chão, que fizeram Claire mirar o
revólver a cada suave balanço.
Ela passou por uma porta que dava nas escadas externas do lugar, mas continuou andando, virando à direita. O
modo como o helicóptero acertou o prédio perturbou Claire, inspirando visões da velha delegacia pegando fogo.
Só faltava essa...
Cadáveres e marcas de sangue nas paredes; Claire não estava feliz com a idéia de vagar pela delegacia. E mais,
tiros não são tão eficientes; ela precisa ver o quanto ruim está a situação antes de procurar Leon.
O corredor terminava numa porta. Claire a abriu - e recuou assim que a nuvem de fumaça passou por ela, o
cheiro de metal e madeira queimados no ar. Ela se agachou e deu uma espiada no corredor que ia para a direita.
Mais para frente ele virava à direita de novo, e ainda assim não se podia ver o fogo; sua brilhante luz alaranjada
refletia nas paredes cinzas.
Droga. O que foi agora?
Havia outra porta diagonalmente de sua posição, a alguns passos; Claire respirou fundo e andou abaixada para
evitar a fumaça, esperando achar um extintor de incêndio - e que fosse suficiente.
A porta dava numa sala de espera vazia - sofás de vinil verdes, um balcão de canto e uma porta no outro lado. A
pequena sala parecia intocada, clama e quieta, igual aos outros lugares que passou essa noite - só que não havia
sinais de desastre nas suaves sombras criadas pelas fluorescentes acima. Nenhum zumbi morto no chão de
madeira escura e nenhum espirro de sangue nas paredes cor de creme.
E nenhum extintor...
Nenhum à vista. Ela fechou a porta e foi até o balcão, levantando a tampa de entrada com o cano da arma.
Tinha uma velha máquina de escrever no balcão - e perto de um telefone. Claire o pegou esperançosa, mas só
ouviu silêncio. Suspirando, ela se abaixou para ver as prateleiras sob o balcão. Uma agenda, papéis - e meio
escondido entre uma bolsa, o familiar cilindro vermelho, com uma fina camada de pó.
"Aí está você". Ela sussurrou, guardando a 9mm no colete e levantando o extintor. Ela nunca usou um antes,
mas parecia fácil - uma alavanca de metal com um pino de segurança e um bocal de borracha preto. Pelo peso
parecia estar cheio.
Respirando várias vezes e armada com o extintor, Claire abriu a porta e voltou para o corredor. A fumaça tinha
se intensificado, acumulando-se no teto.
Ela fez a curva e viu destroços queimando no fim do corredor, sentindo-se aliviada e triste ao mesmo tempo. O
fogo não era tão grande quanto pensava. As chamas se estendiam até uma porta de madeira destruída. Era o
#
nariz do helicóptero que chamou sua atenção - a ardente cabine - e o ardente corpo do piloto ainda preso no
assento, sua boca queimada bocejando como um grito silencioso. Não dava para saber se era homem ou mulher.
Claire tirou o pino e mirou o cano nas chamas. Ela apertou a alavanca e um jato de neve espirrou, acertando os
destroços com uma nuvem. Mal vendo através da fumaça, ela direcionou o jato sobre tudo. Dentro de um
minuto, o fogo pareceu ter acabado, mas ela continuou usando o extintor até acabar.
A última tossida de gás veio e Claire soltou a válvula, suspirando algumas vezes, procurando algum foco que
tenha passado despercebido. Nenhuma chama, mas a porta de madeira ao lado da cabine ainda soltava filetes de
fumaça. A área em volta da porta já foi arrebentada e Claire decidiu arriscar. Ela recuou e deu um sólido chute na
porta, mirando perto das dobraduras.
A porta abriu com um crack, a madeira carbonizada desfazendo-se em uma chuva de cinzas. Algumas caíram em
suas botas, mas Claire rapidamente levantou a arma, ainda as sacudindo, mais assustada com o que pode estar
esperando do outro lado.
Um curto e vazio corredor tinha seu começo cheio de pedaços de madeira queimados, e uma porta ao fundo, à
esquerda. Claire foi até lá, tanto para respirar ar puro quanto para ver onde dava.
A porta seguinte estava destrancada. Claire a abriu, pronta para atirar em qualquer -
- e parou, chocada com a bizarra atmosfera da sala. Era como uma sátira de um clube de homens dos anos
cinqüenta, um grande escritório decorado com uma extravagância beirando o ridículo. As paredes tinham grandes
estantes de mogno e mesas cercando uma espécie de área de descanso, feita com acolchoadas cadeiras de
couro e uma mesa de mármore, tudo sob um provável tapete oriental. Um elaborado lustre vinha do teto,
jogando uma melodiosa luz sobre tudo. Quadros e delicados vasos estavam por toda parte - mas seus clássicos
designs eram ofuscados pelas empalhadas cabeças de animais e pássaros que dominavam um canto, ao lado de
uma grande mesa -
- Oh, Jesus -
Deitada na mesa, como a personagem de uma história de terror, estava uma bonita e jovem mulher de vestido
longo e branco, seu abdômen tomado por sangue. Era como um enfeite, sendo olhado pelos animais empalhados
- tinha um falcão que parecia estar voando, cabeças de alce e veado. O efeito foi tão pavoroso que por um
momento Claire não respirou -
- foi quando a alta poltrona atrás da mesa girou de repente. Claire mal conteve o grito de terror, esperando ver a
Morte sorrindo para ela. Mas era um homem - com uma arma apontada para ela.
Pela segunda vez hoje...
Por um segundo, ninguém se moveu - então o homem abaixou a arma, um sorriso amarelo surgindo em seu
gorducho rosto.
"Eu sinto muito," ele disse, sua voz tão oleosa quanto a de um político ruim. "pensei que você fosse um daqueles
zumbis".
Ele alisava seu cheio bigode enquanto falava. Apesar de Claire nunca tê-lo conhecido, ela subitamente sabia quem
ele era, Chris já tinha falado sobre ele.
Gordo, bigode - era o chefe da polícia, Brian Irons.
Ele não parecia bem. De fato, parecia desconectado da realidade.
"Você é o chefe Irons?". Ela perguntou, tentando parecer agradável ao se aproximar da mesa.
"Sim, sou eu, e quem é você?".
Antes de ela falar, Irons continuou calmamente, confirmando a suspeita de Claire com o que disse depois - em
seu tom petulante. "Não, não se preocupe em me dizer. Não fará diferença. Você acabará como todos os
outros...".
Ele parou, olhando para o corpo à sua frente, com uma emoção que Claire não podia decifrar. Ela sentiu-se mal
por ele, ao contrário do que Chris disse sobre sua personalidade podre e incompetência profissional; só Deus sabe
que horrores ele presenciou, ou o que teve de fazer para viver.
Leon e eu entramos nesse terror há alguns minutos; Irons já estava aqui, provavelmente vendo seus amigos
morrendo.
Ele olhou para o corpo e falou, sua voz triste e pomposa ao mesmo tempo.
"É a filha do prefeito. Eu deveria cuidar dela, mas falhei miseravelmente...".
Claire procurou palavras de conforto, querendo dizer que tinha sorte por estar vivo, que não foi sua culpa - mas
ele continuou lamentando, as palavras dela morrendo na garganta, junto com a dó.
#
"Olhe para ela. É linda, sua pele perfeita. Mas logo apodrecerá... e em uma hora se tornará uma daquelas coisas.
Bem como os outros".
Claire não queria tirar conclusões, mas sua descrição e olhar faminto a fizeram se arrepiar. O jeito que ele olhava
para a garota morta -
- você fica imaginando coisas. Ele é o chefe da polícia, não um pervertido lunático. Ele é o único vivo que
encontrou. Peça informações!
"Deve haver um jeito de parar...". Claire disse gentilmente.
"Sim... uma bala no cérebro - ou decapitação".
Ele finalmente desviou o olhar do corpo, mas não para Claire. Ele olhou para os bichos ao lado de sua mesa, sua
voz adquirindo um tom alegre.
"Em pensar que - taxidermia costumava ser o meu hobby. Não mais...".
Os alarmes de Claire dispararam. Taxidermia? O que diabos um corpo humano fazia na mesa dele?
Irons finalmente olhou para Claire, que não gostou nem um pouco. Ele olhava em seu rosto mas não parecia
enxergá-la. Ocorreu-lhe que ele não havia perguntado como chegou lá, ou sobre a fumaça que entrou no
escritório. E o jeito que falava sobre a filha do prefeito... nenhuma dor real, só auto-piedade e algum tipo de
admiração.
Oh, Deus, ele não está só abalado, ele está em outro planeta -
"Por favor,". Irons disse. "eu queria ficar sozinho agora".
Ele se acomodou na cadeira e fechou os olhos, parecendo exausto. Tão simples assim, ela foi dispensada,
mesmo com milhões de perguntas - muitas delas que ele poderia responder - mas ela achou melhor só sair de
perto dele, pelo menos agora -
Houve um suave som atrás dela, à esquerda, tão baixo que ela não tinha certeza se realmente o ouviu.
Claire virou, franzindo, e viu outra porta no canto da sala. Ela não a tinha visto antes - e aquele som veio de lá.
Outro zumbi? Ou alguém se escondendo...?
Ela olhou para Irons que nem se moveu.
Então - volto por onde vim, ou vejo o que tem atrás da porta?
Leon - ela tinha que achá-lo e Irons não parecia querer unir forças. Mas se houver outra pessoa no prédio que
precise de ajuda ou possa ajudar...
Não vai demorar. Ela olhou para Irons, perto do corpo da filha do prefeito, cercado por seus animais sem vida;
Claire foi até a segunda porta, esperando não estar cometendo um erro.
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*Taxidermia - Arte de empalhar animais.
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[11]
Sherry tem se escondido por um longo na delegacia, uns três ou quatro dias, e ainda não viu sua mãe. Nenhuma
vez, nem quando havia muita gente restando. Ela encontrou a Sra. Addison - uma das professoras da escola -
logo depois de chegar lá, mas ela já estava morta. Um zumbi a comeu. Não muito depois disso, Sherry achou um
tubo de ventilação que cobre quase todo prédio, e decidiu que se esconder era mais seguro do que ficar com os
adultos - porque eles morriam, e porque havia um monstro na delegacia bem pior que os zumbis e os homens do
avesso. Ela tinha certeza que esse monstro a procurava. Era idiotice, ela nunca pensou que monstros
perseguissem uma única pessoa - mas ela também nunca pensou que monstros existissem.
Assim, Sherry vem se escondendo na sala de armaduras; ninguém morto lá e o único jeito de entrar - exceto o
tubo de ventilação atrás das armaduras - era passando por um longo corredor vigiado por um tigre gigante.
Empalhado, mas assustador - Sherry pensou que ele pudesse afugentar o monstro. Ela sabia que era besteira,
#
mas a fazia se sentir melhor.
Sendo que os zumbis tomaram conta da delegacia, ela passou a maior parte do tempo dormindo. Assim, ela no
pensava no que aconteceu com os pais ou o que vai acontecer consigo mesma. O tubo de ventilação era quente
e tinha muita comida na máquina de doces, escada abaixo - mas ela estava assustada, e pior que isso, sozinha.
Ela dormia atrás das armaduras quando houve um tremendo barulho lá fora. Ela estava certa que era o monstro;
Sherry só o viu uma vez antes, suas grandes e terríveis costas, pela grade de metal - desde então, ela o ouviu
gritar pelo prédio várias vezes. Ela sabia que ele era mau, mau, violento e faminto.
Às vezes ele desaparecia por horas, fazendo Sherry pensar que tinha ido embora - mas sempre voltava, não
importa onde ela estava, mas sempre parecia surgir por perto.
O barulho que a tirou do sono parecia o de um monstro quebrando as paredes, fazendo-a correr para seu
esconderijo caso o som se aproxima, mas não se aproximou. Por um longo tempo não se moveu, segurando seu
amuleto da sorte - um bonito colar de ouro que sua mãe havia lhe dado semana passada, tão grande que
preenchia toda sua mão. Como antes, ele funcionou; o horrível barulho não se repetiu. Ou talvez o tigre cumpriu
seu papel. Mesmo assim, quando ouviu suaves passos no escritório, Sherry sentiu-se segura o bastante, para ir
até o corredor e escutar. Os zumbis e homens do avesso não podiam abrir portas. Se fosse o monstro, já teria
vindo para ela.
Tem que ser uma pessoa. Talvez mamãe...
Na metade do corredor onde virava à direita, ela ouviu pessoas falando no escritório, sentindo um estouro de
esperança e solidão ao mesmo tempo. Ela não sabia o que falavam, mas pela primeira vez em dois dias ela ouviu
alguém que não gemesse. Podia ser a ajuda que finalmente chegou a Raccoon.
O exército, marinha, talvez todos eles...
Curiosa, ela correu para a porta de frente para o tigre, quando as vozes pararam. Sherry ficou imóvel.
Se a ajuda veio, porque não ouvia os caminhões e aviões? Não haveria tiros, bombas e alto-falantes alertando
para que todos saíssem?
Talvez sejam vozes de pessoas más; loucas como aquele homem...
Não muito depois que Sherry começou a se esconder, ela viu uma coisa terrível pela grade da sala de armários.
Um homem de cabelo vermelho estava lá, falando sozinho, balançando para frente e para trás numa cadeira. No
começo, Sherry pensou em chamá-lo para ajudar, mas o modo como falava, sorria e balançava, a deixou
desconfiada. Então ela o observou por um tempo. Ele segurava uma grande faca, e depois de um longo tempo,
ainda rindo, resmungando e balançando, ele se esfaqueou no estômago. O homem a tinha assustado mais do
que os zumbis, porque não fazia sentido. Ele era louco e se matou, e ela engatinhou de volta, chorando, porque
não fazia sentido.
Se as pessoas no escritório são boas, elas podem querer tirá-la de seu esconderijo e tentar protegê-la - e isso
significaria sua morte, porque o monstro certamente não tinha medo de adultos.
Parecia ruim ter que voltar, mas não tinha outra escolha. Sherry começou a voltar para a sala de armaduras
quando -
Crack!
- ela congelou assim que a madeira do chão rangeu. O som pareceu incrivelmente alto e ela prendeu a
respiração, agarrando seu colar e rezando para que a porta não abrisse, que nenhum maluco aparecesse - e a
pegasse.
Ela não ouviu mais nada, mas achou que as batidas do seu coração a denunciariam, era tão alto. Depois de dez
segundos ela continuou andando, na ponta dos pés como se estivesse num ninho de cobras. Ela tinha que usar
toda sua força para não correr até a curva - uma coisa que ela aprendeu nos filmes era que, correr do perigo
sempre significava uma morte horrível.
Quando ela finalmente chegou à porta, sentiu-se aliviada e só queria pegar o cobertor que a Sr. Addison achou e -
A porta do escritório abriu, abriu e fechou. Um segundo depois, passos. Indo para ela.
Sherry voou pela sala, não pensando um mais nada por causa do pânico. Ela passou pelos três cavaleiros,
esquecendo seu lugar seguro. Tudo o que queria era ir o mais longe possível. Havia uma escura e pequena sala
sem porta depois da caixa de vidro no meio da sala -
- e ela ouviu os passos correndo atrás dela. Sherry se abaixou entre os tijolos da lareira e tentou se encolher,
abraçando os joelhos e escondendo o rosto. A escuridão da sala do fundo era tudo o que precisava.
Por favor, por favor, por favor, não apareça, não me veja, eu não estou aqui.
#
Os passos entraram na sala das armaduras e mais calmos, hesitantes, passando pela caixa de vidro. Sherry
pensou em seu tubo de ventilação, que a levaria embora, e segurou as lágrimas de arrependimento. A sala da
lareira não tinha saída.
Os passos se aproximaram da sala que Sherry estava. Ela prometia fazer qualquer coisa caso o estranho fosse
embora -
Thump. Thump. Thump -
De repente a sala se iluminou, o leve click do interruptor sobre o choro de Sherry. Ela não agüentou, se levantou e
correu, gritando, esperando chegar até o tubo de ventilação quando -
- uma quente mão segurou seu braço, apertado. Ela gritou de novo, puxando o mais forte que podia, mas o
estranho era forte -
"Espere!". Era uma mulher.
"Me deixe ir". Sherry choramingou, mas a mulher continuou segurando, puxando.
"Calma, calma - eu não sou um zumbi, fique calma, está tudo bem -".
A voz da mulher soou mais gentilmente. A doce e musical voz repetiu-se de novo e de novo.
"- calma, está tudo bem, eu não vou te machucar, você está segura agora".
Sherry finalmente olhou para a moça, e viu o quanto bonita era, o quanto seus olhos eram preocupados e
simpáticos. Sherry parou de tentar fugir e sentiu as quentes lágrimas em seu rosto. Ela instintivamente abraçou a
bonita jovem - e a moça retribuiu, seus finos braços em volta dos trêmulos ombros de Sherry.
Sherry chorou, deixando a mulher acariciar seu cabelo e dizer palavras tranqüilizantes - pelo menos o pior acabou.
Por mais que quisesse cair nos braços da moça e esquecer os medos, acreditar que estava a salvo, ela sabia que
não dava. Além, disso, ela não era mais um bebê; fez doze anos mês passado.
Sherry se afastou da mulher e secou os olhos, olhando para a estranha. Ela não era velha, por volta dos vinte, e
tinha roupas legais - botas, shorts vermelho de tecido grosso e um colete do mesmo conjunto, sem mangas. Seu
cabelo castanho era amarrado para trás, e quando sorriu, parecia uma atriz de cinema.
"Meu nome é Claire. Qual é o seu?".
Sherry se envergonhou de repente, por ter corrido de uma pessoa tão boa. Seus pais diziam que agia como um
bebê, que era "muito imaginativa", e aqui está a prova; Claire não iria machucá-la.
"Sherry Birkin". Ela disse e sorriu, esperando que Claire não fosse má para ela; ela não parecia brava, e sim
agradecia pela resposta.
"Você sabe onde estão seus pais?". Claire perguntou.
"Eles trabalham no laboratório químico da Umbrella". Sherry respondeu.
"Laboratório químico... então o que você está fazendo aqui?".
"Minha mãe ligou e me disse para vir aqui. Ela disse que é muito mais perigoso ficar em casa".
Claire acenou. "Pelo que parece, ela estava certa. Mas aqui também é perigoso...".
Claire franziu pensativamente, depois sorriu de novo. "É melhor você vir comigo".
Sherry balançou a cabeça, pensando em como explicar que não era uma boa idéia, que era uma idéia muito ruim.
Ela não queria ficar sozinha, mas não seria seguro ir.
Se eu for e o monstro nos achar...
Claire morreria. Apesar de ser magra, Claire não caberia no tubo de ventilação.
"Tem algo aqui". Sherry finalmente disse. "Eu vi, é maior que os zumbis. E quer me pegar".
Claire balançou a cabeça, abrindo a boca para dizer algo quando um terrível e furioso som encheu a sala, ecoando
em violentas ondas de algum lugar do prédio. Por perto.
"Rrraaahh - ".
Sherry sentiu seu sangue virar gelo. Claire arregalou os olhos, pálida.
"O que foi aquilo?".
Sherry recuou, ofegante, mentalmente correndo para o tubo de ventilação atrás das armaduras.
"É disso que eu estava falando". Ela disse, e antes que Claire pudesse pará-la, ela virou e correu.
"Sherry!".
Sherry ignorou o apelo e continuou. Ela se pôs de joelhos sobre o pedestal, colocou a cabeça e se arrastou para
dentro do buraco no rodapé da parede.
Sua única chance, a única chance de Claire, era que ficasse o mais longe possível. Talvez se encontrem de novo
quando o monstro se for.
#
Assim que Sherry engatinhou pelo apertado e escuro tubo, esperou que não fosse muito tarde.
[12]
Ada sentou na cadeira da desarrumada mesa do chefe dos detetives, descansando seus pés doloridos e olhando
cegamente para o cofre vazio no canto da sala. Sua paciência estava se esgotando. Primeiro a amostra do
G-virus, agora Bertolucci, que também não foi encontrado. Ela passou pela sala de descanso, o escritório do
S.T.A.R.S., a biblioteca - todos os lugares onde o repórter teria fácil acesso. E gastou dois clips inteiros para isso.
O problema não foi 23 balas, foi o tempo perdido e sem resultados - exceto por ter matado mais alguns zumbis.
E duas aberrações híbridas da Umbrella.
Ada tremeu, lembrando da contorcida carne vermelha e gritos das criaturas que matou na sala de entrevistas.
Trent alertou sobre os Tyrants modi-ficados - que agradecidamente ainda não apareceram - mas os sanguinários
linguarudos com garras eram uma afronta à suas sensibilidades. E são muito mais difíceis de matar que os
zumbis. Se eles foram produtos do T-virus, ela deverá rezar para que Birkin não tenha feito nada com o novo.
Segundo Trent, a série G ainda não foi usada, e deve ser duas vezes mais potente...
Ada soltou a imaginação. O escritório não era tão inspirante para descansar, mas pelo menos não tinha sangue.
De porta fechada, ela mal sentia o cheiro dos policiais lá fora. Eles já estavam bem afetados quando ela os
matou, o estágio que aparentemente precede o colapso total.
O problema não é senti-los. Meu cabelo e roupas já absorveram o maldito cheiro.
Ela sabia para que servia o T-virus, mas eles não pensaram em pesquisar os efeitos físico-químicos. Quem se
importa? Ela não tinha motivos para acreditar que a Umbrella infectaria sua própria cidade. Ela estava recebendo
várias informações sobre o funcionamento do vírus, mas seria bom saber como ele modifica a mente humana.
Ela só podia tentar adivinhar através de suas observações.
Pelo que parece, leva algumas horas para alguém infectado virar um zumbi. Às vezes, a vítima passa por uma
febre-coma antes, que provavelmente queima partes do cérebro - e pareciam estar acordando da morte em
busca de carne fresca logo depois. Os sintomas eram os mesmos para todos, mas não a velocidade do
processo; ela viu uns três casos em que a vítima virou zumbi alguns momentos após ser infectada, o estágio que
ela chamou de "catarata". Apesar de a deterioração física começar imediatamente, alguns caem aos pedaços
mais rápido do que outros.
... e por que você está pensando nisso? Seu trabalho não inclui achar a cura?
Ela suspirou, curvando-se para coçar os pés. Verdade. Mesmo assim, era algo para se considerar. Pensar em
ficar viva era cansativo; ela não podia fazer isso enquanto limpava os corredores. Ela estava descansando, e
precisava pensar em assuntos mais intrigantes.
E não são poucos... Trent, o que Bertolucci sabe ou deveria saber... o S.T.A.R.S. - e o que diabos aconteceu
com eles?
Pelos artigos que Trent incluiu no pacote de informações, ela sabia sobre a suspensão do grupo - e considerando
o que estavam investigando, não precisava ser gênio para ver que estavam na cola da Umbrella para revelar seu
segredo. A Umbrella já deve ter se livrado deles caso não tenham se escondido - e Ada tem que ver se Trent
participou da aventura do S.T.A.R.S..
Não que ela diria, mas Trent era um enigma. Ela só o encontrou uma vez, apesar de tê-la contatado para ir até
Raccoon, na maioria das vezes por telefone. Ela sempre se orgulhou da capacidade de ler as pessoas, mas não
sabia onde os interesses dele estavam, por que queria o G-virus ou que função exercia na Umbrella. Era óbvio
que tinha contatos lá dentro, ele sabia demais sobre a companhia - mas se era o caso, porque ele não pega sua
própria amostra e pede demissão? Contratar uma agente secreta era o ato de alguém querendo evitar
complicação - mas complicações do que?
Não é da minha conta...
Um bom princípio para se viver; ela também não era paga para investigar Trent. Mesmo que fosse, seria difícil;
#
ela nunca conheceu um homem tão sob-controle como Sr. Trent. Em todo contato que tiveram, ela percebeu
que ele ria por dentro, como se soubesse de um ótimo segredo - e ainda não demonstrou arrogância e
pretensão. Ele era frio, sua genialidade tão natural que ela mal se intimidou; ela não conseguiu decifrar os motivos
dele, mas já tinha visto aquele calmo humor antes - era a face do verdadeiro poder, de um homem com um
plano e meios de executá-lo.
Então a contaminação atrapalhou seus planos, sejam lá quais sejam? Ou ele já estava preparado...? Eu não
imagino o termo "pego de surpresa" no vocabulário de Trent...
Ada girou a cabeça vagarosamente antes de se calçar. O intervalo acabou, pois ela ainda tinha que procurar
Bertolucci em mais alguns lugares, antes de ir para o esgoto. Ela sabia que as persianas de segurança do primeiro
andar não eram tão sólidas assim; ela não quer se deparar com mais zumbis lá de fora.
Havia passagens "secretas" na asa leste e celas no subsolo, depois do estacionamento. Se achá-lo em algum
desses lugares, poderá concentrar-se em obter a amostra.
Ela decidiu começar pelo subsolo; ele não conseguiria achar os corredores escondidos. Pelo que ela leu sobre seu
trabalho, ele não era um repórter tão bom...
Ada saiu do escritório, os ventiladores de teto levando o cheiro de podre até ela. Devia haver sete ou oito corpos
lá, todos policiais...
... mas eu não tinha deixado cinco vivos da última vez?
Ada parou, olhando para o estreito corredor que levava às escadas de trás.
Havia cinco. Eu não estou no meu máximo, mas ainda posso contar.
Havendo ou não, os zumbis estavam invadindo e a Umbrella virá em breve caso ainda não tenha vindo. A
companhia não ignoraria esse problema. Já deve ter criado um plano *derrota segura e está enchendo a cabeça
da mídia com mentiras. Mas é claro que antes, eles devem recuperar a pesquisa de Birkin. Trent estava confiante
de que a Umbrella mandaria uma equipe para isso.
Uma equipe de humanos, tomara. Eu posso lidar com eles. Um Tyrant... eu não preciso disso.
Ada foi para o corredor do fundo da sala, à esquerda de onde estava. Foi na direção da porta que a levaria para
a escada do subsolo. Tyrant era o nome de uma série particular na pesquisa de armas biológicas da Umbrella,
uma série que incorpora as mais destrutivas aplicações do T-virus. De acordo com Trent, os cientistas da White
Umbrella - que trabalham nos laboratórios secretos - acabaram de iniciar os testes num tipo de humanóide
sanguinário, desenvolvido para caçar qualquer cheiro ou substância com a qual foi treinado. Um Tyrant avançado,
outra construção de carne infectada e ligamentos implantados - o tipo de coisa que podem mandar em busca do
G-virus...
Ada foi para o subsolo, tentar achar o repórter.
Leon estava no saqueado depósito de armas do subsolo, ajustando seu coldre e pensando onde Claire estaria.
Pelo pouco que viu, a delegacia estava muito ruim. Fria, escura e cheirando mal, mas não tão perigosa quanto a
rua. Nem tanto para se agradecer, mas Leon vai tirar o máximo de proveito.
Ele matou três companheiros a caminho do subsolo - dois homens escada acima e uma mulher em frente ao
necrotério - a alguns metros da sala onde ficava o arsenal do R.P.D.. Entre os mortos e o número de armas
faltando, Marvin pode estar certo sobre haver sobreviventes.
Marvin Branagh... já deve estar morto. Será que virou zumbi? Se a Umbrella está por trás disso, deve ser algum
tipo de praga ou doença, afinal, eles são uma companhia farmacêutica - então, como se pega a doença? Pelo
contato ou pelo ar -
O pensamento de ser infectado pelos zumbis o fez suar. E se ele a pegou enquanto dirigia para cá?
Antes do pânico, ele ouviu sua mente dizer sobre a realidade - e a aceitação da realidade também, afugentando o
medo.
Se você está doente, está doente. Você pode comer uma bala antes de piorar. Se não está doente, sobreviverá
para contar aos seus netos sobre tudo isso. De qualquer jeito, não há nada que você pode fazer - exceto tentar
ser um policial.
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*Derrota Segura - Método para impedir ataque atômico equivocado.
-------------------------------------------------------------- Leon concordou, suspirando. Em sua primeira busca pela sala,
#
houve desapontamento. Nenhum revólver e pouca munição nos armários - mas ele achou uma caixa de munição
para espingarda, e depois de um segundo procurando, ele descobriu uma calibre doze escondida atrás de
algumas caixas. Haviam alguns arreios de ombro para o modelo Remington pendurados na parede, tal como um
cinto de utilidade maior do que o que já usava; tinha até um bolso fundo o bastante para colocar os clips.
Com o último aperto no arreio, ele decidiu que seria melhor começar pelos lugares mais óbvios primeiro, cada
corredor de cada possível entrada. Primeiro ele voltará para o saguão e deixar uma mensagem no -
Bam! Bam! Bam!
Tiros, bem perto, e o eco dizia vir do corredor lá fora. Leon empunhou o revólver e correu para a porta, preciosos
segundos desperdiçados enquanto manejava a fechadura giratória.
O corredor estava deserto, exceto pelo guarda de trânsito no chão à sua direita. Para a direita ficava o
estacionamento, e Leon correu para lá, lembrando-se para ir com clama e não ser baleado por alguém
aterrorizado.
Vá devagar, olhe bem antes de se mover, identifique-se claramente -
O corredor virava à esquerda, e no final dele, estava a porta na parede do lado direito, aberta - e quando Leon
deu uma olhada no grande e aberto espaço, seu corpo encostou na parede, vendo algo que o fez esquecer do
atirador.
O cachorro. É o mesmo maldito cachorro.
Impossível - mas o caído e sem vida animal no meio de dois carros parecia o mesmo. Mesmo com o breve
avistamento que teve antes, o melequento demônio canino era igual àquele que o tinha jogado fora da estrada.
Sob as fluorescentes que iluminavam a garagem, Leon pode ver o quanto anormal ele era.
Nada parecia se mover, e nenhum som exceto o zumbido das luzes. Ainda segurando sua arma, Leon entrou na
garagem, determinado a olhar a criatura de perto - e viu um outro perto de uma viatura, aparentemente morto
como o primeiro. Ambos estavam no meio de uma poça vermelha de sangue.
Umbrella. Os ataques animais, a doença - há quanto tempo isso está acontecendo? E como conseguiram manter
isso escondido depois de todas aquelas mortes?
Mais confuso era o fato de Raccoon ainda não ter recebido ajuda; a Umbrella deve ter conseguido esconder seu
envolvimento nos assassinatos "canibais", mas como ela impediu as pessoas de pedir ajuda lá fora?
Esses cães, como cópias em carbono... outra coisa que a Umbrella fez em seus laboratórios?
Ele deu outro passo na direção das criaturas, não gostando das teorias de conspiração que estavam se formando
em sua mente, mas incapaz de ignorá-las. Do que ele menos gostava, eram das poças de óleo no chão de
cimento; pareciam enferrujadas, secas - e haviam muitas delas para contar. Ele se curvou para olhar de perto,
tão intrigado que só percebeu o tiro quando a bala ricocheteou no chão.
Bam!
Leon virou para a esquerda, erguendo a arma e gritando ao mesmo tempo -
"Pare de atirar!".
- e viu a atiradora abaixar sua arma, uma mulher de vestido vermelho e longas meias pretas, parada ao lado de
um furgão no final da garagem. Ela começou a ir até ele, suas pernas finas movendo-se suavemente, cabeça
erguida e ombros para trás. Parecia estar numa festa.
Leon sentiu uma onda de raiva, de como ela parecia clama após quase tê-lo matado - mas assim que se
aproximou, ele quis pedir desculpas. Ela era bonita, e parecia sentir prazer em vê-lo; uma visão bem vinda depois
de tanta morte.
"Desculpe-me por aquilo". Ela disse. "Quando vi o uniforme, pensei que fosse outro zumbi".
Mestiça, magra e alta, cabelo curto, liso e escuro. Sua acentuada voz contrastava estranhamente com seu olhar.
Seu frágil sorriso não combinava com os olhos amendoados que o examinavam cuidadosamente.
"Quem é você?". Leon perguntou.
"Ada Wong'. Aquele tom de novo. Ela inclinou a cabeça, ainda sorrindo.
"Eu sou Leon S. Kennedy". Ele disse reflexivamente, incerto sobre o que perguntar ou por onde começar. "Eu - o
que você faz aqui embaixo?".
Ada olhou para o furgão do R.P.D. que bloqueava a área das celas. "Eu vim para Raccoon em busca de um
homem, um repórter chamado Bertolucci; eu tenho motivos para crer que ele esteja em uma das celas, e acho
#
que ele pode me ajudar a achar meu namorado...".
O sorriso dela sumiu, o agudo, quase elétrico olhar achando o dele... "E acho que ele sabe tudo sobre o que
aconteceu aqui. Você me ajuda a empurrar o furgão?".
Se o repórter estiver trancado lá, poderá dizer algo; Leon quer conhecê-lo. Ele não confiava muito na história de
Ada, mas não imaginava porque mentiria. O lugar não é seguro, e ele estava procurando por sobreviventes,
como ela.
"Tá bom". Ele disse, sentindo-se pego pelos suaves modos dela. Parecia que ela tinha assumido o controle, uma
súbita mas proposital manipulação que a pôs no comando -
Não seja paranóico; mulheres fortes existem. E quanto mais pessoa encontrar, mais ajuda eu terei para procurar
a Claire.
Leon guardou a arma e foi atrás dela, esperando que o repórter estivesse lá - e que as coisas começassem a
fazer sentido o quanto antes.
[13]
Sherry Birkin se foi e Claire não conseguiu entrar no duto. Seja lá o que ou quem tinha gritado, não apareceu. Ela
devia estar se escondendo no duto por algum tempo; haviam embalagens abertas de doces e um velho lençol
perto da abertura, atrás de três armaduras.
Percebendo que Sherry não voltaria, Claire correu para a sala de Irons, esperando que ele pudesse dizer onde a
tubulação dava, mas ele tinha sumido - junto com o corpo da filha do prefeito.
Claire parou no escritório, sendo observada pelos olhos de vidro da mórbida decoração, e se sentiu incerta pela
primeira vez desde que chegou na cidade. Desviar de cães e zumbis, encontrar Leon e evitar o Chefe Irons
foram tarefas inclusas na busca por Chris. Nos poucos momentos entre encontrar aquela garotinha e aquele
estranho grito, suas prioridades mudaram dramaticamente. Havia uma criança nesse pesadelo, que acreditava
estar sendo seguida por um monstro.
Talvez esteja. Se Raccoon tem zumbis, por que não monstros? Droga, por que não vampiros ou robôs
assassinos?
Ela queria achar Sherry, mas não sabia por onde começar. Ela queria seu irmão, mas não sabia onde estava - e
ela começou a imaginar se ele sabia o que tinha acontecido na cidade.
Na última vez que conversaram, ele evitou falar sobre a suspensão do S.T.A.R.S., insistindo que não era nada
para se preocupar - que ele e os outros entraram em problemas políticos e tudo se resolveria. Ela estava
acostumada com a proteção dele, mas pensando melhor, ele não parece evasivo demais? E o S.T.A.R.S. estava
investigando os assassinatos canibais, não seria difícil conectá-los com a atual...
... o que quer dizer? Que Chris descobriu algo ruim e estava mantendo segredo?
Ela não sabia. Mas sabia que ele estava vivo, e que achar Sherry era mais importante no momento. Ruim como a
situação estava, Claire tinha defesas - ela tinha uma arma, pelo menos um pouco de maturidade emocional, e
depois de 8KM diários, estava em excelente forma. Mas Sherry não devia ter mais do que doze anos, parecia
frágil em todos os sentidos; pela sujeira em seu cabelo loiro e desespero em seus olhos azuis - Sherry inspirou
todos os sentidos protetores de Claire -
Thump!
Uma pesada vibração correu pelo teto, fazendo o lustre do escritório tremer. Claire olhou para cima
reflexivamente, apontando a arma. Não havia nada e o som não se repetiu.
Algo no telhado... mas o que fez aquele barulho? Um elefante caindo do céu?
Talvez fosse o monstro de Sherry. Claire não queria encontrá-lo, mas Sherry parecia certa de estar sendo
seguida...
... então achar o monstro para achar a garota? Não é o plano perfeito mas é tudo o que tenho.
Talvez seja Irons lá em cima. Ela não podia saber até verificar.
Claire virou e abriu a porta para o corredor de fora, onde tinha apagado o fogo. A fumaça diminuiu apesar de
ainda estar quente. Pelo menos nisso ela foi bem sucedida...
#
Claire saiu do corredor, virando os olhos para o que sobrou do piloto quando -
- Craa-ack!
- e ela congelou, ouvindo um massivo despedaçamento de madeira, seguido por poderosos passos de alguém
enorme andando pelo corredor, depois da curva.
Deve pesar uma tonelada, e Jesus, diga-me que não foi uma porta sendo destruída -
Claire olhou para o corredor do escritório, seus instintos dizendo para correr, seu cérebro dizendo que não tinha
saída, seu corpo paralisado entre os dois -
- quando o maior homem que já viu apareceu, escurecido pela fina fumaça do corredor. Ele vestia um longo
sobretudo verde-exército que só aumentava seu tamanho, tão alto quanto um jogador de basquete - bem mais
alto, e com uma cabeça proporcional. Um grande cinto de utilidade estava preso em sua cintura, e apesar de não
ver armas, ela pôde sentir a violência radiando dele em ondas invisíveis. Ela só conseguia ver a palidez no rosto
dele, a cabeça careca - e de repente, Claire estava certa de que ele era um monstro, um assassino usando luvas
pretas, cada uma do tamanho de um crânio humano -
Atire nele! Atire!
Claire mirou, mas hesitou, com medo de estar cometendo um terrível erro - até que ele deu um passo na direção
dela, ouvindo os cracks na madeira causados por seus pés de Frankenstein, e ela viu os olhos negros, negros e
corados com vermelho. Vazios, mas não cegos, o olhar dele achou o dela - e ele ergueu o punho, a ameaça
eminente.
- atireatireatire -
Ela apertou o gatilho, uma, duas vezes, e viu o impacto - um pedaço de tecido rasgou bem abaixo de sua
clavícula, o segundo tiro cortando um lado do pescoço -
- e ele deu outro passo, nenhuma expressão em seu rosto, o punho ainda erguido, procurando um alvo,
querendo esmagar -
- o escuro e enfumaçado buraco no pescoço não sangrava.
Droga
Numa onda de adrenalina, Claire apontou o revólver para o coração da criatura e atirou repetidamente, o gigante
dando outro passo, cruzando o fogo sem acovardar-se -
- e Claire perdeu a linha dos tiros, incapaz de acreditar que ele ainda se movia, a menos de três metros com as
balas acertando seu peito -
- e a arma clicou, vazia, na mesma hora que o monstro balançou de um lado para o outro como um prédio no
vento. Sem tirar os olhos dele, Claire pegou outro clip do colete e recarregou a arma, sua mente tentando
desesperadamente dar um nome à coisa.
Exterminador, O monstro de Frankenstein, Dr. Mal, Mr. X -
De qualquer modo as balas finalmente fizeram efeito. Silenciosamente, ele inclinou para a direita, caindo contra a
parede chamuscada, e permanecendo lá - sem tremer nem se mexer.
Estranho, isso é tudo, está morto, derrubado por seu próprio peso -
Claire não se aproximou, ainda mirando no gigante. Foi ele que gritou? Ela não achava.
"Morto, não importa". Claire cochichou. Precisava pensar no que ele significava - ele não era um zumbi qualquer,
mas o que então? Ela esvaziou um clip inteiro - será que alguém por perto ouviu? Ela deveria ficar onde estava?
A criatura que começou a chamar de Mr. X não estava respirando, seu corpo imóvel, seu rosto bem perto da
morte. Claire mordeu o lábio inferior, olhando para a ainda impossível criatura quando -
- ele abriu os olhos negros e brilhantes. Sem muita força, Mr. X levantou-se, bloqueando o corredor, suas mãos
erguendo-se de novo -
- e com um forte impulso, ele cortou o ar com a mão, seus longos braços bem na frente dela enquanto recuava.
O movimento foi suficiente para cravar o punho na parede, prendendo-o.
Eu, poderia ter sido EU -
Voltar para o escritório a deixaria cercada. Sem pensar mais, Claire correu, passando por Mr. X, seu braço direito
esfregando no pesado casaco dele, seu coração pulando uma batida quando o material a tocou.
Ela correu, virou à esquerda e desceu o corredor, tentando não ouvir Mr. X libertando a mão.
Jesus, o que é aquela COISA -
Ela voltou para a sala de espera, batendo a porta enquanto corria. Claire não pensava em outra coisa senão
correr mais rápido.
#
Ben Bertolucci estava na última cela, deitado na cama de metal pendurada na parede, roncando levemente.
Mantendo suas expressões cuidadosa-mente neutras, Ada deixou Leon acordá-lo. Ela não queria parecer ansiosa,
mas se havia algo que sabia sobre os homens era que eles são mais fáceis de lidar quando pensam estar no
controle. Ada olhou para Leon com a paciência que não sentia.
Eles tinham passado por um corredor vazio e um canil antes de achá-lo. Apesar do frio e úmido ar cheirando
sangue e podridão, eles não viram nenhum corpo - o que era estranho, já que Ada sabia o que tinha acontecido
na garagem. Ela pensou em perguntar a Leon o que tinha acontecido, mas decidiu que quanto menos falar
melhor; ele não devia se acostumar com a presença dela. Ela chegou a ver a tampa do bueiro no canil,
enferrujando num canto escuro, e agradecida por ver um pé-de-cabra ali perto. Com Bertolucci dormindo ali, Ada
sentiu que as coisas finalmente começaram a dar certo -
"Deixe-me adivinhar". Leon disse bem alto, batendo a arma nas barras de metal. "Você deve ser Bertolucci,
certo? Levante-se, agora."
Bertolucci suspirou e sentou-se devagar, esfregando a mão no queixo. Ada quis sorrir; ele estava mau - roupa
amarrotada, rabo de cavalo desarrumado.
Ainda de gravata. O coitado deve achar que isso o faz parecer um repórter...
"O que você quer? Eu estava tentando dormir aqui". Ele parecia nervoso, e de novo Ada teve que conter um
sorriso.
Leon olhou para Ada, parecendo incerto. "É ele?".
Ela acenou, percebendo que Leon o considerava um prisioneiro. A conversa esclareceria tudo, mas ela não queria
que Leon ouvisse demais; Ada precisa escolher bem as palavras.
"Ben, você disse aos oficiais da cidade que sabia o que estava acontecendo aqui, não foi? O que você disse a
eles?".
Bertolucci levantou e a encarou. "Quem diabos é você?".
Fingindo que não ouviu, Ada aumentou o desespero, mas só um pouco; ela não devia parecer uma coitada,
poderia contrariar o fato de ter sobrevivido todo esse tempo.
"Eu estou tentando achar um - amigo meu, John Howe. Ele trabalhava para uma divisão da Umbrella em Chicago,
mas desapareceu há alguns meses atrás - e eu ouvi dizer que ele está aqui, nesta cidade...".
Ela parou, vendo a expressão do repórter. Ele sabia de algo, sem dúvida - mas ela não achava que ele fosse
desistir.
"Eu não sei de nada". Ele disse, irritado. "e mesmo se eu soubesse, por que eu deveria dizer?".
Original. Se o policial não estivesse aqui, eu só daria um tiro no repórter.
Na verdade, ela não atiraria: Ada não estava lá para diversão. Ela podia usar um de seus métodos mais
persuasivos - se seu charme feminino não funcionar, uma bala no joelho ajudaria. Infelizmente, ela não podia
fazer nada com Leon por perto. Ela não tinha planejado esse encontro.
O policial não estava feliz com as respostas de Ben. "Tá bom, podemos deixá-lo aí". Leon disse, falando com
Ada, mas olhando bem irritado para Ben.
Bertolucci sorriu, tirando um anel redondo com as chaves da cela. Ada não se surpreendeu e Leon ficou mais
irritado.
"Por mim tudo bem". Bertolucci disse. "Eu não quero sair daqui mesmo. É o lugar mais seguro do prédio. Tem
mais do que zumbis por aí, acreditem em mim".
Pelo jeito que falou, Ada pensou em ter mesmo que matá-lo. As instruções de Trent foram claras - se o repórter
souber de alguma coisa sobre o trabalho de Birkin no G-virus, ele deve ser eliminado; por que, exatamente, ela
não estava certa, mas esta é a missão. Se ela pudesse ficar um momento a sós com ele, conseguiria descobrir o
quanto ele sabe.
Mas como? Ela não queria matar Leon; como regra, ela não mata inocentes - além disso, ela gostava de policiais.
"Ggrraaa!".
Um violento e inumano grito furou o silêncio. Ada girou o braço, mirando no portão que dava para o corredor. E
estava no subsolo -
"O que foi aquilo?". Leon disse. Ada esperava que ele soubesse a resposta. O eco do furioso grito não se
#
comparava à nada que ela já tinha ouvido - mesmo sabendo o que a Umbrella fazia, isso não era esperado.
"Como eu disse, eu não saio daqui". Bertolucci disse. "Agora vão embora antes que o tragam direto para mim!".
Covarde chorão -
"Olha, eu posso se o único policial vivo nesse prédio". Leon disse, a combinação de medo e força em sua voz fez
Ada olhar para ele. O olhar do policial estava fixado em Bertolucci, seus olhos azuis agudos e firmes.
"... e se você quiser viver, terá que vir conosco".
"Esqueça". Ben disse. "Eu vou ficar aqui até a cavalgaria chegar - e se forem espertos, farão a mesma coisa".
Leon balançou a cabeça. "E se eles demorarem dias para vir, é melhor acharmos um jeito de sair de Raccoon - e
você escutou aquele grito. Você quer ser visitado pelo que fez aquilo?".
Ela se impressionou; alguma criatura da Umbrella por aí e Leon tentando salvar um repórter inútil.
"Eu vou correr o risco". Disse Bertolucci. "e boa sorte para fugir, vocês vão precisar...".
O repórter foi até as barras, olhando entre elas, passando a mão no cabelo.
"Olha,". Disse suavemente. 'tem um canil lá atrás, com um poço no chão vocês podem chegar ao esgoto por lá,
deve ser o caminho mais rápido para fora da cidade".
Ada suspirou intensamente. Ótimo; revelou sua passagem secreta para o laboratório. Se ela correr de Leon
agora, vai levar uns cinco minutos para ele alcançá-la.
Você pode matá-lo se necessário. Ou... você o faz se perder nos esgotos e volta para Bertolucci.
Como o repórter, ela não queria ver a coisa que gritou - sendo que ele não vai fugir, enganar o policial é a melhor
saída.
O que eu não faço para evitar derramamento de sangue.
"Certo, eu vou verificar". Ela disse, e sem esperar a resposta de Leon, virou e correu.
"Ada! Ada, espere!".
Ela o ignorou, passando pelas celas e voltando para o corredor, aliviada por ainda estar vazio. Tudo poderia ser
mais fácil se ela tivesse matado os dois, mas a situação é diferente. Ela estava cansada de tantas mortes, e
cansada do que a Umbrella fez; ela não vai matar um policial, exceto se precisar.
E se ela precisar, será pela vida de um inocente ou pela finalização da missão?
Essa pergunta a disse mais sobre sua consciência do que queria admitir. Ela chegou na porta do canil; respirando
fundo e apagando qualquer emoção de sua mente, Ada entrou para esperar Leon S. Kennedy.
[14]
Tão bonita... mesmo morta, Beverly Harris era radiante. Irons não podia esperar que ela acordasse enquanto
olhava; ele a colocou cuidadosamente no gabinete de pedra debaixo da pia e trancou, prometendo que a tiraria
dali assim que tiver mais tempo. Ela se tornará o animal mais delicado que já transformou, posando eternamente
perfeita assim que prepará-la do modo certo... um sonho se realizando.
Se eu tiver tempo. Se houver tempo restando.
Ele sabia que estava sentindo pena de si mesmo de novo. Não tinha ninguém para dividir a magnitude de tudo o
que já sofreu. Ele se sentiu terrível - triste, bravo e sozinho - mas também sentiu que tudo ficou claro. Agora ele
sabia por que estava sendo perseguido.
Umbrella. Uma conspiração para me destruir, todo esse tempo...
Irons sentou na manchada mesa de seu san-tuário, seu especial e particular lugar, pensando em quanto tempo
levará para a jovem mulher aparecer.
A do corpo atlético que não disse seu nome. De certo modo, ela foi responsável por sua descoberta.
Ela o achará, claro; era uma espiã da Umbrella, a companhia que o tem observado por um tempo. Eles deviam
ter uma lista de todos os seus pertences, relatórios psicológicos e até cópias de suas contas bancárias. Tudo fazia
sentido, agora que tinha tempo para pensar; ele era o homem mais poderoso em Raccoon, e a Umbrella
designou sua queda.
#
Irons olhou para seus tesouros, as ferramentas e troféus que estavam nas estantes à sua frente, e não sentiu o
prazer que costumavam inspirá-lo. Os ossos polidos eram só algo para olhar enquanto sua mente trabalhava,
absorvida com a traição da Umbrella.
Anos atrás, quando ele passou a receber dinheiro da companhia para ficar cego sobre seus feitos, as coisas eram
diferentes; aí era só uma questão de política, achar uma boa posição na poderosa estrutura que controlava
Raccoon. E tudo funcionou bem por um longo tempo - sua carreira prosseguiu como previsto, ganhou o respeito
dos oficiais e cidadãos, e na maior parte, seus investimentos valeram a pena. A vida estava sendo boa.
Depois apareceu Birkin. William Birkin e sua neurótica esposa, e a filha.
Depois do que aconteceu na mansão de Spencer, ele quase se convenceu de que o S.T.A.R.S. foi o responsável,
mas agora ele percebe que foi mesmo Birkin, um ano antes da bola começar a rolar; a destruição da mansão só
adiantou as coisas. A Umbrella deve ter começado a monitorá-lo desde que conheceu Birkin - primeiro só o
observavam, instalando câmeras e microfones ocultos. Os espiões viriam depois...
Os Birkin vieram para Raccoon tal que William pudesse se dedicar ao desenvolvimento de uma versão superior ao
T-virus, baseado na pesquisa do laboratório da mansão. Por mais que William fosse esquisito e desagradável,
Irons gostava dele, desde o começo. William era o menino gênio da Umbrella, e como Irons, não reclamava de
seu cargo; Birkin era humilde, só interessado em desempenhar seu papel. Ambos eram muito ocupados para
manter uma amizade, mas havia respeito entre os dois: às vezes Irons percebia que William o observava...
E o meu erro foi deixar. Deixar o meu respeito por ele nublar meus instintos, não me deixar perceber que estava
sendo observado desde o começo.
A perda do laboratório da mansão fez passar algumas ondas pela hierarquia da Umbrella, e alguns dias depois de
explosão, Annette Birkin foi até ele com uma mensagem do marido - uma mensagem e um favor. Birkin estava
preocupado, a Umbrella iria exigir o G-virus antes de ser terminado; ele não estava satisfeito com a aplicação de
seu último trabalho, parece que a Umbrella não o deixou aperfeiçoar o processo de replicação, Irons não se
lembra direito - e com a Umbrella tentando recuperar as perdas financeiras da mansão, Birkin ficou com medo de
eles comprometerem a integridade do não-testado vírus.
Através de Annette, William pediu ajuda - e ofereceu um pequeno incentivo extra. Por cem mil, Irons teria que
ajudar a manter o G-virus encoberto - resumindo, tomar cuidado com espiões da Umbrella e ficar de olho nos
sobreviventes do S.T.A.R.S.
Dinheiro fácil, exceto por ser uma armadilha da Umbrella...
Irons foi direto para ela, e foi quando a companhia começou a conspirara contra ele, usando as informações que
conseguiram selar seu destino. Como tudo aconteceu tão rápido? O S.T.A.R.S. desapareceu, depois Birkin - e
antes de entender a situação, os ataques recomeçaram.
Irons desceu da mesa e caminhou por ela, vagarosamente tocando os cortes na madeira. Havia uma história em
cada marca, a memória de um feito - e de novo, não lhe davam prazer. A fria e calma atmosfera de seu
santuário sempre o consolou, onde praticava seus hobbies, onde ele podia ser ele mesmo - e agora não é mais
seu. Nada era, a Umbrella tirou tudo dele, tal como a cidade. Será que soltaram o vírus para pegá-lo, para roubar
seu poder - e depois mandaram aquela garota de roupa provocante para ele se divertir? Por que ela era atraente?
Eles conheciam suas fraquezas...
...e em breve ela voltará, talvez bancando a perdida, tentando me seduzir com seu indefeso comportamento.
Uma assassina da Umbrella, uma espiã exploradora, tudo o que ela é, provavelmente rindo de mim por trás
daquele rosto bonito...
Talvez a contaminação foi um acidente; da última vez que se viram, William estava instável, paranóico e exausto,
e acidentes acontecem na melhor das circunstâncias. O resto era fato, não tinha outra explicação para o quanto
arruinado Irons estava. Aquela garota estava vindo pegá-lo, ela era da Umbrella e foi enviada para matá-lo. E não
pararia aí, oh, não, ela vai achar Beverly e... e sujá-la de algum modo, só para ter certeza de que nada de Irons
sobrará.
Irons olhou em volta da pequena e suavemente iluminada sala que um dia foi sua, olhando orgulhosamente para
as bem usadas ferramentas e móveis, o doce e familiar cheiro de desinfetante emanando das irregulares paredes
de pedra.
Meu santuário. Meu.
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Ele pegou o revólver que estava em sua especial mesa de corte, a VP70 ainda era sua, e sentiu um pequeno
sorriso nos lábios. Sua vida estava acabada. Tudo começou com Birkin e vai terminar aqui, pelas suas próprias
mãos. Mas não agora.
A garota vai voltar, e ele vai matá-la, antes de dizer adeus para Beverly, antes de admitir sua derrota com um
tiro. Mas ele a fará sentir seu sofrimento antes. Por cada tortura que ele sofreu, a garota iria pagar, a conta
descontada em cada osso o mais dolorosamente possível.
Ele iria morrer, mas não sozinho. Não sem ouvir a garota gritar de agonia, criando a voz para a morte de seus
sonhos - uma voz tão verdadeira que o eco atingiria o coração dos executivos da companhia que o traiu.
A sala do S.T.A.R.S. estava vazia, desarrumada, fria e empoeirada, mas Claire não queria sair. Depois de seu
aterrorizante vôo pelos corredores do segundo andar, achar o lugar de trabalho de seu irmão a deixou aliviada.
Mr. X não a seguiu, e mesmo querendo achar Sherry e Leon, ficou com medo de voltar para o corredor - e
hesitante em deixar o único lugar que se parecia com Chris.
Onde você está meu irmão? E o que vou fazer? Zumbis, fogo, morte, seu estranho chefe e a garota perdida - e
quando as coisas não podiam ficar piores, eu dou de cara com a-coisa-que-não-quer-morrer, o monstro dos
monstros. Como eu saio dessa?
Ela sentou na mesa de Chris, olhando as fotos preto e brancas que achou no findo da gaveta; as quatro eram
deles dois, sorrindo e posando na semana que passaram em Nova Iorque no natal passado. Primeiro ela quis
chorar, mas os dois sorrindo a fizeram se sentir melhor. Mais calma. Mais forte. Ela o amava, e onde quer que
ele esteja, a amará de volta - e se ambos sobreviveram a perda dos pais, reconstruíram suas vidas e dividiram
um bobo natal por não ter um lar para ir, então eles podiam enfrentar tudo. Claire podia.
Pode e vai. Eu vou achar Sherry, Leon e se Deus quiser, meu irmão - e nós vamos sair de Raccoon.
A verdade era, ela não tinha outra escolha - mas ela precisa aceitar a falta de opções antes de agir. Uma vez ela
ouviu que bravura não era a ausência do medo, era aceitar o medo e fazer o que for necessário.
Claire respirou fundo, colocou as fotos no colete e levantou da cadeira. Ela não sabe para onde Mr. X foi, e ele
não parece ser alguém que fica esperando. Ela vai voltar para a sala de Irons e ver se Sherry voltou - ou Irons.
Se X ainda estiver lá, ela pode correr.
Além disso, eu devia vasculhar a sala e tentar achar algo sobre o S.T.A.R.S.
De pé, ela olhou em volta, desejando ter achado mais informações. Tudo o que achou de útil foi uma mochila
engraçada na mesa de trás; segundo o cartão vencido da biblioteca, a mesa era de Jill Valentine. Claire nunca a
conheceu mas Chris já falou dela algumas vezes, disse que era boa com armas...
Pena que não deixou uma para trás.
Eles devem ter deixado para trás tudo o que não era importante depois da suspensão, apesar de ainda haverem
muitos itens pessoais lá. Porta retratos, copos de café e o de costume. Ela olhou para a mesa de Barry, havia
uma arma de montar quase terminada. Barry Burton era um dos amigos mais próximos de Chris, um grande e
amigável homem, maluco por armas. Claire esperou que onde quer que Chris esteja, Barry esteja cuidando dele.
Com um lança-chamas.
Falando nisso...
Ela precisa achar outra arma, ou mais munição; ela só tinha treze balas restando, um clip inteiro. Talvez ela deva
checar alguns corpos na volta para a asa leste; mesmo correndo apavorada, ela percebeu que alguns deles eram
policiais, e seu revólver era um equipamento do R.P.D.. Claire não gostou da idéia de ter que tocar cadáveres,
mas ficar sem balas era pior - principalmente com Mr. X por aí.
Claire voltou para a porta e a abriu, organizando seus pensamentos enquanto voltava para o escuro corredor.
Deixar o escritório a fez apagar a ainda vívida imagem de Mr. X, sentindo-se vulnerável de repente. Ela foi para a
direita e começou a voltar para a biblioteca, decidindo que não pensará mais no gigante, exceto se precisar, não
insistiria na memória daqueles olhos vazios, ou do modo que ergueu o punho, como se fosse destruir tudo em
seu caminho...
... então apague tudo isso. Pense em Sherry, em como achar munição ou como lidar com Irons, caso o ache.
Pense em ficar viva.
Bem à frente o corredor virava à esquerda e Claire tentou ignorar a tarefa seguinte; se não lhe falhe a memória,
tinha um policial morto perto da curva.
- como se eu não soubesse pelo cheiro -
#
- e ela tinha que vasculhá-lo. Ele não parecia tão nojento -
Claire fez a curva e congelou, olhando. Seu estômago deu um nó, dizendo-a que estava em perigo antes mesmo
de seus sentidos. O corpo que ela tinha pulado a caminho do escritório do S.T.A.R.S. tinha virado uma enrolada e
sangrenta massa de carne, ossos quebrados e uniforme rasgado. A cabeça se foi, apesar de não saber se foi
arrancada ou se estava dissolvida na polpa. Parece que alguém martelou o corpo depois que passou por ele.
Mas como, eu não ouvi nada -
Algo se mexeu. Uma suave sombra sobre os restos a alguns metros dela, e na mesma hora, Claire ouviu um
áspero som, respirando -
- e ela olhou para cima, ainda incerta sobre o que via ou ouvia - a respiração e o tick das garras na madeira,
grossas e curvas, as garras de uma criatura que não podia existir. Grande, do tamanho de um homem adulto,
mas a semelhança terminava aí - era tão impossível que só o via por partes, sua mente forçando para juntá-las.
A inflamada e avermelhada carne da criatura pelada, seus longos membros que aderiam no teto. A inchada
massa cinzenta do cérebro parcialmente exposto. Um coroa cicatrizada onde os olhos deveriam estar.
- não estou vendo isso -
A cabeça da criatura rolou para o lado, sua grande boca abrindo, um longo fio de baba caindo e acertando o que
tinha sobrado do policial. Ele estendeu a língua, lisa e rosa, a superfície brilhando enquanto deslizava para fora. E
para fora. E para fora, a comprida língua ia de um lado para o outro, tão longa que tocou os restos do policial.
Ainda congelada, Claire olhava desacreditada enquanto a língua era recolhida, deixando pingar sangue. O processo
inteiro só levou um segundo, mas o tempo começou a passar, o coração de Claire batia tão forte que tudo mais
estava em câmera lenta - até quando a criatura pulou no chão de madeira, seu corpo girando no ar e
aterrissando agachado em cima do corpo mutilado.
A criatura abriu a boca de novo e gritou -
- e Claire finalmente conseguiu se mexer, apontando e atirando. O trovão das balas ecoaram pelo corredor,
bam-bam-bam -
- e ainda gritando, a criatura caiu de costas, seus braços batendo. As pernas chutaram pedaços de carne do
cadáver no chão; Claire viu um pedaço de pele, ainda com uma orelha grudada, voar pelo corredor e bater na
parede, deslizando até o chão -
- e a criatura se desvirou, partindo em um arremesso. Ele engatinhou até ela, rápido como um raio, agarrando o
chão com suas garras e uivando.
Claire atirou de novo, não ciente de que também estava gritando enquanto três balas acertaram a coisa,
atravessando a cinza massa que saia de seu crânio. Ela ia morrer, estará nela em menos de um segundo, as
garras estavam a centímetros de suas pernas -
- e tão subitamente quanto o ataque foi, estava acabado. Cada parte do robusto corpo tremeu, balançou
enquanto um líquido claro gotejava de sua cabeça, as grossas garras batendo no chão de madeira
ritimadamente. Com um último choro, a criatura morreu. Não houve erro desta vez. Ela acertou o cérebro, não
vai se levantar.
Ela olhou para o monstro, sua mente procurando por algo parecido, algum animal - mas ela desistiu, percebendo
que era uma causa perdida. Não era uma criatura natural e por mais que parecesse, ela finalmente sentiu o
cheiro - o odor não era tão picante quanto o dos zumbis. Era um amargo e oleoso cheiro, mais químico do que
animal...
... podia cheirar como bolachas de chocolate, quem se importa? Raccoon City ganhou monstros, é hora de parar
de ficar tão surpresa ao ver um deles.
Por mais que quisesse se sentir brava e determinada, pensou seriamente em voltar para o escritório do
S.T.A.R.S. e trancar a porta. Poderia se esconder e esperar a ajuda, poderia estar a salvo -
Decida. Faça algo, de um jeito ou de outro, pare de hesitar e choramingar, por que não é só você. Estará Sherry
a salvo? Você quer viver às custas da vida dela.
Claire deu um cuidadoso passo sobre a criatura e agachou perto do que sobrou do policial, usando a ponta da
arma para virar um pedaço do uniforme. Ela respirou bile enquanto vasculhava os restos, tentando não imaginar
quem o policial foi ou como morreu.
Nada, e agora ela só tem sete balas - mas ela rejeitou o pânico, deixando a decepção abastecer sua
determinação. Se ela examinou um monte de carne, poderia examinar outro.
Com um último olhar para a criatura, Claire levantou e andou rápido para o fim do corredor, decidida: sem se
#
esconder e sem correr do medo. Pelo menos ela pode levar algum monstro consigo, aumentando as chances de
Sherry sobreviver.
Seria melhor morrer tentando do que não tentar. Ela não vai hesitar novamente.
[15]
Leon encontrou Ada no canil, fazendo força para erguer a enferrujada tampa do poço que tinha sido mencionada
pelo repórter. Ela tinha achado um pé-de-cabra e o colocou sob a tampa, seu bem definido bíceps brilhava com o
suor enquanto puxava a tampa. Ela conseguiu erguer a tampa um centímetro, mas deixou cair assim que ele
apareceu, o som metálico bem alto no vazio lugar.
Antes que ele pudesse dizer alguma coisa, ela soltou a barra no chão de cimento e olhou para cima, dando um
meio sorriso, esfregando as mãos sujas.
"Ainda bem que está aqui. Não acho que sou forte o bastante para conseguir sozinha...".
Ele não tinha certeza antes mas aquele indefeso sorrisinho apertou o nó; ela estava enganando ele, ou tentando.
Ele conheceu Ada há vinte minutos e nunca achou que ela fosse indefesa para nada.
"Parece estar indo bem". Ele disse, guardando a arma e sem se mexer para ajudar. Ele cruzou os braços,
franzindo. Não estava bravo, só curioso.
"Qual é a pressa? Pensei que você quisesse falar com o repórter. Sobre John, seu amigo da Umbrella...".
As expressões dela ficaram frias e duras, mas não de um modo ruim; ela foi bem cuidadosa para evitar as
perguntas de Leon, mas desta vez a Sra. Wong terá que explicar algumas coisas.
Ada se levantou e o olhou. "Você ouviu - ele não ia contar nada para nós. E perigoso como esse lugar é, eu não
quero ficar esperando por aí...".
A voz dela suavizou. "... e eu nem sei se John está em Raccoon. Mas eu sei que não está aqui - e eu quero sair
da delegacia antes que seja completamente dominada".
Parecia bom, mas por algum motivo, ele sentia que Ada estava escondendo algo. Por alguns segundos, ele fez
força para achar o modo correto de fazê-la se abrir - depois deixou de lado; sob as circunstâncias, agrados ficarão
suspensos.
"O que está acontecendo, Ada? Você sabe de algo e não quer me contar?".
Ela olhou para ele de novo, e de novo, ele acha que a surpreendeu - mas o olhar dela estava mais ilegível do que
nunca.
"Eu só quero sair daqui". Ela disse, e a sinceridade na sua voz era inegável. Ele podia não acreditar em nada do
que ela disse, mas nisso ele tinha que acreditar.
Queria que fosse fácil assim, mas tem a Claire, Ben, nosso amigo idiota, e só Deus sabe lá quantos outros.
Leon balançou a cabeça. "Eu não posso ir. Como eu disse, eu posso ser o único policial restando. Se ainda houver
sobreviventes, eu preciso tentar ajudá-los. E eu acho melhor você vir comigo".
Ada deu outro sorrisinho. "Eu aprecio sua preocupação, Leon, mas eu posso cuidar de mim mesma".
Ele não duvidava - mas também não queria vê-la testar suas habilidades. Ele também não foi bem testado, mas
foi treinado para lidar com situações críticas, era seu trabalho.
E seja honesto consigo mesmo - você perdeu Claire, não pode ajudar Branagh, e Ben não quis saber de sua
proteção; você não quer falhar com Ada. E você não quer ficar sozinho.
Ada parecia saber o que ele pensava. Antes que ele pudesse falar algo convincente, ela se aproximou e tocou o
braço de Leon, o humor sumindo de seus olhos.
"Eu sei que precisa fazer sua parte aqui - nós temos que sair de Raccoon, tentar sair e pedir ajuda. E os esgotos
devem ser a melhor chance que temos...".
O toque o surpreendeu - e mandou um tremor para sua barriga, deixando-o confuso e incerto. Ele tentou
esconder a sensação, mas só um pouco.
Ada continuou, franzindo, pensativamente. "Que tal isso - me ajude com a tampa e vemos o que tem lá
#
embaixo. Se for perigoso, eu volto com você... mas se estiver ruim - bom, nós conversamos sobre isso depois".
Ele queria protestar, mas a verdade era, ele não podia obrigá-la a fazer algo que não queria - e ele queria muito
que ela não pensasse que ele era do tipo "machão", que ele estava aberto a um compromisso...
... e o nome John te lembra algo? Pare de pensar em seus hormônios.
Sentindo-se estranho ao pensar nisso com ela ainda o tocando, Leon se afastou, acenando ligeiramente. Juntos,
eles se agacharam perto da tampa. Leon pegou o pé-de-cabra e encaixou na tampa; assim que ele a levantava,
Ada empurrou a barra. Com um alto rangido metálico a tampa abriu -
- e ambos se afastaram por causa do cheiro que saiu do buraco, um sufocante cheiro de sangue, vômito e urina.
"Eca, o que é isso?". Leon tossiu.
Ada sentou nos calcanhares, tampando a boca com a mão. "Os corpos da garagem, devem ter sido jogados
aqui -".
Antes que ele pudesse perguntar do que ela estava falando, um grito de puro terror ecoou pelo subsolo, filtrado
pela porta fechada. O grito continuou e continuou, um homem, o aterrorizado grito mudando para um berro de
dor.
O repórter.
Leon travou seu olhar com o de Ada, viu a mesma percepção nela - e já estavam correndo, empunhando armas
e cruzando a porta antes dos ecos morrerem.
Eu o deixei, eu não devia -
Eles correram para a área das celas, a culpa fazendo Leon correr o mais rápido que podia. Alguém ou algo achou
Bertolucci.
Sherry parou no escritório de Irons, esfregando seu colar da sorte e rezando para que Claire voltasse. Ela
engatinhou por vários túneis empoeirados para se livrar do monstro e mantê-lo longe de Claire, e tinha certeza de
que funcionou - ela não o ouviu de novo e voltou só para descobrir que Claire tinha partido; se o monstro a
tivesse achado, estaria morta e partida ao meio.
Mas ela não está aqui. Ninguém está...
Sherry sentou na ponta da mesa no meio da sala, pensando no que faria. Ela tinha se acostumado com a solidão,
mas Claire mudou tudo, queria vê-la de novo, queria estar com outras pessoas, queria tanto os pais que
começou a doer. Até Sr. Irons seria bom, apesar de Sherry não gostar dele; ela só o viu algumas vezes e ele era
estranho, orgulhoso e falso - e seu escritório era pavoroso.
Mesmo assim, ela ficaria grata com a presença dele, só para não ficar sozinha -
Passos. No corredor fora da sala.
Sherry levantou e correu para a porta aberta que ia para a sala das armaduras, esperando que fosse Claire e
pronta para correr se não fosse. Ela se escondeu atrás da porta e prendeu a respiração, olhando para o tigre
empalhado e rezando.
A porta externa abriu e fechou. Abafados e vagarosos passos no carpete, e Sherry tentou correr, ao mesmo
tempo criando coragem para dar uma olhada -
"Sherry?".
Claire.
"Estou aqui!".
Ela correu par o escritório e lá estava Claire, iluminada com um sorriso. Sherry voou nos braços dela, tão feliz em
vê-la que quis chorar.
"Eu estava procurando você". Claire disse, abraçando-a fortemente. "Não corra daquele jeito de novo, está
bem?".
Claire se ajoelhou na frente dela, ainda sorrindo - mas Sherry pôde ver a preocupação em seu olhar.
"Eu sinto muito". Sherry disse. "Eu tive que correr senão o monstro viria".
Como ele se parece?". Claire perguntou, apagando o sorriso. "Ele é meio vermelho com garras?".
Sherry suspirou. "Os homens do avesso! Você viu um, não viu?".
Claire riu, balançando a cabeça. "É, é exatamente o que eu vi, um homem do avesso... boa descrição".
Claire olhou mais seriamente para Sherry, franzindo "Homens? Existem mais deles?".
"Sim, mas nem se comparam com o monstro. Eu só o vi uma vez, de costas, e é gigante -".
"Careca? Vestindo um longo casaco?".
#
"Não, ele tinha cabelo, cabelo claro. E um de seus braços era todo estragado, bem mais comprido que o outro".
Claire suspirou. "Ótimo. Raccoon tem algo diferente para cada um, parece que...".
Ela segurou a mão de Sherry, esfregando-a "... e é mais uma razão para ficar comigo. Você fez um ótimo
trabalho cuidando de si mesma, foi muito corajosa - mas até acharmos seus pais, é meu dever cuidar de você. E
se o monstro vier, eu vou - eu vou chutar o traseiro dele, tá bom?".
Sherry riu, surpresa. Ela gostava de Claire falando para cima com ela. Sherry acenou e Claire esfregou sua mão
de novo.
"Bom. Então nós temos zumbis, homens do avesso, e um monstro. E um grandão careca... Sherry, você sabe o
que aconteceu em Raccoon? Como tudo isso começou, pode dizer qualquer coisa - pode ser importante".
Sherry franziu, pensando. "Bom, houve um monte de mortes em Maio e Junho passado, acho - umas dez
pessoas foram mortas. Depois a mortes pararam, e algumas semanas atrás alguém foi atacado de novo".
Claire acenou. "Certo. Mais alguém foi atacado, ou... o que a polícia fez?".
Sherry balançou a cabeça. "Eu não sei. Logo depois que aquela garota foi atacada, minha mãe ligou do trabalho
muito preocupada, disse que eu não podia sair de casa. A Sra. Willis - nossa vizinha - veio fazer o jantar para mim
e assim soube daquela garota. Mamãe ligou de novo no dia seguinte, e me disse que papai e ela estavam presos
no laboratório e não voltariam por um tempo - e então, três dias atrás, ela pediu que eu viesse para cá. Eu fui
ver se a Sra. Willis viria comigo, mas sua casa estava escura e vazia. Acho que as coisas já estão bem ruins".
Claire ouvia atentamente "Você ficou sozinha todo esse tempo? Mesmo depois que chegou aqui?".
"Bem, sim, mas eu sempre fico sozinha. Meus pais são cientistas; seus trabalhos são importantes e às vezes não
podem interrompê-los. Minha mãe sempre diz que eu sou auto-suficiente quando quero".
"Você sabe que tipo de trabalho seus pais fazem? Na Umbrella?
"Eles fazem curas para coisas, para doenças". Sherry disse orgulhosa. "Eles fazem remédios, soros que hospitais
usam...".
Sherry parou, percebendo que Claire parecia distraída, seu olhar bem distante. Era o olhar que viu muitas vezes
nos rostos de seus pais - e significava que não estavam mais ouvindo. Mas assim que parou de falar, Claire
voltou para ela, tocando seu ombro - e por algum motivo bobo, aquilo a fez querer chorar novamente.
Deve ser porque ela está me ouvindo. Porque ela quer cuidar de mim.
"Sua mãe está certa,". Claire disse gentilmente. "você é muito auto-suficiente, e o que fez até agora diz que é
muito corajosa, também. Isso é bom, por que nós duas precisamos ser fortes para sairmos daqui".
Sherry abriu mais os olhos. "Como assim. Deixar a delegacia? Mas tem zumbis por toda a parte, e eu não sei
onde os meus pais estão, e se eles precisam de ajuda ou estão me procurando -".
"Meu bem, eu tenho certeza de que eles estão bem". Claire disse rapidamente. "Eles ainda devem estar no
laboratório, escondidos em segurança, igual você esteve - esperando ajuda para, para fazer tudo ficar melhor -".
"Você diz, matar todo mundo,". Sherry disse. "eu tenho doze anos, sabe, não sou mais um bebê".
Claire sorriu. "Desculpe. É, para matar todo mundo, sim. Mas até os homens bons virem, nós ficaremos juntas. E
a melhor e mais inteligente coisa a fazer é sair do caminho deles - o mais longe possível. Você tem razão, as ruas
não são seguras, mas quem sabe nós achamos um carro...".
Claire se levantou e foi até a mesa de Irons, olhando em volta. "Talvez Chefe Irons tenha deixado as chaves do
carro aqui, ou outra arma, algo que possamos usar -".
Claire viu algo no chão atrás da mesa. Ela se agachou e Sherry foi atrás, tanto para ficar perto quanto para ver o
que ela tinha achado.
"Tem sangue aqui". Claire disse tão baixo que parecia não ter dito nada.
"E?".
Claire olhou para a parede, franzindo, depois voltou para a grande mancha de sangue no chão. "Ainda está
úmido. Repare como ela é simplesmente cortada. Devia ter mais na parede aqui...".
Ela bateu na parede, ouvindo um som vazio, oco.
"Tem alguma sala aí atrás?". Sherry perguntou.
"Eu não sei, parece que sim. E explicaria para onde ele levou... por onde ele tinha saído antes. Chefe Irons".
Claire olhou para Sherry enquanto corria a mão pela parede e empurrando. "Sherry, veja se tem algum botão ou
alavanca perto da mesa. Acho que deve estar escondido em algum lugar, talvez em uma das gavetas...".
#
Sherry começou a andar atrás da mesa - e tropeçou, seu pé deslizando em algum lápis. Ela se segurou na mesa
para recuperar o equilíbrio, mas ainda assim caiu de joelhos.
"Ai!".
Claire estava à sua direita, já segurando seus ombros. "Você está bem?".
"Estou. Eu só - ei! Olha!".
Sherry apontou para um botão sob a mesa, no meio de uma placa de metal. Parecia um interruptor de luz, mas
tinha que ser para a porta secreta, ela sabia.
Eu achei!
Claire viu e apertou - e atrás delas, um seção da parede deslizou para cima, desaparecendo no teto, e expondo
uma outra sala de tijolos. Um frio e úmido ar entrou no escritório; era uma passagem secreta, igual às dos filmes.
Juntas, se levantaram e entraram na abertura, Claire segurando Sherry até olhar primeiro. A pe-quena sala
estava vazia - três paredes de tijolos, chão de madeira e uma grande e antiga grade de elevador na parede da
direita, daquelas que abrem para o lado.
"Nós vamos pegá-lo? Sherry perguntou. Ela estava ansiosa e nervosa.
Claire pegou sua arma, se agachou para Sherry e sorriu - mas não era um sorriso feliz, e Sherry já sabia o que ia
ouvir.
"Meu bem, acho que vai ser mais seguro se eu descer e dar uma olhada, e você ficar aqui -".
"Mas você disse que ficaríamos juntas! Você disse que podíamos pegar um carro e fugir! E se o monstro voltar e
você não estiver aqui, ou se você morrer?".
Claire a abraçou, e Sherry quase enjoou de tanta raiva. Ela ia dizer para não se preocupar, que o monstro não vai
voltar, que nada ruim ia acontecer - e depois iria embora.
Adultos mentirosos -
Claire se afastou, tirando o cabelo do rosto de Sherry. "Eu não a culpo por estar assustada. Eu também estou.
Esta é uma situação ruim - e sinceramente, eu não sei o que vai acontecer. Mas eu quero fazer a coisa certa por
você, e isso quer dizer que eu não vou levá-la para um lugar onde pode se machucar, não se eu puder ajudar".
Sherry guardou as lágrimas e tentou de novo. "Mas eu quero ir com você... e se você não voltar?".
"Eu vou voltar,". Claire disse. "eu prometo. E se - se eu não voltar, eu quero que se esconda novamente. Alguém
virá ajudar em breve, e vão te achar".
Pelo menos estava sendo honesta; Sherry não estava gostando, e não tinha nada que pudesse mudar a decisão
de Claire. Poderia agir como um bebê ou apenas aceitar.
"Tome cuidado". Claire disse, e abraçou Sherry antes de ficar de pé e ir para a o elevador. Ela apertou o botão ao
lado da grade e um leve hum foi ouvido; depois de alguns segundos a cabine veio de baixo, parando gentilmente.
Claire abriu a grade e entrou, virando para ver Sherry.
"Fique aqui, querida, eu voltarei em alguns minutos".
Sherry forçou um aceno - e Claire fechou a grade. Ela apertou algo lá dentro e a cabine desceu, seu sorriso
saindo de visão, deixando a garota sozinha na fria passagem.
Sherry sentou-se no chão empoeirado e abraçou os joelhos. Claire era corajosa e esperta, ela voltará logo, ela
tem que voltar logo...
"Eu quero minha mãe". Sherry cochichou, mas ninguém estava lá para ouvir. Ela estava só de novo; tudo o que
menos queria.
Mas eu sou forte. Eu sou forte e posso esperar.
Ela descansou a bochecha em um joelho, tocando seu colar da sorte, e começou a esperar por Claire.
[16]
Annette Birkin sentou-se na sala de monitoramento, exausta, observando a parede de monitores centrada sobre
a mesa de vigilância. Ela tem estado lá pelo que parecem anos, esperando William aparecer, e começou a pensar
#
que não iria. Ela vai esperar mais um pouco - mas se não vê-lo em breve, terá que fazer outra busca.
Maldita tecnologia...
É um sistema novinho em folha, tem menos de um mês - vinte e cinco telas com um controle de canais que
deveria permiti-la ver cada canto desse laboratório. Um brilhante avanço na segurança - exceto por onze ainda
estarem funcionando, e mais da metade dessas estarem mostrando estática. Das cinco que ainda podia ver
claramente, tudo o que via - e tinha o que ver - estava morto, corpos podres e o ocasional Re3, que comia ou
dormia.
"Lickers (linguarudos). Você os chama de lickers por causa de suas línguas...".
Ela achou que tinha passado pelo pior da dor, mas o solitário som de sua voz na fria e cavernosa câmara, a fez
perceber que não tinha ninguém para responder - não haverá mais ninguém para responder. William se foi, se foi
e ela estava falando sozinha.
Annette abaixou a cabeça na mesa de controle, fechando seus cansados olhos. Pelo menos não haviam mais
lágrimas; ela já tinha despejado um oceano delas desde que a Umbrella veio atrás do G-virus. Agora só há dor,
combinada com fúria pelo que a Umbrella tinha feito.
Mais um mês, talvez dois, e nós teríamos dado a eles, sem nenhuma força. E William teria entrado para a
comissão de executivos e nós ficaríamos felizes. Todos ficariam -
Houve um fraco ruído vindo de um dos monitores. Annette olhou para cima esperando e tremendo - mas era só
um licker, um andar acima, no centro cirúrgico. Ele tinha acordado e caído do teto para jantar um dos técnicos,
uivando estupidamente para si mesmo enquanto rasgava o abdômen do corpo. O homem morto parecia ser Don
Weller, um dos intermediários do laboratório químico; ele estava tão mutilado quanto a inumana aparência do Re3
que o comia.
Ela observou o licker se alimentar, olhando para o monitor mas não o vendo; sua mente pensando no que tinha
sobrado para fazer. Ela já tinha apagado todos os computadores e os travado com códigos; o laboratório estava
pronto e sua rota de fuga era segura. Só que ela não podia terminar tudo até vê-lo de novo, ver que ele tinha
voltado para o laboratório da Umbrella. Destruir o lugar não adiantaria nada se ele não estivesse na zona de
explosão; eles o encontrariam e extrairiam o vírus de seu sangue...
... mas a Umbrella não vai consegui-lo. Eu vou morrer antes de deixá-los conseguir, então me ajude, Deus.
Seu único consolo era que a Umbrella não conseguiria por suas mãos gananciosas na síntese de William. E nunca
porão. Tudo o que foi usado na criação do G-virus será enterrado sobre toneladas de destroços, junto com
William e todos os monstros que eles criaram para a companhia. Depois ela irá se esconder por um tempo, se
recuperar e considerar suas opções - e então, venderá o G-virus para a concorrência. A Umbrella era a maior,
mas não era a única trabalhando em armas biológicas - quando Annette estiver quite com ela, não será mais a
maior. A vingança era tudo o que tinha restado.
"Exceto por Sherry". Annette cochichou, e a lembrança de sua jovem filha fez seu coração doer. Desde que
Sherry nasceu, Annette quis ter passado mais tempo com ela, se concentrar no bebê ao invés de ser parte do
brilhante trabalho de William.
Os anos se passaram e as promoções de William continuaram vindo, o trabalho ficou mais interessante e valioso -
e apesar de ambos terem prometido fazer um esforço para desenvolver a vida familiar, continuaram adiando.
E agora é tarde demais. Nunca seremos uma família, nunca seremos pais juntos. Todo aquele tempo perdido,
trabalhando para uma companhia que acabou nos esgotando...
Não adianta mais pensar em como teria sido. Tudo o que podia fazer era não deixar a Umbrella tirar mais nada
da família Birkin. William se foi, mas ainda tinha Sherry; essa parte dele continuará, e Annette poderá ser a mãe
que deveria ter sido. Claro, ela terá de esperar alguns meses antes de pegar Sherry, esperar a coisas se
acalmarem. Mas a garota ficará bem; os policiais a levarão para morar com a irmão de William, estava em ambos
os testamentos...
... a não ser que Irons ainda esteja vivo. Aquele gordo ganancioso achará um jeito de estragar até isso.
Ela esperava que estivesse morto; mesmo se não fosse responsável pelo que a Umbrella fez, Brian Irons era
nojento e arrogante, com a moral de uma lesma. Depois de anos de lealdade à companhia, foi comprado por
míseros cem mil dólares. Até William, que tinha uma opinião mais baixa sobre o chefe da polícia do que ela, se
surpreendeu...
Na tela, o Re3 terminou de comer. Tudo o que sobrou do corpo foram as costelas ensangüentadas e a parte de
trás do crânio. O licker saiu de visão, deixando um rastro escuro no chão. Graças ao T-virus, todas séries répteis
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foram eficientes assassinos, apesar dos Re3 terem apresentado falhas - o cérebro exposto era a mais óbvia, e
também tinham um ridículo alto índice de metabolismo; mantê-los alimentados foi uma discussão constante.
Não é mais problema. Tem vários corpos por aí - mais cedo ou mais tarde poderão comer algo quente...
Annette sentiu falta de energia, não queria sair da sala - mas não podia ficar esperando William aparecer. Ela o
ouviu no nível três uns dois dias atrás, mas não o via a quase quatro; ela não podia ficar esperando. O pessoal da
Umbrella já deve estar pensando em como entrar - mesmo com o computador central apagado, haviam outros
modos de passar pelas portas -
- e William pode ter saído. Não posso mais negar isso, não importa o quanto eu queira.
Havia uma fábrica à oeste do laboratório, uma companhia de transporte que foi comprada pela Umbrella, para
assegurar que os níveis subterrâneos ficassem secretos; foi assim que a Umbrella conseguiu construir o complexo
sem levantar suspeitas, escondendo equipamentos e materiais nos galpões, e usando a grande plataforma móvel
para transportá-los. Apesar das entradas da fábrica ainda estarem fechadas, desde que verificou pela última vez,
havia uma possibilidade de que William possa ter saído - e se chegou na fábrica, podia chegar aos esgotos.
Annette esforçou-se para levantar, ignorando as cãibras nas pernas e costas enquanto pegava a arma da mesa.
Ela não sabia muito sobre armas, mas aprendeu bem rápido depois que -
- que eles vieram pegar o G-virus, os homens usando máscaras de gás, atirando e correndo - e William, pobre
William, morrendo numa poça de sangue, e eu não vi a seringa antes de ser tarde demais -
Ela respirou fundo, tentando esquecer essa terrível memória, tentando esquecer o incidente que tirou William dela
e transformou Raccoon na cidade dos mortos. Isso não importava mais. A jornada à frente não será prazerosa,
e ela tinha que se concentrar. Fuja dos Re3, humanos no primeiro e segundo estagio de infecção, os
experimentos de botânica e a série de aracnídeos - ela podia se deparar com qualquer um deles, sem mencionar
o que a Umbrella possa ter enviado.
E William. Meu marido, meu amado - o primeiro humano portador do G-virus, que já não é mais humano.
Annette estava errada sobre achar que não tinha mais lágrimas. Ela parou no meio da vasta e esterilizada sala,
cinco andares sob a superfície de Raccoon, e chorou, perdida, respondendo aos estímulos que nunca se quer
tinham tocado a dor de sua solidão.
A Umbrella sentirá muito. Uma vez certa de que William esteja fora do alcance deles, ela destruirá o laboratório,
fugirá com o G-virus, os fará entender como estragaram tudo - e que Deus ajude quem tentar impedi-la.
[17]
Ada correu pelo bloco das celas, a um passo atrás de Leon, bem a tempo de ver o repórter sair da cela e cair no
chão. "Ajude-o!".
Leon gritou, e passou por Bertolucci para verificar a cela. Ada parou em frente ao sufocado repórter, mas ignorou
a ordem, esperando ver a criatura que o atacou sair da cela -
- ele estava atrás das grades, como isso aconteceu -
Ela esperou, mirando na cela, seu coração pulando - e viu a confusão no olhar de Leon. Pelo modo como olhava,
a disse que a cela estava vazia. A não ser que o agressor fosse invisível...
Sem chance. Não comece a pensar nisso.
Ada se ajoelhou ao lado do repórter, percebendo imediatamente que ele não estava bem - nada bem. Ele tinha
se sentado e encostado na parede que dividia as duas celas. Ele ainda respirava. Ada já tinha visto essa
aparência antes, o distante olhar, a tremedeira, a palidez - mas ela não via o porquê, e isso a assustava. Não
havia ferimentos. Deve ter sido um ataque cardíaco, talvez um derrame -
- mas aquele grito.
"Ben? Ben, o que aconteceu?".
#
Seu vacilante olhar vidrado no dela, e Ada viu que os cantos de sua boca estavam rasgados e sangrando. Ele
abriu a boca para falar, mas tudo o que saiu foi um resmungo.
Leon se agachou junto a eles, confuso, também. Ele balançou a cabeça para ela, respondendo a pergunta que
não tinha feito; não haviam sinais do que tinha acontecido.
Ada olhou para Bertolucci e tentou novamente.
"O que foi, Ben? Você consegue nos dizer o que aconteceu?".
As trêmulas mãos do repórter subiram pelo corpo até pararem no peito. Com um esforço visível, ele tentou dizer
uma palavra.
"...abertura...".
Ada não tinha certeza. As aberturas nas paredes das celas eram muito pequenas e muito distantes do chão -
nada mais do que um tubo de ventilação que dava na garagem. Nada podia ter passado por lá.
Bertolucci ainda tentava falar. Ada e Leon se aproximaram, tentando entender suas palavras.
"... peito. Queima, tá... queimando...".
Ele estendeu a mão de repente e agarrou o braço dela, encarando-a com uma intensidade que a surpreendeu.
Ele apertou fracamente, com desespero em seus olhos.
"Eu nuca falei... sobre Irons". Ele respirou, fazendo força para continuar vivo até dizer tudo. "Ele está -
trabalhando para a Umbrella... todo esse tempo. Os zumbis - são pesquisas da Umbrella... e ele acobertou os
assassinatos, mas eu não consegui - provar, ainda... ia ser meu - furo".
Bertolucci fechou os olhos, respirando forte enquanto soltava o braço dela, e ela sentiu pena dele ao invés de si
mesma. Seu grande segredo era que a Umbrella tinha armas biológicas e Irons estava nessa. Teria sido um
grande furo.
Ele não sabe nada sobre o G-virus, nunca soube - e vai morrer sem reconhecimento.
"Jesus," Leon disse suavemente. "o chefe Irons..."
Bertolucci começou a ter convulsões, suas mãos apertando seu peito enquanto gemia de agonia. Suas costas se
curvaram, seus dedos como garras -
- e o gemido virou líquido enquanto sangue começou a borbulhar em sua boca. Engasgando e tremendo, seus
membros se debateram violentamente, espirros de sangue voando a cada tossida -
- e Ada viu vermelho surgir na camisa branca sob as mãos dele, ao som de ossos quebrando. Ela se afastou
assim que Leon tentou segurar as mãos de Ben, incerto do que estava acontecendo, mas certo de que não era
um ataque cardíaco -
- Santo Deus, o que é aquilo?
Tudo ao mesmo tempo, Ben foi para a frente e seus olhos viraram. Sangue ainda saía de sua boca e houve um
som, um horrível som de carne sendo rasgada, e sob sua camisa, algo mexeu.
"Afaste-se". Ada gritou apontando sua Beretta para Ben, e no segundo que levou para ela mirar, uma coisa
emergiu do ensangüentado peito de Bertolucci. Uma coisa do tamanho de uma mão, que abriu a boca e deu um
baixo berro, mostrando afiados e vermelhos dentes. O bicho saltou do corpo com uma chicoteante cauda, caindo
no cimento junto com pedaços de pele e carne - e correu como uma bala na direção do portão aberto para o
corredor, sua cauda balançando e pernas que Ada não conseguia ver, deixando um rastro vermelho para trás.
A coisa passou pelo portão antes de ela se lembrar que tinha uma arma; ela estava tão chocada que não pensou
em reagir. Uma criatura parasita que rasga seu peito - direto de um filme de ficção...
"O que era - você viu -". Leon disse, sem fôlego.
"Eu vi". Ada cochichou, interrompendo-o. Ela virou e olhou para Bertolucci, para seu rosto, estático numa
contorção angustiosa, e para o rasgo em seu peito.
A boca, rasgada nos cantos...
A criatura foi implantada nele - mas pelo que? Ela não sabia, e nem queria saber. Ela queria completar a missão e
sair de Raccoon o mais rápido possível. De fato, ela nunca quis tanto uma coisa. Quando se deu conta de que
houve um acidente com o T-virus, não esperava ter que lidar com organismos desagradáveis.
Ela olhou para Leon, desistindo de tentar ser razoável. Ela ia para o laboratório e não tinha o que discutir.
"Estou saindo daqui". Ela disse, e sem esperar respostas, virou-se e andou rapidamente para o portão, atenta
para não pisar no rastro de sangue.
"Espere! Olha, eu acho - Ada? Ei...".
Ela saiu no corredor de arma erguida, mas a criatura já tinha sumido. O rastro desaparecia no meio do corredor -
#
e viu que eles tinham esquecido a porta do canil aberta -
- e a tampa do poço também. Que ótimo.
Leon a alcançou e parou na sua frente. Por um momento, Ada achou que ele a fosse parar fisicamente.
Não faça isso. Eu não quero te machucar, mas vou se for preciso.
"Ada, por favor, não vá". Leon disse, não uma ordem, mas sim um pedido. "Eu - quando cheguei em Raccoon,
conheci uma garota e acho que ela está na delegacia. Se você puder me ajudar a encontrá-la, poderemos fugir
juntos. Teríamos mais chances -".
"Sinto muito, Leon, mas esse é um maldito país livre. Você faz o que tem que fazer, e boa sorte - mas eu não
vou ficar. Já foi o bastante. Se - quando eu sair, mandarei ajuda".
Ada passou por ele, esperando que não houvesse violência e que ele não tentasse impedi-la - vai ser muito
perigoso se ele tentar - foi quando ele a surpreendeu de novo.
"Então eu vou com você". Ele disse, seu olhar firme, decidido - e assustado. "Eu não vou deixar você ir sozinha.
Nem ninguém - não quero que você se machuque".
Ada olhou, sem saber o que dizer. Depois que Bertolucci morreu, ela não queria enganar Leon nos esgotos,
considerando o quanto extenso o sistema era... mas ele era tão bom, tão determinado em ajudar que ela estava
começando a - a não querer fazer mal a ele. Tudo seria mais fácil se ele fosse algum idiota metido a machão...
Tá bom, tire seu disfarce. Diga que é uma agente particular querendo roubar o G-virus e não quer companhia;
diga sobre o alívio que sentiu ao saber que o repórter iria morrer, ou que não tem problemas para tirar uma vida,
se for por uma boa causa - como ser paga. Veja o quanto bom ele será depois disso.
Não é uma opção. Mas havia uma parte dela que não queria admitir, uma parte que não queria ficar só. Ver o
que aconteceu com Bertolucci a fez perceber que não era tão invulnerável quanto gostava de pensar.
Então deixe-o vir, ache um lugar seguro no laboratório para deixá-lo. Sem danos nem sujeira.
Leon a olhava de perto, estudando-a - esperando sua aprovação.
"Vamos". Ela disse, e o sorriso que ele deu, apesar de vitorioso, a fez se sentir mais desconfortável.
Sem outra palavra, eles foram para o canil, Ada pensando no que estava fazendo - mas ainda capaz de fazer o
que for necessário para completar a missão.
Claire parou na frente de uma porta medieval no fim do escuro corredor o qual o elevador a tinha levado. A
delegacia era fria, mas a gelada umidade das pedras na parede do corredor fazia a delegacia parecer o verão; é
como se ela tivesse descido no calabouço de um castelo assombrado da Idade Média.
Ela respirou fundo, decidindo como entrar; ela estava certa de que Irons não gostaria de uma visita surpresa,
mas a idéia de bater era absurda - e perigosa. Haviam tochas acesas em suportes, uma de cada lado da porta
de madeira, a mesma envolta numa moldura de metal enferrujado.
Um túnel secreto, uma porta escondida com iluminação ambiente... que pessoa sã moraria aqui? Não foi o
desastre que fez isso - Irons devia ser louco bem antes do acidente da Umbrella...
Quando Sherry disse o que seus pais faziam para viver e o que aconteceu antes de chegar à delegacia, algo
clicou. A Umbrella trabalhava com doenças e a população de Raccoon certamente teve um grave caso de algo.
Deve ter sido algum tipo de acidente, um vazamento que soltou a estranha praga zumbi...
Claire mordeu o lábio, incerta do que fazer. Ela sabia que Irons estava em algum lugar lá embaixo, e não queria
vê-lo de novo; talvez ela deva voltar, pegar Sherry e tentar achar outra saída. Só porque é uma área secreta não
significa que haja uma saída lá.
Sherry estava lá em cima sozinha. E você tem uma arma, lembre-se?
Uma arma com poucas balas. Se for o esconderijo de Irons, devem haver armas lá dentro... ou apenas outro
corredor. Mas imaginar não a dirá nada.
Claire tocou a maçaneta e respirou fundo. A pesada porta abriu vagarosamente em dobradiças bem cuidadas. Ela
recuou apontando a arma -
Jesus.
Uma sala vazia, tão úmida e não receptiva quanto o corredor - mas com móveis e uma decoração que fez sua
pele arrepiar. Uma única lâmpada estava pendurada no teto, iluminando a mais pavorosa câmara que já tinha
visto. Tinha uma mesa no meio da sala, manchada e batida, um serrote e outros objetos cortantes espalhados
em cima; um balde de metal e um esfregão encostados numa parede, ao lado de uma estante cheia de
recipientes empoeirados - e o que pareciam ossos humanos, polidos e brancos, postos como troféus. Isso, e o
cheiro - um pesado e ácido cheiro químico que envolvia um outro pior. Um cheiro como loucura.
Só de olhar a sala a fez enjoar; "louco" devia ser o nome do ano do chefe da polícia - mas não havia ninguém lá.
Isso quer dizer que deve haver outra passagem secreta lá dentro. Pelo menos ela pode procurar por armas.
Engolindo, Claire entrou na sala, grata por não ter trazido Sherry; olhar para essa câmara de tortura a daria
pesadelos -
"Parada, mocinha, ou eu atiro".
Claire congelou. Cada músculo de seu corpo travou assim que Irons começou a rir atrás dela, de trás da porta
onde não pensou em olhar.
Oh, meu Deus, oh, Deus, oh, Sherry eu sinto muito -
O riso de Irons cresceu para a pura e alegre gargalhada de um louco, e Claire entendeu que iria morrer.
CONTINUA
Raccoon Times - 26 de Agosto de 1998
Plano "manter a cidade segura"
RACCOON CITY - Na frente da prefeitura, o Prefeito Harris anunciou ontem à tarde, em uma coletiva, que o conselho da cidade estará contratando pelo menos dez novos policiais para se juntar à polícia de Raccoon, por causa dos assassinatos brutais que atormentaram Raccoon no começo deste verão e devido a suspensão do S.T.A.R.S.. Junto com o Chefe Irons e todo os membros do conselho de Raccoon, Harris assegurou os cidadão e repórteres que a cidade será mais uma vez uma comunidade segura na qual se vive e trabalha, e que a investigação dos onze assassinatos "canibais" e dos três ataques animais fatais estão longe da solução.
"Só porque ninguém foi atacado no mês passado significa que os oficiais eleitos desta cidade podem relaxar" declarou Harris. "As boas pessoas de Raccoon merecem ter confiança em sua força policial e estarem seguras de que seus representantes políticos estão fazendo de tudo para dar segurança aos cidadãos. Como muitos de vocês sabem, a suspensão do S.T.A.R.S. será provavelmente permanente. Aquela unidade de investigação de assassinatos e sua subseqüente desaparição de Raccoon City sugere que eles não se importam com essa comunidade - mas eu quero assegurar vocês que nós nos importamos, e que eu, o Chefe Irons e os homens e mulheres que vocês vêem aqui, não queremos mais nada senão fazer de Raccoon um lugar a qual nossas crianças possam crescer sem medo".
Harris continuou a detalhar um plano de três pontos feito para reforçar a confiança e manter os cidadãos de Raccoon longe da violência.
Além de contratar de dez a doze policiais, o horário de recolher permanecerá ao menos até Setembro, e o Chefe Irons irá pessoalmente comandar uma força tarefa de alguns oficiais e detetives para continuar a busca dos assassinos que tiraram as vidas de onze pessoas entre Maio e Julho deste ano...
Cityside - 4 de Setembro de 1998
Renovação do complexo da Umbrella
RACCOON CITY - A instalação química da Umbrella no sul do centro da cidade começará a ser reformada na próxima Segunda-feira. Esta será a terceira renovação estrutural semelhante a do ano passado para a companhia. De acordo com a porta-voz da Umbrella, Amanda Whitney, dois dos laboratórios dentro da instalação principal serão adaptados com novos equipamentos projetados para síntese de vacinas e receberá um moderno sistema de segurança. Em adição, todos os escritórios conectados terão seus computadores atualizados na próxima semana.
Mas será isso um problema para o trânsito do centro da cidade? Whitney diz, "com o prédio do R.P.D. ainda terminando uma de suas reformas, os passantes locais já estão ficando cansados de ruas bloqueadas. Nós estamos fazendo de tudo para não interferir no trânsito; a maior parte da construção será interna e o resto será feito depois das horas de trabalho". O pátio do R.P.D., nossos leitores devem se lembrar, foi repavimentado e ajardinado depois que algumas rachaduras misteriosas apareceram no cimento; o tráfego teve que ser desviado por dois quarteirões na Rua Oak durante seis dias.
Ao perguntarmos porque tantos "reparos" ultimamente, Whitney respondeu, "a Umbrella tem estado na frente da competição há tanto tempo quanto continua com a atual tecnologia. Estes serão meses de trabalho, mas eu acho que valerá o esforço...”.
Raccoon Weekly Editorial - 17 de Setembro de 1998
Irons vai se candidatar?
RACCOON CITY - O Prefeito Harris pode estar numa difícil corrida na próxima primavera. Notícias de dentro do R.P.D. estão dizendo que Irons, Chefe da Polícia pelos últimos quatro anos e meio; pode estar concorrendo para chegar ao topo do ministério na próxima eleição, contra o popular, e sem oposição Devlin Harris, já no poder por três períodos consecutivos. Embora Irons não tenha confirmado os fatos, o ex-membro do S.T.A.R.S. recusou a negação do rumor.
Com sua popularidade bem alta desde o encerramento do caso dos assassinatos neste verão (ainda não resolvido) e da expansão planejada do RPD, Irons pode ser o homem que tirará Harris da Prefeitura; a questão é, serão os eleitores capazes de esquecer o suposto envolvimento de Irons nos fundos de campanha ilegais em Cider District? Ou seus caros gostos em arte e design interior, o qual tornaram o RPD em algo mais parecido com um museu?...
Raccoon Times - 22 de setembro de 1998
Adolescente atacada no parque
RACCOON CITY - Há aproximadamente 18:30h da noite passada, Shanna Williamson de quatorze anos foi surpreendida por um estranho no parque da Rua Birch no centro da cidade, quando voltava do treino para casa.
O homem veio de trás de uma cerca no parque e a derrubou de sua bicicleta antes de tentar agarrá-la. A jovem conseguiu sair de lá com alguns arranhões, e correu para a residência de Tom e Clara Atkin; Clara chamou as autoridades, que conduziram uma busca no parque, mas não acharam nenhum sinal do agressor.
De acordo com a garota (através de um depoimento hoje de manhã), o homem pareceu ser um pedestre: suas roupas e cabelos estavam sujos, e cheirava mal, "um cheiro de fruta podre". Ela disse que ele parecia bêbado, vacilando e caindo depois dela.
Com a onda de assassinatos de Maio para Julho ainda não resolvidos, o RPD está levando este fato seriamente: o agressor mostrou uma evidente semelhança com os membros da "gangue" do Victory Park em Junho deste ano.
Harris convocou uma coletiva para hoje, e Irons já declarou que o primeiro dos novos policiais chega na próxima semana, e que viaturas patrulharão os parques do centro da cidade...
https://img.comunidades.net/bib/bibliotecasemlimites/3_CITY_OF_THE_DEAD.jpg
[1]
Com o pessoal esperando no carro de Barry lá fora, Jill fez o possível para se apressar. Não era fácil, a casa tinha
sido revirada desde a última vez que esteve lá. Livros e papéis espalhados pelo chão, e estava muito escuro para
andar facilmente. O fato de sua casa ter sido violada era preocupante, mas já era de se esperar. Ela devia estar
agradecida por não ser do tipo sentimental - e pelos intrusos não terem achado seu passaporte.
Na escuridão de seu quarto, Jill pegou meias limpas e calcinhas e as colocou em sua mochila, desejando poder
acender as luzes. Fazer as malas no escuro era mais difícil do que se imaginava, mais ainda com a casa
bagunçada; mas eles não podiam se arriscar. Era improvável que suas casas estavam sendo vigiadas, mas se
alguém estiver olhando, uma luz poderia abrir fogo.
Pelo menos você vai embora. Chega de se esconder.
Eles estavam indo para território estrangeiro, invadir o quartel inimigo e provavelmente serem mortos no
processo, mas pelo menos ela não ficará mais em Raccoon. Pelo que ela leu nos jornais ultimamente, era a
melhor escolha. Dois ataques na semana passada... Chris e Barry estavam cientes do perigo, mesmo sabendo o
que o T-virus fazia com as pessoas - Barry pensou que isso era algum tipo de truque, que a Umbrella "salvaria"
Raccoon antes de alguém se machucar. Chris concordou, mas Jill não estava preparada para assumir nada; a
Umbrella já mostrou que não consegue conter suas experiências. E com o que Rebecca, David e sua equipe
enfretaram em *Maine...
Agora não é hora para pensar nisso - eles tinham um avião para pegar. Jill pegou a lanterna da penteadeira e
estava indo para a sala quando lembrou que só tinha um sutiã consigo. De cara feia, ela virou para a gaveta
aberta e começou a procurar. Ela já tinha roupas o bastante, escolhidas do que Brad deixou para trás quando
fugiu de Raccoon; ela e os outros ficaram na casa dele por várias semanas, desde que a Umbrella atacou a casa
de Barry. Nenhuma roupa de Brad serviu em Chris nem em Barry. Lingerie não era algo que o piloto do
S.T.A.R.S. tinha guardado. Ela não queria parar o avião para comprar roupas íntimas.
Colocando-os na mochila, Jill voltou para a pequena sala da casa. Tinha uma foto de seu pai em uma das
estantes que ela queria pegar. Era a segunda vez que foi lá desde que começaram a se esconder. Ela sente que
não voltará tão cedo.
Andando agilmente pelo escuro, ela ergueu a lanterna e a apontou para o canto onde a estante estava. A
Umbrella bagunçou tudo. Só Deus sabe o que eles estavam procurando. Pistas do nosso esconderijo,
provavelmente; depois do ataque na casa de Barry e a desastrosa missão à Caliban Cove, ela não acha que a
Umbrella ignoraria essas informações.
Jill iluminou o livro que queria, o título era Prison Life; seu pai teria rido. Ela pegou o livro e começou a folheá-lo,
parando quando a luz caiu sobre o sorriso de Dick Valentine. Ele tinha mandado a foto junto com sua última carta.
Ela tinha posto no livro para não perdê-la. Esconder coisas importantes era um hábito que adquiriu quando jovem.
Ela soltou o livro, a pressa foi embora de repente, ao olhar para a foto. Um leve sorriso surgiu em seu rosto. Ele
era o único homem que ficava bem no uniforme laranja da prisão.
Jill pensou no que ele acharia da situação atual; ele foi o responsável pelo envolvimento dela com o S.T.A.R.S..
Depois de preso, ele a encorajou a abandonar essa vida, dizendo que foi um erro treiná-la como uma ladra...
... aí eu peguei um trabalho legítimo, trabalhando para a sociedade ao invés de contra ela - aí as pessoas em
Raccoon começaram a morrer. O S.T.A.R.S. descobriu uma conspiração para criar armas biológicas com um vírus
que torna coisas vivas em mortas. Obviamente ninguém acreditou em nós. Os S.T.A.R.S. que não podem ser
comprados pela Umbrella, perdem a credibilidade ou são eliminados. Agora nós iremos para uma missão suicida na
Europa, tentar invadir o quartel general de uma corporação multibilionária e impedi-los de destruir esse maldito
planeta. O que você acharia? Sendo que você nunca acreditou nessa história, o que você acha?
"Você se orgulharia de mim, Dick". Ela suspirou, incerta se seria verdade. Seu pai queria vê-la em uma linha de
trabalho menos perigosa, e comparado ao que ela e os outros iriam fazer...
Depois de um longo momento, ela colocou a foto cuidadosamente no bolso e olhou para sua casa bagunçada,
ainda pensando na opinião de seu pai sobre tudo isso; se tudo correr bem, talvez ela possa perguntar
pessoalmente. Rebecca e os outros sobreviventes de Maine ainda estavam escondidos, investigando a
organização S.T.A.R.S. e esperando notícias sobre o quartel general da Umbrella. O quartel oficial fica na Europa,
mas eles suspeitavam de que os cabeças por trás do T-virus tinham um complexo secreto em outro lugar -
- a qual você não achará se ficar aí parada; o pessoal achará que você parou para tirar um cochilo.
Jill colocou a mochila e olhou em volta pela última vez antes de voltar para a porta dos fundos, na cozinha. Havia
um leve cheiro de fruta estragada no ar, vindo de uma tigela de maçãs e pêras em cima da geladeira. Apesar de
conhecer bem o cheiro, ela sentiu um calafrio em sua espinha. Ela foi para a porta fechada, tentando bloquear as
súbitas memórias do que eles acharam na mansão de Spencer...
"Jill?".
A porta abriu, a silhueta de Chris na escuridão pela distante luz da rua.
"Bem aqui". Ela disse, andando. "Desculpe pela demora. A Umbrella veio aqui com um trator".
Mesmo com pouca luz, ela pode ver um meio sorriso no rosto dele. "Nós estávamos achando que um zumbi
tinha pego você". Ele disse claramente, mas ela sentiu a preocupação.
--------------------------------------------------------------
*Maine – Estado localizado na costa leste dos E.U.A.
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Muitas pessoas morreram por causa do que a Umbrella fez na
floresta fora da cidade. Se o acidente tivesse ocorrido mais perto de Raccoon...
"Não teve graça". Ela disse suavemente.
O sorriso de Chris sumiu. "Eu sei. Está pronta?".
Jill acenou, apesar de não se sentir preparada pelo que virá a seguir, tampouco pelo que estão deixando para
trás. Em algumas semanas, seu conceito de realidade transformou pesadelos em rotina.
Corporações malvadas. Cientistas loucos, vírus assassinos. E os mortos-vivos...
"Estou". Ela disse finalmente. "Estou pronta".
Juntos, eles saíram. Assim que ela fechou a porta, sentiu um súbito ar de incerteza - de que ela nunca mais
colocaria os pés em casa novamente, de que os três nunca mais voltariam para Raccoon City...
... mas não acontecerá nada com a gente. Algo acontecerá, mas não conosco.
Franzindo, mão na fechadura, ela tentou dar sentido ao pensamento. Se eles sobreviverem a essa missão, se
eles tiverem sucesso contra a Umbrella, por que não voltariam para casa? Ela não sabia, mas o sentimento era
desconfortavelmente forte. Algo ruim iria acontecer, algo -
"Ei, você está bem?".
Jill olhou para Chris, viu a mesma preocupação em seu rosto. Eles se aproximaram bastante nas últimas
semanas, apesar de achar que Chris queira se aproximar mais ainda.
E você não quer?
Jill se balançou mentalmente e acenou para Chris, deixando os sentimentos irem. O vôo para Nova Iorque não irá
esperar por ela.
Ainda aquele sentimento...
"Vamos sair daqui". Ela disse.
Eles andaram pela noite, deixando a escura casa para trás, tão quieta e sozinha quanto um túmulo.
[2]
29 de Setembro de 1998
O resto da luz do dia já estava atrás das montanhas, pintando o horizonte com o violeta do pôr do sol. As
montanhas corriam pela escuridão do céu sem nuvens, se esticando para alcançar o fraco brilho das estrelas.
Leon poderia ter apreciado mais a paisagem se não estivesse tão atrasado. Ele vai chegar a tempo, claro, mas
antes pretendia chegar em seu novo apartamento, tomar um banho, comer algo; mas do jeito que está, ele só
tem tempo para passar numa lanchonete a caminho da delegacia. Colocar seu uniforme na última parada lhe deu
alguns minutos, mas basicamente ele estava apertado.
Isso aí, Oficial Kennedy. Primeiro dia de trabalho e você estará tirando sanduíche dos dentes durante as
chamadas. Muito profissional.
Seu turno começava às nove e já era mais de oito. Leon pisou um pouco mais forte no acelerador ao passar por
uma placa que dizia restar meia hora para chegar em Raccoon City. Pelo menos a estrada estava livre. Ele não
viu ninguém em horas, exceto pelo apressadinho no sentido oposto.
Uma boa mudança considerando o trânsito depois de Nova Iorque, a qual lhe custou toda tarde. Ele tentou deixar
um recado para o sargento na noite passada, mas só ouviu o sinal de ocupado.
Os poucos móveis que tinha, já estavam no apartamento num bom bairro de Raccoon. Havia um parque à duas
quadras de lá, e só cinco minutos de carro até a delegacia. Chega de engarrafamentos, bairros violentos e ações
brutais. Ele procurava viver numa comunidade pacífica.
... bom, exceto pelos últimos meses. Aqueles assassinatos...
O que aconteceu em Raccoon foi horrível, doentio - mas os agressores nunca foram pegos e a investigação só
estava começando. Se Irons gostar dele como gostaram na academia, talvez Leon possa trabalhar nesse caso.
Mesmo Chefe Irons sendo uma praga, ele ficará um pouco impressionado. Leon se formou entre os dez
melhores e não era um estranho em Raccoon. Ele costumava passar os verões lá quando criança, quando seus
avós ainda eram vivos. O R.P.D. era uma biblioteca e a Umbrella estava a vários anos de distância de transforma
Raccoon numa verdadeira cidade. Mesmo assim, ainda é o mesmo calmo lugar de sua infância. Quando os
assassinos forem presos, Raccoon City será ideal de novo - bonita, limpa, uma comunidade escondida nas
montanhas como um paraíso secreto.
Aí eu me estabeleço lá. Uma ou duas semanas se passam e Irons percebe o quanto bem os meus relatórios
estão sendo escritos, ou vê o quanto bom eu sou atirando no alvo. Ele me chama para ver os documentos do
caso - e eu vejo algo que ninguém mais viu. Ninguém mais percebeu por que eles viveram muito com isso, e
esse policial novato vem e resolve o caso, nem um mês fora da academia e eu -
"Jesus!". Algo correu em frente ao seu Jeep.
Leon pisou no freio e desviou, tirado de seu sonho enquanto recuperava o controle do carro. Os freios travaram e
os pneus derraparam no asfalto. O Jeep parou de frente para as escuras árvores que cercavam a estrada -
desligando depois de uma última sacudida.
De coração acelerado, Leon abaixou o vidro e levantou o pescoço, varrendo as sombras pelo animal que tinha
cruzado a pista. Ele não o atropelou, mas foi por pouco. Algum tipo de cachorro, ele não viu direito - um dos
grandes, talvez um Doberman, mas de alguma forma parecia errado. Leon só o viu por uma fração de segundo,
um brilho de olhos vermelhos e o corpo inclinado de um lobo. E tinha algo mais, parecia algum tipo de...
... lodo? Não, truque de luz, ou você só estava se borrando de medo e acabou vendo errado. Você está bem e
não o atropelou, isso é o que importa.
"Jesus". Ele disse de novo, mais suave, sentindo-se aliviado e bravo enquanto a adrenalina saia de seu sistema.
Pessoas que deixam seus cães soltos são idiotas - depois agem surpresos quando o Totó é pego por um carro.
O Jeep parou a alguns metros de uma placa que dizia RACCOON CITY 10; ele só conseguia ver as letras no
escuro. Leon olhou no relógio; ele ainda tinha meia hora para chegar na delegacia, pouco tempo - mas por algum
motivo, ele simplesmente parou por um momento, fechando os olhos e respirando profundamente.
Uma brisa fresca passou pelo seu rosto; o deserto trecho de estrada parecendo sobrenaturalmente quieto.
Os assassinatos em Raccoon. Algumas pessoas foram mortas por animais, não foram? Cães selvagens? Talvez
aquele não tenha dono.
Um perturbante pensamento - mais ainda quando sentiu que o cachorro ainda estava por perto, o escondido nas
árvores.
Bem vindo a Raccoon City, Oficial Kennedy. Cuidado com as coisa que o observam...
"Não seja idiota". Leon disse para si mesmo, imaginado se algum dia se livrará de sua imaginação.
Sonhando em pegar caras maus, depois inventar monstros assassinos vagando pela floresta - vamos agir de
acordo com nossas idades, né, Leon? Você é um policial, pelo amor de Deus, um adulto...
Ele ligou o motor e voltou para a estrada. Ele tinha um emprego novo, um bom apartamento numa boa cidade;
ele era competente, consciente, e de boa aparência; usando sua criatividade, tudo ficará bem.
"E já estou a caminho". Ele disse, forçando um sorriso para se acalmar. Ele estava a caminho de Raccoon City,
para uma nova vida - não tinha nada com o que se preocupar...
Claire estava exausta, psicológica e emocionalmente, e o fato de seu traseiro estar doendo pelas últimas horas,
não estava ajudando. O motor de sua Harley parecia entrar em seus ossos, e mais, estava escurecendo. E por
idiotice, ela não estava usando suas roupas de couro; Chris não aprovaria.
Ele vai gritar comigo, e eu nem vou ligar. Deus, Chris, por favor, esteja lá para isso...
O barulho da moto ecoou pelos barrancos inclinados. Ela fez as curvas cuidadosamente, bem consciente do
quanto desertas as estradas estavam; se ela cair, levará um bom tempo até alguém aparecer.
Como se importasse. Sem seu equipamento, eles recolheriam seus pedaços com um rodo.
Era burrice, ela sabia que era burrice - mas algo aconteceu com Chris. Droga, algo deve ter acontecido com a
cidade toda. Pelas últimas semanas, a suspeita aumentou - e as ligações que tinha feito aquela manhã a tiraram
do lugar.
Ninguém em casa. Ninguém em lugar nenhum. Como se a cidade tivesse se mudado.
Ela não se importava com Raccoon, mas sim com seu irmão que estava lá, e se algo de ruim aconteceu com ele
-
Ela não podia, não pensaria desse jeito. Chris era tudo o que lhe restava. Seu pai morreu em seu emprego na
construção quando ainda eram crianças. Quando sua mãe morreu num acidente de carro três anos atrás, Chris
fez o melhor para substituir os pais. Mesmo sendo poucos anos mais velho, ele a ajudou a escolher uma
faculdade - ele até a mandava dinheiro todo mês. Além disso, ele ligava para ela toda semana.
Mas essas ligações pararam no último mês e meio, e as dela não foram retornadas. Ela tentou se convencer de
que era besteira se preocupar - talvez ele finalmente achou uma namorada, ou algum problema com o S.T.A.R.S.
Mas depois de três cartas não correspondidas e dias esperando o telefone tocar, ela finalmente decidiu ligar para
o R.P.D. naquela tarde, esperando que alguém pudesse dizer o havia acontecido. Ela só ouviu o sinal de ocupado.
Sentada em seu quarto, ouvindo aquele som, ela começou a se preocupar mesmo. Ela procurou em sua agenda
com mãos trêmulas, discando os poucos números dos amigos dele, pessoas ou lugares que mandou ligar em
caso de emergência - Barry Burton, Emmy's Diner, um policial que ela nunca conheceu chamado David Ford. Ela
até tentou o telefone de Bill Rabbitson, apesar de Chris ter dito que ele desapareceu alguns meses atrás. Só deu
ocupado.
A preocupação se transformou em algo perto de pânico. A viagem para Raccoon City levava seis horas e meia da
universidade. Sua amiga de quarto pegou seu equipamento de moto emprestado para sair com o namorado, mas
Claire tinha outro capacete - e com aquele pânico passando pelos seus pensamentos assustados, ela
simplesmente pegou o capacete e saiu.
Burrice, talvez. Impulsiva, certamente. E se Chris estiver bem, nós poderemos rir sobre o quanto ridícula essa
paranóia foi. Mas enquanto eu não souber o que está acontecendo, não terei um momento de paz.
O resto da luz do dia estava sumindo no céu sem nuvens, mas a brilhante lua cheia e o farol da moto eram
suficientes para enxergar - para ver a pequena placa adiante: RACCOON CITY 10.
Dizendo a si mesma que Chris estava bem, que algo de estranho aconteceu em Raccoon, alguém já teria
verificado. Claire passou a se concentrar na estrada. Daqui a pouco estará escuro, mas ela chegará em Raccoon
antes de ficar perigoso para dirigir.
Estando Raccoon City bem ou não, ela descobrirá em breve.
#
[3]
Leon alcançou os limites da cidade com vinte minutos restando, e decidiu que um jantar quente irá esperar. De
sua última visita à delegacia, ele sabia que haviam algumas máquinas de venda onde podia comprar algo. O
pensamento de ter doces e amendoins em seu estômago não caía bem, mas foi culpa dele por não te se livrado
do trânsito de Nova Iorque a tempo.
Ele passou por algumas fazendas que ficavam a leste da cidade, antes de ver a parada de caminhões que
separava a zona rural da urbana.
Assim que virou na ByBee, indo para uma das ruas norte-sul principais que o levariam para o R.P.D., ele
conseguiu a primeira dica de que algo estava errado. Nos primeiros quarteirões, ele se surpreendeu. No quinto ele
se sentiu um estranho no deserto. Não era estranho, era impossível.
ByBee era a primeira rua real da cidade, vinda do leste. Havia vários bares e restaurantes baratos, tal como um
cinema que nunca deve ter mostrado nada além de filmes de terror e comédias sensuais - e mesmo assim era o
mais popular lugar da juventude de Raccoon. Havia algumas tavernas que serviam cervejas e bebidas quentes
para os universitários. Às oito e quarenta e cinco da noite, ByBee deveria estar cheia de vida.
Exceto por algumas lojas e restaurantes, Leon viu que quase toda a rua estava escura - e mesmo as que tinham
luz não mostravam presença humana. Haviam carros parados na rua, e ainda nenhuma pessoa. ByBee, o ponto
de encontro de adolescentes e estudantes, estava totalmente deserta.
Onde está todo mundo?
Ele continuou dirigindo, procurando respostas - e tentando aliviar a suave ansiedade que sentia. Talvez há algum
tipo de evento acontecendo, uma missa ou uma festa da macarronada. Ou Raccoon decidiu antecipar a
Oktoberfest para hoje à noite.
Tá, mas todos ao mesmo tempo?
Leon percebeu que não tinha visto um carro se quer desde o cachorro há dezesseis quilômetros. Nem um. Sendo
assim, um pensamento menos dramático lhe ocorreu.
Algo não cheirava bem. De fato, algo cheirava como podre.
Ele diminuiu a velocidade para virar na Powell, uma quadra à frente - mas o cheiro e a ausência de vida estavam
lhe dando uma ruim sensação. Talvez ele deva parar e verificar, procurar algum sinal de -
Leon sorriu aliviado. Havia duas pessoas de pé na esquina, bem à frente; a luz estava apagada perto deles, mas
ele pode ver suas sombras claramente - um casal, uma mulher de saia e um homem alto usando botas. Indo a
sul na Powell, chegando mais perto deles, Leon pode ver como andavam, pareciam bêbados. Ambos estavam na
sombra de uma loja de escritório e fora de visão; mas Leon estava naquela direção - não custava parar e
perguntar?
Devem ter saído do O'Kelly's. Um copo ou dois, mas não estando dirigindo, ótimo. Eu me sentirei um idiota
quando eles me dizerem que hoje é o grande concerto gratuito ou o dia da churrascada.
Aliviado, Leon virou a esquina e olhou para as sombras, procurando pelo par. Ele não os viu, mas tinha um beco
entre a loja e a joalheria. Talvez eles tenham parado para ir ao banheiro ou fazer outra coisa mais ilegal -
"Merda!".
Leon pisou no freio assim que meia dúzia de escuras figuras voaram do chão, pegas pelos faróis do Jeep.
Assustado, levou alguns segundos para perceber que tinha visto pássaros; eles não berraram, apesar de ter
estado perto o bastante para ouvir o bater de asas.
Oh, meu Deus.
Havia um corpo humano no meio da rua, a seis metros do carro. Debruçada, mas parecia uma mulher - e
julgando pelo líquido vermelho que cobria boa parte da blusa branca, não era uma estudante bêbada que decidiu
dormir no lugar errado.
Atropelamento. Algum imbecil a acertou e fugiu.
Leon desligou o motor e abriu a porta. Ele hesitou, um pé no asfalto, o cheiro de morte intenso no ar. Sua mente
#
trouxe uma idéia que não queria considerar, mas deveria; isso não é um treinamento, é a sua vida.
E se não foi um atropelamento? E se o fato de não haver pessoas por perto é por causa de um maluco armado
que decidiu praticar tiro ao alvo? Talvez todos estão em casa, abaixados - o R.P.D. pode estar a caminho e
aqueles dois bêbados podiam estar feridos e procurando ajuda...
Ele se esticou no Jeep e procurou seu presente de formatura debaixo do banco do passageiro, uma H&K VP70
com dezoito balas.
Apontando ela para o chão, Leon saiu do carro e deu uma olhada em volta. Ele não conhecia muito bem a noite
de Raccoon, mas sabia que não deveria estar tão escuro. Várias luminárias da rua estavam apagadas; se não
fossem os faróis do carro, ele não teria visto o corpo.
Ele se aproximou, sentindo-se desprotegido sem o carro, mas ciente de que ela podia estar viva. Era impossível,
mas ele tinha que ver.
Alguns passos mais próximo e viu que era um a jovem mulher. O cabelo ruivo e liso cobria o rosto. A maioria dos
ferimentos estavam escondidos pela blusa ensangüentada. Parecia haver alguns deles - rasgos na roupa
expunham claros e cortados pedaços de carne e os músculos vermelhos abaixo.
Exalando forte, Leon colocou a arma na mão esquerda e se agachou, tocando a fria pele do pescoço dela. Alguns
segundos passaram, segundos que lhe causaram medo, tentando se lembrar do procedimento de ressuscitarão,
esperando sentir o pulso.
Cinco compressões, dois e curtos sopros, cotovelo parados e, por favor, não esteja morta -
Ele não sentiu o pulso e não queria esperar. Guardando a arma, ele agarrou os ombros para vira-la - mas quando
começou a erguê-la, sua blusa saiu da calça, mostrando algo que o fez soltá-la. Sua coluna e parte das costelas
estavam expostas. As vértebras brancas brilhando entre a carne vermelha. Parece que ela foi mastigada. Coisa
que Leon não quis acreditar.
Os corvos não fizeram isso, teria levado horas, e quem disse que corvos se reúnem à noite para comer? E aquele
cheiro, não está vindo dela, ela morreu recentemente, e -
Canibais. Assassinos.
Não. Nem pensar. Para uma pessoas ser morta e devorada no meio da rua sem ninguém para impedir -
- e com tempo suficiente para comedores de mortos virem - os assassinos devem ter matado toda a população.
Parece certo? Então que cheiro é esse? E onde estão todos?
Atrás de Leon, houve um baixo e suave gemido. Depois, passos.
Levou um segundo para Leon se levantar, virar e empunhar a arma. Era o casal, os bêbados, vindo em sua
direção, junto com um terceiro, um cara musculoso com -
- com sangue por toda a camisa. E nas mãos. E pendurado em sua boca, algo vermelho e mole. O outro homem
com as botas e suspensórios, parecia igual.
O trio se aproximava, passando do Jeep, erguendo as mãos e gemendo. Leon estava impressionado com a
descoberta de que o cheiro vinha deles -
- e apareceu outro, saindo da porta do outro lado da rua, uma mulher de camiseta e cabelo amarrado para trás.
Outro gemido atrás dele. Leon olhou sobre o ombro e viu um jovem de cabelos escuros e braços podres sair das
sombras da calçada.
Leon apontou a arma para o que estava mais perto, o de suspensórios, enquanto seus instintos gritavam para
fugir. Ele estava aterrorizado, mas sua lógica insistia que havia uma explicação para o que via, que não estava
vendo um morto-vivo.
"Certo! Já chega! Não se mexam!".
Sua voz foi forte e autoritária. Ele vestia seu uniforme, e Deus, por que eles não param? O de suspensórios
gemeu de novo, cego para a arma apontada para seu peito, e ainda seguido pelos outros, agora a menos de
três metros de distância.
"Não se mexa!". Leon disse de novo, e o som de seu próprio pânico o fez recuar um passo, olhando para os
lados e vendo mais dois saindo das sombras.
Algo agarrou seu calcanhar.
"Não!". Ele gritou, virando a arma -
#
- e viu que a atropelada estava segurando sua bota com uma mão ensangüentada, tentando mover seu corpo.
O gemido dela se juntou ao dos outros enquanto tentava morder seu pé, vermelhos fios de saliva escorrendo
pelo queixo, caindo no couro.
Leon atirou nas costas dela. Pela distância deve ter acertado seu coração. Tremendo, ela voltou para o chão.
- e ele virou e viu os outros a menos de um metro e meio, e atirou mais duas vezes, os tiros abrindo buracos no
peito do mais próximo.
O de suspensórios não se intimidou com os tiros em seu peito, seu equilíbrio se abalando por apenas um segundo.
Ele abriu a boca e soltou um grito de fome, mãos erguidas de novo na direção de seu alívio.
Recuando, Leon atirou de novo. E de novo. E de novo. Mais tiros e eles continuaram vindo. Era como um sonho
ruim, um filme ruim, não era real - e Leon sabia que se não começasse a acreditar, acabará morrendo. Comido
por esses -
Vá em frente. Diga. Esses zumbis.
Longe do carro, Leon correu, ainda atirando.
[4]
Que vida noturna; esse lugar está morto.
Claire não viu tantas pessoas como deveria desde que chegou em Raccoon, só algumas, só algumas vagando
por aí. O lugar parecia totalmente deserto; o capacete bloqueava muito a visão, mas definitivamente os negócios
não iam bem naquela parte da cidade. Tal como o trânsito.
Ela planejou ir direto ao apartamento de Chris, mas se lembrou de que passaria em frente ao Emmy's. Chris não
sabia cozinhar nada; sendo assim, ele vivia de cereais, sanduíches frios e jantares no Emmy's seis vezes por
semana; mesmo não estando lá, vale a pena parar e perguntar se alguma garçonete o viu.
Assim que Claire parou em frente ao Emmy's, viu ratos procurando abrigo numa lata de lixo na calçada. Ela
abaixou o apoio e desceu da moto, tirando o capacete e o colocando no assento. Balançando seu rabo de cavalo,
ela franziu o nariz de nojo; pelo cheiro, o lixo estava lá por um bom tempo. Independente do que jogavam fora,
aquilo tinha um cheiro tóxico.
Antes de entrar, ela esfregou seus braços e pernas tanto para aquecê-los, quanto para limpá-los da sujeira da
estrada.
Através do vidro da frente do restaurante era possível ver o confortável de bem iluminado interior.
Das banquetas vermelhas do balcão que cercava o canto esquerdo ao fundo - não tinha uma alma à vista. Claire
franziu, desapontada. Tendo visitado Chris regularmente nos últimos anos, ela esteve lá todas as horas do dia e
da noite; os dois eram corujas, decidindo comer sanduíches às três da manhã - o que significa Emmy's. E sempre
tinha alguém lá, conversando com uma das garçonetes de avental vermelho ou curvado sobre uma xícara de
café e um jornal, não importava que horas fossem.
Então onde eles estão? Nem são nove horas...
A placa dizia Aberto, e ela não ficou parada na rua, esperando. Uma última olhada na moto e ela entrou.
Respirando fundo ela disse esperançosa.
"Olá? Tem alguém aqui?".
Sua voz correu pelo silêncio do restaurante vazio. Exceto pela suavidade dos ventiladores de teto, não havia outro
som. Tinha um familiar cheiro de gordura no ar e algo mais - um cheiro amargo e ainda fraco de flores podres.
O lugar era em L, se esticando para frente dela e para a esquerda. Andando devagar, Claire seguiu em frente.
Atrás do balcão ficava o caminho da cozinha. Se o restaurante estava aberto, os funcionários deviam estar lá,
talvez surpresos com a falta de clientes -
- mas isso não explica a bagunça, né?
Não estava tão bagunçado. A desordem nem foi percebida do lado de fora. Menus no chão, um copo d'água
virado no balcão, e talheres eram os únicos objetos fora de ordem - mas era demais.
Que se dane a cozinha, isso é muito estranho, algo está errado nessa cidade - talvez eles foram assaltados ou
preparando uma festa surpresa. Quem se importa?
#
Do espaço escondido no final do balcão, ela ouviu um movimento, um deslizante sor de roupas seguido por um
ronco. Alguém está lá, agachado.
De coração batendo forte, Claire chamou de novo. "Olá?".
E nada.
- outro gemido, um som que arrepiou os pêlos do seu pescoço.
Apesar do medo, Claire foi até lá. Talvez houve um assalto, os clientes podem estar amarrados - ou pior, tão
machucados que não conseguiam gritar. De qualquer modo, ela estava envolvida.
Claire chegou no fim do balcão, olhou para a esquerda -
- e gelou, de olhos arregalados, sentindo-se psicologicamente estapeada. Perto de uma prateleira com bandejas
estava um calvo homem de avental branco, de costas para ela. Ele estava agachado sobre o corpo de uma
garçonete; mas tinha algo muito errado sobre ela, tão errado que Claire não conseguiu aceitar tão cedo. Seu olhar
chocado passou pelo uniforme vermelho, sapatos, até pelo crachá de plástico no peito dela, "Julia" ou "Julie".
... a cabeça. A cabeça dela não estava lá.
Percebendo o que estava errado, Claire não conseguiu desacreditar por mais que queira. Só tinha uma poça de
sangue no lugar da cabeça dela, cercada por fragmentos do crânio e mechas de cabelo escuro. O cozinheiro tinha
as mãos no rosto e Claire, olhando para o corpo, soltou um leve suspiro.
Ela abriu a boca, incerta sobre o que falar.
Gritar, perguntar por que, como, oferecer ajuda - ela não sabia, e assim que o homem virou para ela, abaixando
as mãos, nada foi dito definitivamente.
Ele estava comendo a garçonete. Seus dedos estavam vestidos com carne; a estranha face que ele mostrou
estava suja de sangue.
Zumbi.
Sua mente aceitou isso no momento em que pensou; ela não era idiota. Ele estava mortalmente pálido e com
aquele cheiro de podridão. Seus olhos brancos.
Zumbis em Raccoon. Eu nunca esperei isso.
Com esse calmo e lógico pensamento veio uma súbita onda de terror. Claire recuou, enquanto o homem
continuava se virando, se levantando.
Ele era enorme, quase dois metros, grande como um armário -
- e morto! Ele está morto e comendo a mulher, não o deixe se aproximar!
O cozinheiro começou a andar. Claire recuou mais rápido, quase escorregando num menu. Um garfo entortou sob
seus pés.
SAIA DAQUI, AGORA.
"Eu já estou de saída". Ela falou. "Mesmo, não precisa mostrar a porta -".
O cozinheiro continuou andando, seus cegos olhos arregalados de fome. Outro passo para trás - e Claire sentiu o
frio metal da maçaneta da porta. Uma triunfal adrenalina passou por ela enquanto virava, tocava a maçaneta -
- e gritou, um curto grito de terror. Havia dois, três deles lá fora, suas carnes decompostas pressionando o vidro.
Um deles só tinha um olho; outro só o lábio superior. Do outro lado da rua, escuras figuras saiam da penumbra.
Sem saída, presa -
- Jesus, a porta dos fundos!
No final de seu campo visual, a verde luz da saída brilhava como uma estrela. Claire virou de novo e mal viu o
cozinheiro chegando onde estava, uma atenção virada para sua única esperança.
Ela correu. A porta daria no beco, se estiver trancada Claire estará morta.
Claire golpeou a porta e ela abriu, acertando os tijolos da parede do beco - e tinha uma arma apontada para seu
rosto, a única coisa que podia pará-la, um homem armado.
Ela congelou, erguendo os braços instintivamente.
"Espere! Não atire!".
Ele não se moveu, a arma ainda apontada para sua cabeça -
- ele vai me matar -
"Abaixe-se!". Ele gritou, e Claire obedeceu.
Boom! Boom!
O homem atirou e Claire olhou em volta, viu o cozinheiro morto caindo de costas bem atrás dela, um buraco em
sua testa.
#
Claire voltou-se para o homem que salvou sua vida, reparando no uniforme. Policial. Ele era jovem, alto - tão
aterrorizado quanto ela se sentia, seus olhos azuis bem abertos e sem piscar. Pelo menos sua voz foi forte ao se
abaixar para ajudá-la.
"Não podemos ficar aqui. Venha comigo, nós estaremos a salvo na delegacia".
Assim que ele falou, ela ouviu um coro de gemidos vindos da rua, aumentando. Claire se deixou ser levantada,
segurando a mão dele bem forte, se confortando ao percebeu que sua mão estava trêmulas igual a dele.
Eles correram.
[5]
Leon correu junto com a garota, tentando lembrar o mapa da cidade. O beco deve dar na Ash, não muito longe
da rua do R.P.D., a Rua Oak - mas a delegacia estava a pelo menos uns quinze quarteirões à leste; sem
transporte eles não conseguirão. Ele só tinha quatro balas, e pelo som vindo do beco, havia dezenas de criaturas
em cada ponta.
Saindo do beco, Leon ergueu a mão e parou de correr, examinado a escura rua. Ele não viu muito, mas de onde
estavam, perto da luminária, havia onze ou doze zumbis à direita e só três à esquerda, não muito longe de uma -
Aleluia!
"Ali!".
Leon apontou para uma viatura estacionada do outro lado da rua. Não havia policiais por perto; seria querer
demais - mas as portas estavam abertas. Eles podem alcançar o carro antes das três coisas ali perto. Se não
tiver chave, pelo menos há um rádio e vidros à prova de balas. Eles podem ficar lá até a ajuda chegar -
- e é a única chance. Vá!
Eles correram para o preto e branco. Leon apontando sua arma para as criaturas mais próximas, a uns vintes
metros. Ele queria atirar, mas não podia desperdiçar munição.
Deus, que tenha chaves.
Eles alcançaram a viatura ao mesmo tempo e se dividiram, a garota indo para o lado do passageiro, fazendo
Leon perceber que ela achava que o carro era seu. Ele a esperou fechar a porta antes de entrar, uma pequena
voz dentro dele gritando que esse era seu primeiro dia.
A chave estava na ignição. Leon guardou a arma e a tocou.
"Aperte os cintos". Ele disse, pouco ouvindo o consentimento da garota enquanto girava a chave e as sirenes
ligavam. A Rua Ash foi iluminada por azul e vermelho, as sombras mudando de forma e densidade. Era a visão do
inferno - e ele pisou no acelerador, querendo sair de lá o mais rápido possível.
O carro saiu derrapando. Leon virou para a direita depois para a esquerda, quase acertando uma mulher cuja
metade do couro cabeludo foi arrancado.
Ajuda, chamar ajuda -
Leon pegou o rádio sem tirar os olhos da rua. Criaturas saíam da escuridão como se chamadas pelo carro veloz.
Assim que o carro cruzou a Powell e continuou, Leon desviou de mais zumbis.
A garota estava cochichando, olhando para a desolada paisagem enquanto Leon apertava o botão do rádio, o
desamparo crescendo. Sem estática, sem nada.
"Que diabos está acontecendo. Eu chego em Raccoon e o lugar está de cabeça para baixo -".
"Ótimo, o rádio está desligado". Leon a interrompeu, soltando o rádio. A cidade parecia um mundo alienígena, as
ruas estranhamente assombradas. Parecia um sonho, mas o cheiro dizia que estavam acordados. O cheiro tinha
tomado conta da viatura, ficando difícil de dirigir. Pelo menos não tinha trânsito, nem pessoas, pessoas de
verdade...
... exceto eu e a garota. Eu tenho que fazer o meu trabalho, não deixá-la se machucar. Pobre menina, não deve
#
ter mais de dezenove ou vinte anos, deve estar aterrorizada.
"Você é policial, né?".
Ele olhou para ela, o tom sarcástico e humorado em sua voz deu uma forte impressão de que ela não era fraca.
Uma boa coisa apesar das circunstâncias.
"Sou. Primeiro dia no trabalho; que ótimo, hein? Eu sou Leon S. Kennedy".
"Claire,". Ela disse. "Claire Redfield. Eu vim procurar meu irmão, Chris...".
Ela parou, olhando para a rua. Duas criaturas estavam entrando no caminho do carro, e Leon acelerou, passando
entre eles. A grade de metal que divide a parte de trás do carro estava quebrada, fornecendo uma clara visão do
retrovisor interno; os dois zumbis vagando desatentamente atrás deles.
Famintos. Como nos filmes.
Por um momento, ninguém falou, a pergunta mais obvia não respondida. Seja lá o que tornou Raccoon numa
casa dos horrores, não importava tanto quanto suas vidas. Eles chegarão na delegacia em alguns minutos. Tinha
um estacionamento subterrâneo - ele tentará lá primeiro - mas se os portões estiverem fechados, eles terão que
andar um pouco. Tinha um pequeno jardim em frente ao prédio.
Quatro balas - e uma cidade cheia daquelas coisas. Precisamos de outra arma.
"Ei, abra o porta-luvas". Ele disse.
Claire apertou o botão e se curvou, mostrando as costas de seu colete vermelho; "Made in Heaven" (Feito no
Paraíso) estava estampado sobre um voluptuoso anjo segurando uma bomba. Combinava com ela.
"Tem uma arma aqui". Ela disse, e pegou a semi-automática, erguendo-a cuidadosamente para ver se estava
carregada, antes de pegar os dois clips. Era uma das velhas armas do R.P.D., uma Browning HP de 9 mm.
Desde a onda de assassinatos, a polícia tem usado as H&K VP70, outra 9 mm - a diferença é que a Browning
carrega treze balas enquanto a outra podia carregar dezoito, dezenove se você deixar uma engatilhada. Do modo
que a manuseava, Leon viu que ela sabia o que fazia.
"É bom ficar com ela". Ele disse.
Assim que Leon fez uma curva um pouco rápido demais, o pensamento do R.P.D. estar infestado de zumbis o
acertou. Tudo ocorreu tão rápido que ele nem tinha pensado nisso. Talvez haja uma defesa organizada na
delegacia - mas era difícil pensar com o cheiro de podridão tão forte no ar.
Temos três quartos de tanque, mais do que suficiente para chegar às montanhas; podemos estar em Latham
em menos de uma hora.
Eles poderiam desviar da delegacia se parecesse insegura. Sair da cidade soava bom para ele. Ele ia contar para
Claire, ver o que ela achava quando -
- o terrível cheiro de morte se intensificou e algo pulou do banco traseiro.
Claire gritou e o monstro que esteve na viatura o tempo todo agarrou o ombro de Leon, levando seu braço direto
para frente com uma incrível força.
"Não!". Leon gritou assim que o carro virou violentamente para a direita, subindo na calçada e deslizando na
parede de um prédio. A criatura estava desequilibrada, perdendo apoio; Leon virou o volante para a esquerda,
mas não evitou a parede por completo. Ruídos de metal e faíscas iluminaram o interior.
A coisa jogou seus braços em Claire e, sem pensar, Leon acelerou e jogou o carro para a direita. O carro
ziguezagueou, derrapando lateralmente, a traseira acertando uma pick-up azul estacionada. Faíscas e o som de
borracha no asfalto.
O morto foi para o banco, mas voltou imediatamente para frente, na direção da garota.
Eles desciam a Terceira (uma rua), Leon tentando controlar o carro enquanto pegava sua arma e se virava. Ele
não pensou em desacelerar, só pensava no zumbi cravando seus dentes no ombro de Claire.
Segurando a arma pelo cano, ele desceu a coronha no rosto do monstro, arrancando pele igual a uma banana.
Gemendo, a criatura tocou o rosto sangrando e Leon pode sentir um segundo de triunfo, até que -
- Claire gritou, "Cuidado!".
- e Leon viu que eles iam bater.
Leon tinha batido no zumbi com a arma quando seu olhar aterrorizado viu que a rua ia acabar.
"Cuidado!".
Ela só pode ver os dedos dele grudados no volante -
- e o carro começou a girar, derrapando, prédios e luzes piscando tão rápido que ela só viu borrões, e de repente
#
- BAM!
Houve uma explosão de som, de vidro quebrando e metal esmagando, assim que o carro bateu em algo sólido,
arremessando Claire contra o assento. Ao mesmo tempo, o impacto jogou o zumbi violentamente para trás,
atravessando o vidro traseiro -
- e tudo ficou quieto. Só o seu coração pulsando nos ouvidos. Claire viu que Leon já estava recuperado, olhando
para o corpo lá atrás, sua cabeça fora de visão. Não estava se mexendo.
"Você está bem?".
Claire virou para Leon, subitamente querendo evitar uma risada. A cidade estava infestada por mortos-vivos, e
acabaram de sofrer um acidente por que um cadáver queria comê-los. Considerando isso, "bem" não é primeira
palavra a vir na cabeça.
"Inteira". Ela disse, e o jovem policial acenou, parecendo aliviado.
Claire respirou fundo e olhou onde estavam. Leon tinha girado 180 graus com o carro no final da rua em T, o
carro completamente danificado estava de frente para o sentido de onde vieram. Não havia zumbis por perto. Ela
segurou sua arma fortemente, tentando se controlar.
"Nós -". Leon começou a falar algo, mas parou, seus olhos arregalados para o que via. Claire também viu - e por
um segundo, sentiu que seu caminho foi amaldiçoado desde que saiu da universidade.
Um caminhão descia a rua, ainda a vários quarteirões de distância, mas perto o bastante para ver que estava
fora de controle. O caminhão ziguezagueava, batendo na mesma pick-up azul de um lado da rua e uma caixa de
correio do outro. Claire percebeu com terror que era um caminhão tanque. No segundo que levou para entender,
rezar para que não seja gás ou óleo, o caminhão diminuiu a distância entre eles. Ela já via o acidente quando
Leon quebrou o silêncio.
"- ele vai esmagar a gente". Ambos tocaram os cintos de segurança, Claire rezando para não estarem presos.
O som dos cintos soltando foram inaudíveis perante o crescente eco do caminhão. Ele chegará em um segundo.
"Corra!". Leon gritou, e ela saiu do carro, ar fresco em sua suada pele. O ronco do motor do caminhão
bloqueando tudo mais.
Ela deu três passos gigantes, tanto sentindo quanto ouvindo o impacto, o chão tremendo sob seus pés assim que
metal se retorcia atrás dela.
Mais um pouco, e -
KABOOM!
- ela foi jogada, literalmente tirada de suas botas por uma incrível onda de pressão, calor e som. Ela tentou
alcançar o chão enquanto a explosão tornava a noite em dia. Um estranho giro, poeira em sua pele, e Claire
aterrissou perto de um *De Lorean prateado estacionado na frente de uma *delicatessen.
Houve uma breve chuva de destroços enfumaçados e Claire se levantou, procurando nas labaredas por Leon.
Seu coração parou. O caminhão tanque, a viatura, tudo estava envolvido por fogo. A rua completamente
bloqueada por uma massa de destruição.
"Claire -".
A voz de Leon, abafada, mas audível através da parede de fogo.
"Leon?".
"Eu estou bem!". Ele gritou. "Vá para a delegacia, eu te encontro lá!".
Claire hesitou por um segundo, olhando para a arma que ainda segurava firmemente em sua trêmula mão. Ela
estava com medo, aterrorizada por estar só numa cidade que virou um cemitério - mas não tinha escolha.
"Tá bom!".
Ela virou. O portão de trás da delegacia estava a alguns metros dali -
- e criaturas estavam saindo das sombras, de trás dos carros e de dentro dos prédios escuros. Com um
pensamento em mente, eles entraram na estranha luz do acidente, gemendo de fome - dois, três, quatro deles.
Por trás do fogo, ela ouviu tiros - dois tiros, depois nada - nada além do fogo e os suaves gemidos.
Leon já foi, agora VÁ!
Claire respirou fundo e correu.
#
[6]
Ada Wong colocou, na cavidade da estátua, o brilhante disco de metal dourado com um unicórnio entalhado,
dando um tapinha até a peça encaixar no mármore. Ela ouviu um movimento na estátua e se afastou para ver o
que acontece. Seus passos ecoaram pelo grande hall principal da delegacia, o som passando pelos parapeitos do
segundo e terceiro andar.
Outra chave? Uma das medalhas do esgoto? Ou quem sabe a própria amostra... não seria uma feliz surpresa.
A ninfa segurando uma jarra d'água feita de pedra deslizou para trás, a jarra em seu ombro jogando um fino
pedaço de metal. A chave de *espadas (*spade key).
Ela suspirou, pegando-a. Ela já tem as chaves; de fato, ela já tem tudo o que precisa para vasculhar a delegacia,
e quase tudo para o laboratório. Se a Umbrella tivesse facilitado, o trabalho teria sido moleza. Dinheiro fácil.
Mas acabei ganhando férias de três dias na cidade dos monstros, brinquei de Por Uma Bala na Cabeça e Vamos
Achar o Repórter. As amostras podem estar em qualquer lugar, dependendo de quem sobreviveu. Se eu sair
daqui com as belezinhas, vou pedir um grande bônus; ninguém deve trabalhar nessas condições.
Ada guardou a chave e olhou para o parapeito superior, mentalmente visualizando as salas que já foi. Bertolucci
parece não estar em lugar algum da asa leste do R.P.D.. Ela passou horas encarando mortos em busca do
queixo quadrado e rabo de cavalo dele. Claro, ele pode estar se movendo - mas pelo que sabia dele, era
improvável; o repórter se escondia diante do perigo.
Por falar em perigo...
Ada foi para a porta que dava na parte inferior da asa leste. O hall principal estava a salvo dos infectados, eles
não pareciam conhecer uma maçaneta - mas havia ameaças além deles. Só deus sabe o que a Umbrella
mandará para arrumar tudo isso... ou o que foi solto no laboratório após a contaminação. Menos assustador,
mas não menos preocupante quanto os policiais vivos procurando alguém para salvar. Ela já ouviu tiros, alguns
distantes, outros não, toda hora desde que chegou; deve haver alguns não-infectados no grande e velho prédio.
Na ponta dos pés para evitar barulho, ela cruzou a porta e se encostou nela, decidindo onde ir; ela ainda não
checou o subterrâneo e haviam vários portadores na sala dos detetives.
Ah, a excitante vida de uma agente autônoma. Viajar pelo mundo! Ganhar dinheiro roubando coisas importantes!
Combater mortos-vivos sem ter tomado um banho ou comido algo decente por três dias - isso impressiona os
amigos!
Ela se lembrou de pedir aquele bônus de novo. Quando chegou em Raccoon há menos de uma semana, ela se
achava preparada; os mapas foram estudados, os dados do repórter memorizados, sua história falsa na ponta
da língua - uma mulher procurando pelo namorado, um cientista da Umbrella. Essa parte era quase verdade; de
fato, foi seu breve relacionamento com John Howe dez meses antes de ela ter arrumado o emprego. Mas John
pensou de outra forma e sua conexão com a Umbrella provavelmente o matou. Tudo isso se tornou uma boa
dica para ela.
Aí ela já estava pronta. Mas nas primeiras vinte e quatro horas de estadia, sua sorte mudou; enquanto comia no
quase vazio restaurante do hotel, ela ouviu os primeiros gritos do lado de fora. Os primeiros, mas não os últimos.
De algum modo, o desastre foi uma vantagem; não haverá guardas no laboratório. O estudo que fez no T-virus
a assegurou de que o aerotransmissível se dissipa rapidamente; o único modo de se contaminar agora é entrando
em contato com um portador, então não haverá problema.
Objetivos: interrogar o repórter, descobrir o quanto ele sabe e matá-lo ou ignorá-lo, depende. Recuperar uma
amostra do novo vírus, a mais nova maravilha do Dr. Birkin. Sem problema, certo?
Três dias antes, sabendo como o laboratório da Umbrella era conectado ao sistema de esgoto e com Bertolucci
na sua frente, o trabalho teria siso moleza. Foi quando as coisas começaram a dar errado.
Pessoas desaparecendo, barricadas caindo...
Ela observou Bertolucci de perto o bastante para ver que ele fugiria. Ela nem teve tempo de fazer contato antes
#
dele desaparecer. Ada decidiu continuar sozinha quando três quartos dos civis foram mortos por que ninguém se
preocupou em fechar os portões da garagem. Ela não queria morrer tentando proteger sua imagem de turista
assustada procurando o namorado.
Aí veio a espera. Quase quinze horas esperando as coisas se acalmarem, escondida no maquinário do relógio do
terceiro andar, entre o eco de tiros e gritos...
Ótimo. O que fazer agora? Sentar e refletir ou acabar logo com isso; quanto mais cedo acabar mais tempo de
férias terá numa ilha qualquer.
Quieta, Ada não se mexeu, batendo sua Beretta na perna. Haviam corpos espalhados no corredor; ela não
conseguia parar de olhar um deles, caído debaixo da janela-bancada do escritório. Uma mulher ensangüentada.
Os outros dois eram policiais e ela não os conhecia - mas a mulher foi uma das pessoas com a qual conversou
quando chegou na delegacia. Seu nome era Stacy, uma nervosa, mas forte garota de vinte e poucos anos.
Stacy Kelso, isso mesmo. Ela queria comprar sorvete e acabou aqui - apesar de sua situação, ela estava mais
preocupada com os pais e o irmão em casa. Uma garota consciente. Uma boa garota.
Por que ela está pensando nisso? Stacy estava morta e não foi Ada que a matou. Ela veio aqui para trabalhar;
não foi sua culpa por Raccoon estar assim.
Talvez não seja culpa. Talvez só esteja triste porque Stacy não conseguiu.
Ela era uma pessoa, e agora está morta, como sua família provavelmente.
"Saia dessa". Ela disse, suave, mas irritadamente. Ada desviou o olhar, fixando-o num cinzeiro quebrado no fim
do corredor, onde virava à direita. Sentia-se mau com as coisas que não conseguia controlar, não era seu estilo,
não foi assim que chegou até aqui - e considerando o esforço que o Sr. Trent estava fazendo para manter Ada
trabalhando, agora não é a melhor hora para analisar suas habilidades.
Objetivos: falar com Bertolucci e pegar a amostra do G-virus. É tudo com o que ela precisa se preocupar.
Ainda há um mecanismo que Ada precisa ver, na sala de entrevistas. As últimas adições do arquiteto foram
detalhadas por Trent, mas ela sabia que tinha a ver com as lâmpadas de gás e uma pintura a óleo. A pessoa que
fez tudo isso teve uma séria vida secreta; havia passagens secretas escada acima, atrás de uma parede. Ela
ainda não foi lá, mas uma breve olhada revelou um escritório. Julgando pela decoração neurótica e estofada, só
podia ser de Irons. Mesmo tendo estado em sua companhia por pouco tempo, ele era o homem mais instável
que já conheceu; não havia dúvidas de que estava na lista de pagamento da Umbrella, mas também havia algo
sobre ele que parecia bem defeituoso.
Ada desceu o corredor, seus sapatos contra os ladrilhos esverdeados; ela já temia outro mecanismo. Nada que
não tinha dicas; ela assumia que o vírus ainda estava no laboratório. Os dados diziam que havia cerca de doze
frascos da coisa, informação de um vídeo de duas semanas - e o laboratório de Birkin não era impenetrável.
Sendo o laboratório subterrâneo conectado à delegacia pelo esgoto, ela deve considerar que as amostras foram
movidas. Além disso, Bertolucci pode estar escondido na biblioteca ou no escritório do S.T.A.R.S., na asa oeste,
talvez na sala de revelação; vivo ou morto, ele precisa ser encontrado.
Ela virou no corredor, passando por uma pequena área de espera com máquinas de venda já saqueadas. Como
todo o R.P.D., o corredor estava frio e com falta de ar fresco; ela já se acostumou com o cheiro, mas o frio era
a pior parte. Pela centésima vez desde que saiu o hotel, Ada desejou ter colocado outra roupa.
O vestido vermelho sem mangas, meia calça preta e sapatos barulhentos eram ótimos como disfarce; como
equipamento, a roupa estava longe de prática.
Chegando no fim do corredor, ela abriu a porta cuidadosamente, de arma na mão. Como antes, o corredor
estava vazio, outra prova da desbotada elegância do prédio - paredes cor de areia e lajotas padronizadas. A
delegacia já deve ter sido magnífica, mas os anos de uso como prestador de serviços, o prédio perdeu seu
encanto; com a mansão de um filme, a fria atmosfera dando uma distinta sensação sinistra - como se a qualquer
momento uma fria mão pudesse tocar seu ombro, uma suave respiração em seu pescoço...
Ada franziu de novo; depois dessa missão, ela tirará longas férias. Senão isso, tentará outra carreira. Sua
concentração já não é como antes. E em seu trabalho, um erro pode levar à morte.
Um grande bônus. Trent cheira como dinheiro. Eu vou pedir sete dígitos, seis no mínimo.
Em suas tentativas de bloquear os pensamentos, só um ainda persistia - a jovem Stacy Kelso pondo o cabelo
atrás da orelha enquanto falava de seu irmão bebê...
Depois do que pareceu um longo tempo, Ada apagou essa visão e continuou andando, prometendo a si mesma
#
de que não haverá mais lapsos de concentração - e imaginando por que não acha que conseguirá.
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*De Lorean - Carro conhecido mundialmente por ter sido a máquina do tempo nos filmes da trilogia "De volta para
o Futuro".
*Delicatessen - Casa de comestíveis; mercearia.
*Espadas - Referência aos naipes do baralho:
Heart = Copas
Diamond = Ouros
Spade = Espadas
Club = Paus
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[7]
As botas de Leon esmagavam cacos de vidro na loja de armas Kendo, enquanto abria as gavetas. Se ele não
achar balas rápido terá problemas; as armas restantes da loja estavam inacessíveis, presas com cabos de aço, e
a janela da frente estava completamente quebrada. Não demorará muito para as criaturas o acharem, ele só
tinha uma bala e muito o que andar.
"Isso!".
Quarta gaveta, munição. Leon pegou a caixa e a pôs no balcão enquanto vigiava a frente da loja. Ninguém ainda,
sem contar o dono da loja morto. Ele não se movia. Por ter morrido há alguns minutos, não se sabe quando
voltará à vida, e Leon não queria estar lá para descobrir.
Vigiando a pequena loja, ele começou a recarregar. Leon tinha se esquecido da loja depois do acidente,
achando-a casualmente. Estando o caminho mais rápido para a delegacia bloqueado, a Kendo's era a melhor
opção.
"Uuuuunh...".
Uma horripilante e esquelética forma saiu das sombras da rua, vindo cegamente para frente da loja.
"Droga". Leon disse, seus dedos trabalhando mais rápido. Um clip pronto, mais um e pode levar o resto.
De repente, outra figura apareceu.
- dezesseis... dezessete...pronto!
Ele pegou a H&K e ejetou o clip, colocando o novo assim que o vazio caiu no chão. A criatura estava passando
pela armação do vidro, algo líquido em sua garganta soando levemente.
Mochila, ele precisa de uma. Leon olhou debaixo do balcão, vendo uma mochila de ginástica no fim dele. Material
de limpeza se espalhou no balcão enquanto Leon colocava os clips na mala, ignorando as balas espalhadas na
gaveta.
O monstro podre vinha em sua direção, tropeçando no dono da loja. Leon ergueu a arma e mirou no rosto da
criatura.
Na cabeça, igual aos outros dois lá fora -
Com um tremendo e alto som, a bala explodiu o rosto do zumbi, sangue respingando nas paredes.
Antes da coisa cair, Leon virou e ajoelhou perto da gaveta de munição, jogando as pesadas caixas na mochila.
Seu estômago dando um nó e tremendo de medo; o beco de trás pode estar cheio de zumbis.
Umas cento e cinqüenta balas, agora saia -
Levantando-se, Leon vestiu a mochila e correu para a porta de trás. Pelo canto do olho, viu outra criatura
entrando na loja; pelos cracks do vidro, havia mais deles.
Ele abriu a porta de saída e a cruzou, olhando para os lados assim que a porta se fechou. Nada além de latas de
lixo e caixas de papelão. De onde estava, o beco continuava à esquerda e depois virava à direita; se seu senso
de direção estiver intacto, a estreita passagem o levará direto para a Oak.
Até agora ele teve sorte; tudo o que podia fazer era esperar que isso não mudasse, e que pudesse chegar inteiro
#
no R.P.D. - e que lá houvesse um monte de pessoas armadas que saibam o que aconteceu.
E Claire. Esteja bem, Claire Redfield, e se chegar lá primeiro, não tranque a porta.
Leon ajustou a mochila nas costas e andou pelo beco mau iluminado, pronto para explodir o que cruzar seu
caminho.
Claire conseguiu quase sem dar um tiro; os zumbis eram cruéis, mas lentos, e a adrenalina em seu corpo tornou
fácil desviar deles. Talvez o som do acidente desviou suas atenções, aí foi só seguir seus olfatos, ou o que sobrou
deles. Dos dez zumbis que viu, pelo menos metade estava num avançado estágio de decomposição, carne
caindo dos ossos.
Ela já esteve no R.P.D. duas vezes com Chris, mas nunca entrou pela parte de trás. Viaturas estacionadas e
alguns policiais zumbificados a receberam na pequena área, levando-a para uma pequena cabana. Depois havia
um pátio - o pátio o qual ela e Chris almoçaram uma vez, sentados nos degraus que levavam ao heliporto do
segundo andar.
Desviar dos zumbis policiais no pátio em forma de L foi fácil, e um alívio por estar num lugar que conhecia.
Uma mulher de um único braço pendurado e roupas ensangüentadas, tinha saído das sombras debaixo da
escada e tocou Claire com frias mãos; Claire soltou um suspiro de surpresa, livrando-se da criatura - e quase caiu
nos braços de outro, um alto homem que também saiu de debaixo da escada de metal, grosseiro e silencioso.
Ela conseguiu evitá-lo e se afastou, apontando a 9 mm para o homem, recuando um passo e -
- esbarrou no corrimão. A mulher estava a um metro e meio à direita. O homem a um passo de distância.
Claire apertou o gatilho e houve um gigantesco boom, a arma quase pulando fora de sua mão. A parte direita do
rosto dele desapareceu numa explosão de líquido escuro.
Ela girou a arma, apontando para a pálida face da mulher. Outro tiro e o gemido foi interrompido, a testa
implodindo num espirro de sangue e pedaços de ossos. A mulher caiu de costas no chão como um -
- como um cadáver, o qual ela já era. Eles não sairão mais daqui.
Por um momento, Claire não se moveu. Ela olhou para os dois corpos e sentiu que esteve a um centímetro de
errá-los.
Ela cresceu em volta de armas, atirando em alvos dezenas de vezes - mas era com uma pistola .22 e alvos de
papel. Alvos que não sangravam ou espirravam miolos como os dois seres humanos que acabou de matar -
Não. Uma voz interna a interrompeu. Humanos, não, não mais. Não se engane e não perca tempo com
remorso. Leon já deve ter entrado, e está procurando por você. E se o S.T.A.R.S. foi chamado, Chris pode estar
lá também.
Se isso não foi motivação o bastante, os dois zumbis que deixou para trás estavam vindo. É hora de ir.
Ela subiu a escada, mal ouvindo seus passos por causa do zumbido em seu ouvido. Os tiros não fizeram bem à
sua audição - por isso só ouviu o helicóptero quando estava chegando lá em cima.
Claire parou, o vento batendo ritmadamente em seu corpo enquanto o veículo entrava em visão, perdido na
sombra. Estava de frente para a antiga torre d'água. Ela não sabia se ia pousar ou se já tinha decolado.
Não sabia e não se importava. "Ei!". Ela gritou, erguendo sua mão esquerda. "Ei, aqui!".
Suas palavras se perderam na poeira levantada pelas pás do helicóptero. Claire acenou como se tivesse ganhado
na loteria.
Alguém veio. Graças a Deus, obrigado!
O holofote da aeronave foi ligado - mas estava indo na direção errada, não para ela. Claire balançou os braços
mais freneticamente, respirando para gritar de novo até que -
- viu o que a luz iluminava, mesmo enquanto ouvia o desesperado e praticamente inaudível grito sob o motor do
helicóptero. Um homem, um policial, de pé no meio do heliporto. Ele segurava uma metralhadora, e parecia bem
vivo.
"- venha até aqui -".
O policial gritou para o alto, sua voz cheia de pânico; Claire viu o porquê e seu alívio evaporou. Havia dois zumbis
saindo do escuro e indo para o alvo bem iluminado que estava gritando. Ela ergueu a arma, mas a abaixou de
novo, com medo de acertar o policial.
A luz não se movia, iluminando o terror com sua brilhante claridade. O homem não devia saber o quanto perto os
#
zumbis estavam até que foi tocado.
"Afastem-se! Não se aproximem!". Ele gritou. Com o terror em sua voz, Claire pode ouvi-lo claramente. As duas
figuras o encurralaram no canto sudoeste do heliporto.
O som da metralhadora foi alto. Mesmo com o helicóptero acima, Claire ouviu as balas cortando ar. Ela se
ajoelhou enquanto os tiro continuavam para todos os lados - e para cima -
- e houve uma mudança no som do helicóptero, um estranho hum que fico mais alto. Claire olhou para cima e viu
a nave branca mergulhando, a cauda balançando num instável arco.
Jesus, ele acertou o helicóptero.
O holofote ia em todas as direções, passando por canos de metal, concreto e o policial sendo atacado pelos
zumbis, de alguma forma ainda atirando -
- e de repente o helicóptero começou a descer, balançando. As pás batendo no telhado com muita força. Antes
que Claire pudesse piscar, o nariz da nave bateu - cruzando o heliporto num curto arranhão de faíscas e cacos de
vidro.
A explosão ocorreu assim que a máquina caiu na parede sudoeste - diretamente sobre o policial e seus dois
assassinos. No mesmo instante, o nariz do helicóptero atravessou a parede de tijolos bem à frente.
A rajada de tiros finalmente parou sob as chamas que vieram depois do boom, iluminando o lugar num ardente
calor alaranjado.
Claire ergueu-se nas pernas que mal sentia, olhando desacreditada para o fogo que tomava conta de quase
metade do heliporto. Tudo aconteceu tão rápido que pareceu ser mentira. Um ácido e enjoativo odor de metal
derretido passou por ela numa onda de calor, e no súbito silêncio ela pode ouvir o gemido dos zumbis no pátio lá
embaixo.
Ela olhou para as escadas e viu que ambos os policiais zumbis estavam na base, cegamente tropeçando no
primeiro degrau. Pelo menos eles não estavam subindo...
Claire virou seu assustado olhar na direção da porta a uns dez metros dali. Exceto pela escada, a porta era o
único modo de chegar lá. E se zumbis não conseguiam subir - e tinha dois no heliporto -
- então tenho problemas. A delegacia não é segura.
Ela olhou para os destroços queimando, medindo opções. Ela ainda tinha muita munição; ela pode voltar para a
rua, procurar um carro com chave e buscar ajuda.
E Leon? Se aquele policial estava vivo, pode haver mais lá dentro planejando uma fuga?
Ela não podia ir embora sem avisar Leon; e se ele morrer procurando por ela...
Decidida, Claire foi até a porta, procurando movimento nas sombras. Chegando lá, fechou os olhos por um
segundo, a mão suada na fechadura.
"Eu vou conseguir". Ela disse. Apesar de não ter parecido confiante como queria, sua voz não tremeu. Ela abriu
os olhos, depois a porta; quando nada saiu do escuro corredor, ela entrou.
[8]
O Chefe da polícia, Brian Irons, estava parado em um de seus corredores particulares, tentando recuperar o
fôlego, quando sentiu um tremendo impacto no prédio. Ele o ouviu, também - ouviu algo. Um distante som,
pesado e brutal.
O telhado. Ele pensou. Algo no telhado...
Ele não se preocupou em tirar conclusões. Seja lá o que for, não tornará as coisas piores.
Irons se afastou da parede de pedra e ergueu Beverly o mais gentilmente possível. Eles estarão no elevador em
um minuto, depois uma pequena caminhada até o escritório; ele pode descansar lá, e depois -
"E depois,". Ele resmungou. "essa é a questão, não é?. Depois o que?".
Beverly não respondeu. Seus traços perfeitos permaneceram parados, seus olhos fechados - mas ela parecia se
aconchegar com ele, seu longo e magro corpo perto do peito dele. Devia ser sua imaginação...
#
Beverly Harris, a filha do prefeito. Bela e jovem Beverly, que, com sua beleza loira, já assombrava os sonhos
culposos de Brian. Ele a segurou e continuou indo para o elevador, tentando não demonstrar exaustão caso ela
acorde.
Seus braços e costas estavam doendo quando chegou no elevador. Ele deveria tê-la deixado em sua sala de
hobby, a sala a qual sempre considerou como um Santuário - era clamo lá, e provavelmente um dos lugares mais
seguros da delegacia. Quando ele decidiu voltar para o escritório, pegar seu diário e outros itens pessoais, ele
percebeu que simplesmente não podia deixá-la para trás. Ela parecia tão vulnerável, tão inocente; ele tinha
prometido a Harris de que cuidaria dela; e se ela fosse atacada em sua ausência? E se ele voltar e ela não estiver
lá?
Uma década de trabalho. Fazendo conexões, se posicionando... tudo isso, desse jeito.
Irons a pôs no frio chão e abriu as grades, tentando não pensar no que perdeu. Beverly era o mais importante
agora.
"Te dar segurança". Ele disse. Por acaso ela mexeu a boca, sorrindo? Será que ela sabe que está a salvo com o
tio Brian? Quando ela era criança, quando ele visitava a família Harris para jantar, ela o chamava assim. "Tio
Brian".
Ela sabe. Claro que sabe.
Ele a colocou no elevador, olhando seu angelical rosto. Ele foi pego subitamente por uma onda de amor paterno,
e não ficou surpreso ao sentir lágrimas nos olhos, lágrimas de orgulho e afeição. Nos últimos dias, ele tem sido
alvo das emoções - raiva, terror, até mesmo alegria. Ele nunca foi um homem emotivo, mas teve que aprender a
conviver com os sentimentos; pelo menos não eram confusos.
Chega deles, nada mais pode dar errado agora; Beverly está comigo, e uma vez pegas as minhas coisas, nos
esconderemos no Santuário e descansaremos. Ela precisará de tempo para se recuperar.
Ele piscou as esquecidas lágrimas assim que a jaula de metal começou a subir, checando a arma para ver
quantas balas restavam. Sua sala subterrânea era segura, mas o escritório era outra história; ele quer estar
preparado.
O elevador parou e Irons abriu a grade com o pé antes de levantar a garota, gemendo com o esforço. Ele a
carregou como uma criança, sua cabeça caída para trás.
Ele apertou o botão na parede com o joelho. A parede deslizou para cima, revelando a aveludada decoração de
seu escritório sem; só os vazios olhares de seus animais empalhados o receberam.
A grande mesa de madeira que importou da Itália estava bem à sua esquerda, e sua força acabando; Beverly
era magra, mas ele não estava em forma, como antigamente. Ele rapidamente a colocou na mesa, empurrando
um porta-lápis com o cotovelo.
Ele tinha ficado preocupado quando a achou desacordada ao lado do Oficial Scott no corredor de trás; George
Scott estava morto, coberto de ferimentos. Ao ver a mancha vermelha no estômago dela, Irons achou que
também estivesse morta. Mas quando ele a levou para seu Santuário, ela cochichou para ele - que não se sentia
bem, que estava ferida, que queria ir para casa.
... não é? Não disse?
Irons franziu, tirado da incerta lembrança por algo, algo que sentiu quando a deitou na mesa e arrumou seu
vestido branco manchado de sangue, algo que não se lembrava. Não parecia importante, mas agora, longe da
segurança de seu Santuário, isso o estava incomodando. Lembrando-o de que sofreu um daqueles momentos
confusos quando ele, quando ele - senti os frios e moles intestinos entre meus dedos -
- quando ele a tocou.
"Beverly?". Ele cochichou, sentando na cadeira de sua mesa quando de repente sentiu suas pernas fracas.
Beverly continuou calada - e o turbulento dilúvio de emoções o acertou, lotando sua mente com imagens,
memórias e verdades que não queria aceitar; Recuar as barricadas depois dos primeiros ataques. A Umbrella,
Birkin e os mortos-vivos. O massacre na garagem. O crescente número de mortos na primeira e terrível noite - e
a brutal percepção de que sua cidade - já era.
Depois disso veio a confusão. A estranha alegria que veio ao perceber que não haverá conseqüências para seus
atos. Irons se lembrou do jogo que fez na segunda noite, depois que alguns bichinhos de Birkin acharam alguns
#
policiais. Ele achou Neil Carlsen escondido na biblioteca e... o caçou, perseguindo o sargento como um animal.
Qual seria o problema, já que a minha vida em Raccoon está acabada?
Tudo o que restava era seu Santuário - e a parte dele que ajudou a criar o lugar, a parte escura e gloriosa de seu
coração que sempre escondeu. Esta parte está livre agora...
Irons olhou para o corpo de Beverly e sentiu que pode ser destruído pelos sentimentos de medo e dúvida que
lutavam dentro dele. Irons a matou? Ele não conseguia se lembrar.
Tio Brian. Dez anos atrás, eu era o Tio Brian dela. Em que me tornei?
Era demais. Sem tirar os olhos do rosto sem vida de Beverly, ele tirou a VP70 carregada do coldre e começou a
esfregar o cano com os dedos, leves toques que o asseguraram enquanto a arma girava em sua direção.
Quando o cano foi pressionado contra sua macia barriga, ele sentiu que algum tipo de paz ficou ao seu alcance.
Seu dedo encostou no gatilho, e foi quando Beverly cochichou para ele de novo, os lábios dela parados, mas sua
leve e musical voz vindo do nada e de todos os lados ao mesmo tempo.
- não me deixe, Tio Brian. Você prometeu que me daria segurança, que cuidaria de mim. Pense no que você
pode fazer agora sem que nada o impeça.
"Você está morta". Ele sussurrou, mas ela continuou falando, suave e persistente.
... nada o impedirá de se realizar de verdade pela primeira vez na vida...
Torturado, Irons vagarosamente tirou a 9mm de seu estômago. Depois de um momento, ele descansou sua
testa no ombro dela e fechou os olhos.
Ela estava certa, ele não podia deixá-la. Ele tinha prometido - e ela disse algo sobre o que podia fazer. Sua mesa
de hobby era grande o bastante para acomodar qualquer tipo de animal...
Isso mesmo. Ele vai descansar e depois cuidará dos negócios; afinal, ele é o chefe da polícia.
Sob controle de novo, Brian Irons começou a dormir, a fria pele de Beverly em sua testa.
[9]
Graças a um furgão parado no beco, o atalho para a delegacia sofreu mudanças - uma quadra de basquete
infestada de zumbis, outro beco, um ônibus que fedia por causa dos mortos lá dentro. Foi um pesadelo, os
gemidos, o cheiro e a distante explosão que fez suas pernas tremerem. Apesar de tudo, Leon manteve a
esperança de que havia algum tipo de mobilização no R.P.D., com policiais e paramédicos - autoridades tomando
decisões e equipes organizadas. Não era uma esperança, era uma necessidade.
Quando ele finalmente saiu na rua em frente ao R.P.D. sentiu-se espancado vendo viaturas pegando fogo. Mas
foi a visão de zumbis policiais gemendo entre as chamas que acabaram com sua esperança. O R.P.D. tinha uma
equipe de cinqüenta ou sessenta policiais, e um terço deles estavam vagando ou mortos perto da entrada do
prédio.
Leon tentou esquecer o desespero, fixando seu olhar no portão do jardim. Tendo ou não alguém sobrevivido, ele
tinha que chamar ajuda - e achar Claire.
Ele correu para o portão, desviando dos zumbis uniformizados, abrindo e fechando o portão de metal. A pequena
área gramada à sua direita estava iluminada o bastante para ver que havia três ex-humanos lá, e que não
representavam ameaça. Ele pode ver as duas bandeiras que enfeitavam a entrada da delegacia, penduradas
sem se mover. A visão reconsiderou suas esperanças, pelo menos está num lugar que conhece e que deve ser
mais seguro do que na rua.
Leon correu entre o trio de zumbis - dois homens e uma mulher; todos pareciam normais se não fosse por seus
gemidos famintos. Devem ter morrido recentemente.
A porta de entrada não estava trancada; por tudo o que passou desde que chegou na cidade, Leon preferiu
manter suas expectativas no mínimo. Ele girou a maçaneta e entrou, de arma erguida e dedo no gatilho.
Vazio. Não havia sinal de vida no grande e velho saguão do R.P.D. - e nenhum sinal do desastre que tomou conta
de Raccoon. Leon fechou a porta e desceu os degraus para o piso mais baixo.
#
"Olá?". Leon disse baixo, e o som ecoou de volta com um suspiro. Tudo parecia do mesmo jeito; três andares de
clássica arquitetura em madeira e mármore. Havia a estátua de uma mulher segurando um vaso no ombro bem
no meio do lugar, uma rampa de cada lado levando à recepção e o logotipo do R.P.D. no chão em frente ao
suave brilho da estátua, proveniente das arandelas na parede.
Sem corpos, sem sangue... nem um cartucho de bala. Se houve um ataque aqui, onde diabos estão as provas?
No profundo silêncio do lugar, Leon subiu a rampa da esquerda, parando no balcão da recepção, curvando-se
sobre ele; tudo no lugar. Tinha um telefone na mesa sob o balcão. Leon pegou o receptor e o colocou entre a
cabeça e o ombro, tocando os botões com os dedos. Nem discava; tudo o que ouvia era o som de seu próprio
coração.
Ele virou para a sala vazia, decidindo por onde começar. Ele recebeu um memorando do R.P.D. semanas atrás,
dizendo que as salas seriam mudadas. Mas isso não importava; os policiais não se preocupariam em ficar ao lado
de suas mesas nessa situação.
Haviam três portas no saguão que davam em diferentes lugares da delegacia; duas no lado oeste e uma no
leste. Das duas no lado oeste uma leva a uma série de corredores para a parte de trás do prédio, depois da sala
de arquivos e da sala de pronunciamentos; a segunda dava num escritório e armários, que então leva às escadas
para o segundo andar. O lado leste do primeiro andar era primeiramente para os detetives - escritórios,
interrogatórios e sala de entrevistas; tinha também acesso ao subsolo e escadas no lado de fora.
Claire provavelmente veio pela garagem... ou pelo telhado.
Ou então ela contornou o prédio e veio pelo mesmo lugar que ele - se ela conseguiu chegar aqui, pode estar em
qualquer lugar. E considerando que o R.P.D. ocupa quase um quarteirão, ainda tinha muito chão pela frente.
Ele optou pela segunda porta do lado oeste, onde seu armário estaria.
Leon entrou devagar, esperando ver as mesmas condições do saguão; silêncio e organização. Mas o que viu
confirmou seus medos: as criaturas estiveram lá - com a vingança.
A longa sala estava arrasada, mesas e cadeiras jogadas e derrubadas em todo canto. Borrões de sangue
decoravam as paredes, rastros do mesmo em poças no chão, indo em frente.
"Meu Deus -".
Um policial estava sentado contra os armários à sua esquerda, suas pernas esticadas, meio escondidas pela
mesa virada. Ao som da voz de Leon, ele fracamente ergueu o braço, apontando vagamente uma arma na
direção de Leon - e a abaixou de novo, parecendo exausto com o esforço. Seu peito estava pintado de sangue,
suas expressões cheias de dor. Leon se abaixou ao lado dele em dois passos, gentilmente tocando seu ombro.
Ele não via o ferimento, mas tinha tanto sangue que a gravidade era óbvia -
"Quem é você?". O policial suspirou.
Eles nunca foram apresentados, mas Leon já o viu antes. O jovem policial afro-americano se chamava Marvin
Branagh...
"Eu sou Leon S. Kennedy. O que aconteceu aqui?".
"A cerca de dois meses," Marvin disse, "os assassinatos canibais... o S.T.A.R.S. encontrou zumbis na mansão da
floresta...".
Ele tossiu e Leon começou a dizer para descansar, mas Marvin parecia determinado a contar a história.
"Chris e os outros descobriram que a Umbrella estava por trás de tudo... arriscaram suas vidas, mas ninguém
acreditou... depois isto".
Chris... Chris Redfield, o irmão de Claire.
Leon sabia algo sobre o problema com o S.T.A.R.S. ele só ouviu trechos da história - a suspensão do grupo de
ações táticas especiais e resgate, após serem acusados de má conduta, foi o motivo da contratação de novos
policiais.
Ele até leu o nome dos membros num jornal, listados juntos com alguns de seus recordes.
- e a Umbrella destrói a cidade. Algum tipo de vazamento químico que tentaram esconder se livrando do
S.T.A.R.S. -
Tudo isso saia de sua mente até que Marvin tossiu de novo, mais fraco.
"Agüenta aí". Leon disse, procurando algo para estancar o sangramento. Ele achou uma camiseta no armário
atrás do policial e a enrolou, pressionando contra o estômago de dele. O próprio policial segurou-a com as mãos,
fechando os olhos enquanto falava novamente.
"Não se preocupe comigo. Há... você deve tentar salvar os sobreviventes...".
#
Leon balançou a cabeça, querendo negar a verdade, querendo fazer algo para aliviar a do de Marvin - mas ele
estava morrendo, e não podia chamar ajuda.
"Vá". Marvin disse, ainda de olhos fechados.
Ele estava certo, Leon não podia fazer mais nada - e não conseguiu se mover por um momento - até Marvin
erguer sua arma de novo, apontando-a para Leon numa erupção de energia que aumentou sua voz num grito.
"Vá!". O policial ordenou e Leon se levantou.
"Eu voltarei". Leon disse firmemente, o braço de Marvin já caindo.
Leon voltou para a porta, respirando fundo e aceitando a mudança de plano que pode acabar o matando - mas
que não podia evitar. Ele era um policial. Se houvessem sobreviventes, é sua civil e moral conduta ajudá-los.
Tem um depósito de armas no subsolo, perto da garagem. Leon abriu a porta e voltou para o saguão, rezando
para que o depósito esteja bem equipado - e que haja alguém para salvar.
[10]
Depois do ardente telhado, Claire cruzou um zigue-zagueado corredor cheio de cacos de vidro no chão - e depois
de um policial morto no chão, seu medo sobre a segurança da delegacia aumentou. Ela pulou o corpo e continuou
andando. Uma fraca brisa passou pelas janelas quebradas que decoravam a parede externa, dando vida à
escuridão; haviam brilhantes penas pretas junto às marcas de sangue no chão, que fizeram Claire mirar o
revólver a cada suave balanço.
Ela passou por uma porta que dava nas escadas externas do lugar, mas continuou andando, virando à direita. O
modo como o helicóptero acertou o prédio perturbou Claire, inspirando visões da velha delegacia pegando fogo.
Só faltava essa...
Cadáveres e marcas de sangue nas paredes; Claire não estava feliz com a idéia de vagar pela delegacia. E mais,
tiros não são tão eficientes; ela precisa ver o quanto ruim está a situação antes de procurar Leon.
O corredor terminava numa porta. Claire a abriu - e recuou assim que a nuvem de fumaça passou por ela, o
cheiro de metal e madeira queimados no ar. Ela se agachou e deu uma espiada no corredor que ia para a direita.
Mais para frente ele virava à direita de novo, e ainda assim não se podia ver o fogo; sua brilhante luz alaranjada
refletia nas paredes cinzas.
Droga. O que foi agora?
Havia outra porta diagonalmente de sua posição, a alguns passos; Claire respirou fundo e andou abaixada para
evitar a fumaça, esperando achar um extintor de incêndio - e que fosse suficiente.
A porta dava numa sala de espera vazia - sofás de vinil verdes, um balcão de canto e uma porta no outro lado. A
pequena sala parecia intocada, clama e quieta, igual aos outros lugares que passou essa noite - só que não havia
sinais de desastre nas suaves sombras criadas pelas fluorescentes acima. Nenhum zumbi morto no chão de
madeira escura e nenhum espirro de sangue nas paredes cor de creme.
E nenhum extintor...
Nenhum à vista. Ela fechou a porta e foi até o balcão, levantando a tampa de entrada com o cano da arma.
Tinha uma velha máquina de escrever no balcão - e perto de um telefone. Claire o pegou esperançosa, mas só
ouviu silêncio. Suspirando, ela se abaixou para ver as prateleiras sob o balcão. Uma agenda, papéis - e meio
escondido entre uma bolsa, o familiar cilindro vermelho, com uma fina camada de pó.
"Aí está você". Ela sussurrou, guardando a 9mm no colete e levantando o extintor. Ela nunca usou um antes,
mas parecia fácil - uma alavanca de metal com um pino de segurança e um bocal de borracha preto. Pelo peso
parecia estar cheio.
Respirando várias vezes e armada com o extintor, Claire abriu a porta e voltou para o corredor. A fumaça tinha
se intensificado, acumulando-se no teto.
Ela fez a curva e viu destroços queimando no fim do corredor, sentindo-se aliviada e triste ao mesmo tempo. O
fogo não era tão grande quanto pensava. As chamas se estendiam até uma porta de madeira destruída. Era o
#
nariz do helicóptero que chamou sua atenção - a ardente cabine - e o ardente corpo do piloto ainda preso no
assento, sua boca queimada bocejando como um grito silencioso. Não dava para saber se era homem ou mulher.
Claire tirou o pino e mirou o cano nas chamas. Ela apertou a alavanca e um jato de neve espirrou, acertando os
destroços com uma nuvem. Mal vendo através da fumaça, ela direcionou o jato sobre tudo. Dentro de um
minuto, o fogo pareceu ter acabado, mas ela continuou usando o extintor até acabar.
A última tossida de gás veio e Claire soltou a válvula, suspirando algumas vezes, procurando algum foco que
tenha passado despercebido. Nenhuma chama, mas a porta de madeira ao lado da cabine ainda soltava filetes de
fumaça. A área em volta da porta já foi arrebentada e Claire decidiu arriscar. Ela recuou e deu um sólido chute na
porta, mirando perto das dobraduras.
A porta abriu com um crack, a madeira carbonizada desfazendo-se em uma chuva de cinzas. Algumas caíram em
suas botas, mas Claire rapidamente levantou a arma, ainda as sacudindo, mais assustada com o que pode estar
esperando do outro lado.
Um curto e vazio corredor tinha seu começo cheio de pedaços de madeira queimados, e uma porta ao fundo, à
esquerda. Claire foi até lá, tanto para respirar ar puro quanto para ver onde dava.
A porta seguinte estava destrancada. Claire a abriu, pronta para atirar em qualquer -
- e parou, chocada com a bizarra atmosfera da sala. Era como uma sátira de um clube de homens dos anos
cinqüenta, um grande escritório decorado com uma extravagância beirando o ridículo. As paredes tinham grandes
estantes de mogno e mesas cercando uma espécie de área de descanso, feita com acolchoadas cadeiras de
couro e uma mesa de mármore, tudo sob um provável tapete oriental. Um elaborado lustre vinha do teto,
jogando uma melodiosa luz sobre tudo. Quadros e delicados vasos estavam por toda parte - mas seus clássicos
designs eram ofuscados pelas empalhadas cabeças de animais e pássaros que dominavam um canto, ao lado de
uma grande mesa -
- Oh, Jesus -
Deitada na mesa, como a personagem de uma história de terror, estava uma bonita e jovem mulher de vestido
longo e branco, seu abdômen tomado por sangue. Era como um enfeite, sendo olhado pelos animais empalhados
- tinha um falcão que parecia estar voando, cabeças de alce e veado. O efeito foi tão pavoroso que por um
momento Claire não respirou -
- foi quando a alta poltrona atrás da mesa girou de repente. Claire mal conteve o grito de terror, esperando ver a
Morte sorrindo para ela. Mas era um homem - com uma arma apontada para ela.
Pela segunda vez hoje...
Por um segundo, ninguém se moveu - então o homem abaixou a arma, um sorriso amarelo surgindo em seu
gorducho rosto.
"Eu sinto muito," ele disse, sua voz tão oleosa quanto a de um político ruim. "pensei que você fosse um daqueles
zumbis".
Ele alisava seu cheio bigode enquanto falava. Apesar de Claire nunca tê-lo conhecido, ela subitamente sabia quem
ele era, Chris já tinha falado sobre ele.
Gordo, bigode - era o chefe da polícia, Brian Irons.
Ele não parecia bem. De fato, parecia desconectado da realidade.
"Você é o chefe Irons?". Ela perguntou, tentando parecer agradável ao se aproximar da mesa.
"Sim, sou eu, e quem é você?".
Antes de ela falar, Irons continuou calmamente, confirmando a suspeita de Claire com o que disse depois - em
seu tom petulante. "Não, não se preocupe em me dizer. Não fará diferença. Você acabará como todos os
outros...".
Ele parou, olhando para o corpo à sua frente, com uma emoção que Claire não podia decifrar. Ela sentiu-se mal
por ele, ao contrário do que Chris disse sobre sua personalidade podre e incompetência profissional; só Deus sabe
que horrores ele presenciou, ou o que teve de fazer para viver.
Leon e eu entramos nesse terror há alguns minutos; Irons já estava aqui, provavelmente vendo seus amigos
morrendo.
Ele olhou para o corpo e falou, sua voz triste e pomposa ao mesmo tempo.
"É a filha do prefeito. Eu deveria cuidar dela, mas falhei miseravelmente...".
Claire procurou palavras de conforto, querendo dizer que tinha sorte por estar vivo, que não foi sua culpa - mas
ele continuou lamentando, as palavras dela morrendo na garganta, junto com a dó.
#
"Olhe para ela. É linda, sua pele perfeita. Mas logo apodrecerá... e em uma hora se tornará uma daquelas coisas.
Bem como os outros".
Claire não queria tirar conclusões, mas sua descrição e olhar faminto a fizeram se arrepiar. O jeito que ele olhava
para a garota morta -
- você fica imaginando coisas. Ele é o chefe da polícia, não um pervertido lunático. Ele é o único vivo que
encontrou. Peça informações!
"Deve haver um jeito de parar...". Claire disse gentilmente.
"Sim... uma bala no cérebro - ou decapitação".
Ele finalmente desviou o olhar do corpo, mas não para Claire. Ele olhou para os bichos ao lado de sua mesa, sua
voz adquirindo um tom alegre.
"Em pensar que - taxidermia costumava ser o meu hobby. Não mais...".
Os alarmes de Claire dispararam. Taxidermia? O que diabos um corpo humano fazia na mesa dele?
Irons finalmente olhou para Claire, que não gostou nem um pouco. Ele olhava em seu rosto mas não parecia
enxergá-la. Ocorreu-lhe que ele não havia perguntado como chegou lá, ou sobre a fumaça que entrou no
escritório. E o jeito que falava sobre a filha do prefeito... nenhuma dor real, só auto-piedade e algum tipo de
admiração.
Oh, Deus, ele não está só abalado, ele está em outro planeta -
"Por favor,". Irons disse. "eu queria ficar sozinho agora".
Ele se acomodou na cadeira e fechou os olhos, parecendo exausto. Tão simples assim, ela foi dispensada,
mesmo com milhões de perguntas - muitas delas que ele poderia responder - mas ela achou melhor só sair de
perto dele, pelo menos agora -
Houve um suave som atrás dela, à esquerda, tão baixo que ela não tinha certeza se realmente o ouviu.
Claire virou, franzindo, e viu outra porta no canto da sala. Ela não a tinha visto antes - e aquele som veio de lá.
Outro zumbi? Ou alguém se escondendo...?
Ela olhou para Irons que nem se moveu.
Então - volto por onde vim, ou vejo o que tem atrás da porta?
Leon - ela tinha que achá-lo e Irons não parecia querer unir forças. Mas se houver outra pessoa no prédio que
precise de ajuda ou possa ajudar...
Não vai demorar. Ela olhou para Irons, perto do corpo da filha do prefeito, cercado por seus animais sem vida;
Claire foi até a segunda porta, esperando não estar cometendo um erro.
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*Taxidermia - Arte de empalhar animais.
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[11]
Sherry tem se escondido por um longo na delegacia, uns três ou quatro dias, e ainda não viu sua mãe. Nenhuma
vez, nem quando havia muita gente restando. Ela encontrou a Sra. Addison - uma das professoras da escola -
logo depois de chegar lá, mas ela já estava morta. Um zumbi a comeu. Não muito depois disso, Sherry achou um
tubo de ventilação que cobre quase todo prédio, e decidiu que se esconder era mais seguro do que ficar com os
adultos - porque eles morriam, e porque havia um monstro na delegacia bem pior que os zumbis e os homens do
avesso. Ela tinha certeza que esse monstro a procurava. Era idiotice, ela nunca pensou que monstros
perseguissem uma única pessoa - mas ela também nunca pensou que monstros existissem.
Assim, Sherry vem se escondendo na sala de armaduras; ninguém morto lá e o único jeito de entrar - exceto o
tubo de ventilação atrás das armaduras - era passando por um longo corredor vigiado por um tigre gigante.
Empalhado, mas assustador - Sherry pensou que ele pudesse afugentar o monstro. Ela sabia que era besteira,
#
mas a fazia se sentir melhor.
Sendo que os zumbis tomaram conta da delegacia, ela passou a maior parte do tempo dormindo. Assim, ela no
pensava no que aconteceu com os pais ou o que vai acontecer consigo mesma. O tubo de ventilação era quente
e tinha muita comida na máquina de doces, escada abaixo - mas ela estava assustada, e pior que isso, sozinha.
Ela dormia atrás das armaduras quando houve um tremendo barulho lá fora. Ela estava certa que era o monstro;
Sherry só o viu uma vez antes, suas grandes e terríveis costas, pela grade de metal - desde então, ela o ouviu
gritar pelo prédio várias vezes. Ela sabia que ele era mau, mau, violento e faminto.
Às vezes ele desaparecia por horas, fazendo Sherry pensar que tinha ido embora - mas sempre voltava, não
importa onde ela estava, mas sempre parecia surgir por perto.
O barulho que a tirou do sono parecia o de um monstro quebrando as paredes, fazendo-a correr para seu
esconderijo caso o som se aproxima, mas não se aproximou. Por um longo tempo não se moveu, segurando seu
amuleto da sorte - um bonito colar de ouro que sua mãe havia lhe dado semana passada, tão grande que
preenchia toda sua mão. Como antes, ele funcionou; o horrível barulho não se repetiu. Ou talvez o tigre cumpriu
seu papel. Mesmo assim, quando ouviu suaves passos no escritório, Sherry sentiu-se segura o bastante, para ir
até o corredor e escutar. Os zumbis e homens do avesso não podiam abrir portas. Se fosse o monstro, já teria
vindo para ela.
Tem que ser uma pessoa. Talvez mamãe...
Na metade do corredor onde virava à direita, ela ouviu pessoas falando no escritório, sentindo um estouro de
esperança e solidão ao mesmo tempo. Ela não sabia o que falavam, mas pela primeira vez em dois dias ela ouviu
alguém que não gemesse. Podia ser a ajuda que finalmente chegou a Raccoon.
O exército, marinha, talvez todos eles...
Curiosa, ela correu para a porta de frente para o tigre, quando as vozes pararam. Sherry ficou imóvel.
Se a ajuda veio, porque não ouvia os caminhões e aviões? Não haveria tiros, bombas e alto-falantes alertando
para que todos saíssem?
Talvez sejam vozes de pessoas más; loucas como aquele homem...
Não muito depois que Sherry começou a se esconder, ela viu uma coisa terrível pela grade da sala de armários.
Um homem de cabelo vermelho estava lá, falando sozinho, balançando para frente e para trás numa cadeira. No
começo, Sherry pensou em chamá-lo para ajudar, mas o modo como falava, sorria e balançava, a deixou
desconfiada. Então ela o observou por um tempo. Ele segurava uma grande faca, e depois de um longo tempo,
ainda rindo, resmungando e balançando, ele se esfaqueou no estômago. O homem a tinha assustado mais do
que os zumbis, porque não fazia sentido. Ele era louco e se matou, e ela engatinhou de volta, chorando, porque
não fazia sentido.
Se as pessoas no escritório são boas, elas podem querer tirá-la de seu esconderijo e tentar protegê-la - e isso
significaria sua morte, porque o monstro certamente não tinha medo de adultos.
Parecia ruim ter que voltar, mas não tinha outra escolha. Sherry começou a voltar para a sala de armaduras
quando -
Crack!
- ela congelou assim que a madeira do chão rangeu. O som pareceu incrivelmente alto e ela prendeu a
respiração, agarrando seu colar e rezando para que a porta não abrisse, que nenhum maluco aparecesse - e a
pegasse.
Ela não ouviu mais nada, mas achou que as batidas do seu coração a denunciariam, era tão alto. Depois de dez
segundos ela continuou andando, na ponta dos pés como se estivesse num ninho de cobras. Ela tinha que usar
toda sua força para não correr até a curva - uma coisa que ela aprendeu nos filmes era que, correr do perigo
sempre significava uma morte horrível.
Quando ela finalmente chegou à porta, sentiu-se aliviada e só queria pegar o cobertor que a Sr. Addison achou e -
A porta do escritório abriu, abriu e fechou. Um segundo depois, passos. Indo para ela.
Sherry voou pela sala, não pensando um mais nada por causa do pânico. Ela passou pelos três cavaleiros,
esquecendo seu lugar seguro. Tudo o que queria era ir o mais longe possível. Havia uma escura e pequena sala
sem porta depois da caixa de vidro no meio da sala -
- e ela ouviu os passos correndo atrás dela. Sherry se abaixou entre os tijolos da lareira e tentou se encolher,
abraçando os joelhos e escondendo o rosto. A escuridão da sala do fundo era tudo o que precisava.
Por favor, por favor, por favor, não apareça, não me veja, eu não estou aqui.
#
Os passos entraram na sala das armaduras e mais calmos, hesitantes, passando pela caixa de vidro. Sherry
pensou em seu tubo de ventilação, que a levaria embora, e segurou as lágrimas de arrependimento. A sala da
lareira não tinha saída.
Os passos se aproximaram da sala que Sherry estava. Ela prometia fazer qualquer coisa caso o estranho fosse
embora -
Thump. Thump. Thump -
De repente a sala se iluminou, o leve click do interruptor sobre o choro de Sherry. Ela não agüentou, se levantou e
correu, gritando, esperando chegar até o tubo de ventilação quando -
- uma quente mão segurou seu braço, apertado. Ela gritou de novo, puxando o mais forte que podia, mas o
estranho era forte -
"Espere!". Era uma mulher.
"Me deixe ir". Sherry choramingou, mas a mulher continuou segurando, puxando.
"Calma, calma - eu não sou um zumbi, fique calma, está tudo bem -".
A voz da mulher soou mais gentilmente. A doce e musical voz repetiu-se de novo e de novo.
"- calma, está tudo bem, eu não vou te machucar, você está segura agora".
Sherry finalmente olhou para a moça, e viu o quanto bonita era, o quanto seus olhos eram preocupados e
simpáticos. Sherry parou de tentar fugir e sentiu as quentes lágrimas em seu rosto. Ela instintivamente abraçou a
bonita jovem - e a moça retribuiu, seus finos braços em volta dos trêmulos ombros de Sherry.
Sherry chorou, deixando a mulher acariciar seu cabelo e dizer palavras tranqüilizantes - pelo menos o pior acabou.
Por mais que quisesse cair nos braços da moça e esquecer os medos, acreditar que estava a salvo, ela sabia que
não dava. Além, disso, ela não era mais um bebê; fez doze anos mês passado.
Sherry se afastou da mulher e secou os olhos, olhando para a estranha. Ela não era velha, por volta dos vinte, e
tinha roupas legais - botas, shorts vermelho de tecido grosso e um colete do mesmo conjunto, sem mangas. Seu
cabelo castanho era amarrado para trás, e quando sorriu, parecia uma atriz de cinema.
"Meu nome é Claire. Qual é o seu?".
Sherry se envergonhou de repente, por ter corrido de uma pessoa tão boa. Seus pais diziam que agia como um
bebê, que era "muito imaginativa", e aqui está a prova; Claire não iria machucá-la.
"Sherry Birkin". Ela disse e sorriu, esperando que Claire não fosse má para ela; ela não parecia brava, e sim
agradecia pela resposta.
"Você sabe onde estão seus pais?". Claire perguntou.
"Eles trabalham no laboratório químico da Umbrella". Sherry respondeu.
"Laboratório químico... então o que você está fazendo aqui?".
"Minha mãe ligou e me disse para vir aqui. Ela disse que é muito mais perigoso ficar em casa".
Claire acenou. "Pelo que parece, ela estava certa. Mas aqui também é perigoso...".
Claire franziu pensativamente, depois sorriu de novo. "É melhor você vir comigo".
Sherry balançou a cabeça, pensando em como explicar que não era uma boa idéia, que era uma idéia muito ruim.
Ela não queria ficar sozinha, mas não seria seguro ir.
Se eu for e o monstro nos achar...
Claire morreria. Apesar de ser magra, Claire não caberia no tubo de ventilação.
"Tem algo aqui". Sherry finalmente disse. "Eu vi, é maior que os zumbis. E quer me pegar".
Claire balançou a cabeça, abrindo a boca para dizer algo quando um terrível e furioso som encheu a sala, ecoando
em violentas ondas de algum lugar do prédio. Por perto.
"Rrraaahh - ".
Sherry sentiu seu sangue virar gelo. Claire arregalou os olhos, pálida.
"O que foi aquilo?".
Sherry recuou, ofegante, mentalmente correndo para o tubo de ventilação atrás das armaduras.
"É disso que eu estava falando". Ela disse, e antes que Claire pudesse pará-la, ela virou e correu.
"Sherry!".
Sherry ignorou o apelo e continuou. Ela se pôs de joelhos sobre o pedestal, colocou a cabeça e se arrastou para
dentro do buraco no rodapé da parede.
Sua única chance, a única chance de Claire, era que ficasse o mais longe possível. Talvez se encontrem de novo
quando o monstro se for.
#
Assim que Sherry engatinhou pelo apertado e escuro tubo, esperou que não fosse muito tarde.
[12]
Ada sentou na cadeira da desarrumada mesa do chefe dos detetives, descansando seus pés doloridos e olhando
cegamente para o cofre vazio no canto da sala. Sua paciência estava se esgotando. Primeiro a amostra do
G-virus, agora Bertolucci, que também não foi encontrado. Ela passou pela sala de descanso, o escritório do
S.T.A.R.S., a biblioteca - todos os lugares onde o repórter teria fácil acesso. E gastou dois clips inteiros para isso.
O problema não foi 23 balas, foi o tempo perdido e sem resultados - exceto por ter matado mais alguns zumbis.
E duas aberrações híbridas da Umbrella.
Ada tremeu, lembrando da contorcida carne vermelha e gritos das criaturas que matou na sala de entrevistas.
Trent alertou sobre os Tyrants modi-ficados - que agradecidamente ainda não apareceram - mas os sanguinários
linguarudos com garras eram uma afronta à suas sensibilidades. E são muito mais difíceis de matar que os
zumbis. Se eles foram produtos do T-virus, ela deverá rezar para que Birkin não tenha feito nada com o novo.
Segundo Trent, a série G ainda não foi usada, e deve ser duas vezes mais potente...
Ada soltou a imaginação. O escritório não era tão inspirante para descansar, mas pelo menos não tinha sangue.
De porta fechada, ela mal sentia o cheiro dos policiais lá fora. Eles já estavam bem afetados quando ela os
matou, o estágio que aparentemente precede o colapso total.
O problema não é senti-los. Meu cabelo e roupas já absorveram o maldito cheiro.
Ela sabia para que servia o T-virus, mas eles não pensaram em pesquisar os efeitos físico-químicos. Quem se
importa? Ela não tinha motivos para acreditar que a Umbrella infectaria sua própria cidade. Ela estava recebendo
várias informações sobre o funcionamento do vírus, mas seria bom saber como ele modifica a mente humana.
Ela só podia tentar adivinhar através de suas observações.
Pelo que parece, leva algumas horas para alguém infectado virar um zumbi. Às vezes, a vítima passa por uma
febre-coma antes, que provavelmente queima partes do cérebro - e pareciam estar acordando da morte em
busca de carne fresca logo depois. Os sintomas eram os mesmos para todos, mas não a velocidade do
processo; ela viu uns três casos em que a vítima virou zumbi alguns momentos após ser infectada, o estágio que
ela chamou de "catarata". Apesar de a deterioração física começar imediatamente, alguns caem aos pedaços
mais rápido do que outros.
... e por que você está pensando nisso? Seu trabalho não inclui achar a cura?
Ela suspirou, curvando-se para coçar os pés. Verdade. Mesmo assim, era algo para se considerar. Pensar em
ficar viva era cansativo; ela não podia fazer isso enquanto limpava os corredores. Ela estava descansando, e
precisava pensar em assuntos mais intrigantes.
E não são poucos... Trent, o que Bertolucci sabe ou deveria saber... o S.T.A.R.S. - e o que diabos aconteceu
com eles?
Pelos artigos que Trent incluiu no pacote de informações, ela sabia sobre a suspensão do grupo - e considerando
o que estavam investigando, não precisava ser gênio para ver que estavam na cola da Umbrella para revelar seu
segredo. A Umbrella já deve ter se livrado deles caso não tenham se escondido - e Ada tem que ver se Trent
participou da aventura do S.T.A.R.S..
Não que ela diria, mas Trent era um enigma. Ela só o encontrou uma vez, apesar de tê-la contatado para ir até
Raccoon, na maioria das vezes por telefone. Ela sempre se orgulhou da capacidade de ler as pessoas, mas não
sabia onde os interesses dele estavam, por que queria o G-virus ou que função exercia na Umbrella. Era óbvio
que tinha contatos lá dentro, ele sabia demais sobre a companhia - mas se era o caso, porque ele não pega sua
própria amostra e pede demissão? Contratar uma agente secreta era o ato de alguém querendo evitar
complicação - mas complicações do que?
Não é da minha conta...
Um bom princípio para se viver; ela também não era paga para investigar Trent. Mesmo que fosse, seria difícil;
#
ela nunca conheceu um homem tão sob-controle como Sr. Trent. Em todo contato que tiveram, ela percebeu
que ele ria por dentro, como se soubesse de um ótimo segredo - e ainda não demonstrou arrogância e
pretensão. Ele era frio, sua genialidade tão natural que ela mal se intimidou; ela não conseguiu decifrar os motivos
dele, mas já tinha visto aquele calmo humor antes - era a face do verdadeiro poder, de um homem com um
plano e meios de executá-lo.
Então a contaminação atrapalhou seus planos, sejam lá quais sejam? Ou ele já estava preparado...? Eu não
imagino o termo "pego de surpresa" no vocabulário de Trent...
Ada girou a cabeça vagarosamente antes de se calçar. O intervalo acabou, pois ela ainda tinha que procurar
Bertolucci em mais alguns lugares, antes de ir para o esgoto. Ela sabia que as persianas de segurança do primeiro
andar não eram tão sólidas assim; ela não quer se deparar com mais zumbis lá de fora.
Havia passagens "secretas" na asa leste e celas no subsolo, depois do estacionamento. Se achá-lo em algum
desses lugares, poderá concentrar-se em obter a amostra.
Ela decidiu começar pelo subsolo; ele não conseguiria achar os corredores escondidos. Pelo que ela leu sobre seu
trabalho, ele não era um repórter tão bom...
Ada saiu do escritório, os ventiladores de teto levando o cheiro de podre até ela. Devia haver sete ou oito corpos
lá, todos policiais...
... mas eu não tinha deixado cinco vivos da última vez?
Ada parou, olhando para o estreito corredor que levava às escadas de trás.
Havia cinco. Eu não estou no meu máximo, mas ainda posso contar.
Havendo ou não, os zumbis estavam invadindo e a Umbrella virá em breve caso ainda não tenha vindo. A
companhia não ignoraria esse problema. Já deve ter criado um plano *derrota segura e está enchendo a cabeça
da mídia com mentiras. Mas é claro que antes, eles devem recuperar a pesquisa de Birkin. Trent estava confiante
de que a Umbrella mandaria uma equipe para isso.
Uma equipe de humanos, tomara. Eu posso lidar com eles. Um Tyrant... eu não preciso disso.
Ada foi para o corredor do fundo da sala, à esquerda de onde estava. Foi na direção da porta que a levaria para
a escada do subsolo. Tyrant era o nome de uma série particular na pesquisa de armas biológicas da Umbrella,
uma série que incorpora as mais destrutivas aplicações do T-virus. De acordo com Trent, os cientistas da White
Umbrella - que trabalham nos laboratórios secretos - acabaram de iniciar os testes num tipo de humanóide
sanguinário, desenvolvido para caçar qualquer cheiro ou substância com a qual foi treinado. Um Tyrant avançado,
outra construção de carne infectada e ligamentos implantados - o tipo de coisa que podem mandar em busca do
G-virus...
Ada foi para o subsolo, tentar achar o repórter.
Leon estava no saqueado depósito de armas do subsolo, ajustando seu coldre e pensando onde Claire estaria.
Pelo pouco que viu, a delegacia estava muito ruim. Fria, escura e cheirando mal, mas não tão perigosa quanto a
rua. Nem tanto para se agradecer, mas Leon vai tirar o máximo de proveito.
Ele matou três companheiros a caminho do subsolo - dois homens escada acima e uma mulher em frente ao
necrotério - a alguns metros da sala onde ficava o arsenal do R.P.D.. Entre os mortos e o número de armas
faltando, Marvin pode estar certo sobre haver sobreviventes.
Marvin Branagh... já deve estar morto. Será que virou zumbi? Se a Umbrella está por trás disso, deve ser algum
tipo de praga ou doença, afinal, eles são uma companhia farmacêutica - então, como se pega a doença? Pelo
contato ou pelo ar -
O pensamento de ser infectado pelos zumbis o fez suar. E se ele a pegou enquanto dirigia para cá?
Antes do pânico, ele ouviu sua mente dizer sobre a realidade - e a aceitação da realidade também, afugentando o
medo.
Se você está doente, está doente. Você pode comer uma bala antes de piorar. Se não está doente, sobreviverá
para contar aos seus netos sobre tudo isso. De qualquer jeito, não há nada que você pode fazer - exceto tentar
ser um policial.
--------------------------------------------------------------
*Derrota Segura - Método para impedir ataque atômico equivocado.
-------------------------------------------------------------- Leon concordou, suspirando. Em sua primeira busca pela sala,
#
houve desapontamento. Nenhum revólver e pouca munição nos armários - mas ele achou uma caixa de munição
para espingarda, e depois de um segundo procurando, ele descobriu uma calibre doze escondida atrás de
algumas caixas. Haviam alguns arreios de ombro para o modelo Remington pendurados na parede, tal como um
cinto de utilidade maior do que o que já usava; tinha até um bolso fundo o bastante para colocar os clips.
Com o último aperto no arreio, ele decidiu que seria melhor começar pelos lugares mais óbvios primeiro, cada
corredor de cada possível entrada. Primeiro ele voltará para o saguão e deixar uma mensagem no -
Bam! Bam! Bam!
Tiros, bem perto, e o eco dizia vir do corredor lá fora. Leon empunhou o revólver e correu para a porta, preciosos
segundos desperdiçados enquanto manejava a fechadura giratória.
O corredor estava deserto, exceto pelo guarda de trânsito no chão à sua direita. Para a direita ficava o
estacionamento, e Leon correu para lá, lembrando-se para ir com clama e não ser baleado por alguém
aterrorizado.
Vá devagar, olhe bem antes de se mover, identifique-se claramente -
O corredor virava à esquerda, e no final dele, estava a porta na parede do lado direito, aberta - e quando Leon
deu uma olhada no grande e aberto espaço, seu corpo encostou na parede, vendo algo que o fez esquecer do
atirador.
O cachorro. É o mesmo maldito cachorro.
Impossível - mas o caído e sem vida animal no meio de dois carros parecia o mesmo. Mesmo com o breve
avistamento que teve antes, o melequento demônio canino era igual àquele que o tinha jogado fora da estrada.
Sob as fluorescentes que iluminavam a garagem, Leon pode ver o quanto anormal ele era.
Nada parecia se mover, e nenhum som exceto o zumbido das luzes. Ainda segurando sua arma, Leon entrou na
garagem, determinado a olhar a criatura de perto - e viu um outro perto de uma viatura, aparentemente morto
como o primeiro. Ambos estavam no meio de uma poça vermelha de sangue.
Umbrella. Os ataques animais, a doença - há quanto tempo isso está acontecendo? E como conseguiram manter
isso escondido depois de todas aquelas mortes?
Mais confuso era o fato de Raccoon ainda não ter recebido ajuda; a Umbrella deve ter conseguido esconder seu
envolvimento nos assassinatos "canibais", mas como ela impediu as pessoas de pedir ajuda lá fora?
Esses cães, como cópias em carbono... outra coisa que a Umbrella fez em seus laboratórios?
Ele deu outro passo na direção das criaturas, não gostando das teorias de conspiração que estavam se formando
em sua mente, mas incapaz de ignorá-las. Do que ele menos gostava, eram das poças de óleo no chão de
cimento; pareciam enferrujadas, secas - e haviam muitas delas para contar. Ele se curvou para olhar de perto,
tão intrigado que só percebeu o tiro quando a bala ricocheteou no chão.
Bam!
Leon virou para a esquerda, erguendo a arma e gritando ao mesmo tempo -
"Pare de atirar!".
- e viu a atiradora abaixar sua arma, uma mulher de vestido vermelho e longas meias pretas, parada ao lado de
um furgão no final da garagem. Ela começou a ir até ele, suas pernas finas movendo-se suavemente, cabeça
erguida e ombros para trás. Parecia estar numa festa.
Leon sentiu uma onda de raiva, de como ela parecia clama após quase tê-lo matado - mas assim que se
aproximou, ele quis pedir desculpas. Ela era bonita, e parecia sentir prazer em vê-lo; uma visão bem vinda depois
de tanta morte.
"Desculpe-me por aquilo". Ela disse. "Quando vi o uniforme, pensei que fosse outro zumbi".
Mestiça, magra e alta, cabelo curto, liso e escuro. Sua acentuada voz contrastava estranhamente com seu olhar.
Seu frágil sorriso não combinava com os olhos amendoados que o examinavam cuidadosamente.
"Quem é você?". Leon perguntou.
"Ada Wong'. Aquele tom de novo. Ela inclinou a cabeça, ainda sorrindo.
"Eu sou Leon S. Kennedy". Ele disse reflexivamente, incerto sobre o que perguntar ou por onde começar. "Eu - o
que você faz aqui embaixo?".
Ada olhou para o furgão do R.P.D. que bloqueava a área das celas. "Eu vim para Raccoon em busca de um
homem, um repórter chamado Bertolucci; eu tenho motivos para crer que ele esteja em uma das celas, e acho
#
que ele pode me ajudar a achar meu namorado...".
O sorriso dela sumiu, o agudo, quase elétrico olhar achando o dele... "E acho que ele sabe tudo sobre o que
aconteceu aqui. Você me ajuda a empurrar o furgão?".
Se o repórter estiver trancado lá, poderá dizer algo; Leon quer conhecê-lo. Ele não confiava muito na história de
Ada, mas não imaginava porque mentiria. O lugar não é seguro, e ele estava procurando por sobreviventes,
como ela.
"Tá bom". Ele disse, sentindo-se pego pelos suaves modos dela. Parecia que ela tinha assumido o controle, uma
súbita mas proposital manipulação que a pôs no comando -
Não seja paranóico; mulheres fortes existem. E quanto mais pessoa encontrar, mais ajuda eu terei para procurar
a Claire.
Leon guardou a arma e foi atrás dela, esperando que o repórter estivesse lá - e que as coisas começassem a
fazer sentido o quanto antes.
[13]
Sherry Birkin se foi e Claire não conseguiu entrar no duto. Seja lá o que ou quem tinha gritado, não apareceu. Ela
devia estar se escondendo no duto por algum tempo; haviam embalagens abertas de doces e um velho lençol
perto da abertura, atrás de três armaduras.
Percebendo que Sherry não voltaria, Claire correu para a sala de Irons, esperando que ele pudesse dizer onde a
tubulação dava, mas ele tinha sumido - junto com o corpo da filha do prefeito.
Claire parou no escritório, sendo observada pelos olhos de vidro da mórbida decoração, e se sentiu incerta pela
primeira vez desde que chegou na cidade. Desviar de cães e zumbis, encontrar Leon e evitar o Chefe Irons
foram tarefas inclusas na busca por Chris. Nos poucos momentos entre encontrar aquela garotinha e aquele
estranho grito, suas prioridades mudaram dramaticamente. Havia uma criança nesse pesadelo, que acreditava
estar sendo seguida por um monstro.
Talvez esteja. Se Raccoon tem zumbis, por que não monstros? Droga, por que não vampiros ou robôs
assassinos?
Ela queria achar Sherry, mas não sabia por onde começar. Ela queria seu irmão, mas não sabia onde estava - e
ela começou a imaginar se ele sabia o que tinha acontecido na cidade.
Na última vez que conversaram, ele evitou falar sobre a suspensão do S.T.A.R.S., insistindo que não era nada
para se preocupar - que ele e os outros entraram em problemas políticos e tudo se resolveria. Ela estava
acostumada com a proteção dele, mas pensando melhor, ele não parece evasivo demais? E o S.T.A.R.S. estava
investigando os assassinatos canibais, não seria difícil conectá-los com a atual...
... o que quer dizer? Que Chris descobriu algo ruim e estava mantendo segredo?
Ela não sabia. Mas sabia que ele estava vivo, e que achar Sherry era mais importante no momento. Ruim como a
situação estava, Claire tinha defesas - ela tinha uma arma, pelo menos um pouco de maturidade emocional, e
depois de 8KM diários, estava em excelente forma. Mas Sherry não devia ter mais do que doze anos, parecia
frágil em todos os sentidos; pela sujeira em seu cabelo loiro e desespero em seus olhos azuis - Sherry inspirou
todos os sentidos protetores de Claire -
Thump!
Uma pesada vibração correu pelo teto, fazendo o lustre do escritório tremer. Claire olhou para cima
reflexivamente, apontando a arma. Não havia nada e o som não se repetiu.
Algo no telhado... mas o que fez aquele barulho? Um elefante caindo do céu?
Talvez fosse o monstro de Sherry. Claire não queria encontrá-lo, mas Sherry parecia certa de estar sendo
seguida...
... então achar o monstro para achar a garota? Não é o plano perfeito mas é tudo o que tenho.
Talvez seja Irons lá em cima. Ela não podia saber até verificar.
Claire virou e abriu a porta para o corredor de fora, onde tinha apagado o fogo. A fumaça diminuiu apesar de
ainda estar quente. Pelo menos nisso ela foi bem sucedida...
#
Claire saiu do corredor, virando os olhos para o que sobrou do piloto quando -
- Craa-ack!
- e ela congelou, ouvindo um massivo despedaçamento de madeira, seguido por poderosos passos de alguém
enorme andando pelo corredor, depois da curva.
Deve pesar uma tonelada, e Jesus, diga-me que não foi uma porta sendo destruída -
Claire olhou para o corredor do escritório, seus instintos dizendo para correr, seu cérebro dizendo que não tinha
saída, seu corpo paralisado entre os dois -
- quando o maior homem que já viu apareceu, escurecido pela fina fumaça do corredor. Ele vestia um longo
sobretudo verde-exército que só aumentava seu tamanho, tão alto quanto um jogador de basquete - bem mais
alto, e com uma cabeça proporcional. Um grande cinto de utilidade estava preso em sua cintura, e apesar de não
ver armas, ela pôde sentir a violência radiando dele em ondas invisíveis. Ela só conseguia ver a palidez no rosto
dele, a cabeça careca - e de repente, Claire estava certa de que ele era um monstro, um assassino usando luvas
pretas, cada uma do tamanho de um crânio humano -
Atire nele! Atire!
Claire mirou, mas hesitou, com medo de estar cometendo um terrível erro - até que ele deu um passo na direção
dela, ouvindo os cracks na madeira causados por seus pés de Frankenstein, e ela viu os olhos negros, negros e
corados com vermelho. Vazios, mas não cegos, o olhar dele achou o dela - e ele ergueu o punho, a ameaça
eminente.
- atireatireatire -
Ela apertou o gatilho, uma, duas vezes, e viu o impacto - um pedaço de tecido rasgou bem abaixo de sua
clavícula, o segundo tiro cortando um lado do pescoço -
- e ele deu outro passo, nenhuma expressão em seu rosto, o punho ainda erguido, procurando um alvo,
querendo esmagar -
- o escuro e enfumaçado buraco no pescoço não sangrava.
Droga
Numa onda de adrenalina, Claire apontou o revólver para o coração da criatura e atirou repetidamente, o gigante
dando outro passo, cruzando o fogo sem acovardar-se -
- e Claire perdeu a linha dos tiros, incapaz de acreditar que ele ainda se movia, a menos de três metros com as
balas acertando seu peito -
- e a arma clicou, vazia, na mesma hora que o monstro balançou de um lado para o outro como um prédio no
vento. Sem tirar os olhos dele, Claire pegou outro clip do colete e recarregou a arma, sua mente tentando
desesperadamente dar um nome à coisa.
Exterminador, O monstro de Frankenstein, Dr. Mal, Mr. X -
De qualquer modo as balas finalmente fizeram efeito. Silenciosamente, ele inclinou para a direita, caindo contra a
parede chamuscada, e permanecendo lá - sem tremer nem se mexer.
Estranho, isso é tudo, está morto, derrubado por seu próprio peso -
Claire não se aproximou, ainda mirando no gigante. Foi ele que gritou? Ela não achava.
"Morto, não importa". Claire cochichou. Precisava pensar no que ele significava - ele não era um zumbi qualquer,
mas o que então? Ela esvaziou um clip inteiro - será que alguém por perto ouviu? Ela deveria ficar onde estava?
A criatura que começou a chamar de Mr. X não estava respirando, seu corpo imóvel, seu rosto bem perto da
morte. Claire mordeu o lábio inferior, olhando para a ainda impossível criatura quando -
- ele abriu os olhos negros e brilhantes. Sem muita força, Mr. X levantou-se, bloqueando o corredor, suas mãos
erguendo-se de novo -
- e com um forte impulso, ele cortou o ar com a mão, seus longos braços bem na frente dela enquanto recuava.
O movimento foi suficiente para cravar o punho na parede, prendendo-o.
Eu, poderia ter sido EU -
Voltar para o escritório a deixaria cercada. Sem pensar mais, Claire correu, passando por Mr. X, seu braço direito
esfregando no pesado casaco dele, seu coração pulando uma batida quando o material a tocou.
Ela correu, virou à esquerda e desceu o corredor, tentando não ouvir Mr. X libertando a mão.
Jesus, o que é aquela COISA -
Ela voltou para a sala de espera, batendo a porta enquanto corria. Claire não pensava em outra coisa senão
correr mais rápido.
#
Ben Bertolucci estava na última cela, deitado na cama de metal pendurada na parede, roncando levemente.
Mantendo suas expressões cuidadosa-mente neutras, Ada deixou Leon acordá-lo. Ela não queria parecer ansiosa,
mas se havia algo que sabia sobre os homens era que eles são mais fáceis de lidar quando pensam estar no
controle. Ada olhou para Leon com a paciência que não sentia.
Eles tinham passado por um corredor vazio e um canil antes de achá-lo. Apesar do frio e úmido ar cheirando
sangue e podridão, eles não viram nenhum corpo - o que era estranho, já que Ada sabia o que tinha acontecido
na garagem. Ela pensou em perguntar a Leon o que tinha acontecido, mas decidiu que quanto menos falar
melhor; ele não devia se acostumar com a presença dela. Ela chegou a ver a tampa do bueiro no canil,
enferrujando num canto escuro, e agradecida por ver um pé-de-cabra ali perto. Com Bertolucci dormindo ali, Ada
sentiu que as coisas finalmente começaram a dar certo -
"Deixe-me adivinhar". Leon disse bem alto, batendo a arma nas barras de metal. "Você deve ser Bertolucci,
certo? Levante-se, agora."
Bertolucci suspirou e sentou-se devagar, esfregando a mão no queixo. Ada quis sorrir; ele estava mau - roupa
amarrotada, rabo de cavalo desarrumado.
Ainda de gravata. O coitado deve achar que isso o faz parecer um repórter...
"O que você quer? Eu estava tentando dormir aqui". Ele parecia nervoso, e de novo Ada teve que conter um
sorriso.
Leon olhou para Ada, parecendo incerto. "É ele?".
Ela acenou, percebendo que Leon o considerava um prisioneiro. A conversa esclareceria tudo, mas ela não queria
que Leon ouvisse demais; Ada precisa escolher bem as palavras.
"Ben, você disse aos oficiais da cidade que sabia o que estava acontecendo aqui, não foi? O que você disse a
eles?".
Bertolucci levantou e a encarou. "Quem diabos é você?".
Fingindo que não ouviu, Ada aumentou o desespero, mas só um pouco; ela não devia parecer uma coitada,
poderia contrariar o fato de ter sobrevivido todo esse tempo.
"Eu estou tentando achar um - amigo meu, John Howe. Ele trabalhava para uma divisão da Umbrella em Chicago,
mas desapareceu há alguns meses atrás - e eu ouvi dizer que ele está aqui, nesta cidade...".
Ela parou, vendo a expressão do repórter. Ele sabia de algo, sem dúvida - mas ela não achava que ele fosse
desistir.
"Eu não sei de nada". Ele disse, irritado. "e mesmo se eu soubesse, por que eu deveria dizer?".
Original. Se o policial não estivesse aqui, eu só daria um tiro no repórter.
Na verdade, ela não atiraria: Ada não estava lá para diversão. Ela podia usar um de seus métodos mais
persuasivos - se seu charme feminino não funcionar, uma bala no joelho ajudaria. Infelizmente, ela não podia
fazer nada com Leon por perto. Ela não tinha planejado esse encontro.
O policial não estava feliz com as respostas de Ben. "Tá bom, podemos deixá-lo aí". Leon disse, falando com
Ada, mas olhando bem irritado para Ben.
Bertolucci sorriu, tirando um anel redondo com as chaves da cela. Ada não se surpreendeu e Leon ficou mais
irritado.
"Por mim tudo bem". Bertolucci disse. "Eu não quero sair daqui mesmo. É o lugar mais seguro do prédio. Tem
mais do que zumbis por aí, acreditem em mim".
Pelo jeito que falou, Ada pensou em ter mesmo que matá-lo. As instruções de Trent foram claras - se o repórter
souber de alguma coisa sobre o trabalho de Birkin no G-virus, ele deve ser eliminado; por que, exatamente, ela
não estava certa, mas esta é a missão. Se ela pudesse ficar um momento a sós com ele, conseguiria descobrir o
quanto ele sabe.
Mas como? Ela não queria matar Leon; como regra, ela não mata inocentes - além disso, ela gostava de policiais.
"Ggrraaa!".
Um violento e inumano grito furou o silêncio. Ada girou o braço, mirando no portão que dava para o corredor. E
estava no subsolo -
"O que foi aquilo?". Leon disse. Ada esperava que ele soubesse a resposta. O eco do furioso grito não se
#
comparava à nada que ela já tinha ouvido - mesmo sabendo o que a Umbrella fazia, isso não era esperado.
"Como eu disse, eu não saio daqui". Bertolucci disse. "Agora vão embora antes que o tragam direto para mim!".
Covarde chorão -
"Olha, eu posso se o único policial vivo nesse prédio". Leon disse, a combinação de medo e força em sua voz fez
Ada olhar para ele. O olhar do policial estava fixado em Bertolucci, seus olhos azuis agudos e firmes.
"... e se você quiser viver, terá que vir conosco".
"Esqueça". Ben disse. "Eu vou ficar aqui até a cavalgaria chegar - e se forem espertos, farão a mesma coisa".
Leon balançou a cabeça. "E se eles demorarem dias para vir, é melhor acharmos um jeito de sair de Raccoon - e
você escutou aquele grito. Você quer ser visitado pelo que fez aquilo?".
Ela se impressionou; alguma criatura da Umbrella por aí e Leon tentando salvar um repórter inútil.
"Eu vou correr o risco". Disse Bertolucci. "e boa sorte para fugir, vocês vão precisar...".
O repórter foi até as barras, olhando entre elas, passando a mão no cabelo.
"Olha,". Disse suavemente. 'tem um canil lá atrás, com um poço no chão vocês podem chegar ao esgoto por lá,
deve ser o caminho mais rápido para fora da cidade".
Ada suspirou intensamente. Ótimo; revelou sua passagem secreta para o laboratório. Se ela correr de Leon
agora, vai levar uns cinco minutos para ele alcançá-la.
Você pode matá-lo se necessário. Ou... você o faz se perder nos esgotos e volta para Bertolucci.
Como o repórter, ela não queria ver a coisa que gritou - sendo que ele não vai fugir, enganar o policial é a melhor
saída.
O que eu não faço para evitar derramamento de sangue.
"Certo, eu vou verificar". Ela disse, e sem esperar a resposta de Leon, virou e correu.
"Ada! Ada, espere!".
Ela o ignorou, passando pelas celas e voltando para o corredor, aliviada por ainda estar vazio. Tudo poderia ser
mais fácil se ela tivesse matado os dois, mas a situação é diferente. Ela estava cansada de tantas mortes, e
cansada do que a Umbrella fez; ela não vai matar um policial, exceto se precisar.
E se ela precisar, será pela vida de um inocente ou pela finalização da missão?
Essa pergunta a disse mais sobre sua consciência do que queria admitir. Ela chegou na porta do canil; respirando
fundo e apagando qualquer emoção de sua mente, Ada entrou para esperar Leon S. Kennedy.
[14]
Tão bonita... mesmo morta, Beverly Harris era radiante. Irons não podia esperar que ela acordasse enquanto
olhava; ele a colocou cuidadosamente no gabinete de pedra debaixo da pia e trancou, prometendo que a tiraria
dali assim que tiver mais tempo. Ela se tornará o animal mais delicado que já transformou, posando eternamente
perfeita assim que prepará-la do modo certo... um sonho se realizando.
Se eu tiver tempo. Se houver tempo restando.
Ele sabia que estava sentindo pena de si mesmo de novo. Não tinha ninguém para dividir a magnitude de tudo o
que já sofreu. Ele se sentiu terrível - triste, bravo e sozinho - mas também sentiu que tudo ficou claro. Agora ele
sabia por que estava sendo perseguido.
Umbrella. Uma conspiração para me destruir, todo esse tempo...
Irons sentou na manchada mesa de seu san-tuário, seu especial e particular lugar, pensando em quanto tempo
levará para a jovem mulher aparecer.
A do corpo atlético que não disse seu nome. De certo modo, ela foi responsável por sua descoberta.
Ela o achará, claro; era uma espiã da Umbrella, a companhia que o tem observado por um tempo. Eles deviam
ter uma lista de todos os seus pertences, relatórios psicológicos e até cópias de suas contas bancárias. Tudo fazia
sentido, agora que tinha tempo para pensar; ele era o homem mais poderoso em Raccoon, e a Umbrella
designou sua queda.
#
Irons olhou para seus tesouros, as ferramentas e troféus que estavam nas estantes à sua frente, e não sentiu o
prazer que costumavam inspirá-lo. Os ossos polidos eram só algo para olhar enquanto sua mente trabalhava,
absorvida com a traição da Umbrella.
Anos atrás, quando ele passou a receber dinheiro da companhia para ficar cego sobre seus feitos, as coisas eram
diferentes; aí era só uma questão de política, achar uma boa posição na poderosa estrutura que controlava
Raccoon. E tudo funcionou bem por um longo tempo - sua carreira prosseguiu como previsto, ganhou o respeito
dos oficiais e cidadãos, e na maior parte, seus investimentos valeram a pena. A vida estava sendo boa.
Depois apareceu Birkin. William Birkin e sua neurótica esposa, e a filha.
Depois do que aconteceu na mansão de Spencer, ele quase se convenceu de que o S.T.A.R.S. foi o responsável,
mas agora ele percebe que foi mesmo Birkin, um ano antes da bola começar a rolar; a destruição da mansão só
adiantou as coisas. A Umbrella deve ter começado a monitorá-lo desde que conheceu Birkin - primeiro só o
observavam, instalando câmeras e microfones ocultos. Os espiões viriam depois...
Os Birkin vieram para Raccoon tal que William pudesse se dedicar ao desenvolvimento de uma versão superior ao
T-virus, baseado na pesquisa do laboratório da mansão. Por mais que William fosse esquisito e desagradável,
Irons gostava dele, desde o começo. William era o menino gênio da Umbrella, e como Irons, não reclamava de
seu cargo; Birkin era humilde, só interessado em desempenhar seu papel. Ambos eram muito ocupados para
manter uma amizade, mas havia respeito entre os dois: às vezes Irons percebia que William o observava...
E o meu erro foi deixar. Deixar o meu respeito por ele nublar meus instintos, não me deixar perceber que estava
sendo observado desde o começo.
A perda do laboratório da mansão fez passar algumas ondas pela hierarquia da Umbrella, e alguns dias depois de
explosão, Annette Birkin foi até ele com uma mensagem do marido - uma mensagem e um favor. Birkin estava
preocupado, a Umbrella iria exigir o G-virus antes de ser terminado; ele não estava satisfeito com a aplicação de
seu último trabalho, parece que a Umbrella não o deixou aperfeiçoar o processo de replicação, Irons não se
lembra direito - e com a Umbrella tentando recuperar as perdas financeiras da mansão, Birkin ficou com medo de
eles comprometerem a integridade do não-testado vírus.
Através de Annette, William pediu ajuda - e ofereceu um pequeno incentivo extra. Por cem mil, Irons teria que
ajudar a manter o G-virus encoberto - resumindo, tomar cuidado com espiões da Umbrella e ficar de olho nos
sobreviventes do S.T.A.R.S.
Dinheiro fácil, exceto por ser uma armadilha da Umbrella...
Irons foi direto para ela, e foi quando a companhia começou a conspirara contra ele, usando as informações que
conseguiram selar seu destino. Como tudo aconteceu tão rápido? O S.T.A.R.S. desapareceu, depois Birkin - e
antes de entender a situação, os ataques recomeçaram.
Irons desceu da mesa e caminhou por ela, vagarosamente tocando os cortes na madeira. Havia uma história em
cada marca, a memória de um feito - e de novo, não lhe davam prazer. A fria e calma atmosfera de seu
santuário sempre o consolou, onde praticava seus hobbies, onde ele podia ser ele mesmo - e agora não é mais
seu. Nada era, a Umbrella tirou tudo dele, tal como a cidade. Será que soltaram o vírus para pegá-lo, para roubar
seu poder - e depois mandaram aquela garota de roupa provocante para ele se divertir? Por que ela era atraente?
Eles conheciam suas fraquezas...
...e em breve ela voltará, talvez bancando a perdida, tentando me seduzir com seu indefeso comportamento.
Uma assassina da Umbrella, uma espiã exploradora, tudo o que ela é, provavelmente rindo de mim por trás
daquele rosto bonito...
Talvez a contaminação foi um acidente; da última vez que se viram, William estava instável, paranóico e exausto,
e acidentes acontecem na melhor das circunstâncias. O resto era fato, não tinha outra explicação para o quanto
arruinado Irons estava. Aquela garota estava vindo pegá-lo, ela era da Umbrella e foi enviada para matá-lo. E não
pararia aí, oh, não, ela vai achar Beverly e... e sujá-la de algum modo, só para ter certeza de que nada de Irons
sobrará.
Irons olhou em volta da pequena e suavemente iluminada sala que um dia foi sua, olhando orgulhosamente para
as bem usadas ferramentas e móveis, o doce e familiar cheiro de desinfetante emanando das irregulares paredes
de pedra.
Meu santuário. Meu.
#
Ele pegou o revólver que estava em sua especial mesa de corte, a VP70 ainda era sua, e sentiu um pequeno
sorriso nos lábios. Sua vida estava acabada. Tudo começou com Birkin e vai terminar aqui, pelas suas próprias
mãos. Mas não agora.
A garota vai voltar, e ele vai matá-la, antes de dizer adeus para Beverly, antes de admitir sua derrota com um
tiro. Mas ele a fará sentir seu sofrimento antes. Por cada tortura que ele sofreu, a garota iria pagar, a conta
descontada em cada osso o mais dolorosamente possível.
Ele iria morrer, mas não sozinho. Não sem ouvir a garota gritar de agonia, criando a voz para a morte de seus
sonhos - uma voz tão verdadeira que o eco atingiria o coração dos executivos da companhia que o traiu.
A sala do S.T.A.R.S. estava vazia, desarrumada, fria e empoeirada, mas Claire não queria sair. Depois de seu
aterrorizante vôo pelos corredores do segundo andar, achar o lugar de trabalho de seu irmão a deixou aliviada.
Mr. X não a seguiu, e mesmo querendo achar Sherry e Leon, ficou com medo de voltar para o corredor - e
hesitante em deixar o único lugar que se parecia com Chris.
Onde você está meu irmão? E o que vou fazer? Zumbis, fogo, morte, seu estranho chefe e a garota perdida - e
quando as coisas não podiam ficar piores, eu dou de cara com a-coisa-que-não-quer-morrer, o monstro dos
monstros. Como eu saio dessa?
Ela sentou na mesa de Chris, olhando as fotos preto e brancas que achou no findo da gaveta; as quatro eram
deles dois, sorrindo e posando na semana que passaram em Nova Iorque no natal passado. Primeiro ela quis
chorar, mas os dois sorrindo a fizeram se sentir melhor. Mais calma. Mais forte. Ela o amava, e onde quer que
ele esteja, a amará de volta - e se ambos sobreviveram a perda dos pais, reconstruíram suas vidas e dividiram
um bobo natal por não ter um lar para ir, então eles podiam enfrentar tudo. Claire podia.
Pode e vai. Eu vou achar Sherry, Leon e se Deus quiser, meu irmão - e nós vamos sair de Raccoon.
A verdade era, ela não tinha outra escolha - mas ela precisa aceitar a falta de opções antes de agir. Uma vez ela
ouviu que bravura não era a ausência do medo, era aceitar o medo e fazer o que for necessário.
Claire respirou fundo, colocou as fotos no colete e levantou da cadeira. Ela não sabe para onde Mr. X foi, e ele
não parece ser alguém que fica esperando. Ela vai voltar para a sala de Irons e ver se Sherry voltou - ou Irons.
Se X ainda estiver lá, ela pode correr.
Além disso, eu devia vasculhar a sala e tentar achar algo sobre o S.T.A.R.S.
De pé, ela olhou em volta, desejando ter achado mais informações. Tudo o que achou de útil foi uma mochila
engraçada na mesa de trás; segundo o cartão vencido da biblioteca, a mesa era de Jill Valentine. Claire nunca a
conheceu mas Chris já falou dela algumas vezes, disse que era boa com armas...
Pena que não deixou uma para trás.
Eles devem ter deixado para trás tudo o que não era importante depois da suspensão, apesar de ainda haverem
muitos itens pessoais lá. Porta retratos, copos de café e o de costume. Ela olhou para a mesa de Barry, havia
uma arma de montar quase terminada. Barry Burton era um dos amigos mais próximos de Chris, um grande e
amigável homem, maluco por armas. Claire esperou que onde quer que Chris esteja, Barry esteja cuidando dele.
Com um lança-chamas.
Falando nisso...
Ela precisa achar outra arma, ou mais munição; ela só tinha treze balas restando, um clip inteiro. Talvez ela deva
checar alguns corpos na volta para a asa leste; mesmo correndo apavorada, ela percebeu que alguns deles eram
policiais, e seu revólver era um equipamento do R.P.D.. Claire não gostou da idéia de ter que tocar cadáveres,
mas ficar sem balas era pior - principalmente com Mr. X por aí.
Claire voltou para a porta e a abriu, organizando seus pensamentos enquanto voltava para o escuro corredor.
Deixar o escritório a fez apagar a ainda vívida imagem de Mr. X, sentindo-se vulnerável de repente. Ela foi para a
direita e começou a voltar para a biblioteca, decidindo que não pensará mais no gigante, exceto se precisar, não
insistiria na memória daqueles olhos vazios, ou do modo que ergueu o punho, como se fosse destruir tudo em
seu caminho...
... então apague tudo isso. Pense em Sherry, em como achar munição ou como lidar com Irons, caso o ache.
Pense em ficar viva.
Bem à frente o corredor virava à esquerda e Claire tentou ignorar a tarefa seguinte; se não lhe falhe a memória,
tinha um policial morto perto da curva.
- como se eu não soubesse pelo cheiro -
#
- e ela tinha que vasculhá-lo. Ele não parecia tão nojento -
Claire fez a curva e congelou, olhando. Seu estômago deu um nó, dizendo-a que estava em perigo antes mesmo
de seus sentidos. O corpo que ela tinha pulado a caminho do escritório do S.T.A.R.S. tinha virado uma enrolada e
sangrenta massa de carne, ossos quebrados e uniforme rasgado. A cabeça se foi, apesar de não saber se foi
arrancada ou se estava dissolvida na polpa. Parece que alguém martelou o corpo depois que passou por ele.
Mas como, eu não ouvi nada -
Algo se mexeu. Uma suave sombra sobre os restos a alguns metros dela, e na mesma hora, Claire ouviu um
áspero som, respirando -
- e ela olhou para cima, ainda incerta sobre o que via ou ouvia - a respiração e o tick das garras na madeira,
grossas e curvas, as garras de uma criatura que não podia existir. Grande, do tamanho de um homem adulto,
mas a semelhança terminava aí - era tão impossível que só o via por partes, sua mente forçando para juntá-las.
A inflamada e avermelhada carne da criatura pelada, seus longos membros que aderiam no teto. A inchada
massa cinzenta do cérebro parcialmente exposto. Um coroa cicatrizada onde os olhos deveriam estar.
- não estou vendo isso -
A cabeça da criatura rolou para o lado, sua grande boca abrindo, um longo fio de baba caindo e acertando o que
tinha sobrado do policial. Ele estendeu a língua, lisa e rosa, a superfície brilhando enquanto deslizava para fora. E
para fora. E para fora, a comprida língua ia de um lado para o outro, tão longa que tocou os restos do policial.
Ainda congelada, Claire olhava desacreditada enquanto a língua era recolhida, deixando pingar sangue. O processo
inteiro só levou um segundo, mas o tempo começou a passar, o coração de Claire batia tão forte que tudo mais
estava em câmera lenta - até quando a criatura pulou no chão de madeira, seu corpo girando no ar e
aterrissando agachado em cima do corpo mutilado.
A criatura abriu a boca de novo e gritou -
- e Claire finalmente conseguiu se mexer, apontando e atirando. O trovão das balas ecoaram pelo corredor,
bam-bam-bam -
- e ainda gritando, a criatura caiu de costas, seus braços batendo. As pernas chutaram pedaços de carne do
cadáver no chão; Claire viu um pedaço de pele, ainda com uma orelha grudada, voar pelo corredor e bater na
parede, deslizando até o chão -
- e a criatura se desvirou, partindo em um arremesso. Ele engatinhou até ela, rápido como um raio, agarrando o
chão com suas garras e uivando.
Claire atirou de novo, não ciente de que também estava gritando enquanto três balas acertaram a coisa,
atravessando a cinza massa que saia de seu crânio. Ela ia morrer, estará nela em menos de um segundo, as
garras estavam a centímetros de suas pernas -
- e tão subitamente quanto o ataque foi, estava acabado. Cada parte do robusto corpo tremeu, balançou
enquanto um líquido claro gotejava de sua cabeça, as grossas garras batendo no chão de madeira
ritimadamente. Com um último choro, a criatura morreu. Não houve erro desta vez. Ela acertou o cérebro, não
vai se levantar.
Ela olhou para o monstro, sua mente procurando por algo parecido, algum animal - mas ela desistiu, percebendo
que era uma causa perdida. Não era uma criatura natural e por mais que parecesse, ela finalmente sentiu o
cheiro - o odor não era tão picante quanto o dos zumbis. Era um amargo e oleoso cheiro, mais químico do que
animal...
... podia cheirar como bolachas de chocolate, quem se importa? Raccoon City ganhou monstros, é hora de parar
de ficar tão surpresa ao ver um deles.
Por mais que quisesse se sentir brava e determinada, pensou seriamente em voltar para o escritório do
S.T.A.R.S. e trancar a porta. Poderia se esconder e esperar a ajuda, poderia estar a salvo -
Decida. Faça algo, de um jeito ou de outro, pare de hesitar e choramingar, por que não é só você. Estará Sherry
a salvo? Você quer viver às custas da vida dela.
Claire deu um cuidadoso passo sobre a criatura e agachou perto do que sobrou do policial, usando a ponta da
arma para virar um pedaço do uniforme. Ela respirou bile enquanto vasculhava os restos, tentando não imaginar
quem o policial foi ou como morreu.
Nada, e agora ela só tem sete balas - mas ela rejeitou o pânico, deixando a decepção abastecer sua
determinação. Se ela examinou um monte de carne, poderia examinar outro.
Com um último olhar para a criatura, Claire levantou e andou rápido para o fim do corredor, decidida: sem se
#
esconder e sem correr do medo. Pelo menos ela pode levar algum monstro consigo, aumentando as chances de
Sherry sobreviver.
Seria melhor morrer tentando do que não tentar. Ela não vai hesitar novamente.
[15]
Leon encontrou Ada no canil, fazendo força para erguer a enferrujada tampa do poço que tinha sido mencionada
pelo repórter. Ela tinha achado um pé-de-cabra e o colocou sob a tampa, seu bem definido bíceps brilhava com o
suor enquanto puxava a tampa. Ela conseguiu erguer a tampa um centímetro, mas deixou cair assim que ele
apareceu, o som metálico bem alto no vazio lugar.
Antes que ele pudesse dizer alguma coisa, ela soltou a barra no chão de cimento e olhou para cima, dando um
meio sorriso, esfregando as mãos sujas.
"Ainda bem que está aqui. Não acho que sou forte o bastante para conseguir sozinha...".
Ele não tinha certeza antes mas aquele indefeso sorrisinho apertou o nó; ela estava enganando ele, ou tentando.
Ele conheceu Ada há vinte minutos e nunca achou que ela fosse indefesa para nada.
"Parece estar indo bem". Ele disse, guardando a arma e sem se mexer para ajudar. Ele cruzou os braços,
franzindo. Não estava bravo, só curioso.
"Qual é a pressa? Pensei que você quisesse falar com o repórter. Sobre John, seu amigo da Umbrella...".
As expressões dela ficaram frias e duras, mas não de um modo ruim; ela foi bem cuidadosa para evitar as
perguntas de Leon, mas desta vez a Sra. Wong terá que explicar algumas coisas.
Ada se levantou e o olhou. "Você ouviu - ele não ia contar nada para nós. E perigoso como esse lugar é, eu não
quero ficar esperando por aí...".
A voz dela suavizou. "... e eu nem sei se John está em Raccoon. Mas eu sei que não está aqui - e eu quero sair
da delegacia antes que seja completamente dominada".
Parecia bom, mas por algum motivo, ele sentia que Ada estava escondendo algo. Por alguns segundos, ele fez
força para achar o modo correto de fazê-la se abrir - depois deixou de lado; sob as circunstâncias, agrados ficarão
suspensos.
"O que está acontecendo, Ada? Você sabe de algo e não quer me contar?".
Ela olhou para ele de novo, e de novo, ele acha que a surpreendeu - mas o olhar dela estava mais ilegível do que
nunca.
"Eu só quero sair daqui". Ela disse, e a sinceridade na sua voz era inegável. Ele podia não acreditar em nada do
que ela disse, mas nisso ele tinha que acreditar.
Queria que fosse fácil assim, mas tem a Claire, Ben, nosso amigo idiota, e só Deus sabe lá quantos outros.
Leon balançou a cabeça. "Eu não posso ir. Como eu disse, eu posso ser o único policial restando. Se ainda houver
sobreviventes, eu preciso tentar ajudá-los. E eu acho melhor você vir comigo".
Ada deu outro sorrisinho. "Eu aprecio sua preocupação, Leon, mas eu posso cuidar de mim mesma".
Ele não duvidava - mas também não queria vê-la testar suas habilidades. Ele também não foi bem testado, mas
foi treinado para lidar com situações críticas, era seu trabalho.
E seja honesto consigo mesmo - você perdeu Claire, não pode ajudar Branagh, e Ben não quis saber de sua
proteção; você não quer falhar com Ada. E você não quer ficar sozinho.
Ada parecia saber o que ele pensava. Antes que ele pudesse falar algo convincente, ela se aproximou e tocou o
braço de Leon, o humor sumindo de seus olhos.
"Eu sei que precisa fazer sua parte aqui - nós temos que sair de Raccoon, tentar sair e pedir ajuda. E os esgotos
devem ser a melhor chance que temos...".
O toque o surpreendeu - e mandou um tremor para sua barriga, deixando-o confuso e incerto. Ele tentou
esconder a sensação, mas só um pouco.
Ada continuou, franzindo, pensativamente. "Que tal isso - me ajude com a tampa e vemos o que tem lá
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embaixo. Se for perigoso, eu volto com você... mas se estiver ruim - bom, nós conversamos sobre isso depois".
Ele queria protestar, mas a verdade era, ele não podia obrigá-la a fazer algo que não queria - e ele queria muito
que ela não pensasse que ele era do tipo "machão", que ele estava aberto a um compromisso...
... e o nome John te lembra algo? Pare de pensar em seus hormônios.
Sentindo-se estranho ao pensar nisso com ela ainda o tocando, Leon se afastou, acenando ligeiramente. Juntos,
eles se agacharam perto da tampa. Leon pegou o pé-de-cabra e encaixou na tampa; assim que ele a levantava,
Ada empurrou a barra. Com um alto rangido metálico a tampa abriu -
- e ambos se afastaram por causa do cheiro que saiu do buraco, um sufocante cheiro de sangue, vômito e urina.
"Eca, o que é isso?". Leon tossiu.
Ada sentou nos calcanhares, tampando a boca com a mão. "Os corpos da garagem, devem ter sido jogados
aqui -".
Antes que ele pudesse perguntar do que ela estava falando, um grito de puro terror ecoou pelo subsolo, filtrado
pela porta fechada. O grito continuou e continuou, um homem, o aterrorizado grito mudando para um berro de
dor.
O repórter.
Leon travou seu olhar com o de Ada, viu a mesma percepção nela - e já estavam correndo, empunhando armas
e cruzando a porta antes dos ecos morrerem.
Eu o deixei, eu não devia -
Eles correram para a área das celas, a culpa fazendo Leon correr o mais rápido que podia. Alguém ou algo achou
Bertolucci.
Sherry parou no escritório de Irons, esfregando seu colar da sorte e rezando para que Claire voltasse. Ela
engatinhou por vários túneis empoeirados para se livrar do monstro e mantê-lo longe de Claire, e tinha certeza de
que funcionou - ela não o ouviu de novo e voltou só para descobrir que Claire tinha partido; se o monstro a
tivesse achado, estaria morta e partida ao meio.
Mas ela não está aqui. Ninguém está...
Sherry sentou na ponta da mesa no meio da sala, pensando no que faria. Ela tinha se acostumado com a solidão,
mas Claire mudou tudo, queria vê-la de novo, queria estar com outras pessoas, queria tanto os pais que
começou a doer. Até Sr. Irons seria bom, apesar de Sherry não gostar dele; ela só o viu algumas vezes e ele era
estranho, orgulhoso e falso - e seu escritório era pavoroso.
Mesmo assim, ela ficaria grata com a presença dele, só para não ficar sozinha -
Passos. No corredor fora da sala.
Sherry levantou e correu para a porta aberta que ia para a sala das armaduras, esperando que fosse Claire e
pronta para correr se não fosse. Ela se escondeu atrás da porta e prendeu a respiração, olhando para o tigre
empalhado e rezando.
A porta externa abriu e fechou. Abafados e vagarosos passos no carpete, e Sherry tentou correr, ao mesmo
tempo criando coragem para dar uma olhada -
"Sherry?".
Claire.
"Estou aqui!".
Ela correu par o escritório e lá estava Claire, iluminada com um sorriso. Sherry voou nos braços dela, tão feliz em
vê-la que quis chorar.
"Eu estava procurando você". Claire disse, abraçando-a fortemente. "Não corra daquele jeito de novo, está
bem?".
Claire se ajoelhou na frente dela, ainda sorrindo - mas Sherry pôde ver a preocupação em seu olhar.
"Eu sinto muito". Sherry disse. "Eu tive que correr senão o monstro viria".
Como ele se parece?". Claire perguntou, apagando o sorriso. "Ele é meio vermelho com garras?".
Sherry suspirou. "Os homens do avesso! Você viu um, não viu?".
Claire riu, balançando a cabeça. "É, é exatamente o que eu vi, um homem do avesso... boa descrição".
Claire olhou mais seriamente para Sherry, franzindo "Homens? Existem mais deles?".
"Sim, mas nem se comparam com o monstro. Eu só o vi uma vez, de costas, e é gigante -".
"Careca? Vestindo um longo casaco?".
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"Não, ele tinha cabelo, cabelo claro. E um de seus braços era todo estragado, bem mais comprido que o outro".
Claire suspirou. "Ótimo. Raccoon tem algo diferente para cada um, parece que...".
Ela segurou a mão de Sherry, esfregando-a "... e é mais uma razão para ficar comigo. Você fez um ótimo
trabalho cuidando de si mesma, foi muito corajosa - mas até acharmos seus pais, é meu dever cuidar de você. E
se o monstro vier, eu vou - eu vou chutar o traseiro dele, tá bom?".
Sherry riu, surpresa. Ela gostava de Claire falando para cima com ela. Sherry acenou e Claire esfregou sua mão
de novo.
"Bom. Então nós temos zumbis, homens do avesso, e um monstro. E um grandão careca... Sherry, você sabe o
que aconteceu em Raccoon? Como tudo isso começou, pode dizer qualquer coisa - pode ser importante".
Sherry franziu, pensando. "Bom, houve um monte de mortes em Maio e Junho passado, acho - umas dez
pessoas foram mortas. Depois a mortes pararam, e algumas semanas atrás alguém foi atacado de novo".
Claire acenou. "Certo. Mais alguém foi atacado, ou... o que a polícia fez?".
Sherry balançou a cabeça. "Eu não sei. Logo depois que aquela garota foi atacada, minha mãe ligou do trabalho
muito preocupada, disse que eu não podia sair de casa. A Sra. Willis - nossa vizinha - veio fazer o jantar para mim
e assim soube daquela garota. Mamãe ligou de novo no dia seguinte, e me disse que papai e ela estavam presos
no laboratório e não voltariam por um tempo - e então, três dias atrás, ela pediu que eu viesse para cá. Eu fui
ver se a Sra. Willis viria comigo, mas sua casa estava escura e vazia. Acho que as coisas já estão bem ruins".
Claire ouvia atentamente "Você ficou sozinha todo esse tempo? Mesmo depois que chegou aqui?".
"Bem, sim, mas eu sempre fico sozinha. Meus pais são cientistas; seus trabalhos são importantes e às vezes não
podem interrompê-los. Minha mãe sempre diz que eu sou auto-suficiente quando quero".
"Você sabe que tipo de trabalho seus pais fazem? Na Umbrella?
"Eles fazem curas para coisas, para doenças". Sherry disse orgulhosa. "Eles fazem remédios, soros que hospitais
usam...".
Sherry parou, percebendo que Claire parecia distraída, seu olhar bem distante. Era o olhar que viu muitas vezes
nos rostos de seus pais - e significava que não estavam mais ouvindo. Mas assim que parou de falar, Claire
voltou para ela, tocando seu ombro - e por algum motivo bobo, aquilo a fez querer chorar novamente.
Deve ser porque ela está me ouvindo. Porque ela quer cuidar de mim.
"Sua mãe está certa,". Claire disse gentilmente. "você é muito auto-suficiente, e o que fez até agora diz que é
muito corajosa, também. Isso é bom, por que nós duas precisamos ser fortes para sairmos daqui".
Sherry abriu mais os olhos. "Como assim. Deixar a delegacia? Mas tem zumbis por toda a parte, e eu não sei
onde os meus pais estão, e se eles precisam de ajuda ou estão me procurando -".
"Meu bem, eu tenho certeza de que eles estão bem". Claire disse rapidamente. "Eles ainda devem estar no
laboratório, escondidos em segurança, igual você esteve - esperando ajuda para, para fazer tudo ficar melhor -".
"Você diz, matar todo mundo,". Sherry disse. "eu tenho doze anos, sabe, não sou mais um bebê".
Claire sorriu. "Desculpe. É, para matar todo mundo, sim. Mas até os homens bons virem, nós ficaremos juntas. E
a melhor e mais inteligente coisa a fazer é sair do caminho deles - o mais longe possível. Você tem razão, as ruas
não são seguras, mas quem sabe nós achamos um carro...".
Claire se levantou e foi até a mesa de Irons, olhando em volta. "Talvez Chefe Irons tenha deixado as chaves do
carro aqui, ou outra arma, algo que possamos usar -".
Claire viu algo no chão atrás da mesa. Ela se agachou e Sherry foi atrás, tanto para ficar perto quanto para ver o
que ela tinha achado.
"Tem sangue aqui". Claire disse tão baixo que parecia não ter dito nada.
"E?".
Claire olhou para a parede, franzindo, depois voltou para a grande mancha de sangue no chão. "Ainda está
úmido. Repare como ela é simplesmente cortada. Devia ter mais na parede aqui...".
Ela bateu na parede, ouvindo um som vazio, oco.
"Tem alguma sala aí atrás?". Sherry perguntou.
"Eu não sei, parece que sim. E explicaria para onde ele levou... por onde ele tinha saído antes. Chefe Irons".
Claire olhou para Sherry enquanto corria a mão pela parede e empurrando. "Sherry, veja se tem algum botão ou
alavanca perto da mesa. Acho que deve estar escondido em algum lugar, talvez em uma das gavetas...".
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Sherry começou a andar atrás da mesa - e tropeçou, seu pé deslizando em algum lápis. Ela se segurou na mesa
para recuperar o equilíbrio, mas ainda assim caiu de joelhos.
"Ai!".
Claire estava à sua direita, já segurando seus ombros. "Você está bem?".
"Estou. Eu só - ei! Olha!".
Sherry apontou para um botão sob a mesa, no meio de uma placa de metal. Parecia um interruptor de luz, mas
tinha que ser para a porta secreta, ela sabia.
Eu achei!
Claire viu e apertou - e atrás delas, um seção da parede deslizou para cima, desaparecendo no teto, e expondo
uma outra sala de tijolos. Um frio e úmido ar entrou no escritório; era uma passagem secreta, igual às dos filmes.
Juntas, se levantaram e entraram na abertura, Claire segurando Sherry até olhar primeiro. A pe-quena sala
estava vazia - três paredes de tijolos, chão de madeira e uma grande e antiga grade de elevador na parede da
direita, daquelas que abrem para o lado.
"Nós vamos pegá-lo? Sherry perguntou. Ela estava ansiosa e nervosa.
Claire pegou sua arma, se agachou para Sherry e sorriu - mas não era um sorriso feliz, e Sherry já sabia o que ia
ouvir.
"Meu bem, acho que vai ser mais seguro se eu descer e dar uma olhada, e você ficar aqui -".
"Mas você disse que ficaríamos juntas! Você disse que podíamos pegar um carro e fugir! E se o monstro voltar e
você não estiver aqui, ou se você morrer?".
Claire a abraçou, e Sherry quase enjoou de tanta raiva. Ela ia dizer para não se preocupar, que o monstro não vai
voltar, que nada ruim ia acontecer - e depois iria embora.
Adultos mentirosos -
Claire se afastou, tirando o cabelo do rosto de Sherry. "Eu não a culpo por estar assustada. Eu também estou.
Esta é uma situação ruim - e sinceramente, eu não sei o que vai acontecer. Mas eu quero fazer a coisa certa por
você, e isso quer dizer que eu não vou levá-la para um lugar onde pode se machucar, não se eu puder ajudar".
Sherry guardou as lágrimas e tentou de novo. "Mas eu quero ir com você... e se você não voltar?".
"Eu vou voltar,". Claire disse. "eu prometo. E se - se eu não voltar, eu quero que se esconda novamente. Alguém
virá ajudar em breve, e vão te achar".
Pelo menos estava sendo honesta; Sherry não estava gostando, e não tinha nada que pudesse mudar a decisão
de Claire. Poderia agir como um bebê ou apenas aceitar.
"Tome cuidado". Claire disse, e abraçou Sherry antes de ficar de pé e ir para a o elevador. Ela apertou o botão ao
lado da grade e um leve hum foi ouvido; depois de alguns segundos a cabine veio de baixo, parando gentilmente.
Claire abriu a grade e entrou, virando para ver Sherry.
"Fique aqui, querida, eu voltarei em alguns minutos".
Sherry forçou um aceno - e Claire fechou a grade. Ela apertou algo lá dentro e a cabine desceu, seu sorriso
saindo de visão, deixando a garota sozinha na fria passagem.
Sherry sentou-se no chão empoeirado e abraçou os joelhos. Claire era corajosa e esperta, ela voltará logo, ela
tem que voltar logo...
"Eu quero minha mãe". Sherry cochichou, mas ninguém estava lá para ouvir. Ela estava só de novo; tudo o que
menos queria.
Mas eu sou forte. Eu sou forte e posso esperar.
Ela descansou a bochecha em um joelho, tocando seu colar da sorte, e começou a esperar por Claire.
[16]
Annette Birkin sentou-se na sala de monitoramento, exausta, observando a parede de monitores centrada sobre
a mesa de vigilância. Ela tem estado lá pelo que parecem anos, esperando William aparecer, e começou a pensar
#
que não iria. Ela vai esperar mais um pouco - mas se não vê-lo em breve, terá que fazer outra busca.
Maldita tecnologia...
É um sistema novinho em folha, tem menos de um mês - vinte e cinco telas com um controle de canais que
deveria permiti-la ver cada canto desse laboratório. Um brilhante avanço na segurança - exceto por onze ainda
estarem funcionando, e mais da metade dessas estarem mostrando estática. Das cinco que ainda podia ver
claramente, tudo o que via - e tinha o que ver - estava morto, corpos podres e o ocasional Re3, que comia ou
dormia.
"Lickers (linguarudos). Você os chama de lickers por causa de suas línguas...".
Ela achou que tinha passado pelo pior da dor, mas o solitário som de sua voz na fria e cavernosa câmara, a fez
perceber que não tinha ninguém para responder - não haverá mais ninguém para responder. William se foi, se foi
e ela estava falando sozinha.
Annette abaixou a cabeça na mesa de controle, fechando seus cansados olhos. Pelo menos não haviam mais
lágrimas; ela já tinha despejado um oceano delas desde que a Umbrella veio atrás do G-virus. Agora só há dor,
combinada com fúria pelo que a Umbrella tinha feito.
Mais um mês, talvez dois, e nós teríamos dado a eles, sem nenhuma força. E William teria entrado para a
comissão de executivos e nós ficaríamos felizes. Todos ficariam -
Houve um fraco ruído vindo de um dos monitores. Annette olhou para cima esperando e tremendo - mas era só
um licker, um andar acima, no centro cirúrgico. Ele tinha acordado e caído do teto para jantar um dos técnicos,
uivando estupidamente para si mesmo enquanto rasgava o abdômen do corpo. O homem morto parecia ser Don
Weller, um dos intermediários do laboratório químico; ele estava tão mutilado quanto a inumana aparência do Re3
que o comia.
Ela observou o licker se alimentar, olhando para o monitor mas não o vendo; sua mente pensando no que tinha
sobrado para fazer. Ela já tinha apagado todos os computadores e os travado com códigos; o laboratório estava
pronto e sua rota de fuga era segura. Só que ela não podia terminar tudo até vê-lo de novo, ver que ele tinha
voltado para o laboratório da Umbrella. Destruir o lugar não adiantaria nada se ele não estivesse na zona de
explosão; eles o encontrariam e extrairiam o vírus de seu sangue...
... mas a Umbrella não vai consegui-lo. Eu vou morrer antes de deixá-los conseguir, então me ajude, Deus.
Seu único consolo era que a Umbrella não conseguiria por suas mãos gananciosas na síntese de William. E nunca
porão. Tudo o que foi usado na criação do G-virus será enterrado sobre toneladas de destroços, junto com
William e todos os monstros que eles criaram para a companhia. Depois ela irá se esconder por um tempo, se
recuperar e considerar suas opções - e então, venderá o G-virus para a concorrência. A Umbrella era a maior,
mas não era a única trabalhando em armas biológicas - quando Annette estiver quite com ela, não será mais a
maior. A vingança era tudo o que tinha restado.
"Exceto por Sherry". Annette cochichou, e a lembrança de sua jovem filha fez seu coração doer. Desde que
Sherry nasceu, Annette quis ter passado mais tempo com ela, se concentrar no bebê ao invés de ser parte do
brilhante trabalho de William.
Os anos se passaram e as promoções de William continuaram vindo, o trabalho ficou mais interessante e valioso -
e apesar de ambos terem prometido fazer um esforço para desenvolver a vida familiar, continuaram adiando.
E agora é tarde demais. Nunca seremos uma família, nunca seremos pais juntos. Todo aquele tempo perdido,
trabalhando para uma companhia que acabou nos esgotando...
Não adianta mais pensar em como teria sido. Tudo o que podia fazer era não deixar a Umbrella tirar mais nada
da família Birkin. William se foi, mas ainda tinha Sherry; essa parte dele continuará, e Annette poderá ser a mãe
que deveria ter sido. Claro, ela terá de esperar alguns meses antes de pegar Sherry, esperar a coisas se
acalmarem. Mas a garota ficará bem; os policiais a levarão para morar com a irmão de William, estava em ambos
os testamentos...
... a não ser que Irons ainda esteja vivo. Aquele gordo ganancioso achará um jeito de estragar até isso.
Ela esperava que estivesse morto; mesmo se não fosse responsável pelo que a Umbrella fez, Brian Irons era
nojento e arrogante, com a moral de uma lesma. Depois de anos de lealdade à companhia, foi comprado por
míseros cem mil dólares. Até William, que tinha uma opinião mais baixa sobre o chefe da polícia do que ela, se
surpreendeu...
Na tela, o Re3 terminou de comer. Tudo o que sobrou do corpo foram as costelas ensangüentadas e a parte de
trás do crânio. O licker saiu de visão, deixando um rastro escuro no chão. Graças ao T-virus, todas séries répteis
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foram eficientes assassinos, apesar dos Re3 terem apresentado falhas - o cérebro exposto era a mais óbvia, e
também tinham um ridículo alto índice de metabolismo; mantê-los alimentados foi uma discussão constante.
Não é mais problema. Tem vários corpos por aí - mais cedo ou mais tarde poderão comer algo quente...
Annette sentiu falta de energia, não queria sair da sala - mas não podia ficar esperando William aparecer. Ela o
ouviu no nível três uns dois dias atrás, mas não o via a quase quatro; ela não podia ficar esperando. O pessoal da
Umbrella já deve estar pensando em como entrar - mesmo com o computador central apagado, haviam outros
modos de passar pelas portas -
- e William pode ter saído. Não posso mais negar isso, não importa o quanto eu queira.
Havia uma fábrica à oeste do laboratório, uma companhia de transporte que foi comprada pela Umbrella, para
assegurar que os níveis subterrâneos ficassem secretos; foi assim que a Umbrella conseguiu construir o complexo
sem levantar suspeitas, escondendo equipamentos e materiais nos galpões, e usando a grande plataforma móvel
para transportá-los. Apesar das entradas da fábrica ainda estarem fechadas, desde que verificou pela última vez,
havia uma possibilidade de que William possa ter saído - e se chegou na fábrica, podia chegar aos esgotos.
Annette esforçou-se para levantar, ignorando as cãibras nas pernas e costas enquanto pegava a arma da mesa.
Ela não sabia muito sobre armas, mas aprendeu bem rápido depois que -
- que eles vieram pegar o G-virus, os homens usando máscaras de gás, atirando e correndo - e William, pobre
William, morrendo numa poça de sangue, e eu não vi a seringa antes de ser tarde demais -
Ela respirou fundo, tentando esquecer essa terrível memória, tentando esquecer o incidente que tirou William dela
e transformou Raccoon na cidade dos mortos. Isso não importava mais. A jornada à frente não será prazerosa,
e ela tinha que se concentrar. Fuja dos Re3, humanos no primeiro e segundo estagio de infecção, os
experimentos de botânica e a série de aracnídeos - ela podia se deparar com qualquer um deles, sem mencionar
o que a Umbrella possa ter enviado.
E William. Meu marido, meu amado - o primeiro humano portador do G-virus, que já não é mais humano.
Annette estava errada sobre achar que não tinha mais lágrimas. Ela parou no meio da vasta e esterilizada sala,
cinco andares sob a superfície de Raccoon, e chorou, perdida, respondendo aos estímulos que nunca se quer
tinham tocado a dor de sua solidão.
A Umbrella sentirá muito. Uma vez certa de que William esteja fora do alcance deles, ela destruirá o laboratório,
fugirá com o G-virus, os fará entender como estragaram tudo - e que Deus ajude quem tentar impedi-la.
[17]
Ada correu pelo bloco das celas, a um passo atrás de Leon, bem a tempo de ver o repórter sair da cela e cair no
chão. "Ajude-o!".
Leon gritou, e passou por Bertolucci para verificar a cela. Ada parou em frente ao sufocado repórter, mas ignorou
a ordem, esperando ver a criatura que o atacou sair da cela -
- ele estava atrás das grades, como isso aconteceu -
Ela esperou, mirando na cela, seu coração pulando - e viu a confusão no olhar de Leon. Pelo modo como olhava,
a disse que a cela estava vazia. A não ser que o agressor fosse invisível...
Sem chance. Não comece a pensar nisso.
Ada se ajoelhou ao lado do repórter, percebendo imediatamente que ele não estava bem - nada bem. Ele tinha
se sentado e encostado na parede que dividia as duas celas. Ele ainda respirava. Ada já tinha visto essa
aparência antes, o distante olhar, a tremedeira, a palidez - mas ela não via o porquê, e isso a assustava. Não
havia ferimentos. Deve ter sido um ataque cardíaco, talvez um derrame -
- mas aquele grito.
"Ben? Ben, o que aconteceu?".
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Seu vacilante olhar vidrado no dela, e Ada viu que os cantos de sua boca estavam rasgados e sangrando. Ele
abriu a boca para falar, mas tudo o que saiu foi um resmungo.
Leon se agachou junto a eles, confuso, também. Ele balançou a cabeça para ela, respondendo a pergunta que
não tinha feito; não haviam sinais do que tinha acontecido.
Ada olhou para Bertolucci e tentou novamente.
"O que foi, Ben? Você consegue nos dizer o que aconteceu?".
As trêmulas mãos do repórter subiram pelo corpo até pararem no peito. Com um esforço visível, ele tentou dizer
uma palavra.
"...abertura...".
Ada não tinha certeza. As aberturas nas paredes das celas eram muito pequenas e muito distantes do chão -
nada mais do que um tubo de ventilação que dava na garagem. Nada podia ter passado por lá.
Bertolucci ainda tentava falar. Ada e Leon se aproximaram, tentando entender suas palavras.
"... peito. Queima, tá... queimando...".
Ele estendeu a mão de repente e agarrou o braço dela, encarando-a com uma intensidade que a surpreendeu.
Ele apertou fracamente, com desespero em seus olhos.
"Eu nuca falei... sobre Irons". Ele respirou, fazendo força para continuar vivo até dizer tudo. "Ele está -
trabalhando para a Umbrella... todo esse tempo. Os zumbis - são pesquisas da Umbrella... e ele acobertou os
assassinatos, mas eu não consegui - provar, ainda... ia ser meu - furo".
Bertolucci fechou os olhos, respirando forte enquanto soltava o braço dela, e ela sentiu pena dele ao invés de si
mesma. Seu grande segredo era que a Umbrella tinha armas biológicas e Irons estava nessa. Teria sido um
grande furo.
Ele não sabe nada sobre o G-virus, nunca soube - e vai morrer sem reconhecimento.
"Jesus," Leon disse suavemente. "o chefe Irons..."
Bertolucci começou a ter convulsões, suas mãos apertando seu peito enquanto gemia de agonia. Suas costas se
curvaram, seus dedos como garras -
- e o gemido virou líquido enquanto sangue começou a borbulhar em sua boca. Engasgando e tremendo, seus
membros se debateram violentamente, espirros de sangue voando a cada tossida -
- e Ada viu vermelho surgir na camisa branca sob as mãos dele, ao som de ossos quebrando. Ela se afastou
assim que Leon tentou segurar as mãos de Ben, incerto do que estava acontecendo, mas certo de que não era
um ataque cardíaco -
- Santo Deus, o que é aquilo?
Tudo ao mesmo tempo, Ben foi para a frente e seus olhos viraram. Sangue ainda saía de sua boca e houve um
som, um horrível som de carne sendo rasgada, e sob sua camisa, algo mexeu.
"Afaste-se". Ada gritou apontando sua Beretta para Ben, e no segundo que levou para ela mirar, uma coisa
emergiu do ensangüentado peito de Bertolucci. Uma coisa do tamanho de uma mão, que abriu a boca e deu um
baixo berro, mostrando afiados e vermelhos dentes. O bicho saltou do corpo com uma chicoteante cauda, caindo
no cimento junto com pedaços de pele e carne - e correu como uma bala na direção do portão aberto para o
corredor, sua cauda balançando e pernas que Ada não conseguia ver, deixando um rastro vermelho para trás.
A coisa passou pelo portão antes de ela se lembrar que tinha uma arma; ela estava tão chocada que não pensou
em reagir. Uma criatura parasita que rasga seu peito - direto de um filme de ficção...
"O que era - você viu -". Leon disse, sem fôlego.
"Eu vi". Ada cochichou, interrompendo-o. Ela virou e olhou para Bertolucci, para seu rosto, estático numa
contorção angustiosa, e para o rasgo em seu peito.
A boca, rasgada nos cantos...
A criatura foi implantada nele - mas pelo que? Ela não sabia, e nem queria saber. Ela queria completar a missão e
sair de Raccoon o mais rápido possível. De fato, ela nunca quis tanto uma coisa. Quando se deu conta de que
houve um acidente com o T-virus, não esperava ter que lidar com organismos desagradáveis.
Ela olhou para Leon, desistindo de tentar ser razoável. Ela ia para o laboratório e não tinha o que discutir.
"Estou saindo daqui". Ela disse, e sem esperar respostas, virou-se e andou rapidamente para o portão, atenta
para não pisar no rastro de sangue.
"Espere! Olha, eu acho - Ada? Ei...".
Ela saiu no corredor de arma erguida, mas a criatura já tinha sumido. O rastro desaparecia no meio do corredor -
#
e viu que eles tinham esquecido a porta do canil aberta -
- e a tampa do poço também. Que ótimo.
Leon a alcançou e parou na sua frente. Por um momento, Ada achou que ele a fosse parar fisicamente.
Não faça isso. Eu não quero te machucar, mas vou se for preciso.
"Ada, por favor, não vá". Leon disse, não uma ordem, mas sim um pedido. "Eu - quando cheguei em Raccoon,
conheci uma garota e acho que ela está na delegacia. Se você puder me ajudar a encontrá-la, poderemos fugir
juntos. Teríamos mais chances -".
"Sinto muito, Leon, mas esse é um maldito país livre. Você faz o que tem que fazer, e boa sorte - mas eu não
vou ficar. Já foi o bastante. Se - quando eu sair, mandarei ajuda".
Ada passou por ele, esperando que não houvesse violência e que ele não tentasse impedi-la - vai ser muito
perigoso se ele tentar - foi quando ele a surpreendeu de novo.
"Então eu vou com você". Ele disse, seu olhar firme, decidido - e assustado. "Eu não vou deixar você ir sozinha.
Nem ninguém - não quero que você se machuque".
Ada olhou, sem saber o que dizer. Depois que Bertolucci morreu, ela não queria enganar Leon nos esgotos,
considerando o quanto extenso o sistema era... mas ele era tão bom, tão determinado em ajudar que ela estava
começando a - a não querer fazer mal a ele. Tudo seria mais fácil se ele fosse algum idiota metido a machão...
Tá bom, tire seu disfarce. Diga que é uma agente particular querendo roubar o G-virus e não quer companhia;
diga sobre o alívio que sentiu ao saber que o repórter iria morrer, ou que não tem problemas para tirar uma vida,
se for por uma boa causa - como ser paga. Veja o quanto bom ele será depois disso.
Não é uma opção. Mas havia uma parte dela que não queria admitir, uma parte que não queria ficar só. Ver o
que aconteceu com Bertolucci a fez perceber que não era tão invulnerável quanto gostava de pensar.
Então deixe-o vir, ache um lugar seguro no laboratório para deixá-lo. Sem danos nem sujeira.
Leon a olhava de perto, estudando-a - esperando sua aprovação.
"Vamos". Ela disse, e o sorriso que ele deu, apesar de vitorioso, a fez se sentir mais desconfortável.
Sem outra palavra, eles foram para o canil, Ada pensando no que estava fazendo - mas ainda capaz de fazer o
que for necessário para completar a missão.
Claire parou na frente de uma porta medieval no fim do escuro corredor o qual o elevador a tinha levado. A
delegacia era fria, mas a gelada umidade das pedras na parede do corredor fazia a delegacia parecer o verão; é
como se ela tivesse descido no calabouço de um castelo assombrado da Idade Média.
Ela respirou fundo, decidindo como entrar; ela estava certa de que Irons não gostaria de uma visita surpresa,
mas a idéia de bater era absurda - e perigosa. Haviam tochas acesas em suportes, uma de cada lado da porta
de madeira, a mesma envolta numa moldura de metal enferrujado.
Um túnel secreto, uma porta escondida com iluminação ambiente... que pessoa sã moraria aqui? Não foi o
desastre que fez isso - Irons devia ser louco bem antes do acidente da Umbrella...
Quando Sherry disse o que seus pais faziam para viver e o que aconteceu antes de chegar à delegacia, algo
clicou. A Umbrella trabalhava com doenças e a população de Raccoon certamente teve um grave caso de algo.
Deve ter sido algum tipo de acidente, um vazamento que soltou a estranha praga zumbi...
Claire mordeu o lábio, incerta do que fazer. Ela sabia que Irons estava em algum lugar lá embaixo, e não queria
vê-lo de novo; talvez ela deva voltar, pegar Sherry e tentar achar outra saída. Só porque é uma área secreta não
significa que haja uma saída lá.
Sherry estava lá em cima sozinha. E você tem uma arma, lembre-se?
Uma arma com poucas balas. Se for o esconderijo de Irons, devem haver armas lá dentro... ou apenas outro
corredor. Mas imaginar não a dirá nada.
Claire tocou a maçaneta e respirou fundo. A pesada porta abriu vagarosamente em dobradiças bem cuidadas. Ela
recuou apontando a arma -
Jesus.
Uma sala vazia, tão úmida e não receptiva quanto o corredor - mas com móveis e uma decoração que fez sua
pele arrepiar. Uma única lâmpada estava pendurada no teto, iluminando a mais pavorosa câmara que já tinha
visto. Tinha uma mesa no meio da sala, manchada e batida, um serrote e outros objetos cortantes espalhados
em cima; um balde de metal e um esfregão encostados numa parede, ao lado de uma estante cheia de
recipientes empoeirados - e o que pareciam ossos humanos, polidos e brancos, postos como troféus. Isso, e o
cheiro - um pesado e ácido cheiro químico que envolvia um outro pior. Um cheiro como loucura.
Só de olhar a sala a fez enjoar; "louco" devia ser o nome do ano do chefe da polícia - mas não havia ninguém lá.
Isso quer dizer que deve haver outra passagem secreta lá dentro. Pelo menos ela pode procurar por armas.
Engolindo, Claire entrou na sala, grata por não ter trazido Sherry; olhar para essa câmara de tortura a daria
pesadelos -
"Parada, mocinha, ou eu atiro".
Claire congelou. Cada músculo de seu corpo travou assim que Irons começou a rir atrás dela, de trás da porta
onde não pensou em olhar.
Oh, meu Deus, oh, Deus, oh, Sherry eu sinto muito -
O riso de Irons cresceu para a pura e alegre gargalhada de um louco, e Claire entendeu que iria morrer.
CONTINUA
Raccoon Times - 26 de Agosto de 1998
Plano "manter a cidade segura"
RACCOON CITY - Na frente da prefeitura, o Prefeito Harris anunciou ontem à tarde, em uma coletiva, que o conselho da cidade estará contratando pelo menos dez novos policiais para se juntar à polícia de Raccoon, por causa dos assassinatos brutais que atormentaram Raccoon no começo deste verão e devido a suspensão do S.T.A.R.S.. Junto com o Chefe Irons e todo os membros do conselho de Raccoon, Harris assegurou os cidadão e repórteres que a cidade será mais uma vez uma comunidade segura na qual se vive e trabalha, e que a investigação dos onze assassinatos "canibais" e dos três ataques animais fatais estão longe da solução.
"Só porque ninguém foi atacado no mês passado significa que os oficiais eleitos desta cidade podem relaxar" declarou Harris. "As boas pessoas de Raccoon merecem ter confiança em sua força policial e estarem seguras de que seus representantes políticos estão fazendo de tudo para dar segurança aos cidadãos. Como muitos de vocês sabem, a suspensão do S.T.A.R.S. será provavelmente permanente. Aquela unidade de investigação de assassinatos e sua subseqüente desaparição de Raccoon City sugere que eles não se importam com essa comunidade - mas eu quero assegurar vocês que nós nos importamos, e que eu, o Chefe Irons e os homens e mulheres que vocês vêem aqui, não queremos mais nada senão fazer de Raccoon um lugar a qual nossas crianças possam crescer sem medo".
Harris continuou a detalhar um plano de três pontos feito para reforçar a confiança e manter os cidadãos de Raccoon longe da violência.
Além de contratar de dez a doze policiais, o horário de recolher permanecerá ao menos até Setembro, e o Chefe Irons irá pessoalmente comandar uma força tarefa de alguns oficiais e detetives para continuar a busca dos assassinos que tiraram as vidas de onze pessoas entre Maio e Julho deste ano...
Cityside - 4 de Setembro de 1998
Renovação do complexo da Umbrella
RACCOON CITY - A instalação química da Umbrella no sul do centro da cidade começará a ser reformada na próxima Segunda-feira. Esta será a terceira renovação estrutural semelhante a do ano passado para a companhia. De acordo com a porta-voz da Umbrella, Amanda Whitney, dois dos laboratórios dentro da instalação principal serão adaptados com novos equipamentos projetados para síntese de vacinas e receberá um moderno sistema de segurança. Em adição, todos os escritórios conectados terão seus computadores atualizados na próxima semana.
Mas será isso um problema para o trânsito do centro da cidade? Whitney diz, "com o prédio do R.P.D. ainda terminando uma de suas reformas, os passantes locais já estão ficando cansados de ruas bloqueadas. Nós estamos fazendo de tudo para não interferir no trânsito; a maior parte da construção será interna e o resto será feito depois das horas de trabalho". O pátio do R.P.D., nossos leitores devem se lembrar, foi repavimentado e ajardinado depois que algumas rachaduras misteriosas apareceram no cimento; o tráfego teve que ser desviado por dois quarteirões na Rua Oak durante seis dias.
Ao perguntarmos porque tantos "reparos" ultimamente, Whitney respondeu, "a Umbrella tem estado na frente da competição há tanto tempo quanto continua com a atual tecnologia. Estes serão meses de trabalho, mas eu acho que valerá o esforço...”.
Raccoon Weekly Editorial - 17 de Setembro de 1998
Irons vai se candidatar?
RACCOON CITY - O Prefeito Harris pode estar numa difícil corrida na próxima primavera. Notícias de dentro do R.P.D. estão dizendo que Irons, Chefe da Polícia pelos últimos quatro anos e meio; pode estar concorrendo para chegar ao topo do ministério na próxima eleição, contra o popular, e sem oposição Devlin Harris, já no poder por três períodos consecutivos. Embora Irons não tenha confirmado os fatos, o ex-membro do S.T.A.R.S. recusou a negação do rumor.
Com sua popularidade bem alta desde o encerramento do caso dos assassinatos neste verão (ainda não resolvido) e da expansão planejada do RPD, Irons pode ser o homem que tirará Harris da Prefeitura; a questão é, serão os eleitores capazes de esquecer o suposto envolvimento de Irons nos fundos de campanha ilegais em Cider District? Ou seus caros gostos em arte e design interior, o qual tornaram o RPD em algo mais parecido com um museu?...
Raccoon Times - 22 de setembro de 1998
Adolescente atacada no parque
RACCOON CITY - Há aproximadamente 18:30h da noite passada, Shanna Williamson de quatorze anos foi surpreendida por um estranho no parque da Rua Birch no centro da cidade, quando voltava do treino para casa.
O homem veio de trás de uma cerca no parque e a derrubou de sua bicicleta antes de tentar agarrá-la. A jovem conseguiu sair de lá com alguns arranhões, e correu para a residência de Tom e Clara Atkin; Clara chamou as autoridades, que conduziram uma busca no parque, mas não acharam nenhum sinal do agressor.
De acordo com a garota (através de um depoimento hoje de manhã), o homem pareceu ser um pedestre: suas roupas e cabelos estavam sujos, e cheirava mal, "um cheiro de fruta podre". Ela disse que ele parecia bêbado, vacilando e caindo depois dela.
Com a onda de assassinatos de Maio para Julho ainda não resolvidos, o RPD está levando este fato seriamente: o agressor mostrou uma evidente semelhança com os membros da "gangue" do Victory Park em Junho deste ano.
Harris convocou uma coletiva para hoje, e Irons já declarou que o primeiro dos novos policiais chega na próxima semana, e que viaturas patrulharão os parques do centro da cidade...
https://img.comunidades.net/bib/bibliotecasemlimites/3_CITY_OF_THE_DEAD.jpg
[1]
Com o pessoal esperando no carro de Barry lá fora, Jill fez o possível para se apressar. Não era fácil, a casa tinha
sido revirada desde a última vez que esteve lá. Livros e papéis espalhados pelo chão, e estava muito escuro para
andar facilmente. O fato de sua casa ter sido violada era preocupante, mas já era de se esperar. Ela devia estar
agradecida por não ser do tipo sentimental - e pelos intrusos não terem achado seu passaporte.
Na escuridão de seu quarto, Jill pegou meias limpas e calcinhas e as colocou em sua mochila, desejando poder
acender as luzes. Fazer as malas no escuro era mais difícil do que se imaginava, mais ainda com a casa
bagunçada; mas eles não podiam se arriscar. Era improvável que suas casas estavam sendo vigiadas, mas se
alguém estiver olhando, uma luz poderia abrir fogo.
Pelo menos você vai embora. Chega de se esconder.
Eles estavam indo para território estrangeiro, invadir o quartel inimigo e provavelmente serem mortos no
processo, mas pelo menos ela não ficará mais em Raccoon. Pelo que ela leu nos jornais ultimamente, era a
melhor escolha. Dois ataques na semana passada... Chris e Barry estavam cientes do perigo, mesmo sabendo o
que o T-virus fazia com as pessoas - Barry pensou que isso era algum tipo de truque, que a Umbrella "salvaria"
Raccoon antes de alguém se machucar. Chris concordou, mas Jill não estava preparada para assumir nada; a
Umbrella já mostrou que não consegue conter suas experiências. E com o que Rebecca, David e sua equipe
enfretaram em *Maine...
Agora não é hora para pensar nisso - eles tinham um avião para pegar. Jill pegou a lanterna da penteadeira e
estava indo para a sala quando lembrou que só tinha um sutiã consigo. De cara feia, ela virou para a gaveta
aberta e começou a procurar. Ela já tinha roupas o bastante, escolhidas do que Brad deixou para trás quando
fugiu de Raccoon; ela e os outros ficaram na casa dele por várias semanas, desde que a Umbrella atacou a casa
de Barry. Nenhuma roupa de Brad serviu em Chris nem em Barry. Lingerie não era algo que o piloto do
S.T.A.R.S. tinha guardado. Ela não queria parar o avião para comprar roupas íntimas.
Colocando-os na mochila, Jill voltou para a pequena sala da casa. Tinha uma foto de seu pai em uma das
estantes que ela queria pegar. Era a segunda vez que foi lá desde que começaram a se esconder. Ela sente que
não voltará tão cedo.
Andando agilmente pelo escuro, ela ergueu a lanterna e a apontou para o canto onde a estante estava. A
Umbrella bagunçou tudo. Só Deus sabe o que eles estavam procurando. Pistas do nosso esconderijo,
provavelmente; depois do ataque na casa de Barry e a desastrosa missão à Caliban Cove, ela não acha que a
Umbrella ignoraria essas informações.
Jill iluminou o livro que queria, o título era Prison Life; seu pai teria rido. Ela pegou o livro e começou a folheá-lo,
parando quando a luz caiu sobre o sorriso de Dick Valentine. Ele tinha mandado a foto junto com sua última carta.
Ela tinha posto no livro para não perdê-la. Esconder coisas importantes era um hábito que adquiriu quando jovem.
Ela soltou o livro, a pressa foi embora de repente, ao olhar para a foto. Um leve sorriso surgiu em seu rosto. Ele
era o único homem que ficava bem no uniforme laranja da prisão.
Jill pensou no que ele acharia da situação atual; ele foi o responsável pelo envolvimento dela com o S.T.A.R.S..
Depois de preso, ele a encorajou a abandonar essa vida, dizendo que foi um erro treiná-la como uma ladra...
... aí eu peguei um trabalho legítimo, trabalhando para a sociedade ao invés de contra ela - aí as pessoas em
Raccoon começaram a morrer. O S.T.A.R.S. descobriu uma conspiração para criar armas biológicas com um vírus
que torna coisas vivas em mortas. Obviamente ninguém acreditou em nós. Os S.T.A.R.S. que não podem ser
comprados pela Umbrella, perdem a credibilidade ou são eliminados. Agora nós iremos para uma missão suicida na
Europa, tentar invadir o quartel general de uma corporação multibilionária e impedi-los de destruir esse maldito
planeta. O que você acharia? Sendo que você nunca acreditou nessa história, o que você acha?
"Você se orgulharia de mim, Dick". Ela suspirou, incerta se seria verdade. Seu pai queria vê-la em uma linha de
trabalho menos perigosa, e comparado ao que ela e os outros iriam fazer...
Depois de um longo momento, ela colocou a foto cuidadosamente no bolso e olhou para sua casa bagunçada,
ainda pensando na opinião de seu pai sobre tudo isso; se tudo correr bem, talvez ela possa perguntar
pessoalmente. Rebecca e os outros sobreviventes de Maine ainda estavam escondidos, investigando a
organização S.T.A.R.S. e esperando notícias sobre o quartel general da Umbrella. O quartel oficial fica na Europa,
mas eles suspeitavam de que os cabeças por trás do T-virus tinham um complexo secreto em outro lugar -
- a qual você não achará se ficar aí parada; o pessoal achará que você parou para tirar um cochilo.
Jill colocou a mochila e olhou em volta pela última vez antes de voltar para a porta dos fundos, na cozinha. Havia
um leve cheiro de fruta estragada no ar, vindo de uma tigela de maçãs e pêras em cima da geladeira. Apesar de
conhecer bem o cheiro, ela sentiu um calafrio em sua espinha. Ela foi para a porta fechada, tentando bloquear as
súbitas memórias do que eles acharam na mansão de Spencer...
"Jill?".
A porta abriu, a silhueta de Chris na escuridão pela distante luz da rua.
"Bem aqui". Ela disse, andando. "Desculpe pela demora. A Umbrella veio aqui com um trator".
Mesmo com pouca luz, ela pode ver um meio sorriso no rosto dele. "Nós estávamos achando que um zumbi
tinha pego você". Ele disse claramente, mas ela sentiu a preocupação.
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*Maine – Estado localizado na costa leste dos E.U.A.
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Muitas pessoas morreram por causa do que a Umbrella fez na
floresta fora da cidade. Se o acidente tivesse ocorrido mais perto de Raccoon...
"Não teve graça". Ela disse suavemente.
O sorriso de Chris sumiu. "Eu sei. Está pronta?".
Jill acenou, apesar de não se sentir preparada pelo que virá a seguir, tampouco pelo que estão deixando para
trás. Em algumas semanas, seu conceito de realidade transformou pesadelos em rotina.
Corporações malvadas. Cientistas loucos, vírus assassinos. E os mortos-vivos...
"Estou". Ela disse finalmente. "Estou pronta".
Juntos, eles saíram. Assim que ela fechou a porta, sentiu um súbito ar de incerteza - de que ela nunca mais
colocaria os pés em casa novamente, de que os três nunca mais voltariam para Raccoon City...
... mas não acontecerá nada com a gente. Algo acontecerá, mas não conosco.
Franzindo, mão na fechadura, ela tentou dar sentido ao pensamento. Se eles sobreviverem a essa missão, se
eles tiverem sucesso contra a Umbrella, por que não voltariam para casa? Ela não sabia, mas o sentimento era
desconfortavelmente forte. Algo ruim iria acontecer, algo -
"Ei, você está bem?".
Jill olhou para Chris, viu a mesma preocupação em seu rosto. Eles se aproximaram bastante nas últimas
semanas, apesar de achar que Chris queira se aproximar mais ainda.
E você não quer?
Jill se balançou mentalmente e acenou para Chris, deixando os sentimentos irem. O vôo para Nova Iorque não irá
esperar por ela.
Ainda aquele sentimento...
"Vamos sair daqui". Ela disse.
Eles andaram pela noite, deixando a escura casa para trás, tão quieta e sozinha quanto um túmulo.
[2]
29 de Setembro de 1998
O resto da luz do dia já estava atrás das montanhas, pintando o horizonte com o violeta do pôr do sol. As
montanhas corriam pela escuridão do céu sem nuvens, se esticando para alcançar o fraco brilho das estrelas.
Leon poderia ter apreciado mais a paisagem se não estivesse tão atrasado. Ele vai chegar a tempo, claro, mas
antes pretendia chegar em seu novo apartamento, tomar um banho, comer algo; mas do jeito que está, ele só
tem tempo para passar numa lanchonete a caminho da delegacia. Colocar seu uniforme na última parada lhe deu
alguns minutos, mas basicamente ele estava apertado.
Isso aí, Oficial Kennedy. Primeiro dia de trabalho e você estará tirando sanduíche dos dentes durante as
chamadas. Muito profissional.
Seu turno começava às nove e já era mais de oito. Leon pisou um pouco mais forte no acelerador ao passar por
uma placa que dizia restar meia hora para chegar em Raccoon City. Pelo menos a estrada estava livre. Ele não
viu ninguém em horas, exceto pelo apressadinho no sentido oposto.
Uma boa mudança considerando o trânsito depois de Nova Iorque, a qual lhe custou toda tarde. Ele tentou deixar
um recado para o sargento na noite passada, mas só ouviu o sinal de ocupado.
Os poucos móveis que tinha, já estavam no apartamento num bom bairro de Raccoon. Havia um parque à duas
quadras de lá, e só cinco minutos de carro até a delegacia. Chega de engarrafamentos, bairros violentos e ações
brutais. Ele procurava viver numa comunidade pacífica.
... bom, exceto pelos últimos meses. Aqueles assassinatos...
O que aconteceu em Raccoon foi horrível, doentio - mas os agressores nunca foram pegos e a investigação só
estava começando. Se Irons gostar dele como gostaram na academia, talvez Leon possa trabalhar nesse caso.
Mesmo Chefe Irons sendo uma praga, ele ficará um pouco impressionado. Leon se formou entre os dez
melhores e não era um estranho em Raccoon. Ele costumava passar os verões lá quando criança, quando seus
avós ainda eram vivos. O R.P.D. era uma biblioteca e a Umbrella estava a vários anos de distância de transforma
Raccoon numa verdadeira cidade. Mesmo assim, ainda é o mesmo calmo lugar de sua infância. Quando os
assassinos forem presos, Raccoon City será ideal de novo - bonita, limpa, uma comunidade escondida nas
montanhas como um paraíso secreto.
Aí eu me estabeleço lá. Uma ou duas semanas se passam e Irons percebe o quanto bem os meus relatórios
estão sendo escritos, ou vê o quanto bom eu sou atirando no alvo. Ele me chama para ver os documentos do
caso - e eu vejo algo que ninguém mais viu. Ninguém mais percebeu por que eles viveram muito com isso, e
esse policial novato vem e resolve o caso, nem um mês fora da academia e eu -
"Jesus!". Algo correu em frente ao seu Jeep.
Leon pisou no freio e desviou, tirado de seu sonho enquanto recuperava o controle do carro. Os freios travaram e
os pneus derraparam no asfalto. O Jeep parou de frente para as escuras árvores que cercavam a estrada -
desligando depois de uma última sacudida.
De coração acelerado, Leon abaixou o vidro e levantou o pescoço, varrendo as sombras pelo animal que tinha
cruzado a pista. Ele não o atropelou, mas foi por pouco. Algum tipo de cachorro, ele não viu direito - um dos
grandes, talvez um Doberman, mas de alguma forma parecia errado. Leon só o viu por uma fração de segundo,
um brilho de olhos vermelhos e o corpo inclinado de um lobo. E tinha algo mais, parecia algum tipo de...
... lodo? Não, truque de luz, ou você só estava se borrando de medo e acabou vendo errado. Você está bem e
não o atropelou, isso é o que importa.
"Jesus". Ele disse de novo, mais suave, sentindo-se aliviado e bravo enquanto a adrenalina saia de seu sistema.
Pessoas que deixam seus cães soltos são idiotas - depois agem surpresos quando o Totó é pego por um carro.
O Jeep parou a alguns metros de uma placa que dizia RACCOON CITY 10; ele só conseguia ver as letras no
escuro. Leon olhou no relógio; ele ainda tinha meia hora para chegar na delegacia, pouco tempo - mas por algum
motivo, ele simplesmente parou por um momento, fechando os olhos e respirando profundamente.
Uma brisa fresca passou pelo seu rosto; o deserto trecho de estrada parecendo sobrenaturalmente quieto.
Os assassinatos em Raccoon. Algumas pessoas foram mortas por animais, não foram? Cães selvagens? Talvez
aquele não tenha dono.
Um perturbante pensamento - mais ainda quando sentiu que o cachorro ainda estava por perto, o escondido nas
árvores.
Bem vindo a Raccoon City, Oficial Kennedy. Cuidado com as coisa que o observam...
"Não seja idiota". Leon disse para si mesmo, imaginado se algum dia se livrará de sua imaginação.
Sonhando em pegar caras maus, depois inventar monstros assassinos vagando pela floresta - vamos agir de
acordo com nossas idades, né, Leon? Você é um policial, pelo amor de Deus, um adulto...
Ele ligou o motor e voltou para a estrada. Ele tinha um emprego novo, um bom apartamento numa boa cidade;
ele era competente, consciente, e de boa aparência; usando sua criatividade, tudo ficará bem.
"E já estou a caminho". Ele disse, forçando um sorriso para se acalmar. Ele estava a caminho de Raccoon City,
para uma nova vida - não tinha nada com o que se preocupar...
Claire estava exausta, psicológica e emocionalmente, e o fato de seu traseiro estar doendo pelas últimas horas,
não estava ajudando. O motor de sua Harley parecia entrar em seus ossos, e mais, estava escurecendo. E por
idiotice, ela não estava usando suas roupas de couro; Chris não aprovaria.
Ele vai gritar comigo, e eu nem vou ligar. Deus, Chris, por favor, esteja lá para isso...
O barulho da moto ecoou pelos barrancos inclinados. Ela fez as curvas cuidadosamente, bem consciente do
quanto desertas as estradas estavam; se ela cair, levará um bom tempo até alguém aparecer.
Como se importasse. Sem seu equipamento, eles recolheriam seus pedaços com um rodo.
Era burrice, ela sabia que era burrice - mas algo aconteceu com Chris. Droga, algo deve ter acontecido com a
cidade toda. Pelas últimas semanas, a suspeita aumentou - e as ligações que tinha feito aquela manhã a tiraram
do lugar.
Ninguém em casa. Ninguém em lugar nenhum. Como se a cidade tivesse se mudado.
Ela não se importava com Raccoon, mas sim com seu irmão que estava lá, e se algo de ruim aconteceu com ele
-
Ela não podia, não pensaria desse jeito. Chris era tudo o que lhe restava. Seu pai morreu em seu emprego na
construção quando ainda eram crianças. Quando sua mãe morreu num acidente de carro três anos atrás, Chris
fez o melhor para substituir os pais. Mesmo sendo poucos anos mais velho, ele a ajudou a escolher uma
faculdade - ele até a mandava dinheiro todo mês. Além disso, ele ligava para ela toda semana.
Mas essas ligações pararam no último mês e meio, e as dela não foram retornadas. Ela tentou se convencer de
que era besteira se preocupar - talvez ele finalmente achou uma namorada, ou algum problema com o S.T.A.R.S.
Mas depois de três cartas não correspondidas e dias esperando o telefone tocar, ela finalmente decidiu ligar para
o R.P.D. naquela tarde, esperando que alguém pudesse dizer o havia acontecido. Ela só ouviu o sinal de ocupado.
Sentada em seu quarto, ouvindo aquele som, ela começou a se preocupar mesmo. Ela procurou em sua agenda
com mãos trêmulas, discando os poucos números dos amigos dele, pessoas ou lugares que mandou ligar em
caso de emergência - Barry Burton, Emmy's Diner, um policial que ela nunca conheceu chamado David Ford. Ela
até tentou o telefone de Bill Rabbitson, apesar de Chris ter dito que ele desapareceu alguns meses atrás. Só deu
ocupado.
A preocupação se transformou em algo perto de pânico. A viagem para Raccoon City levava seis horas e meia da
universidade. Sua amiga de quarto pegou seu equipamento de moto emprestado para sair com o namorado, mas
Claire tinha outro capacete - e com aquele pânico passando pelos seus pensamentos assustados, ela
simplesmente pegou o capacete e saiu.
Burrice, talvez. Impulsiva, certamente. E se Chris estiver bem, nós poderemos rir sobre o quanto ridícula essa
paranóia foi. Mas enquanto eu não souber o que está acontecendo, não terei um momento de paz.
O resto da luz do dia estava sumindo no céu sem nuvens, mas a brilhante lua cheia e o farol da moto eram
suficientes para enxergar - para ver a pequena placa adiante: RACCOON CITY 10.
Dizendo a si mesma que Chris estava bem, que algo de estranho aconteceu em Raccoon, alguém já teria
verificado. Claire passou a se concentrar na estrada. Daqui a pouco estará escuro, mas ela chegará em Raccoon
antes de ficar perigoso para dirigir.
Estando Raccoon City bem ou não, ela descobrirá em breve.
#
[3]
Leon alcançou os limites da cidade com vinte minutos restando, e decidiu que um jantar quente irá esperar. De
sua última visita à delegacia, ele sabia que haviam algumas máquinas de venda onde podia comprar algo. O
pensamento de ter doces e amendoins em seu estômago não caía bem, mas foi culpa dele por não te se livrado
do trânsito de Nova Iorque a tempo.
Ele passou por algumas fazendas que ficavam a leste da cidade, antes de ver a parada de caminhões que
separava a zona rural da urbana.
Assim que virou na ByBee, indo para uma das ruas norte-sul principais que o levariam para o R.P.D., ele
conseguiu a primeira dica de que algo estava errado. Nos primeiros quarteirões, ele se surpreendeu. No quinto ele
se sentiu um estranho no deserto. Não era estranho, era impossível.
ByBee era a primeira rua real da cidade, vinda do leste. Havia vários bares e restaurantes baratos, tal como um
cinema que nunca deve ter mostrado nada além de filmes de terror e comédias sensuais - e mesmo assim era o
mais popular lugar da juventude de Raccoon. Havia algumas tavernas que serviam cervejas e bebidas quentes
para os universitários. Às oito e quarenta e cinco da noite, ByBee deveria estar cheia de vida.
Exceto por algumas lojas e restaurantes, Leon viu que quase toda a rua estava escura - e mesmo as que tinham
luz não mostravam presença humana. Haviam carros parados na rua, e ainda nenhuma pessoa. ByBee, o ponto
de encontro de adolescentes e estudantes, estava totalmente deserta.
Onde está todo mundo?
Ele continuou dirigindo, procurando respostas - e tentando aliviar a suave ansiedade que sentia. Talvez há algum
tipo de evento acontecendo, uma missa ou uma festa da macarronada. Ou Raccoon decidiu antecipar a
Oktoberfest para hoje à noite.
Tá, mas todos ao mesmo tempo?
Leon percebeu que não tinha visto um carro se quer desde o cachorro há dezesseis quilômetros. Nem um. Sendo
assim, um pensamento menos dramático lhe ocorreu.
Algo não cheirava bem. De fato, algo cheirava como podre.
Ele diminuiu a velocidade para virar na Powell, uma quadra à frente - mas o cheiro e a ausência de vida estavam
lhe dando uma ruim sensação. Talvez ele deva parar e verificar, procurar algum sinal de -
Leon sorriu aliviado. Havia duas pessoas de pé na esquina, bem à frente; a luz estava apagada perto deles, mas
ele pode ver suas sombras claramente - um casal, uma mulher de saia e um homem alto usando botas. Indo a
sul na Powell, chegando mais perto deles, Leon pode ver como andavam, pareciam bêbados. Ambos estavam na
sombra de uma loja de escritório e fora de visão; mas Leon estava naquela direção - não custava parar e
perguntar?
Devem ter saído do O'Kelly's. Um copo ou dois, mas não estando dirigindo, ótimo. Eu me sentirei um idiota
quando eles me dizerem que hoje é o grande concerto gratuito ou o dia da churrascada.
Aliviado, Leon virou a esquina e olhou para as sombras, procurando pelo par. Ele não os viu, mas tinha um beco
entre a loja e a joalheria. Talvez eles tenham parado para ir ao banheiro ou fazer outra coisa mais ilegal -
"Merda!".
Leon pisou no freio assim que meia dúzia de escuras figuras voaram do chão, pegas pelos faróis do Jeep.
Assustado, levou alguns segundos para perceber que tinha visto pássaros; eles não berraram, apesar de ter
estado perto o bastante para ouvir o bater de asas.
Oh, meu Deus.
Havia um corpo humano no meio da rua, a seis metros do carro. Debruçada, mas parecia uma mulher - e
julgando pelo líquido vermelho que cobria boa parte da blusa branca, não era uma estudante bêbada que decidiu
dormir no lugar errado.
Atropelamento. Algum imbecil a acertou e fugiu.
Leon desligou o motor e abriu a porta. Ele hesitou, um pé no asfalto, o cheiro de morte intenso no ar. Sua mente
#
trouxe uma idéia que não queria considerar, mas deveria; isso não é um treinamento, é a sua vida.
E se não foi um atropelamento? E se o fato de não haver pessoas por perto é por causa de um maluco armado
que decidiu praticar tiro ao alvo? Talvez todos estão em casa, abaixados - o R.P.D. pode estar a caminho e
aqueles dois bêbados podiam estar feridos e procurando ajuda...
Ele se esticou no Jeep e procurou seu presente de formatura debaixo do banco do passageiro, uma H&K VP70
com dezoito balas.
Apontando ela para o chão, Leon saiu do carro e deu uma olhada em volta. Ele não conhecia muito bem a noite
de Raccoon, mas sabia que não deveria estar tão escuro. Várias luminárias da rua estavam apagadas; se não
fossem os faróis do carro, ele não teria visto o corpo.
Ele se aproximou, sentindo-se desprotegido sem o carro, mas ciente de que ela podia estar viva. Era impossível,
mas ele tinha que ver.
Alguns passos mais próximo e viu que era um a jovem mulher. O cabelo ruivo e liso cobria o rosto. A maioria dos
ferimentos estavam escondidos pela blusa ensangüentada. Parecia haver alguns deles - rasgos na roupa
expunham claros e cortados pedaços de carne e os músculos vermelhos abaixo.
Exalando forte, Leon colocou a arma na mão esquerda e se agachou, tocando a fria pele do pescoço dela. Alguns
segundos passaram, segundos que lhe causaram medo, tentando se lembrar do procedimento de ressuscitarão,
esperando sentir o pulso.
Cinco compressões, dois e curtos sopros, cotovelo parados e, por favor, não esteja morta -
Ele não sentiu o pulso e não queria esperar. Guardando a arma, ele agarrou os ombros para vira-la - mas quando
começou a erguê-la, sua blusa saiu da calça, mostrando algo que o fez soltá-la. Sua coluna e parte das costelas
estavam expostas. As vértebras brancas brilhando entre a carne vermelha. Parece que ela foi mastigada. Coisa
que Leon não quis acreditar.
Os corvos não fizeram isso, teria levado horas, e quem disse que corvos se reúnem à noite para comer? E aquele
cheiro, não está vindo dela, ela morreu recentemente, e -
Canibais. Assassinos.
Não. Nem pensar. Para uma pessoas ser morta e devorada no meio da rua sem ninguém para impedir -
- e com tempo suficiente para comedores de mortos virem - os assassinos devem ter matado toda a população.
Parece certo? Então que cheiro é esse? E onde estão todos?
Atrás de Leon, houve um baixo e suave gemido. Depois, passos.
Levou um segundo para Leon se levantar, virar e empunhar a arma. Era o casal, os bêbados, vindo em sua
direção, junto com um terceiro, um cara musculoso com -
- com sangue por toda a camisa. E nas mãos. E pendurado em sua boca, algo vermelho e mole. O outro homem
com as botas e suspensórios, parecia igual.
O trio se aproximava, passando do Jeep, erguendo as mãos e gemendo. Leon estava impressionado com a
descoberta de que o cheiro vinha deles -
- e apareceu outro, saindo da porta do outro lado da rua, uma mulher de camiseta e cabelo amarrado para trás.
Outro gemido atrás dele. Leon olhou sobre o ombro e viu um jovem de cabelos escuros e braços podres sair das
sombras da calçada.
Leon apontou a arma para o que estava mais perto, o de suspensórios, enquanto seus instintos gritavam para
fugir. Ele estava aterrorizado, mas sua lógica insistia que havia uma explicação para o que via, que não estava
vendo um morto-vivo.
"Certo! Já chega! Não se mexam!".
Sua voz foi forte e autoritária. Ele vestia seu uniforme, e Deus, por que eles não param? O de suspensórios
gemeu de novo, cego para a arma apontada para seu peito, e ainda seguido pelos outros, agora a menos de
três metros de distância.
"Não se mexa!". Leon disse de novo, e o som de seu próprio pânico o fez recuar um passo, olhando para os
lados e vendo mais dois saindo das sombras.
Algo agarrou seu calcanhar.
"Não!". Ele gritou, virando a arma -
#
- e viu que a atropelada estava segurando sua bota com uma mão ensangüentada, tentando mover seu corpo.
O gemido dela se juntou ao dos outros enquanto tentava morder seu pé, vermelhos fios de saliva escorrendo
pelo queixo, caindo no couro.
Leon atirou nas costas dela. Pela distância deve ter acertado seu coração. Tremendo, ela voltou para o chão.
- e ele virou e viu os outros a menos de um metro e meio, e atirou mais duas vezes, os tiros abrindo buracos no
peito do mais próximo.
O de suspensórios não se intimidou com os tiros em seu peito, seu equilíbrio se abalando por apenas um segundo.
Ele abriu a boca e soltou um grito de fome, mãos erguidas de novo na direção de seu alívio.
Recuando, Leon atirou de novo. E de novo. E de novo. Mais tiros e eles continuaram vindo. Era como um sonho
ruim, um filme ruim, não era real - e Leon sabia que se não começasse a acreditar, acabará morrendo. Comido
por esses -
Vá em frente. Diga. Esses zumbis.
Longe do carro, Leon correu, ainda atirando.
[4]
Que vida noturna; esse lugar está morto.
Claire não viu tantas pessoas como deveria desde que chegou em Raccoon, só algumas, só algumas vagando
por aí. O lugar parecia totalmente deserto; o capacete bloqueava muito a visão, mas definitivamente os negócios
não iam bem naquela parte da cidade. Tal como o trânsito.
Ela planejou ir direto ao apartamento de Chris, mas se lembrou de que passaria em frente ao Emmy's. Chris não
sabia cozinhar nada; sendo assim, ele vivia de cereais, sanduíches frios e jantares no Emmy's seis vezes por
semana; mesmo não estando lá, vale a pena parar e perguntar se alguma garçonete o viu.
Assim que Claire parou em frente ao Emmy's, viu ratos procurando abrigo numa lata de lixo na calçada. Ela
abaixou o apoio e desceu da moto, tirando o capacete e o colocando no assento. Balançando seu rabo de cavalo,
ela franziu o nariz de nojo; pelo cheiro, o lixo estava lá por um bom tempo. Independente do que jogavam fora,
aquilo tinha um cheiro tóxico.
Antes de entrar, ela esfregou seus braços e pernas tanto para aquecê-los, quanto para limpá-los da sujeira da
estrada.
Através do vidro da frente do restaurante era possível ver o confortável de bem iluminado interior.
Das banquetas vermelhas do balcão que cercava o canto esquerdo ao fundo - não tinha uma alma à vista. Claire
franziu, desapontada. Tendo visitado Chris regularmente nos últimos anos, ela esteve lá todas as horas do dia e
da noite; os dois eram corujas, decidindo comer sanduíches às três da manhã - o que significa Emmy's. E sempre
tinha alguém lá, conversando com uma das garçonetes de avental vermelho ou curvado sobre uma xícara de
café e um jornal, não importava que horas fossem.
Então onde eles estão? Nem são nove horas...
A placa dizia Aberto, e ela não ficou parada na rua, esperando. Uma última olhada na moto e ela entrou.
Respirando fundo ela disse esperançosa.
"Olá? Tem alguém aqui?".
Sua voz correu pelo silêncio do restaurante vazio. Exceto pela suavidade dos ventiladores de teto, não havia outro
som. Tinha um familiar cheiro de gordura no ar e algo mais - um cheiro amargo e ainda fraco de flores podres.
O lugar era em L, se esticando para frente dela e para a esquerda. Andando devagar, Claire seguiu em frente.
Atrás do balcão ficava o caminho da cozinha. Se o restaurante estava aberto, os funcionários deviam estar lá,
talvez surpresos com a falta de clientes -
- mas isso não explica a bagunça, né?
Não estava tão bagunçado. A desordem nem foi percebida do lado de fora. Menus no chão, um copo d'água
virado no balcão, e talheres eram os únicos objetos fora de ordem - mas era demais.
Que se dane a cozinha, isso é muito estranho, algo está errado nessa cidade - talvez eles foram assaltados ou
preparando uma festa surpresa. Quem se importa?
#
Do espaço escondido no final do balcão, ela ouviu um movimento, um deslizante sor de roupas seguido por um
ronco. Alguém está lá, agachado.
De coração batendo forte, Claire chamou de novo. "Olá?".
E nada.
- outro gemido, um som que arrepiou os pêlos do seu pescoço.
Apesar do medo, Claire foi até lá. Talvez houve um assalto, os clientes podem estar amarrados - ou pior, tão
machucados que não conseguiam gritar. De qualquer modo, ela estava envolvida.
Claire chegou no fim do balcão, olhou para a esquerda -
- e gelou, de olhos arregalados, sentindo-se psicologicamente estapeada. Perto de uma prateleira com bandejas
estava um calvo homem de avental branco, de costas para ela. Ele estava agachado sobre o corpo de uma
garçonete; mas tinha algo muito errado sobre ela, tão errado que Claire não conseguiu aceitar tão cedo. Seu olhar
chocado passou pelo uniforme vermelho, sapatos, até pelo crachá de plástico no peito dela, "Julia" ou "Julie".
... a cabeça. A cabeça dela não estava lá.
Percebendo o que estava errado, Claire não conseguiu desacreditar por mais que queira. Só tinha uma poça de
sangue no lugar da cabeça dela, cercada por fragmentos do crânio e mechas de cabelo escuro. O cozinheiro tinha
as mãos no rosto e Claire, olhando para o corpo, soltou um leve suspiro.
Ela abriu a boca, incerta sobre o que falar.
Gritar, perguntar por que, como, oferecer ajuda - ela não sabia, e assim que o homem virou para ela, abaixando
as mãos, nada foi dito definitivamente.
Ele estava comendo a garçonete. Seus dedos estavam vestidos com carne; a estranha face que ele mostrou
estava suja de sangue.
Zumbi.
Sua mente aceitou isso no momento em que pensou; ela não era idiota. Ele estava mortalmente pálido e com
aquele cheiro de podridão. Seus olhos brancos.
Zumbis em Raccoon. Eu nunca esperei isso.
Com esse calmo e lógico pensamento veio uma súbita onda de terror. Claire recuou, enquanto o homem
continuava se virando, se levantando.
Ele era enorme, quase dois metros, grande como um armário -
- e morto! Ele está morto e comendo a mulher, não o deixe se aproximar!
O cozinheiro começou a andar. Claire recuou mais rápido, quase escorregando num menu. Um garfo entortou sob
seus pés.
SAIA DAQUI, AGORA.
"Eu já estou de saída". Ela falou. "Mesmo, não precisa mostrar a porta -".
O cozinheiro continuou andando, seus cegos olhos arregalados de fome. Outro passo para trás - e Claire sentiu o
frio metal da maçaneta da porta. Uma triunfal adrenalina passou por ela enquanto virava, tocava a maçaneta -
- e gritou, um curto grito de terror. Havia dois, três deles lá fora, suas carnes decompostas pressionando o vidro.
Um deles só tinha um olho; outro só o lábio superior. Do outro lado da rua, escuras figuras saiam da penumbra.
Sem saída, presa -
- Jesus, a porta dos fundos!
No final de seu campo visual, a verde luz da saída brilhava como uma estrela. Claire virou de novo e mal viu o
cozinheiro chegando onde estava, uma atenção virada para sua única esperança.
Ela correu. A porta daria no beco, se estiver trancada Claire estará morta.
Claire golpeou a porta e ela abriu, acertando os tijolos da parede do beco - e tinha uma arma apontada para seu
rosto, a única coisa que podia pará-la, um homem armado.
Ela congelou, erguendo os braços instintivamente.
"Espere! Não atire!".
Ele não se moveu, a arma ainda apontada para sua cabeça -
- ele vai me matar -
"Abaixe-se!". Ele gritou, e Claire obedeceu.
Boom! Boom!
O homem atirou e Claire olhou em volta, viu o cozinheiro morto caindo de costas bem atrás dela, um buraco em
sua testa.
#
Claire voltou-se para o homem que salvou sua vida, reparando no uniforme. Policial. Ele era jovem, alto - tão
aterrorizado quanto ela se sentia, seus olhos azuis bem abertos e sem piscar. Pelo menos sua voz foi forte ao se
abaixar para ajudá-la.
"Não podemos ficar aqui. Venha comigo, nós estaremos a salvo na delegacia".
Assim que ele falou, ela ouviu um coro de gemidos vindos da rua, aumentando. Claire se deixou ser levantada,
segurando a mão dele bem forte, se confortando ao percebeu que sua mão estava trêmulas igual a dele.
Eles correram.
[5]
Leon correu junto com a garota, tentando lembrar o mapa da cidade. O beco deve dar na Ash, não muito longe
da rua do R.P.D., a Rua Oak - mas a delegacia estava a pelo menos uns quinze quarteirões à leste; sem
transporte eles não conseguirão. Ele só tinha quatro balas, e pelo som vindo do beco, havia dezenas de criaturas
em cada ponta.
Saindo do beco, Leon ergueu a mão e parou de correr, examinado a escura rua. Ele não viu muito, mas de onde
estavam, perto da luminária, havia onze ou doze zumbis à direita e só três à esquerda, não muito longe de uma -
Aleluia!
"Ali!".
Leon apontou para uma viatura estacionada do outro lado da rua. Não havia policiais por perto; seria querer
demais - mas as portas estavam abertas. Eles podem alcançar o carro antes das três coisas ali perto. Se não
tiver chave, pelo menos há um rádio e vidros à prova de balas. Eles podem ficar lá até a ajuda chegar -
- e é a única chance. Vá!
Eles correram para o preto e branco. Leon apontando sua arma para as criaturas mais próximas, a uns vintes
metros. Ele queria atirar, mas não podia desperdiçar munição.
Deus, que tenha chaves.
Eles alcançaram a viatura ao mesmo tempo e se dividiram, a garota indo para o lado do passageiro, fazendo
Leon perceber que ela achava que o carro era seu. Ele a esperou fechar a porta antes de entrar, uma pequena
voz dentro dele gritando que esse era seu primeiro dia.
A chave estava na ignição. Leon guardou a arma e a tocou.
"Aperte os cintos". Ele disse, pouco ouvindo o consentimento da garota enquanto girava a chave e as sirenes
ligavam. A Rua Ash foi iluminada por azul e vermelho, as sombras mudando de forma e densidade. Era a visão do
inferno - e ele pisou no acelerador, querendo sair de lá o mais rápido possível.
O carro saiu derrapando. Leon virou para a direita depois para a esquerda, quase acertando uma mulher cuja
metade do couro cabeludo foi arrancado.
Ajuda, chamar ajuda -
Leon pegou o rádio sem tirar os olhos da rua. Criaturas saíam da escuridão como se chamadas pelo carro veloz.
Assim que o carro cruzou a Powell e continuou, Leon desviou de mais zumbis.
A garota estava cochichando, olhando para a desolada paisagem enquanto Leon apertava o botão do rádio, o
desamparo crescendo. Sem estática, sem nada.
"Que diabos está acontecendo. Eu chego em Raccoon e o lugar está de cabeça para baixo -".
"Ótimo, o rádio está desligado". Leon a interrompeu, soltando o rádio. A cidade parecia um mundo alienígena, as
ruas estranhamente assombradas. Parecia um sonho, mas o cheiro dizia que estavam acordados. O cheiro tinha
tomado conta da viatura, ficando difícil de dirigir. Pelo menos não tinha trânsito, nem pessoas, pessoas de
verdade...
... exceto eu e a garota. Eu tenho que fazer o meu trabalho, não deixá-la se machucar. Pobre menina, não deve
#
ter mais de dezenove ou vinte anos, deve estar aterrorizada.
"Você é policial, né?".
Ele olhou para ela, o tom sarcástico e humorado em sua voz deu uma forte impressão de que ela não era fraca.
Uma boa coisa apesar das circunstâncias.
"Sou. Primeiro dia no trabalho; que ótimo, hein? Eu sou Leon S. Kennedy".
"Claire,". Ela disse. "Claire Redfield. Eu vim procurar meu irmão, Chris...".
Ela parou, olhando para a rua. Duas criaturas estavam entrando no caminho do carro, e Leon acelerou, passando
entre eles. A grade de metal que divide a parte de trás do carro estava quebrada, fornecendo uma clara visão do
retrovisor interno; os dois zumbis vagando desatentamente atrás deles.
Famintos. Como nos filmes.
Por um momento, ninguém falou, a pergunta mais obvia não respondida. Seja lá o que tornou Raccoon numa
casa dos horrores, não importava tanto quanto suas vidas. Eles chegarão na delegacia em alguns minutos. Tinha
um estacionamento subterrâneo - ele tentará lá primeiro - mas se os portões estiverem fechados, eles terão que
andar um pouco. Tinha um pequeno jardim em frente ao prédio.
Quatro balas - e uma cidade cheia daquelas coisas. Precisamos de outra arma.
"Ei, abra o porta-luvas". Ele disse.
Claire apertou o botão e se curvou, mostrando as costas de seu colete vermelho; "Made in Heaven" (Feito no
Paraíso) estava estampado sobre um voluptuoso anjo segurando uma bomba. Combinava com ela.
"Tem uma arma aqui". Ela disse, e pegou a semi-automática, erguendo-a cuidadosamente para ver se estava
carregada, antes de pegar os dois clips. Era uma das velhas armas do R.P.D., uma Browning HP de 9 mm.
Desde a onda de assassinatos, a polícia tem usado as H&K VP70, outra 9 mm - a diferença é que a Browning
carrega treze balas enquanto a outra podia carregar dezoito, dezenove se você deixar uma engatilhada. Do modo
que a manuseava, Leon viu que ela sabia o que fazia.
"É bom ficar com ela". Ele disse.
Assim que Leon fez uma curva um pouco rápido demais, o pensamento do R.P.D. estar infestado de zumbis o
acertou. Tudo ocorreu tão rápido que ele nem tinha pensado nisso. Talvez haja uma defesa organizada na
delegacia - mas era difícil pensar com o cheiro de podridão tão forte no ar.
Temos três quartos de tanque, mais do que suficiente para chegar às montanhas; podemos estar em Latham
em menos de uma hora.
Eles poderiam desviar da delegacia se parecesse insegura. Sair da cidade soava bom para ele. Ele ia contar para
Claire, ver o que ela achava quando -
- o terrível cheiro de morte se intensificou e algo pulou do banco traseiro.
Claire gritou e o monstro que esteve na viatura o tempo todo agarrou o ombro de Leon, levando seu braço direto
para frente com uma incrível força.
"Não!". Leon gritou assim que o carro virou violentamente para a direita, subindo na calçada e deslizando na
parede de um prédio. A criatura estava desequilibrada, perdendo apoio; Leon virou o volante para a esquerda,
mas não evitou a parede por completo. Ruídos de metal e faíscas iluminaram o interior.
A coisa jogou seus braços em Claire e, sem pensar, Leon acelerou e jogou o carro para a direita. O carro
ziguezagueou, derrapando lateralmente, a traseira acertando uma pick-up azul estacionada. Faíscas e o som de
borracha no asfalto.
O morto foi para o banco, mas voltou imediatamente para frente, na direção da garota.
Eles desciam a Terceira (uma rua), Leon tentando controlar o carro enquanto pegava sua arma e se virava. Ele
não pensou em desacelerar, só pensava no zumbi cravando seus dentes no ombro de Claire.
Segurando a arma pelo cano, ele desceu a coronha no rosto do monstro, arrancando pele igual a uma banana.
Gemendo, a criatura tocou o rosto sangrando e Leon pode sentir um segundo de triunfo, até que -
- Claire gritou, "Cuidado!".
- e Leon viu que eles iam bater.
Leon tinha batido no zumbi com a arma quando seu olhar aterrorizado viu que a rua ia acabar.
"Cuidado!".
Ela só pode ver os dedos dele grudados no volante -
- e o carro começou a girar, derrapando, prédios e luzes piscando tão rápido que ela só viu borrões, e de repente
#
- BAM!
Houve uma explosão de som, de vidro quebrando e metal esmagando, assim que o carro bateu em algo sólido,
arremessando Claire contra o assento. Ao mesmo tempo, o impacto jogou o zumbi violentamente para trás,
atravessando o vidro traseiro -
- e tudo ficou quieto. Só o seu coração pulsando nos ouvidos. Claire viu que Leon já estava recuperado, olhando
para o corpo lá atrás, sua cabeça fora de visão. Não estava se mexendo.
"Você está bem?".
Claire virou para Leon, subitamente querendo evitar uma risada. A cidade estava infestada por mortos-vivos, e
acabaram de sofrer um acidente por que um cadáver queria comê-los. Considerando isso, "bem" não é primeira
palavra a vir na cabeça.
"Inteira". Ela disse, e o jovem policial acenou, parecendo aliviado.
Claire respirou fundo e olhou onde estavam. Leon tinha girado 180 graus com o carro no final da rua em T, o
carro completamente danificado estava de frente para o sentido de onde vieram. Não havia zumbis por perto. Ela
segurou sua arma fortemente, tentando se controlar.
"Nós -". Leon começou a falar algo, mas parou, seus olhos arregalados para o que via. Claire também viu - e por
um segundo, sentiu que seu caminho foi amaldiçoado desde que saiu da universidade.
Um caminhão descia a rua, ainda a vários quarteirões de distância, mas perto o bastante para ver que estava
fora de controle. O caminhão ziguezagueava, batendo na mesma pick-up azul de um lado da rua e uma caixa de
correio do outro. Claire percebeu com terror que era um caminhão tanque. No segundo que levou para entender,
rezar para que não seja gás ou óleo, o caminhão diminuiu a distância entre eles. Ela já via o acidente quando
Leon quebrou o silêncio.
"- ele vai esmagar a gente". Ambos tocaram os cintos de segurança, Claire rezando para não estarem presos.
O som dos cintos soltando foram inaudíveis perante o crescente eco do caminhão. Ele chegará em um segundo.
"Corra!". Leon gritou, e ela saiu do carro, ar fresco em sua suada pele. O ronco do motor do caminhão
bloqueando tudo mais.
Ela deu três passos gigantes, tanto sentindo quanto ouvindo o impacto, o chão tremendo sob seus pés assim que
metal se retorcia atrás dela.
Mais um pouco, e -
KABOOM!
- ela foi jogada, literalmente tirada de suas botas por uma incrível onda de pressão, calor e som. Ela tentou
alcançar o chão enquanto a explosão tornava a noite em dia. Um estranho giro, poeira em sua pele, e Claire
aterrissou perto de um *De Lorean prateado estacionado na frente de uma *delicatessen.
Houve uma breve chuva de destroços enfumaçados e Claire se levantou, procurando nas labaredas por Leon.
Seu coração parou. O caminhão tanque, a viatura, tudo estava envolvido por fogo. A rua completamente
bloqueada por uma massa de destruição.
"Claire -".
A voz de Leon, abafada, mas audível através da parede de fogo.
"Leon?".
"Eu estou bem!". Ele gritou. "Vá para a delegacia, eu te encontro lá!".
Claire hesitou por um segundo, olhando para a arma que ainda segurava firmemente em sua trêmula mão. Ela
estava com medo, aterrorizada por estar só numa cidade que virou um cemitério - mas não tinha escolha.
"Tá bom!".
Ela virou. O portão de trás da delegacia estava a alguns metros dali -
- e criaturas estavam saindo das sombras, de trás dos carros e de dentro dos prédios escuros. Com um
pensamento em mente, eles entraram na estranha luz do acidente, gemendo de fome - dois, três, quatro deles.
Por trás do fogo, ela ouviu tiros - dois tiros, depois nada - nada além do fogo e os suaves gemidos.
Leon já foi, agora VÁ!
Claire respirou fundo e correu.
#
[6]
Ada Wong colocou, na cavidade da estátua, o brilhante disco de metal dourado com um unicórnio entalhado,
dando um tapinha até a peça encaixar no mármore. Ela ouviu um movimento na estátua e se afastou para ver o
que acontece. Seus passos ecoaram pelo grande hall principal da delegacia, o som passando pelos parapeitos do
segundo e terceiro andar.
Outra chave? Uma das medalhas do esgoto? Ou quem sabe a própria amostra... não seria uma feliz surpresa.
A ninfa segurando uma jarra d'água feita de pedra deslizou para trás, a jarra em seu ombro jogando um fino
pedaço de metal. A chave de *espadas (*spade key).
Ela suspirou, pegando-a. Ela já tem as chaves; de fato, ela já tem tudo o que precisa para vasculhar a delegacia,
e quase tudo para o laboratório. Se a Umbrella tivesse facilitado, o trabalho teria sido moleza. Dinheiro fácil.
Mas acabei ganhando férias de três dias na cidade dos monstros, brinquei de Por Uma Bala na Cabeça e Vamos
Achar o Repórter. As amostras podem estar em qualquer lugar, dependendo de quem sobreviveu. Se eu sair
daqui com as belezinhas, vou pedir um grande bônus; ninguém deve trabalhar nessas condições.
Ada guardou a chave e olhou para o parapeito superior, mentalmente visualizando as salas que já foi. Bertolucci
parece não estar em lugar algum da asa leste do R.P.D.. Ela passou horas encarando mortos em busca do
queixo quadrado e rabo de cavalo dele. Claro, ele pode estar se movendo - mas pelo que sabia dele, era
improvável; o repórter se escondia diante do perigo.
Por falar em perigo...
Ada foi para a porta que dava na parte inferior da asa leste. O hall principal estava a salvo dos infectados, eles
não pareciam conhecer uma maçaneta - mas havia ameaças além deles. Só deus sabe o que a Umbrella
mandará para arrumar tudo isso... ou o que foi solto no laboratório após a contaminação. Menos assustador,
mas não menos preocupante quanto os policiais vivos procurando alguém para salvar. Ela já ouviu tiros, alguns
distantes, outros não, toda hora desde que chegou; deve haver alguns não-infectados no grande e velho prédio.
Na ponta dos pés para evitar barulho, ela cruzou a porta e se encostou nela, decidindo onde ir; ela ainda não
checou o subterrâneo e haviam vários portadores na sala dos detetives.
Ah, a excitante vida de uma agente autônoma. Viajar pelo mundo! Ganhar dinheiro roubando coisas importantes!
Combater mortos-vivos sem ter tomado um banho ou comido algo decente por três dias - isso impressiona os
amigos!
Ela se lembrou de pedir aquele bônus de novo. Quando chegou em Raccoon há menos de uma semana, ela se
achava preparada; os mapas foram estudados, os dados do repórter memorizados, sua história falsa na ponta
da língua - uma mulher procurando pelo namorado, um cientista da Umbrella. Essa parte era quase verdade; de
fato, foi seu breve relacionamento com John Howe dez meses antes de ela ter arrumado o emprego. Mas John
pensou de outra forma e sua conexão com a Umbrella provavelmente o matou. Tudo isso se tornou uma boa
dica para ela.
Aí ela já estava pronta. Mas nas primeiras vinte e quatro horas de estadia, sua sorte mudou; enquanto comia no
quase vazio restaurante do hotel, ela ouviu os primeiros gritos do lado de fora. Os primeiros, mas não os últimos.
De algum modo, o desastre foi uma vantagem; não haverá guardas no laboratório. O estudo que fez no T-virus
a assegurou de que o aerotransmissível se dissipa rapidamente; o único modo de se contaminar agora é entrando
em contato com um portador, então não haverá problema.
Objetivos: interrogar o repórter, descobrir o quanto ele sabe e matá-lo ou ignorá-lo, depende. Recuperar uma
amostra do novo vírus, a mais nova maravilha do Dr. Birkin. Sem problema, certo?
Três dias antes, sabendo como o laboratório da Umbrella era conectado ao sistema de esgoto e com Bertolucci
na sua frente, o trabalho teria siso moleza. Foi quando as coisas começaram a dar errado.
Pessoas desaparecendo, barricadas caindo...
Ela observou Bertolucci de perto o bastante para ver que ele fugiria. Ela nem teve tempo de fazer contato antes
#
dele desaparecer. Ada decidiu continuar sozinha quando três quartos dos civis foram mortos por que ninguém se
preocupou em fechar os portões da garagem. Ela não queria morrer tentando proteger sua imagem de turista
assustada procurando o namorado.
Aí veio a espera. Quase quinze horas esperando as coisas se acalmarem, escondida no maquinário do relógio do
terceiro andar, entre o eco de tiros e gritos...
Ótimo. O que fazer agora? Sentar e refletir ou acabar logo com isso; quanto mais cedo acabar mais tempo de
férias terá numa ilha qualquer.
Quieta, Ada não se mexeu, batendo sua Beretta na perna. Haviam corpos espalhados no corredor; ela não
conseguia parar de olhar um deles, caído debaixo da janela-bancada do escritório. Uma mulher ensangüentada.
Os outros dois eram policiais e ela não os conhecia - mas a mulher foi uma das pessoas com a qual conversou
quando chegou na delegacia. Seu nome era Stacy, uma nervosa, mas forte garota de vinte e poucos anos.
Stacy Kelso, isso mesmo. Ela queria comprar sorvete e acabou aqui - apesar de sua situação, ela estava mais
preocupada com os pais e o irmão em casa. Uma garota consciente. Uma boa garota.
Por que ela está pensando nisso? Stacy estava morta e não foi Ada que a matou. Ela veio aqui para trabalhar;
não foi sua culpa por Raccoon estar assim.
Talvez não seja culpa. Talvez só esteja triste porque Stacy não conseguiu.
Ela era uma pessoa, e agora está morta, como sua família provavelmente.
"Saia dessa". Ela disse, suave, mas irritadamente. Ada desviou o olhar, fixando-o num cinzeiro quebrado no fim
do corredor, onde virava à direita. Sentia-se mau com as coisas que não conseguia controlar, não era seu estilo,
não foi assim que chegou até aqui - e considerando o esforço que o Sr. Trent estava fazendo para manter Ada
trabalhando, agora não é a melhor hora para analisar suas habilidades.
Objetivos: falar com Bertolucci e pegar a amostra do G-virus. É tudo com o que ela precisa se preocupar.
Ainda há um mecanismo que Ada precisa ver, na sala de entrevistas. As últimas adições do arquiteto foram
detalhadas por Trent, mas ela sabia que tinha a ver com as lâmpadas de gás e uma pintura a óleo. A pessoa que
fez tudo isso teve uma séria vida secreta; havia passagens secretas escada acima, atrás de uma parede. Ela
ainda não foi lá, mas uma breve olhada revelou um escritório. Julgando pela decoração neurótica e estofada, só
podia ser de Irons. Mesmo tendo estado em sua companhia por pouco tempo, ele era o homem mais instável
que já conheceu; não havia dúvidas de que estava na lista de pagamento da Umbrella, mas também havia algo
sobre ele que parecia bem defeituoso.
Ada desceu o corredor, seus sapatos contra os ladrilhos esverdeados; ela já temia outro mecanismo. Nada que
não tinha dicas; ela assumia que o vírus ainda estava no laboratório. Os dados diziam que havia cerca de doze
frascos da coisa, informação de um vídeo de duas semanas - e o laboratório de Birkin não era impenetrável.
Sendo o laboratório subterrâneo conectado à delegacia pelo esgoto, ela deve considerar que as amostras foram
movidas. Além disso, Bertolucci pode estar escondido na biblioteca ou no escritório do S.T.A.R.S., na asa oeste,
talvez na sala de revelação; vivo ou morto, ele precisa ser encontrado.
Ela virou no corredor, passando por uma pequena área de espera com máquinas de venda já saqueadas. Como
todo o R.P.D., o corredor estava frio e com falta de ar fresco; ela já se acostumou com o cheiro, mas o frio era
a pior parte. Pela centésima vez desde que saiu o hotel, Ada desejou ter colocado outra roupa.
O vestido vermelho sem mangas, meia calça preta e sapatos barulhentos eram ótimos como disfarce; como
equipamento, a roupa estava longe de prática.
Chegando no fim do corredor, ela abriu a porta cuidadosamente, de arma na mão. Como antes, o corredor
estava vazio, outra prova da desbotada elegância do prédio - paredes cor de areia e lajotas padronizadas. A
delegacia já deve ter sido magnífica, mas os anos de uso como prestador de serviços, o prédio perdeu seu
encanto; com a mansão de um filme, a fria atmosfera dando uma distinta sensação sinistra - como se a qualquer
momento uma fria mão pudesse tocar seu ombro, uma suave respiração em seu pescoço...
Ada franziu de novo; depois dessa missão, ela tirará longas férias. Senão isso, tentará outra carreira. Sua
concentração já não é como antes. E em seu trabalho, um erro pode levar à morte.
Um grande bônus. Trent cheira como dinheiro. Eu vou pedir sete dígitos, seis no mínimo.
Em suas tentativas de bloquear os pensamentos, só um ainda persistia - a jovem Stacy Kelso pondo o cabelo
atrás da orelha enquanto falava de seu irmão bebê...
Depois do que pareceu um longo tempo, Ada apagou essa visão e continuou andando, prometendo a si mesma
#
de que não haverá mais lapsos de concentração - e imaginando por que não acha que conseguirá.
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*De Lorean - Carro conhecido mundialmente por ter sido a máquina do tempo nos filmes da trilogia "De volta para
o Futuro".
*Delicatessen - Casa de comestíveis; mercearia.
*Espadas - Referência aos naipes do baralho:
Heart = Copas
Diamond = Ouros
Spade = Espadas
Club = Paus
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[7]
As botas de Leon esmagavam cacos de vidro na loja de armas Kendo, enquanto abria as gavetas. Se ele não
achar balas rápido terá problemas; as armas restantes da loja estavam inacessíveis, presas com cabos de aço, e
a janela da frente estava completamente quebrada. Não demorará muito para as criaturas o acharem, ele só
tinha uma bala e muito o que andar.
"Isso!".
Quarta gaveta, munição. Leon pegou a caixa e a pôs no balcão enquanto vigiava a frente da loja. Ninguém ainda,
sem contar o dono da loja morto. Ele não se movia. Por ter morrido há alguns minutos, não se sabe quando
voltará à vida, e Leon não queria estar lá para descobrir.
Vigiando a pequena loja, ele começou a recarregar. Leon tinha se esquecido da loja depois do acidente,
achando-a casualmente. Estando o caminho mais rápido para a delegacia bloqueado, a Kendo's era a melhor
opção.
"Uuuuunh...".
Uma horripilante e esquelética forma saiu das sombras da rua, vindo cegamente para frente da loja.
"Droga". Leon disse, seus dedos trabalhando mais rápido. Um clip pronto, mais um e pode levar o resto.
De repente, outra figura apareceu.
- dezesseis... dezessete...pronto!
Ele pegou a H&K e ejetou o clip, colocando o novo assim que o vazio caiu no chão. A criatura estava passando
pela armação do vidro, algo líquido em sua garganta soando levemente.
Mochila, ele precisa de uma. Leon olhou debaixo do balcão, vendo uma mochila de ginástica no fim dele. Material
de limpeza se espalhou no balcão enquanto Leon colocava os clips na mala, ignorando as balas espalhadas na
gaveta.
O monstro podre vinha em sua direção, tropeçando no dono da loja. Leon ergueu a arma e mirou no rosto da
criatura.
Na cabeça, igual aos outros dois lá fora -
Com um tremendo e alto som, a bala explodiu o rosto do zumbi, sangue respingando nas paredes.
Antes da coisa cair, Leon virou e ajoelhou perto da gaveta de munição, jogando as pesadas caixas na mochila.
Seu estômago dando um nó e tremendo de medo; o beco de trás pode estar cheio de zumbis.
Umas cento e cinqüenta balas, agora saia -
Levantando-se, Leon vestiu a mochila e correu para a porta de trás. Pelo canto do olho, viu outra criatura
entrando na loja; pelos cracks do vidro, havia mais deles.
Ele abriu a porta de saída e a cruzou, olhando para os lados assim que a porta se fechou. Nada além de latas de
lixo e caixas de papelão. De onde estava, o beco continuava à esquerda e depois virava à direita; se seu senso
de direção estiver intacto, a estreita passagem o levará direto para a Oak.
Até agora ele teve sorte; tudo o que podia fazer era esperar que isso não mudasse, e que pudesse chegar inteiro
#
no R.P.D. - e que lá houvesse um monte de pessoas armadas que saibam o que aconteceu.
E Claire. Esteja bem, Claire Redfield, e se chegar lá primeiro, não tranque a porta.
Leon ajustou a mochila nas costas e andou pelo beco mau iluminado, pronto para explodir o que cruzar seu
caminho.
Claire conseguiu quase sem dar um tiro; os zumbis eram cruéis, mas lentos, e a adrenalina em seu corpo tornou
fácil desviar deles. Talvez o som do acidente desviou suas atenções, aí foi só seguir seus olfatos, ou o que sobrou
deles. Dos dez zumbis que viu, pelo menos metade estava num avançado estágio de decomposição, carne
caindo dos ossos.
Ela já esteve no R.P.D. duas vezes com Chris, mas nunca entrou pela parte de trás. Viaturas estacionadas e
alguns policiais zumbificados a receberam na pequena área, levando-a para uma pequena cabana. Depois havia
um pátio - o pátio o qual ela e Chris almoçaram uma vez, sentados nos degraus que levavam ao heliporto do
segundo andar.
Desviar dos zumbis policiais no pátio em forma de L foi fácil, e um alívio por estar num lugar que conhecia.
Uma mulher de um único braço pendurado e roupas ensangüentadas, tinha saído das sombras debaixo da
escada e tocou Claire com frias mãos; Claire soltou um suspiro de surpresa, livrando-se da criatura - e quase caiu
nos braços de outro, um alto homem que também saiu de debaixo da escada de metal, grosseiro e silencioso.
Ela conseguiu evitá-lo e se afastou, apontando a 9 mm para o homem, recuando um passo e -
- esbarrou no corrimão. A mulher estava a um metro e meio à direita. O homem a um passo de distância.
Claire apertou o gatilho e houve um gigantesco boom, a arma quase pulando fora de sua mão. A parte direita do
rosto dele desapareceu numa explosão de líquido escuro.
Ela girou a arma, apontando para a pálida face da mulher. Outro tiro e o gemido foi interrompido, a testa
implodindo num espirro de sangue e pedaços de ossos. A mulher caiu de costas no chão como um -
- como um cadáver, o qual ela já era. Eles não sairão mais daqui.
Por um momento, Claire não se moveu. Ela olhou para os dois corpos e sentiu que esteve a um centímetro de
errá-los.
Ela cresceu em volta de armas, atirando em alvos dezenas de vezes - mas era com uma pistola .22 e alvos de
papel. Alvos que não sangravam ou espirravam miolos como os dois seres humanos que acabou de matar -
Não. Uma voz interna a interrompeu. Humanos, não, não mais. Não se engane e não perca tempo com
remorso. Leon já deve ter entrado, e está procurando por você. E se o S.T.A.R.S. foi chamado, Chris pode estar
lá também.
Se isso não foi motivação o bastante, os dois zumbis que deixou para trás estavam vindo. É hora de ir.
Ela subiu a escada, mal ouvindo seus passos por causa do zumbido em seu ouvido. Os tiros não fizeram bem à
sua audição - por isso só ouviu o helicóptero quando estava chegando lá em cima.
Claire parou, o vento batendo ritmadamente em seu corpo enquanto o veículo entrava em visão, perdido na
sombra. Estava de frente para a antiga torre d'água. Ela não sabia se ia pousar ou se já tinha decolado.
Não sabia e não se importava. "Ei!". Ela gritou, erguendo sua mão esquerda. "Ei, aqui!".
Suas palavras se perderam na poeira levantada pelas pás do helicóptero. Claire acenou como se tivesse ganhado
na loteria.
Alguém veio. Graças a Deus, obrigado!
O holofote da aeronave foi ligado - mas estava indo na direção errada, não para ela. Claire balançou os braços
mais freneticamente, respirando para gritar de novo até que -
- viu o que a luz iluminava, mesmo enquanto ouvia o desesperado e praticamente inaudível grito sob o motor do
helicóptero. Um homem, um policial, de pé no meio do heliporto. Ele segurava uma metralhadora, e parecia bem
vivo.
"- venha até aqui -".
O policial gritou para o alto, sua voz cheia de pânico; Claire viu o porquê e seu alívio evaporou. Havia dois zumbis
saindo do escuro e indo para o alvo bem iluminado que estava gritando. Ela ergueu a arma, mas a abaixou de
novo, com medo de acertar o policial.
A luz não se movia, iluminando o terror com sua brilhante claridade. O homem não devia saber o quanto perto os
#
zumbis estavam até que foi tocado.
"Afastem-se! Não se aproximem!". Ele gritou. Com o terror em sua voz, Claire pode ouvi-lo claramente. As duas
figuras o encurralaram no canto sudoeste do heliporto.
O som da metralhadora foi alto. Mesmo com o helicóptero acima, Claire ouviu as balas cortando ar. Ela se
ajoelhou enquanto os tiro continuavam para todos os lados - e para cima -
- e houve uma mudança no som do helicóptero, um estranho hum que fico mais alto. Claire olhou para cima e viu
a nave branca mergulhando, a cauda balançando num instável arco.
Jesus, ele acertou o helicóptero.
O holofote ia em todas as direções, passando por canos de metal, concreto e o policial sendo atacado pelos
zumbis, de alguma forma ainda atirando -
- e de repente o helicóptero começou a descer, balançando. As pás batendo no telhado com muita força. Antes
que Claire pudesse piscar, o nariz da nave bateu - cruzando o heliporto num curto arranhão de faíscas e cacos de
vidro.
A explosão ocorreu assim que a máquina caiu na parede sudoeste - diretamente sobre o policial e seus dois
assassinos. No mesmo instante, o nariz do helicóptero atravessou a parede de tijolos bem à frente.
A rajada de tiros finalmente parou sob as chamas que vieram depois do boom, iluminando o lugar num ardente
calor alaranjado.
Claire ergueu-se nas pernas que mal sentia, olhando desacreditada para o fogo que tomava conta de quase
metade do heliporto. Tudo aconteceu tão rápido que pareceu ser mentira. Um ácido e enjoativo odor de metal
derretido passou por ela numa onda de calor, e no súbito silêncio ela pode ouvir o gemido dos zumbis no pátio lá
embaixo.
Ela olhou para as escadas e viu que ambos os policiais zumbis estavam na base, cegamente tropeçando no
primeiro degrau. Pelo menos eles não estavam subindo...
Claire virou seu assustado olhar na direção da porta a uns dez metros dali. Exceto pela escada, a porta era o
único modo de chegar lá. E se zumbis não conseguiam subir - e tinha dois no heliporto -
- então tenho problemas. A delegacia não é segura.
Ela olhou para os destroços queimando, medindo opções. Ela ainda tinha muita munição; ela pode voltar para a
rua, procurar um carro com chave e buscar ajuda.
E Leon? Se aquele policial estava vivo, pode haver mais lá dentro planejando uma fuga?
Ela não podia ir embora sem avisar Leon; e se ele morrer procurando por ela...
Decidida, Claire foi até a porta, procurando movimento nas sombras. Chegando lá, fechou os olhos por um
segundo, a mão suada na fechadura.
"Eu vou conseguir". Ela disse. Apesar de não ter parecido confiante como queria, sua voz não tremeu. Ela abriu
os olhos, depois a porta; quando nada saiu do escuro corredor, ela entrou.
[8]
O Chefe da polícia, Brian Irons, estava parado em um de seus corredores particulares, tentando recuperar o
fôlego, quando sentiu um tremendo impacto no prédio. Ele o ouviu, também - ouviu algo. Um distante som,
pesado e brutal.
O telhado. Ele pensou. Algo no telhado...
Ele não se preocupou em tirar conclusões. Seja lá o que for, não tornará as coisas piores.
Irons se afastou da parede de pedra e ergueu Beverly o mais gentilmente possível. Eles estarão no elevador em
um minuto, depois uma pequena caminhada até o escritório; ele pode descansar lá, e depois -
"E depois,". Ele resmungou. "essa é a questão, não é?. Depois o que?".
Beverly não respondeu. Seus traços perfeitos permaneceram parados, seus olhos fechados - mas ela parecia se
aconchegar com ele, seu longo e magro corpo perto do peito dele. Devia ser sua imaginação...
#
Beverly Harris, a filha do prefeito. Bela e jovem Beverly, que, com sua beleza loira, já assombrava os sonhos
culposos de Brian. Ele a segurou e continuou indo para o elevador, tentando não demonstrar exaustão caso ela
acorde.
Seus braços e costas estavam doendo quando chegou no elevador. Ele deveria tê-la deixado em sua sala de
hobby, a sala a qual sempre considerou como um Santuário - era clamo lá, e provavelmente um dos lugares mais
seguros da delegacia. Quando ele decidiu voltar para o escritório, pegar seu diário e outros itens pessoais, ele
percebeu que simplesmente não podia deixá-la para trás. Ela parecia tão vulnerável, tão inocente; ele tinha
prometido a Harris de que cuidaria dela; e se ela fosse atacada em sua ausência? E se ele voltar e ela não estiver
lá?
Uma década de trabalho. Fazendo conexões, se posicionando... tudo isso, desse jeito.
Irons a pôs no frio chão e abriu as grades, tentando não pensar no que perdeu. Beverly era o mais importante
agora.
"Te dar segurança". Ele disse. Por acaso ela mexeu a boca, sorrindo? Será que ela sabe que está a salvo com o
tio Brian? Quando ela era criança, quando ele visitava a família Harris para jantar, ela o chamava assim. "Tio
Brian".
Ela sabe. Claro que sabe.
Ele a colocou no elevador, olhando seu angelical rosto. Ele foi pego subitamente por uma onda de amor paterno,
e não ficou surpreso ao sentir lágrimas nos olhos, lágrimas de orgulho e afeição. Nos últimos dias, ele tem sido
alvo das emoções - raiva, terror, até mesmo alegria. Ele nunca foi um homem emotivo, mas teve que aprender a
conviver com os sentimentos; pelo menos não eram confusos.
Chega deles, nada mais pode dar errado agora; Beverly está comigo, e uma vez pegas as minhas coisas, nos
esconderemos no Santuário e descansaremos. Ela precisará de tempo para se recuperar.
Ele piscou as esquecidas lágrimas assim que a jaula de metal começou a subir, checando a arma para ver
quantas balas restavam. Sua sala subterrânea era segura, mas o escritório era outra história; ele quer estar
preparado.
O elevador parou e Irons abriu a grade com o pé antes de levantar a garota, gemendo com o esforço. Ele a
carregou como uma criança, sua cabeça caída para trás.
Ele apertou o botão na parede com o joelho. A parede deslizou para cima, revelando a aveludada decoração de
seu escritório sem; só os vazios olhares de seus animais empalhados o receberam.
A grande mesa de madeira que importou da Itália estava bem à sua esquerda, e sua força acabando; Beverly
era magra, mas ele não estava em forma, como antigamente. Ele rapidamente a colocou na mesa, empurrando
um porta-lápis com o cotovelo.
Ele tinha ficado preocupado quando a achou desacordada ao lado do Oficial Scott no corredor de trás; George
Scott estava morto, coberto de ferimentos. Ao ver a mancha vermelha no estômago dela, Irons achou que
também estivesse morta. Mas quando ele a levou para seu Santuário, ela cochichou para ele - que não se sentia
bem, que estava ferida, que queria ir para casa.
... não é? Não disse?
Irons franziu, tirado da incerta lembrança por algo, algo que sentiu quando a deitou na mesa e arrumou seu
vestido branco manchado de sangue, algo que não se lembrava. Não parecia importante, mas agora, longe da
segurança de seu Santuário, isso o estava incomodando. Lembrando-o de que sofreu um daqueles momentos
confusos quando ele, quando ele - senti os frios e moles intestinos entre meus dedos -
- quando ele a tocou.
"Beverly?". Ele cochichou, sentando na cadeira de sua mesa quando de repente sentiu suas pernas fracas.
Beverly continuou calada - e o turbulento dilúvio de emoções o acertou, lotando sua mente com imagens,
memórias e verdades que não queria aceitar; Recuar as barricadas depois dos primeiros ataques. A Umbrella,
Birkin e os mortos-vivos. O massacre na garagem. O crescente número de mortos na primeira e terrível noite - e
a brutal percepção de que sua cidade - já era.
Depois disso veio a confusão. A estranha alegria que veio ao perceber que não haverá conseqüências para seus
atos. Irons se lembrou do jogo que fez na segunda noite, depois que alguns bichinhos de Birkin acharam alguns
#
policiais. Ele achou Neil Carlsen escondido na biblioteca e... o caçou, perseguindo o sargento como um animal.
Qual seria o problema, já que a minha vida em Raccoon está acabada?
Tudo o que restava era seu Santuário - e a parte dele que ajudou a criar o lugar, a parte escura e gloriosa de seu
coração que sempre escondeu. Esta parte está livre agora...
Irons olhou para o corpo de Beverly e sentiu que pode ser destruído pelos sentimentos de medo e dúvida que
lutavam dentro dele. Irons a matou? Ele não conseguia se lembrar.
Tio Brian. Dez anos atrás, eu era o Tio Brian dela. Em que me tornei?
Era demais. Sem tirar os olhos do rosto sem vida de Beverly, ele tirou a VP70 carregada do coldre e começou a
esfregar o cano com os dedos, leves toques que o asseguraram enquanto a arma girava em sua direção.
Quando o cano foi pressionado contra sua macia barriga, ele sentiu que algum tipo de paz ficou ao seu alcance.
Seu dedo encostou no gatilho, e foi quando Beverly cochichou para ele de novo, os lábios dela parados, mas sua
leve e musical voz vindo do nada e de todos os lados ao mesmo tempo.
- não me deixe, Tio Brian. Você prometeu que me daria segurança, que cuidaria de mim. Pense no que você
pode fazer agora sem que nada o impeça.
"Você está morta". Ele sussurrou, mas ela continuou falando, suave e persistente.
... nada o impedirá de se realizar de verdade pela primeira vez na vida...
Torturado, Irons vagarosamente tirou a 9mm de seu estômago. Depois de um momento, ele descansou sua
testa no ombro dela e fechou os olhos.
Ela estava certa, ele não podia deixá-la. Ele tinha prometido - e ela disse algo sobre o que podia fazer. Sua mesa
de hobby era grande o bastante para acomodar qualquer tipo de animal...
Isso mesmo. Ele vai descansar e depois cuidará dos negócios; afinal, ele é o chefe da polícia.
Sob controle de novo, Brian Irons começou a dormir, a fria pele de Beverly em sua testa.
[9]
Graças a um furgão parado no beco, o atalho para a delegacia sofreu mudanças - uma quadra de basquete
infestada de zumbis, outro beco, um ônibus que fedia por causa dos mortos lá dentro. Foi um pesadelo, os
gemidos, o cheiro e a distante explosão que fez suas pernas tremerem. Apesar de tudo, Leon manteve a
esperança de que havia algum tipo de mobilização no R.P.D., com policiais e paramédicos - autoridades tomando
decisões e equipes organizadas. Não era uma esperança, era uma necessidade.
Quando ele finalmente saiu na rua em frente ao R.P.D. sentiu-se espancado vendo viaturas pegando fogo. Mas
foi a visão de zumbis policiais gemendo entre as chamas que acabaram com sua esperança. O R.P.D. tinha uma
equipe de cinqüenta ou sessenta policiais, e um terço deles estavam vagando ou mortos perto da entrada do
prédio.
Leon tentou esquecer o desespero, fixando seu olhar no portão do jardim. Tendo ou não alguém sobrevivido, ele
tinha que chamar ajuda - e achar Claire.
Ele correu para o portão, desviando dos zumbis uniformizados, abrindo e fechando o portão de metal. A pequena
área gramada à sua direita estava iluminada o bastante para ver que havia três ex-humanos lá, e que não
representavam ameaça. Ele pode ver as duas bandeiras que enfeitavam a entrada da delegacia, penduradas
sem se mover. A visão reconsiderou suas esperanças, pelo menos está num lugar que conhece e que deve ser
mais seguro do que na rua.
Leon correu entre o trio de zumbis - dois homens e uma mulher; todos pareciam normais se não fosse por seus
gemidos famintos. Devem ter morrido recentemente.
A porta de entrada não estava trancada; por tudo o que passou desde que chegou na cidade, Leon preferiu
manter suas expectativas no mínimo. Ele girou a maçaneta e entrou, de arma erguida e dedo no gatilho.
Vazio. Não havia sinal de vida no grande e velho saguão do R.P.D. - e nenhum sinal do desastre que tomou conta
de Raccoon. Leon fechou a porta e desceu os degraus para o piso mais baixo.
#
"Olá?". Leon disse baixo, e o som ecoou de volta com um suspiro. Tudo parecia do mesmo jeito; três andares de
clássica arquitetura em madeira e mármore. Havia a estátua de uma mulher segurando um vaso no ombro bem
no meio do lugar, uma rampa de cada lado levando à recepção e o logotipo do R.P.D. no chão em frente ao
suave brilho da estátua, proveniente das arandelas na parede.
Sem corpos, sem sangue... nem um cartucho de bala. Se houve um ataque aqui, onde diabos estão as provas?
No profundo silêncio do lugar, Leon subiu a rampa da esquerda, parando no balcão da recepção, curvando-se
sobre ele; tudo no lugar. Tinha um telefone na mesa sob o balcão. Leon pegou o receptor e o colocou entre a
cabeça e o ombro, tocando os botões com os dedos. Nem discava; tudo o que ouvia era o som de seu próprio
coração.
Ele virou para a sala vazia, decidindo por onde começar. Ele recebeu um memorando do R.P.D. semanas atrás,
dizendo que as salas seriam mudadas. Mas isso não importava; os policiais não se preocupariam em ficar ao lado
de suas mesas nessa situação.
Haviam três portas no saguão que davam em diferentes lugares da delegacia; duas no lado oeste e uma no
leste. Das duas no lado oeste uma leva a uma série de corredores para a parte de trás do prédio, depois da sala
de arquivos e da sala de pronunciamentos; a segunda dava num escritório e armários, que então leva às escadas
para o segundo andar. O lado leste do primeiro andar era primeiramente para os detetives - escritórios,
interrogatórios e sala de entrevistas; tinha também acesso ao subsolo e escadas no lado de fora.
Claire provavelmente veio pela garagem... ou pelo telhado.
Ou então ela contornou o prédio e veio pelo mesmo lugar que ele - se ela conseguiu chegar aqui, pode estar em
qualquer lugar. E considerando que o R.P.D. ocupa quase um quarteirão, ainda tinha muito chão pela frente.
Ele optou pela segunda porta do lado oeste, onde seu armário estaria.
Leon entrou devagar, esperando ver as mesmas condições do saguão; silêncio e organização. Mas o que viu
confirmou seus medos: as criaturas estiveram lá - com a vingança.
A longa sala estava arrasada, mesas e cadeiras jogadas e derrubadas em todo canto. Borrões de sangue
decoravam as paredes, rastros do mesmo em poças no chão, indo em frente.
"Meu Deus -".
Um policial estava sentado contra os armários à sua esquerda, suas pernas esticadas, meio escondidas pela
mesa virada. Ao som da voz de Leon, ele fracamente ergueu o braço, apontando vagamente uma arma na
direção de Leon - e a abaixou de novo, parecendo exausto com o esforço. Seu peito estava pintado de sangue,
suas expressões cheias de dor. Leon se abaixou ao lado dele em dois passos, gentilmente tocando seu ombro.
Ele não via o ferimento, mas tinha tanto sangue que a gravidade era óbvia -
"Quem é você?". O policial suspirou.
Eles nunca foram apresentados, mas Leon já o viu antes. O jovem policial afro-americano se chamava Marvin
Branagh...
"Eu sou Leon S. Kennedy. O que aconteceu aqui?".
"A cerca de dois meses," Marvin disse, "os assassinatos canibais... o S.T.A.R.S. encontrou zumbis na mansão da
floresta...".
Ele tossiu e Leon começou a dizer para descansar, mas Marvin parecia determinado a contar a história.
"Chris e os outros descobriram que a Umbrella estava por trás de tudo... arriscaram suas vidas, mas ninguém
acreditou... depois isto".
Chris... Chris Redfield, o irmão de Claire.
Leon sabia algo sobre o problema com o S.T.A.R.S. ele só ouviu trechos da história - a suspensão do grupo de
ações táticas especiais e resgate, após serem acusados de má conduta, foi o motivo da contratação de novos
policiais.
Ele até leu o nome dos membros num jornal, listados juntos com alguns de seus recordes.
- e a Umbrella destrói a cidade. Algum tipo de vazamento químico que tentaram esconder se livrando do
S.T.A.R.S. -
Tudo isso saia de sua mente até que Marvin tossiu de novo, mais fraco.
"Agüenta aí". Leon disse, procurando algo para estancar o sangramento. Ele achou uma camiseta no armário
atrás do policial e a enrolou, pressionando contra o estômago de dele. O próprio policial segurou-a com as mãos,
fechando os olhos enquanto falava novamente.
"Não se preocupe comigo. Há... você deve tentar salvar os sobreviventes...".
#
Leon balançou a cabeça, querendo negar a verdade, querendo fazer algo para aliviar a do de Marvin - mas ele
estava morrendo, e não podia chamar ajuda.
"Vá". Marvin disse, ainda de olhos fechados.
Ele estava certo, Leon não podia fazer mais nada - e não conseguiu se mover por um momento - até Marvin
erguer sua arma de novo, apontando-a para Leon numa erupção de energia que aumentou sua voz num grito.
"Vá!". O policial ordenou e Leon se levantou.
"Eu voltarei". Leon disse firmemente, o braço de Marvin já caindo.
Leon voltou para a porta, respirando fundo e aceitando a mudança de plano que pode acabar o matando - mas
que não podia evitar. Ele era um policial. Se houvessem sobreviventes, é sua civil e moral conduta ajudá-los.
Tem um depósito de armas no subsolo, perto da garagem. Leon abriu a porta e voltou para o saguão, rezando
para que o depósito esteja bem equipado - e que haja alguém para salvar.
[10]
Depois do ardente telhado, Claire cruzou um zigue-zagueado corredor cheio de cacos de vidro no chão - e depois
de um policial morto no chão, seu medo sobre a segurança da delegacia aumentou. Ela pulou o corpo e continuou
andando. Uma fraca brisa passou pelas janelas quebradas que decoravam a parede externa, dando vida à
escuridão; haviam brilhantes penas pretas junto às marcas de sangue no chão, que fizeram Claire mirar o
revólver a cada suave balanço.
Ela passou por uma porta que dava nas escadas externas do lugar, mas continuou andando, virando à direita. O
modo como o helicóptero acertou o prédio perturbou Claire, inspirando visões da velha delegacia pegando fogo.
Só faltava essa...
Cadáveres e marcas de sangue nas paredes; Claire não estava feliz com a idéia de vagar pela delegacia. E mais,
tiros não são tão eficientes; ela precisa ver o quanto ruim está a situação antes de procurar Leon.
O corredor terminava numa porta. Claire a abriu - e recuou assim que a nuvem de fumaça passou por ela, o
cheiro de metal e madeira queimados no ar. Ela se agachou e deu uma espiada no corredor que ia para a direita.
Mais para frente ele virava à direita de novo, e ainda assim não se podia ver o fogo; sua brilhante luz alaranjada
refletia nas paredes cinzas.
Droga. O que foi agora?
Havia outra porta diagonalmente de sua posição, a alguns passos; Claire respirou fundo e andou abaixada para
evitar a fumaça, esperando achar um extintor de incêndio - e que fosse suficiente.
A porta dava numa sala de espera vazia - sofás de vinil verdes, um balcão de canto e uma porta no outro lado. A
pequena sala parecia intocada, clama e quieta, igual aos outros lugares que passou essa noite - só que não havia
sinais de desastre nas suaves sombras criadas pelas fluorescentes acima. Nenhum zumbi morto no chão de
madeira escura e nenhum espirro de sangue nas paredes cor de creme.
E nenhum extintor...
Nenhum à vista. Ela fechou a porta e foi até o balcão, levantando a tampa de entrada com o cano da arma.
Tinha uma velha máquina de escrever no balcão - e perto de um telefone. Claire o pegou esperançosa, mas só
ouviu silêncio. Suspirando, ela se abaixou para ver as prateleiras sob o balcão. Uma agenda, papéis - e meio
escondido entre uma bolsa, o familiar cilindro vermelho, com uma fina camada de pó.
"Aí está você". Ela sussurrou, guardando a 9mm no colete e levantando o extintor. Ela nunca usou um antes,
mas parecia fácil - uma alavanca de metal com um pino de segurança e um bocal de borracha preto. Pelo peso
parecia estar cheio.
Respirando várias vezes e armada com o extintor, Claire abriu a porta e voltou para o corredor. A fumaça tinha
se intensificado, acumulando-se no teto.
Ela fez a curva e viu destroços queimando no fim do corredor, sentindo-se aliviada e triste ao mesmo tempo. O
fogo não era tão grande quanto pensava. As chamas se estendiam até uma porta de madeira destruída. Era o
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nariz do helicóptero que chamou sua atenção - a ardente cabine - e o ardente corpo do piloto ainda preso no
assento, sua boca queimada bocejando como um grito silencioso. Não dava para saber se era homem ou mulher.
Claire tirou o pino e mirou o cano nas chamas. Ela apertou a alavanca e um jato de neve espirrou, acertando os
destroços com uma nuvem. Mal vendo através da fumaça, ela direcionou o jato sobre tudo. Dentro de um
minuto, o fogo pareceu ter acabado, mas ela continuou usando o extintor até acabar.
A última tossida de gás veio e Claire soltou a válvula, suspirando algumas vezes, procurando algum foco que
tenha passado despercebido. Nenhuma chama, mas a porta de madeira ao lado da cabine ainda soltava filetes de
fumaça. A área em volta da porta já foi arrebentada e Claire decidiu arriscar. Ela recuou e deu um sólido chute na
porta, mirando perto das dobraduras.
A porta abriu com um crack, a madeira carbonizada desfazendo-se em uma chuva de cinzas. Algumas caíram em
suas botas, mas Claire rapidamente levantou a arma, ainda as sacudindo, mais assustada com o que pode estar
esperando do outro lado.
Um curto e vazio corredor tinha seu começo cheio de pedaços de madeira queimados, e uma porta ao fundo, à
esquerda. Claire foi até lá, tanto para respirar ar puro quanto para ver onde dava.
A porta seguinte estava destrancada. Claire a abriu, pronta para atirar em qualquer -
- e parou, chocada com a bizarra atmosfera da sala. Era como uma sátira de um clube de homens dos anos
cinqüenta, um grande escritório decorado com uma extravagância beirando o ridículo. As paredes tinham grandes
estantes de mogno e mesas cercando uma espécie de área de descanso, feita com acolchoadas cadeiras de
couro e uma mesa de mármore, tudo sob um provável tapete oriental. Um elaborado lustre vinha do teto,
jogando uma melodiosa luz sobre tudo. Quadros e delicados vasos estavam por toda parte - mas seus clássicos
designs eram ofuscados pelas empalhadas cabeças de animais e pássaros que dominavam um canto, ao lado de
uma grande mesa -
- Oh, Jesus -
Deitada na mesa, como a personagem de uma história de terror, estava uma bonita e jovem mulher de vestido
longo e branco, seu abdômen tomado por sangue. Era como um enfeite, sendo olhado pelos animais empalhados
- tinha um falcão que parecia estar voando, cabeças de alce e veado. O efeito foi tão pavoroso que por um
momento Claire não respirou -
- foi quando a alta poltrona atrás da mesa girou de repente. Claire mal conteve o grito de terror, esperando ver a
Morte sorrindo para ela. Mas era um homem - com uma arma apontada para ela.
Pela segunda vez hoje...
Por um segundo, ninguém se moveu - então o homem abaixou a arma, um sorriso amarelo surgindo em seu
gorducho rosto.
"Eu sinto muito," ele disse, sua voz tão oleosa quanto a de um político ruim. "pensei que você fosse um daqueles
zumbis".
Ele alisava seu cheio bigode enquanto falava. Apesar de Claire nunca tê-lo conhecido, ela subitamente sabia quem
ele era, Chris já tinha falado sobre ele.
Gordo, bigode - era o chefe da polícia, Brian Irons.
Ele não parecia bem. De fato, parecia desconectado da realidade.
"Você é o chefe Irons?". Ela perguntou, tentando parecer agradável ao se aproximar da mesa.
"Sim, sou eu, e quem é você?".
Antes de ela falar, Irons continuou calmamente, confirmando a suspeita de Claire com o que disse depois - em
seu tom petulante. "Não, não se preocupe em me dizer. Não fará diferença. Você acabará como todos os
outros...".
Ele parou, olhando para o corpo à sua frente, com uma emoção que Claire não podia decifrar. Ela sentiu-se mal
por ele, ao contrário do que Chris disse sobre sua personalidade podre e incompetência profissional; só Deus sabe
que horrores ele presenciou, ou o que teve de fazer para viver.
Leon e eu entramos nesse terror há alguns minutos; Irons já estava aqui, provavelmente vendo seus amigos
morrendo.
Ele olhou para o corpo e falou, sua voz triste e pomposa ao mesmo tempo.
"É a filha do prefeito. Eu deveria cuidar dela, mas falhei miseravelmente...".
Claire procurou palavras de conforto, querendo dizer que tinha sorte por estar vivo, que não foi sua culpa - mas
ele continuou lamentando, as palavras dela morrendo na garganta, junto com a dó.
#
"Olhe para ela. É linda, sua pele perfeita. Mas logo apodrecerá... e em uma hora se tornará uma daquelas coisas.
Bem como os outros".
Claire não queria tirar conclusões, mas sua descrição e olhar faminto a fizeram se arrepiar. O jeito que ele olhava
para a garota morta -
- você fica imaginando coisas. Ele é o chefe da polícia, não um pervertido lunático. Ele é o único vivo que
encontrou. Peça informações!
"Deve haver um jeito de parar...". Claire disse gentilmente.
"Sim... uma bala no cérebro - ou decapitação".
Ele finalmente desviou o olhar do corpo, mas não para Claire. Ele olhou para os bichos ao lado de sua mesa, sua
voz adquirindo um tom alegre.
"Em pensar que - taxidermia costumava ser o meu hobby. Não mais...".
Os alarmes de Claire dispararam. Taxidermia? O que diabos um corpo humano fazia na mesa dele?
Irons finalmente olhou para Claire, que não gostou nem um pouco. Ele olhava em seu rosto mas não parecia
enxergá-la. Ocorreu-lhe que ele não havia perguntado como chegou lá, ou sobre a fumaça que entrou no
escritório. E o jeito que falava sobre a filha do prefeito... nenhuma dor real, só auto-piedade e algum tipo de
admiração.
Oh, Deus, ele não está só abalado, ele está em outro planeta -
"Por favor,". Irons disse. "eu queria ficar sozinho agora".
Ele se acomodou na cadeira e fechou os olhos, parecendo exausto. Tão simples assim, ela foi dispensada,
mesmo com milhões de perguntas - muitas delas que ele poderia responder - mas ela achou melhor só sair de
perto dele, pelo menos agora -
Houve um suave som atrás dela, à esquerda, tão baixo que ela não tinha certeza se realmente o ouviu.
Claire virou, franzindo, e viu outra porta no canto da sala. Ela não a tinha visto antes - e aquele som veio de lá.
Outro zumbi? Ou alguém se escondendo...?
Ela olhou para Irons que nem se moveu.
Então - volto por onde vim, ou vejo o que tem atrás da porta?
Leon - ela tinha que achá-lo e Irons não parecia querer unir forças. Mas se houver outra pessoa no prédio que
precise de ajuda ou possa ajudar...
Não vai demorar. Ela olhou para Irons, perto do corpo da filha do prefeito, cercado por seus animais sem vida;
Claire foi até a segunda porta, esperando não estar cometendo um erro.
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*Taxidermia - Arte de empalhar animais.
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[11]
Sherry tem se escondido por um longo na delegacia, uns três ou quatro dias, e ainda não viu sua mãe. Nenhuma
vez, nem quando havia muita gente restando. Ela encontrou a Sra. Addison - uma das professoras da escola -
logo depois de chegar lá, mas ela já estava morta. Um zumbi a comeu. Não muito depois disso, Sherry achou um
tubo de ventilação que cobre quase todo prédio, e decidiu que se esconder era mais seguro do que ficar com os
adultos - porque eles morriam, e porque havia um monstro na delegacia bem pior que os zumbis e os homens do
avesso. Ela tinha certeza que esse monstro a procurava. Era idiotice, ela nunca pensou que monstros
perseguissem uma única pessoa - mas ela também nunca pensou que monstros existissem.
Assim, Sherry vem se escondendo na sala de armaduras; ninguém morto lá e o único jeito de entrar - exceto o
tubo de ventilação atrás das armaduras - era passando por um longo corredor vigiado por um tigre gigante.
Empalhado, mas assustador - Sherry pensou que ele pudesse afugentar o monstro. Ela sabia que era besteira,
#
mas a fazia se sentir melhor.
Sendo que os zumbis tomaram conta da delegacia, ela passou a maior parte do tempo dormindo. Assim, ela no
pensava no que aconteceu com os pais ou o que vai acontecer consigo mesma. O tubo de ventilação era quente
e tinha muita comida na máquina de doces, escada abaixo - mas ela estava assustada, e pior que isso, sozinha.
Ela dormia atrás das armaduras quando houve um tremendo barulho lá fora. Ela estava certa que era o monstro;
Sherry só o viu uma vez antes, suas grandes e terríveis costas, pela grade de metal - desde então, ela o ouviu
gritar pelo prédio várias vezes. Ela sabia que ele era mau, mau, violento e faminto.
Às vezes ele desaparecia por horas, fazendo Sherry pensar que tinha ido embora - mas sempre voltava, não
importa onde ela estava, mas sempre parecia surgir por perto.
O barulho que a tirou do sono parecia o de um monstro quebrando as paredes, fazendo-a correr para seu
esconderijo caso o som se aproxima, mas não se aproximou. Por um longo tempo não se moveu, segurando seu
amuleto da sorte - um bonito colar de ouro que sua mãe havia lhe dado semana passada, tão grande que
preenchia toda sua mão. Como antes, ele funcionou; o horrível barulho não se repetiu. Ou talvez o tigre cumpriu
seu papel. Mesmo assim, quando ouviu suaves passos no escritório, Sherry sentiu-se segura o bastante, para ir
até o corredor e escutar. Os zumbis e homens do avesso não podiam abrir portas. Se fosse o monstro, já teria
vindo para ela.
Tem que ser uma pessoa. Talvez mamãe...
Na metade do corredor onde virava à direita, ela ouviu pessoas falando no escritório, sentindo um estouro de
esperança e solidão ao mesmo tempo. Ela não sabia o que falavam, mas pela primeira vez em dois dias ela ouviu
alguém que não gemesse. Podia ser a ajuda que finalmente chegou a Raccoon.
O exército, marinha, talvez todos eles...
Curiosa, ela correu para a porta de frente para o tigre, quando as vozes pararam. Sherry ficou imóvel.
Se a ajuda veio, porque não ouvia os caminhões e aviões? Não haveria tiros, bombas e alto-falantes alertando
para que todos saíssem?
Talvez sejam vozes de pessoas más; loucas como aquele homem...
Não muito depois que Sherry começou a se esconder, ela viu uma coisa terrível pela grade da sala de armários.
Um homem de cabelo vermelho estava lá, falando sozinho, balançando para frente e para trás numa cadeira. No
começo, Sherry pensou em chamá-lo para ajudar, mas o modo como falava, sorria e balançava, a deixou
desconfiada. Então ela o observou por um tempo. Ele segurava uma grande faca, e depois de um longo tempo,
ainda rindo, resmungando e balançando, ele se esfaqueou no estômago. O homem a tinha assustado mais do
que os zumbis, porque não fazia sentido. Ele era louco e se matou, e ela engatinhou de volta, chorando, porque
não fazia sentido.
Se as pessoas no escritório são boas, elas podem querer tirá-la de seu esconderijo e tentar protegê-la - e isso
significaria sua morte, porque o monstro certamente não tinha medo de adultos.
Parecia ruim ter que voltar, mas não tinha outra escolha. Sherry começou a voltar para a sala de armaduras
quando -
Crack!
- ela congelou assim que a madeira do chão rangeu. O som pareceu incrivelmente alto e ela prendeu a
respiração, agarrando seu colar e rezando para que a porta não abrisse, que nenhum maluco aparecesse - e a
pegasse.
Ela não ouviu mais nada, mas achou que as batidas do seu coração a denunciariam, era tão alto. Depois de dez
segundos ela continuou andando, na ponta dos pés como se estivesse num ninho de cobras. Ela tinha que usar
toda sua força para não correr até a curva - uma coisa que ela aprendeu nos filmes era que, correr do perigo
sempre significava uma morte horrível.
Quando ela finalmente chegou à porta, sentiu-se aliviada e só queria pegar o cobertor que a Sr. Addison achou e -
A porta do escritório abriu, abriu e fechou. Um segundo depois, passos. Indo para ela.
Sherry voou pela sala, não pensando um mais nada por causa do pânico. Ela passou pelos três cavaleiros,
esquecendo seu lugar seguro. Tudo o que queria era ir o mais longe possível. Havia uma escura e pequena sala
sem porta depois da caixa de vidro no meio da sala -
- e ela ouviu os passos correndo atrás dela. Sherry se abaixou entre os tijolos da lareira e tentou se encolher,
abraçando os joelhos e escondendo o rosto. A escuridão da sala do fundo era tudo o que precisava.
Por favor, por favor, por favor, não apareça, não me veja, eu não estou aqui.
#
Os passos entraram na sala das armaduras e mais calmos, hesitantes, passando pela caixa de vidro. Sherry
pensou em seu tubo de ventilação, que a levaria embora, e segurou as lágrimas de arrependimento. A sala da
lareira não tinha saída.
Os passos se aproximaram da sala que Sherry estava. Ela prometia fazer qualquer coisa caso o estranho fosse
embora -
Thump. Thump. Thump -
De repente a sala se iluminou, o leve click do interruptor sobre o choro de Sherry. Ela não agüentou, se levantou e
correu, gritando, esperando chegar até o tubo de ventilação quando -
- uma quente mão segurou seu braço, apertado. Ela gritou de novo, puxando o mais forte que podia, mas o
estranho era forte -
"Espere!". Era uma mulher.
"Me deixe ir". Sherry choramingou, mas a mulher continuou segurando, puxando.
"Calma, calma - eu não sou um zumbi, fique calma, está tudo bem -".
A voz da mulher soou mais gentilmente. A doce e musical voz repetiu-se de novo e de novo.
"- calma, está tudo bem, eu não vou te machucar, você está segura agora".
Sherry finalmente olhou para a moça, e viu o quanto bonita era, o quanto seus olhos eram preocupados e
simpáticos. Sherry parou de tentar fugir e sentiu as quentes lágrimas em seu rosto. Ela instintivamente abraçou a
bonita jovem - e a moça retribuiu, seus finos braços em volta dos trêmulos ombros de Sherry.
Sherry chorou, deixando a mulher acariciar seu cabelo e dizer palavras tranqüilizantes - pelo menos o pior acabou.
Por mais que quisesse cair nos braços da moça e esquecer os medos, acreditar que estava a salvo, ela sabia que
não dava. Além, disso, ela não era mais um bebê; fez doze anos mês passado.
Sherry se afastou da mulher e secou os olhos, olhando para a estranha. Ela não era velha, por volta dos vinte, e
tinha roupas legais - botas, shorts vermelho de tecido grosso e um colete do mesmo conjunto, sem mangas. Seu
cabelo castanho era amarrado para trás, e quando sorriu, parecia uma atriz de cinema.
"Meu nome é Claire. Qual é o seu?".
Sherry se envergonhou de repente, por ter corrido de uma pessoa tão boa. Seus pais diziam que agia como um
bebê, que era "muito imaginativa", e aqui está a prova; Claire não iria machucá-la.
"Sherry Birkin". Ela disse e sorriu, esperando que Claire não fosse má para ela; ela não parecia brava, e sim
agradecia pela resposta.
"Você sabe onde estão seus pais?". Claire perguntou.
"Eles trabalham no laboratório químico da Umbrella". Sherry respondeu.
"Laboratório químico... então o que você está fazendo aqui?".
"Minha mãe ligou e me disse para vir aqui. Ela disse que é muito mais perigoso ficar em casa".
Claire acenou. "Pelo que parece, ela estava certa. Mas aqui também é perigoso...".
Claire franziu pensativamente, depois sorriu de novo. "É melhor você vir comigo".
Sherry balançou a cabeça, pensando em como explicar que não era uma boa idéia, que era uma idéia muito ruim.
Ela não queria ficar sozinha, mas não seria seguro ir.
Se eu for e o monstro nos achar...
Claire morreria. Apesar de ser magra, Claire não caberia no tubo de ventilação.
"Tem algo aqui". Sherry finalmente disse. "Eu vi, é maior que os zumbis. E quer me pegar".
Claire balançou a cabeça, abrindo a boca para dizer algo quando um terrível e furioso som encheu a sala, ecoando
em violentas ondas de algum lugar do prédio. Por perto.
"Rrraaahh - ".
Sherry sentiu seu sangue virar gelo. Claire arregalou os olhos, pálida.
"O que foi aquilo?".
Sherry recuou, ofegante, mentalmente correndo para o tubo de ventilação atrás das armaduras.
"É disso que eu estava falando". Ela disse, e antes que Claire pudesse pará-la, ela virou e correu.
"Sherry!".
Sherry ignorou o apelo e continuou. Ela se pôs de joelhos sobre o pedestal, colocou a cabeça e se arrastou para
dentro do buraco no rodapé da parede.
Sua única chance, a única chance de Claire, era que ficasse o mais longe possível. Talvez se encontrem de novo
quando o monstro se for.
#
Assim que Sherry engatinhou pelo apertado e escuro tubo, esperou que não fosse muito tarde.
[12]
Ada sentou na cadeira da desarrumada mesa do chefe dos detetives, descansando seus pés doloridos e olhando
cegamente para o cofre vazio no canto da sala. Sua paciência estava se esgotando. Primeiro a amostra do
G-virus, agora Bertolucci, que também não foi encontrado. Ela passou pela sala de descanso, o escritório do
S.T.A.R.S., a biblioteca - todos os lugares onde o repórter teria fácil acesso. E gastou dois clips inteiros para isso.
O problema não foi 23 balas, foi o tempo perdido e sem resultados - exceto por ter matado mais alguns zumbis.
E duas aberrações híbridas da Umbrella.
Ada tremeu, lembrando da contorcida carne vermelha e gritos das criaturas que matou na sala de entrevistas.
Trent alertou sobre os Tyrants modi-ficados - que agradecidamente ainda não apareceram - mas os sanguinários
linguarudos com garras eram uma afronta à suas sensibilidades. E são muito mais difíceis de matar que os
zumbis. Se eles foram produtos do T-virus, ela deverá rezar para que Birkin não tenha feito nada com o novo.
Segundo Trent, a série G ainda não foi usada, e deve ser duas vezes mais potente...
Ada soltou a imaginação. O escritório não era tão inspirante para descansar, mas pelo menos não tinha sangue.
De porta fechada, ela mal sentia o cheiro dos policiais lá fora. Eles já estavam bem afetados quando ela os
matou, o estágio que aparentemente precede o colapso total.
O problema não é senti-los. Meu cabelo e roupas já absorveram o maldito cheiro.
Ela sabia para que servia o T-virus, mas eles não pensaram em pesquisar os efeitos físico-químicos. Quem se
importa? Ela não tinha motivos para acreditar que a Umbrella infectaria sua própria cidade. Ela estava recebendo
várias informações sobre o funcionamento do vírus, mas seria bom saber como ele modifica a mente humana.
Ela só podia tentar adivinhar através de suas observações.
Pelo que parece, leva algumas horas para alguém infectado virar um zumbi. Às vezes, a vítima passa por uma
febre-coma antes, que provavelmente queima partes do cérebro - e pareciam estar acordando da morte em
busca de carne fresca logo depois. Os sintomas eram os mesmos para todos, mas não a velocidade do
processo; ela viu uns três casos em que a vítima virou zumbi alguns momentos após ser infectada, o estágio que
ela chamou de "catarata". Apesar de a deterioração física começar imediatamente, alguns caem aos pedaços
mais rápido do que outros.
... e por que você está pensando nisso? Seu trabalho não inclui achar a cura?
Ela suspirou, curvando-se para coçar os pés. Verdade. Mesmo assim, era algo para se considerar. Pensar em
ficar viva era cansativo; ela não podia fazer isso enquanto limpava os corredores. Ela estava descansando, e
precisava pensar em assuntos mais intrigantes.
E não são poucos... Trent, o que Bertolucci sabe ou deveria saber... o S.T.A.R.S. - e o que diabos aconteceu
com eles?
Pelos artigos que Trent incluiu no pacote de informações, ela sabia sobre a suspensão do grupo - e considerando
o que estavam investigando, não precisava ser gênio para ver que estavam na cola da Umbrella para revelar seu
segredo. A Umbrella já deve ter se livrado deles caso não tenham se escondido - e Ada tem que ver se Trent
participou da aventura do S.T.A.R.S..
Não que ela diria, mas Trent era um enigma. Ela só o encontrou uma vez, apesar de tê-la contatado para ir até
Raccoon, na maioria das vezes por telefone. Ela sempre se orgulhou da capacidade de ler as pessoas, mas não
sabia onde os interesses dele estavam, por que queria o G-virus ou que função exercia na Umbrella. Era óbvio
que tinha contatos lá dentro, ele sabia demais sobre a companhia - mas se era o caso, porque ele não pega sua
própria amostra e pede demissão? Contratar uma agente secreta era o ato de alguém querendo evitar
complicação - mas complicações do que?
Não é da minha conta...
Um bom princípio para se viver; ela também não era paga para investigar Trent. Mesmo que fosse, seria difícil;
#
ela nunca conheceu um homem tão sob-controle como Sr. Trent. Em todo contato que tiveram, ela percebeu
que ele ria por dentro, como se soubesse de um ótimo segredo - e ainda não demonstrou arrogância e
pretensão. Ele era frio, sua genialidade tão natural que ela mal se intimidou; ela não conseguiu decifrar os motivos
dele, mas já tinha visto aquele calmo humor antes - era a face do verdadeiro poder, de um homem com um
plano e meios de executá-lo.
Então a contaminação atrapalhou seus planos, sejam lá quais sejam? Ou ele já estava preparado...? Eu não
imagino o termo "pego de surpresa" no vocabulário de Trent...
Ada girou a cabeça vagarosamente antes de se calçar. O intervalo acabou, pois ela ainda tinha que procurar
Bertolucci em mais alguns lugares, antes de ir para o esgoto. Ela sabia que as persianas de segurança do primeiro
andar não eram tão sólidas assim; ela não quer se deparar com mais zumbis lá de fora.
Havia passagens "secretas" na asa leste e celas no subsolo, depois do estacionamento. Se achá-lo em algum
desses lugares, poderá concentrar-se em obter a amostra.
Ela decidiu começar pelo subsolo; ele não conseguiria achar os corredores escondidos. Pelo que ela leu sobre seu
trabalho, ele não era um repórter tão bom...
Ada saiu do escritório, os ventiladores de teto levando o cheiro de podre até ela. Devia haver sete ou oito corpos
lá, todos policiais...
... mas eu não tinha deixado cinco vivos da última vez?
Ada parou, olhando para o estreito corredor que levava às escadas de trás.
Havia cinco. Eu não estou no meu máximo, mas ainda posso contar.
Havendo ou não, os zumbis estavam invadindo e a Umbrella virá em breve caso ainda não tenha vindo. A
companhia não ignoraria esse problema. Já deve ter criado um plano *derrota segura e está enchendo a cabeça
da mídia com mentiras. Mas é claro que antes, eles devem recuperar a pesquisa de Birkin. Trent estava confiante
de que a Umbrella mandaria uma equipe para isso.
Uma equipe de humanos, tomara. Eu posso lidar com eles. Um Tyrant... eu não preciso disso.
Ada foi para o corredor do fundo da sala, à esquerda de onde estava. Foi na direção da porta que a levaria para
a escada do subsolo. Tyrant era o nome de uma série particular na pesquisa de armas biológicas da Umbrella,
uma série que incorpora as mais destrutivas aplicações do T-virus. De acordo com Trent, os cientistas da White
Umbrella - que trabalham nos laboratórios secretos - acabaram de iniciar os testes num tipo de humanóide
sanguinário, desenvolvido para caçar qualquer cheiro ou substância com a qual foi treinado. Um Tyrant avançado,
outra construção de carne infectada e ligamentos implantados - o tipo de coisa que podem mandar em busca do
G-virus...
Ada foi para o subsolo, tentar achar o repórter.
Leon estava no saqueado depósito de armas do subsolo, ajustando seu coldre e pensando onde Claire estaria.
Pelo pouco que viu, a delegacia estava muito ruim. Fria, escura e cheirando mal, mas não tão perigosa quanto a
rua. Nem tanto para se agradecer, mas Leon vai tirar o máximo de proveito.
Ele matou três companheiros a caminho do subsolo - dois homens escada acima e uma mulher em frente ao
necrotério - a alguns metros da sala onde ficava o arsenal do R.P.D.. Entre os mortos e o número de armas
faltando, Marvin pode estar certo sobre haver sobreviventes.
Marvin Branagh... já deve estar morto. Será que virou zumbi? Se a Umbrella está por trás disso, deve ser algum
tipo de praga ou doença, afinal, eles são uma companhia farmacêutica - então, como se pega a doença? Pelo
contato ou pelo ar -
O pensamento de ser infectado pelos zumbis o fez suar. E se ele a pegou enquanto dirigia para cá?
Antes do pânico, ele ouviu sua mente dizer sobre a realidade - e a aceitação da realidade também, afugentando o
medo.
Se você está doente, está doente. Você pode comer uma bala antes de piorar. Se não está doente, sobreviverá
para contar aos seus netos sobre tudo isso. De qualquer jeito, não há nada que você pode fazer - exceto tentar
ser um policial.
--------------------------------------------------------------
*Derrota Segura - Método para impedir ataque atômico equivocado.
-------------------------------------------------------------- Leon concordou, suspirando. Em sua primeira busca pela sala,
#
houve desapontamento. Nenhum revólver e pouca munição nos armários - mas ele achou uma caixa de munição
para espingarda, e depois de um segundo procurando, ele descobriu uma calibre doze escondida atrás de
algumas caixas. Haviam alguns arreios de ombro para o modelo Remington pendurados na parede, tal como um
cinto de utilidade maior do que o que já usava; tinha até um bolso fundo o bastante para colocar os clips.
Com o último aperto no arreio, ele decidiu que seria melhor começar pelos lugares mais óbvios primeiro, cada
corredor de cada possível entrada. Primeiro ele voltará para o saguão e deixar uma mensagem no -
Bam! Bam! Bam!
Tiros, bem perto, e o eco dizia vir do corredor lá fora. Leon empunhou o revólver e correu para a porta, preciosos
segundos desperdiçados enquanto manejava a fechadura giratória.
O corredor estava deserto, exceto pelo guarda de trânsito no chão à sua direita. Para a direita ficava o
estacionamento, e Leon correu para lá, lembrando-se para ir com clama e não ser baleado por alguém
aterrorizado.
Vá devagar, olhe bem antes de se mover, identifique-se claramente -
O corredor virava à esquerda, e no final dele, estava a porta na parede do lado direito, aberta - e quando Leon
deu uma olhada no grande e aberto espaço, seu corpo encostou na parede, vendo algo que o fez esquecer do
atirador.
O cachorro. É o mesmo maldito cachorro.
Impossível - mas o caído e sem vida animal no meio de dois carros parecia o mesmo. Mesmo com o breve
avistamento que teve antes, o melequento demônio canino era igual àquele que o tinha jogado fora da estrada.
Sob as fluorescentes que iluminavam a garagem, Leon pode ver o quanto anormal ele era.
Nada parecia se mover, e nenhum som exceto o zumbido das luzes. Ainda segurando sua arma, Leon entrou na
garagem, determinado a olhar a criatura de perto - e viu um outro perto de uma viatura, aparentemente morto
como o primeiro. Ambos estavam no meio de uma poça vermelha de sangue.
Umbrella. Os ataques animais, a doença - há quanto tempo isso está acontecendo? E como conseguiram manter
isso escondido depois de todas aquelas mortes?
Mais confuso era o fato de Raccoon ainda não ter recebido ajuda; a Umbrella deve ter conseguido esconder seu
envolvimento nos assassinatos "canibais", mas como ela impediu as pessoas de pedir ajuda lá fora?
Esses cães, como cópias em carbono... outra coisa que a Umbrella fez em seus laboratórios?
Ele deu outro passo na direção das criaturas, não gostando das teorias de conspiração que estavam se formando
em sua mente, mas incapaz de ignorá-las. Do que ele menos gostava, eram das poças de óleo no chão de
cimento; pareciam enferrujadas, secas - e haviam muitas delas para contar. Ele se curvou para olhar de perto,
tão intrigado que só percebeu o tiro quando a bala ricocheteou no chão.
Bam!
Leon virou para a esquerda, erguendo a arma e gritando ao mesmo tempo -
"Pare de atirar!".
- e viu a atiradora abaixar sua arma, uma mulher de vestido vermelho e longas meias pretas, parada ao lado de
um furgão no final da garagem. Ela começou a ir até ele, suas pernas finas movendo-se suavemente, cabeça
erguida e ombros para trás. Parecia estar numa festa.
Leon sentiu uma onda de raiva, de como ela parecia clama após quase tê-lo matado - mas assim que se
aproximou, ele quis pedir desculpas. Ela era bonita, e parecia sentir prazer em vê-lo; uma visão bem vinda depois
de tanta morte.
"Desculpe-me por aquilo". Ela disse. "Quando vi o uniforme, pensei que fosse outro zumbi".
Mestiça, magra e alta, cabelo curto, liso e escuro. Sua acentuada voz contrastava estranhamente com seu olhar.
Seu frágil sorriso não combinava com os olhos amendoados que o examinavam cuidadosamente.
"Quem é você?". Leon perguntou.
"Ada Wong'. Aquele tom de novo. Ela inclinou a cabeça, ainda sorrindo.
"Eu sou Leon S. Kennedy". Ele disse reflexivamente, incerto sobre o que perguntar ou por onde começar. "Eu - o
que você faz aqui embaixo?".
Ada olhou para o furgão do R.P.D. que bloqueava a área das celas. "Eu vim para Raccoon em busca de um
homem, um repórter chamado Bertolucci; eu tenho motivos para crer que ele esteja em uma das celas, e acho
#
que ele pode me ajudar a achar meu namorado...".
O sorriso dela sumiu, o agudo, quase elétrico olhar achando o dele... "E acho que ele sabe tudo sobre o que
aconteceu aqui. Você me ajuda a empurrar o furgão?".
Se o repórter estiver trancado lá, poderá dizer algo; Leon quer conhecê-lo. Ele não confiava muito na história de
Ada, mas não imaginava porque mentiria. O lugar não é seguro, e ele estava procurando por sobreviventes,
como ela.
"Tá bom". Ele disse, sentindo-se pego pelos suaves modos dela. Parecia que ela tinha assumido o controle, uma
súbita mas proposital manipulação que a pôs no comando -
Não seja paranóico; mulheres fortes existem. E quanto mais pessoa encontrar, mais ajuda eu terei para procurar
a Claire.
Leon guardou a arma e foi atrás dela, esperando que o repórter estivesse lá - e que as coisas começassem a
fazer sentido o quanto antes.
[13]
Sherry Birkin se foi e Claire não conseguiu entrar no duto. Seja lá o que ou quem tinha gritado, não apareceu. Ela
devia estar se escondendo no duto por algum tempo; haviam embalagens abertas de doces e um velho lençol
perto da abertura, atrás de três armaduras.
Percebendo que Sherry não voltaria, Claire correu para a sala de Irons, esperando que ele pudesse dizer onde a
tubulação dava, mas ele tinha sumido - junto com o corpo da filha do prefeito.
Claire parou no escritório, sendo observada pelos olhos de vidro da mórbida decoração, e se sentiu incerta pela
primeira vez desde que chegou na cidade. Desviar de cães e zumbis, encontrar Leon e evitar o Chefe Irons
foram tarefas inclusas na busca por Chris. Nos poucos momentos entre encontrar aquela garotinha e aquele
estranho grito, suas prioridades mudaram dramaticamente. Havia uma criança nesse pesadelo, que acreditava
estar sendo seguida por um monstro.
Talvez esteja. Se Raccoon tem zumbis, por que não monstros? Droga, por que não vampiros ou robôs
assassinos?
Ela queria achar Sherry, mas não sabia por onde começar. Ela queria seu irmão, mas não sabia onde estava - e
ela começou a imaginar se ele sabia o que tinha acontecido na cidade.
Na última vez que conversaram, ele evitou falar sobre a suspensão do S.T.A.R.S., insistindo que não era nada
para se preocupar - que ele e os outros entraram em problemas políticos e tudo se resolveria. Ela estava
acostumada com a proteção dele, mas pensando melhor, ele não parece evasivo demais? E o S.T.A.R.S. estava
investigando os assassinatos canibais, não seria difícil conectá-los com a atual...
... o que quer dizer? Que Chris descobriu algo ruim e estava mantendo segredo?
Ela não sabia. Mas sabia que ele estava vivo, e que achar Sherry era mais importante no momento. Ruim como a
situação estava, Claire tinha defesas - ela tinha uma arma, pelo menos um pouco de maturidade emocional, e
depois de 8KM diários, estava em excelente forma. Mas Sherry não devia ter mais do que doze anos, parecia
frágil em todos os sentidos; pela sujeira em seu cabelo loiro e desespero em seus olhos azuis - Sherry inspirou
todos os sentidos protetores de Claire -
Thump!
Uma pesada vibração correu pelo teto, fazendo o lustre do escritório tremer. Claire olhou para cima
reflexivamente, apontando a arma. Não havia nada e o som não se repetiu.
Algo no telhado... mas o que fez aquele barulho? Um elefante caindo do céu?
Talvez fosse o monstro de Sherry. Claire não queria encontrá-lo, mas Sherry parecia certa de estar sendo
seguida...
... então achar o monstro para achar a garota? Não é o plano perfeito mas é tudo o que tenho.
Talvez seja Irons lá em cima. Ela não podia saber até verificar.
Claire virou e abriu a porta para o corredor de fora, onde tinha apagado o fogo. A fumaça diminuiu apesar de
ainda estar quente. Pelo menos nisso ela foi bem sucedida...
#
Claire saiu do corredor, virando os olhos para o que sobrou do piloto quando -
- Craa-ack!
- e ela congelou, ouvindo um massivo despedaçamento de madeira, seguido por poderosos passos de alguém
enorme andando pelo corredor, depois da curva.
Deve pesar uma tonelada, e Jesus, diga-me que não foi uma porta sendo destruída -
Claire olhou para o corredor do escritório, seus instintos dizendo para correr, seu cérebro dizendo que não tinha
saída, seu corpo paralisado entre os dois -
- quando o maior homem que já viu apareceu, escurecido pela fina fumaça do corredor. Ele vestia um longo
sobretudo verde-exército que só aumentava seu tamanho, tão alto quanto um jogador de basquete - bem mais
alto, e com uma cabeça proporcional. Um grande cinto de utilidade estava preso em sua cintura, e apesar de não
ver armas, ela pôde sentir a violência radiando dele em ondas invisíveis. Ela só conseguia ver a palidez no rosto
dele, a cabeça careca - e de repente, Claire estava certa de que ele era um monstro, um assassino usando luvas
pretas, cada uma do tamanho de um crânio humano -
Atire nele! Atire!
Claire mirou, mas hesitou, com medo de estar cometendo um terrível erro - até que ele deu um passo na direção
dela, ouvindo os cracks na madeira causados por seus pés de Frankenstein, e ela viu os olhos negros, negros e
corados com vermelho. Vazios, mas não cegos, o olhar dele achou o dela - e ele ergueu o punho, a ameaça
eminente.
- atireatireatire -
Ela apertou o gatilho, uma, duas vezes, e viu o impacto - um pedaço de tecido rasgou bem abaixo de sua
clavícula, o segundo tiro cortando um lado do pescoço -
- e ele deu outro passo, nenhuma expressão em seu rosto, o punho ainda erguido, procurando um alvo,
querendo esmagar -
- o escuro e enfumaçado buraco no pescoço não sangrava.
Droga
Numa onda de adrenalina, Claire apontou o revólver para o coração da criatura e atirou repetidamente, o gigante
dando outro passo, cruzando o fogo sem acovardar-se -
- e Claire perdeu a linha dos tiros, incapaz de acreditar que ele ainda se movia, a menos de três metros com as
balas acertando seu peito -
- e a arma clicou, vazia, na mesma hora que o monstro balançou de um lado para o outro como um prédio no
vento. Sem tirar os olhos dele, Claire pegou outro clip do colete e recarregou a arma, sua mente tentando
desesperadamente dar um nome à coisa.
Exterminador, O monstro de Frankenstein, Dr. Mal, Mr. X -
De qualquer modo as balas finalmente fizeram efeito. Silenciosamente, ele inclinou para a direita, caindo contra a
parede chamuscada, e permanecendo lá - sem tremer nem se mexer.
Estranho, isso é tudo, está morto, derrubado por seu próprio peso -
Claire não se aproximou, ainda mirando no gigante. Foi ele que gritou? Ela não achava.
"Morto, não importa". Claire cochichou. Precisava pensar no que ele significava - ele não era um zumbi qualquer,
mas o que então? Ela esvaziou um clip inteiro - será que alguém por perto ouviu? Ela deveria ficar onde estava?
A criatura que começou a chamar de Mr. X não estava respirando, seu corpo imóvel, seu rosto bem perto da
morte. Claire mordeu o lábio inferior, olhando para a ainda impossível criatura quando -
- ele abriu os olhos negros e brilhantes. Sem muita força, Mr. X levantou-se, bloqueando o corredor, suas mãos
erguendo-se de novo -
- e com um forte impulso, ele cortou o ar com a mão, seus longos braços bem na frente dela enquanto recuava.
O movimento foi suficiente para cravar o punho na parede, prendendo-o.
Eu, poderia ter sido EU -
Voltar para o escritório a deixaria cercada. Sem pensar mais, Claire correu, passando por Mr. X, seu braço direito
esfregando no pesado casaco dele, seu coração pulando uma batida quando o material a tocou.
Ela correu, virou à esquerda e desceu o corredor, tentando não ouvir Mr. X libertando a mão.
Jesus, o que é aquela COISA -
Ela voltou para a sala de espera, batendo a porta enquanto corria. Claire não pensava em outra coisa senão
correr mais rápido.
#
Ben Bertolucci estava na última cela, deitado na cama de metal pendurada na parede, roncando levemente.
Mantendo suas expressões cuidadosa-mente neutras, Ada deixou Leon acordá-lo. Ela não queria parecer ansiosa,
mas se havia algo que sabia sobre os homens era que eles são mais fáceis de lidar quando pensam estar no
controle. Ada olhou para Leon com a paciência que não sentia.
Eles tinham passado por um corredor vazio e um canil antes de achá-lo. Apesar do frio e úmido ar cheirando
sangue e podridão, eles não viram nenhum corpo - o que era estranho, já que Ada sabia o que tinha acontecido
na garagem. Ela pensou em perguntar a Leon o que tinha acontecido, mas decidiu que quanto menos falar
melhor; ele não devia se acostumar com a presença dela. Ela chegou a ver a tampa do bueiro no canil,
enferrujando num canto escuro, e agradecida por ver um pé-de-cabra ali perto. Com Bertolucci dormindo ali, Ada
sentiu que as coisas finalmente começaram a dar certo -
"Deixe-me adivinhar". Leon disse bem alto, batendo a arma nas barras de metal. "Você deve ser Bertolucci,
certo? Levante-se, agora."
Bertolucci suspirou e sentou-se devagar, esfregando a mão no queixo. Ada quis sorrir; ele estava mau - roupa
amarrotada, rabo de cavalo desarrumado.
Ainda de gravata. O coitado deve achar que isso o faz parecer um repórter...
"O que você quer? Eu estava tentando dormir aqui". Ele parecia nervoso, e de novo Ada teve que conter um
sorriso.
Leon olhou para Ada, parecendo incerto. "É ele?".
Ela acenou, percebendo que Leon o considerava um prisioneiro. A conversa esclareceria tudo, mas ela não queria
que Leon ouvisse demais; Ada precisa escolher bem as palavras.
"Ben, você disse aos oficiais da cidade que sabia o que estava acontecendo aqui, não foi? O que você disse a
eles?".
Bertolucci levantou e a encarou. "Quem diabos é você?".
Fingindo que não ouviu, Ada aumentou o desespero, mas só um pouco; ela não devia parecer uma coitada,
poderia contrariar o fato de ter sobrevivido todo esse tempo.
"Eu estou tentando achar um - amigo meu, John Howe. Ele trabalhava para uma divisão da Umbrella em Chicago,
mas desapareceu há alguns meses atrás - e eu ouvi dizer que ele está aqui, nesta cidade...".
Ela parou, vendo a expressão do repórter. Ele sabia de algo, sem dúvida - mas ela não achava que ele fosse
desistir.
"Eu não sei de nada". Ele disse, irritado. "e mesmo se eu soubesse, por que eu deveria dizer?".
Original. Se o policial não estivesse aqui, eu só daria um tiro no repórter.
Na verdade, ela não atiraria: Ada não estava lá para diversão. Ela podia usar um de seus métodos mais
persuasivos - se seu charme feminino não funcionar, uma bala no joelho ajudaria. Infelizmente, ela não podia
fazer nada com Leon por perto. Ela não tinha planejado esse encontro.
O policial não estava feliz com as respostas de Ben. "Tá bom, podemos deixá-lo aí". Leon disse, falando com
Ada, mas olhando bem irritado para Ben.
Bertolucci sorriu, tirando um anel redondo com as chaves da cela. Ada não se surpreendeu e Leon ficou mais
irritado.
"Por mim tudo bem". Bertolucci disse. "Eu não quero sair daqui mesmo. É o lugar mais seguro do prédio. Tem
mais do que zumbis por aí, acreditem em mim".
Pelo jeito que falou, Ada pensou em ter mesmo que matá-lo. As instruções de Trent foram claras - se o repórter
souber de alguma coisa sobre o trabalho de Birkin no G-virus, ele deve ser eliminado; por que, exatamente, ela
não estava certa, mas esta é a missão. Se ela pudesse ficar um momento a sós com ele, conseguiria descobrir o
quanto ele sabe.
Mas como? Ela não queria matar Leon; como regra, ela não mata inocentes - além disso, ela gostava de policiais.
"Ggrraaa!".
Um violento e inumano grito furou o silêncio. Ada girou o braço, mirando no portão que dava para o corredor. E
estava no subsolo -
"O que foi aquilo?". Leon disse. Ada esperava que ele soubesse a resposta. O eco do furioso grito não se
#
comparava à nada que ela já tinha ouvido - mesmo sabendo o que a Umbrella fazia, isso não era esperado.
"Como eu disse, eu não saio daqui". Bertolucci disse. "Agora vão embora antes que o tragam direto para mim!".
Covarde chorão -
"Olha, eu posso se o único policial vivo nesse prédio". Leon disse, a combinação de medo e força em sua voz fez
Ada olhar para ele. O olhar do policial estava fixado em Bertolucci, seus olhos azuis agudos e firmes.
"... e se você quiser viver, terá que vir conosco".
"Esqueça". Ben disse. "Eu vou ficar aqui até a cavalgaria chegar - e se forem espertos, farão a mesma coisa".
Leon balançou a cabeça. "E se eles demorarem dias para vir, é melhor acharmos um jeito de sair de Raccoon - e
você escutou aquele grito. Você quer ser visitado pelo que fez aquilo?".
Ela se impressionou; alguma criatura da Umbrella por aí e Leon tentando salvar um repórter inútil.
"Eu vou correr o risco". Disse Bertolucci. "e boa sorte para fugir, vocês vão precisar...".
O repórter foi até as barras, olhando entre elas, passando a mão no cabelo.
"Olha,". Disse suavemente. 'tem um canil lá atrás, com um poço no chão vocês podem chegar ao esgoto por lá,
deve ser o caminho mais rápido para fora da cidade".
Ada suspirou intensamente. Ótimo; revelou sua passagem secreta para o laboratório. Se ela correr de Leon
agora, vai levar uns cinco minutos para ele alcançá-la.
Você pode matá-lo se necessário. Ou... você o faz se perder nos esgotos e volta para Bertolucci.
Como o repórter, ela não queria ver a coisa que gritou - sendo que ele não vai fugir, enganar o policial é a melhor
saída.
O que eu não faço para evitar derramamento de sangue.
"Certo, eu vou verificar". Ela disse, e sem esperar a resposta de Leon, virou e correu.
"Ada! Ada, espere!".
Ela o ignorou, passando pelas celas e voltando para o corredor, aliviada por ainda estar vazio. Tudo poderia ser
mais fácil se ela tivesse matado os dois, mas a situação é diferente. Ela estava cansada de tantas mortes, e
cansada do que a Umbrella fez; ela não vai matar um policial, exceto se precisar.
E se ela precisar, será pela vida de um inocente ou pela finalização da missão?
Essa pergunta a disse mais sobre sua consciência do que queria admitir. Ela chegou na porta do canil; respirando
fundo e apagando qualquer emoção de sua mente, Ada entrou para esperar Leon S. Kennedy.
[14]
Tão bonita... mesmo morta, Beverly Harris era radiante. Irons não podia esperar que ela acordasse enquanto
olhava; ele a colocou cuidadosamente no gabinete de pedra debaixo da pia e trancou, prometendo que a tiraria
dali assim que tiver mais tempo. Ela se tornará o animal mais delicado que já transformou, posando eternamente
perfeita assim que prepará-la do modo certo... um sonho se realizando.
Se eu tiver tempo. Se houver tempo restando.
Ele sabia que estava sentindo pena de si mesmo de novo. Não tinha ninguém para dividir a magnitude de tudo o
que já sofreu. Ele se sentiu terrível - triste, bravo e sozinho - mas também sentiu que tudo ficou claro. Agora ele
sabia por que estava sendo perseguido.
Umbrella. Uma conspiração para me destruir, todo esse tempo...
Irons sentou na manchada mesa de seu san-tuário, seu especial e particular lugar, pensando em quanto tempo
levará para a jovem mulher aparecer.
A do corpo atlético que não disse seu nome. De certo modo, ela foi responsável por sua descoberta.
Ela o achará, claro; era uma espiã da Umbrella, a companhia que o tem observado por um tempo. Eles deviam
ter uma lista de todos os seus pertences, relatórios psicológicos e até cópias de suas contas bancárias. Tudo fazia
sentido, agora que tinha tempo para pensar; ele era o homem mais poderoso em Raccoon, e a Umbrella
designou sua queda.
#
Irons olhou para seus tesouros, as ferramentas e troféus que estavam nas estantes à sua frente, e não sentiu o
prazer que costumavam inspirá-lo. Os ossos polidos eram só algo para olhar enquanto sua mente trabalhava,
absorvida com a traição da Umbrella.
Anos atrás, quando ele passou a receber dinheiro da companhia para ficar cego sobre seus feitos, as coisas eram
diferentes; aí era só uma questão de política, achar uma boa posição na poderosa estrutura que controlava
Raccoon. E tudo funcionou bem por um longo tempo - sua carreira prosseguiu como previsto, ganhou o respeito
dos oficiais e cidadãos, e na maior parte, seus investimentos valeram a pena. A vida estava sendo boa.
Depois apareceu Birkin. William Birkin e sua neurótica esposa, e a filha.
Depois do que aconteceu na mansão de Spencer, ele quase se convenceu de que o S.T.A.R.S. foi o responsável,
mas agora ele percebe que foi mesmo Birkin, um ano antes da bola começar a rolar; a destruição da mansão só
adiantou as coisas. A Umbrella deve ter começado a monitorá-lo desde que conheceu Birkin - primeiro só o
observavam, instalando câmeras e microfones ocultos. Os espiões viriam depois...
Os Birkin vieram para Raccoon tal que William pudesse se dedicar ao desenvolvimento de uma versão superior ao
T-virus, baseado na pesquisa do laboratório da mansão. Por mais que William fosse esquisito e desagradável,
Irons gostava dele, desde o começo. William era o menino gênio da Umbrella, e como Irons, não reclamava de
seu cargo; Birkin era humilde, só interessado em desempenhar seu papel. Ambos eram muito ocupados para
manter uma amizade, mas havia respeito entre os dois: às vezes Irons percebia que William o observava...
E o meu erro foi deixar. Deixar o meu respeito por ele nublar meus instintos, não me deixar perceber que estava
sendo observado desde o começo.
A perda do laboratório da mansão fez passar algumas ondas pela hierarquia da Umbrella, e alguns dias depois de
explosão, Annette Birkin foi até ele com uma mensagem do marido - uma mensagem e um favor. Birkin estava
preocupado, a Umbrella iria exigir o G-virus antes de ser terminado; ele não estava satisfeito com a aplicação de
seu último trabalho, parece que a Umbrella não o deixou aperfeiçoar o processo de replicação, Irons não se
lembra direito - e com a Umbrella tentando recuperar as perdas financeiras da mansão, Birkin ficou com medo de
eles comprometerem a integridade do não-testado vírus.
Através de Annette, William pediu ajuda - e ofereceu um pequeno incentivo extra. Por cem mil, Irons teria que
ajudar a manter o G-virus encoberto - resumindo, tomar cuidado com espiões da Umbrella e ficar de olho nos
sobreviventes do S.T.A.R.S.
Dinheiro fácil, exceto por ser uma armadilha da Umbrella...
Irons foi direto para ela, e foi quando a companhia começou a conspirara contra ele, usando as informações que
conseguiram selar seu destino. Como tudo aconteceu tão rápido? O S.T.A.R.S. desapareceu, depois Birkin - e
antes de entender a situação, os ataques recomeçaram.
Irons desceu da mesa e caminhou por ela, vagarosamente tocando os cortes na madeira. Havia uma história em
cada marca, a memória de um feito - e de novo, não lhe davam prazer. A fria e calma atmosfera de seu
santuário sempre o consolou, onde praticava seus hobbies, onde ele podia ser ele mesmo - e agora não é mais
seu. Nada era, a Umbrella tirou tudo dele, tal como a cidade. Será que soltaram o vírus para pegá-lo, para roubar
seu poder - e depois mandaram aquela garota de roupa provocante para ele se divertir? Por que ela era atraente?
Eles conheciam suas fraquezas...
...e em breve ela voltará, talvez bancando a perdida, tentando me seduzir com seu indefeso comportamento.
Uma assassina da Umbrella, uma espiã exploradora, tudo o que ela é, provavelmente rindo de mim por trás
daquele rosto bonito...
Talvez a contaminação foi um acidente; da última vez que se viram, William estava instável, paranóico e exausto,
e acidentes acontecem na melhor das circunstâncias. O resto era fato, não tinha outra explicação para o quanto
arruinado Irons estava. Aquela garota estava vindo pegá-lo, ela era da Umbrella e foi enviada para matá-lo. E não
pararia aí, oh, não, ela vai achar Beverly e... e sujá-la de algum modo, só para ter certeza de que nada de Irons
sobrará.
Irons olhou em volta da pequena e suavemente iluminada sala que um dia foi sua, olhando orgulhosamente para
as bem usadas ferramentas e móveis, o doce e familiar cheiro de desinfetante emanando das irregulares paredes
de pedra.
Meu santuário. Meu.
#
Ele pegou o revólver que estava em sua especial mesa de corte, a VP70 ainda era sua, e sentiu um pequeno
sorriso nos lábios. Sua vida estava acabada. Tudo começou com Birkin e vai terminar aqui, pelas suas próprias
mãos. Mas não agora.
A garota vai voltar, e ele vai matá-la, antes de dizer adeus para Beverly, antes de admitir sua derrota com um
tiro. Mas ele a fará sentir seu sofrimento antes. Por cada tortura que ele sofreu, a garota iria pagar, a conta
descontada em cada osso o mais dolorosamente possível.
Ele iria morrer, mas não sozinho. Não sem ouvir a garota gritar de agonia, criando a voz para a morte de seus
sonhos - uma voz tão verdadeira que o eco atingiria o coração dos executivos da companhia que o traiu.
A sala do S.T.A.R.S. estava vazia, desarrumada, fria e empoeirada, mas Claire não queria sair. Depois de seu
aterrorizante vôo pelos corredores do segundo andar, achar o lugar de trabalho de seu irmão a deixou aliviada.
Mr. X não a seguiu, e mesmo querendo achar Sherry e Leon, ficou com medo de voltar para o corredor - e
hesitante em deixar o único lugar que se parecia com Chris.
Onde você está meu irmão? E o que vou fazer? Zumbis, fogo, morte, seu estranho chefe e a garota perdida - e
quando as coisas não podiam ficar piores, eu dou de cara com a-coisa-que-não-quer-morrer, o monstro dos
monstros. Como eu saio dessa?
Ela sentou na mesa de Chris, olhando as fotos preto e brancas que achou no findo da gaveta; as quatro eram
deles dois, sorrindo e posando na semana que passaram em Nova Iorque no natal passado. Primeiro ela quis
chorar, mas os dois sorrindo a fizeram se sentir melhor. Mais calma. Mais forte. Ela o amava, e onde quer que
ele esteja, a amará de volta - e se ambos sobreviveram a perda dos pais, reconstruíram suas vidas e dividiram
um bobo natal por não ter um lar para ir, então eles podiam enfrentar tudo. Claire podia.
Pode e vai. Eu vou achar Sherry, Leon e se Deus quiser, meu irmão - e nós vamos sair de Raccoon.
A verdade era, ela não tinha outra escolha - mas ela precisa aceitar a falta de opções antes de agir. Uma vez ela
ouviu que bravura não era a ausência do medo, era aceitar o medo e fazer o que for necessário.
Claire respirou fundo, colocou as fotos no colete e levantou da cadeira. Ela não sabe para onde Mr. X foi, e ele
não parece ser alguém que fica esperando. Ela vai voltar para a sala de Irons e ver se Sherry voltou - ou Irons.
Se X ainda estiver lá, ela pode correr.
Além disso, eu devia vasculhar a sala e tentar achar algo sobre o S.T.A.R.S.
De pé, ela olhou em volta, desejando ter achado mais informações. Tudo o que achou de útil foi uma mochila
engraçada na mesa de trás; segundo o cartão vencido da biblioteca, a mesa era de Jill Valentine. Claire nunca a
conheceu mas Chris já falou dela algumas vezes, disse que era boa com armas...
Pena que não deixou uma para trás.
Eles devem ter deixado para trás tudo o que não era importante depois da suspensão, apesar de ainda haverem
muitos itens pessoais lá. Porta retratos, copos de café e o de costume. Ela olhou para a mesa de Barry, havia
uma arma de montar quase terminada. Barry Burton era um dos amigos mais próximos de Chris, um grande e
amigável homem, maluco por armas. Claire esperou que onde quer que Chris esteja, Barry esteja cuidando dele.
Com um lança-chamas.
Falando nisso...
Ela precisa achar outra arma, ou mais munição; ela só tinha treze balas restando, um clip inteiro. Talvez ela deva
checar alguns corpos na volta para a asa leste; mesmo correndo apavorada, ela percebeu que alguns deles eram
policiais, e seu revólver era um equipamento do R.P.D.. Claire não gostou da idéia de ter que tocar cadáveres,
mas ficar sem balas era pior - principalmente com Mr. X por aí.
Claire voltou para a porta e a abriu, organizando seus pensamentos enquanto voltava para o escuro corredor.
Deixar o escritório a fez apagar a ainda vívida imagem de Mr. X, sentindo-se vulnerável de repente. Ela foi para a
direita e começou a voltar para a biblioteca, decidindo que não pensará mais no gigante, exceto se precisar, não
insistiria na memória daqueles olhos vazios, ou do modo que ergueu o punho, como se fosse destruir tudo em
seu caminho...
... então apague tudo isso. Pense em Sherry, em como achar munição ou como lidar com Irons, caso o ache.
Pense em ficar viva.
Bem à frente o corredor virava à esquerda e Claire tentou ignorar a tarefa seguinte; se não lhe falhe a memória,
tinha um policial morto perto da curva.
- como se eu não soubesse pelo cheiro -
#
- e ela tinha que vasculhá-lo. Ele não parecia tão nojento -
Claire fez a curva e congelou, olhando. Seu estômago deu um nó, dizendo-a que estava em perigo antes mesmo
de seus sentidos. O corpo que ela tinha pulado a caminho do escritório do S.T.A.R.S. tinha virado uma enrolada e
sangrenta massa de carne, ossos quebrados e uniforme rasgado. A cabeça se foi, apesar de não saber se foi
arrancada ou se estava dissolvida na polpa. Parece que alguém martelou o corpo depois que passou por ele.
Mas como, eu não ouvi nada -
Algo se mexeu. Uma suave sombra sobre os restos a alguns metros dela, e na mesma hora, Claire ouviu um
áspero som, respirando -
- e ela olhou para cima, ainda incerta sobre o que via ou ouvia - a respiração e o tick das garras na madeira,
grossas e curvas, as garras de uma criatura que não podia existir. Grande, do tamanho de um homem adulto,
mas a semelhança terminava aí - era tão impossível que só o via por partes, sua mente forçando para juntá-las.
A inflamada e avermelhada carne da criatura pelada, seus longos membros que aderiam no teto. A inchada
massa cinzenta do cérebro parcialmente exposto. Um coroa cicatrizada onde os olhos deveriam estar.
- não estou vendo isso -
A cabeça da criatura rolou para o lado, sua grande boca abrindo, um longo fio de baba caindo e acertando o que
tinha sobrado do policial. Ele estendeu a língua, lisa e rosa, a superfície brilhando enquanto deslizava para fora. E
para fora. E para fora, a comprida língua ia de um lado para o outro, tão longa que tocou os restos do policial.
Ainda congelada, Claire olhava desacreditada enquanto a língua era recolhida, deixando pingar sangue. O processo
inteiro só levou um segundo, mas o tempo começou a passar, o coração de Claire batia tão forte que tudo mais
estava em câmera lenta - até quando a criatura pulou no chão de madeira, seu corpo girando no ar e
aterrissando agachado em cima do corpo mutilado.
A criatura abriu a boca de novo e gritou -
- e Claire finalmente conseguiu se mexer, apontando e atirando. O trovão das balas ecoaram pelo corredor,
bam-bam-bam -
- e ainda gritando, a criatura caiu de costas, seus braços batendo. As pernas chutaram pedaços de carne do
cadáver no chão; Claire viu um pedaço de pele, ainda com uma orelha grudada, voar pelo corredor e bater na
parede, deslizando até o chão -
- e a criatura se desvirou, partindo em um arremesso. Ele engatinhou até ela, rápido como um raio, agarrando o
chão com suas garras e uivando.
Claire atirou de novo, não ciente de que também estava gritando enquanto três balas acertaram a coisa,
atravessando a cinza massa que saia de seu crânio. Ela ia morrer, estará nela em menos de um segundo, as
garras estavam a centímetros de suas pernas -
- e tão subitamente quanto o ataque foi, estava acabado. Cada parte do robusto corpo tremeu, balançou
enquanto um líquido claro gotejava de sua cabeça, as grossas garras batendo no chão de madeira
ritimadamente. Com um último choro, a criatura morreu. Não houve erro desta vez. Ela acertou o cérebro, não
vai se levantar.
Ela olhou para o monstro, sua mente procurando por algo parecido, algum animal - mas ela desistiu, percebendo
que era uma causa perdida. Não era uma criatura natural e por mais que parecesse, ela finalmente sentiu o
cheiro - o odor não era tão picante quanto o dos zumbis. Era um amargo e oleoso cheiro, mais químico do que
animal...
... podia cheirar como bolachas de chocolate, quem se importa? Raccoon City ganhou monstros, é hora de parar
de ficar tão surpresa ao ver um deles.
Por mais que quisesse se sentir brava e determinada, pensou seriamente em voltar para o escritório do
S.T.A.R.S. e trancar a porta. Poderia se esconder e esperar a ajuda, poderia estar a salvo -
Decida. Faça algo, de um jeito ou de outro, pare de hesitar e choramingar, por que não é só você. Estará Sherry
a salvo? Você quer viver às custas da vida dela.
Claire deu um cuidadoso passo sobre a criatura e agachou perto do que sobrou do policial, usando a ponta da
arma para virar um pedaço do uniforme. Ela respirou bile enquanto vasculhava os restos, tentando não imaginar
quem o policial foi ou como morreu.
Nada, e agora ela só tem sete balas - mas ela rejeitou o pânico, deixando a decepção abastecer sua
determinação. Se ela examinou um monte de carne, poderia examinar outro.
Com um último olhar para a criatura, Claire levantou e andou rápido para o fim do corredor, decidida: sem se
#
esconder e sem correr do medo. Pelo menos ela pode levar algum monstro consigo, aumentando as chances de
Sherry sobreviver.
Seria melhor morrer tentando do que não tentar. Ela não vai hesitar novamente.
[15]
Leon encontrou Ada no canil, fazendo força para erguer a enferrujada tampa do poço que tinha sido mencionada
pelo repórter. Ela tinha achado um pé-de-cabra e o colocou sob a tampa, seu bem definido bíceps brilhava com o
suor enquanto puxava a tampa. Ela conseguiu erguer a tampa um centímetro, mas deixou cair assim que ele
apareceu, o som metálico bem alto no vazio lugar.
Antes que ele pudesse dizer alguma coisa, ela soltou a barra no chão de cimento e olhou para cima, dando um
meio sorriso, esfregando as mãos sujas.
"Ainda bem que está aqui. Não acho que sou forte o bastante para conseguir sozinha...".
Ele não tinha certeza antes mas aquele indefeso sorrisinho apertou o nó; ela estava enganando ele, ou tentando.
Ele conheceu Ada há vinte minutos e nunca achou que ela fosse indefesa para nada.
"Parece estar indo bem". Ele disse, guardando a arma e sem se mexer para ajudar. Ele cruzou os braços,
franzindo. Não estava bravo, só curioso.
"Qual é a pressa? Pensei que você quisesse falar com o repórter. Sobre John, seu amigo da Umbrella...".
As expressões dela ficaram frias e duras, mas não de um modo ruim; ela foi bem cuidadosa para evitar as
perguntas de Leon, mas desta vez a Sra. Wong terá que explicar algumas coisas.
Ada se levantou e o olhou. "Você ouviu - ele não ia contar nada para nós. E perigoso como esse lugar é, eu não
quero ficar esperando por aí...".
A voz dela suavizou. "... e eu nem sei se John está em Raccoon. Mas eu sei que não está aqui - e eu quero sair
da delegacia antes que seja completamente dominada".
Parecia bom, mas por algum motivo, ele sentia que Ada estava escondendo algo. Por alguns segundos, ele fez
força para achar o modo correto de fazê-la se abrir - depois deixou de lado; sob as circunstâncias, agrados ficarão
suspensos.
"O que está acontecendo, Ada? Você sabe de algo e não quer me contar?".
Ela olhou para ele de novo, e de novo, ele acha que a surpreendeu - mas o olhar dela estava mais ilegível do que
nunca.
"Eu só quero sair daqui". Ela disse, e a sinceridade na sua voz era inegável. Ele podia não acreditar em nada do
que ela disse, mas nisso ele tinha que acreditar.
Queria que fosse fácil assim, mas tem a Claire, Ben, nosso amigo idiota, e só Deus sabe lá quantos outros.
Leon balançou a cabeça. "Eu não posso ir. Como eu disse, eu posso ser o único policial restando. Se ainda houver
sobreviventes, eu preciso tentar ajudá-los. E eu acho melhor você vir comigo".
Ada deu outro sorrisinho. "Eu aprecio sua preocupação, Leon, mas eu posso cuidar de mim mesma".
Ele não duvidava - mas também não queria vê-la testar suas habilidades. Ele também não foi bem testado, mas
foi treinado para lidar com situações críticas, era seu trabalho.
E seja honesto consigo mesmo - você perdeu Claire, não pode ajudar Branagh, e Ben não quis saber de sua
proteção; você não quer falhar com Ada. E você não quer ficar sozinho.
Ada parecia saber o que ele pensava. Antes que ele pudesse falar algo convincente, ela se aproximou e tocou o
braço de Leon, o humor sumindo de seus olhos.
"Eu sei que precisa fazer sua parte aqui - nós temos que sair de Raccoon, tentar sair e pedir ajuda. E os esgotos
devem ser a melhor chance que temos...".
O toque o surpreendeu - e mandou um tremor para sua barriga, deixando-o confuso e incerto. Ele tentou
esconder a sensação, mas só um pouco.
Ada continuou, franzindo, pensativamente. "Que tal isso - me ajude com a tampa e vemos o que tem lá
#
embaixo. Se for perigoso, eu volto com você... mas se estiver ruim - bom, nós conversamos sobre isso depois".
Ele queria protestar, mas a verdade era, ele não podia obrigá-la a fazer algo que não queria - e ele queria muito
que ela não pensasse que ele era do tipo "machão", que ele estava aberto a um compromisso...
... e o nome John te lembra algo? Pare de pensar em seus hormônios.
Sentindo-se estranho ao pensar nisso com ela ainda o tocando, Leon se afastou, acenando ligeiramente. Juntos,
eles se agacharam perto da tampa. Leon pegou o pé-de-cabra e encaixou na tampa; assim que ele a levantava,
Ada empurrou a barra. Com um alto rangido metálico a tampa abriu -
- e ambos se afastaram por causa do cheiro que saiu do buraco, um sufocante cheiro de sangue, vômito e urina.
"Eca, o que é isso?". Leon tossiu.
Ada sentou nos calcanhares, tampando a boca com a mão. "Os corpos da garagem, devem ter sido jogados
aqui -".
Antes que ele pudesse perguntar do que ela estava falando, um grito de puro terror ecoou pelo subsolo, filtrado
pela porta fechada. O grito continuou e continuou, um homem, o aterrorizado grito mudando para um berro de
dor.
O repórter.
Leon travou seu olhar com o de Ada, viu a mesma percepção nela - e já estavam correndo, empunhando armas
e cruzando a porta antes dos ecos morrerem.
Eu o deixei, eu não devia -
Eles correram para a área das celas, a culpa fazendo Leon correr o mais rápido que podia. Alguém ou algo achou
Bertolucci.
Sherry parou no escritório de Irons, esfregando seu colar da sorte e rezando para que Claire voltasse. Ela
engatinhou por vários túneis empoeirados para se livrar do monstro e mantê-lo longe de Claire, e tinha certeza de
que funcionou - ela não o ouviu de novo e voltou só para descobrir que Claire tinha partido; se o monstro a
tivesse achado, estaria morta e partida ao meio.
Mas ela não está aqui. Ninguém está...
Sherry sentou na ponta da mesa no meio da sala, pensando no que faria. Ela tinha se acostumado com a solidão,
mas Claire mudou tudo, queria vê-la de novo, queria estar com outras pessoas, queria tanto os pais que
começou a doer. Até Sr. Irons seria bom, apesar de Sherry não gostar dele; ela só o viu algumas vezes e ele era
estranho, orgulhoso e falso - e seu escritório era pavoroso.
Mesmo assim, ela ficaria grata com a presença dele, só para não ficar sozinha -
Passos. No corredor fora da sala.
Sherry levantou e correu para a porta aberta que ia para a sala das armaduras, esperando que fosse Claire e
pronta para correr se não fosse. Ela se escondeu atrás da porta e prendeu a respiração, olhando para o tigre
empalhado e rezando.
A porta externa abriu e fechou. Abafados e vagarosos passos no carpete, e Sherry tentou correr, ao mesmo
tempo criando coragem para dar uma olhada -
"Sherry?".
Claire.
"Estou aqui!".
Ela correu par o escritório e lá estava Claire, iluminada com um sorriso. Sherry voou nos braços dela, tão feliz em
vê-la que quis chorar.
"Eu estava procurando você". Claire disse, abraçando-a fortemente. "Não corra daquele jeito de novo, está
bem?".
Claire se ajoelhou na frente dela, ainda sorrindo - mas Sherry pôde ver a preocupação em seu olhar.
"Eu sinto muito". Sherry disse. "Eu tive que correr senão o monstro viria".
Como ele se parece?". Claire perguntou, apagando o sorriso. "Ele é meio vermelho com garras?".
Sherry suspirou. "Os homens do avesso! Você viu um, não viu?".
Claire riu, balançando a cabeça. "É, é exatamente o que eu vi, um homem do avesso... boa descrição".
Claire olhou mais seriamente para Sherry, franzindo "Homens? Existem mais deles?".
"Sim, mas nem se comparam com o monstro. Eu só o vi uma vez, de costas, e é gigante -".
"Careca? Vestindo um longo casaco?".
#
"Não, ele tinha cabelo, cabelo claro. E um de seus braços era todo estragado, bem mais comprido que o outro".
Claire suspirou. "Ótimo. Raccoon tem algo diferente para cada um, parece que...".
Ela segurou a mão de Sherry, esfregando-a "... e é mais uma razão para ficar comigo. Você fez um ótimo
trabalho cuidando de si mesma, foi muito corajosa - mas até acharmos seus pais, é meu dever cuidar de você. E
se o monstro vier, eu vou - eu vou chutar o traseiro dele, tá bom?".
Sherry riu, surpresa. Ela gostava de Claire falando para cima com ela. Sherry acenou e Claire esfregou sua mão
de novo.
"Bom. Então nós temos zumbis, homens do avesso, e um monstro. E um grandão careca... Sherry, você sabe o
que aconteceu em Raccoon? Como tudo isso começou, pode dizer qualquer coisa - pode ser importante".
Sherry franziu, pensando. "Bom, houve um monte de mortes em Maio e Junho passado, acho - umas dez
pessoas foram mortas. Depois a mortes pararam, e algumas semanas atrás alguém foi atacado de novo".
Claire acenou. "Certo. Mais alguém foi atacado, ou... o que a polícia fez?".
Sherry balançou a cabeça. "Eu não sei. Logo depois que aquela garota foi atacada, minha mãe ligou do trabalho
muito preocupada, disse que eu não podia sair de casa. A Sra. Willis - nossa vizinha - veio fazer o jantar para mim
e assim soube daquela garota. Mamãe ligou de novo no dia seguinte, e me disse que papai e ela estavam presos
no laboratório e não voltariam por um tempo - e então, três dias atrás, ela pediu que eu viesse para cá. Eu fui
ver se a Sra. Willis viria comigo, mas sua casa estava escura e vazia. Acho que as coisas já estão bem ruins".
Claire ouvia atentamente "Você ficou sozinha todo esse tempo? Mesmo depois que chegou aqui?".
"Bem, sim, mas eu sempre fico sozinha. Meus pais são cientistas; seus trabalhos são importantes e às vezes não
podem interrompê-los. Minha mãe sempre diz que eu sou auto-suficiente quando quero".
"Você sabe que tipo de trabalho seus pais fazem? Na Umbrella?
"Eles fazem curas para coisas, para doenças". Sherry disse orgulhosa. "Eles fazem remédios, soros que hospitais
usam...".
Sherry parou, percebendo que Claire parecia distraída, seu olhar bem distante. Era o olhar que viu muitas vezes
nos rostos de seus pais - e significava que não estavam mais ouvindo. Mas assim que parou de falar, Claire
voltou para ela, tocando seu ombro - e por algum motivo bobo, aquilo a fez querer chorar novamente.
Deve ser porque ela está me ouvindo. Porque ela quer cuidar de mim.
"Sua mãe está certa,". Claire disse gentilmente. "você é muito auto-suficiente, e o que fez até agora diz que é
muito corajosa, também. Isso é bom, por que nós duas precisamos ser fortes para sairmos daqui".
Sherry abriu mais os olhos. "Como assim. Deixar a delegacia? Mas tem zumbis por toda a parte, e eu não sei
onde os meus pais estão, e se eles precisam de ajuda ou estão me procurando -".
"Meu bem, eu tenho certeza de que eles estão bem". Claire disse rapidamente. "Eles ainda devem estar no
laboratório, escondidos em segurança, igual você esteve - esperando ajuda para, para fazer tudo ficar melhor -".
"Você diz, matar todo mundo,". Sherry disse. "eu tenho doze anos, sabe, não sou mais um bebê".
Claire sorriu. "Desculpe. É, para matar todo mundo, sim. Mas até os homens bons virem, nós ficaremos juntas. E
a melhor e mais inteligente coisa a fazer é sair do caminho deles - o mais longe possível. Você tem razão, as ruas
não são seguras, mas quem sabe nós achamos um carro...".
Claire se levantou e foi até a mesa de Irons, olhando em volta. "Talvez Chefe Irons tenha deixado as chaves do
carro aqui, ou outra arma, algo que possamos usar -".
Claire viu algo no chão atrás da mesa. Ela se agachou e Sherry foi atrás, tanto para ficar perto quanto para ver o
que ela tinha achado.
"Tem sangue aqui". Claire disse tão baixo que parecia não ter dito nada.
"E?".
Claire olhou para a parede, franzindo, depois voltou para a grande mancha de sangue no chão. "Ainda está
úmido. Repare como ela é simplesmente cortada. Devia ter mais na parede aqui...".
Ela bateu na parede, ouvindo um som vazio, oco.
"Tem alguma sala aí atrás?". Sherry perguntou.
"Eu não sei, parece que sim. E explicaria para onde ele levou... por onde ele tinha saído antes. Chefe Irons".
Claire olhou para Sherry enquanto corria a mão pela parede e empurrando. "Sherry, veja se tem algum botão ou
alavanca perto da mesa. Acho que deve estar escondido em algum lugar, talvez em uma das gavetas...".
#
Sherry começou a andar atrás da mesa - e tropeçou, seu pé deslizando em algum lápis. Ela se segurou na mesa
para recuperar o equilíbrio, mas ainda assim caiu de joelhos.
"Ai!".
Claire estava à sua direita, já segurando seus ombros. "Você está bem?".
"Estou. Eu só - ei! Olha!".
Sherry apontou para um botão sob a mesa, no meio de uma placa de metal. Parecia um interruptor de luz, mas
tinha que ser para a porta secreta, ela sabia.
Eu achei!
Claire viu e apertou - e atrás delas, um seção da parede deslizou para cima, desaparecendo no teto, e expondo
uma outra sala de tijolos. Um frio e úmido ar entrou no escritório; era uma passagem secreta, igual às dos filmes.
Juntas, se levantaram e entraram na abertura, Claire segurando Sherry até olhar primeiro. A pe-quena sala
estava vazia - três paredes de tijolos, chão de madeira e uma grande e antiga grade de elevador na parede da
direita, daquelas que abrem para o lado.
"Nós vamos pegá-lo? Sherry perguntou. Ela estava ansiosa e nervosa.
Claire pegou sua arma, se agachou para Sherry e sorriu - mas não era um sorriso feliz, e Sherry já sabia o que ia
ouvir.
"Meu bem, acho que vai ser mais seguro se eu descer e dar uma olhada, e você ficar aqui -".
"Mas você disse que ficaríamos juntas! Você disse que podíamos pegar um carro e fugir! E se o monstro voltar e
você não estiver aqui, ou se você morrer?".
Claire a abraçou, e Sherry quase enjoou de tanta raiva. Ela ia dizer para não se preocupar, que o monstro não vai
voltar, que nada ruim ia acontecer - e depois iria embora.
Adultos mentirosos -
Claire se afastou, tirando o cabelo do rosto de Sherry. "Eu não a culpo por estar assustada. Eu também estou.
Esta é uma situação ruim - e sinceramente, eu não sei o que vai acontecer. Mas eu quero fazer a coisa certa por
você, e isso quer dizer que eu não vou levá-la para um lugar onde pode se machucar, não se eu puder ajudar".
Sherry guardou as lágrimas e tentou de novo. "Mas eu quero ir com você... e se você não voltar?".
"Eu vou voltar,". Claire disse. "eu prometo. E se - se eu não voltar, eu quero que se esconda novamente. Alguém
virá ajudar em breve, e vão te achar".
Pelo menos estava sendo honesta; Sherry não estava gostando, e não tinha nada que pudesse mudar a decisão
de Claire. Poderia agir como um bebê ou apenas aceitar.
"Tome cuidado". Claire disse, e abraçou Sherry antes de ficar de pé e ir para a o elevador. Ela apertou o botão ao
lado da grade e um leve hum foi ouvido; depois de alguns segundos a cabine veio de baixo, parando gentilmente.
Claire abriu a grade e entrou, virando para ver Sherry.
"Fique aqui, querida, eu voltarei em alguns minutos".
Sherry forçou um aceno - e Claire fechou a grade. Ela apertou algo lá dentro e a cabine desceu, seu sorriso
saindo de visão, deixando a garota sozinha na fria passagem.
Sherry sentou-se no chão empoeirado e abraçou os joelhos. Claire era corajosa e esperta, ela voltará logo, ela
tem que voltar logo...
"Eu quero minha mãe". Sherry cochichou, mas ninguém estava lá para ouvir. Ela estava só de novo; tudo o que
menos queria.
Mas eu sou forte. Eu sou forte e posso esperar.
Ela descansou a bochecha em um joelho, tocando seu colar da sorte, e começou a esperar por Claire.
[16]
Annette Birkin sentou-se na sala de monitoramento, exausta, observando a parede de monitores centrada sobre
a mesa de vigilância. Ela tem estado lá pelo que parecem anos, esperando William aparecer, e começou a pensar
#
que não iria. Ela vai esperar mais um pouco - mas se não vê-lo em breve, terá que fazer outra busca.
Maldita tecnologia...
É um sistema novinho em folha, tem menos de um mês - vinte e cinco telas com um controle de canais que
deveria permiti-la ver cada canto desse laboratório. Um brilhante avanço na segurança - exceto por onze ainda
estarem funcionando, e mais da metade dessas estarem mostrando estática. Das cinco que ainda podia ver
claramente, tudo o que via - e tinha o que ver - estava morto, corpos podres e o ocasional Re3, que comia ou
dormia.
"Lickers (linguarudos). Você os chama de lickers por causa de suas línguas...".
Ela achou que tinha passado pelo pior da dor, mas o solitário som de sua voz na fria e cavernosa câmara, a fez
perceber que não tinha ninguém para responder - não haverá mais ninguém para responder. William se foi, se foi
e ela estava falando sozinha.
Annette abaixou a cabeça na mesa de controle, fechando seus cansados olhos. Pelo menos não haviam mais
lágrimas; ela já tinha despejado um oceano delas desde que a Umbrella veio atrás do G-virus. Agora só há dor,
combinada com fúria pelo que a Umbrella tinha feito.
Mais um mês, talvez dois, e nós teríamos dado a eles, sem nenhuma força. E William teria entrado para a
comissão de executivos e nós ficaríamos felizes. Todos ficariam -
Houve um fraco ruído vindo de um dos monitores. Annette olhou para cima esperando e tremendo - mas era só
um licker, um andar acima, no centro cirúrgico. Ele tinha acordado e caído do teto para jantar um dos técnicos,
uivando estupidamente para si mesmo enquanto rasgava o abdômen do corpo. O homem morto parecia ser Don
Weller, um dos intermediários do laboratório químico; ele estava tão mutilado quanto a inumana aparência do Re3
que o comia.
Ela observou o licker se alimentar, olhando para o monitor mas não o vendo; sua mente pensando no que tinha
sobrado para fazer. Ela já tinha apagado todos os computadores e os travado com códigos; o laboratório estava
pronto e sua rota de fuga era segura. Só que ela não podia terminar tudo até vê-lo de novo, ver que ele tinha
voltado para o laboratório da Umbrella. Destruir o lugar não adiantaria nada se ele não estivesse na zona de
explosão; eles o encontrariam e extrairiam o vírus de seu sangue...
... mas a Umbrella não vai consegui-lo. Eu vou morrer antes de deixá-los conseguir, então me ajude, Deus.
Seu único consolo era que a Umbrella não conseguiria por suas mãos gananciosas na síntese de William. E nunca
porão. Tudo o que foi usado na criação do G-virus será enterrado sobre toneladas de destroços, junto com
William e todos os monstros que eles criaram para a companhia. Depois ela irá se esconder por um tempo, se
recuperar e considerar suas opções - e então, venderá o G-virus para a concorrência. A Umbrella era a maior,
mas não era a única trabalhando em armas biológicas - quando Annette estiver quite com ela, não será mais a
maior. A vingança era tudo o que tinha restado.
"Exceto por Sherry". Annette cochichou, e a lembrança de sua jovem filha fez seu coração doer. Desde que
Sherry nasceu, Annette quis ter passado mais tempo com ela, se concentrar no bebê ao invés de ser parte do
brilhante trabalho de William.
Os anos se passaram e as promoções de William continuaram vindo, o trabalho ficou mais interessante e valioso -
e apesar de ambos terem prometido fazer um esforço para desenvolver a vida familiar, continuaram adiando.
E agora é tarde demais. Nunca seremos uma família, nunca seremos pais juntos. Todo aquele tempo perdido,
trabalhando para uma companhia que acabou nos esgotando...
Não adianta mais pensar em como teria sido. Tudo o que podia fazer era não deixar a Umbrella tirar mais nada
da família Birkin. William se foi, mas ainda tinha Sherry; essa parte dele continuará, e Annette poderá ser a mãe
que deveria ter sido. Claro, ela terá de esperar alguns meses antes de pegar Sherry, esperar a coisas se
acalmarem. Mas a garota ficará bem; os policiais a levarão para morar com a irmão de William, estava em ambos
os testamentos...
... a não ser que Irons ainda esteja vivo. Aquele gordo ganancioso achará um jeito de estragar até isso.
Ela esperava que estivesse morto; mesmo se não fosse responsável pelo que a Umbrella fez, Brian Irons era
nojento e arrogante, com a moral de uma lesma. Depois de anos de lealdade à companhia, foi comprado por
míseros cem mil dólares. Até William, que tinha uma opinião mais baixa sobre o chefe da polícia do que ela, se
surpreendeu...
Na tela, o Re3 terminou de comer. Tudo o que sobrou do corpo foram as costelas ensangüentadas e a parte de
trás do crânio. O licker saiu de visão, deixando um rastro escuro no chão. Graças ao T-virus, todas séries répteis
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foram eficientes assassinos, apesar dos Re3 terem apresentado falhas - o cérebro exposto era a mais óbvia, e
também tinham um ridículo alto índice de metabolismo; mantê-los alimentados foi uma discussão constante.
Não é mais problema. Tem vários corpos por aí - mais cedo ou mais tarde poderão comer algo quente...
Annette sentiu falta de energia, não queria sair da sala - mas não podia ficar esperando William aparecer. Ela o
ouviu no nível três uns dois dias atrás, mas não o via a quase quatro; ela não podia ficar esperando. O pessoal da
Umbrella já deve estar pensando em como entrar - mesmo com o computador central apagado, haviam outros
modos de passar pelas portas -
- e William pode ter saído. Não posso mais negar isso, não importa o quanto eu queira.
Havia uma fábrica à oeste do laboratório, uma companhia de transporte que foi comprada pela Umbrella, para
assegurar que os níveis subterrâneos ficassem secretos; foi assim que a Umbrella conseguiu construir o complexo
sem levantar suspeitas, escondendo equipamentos e materiais nos galpões, e usando a grande plataforma móvel
para transportá-los. Apesar das entradas da fábrica ainda estarem fechadas, desde que verificou pela última vez,
havia uma possibilidade de que William possa ter saído - e se chegou na fábrica, podia chegar aos esgotos.
Annette esforçou-se para levantar, ignorando as cãibras nas pernas e costas enquanto pegava a arma da mesa.
Ela não sabia muito sobre armas, mas aprendeu bem rápido depois que -
- que eles vieram pegar o G-virus, os homens usando máscaras de gás, atirando e correndo - e William, pobre
William, morrendo numa poça de sangue, e eu não vi a seringa antes de ser tarde demais -
Ela respirou fundo, tentando esquecer essa terrível memória, tentando esquecer o incidente que tirou William dela
e transformou Raccoon na cidade dos mortos. Isso não importava mais. A jornada à frente não será prazerosa,
e ela tinha que se concentrar. Fuja dos Re3, humanos no primeiro e segundo estagio de infecção, os
experimentos de botânica e a série de aracnídeos - ela podia se deparar com qualquer um deles, sem mencionar
o que a Umbrella possa ter enviado.
E William. Meu marido, meu amado - o primeiro humano portador do G-virus, que já não é mais humano.
Annette estava errada sobre achar que não tinha mais lágrimas. Ela parou no meio da vasta e esterilizada sala,
cinco andares sob a superfície de Raccoon, e chorou, perdida, respondendo aos estímulos que nunca se quer
tinham tocado a dor de sua solidão.
A Umbrella sentirá muito. Uma vez certa de que William esteja fora do alcance deles, ela destruirá o laboratório,
fugirá com o G-virus, os fará entender como estragaram tudo - e que Deus ajude quem tentar impedi-la.
[17]
Ada correu pelo bloco das celas, a um passo atrás de Leon, bem a tempo de ver o repórter sair da cela e cair no
chão. "Ajude-o!".
Leon gritou, e passou por Bertolucci para verificar a cela. Ada parou em frente ao sufocado repórter, mas ignorou
a ordem, esperando ver a criatura que o atacou sair da cela -
- ele estava atrás das grades, como isso aconteceu -
Ela esperou, mirando na cela, seu coração pulando - e viu a confusão no olhar de Leon. Pelo modo como olhava,
a disse que a cela estava vazia. A não ser que o agressor fosse invisível...
Sem chance. Não comece a pensar nisso.
Ada se ajoelhou ao lado do repórter, percebendo imediatamente que ele não estava bem - nada bem. Ele tinha
se sentado e encostado na parede que dividia as duas celas. Ele ainda respirava. Ada já tinha visto essa
aparência antes, o distante olhar, a tremedeira, a palidez - mas ela não via o porquê, e isso a assustava. Não
havia ferimentos. Deve ter sido um ataque cardíaco, talvez um derrame -
- mas aquele grito.
"Ben? Ben, o que aconteceu?".
#
Seu vacilante olhar vidrado no dela, e Ada viu que os cantos de sua boca estavam rasgados e sangrando. Ele
abriu a boca para falar, mas tudo o que saiu foi um resmungo.
Leon se agachou junto a eles, confuso, também. Ele balançou a cabeça para ela, respondendo a pergunta que
não tinha feito; não haviam sinais do que tinha acontecido.
Ada olhou para Bertolucci e tentou novamente.
"O que foi, Ben? Você consegue nos dizer o que aconteceu?".
As trêmulas mãos do repórter subiram pelo corpo até pararem no peito. Com um esforço visível, ele tentou dizer
uma palavra.
"...abertura...".
Ada não tinha certeza. As aberturas nas paredes das celas eram muito pequenas e muito distantes do chão -
nada mais do que um tubo de ventilação que dava na garagem. Nada podia ter passado por lá.
Bertolucci ainda tentava falar. Ada e Leon se aproximaram, tentando entender suas palavras.
"... peito. Queima, tá... queimando...".
Ele estendeu a mão de repente e agarrou o braço dela, encarando-a com uma intensidade que a surpreendeu.
Ele apertou fracamente, com desespero em seus olhos.
"Eu nuca falei... sobre Irons". Ele respirou, fazendo força para continuar vivo até dizer tudo. "Ele está -
trabalhando para a Umbrella... todo esse tempo. Os zumbis - são pesquisas da Umbrella... e ele acobertou os
assassinatos, mas eu não consegui - provar, ainda... ia ser meu - furo".
Bertolucci fechou os olhos, respirando forte enquanto soltava o braço dela, e ela sentiu pena dele ao invés de si
mesma. Seu grande segredo era que a Umbrella tinha armas biológicas e Irons estava nessa. Teria sido um
grande furo.
Ele não sabe nada sobre o G-virus, nunca soube - e vai morrer sem reconhecimento.
"Jesus," Leon disse suavemente. "o chefe Irons..."
Bertolucci começou a ter convulsões, suas mãos apertando seu peito enquanto gemia de agonia. Suas costas se
curvaram, seus dedos como garras -
- e o gemido virou líquido enquanto sangue começou a borbulhar em sua boca. Engasgando e tremendo, seus
membros se debateram violentamente, espirros de sangue voando a cada tossida -
- e Ada viu vermelho surgir na camisa branca sob as mãos dele, ao som de ossos quebrando. Ela se afastou
assim que Leon tentou segurar as mãos de Ben, incerto do que estava acontecendo, mas certo de que não era
um ataque cardíaco -
- Santo Deus, o que é aquilo?
Tudo ao mesmo tempo, Ben foi para a frente e seus olhos viraram. Sangue ainda saía de sua boca e houve um
som, um horrível som de carne sendo rasgada, e sob sua camisa, algo mexeu.
"Afaste-se". Ada gritou apontando sua Beretta para Ben, e no segundo que levou para ela mirar, uma coisa
emergiu do ensangüentado peito de Bertolucci. Uma coisa do tamanho de uma mão, que abriu a boca e deu um
baixo berro, mostrando afiados e vermelhos dentes. O bicho saltou do corpo com uma chicoteante cauda, caindo
no cimento junto com pedaços de pele e carne - e correu como uma bala na direção do portão aberto para o
corredor, sua cauda balançando e pernas que Ada não conseguia ver, deixando um rastro vermelho para trás.
A coisa passou pelo portão antes de ela se lembrar que tinha uma arma; ela estava tão chocada que não pensou
em reagir. Uma criatura parasita que rasga seu peito - direto de um filme de ficção...
"O que era - você viu -". Leon disse, sem fôlego.
"Eu vi". Ada cochichou, interrompendo-o. Ela virou e olhou para Bertolucci, para seu rosto, estático numa
contorção angustiosa, e para o rasgo em seu peito.
A boca, rasgada nos cantos...
A criatura foi implantada nele - mas pelo que? Ela não sabia, e nem queria saber. Ela queria completar a missão e
sair de Raccoon o mais rápido possível. De fato, ela nunca quis tanto uma coisa. Quando se deu conta de que
houve um acidente com o T-virus, não esperava ter que lidar com organismos desagradáveis.
Ela olhou para Leon, desistindo de tentar ser razoável. Ela ia para o laboratório e não tinha o que discutir.
"Estou saindo daqui". Ela disse, e sem esperar respostas, virou-se e andou rapidamente para o portão, atenta
para não pisar no rastro de sangue.
"Espere! Olha, eu acho - Ada? Ei...".
Ela saiu no corredor de arma erguida, mas a criatura já tinha sumido. O rastro desaparecia no meio do corredor -
#
e viu que eles tinham esquecido a porta do canil aberta -
- e a tampa do poço também. Que ótimo.
Leon a alcançou e parou na sua frente. Por um momento, Ada achou que ele a fosse parar fisicamente.
Não faça isso. Eu não quero te machucar, mas vou se for preciso.
"Ada, por favor, não vá". Leon disse, não uma ordem, mas sim um pedido. "Eu - quando cheguei em Raccoon,
conheci uma garota e acho que ela está na delegacia. Se você puder me ajudar a encontrá-la, poderemos fugir
juntos. Teríamos mais chances -".
"Sinto muito, Leon, mas esse é um maldito país livre. Você faz o que tem que fazer, e boa sorte - mas eu não
vou ficar. Já foi o bastante. Se - quando eu sair, mandarei ajuda".
Ada passou por ele, esperando que não houvesse violência e que ele não tentasse impedi-la - vai ser muito
perigoso se ele tentar - foi quando ele a surpreendeu de novo.
"Então eu vou com você". Ele disse, seu olhar firme, decidido - e assustado. "Eu não vou deixar você ir sozinha.
Nem ninguém - não quero que você se machuque".
Ada olhou, sem saber o que dizer. Depois que Bertolucci morreu, ela não queria enganar Leon nos esgotos,
considerando o quanto extenso o sistema era... mas ele era tão bom, tão determinado em ajudar que ela estava
começando a - a não querer fazer mal a ele. Tudo seria mais fácil se ele fosse algum idiota metido a machão...
Tá bom, tire seu disfarce. Diga que é uma agente particular querendo roubar o G-virus e não quer companhia;
diga sobre o alívio que sentiu ao saber que o repórter iria morrer, ou que não tem problemas para tirar uma vida,
se for por uma boa causa - como ser paga. Veja o quanto bom ele será depois disso.
Não é uma opção. Mas havia uma parte dela que não queria admitir, uma parte que não queria ficar só. Ver o
que aconteceu com Bertolucci a fez perceber que não era tão invulnerável quanto gostava de pensar.
Então deixe-o vir, ache um lugar seguro no laboratório para deixá-lo. Sem danos nem sujeira.
Leon a olhava de perto, estudando-a - esperando sua aprovação.
"Vamos". Ela disse, e o sorriso que ele deu, apesar de vitorioso, a fez se sentir mais desconfortável.
Sem outra palavra, eles foram para o canil, Ada pensando no que estava fazendo - mas ainda capaz de fazer o
que for necessário para completar a missão.
Claire parou na frente de uma porta medieval no fim do escuro corredor o qual o elevador a tinha levado. A
delegacia era fria, mas a gelada umidade das pedras na parede do corredor fazia a delegacia parecer o verão; é
como se ela tivesse descido no calabouço de um castelo assombrado da Idade Média.
Ela respirou fundo, decidindo como entrar; ela estava certa de que Irons não gostaria de uma visita surpresa,
mas a idéia de bater era absurda - e perigosa. Haviam tochas acesas em suportes, uma de cada lado da porta
de madeira, a mesma envolta numa moldura de metal enferrujado.
Um túnel secreto, uma porta escondida com iluminação ambiente... que pessoa sã moraria aqui? Não foi o
desastre que fez isso - Irons devia ser louco bem antes do acidente da Umbrella...
Quando Sherry disse o que seus pais faziam para viver e o que aconteceu antes de chegar à delegacia, algo
clicou. A Umbrella trabalhava com doenças e a população de Raccoon certamente teve um grave caso de algo.
Deve ter sido algum tipo de acidente, um vazamento que soltou a estranha praga zumbi...
Claire mordeu o lábio, incerta do que fazer. Ela sabia que Irons estava em algum lugar lá embaixo, e não queria
vê-lo de novo; talvez ela deva voltar, pegar Sherry e tentar achar outra saída. Só porque é uma área secreta não
significa que haja uma saída lá.
Sherry estava lá em cima sozinha. E você tem uma arma, lembre-se?
Uma arma com poucas balas. Se for o esconderijo de Irons, devem haver armas lá dentro... ou apenas outro
corredor. Mas imaginar não a dirá nada.
Claire tocou a maçaneta e respirou fundo. A pesada porta abriu vagarosamente em dobradiças bem cuidadas. Ela
recuou apontando a arma -
Jesus.
Uma sala vazia, tão úmida e não receptiva quanto o corredor - mas com móveis e uma decoração que fez sua
pele arrepiar. Uma única lâmpada estava pendurada no teto, iluminando a mais pavorosa câmara que já tinha
visto. Tinha uma mesa no meio da sala, manchada e batida, um serrote e outros objetos cortantes espalhados
em cima; um balde de metal e um esfregão encostados numa parede, ao lado de uma estante cheia de
recipientes empoeirados - e o que pareciam ossos humanos, polidos e brancos, postos como troféus. Isso, e o
cheiro - um pesado e ácido cheiro químico que envolvia um outro pior. Um cheiro como loucura.
Só de olhar a sala a fez enjoar; "louco" devia ser o nome do ano do chefe da polícia - mas não havia ninguém lá.
Isso quer dizer que deve haver outra passagem secreta lá dentro. Pelo menos ela pode procurar por armas.
Engolindo, Claire entrou na sala, grata por não ter trazido Sherry; olhar para essa câmara de tortura a daria
pesadelos -
"Parada, mocinha, ou eu atiro".
Claire congelou. Cada músculo de seu corpo travou assim que Irons começou a rir atrás dela, de trás da porta
onde não pensou em olhar.
Oh, meu Deus, oh, Deus, oh, Sherry eu sinto muito -
O riso de Irons cresceu para a pura e alegre gargalhada de um louco, e Claire entendeu que iria morrer.
CONTINUA
Raccoon Times - 26 de Agosto de 1998
Plano "manter a cidade segura"
RACCOON CITY - Na frente da prefeitura, o Prefeito Harris anunciou ontem à tarde, em uma coletiva, que o conselho da cidade estará contratando pelo menos dez novos policiais para se juntar à polícia de Raccoon, por causa dos assassinatos brutais que atormentaram Raccoon no começo deste verão e devido a suspensão do S.T.A.R.S.. Junto com o Chefe Irons e todo os membros do conselho de Raccoon, Harris assegurou os cidadão e repórteres que a cidade será mais uma vez uma comunidade segura na qual se vive e trabalha, e que a investigação dos onze assassinatos "canibais" e dos três ataques animais fatais estão longe da solução.
"Só porque ninguém foi atacado no mês passado significa que os oficiais eleitos desta cidade podem relaxar" declarou Harris. "As boas pessoas de Raccoon merecem ter confiança em sua força policial e estarem seguras de que seus representantes políticos estão fazendo de tudo para dar segurança aos cidadãos. Como muitos de vocês sabem, a suspensão do S.T.A.R.S. será provavelmente permanente. Aquela unidade de investigação de assassinatos e sua subseqüente desaparição de Raccoon City sugere que eles não se importam com essa comunidade - mas eu quero assegurar vocês que nós nos importamos, e que eu, o Chefe Irons e os homens e mulheres que vocês vêem aqui, não queremos mais nada senão fazer de Raccoon um lugar a qual nossas crianças possam crescer sem medo".
Harris continuou a detalhar um plano de três pontos feito para reforçar a confiança e manter os cidadãos de Raccoon longe da violência.
Além de contratar de dez a doze policiais, o horário de recolher permanecerá ao menos até Setembro, e o Chefe Irons irá pessoalmente comandar uma força tarefa de alguns oficiais e detetives para continuar a busca dos assassinos que tiraram as vidas de onze pessoas entre Maio e Julho deste ano...
Cityside - 4 de Setembro de 1998
Renovação do complexo da Umbrella
RACCOON CITY - A instalação química da Umbrella no sul do centro da cidade começará a ser reformada na próxima Segunda-feira. Esta será a terceira renovação estrutural semelhante a do ano passado para a companhia. De acordo com a porta-voz da Umbrella, Amanda Whitney, dois dos laboratórios dentro da instalação principal serão adaptados com novos equipamentos projetados para síntese de vacinas e receberá um moderno sistema de segurança. Em adição, todos os escritórios conectados terão seus computadores atualizados na próxima semana.
Mas será isso um problema para o trânsito do centro da cidade? Whitney diz, "com o prédio do R.P.D. ainda terminando uma de suas reformas, os passantes locais já estão ficando cansados de ruas bloqueadas. Nós estamos fazendo de tudo para não interferir no trânsito; a maior parte da construção será interna e o resto será feito depois das horas de trabalho". O pátio do R.P.D., nossos leitores devem se lembrar, foi repavimentado e ajardinado depois que algumas rachaduras misteriosas apareceram no cimento; o tráfego teve que ser desviado por dois quarteirões na Rua Oak durante seis dias.
Ao perguntarmos porque tantos "reparos" ultimamente, Whitney respondeu, "a Umbrella tem estado na frente da competição há tanto tempo quanto continua com a atual tecnologia. Estes serão meses de trabalho, mas eu acho que valerá o esforço...”.
Raccoon Weekly Editorial - 17 de Setembro de 1998
Irons vai se candidatar?
RACCOON CITY - O Prefeito Harris pode estar numa difícil corrida na próxima primavera. Notícias de dentro do R.P.D. estão dizendo que Irons, Chefe da Polícia pelos últimos quatro anos e meio; pode estar concorrendo para chegar ao topo do ministério na próxima eleição, contra o popular, e sem oposição Devlin Harris, já no poder por três períodos consecutivos. Embora Irons não tenha confirmado os fatos, o ex-membro do S.T.A.R.S. recusou a negação do rumor.
Com sua popularidade bem alta desde o encerramento do caso dos assassinatos neste verão (ainda não resolvido) e da expansão planejada do RPD, Irons pode ser o homem que tirará Harris da Prefeitura; a questão é, serão os eleitores capazes de esquecer o suposto envolvimento de Irons nos fundos de campanha ilegais em Cider District? Ou seus caros gostos em arte e design interior, o qual tornaram o RPD em algo mais parecido com um museu?...
Raccoon Times - 22 de setembro de 1998
Adolescente atacada no parque
RACCOON CITY - Há aproximadamente 18:30h da noite passada, Shanna Williamson de quatorze anos foi surpreendida por um estranho no parque da Rua Birch no centro da cidade, quando voltava do treino para casa.
O homem veio de trás de uma cerca no parque e a derrubou de sua bicicleta antes de tentar agarrá-la. A jovem conseguiu sair de lá com alguns arranhões, e correu para a residência de Tom e Clara Atkin; Clara chamou as autoridades, que conduziram uma busca no parque, mas não acharam nenhum sinal do agressor.
De acordo com a garota (através de um depoimento hoje de manhã), o homem pareceu ser um pedestre: suas roupas e cabelos estavam sujos, e cheirava mal, "um cheiro de fruta podre". Ela disse que ele parecia bêbado, vacilando e caindo depois dela.
Com a onda de assassinatos de Maio para Julho ainda não resolvidos, o RPD está levando este fato seriamente: o agressor mostrou uma evidente semelhança com os membros da "gangue" do Victory Park em Junho deste ano.
Harris convocou uma coletiva para hoje, e Irons já declarou que o primeiro dos novos policiais chega na próxima semana, e que viaturas patrulharão os parques do centro da cidade...
https://img.comunidades.net/bib/bibliotecasemlimites/3_CITY_OF_THE_DEAD.jpg
[1]
Com o pessoal esperando no carro de Barry lá fora, Jill fez o possível para se apressar. Não era fácil, a casa tinha
sido revirada desde a última vez que esteve lá. Livros e papéis espalhados pelo chão, e estava muito escuro para
andar facilmente. O fato de sua casa ter sido violada era preocupante, mas já era de se esperar. Ela devia estar
agradecida por não ser do tipo sentimental - e pelos intrusos não terem achado seu passaporte.
Na escuridão de seu quarto, Jill pegou meias limpas e calcinhas e as colocou em sua mochila, desejando poder
acender as luzes. Fazer as malas no escuro era mais difícil do que se imaginava, mais ainda com a casa
bagunçada; mas eles não podiam se arriscar. Era improvável que suas casas estavam sendo vigiadas, mas se
alguém estiver olhando, uma luz poderia abrir fogo.
Pelo menos você vai embora. Chega de se esconder.
Eles estavam indo para território estrangeiro, invadir o quartel inimigo e provavelmente serem mortos no
processo, mas pelo menos ela não ficará mais em Raccoon. Pelo que ela leu nos jornais ultimamente, era a
melhor escolha. Dois ataques na semana passada... Chris e Barry estavam cientes do perigo, mesmo sabendo o
que o T-virus fazia com as pessoas - Barry pensou que isso era algum tipo de truque, que a Umbrella "salvaria"
Raccoon antes de alguém se machucar. Chris concordou, mas Jill não estava preparada para assumir nada; a
Umbrella já mostrou que não consegue conter suas experiências. E com o que Rebecca, David e sua equipe
enfretaram em *Maine...
Agora não é hora para pensar nisso - eles tinham um avião para pegar. Jill pegou a lanterna da penteadeira e
estava indo para a sala quando lembrou que só tinha um sutiã consigo. De cara feia, ela virou para a gaveta
aberta e começou a procurar. Ela já tinha roupas o bastante, escolhidas do que Brad deixou para trás quando
fugiu de Raccoon; ela e os outros ficaram na casa dele por várias semanas, desde que a Umbrella atacou a casa
de Barry. Nenhuma roupa de Brad serviu em Chris nem em Barry. Lingerie não era algo que o piloto do
S.T.A.R.S. tinha guardado. Ela não queria parar o avião para comprar roupas íntimas.
Colocando-os na mochila, Jill voltou para a pequena sala da casa. Tinha uma foto de seu pai em uma das
estantes que ela queria pegar. Era a segunda vez que foi lá desde que começaram a se esconder. Ela sente que
não voltará tão cedo.
Andando agilmente pelo escuro, ela ergueu a lanterna e a apontou para o canto onde a estante estava. A
Umbrella bagunçou tudo. Só Deus sabe o que eles estavam procurando. Pistas do nosso esconderijo,
provavelmente; depois do ataque na casa de Barry e a desastrosa missão à Caliban Cove, ela não acha que a
Umbrella ignoraria essas informações.
Jill iluminou o livro que queria, o título era Prison Life; seu pai teria rido. Ela pegou o livro e começou a folheá-lo,
parando quando a luz caiu sobre o sorriso de Dick Valentine. Ele tinha mandado a foto junto com sua última carta.
Ela tinha posto no livro para não perdê-la. Esconder coisas importantes era um hábito que adquiriu quando jovem.
Ela soltou o livro, a pressa foi embora de repente, ao olhar para a foto. Um leve sorriso surgiu em seu rosto. Ele
era o único homem que ficava bem no uniforme laranja da prisão.
Jill pensou no que ele acharia da situação atual; ele foi o responsável pelo envolvimento dela com o S.T.A.R.S..
Depois de preso, ele a encorajou a abandonar essa vida, dizendo que foi um erro treiná-la como uma ladra...
... aí eu peguei um trabalho legítimo, trabalhando para a sociedade ao invés de contra ela - aí as pessoas em
Raccoon começaram a morrer. O S.T.A.R.S. descobriu uma conspiração para criar armas biológicas com um vírus
que torna coisas vivas em mortas. Obviamente ninguém acreditou em nós. Os S.T.A.R.S. que não podem ser
comprados pela Umbrella, perdem a credibilidade ou são eliminados. Agora nós iremos para uma missão suicida na
Europa, tentar invadir o quartel general de uma corporação multibilionária e impedi-los de destruir esse maldito
planeta. O que você acharia? Sendo que você nunca acreditou nessa história, o que você acha?
"Você se orgulharia de mim, Dick". Ela suspirou, incerta se seria verdade. Seu pai queria vê-la em uma linha de
trabalho menos perigosa, e comparado ao que ela e os outros iriam fazer...
Depois de um longo momento, ela colocou a foto cuidadosamente no bolso e olhou para sua casa bagunçada,
ainda pensando na opinião de seu pai sobre tudo isso; se tudo correr bem, talvez ela possa perguntar
pessoalmente. Rebecca e os outros sobreviventes de Maine ainda estavam escondidos, investigando a
organização S.T.A.R.S. e esperando notícias sobre o quartel general da Umbrella. O quartel oficial fica na Europa,
mas eles suspeitavam de que os cabeças por trás do T-virus tinham um complexo secreto em outro lugar -
- a qual você não achará se ficar aí parada; o pessoal achará que você parou para tirar um cochilo.
Jill colocou a mochila e olhou em volta pela última vez antes de voltar para a porta dos fundos, na cozinha. Havia
um leve cheiro de fruta estragada no ar, vindo de uma tigela de maçãs e pêras em cima da geladeira. Apesar de
conhecer bem o cheiro, ela sentiu um calafrio em sua espinha. Ela foi para a porta fechada, tentando bloquear as
súbitas memórias do que eles acharam na mansão de Spencer...
"Jill?".
A porta abriu, a silhueta de Chris na escuridão pela distante luz da rua.
"Bem aqui". Ela disse, andando. "Desculpe pela demora. A Umbrella veio aqui com um trator".
Mesmo com pouca luz, ela pode ver um meio sorriso no rosto dele. "Nós estávamos achando que um zumbi
tinha pego você". Ele disse claramente, mas ela sentiu a preocupação.
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*Maine – Estado localizado na costa leste dos E.U.A.
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Muitas pessoas morreram por causa do que a Umbrella fez na
floresta fora da cidade. Se o acidente tivesse ocorrido mais perto de Raccoon...
"Não teve graça". Ela disse suavemente.
O sorriso de Chris sumiu. "Eu sei. Está pronta?".
Jill acenou, apesar de não se sentir preparada pelo que virá a seguir, tampouco pelo que estão deixando para
trás. Em algumas semanas, seu conceito de realidade transformou pesadelos em rotina.
Corporações malvadas. Cientistas loucos, vírus assassinos. E os mortos-vivos...
"Estou". Ela disse finalmente. "Estou pronta".
Juntos, eles saíram. Assim que ela fechou a porta, sentiu um súbito ar de incerteza - de que ela nunca mais
colocaria os pés em casa novamente, de que os três nunca mais voltariam para Raccoon City...
... mas não acontecerá nada com a gente. Algo acontecerá, mas não conosco.
Franzindo, mão na fechadura, ela tentou dar sentido ao pensamento. Se eles sobreviverem a essa missão, se
eles tiverem sucesso contra a Umbrella, por que não voltariam para casa? Ela não sabia, mas o sentimento era
desconfortavelmente forte. Algo ruim iria acontecer, algo -
"Ei, você está bem?".
Jill olhou para Chris, viu a mesma preocupação em seu rosto. Eles se aproximaram bastante nas últimas
semanas, apesar de achar que Chris queira se aproximar mais ainda.
E você não quer?
Jill se balançou mentalmente e acenou para Chris, deixando os sentimentos irem. O vôo para Nova Iorque não irá
esperar por ela.
Ainda aquele sentimento...
"Vamos sair daqui". Ela disse.
Eles andaram pela noite, deixando a escura casa para trás, tão quieta e sozinha quanto um túmulo.
[2]
29 de Setembro de 1998
O resto da luz do dia já estava atrás das montanhas, pintando o horizonte com o violeta do pôr do sol. As
montanhas corriam pela escuridão do céu sem nuvens, se esticando para alcançar o fraco brilho das estrelas.
Leon poderia ter apreciado mais a paisagem se não estivesse tão atrasado. Ele vai chegar a tempo, claro, mas
antes pretendia chegar em seu novo apartamento, tomar um banho, comer algo; mas do jeito que está, ele só
tem tempo para passar numa lanchonete a caminho da delegacia. Colocar seu uniforme na última parada lhe deu
alguns minutos, mas basicamente ele estava apertado.
Isso aí, Oficial Kennedy. Primeiro dia de trabalho e você estará tirando sanduíche dos dentes durante as
chamadas. Muito profissional.
Seu turno começava às nove e já era mais de oito. Leon pisou um pouco mais forte no acelerador ao passar por
uma placa que dizia restar meia hora para chegar em Raccoon City. Pelo menos a estrada estava livre. Ele não
viu ninguém em horas, exceto pelo apressadinho no sentido oposto.
Uma boa mudança considerando o trânsito depois de Nova Iorque, a qual lhe custou toda tarde. Ele tentou deixar
um recado para o sargento na noite passada, mas só ouviu o sinal de ocupado.
Os poucos móveis que tinha, já estavam no apartamento num bom bairro de Raccoon. Havia um parque à duas
quadras de lá, e só cinco minutos de carro até a delegacia. Chega de engarrafamentos, bairros violentos e ações
brutais. Ele procurava viver numa comunidade pacífica.
... bom, exceto pelos últimos meses. Aqueles assassinatos...
O que aconteceu em Raccoon foi horrível, doentio - mas os agressores nunca foram pegos e a investigação só
estava começando. Se Irons gostar dele como gostaram na academia, talvez Leon possa trabalhar nesse caso.
Mesmo Chefe Irons sendo uma praga, ele ficará um pouco impressionado. Leon se formou entre os dez
melhores e não era um estranho em Raccoon. Ele costumava passar os verões lá quando criança, quando seus
avós ainda eram vivos. O R.P.D. era uma biblioteca e a Umbrella estava a vários anos de distância de transforma
Raccoon numa verdadeira cidade. Mesmo assim, ainda é o mesmo calmo lugar de sua infância. Quando os
assassinos forem presos, Raccoon City será ideal de novo - bonita, limpa, uma comunidade escondida nas
montanhas como um paraíso secreto.
Aí eu me estabeleço lá. Uma ou duas semanas se passam e Irons percebe o quanto bem os meus relatórios
estão sendo escritos, ou vê o quanto bom eu sou atirando no alvo. Ele me chama para ver os documentos do
caso - e eu vejo algo que ninguém mais viu. Ninguém mais percebeu por que eles viveram muito com isso, e
esse policial novato vem e resolve o caso, nem um mês fora da academia e eu -
"Jesus!". Algo correu em frente ao seu Jeep.
Leon pisou no freio e desviou, tirado de seu sonho enquanto recuperava o controle do carro. Os freios travaram e
os pneus derraparam no asfalto. O Jeep parou de frente para as escuras árvores que cercavam a estrada -
desligando depois de uma última sacudida.
De coração acelerado, Leon abaixou o vidro e levantou o pescoço, varrendo as sombras pelo animal que tinha
cruzado a pista. Ele não o atropelou, mas foi por pouco. Algum tipo de cachorro, ele não viu direito - um dos
grandes, talvez um Doberman, mas de alguma forma parecia errado. Leon só o viu por uma fração de segundo,
um brilho de olhos vermelhos e o corpo inclinado de um lobo. E tinha algo mais, parecia algum tipo de...
... lodo? Não, truque de luz, ou você só estava se borrando de medo e acabou vendo errado. Você está bem e
não o atropelou, isso é o que importa.
"Jesus". Ele disse de novo, mais suave, sentindo-se aliviado e bravo enquanto a adrenalina saia de seu sistema.
Pessoas que deixam seus cães soltos são idiotas - depois agem surpresos quando o Totó é pego por um carro.
O Jeep parou a alguns metros de uma placa que dizia RACCOON CITY 10; ele só conseguia ver as letras no
escuro. Leon olhou no relógio; ele ainda tinha meia hora para chegar na delegacia, pouco tempo - mas por algum
motivo, ele simplesmente parou por um momento, fechando os olhos e respirando profundamente.
Uma brisa fresca passou pelo seu rosto; o deserto trecho de estrada parecendo sobrenaturalmente quieto.
Os assassinatos em Raccoon. Algumas pessoas foram mortas por animais, não foram? Cães selvagens? Talvez
aquele não tenha dono.
Um perturbante pensamento - mais ainda quando sentiu que o cachorro ainda estava por perto, o escondido nas
árvores.
Bem vindo a Raccoon City, Oficial Kennedy. Cuidado com as coisa que o observam...
"Não seja idiota". Leon disse para si mesmo, imaginado se algum dia se livrará de sua imaginação.
Sonhando em pegar caras maus, depois inventar monstros assassinos vagando pela floresta - vamos agir de
acordo com nossas idades, né, Leon? Você é um policial, pelo amor de Deus, um adulto...
Ele ligou o motor e voltou para a estrada. Ele tinha um emprego novo, um bom apartamento numa boa cidade;
ele era competente, consciente, e de boa aparência; usando sua criatividade, tudo ficará bem.
"E já estou a caminho". Ele disse, forçando um sorriso para se acalmar. Ele estava a caminho de Raccoon City,
para uma nova vida - não tinha nada com o que se preocupar...
Claire estava exausta, psicológica e emocionalmente, e o fato de seu traseiro estar doendo pelas últimas horas,
não estava ajudando. O motor de sua Harley parecia entrar em seus ossos, e mais, estava escurecendo. E por
idiotice, ela não estava usando suas roupas de couro; Chris não aprovaria.
Ele vai gritar comigo, e eu nem vou ligar. Deus, Chris, por favor, esteja lá para isso...
O barulho da moto ecoou pelos barrancos inclinados. Ela fez as curvas cuidadosamente, bem consciente do
quanto desertas as estradas estavam; se ela cair, levará um bom tempo até alguém aparecer.
Como se importasse. Sem seu equipamento, eles recolheriam seus pedaços com um rodo.
Era burrice, ela sabia que era burrice - mas algo aconteceu com Chris. Droga, algo deve ter acontecido com a
cidade toda. Pelas últimas semanas, a suspeita aumentou - e as ligações que tinha feito aquela manhã a tiraram
do lugar.
Ninguém em casa. Ninguém em lugar nenhum. Como se a cidade tivesse se mudado.
Ela não se importava com Raccoon, mas sim com seu irmão que estava lá, e se algo de ruim aconteceu com ele
-
Ela não podia, não pensaria desse jeito. Chris era tudo o que lhe restava. Seu pai morreu em seu emprego na
construção quando ainda eram crianças. Quando sua mãe morreu num acidente de carro três anos atrás, Chris
fez o melhor para substituir os pais. Mesmo sendo poucos anos mais velho, ele a ajudou a escolher uma
faculdade - ele até a mandava dinheiro todo mês. Além disso, ele ligava para ela toda semana.
Mas essas ligações pararam no último mês e meio, e as dela não foram retornadas. Ela tentou se convencer de
que era besteira se preocupar - talvez ele finalmente achou uma namorada, ou algum problema com o S.T.A.R.S.
Mas depois de três cartas não correspondidas e dias esperando o telefone tocar, ela finalmente decidiu ligar para
o R.P.D. naquela tarde, esperando que alguém pudesse dizer o havia acontecido. Ela só ouviu o sinal de ocupado.
Sentada em seu quarto, ouvindo aquele som, ela começou a se preocupar mesmo. Ela procurou em sua agenda
com mãos trêmulas, discando os poucos números dos amigos dele, pessoas ou lugares que mandou ligar em
caso de emergência - Barry Burton, Emmy's Diner, um policial que ela nunca conheceu chamado David Ford. Ela
até tentou o telefone de Bill Rabbitson, apesar de Chris ter dito que ele desapareceu alguns meses atrás. Só deu
ocupado.
A preocupação se transformou em algo perto de pânico. A viagem para Raccoon City levava seis horas e meia da
universidade. Sua amiga de quarto pegou seu equipamento de moto emprestado para sair com o namorado, mas
Claire tinha outro capacete - e com aquele pânico passando pelos seus pensamentos assustados, ela
simplesmente pegou o capacete e saiu.
Burrice, talvez. Impulsiva, certamente. E se Chris estiver bem, nós poderemos rir sobre o quanto ridícula essa
paranóia foi. Mas enquanto eu não souber o que está acontecendo, não terei um momento de paz.
O resto da luz do dia estava sumindo no céu sem nuvens, mas a brilhante lua cheia e o farol da moto eram
suficientes para enxergar - para ver a pequena placa adiante: RACCOON CITY 10.
Dizendo a si mesma que Chris estava bem, que algo de estranho aconteceu em Raccoon, alguém já teria
verificado. Claire passou a se concentrar na estrada. Daqui a pouco estará escuro, mas ela chegará em Raccoon
antes de ficar perigoso para dirigir.
Estando Raccoon City bem ou não, ela descobrirá em breve.
#
[3]
Leon alcançou os limites da cidade com vinte minutos restando, e decidiu que um jantar quente irá esperar. De
sua última visita à delegacia, ele sabia que haviam algumas máquinas de venda onde podia comprar algo. O
pensamento de ter doces e amendoins em seu estômago não caía bem, mas foi culpa dele por não te se livrado
do trânsito de Nova Iorque a tempo.
Ele passou por algumas fazendas que ficavam a leste da cidade, antes de ver a parada de caminhões que
separava a zona rural da urbana.
Assim que virou na ByBee, indo para uma das ruas norte-sul principais que o levariam para o R.P.D., ele
conseguiu a primeira dica de que algo estava errado. Nos primeiros quarteirões, ele se surpreendeu. No quinto ele
se sentiu um estranho no deserto. Não era estranho, era impossível.
ByBee era a primeira rua real da cidade, vinda do leste. Havia vários bares e restaurantes baratos, tal como um
cinema que nunca deve ter mostrado nada além de filmes de terror e comédias sensuais - e mesmo assim era o
mais popular lugar da juventude de Raccoon. Havia algumas tavernas que serviam cervejas e bebidas quentes
para os universitários. Às oito e quarenta e cinco da noite, ByBee deveria estar cheia de vida.
Exceto por algumas lojas e restaurantes, Leon viu que quase toda a rua estava escura - e mesmo as que tinham
luz não mostravam presença humana. Haviam carros parados na rua, e ainda nenhuma pessoa. ByBee, o ponto
de encontro de adolescentes e estudantes, estava totalmente deserta.
Onde está todo mundo?
Ele continuou dirigindo, procurando respostas - e tentando aliviar a suave ansiedade que sentia. Talvez há algum
tipo de evento acontecendo, uma missa ou uma festa da macarronada. Ou Raccoon decidiu antecipar a
Oktoberfest para hoje à noite.
Tá, mas todos ao mesmo tempo?
Leon percebeu que não tinha visto um carro se quer desde o cachorro há dezesseis quilômetros. Nem um. Sendo
assim, um pensamento menos dramático lhe ocorreu.
Algo não cheirava bem. De fato, algo cheirava como podre.
Ele diminuiu a velocidade para virar na Powell, uma quadra à frente - mas o cheiro e a ausência de vida estavam
lhe dando uma ruim sensação. Talvez ele deva parar e verificar, procurar algum sinal de -
Leon sorriu aliviado. Havia duas pessoas de pé na esquina, bem à frente; a luz estava apagada perto deles, mas
ele pode ver suas sombras claramente - um casal, uma mulher de saia e um homem alto usando botas. Indo a
sul na Powell, chegando mais perto deles, Leon pode ver como andavam, pareciam bêbados. Ambos estavam na
sombra de uma loja de escritório e fora de visão; mas Leon estava naquela direção - não custava parar e
perguntar?
Devem ter saído do O'Kelly's. Um copo ou dois, mas não estando dirigindo, ótimo. Eu me sentirei um idiota
quando eles me dizerem que hoje é o grande concerto gratuito ou o dia da churrascada.
Aliviado, Leon virou a esquina e olhou para as sombras, procurando pelo par. Ele não os viu, mas tinha um beco
entre a loja e a joalheria. Talvez eles tenham parado para ir ao banheiro ou fazer outra coisa mais ilegal -
"Merda!".
Leon pisou no freio assim que meia dúzia de escuras figuras voaram do chão, pegas pelos faróis do Jeep.
Assustado, levou alguns segundos para perceber que tinha visto pássaros; eles não berraram, apesar de ter
estado perto o bastante para ouvir o bater de asas.
Oh, meu Deus.
Havia um corpo humano no meio da rua, a seis metros do carro. Debruçada, mas parecia uma mulher - e
julgando pelo líquido vermelho que cobria boa parte da blusa branca, não era uma estudante bêbada que decidiu
dormir no lugar errado.
Atropelamento. Algum imbecil a acertou e fugiu.
Leon desligou o motor e abriu a porta. Ele hesitou, um pé no asfalto, o cheiro de morte intenso no ar. Sua mente
#
trouxe uma idéia que não queria considerar, mas deveria; isso não é um treinamento, é a sua vida.
E se não foi um atropelamento? E se o fato de não haver pessoas por perto é por causa de um maluco armado
que decidiu praticar tiro ao alvo? Talvez todos estão em casa, abaixados - o R.P.D. pode estar a caminho e
aqueles dois bêbados podiam estar feridos e procurando ajuda...
Ele se esticou no Jeep e procurou seu presente de formatura debaixo do banco do passageiro, uma H&K VP70
com dezoito balas.
Apontando ela para o chão, Leon saiu do carro e deu uma olhada em volta. Ele não conhecia muito bem a noite
de Raccoon, mas sabia que não deveria estar tão escuro. Várias luminárias da rua estavam apagadas; se não
fossem os faróis do carro, ele não teria visto o corpo.
Ele se aproximou, sentindo-se desprotegido sem o carro, mas ciente de que ela podia estar viva. Era impossível,
mas ele tinha que ver.
Alguns passos mais próximo e viu que era um a jovem mulher. O cabelo ruivo e liso cobria o rosto. A maioria dos
ferimentos estavam escondidos pela blusa ensangüentada. Parecia haver alguns deles - rasgos na roupa
expunham claros e cortados pedaços de carne e os músculos vermelhos abaixo.
Exalando forte, Leon colocou a arma na mão esquerda e se agachou, tocando a fria pele do pescoço dela. Alguns
segundos passaram, segundos que lhe causaram medo, tentando se lembrar do procedimento de ressuscitarão,
esperando sentir o pulso.
Cinco compressões, dois e curtos sopros, cotovelo parados e, por favor, não esteja morta -
Ele não sentiu o pulso e não queria esperar. Guardando a arma, ele agarrou os ombros para vira-la - mas quando
começou a erguê-la, sua blusa saiu da calça, mostrando algo que o fez soltá-la. Sua coluna e parte das costelas
estavam expostas. As vértebras brancas brilhando entre a carne vermelha. Parece que ela foi mastigada. Coisa
que Leon não quis acreditar.
Os corvos não fizeram isso, teria levado horas, e quem disse que corvos se reúnem à noite para comer? E aquele
cheiro, não está vindo dela, ela morreu recentemente, e -
Canibais. Assassinos.
Não. Nem pensar. Para uma pessoas ser morta e devorada no meio da rua sem ninguém para impedir -
- e com tempo suficiente para comedores de mortos virem - os assassinos devem ter matado toda a população.
Parece certo? Então que cheiro é esse? E onde estão todos?
Atrás de Leon, houve um baixo e suave gemido. Depois, passos.
Levou um segundo para Leon se levantar, virar e empunhar a arma. Era o casal, os bêbados, vindo em sua
direção, junto com um terceiro, um cara musculoso com -
- com sangue por toda a camisa. E nas mãos. E pendurado em sua boca, algo vermelho e mole. O outro homem
com as botas e suspensórios, parecia igual.
O trio se aproximava, passando do Jeep, erguendo as mãos e gemendo. Leon estava impressionado com a
descoberta de que o cheiro vinha deles -
- e apareceu outro, saindo da porta do outro lado da rua, uma mulher de camiseta e cabelo amarrado para trás.
Outro gemido atrás dele. Leon olhou sobre o ombro e viu um jovem de cabelos escuros e braços podres sair das
sombras da calçada.
Leon apontou a arma para o que estava mais perto, o de suspensórios, enquanto seus instintos gritavam para
fugir. Ele estava aterrorizado, mas sua lógica insistia que havia uma explicação para o que via, que não estava
vendo um morto-vivo.
"Certo! Já chega! Não se mexam!".
Sua voz foi forte e autoritária. Ele vestia seu uniforme, e Deus, por que eles não param? O de suspensórios
gemeu de novo, cego para a arma apontada para seu peito, e ainda seguido pelos outros, agora a menos de
três metros de distância.
"Não se mexa!". Leon disse de novo, e o som de seu próprio pânico o fez recuar um passo, olhando para os
lados e vendo mais dois saindo das sombras.
Algo agarrou seu calcanhar.
"Não!". Ele gritou, virando a arma -
#
- e viu que a atropelada estava segurando sua bota com uma mão ensangüentada, tentando mover seu corpo.
O gemido dela se juntou ao dos outros enquanto tentava morder seu pé, vermelhos fios de saliva escorrendo
pelo queixo, caindo no couro.
Leon atirou nas costas dela. Pela distância deve ter acertado seu coração. Tremendo, ela voltou para o chão.
- e ele virou e viu os outros a menos de um metro e meio, e atirou mais duas vezes, os tiros abrindo buracos no
peito do mais próximo.
O de suspensórios não se intimidou com os tiros em seu peito, seu equilíbrio se abalando por apenas um segundo.
Ele abriu a boca e soltou um grito de fome, mãos erguidas de novo na direção de seu alívio.
Recuando, Leon atirou de novo. E de novo. E de novo. Mais tiros e eles continuaram vindo. Era como um sonho
ruim, um filme ruim, não era real - e Leon sabia que se não começasse a acreditar, acabará morrendo. Comido
por esses -
Vá em frente. Diga. Esses zumbis.
Longe do carro, Leon correu, ainda atirando.
[4]
Que vida noturna; esse lugar está morto.
Claire não viu tantas pessoas como deveria desde que chegou em Raccoon, só algumas, só algumas vagando
por aí. O lugar parecia totalmente deserto; o capacete bloqueava muito a visão, mas definitivamente os negócios
não iam bem naquela parte da cidade. Tal como o trânsito.
Ela planejou ir direto ao apartamento de Chris, mas se lembrou de que passaria em frente ao Emmy's. Chris não
sabia cozinhar nada; sendo assim, ele vivia de cereais, sanduíches frios e jantares no Emmy's seis vezes por
semana; mesmo não estando lá, vale a pena parar e perguntar se alguma garçonete o viu.
Assim que Claire parou em frente ao Emmy's, viu ratos procurando abrigo numa lata de lixo na calçada. Ela
abaixou o apoio e desceu da moto, tirando o capacete e o colocando no assento. Balançando seu rabo de cavalo,
ela franziu o nariz de nojo; pelo cheiro, o lixo estava lá por um bom tempo. Independente do que jogavam fora,
aquilo tinha um cheiro tóxico.
Antes de entrar, ela esfregou seus braços e pernas tanto para aquecê-los, quanto para limpá-los da sujeira da
estrada.
Através do vidro da frente do restaurante era possível ver o confortável de bem iluminado interior.
Das banquetas vermelhas do balcão que cercava o canto esquerdo ao fundo - não tinha uma alma à vista. Claire
franziu, desapontada. Tendo visitado Chris regularmente nos últimos anos, ela esteve lá todas as horas do dia e
da noite; os dois eram corujas, decidindo comer sanduíches às três da manhã - o que significa Emmy's. E sempre
tinha alguém lá, conversando com uma das garçonetes de avental vermelho ou curvado sobre uma xícara de
café e um jornal, não importava que horas fossem.
Então onde eles estão? Nem são nove horas...
A placa dizia Aberto, e ela não ficou parada na rua, esperando. Uma última olhada na moto e ela entrou.
Respirando fundo ela disse esperançosa.
"Olá? Tem alguém aqui?".
Sua voz correu pelo silêncio do restaurante vazio. Exceto pela suavidade dos ventiladores de teto, não havia outro
som. Tinha um familiar cheiro de gordura no ar e algo mais - um cheiro amargo e ainda fraco de flores podres.
O lugar era em L, se esticando para frente dela e para a esquerda. Andando devagar, Claire seguiu em frente.
Atrás do balcão ficava o caminho da cozinha. Se o restaurante estava aberto, os funcionários deviam estar lá,
talvez surpresos com a falta de clientes -
- mas isso não explica a bagunça, né?
Não estava tão bagunçado. A desordem nem foi percebida do lado de fora. Menus no chão, um copo d'água
virado no balcão, e talheres eram os únicos objetos fora de ordem - mas era demais.
Que se dane a cozinha, isso é muito estranho, algo está errado nessa cidade - talvez eles foram assaltados ou
preparando uma festa surpresa. Quem se importa?
#
Do espaço escondido no final do balcão, ela ouviu um movimento, um deslizante sor de roupas seguido por um
ronco. Alguém está lá, agachado.
De coração batendo forte, Claire chamou de novo. "Olá?".
E nada.
- outro gemido, um som que arrepiou os pêlos do seu pescoço.
Apesar do medo, Claire foi até lá. Talvez houve um assalto, os clientes podem estar amarrados - ou pior, tão
machucados que não conseguiam gritar. De qualquer modo, ela estava envolvida.
Claire chegou no fim do balcão, olhou para a esquerda -
- e gelou, de olhos arregalados, sentindo-se psicologicamente estapeada. Perto de uma prateleira com bandejas
estava um calvo homem de avental branco, de costas para ela. Ele estava agachado sobre o corpo de uma
garçonete; mas tinha algo muito errado sobre ela, tão errado que Claire não conseguiu aceitar tão cedo. Seu olhar
chocado passou pelo uniforme vermelho, sapatos, até pelo crachá de plástico no peito dela, "Julia" ou "Julie".
... a cabeça. A cabeça dela não estava lá.
Percebendo o que estava errado, Claire não conseguiu desacreditar por mais que queira. Só tinha uma poça de
sangue no lugar da cabeça dela, cercada por fragmentos do crânio e mechas de cabelo escuro. O cozinheiro tinha
as mãos no rosto e Claire, olhando para o corpo, soltou um leve suspiro.
Ela abriu a boca, incerta sobre o que falar.
Gritar, perguntar por que, como, oferecer ajuda - ela não sabia, e assim que o homem virou para ela, abaixando
as mãos, nada foi dito definitivamente.
Ele estava comendo a garçonete. Seus dedos estavam vestidos com carne; a estranha face que ele mostrou
estava suja de sangue.
Zumbi.
Sua mente aceitou isso no momento em que pensou; ela não era idiota. Ele estava mortalmente pálido e com
aquele cheiro de podridão. Seus olhos brancos.
Zumbis em Raccoon. Eu nunca esperei isso.
Com esse calmo e lógico pensamento veio uma súbita onda de terror. Claire recuou, enquanto o homem
continuava se virando, se levantando.
Ele era enorme, quase dois metros, grande como um armário -
- e morto! Ele está morto e comendo a mulher, não o deixe se aproximar!
O cozinheiro começou a andar. Claire recuou mais rápido, quase escorregando num menu. Um garfo entortou sob
seus pés.
SAIA DAQUI, AGORA.
"Eu já estou de saída". Ela falou. "Mesmo, não precisa mostrar a porta -".
O cozinheiro continuou andando, seus cegos olhos arregalados de fome. Outro passo para trás - e Claire sentiu o
frio metal da maçaneta da porta. Uma triunfal adrenalina passou por ela enquanto virava, tocava a maçaneta -
- e gritou, um curto grito de terror. Havia dois, três deles lá fora, suas carnes decompostas pressionando o vidro.
Um deles só tinha um olho; outro só o lábio superior. Do outro lado da rua, escuras figuras saiam da penumbra.
Sem saída, presa -
- Jesus, a porta dos fundos!
No final de seu campo visual, a verde luz da saída brilhava como uma estrela. Claire virou de novo e mal viu o
cozinheiro chegando onde estava, uma atenção virada para sua única esperança.
Ela correu. A porta daria no beco, se estiver trancada Claire estará morta.
Claire golpeou a porta e ela abriu, acertando os tijolos da parede do beco - e tinha uma arma apontada para seu
rosto, a única coisa que podia pará-la, um homem armado.
Ela congelou, erguendo os braços instintivamente.
"Espere! Não atire!".
Ele não se moveu, a arma ainda apontada para sua cabeça -
- ele vai me matar -
"Abaixe-se!". Ele gritou, e Claire obedeceu.
Boom! Boom!
O homem atirou e Claire olhou em volta, viu o cozinheiro morto caindo de costas bem atrás dela, um buraco em
sua testa.
#
Claire voltou-se para o homem que salvou sua vida, reparando no uniforme. Policial. Ele era jovem, alto - tão
aterrorizado quanto ela se sentia, seus olhos azuis bem abertos e sem piscar. Pelo menos sua voz foi forte ao se
abaixar para ajudá-la.
"Não podemos ficar aqui. Venha comigo, nós estaremos a salvo na delegacia".
Assim que ele falou, ela ouviu um coro de gemidos vindos da rua, aumentando. Claire se deixou ser levantada,
segurando a mão dele bem forte, se confortando ao percebeu que sua mão estava trêmulas igual a dele.
Eles correram.
[5]
Leon correu junto com a garota, tentando lembrar o mapa da cidade. O beco deve dar na Ash, não muito longe
da rua do R.P.D., a Rua Oak - mas a delegacia estava a pelo menos uns quinze quarteirões à leste; sem
transporte eles não conseguirão. Ele só tinha quatro balas, e pelo som vindo do beco, havia dezenas de criaturas
em cada ponta.
Saindo do beco, Leon ergueu a mão e parou de correr, examinado a escura rua. Ele não viu muito, mas de onde
estavam, perto da luminária, havia onze ou doze zumbis à direita e só três à esquerda, não muito longe de uma -
Aleluia!
"Ali!".
Leon apontou para uma viatura estacionada do outro lado da rua. Não havia policiais por perto; seria querer
demais - mas as portas estavam abertas. Eles podem alcançar o carro antes das três coisas ali perto. Se não
tiver chave, pelo menos há um rádio e vidros à prova de balas. Eles podem ficar lá até a ajuda chegar -
- e é a única chance. Vá!
Eles correram para o preto e branco. Leon apontando sua arma para as criaturas mais próximas, a uns vintes
metros. Ele queria atirar, mas não podia desperdiçar munição.
Deus, que tenha chaves.
Eles alcançaram a viatura ao mesmo tempo e se dividiram, a garota indo para o lado do passageiro, fazendo
Leon perceber que ela achava que o carro era seu. Ele a esperou fechar a porta antes de entrar, uma pequena
voz dentro dele gritando que esse era seu primeiro dia.
A chave estava na ignição. Leon guardou a arma e a tocou.
"Aperte os cintos". Ele disse, pouco ouvindo o consentimento da garota enquanto girava a chave e as sirenes
ligavam. A Rua Ash foi iluminada por azul e vermelho, as sombras mudando de forma e densidade. Era a visão do
inferno - e ele pisou no acelerador, querendo sair de lá o mais rápido possível.
O carro saiu derrapando. Leon virou para a direita depois para a esquerda, quase acertando uma mulher cuja
metade do couro cabeludo foi arrancado.
Ajuda, chamar ajuda -
Leon pegou o rádio sem tirar os olhos da rua. Criaturas saíam da escuridão como se chamadas pelo carro veloz.
Assim que o carro cruzou a Powell e continuou, Leon desviou de mais zumbis.
A garota estava cochichando, olhando para a desolada paisagem enquanto Leon apertava o botão do rádio, o
desamparo crescendo. Sem estática, sem nada.
"Que diabos está acontecendo. Eu chego em Raccoon e o lugar está de cabeça para baixo -".
"Ótimo, o rádio está desligado". Leon a interrompeu, soltando o rádio. A cidade parecia um mundo alienígena, as
ruas estranhamente assombradas. Parecia um sonho, mas o cheiro dizia que estavam acordados. O cheiro tinha
tomado conta da viatura, ficando difícil de dirigir. Pelo menos não tinha trânsito, nem pessoas, pessoas de
verdade...
... exceto eu e a garota. Eu tenho que fazer o meu trabalho, não deixá-la se machucar. Pobre menina, não deve
#
ter mais de dezenove ou vinte anos, deve estar aterrorizada.
"Você é policial, né?".
Ele olhou para ela, o tom sarcástico e humorado em sua voz deu uma forte impressão de que ela não era fraca.
Uma boa coisa apesar das circunstâncias.
"Sou. Primeiro dia no trabalho; que ótimo, hein? Eu sou Leon S. Kennedy".
"Claire,". Ela disse. "Claire Redfield. Eu vim procurar meu irmão, Chris...".
Ela parou, olhando para a rua. Duas criaturas estavam entrando no caminho do carro, e Leon acelerou, passando
entre eles. A grade de metal que divide a parte de trás do carro estava quebrada, fornecendo uma clara visão do
retrovisor interno; os dois zumbis vagando desatentamente atrás deles.
Famintos. Como nos filmes.
Por um momento, ninguém falou, a pergunta mais obvia não respondida. Seja lá o que tornou Raccoon numa
casa dos horrores, não importava tanto quanto suas vidas. Eles chegarão na delegacia em alguns minutos. Tinha
um estacionamento subterrâneo - ele tentará lá primeiro - mas se os portões estiverem fechados, eles terão que
andar um pouco. Tinha um pequeno jardim em frente ao prédio.
Quatro balas - e uma cidade cheia daquelas coisas. Precisamos de outra arma.
"Ei, abra o porta-luvas". Ele disse.
Claire apertou o botão e se curvou, mostrando as costas de seu colete vermelho; "Made in Heaven" (Feito no
Paraíso) estava estampado sobre um voluptuoso anjo segurando uma bomba. Combinava com ela.
"Tem uma arma aqui". Ela disse, e pegou a semi-automática, erguendo-a cuidadosamente para ver se estava
carregada, antes de pegar os dois clips. Era uma das velhas armas do R.P.D., uma Browning HP de 9 mm.
Desde a onda de assassinatos, a polícia tem usado as H&K VP70, outra 9 mm - a diferença é que a Browning
carrega treze balas enquanto a outra podia carregar dezoito, dezenove se você deixar uma engatilhada. Do modo
que a manuseava, Leon viu que ela sabia o que fazia.
"É bom ficar com ela". Ele disse.
Assim que Leon fez uma curva um pouco rápido demais, o pensamento do R.P.D. estar infestado de zumbis o
acertou. Tudo ocorreu tão rápido que ele nem tinha pensado nisso. Talvez haja uma defesa organizada na
delegacia - mas era difícil pensar com o cheiro de podridão tão forte no ar.
Temos três quartos de tanque, mais do que suficiente para chegar às montanhas; podemos estar em Latham
em menos de uma hora.
Eles poderiam desviar da delegacia se parecesse insegura. Sair da cidade soava bom para ele. Ele ia contar para
Claire, ver o que ela achava quando -
- o terrível cheiro de morte se intensificou e algo pulou do banco traseiro.
Claire gritou e o monstro que esteve na viatura o tempo todo agarrou o ombro de Leon, levando seu braço direto
para frente com uma incrível força.
"Não!". Leon gritou assim que o carro virou violentamente para a direita, subindo na calçada e deslizando na
parede de um prédio. A criatura estava desequilibrada, perdendo apoio; Leon virou o volante para a esquerda,
mas não evitou a parede por completo. Ruídos de metal e faíscas iluminaram o interior.
A coisa jogou seus braços em Claire e, sem pensar, Leon acelerou e jogou o carro para a direita. O carro
ziguezagueou, derrapando lateralmente, a traseira acertando uma pick-up azul estacionada. Faíscas e o som de
borracha no asfalto.
O morto foi para o banco, mas voltou imediatamente para frente, na direção da garota.
Eles desciam a Terceira (uma rua), Leon tentando controlar o carro enquanto pegava sua arma e se virava. Ele
não pensou em desacelerar, só pensava no zumbi cravando seus dentes no ombro de Claire.
Segurando a arma pelo cano, ele desceu a coronha no rosto do monstro, arrancando pele igual a uma banana.
Gemendo, a criatura tocou o rosto sangrando e Leon pode sentir um segundo de triunfo, até que -
- Claire gritou, "Cuidado!".
- e Leon viu que eles iam bater.
Leon tinha batido no zumbi com a arma quando seu olhar aterrorizado viu que a rua ia acabar.
"Cuidado!".
Ela só pode ver os dedos dele grudados no volante -
- e o carro começou a girar, derrapando, prédios e luzes piscando tão rápido que ela só viu borrões, e de repente
#
- BAM!
Houve uma explosão de som, de vidro quebrando e metal esmagando, assim que o carro bateu em algo sólido,
arremessando Claire contra o assento. Ao mesmo tempo, o impacto jogou o zumbi violentamente para trás,
atravessando o vidro traseiro -
- e tudo ficou quieto. Só o seu coração pulsando nos ouvidos. Claire viu que Leon já estava recuperado, olhando
para o corpo lá atrás, sua cabeça fora de visão. Não estava se mexendo.
"Você está bem?".
Claire virou para Leon, subitamente querendo evitar uma risada. A cidade estava infestada por mortos-vivos, e
acabaram de sofrer um acidente por que um cadáver queria comê-los. Considerando isso, "bem" não é primeira
palavra a vir na cabeça.
"Inteira". Ela disse, e o jovem policial acenou, parecendo aliviado.
Claire respirou fundo e olhou onde estavam. Leon tinha girado 180 graus com o carro no final da rua em T, o
carro completamente danificado estava de frente para o sentido de onde vieram. Não havia zumbis por perto. Ela
segurou sua arma fortemente, tentando se controlar.
"Nós -". Leon começou a falar algo, mas parou, seus olhos arregalados para o que via. Claire também viu - e por
um segundo, sentiu que seu caminho foi amaldiçoado desde que saiu da universidade.
Um caminhão descia a rua, ainda a vários quarteirões de distância, mas perto o bastante para ver que estava
fora de controle. O caminhão ziguezagueava, batendo na mesma pick-up azul de um lado da rua e uma caixa de
correio do outro. Claire percebeu com terror que era um caminhão tanque. No segundo que levou para entender,
rezar para que não seja gás ou óleo, o caminhão diminuiu a distância entre eles. Ela já via o acidente quando
Leon quebrou o silêncio.
"- ele vai esmagar a gente". Ambos tocaram os cintos de segurança, Claire rezando para não estarem presos.
O som dos cintos soltando foram inaudíveis perante o crescente eco do caminhão. Ele chegará em um segundo.
"Corra!". Leon gritou, e ela saiu do carro, ar fresco em sua suada pele. O ronco do motor do caminhão
bloqueando tudo mais.
Ela deu três passos gigantes, tanto sentindo quanto ouvindo o impacto, o chão tremendo sob seus pés assim que
metal se retorcia atrás dela.
Mais um pouco, e -
KABOOM!
- ela foi jogada, literalmente tirada de suas botas por uma incrível onda de pressão, calor e som. Ela tentou
alcançar o chão enquanto a explosão tornava a noite em dia. Um estranho giro, poeira em sua pele, e Claire
aterrissou perto de um *De Lorean prateado estacionado na frente de uma *delicatessen.
Houve uma breve chuva de destroços enfumaçados e Claire se levantou, procurando nas labaredas por Leon.
Seu coração parou. O caminhão tanque, a viatura, tudo estava envolvido por fogo. A rua completamente
bloqueada por uma massa de destruição.
"Claire -".
A voz de Leon, abafada, mas audível através da parede de fogo.
"Leon?".
"Eu estou bem!". Ele gritou. "Vá para a delegacia, eu te encontro lá!".
Claire hesitou por um segundo, olhando para a arma que ainda segurava firmemente em sua trêmula mão. Ela
estava com medo, aterrorizada por estar só numa cidade que virou um cemitério - mas não tinha escolha.
"Tá bom!".
Ela virou. O portão de trás da delegacia estava a alguns metros dali -
- e criaturas estavam saindo das sombras, de trás dos carros e de dentro dos prédios escuros. Com um
pensamento em mente, eles entraram na estranha luz do acidente, gemendo de fome - dois, três, quatro deles.
Por trás do fogo, ela ouviu tiros - dois tiros, depois nada - nada além do fogo e os suaves gemidos.
Leon já foi, agora VÁ!
Claire respirou fundo e correu.
#
[6]
Ada Wong colocou, na cavidade da estátua, o brilhante disco de metal dourado com um unicórnio entalhado,
dando um tapinha até a peça encaixar no mármore. Ela ouviu um movimento na estátua e se afastou para ver o
que acontece. Seus passos ecoaram pelo grande hall principal da delegacia, o som passando pelos parapeitos do
segundo e terceiro andar.
Outra chave? Uma das medalhas do esgoto? Ou quem sabe a própria amostra... não seria uma feliz surpresa.
A ninfa segurando uma jarra d'água feita de pedra deslizou para trás, a jarra em seu ombro jogando um fino
pedaço de metal. A chave de *espadas (*spade key).
Ela suspirou, pegando-a. Ela já tem as chaves; de fato, ela já tem tudo o que precisa para vasculhar a delegacia,
e quase tudo para o laboratório. Se a Umbrella tivesse facilitado, o trabalho teria sido moleza. Dinheiro fácil.
Mas acabei ganhando férias de três dias na cidade dos monstros, brinquei de Por Uma Bala na Cabeça e Vamos
Achar o Repórter. As amostras podem estar em qualquer lugar, dependendo de quem sobreviveu. Se eu sair
daqui com as belezinhas, vou pedir um grande bônus; ninguém deve trabalhar nessas condições.
Ada guardou a chave e olhou para o parapeito superior, mentalmente visualizando as salas que já foi. Bertolucci
parece não estar em lugar algum da asa leste do R.P.D.. Ela passou horas encarando mortos em busca do
queixo quadrado e rabo de cavalo dele. Claro, ele pode estar se movendo - mas pelo que sabia dele, era
improvável; o repórter se escondia diante do perigo.
Por falar em perigo...
Ada foi para a porta que dava na parte inferior da asa leste. O hall principal estava a salvo dos infectados, eles
não pareciam conhecer uma maçaneta - mas havia ameaças além deles. Só deus sabe o que a Umbrella
mandará para arrumar tudo isso... ou o que foi solto no laboratório após a contaminação. Menos assustador,
mas não menos preocupante quanto os policiais vivos procurando alguém para salvar. Ela já ouviu tiros, alguns
distantes, outros não, toda hora desde que chegou; deve haver alguns não-infectados no grande e velho prédio.
Na ponta dos pés para evitar barulho, ela cruzou a porta e se encostou nela, decidindo onde ir; ela ainda não
checou o subterrâneo e haviam vários portadores na sala dos detetives.
Ah, a excitante vida de uma agente autônoma. Viajar pelo mundo! Ganhar dinheiro roubando coisas importantes!
Combater mortos-vivos sem ter tomado um banho ou comido algo decente por três dias - isso impressiona os
amigos!
Ela se lembrou de pedir aquele bônus de novo. Quando chegou em Raccoon há menos de uma semana, ela se
achava preparada; os mapas foram estudados, os dados do repórter memorizados, sua história falsa na ponta
da língua - uma mulher procurando pelo namorado, um cientista da Umbrella. Essa parte era quase verdade; de
fato, foi seu breve relacionamento com John Howe dez meses antes de ela ter arrumado o emprego. Mas John
pensou de outra forma e sua conexão com a Umbrella provavelmente o matou. Tudo isso se tornou uma boa
dica para ela.
Aí ela já estava pronta. Mas nas primeiras vinte e quatro horas de estadia, sua sorte mudou; enquanto comia no
quase vazio restaurante do hotel, ela ouviu os primeiros gritos do lado de fora. Os primeiros, mas não os últimos.
De algum modo, o desastre foi uma vantagem; não haverá guardas no laboratório. O estudo que fez no T-virus
a assegurou de que o aerotransmissível se dissipa rapidamente; o único modo de se contaminar agora é entrando
em contato com um portador, então não haverá problema.
Objetivos: interrogar o repórter, descobrir o quanto ele sabe e matá-lo ou ignorá-lo, depende. Recuperar uma
amostra do novo vírus, a mais nova maravilha do Dr. Birkin. Sem problema, certo?
Três dias antes, sabendo como o laboratório da Umbrella era conectado ao sistema de esgoto e com Bertolucci
na sua frente, o trabalho teria siso moleza. Foi quando as coisas começaram a dar errado.
Pessoas desaparecendo, barricadas caindo...
Ela observou Bertolucci de perto o bastante para ver que ele fugiria. Ela nem teve tempo de fazer contato antes
#
dele desaparecer. Ada decidiu continuar sozinha quando três quartos dos civis foram mortos por que ninguém se
preocupou em fechar os portões da garagem. Ela não queria morrer tentando proteger sua imagem de turista
assustada procurando o namorado.
Aí veio a espera. Quase quinze horas esperando as coisas se acalmarem, escondida no maquinário do relógio do
terceiro andar, entre o eco de tiros e gritos...
Ótimo. O que fazer agora? Sentar e refletir ou acabar logo com isso; quanto mais cedo acabar mais tempo de
férias terá numa ilha qualquer.
Quieta, Ada não se mexeu, batendo sua Beretta na perna. Haviam corpos espalhados no corredor; ela não
conseguia parar de olhar um deles, caído debaixo da janela-bancada do escritório. Uma mulher ensangüentada.
Os outros dois eram policiais e ela não os conhecia - mas a mulher foi uma das pessoas com a qual conversou
quando chegou na delegacia. Seu nome era Stacy, uma nervosa, mas forte garota de vinte e poucos anos.
Stacy Kelso, isso mesmo. Ela queria comprar sorvete e acabou aqui - apesar de sua situação, ela estava mais
preocupada com os pais e o irmão em casa. Uma garota consciente. Uma boa garota.
Por que ela está pensando nisso? Stacy estava morta e não foi Ada que a matou. Ela veio aqui para trabalhar;
não foi sua culpa por Raccoon estar assim.
Talvez não seja culpa. Talvez só esteja triste porque Stacy não conseguiu.
Ela era uma pessoa, e agora está morta, como sua família provavelmente.
"Saia dessa". Ela disse, suave, mas irritadamente. Ada desviou o olhar, fixando-o num cinzeiro quebrado no fim
do corredor, onde virava à direita. Sentia-se mau com as coisas que não conseguia controlar, não era seu estilo,
não foi assim que chegou até aqui - e considerando o esforço que o Sr. Trent estava fazendo para manter Ada
trabalhando, agora não é a melhor hora para analisar suas habilidades.
Objetivos: falar com Bertolucci e pegar a amostra do G-virus. É tudo com o que ela precisa se preocupar.
Ainda há um mecanismo que Ada precisa ver, na sala de entrevistas. As últimas adições do arquiteto foram
detalhadas por Trent, mas ela sabia que tinha a ver com as lâmpadas de gás e uma pintura a óleo. A pessoa que
fez tudo isso teve uma séria vida secreta; havia passagens secretas escada acima, atrás de uma parede. Ela
ainda não foi lá, mas uma breve olhada revelou um escritório. Julgando pela decoração neurótica e estofada, só
podia ser de Irons. Mesmo tendo estado em sua companhia por pouco tempo, ele era o homem mais instável
que já conheceu; não havia dúvidas de que estava na lista de pagamento da Umbrella, mas também havia algo
sobre ele que parecia bem defeituoso.
Ada desceu o corredor, seus sapatos contra os ladrilhos esverdeados; ela já temia outro mecanismo. Nada que
não tinha dicas; ela assumia que o vírus ainda estava no laboratório. Os dados diziam que havia cerca de doze
frascos da coisa, informação de um vídeo de duas semanas - e o laboratório de Birkin não era impenetrável.
Sendo o laboratório subterrâneo conectado à delegacia pelo esgoto, ela deve considerar que as amostras foram
movidas. Além disso, Bertolucci pode estar escondido na biblioteca ou no escritório do S.T.A.R.S., na asa oeste,
talvez na sala de revelação; vivo ou morto, ele precisa ser encontrado.
Ela virou no corredor, passando por uma pequena área de espera com máquinas de venda já saqueadas. Como
todo o R.P.D., o corredor estava frio e com falta de ar fresco; ela já se acostumou com o cheiro, mas o frio era
a pior parte. Pela centésima vez desde que saiu o hotel, Ada desejou ter colocado outra roupa.
O vestido vermelho sem mangas, meia calça preta e sapatos barulhentos eram ótimos como disfarce; como
equipamento, a roupa estava longe de prática.
Chegando no fim do corredor, ela abriu a porta cuidadosamente, de arma na mão. Como antes, o corredor
estava vazio, outra prova da desbotada elegância do prédio - paredes cor de areia e lajotas padronizadas. A
delegacia já deve ter sido magnífica, mas os anos de uso como prestador de serviços, o prédio perdeu seu
encanto; com a mansão de um filme, a fria atmosfera dando uma distinta sensação sinistra - como se a qualquer
momento uma fria mão pudesse tocar seu ombro, uma suave respiração em seu pescoço...
Ada franziu de novo; depois dessa missão, ela tirará longas férias. Senão isso, tentará outra carreira. Sua
concentração já não é como antes. E em seu trabalho, um erro pode levar à morte.
Um grande bônus. Trent cheira como dinheiro. Eu vou pedir sete dígitos, seis no mínimo.
Em suas tentativas de bloquear os pensamentos, só um ainda persistia - a jovem Stacy Kelso pondo o cabelo
atrás da orelha enquanto falava de seu irmão bebê...
Depois do que pareceu um longo tempo, Ada apagou essa visão e continuou andando, prometendo a si mesma
#
de que não haverá mais lapsos de concentração - e imaginando por que não acha que conseguirá.
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*De Lorean - Carro conhecido mundialmente por ter sido a máquina do tempo nos filmes da trilogia "De volta para
o Futuro".
*Delicatessen - Casa de comestíveis; mercearia.
*Espadas - Referência aos naipes do baralho:
Heart = Copas
Diamond = Ouros
Spade = Espadas
Club = Paus
--------------------------------------------------------------
[7]
As botas de Leon esmagavam cacos de vidro na loja de armas Kendo, enquanto abria as gavetas. Se ele não
achar balas rápido terá problemas; as armas restantes da loja estavam inacessíveis, presas com cabos de aço, e
a janela da frente estava completamente quebrada. Não demorará muito para as criaturas o acharem, ele só
tinha uma bala e muito o que andar.
"Isso!".
Quarta gaveta, munição. Leon pegou a caixa e a pôs no balcão enquanto vigiava a frente da loja. Ninguém ainda,
sem contar o dono da loja morto. Ele não se movia. Por ter morrido há alguns minutos, não se sabe quando
voltará à vida, e Leon não queria estar lá para descobrir.
Vigiando a pequena loja, ele começou a recarregar. Leon tinha se esquecido da loja depois do acidente,
achando-a casualmente. Estando o caminho mais rápido para a delegacia bloqueado, a Kendo's era a melhor
opção.
"Uuuuunh...".
Uma horripilante e esquelética forma saiu das sombras da rua, vindo cegamente para frente da loja.
"Droga". Leon disse, seus dedos trabalhando mais rápido. Um clip pronto, mais um e pode levar o resto.
De repente, outra figura apareceu.
- dezesseis... dezessete...pronto!
Ele pegou a H&K e ejetou o clip, colocando o novo assim que o vazio caiu no chão. A criatura estava passando
pela armação do vidro, algo líquido em sua garganta soando levemente.
Mochila, ele precisa de uma. Leon olhou debaixo do balcão, vendo uma mochila de ginástica no fim dele. Material
de limpeza se espalhou no balcão enquanto Leon colocava os clips na mala, ignorando as balas espalhadas na
gaveta.
O monstro podre vinha em sua direção, tropeçando no dono da loja. Leon ergueu a arma e mirou no rosto da
criatura.
Na cabeça, igual aos outros dois lá fora -
Com um tremendo e alto som, a bala explodiu o rosto do zumbi, sangue respingando nas paredes.
Antes da coisa cair, Leon virou e ajoelhou perto da gaveta de munição, jogando as pesadas caixas na mochila.
Seu estômago dando um nó e tremendo de medo; o beco de trás pode estar cheio de zumbis.
Umas cento e cinqüenta balas, agora saia -
Levantando-se, Leon vestiu a mochila e correu para a porta de trás. Pelo canto do olho, viu outra criatura
entrando na loja; pelos cracks do vidro, havia mais deles.
Ele abriu a porta de saída e a cruzou, olhando para os lados assim que a porta se fechou. Nada além de latas de
lixo e caixas de papelão. De onde estava, o beco continuava à esquerda e depois virava à direita; se seu senso
de direção estiver intacto, a estreita passagem o levará direto para a Oak.
Até agora ele teve sorte; tudo o que podia fazer era esperar que isso não mudasse, e que pudesse chegar inteiro
#
no R.P.D. - e que lá houvesse um monte de pessoas armadas que saibam o que aconteceu.
E Claire. Esteja bem, Claire Redfield, e se chegar lá primeiro, não tranque a porta.
Leon ajustou a mochila nas costas e andou pelo beco mau iluminado, pronto para explodir o que cruzar seu
caminho.
Claire conseguiu quase sem dar um tiro; os zumbis eram cruéis, mas lentos, e a adrenalina em seu corpo tornou
fácil desviar deles. Talvez o som do acidente desviou suas atenções, aí foi só seguir seus olfatos, ou o que sobrou
deles. Dos dez zumbis que viu, pelo menos metade estava num avançado estágio de decomposição, carne
caindo dos ossos.
Ela já esteve no R.P.D. duas vezes com Chris, mas nunca entrou pela parte de trás. Viaturas estacionadas e
alguns policiais zumbificados a receberam na pequena área, levando-a para uma pequena cabana. Depois havia
um pátio - o pátio o qual ela e Chris almoçaram uma vez, sentados nos degraus que levavam ao heliporto do
segundo andar.
Desviar dos zumbis policiais no pátio em forma de L foi fácil, e um alívio por estar num lugar que conhecia.
Uma mulher de um único braço pendurado e roupas ensangüentadas, tinha saído das sombras debaixo da
escada e tocou Claire com frias mãos; Claire soltou um suspiro de surpresa, livrando-se da criatura - e quase caiu
nos braços de outro, um alto homem que também saiu de debaixo da escada de metal, grosseiro e silencioso.
Ela conseguiu evitá-lo e se afastou, apontando a 9 mm para o homem, recuando um passo e -
- esbarrou no corrimão. A mulher estava a um metro e meio à direita. O homem a um passo de distância.
Claire apertou o gatilho e houve um gigantesco boom, a arma quase pulando fora de sua mão. A parte direita do
rosto dele desapareceu numa explosão de líquido escuro.
Ela girou a arma, apontando para a pálida face da mulher. Outro tiro e o gemido foi interrompido, a testa
implodindo num espirro de sangue e pedaços de ossos. A mulher caiu de costas no chão como um -
- como um cadáver, o qual ela já era. Eles não sairão mais daqui.
Por um momento, Claire não se moveu. Ela olhou para os dois corpos e sentiu que esteve a um centímetro de
errá-los.
Ela cresceu em volta de armas, atirando em alvos dezenas de vezes - mas era com uma pistola .22 e alvos de
papel. Alvos que não sangravam ou espirravam miolos como os dois seres humanos que acabou de matar -
Não. Uma voz interna a interrompeu. Humanos, não, não mais. Não se engane e não perca tempo com
remorso. Leon já deve ter entrado, e está procurando por você. E se o S.T.A.R.S. foi chamado, Chris pode estar
lá também.
Se isso não foi motivação o bastante, os dois zumbis que deixou para trás estavam vindo. É hora de ir.
Ela subiu a escada, mal ouvindo seus passos por causa do zumbido em seu ouvido. Os tiros não fizeram bem à
sua audição - por isso só ouviu o helicóptero quando estava chegando lá em cima.
Claire parou, o vento batendo ritmadamente em seu corpo enquanto o veículo entrava em visão, perdido na
sombra. Estava de frente para a antiga torre d'água. Ela não sabia se ia pousar ou se já tinha decolado.
Não sabia e não se importava. "Ei!". Ela gritou, erguendo sua mão esquerda. "Ei, aqui!".
Suas palavras se perderam na poeira levantada pelas pás do helicóptero. Claire acenou como se tivesse ganhado
na loteria.
Alguém veio. Graças a Deus, obrigado!
O holofote da aeronave foi ligado - mas estava indo na direção errada, não para ela. Claire balançou os braços
mais freneticamente, respirando para gritar de novo até que -
- viu o que a luz iluminava, mesmo enquanto ouvia o desesperado e praticamente inaudível grito sob o motor do
helicóptero. Um homem, um policial, de pé no meio do heliporto. Ele segurava uma metralhadora, e parecia bem
vivo.
"- venha até aqui -".
O policial gritou para o alto, sua voz cheia de pânico; Claire viu o porquê e seu alívio evaporou. Havia dois zumbis
saindo do escuro e indo para o alvo bem iluminado que estava gritando. Ela ergueu a arma, mas a abaixou de
novo, com medo de acertar o policial.
A luz não se movia, iluminando o terror com sua brilhante claridade. O homem não devia saber o quanto perto os
#
zumbis estavam até que foi tocado.
"Afastem-se! Não se aproximem!". Ele gritou. Com o terror em sua voz, Claire pode ouvi-lo claramente. As duas
figuras o encurralaram no canto sudoeste do heliporto.
O som da metralhadora foi alto. Mesmo com o helicóptero acima, Claire ouviu as balas cortando ar. Ela se
ajoelhou enquanto os tiro continuavam para todos os lados - e para cima -
- e houve uma mudança no som do helicóptero, um estranho hum que fico mais alto. Claire olhou para cima e viu
a nave branca mergulhando, a cauda balançando num instável arco.
Jesus, ele acertou o helicóptero.
O holofote ia em todas as direções, passando por canos de metal, concreto e o policial sendo atacado pelos
zumbis, de alguma forma ainda atirando -
- e de repente o helicóptero começou a descer, balançando. As pás batendo no telhado com muita força. Antes
que Claire pudesse piscar, o nariz da nave bateu - cruzando o heliporto num curto arranhão de faíscas e cacos de
vidro.
A explosão ocorreu assim que a máquina caiu na parede sudoeste - diretamente sobre o policial e seus dois
assassinos. No mesmo instante, o nariz do helicóptero atravessou a parede de tijolos bem à frente.
A rajada de tiros finalmente parou sob as chamas que vieram depois do boom, iluminando o lugar num ardente
calor alaranjado.
Claire ergueu-se nas pernas que mal sentia, olhando desacreditada para o fogo que tomava conta de quase
metade do heliporto. Tudo aconteceu tão rápido que pareceu ser mentira. Um ácido e enjoativo odor de metal
derretido passou por ela numa onda de calor, e no súbito silêncio ela pode ouvir o gemido dos zumbis no pátio lá
embaixo.
Ela olhou para as escadas e viu que ambos os policiais zumbis estavam na base, cegamente tropeçando no
primeiro degrau. Pelo menos eles não estavam subindo...
Claire virou seu assustado olhar na direção da porta a uns dez metros dali. Exceto pela escada, a porta era o
único modo de chegar lá. E se zumbis não conseguiam subir - e tinha dois no heliporto -
- então tenho problemas. A delegacia não é segura.
Ela olhou para os destroços queimando, medindo opções. Ela ainda tinha muita munição; ela pode voltar para a
rua, procurar um carro com chave e buscar ajuda.
E Leon? Se aquele policial estava vivo, pode haver mais lá dentro planejando uma fuga?
Ela não podia ir embora sem avisar Leon; e se ele morrer procurando por ela...
Decidida, Claire foi até a porta, procurando movimento nas sombras. Chegando lá, fechou os olhos por um
segundo, a mão suada na fechadura.
"Eu vou conseguir". Ela disse. Apesar de não ter parecido confiante como queria, sua voz não tremeu. Ela abriu
os olhos, depois a porta; quando nada saiu do escuro corredor, ela entrou.
[8]
O Chefe da polícia, Brian Irons, estava parado em um de seus corredores particulares, tentando recuperar o
fôlego, quando sentiu um tremendo impacto no prédio. Ele o ouviu, também - ouviu algo. Um distante som,
pesado e brutal.
O telhado. Ele pensou. Algo no telhado...
Ele não se preocupou em tirar conclusões. Seja lá o que for, não tornará as coisas piores.
Irons se afastou da parede de pedra e ergueu Beverly o mais gentilmente possível. Eles estarão no elevador em
um minuto, depois uma pequena caminhada até o escritório; ele pode descansar lá, e depois -
"E depois,". Ele resmungou. "essa é a questão, não é?. Depois o que?".
Beverly não respondeu. Seus traços perfeitos permaneceram parados, seus olhos fechados - mas ela parecia se
aconchegar com ele, seu longo e magro corpo perto do peito dele. Devia ser sua imaginação...
#
Beverly Harris, a filha do prefeito. Bela e jovem Beverly, que, com sua beleza loira, já assombrava os sonhos
culposos de Brian. Ele a segurou e continuou indo para o elevador, tentando não demonstrar exaustão caso ela
acorde.
Seus braços e costas estavam doendo quando chegou no elevador. Ele deveria tê-la deixado em sua sala de
hobby, a sala a qual sempre considerou como um Santuário - era clamo lá, e provavelmente um dos lugares mais
seguros da delegacia. Quando ele decidiu voltar para o escritório, pegar seu diário e outros itens pessoais, ele
percebeu que simplesmente não podia deixá-la para trás. Ela parecia tão vulnerável, tão inocente; ele tinha
prometido a Harris de que cuidaria dela; e se ela fosse atacada em sua ausência? E se ele voltar e ela não estiver
lá?
Uma década de trabalho. Fazendo conexões, se posicionando... tudo isso, desse jeito.
Irons a pôs no frio chão e abriu as grades, tentando não pensar no que perdeu. Beverly era o mais importante
agora.
"Te dar segurança". Ele disse. Por acaso ela mexeu a boca, sorrindo? Será que ela sabe que está a salvo com o
tio Brian? Quando ela era criança, quando ele visitava a família Harris para jantar, ela o chamava assim. "Tio
Brian".
Ela sabe. Claro que sabe.
Ele a colocou no elevador, olhando seu angelical rosto. Ele foi pego subitamente por uma onda de amor paterno,
e não ficou surpreso ao sentir lágrimas nos olhos, lágrimas de orgulho e afeição. Nos últimos dias, ele tem sido
alvo das emoções - raiva, terror, até mesmo alegria. Ele nunca foi um homem emotivo, mas teve que aprender a
conviver com os sentimentos; pelo menos não eram confusos.
Chega deles, nada mais pode dar errado agora; Beverly está comigo, e uma vez pegas as minhas coisas, nos
esconderemos no Santuário e descansaremos. Ela precisará de tempo para se recuperar.
Ele piscou as esquecidas lágrimas assim que a jaula de metal começou a subir, checando a arma para ver
quantas balas restavam. Sua sala subterrânea era segura, mas o escritório era outra história; ele quer estar
preparado.
O elevador parou e Irons abriu a grade com o pé antes de levantar a garota, gemendo com o esforço. Ele a
carregou como uma criança, sua cabeça caída para trás.
Ele apertou o botão na parede com o joelho. A parede deslizou para cima, revelando a aveludada decoração de
seu escritório sem; só os vazios olhares de seus animais empalhados o receberam.
A grande mesa de madeira que importou da Itália estava bem à sua esquerda, e sua força acabando; Beverly
era magra, mas ele não estava em forma, como antigamente. Ele rapidamente a colocou na mesa, empurrando
um porta-lápis com o cotovelo.
Ele tinha ficado preocupado quando a achou desacordada ao lado do Oficial Scott no corredor de trás; George
Scott estava morto, coberto de ferimentos. Ao ver a mancha vermelha no estômago dela, Irons achou que
também estivesse morta. Mas quando ele a levou para seu Santuário, ela cochichou para ele - que não se sentia
bem, que estava ferida, que queria ir para casa.
... não é? Não disse?
Irons franziu, tirado da incerta lembrança por algo, algo que sentiu quando a deitou na mesa e arrumou seu
vestido branco manchado de sangue, algo que não se lembrava. Não parecia importante, mas agora, longe da
segurança de seu Santuário, isso o estava incomodando. Lembrando-o de que sofreu um daqueles momentos
confusos quando ele, quando ele - senti os frios e moles intestinos entre meus dedos -
- quando ele a tocou.
"Beverly?". Ele cochichou, sentando na cadeira de sua mesa quando de repente sentiu suas pernas fracas.
Beverly continuou calada - e o turbulento dilúvio de emoções o acertou, lotando sua mente com imagens,
memórias e verdades que não queria aceitar; Recuar as barricadas depois dos primeiros ataques. A Umbrella,
Birkin e os mortos-vivos. O massacre na garagem. O crescente número de mortos na primeira e terrível noite - e
a brutal percepção de que sua cidade - já era.
Depois disso veio a confusão. A estranha alegria que veio ao perceber que não haverá conseqüências para seus
atos. Irons se lembrou do jogo que fez na segunda noite, depois que alguns bichinhos de Birkin acharam alguns
#
policiais. Ele achou Neil Carlsen escondido na biblioteca e... o caçou, perseguindo o sargento como um animal.
Qual seria o problema, já que a minha vida em Raccoon está acabada?
Tudo o que restava era seu Santuário - e a parte dele que ajudou a criar o lugar, a parte escura e gloriosa de seu
coração que sempre escondeu. Esta parte está livre agora...
Irons olhou para o corpo de Beverly e sentiu que pode ser destruído pelos sentimentos de medo e dúvida que
lutavam dentro dele. Irons a matou? Ele não conseguia se lembrar.
Tio Brian. Dez anos atrás, eu era o Tio Brian dela. Em que me tornei?
Era demais. Sem tirar os olhos do rosto sem vida de Beverly, ele tirou a VP70 carregada do coldre e começou a
esfregar o cano com os dedos, leves toques que o asseguraram enquanto a arma girava em sua direção.
Quando o cano foi pressionado contra sua macia barriga, ele sentiu que algum tipo de paz ficou ao seu alcance.
Seu dedo encostou no gatilho, e foi quando Beverly cochichou para ele de novo, os lábios dela parados, mas sua
leve e musical voz vindo do nada e de todos os lados ao mesmo tempo.
- não me deixe, Tio Brian. Você prometeu que me daria segurança, que cuidaria de mim. Pense no que você
pode fazer agora sem que nada o impeça.
"Você está morta". Ele sussurrou, mas ela continuou falando, suave e persistente.
... nada o impedirá de se realizar de verdade pela primeira vez na vida...
Torturado, Irons vagarosamente tirou a 9mm de seu estômago. Depois de um momento, ele descansou sua
testa no ombro dela e fechou os olhos.
Ela estava certa, ele não podia deixá-la. Ele tinha prometido - e ela disse algo sobre o que podia fazer. Sua mesa
de hobby era grande o bastante para acomodar qualquer tipo de animal...
Isso mesmo. Ele vai descansar e depois cuidará dos negócios; afinal, ele é o chefe da polícia.
Sob controle de novo, Brian Irons começou a dormir, a fria pele de Beverly em sua testa.
[9]
Graças a um furgão parado no beco, o atalho para a delegacia sofreu mudanças - uma quadra de basquete
infestada de zumbis, outro beco, um ônibus que fedia por causa dos mortos lá dentro. Foi um pesadelo, os
gemidos, o cheiro e a distante explosão que fez suas pernas tremerem. Apesar de tudo, Leon manteve a
esperança de que havia algum tipo de mobilização no R.P.D., com policiais e paramédicos - autoridades tomando
decisões e equipes organizadas. Não era uma esperança, era uma necessidade.
Quando ele finalmente saiu na rua em frente ao R.P.D. sentiu-se espancado vendo viaturas pegando fogo. Mas
foi a visão de zumbis policiais gemendo entre as chamas que acabaram com sua esperança. O R.P.D. tinha uma
equipe de cinqüenta ou sessenta policiais, e um terço deles estavam vagando ou mortos perto da entrada do
prédio.
Leon tentou esquecer o desespero, fixando seu olhar no portão do jardim. Tendo ou não alguém sobrevivido, ele
tinha que chamar ajuda - e achar Claire.
Ele correu para o portão, desviando dos zumbis uniformizados, abrindo e fechando o portão de metal. A pequena
área gramada à sua direita estava iluminada o bastante para ver que havia três ex-humanos lá, e que não
representavam ameaça. Ele pode ver as duas bandeiras que enfeitavam a entrada da delegacia, penduradas
sem se mover. A visão reconsiderou suas esperanças, pelo menos está num lugar que conhece e que deve ser
mais seguro do que na rua.
Leon correu entre o trio de zumbis - dois homens e uma mulher; todos pareciam normais se não fosse por seus
gemidos famintos. Devem ter morrido recentemente.
A porta de entrada não estava trancada; por tudo o que passou desde que chegou na cidade, Leon preferiu
manter suas expectativas no mínimo. Ele girou a maçaneta e entrou, de arma erguida e dedo no gatilho.
Vazio. Não havia sinal de vida no grande e velho saguão do R.P.D. - e nenhum sinal do desastre que tomou conta
de Raccoon. Leon fechou a porta e desceu os degraus para o piso mais baixo.
#
"Olá?". Leon disse baixo, e o som ecoou de volta com um suspiro. Tudo parecia do mesmo jeito; três andares de
clássica arquitetura em madeira e mármore. Havia a estátua de uma mulher segurando um vaso no ombro bem
no meio do lugar, uma rampa de cada lado levando à recepção e o logotipo do R.P.D. no chão em frente ao
suave brilho da estátua, proveniente das arandelas na parede.
Sem corpos, sem sangue... nem um cartucho de bala. Se houve um ataque aqui, onde diabos estão as provas?
No profundo silêncio do lugar, Leon subiu a rampa da esquerda, parando no balcão da recepção, curvando-se
sobre ele; tudo no lugar. Tinha um telefone na mesa sob o balcão. Leon pegou o receptor e o colocou entre a
cabeça e o ombro, tocando os botões com os dedos. Nem discava; tudo o que ouvia era o som de seu próprio
coração.
Ele virou para a sala vazia, decidindo por onde começar. Ele recebeu um memorando do R.P.D. semanas atrás,
dizendo que as salas seriam mudadas. Mas isso não importava; os policiais não se preocupariam em ficar ao lado
de suas mesas nessa situação.
Haviam três portas no saguão que davam em diferentes lugares da delegacia; duas no lado oeste e uma no
leste. Das duas no lado oeste uma leva a uma série de corredores para a parte de trás do prédio, depois da sala
de arquivos e da sala de pronunciamentos; a segunda dava num escritório e armários, que então leva às escadas
para o segundo andar. O lado leste do primeiro andar era primeiramente para os detetives - escritórios,
interrogatórios e sala de entrevistas; tinha também acesso ao subsolo e escadas no lado de fora.
Claire provavelmente veio pela garagem... ou pelo telhado.
Ou então ela contornou o prédio e veio pelo mesmo lugar que ele - se ela conseguiu chegar aqui, pode estar em
qualquer lugar. E considerando que o R.P.D. ocupa quase um quarteirão, ainda tinha muito chão pela frente.
Ele optou pela segunda porta do lado oeste, onde seu armário estaria.
Leon entrou devagar, esperando ver as mesmas condições do saguão; silêncio e organização. Mas o que viu
confirmou seus medos: as criaturas estiveram lá - com a vingança.
A longa sala estava arrasada, mesas e cadeiras jogadas e derrubadas em todo canto. Borrões de sangue
decoravam as paredes, rastros do mesmo em poças no chão, indo em frente.
"Meu Deus -".
Um policial estava sentado contra os armários à sua esquerda, suas pernas esticadas, meio escondidas pela
mesa virada. Ao som da voz de Leon, ele fracamente ergueu o braço, apontando vagamente uma arma na
direção de Leon - e a abaixou de novo, parecendo exausto com o esforço. Seu peito estava pintado de sangue,
suas expressões cheias de dor. Leon se abaixou ao lado dele em dois passos, gentilmente tocando seu ombro.
Ele não via o ferimento, mas tinha tanto sangue que a gravidade era óbvia -
"Quem é você?". O policial suspirou.
Eles nunca foram apresentados, mas Leon já o viu antes. O jovem policial afro-americano se chamava Marvin
Branagh...
"Eu sou Leon S. Kennedy. O que aconteceu aqui?".
"A cerca de dois meses," Marvin disse, "os assassinatos canibais... o S.T.A.R.S. encontrou zumbis na mansão da
floresta...".
Ele tossiu e Leon começou a dizer para descansar, mas Marvin parecia determinado a contar a história.
"Chris e os outros descobriram que a Umbrella estava por trás de tudo... arriscaram suas vidas, mas ninguém
acreditou... depois isto".
Chris... Chris Redfield, o irmão de Claire.
Leon sabia algo sobre o problema com o S.T.A.R.S. ele só ouviu trechos da história - a suspensão do grupo de
ações táticas especiais e resgate, após serem acusados de má conduta, foi o motivo da contratação de novos
policiais.
Ele até leu o nome dos membros num jornal, listados juntos com alguns de seus recordes.
- e a Umbrella destrói a cidade. Algum tipo de vazamento químico que tentaram esconder se livrando do
S.T.A.R.S. -
Tudo isso saia de sua mente até que Marvin tossiu de novo, mais fraco.
"Agüenta aí". Leon disse, procurando algo para estancar o sangramento. Ele achou uma camiseta no armário
atrás do policial e a enrolou, pressionando contra o estômago de dele. O próprio policial segurou-a com as mãos,
fechando os olhos enquanto falava novamente.
"Não se preocupe comigo. Há... você deve tentar salvar os sobreviventes...".
#
Leon balançou a cabeça, querendo negar a verdade, querendo fazer algo para aliviar a do de Marvin - mas ele
estava morrendo, e não podia chamar ajuda.
"Vá". Marvin disse, ainda de olhos fechados.
Ele estava certo, Leon não podia fazer mais nada - e não conseguiu se mover por um momento - até Marvin
erguer sua arma de novo, apontando-a para Leon numa erupção de energia que aumentou sua voz num grito.
"Vá!". O policial ordenou e Leon se levantou.
"Eu voltarei". Leon disse firmemente, o braço de Marvin já caindo.
Leon voltou para a porta, respirando fundo e aceitando a mudança de plano que pode acabar o matando - mas
que não podia evitar. Ele era um policial. Se houvessem sobreviventes, é sua civil e moral conduta ajudá-los.
Tem um depósito de armas no subsolo, perto da garagem. Leon abriu a porta e voltou para o saguão, rezando
para que o depósito esteja bem equipado - e que haja alguém para salvar.
[10]
Depois do ardente telhado, Claire cruzou um zigue-zagueado corredor cheio de cacos de vidro no chão - e depois
de um policial morto no chão, seu medo sobre a segurança da delegacia aumentou. Ela pulou o corpo e continuou
andando. Uma fraca brisa passou pelas janelas quebradas que decoravam a parede externa, dando vida à
escuridão; haviam brilhantes penas pretas junto às marcas de sangue no chão, que fizeram Claire mirar o
revólver a cada suave balanço.
Ela passou por uma porta que dava nas escadas externas do lugar, mas continuou andando, virando à direita. O
modo como o helicóptero acertou o prédio perturbou Claire, inspirando visões da velha delegacia pegando fogo.
Só faltava essa...
Cadáveres e marcas de sangue nas paredes; Claire não estava feliz com a idéia de vagar pela delegacia. E mais,
tiros não são tão eficientes; ela precisa ver o quanto ruim está a situação antes de procurar Leon.
O corredor terminava numa porta. Claire a abriu - e recuou assim que a nuvem de fumaça passou por ela, o
cheiro de metal e madeira queimados no ar. Ela se agachou e deu uma espiada no corredor que ia para a direita.
Mais para frente ele virava à direita de novo, e ainda assim não se podia ver o fogo; sua brilhante luz alaranjada
refletia nas paredes cinzas.
Droga. O que foi agora?
Havia outra porta diagonalmente de sua posição, a alguns passos; Claire respirou fundo e andou abaixada para
evitar a fumaça, esperando achar um extintor de incêndio - e que fosse suficiente.
A porta dava numa sala de espera vazia - sofás de vinil verdes, um balcão de canto e uma porta no outro lado. A
pequena sala parecia intocada, clama e quieta, igual aos outros lugares que passou essa noite - só que não havia
sinais de desastre nas suaves sombras criadas pelas fluorescentes acima. Nenhum zumbi morto no chão de
madeira escura e nenhum espirro de sangue nas paredes cor de creme.
E nenhum extintor...
Nenhum à vista. Ela fechou a porta e foi até o balcão, levantando a tampa de entrada com o cano da arma.
Tinha uma velha máquina de escrever no balcão - e perto de um telefone. Claire o pegou esperançosa, mas só
ouviu silêncio. Suspirando, ela se abaixou para ver as prateleiras sob o balcão. Uma agenda, papéis - e meio
escondido entre uma bolsa, o familiar cilindro vermelho, com uma fina camada de pó.
"Aí está você". Ela sussurrou, guardando a 9mm no colete e levantando o extintor. Ela nunca usou um antes,
mas parecia fácil - uma alavanca de metal com um pino de segurança e um bocal de borracha preto. Pelo peso
parecia estar cheio.
Respirando várias vezes e armada com o extintor, Claire abriu a porta e voltou para o corredor. A fumaça tinha
se intensificado, acumulando-se no teto.
Ela fez a curva e viu destroços queimando no fim do corredor, sentindo-se aliviada e triste ao mesmo tempo. O
fogo não era tão grande quanto pensava. As chamas se estendiam até uma porta de madeira destruída. Era o
#
nariz do helicóptero que chamou sua atenção - a ardente cabine - e o ardente corpo do piloto ainda preso no
assento, sua boca queimada bocejando como um grito silencioso. Não dava para saber se era homem ou mulher.
Claire tirou o pino e mirou o cano nas chamas. Ela apertou a alavanca e um jato de neve espirrou, acertando os
destroços com uma nuvem. Mal vendo através da fumaça, ela direcionou o jato sobre tudo. Dentro de um
minuto, o fogo pareceu ter acabado, mas ela continuou usando o extintor até acabar.
A última tossida de gás veio e Claire soltou a válvula, suspirando algumas vezes, procurando algum foco que
tenha passado despercebido. Nenhuma chama, mas a porta de madeira ao lado da cabine ainda soltava filetes de
fumaça. A área em volta da porta já foi arrebentada e Claire decidiu arriscar. Ela recuou e deu um sólido chute na
porta, mirando perto das dobraduras.
A porta abriu com um crack, a madeira carbonizada desfazendo-se em uma chuva de cinzas. Algumas caíram em
suas botas, mas Claire rapidamente levantou a arma, ainda as sacudindo, mais assustada com o que pode estar
esperando do outro lado.
Um curto e vazio corredor tinha seu começo cheio de pedaços de madeira queimados, e uma porta ao fundo, à
esquerda. Claire foi até lá, tanto para respirar ar puro quanto para ver onde dava.
A porta seguinte estava destrancada. Claire a abriu, pronta para atirar em qualquer -
- e parou, chocada com a bizarra atmosfera da sala. Era como uma sátira de um clube de homens dos anos
cinqüenta, um grande escritório decorado com uma extravagância beirando o ridículo. As paredes tinham grandes
estantes de mogno e mesas cercando uma espécie de área de descanso, feita com acolchoadas cadeiras de
couro e uma mesa de mármore, tudo sob um provável tapete oriental. Um elaborado lustre vinha do teto,
jogando uma melodiosa luz sobre tudo. Quadros e delicados vasos estavam por toda parte - mas seus clássicos
designs eram ofuscados pelas empalhadas cabeças de animais e pássaros que dominavam um canto, ao lado de
uma grande mesa -
- Oh, Jesus -
Deitada na mesa, como a personagem de uma história de terror, estava uma bonita e jovem mulher de vestido
longo e branco, seu abdômen tomado por sangue. Era como um enfeite, sendo olhado pelos animais empalhados
- tinha um falcão que parecia estar voando, cabeças de alce e veado. O efeito foi tão pavoroso que por um
momento Claire não respirou -
- foi quando a alta poltrona atrás da mesa girou de repente. Claire mal conteve o grito de terror, esperando ver a
Morte sorrindo para ela. Mas era um homem - com uma arma apontada para ela.
Pela segunda vez hoje...
Por um segundo, ninguém se moveu - então o homem abaixou a arma, um sorriso amarelo surgindo em seu
gorducho rosto.
"Eu sinto muito," ele disse, sua voz tão oleosa quanto a de um político ruim. "pensei que você fosse um daqueles
zumbis".
Ele alisava seu cheio bigode enquanto falava. Apesar de Claire nunca tê-lo conhecido, ela subitamente sabia quem
ele era, Chris já tinha falado sobre ele.
Gordo, bigode - era o chefe da polícia, Brian Irons.
Ele não parecia bem. De fato, parecia desconectado da realidade.
"Você é o chefe Irons?". Ela perguntou, tentando parecer agradável ao se aproximar da mesa.
"Sim, sou eu, e quem é você?".
Antes de ela falar, Irons continuou calmamente, confirmando a suspeita de Claire com o que disse depois - em
seu tom petulante. "Não, não se preocupe em me dizer. Não fará diferença. Você acabará como todos os
outros...".
Ele parou, olhando para o corpo à sua frente, com uma emoção que Claire não podia decifrar. Ela sentiu-se mal
por ele, ao contrário do que Chris disse sobre sua personalidade podre e incompetência profissional; só Deus sabe
que horrores ele presenciou, ou o que teve de fazer para viver.
Leon e eu entramos nesse terror há alguns minutos; Irons já estava aqui, provavelmente vendo seus amigos
morrendo.
Ele olhou para o corpo e falou, sua voz triste e pomposa ao mesmo tempo.
"É a filha do prefeito. Eu deveria cuidar dela, mas falhei miseravelmente...".
Claire procurou palavras de conforto, querendo dizer que tinha sorte por estar vivo, que não foi sua culpa - mas
ele continuou lamentando, as palavras dela morrendo na garganta, junto com a dó.
#
"Olhe para ela. É linda, sua pele perfeita. Mas logo apodrecerá... e em uma hora se tornará uma daquelas coisas.
Bem como os outros".
Claire não queria tirar conclusões, mas sua descrição e olhar faminto a fizeram se arrepiar. O jeito que ele olhava
para a garota morta -
- você fica imaginando coisas. Ele é o chefe da polícia, não um pervertido lunático. Ele é o único vivo que
encontrou. Peça informações!
"Deve haver um jeito de parar...". Claire disse gentilmente.
"Sim... uma bala no cérebro - ou decapitação".
Ele finalmente desviou o olhar do corpo, mas não para Claire. Ele olhou para os bichos ao lado de sua mesa, sua
voz adquirindo um tom alegre.
"Em pensar que - taxidermia costumava ser o meu hobby. Não mais...".
Os alarmes de Claire dispararam. Taxidermia? O que diabos um corpo humano fazia na mesa dele?
Irons finalmente olhou para Claire, que não gostou nem um pouco. Ele olhava em seu rosto mas não parecia
enxergá-la. Ocorreu-lhe que ele não havia perguntado como chegou lá, ou sobre a fumaça que entrou no
escritório. E o jeito que falava sobre a filha do prefeito... nenhuma dor real, só auto-piedade e algum tipo de
admiração.
Oh, Deus, ele não está só abalado, ele está em outro planeta -
"Por favor,". Irons disse. "eu queria ficar sozinho agora".
Ele se acomodou na cadeira e fechou os olhos, parecendo exausto. Tão simples assim, ela foi dispensada,
mesmo com milhões de perguntas - muitas delas que ele poderia responder - mas ela achou melhor só sair de
perto dele, pelo menos agora -
Houve um suave som atrás dela, à esquerda, tão baixo que ela não tinha certeza se realmente o ouviu.
Claire virou, franzindo, e viu outra porta no canto da sala. Ela não a tinha visto antes - e aquele som veio de lá.
Outro zumbi? Ou alguém se escondendo...?
Ela olhou para Irons que nem se moveu.
Então - volto por onde vim, ou vejo o que tem atrás da porta?
Leon - ela tinha que achá-lo e Irons não parecia querer unir forças. Mas se houver outra pessoa no prédio que
precise de ajuda ou possa ajudar...
Não vai demorar. Ela olhou para Irons, perto do corpo da filha do prefeito, cercado por seus animais sem vida;
Claire foi até a segunda porta, esperando não estar cometendo um erro.
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*Taxidermia - Arte de empalhar animais.
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[11]
Sherry tem se escondido por um longo na delegacia, uns três ou quatro dias, e ainda não viu sua mãe. Nenhuma
vez, nem quando havia muita gente restando. Ela encontrou a Sra. Addison - uma das professoras da escola -
logo depois de chegar lá, mas ela já estava morta. Um zumbi a comeu. Não muito depois disso, Sherry achou um
tubo de ventilação que cobre quase todo prédio, e decidiu que se esconder era mais seguro do que ficar com os
adultos - porque eles morriam, e porque havia um monstro na delegacia bem pior que os zumbis e os homens do
avesso. Ela tinha certeza que esse monstro a procurava. Era idiotice, ela nunca pensou que monstros
perseguissem uma única pessoa - mas ela também nunca pensou que monstros existissem.
Assim, Sherry vem se escondendo na sala de armaduras; ninguém morto lá e o único jeito de entrar - exceto o
tubo de ventilação atrás das armaduras - era passando por um longo corredor vigiado por um tigre gigante.
Empalhado, mas assustador - Sherry pensou que ele pudesse afugentar o monstro. Ela sabia que era besteira,
#
mas a fazia se sentir melhor.
Sendo que os zumbis tomaram conta da delegacia, ela passou a maior parte do tempo dormindo. Assim, ela no
pensava no que aconteceu com os pais ou o que vai acontecer consigo mesma. O tubo de ventilação era quente
e tinha muita comida na máquina de doces, escada abaixo - mas ela estava assustada, e pior que isso, sozinha.
Ela dormia atrás das armaduras quando houve um tremendo barulho lá fora. Ela estava certa que era o monstro;
Sherry só o viu uma vez antes, suas grandes e terríveis costas, pela grade de metal - desde então, ela o ouviu
gritar pelo prédio várias vezes. Ela sabia que ele era mau, mau, violento e faminto.
Às vezes ele desaparecia por horas, fazendo Sherry pensar que tinha ido embora - mas sempre voltava, não
importa onde ela estava, mas sempre parecia surgir por perto.
O barulho que a tirou do sono parecia o de um monstro quebrando as paredes, fazendo-a correr para seu
esconderijo caso o som se aproxima, mas não se aproximou. Por um longo tempo não se moveu, segurando seu
amuleto da sorte - um bonito colar de ouro que sua mãe havia lhe dado semana passada, tão grande que
preenchia toda sua mão. Como antes, ele funcionou; o horrível barulho não se repetiu. Ou talvez o tigre cumpriu
seu papel. Mesmo assim, quando ouviu suaves passos no escritório, Sherry sentiu-se segura o bastante, para ir
até o corredor e escutar. Os zumbis e homens do avesso não podiam abrir portas. Se fosse o monstro, já teria
vindo para ela.
Tem que ser uma pessoa. Talvez mamãe...
Na metade do corredor onde virava à direita, ela ouviu pessoas falando no escritório, sentindo um estouro de
esperança e solidão ao mesmo tempo. Ela não sabia o que falavam, mas pela primeira vez em dois dias ela ouviu
alguém que não gemesse. Podia ser a ajuda que finalmente chegou a Raccoon.
O exército, marinha, talvez todos eles...
Curiosa, ela correu para a porta de frente para o tigre, quando as vozes pararam. Sherry ficou imóvel.
Se a ajuda veio, porque não ouvia os caminhões e aviões? Não haveria tiros, bombas e alto-falantes alertando
para que todos saíssem?
Talvez sejam vozes de pessoas más; loucas como aquele homem...
Não muito depois que Sherry começou a se esconder, ela viu uma coisa terrível pela grade da sala de armários.
Um homem de cabelo vermelho estava lá, falando sozinho, balançando para frente e para trás numa cadeira. No
começo, Sherry pensou em chamá-lo para ajudar, mas o modo como falava, sorria e balançava, a deixou
desconfiada. Então ela o observou por um tempo. Ele segurava uma grande faca, e depois de um longo tempo,
ainda rindo, resmungando e balançando, ele se esfaqueou no estômago. O homem a tinha assustado mais do
que os zumbis, porque não fazia sentido. Ele era louco e se matou, e ela engatinhou de volta, chorando, porque
não fazia sentido.
Se as pessoas no escritório são boas, elas podem querer tirá-la de seu esconderijo e tentar protegê-la - e isso
significaria sua morte, porque o monstro certamente não tinha medo de adultos.
Parecia ruim ter que voltar, mas não tinha outra escolha. Sherry começou a voltar para a sala de armaduras
quando -
Crack!
- ela congelou assim que a madeira do chão rangeu. O som pareceu incrivelmente alto e ela prendeu a
respiração, agarrando seu colar e rezando para que a porta não abrisse, que nenhum maluco aparecesse - e a
pegasse.
Ela não ouviu mais nada, mas achou que as batidas do seu coração a denunciariam, era tão alto. Depois de dez
segundos ela continuou andando, na ponta dos pés como se estivesse num ninho de cobras. Ela tinha que usar
toda sua força para não correr até a curva - uma coisa que ela aprendeu nos filmes era que, correr do perigo
sempre significava uma morte horrível.
Quando ela finalmente chegou à porta, sentiu-se aliviada e só queria pegar o cobertor que a Sr. Addison achou e -
A porta do escritório abriu, abriu e fechou. Um segundo depois, passos. Indo para ela.
Sherry voou pela sala, não pensando um mais nada por causa do pânico. Ela passou pelos três cavaleiros,
esquecendo seu lugar seguro. Tudo o que queria era ir o mais longe possível. Havia uma escura e pequena sala
sem porta depois da caixa de vidro no meio da sala -
- e ela ouviu os passos correndo atrás dela. Sherry se abaixou entre os tijolos da lareira e tentou se encolher,
abraçando os joelhos e escondendo o rosto. A escuridão da sala do fundo era tudo o que precisava.
Por favor, por favor, por favor, não apareça, não me veja, eu não estou aqui.
#
Os passos entraram na sala das armaduras e mais calmos, hesitantes, passando pela caixa de vidro. Sherry
pensou em seu tubo de ventilação, que a levaria embora, e segurou as lágrimas de arrependimento. A sala da
lareira não tinha saída.
Os passos se aproximaram da sala que Sherry estava. Ela prometia fazer qualquer coisa caso o estranho fosse
embora -
Thump. Thump. Thump -
De repente a sala se iluminou, o leve click do interruptor sobre o choro de Sherry. Ela não agüentou, se levantou e
correu, gritando, esperando chegar até o tubo de ventilação quando -
- uma quente mão segurou seu braço, apertado. Ela gritou de novo, puxando o mais forte que podia, mas o
estranho era forte -
"Espere!". Era uma mulher.
"Me deixe ir". Sherry choramingou, mas a mulher continuou segurando, puxando.
"Calma, calma - eu não sou um zumbi, fique calma, está tudo bem -".
A voz da mulher soou mais gentilmente. A doce e musical voz repetiu-se de novo e de novo.
"- calma, está tudo bem, eu não vou te machucar, você está segura agora".
Sherry finalmente olhou para a moça, e viu o quanto bonita era, o quanto seus olhos eram preocupados e
simpáticos. Sherry parou de tentar fugir e sentiu as quentes lágrimas em seu rosto. Ela instintivamente abraçou a
bonita jovem - e a moça retribuiu, seus finos braços em volta dos trêmulos ombros de Sherry.
Sherry chorou, deixando a mulher acariciar seu cabelo e dizer palavras tranqüilizantes - pelo menos o pior acabou.
Por mais que quisesse cair nos braços da moça e esquecer os medos, acreditar que estava a salvo, ela sabia que
não dava. Além, disso, ela não era mais um bebê; fez doze anos mês passado.
Sherry se afastou da mulher e secou os olhos, olhando para a estranha. Ela não era velha, por volta dos vinte, e
tinha roupas legais - botas, shorts vermelho de tecido grosso e um colete do mesmo conjunto, sem mangas. Seu
cabelo castanho era amarrado para trás, e quando sorriu, parecia uma atriz de cinema.
"Meu nome é Claire. Qual é o seu?".
Sherry se envergonhou de repente, por ter corrido de uma pessoa tão boa. Seus pais diziam que agia como um
bebê, que era "muito imaginativa", e aqui está a prova; Claire não iria machucá-la.
"Sherry Birkin". Ela disse e sorriu, esperando que Claire não fosse má para ela; ela não parecia brava, e sim
agradecia pela resposta.
"Você sabe onde estão seus pais?". Claire perguntou.
"Eles trabalham no laboratório químico da Umbrella". Sherry respondeu.
"Laboratório químico... então o que você está fazendo aqui?".
"Minha mãe ligou e me disse para vir aqui. Ela disse que é muito mais perigoso ficar em casa".
Claire acenou. "Pelo que parece, ela estava certa. Mas aqui também é perigoso...".
Claire franziu pensativamente, depois sorriu de novo. "É melhor você vir comigo".
Sherry balançou a cabeça, pensando em como explicar que não era uma boa idéia, que era uma idéia muito ruim.
Ela não queria ficar sozinha, mas não seria seguro ir.
Se eu for e o monstro nos achar...
Claire morreria. Apesar de ser magra, Claire não caberia no tubo de ventilação.
"Tem algo aqui". Sherry finalmente disse. "Eu vi, é maior que os zumbis. E quer me pegar".
Claire balançou a cabeça, abrindo a boca para dizer algo quando um terrível e furioso som encheu a sala, ecoando
em violentas ondas de algum lugar do prédio. Por perto.
"Rrraaahh - ".
Sherry sentiu seu sangue virar gelo. Claire arregalou os olhos, pálida.
"O que foi aquilo?".
Sherry recuou, ofegante, mentalmente correndo para o tubo de ventilação atrás das armaduras.
"É disso que eu estava falando". Ela disse, e antes que Claire pudesse pará-la, ela virou e correu.
"Sherry!".
Sherry ignorou o apelo e continuou. Ela se pôs de joelhos sobre o pedestal, colocou a cabeça e se arrastou para
dentro do buraco no rodapé da parede.
Sua única chance, a única chance de Claire, era que ficasse o mais longe possível. Talvez se encontrem de novo
quando o monstro se for.
#
Assim que Sherry engatinhou pelo apertado e escuro tubo, esperou que não fosse muito tarde.
[12]
Ada sentou na cadeira da desarrumada mesa do chefe dos detetives, descansando seus pés doloridos e olhando
cegamente para o cofre vazio no canto da sala. Sua paciência estava se esgotando. Primeiro a amostra do
G-virus, agora Bertolucci, que também não foi encontrado. Ela passou pela sala de descanso, o escritório do
S.T.A.R.S., a biblioteca - todos os lugares onde o repórter teria fácil acesso. E gastou dois clips inteiros para isso.
O problema não foi 23 balas, foi o tempo perdido e sem resultados - exceto por ter matado mais alguns zumbis.
E duas aberrações híbridas da Umbrella.
Ada tremeu, lembrando da contorcida carne vermelha e gritos das criaturas que matou na sala de entrevistas.
Trent alertou sobre os Tyrants modi-ficados - que agradecidamente ainda não apareceram - mas os sanguinários
linguarudos com garras eram uma afronta à suas sensibilidades. E são muito mais difíceis de matar que os
zumbis. Se eles foram produtos do T-virus, ela deverá rezar para que Birkin não tenha feito nada com o novo.
Segundo Trent, a série G ainda não foi usada, e deve ser duas vezes mais potente...
Ada soltou a imaginação. O escritório não era tão inspirante para descansar, mas pelo menos não tinha sangue.
De porta fechada, ela mal sentia o cheiro dos policiais lá fora. Eles já estavam bem afetados quando ela os
matou, o estágio que aparentemente precede o colapso total.
O problema não é senti-los. Meu cabelo e roupas já absorveram o maldito cheiro.
Ela sabia para que servia o T-virus, mas eles não pensaram em pesquisar os efeitos físico-químicos. Quem se
importa? Ela não tinha motivos para acreditar que a Umbrella infectaria sua própria cidade. Ela estava recebendo
várias informações sobre o funcionamento do vírus, mas seria bom saber como ele modifica a mente humana.
Ela só podia tentar adivinhar através de suas observações.
Pelo que parece, leva algumas horas para alguém infectado virar um zumbi. Às vezes, a vítima passa por uma
febre-coma antes, que provavelmente queima partes do cérebro - e pareciam estar acordando da morte em
busca de carne fresca logo depois. Os sintomas eram os mesmos para todos, mas não a velocidade do
processo; ela viu uns três casos em que a vítima virou zumbi alguns momentos após ser infectada, o estágio que
ela chamou de "catarata". Apesar de a deterioração física começar imediatamente, alguns caem aos pedaços
mais rápido do que outros.
... e por que você está pensando nisso? Seu trabalho não inclui achar a cura?
Ela suspirou, curvando-se para coçar os pés. Verdade. Mesmo assim, era algo para se considerar. Pensar em
ficar viva era cansativo; ela não podia fazer isso enquanto limpava os corredores. Ela estava descansando, e
precisava pensar em assuntos mais intrigantes.
E não são poucos... Trent, o que Bertolucci sabe ou deveria saber... o S.T.A.R.S. - e o que diabos aconteceu
com eles?
Pelos artigos que Trent incluiu no pacote de informações, ela sabia sobre a suspensão do grupo - e considerando
o que estavam investigando, não precisava ser gênio para ver que estavam na cola da Umbrella para revelar seu
segredo. A Umbrella já deve ter se livrado deles caso não tenham se escondido - e Ada tem que ver se Trent
participou da aventura do S.T.A.R.S..
Não que ela diria, mas Trent era um enigma. Ela só o encontrou uma vez, apesar de tê-la contatado para ir até
Raccoon, na maioria das vezes por telefone. Ela sempre se orgulhou da capacidade de ler as pessoas, mas não
sabia onde os interesses dele estavam, por que queria o G-virus ou que função exercia na Umbrella. Era óbvio
que tinha contatos lá dentro, ele sabia demais sobre a companhia - mas se era o caso, porque ele não pega sua
própria amostra e pede demissão? Contratar uma agente secreta era o ato de alguém querendo evitar
complicação - mas complicações do que?
Não é da minha conta...
Um bom princípio para se viver; ela também não era paga para investigar Trent. Mesmo que fosse, seria difícil;
#
ela nunca conheceu um homem tão sob-controle como Sr. Trent. Em todo contato que tiveram, ela percebeu
que ele ria por dentro, como se soubesse de um ótimo segredo - e ainda não demonstrou arrogância e
pretensão. Ele era frio, sua genialidade tão natural que ela mal se intimidou; ela não conseguiu decifrar os motivos
dele, mas já tinha visto aquele calmo humor antes - era a face do verdadeiro poder, de um homem com um
plano e meios de executá-lo.
Então a contaminação atrapalhou seus planos, sejam lá quais sejam? Ou ele já estava preparado...? Eu não
imagino o termo "pego de surpresa" no vocabulário de Trent...
Ada girou a cabeça vagarosamente antes de se calçar. O intervalo acabou, pois ela ainda tinha que procurar
Bertolucci em mais alguns lugares, antes de ir para o esgoto. Ela sabia que as persianas de segurança do primeiro
andar não eram tão sólidas assim; ela não quer se deparar com mais zumbis lá de fora.
Havia passagens "secretas" na asa leste e celas no subsolo, depois do estacionamento. Se achá-lo em algum
desses lugares, poderá concentrar-se em obter a amostra.
Ela decidiu começar pelo subsolo; ele não conseguiria achar os corredores escondidos. Pelo que ela leu sobre seu
trabalho, ele não era um repórter tão bom...
Ada saiu do escritório, os ventiladores de teto levando o cheiro de podre até ela. Devia haver sete ou oito corpos
lá, todos policiais...
... mas eu não tinha deixado cinco vivos da última vez?
Ada parou, olhando para o estreito corredor que levava às escadas de trás.
Havia cinco. Eu não estou no meu máximo, mas ainda posso contar.
Havendo ou não, os zumbis estavam invadindo e a Umbrella virá em breve caso ainda não tenha vindo. A
companhia não ignoraria esse problema. Já deve ter criado um plano *derrota segura e está enchendo a cabeça
da mídia com mentiras. Mas é claro que antes, eles devem recuperar a pesquisa de Birkin. Trent estava confiante
de que a Umbrella mandaria uma equipe para isso.
Uma equipe de humanos, tomara. Eu posso lidar com eles. Um Tyrant... eu não preciso disso.
Ada foi para o corredor do fundo da sala, à esquerda de onde estava. Foi na direção da porta que a levaria para
a escada do subsolo. Tyrant era o nome de uma série particular na pesquisa de armas biológicas da Umbrella,
uma série que incorpora as mais destrutivas aplicações do T-virus. De acordo com Trent, os cientistas da White
Umbrella - que trabalham nos laboratórios secretos - acabaram de iniciar os testes num tipo de humanóide
sanguinário, desenvolvido para caçar qualquer cheiro ou substância com a qual foi treinado. Um Tyrant avançado,
outra construção de carne infectada e ligamentos implantados - o tipo de coisa que podem mandar em busca do
G-virus...
Ada foi para o subsolo, tentar achar o repórter.
Leon estava no saqueado depósito de armas do subsolo, ajustando seu coldre e pensando onde Claire estaria.
Pelo pouco que viu, a delegacia estava muito ruim. Fria, escura e cheirando mal, mas não tão perigosa quanto a
rua. Nem tanto para se agradecer, mas Leon vai tirar o máximo de proveito.
Ele matou três companheiros a caminho do subsolo - dois homens escada acima e uma mulher em frente ao
necrotério - a alguns metros da sala onde ficava o arsenal do R.P.D.. Entre os mortos e o número de armas
faltando, Marvin pode estar certo sobre haver sobreviventes.
Marvin Branagh... já deve estar morto. Será que virou zumbi? Se a Umbrella está por trás disso, deve ser algum
tipo de praga ou doença, afinal, eles são uma companhia farmacêutica - então, como se pega a doença? Pelo
contato ou pelo ar -
O pensamento de ser infectado pelos zumbis o fez suar. E se ele a pegou enquanto dirigia para cá?
Antes do pânico, ele ouviu sua mente dizer sobre a realidade - e a aceitação da realidade também, afugentando o
medo.
Se você está doente, está doente. Você pode comer uma bala antes de piorar. Se não está doente, sobreviverá
para contar aos seus netos sobre tudo isso. De qualquer jeito, não há nada que você pode fazer - exceto tentar
ser um policial.
--------------------------------------------------------------
*Derrota Segura - Método para impedir ataque atômico equivocado.
-------------------------------------------------------------- Leon concordou, suspirando. Em sua primeira busca pela sala,
#
houve desapontamento. Nenhum revólver e pouca munição nos armários - mas ele achou uma caixa de munição
para espingarda, e depois de um segundo procurando, ele descobriu uma calibre doze escondida atrás de
algumas caixas. Haviam alguns arreios de ombro para o modelo Remington pendurados na parede, tal como um
cinto de utilidade maior do que o que já usava; tinha até um bolso fundo o bastante para colocar os clips.
Com o último aperto no arreio, ele decidiu que seria melhor começar pelos lugares mais óbvios primeiro, cada
corredor de cada possível entrada. Primeiro ele voltará para o saguão e deixar uma mensagem no -
Bam! Bam! Bam!
Tiros, bem perto, e o eco dizia vir do corredor lá fora. Leon empunhou o revólver e correu para a porta, preciosos
segundos desperdiçados enquanto manejava a fechadura giratória.
O corredor estava deserto, exceto pelo guarda de trânsito no chão à sua direita. Para a direita ficava o
estacionamento, e Leon correu para lá, lembrando-se para ir com clama e não ser baleado por alguém
aterrorizado.
Vá devagar, olhe bem antes de se mover, identifique-se claramente -
O corredor virava à esquerda, e no final dele, estava a porta na parede do lado direito, aberta - e quando Leon
deu uma olhada no grande e aberto espaço, seu corpo encostou na parede, vendo algo que o fez esquecer do
atirador.
O cachorro. É o mesmo maldito cachorro.
Impossível - mas o caído e sem vida animal no meio de dois carros parecia o mesmo. Mesmo com o breve
avistamento que teve antes, o melequento demônio canino era igual àquele que o tinha jogado fora da estrada.
Sob as fluorescentes que iluminavam a garagem, Leon pode ver o quanto anormal ele era.
Nada parecia se mover, e nenhum som exceto o zumbido das luzes. Ainda segurando sua arma, Leon entrou na
garagem, determinado a olhar a criatura de perto - e viu um outro perto de uma viatura, aparentemente morto
como o primeiro. Ambos estavam no meio de uma poça vermelha de sangue.
Umbrella. Os ataques animais, a doença - há quanto tempo isso está acontecendo? E como conseguiram manter
isso escondido depois de todas aquelas mortes?
Mais confuso era o fato de Raccoon ainda não ter recebido ajuda; a Umbrella deve ter conseguido esconder seu
envolvimento nos assassinatos "canibais", mas como ela impediu as pessoas de pedir ajuda lá fora?
Esses cães, como cópias em carbono... outra coisa que a Umbrella fez em seus laboratórios?
Ele deu outro passo na direção das criaturas, não gostando das teorias de conspiração que estavam se formando
em sua mente, mas incapaz de ignorá-las. Do que ele menos gostava, eram das poças de óleo no chão de
cimento; pareciam enferrujadas, secas - e haviam muitas delas para contar. Ele se curvou para olhar de perto,
tão intrigado que só percebeu o tiro quando a bala ricocheteou no chão.
Bam!
Leon virou para a esquerda, erguendo a arma e gritando ao mesmo tempo -
"Pare de atirar!".
- e viu a atiradora abaixar sua arma, uma mulher de vestido vermelho e longas meias pretas, parada ao lado de
um furgão no final da garagem. Ela começou a ir até ele, suas pernas finas movendo-se suavemente, cabeça
erguida e ombros para trás. Parecia estar numa festa.
Leon sentiu uma onda de raiva, de como ela parecia clama após quase tê-lo matado - mas assim que se
aproximou, ele quis pedir desculpas. Ela era bonita, e parecia sentir prazer em vê-lo; uma visão bem vinda depois
de tanta morte.
"Desculpe-me por aquilo". Ela disse. "Quando vi o uniforme, pensei que fosse outro zumbi".
Mestiça, magra e alta, cabelo curto, liso e escuro. Sua acentuada voz contrastava estranhamente com seu olhar.
Seu frágil sorriso não combinava com os olhos amendoados que o examinavam cuidadosamente.
"Quem é você?". Leon perguntou.
"Ada Wong'. Aquele tom de novo. Ela inclinou a cabeça, ainda sorrindo.
"Eu sou Leon S. Kennedy". Ele disse reflexivamente, incerto sobre o que perguntar ou por onde começar. "Eu - o
que você faz aqui embaixo?".
Ada olhou para o furgão do R.P.D. que bloqueava a área das celas. "Eu vim para Raccoon em busca de um
homem, um repórter chamado Bertolucci; eu tenho motivos para crer que ele esteja em uma das celas, e acho
#
que ele pode me ajudar a achar meu namorado...".
O sorriso dela sumiu, o agudo, quase elétrico olhar achando o dele... "E acho que ele sabe tudo sobre o que
aconteceu aqui. Você me ajuda a empurrar o furgão?".
Se o repórter estiver trancado lá, poderá dizer algo; Leon quer conhecê-lo. Ele não confiava muito na história de
Ada, mas não imaginava porque mentiria. O lugar não é seguro, e ele estava procurando por sobreviventes,
como ela.
"Tá bom". Ele disse, sentindo-se pego pelos suaves modos dela. Parecia que ela tinha assumido o controle, uma
súbita mas proposital manipulação que a pôs no comando -
Não seja paranóico; mulheres fortes existem. E quanto mais pessoa encontrar, mais ajuda eu terei para procurar
a Claire.
Leon guardou a arma e foi atrás dela, esperando que o repórter estivesse lá - e que as coisas começassem a
fazer sentido o quanto antes.
[13]
Sherry Birkin se foi e Claire não conseguiu entrar no duto. Seja lá o que ou quem tinha gritado, não apareceu. Ela
devia estar se escondendo no duto por algum tempo; haviam embalagens abertas de doces e um velho lençol
perto da abertura, atrás de três armaduras.
Percebendo que Sherry não voltaria, Claire correu para a sala de Irons, esperando que ele pudesse dizer onde a
tubulação dava, mas ele tinha sumido - junto com o corpo da filha do prefeito.
Claire parou no escritório, sendo observada pelos olhos de vidro da mórbida decoração, e se sentiu incerta pela
primeira vez desde que chegou na cidade. Desviar de cães e zumbis, encontrar Leon e evitar o Chefe Irons
foram tarefas inclusas na busca por Chris. Nos poucos momentos entre encontrar aquela garotinha e aquele
estranho grito, suas prioridades mudaram dramaticamente. Havia uma criança nesse pesadelo, que acreditava
estar sendo seguida por um monstro.
Talvez esteja. Se Raccoon tem zumbis, por que não monstros? Droga, por que não vampiros ou robôs
assassinos?
Ela queria achar Sherry, mas não sabia por onde começar. Ela queria seu irmão, mas não sabia onde estava - e
ela começou a imaginar se ele sabia o que tinha acontecido na cidade.
Na última vez que conversaram, ele evitou falar sobre a suspensão do S.T.A.R.S., insistindo que não era nada
para se preocupar - que ele e os outros entraram em problemas políticos e tudo se resolveria. Ela estava
acostumada com a proteção dele, mas pensando melhor, ele não parece evasivo demais? E o S.T.A.R.S. estava
investigando os assassinatos canibais, não seria difícil conectá-los com a atual...
... o que quer dizer? Que Chris descobriu algo ruim e estava mantendo segredo?
Ela não sabia. Mas sabia que ele estava vivo, e que achar Sherry era mais importante no momento. Ruim como a
situação estava, Claire tinha defesas - ela tinha uma arma, pelo menos um pouco de maturidade emocional, e
depois de 8KM diários, estava em excelente forma. Mas Sherry não devia ter mais do que doze anos, parecia
frágil em todos os sentidos; pela sujeira em seu cabelo loiro e desespero em seus olhos azuis - Sherry inspirou
todos os sentidos protetores de Claire -
Thump!
Uma pesada vibração correu pelo teto, fazendo o lustre do escritório tremer. Claire olhou para cima
reflexivamente, apontando a arma. Não havia nada e o som não se repetiu.
Algo no telhado... mas o que fez aquele barulho? Um elefante caindo do céu?
Talvez fosse o monstro de Sherry. Claire não queria encontrá-lo, mas Sherry parecia certa de estar sendo
seguida...
... então achar o monstro para achar a garota? Não é o plano perfeito mas é tudo o que tenho.
Talvez seja Irons lá em cima. Ela não podia saber até verificar.
Claire virou e abriu a porta para o corredor de fora, onde tinha apagado o fogo. A fumaça diminuiu apesar de
ainda estar quente. Pelo menos nisso ela foi bem sucedida...
#
Claire saiu do corredor, virando os olhos para o que sobrou do piloto quando -
- Craa-ack!
- e ela congelou, ouvindo um massivo despedaçamento de madeira, seguido por poderosos passos de alguém
enorme andando pelo corredor, depois da curva.
Deve pesar uma tonelada, e Jesus, diga-me que não foi uma porta sendo destruída -
Claire olhou para o corredor do escritório, seus instintos dizendo para correr, seu cérebro dizendo que não tinha
saída, seu corpo paralisado entre os dois -
- quando o maior homem que já viu apareceu, escurecido pela fina fumaça do corredor. Ele vestia um longo
sobretudo verde-exército que só aumentava seu tamanho, tão alto quanto um jogador de basquete - bem mais
alto, e com uma cabeça proporcional. Um grande cinto de utilidade estava preso em sua cintura, e apesar de não
ver armas, ela pôde sentir a violência radiando dele em ondas invisíveis. Ela só conseguia ver a palidez no rosto
dele, a cabeça careca - e de repente, Claire estava certa de que ele era um monstro, um assassino usando luvas
pretas, cada uma do tamanho de um crânio humano -
Atire nele! Atire!
Claire mirou, mas hesitou, com medo de estar cometendo um terrível erro - até que ele deu um passo na direção
dela, ouvindo os cracks na madeira causados por seus pés de Frankenstein, e ela viu os olhos negros, negros e
corados com vermelho. Vazios, mas não cegos, o olhar dele achou o dela - e ele ergueu o punho, a ameaça
eminente.
- atireatireatire -
Ela apertou o gatilho, uma, duas vezes, e viu o impacto - um pedaço de tecido rasgou bem abaixo de sua
clavícula, o segundo tiro cortando um lado do pescoço -
- e ele deu outro passo, nenhuma expressão em seu rosto, o punho ainda erguido, procurando um alvo,
querendo esmagar -
- o escuro e enfumaçado buraco no pescoço não sangrava.
Droga
Numa onda de adrenalina, Claire apontou o revólver para o coração da criatura e atirou repetidamente, o gigante
dando outro passo, cruzando o fogo sem acovardar-se -
- e Claire perdeu a linha dos tiros, incapaz de acreditar que ele ainda se movia, a menos de três metros com as
balas acertando seu peito -
- e a arma clicou, vazia, na mesma hora que o monstro balançou de um lado para o outro como um prédio no
vento. Sem tirar os olhos dele, Claire pegou outro clip do colete e recarregou a arma, sua mente tentando
desesperadamente dar um nome à coisa.
Exterminador, O monstro de Frankenstein, Dr. Mal, Mr. X -
De qualquer modo as balas finalmente fizeram efeito. Silenciosamente, ele inclinou para a direita, caindo contra a
parede chamuscada, e permanecendo lá - sem tremer nem se mexer.
Estranho, isso é tudo, está morto, derrubado por seu próprio peso -
Claire não se aproximou, ainda mirando no gigante. Foi ele que gritou? Ela não achava.
"Morto, não importa". Claire cochichou. Precisava pensar no que ele significava - ele não era um zumbi qualquer,
mas o que então? Ela esvaziou um clip inteiro - será que alguém por perto ouviu? Ela deveria ficar onde estava?
A criatura que começou a chamar de Mr. X não estava respirando, seu corpo imóvel, seu rosto bem perto da
morte. Claire mordeu o lábio inferior, olhando para a ainda impossível criatura quando -
- ele abriu os olhos negros e brilhantes. Sem muita força, Mr. X levantou-se, bloqueando o corredor, suas mãos
erguendo-se de novo -
- e com um forte impulso, ele cortou o ar com a mão, seus longos braços bem na frente dela enquanto recuava.
O movimento foi suficiente para cravar o punho na parede, prendendo-o.
Eu, poderia ter sido EU -
Voltar para o escritório a deixaria cercada. Sem pensar mais, Claire correu, passando por Mr. X, seu braço direito
esfregando no pesado casaco dele, seu coração pulando uma batida quando o material a tocou.
Ela correu, virou à esquerda e desceu o corredor, tentando não ouvir Mr. X libertando a mão.
Jesus, o que é aquela COISA -
Ela voltou para a sala de espera, batendo a porta enquanto corria. Claire não pensava em outra coisa senão
correr mais rápido.
#
Ben Bertolucci estava na última cela, deitado na cama de metal pendurada na parede, roncando levemente.
Mantendo suas expressões cuidadosa-mente neutras, Ada deixou Leon acordá-lo. Ela não queria parecer ansiosa,
mas se havia algo que sabia sobre os homens era que eles são mais fáceis de lidar quando pensam estar no
controle. Ada olhou para Leon com a paciência que não sentia.
Eles tinham passado por um corredor vazio e um canil antes de achá-lo. Apesar do frio e úmido ar cheirando
sangue e podridão, eles não viram nenhum corpo - o que era estranho, já que Ada sabia o que tinha acontecido
na garagem. Ela pensou em perguntar a Leon o que tinha acontecido, mas decidiu que quanto menos falar
melhor; ele não devia se acostumar com a presença dela. Ela chegou a ver a tampa do bueiro no canil,
enferrujando num canto escuro, e agradecida por ver um pé-de-cabra ali perto. Com Bertolucci dormindo ali, Ada
sentiu que as coisas finalmente começaram a dar certo -
"Deixe-me adivinhar". Leon disse bem alto, batendo a arma nas barras de metal. "Você deve ser Bertolucci,
certo? Levante-se, agora."
Bertolucci suspirou e sentou-se devagar, esfregando a mão no queixo. Ada quis sorrir; ele estava mau - roupa
amarrotada, rabo de cavalo desarrumado.
Ainda de gravata. O coitado deve achar que isso o faz parecer um repórter...
"O que você quer? Eu estava tentando dormir aqui". Ele parecia nervoso, e de novo Ada teve que conter um
sorriso.
Leon olhou para Ada, parecendo incerto. "É ele?".
Ela acenou, percebendo que Leon o considerava um prisioneiro. A conversa esclareceria tudo, mas ela não queria
que Leon ouvisse demais; Ada precisa escolher bem as palavras.
"Ben, você disse aos oficiais da cidade que sabia o que estava acontecendo aqui, não foi? O que você disse a
eles?".
Bertolucci levantou e a encarou. "Quem diabos é você?".
Fingindo que não ouviu, Ada aumentou o desespero, mas só um pouco; ela não devia parecer uma coitada,
poderia contrariar o fato de ter sobrevivido todo esse tempo.
"Eu estou tentando achar um - amigo meu, John Howe. Ele trabalhava para uma divisão da Umbrella em Chicago,
mas desapareceu há alguns meses atrás - e eu ouvi dizer que ele está aqui, nesta cidade...".
Ela parou, vendo a expressão do repórter. Ele sabia de algo, sem dúvida - mas ela não achava que ele fosse
desistir.
"Eu não sei de nada". Ele disse, irritado. "e mesmo se eu soubesse, por que eu deveria dizer?".
Original. Se o policial não estivesse aqui, eu só daria um tiro no repórter.
Na verdade, ela não atiraria: Ada não estava lá para diversão. Ela podia usar um de seus métodos mais
persuasivos - se seu charme feminino não funcionar, uma bala no joelho ajudaria. Infelizmente, ela não podia
fazer nada com Leon por perto. Ela não tinha planejado esse encontro.
O policial não estava feliz com as respostas de Ben. "Tá bom, podemos deixá-lo aí". Leon disse, falando com
Ada, mas olhando bem irritado para Ben.
Bertolucci sorriu, tirando um anel redondo com as chaves da cela. Ada não se surpreendeu e Leon ficou mais
irritado.
"Por mim tudo bem". Bertolucci disse. "Eu não quero sair daqui mesmo. É o lugar mais seguro do prédio. Tem
mais do que zumbis por aí, acreditem em mim".
Pelo jeito que falou, Ada pensou em ter mesmo que matá-lo. As instruções de Trent foram claras - se o repórter
souber de alguma coisa sobre o trabalho de Birkin no G-virus, ele deve ser eliminado; por que, exatamente, ela
não estava certa, mas esta é a missão. Se ela pudesse ficar um momento a sós com ele, conseguiria descobrir o
quanto ele sabe.
Mas como? Ela não queria matar Leon; como regra, ela não mata inocentes - além disso, ela gostava de policiais.
"Ggrraaa!".
Um violento e inumano grito furou o silêncio. Ada girou o braço, mirando no portão que dava para o corredor. E
estava no subsolo -
"O que foi aquilo?". Leon disse. Ada esperava que ele soubesse a resposta. O eco do furioso grito não se
#
comparava à nada que ela já tinha ouvido - mesmo sabendo o que a Umbrella fazia, isso não era esperado.
"Como eu disse, eu não saio daqui". Bertolucci disse. "Agora vão embora antes que o tragam direto para mim!".
Covarde chorão -
"Olha, eu posso se o único policial vivo nesse prédio". Leon disse, a combinação de medo e força em sua voz fez
Ada olhar para ele. O olhar do policial estava fixado em Bertolucci, seus olhos azuis agudos e firmes.
"... e se você quiser viver, terá que vir conosco".
"Esqueça". Ben disse. "Eu vou ficar aqui até a cavalgaria chegar - e se forem espertos, farão a mesma coisa".
Leon balançou a cabeça. "E se eles demorarem dias para vir, é melhor acharmos um jeito de sair de Raccoon - e
você escutou aquele grito. Você quer ser visitado pelo que fez aquilo?".
Ela se impressionou; alguma criatura da Umbrella por aí e Leon tentando salvar um repórter inútil.
"Eu vou correr o risco". Disse Bertolucci. "e boa sorte para fugir, vocês vão precisar...".
O repórter foi até as barras, olhando entre elas, passando a mão no cabelo.
"Olha,". Disse suavemente. 'tem um canil lá atrás, com um poço no chão vocês podem chegar ao esgoto por lá,
deve ser o caminho mais rápido para fora da cidade".
Ada suspirou intensamente. Ótimo; revelou sua passagem secreta para o laboratório. Se ela correr de Leon
agora, vai levar uns cinco minutos para ele alcançá-la.
Você pode matá-lo se necessário. Ou... você o faz se perder nos esgotos e volta para Bertolucci.
Como o repórter, ela não queria ver a coisa que gritou - sendo que ele não vai fugir, enganar o policial é a melhor
saída.
O que eu não faço para evitar derramamento de sangue.
"Certo, eu vou verificar". Ela disse, e sem esperar a resposta de Leon, virou e correu.
"Ada! Ada, espere!".
Ela o ignorou, passando pelas celas e voltando para o corredor, aliviada por ainda estar vazio. Tudo poderia ser
mais fácil se ela tivesse matado os dois, mas a situação é diferente. Ela estava cansada de tantas mortes, e
cansada do que a Umbrella fez; ela não vai matar um policial, exceto se precisar.
E se ela precisar, será pela vida de um inocente ou pela finalização da missão?
Essa pergunta a disse mais sobre sua consciência do que queria admitir. Ela chegou na porta do canil; respirando
fundo e apagando qualquer emoção de sua mente, Ada entrou para esperar Leon S. Kennedy.
[14]
Tão bonita... mesmo morta, Beverly Harris era radiante. Irons não podia esperar que ela acordasse enquanto
olhava; ele a colocou cuidadosamente no gabinete de pedra debaixo da pia e trancou, prometendo que a tiraria
dali assim que tiver mais tempo. Ela se tornará o animal mais delicado que já transformou, posando eternamente
perfeita assim que prepará-la do modo certo... um sonho se realizando.
Se eu tiver tempo. Se houver tempo restando.
Ele sabia que estava sentindo pena de si mesmo de novo. Não tinha ninguém para dividir a magnitude de tudo o
que já sofreu. Ele se sentiu terrível - triste, bravo e sozinho - mas também sentiu que tudo ficou claro. Agora ele
sabia por que estava sendo perseguido.
Umbrella. Uma conspiração para me destruir, todo esse tempo...
Irons sentou na manchada mesa de seu san-tuário, seu especial e particular lugar, pensando em quanto tempo
levará para a jovem mulher aparecer.
A do corpo atlético que não disse seu nome. De certo modo, ela foi responsável por sua descoberta.
Ela o achará, claro; era uma espiã da Umbrella, a companhia que o tem observado por um tempo. Eles deviam
ter uma lista de todos os seus pertences, relatórios psicológicos e até cópias de suas contas bancárias. Tudo fazia
sentido, agora que tinha tempo para pensar; ele era o homem mais poderoso em Raccoon, e a Umbrella
designou sua queda.
#
Irons olhou para seus tesouros, as ferramentas e troféus que estavam nas estantes à sua frente, e não sentiu o
prazer que costumavam inspirá-lo. Os ossos polidos eram só algo para olhar enquanto sua mente trabalhava,
absorvida com a traição da Umbrella.
Anos atrás, quando ele passou a receber dinheiro da companhia para ficar cego sobre seus feitos, as coisas eram
diferentes; aí era só uma questão de política, achar uma boa posição na poderosa estrutura que controlava
Raccoon. E tudo funcionou bem por um longo tempo - sua carreira prosseguiu como previsto, ganhou o respeito
dos oficiais e cidadãos, e na maior parte, seus investimentos valeram a pena. A vida estava sendo boa.
Depois apareceu Birkin. William Birkin e sua neurótica esposa, e a filha.
Depois do que aconteceu na mansão de Spencer, ele quase se convenceu de que o S.T.A.R.S. foi o responsável,
mas agora ele percebe que foi mesmo Birkin, um ano antes da bola começar a rolar; a destruição da mansão só
adiantou as coisas. A Umbrella deve ter começado a monitorá-lo desde que conheceu Birkin - primeiro só o
observavam, instalando câmeras e microfones ocultos. Os espiões viriam depois...
Os Birkin vieram para Raccoon tal que William pudesse se dedicar ao desenvolvimento de uma versão superior ao
T-virus, baseado na pesquisa do laboratório da mansão. Por mais que William fosse esquisito e desagradável,
Irons gostava dele, desde o começo. William era o menino gênio da Umbrella, e como Irons, não reclamava de
seu cargo; Birkin era humilde, só interessado em desempenhar seu papel. Ambos eram muito ocupados para
manter uma amizade, mas havia respeito entre os dois: às vezes Irons percebia que William o observava...
E o meu erro foi deixar. Deixar o meu respeito por ele nublar meus instintos, não me deixar perceber que estava
sendo observado desde o começo.
A perda do laboratório da mansão fez passar algumas ondas pela hierarquia da Umbrella, e alguns dias depois de
explosão, Annette Birkin foi até ele com uma mensagem do marido - uma mensagem e um favor. Birkin estava
preocupado, a Umbrella iria exigir o G-virus antes de ser terminado; ele não estava satisfeito com a aplicação de
seu último trabalho, parece que a Umbrella não o deixou aperfeiçoar o processo de replicação, Irons não se
lembra direito - e com a Umbrella tentando recuperar as perdas financeiras da mansão, Birkin ficou com medo de
eles comprometerem a integridade do não-testado vírus.
Através de Annette, William pediu ajuda - e ofereceu um pequeno incentivo extra. Por cem mil, Irons teria que
ajudar a manter o G-virus encoberto - resumindo, tomar cuidado com espiões da Umbrella e ficar de olho nos
sobreviventes do S.T.A.R.S.
Dinheiro fácil, exceto por ser uma armadilha da Umbrella...
Irons foi direto para ela, e foi quando a companhia começou a conspirara contra ele, usando as informações que
conseguiram selar seu destino. Como tudo aconteceu tão rápido? O S.T.A.R.S. desapareceu, depois Birkin - e
antes de entender a situação, os ataques recomeçaram.
Irons desceu da mesa e caminhou por ela, vagarosamente tocando os cortes na madeira. Havia uma história em
cada marca, a memória de um feito - e de novo, não lhe davam prazer. A fria e calma atmosfera de seu
santuário sempre o consolou, onde praticava seus hobbies, onde ele podia ser ele mesmo - e agora não é mais
seu. Nada era, a Umbrella tirou tudo dele, tal como a cidade. Será que soltaram o vírus para pegá-lo, para roubar
seu poder - e depois mandaram aquela garota de roupa provocante para ele se divertir? Por que ela era atraente?
Eles conheciam suas fraquezas...
...e em breve ela voltará, talvez bancando a perdida, tentando me seduzir com seu indefeso comportamento.
Uma assassina da Umbrella, uma espiã exploradora, tudo o que ela é, provavelmente rindo de mim por trás
daquele rosto bonito...
Talvez a contaminação foi um acidente; da última vez que se viram, William estava instável, paranóico e exausto,
e acidentes acontecem na melhor das circunstâncias. O resto era fato, não tinha outra explicação para o quanto
arruinado Irons estava. Aquela garota estava vindo pegá-lo, ela era da Umbrella e foi enviada para matá-lo. E não
pararia aí, oh, não, ela vai achar Beverly e... e sujá-la de algum modo, só para ter certeza de que nada de Irons
sobrará.
Irons olhou em volta da pequena e suavemente iluminada sala que um dia foi sua, olhando orgulhosamente para
as bem usadas ferramentas e móveis, o doce e familiar cheiro de desinfetante emanando das irregulares paredes
de pedra.
Meu santuário. Meu.
#
Ele pegou o revólver que estava em sua especial mesa de corte, a VP70 ainda era sua, e sentiu um pequeno
sorriso nos lábios. Sua vida estava acabada. Tudo começou com Birkin e vai terminar aqui, pelas suas próprias
mãos. Mas não agora.
A garota vai voltar, e ele vai matá-la, antes de dizer adeus para Beverly, antes de admitir sua derrota com um
tiro. Mas ele a fará sentir seu sofrimento antes. Por cada tortura que ele sofreu, a garota iria pagar, a conta
descontada em cada osso o mais dolorosamente possível.
Ele iria morrer, mas não sozinho. Não sem ouvir a garota gritar de agonia, criando a voz para a morte de seus
sonhos - uma voz tão verdadeira que o eco atingiria o coração dos executivos da companhia que o traiu.
A sala do S.T.A.R.S. estava vazia, desarrumada, fria e empoeirada, mas Claire não queria sair. Depois de seu
aterrorizante vôo pelos corredores do segundo andar, achar o lugar de trabalho de seu irmão a deixou aliviada.
Mr. X não a seguiu, e mesmo querendo achar Sherry e Leon, ficou com medo de voltar para o corredor - e
hesitante em deixar o único lugar que se parecia com Chris.
Onde você está meu irmão? E o que vou fazer? Zumbis, fogo, morte, seu estranho chefe e a garota perdida - e
quando as coisas não podiam ficar piores, eu dou de cara com a-coisa-que-não-quer-morrer, o monstro dos
monstros. Como eu saio dessa?
Ela sentou na mesa de Chris, olhando as fotos preto e brancas que achou no findo da gaveta; as quatro eram
deles dois, sorrindo e posando na semana que passaram em Nova Iorque no natal passado. Primeiro ela quis
chorar, mas os dois sorrindo a fizeram se sentir melhor. Mais calma. Mais forte. Ela o amava, e onde quer que
ele esteja, a amará de volta - e se ambos sobreviveram a perda dos pais, reconstruíram suas vidas e dividiram
um bobo natal por não ter um lar para ir, então eles podiam enfrentar tudo. Claire podia.
Pode e vai. Eu vou achar Sherry, Leon e se Deus quiser, meu irmão - e nós vamos sair de Raccoon.
A verdade era, ela não tinha outra escolha - mas ela precisa aceitar a falta de opções antes de agir. Uma vez ela
ouviu que bravura não era a ausência do medo, era aceitar o medo e fazer o que for necessário.
Claire respirou fundo, colocou as fotos no colete e levantou da cadeira. Ela não sabe para onde Mr. X foi, e ele
não parece ser alguém que fica esperando. Ela vai voltar para a sala de Irons e ver se Sherry voltou - ou Irons.
Se X ainda estiver lá, ela pode correr.
Além disso, eu devia vasculhar a sala e tentar achar algo sobre o S.T.A.R.S.
De pé, ela olhou em volta, desejando ter achado mais informações. Tudo o que achou de útil foi uma mochila
engraçada na mesa de trás; segundo o cartão vencido da biblioteca, a mesa era de Jill Valentine. Claire nunca a
conheceu mas Chris já falou dela algumas vezes, disse que era boa com armas...
Pena que não deixou uma para trás.
Eles devem ter deixado para trás tudo o que não era importante depois da suspensão, apesar de ainda haverem
muitos itens pessoais lá. Porta retratos, copos de café e o de costume. Ela olhou para a mesa de Barry, havia
uma arma de montar quase terminada. Barry Burton era um dos amigos mais próximos de Chris, um grande e
amigável homem, maluco por armas. Claire esperou que onde quer que Chris esteja, Barry esteja cuidando dele.
Com um lança-chamas.
Falando nisso...
Ela precisa achar outra arma, ou mais munição; ela só tinha treze balas restando, um clip inteiro. Talvez ela deva
checar alguns corpos na volta para a asa leste; mesmo correndo apavorada, ela percebeu que alguns deles eram
policiais, e seu revólver era um equipamento do R.P.D.. Claire não gostou da idéia de ter que tocar cadáveres,
mas ficar sem balas era pior - principalmente com Mr. X por aí.
Claire voltou para a porta e a abriu, organizando seus pensamentos enquanto voltava para o escuro corredor.
Deixar o escritório a fez apagar a ainda vívida imagem de Mr. X, sentindo-se vulnerável de repente. Ela foi para a
direita e começou a voltar para a biblioteca, decidindo que não pensará mais no gigante, exceto se precisar, não
insistiria na memória daqueles olhos vazios, ou do modo que ergueu o punho, como se fosse destruir tudo em
seu caminho...
... então apague tudo isso. Pense em Sherry, em como achar munição ou como lidar com Irons, caso o ache.
Pense em ficar viva.
Bem à frente o corredor virava à esquerda e Claire tentou ignorar a tarefa seguinte; se não lhe falhe a memória,
tinha um policial morto perto da curva.
- como se eu não soubesse pelo cheiro -
#
- e ela tinha que vasculhá-lo. Ele não parecia tão nojento -
Claire fez a curva e congelou, olhando. Seu estômago deu um nó, dizendo-a que estava em perigo antes mesmo
de seus sentidos. O corpo que ela tinha pulado a caminho do escritório do S.T.A.R.S. tinha virado uma enrolada e
sangrenta massa de carne, ossos quebrados e uniforme rasgado. A cabeça se foi, apesar de não saber se foi
arrancada ou se estava dissolvida na polpa. Parece que alguém martelou o corpo depois que passou por ele.
Mas como, eu não ouvi nada -
Algo se mexeu. Uma suave sombra sobre os restos a alguns metros dela, e na mesma hora, Claire ouviu um
áspero som, respirando -
- e ela olhou para cima, ainda incerta sobre o que via ou ouvia - a respiração e o tick das garras na madeira,
grossas e curvas, as garras de uma criatura que não podia existir. Grande, do tamanho de um homem adulto,
mas a semelhança terminava aí - era tão impossível que só o via por partes, sua mente forçando para juntá-las.
A inflamada e avermelhada carne da criatura pelada, seus longos membros que aderiam no teto. A inchada
massa cinzenta do cérebro parcialmente exposto. Um coroa cicatrizada onde os olhos deveriam estar.
- não estou vendo isso -
A cabeça da criatura rolou para o lado, sua grande boca abrindo, um longo fio de baba caindo e acertando o que
tinha sobrado do policial. Ele estendeu a língua, lisa e rosa, a superfície brilhando enquanto deslizava para fora. E
para fora. E para fora, a comprida língua ia de um lado para o outro, tão longa que tocou os restos do policial.
Ainda congelada, Claire olhava desacreditada enquanto a língua era recolhida, deixando pingar sangue. O processo
inteiro só levou um segundo, mas o tempo começou a passar, o coração de Claire batia tão forte que tudo mais
estava em câmera lenta - até quando a criatura pulou no chão de madeira, seu corpo girando no ar e
aterrissando agachado em cima do corpo mutilado.
A criatura abriu a boca de novo e gritou -
- e Claire finalmente conseguiu se mexer, apontando e atirando. O trovão das balas ecoaram pelo corredor,
bam-bam-bam -
- e ainda gritando, a criatura caiu de costas, seus braços batendo. As pernas chutaram pedaços de carne do
cadáver no chão; Claire viu um pedaço de pele, ainda com uma orelha grudada, voar pelo corredor e bater na
parede, deslizando até o chão -
- e a criatura se desvirou, partindo em um arremesso. Ele engatinhou até ela, rápido como um raio, agarrando o
chão com suas garras e uivando.
Claire atirou de novo, não ciente de que também estava gritando enquanto três balas acertaram a coisa,
atravessando a cinza massa que saia de seu crânio. Ela ia morrer, estará nela em menos de um segundo, as
garras estavam a centímetros de suas pernas -
- e tão subitamente quanto o ataque foi, estava acabado. Cada parte do robusto corpo tremeu, balançou
enquanto um líquido claro gotejava de sua cabeça, as grossas garras batendo no chão de madeira
ritimadamente. Com um último choro, a criatura morreu. Não houve erro desta vez. Ela acertou o cérebro, não
vai se levantar.
Ela olhou para o monstro, sua mente procurando por algo parecido, algum animal - mas ela desistiu, percebendo
que era uma causa perdida. Não era uma criatura natural e por mais que parecesse, ela finalmente sentiu o
cheiro - o odor não era tão picante quanto o dos zumbis. Era um amargo e oleoso cheiro, mais químico do que
animal...
... podia cheirar como bolachas de chocolate, quem se importa? Raccoon City ganhou monstros, é hora de parar
de ficar tão surpresa ao ver um deles.
Por mais que quisesse se sentir brava e determinada, pensou seriamente em voltar para o escritório do
S.T.A.R.S. e trancar a porta. Poderia se esconder e esperar a ajuda, poderia estar a salvo -
Decida. Faça algo, de um jeito ou de outro, pare de hesitar e choramingar, por que não é só você. Estará Sherry
a salvo? Você quer viver às custas da vida dela.
Claire deu um cuidadoso passo sobre a criatura e agachou perto do que sobrou do policial, usando a ponta da
arma para virar um pedaço do uniforme. Ela respirou bile enquanto vasculhava os restos, tentando não imaginar
quem o policial foi ou como morreu.
Nada, e agora ela só tem sete balas - mas ela rejeitou o pânico, deixando a decepção abastecer sua
determinação. Se ela examinou um monte de carne, poderia examinar outro.
Com um último olhar para a criatura, Claire levantou e andou rápido para o fim do corredor, decidida: sem se
#
esconder e sem correr do medo. Pelo menos ela pode levar algum monstro consigo, aumentando as chances de
Sherry sobreviver.
Seria melhor morrer tentando do que não tentar. Ela não vai hesitar novamente.
[15]
Leon encontrou Ada no canil, fazendo força para erguer a enferrujada tampa do poço que tinha sido mencionada
pelo repórter. Ela tinha achado um pé-de-cabra e o colocou sob a tampa, seu bem definido bíceps brilhava com o
suor enquanto puxava a tampa. Ela conseguiu erguer a tampa um centímetro, mas deixou cair assim que ele
apareceu, o som metálico bem alto no vazio lugar.
Antes que ele pudesse dizer alguma coisa, ela soltou a barra no chão de cimento e olhou para cima, dando um
meio sorriso, esfregando as mãos sujas.
"Ainda bem que está aqui. Não acho que sou forte o bastante para conseguir sozinha...".
Ele não tinha certeza antes mas aquele indefeso sorrisinho apertou o nó; ela estava enganando ele, ou tentando.
Ele conheceu Ada há vinte minutos e nunca achou que ela fosse indefesa para nada.
"Parece estar indo bem". Ele disse, guardando a arma e sem se mexer para ajudar. Ele cruzou os braços,
franzindo. Não estava bravo, só curioso.
"Qual é a pressa? Pensei que você quisesse falar com o repórter. Sobre John, seu amigo da Umbrella...".
As expressões dela ficaram frias e duras, mas não de um modo ruim; ela foi bem cuidadosa para evitar as
perguntas de Leon, mas desta vez a Sra. Wong terá que explicar algumas coisas.
Ada se levantou e o olhou. "Você ouviu - ele não ia contar nada para nós. E perigoso como esse lugar é, eu não
quero ficar esperando por aí...".
A voz dela suavizou. "... e eu nem sei se John está em Raccoon. Mas eu sei que não está aqui - e eu quero sair
da delegacia antes que seja completamente dominada".
Parecia bom, mas por algum motivo, ele sentia que Ada estava escondendo algo. Por alguns segundos, ele fez
força para achar o modo correto de fazê-la se abrir - depois deixou de lado; sob as circunstâncias, agrados ficarão
suspensos.
"O que está acontecendo, Ada? Você sabe de algo e não quer me contar?".
Ela olhou para ele de novo, e de novo, ele acha que a surpreendeu - mas o olhar dela estava mais ilegível do que
nunca.
"Eu só quero sair daqui". Ela disse, e a sinceridade na sua voz era inegável. Ele podia não acreditar em nada do
que ela disse, mas nisso ele tinha que acreditar.
Queria que fosse fácil assim, mas tem a Claire, Ben, nosso amigo idiota, e só Deus sabe lá quantos outros.
Leon balançou a cabeça. "Eu não posso ir. Como eu disse, eu posso ser o único policial restando. Se ainda houver
sobreviventes, eu preciso tentar ajudá-los. E eu acho melhor você vir comigo".
Ada deu outro sorrisinho. "Eu aprecio sua preocupação, Leon, mas eu posso cuidar de mim mesma".
Ele não duvidava - mas também não queria vê-la testar suas habilidades. Ele também não foi bem testado, mas
foi treinado para lidar com situações críticas, era seu trabalho.
E seja honesto consigo mesmo - você perdeu Claire, não pode ajudar Branagh, e Ben não quis saber de sua
proteção; você não quer falhar com Ada. E você não quer ficar sozinho.
Ada parecia saber o que ele pensava. Antes que ele pudesse falar algo convincente, ela se aproximou e tocou o
braço de Leon, o humor sumindo de seus olhos.
"Eu sei que precisa fazer sua parte aqui - nós temos que sair de Raccoon, tentar sair e pedir ajuda. E os esgotos
devem ser a melhor chance que temos...".
O toque o surpreendeu - e mandou um tremor para sua barriga, deixando-o confuso e incerto. Ele tentou
esconder a sensação, mas só um pouco.
Ada continuou, franzindo, pensativamente. "Que tal isso - me ajude com a tampa e vemos o que tem lá
#
embaixo. Se for perigoso, eu volto com você... mas se estiver ruim - bom, nós conversamos sobre isso depois".
Ele queria protestar, mas a verdade era, ele não podia obrigá-la a fazer algo que não queria - e ele queria muito
que ela não pensasse que ele era do tipo "machão", que ele estava aberto a um compromisso...
... e o nome John te lembra algo? Pare de pensar em seus hormônios.
Sentindo-se estranho ao pensar nisso com ela ainda o tocando, Leon se afastou, acenando ligeiramente. Juntos,
eles se agacharam perto da tampa. Leon pegou o pé-de-cabra e encaixou na tampa; assim que ele a levantava,
Ada empurrou a barra. Com um alto rangido metálico a tampa abriu -
- e ambos se afastaram por causa do cheiro que saiu do buraco, um sufocante cheiro de sangue, vômito e urina.
"Eca, o que é isso?". Leon tossiu.
Ada sentou nos calcanhares, tampando a boca com a mão. "Os corpos da garagem, devem ter sido jogados
aqui -".
Antes que ele pudesse perguntar do que ela estava falando, um grito de puro terror ecoou pelo subsolo, filtrado
pela porta fechada. O grito continuou e continuou, um homem, o aterrorizado grito mudando para um berro de
dor.
O repórter.
Leon travou seu olhar com o de Ada, viu a mesma percepção nela - e já estavam correndo, empunhando armas
e cruzando a porta antes dos ecos morrerem.
Eu o deixei, eu não devia -
Eles correram para a área das celas, a culpa fazendo Leon correr o mais rápido que podia. Alguém ou algo achou
Bertolucci.
Sherry parou no escritório de Irons, esfregando seu colar da sorte e rezando para que Claire voltasse. Ela
engatinhou por vários túneis empoeirados para se livrar do monstro e mantê-lo longe de Claire, e tinha certeza de
que funcionou - ela não o ouviu de novo e voltou só para descobrir que Claire tinha partido; se o monstro a
tivesse achado, estaria morta e partida ao meio.
Mas ela não está aqui. Ninguém está...
Sherry sentou na ponta da mesa no meio da sala, pensando no que faria. Ela tinha se acostumado com a solidão,
mas Claire mudou tudo, queria vê-la de novo, queria estar com outras pessoas, queria tanto os pais que
começou a doer. Até Sr. Irons seria bom, apesar de Sherry não gostar dele; ela só o viu algumas vezes e ele era
estranho, orgulhoso e falso - e seu escritório era pavoroso.
Mesmo assim, ela ficaria grata com a presença dele, só para não ficar sozinha -
Passos. No corredor fora da sala.
Sherry levantou e correu para a porta aberta que ia para a sala das armaduras, esperando que fosse Claire e
pronta para correr se não fosse. Ela se escondeu atrás da porta e prendeu a respiração, olhando para o tigre
empalhado e rezando.
A porta externa abriu e fechou. Abafados e vagarosos passos no carpete, e Sherry tentou correr, ao mesmo
tempo criando coragem para dar uma olhada -
"Sherry?".
Claire.
"Estou aqui!".
Ela correu par o escritório e lá estava Claire, iluminada com um sorriso. Sherry voou nos braços dela, tão feliz em
vê-la que quis chorar.
"Eu estava procurando você". Claire disse, abraçando-a fortemente. "Não corra daquele jeito de novo, está
bem?".
Claire se ajoelhou na frente dela, ainda sorrindo - mas Sherry pôde ver a preocupação em seu olhar.
"Eu sinto muito". Sherry disse. "Eu tive que correr senão o monstro viria".
Como ele se parece?". Claire perguntou, apagando o sorriso. "Ele é meio vermelho com garras?".
Sherry suspirou. "Os homens do avesso! Você viu um, não viu?".
Claire riu, balançando a cabeça. "É, é exatamente o que eu vi, um homem do avesso... boa descrição".
Claire olhou mais seriamente para Sherry, franzindo "Homens? Existem mais deles?".
"Sim, mas nem se comparam com o monstro. Eu só o vi uma vez, de costas, e é gigante -".
"Careca? Vestindo um longo casaco?".
#
"Não, ele tinha cabelo, cabelo claro. E um de seus braços era todo estragado, bem mais comprido que o outro".
Claire suspirou. "Ótimo. Raccoon tem algo diferente para cada um, parece que...".
Ela segurou a mão de Sherry, esfregando-a "... e é mais uma razão para ficar comigo. Você fez um ótimo
trabalho cuidando de si mesma, foi muito corajosa - mas até acharmos seus pais, é meu dever cuidar de você. E
se o monstro vier, eu vou - eu vou chutar o traseiro dele, tá bom?".
Sherry riu, surpresa. Ela gostava de Claire falando para cima com ela. Sherry acenou e Claire esfregou sua mão
de novo.
"Bom. Então nós temos zumbis, homens do avesso, e um monstro. E um grandão careca... Sherry, você sabe o
que aconteceu em Raccoon? Como tudo isso começou, pode dizer qualquer coisa - pode ser importante".
Sherry franziu, pensando. "Bom, houve um monte de mortes em Maio e Junho passado, acho - umas dez
pessoas foram mortas. Depois a mortes pararam, e algumas semanas atrás alguém foi atacado de novo".
Claire acenou. "Certo. Mais alguém foi atacado, ou... o que a polícia fez?".
Sherry balançou a cabeça. "Eu não sei. Logo depois que aquela garota foi atacada, minha mãe ligou do trabalho
muito preocupada, disse que eu não podia sair de casa. A Sra. Willis - nossa vizinha - veio fazer o jantar para mim
e assim soube daquela garota. Mamãe ligou de novo no dia seguinte, e me disse que papai e ela estavam presos
no laboratório e não voltariam por um tempo - e então, três dias atrás, ela pediu que eu viesse para cá. Eu fui
ver se a Sra. Willis viria comigo, mas sua casa estava escura e vazia. Acho que as coisas já estão bem ruins".
Claire ouvia atentamente "Você ficou sozinha todo esse tempo? Mesmo depois que chegou aqui?".
"Bem, sim, mas eu sempre fico sozinha. Meus pais são cientistas; seus trabalhos são importantes e às vezes não
podem interrompê-los. Minha mãe sempre diz que eu sou auto-suficiente quando quero".
"Você sabe que tipo de trabalho seus pais fazem? Na Umbrella?
"Eles fazem curas para coisas, para doenças". Sherry disse orgulhosa. "Eles fazem remédios, soros que hospitais
usam...".
Sherry parou, percebendo que Claire parecia distraída, seu olhar bem distante. Era o olhar que viu muitas vezes
nos rostos de seus pais - e significava que não estavam mais ouvindo. Mas assim que parou de falar, Claire
voltou para ela, tocando seu ombro - e por algum motivo bobo, aquilo a fez querer chorar novamente.
Deve ser porque ela está me ouvindo. Porque ela quer cuidar de mim.
"Sua mãe está certa,". Claire disse gentilmente. "você é muito auto-suficiente, e o que fez até agora diz que é
muito corajosa, também. Isso é bom, por que nós duas precisamos ser fortes para sairmos daqui".
Sherry abriu mais os olhos. "Como assim. Deixar a delegacia? Mas tem zumbis por toda a parte, e eu não sei
onde os meus pais estão, e se eles precisam de ajuda ou estão me procurando -".
"Meu bem, eu tenho certeza de que eles estão bem". Claire disse rapidamente. "Eles ainda devem estar no
laboratório, escondidos em segurança, igual você esteve - esperando ajuda para, para fazer tudo ficar melhor -".
"Você diz, matar todo mundo,". Sherry disse. "eu tenho doze anos, sabe, não sou mais um bebê".
Claire sorriu. "Desculpe. É, para matar todo mundo, sim. Mas até os homens bons virem, nós ficaremos juntas. E
a melhor e mais inteligente coisa a fazer é sair do caminho deles - o mais longe possível. Você tem razão, as ruas
não são seguras, mas quem sabe nós achamos um carro...".
Claire se levantou e foi até a mesa de Irons, olhando em volta. "Talvez Chefe Irons tenha deixado as chaves do
carro aqui, ou outra arma, algo que possamos usar -".
Claire viu algo no chão atrás da mesa. Ela se agachou e Sherry foi atrás, tanto para ficar perto quanto para ver o
que ela tinha achado.
"Tem sangue aqui". Claire disse tão baixo que parecia não ter dito nada.
"E?".
Claire olhou para a parede, franzindo, depois voltou para a grande mancha de sangue no chão. "Ainda está
úmido. Repare como ela é simplesmente cortada. Devia ter mais na parede aqui...".
Ela bateu na parede, ouvindo um som vazio, oco.
"Tem alguma sala aí atrás?". Sherry perguntou.
"Eu não sei, parece que sim. E explicaria para onde ele levou... por onde ele tinha saído antes. Chefe Irons".
Claire olhou para Sherry enquanto corria a mão pela parede e empurrando. "Sherry, veja se tem algum botão ou
alavanca perto da mesa. Acho que deve estar escondido em algum lugar, talvez em uma das gavetas...".
#
Sherry começou a andar atrás da mesa - e tropeçou, seu pé deslizando em algum lápis. Ela se segurou na mesa
para recuperar o equilíbrio, mas ainda assim caiu de joelhos.
"Ai!".
Claire estava à sua direita, já segurando seus ombros. "Você está bem?".
"Estou. Eu só - ei! Olha!".
Sherry apontou para um botão sob a mesa, no meio de uma placa de metal. Parecia um interruptor de luz, mas
tinha que ser para a porta secreta, ela sabia.
Eu achei!
Claire viu e apertou - e atrás delas, um seção da parede deslizou para cima, desaparecendo no teto, e expondo
uma outra sala de tijolos. Um frio e úmido ar entrou no escritório; era uma passagem secreta, igual às dos filmes.
Juntas, se levantaram e entraram na abertura, Claire segurando Sherry até olhar primeiro. A pe-quena sala
estava vazia - três paredes de tijolos, chão de madeira e uma grande e antiga grade de elevador na parede da
direita, daquelas que abrem para o lado.
"Nós vamos pegá-lo? Sherry perguntou. Ela estava ansiosa e nervosa.
Claire pegou sua arma, se agachou para Sherry e sorriu - mas não era um sorriso feliz, e Sherry já sabia o que ia
ouvir.
"Meu bem, acho que vai ser mais seguro se eu descer e dar uma olhada, e você ficar aqui -".
"Mas você disse que ficaríamos juntas! Você disse que podíamos pegar um carro e fugir! E se o monstro voltar e
você não estiver aqui, ou se você morrer?".
Claire a abraçou, e Sherry quase enjoou de tanta raiva. Ela ia dizer para não se preocupar, que o monstro não vai
voltar, que nada ruim ia acontecer - e depois iria embora.
Adultos mentirosos -
Claire se afastou, tirando o cabelo do rosto de Sherry. "Eu não a culpo por estar assustada. Eu também estou.
Esta é uma situação ruim - e sinceramente, eu não sei o que vai acontecer. Mas eu quero fazer a coisa certa por
você, e isso quer dizer que eu não vou levá-la para um lugar onde pode se machucar, não se eu puder ajudar".
Sherry guardou as lágrimas e tentou de novo. "Mas eu quero ir com você... e se você não voltar?".
"Eu vou voltar,". Claire disse. "eu prometo. E se - se eu não voltar, eu quero que se esconda novamente. Alguém
virá ajudar em breve, e vão te achar".
Pelo menos estava sendo honesta; Sherry não estava gostando, e não tinha nada que pudesse mudar a decisão
de Claire. Poderia agir como um bebê ou apenas aceitar.
"Tome cuidado". Claire disse, e abraçou Sherry antes de ficar de pé e ir para a o elevador. Ela apertou o botão ao
lado da grade e um leve hum foi ouvido; depois de alguns segundos a cabine veio de baixo, parando gentilmente.
Claire abriu a grade e entrou, virando para ver Sherry.
"Fique aqui, querida, eu voltarei em alguns minutos".
Sherry forçou um aceno - e Claire fechou a grade. Ela apertou algo lá dentro e a cabine desceu, seu sorriso
saindo de visão, deixando a garota sozinha na fria passagem.
Sherry sentou-se no chão empoeirado e abraçou os joelhos. Claire era corajosa e esperta, ela voltará logo, ela
tem que voltar logo...
"Eu quero minha mãe". Sherry cochichou, mas ninguém estava lá para ouvir. Ela estava só de novo; tudo o que
menos queria.
Mas eu sou forte. Eu sou forte e posso esperar.
Ela descansou a bochecha em um joelho, tocando seu colar da sorte, e começou a esperar por Claire.
[16]
Annette Birkin sentou-se na sala de monitoramento, exausta, observando a parede de monitores centrada sobre
a mesa de vigilância. Ela tem estado lá pelo que parecem anos, esperando William aparecer, e começou a pensar
#
que não iria. Ela vai esperar mais um pouco - mas se não vê-lo em breve, terá que fazer outra busca.
Maldita tecnologia...
É um sistema novinho em folha, tem menos de um mês - vinte e cinco telas com um controle de canais que
deveria permiti-la ver cada canto desse laboratório. Um brilhante avanço na segurança - exceto por onze ainda
estarem funcionando, e mais da metade dessas estarem mostrando estática. Das cinco que ainda podia ver
claramente, tudo o que via - e tinha o que ver - estava morto, corpos podres e o ocasional Re3, que comia ou
dormia.
"Lickers (linguarudos). Você os chama de lickers por causa de suas línguas...".
Ela achou que tinha passado pelo pior da dor, mas o solitário som de sua voz na fria e cavernosa câmara, a fez
perceber que não tinha ninguém para responder - não haverá mais ninguém para responder. William se foi, se foi
e ela estava falando sozinha.
Annette abaixou a cabeça na mesa de controle, fechando seus cansados olhos. Pelo menos não haviam mais
lágrimas; ela já tinha despejado um oceano delas desde que a Umbrella veio atrás do G-virus. Agora só há dor,
combinada com fúria pelo que a Umbrella tinha feito.
Mais um mês, talvez dois, e nós teríamos dado a eles, sem nenhuma força. E William teria entrado para a
comissão de executivos e nós ficaríamos felizes. Todos ficariam -
Houve um fraco ruído vindo de um dos monitores. Annette olhou para cima esperando e tremendo - mas era só
um licker, um andar acima, no centro cirúrgico. Ele tinha acordado e caído do teto para jantar um dos técnicos,
uivando estupidamente para si mesmo enquanto rasgava o abdômen do corpo. O homem morto parecia ser Don
Weller, um dos intermediários do laboratório químico; ele estava tão mutilado quanto a inumana aparência do Re3
que o comia.
Ela observou o licker se alimentar, olhando para o monitor mas não o vendo; sua mente pensando no que tinha
sobrado para fazer. Ela já tinha apagado todos os computadores e os travado com códigos; o laboratório estava
pronto e sua rota de fuga era segura. Só que ela não podia terminar tudo até vê-lo de novo, ver que ele tinha
voltado para o laboratório da Umbrella. Destruir o lugar não adiantaria nada se ele não estivesse na zona de
explosão; eles o encontrariam e extrairiam o vírus de seu sangue...
... mas a Umbrella não vai consegui-lo. Eu vou morrer antes de deixá-los conseguir, então me ajude, Deus.
Seu único consolo era que a Umbrella não conseguiria por suas mãos gananciosas na síntese de William. E nunca
porão. Tudo o que foi usado na criação do G-virus será enterrado sobre toneladas de destroços, junto com
William e todos os monstros que eles criaram para a companhia. Depois ela irá se esconder por um tempo, se
recuperar e considerar suas opções - e então, venderá o G-virus para a concorrência. A Umbrella era a maior,
mas não era a única trabalhando em armas biológicas - quando Annette estiver quite com ela, não será mais a
maior. A vingança era tudo o que tinha restado.
"Exceto por Sherry". Annette cochichou, e a lembrança de sua jovem filha fez seu coração doer. Desde que
Sherry nasceu, Annette quis ter passado mais tempo com ela, se concentrar no bebê ao invés de ser parte do
brilhante trabalho de William.
Os anos se passaram e as promoções de William continuaram vindo, o trabalho ficou mais interessante e valioso -
e apesar de ambos terem prometido fazer um esforço para desenvolver a vida familiar, continuaram adiando.
E agora é tarde demais. Nunca seremos uma família, nunca seremos pais juntos. Todo aquele tempo perdido,
trabalhando para uma companhia que acabou nos esgotando...
Não adianta mais pensar em como teria sido. Tudo o que podia fazer era não deixar a Umbrella tirar mais nada
da família Birkin. William se foi, mas ainda tinha Sherry; essa parte dele continuará, e Annette poderá ser a mãe
que deveria ter sido. Claro, ela terá de esperar alguns meses antes de pegar Sherry, esperar a coisas se
acalmarem. Mas a garota ficará bem; os policiais a levarão para morar com a irmão de William, estava em ambos
os testamentos...
... a não ser que Irons ainda esteja vivo. Aquele gordo ganancioso achará um jeito de estragar até isso.
Ela esperava que estivesse morto; mesmo se não fosse responsável pelo que a Umbrella fez, Brian Irons era
nojento e arrogante, com a moral de uma lesma. Depois de anos de lealdade à companhia, foi comprado por
míseros cem mil dólares. Até William, que tinha uma opinião mais baixa sobre o chefe da polícia do que ela, se
surpreendeu...
Na tela, o Re3 terminou de comer. Tudo o que sobrou do corpo foram as costelas ensangüentadas e a parte de
trás do crânio. O licker saiu de visão, deixando um rastro escuro no chão. Graças ao T-virus, todas séries répteis
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foram eficientes assassinos, apesar dos Re3 terem apresentado falhas - o cérebro exposto era a mais óbvia, e
também tinham um ridículo alto índice de metabolismo; mantê-los alimentados foi uma discussão constante.
Não é mais problema. Tem vários corpos por aí - mais cedo ou mais tarde poderão comer algo quente...
Annette sentiu falta de energia, não queria sair da sala - mas não podia ficar esperando William aparecer. Ela o
ouviu no nível três uns dois dias atrás, mas não o via a quase quatro; ela não podia ficar esperando. O pessoal da
Umbrella já deve estar pensando em como entrar - mesmo com o computador central apagado, haviam outros
modos de passar pelas portas -
- e William pode ter saído. Não posso mais negar isso, não importa o quanto eu queira.
Havia uma fábrica à oeste do laboratório, uma companhia de transporte que foi comprada pela Umbrella, para
assegurar que os níveis subterrâneos ficassem secretos; foi assim que a Umbrella conseguiu construir o complexo
sem levantar suspeitas, escondendo equipamentos e materiais nos galpões, e usando a grande plataforma móvel
para transportá-los. Apesar das entradas da fábrica ainda estarem fechadas, desde que verificou pela última vez,
havia uma possibilidade de que William possa ter saído - e se chegou na fábrica, podia chegar aos esgotos.
Annette esforçou-se para levantar, ignorando as cãibras nas pernas e costas enquanto pegava a arma da mesa.
Ela não sabia muito sobre armas, mas aprendeu bem rápido depois que -
- que eles vieram pegar o G-virus, os homens usando máscaras de gás, atirando e correndo - e William, pobre
William, morrendo numa poça de sangue, e eu não vi a seringa antes de ser tarde demais -
Ela respirou fundo, tentando esquecer essa terrível memória, tentando esquecer o incidente que tirou William dela
e transformou Raccoon na cidade dos mortos. Isso não importava mais. A jornada à frente não será prazerosa,
e ela tinha que se concentrar. Fuja dos Re3, humanos no primeiro e segundo estagio de infecção, os
experimentos de botânica e a série de aracnídeos - ela podia se deparar com qualquer um deles, sem mencionar
o que a Umbrella possa ter enviado.
E William. Meu marido, meu amado - o primeiro humano portador do G-virus, que já não é mais humano.
Annette estava errada sobre achar que não tinha mais lágrimas. Ela parou no meio da vasta e esterilizada sala,
cinco andares sob a superfície de Raccoon, e chorou, perdida, respondendo aos estímulos que nunca se quer
tinham tocado a dor de sua solidão.
A Umbrella sentirá muito. Uma vez certa de que William esteja fora do alcance deles, ela destruirá o laboratório,
fugirá com o G-virus, os fará entender como estragaram tudo - e que Deus ajude quem tentar impedi-la.
[17]
Ada correu pelo bloco das celas, a um passo atrás de Leon, bem a tempo de ver o repórter sair da cela e cair no
chão. "Ajude-o!".
Leon gritou, e passou por Bertolucci para verificar a cela. Ada parou em frente ao sufocado repórter, mas ignorou
a ordem, esperando ver a criatura que o atacou sair da cela -
- ele estava atrás das grades, como isso aconteceu -
Ela esperou, mirando na cela, seu coração pulando - e viu a confusão no olhar de Leon. Pelo modo como olhava,
a disse que a cela estava vazia. A não ser que o agressor fosse invisível...
Sem chance. Não comece a pensar nisso.
Ada se ajoelhou ao lado do repórter, percebendo imediatamente que ele não estava bem - nada bem. Ele tinha
se sentado e encostado na parede que dividia as duas celas. Ele ainda respirava. Ada já tinha visto essa
aparência antes, o distante olhar, a tremedeira, a palidez - mas ela não via o porquê, e isso a assustava. Não
havia ferimentos. Deve ter sido um ataque cardíaco, talvez um derrame -
- mas aquele grito.
"Ben? Ben, o que aconteceu?".
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Seu vacilante olhar vidrado no dela, e Ada viu que os cantos de sua boca estavam rasgados e sangrando. Ele
abriu a boca para falar, mas tudo o que saiu foi um resmungo.
Leon se agachou junto a eles, confuso, também. Ele balançou a cabeça para ela, respondendo a pergunta que
não tinha feito; não haviam sinais do que tinha acontecido.
Ada olhou para Bertolucci e tentou novamente.
"O que foi, Ben? Você consegue nos dizer o que aconteceu?".
As trêmulas mãos do repórter subiram pelo corpo até pararem no peito. Com um esforço visível, ele tentou dizer
uma palavra.
"...abertura...".
Ada não tinha certeza. As aberturas nas paredes das celas eram muito pequenas e muito distantes do chão -
nada mais do que um tubo de ventilação que dava na garagem. Nada podia ter passado por lá.
Bertolucci ainda tentava falar. Ada e Leon se aproximaram, tentando entender suas palavras.
"... peito. Queima, tá... queimando...".
Ele estendeu a mão de repente e agarrou o braço dela, encarando-a com uma intensidade que a surpreendeu.
Ele apertou fracamente, com desespero em seus olhos.
"Eu nuca falei... sobre Irons". Ele respirou, fazendo força para continuar vivo até dizer tudo. "Ele está -
trabalhando para a Umbrella... todo esse tempo. Os zumbis - são pesquisas da Umbrella... e ele acobertou os
assassinatos, mas eu não consegui - provar, ainda... ia ser meu - furo".
Bertolucci fechou os olhos, respirando forte enquanto soltava o braço dela, e ela sentiu pena dele ao invés de si
mesma. Seu grande segredo era que a Umbrella tinha armas biológicas e Irons estava nessa. Teria sido um
grande furo.
Ele não sabe nada sobre o G-virus, nunca soube - e vai morrer sem reconhecimento.
"Jesus," Leon disse suavemente. "o chefe Irons..."
Bertolucci começou a ter convulsões, suas mãos apertando seu peito enquanto gemia de agonia. Suas costas se
curvaram, seus dedos como garras -
- e o gemido virou líquido enquanto sangue começou a borbulhar em sua boca. Engasgando e tremendo, seus
membros se debateram violentamente, espirros de sangue voando a cada tossida -
- e Ada viu vermelho surgir na camisa branca sob as mãos dele, ao som de ossos quebrando. Ela se afastou
assim que Leon tentou segurar as mãos de Ben, incerto do que estava acontecendo, mas certo de que não era
um ataque cardíaco -
- Santo Deus, o que é aquilo?
Tudo ao mesmo tempo, Ben foi para a frente e seus olhos viraram. Sangue ainda saía de sua boca e houve um
som, um horrível som de carne sendo rasgada, e sob sua camisa, algo mexeu.
"Afaste-se". Ada gritou apontando sua Beretta para Ben, e no segundo que levou para ela mirar, uma coisa
emergiu do ensangüentado peito de Bertolucci. Uma coisa do tamanho de uma mão, que abriu a boca e deu um
baixo berro, mostrando afiados e vermelhos dentes. O bicho saltou do corpo com uma chicoteante cauda, caindo
no cimento junto com pedaços de pele e carne - e correu como uma bala na direção do portão aberto para o
corredor, sua cauda balançando e pernas que Ada não conseguia ver, deixando um rastro vermelho para trás.
A coisa passou pelo portão antes de ela se lembrar que tinha uma arma; ela estava tão chocada que não pensou
em reagir. Uma criatura parasita que rasga seu peito - direto de um filme de ficção...
"O que era - você viu -". Leon disse, sem fôlego.
"Eu vi". Ada cochichou, interrompendo-o. Ela virou e olhou para Bertolucci, para seu rosto, estático numa
contorção angustiosa, e para o rasgo em seu peito.
A boca, rasgada nos cantos...
A criatura foi implantada nele - mas pelo que? Ela não sabia, e nem queria saber. Ela queria completar a missão e
sair de Raccoon o mais rápido possível. De fato, ela nunca quis tanto uma coisa. Quando se deu conta de que
houve um acidente com o T-virus, não esperava ter que lidar com organismos desagradáveis.
Ela olhou para Leon, desistindo de tentar ser razoável. Ela ia para o laboratório e não tinha o que discutir.
"Estou saindo daqui". Ela disse, e sem esperar respostas, virou-se e andou rapidamente para o portão, atenta
para não pisar no rastro de sangue.
"Espere! Olha, eu acho - Ada? Ei...".
Ela saiu no corredor de arma erguida, mas a criatura já tinha sumido. O rastro desaparecia no meio do corredor -
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e viu que eles tinham esquecido a porta do canil aberta -
- e a tampa do poço também. Que ótimo.
Leon a alcançou e parou na sua frente. Por um momento, Ada achou que ele a fosse parar fisicamente.
Não faça isso. Eu não quero te machucar, mas vou se for preciso.
"Ada, por favor, não vá". Leon disse, não uma ordem, mas sim um pedido. "Eu - quando cheguei em Raccoon,
conheci uma garota e acho que ela está na delegacia. Se você puder me ajudar a encontrá-la, poderemos fugir
juntos. Teríamos mais chances -".
"Sinto muito, Leon, mas esse é um maldito país livre. Você faz o que tem que fazer, e boa sorte - mas eu não
vou ficar. Já foi o bastante. Se - quando eu sair, mandarei ajuda".
Ada passou por ele, esperando que não houvesse violência e que ele não tentasse impedi-la - vai ser muito
perigoso se ele tentar - foi quando ele a surpreendeu de novo.
"Então eu vou com você". Ele disse, seu olhar firme, decidido - e assustado. "Eu não vou deixar você ir sozinha.
Nem ninguém - não quero que você se machuque".
Ada olhou, sem saber o que dizer. Depois que Bertolucci morreu, ela não queria enganar Leon nos esgotos,
considerando o quanto extenso o sistema era... mas ele era tão bom, tão determinado em ajudar que ela estava
começando a - a não querer fazer mal a ele. Tudo seria mais fácil se ele fosse algum idiota metido a machão...
Tá bom, tire seu disfarce. Diga que é uma agente particular querendo roubar o G-virus e não quer companhia;
diga sobre o alívio que sentiu ao saber que o repórter iria morrer, ou que não tem problemas para tirar uma vida,
se for por uma boa causa - como ser paga. Veja o quanto bom ele será depois disso.
Não é uma opção. Mas havia uma parte dela que não queria admitir, uma parte que não queria ficar só. Ver o
que aconteceu com Bertolucci a fez perceber que não era tão invulnerável quanto gostava de pensar.
Então deixe-o vir, ache um lugar seguro no laboratório para deixá-lo. Sem danos nem sujeira.
Leon a olhava de perto, estudando-a - esperando sua aprovação.
"Vamos". Ela disse, e o sorriso que ele deu, apesar de vitorioso, a fez se sentir mais desconfortável.
Sem outra palavra, eles foram para o canil, Ada pensando no que estava fazendo - mas ainda capaz de fazer o
que for necessário para completar a missão.
Claire parou na frente de uma porta medieval no fim do escuro corredor o qual o elevador a tinha levado. A
delegacia era fria, mas a gelada umidade das pedras na parede do corredor fazia a delegacia parecer o verão; é
como se ela tivesse descido no calabouço de um castelo assombrado da Idade Média.
Ela respirou fundo, decidindo como entrar; ela estava certa de que Irons não gostaria de uma visita surpresa,
mas a idéia de bater era absurda - e perigosa. Haviam tochas acesas em suportes, uma de cada lado da porta
de madeira, a mesma envolta numa moldura de metal enferrujado.
Um túnel secreto, uma porta escondida com iluminação ambiente... que pessoa sã moraria aqui? Não foi o
desastre que fez isso - Irons devia ser louco bem antes do acidente da Umbrella...
Quando Sherry disse o que seus pais faziam para viver e o que aconteceu antes de chegar à delegacia, algo
clicou. A Umbrella trabalhava com doenças e a população de Raccoon certamente teve um grave caso de algo.
Deve ter sido algum tipo de acidente, um vazamento que soltou a estranha praga zumbi...
Claire mordeu o lábio, incerta do que fazer. Ela sabia que Irons estava em algum lugar lá embaixo, e não queria
vê-lo de novo; talvez ela deva voltar, pegar Sherry e tentar achar outra saída. Só porque é uma área secreta não
significa que haja uma saída lá.
Sherry estava lá em cima sozinha. E você tem uma arma, lembre-se?
Uma arma com poucas balas. Se for o esconderijo de Irons, devem haver armas lá dentro... ou apenas outro
corredor. Mas imaginar não a dirá nada.
Claire tocou a maçaneta e respirou fundo. A pesada porta abriu vagarosamente em dobradiças bem cuidadas. Ela
recuou apontando a arma -
Jesus.
Uma sala vazia, tão úmida e não receptiva quanto o corredor - mas com móveis e uma decoração que fez sua
pele arrepiar. Uma única lâmpada estava pendurada no teto, iluminando a mais pavorosa câmara que já tinha
visto. Tinha uma mesa no meio da sala, manchada e batida, um serrote e outros objetos cortantes espalhados
em cima; um balde de metal e um esfregão encostados numa parede, ao lado de uma estante cheia de
recipientes empoeirados - e o que pareciam ossos humanos, polidos e brancos, postos como troféus. Isso, e o
cheiro - um pesado e ácido cheiro químico que envolvia um outro pior. Um cheiro como loucura.
Só de olhar a sala a fez enjoar; "louco" devia ser o nome do ano do chefe da polícia - mas não havia ninguém lá.
Isso quer dizer que deve haver outra passagem secreta lá dentro. Pelo menos ela pode procurar por armas.
Engolindo, Claire entrou na sala, grata por não ter trazido Sherry; olhar para essa câmara de tortura a daria
pesadelos -
"Parada, mocinha, ou eu atiro".
Claire congelou. Cada músculo de seu corpo travou assim que Irons começou a rir atrás dela, de trás da porta
onde não pensou em olhar.
Oh, meu Deus, oh, Deus, oh, Sherry eu sinto muito -
O riso de Irons cresceu para a pura e alegre gargalhada de um louco, e Claire entendeu que iria morrer.