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Planeta Criança



Poesia & Contos Infantis

 

 

 


ENLAÇADO PELA COWGIRL
ENLAÇADO PELA COWGIRL

                                                                                                                                                  

 

 

 

 

Biblio VT

 

  

 

 

CAPÍTULO 16


Dandara

Uma semana, esse era o tempo que Miguel não dirigia a palavra a mim e muito menos eu iria procurá-lo. O silêncio pela casa era mais que bem-vindo!

Mathias, Maria e eu bebíamos nosso café puro quando ele apareceu na cozinha, a manhã estava fria, por isso adiei o passeio com Trovoada pelo campo para quando o tempo ruim desse uma trégua.

Enfio na boca o último pedaço de queijo branco de meu prato, tomando o resto do café.

— Maria, Mathias, bom dia — cumprimenta indo em direção a geladeira.

— Porra! Quem comeu meu queijo? — ele pragueja com a fuça enfiada entre as prateleiras da geladeira, fazendo Maria me olhar prepcupada e Mathias segurando o riso enquanto bebe seu café. Tudo que faço é dar de ombros, chupando as pontas dos dedos, nem um pouco arrependida. — Sumiu metade dele, e tenho certeza que ontem ele estava inteiro! — Miguel acrescenta fechando a coitada da geladeira com um baque.

— Olha só, era seu? Desculpe, eu comi — respondo na maior cara de pau.

Miguel me encara como uma carranca. — Mathias, preciso de um cavalo, estou querendo dar uma volta hoje!

— Tudo bem, posso preparar um cavalo para o senhor. — Mathias troca um olhar comigo.

— Acho que Bruto ainda está espirituoso como sempre. — digo. — Se quiser ter o traseiro jogado longe pode ir com ele.

Miguel me dá um olhar furioso. — É para agora, Mathias! — retruca saindo da cozinha.

Mathias se levanta, toma o último gole do café, — Dandara, está fazendo a vida desse homi um inferno. O coitado deve ta contando os dia para sumir por essa estrada à fora. — diz colocando o chapéu na cabeça.

— É bom mesmo que esteja. Tem sorte de eu ainda não ter cuspido no seu café — comento.

— Sei que odeia que metemos os bedelhos em coisa sua, mas os empregados estão receosos, os homi querem saber como vai ficar as coisas. Seu Miguel não veio aqui para deixar as coisas como estão, ele vai por tudo a baixo. — Mathias fala com cautela.

— Mathias, algum dia faltei com vocês? — questiono de maneira rude. Ele balança a cabeça de maneira negativa. — E isso não irá acontecer hoje. Avise seus homens que os empregos estão garantidos, nem que eu mesma banque os serviços deles.

— Pode deixar, Danda, desculpe a intromição.

— Mathias, somos família. Eu não vou falhar com vocês. — digo por fim.

Ele confirma, esboçando um sorriso em minha direção. — Santiago pediu para avisar que as vacinas chegam hoje.

— Estou ciente, assim que chegarem irei aplicar em todos. Não quero nenhum caso como a Archeron.

— Menina, a morte daquela égua não é culpa sua. — Maria diz.

— Eita , não quero prozear sobre isso, tenho trabalho me aguardando. — digo pondo meu chapéu na cabeça, seguindo para fora.


Sento debaixo de uma árvore olhando a cena. Miguel poderia tentar resgatar na mente os tempos de moleque, ele poderia até não ter nenhuma intimidade com os animais, mas pelo menos quando criança ainda conseguia montar um cavalo sem que ele tentasse morder sua coxa.

O Miguel da infância não está em nada parecido com o de agora, e não só pelo fato de ter emagrecido e ficado mais bonito, mas parece que Miguel tem ódio desse tipo de vida. Desde que chegou, olha tudo de cima, com cara de esnobe. Ele não tem vínculo com essa terra, ele não sente a importância que eu sinto quando vejo o sol raiando no horizonte, seus raios fortes iluminando essas terras.

Ele seguiu o caminho da cidade grande e eu o caminho dos bichos.

Mathias tenta ensiná-lo, mas ele parece muito com um cavalo xucro, surdo. Depois não quer ser chamado de mula. Levanto, limpando a parte traseira da calça com um espanar de mãos, me aproximando dos dois. — Mathias, vai conferir as coisas, deixa que eu cuido do brucutu.

— Não pedi sua ajuda. — Homi, mas mal agradecido!

— Não estou fazendo por você, e sim pelo cavalo, que não tem culpa do asno sentado em cima dele. — Miguel abre a boca para retrucar, mas mostro o dedo em riste — Você tem que aprender a ouvir, se segurar com força a sela, o cavalo vai entender que quer impor sua vontade e não vai deixar você cinco segundos sentado no lombo dele. Os cavalos farejam seus sentimentos de longe, ele sente quando você tem medo, raiva ou está confortável. Deixe a rédea frouxa.

— Você acha que eu desaprendi tudo que meu tio ensinou? — desafia.

— Acredito que sim, já que te salvei de vários tombos, se bem me lembro.

Ele me fulmina com o olhar. — Então vamos ver, esquentadinha. Pegue aquele cavalo mutante que você tem e vamos cavalgar por aí.

— Cavalo mutante?

— Você tem noção que ele é o dobro de um cavalo normal?

— Para sua informação a raça dele é Percheron. Ele é um ótimo reprodutor, por ser grande e forte nos dá potros com habilidades especiais para o campo. — Dou risada, vendo seus olhos se arregalarem quando o cavalo marcha para trás. — Tire os pés do estribo e, vá para trás.

Subo no cavalo com a destreza de sempre, ocupando seu lugar na cela. Eu conhecia os cavalos como a palma da minha mão aqui no Haras, por isso não tinha problemas com nenhum deles e sabia quando um deles queria fazer uma gracinha como nosso companheiro aqui.

Bato o pé no espaço entre a barriga e as patas traseiras, para que ele saia.

— Se você está pensando que vai ficar se esfregando em minha bunda, eu te jogo para fora do cavalo! Contenha suas mãos!

— Calma mulher estressada.

Tiro o chicote da bota acertando na bunda do cavalo e o animal sai em galope, soltando um relincho alto. Seguro o riso vendo que Miguel ficar tenso. — Gostando, brucutu? — Ele não responde.

Forço o cavalo ir mais além, sentindo a adrenalina do galope correr pelas minhas veias, sinto as mãos de Miguel segurarem minha cintura e o arrepio disso eriçar os pêlos de meu braço.

Cavalgamos um pouco pelo Haras indo até o campo aberto onde fico com Trovoada e voltamos para o Haras, parando no estábulo.

Desço do cavalo, colocando as mãos na cintura. — Gostou do passeio?

— Você queria se exibir.

— Não preciso me exibir para você. Já é um milagre que você tenha ficado em cima do cavalo enquanto estávamos cavalgando.

— Olha aqui, você se acha incrível, acreditou mesmo que eu precisava de você?

Gargalho com irônia. — Você não sabe nem ao menos como se monta num cavalo. É uma sorte que saiba onde fica o rabo e a cabeça.

— Você é mesmo muito...

— Muito?

Miguel se inclina, ficando mais perto de mim, quando seu rosto praticamente cola no meu, pude sentir sua respiração. O perfume exalava, eu tinha começado a odiar esse cheiro, cheiro que me tirou o sono nas últimas noites, mas senti-lo tão perto me embriagava. Antes que eu pudesse raciocinar, os lábios de Miguel grudaram nos meus. Os braços fortes rodeando minha cintura.

— Sua esquentadinha, está tentando o quê? — Parecia que ele estava falando mais consigo mesmo do que algo para mim.

Sua língua voltou a lamber o canto de minha boca, seus dedos apertando minha cintura, uma de suas mãos subiu por minha espinha.

Acaricio sua coxa, bem perto de seu membro.

— Vamos sair daqui — sussurra como um pedido. Suas mãos apertando minha bunda, passeando por todo meu corpo, da cintura até o pescoço. Ele beija minha boca com ferocidade, empurro seu peito sentindo os músculos firmes contra a palma de minhas mãos, descolando seu corpo do meu, vendo a malícia nos olhos de Miguel. — Por que parou? — pergunta.

Respiro fundo ainda olhando para ele, controlando a maluquice da qual acabo de me curvar...então, tenho uma ideia. — Espere um minuto, o Haras ainda está movimentado, vou checar se ninguém está por perto e trancar a porta. — digo de um jeito safado, bem parecido com o que Cindy fazia sempre que conhecia um homem de fora.

Ele passa a mão sobre o pênis por cima da calça, animado. Vou até lá fora, vendo que realmente não tinha ninguém por perto, puxo uma das portas travando-a no chão e repito o mesmo processo com a outra, mas antes de fechar e entrar como falei que faria, dou um tchauzinho para ele, fazendo seu sorriso desaparecer. Percebendo o que estava prestes a fazer.

— Agora sim você está no seu devido lugar, uma pena que não tenhamos nenhum curral para você nadar com seus amigos...porcos! — digo rapidamente.

Miguel corre ao meu encontro, mas antes que ele me alcance, fecho a porta passando a tranca.

— Dandara, abre isso daqui! — seus gritos se misturavam com os relinchos dos cavalos incomodados dentro do estábulo. — Dandara, sua caipira maldita!

— Desculpe, brucutu. Aproveite seu tempinho com os cavalos e limpe as baias deles, Deus sabe como temos quilos e quilos de esterco por dia. Qualquer coisa tem feno e água se sentir fome. Isso deve bastar para você.

Ele bate na porta, fazendo-a tremer, gritando pelo meu nome. Urrando de raiva por ter caido feito patinho em minha arrapuca.

Cruzo com Bento no caminho de volta ao casarão, girando as chaves do estábulo entre os dedos e rindo feito uma maluca.

— Gosto de vê-la animada, mas está com cara de quem aprontou.

— Que é isso, Bento! — me finjo de inocente.

Ele bate na aba do chapéu, não acreditando nem um pouco no que eu estava dizendo. — Mathias está com os cavalos, quase todos foram vacinados, ele ficou esperando ocê aparecer, mas preferiu dar logo. Ficou fartando apenas o último estábulo. — comenta indicando o estábulo que tranquei Miguel.

— Diga que farei aquele estábulo, estou dando um castigo em um cavalo xucro. Ignore os resmungos, o cavalo está dando coice em todas as paredes, já vi cavalo dificil, mas esse...logo domo também — digo colocando um enorme sorriso no rosto.

Bento olha ao nosso redor, como se procurasse alguém e eu sei quem está procurando.

— Dandara, Dandara...

— Fique calmo, por que não vamos tomar um café, quem sabe Maria fez aquele pão doce que tanto amo? — pergunto enlaçando meu braço no seu, levando-o para longe do estábulo onde Miguel estava, acredito eu, urrando de raiva pelo tremor que a porta fazia.


CAPÍTULO 17


Miguel

— Sua caipira insolente! Como eu sou burro!

Eu esmurro a porta que nem um doido, gritando tanto que sinto minha voz falhar e ninguém aparece por ali. Viro olhando para os cavalos que relicham, só me faltava esses bichos me atacarem.

— Abre a porta! — grito de novo. Ando pelo estábulo procurando uma outra saída, lembrando de suas palavras “Aproveite e limpe as baias” , que filha da mãe! Até parece que eu iria sujar minhas mãos limpando merda de cavalo.

O cavalo no qual demos uma volta antes dela me trancar aqui chega perto, me fazendo pular de susto. Ele se sacode, sua crina bate de um lado para outro e solta um pequeno relincho.

— É, aquela ali não presta!

Cômico! Agora eu estava conversando com um cavalo como se ele pudesse me entender. Eu torceria o pescoço de Dandara assim que me livrasse dali.


Não tinha noção de quanto tempo tinha se passado, sei que estava de saco cheio de ficar ali.

— Noite, brucutu. Como foi seu dia?

Fico de pé chegando perto da porta, eu mataria essa mulher! — Pare com essa brincadeira de mau gosto, me tira daqui!

— Pelo visto continua grosseiro e sem educação. Espero que não esteja maltratando meus animais, por que se estiver, não vai ficar apenas dois dias trancado aí.

Meu sangue ferve nas veias. — Dandara, estou te avisando, quando eu sair daqui...

— Chega de ameaças em vão, vou te tirar daí quando aprender sua lição.

Esmurro novamente a porta, escutando seu risinho e seus passos se afastarem, — Dandara, estou com fome!

— Coma feno, brucutu!

Os cavalos mal se importavam por estar ali com eles, nos primeiros minutos e até primeira hora eles ficavam espiando ou fungando em minha direção. Agora? Muitos nem ao menos me encaravam, olho novamente para o cavalo solto perto de mim, ele abocanhou um punhado de feno mastigando e quando repetiu o gesto despejou um pouco em minhas pernas, como se dissesse que era bom.

— Tá de brincadeira você também!

Empino o nariz, olhando na direção contrária. Mas volto a encará-lo quando ele vem para cima de mim despejando mais feno em minhas pernas, seu focinho se torce inteiro enquanto mastiga.

— Ei amigão, pode ser bom para você, mas isso daí é mato. E alguém já te ensinou a dar espaço as pessoas?

O cavalo relincha, dando as costas para mim, batendo seu rabo bem no meio do meu rosto. Me fazendo xingá-lo. Como se estar preso junto aos cavalos não fosse o suficiente, ou do fato de estar com frio também não fosse, ainda tinham os mosquitos que faziam seu banquete atacando minhas veias.

Minha barriga roncando, meu corpo coçando e eu fedendo a estrume de cavalo.


Os raios de sol atingindo meu rosto me fizeram apertar os olhos tentando ver quem estava entrando, se fosse Dandara eu daria uma palmadas em sua bunda.

— Miguel? — Mathias perguntou surpreso, tentando entender tudo que estava acontecendo, olhando para a bagunça que tinha feito nos blocos de feno ao tentar arrumar um jeito para dormir. — O que você está fazendo aqui?

— Pergunte para aquela caipira filha da mãe — digo bravo, ficando de pé, sentindo as costas reclamar pelo movimento brusco.

Ele dá uma gargalhada. Mas se adianta a falar: — Desculpe, Seu Miguel.

Meu corpo chia de dor a cada maldito movimento, preciso de um banho quente, comida e boas horas de sono. Quando me recuperar ela vai ver, eu vou colocar essa caipira em seu lugar!

Estou com esse pensamento até ver Dandara caminhando sorridente em direção ao casarão.

— Ah, sua potranca mal educada! É bom correr. — ameaço gritando.

As pessoas que estão perto de mim me olham assustadas, e devem mesmo, porque meu rosto não deve estar nada amigável. Dandara se vira, o sorriso sumindo do rosto ao me encarar e então ela corre, empurra Santiago para longe e corre como uma moleca travessa sendo pega na artimanha, entra correndo no casarão.

Corro tão rápido que logo estou fazendo a porta de madeira branca bater contra a parede e escuto Maria falando alto na cozinha:

— Menina, o que houve? Tá tentando tirar o pai da forca?

— Dandara! — grito novamente.

Entro na cozinha vendo-a atrás de Maria, como se eu tivesse receio de ir lá lhe dar umas boas palmadas!

— Pare de correr, será pior quando eu te pegar! — ameaço.

— Ei, não quero bagunça na minha cozinha! Dandara o que você aprontou com o homi ? — Maria bate com a colher de pau na bunda de Dandara que agora tenta se esquivar de mim e de Maria.

— Vai fazer o quê? Me bater? Agora bate em mulheres? Quero ver encostar a mão em mim!

— Não, nunca encostei em uma mulher, mas dizem que para tudo tem uma primeira vez. E minha mão está coçando — grito.

Dou a volta na mesa, Dandara corre para o outro lado, fazendo o banco cair e eu tropeçar ao tentar pulá-lo, caindo de quatro no meio da cozinha. Sua gargalhada alta, faz minha raiva ferver mais que panela de pressão no fogo. — Ria enquanto pode.

— Alguém pode parar esses dois? Eles irão destruir a casa! — Maria grita empunhando sua colher de madeira. — Estão parecendo duas crianças!

— Desculpe Maria, mas não vou me meter — escuto a voz de Mathias enquanto corro atrás de Dandara que vai para a sala. — Dandara prendeu o homi no estábulo, peguei ele dormindo de concha com os cavalos.

Maria me encara, a mão na boca tentando segurar o riso.

— Vai, pode rir. Quero ver se aquela filha da mãe vai continuar rindo da minha cara quando eu a pegar — bufo, com os olhos em Dandara.

Ela faz um movimento errado diminuindo nossa distância, pulo sobre o sofá, meus braços envolvem sua cintura, tirando seus pés do chão. Não penso duas vezes, jogo seu corpo em meu ombro, dando um tabefe em sua bunda.

— Me solta! — Dandara grita.

Ela bate em minhas costas, os socos doem, não é que a Diaba tinha uma força bruta?

— Como foi sua noite? A minha foi maravilhosa, tá sentindo meu cheiro? Quer ver a quantidade de picadas que tenho espalhadas pelo corpo? Acho que tenho feno até em parte que desconheço!

Dou mais alguns tabefes em sua bunda que a fazem gritar. Eu estava puto por ela ter me deixado ao relento no meio dos bichos. E ficando com tesão, isso mesmo, ter o corpo daquele Diaba tão perto, tão ao meu alcance. Seus seios roçando em minhas costas, estava fazendo meu pau ficar rigido como uma tora, maldita hora para uma ereção. Eu queria mesmo é vê-la de quatro enquanto castigava sua bunda por ter me deixado trancado junto dos cavalos, mas também saborear cada gemido que ela pudesse...

— Meu Deus, Seu Miguel, solte a menina! — Maria exclamou.

— Não antes de lhe dar uma lição! — digo.

— Seu Miguel, não me obrigue a usar a Betinha em ocês dois. — Maria alerta.

— Não estou brincando, brucutu! É bom me soltar! — Dandara urra em minhas costas.

Acerto um tapa mais forte, jogando seu corpo no sofá, prendendo seu corpo ali ao apoiar meu joelho de um lado e o braço ao lado de sua cabeça, vendo seus olhos se arregalarem por um pequeno instante, mas o suficiente para meu dar um gostinho doce na boca. — Você tem sorte que é mulher, mas eu poderia, como vingança, soltar aquele seu cavalo gigante que tanto ama... — digo de maneira perversa — Como você ficaria?

Dandara me empurra com força, ficando de pé. — Você nem pense em tocar no Trovoada, você me entendeu? — responde praticamente gritando.

— Seria excelente, quem sabe assim você aprende a respeitar as pessoas? — retruco segurando seu braço.

— Larga meu braço, Miguel!

— Você quer me enlouquecer, você vem, me atiça, me provoca...

— Você se aproveitou da situação! — retruca.

— Você não se faça de sonsa! — grudo seu corpo mais no meu — Adorou o que fiz com minha boca.

— Misericórdia! — o sussurro de Maria quase me tira o foco da diaba em minha frente.

— Eu odeio você, Miguel! — Dandara tinha ficado furiosa, mas confesso que não liguei para o que ela estava falando, só conseguia ver aqueles lábios se mexendo. Queria torcer seu pescoço, mas também queria fodê-la. Como essa mulher me tira do sério!

— Você quis tudo que aconteceu e tá querendo mais que eu sei.

Seguro um punhado de seu cabelo bem justo no pescoço roubando um beijo, mordo seu lábio nem me importando por ela reclamar ou tentar me empurrar. Dandara retribui meu beijo, até me afastar, empurrando meu peito, fazendo com que me desequilibrasse dando alguns passos para trás rindo.

Ela limpa a boca me olhando com raiva, cospe no chão e então corre escada acima.

— Minha mãe dizia que muito ódio vira amor. — Maria retruca.

Viro vendo que Mathias e Maria ainda assistiam nosso pequeno showzinho. — Dela quero distância — digo marchando para meu quarto.


CAPÍTULO 18


Dandara

Bato a porta fazendo as coisas estremecerem dentro do quarto. Maldito brucutu! Arranco minhas roupas jogando-as no cesto perto do banheiro, ligo o chuveiro bem quente, quente o suficiente para que ao tocar em minha pele pudesse queimar o toque daquele... Engulo os pensamentos raivosos que passam por minha mente esfregando meus braços, meu pescoço, qualquer lugar que ele tivesse encostado, na tentativa de tirar o cheiro dele. Ainda não conseguia acreditar na petulância daquele brucutu. Miguel realmente não tinha amor pela vida.

Confesso que deixá-lo ao relento não foi algo muito sensível de minha parte, mas ele mereceu e, vai merecer cada pisão em seu pé a partir de hoje.

Bater na minha bunda e me tascar um beijo na frente de todos? Quem ele pensa que sou? Enquanto terminava meu banho pensava em mil maneiras de me vingar, mas acabei descartando todas, eu é que não desceria ao nível infantil dele, minha melhor vingança seria chutar a bunda dele para fora do meu Haras quando tudo acabasse.

Visto um short e uma camiseta puída e chinelos, melhor me ocupar dando banho nos animais do que cruzando meu caminho com certas mulas por aí. Atravesso o Haras em silêncio evitando falar com qualquer um que cruze meu caminho.


Agradeço pelo trabalho parecer não ter fim e os músculos espalhados pelo meu corpo começarem a protestar do esforço feito, passar o tempo no meio dos cavalos me acalmava e me fazia esquecer por alguns instantes minha vontade assassina contra Miguel. Mas amanhã mesmo eu ligarei para o advogado, não dá para continuar assim, mais dia ou menos dia e eu mataria Miguel. Que ideia absurda de Pedro me colocar nessa enrascada.

Já era noite quando paro fecho a última baia. Trovoada relincha animado após o banho, sacudindo a cabeça e sua longa crina.

— Teve um dia melhor que o meu, né, bonitão?

Saio do estábulo trancando as portas, todos os funcionários já tinham ido embora, caminho observando a noite, as estrelas e a lua cheia brilhando forte no céu, o som dos grilos cantando no meio do pasto.

Entro no casarão, tiro o chapéu, deixando-o no mancebo de madeira. Tudo estava em completo silêncio, poucas luzes acesas indicando que até a Maria tinha se recolhido.

Passo pelo quarto do brucutu vendo a luz está acesa sair pela pequena fresta da porta, estava prestes a entrar em meu quarto quando escuto uma porta atrás de mim se abrindo.

— Esquentadinha!

Viro, vendo-o só de cueca box, o corpo todo amostra.

— Não dirija a palavra para mim!

— Eu disse hoje cedo que tinha contas a acertar, você acha que seu showzinho me botou medo? — questiona vindo em minha direção.

— Se colocar as mãos em mim é bom começar a rezar para sair com ela no lugar!

— Não tenho medo de suas ameaças vazias — retruca.

— Vazias serão as suas bolas quando eu chutar para longe. — ameaço

— Você acha que vai me enlouquecer? — pergunta vindo em minha direção — Acredita mesmo que vou cair nos seus truques?

— Truques? — Gargalho alto — Não sou eu que fico agarrando você para roubar beijos.

— Vai dizer que não gostou?

— Já percebi que gosta de brincar com fogo! — desafio — Cadê toda aquela falamansa que andou esbravejando por aí? Homi metido a machão, não consegue parar de encarar para minha boca enquanto eu falo. Tudo isso é desejo?

— Não me torno frouxo por ter você na minha mente, me torno se não conseguir tirar, — Miguel dá mais dois passos em minha direção — e isso eu sei como fazer.

— Você pensa que me leva fácil, né?

— Você gosta de mexer com os homens, “se sente” fazendo isso...

— Eu não sou de quem me quer, sou de quem eu quero ser, e faço porque posso. — respondo dando um sorrisinho.

Miguel puxa meu corpo para o seu, fechando a porta com o pé, sua boca mordendo a minha enquanto distribuo tapas sobre seus ombros, costas, todo lugar que minhas mãos alcançam. Mas seu beijo furioso vai desarmando meu corpo, principalmente quando solta minha boca beijando de leve e devagar meu pescoço, rindo contra minha pele que se arrepia com seu toque, acabando com qualquer defesa minha. Não tinha gentileza no toque, havia desejo e prazer, junto de uma pessoa que queria provar seu argumento.

As mãos de Miguel ergueram meu corpo, sua língua forçando minha boca a se abrir ainda mais. Eu meio que empurro, e volto a puxar seu corpo para o meu. Precisei inspirar profundamente algumas vezes quando sua boca tomou o pequeno vão entre meus seios, sua lingua quente tocando minha pele fazia meus mamilos endurecerem e meu corpo querer mais. Sentir a proeminência em sua cueca também não ajudou muito meus pensamentos entrarem num bom senso.

Não era correto eu me render ao seu toque, não quando tinha aberto minha matraca falando que não me entregaria numa bandeja para ele, mas que diacho! Mordo seu lábio inferior, empurrando seu corpo para longe, tentando controlar a respiração. — Chega!

— Por que parar agora? — questiona agarrando novamente minha cintura.

— Eu disse chega, Miguel!

Suas mãos continuaram apertando com firmeza minha nuca, seus olhos mostravam que não estava disposto a me deixar em paz, que não sairia de meu quarto com aquela decisão fraca com a qual eu tentava me agarrar.

— Chega nada, não para mim e com certeza não para você. Eu sinto seu corpo vibrando em minhas mãos, Dandara.

Não arrisco olhar para ele, com medo que ceda aos meus instintos. Ele segura meu braço, olhando no fundo de meus olhos.

— Eu quero você, Dandara!

— Você quer me passar para trás, quer ter motivo para fazer chacota, quer o Haras, não é porque fui criada no meio do mato que não conheço homens como você, Miguel!

— Cala um pouco a boca, esquentadinha!

Abro os lábios para retrucar, mas é tarde. Ele pega meus braços, me empurrando contra meu armário, meu corpo inteiro treme com o calor do toque, ele tira a barra de minha camiseta de dentro do short, traçando livremente pelo meu corpo até meu seio. Miguel me vira de costas, mordendo meu pescoço, o corpo colado no meu, e acaba abrindo meu sutiã. Segurando meus seios, massageando-os nas mãos, beliscando meus mamilos sedentos por atenção. Roço minha bunda contra seu membro rigído na cueca, fazendo com que ambos gemêssemos.

Miguel continua acariciando meu corpo, mordendo e chupando meu pescoço. — Quero você, aqui e agora. — ele arranca minha camisa pela cabeça, fazendo a mesma coisa com meu sutiã, chupando meus seios, sugando-os até que eu não pudesse conter mais meus gemidos de prazer. Meu sexo pulsa, até dolorosamente quando a pressão do prazer explode em certas áreas.

É errado continuar com isso? Puxá-lo par mim, desejando seu corpo, respiro profundamente tentando encontrar a raiva que me alimentava horas atrás, mas só encontro o desejo.

Miguel conduz nossos corpos para a cama, arrancando o resto de nossas roupas, assim como o preservativo escondido no cós da cueca, em um segundo estava entre minhas pernas, sua mão agarrando meu cabelo, sua boca mordendo meu queixo.

Segurando meus seios com as duas mãos, apertando e puxando os bicos, lambendo minha barriga, minha cintura, roçando a barba pela minha pele, deixando-a rosada e eriçada. Um gemido explodiu de mim quando sua língua encontrou meu clitóris, seguro firme o lençol querendo tremer com o que ele fazia em minha intimidade, sua boca não me dava misericórdia alguma, sua língua muito menos. Quando seu dedo me invadiu, minhas costas se curvaram e o gemido saiu mais alto, fazendo eu ganhar um tapa na bunda.

— Desculpa, esquentadinha, mas teremos tempo para fazer amor em outro momento, agora, eu quero que seja rápido, que queime esse fogo dentro de mim.

Miguel desenrola o preservativo em seu membro, nunca tirando pelo menos uma de suas mãos do meu corpo, seus dedos tocam meu sexo, me fazendo arfar. Chupo os dedos que me tocam, vendo Miguel mordiscar o lábio e sorrir. Seu pau encaixado em minha entrada, deslizando de maneira lenta, começo a rebolar, fazendo seu membro se remexer dentro de mim.

Enquanto eu rebolo, Miguel segura meus cabelos de forma bruta, aumentando o ritmo dos movimentos, entrando e saindo de dentro de mim, segurando minha cintura com a mão livre fazendo seu membro ir mais fundo, meu corpo treme e Miguel geme alto.

Estavamos nos devorando, caricias eram feitas pelo nossos corpos ondulando juntos, enquanto eu consumia cada gemido e estocada que Miguel produzia.

Aperto os lençóis entre os dedos, seguro seu pescoço com firmeza quando ele encaixa a boca sobre meu seio, montando em seu colo, sentando com força sobre ele, gostando do modo como ele geme e descola a boca de meu mamilo, jogando a cabeça para trás rendido.

— Puta que pariu, você é deliciosa! — diz baixinho contra meu pescoço.

As estocadas duras fazem meu corpo tremer, meus seios balançam com o ritmo forte do sexo que fazemos. Ele geme agarrado em minha cintura, forçando meu corpo para baixo, quebrando as últimas barreiras, me fazendo gozar. Miguel ainda mantém o ritmo por algumas estocadas até que goza, seu membro latejando dentro de mim, se misturando com nosso suor, os tremores do meu corpo e do seu e as batidas descompassadas dentro do meu peito.


Quando eu estou envolvida em seus braços

O mundo todo apenas desaparece

A única coisa que escuto é

o bater de seu coração.


Porque posso ouvir sua respiração

Está se derramando sobre mim

E de repente estou me desfazendo dentro de você

(Breathe, Faith Hill)


Arre égua , estou perdida...

Levanto com um sobressalto e empurro para longe o braço forte que rodeia meus seios, tentando soltar meu corpo. Parece que os braços dele tinham se tornado uma braçadeira de ferro, o jeito foi sair me rastejando pela cama como uma cobra, até que eu caísse de bunda no chão.

Pego uma muda de roupa e corro para o banheiro, tomo um banho rápido, não parando nem para secar o cabelo, apenas escovo e deixo solto pelas costas. Não é que eu não queira encarar a asneira que tinha feito noite passada, mas...bem, era isso mesmo, não queria dar de cara com Miguel, por isso levantei mais cedo que até o próprio sol e me esgueirei para fora do quarto com as botas nas mãos.

— Fugindo de alguém, menina?

Pulo tampando a boca para que meu grito de susto não faça eco pelo corredor escuro.

— Cristo pai, você quer me matar do coração, Bento? — questiono sentindo os batimentos acelerados contra o peito.

— Desculpe, mas estava saindo do quarto como quem escondia um cadáver, devo me preocupar? — pergunta encarando a porta que eu havia acabado de fechar.

— Deixe de besteira homem, só tive uma noite ruim.

Bento coça a cabeça com a bengala velha. — Arra, por falar em noite ruim, tinha algum animal sofrendo ontem, Maria e eu mal pegamos no sono, parou de sofrer era já tantas da madrugada.

Engulo em seco, será que tínhamos feito tanto barulho assim?

— Vou ficar de olho nos arredores, tenha um bom dia, Bento.

Escuto o riso baixo dele enquanto caminho pelo corredor. — Bom dia, menina.

O dia não tinha se levantado, mas mesmo assim entro no estábulo para conferir como estão os animais. Reponho água e feno, depois me dirijo á baia de Trovoada, ele vira a cabeça não querendo olhar para mim.

— Qual é, amigão, está bravo comigo?

Ele me encara, dando uma fungada balaçando a cabeça como se confirmasse.

— Que tal recompensar isso com com uma corrida?

Ele relincha ainda evitando me olhar, eu conheço o jogo dele, Trovoada é um menino mimado, e a culpa é toda minha.

— Tudo bem então, já que não quer mais minha companhia...

Ele relincha mais alto, levantando as patas da frente. Fazendos os outros cavalos reclamarem.

— Você é um garotão mimado! — brinco, pulando a portinhola da baia, subindo diretamente no pelo, me agarrando ao seu pescoço. — Vamos ver o sol nascer.


Ficar perto dos cavalos ou montar em Trovoada é como respirar, algo tão natural, acredito que eu aprendi a montar antes mesmo de andar.

Saímos em direção ao campo aberto, ganhando velocidade a cada passada, sentindo o vento frio da madrugada ir contra nós. Eu precisava limpar minha mente, precisava tirar Miguel e a noite de ontem da mente, precisava tirar essa distração total, ainda não sabia o que pensar sobre essa história de Miguel conseguir meu Haras, o que faria com as famílias e funcionários que dependiam dos seus empregos? O que faria com os cavalos? Para onde eu iria com Trovoada? Aqui sempre fora meu lar, foi meu lar quando minha mãe faleceu, foi meu lar quando meu pai morreu em um torneio de rodeio.

O Haras é meu santuário, minha casa, eu aprendi a escrever no lombo de um cavalo, fiz desenhos nas paredes do antigo celeiro, aquilo era meu refúgio...

Volto para o Haras depois de admirar o sol nascendo, em alguns dias começaria o outono e o frio ocuparia as noites, o que me fazia sair pelos campos ajudando os cavalos que podem se perder ou sofrer com as chuvas repentinas.

Vou até o escritório respirando fundo, ao sentar em minha cadeira, tiro o chapéu, deixando-o sobre a mesa.

— Entre — respondo à batida na porta.

— Dandara, bom dia.

— Daniel, estava mesmo esperando por você. Sente-se.

— Em que posso ajudá-la?

— Quero saber mais sobre o Haras, por que Pedro deixou o Haras com Miguel, ele conhecia o sobrinho, nunca teve interesse por nada, mal sabe a diferença entre a crina e o rabo dos cavalos. Porque deixar o Haras nas mãos dele? — solto tudo de uma vez, expondo minha irritação, minha indignação. — Você me conhece desde menina, Daniel, eu ensinei sua neta a montar, eu cuido desse Haras como se fosse meu filho. Deixei as competições para administrar tudo isso quando Pedro descobriu a doença, abdiquei minha carreira para dar minha vida ao sonho dele.

Sinto as lágrimas forrando a parte debaixo dos meus olhos.

— Quando ele desejou implantar o projeto fui eu quem o apoiou, eu que contratei os profissionais, saí em busca de patrocinadores, tenho mais de trezentas crianças se benificiando do projeto. Temos selos e premiações.

— Eu sei de tudo isso Dandara, mas não cabe a mim dizer os motivos que influenciaram Pedro a tomar essa atitude. Ele escreveu uma carta, uma carta para você e Miguel, que só poderá ser lida após a decisão ser tomada.

— Uma carta? E você não me comunicou antes por quê?

— Dandara, como disse, isso não está em minhas mãos. Pedro deixou ordens explícitas.

— Arre égua , uma bosta a essas ordens!

Bufo, tentando controlar minha irritação.

— O único conselho que eu posso dar é: mostre ao Miguel o quão bem o Haras faz, mostre seu amor por tudo que você e Pedro criaram nesses anos. Faça-o não vender o Haras, até mesmo unindo os dois planos, por que não?

— HÁ HÁ, transformar meu Haras em um hotel de luxo para madames enfrescuradas? Quando um cavalo cagar nos pés delas quero ver quantas estrelas sobrará. É de pessoas como Miguel que eu sempre fugi esses anos, não quero o dinheiro de quem vê meus cavalos como um pedaço gigante de bife passeando por aí.

— Tente ao menos resgatar o amor que Miguel tinha na infância. — Daniel aconselha.

— Por Cristo, Daniel. Pedro estava maluco no final dos seus dias. Ele acreditou mesmo que os chiliques na infância de Miguel era por mais tempo com os animais? O menino gritava se um porco grunhice em sua direção. A última vez que pisou no Haras fez uma estripulia soltando metade dos cavalos das baias. Foi um Deus nos acuda até recuperarmos tudo.

Daniel segura o riso, ajeitando melhor a postura na cadeira.

— Quer que eu conte a vez que soltou uma bombinha estampido no meio do pasto? Pedro saiu atrás dele na base do chicote.

— Vou dizer a mesma coisa para você como diria para Miguel: não posso intervir, a questão não é uma briga de foices. É vocês conversarem o que é melhor para o Haras...

— Ele irá vender tudo, demolir tudo, sabe quantas pessoas tenho trabalhando aqui? Quantas famílias envolvidas? Imagina todos os dias você se levantar e as pessoas te encararem com perguntas nos olhos, meus funcionários não sabem como será o amanhã. Nem se terão o salário no mês que vem — resmungo — É com isso que lido.

— Miguel fez uma proposta, ele quitaria as dívidas que o Haras tem, e fez uma consulta com as fazendas de corte e o Haras vizinhos para a possibilidade de vender os cavalos. Acredito eu que queria sondar o terreno para saber o valor de um manga-larga.

Levanto enfurecida, batendo as palmas das mãos na mesa. — Ele quer levar uma chicotada!

— Dandara! — exclama.

— Ele que tente encostar em meus cavalos, ele que tente... Arre égua!

— Quando o assistente de Miguel entrou em contato comigo deixou bem explicíto que o único que ficaria fora desse pequeno inventário seria o Trovoada.

Arqueio a sobrancelha — E isso alivia minha vontade de matá-lo? Ah claro, ele foi gentil em não vender um cavalo que foi presente de meu pai!

Eu estava soltando fogo pelas ventas, o filho duma égua teve coragem de agir pelas minhas costas e depois vem com sua falamansa e me leva pra cama. Eu sou muito burra mesmo!

— Bem, Dandara. De todas as formas, se vocês não chegarem a um acordo, se você não aceitar vender sua parte para ele ou se não conseguir pagar a dívida, automaticamente o Haras entra em um processo e se ele tiver a possibilidade, vai acabar nas mãos de Miguel. Se isso não ocorrer, de qualquer forma, assim que o tempo imposto pelo Seu Pedro acabar, o Haras entrará num processo onde quem terá o poder de decisão é a justiça. Isso pode envolver até mesmo leilão, por conta das dívidas.

— Então é: corre pro mato ou corre pro morro. — suspiro.

— A maneira de todos saírem satisfeito é vocês tentarem resolver isso amigavelmente.

— Tudo bem, obrigada pelo seu tempo doutor.

Ele concorda com um gesto, levantando-se. — Fique bem.

— O senhor também.

Acompanho o advogado para fora, fechando a porta atrás de mim. Caminho até o espaço para equitação, vendo os montadores treinando.

— Dandara!

Abaixo um pouco a aba do chapéu fazendo sombra para o sol forte da manhã. Carolina vem calvagando em minha direção, acenando. — Bom dia!

— Preciso da sua ajuda, sinto Damião entrando errado nos obstáculos.

— Dá uma volta para eu observá-lo — digo pulando a cerca.

Carolina trota se afastando, fazendo semicírculos para aquecer o cavalo, passa pelos primeiros obstáculos e vejo que Damião está com uma passada errada, as pernas de dentro estão trotando mais longas que as de fora. É preciso equilibrar o lado que ele está tendo maior dificuldade. Carolina também anda forçando demais no elevado, a conexão entre eles também estava meio mexida, isso acontecia com cavaleiros que entravam na época de competição, tinham muita pressão e sentimentos misturados e acabam passando para os animais.

— Bom dia, esquentadinha, tinha espinhos na cama essa manhã? — Miguel agarra minha cintura e beija meu pescoço. Me esquivo com um sorrisinho, ainda com raiva por ele ter agido pelas minhas costas.

Seu olhar malicioso mexe comigo. O desgraçado sabe que venceu ontem!

— Levanto antes mesmo do sol, coisa de caipira. — me atrevo a desafiá-lo.

Miguel sorri abaixando a cabeça, ainda me olhando. — Confesso que tive uma noite excelente. Poderíamos repetir nossa conversa hoje a noite, o que acha?

— Poderíamos, mas não vamos, tenho mais o que fazer. E nada mudou.

Miguel me encara surpreso, — O que eu fiz? Acordou azeda como um limão, você não cansa de distribuir coices?

Nós estavamos em um maldito pé de guerra e tudo que eu conseguia me lembrar quando encarava os olhos castanhos de Miguel é onde sua maldita boca esteve ontem a noite. E eu excitada por cada gesto que aquele brucutu fez! Deveria dar um tapa em mim mesma!

— Que tal darmos uma volta? Você poderia me mostrar a região.

— Claro, tem algo que ficou de fora de seu inventário? — mordo a língua por ter falado disso.

Miguel fica surpreso, mas logo se afasta de um passo, confirmando o que Daniel tinha dito mais cedo, ele realmente agiu pelas minnhas costas.

— Dandara...

— Cala a boca, brucutu! Se não quer ver a cara enfiada no esterco de cavalo, fique quieto!

Viro sinalizando para Carolina se aproximar.

— Teremos que trabalhar algumas coisas em vocês dois. Faça uma pausa, eu vou preparar o redondel.

— Ok, obrigada Dandara.

Sorrio pulando o cercado novamente, ignorando Miguel que me seguia como uma sombra.

— Não cometi nenhum crime, Dandara.

Reviro os olhos, caminhando para longe.

— Você está sendo teimosa, poderíamos resolver isso de outro jeito, quem sabe unir o útil ao agradável.

Viro fazendo-o parar quase tropeçando em mim. — Diga brucutu, qual sua excelente ideia? Já recebeu oferta pelos meus cavalos? Ah, muito obrigada por deixar Trovoada de fora, foi uma gentileza imensa, já que não quis vender também um presente de meu pai.

Sinto que estou quase gritando.

— Eu não venderia seu cavalo, vejo o amor que sente por ele. Posso não ser um especialista ou não gostar das mesmas coisas que você, mas não quero mal aos bichos.

— Não quer o mal deles? — Sinto minhas bochechas pegando fogo, Miguel mesmo mantém uma certa distância de mim. — Sabe qual a diferença entre um cavalo para lidar com o gado e um cavalo de montaria e competição?

Ele dá de ombros.

— Exato, se não sabe essa imensa diferença e mesmo assim foi oferecer meus cavalos para donos de fazenda de corte. Você com certeza não quer o bem deles. Jumento! — disparo a falar.— Mas tenho uma solução, vá embora, se não quer o mal deles, vá. Ou está esperando a foda de despedida? Quer ir para o celeiro desativado? — pergunto desatando o nó da minha camisa xadrez fazendo ela revelar minha blusa curta.

— Deixe de ser ridícula! — ele grita, chamando atenção das pessoas que passam por nós.

— Não sei onde Pedro estava com a cabeça, ele só poderia estar alucinando quando decidiu deixar meu Haras para você! — Vejo o olhar irritado de Miguel, mas não deixo que fale. — Tenho muito trabalho a ser feito, se puder pelo menos não atrapalhar, eu agradeço.

Estava pronta para deixá-lo parado sozinho quando vejo Cindy galopando em minha direção. Era hoje, definitivamente eu mataria um.

Ela se aproxima com o sorriso mais falso que nota de três reais, diminuindo o galope, parando o cavalo perto da cerca e desce, balançando a mão em nossa direção. — Dandara! Era você mesmo que queria encontrar!

— Só me faltava essa — sussurro. — Acho que errou, sua prenda está bem na minha frente — digo com um sorriso cínico nos lábios.

— Forasteiro, desculpe não ter vindo mais cedo, vejo que ficou totalmente curado do ataque de fúria de Dandara.

Miguel sorri, deixando que a oferecida lhe agarrasse o pescoço dando um beijo bem perto de sua boca.

Maria trepadeira! — penso com raiva.

— Estou bem sim, que surpresa boa vê-la aqui. Estava agora mesmo comentando com Dandara que queria dar uma volta pela região.

Cindy sorri animada. — Então encontrou sua companhia, faço questão de ir com você.

Miguel me encara vendo minha cara de poucos amigos. E mesmo que eu tente disfarçar meu ódio por Cindy, ele se aproveita da situação. Segura na cintura fina da trepadeira, abrindo um amplo sorriso. — Podemos dividir o mesmo cavalo, eu não estou acostumado a montar sozinho.

— Ihaaaahhh, mas é claro! — ela diz animada. — Ah, Dandara, eu soube que está preparando uma competição aqui no Haras.

Miguel me encara curioso, até mesmo me fuzilando com os olhos.

— Sim, é para angariar fundo para o Haras, mas como soube?

— Matheus, ele me contou — diz com um sorriso. — Logo pensei, o que seria excelente senão competir? As regionais estão chegando e eu e Milu precisamos estar preparadas, você poderia dar uma olhada nela, estou achando que ela está de TPM — diz abaixando o tom de voz na última parte como se tivéssemos dividindo um segredo. — E você como antiga competidora sabe como é importante o cavalo estar bem. Fico orgulhosa que abandonou os pódios e se dedica cuidando de minha égua.

— Claro. Dou uma olhada.

— Perfeito, — ela empurra a rédea para mim, enlaçando ainda mais seu corpo em Miguel — vamos forasteiro?

— Claro. Irei pedir para Mathias selar um cavalo. — Miguel responde me encarando.

Maldito Brucutu, maldita Maria trepadeira!


CAPÍTULO 19


Dandara

— Tá falando sozinha, Dandara?

Pulo de susto, percebendo que estava resmungando alto. — Ocê tem sorte de não ter tomado uma chicotada — digo arrumando o chicote na lateral de minha bota.

— Que bicho lhe mordeu? — Mathias questiona.

— Picão, um bicho desgramento que gruda na pele da gente sugando nosso sangue.

Mathias ri, me entregando as coisas para selar Bruto. — Que bom então que não é um do tamanho de um homi , que chegou recentemente na cidade. — diz tirando sarro.

Encaro Mathias, revirando os olhos, para que notasse que não estava sendo um bom momento para brincadeiras.

— Ah, Danda, deixa disso. Pode ter enganado Bento e Maria com essa história de bicho sofrendo pelo mato, mas eu sei o que faz aquele esganiçado todo dentro de um quarto.

— Ocê não tem amor aos dentes, não? — bufo.

— Ô se tenho, como acha que consegui os meus uivos? Tudo na beleza do sorriso — Mathias caçoa abrindo um sorriso de cavalo para mim.

— Arra , não torre minha paciência!

— Mudando de proza , achei que já tinha acabado com a doma do Bruto.

— Sim, ele está pronto para ficar com os outros. Mas hoje eu quero que prepare a pista para três tambores.

Mathias abre um enorme sorriso, — Irá competir novamente? Que alegria garota!

— Ainda não, vou só matar a saudade.

— Pois deveria. — Mathias aperta a sela, conferindo se está tudo bem preso.

— Faz tanto tempo que não penso nisso Mathias, deixei as competições para trás quando assumi a responsabilidade do Haras.

— Arra, e isso não mudará. Você cuida desse Haras mais que de si mesma, eu lembro do primeiro dia que cheguei aqui e vi você cavalgando. — Mathias sorri ajeitando o chapéu na cabeça — Devia ter uns dez anos, lembro que parei perto do cercado olhando, você tinha tanta conexão com o cavalo, tinha tanto talento, mesmo naquela idade.

Sorrio lembrando da minha primeira competição.

— Todos sabemos o duro que está dando para manter tudo sob controle, até mesmo antes da morte do Seu Pedro.

— Quem sabe eu possa tentar — digo.

— Será um excelente começo.


Bruto raspa a pata pelo chão, como se ele próprio se aquecesse. Quando Bruto chegou no Haras era apenas um cavalo maltratado e ferido, abandonado pelo antigo dono para morrer ao relento. Foi numa noite de chuva intensa que o encontrei caminhando com dificuldade nos arredores do Haras. Demorou meses para que ele sequer deixar que eu me aproximar dele, estava tão ferido internamente em sua confiança com os humanos que só de ver um já se armava dando coices.

A doma nunca foi uma coisa tranquila com ele, ficava feliz só por não levar uma mordida. Mas eu o entendia, foi ferido por acreditar em um humano, sua defesa natural era expulsar quem quer que tentasse se aproximar.

— Sei que você gosta de correr, vejo como seus olhos brilham quando fica livre — sussurro passando a mão em sua crina.

Ele raspa a pata no chão, emitindo relinchos e baforadas baixas, ele aprovava o que eu estava falando, assim como o fato de suas narinas estarem dilatadas e as orelhas eretas para frente significava que prestava atenção ao que eu dizia.

— Quero propor algo diferente para nós. Se você gostar, podemos pensar em fazer isso mais vezes. — Tiro o chicote com calma da bota, ele fica desconfiado. — Isso será necessário entre nós?

Bruto relincha, marchando para trás, sacodindo a cabeça. Jogo o instrumento para longe. — Quero que você corra quando for necessário, quero que sinta a terra tocando forte suas patas e o vento traga a liberdade que isso vai lhe trazer. Mas para isso precisa obedecer fielmente meu comando.

Estralo os lábios indicando para que ande, faço todo o circuito no trote, deixando que ele receba meus comandos, deixando que veja como será.

A competição dos três tambores é simples, você precisa fazer uma saída com explosão antes de cruzar pelos sensores. Uma prova de três tambores clássica é de oito metros até o primeiro, depois vinte e sete e meio até o segundo tambor e trinta e dois metros até o terceiro. E então, a reta final, onde exige mais dos cavalos e das amazonas, era esforço máximo pelo melhor tempo. Se tudo for executado com perfeição e sem derrubar nenhum dos tambores, você poderia ganhar alguma posição boa.

Existem pessoas que gostam do silêncio, silenciam tudo ao seu redor, se concentrando apenas na sua própria respiração e de seu cavalo. Eu gosto de ouvir tudo.


— Não foi um tempo ruim para quem está parada por anos. — Mathias comemora pendurado na cerca.

— Quanto?

— Dezessete segundos e meio.

Desço do cavalo acariciando a testa dele. — Esse garoto nasceu para isso.

— Dei uma examinada na égua da Cindy, ela está machucada pelas esporas, sua barriga está toda marcada e além disso, queria que desse uma olhada no freio, acho que tem algo errado.

— Odeio quando vejo animais sofrendo pela imprudência de seus donos.

— Também não gosto, pena que o pai de Cindy não pense assim e deixa aquela garota maluca usar os animais como enfeites.

— Nem me lembre disso — retruco.


CAPÍTULO 20


Miguel

Logo após fazer sexo com Dandara fiquei perdido olhando-a dormir por alguns instantes, aquilo, esses tempos no Haras têm sido os mais malucos que já tive. Aquela esquentadinha está mexendo comigo, ela está me atormentando desde que pisei no Haras, fazendo meus dias e noite incertos, mas a mulher deitada no meu braço, dormindo tranquilamente, livre de todas as caretas e muros que impõe me faz querer seguir outro rumo. Eu tenho vontade de puxar seu corpo contra o meu, encaixá-la em meu pênis e fazer tudo de novo, agora sem pressa, absorvendo tudo, cada gemido que ela faz. Mas acabei adormecendo enroscado em seu corpo ao contemplar seu rosto enquanto dorme.

E quando o dia seguinte chegou, me deparei com a cama vazia, ela saíra de fininho para não me enfrentar quando acordasse. Abro a porta, verificando se o caminho está livre e quando confirmo que sim, retorno ao meu quarto, trancando a porta depois de entrar.

Tomo um banho rápido vestindo algo mais leve para o dia quente que faz do lado de fora, fazendo uma anotação mental: ar condicionado em todos os cantos, pelo amor de Deus, como é quente isso daqui! Pego os óculos escuros colocando-os no topo da cabeça e desço correndo a escada em direção à cozinha.

— Bom dia, Maria — cumprimento a senhora, ela me olha meio espantada o que me faz questionar se eu não estava sendo educado o suficiente com as pessoas dali. Mas também, com a noite anterior que tive, meu humor está perfeito nesta manhã. — Por acaso você viu a...

— A menina está embrenhada pelo Haras como sempre, Seu Miguel.

Pego uma laranja, descascando-a. — Vocês sempre começam o dia antes mesmo do sol?

— Sim, a menina é que acorda o galo e não o contrário.

Sorrio jogando as cascas fora. — Em São Paulo também acordamos, mas confesso que ser dono do próprio negócio tem suas vantagens.

Saio pela porta lateral da cozinha roubando um chapéu preto na varanda, brincando ao colocá-lo em minha cabeça, até que não tinha ficado ruim. Deixo de lado ao ver Dandara perto de um dos cercados sorrindo como uma menina ao ver os cavalos.

Lembro-me de poucos momentos vividos aqui, mas o que eu com certeza consigo recordar é dela, mesmo muito diferente da época que erámos crianças. Dandara sempre foi apaixonada por isso, era raro vê-la vestindo sapatos e quando estava, eram botas. Era mais raro ainda ver a menina fazendo outra coisa do que estar perto dos bichos.

— Bom dia, esquentadinha, tinha espinhos na cama essa manhã?

Agarro a cintura de Dandara, lembrando de nossa noite, gostando do cheiro dela.

— Levanto antes mesmo do sol, coisa de caipira.

Pelo tom de voz afiado, já estava mordendo os cotovelos.

Sorrio dando um beijo suave em seu rosto, tentando suavizar o mau humor. — — Confesso que tive uma noite excelente. Poderíamos repetir nossa conversa hoje a noite, o que acha?

— Poderíamos, mas não vamos, tenho mais o que fazer. E nada mudou.

— O que eu fiz? Acordou azeda como um limão, você não cansa de distribuir coices? — Controlo minha vontade de responder Dandara de forma ríspida, suspiro, suavizando a voz — Que tal darmos uma volta? Você poderia me mostrar a região.

— Claro, tem algo que ficou de fora de seu inventário?

Fico surpreso, me afasto de um passo para olhar melhor seu rosto, como ela soube?

— Dandara...

— Cala a boca, brucutu! Se não quer ver a cara enfiada no esterco de cavalo fique quieto!

Ela vira chamando uma garota.

— Teremos que trabalhar algumas coisas em vocês dois. Faça uma pausa, eu vou preparar o redondel.

— Ok, obrigada Dandara.

Sei o jogo que Dandara faz, ela prefere fugir do que virar e me encarar, não deixo barato, sigo-a pelo Haras.

— Não cometi nenhum crime, Dandara.

Ela continua andando, me ignorando.

— Você está sendo teimosa, poderíamos resolver isso de outro jeito, quem sabe unir o útil ao agradável.

Ela vira, parando brutalmente, me fazendo quase tropeçar.

— Diga brucutu, qual sua excelente ideia? Já recebeu oferta pelos meus cavalos? Ah, muito obrigada por deixar Trovoada de fora, foi uma gentileza imensa, já que não quis vender também um presente de meu pai.

— Eu não venderia seu cavalo, vejo o amor que sente por ele. Posso não ser um especialista ou não gostar das mesmas coisas que você, mas não quero mal aos bichos.

— Não quer o mal deles? — O rosto de Dandara está vermelho como se tivessem esfregado dois tomates em suas bochechas, e se isso não era um alerta para ficar afastado, eu não sabia o que seria. — Sabe qual a diferença entre um cavalo para lidar com o gado e um cavalo de montaria e competição?

Dou de ombros.

— Exato, se não sabe essa imensa diferença e mesmo assim foi oferecer meus cavalos para donos de fazenda de corte. Você com certeza não quer o bem deles. Jumento! — dispara a falar.— Mas tenho uma solução, vá embora, se não quer o mal deles, vá. Ou está esperando a foda de despedida? Quer ir para o celeiro desativado? — pergunta desatando o nó da minha camisa xadrez fazendo ela revelar minha blusa curta.

E mesmo que a ideia de tê-la novamente em meus braços, sentir o gosto de sua pele e ter seus gemidos em meus ouvidos seja tentadora, me foco em nosso novo cabo de guerra. — Deixe de ser ridícula!

— Não sei onde Pedro estava com a cabeça, ele só poderia estar alucinando quando decidiu deixar meu Haras para você! Tenho muito trabalho a ser feito, se puder pelo menos não atrapalhar, eu agradeço.

Estava pronto para segurar seu braço vendo que se afastaria, quando vejo sua expressão de raiva se focar em outra coisa, sigo seu olhar vendo uma garota vir calvagando em nossa direção.

— Dandara! Era você mesmo que queria encontrar!

— Só me faltava essa! Acho que errou, sua prenda está bem na minha frente — Dandara diz com um sorrisinho falso.

— Forasteiro, desculpe não ter vindo mais cedo, vejo que ficou totalmente curado do ataque de fúria de Dandara.

Sorrio não tirando os olhos de Dandara, deixando que Cindy agarrasse meu pescoço dando um beijo bem perto de minha boca, naquele instante tinha descoberto uma outra arma poderosa contra a esquentadinha, o ciúmes. — Estou bem sim, que surpresa boa vê-la aqui. Estava agora mesmo comentando com Dandara que queria dar uma volta pela região.

Cindy sorri animada. — Então encontrou sua companhia, faço questão de ir com você.

Aproveito a situação segurando na cintura fina da garota, abrindo um amplo sorriso. Satisfeito por ver que deixo Dandara mexida, é bom saber que outra coisa borbulha dentro dela, além de irritação. Afinal, ela não é tão casca grossa quanto esbraveja. — Podemos dividir o mesmo cavalo, eu não estou acostumado a montar sozinho.

— Ihaaaahhh, mas é claro! — ela diz animada. — Ah, Dandara, eu soube que está preparando uma competição aqui no Haras.

Faço minha cara de “não sou o único planejando pelas costas” e encaro Dandara.

— Sim, é para angariar fundo para o Haras, mas como soube?

— Matheus, ele me contou — Cindy diz com um sorriso. — Logo pensei, o que seria excelente senão competir? As regionais estão chegando e eu e Milu precisamos estar preparadas, você poderia dar uma olhada nela, estou achando que ela está de TPM. E você como antiga competidora sabe como é importante o cavalo estar bem. Fico orgulhosa que abandonou os pódios e se dedica cuidando de minha égua.

Dandara competindo? Não sabia que a esquentadinha metida as caras em rodeios ou competições equestres. Estava aí uma coisa para pesquisar quando tivesse deitado em minha cama essa noite.

— Claro. Dou uma olhada. — Dandara responde de forma azeda.

— Perfeito, — Cindy empurra a rédea para Dandara, enlaçando ainda mais meu corpo — vamos forasteiro?

— Claro. Irei pedir para Mathias selar um cavalo.

A carranca de raiva que Dandara está é impagável. É como acender um pequeno fósforo numa fogueira à base de álcool. Eu não quero nada com essa garota, mas se para provocar minha caipira eu tiver que entrar nesse joguinho sujo, por que não?

A tal de Cindy não tinha a mesma desenvoltura que Dandara na montaria, na verdade, não tem nem mesmo a paixão que Dandara exibe ao olhar para os cavalos. Porém, não decepcionou em nada em sua montaria e cavalgada, ela sabia o que estava fazendo. Mesmo que o cavalo ficasse arrisco com seus comandos.

Saímos do Haras indo para os campos abertos da propriedade, passando por um pequeno riacho, Cindy se aproveita por estarmos na mesma sela e esfrega sua bunda em meu pênis, sempre sorrindo e olhando por cima do ombro.

— Que tal pararmos aqui? — questiona olhando para a paisagem na frente, estavámos em uma espécia de monte, víamos a estrada de terra que nos levaria de volta para o Haras e ao longe a silhueta do que seria o centro da cidade.

— Por mim — digo já descendo do animal.

— Quero muito saber o que fez um homem fino e bonito como você se meter com a Dandara — Cindy fala amarrando a rédea do cavalo no tronco de uma árvore.

— Podemos dizer que fomos criados juntos.

— Mentira! — diz rindo.

— Meu tio-avô criou Dandara quando seus pais faleceram.

— Que azar o dela, primeiro perdeu a mãe e logo depois seu pai, morreu em um acidente com bois.

Não havia sentimento real naquelas palavras.

— Você e ela se conheceram como? — pergunto sentando sobre a grama.

Ela caminha parando em minha frente tampando a visão da paisagem remexendo o quadril, tentando ser sedutora.

— Bom, tirando o fato de cidade pequena todo mundo naturalmente se conhecer, além dos filhos estudarem juntos. No Haras, Setti é um dos poucos lugares de excelência por aqui, confesso que tem ótimas pistas para treino. Meu pai é um dos patrocinadores, mesmo eu querendo que Milu seja tratada por outra domadora, não posso negar que ela é boa no que faz. Cindy deu de ombros, analisando as unhas perfeitamente alinhadas e pintadas — Ficou melhor quando saiu das competições.

— Competição? — questiono curioso.

— Dandara praticava a mesma modalidade que eu, três tambores, mas largou tudo quando Pedro ficou doente. O velhote não podia mais pegar no pesado e o que não falta naquele Haras é serviço pesado para ser feito. Mesmo com Mathias vindo para ajudar, Dandara decidiu largar tudo para cuidar do Haras.

— Pela sua cara de surpreso, não sabia disso.

— Conheço pouco daqui, vim muito na infância a mando de meus pais e quando cresci nunca mais voltei. Só fiquei sabendo novamente desse lugar quando um advogado me ligou informando sobre a morte do meu tio. Somos de uma família grande, porém nem todo mundo ainda mantém contato.

— Por que decidiu voltar? — Cindy senta em meu colo, um joelho em cada lado de meu corpo, me fazendo dar um sorriso sem graça ao afastá-la com jeito. — É verdade o que todos tem cochichado por aí?

— O que andam falando?

— Oras, que você veio tomar isso tudo dela. Afinal, pra que um homem como você viria para um fim de mundo como esse?

— Vim por negócios, é tudo que precisa saber.

Cindy fez um beicinho, passando os braços pelo meu pescoço, forçando uma aproximação. — Por que não paramos de falar dela, de cavalos e todas essas bobagens e terminamos o que rolou lá no bar?

Direta e atrevida, ela se daria bem na cidade grande.

— Sinto muito, mas não vai rolar. Vamos voltar? Esqueci que marquei um telefonema importante com meu assistente em São Paulo, como disse, negócios — Fico de pé estendendo a mão para ajudá-la.

Não sei o que tem no DNA dessas caipiras, mas ô mulherada que se enfeza rápido! Cindy levanta dando um tapa em minha mão, já desamarrando o cavalo e subindo. Mais uma que preciso tomar cuidado para que ela não me lance do outro lado da estrada, só por que neguei seu fogo. A realidade é que não queria nada com Cindy, ela poderia ser uma mulher linda, com um corpo escultural. Mas serviu apenas para deixar a esquentadinha com ciúmes.


CAPÍTULO 21


Dandara

Enquanto comemos, Maria não tira os olhos de mim. Abaixo o garfo, dando um longo suspiro. — Diga logo mulher, senão vai engasgar com a própria comida.

— O que está tirando ocê do prumo, moleca?

Velha sábia! Não tinha nada que escapasse de Maria, você poderia se deixar levar pelo rosto repleto de rugas ou pelos olhares maternos que lançava para todos, mas Maria era como um pastor alemão, farejava as coisas à distância.

— O que deu no povo desse Haras hoje? — pergunto desviando do verdadeiro assunto.

— Ocê não me engana mocinha, conheço ocê mesmo antes de aprender a lavar os fundilhos de suas ceroulas!

— Que horror! Estou apenas pensativa, vou sair mais tarde para dar uma olhada nos campos.

Foi a vez de Maria revirar os olhos, ninguém vencia em uma disputa com Maria. — Ainda com aquele sonho azucrinando a mente?

Suspiro empurando a comida de um lado para outro no prato. — Eu vejo aquele cavalo com tanta força, não sei porque e nem mesmo o quê significa.

— Você está preocupada com as coisas daqui, normal, os sonhos mostram nossas preocupações mais profundas.

Suspiro, tomando um gole do suco, confirmando com um pequeno gesto de cabeça.

— Mas não era sobre isso que estava falando.

— Ô merda, Maria! — retruco. Não irei conseguir desviar do assunto.

— Óia a boca! — ralha — Ocê está ansiosa, está assim desde que a senhorita Munhoz chegou no Haras.

— Aquela menina brinca com os animais, Mathias disse que a égua tem marcas feias das esporas, eu gostaria de enfiá-las no...

— Ouuh , acalme-se. — Maria adverte rindo — Seria mesmo por que Cindy está maltratando a pobre da égua, o que não seria nenhuma novidade para nós ou pelo simples fato dela ter saído com Seu Miguel?

Fico em silêncio enchendo minha boca com o resto de suco de meu copo.

— Você gosta dele.

Encaro Maria — Ficou maluca? — digo umas oitavas mais alto.

Ela sorri, pega seu prato e o meu, indo até a pia. — Conheço você, menina. Seria de se admirar se não tivesse apaixonada. Eu disse para Seu Miguel, muito ódio acaba virando amor.

— Você está exagerando, deve ser o excesso de trabalho. Seu “Miguelzinho” está agindo pelas minhas costas, fazendo um inventário de tudo que há aqui para vender.

Maria não manifesta nenhuma surpresa com o que acabo de dizer. — O homi é um bitelo , 5 mas não disse que não era sonso para fazer merda. Pode me chamar de velha caduca, mas conheço os sinais e sintomas, você está gostando dele.

— Arre égua! Vou trabalhar, não quero falar mais disso! — argumento ficando de pé.

— Como quiser, moleca. Mas se enfiar no trabalho não irá arrancar isso d’ocê.

Bufando dou uma olhada feia em sua direção e ela entende o recado, não toca mais no assunto enquanto eu devoro uma maçã vermelha e doce que estava na fruteira. Coloco o chapéu sobre a cabeça, fazendo uma trança em meu cabelo e saio, ignorando os olhares que Maria me lança.

Apaixonada! Era para se rir mesmo, Maria está ficando maluca!


— Tudo correndo bem por aqui — Mathias me relata assim que entro do estábulo. — No fundo ela só precisa de um pouco de atenção.

Passo a mão sobre o corpo da égua, vendo seu olhar desconfiado. Milu é da raça Paint Horse, muito parecida com os quarto de milha, mas parece pintada à mão.

— Oua , calma garota!

Retiro a mão ao vê-la arreganhar os dentes.

— Essa daí vem com o espírito da dona. — Mathias brinca.

— Que nada, tire ela da baia. — peço olhando nos olhos da égua — Cindy é horrível com ela, assim como foi com todos os cavalos que passou por seu rancho. Só quer que o animal corra, muito parecida com Matheus, pelo menos aquele ali tem algo de bom, gasta dinheiro e tempo cuidando dos seus cavalos. — digo torcendo os lábios.

— Tem certeza disso? — Mathias questiona segurando a trava da baia. — Ela não está muito amigável.

— Solte.

Mathias faz o que mando, abrindo a portinhola, deixando que ela saia. Milu é uma égua imponente, sai com a fronte erguida, me encarando de cima, passando o recado claro que não tem medo de nós, mas na realidade, tudo isso é pose, ela está receosa que a machuquemos.

— Dê uma olhada nessa ferida.

Dou a volta indo até Mathias, não era uma ferida profunda, iria cicatrizar logo, mas o que me irritou ainda mais foram as marcas mais profundas em sua pelagem indicando que outras já tiveram ali, várias cicatrizes marcando o quando essa égua vinha sendo judiada. E o quantos os maus tratos tinham marcado-a internamente.

— Vamos fazer um tratamento de aromaterapia, para ela se acalmar um pouco e deixar que cuidemos dela.

Vou até o espaço onde os remédios ficam guardados examinando alguns vidros, pego três voltando para a égua.

Tiro a tampa do primeiro colocando perto da narina do animal. Ela relincha virando a cabeça bruscamente, quase derramando o conteúdo de minhas mãos. Retiro do segundo, mas ela tem o mesmo comportamento.

— Óleo bergamota — digo e não demora muito para ela tirar a língua para fora querendo o líquido.

— Não é estranho que ela escolha justo o que traz a sensação de alegria e ânimo. — Mathias comenta.

— Minha mãe sempre dizia que os animais escolhem seus próprios remédios. Eles sabem do que realmente precisam.

O barulho de cavalo se aproximando traz nossa atenção para a entrada do estábulo.

— Que bom que ela está pronta, preciso ir. — Cindy salta do cavalo deixando Miguel se desequilibrar por um instante.

— O passeio não foi prazeroso? — desafio.

— Minha égua está pronta ou não?

— Milu está com marcas de escoriações na barriga. — acuso.

Cindy não dá a mínima para o que estou falando.

— Cindy! Você está ferindo sua égua por nada com suas malditas esporas!

Mathias me olha preocupado.

— Que eu saiba pedi para você dar uma olhada, e não mandar no jeito que comando minha égua. — Cindy contra-ataca.

Miguel dá um passo em nossa direção como se nós duas fôssemos nos engalfinhar como animais, não que ela não merecesse, mas eu não iria ganhar nada com isso.

— Se você quer que Milu não a jogue para longe durante uma competição, precisa entendê-la. Ela não é um pedaço de bife para você ficar furando quando bem entende.

Cindy gargalha, — Me passe o valor de seu tempo, mando meu pai depositar na conta do Haras. — ela vê que continuo encarando-a — Vamos, será que dá para selar minha égua?

Mathias pega as coisas pronto para selar a égua.

— Mathias, não! — Eu quase grito. — Cindy, me escuta...

Cindy arranca a sela das mãos de Mathias, ela mesmo arrumando no lombo de sua égua.

— Cindy, sua égua está ferida, pode achar que não é nada, mas com o tempo vai pegar os ossos dela. Se você se importa...

— O que eu preciso escutar é que você fez algo além de ficar gastando meu tempo. E não de suas mágicas inúteis. — Ela mal fixa direito as fivelas para montar o animal.


Cindy enfia as esporas na barriga da égua fazendo-a relinchar de dor, e a visão dos olhos tristes e repletos de lágrimas do animal cortam meu coração.

Chuto um barril de água enfurecida com a partida de Cindy. O fato de não poder fazer nada para ajudar essa égua me corta o coração.

— Pelo visto vocês estão bem longe da cordialidade.

Viro como um bicho, bufando como um touro bravo ao encarar Miguel. — Meta seu nariz onde é chamado!

— Se você sabia que Cindy maltratava a égua, por que a liberou? — Miguel questiona.

— Seu Miguel, não é simples assim, não podemos prender os animais, mesmo que por alegação de maus tratos. A família de Cindy é poderosa na cidade, seria uma briga infinita e até lá a égua já teria caído doente.

— O que Mathias tá querendo dizer é que não serão os primeiros donos que negligenciam seus animais, muito menos os últimos. São esse tipo de gente para quem quer vender meus cavalos. — acuso.

Levanto o barril que tinha chutado em minha explosão de raiva, puxando a mangueira para enchê-lo.

— Mathias, termine de cuidar das baias, eu vou sair com Trovoada. Está esfriando e não duvido de termos uma chuva torrencial mais tarde.

Deixo os dois ali, no meio do estábulo indo até o Trovoada, eu precisava da paz que ele poderia me dar. E não foi surpresa em vê-lo totalmente alerta, meu pai costumava dizer que Trovoada sempre saberia meu estado de espírito, ele sempre estaria ali, pronto.

E isso era verdade. Não precisei dizer nada, apenas abri a portinhola de sua baia, subindo diretamente no pelo para que ele saísse em disparada para fora do Haras, o sol estava se pondo no horizonte e uma espessa nuvem cinzenta cobria o céu.

Na época de outono vivemos os tempos mais malucos; temos dias de intenso calor e do nada um frio de arrepiar os ossos com chuvas tão fortes que inundam a estrada. Além de ser a época que mais me preocupo com o bem estar dos cavalos.

Cavalgo pelos campos, até mesmo me embrenhando no pequeno acervo de mata fechada, os ranchos e fazendas não são próximos uns dos outros, o que dá bastantes aréas livres.

— Aoh — Trovoada para, relinchando baixo. — Você também ouviu rapaz?

Paramos entre as árvores escutando os pássaros fazendo burburinho entre os ramos, mas não foi isso que chamou nossa atenção, e sim um relincho baixo, sofrido.

— Vamos, Trovoada. — bato o pé na barriga dele fazendo barulho para que volte a galopar.

O rancho era velho, existia destroços espalhados pelo terreno, desço do Trovoada empurrando a porteira velha e quebrada, tinha arame farpado para todos os lados, o relincho veio mais fraco dessa vez, como se o animal já não aguentasse mais esperar por ajuda. Trovoada relincha batendo os cascos chamando minha atenção, um cavalo estava em um pequeno cercado amarrado a cordas em um tronco velho, havia feridas em sua cabeça e boca devido às cordas, mas também marcas profundas espalhadas pelo seu corpo, fora a desnutrição evidente.

Não conseguiria fazer esse cavalo ir até o Haras, precisaria chamar o Santiago e pegar o trailer. Monto em Trovoada galopando de volta até o Haras, forçando ele ir o mais rápido que pode, não sabia de quem era aquele rancho abandonado, mas de maneira alguma deixaria o animal ali sofrendo.


CAPÍTULO 22


Miguel

Levo as toras de madeira para Bento, sentando no sofá. O frio realmente tinha chegado com força, nos forçando a fechar as portas e janelas para manter o calor dentro do imenso casarão. Dandara ainda não tinha retornado, o que me deixa um pouco ansioso, mesmo não querendo admitir. Aquela diabinha caipira está me enrolando em seu laço.

— Daqui a pouco a janta estará pronta. — Bento diz passando por mim em direção à cozinha.

Volto meus olhos para a tela do computador, vendo o projeto que Paulo havia me enviado mais cedo. Os arquitetos tinham feito um excelente trabalho, a entrada do resort era imponente, ele manteve o rústico e sofisticado com tanta suavidade que nenhum dos pontos tinha se destacado mais que o outro. E ali, analisando o projeto, eu não conseguia abrir minha caixa de e-mail e aprová-lo. Não conseguia dizer que poderíamos fechar o negócio com os donos dos Haras e fazer o transporte dos cavalos assim que o périodo que o advogado deu se encerrasse.

A rajada de vento forte fez o fogo na lareira tremular quase se apagando, fecho o computador virando para ver Mathias entrar na casa chamando por Bento.

— Que desespero todo é esse? — questiono indo para a entrada.

— Dandara voltou e vamos resgatar um animal.

— Resgatar? O que houve? Toda vez que você entra como um foguete aqui é porque Dandara tá metendo todo mundo em apuros — retruco.

— Mathias, o que aconteceu? — Bento e Maria vêm em nossa direção.

— Dandara voltou da caminhada, segundo ela encontrou um animal em condições precárias. Preciso ligar para o Santiago e preparar o trailer para sairmos.

— Onde ela está? — pergunto.

— A última vez que a vi estava indo pegar umas medicações.

— Santiago não deveria ficar disponível no Haras para esse tipo de emergência? — questiono ajeitando o casaco pesado no corpo.

— Sim, Seu Miguel, mas ele trabalha em outros lugares. É um veterinário muito requisitado na região.

— Vou procurá-la. — digo por fim, cruzando com eles, sentindo o vento bater contra meu corpo enquanto caminho até o estábulo.

Os cavalos relincham alto, incomodados pelo vento, passo por uma baia me esquivando ao ver que o cavalo está tão irritado que bate o corpo contra as paredes de sua baia.

— Eles ficam mais irritáveis com esse tempo.

Olho para Dandara, seu rosto está preocupado. Ela vai até o cavalo mais arisco, deixando que ele cheire um potinho.

— Aromaterapia — explica.

Mesmo ainda desconfiado o cavalo começa a se acalmar.

— Você realmente faz mágica com eles.

O cavalo vem em minha direção me assustando, pulo para trás encarando os imensos olhos pretos do animal. — Eles não confiam em mim.

— Eles são espertos, sentem quando um humano tem medo, alegria ou quando não gosta deles.

Olho para seu rosto, lá vinha ela com aquele papo novamente. — Não é bem gostar ou não, só não confio. Mathias disse que encontrou um animal ferido.

— Eu estava cavalgando, estava ficando mais frio no meio das árvores. Eu o ouvi, ele estava me chamando, não sei há quanto tempo ele está lá, mas eu sei que está cansado. Cansado demais para vir andando, mesmo se Trovoada sustentasse ele pelo caminho, isso o teria machucado mais.

— O que posso fazer?

Dandara me encara surpresa.

Nem eu mesmo sei por que estou fazendo isso, por que estou tentando salvar um animal se tudo que mais quero é que essa guerra de braço acabe logo, para dar continuidade aos meus planos.

— Santiago está ocupado em uma fazenda, tenho receio dele não chegar a tempo.

Ver o olhar triste em seu rosto faz algo dentro de mim borbulhar. — Vamos, eu ajudo você.

Ela ri por um instante, voltando a ser a diaba caipira que eu conhecia. — Você vai mais me atrapalhar do que ajudar.

— Se não quer salvar aquele animal é só dizer.

Vejo seu olhar me analisando, assim como o suspiro pesado que ela solta. — Pegue aquelas cordas, iremos precisar de pelo menos umas três, estou com o kit de remédios, ele tem grandes feridas pelo tempo que passou amarrado e das tentativas de fuga.

— É selvagem?

Ela para de arrumar as coisas para me olhar. — Ele foi ferido, está com medo, sede e fome, vai saber quantos dias ficou exposto ao sol escaldante e as chuvas frias das noites.

Mathias aparece com a caminhonete puxando o trailer. Interrompendo nossa conversa.

— Vamos colocar tudo no carro. — Dandara ordena levando Trovoada para sua baia.


O caminho até o rancho que Dandara encontrou o animal ferido fica bem longe do Haras, e a estrada não ajudava em nada, o vento ficava mais forte e logo a chuva nos brindava com mais força, dificultando ainda mais nosso caminho. Os limpadores trabalhavam frenéticos pelo vidro, cada vez que Mathias acelerava ou freava passando por um buraco era meu coração que pulava dentro do peito. A buraqueira ficava escondida devido a tempestade que caía lá fora.

Era difícil ver alguma coisa concreta em nossa frente com a torrente que descia do céu, o que me fazia apertar o canto do banco com mais força, prendendo a respiração.

Quando Mathias acelerou passando pela entrada destruída do rancho, tudo lembrou foi um filme de terror, a casa ao fundo está caindo aos pedaços, tudo ali está destruído pelo tempo e esquecido por Deus.

Dandara salta do carro antes mesmo que ele pare completamente, levando consigo o kit veterinário e uma das cordas, fazendo Mathias e eu seguirmos em seu encalce.

— Mathias, abra o trailer.

— O tempo está horrível. — digo olhando ao redor.

Dandara pula a cerca de arame encarando o cavalo com as mãos para cima, conversando baixinho com ele, para tentar acalmá-lo.

— Corte os arames, Miguel.

Retiro da enorme maleta que ela touxe um alicate, corto os fios abrindo espaço para que ela passe com o animal.

Ele relincha, empinando o corpo para trás, evitando que ela encoste nele e toda vez que faz isso, acaba caindo devido à fraqueza que seu corpo apresenta. Dandara chega mais perto tentando tirar as cordas que o machucam, porém ele está arredio demais.

— Dandara, devíamos ter esperado por Santiago, ele pode te machucar. — Mathias retruca.

— Ele não vai me machucar, está com medo, tem medo do toque. — Dandara se vira pegando um daqueles frascos pequenos que estava dando aos cavalos no estábulo fazendo o cavalo cheirar. Ele não se acalma como os outros fizeram, mas permite que ela chegue mais perto. — Se tivesse esperado por Santiago ele teria morrido nessa chuva.

Dandara tem realmente algo a mais para esses animais, é como se apenas de olhar, eles dissessem tudo que estão sentindo para ela. Ela volta para a mala tirando um lenço grande, jogando-o no rosto do bicho.

— Miguel corte as cordas e passe a nossa pelo pescoço, dê um nó bem firme.

Faço o que ela manda, me certificando que o cavalo continua imóvel contra o peito de Dandara, ela faz carinhos na crina judiada, sussurrando algo que não entendo devido o barulho forte da chuva.

— Se o dono do cavalo voltar? — pergunto terminando o nó.

— É bom que nem volte, olha o estado que deixou o cavalo. — ela retruca pondo o bicho de pé. — Calma, ouh, calma.

— Dandara, Miguel, temos problemas! — Mathias grita sob a chuva.

Um velho aparece no meio da chuva vindo em nossa direção segurando uma garrafa de bebida, tropeçando nos próprios pés.

— Conheço a laia desse daí, Cicinho sempre o expulsa do bar por arrumar confusão e ele não se importa com nada além da cachaça que consome — Mathias comenta encarando o homem.

— Às vezes temos que deixar os pensamentos sendo apenas isso, pensamentos. Nunca ouviu que o que é jogado no universo ele devolve? — Dandara resmunga para mim.

— Ei! O que você estão fazendo com meu cavalo? — O velho grita, tenta correr até nós, mas tropeça várias vezes em seu próprio pé.

Quando tenta chegar perto de Dandara, eu contenho o homem bêbado e por consequência o animal se agita, fazendo Dandara soltar um pouco a corda que o mantinha preso.

— Você não encosta mais nesse animal! — Dandara grita vindo para cima de mim e do velho bêbado.

— Vocês invadiram minha propriedade, vou chamar a polícia, e esse cavalo voltará para o lugar dele.

Seguro com firmeza sua camisa puída evitando que ele avance para cima dela.

— Chame, vai me poupar o trabalho de chutar sua bunda até lá.

O velho para por um instante de se debater em meus braços e assim consigo arrastá-lo para fora do caminho, deixando que Dandara entre com o animal no trailer.

Mathias enfia todas as coisas de volta na caminhonete, embarcando e dando partida no motor.

— Quando ele ligar para a polícia, ele que terá que se explicar. — digo animado, feliz por ter salvo aquele cavalo.

Dandara tira os olhos do vidro traseiro, voltando seu rosto para mim. — Ele não vai ligar, mal lembrará o que houve. Ele iria deixar o cavalo morrer de fome. — ela volta seu olhar para trás, vigiando o trailer.

Mathias faz o melhor que pode, mas a estrada de terra fica esburacada na chuva forte, e se antes a visibilidade já estava dificil, agora está muito pior. Os relinchos do animal preso no trailer são ouvidos de dentro do carro, imagino o quanto ele não esteja apavorado.

O carro balança de um lado para o outro, me fazendo segurar a respiração por alguns segundos.

— Ele vai se acalmar quando sairmos desse pedaço de estrada. — Mathias diz.

O carro balança mais forte na curva.

— Pare, Mathias. Eu vou com ele.

— Ficou maluca? Ele pode te machucar, está muito nervoso.

— Se eu não for com ele, vamos acabar capotando. — diz.

Mathias encara Dandara pelo espelho retrovisor, considerando o que diz.

— Ficou maluco? Ela vai se machucar! — retruco quando ele para no meio do nada, destravando as portas.

— Sei o que estou fazendo — ela resmunga.

Dandara desce e esperamos. Olho pelo vidro de trás esperando algum sinal...

— Podem ir — grita batendo na lataria do trailer.

Quando chegamos ao Haras, me senti como se tivesse nadando, nem mesmo minhas bolas estavam secas na cueca. Mathias dá a volta no carro pegando a corda e guiando o cavalo para o estábulo. E antes que Dandara saísse, indo para longe, eu a segurei.

— Desculpa.

Passo a mão pelo cabelo molhado tirando um pouco d’água dos olhos. Por que ela me deixa assim?

— Não quis magoá-la com a história de hoje cedo. Estou fazendo o melhor que posso.

— Então precisa fazer mais do que isso.

Ela se solta de minha mão correndo em direção aos estábulos, corro atrás dela, mesmo quase caindo quando meu pé afunda em uma poça d’água, alcanço seu braço e puxo-a para mim, fazendo com que pare.

Droga! Descobri que estou enlaçado até a alma por essa caipira!

Dandara fecha a expressão mostrando seu melhor olhar de ódio tentando se livrar de mim novamente. Fico em sua frente e mesmo com a chuva em seu rosto, consigo perceber que os seus olhos estão cansados, a adrenalina tinha decaído de seu corpo e eles lacrimejavam. Ela tenta se soltar novamente de mim. — Por que você não vai embora, Miguel? — pergunta com o rosto perto do meu.

Meu pênis lateja dentro da calça. Essa mulher me deixa louco!

— Eu não desisto, esquentadinha. Já devia ter entendido isso.

— Pelo menos temos alguma coisa em comum — ela retruca. — Odeio você, brucutu!

— Não, não odeia.

Ela para surpresa com minha declaração. Estar tão perto dela, sentir aquele corpo colado no meu, desperta meu desejo.

Ignorando tudo, eu só tinha uma coisa em mente: tê-la a todo custo.

Avanço sobre ela, seu corpo inteiro estremece, quando a beijo, ela abre a boca para receber minha língua, sua boca é carnuda e quente, ela para de tentar lutar contra aquele fogo que move nossos corpos. Aperto Dandara contra meu corpo, e sinto suas mãos enlaçarem o meu pescoço. Ela me puxa, em resposta eu invado seus lábios, tomando sua boca com minha língua. Levo a mão até seus seios e ela geme com meu toque.

— Quero você, esquentadinha.

— Por que está fazendo isso comigo? — ela resmunga quando minha boca desce por seu pescoço.

— Shiuu, — mordisco sua pele, descendo a boca por seus seios, lambendo o pequeno decote de sua blusa.

A chuva cai sobre nós, mas não é frio que nos faz tremer, é o calor que sinto por essa mulher que só aumenta.

— Quer que eu pare agora?

— Eu odeio você — sussurra, puxando minha mão, nos fazendo correr pelo Haras, entrando no velho celeiro abandonado.

Existem furos entre as madeiras fazendo a chuva cair em nós, Dandara empurra meu corpo contra uma viga de madeira, colocando as mãos por debaixo de minha camiseta encharcada. Meu corpo treme com o calor do toque, fiz o que desejava desde que pisei para fora da cama, abro botão por botão de sua camisa, deixando tudo totalmente livre para que chegasse aos seus seios, luto um pouco contra o fecho do sutiã, fazendo-a rir e tomar a missão de minhas mãos.

Dandara joga a cabeça para trás gemendo cada vez mais com as carícias que eu faço em seus mamilos enrijecidos. Lambo sua nuca, distribuindo beijos sobre sua pele. — Quero você, Dandara, tem que ser aqui, agora. — digo roçando meu quadril em sua cintura.

Solto o botão de sua calça enganchando meus dedos direto nas laterais de sua calcinha, abaixando as peças até o chão, passando por seus pés. Abro suas pernas, deixando seu sexo exposto para mim. Dandara fez o mesmo por mim, tirando minha camisa e indo até minha calça. Ela baixa minhas roupas alcançando meu pênis. Gemo como um animal no cio.

Ela se ajoelha, sem emitir uma palavra, segura meu membro totalmente ereto. A boca da esquentadinha me toma quase por inteiro, sinto o vaivém dos seus lábios me fazendo perder o equilíbrio Encostando no pilar, olhando para seu rosto.

Ela segura a base do meu pau com uma das mãos, enquanto contorna o restante com seus lábios lindos e quentes. Eu a desejo tanto a ponto de gozar. Levanto Dandara de forma abrupta.

Agarro aquela massa de fios longos e loiros, fazendo o calor que consumia meus sentidos aumentar. O corpo de Dandara colado no meu, lábios entreabertos e desejo nos olhos.

— Não negue, você adora isso, seja o que for que esteja acontecendo aqui, você adora.

Mantenho seu cabelo seguro na nuca com uma das mãos, a outra passando por seu corpo nu em volta de sua cintura, deixo meus dedos escorregarem dentro dela, afastando os lábios de sua boceta, apertando o clítoris úmido de tesão. Empurro seu corpo contra a parede, encaixando uma de suas pernas em meu ombro ao agachar, deixando sua intimidade totalmente exposta para mim, como um belo cartão de boas-vindas. Meto a língua de forma faminta, o corpo de Dandara estremece, seus dedos agarram meu cabelo de maneira ferroz.

Devoro seu corpo com vontade, minha saliva misturando com a lubrificação salgada, Dandara tinha gosto de mulher excitada, do tipo que atraí os pobres homens de longe.

Tiro sua perna de meu ombro, erguendo-me, viro-a de costas para encaixar meu pau em sua entrada, deslizo um pouco mais, ela é deliciosa! Antes de chegar ao fundo, Dandara rebola contra meu corpo, fazendo meu membro remexer dentro dela, ela rebola e eu começo aumentar o ritmo dos meus movimentos. Entro e saio dela com facilidade, como se seu corpo reconhecesse o meu.

Abro mais as pernas dela, impulsionando o quadril contra ela, seguro seu cabelo, puxando-o de forma bruta para trás, gostando de sentir seu rosto perto do meu. Mordo e dou chupões fortes em sua pele. Meto com intensidade, gostando do barulho de penetração molhada que chegava até meus ouvidos, meu pau inchado e duro doía procurando alívio, exigindo por isso.

Sinto que ela convulciona em minhas mãos, sussurro em seu ouvido o quando me enchia de tesão, o quanto seu corpo recebia o meu de maneira tão delicioso e o quanto ela era gostosa. Dandara se empinou ainda mais, apertando meu pau com suas contrações involuntárias, arrancando o ar de meus pulmões.

Continuo metendo, lambendo seu corpo, apertando sua cintura ou puxando seu cabelo. Eram sensações diversas que tomavam meu corpo. Dandara gritou, seu corpo estremecendo de verdade, perdendo o controle, deixo que ela goze, segurando ao máximo, travando minha própria libertação, ela ficou mole em meus braços enquanto me retiro de dentro dela, masturbando meu pau para gozar, esporrando como um maluco, só de pensar na entrega absurda e delirante que tinha acabado de acontecer ali.


Ela passa minha camisa rindo — É a única forma de você se limpar.

Diabinha!

— Miguel...

Selo seus lábios com os meus evitando que ela fale algo que possa estragar esse momento. — Amanhã pensamos sobre as coisas chatas.

Não tinha a menor chance de discutir com ela agora, o que eu mais queria naquele momento era deitá-la naquele feno velho e começar tudo de novo.


CAPÍTULO 23


Dandara

Abro os olhos sentindo o calor da pele de Miguel contra minha bochecha. Fico deitada quieta, ainda tentando entender o que estou sentindo por ele. Passei metade da noite refletindo sobre tudo que vivemos. Fico confusa pelas sensações que o beijo, o toque dele, me fazem sentir.

Será que eu conseguirei realmente fazer Miguel ver o Haras com outros olhos, além de um pedaço de terra lucrável? Fazê-lo sentir sem me envolver, ou eu já estava envolvida demais? Desisto de ficar deitada com milhões de pensamentos cruzando meu cérebro, saio da cama evitando acordá-lo.

Depois de tomar um banho, me troco em silêncio, descendo para para tomar café, não sem antes dar uma olhada em direção à cama, vendo Miguel dormindo nu, coberto apenas por um pedaço do lençol.

— Bom dia — cumprimento sentando na cadeira vazia, o cheiro de café e bolo de fubá fazem meu estômago roncar de fome.

— Bom dia, menina. — Maria me cumprimenta enchendo minha caneca de café puro. — Mathias estava nos contando sobre o animal.

— Falando nele, como está, Mathias? — pergunto devorando um pedaço do bolo.

— Está bem, Santiago passou a noite cuidando dele. Mesmo com muitos machucados, ele disse que logo estará bem.

— Que bom ouvir isso. — pego dois pedaços de bolo colocando no meu prato enquanto dou uma golada no café. Paro com a xícara ainda contra a boca vendo os olhares deles.

— Está faminta, moleca — Maria diz.

Dou de ombros, como se fosse algo normal.

— Tem bicho uivando no terreno de novo, uma desgrama isso, né? — Mathias provoca sorrindo.

Dou uma olhada feia, fazendo com que ele ria ainda mais, atiçando a curiosidade de Maria.

— O que vocês estão rindo?

Paro com a xícara à caminho da boca ao ouvir a voz de Miguel.

Ele puxa uma cadeira ao meu lado, me lançando um olhar malicioso. Miguel faz questão de jogar o corpo para cima de mim ao pegar um pedaço de bolo.

— Dormiu bem? — pergunta, seu olhar malicioso me fez sorrir. O desgraçado sabia que tinha mexido comigo!

— Sim e você? Parece cansado — desafio entre um gole e outro do café.

— Um pouco, mas no fim consegui o que queria.

Bento entra na cozinha sacudindo o casaco. — Hoje o dia está de lascar.

— Teremos pouco movimento então. — digo.

— Mathias eu quero falar com você sobre o Haras — Bento diz.

— Aconteceu algo? — questiono.

— Aquele problema qual contei procê , menina. Temos que rever a segurança dos animais, ontem tinha algum tipo de animal esganiçado no meio do mato.

Miguel engasga com o café fazendo todos encará-lo. Dou um pisão em seu pé, esmagando seus dedos.

— O antigo celeiro estava aberto e tudo revirado, ou tivemos um casal se engalfinhando ou tinha algum animal ferido procurando por abrigo. — Bento comenta.

— Vou ficar de olho nisso. — Mathias diz. — É perigoso mesmo, mesmo que eu acredite que possa ser um casal festeiro, — ele me encarou erguendo a sobrancelha — melhor trancarmos o celeiro dos desavisados.

— Que milagre é esse eu ver tua cabeça pelada? — Bento se vira para mim.

Sorrio.

— Perdi meu chapéu ontem quando o cavalo ficou muito agitado. Logo compro outro. — me levanto terminando meu café, aquelas trocas de olhares já foram o suficiente para mim.

— E eu... — Miguel enfiou na boca o último pedaço de bolo — vou dar uma volta pelo Haras.

Vou até a entrada enfiando meus braços no casaco que estava no mancebo, assim como as luvas de couro.

— O que faremos?

Desvio o corpo encarando a porta da cozinha, Maria, Bento e Mathias estavam entretidos em uma conversa. Não sei se estavam totalmente focados ou apenas se fazendo de surdos para escutar nossa conversa.

— Dá para ser mais discreto? Eu vou conferir o cavalo que chegou ontem, e depois se quiser podemos cavalgar juntos.

Ele inclina a cabeça e inspira, sentindo meu perfume. — Adorei a ideia.

Maldito brucutu gostoso!

— Seja discreto.

Ele respira mais fundo e mordisca meu pescoço. — Por que não aceita logo minha oferta, esquentadinha, colocamos um fim nesse joguinho e podemos ver o que rola.

— Isso vai acabar mal — digo com a voz rouca. Era só questão de tempo, mas, dessa vez a culpa foi minha. Olhar para a boca de Miguel tão próxima à minha, eu queria aquele beijo, então peguei.

Meu coração martelava no peito com a sensação de poder ser pega, meu corpo e cada fio de cabelo gritava em minha mente: Brucutu!


Santiago tinha levado o cavalo para o redondel, mas ele estava tão arredio que poderia machucar ele e o ajudante que tentava segurar a rédea, ele empinava evitando qualquer tipo de aproximação.

— Vou ter que aplicar a injeção, ele vai ficar pior desse jeito.

— Espere. — digo subindo nas travas do redondel.

— Ele está muito arredio, pode machucar alguém ou até mesmo ele.

— Acho bom manter distância. — o ajudante de Santiago diz para Miguel.

— O que esse cavalo tem? Ele deveria estar grato por termos salvado ele ontem — escuto Miguel retrucar.

— Isso é o que ela pode descobrir. — Santiago comenta.

Ele corre pelo redondel dando coices nas paredes, respiro fundo pulando para dentro, parando no meio do cerco. Cada passo que dou em sua direção faz com que ele trote, evitando minha aproximação. Ele vem para cima de mim, parando perto, é a forma de dizer que me culpa, que culpa todos nós pelo que ele passou.

— Acho bom parar com isso, não tenho culpa do que ele fez com você, eu estava te salvando. — grito para ele.

Ele se arma novamente, erguendo-se nas patas traseiras, se fosse outra pessoa, com a proximidade que estávamos ele poderia fazer um estrago. Mas não me intimido, sei que ele não vai me machucar, quer apenas me amedrontar, quer me ensinar seus limites.

— Dandara, se afaste! — Santiago alerta.

Fico em silêncio encarando o cavalo.

Ele abaixa as patas, colocando a cabeça no meu ombro.

— Muito bem rapaz, isso mesmo, com calma. — retiro um petisco do bolso dando para ele. — Você vai se chamar Chuvisco.

— Ela conseguiu — escuto Miguel dizer.

— Deixa ele descansar, uma boa dose de ração e ele ficará bem. — Digo para Santiago. — Quando estiver curado começo a doma.

Vejo o ajudante dele receoso por chegar mais perto do cavalo.

— Ele não vai te atacar, é só não machucá-lo.

Ele confirma com um gesto, abrindo a porta para que Chuvisco passasse.


Trovoada está agitado em sua baia, ele sente falta quando não passeamos pela manhã.

— Estava esperando por isso, né? — pergunto enquanto acaricio sua crina. — Pronto para montar?

— Se você cavalgar como fez ontem comigo, acho que terei uma excelente manhã!

— Você não presta! — empurro seu peito, rindo — Pegue aquela rédea, Trovoada prefere montaria no pelo.

— Sem nenhuma proteção?

— Ele não vai te derrubar.

Monto Trovoada com Miguel, ele aperta meu quadril contra ele, seguimos pelo trieiro, eu aprecio o clima de pós-chuva. Atravesso o pequeno riacho rindo com Miguel apertando minha cintura com medo de cair do cavalo.

Desde que ele havia chegado no Haras estávamos em pé de guerra, como após uma chuva tudo mudou de maneira tão repentina? Credo! Isso era coisa da minha cabeça. Isso sim. Eu tinha que me focar em coisas mais importantes.

Paro perto das pedras, desço segurando as rédeas para que Miguel desça.

Dou um tapinha no dorso de Trovoada deixando-o cavalgar livre por aí.

— Ele vai voltar? — pergunta olhando para Trovoada trotando para longe.

— Sim, ele ama andar livre, todas as manhãs sento por aqui e ele fica cavalgando pelo campo.

Assim que termino de falar, aponto para a cachoeira à nossa frente. Os raios de sol refletem na água cristalina.

— Aqui é lindo.

Dou um sorrisinho de “eu sei”. Estávamos perto do morro, subindo daria para ter uma visão completa do Haras.

Estávamos em um silêncio confortável, Miguel brinca com a água com a ponta dos dedos, parece com o pensamento distante. Ele sai vindo ao meu encontro, um sorriso nos lábios, suas mãos vão de encontro à minha cintura, colando nossos corpos no meio da relva, aproximo meu rosto do seu, ele roça seu nariz no meu, minha respiração acelera. Sem conseguir conter, mordo o lábio inferior de leve e nos beijamos novamente.

Não tinha como me esquivar de algo tão forte.

— Miguel...

— Não, pare, não acabe com isso. — ele diz entre os beijos.

Sua língua explora minha boca como se eu pudesse desaparecer dali em um estalar de dedos, ele me beija como se isso pudesse me dizer algo. Havia entrega ali, em ambos, seus lábios descem por meu corpo, sua mão subindo minha blusa, fazendo meu corpo se arrepiar ao sentir a relva úmida tocar minha pele. Sua mão toca minha barriga, raspando as pontas dos dedos em meu seio, seu rosto esfrega a barba cerrada em minha pele, os pelos roçando contra minha barriga.

— É melhor voltarmos.

Miguel suspira de maneira audível. — Por que tem que estragar esse momento?

— Tenho coisas a fazer, um Haras sempre tem o que fazer.

Miguel não tenta me fazer mudar de ideia. Montamos em Trovoada para voltar, o silêncio nos acompanha até o Haras, assim que chegamos perto do estábulo Miguel pula do cavalo e quando me viro para falar com ele após colocar Trovoada na baia, ele não está mais ali.


CONTINUA

CAPÍTULO 16


Dandara

Uma semana, esse era o tempo que Miguel não dirigia a palavra a mim e muito menos eu iria procurá-lo. O silêncio pela casa era mais que bem-vindo!

Mathias, Maria e eu bebíamos nosso café puro quando ele apareceu na cozinha, a manhã estava fria, por isso adiei o passeio com Trovoada pelo campo para quando o tempo ruim desse uma trégua.

Enfio na boca o último pedaço de queijo branco de meu prato, tomando o resto do café.

— Maria, Mathias, bom dia — cumprimenta indo em direção a geladeira.

— Porra! Quem comeu meu queijo? — ele pragueja com a fuça enfiada entre as prateleiras da geladeira, fazendo Maria me olhar prepcupada e Mathias segurando o riso enquanto bebe seu café. Tudo que faço é dar de ombros, chupando as pontas dos dedos, nem um pouco arrependida. — Sumiu metade dele, e tenho certeza que ontem ele estava inteiro! — Miguel acrescenta fechando a coitada da geladeira com um baque.

— Olha só, era seu? Desculpe, eu comi — respondo na maior cara de pau.

Miguel me encara como uma carranca. — Mathias, preciso de um cavalo, estou querendo dar uma volta hoje!

— Tudo bem, posso preparar um cavalo para o senhor. — Mathias troca um olhar comigo.

— Acho que Bruto ainda está espirituoso como sempre. — digo. — Se quiser ter o traseiro jogado longe pode ir com ele.

Miguel me dá um olhar furioso. — É para agora, Mathias! — retruca saindo da cozinha.

Mathias se levanta, toma o último gole do café, — Dandara, está fazendo a vida desse homi um inferno. O coitado deve ta contando os dia para sumir por essa estrada à fora. — diz colocando o chapéu na cabeça.

— É bom mesmo que esteja. Tem sorte de eu ainda não ter cuspido no seu café — comento.

— Sei que odeia que metemos os bedelhos em coisa sua, mas os empregados estão receosos, os homi querem saber como vai ficar as coisas. Seu Miguel não veio aqui para deixar as coisas como estão, ele vai por tudo a baixo. — Mathias fala com cautela.

— Mathias, algum dia faltei com vocês? — questiono de maneira rude. Ele balança a cabeça de maneira negativa. — E isso não irá acontecer hoje. Avise seus homens que os empregos estão garantidos, nem que eu mesma banque os serviços deles.

— Pode deixar, Danda, desculpe a intromição.

— Mathias, somos família. Eu não vou falhar com vocês. — digo por fim.

Ele confirma, esboçando um sorriso em minha direção. — Santiago pediu para avisar que as vacinas chegam hoje.

— Estou ciente, assim que chegarem irei aplicar em todos. Não quero nenhum caso como a Archeron.

— Menina, a morte daquela égua não é culpa sua. — Maria diz.

— Eita , não quero prozear sobre isso, tenho trabalho me aguardando. — digo pondo meu chapéu na cabeça, seguindo para fora.


Sento debaixo de uma árvore olhando a cena. Miguel poderia tentar resgatar na mente os tempos de moleque, ele poderia até não ter nenhuma intimidade com os animais, mas pelo menos quando criança ainda conseguia montar um cavalo sem que ele tentasse morder sua coxa.

O Miguel da infância não está em nada parecido com o de agora, e não só pelo fato de ter emagrecido e ficado mais bonito, mas parece que Miguel tem ódio desse tipo de vida. Desde que chegou, olha tudo de cima, com cara de esnobe. Ele não tem vínculo com essa terra, ele não sente a importância que eu sinto quando vejo o sol raiando no horizonte, seus raios fortes iluminando essas terras.

Ele seguiu o caminho da cidade grande e eu o caminho dos bichos.

Mathias tenta ensiná-lo, mas ele parece muito com um cavalo xucro, surdo. Depois não quer ser chamado de mula. Levanto, limpando a parte traseira da calça com um espanar de mãos, me aproximando dos dois. — Mathias, vai conferir as coisas, deixa que eu cuido do brucutu.

— Não pedi sua ajuda. — Homi, mas mal agradecido!

— Não estou fazendo por você, e sim pelo cavalo, que não tem culpa do asno sentado em cima dele. — Miguel abre a boca para retrucar, mas mostro o dedo em riste — Você tem que aprender a ouvir, se segurar com força a sela, o cavalo vai entender que quer impor sua vontade e não vai deixar você cinco segundos sentado no lombo dele. Os cavalos farejam seus sentimentos de longe, ele sente quando você tem medo, raiva ou está confortável. Deixe a rédea frouxa.

— Você acha que eu desaprendi tudo que meu tio ensinou? — desafia.

— Acredito que sim, já que te salvei de vários tombos, se bem me lembro.

Ele me fulmina com o olhar. — Então vamos ver, esquentadinha. Pegue aquele cavalo mutante que você tem e vamos cavalgar por aí.

— Cavalo mutante?

— Você tem noção que ele é o dobro de um cavalo normal?

— Para sua informação a raça dele é Percheron. Ele é um ótimo reprodutor, por ser grande e forte nos dá potros com habilidades especiais para o campo. — Dou risada, vendo seus olhos se arregalarem quando o cavalo marcha para trás. — Tire os pés do estribo e, vá para trás.

Subo no cavalo com a destreza de sempre, ocupando seu lugar na cela. Eu conhecia os cavalos como a palma da minha mão aqui no Haras, por isso não tinha problemas com nenhum deles e sabia quando um deles queria fazer uma gracinha como nosso companheiro aqui.

Bato o pé no espaço entre a barriga e as patas traseiras, para que ele saia.

— Se você está pensando que vai ficar se esfregando em minha bunda, eu te jogo para fora do cavalo! Contenha suas mãos!

— Calma mulher estressada.

Tiro o chicote da bota acertando na bunda do cavalo e o animal sai em galope, soltando um relincho alto. Seguro o riso vendo que Miguel ficar tenso. — Gostando, brucutu? — Ele não responde.

Forço o cavalo ir mais além, sentindo a adrenalina do galope correr pelas minhas veias, sinto as mãos de Miguel segurarem minha cintura e o arrepio disso eriçar os pêlos de meu braço.

Cavalgamos um pouco pelo Haras indo até o campo aberto onde fico com Trovoada e voltamos para o Haras, parando no estábulo.

Desço do cavalo, colocando as mãos na cintura. — Gostou do passeio?

— Você queria se exibir.

— Não preciso me exibir para você. Já é um milagre que você tenha ficado em cima do cavalo enquanto estávamos cavalgando.

— Olha aqui, você se acha incrível, acreditou mesmo que eu precisava de você?

Gargalho com irônia. — Você não sabe nem ao menos como se monta num cavalo. É uma sorte que saiba onde fica o rabo e a cabeça.

— Você é mesmo muito...

— Muito?

Miguel se inclina, ficando mais perto de mim, quando seu rosto praticamente cola no meu, pude sentir sua respiração. O perfume exalava, eu tinha começado a odiar esse cheiro, cheiro que me tirou o sono nas últimas noites, mas senti-lo tão perto me embriagava. Antes que eu pudesse raciocinar, os lábios de Miguel grudaram nos meus. Os braços fortes rodeando minha cintura.

— Sua esquentadinha, está tentando o quê? — Parecia que ele estava falando mais consigo mesmo do que algo para mim.

Sua língua voltou a lamber o canto de minha boca, seus dedos apertando minha cintura, uma de suas mãos subiu por minha espinha.

Acaricio sua coxa, bem perto de seu membro.

— Vamos sair daqui — sussurra como um pedido. Suas mãos apertando minha bunda, passeando por todo meu corpo, da cintura até o pescoço. Ele beija minha boca com ferocidade, empurro seu peito sentindo os músculos firmes contra a palma de minhas mãos, descolando seu corpo do meu, vendo a malícia nos olhos de Miguel. — Por que parou? — pergunta.

Respiro fundo ainda olhando para ele, controlando a maluquice da qual acabo de me curvar...então, tenho uma ideia. — Espere um minuto, o Haras ainda está movimentado, vou checar se ninguém está por perto e trancar a porta. — digo de um jeito safado, bem parecido com o que Cindy fazia sempre que conhecia um homem de fora.

Ele passa a mão sobre o pênis por cima da calça, animado. Vou até lá fora, vendo que realmente não tinha ninguém por perto, puxo uma das portas travando-a no chão e repito o mesmo processo com a outra, mas antes de fechar e entrar como falei que faria, dou um tchauzinho para ele, fazendo seu sorriso desaparecer. Percebendo o que estava prestes a fazer.

— Agora sim você está no seu devido lugar, uma pena que não tenhamos nenhum curral para você nadar com seus amigos...porcos! — digo rapidamente.

Miguel corre ao meu encontro, mas antes que ele me alcance, fecho a porta passando a tranca.

— Dandara, abre isso daqui! — seus gritos se misturavam com os relinchos dos cavalos incomodados dentro do estábulo. — Dandara, sua caipira maldita!

— Desculpe, brucutu. Aproveite seu tempinho com os cavalos e limpe as baias deles, Deus sabe como temos quilos e quilos de esterco por dia. Qualquer coisa tem feno e água se sentir fome. Isso deve bastar para você.

Ele bate na porta, fazendo-a tremer, gritando pelo meu nome. Urrando de raiva por ter caido feito patinho em minha arrapuca.

Cruzo com Bento no caminho de volta ao casarão, girando as chaves do estábulo entre os dedos e rindo feito uma maluca.

— Gosto de vê-la animada, mas está com cara de quem aprontou.

— Que é isso, Bento! — me finjo de inocente.

Ele bate na aba do chapéu, não acreditando nem um pouco no que eu estava dizendo. — Mathias está com os cavalos, quase todos foram vacinados, ele ficou esperando ocê aparecer, mas preferiu dar logo. Ficou fartando apenas o último estábulo. — comenta indicando o estábulo que tranquei Miguel.

— Diga que farei aquele estábulo, estou dando um castigo em um cavalo xucro. Ignore os resmungos, o cavalo está dando coice em todas as paredes, já vi cavalo dificil, mas esse...logo domo também — digo colocando um enorme sorriso no rosto.

Bento olha ao nosso redor, como se procurasse alguém e eu sei quem está procurando.

— Dandara, Dandara...

— Fique calmo, por que não vamos tomar um café, quem sabe Maria fez aquele pão doce que tanto amo? — pergunto enlaçando meu braço no seu, levando-o para longe do estábulo onde Miguel estava, acredito eu, urrando de raiva pelo tremor que a porta fazia.


CAPÍTULO 17


Miguel

— Sua caipira insolente! Como eu sou burro!

Eu esmurro a porta que nem um doido, gritando tanto que sinto minha voz falhar e ninguém aparece por ali. Viro olhando para os cavalos que relicham, só me faltava esses bichos me atacarem.

— Abre a porta! — grito de novo. Ando pelo estábulo procurando uma outra saída, lembrando de suas palavras “Aproveite e limpe as baias” , que filha da mãe! Até parece que eu iria sujar minhas mãos limpando merda de cavalo.

O cavalo no qual demos uma volta antes dela me trancar aqui chega perto, me fazendo pular de susto. Ele se sacode, sua crina bate de um lado para outro e solta um pequeno relincho.

— É, aquela ali não presta!

Cômico! Agora eu estava conversando com um cavalo como se ele pudesse me entender. Eu torceria o pescoço de Dandara assim que me livrasse dali.


Não tinha noção de quanto tempo tinha se passado, sei que estava de saco cheio de ficar ali.

— Noite, brucutu. Como foi seu dia?

Fico de pé chegando perto da porta, eu mataria essa mulher! — Pare com essa brincadeira de mau gosto, me tira daqui!

— Pelo visto continua grosseiro e sem educação. Espero que não esteja maltratando meus animais, por que se estiver, não vai ficar apenas dois dias trancado aí.

Meu sangue ferve nas veias. — Dandara, estou te avisando, quando eu sair daqui...

— Chega de ameaças em vão, vou te tirar daí quando aprender sua lição.

Esmurro novamente a porta, escutando seu risinho e seus passos se afastarem, — Dandara, estou com fome!

— Coma feno, brucutu!

Os cavalos mal se importavam por estar ali com eles, nos primeiros minutos e até primeira hora eles ficavam espiando ou fungando em minha direção. Agora? Muitos nem ao menos me encaravam, olho novamente para o cavalo solto perto de mim, ele abocanhou um punhado de feno mastigando e quando repetiu o gesto despejou um pouco em minhas pernas, como se dissesse que era bom.

— Tá de brincadeira você também!

Empino o nariz, olhando na direção contrária. Mas volto a encará-lo quando ele vem para cima de mim despejando mais feno em minhas pernas, seu focinho se torce inteiro enquanto mastiga.

— Ei amigão, pode ser bom para você, mas isso daí é mato. E alguém já te ensinou a dar espaço as pessoas?

O cavalo relincha, dando as costas para mim, batendo seu rabo bem no meio do meu rosto. Me fazendo xingá-lo. Como se estar preso junto aos cavalos não fosse o suficiente, ou do fato de estar com frio também não fosse, ainda tinham os mosquitos que faziam seu banquete atacando minhas veias.

Minha barriga roncando, meu corpo coçando e eu fedendo a estrume de cavalo.


Os raios de sol atingindo meu rosto me fizeram apertar os olhos tentando ver quem estava entrando, se fosse Dandara eu daria uma palmadas em sua bunda.

— Miguel? — Mathias perguntou surpreso, tentando entender tudo que estava acontecendo, olhando para a bagunça que tinha feito nos blocos de feno ao tentar arrumar um jeito para dormir. — O que você está fazendo aqui?

— Pergunte para aquela caipira filha da mãe — digo bravo, ficando de pé, sentindo as costas reclamar pelo movimento brusco.

Ele dá uma gargalhada. Mas se adianta a falar: — Desculpe, Seu Miguel.

Meu corpo chia de dor a cada maldito movimento, preciso de um banho quente, comida e boas horas de sono. Quando me recuperar ela vai ver, eu vou colocar essa caipira em seu lugar!

Estou com esse pensamento até ver Dandara caminhando sorridente em direção ao casarão.

— Ah, sua potranca mal educada! É bom correr. — ameaço gritando.

As pessoas que estão perto de mim me olham assustadas, e devem mesmo, porque meu rosto não deve estar nada amigável. Dandara se vira, o sorriso sumindo do rosto ao me encarar e então ela corre, empurra Santiago para longe e corre como uma moleca travessa sendo pega na artimanha, entra correndo no casarão.

Corro tão rápido que logo estou fazendo a porta de madeira branca bater contra a parede e escuto Maria falando alto na cozinha:

— Menina, o que houve? Tá tentando tirar o pai da forca?

— Dandara! — grito novamente.

Entro na cozinha vendo-a atrás de Maria, como se eu tivesse receio de ir lá lhe dar umas boas palmadas!

— Pare de correr, será pior quando eu te pegar! — ameaço.

— Ei, não quero bagunça na minha cozinha! Dandara o que você aprontou com o homi ? — Maria bate com a colher de pau na bunda de Dandara que agora tenta se esquivar de mim e de Maria.

— Vai fazer o quê? Me bater? Agora bate em mulheres? Quero ver encostar a mão em mim!

— Não, nunca encostei em uma mulher, mas dizem que para tudo tem uma primeira vez. E minha mão está coçando — grito.

Dou a volta na mesa, Dandara corre para o outro lado, fazendo o banco cair e eu tropeçar ao tentar pulá-lo, caindo de quatro no meio da cozinha. Sua gargalhada alta, faz minha raiva ferver mais que panela de pressão no fogo. — Ria enquanto pode.

— Alguém pode parar esses dois? Eles irão destruir a casa! — Maria grita empunhando sua colher de madeira. — Estão parecendo duas crianças!

— Desculpe Maria, mas não vou me meter — escuto a voz de Mathias enquanto corro atrás de Dandara que vai para a sala. — Dandara prendeu o homi no estábulo, peguei ele dormindo de concha com os cavalos.

Maria me encara, a mão na boca tentando segurar o riso.

— Vai, pode rir. Quero ver se aquela filha da mãe vai continuar rindo da minha cara quando eu a pegar — bufo, com os olhos em Dandara.

Ela faz um movimento errado diminuindo nossa distância, pulo sobre o sofá, meus braços envolvem sua cintura, tirando seus pés do chão. Não penso duas vezes, jogo seu corpo em meu ombro, dando um tabefe em sua bunda.

— Me solta! — Dandara grita.

Ela bate em minhas costas, os socos doem, não é que a Diaba tinha uma força bruta?

— Como foi sua noite? A minha foi maravilhosa, tá sentindo meu cheiro? Quer ver a quantidade de picadas que tenho espalhadas pelo corpo? Acho que tenho feno até em parte que desconheço!

Dou mais alguns tabefes em sua bunda que a fazem gritar. Eu estava puto por ela ter me deixado ao relento no meio dos bichos. E ficando com tesão, isso mesmo, ter o corpo daquele Diaba tão perto, tão ao meu alcance. Seus seios roçando em minhas costas, estava fazendo meu pau ficar rigido como uma tora, maldita hora para uma ereção. Eu queria mesmo é vê-la de quatro enquanto castigava sua bunda por ter me deixado trancado junto dos cavalos, mas também saborear cada gemido que ela pudesse...

— Meu Deus, Seu Miguel, solte a menina! — Maria exclamou.

— Não antes de lhe dar uma lição! — digo.

— Seu Miguel, não me obrigue a usar a Betinha em ocês dois. — Maria alerta.

— Não estou brincando, brucutu! É bom me soltar! — Dandara urra em minhas costas.

Acerto um tapa mais forte, jogando seu corpo no sofá, prendendo seu corpo ali ao apoiar meu joelho de um lado e o braço ao lado de sua cabeça, vendo seus olhos se arregalarem por um pequeno instante, mas o suficiente para meu dar um gostinho doce na boca. — Você tem sorte que é mulher, mas eu poderia, como vingança, soltar aquele seu cavalo gigante que tanto ama... — digo de maneira perversa — Como você ficaria?

Dandara me empurra com força, ficando de pé. — Você nem pense em tocar no Trovoada, você me entendeu? — responde praticamente gritando.

— Seria excelente, quem sabe assim você aprende a respeitar as pessoas? — retruco segurando seu braço.

— Larga meu braço, Miguel!

— Você quer me enlouquecer, você vem, me atiça, me provoca...

— Você se aproveitou da situação! — retruca.

— Você não se faça de sonsa! — grudo seu corpo mais no meu — Adorou o que fiz com minha boca.

— Misericórdia! — o sussurro de Maria quase me tira o foco da diaba em minha frente.

— Eu odeio você, Miguel! — Dandara tinha ficado furiosa, mas confesso que não liguei para o que ela estava falando, só conseguia ver aqueles lábios se mexendo. Queria torcer seu pescoço, mas também queria fodê-la. Como essa mulher me tira do sério!

— Você quis tudo que aconteceu e tá querendo mais que eu sei.

Seguro um punhado de seu cabelo bem justo no pescoço roubando um beijo, mordo seu lábio nem me importando por ela reclamar ou tentar me empurrar. Dandara retribui meu beijo, até me afastar, empurrando meu peito, fazendo com que me desequilibrasse dando alguns passos para trás rindo.

Ela limpa a boca me olhando com raiva, cospe no chão e então corre escada acima.

— Minha mãe dizia que muito ódio vira amor. — Maria retruca.

Viro vendo que Mathias e Maria ainda assistiam nosso pequeno showzinho. — Dela quero distância — digo marchando para meu quarto.


CAPÍTULO 18


Dandara

Bato a porta fazendo as coisas estremecerem dentro do quarto. Maldito brucutu! Arranco minhas roupas jogando-as no cesto perto do banheiro, ligo o chuveiro bem quente, quente o suficiente para que ao tocar em minha pele pudesse queimar o toque daquele... Engulo os pensamentos raivosos que passam por minha mente esfregando meus braços, meu pescoço, qualquer lugar que ele tivesse encostado, na tentativa de tirar o cheiro dele. Ainda não conseguia acreditar na petulância daquele brucutu. Miguel realmente não tinha amor pela vida.

Confesso que deixá-lo ao relento não foi algo muito sensível de minha parte, mas ele mereceu e, vai merecer cada pisão em seu pé a partir de hoje.

Bater na minha bunda e me tascar um beijo na frente de todos? Quem ele pensa que sou? Enquanto terminava meu banho pensava em mil maneiras de me vingar, mas acabei descartando todas, eu é que não desceria ao nível infantil dele, minha melhor vingança seria chutar a bunda dele para fora do meu Haras quando tudo acabasse.

Visto um short e uma camiseta puída e chinelos, melhor me ocupar dando banho nos animais do que cruzando meu caminho com certas mulas por aí. Atravesso o Haras em silêncio evitando falar com qualquer um que cruze meu caminho.


Agradeço pelo trabalho parecer não ter fim e os músculos espalhados pelo meu corpo começarem a protestar do esforço feito, passar o tempo no meio dos cavalos me acalmava e me fazia esquecer por alguns instantes minha vontade assassina contra Miguel. Mas amanhã mesmo eu ligarei para o advogado, não dá para continuar assim, mais dia ou menos dia e eu mataria Miguel. Que ideia absurda de Pedro me colocar nessa enrascada.

Já era noite quando paro fecho a última baia. Trovoada relincha animado após o banho, sacudindo a cabeça e sua longa crina.

— Teve um dia melhor que o meu, né, bonitão?

Saio do estábulo trancando as portas, todos os funcionários já tinham ido embora, caminho observando a noite, as estrelas e a lua cheia brilhando forte no céu, o som dos grilos cantando no meio do pasto.

Entro no casarão, tiro o chapéu, deixando-o no mancebo de madeira. Tudo estava em completo silêncio, poucas luzes acesas indicando que até a Maria tinha se recolhido.

Passo pelo quarto do brucutu vendo a luz está acesa sair pela pequena fresta da porta, estava prestes a entrar em meu quarto quando escuto uma porta atrás de mim se abrindo.

— Esquentadinha!

Viro, vendo-o só de cueca box, o corpo todo amostra.

— Não dirija a palavra para mim!

— Eu disse hoje cedo que tinha contas a acertar, você acha que seu showzinho me botou medo? — questiona vindo em minha direção.

— Se colocar as mãos em mim é bom começar a rezar para sair com ela no lugar!

— Não tenho medo de suas ameaças vazias — retruca.

— Vazias serão as suas bolas quando eu chutar para longe. — ameaço

— Você acha que vai me enlouquecer? — pergunta vindo em minha direção — Acredita mesmo que vou cair nos seus truques?

— Truques? — Gargalho alto — Não sou eu que fico agarrando você para roubar beijos.

— Vai dizer que não gostou?

— Já percebi que gosta de brincar com fogo! — desafio — Cadê toda aquela falamansa que andou esbravejando por aí? Homi metido a machão, não consegue parar de encarar para minha boca enquanto eu falo. Tudo isso é desejo?

— Não me torno frouxo por ter você na minha mente, me torno se não conseguir tirar, — Miguel dá mais dois passos em minha direção — e isso eu sei como fazer.

— Você pensa que me leva fácil, né?

— Você gosta de mexer com os homens, “se sente” fazendo isso...

— Eu não sou de quem me quer, sou de quem eu quero ser, e faço porque posso. — respondo dando um sorrisinho.

Miguel puxa meu corpo para o seu, fechando a porta com o pé, sua boca mordendo a minha enquanto distribuo tapas sobre seus ombros, costas, todo lugar que minhas mãos alcançam. Mas seu beijo furioso vai desarmando meu corpo, principalmente quando solta minha boca beijando de leve e devagar meu pescoço, rindo contra minha pele que se arrepia com seu toque, acabando com qualquer defesa minha. Não tinha gentileza no toque, havia desejo e prazer, junto de uma pessoa que queria provar seu argumento.

As mãos de Miguel ergueram meu corpo, sua língua forçando minha boca a se abrir ainda mais. Eu meio que empurro, e volto a puxar seu corpo para o meu. Precisei inspirar profundamente algumas vezes quando sua boca tomou o pequeno vão entre meus seios, sua lingua quente tocando minha pele fazia meus mamilos endurecerem e meu corpo querer mais. Sentir a proeminência em sua cueca também não ajudou muito meus pensamentos entrarem num bom senso.

Não era correto eu me render ao seu toque, não quando tinha aberto minha matraca falando que não me entregaria numa bandeja para ele, mas que diacho! Mordo seu lábio inferior, empurrando seu corpo para longe, tentando controlar a respiração. — Chega!

— Por que parar agora? — questiona agarrando novamente minha cintura.

— Eu disse chega, Miguel!

Suas mãos continuaram apertando com firmeza minha nuca, seus olhos mostravam que não estava disposto a me deixar em paz, que não sairia de meu quarto com aquela decisão fraca com a qual eu tentava me agarrar.

— Chega nada, não para mim e com certeza não para você. Eu sinto seu corpo vibrando em minhas mãos, Dandara.

Não arrisco olhar para ele, com medo que ceda aos meus instintos. Ele segura meu braço, olhando no fundo de meus olhos.

— Eu quero você, Dandara!

— Você quer me passar para trás, quer ter motivo para fazer chacota, quer o Haras, não é porque fui criada no meio do mato que não conheço homens como você, Miguel!

— Cala um pouco a boca, esquentadinha!

Abro os lábios para retrucar, mas é tarde. Ele pega meus braços, me empurrando contra meu armário, meu corpo inteiro treme com o calor do toque, ele tira a barra de minha camiseta de dentro do short, traçando livremente pelo meu corpo até meu seio. Miguel me vira de costas, mordendo meu pescoço, o corpo colado no meu, e acaba abrindo meu sutiã. Segurando meus seios, massageando-os nas mãos, beliscando meus mamilos sedentos por atenção. Roço minha bunda contra seu membro rigído na cueca, fazendo com que ambos gemêssemos.

Miguel continua acariciando meu corpo, mordendo e chupando meu pescoço. — Quero você, aqui e agora. — ele arranca minha camisa pela cabeça, fazendo a mesma coisa com meu sutiã, chupando meus seios, sugando-os até que eu não pudesse conter mais meus gemidos de prazer. Meu sexo pulsa, até dolorosamente quando a pressão do prazer explode em certas áreas.

É errado continuar com isso? Puxá-lo par mim, desejando seu corpo, respiro profundamente tentando encontrar a raiva que me alimentava horas atrás, mas só encontro o desejo.

Miguel conduz nossos corpos para a cama, arrancando o resto de nossas roupas, assim como o preservativo escondido no cós da cueca, em um segundo estava entre minhas pernas, sua mão agarrando meu cabelo, sua boca mordendo meu queixo.

Segurando meus seios com as duas mãos, apertando e puxando os bicos, lambendo minha barriga, minha cintura, roçando a barba pela minha pele, deixando-a rosada e eriçada. Um gemido explodiu de mim quando sua língua encontrou meu clitóris, seguro firme o lençol querendo tremer com o que ele fazia em minha intimidade, sua boca não me dava misericórdia alguma, sua língua muito menos. Quando seu dedo me invadiu, minhas costas se curvaram e o gemido saiu mais alto, fazendo eu ganhar um tapa na bunda.

— Desculpa, esquentadinha, mas teremos tempo para fazer amor em outro momento, agora, eu quero que seja rápido, que queime esse fogo dentro de mim.

Miguel desenrola o preservativo em seu membro, nunca tirando pelo menos uma de suas mãos do meu corpo, seus dedos tocam meu sexo, me fazendo arfar. Chupo os dedos que me tocam, vendo Miguel mordiscar o lábio e sorrir. Seu pau encaixado em minha entrada, deslizando de maneira lenta, começo a rebolar, fazendo seu membro se remexer dentro de mim.

Enquanto eu rebolo, Miguel segura meus cabelos de forma bruta, aumentando o ritmo dos movimentos, entrando e saindo de dentro de mim, segurando minha cintura com a mão livre fazendo seu membro ir mais fundo, meu corpo treme e Miguel geme alto.

Estavamos nos devorando, caricias eram feitas pelo nossos corpos ondulando juntos, enquanto eu consumia cada gemido e estocada que Miguel produzia.

Aperto os lençóis entre os dedos, seguro seu pescoço com firmeza quando ele encaixa a boca sobre meu seio, montando em seu colo, sentando com força sobre ele, gostando do modo como ele geme e descola a boca de meu mamilo, jogando a cabeça para trás rendido.

— Puta que pariu, você é deliciosa! — diz baixinho contra meu pescoço.

As estocadas duras fazem meu corpo tremer, meus seios balançam com o ritmo forte do sexo que fazemos. Ele geme agarrado em minha cintura, forçando meu corpo para baixo, quebrando as últimas barreiras, me fazendo gozar. Miguel ainda mantém o ritmo por algumas estocadas até que goza, seu membro latejando dentro de mim, se misturando com nosso suor, os tremores do meu corpo e do seu e as batidas descompassadas dentro do meu peito.


Quando eu estou envolvida em seus braços

O mundo todo apenas desaparece

A única coisa que escuto é

o bater de seu coração.


Porque posso ouvir sua respiração

Está se derramando sobre mim

E de repente estou me desfazendo dentro de você

(Breathe, Faith Hill)


Arre égua , estou perdida...

Levanto com um sobressalto e empurro para longe o braço forte que rodeia meus seios, tentando soltar meu corpo. Parece que os braços dele tinham se tornado uma braçadeira de ferro, o jeito foi sair me rastejando pela cama como uma cobra, até que eu caísse de bunda no chão.

Pego uma muda de roupa e corro para o banheiro, tomo um banho rápido, não parando nem para secar o cabelo, apenas escovo e deixo solto pelas costas. Não é que eu não queira encarar a asneira que tinha feito noite passada, mas...bem, era isso mesmo, não queria dar de cara com Miguel, por isso levantei mais cedo que até o próprio sol e me esgueirei para fora do quarto com as botas nas mãos.

— Fugindo de alguém, menina?

Pulo tampando a boca para que meu grito de susto não faça eco pelo corredor escuro.

— Cristo pai, você quer me matar do coração, Bento? — questiono sentindo os batimentos acelerados contra o peito.

— Desculpe, mas estava saindo do quarto como quem escondia um cadáver, devo me preocupar? — pergunta encarando a porta que eu havia acabado de fechar.

— Deixe de besteira homem, só tive uma noite ruim.

Bento coça a cabeça com a bengala velha. — Arra, por falar em noite ruim, tinha algum animal sofrendo ontem, Maria e eu mal pegamos no sono, parou de sofrer era já tantas da madrugada.

Engulo em seco, será que tínhamos feito tanto barulho assim?

— Vou ficar de olho nos arredores, tenha um bom dia, Bento.

Escuto o riso baixo dele enquanto caminho pelo corredor. — Bom dia, menina.

O dia não tinha se levantado, mas mesmo assim entro no estábulo para conferir como estão os animais. Reponho água e feno, depois me dirijo á baia de Trovoada, ele vira a cabeça não querendo olhar para mim.

— Qual é, amigão, está bravo comigo?

Ele me encara, dando uma fungada balaçando a cabeça como se confirmasse.

— Que tal recompensar isso com com uma corrida?

Ele relincha ainda evitando me olhar, eu conheço o jogo dele, Trovoada é um menino mimado, e a culpa é toda minha.

— Tudo bem então, já que não quer mais minha companhia...

Ele relincha mais alto, levantando as patas da frente. Fazendos os outros cavalos reclamarem.

— Você é um garotão mimado! — brinco, pulando a portinhola da baia, subindo diretamente no pelo, me agarrando ao seu pescoço. — Vamos ver o sol nascer.


Ficar perto dos cavalos ou montar em Trovoada é como respirar, algo tão natural, acredito que eu aprendi a montar antes mesmo de andar.

Saímos em direção ao campo aberto, ganhando velocidade a cada passada, sentindo o vento frio da madrugada ir contra nós. Eu precisava limpar minha mente, precisava tirar Miguel e a noite de ontem da mente, precisava tirar essa distração total, ainda não sabia o que pensar sobre essa história de Miguel conseguir meu Haras, o que faria com as famílias e funcionários que dependiam dos seus empregos? O que faria com os cavalos? Para onde eu iria com Trovoada? Aqui sempre fora meu lar, foi meu lar quando minha mãe faleceu, foi meu lar quando meu pai morreu em um torneio de rodeio.

O Haras é meu santuário, minha casa, eu aprendi a escrever no lombo de um cavalo, fiz desenhos nas paredes do antigo celeiro, aquilo era meu refúgio...

Volto para o Haras depois de admirar o sol nascendo, em alguns dias começaria o outono e o frio ocuparia as noites, o que me fazia sair pelos campos ajudando os cavalos que podem se perder ou sofrer com as chuvas repentinas.

Vou até o escritório respirando fundo, ao sentar em minha cadeira, tiro o chapéu, deixando-o sobre a mesa.

— Entre — respondo à batida na porta.

— Dandara, bom dia.

— Daniel, estava mesmo esperando por você. Sente-se.

— Em que posso ajudá-la?

— Quero saber mais sobre o Haras, por que Pedro deixou o Haras com Miguel, ele conhecia o sobrinho, nunca teve interesse por nada, mal sabe a diferença entre a crina e o rabo dos cavalos. Porque deixar o Haras nas mãos dele? — solto tudo de uma vez, expondo minha irritação, minha indignação. — Você me conhece desde menina, Daniel, eu ensinei sua neta a montar, eu cuido desse Haras como se fosse meu filho. Deixei as competições para administrar tudo isso quando Pedro descobriu a doença, abdiquei minha carreira para dar minha vida ao sonho dele.

Sinto as lágrimas forrando a parte debaixo dos meus olhos.

— Quando ele desejou implantar o projeto fui eu quem o apoiou, eu que contratei os profissionais, saí em busca de patrocinadores, tenho mais de trezentas crianças se benificiando do projeto. Temos selos e premiações.

— Eu sei de tudo isso Dandara, mas não cabe a mim dizer os motivos que influenciaram Pedro a tomar essa atitude. Ele escreveu uma carta, uma carta para você e Miguel, que só poderá ser lida após a decisão ser tomada.

— Uma carta? E você não me comunicou antes por quê?

— Dandara, como disse, isso não está em minhas mãos. Pedro deixou ordens explícitas.

— Arre égua , uma bosta a essas ordens!

Bufo, tentando controlar minha irritação.

— O único conselho que eu posso dar é: mostre ao Miguel o quão bem o Haras faz, mostre seu amor por tudo que você e Pedro criaram nesses anos. Faça-o não vender o Haras, até mesmo unindo os dois planos, por que não?

— HÁ HÁ, transformar meu Haras em um hotel de luxo para madames enfrescuradas? Quando um cavalo cagar nos pés delas quero ver quantas estrelas sobrará. É de pessoas como Miguel que eu sempre fugi esses anos, não quero o dinheiro de quem vê meus cavalos como um pedaço gigante de bife passeando por aí.

— Tente ao menos resgatar o amor que Miguel tinha na infância. — Daniel aconselha.

— Por Cristo, Daniel. Pedro estava maluco no final dos seus dias. Ele acreditou mesmo que os chiliques na infância de Miguel era por mais tempo com os animais? O menino gritava se um porco grunhice em sua direção. A última vez que pisou no Haras fez uma estripulia soltando metade dos cavalos das baias. Foi um Deus nos acuda até recuperarmos tudo.

Daniel segura o riso, ajeitando melhor a postura na cadeira.

— Quer que eu conte a vez que soltou uma bombinha estampido no meio do pasto? Pedro saiu atrás dele na base do chicote.

— Vou dizer a mesma coisa para você como diria para Miguel: não posso intervir, a questão não é uma briga de foices. É vocês conversarem o que é melhor para o Haras...

— Ele irá vender tudo, demolir tudo, sabe quantas pessoas tenho trabalhando aqui? Quantas famílias envolvidas? Imagina todos os dias você se levantar e as pessoas te encararem com perguntas nos olhos, meus funcionários não sabem como será o amanhã. Nem se terão o salário no mês que vem — resmungo — É com isso que lido.

— Miguel fez uma proposta, ele quitaria as dívidas que o Haras tem, e fez uma consulta com as fazendas de corte e o Haras vizinhos para a possibilidade de vender os cavalos. Acredito eu que queria sondar o terreno para saber o valor de um manga-larga.

Levanto enfurecida, batendo as palmas das mãos na mesa. — Ele quer levar uma chicotada!

— Dandara! — exclama.

— Ele que tente encostar em meus cavalos, ele que tente... Arre égua!

— Quando o assistente de Miguel entrou em contato comigo deixou bem explicíto que o único que ficaria fora desse pequeno inventário seria o Trovoada.

Arqueio a sobrancelha — E isso alivia minha vontade de matá-lo? Ah claro, ele foi gentil em não vender um cavalo que foi presente de meu pai!

Eu estava soltando fogo pelas ventas, o filho duma égua teve coragem de agir pelas minhas costas e depois vem com sua falamansa e me leva pra cama. Eu sou muito burra mesmo!

— Bem, Dandara. De todas as formas, se vocês não chegarem a um acordo, se você não aceitar vender sua parte para ele ou se não conseguir pagar a dívida, automaticamente o Haras entra em um processo e se ele tiver a possibilidade, vai acabar nas mãos de Miguel. Se isso não ocorrer, de qualquer forma, assim que o tempo imposto pelo Seu Pedro acabar, o Haras entrará num processo onde quem terá o poder de decisão é a justiça. Isso pode envolver até mesmo leilão, por conta das dívidas.

— Então é: corre pro mato ou corre pro morro. — suspiro.

— A maneira de todos saírem satisfeito é vocês tentarem resolver isso amigavelmente.

— Tudo bem, obrigada pelo seu tempo doutor.

Ele concorda com um gesto, levantando-se. — Fique bem.

— O senhor também.

Acompanho o advogado para fora, fechando a porta atrás de mim. Caminho até o espaço para equitação, vendo os montadores treinando.

— Dandara!

Abaixo um pouco a aba do chapéu fazendo sombra para o sol forte da manhã. Carolina vem calvagando em minha direção, acenando. — Bom dia!

— Preciso da sua ajuda, sinto Damião entrando errado nos obstáculos.

— Dá uma volta para eu observá-lo — digo pulando a cerca.

Carolina trota se afastando, fazendo semicírculos para aquecer o cavalo, passa pelos primeiros obstáculos e vejo que Damião está com uma passada errada, as pernas de dentro estão trotando mais longas que as de fora. É preciso equilibrar o lado que ele está tendo maior dificuldade. Carolina também anda forçando demais no elevado, a conexão entre eles também estava meio mexida, isso acontecia com cavaleiros que entravam na época de competição, tinham muita pressão e sentimentos misturados e acabam passando para os animais.

— Bom dia, esquentadinha, tinha espinhos na cama essa manhã? — Miguel agarra minha cintura e beija meu pescoço. Me esquivo com um sorrisinho, ainda com raiva por ele ter agido pelas minhas costas.

Seu olhar malicioso mexe comigo. O desgraçado sabe que venceu ontem!

— Levanto antes mesmo do sol, coisa de caipira. — me atrevo a desafiá-lo.

Miguel sorri abaixando a cabeça, ainda me olhando. — Confesso que tive uma noite excelente. Poderíamos repetir nossa conversa hoje a noite, o que acha?

— Poderíamos, mas não vamos, tenho mais o que fazer. E nada mudou.

Miguel me encara surpreso, — O que eu fiz? Acordou azeda como um limão, você não cansa de distribuir coices?

Nós estavamos em um maldito pé de guerra e tudo que eu conseguia me lembrar quando encarava os olhos castanhos de Miguel é onde sua maldita boca esteve ontem a noite. E eu excitada por cada gesto que aquele brucutu fez! Deveria dar um tapa em mim mesma!

— Que tal darmos uma volta? Você poderia me mostrar a região.

— Claro, tem algo que ficou de fora de seu inventário? — mordo a língua por ter falado disso.

Miguel fica surpreso, mas logo se afasta de um passo, confirmando o que Daniel tinha dito mais cedo, ele realmente agiu pelas minnhas costas.

— Dandara...

— Cala a boca, brucutu! Se não quer ver a cara enfiada no esterco de cavalo, fique quieto!

Viro sinalizando para Carolina se aproximar.

— Teremos que trabalhar algumas coisas em vocês dois. Faça uma pausa, eu vou preparar o redondel.

— Ok, obrigada Dandara.

Sorrio pulando o cercado novamente, ignorando Miguel que me seguia como uma sombra.

— Não cometi nenhum crime, Dandara.

Reviro os olhos, caminhando para longe.

— Você está sendo teimosa, poderíamos resolver isso de outro jeito, quem sabe unir o útil ao agradável.

Viro fazendo-o parar quase tropeçando em mim. — Diga brucutu, qual sua excelente ideia? Já recebeu oferta pelos meus cavalos? Ah, muito obrigada por deixar Trovoada de fora, foi uma gentileza imensa, já que não quis vender também um presente de meu pai.

Sinto que estou quase gritando.

— Eu não venderia seu cavalo, vejo o amor que sente por ele. Posso não ser um especialista ou não gostar das mesmas coisas que você, mas não quero mal aos bichos.

— Não quer o mal deles? — Sinto minhas bochechas pegando fogo, Miguel mesmo mantém uma certa distância de mim. — Sabe qual a diferença entre um cavalo para lidar com o gado e um cavalo de montaria e competição?

Ele dá de ombros.

— Exato, se não sabe essa imensa diferença e mesmo assim foi oferecer meus cavalos para donos de fazenda de corte. Você com certeza não quer o bem deles. Jumento! — disparo a falar.— Mas tenho uma solução, vá embora, se não quer o mal deles, vá. Ou está esperando a foda de despedida? Quer ir para o celeiro desativado? — pergunto desatando o nó da minha camisa xadrez fazendo ela revelar minha blusa curta.

— Deixe de ser ridícula! — ele grita, chamando atenção das pessoas que passam por nós.

— Não sei onde Pedro estava com a cabeça, ele só poderia estar alucinando quando decidiu deixar meu Haras para você! — Vejo o olhar irritado de Miguel, mas não deixo que fale. — Tenho muito trabalho a ser feito, se puder pelo menos não atrapalhar, eu agradeço.

Estava pronta para deixá-lo parado sozinho quando vejo Cindy galopando em minha direção. Era hoje, definitivamente eu mataria um.

Ela se aproxima com o sorriso mais falso que nota de três reais, diminuindo o galope, parando o cavalo perto da cerca e desce, balançando a mão em nossa direção. — Dandara! Era você mesmo que queria encontrar!

— Só me faltava essa — sussurro. — Acho que errou, sua prenda está bem na minha frente — digo com um sorriso cínico nos lábios.

— Forasteiro, desculpe não ter vindo mais cedo, vejo que ficou totalmente curado do ataque de fúria de Dandara.

Miguel sorri, deixando que a oferecida lhe agarrasse o pescoço dando um beijo bem perto de sua boca.

Maria trepadeira! — penso com raiva.

— Estou bem sim, que surpresa boa vê-la aqui. Estava agora mesmo comentando com Dandara que queria dar uma volta pela região.

Cindy sorri animada. — Então encontrou sua companhia, faço questão de ir com você.

Miguel me encara vendo minha cara de poucos amigos. E mesmo que eu tente disfarçar meu ódio por Cindy, ele se aproveita da situação. Segura na cintura fina da trepadeira, abrindo um amplo sorriso. — Podemos dividir o mesmo cavalo, eu não estou acostumado a montar sozinho.

— Ihaaaahhh, mas é claro! — ela diz animada. — Ah, Dandara, eu soube que está preparando uma competição aqui no Haras.

Miguel me encara curioso, até mesmo me fuzilando com os olhos.

— Sim, é para angariar fundo para o Haras, mas como soube?

— Matheus, ele me contou — diz com um sorriso. — Logo pensei, o que seria excelente senão competir? As regionais estão chegando e eu e Milu precisamos estar preparadas, você poderia dar uma olhada nela, estou achando que ela está de TPM — diz abaixando o tom de voz na última parte como se tivéssemos dividindo um segredo. — E você como antiga competidora sabe como é importante o cavalo estar bem. Fico orgulhosa que abandonou os pódios e se dedica cuidando de minha égua.

— Claro. Dou uma olhada.

— Perfeito, — ela empurra a rédea para mim, enlaçando ainda mais seu corpo em Miguel — vamos forasteiro?

— Claro. Irei pedir para Mathias selar um cavalo. — Miguel responde me encarando.

Maldito Brucutu, maldita Maria trepadeira!


CAPÍTULO 19


Dandara

— Tá falando sozinha, Dandara?

Pulo de susto, percebendo que estava resmungando alto. — Ocê tem sorte de não ter tomado uma chicotada — digo arrumando o chicote na lateral de minha bota.

— Que bicho lhe mordeu? — Mathias questiona.

— Picão, um bicho desgramento que gruda na pele da gente sugando nosso sangue.

Mathias ri, me entregando as coisas para selar Bruto. — Que bom então que não é um do tamanho de um homi , que chegou recentemente na cidade. — diz tirando sarro.

Encaro Mathias, revirando os olhos, para que notasse que não estava sendo um bom momento para brincadeiras.

— Ah, Danda, deixa disso. Pode ter enganado Bento e Maria com essa história de bicho sofrendo pelo mato, mas eu sei o que faz aquele esganiçado todo dentro de um quarto.

— Ocê não tem amor aos dentes, não? — bufo.

— Ô se tenho, como acha que consegui os meus uivos? Tudo na beleza do sorriso — Mathias caçoa abrindo um sorriso de cavalo para mim.

— Arra , não torre minha paciência!

— Mudando de proza , achei que já tinha acabado com a doma do Bruto.

— Sim, ele está pronto para ficar com os outros. Mas hoje eu quero que prepare a pista para três tambores.

Mathias abre um enorme sorriso, — Irá competir novamente? Que alegria garota!

— Ainda não, vou só matar a saudade.

— Pois deveria. — Mathias aperta a sela, conferindo se está tudo bem preso.

— Faz tanto tempo que não penso nisso Mathias, deixei as competições para trás quando assumi a responsabilidade do Haras.

— Arra, e isso não mudará. Você cuida desse Haras mais que de si mesma, eu lembro do primeiro dia que cheguei aqui e vi você cavalgando. — Mathias sorri ajeitando o chapéu na cabeça — Devia ter uns dez anos, lembro que parei perto do cercado olhando, você tinha tanta conexão com o cavalo, tinha tanto talento, mesmo naquela idade.

Sorrio lembrando da minha primeira competição.

— Todos sabemos o duro que está dando para manter tudo sob controle, até mesmo antes da morte do Seu Pedro.

— Quem sabe eu possa tentar — digo.

— Será um excelente começo.


Bruto raspa a pata pelo chão, como se ele próprio se aquecesse. Quando Bruto chegou no Haras era apenas um cavalo maltratado e ferido, abandonado pelo antigo dono para morrer ao relento. Foi numa noite de chuva intensa que o encontrei caminhando com dificuldade nos arredores do Haras. Demorou meses para que ele sequer deixar que eu me aproximar dele, estava tão ferido internamente em sua confiança com os humanos que só de ver um já se armava dando coices.

A doma nunca foi uma coisa tranquila com ele, ficava feliz só por não levar uma mordida. Mas eu o entendia, foi ferido por acreditar em um humano, sua defesa natural era expulsar quem quer que tentasse se aproximar.

— Sei que você gosta de correr, vejo como seus olhos brilham quando fica livre — sussurro passando a mão em sua crina.

Ele raspa a pata no chão, emitindo relinchos e baforadas baixas, ele aprovava o que eu estava falando, assim como o fato de suas narinas estarem dilatadas e as orelhas eretas para frente significava que prestava atenção ao que eu dizia.

— Quero propor algo diferente para nós. Se você gostar, podemos pensar em fazer isso mais vezes. — Tiro o chicote com calma da bota, ele fica desconfiado. — Isso será necessário entre nós?

Bruto relincha, marchando para trás, sacodindo a cabeça. Jogo o instrumento para longe. — Quero que você corra quando for necessário, quero que sinta a terra tocando forte suas patas e o vento traga a liberdade que isso vai lhe trazer. Mas para isso precisa obedecer fielmente meu comando.

Estralo os lábios indicando para que ande, faço todo o circuito no trote, deixando que ele receba meus comandos, deixando que veja como será.

A competição dos três tambores é simples, você precisa fazer uma saída com explosão antes de cruzar pelos sensores. Uma prova de três tambores clássica é de oito metros até o primeiro, depois vinte e sete e meio até o segundo tambor e trinta e dois metros até o terceiro. E então, a reta final, onde exige mais dos cavalos e das amazonas, era esforço máximo pelo melhor tempo. Se tudo for executado com perfeição e sem derrubar nenhum dos tambores, você poderia ganhar alguma posição boa.

Existem pessoas que gostam do silêncio, silenciam tudo ao seu redor, se concentrando apenas na sua própria respiração e de seu cavalo. Eu gosto de ouvir tudo.


— Não foi um tempo ruim para quem está parada por anos. — Mathias comemora pendurado na cerca.

— Quanto?

— Dezessete segundos e meio.

Desço do cavalo acariciando a testa dele. — Esse garoto nasceu para isso.

— Dei uma examinada na égua da Cindy, ela está machucada pelas esporas, sua barriga está toda marcada e além disso, queria que desse uma olhada no freio, acho que tem algo errado.

— Odeio quando vejo animais sofrendo pela imprudência de seus donos.

— Também não gosto, pena que o pai de Cindy não pense assim e deixa aquela garota maluca usar os animais como enfeites.

— Nem me lembre disso — retruco.


CAPÍTULO 20


Miguel

Logo após fazer sexo com Dandara fiquei perdido olhando-a dormir por alguns instantes, aquilo, esses tempos no Haras têm sido os mais malucos que já tive. Aquela esquentadinha está mexendo comigo, ela está me atormentando desde que pisei no Haras, fazendo meus dias e noite incertos, mas a mulher deitada no meu braço, dormindo tranquilamente, livre de todas as caretas e muros que impõe me faz querer seguir outro rumo. Eu tenho vontade de puxar seu corpo contra o meu, encaixá-la em meu pênis e fazer tudo de novo, agora sem pressa, absorvendo tudo, cada gemido que ela faz. Mas acabei adormecendo enroscado em seu corpo ao contemplar seu rosto enquanto dorme.

E quando o dia seguinte chegou, me deparei com a cama vazia, ela saíra de fininho para não me enfrentar quando acordasse. Abro a porta, verificando se o caminho está livre e quando confirmo que sim, retorno ao meu quarto, trancando a porta depois de entrar.

Tomo um banho rápido vestindo algo mais leve para o dia quente que faz do lado de fora, fazendo uma anotação mental: ar condicionado em todos os cantos, pelo amor de Deus, como é quente isso daqui! Pego os óculos escuros colocando-os no topo da cabeça e desço correndo a escada em direção à cozinha.

— Bom dia, Maria — cumprimento a senhora, ela me olha meio espantada o que me faz questionar se eu não estava sendo educado o suficiente com as pessoas dali. Mas também, com a noite anterior que tive, meu humor está perfeito nesta manhã. — Por acaso você viu a...

— A menina está embrenhada pelo Haras como sempre, Seu Miguel.

Pego uma laranja, descascando-a. — Vocês sempre começam o dia antes mesmo do sol?

— Sim, a menina é que acorda o galo e não o contrário.

Sorrio jogando as cascas fora. — Em São Paulo também acordamos, mas confesso que ser dono do próprio negócio tem suas vantagens.

Saio pela porta lateral da cozinha roubando um chapéu preto na varanda, brincando ao colocá-lo em minha cabeça, até que não tinha ficado ruim. Deixo de lado ao ver Dandara perto de um dos cercados sorrindo como uma menina ao ver os cavalos.

Lembro-me de poucos momentos vividos aqui, mas o que eu com certeza consigo recordar é dela, mesmo muito diferente da época que erámos crianças. Dandara sempre foi apaixonada por isso, era raro vê-la vestindo sapatos e quando estava, eram botas. Era mais raro ainda ver a menina fazendo outra coisa do que estar perto dos bichos.

— Bom dia, esquentadinha, tinha espinhos na cama essa manhã?

Agarro a cintura de Dandara, lembrando de nossa noite, gostando do cheiro dela.

— Levanto antes mesmo do sol, coisa de caipira.

Pelo tom de voz afiado, já estava mordendo os cotovelos.

Sorrio dando um beijo suave em seu rosto, tentando suavizar o mau humor. — — Confesso que tive uma noite excelente. Poderíamos repetir nossa conversa hoje a noite, o que acha?

— Poderíamos, mas não vamos, tenho mais o que fazer. E nada mudou.

— O que eu fiz? Acordou azeda como um limão, você não cansa de distribuir coices? — Controlo minha vontade de responder Dandara de forma ríspida, suspiro, suavizando a voz — Que tal darmos uma volta? Você poderia me mostrar a região.

— Claro, tem algo que ficou de fora de seu inventário?

Fico surpreso, me afasto de um passo para olhar melhor seu rosto, como ela soube?

— Dandara...

— Cala a boca, brucutu! Se não quer ver a cara enfiada no esterco de cavalo fique quieto!

Ela vira chamando uma garota.

— Teremos que trabalhar algumas coisas em vocês dois. Faça uma pausa, eu vou preparar o redondel.

— Ok, obrigada Dandara.

Sei o jogo que Dandara faz, ela prefere fugir do que virar e me encarar, não deixo barato, sigo-a pelo Haras.

— Não cometi nenhum crime, Dandara.

Ela continua andando, me ignorando.

— Você está sendo teimosa, poderíamos resolver isso de outro jeito, quem sabe unir o útil ao agradável.

Ela vira, parando brutalmente, me fazendo quase tropeçar.

— Diga brucutu, qual sua excelente ideia? Já recebeu oferta pelos meus cavalos? Ah, muito obrigada por deixar Trovoada de fora, foi uma gentileza imensa, já que não quis vender também um presente de meu pai.

— Eu não venderia seu cavalo, vejo o amor que sente por ele. Posso não ser um especialista ou não gostar das mesmas coisas que você, mas não quero mal aos bichos.

— Não quer o mal deles? — O rosto de Dandara está vermelho como se tivessem esfregado dois tomates em suas bochechas, e se isso não era um alerta para ficar afastado, eu não sabia o que seria. — Sabe qual a diferença entre um cavalo para lidar com o gado e um cavalo de montaria e competição?

Dou de ombros.

— Exato, se não sabe essa imensa diferença e mesmo assim foi oferecer meus cavalos para donos de fazenda de corte. Você com certeza não quer o bem deles. Jumento! — dispara a falar.— Mas tenho uma solução, vá embora, se não quer o mal deles, vá. Ou está esperando a foda de despedida? Quer ir para o celeiro desativado? — pergunta desatando o nó da minha camisa xadrez fazendo ela revelar minha blusa curta.

E mesmo que a ideia de tê-la novamente em meus braços, sentir o gosto de sua pele e ter seus gemidos em meus ouvidos seja tentadora, me foco em nosso novo cabo de guerra. — Deixe de ser ridícula!

— Não sei onde Pedro estava com a cabeça, ele só poderia estar alucinando quando decidiu deixar meu Haras para você! Tenho muito trabalho a ser feito, se puder pelo menos não atrapalhar, eu agradeço.

Estava pronto para segurar seu braço vendo que se afastaria, quando vejo sua expressão de raiva se focar em outra coisa, sigo seu olhar vendo uma garota vir calvagando em nossa direção.

— Dandara! Era você mesmo que queria encontrar!

— Só me faltava essa! Acho que errou, sua prenda está bem na minha frente — Dandara diz com um sorrisinho falso.

— Forasteiro, desculpe não ter vindo mais cedo, vejo que ficou totalmente curado do ataque de fúria de Dandara.

Sorrio não tirando os olhos de Dandara, deixando que Cindy agarrasse meu pescoço dando um beijo bem perto de minha boca, naquele instante tinha descoberto uma outra arma poderosa contra a esquentadinha, o ciúmes. — Estou bem sim, que surpresa boa vê-la aqui. Estava agora mesmo comentando com Dandara que queria dar uma volta pela região.

Cindy sorri animada. — Então encontrou sua companhia, faço questão de ir com você.

Aproveito a situação segurando na cintura fina da garota, abrindo um amplo sorriso. Satisfeito por ver que deixo Dandara mexida, é bom saber que outra coisa borbulha dentro dela, além de irritação. Afinal, ela não é tão casca grossa quanto esbraveja. — Podemos dividir o mesmo cavalo, eu não estou acostumado a montar sozinho.

— Ihaaaahhh, mas é claro! — ela diz animada. — Ah, Dandara, eu soube que está preparando uma competição aqui no Haras.

Faço minha cara de “não sou o único planejando pelas costas” e encaro Dandara.

— Sim, é para angariar fundo para o Haras, mas como soube?

— Matheus, ele me contou — Cindy diz com um sorriso. — Logo pensei, o que seria excelente senão competir? As regionais estão chegando e eu e Milu precisamos estar preparadas, você poderia dar uma olhada nela, estou achando que ela está de TPM. E você como antiga competidora sabe como é importante o cavalo estar bem. Fico orgulhosa que abandonou os pódios e se dedica cuidando de minha égua.

Dandara competindo? Não sabia que a esquentadinha metida as caras em rodeios ou competições equestres. Estava aí uma coisa para pesquisar quando tivesse deitado em minha cama essa noite.

— Claro. Dou uma olhada. — Dandara responde de forma azeda.

— Perfeito, — Cindy empurra a rédea para Dandara, enlaçando ainda mais meu corpo — vamos forasteiro?

— Claro. Irei pedir para Mathias selar um cavalo.

A carranca de raiva que Dandara está é impagável. É como acender um pequeno fósforo numa fogueira à base de álcool. Eu não quero nada com essa garota, mas se para provocar minha caipira eu tiver que entrar nesse joguinho sujo, por que não?

A tal de Cindy não tinha a mesma desenvoltura que Dandara na montaria, na verdade, não tem nem mesmo a paixão que Dandara exibe ao olhar para os cavalos. Porém, não decepcionou em nada em sua montaria e cavalgada, ela sabia o que estava fazendo. Mesmo que o cavalo ficasse arrisco com seus comandos.

Saímos do Haras indo para os campos abertos da propriedade, passando por um pequeno riacho, Cindy se aproveita por estarmos na mesma sela e esfrega sua bunda em meu pênis, sempre sorrindo e olhando por cima do ombro.

— Que tal pararmos aqui? — questiona olhando para a paisagem na frente, estavámos em uma espécia de monte, víamos a estrada de terra que nos levaria de volta para o Haras e ao longe a silhueta do que seria o centro da cidade.

— Por mim — digo já descendo do animal.

— Quero muito saber o que fez um homem fino e bonito como você se meter com a Dandara — Cindy fala amarrando a rédea do cavalo no tronco de uma árvore.

— Podemos dizer que fomos criados juntos.

— Mentira! — diz rindo.

— Meu tio-avô criou Dandara quando seus pais faleceram.

— Que azar o dela, primeiro perdeu a mãe e logo depois seu pai, morreu em um acidente com bois.

Não havia sentimento real naquelas palavras.

— Você e ela se conheceram como? — pergunto sentando sobre a grama.

Ela caminha parando em minha frente tampando a visão da paisagem remexendo o quadril, tentando ser sedutora.

— Bom, tirando o fato de cidade pequena todo mundo naturalmente se conhecer, além dos filhos estudarem juntos. No Haras, Setti é um dos poucos lugares de excelência por aqui, confesso que tem ótimas pistas para treino. Meu pai é um dos patrocinadores, mesmo eu querendo que Milu seja tratada por outra domadora, não posso negar que ela é boa no que faz. Cindy deu de ombros, analisando as unhas perfeitamente alinhadas e pintadas — Ficou melhor quando saiu das competições.

— Competição? — questiono curioso.

— Dandara praticava a mesma modalidade que eu, três tambores, mas largou tudo quando Pedro ficou doente. O velhote não podia mais pegar no pesado e o que não falta naquele Haras é serviço pesado para ser feito. Mesmo com Mathias vindo para ajudar, Dandara decidiu largar tudo para cuidar do Haras.

— Pela sua cara de surpreso, não sabia disso.

— Conheço pouco daqui, vim muito na infância a mando de meus pais e quando cresci nunca mais voltei. Só fiquei sabendo novamente desse lugar quando um advogado me ligou informando sobre a morte do meu tio. Somos de uma família grande, porém nem todo mundo ainda mantém contato.

— Por que decidiu voltar? — Cindy senta em meu colo, um joelho em cada lado de meu corpo, me fazendo dar um sorriso sem graça ao afastá-la com jeito. — É verdade o que todos tem cochichado por aí?

— O que andam falando?

— Oras, que você veio tomar isso tudo dela. Afinal, pra que um homem como você viria para um fim de mundo como esse?

— Vim por negócios, é tudo que precisa saber.

Cindy fez um beicinho, passando os braços pelo meu pescoço, forçando uma aproximação. — Por que não paramos de falar dela, de cavalos e todas essas bobagens e terminamos o que rolou lá no bar?

Direta e atrevida, ela se daria bem na cidade grande.

— Sinto muito, mas não vai rolar. Vamos voltar? Esqueci que marquei um telefonema importante com meu assistente em São Paulo, como disse, negócios — Fico de pé estendendo a mão para ajudá-la.

Não sei o que tem no DNA dessas caipiras, mas ô mulherada que se enfeza rápido! Cindy levanta dando um tapa em minha mão, já desamarrando o cavalo e subindo. Mais uma que preciso tomar cuidado para que ela não me lance do outro lado da estrada, só por que neguei seu fogo. A realidade é que não queria nada com Cindy, ela poderia ser uma mulher linda, com um corpo escultural. Mas serviu apenas para deixar a esquentadinha com ciúmes.


CAPÍTULO 21


Dandara

Enquanto comemos, Maria não tira os olhos de mim. Abaixo o garfo, dando um longo suspiro. — Diga logo mulher, senão vai engasgar com a própria comida.

— O que está tirando ocê do prumo, moleca?

Velha sábia! Não tinha nada que escapasse de Maria, você poderia se deixar levar pelo rosto repleto de rugas ou pelos olhares maternos que lançava para todos, mas Maria era como um pastor alemão, farejava as coisas à distância.

— O que deu no povo desse Haras hoje? — pergunto desviando do verdadeiro assunto.

— Ocê não me engana mocinha, conheço ocê mesmo antes de aprender a lavar os fundilhos de suas ceroulas!

— Que horror! Estou apenas pensativa, vou sair mais tarde para dar uma olhada nos campos.

Foi a vez de Maria revirar os olhos, ninguém vencia em uma disputa com Maria. — Ainda com aquele sonho azucrinando a mente?

Suspiro empurando a comida de um lado para outro no prato. — Eu vejo aquele cavalo com tanta força, não sei porque e nem mesmo o quê significa.

— Você está preocupada com as coisas daqui, normal, os sonhos mostram nossas preocupações mais profundas.

Suspiro, tomando um gole do suco, confirmando com um pequeno gesto de cabeça.

— Mas não era sobre isso que estava falando.

— Ô merda, Maria! — retruco. Não irei conseguir desviar do assunto.

— Óia a boca! — ralha — Ocê está ansiosa, está assim desde que a senhorita Munhoz chegou no Haras.

— Aquela menina brinca com os animais, Mathias disse que a égua tem marcas feias das esporas, eu gostaria de enfiá-las no...

— Ouuh , acalme-se. — Maria adverte rindo — Seria mesmo por que Cindy está maltratando a pobre da égua, o que não seria nenhuma novidade para nós ou pelo simples fato dela ter saído com Seu Miguel?

Fico em silêncio enchendo minha boca com o resto de suco de meu copo.

— Você gosta dele.

Encaro Maria — Ficou maluca? — digo umas oitavas mais alto.

Ela sorri, pega seu prato e o meu, indo até a pia. — Conheço você, menina. Seria de se admirar se não tivesse apaixonada. Eu disse para Seu Miguel, muito ódio acaba virando amor.

— Você está exagerando, deve ser o excesso de trabalho. Seu “Miguelzinho” está agindo pelas minhas costas, fazendo um inventário de tudo que há aqui para vender.

Maria não manifesta nenhuma surpresa com o que acabo de dizer. — O homi é um bitelo , 5 mas não disse que não era sonso para fazer merda. Pode me chamar de velha caduca, mas conheço os sinais e sintomas, você está gostando dele.

— Arre égua! Vou trabalhar, não quero falar mais disso! — argumento ficando de pé.

— Como quiser, moleca. Mas se enfiar no trabalho não irá arrancar isso d’ocê.

Bufando dou uma olhada feia em sua direção e ela entende o recado, não toca mais no assunto enquanto eu devoro uma maçã vermelha e doce que estava na fruteira. Coloco o chapéu sobre a cabeça, fazendo uma trança em meu cabelo e saio, ignorando os olhares que Maria me lança.

Apaixonada! Era para se rir mesmo, Maria está ficando maluca!


— Tudo correndo bem por aqui — Mathias me relata assim que entro do estábulo. — No fundo ela só precisa de um pouco de atenção.

Passo a mão sobre o corpo da égua, vendo seu olhar desconfiado. Milu é da raça Paint Horse, muito parecida com os quarto de milha, mas parece pintada à mão.

— Oua , calma garota!

Retiro a mão ao vê-la arreganhar os dentes.

— Essa daí vem com o espírito da dona. — Mathias brinca.

— Que nada, tire ela da baia. — peço olhando nos olhos da égua — Cindy é horrível com ela, assim como foi com todos os cavalos que passou por seu rancho. Só quer que o animal corra, muito parecida com Matheus, pelo menos aquele ali tem algo de bom, gasta dinheiro e tempo cuidando dos seus cavalos. — digo torcendo os lábios.

— Tem certeza disso? — Mathias questiona segurando a trava da baia. — Ela não está muito amigável.

— Solte.

Mathias faz o que mando, abrindo a portinhola, deixando que ela saia. Milu é uma égua imponente, sai com a fronte erguida, me encarando de cima, passando o recado claro que não tem medo de nós, mas na realidade, tudo isso é pose, ela está receosa que a machuquemos.

— Dê uma olhada nessa ferida.

Dou a volta indo até Mathias, não era uma ferida profunda, iria cicatrizar logo, mas o que me irritou ainda mais foram as marcas mais profundas em sua pelagem indicando que outras já tiveram ali, várias cicatrizes marcando o quando essa égua vinha sendo judiada. E o quantos os maus tratos tinham marcado-a internamente.

— Vamos fazer um tratamento de aromaterapia, para ela se acalmar um pouco e deixar que cuidemos dela.

Vou até o espaço onde os remédios ficam guardados examinando alguns vidros, pego três voltando para a égua.

Tiro a tampa do primeiro colocando perto da narina do animal. Ela relincha virando a cabeça bruscamente, quase derramando o conteúdo de minhas mãos. Retiro do segundo, mas ela tem o mesmo comportamento.

— Óleo bergamota — digo e não demora muito para ela tirar a língua para fora querendo o líquido.

— Não é estranho que ela escolha justo o que traz a sensação de alegria e ânimo. — Mathias comenta.

— Minha mãe sempre dizia que os animais escolhem seus próprios remédios. Eles sabem do que realmente precisam.

O barulho de cavalo se aproximando traz nossa atenção para a entrada do estábulo.

— Que bom que ela está pronta, preciso ir. — Cindy salta do cavalo deixando Miguel se desequilibrar por um instante.

— O passeio não foi prazeroso? — desafio.

— Minha égua está pronta ou não?

— Milu está com marcas de escoriações na barriga. — acuso.

Cindy não dá a mínima para o que estou falando.

— Cindy! Você está ferindo sua égua por nada com suas malditas esporas!

Mathias me olha preocupado.

— Que eu saiba pedi para você dar uma olhada, e não mandar no jeito que comando minha égua. — Cindy contra-ataca.

Miguel dá um passo em nossa direção como se nós duas fôssemos nos engalfinhar como animais, não que ela não merecesse, mas eu não iria ganhar nada com isso.

— Se você quer que Milu não a jogue para longe durante uma competição, precisa entendê-la. Ela não é um pedaço de bife para você ficar furando quando bem entende.

Cindy gargalha, — Me passe o valor de seu tempo, mando meu pai depositar na conta do Haras. — ela vê que continuo encarando-a — Vamos, será que dá para selar minha égua?

Mathias pega as coisas pronto para selar a égua.

— Mathias, não! — Eu quase grito. — Cindy, me escuta...

Cindy arranca a sela das mãos de Mathias, ela mesmo arrumando no lombo de sua égua.

— Cindy, sua égua está ferida, pode achar que não é nada, mas com o tempo vai pegar os ossos dela. Se você se importa...

— O que eu preciso escutar é que você fez algo além de ficar gastando meu tempo. E não de suas mágicas inúteis. — Ela mal fixa direito as fivelas para montar o animal.


Cindy enfia as esporas na barriga da égua fazendo-a relinchar de dor, e a visão dos olhos tristes e repletos de lágrimas do animal cortam meu coração.

Chuto um barril de água enfurecida com a partida de Cindy. O fato de não poder fazer nada para ajudar essa égua me corta o coração.

— Pelo visto vocês estão bem longe da cordialidade.

Viro como um bicho, bufando como um touro bravo ao encarar Miguel. — Meta seu nariz onde é chamado!

— Se você sabia que Cindy maltratava a égua, por que a liberou? — Miguel questiona.

— Seu Miguel, não é simples assim, não podemos prender os animais, mesmo que por alegação de maus tratos. A família de Cindy é poderosa na cidade, seria uma briga infinita e até lá a égua já teria caído doente.

— O que Mathias tá querendo dizer é que não serão os primeiros donos que negligenciam seus animais, muito menos os últimos. São esse tipo de gente para quem quer vender meus cavalos. — acuso.

Levanto o barril que tinha chutado em minha explosão de raiva, puxando a mangueira para enchê-lo.

— Mathias, termine de cuidar das baias, eu vou sair com Trovoada. Está esfriando e não duvido de termos uma chuva torrencial mais tarde.

Deixo os dois ali, no meio do estábulo indo até o Trovoada, eu precisava da paz que ele poderia me dar. E não foi surpresa em vê-lo totalmente alerta, meu pai costumava dizer que Trovoada sempre saberia meu estado de espírito, ele sempre estaria ali, pronto.

E isso era verdade. Não precisei dizer nada, apenas abri a portinhola de sua baia, subindo diretamente no pelo para que ele saísse em disparada para fora do Haras, o sol estava se pondo no horizonte e uma espessa nuvem cinzenta cobria o céu.

Na época de outono vivemos os tempos mais malucos; temos dias de intenso calor e do nada um frio de arrepiar os ossos com chuvas tão fortes que inundam a estrada. Além de ser a época que mais me preocupo com o bem estar dos cavalos.

Cavalgo pelos campos, até mesmo me embrenhando no pequeno acervo de mata fechada, os ranchos e fazendas não são próximos uns dos outros, o que dá bastantes aréas livres.

— Aoh — Trovoada para, relinchando baixo. — Você também ouviu rapaz?

Paramos entre as árvores escutando os pássaros fazendo burburinho entre os ramos, mas não foi isso que chamou nossa atenção, e sim um relincho baixo, sofrido.

— Vamos, Trovoada. — bato o pé na barriga dele fazendo barulho para que volte a galopar.

O rancho era velho, existia destroços espalhados pelo terreno, desço do Trovoada empurrando a porteira velha e quebrada, tinha arame farpado para todos os lados, o relincho veio mais fraco dessa vez, como se o animal já não aguentasse mais esperar por ajuda. Trovoada relincha batendo os cascos chamando minha atenção, um cavalo estava em um pequeno cercado amarrado a cordas em um tronco velho, havia feridas em sua cabeça e boca devido às cordas, mas também marcas profundas espalhadas pelo seu corpo, fora a desnutrição evidente.

Não conseguiria fazer esse cavalo ir até o Haras, precisaria chamar o Santiago e pegar o trailer. Monto em Trovoada galopando de volta até o Haras, forçando ele ir o mais rápido que pode, não sabia de quem era aquele rancho abandonado, mas de maneira alguma deixaria o animal ali sofrendo.


CAPÍTULO 22


Miguel

Levo as toras de madeira para Bento, sentando no sofá. O frio realmente tinha chegado com força, nos forçando a fechar as portas e janelas para manter o calor dentro do imenso casarão. Dandara ainda não tinha retornado, o que me deixa um pouco ansioso, mesmo não querendo admitir. Aquela diabinha caipira está me enrolando em seu laço.

— Daqui a pouco a janta estará pronta. — Bento diz passando por mim em direção à cozinha.

Volto meus olhos para a tela do computador, vendo o projeto que Paulo havia me enviado mais cedo. Os arquitetos tinham feito um excelente trabalho, a entrada do resort era imponente, ele manteve o rústico e sofisticado com tanta suavidade que nenhum dos pontos tinha se destacado mais que o outro. E ali, analisando o projeto, eu não conseguia abrir minha caixa de e-mail e aprová-lo. Não conseguia dizer que poderíamos fechar o negócio com os donos dos Haras e fazer o transporte dos cavalos assim que o périodo que o advogado deu se encerrasse.

A rajada de vento forte fez o fogo na lareira tremular quase se apagando, fecho o computador virando para ver Mathias entrar na casa chamando por Bento.

— Que desespero todo é esse? — questiono indo para a entrada.

— Dandara voltou e vamos resgatar um animal.

— Resgatar? O que houve? Toda vez que você entra como um foguete aqui é porque Dandara tá metendo todo mundo em apuros — retruco.

— Mathias, o que aconteceu? — Bento e Maria vêm em nossa direção.

— Dandara voltou da caminhada, segundo ela encontrou um animal em condições precárias. Preciso ligar para o Santiago e preparar o trailer para sairmos.

— Onde ela está? — pergunto.

— A última vez que a vi estava indo pegar umas medicações.

— Santiago não deveria ficar disponível no Haras para esse tipo de emergência? — questiono ajeitando o casaco pesado no corpo.

— Sim, Seu Miguel, mas ele trabalha em outros lugares. É um veterinário muito requisitado na região.

— Vou procurá-la. — digo por fim, cruzando com eles, sentindo o vento bater contra meu corpo enquanto caminho até o estábulo.

Os cavalos relincham alto, incomodados pelo vento, passo por uma baia me esquivando ao ver que o cavalo está tão irritado que bate o corpo contra as paredes de sua baia.

— Eles ficam mais irritáveis com esse tempo.

Olho para Dandara, seu rosto está preocupado. Ela vai até o cavalo mais arisco, deixando que ele cheire um potinho.

— Aromaterapia — explica.

Mesmo ainda desconfiado o cavalo começa a se acalmar.

— Você realmente faz mágica com eles.

O cavalo vem em minha direção me assustando, pulo para trás encarando os imensos olhos pretos do animal. — Eles não confiam em mim.

— Eles são espertos, sentem quando um humano tem medo, alegria ou quando não gosta deles.

Olho para seu rosto, lá vinha ela com aquele papo novamente. — Não é bem gostar ou não, só não confio. Mathias disse que encontrou um animal ferido.

— Eu estava cavalgando, estava ficando mais frio no meio das árvores. Eu o ouvi, ele estava me chamando, não sei há quanto tempo ele está lá, mas eu sei que está cansado. Cansado demais para vir andando, mesmo se Trovoada sustentasse ele pelo caminho, isso o teria machucado mais.

— O que posso fazer?

Dandara me encara surpresa.

Nem eu mesmo sei por que estou fazendo isso, por que estou tentando salvar um animal se tudo que mais quero é que essa guerra de braço acabe logo, para dar continuidade aos meus planos.

— Santiago está ocupado em uma fazenda, tenho receio dele não chegar a tempo.

Ver o olhar triste em seu rosto faz algo dentro de mim borbulhar. — Vamos, eu ajudo você.

Ela ri por um instante, voltando a ser a diaba caipira que eu conhecia. — Você vai mais me atrapalhar do que ajudar.

— Se não quer salvar aquele animal é só dizer.

Vejo seu olhar me analisando, assim como o suspiro pesado que ela solta. — Pegue aquelas cordas, iremos precisar de pelo menos umas três, estou com o kit de remédios, ele tem grandes feridas pelo tempo que passou amarrado e das tentativas de fuga.

— É selvagem?

Ela para de arrumar as coisas para me olhar. — Ele foi ferido, está com medo, sede e fome, vai saber quantos dias ficou exposto ao sol escaldante e as chuvas frias das noites.

Mathias aparece com a caminhonete puxando o trailer. Interrompendo nossa conversa.

— Vamos colocar tudo no carro. — Dandara ordena levando Trovoada para sua baia.


O caminho até o rancho que Dandara encontrou o animal ferido fica bem longe do Haras, e a estrada não ajudava em nada, o vento ficava mais forte e logo a chuva nos brindava com mais força, dificultando ainda mais nosso caminho. Os limpadores trabalhavam frenéticos pelo vidro, cada vez que Mathias acelerava ou freava passando por um buraco era meu coração que pulava dentro do peito. A buraqueira ficava escondida devido a tempestade que caía lá fora.

Era difícil ver alguma coisa concreta em nossa frente com a torrente que descia do céu, o que me fazia apertar o canto do banco com mais força, prendendo a respiração.

Quando Mathias acelerou passando pela entrada destruída do rancho, tudo lembrou foi um filme de terror, a casa ao fundo está caindo aos pedaços, tudo ali está destruído pelo tempo e esquecido por Deus.

Dandara salta do carro antes mesmo que ele pare completamente, levando consigo o kit veterinário e uma das cordas, fazendo Mathias e eu seguirmos em seu encalce.

— Mathias, abra o trailer.

— O tempo está horrível. — digo olhando ao redor.

Dandara pula a cerca de arame encarando o cavalo com as mãos para cima, conversando baixinho com ele, para tentar acalmá-lo.

— Corte os arames, Miguel.

Retiro da enorme maleta que ela touxe um alicate, corto os fios abrindo espaço para que ela passe com o animal.

Ele relincha, empinando o corpo para trás, evitando que ela encoste nele e toda vez que faz isso, acaba caindo devido à fraqueza que seu corpo apresenta. Dandara chega mais perto tentando tirar as cordas que o machucam, porém ele está arredio demais.

— Dandara, devíamos ter esperado por Santiago, ele pode te machucar. — Mathias retruca.

— Ele não vai me machucar, está com medo, tem medo do toque. — Dandara se vira pegando um daqueles frascos pequenos que estava dando aos cavalos no estábulo fazendo o cavalo cheirar. Ele não se acalma como os outros fizeram, mas permite que ela chegue mais perto. — Se tivesse esperado por Santiago ele teria morrido nessa chuva.

Dandara tem realmente algo a mais para esses animais, é como se apenas de olhar, eles dissessem tudo que estão sentindo para ela. Ela volta para a mala tirando um lenço grande, jogando-o no rosto do bicho.

— Miguel corte as cordas e passe a nossa pelo pescoço, dê um nó bem firme.

Faço o que ela manda, me certificando que o cavalo continua imóvel contra o peito de Dandara, ela faz carinhos na crina judiada, sussurrando algo que não entendo devido o barulho forte da chuva.

— Se o dono do cavalo voltar? — pergunto terminando o nó.

— É bom que nem volte, olha o estado que deixou o cavalo. — ela retruca pondo o bicho de pé. — Calma, ouh, calma.

— Dandara, Miguel, temos problemas! — Mathias grita sob a chuva.

Um velho aparece no meio da chuva vindo em nossa direção segurando uma garrafa de bebida, tropeçando nos próprios pés.

— Conheço a laia desse daí, Cicinho sempre o expulsa do bar por arrumar confusão e ele não se importa com nada além da cachaça que consome — Mathias comenta encarando o homem.

— Às vezes temos que deixar os pensamentos sendo apenas isso, pensamentos. Nunca ouviu que o que é jogado no universo ele devolve? — Dandara resmunga para mim.

— Ei! O que você estão fazendo com meu cavalo? — O velho grita, tenta correr até nós, mas tropeça várias vezes em seu próprio pé.

Quando tenta chegar perto de Dandara, eu contenho o homem bêbado e por consequência o animal se agita, fazendo Dandara soltar um pouco a corda que o mantinha preso.

— Você não encosta mais nesse animal! — Dandara grita vindo para cima de mim e do velho bêbado.

— Vocês invadiram minha propriedade, vou chamar a polícia, e esse cavalo voltará para o lugar dele.

Seguro com firmeza sua camisa puída evitando que ele avance para cima dela.

— Chame, vai me poupar o trabalho de chutar sua bunda até lá.

O velho para por um instante de se debater em meus braços e assim consigo arrastá-lo para fora do caminho, deixando que Dandara entre com o animal no trailer.

Mathias enfia todas as coisas de volta na caminhonete, embarcando e dando partida no motor.

— Quando ele ligar para a polícia, ele que terá que se explicar. — digo animado, feliz por ter salvo aquele cavalo.

Dandara tira os olhos do vidro traseiro, voltando seu rosto para mim. — Ele não vai ligar, mal lembrará o que houve. Ele iria deixar o cavalo morrer de fome. — ela volta seu olhar para trás, vigiando o trailer.

Mathias faz o melhor que pode, mas a estrada de terra fica esburacada na chuva forte, e se antes a visibilidade já estava dificil, agora está muito pior. Os relinchos do animal preso no trailer são ouvidos de dentro do carro, imagino o quanto ele não esteja apavorado.

O carro balança de um lado para o outro, me fazendo segurar a respiração por alguns segundos.

— Ele vai se acalmar quando sairmos desse pedaço de estrada. — Mathias diz.

O carro balança mais forte na curva.

— Pare, Mathias. Eu vou com ele.

— Ficou maluca? Ele pode te machucar, está muito nervoso.

— Se eu não for com ele, vamos acabar capotando. — diz.

Mathias encara Dandara pelo espelho retrovisor, considerando o que diz.

— Ficou maluco? Ela vai se machucar! — retruco quando ele para no meio do nada, destravando as portas.

— Sei o que estou fazendo — ela resmunga.

Dandara desce e esperamos. Olho pelo vidro de trás esperando algum sinal...

— Podem ir — grita batendo na lataria do trailer.

Quando chegamos ao Haras, me senti como se tivesse nadando, nem mesmo minhas bolas estavam secas na cueca. Mathias dá a volta no carro pegando a corda e guiando o cavalo para o estábulo. E antes que Dandara saísse, indo para longe, eu a segurei.

— Desculpa.

Passo a mão pelo cabelo molhado tirando um pouco d’água dos olhos. Por que ela me deixa assim?

— Não quis magoá-la com a história de hoje cedo. Estou fazendo o melhor que posso.

— Então precisa fazer mais do que isso.

Ela se solta de minha mão correndo em direção aos estábulos, corro atrás dela, mesmo quase caindo quando meu pé afunda em uma poça d’água, alcanço seu braço e puxo-a para mim, fazendo com que pare.

Droga! Descobri que estou enlaçado até a alma por essa caipira!

Dandara fecha a expressão mostrando seu melhor olhar de ódio tentando se livrar de mim novamente. Fico em sua frente e mesmo com a chuva em seu rosto, consigo perceber que os seus olhos estão cansados, a adrenalina tinha decaído de seu corpo e eles lacrimejavam. Ela tenta se soltar novamente de mim. — Por que você não vai embora, Miguel? — pergunta com o rosto perto do meu.

Meu pênis lateja dentro da calça. Essa mulher me deixa louco!

— Eu não desisto, esquentadinha. Já devia ter entendido isso.

— Pelo menos temos alguma coisa em comum — ela retruca. — Odeio você, brucutu!

— Não, não odeia.

Ela para surpresa com minha declaração. Estar tão perto dela, sentir aquele corpo colado no meu, desperta meu desejo.

Ignorando tudo, eu só tinha uma coisa em mente: tê-la a todo custo.

Avanço sobre ela, seu corpo inteiro estremece, quando a beijo, ela abre a boca para receber minha língua, sua boca é carnuda e quente, ela para de tentar lutar contra aquele fogo que move nossos corpos. Aperto Dandara contra meu corpo, e sinto suas mãos enlaçarem o meu pescoço. Ela me puxa, em resposta eu invado seus lábios, tomando sua boca com minha língua. Levo a mão até seus seios e ela geme com meu toque.

— Quero você, esquentadinha.

— Por que está fazendo isso comigo? — ela resmunga quando minha boca desce por seu pescoço.

— Shiuu, — mordisco sua pele, descendo a boca por seus seios, lambendo o pequeno decote de sua blusa.

A chuva cai sobre nós, mas não é frio que nos faz tremer, é o calor que sinto por essa mulher que só aumenta.

— Quer que eu pare agora?

— Eu odeio você — sussurra, puxando minha mão, nos fazendo correr pelo Haras, entrando no velho celeiro abandonado.

Existem furos entre as madeiras fazendo a chuva cair em nós, Dandara empurra meu corpo contra uma viga de madeira, colocando as mãos por debaixo de minha camiseta encharcada. Meu corpo treme com o calor do toque, fiz o que desejava desde que pisei para fora da cama, abro botão por botão de sua camisa, deixando tudo totalmente livre para que chegasse aos seus seios, luto um pouco contra o fecho do sutiã, fazendo-a rir e tomar a missão de minhas mãos.

Dandara joga a cabeça para trás gemendo cada vez mais com as carícias que eu faço em seus mamilos enrijecidos. Lambo sua nuca, distribuindo beijos sobre sua pele. — Quero você, Dandara, tem que ser aqui, agora. — digo roçando meu quadril em sua cintura.

Solto o botão de sua calça enganchando meus dedos direto nas laterais de sua calcinha, abaixando as peças até o chão, passando por seus pés. Abro suas pernas, deixando seu sexo exposto para mim. Dandara fez o mesmo por mim, tirando minha camisa e indo até minha calça. Ela baixa minhas roupas alcançando meu pênis. Gemo como um animal no cio.

Ela se ajoelha, sem emitir uma palavra, segura meu membro totalmente ereto. A boca da esquentadinha me toma quase por inteiro, sinto o vaivém dos seus lábios me fazendo perder o equilíbrio Encostando no pilar, olhando para seu rosto.

Ela segura a base do meu pau com uma das mãos, enquanto contorna o restante com seus lábios lindos e quentes. Eu a desejo tanto a ponto de gozar. Levanto Dandara de forma abrupta.

Agarro aquela massa de fios longos e loiros, fazendo o calor que consumia meus sentidos aumentar. O corpo de Dandara colado no meu, lábios entreabertos e desejo nos olhos.

— Não negue, você adora isso, seja o que for que esteja acontecendo aqui, você adora.

Mantenho seu cabelo seguro na nuca com uma das mãos, a outra passando por seu corpo nu em volta de sua cintura, deixo meus dedos escorregarem dentro dela, afastando os lábios de sua boceta, apertando o clítoris úmido de tesão. Empurro seu corpo contra a parede, encaixando uma de suas pernas em meu ombro ao agachar, deixando sua intimidade totalmente exposta para mim, como um belo cartão de boas-vindas. Meto a língua de forma faminta, o corpo de Dandara estremece, seus dedos agarram meu cabelo de maneira ferroz.

Devoro seu corpo com vontade, minha saliva misturando com a lubrificação salgada, Dandara tinha gosto de mulher excitada, do tipo que atraí os pobres homens de longe.

Tiro sua perna de meu ombro, erguendo-me, viro-a de costas para encaixar meu pau em sua entrada, deslizo um pouco mais, ela é deliciosa! Antes de chegar ao fundo, Dandara rebola contra meu corpo, fazendo meu membro remexer dentro dela, ela rebola e eu começo aumentar o ritmo dos meus movimentos. Entro e saio dela com facilidade, como se seu corpo reconhecesse o meu.

Abro mais as pernas dela, impulsionando o quadril contra ela, seguro seu cabelo, puxando-o de forma bruta para trás, gostando de sentir seu rosto perto do meu. Mordo e dou chupões fortes em sua pele. Meto com intensidade, gostando do barulho de penetração molhada que chegava até meus ouvidos, meu pau inchado e duro doía procurando alívio, exigindo por isso.

Sinto que ela convulciona em minhas mãos, sussurro em seu ouvido o quando me enchia de tesão, o quanto seu corpo recebia o meu de maneira tão delicioso e o quanto ela era gostosa. Dandara se empinou ainda mais, apertando meu pau com suas contrações involuntárias, arrancando o ar de meus pulmões.

Continuo metendo, lambendo seu corpo, apertando sua cintura ou puxando seu cabelo. Eram sensações diversas que tomavam meu corpo. Dandara gritou, seu corpo estremecendo de verdade, perdendo o controle, deixo que ela goze, segurando ao máximo, travando minha própria libertação, ela ficou mole em meus braços enquanto me retiro de dentro dela, masturbando meu pau para gozar, esporrando como um maluco, só de pensar na entrega absurda e delirante que tinha acabado de acontecer ali.


Ela passa minha camisa rindo — É a única forma de você se limpar.

Diabinha!

— Miguel...

Selo seus lábios com os meus evitando que ela fale algo que possa estragar esse momento. — Amanhã pensamos sobre as coisas chatas.

Não tinha a menor chance de discutir com ela agora, o que eu mais queria naquele momento era deitá-la naquele feno velho e começar tudo de novo.


CAPÍTULO 23


Dandara

Abro os olhos sentindo o calor da pele de Miguel contra minha bochecha. Fico deitada quieta, ainda tentando entender o que estou sentindo por ele. Passei metade da noite refletindo sobre tudo que vivemos. Fico confusa pelas sensações que o beijo, o toque dele, me fazem sentir.

Será que eu conseguirei realmente fazer Miguel ver o Haras com outros olhos, além de um pedaço de terra lucrável? Fazê-lo sentir sem me envolver, ou eu já estava envolvida demais? Desisto de ficar deitada com milhões de pensamentos cruzando meu cérebro, saio da cama evitando acordá-lo.

Depois de tomar um banho, me troco em silêncio, descendo para para tomar café, não sem antes dar uma olhada em direção à cama, vendo Miguel dormindo nu, coberto apenas por um pedaço do lençol.

— Bom dia — cumprimento sentando na cadeira vazia, o cheiro de café e bolo de fubá fazem meu estômago roncar de fome.

— Bom dia, menina. — Maria me cumprimenta enchendo minha caneca de café puro. — Mathias estava nos contando sobre o animal.

— Falando nele, como está, Mathias? — pergunto devorando um pedaço do bolo.

— Está bem, Santiago passou a noite cuidando dele. Mesmo com muitos machucados, ele disse que logo estará bem.

— Que bom ouvir isso. — pego dois pedaços de bolo colocando no meu prato enquanto dou uma golada no café. Paro com a xícara ainda contra a boca vendo os olhares deles.

— Está faminta, moleca — Maria diz.

Dou de ombros, como se fosse algo normal.

— Tem bicho uivando no terreno de novo, uma desgrama isso, né? — Mathias provoca sorrindo.

Dou uma olhada feia, fazendo com que ele ria ainda mais, atiçando a curiosidade de Maria.

— O que vocês estão rindo?

Paro com a xícara à caminho da boca ao ouvir a voz de Miguel.

Ele puxa uma cadeira ao meu lado, me lançando um olhar malicioso. Miguel faz questão de jogar o corpo para cima de mim ao pegar um pedaço de bolo.

— Dormiu bem? — pergunta, seu olhar malicioso me fez sorrir. O desgraçado sabia que tinha mexido comigo!

— Sim e você? Parece cansado — desafio entre um gole e outro do café.

— Um pouco, mas no fim consegui o que queria.

Bento entra na cozinha sacudindo o casaco. — Hoje o dia está de lascar.

— Teremos pouco movimento então. — digo.

— Mathias eu quero falar com você sobre o Haras — Bento diz.

— Aconteceu algo? — questiono.

— Aquele problema qual contei procê , menina. Temos que rever a segurança dos animais, ontem tinha algum tipo de animal esganiçado no meio do mato.

Miguel engasga com o café fazendo todos encará-lo. Dou um pisão em seu pé, esmagando seus dedos.

— O antigo celeiro estava aberto e tudo revirado, ou tivemos um casal se engalfinhando ou tinha algum animal ferido procurando por abrigo. — Bento comenta.

— Vou ficar de olho nisso. — Mathias diz. — É perigoso mesmo, mesmo que eu acredite que possa ser um casal festeiro, — ele me encarou erguendo a sobrancelha — melhor trancarmos o celeiro dos desavisados.

— Que milagre é esse eu ver tua cabeça pelada? — Bento se vira para mim.

Sorrio.

— Perdi meu chapéu ontem quando o cavalo ficou muito agitado. Logo compro outro. — me levanto terminando meu café, aquelas trocas de olhares já foram o suficiente para mim.

— E eu... — Miguel enfiou na boca o último pedaço de bolo — vou dar uma volta pelo Haras.

Vou até a entrada enfiando meus braços no casaco que estava no mancebo, assim como as luvas de couro.

— O que faremos?

Desvio o corpo encarando a porta da cozinha, Maria, Bento e Mathias estavam entretidos em uma conversa. Não sei se estavam totalmente focados ou apenas se fazendo de surdos para escutar nossa conversa.

— Dá para ser mais discreto? Eu vou conferir o cavalo que chegou ontem, e depois se quiser podemos cavalgar juntos.

Ele inclina a cabeça e inspira, sentindo meu perfume. — Adorei a ideia.

Maldito brucutu gostoso!

— Seja discreto.

Ele respira mais fundo e mordisca meu pescoço. — Por que não aceita logo minha oferta, esquentadinha, colocamos um fim nesse joguinho e podemos ver o que rola.

— Isso vai acabar mal — digo com a voz rouca. Era só questão de tempo, mas, dessa vez a culpa foi minha. Olhar para a boca de Miguel tão próxima à minha, eu queria aquele beijo, então peguei.

Meu coração martelava no peito com a sensação de poder ser pega, meu corpo e cada fio de cabelo gritava em minha mente: Brucutu!


Santiago tinha levado o cavalo para o redondel, mas ele estava tão arredio que poderia machucar ele e o ajudante que tentava segurar a rédea, ele empinava evitando qualquer tipo de aproximação.

— Vou ter que aplicar a injeção, ele vai ficar pior desse jeito.

— Espere. — digo subindo nas travas do redondel.

— Ele está muito arredio, pode machucar alguém ou até mesmo ele.

— Acho bom manter distância. — o ajudante de Santiago diz para Miguel.

— O que esse cavalo tem? Ele deveria estar grato por termos salvado ele ontem — escuto Miguel retrucar.

— Isso é o que ela pode descobrir. — Santiago comenta.

Ele corre pelo redondel dando coices nas paredes, respiro fundo pulando para dentro, parando no meio do cerco. Cada passo que dou em sua direção faz com que ele trote, evitando minha aproximação. Ele vem para cima de mim, parando perto, é a forma de dizer que me culpa, que culpa todos nós pelo que ele passou.

— Acho bom parar com isso, não tenho culpa do que ele fez com você, eu estava te salvando. — grito para ele.

Ele se arma novamente, erguendo-se nas patas traseiras, se fosse outra pessoa, com a proximidade que estávamos ele poderia fazer um estrago. Mas não me intimido, sei que ele não vai me machucar, quer apenas me amedrontar, quer me ensinar seus limites.

— Dandara, se afaste! — Santiago alerta.

Fico em silêncio encarando o cavalo.

Ele abaixa as patas, colocando a cabeça no meu ombro.

— Muito bem rapaz, isso mesmo, com calma. — retiro um petisco do bolso dando para ele. — Você vai se chamar Chuvisco.

— Ela conseguiu — escuto Miguel dizer.

— Deixa ele descansar, uma boa dose de ração e ele ficará bem. — Digo para Santiago. — Quando estiver curado começo a doma.

Vejo o ajudante dele receoso por chegar mais perto do cavalo.

— Ele não vai te atacar, é só não machucá-lo.

Ele confirma com um gesto, abrindo a porta para que Chuvisco passasse.


Trovoada está agitado em sua baia, ele sente falta quando não passeamos pela manhã.

— Estava esperando por isso, né? — pergunto enquanto acaricio sua crina. — Pronto para montar?

— Se você cavalgar como fez ontem comigo, acho que terei uma excelente manhã!

— Você não presta! — empurro seu peito, rindo — Pegue aquela rédea, Trovoada prefere montaria no pelo.

— Sem nenhuma proteção?

— Ele não vai te derrubar.

Monto Trovoada com Miguel, ele aperta meu quadril contra ele, seguimos pelo trieiro, eu aprecio o clima de pós-chuva. Atravesso o pequeno riacho rindo com Miguel apertando minha cintura com medo de cair do cavalo.

Desde que ele havia chegado no Haras estávamos em pé de guerra, como após uma chuva tudo mudou de maneira tão repentina? Credo! Isso era coisa da minha cabeça. Isso sim. Eu tinha que me focar em coisas mais importantes.

Paro perto das pedras, desço segurando as rédeas para que Miguel desça.

Dou um tapinha no dorso de Trovoada deixando-o cavalgar livre por aí.

— Ele vai voltar? — pergunta olhando para Trovoada trotando para longe.

— Sim, ele ama andar livre, todas as manhãs sento por aqui e ele fica cavalgando pelo campo.

Assim que termino de falar, aponto para a cachoeira à nossa frente. Os raios de sol refletem na água cristalina.

— Aqui é lindo.

Dou um sorrisinho de “eu sei”. Estávamos perto do morro, subindo daria para ter uma visão completa do Haras.

Estávamos em um silêncio confortável, Miguel brinca com a água com a ponta dos dedos, parece com o pensamento distante. Ele sai vindo ao meu encontro, um sorriso nos lábios, suas mãos vão de encontro à minha cintura, colando nossos corpos no meio da relva, aproximo meu rosto do seu, ele roça seu nariz no meu, minha respiração acelera. Sem conseguir conter, mordo o lábio inferior de leve e nos beijamos novamente.

Não tinha como me esquivar de algo tão forte.

— Miguel...

— Não, pare, não acabe com isso. — ele diz entre os beijos.

Sua língua explora minha boca como se eu pudesse desaparecer dali em um estalar de dedos, ele me beija como se isso pudesse me dizer algo. Havia entrega ali, em ambos, seus lábios descem por meu corpo, sua mão subindo minha blusa, fazendo meu corpo se arrepiar ao sentir a relva úmida tocar minha pele. Sua mão toca minha barriga, raspando as pontas dos dedos em meu seio, seu rosto esfrega a barba cerrada em minha pele, os pelos roçando contra minha barriga.

— É melhor voltarmos.

Miguel suspira de maneira audível. — Por que tem que estragar esse momento?

— Tenho coisas a fazer, um Haras sempre tem o que fazer.

Miguel não tenta me fazer mudar de ideia. Montamos em Trovoada para voltar, o silêncio nos acompanha até o Haras, assim que chegamos perto do estábulo Miguel pula do cavalo e quando me viro para falar com ele após colocar Trovoada na baia, ele não está mais ali.


CONTINUA

CAPÍTULO 16


Dandara

Uma semana, esse era o tempo que Miguel não dirigia a palavra a mim e muito menos eu iria procurá-lo. O silêncio pela casa era mais que bem-vindo!

Mathias, Maria e eu bebíamos nosso café puro quando ele apareceu na cozinha, a manhã estava fria, por isso adiei o passeio com Trovoada pelo campo para quando o tempo ruim desse uma trégua.

Enfio na boca o último pedaço de queijo branco de meu prato, tomando o resto do café.

— Maria, Mathias, bom dia — cumprimenta indo em direção a geladeira.

— Porra! Quem comeu meu queijo? — ele pragueja com a fuça enfiada entre as prateleiras da geladeira, fazendo Maria me olhar prepcupada e Mathias segurando o riso enquanto bebe seu café. Tudo que faço é dar de ombros, chupando as pontas dos dedos, nem um pouco arrependida. — Sumiu metade dele, e tenho certeza que ontem ele estava inteiro! — Miguel acrescenta fechando a coitada da geladeira com um baque.

— Olha só, era seu? Desculpe, eu comi — respondo na maior cara de pau.

Miguel me encara como uma carranca. — Mathias, preciso de um cavalo, estou querendo dar uma volta hoje!

— Tudo bem, posso preparar um cavalo para o senhor. — Mathias troca um olhar comigo.

— Acho que Bruto ainda está espirituoso como sempre. — digo. — Se quiser ter o traseiro jogado longe pode ir com ele.

Miguel me dá um olhar furioso. — É para agora, Mathias! — retruca saindo da cozinha.

Mathias se levanta, toma o último gole do café, — Dandara, está fazendo a vida desse homi um inferno. O coitado deve ta contando os dia para sumir por essa estrada à fora. — diz colocando o chapéu na cabeça.

— É bom mesmo que esteja. Tem sorte de eu ainda não ter cuspido no seu café — comento.

— Sei que odeia que metemos os bedelhos em coisa sua, mas os empregados estão receosos, os homi querem saber como vai ficar as coisas. Seu Miguel não veio aqui para deixar as coisas como estão, ele vai por tudo a baixo. — Mathias fala com cautela.

— Mathias, algum dia faltei com vocês? — questiono de maneira rude. Ele balança a cabeça de maneira negativa. — E isso não irá acontecer hoje. Avise seus homens que os empregos estão garantidos, nem que eu mesma banque os serviços deles.

— Pode deixar, Danda, desculpe a intromição.

— Mathias, somos família. Eu não vou falhar com vocês. — digo por fim.

Ele confirma, esboçando um sorriso em minha direção. — Santiago pediu para avisar que as vacinas chegam hoje.

— Estou ciente, assim que chegarem irei aplicar em todos. Não quero nenhum caso como a Archeron.

— Menina, a morte daquela égua não é culpa sua. — Maria diz.

— Eita , não quero prozear sobre isso, tenho trabalho me aguardando. — digo pondo meu chapéu na cabeça, seguindo para fora.


Sento debaixo de uma árvore olhando a cena. Miguel poderia tentar resgatar na mente os tempos de moleque, ele poderia até não ter nenhuma intimidade com os animais, mas pelo menos quando criança ainda conseguia montar um cavalo sem que ele tentasse morder sua coxa.

O Miguel da infância não está em nada parecido com o de agora, e não só pelo fato de ter emagrecido e ficado mais bonito, mas parece que Miguel tem ódio desse tipo de vida. Desde que chegou, olha tudo de cima, com cara de esnobe. Ele não tem vínculo com essa terra, ele não sente a importância que eu sinto quando vejo o sol raiando no horizonte, seus raios fortes iluminando essas terras.

Ele seguiu o caminho da cidade grande e eu o caminho dos bichos.

Mathias tenta ensiná-lo, mas ele parece muito com um cavalo xucro, surdo. Depois não quer ser chamado de mula. Levanto, limpando a parte traseira da calça com um espanar de mãos, me aproximando dos dois. — Mathias, vai conferir as coisas, deixa que eu cuido do brucutu.

— Não pedi sua ajuda. — Homi, mas mal agradecido!

— Não estou fazendo por você, e sim pelo cavalo, que não tem culpa do asno sentado em cima dele. — Miguel abre a boca para retrucar, mas mostro o dedo em riste — Você tem que aprender a ouvir, se segurar com força a sela, o cavalo vai entender que quer impor sua vontade e não vai deixar você cinco segundos sentado no lombo dele. Os cavalos farejam seus sentimentos de longe, ele sente quando você tem medo, raiva ou está confortável. Deixe a rédea frouxa.

— Você acha que eu desaprendi tudo que meu tio ensinou? — desafia.

— Acredito que sim, já que te salvei de vários tombos, se bem me lembro.

Ele me fulmina com o olhar. — Então vamos ver, esquentadinha. Pegue aquele cavalo mutante que você tem e vamos cavalgar por aí.

— Cavalo mutante?

— Você tem noção que ele é o dobro de um cavalo normal?

— Para sua informação a raça dele é Percheron. Ele é um ótimo reprodutor, por ser grande e forte nos dá potros com habilidades especiais para o campo. — Dou risada, vendo seus olhos se arregalarem quando o cavalo marcha para trás. — Tire os pés do estribo e, vá para trás.

Subo no cavalo com a destreza de sempre, ocupando seu lugar na cela. Eu conhecia os cavalos como a palma da minha mão aqui no Haras, por isso não tinha problemas com nenhum deles e sabia quando um deles queria fazer uma gracinha como nosso companheiro aqui.

Bato o pé no espaço entre a barriga e as patas traseiras, para que ele saia.

— Se você está pensando que vai ficar se esfregando em minha bunda, eu te jogo para fora do cavalo! Contenha suas mãos!

— Calma mulher estressada.

Tiro o chicote da bota acertando na bunda do cavalo e o animal sai em galope, soltando um relincho alto. Seguro o riso vendo que Miguel ficar tenso. — Gostando, brucutu? — Ele não responde.

Forço o cavalo ir mais além, sentindo a adrenalina do galope correr pelas minhas veias, sinto as mãos de Miguel segurarem minha cintura e o arrepio disso eriçar os pêlos de meu braço.

Cavalgamos um pouco pelo Haras indo até o campo aberto onde fico com Trovoada e voltamos para o Haras, parando no estábulo.

Desço do cavalo, colocando as mãos na cintura. — Gostou do passeio?

— Você queria se exibir.

— Não preciso me exibir para você. Já é um milagre que você tenha ficado em cima do cavalo enquanto estávamos cavalgando.

— Olha aqui, você se acha incrível, acreditou mesmo que eu precisava de você?

Gargalho com irônia. — Você não sabe nem ao menos como se monta num cavalo. É uma sorte que saiba onde fica o rabo e a cabeça.

— Você é mesmo muito...

— Muito?

Miguel se inclina, ficando mais perto de mim, quando seu rosto praticamente cola no meu, pude sentir sua respiração. O perfume exalava, eu tinha começado a odiar esse cheiro, cheiro que me tirou o sono nas últimas noites, mas senti-lo tão perto me embriagava. Antes que eu pudesse raciocinar, os lábios de Miguel grudaram nos meus. Os braços fortes rodeando minha cintura.

— Sua esquentadinha, está tentando o quê? — Parecia que ele estava falando mais consigo mesmo do que algo para mim.

Sua língua voltou a lamber o canto de minha boca, seus dedos apertando minha cintura, uma de suas mãos subiu por minha espinha.

Acaricio sua coxa, bem perto de seu membro.

— Vamos sair daqui — sussurra como um pedido. Suas mãos apertando minha bunda, passeando por todo meu corpo, da cintura até o pescoço. Ele beija minha boca com ferocidade, empurro seu peito sentindo os músculos firmes contra a palma de minhas mãos, descolando seu corpo do meu, vendo a malícia nos olhos de Miguel. — Por que parou? — pergunta.

Respiro fundo ainda olhando para ele, controlando a maluquice da qual acabo de me curvar...então, tenho uma ideia. — Espere um minuto, o Haras ainda está movimentado, vou checar se ninguém está por perto e trancar a porta. — digo de um jeito safado, bem parecido com o que Cindy fazia sempre que conhecia um homem de fora.

Ele passa a mão sobre o pênis por cima da calça, animado. Vou até lá fora, vendo que realmente não tinha ninguém por perto, puxo uma das portas travando-a no chão e repito o mesmo processo com a outra, mas antes de fechar e entrar como falei que faria, dou um tchauzinho para ele, fazendo seu sorriso desaparecer. Percebendo o que estava prestes a fazer.

— Agora sim você está no seu devido lugar, uma pena que não tenhamos nenhum curral para você nadar com seus amigos...porcos! — digo rapidamente.

Miguel corre ao meu encontro, mas antes que ele me alcance, fecho a porta passando a tranca.

— Dandara, abre isso daqui! — seus gritos se misturavam com os relinchos dos cavalos incomodados dentro do estábulo. — Dandara, sua caipira maldita!

— Desculpe, brucutu. Aproveite seu tempinho com os cavalos e limpe as baias deles, Deus sabe como temos quilos e quilos de esterco por dia. Qualquer coisa tem feno e água se sentir fome. Isso deve bastar para você.

Ele bate na porta, fazendo-a tremer, gritando pelo meu nome. Urrando de raiva por ter caido feito patinho em minha arrapuca.

Cruzo com Bento no caminho de volta ao casarão, girando as chaves do estábulo entre os dedos e rindo feito uma maluca.

— Gosto de vê-la animada, mas está com cara de quem aprontou.

— Que é isso, Bento! — me finjo de inocente.

Ele bate na aba do chapéu, não acreditando nem um pouco no que eu estava dizendo. — Mathias está com os cavalos, quase todos foram vacinados, ele ficou esperando ocê aparecer, mas preferiu dar logo. Ficou fartando apenas o último estábulo. — comenta indicando o estábulo que tranquei Miguel.

— Diga que farei aquele estábulo, estou dando um castigo em um cavalo xucro. Ignore os resmungos, o cavalo está dando coice em todas as paredes, já vi cavalo dificil, mas esse...logo domo também — digo colocando um enorme sorriso no rosto.

Bento olha ao nosso redor, como se procurasse alguém e eu sei quem está procurando.

— Dandara, Dandara...

— Fique calmo, por que não vamos tomar um café, quem sabe Maria fez aquele pão doce que tanto amo? — pergunto enlaçando meu braço no seu, levando-o para longe do estábulo onde Miguel estava, acredito eu, urrando de raiva pelo tremor que a porta fazia.


CAPÍTULO 17


Miguel

— Sua caipira insolente! Como eu sou burro!

Eu esmurro a porta que nem um doido, gritando tanto que sinto minha voz falhar e ninguém aparece por ali. Viro olhando para os cavalos que relicham, só me faltava esses bichos me atacarem.

— Abre a porta! — grito de novo. Ando pelo estábulo procurando uma outra saída, lembrando de suas palavras “Aproveite e limpe as baias” , que filha da mãe! Até parece que eu iria sujar minhas mãos limpando merda de cavalo.

O cavalo no qual demos uma volta antes dela me trancar aqui chega perto, me fazendo pular de susto. Ele se sacode, sua crina bate de um lado para outro e solta um pequeno relincho.

— É, aquela ali não presta!

Cômico! Agora eu estava conversando com um cavalo como se ele pudesse me entender. Eu torceria o pescoço de Dandara assim que me livrasse dali.


Não tinha noção de quanto tempo tinha se passado, sei que estava de saco cheio de ficar ali.

— Noite, brucutu. Como foi seu dia?

Fico de pé chegando perto da porta, eu mataria essa mulher! — Pare com essa brincadeira de mau gosto, me tira daqui!

— Pelo visto continua grosseiro e sem educação. Espero que não esteja maltratando meus animais, por que se estiver, não vai ficar apenas dois dias trancado aí.

Meu sangue ferve nas veias. — Dandara, estou te avisando, quando eu sair daqui...

— Chega de ameaças em vão, vou te tirar daí quando aprender sua lição.

Esmurro novamente a porta, escutando seu risinho e seus passos se afastarem, — Dandara, estou com fome!

— Coma feno, brucutu!

Os cavalos mal se importavam por estar ali com eles, nos primeiros minutos e até primeira hora eles ficavam espiando ou fungando em minha direção. Agora? Muitos nem ao menos me encaravam, olho novamente para o cavalo solto perto de mim, ele abocanhou um punhado de feno mastigando e quando repetiu o gesto despejou um pouco em minhas pernas, como se dissesse que era bom.

— Tá de brincadeira você também!

Empino o nariz, olhando na direção contrária. Mas volto a encará-lo quando ele vem para cima de mim despejando mais feno em minhas pernas, seu focinho se torce inteiro enquanto mastiga.

— Ei amigão, pode ser bom para você, mas isso daí é mato. E alguém já te ensinou a dar espaço as pessoas?

O cavalo relincha, dando as costas para mim, batendo seu rabo bem no meio do meu rosto. Me fazendo xingá-lo. Como se estar preso junto aos cavalos não fosse o suficiente, ou do fato de estar com frio também não fosse, ainda tinham os mosquitos que faziam seu banquete atacando minhas veias.

Minha barriga roncando, meu corpo coçando e eu fedendo a estrume de cavalo.


Os raios de sol atingindo meu rosto me fizeram apertar os olhos tentando ver quem estava entrando, se fosse Dandara eu daria uma palmadas em sua bunda.

— Miguel? — Mathias perguntou surpreso, tentando entender tudo que estava acontecendo, olhando para a bagunça que tinha feito nos blocos de feno ao tentar arrumar um jeito para dormir. — O que você está fazendo aqui?

— Pergunte para aquela caipira filha da mãe — digo bravo, ficando de pé, sentindo as costas reclamar pelo movimento brusco.

Ele dá uma gargalhada. Mas se adianta a falar: — Desculpe, Seu Miguel.

Meu corpo chia de dor a cada maldito movimento, preciso de um banho quente, comida e boas horas de sono. Quando me recuperar ela vai ver, eu vou colocar essa caipira em seu lugar!

Estou com esse pensamento até ver Dandara caminhando sorridente em direção ao casarão.

— Ah, sua potranca mal educada! É bom correr. — ameaço gritando.

As pessoas que estão perto de mim me olham assustadas, e devem mesmo, porque meu rosto não deve estar nada amigável. Dandara se vira, o sorriso sumindo do rosto ao me encarar e então ela corre, empurra Santiago para longe e corre como uma moleca travessa sendo pega na artimanha, entra correndo no casarão.

Corro tão rápido que logo estou fazendo a porta de madeira branca bater contra a parede e escuto Maria falando alto na cozinha:

— Menina, o que houve? Tá tentando tirar o pai da forca?

— Dandara! — grito novamente.

Entro na cozinha vendo-a atrás de Maria, como se eu tivesse receio de ir lá lhe dar umas boas palmadas!

— Pare de correr, será pior quando eu te pegar! — ameaço.

— Ei, não quero bagunça na minha cozinha! Dandara o que você aprontou com o homi ? — Maria bate com a colher de pau na bunda de Dandara que agora tenta se esquivar de mim e de Maria.

— Vai fazer o quê? Me bater? Agora bate em mulheres? Quero ver encostar a mão em mim!

— Não, nunca encostei em uma mulher, mas dizem que para tudo tem uma primeira vez. E minha mão está coçando — grito.

Dou a volta na mesa, Dandara corre para o outro lado, fazendo o banco cair e eu tropeçar ao tentar pulá-lo, caindo de quatro no meio da cozinha. Sua gargalhada alta, faz minha raiva ferver mais que panela de pressão no fogo. — Ria enquanto pode.

— Alguém pode parar esses dois? Eles irão destruir a casa! — Maria grita empunhando sua colher de madeira. — Estão parecendo duas crianças!

— Desculpe Maria, mas não vou me meter — escuto a voz de Mathias enquanto corro atrás de Dandara que vai para a sala. — Dandara prendeu o homi no estábulo, peguei ele dormindo de concha com os cavalos.

Maria me encara, a mão na boca tentando segurar o riso.

— Vai, pode rir. Quero ver se aquela filha da mãe vai continuar rindo da minha cara quando eu a pegar — bufo, com os olhos em Dandara.

Ela faz um movimento errado diminuindo nossa distância, pulo sobre o sofá, meus braços envolvem sua cintura, tirando seus pés do chão. Não penso duas vezes, jogo seu corpo em meu ombro, dando um tabefe em sua bunda.

— Me solta! — Dandara grita.

Ela bate em minhas costas, os socos doem, não é que a Diaba tinha uma força bruta?

— Como foi sua noite? A minha foi maravilhosa, tá sentindo meu cheiro? Quer ver a quantidade de picadas que tenho espalhadas pelo corpo? Acho que tenho feno até em parte que desconheço!

Dou mais alguns tabefes em sua bunda que a fazem gritar. Eu estava puto por ela ter me deixado ao relento no meio dos bichos. E ficando com tesão, isso mesmo, ter o corpo daquele Diaba tão perto, tão ao meu alcance. Seus seios roçando em minhas costas, estava fazendo meu pau ficar rigido como uma tora, maldita hora para uma ereção. Eu queria mesmo é vê-la de quatro enquanto castigava sua bunda por ter me deixado trancado junto dos cavalos, mas também saborear cada gemido que ela pudesse...

— Meu Deus, Seu Miguel, solte a menina! — Maria exclamou.

— Não antes de lhe dar uma lição! — digo.

— Seu Miguel, não me obrigue a usar a Betinha em ocês dois. — Maria alerta.

— Não estou brincando, brucutu! É bom me soltar! — Dandara urra em minhas costas.

Acerto um tapa mais forte, jogando seu corpo no sofá, prendendo seu corpo ali ao apoiar meu joelho de um lado e o braço ao lado de sua cabeça, vendo seus olhos se arregalarem por um pequeno instante, mas o suficiente para meu dar um gostinho doce na boca. — Você tem sorte que é mulher, mas eu poderia, como vingança, soltar aquele seu cavalo gigante que tanto ama... — digo de maneira perversa — Como você ficaria?

Dandara me empurra com força, ficando de pé. — Você nem pense em tocar no Trovoada, você me entendeu? — responde praticamente gritando.

— Seria excelente, quem sabe assim você aprende a respeitar as pessoas? — retruco segurando seu braço.

— Larga meu braço, Miguel!

— Você quer me enlouquecer, você vem, me atiça, me provoca...

— Você se aproveitou da situação! — retruca.

— Você não se faça de sonsa! — grudo seu corpo mais no meu — Adorou o que fiz com minha boca.

— Misericórdia! — o sussurro de Maria quase me tira o foco da diaba em minha frente.

— Eu odeio você, Miguel! — Dandara tinha ficado furiosa, mas confesso que não liguei para o que ela estava falando, só conseguia ver aqueles lábios se mexendo. Queria torcer seu pescoço, mas também queria fodê-la. Como essa mulher me tira do sério!

— Você quis tudo que aconteceu e tá querendo mais que eu sei.

Seguro um punhado de seu cabelo bem justo no pescoço roubando um beijo, mordo seu lábio nem me importando por ela reclamar ou tentar me empurrar. Dandara retribui meu beijo, até me afastar, empurrando meu peito, fazendo com que me desequilibrasse dando alguns passos para trás rindo.

Ela limpa a boca me olhando com raiva, cospe no chão e então corre escada acima.

— Minha mãe dizia que muito ódio vira amor. — Maria retruca.

Viro vendo que Mathias e Maria ainda assistiam nosso pequeno showzinho. — Dela quero distância — digo marchando para meu quarto.


CAPÍTULO 18


Dandara

Bato a porta fazendo as coisas estremecerem dentro do quarto. Maldito brucutu! Arranco minhas roupas jogando-as no cesto perto do banheiro, ligo o chuveiro bem quente, quente o suficiente para que ao tocar em minha pele pudesse queimar o toque daquele... Engulo os pensamentos raivosos que passam por minha mente esfregando meus braços, meu pescoço, qualquer lugar que ele tivesse encostado, na tentativa de tirar o cheiro dele. Ainda não conseguia acreditar na petulância daquele brucutu. Miguel realmente não tinha amor pela vida.

Confesso que deixá-lo ao relento não foi algo muito sensível de minha parte, mas ele mereceu e, vai merecer cada pisão em seu pé a partir de hoje.

Bater na minha bunda e me tascar um beijo na frente de todos? Quem ele pensa que sou? Enquanto terminava meu banho pensava em mil maneiras de me vingar, mas acabei descartando todas, eu é que não desceria ao nível infantil dele, minha melhor vingança seria chutar a bunda dele para fora do meu Haras quando tudo acabasse.

Visto um short e uma camiseta puída e chinelos, melhor me ocupar dando banho nos animais do que cruzando meu caminho com certas mulas por aí. Atravesso o Haras em silêncio evitando falar com qualquer um que cruze meu caminho.


Agradeço pelo trabalho parecer não ter fim e os músculos espalhados pelo meu corpo começarem a protestar do esforço feito, passar o tempo no meio dos cavalos me acalmava e me fazia esquecer por alguns instantes minha vontade assassina contra Miguel. Mas amanhã mesmo eu ligarei para o advogado, não dá para continuar assim, mais dia ou menos dia e eu mataria Miguel. Que ideia absurda de Pedro me colocar nessa enrascada.

Já era noite quando paro fecho a última baia. Trovoada relincha animado após o banho, sacudindo a cabeça e sua longa crina.

— Teve um dia melhor que o meu, né, bonitão?

Saio do estábulo trancando as portas, todos os funcionários já tinham ido embora, caminho observando a noite, as estrelas e a lua cheia brilhando forte no céu, o som dos grilos cantando no meio do pasto.

Entro no casarão, tiro o chapéu, deixando-o no mancebo de madeira. Tudo estava em completo silêncio, poucas luzes acesas indicando que até a Maria tinha se recolhido.

Passo pelo quarto do brucutu vendo a luz está acesa sair pela pequena fresta da porta, estava prestes a entrar em meu quarto quando escuto uma porta atrás de mim se abrindo.

— Esquentadinha!

Viro, vendo-o só de cueca box, o corpo todo amostra.

— Não dirija a palavra para mim!

— Eu disse hoje cedo que tinha contas a acertar, você acha que seu showzinho me botou medo? — questiona vindo em minha direção.

— Se colocar as mãos em mim é bom começar a rezar para sair com ela no lugar!

— Não tenho medo de suas ameaças vazias — retruca.

— Vazias serão as suas bolas quando eu chutar para longe. — ameaço

— Você acha que vai me enlouquecer? — pergunta vindo em minha direção — Acredita mesmo que vou cair nos seus truques?

— Truques? — Gargalho alto — Não sou eu que fico agarrando você para roubar beijos.

— Vai dizer que não gostou?

— Já percebi que gosta de brincar com fogo! — desafio — Cadê toda aquela falamansa que andou esbravejando por aí? Homi metido a machão, não consegue parar de encarar para minha boca enquanto eu falo. Tudo isso é desejo?

— Não me torno frouxo por ter você na minha mente, me torno se não conseguir tirar, — Miguel dá mais dois passos em minha direção — e isso eu sei como fazer.

— Você pensa que me leva fácil, né?

— Você gosta de mexer com os homens, “se sente” fazendo isso...

— Eu não sou de quem me quer, sou de quem eu quero ser, e faço porque posso. — respondo dando um sorrisinho.

Miguel puxa meu corpo para o seu, fechando a porta com o pé, sua boca mordendo a minha enquanto distribuo tapas sobre seus ombros, costas, todo lugar que minhas mãos alcançam. Mas seu beijo furioso vai desarmando meu corpo, principalmente quando solta minha boca beijando de leve e devagar meu pescoço, rindo contra minha pele que se arrepia com seu toque, acabando com qualquer defesa minha. Não tinha gentileza no toque, havia desejo e prazer, junto de uma pessoa que queria provar seu argumento.

As mãos de Miguel ergueram meu corpo, sua língua forçando minha boca a se abrir ainda mais. Eu meio que empurro, e volto a puxar seu corpo para o meu. Precisei inspirar profundamente algumas vezes quando sua boca tomou o pequeno vão entre meus seios, sua lingua quente tocando minha pele fazia meus mamilos endurecerem e meu corpo querer mais. Sentir a proeminência em sua cueca também não ajudou muito meus pensamentos entrarem num bom senso.

Não era correto eu me render ao seu toque, não quando tinha aberto minha matraca falando que não me entregaria numa bandeja para ele, mas que diacho! Mordo seu lábio inferior, empurrando seu corpo para longe, tentando controlar a respiração. — Chega!

— Por que parar agora? — questiona agarrando novamente minha cintura.

— Eu disse chega, Miguel!

Suas mãos continuaram apertando com firmeza minha nuca, seus olhos mostravam que não estava disposto a me deixar em paz, que não sairia de meu quarto com aquela decisão fraca com a qual eu tentava me agarrar.

— Chega nada, não para mim e com certeza não para você. Eu sinto seu corpo vibrando em minhas mãos, Dandara.

Não arrisco olhar para ele, com medo que ceda aos meus instintos. Ele segura meu braço, olhando no fundo de meus olhos.

— Eu quero você, Dandara!

— Você quer me passar para trás, quer ter motivo para fazer chacota, quer o Haras, não é porque fui criada no meio do mato que não conheço homens como você, Miguel!

— Cala um pouco a boca, esquentadinha!

Abro os lábios para retrucar, mas é tarde. Ele pega meus braços, me empurrando contra meu armário, meu corpo inteiro treme com o calor do toque, ele tira a barra de minha camiseta de dentro do short, traçando livremente pelo meu corpo até meu seio. Miguel me vira de costas, mordendo meu pescoço, o corpo colado no meu, e acaba abrindo meu sutiã. Segurando meus seios, massageando-os nas mãos, beliscando meus mamilos sedentos por atenção. Roço minha bunda contra seu membro rigído na cueca, fazendo com que ambos gemêssemos.

Miguel continua acariciando meu corpo, mordendo e chupando meu pescoço. — Quero você, aqui e agora. — ele arranca minha camisa pela cabeça, fazendo a mesma coisa com meu sutiã, chupando meus seios, sugando-os até que eu não pudesse conter mais meus gemidos de prazer. Meu sexo pulsa, até dolorosamente quando a pressão do prazer explode em certas áreas.

É errado continuar com isso? Puxá-lo par mim, desejando seu corpo, respiro profundamente tentando encontrar a raiva que me alimentava horas atrás, mas só encontro o desejo.

Miguel conduz nossos corpos para a cama, arrancando o resto de nossas roupas, assim como o preservativo escondido no cós da cueca, em um segundo estava entre minhas pernas, sua mão agarrando meu cabelo, sua boca mordendo meu queixo.

Segurando meus seios com as duas mãos, apertando e puxando os bicos, lambendo minha barriga, minha cintura, roçando a barba pela minha pele, deixando-a rosada e eriçada. Um gemido explodiu de mim quando sua língua encontrou meu clitóris, seguro firme o lençol querendo tremer com o que ele fazia em minha intimidade, sua boca não me dava misericórdia alguma, sua língua muito menos. Quando seu dedo me invadiu, minhas costas se curvaram e o gemido saiu mais alto, fazendo eu ganhar um tapa na bunda.

— Desculpa, esquentadinha, mas teremos tempo para fazer amor em outro momento, agora, eu quero que seja rápido, que queime esse fogo dentro de mim.

Miguel desenrola o preservativo em seu membro, nunca tirando pelo menos uma de suas mãos do meu corpo, seus dedos tocam meu sexo, me fazendo arfar. Chupo os dedos que me tocam, vendo Miguel mordiscar o lábio e sorrir. Seu pau encaixado em minha entrada, deslizando de maneira lenta, começo a rebolar, fazendo seu membro se remexer dentro de mim.

Enquanto eu rebolo, Miguel segura meus cabelos de forma bruta, aumentando o ritmo dos movimentos, entrando e saindo de dentro de mim, segurando minha cintura com a mão livre fazendo seu membro ir mais fundo, meu corpo treme e Miguel geme alto.

Estavamos nos devorando, caricias eram feitas pelo nossos corpos ondulando juntos, enquanto eu consumia cada gemido e estocada que Miguel produzia.

Aperto os lençóis entre os dedos, seguro seu pescoço com firmeza quando ele encaixa a boca sobre meu seio, montando em seu colo, sentando com força sobre ele, gostando do modo como ele geme e descola a boca de meu mamilo, jogando a cabeça para trás rendido.

— Puta que pariu, você é deliciosa! — diz baixinho contra meu pescoço.

As estocadas duras fazem meu corpo tremer, meus seios balançam com o ritmo forte do sexo que fazemos. Ele geme agarrado em minha cintura, forçando meu corpo para baixo, quebrando as últimas barreiras, me fazendo gozar. Miguel ainda mantém o ritmo por algumas estocadas até que goza, seu membro latejando dentro de mim, se misturando com nosso suor, os tremores do meu corpo e do seu e as batidas descompassadas dentro do meu peito.


Quando eu estou envolvida em seus braços

O mundo todo apenas desaparece

A única coisa que escuto é

o bater de seu coração.


Porque posso ouvir sua respiração

Está se derramando sobre mim

E de repente estou me desfazendo dentro de você

(Breathe, Faith Hill)


Arre égua , estou perdida...

Levanto com um sobressalto e empurro para longe o braço forte que rodeia meus seios, tentando soltar meu corpo. Parece que os braços dele tinham se tornado uma braçadeira de ferro, o jeito foi sair me rastejando pela cama como uma cobra, até que eu caísse de bunda no chão.

Pego uma muda de roupa e corro para o banheiro, tomo um banho rápido, não parando nem para secar o cabelo, apenas escovo e deixo solto pelas costas. Não é que eu não queira encarar a asneira que tinha feito noite passada, mas...bem, era isso mesmo, não queria dar de cara com Miguel, por isso levantei mais cedo que até o próprio sol e me esgueirei para fora do quarto com as botas nas mãos.

— Fugindo de alguém, menina?

Pulo tampando a boca para que meu grito de susto não faça eco pelo corredor escuro.

— Cristo pai, você quer me matar do coração, Bento? — questiono sentindo os batimentos acelerados contra o peito.

— Desculpe, mas estava saindo do quarto como quem escondia um cadáver, devo me preocupar? — pergunta encarando a porta que eu havia acabado de fechar.

— Deixe de besteira homem, só tive uma noite ruim.

Bento coça a cabeça com a bengala velha. — Arra, por falar em noite ruim, tinha algum animal sofrendo ontem, Maria e eu mal pegamos no sono, parou de sofrer era já tantas da madrugada.

Engulo em seco, será que tínhamos feito tanto barulho assim?

— Vou ficar de olho nos arredores, tenha um bom dia, Bento.

Escuto o riso baixo dele enquanto caminho pelo corredor. — Bom dia, menina.

O dia não tinha se levantado, mas mesmo assim entro no estábulo para conferir como estão os animais. Reponho água e feno, depois me dirijo á baia de Trovoada, ele vira a cabeça não querendo olhar para mim.

— Qual é, amigão, está bravo comigo?

Ele me encara, dando uma fungada balaçando a cabeça como se confirmasse.

— Que tal recompensar isso com com uma corrida?

Ele relincha ainda evitando me olhar, eu conheço o jogo dele, Trovoada é um menino mimado, e a culpa é toda minha.

— Tudo bem então, já que não quer mais minha companhia...

Ele relincha mais alto, levantando as patas da frente. Fazendos os outros cavalos reclamarem.

— Você é um garotão mimado! — brinco, pulando a portinhola da baia, subindo diretamente no pelo, me agarrando ao seu pescoço. — Vamos ver o sol nascer.


Ficar perto dos cavalos ou montar em Trovoada é como respirar, algo tão natural, acredito que eu aprendi a montar antes mesmo de andar.

Saímos em direção ao campo aberto, ganhando velocidade a cada passada, sentindo o vento frio da madrugada ir contra nós. Eu precisava limpar minha mente, precisava tirar Miguel e a noite de ontem da mente, precisava tirar essa distração total, ainda não sabia o que pensar sobre essa história de Miguel conseguir meu Haras, o que faria com as famílias e funcionários que dependiam dos seus empregos? O que faria com os cavalos? Para onde eu iria com Trovoada? Aqui sempre fora meu lar, foi meu lar quando minha mãe faleceu, foi meu lar quando meu pai morreu em um torneio de rodeio.

O Haras é meu santuário, minha casa, eu aprendi a escrever no lombo de um cavalo, fiz desenhos nas paredes do antigo celeiro, aquilo era meu refúgio...

Volto para o Haras depois de admirar o sol nascendo, em alguns dias começaria o outono e o frio ocuparia as noites, o que me fazia sair pelos campos ajudando os cavalos que podem se perder ou sofrer com as chuvas repentinas.

Vou até o escritório respirando fundo, ao sentar em minha cadeira, tiro o chapéu, deixando-o sobre a mesa.

— Entre — respondo à batida na porta.

— Dandara, bom dia.

— Daniel, estava mesmo esperando por você. Sente-se.

— Em que posso ajudá-la?

— Quero saber mais sobre o Haras, por que Pedro deixou o Haras com Miguel, ele conhecia o sobrinho, nunca teve interesse por nada, mal sabe a diferença entre a crina e o rabo dos cavalos. Porque deixar o Haras nas mãos dele? — solto tudo de uma vez, expondo minha irritação, minha indignação. — Você me conhece desde menina, Daniel, eu ensinei sua neta a montar, eu cuido desse Haras como se fosse meu filho. Deixei as competições para administrar tudo isso quando Pedro descobriu a doença, abdiquei minha carreira para dar minha vida ao sonho dele.

Sinto as lágrimas forrando a parte debaixo dos meus olhos.

— Quando ele desejou implantar o projeto fui eu quem o apoiou, eu que contratei os profissionais, saí em busca de patrocinadores, tenho mais de trezentas crianças se benificiando do projeto. Temos selos e premiações.

— Eu sei de tudo isso Dandara, mas não cabe a mim dizer os motivos que influenciaram Pedro a tomar essa atitude. Ele escreveu uma carta, uma carta para você e Miguel, que só poderá ser lida após a decisão ser tomada.

— Uma carta? E você não me comunicou antes por quê?

— Dandara, como disse, isso não está em minhas mãos. Pedro deixou ordens explícitas.

— Arre égua , uma bosta a essas ordens!

Bufo, tentando controlar minha irritação.

— O único conselho que eu posso dar é: mostre ao Miguel o quão bem o Haras faz, mostre seu amor por tudo que você e Pedro criaram nesses anos. Faça-o não vender o Haras, até mesmo unindo os dois planos, por que não?

— HÁ HÁ, transformar meu Haras em um hotel de luxo para madames enfrescuradas? Quando um cavalo cagar nos pés delas quero ver quantas estrelas sobrará. É de pessoas como Miguel que eu sempre fugi esses anos, não quero o dinheiro de quem vê meus cavalos como um pedaço gigante de bife passeando por aí.

— Tente ao menos resgatar o amor que Miguel tinha na infância. — Daniel aconselha.

— Por Cristo, Daniel. Pedro estava maluco no final dos seus dias. Ele acreditou mesmo que os chiliques na infância de Miguel era por mais tempo com os animais? O menino gritava se um porco grunhice em sua direção. A última vez que pisou no Haras fez uma estripulia soltando metade dos cavalos das baias. Foi um Deus nos acuda até recuperarmos tudo.

Daniel segura o riso, ajeitando melhor a postura na cadeira.

— Quer que eu conte a vez que soltou uma bombinha estampido no meio do pasto? Pedro saiu atrás dele na base do chicote.

— Vou dizer a mesma coisa para você como diria para Miguel: não posso intervir, a questão não é uma briga de foices. É vocês conversarem o que é melhor para o Haras...

— Ele irá vender tudo, demolir tudo, sabe quantas pessoas tenho trabalhando aqui? Quantas famílias envolvidas? Imagina todos os dias você se levantar e as pessoas te encararem com perguntas nos olhos, meus funcionários não sabem como será o amanhã. Nem se terão o salário no mês que vem — resmungo — É com isso que lido.

— Miguel fez uma proposta, ele quitaria as dívidas que o Haras tem, e fez uma consulta com as fazendas de corte e o Haras vizinhos para a possibilidade de vender os cavalos. Acredito eu que queria sondar o terreno para saber o valor de um manga-larga.

Levanto enfurecida, batendo as palmas das mãos na mesa. — Ele quer levar uma chicotada!

— Dandara! — exclama.

— Ele que tente encostar em meus cavalos, ele que tente... Arre égua!

— Quando o assistente de Miguel entrou em contato comigo deixou bem explicíto que o único que ficaria fora desse pequeno inventário seria o Trovoada.

Arqueio a sobrancelha — E isso alivia minha vontade de matá-lo? Ah claro, ele foi gentil em não vender um cavalo que foi presente de meu pai!

Eu estava soltando fogo pelas ventas, o filho duma égua teve coragem de agir pelas minhas costas e depois vem com sua falamansa e me leva pra cama. Eu sou muito burra mesmo!

— Bem, Dandara. De todas as formas, se vocês não chegarem a um acordo, se você não aceitar vender sua parte para ele ou se não conseguir pagar a dívida, automaticamente o Haras entra em um processo e se ele tiver a possibilidade, vai acabar nas mãos de Miguel. Se isso não ocorrer, de qualquer forma, assim que o tempo imposto pelo Seu Pedro acabar, o Haras entrará num processo onde quem terá o poder de decisão é a justiça. Isso pode envolver até mesmo leilão, por conta das dívidas.

— Então é: corre pro mato ou corre pro morro. — suspiro.

— A maneira de todos saírem satisfeito é vocês tentarem resolver isso amigavelmente.

— Tudo bem, obrigada pelo seu tempo doutor.

Ele concorda com um gesto, levantando-se. — Fique bem.

— O senhor também.

Acompanho o advogado para fora, fechando a porta atrás de mim. Caminho até o espaço para equitação, vendo os montadores treinando.

— Dandara!

Abaixo um pouco a aba do chapéu fazendo sombra para o sol forte da manhã. Carolina vem calvagando em minha direção, acenando. — Bom dia!

— Preciso da sua ajuda, sinto Damião entrando errado nos obstáculos.

— Dá uma volta para eu observá-lo — digo pulando a cerca.

Carolina trota se afastando, fazendo semicírculos para aquecer o cavalo, passa pelos primeiros obstáculos e vejo que Damião está com uma passada errada, as pernas de dentro estão trotando mais longas que as de fora. É preciso equilibrar o lado que ele está tendo maior dificuldade. Carolina também anda forçando demais no elevado, a conexão entre eles também estava meio mexida, isso acontecia com cavaleiros que entravam na época de competição, tinham muita pressão e sentimentos misturados e acabam passando para os animais.

— Bom dia, esquentadinha, tinha espinhos na cama essa manhã? — Miguel agarra minha cintura e beija meu pescoço. Me esquivo com um sorrisinho, ainda com raiva por ele ter agido pelas minhas costas.

Seu olhar malicioso mexe comigo. O desgraçado sabe que venceu ontem!

— Levanto antes mesmo do sol, coisa de caipira. — me atrevo a desafiá-lo.

Miguel sorri abaixando a cabeça, ainda me olhando. — Confesso que tive uma noite excelente. Poderíamos repetir nossa conversa hoje a noite, o que acha?

— Poderíamos, mas não vamos, tenho mais o que fazer. E nada mudou.

Miguel me encara surpreso, — O que eu fiz? Acordou azeda como um limão, você não cansa de distribuir coices?

Nós estavamos em um maldito pé de guerra e tudo que eu conseguia me lembrar quando encarava os olhos castanhos de Miguel é onde sua maldita boca esteve ontem a noite. E eu excitada por cada gesto que aquele brucutu fez! Deveria dar um tapa em mim mesma!

— Que tal darmos uma volta? Você poderia me mostrar a região.

— Claro, tem algo que ficou de fora de seu inventário? — mordo a língua por ter falado disso.

Miguel fica surpreso, mas logo se afasta de um passo, confirmando o que Daniel tinha dito mais cedo, ele realmente agiu pelas minnhas costas.

— Dandara...

— Cala a boca, brucutu! Se não quer ver a cara enfiada no esterco de cavalo, fique quieto!

Viro sinalizando para Carolina se aproximar.

— Teremos que trabalhar algumas coisas em vocês dois. Faça uma pausa, eu vou preparar o redondel.

— Ok, obrigada Dandara.

Sorrio pulando o cercado novamente, ignorando Miguel que me seguia como uma sombra.

— Não cometi nenhum crime, Dandara.

Reviro os olhos, caminhando para longe.

— Você está sendo teimosa, poderíamos resolver isso de outro jeito, quem sabe unir o útil ao agradável.

Viro fazendo-o parar quase tropeçando em mim. — Diga brucutu, qual sua excelente ideia? Já recebeu oferta pelos meus cavalos? Ah, muito obrigada por deixar Trovoada de fora, foi uma gentileza imensa, já que não quis vender também um presente de meu pai.

Sinto que estou quase gritando.

— Eu não venderia seu cavalo, vejo o amor que sente por ele. Posso não ser um especialista ou não gostar das mesmas coisas que você, mas não quero mal aos bichos.

— Não quer o mal deles? — Sinto minhas bochechas pegando fogo, Miguel mesmo mantém uma certa distância de mim. — Sabe qual a diferença entre um cavalo para lidar com o gado e um cavalo de montaria e competição?

Ele dá de ombros.

— Exato, se não sabe essa imensa diferença e mesmo assim foi oferecer meus cavalos para donos de fazenda de corte. Você com certeza não quer o bem deles. Jumento! — disparo a falar.— Mas tenho uma solução, vá embora, se não quer o mal deles, vá. Ou está esperando a foda de despedida? Quer ir para o celeiro desativado? — pergunto desatando o nó da minha camisa xadrez fazendo ela revelar minha blusa curta.

— Deixe de ser ridícula! — ele grita, chamando atenção das pessoas que passam por nós.

— Não sei onde Pedro estava com a cabeça, ele só poderia estar alucinando quando decidiu deixar meu Haras para você! — Vejo o olhar irritado de Miguel, mas não deixo que fale. — Tenho muito trabalho a ser feito, se puder pelo menos não atrapalhar, eu agradeço.

Estava pronta para deixá-lo parado sozinho quando vejo Cindy galopando em minha direção. Era hoje, definitivamente eu mataria um.

Ela se aproxima com o sorriso mais falso que nota de três reais, diminuindo o galope, parando o cavalo perto da cerca e desce, balançando a mão em nossa direção. — Dandara! Era você mesmo que queria encontrar!

— Só me faltava essa — sussurro. — Acho que errou, sua prenda está bem na minha frente — digo com um sorriso cínico nos lábios.

— Forasteiro, desculpe não ter vindo mais cedo, vejo que ficou totalmente curado do ataque de fúria de Dandara.

Miguel sorri, deixando que a oferecida lhe agarrasse o pescoço dando um beijo bem perto de sua boca.

Maria trepadeira! — penso com raiva.

— Estou bem sim, que surpresa boa vê-la aqui. Estava agora mesmo comentando com Dandara que queria dar uma volta pela região.

Cindy sorri animada. — Então encontrou sua companhia, faço questão de ir com você.

Miguel me encara vendo minha cara de poucos amigos. E mesmo que eu tente disfarçar meu ódio por Cindy, ele se aproveita da situação. Segura na cintura fina da trepadeira, abrindo um amplo sorriso. — Podemos dividir o mesmo cavalo, eu não estou acostumado a montar sozinho.

— Ihaaaahhh, mas é claro! — ela diz animada. — Ah, Dandara, eu soube que está preparando uma competição aqui no Haras.

Miguel me encara curioso, até mesmo me fuzilando com os olhos.

— Sim, é para angariar fundo para o Haras, mas como soube?

— Matheus, ele me contou — diz com um sorriso. — Logo pensei, o que seria excelente senão competir? As regionais estão chegando e eu e Milu precisamos estar preparadas, você poderia dar uma olhada nela, estou achando que ela está de TPM — diz abaixando o tom de voz na última parte como se tivéssemos dividindo um segredo. — E você como antiga competidora sabe como é importante o cavalo estar bem. Fico orgulhosa que abandonou os pódios e se dedica cuidando de minha égua.

— Claro. Dou uma olhada.

— Perfeito, — ela empurra a rédea para mim, enlaçando ainda mais seu corpo em Miguel — vamos forasteiro?

— Claro. Irei pedir para Mathias selar um cavalo. — Miguel responde me encarando.

Maldito Brucutu, maldita Maria trepadeira!


CAPÍTULO 19


Dandara

— Tá falando sozinha, Dandara?

Pulo de susto, percebendo que estava resmungando alto. — Ocê tem sorte de não ter tomado uma chicotada — digo arrumando o chicote na lateral de minha bota.

— Que bicho lhe mordeu? — Mathias questiona.

— Picão, um bicho desgramento que gruda na pele da gente sugando nosso sangue.

Mathias ri, me entregando as coisas para selar Bruto. — Que bom então que não é um do tamanho de um homi , que chegou recentemente na cidade. — diz tirando sarro.

Encaro Mathias, revirando os olhos, para que notasse que não estava sendo um bom momento para brincadeiras.

— Ah, Danda, deixa disso. Pode ter enganado Bento e Maria com essa história de bicho sofrendo pelo mato, mas eu sei o que faz aquele esganiçado todo dentro de um quarto.

— Ocê não tem amor aos dentes, não? — bufo.

— Ô se tenho, como acha que consegui os meus uivos? Tudo na beleza do sorriso — Mathias caçoa abrindo um sorriso de cavalo para mim.

— Arra , não torre minha paciência!

— Mudando de proza , achei que já tinha acabado com a doma do Bruto.

— Sim, ele está pronto para ficar com os outros. Mas hoje eu quero que prepare a pista para três tambores.

Mathias abre um enorme sorriso, — Irá competir novamente? Que alegria garota!

— Ainda não, vou só matar a saudade.

— Pois deveria. — Mathias aperta a sela, conferindo se está tudo bem preso.

— Faz tanto tempo que não penso nisso Mathias, deixei as competições para trás quando assumi a responsabilidade do Haras.

— Arra, e isso não mudará. Você cuida desse Haras mais que de si mesma, eu lembro do primeiro dia que cheguei aqui e vi você cavalgando. — Mathias sorri ajeitando o chapéu na cabeça — Devia ter uns dez anos, lembro que parei perto do cercado olhando, você tinha tanta conexão com o cavalo, tinha tanto talento, mesmo naquela idade.

Sorrio lembrando da minha primeira competição.

— Todos sabemos o duro que está dando para manter tudo sob controle, até mesmo antes da morte do Seu Pedro.

— Quem sabe eu possa tentar — digo.

— Será um excelente começo.


Bruto raspa a pata pelo chão, como se ele próprio se aquecesse. Quando Bruto chegou no Haras era apenas um cavalo maltratado e ferido, abandonado pelo antigo dono para morrer ao relento. Foi numa noite de chuva intensa que o encontrei caminhando com dificuldade nos arredores do Haras. Demorou meses para que ele sequer deixar que eu me aproximar dele, estava tão ferido internamente em sua confiança com os humanos que só de ver um já se armava dando coices.

A doma nunca foi uma coisa tranquila com ele, ficava feliz só por não levar uma mordida. Mas eu o entendia, foi ferido por acreditar em um humano, sua defesa natural era expulsar quem quer que tentasse se aproximar.

— Sei que você gosta de correr, vejo como seus olhos brilham quando fica livre — sussurro passando a mão em sua crina.

Ele raspa a pata no chão, emitindo relinchos e baforadas baixas, ele aprovava o que eu estava falando, assim como o fato de suas narinas estarem dilatadas e as orelhas eretas para frente significava que prestava atenção ao que eu dizia.

— Quero propor algo diferente para nós. Se você gostar, podemos pensar em fazer isso mais vezes. — Tiro o chicote com calma da bota, ele fica desconfiado. — Isso será necessário entre nós?

Bruto relincha, marchando para trás, sacodindo a cabeça. Jogo o instrumento para longe. — Quero que você corra quando for necessário, quero que sinta a terra tocando forte suas patas e o vento traga a liberdade que isso vai lhe trazer. Mas para isso precisa obedecer fielmente meu comando.

Estralo os lábios indicando para que ande, faço todo o circuito no trote, deixando que ele receba meus comandos, deixando que veja como será.

A competição dos três tambores é simples, você precisa fazer uma saída com explosão antes de cruzar pelos sensores. Uma prova de três tambores clássica é de oito metros até o primeiro, depois vinte e sete e meio até o segundo tambor e trinta e dois metros até o terceiro. E então, a reta final, onde exige mais dos cavalos e das amazonas, era esforço máximo pelo melhor tempo. Se tudo for executado com perfeição e sem derrubar nenhum dos tambores, você poderia ganhar alguma posição boa.

Existem pessoas que gostam do silêncio, silenciam tudo ao seu redor, se concentrando apenas na sua própria respiração e de seu cavalo. Eu gosto de ouvir tudo.


— Não foi um tempo ruim para quem está parada por anos. — Mathias comemora pendurado na cerca.

— Quanto?

— Dezessete segundos e meio.

Desço do cavalo acariciando a testa dele. — Esse garoto nasceu para isso.

— Dei uma examinada na égua da Cindy, ela está machucada pelas esporas, sua barriga está toda marcada e além disso, queria que desse uma olhada no freio, acho que tem algo errado.

— Odeio quando vejo animais sofrendo pela imprudência de seus donos.

— Também não gosto, pena que o pai de Cindy não pense assim e deixa aquela garota maluca usar os animais como enfeites.

— Nem me lembre disso — retruco.


CAPÍTULO 20


Miguel

Logo após fazer sexo com Dandara fiquei perdido olhando-a dormir por alguns instantes, aquilo, esses tempos no Haras têm sido os mais malucos que já tive. Aquela esquentadinha está mexendo comigo, ela está me atormentando desde que pisei no Haras, fazendo meus dias e noite incertos, mas a mulher deitada no meu braço, dormindo tranquilamente, livre de todas as caretas e muros que impõe me faz querer seguir outro rumo. Eu tenho vontade de puxar seu corpo contra o meu, encaixá-la em meu pênis e fazer tudo de novo, agora sem pressa, absorvendo tudo, cada gemido que ela faz. Mas acabei adormecendo enroscado em seu corpo ao contemplar seu rosto enquanto dorme.

E quando o dia seguinte chegou, me deparei com a cama vazia, ela saíra de fininho para não me enfrentar quando acordasse. Abro a porta, verificando se o caminho está livre e quando confirmo que sim, retorno ao meu quarto, trancando a porta depois de entrar.

Tomo um banho rápido vestindo algo mais leve para o dia quente que faz do lado de fora, fazendo uma anotação mental: ar condicionado em todos os cantos, pelo amor de Deus, como é quente isso daqui! Pego os óculos escuros colocando-os no topo da cabeça e desço correndo a escada em direção à cozinha.

— Bom dia, Maria — cumprimento a senhora, ela me olha meio espantada o que me faz questionar se eu não estava sendo educado o suficiente com as pessoas dali. Mas também, com a noite anterior que tive, meu humor está perfeito nesta manhã. — Por acaso você viu a...

— A menina está embrenhada pelo Haras como sempre, Seu Miguel.

Pego uma laranja, descascando-a. — Vocês sempre começam o dia antes mesmo do sol?

— Sim, a menina é que acorda o galo e não o contrário.

Sorrio jogando as cascas fora. — Em São Paulo também acordamos, mas confesso que ser dono do próprio negócio tem suas vantagens.

Saio pela porta lateral da cozinha roubando um chapéu preto na varanda, brincando ao colocá-lo em minha cabeça, até que não tinha ficado ruim. Deixo de lado ao ver Dandara perto de um dos cercados sorrindo como uma menina ao ver os cavalos.

Lembro-me de poucos momentos vividos aqui, mas o que eu com certeza consigo recordar é dela, mesmo muito diferente da época que erámos crianças. Dandara sempre foi apaixonada por isso, era raro vê-la vestindo sapatos e quando estava, eram botas. Era mais raro ainda ver a menina fazendo outra coisa do que estar perto dos bichos.

— Bom dia, esquentadinha, tinha espinhos na cama essa manhã?

Agarro a cintura de Dandara, lembrando de nossa noite, gostando do cheiro dela.

— Levanto antes mesmo do sol, coisa de caipira.

Pelo tom de voz afiado, já estava mordendo os cotovelos.

Sorrio dando um beijo suave em seu rosto, tentando suavizar o mau humor. — — Confesso que tive uma noite excelente. Poderíamos repetir nossa conversa hoje a noite, o que acha?

— Poderíamos, mas não vamos, tenho mais o que fazer. E nada mudou.

— O que eu fiz? Acordou azeda como um limão, você não cansa de distribuir coices? — Controlo minha vontade de responder Dandara de forma ríspida, suspiro, suavizando a voz — Que tal darmos uma volta? Você poderia me mostrar a região.

— Claro, tem algo que ficou de fora de seu inventário?

Fico surpreso, me afasto de um passo para olhar melhor seu rosto, como ela soube?

— Dandara...

— Cala a boca, brucutu! Se não quer ver a cara enfiada no esterco de cavalo fique quieto!

Ela vira chamando uma garota.

— Teremos que trabalhar algumas coisas em vocês dois. Faça uma pausa, eu vou preparar o redondel.

— Ok, obrigada Dandara.

Sei o jogo que Dandara faz, ela prefere fugir do que virar e me encarar, não deixo barato, sigo-a pelo Haras.

— Não cometi nenhum crime, Dandara.

Ela continua andando, me ignorando.

— Você está sendo teimosa, poderíamos resolver isso de outro jeito, quem sabe unir o útil ao agradável.

Ela vira, parando brutalmente, me fazendo quase tropeçar.

— Diga brucutu, qual sua excelente ideia? Já recebeu oferta pelos meus cavalos? Ah, muito obrigada por deixar Trovoada de fora, foi uma gentileza imensa, já que não quis vender também um presente de meu pai.

— Eu não venderia seu cavalo, vejo o amor que sente por ele. Posso não ser um especialista ou não gostar das mesmas coisas que você, mas não quero mal aos bichos.

— Não quer o mal deles? — O rosto de Dandara está vermelho como se tivessem esfregado dois tomates em suas bochechas, e se isso não era um alerta para ficar afastado, eu não sabia o que seria. — Sabe qual a diferença entre um cavalo para lidar com o gado e um cavalo de montaria e competição?

Dou de ombros.

— Exato, se não sabe essa imensa diferença e mesmo assim foi oferecer meus cavalos para donos de fazenda de corte. Você com certeza não quer o bem deles. Jumento! — dispara a falar.— Mas tenho uma solução, vá embora, se não quer o mal deles, vá. Ou está esperando a foda de despedida? Quer ir para o celeiro desativado? — pergunta desatando o nó da minha camisa xadrez fazendo ela revelar minha blusa curta.

E mesmo que a ideia de tê-la novamente em meus braços, sentir o gosto de sua pele e ter seus gemidos em meus ouvidos seja tentadora, me foco em nosso novo cabo de guerra. — Deixe de ser ridícula!

— Não sei onde Pedro estava com a cabeça, ele só poderia estar alucinando quando decidiu deixar meu Haras para você! Tenho muito trabalho a ser feito, se puder pelo menos não atrapalhar, eu agradeço.

Estava pronto para segurar seu braço vendo que se afastaria, quando vejo sua expressão de raiva se focar em outra coisa, sigo seu olhar vendo uma garota vir calvagando em nossa direção.

— Dandara! Era você mesmo que queria encontrar!

— Só me faltava essa! Acho que errou, sua prenda está bem na minha frente — Dandara diz com um sorrisinho falso.

— Forasteiro, desculpe não ter vindo mais cedo, vejo que ficou totalmente curado do ataque de fúria de Dandara.

Sorrio não tirando os olhos de Dandara, deixando que Cindy agarrasse meu pescoço dando um beijo bem perto de minha boca, naquele instante tinha descoberto uma outra arma poderosa contra a esquentadinha, o ciúmes. — Estou bem sim, que surpresa boa vê-la aqui. Estava agora mesmo comentando com Dandara que queria dar uma volta pela região.

Cindy sorri animada. — Então encontrou sua companhia, faço questão de ir com você.

Aproveito a situação segurando na cintura fina da garota, abrindo um amplo sorriso. Satisfeito por ver que deixo Dandara mexida, é bom saber que outra coisa borbulha dentro dela, além de irritação. Afinal, ela não é tão casca grossa quanto esbraveja. — Podemos dividir o mesmo cavalo, eu não estou acostumado a montar sozinho.

— Ihaaaahhh, mas é claro! — ela diz animada. — Ah, Dandara, eu soube que está preparando uma competição aqui no Haras.

Faço minha cara de “não sou o único planejando pelas costas” e encaro Dandara.

— Sim, é para angariar fundo para o Haras, mas como soube?

— Matheus, ele me contou — Cindy diz com um sorriso. — Logo pensei, o que seria excelente senão competir? As regionais estão chegando e eu e Milu precisamos estar preparadas, você poderia dar uma olhada nela, estou achando que ela está de TPM. E você como antiga competidora sabe como é importante o cavalo estar bem. Fico orgulhosa que abandonou os pódios e se dedica cuidando de minha égua.

Dandara competindo? Não sabia que a esquentadinha metida as caras em rodeios ou competições equestres. Estava aí uma coisa para pesquisar quando tivesse deitado em minha cama essa noite.

— Claro. Dou uma olhada. — Dandara responde de forma azeda.

— Perfeito, — Cindy empurra a rédea para Dandara, enlaçando ainda mais meu corpo — vamos forasteiro?

— Claro. Irei pedir para Mathias selar um cavalo.

A carranca de raiva que Dandara está é impagável. É como acender um pequeno fósforo numa fogueira à base de álcool. Eu não quero nada com essa garota, mas se para provocar minha caipira eu tiver que entrar nesse joguinho sujo, por que não?

A tal de Cindy não tinha a mesma desenvoltura que Dandara na montaria, na verdade, não tem nem mesmo a paixão que Dandara exibe ao olhar para os cavalos. Porém, não decepcionou em nada em sua montaria e cavalgada, ela sabia o que estava fazendo. Mesmo que o cavalo ficasse arrisco com seus comandos.

Saímos do Haras indo para os campos abertos da propriedade, passando por um pequeno riacho, Cindy se aproveita por estarmos na mesma sela e esfrega sua bunda em meu pênis, sempre sorrindo e olhando por cima do ombro.

— Que tal pararmos aqui? — questiona olhando para a paisagem na frente, estavámos em uma espécia de monte, víamos a estrada de terra que nos levaria de volta para o Haras e ao longe a silhueta do que seria o centro da cidade.

— Por mim — digo já descendo do animal.

— Quero muito saber o que fez um homem fino e bonito como você se meter com a Dandara — Cindy fala amarrando a rédea do cavalo no tronco de uma árvore.

— Podemos dizer que fomos criados juntos.

— Mentira! — diz rindo.

— Meu tio-avô criou Dandara quando seus pais faleceram.

— Que azar o dela, primeiro perdeu a mãe e logo depois seu pai, morreu em um acidente com bois.

Não havia sentimento real naquelas palavras.

— Você e ela se conheceram como? — pergunto sentando sobre a grama.

Ela caminha parando em minha frente tampando a visão da paisagem remexendo o quadril, tentando ser sedutora.

— Bom, tirando o fato de cidade pequena todo mundo naturalmente se conhecer, além dos filhos estudarem juntos. No Haras, Setti é um dos poucos lugares de excelência por aqui, confesso que tem ótimas pistas para treino. Meu pai é um dos patrocinadores, mesmo eu querendo que Milu seja tratada por outra domadora, não posso negar que ela é boa no que faz. Cindy deu de ombros, analisando as unhas perfeitamente alinhadas e pintadas — Ficou melhor quando saiu das competições.

— Competição? — questiono curioso.

— Dandara praticava a mesma modalidade que eu, três tambores, mas largou tudo quando Pedro ficou doente. O velhote não podia mais pegar no pesado e o que não falta naquele Haras é serviço pesado para ser feito. Mesmo com Mathias vindo para ajudar, Dandara decidiu largar tudo para cuidar do Haras.

— Pela sua cara de surpreso, não sabia disso.

— Conheço pouco daqui, vim muito na infância a mando de meus pais e quando cresci nunca mais voltei. Só fiquei sabendo novamente desse lugar quando um advogado me ligou informando sobre a morte do meu tio. Somos de uma família grande, porém nem todo mundo ainda mantém contato.

— Por que decidiu voltar? — Cindy senta em meu colo, um joelho em cada lado de meu corpo, me fazendo dar um sorriso sem graça ao afastá-la com jeito. — É verdade o que todos tem cochichado por aí?

— O que andam falando?

— Oras, que você veio tomar isso tudo dela. Afinal, pra que um homem como você viria para um fim de mundo como esse?

— Vim por negócios, é tudo que precisa saber.

Cindy fez um beicinho, passando os braços pelo meu pescoço, forçando uma aproximação. — Por que não paramos de falar dela, de cavalos e todas essas bobagens e terminamos o que rolou lá no bar?

Direta e atrevida, ela se daria bem na cidade grande.

— Sinto muito, mas não vai rolar. Vamos voltar? Esqueci que marquei um telefonema importante com meu assistente em São Paulo, como disse, negócios — Fico de pé estendendo a mão para ajudá-la.

Não sei o que tem no DNA dessas caipiras, mas ô mulherada que se enfeza rápido! Cindy levanta dando um tapa em minha mão, já desamarrando o cavalo e subindo. Mais uma que preciso tomar cuidado para que ela não me lance do outro lado da estrada, só por que neguei seu fogo. A realidade é que não queria nada com Cindy, ela poderia ser uma mulher linda, com um corpo escultural. Mas serviu apenas para deixar a esquentadinha com ciúmes.


CAPÍTULO 21


Dandara

Enquanto comemos, Maria não tira os olhos de mim. Abaixo o garfo, dando um longo suspiro. — Diga logo mulher, senão vai engasgar com a própria comida.

— O que está tirando ocê do prumo, moleca?

Velha sábia! Não tinha nada que escapasse de Maria, você poderia se deixar levar pelo rosto repleto de rugas ou pelos olhares maternos que lançava para todos, mas Maria era como um pastor alemão, farejava as coisas à distância.

— O que deu no povo desse Haras hoje? — pergunto desviando do verdadeiro assunto.

— Ocê não me engana mocinha, conheço ocê mesmo antes de aprender a lavar os fundilhos de suas ceroulas!

— Que horror! Estou apenas pensativa, vou sair mais tarde para dar uma olhada nos campos.

Foi a vez de Maria revirar os olhos, ninguém vencia em uma disputa com Maria. — Ainda com aquele sonho azucrinando a mente?

Suspiro empurando a comida de um lado para outro no prato. — Eu vejo aquele cavalo com tanta força, não sei porque e nem mesmo o quê significa.

— Você está preocupada com as coisas daqui, normal, os sonhos mostram nossas preocupações mais profundas.

Suspiro, tomando um gole do suco, confirmando com um pequeno gesto de cabeça.

— Mas não era sobre isso que estava falando.

— Ô merda, Maria! — retruco. Não irei conseguir desviar do assunto.

— Óia a boca! — ralha — Ocê está ansiosa, está assim desde que a senhorita Munhoz chegou no Haras.

— Aquela menina brinca com os animais, Mathias disse que a égua tem marcas feias das esporas, eu gostaria de enfiá-las no...

— Ouuh , acalme-se. — Maria adverte rindo — Seria mesmo por que Cindy está maltratando a pobre da égua, o que não seria nenhuma novidade para nós ou pelo simples fato dela ter saído com Seu Miguel?

Fico em silêncio enchendo minha boca com o resto de suco de meu copo.

— Você gosta dele.

Encaro Maria — Ficou maluca? — digo umas oitavas mais alto.

Ela sorri, pega seu prato e o meu, indo até a pia. — Conheço você, menina. Seria de se admirar se não tivesse apaixonada. Eu disse para Seu Miguel, muito ódio acaba virando amor.

— Você está exagerando, deve ser o excesso de trabalho. Seu “Miguelzinho” está agindo pelas minhas costas, fazendo um inventário de tudo que há aqui para vender.

Maria não manifesta nenhuma surpresa com o que acabo de dizer. — O homi é um bitelo , 5 mas não disse que não era sonso para fazer merda. Pode me chamar de velha caduca, mas conheço os sinais e sintomas, você está gostando dele.

— Arre égua! Vou trabalhar, não quero falar mais disso! — argumento ficando de pé.

— Como quiser, moleca. Mas se enfiar no trabalho não irá arrancar isso d’ocê.

Bufando dou uma olhada feia em sua direção e ela entende o recado, não toca mais no assunto enquanto eu devoro uma maçã vermelha e doce que estava na fruteira. Coloco o chapéu sobre a cabeça, fazendo uma trança em meu cabelo e saio, ignorando os olhares que Maria me lança.

Apaixonada! Era para se rir mesmo, Maria está ficando maluca!


— Tudo correndo bem por aqui — Mathias me relata assim que entro do estábulo. — No fundo ela só precisa de um pouco de atenção.

Passo a mão sobre o corpo da égua, vendo seu olhar desconfiado. Milu é da raça Paint Horse, muito parecida com os quarto de milha, mas parece pintada à mão.

— Oua , calma garota!

Retiro a mão ao vê-la arreganhar os dentes.

— Essa daí vem com o espírito da dona. — Mathias brinca.

— Que nada, tire ela da baia. — peço olhando nos olhos da égua — Cindy é horrível com ela, assim como foi com todos os cavalos que passou por seu rancho. Só quer que o animal corra, muito parecida com Matheus, pelo menos aquele ali tem algo de bom, gasta dinheiro e tempo cuidando dos seus cavalos. — digo torcendo os lábios.

— Tem certeza disso? — Mathias questiona segurando a trava da baia. — Ela não está muito amigável.

— Solte.

Mathias faz o que mando, abrindo a portinhola, deixando que ela saia. Milu é uma égua imponente, sai com a fronte erguida, me encarando de cima, passando o recado claro que não tem medo de nós, mas na realidade, tudo isso é pose, ela está receosa que a machuquemos.

— Dê uma olhada nessa ferida.

Dou a volta indo até Mathias, não era uma ferida profunda, iria cicatrizar logo, mas o que me irritou ainda mais foram as marcas mais profundas em sua pelagem indicando que outras já tiveram ali, várias cicatrizes marcando o quando essa égua vinha sendo judiada. E o quantos os maus tratos tinham marcado-a internamente.

— Vamos fazer um tratamento de aromaterapia, para ela se acalmar um pouco e deixar que cuidemos dela.

Vou até o espaço onde os remédios ficam guardados examinando alguns vidros, pego três voltando para a égua.

Tiro a tampa do primeiro colocando perto da narina do animal. Ela relincha virando a cabeça bruscamente, quase derramando o conteúdo de minhas mãos. Retiro do segundo, mas ela tem o mesmo comportamento.

— Óleo bergamota — digo e não demora muito para ela tirar a língua para fora querendo o líquido.

— Não é estranho que ela escolha justo o que traz a sensação de alegria e ânimo. — Mathias comenta.

— Minha mãe sempre dizia que os animais escolhem seus próprios remédios. Eles sabem do que realmente precisam.

O barulho de cavalo se aproximando traz nossa atenção para a entrada do estábulo.

— Que bom que ela está pronta, preciso ir. — Cindy salta do cavalo deixando Miguel se desequilibrar por um instante.

— O passeio não foi prazeroso? — desafio.

— Minha égua está pronta ou não?

— Milu está com marcas de escoriações na barriga. — acuso.

Cindy não dá a mínima para o que estou falando.

— Cindy! Você está ferindo sua égua por nada com suas malditas esporas!

Mathias me olha preocupado.

— Que eu saiba pedi para você dar uma olhada, e não mandar no jeito que comando minha égua. — Cindy contra-ataca.

Miguel dá um passo em nossa direção como se nós duas fôssemos nos engalfinhar como animais, não que ela não merecesse, mas eu não iria ganhar nada com isso.

— Se você quer que Milu não a jogue para longe durante uma competição, precisa entendê-la. Ela não é um pedaço de bife para você ficar furando quando bem entende.

Cindy gargalha, — Me passe o valor de seu tempo, mando meu pai depositar na conta do Haras. — ela vê que continuo encarando-a — Vamos, será que dá para selar minha égua?

Mathias pega as coisas pronto para selar a égua.

— Mathias, não! — Eu quase grito. — Cindy, me escuta...

Cindy arranca a sela das mãos de Mathias, ela mesmo arrumando no lombo de sua égua.

— Cindy, sua égua está ferida, pode achar que não é nada, mas com o tempo vai pegar os ossos dela. Se você se importa...

— O que eu preciso escutar é que você fez algo além de ficar gastando meu tempo. E não de suas mágicas inúteis. — Ela mal fixa direito as fivelas para montar o animal.


Cindy enfia as esporas na barriga da égua fazendo-a relinchar de dor, e a visão dos olhos tristes e repletos de lágrimas do animal cortam meu coração.

Chuto um barril de água enfurecida com a partida de Cindy. O fato de não poder fazer nada para ajudar essa égua me corta o coração.

— Pelo visto vocês estão bem longe da cordialidade.

Viro como um bicho, bufando como um touro bravo ao encarar Miguel. — Meta seu nariz onde é chamado!

— Se você sabia que Cindy maltratava a égua, por que a liberou? — Miguel questiona.

— Seu Miguel, não é simples assim, não podemos prender os animais, mesmo que por alegação de maus tratos. A família de Cindy é poderosa na cidade, seria uma briga infinita e até lá a égua já teria caído doente.

— O que Mathias tá querendo dizer é que não serão os primeiros donos que negligenciam seus animais, muito menos os últimos. São esse tipo de gente para quem quer vender meus cavalos. — acuso.

Levanto o barril que tinha chutado em minha explosão de raiva, puxando a mangueira para enchê-lo.

— Mathias, termine de cuidar das baias, eu vou sair com Trovoada. Está esfriando e não duvido de termos uma chuva torrencial mais tarde.

Deixo os dois ali, no meio do estábulo indo até o Trovoada, eu precisava da paz que ele poderia me dar. E não foi surpresa em vê-lo totalmente alerta, meu pai costumava dizer que Trovoada sempre saberia meu estado de espírito, ele sempre estaria ali, pronto.

E isso era verdade. Não precisei dizer nada, apenas abri a portinhola de sua baia, subindo diretamente no pelo para que ele saísse em disparada para fora do Haras, o sol estava se pondo no horizonte e uma espessa nuvem cinzenta cobria o céu.

Na época de outono vivemos os tempos mais malucos; temos dias de intenso calor e do nada um frio de arrepiar os ossos com chuvas tão fortes que inundam a estrada. Além de ser a época que mais me preocupo com o bem estar dos cavalos.

Cavalgo pelos campos, até mesmo me embrenhando no pequeno acervo de mata fechada, os ranchos e fazendas não são próximos uns dos outros, o que dá bastantes aréas livres.

— Aoh — Trovoada para, relinchando baixo. — Você também ouviu rapaz?

Paramos entre as árvores escutando os pássaros fazendo burburinho entre os ramos, mas não foi isso que chamou nossa atenção, e sim um relincho baixo, sofrido.

— Vamos, Trovoada. — bato o pé na barriga dele fazendo barulho para que volte a galopar.

O rancho era velho, existia destroços espalhados pelo terreno, desço do Trovoada empurrando a porteira velha e quebrada, tinha arame farpado para todos os lados, o relincho veio mais fraco dessa vez, como se o animal já não aguentasse mais esperar por ajuda. Trovoada relincha batendo os cascos chamando minha atenção, um cavalo estava em um pequeno cercado amarrado a cordas em um tronco velho, havia feridas em sua cabeça e boca devido às cordas, mas também marcas profundas espalhadas pelo seu corpo, fora a desnutrição evidente.

Não conseguiria fazer esse cavalo ir até o Haras, precisaria chamar o Santiago e pegar o trailer. Monto em Trovoada galopando de volta até o Haras, forçando ele ir o mais rápido que pode, não sabia de quem era aquele rancho abandonado, mas de maneira alguma deixaria o animal ali sofrendo.


CAPÍTULO 22


Miguel

Levo as toras de madeira para Bento, sentando no sofá. O frio realmente tinha chegado com força, nos forçando a fechar as portas e janelas para manter o calor dentro do imenso casarão. Dandara ainda não tinha retornado, o que me deixa um pouco ansioso, mesmo não querendo admitir. Aquela diabinha caipira está me enrolando em seu laço.

— Daqui a pouco a janta estará pronta. — Bento diz passando por mim em direção à cozinha.

Volto meus olhos para a tela do computador, vendo o projeto que Paulo havia me enviado mais cedo. Os arquitetos tinham feito um excelente trabalho, a entrada do resort era imponente, ele manteve o rústico e sofisticado com tanta suavidade que nenhum dos pontos tinha se destacado mais que o outro. E ali, analisando o projeto, eu não conseguia abrir minha caixa de e-mail e aprová-lo. Não conseguia dizer que poderíamos fechar o negócio com os donos dos Haras e fazer o transporte dos cavalos assim que o périodo que o advogado deu se encerrasse.

A rajada de vento forte fez o fogo na lareira tremular quase se apagando, fecho o computador virando para ver Mathias entrar na casa chamando por Bento.

— Que desespero todo é esse? — questiono indo para a entrada.

— Dandara voltou e vamos resgatar um animal.

— Resgatar? O que houve? Toda vez que você entra como um foguete aqui é porque Dandara tá metendo todo mundo em apuros — retruco.

— Mathias, o que aconteceu? — Bento e Maria vêm em nossa direção.

— Dandara voltou da caminhada, segundo ela encontrou um animal em condições precárias. Preciso ligar para o Santiago e preparar o trailer para sairmos.

— Onde ela está? — pergunto.

— A última vez que a vi estava indo pegar umas medicações.

— Santiago não deveria ficar disponível no Haras para esse tipo de emergência? — questiono ajeitando o casaco pesado no corpo.

— Sim, Seu Miguel, mas ele trabalha em outros lugares. É um veterinário muito requisitado na região.

— Vou procurá-la. — digo por fim, cruzando com eles, sentindo o vento bater contra meu corpo enquanto caminho até o estábulo.

Os cavalos relincham alto, incomodados pelo vento, passo por uma baia me esquivando ao ver que o cavalo está tão irritado que bate o corpo contra as paredes de sua baia.

— Eles ficam mais irritáveis com esse tempo.

Olho para Dandara, seu rosto está preocupado. Ela vai até o cavalo mais arisco, deixando que ele cheire um potinho.

— Aromaterapia — explica.

Mesmo ainda desconfiado o cavalo começa a se acalmar.

— Você realmente faz mágica com eles.

O cavalo vem em minha direção me assustando, pulo para trás encarando os imensos olhos pretos do animal. — Eles não confiam em mim.

— Eles são espertos, sentem quando um humano tem medo, alegria ou quando não gosta deles.

Olho para seu rosto, lá vinha ela com aquele papo novamente. — Não é bem gostar ou não, só não confio. Mathias disse que encontrou um animal ferido.

— Eu estava cavalgando, estava ficando mais frio no meio das árvores. Eu o ouvi, ele estava me chamando, não sei há quanto tempo ele está lá, mas eu sei que está cansado. Cansado demais para vir andando, mesmo se Trovoada sustentasse ele pelo caminho, isso o teria machucado mais.

— O que posso fazer?

Dandara me encara surpresa.

Nem eu mesmo sei por que estou fazendo isso, por que estou tentando salvar um animal se tudo que mais quero é que essa guerra de braço acabe logo, para dar continuidade aos meus planos.

— Santiago está ocupado em uma fazenda, tenho receio dele não chegar a tempo.

Ver o olhar triste em seu rosto faz algo dentro de mim borbulhar. — Vamos, eu ajudo você.

Ela ri por um instante, voltando a ser a diaba caipira que eu conhecia. — Você vai mais me atrapalhar do que ajudar.

— Se não quer salvar aquele animal é só dizer.

Vejo seu olhar me analisando, assim como o suspiro pesado que ela solta. — Pegue aquelas cordas, iremos precisar de pelo menos umas três, estou com o kit de remédios, ele tem grandes feridas pelo tempo que passou amarrado e das tentativas de fuga.

— É selvagem?

Ela para de arrumar as coisas para me olhar. — Ele foi ferido, está com medo, sede e fome, vai saber quantos dias ficou exposto ao sol escaldante e as chuvas frias das noites.

Mathias aparece com a caminhonete puxando o trailer. Interrompendo nossa conversa.

— Vamos colocar tudo no carro. — Dandara ordena levando Trovoada para sua baia.


O caminho até o rancho que Dandara encontrou o animal ferido fica bem longe do Haras, e a estrada não ajudava em nada, o vento ficava mais forte e logo a chuva nos brindava com mais força, dificultando ainda mais nosso caminho. Os limpadores trabalhavam frenéticos pelo vidro, cada vez que Mathias acelerava ou freava passando por um buraco era meu coração que pulava dentro do peito. A buraqueira ficava escondida devido a tempestade que caía lá fora.

Era difícil ver alguma coisa concreta em nossa frente com a torrente que descia do céu, o que me fazia apertar o canto do banco com mais força, prendendo a respiração.

Quando Mathias acelerou passando pela entrada destruída do rancho, tudo lembrou foi um filme de terror, a casa ao fundo está caindo aos pedaços, tudo ali está destruído pelo tempo e esquecido por Deus.

Dandara salta do carro antes mesmo que ele pare completamente, levando consigo o kit veterinário e uma das cordas, fazendo Mathias e eu seguirmos em seu encalce.

— Mathias, abra o trailer.

— O tempo está horrível. — digo olhando ao redor.

Dandara pula a cerca de arame encarando o cavalo com as mãos para cima, conversando baixinho com ele, para tentar acalmá-lo.

— Corte os arames, Miguel.

Retiro da enorme maleta que ela touxe um alicate, corto os fios abrindo espaço para que ela passe com o animal.

Ele relincha, empinando o corpo para trás, evitando que ela encoste nele e toda vez que faz isso, acaba caindo devido à fraqueza que seu corpo apresenta. Dandara chega mais perto tentando tirar as cordas que o machucam, porém ele está arredio demais.

— Dandara, devíamos ter esperado por Santiago, ele pode te machucar. — Mathias retruca.

— Ele não vai me machucar, está com medo, tem medo do toque. — Dandara se vira pegando um daqueles frascos pequenos que estava dando aos cavalos no estábulo fazendo o cavalo cheirar. Ele não se acalma como os outros fizeram, mas permite que ela chegue mais perto. — Se tivesse esperado por Santiago ele teria morrido nessa chuva.

Dandara tem realmente algo a mais para esses animais, é como se apenas de olhar, eles dissessem tudo que estão sentindo para ela. Ela volta para a mala tirando um lenço grande, jogando-o no rosto do bicho.

— Miguel corte as cordas e passe a nossa pelo pescoço, dê um nó bem firme.

Faço o que ela manda, me certificando que o cavalo continua imóvel contra o peito de Dandara, ela faz carinhos na crina judiada, sussurrando algo que não entendo devido o barulho forte da chuva.

— Se o dono do cavalo voltar? — pergunto terminando o nó.

— É bom que nem volte, olha o estado que deixou o cavalo. — ela retruca pondo o bicho de pé. — Calma, ouh, calma.

— Dandara, Miguel, temos problemas! — Mathias grita sob a chuva.

Um velho aparece no meio da chuva vindo em nossa direção segurando uma garrafa de bebida, tropeçando nos próprios pés.

— Conheço a laia desse daí, Cicinho sempre o expulsa do bar por arrumar confusão e ele não se importa com nada além da cachaça que consome — Mathias comenta encarando o homem.

— Às vezes temos que deixar os pensamentos sendo apenas isso, pensamentos. Nunca ouviu que o que é jogado no universo ele devolve? — Dandara resmunga para mim.

— Ei! O que você estão fazendo com meu cavalo? — O velho grita, tenta correr até nós, mas tropeça várias vezes em seu próprio pé.

Quando tenta chegar perto de Dandara, eu contenho o homem bêbado e por consequência o animal se agita, fazendo Dandara soltar um pouco a corda que o mantinha preso.

— Você não encosta mais nesse animal! — Dandara grita vindo para cima de mim e do velho bêbado.

— Vocês invadiram minha propriedade, vou chamar a polícia, e esse cavalo voltará para o lugar dele.

Seguro com firmeza sua camisa puída evitando que ele avance para cima dela.

— Chame, vai me poupar o trabalho de chutar sua bunda até lá.

O velho para por um instante de se debater em meus braços e assim consigo arrastá-lo para fora do caminho, deixando que Dandara entre com o animal no trailer.

Mathias enfia todas as coisas de volta na caminhonete, embarcando e dando partida no motor.

— Quando ele ligar para a polícia, ele que terá que se explicar. — digo animado, feliz por ter salvo aquele cavalo.

Dandara tira os olhos do vidro traseiro, voltando seu rosto para mim. — Ele não vai ligar, mal lembrará o que houve. Ele iria deixar o cavalo morrer de fome. — ela volta seu olhar para trás, vigiando o trailer.

Mathias faz o melhor que pode, mas a estrada de terra fica esburacada na chuva forte, e se antes a visibilidade já estava dificil, agora está muito pior. Os relinchos do animal preso no trailer são ouvidos de dentro do carro, imagino o quanto ele não esteja apavorado.

O carro balança de um lado para o outro, me fazendo segurar a respiração por alguns segundos.

— Ele vai se acalmar quando sairmos desse pedaço de estrada. — Mathias diz.

O carro balança mais forte na curva.

— Pare, Mathias. Eu vou com ele.

— Ficou maluca? Ele pode te machucar, está muito nervoso.

— Se eu não for com ele, vamos acabar capotando. — diz.

Mathias encara Dandara pelo espelho retrovisor, considerando o que diz.

— Ficou maluco? Ela vai se machucar! — retruco quando ele para no meio do nada, destravando as portas.

— Sei o que estou fazendo — ela resmunga.

Dandara desce e esperamos. Olho pelo vidro de trás esperando algum sinal...

— Podem ir — grita batendo na lataria do trailer.

Quando chegamos ao Haras, me senti como se tivesse nadando, nem mesmo minhas bolas estavam secas na cueca. Mathias dá a volta no carro pegando a corda e guiando o cavalo para o estábulo. E antes que Dandara saísse, indo para longe, eu a segurei.

— Desculpa.

Passo a mão pelo cabelo molhado tirando um pouco d’água dos olhos. Por que ela me deixa assim?

— Não quis magoá-la com a história de hoje cedo. Estou fazendo o melhor que posso.

— Então precisa fazer mais do que isso.

Ela se solta de minha mão correndo em direção aos estábulos, corro atrás dela, mesmo quase caindo quando meu pé afunda em uma poça d’água, alcanço seu braço e puxo-a para mim, fazendo com que pare.

Droga! Descobri que estou enlaçado até a alma por essa caipira!

Dandara fecha a expressão mostrando seu melhor olhar de ódio tentando se livrar de mim novamente. Fico em sua frente e mesmo com a chuva em seu rosto, consigo perceber que os seus olhos estão cansados, a adrenalina tinha decaído de seu corpo e eles lacrimejavam. Ela tenta se soltar novamente de mim. — Por que você não vai embora, Miguel? — pergunta com o rosto perto do meu.

Meu pênis lateja dentro da calça. Essa mulher me deixa louco!

— Eu não desisto, esquentadinha. Já devia ter entendido isso.

— Pelo menos temos alguma coisa em comum — ela retruca. — Odeio você, brucutu!

— Não, não odeia.

Ela para surpresa com minha declaração. Estar tão perto dela, sentir aquele corpo colado no meu, desperta meu desejo.

Ignorando tudo, eu só tinha uma coisa em mente: tê-la a todo custo.

Avanço sobre ela, seu corpo inteiro estremece, quando a beijo, ela abre a boca para receber minha língua, sua boca é carnuda e quente, ela para de tentar lutar contra aquele fogo que move nossos corpos. Aperto Dandara contra meu corpo, e sinto suas mãos enlaçarem o meu pescoço. Ela me puxa, em resposta eu invado seus lábios, tomando sua boca com minha língua. Levo a mão até seus seios e ela geme com meu toque.

— Quero você, esquentadinha.

— Por que está fazendo isso comigo? — ela resmunga quando minha boca desce por seu pescoço.

— Shiuu, — mordisco sua pele, descendo a boca por seus seios, lambendo o pequeno decote de sua blusa.

A chuva cai sobre nós, mas não é frio que nos faz tremer, é o calor que sinto por essa mulher que só aumenta.

— Quer que eu pare agora?

— Eu odeio você — sussurra, puxando minha mão, nos fazendo correr pelo Haras, entrando no velho celeiro abandonado.

Existem furos entre as madeiras fazendo a chuva cair em nós, Dandara empurra meu corpo contra uma viga de madeira, colocando as mãos por debaixo de minha camiseta encharcada. Meu corpo treme com o calor do toque, fiz o que desejava desde que pisei para fora da cama, abro botão por botão de sua camisa, deixando tudo totalmente livre para que chegasse aos seus seios, luto um pouco contra o fecho do sutiã, fazendo-a rir e tomar a missão de minhas mãos.

Dandara joga a cabeça para trás gemendo cada vez mais com as carícias que eu faço em seus mamilos enrijecidos. Lambo sua nuca, distribuindo beijos sobre sua pele. — Quero você, Dandara, tem que ser aqui, agora. — digo roçando meu quadril em sua cintura.

Solto o botão de sua calça enganchando meus dedos direto nas laterais de sua calcinha, abaixando as peças até o chão, passando por seus pés. Abro suas pernas, deixando seu sexo exposto para mim. Dandara fez o mesmo por mim, tirando minha camisa e indo até minha calça. Ela baixa minhas roupas alcançando meu pênis. Gemo como um animal no cio.

Ela se ajoelha, sem emitir uma palavra, segura meu membro totalmente ereto. A boca da esquentadinha me toma quase por inteiro, sinto o vaivém dos seus lábios me fazendo perder o equilíbrio Encostando no pilar, olhando para seu rosto.

Ela segura a base do meu pau com uma das mãos, enquanto contorna o restante com seus lábios lindos e quentes. Eu a desejo tanto a ponto de gozar. Levanto Dandara de forma abrupta.

Agarro aquela massa de fios longos e loiros, fazendo o calor que consumia meus sentidos aumentar. O corpo de Dandara colado no meu, lábios entreabertos e desejo nos olhos.

— Não negue, você adora isso, seja o que for que esteja acontecendo aqui, você adora.

Mantenho seu cabelo seguro na nuca com uma das mãos, a outra passando por seu corpo nu em volta de sua cintura, deixo meus dedos escorregarem dentro dela, afastando os lábios de sua boceta, apertando o clítoris úmido de tesão. Empurro seu corpo contra a parede, encaixando uma de suas pernas em meu ombro ao agachar, deixando sua intimidade totalmente exposta para mim, como um belo cartão de boas-vindas. Meto a língua de forma faminta, o corpo de Dandara estremece, seus dedos agarram meu cabelo de maneira ferroz.

Devoro seu corpo com vontade, minha saliva misturando com a lubrificação salgada, Dandara tinha gosto de mulher excitada, do tipo que atraí os pobres homens de longe.

Tiro sua perna de meu ombro, erguendo-me, viro-a de costas para encaixar meu pau em sua entrada, deslizo um pouco mais, ela é deliciosa! Antes de chegar ao fundo, Dandara rebola contra meu corpo, fazendo meu membro remexer dentro dela, ela rebola e eu começo aumentar o ritmo dos meus movimentos. Entro e saio dela com facilidade, como se seu corpo reconhecesse o meu.

Abro mais as pernas dela, impulsionando o quadril contra ela, seguro seu cabelo, puxando-o de forma bruta para trás, gostando de sentir seu rosto perto do meu. Mordo e dou chupões fortes em sua pele. Meto com intensidade, gostando do barulho de penetração molhada que chegava até meus ouvidos, meu pau inchado e duro doía procurando alívio, exigindo por isso.

Sinto que ela convulciona em minhas mãos, sussurro em seu ouvido o quando me enchia de tesão, o quanto seu corpo recebia o meu de maneira tão delicioso e o quanto ela era gostosa. Dandara se empinou ainda mais, apertando meu pau com suas contrações involuntárias, arrancando o ar de meus pulmões.

Continuo metendo, lambendo seu corpo, apertando sua cintura ou puxando seu cabelo. Eram sensações diversas que tomavam meu corpo. Dandara gritou, seu corpo estremecendo de verdade, perdendo o controle, deixo que ela goze, segurando ao máximo, travando minha própria libertação, ela ficou mole em meus braços enquanto me retiro de dentro dela, masturbando meu pau para gozar, esporrando como um maluco, só de pensar na entrega absurda e delirante que tinha acabado de acontecer ali.


Ela passa minha camisa rindo — É a única forma de você se limpar.

Diabinha!

— Miguel...

Selo seus lábios com os meus evitando que ela fale algo que possa estragar esse momento. — Amanhã pensamos sobre as coisas chatas.

Não tinha a menor chance de discutir com ela agora, o que eu mais queria naquele momento era deitá-la naquele feno velho e começar tudo de novo.


CAPÍTULO 23


Dandara

Abro os olhos sentindo o calor da pele de Miguel contra minha bochecha. Fico deitada quieta, ainda tentando entender o que estou sentindo por ele. Passei metade da noite refletindo sobre tudo que vivemos. Fico confusa pelas sensações que o beijo, o toque dele, me fazem sentir.

Será que eu conseguirei realmente fazer Miguel ver o Haras com outros olhos, além de um pedaço de terra lucrável? Fazê-lo sentir sem me envolver, ou eu já estava envolvida demais? Desisto de ficar deitada com milhões de pensamentos cruzando meu cérebro, saio da cama evitando acordá-lo.

Depois de tomar um banho, me troco em silêncio, descendo para para tomar café, não sem antes dar uma olhada em direção à cama, vendo Miguel dormindo nu, coberto apenas por um pedaço do lençol.

— Bom dia — cumprimento sentando na cadeira vazia, o cheiro de café e bolo de fubá fazem meu estômago roncar de fome.

— Bom dia, menina. — Maria me cumprimenta enchendo minha caneca de café puro. — Mathias estava nos contando sobre o animal.

— Falando nele, como está, Mathias? — pergunto devorando um pedaço do bolo.

— Está bem, Santiago passou a noite cuidando dele. Mesmo com muitos machucados, ele disse que logo estará bem.

— Que bom ouvir isso. — pego dois pedaços de bolo colocando no meu prato enquanto dou uma golada no café. Paro com a xícara ainda contra a boca vendo os olhares deles.

— Está faminta, moleca — Maria diz.

Dou de ombros, como se fosse algo normal.

— Tem bicho uivando no terreno de novo, uma desgrama isso, né? — Mathias provoca sorrindo.

Dou uma olhada feia, fazendo com que ele ria ainda mais, atiçando a curiosidade de Maria.

— O que vocês estão rindo?

Paro com a xícara à caminho da boca ao ouvir a voz de Miguel.

Ele puxa uma cadeira ao meu lado, me lançando um olhar malicioso. Miguel faz questão de jogar o corpo para cima de mim ao pegar um pedaço de bolo.

— Dormiu bem? — pergunta, seu olhar malicioso me fez sorrir. O desgraçado sabia que tinha mexido comigo!

— Sim e você? Parece cansado — desafio entre um gole e outro do café.

— Um pouco, mas no fim consegui o que queria.

Bento entra na cozinha sacudindo o casaco. — Hoje o dia está de lascar.

— Teremos pouco movimento então. — digo.

— Mathias eu quero falar com você sobre o Haras — Bento diz.

— Aconteceu algo? — questiono.

— Aquele problema qual contei procê , menina. Temos que rever a segurança dos animais, ontem tinha algum tipo de animal esganiçado no meio do mato.

Miguel engasga com o café fazendo todos encará-lo. Dou um pisão em seu pé, esmagando seus dedos.

— O antigo celeiro estava aberto e tudo revirado, ou tivemos um casal se engalfinhando ou tinha algum animal ferido procurando por abrigo. — Bento comenta.

— Vou ficar de olho nisso. — Mathias diz. — É perigoso mesmo, mesmo que eu acredite que possa ser um casal festeiro, — ele me encarou erguendo a sobrancelha — melhor trancarmos o celeiro dos desavisados.

— Que milagre é esse eu ver tua cabeça pelada? — Bento se vira para mim.

Sorrio.

— Perdi meu chapéu ontem quando o cavalo ficou muito agitado. Logo compro outro. — me levanto terminando meu café, aquelas trocas de olhares já foram o suficiente para mim.

— E eu... — Miguel enfiou na boca o último pedaço de bolo — vou dar uma volta pelo Haras.

Vou até a entrada enfiando meus braços no casaco que estava no mancebo, assim como as luvas de couro.

— O que faremos?

Desvio o corpo encarando a porta da cozinha, Maria, Bento e Mathias estavam entretidos em uma conversa. Não sei se estavam totalmente focados ou apenas se fazendo de surdos para escutar nossa conversa.

— Dá para ser mais discreto? Eu vou conferir o cavalo que chegou ontem, e depois se quiser podemos cavalgar juntos.

Ele inclina a cabeça e inspira, sentindo meu perfume. — Adorei a ideia.

Maldito brucutu gostoso!

— Seja discreto.

Ele respira mais fundo e mordisca meu pescoço. — Por que não aceita logo minha oferta, esquentadinha, colocamos um fim nesse joguinho e podemos ver o que rola.

— Isso vai acabar mal — digo com a voz rouca. Era só questão de tempo, mas, dessa vez a culpa foi minha. Olhar para a boca de Miguel tão próxima à minha, eu queria aquele beijo, então peguei.

Meu coração martelava no peito com a sensação de poder ser pega, meu corpo e cada fio de cabelo gritava em minha mente: Brucutu!


Santiago tinha levado o cavalo para o redondel, mas ele estava tão arredio que poderia machucar ele e o ajudante que tentava segurar a rédea, ele empinava evitando qualquer tipo de aproximação.

— Vou ter que aplicar a injeção, ele vai ficar pior desse jeito.

— Espere. — digo subindo nas travas do redondel.

— Ele está muito arredio, pode machucar alguém ou até mesmo ele.

— Acho bom manter distância. — o ajudante de Santiago diz para Miguel.

— O que esse cavalo tem? Ele deveria estar grato por termos salvado ele ontem — escuto Miguel retrucar.

— Isso é o que ela pode descobrir. — Santiago comenta.

Ele corre pelo redondel dando coices nas paredes, respiro fundo pulando para dentro, parando no meio do cerco. Cada passo que dou em sua direção faz com que ele trote, evitando minha aproximação. Ele vem para cima de mim, parando perto, é a forma de dizer que me culpa, que culpa todos nós pelo que ele passou.

— Acho bom parar com isso, não tenho culpa do que ele fez com você, eu estava te salvando. — grito para ele.

Ele se arma novamente, erguendo-se nas patas traseiras, se fosse outra pessoa, com a proximidade que estávamos ele poderia fazer um estrago. Mas não me intimido, sei que ele não vai me machucar, quer apenas me amedrontar, quer me ensinar seus limites.

— Dandara, se afaste! — Santiago alerta.

Fico em silêncio encarando o cavalo.

Ele abaixa as patas, colocando a cabeça no meu ombro.

— Muito bem rapaz, isso mesmo, com calma. — retiro um petisco do bolso dando para ele. — Você vai se chamar Chuvisco.

— Ela conseguiu — escuto Miguel dizer.

— Deixa ele descansar, uma boa dose de ração e ele ficará bem. — Digo para Santiago. — Quando estiver curado começo a doma.

Vejo o ajudante dele receoso por chegar mais perto do cavalo.

— Ele não vai te atacar, é só não machucá-lo.

Ele confirma com um gesto, abrindo a porta para que Chuvisco passasse.


Trovoada está agitado em sua baia, ele sente falta quando não passeamos pela manhã.

— Estava esperando por isso, né? — pergunto enquanto acaricio sua crina. — Pronto para montar?

— Se você cavalgar como fez ontem comigo, acho que terei uma excelente manhã!

— Você não presta! — empurro seu peito, rindo — Pegue aquela rédea, Trovoada prefere montaria no pelo.

— Sem nenhuma proteção?

— Ele não vai te derrubar.

Monto Trovoada com Miguel, ele aperta meu quadril contra ele, seguimos pelo trieiro, eu aprecio o clima de pós-chuva. Atravesso o pequeno riacho rindo com Miguel apertando minha cintura com medo de cair do cavalo.

Desde que ele havia chegado no Haras estávamos em pé de guerra, como após uma chuva tudo mudou de maneira tão repentina? Credo! Isso era coisa da minha cabeça. Isso sim. Eu tinha que me focar em coisas mais importantes.

Paro perto das pedras, desço segurando as rédeas para que Miguel desça.

Dou um tapinha no dorso de Trovoada deixando-o cavalgar livre por aí.

— Ele vai voltar? — pergunta olhando para Trovoada trotando para longe.

— Sim, ele ama andar livre, todas as manhãs sento por aqui e ele fica cavalgando pelo campo.

Assim que termino de falar, aponto para a cachoeira à nossa frente. Os raios de sol refletem na água cristalina.

— Aqui é lindo.

Dou um sorrisinho de “eu sei”. Estávamos perto do morro, subindo daria para ter uma visão completa do Haras.

Estávamos em um silêncio confortável, Miguel brinca com a água com a ponta dos dedos, parece com o pensamento distante. Ele sai vindo ao meu encontro, um sorriso nos lábios, suas mãos vão de encontro à minha cintura, colando nossos corpos no meio da relva, aproximo meu rosto do seu, ele roça seu nariz no meu, minha respiração acelera. Sem conseguir conter, mordo o lábio inferior de leve e nos beijamos novamente.

Não tinha como me esquivar de algo tão forte.

— Miguel...

— Não, pare, não acabe com isso. — ele diz entre os beijos.

Sua língua explora minha boca como se eu pudesse desaparecer dali em um estalar de dedos, ele me beija como se isso pudesse me dizer algo. Havia entrega ali, em ambos, seus lábios descem por meu corpo, sua mão subindo minha blusa, fazendo meu corpo se arrepiar ao sentir a relva úmida tocar minha pele. Sua mão toca minha barriga, raspando as pontas dos dedos em meu seio, seu rosto esfrega a barba cerrada em minha pele, os pelos roçando contra minha barriga.

— É melhor voltarmos.

Miguel suspira de maneira audível. — Por que tem que estragar esse momento?

— Tenho coisas a fazer, um Haras sempre tem o que fazer.

Miguel não tenta me fazer mudar de ideia. Montamos em Trovoada para voltar, o silêncio nos acompanha até o Haras, assim que chegamos perto do estábulo Miguel pula do cavalo e quando me viro para falar com ele após colocar Trovoada na baia, ele não está mais ali.


CONTINUA

CAPÍTULO 16


Dandara

Uma semana, esse era o tempo que Miguel não dirigia a palavra a mim e muito menos eu iria procurá-lo. O silêncio pela casa era mais que bem-vindo!

Mathias, Maria e eu bebíamos nosso café puro quando ele apareceu na cozinha, a manhã estava fria, por isso adiei o passeio com Trovoada pelo campo para quando o tempo ruim desse uma trégua.

Enfio na boca o último pedaço de queijo branco de meu prato, tomando o resto do café.

— Maria, Mathias, bom dia — cumprimenta indo em direção a geladeira.

— Porra! Quem comeu meu queijo? — ele pragueja com a fuça enfiada entre as prateleiras da geladeira, fazendo Maria me olhar prepcupada e Mathias segurando o riso enquanto bebe seu café. Tudo que faço é dar de ombros, chupando as pontas dos dedos, nem um pouco arrependida. — Sumiu metade dele, e tenho certeza que ontem ele estava inteiro! — Miguel acrescenta fechando a coitada da geladeira com um baque.

— Olha só, era seu? Desculpe, eu comi — respondo na maior cara de pau.

Miguel me encara como uma carranca. — Mathias, preciso de um cavalo, estou querendo dar uma volta hoje!

— Tudo bem, posso preparar um cavalo para o senhor. — Mathias troca um olhar comigo.

— Acho que Bruto ainda está espirituoso como sempre. — digo. — Se quiser ter o traseiro jogado longe pode ir com ele.

Miguel me dá um olhar furioso. — É para agora, Mathias! — retruca saindo da cozinha.

Mathias se levanta, toma o último gole do café, — Dandara, está fazendo a vida desse homi um inferno. O coitado deve ta contando os dia para sumir por essa estrada à fora. — diz colocando o chapéu na cabeça.

— É bom mesmo que esteja. Tem sorte de eu ainda não ter cuspido no seu café — comento.

— Sei que odeia que metemos os bedelhos em coisa sua, mas os empregados estão receosos, os homi querem saber como vai ficar as coisas. Seu Miguel não veio aqui para deixar as coisas como estão, ele vai por tudo a baixo. — Mathias fala com cautela.

— Mathias, algum dia faltei com vocês? — questiono de maneira rude. Ele balança a cabeça de maneira negativa. — E isso não irá acontecer hoje. Avise seus homens que os empregos estão garantidos, nem que eu mesma banque os serviços deles.

— Pode deixar, Danda, desculpe a intromição.

— Mathias, somos família. Eu não vou falhar com vocês. — digo por fim.

Ele confirma, esboçando um sorriso em minha direção. — Santiago pediu para avisar que as vacinas chegam hoje.

— Estou ciente, assim que chegarem irei aplicar em todos. Não quero nenhum caso como a Archeron.

— Menina, a morte daquela égua não é culpa sua. — Maria diz.

— Eita , não quero prozear sobre isso, tenho trabalho me aguardando. — digo pondo meu chapéu na cabeça, seguindo para fora.


Sento debaixo de uma árvore olhando a cena. Miguel poderia tentar resgatar na mente os tempos de moleque, ele poderia até não ter nenhuma intimidade com os animais, mas pelo menos quando criança ainda conseguia montar um cavalo sem que ele tentasse morder sua coxa.

O Miguel da infância não está em nada parecido com o de agora, e não só pelo fato de ter emagrecido e ficado mais bonito, mas parece que Miguel tem ódio desse tipo de vida. Desde que chegou, olha tudo de cima, com cara de esnobe. Ele não tem vínculo com essa terra, ele não sente a importância que eu sinto quando vejo o sol raiando no horizonte, seus raios fortes iluminando essas terras.

Ele seguiu o caminho da cidade grande e eu o caminho dos bichos.

Mathias tenta ensiná-lo, mas ele parece muito com um cavalo xucro, surdo. Depois não quer ser chamado de mula. Levanto, limpando a parte traseira da calça com um espanar de mãos, me aproximando dos dois. — Mathias, vai conferir as coisas, deixa que eu cuido do brucutu.

— Não pedi sua ajuda. — Homi, mas mal agradecido!

— Não estou fazendo por você, e sim pelo cavalo, que não tem culpa do asno sentado em cima dele. — Miguel abre a boca para retrucar, mas mostro o dedo em riste — Você tem que aprender a ouvir, se segurar com força a sela, o cavalo vai entender que quer impor sua vontade e não vai deixar você cinco segundos sentado no lombo dele. Os cavalos farejam seus sentimentos de longe, ele sente quando você tem medo, raiva ou está confortável. Deixe a rédea frouxa.

— Você acha que eu desaprendi tudo que meu tio ensinou? — desafia.

— Acredito que sim, já que te salvei de vários tombos, se bem me lembro.

Ele me fulmina com o olhar. — Então vamos ver, esquentadinha. Pegue aquele cavalo mutante que você tem e vamos cavalgar por aí.

— Cavalo mutante?

— Você tem noção que ele é o dobro de um cavalo normal?

— Para sua informação a raça dele é Percheron. Ele é um ótimo reprodutor, por ser grande e forte nos dá potros com habilidades especiais para o campo. — Dou risada, vendo seus olhos se arregalarem quando o cavalo marcha para trás. — Tire os pés do estribo e, vá para trás.

Subo no cavalo com a destreza de sempre, ocupando seu lugar na cela. Eu conhecia os cavalos como a palma da minha mão aqui no Haras, por isso não tinha problemas com nenhum deles e sabia quando um deles queria fazer uma gracinha como nosso companheiro aqui.

Bato o pé no espaço entre a barriga e as patas traseiras, para que ele saia.

— Se você está pensando que vai ficar se esfregando em minha bunda, eu te jogo para fora do cavalo! Contenha suas mãos!

— Calma mulher estressada.

Tiro o chicote da bota acertando na bunda do cavalo e o animal sai em galope, soltando um relincho alto. Seguro o riso vendo que Miguel ficar tenso. — Gostando, brucutu? — Ele não responde.

Forço o cavalo ir mais além, sentindo a adrenalina do galope correr pelas minhas veias, sinto as mãos de Miguel segurarem minha cintura e o arrepio disso eriçar os pêlos de meu braço.

Cavalgamos um pouco pelo Haras indo até o campo aberto onde fico com Trovoada e voltamos para o Haras, parando no estábulo.

Desço do cavalo, colocando as mãos na cintura. — Gostou do passeio?

— Você queria se exibir.

— Não preciso me exibir para você. Já é um milagre que você tenha ficado em cima do cavalo enquanto estávamos cavalgando.

— Olha aqui, você se acha incrível, acreditou mesmo que eu precisava de você?

Gargalho com irônia. — Você não sabe nem ao menos como se monta num cavalo. É uma sorte que saiba onde fica o rabo e a cabeça.

— Você é mesmo muito...

— Muito?

Miguel se inclina, ficando mais perto de mim, quando seu rosto praticamente cola no meu, pude sentir sua respiração. O perfume exalava, eu tinha começado a odiar esse cheiro, cheiro que me tirou o sono nas últimas noites, mas senti-lo tão perto me embriagava. Antes que eu pudesse raciocinar, os lábios de Miguel grudaram nos meus. Os braços fortes rodeando minha cintura.

— Sua esquentadinha, está tentando o quê? — Parecia que ele estava falando mais consigo mesmo do que algo para mim.

Sua língua voltou a lamber o canto de minha boca, seus dedos apertando minha cintura, uma de suas mãos subiu por minha espinha.

Acaricio sua coxa, bem perto de seu membro.

— Vamos sair daqui — sussurra como um pedido. Suas mãos apertando minha bunda, passeando por todo meu corpo, da cintura até o pescoço. Ele beija minha boca com ferocidade, empurro seu peito sentindo os músculos firmes contra a palma de minhas mãos, descolando seu corpo do meu, vendo a malícia nos olhos de Miguel. — Por que parou? — pergunta.

Respiro fundo ainda olhando para ele, controlando a maluquice da qual acabo de me curvar...então, tenho uma ideia. — Espere um minuto, o Haras ainda está movimentado, vou checar se ninguém está por perto e trancar a porta. — digo de um jeito safado, bem parecido com o que Cindy fazia sempre que conhecia um homem de fora.

Ele passa a mão sobre o pênis por cima da calça, animado. Vou até lá fora, vendo que realmente não tinha ninguém por perto, puxo uma das portas travando-a no chão e repito o mesmo processo com a outra, mas antes de fechar e entrar como falei que faria, dou um tchauzinho para ele, fazendo seu sorriso desaparecer. Percebendo o que estava prestes a fazer.

— Agora sim você está no seu devido lugar, uma pena que não tenhamos nenhum curral para você nadar com seus amigos...porcos! — digo rapidamente.

Miguel corre ao meu encontro, mas antes que ele me alcance, fecho a porta passando a tranca.

— Dandara, abre isso daqui! — seus gritos se misturavam com os relinchos dos cavalos incomodados dentro do estábulo. — Dandara, sua caipira maldita!

— Desculpe, brucutu. Aproveite seu tempinho com os cavalos e limpe as baias deles, Deus sabe como temos quilos e quilos de esterco por dia. Qualquer coisa tem feno e água se sentir fome. Isso deve bastar para você.

Ele bate na porta, fazendo-a tremer, gritando pelo meu nome. Urrando de raiva por ter caido feito patinho em minha arrapuca.

Cruzo com Bento no caminho de volta ao casarão, girando as chaves do estábulo entre os dedos e rindo feito uma maluca.

— Gosto de vê-la animada, mas está com cara de quem aprontou.

— Que é isso, Bento! — me finjo de inocente.

Ele bate na aba do chapéu, não acreditando nem um pouco no que eu estava dizendo. — Mathias está com os cavalos, quase todos foram vacinados, ele ficou esperando ocê aparecer, mas preferiu dar logo. Ficou fartando apenas o último estábulo. — comenta indicando o estábulo que tranquei Miguel.

— Diga que farei aquele estábulo, estou dando um castigo em um cavalo xucro. Ignore os resmungos, o cavalo está dando coice em todas as paredes, já vi cavalo dificil, mas esse...logo domo também — digo colocando um enorme sorriso no rosto.

Bento olha ao nosso redor, como se procurasse alguém e eu sei quem está procurando.

— Dandara, Dandara...

— Fique calmo, por que não vamos tomar um café, quem sabe Maria fez aquele pão doce que tanto amo? — pergunto enlaçando meu braço no seu, levando-o para longe do estábulo onde Miguel estava, acredito eu, urrando de raiva pelo tremor que a porta fazia.


CAPÍTULO 17


Miguel

— Sua caipira insolente! Como eu sou burro!

Eu esmurro a porta que nem um doido, gritando tanto que sinto minha voz falhar e ninguém aparece por ali. Viro olhando para os cavalos que relicham, só me faltava esses bichos me atacarem.

— Abre a porta! — grito de novo. Ando pelo estábulo procurando uma outra saída, lembrando de suas palavras “Aproveite e limpe as baias” , que filha da mãe! Até parece que eu iria sujar minhas mãos limpando merda de cavalo.

O cavalo no qual demos uma volta antes dela me trancar aqui chega perto, me fazendo pular de susto. Ele se sacode, sua crina bate de um lado para outro e solta um pequeno relincho.

— É, aquela ali não presta!

Cômico! Agora eu estava conversando com um cavalo como se ele pudesse me entender. Eu torceria o pescoço de Dandara assim que me livrasse dali.


Não tinha noção de quanto tempo tinha se passado, sei que estava de saco cheio de ficar ali.

— Noite, brucutu. Como foi seu dia?

Fico de pé chegando perto da porta, eu mataria essa mulher! — Pare com essa brincadeira de mau gosto, me tira daqui!

— Pelo visto continua grosseiro e sem educação. Espero que não esteja maltratando meus animais, por que se estiver, não vai ficar apenas dois dias trancado aí.

Meu sangue ferve nas veias. — Dandara, estou te avisando, quando eu sair daqui...

— Chega de ameaças em vão, vou te tirar daí quando aprender sua lição.

Esmurro novamente a porta, escutando seu risinho e seus passos se afastarem, — Dandara, estou com fome!

— Coma feno, brucutu!

Os cavalos mal se importavam por estar ali com eles, nos primeiros minutos e até primeira hora eles ficavam espiando ou fungando em minha direção. Agora? Muitos nem ao menos me encaravam, olho novamente para o cavalo solto perto de mim, ele abocanhou um punhado de feno mastigando e quando repetiu o gesto despejou um pouco em minhas pernas, como se dissesse que era bom.

— Tá de brincadeira você também!

Empino o nariz, olhando na direção contrária. Mas volto a encará-lo quando ele vem para cima de mim despejando mais feno em minhas pernas, seu focinho se torce inteiro enquanto mastiga.

— Ei amigão, pode ser bom para você, mas isso daí é mato. E alguém já te ensinou a dar espaço as pessoas?

O cavalo relincha, dando as costas para mim, batendo seu rabo bem no meio do meu rosto. Me fazendo xingá-lo. Como se estar preso junto aos cavalos não fosse o suficiente, ou do fato de estar com frio também não fosse, ainda tinham os mosquitos que faziam seu banquete atacando minhas veias.

Minha barriga roncando, meu corpo coçando e eu fedendo a estrume de cavalo.


Os raios de sol atingindo meu rosto me fizeram apertar os olhos tentando ver quem estava entrando, se fosse Dandara eu daria uma palmadas em sua bunda.

— Miguel? — Mathias perguntou surpreso, tentando entender tudo que estava acontecendo, olhando para a bagunça que tinha feito nos blocos de feno ao tentar arrumar um jeito para dormir. — O que você está fazendo aqui?

— Pergunte para aquela caipira filha da mãe — digo bravo, ficando de pé, sentindo as costas reclamar pelo movimento brusco.

Ele dá uma gargalhada. Mas se adianta a falar: — Desculpe, Seu Miguel.

Meu corpo chia de dor a cada maldito movimento, preciso de um banho quente, comida e boas horas de sono. Quando me recuperar ela vai ver, eu vou colocar essa caipira em seu lugar!

Estou com esse pensamento até ver Dandara caminhando sorridente em direção ao casarão.

— Ah, sua potranca mal educada! É bom correr. — ameaço gritando.

As pessoas que estão perto de mim me olham assustadas, e devem mesmo, porque meu rosto não deve estar nada amigável. Dandara se vira, o sorriso sumindo do rosto ao me encarar e então ela corre, empurra Santiago para longe e corre como uma moleca travessa sendo pega na artimanha, entra correndo no casarão.

Corro tão rápido que logo estou fazendo a porta de madeira branca bater contra a parede e escuto Maria falando alto na cozinha:

— Menina, o que houve? Tá tentando tirar o pai da forca?

— Dandara! — grito novamente.

Entro na cozinha vendo-a atrás de Maria, como se eu tivesse receio de ir lá lhe dar umas boas palmadas!

— Pare de correr, será pior quando eu te pegar! — ameaço.

— Ei, não quero bagunça na minha cozinha! Dandara o que você aprontou com o homi ? — Maria bate com a colher de pau na bunda de Dandara que agora tenta se esquivar de mim e de Maria.

— Vai fazer o quê? Me bater? Agora bate em mulheres? Quero ver encostar a mão em mim!

— Não, nunca encostei em uma mulher, mas dizem que para tudo tem uma primeira vez. E minha mão está coçando — grito.

Dou a volta na mesa, Dandara corre para o outro lado, fazendo o banco cair e eu tropeçar ao tentar pulá-lo, caindo de quatro no meio da cozinha. Sua gargalhada alta, faz minha raiva ferver mais que panela de pressão no fogo. — Ria enquanto pode.

— Alguém pode parar esses dois? Eles irão destruir a casa! — Maria grita empunhando sua colher de madeira. — Estão parecendo duas crianças!

— Desculpe Maria, mas não vou me meter — escuto a voz de Mathias enquanto corro atrás de Dandara que vai para a sala. — Dandara prendeu o homi no estábulo, peguei ele dormindo de concha com os cavalos.

Maria me encara, a mão na boca tentando segurar o riso.

— Vai, pode rir. Quero ver se aquela filha da mãe vai continuar rindo da minha cara quando eu a pegar — bufo, com os olhos em Dandara.

Ela faz um movimento errado diminuindo nossa distância, pulo sobre o sofá, meus braços envolvem sua cintura, tirando seus pés do chão. Não penso duas vezes, jogo seu corpo em meu ombro, dando um tabefe em sua bunda.

— Me solta! — Dandara grita.

Ela bate em minhas costas, os socos doem, não é que a Diaba tinha uma força bruta?

— Como foi sua noite? A minha foi maravilhosa, tá sentindo meu cheiro? Quer ver a quantidade de picadas que tenho espalhadas pelo corpo? Acho que tenho feno até em parte que desconheço!

Dou mais alguns tabefes em sua bunda que a fazem gritar. Eu estava puto por ela ter me deixado ao relento no meio dos bichos. E ficando com tesão, isso mesmo, ter o corpo daquele Diaba tão perto, tão ao meu alcance. Seus seios roçando em minhas costas, estava fazendo meu pau ficar rigido como uma tora, maldita hora para uma ereção. Eu queria mesmo é vê-la de quatro enquanto castigava sua bunda por ter me deixado trancado junto dos cavalos, mas também saborear cada gemido que ela pudesse...

— Meu Deus, Seu Miguel, solte a menina! — Maria exclamou.

— Não antes de lhe dar uma lição! — digo.

— Seu Miguel, não me obrigue a usar a Betinha em ocês dois. — Maria alerta.

— Não estou brincando, brucutu! É bom me soltar! — Dandara urra em minhas costas.

Acerto um tapa mais forte, jogando seu corpo no sofá, prendendo seu corpo ali ao apoiar meu joelho de um lado e o braço ao lado de sua cabeça, vendo seus olhos se arregalarem por um pequeno instante, mas o suficiente para meu dar um gostinho doce na boca. — Você tem sorte que é mulher, mas eu poderia, como vingança, soltar aquele seu cavalo gigante que tanto ama... — digo de maneira perversa — Como você ficaria?

Dandara me empurra com força, ficando de pé. — Você nem pense em tocar no Trovoada, você me entendeu? — responde praticamente gritando.

— Seria excelente, quem sabe assim você aprende a respeitar as pessoas? — retruco segurando seu braço.

— Larga meu braço, Miguel!

— Você quer me enlouquecer, você vem, me atiça, me provoca...

— Você se aproveitou da situação! — retruca.

— Você não se faça de sonsa! — grudo seu corpo mais no meu — Adorou o que fiz com minha boca.

— Misericórdia! — o sussurro de Maria quase me tira o foco da diaba em minha frente.

— Eu odeio você, Miguel! — Dandara tinha ficado furiosa, mas confesso que não liguei para o que ela estava falando, só conseguia ver aqueles lábios se mexendo. Queria torcer seu pescoço, mas também queria fodê-la. Como essa mulher me tira do sério!

— Você quis tudo que aconteceu e tá querendo mais que eu sei.

Seguro um punhado de seu cabelo bem justo no pescoço roubando um beijo, mordo seu lábio nem me importando por ela reclamar ou tentar me empurrar. Dandara retribui meu beijo, até me afastar, empurrando meu peito, fazendo com que me desequilibrasse dando alguns passos para trás rindo.

Ela limpa a boca me olhando com raiva, cospe no chão e então corre escada acima.

— Minha mãe dizia que muito ódio vira amor. — Maria retruca.

Viro vendo que Mathias e Maria ainda assistiam nosso pequeno showzinho. — Dela quero distância — digo marchando para meu quarto.


CAPÍTULO 18


Dandara

Bato a porta fazendo as coisas estremecerem dentro do quarto. Maldito brucutu! Arranco minhas roupas jogando-as no cesto perto do banheiro, ligo o chuveiro bem quente, quente o suficiente para que ao tocar em minha pele pudesse queimar o toque daquele... Engulo os pensamentos raivosos que passam por minha mente esfregando meus braços, meu pescoço, qualquer lugar que ele tivesse encostado, na tentativa de tirar o cheiro dele. Ainda não conseguia acreditar na petulância daquele brucutu. Miguel realmente não tinha amor pela vida.

Confesso que deixá-lo ao relento não foi algo muito sensível de minha parte, mas ele mereceu e, vai merecer cada pisão em seu pé a partir de hoje.

Bater na minha bunda e me tascar um beijo na frente de todos? Quem ele pensa que sou? Enquanto terminava meu banho pensava em mil maneiras de me vingar, mas acabei descartando todas, eu é que não desceria ao nível infantil dele, minha melhor vingança seria chutar a bunda dele para fora do meu Haras quando tudo acabasse.

Visto um short e uma camiseta puída e chinelos, melhor me ocupar dando banho nos animais do que cruzando meu caminho com certas mulas por aí. Atravesso o Haras em silêncio evitando falar com qualquer um que cruze meu caminho.


Agradeço pelo trabalho parecer não ter fim e os músculos espalhados pelo meu corpo começarem a protestar do esforço feito, passar o tempo no meio dos cavalos me acalmava e me fazia esquecer por alguns instantes minha vontade assassina contra Miguel. Mas amanhã mesmo eu ligarei para o advogado, não dá para continuar assim, mais dia ou menos dia e eu mataria Miguel. Que ideia absurda de Pedro me colocar nessa enrascada.

Já era noite quando paro fecho a última baia. Trovoada relincha animado após o banho, sacudindo a cabeça e sua longa crina.

— Teve um dia melhor que o meu, né, bonitão?

Saio do estábulo trancando as portas, todos os funcionários já tinham ido embora, caminho observando a noite, as estrelas e a lua cheia brilhando forte no céu, o som dos grilos cantando no meio do pasto.

Entro no casarão, tiro o chapéu, deixando-o no mancebo de madeira. Tudo estava em completo silêncio, poucas luzes acesas indicando que até a Maria tinha se recolhido.

Passo pelo quarto do brucutu vendo a luz está acesa sair pela pequena fresta da porta, estava prestes a entrar em meu quarto quando escuto uma porta atrás de mim se abrindo.

— Esquentadinha!

Viro, vendo-o só de cueca box, o corpo todo amostra.

— Não dirija a palavra para mim!

— Eu disse hoje cedo que tinha contas a acertar, você acha que seu showzinho me botou medo? — questiona vindo em minha direção.

— Se colocar as mãos em mim é bom começar a rezar para sair com ela no lugar!

— Não tenho medo de suas ameaças vazias — retruca.

— Vazias serão as suas bolas quando eu chutar para longe. — ameaço

— Você acha que vai me enlouquecer? — pergunta vindo em minha direção — Acredita mesmo que vou cair nos seus truques?

— Truques? — Gargalho alto — Não sou eu que fico agarrando você para roubar beijos.

— Vai dizer que não gostou?

— Já percebi que gosta de brincar com fogo! — desafio — Cadê toda aquela falamansa que andou esbravejando por aí? Homi metido a machão, não consegue parar de encarar para minha boca enquanto eu falo. Tudo isso é desejo?

— Não me torno frouxo por ter você na minha mente, me torno se não conseguir tirar, — Miguel dá mais dois passos em minha direção — e isso eu sei como fazer.

— Você pensa que me leva fácil, né?

— Você gosta de mexer com os homens, “se sente” fazendo isso...

— Eu não sou de quem me quer, sou de quem eu quero ser, e faço porque posso. — respondo dando um sorrisinho.

Miguel puxa meu corpo para o seu, fechando a porta com o pé, sua boca mordendo a minha enquanto distribuo tapas sobre seus ombros, costas, todo lugar que minhas mãos alcançam. Mas seu beijo furioso vai desarmando meu corpo, principalmente quando solta minha boca beijando de leve e devagar meu pescoço, rindo contra minha pele que se arrepia com seu toque, acabando com qualquer defesa minha. Não tinha gentileza no toque, havia desejo e prazer, junto de uma pessoa que queria provar seu argumento.

As mãos de Miguel ergueram meu corpo, sua língua forçando minha boca a se abrir ainda mais. Eu meio que empurro, e volto a puxar seu corpo para o meu. Precisei inspirar profundamente algumas vezes quando sua boca tomou o pequeno vão entre meus seios, sua lingua quente tocando minha pele fazia meus mamilos endurecerem e meu corpo querer mais. Sentir a proeminência em sua cueca também não ajudou muito meus pensamentos entrarem num bom senso.

Não era correto eu me render ao seu toque, não quando tinha aberto minha matraca falando que não me entregaria numa bandeja para ele, mas que diacho! Mordo seu lábio inferior, empurrando seu corpo para longe, tentando controlar a respiração. — Chega!

— Por que parar agora? — questiona agarrando novamente minha cintura.

— Eu disse chega, Miguel!

Suas mãos continuaram apertando com firmeza minha nuca, seus olhos mostravam que não estava disposto a me deixar em paz, que não sairia de meu quarto com aquela decisão fraca com a qual eu tentava me agarrar.

— Chega nada, não para mim e com certeza não para você. Eu sinto seu corpo vibrando em minhas mãos, Dandara.

Não arrisco olhar para ele, com medo que ceda aos meus instintos. Ele segura meu braço, olhando no fundo de meus olhos.

— Eu quero você, Dandara!

— Você quer me passar para trás, quer ter motivo para fazer chacota, quer o Haras, não é porque fui criada no meio do mato que não conheço homens como você, Miguel!

— Cala um pouco a boca, esquentadinha!

Abro os lábios para retrucar, mas é tarde. Ele pega meus braços, me empurrando contra meu armário, meu corpo inteiro treme com o calor do toque, ele tira a barra de minha camiseta de dentro do short, traçando livremente pelo meu corpo até meu seio. Miguel me vira de costas, mordendo meu pescoço, o corpo colado no meu, e acaba abrindo meu sutiã. Segurando meus seios, massageando-os nas mãos, beliscando meus mamilos sedentos por atenção. Roço minha bunda contra seu membro rigído na cueca, fazendo com que ambos gemêssemos.

Miguel continua acariciando meu corpo, mordendo e chupando meu pescoço. — Quero você, aqui e agora. — ele arranca minha camisa pela cabeça, fazendo a mesma coisa com meu sutiã, chupando meus seios, sugando-os até que eu não pudesse conter mais meus gemidos de prazer. Meu sexo pulsa, até dolorosamente quando a pressão do prazer explode em certas áreas.

É errado continuar com isso? Puxá-lo par mim, desejando seu corpo, respiro profundamente tentando encontrar a raiva que me alimentava horas atrás, mas só encontro o desejo.

Miguel conduz nossos corpos para a cama, arrancando o resto de nossas roupas, assim como o preservativo escondido no cós da cueca, em um segundo estava entre minhas pernas, sua mão agarrando meu cabelo, sua boca mordendo meu queixo.

Segurando meus seios com as duas mãos, apertando e puxando os bicos, lambendo minha barriga, minha cintura, roçando a barba pela minha pele, deixando-a rosada e eriçada. Um gemido explodiu de mim quando sua língua encontrou meu clitóris, seguro firme o lençol querendo tremer com o que ele fazia em minha intimidade, sua boca não me dava misericórdia alguma, sua língua muito menos. Quando seu dedo me invadiu, minhas costas se curvaram e o gemido saiu mais alto, fazendo eu ganhar um tapa na bunda.

— Desculpa, esquentadinha, mas teremos tempo para fazer amor em outro momento, agora, eu quero que seja rápido, que queime esse fogo dentro de mim.

Miguel desenrola o preservativo em seu membro, nunca tirando pelo menos uma de suas mãos do meu corpo, seus dedos tocam meu sexo, me fazendo arfar. Chupo os dedos que me tocam, vendo Miguel mordiscar o lábio e sorrir. Seu pau encaixado em minha entrada, deslizando de maneira lenta, começo a rebolar, fazendo seu membro se remexer dentro de mim.

Enquanto eu rebolo, Miguel segura meus cabelos de forma bruta, aumentando o ritmo dos movimentos, entrando e saindo de dentro de mim, segurando minha cintura com a mão livre fazendo seu membro ir mais fundo, meu corpo treme e Miguel geme alto.

Estavamos nos devorando, caricias eram feitas pelo nossos corpos ondulando juntos, enquanto eu consumia cada gemido e estocada que Miguel produzia.

Aperto os lençóis entre os dedos, seguro seu pescoço com firmeza quando ele encaixa a boca sobre meu seio, montando em seu colo, sentando com força sobre ele, gostando do modo como ele geme e descola a boca de meu mamilo, jogando a cabeça para trás rendido.

— Puta que pariu, você é deliciosa! — diz baixinho contra meu pescoço.

As estocadas duras fazem meu corpo tremer, meus seios balançam com o ritmo forte do sexo que fazemos. Ele geme agarrado em minha cintura, forçando meu corpo para baixo, quebrando as últimas barreiras, me fazendo gozar. Miguel ainda mantém o ritmo por algumas estocadas até que goza, seu membro latejando dentro de mim, se misturando com nosso suor, os tremores do meu corpo e do seu e as batidas descompassadas dentro do meu peito.


Quando eu estou envolvida em seus braços

O mundo todo apenas desaparece

A única coisa que escuto é

o bater de seu coração.


Porque posso ouvir sua respiração

Está se derramando sobre mim

E de repente estou me desfazendo dentro de você

(Breathe, Faith Hill)


Arre égua , estou perdida...

Levanto com um sobressalto e empurro para longe o braço forte que rodeia meus seios, tentando soltar meu corpo. Parece que os braços dele tinham se tornado uma braçadeira de ferro, o jeito foi sair me rastejando pela cama como uma cobra, até que eu caísse de bunda no chão.

Pego uma muda de roupa e corro para o banheiro, tomo um banho rápido, não parando nem para secar o cabelo, apenas escovo e deixo solto pelas costas. Não é que eu não queira encarar a asneira que tinha feito noite passada, mas...bem, era isso mesmo, não queria dar de cara com Miguel, por isso levantei mais cedo que até o próprio sol e me esgueirei para fora do quarto com as botas nas mãos.

— Fugindo de alguém, menina?

Pulo tampando a boca para que meu grito de susto não faça eco pelo corredor escuro.

— Cristo pai, você quer me matar do coração, Bento? — questiono sentindo os batimentos acelerados contra o peito.

— Desculpe, mas estava saindo do quarto como quem escondia um cadáver, devo me preocupar? — pergunta encarando a porta que eu havia acabado de fechar.

— Deixe de besteira homem, só tive uma noite ruim.

Bento coça a cabeça com a bengala velha. — Arra, por falar em noite ruim, tinha algum animal sofrendo ontem, Maria e eu mal pegamos no sono, parou de sofrer era já tantas da madrugada.

Engulo em seco, será que tínhamos feito tanto barulho assim?

— Vou ficar de olho nos arredores, tenha um bom dia, Bento.

Escuto o riso baixo dele enquanto caminho pelo corredor. — Bom dia, menina.

O dia não tinha se levantado, mas mesmo assim entro no estábulo para conferir como estão os animais. Reponho água e feno, depois me dirijo á baia de Trovoada, ele vira a cabeça não querendo olhar para mim.

— Qual é, amigão, está bravo comigo?

Ele me encara, dando uma fungada balaçando a cabeça como se confirmasse.

— Que tal recompensar isso com com uma corrida?

Ele relincha ainda evitando me olhar, eu conheço o jogo dele, Trovoada é um menino mimado, e a culpa é toda minha.

— Tudo bem então, já que não quer mais minha companhia...

Ele relincha mais alto, levantando as patas da frente. Fazendos os outros cavalos reclamarem.

— Você é um garotão mimado! — brinco, pulando a portinhola da baia, subindo diretamente no pelo, me agarrando ao seu pescoço. — Vamos ver o sol nascer.


Ficar perto dos cavalos ou montar em Trovoada é como respirar, algo tão natural, acredito que eu aprendi a montar antes mesmo de andar.

Saímos em direção ao campo aberto, ganhando velocidade a cada passada, sentindo o vento frio da madrugada ir contra nós. Eu precisava limpar minha mente, precisava tirar Miguel e a noite de ontem da mente, precisava tirar essa distração total, ainda não sabia o que pensar sobre essa história de Miguel conseguir meu Haras, o que faria com as famílias e funcionários que dependiam dos seus empregos? O que faria com os cavalos? Para onde eu iria com Trovoada? Aqui sempre fora meu lar, foi meu lar quando minha mãe faleceu, foi meu lar quando meu pai morreu em um torneio de rodeio.

O Haras é meu santuário, minha casa, eu aprendi a escrever no lombo de um cavalo, fiz desenhos nas paredes do antigo celeiro, aquilo era meu refúgio...

Volto para o Haras depois de admirar o sol nascendo, em alguns dias começaria o outono e o frio ocuparia as noites, o que me fazia sair pelos campos ajudando os cavalos que podem se perder ou sofrer com as chuvas repentinas.

Vou até o escritório respirando fundo, ao sentar em minha cadeira, tiro o chapéu, deixando-o sobre a mesa.

— Entre — respondo à batida na porta.

— Dandara, bom dia.

— Daniel, estava mesmo esperando por você. Sente-se.

— Em que posso ajudá-la?

— Quero saber mais sobre o Haras, por que Pedro deixou o Haras com Miguel, ele conhecia o sobrinho, nunca teve interesse por nada, mal sabe a diferença entre a crina e o rabo dos cavalos. Porque deixar o Haras nas mãos dele? — solto tudo de uma vez, expondo minha irritação, minha indignação. — Você me conhece desde menina, Daniel, eu ensinei sua neta a montar, eu cuido desse Haras como se fosse meu filho. Deixei as competições para administrar tudo isso quando Pedro descobriu a doença, abdiquei minha carreira para dar minha vida ao sonho dele.

Sinto as lágrimas forrando a parte debaixo dos meus olhos.

— Quando ele desejou implantar o projeto fui eu quem o apoiou, eu que contratei os profissionais, saí em busca de patrocinadores, tenho mais de trezentas crianças se benificiando do projeto. Temos selos e premiações.

— Eu sei de tudo isso Dandara, mas não cabe a mim dizer os motivos que influenciaram Pedro a tomar essa atitude. Ele escreveu uma carta, uma carta para você e Miguel, que só poderá ser lida após a decisão ser tomada.

— Uma carta? E você não me comunicou antes por quê?

— Dandara, como disse, isso não está em minhas mãos. Pedro deixou ordens explícitas.

— Arre égua , uma bosta a essas ordens!

Bufo, tentando controlar minha irritação.

— O único conselho que eu posso dar é: mostre ao Miguel o quão bem o Haras faz, mostre seu amor por tudo que você e Pedro criaram nesses anos. Faça-o não vender o Haras, até mesmo unindo os dois planos, por que não?

— HÁ HÁ, transformar meu Haras em um hotel de luxo para madames enfrescuradas? Quando um cavalo cagar nos pés delas quero ver quantas estrelas sobrará. É de pessoas como Miguel que eu sempre fugi esses anos, não quero o dinheiro de quem vê meus cavalos como um pedaço gigante de bife passeando por aí.

— Tente ao menos resgatar o amor que Miguel tinha na infância. — Daniel aconselha.

— Por Cristo, Daniel. Pedro estava maluco no final dos seus dias. Ele acreditou mesmo que os chiliques na infância de Miguel era por mais tempo com os animais? O menino gritava se um porco grunhice em sua direção. A última vez que pisou no Haras fez uma estripulia soltando metade dos cavalos das baias. Foi um Deus nos acuda até recuperarmos tudo.

Daniel segura o riso, ajeitando melhor a postura na cadeira.

— Quer que eu conte a vez que soltou uma bombinha estampido no meio do pasto? Pedro saiu atrás dele na base do chicote.

— Vou dizer a mesma coisa para você como diria para Miguel: não posso intervir, a questão não é uma briga de foices. É vocês conversarem o que é melhor para o Haras...

— Ele irá vender tudo, demolir tudo, sabe quantas pessoas tenho trabalhando aqui? Quantas famílias envolvidas? Imagina todos os dias você se levantar e as pessoas te encararem com perguntas nos olhos, meus funcionários não sabem como será o amanhã. Nem se terão o salário no mês que vem — resmungo — É com isso que lido.

— Miguel fez uma proposta, ele quitaria as dívidas que o Haras tem, e fez uma consulta com as fazendas de corte e o Haras vizinhos para a possibilidade de vender os cavalos. Acredito eu que queria sondar o terreno para saber o valor de um manga-larga.

Levanto enfurecida, batendo as palmas das mãos na mesa. — Ele quer levar uma chicotada!

— Dandara! — exclama.

— Ele que tente encostar em meus cavalos, ele que tente... Arre égua!

— Quando o assistente de Miguel entrou em contato comigo deixou bem explicíto que o único que ficaria fora desse pequeno inventário seria o Trovoada.

Arqueio a sobrancelha — E isso alivia minha vontade de matá-lo? Ah claro, ele foi gentil em não vender um cavalo que foi presente de meu pai!

Eu estava soltando fogo pelas ventas, o filho duma égua teve coragem de agir pelas minhas costas e depois vem com sua falamansa e me leva pra cama. Eu sou muito burra mesmo!

— Bem, Dandara. De todas as formas, se vocês não chegarem a um acordo, se você não aceitar vender sua parte para ele ou se não conseguir pagar a dívida, automaticamente o Haras entra em um processo e se ele tiver a possibilidade, vai acabar nas mãos de Miguel. Se isso não ocorrer, de qualquer forma, assim que o tempo imposto pelo Seu Pedro acabar, o Haras entrará num processo onde quem terá o poder de decisão é a justiça. Isso pode envolver até mesmo leilão, por conta das dívidas.

— Então é: corre pro mato ou corre pro morro. — suspiro.

— A maneira de todos saírem satisfeito é vocês tentarem resolver isso amigavelmente.

— Tudo bem, obrigada pelo seu tempo doutor.

Ele concorda com um gesto, levantando-se. — Fique bem.

— O senhor também.

Acompanho o advogado para fora, fechando a porta atrás de mim. Caminho até o espaço para equitação, vendo os montadores treinando.

— Dandara!

Abaixo um pouco a aba do chapéu fazendo sombra para o sol forte da manhã. Carolina vem calvagando em minha direção, acenando. — Bom dia!

— Preciso da sua ajuda, sinto Damião entrando errado nos obstáculos.

— Dá uma volta para eu observá-lo — digo pulando a cerca.

Carolina trota se afastando, fazendo semicírculos para aquecer o cavalo, passa pelos primeiros obstáculos e vejo que Damião está com uma passada errada, as pernas de dentro estão trotando mais longas que as de fora. É preciso equilibrar o lado que ele está tendo maior dificuldade. Carolina também anda forçando demais no elevado, a conexão entre eles também estava meio mexida, isso acontecia com cavaleiros que entravam na época de competição, tinham muita pressão e sentimentos misturados e acabam passando para os animais.

— Bom dia, esquentadinha, tinha espinhos na cama essa manhã? — Miguel agarra minha cintura e beija meu pescoço. Me esquivo com um sorrisinho, ainda com raiva por ele ter agido pelas minhas costas.

Seu olhar malicioso mexe comigo. O desgraçado sabe que venceu ontem!

— Levanto antes mesmo do sol, coisa de caipira. — me atrevo a desafiá-lo.

Miguel sorri abaixando a cabeça, ainda me olhando. — Confesso que tive uma noite excelente. Poderíamos repetir nossa conversa hoje a noite, o que acha?

— Poderíamos, mas não vamos, tenho mais o que fazer. E nada mudou.

Miguel me encara surpreso, — O que eu fiz? Acordou azeda como um limão, você não cansa de distribuir coices?

Nós estavamos em um maldito pé de guerra e tudo que eu conseguia me lembrar quando encarava os olhos castanhos de Miguel é onde sua maldita boca esteve ontem a noite. E eu excitada por cada gesto que aquele brucutu fez! Deveria dar um tapa em mim mesma!

— Que tal darmos uma volta? Você poderia me mostrar a região.

— Claro, tem algo que ficou de fora de seu inventário? — mordo a língua por ter falado disso.

Miguel fica surpreso, mas logo se afasta de um passo, confirmando o que Daniel tinha dito mais cedo, ele realmente agiu pelas minnhas costas.

— Dandara...

— Cala a boca, brucutu! Se não quer ver a cara enfiada no esterco de cavalo, fique quieto!

Viro sinalizando para Carolina se aproximar.

— Teremos que trabalhar algumas coisas em vocês dois. Faça uma pausa, eu vou preparar o redondel.

— Ok, obrigada Dandara.

Sorrio pulando o cercado novamente, ignorando Miguel que me seguia como uma sombra.

— Não cometi nenhum crime, Dandara.

Reviro os olhos, caminhando para longe.

— Você está sendo teimosa, poderíamos resolver isso de outro jeito, quem sabe unir o útil ao agradável.

Viro fazendo-o parar quase tropeçando em mim. — Diga brucutu, qual sua excelente ideia? Já recebeu oferta pelos meus cavalos? Ah, muito obrigada por deixar Trovoada de fora, foi uma gentileza imensa, já que não quis vender também um presente de meu pai.

Sinto que estou quase gritando.

— Eu não venderia seu cavalo, vejo o amor que sente por ele. Posso não ser um especialista ou não gostar das mesmas coisas que você, mas não quero mal aos bichos.

— Não quer o mal deles? — Sinto minhas bochechas pegando fogo, Miguel mesmo mantém uma certa distância de mim. — Sabe qual a diferença entre um cavalo para lidar com o gado e um cavalo de montaria e competição?

Ele dá de ombros.

— Exato, se não sabe essa imensa diferença e mesmo assim foi oferecer meus cavalos para donos de fazenda de corte. Você com certeza não quer o bem deles. Jumento! — disparo a falar.— Mas tenho uma solução, vá embora, se não quer o mal deles, vá. Ou está esperando a foda de despedida? Quer ir para o celeiro desativado? — pergunto desatando o nó da minha camisa xadrez fazendo ela revelar minha blusa curta.

— Deixe de ser ridícula! — ele grita, chamando atenção das pessoas que passam por nós.

— Não sei onde Pedro estava com a cabeça, ele só poderia estar alucinando quando decidiu deixar meu Haras para você! — Vejo o olhar irritado de Miguel, mas não deixo que fale. — Tenho muito trabalho a ser feito, se puder pelo menos não atrapalhar, eu agradeço.

Estava pronta para deixá-lo parado sozinho quando vejo Cindy galopando em minha direção. Era hoje, definitivamente eu mataria um.

Ela se aproxima com o sorriso mais falso que nota de três reais, diminuindo o galope, parando o cavalo perto da cerca e desce, balançando a mão em nossa direção. — Dandara! Era você mesmo que queria encontrar!

— Só me faltava essa — sussurro. — Acho que errou, sua prenda está bem na minha frente — digo com um sorriso cínico nos lábios.

— Forasteiro, desculpe não ter vindo mais cedo, vejo que ficou totalmente curado do ataque de fúria de Dandara.

Miguel sorri, deixando que a oferecida lhe agarrasse o pescoço dando um beijo bem perto de sua boca.

Maria trepadeira! — penso com raiva.

— Estou bem sim, que surpresa boa vê-la aqui. Estava agora mesmo comentando com Dandara que queria dar uma volta pela região.

Cindy sorri animada. — Então encontrou sua companhia, faço questão de ir com você.

Miguel me encara vendo minha cara de poucos amigos. E mesmo que eu tente disfarçar meu ódio por Cindy, ele se aproveita da situação. Segura na cintura fina da trepadeira, abrindo um amplo sorriso. — Podemos dividir o mesmo cavalo, eu não estou acostumado a montar sozinho.

— Ihaaaahhh, mas é claro! — ela diz animada. — Ah, Dandara, eu soube que está preparando uma competição aqui no Haras.

Miguel me encara curioso, até mesmo me fuzilando com os olhos.

— Sim, é para angariar fundo para o Haras, mas como soube?

— Matheus, ele me contou — diz com um sorriso. — Logo pensei, o que seria excelente senão competir? As regionais estão chegando e eu e Milu precisamos estar preparadas, você poderia dar uma olhada nela, estou achando que ela está de TPM — diz abaixando o tom de voz na última parte como se tivéssemos dividindo um segredo. — E você como antiga competidora sabe como é importante o cavalo estar bem. Fico orgulhosa que abandonou os pódios e se dedica cuidando de minha égua.

— Claro. Dou uma olhada.

— Perfeito, — ela empurra a rédea para mim, enlaçando ainda mais seu corpo em Miguel — vamos forasteiro?

— Claro. Irei pedir para Mathias selar um cavalo. — Miguel responde me encarando.

Maldito Brucutu, maldita Maria trepadeira!


CAPÍTULO 19


Dandara

— Tá falando sozinha, Dandara?

Pulo de susto, percebendo que estava resmungando alto. — Ocê tem sorte de não ter tomado uma chicotada — digo arrumando o chicote na lateral de minha bota.

— Que bicho lhe mordeu? — Mathias questiona.

— Picão, um bicho desgramento que gruda na pele da gente sugando nosso sangue.

Mathias ri, me entregando as coisas para selar Bruto. — Que bom então que não é um do tamanho de um homi , que chegou recentemente na cidade. — diz tirando sarro.

Encaro Mathias, revirando os olhos, para que notasse que não estava sendo um bom momento para brincadeiras.

— Ah, Danda, deixa disso. Pode ter enganado Bento e Maria com essa história de bicho sofrendo pelo mato, mas eu sei o que faz aquele esganiçado todo dentro de um quarto.

— Ocê não tem amor aos dentes, não? — bufo.

— Ô se tenho, como acha que consegui os meus uivos? Tudo na beleza do sorriso — Mathias caçoa abrindo um sorriso de cavalo para mim.

— Arra , não torre minha paciência!

— Mudando de proza , achei que já tinha acabado com a doma do Bruto.

— Sim, ele está pronto para ficar com os outros. Mas hoje eu quero que prepare a pista para três tambores.

Mathias abre um enorme sorriso, — Irá competir novamente? Que alegria garota!

— Ainda não, vou só matar a saudade.

— Pois deveria. — Mathias aperta a sela, conferindo se está tudo bem preso.

— Faz tanto tempo que não penso nisso Mathias, deixei as competições para trás quando assumi a responsabilidade do Haras.

— Arra, e isso não mudará. Você cuida desse Haras mais que de si mesma, eu lembro do primeiro dia que cheguei aqui e vi você cavalgando. — Mathias sorri ajeitando o chapéu na cabeça — Devia ter uns dez anos, lembro que parei perto do cercado olhando, você tinha tanta conexão com o cavalo, tinha tanto talento, mesmo naquela idade.

Sorrio lembrando da minha primeira competição.

— Todos sabemos o duro que está dando para manter tudo sob controle, até mesmo antes da morte do Seu Pedro.

— Quem sabe eu possa tentar — digo.

— Será um excelente começo.


Bruto raspa a pata pelo chão, como se ele próprio se aquecesse. Quando Bruto chegou no Haras era apenas um cavalo maltratado e ferido, abandonado pelo antigo dono para morrer ao relento. Foi numa noite de chuva intensa que o encontrei caminhando com dificuldade nos arredores do Haras. Demorou meses para que ele sequer deixar que eu me aproximar dele, estava tão ferido internamente em sua confiança com os humanos que só de ver um já se armava dando coices.

A doma nunca foi uma coisa tranquila com ele, ficava feliz só por não levar uma mordida. Mas eu o entendia, foi ferido por acreditar em um humano, sua defesa natural era expulsar quem quer que tentasse se aproximar.

— Sei que você gosta de correr, vejo como seus olhos brilham quando fica livre — sussurro passando a mão em sua crina.

Ele raspa a pata no chão, emitindo relinchos e baforadas baixas, ele aprovava o que eu estava falando, assim como o fato de suas narinas estarem dilatadas e as orelhas eretas para frente significava que prestava atenção ao que eu dizia.

— Quero propor algo diferente para nós. Se você gostar, podemos pensar em fazer isso mais vezes. — Tiro o chicote com calma da bota, ele fica desconfiado. — Isso será necessário entre nós?

Bruto relincha, marchando para trás, sacodindo a cabeça. Jogo o instrumento para longe. — Quero que você corra quando for necessário, quero que sinta a terra tocando forte suas patas e o vento traga a liberdade que isso vai lhe trazer. Mas para isso precisa obedecer fielmente meu comando.

Estralo os lábios indicando para que ande, faço todo o circuito no trote, deixando que ele receba meus comandos, deixando que veja como será.

A competição dos três tambores é simples, você precisa fazer uma saída com explosão antes de cruzar pelos sensores. Uma prova de três tambores clássica é de oito metros até o primeiro, depois vinte e sete e meio até o segundo tambor e trinta e dois metros até o terceiro. E então, a reta final, onde exige mais dos cavalos e das amazonas, era esforço máximo pelo melhor tempo. Se tudo for executado com perfeição e sem derrubar nenhum dos tambores, você poderia ganhar alguma posição boa.

Existem pessoas que gostam do silêncio, silenciam tudo ao seu redor, se concentrando apenas na sua própria respiração e de seu cavalo. Eu gosto de ouvir tudo.


— Não foi um tempo ruim para quem está parada por anos. — Mathias comemora pendurado na cerca.

— Quanto?

— Dezessete segundos e meio.

Desço do cavalo acariciando a testa dele. — Esse garoto nasceu para isso.

— Dei uma examinada na égua da Cindy, ela está machucada pelas esporas, sua barriga está toda marcada e além disso, queria que desse uma olhada no freio, acho que tem algo errado.

— Odeio quando vejo animais sofrendo pela imprudência de seus donos.

— Também não gosto, pena que o pai de Cindy não pense assim e deixa aquela garota maluca usar os animais como enfeites.

— Nem me lembre disso — retruco.


CAPÍTULO 20


Miguel

Logo após fazer sexo com Dandara fiquei perdido olhando-a dormir por alguns instantes, aquilo, esses tempos no Haras têm sido os mais malucos que já tive. Aquela esquentadinha está mexendo comigo, ela está me atormentando desde que pisei no Haras, fazendo meus dias e noite incertos, mas a mulher deitada no meu braço, dormindo tranquilamente, livre de todas as caretas e muros que impõe me faz querer seguir outro rumo. Eu tenho vontade de puxar seu corpo contra o meu, encaixá-la em meu pênis e fazer tudo de novo, agora sem pressa, absorvendo tudo, cada gemido que ela faz. Mas acabei adormecendo enroscado em seu corpo ao contemplar seu rosto enquanto dorme.

E quando o dia seguinte chegou, me deparei com a cama vazia, ela saíra de fininho para não me enfrentar quando acordasse. Abro a porta, verificando se o caminho está livre e quando confirmo que sim, retorno ao meu quarto, trancando a porta depois de entrar.

Tomo um banho rápido vestindo algo mais leve para o dia quente que faz do lado de fora, fazendo uma anotação mental: ar condicionado em todos os cantos, pelo amor de Deus, como é quente isso daqui! Pego os óculos escuros colocando-os no topo da cabeça e desço correndo a escada em direção à cozinha.

— Bom dia, Maria — cumprimento a senhora, ela me olha meio espantada o que me faz questionar se eu não estava sendo educado o suficiente com as pessoas dali. Mas também, com a noite anterior que tive, meu humor está perfeito nesta manhã. — Por acaso você viu a...

— A menina está embrenhada pelo Haras como sempre, Seu Miguel.

Pego uma laranja, descascando-a. — Vocês sempre começam o dia antes mesmo do sol?

— Sim, a menina é que acorda o galo e não o contrário.

Sorrio jogando as cascas fora. — Em São Paulo também acordamos, mas confesso que ser dono do próprio negócio tem suas vantagens.

Saio pela porta lateral da cozinha roubando um chapéu preto na varanda, brincando ao colocá-lo em minha cabeça, até que não tinha ficado ruim. Deixo de lado ao ver Dandara perto de um dos cercados sorrindo como uma menina ao ver os cavalos.

Lembro-me de poucos momentos vividos aqui, mas o que eu com certeza consigo recordar é dela, mesmo muito diferente da época que erámos crianças. Dandara sempre foi apaixonada por isso, era raro vê-la vestindo sapatos e quando estava, eram botas. Era mais raro ainda ver a menina fazendo outra coisa do que estar perto dos bichos.

— Bom dia, esquentadinha, tinha espinhos na cama essa manhã?

Agarro a cintura de Dandara, lembrando de nossa noite, gostando do cheiro dela.

— Levanto antes mesmo do sol, coisa de caipira.

Pelo tom de voz afiado, já estava mordendo os cotovelos.

Sorrio dando um beijo suave em seu rosto, tentando suavizar o mau humor. — — Confesso que tive uma noite excelente. Poderíamos repetir nossa conversa hoje a noite, o que acha?

— Poderíamos, mas não vamos, tenho mais o que fazer. E nada mudou.

— O que eu fiz? Acordou azeda como um limão, você não cansa de distribuir coices? — Controlo minha vontade de responder Dandara de forma ríspida, suspiro, suavizando a voz — Que tal darmos uma volta? Você poderia me mostrar a região.

— Claro, tem algo que ficou de fora de seu inventário?

Fico surpreso, me afasto de um passo para olhar melhor seu rosto, como ela soube?

— Dandara...

— Cala a boca, brucutu! Se não quer ver a cara enfiada no esterco de cavalo fique quieto!

Ela vira chamando uma garota.

— Teremos que trabalhar algumas coisas em vocês dois. Faça uma pausa, eu vou preparar o redondel.

— Ok, obrigada Dandara.

Sei o jogo que Dandara faz, ela prefere fugir do que virar e me encarar, não deixo barato, sigo-a pelo Haras.

— Não cometi nenhum crime, Dandara.

Ela continua andando, me ignorando.

— Você está sendo teimosa, poderíamos resolver isso de outro jeito, quem sabe unir o útil ao agradável.

Ela vira, parando brutalmente, me fazendo quase tropeçar.

— Diga brucutu, qual sua excelente ideia? Já recebeu oferta pelos meus cavalos? Ah, muito obrigada por deixar Trovoada de fora, foi uma gentileza imensa, já que não quis vender também um presente de meu pai.

— Eu não venderia seu cavalo, vejo o amor que sente por ele. Posso não ser um especialista ou não gostar das mesmas coisas que você, mas não quero mal aos bichos.

— Não quer o mal deles? — O rosto de Dandara está vermelho como se tivessem esfregado dois tomates em suas bochechas, e se isso não era um alerta para ficar afastado, eu não sabia o que seria. — Sabe qual a diferença entre um cavalo para lidar com o gado e um cavalo de montaria e competição?

Dou de ombros.

— Exato, se não sabe essa imensa diferença e mesmo assim foi oferecer meus cavalos para donos de fazenda de corte. Você com certeza não quer o bem deles. Jumento! — dispara a falar.— Mas tenho uma solução, vá embora, se não quer o mal deles, vá. Ou está esperando a foda de despedida? Quer ir para o celeiro desativado? — pergunta desatando o nó da minha camisa xadrez fazendo ela revelar minha blusa curta.

E mesmo que a ideia de tê-la novamente em meus braços, sentir o gosto de sua pele e ter seus gemidos em meus ouvidos seja tentadora, me foco em nosso novo cabo de guerra. — Deixe de ser ridícula!

— Não sei onde Pedro estava com a cabeça, ele só poderia estar alucinando quando decidiu deixar meu Haras para você! Tenho muito trabalho a ser feito, se puder pelo menos não atrapalhar, eu agradeço.

Estava pronto para segurar seu braço vendo que se afastaria, quando vejo sua expressão de raiva se focar em outra coisa, sigo seu olhar vendo uma garota vir calvagando em nossa direção.

— Dandara! Era você mesmo que queria encontrar!

— Só me faltava essa! Acho que errou, sua prenda está bem na minha frente — Dandara diz com um sorrisinho falso.

— Forasteiro, desculpe não ter vindo mais cedo, vejo que ficou totalmente curado do ataque de fúria de Dandara.

Sorrio não tirando os olhos de Dandara, deixando que Cindy agarrasse meu pescoço dando um beijo bem perto de minha boca, naquele instante tinha descoberto uma outra arma poderosa contra a esquentadinha, o ciúmes. — Estou bem sim, que surpresa boa vê-la aqui. Estava agora mesmo comentando com Dandara que queria dar uma volta pela região.

Cindy sorri animada. — Então encontrou sua companhia, faço questão de ir com você.

Aproveito a situação segurando na cintura fina da garota, abrindo um amplo sorriso. Satisfeito por ver que deixo Dandara mexida, é bom saber que outra coisa borbulha dentro dela, além de irritação. Afinal, ela não é tão casca grossa quanto esbraveja. — Podemos dividir o mesmo cavalo, eu não estou acostumado a montar sozinho.

— Ihaaaahhh, mas é claro! — ela diz animada. — Ah, Dandara, eu soube que está preparando uma competição aqui no Haras.

Faço minha cara de “não sou o único planejando pelas costas” e encaro Dandara.

— Sim, é para angariar fundo para o Haras, mas como soube?

— Matheus, ele me contou — Cindy diz com um sorriso. — Logo pensei, o que seria excelente senão competir? As regionais estão chegando e eu e Milu precisamos estar preparadas, você poderia dar uma olhada nela, estou achando que ela está de TPM. E você como antiga competidora sabe como é importante o cavalo estar bem. Fico orgulhosa que abandonou os pódios e se dedica cuidando de minha égua.

Dandara competindo? Não sabia que a esquentadinha metida as caras em rodeios ou competições equestres. Estava aí uma coisa para pesquisar quando tivesse deitado em minha cama essa noite.

— Claro. Dou uma olhada. — Dandara responde de forma azeda.

— Perfeito, — Cindy empurra a rédea para Dandara, enlaçando ainda mais meu corpo — vamos forasteiro?

— Claro. Irei pedir para Mathias selar um cavalo.

A carranca de raiva que Dandara está é impagável. É como acender um pequeno fósforo numa fogueira à base de álcool. Eu não quero nada com essa garota, mas se para provocar minha caipira eu tiver que entrar nesse joguinho sujo, por que não?

A tal de Cindy não tinha a mesma desenvoltura que Dandara na montaria, na verdade, não tem nem mesmo a paixão que Dandara exibe ao olhar para os cavalos. Porém, não decepcionou em nada em sua montaria e cavalgada, ela sabia o que estava fazendo. Mesmo que o cavalo ficasse arrisco com seus comandos.

Saímos do Haras indo para os campos abertos da propriedade, passando por um pequeno riacho, Cindy se aproveita por estarmos na mesma sela e esfrega sua bunda em meu pênis, sempre sorrindo e olhando por cima do ombro.

— Que tal pararmos aqui? — questiona olhando para a paisagem na frente, estavámos em uma espécia de monte, víamos a estrada de terra que nos levaria de volta para o Haras e ao longe a silhueta do que seria o centro da cidade.

— Por mim — digo já descendo do animal.

— Quero muito saber o que fez um homem fino e bonito como você se meter com a Dandara — Cindy fala amarrando a rédea do cavalo no tronco de uma árvore.

— Podemos dizer que fomos criados juntos.

— Mentira! — diz rindo.

— Meu tio-avô criou Dandara quando seus pais faleceram.

— Que azar o dela, primeiro perdeu a mãe e logo depois seu pai, morreu em um acidente com bois.

Não havia sentimento real naquelas palavras.

— Você e ela se conheceram como? — pergunto sentando sobre a grama.

Ela caminha parando em minha frente tampando a visão da paisagem remexendo o quadril, tentando ser sedutora.

— Bom, tirando o fato de cidade pequena todo mundo naturalmente se conhecer, além dos filhos estudarem juntos. No Haras, Setti é um dos poucos lugares de excelência por aqui, confesso que tem ótimas pistas para treino. Meu pai é um dos patrocinadores, mesmo eu querendo que Milu seja tratada por outra domadora, não posso negar que ela é boa no que faz. Cindy deu de ombros, analisando as unhas perfeitamente alinhadas e pintadas — Ficou melhor quando saiu das competições.

— Competição? — questiono curioso.

— Dandara praticava a mesma modalidade que eu, três tambores, mas largou tudo quando Pedro ficou doente. O velhote não podia mais pegar no pesado e o que não falta naquele Haras é serviço pesado para ser feito. Mesmo com Mathias vindo para ajudar, Dandara decidiu largar tudo para cuidar do Haras.

— Pela sua cara de surpreso, não sabia disso.

— Conheço pouco daqui, vim muito na infância a mando de meus pais e quando cresci nunca mais voltei. Só fiquei sabendo novamente desse lugar quando um advogado me ligou informando sobre a morte do meu tio. Somos de uma família grande, porém nem todo mundo ainda mantém contato.

— Por que decidiu voltar? — Cindy senta em meu colo, um joelho em cada lado de meu corpo, me fazendo dar um sorriso sem graça ao afastá-la com jeito. — É verdade o que todos tem cochichado por aí?

— O que andam falando?

— Oras, que você veio tomar isso tudo dela. Afinal, pra que um homem como você viria para um fim de mundo como esse?

— Vim por negócios, é tudo que precisa saber.

Cindy fez um beicinho, passando os braços pelo meu pescoço, forçando uma aproximação. — Por que não paramos de falar dela, de cavalos e todas essas bobagens e terminamos o que rolou lá no bar?

Direta e atrevida, ela se daria bem na cidade grande.

— Sinto muito, mas não vai rolar. Vamos voltar? Esqueci que marquei um telefonema importante com meu assistente em São Paulo, como disse, negócios — Fico de pé estendendo a mão para ajudá-la.

Não sei o que tem no DNA dessas caipiras, mas ô mulherada que se enfeza rápido! Cindy levanta dando um tapa em minha mão, já desamarrando o cavalo e subindo. Mais uma que preciso tomar cuidado para que ela não me lance do outro lado da estrada, só por que neguei seu fogo. A realidade é que não queria nada com Cindy, ela poderia ser uma mulher linda, com um corpo escultural. Mas serviu apenas para deixar a esquentadinha com ciúmes.


CAPÍTULO 21


Dandara

Enquanto comemos, Maria não tira os olhos de mim. Abaixo o garfo, dando um longo suspiro. — Diga logo mulher, senão vai engasgar com a própria comida.

— O que está tirando ocê do prumo, moleca?

Velha sábia! Não tinha nada que escapasse de Maria, você poderia se deixar levar pelo rosto repleto de rugas ou pelos olhares maternos que lançava para todos, mas Maria era como um pastor alemão, farejava as coisas à distância.

— O que deu no povo desse Haras hoje? — pergunto desviando do verdadeiro assunto.

— Ocê não me engana mocinha, conheço ocê mesmo antes de aprender a lavar os fundilhos de suas ceroulas!

— Que horror! Estou apenas pensativa, vou sair mais tarde para dar uma olhada nos campos.

Foi a vez de Maria revirar os olhos, ninguém vencia em uma disputa com Maria. — Ainda com aquele sonho azucrinando a mente?

Suspiro empurando a comida de um lado para outro no prato. — Eu vejo aquele cavalo com tanta força, não sei porque e nem mesmo o quê significa.

— Você está preocupada com as coisas daqui, normal, os sonhos mostram nossas preocupações mais profundas.

Suspiro, tomando um gole do suco, confirmando com um pequeno gesto de cabeça.

— Mas não era sobre isso que estava falando.

— Ô merda, Maria! — retruco. Não irei conseguir desviar do assunto.

— Óia a boca! — ralha — Ocê está ansiosa, está assim desde que a senhorita Munhoz chegou no Haras.

— Aquela menina brinca com os animais, Mathias disse que a égua tem marcas feias das esporas, eu gostaria de enfiá-las no...

— Ouuh , acalme-se. — Maria adverte rindo — Seria mesmo por que Cindy está maltratando a pobre da égua, o que não seria nenhuma novidade para nós ou pelo simples fato dela ter saído com Seu Miguel?

Fico em silêncio enchendo minha boca com o resto de suco de meu copo.

— Você gosta dele.

Encaro Maria — Ficou maluca? — digo umas oitavas mais alto.

Ela sorri, pega seu prato e o meu, indo até a pia. — Conheço você, menina. Seria de se admirar se não tivesse apaixonada. Eu disse para Seu Miguel, muito ódio acaba virando amor.

— Você está exagerando, deve ser o excesso de trabalho. Seu “Miguelzinho” está agindo pelas minhas costas, fazendo um inventário de tudo que há aqui para vender.

Maria não manifesta nenhuma surpresa com o que acabo de dizer. — O homi é um bitelo , 5 mas não disse que não era sonso para fazer merda. Pode me chamar de velha caduca, mas conheço os sinais e sintomas, você está gostando dele.

— Arre égua! Vou trabalhar, não quero falar mais disso! — argumento ficando de pé.

— Como quiser, moleca. Mas se enfiar no trabalho não irá arrancar isso d’ocê.

Bufando dou uma olhada feia em sua direção e ela entende o recado, não toca mais no assunto enquanto eu devoro uma maçã vermelha e doce que estava na fruteira. Coloco o chapéu sobre a cabeça, fazendo uma trança em meu cabelo e saio, ignorando os olhares que Maria me lança.

Apaixonada! Era para se rir mesmo, Maria está ficando maluca!


— Tudo correndo bem por aqui — Mathias me relata assim que entro do estábulo. — No fundo ela só precisa de um pouco de atenção.

Passo a mão sobre o corpo da égua, vendo seu olhar desconfiado. Milu é da raça Paint Horse, muito parecida com os quarto de milha, mas parece pintada à mão.

— Oua , calma garota!

Retiro a mão ao vê-la arreganhar os dentes.

— Essa daí vem com o espírito da dona. — Mathias brinca.

— Que nada, tire ela da baia. — peço olhando nos olhos da égua — Cindy é horrível com ela, assim como foi com todos os cavalos que passou por seu rancho. Só quer que o animal corra, muito parecida com Matheus, pelo menos aquele ali tem algo de bom, gasta dinheiro e tempo cuidando dos seus cavalos. — digo torcendo os lábios.

— Tem certeza disso? — Mathias questiona segurando a trava da baia. — Ela não está muito amigável.

— Solte.

Mathias faz o que mando, abrindo a portinhola, deixando que ela saia. Milu é uma égua imponente, sai com a fronte erguida, me encarando de cima, passando o recado claro que não tem medo de nós, mas na realidade, tudo isso é pose, ela está receosa que a machuquemos.

— Dê uma olhada nessa ferida.

Dou a volta indo até Mathias, não era uma ferida profunda, iria cicatrizar logo, mas o que me irritou ainda mais foram as marcas mais profundas em sua pelagem indicando que outras já tiveram ali, várias cicatrizes marcando o quando essa égua vinha sendo judiada. E o quantos os maus tratos tinham marcado-a internamente.

— Vamos fazer um tratamento de aromaterapia, para ela se acalmar um pouco e deixar que cuidemos dela.

Vou até o espaço onde os remédios ficam guardados examinando alguns vidros, pego três voltando para a égua.

Tiro a tampa do primeiro colocando perto da narina do animal. Ela relincha virando a cabeça bruscamente, quase derramando o conteúdo de minhas mãos. Retiro do segundo, mas ela tem o mesmo comportamento.

— Óleo bergamota — digo e não demora muito para ela tirar a língua para fora querendo o líquido.

— Não é estranho que ela escolha justo o que traz a sensação de alegria e ânimo. — Mathias comenta.

— Minha mãe sempre dizia que os animais escolhem seus próprios remédios. Eles sabem do que realmente precisam.

O barulho de cavalo se aproximando traz nossa atenção para a entrada do estábulo.

— Que bom que ela está pronta, preciso ir. — Cindy salta do cavalo deixando Miguel se desequilibrar por um instante.

— O passeio não foi prazeroso? — desafio.

— Minha égua está pronta ou não?

— Milu está com marcas de escoriações na barriga. — acuso.

Cindy não dá a mínima para o que estou falando.

— Cindy! Você está ferindo sua égua por nada com suas malditas esporas!

Mathias me olha preocupado.

— Que eu saiba pedi para você dar uma olhada, e não mandar no jeito que comando minha égua. — Cindy contra-ataca.

Miguel dá um passo em nossa direção como se nós duas fôssemos nos engalfinhar como animais, não que ela não merecesse, mas eu não iria ganhar nada com isso.

— Se você quer que Milu não a jogue para longe durante uma competição, precisa entendê-la. Ela não é um pedaço de bife para você ficar furando quando bem entende.

Cindy gargalha, — Me passe o valor de seu tempo, mando meu pai depositar na conta do Haras. — ela vê que continuo encarando-a — Vamos, será que dá para selar minha égua?

Mathias pega as coisas pronto para selar a égua.

— Mathias, não! — Eu quase grito. — Cindy, me escuta...

Cindy arranca a sela das mãos de Mathias, ela mesmo arrumando no lombo de sua égua.

— Cindy, sua égua está ferida, pode achar que não é nada, mas com o tempo vai pegar os ossos dela. Se você se importa...

— O que eu preciso escutar é que você fez algo além de ficar gastando meu tempo. E não de suas mágicas inúteis. — Ela mal fixa direito as fivelas para montar o animal.


Cindy enfia as esporas na barriga da égua fazendo-a relinchar de dor, e a visão dos olhos tristes e repletos de lágrimas do animal cortam meu coração.

Chuto um barril de água enfurecida com a partida de Cindy. O fato de não poder fazer nada para ajudar essa égua me corta o coração.

— Pelo visto vocês estão bem longe da cordialidade.

Viro como um bicho, bufando como um touro bravo ao encarar Miguel. — Meta seu nariz onde é chamado!

— Se você sabia que Cindy maltratava a égua, por que a liberou? — Miguel questiona.

— Seu Miguel, não é simples assim, não podemos prender os animais, mesmo que por alegação de maus tratos. A família de Cindy é poderosa na cidade, seria uma briga infinita e até lá a égua já teria caído doente.

— O que Mathias tá querendo dizer é que não serão os primeiros donos que negligenciam seus animais, muito menos os últimos. São esse tipo de gente para quem quer vender meus cavalos. — acuso.

Levanto o barril que tinha chutado em minha explosão de raiva, puxando a mangueira para enchê-lo.

— Mathias, termine de cuidar das baias, eu vou sair com Trovoada. Está esfriando e não duvido de termos uma chuva torrencial mais tarde.

Deixo os dois ali, no meio do estábulo indo até o Trovoada, eu precisava da paz que ele poderia me dar. E não foi surpresa em vê-lo totalmente alerta, meu pai costumava dizer que Trovoada sempre saberia meu estado de espírito, ele sempre estaria ali, pronto.

E isso era verdade. Não precisei dizer nada, apenas abri a portinhola de sua baia, subindo diretamente no pelo para que ele saísse em disparada para fora do Haras, o sol estava se pondo no horizonte e uma espessa nuvem cinzenta cobria o céu.

Na época de outono vivemos os tempos mais malucos; temos dias de intenso calor e do nada um frio de arrepiar os ossos com chuvas tão fortes que inundam a estrada. Além de ser a época que mais me preocupo com o bem estar dos cavalos.

Cavalgo pelos campos, até mesmo me embrenhando no pequeno acervo de mata fechada, os ranchos e fazendas não são próximos uns dos outros, o que dá bastantes aréas livres.

— Aoh — Trovoada para, relinchando baixo. — Você também ouviu rapaz?

Paramos entre as árvores escutando os pássaros fazendo burburinho entre os ramos, mas não foi isso que chamou nossa atenção, e sim um relincho baixo, sofrido.

— Vamos, Trovoada. — bato o pé na barriga dele fazendo barulho para que volte a galopar.

O rancho era velho, existia destroços espalhados pelo terreno, desço do Trovoada empurrando a porteira velha e quebrada, tinha arame farpado para todos os lados, o relincho veio mais fraco dessa vez, como se o animal já não aguentasse mais esperar por ajuda. Trovoada relincha batendo os cascos chamando minha atenção, um cavalo estava em um pequeno cercado amarrado a cordas em um tronco velho, havia feridas em sua cabeça e boca devido às cordas, mas também marcas profundas espalhadas pelo seu corpo, fora a desnutrição evidente.

Não conseguiria fazer esse cavalo ir até o Haras, precisaria chamar o Santiago e pegar o trailer. Monto em Trovoada galopando de volta até o Haras, forçando ele ir o mais rápido que pode, não sabia de quem era aquele rancho abandonado, mas de maneira alguma deixaria o animal ali sofrendo.


CAPÍTULO 22


Miguel

Levo as toras de madeira para Bento, sentando no sofá. O frio realmente tinha chegado com força, nos forçando a fechar as portas e janelas para manter o calor dentro do imenso casarão. Dandara ainda não tinha retornado, o que me deixa um pouco ansioso, mesmo não querendo admitir. Aquela diabinha caipira está me enrolando em seu laço.

— Daqui a pouco a janta estará pronta. — Bento diz passando por mim em direção à cozinha.

Volto meus olhos para a tela do computador, vendo o projeto que Paulo havia me enviado mais cedo. Os arquitetos tinham feito um excelente trabalho, a entrada do resort era imponente, ele manteve o rústico e sofisticado com tanta suavidade que nenhum dos pontos tinha se destacado mais que o outro. E ali, analisando o projeto, eu não conseguia abrir minha caixa de e-mail e aprová-lo. Não conseguia dizer que poderíamos fechar o negócio com os donos dos Haras e fazer o transporte dos cavalos assim que o périodo que o advogado deu se encerrasse.

A rajada de vento forte fez o fogo na lareira tremular quase se apagando, fecho o computador virando para ver Mathias entrar na casa chamando por Bento.

— Que desespero todo é esse? — questiono indo para a entrada.

— Dandara voltou e vamos resgatar um animal.

— Resgatar? O que houve? Toda vez que você entra como um foguete aqui é porque Dandara tá metendo todo mundo em apuros — retruco.

— Mathias, o que aconteceu? — Bento e Maria vêm em nossa direção.

— Dandara voltou da caminhada, segundo ela encontrou um animal em condições precárias. Preciso ligar para o Santiago e preparar o trailer para sairmos.

— Onde ela está? — pergunto.

— A última vez que a vi estava indo pegar umas medicações.

— Santiago não deveria ficar disponível no Haras para esse tipo de emergência? — questiono ajeitando o casaco pesado no corpo.

— Sim, Seu Miguel, mas ele trabalha em outros lugares. É um veterinário muito requisitado na região.

— Vou procurá-la. — digo por fim, cruzando com eles, sentindo o vento bater contra meu corpo enquanto caminho até o estábulo.

Os cavalos relincham alto, incomodados pelo vento, passo por uma baia me esquivando ao ver que o cavalo está tão irritado que bate o corpo contra as paredes de sua baia.

— Eles ficam mais irritáveis com esse tempo.

Olho para Dandara, seu rosto está preocupado. Ela vai até o cavalo mais arisco, deixando que ele cheire um potinho.

— Aromaterapia — explica.

Mesmo ainda desconfiado o cavalo começa a se acalmar.

— Você realmente faz mágica com eles.

O cavalo vem em minha direção me assustando, pulo para trás encarando os imensos olhos pretos do animal. — Eles não confiam em mim.

— Eles são espertos, sentem quando um humano tem medo, alegria ou quando não gosta deles.

Olho para seu rosto, lá vinha ela com aquele papo novamente. — Não é bem gostar ou não, só não confio. Mathias disse que encontrou um animal ferido.

— Eu estava cavalgando, estava ficando mais frio no meio das árvores. Eu o ouvi, ele estava me chamando, não sei há quanto tempo ele está lá, mas eu sei que está cansado. Cansado demais para vir andando, mesmo se Trovoada sustentasse ele pelo caminho, isso o teria machucado mais.

— O que posso fazer?

Dandara me encara surpresa.

Nem eu mesmo sei por que estou fazendo isso, por que estou tentando salvar um animal se tudo que mais quero é que essa guerra de braço acabe logo, para dar continuidade aos meus planos.

— Santiago está ocupado em uma fazenda, tenho receio dele não chegar a tempo.

Ver o olhar triste em seu rosto faz algo dentro de mim borbulhar. — Vamos, eu ajudo você.

Ela ri por um instante, voltando a ser a diaba caipira que eu conhecia. — Você vai mais me atrapalhar do que ajudar.

— Se não quer salvar aquele animal é só dizer.

Vejo seu olhar me analisando, assim como o suspiro pesado que ela solta. — Pegue aquelas cordas, iremos precisar de pelo menos umas três, estou com o kit de remédios, ele tem grandes feridas pelo tempo que passou amarrado e das tentativas de fuga.

— É selvagem?

Ela para de arrumar as coisas para me olhar. — Ele foi ferido, está com medo, sede e fome, vai saber quantos dias ficou exposto ao sol escaldante e as chuvas frias das noites.

Mathias aparece com a caminhonete puxando o trailer. Interrompendo nossa conversa.

— Vamos colocar tudo no carro. — Dandara ordena levando Trovoada para sua baia.


O caminho até o rancho que Dandara encontrou o animal ferido fica bem longe do Haras, e a estrada não ajudava em nada, o vento ficava mais forte e logo a chuva nos brindava com mais força, dificultando ainda mais nosso caminho. Os limpadores trabalhavam frenéticos pelo vidro, cada vez que Mathias acelerava ou freava passando por um buraco era meu coração que pulava dentro do peito. A buraqueira ficava escondida devido a tempestade que caía lá fora.

Era difícil ver alguma coisa concreta em nossa frente com a torrente que descia do céu, o que me fazia apertar o canto do banco com mais força, prendendo a respiração.

Quando Mathias acelerou passando pela entrada destruída do rancho, tudo lembrou foi um filme de terror, a casa ao fundo está caindo aos pedaços, tudo ali está destruído pelo tempo e esquecido por Deus.

Dandara salta do carro antes mesmo que ele pare completamente, levando consigo o kit veterinário e uma das cordas, fazendo Mathias e eu seguirmos em seu encalce.

— Mathias, abra o trailer.

— O tempo está horrível. — digo olhando ao redor.

Dandara pula a cerca de arame encarando o cavalo com as mãos para cima, conversando baixinho com ele, para tentar acalmá-lo.

— Corte os arames, Miguel.

Retiro da enorme maleta que ela touxe um alicate, corto os fios abrindo espaço para que ela passe com o animal.

Ele relincha, empinando o corpo para trás, evitando que ela encoste nele e toda vez que faz isso, acaba caindo devido à fraqueza que seu corpo apresenta. Dandara chega mais perto tentando tirar as cordas que o machucam, porém ele está arredio demais.

— Dandara, devíamos ter esperado por Santiago, ele pode te machucar. — Mathias retruca.

— Ele não vai me machucar, está com medo, tem medo do toque. — Dandara se vira pegando um daqueles frascos pequenos que estava dando aos cavalos no estábulo fazendo o cavalo cheirar. Ele não se acalma como os outros fizeram, mas permite que ela chegue mais perto. — Se tivesse esperado por Santiago ele teria morrido nessa chuva.

Dandara tem realmente algo a mais para esses animais, é como se apenas de olhar, eles dissessem tudo que estão sentindo para ela. Ela volta para a mala tirando um lenço grande, jogando-o no rosto do bicho.

— Miguel corte as cordas e passe a nossa pelo pescoço, dê um nó bem firme.

Faço o que ela manda, me certificando que o cavalo continua imóvel contra o peito de Dandara, ela faz carinhos na crina judiada, sussurrando algo que não entendo devido o barulho forte da chuva.

— Se o dono do cavalo voltar? — pergunto terminando o nó.

— É bom que nem volte, olha o estado que deixou o cavalo. — ela retruca pondo o bicho de pé. — Calma, ouh, calma.

— Dandara, Miguel, temos problemas! — Mathias grita sob a chuva.

Um velho aparece no meio da chuva vindo em nossa direção segurando uma garrafa de bebida, tropeçando nos próprios pés.

— Conheço a laia desse daí, Cicinho sempre o expulsa do bar por arrumar confusão e ele não se importa com nada além da cachaça que consome — Mathias comenta encarando o homem.

— Às vezes temos que deixar os pensamentos sendo apenas isso, pensamentos. Nunca ouviu que o que é jogado no universo ele devolve? — Dandara resmunga para mim.

— Ei! O que você estão fazendo com meu cavalo? — O velho grita, tenta correr até nós, mas tropeça várias vezes em seu próprio pé.

Quando tenta chegar perto de Dandara, eu contenho o homem bêbado e por consequência o animal se agita, fazendo Dandara soltar um pouco a corda que o mantinha preso.

— Você não encosta mais nesse animal! — Dandara grita vindo para cima de mim e do velho bêbado.

— Vocês invadiram minha propriedade, vou chamar a polícia, e esse cavalo voltará para o lugar dele.

Seguro com firmeza sua camisa puída evitando que ele avance para cima dela.

— Chame, vai me poupar o trabalho de chutar sua bunda até lá.

O velho para por um instante de se debater em meus braços e assim consigo arrastá-lo para fora do caminho, deixando que Dandara entre com o animal no trailer.

Mathias enfia todas as coisas de volta na caminhonete, embarcando e dando partida no motor.

— Quando ele ligar para a polícia, ele que terá que se explicar. — digo animado, feliz por ter salvo aquele cavalo.

Dandara tira os olhos do vidro traseiro, voltando seu rosto para mim. — Ele não vai ligar, mal lembrará o que houve. Ele iria deixar o cavalo morrer de fome. — ela volta seu olhar para trás, vigiando o trailer.

Mathias faz o melhor que pode, mas a estrada de terra fica esburacada na chuva forte, e se antes a visibilidade já estava dificil, agora está muito pior. Os relinchos do animal preso no trailer são ouvidos de dentro do carro, imagino o quanto ele não esteja apavorado.

O carro balança de um lado para o outro, me fazendo segurar a respiração por alguns segundos.

— Ele vai se acalmar quando sairmos desse pedaço de estrada. — Mathias diz.

O carro balança mais forte na curva.

— Pare, Mathias. Eu vou com ele.

— Ficou maluca? Ele pode te machucar, está muito nervoso.

— Se eu não for com ele, vamos acabar capotando. — diz.

Mathias encara Dandara pelo espelho retrovisor, considerando o que diz.

— Ficou maluco? Ela vai se machucar! — retruco quando ele para no meio do nada, destravando as portas.

— Sei o que estou fazendo — ela resmunga.

Dandara desce e esperamos. Olho pelo vidro de trás esperando algum sinal...

— Podem ir — grita batendo na lataria do trailer.

Quando chegamos ao Haras, me senti como se tivesse nadando, nem mesmo minhas bolas estavam secas na cueca. Mathias dá a volta no carro pegando a corda e guiando o cavalo para o estábulo. E antes que Dandara saísse, indo para longe, eu a segurei.

— Desculpa.

Passo a mão pelo cabelo molhado tirando um pouco d’água dos olhos. Por que ela me deixa assim?

— Não quis magoá-la com a história de hoje cedo. Estou fazendo o melhor que posso.

— Então precisa fazer mais do que isso.

Ela se solta de minha mão correndo em direção aos estábulos, corro atrás dela, mesmo quase caindo quando meu pé afunda em uma poça d’água, alcanço seu braço e puxo-a para mim, fazendo com que pare.

Droga! Descobri que estou enlaçado até a alma por essa caipira!

Dandara fecha a expressão mostrando seu melhor olhar de ódio tentando se livrar de mim novamente. Fico em sua frente e mesmo com a chuva em seu rosto, consigo perceber que os seus olhos estão cansados, a adrenalina tinha decaído de seu corpo e eles lacrimejavam. Ela tenta se soltar novamente de mim. — Por que você não vai embora, Miguel? — pergunta com o rosto perto do meu.

Meu pênis lateja dentro da calça. Essa mulher me deixa louco!

— Eu não desisto, esquentadinha. Já devia ter entendido isso.

— Pelo menos temos alguma coisa em comum — ela retruca. — Odeio você, brucutu!

— Não, não odeia.

Ela para surpresa com minha declaração. Estar tão perto dela, sentir aquele corpo colado no meu, desperta meu desejo.

Ignorando tudo, eu só tinha uma coisa em mente: tê-la a todo custo.

Avanço sobre ela, seu corpo inteiro estremece, quando a beijo, ela abre a boca para receber minha língua, sua boca é carnuda e quente, ela para de tentar lutar contra aquele fogo que move nossos corpos. Aperto Dandara contra meu corpo, e sinto suas mãos enlaçarem o meu pescoço. Ela me puxa, em resposta eu invado seus lábios, tomando sua boca com minha língua. Levo a mão até seus seios e ela geme com meu toque.

— Quero você, esquentadinha.

— Por que está fazendo isso comigo? — ela resmunga quando minha boca desce por seu pescoço.

— Shiuu, — mordisco sua pele, descendo a boca por seus seios, lambendo o pequeno decote de sua blusa.

A chuva cai sobre nós, mas não é frio que nos faz tremer, é o calor que sinto por essa mulher que só aumenta.

— Quer que eu pare agora?

— Eu odeio você — sussurra, puxando minha mão, nos fazendo correr pelo Haras, entrando no velho celeiro abandonado.

Existem furos entre as madeiras fazendo a chuva cair em nós, Dandara empurra meu corpo contra uma viga de madeira, colocando as mãos por debaixo de minha camiseta encharcada. Meu corpo treme com o calor do toque, fiz o que desejava desde que pisei para fora da cama, abro botão por botão de sua camisa, deixando tudo totalmente livre para que chegasse aos seus seios, luto um pouco contra o fecho do sutiã, fazendo-a rir e tomar a missão de minhas mãos.

Dandara joga a cabeça para trás gemendo cada vez mais com as carícias que eu faço em seus mamilos enrijecidos. Lambo sua nuca, distribuindo beijos sobre sua pele. — Quero você, Dandara, tem que ser aqui, agora. — digo roçando meu quadril em sua cintura.

Solto o botão de sua calça enganchando meus dedos direto nas laterais de sua calcinha, abaixando as peças até o chão, passando por seus pés. Abro suas pernas, deixando seu sexo exposto para mim. Dandara fez o mesmo por mim, tirando minha camisa e indo até minha calça. Ela baixa minhas roupas alcançando meu pênis. Gemo como um animal no cio.

Ela se ajoelha, sem emitir uma palavra, segura meu membro totalmente ereto. A boca da esquentadinha me toma quase por inteiro, sinto o vaivém dos seus lábios me fazendo perder o equilíbrio Encostando no pilar, olhando para seu rosto.

Ela segura a base do meu pau com uma das mãos, enquanto contorna o restante com seus lábios lindos e quentes. Eu a desejo tanto a ponto de gozar. Levanto Dandara de forma abrupta.

Agarro aquela massa de fios longos e loiros, fazendo o calor que consumia meus sentidos aumentar. O corpo de Dandara colado no meu, lábios entreabertos e desejo nos olhos.

— Não negue, você adora isso, seja o que for que esteja acontecendo aqui, você adora.

Mantenho seu cabelo seguro na nuca com uma das mãos, a outra passando por seu corpo nu em volta de sua cintura, deixo meus dedos escorregarem dentro dela, afastando os lábios de sua boceta, apertando o clítoris úmido de tesão. Empurro seu corpo contra a parede, encaixando uma de suas pernas em meu ombro ao agachar, deixando sua intimidade totalmente exposta para mim, como um belo cartão de boas-vindas. Meto a língua de forma faminta, o corpo de Dandara estremece, seus dedos agarram meu cabelo de maneira ferroz.

Devoro seu corpo com vontade, minha saliva misturando com a lubrificação salgada, Dandara tinha gosto de mulher excitada, do tipo que atraí os pobres homens de longe.

Tiro sua perna de meu ombro, erguendo-me, viro-a de costas para encaixar meu pau em sua entrada, deslizo um pouco mais, ela é deliciosa! Antes de chegar ao fundo, Dandara rebola contra meu corpo, fazendo meu membro remexer dentro dela, ela rebola e eu começo aumentar o ritmo dos meus movimentos. Entro e saio dela com facilidade, como se seu corpo reconhecesse o meu.

Abro mais as pernas dela, impulsionando o quadril contra ela, seguro seu cabelo, puxando-o de forma bruta para trás, gostando de sentir seu rosto perto do meu. Mordo e dou chupões fortes em sua pele. Meto com intensidade, gostando do barulho de penetração molhada que chegava até meus ouvidos, meu pau inchado e duro doía procurando alívio, exigindo por isso.

Sinto que ela convulciona em minhas mãos, sussurro em seu ouvido o quando me enchia de tesão, o quanto seu corpo recebia o meu de maneira tão delicioso e o quanto ela era gostosa. Dandara se empinou ainda mais, apertando meu pau com suas contrações involuntárias, arrancando o ar de meus pulmões.

Continuo metendo, lambendo seu corpo, apertando sua cintura ou puxando seu cabelo. Eram sensações diversas que tomavam meu corpo. Dandara gritou, seu corpo estremecendo de verdade, perdendo o controle, deixo que ela goze, segurando ao máximo, travando minha própria libertação, ela ficou mole em meus braços enquanto me retiro de dentro dela, masturbando meu pau para gozar, esporrando como um maluco, só de pensar na entrega absurda e delirante que tinha acabado de acontecer ali.


Ela passa minha camisa rindo — É a única forma de você se limpar.

Diabinha!

— Miguel...

Selo seus lábios com os meus evitando que ela fale algo que possa estragar esse momento. — Amanhã pensamos sobre as coisas chatas.

Não tinha a menor chance de discutir com ela agora, o que eu mais queria naquele momento era deitá-la naquele feno velho e começar tudo de novo.


CAPÍTULO 23


Dandara

Abro os olhos sentindo o calor da pele de Miguel contra minha bochecha. Fico deitada quieta, ainda tentando entender o que estou sentindo por ele. Passei metade da noite refletindo sobre tudo que vivemos. Fico confusa pelas sensações que o beijo, o toque dele, me fazem sentir.

Será que eu conseguirei realmente fazer Miguel ver o Haras com outros olhos, além de um pedaço de terra lucrável? Fazê-lo sentir sem me envolver, ou eu já estava envolvida demais? Desisto de ficar deitada com milhões de pensamentos cruzando meu cérebro, saio da cama evitando acordá-lo.

Depois de tomar um banho, me troco em silêncio, descendo para para tomar café, não sem antes dar uma olhada em direção à cama, vendo Miguel dormindo nu, coberto apenas por um pedaço do lençol.

— Bom dia — cumprimento sentando na cadeira vazia, o cheiro de café e bolo de fubá fazem meu estômago roncar de fome.

— Bom dia, menina. — Maria me cumprimenta enchendo minha caneca de café puro. — Mathias estava nos contando sobre o animal.

— Falando nele, como está, Mathias? — pergunto devorando um pedaço do bolo.

— Está bem, Santiago passou a noite cuidando dele. Mesmo com muitos machucados, ele disse que logo estará bem.

— Que bom ouvir isso. — pego dois pedaços de bolo colocando no meu prato enquanto dou uma golada no café. Paro com a xícara ainda contra a boca vendo os olhares deles.

— Está faminta, moleca — Maria diz.

Dou de ombros, como se fosse algo normal.

— Tem bicho uivando no terreno de novo, uma desgrama isso, né? — Mathias provoca sorrindo.

Dou uma olhada feia, fazendo com que ele ria ainda mais, atiçando a curiosidade de Maria.

— O que vocês estão rindo?

Paro com a xícara à caminho da boca ao ouvir a voz de Miguel.

Ele puxa uma cadeira ao meu lado, me lançando um olhar malicioso. Miguel faz questão de jogar o corpo para cima de mim ao pegar um pedaço de bolo.

— Dormiu bem? — pergunta, seu olhar malicioso me fez sorrir. O desgraçado sabia que tinha mexido comigo!

— Sim e você? Parece cansado — desafio entre um gole e outro do café.

— Um pouco, mas no fim consegui o que queria.

Bento entra na cozinha sacudindo o casaco. — Hoje o dia está de lascar.

— Teremos pouco movimento então. — digo.

— Mathias eu quero falar com você sobre o Haras — Bento diz.

— Aconteceu algo? — questiono.

— Aquele problema qual contei procê , menina. Temos que rever a segurança dos animais, ontem tinha algum tipo de animal esganiçado no meio do mato.

Miguel engasga com o café fazendo todos encará-lo. Dou um pisão em seu pé, esmagando seus dedos.

— O antigo celeiro estava aberto e tudo revirado, ou tivemos um casal se engalfinhando ou tinha algum animal ferido procurando por abrigo. — Bento comenta.

— Vou ficar de olho nisso. — Mathias diz. — É perigoso mesmo, mesmo que eu acredite que possa ser um casal festeiro, — ele me encarou erguendo a sobrancelha — melhor trancarmos o celeiro dos desavisados.

— Que milagre é esse eu ver tua cabeça pelada? — Bento se vira para mim.

Sorrio.

— Perdi meu chapéu ontem quando o cavalo ficou muito agitado. Logo compro outro. — me levanto terminando meu café, aquelas trocas de olhares já foram o suficiente para mim.

— E eu... — Miguel enfiou na boca o último pedaço de bolo — vou dar uma volta pelo Haras.

Vou até a entrada enfiando meus braços no casaco que estava no mancebo, assim como as luvas de couro.

— O que faremos?

Desvio o corpo encarando a porta da cozinha, Maria, Bento e Mathias estavam entretidos em uma conversa. Não sei se estavam totalmente focados ou apenas se fazendo de surdos para escutar nossa conversa.

— Dá para ser mais discreto? Eu vou conferir o cavalo que chegou ontem, e depois se quiser podemos cavalgar juntos.

Ele inclina a cabeça e inspira, sentindo meu perfume. — Adorei a ideia.

Maldito brucutu gostoso!

— Seja discreto.

Ele respira mais fundo e mordisca meu pescoço. — Por que não aceita logo minha oferta, esquentadinha, colocamos um fim nesse joguinho e podemos ver o que rola.

— Isso vai acabar mal — digo com a voz rouca. Era só questão de tempo, mas, dessa vez a culpa foi minha. Olhar para a boca de Miguel tão próxima à minha, eu queria aquele beijo, então peguei.

Meu coração martelava no peito com a sensação de poder ser pega, meu corpo e cada fio de cabelo gritava em minha mente: Brucutu!


Santiago tinha levado o cavalo para o redondel, mas ele estava tão arredio que poderia machucar ele e o ajudante que tentava segurar a rédea, ele empinava evitando qualquer tipo de aproximação.

— Vou ter que aplicar a injeção, ele vai ficar pior desse jeito.

— Espere. — digo subindo nas travas do redondel.

— Ele está muito arredio, pode machucar alguém ou até mesmo ele.

— Acho bom manter distância. — o ajudante de Santiago diz para Miguel.

— O que esse cavalo tem? Ele deveria estar grato por termos salvado ele ontem — escuto Miguel retrucar.

— Isso é o que ela pode descobrir. — Santiago comenta.

Ele corre pelo redondel dando coices nas paredes, respiro fundo pulando para dentro, parando no meio do cerco. Cada passo que dou em sua direção faz com que ele trote, evitando minha aproximação. Ele vem para cima de mim, parando perto, é a forma de dizer que me culpa, que culpa todos nós pelo que ele passou.

— Acho bom parar com isso, não tenho culpa do que ele fez com você, eu estava te salvando. — grito para ele.

Ele se arma novamente, erguendo-se nas patas traseiras, se fosse outra pessoa, com a proximidade que estávamos ele poderia fazer um estrago. Mas não me intimido, sei que ele não vai me machucar, quer apenas me amedrontar, quer me ensinar seus limites.

— Dandara, se afaste! — Santiago alerta.

Fico em silêncio encarando o cavalo.

Ele abaixa as patas, colocando a cabeça no meu ombro.

— Muito bem rapaz, isso mesmo, com calma. — retiro um petisco do bolso dando para ele. — Você vai se chamar Chuvisco.

— Ela conseguiu — escuto Miguel dizer.

— Deixa ele descansar, uma boa dose de ração e ele ficará bem. — Digo para Santiago. — Quando estiver curado começo a doma.

Vejo o ajudante dele receoso por chegar mais perto do cavalo.

— Ele não vai te atacar, é só não machucá-lo.

Ele confirma com um gesto, abrindo a porta para que Chuvisco passasse.


Trovoada está agitado em sua baia, ele sente falta quando não passeamos pela manhã.

— Estava esperando por isso, né? — pergunto enquanto acaricio sua crina. — Pronto para montar?

— Se você cavalgar como fez ontem comigo, acho que terei uma excelente manhã!

— Você não presta! — empurro seu peito, rindo — Pegue aquela rédea, Trovoada prefere montaria no pelo.

— Sem nenhuma proteção?

— Ele não vai te derrubar.

Monto Trovoada com Miguel, ele aperta meu quadril contra ele, seguimos pelo trieiro, eu aprecio o clima de pós-chuva. Atravesso o pequeno riacho rindo com Miguel apertando minha cintura com medo de cair do cavalo.

Desde que ele havia chegado no Haras estávamos em pé de guerra, como após uma chuva tudo mudou de maneira tão repentina? Credo! Isso era coisa da minha cabeça. Isso sim. Eu tinha que me focar em coisas mais importantes.

Paro perto das pedras, desço segurando as rédeas para que Miguel desça.

Dou um tapinha no dorso de Trovoada deixando-o cavalgar livre por aí.

— Ele vai voltar? — pergunta olhando para Trovoada trotando para longe.

— Sim, ele ama andar livre, todas as manhãs sento por aqui e ele fica cavalgando pelo campo.

Assim que termino de falar, aponto para a cachoeira à nossa frente. Os raios de sol refletem na água cristalina.

— Aqui é lindo.

Dou um sorrisinho de “eu sei”. Estávamos perto do morro, subindo daria para ter uma visão completa do Haras.

Estávamos em um silêncio confortável, Miguel brinca com a água com a ponta dos dedos, parece com o pensamento distante. Ele sai vindo ao meu encontro, um sorriso nos lábios, suas mãos vão de encontro à minha cintura, colando nossos corpos no meio da relva, aproximo meu rosto do seu, ele roça seu nariz no meu, minha respiração acelera. Sem conseguir conter, mordo o lábio inferior de leve e nos beijamos novamente.

Não tinha como me esquivar de algo tão forte.

— Miguel...

— Não, pare, não acabe com isso. — ele diz entre os beijos.

Sua língua explora minha boca como se eu pudesse desaparecer dali em um estalar de dedos, ele me beija como se isso pudesse me dizer algo. Havia entrega ali, em ambos, seus lábios descem por meu corpo, sua mão subindo minha blusa, fazendo meu corpo se arrepiar ao sentir a relva úmida tocar minha pele. Sua mão toca minha barriga, raspando as pontas dos dedos em meu seio, seu rosto esfrega a barba cerrada em minha pele, os pelos roçando contra minha barriga.

— É melhor voltarmos.

Miguel suspira de maneira audível. — Por que tem que estragar esse momento?

— Tenho coisas a fazer, um Haras sempre tem o que fazer.

Miguel não tenta me fazer mudar de ideia. Montamos em Trovoada para voltar, o silêncio nos acompanha até o Haras, assim que chegamos perto do estábulo Miguel pula do cavalo e quando me viro para falar com ele após colocar Trovoada na baia, ele não está mais ali.


CONTINUA

CAPÍTULO 16


Dandara

Uma semana, esse era o tempo que Miguel não dirigia a palavra a mim e muito menos eu iria procurá-lo. O silêncio pela casa era mais que bem-vindo!

Mathias, Maria e eu bebíamos nosso café puro quando ele apareceu na cozinha, a manhã estava fria, por isso adiei o passeio com Trovoada pelo campo para quando o tempo ruim desse uma trégua.

Enfio na boca o último pedaço de queijo branco de meu prato, tomando o resto do café.

— Maria, Mathias, bom dia — cumprimenta indo em direção a geladeira.

— Porra! Quem comeu meu queijo? — ele pragueja com a fuça enfiada entre as prateleiras da geladeira, fazendo Maria me olhar prepcupada e Mathias segurando o riso enquanto bebe seu café. Tudo que faço é dar de ombros, chupando as pontas dos dedos, nem um pouco arrependida. — Sumiu metade dele, e tenho certeza que ontem ele estava inteiro! — Miguel acrescenta fechando a coitada da geladeira com um baque.

— Olha só, era seu? Desculpe, eu comi — respondo na maior cara de pau.

Miguel me encara como uma carranca. — Mathias, preciso de um cavalo, estou querendo dar uma volta hoje!

— Tudo bem, posso preparar um cavalo para o senhor. — Mathias troca um olhar comigo.

— Acho que Bruto ainda está espirituoso como sempre. — digo. — Se quiser ter o traseiro jogado longe pode ir com ele.

Miguel me dá um olhar furioso. — É para agora, Mathias! — retruca saindo da cozinha.

Mathias se levanta, toma o último gole do café, — Dandara, está fazendo a vida desse homi um inferno. O coitado deve ta contando os dia para sumir por essa estrada à fora. — diz colocando o chapéu na cabeça.

— É bom mesmo que esteja. Tem sorte de eu ainda não ter cuspido no seu café — comento.

— Sei que odeia que metemos os bedelhos em coisa sua, mas os empregados estão receosos, os homi querem saber como vai ficar as coisas. Seu Miguel não veio aqui para deixar as coisas como estão, ele vai por tudo a baixo. — Mathias fala com cautela.

— Mathias, algum dia faltei com vocês? — questiono de maneira rude. Ele balança a cabeça de maneira negativa. — E isso não irá acontecer hoje. Avise seus homens que os empregos estão garantidos, nem que eu mesma banque os serviços deles.

— Pode deixar, Danda, desculpe a intromição.

— Mathias, somos família. Eu não vou falhar com vocês. — digo por fim.

Ele confirma, esboçando um sorriso em minha direção. — Santiago pediu para avisar que as vacinas chegam hoje.

— Estou ciente, assim que chegarem irei aplicar em todos. Não quero nenhum caso como a Archeron.

— Menina, a morte daquela égua não é culpa sua. — Maria diz.

— Eita , não quero prozear sobre isso, tenho trabalho me aguardando. — digo pondo meu chapéu na cabeça, seguindo para fora.


Sento debaixo de uma árvore olhando a cena. Miguel poderia tentar resgatar na mente os tempos de moleque, ele poderia até não ter nenhuma intimidade com os animais, mas pelo menos quando criança ainda conseguia montar um cavalo sem que ele tentasse morder sua coxa.

O Miguel da infância não está em nada parecido com o de agora, e não só pelo fato de ter emagrecido e ficado mais bonito, mas parece que Miguel tem ódio desse tipo de vida. Desde que chegou, olha tudo de cima, com cara de esnobe. Ele não tem vínculo com essa terra, ele não sente a importância que eu sinto quando vejo o sol raiando no horizonte, seus raios fortes iluminando essas terras.

Ele seguiu o caminho da cidade grande e eu o caminho dos bichos.

Mathias tenta ensiná-lo, mas ele parece muito com um cavalo xucro, surdo. Depois não quer ser chamado de mula. Levanto, limpando a parte traseira da calça com um espanar de mãos, me aproximando dos dois. — Mathias, vai conferir as coisas, deixa que eu cuido do brucutu.

— Não pedi sua ajuda. — Homi, mas mal agradecido!

— Não estou fazendo por você, e sim pelo cavalo, que não tem culpa do asno sentado em cima dele. — Miguel abre a boca para retrucar, mas mostro o dedo em riste — Você tem que aprender a ouvir, se segurar com força a sela, o cavalo vai entender que quer impor sua vontade e não vai deixar você cinco segundos sentado no lombo dele. Os cavalos farejam seus sentimentos de longe, ele sente quando você tem medo, raiva ou está confortável. Deixe a rédea frouxa.

— Você acha que eu desaprendi tudo que meu tio ensinou? — desafia.

— Acredito que sim, já que te salvei de vários tombos, se bem me lembro.

Ele me fulmina com o olhar. — Então vamos ver, esquentadinha. Pegue aquele cavalo mutante que você tem e vamos cavalgar por aí.

— Cavalo mutante?

— Você tem noção que ele é o dobro de um cavalo normal?

— Para sua informação a raça dele é Percheron. Ele é um ótimo reprodutor, por ser grande e forte nos dá potros com habilidades especiais para o campo. — Dou risada, vendo seus olhos se arregalarem quando o cavalo marcha para trás. — Tire os pés do estribo e, vá para trás.

Subo no cavalo com a destreza de sempre, ocupando seu lugar na cela. Eu conhecia os cavalos como a palma da minha mão aqui no Haras, por isso não tinha problemas com nenhum deles e sabia quando um deles queria fazer uma gracinha como nosso companheiro aqui.

Bato o pé no espaço entre a barriga e as patas traseiras, para que ele saia.

— Se você está pensando que vai ficar se esfregando em minha bunda, eu te jogo para fora do cavalo! Contenha suas mãos!

— Calma mulher estressada.

Tiro o chicote da bota acertando na bunda do cavalo e o animal sai em galope, soltando um relincho alto. Seguro o riso vendo que Miguel ficar tenso. — Gostando, brucutu? — Ele não responde.

Forço o cavalo ir mais além, sentindo a adrenalina do galope correr pelas minhas veias, sinto as mãos de Miguel segurarem minha cintura e o arrepio disso eriçar os pêlos de meu braço.

Cavalgamos um pouco pelo Haras indo até o campo aberto onde fico com Trovoada e voltamos para o Haras, parando no estábulo.

Desço do cavalo, colocando as mãos na cintura. — Gostou do passeio?

— Você queria se exibir.

— Não preciso me exibir para você. Já é um milagre que você tenha ficado em cima do cavalo enquanto estávamos cavalgando.

— Olha aqui, você se acha incrível, acreditou mesmo que eu precisava de você?

Gargalho com irônia. — Você não sabe nem ao menos como se monta num cavalo. É uma sorte que saiba onde fica o rabo e a cabeça.

— Você é mesmo muito...

— Muito?

Miguel se inclina, ficando mais perto de mim, quando seu rosto praticamente cola no meu, pude sentir sua respiração. O perfume exalava, eu tinha começado a odiar esse cheiro, cheiro que me tirou o sono nas últimas noites, mas senti-lo tão perto me embriagava. Antes que eu pudesse raciocinar, os lábios de Miguel grudaram nos meus. Os braços fortes rodeando minha cintura.

— Sua esquentadinha, está tentando o quê? — Parecia que ele estava falando mais consigo mesmo do que algo para mim.

Sua língua voltou a lamber o canto de minha boca, seus dedos apertando minha cintura, uma de suas mãos subiu por minha espinha.

Acaricio sua coxa, bem perto de seu membro.

— Vamos sair daqui — sussurra como um pedido. Suas mãos apertando minha bunda, passeando por todo meu corpo, da cintura até o pescoço. Ele beija minha boca com ferocidade, empurro seu peito sentindo os músculos firmes contra a palma de minhas mãos, descolando seu corpo do meu, vendo a malícia nos olhos de Miguel. — Por que parou? — pergunta.

Respiro fundo ainda olhando para ele, controlando a maluquice da qual acabo de me curvar...então, tenho uma ideia. — Espere um minuto, o Haras ainda está movimentado, vou checar se ninguém está por perto e trancar a porta. — digo de um jeito safado, bem parecido com o que Cindy fazia sempre que conhecia um homem de fora.

Ele passa a mão sobre o pênis por cima da calça, animado. Vou até lá fora, vendo que realmente não tinha ninguém por perto, puxo uma das portas travando-a no chão e repito o mesmo processo com a outra, mas antes de fechar e entrar como falei que faria, dou um tchauzinho para ele, fazendo seu sorriso desaparecer. Percebendo o que estava prestes a fazer.

— Agora sim você está no seu devido lugar, uma pena que não tenhamos nenhum curral para você nadar com seus amigos...porcos! — digo rapidamente.

Miguel corre ao meu encontro, mas antes que ele me alcance, fecho a porta passando a tranca.

— Dandara, abre isso daqui! — seus gritos se misturavam com os relinchos dos cavalos incomodados dentro do estábulo. — Dandara, sua caipira maldita!

— Desculpe, brucutu. Aproveite seu tempinho com os cavalos e limpe as baias deles, Deus sabe como temos quilos e quilos de esterco por dia. Qualquer coisa tem feno e água se sentir fome. Isso deve bastar para você.

Ele bate na porta, fazendo-a tremer, gritando pelo meu nome. Urrando de raiva por ter caido feito patinho em minha arrapuca.

Cruzo com Bento no caminho de volta ao casarão, girando as chaves do estábulo entre os dedos e rindo feito uma maluca.

— Gosto de vê-la animada, mas está com cara de quem aprontou.

— Que é isso, Bento! — me finjo de inocente.

Ele bate na aba do chapéu, não acreditando nem um pouco no que eu estava dizendo. — Mathias está com os cavalos, quase todos foram vacinados, ele ficou esperando ocê aparecer, mas preferiu dar logo. Ficou fartando apenas o último estábulo. — comenta indicando o estábulo que tranquei Miguel.

— Diga que farei aquele estábulo, estou dando um castigo em um cavalo xucro. Ignore os resmungos, o cavalo está dando coice em todas as paredes, já vi cavalo dificil, mas esse...logo domo também — digo colocando um enorme sorriso no rosto.

Bento olha ao nosso redor, como se procurasse alguém e eu sei quem está procurando.

— Dandara, Dandara...

— Fique calmo, por que não vamos tomar um café, quem sabe Maria fez aquele pão doce que tanto amo? — pergunto enlaçando meu braço no seu, levando-o para longe do estábulo onde Miguel estava, acredito eu, urrando de raiva pelo tremor que a porta fazia.


CAPÍTULO 17


Miguel

— Sua caipira insolente! Como eu sou burro!

Eu esmurro a porta que nem um doido, gritando tanto que sinto minha voz falhar e ninguém aparece por ali. Viro olhando para os cavalos que relicham, só me faltava esses bichos me atacarem.

— Abre a porta! — grito de novo. Ando pelo estábulo procurando uma outra saída, lembrando de suas palavras “Aproveite e limpe as baias” , que filha da mãe! Até parece que eu iria sujar minhas mãos limpando merda de cavalo.

O cavalo no qual demos uma volta antes dela me trancar aqui chega perto, me fazendo pular de susto. Ele se sacode, sua crina bate de um lado para outro e solta um pequeno relincho.

— É, aquela ali não presta!

Cômico! Agora eu estava conversando com um cavalo como se ele pudesse me entender. Eu torceria o pescoço de Dandara assim que me livrasse dali.


Não tinha noção de quanto tempo tinha se passado, sei que estava de saco cheio de ficar ali.

— Noite, brucutu. Como foi seu dia?

Fico de pé chegando perto da porta, eu mataria essa mulher! — Pare com essa brincadeira de mau gosto, me tira daqui!

— Pelo visto continua grosseiro e sem educação. Espero que não esteja maltratando meus animais, por que se estiver, não vai ficar apenas dois dias trancado aí.

Meu sangue ferve nas veias. — Dandara, estou te avisando, quando eu sair daqui...

— Chega de ameaças em vão, vou te tirar daí quando aprender sua lição.

Esmurro novamente a porta, escutando seu risinho e seus passos se afastarem, — Dandara, estou com fome!

— Coma feno, brucutu!

Os cavalos mal se importavam por estar ali com eles, nos primeiros minutos e até primeira hora eles ficavam espiando ou fungando em minha direção. Agora? Muitos nem ao menos me encaravam, olho novamente para o cavalo solto perto de mim, ele abocanhou um punhado de feno mastigando e quando repetiu o gesto despejou um pouco em minhas pernas, como se dissesse que era bom.

— Tá de brincadeira você também!

Empino o nariz, olhando na direção contrária. Mas volto a encará-lo quando ele vem para cima de mim despejando mais feno em minhas pernas, seu focinho se torce inteiro enquanto mastiga.

— Ei amigão, pode ser bom para você, mas isso daí é mato. E alguém já te ensinou a dar espaço as pessoas?

O cavalo relincha, dando as costas para mim, batendo seu rabo bem no meio do meu rosto. Me fazendo xingá-lo. Como se estar preso junto aos cavalos não fosse o suficiente, ou do fato de estar com frio também não fosse, ainda tinham os mosquitos que faziam seu banquete atacando minhas veias.

Minha barriga roncando, meu corpo coçando e eu fedendo a estrume de cavalo.


Os raios de sol atingindo meu rosto me fizeram apertar os olhos tentando ver quem estava entrando, se fosse Dandara eu daria uma palmadas em sua bunda.

— Miguel? — Mathias perguntou surpreso, tentando entender tudo que estava acontecendo, olhando para a bagunça que tinha feito nos blocos de feno ao tentar arrumar um jeito para dormir. — O que você está fazendo aqui?

— Pergunte para aquela caipira filha da mãe — digo bravo, ficando de pé, sentindo as costas reclamar pelo movimento brusco.

Ele dá uma gargalhada. Mas se adianta a falar: — Desculpe, Seu Miguel.

Meu corpo chia de dor a cada maldito movimento, preciso de um banho quente, comida e boas horas de sono. Quando me recuperar ela vai ver, eu vou colocar essa caipira em seu lugar!

Estou com esse pensamento até ver Dandara caminhando sorridente em direção ao casarão.

— Ah, sua potranca mal educada! É bom correr. — ameaço gritando.

As pessoas que estão perto de mim me olham assustadas, e devem mesmo, porque meu rosto não deve estar nada amigável. Dandara se vira, o sorriso sumindo do rosto ao me encarar e então ela corre, empurra Santiago para longe e corre como uma moleca travessa sendo pega na artimanha, entra correndo no casarão.

Corro tão rápido que logo estou fazendo a porta de madeira branca bater contra a parede e escuto Maria falando alto na cozinha:

— Menina, o que houve? Tá tentando tirar o pai da forca?

— Dandara! — grito novamente.

Entro na cozinha vendo-a atrás de Maria, como se eu tivesse receio de ir lá lhe dar umas boas palmadas!

— Pare de correr, será pior quando eu te pegar! — ameaço.

— Ei, não quero bagunça na minha cozinha! Dandara o que você aprontou com o homi ? — Maria bate com a colher de pau na bunda de Dandara que agora tenta se esquivar de mim e de Maria.

— Vai fazer o quê? Me bater? Agora bate em mulheres? Quero ver encostar a mão em mim!

— Não, nunca encostei em uma mulher, mas dizem que para tudo tem uma primeira vez. E minha mão está coçando — grito.

Dou a volta na mesa, Dandara corre para o outro lado, fazendo o banco cair e eu tropeçar ao tentar pulá-lo, caindo de quatro no meio da cozinha. Sua gargalhada alta, faz minha raiva ferver mais que panela de pressão no fogo. — Ria enquanto pode.

— Alguém pode parar esses dois? Eles irão destruir a casa! — Maria grita empunhando sua colher de madeira. — Estão parecendo duas crianças!

— Desculpe Maria, mas não vou me meter — escuto a voz de Mathias enquanto corro atrás de Dandara que vai para a sala. — Dandara prendeu o homi no estábulo, peguei ele dormindo de concha com os cavalos.

Maria me encara, a mão na boca tentando segurar o riso.

— Vai, pode rir. Quero ver se aquela filha da mãe vai continuar rindo da minha cara quando eu a pegar — bufo, com os olhos em Dandara.

Ela faz um movimento errado diminuindo nossa distância, pulo sobre o sofá, meus braços envolvem sua cintura, tirando seus pés do chão. Não penso duas vezes, jogo seu corpo em meu ombro, dando um tabefe em sua bunda.

— Me solta! — Dandara grita.

Ela bate em minhas costas, os socos doem, não é que a Diaba tinha uma força bruta?

— Como foi sua noite? A minha foi maravilhosa, tá sentindo meu cheiro? Quer ver a quantidade de picadas que tenho espalhadas pelo corpo? Acho que tenho feno até em parte que desconheço!

Dou mais alguns tabefes em sua bunda que a fazem gritar. Eu estava puto por ela ter me deixado ao relento no meio dos bichos. E ficando com tesão, isso mesmo, ter o corpo daquele Diaba tão perto, tão ao meu alcance. Seus seios roçando em minhas costas, estava fazendo meu pau ficar rigido como uma tora, maldita hora para uma ereção. Eu queria mesmo é vê-la de quatro enquanto castigava sua bunda por ter me deixado trancado junto dos cavalos, mas também saborear cada gemido que ela pudesse...

— Meu Deus, Seu Miguel, solte a menina! — Maria exclamou.

— Não antes de lhe dar uma lição! — digo.

— Seu Miguel, não me obrigue a usar a Betinha em ocês dois. — Maria alerta.

— Não estou brincando, brucutu! É bom me soltar! — Dandara urra em minhas costas.

Acerto um tapa mais forte, jogando seu corpo no sofá, prendendo seu corpo ali ao apoiar meu joelho de um lado e o braço ao lado de sua cabeça, vendo seus olhos se arregalarem por um pequeno instante, mas o suficiente para meu dar um gostinho doce na boca. — Você tem sorte que é mulher, mas eu poderia, como vingança, soltar aquele seu cavalo gigante que tanto ama... — digo de maneira perversa — Como você ficaria?

Dandara me empurra com força, ficando de pé. — Você nem pense em tocar no Trovoada, você me entendeu? — responde praticamente gritando.

— Seria excelente, quem sabe assim você aprende a respeitar as pessoas? — retruco segurando seu braço.

— Larga meu braço, Miguel!

— Você quer me enlouquecer, você vem, me atiça, me provoca...

— Você se aproveitou da situação! — retruca.

— Você não se faça de sonsa! — grudo seu corpo mais no meu — Adorou o que fiz com minha boca.

— Misericórdia! — o sussurro de Maria quase me tira o foco da diaba em minha frente.

— Eu odeio você, Miguel! — Dandara tinha ficado furiosa, mas confesso que não liguei para o que ela estava falando, só conseguia ver aqueles lábios se mexendo. Queria torcer seu pescoço, mas também queria fodê-la. Como essa mulher me tira do sério!

— Você quis tudo que aconteceu e tá querendo mais que eu sei.

Seguro um punhado de seu cabelo bem justo no pescoço roubando um beijo, mordo seu lábio nem me importando por ela reclamar ou tentar me empurrar. Dandara retribui meu beijo, até me afastar, empurrando meu peito, fazendo com que me desequilibrasse dando alguns passos para trás rindo.

Ela limpa a boca me olhando com raiva, cospe no chão e então corre escada acima.

— Minha mãe dizia que muito ódio vira amor. — Maria retruca.

Viro vendo que Mathias e Maria ainda assistiam nosso pequeno showzinho. — Dela quero distância — digo marchando para meu quarto.


CAPÍTULO 18


Dandara

Bato a porta fazendo as coisas estremecerem dentro do quarto. Maldito brucutu! Arranco minhas roupas jogando-as no cesto perto do banheiro, ligo o chuveiro bem quente, quente o suficiente para que ao tocar em minha pele pudesse queimar o toque daquele... Engulo os pensamentos raivosos que passam por minha mente esfregando meus braços, meu pescoço, qualquer lugar que ele tivesse encostado, na tentativa de tirar o cheiro dele. Ainda não conseguia acreditar na petulância daquele brucutu. Miguel realmente não tinha amor pela vida.

Confesso que deixá-lo ao relento não foi algo muito sensível de minha parte, mas ele mereceu e, vai merecer cada pisão em seu pé a partir de hoje.

Bater na minha bunda e me tascar um beijo na frente de todos? Quem ele pensa que sou? Enquanto terminava meu banho pensava em mil maneiras de me vingar, mas acabei descartando todas, eu é que não desceria ao nível infantil dele, minha melhor vingança seria chutar a bunda dele para fora do meu Haras quando tudo acabasse.

Visto um short e uma camiseta puída e chinelos, melhor me ocupar dando banho nos animais do que cruzando meu caminho com certas mulas por aí. Atravesso o Haras em silêncio evitando falar com qualquer um que cruze meu caminho.


Agradeço pelo trabalho parecer não ter fim e os músculos espalhados pelo meu corpo começarem a protestar do esforço feito, passar o tempo no meio dos cavalos me acalmava e me fazia esquecer por alguns instantes minha vontade assassina contra Miguel. Mas amanhã mesmo eu ligarei para o advogado, não dá para continuar assim, mais dia ou menos dia e eu mataria Miguel. Que ideia absurda de Pedro me colocar nessa enrascada.

Já era noite quando paro fecho a última baia. Trovoada relincha animado após o banho, sacudindo a cabeça e sua longa crina.

— Teve um dia melhor que o meu, né, bonitão?

Saio do estábulo trancando as portas, todos os funcionários já tinham ido embora, caminho observando a noite, as estrelas e a lua cheia brilhando forte no céu, o som dos grilos cantando no meio do pasto.

Entro no casarão, tiro o chapéu, deixando-o no mancebo de madeira. Tudo estava em completo silêncio, poucas luzes acesas indicando que até a Maria tinha se recolhido.

Passo pelo quarto do brucutu vendo a luz está acesa sair pela pequena fresta da porta, estava prestes a entrar em meu quarto quando escuto uma porta atrás de mim se abrindo.

— Esquentadinha!

Viro, vendo-o só de cueca box, o corpo todo amostra.

— Não dirija a palavra para mim!

— Eu disse hoje cedo que tinha contas a acertar, você acha que seu showzinho me botou medo? — questiona vindo em minha direção.

— Se colocar as mãos em mim é bom começar a rezar para sair com ela no lugar!

— Não tenho medo de suas ameaças vazias — retruca.

— Vazias serão as suas bolas quando eu chutar para longe. — ameaço

— Você acha que vai me enlouquecer? — pergunta vindo em minha direção — Acredita mesmo que vou cair nos seus truques?

— Truques? — Gargalho alto — Não sou eu que fico agarrando você para roubar beijos.

— Vai dizer que não gostou?

— Já percebi que gosta de brincar com fogo! — desafio — Cadê toda aquela falamansa que andou esbravejando por aí? Homi metido a machão, não consegue parar de encarar para minha boca enquanto eu falo. Tudo isso é desejo?

— Não me torno frouxo por ter você na minha mente, me torno se não conseguir tirar, — Miguel dá mais dois passos em minha direção — e isso eu sei como fazer.

— Você pensa que me leva fácil, né?

— Você gosta de mexer com os homens, “se sente” fazendo isso...

— Eu não sou de quem me quer, sou de quem eu quero ser, e faço porque posso. — respondo dando um sorrisinho.

Miguel puxa meu corpo para o seu, fechando a porta com o pé, sua boca mordendo a minha enquanto distribuo tapas sobre seus ombros, costas, todo lugar que minhas mãos alcançam. Mas seu beijo furioso vai desarmando meu corpo, principalmente quando solta minha boca beijando de leve e devagar meu pescoço, rindo contra minha pele que se arrepia com seu toque, acabando com qualquer defesa minha. Não tinha gentileza no toque, havia desejo e prazer, junto de uma pessoa que queria provar seu argumento.

As mãos de Miguel ergueram meu corpo, sua língua forçando minha boca a se abrir ainda mais. Eu meio que empurro, e volto a puxar seu corpo para o meu. Precisei inspirar profundamente algumas vezes quando sua boca tomou o pequeno vão entre meus seios, sua lingua quente tocando minha pele fazia meus mamilos endurecerem e meu corpo querer mais. Sentir a proeminência em sua cueca também não ajudou muito meus pensamentos entrarem num bom senso.

Não era correto eu me render ao seu toque, não quando tinha aberto minha matraca falando que não me entregaria numa bandeja para ele, mas que diacho! Mordo seu lábio inferior, empurrando seu corpo para longe, tentando controlar a respiração. — Chega!

— Por que parar agora? — questiona agarrando novamente minha cintura.

— Eu disse chega, Miguel!

Suas mãos continuaram apertando com firmeza minha nuca, seus olhos mostravam que não estava disposto a me deixar em paz, que não sairia de meu quarto com aquela decisão fraca com a qual eu tentava me agarrar.

— Chega nada, não para mim e com certeza não para você. Eu sinto seu corpo vibrando em minhas mãos, Dandara.

Não arrisco olhar para ele, com medo que ceda aos meus instintos. Ele segura meu braço, olhando no fundo de meus olhos.

— Eu quero você, Dandara!

— Você quer me passar para trás, quer ter motivo para fazer chacota, quer o Haras, não é porque fui criada no meio do mato que não conheço homens como você, Miguel!

— Cala um pouco a boca, esquentadinha!

Abro os lábios para retrucar, mas é tarde. Ele pega meus braços, me empurrando contra meu armário, meu corpo inteiro treme com o calor do toque, ele tira a barra de minha camiseta de dentro do short, traçando livremente pelo meu corpo até meu seio. Miguel me vira de costas, mordendo meu pescoço, o corpo colado no meu, e acaba abrindo meu sutiã. Segurando meus seios, massageando-os nas mãos, beliscando meus mamilos sedentos por atenção. Roço minha bunda contra seu membro rigído na cueca, fazendo com que ambos gemêssemos.

Miguel continua acariciando meu corpo, mordendo e chupando meu pescoço. — Quero você, aqui e agora. — ele arranca minha camisa pela cabeça, fazendo a mesma coisa com meu sutiã, chupando meus seios, sugando-os até que eu não pudesse conter mais meus gemidos de prazer. Meu sexo pulsa, até dolorosamente quando a pressão do prazer explode em certas áreas.

É errado continuar com isso? Puxá-lo par mim, desejando seu corpo, respiro profundamente tentando encontrar a raiva que me alimentava horas atrás, mas só encontro o desejo.

Miguel conduz nossos corpos para a cama, arrancando o resto de nossas roupas, assim como o preservativo escondido no cós da cueca, em um segundo estava entre minhas pernas, sua mão agarrando meu cabelo, sua boca mordendo meu queixo.

Segurando meus seios com as duas mãos, apertando e puxando os bicos, lambendo minha barriga, minha cintura, roçando a barba pela minha pele, deixando-a rosada e eriçada. Um gemido explodiu de mim quando sua língua encontrou meu clitóris, seguro firme o lençol querendo tremer com o que ele fazia em minha intimidade, sua boca não me dava misericórdia alguma, sua língua muito menos. Quando seu dedo me invadiu, minhas costas se curvaram e o gemido saiu mais alto, fazendo eu ganhar um tapa na bunda.

— Desculpa, esquentadinha, mas teremos tempo para fazer amor em outro momento, agora, eu quero que seja rápido, que queime esse fogo dentro de mim.

Miguel desenrola o preservativo em seu membro, nunca tirando pelo menos uma de suas mãos do meu corpo, seus dedos tocam meu sexo, me fazendo arfar. Chupo os dedos que me tocam, vendo Miguel mordiscar o lábio e sorrir. Seu pau encaixado em minha entrada, deslizando de maneira lenta, começo a rebolar, fazendo seu membro se remexer dentro de mim.

Enquanto eu rebolo, Miguel segura meus cabelos de forma bruta, aumentando o ritmo dos movimentos, entrando e saindo de dentro de mim, segurando minha cintura com a mão livre fazendo seu membro ir mais fundo, meu corpo treme e Miguel geme alto.

Estavamos nos devorando, caricias eram feitas pelo nossos corpos ondulando juntos, enquanto eu consumia cada gemido e estocada que Miguel produzia.

Aperto os lençóis entre os dedos, seguro seu pescoço com firmeza quando ele encaixa a boca sobre meu seio, montando em seu colo, sentando com força sobre ele, gostando do modo como ele geme e descola a boca de meu mamilo, jogando a cabeça para trás rendido.

— Puta que pariu, você é deliciosa! — diz baixinho contra meu pescoço.

As estocadas duras fazem meu corpo tremer, meus seios balançam com o ritmo forte do sexo que fazemos. Ele geme agarrado em minha cintura, forçando meu corpo para baixo, quebrando as últimas barreiras, me fazendo gozar. Miguel ainda mantém o ritmo por algumas estocadas até que goza, seu membro latejando dentro de mim, se misturando com nosso suor, os tremores do meu corpo e do seu e as batidas descompassadas dentro do meu peito.


Quando eu estou envolvida em seus braços

O mundo todo apenas desaparece

A única coisa que escuto é

o bater de seu coração.


Porque posso ouvir sua respiração

Está se derramando sobre mim

E de repente estou me desfazendo dentro de você

(Breathe, Faith Hill)


Arre égua , estou perdida...

Levanto com um sobressalto e empurro para longe o braço forte que rodeia meus seios, tentando soltar meu corpo. Parece que os braços dele tinham se tornado uma braçadeira de ferro, o jeito foi sair me rastejando pela cama como uma cobra, até que eu caísse de bunda no chão.

Pego uma muda de roupa e corro para o banheiro, tomo um banho rápido, não parando nem para secar o cabelo, apenas escovo e deixo solto pelas costas. Não é que eu não queira encarar a asneira que tinha feito noite passada, mas...bem, era isso mesmo, não queria dar de cara com Miguel, por isso levantei mais cedo que até o próprio sol e me esgueirei para fora do quarto com as botas nas mãos.

— Fugindo de alguém, menina?

Pulo tampando a boca para que meu grito de susto não faça eco pelo corredor escuro.

— Cristo pai, você quer me matar do coração, Bento? — questiono sentindo os batimentos acelerados contra o peito.

— Desculpe, mas estava saindo do quarto como quem escondia um cadáver, devo me preocupar? — pergunta encarando a porta que eu havia acabado de fechar.

— Deixe de besteira homem, só tive uma noite ruim.

Bento coça a cabeça com a bengala velha. — Arra, por falar em noite ruim, tinha algum animal sofrendo ontem, Maria e eu mal pegamos no sono, parou de sofrer era já tantas da madrugada.

Engulo em seco, será que tínhamos feito tanto barulho assim?

— Vou ficar de olho nos arredores, tenha um bom dia, Bento.

Escuto o riso baixo dele enquanto caminho pelo corredor. — Bom dia, menina.

O dia não tinha se levantado, mas mesmo assim entro no estábulo para conferir como estão os animais. Reponho água e feno, depois me dirijo á baia de Trovoada, ele vira a cabeça não querendo olhar para mim.

— Qual é, amigão, está bravo comigo?

Ele me encara, dando uma fungada balaçando a cabeça como se confirmasse.

— Que tal recompensar isso com com uma corrida?

Ele relincha ainda evitando me olhar, eu conheço o jogo dele, Trovoada é um menino mimado, e a culpa é toda minha.

— Tudo bem então, já que não quer mais minha companhia...

Ele relincha mais alto, levantando as patas da frente. Fazendos os outros cavalos reclamarem.

— Você é um garotão mimado! — brinco, pulando a portinhola da baia, subindo diretamente no pelo, me agarrando ao seu pescoço. — Vamos ver o sol nascer.


Ficar perto dos cavalos ou montar em Trovoada é como respirar, algo tão natural, acredito que eu aprendi a montar antes mesmo de andar.

Saímos em direção ao campo aberto, ganhando velocidade a cada passada, sentindo o vento frio da madrugada ir contra nós. Eu precisava limpar minha mente, precisava tirar Miguel e a noite de ontem da mente, precisava tirar essa distração total, ainda não sabia o que pensar sobre essa história de Miguel conseguir meu Haras, o que faria com as famílias e funcionários que dependiam dos seus empregos? O que faria com os cavalos? Para onde eu iria com Trovoada? Aqui sempre fora meu lar, foi meu lar quando minha mãe faleceu, foi meu lar quando meu pai morreu em um torneio de rodeio.

O Haras é meu santuário, minha casa, eu aprendi a escrever no lombo de um cavalo, fiz desenhos nas paredes do antigo celeiro, aquilo era meu refúgio...

Volto para o Haras depois de admirar o sol nascendo, em alguns dias começaria o outono e o frio ocuparia as noites, o que me fazia sair pelos campos ajudando os cavalos que podem se perder ou sofrer com as chuvas repentinas.

Vou até o escritório respirando fundo, ao sentar em minha cadeira, tiro o chapéu, deixando-o sobre a mesa.

— Entre — respondo à batida na porta.

— Dandara, bom dia.

— Daniel, estava mesmo esperando por você. Sente-se.

— Em que posso ajudá-la?

— Quero saber mais sobre o Haras, por que Pedro deixou o Haras com Miguel, ele conhecia o sobrinho, nunca teve interesse por nada, mal sabe a diferença entre a crina e o rabo dos cavalos. Porque deixar o Haras nas mãos dele? — solto tudo de uma vez, expondo minha irritação, minha indignação. — Você me conhece desde menina, Daniel, eu ensinei sua neta a montar, eu cuido desse Haras como se fosse meu filho. Deixei as competições para administrar tudo isso quando Pedro descobriu a doença, abdiquei minha carreira para dar minha vida ao sonho dele.

Sinto as lágrimas forrando a parte debaixo dos meus olhos.

— Quando ele desejou implantar o projeto fui eu quem o apoiou, eu que contratei os profissionais, saí em busca de patrocinadores, tenho mais de trezentas crianças se benificiando do projeto. Temos selos e premiações.

— Eu sei de tudo isso Dandara, mas não cabe a mim dizer os motivos que influenciaram Pedro a tomar essa atitude. Ele escreveu uma carta, uma carta para você e Miguel, que só poderá ser lida após a decisão ser tomada.

— Uma carta? E você não me comunicou antes por quê?

— Dandara, como disse, isso não está em minhas mãos. Pedro deixou ordens explícitas.

— Arre égua , uma bosta a essas ordens!

Bufo, tentando controlar minha irritação.

— O único conselho que eu posso dar é: mostre ao Miguel o quão bem o Haras faz, mostre seu amor por tudo que você e Pedro criaram nesses anos. Faça-o não vender o Haras, até mesmo unindo os dois planos, por que não?

— HÁ HÁ, transformar meu Haras em um hotel de luxo para madames enfrescuradas? Quando um cavalo cagar nos pés delas quero ver quantas estrelas sobrará. É de pessoas como Miguel que eu sempre fugi esses anos, não quero o dinheiro de quem vê meus cavalos como um pedaço gigante de bife passeando por aí.

— Tente ao menos resgatar o amor que Miguel tinha na infância. — Daniel aconselha.

— Por Cristo, Daniel. Pedro estava maluco no final dos seus dias. Ele acreditou mesmo que os chiliques na infância de Miguel era por mais tempo com os animais? O menino gritava se um porco grunhice em sua direção. A última vez que pisou no Haras fez uma estripulia soltando metade dos cavalos das baias. Foi um Deus nos acuda até recuperarmos tudo.

Daniel segura o riso, ajeitando melhor a postura na cadeira.

— Quer que eu conte a vez que soltou uma bombinha estampido no meio do pasto? Pedro saiu atrás dele na base do chicote.

— Vou dizer a mesma coisa para você como diria para Miguel: não posso intervir, a questão não é uma briga de foices. É vocês conversarem o que é melhor para o Haras...

— Ele irá vender tudo, demolir tudo, sabe quantas pessoas tenho trabalhando aqui? Quantas famílias envolvidas? Imagina todos os dias você se levantar e as pessoas te encararem com perguntas nos olhos, meus funcionários não sabem como será o amanhã. Nem se terão o salário no mês que vem — resmungo — É com isso que lido.

— Miguel fez uma proposta, ele quitaria as dívidas que o Haras tem, e fez uma consulta com as fazendas de corte e o Haras vizinhos para a possibilidade de vender os cavalos. Acredito eu que queria sondar o terreno para saber o valor de um manga-larga.

Levanto enfurecida, batendo as palmas das mãos na mesa. — Ele quer levar uma chicotada!

— Dandara! — exclama.

— Ele que tente encostar em meus cavalos, ele que tente... Arre égua!

— Quando o assistente de Miguel entrou em contato comigo deixou bem explicíto que o único que ficaria fora desse pequeno inventário seria o Trovoada.

Arqueio a sobrancelha — E isso alivia minha vontade de matá-lo? Ah claro, ele foi gentil em não vender um cavalo que foi presente de meu pai!

Eu estava soltando fogo pelas ventas, o filho duma égua teve coragem de agir pelas minhas costas e depois vem com sua falamansa e me leva pra cama. Eu sou muito burra mesmo!

— Bem, Dandara. De todas as formas, se vocês não chegarem a um acordo, se você não aceitar vender sua parte para ele ou se não conseguir pagar a dívida, automaticamente o Haras entra em um processo e se ele tiver a possibilidade, vai acabar nas mãos de Miguel. Se isso não ocorrer, de qualquer forma, assim que o tempo imposto pelo Seu Pedro acabar, o Haras entrará num processo onde quem terá o poder de decisão é a justiça. Isso pode envolver até mesmo leilão, por conta das dívidas.

— Então é: corre pro mato ou corre pro morro. — suspiro.

— A maneira de todos saírem satisfeito é vocês tentarem resolver isso amigavelmente.

— Tudo bem, obrigada pelo seu tempo doutor.

Ele concorda com um gesto, levantando-se. — Fique bem.

— O senhor também.

Acompanho o advogado para fora, fechando a porta atrás de mim. Caminho até o espaço para equitação, vendo os montadores treinando.

— Dandara!

Abaixo um pouco a aba do chapéu fazendo sombra para o sol forte da manhã. Carolina vem calvagando em minha direção, acenando. — Bom dia!

— Preciso da sua ajuda, sinto Damião entrando errado nos obstáculos.

— Dá uma volta para eu observá-lo — digo pulando a cerca.

Carolina trota se afastando, fazendo semicírculos para aquecer o cavalo, passa pelos primeiros obstáculos e vejo que Damião está com uma passada errada, as pernas de dentro estão trotando mais longas que as de fora. É preciso equilibrar o lado que ele está tendo maior dificuldade. Carolina também anda forçando demais no elevado, a conexão entre eles também estava meio mexida, isso acontecia com cavaleiros que entravam na época de competição, tinham muita pressão e sentimentos misturados e acabam passando para os animais.

— Bom dia, esquentadinha, tinha espinhos na cama essa manhã? — Miguel agarra minha cintura e beija meu pescoço. Me esquivo com um sorrisinho, ainda com raiva por ele ter agido pelas minhas costas.

Seu olhar malicioso mexe comigo. O desgraçado sabe que venceu ontem!

— Levanto antes mesmo do sol, coisa de caipira. — me atrevo a desafiá-lo.

Miguel sorri abaixando a cabeça, ainda me olhando. — Confesso que tive uma noite excelente. Poderíamos repetir nossa conversa hoje a noite, o que acha?

— Poderíamos, mas não vamos, tenho mais o que fazer. E nada mudou.

Miguel me encara surpreso, — O que eu fiz? Acordou azeda como um limão, você não cansa de distribuir coices?

Nós estavamos em um maldito pé de guerra e tudo que eu conseguia me lembrar quando encarava os olhos castanhos de Miguel é onde sua maldita boca esteve ontem a noite. E eu excitada por cada gesto que aquele brucutu fez! Deveria dar um tapa em mim mesma!

— Que tal darmos uma volta? Você poderia me mostrar a região.

— Claro, tem algo que ficou de fora de seu inventário? — mordo a língua por ter falado disso.

Miguel fica surpreso, mas logo se afasta de um passo, confirmando o que Daniel tinha dito mais cedo, ele realmente agiu pelas minnhas costas.

— Dandara...

— Cala a boca, brucutu! Se não quer ver a cara enfiada no esterco de cavalo, fique quieto!

Viro sinalizando para Carolina se aproximar.

— Teremos que trabalhar algumas coisas em vocês dois. Faça uma pausa, eu vou preparar o redondel.

— Ok, obrigada Dandara.

Sorrio pulando o cercado novamente, ignorando Miguel que me seguia como uma sombra.

— Não cometi nenhum crime, Dandara.

Reviro os olhos, caminhando para longe.

— Você está sendo teimosa, poderíamos resolver isso de outro jeito, quem sabe unir o útil ao agradável.

Viro fazendo-o parar quase tropeçando em mim. — Diga brucutu, qual sua excelente ideia? Já recebeu oferta pelos meus cavalos? Ah, muito obrigada por deixar Trovoada de fora, foi uma gentileza imensa, já que não quis vender também um presente de meu pai.

Sinto que estou quase gritando.

— Eu não venderia seu cavalo, vejo o amor que sente por ele. Posso não ser um especialista ou não gostar das mesmas coisas que você, mas não quero mal aos bichos.

— Não quer o mal deles? — Sinto minhas bochechas pegando fogo, Miguel mesmo mantém uma certa distância de mim. — Sabe qual a diferença entre um cavalo para lidar com o gado e um cavalo de montaria e competição?

Ele dá de ombros.

— Exato, se não sabe essa imensa diferença e mesmo assim foi oferecer meus cavalos para donos de fazenda de corte. Você com certeza não quer o bem deles. Jumento! — disparo a falar.— Mas tenho uma solução, vá embora, se não quer o mal deles, vá. Ou está esperando a foda de despedida? Quer ir para o celeiro desativado? — pergunto desatando o nó da minha camisa xadrez fazendo ela revelar minha blusa curta.

— Deixe de ser ridícula! — ele grita, chamando atenção das pessoas que passam por nós.

— Não sei onde Pedro estava com a cabeça, ele só poderia estar alucinando quando decidiu deixar meu Haras para você! — Vejo o olhar irritado de Miguel, mas não deixo que fale. — Tenho muito trabalho a ser feito, se puder pelo menos não atrapalhar, eu agradeço.

Estava pronta para deixá-lo parado sozinho quando vejo Cindy galopando em minha direção. Era hoje, definitivamente eu mataria um.

Ela se aproxima com o sorriso mais falso que nota de três reais, diminuindo o galope, parando o cavalo perto da cerca e desce, balançando a mão em nossa direção. — Dandara! Era você mesmo que queria encontrar!

— Só me faltava essa — sussurro. — Acho que errou, sua prenda está bem na minha frente — digo com um sorriso cínico nos lábios.

— Forasteiro, desculpe não ter vindo mais cedo, vejo que ficou totalmente curado do ataque de fúria de Dandara.

Miguel sorri, deixando que a oferecida lhe agarrasse o pescoço dando um beijo bem perto de sua boca.

Maria trepadeira! — penso com raiva.

— Estou bem sim, que surpresa boa vê-la aqui. Estava agora mesmo comentando com Dandara que queria dar uma volta pela região.

Cindy sorri animada. — Então encontrou sua companhia, faço questão de ir com você.

Miguel me encara vendo minha cara de poucos amigos. E mesmo que eu tente disfarçar meu ódio por Cindy, ele se aproveita da situação. Segura na cintura fina da trepadeira, abrindo um amplo sorriso. — Podemos dividir o mesmo cavalo, eu não estou acostumado a montar sozinho.

— Ihaaaahhh, mas é claro! — ela diz animada. — Ah, Dandara, eu soube que está preparando uma competição aqui no Haras.

Miguel me encara curioso, até mesmo me fuzilando com os olhos.

— Sim, é para angariar fundo para o Haras, mas como soube?

— Matheus, ele me contou — diz com um sorriso. — Logo pensei, o que seria excelente senão competir? As regionais estão chegando e eu e Milu precisamos estar preparadas, você poderia dar uma olhada nela, estou achando que ela está de TPM — diz abaixando o tom de voz na última parte como se tivéssemos dividindo um segredo. — E você como antiga competidora sabe como é importante o cavalo estar bem. Fico orgulhosa que abandonou os pódios e se dedica cuidando de minha égua.

— Claro. Dou uma olhada.

— Perfeito, — ela empurra a rédea para mim, enlaçando ainda mais seu corpo em Miguel — vamos forasteiro?

— Claro. Irei pedir para Mathias selar um cavalo. — Miguel responde me encarando.

Maldito Brucutu, maldita Maria trepadeira!


CAPÍTULO 19


Dandara

— Tá falando sozinha, Dandara?

Pulo de susto, percebendo que estava resmungando alto. — Ocê tem sorte de não ter tomado uma chicotada — digo arrumando o chicote na lateral de minha bota.

— Que bicho lhe mordeu? — Mathias questiona.

— Picão, um bicho desgramento que gruda na pele da gente sugando nosso sangue.

Mathias ri, me entregando as coisas para selar Bruto. — Que bom então que não é um do tamanho de um homi , que chegou recentemente na cidade. — diz tirando sarro.

Encaro Mathias, revirando os olhos, para que notasse que não estava sendo um bom momento para brincadeiras.

— Ah, Danda, deixa disso. Pode ter enganado Bento e Maria com essa história de bicho sofrendo pelo mato, mas eu sei o que faz aquele esganiçado todo dentro de um quarto.

— Ocê não tem amor aos dentes, não? — bufo.

— Ô se tenho, como acha que consegui os meus uivos? Tudo na beleza do sorriso — Mathias caçoa abrindo um sorriso de cavalo para mim.

— Arra , não torre minha paciência!

— Mudando de proza , achei que já tinha acabado com a doma do Bruto.

— Sim, ele está pronto para ficar com os outros. Mas hoje eu quero que prepare a pista para três tambores.

Mathias abre um enorme sorriso, — Irá competir novamente? Que alegria garota!

— Ainda não, vou só matar a saudade.

— Pois deveria. — Mathias aperta a sela, conferindo se está tudo bem preso.

— Faz tanto tempo que não penso nisso Mathias, deixei as competições para trás quando assumi a responsabilidade do Haras.

— Arra, e isso não mudará. Você cuida desse Haras mais que de si mesma, eu lembro do primeiro dia que cheguei aqui e vi você cavalgando. — Mathias sorri ajeitando o chapéu na cabeça — Devia ter uns dez anos, lembro que parei perto do cercado olhando, você tinha tanta conexão com o cavalo, tinha tanto talento, mesmo naquela idade.

Sorrio lembrando da minha primeira competição.

— Todos sabemos o duro que está dando para manter tudo sob controle, até mesmo antes da morte do Seu Pedro.

— Quem sabe eu possa tentar — digo.

— Será um excelente começo.


Bruto raspa a pata pelo chão, como se ele próprio se aquecesse. Quando Bruto chegou no Haras era apenas um cavalo maltratado e ferido, abandonado pelo antigo dono para morrer ao relento. Foi numa noite de chuva intensa que o encontrei caminhando com dificuldade nos arredores do Haras. Demorou meses para que ele sequer deixar que eu me aproximar dele, estava tão ferido internamente em sua confiança com os humanos que só de ver um já se armava dando coices.

A doma nunca foi uma coisa tranquila com ele, ficava feliz só por não levar uma mordida. Mas eu o entendia, foi ferido por acreditar em um humano, sua defesa natural era expulsar quem quer que tentasse se aproximar.

— Sei que você gosta de correr, vejo como seus olhos brilham quando fica livre — sussurro passando a mão em sua crina.

Ele raspa a pata no chão, emitindo relinchos e baforadas baixas, ele aprovava o que eu estava falando, assim como o fato de suas narinas estarem dilatadas e as orelhas eretas para frente significava que prestava atenção ao que eu dizia.

— Quero propor algo diferente para nós. Se você gostar, podemos pensar em fazer isso mais vezes. — Tiro o chicote com calma da bota, ele fica desconfiado. — Isso será necessário entre nós?

Bruto relincha, marchando para trás, sacodindo a cabeça. Jogo o instrumento para longe. — Quero que você corra quando for necessário, quero que sinta a terra tocando forte suas patas e o vento traga a liberdade que isso vai lhe trazer. Mas para isso precisa obedecer fielmente meu comando.

Estralo os lábios indicando para que ande, faço todo o circuito no trote, deixando que ele receba meus comandos, deixando que veja como será.

A competição dos três tambores é simples, você precisa fazer uma saída com explosão antes de cruzar pelos sensores. Uma prova de três tambores clássica é de oito metros até o primeiro, depois vinte e sete e meio até o segundo tambor e trinta e dois metros até o terceiro. E então, a reta final, onde exige mais dos cavalos e das amazonas, era esforço máximo pelo melhor tempo. Se tudo for executado com perfeição e sem derrubar nenhum dos tambores, você poderia ganhar alguma posição boa.

Existem pessoas que gostam do silêncio, silenciam tudo ao seu redor, se concentrando apenas na sua própria respiração e de seu cavalo. Eu gosto de ouvir tudo.


— Não foi um tempo ruim para quem está parada por anos. — Mathias comemora pendurado na cerca.

— Quanto?

— Dezessete segundos e meio.

Desço do cavalo acariciando a testa dele. — Esse garoto nasceu para isso.

— Dei uma examinada na égua da Cindy, ela está machucada pelas esporas, sua barriga está toda marcada e além disso, queria que desse uma olhada no freio, acho que tem algo errado.

— Odeio quando vejo animais sofrendo pela imprudência de seus donos.

— Também não gosto, pena que o pai de Cindy não pense assim e deixa aquela garota maluca usar os animais como enfeites.

— Nem me lembre disso — retruco.


CAPÍTULO 20


Miguel

Logo após fazer sexo com Dandara fiquei perdido olhando-a dormir por alguns instantes, aquilo, esses tempos no Haras têm sido os mais malucos que já tive. Aquela esquentadinha está mexendo comigo, ela está me atormentando desde que pisei no Haras, fazendo meus dias e noite incertos, mas a mulher deitada no meu braço, dormindo tranquilamente, livre de todas as caretas e muros que impõe me faz querer seguir outro rumo. Eu tenho vontade de puxar seu corpo contra o meu, encaixá-la em meu pênis e fazer tudo de novo, agora sem pressa, absorvendo tudo, cada gemido que ela faz. Mas acabei adormecendo enroscado em seu corpo ao contemplar seu rosto enquanto dorme.

E quando o dia seguinte chegou, me deparei com a cama vazia, ela saíra de fininho para não me enfrentar quando acordasse. Abro a porta, verificando se o caminho está livre e quando confirmo que sim, retorno ao meu quarto, trancando a porta depois de entrar.

Tomo um banho rápido vestindo algo mais leve para o dia quente que faz do lado de fora, fazendo uma anotação mental: ar condicionado em todos os cantos, pelo amor de Deus, como é quente isso daqui! Pego os óculos escuros colocando-os no topo da cabeça e desço correndo a escada em direção à cozinha.

— Bom dia, Maria — cumprimento a senhora, ela me olha meio espantada o que me faz questionar se eu não estava sendo educado o suficiente com as pessoas dali. Mas também, com a noite anterior que tive, meu humor está perfeito nesta manhã. — Por acaso você viu a...

— A menina está embrenhada pelo Haras como sempre, Seu Miguel.

Pego uma laranja, descascando-a. — Vocês sempre começam o dia antes mesmo do sol?

— Sim, a menina é que acorda o galo e não o contrário.

Sorrio jogando as cascas fora. — Em São Paulo também acordamos, mas confesso que ser dono do próprio negócio tem suas vantagens.

Saio pela porta lateral da cozinha roubando um chapéu preto na varanda, brincando ao colocá-lo em minha cabeça, até que não tinha ficado ruim. Deixo de lado ao ver Dandara perto de um dos cercados sorrindo como uma menina ao ver os cavalos.

Lembro-me de poucos momentos vividos aqui, mas o que eu com certeza consigo recordar é dela, mesmo muito diferente da época que erámos crianças. Dandara sempre foi apaixonada por isso, era raro vê-la vestindo sapatos e quando estava, eram botas. Era mais raro ainda ver a menina fazendo outra coisa do que estar perto dos bichos.

— Bom dia, esquentadinha, tinha espinhos na cama essa manhã?

Agarro a cintura de Dandara, lembrando de nossa noite, gostando do cheiro dela.

— Levanto antes mesmo do sol, coisa de caipira.

Pelo tom de voz afiado, já estava mordendo os cotovelos.

Sorrio dando um beijo suave em seu rosto, tentando suavizar o mau humor. — — Confesso que tive uma noite excelente. Poderíamos repetir nossa conversa hoje a noite, o que acha?

— Poderíamos, mas não vamos, tenho mais o que fazer. E nada mudou.

— O que eu fiz? Acordou azeda como um limão, você não cansa de distribuir coices? — Controlo minha vontade de responder Dandara de forma ríspida, suspiro, suavizando a voz — Que tal darmos uma volta? Você poderia me mostrar a região.

— Claro, tem algo que ficou de fora de seu inventário?

Fico surpreso, me afasto de um passo para olhar melhor seu rosto, como ela soube?

— Dandara...

— Cala a boca, brucutu! Se não quer ver a cara enfiada no esterco de cavalo fique quieto!

Ela vira chamando uma garota.

— Teremos que trabalhar algumas coisas em vocês dois. Faça uma pausa, eu vou preparar o redondel.

— Ok, obrigada Dandara.

Sei o jogo que Dandara faz, ela prefere fugir do que virar e me encarar, não deixo barato, sigo-a pelo Haras.

— Não cometi nenhum crime, Dandara.

Ela continua andando, me ignorando.

— Você está sendo teimosa, poderíamos resolver isso de outro jeito, quem sabe unir o útil ao agradável.

Ela vira, parando brutalmente, me fazendo quase tropeçar.

— Diga brucutu, qual sua excelente ideia? Já recebeu oferta pelos meus cavalos? Ah, muito obrigada por deixar Trovoada de fora, foi uma gentileza imensa, já que não quis vender também um presente de meu pai.

— Eu não venderia seu cavalo, vejo o amor que sente por ele. Posso não ser um especialista ou não gostar das mesmas coisas que você, mas não quero mal aos bichos.

— Não quer o mal deles? — O rosto de Dandara está vermelho como se tivessem esfregado dois tomates em suas bochechas, e se isso não era um alerta para ficar afastado, eu não sabia o que seria. — Sabe qual a diferença entre um cavalo para lidar com o gado e um cavalo de montaria e competição?

Dou de ombros.

— Exato, se não sabe essa imensa diferença e mesmo assim foi oferecer meus cavalos para donos de fazenda de corte. Você com certeza não quer o bem deles. Jumento! — dispara a falar.— Mas tenho uma solução, vá embora, se não quer o mal deles, vá. Ou está esperando a foda de despedida? Quer ir para o celeiro desativado? — pergunta desatando o nó da minha camisa xadrez fazendo ela revelar minha blusa curta.

E mesmo que a ideia de tê-la novamente em meus braços, sentir o gosto de sua pele e ter seus gemidos em meus ouvidos seja tentadora, me foco em nosso novo cabo de guerra. — Deixe de ser ridícula!

— Não sei onde Pedro estava com a cabeça, ele só poderia estar alucinando quando decidiu deixar meu Haras para você! Tenho muito trabalho a ser feito, se puder pelo menos não atrapalhar, eu agradeço.

Estava pronto para segurar seu braço vendo que se afastaria, quando vejo sua expressão de raiva se focar em outra coisa, sigo seu olhar vendo uma garota vir calvagando em nossa direção.

— Dandara! Era você mesmo que queria encontrar!

— Só me faltava essa! Acho que errou, sua prenda está bem na minha frente — Dandara diz com um sorrisinho falso.

— Forasteiro, desculpe não ter vindo mais cedo, vejo que ficou totalmente curado do ataque de fúria de Dandara.

Sorrio não tirando os olhos de Dandara, deixando que Cindy agarrasse meu pescoço dando um beijo bem perto de minha boca, naquele instante tinha descoberto uma outra arma poderosa contra a esquentadinha, o ciúmes. — Estou bem sim, que surpresa boa vê-la aqui. Estava agora mesmo comentando com Dandara que queria dar uma volta pela região.

Cindy sorri animada. — Então encontrou sua companhia, faço questão de ir com você.

Aproveito a situação segurando na cintura fina da garota, abrindo um amplo sorriso. Satisfeito por ver que deixo Dandara mexida, é bom saber que outra coisa borbulha dentro dela, além de irritação. Afinal, ela não é tão casca grossa quanto esbraveja. — Podemos dividir o mesmo cavalo, eu não estou acostumado a montar sozinho.

— Ihaaaahhh, mas é claro! — ela diz animada. — Ah, Dandara, eu soube que está preparando uma competição aqui no Haras.

Faço minha cara de “não sou o único planejando pelas costas” e encaro Dandara.

— Sim, é para angariar fundo para o Haras, mas como soube?

— Matheus, ele me contou — Cindy diz com um sorriso. — Logo pensei, o que seria excelente senão competir? As regionais estão chegando e eu e Milu precisamos estar preparadas, você poderia dar uma olhada nela, estou achando que ela está de TPM. E você como antiga competidora sabe como é importante o cavalo estar bem. Fico orgulhosa que abandonou os pódios e se dedica cuidando de minha égua.

Dandara competindo? Não sabia que a esquentadinha metida as caras em rodeios ou competições equestres. Estava aí uma coisa para pesquisar quando tivesse deitado em minha cama essa noite.

— Claro. Dou uma olhada. — Dandara responde de forma azeda.

— Perfeito, — Cindy empurra a rédea para Dandara, enlaçando ainda mais meu corpo — vamos forasteiro?

— Claro. Irei pedir para Mathias selar um cavalo.

A carranca de raiva que Dandara está é impagável. É como acender um pequeno fósforo numa fogueira à base de álcool. Eu não quero nada com essa garota, mas se para provocar minha caipira eu tiver que entrar nesse joguinho sujo, por que não?

A tal de Cindy não tinha a mesma desenvoltura que Dandara na montaria, na verdade, não tem nem mesmo a paixão que Dandara exibe ao olhar para os cavalos. Porém, não decepcionou em nada em sua montaria e cavalgada, ela sabia o que estava fazendo. Mesmo que o cavalo ficasse arrisco com seus comandos.

Saímos do Haras indo para os campos abertos da propriedade, passando por um pequeno riacho, Cindy se aproveita por estarmos na mesma sela e esfrega sua bunda em meu pênis, sempre sorrindo e olhando por cima do ombro.

— Que tal pararmos aqui? — questiona olhando para a paisagem na frente, estavámos em uma espécia de monte, víamos a estrada de terra que nos levaria de volta para o Haras e ao longe a silhueta do que seria o centro da cidade.

— Por mim — digo já descendo do animal.

— Quero muito saber o que fez um homem fino e bonito como você se meter com a Dandara — Cindy fala amarrando a rédea do cavalo no tronco de uma árvore.

— Podemos dizer que fomos criados juntos.

— Mentira! — diz rindo.

— Meu tio-avô criou Dandara quando seus pais faleceram.

— Que azar o dela, primeiro perdeu a mãe e logo depois seu pai, morreu em um acidente com bois.

Não havia sentimento real naquelas palavras.

— Você e ela se conheceram como? — pergunto sentando sobre a grama.

Ela caminha parando em minha frente tampando a visão da paisagem remexendo o quadril, tentando ser sedutora.

— Bom, tirando o fato de cidade pequena todo mundo naturalmente se conhecer, além dos filhos estudarem juntos. No Haras, Setti é um dos poucos lugares de excelência por aqui, confesso que tem ótimas pistas para treino. Meu pai é um dos patrocinadores, mesmo eu querendo que Milu seja tratada por outra domadora, não posso negar que ela é boa no que faz. Cindy deu de ombros, analisando as unhas perfeitamente alinhadas e pintadas — Ficou melhor quando saiu das competições.

— Competição? — questiono curioso.

— Dandara praticava a mesma modalidade que eu, três tambores, mas largou tudo quando Pedro ficou doente. O velhote não podia mais pegar no pesado e o que não falta naquele Haras é serviço pesado para ser feito. Mesmo com Mathias vindo para ajudar, Dandara decidiu largar tudo para cuidar do Haras.

— Pela sua cara de surpreso, não sabia disso.

— Conheço pouco daqui, vim muito na infância a mando de meus pais e quando cresci nunca mais voltei. Só fiquei sabendo novamente desse lugar quando um advogado me ligou informando sobre a morte do meu tio. Somos de uma família grande, porém nem todo mundo ainda mantém contato.

— Por que decidiu voltar? — Cindy senta em meu colo, um joelho em cada lado de meu corpo, me fazendo dar um sorriso sem graça ao afastá-la com jeito. — É verdade o que todos tem cochichado por aí?

— O que andam falando?

— Oras, que você veio tomar isso tudo dela. Afinal, pra que um homem como você viria para um fim de mundo como esse?

— Vim por negócios, é tudo que precisa saber.

Cindy fez um beicinho, passando os braços pelo meu pescoço, forçando uma aproximação. — Por que não paramos de falar dela, de cavalos e todas essas bobagens e terminamos o que rolou lá no bar?

Direta e atrevida, ela se daria bem na cidade grande.

— Sinto muito, mas não vai rolar. Vamos voltar? Esqueci que marquei um telefonema importante com meu assistente em São Paulo, como disse, negócios — Fico de pé estendendo a mão para ajudá-la.

Não sei o que tem no DNA dessas caipiras, mas ô mulherada que se enfeza rápido! Cindy levanta dando um tapa em minha mão, já desamarrando o cavalo e subindo. Mais uma que preciso tomar cuidado para que ela não me lance do outro lado da estrada, só por que neguei seu fogo. A realidade é que não queria nada com Cindy, ela poderia ser uma mulher linda, com um corpo escultural. Mas serviu apenas para deixar a esquentadinha com ciúmes.


CAPÍTULO 21


Dandara

Enquanto comemos, Maria não tira os olhos de mim. Abaixo o garfo, dando um longo suspiro. — Diga logo mulher, senão vai engasgar com a própria comida.

— O que está tirando ocê do prumo, moleca?

Velha sábia! Não tinha nada que escapasse de Maria, você poderia se deixar levar pelo rosto repleto de rugas ou pelos olhares maternos que lançava para todos, mas Maria era como um pastor alemão, farejava as coisas à distância.

— O que deu no povo desse Haras hoje? — pergunto desviando do verdadeiro assunto.

— Ocê não me engana mocinha, conheço ocê mesmo antes de aprender a lavar os fundilhos de suas ceroulas!

— Que horror! Estou apenas pensativa, vou sair mais tarde para dar uma olhada nos campos.

Foi a vez de Maria revirar os olhos, ninguém vencia em uma disputa com Maria. — Ainda com aquele sonho azucrinando a mente?

Suspiro empurando a comida de um lado para outro no prato. — Eu vejo aquele cavalo com tanta força, não sei porque e nem mesmo o quê significa.

— Você está preocupada com as coisas daqui, normal, os sonhos mostram nossas preocupações mais profundas.

Suspiro, tomando um gole do suco, confirmando com um pequeno gesto de cabeça.

— Mas não era sobre isso que estava falando.

— Ô merda, Maria! — retruco. Não irei conseguir desviar do assunto.

— Óia a boca! — ralha — Ocê está ansiosa, está assim desde que a senhorita Munhoz chegou no Haras.

— Aquela menina brinca com os animais, Mathias disse que a égua tem marcas feias das esporas, eu gostaria de enfiá-las no...

— Ouuh , acalme-se. — Maria adverte rindo — Seria mesmo por que Cindy está maltratando a pobre da égua, o que não seria nenhuma novidade para nós ou pelo simples fato dela ter saído com Seu Miguel?

Fico em silêncio enchendo minha boca com o resto de suco de meu copo.

— Você gosta dele.

Encaro Maria — Ficou maluca? — digo umas oitavas mais alto.

Ela sorri, pega seu prato e o meu, indo até a pia. — Conheço você, menina. Seria de se admirar se não tivesse apaixonada. Eu disse para Seu Miguel, muito ódio acaba virando amor.

— Você está exagerando, deve ser o excesso de trabalho. Seu “Miguelzinho” está agindo pelas minhas costas, fazendo um inventário de tudo que há aqui para vender.

Maria não manifesta nenhuma surpresa com o que acabo de dizer. — O homi é um bitelo , 5 mas não disse que não era sonso para fazer merda. Pode me chamar de velha caduca, mas conheço os sinais e sintomas, você está gostando dele.

— Arre égua! Vou trabalhar, não quero falar mais disso! — argumento ficando de pé.

— Como quiser, moleca. Mas se enfiar no trabalho não irá arrancar isso d’ocê.

Bufando dou uma olhada feia em sua direção e ela entende o recado, não toca mais no assunto enquanto eu devoro uma maçã vermelha e doce que estava na fruteira. Coloco o chapéu sobre a cabeça, fazendo uma trança em meu cabelo e saio, ignorando os olhares que Maria me lança.

Apaixonada! Era para se rir mesmo, Maria está ficando maluca!


— Tudo correndo bem por aqui — Mathias me relata assim que entro do estábulo. — No fundo ela só precisa de um pouco de atenção.

Passo a mão sobre o corpo da égua, vendo seu olhar desconfiado. Milu é da raça Paint Horse, muito parecida com os quarto de milha, mas parece pintada à mão.

— Oua , calma garota!

Retiro a mão ao vê-la arreganhar os dentes.

— Essa daí vem com o espírito da dona. — Mathias brinca.

— Que nada, tire ela da baia. — peço olhando nos olhos da égua — Cindy é horrível com ela, assim como foi com todos os cavalos que passou por seu rancho. Só quer que o animal corra, muito parecida com Matheus, pelo menos aquele ali tem algo de bom, gasta dinheiro e tempo cuidando dos seus cavalos. — digo torcendo os lábios.

— Tem certeza disso? — Mathias questiona segurando a trava da baia. — Ela não está muito amigável.

— Solte.

Mathias faz o que mando, abrindo a portinhola, deixando que ela saia. Milu é uma égua imponente, sai com a fronte erguida, me encarando de cima, passando o recado claro que não tem medo de nós, mas na realidade, tudo isso é pose, ela está receosa que a machuquemos.

— Dê uma olhada nessa ferida.

Dou a volta indo até Mathias, não era uma ferida profunda, iria cicatrizar logo, mas o que me irritou ainda mais foram as marcas mais profundas em sua pelagem indicando que outras já tiveram ali, várias cicatrizes marcando o quando essa égua vinha sendo judiada. E o quantos os maus tratos tinham marcado-a internamente.

— Vamos fazer um tratamento de aromaterapia, para ela se acalmar um pouco e deixar que cuidemos dela.

Vou até o espaço onde os remédios ficam guardados examinando alguns vidros, pego três voltando para a égua.

Tiro a tampa do primeiro colocando perto da narina do animal. Ela relincha virando a cabeça bruscamente, quase derramando o conteúdo de minhas mãos. Retiro do segundo, mas ela tem o mesmo comportamento.

— Óleo bergamota — digo e não demora muito para ela tirar a língua para fora querendo o líquido.

— Não é estranho que ela escolha justo o que traz a sensação de alegria e ânimo. — Mathias comenta.

— Minha mãe sempre dizia que os animais escolhem seus próprios remédios. Eles sabem do que realmente precisam.

O barulho de cavalo se aproximando traz nossa atenção para a entrada do estábulo.

— Que bom que ela está pronta, preciso ir. — Cindy salta do cavalo deixando Miguel se desequilibrar por um instante.

— O passeio não foi prazeroso? — desafio.

— Minha égua está pronta ou não?

— Milu está com marcas de escoriações na barriga. — acuso.

Cindy não dá a mínima para o que estou falando.

— Cindy! Você está ferindo sua égua por nada com suas malditas esporas!

Mathias me olha preocupado.

— Que eu saiba pedi para você dar uma olhada, e não mandar no jeito que comando minha égua. — Cindy contra-ataca.

Miguel dá um passo em nossa direção como se nós duas fôssemos nos engalfinhar como animais, não que ela não merecesse, mas eu não iria ganhar nada com isso.

— Se você quer que Milu não a jogue para longe durante uma competição, precisa entendê-la. Ela não é um pedaço de bife para você ficar furando quando bem entende.

Cindy gargalha, — Me passe o valor de seu tempo, mando meu pai depositar na conta do Haras. — ela vê que continuo encarando-a — Vamos, será que dá para selar minha égua?

Mathias pega as coisas pronto para selar a égua.

— Mathias, não! — Eu quase grito. — Cindy, me escuta...

Cindy arranca a sela das mãos de Mathias, ela mesmo arrumando no lombo de sua égua.

— Cindy, sua égua está ferida, pode achar que não é nada, mas com o tempo vai pegar os ossos dela. Se você se importa...

— O que eu preciso escutar é que você fez algo além de ficar gastando meu tempo. E não de suas mágicas inúteis. — Ela mal fixa direito as fivelas para montar o animal.


Cindy enfia as esporas na barriga da égua fazendo-a relinchar de dor, e a visão dos olhos tristes e repletos de lágrimas do animal cortam meu coração.

Chuto um barril de água enfurecida com a partida de Cindy. O fato de não poder fazer nada para ajudar essa égua me corta o coração.

— Pelo visto vocês estão bem longe da cordialidade.

Viro como um bicho, bufando como um touro bravo ao encarar Miguel. — Meta seu nariz onde é chamado!

— Se você sabia que Cindy maltratava a égua, por que a liberou? — Miguel questiona.

— Seu Miguel, não é simples assim, não podemos prender os animais, mesmo que por alegação de maus tratos. A família de Cindy é poderosa na cidade, seria uma briga infinita e até lá a égua já teria caído doente.

— O que Mathias tá querendo dizer é que não serão os primeiros donos que negligenciam seus animais, muito menos os últimos. São esse tipo de gente para quem quer vender meus cavalos. — acuso.

Levanto o barril que tinha chutado em minha explosão de raiva, puxando a mangueira para enchê-lo.

— Mathias, termine de cuidar das baias, eu vou sair com Trovoada. Está esfriando e não duvido de termos uma chuva torrencial mais tarde.

Deixo os dois ali, no meio do estábulo indo até o Trovoada, eu precisava da paz que ele poderia me dar. E não foi surpresa em vê-lo totalmente alerta, meu pai costumava dizer que Trovoada sempre saberia meu estado de espírito, ele sempre estaria ali, pronto.

E isso era verdade. Não precisei dizer nada, apenas abri a portinhola de sua baia, subindo diretamente no pelo para que ele saísse em disparada para fora do Haras, o sol estava se pondo no horizonte e uma espessa nuvem cinzenta cobria o céu.

Na época de outono vivemos os tempos mais malucos; temos dias de intenso calor e do nada um frio de arrepiar os ossos com chuvas tão fortes que inundam a estrada. Além de ser a época que mais me preocupo com o bem estar dos cavalos.

Cavalgo pelos campos, até mesmo me embrenhando no pequeno acervo de mata fechada, os ranchos e fazendas não são próximos uns dos outros, o que dá bastantes aréas livres.

— Aoh — Trovoada para, relinchando baixo. — Você também ouviu rapaz?

Paramos entre as árvores escutando os pássaros fazendo burburinho entre os ramos, mas não foi isso que chamou nossa atenção, e sim um relincho baixo, sofrido.

— Vamos, Trovoada. — bato o pé na barriga dele fazendo barulho para que volte a galopar.

O rancho era velho, existia destroços espalhados pelo terreno, desço do Trovoada empurrando a porteira velha e quebrada, tinha arame farpado para todos os lados, o relincho veio mais fraco dessa vez, como se o animal já não aguentasse mais esperar por ajuda. Trovoada relincha batendo os cascos chamando minha atenção, um cavalo estava em um pequeno cercado amarrado a cordas em um tronco velho, havia feridas em sua cabeça e boca devido às cordas, mas também marcas profundas espalhadas pelo seu corpo, fora a desnutrição evidente.

Não conseguiria fazer esse cavalo ir até o Haras, precisaria chamar o Santiago e pegar o trailer. Monto em Trovoada galopando de volta até o Haras, forçando ele ir o mais rápido que pode, não sabia de quem era aquele rancho abandonado, mas de maneira alguma deixaria o animal ali sofrendo.


CAPÍTULO 22


Miguel

Levo as toras de madeira para Bento, sentando no sofá. O frio realmente tinha chegado com força, nos forçando a fechar as portas e janelas para manter o calor dentro do imenso casarão. Dandara ainda não tinha retornado, o que me deixa um pouco ansioso, mesmo não querendo admitir. Aquela diabinha caipira está me enrolando em seu laço.

— Daqui a pouco a janta estará pronta. — Bento diz passando por mim em direção à cozinha.

Volto meus olhos para a tela do computador, vendo o projeto que Paulo havia me enviado mais cedo. Os arquitetos tinham feito um excelente trabalho, a entrada do resort era imponente, ele manteve o rústico e sofisticado com tanta suavidade que nenhum dos pontos tinha se destacado mais que o outro. E ali, analisando o projeto, eu não conseguia abrir minha caixa de e-mail e aprová-lo. Não conseguia dizer que poderíamos fechar o negócio com os donos dos Haras e fazer o transporte dos cavalos assim que o périodo que o advogado deu se encerrasse.

A rajada de vento forte fez o fogo na lareira tremular quase se apagando, fecho o computador virando para ver Mathias entrar na casa chamando por Bento.

— Que desespero todo é esse? — questiono indo para a entrada.

— Dandara voltou e vamos resgatar um animal.

— Resgatar? O que houve? Toda vez que você entra como um foguete aqui é porque Dandara tá metendo todo mundo em apuros — retruco.

— Mathias, o que aconteceu? — Bento e Maria vêm em nossa direção.

— Dandara voltou da caminhada, segundo ela encontrou um animal em condições precárias. Preciso ligar para o Santiago e preparar o trailer para sairmos.

— Onde ela está? — pergunto.

— A última vez que a vi estava indo pegar umas medicações.

— Santiago não deveria ficar disponível no Haras para esse tipo de emergência? — questiono ajeitando o casaco pesado no corpo.

— Sim, Seu Miguel, mas ele trabalha em outros lugares. É um veterinário muito requisitado na região.

— Vou procurá-la. — digo por fim, cruzando com eles, sentindo o vento bater contra meu corpo enquanto caminho até o estábulo.

Os cavalos relincham alto, incomodados pelo vento, passo por uma baia me esquivando ao ver que o cavalo está tão irritado que bate o corpo contra as paredes de sua baia.

— Eles ficam mais irritáveis com esse tempo.

Olho para Dandara, seu rosto está preocupado. Ela vai até o cavalo mais arisco, deixando que ele cheire um potinho.

— Aromaterapia — explica.

Mesmo ainda desconfiado o cavalo começa a se acalmar.

— Você realmente faz mágica com eles.

O cavalo vem em minha direção me assustando, pulo para trás encarando os imensos olhos pretos do animal. — Eles não confiam em mim.

— Eles são espertos, sentem quando um humano tem medo, alegria ou quando não gosta deles.

Olho para seu rosto, lá vinha ela com aquele papo novamente. — Não é bem gostar ou não, só não confio. Mathias disse que encontrou um animal ferido.

— Eu estava cavalgando, estava ficando mais frio no meio das árvores. Eu o ouvi, ele estava me chamando, não sei há quanto tempo ele está lá, mas eu sei que está cansado. Cansado demais para vir andando, mesmo se Trovoada sustentasse ele pelo caminho, isso o teria machucado mais.

— O que posso fazer?

Dandara me encara surpresa.

Nem eu mesmo sei por que estou fazendo isso, por que estou tentando salvar um animal se tudo que mais quero é que essa guerra de braço acabe logo, para dar continuidade aos meus planos.

— Santiago está ocupado em uma fazenda, tenho receio dele não chegar a tempo.

Ver o olhar triste em seu rosto faz algo dentro de mim borbulhar. — Vamos, eu ajudo você.

Ela ri por um instante, voltando a ser a diaba caipira que eu conhecia. — Você vai mais me atrapalhar do que ajudar.

— Se não quer salvar aquele animal é só dizer.

Vejo seu olhar me analisando, assim como o suspiro pesado que ela solta. — Pegue aquelas cordas, iremos precisar de pelo menos umas três, estou com o kit de remédios, ele tem grandes feridas pelo tempo que passou amarrado e das tentativas de fuga.

— É selvagem?

Ela para de arrumar as coisas para me olhar. — Ele foi ferido, está com medo, sede e fome, vai saber quantos dias ficou exposto ao sol escaldante e as chuvas frias das noites.

Mathias aparece com a caminhonete puxando o trailer. Interrompendo nossa conversa.

— Vamos colocar tudo no carro. — Dandara ordena levando Trovoada para sua baia.


O caminho até o rancho que Dandara encontrou o animal ferido fica bem longe do Haras, e a estrada não ajudava em nada, o vento ficava mais forte e logo a chuva nos brindava com mais força, dificultando ainda mais nosso caminho. Os limpadores trabalhavam frenéticos pelo vidro, cada vez que Mathias acelerava ou freava passando por um buraco era meu coração que pulava dentro do peito. A buraqueira ficava escondida devido a tempestade que caía lá fora.

Era difícil ver alguma coisa concreta em nossa frente com a torrente que descia do céu, o que me fazia apertar o canto do banco com mais força, prendendo a respiração.

Quando Mathias acelerou passando pela entrada destruída do rancho, tudo lembrou foi um filme de terror, a casa ao fundo está caindo aos pedaços, tudo ali está destruído pelo tempo e esquecido por Deus.

Dandara salta do carro antes mesmo que ele pare completamente, levando consigo o kit veterinário e uma das cordas, fazendo Mathias e eu seguirmos em seu encalce.

— Mathias, abra o trailer.

— O tempo está horrível. — digo olhando ao redor.

Dandara pula a cerca de arame encarando o cavalo com as mãos para cima, conversando baixinho com ele, para tentar acalmá-lo.

— Corte os arames, Miguel.

Retiro da enorme maleta que ela touxe um alicate, corto os fios abrindo espaço para que ela passe com o animal.

Ele relincha, empinando o corpo para trás, evitando que ela encoste nele e toda vez que faz isso, acaba caindo devido à fraqueza que seu corpo apresenta. Dandara chega mais perto tentando tirar as cordas que o machucam, porém ele está arredio demais.

— Dandara, devíamos ter esperado por Santiago, ele pode te machucar. — Mathias retruca.

— Ele não vai me machucar, está com medo, tem medo do toque. — Dandara se vira pegando um daqueles frascos pequenos que estava dando aos cavalos no estábulo fazendo o cavalo cheirar. Ele não se acalma como os outros fizeram, mas permite que ela chegue mais perto. — Se tivesse esperado por Santiago ele teria morrido nessa chuva.

Dandara tem realmente algo a mais para esses animais, é como se apenas de olhar, eles dissessem tudo que estão sentindo para ela. Ela volta para a mala tirando um lenço grande, jogando-o no rosto do bicho.

— Miguel corte as cordas e passe a nossa pelo pescoço, dê um nó bem firme.

Faço o que ela manda, me certificando que o cavalo continua imóvel contra o peito de Dandara, ela faz carinhos na crina judiada, sussurrando algo que não entendo devido o barulho forte da chuva.

— Se o dono do cavalo voltar? — pergunto terminando o nó.

— É bom que nem volte, olha o estado que deixou o cavalo. — ela retruca pondo o bicho de pé. — Calma, ouh, calma.

— Dandara, Miguel, temos problemas! — Mathias grita sob a chuva.

Um velho aparece no meio da chuva vindo em nossa direção segurando uma garrafa de bebida, tropeçando nos próprios pés.

— Conheço a laia desse daí, Cicinho sempre o expulsa do bar por arrumar confusão e ele não se importa com nada além da cachaça que consome — Mathias comenta encarando o homem.

— Às vezes temos que deixar os pensamentos sendo apenas isso, pensamentos. Nunca ouviu que o que é jogado no universo ele devolve? — Dandara resmunga para mim.

— Ei! O que você estão fazendo com meu cavalo? — O velho grita, tenta correr até nós, mas tropeça várias vezes em seu próprio pé.

Quando tenta chegar perto de Dandara, eu contenho o homem bêbado e por consequência o animal se agita, fazendo Dandara soltar um pouco a corda que o mantinha preso.

— Você não encosta mais nesse animal! — Dandara grita vindo para cima de mim e do velho bêbado.

— Vocês invadiram minha propriedade, vou chamar a polícia, e esse cavalo voltará para o lugar dele.

Seguro com firmeza sua camisa puída evitando que ele avance para cima dela.

— Chame, vai me poupar o trabalho de chutar sua bunda até lá.

O velho para por um instante de se debater em meus braços e assim consigo arrastá-lo para fora do caminho, deixando que Dandara entre com o animal no trailer.

Mathias enfia todas as coisas de volta na caminhonete, embarcando e dando partida no motor.

— Quando ele ligar para a polícia, ele que terá que se explicar. — digo animado, feliz por ter salvo aquele cavalo.

Dandara tira os olhos do vidro traseiro, voltando seu rosto para mim. — Ele não vai ligar, mal lembrará o que houve. Ele iria deixar o cavalo morrer de fome. — ela volta seu olhar para trás, vigiando o trailer.

Mathias faz o melhor que pode, mas a estrada de terra fica esburacada na chuva forte, e se antes a visibilidade já estava dificil, agora está muito pior. Os relinchos do animal preso no trailer são ouvidos de dentro do carro, imagino o quanto ele não esteja apavorado.

O carro balança de um lado para o outro, me fazendo segurar a respiração por alguns segundos.

— Ele vai se acalmar quando sairmos desse pedaço de estrada. — Mathias diz.

O carro balança mais forte na curva.

— Pare, Mathias. Eu vou com ele.

— Ficou maluca? Ele pode te machucar, está muito nervoso.

— Se eu não for com ele, vamos acabar capotando. — diz.

Mathias encara Dandara pelo espelho retrovisor, considerando o que diz.

— Ficou maluco? Ela vai se machucar! — retruco quando ele para no meio do nada, destravando as portas.

— Sei o que estou fazendo — ela resmunga.

Dandara desce e esperamos. Olho pelo vidro de trás esperando algum sinal...

— Podem ir — grita batendo na lataria do trailer.

Quando chegamos ao Haras, me senti como se tivesse nadando, nem mesmo minhas bolas estavam secas na cueca. Mathias dá a volta no carro pegando a corda e guiando o cavalo para o estábulo. E antes que Dandara saísse, indo para longe, eu a segurei.

— Desculpa.

Passo a mão pelo cabelo molhado tirando um pouco d’água dos olhos. Por que ela me deixa assim?

— Não quis magoá-la com a história de hoje cedo. Estou fazendo o melhor que posso.

— Então precisa fazer mais do que isso.

Ela se solta de minha mão correndo em direção aos estábulos, corro atrás dela, mesmo quase caindo quando meu pé afunda em uma poça d’água, alcanço seu braço e puxo-a para mim, fazendo com que pare.

Droga! Descobri que estou enlaçado até a alma por essa caipira!

Dandara fecha a expressão mostrando seu melhor olhar de ódio tentando se livrar de mim novamente. Fico em sua frente e mesmo com a chuva em seu rosto, consigo perceber que os seus olhos estão cansados, a adrenalina tinha decaído de seu corpo e eles lacrimejavam. Ela tenta se soltar novamente de mim. — Por que você não vai embora, Miguel? — pergunta com o rosto perto do meu.

Meu pênis lateja dentro da calça. Essa mulher me deixa louco!

— Eu não desisto, esquentadinha. Já devia ter entendido isso.

— Pelo menos temos alguma coisa em comum — ela retruca. — Odeio você, brucutu!

— Não, não odeia.

Ela para surpresa com minha declaração. Estar tão perto dela, sentir aquele corpo colado no meu, desperta meu desejo.

Ignorando tudo, eu só tinha uma coisa em mente: tê-la a todo custo.

Avanço sobre ela, seu corpo inteiro estremece, quando a beijo, ela abre a boca para receber minha língua, sua boca é carnuda e quente, ela para de tentar lutar contra aquele fogo que move nossos corpos. Aperto Dandara contra meu corpo, e sinto suas mãos enlaçarem o meu pescoço. Ela me puxa, em resposta eu invado seus lábios, tomando sua boca com minha língua. Levo a mão até seus seios e ela geme com meu toque.

— Quero você, esquentadinha.

— Por que está fazendo isso comigo? — ela resmunga quando minha boca desce por seu pescoço.

— Shiuu, — mordisco sua pele, descendo a boca por seus seios, lambendo o pequeno decote de sua blusa.

A chuva cai sobre nós, mas não é frio que nos faz tremer, é o calor que sinto por essa mulher que só aumenta.

— Quer que eu pare agora?

— Eu odeio você — sussurra, puxando minha mão, nos fazendo correr pelo Haras, entrando no velho celeiro abandonado.

Existem furos entre as madeiras fazendo a chuva cair em nós, Dandara empurra meu corpo contra uma viga de madeira, colocando as mãos por debaixo de minha camiseta encharcada. Meu corpo treme com o calor do toque, fiz o que desejava desde que pisei para fora da cama, abro botão por botão de sua camisa, deixando tudo totalmente livre para que chegasse aos seus seios, luto um pouco contra o fecho do sutiã, fazendo-a rir e tomar a missão de minhas mãos.

Dandara joga a cabeça para trás gemendo cada vez mais com as carícias que eu faço em seus mamilos enrijecidos. Lambo sua nuca, distribuindo beijos sobre sua pele. — Quero você, Dandara, tem que ser aqui, agora. — digo roçando meu quadril em sua cintura.

Solto o botão de sua calça enganchando meus dedos direto nas laterais de sua calcinha, abaixando as peças até o chão, passando por seus pés. Abro suas pernas, deixando seu sexo exposto para mim. Dandara fez o mesmo por mim, tirando minha camisa e indo até minha calça. Ela baixa minhas roupas alcançando meu pênis. Gemo como um animal no cio.

Ela se ajoelha, sem emitir uma palavra, segura meu membro totalmente ereto. A boca da esquentadinha me toma quase por inteiro, sinto o vaivém dos seus lábios me fazendo perder o equilíbrio Encostando no pilar, olhando para seu rosto.

Ela segura a base do meu pau com uma das mãos, enquanto contorna o restante com seus lábios lindos e quentes. Eu a desejo tanto a ponto de gozar. Levanto Dandara de forma abrupta.

Agarro aquela massa de fios longos e loiros, fazendo o calor que consumia meus sentidos aumentar. O corpo de Dandara colado no meu, lábios entreabertos e desejo nos olhos.

— Não negue, você adora isso, seja o que for que esteja acontecendo aqui, você adora.

Mantenho seu cabelo seguro na nuca com uma das mãos, a outra passando por seu corpo nu em volta de sua cintura, deixo meus dedos escorregarem dentro dela, afastando os lábios de sua boceta, apertando o clítoris úmido de tesão. Empurro seu corpo contra a parede, encaixando uma de suas pernas em meu ombro ao agachar, deixando sua intimidade totalmente exposta para mim, como um belo cartão de boas-vindas. Meto a língua de forma faminta, o corpo de Dandara estremece, seus dedos agarram meu cabelo de maneira ferroz.

Devoro seu corpo com vontade, minha saliva misturando com a lubrificação salgada, Dandara tinha gosto de mulher excitada, do tipo que atraí os pobres homens de longe.

Tiro sua perna de meu ombro, erguendo-me, viro-a de costas para encaixar meu pau em sua entrada, deslizo um pouco mais, ela é deliciosa! Antes de chegar ao fundo, Dandara rebola contra meu corpo, fazendo meu membro remexer dentro dela, ela rebola e eu começo aumentar o ritmo dos meus movimentos. Entro e saio dela com facilidade, como se seu corpo reconhecesse o meu.

Abro mais as pernas dela, impulsionando o quadril contra ela, seguro seu cabelo, puxando-o de forma bruta para trás, gostando de sentir seu rosto perto do meu. Mordo e dou chupões fortes em sua pele. Meto com intensidade, gostando do barulho de penetração molhada que chegava até meus ouvidos, meu pau inchado e duro doía procurando alívio, exigindo por isso.

Sinto que ela convulciona em minhas mãos, sussurro em seu ouvido o quando me enchia de tesão, o quanto seu corpo recebia o meu de maneira tão delicioso e o quanto ela era gostosa. Dandara se empinou ainda mais, apertando meu pau com suas contrações involuntárias, arrancando o ar de meus pulmões.

Continuo metendo, lambendo seu corpo, apertando sua cintura ou puxando seu cabelo. Eram sensações diversas que tomavam meu corpo. Dandara gritou, seu corpo estremecendo de verdade, perdendo o controle, deixo que ela goze, segurando ao máximo, travando minha própria libertação, ela ficou mole em meus braços enquanto me retiro de dentro dela, masturbando meu pau para gozar, esporrando como um maluco, só de pensar na entrega absurda e delirante que tinha acabado de acontecer ali.


Ela passa minha camisa rindo — É a única forma de você se limpar.

Diabinha!

— Miguel...

Selo seus lábios com os meus evitando que ela fale algo que possa estragar esse momento. — Amanhã pensamos sobre as coisas chatas.

Não tinha a menor chance de discutir com ela agora, o que eu mais queria naquele momento era deitá-la naquele feno velho e começar tudo de novo.


CAPÍTULO 23


Dandara

Abro os olhos sentindo o calor da pele de Miguel contra minha bochecha. Fico deitada quieta, ainda tentando entender o que estou sentindo por ele. Passei metade da noite refletindo sobre tudo que vivemos. Fico confusa pelas sensações que o beijo, o toque dele, me fazem sentir.

Será que eu conseguirei realmente fazer Miguel ver o Haras com outros olhos, além de um pedaço de terra lucrável? Fazê-lo sentir sem me envolver, ou eu já estava envolvida demais? Desisto de ficar deitada com milhões de pensamentos cruzando meu cérebro, saio da cama evitando acordá-lo.

Depois de tomar um banho, me troco em silêncio, descendo para para tomar café, não sem antes dar uma olhada em direção à cama, vendo Miguel dormindo nu, coberto apenas por um pedaço do lençol.

— Bom dia — cumprimento sentando na cadeira vazia, o cheiro de café e bolo de fubá fazem meu estômago roncar de fome.

— Bom dia, menina. — Maria me cumprimenta enchendo minha caneca de café puro. — Mathias estava nos contando sobre o animal.

— Falando nele, como está, Mathias? — pergunto devorando um pedaço do bolo.

— Está bem, Santiago passou a noite cuidando dele. Mesmo com muitos machucados, ele disse que logo estará bem.

— Que bom ouvir isso. — pego dois pedaços de bolo colocando no meu prato enquanto dou uma golada no café. Paro com a xícara ainda contra a boca vendo os olhares deles.

— Está faminta, moleca — Maria diz.

Dou de ombros, como se fosse algo normal.

— Tem bicho uivando no terreno de novo, uma desgrama isso, né? — Mathias provoca sorrindo.

Dou uma olhada feia, fazendo com que ele ria ainda mais, atiçando a curiosidade de Maria.

— O que vocês estão rindo?

Paro com a xícara à caminho da boca ao ouvir a voz de Miguel.

Ele puxa uma cadeira ao meu lado, me lançando um olhar malicioso. Miguel faz questão de jogar o corpo para cima de mim ao pegar um pedaço de bolo.

— Dormiu bem? — pergunta, seu olhar malicioso me fez sorrir. O desgraçado sabia que tinha mexido comigo!

— Sim e você? Parece cansado — desafio entre um gole e outro do café.

— Um pouco, mas no fim consegui o que queria.

Bento entra na cozinha sacudindo o casaco. — Hoje o dia está de lascar.

— Teremos pouco movimento então. — digo.

— Mathias eu quero falar com você sobre o Haras — Bento diz.

— Aconteceu algo? — questiono.

— Aquele problema qual contei procê , menina. Temos que rever a segurança dos animais, ontem tinha algum tipo de animal esganiçado no meio do mato.

Miguel engasga com o café fazendo todos encará-lo. Dou um pisão em seu pé, esmagando seus dedos.

— O antigo celeiro estava aberto e tudo revirado, ou tivemos um casal se engalfinhando ou tinha algum animal ferido procurando por abrigo. — Bento comenta.

— Vou ficar de olho nisso. — Mathias diz. — É perigoso mesmo, mesmo que eu acredite que possa ser um casal festeiro, — ele me encarou erguendo a sobrancelha — melhor trancarmos o celeiro dos desavisados.

— Que milagre é esse eu ver tua cabeça pelada? — Bento se vira para mim.

Sorrio.

— Perdi meu chapéu ontem quando o cavalo ficou muito agitado. Logo compro outro. — me levanto terminando meu café, aquelas trocas de olhares já foram o suficiente para mim.

— E eu... — Miguel enfiou na boca o último pedaço de bolo — vou dar uma volta pelo Haras.

Vou até a entrada enfiando meus braços no casaco que estava no mancebo, assim como as luvas de couro.

— O que faremos?

Desvio o corpo encarando a porta da cozinha, Maria, Bento e Mathias estavam entretidos em uma conversa. Não sei se estavam totalmente focados ou apenas se fazendo de surdos para escutar nossa conversa.

— Dá para ser mais discreto? Eu vou conferir o cavalo que chegou ontem, e depois se quiser podemos cavalgar juntos.

Ele inclina a cabeça e inspira, sentindo meu perfume. — Adorei a ideia.

Maldito brucutu gostoso!

— Seja discreto.

Ele respira mais fundo e mordisca meu pescoço. — Por que não aceita logo minha oferta, esquentadinha, colocamos um fim nesse joguinho e podemos ver o que rola.

— Isso vai acabar mal — digo com a voz rouca. Era só questão de tempo, mas, dessa vez a culpa foi minha. Olhar para a boca de Miguel tão próxima à minha, eu queria aquele beijo, então peguei.

Meu coração martelava no peito com a sensação de poder ser pega, meu corpo e cada fio de cabelo gritava em minha mente: Brucutu!


Santiago tinha levado o cavalo para o redondel, mas ele estava tão arredio que poderia machucar ele e o ajudante que tentava segurar a rédea, ele empinava evitando qualquer tipo de aproximação.

— Vou ter que aplicar a injeção, ele vai ficar pior desse jeito.

— Espere. — digo subindo nas travas do redondel.

— Ele está muito arredio, pode machucar alguém ou até mesmo ele.

— Acho bom manter distância. — o ajudante de Santiago diz para Miguel.

— O que esse cavalo tem? Ele deveria estar grato por termos salvado ele ontem — escuto Miguel retrucar.

— Isso é o que ela pode descobrir. — Santiago comenta.

Ele corre pelo redondel dando coices nas paredes, respiro fundo pulando para dentro, parando no meio do cerco. Cada passo que dou em sua direção faz com que ele trote, evitando minha aproximação. Ele vem para cima de mim, parando perto, é a forma de dizer que me culpa, que culpa todos nós pelo que ele passou.

— Acho bom parar com isso, não tenho culpa do que ele fez com você, eu estava te salvando. — grito para ele.

Ele se arma novamente, erguendo-se nas patas traseiras, se fosse outra pessoa, com a proximidade que estávamos ele poderia fazer um estrago. Mas não me intimido, sei que ele não vai me machucar, quer apenas me amedrontar, quer me ensinar seus limites.

— Dandara, se afaste! — Santiago alerta.

Fico em silêncio encarando o cavalo.

Ele abaixa as patas, colocando a cabeça no meu ombro.

— Muito bem rapaz, isso mesmo, com calma. — retiro um petisco do bolso dando para ele. — Você vai se chamar Chuvisco.

— Ela conseguiu — escuto Miguel dizer.

— Deixa ele descansar, uma boa dose de ração e ele ficará bem. — Digo para Santiago. — Quando estiver curado começo a doma.

Vejo o ajudante dele receoso por chegar mais perto do cavalo.

— Ele não vai te atacar, é só não machucá-lo.

Ele confirma com um gesto, abrindo a porta para que Chuvisco passasse.


Trovoada está agitado em sua baia, ele sente falta quando não passeamos pela manhã.

— Estava esperando por isso, né? — pergunto enquanto acaricio sua crina. — Pronto para montar?

— Se você cavalgar como fez ontem comigo, acho que terei uma excelente manhã!

— Você não presta! — empurro seu peito, rindo — Pegue aquela rédea, Trovoada prefere montaria no pelo.

— Sem nenhuma proteção?

— Ele não vai te derrubar.

Monto Trovoada com Miguel, ele aperta meu quadril contra ele, seguimos pelo trieiro, eu aprecio o clima de pós-chuva. Atravesso o pequeno riacho rindo com Miguel apertando minha cintura com medo de cair do cavalo.

Desde que ele havia chegado no Haras estávamos em pé de guerra, como após uma chuva tudo mudou de maneira tão repentina? Credo! Isso era coisa da minha cabeça. Isso sim. Eu tinha que me focar em coisas mais importantes.

Paro perto das pedras, desço segurando as rédeas para que Miguel desça.

Dou um tapinha no dorso de Trovoada deixando-o cavalgar livre por aí.

— Ele vai voltar? — pergunta olhando para Trovoada trotando para longe.

— Sim, ele ama andar livre, todas as manhãs sento por aqui e ele fica cavalgando pelo campo.

Assim que termino de falar, aponto para a cachoeira à nossa frente. Os raios de sol refletem na água cristalina.

— Aqui é lindo.

Dou um sorrisinho de “eu sei”. Estávamos perto do morro, subindo daria para ter uma visão completa do Haras.

Estávamos em um silêncio confortável, Miguel brinca com a água com a ponta dos dedos, parece com o pensamento distante. Ele sai vindo ao meu encontro, um sorriso nos lábios, suas mãos vão de encontro à minha cintura, colando nossos corpos no meio da relva, aproximo meu rosto do seu, ele roça seu nariz no meu, minha respiração acelera. Sem conseguir conter, mordo o lábio inferior de leve e nos beijamos novamente.

Não tinha como me esquivar de algo tão forte.

— Miguel...

— Não, pare, não acabe com isso. — ele diz entre os beijos.

Sua língua explora minha boca como se eu pudesse desaparecer dali em um estalar de dedos, ele me beija como se isso pudesse me dizer algo. Havia entrega ali, em ambos, seus lábios descem por meu corpo, sua mão subindo minha blusa, fazendo meu corpo se arrepiar ao sentir a relva úmida tocar minha pele. Sua mão toca minha barriga, raspando as pontas dos dedos em meu seio, seu rosto esfrega a barba cerrada em minha pele, os pelos roçando contra minha barriga.

— É melhor voltarmos.

Miguel suspira de maneira audível. — Por que tem que estragar esse momento?

— Tenho coisas a fazer, um Haras sempre tem o que fazer.

Miguel não tenta me fazer mudar de ideia. Montamos em Trovoada para voltar, o silêncio nos acompanha até o Haras, assim que chegamos perto do estábulo Miguel pula do cavalo e quando me viro para falar com ele após colocar Trovoada na baia, ele não está mais ali.


CONTINUA

CAPÍTULO 16


Dandara

Uma semana, esse era o tempo que Miguel não dirigia a palavra a mim e muito menos eu iria procurá-lo. O silêncio pela casa era mais que bem-vindo!

Mathias, Maria e eu bebíamos nosso café puro quando ele apareceu na cozinha, a manhã estava fria, por isso adiei o passeio com Trovoada pelo campo para quando o tempo ruim desse uma trégua.

Enfio na boca o último pedaço de queijo branco de meu prato, tomando o resto do café.

— Maria, Mathias, bom dia — cumprimenta indo em direção a geladeira.

— Porra! Quem comeu meu queijo? — ele pragueja com a fuça enfiada entre as prateleiras da geladeira, fazendo Maria me olhar prepcupada e Mathias segurando o riso enquanto bebe seu café. Tudo que faço é dar de ombros, chupando as pontas dos dedos, nem um pouco arrependida. — Sumiu metade dele, e tenho certeza que ontem ele estava inteiro! — Miguel acrescenta fechando a coitada da geladeira com um baque.

— Olha só, era seu? Desculpe, eu comi — respondo na maior cara de pau.

Miguel me encara como uma carranca. — Mathias, preciso de um cavalo, estou querendo dar uma volta hoje!

— Tudo bem, posso preparar um cavalo para o senhor. — Mathias troca um olhar comigo.

— Acho que Bruto ainda está espirituoso como sempre. — digo. — Se quiser ter o traseiro jogado longe pode ir com ele.

Miguel me dá um olhar furioso. — É para agora, Mathias! — retruca saindo da cozinha.

Mathias se levanta, toma o último gole do café, — Dandara, está fazendo a vida desse homi um inferno. O coitado deve ta contando os dia para sumir por essa estrada à fora. — diz colocando o chapéu na cabeça.

— É bom mesmo que esteja. Tem sorte de eu ainda não ter cuspido no seu café — comento.

— Sei que odeia que metemos os bedelhos em coisa sua, mas os empregados estão receosos, os homi querem saber como vai ficar as coisas. Seu Miguel não veio aqui para deixar as coisas como estão, ele vai por tudo a baixo. — Mathias fala com cautela.

— Mathias, algum dia faltei com vocês? — questiono de maneira rude. Ele balança a cabeça de maneira negativa. — E isso não irá acontecer hoje. Avise seus homens que os empregos estão garantidos, nem que eu mesma banque os serviços deles.

— Pode deixar, Danda, desculpe a intromição.

— Mathias, somos família. Eu não vou falhar com vocês. — digo por fim.

Ele confirma, esboçando um sorriso em minha direção. — Santiago pediu para avisar que as vacinas chegam hoje.

— Estou ciente, assim que chegarem irei aplicar em todos. Não quero nenhum caso como a Archeron.

— Menina, a morte daquela égua não é culpa sua. — Maria diz.

— Eita , não quero prozear sobre isso, tenho trabalho me aguardando. — digo pondo meu chapéu na cabeça, seguindo para fora.


Sento debaixo de uma árvore olhando a cena. Miguel poderia tentar resgatar na mente os tempos de moleque, ele poderia até não ter nenhuma intimidade com os animais, mas pelo menos quando criança ainda conseguia montar um cavalo sem que ele tentasse morder sua coxa.

O Miguel da infância não está em nada parecido com o de agora, e não só pelo fato de ter emagrecido e ficado mais bonito, mas parece que Miguel tem ódio desse tipo de vida. Desde que chegou, olha tudo de cima, com cara de esnobe. Ele não tem vínculo com essa terra, ele não sente a importância que eu sinto quando vejo o sol raiando no horizonte, seus raios fortes iluminando essas terras.

Ele seguiu o caminho da cidade grande e eu o caminho dos bichos.

Mathias tenta ensiná-lo, mas ele parece muito com um cavalo xucro, surdo. Depois não quer ser chamado de mula. Levanto, limpando a parte traseira da calça com um espanar de mãos, me aproximando dos dois. — Mathias, vai conferir as coisas, deixa que eu cuido do brucutu.

— Não pedi sua ajuda. — Homi, mas mal agradecido!

— Não estou fazendo por você, e sim pelo cavalo, que não tem culpa do asno sentado em cima dele. — Miguel abre a boca para retrucar, mas mostro o dedo em riste — Você tem que aprender a ouvir, se segurar com força a sela, o cavalo vai entender que quer impor sua vontade e não vai deixar você cinco segundos sentado no lombo dele. Os cavalos farejam seus sentimentos de longe, ele sente quando você tem medo, raiva ou está confortável. Deixe a rédea frouxa.

— Você acha que eu desaprendi tudo que meu tio ensinou? — desafia.

— Acredito que sim, já que te salvei de vários tombos, se bem me lembro.

Ele me fulmina com o olhar. — Então vamos ver, esquentadinha. Pegue aquele cavalo mutante que você tem e vamos cavalgar por aí.

— Cavalo mutante?

— Você tem noção que ele é o dobro de um cavalo normal?

— Para sua informação a raça dele é Percheron. Ele é um ótimo reprodutor, por ser grande e forte nos dá potros com habilidades especiais para o campo. — Dou risada, vendo seus olhos se arregalarem quando o cavalo marcha para trás. — Tire os pés do estribo e, vá para trás.

Subo no cavalo com a destreza de sempre, ocupando seu lugar na cela. Eu conhecia os cavalos como a palma da minha mão aqui no Haras, por isso não tinha problemas com nenhum deles e sabia quando um deles queria fazer uma gracinha como nosso companheiro aqui.

Bato o pé no espaço entre a barriga e as patas traseiras, para que ele saia.

— Se você está pensando que vai ficar se esfregando em minha bunda, eu te jogo para fora do cavalo! Contenha suas mãos!

— Calma mulher estressada.

Tiro o chicote da bota acertando na bunda do cavalo e o animal sai em galope, soltando um relincho alto. Seguro o riso vendo que Miguel ficar tenso. — Gostando, brucutu? — Ele não responde.

Forço o cavalo ir mais além, sentindo a adrenalina do galope correr pelas minhas veias, sinto as mãos de Miguel segurarem minha cintura e o arrepio disso eriçar os pêlos de meu braço.

Cavalgamos um pouco pelo Haras indo até o campo aberto onde fico com Trovoada e voltamos para o Haras, parando no estábulo.

Desço do cavalo, colocando as mãos na cintura. — Gostou do passeio?

— Você queria se exibir.

— Não preciso me exibir para você. Já é um milagre que você tenha ficado em cima do cavalo enquanto estávamos cavalgando.

— Olha aqui, você se acha incrível, acreditou mesmo que eu precisava de você?

Gargalho com irônia. — Você não sabe nem ao menos como se monta num cavalo. É uma sorte que saiba onde fica o rabo e a cabeça.

— Você é mesmo muito...

— Muito?

Miguel se inclina, ficando mais perto de mim, quando seu rosto praticamente cola no meu, pude sentir sua respiração. O perfume exalava, eu tinha começado a odiar esse cheiro, cheiro que me tirou o sono nas últimas noites, mas senti-lo tão perto me embriagava. Antes que eu pudesse raciocinar, os lábios de Miguel grudaram nos meus. Os braços fortes rodeando minha cintura.

— Sua esquentadinha, está tentando o quê? — Parecia que ele estava falando mais consigo mesmo do que algo para mim.

Sua língua voltou a lamber o canto de minha boca, seus dedos apertando minha cintura, uma de suas mãos subiu por minha espinha.

Acaricio sua coxa, bem perto de seu membro.

— Vamos sair daqui — sussurra como um pedido. Suas mãos apertando minha bunda, passeando por todo meu corpo, da cintura até o pescoço. Ele beija minha boca com ferocidade, empurro seu peito sentindo os músculos firmes contra a palma de minhas mãos, descolando seu corpo do meu, vendo a malícia nos olhos de Miguel. — Por que parou? — pergunta.

Respiro fundo ainda olhando para ele, controlando a maluquice da qual acabo de me curvar...então, tenho uma ideia. — Espere um minuto, o Haras ainda está movimentado, vou checar se ninguém está por perto e trancar a porta. — digo de um jeito safado, bem parecido com o que Cindy fazia sempre que conhecia um homem de fora.

Ele passa a mão sobre o pênis por cima da calça, animado. Vou até lá fora, vendo que realmente não tinha ninguém por perto, puxo uma das portas travando-a no chão e repito o mesmo processo com a outra, mas antes de fechar e entrar como falei que faria, dou um tchauzinho para ele, fazendo seu sorriso desaparecer. Percebendo o que estava prestes a fazer.

— Agora sim você está no seu devido lugar, uma pena que não tenhamos nenhum curral para você nadar com seus amigos...porcos! — digo rapidamente.

Miguel corre ao meu encontro, mas antes que ele me alcance, fecho a porta passando a tranca.

— Dandara, abre isso daqui! — seus gritos se misturavam com os relinchos dos cavalos incomodados dentro do estábulo. — Dandara, sua caipira maldita!

— Desculpe, brucutu. Aproveite seu tempinho com os cavalos e limpe as baias deles, Deus sabe como temos quilos e quilos de esterco por dia. Qualquer coisa tem feno e água se sentir fome. Isso deve bastar para você.

Ele bate na porta, fazendo-a tremer, gritando pelo meu nome. Urrando de raiva por ter caido feito patinho em minha arrapuca.

Cruzo com Bento no caminho de volta ao casarão, girando as chaves do estábulo entre os dedos e rindo feito uma maluca.

— Gosto de vê-la animada, mas está com cara de quem aprontou.

— Que é isso, Bento! — me finjo de inocente.

Ele bate na aba do chapéu, não acreditando nem um pouco no que eu estava dizendo. — Mathias está com os cavalos, quase todos foram vacinados, ele ficou esperando ocê aparecer, mas preferiu dar logo. Ficou fartando apenas o último estábulo. — comenta indicando o estábulo que tranquei Miguel.

— Diga que farei aquele estábulo, estou dando um castigo em um cavalo xucro. Ignore os resmungos, o cavalo está dando coice em todas as paredes, já vi cavalo dificil, mas esse...logo domo também — digo colocando um enorme sorriso no rosto.

Bento olha ao nosso redor, como se procurasse alguém e eu sei quem está procurando.

— Dandara, Dandara...

— Fique calmo, por que não vamos tomar um café, quem sabe Maria fez aquele pão doce que tanto amo? — pergunto enlaçando meu braço no seu, levando-o para longe do estábulo onde Miguel estava, acredito eu, urrando de raiva pelo tremor que a porta fazia.


CAPÍTULO 17


Miguel

— Sua caipira insolente! Como eu sou burro!

Eu esmurro a porta que nem um doido, gritando tanto que sinto minha voz falhar e ninguém aparece por ali. Viro olhando para os cavalos que relicham, só me faltava esses bichos me atacarem.

— Abre a porta! — grito de novo. Ando pelo estábulo procurando uma outra saída, lembrando de suas palavras “Aproveite e limpe as baias” , que filha da mãe! Até parece que eu iria sujar minhas mãos limpando merda de cavalo.

O cavalo no qual demos uma volta antes dela me trancar aqui chega perto, me fazendo pular de susto. Ele se sacode, sua crina bate de um lado para outro e solta um pequeno relincho.

— É, aquela ali não presta!

Cômico! Agora eu estava conversando com um cavalo como se ele pudesse me entender. Eu torceria o pescoço de Dandara assim que me livrasse dali.


Não tinha noção de quanto tempo tinha se passado, sei que estava de saco cheio de ficar ali.

— Noite, brucutu. Como foi seu dia?

Fico de pé chegando perto da porta, eu mataria essa mulher! — Pare com essa brincadeira de mau gosto, me tira daqui!

— Pelo visto continua grosseiro e sem educação. Espero que não esteja maltratando meus animais, por que se estiver, não vai ficar apenas dois dias trancado aí.

Meu sangue ferve nas veias. — Dandara, estou te avisando, quando eu sair daqui...

— Chega de ameaças em vão, vou te tirar daí quando aprender sua lição.

Esmurro novamente a porta, escutando seu risinho e seus passos se afastarem, — Dandara, estou com fome!

— Coma feno, brucutu!

Os cavalos mal se importavam por estar ali com eles, nos primeiros minutos e até primeira hora eles ficavam espiando ou fungando em minha direção. Agora? Muitos nem ao menos me encaravam, olho novamente para o cavalo solto perto de mim, ele abocanhou um punhado de feno mastigando e quando repetiu o gesto despejou um pouco em minhas pernas, como se dissesse que era bom.

— Tá de brincadeira você também!

Empino o nariz, olhando na direção contrária. Mas volto a encará-lo quando ele vem para cima de mim despejando mais feno em minhas pernas, seu focinho se torce inteiro enquanto mastiga.

— Ei amigão, pode ser bom para você, mas isso daí é mato. E alguém já te ensinou a dar espaço as pessoas?

O cavalo relincha, dando as costas para mim, batendo seu rabo bem no meio do meu rosto. Me fazendo xingá-lo. Como se estar preso junto aos cavalos não fosse o suficiente, ou do fato de estar com frio também não fosse, ainda tinham os mosquitos que faziam seu banquete atacando minhas veias.

Minha barriga roncando, meu corpo coçando e eu fedendo a estrume de cavalo.


Os raios de sol atingindo meu rosto me fizeram apertar os olhos tentando ver quem estava entrando, se fosse Dandara eu daria uma palmadas em sua bunda.

— Miguel? — Mathias perguntou surpreso, tentando entender tudo que estava acontecendo, olhando para a bagunça que tinha feito nos blocos de feno ao tentar arrumar um jeito para dormir. — O que você está fazendo aqui?

— Pergunte para aquela caipira filha da mãe — digo bravo, ficando de pé, sentindo as costas reclamar pelo movimento brusco.

Ele dá uma gargalhada. Mas se adianta a falar: — Desculpe, Seu Miguel.

Meu corpo chia de dor a cada maldito movimento, preciso de um banho quente, comida e boas horas de sono. Quando me recuperar ela vai ver, eu vou colocar essa caipira em seu lugar!

Estou com esse pensamento até ver Dandara caminhando sorridente em direção ao casarão.

— Ah, sua potranca mal educada! É bom correr. — ameaço gritando.

As pessoas que estão perto de mim me olham assustadas, e devem mesmo, porque meu rosto não deve estar nada amigável. Dandara se vira, o sorriso sumindo do rosto ao me encarar e então ela corre, empurra Santiago para longe e corre como uma moleca travessa sendo pega na artimanha, entra correndo no casarão.

Corro tão rápido que logo estou fazendo a porta de madeira branca bater contra a parede e escuto Maria falando alto na cozinha:

— Menina, o que houve? Tá tentando tirar o pai da forca?

— Dandara! — grito novamente.

Entro na cozinha vendo-a atrás de Maria, como se eu tivesse receio de ir lá lhe dar umas boas palmadas!

— Pare de correr, será pior quando eu te pegar! — ameaço.

— Ei, não quero bagunça na minha cozinha! Dandara o que você aprontou com o homi ? — Maria bate com a colher de pau na bunda de Dandara que agora tenta se esquivar de mim e de Maria.

— Vai fazer o quê? Me bater? Agora bate em mulheres? Quero ver encostar a mão em mim!

— Não, nunca encostei em uma mulher, mas dizem que para tudo tem uma primeira vez. E minha mão está coçando — grito.

Dou a volta na mesa, Dandara corre para o outro lado, fazendo o banco cair e eu tropeçar ao tentar pulá-lo, caindo de quatro no meio da cozinha. Sua gargalhada alta, faz minha raiva ferver mais que panela de pressão no fogo. — Ria enquanto pode.

— Alguém pode parar esses dois? Eles irão destruir a casa! — Maria grita empunhando sua colher de madeira. — Estão parecendo duas crianças!

— Desculpe Maria, mas não vou me meter — escuto a voz de Mathias enquanto corro atrás de Dandara que vai para a sala. — Dandara prendeu o homi no estábulo, peguei ele dormindo de concha com os cavalos.

Maria me encara, a mão na boca tentando segurar o riso.

— Vai, pode rir. Quero ver se aquela filha da mãe vai continuar rindo da minha cara quando eu a pegar — bufo, com os olhos em Dandara.

Ela faz um movimento errado diminuindo nossa distância, pulo sobre o sofá, meus braços envolvem sua cintura, tirando seus pés do chão. Não penso duas vezes, jogo seu corpo em meu ombro, dando um tabefe em sua bunda.

— Me solta! — Dandara grita.

Ela bate em minhas costas, os socos doem, não é que a Diaba tinha uma força bruta?

— Como foi sua noite? A minha foi maravilhosa, tá sentindo meu cheiro? Quer ver a quantidade de picadas que tenho espalhadas pelo corpo? Acho que tenho feno até em parte que desconheço!

Dou mais alguns tabefes em sua bunda que a fazem gritar. Eu estava puto por ela ter me deixado ao relento no meio dos bichos. E ficando com tesão, isso mesmo, ter o corpo daquele Diaba tão perto, tão ao meu alcance. Seus seios roçando em minhas costas, estava fazendo meu pau ficar rigido como uma tora, maldita hora para uma ereção. Eu queria mesmo é vê-la de quatro enquanto castigava sua bunda por ter me deixado trancado junto dos cavalos, mas também saborear cada gemido que ela pudesse...

— Meu Deus, Seu Miguel, solte a menina! — Maria exclamou.

— Não antes de lhe dar uma lição! — digo.

— Seu Miguel, não me obrigue a usar a Betinha em ocês dois. — Maria alerta.

— Não estou brincando, brucutu! É bom me soltar! — Dandara urra em minhas costas.

Acerto um tapa mais forte, jogando seu corpo no sofá, prendendo seu corpo ali ao apoiar meu joelho de um lado e o braço ao lado de sua cabeça, vendo seus olhos se arregalarem por um pequeno instante, mas o suficiente para meu dar um gostinho doce na boca. — Você tem sorte que é mulher, mas eu poderia, como vingança, soltar aquele seu cavalo gigante que tanto ama... — digo de maneira perversa — Como você ficaria?

Dandara me empurra com força, ficando de pé. — Você nem pense em tocar no Trovoada, você me entendeu? — responde praticamente gritando.

— Seria excelente, quem sabe assim você aprende a respeitar as pessoas? — retruco segurando seu braço.

— Larga meu braço, Miguel!

— Você quer me enlouquecer, você vem, me atiça, me provoca...

— Você se aproveitou da situação! — retruca.

— Você não se faça de sonsa! — grudo seu corpo mais no meu — Adorou o que fiz com minha boca.

— Misericórdia! — o sussurro de Maria quase me tira o foco da diaba em minha frente.

— Eu odeio você, Miguel! — Dandara tinha ficado furiosa, mas confesso que não liguei para o que ela estava falando, só conseguia ver aqueles lábios se mexendo. Queria torcer seu pescoço, mas também queria fodê-la. Como essa mulher me tira do sério!

— Você quis tudo que aconteceu e tá querendo mais que eu sei.

Seguro um punhado de seu cabelo bem justo no pescoço roubando um beijo, mordo seu lábio nem me importando por ela reclamar ou tentar me empurrar. Dandara retribui meu beijo, até me afastar, empurrando meu peito, fazendo com que me desequilibrasse dando alguns passos para trás rindo.

Ela limpa a boca me olhando com raiva, cospe no chão e então corre escada acima.

— Minha mãe dizia que muito ódio vira amor. — Maria retruca.

Viro vendo que Mathias e Maria ainda assistiam nosso pequeno showzinho. — Dela quero distância — digo marchando para meu quarto.


CAPÍTULO 18


Dandara

Bato a porta fazendo as coisas estremecerem dentro do quarto. Maldito brucutu! Arranco minhas roupas jogando-as no cesto perto do banheiro, ligo o chuveiro bem quente, quente o suficiente para que ao tocar em minha pele pudesse queimar o toque daquele... Engulo os pensamentos raivosos que passam por minha mente esfregando meus braços, meu pescoço, qualquer lugar que ele tivesse encostado, na tentativa de tirar o cheiro dele. Ainda não conseguia acreditar na petulância daquele brucutu. Miguel realmente não tinha amor pela vida.

Confesso que deixá-lo ao relento não foi algo muito sensível de minha parte, mas ele mereceu e, vai merecer cada pisão em seu pé a partir de hoje.

Bater na minha bunda e me tascar um beijo na frente de todos? Quem ele pensa que sou? Enquanto terminava meu banho pensava em mil maneiras de me vingar, mas acabei descartando todas, eu é que não desceria ao nível infantil dele, minha melhor vingança seria chutar a bunda dele para fora do meu Haras quando tudo acabasse.

Visto um short e uma camiseta puída e chinelos, melhor me ocupar dando banho nos animais do que cruzando meu caminho com certas mulas por aí. Atravesso o Haras em silêncio evitando falar com qualquer um que cruze meu caminho.


Agradeço pelo trabalho parecer não ter fim e os músculos espalhados pelo meu corpo começarem a protestar do esforço feito, passar o tempo no meio dos cavalos me acalmava e me fazia esquecer por alguns instantes minha vontade assassina contra Miguel. Mas amanhã mesmo eu ligarei para o advogado, não dá para continuar assim, mais dia ou menos dia e eu mataria Miguel. Que ideia absurda de Pedro me colocar nessa enrascada.

Já era noite quando paro fecho a última baia. Trovoada relincha animado após o banho, sacudindo a cabeça e sua longa crina.

— Teve um dia melhor que o meu, né, bonitão?

Saio do estábulo trancando as portas, todos os funcionários já tinham ido embora, caminho observando a noite, as estrelas e a lua cheia brilhando forte no céu, o som dos grilos cantando no meio do pasto.

Entro no casarão, tiro o chapéu, deixando-o no mancebo de madeira. Tudo estava em completo silêncio, poucas luzes acesas indicando que até a Maria tinha se recolhido.

Passo pelo quarto do brucutu vendo a luz está acesa sair pela pequena fresta da porta, estava prestes a entrar em meu quarto quando escuto uma porta atrás de mim se abrindo.

— Esquentadinha!

Viro, vendo-o só de cueca box, o corpo todo amostra.

— Não dirija a palavra para mim!

— Eu disse hoje cedo que tinha contas a acertar, você acha que seu showzinho me botou medo? — questiona vindo em minha direção.

— Se colocar as mãos em mim é bom começar a rezar para sair com ela no lugar!

— Não tenho medo de suas ameaças vazias — retruca.

— Vazias serão as suas bolas quando eu chutar para longe. — ameaço

— Você acha que vai me enlouquecer? — pergunta vindo em minha direção — Acredita mesmo que vou cair nos seus truques?

— Truques? — Gargalho alto — Não sou eu que fico agarrando você para roubar beijos.

— Vai dizer que não gostou?

— Já percebi que gosta de brincar com fogo! — desafio — Cadê toda aquela falamansa que andou esbravejando por aí? Homi metido a machão, não consegue parar de encarar para minha boca enquanto eu falo. Tudo isso é desejo?

— Não me torno frouxo por ter você na minha mente, me torno se não conseguir tirar, — Miguel dá mais dois passos em minha direção — e isso eu sei como fazer.

— Você pensa que me leva fácil, né?

— Você gosta de mexer com os homens, “se sente” fazendo isso...

— Eu não sou de quem me quer, sou de quem eu quero ser, e faço porque posso. — respondo dando um sorrisinho.

Miguel puxa meu corpo para o seu, fechando a porta com o pé, sua boca mordendo a minha enquanto distribuo tapas sobre seus ombros, costas, todo lugar que minhas mãos alcançam. Mas seu beijo furioso vai desarmando meu corpo, principalmente quando solta minha boca beijando de leve e devagar meu pescoço, rindo contra minha pele que se arrepia com seu toque, acabando com qualquer defesa minha. Não tinha gentileza no toque, havia desejo e prazer, junto de uma pessoa que queria provar seu argumento.

As mãos de Miguel ergueram meu corpo, sua língua forçando minha boca a se abrir ainda mais. Eu meio que empurro, e volto a puxar seu corpo para o meu. Precisei inspirar profundamente algumas vezes quando sua boca tomou o pequeno vão entre meus seios, sua lingua quente tocando minha pele fazia meus mamilos endurecerem e meu corpo querer mais. Sentir a proeminência em sua cueca também não ajudou muito meus pensamentos entrarem num bom senso.

Não era correto eu me render ao seu toque, não quando tinha aberto minha matraca falando que não me entregaria numa bandeja para ele, mas que diacho! Mordo seu lábio inferior, empurrando seu corpo para longe, tentando controlar a respiração. — Chega!

— Por que parar agora? — questiona agarrando novamente minha cintura.

— Eu disse chega, Miguel!

Suas mãos continuaram apertando com firmeza minha nuca, seus olhos mostravam que não estava disposto a me deixar em paz, que não sairia de meu quarto com aquela decisão fraca com a qual eu tentava me agarrar.

— Chega nada, não para mim e com certeza não para você. Eu sinto seu corpo vibrando em minhas mãos, Dandara.

Não arrisco olhar para ele, com medo que ceda aos meus instintos. Ele segura meu braço, olhando no fundo de meus olhos.

— Eu quero você, Dandara!

— Você quer me passar para trás, quer ter motivo para fazer chacota, quer o Haras, não é porque fui criada no meio do mato que não conheço homens como você, Miguel!

— Cala um pouco a boca, esquentadinha!

Abro os lábios para retrucar, mas é tarde. Ele pega meus braços, me empurrando contra meu armário, meu corpo inteiro treme com o calor do toque, ele tira a barra de minha camiseta de dentro do short, traçando livremente pelo meu corpo até meu seio. Miguel me vira de costas, mordendo meu pescoço, o corpo colado no meu, e acaba abrindo meu sutiã. Segurando meus seios, massageando-os nas mãos, beliscando meus mamilos sedentos por atenção. Roço minha bunda contra seu membro rigído na cueca, fazendo com que ambos gemêssemos.

Miguel continua acariciando meu corpo, mordendo e chupando meu pescoço. — Quero você, aqui e agora. — ele arranca minha camisa pela cabeça, fazendo a mesma coisa com meu sutiã, chupando meus seios, sugando-os até que eu não pudesse conter mais meus gemidos de prazer. Meu sexo pulsa, até dolorosamente quando a pressão do prazer explode em certas áreas.

É errado continuar com isso? Puxá-lo par mim, desejando seu corpo, respiro profundamente tentando encontrar a raiva que me alimentava horas atrás, mas só encontro o desejo.

Miguel conduz nossos corpos para a cama, arrancando o resto de nossas roupas, assim como o preservativo escondido no cós da cueca, em um segundo estava entre minhas pernas, sua mão agarrando meu cabelo, sua boca mordendo meu queixo.

Segurando meus seios com as duas mãos, apertando e puxando os bicos, lambendo minha barriga, minha cintura, roçando a barba pela minha pele, deixando-a rosada e eriçada. Um gemido explodiu de mim quando sua língua encontrou meu clitóris, seguro firme o lençol querendo tremer com o que ele fazia em minha intimidade, sua boca não me dava misericórdia alguma, sua língua muito menos. Quando seu dedo me invadiu, minhas costas se curvaram e o gemido saiu mais alto, fazendo eu ganhar um tapa na bunda.

— Desculpa, esquentadinha, mas teremos tempo para fazer amor em outro momento, agora, eu quero que seja rápido, que queime esse fogo dentro de mim.

Miguel desenrola o preservativo em seu membro, nunca tirando pelo menos uma de suas mãos do meu corpo, seus dedos tocam meu sexo, me fazendo arfar. Chupo os dedos que me tocam, vendo Miguel mordiscar o lábio e sorrir. Seu pau encaixado em minha entrada, deslizando de maneira lenta, começo a rebolar, fazendo seu membro se remexer dentro de mim.

Enquanto eu rebolo, Miguel segura meus cabelos de forma bruta, aumentando o ritmo dos movimentos, entrando e saindo de dentro de mim, segurando minha cintura com a mão livre fazendo seu membro ir mais fundo, meu corpo treme e Miguel geme alto.

Estavamos nos devorando, caricias eram feitas pelo nossos corpos ondulando juntos, enquanto eu consumia cada gemido e estocada que Miguel produzia.

Aperto os lençóis entre os dedos, seguro seu pescoço com firmeza quando ele encaixa a boca sobre meu seio, montando em seu colo, sentando com força sobre ele, gostando do modo como ele geme e descola a boca de meu mamilo, jogando a cabeça para trás rendido.

— Puta que pariu, você é deliciosa! — diz baixinho contra meu pescoço.

As estocadas duras fazem meu corpo tremer, meus seios balançam com o ritmo forte do sexo que fazemos. Ele geme agarrado em minha cintura, forçando meu corpo para baixo, quebrando as últimas barreiras, me fazendo gozar. Miguel ainda mantém o ritmo por algumas estocadas até que goza, seu membro latejando dentro de mim, se misturando com nosso suor, os tremores do meu corpo e do seu e as batidas descompassadas dentro do meu peito.


Quando eu estou envolvida em seus braços

O mundo todo apenas desaparece

A única coisa que escuto é

o bater de seu coração.


Porque posso ouvir sua respiração

Está se derramando sobre mim

E de repente estou me desfazendo dentro de você

(Breathe, Faith Hill)


Arre égua , estou perdida...

Levanto com um sobressalto e empurro para longe o braço forte que rodeia meus seios, tentando soltar meu corpo. Parece que os braços dele tinham se tornado uma braçadeira de ferro, o jeito foi sair me rastejando pela cama como uma cobra, até que eu caísse de bunda no chão.

Pego uma muda de roupa e corro para o banheiro, tomo um banho rápido, não parando nem para secar o cabelo, apenas escovo e deixo solto pelas costas. Não é que eu não queira encarar a asneira que tinha feito noite passada, mas...bem, era isso mesmo, não queria dar de cara com Miguel, por isso levantei mais cedo que até o próprio sol e me esgueirei para fora do quarto com as botas nas mãos.

— Fugindo de alguém, menina?

Pulo tampando a boca para que meu grito de susto não faça eco pelo corredor escuro.

— Cristo pai, você quer me matar do coração, Bento? — questiono sentindo os batimentos acelerados contra o peito.

— Desculpe, mas estava saindo do quarto como quem escondia um cadáver, devo me preocupar? — pergunta encarando a porta que eu havia acabado de fechar.

— Deixe de besteira homem, só tive uma noite ruim.

Bento coça a cabeça com a bengala velha. — Arra, por falar em noite ruim, tinha algum animal sofrendo ontem, Maria e eu mal pegamos no sono, parou de sofrer era já tantas da madrugada.

Engulo em seco, será que tínhamos feito tanto barulho assim?

— Vou ficar de olho nos arredores, tenha um bom dia, Bento.

Escuto o riso baixo dele enquanto caminho pelo corredor. — Bom dia, menina.

O dia não tinha se levantado, mas mesmo assim entro no estábulo para conferir como estão os animais. Reponho água e feno, depois me dirijo á baia de Trovoada, ele vira a cabeça não querendo olhar para mim.

— Qual é, amigão, está bravo comigo?

Ele me encara, dando uma fungada balaçando a cabeça como se confirmasse.

— Que tal recompensar isso com com uma corrida?

Ele relincha ainda evitando me olhar, eu conheço o jogo dele, Trovoada é um menino mimado, e a culpa é toda minha.

— Tudo bem então, já que não quer mais minha companhia...

Ele relincha mais alto, levantando as patas da frente. Fazendos os outros cavalos reclamarem.

— Você é um garotão mimado! — brinco, pulando a portinhola da baia, subindo diretamente no pelo, me agarrando ao seu pescoço. — Vamos ver o sol nascer.


Ficar perto dos cavalos ou montar em Trovoada é como respirar, algo tão natural, acredito que eu aprendi a montar antes mesmo de andar.

Saímos em direção ao campo aberto, ganhando velocidade a cada passada, sentindo o vento frio da madrugada ir contra nós. Eu precisava limpar minha mente, precisava tirar Miguel e a noite de ontem da mente, precisava tirar essa distração total, ainda não sabia o que pensar sobre essa história de Miguel conseguir meu Haras, o que faria com as famílias e funcionários que dependiam dos seus empregos? O que faria com os cavalos? Para onde eu iria com Trovoada? Aqui sempre fora meu lar, foi meu lar quando minha mãe faleceu, foi meu lar quando meu pai morreu em um torneio de rodeio.

O Haras é meu santuário, minha casa, eu aprendi a escrever no lombo de um cavalo, fiz desenhos nas paredes do antigo celeiro, aquilo era meu refúgio...

Volto para o Haras depois de admirar o sol nascendo, em alguns dias começaria o outono e o frio ocuparia as noites, o que me fazia sair pelos campos ajudando os cavalos que podem se perder ou sofrer com as chuvas repentinas.

Vou até o escritório respirando fundo, ao sentar em minha cadeira, tiro o chapéu, deixando-o sobre a mesa.

— Entre — respondo à batida na porta.

— Dandara, bom dia.

— Daniel, estava mesmo esperando por você. Sente-se.

— Em que posso ajudá-la?

— Quero saber mais sobre o Haras, por que Pedro deixou o Haras com Miguel, ele conhecia o sobrinho, nunca teve interesse por nada, mal sabe a diferença entre a crina e o rabo dos cavalos. Porque deixar o Haras nas mãos dele? — solto tudo de uma vez, expondo minha irritação, minha indignação. — Você me conhece desde menina, Daniel, eu ensinei sua neta a montar, eu cuido desse Haras como se fosse meu filho. Deixei as competições para administrar tudo isso quando Pedro descobriu a doença, abdiquei minha carreira para dar minha vida ao sonho dele.

Sinto as lágrimas forrando a parte debaixo dos meus olhos.

— Quando ele desejou implantar o projeto fui eu quem o apoiou, eu que contratei os profissionais, saí em busca de patrocinadores, tenho mais de trezentas crianças se benificiando do projeto. Temos selos e premiações.

— Eu sei de tudo isso Dandara, mas não cabe a mim dizer os motivos que influenciaram Pedro a tomar essa atitude. Ele escreveu uma carta, uma carta para você e Miguel, que só poderá ser lida após a decisão ser tomada.

— Uma carta? E você não me comunicou antes por quê?

— Dandara, como disse, isso não está em minhas mãos. Pedro deixou ordens explícitas.

— Arre égua , uma bosta a essas ordens!

Bufo, tentando controlar minha irritação.

— O único conselho que eu posso dar é: mostre ao Miguel o quão bem o Haras faz, mostre seu amor por tudo que você e Pedro criaram nesses anos. Faça-o não vender o Haras, até mesmo unindo os dois planos, por que não?

— HÁ HÁ, transformar meu Haras em um hotel de luxo para madames enfrescuradas? Quando um cavalo cagar nos pés delas quero ver quantas estrelas sobrará. É de pessoas como Miguel que eu sempre fugi esses anos, não quero o dinheiro de quem vê meus cavalos como um pedaço gigante de bife passeando por aí.

— Tente ao menos resgatar o amor que Miguel tinha na infância. — Daniel aconselha.

— Por Cristo, Daniel. Pedro estava maluco no final dos seus dias. Ele acreditou mesmo que os chiliques na infância de Miguel era por mais tempo com os animais? O menino gritava se um porco grunhice em sua direção. A última vez que pisou no Haras fez uma estripulia soltando metade dos cavalos das baias. Foi um Deus nos acuda até recuperarmos tudo.

Daniel segura o riso, ajeitando melhor a postura na cadeira.

— Quer que eu conte a vez que soltou uma bombinha estampido no meio do pasto? Pedro saiu atrás dele na base do chicote.

— Vou dizer a mesma coisa para você como diria para Miguel: não posso intervir, a questão não é uma briga de foices. É vocês conversarem o que é melhor para o Haras...

— Ele irá vender tudo, demolir tudo, sabe quantas pessoas tenho trabalhando aqui? Quantas famílias envolvidas? Imagina todos os dias você se levantar e as pessoas te encararem com perguntas nos olhos, meus funcionários não sabem como será o amanhã. Nem se terão o salário no mês que vem — resmungo — É com isso que lido.

— Miguel fez uma proposta, ele quitaria as dívidas que o Haras tem, e fez uma consulta com as fazendas de corte e o Haras vizinhos para a possibilidade de vender os cavalos. Acredito eu que queria sondar o terreno para saber o valor de um manga-larga.

Levanto enfurecida, batendo as palmas das mãos na mesa. — Ele quer levar uma chicotada!

— Dandara! — exclama.

— Ele que tente encostar em meus cavalos, ele que tente... Arre égua!

— Quando o assistente de Miguel entrou em contato comigo deixou bem explicíto que o único que ficaria fora desse pequeno inventário seria o Trovoada.

Arqueio a sobrancelha — E isso alivia minha vontade de matá-lo? Ah claro, ele foi gentil em não vender um cavalo que foi presente de meu pai!

Eu estava soltando fogo pelas ventas, o filho duma égua teve coragem de agir pelas minhas costas e depois vem com sua falamansa e me leva pra cama. Eu sou muito burra mesmo!

— Bem, Dandara. De todas as formas, se vocês não chegarem a um acordo, se você não aceitar vender sua parte para ele ou se não conseguir pagar a dívida, automaticamente o Haras entra em um processo e se ele tiver a possibilidade, vai acabar nas mãos de Miguel. Se isso não ocorrer, de qualquer forma, assim que o tempo imposto pelo Seu Pedro acabar, o Haras entrará num processo onde quem terá o poder de decisão é a justiça. Isso pode envolver até mesmo leilão, por conta das dívidas.

— Então é: corre pro mato ou corre pro morro. — suspiro.

— A maneira de todos saírem satisfeito é vocês tentarem resolver isso amigavelmente.

— Tudo bem, obrigada pelo seu tempo doutor.

Ele concorda com um gesto, levantando-se. — Fique bem.

— O senhor também.

Acompanho o advogado para fora, fechando a porta atrás de mim. Caminho até o espaço para equitação, vendo os montadores treinando.

— Dandara!

Abaixo um pouco a aba do chapéu fazendo sombra para o sol forte da manhã. Carolina vem calvagando em minha direção, acenando. — Bom dia!

— Preciso da sua ajuda, sinto Damião entrando errado nos obstáculos.

— Dá uma volta para eu observá-lo — digo pulando a cerca.

Carolina trota se afastando, fazendo semicírculos para aquecer o cavalo, passa pelos primeiros obstáculos e vejo que Damião está com uma passada errada, as pernas de dentro estão trotando mais longas que as de fora. É preciso equilibrar o lado que ele está tendo maior dificuldade. Carolina também anda forçando demais no elevado, a conexão entre eles também estava meio mexida, isso acontecia com cavaleiros que entravam na época de competição, tinham muita pressão e sentimentos misturados e acabam passando para os animais.

— Bom dia, esquentadinha, tinha espinhos na cama essa manhã? — Miguel agarra minha cintura e beija meu pescoço. Me esquivo com um sorrisinho, ainda com raiva por ele ter agido pelas minhas costas.

Seu olhar malicioso mexe comigo. O desgraçado sabe que venceu ontem!

— Levanto antes mesmo do sol, coisa de caipira. — me atrevo a desafiá-lo.

Miguel sorri abaixando a cabeça, ainda me olhando. — Confesso que tive uma noite excelente. Poderíamos repetir nossa conversa hoje a noite, o que acha?

— Poderíamos, mas não vamos, tenho mais o que fazer. E nada mudou.

Miguel me encara surpreso, — O que eu fiz? Acordou azeda como um limão, você não cansa de distribuir coices?

Nós estavamos em um maldito pé de guerra e tudo que eu conseguia me lembrar quando encarava os olhos castanhos de Miguel é onde sua maldita boca esteve ontem a noite. E eu excitada por cada gesto que aquele brucutu fez! Deveria dar um tapa em mim mesma!

— Que tal darmos uma volta? Você poderia me mostrar a região.

— Claro, tem algo que ficou de fora de seu inventário? — mordo a língua por ter falado disso.

Miguel fica surpreso, mas logo se afasta de um passo, confirmando o que Daniel tinha dito mais cedo, ele realmente agiu pelas minnhas costas.

— Dandara...

— Cala a boca, brucutu! Se não quer ver a cara enfiada no esterco de cavalo, fique quieto!

Viro sinalizando para Carolina se aproximar.

— Teremos que trabalhar algumas coisas em vocês dois. Faça uma pausa, eu vou preparar o redondel.

— Ok, obrigada Dandara.

Sorrio pulando o cercado novamente, ignorando Miguel que me seguia como uma sombra.

— Não cometi nenhum crime, Dandara.

Reviro os olhos, caminhando para longe.

— Você está sendo teimosa, poderíamos resolver isso de outro jeito, quem sabe unir o útil ao agradável.

Viro fazendo-o parar quase tropeçando em mim. — Diga brucutu, qual sua excelente ideia? Já recebeu oferta pelos meus cavalos? Ah, muito obrigada por deixar Trovoada de fora, foi uma gentileza imensa, já que não quis vender também um presente de meu pai.

Sinto que estou quase gritando.

— Eu não venderia seu cavalo, vejo o amor que sente por ele. Posso não ser um especialista ou não gostar das mesmas coisas que você, mas não quero mal aos bichos.

— Não quer o mal deles? — Sinto minhas bochechas pegando fogo, Miguel mesmo mantém uma certa distância de mim. — Sabe qual a diferença entre um cavalo para lidar com o gado e um cavalo de montaria e competição?

Ele dá de ombros.

— Exato, se não sabe essa imensa diferença e mesmo assim foi oferecer meus cavalos para donos de fazenda de corte. Você com certeza não quer o bem deles. Jumento! — disparo a falar.— Mas tenho uma solução, vá embora, se não quer o mal deles, vá. Ou está esperando a foda de despedida? Quer ir para o celeiro desativado? — pergunto desatando o nó da minha camisa xadrez fazendo ela revelar minha blusa curta.

— Deixe de ser ridícula! — ele grita, chamando atenção das pessoas que passam por nós.

— Não sei onde Pedro estava com a cabeça, ele só poderia estar alucinando quando decidiu deixar meu Haras para você! — Vejo o olhar irritado de Miguel, mas não deixo que fale. — Tenho muito trabalho a ser feito, se puder pelo menos não atrapalhar, eu agradeço.

Estava pronta para deixá-lo parado sozinho quando vejo Cindy galopando em minha direção. Era hoje, definitivamente eu mataria um.

Ela se aproxima com o sorriso mais falso que nota de três reais, diminuindo o galope, parando o cavalo perto da cerca e desce, balançando a mão em nossa direção. — Dandara! Era você mesmo que queria encontrar!

— Só me faltava essa — sussurro. — Acho que errou, sua prenda está bem na minha frente — digo com um sorriso cínico nos lábios.

— Forasteiro, desculpe não ter vindo mais cedo, vejo que ficou totalmente curado do ataque de fúria de Dandara.

Miguel sorri, deixando que a oferecida lhe agarrasse o pescoço dando um beijo bem perto de sua boca.

Maria trepadeira! — penso com raiva.

— Estou bem sim, que surpresa boa vê-la aqui. Estava agora mesmo comentando com Dandara que queria dar uma volta pela região.

Cindy sorri animada. — Então encontrou sua companhia, faço questão de ir com você.

Miguel me encara vendo minha cara de poucos amigos. E mesmo que eu tente disfarçar meu ódio por Cindy, ele se aproveita da situação. Segura na cintura fina da trepadeira, abrindo um amplo sorriso. — Podemos dividir o mesmo cavalo, eu não estou acostumado a montar sozinho.

— Ihaaaahhh, mas é claro! — ela diz animada. — Ah, Dandara, eu soube que está preparando uma competição aqui no Haras.

Miguel me encara curioso, até mesmo me fuzilando com os olhos.

— Sim, é para angariar fundo para o Haras, mas como soube?

— Matheus, ele me contou — diz com um sorriso. — Logo pensei, o que seria excelente senão competir? As regionais estão chegando e eu e Milu precisamos estar preparadas, você poderia dar uma olhada nela, estou achando que ela está de TPM — diz abaixando o tom de voz na última parte como se tivéssemos dividindo um segredo. — E você como antiga competidora sabe como é importante o cavalo estar bem. Fico orgulhosa que abandonou os pódios e se dedica cuidando de minha égua.

— Claro. Dou uma olhada.

— Perfeito, — ela empurra a rédea para mim, enlaçando ainda mais seu corpo em Miguel — vamos forasteiro?

— Claro. Irei pedir para Mathias selar um cavalo. — Miguel responde me encarando.

Maldito Brucutu, maldita Maria trepadeira!


CAPÍTULO 19


Dandara

— Tá falando sozinha, Dandara?

Pulo de susto, percebendo que estava resmungando alto. — Ocê tem sorte de não ter tomado uma chicotada — digo arrumando o chicote na lateral de minha bota.

— Que bicho lhe mordeu? — Mathias questiona.

— Picão, um bicho desgramento que gruda na pele da gente sugando nosso sangue.

Mathias ri, me entregando as coisas para selar Bruto. — Que bom então que não é um do tamanho de um homi , que chegou recentemente na cidade. — diz tirando sarro.

Encaro Mathias, revirando os olhos, para que notasse que não estava sendo um bom momento para brincadeiras.

— Ah, Danda, deixa disso. Pode ter enganado Bento e Maria com essa história de bicho sofrendo pelo mato, mas eu sei o que faz aquele esganiçado todo dentro de um quarto.

— Ocê não tem amor aos dentes, não? — bufo.

— Ô se tenho, como acha que consegui os meus uivos? Tudo na beleza do sorriso — Mathias caçoa abrindo um sorriso de cavalo para mim.

— Arra , não torre minha paciência!

— Mudando de proza , achei que já tinha acabado com a doma do Bruto.

— Sim, ele está pronto para ficar com os outros. Mas hoje eu quero que prepare a pista para três tambores.

Mathias abre um enorme sorriso, — Irá competir novamente? Que alegria garota!

— Ainda não, vou só matar a saudade.

— Pois deveria. — Mathias aperta a sela, conferindo se está tudo bem preso.

— Faz tanto tempo que não penso nisso Mathias, deixei as competições para trás quando assumi a responsabilidade do Haras.

— Arra, e isso não mudará. Você cuida desse Haras mais que de si mesma, eu lembro do primeiro dia que cheguei aqui e vi você cavalgando. — Mathias sorri ajeitando o chapéu na cabeça — Devia ter uns dez anos, lembro que parei perto do cercado olhando, você tinha tanta conexão com o cavalo, tinha tanto talento, mesmo naquela idade.

Sorrio lembrando da minha primeira competição.

— Todos sabemos o duro que está dando para manter tudo sob controle, até mesmo antes da morte do Seu Pedro.

— Quem sabe eu possa tentar — digo.

— Será um excelente começo.


Bruto raspa a pata pelo chão, como se ele próprio se aquecesse. Quando Bruto chegou no Haras era apenas um cavalo maltratado e ferido, abandonado pelo antigo dono para morrer ao relento. Foi numa noite de chuva intensa que o encontrei caminhando com dificuldade nos arredores do Haras. Demorou meses para que ele sequer deixar que eu me aproximar dele, estava tão ferido internamente em sua confiança com os humanos que só de ver um já se armava dando coices.

A doma nunca foi uma coisa tranquila com ele, ficava feliz só por não levar uma mordida. Mas eu o entendia, foi ferido por acreditar em um humano, sua defesa natural era expulsar quem quer que tentasse se aproximar.

— Sei que você gosta de correr, vejo como seus olhos brilham quando fica livre — sussurro passando a mão em sua crina.

Ele raspa a pata no chão, emitindo relinchos e baforadas baixas, ele aprovava o que eu estava falando, assim como o fato de suas narinas estarem dilatadas e as orelhas eretas para frente significava que prestava atenção ao que eu dizia.

— Quero propor algo diferente para nós. Se você gostar, podemos pensar em fazer isso mais vezes. — Tiro o chicote com calma da bota, ele fica desconfiado. — Isso será necessário entre nós?

Bruto relincha, marchando para trás, sacodindo a cabeça. Jogo o instrumento para longe. — Quero que você corra quando for necessário, quero que sinta a terra tocando forte suas patas e o vento traga a liberdade que isso vai lhe trazer. Mas para isso precisa obedecer fielmente meu comando.

Estralo os lábios indicando para que ande, faço todo o circuito no trote, deixando que ele receba meus comandos, deixando que veja como será.

A competição dos três tambores é simples, você precisa fazer uma saída com explosão antes de cruzar pelos sensores. Uma prova de três tambores clássica é de oito metros até o primeiro, depois vinte e sete e meio até o segundo tambor e trinta e dois metros até o terceiro. E então, a reta final, onde exige mais dos cavalos e das amazonas, era esforço máximo pelo melhor tempo. Se tudo for executado com perfeição e sem derrubar nenhum dos tambores, você poderia ganhar alguma posição boa.

Existem pessoas que gostam do silêncio, silenciam tudo ao seu redor, se concentrando apenas na sua própria respiração e de seu cavalo. Eu gosto de ouvir tudo.


— Não foi um tempo ruim para quem está parada por anos. — Mathias comemora pendurado na cerca.

— Quanto?

— Dezessete segundos e meio.

Desço do cavalo acariciando a testa dele. — Esse garoto nasceu para isso.

— Dei uma examinada na égua da Cindy, ela está machucada pelas esporas, sua barriga está toda marcada e além disso, queria que desse uma olhada no freio, acho que tem algo errado.

— Odeio quando vejo animais sofrendo pela imprudência de seus donos.

— Também não gosto, pena que o pai de Cindy não pense assim e deixa aquela garota maluca usar os animais como enfeites.

— Nem me lembre disso — retruco.


CAPÍTULO 20


Miguel

Logo após fazer sexo com Dandara fiquei perdido olhando-a dormir por alguns instantes, aquilo, esses tempos no Haras têm sido os mais malucos que já tive. Aquela esquentadinha está mexendo comigo, ela está me atormentando desde que pisei no Haras, fazendo meus dias e noite incertos, mas a mulher deitada no meu braço, dormindo tranquilamente, livre de todas as caretas e muros que impõe me faz querer seguir outro rumo. Eu tenho vontade de puxar seu corpo contra o meu, encaixá-la em meu pênis e fazer tudo de novo, agora sem pressa, absorvendo tudo, cada gemido que ela faz. Mas acabei adormecendo enroscado em seu corpo ao contemplar seu rosto enquanto dorme.

E quando o dia seguinte chegou, me deparei com a cama vazia, ela saíra de fininho para não me enfrentar quando acordasse. Abro a porta, verificando se o caminho está livre e quando confirmo que sim, retorno ao meu quarto, trancando a porta depois de entrar.

Tomo um banho rápido vestindo algo mais leve para o dia quente que faz do lado de fora, fazendo uma anotação mental: ar condicionado em todos os cantos, pelo amor de Deus, como é quente isso daqui! Pego os óculos escuros colocando-os no topo da cabeça e desço correndo a escada em direção à cozinha.

— Bom dia, Maria — cumprimento a senhora, ela me olha meio espantada o que me faz questionar se eu não estava sendo educado o suficiente com as pessoas dali. Mas também, com a noite anterior que tive, meu humor está perfeito nesta manhã. — Por acaso você viu a...

— A menina está embrenhada pelo Haras como sempre, Seu Miguel.

Pego uma laranja, descascando-a. — Vocês sempre começam o dia antes mesmo do sol?

— Sim, a menina é que acorda o galo e não o contrário.

Sorrio jogando as cascas fora. — Em São Paulo também acordamos, mas confesso que ser dono do próprio negócio tem suas vantagens.

Saio pela porta lateral da cozinha roubando um chapéu preto na varanda, brincando ao colocá-lo em minha cabeça, até que não tinha ficado ruim. Deixo de lado ao ver Dandara perto de um dos cercados sorrindo como uma menina ao ver os cavalos.

Lembro-me de poucos momentos vividos aqui, mas o que eu com certeza consigo recordar é dela, mesmo muito diferente da época que erámos crianças. Dandara sempre foi apaixonada por isso, era raro vê-la vestindo sapatos e quando estava, eram botas. Era mais raro ainda ver a menina fazendo outra coisa do que estar perto dos bichos.

— Bom dia, esquentadinha, tinha espinhos na cama essa manhã?

Agarro a cintura de Dandara, lembrando de nossa noite, gostando do cheiro dela.

— Levanto antes mesmo do sol, coisa de caipira.

Pelo tom de voz afiado, já estava mordendo os cotovelos.

Sorrio dando um beijo suave em seu rosto, tentando suavizar o mau humor. — — Confesso que tive uma noite excelente. Poderíamos repetir nossa conversa hoje a noite, o que acha?

— Poderíamos, mas não vamos, tenho mais o que fazer. E nada mudou.

— O que eu fiz? Acordou azeda como um limão, você não cansa de distribuir coices? — Controlo minha vontade de responder Dandara de forma ríspida, suspiro, suavizando a voz — Que tal darmos uma volta? Você poderia me mostrar a região.

— Claro, tem algo que ficou de fora de seu inventário?

Fico surpreso, me afasto de um passo para olhar melhor seu rosto, como ela soube?

— Dandara...

— Cala a boca, brucutu! Se não quer ver a cara enfiada no esterco de cavalo fique quieto!

Ela vira chamando uma garota.

— Teremos que trabalhar algumas coisas em vocês dois. Faça uma pausa, eu vou preparar o redondel.

— Ok, obrigada Dandara.

Sei o jogo que Dandara faz, ela prefere fugir do que virar e me encarar, não deixo barato, sigo-a pelo Haras.

— Não cometi nenhum crime, Dandara.

Ela continua andando, me ignorando.

— Você está sendo teimosa, poderíamos resolver isso de outro jeito, quem sabe unir o útil ao agradável.

Ela vira, parando brutalmente, me fazendo quase tropeçar.

— Diga brucutu, qual sua excelente ideia? Já recebeu oferta pelos meus cavalos? Ah, muito obrigada por deixar Trovoada de fora, foi uma gentileza imensa, já que não quis vender também um presente de meu pai.

— Eu não venderia seu cavalo, vejo o amor que sente por ele. Posso não ser um especialista ou não gostar das mesmas coisas que você, mas não quero mal aos bichos.

— Não quer o mal deles? — O rosto de Dandara está vermelho como se tivessem esfregado dois tomates em suas bochechas, e se isso não era um alerta para ficar afastado, eu não sabia o que seria. — Sabe qual a diferença entre um cavalo para lidar com o gado e um cavalo de montaria e competição?

Dou de ombros.

— Exato, se não sabe essa imensa diferença e mesmo assim foi oferecer meus cavalos para donos de fazenda de corte. Você com certeza não quer o bem deles. Jumento! — dispara a falar.— Mas tenho uma solução, vá embora, se não quer o mal deles, vá. Ou está esperando a foda de despedida? Quer ir para o celeiro desativado? — pergunta desatando o nó da minha camisa xadrez fazendo ela revelar minha blusa curta.

E mesmo que a ideia de tê-la novamente em meus braços, sentir o gosto de sua pele e ter seus gemidos em meus ouvidos seja tentadora, me foco em nosso novo cabo de guerra. — Deixe de ser ridícula!

— Não sei onde Pedro estava com a cabeça, ele só poderia estar alucinando quando decidiu deixar meu Haras para você! Tenho muito trabalho a ser feito, se puder pelo menos não atrapalhar, eu agradeço.

Estava pronto para segurar seu braço vendo que se afastaria, quando vejo sua expressão de raiva se focar em outra coisa, sigo seu olhar vendo uma garota vir calvagando em nossa direção.

— Dandara! Era você mesmo que queria encontrar!

— Só me faltava essa! Acho que errou, sua prenda está bem na minha frente — Dandara diz com um sorrisinho falso.

— Forasteiro, desculpe não ter vindo mais cedo, vejo que ficou totalmente curado do ataque de fúria de Dandara.

Sorrio não tirando os olhos de Dandara, deixando que Cindy agarrasse meu pescoço dando um beijo bem perto de minha boca, naquele instante tinha descoberto uma outra arma poderosa contra a esquentadinha, o ciúmes. — Estou bem sim, que surpresa boa vê-la aqui. Estava agora mesmo comentando com Dandara que queria dar uma volta pela região.

Cindy sorri animada. — Então encontrou sua companhia, faço questão de ir com você.

Aproveito a situação segurando na cintura fina da garota, abrindo um amplo sorriso. Satisfeito por ver que deixo Dandara mexida, é bom saber que outra coisa borbulha dentro dela, além de irritação. Afinal, ela não é tão casca grossa quanto esbraveja. — Podemos dividir o mesmo cavalo, eu não estou acostumado a montar sozinho.

— Ihaaaahhh, mas é claro! — ela diz animada. — Ah, Dandara, eu soube que está preparando uma competição aqui no Haras.

Faço minha cara de “não sou o único planejando pelas costas” e encaro Dandara.

— Sim, é para angariar fundo para o Haras, mas como soube?

— Matheus, ele me contou — Cindy diz com um sorriso. — Logo pensei, o que seria excelente senão competir? As regionais estão chegando e eu e Milu precisamos estar preparadas, você poderia dar uma olhada nela, estou achando que ela está de TPM. E você como antiga competidora sabe como é importante o cavalo estar bem. Fico orgulhosa que abandonou os pódios e se dedica cuidando de minha égua.

Dandara competindo? Não sabia que a esquentadinha metida as caras em rodeios ou competições equestres. Estava aí uma coisa para pesquisar quando tivesse deitado em minha cama essa noite.

— Claro. Dou uma olhada. — Dandara responde de forma azeda.

— Perfeito, — Cindy empurra a rédea para Dandara, enlaçando ainda mais meu corpo — vamos forasteiro?

— Claro. Irei pedir para Mathias selar um cavalo.

A carranca de raiva que Dandara está é impagável. É como acender um pequeno fósforo numa fogueira à base de álcool. Eu não quero nada com essa garota, mas se para provocar minha caipira eu tiver que entrar nesse joguinho sujo, por que não?

A tal de Cindy não tinha a mesma desenvoltura que Dandara na montaria, na verdade, não tem nem mesmo a paixão que Dandara exibe ao olhar para os cavalos. Porém, não decepcionou em nada em sua montaria e cavalgada, ela sabia o que estava fazendo. Mesmo que o cavalo ficasse arrisco com seus comandos.

Saímos do Haras indo para os campos abertos da propriedade, passando por um pequeno riacho, Cindy se aproveita por estarmos na mesma sela e esfrega sua bunda em meu pênis, sempre sorrindo e olhando por cima do ombro.

— Que tal pararmos aqui? — questiona olhando para a paisagem na frente, estavámos em uma espécia de monte, víamos a estrada de terra que nos levaria de volta para o Haras e ao longe a silhueta do que seria o centro da cidade.

— Por mim — digo já descendo do animal.

— Quero muito saber o que fez um homem fino e bonito como você se meter com a Dandara — Cindy fala amarrando a rédea do cavalo no tronco de uma árvore.

— Podemos dizer que fomos criados juntos.

— Mentira! — diz rindo.

— Meu tio-avô criou Dandara quando seus pais faleceram.

— Que azar o dela, primeiro perdeu a mãe e logo depois seu pai, morreu em um acidente com bois.

Não havia sentimento real naquelas palavras.

— Você e ela se conheceram como? — pergunto sentando sobre a grama.

Ela caminha parando em minha frente tampando a visão da paisagem remexendo o quadril, tentando ser sedutora.

— Bom, tirando o fato de cidade pequena todo mundo naturalmente se conhecer, além dos filhos estudarem juntos. No Haras, Setti é um dos poucos lugares de excelência por aqui, confesso que tem ótimas pistas para treino. Meu pai é um dos patrocinadores, mesmo eu querendo que Milu seja tratada por outra domadora, não posso negar que ela é boa no que faz. Cindy deu de ombros, analisando as unhas perfeitamente alinhadas e pintadas — Ficou melhor quando saiu das competições.

— Competição? — questiono curioso.

— Dandara praticava a mesma modalidade que eu, três tambores, mas largou tudo quando Pedro ficou doente. O velhote não podia mais pegar no pesado e o que não falta naquele Haras é serviço pesado para ser feito. Mesmo com Mathias vindo para ajudar, Dandara decidiu largar tudo para cuidar do Haras.

— Pela sua cara de surpreso, não sabia disso.

— Conheço pouco daqui, vim muito na infância a mando de meus pais e quando cresci nunca mais voltei. Só fiquei sabendo novamente desse lugar quando um advogado me ligou informando sobre a morte do meu tio. Somos de uma família grande, porém nem todo mundo ainda mantém contato.

— Por que decidiu voltar? — Cindy senta em meu colo, um joelho em cada lado de meu corpo, me fazendo dar um sorriso sem graça ao afastá-la com jeito. — É verdade o que todos tem cochichado por aí?

— O que andam falando?

— Oras, que você veio tomar isso tudo dela. Afinal, pra que um homem como você viria para um fim de mundo como esse?

— Vim por negócios, é tudo que precisa saber.

Cindy fez um beicinho, passando os braços pelo meu pescoço, forçando uma aproximação. — Por que não paramos de falar dela, de cavalos e todas essas bobagens e terminamos o que rolou lá no bar?

Direta e atrevida, ela se daria bem na cidade grande.

— Sinto muito, mas não vai rolar. Vamos voltar? Esqueci que marquei um telefonema importante com meu assistente em São Paulo, como disse, negócios — Fico de pé estendendo a mão para ajudá-la.

Não sei o que tem no DNA dessas caipiras, mas ô mulherada que se enfeza rápido! Cindy levanta dando um tapa em minha mão, já desamarrando o cavalo e subindo. Mais uma que preciso tomar cuidado para que ela não me lance do outro lado da estrada, só por que neguei seu fogo. A realidade é que não queria nada com Cindy, ela poderia ser uma mulher linda, com um corpo escultural. Mas serviu apenas para deixar a esquentadinha com ciúmes.


CAPÍTULO 21


Dandara

Enquanto comemos, Maria não tira os olhos de mim. Abaixo o garfo, dando um longo suspiro. — Diga logo mulher, senão vai engasgar com a própria comida.

— O que está tirando ocê do prumo, moleca?

Velha sábia! Não tinha nada que escapasse de Maria, você poderia se deixar levar pelo rosto repleto de rugas ou pelos olhares maternos que lançava para todos, mas Maria era como um pastor alemão, farejava as coisas à distância.

— O que deu no povo desse Haras hoje? — pergunto desviando do verdadeiro assunto.

— Ocê não me engana mocinha, conheço ocê mesmo antes de aprender a lavar os fundilhos de suas ceroulas!

— Que horror! Estou apenas pensativa, vou sair mais tarde para dar uma olhada nos campos.

Foi a vez de Maria revirar os olhos, ninguém vencia em uma disputa com Maria. — Ainda com aquele sonho azucrinando a mente?

Suspiro empurando a comida de um lado para outro no prato. — Eu vejo aquele cavalo com tanta força, não sei porque e nem mesmo o quê significa.

— Você está preocupada com as coisas daqui, normal, os sonhos mostram nossas preocupações mais profundas.

Suspiro, tomando um gole do suco, confirmando com um pequeno gesto de cabeça.

— Mas não era sobre isso que estava falando.

— Ô merda, Maria! — retruco. Não irei conseguir desviar do assunto.

— Óia a boca! — ralha — Ocê está ansiosa, está assim desde que a senhorita Munhoz chegou no Haras.

— Aquela menina brinca com os animais, Mathias disse que a égua tem marcas feias das esporas, eu gostaria de enfiá-las no...

— Ouuh , acalme-se. — Maria adverte rindo — Seria mesmo por que Cindy está maltratando a pobre da égua, o que não seria nenhuma novidade para nós ou pelo simples fato dela ter saído com Seu Miguel?

Fico em silêncio enchendo minha boca com o resto de suco de meu copo.

— Você gosta dele.

Encaro Maria — Ficou maluca? — digo umas oitavas mais alto.

Ela sorri, pega seu prato e o meu, indo até a pia. — Conheço você, menina. Seria de se admirar se não tivesse apaixonada. Eu disse para Seu Miguel, muito ódio acaba virando amor.

— Você está exagerando, deve ser o excesso de trabalho. Seu “Miguelzinho” está agindo pelas minhas costas, fazendo um inventário de tudo que há aqui para vender.

Maria não manifesta nenhuma surpresa com o que acabo de dizer. — O homi é um bitelo , 5 mas não disse que não era sonso para fazer merda. Pode me chamar de velha caduca, mas conheço os sinais e sintomas, você está gostando dele.

— Arre égua! Vou trabalhar, não quero falar mais disso! — argumento ficando de pé.

— Como quiser, moleca. Mas se enfiar no trabalho não irá arrancar isso d’ocê.

Bufando dou uma olhada feia em sua direção e ela entende o recado, não toca mais no assunto enquanto eu devoro uma maçã vermelha e doce que estava na fruteira. Coloco o chapéu sobre a cabeça, fazendo uma trança em meu cabelo e saio, ignorando os olhares que Maria me lança.

Apaixonada! Era para se rir mesmo, Maria está ficando maluca!


— Tudo correndo bem por aqui — Mathias me relata assim que entro do estábulo. — No fundo ela só precisa de um pouco de atenção.

Passo a mão sobre o corpo da égua, vendo seu olhar desconfiado. Milu é da raça Paint Horse, muito parecida com os quarto de milha, mas parece pintada à mão.

— Oua , calma garota!

Retiro a mão ao vê-la arreganhar os dentes.

— Essa daí vem com o espírito da dona. — Mathias brinca.

— Que nada, tire ela da baia. — peço olhando nos olhos da égua — Cindy é horrível com ela, assim como foi com todos os cavalos que passou por seu rancho. Só quer que o animal corra, muito parecida com Matheus, pelo menos aquele ali tem algo de bom, gasta dinheiro e tempo cuidando dos seus cavalos. — digo torcendo os lábios.

— Tem certeza disso? — Mathias questiona segurando a trava da baia. — Ela não está muito amigável.

— Solte.

Mathias faz o que mando, abrindo a portinhola, deixando que ela saia. Milu é uma égua imponente, sai com a fronte erguida, me encarando de cima, passando o recado claro que não tem medo de nós, mas na realidade, tudo isso é pose, ela está receosa que a machuquemos.

— Dê uma olhada nessa ferida.

Dou a volta indo até Mathias, não era uma ferida profunda, iria cicatrizar logo, mas o que me irritou ainda mais foram as marcas mais profundas em sua pelagem indicando que outras já tiveram ali, várias cicatrizes marcando o quando essa égua vinha sendo judiada. E o quantos os maus tratos tinham marcado-a internamente.

— Vamos fazer um tratamento de aromaterapia, para ela se acalmar um pouco e deixar que cuidemos dela.

Vou até o espaço onde os remédios ficam guardados examinando alguns vidros, pego três voltando para a égua.

Tiro a tampa do primeiro colocando perto da narina do animal. Ela relincha virando a cabeça bruscamente, quase derramando o conteúdo de minhas mãos. Retiro do segundo, mas ela tem o mesmo comportamento.

— Óleo bergamota — digo e não demora muito para ela tirar a língua para fora querendo o líquido.

— Não é estranho que ela escolha justo o que traz a sensação de alegria e ânimo. — Mathias comenta.

— Minha mãe sempre dizia que os animais escolhem seus próprios remédios. Eles sabem do que realmente precisam.

O barulho de cavalo se aproximando traz nossa atenção para a entrada do estábulo.

— Que bom que ela está pronta, preciso ir. — Cindy salta do cavalo deixando Miguel se desequilibrar por um instante.

— O passeio não foi prazeroso? — desafio.

— Minha égua está pronta ou não?

— Milu está com marcas de escoriações na barriga. — acuso.

Cindy não dá a mínima para o que estou falando.

— Cindy! Você está ferindo sua égua por nada com suas malditas esporas!

Mathias me olha preocupado.

— Que eu saiba pedi para você dar uma olhada, e não mandar no jeito que comando minha égua. — Cindy contra-ataca.

Miguel dá um passo em nossa direção como se nós duas fôssemos nos engalfinhar como animais, não que ela não merecesse, mas eu não iria ganhar nada com isso.

— Se você quer que Milu não a jogue para longe durante uma competição, precisa entendê-la. Ela não é um pedaço de bife para você ficar furando quando bem entende.

Cindy gargalha, — Me passe o valor de seu tempo, mando meu pai depositar na conta do Haras. — ela vê que continuo encarando-a — Vamos, será que dá para selar minha égua?

Mathias pega as coisas pronto para selar a égua.

— Mathias, não! — Eu quase grito. — Cindy, me escuta...

Cindy arranca a sela das mãos de Mathias, ela mesmo arrumando no lombo de sua égua.

— Cindy, sua égua está ferida, pode achar que não é nada, mas com o tempo vai pegar os ossos dela. Se você se importa...

— O que eu preciso escutar é que você fez algo além de ficar gastando meu tempo. E não de suas mágicas inúteis. — Ela mal fixa direito as fivelas para montar o animal.


Cindy enfia as esporas na barriga da égua fazendo-a relinchar de dor, e a visão dos olhos tristes e repletos de lágrimas do animal cortam meu coração.

Chuto um barril de água enfurecida com a partida de Cindy. O fato de não poder fazer nada para ajudar essa égua me corta o coração.

— Pelo visto vocês estão bem longe da cordialidade.

Viro como um bicho, bufando como um touro bravo ao encarar Miguel. — Meta seu nariz onde é chamado!

— Se você sabia que Cindy maltratava a égua, por que a liberou? — Miguel questiona.

— Seu Miguel, não é simples assim, não podemos prender os animais, mesmo que por alegação de maus tratos. A família de Cindy é poderosa na cidade, seria uma briga infinita e até lá a égua já teria caído doente.

— O que Mathias tá querendo dizer é que não serão os primeiros donos que negligenciam seus animais, muito menos os últimos. São esse tipo de gente para quem quer vender meus cavalos. — acuso.

Levanto o barril que tinha chutado em minha explosão de raiva, puxando a mangueira para enchê-lo.

— Mathias, termine de cuidar das baias, eu vou sair com Trovoada. Está esfriando e não duvido de termos uma chuva torrencial mais tarde.

Deixo os dois ali, no meio do estábulo indo até o Trovoada, eu precisava da paz que ele poderia me dar. E não foi surpresa em vê-lo totalmente alerta, meu pai costumava dizer que Trovoada sempre saberia meu estado de espírito, ele sempre estaria ali, pronto.

E isso era verdade. Não precisei dizer nada, apenas abri a portinhola de sua baia, subindo diretamente no pelo para que ele saísse em disparada para fora do Haras, o sol estava se pondo no horizonte e uma espessa nuvem cinzenta cobria o céu.

Na época de outono vivemos os tempos mais malucos; temos dias de intenso calor e do nada um frio de arrepiar os ossos com chuvas tão fortes que inundam a estrada. Além de ser a época que mais me preocupo com o bem estar dos cavalos.

Cavalgo pelos campos, até mesmo me embrenhando no pequeno acervo de mata fechada, os ranchos e fazendas não são próximos uns dos outros, o que dá bastantes aréas livres.

— Aoh — Trovoada para, relinchando baixo. — Você também ouviu rapaz?

Paramos entre as árvores escutando os pássaros fazendo burburinho entre os ramos, mas não foi isso que chamou nossa atenção, e sim um relincho baixo, sofrido.

— Vamos, Trovoada. — bato o pé na barriga dele fazendo barulho para que volte a galopar.

O rancho era velho, existia destroços espalhados pelo terreno, desço do Trovoada empurrando a porteira velha e quebrada, tinha arame farpado para todos os lados, o relincho veio mais fraco dessa vez, como se o animal já não aguentasse mais esperar por ajuda. Trovoada relincha batendo os cascos chamando minha atenção, um cavalo estava em um pequeno cercado amarrado a cordas em um tronco velho, havia feridas em sua cabeça e boca devido às cordas, mas também marcas profundas espalhadas pelo seu corpo, fora a desnutrição evidente.

Não conseguiria fazer esse cavalo ir até o Haras, precisaria chamar o Santiago e pegar o trailer. Monto em Trovoada galopando de volta até o Haras, forçando ele ir o mais rápido que pode, não sabia de quem era aquele rancho abandonado, mas de maneira alguma deixaria o animal ali sofrendo.


CAPÍTULO 22


Miguel

Levo as toras de madeira para Bento, sentando no sofá. O frio realmente tinha chegado com força, nos forçando a fechar as portas e janelas para manter o calor dentro do imenso casarão. Dandara ainda não tinha retornado, o que me deixa um pouco ansioso, mesmo não querendo admitir. Aquela diabinha caipira está me enrolando em seu laço.

— Daqui a pouco a janta estará pronta. — Bento diz passando por mim em direção à cozinha.

Volto meus olhos para a tela do computador, vendo o projeto que Paulo havia me enviado mais cedo. Os arquitetos tinham feito um excelente trabalho, a entrada do resort era imponente, ele manteve o rústico e sofisticado com tanta suavidade que nenhum dos pontos tinha se destacado mais que o outro. E ali, analisando o projeto, eu não conseguia abrir minha caixa de e-mail e aprová-lo. Não conseguia dizer que poderíamos fechar o negócio com os donos dos Haras e fazer o transporte dos cavalos assim que o périodo que o advogado deu se encerrasse.

A rajada de vento forte fez o fogo na lareira tremular quase se apagando, fecho o computador virando para ver Mathias entrar na casa chamando por Bento.

— Que desespero todo é esse? — questiono indo para a entrada.

— Dandara voltou e vamos resgatar um animal.

— Resgatar? O que houve? Toda vez que você entra como um foguete aqui é porque Dandara tá metendo todo mundo em apuros — retruco.

— Mathias, o que aconteceu? — Bento e Maria vêm em nossa direção.

— Dandara voltou da caminhada, segundo ela encontrou um animal em condições precárias. Preciso ligar para o Santiago e preparar o trailer para sairmos.

— Onde ela está? — pergunto.

— A última vez que a vi estava indo pegar umas medicações.

— Santiago não deveria ficar disponível no Haras para esse tipo de emergência? — questiono ajeitando o casaco pesado no corpo.

— Sim, Seu Miguel, mas ele trabalha em outros lugares. É um veterinário muito requisitado na região.

— Vou procurá-la. — digo por fim, cruzando com eles, sentindo o vento bater contra meu corpo enquanto caminho até o estábulo.

Os cavalos relincham alto, incomodados pelo vento, passo por uma baia me esquivando ao ver que o cavalo está tão irritado que bate o corpo contra as paredes de sua baia.

— Eles ficam mais irritáveis com esse tempo.

Olho para Dandara, seu rosto está preocupado. Ela vai até o cavalo mais arisco, deixando que ele cheire um potinho.

— Aromaterapia — explica.

Mesmo ainda desconfiado o cavalo começa a se acalmar.

— Você realmente faz mágica com eles.

O cavalo vem em minha direção me assustando, pulo para trás encarando os imensos olhos pretos do animal. — Eles não confiam em mim.

— Eles são espertos, sentem quando um humano tem medo, alegria ou quando não gosta deles.

Olho para seu rosto, lá vinha ela com aquele papo novamente. — Não é bem gostar ou não, só não confio. Mathias disse que encontrou um animal ferido.

— Eu estava cavalgando, estava ficando mais frio no meio das árvores. Eu o ouvi, ele estava me chamando, não sei há quanto tempo ele está lá, mas eu sei que está cansado. Cansado demais para vir andando, mesmo se Trovoada sustentasse ele pelo caminho, isso o teria machucado mais.

— O que posso fazer?

Dandara me encara surpresa.

Nem eu mesmo sei por que estou fazendo isso, por que estou tentando salvar um animal se tudo que mais quero é que essa guerra de braço acabe logo, para dar continuidade aos meus planos.

— Santiago está ocupado em uma fazenda, tenho receio dele não chegar a tempo.

Ver o olhar triste em seu rosto faz algo dentro de mim borbulhar. — Vamos, eu ajudo você.

Ela ri por um instante, voltando a ser a diaba caipira que eu conhecia. — Você vai mais me atrapalhar do que ajudar.

— Se não quer salvar aquele animal é só dizer.

Vejo seu olhar me analisando, assim como o suspiro pesado que ela solta. — Pegue aquelas cordas, iremos precisar de pelo menos umas três, estou com o kit de remédios, ele tem grandes feridas pelo tempo que passou amarrado e das tentativas de fuga.

— É selvagem?

Ela para de arrumar as coisas para me olhar. — Ele foi ferido, está com medo, sede e fome, vai saber quantos dias ficou exposto ao sol escaldante e as chuvas frias das noites.

Mathias aparece com a caminhonete puxando o trailer. Interrompendo nossa conversa.

— Vamos colocar tudo no carro. — Dandara ordena levando Trovoada para sua baia.


O caminho até o rancho que Dandara encontrou o animal ferido fica bem longe do Haras, e a estrada não ajudava em nada, o vento ficava mais forte e logo a chuva nos brindava com mais força, dificultando ainda mais nosso caminho. Os limpadores trabalhavam frenéticos pelo vidro, cada vez que Mathias acelerava ou freava passando por um buraco era meu coração que pulava dentro do peito. A buraqueira ficava escondida devido a tempestade que caía lá fora.

Era difícil ver alguma coisa concreta em nossa frente com a torrente que descia do céu, o que me fazia apertar o canto do banco com mais força, prendendo a respiração.

Quando Mathias acelerou passando pela entrada destruída do rancho, tudo lembrou foi um filme de terror, a casa ao fundo está caindo aos pedaços, tudo ali está destruído pelo tempo e esquecido por Deus.

Dandara salta do carro antes mesmo que ele pare completamente, levando consigo o kit veterinário e uma das cordas, fazendo Mathias e eu seguirmos em seu encalce.

— Mathias, abra o trailer.

— O tempo está horrível. — digo olhando ao redor.

Dandara pula a cerca de arame encarando o cavalo com as mãos para cima, conversando baixinho com ele, para tentar acalmá-lo.

— Corte os arames, Miguel.

Retiro da enorme maleta que ela touxe um alicate, corto os fios abrindo espaço para que ela passe com o animal.

Ele relincha, empinando o corpo para trás, evitando que ela encoste nele e toda vez que faz isso, acaba caindo devido à fraqueza que seu corpo apresenta. Dandara chega mais perto tentando tirar as cordas que o machucam, porém ele está arredio demais.

— Dandara, devíamos ter esperado por Santiago, ele pode te machucar. — Mathias retruca.

— Ele não vai me machucar, está com medo, tem medo do toque. — Dandara se vira pegando um daqueles frascos pequenos que estava dando aos cavalos no estábulo fazendo o cavalo cheirar. Ele não se acalma como os outros fizeram, mas permite que ela chegue mais perto. — Se tivesse esperado por Santiago ele teria morrido nessa chuva.

Dandara tem realmente algo a mais para esses animais, é como se apenas de olhar, eles dissessem tudo que estão sentindo para ela. Ela volta para a mala tirando um lenço grande, jogando-o no rosto do bicho.

— Miguel corte as cordas e passe a nossa pelo pescoço, dê um nó bem firme.

Faço o que ela manda, me certificando que o cavalo continua imóvel contra o peito de Dandara, ela faz carinhos na crina judiada, sussurrando algo que não entendo devido o barulho forte da chuva.

— Se o dono do cavalo voltar? — pergunto terminando o nó.

— É bom que nem volte, olha o estado que deixou o cavalo. — ela retruca pondo o bicho de pé. — Calma, ouh, calma.

— Dandara, Miguel, temos problemas! — Mathias grita sob a chuva.

Um velho aparece no meio da chuva vindo em nossa direção segurando uma garrafa de bebida, tropeçando nos próprios pés.

— Conheço a laia desse daí, Cicinho sempre o expulsa do bar por arrumar confusão e ele não se importa com nada além da cachaça que consome — Mathias comenta encarando o homem.

— Às vezes temos que deixar os pensamentos sendo apenas isso, pensamentos. Nunca ouviu que o que é jogado no universo ele devolve? — Dandara resmunga para mim.

— Ei! O que você estão fazendo com meu cavalo? — O velho grita, tenta correr até nós, mas tropeça várias vezes em seu próprio pé.

Quando tenta chegar perto de Dandara, eu contenho o homem bêbado e por consequência o animal se agita, fazendo Dandara soltar um pouco a corda que o mantinha preso.

— Você não encosta mais nesse animal! — Dandara grita vindo para cima de mim e do velho bêbado.

— Vocês invadiram minha propriedade, vou chamar a polícia, e esse cavalo voltará para o lugar dele.

Seguro com firmeza sua camisa puída evitando que ele avance para cima dela.

— Chame, vai me poupar o trabalho de chutar sua bunda até lá.

O velho para por um instante de se debater em meus braços e assim consigo arrastá-lo para fora do caminho, deixando que Dandara entre com o animal no trailer.

Mathias enfia todas as coisas de volta na caminhonete, embarcando e dando partida no motor.

— Quando ele ligar para a polícia, ele que terá que se explicar. — digo animado, feliz por ter salvo aquele cavalo.

Dandara tira os olhos do vidro traseiro, voltando seu rosto para mim. — Ele não vai ligar, mal lembrará o que houve. Ele iria deixar o cavalo morrer de fome. — ela volta seu olhar para trás, vigiando o trailer.

Mathias faz o melhor que pode, mas a estrada de terra fica esburacada na chuva forte, e se antes a visibilidade já estava dificil, agora está muito pior. Os relinchos do animal preso no trailer são ouvidos de dentro do carro, imagino o quanto ele não esteja apavorado.

O carro balança de um lado para o outro, me fazendo segurar a respiração por alguns segundos.

— Ele vai se acalmar quando sairmos desse pedaço de estrada. — Mathias diz.

O carro balança mais forte na curva.

— Pare, Mathias. Eu vou com ele.

— Ficou maluca? Ele pode te machucar, está muito nervoso.

— Se eu não for com ele, vamos acabar capotando. — diz.

Mathias encara Dandara pelo espelho retrovisor, considerando o que diz.

— Ficou maluco? Ela vai se machucar! — retruco quando ele para no meio do nada, destravando as portas.

— Sei o que estou fazendo — ela resmunga.

Dandara desce e esperamos. Olho pelo vidro de trás esperando algum sinal...

— Podem ir — grita batendo na lataria do trailer.

Quando chegamos ao Haras, me senti como se tivesse nadando, nem mesmo minhas bolas estavam secas na cueca. Mathias dá a volta no carro pegando a corda e guiando o cavalo para o estábulo. E antes que Dandara saísse, indo para longe, eu a segurei.

— Desculpa.

Passo a mão pelo cabelo molhado tirando um pouco d’água dos olhos. Por que ela me deixa assim?

— Não quis magoá-la com a história de hoje cedo. Estou fazendo o melhor que posso.

— Então precisa fazer mais do que isso.

Ela se solta de minha mão correndo em direção aos estábulos, corro atrás dela, mesmo quase caindo quando meu pé afunda em uma poça d’água, alcanço seu braço e puxo-a para mim, fazendo com que pare.

Droga! Descobri que estou enlaçado até a alma por essa caipira!

Dandara fecha a expressão mostrando seu melhor olhar de ódio tentando se livrar de mim novamente. Fico em sua frente e mesmo com a chuva em seu rosto, consigo perceber que os seus olhos estão cansados, a adrenalina tinha decaído de seu corpo e eles lacrimejavam. Ela tenta se soltar novamente de mim. — Por que você não vai embora, Miguel? — pergunta com o rosto perto do meu.

Meu pênis lateja dentro da calça. Essa mulher me deixa louco!

— Eu não desisto, esquentadinha. Já devia ter entendido isso.

— Pelo menos temos alguma coisa em comum — ela retruca. — Odeio você, brucutu!

— Não, não odeia.

Ela para surpresa com minha declaração. Estar tão perto dela, sentir aquele corpo colado no meu, desperta meu desejo.

Ignorando tudo, eu só tinha uma coisa em mente: tê-la a todo custo.

Avanço sobre ela, seu corpo inteiro estremece, quando a beijo, ela abre a boca para receber minha língua, sua boca é carnuda e quente, ela para de tentar lutar contra aquele fogo que move nossos corpos. Aperto Dandara contra meu corpo, e sinto suas mãos enlaçarem o meu pescoço. Ela me puxa, em resposta eu invado seus lábios, tomando sua boca com minha língua. Levo a mão até seus seios e ela geme com meu toque.

— Quero você, esquentadinha.

— Por que está fazendo isso comigo? — ela resmunga quando minha boca desce por seu pescoço.

— Shiuu, — mordisco sua pele, descendo a boca por seus seios, lambendo o pequeno decote de sua blusa.

A chuva cai sobre nós, mas não é frio que nos faz tremer, é o calor que sinto por essa mulher que só aumenta.

— Quer que eu pare agora?

— Eu odeio você — sussurra, puxando minha mão, nos fazendo correr pelo Haras, entrando no velho celeiro abandonado.

Existem furos entre as madeiras fazendo a chuva cair em nós, Dandara empurra meu corpo contra uma viga de madeira, colocando as mãos por debaixo de minha camiseta encharcada. Meu corpo treme com o calor do toque, fiz o que desejava desde que pisei para fora da cama, abro botão por botão de sua camisa, deixando tudo totalmente livre para que chegasse aos seus seios, luto um pouco contra o fecho do sutiã, fazendo-a rir e tomar a missão de minhas mãos.

Dandara joga a cabeça para trás gemendo cada vez mais com as carícias que eu faço em seus mamilos enrijecidos. Lambo sua nuca, distribuindo beijos sobre sua pele. — Quero você, Dandara, tem que ser aqui, agora. — digo roçando meu quadril em sua cintura.

Solto o botão de sua calça enganchando meus dedos direto nas laterais de sua calcinha, abaixando as peças até o chão, passando por seus pés. Abro suas pernas, deixando seu sexo exposto para mim. Dandara fez o mesmo por mim, tirando minha camisa e indo até minha calça. Ela baixa minhas roupas alcançando meu pênis. Gemo como um animal no cio.

Ela se ajoelha, sem emitir uma palavra, segura meu membro totalmente ereto. A boca da esquentadinha me toma quase por inteiro, sinto o vaivém dos seus lábios me fazendo perder o equilíbrio Encostando no pilar, olhando para seu rosto.

Ela segura a base do meu pau com uma das mãos, enquanto contorna o restante com seus lábios lindos e quentes. Eu a desejo tanto a ponto de gozar. Levanto Dandara de forma abrupta.

Agarro aquela massa de fios longos e loiros, fazendo o calor que consumia meus sentidos aumentar. O corpo de Dandara colado no meu, lábios entreabertos e desejo nos olhos.

— Não negue, você adora isso, seja o que for que esteja acontecendo aqui, você adora.

Mantenho seu cabelo seguro na nuca com uma das mãos, a outra passando por seu corpo nu em volta de sua cintura, deixo meus dedos escorregarem dentro dela, afastando os lábios de sua boceta, apertando o clítoris úmido de tesão. Empurro seu corpo contra a parede, encaixando uma de suas pernas em meu ombro ao agachar, deixando sua intimidade totalmente exposta para mim, como um belo cartão de boas-vindas. Meto a língua de forma faminta, o corpo de Dandara estremece, seus dedos agarram meu cabelo de maneira ferroz.

Devoro seu corpo com vontade, minha saliva misturando com a lubrificação salgada, Dandara tinha gosto de mulher excitada, do tipo que atraí os pobres homens de longe.

Tiro sua perna de meu ombro, erguendo-me, viro-a de costas para encaixar meu pau em sua entrada, deslizo um pouco mais, ela é deliciosa! Antes de chegar ao fundo, Dandara rebola contra meu corpo, fazendo meu membro remexer dentro dela, ela rebola e eu começo aumentar o ritmo dos meus movimentos. Entro e saio dela com facilidade, como se seu corpo reconhecesse o meu.

Abro mais as pernas dela, impulsionando o quadril contra ela, seguro seu cabelo, puxando-o de forma bruta para trás, gostando de sentir seu rosto perto do meu. Mordo e dou chupões fortes em sua pele. Meto com intensidade, gostando do barulho de penetração molhada que chegava até meus ouvidos, meu pau inchado e duro doía procurando alívio, exigindo por isso.

Sinto que ela convulciona em minhas mãos, sussurro em seu ouvido o quando me enchia de tesão, o quanto seu corpo recebia o meu de maneira tão delicioso e o quanto ela era gostosa. Dandara se empinou ainda mais, apertando meu pau com suas contrações involuntárias, arrancando o ar de meus pulmões.

Continuo metendo, lambendo seu corpo, apertando sua cintura ou puxando seu cabelo. Eram sensações diversas que tomavam meu corpo. Dandara gritou, seu corpo estremecendo de verdade, perdendo o controle, deixo que ela goze, segurando ao máximo, travando minha própria libertação, ela ficou mole em meus braços enquanto me retiro de dentro dela, masturbando meu pau para gozar, esporrando como um maluco, só de pensar na entrega absurda e delirante que tinha acabado de acontecer ali.


Ela passa minha camisa rindo — É a única forma de você se limpar.

Diabinha!

— Miguel...

Selo seus lábios com os meus evitando que ela fale algo que possa estragar esse momento. — Amanhã pensamos sobre as coisas chatas.

Não tinha a menor chance de discutir com ela agora, o que eu mais queria naquele momento era deitá-la naquele feno velho e começar tudo de novo.


CAPÍTULO 23


Dandara

Abro os olhos sentindo o calor da pele de Miguel contra minha bochecha. Fico deitada quieta, ainda tentando entender o que estou sentindo por ele. Passei metade da noite refletindo sobre tudo que vivemos. Fico confusa pelas sensações que o beijo, o toque dele, me fazem sentir.

Será que eu conseguirei realmente fazer Miguel ver o Haras com outros olhos, além de um pedaço de terra lucrável? Fazê-lo sentir sem me envolver, ou eu já estava envolvida demais? Desisto de ficar deitada com milhões de pensamentos cruzando meu cérebro, saio da cama evitando acordá-lo.

Depois de tomar um banho, me troco em silêncio, descendo para para tomar café, não sem antes dar uma olhada em direção à cama, vendo Miguel dormindo nu, coberto apenas por um pedaço do lençol.

— Bom dia — cumprimento sentando na cadeira vazia, o cheiro de café e bolo de fubá fazem meu estômago roncar de fome.

— Bom dia, menina. — Maria me cumprimenta enchendo minha caneca de café puro. — Mathias estava nos contando sobre o animal.

— Falando nele, como está, Mathias? — pergunto devorando um pedaço do bolo.

— Está bem, Santiago passou a noite cuidando dele. Mesmo com muitos machucados, ele disse que logo estará bem.

— Que bom ouvir isso. — pego dois pedaços de bolo colocando no meu prato enquanto dou uma golada no café. Paro com a xícara ainda contra a boca vendo os olhares deles.

— Está faminta, moleca — Maria diz.

Dou de ombros, como se fosse algo normal.

— Tem bicho uivando no terreno de novo, uma desgrama isso, né? — Mathias provoca sorrindo.

Dou uma olhada feia, fazendo com que ele ria ainda mais, atiçando a curiosidade de Maria.

— O que vocês estão rindo?

Paro com a xícara à caminho da boca ao ouvir a voz de Miguel.

Ele puxa uma cadeira ao meu lado, me lançando um olhar malicioso. Miguel faz questão de jogar o corpo para cima de mim ao pegar um pedaço de bolo.

— Dormiu bem? — pergunta, seu olhar malicioso me fez sorrir. O desgraçado sabia que tinha mexido comigo!

— Sim e você? Parece cansado — desafio entre um gole e outro do café.

— Um pouco, mas no fim consegui o que queria.

Bento entra na cozinha sacudindo o casaco. — Hoje o dia está de lascar.

— Teremos pouco movimento então. — digo.

— Mathias eu quero falar com você sobre o Haras — Bento diz.

— Aconteceu algo? — questiono.

— Aquele problema qual contei procê , menina. Temos que rever a segurança dos animais, ontem tinha algum tipo de animal esganiçado no meio do mato.

Miguel engasga com o café fazendo todos encará-lo. Dou um pisão em seu pé, esmagando seus dedos.

— O antigo celeiro estava aberto e tudo revirado, ou tivemos um casal se engalfinhando ou tinha algum animal ferido procurando por abrigo. — Bento comenta.

— Vou ficar de olho nisso. — Mathias diz. — É perigoso mesmo, mesmo que eu acredite que possa ser um casal festeiro, — ele me encarou erguendo a sobrancelha — melhor trancarmos o celeiro dos desavisados.

— Que milagre é esse eu ver tua cabeça pelada? — Bento se vira para mim.

Sorrio.

— Perdi meu chapéu ontem quando o cavalo ficou muito agitado. Logo compro outro. — me levanto terminando meu café, aquelas trocas de olhares já foram o suficiente para mim.

— E eu... — Miguel enfiou na boca o último pedaço de bolo — vou dar uma volta pelo Haras.

Vou até a entrada enfiando meus braços no casaco que estava no mancebo, assim como as luvas de couro.

— O que faremos?

Desvio o corpo encarando a porta da cozinha, Maria, Bento e Mathias estavam entretidos em uma conversa. Não sei se estavam totalmente focados ou apenas se fazendo de surdos para escutar nossa conversa.

— Dá para ser mais discreto? Eu vou conferir o cavalo que chegou ontem, e depois se quiser podemos cavalgar juntos.

Ele inclina a cabeça e inspira, sentindo meu perfume. — Adorei a ideia.

Maldito brucutu gostoso!

— Seja discreto.

Ele respira mais fundo e mordisca meu pescoço. — Por que não aceita logo minha oferta, esquentadinha, colocamos um fim nesse joguinho e podemos ver o que rola.

— Isso vai acabar mal — digo com a voz rouca. Era só questão de tempo, mas, dessa vez a culpa foi minha. Olhar para a boca de Miguel tão próxima à minha, eu queria aquele beijo, então peguei.

Meu coração martelava no peito com a sensação de poder ser pega, meu corpo e cada fio de cabelo gritava em minha mente: Brucutu!


Santiago tinha levado o cavalo para o redondel, mas ele estava tão arredio que poderia machucar ele e o ajudante que tentava segurar a rédea, ele empinava evitando qualquer tipo de aproximação.

— Vou ter que aplicar a injeção, ele vai ficar pior desse jeito.

— Espere. — digo subindo nas travas do redondel.

— Ele está muito arredio, pode machucar alguém ou até mesmo ele.

— Acho bom manter distância. — o ajudante de Santiago diz para Miguel.

— O que esse cavalo tem? Ele deveria estar grato por termos salvado ele ontem — escuto Miguel retrucar.

— Isso é o que ela pode descobrir. — Santiago comenta.

Ele corre pelo redondel dando coices nas paredes, respiro fundo pulando para dentro, parando no meio do cerco. Cada passo que dou em sua direção faz com que ele trote, evitando minha aproximação. Ele vem para cima de mim, parando perto, é a forma de dizer que me culpa, que culpa todos nós pelo que ele passou.

— Acho bom parar com isso, não tenho culpa do que ele fez com você, eu estava te salvando. — grito para ele.

Ele se arma novamente, erguendo-se nas patas traseiras, se fosse outra pessoa, com a proximidade que estávamos ele poderia fazer um estrago. Mas não me intimido, sei que ele não vai me machucar, quer apenas me amedrontar, quer me ensinar seus limites.

— Dandara, se afaste! — Santiago alerta.

Fico em silêncio encarando o cavalo.

Ele abaixa as patas, colocando a cabeça no meu ombro.

— Muito bem rapaz, isso mesmo, com calma. — retiro um petisco do bolso dando para ele. — Você vai se chamar Chuvisco.

— Ela conseguiu — escuto Miguel dizer.

— Deixa ele descansar, uma boa dose de ração e ele ficará bem. — Digo para Santiago. — Quando estiver curado começo a doma.

Vejo o ajudante dele receoso por chegar mais perto do cavalo.

— Ele não vai te atacar, é só não machucá-lo.

Ele confirma com um gesto, abrindo a porta para que Chuvisco passasse.


Trovoada está agitado em sua baia, ele sente falta quando não passeamos pela manhã.

— Estava esperando por isso, né? — pergunto enquanto acaricio sua crina. — Pronto para montar?

— Se você cavalgar como fez ontem comigo, acho que terei uma excelente manhã!

— Você não presta! — empurro seu peito, rindo — Pegue aquela rédea, Trovoada prefere montaria no pelo.

— Sem nenhuma proteção?

— Ele não vai te derrubar.

Monto Trovoada com Miguel, ele aperta meu quadril contra ele, seguimos pelo trieiro, eu aprecio o clima de pós-chuva. Atravesso o pequeno riacho rindo com Miguel apertando minha cintura com medo de cair do cavalo.

Desde que ele havia chegado no Haras estávamos em pé de guerra, como após uma chuva tudo mudou de maneira tão repentina? Credo! Isso era coisa da minha cabeça. Isso sim. Eu tinha que me focar em coisas mais importantes.

Paro perto das pedras, desço segurando as rédeas para que Miguel desça.

Dou um tapinha no dorso de Trovoada deixando-o cavalgar livre por aí.

— Ele vai voltar? — pergunta olhando para Trovoada trotando para longe.

— Sim, ele ama andar livre, todas as manhãs sento por aqui e ele fica cavalgando pelo campo.

Assim que termino de falar, aponto para a cachoeira à nossa frente. Os raios de sol refletem na água cristalina.

— Aqui é lindo.

Dou um sorrisinho de “eu sei”. Estávamos perto do morro, subindo daria para ter uma visão completa do Haras.

Estávamos em um silêncio confortável, Miguel brinca com a água com a ponta dos dedos, parece com o pensamento distante. Ele sai vindo ao meu encontro, um sorriso nos lábios, suas mãos vão de encontro à minha cintura, colando nossos corpos no meio da relva, aproximo meu rosto do seu, ele roça seu nariz no meu, minha respiração acelera. Sem conseguir conter, mordo o lábio inferior de leve e nos beijamos novamente.

Não tinha como me esquivar de algo tão forte.

— Miguel...

— Não, pare, não acabe com isso. — ele diz entre os beijos.

Sua língua explora minha boca como se eu pudesse desaparecer dali em um estalar de dedos, ele me beija como se isso pudesse me dizer algo. Havia entrega ali, em ambos, seus lábios descem por meu corpo, sua mão subindo minha blusa, fazendo meu corpo se arrepiar ao sentir a relva úmida tocar minha pele. Sua mão toca minha barriga, raspando as pontas dos dedos em meu seio, seu rosto esfrega a barba cerrada em minha pele, os pelos roçando contra minha barriga.

— É melhor voltarmos.

Miguel suspira de maneira audível. — Por que tem que estragar esse momento?

— Tenho coisas a fazer, um Haras sempre tem o que fazer.

Miguel não tenta me fazer mudar de ideia. Montamos em Trovoada para voltar, o silêncio nos acompanha até o Haras, assim que chegamos perto do estábulo Miguel pula do cavalo e quando me viro para falar com ele após colocar Trovoada na baia, ele não está mais ali.


CONTINUA

CAPÍTULO 16


Dandara

Uma semana, esse era o tempo que Miguel não dirigia a palavra a mim e muito menos eu iria procurá-lo. O silêncio pela casa era mais que bem-vindo!

Mathias, Maria e eu bebíamos nosso café puro quando ele apareceu na cozinha, a manhã estava fria, por isso adiei o passeio com Trovoada pelo campo para quando o tempo ruim desse uma trégua.

Enfio na boca o último pedaço de queijo branco de meu prato, tomando o resto do café.

— Maria, Mathias, bom dia — cumprimenta indo em direção a geladeira.

— Porra! Quem comeu meu queijo? — ele pragueja com a fuça enfiada entre as prateleiras da geladeira, fazendo Maria me olhar prepcupada e Mathias segurando o riso enquanto bebe seu café. Tudo que faço é dar de ombros, chupando as pontas dos dedos, nem um pouco arrependida. — Sumiu metade dele, e tenho certeza que ontem ele estava inteiro! — Miguel acrescenta fechando a coitada da geladeira com um baque.

— Olha só, era seu? Desculpe, eu comi — respondo na maior cara de pau.

Miguel me encara como uma carranca. — Mathias, preciso de um cavalo, estou querendo dar uma volta hoje!

— Tudo bem, posso preparar um cavalo para o senhor. — Mathias troca um olhar comigo.

— Acho que Bruto ainda está espirituoso como sempre. — digo. — Se quiser ter o traseiro jogado longe pode ir com ele.

Miguel me dá um olhar furioso. — É para agora, Mathias! — retruca saindo da cozinha.

Mathias se levanta, toma o último gole do café, — Dandara, está fazendo a vida desse homi um inferno. O coitado deve ta contando os dia para sumir por essa estrada à fora. — diz colocando o chapéu na cabeça.

— É bom mesmo que esteja. Tem sorte de eu ainda não ter cuspido no seu café — comento.

— Sei que odeia que metemos os bedelhos em coisa sua, mas os empregados estão receosos, os homi querem saber como vai ficar as coisas. Seu Miguel não veio aqui para deixar as coisas como estão, ele vai por tudo a baixo. — Mathias fala com cautela.

— Mathias, algum dia faltei com vocês? — questiono de maneira rude. Ele balança a cabeça de maneira negativa. — E isso não irá acontecer hoje. Avise seus homens que os empregos estão garantidos, nem que eu mesma banque os serviços deles.

— Pode deixar, Danda, desculpe a intromição.

— Mathias, somos família. Eu não vou falhar com vocês. — digo por fim.

Ele confirma, esboçando um sorriso em minha direção. — Santiago pediu para avisar que as vacinas chegam hoje.

— Estou ciente, assim que chegarem irei aplicar em todos. Não quero nenhum caso como a Archeron.

— Menina, a morte daquela égua não é culpa sua. — Maria diz.

— Eita , não quero prozear sobre isso, tenho trabalho me aguardando. — digo pondo meu chapéu na cabeça, seguindo para fora.


Sento debaixo de uma árvore olhando a cena. Miguel poderia tentar resgatar na mente os tempos de moleque, ele poderia até não ter nenhuma intimidade com os animais, mas pelo menos quando criança ainda conseguia montar um cavalo sem que ele tentasse morder sua coxa.

O Miguel da infância não está em nada parecido com o de agora, e não só pelo fato de ter emagrecido e ficado mais bonito, mas parece que Miguel tem ódio desse tipo de vida. Desde que chegou, olha tudo de cima, com cara de esnobe. Ele não tem vínculo com essa terra, ele não sente a importância que eu sinto quando vejo o sol raiando no horizonte, seus raios fortes iluminando essas terras.

Ele seguiu o caminho da cidade grande e eu o caminho dos bichos.

Mathias tenta ensiná-lo, mas ele parece muito com um cavalo xucro, surdo. Depois não quer ser chamado de mula. Levanto, limpando a parte traseira da calça com um espanar de mãos, me aproximando dos dois. — Mathias, vai conferir as coisas, deixa que eu cuido do brucutu.

— Não pedi sua ajuda. — Homi, mas mal agradecido!

— Não estou fazendo por você, e sim pelo cavalo, que não tem culpa do asno sentado em cima dele. — Miguel abre a boca para retrucar, mas mostro o dedo em riste — Você tem que aprender a ouvir, se segurar com força a sela, o cavalo vai entender que quer impor sua vontade e não vai deixar você cinco segundos sentado no lombo dele. Os cavalos farejam seus sentimentos de longe, ele sente quando você tem medo, raiva ou está confortável. Deixe a rédea frouxa.

— Você acha que eu desaprendi tudo que meu tio ensinou? — desafia.

— Acredito que sim, já que te salvei de vários tombos, se bem me lembro.

Ele me fulmina com o olhar. — Então vamos ver, esquentadinha. Pegue aquele cavalo mutante que você tem e vamos cavalgar por aí.

— Cavalo mutante?

— Você tem noção que ele é o dobro de um cavalo normal?

— Para sua informação a raça dele é Percheron. Ele é um ótimo reprodutor, por ser grande e forte nos dá potros com habilidades especiais para o campo. — Dou risada, vendo seus olhos se arregalarem quando o cavalo marcha para trás. — Tire os pés do estribo e, vá para trás.

Subo no cavalo com a destreza de sempre, ocupando seu lugar na cela. Eu conhecia os cavalos como a palma da minha mão aqui no Haras, por isso não tinha problemas com nenhum deles e sabia quando um deles queria fazer uma gracinha como nosso companheiro aqui.

Bato o pé no espaço entre a barriga e as patas traseiras, para que ele saia.

— Se você está pensando que vai ficar se esfregando em minha bunda, eu te jogo para fora do cavalo! Contenha suas mãos!

— Calma mulher estressada.

Tiro o chicote da bota acertando na bunda do cavalo e o animal sai em galope, soltando um relincho alto. Seguro o riso vendo que Miguel ficar tenso. — Gostando, brucutu? — Ele não responde.

Forço o cavalo ir mais além, sentindo a adrenalina do galope correr pelas minhas veias, sinto as mãos de Miguel segurarem minha cintura e o arrepio disso eriçar os pêlos de meu braço.

Cavalgamos um pouco pelo Haras indo até o campo aberto onde fico com Trovoada e voltamos para o Haras, parando no estábulo.

Desço do cavalo, colocando as mãos na cintura. — Gostou do passeio?

— Você queria se exibir.

— Não preciso me exibir para você. Já é um milagre que você tenha ficado em cima do cavalo enquanto estávamos cavalgando.

— Olha aqui, você se acha incrível, acreditou mesmo que eu precisava de você?

Gargalho com irônia. — Você não sabe nem ao menos como se monta num cavalo. É uma sorte que saiba onde fica o rabo e a cabeça.

— Você é mesmo muito...

— Muito?

Miguel se inclina, ficando mais perto de mim, quando seu rosto praticamente cola no meu, pude sentir sua respiração. O perfume exalava, eu tinha começado a odiar esse cheiro, cheiro que me tirou o sono nas últimas noites, mas senti-lo tão perto me embriagava. Antes que eu pudesse raciocinar, os lábios de Miguel grudaram nos meus. Os braços fortes rodeando minha cintura.

— Sua esquentadinha, está tentando o quê? — Parecia que ele estava falando mais consigo mesmo do que algo para mim.

Sua língua voltou a lamber o canto de minha boca, seus dedos apertando minha cintura, uma de suas mãos subiu por minha espinha.

Acaricio sua coxa, bem perto de seu membro.

— Vamos sair daqui — sussurra como um pedido. Suas mãos apertando minha bunda, passeando por todo meu corpo, da cintura até o pescoço. Ele beija minha boca com ferocidade, empurro seu peito sentindo os músculos firmes contra a palma de minhas mãos, descolando seu corpo do meu, vendo a malícia nos olhos de Miguel. — Por que parou? — pergunta.

Respiro fundo ainda olhando para ele, controlando a maluquice da qual acabo de me curvar...então, tenho uma ideia. — Espere um minuto, o Haras ainda está movimentado, vou checar se ninguém está por perto e trancar a porta. — digo de um jeito safado, bem parecido com o que Cindy fazia sempre que conhecia um homem de fora.

Ele passa a mão sobre o pênis por cima da calça, animado. Vou até lá fora, vendo que realmente não tinha ninguém por perto, puxo uma das portas travando-a no chão e repito o mesmo processo com a outra, mas antes de fechar e entrar como falei que faria, dou um tchauzinho para ele, fazendo seu sorriso desaparecer. Percebendo o que estava prestes a fazer.

— Agora sim você está no seu devido lugar, uma pena que não tenhamos nenhum curral para você nadar com seus amigos...porcos! — digo rapidamente.

Miguel corre ao meu encontro, mas antes que ele me alcance, fecho a porta passando a tranca.

— Dandara, abre isso daqui! — seus gritos se misturavam com os relinchos dos cavalos incomodados dentro do estábulo. — Dandara, sua caipira maldita!

— Desculpe, brucutu. Aproveite seu tempinho com os cavalos e limpe as baias deles, Deus sabe como temos quilos e quilos de esterco por dia. Qualquer coisa tem feno e água se sentir fome. Isso deve bastar para você.

Ele bate na porta, fazendo-a tremer, gritando pelo meu nome. Urrando de raiva por ter caido feito patinho em minha arrapuca.

Cruzo com Bento no caminho de volta ao casarão, girando as chaves do estábulo entre os dedos e rindo feito uma maluca.

— Gosto de vê-la animada, mas está com cara de quem aprontou.

— Que é isso, Bento! — me finjo de inocente.

Ele bate na aba do chapéu, não acreditando nem um pouco no que eu estava dizendo. — Mathias está com os cavalos, quase todos foram vacinados, ele ficou esperando ocê aparecer, mas preferiu dar logo. Ficou fartando apenas o último estábulo. — comenta indicando o estábulo que tranquei Miguel.

— Diga que farei aquele estábulo, estou dando um castigo em um cavalo xucro. Ignore os resmungos, o cavalo está dando coice em todas as paredes, já vi cavalo dificil, mas esse...logo domo também — digo colocando um enorme sorriso no rosto.

Bento olha ao nosso redor, como se procurasse alguém e eu sei quem está procurando.

— Dandara, Dandara...

— Fique calmo, por que não vamos tomar um café, quem sabe Maria fez aquele pão doce que tanto amo? — pergunto enlaçando meu braço no seu, levando-o para longe do estábulo onde Miguel estava, acredito eu, urrando de raiva pelo tremor que a porta fazia.


CAPÍTULO 17


Miguel

— Sua caipira insolente! Como eu sou burro!

Eu esmurro a porta que nem um doido, gritando tanto que sinto minha voz falhar e ninguém aparece por ali. Viro olhando para os cavalos que relicham, só me faltava esses bichos me atacarem.

— Abre a porta! — grito de novo. Ando pelo estábulo procurando uma outra saída, lembrando de suas palavras “Aproveite e limpe as baias” , que filha da mãe! Até parece que eu iria sujar minhas mãos limpando merda de cavalo.

O cavalo no qual demos uma volta antes dela me trancar aqui chega perto, me fazendo pular de susto. Ele se sacode, sua crina bate de um lado para outro e solta um pequeno relincho.

— É, aquela ali não presta!

Cômico! Agora eu estava conversando com um cavalo como se ele pudesse me entender. Eu torceria o pescoço de Dandara assim que me livrasse dali.


Não tinha noção de quanto tempo tinha se passado, sei que estava de saco cheio de ficar ali.

— Noite, brucutu. Como foi seu dia?

Fico de pé chegando perto da porta, eu mataria essa mulher! — Pare com essa brincadeira de mau gosto, me tira daqui!

— Pelo visto continua grosseiro e sem educação. Espero que não esteja maltratando meus animais, por que se estiver, não vai ficar apenas dois dias trancado aí.

Meu sangue ferve nas veias. — Dandara, estou te avisando, quando eu sair daqui...

— Chega de ameaças em vão, vou te tirar daí quando aprender sua lição.

Esmurro novamente a porta, escutando seu risinho e seus passos se afastarem, — Dandara, estou com fome!

— Coma feno, brucutu!

Os cavalos mal se importavam por estar ali com eles, nos primeiros minutos e até primeira hora eles ficavam espiando ou fungando em minha direção. Agora? Muitos nem ao menos me encaravam, olho novamente para o cavalo solto perto de mim, ele abocanhou um punhado de feno mastigando e quando repetiu o gesto despejou um pouco em minhas pernas, como se dissesse que era bom.

— Tá de brincadeira você também!

Empino o nariz, olhando na direção contrária. Mas volto a encará-lo quando ele vem para cima de mim despejando mais feno em minhas pernas, seu focinho se torce inteiro enquanto mastiga.

— Ei amigão, pode ser bom para você, mas isso daí é mato. E alguém já te ensinou a dar espaço as pessoas?

O cavalo relincha, dando as costas para mim, batendo seu rabo bem no meio do meu rosto. Me fazendo xingá-lo. Como se estar preso junto aos cavalos não fosse o suficiente, ou do fato de estar com frio também não fosse, ainda tinham os mosquitos que faziam seu banquete atacando minhas veias.

Minha barriga roncando, meu corpo coçando e eu fedendo a estrume de cavalo.


Os raios de sol atingindo meu rosto me fizeram apertar os olhos tentando ver quem estava entrando, se fosse Dandara eu daria uma palmadas em sua bunda.

— Miguel? — Mathias perguntou surpreso, tentando entender tudo que estava acontecendo, olhando para a bagunça que tinha feito nos blocos de feno ao tentar arrumar um jeito para dormir. — O que você está fazendo aqui?

— Pergunte para aquela caipira filha da mãe — digo bravo, ficando de pé, sentindo as costas reclamar pelo movimento brusco.

Ele dá uma gargalhada. Mas se adianta a falar: — Desculpe, Seu Miguel.

Meu corpo chia de dor a cada maldito movimento, preciso de um banho quente, comida e boas horas de sono. Quando me recuperar ela vai ver, eu vou colocar essa caipira em seu lugar!

Estou com esse pensamento até ver Dandara caminhando sorridente em direção ao casarão.

— Ah, sua potranca mal educada! É bom correr. — ameaço gritando.

As pessoas que estão perto de mim me olham assustadas, e devem mesmo, porque meu rosto não deve estar nada amigável. Dandara se vira, o sorriso sumindo do rosto ao me encarar e então ela corre, empurra Santiago para longe e corre como uma moleca travessa sendo pega na artimanha, entra correndo no casarão.

Corro tão rápido que logo estou fazendo a porta de madeira branca bater contra a parede e escuto Maria falando alto na cozinha:

— Menina, o que houve? Tá tentando tirar o pai da forca?

— Dandara! — grito novamente.

Entro na cozinha vendo-a atrás de Maria, como se eu tivesse receio de ir lá lhe dar umas boas palmadas!

— Pare de correr, será pior quando eu te pegar! — ameaço.

— Ei, não quero bagunça na minha cozinha! Dandara o que você aprontou com o homi ? — Maria bate com a colher de pau na bunda de Dandara que agora tenta se esquivar de mim e de Maria.

— Vai fazer o quê? Me bater? Agora bate em mulheres? Quero ver encostar a mão em mim!

— Não, nunca encostei em uma mulher, mas dizem que para tudo tem uma primeira vez. E minha mão está coçando — grito.

Dou a volta na mesa, Dandara corre para o outro lado, fazendo o banco cair e eu tropeçar ao tentar pulá-lo, caindo de quatro no meio da cozinha. Sua gargalhada alta, faz minha raiva ferver mais que panela de pressão no fogo. — Ria enquanto pode.

— Alguém pode parar esses dois? Eles irão destruir a casa! — Maria grita empunhando sua colher de madeira. — Estão parecendo duas crianças!

— Desculpe Maria, mas não vou me meter — escuto a voz de Mathias enquanto corro atrás de Dandara que vai para a sala. — Dandara prendeu o homi no estábulo, peguei ele dormindo de concha com os cavalos.

Maria me encara, a mão na boca tentando segurar o riso.

— Vai, pode rir. Quero ver se aquela filha da mãe vai continuar rindo da minha cara quando eu a pegar — bufo, com os olhos em Dandara.

Ela faz um movimento errado diminuindo nossa distância, pulo sobre o sofá, meus braços envolvem sua cintura, tirando seus pés do chão. Não penso duas vezes, jogo seu corpo em meu ombro, dando um tabefe em sua bunda.

— Me solta! — Dandara grita.

Ela bate em minhas costas, os socos doem, não é que a Diaba tinha uma força bruta?

— Como foi sua noite? A minha foi maravilhosa, tá sentindo meu cheiro? Quer ver a quantidade de picadas que tenho espalhadas pelo corpo? Acho que tenho feno até em parte que desconheço!

Dou mais alguns tabefes em sua bunda que a fazem gritar. Eu estava puto por ela ter me deixado ao relento no meio dos bichos. E ficando com tesão, isso mesmo, ter o corpo daquele Diaba tão perto, tão ao meu alcance. Seus seios roçando em minhas costas, estava fazendo meu pau ficar rigido como uma tora, maldita hora para uma ereção. Eu queria mesmo é vê-la de quatro enquanto castigava sua bunda por ter me deixado trancado junto dos cavalos, mas também saborear cada gemido que ela pudesse...

— Meu Deus, Seu Miguel, solte a menina! — Maria exclamou.

— Não antes de lhe dar uma lição! — digo.

— Seu Miguel, não me obrigue a usar a Betinha em ocês dois. — Maria alerta.

— Não estou brincando, brucutu! É bom me soltar! — Dandara urra em minhas costas.

Acerto um tapa mais forte, jogando seu corpo no sofá, prendendo seu corpo ali ao apoiar meu joelho de um lado e o braço ao lado de sua cabeça, vendo seus olhos se arregalarem por um pequeno instante, mas o suficiente para meu dar um gostinho doce na boca. — Você tem sorte que é mulher, mas eu poderia, como vingança, soltar aquele seu cavalo gigante que tanto ama... — digo de maneira perversa — Como você ficaria?

Dandara me empurra com força, ficando de pé. — Você nem pense em tocar no Trovoada, você me entendeu? — responde praticamente gritando.

— Seria excelente, quem sabe assim você aprende a respeitar as pessoas? — retruco segurando seu braço.

— Larga meu braço, Miguel!

— Você quer me enlouquecer, você vem, me atiça, me provoca...

— Você se aproveitou da situação! — retruca.

— Você não se faça de sonsa! — grudo seu corpo mais no meu — Adorou o que fiz com minha boca.

— Misericórdia! — o sussurro de Maria quase me tira o foco da diaba em minha frente.

— Eu odeio você, Miguel! — Dandara tinha ficado furiosa, mas confesso que não liguei para o que ela estava falando, só conseguia ver aqueles lábios se mexendo. Queria torcer seu pescoço, mas também queria fodê-la. Como essa mulher me tira do sério!

— Você quis tudo que aconteceu e tá querendo mais que eu sei.

Seguro um punhado de seu cabelo bem justo no pescoço roubando um beijo, mordo seu lábio nem me importando por ela reclamar ou tentar me empurrar. Dandara retribui meu beijo, até me afastar, empurrando meu peito, fazendo com que me desequilibrasse dando alguns passos para trás rindo.

Ela limpa a boca me olhando com raiva, cospe no chão e então corre escada acima.

— Minha mãe dizia que muito ódio vira amor. — Maria retruca.

Viro vendo que Mathias e Maria ainda assistiam nosso pequeno showzinho. — Dela quero distância — digo marchando para meu quarto.


CAPÍTULO 18


Dandara

Bato a porta fazendo as coisas estremecerem dentro do quarto. Maldito brucutu! Arranco minhas roupas jogando-as no cesto perto do banheiro, ligo o chuveiro bem quente, quente o suficiente para que ao tocar em minha pele pudesse queimar o toque daquele... Engulo os pensamentos raivosos que passam por minha mente esfregando meus braços, meu pescoço, qualquer lugar que ele tivesse encostado, na tentativa de tirar o cheiro dele. Ainda não conseguia acreditar na petulância daquele brucutu. Miguel realmente não tinha amor pela vida.

Confesso que deixá-lo ao relento não foi algo muito sensível de minha parte, mas ele mereceu e, vai merecer cada pisão em seu pé a partir de hoje.

Bater na minha bunda e me tascar um beijo na frente de todos? Quem ele pensa que sou? Enquanto terminava meu banho pensava em mil maneiras de me vingar, mas acabei descartando todas, eu é que não desceria ao nível infantil dele, minha melhor vingança seria chutar a bunda dele para fora do meu Haras quando tudo acabasse.

Visto um short e uma camiseta puída e chinelos, melhor me ocupar dando banho nos animais do que cruzando meu caminho com certas mulas por aí. Atravesso o Haras em silêncio evitando falar com qualquer um que cruze meu caminho.


Agradeço pelo trabalho parecer não ter fim e os músculos espalhados pelo meu corpo começarem a protestar do esforço feito, passar o tempo no meio dos cavalos me acalmava e me fazia esquecer por alguns instantes minha vontade assassina contra Miguel. Mas amanhã mesmo eu ligarei para o advogado, não dá para continuar assim, mais dia ou menos dia e eu mataria Miguel. Que ideia absurda de Pedro me colocar nessa enrascada.

Já era noite quando paro fecho a última baia. Trovoada relincha animado após o banho, sacudindo a cabeça e sua longa crina.

— Teve um dia melhor que o meu, né, bonitão?

Saio do estábulo trancando as portas, todos os funcionários já tinham ido embora, caminho observando a noite, as estrelas e a lua cheia brilhando forte no céu, o som dos grilos cantando no meio do pasto.

Entro no casarão, tiro o chapéu, deixando-o no mancebo de madeira. Tudo estava em completo silêncio, poucas luzes acesas indicando que até a Maria tinha se recolhido.

Passo pelo quarto do brucutu vendo a luz está acesa sair pela pequena fresta da porta, estava prestes a entrar em meu quarto quando escuto uma porta atrás de mim se abrindo.

— Esquentadinha!

Viro, vendo-o só de cueca box, o corpo todo amostra.

— Não dirija a palavra para mim!

— Eu disse hoje cedo que tinha contas a acertar, você acha que seu showzinho me botou medo? — questiona vindo em minha direção.

— Se colocar as mãos em mim é bom começar a rezar para sair com ela no lugar!

— Não tenho medo de suas ameaças vazias — retruca.

— Vazias serão as suas bolas quando eu chutar para longe. — ameaço

— Você acha que vai me enlouquecer? — pergunta vindo em minha direção — Acredita mesmo que vou cair nos seus truques?

— Truques? — Gargalho alto — Não sou eu que fico agarrando você para roubar beijos.

— Vai dizer que não gostou?

— Já percebi que gosta de brincar com fogo! — desafio — Cadê toda aquela falamansa que andou esbravejando por aí? Homi metido a machão, não consegue parar de encarar para minha boca enquanto eu falo. Tudo isso é desejo?

— Não me torno frouxo por ter você na minha mente, me torno se não conseguir tirar, — Miguel dá mais dois passos em minha direção — e isso eu sei como fazer.

— Você pensa que me leva fácil, né?

— Você gosta de mexer com os homens, “se sente” fazendo isso...

— Eu não sou de quem me quer, sou de quem eu quero ser, e faço porque posso. — respondo dando um sorrisinho.

Miguel puxa meu corpo para o seu, fechando a porta com o pé, sua boca mordendo a minha enquanto distribuo tapas sobre seus ombros, costas, todo lugar que minhas mãos alcançam. Mas seu beijo furioso vai desarmando meu corpo, principalmente quando solta minha boca beijando de leve e devagar meu pescoço, rindo contra minha pele que se arrepia com seu toque, acabando com qualquer defesa minha. Não tinha gentileza no toque, havia desejo e prazer, junto de uma pessoa que queria provar seu argumento.

As mãos de Miguel ergueram meu corpo, sua língua forçando minha boca a se abrir ainda mais. Eu meio que empurro, e volto a puxar seu corpo para o meu. Precisei inspirar profundamente algumas vezes quando sua boca tomou o pequeno vão entre meus seios, sua lingua quente tocando minha pele fazia meus mamilos endurecerem e meu corpo querer mais. Sentir a proeminência em sua cueca também não ajudou muito meus pensamentos entrarem num bom senso.

Não era correto eu me render ao seu toque, não quando tinha aberto minha matraca falando que não me entregaria numa bandeja para ele, mas que diacho! Mordo seu lábio inferior, empurrando seu corpo para longe, tentando controlar a respiração. — Chega!

— Por que parar agora? — questiona agarrando novamente minha cintura.

— Eu disse chega, Miguel!

Suas mãos continuaram apertando com firmeza minha nuca, seus olhos mostravam que não estava disposto a me deixar em paz, que não sairia de meu quarto com aquela decisão fraca com a qual eu tentava me agarrar.

— Chega nada, não para mim e com certeza não para você. Eu sinto seu corpo vibrando em minhas mãos, Dandara.

Não arrisco olhar para ele, com medo que ceda aos meus instintos. Ele segura meu braço, olhando no fundo de meus olhos.

— Eu quero você, Dandara!

— Você quer me passar para trás, quer ter motivo para fazer chacota, quer o Haras, não é porque fui criada no meio do mato que não conheço homens como você, Miguel!

— Cala um pouco a boca, esquentadinha!

Abro os lábios para retrucar, mas é tarde. Ele pega meus braços, me empurrando contra meu armário, meu corpo inteiro treme com o calor do toque, ele tira a barra de minha camiseta de dentro do short, traçando livremente pelo meu corpo até meu seio. Miguel me vira de costas, mordendo meu pescoço, o corpo colado no meu, e acaba abrindo meu sutiã. Segurando meus seios, massageando-os nas mãos, beliscando meus mamilos sedentos por atenção. Roço minha bunda contra seu membro rigído na cueca, fazendo com que ambos gemêssemos.

Miguel continua acariciando meu corpo, mordendo e chupando meu pescoço. — Quero você, aqui e agora. — ele arranca minha camisa pela cabeça, fazendo a mesma coisa com meu sutiã, chupando meus seios, sugando-os até que eu não pudesse conter mais meus gemidos de prazer. Meu sexo pulsa, até dolorosamente quando a pressão do prazer explode em certas áreas.

É errado continuar com isso? Puxá-lo par mim, desejando seu corpo, respiro profundamente tentando encontrar a raiva que me alimentava horas atrás, mas só encontro o desejo.

Miguel conduz nossos corpos para a cama, arrancando o resto de nossas roupas, assim como o preservativo escondido no cós da cueca, em um segundo estava entre minhas pernas, sua mão agarrando meu cabelo, sua boca mordendo meu queixo.

Segurando meus seios com as duas mãos, apertando e puxando os bicos, lambendo minha barriga, minha cintura, roçando a barba pela minha pele, deixando-a rosada e eriçada. Um gemido explodiu de mim quando sua língua encontrou meu clitóris, seguro firme o lençol querendo tremer com o que ele fazia em minha intimidade, sua boca não me dava misericórdia alguma, sua língua muito menos. Quando seu dedo me invadiu, minhas costas se curvaram e o gemido saiu mais alto, fazendo eu ganhar um tapa na bunda.

— Desculpa, esquentadinha, mas teremos tempo para fazer amor em outro momento, agora, eu quero que seja rápido, que queime esse fogo dentro de mim.

Miguel desenrola o preservativo em seu membro, nunca tirando pelo menos uma de suas mãos do meu corpo, seus dedos tocam meu sexo, me fazendo arfar. Chupo os dedos que me tocam, vendo Miguel mordiscar o lábio e sorrir. Seu pau encaixado em minha entrada, deslizando de maneira lenta, começo a rebolar, fazendo seu membro se remexer dentro de mim.

Enquanto eu rebolo, Miguel segura meus cabelos de forma bruta, aumentando o ritmo dos movimentos, entrando e saindo de dentro de mim, segurando minha cintura com a mão livre fazendo seu membro ir mais fundo, meu corpo treme e Miguel geme alto.

Estavamos nos devorando, caricias eram feitas pelo nossos corpos ondulando juntos, enquanto eu consumia cada gemido e estocada que Miguel produzia.

Aperto os lençóis entre os dedos, seguro seu pescoço com firmeza quando ele encaixa a boca sobre meu seio, montando em seu colo, sentando com força sobre ele, gostando do modo como ele geme e descola a boca de meu mamilo, jogando a cabeça para trás rendido.

— Puta que pariu, você é deliciosa! — diz baixinho contra meu pescoço.

As estocadas duras fazem meu corpo tremer, meus seios balançam com o ritmo forte do sexo que fazemos. Ele geme agarrado em minha cintura, forçando meu corpo para baixo, quebrando as últimas barreiras, me fazendo gozar. Miguel ainda mantém o ritmo por algumas estocadas até que goza, seu membro latejando dentro de mim, se misturando com nosso suor, os tremores do meu corpo e do seu e as batidas descompassadas dentro do meu peito.


Quando eu estou envolvida em seus braços

O mundo todo apenas desaparece

A única coisa que escuto é

o bater de seu coração.


Porque posso ouvir sua respiração

Está se derramando sobre mim

E de repente estou me desfazendo dentro de você

(Breathe, Faith Hill)


Arre égua , estou perdida...

Levanto com um sobressalto e empurro para longe o braço forte que rodeia meus seios, tentando soltar meu corpo. Parece que os braços dele tinham se tornado uma braçadeira de ferro, o jeito foi sair me rastejando pela cama como uma cobra, até que eu caísse de bunda no chão.

Pego uma muda de roupa e corro para o banheiro, tomo um banho rápido, não parando nem para secar o cabelo, apenas escovo e deixo solto pelas costas. Não é que eu não queira encarar a asneira que tinha feito noite passada, mas...bem, era isso mesmo, não queria dar de cara com Miguel, por isso levantei mais cedo que até o próprio sol e me esgueirei para fora do quarto com as botas nas mãos.

— Fugindo de alguém, menina?

Pulo tampando a boca para que meu grito de susto não faça eco pelo corredor escuro.

— Cristo pai, você quer me matar do coração, Bento? — questiono sentindo os batimentos acelerados contra o peito.

— Desculpe, mas estava saindo do quarto como quem escondia um cadáver, devo me preocupar? — pergunta encarando a porta que eu havia acabado de fechar.

— Deixe de besteira homem, só tive uma noite ruim.

Bento coça a cabeça com a bengala velha. — Arra, por falar em noite ruim, tinha algum animal sofrendo ontem, Maria e eu mal pegamos no sono, parou de sofrer era já tantas da madrugada.

Engulo em seco, será que tínhamos feito tanto barulho assim?

— Vou ficar de olho nos arredores, tenha um bom dia, Bento.

Escuto o riso baixo dele enquanto caminho pelo corredor. — Bom dia, menina.

O dia não tinha se levantado, mas mesmo assim entro no estábulo para conferir como estão os animais. Reponho água e feno, depois me dirijo á baia de Trovoada, ele vira a cabeça não querendo olhar para mim.

— Qual é, amigão, está bravo comigo?

Ele me encara, dando uma fungada balaçando a cabeça como se confirmasse.

— Que tal recompensar isso com com uma corrida?

Ele relincha ainda evitando me olhar, eu conheço o jogo dele, Trovoada é um menino mimado, e a culpa é toda minha.

— Tudo bem então, já que não quer mais minha companhia...

Ele relincha mais alto, levantando as patas da frente. Fazendos os outros cavalos reclamarem.

— Você é um garotão mimado! — brinco, pulando a portinhola da baia, subindo diretamente no pelo, me agarrando ao seu pescoço. — Vamos ver o sol nascer.


Ficar perto dos cavalos ou montar em Trovoada é como respirar, algo tão natural, acredito que eu aprendi a montar antes mesmo de andar.

Saímos em direção ao campo aberto, ganhando velocidade a cada passada, sentindo o vento frio da madrugada ir contra nós. Eu precisava limpar minha mente, precisava tirar Miguel e a noite de ontem da mente, precisava tirar essa distração total, ainda não sabia o que pensar sobre essa história de Miguel conseguir meu Haras, o que faria com as famílias e funcionários que dependiam dos seus empregos? O que faria com os cavalos? Para onde eu iria com Trovoada? Aqui sempre fora meu lar, foi meu lar quando minha mãe faleceu, foi meu lar quando meu pai morreu em um torneio de rodeio.

O Haras é meu santuário, minha casa, eu aprendi a escrever no lombo de um cavalo, fiz desenhos nas paredes do antigo celeiro, aquilo era meu refúgio...

Volto para o Haras depois de admirar o sol nascendo, em alguns dias começaria o outono e o frio ocuparia as noites, o que me fazia sair pelos campos ajudando os cavalos que podem se perder ou sofrer com as chuvas repentinas.

Vou até o escritório respirando fundo, ao sentar em minha cadeira, tiro o chapéu, deixando-o sobre a mesa.

— Entre — respondo à batida na porta.

— Dandara, bom dia.

— Daniel, estava mesmo esperando por você. Sente-se.

— Em que posso ajudá-la?

— Quero saber mais sobre o Haras, por que Pedro deixou o Haras com Miguel, ele conhecia o sobrinho, nunca teve interesse por nada, mal sabe a diferença entre a crina e o rabo dos cavalos. Porque deixar o Haras nas mãos dele? — solto tudo de uma vez, expondo minha irritação, minha indignação. — Você me conhece desde menina, Daniel, eu ensinei sua neta a montar, eu cuido desse Haras como se fosse meu filho. Deixei as competições para administrar tudo isso quando Pedro descobriu a doença, abdiquei minha carreira para dar minha vida ao sonho dele.

Sinto as lágrimas forrando a parte debaixo dos meus olhos.

— Quando ele desejou implantar o projeto fui eu quem o apoiou, eu que contratei os profissionais, saí em busca de patrocinadores, tenho mais de trezentas crianças se benificiando do projeto. Temos selos e premiações.

— Eu sei de tudo isso Dandara, mas não cabe a mim dizer os motivos que influenciaram Pedro a tomar essa atitude. Ele escreveu uma carta, uma carta para você e Miguel, que só poderá ser lida após a decisão ser tomada.

— Uma carta? E você não me comunicou antes por quê?

— Dandara, como disse, isso não está em minhas mãos. Pedro deixou ordens explícitas.

— Arre égua , uma bosta a essas ordens!

Bufo, tentando controlar minha irritação.

— O único conselho que eu posso dar é: mostre ao Miguel o quão bem o Haras faz, mostre seu amor por tudo que você e Pedro criaram nesses anos. Faça-o não vender o Haras, até mesmo unindo os dois planos, por que não?

— HÁ HÁ, transformar meu Haras em um hotel de luxo para madames enfrescuradas? Quando um cavalo cagar nos pés delas quero ver quantas estrelas sobrará. É de pessoas como Miguel que eu sempre fugi esses anos, não quero o dinheiro de quem vê meus cavalos como um pedaço gigante de bife passeando por aí.

— Tente ao menos resgatar o amor que Miguel tinha na infância. — Daniel aconselha.

— Por Cristo, Daniel. Pedro estava maluco no final dos seus dias. Ele acreditou mesmo que os chiliques na infância de Miguel era por mais tempo com os animais? O menino gritava se um porco grunhice em sua direção. A última vez que pisou no Haras fez uma estripulia soltando metade dos cavalos das baias. Foi um Deus nos acuda até recuperarmos tudo.

Daniel segura o riso, ajeitando melhor a postura na cadeira.

— Quer que eu conte a vez que soltou uma bombinha estampido no meio do pasto? Pedro saiu atrás dele na base do chicote.

— Vou dizer a mesma coisa para você como diria para Miguel: não posso intervir, a questão não é uma briga de foices. É vocês conversarem o que é melhor para o Haras...

— Ele irá vender tudo, demolir tudo, sabe quantas pessoas tenho trabalhando aqui? Quantas famílias envolvidas? Imagina todos os dias você se levantar e as pessoas te encararem com perguntas nos olhos, meus funcionários não sabem como será o amanhã. Nem se terão o salário no mês que vem — resmungo — É com isso que lido.

— Miguel fez uma proposta, ele quitaria as dívidas que o Haras tem, e fez uma consulta com as fazendas de corte e o Haras vizinhos para a possibilidade de vender os cavalos. Acredito eu que queria sondar o terreno para saber o valor de um manga-larga.

Levanto enfurecida, batendo as palmas das mãos na mesa. — Ele quer levar uma chicotada!

— Dandara! — exclama.

— Ele que tente encostar em meus cavalos, ele que tente... Arre égua!

— Quando o assistente de Miguel entrou em contato comigo deixou bem explicíto que o único que ficaria fora desse pequeno inventário seria o Trovoada.

Arqueio a sobrancelha — E isso alivia minha vontade de matá-lo? Ah claro, ele foi gentil em não vender um cavalo que foi presente de meu pai!

Eu estava soltando fogo pelas ventas, o filho duma égua teve coragem de agir pelas minhas costas e depois vem com sua falamansa e me leva pra cama. Eu sou muito burra mesmo!

— Bem, Dandara. De todas as formas, se vocês não chegarem a um acordo, se você não aceitar vender sua parte para ele ou se não conseguir pagar a dívida, automaticamente o Haras entra em um processo e se ele tiver a possibilidade, vai acabar nas mãos de Miguel. Se isso não ocorrer, de qualquer forma, assim que o tempo imposto pelo Seu Pedro acabar, o Haras entrará num processo onde quem terá o poder de decisão é a justiça. Isso pode envolver até mesmo leilão, por conta das dívidas.

— Então é: corre pro mato ou corre pro morro. — suspiro.

— A maneira de todos saírem satisfeito é vocês tentarem resolver isso amigavelmente.

— Tudo bem, obrigada pelo seu tempo doutor.

Ele concorda com um gesto, levantando-se. — Fique bem.

— O senhor também.

Acompanho o advogado para fora, fechando a porta atrás de mim. Caminho até o espaço para equitação, vendo os montadores treinando.

— Dandara!

Abaixo um pouco a aba do chapéu fazendo sombra para o sol forte da manhã. Carolina vem calvagando em minha direção, acenando. — Bom dia!

— Preciso da sua ajuda, sinto Damião entrando errado nos obstáculos.

— Dá uma volta para eu observá-lo — digo pulando a cerca.

Carolina trota se afastando, fazendo semicírculos para aquecer o cavalo, passa pelos primeiros obstáculos e vejo que Damião está com uma passada errada, as pernas de dentro estão trotando mais longas que as de fora. É preciso equilibrar o lado que ele está tendo maior dificuldade. Carolina também anda forçando demais no elevado, a conexão entre eles também estava meio mexida, isso acontecia com cavaleiros que entravam na época de competição, tinham muita pressão e sentimentos misturados e acabam passando para os animais.

— Bom dia, esquentadinha, tinha espinhos na cama essa manhã? — Miguel agarra minha cintura e beija meu pescoço. Me esquivo com um sorrisinho, ainda com raiva por ele ter agido pelas minhas costas.

Seu olhar malicioso mexe comigo. O desgraçado sabe que venceu ontem!

— Levanto antes mesmo do sol, coisa de caipira. — me atrevo a desafiá-lo.

Miguel sorri abaixando a cabeça, ainda me olhando. — Confesso que tive uma noite excelente. Poderíamos repetir nossa conversa hoje a noite, o que acha?

— Poderíamos, mas não vamos, tenho mais o que fazer. E nada mudou.

Miguel me encara surpreso, — O que eu fiz? Acordou azeda como um limão, você não cansa de distribuir coices?

Nós estavamos em um maldito pé de guerra e tudo que eu conseguia me lembrar quando encarava os olhos castanhos de Miguel é onde sua maldita boca esteve ontem a noite. E eu excitada por cada gesto que aquele brucutu fez! Deveria dar um tapa em mim mesma!

— Que tal darmos uma volta? Você poderia me mostrar a região.

— Claro, tem algo que ficou de fora de seu inventário? — mordo a língua por ter falado disso.

Miguel fica surpreso, mas logo se afasta de um passo, confirmando o que Daniel tinha dito mais cedo, ele realmente agiu pelas minnhas costas.

— Dandara...

— Cala a boca, brucutu! Se não quer ver a cara enfiada no esterco de cavalo, fique quieto!

Viro sinalizando para Carolina se aproximar.

— Teremos que trabalhar algumas coisas em vocês dois. Faça uma pausa, eu vou preparar o redondel.

— Ok, obrigada Dandara.

Sorrio pulando o cercado novamente, ignorando Miguel que me seguia como uma sombra.

— Não cometi nenhum crime, Dandara.

Reviro os olhos, caminhando para longe.

— Você está sendo teimosa, poderíamos resolver isso de outro jeito, quem sabe unir o útil ao agradável.

Viro fazendo-o parar quase tropeçando em mim. — Diga brucutu, qual sua excelente ideia? Já recebeu oferta pelos meus cavalos? Ah, muito obrigada por deixar Trovoada de fora, foi uma gentileza imensa, já que não quis vender também um presente de meu pai.

Sinto que estou quase gritando.

— Eu não venderia seu cavalo, vejo o amor que sente por ele. Posso não ser um especialista ou não gostar das mesmas coisas que você, mas não quero mal aos bichos.

— Não quer o mal deles? — Sinto minhas bochechas pegando fogo, Miguel mesmo mantém uma certa distância de mim. — Sabe qual a diferença entre um cavalo para lidar com o gado e um cavalo de montaria e competição?

Ele dá de ombros.

— Exato, se não sabe essa imensa diferença e mesmo assim foi oferecer meus cavalos para donos de fazenda de corte. Você com certeza não quer o bem deles. Jumento! — disparo a falar.— Mas tenho uma solução, vá embora, se não quer o mal deles, vá. Ou está esperando a foda de despedida? Quer ir para o celeiro desativado? — pergunto desatando o nó da minha camisa xadrez fazendo ela revelar minha blusa curta.

— Deixe de ser ridícula! — ele grita, chamando atenção das pessoas que passam por nós.

— Não sei onde Pedro estava com a cabeça, ele só poderia estar alucinando quando decidiu deixar meu Haras para você! — Vejo o olhar irritado de Miguel, mas não deixo que fale. — Tenho muito trabalho a ser feito, se puder pelo menos não atrapalhar, eu agradeço.

Estava pronta para deixá-lo parado sozinho quando vejo Cindy galopando em minha direção. Era hoje, definitivamente eu mataria um.

Ela se aproxima com o sorriso mais falso que nota de três reais, diminuindo o galope, parando o cavalo perto da cerca e desce, balançando a mão em nossa direção. — Dandara! Era você mesmo que queria encontrar!

— Só me faltava essa — sussurro. — Acho que errou, sua prenda está bem na minha frente — digo com um sorriso cínico nos lábios.

— Forasteiro, desculpe não ter vindo mais cedo, vejo que ficou totalmente curado do ataque de fúria de Dandara.

Miguel sorri, deixando que a oferecida lhe agarrasse o pescoço dando um beijo bem perto de sua boca.

Maria trepadeira! — penso com raiva.

— Estou bem sim, que surpresa boa vê-la aqui. Estava agora mesmo comentando com Dandara que queria dar uma volta pela região.

Cindy sorri animada. — Então encontrou sua companhia, faço questão de ir com você.

Miguel me encara vendo minha cara de poucos amigos. E mesmo que eu tente disfarçar meu ódio por Cindy, ele se aproveita da situação. Segura na cintura fina da trepadeira, abrindo um amplo sorriso. — Podemos dividir o mesmo cavalo, eu não estou acostumado a montar sozinho.

— Ihaaaahhh, mas é claro! — ela diz animada. — Ah, Dandara, eu soube que está preparando uma competição aqui no Haras.

Miguel me encara curioso, até mesmo me fuzilando com os olhos.

— Sim, é para angariar fundo para o Haras, mas como soube?

— Matheus, ele me contou — diz com um sorriso. — Logo pensei, o que seria excelente senão competir? As regionais estão chegando e eu e Milu precisamos estar preparadas, você poderia dar uma olhada nela, estou achando que ela está de TPM — diz abaixando o tom de voz na última parte como se tivéssemos dividindo um segredo. — E você como antiga competidora sabe como é importante o cavalo estar bem. Fico orgulhosa que abandonou os pódios e se dedica cuidando de minha égua.

— Claro. Dou uma olhada.

— Perfeito, — ela empurra a rédea para mim, enlaçando ainda mais seu corpo em Miguel — vamos forasteiro?

— Claro. Irei pedir para Mathias selar um cavalo. — Miguel responde me encarando.

Maldito Brucutu, maldita Maria trepadeira!


CAPÍTULO 19


Dandara

— Tá falando sozinha, Dandara?

Pulo de susto, percebendo que estava resmungando alto. — Ocê tem sorte de não ter tomado uma chicotada — digo arrumando o chicote na lateral de minha bota.

— Que bicho lhe mordeu? — Mathias questiona.

— Picão, um bicho desgramento que gruda na pele da gente sugando nosso sangue.

Mathias ri, me entregando as coisas para selar Bruto. — Que bom então que não é um do tamanho de um homi , que chegou recentemente na cidade. — diz tirando sarro.

Encaro Mathias, revirando os olhos, para que notasse que não estava sendo um bom momento para brincadeiras.

— Ah, Danda, deixa disso. Pode ter enganado Bento e Maria com essa história de bicho sofrendo pelo mato, mas eu sei o que faz aquele esganiçado todo dentro de um quarto.

— Ocê não tem amor aos dentes, não? — bufo.

— Ô se tenho, como acha que consegui os meus uivos? Tudo na beleza do sorriso — Mathias caçoa abrindo um sorriso de cavalo para mim.

— Arra , não torre minha paciência!

— Mudando de proza , achei que já tinha acabado com a doma do Bruto.

— Sim, ele está pronto para ficar com os outros. Mas hoje eu quero que prepare a pista para três tambores.

Mathias abre um enorme sorriso, — Irá competir novamente? Que alegria garota!

— Ainda não, vou só matar a saudade.

— Pois deveria. — Mathias aperta a sela, conferindo se está tudo bem preso.

— Faz tanto tempo que não penso nisso Mathias, deixei as competições para trás quando assumi a responsabilidade do Haras.

— Arra, e isso não mudará. Você cuida desse Haras mais que de si mesma, eu lembro do primeiro dia que cheguei aqui e vi você cavalgando. — Mathias sorri ajeitando o chapéu na cabeça — Devia ter uns dez anos, lembro que parei perto do cercado olhando, você tinha tanta conexão com o cavalo, tinha tanto talento, mesmo naquela idade.

Sorrio lembrando da minha primeira competição.

— Todos sabemos o duro que está dando para manter tudo sob controle, até mesmo antes da morte do Seu Pedro.

— Quem sabe eu possa tentar — digo.

— Será um excelente começo.


Bruto raspa a pata pelo chão, como se ele próprio se aquecesse. Quando Bruto chegou no Haras era apenas um cavalo maltratado e ferido, abandonado pelo antigo dono para morrer ao relento. Foi numa noite de chuva intensa que o encontrei caminhando com dificuldade nos arredores do Haras. Demorou meses para que ele sequer deixar que eu me aproximar dele, estava tão ferido internamente em sua confiança com os humanos que só de ver um já se armava dando coices.

A doma nunca foi uma coisa tranquila com ele, ficava feliz só por não levar uma mordida. Mas eu o entendia, foi ferido por acreditar em um humano, sua defesa natural era expulsar quem quer que tentasse se aproximar.

— Sei que você gosta de correr, vejo como seus olhos brilham quando fica livre — sussurro passando a mão em sua crina.

Ele raspa a pata no chão, emitindo relinchos e baforadas baixas, ele aprovava o que eu estava falando, assim como o fato de suas narinas estarem dilatadas e as orelhas eretas para frente significava que prestava atenção ao que eu dizia.

— Quero propor algo diferente para nós. Se você gostar, podemos pensar em fazer isso mais vezes. — Tiro o chicote com calma da bota, ele fica desconfiado. — Isso será necessário entre nós?

Bruto relincha, marchando para trás, sacodindo a cabeça. Jogo o instrumento para longe. — Quero que você corra quando for necessário, quero que sinta a terra tocando forte suas patas e o vento traga a liberdade que isso vai lhe trazer. Mas para isso precisa obedecer fielmente meu comando.

Estralo os lábios indicando para que ande, faço todo o circuito no trote, deixando que ele receba meus comandos, deixando que veja como será.

A competição dos três tambores é simples, você precisa fazer uma saída com explosão antes de cruzar pelos sensores. Uma prova de três tambores clássica é de oito metros até o primeiro, depois vinte e sete e meio até o segundo tambor e trinta e dois metros até o terceiro. E então, a reta final, onde exige mais dos cavalos e das amazonas, era esforço máximo pelo melhor tempo. Se tudo for executado com perfeição e sem derrubar nenhum dos tambores, você poderia ganhar alguma posição boa.

Existem pessoas que gostam do silêncio, silenciam tudo ao seu redor, se concentrando apenas na sua própria respiração e de seu cavalo. Eu gosto de ouvir tudo.


— Não foi um tempo ruim para quem está parada por anos. — Mathias comemora pendurado na cerca.

— Quanto?

— Dezessete segundos e meio.

Desço do cavalo acariciando a testa dele. — Esse garoto nasceu para isso.

— Dei uma examinada na égua da Cindy, ela está machucada pelas esporas, sua barriga está toda marcada e além disso, queria que desse uma olhada no freio, acho que tem algo errado.

— Odeio quando vejo animais sofrendo pela imprudência de seus donos.

— Também não gosto, pena que o pai de Cindy não pense assim e deixa aquela garota maluca usar os animais como enfeites.

— Nem me lembre disso — retruco.


CAPÍTULO 20


Miguel

Logo após fazer sexo com Dandara fiquei perdido olhando-a dormir por alguns instantes, aquilo, esses tempos no Haras têm sido os mais malucos que já tive. Aquela esquentadinha está mexendo comigo, ela está me atormentando desde que pisei no Haras, fazendo meus dias e noite incertos, mas a mulher deitada no meu braço, dormindo tranquilamente, livre de todas as caretas e muros que impõe me faz querer seguir outro rumo. Eu tenho vontade de puxar seu corpo contra o meu, encaixá-la em meu pênis e fazer tudo de novo, agora sem pressa, absorvendo tudo, cada gemido que ela faz. Mas acabei adormecendo enroscado em seu corpo ao contemplar seu rosto enquanto dorme.

E quando o dia seguinte chegou, me deparei com a cama vazia, ela saíra de fininho para não me enfrentar quando acordasse. Abro a porta, verificando se o caminho está livre e quando confirmo que sim, retorno ao meu quarto, trancando a porta depois de entrar.

Tomo um banho rápido vestindo algo mais leve para o dia quente que faz do lado de fora, fazendo uma anotação mental: ar condicionado em todos os cantos, pelo amor de Deus, como é quente isso daqui! Pego os óculos escuros colocando-os no topo da cabeça e desço correndo a escada em direção à cozinha.

— Bom dia, Maria — cumprimento a senhora, ela me olha meio espantada o que me faz questionar se eu não estava sendo educado o suficiente com as pessoas dali. Mas também, com a noite anterior que tive, meu humor está perfeito nesta manhã. — Por acaso você viu a...

— A menina está embrenhada pelo Haras como sempre, Seu Miguel.

Pego uma laranja, descascando-a. — Vocês sempre começam o dia antes mesmo do sol?

— Sim, a menina é que acorda o galo e não o contrário.

Sorrio jogando as cascas fora. — Em São Paulo também acordamos, mas confesso que ser dono do próprio negócio tem suas vantagens.

Saio pela porta lateral da cozinha roubando um chapéu preto na varanda, brincando ao colocá-lo em minha cabeça, até que não tinha ficado ruim. Deixo de lado ao ver Dandara perto de um dos cercados sorrindo como uma menina ao ver os cavalos.

Lembro-me de poucos momentos vividos aqui, mas o que eu com certeza consigo recordar é dela, mesmo muito diferente da época que erámos crianças. Dandara sempre foi apaixonada por isso, era raro vê-la vestindo sapatos e quando estava, eram botas. Era mais raro ainda ver a menina fazendo outra coisa do que estar perto dos bichos.

— Bom dia, esquentadinha, tinha espinhos na cama essa manhã?

Agarro a cintura de Dandara, lembrando de nossa noite, gostando do cheiro dela.

— Levanto antes mesmo do sol, coisa de caipira.

Pelo tom de voz afiado, já estava mordendo os cotovelos.

Sorrio dando um beijo suave em seu rosto, tentando suavizar o mau humor. — — Confesso que tive uma noite excelente. Poderíamos repetir nossa conversa hoje a noite, o que acha?

— Poderíamos, mas não vamos, tenho mais o que fazer. E nada mudou.

— O que eu fiz? Acordou azeda como um limão, você não cansa de distribuir coices? — Controlo minha vontade de responder Dandara de forma ríspida, suspiro, suavizando a voz — Que tal darmos uma volta? Você poderia me mostrar a região.

— Claro, tem algo que ficou de fora de seu inventário?

Fico surpreso, me afasto de um passo para olhar melhor seu rosto, como ela soube?

— Dandara...

— Cala a boca, brucutu! Se não quer ver a cara enfiada no esterco de cavalo fique quieto!

Ela vira chamando uma garota.

— Teremos que trabalhar algumas coisas em vocês dois. Faça uma pausa, eu vou preparar o redondel.

— Ok, obrigada Dandara.

Sei o jogo que Dandara faz, ela prefere fugir do que virar e me encarar, não deixo barato, sigo-a pelo Haras.

— Não cometi nenhum crime, Dandara.

Ela continua andando, me ignorando.

— Você está sendo teimosa, poderíamos resolver isso de outro jeito, quem sabe unir o útil ao agradável.

Ela vira, parando brutalmente, me fazendo quase tropeçar.

— Diga brucutu, qual sua excelente ideia? Já recebeu oferta pelos meus cavalos? Ah, muito obrigada por deixar Trovoada de fora, foi uma gentileza imensa, já que não quis vender também um presente de meu pai.

— Eu não venderia seu cavalo, vejo o amor que sente por ele. Posso não ser um especialista ou não gostar das mesmas coisas que você, mas não quero mal aos bichos.

— Não quer o mal deles? — O rosto de Dandara está vermelho como se tivessem esfregado dois tomates em suas bochechas, e se isso não era um alerta para ficar afastado, eu não sabia o que seria. — Sabe qual a diferença entre um cavalo para lidar com o gado e um cavalo de montaria e competição?

Dou de ombros.

— Exato, se não sabe essa imensa diferença e mesmo assim foi oferecer meus cavalos para donos de fazenda de corte. Você com certeza não quer o bem deles. Jumento! — dispara a falar.— Mas tenho uma solução, vá embora, se não quer o mal deles, vá. Ou está esperando a foda de despedida? Quer ir para o celeiro desativado? — pergunta desatando o nó da minha camisa xadrez fazendo ela revelar minha blusa curta.

E mesmo que a ideia de tê-la novamente em meus braços, sentir o gosto de sua pele e ter seus gemidos em meus ouvidos seja tentadora, me foco em nosso novo cabo de guerra. — Deixe de ser ridícula!

— Não sei onde Pedro estava com a cabeça, ele só poderia estar alucinando quando decidiu deixar meu Haras para você! Tenho muito trabalho a ser feito, se puder pelo menos não atrapalhar, eu agradeço.

Estava pronto para segurar seu braço vendo que se afastaria, quando vejo sua expressão de raiva se focar em outra coisa, sigo seu olhar vendo uma garota vir calvagando em nossa direção.

— Dandara! Era você mesmo que queria encontrar!

— Só me faltava essa! Acho que errou, sua prenda está bem na minha frente — Dandara diz com um sorrisinho falso.

— Forasteiro, desculpe não ter vindo mais cedo, vejo que ficou totalmente curado do ataque de fúria de Dandara.

Sorrio não tirando os olhos de Dandara, deixando que Cindy agarrasse meu pescoço dando um beijo bem perto de minha boca, naquele instante tinha descoberto uma outra arma poderosa contra a esquentadinha, o ciúmes. — Estou bem sim, que surpresa boa vê-la aqui. Estava agora mesmo comentando com Dandara que queria dar uma volta pela região.

Cindy sorri animada. — Então encontrou sua companhia, faço questão de ir com você.

Aproveito a situação segurando na cintura fina da garota, abrindo um amplo sorriso. Satisfeito por ver que deixo Dandara mexida, é bom saber que outra coisa borbulha dentro dela, além de irritação. Afinal, ela não é tão casca grossa quanto esbraveja. — Podemos dividir o mesmo cavalo, eu não estou acostumado a montar sozinho.

— Ihaaaahhh, mas é claro! — ela diz animada. — Ah, Dandara, eu soube que está preparando uma competição aqui no Haras.

Faço minha cara de “não sou o único planejando pelas costas” e encaro Dandara.

— Sim, é para angariar fundo para o Haras, mas como soube?

— Matheus, ele me contou — Cindy diz com um sorriso. — Logo pensei, o que seria excelente senão competir? As regionais estão chegando e eu e Milu precisamos estar preparadas, você poderia dar uma olhada nela, estou achando que ela está de TPM. E você como antiga competidora sabe como é importante o cavalo estar bem. Fico orgulhosa que abandonou os pódios e se dedica cuidando de minha égua.

Dandara competindo? Não sabia que a esquentadinha metida as caras em rodeios ou competições equestres. Estava aí uma coisa para pesquisar quando tivesse deitado em minha cama essa noite.

— Claro. Dou uma olhada. — Dandara responde de forma azeda.

— Perfeito, — Cindy empurra a rédea para Dandara, enlaçando ainda mais meu corpo — vamos forasteiro?

— Claro. Irei pedir para Mathias selar um cavalo.

A carranca de raiva que Dandara está é impagável. É como acender um pequeno fósforo numa fogueira à base de álcool. Eu não quero nada com essa garota, mas se para provocar minha caipira eu tiver que entrar nesse joguinho sujo, por que não?

A tal de Cindy não tinha a mesma desenvoltura que Dandara na montaria, na verdade, não tem nem mesmo a paixão que Dandara exibe ao olhar para os cavalos. Porém, não decepcionou em nada em sua montaria e cavalgada, ela sabia o que estava fazendo. Mesmo que o cavalo ficasse arrisco com seus comandos.

Saímos do Haras indo para os campos abertos da propriedade, passando por um pequeno riacho, Cindy se aproveita por estarmos na mesma sela e esfrega sua bunda em meu pênis, sempre sorrindo e olhando por cima do ombro.

— Que tal pararmos aqui? — questiona olhando para a paisagem na frente, estavámos em uma espécia de monte, víamos a estrada de terra que nos levaria de volta para o Haras e ao longe a silhueta do que seria o centro da cidade.

— Por mim — digo já descendo do animal.

— Quero muito saber o que fez um homem fino e bonito como você se meter com a Dandara — Cindy fala amarrando a rédea do cavalo no tronco de uma árvore.

— Podemos dizer que fomos criados juntos.

— Mentira! — diz rindo.

— Meu tio-avô criou Dandara quando seus pais faleceram.

— Que azar o dela, primeiro perdeu a mãe e logo depois seu pai, morreu em um acidente com bois.

Não havia sentimento real naquelas palavras.

— Você e ela se conheceram como? — pergunto sentando sobre a grama.

Ela caminha parando em minha frente tampando a visão da paisagem remexendo o quadril, tentando ser sedutora.

— Bom, tirando o fato de cidade pequena todo mundo naturalmente se conhecer, além dos filhos estudarem juntos. No Haras, Setti é um dos poucos lugares de excelência por aqui, confesso que tem ótimas pistas para treino. Meu pai é um dos patrocinadores, mesmo eu querendo que Milu seja tratada por outra domadora, não posso negar que ela é boa no que faz. Cindy deu de ombros, analisando as unhas perfeitamente alinhadas e pintadas — Ficou melhor quando saiu das competições.

— Competição? — questiono curioso.

— Dandara praticava a mesma modalidade que eu, três tambores, mas largou tudo quando Pedro ficou doente. O velhote não podia mais pegar no pesado e o que não falta naquele Haras é serviço pesado para ser feito. Mesmo com Mathias vindo para ajudar, Dandara decidiu largar tudo para cuidar do Haras.

— Pela sua cara de surpreso, não sabia disso.

— Conheço pouco daqui, vim muito na infância a mando de meus pais e quando cresci nunca mais voltei. Só fiquei sabendo novamente desse lugar quando um advogado me ligou informando sobre a morte do meu tio. Somos de uma família grande, porém nem todo mundo ainda mantém contato.

— Por que decidiu voltar? — Cindy senta em meu colo, um joelho em cada lado de meu corpo, me fazendo dar um sorriso sem graça ao afastá-la com jeito. — É verdade o que todos tem cochichado por aí?

— O que andam falando?

— Oras, que você veio tomar isso tudo dela. Afinal, pra que um homem como você viria para um fim de mundo como esse?

— Vim por negócios, é tudo que precisa saber.

Cindy fez um beicinho, passando os braços pelo meu pescoço, forçando uma aproximação. — Por que não paramos de falar dela, de cavalos e todas essas bobagens e terminamos o que rolou lá no bar?

Direta e atrevida, ela se daria bem na cidade grande.

— Sinto muito, mas não vai rolar. Vamos voltar? Esqueci que marquei um telefonema importante com meu assistente em São Paulo, como disse, negócios — Fico de pé estendendo a mão para ajudá-la.

Não sei o que tem no DNA dessas caipiras, mas ô mulherada que se enfeza rápido! Cindy levanta dando um tapa em minha mão, já desamarrando o cavalo e subindo. Mais uma que preciso tomar cuidado para que ela não me lance do outro lado da estrada, só por que neguei seu fogo. A realidade é que não queria nada com Cindy, ela poderia ser uma mulher linda, com um corpo escultural. Mas serviu apenas para deixar a esquentadinha com ciúmes.


CAPÍTULO 21


Dandara

Enquanto comemos, Maria não tira os olhos de mim. Abaixo o garfo, dando um longo suspiro. — Diga logo mulher, senão vai engasgar com a própria comida.

— O que está tirando ocê do prumo, moleca?

Velha sábia! Não tinha nada que escapasse de Maria, você poderia se deixar levar pelo rosto repleto de rugas ou pelos olhares maternos que lançava para todos, mas Maria era como um pastor alemão, farejava as coisas à distância.

— O que deu no povo desse Haras hoje? — pergunto desviando do verdadeiro assunto.

— Ocê não me engana mocinha, conheço ocê mesmo antes de aprender a lavar os fundilhos de suas ceroulas!

— Que horror! Estou apenas pensativa, vou sair mais tarde para dar uma olhada nos campos.

Foi a vez de Maria revirar os olhos, ninguém vencia em uma disputa com Maria. — Ainda com aquele sonho azucrinando a mente?

Suspiro empurando a comida de um lado para outro no prato. — Eu vejo aquele cavalo com tanta força, não sei porque e nem mesmo o quê significa.

— Você está preocupada com as coisas daqui, normal, os sonhos mostram nossas preocupações mais profundas.

Suspiro, tomando um gole do suco, confirmando com um pequeno gesto de cabeça.

— Mas não era sobre isso que estava falando.

— Ô merda, Maria! — retruco. Não irei conseguir desviar do assunto.

— Óia a boca! — ralha — Ocê está ansiosa, está assim desde que a senhorita Munhoz chegou no Haras.

— Aquela menina brinca com os animais, Mathias disse que a égua tem marcas feias das esporas, eu gostaria de enfiá-las no...

— Ouuh , acalme-se. — Maria adverte rindo — Seria mesmo por que Cindy está maltratando a pobre da égua, o que não seria nenhuma novidade para nós ou pelo simples fato dela ter saído com Seu Miguel?

Fico em silêncio enchendo minha boca com o resto de suco de meu copo.

— Você gosta dele.

Encaro Maria — Ficou maluca? — digo umas oitavas mais alto.

Ela sorri, pega seu prato e o meu, indo até a pia. — Conheço você, menina. Seria de se admirar se não tivesse apaixonada. Eu disse para Seu Miguel, muito ódio acaba virando amor.

— Você está exagerando, deve ser o excesso de trabalho. Seu “Miguelzinho” está agindo pelas minhas costas, fazendo um inventário de tudo que há aqui para vender.

Maria não manifesta nenhuma surpresa com o que acabo de dizer. — O homi é um bitelo , 5 mas não disse que não era sonso para fazer merda. Pode me chamar de velha caduca, mas conheço os sinais e sintomas, você está gostando dele.

— Arre égua! Vou trabalhar, não quero falar mais disso! — argumento ficando de pé.

— Como quiser, moleca. Mas se enfiar no trabalho não irá arrancar isso d’ocê.

Bufando dou uma olhada feia em sua direção e ela entende o recado, não toca mais no assunto enquanto eu devoro uma maçã vermelha e doce que estava na fruteira. Coloco o chapéu sobre a cabeça, fazendo uma trança em meu cabelo e saio, ignorando os olhares que Maria me lança.

Apaixonada! Era para se rir mesmo, Maria está ficando maluca!


— Tudo correndo bem por aqui — Mathias me relata assim que entro do estábulo. — No fundo ela só precisa de um pouco de atenção.

Passo a mão sobre o corpo da égua, vendo seu olhar desconfiado. Milu é da raça Paint Horse, muito parecida com os quarto de milha, mas parece pintada à mão.

— Oua , calma garota!

Retiro a mão ao vê-la arreganhar os dentes.

— Essa daí vem com o espírito da dona. — Mathias brinca.

— Que nada, tire ela da baia. — peço olhando nos olhos da égua — Cindy é horrível com ela, assim como foi com todos os cavalos que passou por seu rancho. Só quer que o animal corra, muito parecida com Matheus, pelo menos aquele ali tem algo de bom, gasta dinheiro e tempo cuidando dos seus cavalos. — digo torcendo os lábios.

— Tem certeza disso? — Mathias questiona segurando a trava da baia. — Ela não está muito amigável.

— Solte.

Mathias faz o que mando, abrindo a portinhola, deixando que ela saia. Milu é uma égua imponente, sai com a fronte erguida, me encarando de cima, passando o recado claro que não tem medo de nós, mas na realidade, tudo isso é pose, ela está receosa que a machuquemos.

— Dê uma olhada nessa ferida.

Dou a volta indo até Mathias, não era uma ferida profunda, iria cicatrizar logo, mas o que me irritou ainda mais foram as marcas mais profundas em sua pelagem indicando que outras já tiveram ali, várias cicatrizes marcando o quando essa égua vinha sendo judiada. E o quantos os maus tratos tinham marcado-a internamente.

— Vamos fazer um tratamento de aromaterapia, para ela se acalmar um pouco e deixar que cuidemos dela.

Vou até o espaço onde os remédios ficam guardados examinando alguns vidros, pego três voltando para a égua.

Tiro a tampa do primeiro colocando perto da narina do animal. Ela relincha virando a cabeça bruscamente, quase derramando o conteúdo de minhas mãos. Retiro do segundo, mas ela tem o mesmo comportamento.

— Óleo bergamota — digo e não demora muito para ela tirar a língua para fora querendo o líquido.

— Não é estranho que ela escolha justo o que traz a sensação de alegria e ânimo. — Mathias comenta.

— Minha mãe sempre dizia que os animais escolhem seus próprios remédios. Eles sabem do que realmente precisam.

O barulho de cavalo se aproximando traz nossa atenção para a entrada do estábulo.

— Que bom que ela está pronta, preciso ir. — Cindy salta do cavalo deixando Miguel se desequilibrar por um instante.

— O passeio não foi prazeroso? — desafio.

— Minha égua está pronta ou não?

— Milu está com marcas de escoriações na barriga. — acuso.

Cindy não dá a mínima para o que estou falando.

— Cindy! Você está ferindo sua égua por nada com suas malditas esporas!

Mathias me olha preocupado.

— Que eu saiba pedi para você dar uma olhada, e não mandar no jeito que comando minha égua. — Cindy contra-ataca.

Miguel dá um passo em nossa direção como se nós duas fôssemos nos engalfinhar como animais, não que ela não merecesse, mas eu não iria ganhar nada com isso.

— Se você quer que Milu não a jogue para longe durante uma competição, precisa entendê-la. Ela não é um pedaço de bife para você ficar furando quando bem entende.

Cindy gargalha, — Me passe o valor de seu tempo, mando meu pai depositar na conta do Haras. — ela vê que continuo encarando-a — Vamos, será que dá para selar minha égua?

Mathias pega as coisas pronto para selar a égua.

— Mathias, não! — Eu quase grito. — Cindy, me escuta...

Cindy arranca a sela das mãos de Mathias, ela mesmo arrumando no lombo de sua égua.

— Cindy, sua égua está ferida, pode achar que não é nada, mas com o tempo vai pegar os ossos dela. Se você se importa...

— O que eu preciso escutar é que você fez algo além de ficar gastando meu tempo. E não de suas mágicas inúteis. — Ela mal fixa direito as fivelas para montar o animal.


Cindy enfia as esporas na barriga da égua fazendo-a relinchar de dor, e a visão dos olhos tristes e repletos de lágrimas do animal cortam meu coração.

Chuto um barril de água enfurecida com a partida de Cindy. O fato de não poder fazer nada para ajudar essa égua me corta o coração.

— Pelo visto vocês estão bem longe da cordialidade.

Viro como um bicho, bufando como um touro bravo ao encarar Miguel. — Meta seu nariz onde é chamado!

— Se você sabia que Cindy maltratava a égua, por que a liberou? — Miguel questiona.

— Seu Miguel, não é simples assim, não podemos prender os animais, mesmo que por alegação de maus tratos. A família de Cindy é poderosa na cidade, seria uma briga infinita e até lá a égua já teria caído doente.

— O que Mathias tá querendo dizer é que não serão os primeiros donos que negligenciam seus animais, muito menos os últimos. São esse tipo de gente para quem quer vender meus cavalos. — acuso.

Levanto o barril que tinha chutado em minha explosão de raiva, puxando a mangueira para enchê-lo.

— Mathias, termine de cuidar das baias, eu vou sair com Trovoada. Está esfriando e não duvido de termos uma chuva torrencial mais tarde.

Deixo os dois ali, no meio do estábulo indo até o Trovoada, eu precisava da paz que ele poderia me dar. E não foi surpresa em vê-lo totalmente alerta, meu pai costumava dizer que Trovoada sempre saberia meu estado de espírito, ele sempre estaria ali, pronto.

E isso era verdade. Não precisei dizer nada, apenas abri a portinhola de sua baia, subindo diretamente no pelo para que ele saísse em disparada para fora do Haras, o sol estava se pondo no horizonte e uma espessa nuvem cinzenta cobria o céu.

Na época de outono vivemos os tempos mais malucos; temos dias de intenso calor e do nada um frio de arrepiar os ossos com chuvas tão fortes que inundam a estrada. Além de ser a época que mais me preocupo com o bem estar dos cavalos.

Cavalgo pelos campos, até mesmo me embrenhando no pequeno acervo de mata fechada, os ranchos e fazendas não são próximos uns dos outros, o que dá bastantes aréas livres.

— Aoh — Trovoada para, relinchando baixo. — Você também ouviu rapaz?

Paramos entre as árvores escutando os pássaros fazendo burburinho entre os ramos, mas não foi isso que chamou nossa atenção, e sim um relincho baixo, sofrido.

— Vamos, Trovoada. — bato o pé na barriga dele fazendo barulho para que volte a galopar.

O rancho era velho, existia destroços espalhados pelo terreno, desço do Trovoada empurrando a porteira velha e quebrada, tinha arame farpado para todos os lados, o relincho veio mais fraco dessa vez, como se o animal já não aguentasse mais esperar por ajuda. Trovoada relincha batendo os cascos chamando minha atenção, um cavalo estava em um pequeno cercado amarrado a cordas em um tronco velho, havia feridas em sua cabeça e boca devido às cordas, mas também marcas profundas espalhadas pelo seu corpo, fora a desnutrição evidente.

Não conseguiria fazer esse cavalo ir até o Haras, precisaria chamar o Santiago e pegar o trailer. Monto em Trovoada galopando de volta até o Haras, forçando ele ir o mais rápido que pode, não sabia de quem era aquele rancho abandonado, mas de maneira alguma deixaria o animal ali sofrendo.


CAPÍTULO 22


Miguel

Levo as toras de madeira para Bento, sentando no sofá. O frio realmente tinha chegado com força, nos forçando a fechar as portas e janelas para manter o calor dentro do imenso casarão. Dandara ainda não tinha retornado, o que me deixa um pouco ansioso, mesmo não querendo admitir. Aquela diabinha caipira está me enrolando em seu laço.

— Daqui a pouco a janta estará pronta. — Bento diz passando por mim em direção à cozinha.

Volto meus olhos para a tela do computador, vendo o projeto que Paulo havia me enviado mais cedo. Os arquitetos tinham feito um excelente trabalho, a entrada do resort era imponente, ele manteve o rústico e sofisticado com tanta suavidade que nenhum dos pontos tinha se destacado mais que o outro. E ali, analisando o projeto, eu não conseguia abrir minha caixa de e-mail e aprová-lo. Não conseguia dizer que poderíamos fechar o negócio com os donos dos Haras e fazer o transporte dos cavalos assim que o périodo que o advogado deu se encerrasse.

A rajada de vento forte fez o fogo na lareira tremular quase se apagando, fecho o computador virando para ver Mathias entrar na casa chamando por Bento.

— Que desespero todo é esse? — questiono indo para a entrada.

— Dandara voltou e vamos resgatar um animal.

— Resgatar? O que houve? Toda vez que você entra como um foguete aqui é porque Dandara tá metendo todo mundo em apuros — retruco.

— Mathias, o que aconteceu? — Bento e Maria vêm em nossa direção.

— Dandara voltou da caminhada, segundo ela encontrou um animal em condições precárias. Preciso ligar para o Santiago e preparar o trailer para sairmos.

— Onde ela está? — pergunto.

— A última vez que a vi estava indo pegar umas medicações.

— Santiago não deveria ficar disponível no Haras para esse tipo de emergência? — questiono ajeitando o casaco pesado no corpo.

— Sim, Seu Miguel, mas ele trabalha em outros lugares. É um veterinário muito requisitado na região.

— Vou procurá-la. — digo por fim, cruzando com eles, sentindo o vento bater contra meu corpo enquanto caminho até o estábulo.

Os cavalos relincham alto, incomodados pelo vento, passo por uma baia me esquivando ao ver que o cavalo está tão irritado que bate o corpo contra as paredes de sua baia.

— Eles ficam mais irritáveis com esse tempo.

Olho para Dandara, seu rosto está preocupado. Ela vai até o cavalo mais arisco, deixando que ele cheire um potinho.

— Aromaterapia — explica.

Mesmo ainda desconfiado o cavalo começa a se acalmar.

— Você realmente faz mágica com eles.

O cavalo vem em minha direção me assustando, pulo para trás encarando os imensos olhos pretos do animal. — Eles não confiam em mim.

— Eles são espertos, sentem quando um humano tem medo, alegria ou quando não gosta deles.

Olho para seu rosto, lá vinha ela com aquele papo novamente. — Não é bem gostar ou não, só não confio. Mathias disse que encontrou um animal ferido.

— Eu estava cavalgando, estava ficando mais frio no meio das árvores. Eu o ouvi, ele estava me chamando, não sei há quanto tempo ele está lá, mas eu sei que está cansado. Cansado demais para vir andando, mesmo se Trovoada sustentasse ele pelo caminho, isso o teria machucado mais.

— O que posso fazer?

Dandara me encara surpresa.

Nem eu mesmo sei por que estou fazendo isso, por que estou tentando salvar um animal se tudo que mais quero é que essa guerra de braço acabe logo, para dar continuidade aos meus planos.

— Santiago está ocupado em uma fazenda, tenho receio dele não chegar a tempo.

Ver o olhar triste em seu rosto faz algo dentro de mim borbulhar. — Vamos, eu ajudo você.

Ela ri por um instante, voltando a ser a diaba caipira que eu conhecia. — Você vai mais me atrapalhar do que ajudar.

— Se não quer salvar aquele animal é só dizer.

Vejo seu olhar me analisando, assim como o suspiro pesado que ela solta. — Pegue aquelas cordas, iremos precisar de pelo menos umas três, estou com o kit de remédios, ele tem grandes feridas pelo tempo que passou amarrado e das tentativas de fuga.

— É selvagem?

Ela para de arrumar as coisas para me olhar. — Ele foi ferido, está com medo, sede e fome, vai saber quantos dias ficou exposto ao sol escaldante e as chuvas frias das noites.

Mathias aparece com a caminhonete puxando o trailer. Interrompendo nossa conversa.

— Vamos colocar tudo no carro. — Dandara ordena levando Trovoada para sua baia.


O caminho até o rancho que Dandara encontrou o animal ferido fica bem longe do Haras, e a estrada não ajudava em nada, o vento ficava mais forte e logo a chuva nos brindava com mais força, dificultando ainda mais nosso caminho. Os limpadores trabalhavam frenéticos pelo vidro, cada vez que Mathias acelerava ou freava passando por um buraco era meu coração que pulava dentro do peito. A buraqueira ficava escondida devido a tempestade que caía lá fora.

Era difícil ver alguma coisa concreta em nossa frente com a torrente que descia do céu, o que me fazia apertar o canto do banco com mais força, prendendo a respiração.

Quando Mathias acelerou passando pela entrada destruída do rancho, tudo lembrou foi um filme de terror, a casa ao fundo está caindo aos pedaços, tudo ali está destruído pelo tempo e esquecido por Deus.

Dandara salta do carro antes mesmo que ele pare completamente, levando consigo o kit veterinário e uma das cordas, fazendo Mathias e eu seguirmos em seu encalce.

— Mathias, abra o trailer.

— O tempo está horrível. — digo olhando ao redor.

Dandara pula a cerca de arame encarando o cavalo com as mãos para cima, conversando baixinho com ele, para tentar acalmá-lo.

— Corte os arames, Miguel.

Retiro da enorme maleta que ela touxe um alicate, corto os fios abrindo espaço para que ela passe com o animal.

Ele relincha, empinando o corpo para trás, evitando que ela encoste nele e toda vez que faz isso, acaba caindo devido à fraqueza que seu corpo apresenta. Dandara chega mais perto tentando tirar as cordas que o machucam, porém ele está arredio demais.

— Dandara, devíamos ter esperado por Santiago, ele pode te machucar. — Mathias retruca.

— Ele não vai me machucar, está com medo, tem medo do toque. — Dandara se vira pegando um daqueles frascos pequenos que estava dando aos cavalos no estábulo fazendo o cavalo cheirar. Ele não se acalma como os outros fizeram, mas permite que ela chegue mais perto. — Se tivesse esperado por Santiago ele teria morrido nessa chuva.

Dandara tem realmente algo a mais para esses animais, é como se apenas de olhar, eles dissessem tudo que estão sentindo para ela. Ela volta para a mala tirando um lenço grande, jogando-o no rosto do bicho.

— Miguel corte as cordas e passe a nossa pelo pescoço, dê um nó bem firme.

Faço o que ela manda, me certificando que o cavalo continua imóvel contra o peito de Dandara, ela faz carinhos na crina judiada, sussurrando algo que não entendo devido o barulho forte da chuva.

— Se o dono do cavalo voltar? — pergunto terminando o nó.

— É bom que nem volte, olha o estado que deixou o cavalo. — ela retruca pondo o bicho de pé. — Calma, ouh, calma.

— Dandara, Miguel, temos problemas! — Mathias grita sob a chuva.

Um velho aparece no meio da chuva vindo em nossa direção segurando uma garrafa de bebida, tropeçando nos próprios pés.

— Conheço a laia desse daí, Cicinho sempre o expulsa do bar por arrumar confusão e ele não se importa com nada além da cachaça que consome — Mathias comenta encarando o homem.

— Às vezes temos que deixar os pensamentos sendo apenas isso, pensamentos. Nunca ouviu que o que é jogado no universo ele devolve? — Dandara resmunga para mim.

— Ei! O que você estão fazendo com meu cavalo? — O velho grita, tenta correr até nós, mas tropeça várias vezes em seu próprio pé.

Quando tenta chegar perto de Dandara, eu contenho o homem bêbado e por consequência o animal se agita, fazendo Dandara soltar um pouco a corda que o mantinha preso.

— Você não encosta mais nesse animal! — Dandara grita vindo para cima de mim e do velho bêbado.

— Vocês invadiram minha propriedade, vou chamar a polícia, e esse cavalo voltará para o lugar dele.

Seguro com firmeza sua camisa puída evitando que ele avance para cima dela.

— Chame, vai me poupar o trabalho de chutar sua bunda até lá.

O velho para por um instante de se debater em meus braços e assim consigo arrastá-lo para fora do caminho, deixando que Dandara entre com o animal no trailer.

Mathias enfia todas as coisas de volta na caminhonete, embarcando e dando partida no motor.

— Quando ele ligar para a polícia, ele que terá que se explicar. — digo animado, feliz por ter salvo aquele cavalo.

Dandara tira os olhos do vidro traseiro, voltando seu rosto para mim. — Ele não vai ligar, mal lembrará o que houve. Ele iria deixar o cavalo morrer de fome. — ela volta seu olhar para trás, vigiando o trailer.

Mathias faz o melhor que pode, mas a estrada de terra fica esburacada na chuva forte, e se antes a visibilidade já estava dificil, agora está muito pior. Os relinchos do animal preso no trailer são ouvidos de dentro do carro, imagino o quanto ele não esteja apavorado.

O carro balança de um lado para o outro, me fazendo segurar a respiração por alguns segundos.

— Ele vai se acalmar quando sairmos desse pedaço de estrada. — Mathias diz.

O carro balança mais forte na curva.

— Pare, Mathias. Eu vou com ele.

— Ficou maluca? Ele pode te machucar, está muito nervoso.

— Se eu não for com ele, vamos acabar capotando. — diz.

Mathias encara Dandara pelo espelho retrovisor, considerando o que diz.

— Ficou maluco? Ela vai se machucar! — retruco quando ele para no meio do nada, destravando as portas.

— Sei o que estou fazendo — ela resmunga.

Dandara desce e esperamos. Olho pelo vidro de trás esperando algum sinal...

— Podem ir — grita batendo na lataria do trailer.

Quando chegamos ao Haras, me senti como se tivesse nadando, nem mesmo minhas bolas estavam secas na cueca. Mathias dá a volta no carro pegando a corda e guiando o cavalo para o estábulo. E antes que Dandara saísse, indo para longe, eu a segurei.

— Desculpa.

Passo a mão pelo cabelo molhado tirando um pouco d’água dos olhos. Por que ela me deixa assim?

— Não quis magoá-la com a história de hoje cedo. Estou fazendo o melhor que posso.

— Então precisa fazer mais do que isso.

Ela se solta de minha mão correndo em direção aos estábulos, corro atrás dela, mesmo quase caindo quando meu pé afunda em uma poça d’água, alcanço seu braço e puxo-a para mim, fazendo com que pare.

Droga! Descobri que estou enlaçado até a alma por essa caipira!

Dandara fecha a expressão mostrando seu melhor olhar de ódio tentando se livrar de mim novamente. Fico em sua frente e mesmo com a chuva em seu rosto, consigo perceber que os seus olhos estão cansados, a adrenalina tinha decaído de seu corpo e eles lacrimejavam. Ela tenta se soltar novamente de mim. — Por que você não vai embora, Miguel? — pergunta com o rosto perto do meu.

Meu pênis lateja dentro da calça. Essa mulher me deixa louco!

— Eu não desisto, esquentadinha. Já devia ter entendido isso.

— Pelo menos temos alguma coisa em comum — ela retruca. — Odeio você, brucutu!

— Não, não odeia.

Ela para surpresa com minha declaração. Estar tão perto dela, sentir aquele corpo colado no meu, desperta meu desejo.

Ignorando tudo, eu só tinha uma coisa em mente: tê-la a todo custo.

Avanço sobre ela, seu corpo inteiro estremece, quando a beijo, ela abre a boca para receber minha língua, sua boca é carnuda e quente, ela para de tentar lutar contra aquele fogo que move nossos corpos. Aperto Dandara contra meu corpo, e sinto suas mãos enlaçarem o meu pescoço. Ela me puxa, em resposta eu invado seus lábios, tomando sua boca com minha língua. Levo a mão até seus seios e ela geme com meu toque.

— Quero você, esquentadinha.

— Por que está fazendo isso comigo? — ela resmunga quando minha boca desce por seu pescoço.

— Shiuu, — mordisco sua pele, descendo a boca por seus seios, lambendo o pequeno decote de sua blusa.

A chuva cai sobre nós, mas não é frio que nos faz tremer, é o calor que sinto por essa mulher que só aumenta.

— Quer que eu pare agora?

— Eu odeio você — sussurra, puxando minha mão, nos fazendo correr pelo Haras, entrando no velho celeiro abandonado.

Existem furos entre as madeiras fazendo a chuva cair em nós, Dandara empurra meu corpo contra uma viga de madeira, colocando as mãos por debaixo de minha camiseta encharcada. Meu corpo treme com o calor do toque, fiz o que desejava desde que pisei para fora da cama, abro botão por botão de sua camisa, deixando tudo totalmente livre para que chegasse aos seus seios, luto um pouco contra o fecho do sutiã, fazendo-a rir e tomar a missão de minhas mãos.

Dandara joga a cabeça para trás gemendo cada vez mais com as carícias que eu faço em seus mamilos enrijecidos. Lambo sua nuca, distribuindo beijos sobre sua pele. — Quero você, Dandara, tem que ser aqui, agora. — digo roçando meu quadril em sua cintura.

Solto o botão de sua calça enganchando meus dedos direto nas laterais de sua calcinha, abaixando as peças até o chão, passando por seus pés. Abro suas pernas, deixando seu sexo exposto para mim. Dandara fez o mesmo por mim, tirando minha camisa e indo até minha calça. Ela baixa minhas roupas alcançando meu pênis. Gemo como um animal no cio.

Ela se ajoelha, sem emitir uma palavra, segura meu membro totalmente ereto. A boca da esquentadinha me toma quase por inteiro, sinto o vaivém dos seus lábios me fazendo perder o equilíbrio Encostando no pilar, olhando para seu rosto.

Ela segura a base do meu pau com uma das mãos, enquanto contorna o restante com seus lábios lindos e quentes. Eu a desejo tanto a ponto de gozar. Levanto Dandara de forma abrupta.

Agarro aquela massa de fios longos e loiros, fazendo o calor que consumia meus sentidos aumentar. O corpo de Dandara colado no meu, lábios entreabertos e desejo nos olhos.

— Não negue, você adora isso, seja o que for que esteja acontecendo aqui, você adora.

Mantenho seu cabelo seguro na nuca com uma das mãos, a outra passando por seu corpo nu em volta de sua cintura, deixo meus dedos escorregarem dentro dela, afastando os lábios de sua boceta, apertando o clítoris úmido de tesão. Empurro seu corpo contra a parede, encaixando uma de suas pernas em meu ombro ao agachar, deixando sua intimidade totalmente exposta para mim, como um belo cartão de boas-vindas. Meto a língua de forma faminta, o corpo de Dandara estremece, seus dedos agarram meu cabelo de maneira ferroz.

Devoro seu corpo com vontade, minha saliva misturando com a lubrificação salgada, Dandara tinha gosto de mulher excitada, do tipo que atraí os pobres homens de longe.

Tiro sua perna de meu ombro, erguendo-me, viro-a de costas para encaixar meu pau em sua entrada, deslizo um pouco mais, ela é deliciosa! Antes de chegar ao fundo, Dandara rebola contra meu corpo, fazendo meu membro remexer dentro dela, ela rebola e eu começo aumentar o ritmo dos meus movimentos. Entro e saio dela com facilidade, como se seu corpo reconhecesse o meu.

Abro mais as pernas dela, impulsionando o quadril contra ela, seguro seu cabelo, puxando-o de forma bruta para trás, gostando de sentir seu rosto perto do meu. Mordo e dou chupões fortes em sua pele. Meto com intensidade, gostando do barulho de penetração molhada que chegava até meus ouvidos, meu pau inchado e duro doía procurando alívio, exigindo por isso.

Sinto que ela convulciona em minhas mãos, sussurro em seu ouvido o quando me enchia de tesão, o quanto seu corpo recebia o meu de maneira tão delicioso e o quanto ela era gostosa. Dandara se empinou ainda mais, apertando meu pau com suas contrações involuntárias, arrancando o ar de meus pulmões.

Continuo metendo, lambendo seu corpo, apertando sua cintura ou puxando seu cabelo. Eram sensações diversas que tomavam meu corpo. Dandara gritou, seu corpo estremecendo de verdade, perdendo o controle, deixo que ela goze, segurando ao máximo, travando minha própria libertação, ela ficou mole em meus braços enquanto me retiro de dentro dela, masturbando meu pau para gozar, esporrando como um maluco, só de pensar na entrega absurda e delirante que tinha acabado de acontecer ali.


Ela passa minha camisa rindo — É a única forma de você se limpar.

Diabinha!

— Miguel...

Selo seus lábios com os meus evitando que ela fale algo que possa estragar esse momento. — Amanhã pensamos sobre as coisas chatas.

Não tinha a menor chance de discutir com ela agora, o que eu mais queria naquele momento era deitá-la naquele feno velho e começar tudo de novo.


CAPÍTULO 23


Dandara

Abro os olhos sentindo o calor da pele de Miguel contra minha bochecha. Fico deitada quieta, ainda tentando entender o que estou sentindo por ele. Passei metade da noite refletindo sobre tudo que vivemos. Fico confusa pelas sensações que o beijo, o toque dele, me fazem sentir.

Será que eu conseguirei realmente fazer Miguel ver o Haras com outros olhos, além de um pedaço de terra lucrável? Fazê-lo sentir sem me envolver, ou eu já estava envolvida demais? Desisto de ficar deitada com milhões de pensamentos cruzando meu cérebro, saio da cama evitando acordá-lo.

Depois de tomar um banho, me troco em silêncio, descendo para para tomar café, não sem antes dar uma olhada em direção à cama, vendo Miguel dormindo nu, coberto apenas por um pedaço do lençol.

— Bom dia — cumprimento sentando na cadeira vazia, o cheiro de café e bolo de fubá fazem meu estômago roncar de fome.

— Bom dia, menina. — Maria me cumprimenta enchendo minha caneca de café puro. — Mathias estava nos contando sobre o animal.

— Falando nele, como está, Mathias? — pergunto devorando um pedaço do bolo.

— Está bem, Santiago passou a noite cuidando dele. Mesmo com muitos machucados, ele disse que logo estará bem.

— Que bom ouvir isso. — pego dois pedaços de bolo colocando no meu prato enquanto dou uma golada no café. Paro com a xícara ainda contra a boca vendo os olhares deles.

— Está faminta, moleca — Maria diz.

Dou de ombros, como se fosse algo normal.

— Tem bicho uivando no terreno de novo, uma desgrama isso, né? — Mathias provoca sorrindo.

Dou uma olhada feia, fazendo com que ele ria ainda mais, atiçando a curiosidade de Maria.

— O que vocês estão rindo?

Paro com a xícara à caminho da boca ao ouvir a voz de Miguel.

Ele puxa uma cadeira ao meu lado, me lançando um olhar malicioso. Miguel faz questão de jogar o corpo para cima de mim ao pegar um pedaço de bolo.

— Dormiu bem? — pergunta, seu olhar malicioso me fez sorrir. O desgraçado sabia que tinha mexido comigo!

— Sim e você? Parece cansado — desafio entre um gole e outro do café.

— Um pouco, mas no fim consegui o que queria.

Bento entra na cozinha sacudindo o casaco. — Hoje o dia está de lascar.

— Teremos pouco movimento então. — digo.

— Mathias eu quero falar com você sobre o Haras — Bento diz.

— Aconteceu algo? — questiono.

— Aquele problema qual contei procê , menina. Temos que rever a segurança dos animais, ontem tinha algum tipo de animal esganiçado no meio do mato.

Miguel engasga com o café fazendo todos encará-lo. Dou um pisão em seu pé, esmagando seus dedos.

— O antigo celeiro estava aberto e tudo revirado, ou tivemos um casal se engalfinhando ou tinha algum animal ferido procurando por abrigo. — Bento comenta.

— Vou ficar de olho nisso. — Mathias diz. — É perigoso mesmo, mesmo que eu acredite que possa ser um casal festeiro, — ele me encarou erguendo a sobrancelha — melhor trancarmos o celeiro dos desavisados.

— Que milagre é esse eu ver tua cabeça pelada? — Bento se vira para mim.

Sorrio.

— Perdi meu chapéu ontem quando o cavalo ficou muito agitado. Logo compro outro. — me levanto terminando meu café, aquelas trocas de olhares já foram o suficiente para mim.

— E eu... — Miguel enfiou na boca o último pedaço de bolo — vou dar uma volta pelo Haras.

Vou até a entrada enfiando meus braços no casaco que estava no mancebo, assim como as luvas de couro.

— O que faremos?

Desvio o corpo encarando a porta da cozinha, Maria, Bento e Mathias estavam entretidos em uma conversa. Não sei se estavam totalmente focados ou apenas se fazendo de surdos para escutar nossa conversa.

— Dá para ser mais discreto? Eu vou conferir o cavalo que chegou ontem, e depois se quiser podemos cavalgar juntos.

Ele inclina a cabeça e inspira, sentindo meu perfume. — Adorei a ideia.

Maldito brucutu gostoso!

— Seja discreto.

Ele respira mais fundo e mordisca meu pescoço. — Por que não aceita logo minha oferta, esquentadinha, colocamos um fim nesse joguinho e podemos ver o que rola.

— Isso vai acabar mal — digo com a voz rouca. Era só questão de tempo, mas, dessa vez a culpa foi minha. Olhar para a boca de Miguel tão próxima à minha, eu queria aquele beijo, então peguei.

Meu coração martelava no peito com a sensação de poder ser pega, meu corpo e cada fio de cabelo gritava em minha mente: Brucutu!


Santiago tinha levado o cavalo para o redondel, mas ele estava tão arredio que poderia machucar ele e o ajudante que tentava segurar a rédea, ele empinava evitando qualquer tipo de aproximação.

— Vou ter que aplicar a injeção, ele vai ficar pior desse jeito.

— Espere. — digo subindo nas travas do redondel.

— Ele está muito arredio, pode machucar alguém ou até mesmo ele.

— Acho bom manter distância. — o ajudante de Santiago diz para Miguel.

— O que esse cavalo tem? Ele deveria estar grato por termos salvado ele ontem — escuto Miguel retrucar.

— Isso é o que ela pode descobrir. — Santiago comenta.

Ele corre pelo redondel dando coices nas paredes, respiro fundo pulando para dentro, parando no meio do cerco. Cada passo que dou em sua direção faz com que ele trote, evitando minha aproximação. Ele vem para cima de mim, parando perto, é a forma de dizer que me culpa, que culpa todos nós pelo que ele passou.

— Acho bom parar com isso, não tenho culpa do que ele fez com você, eu estava te salvando. — grito para ele.

Ele se arma novamente, erguendo-se nas patas traseiras, se fosse outra pessoa, com a proximidade que estávamos ele poderia fazer um estrago. Mas não me intimido, sei que ele não vai me machucar, quer apenas me amedrontar, quer me ensinar seus limites.

— Dandara, se afaste! — Santiago alerta.

Fico em silêncio encarando o cavalo.

Ele abaixa as patas, colocando a cabeça no meu ombro.

— Muito bem rapaz, isso mesmo, com calma. — retiro um petisco do bolso dando para ele. — Você vai se chamar Chuvisco.

— Ela conseguiu — escuto Miguel dizer.

— Deixa ele descansar, uma boa dose de ração e ele ficará bem. — Digo para Santiago. — Quando estiver curado começo a doma.

Vejo o ajudante dele receoso por chegar mais perto do cavalo.

— Ele não vai te atacar, é só não machucá-lo.

Ele confirma com um gesto, abrindo a porta para que Chuvisco passasse.


Trovoada está agitado em sua baia, ele sente falta quando não passeamos pela manhã.

— Estava esperando por isso, né? — pergunto enquanto acaricio sua crina. — Pronto para montar?

— Se você cavalgar como fez ontem comigo, acho que terei uma excelente manhã!

— Você não presta! — empurro seu peito, rindo — Pegue aquela rédea, Trovoada prefere montaria no pelo.

— Sem nenhuma proteção?

— Ele não vai te derrubar.

Monto Trovoada com Miguel, ele aperta meu quadril contra ele, seguimos pelo trieiro, eu aprecio o clima de pós-chuva. Atravesso o pequeno riacho rindo com Miguel apertando minha cintura com medo de cair do cavalo.

Desde que ele havia chegado no Haras estávamos em pé de guerra, como após uma chuva tudo mudou de maneira tão repentina? Credo! Isso era coisa da minha cabeça. Isso sim. Eu tinha que me focar em coisas mais importantes.

Paro perto das pedras, desço segurando as rédeas para que Miguel desça.

Dou um tapinha no dorso de Trovoada deixando-o cavalgar livre por aí.

— Ele vai voltar? — pergunta olhando para Trovoada trotando para longe.

— Sim, ele ama andar livre, todas as manhãs sento por aqui e ele fica cavalgando pelo campo.

Assim que termino de falar, aponto para a cachoeira à nossa frente. Os raios de sol refletem na água cristalina.

— Aqui é lindo.

Dou um sorrisinho de “eu sei”. Estávamos perto do morro, subindo daria para ter uma visão completa do Haras.

Estávamos em um silêncio confortável, Miguel brinca com a água com a ponta dos dedos, parece com o pensamento distante. Ele sai vindo ao meu encontro, um sorriso nos lábios, suas mãos vão de encontro à minha cintura, colando nossos corpos no meio da relva, aproximo meu rosto do seu, ele roça seu nariz no meu, minha respiração acelera. Sem conseguir conter, mordo o lábio inferior de leve e nos beijamos novamente.

Não tinha como me esquivar de algo tão forte.

— Miguel...

— Não, pare, não acabe com isso. — ele diz entre os beijos.

Sua língua explora minha boca como se eu pudesse desaparecer dali em um estalar de dedos, ele me beija como se isso pudesse me dizer algo. Havia entrega ali, em ambos, seus lábios descem por meu corpo, sua mão subindo minha blusa, fazendo meu corpo se arrepiar ao sentir a relva úmida tocar minha pele. Sua mão toca minha barriga, raspando as pontas dos dedos em meu seio, seu rosto esfrega a barba cerrada em minha pele, os pelos roçando contra minha barriga.

— É melhor voltarmos.

Miguel suspira de maneira audível. — Por que tem que estragar esse momento?

— Tenho coisas a fazer, um Haras sempre tem o que fazer.

Miguel não tenta me fazer mudar de ideia. Montamos em Trovoada para voltar, o silêncio nos acompanha até o Haras, assim que chegamos perto do estábulo Miguel pula do cavalo e quando me viro para falar com ele após colocar Trovoada na baia, ele não está mais ali.


CONTINUA

CAPÍTULO 16


Dandara

Uma semana, esse era o tempo que Miguel não dirigia a palavra a mim e muito menos eu iria procurá-lo. O silêncio pela casa era mais que bem-vindo!

Mathias, Maria e eu bebíamos nosso café puro quando ele apareceu na cozinha, a manhã estava fria, por isso adiei o passeio com Trovoada pelo campo para quando o tempo ruim desse uma trégua.

Enfio na boca o último pedaço de queijo branco de meu prato, tomando o resto do café.

— Maria, Mathias, bom dia — cumprimenta indo em direção a geladeira.

— Porra! Quem comeu meu queijo? — ele pragueja com a fuça enfiada entre as prateleiras da geladeira, fazendo Maria me olhar prepcupada e Mathias segurando o riso enquanto bebe seu café. Tudo que faço é dar de ombros, chupando as pontas dos dedos, nem um pouco arrependida. — Sumiu metade dele, e tenho certeza que ontem ele estava inteiro! — Miguel acrescenta fechando a coitada da geladeira com um baque.

— Olha só, era seu? Desculpe, eu comi — respondo na maior cara de pau.

Miguel me encara como uma carranca. — Mathias, preciso de um cavalo, estou querendo dar uma volta hoje!

— Tudo bem, posso preparar um cavalo para o senhor. — Mathias troca um olhar comigo.

— Acho que Bruto ainda está espirituoso como sempre. — digo. — Se quiser ter o traseiro jogado longe pode ir com ele.

Miguel me dá um olhar furioso. — É para agora, Mathias! — retruca saindo da cozinha.

Mathias se levanta, toma o último gole do café, — Dandara, está fazendo a vida desse homi um inferno. O coitado deve ta contando os dia para sumir por essa estrada à fora. — diz colocando o chapéu na cabeça.

— É bom mesmo que esteja. Tem sorte de eu ainda não ter cuspido no seu café — comento.

— Sei que odeia que metemos os bedelhos em coisa sua, mas os empregados estão receosos, os homi querem saber como vai ficar as coisas. Seu Miguel não veio aqui para deixar as coisas como estão, ele vai por tudo a baixo. — Mathias fala com cautela.

— Mathias, algum dia faltei com vocês? — questiono de maneira rude. Ele balança a cabeça de maneira negativa. — E isso não irá acontecer hoje. Avise seus homens que os empregos estão garantidos, nem que eu mesma banque os serviços deles.

— Pode deixar, Danda, desculpe a intromição.

— Mathias, somos família. Eu não vou falhar com vocês. — digo por fim.

Ele confirma, esboçando um sorriso em minha direção. — Santiago pediu para avisar que as vacinas chegam hoje.

— Estou ciente, assim que chegarem irei aplicar em todos. Não quero nenhum caso como a Archeron.

— Menina, a morte daquela égua não é culpa sua. — Maria diz.

— Eita , não quero prozear sobre isso, tenho trabalho me aguardando. — digo pondo meu chapéu na cabeça, seguindo para fora.


Sento debaixo de uma árvore olhando a cena. Miguel poderia tentar resgatar na mente os tempos de moleque, ele poderia até não ter nenhuma intimidade com os animais, mas pelo menos quando criança ainda conseguia montar um cavalo sem que ele tentasse morder sua coxa.

O Miguel da infância não está em nada parecido com o de agora, e não só pelo fato de ter emagrecido e ficado mais bonito, mas parece que Miguel tem ódio desse tipo de vida. Desde que chegou, olha tudo de cima, com cara de esnobe. Ele não tem vínculo com essa terra, ele não sente a importância que eu sinto quando vejo o sol raiando no horizonte, seus raios fortes iluminando essas terras.

Ele seguiu o caminho da cidade grande e eu o caminho dos bichos.

Mathias tenta ensiná-lo, mas ele parece muito com um cavalo xucro, surdo. Depois não quer ser chamado de mula. Levanto, limpando a parte traseira da calça com um espanar de mãos, me aproximando dos dois. — Mathias, vai conferir as coisas, deixa que eu cuido do brucutu.

— Não pedi sua ajuda. — Homi, mas mal agradecido!

— Não estou fazendo por você, e sim pelo cavalo, que não tem culpa do asno sentado em cima dele. — Miguel abre a boca para retrucar, mas mostro o dedo em riste — Você tem que aprender a ouvir, se segurar com força a sela, o cavalo vai entender que quer impor sua vontade e não vai deixar você cinco segundos sentado no lombo dele. Os cavalos farejam seus sentimentos de longe, ele sente quando você tem medo, raiva ou está confortável. Deixe a rédea frouxa.

— Você acha que eu desaprendi tudo que meu tio ensinou? — desafia.

— Acredito que sim, já que te salvei de vários tombos, se bem me lembro.

Ele me fulmina com o olhar. — Então vamos ver, esquentadinha. Pegue aquele cavalo mutante que você tem e vamos cavalgar por aí.

— Cavalo mutante?

— Você tem noção que ele é o dobro de um cavalo normal?

— Para sua informação a raça dele é Percheron. Ele é um ótimo reprodutor, por ser grande e forte nos dá potros com habilidades especiais para o campo. — Dou risada, vendo seus olhos se arregalarem quando o cavalo marcha para trás. — Tire os pés do estribo e, vá para trás.

Subo no cavalo com a destreza de sempre, ocupando seu lugar na cela. Eu conhecia os cavalos como a palma da minha mão aqui no Haras, por isso não tinha problemas com nenhum deles e sabia quando um deles queria fazer uma gracinha como nosso companheiro aqui.

Bato o pé no espaço entre a barriga e as patas traseiras, para que ele saia.

— Se você está pensando que vai ficar se esfregando em minha bunda, eu te jogo para fora do cavalo! Contenha suas mãos!

— Calma mulher estressada.

Tiro o chicote da bota acertando na bunda do cavalo e o animal sai em galope, soltando um relincho alto. Seguro o riso vendo que Miguel ficar tenso. — Gostando, brucutu? — Ele não responde.

Forço o cavalo ir mais além, sentindo a adrenalina do galope correr pelas minhas veias, sinto as mãos de Miguel segurarem minha cintura e o arrepio disso eriçar os pêlos de meu braço.

Cavalgamos um pouco pelo Haras indo até o campo aberto onde fico com Trovoada e voltamos para o Haras, parando no estábulo.

Desço do cavalo, colocando as mãos na cintura. — Gostou do passeio?

— Você queria se exibir.

— Não preciso me exibir para você. Já é um milagre que você tenha ficado em cima do cavalo enquanto estávamos cavalgando.

— Olha aqui, você se acha incrível, acreditou mesmo que eu precisava de você?

Gargalho com irônia. — Você não sabe nem ao menos como se monta num cavalo. É uma sorte que saiba onde fica o rabo e a cabeça.

— Você é mesmo muito...

— Muito?

Miguel se inclina, ficando mais perto de mim, quando seu rosto praticamente cola no meu, pude sentir sua respiração. O perfume exalava, eu tinha começado a odiar esse cheiro, cheiro que me tirou o sono nas últimas noites, mas senti-lo tão perto me embriagava. Antes que eu pudesse raciocinar, os lábios de Miguel grudaram nos meus. Os braços fortes rodeando minha cintura.

— Sua esquentadinha, está tentando o quê? — Parecia que ele estava falando mais consigo mesmo do que algo para mim.

Sua língua voltou a lamber o canto de minha boca, seus dedos apertando minha cintura, uma de suas mãos subiu por minha espinha.

Acaricio sua coxa, bem perto de seu membro.

— Vamos sair daqui — sussurra como um pedido. Suas mãos apertando minha bunda, passeando por todo meu corpo, da cintura até o pescoço. Ele beija minha boca com ferocidade, empurro seu peito sentindo os músculos firmes contra a palma de minhas mãos, descolando seu corpo do meu, vendo a malícia nos olhos de Miguel. — Por que parou? — pergunta.

Respiro fundo ainda olhando para ele, controlando a maluquice da qual acabo de me curvar...então, tenho uma ideia. — Espere um minuto, o Haras ainda está movimentado, vou checar se ninguém está por perto e trancar a porta. — digo de um jeito safado, bem parecido com o que Cindy fazia sempre que conhecia um homem de fora.

Ele passa a mão sobre o pênis por cima da calça, animado. Vou até lá fora, vendo que realmente não tinha ninguém por perto, puxo uma das portas travando-a no chão e repito o mesmo processo com a outra, mas antes de fechar e entrar como falei que faria, dou um tchauzinho para ele, fazendo seu sorriso desaparecer. Percebendo o que estava prestes a fazer.

— Agora sim você está no seu devido lugar, uma pena que não tenhamos nenhum curral para você nadar com seus amigos...porcos! — digo rapidamente.

Miguel corre ao meu encontro, mas antes que ele me alcance, fecho a porta passando a tranca.

— Dandara, abre isso daqui! — seus gritos se misturavam com os relinchos dos cavalos incomodados dentro do estábulo. — Dandara, sua caipira maldita!

— Desculpe, brucutu. Aproveite seu tempinho com os cavalos e limpe as baias deles, Deus sabe como temos quilos e quilos de esterco por dia. Qualquer coisa tem feno e água se sentir fome. Isso deve bastar para você.

Ele bate na porta, fazendo-a tremer, gritando pelo meu nome. Urrando de raiva por ter caido feito patinho em minha arrapuca.

Cruzo com Bento no caminho de volta ao casarão, girando as chaves do estábulo entre os dedos e rindo feito uma maluca.

— Gosto de vê-la animada, mas está com cara de quem aprontou.

— Que é isso, Bento! — me finjo de inocente.

Ele bate na aba do chapéu, não acreditando nem um pouco no que eu estava dizendo. — Mathias está com os cavalos, quase todos foram vacinados, ele ficou esperando ocê aparecer, mas preferiu dar logo. Ficou fartando apenas o último estábulo. — comenta indicando o estábulo que tranquei Miguel.

— Diga que farei aquele estábulo, estou dando um castigo em um cavalo xucro. Ignore os resmungos, o cavalo está dando coice em todas as paredes, já vi cavalo dificil, mas esse...logo domo também — digo colocando um enorme sorriso no rosto.

Bento olha ao nosso redor, como se procurasse alguém e eu sei quem está procurando.

— Dandara, Dandara...

— Fique calmo, por que não vamos tomar um café, quem sabe Maria fez aquele pão doce que tanto amo? — pergunto enlaçando meu braço no seu, levando-o para longe do estábulo onde Miguel estava, acredito eu, urrando de raiva pelo tremor que a porta fazia.


CAPÍTULO 17


Miguel

— Sua caipira insolente! Como eu sou burro!

Eu esmurro a porta que nem um doido, gritando tanto que sinto minha voz falhar e ninguém aparece por ali. Viro olhando para os cavalos que relicham, só me faltava esses bichos me atacarem.

— Abre a porta! — grito de novo. Ando pelo estábulo procurando uma outra saída, lembrando de suas palavras “Aproveite e limpe as baias” , que filha da mãe! Até parece que eu iria sujar minhas mãos limpando merda de cavalo.

O cavalo no qual demos uma volta antes dela me trancar aqui chega perto, me fazendo pular de susto. Ele se sacode, sua crina bate de um lado para outro e solta um pequeno relincho.

— É, aquela ali não presta!

Cômico! Agora eu estava conversando com um cavalo como se ele pudesse me entender. Eu torceria o pescoço de Dandara assim que me livrasse dali.


Não tinha noção de quanto tempo tinha se passado, sei que estava de saco cheio de ficar ali.

— Noite, brucutu. Como foi seu dia?

Fico de pé chegando perto da porta, eu mataria essa mulher! — Pare com essa brincadeira de mau gosto, me tira daqui!

— Pelo visto continua grosseiro e sem educação. Espero que não esteja maltratando meus animais, por que se estiver, não vai ficar apenas dois dias trancado aí.

Meu sangue ferve nas veias. — Dandara, estou te avisando, quando eu sair daqui...

— Chega de ameaças em vão, vou te tirar daí quando aprender sua lição.

Esmurro novamente a porta, escutando seu risinho e seus passos se afastarem, — Dandara, estou com fome!

— Coma feno, brucutu!

Os cavalos mal se importavam por estar ali com eles, nos primeiros minutos e até primeira hora eles ficavam espiando ou fungando em minha direção. Agora? Muitos nem ao menos me encaravam, olho novamente para o cavalo solto perto de mim, ele abocanhou um punhado de feno mastigando e quando repetiu o gesto despejou um pouco em minhas pernas, como se dissesse que era bom.

— Tá de brincadeira você também!

Empino o nariz, olhando na direção contrária. Mas volto a encará-lo quando ele vem para cima de mim despejando mais feno em minhas pernas, seu focinho se torce inteiro enquanto mastiga.

— Ei amigão, pode ser bom para você, mas isso daí é mato. E alguém já te ensinou a dar espaço as pessoas?

O cavalo relincha, dando as costas para mim, batendo seu rabo bem no meio do meu rosto. Me fazendo xingá-lo. Como se estar preso junto aos cavalos não fosse o suficiente, ou do fato de estar com frio também não fosse, ainda tinham os mosquitos que faziam seu banquete atacando minhas veias.

Minha barriga roncando, meu corpo coçando e eu fedendo a estrume de cavalo.


Os raios de sol atingindo meu rosto me fizeram apertar os olhos tentando ver quem estava entrando, se fosse Dandara eu daria uma palmadas em sua bunda.

— Miguel? — Mathias perguntou surpreso, tentando entender tudo que estava acontecendo, olhando para a bagunça que tinha feito nos blocos de feno ao tentar arrumar um jeito para dormir. — O que você está fazendo aqui?

— Pergunte para aquela caipira filha da mãe — digo bravo, ficando de pé, sentindo as costas reclamar pelo movimento brusco.

Ele dá uma gargalhada. Mas se adianta a falar: — Desculpe, Seu Miguel.

Meu corpo chia de dor a cada maldito movimento, preciso de um banho quente, comida e boas horas de sono. Quando me recuperar ela vai ver, eu vou colocar essa caipira em seu lugar!

Estou com esse pensamento até ver Dandara caminhando sorridente em direção ao casarão.

— Ah, sua potranca mal educada! É bom correr. — ameaço gritando.

As pessoas que estão perto de mim me olham assustadas, e devem mesmo, porque meu rosto não deve estar nada amigável. Dandara se vira, o sorriso sumindo do rosto ao me encarar e então ela corre, empurra Santiago para longe e corre como uma moleca travessa sendo pega na artimanha, entra correndo no casarão.

Corro tão rápido que logo estou fazendo a porta de madeira branca bater contra a parede e escuto Maria falando alto na cozinha:

— Menina, o que houve? Tá tentando tirar o pai da forca?

— Dandara! — grito novamente.

Entro na cozinha vendo-a atrás de Maria, como se eu tivesse receio de ir lá lhe dar umas boas palmadas!

— Pare de correr, será pior quando eu te pegar! — ameaço.

— Ei, não quero bagunça na minha cozinha! Dandara o que você aprontou com o homi ? — Maria bate com a colher de pau na bunda de Dandara que agora tenta se esquivar de mim e de Maria.

— Vai fazer o quê? Me bater? Agora bate em mulheres? Quero ver encostar a mão em mim!

— Não, nunca encostei em uma mulher, mas dizem que para tudo tem uma primeira vez. E minha mão está coçando — grito.

Dou a volta na mesa, Dandara corre para o outro lado, fazendo o banco cair e eu tropeçar ao tentar pulá-lo, caindo de quatro no meio da cozinha. Sua gargalhada alta, faz minha raiva ferver mais que panela de pressão no fogo. — Ria enquanto pode.

— Alguém pode parar esses dois? Eles irão destruir a casa! — Maria grita empunhando sua colher de madeira. — Estão parecendo duas crianças!

— Desculpe Maria, mas não vou me meter — escuto a voz de Mathias enquanto corro atrás de Dandara que vai para a sala. — Dandara prendeu o homi no estábulo, peguei ele dormindo de concha com os cavalos.

Maria me encara, a mão na boca tentando segurar o riso.

— Vai, pode rir. Quero ver se aquela filha da mãe vai continuar rindo da minha cara quando eu a pegar — bufo, com os olhos em Dandara.

Ela faz um movimento errado diminuindo nossa distância, pulo sobre o sofá, meus braços envolvem sua cintura, tirando seus pés do chão. Não penso duas vezes, jogo seu corpo em meu ombro, dando um tabefe em sua bunda.

— Me solta! — Dandara grita.

Ela bate em minhas costas, os socos doem, não é que a Diaba tinha uma força bruta?

— Como foi sua noite? A minha foi maravilhosa, tá sentindo meu cheiro? Quer ver a quantidade de picadas que tenho espalhadas pelo corpo? Acho que tenho feno até em parte que desconheço!

Dou mais alguns tabefes em sua bunda que a fazem gritar. Eu estava puto por ela ter me deixado ao relento no meio dos bichos. E ficando com tesão, isso mesmo, ter o corpo daquele Diaba tão perto, tão ao meu alcance. Seus seios roçando em minhas costas, estava fazendo meu pau ficar rigido como uma tora, maldita hora para uma ereção. Eu queria mesmo é vê-la de quatro enquanto castigava sua bunda por ter me deixado trancado junto dos cavalos, mas também saborear cada gemido que ela pudesse...

— Meu Deus, Seu Miguel, solte a menina! — Maria exclamou.

— Não antes de lhe dar uma lição! — digo.

— Seu Miguel, não me obrigue a usar a Betinha em ocês dois. — Maria alerta.

— Não estou brincando, brucutu! É bom me soltar! — Dandara urra em minhas costas.

Acerto um tapa mais forte, jogando seu corpo no sofá, prendendo seu corpo ali ao apoiar meu joelho de um lado e o braço ao lado de sua cabeça, vendo seus olhos se arregalarem por um pequeno instante, mas o suficiente para meu dar um gostinho doce na boca. — Você tem sorte que é mulher, mas eu poderia, como vingança, soltar aquele seu cavalo gigante que tanto ama... — digo de maneira perversa — Como você ficaria?

Dandara me empurra com força, ficando de pé. — Você nem pense em tocar no Trovoada, você me entendeu? — responde praticamente gritando.

— Seria excelente, quem sabe assim você aprende a respeitar as pessoas? — retruco segurando seu braço.

— Larga meu braço, Miguel!

— Você quer me enlouquecer, você vem, me atiça, me provoca...

— Você se aproveitou da situação! — retruca.

— Você não se faça de sonsa! — grudo seu corpo mais no meu — Adorou o que fiz com minha boca.

— Misericórdia! — o sussurro de Maria quase me tira o foco da diaba em minha frente.

— Eu odeio você, Miguel! — Dandara tinha ficado furiosa, mas confesso que não liguei para o que ela estava falando, só conseguia ver aqueles lábios se mexendo. Queria torcer seu pescoço, mas também queria fodê-la. Como essa mulher me tira do sério!

— Você quis tudo que aconteceu e tá querendo mais que eu sei.

Seguro um punhado de seu cabelo bem justo no pescoço roubando um beijo, mordo seu lábio nem me importando por ela reclamar ou tentar me empurrar. Dandara retribui meu beijo, até me afastar, empurrando meu peito, fazendo com que me desequilibrasse dando alguns passos para trás rindo.

Ela limpa a boca me olhando com raiva, cospe no chão e então corre escada acima.

— Minha mãe dizia que muito ódio vira amor. — Maria retruca.

Viro vendo que Mathias e Maria ainda assistiam nosso pequeno showzinho. — Dela quero distância — digo marchando para meu quarto.


CAPÍTULO 18


Dandara

Bato a porta fazendo as coisas estremecerem dentro do quarto. Maldito brucutu! Arranco minhas roupas jogando-as no cesto perto do banheiro, ligo o chuveiro bem quente, quente o suficiente para que ao tocar em minha pele pudesse queimar o toque daquele... Engulo os pensamentos raivosos que passam por minha mente esfregando meus braços, meu pescoço, qualquer lugar que ele tivesse encostado, na tentativa de tirar o cheiro dele. Ainda não conseguia acreditar na petulância daquele brucutu. Miguel realmente não tinha amor pela vida.

Confesso que deixá-lo ao relento não foi algo muito sensível de minha parte, mas ele mereceu e, vai merecer cada pisão em seu pé a partir de hoje.

Bater na minha bunda e me tascar um beijo na frente de todos? Quem ele pensa que sou? Enquanto terminava meu banho pensava em mil maneiras de me vingar, mas acabei descartando todas, eu é que não desceria ao nível infantil dele, minha melhor vingança seria chutar a bunda dele para fora do meu Haras quando tudo acabasse.

Visto um short e uma camiseta puída e chinelos, melhor me ocupar dando banho nos animais do que cruzando meu caminho com certas mulas por aí. Atravesso o Haras em silêncio evitando falar com qualquer um que cruze meu caminho.


Agradeço pelo trabalho parecer não ter fim e os músculos espalhados pelo meu corpo começarem a protestar do esforço feito, passar o tempo no meio dos cavalos me acalmava e me fazia esquecer por alguns instantes minha vontade assassina contra Miguel. Mas amanhã mesmo eu ligarei para o advogado, não dá para continuar assim, mais dia ou menos dia e eu mataria Miguel. Que ideia absurda de Pedro me colocar nessa enrascada.

Já era noite quando paro fecho a última baia. Trovoada relincha animado após o banho, sacudindo a cabeça e sua longa crina.

— Teve um dia melhor que o meu, né, bonitão?

Saio do estábulo trancando as portas, todos os funcionários já tinham ido embora, caminho observando a noite, as estrelas e a lua cheia brilhando forte no céu, o som dos grilos cantando no meio do pasto.

Entro no casarão, tiro o chapéu, deixando-o no mancebo de madeira. Tudo estava em completo silêncio, poucas luzes acesas indicando que até a Maria tinha se recolhido.

Passo pelo quarto do brucutu vendo a luz está acesa sair pela pequena fresta da porta, estava prestes a entrar em meu quarto quando escuto uma porta atrás de mim se abrindo.

— Esquentadinha!

Viro, vendo-o só de cueca box, o corpo todo amostra.

— Não dirija a palavra para mim!

— Eu disse hoje cedo que tinha contas a acertar, você acha que seu showzinho me botou medo? — questiona vindo em minha direção.

— Se colocar as mãos em mim é bom começar a rezar para sair com ela no lugar!

— Não tenho medo de suas ameaças vazias — retruca.

— Vazias serão as suas bolas quando eu chutar para longe. — ameaço

— Você acha que vai me enlouquecer? — pergunta vindo em minha direção — Acredita mesmo que vou cair nos seus truques?

— Truques? — Gargalho alto — Não sou eu que fico agarrando você para roubar beijos.

— Vai dizer que não gostou?

— Já percebi que gosta de brincar com fogo! — desafio — Cadê toda aquela falamansa que andou esbravejando por aí? Homi metido a machão, não consegue parar de encarar para minha boca enquanto eu falo. Tudo isso é desejo?

— Não me torno frouxo por ter você na minha mente, me torno se não conseguir tirar, — Miguel dá mais dois passos em minha direção — e isso eu sei como fazer.

— Você pensa que me leva fácil, né?

— Você gosta de mexer com os homens, “se sente” fazendo isso...

— Eu não sou de quem me quer, sou de quem eu quero ser, e faço porque posso. — respondo dando um sorrisinho.

Miguel puxa meu corpo para o seu, fechando a porta com o pé, sua boca mordendo a minha enquanto distribuo tapas sobre seus ombros, costas, todo lugar que minhas mãos alcançam. Mas seu beijo furioso vai desarmando meu corpo, principalmente quando solta minha boca beijando de leve e devagar meu pescoço, rindo contra minha pele que se arrepia com seu toque, acabando com qualquer defesa minha. Não tinha gentileza no toque, havia desejo e prazer, junto de uma pessoa que queria provar seu argumento.

As mãos de Miguel ergueram meu corpo, sua língua forçando minha boca a se abrir ainda mais. Eu meio que empurro, e volto a puxar seu corpo para o meu. Precisei inspirar profundamente algumas vezes quando sua boca tomou o pequeno vão entre meus seios, sua lingua quente tocando minha pele fazia meus mamilos endurecerem e meu corpo querer mais. Sentir a proeminência em sua cueca também não ajudou muito meus pensamentos entrarem num bom senso.

Não era correto eu me render ao seu toque, não quando tinha aberto minha matraca falando que não me entregaria numa bandeja para ele, mas que diacho! Mordo seu lábio inferior, empurrando seu corpo para longe, tentando controlar a respiração. — Chega!

— Por que parar agora? — questiona agarrando novamente minha cintura.

— Eu disse chega, Miguel!

Suas mãos continuaram apertando com firmeza minha nuca, seus olhos mostravam que não estava disposto a me deixar em paz, que não sairia de meu quarto com aquela decisão fraca com a qual eu tentava me agarrar.

— Chega nada, não para mim e com certeza não para você. Eu sinto seu corpo vibrando em minhas mãos, Dandara.

Não arrisco olhar para ele, com medo que ceda aos meus instintos. Ele segura meu braço, olhando no fundo de meus olhos.

— Eu quero você, Dandara!

— Você quer me passar para trás, quer ter motivo para fazer chacota, quer o Haras, não é porque fui criada no meio do mato que não conheço homens como você, Miguel!

— Cala um pouco a boca, esquentadinha!

Abro os lábios para retrucar, mas é tarde. Ele pega meus braços, me empurrando contra meu armário, meu corpo inteiro treme com o calor do toque, ele tira a barra de minha camiseta de dentro do short, traçando livremente pelo meu corpo até meu seio. Miguel me vira de costas, mordendo meu pescoço, o corpo colado no meu, e acaba abrindo meu sutiã. Segurando meus seios, massageando-os nas mãos, beliscando meus mamilos sedentos por atenção. Roço minha bunda contra seu membro rigído na cueca, fazendo com que ambos gemêssemos.

Miguel continua acariciando meu corpo, mordendo e chupando meu pescoço. — Quero você, aqui e agora. — ele arranca minha camisa pela cabeça, fazendo a mesma coisa com meu sutiã, chupando meus seios, sugando-os até que eu não pudesse conter mais meus gemidos de prazer. Meu sexo pulsa, até dolorosamente quando a pressão do prazer explode em certas áreas.

É errado continuar com isso? Puxá-lo par mim, desejando seu corpo, respiro profundamente tentando encontrar a raiva que me alimentava horas atrás, mas só encontro o desejo.

Miguel conduz nossos corpos para a cama, arrancando o resto de nossas roupas, assim como o preservativo escondido no cós da cueca, em um segundo estava entre minhas pernas, sua mão agarrando meu cabelo, sua boca mordendo meu queixo.

Segurando meus seios com as duas mãos, apertando e puxando os bicos, lambendo minha barriga, minha cintura, roçando a barba pela minha pele, deixando-a rosada e eriçada. Um gemido explodiu de mim quando sua língua encontrou meu clitóris, seguro firme o lençol querendo tremer com o que ele fazia em minha intimidade, sua boca não me dava misericórdia alguma, sua língua muito menos. Quando seu dedo me invadiu, minhas costas se curvaram e o gemido saiu mais alto, fazendo eu ganhar um tapa na bunda.

— Desculpa, esquentadinha, mas teremos tempo para fazer amor em outro momento, agora, eu quero que seja rápido, que queime esse fogo dentro de mim.

Miguel desenrola o preservativo em seu membro, nunca tirando pelo menos uma de suas mãos do meu corpo, seus dedos tocam meu sexo, me fazendo arfar. Chupo os dedos que me tocam, vendo Miguel mordiscar o lábio e sorrir. Seu pau encaixado em minha entrada, deslizando de maneira lenta, começo a rebolar, fazendo seu membro se remexer dentro de mim.

Enquanto eu rebolo, Miguel segura meus cabelos de forma bruta, aumentando o ritmo dos movimentos, entrando e saindo de dentro de mim, segurando minha cintura com a mão livre fazendo seu membro ir mais fundo, meu corpo treme e Miguel geme alto.

Estavamos nos devorando, caricias eram feitas pelo nossos corpos ondulando juntos, enquanto eu consumia cada gemido e estocada que Miguel produzia.

Aperto os lençóis entre os dedos, seguro seu pescoço com firmeza quando ele encaixa a boca sobre meu seio, montando em seu colo, sentando com força sobre ele, gostando do modo como ele geme e descola a boca de meu mamilo, jogando a cabeça para trás rendido.

— Puta que pariu, você é deliciosa! — diz baixinho contra meu pescoço.

As estocadas duras fazem meu corpo tremer, meus seios balançam com o ritmo forte do sexo que fazemos. Ele geme agarrado em minha cintura, forçando meu corpo para baixo, quebrando as últimas barreiras, me fazendo gozar. Miguel ainda mantém o ritmo por algumas estocadas até que goza, seu membro latejando dentro de mim, se misturando com nosso suor, os tremores do meu corpo e do seu e as batidas descompassadas dentro do meu peito.


Quando eu estou envolvida em seus braços

O mundo todo apenas desaparece

A única coisa que escuto é

o bater de seu coração.


Porque posso ouvir sua respiração

Está se derramando sobre mim

E de repente estou me desfazendo dentro de você

(Breathe, Faith Hill)


Arre égua , estou perdida...

Levanto com um sobressalto e empurro para longe o braço forte que rodeia meus seios, tentando soltar meu corpo. Parece que os braços dele tinham se tornado uma braçadeira de ferro, o jeito foi sair me rastejando pela cama como uma cobra, até que eu caísse de bunda no chão.

Pego uma muda de roupa e corro para o banheiro, tomo um banho rápido, não parando nem para secar o cabelo, apenas escovo e deixo solto pelas costas. Não é que eu não queira encarar a asneira que tinha feito noite passada, mas...bem, era isso mesmo, não queria dar de cara com Miguel, por isso levantei mais cedo que até o próprio sol e me esgueirei para fora do quarto com as botas nas mãos.

— Fugindo de alguém, menina?

Pulo tampando a boca para que meu grito de susto não faça eco pelo corredor escuro.

— Cristo pai, você quer me matar do coração, Bento? — questiono sentindo os batimentos acelerados contra o peito.

— Desculpe, mas estava saindo do quarto como quem escondia um cadáver, devo me preocupar? — pergunta encarando a porta que eu havia acabado de fechar.

— Deixe de besteira homem, só tive uma noite ruim.

Bento coça a cabeça com a bengala velha. — Arra, por falar em noite ruim, tinha algum animal sofrendo ontem, Maria e eu mal pegamos no sono, parou de sofrer era já tantas da madrugada.

Engulo em seco, será que tínhamos feito tanto barulho assim?

— Vou ficar de olho nos arredores, tenha um bom dia, Bento.

Escuto o riso baixo dele enquanto caminho pelo corredor. — Bom dia, menina.

O dia não tinha se levantado, mas mesmo assim entro no estábulo para conferir como estão os animais. Reponho água e feno, depois me dirijo á baia de Trovoada, ele vira a cabeça não querendo olhar para mim.

— Qual é, amigão, está bravo comigo?

Ele me encara, dando uma fungada balaçando a cabeça como se confirmasse.

— Que tal recompensar isso com com uma corrida?

Ele relincha ainda evitando me olhar, eu conheço o jogo dele, Trovoada é um menino mimado, e a culpa é toda minha.

— Tudo bem então, já que não quer mais minha companhia...

Ele relincha mais alto, levantando as patas da frente. Fazendos os outros cavalos reclamarem.

— Você é um garotão mimado! — brinco, pulando a portinhola da baia, subindo diretamente no pelo, me agarrando ao seu pescoço. — Vamos ver o sol nascer.


Ficar perto dos cavalos ou montar em Trovoada é como respirar, algo tão natural, acredito que eu aprendi a montar antes mesmo de andar.

Saímos em direção ao campo aberto, ganhando velocidade a cada passada, sentindo o vento frio da madrugada ir contra nós. Eu precisava limpar minha mente, precisava tirar Miguel e a noite de ontem da mente, precisava tirar essa distração total, ainda não sabia o que pensar sobre essa história de Miguel conseguir meu Haras, o que faria com as famílias e funcionários que dependiam dos seus empregos? O que faria com os cavalos? Para onde eu iria com Trovoada? Aqui sempre fora meu lar, foi meu lar quando minha mãe faleceu, foi meu lar quando meu pai morreu em um torneio de rodeio.

O Haras é meu santuário, minha casa, eu aprendi a escrever no lombo de um cavalo, fiz desenhos nas paredes do antigo celeiro, aquilo era meu refúgio...

Volto para o Haras depois de admirar o sol nascendo, em alguns dias começaria o outono e o frio ocuparia as noites, o que me fazia sair pelos campos ajudando os cavalos que podem se perder ou sofrer com as chuvas repentinas.

Vou até o escritório respirando fundo, ao sentar em minha cadeira, tiro o chapéu, deixando-o sobre a mesa.

— Entre — respondo à batida na porta.

— Dandara, bom dia.

— Daniel, estava mesmo esperando por você. Sente-se.

— Em que posso ajudá-la?

— Quero saber mais sobre o Haras, por que Pedro deixou o Haras com Miguel, ele conhecia o sobrinho, nunca teve interesse por nada, mal sabe a diferença entre a crina e o rabo dos cavalos. Porque deixar o Haras nas mãos dele? — solto tudo de uma vez, expondo minha irritação, minha indignação. — Você me conhece desde menina, Daniel, eu ensinei sua neta a montar, eu cuido desse Haras como se fosse meu filho. Deixei as competições para administrar tudo isso quando Pedro descobriu a doença, abdiquei minha carreira para dar minha vida ao sonho dele.

Sinto as lágrimas forrando a parte debaixo dos meus olhos.

— Quando ele desejou implantar o projeto fui eu quem o apoiou, eu que contratei os profissionais, saí em busca de patrocinadores, tenho mais de trezentas crianças se benificiando do projeto. Temos selos e premiações.

— Eu sei de tudo isso Dandara, mas não cabe a mim dizer os motivos que influenciaram Pedro a tomar essa atitude. Ele escreveu uma carta, uma carta para você e Miguel, que só poderá ser lida após a decisão ser tomada.

— Uma carta? E você não me comunicou antes por quê?

— Dandara, como disse, isso não está em minhas mãos. Pedro deixou ordens explícitas.

— Arre égua , uma bosta a essas ordens!

Bufo, tentando controlar minha irritação.

— O único conselho que eu posso dar é: mostre ao Miguel o quão bem o Haras faz, mostre seu amor por tudo que você e Pedro criaram nesses anos. Faça-o não vender o Haras, até mesmo unindo os dois planos, por que não?

— HÁ HÁ, transformar meu Haras em um hotel de luxo para madames enfrescuradas? Quando um cavalo cagar nos pés delas quero ver quantas estrelas sobrará. É de pessoas como Miguel que eu sempre fugi esses anos, não quero o dinheiro de quem vê meus cavalos como um pedaço gigante de bife passeando por aí.

— Tente ao menos resgatar o amor que Miguel tinha na infância. — Daniel aconselha.

— Por Cristo, Daniel. Pedro estava maluco no final dos seus dias. Ele acreditou mesmo que os chiliques na infância de Miguel era por mais tempo com os animais? O menino gritava se um porco grunhice em sua direção. A última vez que pisou no Haras fez uma estripulia soltando metade dos cavalos das baias. Foi um Deus nos acuda até recuperarmos tudo.

Daniel segura o riso, ajeitando melhor a postura na cadeira.

— Quer que eu conte a vez que soltou uma bombinha estampido no meio do pasto? Pedro saiu atrás dele na base do chicote.

— Vou dizer a mesma coisa para você como diria para Miguel: não posso intervir, a questão não é uma briga de foices. É vocês conversarem o que é melhor para o Haras...

— Ele irá vender tudo, demolir tudo, sabe quantas pessoas tenho trabalhando aqui? Quantas famílias envolvidas? Imagina todos os dias você se levantar e as pessoas te encararem com perguntas nos olhos, meus funcionários não sabem como será o amanhã. Nem se terão o salário no mês que vem — resmungo — É com isso que lido.

— Miguel fez uma proposta, ele quitaria as dívidas que o Haras tem, e fez uma consulta com as fazendas de corte e o Haras vizinhos para a possibilidade de vender os cavalos. Acredito eu que queria sondar o terreno para saber o valor de um manga-larga.

Levanto enfurecida, batendo as palmas das mãos na mesa. — Ele quer levar uma chicotada!

— Dandara! — exclama.

— Ele que tente encostar em meus cavalos, ele que tente... Arre égua!

— Quando o assistente de Miguel entrou em contato comigo deixou bem explicíto que o único que ficaria fora desse pequeno inventário seria o Trovoada.

Arqueio a sobrancelha — E isso alivia minha vontade de matá-lo? Ah claro, ele foi gentil em não vender um cavalo que foi presente de meu pai!

Eu estava soltando fogo pelas ventas, o filho duma égua teve coragem de agir pelas minhas costas e depois vem com sua falamansa e me leva pra cama. Eu sou muito burra mesmo!

— Bem, Dandara. De todas as formas, se vocês não chegarem a um acordo, se você não aceitar vender sua parte para ele ou se não conseguir pagar a dívida, automaticamente o Haras entra em um processo e se ele tiver a possibilidade, vai acabar nas mãos de Miguel. Se isso não ocorrer, de qualquer forma, assim que o tempo imposto pelo Seu Pedro acabar, o Haras entrará num processo onde quem terá o poder de decisão é a justiça. Isso pode envolver até mesmo leilão, por conta das dívidas.

— Então é: corre pro mato ou corre pro morro. — suspiro.

— A maneira de todos saírem satisfeito é vocês tentarem resolver isso amigavelmente.

— Tudo bem, obrigada pelo seu tempo doutor.

Ele concorda com um gesto, levantando-se. — Fique bem.

— O senhor também.

Acompanho o advogado para fora, fechando a porta atrás de mim. Caminho até o espaço para equitação, vendo os montadores treinando.

— Dandara!

Abaixo um pouco a aba do chapéu fazendo sombra para o sol forte da manhã. Carolina vem calvagando em minha direção, acenando. — Bom dia!

— Preciso da sua ajuda, sinto Damião entrando errado nos obstáculos.

— Dá uma volta para eu observá-lo — digo pulando a cerca.

Carolina trota se afastando, fazendo semicírculos para aquecer o cavalo, passa pelos primeiros obstáculos e vejo que Damião está com uma passada errada, as pernas de dentro estão trotando mais longas que as de fora. É preciso equilibrar o lado que ele está tendo maior dificuldade. Carolina também anda forçando demais no elevado, a conexão entre eles também estava meio mexida, isso acontecia com cavaleiros que entravam na época de competição, tinham muita pressão e sentimentos misturados e acabam passando para os animais.

— Bom dia, esquentadinha, tinha espinhos na cama essa manhã? — Miguel agarra minha cintura e beija meu pescoço. Me esquivo com um sorrisinho, ainda com raiva por ele ter agido pelas minhas costas.

Seu olhar malicioso mexe comigo. O desgraçado sabe que venceu ontem!

— Levanto antes mesmo do sol, coisa de caipira. — me atrevo a desafiá-lo.

Miguel sorri abaixando a cabeça, ainda me olhando. — Confesso que tive uma noite excelente. Poderíamos repetir nossa conversa hoje a noite, o que acha?

— Poderíamos, mas não vamos, tenho mais o que fazer. E nada mudou.

Miguel me encara surpreso, — O que eu fiz? Acordou azeda como um limão, você não cansa de distribuir coices?

Nós estavamos em um maldito pé de guerra e tudo que eu conseguia me lembrar quando encarava os olhos castanhos de Miguel é onde sua maldita boca esteve ontem a noite. E eu excitada por cada gesto que aquele brucutu fez! Deveria dar um tapa em mim mesma!

— Que tal darmos uma volta? Você poderia me mostrar a região.

— Claro, tem algo que ficou de fora de seu inventário? — mordo a língua por ter falado disso.

Miguel fica surpreso, mas logo se afasta de um passo, confirmando o que Daniel tinha dito mais cedo, ele realmente agiu pelas minnhas costas.

— Dandara...

— Cala a boca, brucutu! Se não quer ver a cara enfiada no esterco de cavalo, fique quieto!

Viro sinalizando para Carolina se aproximar.

— Teremos que trabalhar algumas coisas em vocês dois. Faça uma pausa, eu vou preparar o redondel.

— Ok, obrigada Dandara.

Sorrio pulando o cercado novamente, ignorando Miguel que me seguia como uma sombra.

— Não cometi nenhum crime, Dandara.

Reviro os olhos, caminhando para longe.

— Você está sendo teimosa, poderíamos resolver isso de outro jeito, quem sabe unir o útil ao agradável.

Viro fazendo-o parar quase tropeçando em mim. — Diga brucutu, qual sua excelente ideia? Já recebeu oferta pelos meus cavalos? Ah, muito obrigada por deixar Trovoada de fora, foi uma gentileza imensa, já que não quis vender também um presente de meu pai.

Sinto que estou quase gritando.

— Eu não venderia seu cavalo, vejo o amor que sente por ele. Posso não ser um especialista ou não gostar das mesmas coisas que você, mas não quero mal aos bichos.

— Não quer o mal deles? — Sinto minhas bochechas pegando fogo, Miguel mesmo mantém uma certa distância de mim. — Sabe qual a diferença entre um cavalo para lidar com o gado e um cavalo de montaria e competição?

Ele dá de ombros.

— Exato, se não sabe essa imensa diferença e mesmo assim foi oferecer meus cavalos para donos de fazenda de corte. Você com certeza não quer o bem deles. Jumento! — disparo a falar.— Mas tenho uma solução, vá embora, se não quer o mal deles, vá. Ou está esperando a foda de despedida? Quer ir para o celeiro desativado? — pergunto desatando o nó da minha camisa xadrez fazendo ela revelar minha blusa curta.

— Deixe de ser ridícula! — ele grita, chamando atenção das pessoas que passam por nós.

— Não sei onde Pedro estava com a cabeça, ele só poderia estar alucinando quando decidiu deixar meu Haras para você! — Vejo o olhar irritado de Miguel, mas não deixo que fale. — Tenho muito trabalho a ser feito, se puder pelo menos não atrapalhar, eu agradeço.

Estava pronta para deixá-lo parado sozinho quando vejo Cindy galopando em minha direção. Era hoje, definitivamente eu mataria um.

Ela se aproxima com o sorriso mais falso que nota de três reais, diminuindo o galope, parando o cavalo perto da cerca e desce, balançando a mão em nossa direção. — Dandara! Era você mesmo que queria encontrar!

— Só me faltava essa — sussurro. — Acho que errou, sua prenda está bem na minha frente — digo com um sorriso cínico nos lábios.

— Forasteiro, desculpe não ter vindo mais cedo, vejo que ficou totalmente curado do ataque de fúria de Dandara.

Miguel sorri, deixando que a oferecida lhe agarrasse o pescoço dando um beijo bem perto de sua boca.

Maria trepadeira! — penso com raiva.

— Estou bem sim, que surpresa boa vê-la aqui. Estava agora mesmo comentando com Dandara que queria dar uma volta pela região.

Cindy sorri animada. — Então encontrou sua companhia, faço questão de ir com você.

Miguel me encara vendo minha cara de poucos amigos. E mesmo que eu tente disfarçar meu ódio por Cindy, ele se aproveita da situação. Segura na cintura fina da trepadeira, abrindo um amplo sorriso. — Podemos dividir o mesmo cavalo, eu não estou acostumado a montar sozinho.

— Ihaaaahhh, mas é claro! — ela diz animada. — Ah, Dandara, eu soube que está preparando uma competição aqui no Haras.

Miguel me encara curioso, até mesmo me fuzilando com os olhos.

— Sim, é para angariar fundo para o Haras, mas como soube?

— Matheus, ele me contou — diz com um sorriso. — Logo pensei, o que seria excelente senão competir? As regionais estão chegando e eu e Milu precisamos estar preparadas, você poderia dar uma olhada nela, estou achando que ela está de TPM — diz abaixando o tom de voz na última parte como se tivéssemos dividindo um segredo. — E você como antiga competidora sabe como é importante o cavalo estar bem. Fico orgulhosa que abandonou os pódios e se dedica cuidando de minha égua.

— Claro. Dou uma olhada.

— Perfeito, — ela empurra a rédea para mim, enlaçando ainda mais seu corpo em Miguel — vamos forasteiro?

— Claro. Irei pedir para Mathias selar um cavalo. — Miguel responde me encarando.

Maldito Brucutu, maldita Maria trepadeira!


CAPÍTULO 19


Dandara

— Tá falando sozinha, Dandara?

Pulo de susto, percebendo que estava resmungando alto. — Ocê tem sorte de não ter tomado uma chicotada — digo arrumando o chicote na lateral de minha bota.

— Que bicho lhe mordeu? — Mathias questiona.

— Picão, um bicho desgramento que gruda na pele da gente sugando nosso sangue.

Mathias ri, me entregando as coisas para selar Bruto. — Que bom então que não é um do tamanho de um homi , que chegou recentemente na cidade. — diz tirando sarro.

Encaro Mathias, revirando os olhos, para que notasse que não estava sendo um bom momento para brincadeiras.

— Ah, Danda, deixa disso. Pode ter enganado Bento e Maria com essa história de bicho sofrendo pelo mato, mas eu sei o que faz aquele esganiçado todo dentro de um quarto.

— Ocê não tem amor aos dentes, não? — bufo.

— Ô se tenho, como acha que consegui os meus uivos? Tudo na beleza do sorriso — Mathias caçoa abrindo um sorriso de cavalo para mim.

— Arra , não torre minha paciência!

— Mudando de proza , achei que já tinha acabado com a doma do Bruto.

— Sim, ele está pronto para ficar com os outros. Mas hoje eu quero que prepare a pista para três tambores.

Mathias abre um enorme sorriso, — Irá competir novamente? Que alegria garota!

— Ainda não, vou só matar a saudade.

— Pois deveria. — Mathias aperta a sela, conferindo se está tudo bem preso.

— Faz tanto tempo que não penso nisso Mathias, deixei as competições para trás quando assumi a responsabilidade do Haras.

— Arra, e isso não mudará. Você cuida desse Haras mais que de si mesma, eu lembro do primeiro dia que cheguei aqui e vi você cavalgando. — Mathias sorri ajeitando o chapéu na cabeça — Devia ter uns dez anos, lembro que parei perto do cercado olhando, você tinha tanta conexão com o cavalo, tinha tanto talento, mesmo naquela idade.

Sorrio lembrando da minha primeira competição.

— Todos sabemos o duro que está dando para manter tudo sob controle, até mesmo antes da morte do Seu Pedro.

— Quem sabe eu possa tentar — digo.

— Será um excelente começo.


Bruto raspa a pata pelo chão, como se ele próprio se aquecesse. Quando Bruto chegou no Haras era apenas um cavalo maltratado e ferido, abandonado pelo antigo dono para morrer ao relento. Foi numa noite de chuva intensa que o encontrei caminhando com dificuldade nos arredores do Haras. Demorou meses para que ele sequer deixar que eu me aproximar dele, estava tão ferido internamente em sua confiança com os humanos que só de ver um já se armava dando coices.

A doma nunca foi uma coisa tranquila com ele, ficava feliz só por não levar uma mordida. Mas eu o entendia, foi ferido por acreditar em um humano, sua defesa natural era expulsar quem quer que tentasse se aproximar.

— Sei que você gosta de correr, vejo como seus olhos brilham quando fica livre — sussurro passando a mão em sua crina.

Ele raspa a pata no chão, emitindo relinchos e baforadas baixas, ele aprovava o que eu estava falando, assim como o fato de suas narinas estarem dilatadas e as orelhas eretas para frente significava que prestava atenção ao que eu dizia.

— Quero propor algo diferente para nós. Se você gostar, podemos pensar em fazer isso mais vezes. — Tiro o chicote com calma da bota, ele fica desconfiado. — Isso será necessário entre nós?

Bruto relincha, marchando para trás, sacodindo a cabeça. Jogo o instrumento para longe. — Quero que você corra quando for necessário, quero que sinta a terra tocando forte suas patas e o vento traga a liberdade que isso vai lhe trazer. Mas para isso precisa obedecer fielmente meu comando.

Estralo os lábios indicando para que ande, faço todo o circuito no trote, deixando que ele receba meus comandos, deixando que veja como será.

A competição dos três tambores é simples, você precisa fazer uma saída com explosão antes de cruzar pelos sensores. Uma prova de três tambores clássica é de oito metros até o primeiro, depois vinte e sete e meio até o segundo tambor e trinta e dois metros até o terceiro. E então, a reta final, onde exige mais dos cavalos e das amazonas, era esforço máximo pelo melhor tempo. Se tudo for executado com perfeição e sem derrubar nenhum dos tambores, você poderia ganhar alguma posição boa.

Existem pessoas que gostam do silêncio, silenciam tudo ao seu redor, se concentrando apenas na sua própria respiração e de seu cavalo. Eu gosto de ouvir tudo.


— Não foi um tempo ruim para quem está parada por anos. — Mathias comemora pendurado na cerca.

— Quanto?

— Dezessete segundos e meio.

Desço do cavalo acariciando a testa dele. — Esse garoto nasceu para isso.

— Dei uma examinada na égua da Cindy, ela está machucada pelas esporas, sua barriga está toda marcada e além disso, queria que desse uma olhada no freio, acho que tem algo errado.

— Odeio quando vejo animais sofrendo pela imprudência de seus donos.

— Também não gosto, pena que o pai de Cindy não pense assim e deixa aquela garota maluca usar os animais como enfeites.

— Nem me lembre disso — retruco.


CAPÍTULO 20


Miguel

Logo após fazer sexo com Dandara fiquei perdido olhando-a dormir por alguns instantes, aquilo, esses tempos no Haras têm sido os mais malucos que já tive. Aquela esquentadinha está mexendo comigo, ela está me atormentando desde que pisei no Haras, fazendo meus dias e noite incertos, mas a mulher deitada no meu braço, dormindo tranquilamente, livre de todas as caretas e muros que impõe me faz querer seguir outro rumo. Eu tenho vontade de puxar seu corpo contra o meu, encaixá-la em meu pênis e fazer tudo de novo, agora sem pressa, absorvendo tudo, cada gemido que ela faz. Mas acabei adormecendo enroscado em seu corpo ao contemplar seu rosto enquanto dorme.

E quando o dia seguinte chegou, me deparei com a cama vazia, ela saíra de fininho para não me enfrentar quando acordasse. Abro a porta, verificando se o caminho está livre e quando confirmo que sim, retorno ao meu quarto, trancando a porta depois de entrar.

Tomo um banho rápido vestindo algo mais leve para o dia quente que faz do lado de fora, fazendo uma anotação mental: ar condicionado em todos os cantos, pelo amor de Deus, como é quente isso daqui! Pego os óculos escuros colocando-os no topo da cabeça e desço correndo a escada em direção à cozinha.

— Bom dia, Maria — cumprimento a senhora, ela me olha meio espantada o que me faz questionar se eu não estava sendo educado o suficiente com as pessoas dali. Mas também, com a noite anterior que tive, meu humor está perfeito nesta manhã. — Por acaso você viu a...

— A menina está embrenhada pelo Haras como sempre, Seu Miguel.

Pego uma laranja, descascando-a. — Vocês sempre começam o dia antes mesmo do sol?

— Sim, a menina é que acorda o galo e não o contrário.

Sorrio jogando as cascas fora. — Em São Paulo também acordamos, mas confesso que ser dono do próprio negócio tem suas vantagens.

Saio pela porta lateral da cozinha roubando um chapéu preto na varanda, brincando ao colocá-lo em minha cabeça, até que não tinha ficado ruim. Deixo de lado ao ver Dandara perto de um dos cercados sorrindo como uma menina ao ver os cavalos.

Lembro-me de poucos momentos vividos aqui, mas o que eu com certeza consigo recordar é dela, mesmo muito diferente da época que erámos crianças. Dandara sempre foi apaixonada por isso, era raro vê-la vestindo sapatos e quando estava, eram botas. Era mais raro ainda ver a menina fazendo outra coisa do que estar perto dos bichos.

— Bom dia, esquentadinha, tinha espinhos na cama essa manhã?

Agarro a cintura de Dandara, lembrando de nossa noite, gostando do cheiro dela.

— Levanto antes mesmo do sol, coisa de caipira.

Pelo tom de voz afiado, já estava mordendo os cotovelos.

Sorrio dando um beijo suave em seu rosto, tentando suavizar o mau humor. — — Confesso que tive uma noite excelente. Poderíamos repetir nossa conversa hoje a noite, o que acha?

— Poderíamos, mas não vamos, tenho mais o que fazer. E nada mudou.

— O que eu fiz? Acordou azeda como um limão, você não cansa de distribuir coices? — Controlo minha vontade de responder Dandara de forma ríspida, suspiro, suavizando a voz — Que tal darmos uma volta? Você poderia me mostrar a região.

— Claro, tem algo que ficou de fora de seu inventário?

Fico surpreso, me afasto de um passo para olhar melhor seu rosto, como ela soube?

— Dandara...

— Cala a boca, brucutu! Se não quer ver a cara enfiada no esterco de cavalo fique quieto!

Ela vira chamando uma garota.

— Teremos que trabalhar algumas coisas em vocês dois. Faça uma pausa, eu vou preparar o redondel.

— Ok, obrigada Dandara.

Sei o jogo que Dandara faz, ela prefere fugir do que virar e me encarar, não deixo barato, sigo-a pelo Haras.

— Não cometi nenhum crime, Dandara.

Ela continua andando, me ignorando.

— Você está sendo teimosa, poderíamos resolver isso de outro jeito, quem sabe unir o útil ao agradável.

Ela vira, parando brutalmente, me fazendo quase tropeçar.

— Diga brucutu, qual sua excelente ideia? Já recebeu oferta pelos meus cavalos? Ah, muito obrigada por deixar Trovoada de fora, foi uma gentileza imensa, já que não quis vender também um presente de meu pai.

— Eu não venderia seu cavalo, vejo o amor que sente por ele. Posso não ser um especialista ou não gostar das mesmas coisas que você, mas não quero mal aos bichos.

— Não quer o mal deles? — O rosto de Dandara está vermelho como se tivessem esfregado dois tomates em suas bochechas, e se isso não era um alerta para ficar afastado, eu não sabia o que seria. — Sabe qual a diferença entre um cavalo para lidar com o gado e um cavalo de montaria e competição?

Dou de ombros.

— Exato, se não sabe essa imensa diferença e mesmo assim foi oferecer meus cavalos para donos de fazenda de corte. Você com certeza não quer o bem deles. Jumento! — dispara a falar.— Mas tenho uma solução, vá embora, se não quer o mal deles, vá. Ou está esperando a foda de despedida? Quer ir para o celeiro desativado? — pergunta desatando o nó da minha camisa xadrez fazendo ela revelar minha blusa curta.

E mesmo que a ideia de tê-la novamente em meus braços, sentir o gosto de sua pele e ter seus gemidos em meus ouvidos seja tentadora, me foco em nosso novo cabo de guerra. — Deixe de ser ridícula!

— Não sei onde Pedro estava com a cabeça, ele só poderia estar alucinando quando decidiu deixar meu Haras para você! Tenho muito trabalho a ser feito, se puder pelo menos não atrapalhar, eu agradeço.

Estava pronto para segurar seu braço vendo que se afastaria, quando vejo sua expressão de raiva se focar em outra coisa, sigo seu olhar vendo uma garota vir calvagando em nossa direção.

— Dandara! Era você mesmo que queria encontrar!

— Só me faltava essa! Acho que errou, sua prenda está bem na minha frente — Dandara diz com um sorrisinho falso.

— Forasteiro, desculpe não ter vindo mais cedo, vejo que ficou totalmente curado do ataque de fúria de Dandara.

Sorrio não tirando os olhos de Dandara, deixando que Cindy agarrasse meu pescoço dando um beijo bem perto de minha boca, naquele instante tinha descoberto uma outra arma poderosa contra a esquentadinha, o ciúmes. — Estou bem sim, que surpresa boa vê-la aqui. Estava agora mesmo comentando com Dandara que queria dar uma volta pela região.

Cindy sorri animada. — Então encontrou sua companhia, faço questão de ir com você.

Aproveito a situação segurando na cintura fina da garota, abrindo um amplo sorriso. Satisfeito por ver que deixo Dandara mexida, é bom saber que outra coisa borbulha dentro dela, além de irritação. Afinal, ela não é tão casca grossa quanto esbraveja. — Podemos dividir o mesmo cavalo, eu não estou acostumado a montar sozinho.

— Ihaaaahhh, mas é claro! — ela diz animada. — Ah, Dandara, eu soube que está preparando uma competição aqui no Haras.

Faço minha cara de “não sou o único planejando pelas costas” e encaro Dandara.

— Sim, é para angariar fundo para o Haras, mas como soube?

— Matheus, ele me contou — Cindy diz com um sorriso. — Logo pensei, o que seria excelente senão competir? As regionais estão chegando e eu e Milu precisamos estar preparadas, você poderia dar uma olhada nela, estou achando que ela está de TPM. E você como antiga competidora sabe como é importante o cavalo estar bem. Fico orgulhosa que abandonou os pódios e se dedica cuidando de minha égua.

Dandara competindo? Não sabia que a esquentadinha metida as caras em rodeios ou competições equestres. Estava aí uma coisa para pesquisar quando tivesse deitado em minha cama essa noite.

— Claro. Dou uma olhada. — Dandara responde de forma azeda.

— Perfeito, — Cindy empurra a rédea para Dandara, enlaçando ainda mais meu corpo — vamos forasteiro?

— Claro. Irei pedir para Mathias selar um cavalo.

A carranca de raiva que Dandara está é impagável. É como acender um pequeno fósforo numa fogueira à base de álcool. Eu não quero nada com essa garota, mas se para provocar minha caipira eu tiver que entrar nesse joguinho sujo, por que não?

A tal de Cindy não tinha a mesma desenvoltura que Dandara na montaria, na verdade, não tem nem mesmo a paixão que Dandara exibe ao olhar para os cavalos. Porém, não decepcionou em nada em sua montaria e cavalgada, ela sabia o que estava fazendo. Mesmo que o cavalo ficasse arrisco com seus comandos.

Saímos do Haras indo para os campos abertos da propriedade, passando por um pequeno riacho, Cindy se aproveita por estarmos na mesma sela e esfrega sua bunda em meu pênis, sempre sorrindo e olhando por cima do ombro.

— Que tal pararmos aqui? — questiona olhando para a paisagem na frente, estavámos em uma espécia de monte, víamos a estrada de terra que nos levaria de volta para o Haras e ao longe a silhueta do que seria o centro da cidade.

— Por mim — digo já descendo do animal.

— Quero muito saber o que fez um homem fino e bonito como você se meter com a Dandara — Cindy fala amarrando a rédea do cavalo no tronco de uma árvore.

— Podemos dizer que fomos criados juntos.

— Mentira! — diz rindo.

— Meu tio-avô criou Dandara quando seus pais faleceram.

— Que azar o dela, primeiro perdeu a mãe e logo depois seu pai, morreu em um acidente com bois.

Não havia sentimento real naquelas palavras.

— Você e ela se conheceram como? — pergunto sentando sobre a grama.

Ela caminha parando em minha frente tampando a visão da paisagem remexendo o quadril, tentando ser sedutora.

— Bom, tirando o fato de cidade pequena todo mundo naturalmente se conhecer, além dos filhos estudarem juntos. No Haras, Setti é um dos poucos lugares de excelência por aqui, confesso que tem ótimas pistas para treino. Meu pai é um dos patrocinadores, mesmo eu querendo que Milu seja tratada por outra domadora, não posso negar que ela é boa no que faz. Cindy deu de ombros, analisando as unhas perfeitamente alinhadas e pintadas — Ficou melhor quando saiu das competições.

— Competição? — questiono curioso.

— Dandara praticava a mesma modalidade que eu, três tambores, mas largou tudo quando Pedro ficou doente. O velhote não podia mais pegar no pesado e o que não falta naquele Haras é serviço pesado para ser feito. Mesmo com Mathias vindo para ajudar, Dandara decidiu largar tudo para cuidar do Haras.

— Pela sua cara de surpreso, não sabia disso.

— Conheço pouco daqui, vim muito na infância a mando de meus pais e quando cresci nunca mais voltei. Só fiquei sabendo novamente desse lugar quando um advogado me ligou informando sobre a morte do meu tio. Somos de uma família grande, porém nem todo mundo ainda mantém contato.

— Por que decidiu voltar? — Cindy senta em meu colo, um joelho em cada lado de meu corpo, me fazendo dar um sorriso sem graça ao afastá-la com jeito. — É verdade o que todos tem cochichado por aí?

— O que andam falando?

— Oras, que você veio tomar isso tudo dela. Afinal, pra que um homem como você viria para um fim de mundo como esse?

— Vim por negócios, é tudo que precisa saber.

Cindy fez um beicinho, passando os braços pelo meu pescoço, forçando uma aproximação. — Por que não paramos de falar dela, de cavalos e todas essas bobagens e terminamos o que rolou lá no bar?

Direta e atrevida, ela se daria bem na cidade grande.

— Sinto muito, mas não vai rolar. Vamos voltar? Esqueci que marquei um telefonema importante com meu assistente em São Paulo, como disse, negócios — Fico de pé estendendo a mão para ajudá-la.

Não sei o que tem no DNA dessas caipiras, mas ô mulherada que se enfeza rápido! Cindy levanta dando um tapa em minha mão, já desamarrando o cavalo e subindo. Mais uma que preciso tomar cuidado para que ela não me lance do outro lado da estrada, só por que neguei seu fogo. A realidade é que não queria nada com Cindy, ela poderia ser uma mulher linda, com um corpo escultural. Mas serviu apenas para deixar a esquentadinha com ciúmes.


CAPÍTULO 21


Dandara

Enquanto comemos, Maria não tira os olhos de mim. Abaixo o garfo, dando um longo suspiro. — Diga logo mulher, senão vai engasgar com a própria comida.

— O que está tirando ocê do prumo, moleca?

Velha sábia! Não tinha nada que escapasse de Maria, você poderia se deixar levar pelo rosto repleto de rugas ou pelos olhares maternos que lançava para todos, mas Maria era como um pastor alemão, farejava as coisas à distância.

— O que deu no povo desse Haras hoje? — pergunto desviando do verdadeiro assunto.

— Ocê não me engana mocinha, conheço ocê mesmo antes de aprender a lavar os fundilhos de suas ceroulas!

— Que horror! Estou apenas pensativa, vou sair mais tarde para dar uma olhada nos campos.

Foi a vez de Maria revirar os olhos, ninguém vencia em uma disputa com Maria. — Ainda com aquele sonho azucrinando a mente?

Suspiro empurando a comida de um lado para outro no prato. — Eu vejo aquele cavalo com tanta força, não sei porque e nem mesmo o quê significa.

— Você está preocupada com as coisas daqui, normal, os sonhos mostram nossas preocupações mais profundas.

Suspiro, tomando um gole do suco, confirmando com um pequeno gesto de cabeça.

— Mas não era sobre isso que estava falando.

— Ô merda, Maria! — retruco. Não irei conseguir desviar do assunto.

— Óia a boca! — ralha — Ocê está ansiosa, está assim desde que a senhorita Munhoz chegou no Haras.

— Aquela menina brinca com os animais, Mathias disse que a égua tem marcas feias das esporas, eu gostaria de enfiá-las no...

— Ouuh , acalme-se. — Maria adverte rindo — Seria mesmo por que Cindy está maltratando a pobre da égua, o que não seria nenhuma novidade para nós ou pelo simples fato dela ter saído com Seu Miguel?

Fico em silêncio enchendo minha boca com o resto de suco de meu copo.

— Você gosta dele.

Encaro Maria — Ficou maluca? — digo umas oitavas mais alto.

Ela sorri, pega seu prato e o meu, indo até a pia. — Conheço você, menina. Seria de se admirar se não tivesse apaixonada. Eu disse para Seu Miguel, muito ódio acaba virando amor.

— Você está exagerando, deve ser o excesso de trabalho. Seu “Miguelzinho” está agindo pelas minhas costas, fazendo um inventário de tudo que há aqui para vender.

Maria não manifesta nenhuma surpresa com o que acabo de dizer. — O homi é um bitelo , 5 mas não disse que não era sonso para fazer merda. Pode me chamar de velha caduca, mas conheço os sinais e sintomas, você está gostando dele.

— Arre égua! Vou trabalhar, não quero falar mais disso! — argumento ficando de pé.

— Como quiser, moleca. Mas se enfiar no trabalho não irá arrancar isso d’ocê.

Bufando dou uma olhada feia em sua direção e ela entende o recado, não toca mais no assunto enquanto eu devoro uma maçã vermelha e doce que estava na fruteira. Coloco o chapéu sobre a cabeça, fazendo uma trança em meu cabelo e saio, ignorando os olhares que Maria me lança.

Apaixonada! Era para se rir mesmo, Maria está ficando maluca!


— Tudo correndo bem por aqui — Mathias me relata assim que entro do estábulo. — No fundo ela só precisa de um pouco de atenção.

Passo a mão sobre o corpo da égua, vendo seu olhar desconfiado. Milu é da raça Paint Horse, muito parecida com os quarto de milha, mas parece pintada à mão.

— Oua , calma garota!

Retiro a mão ao vê-la arreganhar os dentes.

— Essa daí vem com o espírito da dona. — Mathias brinca.

— Que nada, tire ela da baia. — peço olhando nos olhos da égua — Cindy é horrível com ela, assim como foi com todos os cavalos que passou por seu rancho. Só quer que o animal corra, muito parecida com Matheus, pelo menos aquele ali tem algo de bom, gasta dinheiro e tempo cuidando dos seus cavalos. — digo torcendo os lábios.

— Tem certeza disso? — Mathias questiona segurando a trava da baia. — Ela não está muito amigável.

— Solte.

Mathias faz o que mando, abrindo a portinhola, deixando que ela saia. Milu é uma égua imponente, sai com a fronte erguida, me encarando de cima, passando o recado claro que não tem medo de nós, mas na realidade, tudo isso é pose, ela está receosa que a machuquemos.

— Dê uma olhada nessa ferida.

Dou a volta indo até Mathias, não era uma ferida profunda, iria cicatrizar logo, mas o que me irritou ainda mais foram as marcas mais profundas em sua pelagem indicando que outras já tiveram ali, várias cicatrizes marcando o quando essa égua vinha sendo judiada. E o quantos os maus tratos tinham marcado-a internamente.

— Vamos fazer um tratamento de aromaterapia, para ela se acalmar um pouco e deixar que cuidemos dela.

Vou até o espaço onde os remédios ficam guardados examinando alguns vidros, pego três voltando para a égua.

Tiro a tampa do primeiro colocando perto da narina do animal. Ela relincha virando a cabeça bruscamente, quase derramando o conteúdo de minhas mãos. Retiro do segundo, mas ela tem o mesmo comportamento.

— Óleo bergamota — digo e não demora muito para ela tirar a língua para fora querendo o líquido.

— Não é estranho que ela escolha justo o que traz a sensação de alegria e ânimo. — Mathias comenta.

— Minha mãe sempre dizia que os animais escolhem seus próprios remédios. Eles sabem do que realmente precisam.

O barulho de cavalo se aproximando traz nossa atenção para a entrada do estábulo.

— Que bom que ela está pronta, preciso ir. — Cindy salta do cavalo deixando Miguel se desequilibrar por um instante.

— O passeio não foi prazeroso? — desafio.

— Minha égua está pronta ou não?

— Milu está com marcas de escoriações na barriga. — acuso.

Cindy não dá a mínima para o que estou falando.

— Cindy! Você está ferindo sua égua por nada com suas malditas esporas!

Mathias me olha preocupado.

— Que eu saiba pedi para você dar uma olhada, e não mandar no jeito que comando minha égua. — Cindy contra-ataca.

Miguel dá um passo em nossa direção como se nós duas fôssemos nos engalfinhar como animais, não que ela não merecesse, mas eu não iria ganhar nada com isso.

— Se você quer que Milu não a jogue para longe durante uma competição, precisa entendê-la. Ela não é um pedaço de bife para você ficar furando quando bem entende.

Cindy gargalha, — Me passe o valor de seu tempo, mando meu pai depositar na conta do Haras. — ela vê que continuo encarando-a — Vamos, será que dá para selar minha égua?

Mathias pega as coisas pronto para selar a égua.

— Mathias, não! — Eu quase grito. — Cindy, me escuta...

Cindy arranca a sela das mãos de Mathias, ela mesmo arrumando no lombo de sua égua.

— Cindy, sua égua está ferida, pode achar que não é nada, mas com o tempo vai pegar os ossos dela. Se você se importa...

— O que eu preciso escutar é que você fez algo além de ficar gastando meu tempo. E não de suas mágicas inúteis. — Ela mal fixa direito as fivelas para montar o animal.


Cindy enfia as esporas na barriga da égua fazendo-a relinchar de dor, e a visão dos olhos tristes e repletos de lágrimas do animal cortam meu coração.

Chuto um barril de água enfurecida com a partida de Cindy. O fato de não poder fazer nada para ajudar essa égua me corta o coração.

— Pelo visto vocês estão bem longe da cordialidade.

Viro como um bicho, bufando como um touro bravo ao encarar Miguel. — Meta seu nariz onde é chamado!

— Se você sabia que Cindy maltratava a égua, por que a liberou? — Miguel questiona.

— Seu Miguel, não é simples assim, não podemos prender os animais, mesmo que por alegação de maus tratos. A família de Cindy é poderosa na cidade, seria uma briga infinita e até lá a égua já teria caído doente.

— O que Mathias tá querendo dizer é que não serão os primeiros donos que negligenciam seus animais, muito menos os últimos. São esse tipo de gente para quem quer vender meus cavalos. — acuso.

Levanto o barril que tinha chutado em minha explosão de raiva, puxando a mangueira para enchê-lo.

— Mathias, termine de cuidar das baias, eu vou sair com Trovoada. Está esfriando e não duvido de termos uma chuva torrencial mais tarde.

Deixo os dois ali, no meio do estábulo indo até o Trovoada, eu precisava da paz que ele poderia me dar. E não foi surpresa em vê-lo totalmente alerta, meu pai costumava dizer que Trovoada sempre saberia meu estado de espírito, ele sempre estaria ali, pronto.

E isso era verdade. Não precisei dizer nada, apenas abri a portinhola de sua baia, subindo diretamente no pelo para que ele saísse em disparada para fora do Haras, o sol estava se pondo no horizonte e uma espessa nuvem cinzenta cobria o céu.

Na época de outono vivemos os tempos mais malucos; temos dias de intenso calor e do nada um frio de arrepiar os ossos com chuvas tão fortes que inundam a estrada. Além de ser a época que mais me preocupo com o bem estar dos cavalos.

Cavalgo pelos campos, até mesmo me embrenhando no pequeno acervo de mata fechada, os ranchos e fazendas não são próximos uns dos outros, o que dá bastantes aréas livres.

— Aoh — Trovoada para, relinchando baixo. — Você também ouviu rapaz?

Paramos entre as árvores escutando os pássaros fazendo burburinho entre os ramos, mas não foi isso que chamou nossa atenção, e sim um relincho baixo, sofrido.

— Vamos, Trovoada. — bato o pé na barriga dele fazendo barulho para que volte a galopar.

O rancho era velho, existia destroços espalhados pelo terreno, desço do Trovoada empurrando a porteira velha e quebrada, tinha arame farpado para todos os lados, o relincho veio mais fraco dessa vez, como se o animal já não aguentasse mais esperar por ajuda. Trovoada relincha batendo os cascos chamando minha atenção, um cavalo estava em um pequeno cercado amarrado a cordas em um tronco velho, havia feridas em sua cabeça e boca devido às cordas, mas também marcas profundas espalhadas pelo seu corpo, fora a desnutrição evidente.

Não conseguiria fazer esse cavalo ir até o Haras, precisaria chamar o Santiago e pegar o trailer. Monto em Trovoada galopando de volta até o Haras, forçando ele ir o mais rápido que pode, não sabia de quem era aquele rancho abandonado, mas de maneira alguma deixaria o animal ali sofrendo.


CAPÍTULO 22


Miguel

Levo as toras de madeira para Bento, sentando no sofá. O frio realmente tinha chegado com força, nos forçando a fechar as portas e janelas para manter o calor dentro do imenso casarão. Dandara ainda não tinha retornado, o que me deixa um pouco ansioso, mesmo não querendo admitir. Aquela diabinha caipira está me enrolando em seu laço.

— Daqui a pouco a janta estará pronta. — Bento diz passando por mim em direção à cozinha.

Volto meus olhos para a tela do computador, vendo o projeto que Paulo havia me enviado mais cedo. Os arquitetos tinham feito um excelente trabalho, a entrada do resort era imponente, ele manteve o rústico e sofisticado com tanta suavidade que nenhum dos pontos tinha se destacado mais que o outro. E ali, analisando o projeto, eu não conseguia abrir minha caixa de e-mail e aprová-lo. Não conseguia dizer que poderíamos fechar o negócio com os donos dos Haras e fazer o transporte dos cavalos assim que o périodo que o advogado deu se encerrasse.

A rajada de vento forte fez o fogo na lareira tremular quase se apagando, fecho o computador virando para ver Mathias entrar na casa chamando por Bento.

— Que desespero todo é esse? — questiono indo para a entrada.

— Dandara voltou e vamos resgatar um animal.

— Resgatar? O que houve? Toda vez que você entra como um foguete aqui é porque Dandara tá metendo todo mundo em apuros — retruco.

— Mathias, o que aconteceu? — Bento e Maria vêm em nossa direção.

— Dandara voltou da caminhada, segundo ela encontrou um animal em condições precárias. Preciso ligar para o Santiago e preparar o trailer para sairmos.

— Onde ela está? — pergunto.

— A última vez que a vi estava indo pegar umas medicações.

— Santiago não deveria ficar disponível no Haras para esse tipo de emergência? — questiono ajeitando o casaco pesado no corpo.

— Sim, Seu Miguel, mas ele trabalha em outros lugares. É um veterinário muito requisitado na região.

— Vou procurá-la. — digo por fim, cruzando com eles, sentindo o vento bater contra meu corpo enquanto caminho até o estábulo.

Os cavalos relincham alto, incomodados pelo vento, passo por uma baia me esquivando ao ver que o cavalo está tão irritado que bate o corpo contra as paredes de sua baia.

— Eles ficam mais irritáveis com esse tempo.

Olho para Dandara, seu rosto está preocupado. Ela vai até o cavalo mais arisco, deixando que ele cheire um potinho.

— Aromaterapia — explica.

Mesmo ainda desconfiado o cavalo começa a se acalmar.

— Você realmente faz mágica com eles.

O cavalo vem em minha direção me assustando, pulo para trás encarando os imensos olhos pretos do animal. — Eles não confiam em mim.

— Eles são espertos, sentem quando um humano tem medo, alegria ou quando não gosta deles.

Olho para seu rosto, lá vinha ela com aquele papo novamente. — Não é bem gostar ou não, só não confio. Mathias disse que encontrou um animal ferido.

— Eu estava cavalgando, estava ficando mais frio no meio das árvores. Eu o ouvi, ele estava me chamando, não sei há quanto tempo ele está lá, mas eu sei que está cansado. Cansado demais para vir andando, mesmo se Trovoada sustentasse ele pelo caminho, isso o teria machucado mais.

— O que posso fazer?

Dandara me encara surpresa.

Nem eu mesmo sei por que estou fazendo isso, por que estou tentando salvar um animal se tudo que mais quero é que essa guerra de braço acabe logo, para dar continuidade aos meus planos.

— Santiago está ocupado em uma fazenda, tenho receio dele não chegar a tempo.

Ver o olhar triste em seu rosto faz algo dentro de mim borbulhar. — Vamos, eu ajudo você.

Ela ri por um instante, voltando a ser a diaba caipira que eu conhecia. — Você vai mais me atrapalhar do que ajudar.

— Se não quer salvar aquele animal é só dizer.

Vejo seu olhar me analisando, assim como o suspiro pesado que ela solta. — Pegue aquelas cordas, iremos precisar de pelo menos umas três, estou com o kit de remédios, ele tem grandes feridas pelo tempo que passou amarrado e das tentativas de fuga.

— É selvagem?

Ela para de arrumar as coisas para me olhar. — Ele foi ferido, está com medo, sede e fome, vai saber quantos dias ficou exposto ao sol escaldante e as chuvas frias das noites.

Mathias aparece com a caminhonete puxando o trailer. Interrompendo nossa conversa.

— Vamos colocar tudo no carro. — Dandara ordena levando Trovoada para sua baia.


O caminho até o rancho que Dandara encontrou o animal ferido fica bem longe do Haras, e a estrada não ajudava em nada, o vento ficava mais forte e logo a chuva nos brindava com mais força, dificultando ainda mais nosso caminho. Os limpadores trabalhavam frenéticos pelo vidro, cada vez que Mathias acelerava ou freava passando por um buraco era meu coração que pulava dentro do peito. A buraqueira ficava escondida devido a tempestade que caía lá fora.

Era difícil ver alguma coisa concreta em nossa frente com a torrente que descia do céu, o que me fazia apertar o canto do banco com mais força, prendendo a respiração.

Quando Mathias acelerou passando pela entrada destruída do rancho, tudo lembrou foi um filme de terror, a casa ao fundo está caindo aos pedaços, tudo ali está destruído pelo tempo e esquecido por Deus.

Dandara salta do carro antes mesmo que ele pare completamente, levando consigo o kit veterinário e uma das cordas, fazendo Mathias e eu seguirmos em seu encalce.

— Mathias, abra o trailer.

— O tempo está horrível. — digo olhando ao redor.

Dandara pula a cerca de arame encarando o cavalo com as mãos para cima, conversando baixinho com ele, para tentar acalmá-lo.

— Corte os arames, Miguel.

Retiro da enorme maleta que ela touxe um alicate, corto os fios abrindo espaço para que ela passe com o animal.

Ele relincha, empinando o corpo para trás, evitando que ela encoste nele e toda vez que faz isso, acaba caindo devido à fraqueza que seu corpo apresenta. Dandara chega mais perto tentando tirar as cordas que o machucam, porém ele está arredio demais.

— Dandara, devíamos ter esperado por Santiago, ele pode te machucar. — Mathias retruca.

— Ele não vai me machucar, está com medo, tem medo do toque. — Dandara se vira pegando um daqueles frascos pequenos que estava dando aos cavalos no estábulo fazendo o cavalo cheirar. Ele não se acalma como os outros fizeram, mas permite que ela chegue mais perto. — Se tivesse esperado por Santiago ele teria morrido nessa chuva.

Dandara tem realmente algo a mais para esses animais, é como se apenas de olhar, eles dissessem tudo que estão sentindo para ela. Ela volta para a mala tirando um lenço grande, jogando-o no rosto do bicho.

— Miguel corte as cordas e passe a nossa pelo pescoço, dê um nó bem firme.

Faço o que ela manda, me certificando que o cavalo continua imóvel contra o peito de Dandara, ela faz carinhos na crina judiada, sussurrando algo que não entendo devido o barulho forte da chuva.

— Se o dono do cavalo voltar? — pergunto terminando o nó.

— É bom que nem volte, olha o estado que deixou o cavalo. — ela retruca pondo o bicho de pé. — Calma, ouh, calma.

— Dandara, Miguel, temos problemas! — Mathias grita sob a chuva.

Um velho aparece no meio da chuva vindo em nossa direção segurando uma garrafa de bebida, tropeçando nos próprios pés.

— Conheço a laia desse daí, Cicinho sempre o expulsa do bar por arrumar confusão e ele não se importa com nada além da cachaça que consome — Mathias comenta encarando o homem.

— Às vezes temos que deixar os pensamentos sendo apenas isso, pensamentos. Nunca ouviu que o que é jogado no universo ele devolve? — Dandara resmunga para mim.

— Ei! O que você estão fazendo com meu cavalo? — O velho grita, tenta correr até nós, mas tropeça várias vezes em seu próprio pé.

Quando tenta chegar perto de Dandara, eu contenho o homem bêbado e por consequência o animal se agita, fazendo Dandara soltar um pouco a corda que o mantinha preso.

— Você não encosta mais nesse animal! — Dandara grita vindo para cima de mim e do velho bêbado.

— Vocês invadiram minha propriedade, vou chamar a polícia, e esse cavalo voltará para o lugar dele.

Seguro com firmeza sua camisa puída evitando que ele avance para cima dela.

— Chame, vai me poupar o trabalho de chutar sua bunda até lá.

O velho para por um instante de se debater em meus braços e assim consigo arrastá-lo para fora do caminho, deixando que Dandara entre com o animal no trailer.

Mathias enfia todas as coisas de volta na caminhonete, embarcando e dando partida no motor.

— Quando ele ligar para a polícia, ele que terá que se explicar. — digo animado, feliz por ter salvo aquele cavalo.

Dandara tira os olhos do vidro traseiro, voltando seu rosto para mim. — Ele não vai ligar, mal lembrará o que houve. Ele iria deixar o cavalo morrer de fome. — ela volta seu olhar para trás, vigiando o trailer.

Mathias faz o melhor que pode, mas a estrada de terra fica esburacada na chuva forte, e se antes a visibilidade já estava dificil, agora está muito pior. Os relinchos do animal preso no trailer são ouvidos de dentro do carro, imagino o quanto ele não esteja apavorado.

O carro balança de um lado para o outro, me fazendo segurar a respiração por alguns segundos.

— Ele vai se acalmar quando sairmos desse pedaço de estrada. — Mathias diz.

O carro balança mais forte na curva.

— Pare, Mathias. Eu vou com ele.

— Ficou maluca? Ele pode te machucar, está muito nervoso.

— Se eu não for com ele, vamos acabar capotando. — diz.

Mathias encara Dandara pelo espelho retrovisor, considerando o que diz.

— Ficou maluco? Ela vai se machucar! — retruco quando ele para no meio do nada, destravando as portas.

— Sei o que estou fazendo — ela resmunga.

Dandara desce e esperamos. Olho pelo vidro de trás esperando algum sinal...

— Podem ir — grita batendo na lataria do trailer.

Quando chegamos ao Haras, me senti como se tivesse nadando, nem mesmo minhas bolas estavam secas na cueca. Mathias dá a volta no carro pegando a corda e guiando o cavalo para o estábulo. E antes que Dandara saísse, indo para longe, eu a segurei.

— Desculpa.

Passo a mão pelo cabelo molhado tirando um pouco d’água dos olhos. Por que ela me deixa assim?

— Não quis magoá-la com a história de hoje cedo. Estou fazendo o melhor que posso.

— Então precisa fazer mais do que isso.

Ela se solta de minha mão correndo em direção aos estábulos, corro atrás dela, mesmo quase caindo quando meu pé afunda em uma poça d’água, alcanço seu braço e puxo-a para mim, fazendo com que pare.

Droga! Descobri que estou enlaçado até a alma por essa caipira!

Dandara fecha a expressão mostrando seu melhor olhar de ódio tentando se livrar de mim novamente. Fico em sua frente e mesmo com a chuva em seu rosto, consigo perceber que os seus olhos estão cansados, a adrenalina tinha decaído de seu corpo e eles lacrimejavam. Ela tenta se soltar novamente de mim. — Por que você não vai embora, Miguel? — pergunta com o rosto perto do meu.

Meu pênis lateja dentro da calça. Essa mulher me deixa louco!

— Eu não desisto, esquentadinha. Já devia ter entendido isso.

— Pelo menos temos alguma coisa em comum — ela retruca. — Odeio você, brucutu!

— Não, não odeia.

Ela para surpresa com minha declaração. Estar tão perto dela, sentir aquele corpo colado no meu, desperta meu desejo.

Ignorando tudo, eu só tinha uma coisa em mente: tê-la a todo custo.

Avanço sobre ela, seu corpo inteiro estremece, quando a beijo, ela abre a boca para receber minha língua, sua boca é carnuda e quente, ela para de tentar lutar contra aquele fogo que move nossos corpos. Aperto Dandara contra meu corpo, e sinto suas mãos enlaçarem o meu pescoço. Ela me puxa, em resposta eu invado seus lábios, tomando sua boca com minha língua. Levo a mão até seus seios e ela geme com meu toque.

— Quero você, esquentadinha.

— Por que está fazendo isso comigo? — ela resmunga quando minha boca desce por seu pescoço.

— Shiuu, — mordisco sua pele, descendo a boca por seus seios, lambendo o pequeno decote de sua blusa.

A chuva cai sobre nós, mas não é frio que nos faz tremer, é o calor que sinto por essa mulher que só aumenta.

— Quer que eu pare agora?

— Eu odeio você — sussurra, puxando minha mão, nos fazendo correr pelo Haras, entrando no velho celeiro abandonado.

Existem furos entre as madeiras fazendo a chuva cair em nós, Dandara empurra meu corpo contra uma viga de madeira, colocando as mãos por debaixo de minha camiseta encharcada. Meu corpo treme com o calor do toque, fiz o que desejava desde que pisei para fora da cama, abro botão por botão de sua camisa, deixando tudo totalmente livre para que chegasse aos seus seios, luto um pouco contra o fecho do sutiã, fazendo-a rir e tomar a missão de minhas mãos.

Dandara joga a cabeça para trás gemendo cada vez mais com as carícias que eu faço em seus mamilos enrijecidos. Lambo sua nuca, distribuindo beijos sobre sua pele. — Quero você, Dandara, tem que ser aqui, agora. — digo roçando meu quadril em sua cintura.

Solto o botão de sua calça enganchando meus dedos direto nas laterais de sua calcinha, abaixando as peças até o chão, passando por seus pés. Abro suas pernas, deixando seu sexo exposto para mim. Dandara fez o mesmo por mim, tirando minha camisa e indo até minha calça. Ela baixa minhas roupas alcançando meu pênis. Gemo como um animal no cio.

Ela se ajoelha, sem emitir uma palavra, segura meu membro totalmente ereto. A boca da esquentadinha me toma quase por inteiro, sinto o vaivém dos seus lábios me fazendo perder o equilíbrio Encostando no pilar, olhando para seu rosto.

Ela segura a base do meu pau com uma das mãos, enquanto contorna o restante com seus lábios lindos e quentes. Eu a desejo tanto a ponto de gozar. Levanto Dandara de forma abrupta.

Agarro aquela massa de fios longos e loiros, fazendo o calor que consumia meus sentidos aumentar. O corpo de Dandara colado no meu, lábios entreabertos e desejo nos olhos.

— Não negue, você adora isso, seja o que for que esteja acontecendo aqui, você adora.

Mantenho seu cabelo seguro na nuca com uma das mãos, a outra passando por seu corpo nu em volta de sua cintura, deixo meus dedos escorregarem dentro dela, afastando os lábios de sua boceta, apertando o clítoris úmido de tesão. Empurro seu corpo contra a parede, encaixando uma de suas pernas em meu ombro ao agachar, deixando sua intimidade totalmente exposta para mim, como um belo cartão de boas-vindas. Meto a língua de forma faminta, o corpo de Dandara estremece, seus dedos agarram meu cabelo de maneira ferroz.

Devoro seu corpo com vontade, minha saliva misturando com a lubrificação salgada, Dandara tinha gosto de mulher excitada, do tipo que atraí os pobres homens de longe.

Tiro sua perna de meu ombro, erguendo-me, viro-a de costas para encaixar meu pau em sua entrada, deslizo um pouco mais, ela é deliciosa! Antes de chegar ao fundo, Dandara rebola contra meu corpo, fazendo meu membro remexer dentro dela, ela rebola e eu começo aumentar o ritmo dos meus movimentos. Entro e saio dela com facilidade, como se seu corpo reconhecesse o meu.

Abro mais as pernas dela, impulsionando o quadril contra ela, seguro seu cabelo, puxando-o de forma bruta para trás, gostando de sentir seu rosto perto do meu. Mordo e dou chupões fortes em sua pele. Meto com intensidade, gostando do barulho de penetração molhada que chegava até meus ouvidos, meu pau inchado e duro doía procurando alívio, exigindo por isso.

Sinto que ela convulciona em minhas mãos, sussurro em seu ouvido o quando me enchia de tesão, o quanto seu corpo recebia o meu de maneira tão delicioso e o quanto ela era gostosa. Dandara se empinou ainda mais, apertando meu pau com suas contrações involuntárias, arrancando o ar de meus pulmões.

Continuo metendo, lambendo seu corpo, apertando sua cintura ou puxando seu cabelo. Eram sensações diversas que tomavam meu corpo. Dandara gritou, seu corpo estremecendo de verdade, perdendo o controle, deixo que ela goze, segurando ao máximo, travando minha própria libertação, ela ficou mole em meus braços enquanto me retiro de dentro dela, masturbando meu pau para gozar, esporrando como um maluco, só de pensar na entrega absurda e delirante que tinha acabado de acontecer ali.


Ela passa minha camisa rindo — É a única forma de você se limpar.

Diabinha!

— Miguel...

Selo seus lábios com os meus evitando que ela fale algo que possa estragar esse momento. — Amanhã pensamos sobre as coisas chatas.

Não tinha a menor chance de discutir com ela agora, o que eu mais queria naquele momento era deitá-la naquele feno velho e começar tudo de novo.


CAPÍTULO 23


Dandara

Abro os olhos sentindo o calor da pele de Miguel contra minha bochecha. Fico deitada quieta, ainda tentando entender o que estou sentindo por ele. Passei metade da noite refletindo sobre tudo que vivemos. Fico confusa pelas sensações que o beijo, o toque dele, me fazem sentir.

Será que eu conseguirei realmente fazer Miguel ver o Haras com outros olhos, além de um pedaço de terra lucrável? Fazê-lo sentir sem me envolver, ou eu já estava envolvida demais? Desisto de ficar deitada com milhões de pensamentos cruzando meu cérebro, saio da cama evitando acordá-lo.

Depois de tomar um banho, me troco em silêncio, descendo para para tomar café, não sem antes dar uma olhada em direção à cama, vendo Miguel dormindo nu, coberto apenas por um pedaço do lençol.

— Bom dia — cumprimento sentando na cadeira vazia, o cheiro de café e bolo de fubá fazem meu estômago roncar de fome.

— Bom dia, menina. — Maria me cumprimenta enchendo minha caneca de café puro. — Mathias estava nos contando sobre o animal.

— Falando nele, como está, Mathias? — pergunto devorando um pedaço do bolo.

— Está bem, Santiago passou a noite cuidando dele. Mesmo com muitos machucados, ele disse que logo estará bem.

— Que bom ouvir isso. — pego dois pedaços de bolo colocando no meu prato enquanto dou uma golada no café. Paro com a xícara ainda contra a boca vendo os olhares deles.

— Está faminta, moleca — Maria diz.

Dou de ombros, como se fosse algo normal.

— Tem bicho uivando no terreno de novo, uma desgrama isso, né? — Mathias provoca sorrindo.

Dou uma olhada feia, fazendo com que ele ria ainda mais, atiçando a curiosidade de Maria.

— O que vocês estão rindo?

Paro com a xícara à caminho da boca ao ouvir a voz de Miguel.

Ele puxa uma cadeira ao meu lado, me lançando um olhar malicioso. Miguel faz questão de jogar o corpo para cima de mim ao pegar um pedaço de bolo.

— Dormiu bem? — pergunta, seu olhar malicioso me fez sorrir. O desgraçado sabia que tinha mexido comigo!

— Sim e você? Parece cansado — desafio entre um gole e outro do café.

— Um pouco, mas no fim consegui o que queria.

Bento entra na cozinha sacudindo o casaco. — Hoje o dia está de lascar.

— Teremos pouco movimento então. — digo.

— Mathias eu quero falar com você sobre o Haras — Bento diz.

— Aconteceu algo? — questiono.

— Aquele problema qual contei procê , menina. Temos que rever a segurança dos animais, ontem tinha algum tipo de animal esganiçado no meio do mato.

Miguel engasga com o café fazendo todos encará-lo. Dou um pisão em seu pé, esmagando seus dedos.

— O antigo celeiro estava aberto e tudo revirado, ou tivemos um casal se engalfinhando ou tinha algum animal ferido procurando por abrigo. — Bento comenta.

— Vou ficar de olho nisso. — Mathias diz. — É perigoso mesmo, mesmo que eu acredite que possa ser um casal festeiro, — ele me encarou erguendo a sobrancelha — melhor trancarmos o celeiro dos desavisados.

— Que milagre é esse eu ver tua cabeça pelada? — Bento se vira para mim.

Sorrio.

— Perdi meu chapéu ontem quando o cavalo ficou muito agitado. Logo compro outro. — me levanto terminando meu café, aquelas trocas de olhares já foram o suficiente para mim.

— E eu... — Miguel enfiou na boca o último pedaço de bolo — vou dar uma volta pelo Haras.

Vou até a entrada enfiando meus braços no casaco que estava no mancebo, assim como as luvas de couro.

— O que faremos?

Desvio o corpo encarando a porta da cozinha, Maria, Bento e Mathias estavam entretidos em uma conversa. Não sei se estavam totalmente focados ou apenas se fazendo de surdos para escutar nossa conversa.

— Dá para ser mais discreto? Eu vou conferir o cavalo que chegou ontem, e depois se quiser podemos cavalgar juntos.

Ele inclina a cabeça e inspira, sentindo meu perfume. — Adorei a ideia.

Maldito brucutu gostoso!

— Seja discreto.

Ele respira mais fundo e mordisca meu pescoço. — Por que não aceita logo minha oferta, esquentadinha, colocamos um fim nesse joguinho e podemos ver o que rola.

— Isso vai acabar mal — digo com a voz rouca. Era só questão de tempo, mas, dessa vez a culpa foi minha. Olhar para a boca de Miguel tão próxima à minha, eu queria aquele beijo, então peguei.

Meu coração martelava no peito com a sensação de poder ser pega, meu corpo e cada fio de cabelo gritava em minha mente: Brucutu!


Santiago tinha levado o cavalo para o redondel, mas ele estava tão arredio que poderia machucar ele e o ajudante que tentava segurar a rédea, ele empinava evitando qualquer tipo de aproximação.

— Vou ter que aplicar a injeção, ele vai ficar pior desse jeito.

— Espere. — digo subindo nas travas do redondel.

— Ele está muito arredio, pode machucar alguém ou até mesmo ele.

— Acho bom manter distância. — o ajudante de Santiago diz para Miguel.

— O que esse cavalo tem? Ele deveria estar grato por termos salvado ele ontem — escuto Miguel retrucar.

— Isso é o que ela pode descobrir. — Santiago comenta.

Ele corre pelo redondel dando coices nas paredes, respiro fundo pulando para dentro, parando no meio do cerco. Cada passo que dou em sua direção faz com que ele trote, evitando minha aproximação. Ele vem para cima de mim, parando perto, é a forma de dizer que me culpa, que culpa todos nós pelo que ele passou.

— Acho bom parar com isso, não tenho culpa do que ele fez com você, eu estava te salvando. — grito para ele.

Ele se arma novamente, erguendo-se nas patas traseiras, se fosse outra pessoa, com a proximidade que estávamos ele poderia fazer um estrago. Mas não me intimido, sei que ele não vai me machucar, quer apenas me amedrontar, quer me ensinar seus limites.

— Dandara, se afaste! — Santiago alerta.

Fico em silêncio encarando o cavalo.

Ele abaixa as patas, colocando a cabeça no meu ombro.

— Muito bem rapaz, isso mesmo, com calma. — retiro um petisco do bolso dando para ele. — Você vai se chamar Chuvisco.

— Ela conseguiu — escuto Miguel dizer.

— Deixa ele descansar, uma boa dose de ração e ele ficará bem. — Digo para Santiago. — Quando estiver curado começo a doma.

Vejo o ajudante dele receoso por chegar mais perto do cavalo.

— Ele não vai te atacar, é só não machucá-lo.

Ele confirma com um gesto, abrindo a porta para que Chuvisco passasse.


Trovoada está agitado em sua baia, ele sente falta quando não passeamos pela manhã.

— Estava esperando por isso, né? — pergunto enquanto acaricio sua crina. — Pronto para montar?

— Se você cavalgar como fez ontem comigo, acho que terei uma excelente manhã!

— Você não presta! — empurro seu peito, rindo — Pegue aquela rédea, Trovoada prefere montaria no pelo.

— Sem nenhuma proteção?

— Ele não vai te derrubar.

Monto Trovoada com Miguel, ele aperta meu quadril contra ele, seguimos pelo trieiro, eu aprecio o clima de pós-chuva. Atravesso o pequeno riacho rindo com Miguel apertando minha cintura com medo de cair do cavalo.

Desde que ele havia chegado no Haras estávamos em pé de guerra, como após uma chuva tudo mudou de maneira tão repentina? Credo! Isso era coisa da minha cabeça. Isso sim. Eu tinha que me focar em coisas mais importantes.

Paro perto das pedras, desço segurando as rédeas para que Miguel desça.

Dou um tapinha no dorso de Trovoada deixando-o cavalgar livre por aí.

— Ele vai voltar? — pergunta olhando para Trovoada trotando para longe.

— Sim, ele ama andar livre, todas as manhãs sento por aqui e ele fica cavalgando pelo campo.

Assim que termino de falar, aponto para a cachoeira à nossa frente. Os raios de sol refletem na água cristalina.

— Aqui é lindo.

Dou um sorrisinho de “eu sei”. Estávamos perto do morro, subindo daria para ter uma visão completa do Haras.

Estávamos em um silêncio confortável, Miguel brinca com a água com a ponta dos dedos, parece com o pensamento distante. Ele sai vindo ao meu encontro, um sorriso nos lábios, suas mãos vão de encontro à minha cintura, colando nossos corpos no meio da relva, aproximo meu rosto do seu, ele roça seu nariz no meu, minha respiração acelera. Sem conseguir conter, mordo o lábio inferior de leve e nos beijamos novamente.

Não tinha como me esquivar de algo tão forte.

— Miguel...

— Não, pare, não acabe com isso. — ele diz entre os beijos.

Sua língua explora minha boca como se eu pudesse desaparecer dali em um estalar de dedos, ele me beija como se isso pudesse me dizer algo. Havia entrega ali, em ambos, seus lábios descem por meu corpo, sua mão subindo minha blusa, fazendo meu corpo se arrepiar ao sentir a relva úmida tocar minha pele. Sua mão toca minha barriga, raspando as pontas dos dedos em meu seio, seu rosto esfrega a barba cerrada em minha pele, os pelos roçando contra minha barriga.

— É melhor voltarmos.

Miguel suspira de maneira audível. — Por que tem que estragar esse momento?

— Tenho coisas a fazer, um Haras sempre tem o que fazer.

Miguel não tenta me fazer mudar de ideia. Montamos em Trovoada para voltar, o silêncio nos acompanha até o Haras, assim que chegamos perto do estábulo Miguel pula do cavalo e quando me viro para falar com ele após colocar Trovoada na baia, ele não está mais ali.


CONTINUA

CAPÍTULO 16


Dandara

Uma semana, esse era o tempo que Miguel não dirigia a palavra a mim e muito menos eu iria procurá-lo. O silêncio pela casa era mais que bem-vindo!

Mathias, Maria e eu bebíamos nosso café puro quando ele apareceu na cozinha, a manhã estava fria, por isso adiei o passeio com Trovoada pelo campo para quando o tempo ruim desse uma trégua.

Enfio na boca o último pedaço de queijo branco de meu prato, tomando o resto do café.

— Maria, Mathias, bom dia — cumprimenta indo em direção a geladeira.

— Porra! Quem comeu meu queijo? — ele pragueja com a fuça enfiada entre as prateleiras da geladeira, fazendo Maria me olhar prepcupada e Mathias segurando o riso enquanto bebe seu café. Tudo que faço é dar de ombros, chupando as pontas dos dedos, nem um pouco arrependida. — Sumiu metade dele, e tenho certeza que ontem ele estava inteiro! — Miguel acrescenta fechando a coitada da geladeira com um baque.

— Olha só, era seu? Desculpe, eu comi — respondo na maior cara de pau.

Miguel me encara como uma carranca. — Mathias, preciso de um cavalo, estou querendo dar uma volta hoje!

— Tudo bem, posso preparar um cavalo para o senhor. — Mathias troca um olhar comigo.

— Acho que Bruto ainda está espirituoso como sempre. — digo. — Se quiser ter o traseiro jogado longe pode ir com ele.

Miguel me dá um olhar furioso. — É para agora, Mathias! — retruca saindo da cozinha.

Mathias se levanta, toma o último gole do café, — Dandara, está fazendo a vida desse homi um inferno. O coitado deve ta contando os dia para sumir por essa estrada à fora. — diz colocando o chapéu na cabeça.

— É bom mesmo que esteja. Tem sorte de eu ainda não ter cuspido no seu café — comento.

— Sei que odeia que metemos os bedelhos em coisa sua, mas os empregados estão receosos, os homi querem saber como vai ficar as coisas. Seu Miguel não veio aqui para deixar as coisas como estão, ele vai por tudo a baixo. — Mathias fala com cautela.

— Mathias, algum dia faltei com vocês? — questiono de maneira rude. Ele balança a cabeça de maneira negativa. — E isso não irá acontecer hoje. Avise seus homens que os empregos estão garantidos, nem que eu mesma banque os serviços deles.

— Pode deixar, Danda, desculpe a intromição.

— Mathias, somos família. Eu não vou falhar com vocês. — digo por fim.

Ele confirma, esboçando um sorriso em minha direção. — Santiago pediu para avisar que as vacinas chegam hoje.

— Estou ciente, assim que chegarem irei aplicar em todos. Não quero nenhum caso como a Archeron.

— Menina, a morte daquela égua não é culpa sua. — Maria diz.

— Eita , não quero prozear sobre isso, tenho trabalho me aguardando. — digo pondo meu chapéu na cabeça, seguindo para fora.


Sento debaixo de uma árvore olhando a cena. Miguel poderia tentar resgatar na mente os tempos de moleque, ele poderia até não ter nenhuma intimidade com os animais, mas pelo menos quando criança ainda conseguia montar um cavalo sem que ele tentasse morder sua coxa.

O Miguel da infância não está em nada parecido com o de agora, e não só pelo fato de ter emagrecido e ficado mais bonito, mas parece que Miguel tem ódio desse tipo de vida. Desde que chegou, olha tudo de cima, com cara de esnobe. Ele não tem vínculo com essa terra, ele não sente a importância que eu sinto quando vejo o sol raiando no horizonte, seus raios fortes iluminando essas terras.

Ele seguiu o caminho da cidade grande e eu o caminho dos bichos.

Mathias tenta ensiná-lo, mas ele parece muito com um cavalo xucro, surdo. Depois não quer ser chamado de mula. Levanto, limpando a parte traseira da calça com um espanar de mãos, me aproximando dos dois. — Mathias, vai conferir as coisas, deixa que eu cuido do brucutu.

— Não pedi sua ajuda. — Homi, mas mal agradecido!

— Não estou fazendo por você, e sim pelo cavalo, que não tem culpa do asno sentado em cima dele. — Miguel abre a boca para retrucar, mas mostro o dedo em riste — Você tem que aprender a ouvir, se segurar com força a sela, o cavalo vai entender que quer impor sua vontade e não vai deixar você cinco segundos sentado no lombo dele. Os cavalos farejam seus sentimentos de longe, ele sente quando você tem medo, raiva ou está confortável. Deixe a rédea frouxa.

— Você acha que eu desaprendi tudo que meu tio ensinou? — desafia.

— Acredito que sim, já que te salvei de vários tombos, se bem me lembro.

Ele me fulmina com o olhar. — Então vamos ver, esquentadinha. Pegue aquele cavalo mutante que você tem e vamos cavalgar por aí.

— Cavalo mutante?

— Você tem noção que ele é o dobro de um cavalo normal?

— Para sua informação a raça dele é Percheron. Ele é um ótimo reprodutor, por ser grande e forte nos dá potros com habilidades especiais para o campo. — Dou risada, vendo seus olhos se arregalarem quando o cavalo marcha para trás. — Tire os pés do estribo e, vá para trás.

Subo no cavalo com a destreza de sempre, ocupando seu lugar na cela. Eu conhecia os cavalos como a palma da minha mão aqui no Haras, por isso não tinha problemas com nenhum deles e sabia quando um deles queria fazer uma gracinha como nosso companheiro aqui.

Bato o pé no espaço entre a barriga e as patas traseiras, para que ele saia.

— Se você está pensando que vai ficar se esfregando em minha bunda, eu te jogo para fora do cavalo! Contenha suas mãos!

— Calma mulher estressada.

Tiro o chicote da bota acertando na bunda do cavalo e o animal sai em galope, soltando um relincho alto. Seguro o riso vendo que Miguel ficar tenso. — Gostando, brucutu? — Ele não responde.

Forço o cavalo ir mais além, sentindo a adrenalina do galope correr pelas minhas veias, sinto as mãos de Miguel segurarem minha cintura e o arrepio disso eriçar os pêlos de meu braço.

Cavalgamos um pouco pelo Haras indo até o campo aberto onde fico com Trovoada e voltamos para o Haras, parando no estábulo.

Desço do cavalo, colocando as mãos na cintura. — Gostou do passeio?

— Você queria se exibir.

— Não preciso me exibir para você. Já é um milagre que você tenha ficado em cima do cavalo enquanto estávamos cavalgando.

— Olha aqui, você se acha incrível, acreditou mesmo que eu precisava de você?

Gargalho com irônia. — Você não sabe nem ao menos como se monta num cavalo. É uma sorte que saiba onde fica o rabo e a cabeça.

— Você é mesmo muito...

— Muito?

Miguel se inclina, ficando mais perto de mim, quando seu rosto praticamente cola no meu, pude sentir sua respiração. O perfume exalava, eu tinha começado a odiar esse cheiro, cheiro que me tirou o sono nas últimas noites, mas senti-lo tão perto me embriagava. Antes que eu pudesse raciocinar, os lábios de Miguel grudaram nos meus. Os braços fortes rodeando minha cintura.

— Sua esquentadinha, está tentando o quê? — Parecia que ele estava falando mais consigo mesmo do que algo para mim.

Sua língua voltou a lamber o canto de minha boca, seus dedos apertando minha cintura, uma de suas mãos subiu por minha espinha.

Acaricio sua coxa, bem perto de seu membro.

— Vamos sair daqui — sussurra como um pedido. Suas mãos apertando minha bunda, passeando por todo meu corpo, da cintura até o pescoço. Ele beija minha boca com ferocidade, empurro seu peito sentindo os músculos firmes contra a palma de minhas mãos, descolando seu corpo do meu, vendo a malícia nos olhos de Miguel. — Por que parou? — pergunta.

Respiro fundo ainda olhando para ele, controlando a maluquice da qual acabo de me curvar...então, tenho uma ideia. — Espere um minuto, o Haras ainda está movimentado, vou checar se ninguém está por perto e trancar a porta. — digo de um jeito safado, bem parecido com o que Cindy fazia sempre que conhecia um homem de fora.

Ele passa a mão sobre o pênis por cima da calça, animado. Vou até lá fora, vendo que realmente não tinha ninguém por perto, puxo uma das portas travando-a no chão e repito o mesmo processo com a outra, mas antes de fechar e entrar como falei que faria, dou um tchauzinho para ele, fazendo seu sorriso desaparecer. Percebendo o que estava prestes a fazer.

— Agora sim você está no seu devido lugar, uma pena que não tenhamos nenhum curral para você nadar com seus amigos...porcos! — digo rapidamente.

Miguel corre ao meu encontro, mas antes que ele me alcance, fecho a porta passando a tranca.

— Dandara, abre isso daqui! — seus gritos se misturavam com os relinchos dos cavalos incomodados dentro do estábulo. — Dandara, sua caipira maldita!

— Desculpe, brucutu. Aproveite seu tempinho com os cavalos e limpe as baias deles, Deus sabe como temos quilos e quilos de esterco por dia. Qualquer coisa tem feno e água se sentir fome. Isso deve bastar para você.

Ele bate na porta, fazendo-a tremer, gritando pelo meu nome. Urrando de raiva por ter caido feito patinho em minha arrapuca.

Cruzo com Bento no caminho de volta ao casarão, girando as chaves do estábulo entre os dedos e rindo feito uma maluca.

— Gosto de vê-la animada, mas está com cara de quem aprontou.

— Que é isso, Bento! — me finjo de inocente.

Ele bate na aba do chapéu, não acreditando nem um pouco no que eu estava dizendo. — Mathias está com os cavalos, quase todos foram vacinados, ele ficou esperando ocê aparecer, mas preferiu dar logo. Ficou fartando apenas o último estábulo. — comenta indicando o estábulo que tranquei Miguel.

— Diga que farei aquele estábulo, estou dando um castigo em um cavalo xucro. Ignore os resmungos, o cavalo está dando coice em todas as paredes, já vi cavalo dificil, mas esse...logo domo também — digo colocando um enorme sorriso no rosto.

Bento olha ao nosso redor, como se procurasse alguém e eu sei quem está procurando.

— Dandara, Dandara...

— Fique calmo, por que não vamos tomar um café, quem sabe Maria fez aquele pão doce que tanto amo? — pergunto enlaçando meu braço no seu, levando-o para longe do estábulo onde Miguel estava, acredito eu, urrando de raiva pelo tremor que a porta fazia.


CAPÍTULO 17


Miguel

— Sua caipira insolente! Como eu sou burro!

Eu esmurro a porta que nem um doido, gritando tanto que sinto minha voz falhar e ninguém aparece por ali. Viro olhando para os cavalos que relicham, só me faltava esses bichos me atacarem.

— Abre a porta! — grito de novo. Ando pelo estábulo procurando uma outra saída, lembrando de suas palavras “Aproveite e limpe as baias” , que filha da mãe! Até parece que eu iria sujar minhas mãos limpando merda de cavalo.

O cavalo no qual demos uma volta antes dela me trancar aqui chega perto, me fazendo pular de susto. Ele se sacode, sua crina bate de um lado para outro e solta um pequeno relincho.

— É, aquela ali não presta!

Cômico! Agora eu estava conversando com um cavalo como se ele pudesse me entender. Eu torceria o pescoço de Dandara assim que me livrasse dali.


Não tinha noção de quanto tempo tinha se passado, sei que estava de saco cheio de ficar ali.

— Noite, brucutu. Como foi seu dia?

Fico de pé chegando perto da porta, eu mataria essa mulher! — Pare com essa brincadeira de mau gosto, me tira daqui!

— Pelo visto continua grosseiro e sem educação. Espero que não esteja maltratando meus animais, por que se estiver, não vai ficar apenas dois dias trancado aí.

Meu sangue ferve nas veias. — Dandara, estou te avisando, quando eu sair daqui...

— Chega de ameaças em vão, vou te tirar daí quando aprender sua lição.

Esmurro novamente a porta, escutando seu risinho e seus passos se afastarem, — Dandara, estou com fome!

— Coma feno, brucutu!

Os cavalos mal se importavam por estar ali com eles, nos primeiros minutos e até primeira hora eles ficavam espiando ou fungando em minha direção. Agora? Muitos nem ao menos me encaravam, olho novamente para o cavalo solto perto de mim, ele abocanhou um punhado de feno mastigando e quando repetiu o gesto despejou um pouco em minhas pernas, como se dissesse que era bom.

— Tá de brincadeira você também!

Empino o nariz, olhando na direção contrária. Mas volto a encará-lo quando ele vem para cima de mim despejando mais feno em minhas pernas, seu focinho se torce inteiro enquanto mastiga.

— Ei amigão, pode ser bom para você, mas isso daí é mato. E alguém já te ensinou a dar espaço as pessoas?

O cavalo relincha, dando as costas para mim, batendo seu rabo bem no meio do meu rosto. Me fazendo xingá-lo. Como se estar preso junto aos cavalos não fosse o suficiente, ou do fato de estar com frio também não fosse, ainda tinham os mosquitos que faziam seu banquete atacando minhas veias.

Minha barriga roncando, meu corpo coçando e eu fedendo a estrume de cavalo.


Os raios de sol atingindo meu rosto me fizeram apertar os olhos tentando ver quem estava entrando, se fosse Dandara eu daria uma palmadas em sua bunda.

— Miguel? — Mathias perguntou surpreso, tentando entender tudo que estava acontecendo, olhando para a bagunça que tinha feito nos blocos de feno ao tentar arrumar um jeito para dormir. — O que você está fazendo aqui?

— Pergunte para aquela caipira filha da mãe — digo bravo, ficando de pé, sentindo as costas reclamar pelo movimento brusco.

Ele dá uma gargalhada. Mas se adianta a falar: — Desculpe, Seu Miguel.

Meu corpo chia de dor a cada maldito movimento, preciso de um banho quente, comida e boas horas de sono. Quando me recuperar ela vai ver, eu vou colocar essa caipira em seu lugar!

Estou com esse pensamento até ver Dandara caminhando sorridente em direção ao casarão.

— Ah, sua potranca mal educada! É bom correr. — ameaço gritando.

As pessoas que estão perto de mim me olham assustadas, e devem mesmo, porque meu rosto não deve estar nada amigável. Dandara se vira, o sorriso sumindo do rosto ao me encarar e então ela corre, empurra Santiago para longe e corre como uma moleca travessa sendo pega na artimanha, entra correndo no casarão.

Corro tão rápido que logo estou fazendo a porta de madeira branca bater contra a parede e escuto Maria falando alto na cozinha:

— Menina, o que houve? Tá tentando tirar o pai da forca?

— Dandara! — grito novamente.

Entro na cozinha vendo-a atrás de Maria, como se eu tivesse receio de ir lá lhe dar umas boas palmadas!

— Pare de correr, será pior quando eu te pegar! — ameaço.

— Ei, não quero bagunça na minha cozinha! Dandara o que você aprontou com o homi ? — Maria bate com a colher de pau na bunda de Dandara que agora tenta se esquivar de mim e de Maria.

— Vai fazer o quê? Me bater? Agora bate em mulheres? Quero ver encostar a mão em mim!

— Não, nunca encostei em uma mulher, mas dizem que para tudo tem uma primeira vez. E minha mão está coçando — grito.

Dou a volta na mesa, Dandara corre para o outro lado, fazendo o banco cair e eu tropeçar ao tentar pulá-lo, caindo de quatro no meio da cozinha. Sua gargalhada alta, faz minha raiva ferver mais que panela de pressão no fogo. — Ria enquanto pode.

— Alguém pode parar esses dois? Eles irão destruir a casa! — Maria grita empunhando sua colher de madeira. — Estão parecendo duas crianças!

— Desculpe Maria, mas não vou me meter — escuto a voz de Mathias enquanto corro atrás de Dandara que vai para a sala. — Dandara prendeu o homi no estábulo, peguei ele dormindo de concha com os cavalos.

Maria me encara, a mão na boca tentando segurar o riso.

— Vai, pode rir. Quero ver se aquela filha da mãe vai continuar rindo da minha cara quando eu a pegar — bufo, com os olhos em Dandara.

Ela faz um movimento errado diminuindo nossa distância, pulo sobre o sofá, meus braços envolvem sua cintura, tirando seus pés do chão. Não penso duas vezes, jogo seu corpo em meu ombro, dando um tabefe em sua bunda.

— Me solta! — Dandara grita.

Ela bate em minhas costas, os socos doem, não é que a Diaba tinha uma força bruta?

— Como foi sua noite? A minha foi maravilhosa, tá sentindo meu cheiro? Quer ver a quantidade de picadas que tenho espalhadas pelo corpo? Acho que tenho feno até em parte que desconheço!

Dou mais alguns tabefes em sua bunda que a fazem gritar. Eu estava puto por ela ter me deixado ao relento no meio dos bichos. E ficando com tesão, isso mesmo, ter o corpo daquele Diaba tão perto, tão ao meu alcance. Seus seios roçando em minhas costas, estava fazendo meu pau ficar rigido como uma tora, maldita hora para uma ereção. Eu queria mesmo é vê-la de quatro enquanto castigava sua bunda por ter me deixado trancado junto dos cavalos, mas também saborear cada gemido que ela pudesse...

— Meu Deus, Seu Miguel, solte a menina! — Maria exclamou.

— Não antes de lhe dar uma lição! — digo.

— Seu Miguel, não me obrigue a usar a Betinha em ocês dois. — Maria alerta.

— Não estou brincando, brucutu! É bom me soltar! — Dandara urra em minhas costas.

Acerto um tapa mais forte, jogando seu corpo no sofá, prendendo seu corpo ali ao apoiar meu joelho de um lado e o braço ao lado de sua cabeça, vendo seus olhos se arregalarem por um pequeno instante, mas o suficiente para meu dar um gostinho doce na boca. — Você tem sorte que é mulher, mas eu poderia, como vingança, soltar aquele seu cavalo gigante que tanto ama... — digo de maneira perversa — Como você ficaria?

Dandara me empurra com força, ficando de pé. — Você nem pense em tocar no Trovoada, você me entendeu? — responde praticamente gritando.

— Seria excelente, quem sabe assim você aprende a respeitar as pessoas? — retruco segurando seu braço.

— Larga meu braço, Miguel!

— Você quer me enlouquecer, você vem, me atiça, me provoca...

— Você se aproveitou da situação! — retruca.

— Você não se faça de sonsa! — grudo seu corpo mais no meu — Adorou o que fiz com minha boca.

— Misericórdia! — o sussurro de Maria quase me tira o foco da diaba em minha frente.

— Eu odeio você, Miguel! — Dandara tinha ficado furiosa, mas confesso que não liguei para o que ela estava falando, só conseguia ver aqueles lábios se mexendo. Queria torcer seu pescoço, mas também queria fodê-la. Como essa mulher me tira do sério!

— Você quis tudo que aconteceu e tá querendo mais que eu sei.

Seguro um punhado de seu cabelo bem justo no pescoço roubando um beijo, mordo seu lábio nem me importando por ela reclamar ou tentar me empurrar. Dandara retribui meu beijo, até me afastar, empurrando meu peito, fazendo com que me desequilibrasse dando alguns passos para trás rindo.

Ela limpa a boca me olhando com raiva, cospe no chão e então corre escada acima.

— Minha mãe dizia que muito ódio vira amor. — Maria retruca.

Viro vendo que Mathias e Maria ainda assistiam nosso pequeno showzinho. — Dela quero distância — digo marchando para meu quarto.


CAPÍTULO 18


Dandara

Bato a porta fazendo as coisas estremecerem dentro do quarto. Maldito brucutu! Arranco minhas roupas jogando-as no cesto perto do banheiro, ligo o chuveiro bem quente, quente o suficiente para que ao tocar em minha pele pudesse queimar o toque daquele... Engulo os pensamentos raivosos que passam por minha mente esfregando meus braços, meu pescoço, qualquer lugar que ele tivesse encostado, na tentativa de tirar o cheiro dele. Ainda não conseguia acreditar na petulância daquele brucutu. Miguel realmente não tinha amor pela vida.

Confesso que deixá-lo ao relento não foi algo muito sensível de minha parte, mas ele mereceu e, vai merecer cada pisão em seu pé a partir de hoje.

Bater na minha bunda e me tascar um beijo na frente de todos? Quem ele pensa que sou? Enquanto terminava meu banho pensava em mil maneiras de me vingar, mas acabei descartando todas, eu é que não desceria ao nível infantil dele, minha melhor vingança seria chutar a bunda dele para fora do meu Haras quando tudo acabasse.

Visto um short e uma camiseta puída e chinelos, melhor me ocupar dando banho nos animais do que cruzando meu caminho com certas mulas por aí. Atravesso o Haras em silêncio evitando falar com qualquer um que cruze meu caminho.


Agradeço pelo trabalho parecer não ter fim e os músculos espalhados pelo meu corpo começarem a protestar do esforço feito, passar o tempo no meio dos cavalos me acalmava e me fazia esquecer por alguns instantes minha vontade assassina contra Miguel. Mas amanhã mesmo eu ligarei para o advogado, não dá para continuar assim, mais dia ou menos dia e eu mataria Miguel. Que ideia absurda de Pedro me colocar nessa enrascada.

Já era noite quando paro fecho a última baia. Trovoada relincha animado após o banho, sacudindo a cabeça e sua longa crina.

— Teve um dia melhor que o meu, né, bonitão?

Saio do estábulo trancando as portas, todos os funcionários já tinham ido embora, caminho observando a noite, as estrelas e a lua cheia brilhando forte no céu, o som dos grilos cantando no meio do pasto.

Entro no casarão, tiro o chapéu, deixando-o no mancebo de madeira. Tudo estava em completo silêncio, poucas luzes acesas indicando que até a Maria tinha se recolhido.

Passo pelo quarto do brucutu vendo a luz está acesa sair pela pequena fresta da porta, estava prestes a entrar em meu quarto quando escuto uma porta atrás de mim se abrindo.

— Esquentadinha!

Viro, vendo-o só de cueca box, o corpo todo amostra.

— Não dirija a palavra para mim!

— Eu disse hoje cedo que tinha contas a acertar, você acha que seu showzinho me botou medo? — questiona vindo em minha direção.

— Se colocar as mãos em mim é bom começar a rezar para sair com ela no lugar!

— Não tenho medo de suas ameaças vazias — retruca.

— Vazias serão as suas bolas quando eu chutar para longe. — ameaço

— Você acha que vai me enlouquecer? — pergunta vindo em minha direção — Acredita mesmo que vou cair nos seus truques?

— Truques? — Gargalho alto — Não sou eu que fico agarrando você para roubar beijos.

— Vai dizer que não gostou?

— Já percebi que gosta de brincar com fogo! — desafio — Cadê toda aquela falamansa que andou esbravejando por aí? Homi metido a machão, não consegue parar de encarar para minha boca enquanto eu falo. Tudo isso é desejo?

— Não me torno frouxo por ter você na minha mente, me torno se não conseguir tirar, — Miguel dá mais dois passos em minha direção — e isso eu sei como fazer.

— Você pensa que me leva fácil, né?

— Você gosta de mexer com os homens, “se sente” fazendo isso...

— Eu não sou de quem me quer, sou de quem eu quero ser, e faço porque posso. — respondo dando um sorrisinho.

Miguel puxa meu corpo para o seu, fechando a porta com o pé, sua boca mordendo a minha enquanto distribuo tapas sobre seus ombros, costas, todo lugar que minhas mãos alcançam. Mas seu beijo furioso vai desarmando meu corpo, principalmente quando solta minha boca beijando de leve e devagar meu pescoço, rindo contra minha pele que se arrepia com seu toque, acabando com qualquer defesa minha. Não tinha gentileza no toque, havia desejo e prazer, junto de uma pessoa que queria provar seu argumento.

As mãos de Miguel ergueram meu corpo, sua língua forçando minha boca a se abrir ainda mais. Eu meio que empurro, e volto a puxar seu corpo para o meu. Precisei inspirar profundamente algumas vezes quando sua boca tomou o pequeno vão entre meus seios, sua lingua quente tocando minha pele fazia meus mamilos endurecerem e meu corpo querer mais. Sentir a proeminência em sua cueca também não ajudou muito meus pensamentos entrarem num bom senso.

Não era correto eu me render ao seu toque, não quando tinha aberto minha matraca falando que não me entregaria numa bandeja para ele, mas que diacho! Mordo seu lábio inferior, empurrando seu corpo para longe, tentando controlar a respiração. — Chega!

— Por que parar agora? — questiona agarrando novamente minha cintura.

— Eu disse chega, Miguel!

Suas mãos continuaram apertando com firmeza minha nuca, seus olhos mostravam que não estava disposto a me deixar em paz, que não sairia de meu quarto com aquela decisão fraca com a qual eu tentava me agarrar.

— Chega nada, não para mim e com certeza não para você. Eu sinto seu corpo vibrando em minhas mãos, Dandara.

Não arrisco olhar para ele, com medo que ceda aos meus instintos. Ele segura meu braço, olhando no fundo de meus olhos.

— Eu quero você, Dandara!

— Você quer me passar para trás, quer ter motivo para fazer chacota, quer o Haras, não é porque fui criada no meio do mato que não conheço homens como você, Miguel!

— Cala um pouco a boca, esquentadinha!

Abro os lábios para retrucar, mas é tarde. Ele pega meus braços, me empurrando contra meu armário, meu corpo inteiro treme com o calor do toque, ele tira a barra de minha camiseta de dentro do short, traçando livremente pelo meu corpo até meu seio. Miguel me vira de costas, mordendo meu pescoço, o corpo colado no meu, e acaba abrindo meu sutiã. Segurando meus seios, massageando-os nas mãos, beliscando meus mamilos sedentos por atenção. Roço minha bunda contra seu membro rigído na cueca, fazendo com que ambos gemêssemos.

Miguel continua acariciando meu corpo, mordendo e chupando meu pescoço. — Quero você, aqui e agora. — ele arranca minha camisa pela cabeça, fazendo a mesma coisa com meu sutiã, chupando meus seios, sugando-os até que eu não pudesse conter mais meus gemidos de prazer. Meu sexo pulsa, até dolorosamente quando a pressão do prazer explode em certas áreas.

É errado continuar com isso? Puxá-lo par mim, desejando seu corpo, respiro profundamente tentando encontrar a raiva que me alimentava horas atrás, mas só encontro o desejo.

Miguel conduz nossos corpos para a cama, arrancando o resto de nossas roupas, assim como o preservativo escondido no cós da cueca, em um segundo estava entre minhas pernas, sua mão agarrando meu cabelo, sua boca mordendo meu queixo.

Segurando meus seios com as duas mãos, apertando e puxando os bicos, lambendo minha barriga, minha cintura, roçando a barba pela minha pele, deixando-a rosada e eriçada. Um gemido explodiu de mim quando sua língua encontrou meu clitóris, seguro firme o lençol querendo tremer com o que ele fazia em minha intimidade, sua boca não me dava misericórdia alguma, sua língua muito menos. Quando seu dedo me invadiu, minhas costas se curvaram e o gemido saiu mais alto, fazendo eu ganhar um tapa na bunda.

— Desculpa, esquentadinha, mas teremos tempo para fazer amor em outro momento, agora, eu quero que seja rápido, que queime esse fogo dentro de mim.

Miguel desenrola o preservativo em seu membro, nunca tirando pelo menos uma de suas mãos do meu corpo, seus dedos tocam meu sexo, me fazendo arfar. Chupo os dedos que me tocam, vendo Miguel mordiscar o lábio e sorrir. Seu pau encaixado em minha entrada, deslizando de maneira lenta, começo a rebolar, fazendo seu membro se remexer dentro de mim.

Enquanto eu rebolo, Miguel segura meus cabelos de forma bruta, aumentando o ritmo dos movimentos, entrando e saindo de dentro de mim, segurando minha cintura com a mão livre fazendo seu membro ir mais fundo, meu corpo treme e Miguel geme alto.

Estavamos nos devorando, caricias eram feitas pelo nossos corpos ondulando juntos, enquanto eu consumia cada gemido e estocada que Miguel produzia.

Aperto os lençóis entre os dedos, seguro seu pescoço com firmeza quando ele encaixa a boca sobre meu seio, montando em seu colo, sentando com força sobre ele, gostando do modo como ele geme e descola a boca de meu mamilo, jogando a cabeça para trás rendido.

— Puta que pariu, você é deliciosa! — diz baixinho contra meu pescoço.

As estocadas duras fazem meu corpo tremer, meus seios balançam com o ritmo forte do sexo que fazemos. Ele geme agarrado em minha cintura, forçando meu corpo para baixo, quebrando as últimas barreiras, me fazendo gozar. Miguel ainda mantém o ritmo por algumas estocadas até que goza, seu membro latejando dentro de mim, se misturando com nosso suor, os tremores do meu corpo e do seu e as batidas descompassadas dentro do meu peito.


Quando eu estou envolvida em seus braços

O mundo todo apenas desaparece

A única coisa que escuto é

o bater de seu coração.


Porque posso ouvir sua respiração

Está se derramando sobre mim

E de repente estou me desfazendo dentro de você

(Breathe, Faith Hill)


Arre égua , estou perdida...

Levanto com um sobressalto e empurro para longe o braço forte que rodeia meus seios, tentando soltar meu corpo. Parece que os braços dele tinham se tornado uma braçadeira de ferro, o jeito foi sair me rastejando pela cama como uma cobra, até que eu caísse de bunda no chão.

Pego uma muda de roupa e corro para o banheiro, tomo um banho rápido, não parando nem para secar o cabelo, apenas escovo e deixo solto pelas costas. Não é que eu não queira encarar a asneira que tinha feito noite passada, mas...bem, era isso mesmo, não queria dar de cara com Miguel, por isso levantei mais cedo que até o próprio sol e me esgueirei para fora do quarto com as botas nas mãos.

— Fugindo de alguém, menina?

Pulo tampando a boca para que meu grito de susto não faça eco pelo corredor escuro.

— Cristo pai, você quer me matar do coração, Bento? — questiono sentindo os batimentos acelerados contra o peito.

— Desculpe, mas estava saindo do quarto como quem escondia um cadáver, devo me preocupar? — pergunta encarando a porta que eu havia acabado de fechar.

— Deixe de besteira homem, só tive uma noite ruim.

Bento coça a cabeça com a bengala velha. — Arra, por falar em noite ruim, tinha algum animal sofrendo ontem, Maria e eu mal pegamos no sono, parou de sofrer era já tantas da madrugada.

Engulo em seco, será que tínhamos feito tanto barulho assim?

— Vou ficar de olho nos arredores, tenha um bom dia, Bento.

Escuto o riso baixo dele enquanto caminho pelo corredor. — Bom dia, menina.

O dia não tinha se levantado, mas mesmo assim entro no estábulo para conferir como estão os animais. Reponho água e feno, depois me dirijo á baia de Trovoada, ele vira a cabeça não querendo olhar para mim.

— Qual é, amigão, está bravo comigo?

Ele me encara, dando uma fungada balaçando a cabeça como se confirmasse.

— Que tal recompensar isso com com uma corrida?

Ele relincha ainda evitando me olhar, eu conheço o jogo dele, Trovoada é um menino mimado, e a culpa é toda minha.

— Tudo bem então, já que não quer mais minha companhia...

Ele relincha mais alto, levantando as patas da frente. Fazendos os outros cavalos reclamarem.

— Você é um garotão mimado! — brinco, pulando a portinhola da baia, subindo diretamente no pelo, me agarrando ao seu pescoço. — Vamos ver o sol nascer.


Ficar perto dos cavalos ou montar em Trovoada é como respirar, algo tão natural, acredito que eu aprendi a montar antes mesmo de andar.

Saímos em direção ao campo aberto, ganhando velocidade a cada passada, sentindo o vento frio da madrugada ir contra nós. Eu precisava limpar minha mente, precisava tirar Miguel e a noite de ontem da mente, precisava tirar essa distração total, ainda não sabia o que pensar sobre essa história de Miguel conseguir meu Haras, o que faria com as famílias e funcionários que dependiam dos seus empregos? O que faria com os cavalos? Para onde eu iria com Trovoada? Aqui sempre fora meu lar, foi meu lar quando minha mãe faleceu, foi meu lar quando meu pai morreu em um torneio de rodeio.

O Haras é meu santuário, minha casa, eu aprendi a escrever no lombo de um cavalo, fiz desenhos nas paredes do antigo celeiro, aquilo era meu refúgio...

Volto para o Haras depois de admirar o sol nascendo, em alguns dias começaria o outono e o frio ocuparia as noites, o que me fazia sair pelos campos ajudando os cavalos que podem se perder ou sofrer com as chuvas repentinas.

Vou até o escritório respirando fundo, ao sentar em minha cadeira, tiro o chapéu, deixando-o sobre a mesa.

— Entre — respondo à batida na porta.

— Dandara, bom dia.

— Daniel, estava mesmo esperando por você. Sente-se.

— Em que posso ajudá-la?

— Quero saber mais sobre o Haras, por que Pedro deixou o Haras com Miguel, ele conhecia o sobrinho, nunca teve interesse por nada, mal sabe a diferença entre a crina e o rabo dos cavalos. Porque deixar o Haras nas mãos dele? — solto tudo de uma vez, expondo minha irritação, minha indignação. — Você me conhece desde menina, Daniel, eu ensinei sua neta a montar, eu cuido desse Haras como se fosse meu filho. Deixei as competições para administrar tudo isso quando Pedro descobriu a doença, abdiquei minha carreira para dar minha vida ao sonho dele.

Sinto as lágrimas forrando a parte debaixo dos meus olhos.

— Quando ele desejou implantar o projeto fui eu quem o apoiou, eu que contratei os profissionais, saí em busca de patrocinadores, tenho mais de trezentas crianças se benificiando do projeto. Temos selos e premiações.

— Eu sei de tudo isso Dandara, mas não cabe a mim dizer os motivos que influenciaram Pedro a tomar essa atitude. Ele escreveu uma carta, uma carta para você e Miguel, que só poderá ser lida após a decisão ser tomada.

— Uma carta? E você não me comunicou antes por quê?

— Dandara, como disse, isso não está em minhas mãos. Pedro deixou ordens explícitas.

— Arre égua , uma bosta a essas ordens!

Bufo, tentando controlar minha irritação.

— O único conselho que eu posso dar é: mostre ao Miguel o quão bem o Haras faz, mostre seu amor por tudo que você e Pedro criaram nesses anos. Faça-o não vender o Haras, até mesmo unindo os dois planos, por que não?

— HÁ HÁ, transformar meu Haras em um hotel de luxo para madames enfrescuradas? Quando um cavalo cagar nos pés delas quero ver quantas estrelas sobrará. É de pessoas como Miguel que eu sempre fugi esses anos, não quero o dinheiro de quem vê meus cavalos como um pedaço gigante de bife passeando por aí.

— Tente ao menos resgatar o amor que Miguel tinha na infância. — Daniel aconselha.

— Por Cristo, Daniel. Pedro estava maluco no final dos seus dias. Ele acreditou mesmo que os chiliques na infância de Miguel era por mais tempo com os animais? O menino gritava se um porco grunhice em sua direção. A última vez que pisou no Haras fez uma estripulia soltando metade dos cavalos das baias. Foi um Deus nos acuda até recuperarmos tudo.

Daniel segura o riso, ajeitando melhor a postura na cadeira.

— Quer que eu conte a vez que soltou uma bombinha estampido no meio do pasto? Pedro saiu atrás dele na base do chicote.

— Vou dizer a mesma coisa para você como diria para Miguel: não posso intervir, a questão não é uma briga de foices. É vocês conversarem o que é melhor para o Haras...

— Ele irá vender tudo, demolir tudo, sabe quantas pessoas tenho trabalhando aqui? Quantas famílias envolvidas? Imagina todos os dias você se levantar e as pessoas te encararem com perguntas nos olhos, meus funcionários não sabem como será o amanhã. Nem se terão o salário no mês que vem — resmungo — É com isso que lido.

— Miguel fez uma proposta, ele quitaria as dívidas que o Haras tem, e fez uma consulta com as fazendas de corte e o Haras vizinhos para a possibilidade de vender os cavalos. Acredito eu que queria sondar o terreno para saber o valor de um manga-larga.

Levanto enfurecida, batendo as palmas das mãos na mesa. — Ele quer levar uma chicotada!

— Dandara! — exclama.

— Ele que tente encostar em meus cavalos, ele que tente... Arre égua!

— Quando o assistente de Miguel entrou em contato comigo deixou bem explicíto que o único que ficaria fora desse pequeno inventário seria o Trovoada.

Arqueio a sobrancelha — E isso alivia minha vontade de matá-lo? Ah claro, ele foi gentil em não vender um cavalo que foi presente de meu pai!

Eu estava soltando fogo pelas ventas, o filho duma égua teve coragem de agir pelas minhas costas e depois vem com sua falamansa e me leva pra cama. Eu sou muito burra mesmo!

— Bem, Dandara. De todas as formas, se vocês não chegarem a um acordo, se você não aceitar vender sua parte para ele ou se não conseguir pagar a dívida, automaticamente o Haras entra em um processo e se ele tiver a possibilidade, vai acabar nas mãos de Miguel. Se isso não ocorrer, de qualquer forma, assim que o tempo imposto pelo Seu Pedro acabar, o Haras entrará num processo onde quem terá o poder de decisão é a justiça. Isso pode envolver até mesmo leilão, por conta das dívidas.

— Então é: corre pro mato ou corre pro morro. — suspiro.

— A maneira de todos saírem satisfeito é vocês tentarem resolver isso amigavelmente.

— Tudo bem, obrigada pelo seu tempo doutor.

Ele concorda com um gesto, levantando-se. — Fique bem.

— O senhor também.

Acompanho o advogado para fora, fechando a porta atrás de mim. Caminho até o espaço para equitação, vendo os montadores treinando.

— Dandara!

Abaixo um pouco a aba do chapéu fazendo sombra para o sol forte da manhã. Carolina vem calvagando em minha direção, acenando. — Bom dia!

— Preciso da sua ajuda, sinto Damião entrando errado nos obstáculos.

— Dá uma volta para eu observá-lo — digo pulando a cerca.

Carolina trota se afastando, fazendo semicírculos para aquecer o cavalo, passa pelos primeiros obstáculos e vejo que Damião está com uma passada errada, as pernas de dentro estão trotando mais longas que as de fora. É preciso equilibrar o lado que ele está tendo maior dificuldade. Carolina também anda forçando demais no elevado, a conexão entre eles também estava meio mexida, isso acontecia com cavaleiros que entravam na época de competição, tinham muita pressão e sentimentos misturados e acabam passando para os animais.

— Bom dia, esquentadinha, tinha espinhos na cama essa manhã? — Miguel agarra minha cintura e beija meu pescoço. Me esquivo com um sorrisinho, ainda com raiva por ele ter agido pelas minhas costas.

Seu olhar malicioso mexe comigo. O desgraçado sabe que venceu ontem!

— Levanto antes mesmo do sol, coisa de caipira. — me atrevo a desafiá-lo.

Miguel sorri abaixando a cabeça, ainda me olhando. — Confesso que tive uma noite excelente. Poderíamos repetir nossa conversa hoje a noite, o que acha?

— Poderíamos, mas não vamos, tenho mais o que fazer. E nada mudou.

Miguel me encara surpreso, — O que eu fiz? Acordou azeda como um limão, você não cansa de distribuir coices?

Nós estavamos em um maldito pé de guerra e tudo que eu conseguia me lembrar quando encarava os olhos castanhos de Miguel é onde sua maldita boca esteve ontem a noite. E eu excitada por cada gesto que aquele brucutu fez! Deveria dar um tapa em mim mesma!

— Que tal darmos uma volta? Você poderia me mostrar a região.

— Claro, tem algo que ficou de fora de seu inventário? — mordo a língua por ter falado disso.

Miguel fica surpreso, mas logo se afasta de um passo, confirmando o que Daniel tinha dito mais cedo, ele realmente agiu pelas minnhas costas.

— Dandara...

— Cala a boca, brucutu! Se não quer ver a cara enfiada no esterco de cavalo, fique quieto!

Viro sinalizando para Carolina se aproximar.

— Teremos que trabalhar algumas coisas em vocês dois. Faça uma pausa, eu vou preparar o redondel.

— Ok, obrigada Dandara.

Sorrio pulando o cercado novamente, ignorando Miguel que me seguia como uma sombra.

— Não cometi nenhum crime, Dandara.

Reviro os olhos, caminhando para longe.

— Você está sendo teimosa, poderíamos resolver isso de outro jeito, quem sabe unir o útil ao agradável.

Viro fazendo-o parar quase tropeçando em mim. — Diga brucutu, qual sua excelente ideia? Já recebeu oferta pelos meus cavalos? Ah, muito obrigada por deixar Trovoada de fora, foi uma gentileza imensa, já que não quis vender também um presente de meu pai.

Sinto que estou quase gritando.

— Eu não venderia seu cavalo, vejo o amor que sente por ele. Posso não ser um especialista ou não gostar das mesmas coisas que você, mas não quero mal aos bichos.

— Não quer o mal deles? — Sinto minhas bochechas pegando fogo, Miguel mesmo mantém uma certa distância de mim. — Sabe qual a diferença entre um cavalo para lidar com o gado e um cavalo de montaria e competição?

Ele dá de ombros.

— Exato, se não sabe essa imensa diferença e mesmo assim foi oferecer meus cavalos para donos de fazenda de corte. Você com certeza não quer o bem deles. Jumento! — disparo a falar.— Mas tenho uma solução, vá embora, se não quer o mal deles, vá. Ou está esperando a foda de despedida? Quer ir para o celeiro desativado? — pergunto desatando o nó da minha camisa xadrez fazendo ela revelar minha blusa curta.

— Deixe de ser ridícula! — ele grita, chamando atenção das pessoas que passam por nós.

— Não sei onde Pedro estava com a cabeça, ele só poderia estar alucinando quando decidiu deixar meu Haras para você! — Vejo o olhar irritado de Miguel, mas não deixo que fale. — Tenho muito trabalho a ser feito, se puder pelo menos não atrapalhar, eu agradeço.

Estava pronta para deixá-lo parado sozinho quando vejo Cindy galopando em minha direção. Era hoje, definitivamente eu mataria um.

Ela se aproxima com o sorriso mais falso que nota de três reais, diminuindo o galope, parando o cavalo perto da cerca e desce, balançando a mão em nossa direção. — Dandara! Era você mesmo que queria encontrar!

— Só me faltava essa — sussurro. — Acho que errou, sua prenda está bem na minha frente — digo com um sorriso cínico nos lábios.

— Forasteiro, desculpe não ter vindo mais cedo, vejo que ficou totalmente curado do ataque de fúria de Dandara.

Miguel sorri, deixando que a oferecida lhe agarrasse o pescoço dando um beijo bem perto de sua boca.

Maria trepadeira! — penso com raiva.

— Estou bem sim, que surpresa boa vê-la aqui. Estava agora mesmo comentando com Dandara que queria dar uma volta pela região.

Cindy sorri animada. — Então encontrou sua companhia, faço questão de ir com você.

Miguel me encara vendo minha cara de poucos amigos. E mesmo que eu tente disfarçar meu ódio por Cindy, ele se aproveita da situação. Segura na cintura fina da trepadeira, abrindo um amplo sorriso. — Podemos dividir o mesmo cavalo, eu não estou acostumado a montar sozinho.

— Ihaaaahhh, mas é claro! — ela diz animada. — Ah, Dandara, eu soube que está preparando uma competição aqui no Haras.

Miguel me encara curioso, até mesmo me fuzilando com os olhos.

— Sim, é para angariar fundo para o Haras, mas como soube?

— Matheus, ele me contou — diz com um sorriso. — Logo pensei, o que seria excelente senão competir? As regionais estão chegando e eu e Milu precisamos estar preparadas, você poderia dar uma olhada nela, estou achando que ela está de TPM — diz abaixando o tom de voz na última parte como se tivéssemos dividindo um segredo. — E você como antiga competidora sabe como é importante o cavalo estar bem. Fico orgulhosa que abandonou os pódios e se dedica cuidando de minha égua.

— Claro. Dou uma olhada.

— Perfeito, — ela empurra a rédea para mim, enlaçando ainda mais seu corpo em Miguel — vamos forasteiro?

— Claro. Irei pedir para Mathias selar um cavalo. — Miguel responde me encarando.

Maldito Brucutu, maldita Maria trepadeira!


CAPÍTULO 19


Dandara

— Tá falando sozinha, Dandara?

Pulo de susto, percebendo que estava resmungando alto. — Ocê tem sorte de não ter tomado uma chicotada — digo arrumando o chicote na lateral de minha bota.

— Que bicho lhe mordeu? — Mathias questiona.

— Picão, um bicho desgramento que gruda na pele da gente sugando nosso sangue.

Mathias ri, me entregando as coisas para selar Bruto. — Que bom então que não é um do tamanho de um homi , que chegou recentemente na cidade. — diz tirando sarro.

Encaro Mathias, revirando os olhos, para que notasse que não estava sendo um bom momento para brincadeiras.

— Ah, Danda, deixa disso. Pode ter enganado Bento e Maria com essa história de bicho sofrendo pelo mato, mas eu sei o que faz aquele esganiçado todo dentro de um quarto.

— Ocê não tem amor aos dentes, não? — bufo.

— Ô se tenho, como acha que consegui os meus uivos? Tudo na beleza do sorriso — Mathias caçoa abrindo um sorriso de cavalo para mim.

— Arra , não torre minha paciência!

— Mudando de proza , achei que já tinha acabado com a doma do Bruto.

— Sim, ele está pronto para ficar com os outros. Mas hoje eu quero que prepare a pista para três tambores.

Mathias abre um enorme sorriso, — Irá competir novamente? Que alegria garota!

— Ainda não, vou só matar a saudade.

— Pois deveria. — Mathias aperta a sela, conferindo se está tudo bem preso.

— Faz tanto tempo que não penso nisso Mathias, deixei as competições para trás quando assumi a responsabilidade do Haras.

— Arra, e isso não mudará. Você cuida desse Haras mais que de si mesma, eu lembro do primeiro dia que cheguei aqui e vi você cavalgando. — Mathias sorri ajeitando o chapéu na cabeça — Devia ter uns dez anos, lembro que parei perto do cercado olhando, você tinha tanta conexão com o cavalo, tinha tanto talento, mesmo naquela idade.

Sorrio lembrando da minha primeira competição.

— Todos sabemos o duro que está dando para manter tudo sob controle, até mesmo antes da morte do Seu Pedro.

— Quem sabe eu possa tentar — digo.

— Será um excelente começo.


Bruto raspa a pata pelo chão, como se ele próprio se aquecesse. Quando Bruto chegou no Haras era apenas um cavalo maltratado e ferido, abandonado pelo antigo dono para morrer ao relento. Foi numa noite de chuva intensa que o encontrei caminhando com dificuldade nos arredores do Haras. Demorou meses para que ele sequer deixar que eu me aproximar dele, estava tão ferido internamente em sua confiança com os humanos que só de ver um já se armava dando coices.

A doma nunca foi uma coisa tranquila com ele, ficava feliz só por não levar uma mordida. Mas eu o entendia, foi ferido por acreditar em um humano, sua defesa natural era expulsar quem quer que tentasse se aproximar.

— Sei que você gosta de correr, vejo como seus olhos brilham quando fica livre — sussurro passando a mão em sua crina.

Ele raspa a pata no chão, emitindo relinchos e baforadas baixas, ele aprovava o que eu estava falando, assim como o fato de suas narinas estarem dilatadas e as orelhas eretas para frente significava que prestava atenção ao que eu dizia.

— Quero propor algo diferente para nós. Se você gostar, podemos pensar em fazer isso mais vezes. — Tiro o chicote com calma da bota, ele fica desconfiado. — Isso será necessário entre nós?

Bruto relincha, marchando para trás, sacodindo a cabeça. Jogo o instrumento para longe. — Quero que você corra quando for necessário, quero que sinta a terra tocando forte suas patas e o vento traga a liberdade que isso vai lhe trazer. Mas para isso precisa obedecer fielmente meu comando.

Estralo os lábios indicando para que ande, faço todo o circuito no trote, deixando que ele receba meus comandos, deixando que veja como será.

A competição dos três tambores é simples, você precisa fazer uma saída com explosão antes de cruzar pelos sensores. Uma prova de três tambores clássica é de oito metros até o primeiro, depois vinte e sete e meio até o segundo tambor e trinta e dois metros até o terceiro. E então, a reta final, onde exige mais dos cavalos e das amazonas, era esforço máximo pelo melhor tempo. Se tudo for executado com perfeição e sem derrubar nenhum dos tambores, você poderia ganhar alguma posição boa.

Existem pessoas que gostam do silêncio, silenciam tudo ao seu redor, se concentrando apenas na sua própria respiração e de seu cavalo. Eu gosto de ouvir tudo.


— Não foi um tempo ruim para quem está parada por anos. — Mathias comemora pendurado na cerca.

— Quanto?

— Dezessete segundos e meio.

Desço do cavalo acariciando a testa dele. — Esse garoto nasceu para isso.

— Dei uma examinada na égua da Cindy, ela está machucada pelas esporas, sua barriga está toda marcada e além disso, queria que desse uma olhada no freio, acho que tem algo errado.

— Odeio quando vejo animais sofrendo pela imprudência de seus donos.

— Também não gosto, pena que o pai de Cindy não pense assim e deixa aquela garota maluca usar os animais como enfeites.

— Nem me lembre disso — retruco.


CAPÍTULO 20


Miguel

Logo após fazer sexo com Dandara fiquei perdido olhando-a dormir por alguns instantes, aquilo, esses tempos no Haras têm sido os mais malucos que já tive. Aquela esquentadinha está mexendo comigo, ela está me atormentando desde que pisei no Haras, fazendo meus dias e noite incertos, mas a mulher deitada no meu braço, dormindo tranquilamente, livre de todas as caretas e muros que impõe me faz querer seguir outro rumo. Eu tenho vontade de puxar seu corpo contra o meu, encaixá-la em meu pênis e fazer tudo de novo, agora sem pressa, absorvendo tudo, cada gemido que ela faz. Mas acabei adormecendo enroscado em seu corpo ao contemplar seu rosto enquanto dorme.

E quando o dia seguinte chegou, me deparei com a cama vazia, ela saíra de fininho para não me enfrentar quando acordasse. Abro a porta, verificando se o caminho está livre e quando confirmo que sim, retorno ao meu quarto, trancando a porta depois de entrar.

Tomo um banho rápido vestindo algo mais leve para o dia quente que faz do lado de fora, fazendo uma anotação mental: ar condicionado em todos os cantos, pelo amor de Deus, como é quente isso daqui! Pego os óculos escuros colocando-os no topo da cabeça e desço correndo a escada em direção à cozinha.

— Bom dia, Maria — cumprimento a senhora, ela me olha meio espantada o que me faz questionar se eu não estava sendo educado o suficiente com as pessoas dali. Mas também, com a noite anterior que tive, meu humor está perfeito nesta manhã. — Por acaso você viu a...

— A menina está embrenhada pelo Haras como sempre, Seu Miguel.

Pego uma laranja, descascando-a. — Vocês sempre começam o dia antes mesmo do sol?

— Sim, a menina é que acorda o galo e não o contrário.

Sorrio jogando as cascas fora. — Em São Paulo também acordamos, mas confesso que ser dono do próprio negócio tem suas vantagens.

Saio pela porta lateral da cozinha roubando um chapéu preto na varanda, brincando ao colocá-lo em minha cabeça, até que não tinha ficado ruim. Deixo de lado ao ver Dandara perto de um dos cercados sorrindo como uma menina ao ver os cavalos.

Lembro-me de poucos momentos vividos aqui, mas o que eu com certeza consigo recordar é dela, mesmo muito diferente da época que erámos crianças. Dandara sempre foi apaixonada por isso, era raro vê-la vestindo sapatos e quando estava, eram botas. Era mais raro ainda ver a menina fazendo outra coisa do que estar perto dos bichos.

— Bom dia, esquentadinha, tinha espinhos na cama essa manhã?

Agarro a cintura de Dandara, lembrando de nossa noite, gostando do cheiro dela.

— Levanto antes mesmo do sol, coisa de caipira.

Pelo tom de voz afiado, já estava mordendo os cotovelos.

Sorrio dando um beijo suave em seu rosto, tentando suavizar o mau humor. — — Confesso que tive uma noite excelente. Poderíamos repetir nossa conversa hoje a noite, o que acha?

— Poderíamos, mas não vamos, tenho mais o que fazer. E nada mudou.

— O que eu fiz? Acordou azeda como um limão, você não cansa de distribuir coices? — Controlo minha vontade de responder Dandara de forma ríspida, suspiro, suavizando a voz — Que tal darmos uma volta? Você poderia me mostrar a região.

— Claro, tem algo que ficou de fora de seu inventário?

Fico surpreso, me afasto de um passo para olhar melhor seu rosto, como ela soube?

— Dandara...

— Cala a boca, brucutu! Se não quer ver a cara enfiada no esterco de cavalo fique quieto!

Ela vira chamando uma garota.

— Teremos que trabalhar algumas coisas em vocês dois. Faça uma pausa, eu vou preparar o redondel.

— Ok, obrigada Dandara.

Sei o jogo que Dandara faz, ela prefere fugir do que virar e me encarar, não deixo barato, sigo-a pelo Haras.

— Não cometi nenhum crime, Dandara.

Ela continua andando, me ignorando.

— Você está sendo teimosa, poderíamos resolver isso de outro jeito, quem sabe unir o útil ao agradável.

Ela vira, parando brutalmente, me fazendo quase tropeçar.

— Diga brucutu, qual sua excelente ideia? Já recebeu oferta pelos meus cavalos? Ah, muito obrigada por deixar Trovoada de fora, foi uma gentileza imensa, já que não quis vender também um presente de meu pai.

— Eu não venderia seu cavalo, vejo o amor que sente por ele. Posso não ser um especialista ou não gostar das mesmas coisas que você, mas não quero mal aos bichos.

— Não quer o mal deles? — O rosto de Dandara está vermelho como se tivessem esfregado dois tomates em suas bochechas, e se isso não era um alerta para ficar afastado, eu não sabia o que seria. — Sabe qual a diferença entre um cavalo para lidar com o gado e um cavalo de montaria e competição?

Dou de ombros.

— Exato, se não sabe essa imensa diferença e mesmo assim foi oferecer meus cavalos para donos de fazenda de corte. Você com certeza não quer o bem deles. Jumento! — dispara a falar.— Mas tenho uma solução, vá embora, se não quer o mal deles, vá. Ou está esperando a foda de despedida? Quer ir para o celeiro desativado? — pergunta desatando o nó da minha camisa xadrez fazendo ela revelar minha blusa curta.

E mesmo que a ideia de tê-la novamente em meus braços, sentir o gosto de sua pele e ter seus gemidos em meus ouvidos seja tentadora, me foco em nosso novo cabo de guerra. — Deixe de ser ridícula!

— Não sei onde Pedro estava com a cabeça, ele só poderia estar alucinando quando decidiu deixar meu Haras para você! Tenho muito trabalho a ser feito, se puder pelo menos não atrapalhar, eu agradeço.

Estava pronto para segurar seu braço vendo que se afastaria, quando vejo sua expressão de raiva se focar em outra coisa, sigo seu olhar vendo uma garota vir calvagando em nossa direção.

— Dandara! Era você mesmo que queria encontrar!

— Só me faltava essa! Acho que errou, sua prenda está bem na minha frente — Dandara diz com um sorrisinho falso.

— Forasteiro, desculpe não ter vindo mais cedo, vejo que ficou totalmente curado do ataque de fúria de Dandara.

Sorrio não tirando os olhos de Dandara, deixando que Cindy agarrasse meu pescoço dando um beijo bem perto de minha boca, naquele instante tinha descoberto uma outra arma poderosa contra a esquentadinha, o ciúmes. — Estou bem sim, que surpresa boa vê-la aqui. Estava agora mesmo comentando com Dandara que queria dar uma volta pela região.

Cindy sorri animada. — Então encontrou sua companhia, faço questão de ir com você.

Aproveito a situação segurando na cintura fina da garota, abrindo um amplo sorriso. Satisfeito por ver que deixo Dandara mexida, é bom saber que outra coisa borbulha dentro dela, além de irritação. Afinal, ela não é tão casca grossa quanto esbraveja. — Podemos dividir o mesmo cavalo, eu não estou acostumado a montar sozinho.

— Ihaaaahhh, mas é claro! — ela diz animada. — Ah, Dandara, eu soube que está preparando uma competição aqui no Haras.

Faço minha cara de “não sou o único planejando pelas costas” e encaro Dandara.

— Sim, é para angariar fundo para o Haras, mas como soube?

— Matheus, ele me contou — Cindy diz com um sorriso. — Logo pensei, o que seria excelente senão competir? As regionais estão chegando e eu e Milu precisamos estar preparadas, você poderia dar uma olhada nela, estou achando que ela está de TPM. E você como antiga competidora sabe como é importante o cavalo estar bem. Fico orgulhosa que abandonou os pódios e se dedica cuidando de minha égua.

Dandara competindo? Não sabia que a esquentadinha metida as caras em rodeios ou competições equestres. Estava aí uma coisa para pesquisar quando tivesse deitado em minha cama essa noite.

— Claro. Dou uma olhada. — Dandara responde de forma azeda.

— Perfeito, — Cindy empurra a rédea para Dandara, enlaçando ainda mais meu corpo — vamos forasteiro?

— Claro. Irei pedir para Mathias selar um cavalo.

A carranca de raiva que Dandara está é impagável. É como acender um pequeno fósforo numa fogueira à base de álcool. Eu não quero nada com essa garota, mas se para provocar minha caipira eu tiver que entrar nesse joguinho sujo, por que não?

A tal de Cindy não tinha a mesma desenvoltura que Dandara na montaria, na verdade, não tem nem mesmo a paixão que Dandara exibe ao olhar para os cavalos. Porém, não decepcionou em nada em sua montaria e cavalgada, ela sabia o que estava fazendo. Mesmo que o cavalo ficasse arrisco com seus comandos.

Saímos do Haras indo para os campos abertos da propriedade, passando por um pequeno riacho, Cindy se aproveita por estarmos na mesma sela e esfrega sua bunda em meu pênis, sempre sorrindo e olhando por cima do ombro.

— Que tal pararmos aqui? — questiona olhando para a paisagem na frente, estavámos em uma espécia de monte, víamos a estrada de terra que nos levaria de volta para o Haras e ao longe a silhueta do que seria o centro da cidade.

— Por mim — digo já descendo do animal.

— Quero muito saber o que fez um homem fino e bonito como você se meter com a Dandara — Cindy fala amarrando a rédea do cavalo no tronco de uma árvore.

— Podemos dizer que fomos criados juntos.

— Mentira! — diz rindo.

— Meu tio-avô criou Dandara quando seus pais faleceram.

— Que azar o dela, primeiro perdeu a mãe e logo depois seu pai, morreu em um acidente com bois.

Não havia sentimento real naquelas palavras.

— Você e ela se conheceram como? — pergunto sentando sobre a grama.

Ela caminha parando em minha frente tampando a visão da paisagem remexendo o quadril, tentando ser sedutora.

— Bom, tirando o fato de cidade pequena todo mundo naturalmente se conhecer, além dos filhos estudarem juntos. No Haras, Setti é um dos poucos lugares de excelência por aqui, confesso que tem ótimas pistas para treino. Meu pai é um dos patrocinadores, mesmo eu querendo que Milu seja tratada por outra domadora, não posso negar que ela é boa no que faz. Cindy deu de ombros, analisando as unhas perfeitamente alinhadas e pintadas — Ficou melhor quando saiu das competições.

— Competição? — questiono curioso.

— Dandara praticava a mesma modalidade que eu, três tambores, mas largou tudo quando Pedro ficou doente. O velhote não podia mais pegar no pesado e o que não falta naquele Haras é serviço pesado para ser feito. Mesmo com Mathias vindo para ajudar, Dandara decidiu largar tudo para cuidar do Haras.

— Pela sua cara de surpreso, não sabia disso.

— Conheço pouco daqui, vim muito na infância a mando de meus pais e quando cresci nunca mais voltei. Só fiquei sabendo novamente desse lugar quando um advogado me ligou informando sobre a morte do meu tio. Somos de uma família grande, porém nem todo mundo ainda mantém contato.

— Por que decidiu voltar? — Cindy senta em meu colo, um joelho em cada lado de meu corpo, me fazendo dar um sorriso sem graça ao afastá-la com jeito. — É verdade o que todos tem cochichado por aí?

— O que andam falando?

— Oras, que você veio tomar isso tudo dela. Afinal, pra que um homem como você viria para um fim de mundo como esse?

— Vim por negócios, é tudo que precisa saber.

Cindy fez um beicinho, passando os braços pelo meu pescoço, forçando uma aproximação. — Por que não paramos de falar dela, de cavalos e todas essas bobagens e terminamos o que rolou lá no bar?

Direta e atrevida, ela se daria bem na cidade grande.

— Sinto muito, mas não vai rolar. Vamos voltar? Esqueci que marquei um telefonema importante com meu assistente em São Paulo, como disse, negócios — Fico de pé estendendo a mão para ajudá-la.

Não sei o que tem no DNA dessas caipiras, mas ô mulherada que se enfeza rápido! Cindy levanta dando um tapa em minha mão, já desamarrando o cavalo e subindo. Mais uma que preciso tomar cuidado para que ela não me lance do outro lado da estrada, só por que neguei seu fogo. A realidade é que não queria nada com Cindy, ela poderia ser uma mulher linda, com um corpo escultural. Mas serviu apenas para deixar a esquentadinha com ciúmes.


CAPÍTULO 21


Dandara

Enquanto comemos, Maria não tira os olhos de mim. Abaixo o garfo, dando um longo suspiro. — Diga logo mulher, senão vai engasgar com a própria comida.

— O que está tirando ocê do prumo, moleca?

Velha sábia! Não tinha nada que escapasse de Maria, você poderia se deixar levar pelo rosto repleto de rugas ou pelos olhares maternos que lançava para todos, mas Maria era como um pastor alemão, farejava as coisas à distância.

— O que deu no povo desse Haras hoje? — pergunto desviando do verdadeiro assunto.

— Ocê não me engana mocinha, conheço ocê mesmo antes de aprender a lavar os fundilhos de suas ceroulas!

— Que horror! Estou apenas pensativa, vou sair mais tarde para dar uma olhada nos campos.

Foi a vez de Maria revirar os olhos, ninguém vencia em uma disputa com Maria. — Ainda com aquele sonho azucrinando a mente?

Suspiro empurando a comida de um lado para outro no prato. — Eu vejo aquele cavalo com tanta força, não sei porque e nem mesmo o quê significa.

— Você está preocupada com as coisas daqui, normal, os sonhos mostram nossas preocupações mais profundas.

Suspiro, tomando um gole do suco, confirmando com um pequeno gesto de cabeça.

— Mas não era sobre isso que estava falando.

— Ô merda, Maria! — retruco. Não irei conseguir desviar do assunto.

— Óia a boca! — ralha — Ocê está ansiosa, está assim desde que a senhorita Munhoz chegou no Haras.

— Aquela menina brinca com os animais, Mathias disse que a égua tem marcas feias das esporas, eu gostaria de enfiá-las no...

— Ouuh , acalme-se. — Maria adverte rindo — Seria mesmo por que Cindy está maltratando a pobre da égua, o que não seria nenhuma novidade para nós ou pelo simples fato dela ter saído com Seu Miguel?

Fico em silêncio enchendo minha boca com o resto de suco de meu copo.

— Você gosta dele.

Encaro Maria — Ficou maluca? — digo umas oitavas mais alto.

Ela sorri, pega seu prato e o meu, indo até a pia. — Conheço você, menina. Seria de se admirar se não tivesse apaixonada. Eu disse para Seu Miguel, muito ódio acaba virando amor.

— Você está exagerando, deve ser o excesso de trabalho. Seu “Miguelzinho” está agindo pelas minhas costas, fazendo um inventário de tudo que há aqui para vender.

Maria não manifesta nenhuma surpresa com o que acabo de dizer. — O homi é um bitelo , 5 mas não disse que não era sonso para fazer merda. Pode me chamar de velha caduca, mas conheço os sinais e sintomas, você está gostando dele.

— Arre égua! Vou trabalhar, não quero falar mais disso! — argumento ficando de pé.

— Como quiser, moleca. Mas se enfiar no trabalho não irá arrancar isso d’ocê.

Bufando dou uma olhada feia em sua direção e ela entende o recado, não toca mais no assunto enquanto eu devoro uma maçã vermelha e doce que estava na fruteira. Coloco o chapéu sobre a cabeça, fazendo uma trança em meu cabelo e saio, ignorando os olhares que Maria me lança.

Apaixonada! Era para se rir mesmo, Maria está ficando maluca!


— Tudo correndo bem por aqui — Mathias me relata assim que entro do estábulo. — No fundo ela só precisa de um pouco de atenção.

Passo a mão sobre o corpo da égua, vendo seu olhar desconfiado. Milu é da raça Paint Horse, muito parecida com os quarto de milha, mas parece pintada à mão.

— Oua , calma garota!

Retiro a mão ao vê-la arreganhar os dentes.

— Essa daí vem com o espírito da dona. — Mathias brinca.

— Que nada, tire ela da baia. — peço olhando nos olhos da égua — Cindy é horrível com ela, assim como foi com todos os cavalos que passou por seu rancho. Só quer que o animal corra, muito parecida com Matheus, pelo menos aquele ali tem algo de bom, gasta dinheiro e tempo cuidando dos seus cavalos. — digo torcendo os lábios.

— Tem certeza disso? — Mathias questiona segurando a trava da baia. — Ela não está muito amigável.

— Solte.

Mathias faz o que mando, abrindo a portinhola, deixando que ela saia. Milu é uma égua imponente, sai com a fronte erguida, me encarando de cima, passando o recado claro que não tem medo de nós, mas na realidade, tudo isso é pose, ela está receosa que a machuquemos.

— Dê uma olhada nessa ferida.

Dou a volta indo até Mathias, não era uma ferida profunda, iria cicatrizar logo, mas o que me irritou ainda mais foram as marcas mais profundas em sua pelagem indicando que outras já tiveram ali, várias cicatrizes marcando o quando essa égua vinha sendo judiada. E o quantos os maus tratos tinham marcado-a internamente.

— Vamos fazer um tratamento de aromaterapia, para ela se acalmar um pouco e deixar que cuidemos dela.

Vou até o espaço onde os remédios ficam guardados examinando alguns vidros, pego três voltando para a égua.

Tiro a tampa do primeiro colocando perto da narina do animal. Ela relincha virando a cabeça bruscamente, quase derramando o conteúdo de minhas mãos. Retiro do segundo, mas ela tem o mesmo comportamento.

— Óleo bergamota — digo e não demora muito para ela tirar a língua para fora querendo o líquido.

— Não é estranho que ela escolha justo o que traz a sensação de alegria e ânimo. — Mathias comenta.

— Minha mãe sempre dizia que os animais escolhem seus próprios remédios. Eles sabem do que realmente precisam.

O barulho de cavalo se aproximando traz nossa atenção para a entrada do estábulo.

— Que bom que ela está pronta, preciso ir. — Cindy salta do cavalo deixando Miguel se desequilibrar por um instante.

— O passeio não foi prazeroso? — desafio.

— Minha égua está pronta ou não?

— Milu está com marcas de escoriações na barriga. — acuso.

Cindy não dá a mínima para o que estou falando.

— Cindy! Você está ferindo sua égua por nada com suas malditas esporas!

Mathias me olha preocupado.

— Que eu saiba pedi para você dar uma olhada, e não mandar no jeito que comando minha égua. — Cindy contra-ataca.

Miguel dá um passo em nossa direção como se nós duas fôssemos nos engalfinhar como animais, não que ela não merecesse, mas eu não iria ganhar nada com isso.

— Se você quer que Milu não a jogue para longe durante uma competição, precisa entendê-la. Ela não é um pedaço de bife para você ficar furando quando bem entende.

Cindy gargalha, — Me passe o valor de seu tempo, mando meu pai depositar na conta do Haras. — ela vê que continuo encarando-a — Vamos, será que dá para selar minha égua?

Mathias pega as coisas pronto para selar a égua.

— Mathias, não! — Eu quase grito. — Cindy, me escuta...

Cindy arranca a sela das mãos de Mathias, ela mesmo arrumando no lombo de sua égua.

— Cindy, sua égua está ferida, pode achar que não é nada, mas com o tempo vai pegar os ossos dela. Se você se importa...

— O que eu preciso escutar é que você fez algo além de ficar gastando meu tempo. E não de suas mágicas inúteis. — Ela mal fixa direito as fivelas para montar o animal.


Cindy enfia as esporas na barriga da égua fazendo-a relinchar de dor, e a visão dos olhos tristes e repletos de lágrimas do animal cortam meu coração.

Chuto um barril de água enfurecida com a partida de Cindy. O fato de não poder fazer nada para ajudar essa égua me corta o coração.

— Pelo visto vocês estão bem longe da cordialidade.

Viro como um bicho, bufando como um touro bravo ao encarar Miguel. — Meta seu nariz onde é chamado!

— Se você sabia que Cindy maltratava a égua, por que a liberou? — Miguel questiona.

— Seu Miguel, não é simples assim, não podemos prender os animais, mesmo que por alegação de maus tratos. A família de Cindy é poderosa na cidade, seria uma briga infinita e até lá a égua já teria caído doente.

— O que Mathias tá querendo dizer é que não serão os primeiros donos que negligenciam seus animais, muito menos os últimos. São esse tipo de gente para quem quer vender meus cavalos. — acuso.

Levanto o barril que tinha chutado em minha explosão de raiva, puxando a mangueira para enchê-lo.

— Mathias, termine de cuidar das baias, eu vou sair com Trovoada. Está esfriando e não duvido de termos uma chuva torrencial mais tarde.

Deixo os dois ali, no meio do estábulo indo até o Trovoada, eu precisava da paz que ele poderia me dar. E não foi surpresa em vê-lo totalmente alerta, meu pai costumava dizer que Trovoada sempre saberia meu estado de espírito, ele sempre estaria ali, pronto.

E isso era verdade. Não precisei dizer nada, apenas abri a portinhola de sua baia, subindo diretamente no pelo para que ele saísse em disparada para fora do Haras, o sol estava se pondo no horizonte e uma espessa nuvem cinzenta cobria o céu.

Na época de outono vivemos os tempos mais malucos; temos dias de intenso calor e do nada um frio de arrepiar os ossos com chuvas tão fortes que inundam a estrada. Além de ser a época que mais me preocupo com o bem estar dos cavalos.

Cavalgo pelos campos, até mesmo me embrenhando no pequeno acervo de mata fechada, os ranchos e fazendas não são próximos uns dos outros, o que dá bastantes aréas livres.

— Aoh — Trovoada para, relinchando baixo. — Você também ouviu rapaz?

Paramos entre as árvores escutando os pássaros fazendo burburinho entre os ramos, mas não foi isso que chamou nossa atenção, e sim um relincho baixo, sofrido.

— Vamos, Trovoada. — bato o pé na barriga dele fazendo barulho para que volte a galopar.

O rancho era velho, existia destroços espalhados pelo terreno, desço do Trovoada empurrando a porteira velha e quebrada, tinha arame farpado para todos os lados, o relincho veio mais fraco dessa vez, como se o animal já não aguentasse mais esperar por ajuda. Trovoada relincha batendo os cascos chamando minha atenção, um cavalo estava em um pequeno cercado amarrado a cordas em um tronco velho, havia feridas em sua cabeça e boca devido às cordas, mas também marcas profundas espalhadas pelo seu corpo, fora a desnutrição evidente.

Não conseguiria fazer esse cavalo ir até o Haras, precisaria chamar o Santiago e pegar o trailer. Monto em Trovoada galopando de volta até o Haras, forçando ele ir o mais rápido que pode, não sabia de quem era aquele rancho abandonado, mas de maneira alguma deixaria o animal ali sofrendo.


CAPÍTULO 22


Miguel

Levo as toras de madeira para Bento, sentando no sofá. O frio realmente tinha chegado com força, nos forçando a fechar as portas e janelas para manter o calor dentro do imenso casarão. Dandara ainda não tinha retornado, o que me deixa um pouco ansioso, mesmo não querendo admitir. Aquela diabinha caipira está me enrolando em seu laço.

— Daqui a pouco a janta estará pronta. — Bento diz passando por mim em direção à cozinha.

Volto meus olhos para a tela do computador, vendo o projeto que Paulo havia me enviado mais cedo. Os arquitetos tinham feito um excelente trabalho, a entrada do resort era imponente, ele manteve o rústico e sofisticado com tanta suavidade que nenhum dos pontos tinha se destacado mais que o outro. E ali, analisando o projeto, eu não conseguia abrir minha caixa de e-mail e aprová-lo. Não conseguia dizer que poderíamos fechar o negócio com os donos dos Haras e fazer o transporte dos cavalos assim que o périodo que o advogado deu se encerrasse.

A rajada de vento forte fez o fogo na lareira tremular quase se apagando, fecho o computador virando para ver Mathias entrar na casa chamando por Bento.

— Que desespero todo é esse? — questiono indo para a entrada.

— Dandara voltou e vamos resgatar um animal.

— Resgatar? O que houve? Toda vez que você entra como um foguete aqui é porque Dandara tá metendo todo mundo em apuros — retruco.

— Mathias, o que aconteceu? — Bento e Maria vêm em nossa direção.

— Dandara voltou da caminhada, segundo ela encontrou um animal em condições precárias. Preciso ligar para o Santiago e preparar o trailer para sairmos.

— Onde ela está? — pergunto.

— A última vez que a vi estava indo pegar umas medicações.

— Santiago não deveria ficar disponível no Haras para esse tipo de emergência? — questiono ajeitando o casaco pesado no corpo.

— Sim, Seu Miguel, mas ele trabalha em outros lugares. É um veterinário muito requisitado na região.

— Vou procurá-la. — digo por fim, cruzando com eles, sentindo o vento bater contra meu corpo enquanto caminho até o estábulo.

Os cavalos relincham alto, incomodados pelo vento, passo por uma baia me esquivando ao ver que o cavalo está tão irritado que bate o corpo contra as paredes de sua baia.

— Eles ficam mais irritáveis com esse tempo.

Olho para Dandara, seu rosto está preocupado. Ela vai até o cavalo mais arisco, deixando que ele cheire um potinho.

— Aromaterapia — explica.

Mesmo ainda desconfiado o cavalo começa a se acalmar.

— Você realmente faz mágica com eles.

O cavalo vem em minha direção me assustando, pulo para trás encarando os imensos olhos pretos do animal. — Eles não confiam em mim.

— Eles são espertos, sentem quando um humano tem medo, alegria ou quando não gosta deles.

Olho para seu rosto, lá vinha ela com aquele papo novamente. — Não é bem gostar ou não, só não confio. Mathias disse que encontrou um animal ferido.

— Eu estava cavalgando, estava ficando mais frio no meio das árvores. Eu o ouvi, ele estava me chamando, não sei há quanto tempo ele está lá, mas eu sei que está cansado. Cansado demais para vir andando, mesmo se Trovoada sustentasse ele pelo caminho, isso o teria machucado mais.

— O que posso fazer?

Dandara me encara surpresa.

Nem eu mesmo sei por que estou fazendo isso, por que estou tentando salvar um animal se tudo que mais quero é que essa guerra de braço acabe logo, para dar continuidade aos meus planos.

— Santiago está ocupado em uma fazenda, tenho receio dele não chegar a tempo.

Ver o olhar triste em seu rosto faz algo dentro de mim borbulhar. — Vamos, eu ajudo você.

Ela ri por um instante, voltando a ser a diaba caipira que eu conhecia. — Você vai mais me atrapalhar do que ajudar.

— Se não quer salvar aquele animal é só dizer.

Vejo seu olhar me analisando, assim como o suspiro pesado que ela solta. — Pegue aquelas cordas, iremos precisar de pelo menos umas três, estou com o kit de remédios, ele tem grandes feridas pelo tempo que passou amarrado e das tentativas de fuga.

— É selvagem?

Ela para de arrumar as coisas para me olhar. — Ele foi ferido, está com medo, sede e fome, vai saber quantos dias ficou exposto ao sol escaldante e as chuvas frias das noites.

Mathias aparece com a caminhonete puxando o trailer. Interrompendo nossa conversa.

— Vamos colocar tudo no carro. — Dandara ordena levando Trovoada para sua baia.


O caminho até o rancho que Dandara encontrou o animal ferido fica bem longe do Haras, e a estrada não ajudava em nada, o vento ficava mais forte e logo a chuva nos brindava com mais força, dificultando ainda mais nosso caminho. Os limpadores trabalhavam frenéticos pelo vidro, cada vez que Mathias acelerava ou freava passando por um buraco era meu coração que pulava dentro do peito. A buraqueira ficava escondida devido a tempestade que caía lá fora.

Era difícil ver alguma coisa concreta em nossa frente com a torrente que descia do céu, o que me fazia apertar o canto do banco com mais força, prendendo a respiração.

Quando Mathias acelerou passando pela entrada destruída do rancho, tudo lembrou foi um filme de terror, a casa ao fundo está caindo aos pedaços, tudo ali está destruído pelo tempo e esquecido por Deus.

Dandara salta do carro antes mesmo que ele pare completamente, levando consigo o kit veterinário e uma das cordas, fazendo Mathias e eu seguirmos em seu encalce.

— Mathias, abra o trailer.

— O tempo está horrível. — digo olhando ao redor.

Dandara pula a cerca de arame encarando o cavalo com as mãos para cima, conversando baixinho com ele, para tentar acalmá-lo.

— Corte os arames, Miguel.

Retiro da enorme maleta que ela touxe um alicate, corto os fios abrindo espaço para que ela passe com o animal.

Ele relincha, empinando o corpo para trás, evitando que ela encoste nele e toda vez que faz isso, acaba caindo devido à fraqueza que seu corpo apresenta. Dandara chega mais perto tentando tirar as cordas que o machucam, porém ele está arredio demais.

— Dandara, devíamos ter esperado por Santiago, ele pode te machucar. — Mathias retruca.

— Ele não vai me machucar, está com medo, tem medo do toque. — Dandara se vira pegando um daqueles frascos pequenos que estava dando aos cavalos no estábulo fazendo o cavalo cheirar. Ele não se acalma como os outros fizeram, mas permite que ela chegue mais perto. — Se tivesse esperado por Santiago ele teria morrido nessa chuva.

Dandara tem realmente algo a mais para esses animais, é como se apenas de olhar, eles dissessem tudo que estão sentindo para ela. Ela volta para a mala tirando um lenço grande, jogando-o no rosto do bicho.

— Miguel corte as cordas e passe a nossa pelo pescoço, dê um nó bem firme.

Faço o que ela manda, me certificando que o cavalo continua imóvel contra o peito de Dandara, ela faz carinhos na crina judiada, sussurrando algo que não entendo devido o barulho forte da chuva.

— Se o dono do cavalo voltar? — pergunto terminando o nó.

— É bom que nem volte, olha o estado que deixou o cavalo. — ela retruca pondo o bicho de pé. — Calma, ouh, calma.

— Dandara, Miguel, temos problemas! — Mathias grita sob a chuva.

Um velho aparece no meio da chuva vindo em nossa direção segurando uma garrafa de bebida, tropeçando nos próprios pés.

— Conheço a laia desse daí, Cicinho sempre o expulsa do bar por arrumar confusão e ele não se importa com nada além da cachaça que consome — Mathias comenta encarando o homem.

— Às vezes temos que deixar os pensamentos sendo apenas isso, pensamentos. Nunca ouviu que o que é jogado no universo ele devolve? — Dandara resmunga para mim.

— Ei! O que você estão fazendo com meu cavalo? — O velho grita, tenta correr até nós, mas tropeça várias vezes em seu próprio pé.

Quando tenta chegar perto de Dandara, eu contenho o homem bêbado e por consequência o animal se agita, fazendo Dandara soltar um pouco a corda que o mantinha preso.

— Você não encosta mais nesse animal! — Dandara grita vindo para cima de mim e do velho bêbado.

— Vocês invadiram minha propriedade, vou chamar a polícia, e esse cavalo voltará para o lugar dele.

Seguro com firmeza sua camisa puída evitando que ele avance para cima dela.

— Chame, vai me poupar o trabalho de chutar sua bunda até lá.

O velho para por um instante de se debater em meus braços e assim consigo arrastá-lo para fora do caminho, deixando que Dandara entre com o animal no trailer.

Mathias enfia todas as coisas de volta na caminhonete, embarcando e dando partida no motor.

— Quando ele ligar para a polícia, ele que terá que se explicar. — digo animado, feliz por ter salvo aquele cavalo.

Dandara tira os olhos do vidro traseiro, voltando seu rosto para mim. — Ele não vai ligar, mal lembrará o que houve. Ele iria deixar o cavalo morrer de fome. — ela volta seu olhar para trás, vigiando o trailer.

Mathias faz o melhor que pode, mas a estrada de terra fica esburacada na chuva forte, e se antes a visibilidade já estava dificil, agora está muito pior. Os relinchos do animal preso no trailer são ouvidos de dentro do carro, imagino o quanto ele não esteja apavorado.

O carro balança de um lado para o outro, me fazendo segurar a respiração por alguns segundos.

— Ele vai se acalmar quando sairmos desse pedaço de estrada. — Mathias diz.

O carro balança mais forte na curva.

— Pare, Mathias. Eu vou com ele.

— Ficou maluca? Ele pode te machucar, está muito nervoso.

— Se eu não for com ele, vamos acabar capotando. — diz.

Mathias encara Dandara pelo espelho retrovisor, considerando o que diz.

— Ficou maluco? Ela vai se machucar! — retruco quando ele para no meio do nada, destravando as portas.

— Sei o que estou fazendo — ela resmunga.

Dandara desce e esperamos. Olho pelo vidro de trás esperando algum sinal...

— Podem ir — grita batendo na lataria do trailer.

Quando chegamos ao Haras, me senti como se tivesse nadando, nem mesmo minhas bolas estavam secas na cueca. Mathias dá a volta no carro pegando a corda e guiando o cavalo para o estábulo. E antes que Dandara saísse, indo para longe, eu a segurei.

— Desculpa.

Passo a mão pelo cabelo molhado tirando um pouco d’água dos olhos. Por que ela me deixa assim?

— Não quis magoá-la com a história de hoje cedo. Estou fazendo o melhor que posso.

— Então precisa fazer mais do que isso.

Ela se solta de minha mão correndo em direção aos estábulos, corro atrás dela, mesmo quase caindo quando meu pé afunda em uma poça d’água, alcanço seu braço e puxo-a para mim, fazendo com que pare.

Droga! Descobri que estou enlaçado até a alma por essa caipira!

Dandara fecha a expressão mostrando seu melhor olhar de ódio tentando se livrar de mim novamente. Fico em sua frente e mesmo com a chuva em seu rosto, consigo perceber que os seus olhos estão cansados, a adrenalina tinha decaído de seu corpo e eles lacrimejavam. Ela tenta se soltar novamente de mim. — Por que você não vai embora, Miguel? — pergunta com o rosto perto do meu.

Meu pênis lateja dentro da calça. Essa mulher me deixa louco!

— Eu não desisto, esquentadinha. Já devia ter entendido isso.

— Pelo menos temos alguma coisa em comum — ela retruca. — Odeio você, brucutu!

— Não, não odeia.

Ela para surpresa com minha declaração. Estar tão perto dela, sentir aquele corpo colado no meu, desperta meu desejo.

Ignorando tudo, eu só tinha uma coisa em mente: tê-la a todo custo.

Avanço sobre ela, seu corpo inteiro estremece, quando a beijo, ela abre a boca para receber minha língua, sua boca é carnuda e quente, ela para de tentar lutar contra aquele fogo que move nossos corpos. Aperto Dandara contra meu corpo, e sinto suas mãos enlaçarem o meu pescoço. Ela me puxa, em resposta eu invado seus lábios, tomando sua boca com minha língua. Levo a mão até seus seios e ela geme com meu toque.

— Quero você, esquentadinha.

— Por que está fazendo isso comigo? — ela resmunga quando minha boca desce por seu pescoço.

— Shiuu, — mordisco sua pele, descendo a boca por seus seios, lambendo o pequeno decote de sua blusa.

A chuva cai sobre nós, mas não é frio que nos faz tremer, é o calor que sinto por essa mulher que só aumenta.

— Quer que eu pare agora?

— Eu odeio você — sussurra, puxando minha mão, nos fazendo correr pelo Haras, entrando no velho celeiro abandonado.

Existem furos entre as madeiras fazendo a chuva cair em nós, Dandara empurra meu corpo contra uma viga de madeira, colocando as mãos por debaixo de minha camiseta encharcada. Meu corpo treme com o calor do toque, fiz o que desejava desde que pisei para fora da cama, abro botão por botão de sua camisa, deixando tudo totalmente livre para que chegasse aos seus seios, luto um pouco contra o fecho do sutiã, fazendo-a rir e tomar a missão de minhas mãos.

Dandara joga a cabeça para trás gemendo cada vez mais com as carícias que eu faço em seus mamilos enrijecidos. Lambo sua nuca, distribuindo beijos sobre sua pele. — Quero você, Dandara, tem que ser aqui, agora. — digo roçando meu quadril em sua cintura.

Solto o botão de sua calça enganchando meus dedos direto nas laterais de sua calcinha, abaixando as peças até o chão, passando por seus pés. Abro suas pernas, deixando seu sexo exposto para mim. Dandara fez o mesmo por mim, tirando minha camisa e indo até minha calça. Ela baixa minhas roupas alcançando meu pênis. Gemo como um animal no cio.

Ela se ajoelha, sem emitir uma palavra, segura meu membro totalmente ereto. A boca da esquentadinha me toma quase por inteiro, sinto o vaivém dos seus lábios me fazendo perder o equilíbrio Encostando no pilar, olhando para seu rosto.

Ela segura a base do meu pau com uma das mãos, enquanto contorna o restante com seus lábios lindos e quentes. Eu a desejo tanto a ponto de gozar. Levanto Dandara de forma abrupta.

Agarro aquela massa de fios longos e loiros, fazendo o calor que consumia meus sentidos aumentar. O corpo de Dandara colado no meu, lábios entreabertos e desejo nos olhos.

— Não negue, você adora isso, seja o que for que esteja acontecendo aqui, você adora.

Mantenho seu cabelo seguro na nuca com uma das mãos, a outra passando por seu corpo nu em volta de sua cintura, deixo meus dedos escorregarem dentro dela, afastando os lábios de sua boceta, apertando o clítoris úmido de tesão. Empurro seu corpo contra a parede, encaixando uma de suas pernas em meu ombro ao agachar, deixando sua intimidade totalmente exposta para mim, como um belo cartão de boas-vindas. Meto a língua de forma faminta, o corpo de Dandara estremece, seus dedos agarram meu cabelo de maneira ferroz.

Devoro seu corpo com vontade, minha saliva misturando com a lubrificação salgada, Dandara tinha gosto de mulher excitada, do tipo que atraí os pobres homens de longe.

Tiro sua perna de meu ombro, erguendo-me, viro-a de costas para encaixar meu pau em sua entrada, deslizo um pouco mais, ela é deliciosa! Antes de chegar ao fundo, Dandara rebola contra meu corpo, fazendo meu membro remexer dentro dela, ela rebola e eu começo aumentar o ritmo dos meus movimentos. Entro e saio dela com facilidade, como se seu corpo reconhecesse o meu.

Abro mais as pernas dela, impulsionando o quadril contra ela, seguro seu cabelo, puxando-o de forma bruta para trás, gostando de sentir seu rosto perto do meu. Mordo e dou chupões fortes em sua pele. Meto com intensidade, gostando do barulho de penetração molhada que chegava até meus ouvidos, meu pau inchado e duro doía procurando alívio, exigindo por isso.

Sinto que ela convulciona em minhas mãos, sussurro em seu ouvido o quando me enchia de tesão, o quanto seu corpo recebia o meu de maneira tão delicioso e o quanto ela era gostosa. Dandara se empinou ainda mais, apertando meu pau com suas contrações involuntárias, arrancando o ar de meus pulmões.

Continuo metendo, lambendo seu corpo, apertando sua cintura ou puxando seu cabelo. Eram sensações diversas que tomavam meu corpo. Dandara gritou, seu corpo estremecendo de verdade, perdendo o controle, deixo que ela goze, segurando ao máximo, travando minha própria libertação, ela ficou mole em meus braços enquanto me retiro de dentro dela, masturbando meu pau para gozar, esporrando como um maluco, só de pensar na entrega absurda e delirante que tinha acabado de acontecer ali.


Ela passa minha camisa rindo — É a única forma de você se limpar.

Diabinha!

— Miguel...

Selo seus lábios com os meus evitando que ela fale algo que possa estragar esse momento. — Amanhã pensamos sobre as coisas chatas.

Não tinha a menor chance de discutir com ela agora, o que eu mais queria naquele momento era deitá-la naquele feno velho e começar tudo de novo.


CAPÍTULO 23


Dandara

Abro os olhos sentindo o calor da pele de Miguel contra minha bochecha. Fico deitada quieta, ainda tentando entender o que estou sentindo por ele. Passei metade da noite refletindo sobre tudo que vivemos. Fico confusa pelas sensações que o beijo, o toque dele, me fazem sentir.

Será que eu conseguirei realmente fazer Miguel ver o Haras com outros olhos, além de um pedaço de terra lucrável? Fazê-lo sentir sem me envolver, ou eu já estava envolvida demais? Desisto de ficar deitada com milhões de pensamentos cruzando meu cérebro, saio da cama evitando acordá-lo.

Depois de tomar um banho, me troco em silêncio, descendo para para tomar café, não sem antes dar uma olhada em direção à cama, vendo Miguel dormindo nu, coberto apenas por um pedaço do lençol.

— Bom dia — cumprimento sentando na cadeira vazia, o cheiro de café e bolo de fubá fazem meu estômago roncar de fome.

— Bom dia, menina. — Maria me cumprimenta enchendo minha caneca de café puro. — Mathias estava nos contando sobre o animal.

— Falando nele, como está, Mathias? — pergunto devorando um pedaço do bolo.

— Está bem, Santiago passou a noite cuidando dele. Mesmo com muitos machucados, ele disse que logo estará bem.

— Que bom ouvir isso. — pego dois pedaços de bolo colocando no meu prato enquanto dou uma golada no café. Paro com a xícara ainda contra a boca vendo os olhares deles.

— Está faminta, moleca — Maria diz.

Dou de ombros, como se fosse algo normal.

— Tem bicho uivando no terreno de novo, uma desgrama isso, né? — Mathias provoca sorrindo.

Dou uma olhada feia, fazendo com que ele ria ainda mais, atiçando a curiosidade de Maria.

— O que vocês estão rindo?

Paro com a xícara à caminho da boca ao ouvir a voz de Miguel.

Ele puxa uma cadeira ao meu lado, me lançando um olhar malicioso. Miguel faz questão de jogar o corpo para cima de mim ao pegar um pedaço de bolo.

— Dormiu bem? — pergunta, seu olhar malicioso me fez sorrir. O desgraçado sabia que tinha mexido comigo!

— Sim e você? Parece cansado — desafio entre um gole e outro do café.

— Um pouco, mas no fim consegui o que queria.

Bento entra na cozinha sacudindo o casaco. — Hoje o dia está de lascar.

— Teremos pouco movimento então. — digo.

— Mathias eu quero falar com você sobre o Haras — Bento diz.

— Aconteceu algo? — questiono.

— Aquele problema qual contei procê , menina. Temos que rever a segurança dos animais, ontem tinha algum tipo de animal esganiçado no meio do mato.

Miguel engasga com o café fazendo todos encará-lo. Dou um pisão em seu pé, esmagando seus dedos.

— O antigo celeiro estava aberto e tudo revirado, ou tivemos um casal se engalfinhando ou tinha algum animal ferido procurando por abrigo. — Bento comenta.

— Vou ficar de olho nisso. — Mathias diz. — É perigoso mesmo, mesmo que eu acredite que possa ser um casal festeiro, — ele me encarou erguendo a sobrancelha — melhor trancarmos o celeiro dos desavisados.

— Que milagre é esse eu ver tua cabeça pelada? — Bento se vira para mim.

Sorrio.

— Perdi meu chapéu ontem quando o cavalo ficou muito agitado. Logo compro outro. — me levanto terminando meu café, aquelas trocas de olhares já foram o suficiente para mim.

— E eu... — Miguel enfiou na boca o último pedaço de bolo — vou dar uma volta pelo Haras.

Vou até a entrada enfiando meus braços no casaco que estava no mancebo, assim como as luvas de couro.

— O que faremos?

Desvio o corpo encarando a porta da cozinha, Maria, Bento e Mathias estavam entretidos em uma conversa. Não sei se estavam totalmente focados ou apenas se fazendo de surdos para escutar nossa conversa.

— Dá para ser mais discreto? Eu vou conferir o cavalo que chegou ontem, e depois se quiser podemos cavalgar juntos.

Ele inclina a cabeça e inspira, sentindo meu perfume. — Adorei a ideia.

Maldito brucutu gostoso!

— Seja discreto.

Ele respira mais fundo e mordisca meu pescoço. — Por que não aceita logo minha oferta, esquentadinha, colocamos um fim nesse joguinho e podemos ver o que rola.

— Isso vai acabar mal — digo com a voz rouca. Era só questão de tempo, mas, dessa vez a culpa foi minha. Olhar para a boca de Miguel tão próxima à minha, eu queria aquele beijo, então peguei.

Meu coração martelava no peito com a sensação de poder ser pega, meu corpo e cada fio de cabelo gritava em minha mente: Brucutu!


Santiago tinha levado o cavalo para o redondel, mas ele estava tão arredio que poderia machucar ele e o ajudante que tentava segurar a rédea, ele empinava evitando qualquer tipo de aproximação.

— Vou ter que aplicar a injeção, ele vai ficar pior desse jeito.

— Espere. — digo subindo nas travas do redondel.

— Ele está muito arredio, pode machucar alguém ou até mesmo ele.

— Acho bom manter distância. — o ajudante de Santiago diz para Miguel.

— O que esse cavalo tem? Ele deveria estar grato por termos salvado ele ontem — escuto Miguel retrucar.

— Isso é o que ela pode descobrir. — Santiago comenta.

Ele corre pelo redondel dando coices nas paredes, respiro fundo pulando para dentro, parando no meio do cerco. Cada passo que dou em sua direção faz com que ele trote, evitando minha aproximação. Ele vem para cima de mim, parando perto, é a forma de dizer que me culpa, que culpa todos nós pelo que ele passou.

— Acho bom parar com isso, não tenho culpa do que ele fez com você, eu estava te salvando. — grito para ele.

Ele se arma novamente, erguendo-se nas patas traseiras, se fosse outra pessoa, com a proximidade que estávamos ele poderia fazer um estrago. Mas não me intimido, sei que ele não vai me machucar, quer apenas me amedrontar, quer me ensinar seus limites.

— Dandara, se afaste! — Santiago alerta.

Fico em silêncio encarando o cavalo.

Ele abaixa as patas, colocando a cabeça no meu ombro.

— Muito bem rapaz, isso mesmo, com calma. — retiro um petisco do bolso dando para ele. — Você vai se chamar Chuvisco.

— Ela conseguiu — escuto Miguel dizer.

— Deixa ele descansar, uma boa dose de ração e ele ficará bem. — Digo para Santiago. — Quando estiver curado começo a doma.

Vejo o ajudante dele receoso por chegar mais perto do cavalo.

— Ele não vai te atacar, é só não machucá-lo.

Ele confirma com um gesto, abrindo a porta para que Chuvisco passasse.


Trovoada está agitado em sua baia, ele sente falta quando não passeamos pela manhã.

— Estava esperando por isso, né? — pergunto enquanto acaricio sua crina. — Pronto para montar?

— Se você cavalgar como fez ontem comigo, acho que terei uma excelente manhã!

— Você não presta! — empurro seu peito, rindo — Pegue aquela rédea, Trovoada prefere montaria no pelo.

— Sem nenhuma proteção?

— Ele não vai te derrubar.

Monto Trovoada com Miguel, ele aperta meu quadril contra ele, seguimos pelo trieiro, eu aprecio o clima de pós-chuva. Atravesso o pequeno riacho rindo com Miguel apertando minha cintura com medo de cair do cavalo.

Desde que ele havia chegado no Haras estávamos em pé de guerra, como após uma chuva tudo mudou de maneira tão repentina? Credo! Isso era coisa da minha cabeça. Isso sim. Eu tinha que me focar em coisas mais importantes.

Paro perto das pedras, desço segurando as rédeas para que Miguel desça.

Dou um tapinha no dorso de Trovoada deixando-o cavalgar livre por aí.

— Ele vai voltar? — pergunta olhando para Trovoada trotando para longe.

— Sim, ele ama andar livre, todas as manhãs sento por aqui e ele fica cavalgando pelo campo.

Assim que termino de falar, aponto para a cachoeira à nossa frente. Os raios de sol refletem na água cristalina.

— Aqui é lindo.

Dou um sorrisinho de “eu sei”. Estávamos perto do morro, subindo daria para ter uma visão completa do Haras.

Estávamos em um silêncio confortável, Miguel brinca com a água com a ponta dos dedos, parece com o pensamento distante. Ele sai vindo ao meu encontro, um sorriso nos lábios, suas mãos vão de encontro à minha cintura, colando nossos corpos no meio da relva, aproximo meu rosto do seu, ele roça seu nariz no meu, minha respiração acelera. Sem conseguir conter, mordo o lábio inferior de leve e nos beijamos novamente.

Não tinha como me esquivar de algo tão forte.

— Miguel...

— Não, pare, não acabe com isso. — ele diz entre os beijos.

Sua língua explora minha boca como se eu pudesse desaparecer dali em um estalar de dedos, ele me beija como se isso pudesse me dizer algo. Havia entrega ali, em ambos, seus lábios descem por meu corpo, sua mão subindo minha blusa, fazendo meu corpo se arrepiar ao sentir a relva úmida tocar minha pele. Sua mão toca minha barriga, raspando as pontas dos dedos em meu seio, seu rosto esfrega a barba cerrada em minha pele, os pelos roçando contra minha barriga.

— É melhor voltarmos.

Miguel suspira de maneira audível. — Por que tem que estragar esse momento?

— Tenho coisas a fazer, um Haras sempre tem o que fazer.

Miguel não tenta me fazer mudar de ideia. Montamos em Trovoada para voltar, o silêncio nos acompanha até o Haras, assim que chegamos perto do estábulo Miguel pula do cavalo e quando me viro para falar com ele após colocar Trovoada na baia, ele não está mais ali.


CONTINUA

CAPÍTULO 16


Dandara

Uma semana, esse era o tempo que Miguel não dirigia a palavra a mim e muito menos eu iria procurá-lo. O silêncio pela casa era mais que bem-vindo!

Mathias, Maria e eu bebíamos nosso café puro quando ele apareceu na cozinha, a manhã estava fria, por isso adiei o passeio com Trovoada pelo campo para quando o tempo ruim desse uma trégua.

Enfio na boca o último pedaço de queijo branco de meu prato, tomando o resto do café.

— Maria, Mathias, bom dia — cumprimenta indo em direção a geladeira.

— Porra! Quem comeu meu queijo? — ele pragueja com a fuça enfiada entre as prateleiras da geladeira, fazendo Maria me olhar prepcupada e Mathias segurando o riso enquanto bebe seu café. Tudo que faço é dar de ombros, chupando as pontas dos dedos, nem um pouco arrependida. — Sumiu metade dele, e tenho certeza que ontem ele estava inteiro! — Miguel acrescenta fechando a coitada da geladeira com um baque.

— Olha só, era seu? Desculpe, eu comi — respondo na maior cara de pau.

Miguel me encara como uma carranca. — Mathias, preciso de um cavalo, estou querendo dar uma volta hoje!

— Tudo bem, posso preparar um cavalo para o senhor. — Mathias troca um olhar comigo.

— Acho que Bruto ainda está espirituoso como sempre. — digo. — Se quiser ter o traseiro jogado longe pode ir com ele.

Miguel me dá um olhar furioso. — É para agora, Mathias! — retruca saindo da cozinha.

Mathias se levanta, toma o último gole do café, — Dandara, está fazendo a vida desse homi um inferno. O coitado deve ta contando os dia para sumir por essa estrada à fora. — diz colocando o chapéu na cabeça.

— É bom mesmo que esteja. Tem sorte de eu ainda não ter cuspido no seu café — comento.

— Sei que odeia que metemos os bedelhos em coisa sua, mas os empregados estão receosos, os homi querem saber como vai ficar as coisas. Seu Miguel não veio aqui para deixar as coisas como estão, ele vai por tudo a baixo. — Mathias fala com cautela.

— Mathias, algum dia faltei com vocês? — questiono de maneira rude. Ele balança a cabeça de maneira negativa. — E isso não irá acontecer hoje. Avise seus homens que os empregos estão garantidos, nem que eu mesma banque os serviços deles.

— Pode deixar, Danda, desculpe a intromição.

— Mathias, somos família. Eu não vou falhar com vocês. — digo por fim.

Ele confirma, esboçando um sorriso em minha direção. — Santiago pediu para avisar que as vacinas chegam hoje.

— Estou ciente, assim que chegarem irei aplicar em todos. Não quero nenhum caso como a Archeron.

— Menina, a morte daquela égua não é culpa sua. — Maria diz.

— Eita , não quero prozear sobre isso, tenho trabalho me aguardando. — digo pondo meu chapéu na cabeça, seguindo para fora.


Sento debaixo de uma árvore olhando a cena. Miguel poderia tentar resgatar na mente os tempos de moleque, ele poderia até não ter nenhuma intimidade com os animais, mas pelo menos quando criança ainda conseguia montar um cavalo sem que ele tentasse morder sua coxa.

O Miguel da infância não está em nada parecido com o de agora, e não só pelo fato de ter emagrecido e ficado mais bonito, mas parece que Miguel tem ódio desse tipo de vida. Desde que chegou, olha tudo de cima, com cara de esnobe. Ele não tem vínculo com essa terra, ele não sente a importância que eu sinto quando vejo o sol raiando no horizonte, seus raios fortes iluminando essas terras.

Ele seguiu o caminho da cidade grande e eu o caminho dos bichos.

Mathias tenta ensiná-lo, mas ele parece muito com um cavalo xucro, surdo. Depois não quer ser chamado de mula. Levanto, limpando a parte traseira da calça com um espanar de mãos, me aproximando dos dois. — Mathias, vai conferir as coisas, deixa que eu cuido do brucutu.

— Não pedi sua ajuda. — Homi, mas mal agradecido!

— Não estou fazendo por você, e sim pelo cavalo, que não tem culpa do asno sentado em cima dele. — Miguel abre a boca para retrucar, mas mostro o dedo em riste — Você tem que aprender a ouvir, se segurar com força a sela, o cavalo vai entender que quer impor sua vontade e não vai deixar você cinco segundos sentado no lombo dele. Os cavalos farejam seus sentimentos de longe, ele sente quando você tem medo, raiva ou está confortável. Deixe a rédea frouxa.

— Você acha que eu desaprendi tudo que meu tio ensinou? — desafia.

— Acredito que sim, já que te salvei de vários tombos, se bem me lembro.

Ele me fulmina com o olhar. — Então vamos ver, esquentadinha. Pegue aquele cavalo mutante que você tem e vamos cavalgar por aí.

— Cavalo mutante?

— Você tem noção que ele é o dobro de um cavalo normal?

— Para sua informação a raça dele é Percheron. Ele é um ótimo reprodutor, por ser grande e forte nos dá potros com habilidades especiais para o campo. — Dou risada, vendo seus olhos se arregalarem quando o cavalo marcha para trás. — Tire os pés do estribo e, vá para trás.

Subo no cavalo com a destreza de sempre, ocupando seu lugar na cela. Eu conhecia os cavalos como a palma da minha mão aqui no Haras, por isso não tinha problemas com nenhum deles e sabia quando um deles queria fazer uma gracinha como nosso companheiro aqui.

Bato o pé no espaço entre a barriga e as patas traseiras, para que ele saia.

— Se você está pensando que vai ficar se esfregando em minha bunda, eu te jogo para fora do cavalo! Contenha suas mãos!

— Calma mulher estressada.

Tiro o chicote da bota acertando na bunda do cavalo e o animal sai em galope, soltando um relincho alto. Seguro o riso vendo que Miguel ficar tenso. — Gostando, brucutu? — Ele não responde.

Forço o cavalo ir mais além, sentindo a adrenalina do galope correr pelas minhas veias, sinto as mãos de Miguel segurarem minha cintura e o arrepio disso eriçar os pêlos de meu braço.

Cavalgamos um pouco pelo Haras indo até o campo aberto onde fico com Trovoada e voltamos para o Haras, parando no estábulo.

Desço do cavalo, colocando as mãos na cintura. — Gostou do passeio?

— Você queria se exibir.

— Não preciso me exibir para você. Já é um milagre que você tenha ficado em cima do cavalo enquanto estávamos cavalgando.

— Olha aqui, você se acha incrível, acreditou mesmo que eu precisava de você?

Gargalho com irônia. — Você não sabe nem ao menos como se monta num cavalo. É uma sorte que saiba onde fica o rabo e a cabeça.

— Você é mesmo muito...

— Muito?

Miguel se inclina, ficando mais perto de mim, quando seu rosto praticamente cola no meu, pude sentir sua respiração. O perfume exalava, eu tinha começado a odiar esse cheiro, cheiro que me tirou o sono nas últimas noites, mas senti-lo tão perto me embriagava. Antes que eu pudesse raciocinar, os lábios de Miguel grudaram nos meus. Os braços fortes rodeando minha cintura.

— Sua esquentadinha, está tentando o quê? — Parecia que ele estava falando mais consigo mesmo do que algo para mim.

Sua língua voltou a lamber o canto de minha boca, seus dedos apertando minha cintura, uma de suas mãos subiu por minha espinha.

Acaricio sua coxa, bem perto de seu membro.

— Vamos sair daqui — sussurra como um pedido. Suas mãos apertando minha bunda, passeando por todo meu corpo, da cintura até o pescoço. Ele beija minha boca com ferocidade, empurro seu peito sentindo os músculos firmes contra a palma de minhas mãos, descolando seu corpo do meu, vendo a malícia nos olhos de Miguel. — Por que parou? — pergunta.

Respiro fundo ainda olhando para ele, controlando a maluquice da qual acabo de me curvar...então, tenho uma ideia. — Espere um minuto, o Haras ainda está movimentado, vou checar se ninguém está por perto e trancar a porta. — digo de um jeito safado, bem parecido com o que Cindy fazia sempre que conhecia um homem de fora.

Ele passa a mão sobre o pênis por cima da calça, animado. Vou até lá fora, vendo que realmente não tinha ninguém por perto, puxo uma das portas travando-a no chão e repito o mesmo processo com a outra, mas antes de fechar e entrar como falei que faria, dou um tchauzinho para ele, fazendo seu sorriso desaparecer. Percebendo o que estava prestes a fazer.

— Agora sim você está no seu devido lugar, uma pena que não tenhamos nenhum curral para você nadar com seus amigos...porcos! — digo rapidamente.

Miguel corre ao meu encontro, mas antes que ele me alcance, fecho a porta passando a tranca.

— Dandara, abre isso daqui! — seus gritos se misturavam com os relinchos dos cavalos incomodados dentro do estábulo. — Dandara, sua caipira maldita!

— Desculpe, brucutu. Aproveite seu tempinho com os cavalos e limpe as baias deles, Deus sabe como temos quilos e quilos de esterco por dia. Qualquer coisa tem feno e água se sentir fome. Isso deve bastar para você.

Ele bate na porta, fazendo-a tremer, gritando pelo meu nome. Urrando de raiva por ter caido feito patinho em minha arrapuca.

Cruzo com Bento no caminho de volta ao casarão, girando as chaves do estábulo entre os dedos e rindo feito uma maluca.

— Gosto de vê-la animada, mas está com cara de quem aprontou.

— Que é isso, Bento! — me finjo de inocente.

Ele bate na aba do chapéu, não acreditando nem um pouco no que eu estava dizendo. — Mathias está com os cavalos, quase todos foram vacinados, ele ficou esperando ocê aparecer, mas preferiu dar logo. Ficou fartando apenas o último estábulo. — comenta indicando o estábulo que tranquei Miguel.

— Diga que farei aquele estábulo, estou dando um castigo em um cavalo xucro. Ignore os resmungos, o cavalo está dando coice em todas as paredes, já vi cavalo dificil, mas esse...logo domo também — digo colocando um enorme sorriso no rosto.

Bento olha ao nosso redor, como se procurasse alguém e eu sei quem está procurando.

— Dandara, Dandara...

— Fique calmo, por que não vamos tomar um café, quem sabe Maria fez aquele pão doce que tanto amo? — pergunto enlaçando meu braço no seu, levando-o para longe do estábulo onde Miguel estava, acredito eu, urrando de raiva pelo tremor que a porta fazia.


CAPÍTULO 17


Miguel

— Sua caipira insolente! Como eu sou burro!

Eu esmurro a porta que nem um doido, gritando tanto que sinto minha voz falhar e ninguém aparece por ali. Viro olhando para os cavalos que relicham, só me faltava esses bichos me atacarem.

— Abre a porta! — grito de novo. Ando pelo estábulo procurando uma outra saída, lembrando de suas palavras “Aproveite e limpe as baias” , que filha da mãe! Até parece que eu iria sujar minhas mãos limpando merda de cavalo.

O cavalo no qual demos uma volta antes dela me trancar aqui chega perto, me fazendo pular de susto. Ele se sacode, sua crina bate de um lado para outro e solta um pequeno relincho.

— É, aquela ali não presta!

Cômico! Agora eu estava conversando com um cavalo como se ele pudesse me entender. Eu torceria o pescoço de Dandara assim que me livrasse dali.


Não tinha noção de quanto tempo tinha se passado, sei que estava de saco cheio de ficar ali.

— Noite, brucutu. Como foi seu dia?

Fico de pé chegando perto da porta, eu mataria essa mulher! — Pare com essa brincadeira de mau gosto, me tira daqui!

— Pelo visto continua grosseiro e sem educação. Espero que não esteja maltratando meus animais, por que se estiver, não vai ficar apenas dois dias trancado aí.

Meu sangue ferve nas veias. — Dandara, estou te avisando, quando eu sair daqui...

— Chega de ameaças em vão, vou te tirar daí quando aprender sua lição.

Esmurro novamente a porta, escutando seu risinho e seus passos se afastarem, — Dandara, estou com fome!

— Coma feno, brucutu!

Os cavalos mal se importavam por estar ali com eles, nos primeiros minutos e até primeira hora eles ficavam espiando ou fungando em minha direção. Agora? Muitos nem ao menos me encaravam, olho novamente para o cavalo solto perto de mim, ele abocanhou um punhado de feno mastigando e quando repetiu o gesto despejou um pouco em minhas pernas, como se dissesse que era bom.

— Tá de brincadeira você também!

Empino o nariz, olhando na direção contrária. Mas volto a encará-lo quando ele vem para cima de mim despejando mais feno em minhas pernas, seu focinho se torce inteiro enquanto mastiga.

— Ei amigão, pode ser bom para você, mas isso daí é mato. E alguém já te ensinou a dar espaço as pessoas?

O cavalo relincha, dando as costas para mim, batendo seu rabo bem no meio do meu rosto. Me fazendo xingá-lo. Como se estar preso junto aos cavalos não fosse o suficiente, ou do fato de estar com frio também não fosse, ainda tinham os mosquitos que faziam seu banquete atacando minhas veias.

Minha barriga roncando, meu corpo coçando e eu fedendo a estrume de cavalo.


Os raios de sol atingindo meu rosto me fizeram apertar os olhos tentando ver quem estava entrando, se fosse Dandara eu daria uma palmadas em sua bunda.

— Miguel? — Mathias perguntou surpreso, tentando entender tudo que estava acontecendo, olhando para a bagunça que tinha feito nos blocos de feno ao tentar arrumar um jeito para dormir. — O que você está fazendo aqui?

— Pergunte para aquela caipira filha da mãe — digo bravo, ficando de pé, sentindo as costas reclamar pelo movimento brusco.

Ele dá uma gargalhada. Mas se adianta a falar: — Desculpe, Seu Miguel.

Meu corpo chia de dor a cada maldito movimento, preciso de um banho quente, comida e boas horas de sono. Quando me recuperar ela vai ver, eu vou colocar essa caipira em seu lugar!

Estou com esse pensamento até ver Dandara caminhando sorridente em direção ao casarão.

— Ah, sua potranca mal educada! É bom correr. — ameaço gritando.

As pessoas que estão perto de mim me olham assustadas, e devem mesmo, porque meu rosto não deve estar nada amigável. Dandara se vira, o sorriso sumindo do rosto ao me encarar e então ela corre, empurra Santiago para longe e corre como uma moleca travessa sendo pega na artimanha, entra correndo no casarão.

Corro tão rápido que logo estou fazendo a porta de madeira branca bater contra a parede e escuto Maria falando alto na cozinha:

— Menina, o que houve? Tá tentando tirar o pai da forca?

— Dandara! — grito novamente.

Entro na cozinha vendo-a atrás de Maria, como se eu tivesse receio de ir lá lhe dar umas boas palmadas!

— Pare de correr, será pior quando eu te pegar! — ameaço.

— Ei, não quero bagunça na minha cozinha! Dandara o que você aprontou com o homi ? — Maria bate com a colher de pau na bunda de Dandara que agora tenta se esquivar de mim e de Maria.

— Vai fazer o quê? Me bater? Agora bate em mulheres? Quero ver encostar a mão em mim!

— Não, nunca encostei em uma mulher, mas dizem que para tudo tem uma primeira vez. E minha mão está coçando — grito.

Dou a volta na mesa, Dandara corre para o outro lado, fazendo o banco cair e eu tropeçar ao tentar pulá-lo, caindo de quatro no meio da cozinha. Sua gargalhada alta, faz minha raiva ferver mais que panela de pressão no fogo. — Ria enquanto pode.

— Alguém pode parar esses dois? Eles irão destruir a casa! — Maria grita empunhando sua colher de madeira. — Estão parecendo duas crianças!

— Desculpe Maria, mas não vou me meter — escuto a voz de Mathias enquanto corro atrás de Dandara que vai para a sala. — Dandara prendeu o homi no estábulo, peguei ele dormindo de concha com os cavalos.

Maria me encara, a mão na boca tentando segurar o riso.

— Vai, pode rir. Quero ver se aquela filha da mãe vai continuar rindo da minha cara quando eu a pegar — bufo, com os olhos em Dandara.

Ela faz um movimento errado diminuindo nossa distância, pulo sobre o sofá, meus braços envolvem sua cintura, tirando seus pés do chão. Não penso duas vezes, jogo seu corpo em meu ombro, dando um tabefe em sua bunda.

— Me solta! — Dandara grita.

Ela bate em minhas costas, os socos doem, não é que a Diaba tinha uma força bruta?

— Como foi sua noite? A minha foi maravilhosa, tá sentindo meu cheiro? Quer ver a quantidade de picadas que tenho espalhadas pelo corpo? Acho que tenho feno até em parte que desconheço!

Dou mais alguns tabefes em sua bunda que a fazem gritar. Eu estava puto por ela ter me deixado ao relento no meio dos bichos. E ficando com tesão, isso mesmo, ter o corpo daquele Diaba tão perto, tão ao meu alcance. Seus seios roçando em minhas costas, estava fazendo meu pau ficar rigido como uma tora, maldita hora para uma ereção. Eu queria mesmo é vê-la de quatro enquanto castigava sua bunda por ter me deixado trancado junto dos cavalos, mas também saborear cada gemido que ela pudesse...

— Meu Deus, Seu Miguel, solte a menina! — Maria exclamou.

— Não antes de lhe dar uma lição! — digo.

— Seu Miguel, não me obrigue a usar a Betinha em ocês dois. — Maria alerta.

— Não estou brincando, brucutu! É bom me soltar! — Dandara urra em minhas costas.

Acerto um tapa mais forte, jogando seu corpo no sofá, prendendo seu corpo ali ao apoiar meu joelho de um lado e o braço ao lado de sua cabeça, vendo seus olhos se arregalarem por um pequeno instante, mas o suficiente para meu dar um gostinho doce na boca. — Você tem sorte que é mulher, mas eu poderia, como vingança, soltar aquele seu cavalo gigante que tanto ama... — digo de maneira perversa — Como você ficaria?

Dandara me empurra com força, ficando de pé. — Você nem pense em tocar no Trovoada, você me entendeu? — responde praticamente gritando.

— Seria excelente, quem sabe assim você aprende a respeitar as pessoas? — retruco segurando seu braço.

— Larga meu braço, Miguel!

— Você quer me enlouquecer, você vem, me atiça, me provoca...

— Você se aproveitou da situação! — retruca.

— Você não se faça de sonsa! — grudo seu corpo mais no meu — Adorou o que fiz com minha boca.

— Misericórdia! — o sussurro de Maria quase me tira o foco da diaba em minha frente.

— Eu odeio você, Miguel! — Dandara tinha ficado furiosa, mas confesso que não liguei para o que ela estava falando, só conseguia ver aqueles lábios se mexendo. Queria torcer seu pescoço, mas também queria fodê-la. Como essa mulher me tira do sério!

— Você quis tudo que aconteceu e tá querendo mais que eu sei.

Seguro um punhado de seu cabelo bem justo no pescoço roubando um beijo, mordo seu lábio nem me importando por ela reclamar ou tentar me empurrar. Dandara retribui meu beijo, até me afastar, empurrando meu peito, fazendo com que me desequilibrasse dando alguns passos para trás rindo.

Ela limpa a boca me olhando com raiva, cospe no chão e então corre escada acima.

— Minha mãe dizia que muito ódio vira amor. — Maria retruca.

Viro vendo que Mathias e Maria ainda assistiam nosso pequeno showzinho. — Dela quero distância — digo marchando para meu quarto.


CAPÍTULO 18


Dandara

Bato a porta fazendo as coisas estremecerem dentro do quarto. Maldito brucutu! Arranco minhas roupas jogando-as no cesto perto do banheiro, ligo o chuveiro bem quente, quente o suficiente para que ao tocar em minha pele pudesse queimar o toque daquele... Engulo os pensamentos raivosos que passam por minha mente esfregando meus braços, meu pescoço, qualquer lugar que ele tivesse encostado, na tentativa de tirar o cheiro dele. Ainda não conseguia acreditar na petulância daquele brucutu. Miguel realmente não tinha amor pela vida.

Confesso que deixá-lo ao relento não foi algo muito sensível de minha parte, mas ele mereceu e, vai merecer cada pisão em seu pé a partir de hoje.

Bater na minha bunda e me tascar um beijo na frente de todos? Quem ele pensa que sou? Enquanto terminava meu banho pensava em mil maneiras de me vingar, mas acabei descartando todas, eu é que não desceria ao nível infantil dele, minha melhor vingança seria chutar a bunda dele para fora do meu Haras quando tudo acabasse.

Visto um short e uma camiseta puída e chinelos, melhor me ocupar dando banho nos animais do que cruzando meu caminho com certas mulas por aí. Atravesso o Haras em silêncio evitando falar com qualquer um que cruze meu caminho.


Agradeço pelo trabalho parecer não ter fim e os músculos espalhados pelo meu corpo começarem a protestar do esforço feito, passar o tempo no meio dos cavalos me acalmava e me fazia esquecer por alguns instantes minha vontade assassina contra Miguel. Mas amanhã mesmo eu ligarei para o advogado, não dá para continuar assim, mais dia ou menos dia e eu mataria Miguel. Que ideia absurda de Pedro me colocar nessa enrascada.

Já era noite quando paro fecho a última baia. Trovoada relincha animado após o banho, sacudindo a cabeça e sua longa crina.

— Teve um dia melhor que o meu, né, bonitão?

Saio do estábulo trancando as portas, todos os funcionários já tinham ido embora, caminho observando a noite, as estrelas e a lua cheia brilhando forte no céu, o som dos grilos cantando no meio do pasto.

Entro no casarão, tiro o chapéu, deixando-o no mancebo de madeira. Tudo estava em completo silêncio, poucas luzes acesas indicando que até a Maria tinha se recolhido.

Passo pelo quarto do brucutu vendo a luz está acesa sair pela pequena fresta da porta, estava prestes a entrar em meu quarto quando escuto uma porta atrás de mim se abrindo.

— Esquentadinha!

Viro, vendo-o só de cueca box, o corpo todo amostra.

— Não dirija a palavra para mim!

— Eu disse hoje cedo que tinha contas a acertar, você acha que seu showzinho me botou medo? — questiona vindo em minha direção.

— Se colocar as mãos em mim é bom começar a rezar para sair com ela no lugar!

— Não tenho medo de suas ameaças vazias — retruca.

— Vazias serão as suas bolas quando eu chutar para longe. — ameaço

— Você acha que vai me enlouquecer? — pergunta vindo em minha direção — Acredita mesmo que vou cair nos seus truques?

— Truques? — Gargalho alto — Não sou eu que fico agarrando você para roubar beijos.

— Vai dizer que não gostou?

— Já percebi que gosta de brincar com fogo! — desafio — Cadê toda aquela falamansa que andou esbravejando por aí? Homi metido a machão, não consegue parar de encarar para minha boca enquanto eu falo. Tudo isso é desejo?

— Não me torno frouxo por ter você na minha mente, me torno se não conseguir tirar, — Miguel dá mais dois passos em minha direção — e isso eu sei como fazer.

— Você pensa que me leva fácil, né?

— Você gosta de mexer com os homens, “se sente” fazendo isso...

— Eu não sou de quem me quer, sou de quem eu quero ser, e faço porque posso. — respondo dando um sorrisinho.

Miguel puxa meu corpo para o seu, fechando a porta com o pé, sua boca mordendo a minha enquanto distribuo tapas sobre seus ombros, costas, todo lugar que minhas mãos alcançam. Mas seu beijo furioso vai desarmando meu corpo, principalmente quando solta minha boca beijando de leve e devagar meu pescoço, rindo contra minha pele que se arrepia com seu toque, acabando com qualquer defesa minha. Não tinha gentileza no toque, havia desejo e prazer, junto de uma pessoa que queria provar seu argumento.

As mãos de Miguel ergueram meu corpo, sua língua forçando minha boca a se abrir ainda mais. Eu meio que empurro, e volto a puxar seu corpo para o meu. Precisei inspirar profundamente algumas vezes quando sua boca tomou o pequeno vão entre meus seios, sua lingua quente tocando minha pele fazia meus mamilos endurecerem e meu corpo querer mais. Sentir a proeminência em sua cueca também não ajudou muito meus pensamentos entrarem num bom senso.

Não era correto eu me render ao seu toque, não quando tinha aberto minha matraca falando que não me entregaria numa bandeja para ele, mas que diacho! Mordo seu lábio inferior, empurrando seu corpo para longe, tentando controlar a respiração. — Chega!

— Por que parar agora? — questiona agarrando novamente minha cintura.

— Eu disse chega, Miguel!

Suas mãos continuaram apertando com firmeza minha nuca, seus olhos mostravam que não estava disposto a me deixar em paz, que não sairia de meu quarto com aquela decisão fraca com a qual eu tentava me agarrar.

— Chega nada, não para mim e com certeza não para você. Eu sinto seu corpo vibrando em minhas mãos, Dandara.

Não arrisco olhar para ele, com medo que ceda aos meus instintos. Ele segura meu braço, olhando no fundo de meus olhos.

— Eu quero você, Dandara!

— Você quer me passar para trás, quer ter motivo para fazer chacota, quer o Haras, não é porque fui criada no meio do mato que não conheço homens como você, Miguel!

— Cala um pouco a boca, esquentadinha!

Abro os lábios para retrucar, mas é tarde. Ele pega meus braços, me empurrando contra meu armário, meu corpo inteiro treme com o calor do toque, ele tira a barra de minha camiseta de dentro do short, traçando livremente pelo meu corpo até meu seio. Miguel me vira de costas, mordendo meu pescoço, o corpo colado no meu, e acaba abrindo meu sutiã. Segurando meus seios, massageando-os nas mãos, beliscando meus mamilos sedentos por atenção. Roço minha bunda contra seu membro rigído na cueca, fazendo com que ambos gemêssemos.

Miguel continua acariciando meu corpo, mordendo e chupando meu pescoço. — Quero você, aqui e agora. — ele arranca minha camisa pela cabeça, fazendo a mesma coisa com meu sutiã, chupando meus seios, sugando-os até que eu não pudesse conter mais meus gemidos de prazer. Meu sexo pulsa, até dolorosamente quando a pressão do prazer explode em certas áreas.

É errado continuar com isso? Puxá-lo par mim, desejando seu corpo, respiro profundamente tentando encontrar a raiva que me alimentava horas atrás, mas só encontro o desejo.

Miguel conduz nossos corpos para a cama, arrancando o resto de nossas roupas, assim como o preservativo escondido no cós da cueca, em um segundo estava entre minhas pernas, sua mão agarrando meu cabelo, sua boca mordendo meu queixo.

Segurando meus seios com as duas mãos, apertando e puxando os bicos, lambendo minha barriga, minha cintura, roçando a barba pela minha pele, deixando-a rosada e eriçada. Um gemido explodiu de mim quando sua língua encontrou meu clitóris, seguro firme o lençol querendo tremer com o que ele fazia em minha intimidade, sua boca não me dava misericórdia alguma, sua língua muito menos. Quando seu dedo me invadiu, minhas costas se curvaram e o gemido saiu mais alto, fazendo eu ganhar um tapa na bunda.

— Desculpa, esquentadinha, mas teremos tempo para fazer amor em outro momento, agora, eu quero que seja rápido, que queime esse fogo dentro de mim.

Miguel desenrola o preservativo em seu membro, nunca tirando pelo menos uma de suas mãos do meu corpo, seus dedos tocam meu sexo, me fazendo arfar. Chupo os dedos que me tocam, vendo Miguel mordiscar o lábio e sorrir. Seu pau encaixado em minha entrada, deslizando de maneira lenta, começo a rebolar, fazendo seu membro se remexer dentro de mim.

Enquanto eu rebolo, Miguel segura meus cabelos de forma bruta, aumentando o ritmo dos movimentos, entrando e saindo de dentro de mim, segurando minha cintura com a mão livre fazendo seu membro ir mais fundo, meu corpo treme e Miguel geme alto.

Estavamos nos devorando, caricias eram feitas pelo nossos corpos ondulando juntos, enquanto eu consumia cada gemido e estocada que Miguel produzia.

Aperto os lençóis entre os dedos, seguro seu pescoço com firmeza quando ele encaixa a boca sobre meu seio, montando em seu colo, sentando com força sobre ele, gostando do modo como ele geme e descola a boca de meu mamilo, jogando a cabeça para trás rendido.

— Puta que pariu, você é deliciosa! — diz baixinho contra meu pescoço.

As estocadas duras fazem meu corpo tremer, meus seios balançam com o ritmo forte do sexo que fazemos. Ele geme agarrado em minha cintura, forçando meu corpo para baixo, quebrando as últimas barreiras, me fazendo gozar. Miguel ainda mantém o ritmo por algumas estocadas até que goza, seu membro latejando dentro de mim, se misturando com nosso suor, os tremores do meu corpo e do seu e as batidas descompassadas dentro do meu peito.


Quando eu estou envolvida em seus braços

O mundo todo apenas desaparece

A única coisa que escuto é

o bater de seu coração.


Porque posso ouvir sua respiração

Está se derramando sobre mim

E de repente estou me desfazendo dentro de você

(Breathe, Faith Hill)


Arre égua , estou perdida...

Levanto com um sobressalto e empurro para longe o braço forte que rodeia meus seios, tentando soltar meu corpo. Parece que os braços dele tinham se tornado uma braçadeira de ferro, o jeito foi sair me rastejando pela cama como uma cobra, até que eu caísse de bunda no chão.

Pego uma muda de roupa e corro para o banheiro, tomo um banho rápido, não parando nem para secar o cabelo, apenas escovo e deixo solto pelas costas. Não é que eu não queira encarar a asneira que tinha feito noite passada, mas...bem, era isso mesmo, não queria dar de cara com Miguel, por isso levantei mais cedo que até o próprio sol e me esgueirei para fora do quarto com as botas nas mãos.

— Fugindo de alguém, menina?

Pulo tampando a boca para que meu grito de susto não faça eco pelo corredor escuro.

— Cristo pai, você quer me matar do coração, Bento? — questiono sentindo os batimentos acelerados contra o peito.

— Desculpe, mas estava saindo do quarto como quem escondia um cadáver, devo me preocupar? — pergunta encarando a porta que eu havia acabado de fechar.

— Deixe de besteira homem, só tive uma noite ruim.

Bento coça a cabeça com a bengala velha. — Arra, por falar em noite ruim, tinha algum animal sofrendo ontem, Maria e eu mal pegamos no sono, parou de sofrer era já tantas da madrugada.

Engulo em seco, será que tínhamos feito tanto barulho assim?

— Vou ficar de olho nos arredores, tenha um bom dia, Bento.

Escuto o riso baixo dele enquanto caminho pelo corredor. — Bom dia, menina.

O dia não tinha se levantado, mas mesmo assim entro no estábulo para conferir como estão os animais. Reponho água e feno, depois me dirijo á baia de Trovoada, ele vira a cabeça não querendo olhar para mim.

— Qual é, amigão, está bravo comigo?

Ele me encara, dando uma fungada balaçando a cabeça como se confirmasse.

— Que tal recompensar isso com com uma corrida?

Ele relincha ainda evitando me olhar, eu conheço o jogo dele, Trovoada é um menino mimado, e a culpa é toda minha.

— Tudo bem então, já que não quer mais minha companhia...

Ele relincha mais alto, levantando as patas da frente. Fazendos os outros cavalos reclamarem.

— Você é um garotão mimado! — brinco, pulando a portinhola da baia, subindo diretamente no pelo, me agarrando ao seu pescoço. — Vamos ver o sol nascer.


Ficar perto dos cavalos ou montar em Trovoada é como respirar, algo tão natural, acredito que eu aprendi a montar antes mesmo de andar.

Saímos em direção ao campo aberto, ganhando velocidade a cada passada, sentindo o vento frio da madrugada ir contra nós. Eu precisava limpar minha mente, precisava tirar Miguel e a noite de ontem da mente, precisava tirar essa distração total, ainda não sabia o que pensar sobre essa história de Miguel conseguir meu Haras, o que faria com as famílias e funcionários que dependiam dos seus empregos? O que faria com os cavalos? Para onde eu iria com Trovoada? Aqui sempre fora meu lar, foi meu lar quando minha mãe faleceu, foi meu lar quando meu pai morreu em um torneio de rodeio.

O Haras é meu santuário, minha casa, eu aprendi a escrever no lombo de um cavalo, fiz desenhos nas paredes do antigo celeiro, aquilo era meu refúgio...

Volto para o Haras depois de admirar o sol nascendo, em alguns dias começaria o outono e o frio ocuparia as noites, o que me fazia sair pelos campos ajudando os cavalos que podem se perder ou sofrer com as chuvas repentinas.

Vou até o escritório respirando fundo, ao sentar em minha cadeira, tiro o chapéu, deixando-o sobre a mesa.

— Entre — respondo à batida na porta.

— Dandara, bom dia.

— Daniel, estava mesmo esperando por você. Sente-se.

— Em que posso ajudá-la?

— Quero saber mais sobre o Haras, por que Pedro deixou o Haras com Miguel, ele conhecia o sobrinho, nunca teve interesse por nada, mal sabe a diferença entre a crina e o rabo dos cavalos. Porque deixar o Haras nas mãos dele? — solto tudo de uma vez, expondo minha irritação, minha indignação. — Você me conhece desde menina, Daniel, eu ensinei sua neta a montar, eu cuido desse Haras como se fosse meu filho. Deixei as competições para administrar tudo isso quando Pedro descobriu a doença, abdiquei minha carreira para dar minha vida ao sonho dele.

Sinto as lágrimas forrando a parte debaixo dos meus olhos.

— Quando ele desejou implantar o projeto fui eu quem o apoiou, eu que contratei os profissionais, saí em busca de patrocinadores, tenho mais de trezentas crianças se benificiando do projeto. Temos selos e premiações.

— Eu sei de tudo isso Dandara, mas não cabe a mim dizer os motivos que influenciaram Pedro a tomar essa atitude. Ele escreveu uma carta, uma carta para você e Miguel, que só poderá ser lida após a decisão ser tomada.

— Uma carta? E você não me comunicou antes por quê?

— Dandara, como disse, isso não está em minhas mãos. Pedro deixou ordens explícitas.

— Arre égua , uma bosta a essas ordens!

Bufo, tentando controlar minha irritação.

— O único conselho que eu posso dar é: mostre ao Miguel o quão bem o Haras faz, mostre seu amor por tudo que você e Pedro criaram nesses anos. Faça-o não vender o Haras, até mesmo unindo os dois planos, por que não?

— HÁ HÁ, transformar meu Haras em um hotel de luxo para madames enfrescuradas? Quando um cavalo cagar nos pés delas quero ver quantas estrelas sobrará. É de pessoas como Miguel que eu sempre fugi esses anos, não quero o dinheiro de quem vê meus cavalos como um pedaço gigante de bife passeando por aí.

— Tente ao menos resgatar o amor que Miguel tinha na infância. — Daniel aconselha.

— Por Cristo, Daniel. Pedro estava maluco no final dos seus dias. Ele acreditou mesmo que os chiliques na infância de Miguel era por mais tempo com os animais? O menino gritava se um porco grunhice em sua direção. A última vez que pisou no Haras fez uma estripulia soltando metade dos cavalos das baias. Foi um Deus nos acuda até recuperarmos tudo.

Daniel segura o riso, ajeitando melhor a postura na cadeira.

— Quer que eu conte a vez que soltou uma bombinha estampido no meio do pasto? Pedro saiu atrás dele na base do chicote.

— Vou dizer a mesma coisa para você como diria para Miguel: não posso intervir, a questão não é uma briga de foices. É vocês conversarem o que é melhor para o Haras...

— Ele irá vender tudo, demolir tudo, sabe quantas pessoas tenho trabalhando aqui? Quantas famílias envolvidas? Imagina todos os dias você se levantar e as pessoas te encararem com perguntas nos olhos, meus funcionários não sabem como será o amanhã. Nem se terão o salário no mês que vem — resmungo — É com isso que lido.

— Miguel fez uma proposta, ele quitaria as dívidas que o Haras tem, e fez uma consulta com as fazendas de corte e o Haras vizinhos para a possibilidade de vender os cavalos. Acredito eu que queria sondar o terreno para saber o valor de um manga-larga.

Levanto enfurecida, batendo as palmas das mãos na mesa. — Ele quer levar uma chicotada!

— Dandara! — exclama.

— Ele que tente encostar em meus cavalos, ele que tente... Arre égua!

— Quando o assistente de Miguel entrou em contato comigo deixou bem explicíto que o único que ficaria fora desse pequeno inventário seria o Trovoada.

Arqueio a sobrancelha — E isso alivia minha vontade de matá-lo? Ah claro, ele foi gentil em não vender um cavalo que foi presente de meu pai!

Eu estava soltando fogo pelas ventas, o filho duma égua teve coragem de agir pelas minhas costas e depois vem com sua falamansa e me leva pra cama. Eu sou muito burra mesmo!

— Bem, Dandara. De todas as formas, se vocês não chegarem a um acordo, se você não aceitar vender sua parte para ele ou se não conseguir pagar a dívida, automaticamente o Haras entra em um processo e se ele tiver a possibilidade, vai acabar nas mãos de Miguel. Se isso não ocorrer, de qualquer forma, assim que o tempo imposto pelo Seu Pedro acabar, o Haras entrará num processo onde quem terá o poder de decisão é a justiça. Isso pode envolver até mesmo leilão, por conta das dívidas.

— Então é: corre pro mato ou corre pro morro. — suspiro.

— A maneira de todos saírem satisfeito é vocês tentarem resolver isso amigavelmente.

— Tudo bem, obrigada pelo seu tempo doutor.

Ele concorda com um gesto, levantando-se. — Fique bem.

— O senhor também.

Acompanho o advogado para fora, fechando a porta atrás de mim. Caminho até o espaço para equitação, vendo os montadores treinando.

— Dandara!

Abaixo um pouco a aba do chapéu fazendo sombra para o sol forte da manhã. Carolina vem calvagando em minha direção, acenando. — Bom dia!

— Preciso da sua ajuda, sinto Damião entrando errado nos obstáculos.

— Dá uma volta para eu observá-lo — digo pulando a cerca.

Carolina trota se afastando, fazendo semicírculos para aquecer o cavalo, passa pelos primeiros obstáculos e vejo que Damião está com uma passada errada, as pernas de dentro estão trotando mais longas que as de fora. É preciso equilibrar o lado que ele está tendo maior dificuldade. Carolina também anda forçando demais no elevado, a conexão entre eles também estava meio mexida, isso acontecia com cavaleiros que entravam na época de competição, tinham muita pressão e sentimentos misturados e acabam passando para os animais.

— Bom dia, esquentadinha, tinha espinhos na cama essa manhã? — Miguel agarra minha cintura e beija meu pescoço. Me esquivo com um sorrisinho, ainda com raiva por ele ter agido pelas minhas costas.

Seu olhar malicioso mexe comigo. O desgraçado sabe que venceu ontem!

— Levanto antes mesmo do sol, coisa de caipira. — me atrevo a desafiá-lo.

Miguel sorri abaixando a cabeça, ainda me olhando. — Confesso que tive uma noite excelente. Poderíamos repetir nossa conversa hoje a noite, o que acha?

— Poderíamos, mas não vamos, tenho mais o que fazer. E nada mudou.

Miguel me encara surpreso, — O que eu fiz? Acordou azeda como um limão, você não cansa de distribuir coices?

Nós estavamos em um maldito pé de guerra e tudo que eu conseguia me lembrar quando encarava os olhos castanhos de Miguel é onde sua maldita boca esteve ontem a noite. E eu excitada por cada gesto que aquele brucutu fez! Deveria dar um tapa em mim mesma!

— Que tal darmos uma volta? Você poderia me mostrar a região.

— Claro, tem algo que ficou de fora de seu inventário? — mordo a língua por ter falado disso.

Miguel fica surpreso, mas logo se afasta de um passo, confirmando o que Daniel tinha dito mais cedo, ele realmente agiu pelas minnhas costas.

— Dandara...

— Cala a boca, brucutu! Se não quer ver a cara enfiada no esterco de cavalo, fique quieto!

Viro sinalizando para Carolina se aproximar.

— Teremos que trabalhar algumas coisas em vocês dois. Faça uma pausa, eu vou preparar o redondel.

— Ok, obrigada Dandara.

Sorrio pulando o cercado novamente, ignorando Miguel que me seguia como uma sombra.

— Não cometi nenhum crime, Dandara.

Reviro os olhos, caminhando para longe.

— Você está sendo teimosa, poderíamos resolver isso de outro jeito, quem sabe unir o útil ao agradável.

Viro fazendo-o parar quase tropeçando em mim. — Diga brucutu, qual sua excelente ideia? Já recebeu oferta pelos meus cavalos? Ah, muito obrigada por deixar Trovoada de fora, foi uma gentileza imensa, já que não quis vender também um presente de meu pai.

Sinto que estou quase gritando.

— Eu não venderia seu cavalo, vejo o amor que sente por ele. Posso não ser um especialista ou não gostar das mesmas coisas que você, mas não quero mal aos bichos.

— Não quer o mal deles? — Sinto minhas bochechas pegando fogo, Miguel mesmo mantém uma certa distância de mim. — Sabe qual a diferença entre um cavalo para lidar com o gado e um cavalo de montaria e competição?

Ele dá de ombros.

— Exato, se não sabe essa imensa diferença e mesmo assim foi oferecer meus cavalos para donos de fazenda de corte. Você com certeza não quer o bem deles. Jumento! — disparo a falar.— Mas tenho uma solução, vá embora, se não quer o mal deles, vá. Ou está esperando a foda de despedida? Quer ir para o celeiro desativado? — pergunto desatando o nó da minha camisa xadrez fazendo ela revelar minha blusa curta.

— Deixe de ser ridícula! — ele grita, chamando atenção das pessoas que passam por nós.

— Não sei onde Pedro estava com a cabeça, ele só poderia estar alucinando quando decidiu deixar meu Haras para você! — Vejo o olhar irritado de Miguel, mas não deixo que fale. — Tenho muito trabalho a ser feito, se puder pelo menos não atrapalhar, eu agradeço.

Estava pronta para deixá-lo parado sozinho quando vejo Cindy galopando em minha direção. Era hoje, definitivamente eu mataria um.

Ela se aproxima com o sorriso mais falso que nota de três reais, diminuindo o galope, parando o cavalo perto da cerca e desce, balançando a mão em nossa direção. — Dandara! Era você mesmo que queria encontrar!

— Só me faltava essa — sussurro. — Acho que errou, sua prenda está bem na minha frente — digo com um sorriso cínico nos lábios.

— Forasteiro, desculpe não ter vindo mais cedo, vejo que ficou totalmente curado do ataque de fúria de Dandara.

Miguel sorri, deixando que a oferecida lhe agarrasse o pescoço dando um beijo bem perto de sua boca.

Maria trepadeira! — penso com raiva.

— Estou bem sim, que surpresa boa vê-la aqui. Estava agora mesmo comentando com Dandara que queria dar uma volta pela região.

Cindy sorri animada. — Então encontrou sua companhia, faço questão de ir com você.

Miguel me encara vendo minha cara de poucos amigos. E mesmo que eu tente disfarçar meu ódio por Cindy, ele se aproveita da situação. Segura na cintura fina da trepadeira, abrindo um amplo sorriso. — Podemos dividir o mesmo cavalo, eu não estou acostumado a montar sozinho.

— Ihaaaahhh, mas é claro! — ela diz animada. — Ah, Dandara, eu soube que está preparando uma competição aqui no Haras.

Miguel me encara curioso, até mesmo me fuzilando com os olhos.

— Sim, é para angariar fundo para o Haras, mas como soube?

— Matheus, ele me contou — diz com um sorriso. — Logo pensei, o que seria excelente senão competir? As regionais estão chegando e eu e Milu precisamos estar preparadas, você poderia dar uma olhada nela, estou achando que ela está de TPM — diz abaixando o tom de voz na última parte como se tivéssemos dividindo um segredo. — E você como antiga competidora sabe como é importante o cavalo estar bem. Fico orgulhosa que abandonou os pódios e se dedica cuidando de minha égua.

— Claro. Dou uma olhada.

— Perfeito, — ela empurra a rédea para mim, enlaçando ainda mais seu corpo em Miguel — vamos forasteiro?

— Claro. Irei pedir para Mathias selar um cavalo. — Miguel responde me encarando.

Maldito Brucutu, maldita Maria trepadeira!


CAPÍTULO 19


Dandara

— Tá falando sozinha, Dandara?

Pulo de susto, percebendo que estava resmungando alto. — Ocê tem sorte de não ter tomado uma chicotada — digo arrumando o chicote na lateral de minha bota.

— Que bicho lhe mordeu? — Mathias questiona.

— Picão, um bicho desgramento que gruda na pele da gente sugando nosso sangue.

Mathias ri, me entregando as coisas para selar Bruto. — Que bom então que não é um do tamanho de um homi , que chegou recentemente na cidade. — diz tirando sarro.

Encaro Mathias, revirando os olhos, para que notasse que não estava sendo um bom momento para brincadeiras.

— Ah, Danda, deixa disso. Pode ter enganado Bento e Maria com essa história de bicho sofrendo pelo mato, mas eu sei o que faz aquele esganiçado todo dentro de um quarto.

— Ocê não tem amor aos dentes, não? — bufo.

— Ô se tenho, como acha que consegui os meus uivos? Tudo na beleza do sorriso — Mathias caçoa abrindo um sorriso de cavalo para mim.

— Arra , não torre minha paciência!

— Mudando de proza , achei que já tinha acabado com a doma do Bruto.

— Sim, ele está pronto para ficar com os outros. Mas hoje eu quero que prepare a pista para três tambores.

Mathias abre um enorme sorriso, — Irá competir novamente? Que alegria garota!

— Ainda não, vou só matar a saudade.

— Pois deveria. — Mathias aperta a sela, conferindo se está tudo bem preso.

— Faz tanto tempo que não penso nisso Mathias, deixei as competições para trás quando assumi a responsabilidade do Haras.

— Arra, e isso não mudará. Você cuida desse Haras mais que de si mesma, eu lembro do primeiro dia que cheguei aqui e vi você cavalgando. — Mathias sorri ajeitando o chapéu na cabeça — Devia ter uns dez anos, lembro que parei perto do cercado olhando, você tinha tanta conexão com o cavalo, tinha tanto talento, mesmo naquela idade.

Sorrio lembrando da minha primeira competição.

— Todos sabemos o duro que está dando para manter tudo sob controle, até mesmo antes da morte do Seu Pedro.

— Quem sabe eu possa tentar — digo.

— Será um excelente começo.


Bruto raspa a pata pelo chão, como se ele próprio se aquecesse. Quando Bruto chegou no Haras era apenas um cavalo maltratado e ferido, abandonado pelo antigo dono para morrer ao relento. Foi numa noite de chuva intensa que o encontrei caminhando com dificuldade nos arredores do Haras. Demorou meses para que ele sequer deixar que eu me aproximar dele, estava tão ferido internamente em sua confiança com os humanos que só de ver um já se armava dando coices.

A doma nunca foi uma coisa tranquila com ele, ficava feliz só por não levar uma mordida. Mas eu o entendia, foi ferido por acreditar em um humano, sua defesa natural era expulsar quem quer que tentasse se aproximar.

— Sei que você gosta de correr, vejo como seus olhos brilham quando fica livre — sussurro passando a mão em sua crina.

Ele raspa a pata no chão, emitindo relinchos e baforadas baixas, ele aprovava o que eu estava falando, assim como o fato de suas narinas estarem dilatadas e as orelhas eretas para frente significava que prestava atenção ao que eu dizia.

— Quero propor algo diferente para nós. Se você gostar, podemos pensar em fazer isso mais vezes. — Tiro o chicote com calma da bota, ele fica desconfiado. — Isso será necessário entre nós?

Bruto relincha, marchando para trás, sacodindo a cabeça. Jogo o instrumento para longe. — Quero que você corra quando for necessário, quero que sinta a terra tocando forte suas patas e o vento traga a liberdade que isso vai lhe trazer. Mas para isso precisa obedecer fielmente meu comando.

Estralo os lábios indicando para que ande, faço todo o circuito no trote, deixando que ele receba meus comandos, deixando que veja como será.

A competição dos três tambores é simples, você precisa fazer uma saída com explosão antes de cruzar pelos sensores. Uma prova de três tambores clássica é de oito metros até o primeiro, depois vinte e sete e meio até o segundo tambor e trinta e dois metros até o terceiro. E então, a reta final, onde exige mais dos cavalos e das amazonas, era esforço máximo pelo melhor tempo. Se tudo for executado com perfeição e sem derrubar nenhum dos tambores, você poderia ganhar alguma posição boa.

Existem pessoas que gostam do silêncio, silenciam tudo ao seu redor, se concentrando apenas na sua própria respiração e de seu cavalo. Eu gosto de ouvir tudo.


— Não foi um tempo ruim para quem está parada por anos. — Mathias comemora pendurado na cerca.

— Quanto?

— Dezessete segundos e meio.

Desço do cavalo acariciando a testa dele. — Esse garoto nasceu para isso.

— Dei uma examinada na égua da Cindy, ela está machucada pelas esporas, sua barriga está toda marcada e além disso, queria que desse uma olhada no freio, acho que tem algo errado.

— Odeio quando vejo animais sofrendo pela imprudência de seus donos.

— Também não gosto, pena que o pai de Cindy não pense assim e deixa aquela garota maluca usar os animais como enfeites.

— Nem me lembre disso — retruco.


CAPÍTULO 20


Miguel

Logo após fazer sexo com Dandara fiquei perdido olhando-a dormir por alguns instantes, aquilo, esses tempos no Haras têm sido os mais malucos que já tive. Aquela esquentadinha está mexendo comigo, ela está me atormentando desde que pisei no Haras, fazendo meus dias e noite incertos, mas a mulher deitada no meu braço, dormindo tranquilamente, livre de todas as caretas e muros que impõe me faz querer seguir outro rumo. Eu tenho vontade de puxar seu corpo contra o meu, encaixá-la em meu pênis e fazer tudo de novo, agora sem pressa, absorvendo tudo, cada gemido que ela faz. Mas acabei adormecendo enroscado em seu corpo ao contemplar seu rosto enquanto dorme.

E quando o dia seguinte chegou, me deparei com a cama vazia, ela saíra de fininho para não me enfrentar quando acordasse. Abro a porta, verificando se o caminho está livre e quando confirmo que sim, retorno ao meu quarto, trancando a porta depois de entrar.

Tomo um banho rápido vestindo algo mais leve para o dia quente que faz do lado de fora, fazendo uma anotação mental: ar condicionado em todos os cantos, pelo amor de Deus, como é quente isso daqui! Pego os óculos escuros colocando-os no topo da cabeça e desço correndo a escada em direção à cozinha.

— Bom dia, Maria — cumprimento a senhora, ela me olha meio espantada o que me faz questionar se eu não estava sendo educado o suficiente com as pessoas dali. Mas também, com a noite anterior que tive, meu humor está perfeito nesta manhã. — Por acaso você viu a...

— A menina está embrenhada pelo Haras como sempre, Seu Miguel.

Pego uma laranja, descascando-a. — Vocês sempre começam o dia antes mesmo do sol?

— Sim, a menina é que acorda o galo e não o contrário.

Sorrio jogando as cascas fora. — Em São Paulo também acordamos, mas confesso que ser dono do próprio negócio tem suas vantagens.

Saio pela porta lateral da cozinha roubando um chapéu preto na varanda, brincando ao colocá-lo em minha cabeça, até que não tinha ficado ruim. Deixo de lado ao ver Dandara perto de um dos cercados sorrindo como uma menina ao ver os cavalos.

Lembro-me de poucos momentos vividos aqui, mas o que eu com certeza consigo recordar é dela, mesmo muito diferente da época que erámos crianças. Dandara sempre foi apaixonada por isso, era raro vê-la vestindo sapatos e quando estava, eram botas. Era mais raro ainda ver a menina fazendo outra coisa do que estar perto dos bichos.

— Bom dia, esquentadinha, tinha espinhos na cama essa manhã?

Agarro a cintura de Dandara, lembrando de nossa noite, gostando do cheiro dela.

— Levanto antes mesmo do sol, coisa de caipira.

Pelo tom de voz afiado, já estava mordendo os cotovelos.

Sorrio dando um beijo suave em seu rosto, tentando suavizar o mau humor. — — Confesso que tive uma noite excelente. Poderíamos repetir nossa conversa hoje a noite, o que acha?

— Poderíamos, mas não vamos, tenho mais o que fazer. E nada mudou.

— O que eu fiz? Acordou azeda como um limão, você não cansa de distribuir coices? — Controlo minha vontade de responder Dandara de forma ríspida, suspiro, suavizando a voz — Que tal darmos uma volta? Você poderia me mostrar a região.

— Claro, tem algo que ficou de fora de seu inventário?

Fico surpreso, me afasto de um passo para olhar melhor seu rosto, como ela soube?

— Dandara...

— Cala a boca, brucutu! Se não quer ver a cara enfiada no esterco de cavalo fique quieto!

Ela vira chamando uma garota.

— Teremos que trabalhar algumas coisas em vocês dois. Faça uma pausa, eu vou preparar o redondel.

— Ok, obrigada Dandara.

Sei o jogo que Dandara faz, ela prefere fugir do que virar e me encarar, não deixo barato, sigo-a pelo Haras.

— Não cometi nenhum crime, Dandara.

Ela continua andando, me ignorando.

— Você está sendo teimosa, poderíamos resolver isso de outro jeito, quem sabe unir o útil ao agradável.

Ela vira, parando brutalmente, me fazendo quase tropeçar.

— Diga brucutu, qual sua excelente ideia? Já recebeu oferta pelos meus cavalos? Ah, muito obrigada por deixar Trovoada de fora, foi uma gentileza imensa, já que não quis vender também um presente de meu pai.

— Eu não venderia seu cavalo, vejo o amor que sente por ele. Posso não ser um especialista ou não gostar das mesmas coisas que você, mas não quero mal aos bichos.

— Não quer o mal deles? — O rosto de Dandara está vermelho como se tivessem esfregado dois tomates em suas bochechas, e se isso não era um alerta para ficar afastado, eu não sabia o que seria. — Sabe qual a diferença entre um cavalo para lidar com o gado e um cavalo de montaria e competição?

Dou de ombros.

— Exato, se não sabe essa imensa diferença e mesmo assim foi oferecer meus cavalos para donos de fazenda de corte. Você com certeza não quer o bem deles. Jumento! — dispara a falar.— Mas tenho uma solução, vá embora, se não quer o mal deles, vá. Ou está esperando a foda de despedida? Quer ir para o celeiro desativado? — pergunta desatando o nó da minha camisa xadrez fazendo ela revelar minha blusa curta.

E mesmo que a ideia de tê-la novamente em meus braços, sentir o gosto de sua pele e ter seus gemidos em meus ouvidos seja tentadora, me foco em nosso novo cabo de guerra. — Deixe de ser ridícula!

— Não sei onde Pedro estava com a cabeça, ele só poderia estar alucinando quando decidiu deixar meu Haras para você! Tenho muito trabalho a ser feito, se puder pelo menos não atrapalhar, eu agradeço.

Estava pronto para segurar seu braço vendo que se afastaria, quando vejo sua expressão de raiva se focar em outra coisa, sigo seu olhar vendo uma garota vir calvagando em nossa direção.

— Dandara! Era você mesmo que queria encontrar!

— Só me faltava essa! Acho que errou, sua prenda está bem na minha frente — Dandara diz com um sorrisinho falso.

— Forasteiro, desculpe não ter vindo mais cedo, vejo que ficou totalmente curado do ataque de fúria de Dandara.

Sorrio não tirando os olhos de Dandara, deixando que Cindy agarrasse meu pescoço dando um beijo bem perto de minha boca, naquele instante tinha descoberto uma outra arma poderosa contra a esquentadinha, o ciúmes. — Estou bem sim, que surpresa boa vê-la aqui. Estava agora mesmo comentando com Dandara que queria dar uma volta pela região.

Cindy sorri animada. — Então encontrou sua companhia, faço questão de ir com você.

Aproveito a situação segurando na cintura fina da garota, abrindo um amplo sorriso. Satisfeito por ver que deixo Dandara mexida, é bom saber que outra coisa borbulha dentro dela, além de irritação. Afinal, ela não é tão casca grossa quanto esbraveja. — Podemos dividir o mesmo cavalo, eu não estou acostumado a montar sozinho.

— Ihaaaahhh, mas é claro! — ela diz animada. — Ah, Dandara, eu soube que está preparando uma competição aqui no Haras.

Faço minha cara de “não sou o único planejando pelas costas” e encaro Dandara.

— Sim, é para angariar fundo para o Haras, mas como soube?

— Matheus, ele me contou — Cindy diz com um sorriso. — Logo pensei, o que seria excelente senão competir? As regionais estão chegando e eu e Milu precisamos estar preparadas, você poderia dar uma olhada nela, estou achando que ela está de TPM. E você como antiga competidora sabe como é importante o cavalo estar bem. Fico orgulhosa que abandonou os pódios e se dedica cuidando de minha égua.

Dandara competindo? Não sabia que a esquentadinha metida as caras em rodeios ou competições equestres. Estava aí uma coisa para pesquisar quando tivesse deitado em minha cama essa noite.

— Claro. Dou uma olhada. — Dandara responde de forma azeda.

— Perfeito, — Cindy empurra a rédea para Dandara, enlaçando ainda mais meu corpo — vamos forasteiro?

— Claro. Irei pedir para Mathias selar um cavalo.

A carranca de raiva que Dandara está é impagável. É como acender um pequeno fósforo numa fogueira à base de álcool. Eu não quero nada com essa garota, mas se para provocar minha caipira eu tiver que entrar nesse joguinho sujo, por que não?

A tal de Cindy não tinha a mesma desenvoltura que Dandara na montaria, na verdade, não tem nem mesmo a paixão que Dandara exibe ao olhar para os cavalos. Porém, não decepcionou em nada em sua montaria e cavalgada, ela sabia o que estava fazendo. Mesmo que o cavalo ficasse arrisco com seus comandos.

Saímos do Haras indo para os campos abertos da propriedade, passando por um pequeno riacho, Cindy se aproveita por estarmos na mesma sela e esfrega sua bunda em meu pênis, sempre sorrindo e olhando por cima do ombro.

— Que tal pararmos aqui? — questiona olhando para a paisagem na frente, estavámos em uma espécia de monte, víamos a estrada de terra que nos levaria de volta para o Haras e ao longe a silhueta do que seria o centro da cidade.

— Por mim — digo já descendo do animal.

— Quero muito saber o que fez um homem fino e bonito como você se meter com a Dandara — Cindy fala amarrando a rédea do cavalo no tronco de uma árvore.

— Podemos dizer que fomos criados juntos.

— Mentira! — diz rindo.

— Meu tio-avô criou Dandara quando seus pais faleceram.

— Que azar o dela, primeiro perdeu a mãe e logo depois seu pai, morreu em um acidente com bois.

Não havia sentimento real naquelas palavras.

— Você e ela se conheceram como? — pergunto sentando sobre a grama.

Ela caminha parando em minha frente tampando a visão da paisagem remexendo o quadril, tentando ser sedutora.

— Bom, tirando o fato de cidade pequena todo mundo naturalmente se conhecer, além dos filhos estudarem juntos. No Haras, Setti é um dos poucos lugares de excelência por aqui, confesso que tem ótimas pistas para treino. Meu pai é um dos patrocinadores, mesmo eu querendo que Milu seja tratada por outra domadora, não posso negar que ela é boa no que faz. Cindy deu de ombros, analisando as unhas perfeitamente alinhadas e pintadas — Ficou melhor quando saiu das competições.

— Competição? — questiono curioso.

— Dandara praticava a mesma modalidade que eu, três tambores, mas largou tudo quando Pedro ficou doente. O velhote não podia mais pegar no pesado e o que não falta naquele Haras é serviço pesado para ser feito. Mesmo com Mathias vindo para ajudar, Dandara decidiu largar tudo para cuidar do Haras.

— Pela sua cara de surpreso, não sabia disso.

— Conheço pouco daqui, vim muito na infância a mando de meus pais e quando cresci nunca mais voltei. Só fiquei sabendo novamente desse lugar quando um advogado me ligou informando sobre a morte do meu tio. Somos de uma família grande, porém nem todo mundo ainda mantém contato.

— Por que decidiu voltar? — Cindy senta em meu colo, um joelho em cada lado de meu corpo, me fazendo dar um sorriso sem graça ao afastá-la com jeito. — É verdade o que todos tem cochichado por aí?

— O que andam falando?

— Oras, que você veio tomar isso tudo dela. Afinal, pra que um homem como você viria para um fim de mundo como esse?

— Vim por negócios, é tudo que precisa saber.

Cindy fez um beicinho, passando os braços pelo meu pescoço, forçando uma aproximação. — Por que não paramos de falar dela, de cavalos e todas essas bobagens e terminamos o que rolou lá no bar?

Direta e atrevida, ela se daria bem na cidade grande.

— Sinto muito, mas não vai rolar. Vamos voltar? Esqueci que marquei um telefonema importante com meu assistente em São Paulo, como disse, negócios — Fico de pé estendendo a mão para ajudá-la.

Não sei o que tem no DNA dessas caipiras, mas ô mulherada que se enfeza rápido! Cindy levanta dando um tapa em minha mão, já desamarrando o cavalo e subindo. Mais uma que preciso tomar cuidado para que ela não me lance do outro lado da estrada, só por que neguei seu fogo. A realidade é que não queria nada com Cindy, ela poderia ser uma mulher linda, com um corpo escultural. Mas serviu apenas para deixar a esquentadinha com ciúmes.


CAPÍTULO 21


Dandara

Enquanto comemos, Maria não tira os olhos de mim. Abaixo o garfo, dando um longo suspiro. — Diga logo mulher, senão vai engasgar com a própria comida.

— O que está tirando ocê do prumo, moleca?

Velha sábia! Não tinha nada que escapasse de Maria, você poderia se deixar levar pelo rosto repleto de rugas ou pelos olhares maternos que lançava para todos, mas Maria era como um pastor alemão, farejava as coisas à distância.

— O que deu no povo desse Haras hoje? — pergunto desviando do verdadeiro assunto.

— Ocê não me engana mocinha, conheço ocê mesmo antes de aprender a lavar os fundilhos de suas ceroulas!

— Que horror! Estou apenas pensativa, vou sair mais tarde para dar uma olhada nos campos.

Foi a vez de Maria revirar os olhos, ninguém vencia em uma disputa com Maria. — Ainda com aquele sonho azucrinando a mente?

Suspiro empurando a comida de um lado para outro no prato. — Eu vejo aquele cavalo com tanta força, não sei porque e nem mesmo o quê significa.

— Você está preocupada com as coisas daqui, normal, os sonhos mostram nossas preocupações mais profundas.

Suspiro, tomando um gole do suco, confirmando com um pequeno gesto de cabeça.

— Mas não era sobre isso que estava falando.

— Ô merda, Maria! — retruco. Não irei conseguir desviar do assunto.

— Óia a boca! — ralha — Ocê está ansiosa, está assim desde que a senhorita Munhoz chegou no Haras.

— Aquela menina brinca com os animais, Mathias disse que a égua tem marcas feias das esporas, eu gostaria de enfiá-las no...

— Ouuh , acalme-se. — Maria adverte rindo — Seria mesmo por que Cindy está maltratando a pobre da égua, o que não seria nenhuma novidade para nós ou pelo simples fato dela ter saído com Seu Miguel?

Fico em silêncio enchendo minha boca com o resto de suco de meu copo.

— Você gosta dele.

Encaro Maria — Ficou maluca? — digo umas oitavas mais alto.

Ela sorri, pega seu prato e o meu, indo até a pia. — Conheço você, menina. Seria de se admirar se não tivesse apaixonada. Eu disse para Seu Miguel, muito ódio acaba virando amor.

— Você está exagerando, deve ser o excesso de trabalho. Seu “Miguelzinho” está agindo pelas minhas costas, fazendo um inventário de tudo que há aqui para vender.

Maria não manifesta nenhuma surpresa com o que acabo de dizer. — O homi é um bitelo , 5 mas não disse que não era sonso para fazer merda. Pode me chamar de velha caduca, mas conheço os sinais e sintomas, você está gostando dele.

— Arre égua! Vou trabalhar, não quero falar mais disso! — argumento ficando de pé.

— Como quiser, moleca. Mas se enfiar no trabalho não irá arrancar isso d’ocê.

Bufando dou uma olhada feia em sua direção e ela entende o recado, não toca mais no assunto enquanto eu devoro uma maçã vermelha e doce que estava na fruteira. Coloco o chapéu sobre a cabeça, fazendo uma trança em meu cabelo e saio, ignorando os olhares que Maria me lança.

Apaixonada! Era para se rir mesmo, Maria está ficando maluca!


— Tudo correndo bem por aqui — Mathias me relata assim que entro do estábulo. — No fundo ela só precisa de um pouco de atenção.

Passo a mão sobre o corpo da égua, vendo seu olhar desconfiado. Milu é da raça Paint Horse, muito parecida com os quarto de milha, mas parece pintada à mão.

— Oua , calma garota!

Retiro a mão ao vê-la arreganhar os dentes.

— Essa daí vem com o espírito da dona. — Mathias brinca.

— Que nada, tire ela da baia. — peço olhando nos olhos da égua — Cindy é horrível com ela, assim como foi com todos os cavalos que passou por seu rancho. Só quer que o animal corra, muito parecida com Matheus, pelo menos aquele ali tem algo de bom, gasta dinheiro e tempo cuidando dos seus cavalos. — digo torcendo os lábios.

— Tem certeza disso? — Mathias questiona segurando a trava da baia. — Ela não está muito amigável.

— Solte.

Mathias faz o que mando, abrindo a portinhola, deixando que ela saia. Milu é uma égua imponente, sai com a fronte erguida, me encarando de cima, passando o recado claro que não tem medo de nós, mas na realidade, tudo isso é pose, ela está receosa que a machuquemos.

— Dê uma olhada nessa ferida.

Dou a volta indo até Mathias, não era uma ferida profunda, iria cicatrizar logo, mas o que me irritou ainda mais foram as marcas mais profundas em sua pelagem indicando que outras já tiveram ali, várias cicatrizes marcando o quando essa égua vinha sendo judiada. E o quantos os maus tratos tinham marcado-a internamente.

— Vamos fazer um tratamento de aromaterapia, para ela se acalmar um pouco e deixar que cuidemos dela.

Vou até o espaço onde os remédios ficam guardados examinando alguns vidros, pego três voltando para a égua.

Tiro a tampa do primeiro colocando perto da narina do animal. Ela relincha virando a cabeça bruscamente, quase derramando o conteúdo de minhas mãos. Retiro do segundo, mas ela tem o mesmo comportamento.

— Óleo bergamota — digo e não demora muito para ela tirar a língua para fora querendo o líquido.

— Não é estranho que ela escolha justo o que traz a sensação de alegria e ânimo. — Mathias comenta.

— Minha mãe sempre dizia que os animais escolhem seus próprios remédios. Eles sabem do que realmente precisam.

O barulho de cavalo se aproximando traz nossa atenção para a entrada do estábulo.

— Que bom que ela está pronta, preciso ir. — Cindy salta do cavalo deixando Miguel se desequilibrar por um instante.

— O passeio não foi prazeroso? — desafio.

— Minha égua está pronta ou não?

— Milu está com marcas de escoriações na barriga. — acuso.

Cindy não dá a mínima para o que estou falando.

— Cindy! Você está ferindo sua égua por nada com suas malditas esporas!

Mathias me olha preocupado.

— Que eu saiba pedi para você dar uma olhada, e não mandar no jeito que comando minha égua. — Cindy contra-ataca.

Miguel dá um passo em nossa direção como se nós duas fôssemos nos engalfinhar como animais, não que ela não merecesse, mas eu não iria ganhar nada com isso.

— Se você quer que Milu não a jogue para longe durante uma competição, precisa entendê-la. Ela não é um pedaço de bife para você ficar furando quando bem entende.

Cindy gargalha, — Me passe o valor de seu tempo, mando meu pai depositar na conta do Haras. — ela vê que continuo encarando-a — Vamos, será que dá para selar minha égua?

Mathias pega as coisas pronto para selar a égua.

— Mathias, não! — Eu quase grito. — Cindy, me escuta...

Cindy arranca a sela das mãos de Mathias, ela mesmo arrumando no lombo de sua égua.

— Cindy, sua égua está ferida, pode achar que não é nada, mas com o tempo vai pegar os ossos dela. Se você se importa...

— O que eu preciso escutar é que você fez algo além de ficar gastando meu tempo. E não de suas mágicas inúteis. — Ela mal fixa direito as fivelas para montar o animal.


Cindy enfia as esporas na barriga da égua fazendo-a relinchar de dor, e a visão dos olhos tristes e repletos de lágrimas do animal cortam meu coração.

Chuto um barril de água enfurecida com a partida de Cindy. O fato de não poder fazer nada para ajudar essa égua me corta o coração.

— Pelo visto vocês estão bem longe da cordialidade.

Viro como um bicho, bufando como um touro bravo ao encarar Miguel. — Meta seu nariz onde é chamado!

— Se você sabia que Cindy maltratava a égua, por que a liberou? — Miguel questiona.

— Seu Miguel, não é simples assim, não podemos prender os animais, mesmo que por alegação de maus tratos. A família de Cindy é poderosa na cidade, seria uma briga infinita e até lá a égua já teria caído doente.

— O que Mathias tá querendo dizer é que não serão os primeiros donos que negligenciam seus animais, muito menos os últimos. São esse tipo de gente para quem quer vender meus cavalos. — acuso.

Levanto o barril que tinha chutado em minha explosão de raiva, puxando a mangueira para enchê-lo.

— Mathias, termine de cuidar das baias, eu vou sair com Trovoada. Está esfriando e não duvido de termos uma chuva torrencial mais tarde.

Deixo os dois ali, no meio do estábulo indo até o Trovoada, eu precisava da paz que ele poderia me dar. E não foi surpresa em vê-lo totalmente alerta, meu pai costumava dizer que Trovoada sempre saberia meu estado de espírito, ele sempre estaria ali, pronto.

E isso era verdade. Não precisei dizer nada, apenas abri a portinhola de sua baia, subindo diretamente no pelo para que ele saísse em disparada para fora do Haras, o sol estava se pondo no horizonte e uma espessa nuvem cinzenta cobria o céu.

Na época de outono vivemos os tempos mais malucos; temos dias de intenso calor e do nada um frio de arrepiar os ossos com chuvas tão fortes que inundam a estrada. Além de ser a época que mais me preocupo com o bem estar dos cavalos.

Cavalgo pelos campos, até mesmo me embrenhando no pequeno acervo de mata fechada, os ranchos e fazendas não são próximos uns dos outros, o que dá bastantes aréas livres.

— Aoh — Trovoada para, relinchando baixo. — Você também ouviu rapaz?

Paramos entre as árvores escutando os pássaros fazendo burburinho entre os ramos, mas não foi isso que chamou nossa atenção, e sim um relincho baixo, sofrido.

— Vamos, Trovoada. — bato o pé na barriga dele fazendo barulho para que volte a galopar.

O rancho era velho, existia destroços espalhados pelo terreno, desço do Trovoada empurrando a porteira velha e quebrada, tinha arame farpado para todos os lados, o relincho veio mais fraco dessa vez, como se o animal já não aguentasse mais esperar por ajuda. Trovoada relincha batendo os cascos chamando minha atenção, um cavalo estava em um pequeno cercado amarrado a cordas em um tronco velho, havia feridas em sua cabeça e boca devido às cordas, mas também marcas profundas espalhadas pelo seu corpo, fora a desnutrição evidente.

Não conseguiria fazer esse cavalo ir até o Haras, precisaria chamar o Santiago e pegar o trailer. Monto em Trovoada galopando de volta até o Haras, forçando ele ir o mais rápido que pode, não sabia de quem era aquele rancho abandonado, mas de maneira alguma deixaria o animal ali sofrendo.


CAPÍTULO 22


Miguel

Levo as toras de madeira para Bento, sentando no sofá. O frio realmente tinha chegado com força, nos forçando a fechar as portas e janelas para manter o calor dentro do imenso casarão. Dandara ainda não tinha retornado, o que me deixa um pouco ansioso, mesmo não querendo admitir. Aquela diabinha caipira está me enrolando em seu laço.

— Daqui a pouco a janta estará pronta. — Bento diz passando por mim em direção à cozinha.

Volto meus olhos para a tela do computador, vendo o projeto que Paulo havia me enviado mais cedo. Os arquitetos tinham feito um excelente trabalho, a entrada do resort era imponente, ele manteve o rústico e sofisticado com tanta suavidade que nenhum dos pontos tinha se destacado mais que o outro. E ali, analisando o projeto, eu não conseguia abrir minha caixa de e-mail e aprová-lo. Não conseguia dizer que poderíamos fechar o negócio com os donos dos Haras e fazer o transporte dos cavalos assim que o périodo que o advogado deu se encerrasse.

A rajada de vento forte fez o fogo na lareira tremular quase se apagando, fecho o computador virando para ver Mathias entrar na casa chamando por Bento.

— Que desespero todo é esse? — questiono indo para a entrada.

— Dandara voltou e vamos resgatar um animal.

— Resgatar? O que houve? Toda vez que você entra como um foguete aqui é porque Dandara tá metendo todo mundo em apuros — retruco.

— Mathias, o que aconteceu? — Bento e Maria vêm em nossa direção.

— Dandara voltou da caminhada, segundo ela encontrou um animal em condições precárias. Preciso ligar para o Santiago e preparar o trailer para sairmos.

— Onde ela está? — pergunto.

— A última vez que a vi estava indo pegar umas medicações.

— Santiago não deveria ficar disponível no Haras para esse tipo de emergência? — questiono ajeitando o casaco pesado no corpo.

— Sim, Seu Miguel, mas ele trabalha em outros lugares. É um veterinário muito requisitado na região.

— Vou procurá-la. — digo por fim, cruzando com eles, sentindo o vento bater contra meu corpo enquanto caminho até o estábulo.

Os cavalos relincham alto, incomodados pelo vento, passo por uma baia me esquivando ao ver que o cavalo está tão irritado que bate o corpo contra as paredes de sua baia.

— Eles ficam mais irritáveis com esse tempo.

Olho para Dandara, seu rosto está preocupado. Ela vai até o cavalo mais arisco, deixando que ele cheire um potinho.

— Aromaterapia — explica.

Mesmo ainda desconfiado o cavalo começa a se acalmar.

— Você realmente faz mágica com eles.

O cavalo vem em minha direção me assustando, pulo para trás encarando os imensos olhos pretos do animal. — Eles não confiam em mim.

— Eles são espertos, sentem quando um humano tem medo, alegria ou quando não gosta deles.

Olho para seu rosto, lá vinha ela com aquele papo novamente. — Não é bem gostar ou não, só não confio. Mathias disse que encontrou um animal ferido.

— Eu estava cavalgando, estava ficando mais frio no meio das árvores. Eu o ouvi, ele estava me chamando, não sei há quanto tempo ele está lá, mas eu sei que está cansado. Cansado demais para vir andando, mesmo se Trovoada sustentasse ele pelo caminho, isso o teria machucado mais.

— O que posso fazer?

Dandara me encara surpresa.

Nem eu mesmo sei por que estou fazendo isso, por que estou tentando salvar um animal se tudo que mais quero é que essa guerra de braço acabe logo, para dar continuidade aos meus planos.

— Santiago está ocupado em uma fazenda, tenho receio dele não chegar a tempo.

Ver o olhar triste em seu rosto faz algo dentro de mim borbulhar. — Vamos, eu ajudo você.

Ela ri por um instante, voltando a ser a diaba caipira que eu conhecia. — Você vai mais me atrapalhar do que ajudar.

— Se não quer salvar aquele animal é só dizer.

Vejo seu olhar me analisando, assim como o suspiro pesado que ela solta. — Pegue aquelas cordas, iremos precisar de pelo menos umas três, estou com o kit de remédios, ele tem grandes feridas pelo tempo que passou amarrado e das tentativas de fuga.

— É selvagem?

Ela para de arrumar as coisas para me olhar. — Ele foi ferido, está com medo, sede e fome, vai saber quantos dias ficou exposto ao sol escaldante e as chuvas frias das noites.

Mathias aparece com a caminhonete puxando o trailer. Interrompendo nossa conversa.

— Vamos colocar tudo no carro. — Dandara ordena levando Trovoada para sua baia.


O caminho até o rancho que Dandara encontrou o animal ferido fica bem longe do Haras, e a estrada não ajudava em nada, o vento ficava mais forte e logo a chuva nos brindava com mais força, dificultando ainda mais nosso caminho. Os limpadores trabalhavam frenéticos pelo vidro, cada vez que Mathias acelerava ou freava passando por um buraco era meu coração que pulava dentro do peito. A buraqueira ficava escondida devido a tempestade que caía lá fora.

Era difícil ver alguma coisa concreta em nossa frente com a torrente que descia do céu, o que me fazia apertar o canto do banco com mais força, prendendo a respiração.

Quando Mathias acelerou passando pela entrada destruída do rancho, tudo lembrou foi um filme de terror, a casa ao fundo está caindo aos pedaços, tudo ali está destruído pelo tempo e esquecido por Deus.

Dandara salta do carro antes mesmo que ele pare completamente, levando consigo o kit veterinário e uma das cordas, fazendo Mathias e eu seguirmos em seu encalce.

— Mathias, abra o trailer.

— O tempo está horrível. — digo olhando ao redor.

Dandara pula a cerca de arame encarando o cavalo com as mãos para cima, conversando baixinho com ele, para tentar acalmá-lo.

— Corte os arames, Miguel.

Retiro da enorme maleta que ela touxe um alicate, corto os fios abrindo espaço para que ela passe com o animal.

Ele relincha, empinando o corpo para trás, evitando que ela encoste nele e toda vez que faz isso, acaba caindo devido à fraqueza que seu corpo apresenta. Dandara chega mais perto tentando tirar as cordas que o machucam, porém ele está arredio demais.

— Dandara, devíamos ter esperado por Santiago, ele pode te machucar. — Mathias retruca.

— Ele não vai me machucar, está com medo, tem medo do toque. — Dandara se vira pegando um daqueles frascos pequenos que estava dando aos cavalos no estábulo fazendo o cavalo cheirar. Ele não se acalma como os outros fizeram, mas permite que ela chegue mais perto. — Se tivesse esperado por Santiago ele teria morrido nessa chuva.

Dandara tem realmente algo a mais para esses animais, é como se apenas de olhar, eles dissessem tudo que estão sentindo para ela. Ela volta para a mala tirando um lenço grande, jogando-o no rosto do bicho.

— Miguel corte as cordas e passe a nossa pelo pescoço, dê um nó bem firme.

Faço o que ela manda, me certificando que o cavalo continua imóvel contra o peito de Dandara, ela faz carinhos na crina judiada, sussurrando algo que não entendo devido o barulho forte da chuva.

— Se o dono do cavalo voltar? — pergunto terminando o nó.

— É bom que nem volte, olha o estado que deixou o cavalo. — ela retruca pondo o bicho de pé. — Calma, ouh, calma.

— Dandara, Miguel, temos problemas! — Mathias grita sob a chuva.

Um velho aparece no meio da chuva vindo em nossa direção segurando uma garrafa de bebida, tropeçando nos próprios pés.

— Conheço a laia desse daí, Cicinho sempre o expulsa do bar por arrumar confusão e ele não se importa com nada além da cachaça que consome — Mathias comenta encarando o homem.

— Às vezes temos que deixar os pensamentos sendo apenas isso, pensamentos. Nunca ouviu que o que é jogado no universo ele devolve? — Dandara resmunga para mim.

— Ei! O que você estão fazendo com meu cavalo? — O velho grita, tenta correr até nós, mas tropeça várias vezes em seu próprio pé.

Quando tenta chegar perto de Dandara, eu contenho o homem bêbado e por consequência o animal se agita, fazendo Dandara soltar um pouco a corda que o mantinha preso.

— Você não encosta mais nesse animal! — Dandara grita vindo para cima de mim e do velho bêbado.

— Vocês invadiram minha propriedade, vou chamar a polícia, e esse cavalo voltará para o lugar dele.

Seguro com firmeza sua camisa puída evitando que ele avance para cima dela.

— Chame, vai me poupar o trabalho de chutar sua bunda até lá.

O velho para por um instante de se debater em meus braços e assim consigo arrastá-lo para fora do caminho, deixando que Dandara entre com o animal no trailer.

Mathias enfia todas as coisas de volta na caminhonete, embarcando e dando partida no motor.

— Quando ele ligar para a polícia, ele que terá que se explicar. — digo animado, feliz por ter salvo aquele cavalo.

Dandara tira os olhos do vidro traseiro, voltando seu rosto para mim. — Ele não vai ligar, mal lembrará o que houve. Ele iria deixar o cavalo morrer de fome. — ela volta seu olhar para trás, vigiando o trailer.

Mathias faz o melhor que pode, mas a estrada de terra fica esburacada na chuva forte, e se antes a visibilidade já estava dificil, agora está muito pior. Os relinchos do animal preso no trailer são ouvidos de dentro do carro, imagino o quanto ele não esteja apavorado.

O carro balança de um lado para o outro, me fazendo segurar a respiração por alguns segundos.

— Ele vai se acalmar quando sairmos desse pedaço de estrada. — Mathias diz.

O carro balança mais forte na curva.

— Pare, Mathias. Eu vou com ele.

— Ficou maluca? Ele pode te machucar, está muito nervoso.

— Se eu não for com ele, vamos acabar capotando. — diz.

Mathias encara Dandara pelo espelho retrovisor, considerando o que diz.

— Ficou maluco? Ela vai se machucar! — retruco quando ele para no meio do nada, destravando as portas.

— Sei o que estou fazendo — ela resmunga.

Dandara desce e esperamos. Olho pelo vidro de trás esperando algum sinal...

— Podem ir — grita batendo na lataria do trailer.

Quando chegamos ao Haras, me senti como se tivesse nadando, nem mesmo minhas bolas estavam secas na cueca. Mathias dá a volta no carro pegando a corda e guiando o cavalo para o estábulo. E antes que Dandara saísse, indo para longe, eu a segurei.

— Desculpa.

Passo a mão pelo cabelo molhado tirando um pouco d’água dos olhos. Por que ela me deixa assim?

— Não quis magoá-la com a história de hoje cedo. Estou fazendo o melhor que posso.

— Então precisa fazer mais do que isso.

Ela se solta de minha mão correndo em direção aos estábulos, corro atrás dela, mesmo quase caindo quando meu pé afunda em uma poça d’água, alcanço seu braço e puxo-a para mim, fazendo com que pare.

Droga! Descobri que estou enlaçado até a alma por essa caipira!

Dandara fecha a expressão mostrando seu melhor olhar de ódio tentando se livrar de mim novamente. Fico em sua frente e mesmo com a chuva em seu rosto, consigo perceber que os seus olhos estão cansados, a adrenalina tinha decaído de seu corpo e eles lacrimejavam. Ela tenta se soltar novamente de mim. — Por que você não vai embora, Miguel? — pergunta com o rosto perto do meu.

Meu pênis lateja dentro da calça. Essa mulher me deixa louco!

— Eu não desisto, esquentadinha. Já devia ter entendido isso.

— Pelo menos temos alguma coisa em comum — ela retruca. — Odeio você, brucutu!

— Não, não odeia.

Ela para surpresa com minha declaração. Estar tão perto dela, sentir aquele corpo colado no meu, desperta meu desejo.

Ignorando tudo, eu só tinha uma coisa em mente: tê-la a todo custo.

Avanço sobre ela, seu corpo inteiro estremece, quando a beijo, ela abre a boca para receber minha língua, sua boca é carnuda e quente, ela para de tentar lutar contra aquele fogo que move nossos corpos. Aperto Dandara contra meu corpo, e sinto suas mãos enlaçarem o meu pescoço. Ela me puxa, em resposta eu invado seus lábios, tomando sua boca com minha língua. Levo a mão até seus seios e ela geme com meu toque.

— Quero você, esquentadinha.

— Por que está fazendo isso comigo? — ela resmunga quando minha boca desce por seu pescoço.

— Shiuu, — mordisco sua pele, descendo a boca por seus seios, lambendo o pequeno decote de sua blusa.

A chuva cai sobre nós, mas não é frio que nos faz tremer, é o calor que sinto por essa mulher que só aumenta.

— Quer que eu pare agora?

— Eu odeio você — sussurra, puxando minha mão, nos fazendo correr pelo Haras, entrando no velho celeiro abandonado.

Existem furos entre as madeiras fazendo a chuva cair em nós, Dandara empurra meu corpo contra uma viga de madeira, colocando as mãos por debaixo de minha camiseta encharcada. Meu corpo treme com o calor do toque, fiz o que desejava desde que pisei para fora da cama, abro botão por botão de sua camisa, deixando tudo totalmente livre para que chegasse aos seus seios, luto um pouco contra o fecho do sutiã, fazendo-a rir e tomar a missão de minhas mãos.

Dandara joga a cabeça para trás gemendo cada vez mais com as carícias que eu faço em seus mamilos enrijecidos. Lambo sua nuca, distribuindo beijos sobre sua pele. — Quero você, Dandara, tem que ser aqui, agora. — digo roçando meu quadril em sua cintura.

Solto o botão de sua calça enganchando meus dedos direto nas laterais de sua calcinha, abaixando as peças até o chão, passando por seus pés. Abro suas pernas, deixando seu sexo exposto para mim. Dandara fez o mesmo por mim, tirando minha camisa e indo até minha calça. Ela baixa minhas roupas alcançando meu pênis. Gemo como um animal no cio.

Ela se ajoelha, sem emitir uma palavra, segura meu membro totalmente ereto. A boca da esquentadinha me toma quase por inteiro, sinto o vaivém dos seus lábios me fazendo perder o equilíbrio Encostando no pilar, olhando para seu rosto.

Ela segura a base do meu pau com uma das mãos, enquanto contorna o restante com seus lábios lindos e quentes. Eu a desejo tanto a ponto de gozar. Levanto Dandara de forma abrupta.

Agarro aquela massa de fios longos e loiros, fazendo o calor que consumia meus sentidos aumentar. O corpo de Dandara colado no meu, lábios entreabertos e desejo nos olhos.

— Não negue, você adora isso, seja o que for que esteja acontecendo aqui, você adora.

Mantenho seu cabelo seguro na nuca com uma das mãos, a outra passando por seu corpo nu em volta de sua cintura, deixo meus dedos escorregarem dentro dela, afastando os lábios de sua boceta, apertando o clítoris úmido de tesão. Empurro seu corpo contra a parede, encaixando uma de suas pernas em meu ombro ao agachar, deixando sua intimidade totalmente exposta para mim, como um belo cartão de boas-vindas. Meto a língua de forma faminta, o corpo de Dandara estremece, seus dedos agarram meu cabelo de maneira ferroz.

Devoro seu corpo com vontade, minha saliva misturando com a lubrificação salgada, Dandara tinha gosto de mulher excitada, do tipo que atraí os pobres homens de longe.

Tiro sua perna de meu ombro, erguendo-me, viro-a de costas para encaixar meu pau em sua entrada, deslizo um pouco mais, ela é deliciosa! Antes de chegar ao fundo, Dandara rebola contra meu corpo, fazendo meu membro remexer dentro dela, ela rebola e eu começo aumentar o ritmo dos meus movimentos. Entro e saio dela com facilidade, como se seu corpo reconhecesse o meu.

Abro mais as pernas dela, impulsionando o quadril contra ela, seguro seu cabelo, puxando-o de forma bruta para trás, gostando de sentir seu rosto perto do meu. Mordo e dou chupões fortes em sua pele. Meto com intensidade, gostando do barulho de penetração molhada que chegava até meus ouvidos, meu pau inchado e duro doía procurando alívio, exigindo por isso.

Sinto que ela convulciona em minhas mãos, sussurro em seu ouvido o quando me enchia de tesão, o quanto seu corpo recebia o meu de maneira tão delicioso e o quanto ela era gostosa. Dandara se empinou ainda mais, apertando meu pau com suas contrações involuntárias, arrancando o ar de meus pulmões.

Continuo metendo, lambendo seu corpo, apertando sua cintura ou puxando seu cabelo. Eram sensações diversas que tomavam meu corpo. Dandara gritou, seu corpo estremecendo de verdade, perdendo o controle, deixo que ela goze, segurando ao máximo, travando minha própria libertação, ela ficou mole em meus braços enquanto me retiro de dentro dela, masturbando meu pau para gozar, esporrando como um maluco, só de pensar na entrega absurda e delirante que tinha acabado de acontecer ali.


Ela passa minha camisa rindo — É a única forma de você se limpar.

Diabinha!

— Miguel...

Selo seus lábios com os meus evitando que ela fale algo que possa estragar esse momento. — Amanhã pensamos sobre as coisas chatas.

Não tinha a menor chance de discutir com ela agora, o que eu mais queria naquele momento era deitá-la naquele feno velho e começar tudo de novo.


CAPÍTULO 23


Dandara

Abro os olhos sentindo o calor da pele de Miguel contra minha bochecha. Fico deitada quieta, ainda tentando entender o que estou sentindo por ele. Passei metade da noite refletindo sobre tudo que vivemos. Fico confusa pelas sensações que o beijo, o toque dele, me fazem sentir.

Será que eu conseguirei realmente fazer Miguel ver o Haras com outros olhos, além de um pedaço de terra lucrável? Fazê-lo sentir sem me envolver, ou eu já estava envolvida demais? Desisto de ficar deitada com milhões de pensamentos cruzando meu cérebro, saio da cama evitando acordá-lo.

Depois de tomar um banho, me troco em silêncio, descendo para para tomar café, não sem antes dar uma olhada em direção à cama, vendo Miguel dormindo nu, coberto apenas por um pedaço do lençol.

— Bom dia — cumprimento sentando na cadeira vazia, o cheiro de café e bolo de fubá fazem meu estômago roncar de fome.

— Bom dia, menina. — Maria me cumprimenta enchendo minha caneca de café puro. — Mathias estava nos contando sobre o animal.

— Falando nele, como está, Mathias? — pergunto devorando um pedaço do bolo.

— Está bem, Santiago passou a noite cuidando dele. Mesmo com muitos machucados, ele disse que logo estará bem.

— Que bom ouvir isso. — pego dois pedaços de bolo colocando no meu prato enquanto dou uma golada no café. Paro com a xícara ainda contra a boca vendo os olhares deles.

— Está faminta, moleca — Maria diz.

Dou de ombros, como se fosse algo normal.

— Tem bicho uivando no terreno de novo, uma desgrama isso, né? — Mathias provoca sorrindo.

Dou uma olhada feia, fazendo com que ele ria ainda mais, atiçando a curiosidade de Maria.

— O que vocês estão rindo?

Paro com a xícara à caminho da boca ao ouvir a voz de Miguel.

Ele puxa uma cadeira ao meu lado, me lançando um olhar malicioso. Miguel faz questão de jogar o corpo para cima de mim ao pegar um pedaço de bolo.

— Dormiu bem? — pergunta, seu olhar malicioso me fez sorrir. O desgraçado sabia que tinha mexido comigo!

— Sim e você? Parece cansado — desafio entre um gole e outro do café.

— Um pouco, mas no fim consegui o que queria.

Bento entra na cozinha sacudindo o casaco. — Hoje o dia está de lascar.

— Teremos pouco movimento então. — digo.

— Mathias eu quero falar com você sobre o Haras — Bento diz.

— Aconteceu algo? — questiono.

— Aquele problema qual contei procê , menina. Temos que rever a segurança dos animais, ontem tinha algum tipo de animal esganiçado no meio do mato.

Miguel engasga com o café fazendo todos encará-lo. Dou um pisão em seu pé, esmagando seus dedos.

— O antigo celeiro estava aberto e tudo revirado, ou tivemos um casal se engalfinhando ou tinha algum animal ferido procurando por abrigo. — Bento comenta.

— Vou ficar de olho nisso. — Mathias diz. — É perigoso mesmo, mesmo que eu acredite que possa ser um casal festeiro, — ele me encarou erguendo a sobrancelha — melhor trancarmos o celeiro dos desavisados.

— Que milagre é esse eu ver tua cabeça pelada? — Bento se vira para mim.

Sorrio.

— Perdi meu chapéu ontem quando o cavalo ficou muito agitado. Logo compro outro. — me levanto terminando meu café, aquelas trocas de olhares já foram o suficiente para mim.

— E eu... — Miguel enfiou na boca o último pedaço de bolo — vou dar uma volta pelo Haras.

Vou até a entrada enfiando meus braços no casaco que estava no mancebo, assim como as luvas de couro.

— O que faremos?

Desvio o corpo encarando a porta da cozinha, Maria, Bento e Mathias estavam entretidos em uma conversa. Não sei se estavam totalmente focados ou apenas se fazendo de surdos para escutar nossa conversa.

— Dá para ser mais discreto? Eu vou conferir o cavalo que chegou ontem, e depois se quiser podemos cavalgar juntos.

Ele inclina a cabeça e inspira, sentindo meu perfume. — Adorei a ideia.

Maldito brucutu gostoso!

— Seja discreto.

Ele respira mais fundo e mordisca meu pescoço. — Por que não aceita logo minha oferta, esquentadinha, colocamos um fim nesse joguinho e podemos ver o que rola.

— Isso vai acabar mal — digo com a voz rouca. Era só questão de tempo, mas, dessa vez a culpa foi minha. Olhar para a boca de Miguel tão próxima à minha, eu queria aquele beijo, então peguei.

Meu coração martelava no peito com a sensação de poder ser pega, meu corpo e cada fio de cabelo gritava em minha mente: Brucutu!


Santiago tinha levado o cavalo para o redondel, mas ele estava tão arredio que poderia machucar ele e o ajudante que tentava segurar a rédea, ele empinava evitando qualquer tipo de aproximação.

— Vou ter que aplicar a injeção, ele vai ficar pior desse jeito.

— Espere. — digo subindo nas travas do redondel.

— Ele está muito arredio, pode machucar alguém ou até mesmo ele.

— Acho bom manter distância. — o ajudante de Santiago diz para Miguel.

— O que esse cavalo tem? Ele deveria estar grato por termos salvado ele ontem — escuto Miguel retrucar.

— Isso é o que ela pode descobrir. — Santiago comenta.

Ele corre pelo redondel dando coices nas paredes, respiro fundo pulando para dentro, parando no meio do cerco. Cada passo que dou em sua direção faz com que ele trote, evitando minha aproximação. Ele vem para cima de mim, parando perto, é a forma de dizer que me culpa, que culpa todos nós pelo que ele passou.

— Acho bom parar com isso, não tenho culpa do que ele fez com você, eu estava te salvando. — grito para ele.

Ele se arma novamente, erguendo-se nas patas traseiras, se fosse outra pessoa, com a proximidade que estávamos ele poderia fazer um estrago. Mas não me intimido, sei que ele não vai me machucar, quer apenas me amedrontar, quer me ensinar seus limites.

— Dandara, se afaste! — Santiago alerta.

Fico em silêncio encarando o cavalo.

Ele abaixa as patas, colocando a cabeça no meu ombro.

— Muito bem rapaz, isso mesmo, com calma. — retiro um petisco do bolso dando para ele. — Você vai se chamar Chuvisco.

— Ela conseguiu — escuto Miguel dizer.

— Deixa ele descansar, uma boa dose de ração e ele ficará bem. — Digo para Santiago. — Quando estiver curado começo a doma.

Vejo o ajudante dele receoso por chegar mais perto do cavalo.

— Ele não vai te atacar, é só não machucá-lo.

Ele confirma com um gesto, abrindo a porta para que Chuvisco passasse.


Trovoada está agitado em sua baia, ele sente falta quando não passeamos pela manhã.

— Estava esperando por isso, né? — pergunto enquanto acaricio sua crina. — Pronto para montar?

— Se você cavalgar como fez ontem comigo, acho que terei uma excelente manhã!

— Você não presta! — empurro seu peito, rindo — Pegue aquela rédea, Trovoada prefere montaria no pelo.

— Sem nenhuma proteção?

— Ele não vai te derrubar.

Monto Trovoada com Miguel, ele aperta meu quadril contra ele, seguimos pelo trieiro, eu aprecio o clima de pós-chuva. Atravesso o pequeno riacho rindo com Miguel apertando minha cintura com medo de cair do cavalo.

Desde que ele havia chegado no Haras estávamos em pé de guerra, como após uma chuva tudo mudou de maneira tão repentina? Credo! Isso era coisa da minha cabeça. Isso sim. Eu tinha que me focar em coisas mais importantes.

Paro perto das pedras, desço segurando as rédeas para que Miguel desça.

Dou um tapinha no dorso de Trovoada deixando-o cavalgar livre por aí.

— Ele vai voltar? — pergunta olhando para Trovoada trotando para longe.

— Sim, ele ama andar livre, todas as manhãs sento por aqui e ele fica cavalgando pelo campo.

Assim que termino de falar, aponto para a cachoeira à nossa frente. Os raios de sol refletem na água cristalina.

— Aqui é lindo.

Dou um sorrisinho de “eu sei”. Estávamos perto do morro, subindo daria para ter uma visão completa do Haras.

Estávamos em um silêncio confortável, Miguel brinca com a água com a ponta dos dedos, parece com o pensamento distante. Ele sai vindo ao meu encontro, um sorriso nos lábios, suas mãos vão de encontro à minha cintura, colando nossos corpos no meio da relva, aproximo meu rosto do seu, ele roça seu nariz no meu, minha respiração acelera. Sem conseguir conter, mordo o lábio inferior de leve e nos beijamos novamente.

Não tinha como me esquivar de algo tão forte.

— Miguel...

— Não, pare, não acabe com isso. — ele diz entre os beijos.

Sua língua explora minha boca como se eu pudesse desaparecer dali em um estalar de dedos, ele me beija como se isso pudesse me dizer algo. Havia entrega ali, em ambos, seus lábios descem por meu corpo, sua mão subindo minha blusa, fazendo meu corpo se arrepiar ao sentir a relva úmida tocar minha pele. Sua mão toca minha barriga, raspando as pontas dos dedos em meu seio, seu rosto esfrega a barba cerrada em minha pele, os pelos roçando contra minha barriga.

— É melhor voltarmos.

Miguel suspira de maneira audível. — Por que tem que estragar esse momento?

— Tenho coisas a fazer, um Haras sempre tem o que fazer.

Miguel não tenta me fazer mudar de ideia. Montamos em Trovoada para voltar, o silêncio nos acompanha até o Haras, assim que chegamos perto do estábulo Miguel pula do cavalo e quando me viro para falar com ele após colocar Trovoada na baia, ele não está mais ali.


CONTINUA

CAPÍTULO 16


Dandara

Uma semana, esse era o tempo que Miguel não dirigia a palavra a mim e muito menos eu iria procurá-lo. O silêncio pela casa era mais que bem-vindo!

Mathias, Maria e eu bebíamos nosso café puro quando ele apareceu na cozinha, a manhã estava fria, por isso adiei o passeio com Trovoada pelo campo para quando o tempo ruim desse uma trégua.

Enfio na boca o último pedaço de queijo branco de meu prato, tomando o resto do café.

— Maria, Mathias, bom dia — cumprimenta indo em direção a geladeira.

— Porra! Quem comeu meu queijo? — ele pragueja com a fuça enfiada entre as prateleiras da geladeira, fazendo Maria me olhar prepcupada e Mathias segurando o riso enquanto bebe seu café. Tudo que faço é dar de ombros, chupando as pontas dos dedos, nem um pouco arrependida. — Sumiu metade dele, e tenho certeza que ontem ele estava inteiro! — Miguel acrescenta fechando a coitada da geladeira com um baque.

— Olha só, era seu? Desculpe, eu comi — respondo na maior cara de pau.

Miguel me encara como uma carranca. — Mathias, preciso de um cavalo, estou querendo dar uma volta hoje!

— Tudo bem, posso preparar um cavalo para o senhor. — Mathias troca um olhar comigo.

— Acho que Bruto ainda está espirituoso como sempre. — digo. — Se quiser ter o traseiro jogado longe pode ir com ele.

Miguel me dá um olhar furioso. — É para agora, Mathias! — retruca saindo da cozinha.

Mathias se levanta, toma o último gole do café, — Dandara, está fazendo a vida desse homi um inferno. O coitado deve ta contando os dia para sumir por essa estrada à fora. — diz colocando o chapéu na cabeça.

— É bom mesmo que esteja. Tem sorte de eu ainda não ter cuspido no seu café — comento.

— Sei que odeia que metemos os bedelhos em coisa sua, mas os empregados estão receosos, os homi querem saber como vai ficar as coisas. Seu Miguel não veio aqui para deixar as coisas como estão, ele vai por tudo a baixo. — Mathias fala com cautela.

— Mathias, algum dia faltei com vocês? — questiono de maneira rude. Ele balança a cabeça de maneira negativa. — E isso não irá acontecer hoje. Avise seus homens que os empregos estão garantidos, nem que eu mesma banque os serviços deles.

— Pode deixar, Danda, desculpe a intromição.

— Mathias, somos família. Eu não vou falhar com vocês. — digo por fim.

Ele confirma, esboçando um sorriso em minha direção. — Santiago pediu para avisar que as vacinas chegam hoje.

— Estou ciente, assim que chegarem irei aplicar em todos. Não quero nenhum caso como a Archeron.

— Menina, a morte daquela égua não é culpa sua. — Maria diz.

— Eita , não quero prozear sobre isso, tenho trabalho me aguardando. — digo pondo meu chapéu na cabeça, seguindo para fora.


Sento debaixo de uma árvore olhando a cena. Miguel poderia tentar resgatar na mente os tempos de moleque, ele poderia até não ter nenhuma intimidade com os animais, mas pelo menos quando criança ainda conseguia montar um cavalo sem que ele tentasse morder sua coxa.

O Miguel da infância não está em nada parecido com o de agora, e não só pelo fato de ter emagrecido e ficado mais bonito, mas parece que Miguel tem ódio desse tipo de vida. Desde que chegou, olha tudo de cima, com cara de esnobe. Ele não tem vínculo com essa terra, ele não sente a importância que eu sinto quando vejo o sol raiando no horizonte, seus raios fortes iluminando essas terras.

Ele seguiu o caminho da cidade grande e eu o caminho dos bichos.

Mathias tenta ensiná-lo, mas ele parece muito com um cavalo xucro, surdo. Depois não quer ser chamado de mula. Levanto, limpando a parte traseira da calça com um espanar de mãos, me aproximando dos dois. — Mathias, vai conferir as coisas, deixa que eu cuido do brucutu.

— Não pedi sua ajuda. — Homi, mas mal agradecido!

— Não estou fazendo por você, e sim pelo cavalo, que não tem culpa do asno sentado em cima dele. — Miguel abre a boca para retrucar, mas mostro o dedo em riste — Você tem que aprender a ouvir, se segurar com força a sela, o cavalo vai entender que quer impor sua vontade e não vai deixar você cinco segundos sentado no lombo dele. Os cavalos farejam seus sentimentos de longe, ele sente quando você tem medo, raiva ou está confortável. Deixe a rédea frouxa.

— Você acha que eu desaprendi tudo que meu tio ensinou? — desafia.

— Acredito que sim, já que te salvei de vários tombos, se bem me lembro.

Ele me fulmina com o olhar. — Então vamos ver, esquentadinha. Pegue aquele cavalo mutante que você tem e vamos cavalgar por aí.

— Cavalo mutante?

— Você tem noção que ele é o dobro de um cavalo normal?

— Para sua informação a raça dele é Percheron. Ele é um ótimo reprodutor, por ser grande e forte nos dá potros com habilidades especiais para o campo. — Dou risada, vendo seus olhos se arregalarem quando o cavalo marcha para trás. — Tire os pés do estribo e, vá para trás.

Subo no cavalo com a destreza de sempre, ocupando seu lugar na cela. Eu conhecia os cavalos como a palma da minha mão aqui no Haras, por isso não tinha problemas com nenhum deles e sabia quando um deles queria fazer uma gracinha como nosso companheiro aqui.

Bato o pé no espaço entre a barriga e as patas traseiras, para que ele saia.

— Se você está pensando que vai ficar se esfregando em minha bunda, eu te jogo para fora do cavalo! Contenha suas mãos!

— Calma mulher estressada.

Tiro o chicote da bota acertando na bunda do cavalo e o animal sai em galope, soltando um relincho alto. Seguro o riso vendo que Miguel ficar tenso. — Gostando, brucutu? — Ele não responde.

Forço o cavalo ir mais além, sentindo a adrenalina do galope correr pelas minhas veias, sinto as mãos de Miguel segurarem minha cintura e o arrepio disso eriçar os pêlos de meu braço.

Cavalgamos um pouco pelo Haras indo até o campo aberto onde fico com Trovoada e voltamos para o Haras, parando no estábulo.

Desço do cavalo, colocando as mãos na cintura. — Gostou do passeio?

— Você queria se exibir.

— Não preciso me exibir para você. Já é um milagre que você tenha ficado em cima do cavalo enquanto estávamos cavalgando.

— Olha aqui, você se acha incrível, acreditou mesmo que eu precisava de você?

Gargalho com irônia. — Você não sabe nem ao menos como se monta num cavalo. É uma sorte que saiba onde fica o rabo e a cabeça.

— Você é mesmo muito...

— Muito?

Miguel se inclina, ficando mais perto de mim, quando seu rosto praticamente cola no meu, pude sentir sua respiração. O perfume exalava, eu tinha começado a odiar esse cheiro, cheiro que me tirou o sono nas últimas noites, mas senti-lo tão perto me embriagava. Antes que eu pudesse raciocinar, os lábios de Miguel grudaram nos meus. Os braços fortes rodeando minha cintura.

— Sua esquentadinha, está tentando o quê? — Parecia que ele estava falando mais consigo mesmo do que algo para mim.

Sua língua voltou a lamber o canto de minha boca, seus dedos apertando minha cintura, uma de suas mãos subiu por minha espinha.

Acaricio sua coxa, bem perto de seu membro.

— Vamos sair daqui — sussurra como um pedido. Suas mãos apertando minha bunda, passeando por todo meu corpo, da cintura até o pescoço. Ele beija minha boca com ferocidade, empurro seu peito sentindo os músculos firmes contra a palma de minhas mãos, descolando seu corpo do meu, vendo a malícia nos olhos de Miguel. — Por que parou? — pergunta.

Respiro fundo ainda olhando para ele, controlando a maluquice da qual acabo de me curvar...então, tenho uma ideia. — Espere um minuto, o Haras ainda está movimentado, vou checar se ninguém está por perto e trancar a porta. — digo de um jeito safado, bem parecido com o que Cindy fazia sempre que conhecia um homem de fora.

Ele passa a mão sobre o pênis por cima da calça, animado. Vou até lá fora, vendo que realmente não tinha ninguém por perto, puxo uma das portas travando-a no chão e repito o mesmo processo com a outra, mas antes de fechar e entrar como falei que faria, dou um tchauzinho para ele, fazendo seu sorriso desaparecer. Percebendo o que estava prestes a fazer.

— Agora sim você está no seu devido lugar, uma pena que não tenhamos nenhum curral para você nadar com seus amigos...porcos! — digo rapidamente.

Miguel corre ao meu encontro, mas antes que ele me alcance, fecho a porta passando a tranca.

— Dandara, abre isso daqui! — seus gritos se misturavam com os relinchos dos cavalos incomodados dentro do estábulo. — Dandara, sua caipira maldita!

— Desculpe, brucutu. Aproveite seu tempinho com os cavalos e limpe as baias deles, Deus sabe como temos quilos e quilos de esterco por dia. Qualquer coisa tem feno e água se sentir fome. Isso deve bastar para você.

Ele bate na porta, fazendo-a tremer, gritando pelo meu nome. Urrando de raiva por ter caido feito patinho em minha arrapuca.

Cruzo com Bento no caminho de volta ao casarão, girando as chaves do estábulo entre os dedos e rindo feito uma maluca.

— Gosto de vê-la animada, mas está com cara de quem aprontou.

— Que é isso, Bento! — me finjo de inocente.

Ele bate na aba do chapéu, não acreditando nem um pouco no que eu estava dizendo. — Mathias está com os cavalos, quase todos foram vacinados, ele ficou esperando ocê aparecer, mas preferiu dar logo. Ficou fartando apenas o último estábulo. — comenta indicando o estábulo que tranquei Miguel.

— Diga que farei aquele estábulo, estou dando um castigo em um cavalo xucro. Ignore os resmungos, o cavalo está dando coice em todas as paredes, já vi cavalo dificil, mas esse...logo domo também — digo colocando um enorme sorriso no rosto.

Bento olha ao nosso redor, como se procurasse alguém e eu sei quem está procurando.

— Dandara, Dandara...

— Fique calmo, por que não vamos tomar um café, quem sabe Maria fez aquele pão doce que tanto amo? — pergunto enlaçando meu braço no seu, levando-o para longe do estábulo onde Miguel estava, acredito eu, urrando de raiva pelo tremor que a porta fazia.


CAPÍTULO 17


Miguel

— Sua caipira insolente! Como eu sou burro!

Eu esmurro a porta que nem um doido, gritando tanto que sinto minha voz falhar e ninguém aparece por ali. Viro olhando para os cavalos que relicham, só me faltava esses bichos me atacarem.

— Abre a porta! — grito de novo. Ando pelo estábulo procurando uma outra saída, lembrando de suas palavras “Aproveite e limpe as baias” , que filha da mãe! Até parece que eu iria sujar minhas mãos limpando merda de cavalo.

O cavalo no qual demos uma volta antes dela me trancar aqui chega perto, me fazendo pular de susto. Ele se sacode, sua crina bate de um lado para outro e solta um pequeno relincho.

— É, aquela ali não presta!

Cômico! Agora eu estava conversando com um cavalo como se ele pudesse me entender. Eu torceria o pescoço de Dandara assim que me livrasse dali.


Não tinha noção de quanto tempo tinha se passado, sei que estava de saco cheio de ficar ali.

— Noite, brucutu. Como foi seu dia?

Fico de pé chegando perto da porta, eu mataria essa mulher! — Pare com essa brincadeira de mau gosto, me tira daqui!

— Pelo visto continua grosseiro e sem educação. Espero que não esteja maltratando meus animais, por que se estiver, não vai ficar apenas dois dias trancado aí.

Meu sangue ferve nas veias. — Dandara, estou te avisando, quando eu sair daqui...

— Chega de ameaças em vão, vou te tirar daí quando aprender sua lição.

Esmurro novamente a porta, escutando seu risinho e seus passos se afastarem, — Dandara, estou com fome!

— Coma feno, brucutu!

Os cavalos mal se importavam por estar ali com eles, nos primeiros minutos e até primeira hora eles ficavam espiando ou fungando em minha direção. Agora? Muitos nem ao menos me encaravam, olho novamente para o cavalo solto perto de mim, ele abocanhou um punhado de feno mastigando e quando repetiu o gesto despejou um pouco em minhas pernas, como se dissesse que era bom.

— Tá de brincadeira você também!

Empino o nariz, olhando na direção contrária. Mas volto a encará-lo quando ele vem para cima de mim despejando mais feno em minhas pernas, seu focinho se torce inteiro enquanto mastiga.

— Ei amigão, pode ser bom para você, mas isso daí é mato. E alguém já te ensinou a dar espaço as pessoas?

O cavalo relincha, dando as costas para mim, batendo seu rabo bem no meio do meu rosto. Me fazendo xingá-lo. Como se estar preso junto aos cavalos não fosse o suficiente, ou do fato de estar com frio também não fosse, ainda tinham os mosquitos que faziam seu banquete atacando minhas veias.

Minha barriga roncando, meu corpo coçando e eu fedendo a estrume de cavalo.


Os raios de sol atingindo meu rosto me fizeram apertar os olhos tentando ver quem estava entrando, se fosse Dandara eu daria uma palmadas em sua bunda.

— Miguel? — Mathias perguntou surpreso, tentando entender tudo que estava acontecendo, olhando para a bagunça que tinha feito nos blocos de feno ao tentar arrumar um jeito para dormir. — O que você está fazendo aqui?

— Pergunte para aquela caipira filha da mãe — digo bravo, ficando de pé, sentindo as costas reclamar pelo movimento brusco.

Ele dá uma gargalhada. Mas se adianta a falar: — Desculpe, Seu Miguel.

Meu corpo chia de dor a cada maldito movimento, preciso de um banho quente, comida e boas horas de sono. Quando me recuperar ela vai ver, eu vou colocar essa caipira em seu lugar!

Estou com esse pensamento até ver Dandara caminhando sorridente em direção ao casarão.

— Ah, sua potranca mal educada! É bom correr. — ameaço gritando.

As pessoas que estão perto de mim me olham assustadas, e devem mesmo, porque meu rosto não deve estar nada amigável. Dandara se vira, o sorriso sumindo do rosto ao me encarar e então ela corre, empurra Santiago para longe e corre como uma moleca travessa sendo pega na artimanha, entra correndo no casarão.

Corro tão rápido que logo estou fazendo a porta de madeira branca bater contra a parede e escuto Maria falando alto na cozinha:

— Menina, o que houve? Tá tentando tirar o pai da forca?

— Dandara! — grito novamente.

Entro na cozinha vendo-a atrás de Maria, como se eu tivesse receio de ir lá lhe dar umas boas palmadas!

— Pare de correr, será pior quando eu te pegar! — ameaço.

— Ei, não quero bagunça na minha cozinha! Dandara o que você aprontou com o homi ? — Maria bate com a colher de pau na bunda de Dandara que agora tenta se esquivar de mim e de Maria.

— Vai fazer o quê? Me bater? Agora bate em mulheres? Quero ver encostar a mão em mim!

— Não, nunca encostei em uma mulher, mas dizem que para tudo tem uma primeira vez. E minha mão está coçando — grito.

Dou a volta na mesa, Dandara corre para o outro lado, fazendo o banco cair e eu tropeçar ao tentar pulá-lo, caindo de quatro no meio da cozinha. Sua gargalhada alta, faz minha raiva ferver mais que panela de pressão no fogo. — Ria enquanto pode.

— Alguém pode parar esses dois? Eles irão destruir a casa! — Maria grita empunhando sua colher de madeira. — Estão parecendo duas crianças!

— Desculpe Maria, mas não vou me meter — escuto a voz de Mathias enquanto corro atrás de Dandara que vai para a sala. — Dandara prendeu o homi no estábulo, peguei ele dormindo de concha com os cavalos.

Maria me encara, a mão na boca tentando segurar o riso.

— Vai, pode rir. Quero ver se aquela filha da mãe vai continuar rindo da minha cara quando eu a pegar — bufo, com os olhos em Dandara.

Ela faz um movimento errado diminuindo nossa distância, pulo sobre o sofá, meus braços envolvem sua cintura, tirando seus pés do chão. Não penso duas vezes, jogo seu corpo em meu ombro, dando um tabefe em sua bunda.

— Me solta! — Dandara grita.

Ela bate em minhas costas, os socos doem, não é que a Diaba tinha uma força bruta?

— Como foi sua noite? A minha foi maravilhosa, tá sentindo meu cheiro? Quer ver a quantidade de picadas que tenho espalhadas pelo corpo? Acho que tenho feno até em parte que desconheço!

Dou mais alguns tabefes em sua bunda que a fazem gritar. Eu estava puto por ela ter me deixado ao relento no meio dos bichos. E ficando com tesão, isso mesmo, ter o corpo daquele Diaba tão perto, tão ao meu alcance. Seus seios roçando em minhas costas, estava fazendo meu pau ficar rigido como uma tora, maldita hora para uma ereção. Eu queria mesmo é vê-la de quatro enquanto castigava sua bunda por ter me deixado trancado junto dos cavalos, mas também saborear cada gemido que ela pudesse...

— Meu Deus, Seu Miguel, solte a menina! — Maria exclamou.

— Não antes de lhe dar uma lição! — digo.

— Seu Miguel, não me obrigue a usar a Betinha em ocês dois. — Maria alerta.

— Não estou brincando, brucutu! É bom me soltar! — Dandara urra em minhas costas.

Acerto um tapa mais forte, jogando seu corpo no sofá, prendendo seu corpo ali ao apoiar meu joelho de um lado e o braço ao lado de sua cabeça, vendo seus olhos se arregalarem por um pequeno instante, mas o suficiente para meu dar um gostinho doce na boca. — Você tem sorte que é mulher, mas eu poderia, como vingança, soltar aquele seu cavalo gigante que tanto ama... — digo de maneira perversa — Como você ficaria?

Dandara me empurra com força, ficando de pé. — Você nem pense em tocar no Trovoada, você me entendeu? — responde praticamente gritando.

— Seria excelente, quem sabe assim você aprende a respeitar as pessoas? — retruco segurando seu braço.

— Larga meu braço, Miguel!

— Você quer me enlouquecer, você vem, me atiça, me provoca...

— Você se aproveitou da situação! — retruca.

— Você não se faça de sonsa! — grudo seu corpo mais no meu — Adorou o que fiz com minha boca.

— Misericórdia! — o sussurro de Maria quase me tira o foco da diaba em minha frente.

— Eu odeio você, Miguel! — Dandara tinha ficado furiosa, mas confesso que não liguei para o que ela estava falando, só conseguia ver aqueles lábios se mexendo. Queria torcer seu pescoço, mas também queria fodê-la. Como essa mulher me tira do sério!

— Você quis tudo que aconteceu e tá querendo mais que eu sei.

Seguro um punhado de seu cabelo bem justo no pescoço roubando um beijo, mordo seu lábio nem me importando por ela reclamar ou tentar me empurrar. Dandara retribui meu beijo, até me afastar, empurrando meu peito, fazendo com que me desequilibrasse dando alguns passos para trás rindo.

Ela limpa a boca me olhando com raiva, cospe no chão e então corre escada acima.

— Minha mãe dizia que muito ódio vira amor. — Maria retruca.

Viro vendo que Mathias e Maria ainda assistiam nosso pequeno showzinho. — Dela quero distância — digo marchando para meu quarto.


CAPÍTULO 18


Dandara

Bato a porta fazendo as coisas estremecerem dentro do quarto. Maldito brucutu! Arranco minhas roupas jogando-as no cesto perto do banheiro, ligo o chuveiro bem quente, quente o suficiente para que ao tocar em minha pele pudesse queimar o toque daquele... Engulo os pensamentos raivosos que passam por minha mente esfregando meus braços, meu pescoço, qualquer lugar que ele tivesse encostado, na tentativa de tirar o cheiro dele. Ainda não conseguia acreditar na petulância daquele brucutu. Miguel realmente não tinha amor pela vida.

Confesso que deixá-lo ao relento não foi algo muito sensível de minha parte, mas ele mereceu e, vai merecer cada pisão em seu pé a partir de hoje.

Bater na minha bunda e me tascar um beijo na frente de todos? Quem ele pensa que sou? Enquanto terminava meu banho pensava em mil maneiras de me vingar, mas acabei descartando todas, eu é que não desceria ao nível infantil dele, minha melhor vingança seria chutar a bunda dele para fora do meu Haras quando tudo acabasse.

Visto um short e uma camiseta puída e chinelos, melhor me ocupar dando banho nos animais do que cruzando meu caminho com certas mulas por aí. Atravesso o Haras em silêncio evitando falar com qualquer um que cruze meu caminho.


Agradeço pelo trabalho parecer não ter fim e os músculos espalhados pelo meu corpo começarem a protestar do esforço feito, passar o tempo no meio dos cavalos me acalmava e me fazia esquecer por alguns instantes minha vontade assassina contra Miguel. Mas amanhã mesmo eu ligarei para o advogado, não dá para continuar assim, mais dia ou menos dia e eu mataria Miguel. Que ideia absurda de Pedro me colocar nessa enrascada.

Já era noite quando paro fecho a última baia. Trovoada relincha animado após o banho, sacudindo a cabeça e sua longa crina.

— Teve um dia melhor que o meu, né, bonitão?

Saio do estábulo trancando as portas, todos os funcionários já tinham ido embora, caminho observando a noite, as estrelas e a lua cheia brilhando forte no céu, o som dos grilos cantando no meio do pasto.

Entro no casarão, tiro o chapéu, deixando-o no mancebo de madeira. Tudo estava em completo silêncio, poucas luzes acesas indicando que até a Maria tinha se recolhido.

Passo pelo quarto do brucutu vendo a luz está acesa sair pela pequena fresta da porta, estava prestes a entrar em meu quarto quando escuto uma porta atrás de mim se abrindo.

— Esquentadinha!

Viro, vendo-o só de cueca box, o corpo todo amostra.

— Não dirija a palavra para mim!

— Eu disse hoje cedo que tinha contas a acertar, você acha que seu showzinho me botou medo? — questiona vindo em minha direção.

— Se colocar as mãos em mim é bom começar a rezar para sair com ela no lugar!

— Não tenho medo de suas ameaças vazias — retruca.

— Vazias serão as suas bolas quando eu chutar para longe. — ameaço

— Você acha que vai me enlouquecer? — pergunta vindo em minha direção — Acredita mesmo que vou cair nos seus truques?

— Truques? — Gargalho alto — Não sou eu que fico agarrando você para roubar beijos.

— Vai dizer que não gostou?

— Já percebi que gosta de brincar com fogo! — desafio — Cadê toda aquela falamansa que andou esbravejando por aí? Homi metido a machão, não consegue parar de encarar para minha boca enquanto eu falo. Tudo isso é desejo?

— Não me torno frouxo por ter você na minha mente, me torno se não conseguir tirar, — Miguel dá mais dois passos em minha direção — e isso eu sei como fazer.

— Você pensa que me leva fácil, né?

— Você gosta de mexer com os homens, “se sente” fazendo isso...

— Eu não sou de quem me quer, sou de quem eu quero ser, e faço porque posso. — respondo dando um sorrisinho.

Miguel puxa meu corpo para o seu, fechando a porta com o pé, sua boca mordendo a minha enquanto distribuo tapas sobre seus ombros, costas, todo lugar que minhas mãos alcançam. Mas seu beijo furioso vai desarmando meu corpo, principalmente quando solta minha boca beijando de leve e devagar meu pescoço, rindo contra minha pele que se arrepia com seu toque, acabando com qualquer defesa minha. Não tinha gentileza no toque, havia desejo e prazer, junto de uma pessoa que queria provar seu argumento.

As mãos de Miguel ergueram meu corpo, sua língua forçando minha boca a se abrir ainda mais. Eu meio que empurro, e volto a puxar seu corpo para o meu. Precisei inspirar profundamente algumas vezes quando sua boca tomou o pequeno vão entre meus seios, sua lingua quente tocando minha pele fazia meus mamilos endurecerem e meu corpo querer mais. Sentir a proeminência em sua cueca também não ajudou muito meus pensamentos entrarem num bom senso.

Não era correto eu me render ao seu toque, não quando tinha aberto minha matraca falando que não me entregaria numa bandeja para ele, mas que diacho! Mordo seu lábio inferior, empurrando seu corpo para longe, tentando controlar a respiração. — Chega!

— Por que parar agora? — questiona agarrando novamente minha cintura.

— Eu disse chega, Miguel!

Suas mãos continuaram apertando com firmeza minha nuca, seus olhos mostravam que não estava disposto a me deixar em paz, que não sairia de meu quarto com aquela decisão fraca com a qual eu tentava me agarrar.

— Chega nada, não para mim e com certeza não para você. Eu sinto seu corpo vibrando em minhas mãos, Dandara.

Não arrisco olhar para ele, com medo que ceda aos meus instintos. Ele segura meu braço, olhando no fundo de meus olhos.

— Eu quero você, Dandara!

— Você quer me passar para trás, quer ter motivo para fazer chacota, quer o Haras, não é porque fui criada no meio do mato que não conheço homens como você, Miguel!

— Cala um pouco a boca, esquentadinha!

Abro os lábios para retrucar, mas é tarde. Ele pega meus braços, me empurrando contra meu armário, meu corpo inteiro treme com o calor do toque, ele tira a barra de minha camiseta de dentro do short, traçando livremente pelo meu corpo até meu seio. Miguel me vira de costas, mordendo meu pescoço, o corpo colado no meu, e acaba abrindo meu sutiã. Segurando meus seios, massageando-os nas mãos, beliscando meus mamilos sedentos por atenção. Roço minha bunda contra seu membro rigído na cueca, fazendo com que ambos gemêssemos.

Miguel continua acariciando meu corpo, mordendo e chupando meu pescoço. — Quero você, aqui e agora. — ele arranca minha camisa pela cabeça, fazendo a mesma coisa com meu sutiã, chupando meus seios, sugando-os até que eu não pudesse conter mais meus gemidos de prazer. Meu sexo pulsa, até dolorosamente quando a pressão do prazer explode em certas áreas.

É errado continuar com isso? Puxá-lo par mim, desejando seu corpo, respiro profundamente tentando encontrar a raiva que me alimentava horas atrás, mas só encontro o desejo.

Miguel conduz nossos corpos para a cama, arrancando o resto de nossas roupas, assim como o preservativo escondido no cós da cueca, em um segundo estava entre minhas pernas, sua mão agarrando meu cabelo, sua boca mordendo meu queixo.

Segurando meus seios com as duas mãos, apertando e puxando os bicos, lambendo minha barriga, minha cintura, roçando a barba pela minha pele, deixando-a rosada e eriçada. Um gemido explodiu de mim quando sua língua encontrou meu clitóris, seguro firme o lençol querendo tremer com o que ele fazia em minha intimidade, sua boca não me dava misericórdia alguma, sua língua muito menos. Quando seu dedo me invadiu, minhas costas se curvaram e o gemido saiu mais alto, fazendo eu ganhar um tapa na bunda.

— Desculpa, esquentadinha, mas teremos tempo para fazer amor em outro momento, agora, eu quero que seja rápido, que queime esse fogo dentro de mim.

Miguel desenrola o preservativo em seu membro, nunca tirando pelo menos uma de suas mãos do meu corpo, seus dedos tocam meu sexo, me fazendo arfar. Chupo os dedos que me tocam, vendo Miguel mordiscar o lábio e sorrir. Seu pau encaixado em minha entrada, deslizando de maneira lenta, começo a rebolar, fazendo seu membro se remexer dentro de mim.

Enquanto eu rebolo, Miguel segura meus cabelos de forma bruta, aumentando o ritmo dos movimentos, entrando e saindo de dentro de mim, segurando minha cintura com a mão livre fazendo seu membro ir mais fundo, meu corpo treme e Miguel geme alto.

Estavamos nos devorando, caricias eram feitas pelo nossos corpos ondulando juntos, enquanto eu consumia cada gemido e estocada que Miguel produzia.

Aperto os lençóis entre os dedos, seguro seu pescoço com firmeza quando ele encaixa a boca sobre meu seio, montando em seu colo, sentando com força sobre ele, gostando do modo como ele geme e descola a boca de meu mamilo, jogando a cabeça para trás rendido.

— Puta que pariu, você é deliciosa! — diz baixinho contra meu pescoço.

As estocadas duras fazem meu corpo tremer, meus seios balançam com o ritmo forte do sexo que fazemos. Ele geme agarrado em minha cintura, forçando meu corpo para baixo, quebrando as últimas barreiras, me fazendo gozar. Miguel ainda mantém o ritmo por algumas estocadas até que goza, seu membro latejando dentro de mim, se misturando com nosso suor, os tremores do meu corpo e do seu e as batidas descompassadas dentro do meu peito.


Quando eu estou envolvida em seus braços

O mundo todo apenas desaparece

A única coisa que escuto é

o bater de seu coração.


Porque posso ouvir sua respiração

Está se derramando sobre mim

E de repente estou me desfazendo dentro de você

(Breathe, Faith Hill)


Arre égua , estou perdida...

Levanto com um sobressalto e empurro para longe o braço forte que rodeia meus seios, tentando soltar meu corpo. Parece que os braços dele tinham se tornado uma braçadeira de ferro, o jeito foi sair me rastejando pela cama como uma cobra, até que eu caísse de bunda no chão.

Pego uma muda de roupa e corro para o banheiro, tomo um banho rápido, não parando nem para secar o cabelo, apenas escovo e deixo solto pelas costas. Não é que eu não queira encarar a asneira que tinha feito noite passada, mas...bem, era isso mesmo, não queria dar de cara com Miguel, por isso levantei mais cedo que até o próprio sol e me esgueirei para fora do quarto com as botas nas mãos.

— Fugindo de alguém, menina?

Pulo tampando a boca para que meu grito de susto não faça eco pelo corredor escuro.

— Cristo pai, você quer me matar do coração, Bento? — questiono sentindo os batimentos acelerados contra o peito.

— Desculpe, mas estava saindo do quarto como quem escondia um cadáver, devo me preocupar? — pergunta encarando a porta que eu havia acabado de fechar.

— Deixe de besteira homem, só tive uma noite ruim.

Bento coça a cabeça com a bengala velha. — Arra, por falar em noite ruim, tinha algum animal sofrendo ontem, Maria e eu mal pegamos no sono, parou de sofrer era já tantas da madrugada.

Engulo em seco, será que tínhamos feito tanto barulho assim?

— Vou ficar de olho nos arredores, tenha um bom dia, Bento.

Escuto o riso baixo dele enquanto caminho pelo corredor. — Bom dia, menina.

O dia não tinha se levantado, mas mesmo assim entro no estábulo para conferir como estão os animais. Reponho água e feno, depois me dirijo á baia de Trovoada, ele vira a cabeça não querendo olhar para mim.

— Qual é, amigão, está bravo comigo?

Ele me encara, dando uma fungada balaçando a cabeça como se confirmasse.

— Que tal recompensar isso com com uma corrida?

Ele relincha ainda evitando me olhar, eu conheço o jogo dele, Trovoada é um menino mimado, e a culpa é toda minha.

— Tudo bem então, já que não quer mais minha companhia...

Ele relincha mais alto, levantando as patas da frente. Fazendos os outros cavalos reclamarem.

— Você é um garotão mimado! — brinco, pulando a portinhola da baia, subindo diretamente no pelo, me agarrando ao seu pescoço. — Vamos ver o sol nascer.


Ficar perto dos cavalos ou montar em Trovoada é como respirar, algo tão natural, acredito que eu aprendi a montar antes mesmo de andar.

Saímos em direção ao campo aberto, ganhando velocidade a cada passada, sentindo o vento frio da madrugada ir contra nós. Eu precisava limpar minha mente, precisava tirar Miguel e a noite de ontem da mente, precisava tirar essa distração total, ainda não sabia o que pensar sobre essa história de Miguel conseguir meu Haras, o que faria com as famílias e funcionários que dependiam dos seus empregos? O que faria com os cavalos? Para onde eu iria com Trovoada? Aqui sempre fora meu lar, foi meu lar quando minha mãe faleceu, foi meu lar quando meu pai morreu em um torneio de rodeio.

O Haras é meu santuário, minha casa, eu aprendi a escrever no lombo de um cavalo, fiz desenhos nas paredes do antigo celeiro, aquilo era meu refúgio...

Volto para o Haras depois de admirar o sol nascendo, em alguns dias começaria o outono e o frio ocuparia as noites, o que me fazia sair pelos campos ajudando os cavalos que podem se perder ou sofrer com as chuvas repentinas.

Vou até o escritório respirando fundo, ao sentar em minha cadeira, tiro o chapéu, deixando-o sobre a mesa.

— Entre — respondo à batida na porta.

— Dandara, bom dia.

— Daniel, estava mesmo esperando por você. Sente-se.

— Em que posso ajudá-la?

— Quero saber mais sobre o Haras, por que Pedro deixou o Haras com Miguel, ele conhecia o sobrinho, nunca teve interesse por nada, mal sabe a diferença entre a crina e o rabo dos cavalos. Porque deixar o Haras nas mãos dele? — solto tudo de uma vez, expondo minha irritação, minha indignação. — Você me conhece desde menina, Daniel, eu ensinei sua neta a montar, eu cuido desse Haras como se fosse meu filho. Deixei as competições para administrar tudo isso quando Pedro descobriu a doença, abdiquei minha carreira para dar minha vida ao sonho dele.

Sinto as lágrimas forrando a parte debaixo dos meus olhos.

— Quando ele desejou implantar o projeto fui eu quem o apoiou, eu que contratei os profissionais, saí em busca de patrocinadores, tenho mais de trezentas crianças se benificiando do projeto. Temos selos e premiações.

— Eu sei de tudo isso Dandara, mas não cabe a mim dizer os motivos que influenciaram Pedro a tomar essa atitude. Ele escreveu uma carta, uma carta para você e Miguel, que só poderá ser lida após a decisão ser tomada.

— Uma carta? E você não me comunicou antes por quê?

— Dandara, como disse, isso não está em minhas mãos. Pedro deixou ordens explícitas.

— Arre égua , uma bosta a essas ordens!

Bufo, tentando controlar minha irritação.

— O único conselho que eu posso dar é: mostre ao Miguel o quão bem o Haras faz, mostre seu amor por tudo que você e Pedro criaram nesses anos. Faça-o não vender o Haras, até mesmo unindo os dois planos, por que não?

— HÁ HÁ, transformar meu Haras em um hotel de luxo para madames enfrescuradas? Quando um cavalo cagar nos pés delas quero ver quantas estrelas sobrará. É de pessoas como Miguel que eu sempre fugi esses anos, não quero o dinheiro de quem vê meus cavalos como um pedaço gigante de bife passeando por aí.

— Tente ao menos resgatar o amor que Miguel tinha na infância. — Daniel aconselha.

— Por Cristo, Daniel. Pedro estava maluco no final dos seus dias. Ele acreditou mesmo que os chiliques na infância de Miguel era por mais tempo com os animais? O menino gritava se um porco grunhice em sua direção. A última vez que pisou no Haras fez uma estripulia soltando metade dos cavalos das baias. Foi um Deus nos acuda até recuperarmos tudo.

Daniel segura o riso, ajeitando melhor a postura na cadeira.

— Quer que eu conte a vez que soltou uma bombinha estampido no meio do pasto? Pedro saiu atrás dele na base do chicote.

— Vou dizer a mesma coisa para você como diria para Miguel: não posso intervir, a questão não é uma briga de foices. É vocês conversarem o que é melhor para o Haras...

— Ele irá vender tudo, demolir tudo, sabe quantas pessoas tenho trabalhando aqui? Quantas famílias envolvidas? Imagina todos os dias você se levantar e as pessoas te encararem com perguntas nos olhos, meus funcionários não sabem como será o amanhã. Nem se terão o salário no mês que vem — resmungo — É com isso que lido.

— Miguel fez uma proposta, ele quitaria as dívidas que o Haras tem, e fez uma consulta com as fazendas de corte e o Haras vizinhos para a possibilidade de vender os cavalos. Acredito eu que queria sondar o terreno para saber o valor de um manga-larga.

Levanto enfurecida, batendo as palmas das mãos na mesa. — Ele quer levar uma chicotada!

— Dandara! — exclama.

— Ele que tente encostar em meus cavalos, ele que tente... Arre égua!

— Quando o assistente de Miguel entrou em contato comigo deixou bem explicíto que o único que ficaria fora desse pequeno inventário seria o Trovoada.

Arqueio a sobrancelha — E isso alivia minha vontade de matá-lo? Ah claro, ele foi gentil em não vender um cavalo que foi presente de meu pai!

Eu estava soltando fogo pelas ventas, o filho duma égua teve coragem de agir pelas minhas costas e depois vem com sua falamansa e me leva pra cama. Eu sou muito burra mesmo!

— Bem, Dandara. De todas as formas, se vocês não chegarem a um acordo, se você não aceitar vender sua parte para ele ou se não conseguir pagar a dívida, automaticamente o Haras entra em um processo e se ele tiver a possibilidade, vai acabar nas mãos de Miguel. Se isso não ocorrer, de qualquer forma, assim que o tempo imposto pelo Seu Pedro acabar, o Haras entrará num processo onde quem terá o poder de decisão é a justiça. Isso pode envolver até mesmo leilão, por conta das dívidas.

— Então é: corre pro mato ou corre pro morro. — suspiro.

— A maneira de todos saírem satisfeito é vocês tentarem resolver isso amigavelmente.

— Tudo bem, obrigada pelo seu tempo doutor.

Ele concorda com um gesto, levantando-se. — Fique bem.

— O senhor também.

Acompanho o advogado para fora, fechando a porta atrás de mim. Caminho até o espaço para equitação, vendo os montadores treinando.

— Dandara!

Abaixo um pouco a aba do chapéu fazendo sombra para o sol forte da manhã. Carolina vem calvagando em minha direção, acenando. — Bom dia!

— Preciso da sua ajuda, sinto Damião entrando errado nos obstáculos.

— Dá uma volta para eu observá-lo — digo pulando a cerca.

Carolina trota se afastando, fazendo semicírculos para aquecer o cavalo, passa pelos primeiros obstáculos e vejo que Damião está com uma passada errada, as pernas de dentro estão trotando mais longas que as de fora. É preciso equilibrar o lado que ele está tendo maior dificuldade. Carolina também anda forçando demais no elevado, a conexão entre eles também estava meio mexida, isso acontecia com cavaleiros que entravam na época de competição, tinham muita pressão e sentimentos misturados e acabam passando para os animais.

— Bom dia, esquentadinha, tinha espinhos na cama essa manhã? — Miguel agarra minha cintura e beija meu pescoço. Me esquivo com um sorrisinho, ainda com raiva por ele ter agido pelas minhas costas.

Seu olhar malicioso mexe comigo. O desgraçado sabe que venceu ontem!

— Levanto antes mesmo do sol, coisa de caipira. — me atrevo a desafiá-lo.

Miguel sorri abaixando a cabeça, ainda me olhando. — Confesso que tive uma noite excelente. Poderíamos repetir nossa conversa hoje a noite, o que acha?

— Poderíamos, mas não vamos, tenho mais o que fazer. E nada mudou.

Miguel me encara surpreso, — O que eu fiz? Acordou azeda como um limão, você não cansa de distribuir coices?

Nós estavamos em um maldito pé de guerra e tudo que eu conseguia me lembrar quando encarava os olhos castanhos de Miguel é onde sua maldita boca esteve ontem a noite. E eu excitada por cada gesto que aquele brucutu fez! Deveria dar um tapa em mim mesma!

— Que tal darmos uma volta? Você poderia me mostrar a região.

— Claro, tem algo que ficou de fora de seu inventário? — mordo a língua por ter falado disso.

Miguel fica surpreso, mas logo se afasta de um passo, confirmando o que Daniel tinha dito mais cedo, ele realmente agiu pelas minnhas costas.

— Dandara...

— Cala a boca, brucutu! Se não quer ver a cara enfiada no esterco de cavalo, fique quieto!

Viro sinalizando para Carolina se aproximar.

— Teremos que trabalhar algumas coisas em vocês dois. Faça uma pausa, eu vou preparar o redondel.

— Ok, obrigada Dandara.

Sorrio pulando o cercado novamente, ignorando Miguel que me seguia como uma sombra.

— Não cometi nenhum crime, Dandara.

Reviro os olhos, caminhando para longe.

— Você está sendo teimosa, poderíamos resolver isso de outro jeito, quem sabe unir o útil ao agradável.

Viro fazendo-o parar quase tropeçando em mim. — Diga brucutu, qual sua excelente ideia? Já recebeu oferta pelos meus cavalos? Ah, muito obrigada por deixar Trovoada de fora, foi uma gentileza imensa, já que não quis vender também um presente de meu pai.

Sinto que estou quase gritando.

— Eu não venderia seu cavalo, vejo o amor que sente por ele. Posso não ser um especialista ou não gostar das mesmas coisas que você, mas não quero mal aos bichos.

— Não quer o mal deles? — Sinto minhas bochechas pegando fogo, Miguel mesmo mantém uma certa distância de mim. — Sabe qual a diferença entre um cavalo para lidar com o gado e um cavalo de montaria e competição?

Ele dá de ombros.

— Exato, se não sabe essa imensa diferença e mesmo assim foi oferecer meus cavalos para donos de fazenda de corte. Você com certeza não quer o bem deles. Jumento! — disparo a falar.— Mas tenho uma solução, vá embora, se não quer o mal deles, vá. Ou está esperando a foda de despedida? Quer ir para o celeiro desativado? — pergunto desatando o nó da minha camisa xadrez fazendo ela revelar minha blusa curta.

— Deixe de ser ridícula! — ele grita, chamando atenção das pessoas que passam por nós.

— Não sei onde Pedro estava com a cabeça, ele só poderia estar alucinando quando decidiu deixar meu Haras para você! — Vejo o olhar irritado de Miguel, mas não deixo que fale. — Tenho muito trabalho a ser feito, se puder pelo menos não atrapalhar, eu agradeço.

Estava pronta para deixá-lo parado sozinho quando vejo Cindy galopando em minha direção. Era hoje, definitivamente eu mataria um.

Ela se aproxima com o sorriso mais falso que nota de três reais, diminuindo o galope, parando o cavalo perto da cerca e desce, balançando a mão em nossa direção. — Dandara! Era você mesmo que queria encontrar!

— Só me faltava essa — sussurro. — Acho que errou, sua prenda está bem na minha frente — digo com um sorriso cínico nos lábios.

— Forasteiro, desculpe não ter vindo mais cedo, vejo que ficou totalmente curado do ataque de fúria de Dandara.

Miguel sorri, deixando que a oferecida lhe agarrasse o pescoço dando um beijo bem perto de sua boca.

Maria trepadeira! — penso com raiva.

— Estou bem sim, que surpresa boa vê-la aqui. Estava agora mesmo comentando com Dandara que queria dar uma volta pela região.

Cindy sorri animada. — Então encontrou sua companhia, faço questão de ir com você.

Miguel me encara vendo minha cara de poucos amigos. E mesmo que eu tente disfarçar meu ódio por Cindy, ele se aproveita da situação. Segura na cintura fina da trepadeira, abrindo um amplo sorriso. — Podemos dividir o mesmo cavalo, eu não estou acostumado a montar sozinho.

— Ihaaaahhh, mas é claro! — ela diz animada. — Ah, Dandara, eu soube que está preparando uma competição aqui no Haras.

Miguel me encara curioso, até mesmo me fuzilando com os olhos.

— Sim, é para angariar fundo para o Haras, mas como soube?

— Matheus, ele me contou — diz com um sorriso. — Logo pensei, o que seria excelente senão competir? As regionais estão chegando e eu e Milu precisamos estar preparadas, você poderia dar uma olhada nela, estou achando que ela está de TPM — diz abaixando o tom de voz na última parte como se tivéssemos dividindo um segredo. — E você como antiga competidora sabe como é importante o cavalo estar bem. Fico orgulhosa que abandonou os pódios e se dedica cuidando de minha égua.

— Claro. Dou uma olhada.

— Perfeito, — ela empurra a rédea para mim, enlaçando ainda mais seu corpo em Miguel — vamos forasteiro?

— Claro. Irei pedir para Mathias selar um cavalo. — Miguel responde me encarando.

Maldito Brucutu, maldita Maria trepadeira!


CAPÍTULO 19


Dandara

— Tá falando sozinha, Dandara?

Pulo de susto, percebendo que estava resmungando alto. — Ocê tem sorte de não ter tomado uma chicotada — digo arrumando o chicote na lateral de minha bota.

— Que bicho lhe mordeu? — Mathias questiona.

— Picão, um bicho desgramento que gruda na pele da gente sugando nosso sangue.

Mathias ri, me entregando as coisas para selar Bruto. — Que bom então que não é um do tamanho de um homi , que chegou recentemente na cidade. — diz tirando sarro.

Encaro Mathias, revirando os olhos, para que notasse que não estava sendo um bom momento para brincadeiras.

— Ah, Danda, deixa disso. Pode ter enganado Bento e Maria com essa história de bicho sofrendo pelo mato, mas eu sei o que faz aquele esganiçado todo dentro de um quarto.

— Ocê não tem amor aos dentes, não? — bufo.

— Ô se tenho, como acha que consegui os meus uivos? Tudo na beleza do sorriso — Mathias caçoa abrindo um sorriso de cavalo para mim.

— Arra , não torre minha paciência!

— Mudando de proza , achei que já tinha acabado com a doma do Bruto.

— Sim, ele está pronto para ficar com os outros. Mas hoje eu quero que prepare a pista para três tambores.

Mathias abre um enorme sorriso, — Irá competir novamente? Que alegria garota!

— Ainda não, vou só matar a saudade.

— Pois deveria. — Mathias aperta a sela, conferindo se está tudo bem preso.

— Faz tanto tempo que não penso nisso Mathias, deixei as competições para trás quando assumi a responsabilidade do Haras.

— Arra, e isso não mudará. Você cuida desse Haras mais que de si mesma, eu lembro do primeiro dia que cheguei aqui e vi você cavalgando. — Mathias sorri ajeitando o chapéu na cabeça — Devia ter uns dez anos, lembro que parei perto do cercado olhando, você tinha tanta conexão com o cavalo, tinha tanto talento, mesmo naquela idade.

Sorrio lembrando da minha primeira competição.

— Todos sabemos o duro que está dando para manter tudo sob controle, até mesmo antes da morte do Seu Pedro.

— Quem sabe eu possa tentar — digo.

— Será um excelente começo.


Bruto raspa a pata pelo chão, como se ele próprio se aquecesse. Quando Bruto chegou no Haras era apenas um cavalo maltratado e ferido, abandonado pelo antigo dono para morrer ao relento. Foi numa noite de chuva intensa que o encontrei caminhando com dificuldade nos arredores do Haras. Demorou meses para que ele sequer deixar que eu me aproximar dele, estava tão ferido internamente em sua confiança com os humanos que só de ver um já se armava dando coices.

A doma nunca foi uma coisa tranquila com ele, ficava feliz só por não levar uma mordida. Mas eu o entendia, foi ferido por acreditar em um humano, sua defesa natural era expulsar quem quer que tentasse se aproximar.

— Sei que você gosta de correr, vejo como seus olhos brilham quando fica livre — sussurro passando a mão em sua crina.

Ele raspa a pata no chão, emitindo relinchos e baforadas baixas, ele aprovava o que eu estava falando, assim como o fato de suas narinas estarem dilatadas e as orelhas eretas para frente significava que prestava atenção ao que eu dizia.

— Quero propor algo diferente para nós. Se você gostar, podemos pensar em fazer isso mais vezes. — Tiro o chicote com calma da bota, ele fica desconfiado. — Isso será necessário entre nós?

Bruto relincha, marchando para trás, sacodindo a cabeça. Jogo o instrumento para longe. — Quero que você corra quando for necessário, quero que sinta a terra tocando forte suas patas e o vento traga a liberdade que isso vai lhe trazer. Mas para isso precisa obedecer fielmente meu comando.

Estralo os lábios indicando para que ande, faço todo o circuito no trote, deixando que ele receba meus comandos, deixando que veja como será.

A competição dos três tambores é simples, você precisa fazer uma saída com explosão antes de cruzar pelos sensores. Uma prova de três tambores clássica é de oito metros até o primeiro, depois vinte e sete e meio até o segundo tambor e trinta e dois metros até o terceiro. E então, a reta final, onde exige mais dos cavalos e das amazonas, era esforço máximo pelo melhor tempo. Se tudo for executado com perfeição e sem derrubar nenhum dos tambores, você poderia ganhar alguma posição boa.

Existem pessoas que gostam do silêncio, silenciam tudo ao seu redor, se concentrando apenas na sua própria respiração e de seu cavalo. Eu gosto de ouvir tudo.


— Não foi um tempo ruim para quem está parada por anos. — Mathias comemora pendurado na cerca.

— Quanto?

— Dezessete segundos e meio.

Desço do cavalo acariciando a testa dele. — Esse garoto nasceu para isso.

— Dei uma examinada na égua da Cindy, ela está machucada pelas esporas, sua barriga está toda marcada e além disso, queria que desse uma olhada no freio, acho que tem algo errado.

— Odeio quando vejo animais sofrendo pela imprudência de seus donos.

— Também não gosto, pena que o pai de Cindy não pense assim e deixa aquela garota maluca usar os animais como enfeites.

— Nem me lembre disso — retruco.


CAPÍTULO 20


Miguel

Logo após fazer sexo com Dandara fiquei perdido olhando-a dormir por alguns instantes, aquilo, esses tempos no Haras têm sido os mais malucos que já tive. Aquela esquentadinha está mexendo comigo, ela está me atormentando desde que pisei no Haras, fazendo meus dias e noite incertos, mas a mulher deitada no meu braço, dormindo tranquilamente, livre de todas as caretas e muros que impõe me faz querer seguir outro rumo. Eu tenho vontade de puxar seu corpo contra o meu, encaixá-la em meu pênis e fazer tudo de novo, agora sem pressa, absorvendo tudo, cada gemido que ela faz. Mas acabei adormecendo enroscado em seu corpo ao contemplar seu rosto enquanto dorme.

E quando o dia seguinte chegou, me deparei com a cama vazia, ela saíra de fininho para não me enfrentar quando acordasse. Abro a porta, verificando se o caminho está livre e quando confirmo que sim, retorno ao meu quarto, trancando a porta depois de entrar.

Tomo um banho rápido vestindo algo mais leve para o dia quente que faz do lado de fora, fazendo uma anotação mental: ar condicionado em todos os cantos, pelo amor de Deus, como é quente isso daqui! Pego os óculos escuros colocando-os no topo da cabeça e desço correndo a escada em direção à cozinha.

— Bom dia, Maria — cumprimento a senhora, ela me olha meio espantada o que me faz questionar se eu não estava sendo educado o suficiente com as pessoas dali. Mas também, com a noite anterior que tive, meu humor está perfeito nesta manhã. — Por acaso você viu a...

— A menina está embrenhada pelo Haras como sempre, Seu Miguel.

Pego uma laranja, descascando-a. — Vocês sempre começam o dia antes mesmo do sol?

— Sim, a menina é que acorda o galo e não o contrário.

Sorrio jogando as cascas fora. — Em São Paulo também acordamos, mas confesso que ser dono do próprio negócio tem suas vantagens.

Saio pela porta lateral da cozinha roubando um chapéu preto na varanda, brincando ao colocá-lo em minha cabeça, até que não tinha ficado ruim. Deixo de lado ao ver Dandara perto de um dos cercados sorrindo como uma menina ao ver os cavalos.

Lembro-me de poucos momentos vividos aqui, mas o que eu com certeza consigo recordar é dela, mesmo muito diferente da época que erámos crianças. Dandara sempre foi apaixonada por isso, era raro vê-la vestindo sapatos e quando estava, eram botas. Era mais raro ainda ver a menina fazendo outra coisa do que estar perto dos bichos.

— Bom dia, esquentadinha, tinha espinhos na cama essa manhã?

Agarro a cintura de Dandara, lembrando de nossa noite, gostando do cheiro dela.

— Levanto antes mesmo do sol, coisa de caipira.

Pelo tom de voz afiado, já estava mordendo os cotovelos.

Sorrio dando um beijo suave em seu rosto, tentando suavizar o mau humor. — — Confesso que tive uma noite excelente. Poderíamos repetir nossa conversa hoje a noite, o que acha?

— Poderíamos, mas não vamos, tenho mais o que fazer. E nada mudou.

— O que eu fiz? Acordou azeda como um limão, você não cansa de distribuir coices? — Controlo minha vontade de responder Dandara de forma ríspida, suspiro, suavizando a voz — Que tal darmos uma volta? Você poderia me mostrar a região.

— Claro, tem algo que ficou de fora de seu inventário?

Fico surpreso, me afasto de um passo para olhar melhor seu rosto, como ela soube?

— Dandara...

— Cala a boca, brucutu! Se não quer ver a cara enfiada no esterco de cavalo fique quieto!

Ela vira chamando uma garota.

— Teremos que trabalhar algumas coisas em vocês dois. Faça uma pausa, eu vou preparar o redondel.

— Ok, obrigada Dandara.

Sei o jogo que Dandara faz, ela prefere fugir do que virar e me encarar, não deixo barato, sigo-a pelo Haras.

— Não cometi nenhum crime, Dandara.

Ela continua andando, me ignorando.

— Você está sendo teimosa, poderíamos resolver isso de outro jeito, quem sabe unir o útil ao agradável.

Ela vira, parando brutalmente, me fazendo quase tropeçar.

— Diga brucutu, qual sua excelente ideia? Já recebeu oferta pelos meus cavalos? Ah, muito obrigada por deixar Trovoada de fora, foi uma gentileza imensa, já que não quis vender também um presente de meu pai.

— Eu não venderia seu cavalo, vejo o amor que sente por ele. Posso não ser um especialista ou não gostar das mesmas coisas que você, mas não quero mal aos bichos.

— Não quer o mal deles? — O rosto de Dandara está vermelho como se tivessem esfregado dois tomates em suas bochechas, e se isso não era um alerta para ficar afastado, eu não sabia o que seria. — Sabe qual a diferença entre um cavalo para lidar com o gado e um cavalo de montaria e competição?

Dou de ombros.

— Exato, se não sabe essa imensa diferença e mesmo assim foi oferecer meus cavalos para donos de fazenda de corte. Você com certeza não quer o bem deles. Jumento! — dispara a falar.— Mas tenho uma solução, vá embora, se não quer o mal deles, vá. Ou está esperando a foda de despedida? Quer ir para o celeiro desativado? — pergunta desatando o nó da minha camisa xadrez fazendo ela revelar minha blusa curta.

E mesmo que a ideia de tê-la novamente em meus braços, sentir o gosto de sua pele e ter seus gemidos em meus ouvidos seja tentadora, me foco em nosso novo cabo de guerra. — Deixe de ser ridícula!

— Não sei onde Pedro estava com a cabeça, ele só poderia estar alucinando quando decidiu deixar meu Haras para você! Tenho muito trabalho a ser feito, se puder pelo menos não atrapalhar, eu agradeço.

Estava pronto para segurar seu braço vendo que se afastaria, quando vejo sua expressão de raiva se focar em outra coisa, sigo seu olhar vendo uma garota vir calvagando em nossa direção.

— Dandara! Era você mesmo que queria encontrar!

— Só me faltava essa! Acho que errou, sua prenda está bem na minha frente — Dandara diz com um sorrisinho falso.

— Forasteiro, desculpe não ter vindo mais cedo, vejo que ficou totalmente curado do ataque de fúria de Dandara.

Sorrio não tirando os olhos de Dandara, deixando que Cindy agarrasse meu pescoço dando um beijo bem perto de minha boca, naquele instante tinha descoberto uma outra arma poderosa contra a esquentadinha, o ciúmes. — Estou bem sim, que surpresa boa vê-la aqui. Estava agora mesmo comentando com Dandara que queria dar uma volta pela região.

Cindy sorri animada. — Então encontrou sua companhia, faço questão de ir com você.

Aproveito a situação segurando na cintura fina da garota, abrindo um amplo sorriso. Satisfeito por ver que deixo Dandara mexida, é bom saber que outra coisa borbulha dentro dela, além de irritação. Afinal, ela não é tão casca grossa quanto esbraveja. — Podemos dividir o mesmo cavalo, eu não estou acostumado a montar sozinho.

— Ihaaaahhh, mas é claro! — ela diz animada. — Ah, Dandara, eu soube que está preparando uma competição aqui no Haras.

Faço minha cara de “não sou o único planejando pelas costas” e encaro Dandara.

— Sim, é para angariar fundo para o Haras, mas como soube?

— Matheus, ele me contou — Cindy diz com um sorriso. — Logo pensei, o que seria excelente senão competir? As regionais estão chegando e eu e Milu precisamos estar preparadas, você poderia dar uma olhada nela, estou achando que ela está de TPM. E você como antiga competidora sabe como é importante o cavalo estar bem. Fico orgulhosa que abandonou os pódios e se dedica cuidando de minha égua.

Dandara competindo? Não sabia que a esquentadinha metida as caras em rodeios ou competições equestres. Estava aí uma coisa para pesquisar quando tivesse deitado em minha cama essa noite.

— Claro. Dou uma olhada. — Dandara responde de forma azeda.

— Perfeito, — Cindy empurra a rédea para Dandara, enlaçando ainda mais meu corpo — vamos forasteiro?

— Claro. Irei pedir para Mathias selar um cavalo.

A carranca de raiva que Dandara está é impagável. É como acender um pequeno fósforo numa fogueira à base de álcool. Eu não quero nada com essa garota, mas se para provocar minha caipira eu tiver que entrar nesse joguinho sujo, por que não?

A tal de Cindy não tinha a mesma desenvoltura que Dandara na montaria, na verdade, não tem nem mesmo a paixão que Dandara exibe ao olhar para os cavalos. Porém, não decepcionou em nada em sua montaria e cavalgada, ela sabia o que estava fazendo. Mesmo que o cavalo ficasse arrisco com seus comandos.

Saímos do Haras indo para os campos abertos da propriedade, passando por um pequeno riacho, Cindy se aproveita por estarmos na mesma sela e esfrega sua bunda em meu pênis, sempre sorrindo e olhando por cima do ombro.

— Que tal pararmos aqui? — questiona olhando para a paisagem na frente, estavámos em uma espécia de monte, víamos a estrada de terra que nos levaria de volta para o Haras e ao longe a silhueta do que seria o centro da cidade.

— Por mim — digo já descendo do animal.

— Quero muito saber o que fez um homem fino e bonito como você se meter com a Dandara — Cindy fala amarrando a rédea do cavalo no tronco de uma árvore.

— Podemos dizer que fomos criados juntos.

— Mentira! — diz rindo.

— Meu tio-avô criou Dandara quando seus pais faleceram.

— Que azar o dela, primeiro perdeu a mãe e logo depois seu pai, morreu em um acidente com bois.

Não havia sentimento real naquelas palavras.

— Você e ela se conheceram como? — pergunto sentando sobre a grama.

Ela caminha parando em minha frente tampando a visão da paisagem remexendo o quadril, tentando ser sedutora.

— Bom, tirando o fato de cidade pequena todo mundo naturalmente se conhecer, além dos filhos estudarem juntos. No Haras, Setti é um dos poucos lugares de excelência por aqui, confesso que tem ótimas pistas para treino. Meu pai é um dos patrocinadores, mesmo eu querendo que Milu seja tratada por outra domadora, não posso negar que ela é boa no que faz. Cindy deu de ombros, analisando as unhas perfeitamente alinhadas e pintadas — Ficou melhor quando saiu das competições.

— Competição? — questiono curioso.

— Dandara praticava a mesma modalidade que eu, três tambores, mas largou tudo quando Pedro ficou doente. O velhote não podia mais pegar no pesado e o que não falta naquele Haras é serviço pesado para ser feito. Mesmo com Mathias vindo para ajudar, Dandara decidiu largar tudo para cuidar do Haras.

— Pela sua cara de surpreso, não sabia disso.

— Conheço pouco daqui, vim muito na infância a mando de meus pais e quando cresci nunca mais voltei. Só fiquei sabendo novamente desse lugar quando um advogado me ligou informando sobre a morte do meu tio. Somos de uma família grande, porém nem todo mundo ainda mantém contato.

— Por que decidiu voltar? — Cindy senta em meu colo, um joelho em cada lado de meu corpo, me fazendo dar um sorriso sem graça ao afastá-la com jeito. — É verdade o que todos tem cochichado por aí?

— O que andam falando?

— Oras, que você veio tomar isso tudo dela. Afinal, pra que um homem como você viria para um fim de mundo como esse?

— Vim por negócios, é tudo que precisa saber.

Cindy fez um beicinho, passando os braços pelo meu pescoço, forçando uma aproximação. — Por que não paramos de falar dela, de cavalos e todas essas bobagens e terminamos o que rolou lá no bar?

Direta e atrevida, ela se daria bem na cidade grande.

— Sinto muito, mas não vai rolar. Vamos voltar? Esqueci que marquei um telefonema importante com meu assistente em São Paulo, como disse, negócios — Fico de pé estendendo a mão para ajudá-la.

Não sei o que tem no DNA dessas caipiras, mas ô mulherada que se enfeza rápido! Cindy levanta dando um tapa em minha mão, já desamarrando o cavalo e subindo. Mais uma que preciso tomar cuidado para que ela não me lance do outro lado da estrada, só por que neguei seu fogo. A realidade é que não queria nada com Cindy, ela poderia ser uma mulher linda, com um corpo escultural. Mas serviu apenas para deixar a esquentadinha com ciúmes.


CAPÍTULO 21


Dandara

Enquanto comemos, Maria não tira os olhos de mim. Abaixo o garfo, dando um longo suspiro. — Diga logo mulher, senão vai engasgar com a própria comida.

— O que está tirando ocê do prumo, moleca?

Velha sábia! Não tinha nada que escapasse de Maria, você poderia se deixar levar pelo rosto repleto de rugas ou pelos olhares maternos que lançava para todos, mas Maria era como um pastor alemão, farejava as coisas à distância.

— O que deu no povo desse Haras hoje? — pergunto desviando do verdadeiro assunto.

— Ocê não me engana mocinha, conheço ocê mesmo antes de aprender a lavar os fundilhos de suas ceroulas!

— Que horror! Estou apenas pensativa, vou sair mais tarde para dar uma olhada nos campos.

Foi a vez de Maria revirar os olhos, ninguém vencia em uma disputa com Maria. — Ainda com aquele sonho azucrinando a mente?

Suspiro empurando a comida de um lado para outro no prato. — Eu vejo aquele cavalo com tanta força, não sei porque e nem mesmo o quê significa.

— Você está preocupada com as coisas daqui, normal, os sonhos mostram nossas preocupações mais profundas.

Suspiro, tomando um gole do suco, confirmando com um pequeno gesto de cabeça.

— Mas não era sobre isso que estava falando.

— Ô merda, Maria! — retruco. Não irei conseguir desviar do assunto.

— Óia a boca! — ralha — Ocê está ansiosa, está assim desde que a senhorita Munhoz chegou no Haras.

— Aquela menina brinca com os animais, Mathias disse que a égua tem marcas feias das esporas, eu gostaria de enfiá-las no...

— Ouuh , acalme-se. — Maria adverte rindo — Seria mesmo por que Cindy está maltratando a pobre da égua, o que não seria nenhuma novidade para nós ou pelo simples fato dela ter saído com Seu Miguel?

Fico em silêncio enchendo minha boca com o resto de suco de meu copo.

— Você gosta dele.

Encaro Maria — Ficou maluca? — digo umas oitavas mais alto.

Ela sorri, pega seu prato e o meu, indo até a pia. — Conheço você, menina. Seria de se admirar se não tivesse apaixonada. Eu disse para Seu Miguel, muito ódio acaba virando amor.

— Você está exagerando, deve ser o excesso de trabalho. Seu “Miguelzinho” está agindo pelas minhas costas, fazendo um inventário de tudo que há aqui para vender.

Maria não manifesta nenhuma surpresa com o que acabo de dizer. — O homi é um bitelo , 5 mas não disse que não era sonso para fazer merda. Pode me chamar de velha caduca, mas conheço os sinais e sintomas, você está gostando dele.

— Arre égua! Vou trabalhar, não quero falar mais disso! — argumento ficando de pé.

— Como quiser, moleca. Mas se enfiar no trabalho não irá arrancar isso d’ocê.

Bufando dou uma olhada feia em sua direção e ela entende o recado, não toca mais no assunto enquanto eu devoro uma maçã vermelha e doce que estava na fruteira. Coloco o chapéu sobre a cabeça, fazendo uma trança em meu cabelo e saio, ignorando os olhares que Maria me lança.

Apaixonada! Era para se rir mesmo, Maria está ficando maluca!


— Tudo correndo bem por aqui — Mathias me relata assim que entro do estábulo. — No fundo ela só precisa de um pouco de atenção.

Passo a mão sobre o corpo da égua, vendo seu olhar desconfiado. Milu é da raça Paint Horse, muito parecida com os quarto de milha, mas parece pintada à mão.

— Oua , calma garota!

Retiro a mão ao vê-la arreganhar os dentes.

— Essa daí vem com o espírito da dona. — Mathias brinca.

— Que nada, tire ela da baia. — peço olhando nos olhos da égua — Cindy é horrível com ela, assim como foi com todos os cavalos que passou por seu rancho. Só quer que o animal corra, muito parecida com Matheus, pelo menos aquele ali tem algo de bom, gasta dinheiro e tempo cuidando dos seus cavalos. — digo torcendo os lábios.

— Tem certeza disso? — Mathias questiona segurando a trava da baia. — Ela não está muito amigável.

— Solte.

Mathias faz o que mando, abrindo a portinhola, deixando que ela saia. Milu é uma égua imponente, sai com a fronte erguida, me encarando de cima, passando o recado claro que não tem medo de nós, mas na realidade, tudo isso é pose, ela está receosa que a machuquemos.

— Dê uma olhada nessa ferida.

Dou a volta indo até Mathias, não era uma ferida profunda, iria cicatrizar logo, mas o que me irritou ainda mais foram as marcas mais profundas em sua pelagem indicando que outras já tiveram ali, várias cicatrizes marcando o quando essa égua vinha sendo judiada. E o quantos os maus tratos tinham marcado-a internamente.

— Vamos fazer um tratamento de aromaterapia, para ela se acalmar um pouco e deixar que cuidemos dela.

Vou até o espaço onde os remédios ficam guardados examinando alguns vidros, pego três voltando para a égua.

Tiro a tampa do primeiro colocando perto da narina do animal. Ela relincha virando a cabeça bruscamente, quase derramando o conteúdo de minhas mãos. Retiro do segundo, mas ela tem o mesmo comportamento.

— Óleo bergamota — digo e não demora muito para ela tirar a língua para fora querendo o líquido.

— Não é estranho que ela escolha justo o que traz a sensação de alegria e ânimo. — Mathias comenta.

— Minha mãe sempre dizia que os animais escolhem seus próprios remédios. Eles sabem do que realmente precisam.

O barulho de cavalo se aproximando traz nossa atenção para a entrada do estábulo.

— Que bom que ela está pronta, preciso ir. — Cindy salta do cavalo deixando Miguel se desequilibrar por um instante.

— O passeio não foi prazeroso? — desafio.

— Minha égua está pronta ou não?

— Milu está com marcas de escoriações na barriga. — acuso.

Cindy não dá a mínima para o que estou falando.

— Cindy! Você está ferindo sua égua por nada com suas malditas esporas!

Mathias me olha preocupado.

— Que eu saiba pedi para você dar uma olhada, e não mandar no jeito que comando minha égua. — Cindy contra-ataca.

Miguel dá um passo em nossa direção como se nós duas fôssemos nos engalfinhar como animais, não que ela não merecesse, mas eu não iria ganhar nada com isso.

— Se você quer que Milu não a jogue para longe durante uma competição, precisa entendê-la. Ela não é um pedaço de bife para você ficar furando quando bem entende.

Cindy gargalha, — Me passe o valor de seu tempo, mando meu pai depositar na conta do Haras. — ela vê que continuo encarando-a — Vamos, será que dá para selar minha égua?

Mathias pega as coisas pronto para selar a égua.

— Mathias, não! — Eu quase grito. — Cindy, me escuta...

Cindy arranca a sela das mãos de Mathias, ela mesmo arrumando no lombo de sua égua.

— Cindy, sua égua está ferida, pode achar que não é nada, mas com o tempo vai pegar os ossos dela. Se você se importa...

— O que eu preciso escutar é que você fez algo além de ficar gastando meu tempo. E não de suas mágicas inúteis. — Ela mal fixa direito as fivelas para montar o animal.


Cindy enfia as esporas na barriga da égua fazendo-a relinchar de dor, e a visão dos olhos tristes e repletos de lágrimas do animal cortam meu coração.

Chuto um barril de água enfurecida com a partida de Cindy. O fato de não poder fazer nada para ajudar essa égua me corta o coração.

— Pelo visto vocês estão bem longe da cordialidade.

Viro como um bicho, bufando como um touro bravo ao encarar Miguel. — Meta seu nariz onde é chamado!

— Se você sabia que Cindy maltratava a égua, por que a liberou? — Miguel questiona.

— Seu Miguel, não é simples assim, não podemos prender os animais, mesmo que por alegação de maus tratos. A família de Cindy é poderosa na cidade, seria uma briga infinita e até lá a égua já teria caído doente.

— O que Mathias tá querendo dizer é que não serão os primeiros donos que negligenciam seus animais, muito menos os últimos. São esse tipo de gente para quem quer vender meus cavalos. — acuso.

Levanto o barril que tinha chutado em minha explosão de raiva, puxando a mangueira para enchê-lo.

— Mathias, termine de cuidar das baias, eu vou sair com Trovoada. Está esfriando e não duvido de termos uma chuva torrencial mais tarde.

Deixo os dois ali, no meio do estábulo indo até o Trovoada, eu precisava da paz que ele poderia me dar. E não foi surpresa em vê-lo totalmente alerta, meu pai costumava dizer que Trovoada sempre saberia meu estado de espírito, ele sempre estaria ali, pronto.

E isso era verdade. Não precisei dizer nada, apenas abri a portinhola de sua baia, subindo diretamente no pelo para que ele saísse em disparada para fora do Haras, o sol estava se pondo no horizonte e uma espessa nuvem cinzenta cobria o céu.

Na época de outono vivemos os tempos mais malucos; temos dias de intenso calor e do nada um frio de arrepiar os ossos com chuvas tão fortes que inundam a estrada. Além de ser a época que mais me preocupo com o bem estar dos cavalos.

Cavalgo pelos campos, até mesmo me embrenhando no pequeno acervo de mata fechada, os ranchos e fazendas não são próximos uns dos outros, o que dá bastantes aréas livres.

— Aoh — Trovoada para, relinchando baixo. — Você também ouviu rapaz?

Paramos entre as árvores escutando os pássaros fazendo burburinho entre os ramos, mas não foi isso que chamou nossa atenção, e sim um relincho baixo, sofrido.

— Vamos, Trovoada. — bato o pé na barriga dele fazendo barulho para que volte a galopar.

O rancho era velho, existia destroços espalhados pelo terreno, desço do Trovoada empurrando a porteira velha e quebrada, tinha arame farpado para todos os lados, o relincho veio mais fraco dessa vez, como se o animal já não aguentasse mais esperar por ajuda. Trovoada relincha batendo os cascos chamando minha atenção, um cavalo estava em um pequeno cercado amarrado a cordas em um tronco velho, havia feridas em sua cabeça e boca devido às cordas, mas também marcas profundas espalhadas pelo seu corpo, fora a desnutrição evidente.

Não conseguiria fazer esse cavalo ir até o Haras, precisaria chamar o Santiago e pegar o trailer. Monto em Trovoada galopando de volta até o Haras, forçando ele ir o mais rápido que pode, não sabia de quem era aquele rancho abandonado, mas de maneira alguma deixaria o animal ali sofrendo.


CAPÍTULO 22


Miguel

Levo as toras de madeira para Bento, sentando no sofá. O frio realmente tinha chegado com força, nos forçando a fechar as portas e janelas para manter o calor dentro do imenso casarão. Dandara ainda não tinha retornado, o que me deixa um pouco ansioso, mesmo não querendo admitir. Aquela diabinha caipira está me enrolando em seu laço.

— Daqui a pouco a janta estará pronta. — Bento diz passando por mim em direção à cozinha.

Volto meus olhos para a tela do computador, vendo o projeto que Paulo havia me enviado mais cedo. Os arquitetos tinham feito um excelente trabalho, a entrada do resort era imponente, ele manteve o rústico e sofisticado com tanta suavidade que nenhum dos pontos tinha se destacado mais que o outro. E ali, analisando o projeto, eu não conseguia abrir minha caixa de e-mail e aprová-lo. Não conseguia dizer que poderíamos fechar o negócio com os donos dos Haras e fazer o transporte dos cavalos assim que o périodo que o advogado deu se encerrasse.

A rajada de vento forte fez o fogo na lareira tremular quase se apagando, fecho o computador virando para ver Mathias entrar na casa chamando por Bento.

— Que desespero todo é esse? — questiono indo para a entrada.

— Dandara voltou e vamos resgatar um animal.

— Resgatar? O que houve? Toda vez que você entra como um foguete aqui é porque Dandara tá metendo todo mundo em apuros — retruco.

— Mathias, o que aconteceu? — Bento e Maria vêm em nossa direção.

— Dandara voltou da caminhada, segundo ela encontrou um animal em condições precárias. Preciso ligar para o Santiago e preparar o trailer para sairmos.

— Onde ela está? — pergunto.

— A última vez que a vi estava indo pegar umas medicações.

— Santiago não deveria ficar disponível no Haras para esse tipo de emergência? — questiono ajeitando o casaco pesado no corpo.

— Sim, Seu Miguel, mas ele trabalha em outros lugares. É um veterinário muito requisitado na região.

— Vou procurá-la. — digo por fim, cruzando com eles, sentindo o vento bater contra meu corpo enquanto caminho até o estábulo.

Os cavalos relincham alto, incomodados pelo vento, passo por uma baia me esquivando ao ver que o cavalo está tão irritado que bate o corpo contra as paredes de sua baia.

— Eles ficam mais irritáveis com esse tempo.

Olho para Dandara, seu rosto está preocupado. Ela vai até o cavalo mais arisco, deixando que ele cheire um potinho.

— Aromaterapia — explica.

Mesmo ainda desconfiado o cavalo começa a se acalmar.

— Você realmente faz mágica com eles.

O cavalo vem em minha direção me assustando, pulo para trás encarando os imensos olhos pretos do animal. — Eles não confiam em mim.

— Eles são espertos, sentem quando um humano tem medo, alegria ou quando não gosta deles.

Olho para seu rosto, lá vinha ela com aquele papo novamente. — Não é bem gostar ou não, só não confio. Mathias disse que encontrou um animal ferido.

— Eu estava cavalgando, estava ficando mais frio no meio das árvores. Eu o ouvi, ele estava me chamando, não sei há quanto tempo ele está lá, mas eu sei que está cansado. Cansado demais para vir andando, mesmo se Trovoada sustentasse ele pelo caminho, isso o teria machucado mais.

— O que posso fazer?

Dandara me encara surpresa.

Nem eu mesmo sei por que estou fazendo isso, por que estou tentando salvar um animal se tudo que mais quero é que essa guerra de braço acabe logo, para dar continuidade aos meus planos.

— Santiago está ocupado em uma fazenda, tenho receio dele não chegar a tempo.

Ver o olhar triste em seu rosto faz algo dentro de mim borbulhar. — Vamos, eu ajudo você.

Ela ri por um instante, voltando a ser a diaba caipira que eu conhecia. — Você vai mais me atrapalhar do que ajudar.

— Se não quer salvar aquele animal é só dizer.

Vejo seu olhar me analisando, assim como o suspiro pesado que ela solta. — Pegue aquelas cordas, iremos precisar de pelo menos umas três, estou com o kit de remédios, ele tem grandes feridas pelo tempo que passou amarrado e das tentativas de fuga.

— É selvagem?

Ela para de arrumar as coisas para me olhar. — Ele foi ferido, está com medo, sede e fome, vai saber quantos dias ficou exposto ao sol escaldante e as chuvas frias das noites.

Mathias aparece com a caminhonete puxando o trailer. Interrompendo nossa conversa.

— Vamos colocar tudo no carro. — Dandara ordena levando Trovoada para sua baia.


O caminho até o rancho que Dandara encontrou o animal ferido fica bem longe do Haras, e a estrada não ajudava em nada, o vento ficava mais forte e logo a chuva nos brindava com mais força, dificultando ainda mais nosso caminho. Os limpadores trabalhavam frenéticos pelo vidro, cada vez que Mathias acelerava ou freava passando por um buraco era meu coração que pulava dentro do peito. A buraqueira ficava escondida devido a tempestade que caía lá fora.

Era difícil ver alguma coisa concreta em nossa frente com a torrente que descia do céu, o que me fazia apertar o canto do banco com mais força, prendendo a respiração.

Quando Mathias acelerou passando pela entrada destruída do rancho, tudo lembrou foi um filme de terror, a casa ao fundo está caindo aos pedaços, tudo ali está destruído pelo tempo e esquecido por Deus.

Dandara salta do carro antes mesmo que ele pare completamente, levando consigo o kit veterinário e uma das cordas, fazendo Mathias e eu seguirmos em seu encalce.

— Mathias, abra o trailer.

— O tempo está horrível. — digo olhando ao redor.

Dandara pula a cerca de arame encarando o cavalo com as mãos para cima, conversando baixinho com ele, para tentar acalmá-lo.

— Corte os arames, Miguel.

Retiro da enorme maleta que ela touxe um alicate, corto os fios abrindo espaço para que ela passe com o animal.

Ele relincha, empinando o corpo para trás, evitando que ela encoste nele e toda vez que faz isso, acaba caindo devido à fraqueza que seu corpo apresenta. Dandara chega mais perto tentando tirar as cordas que o machucam, porém ele está arredio demais.

— Dandara, devíamos ter esperado por Santiago, ele pode te machucar. — Mathias retruca.

— Ele não vai me machucar, está com medo, tem medo do toque. — Dandara se vira pegando um daqueles frascos pequenos que estava dando aos cavalos no estábulo fazendo o cavalo cheirar. Ele não se acalma como os outros fizeram, mas permite que ela chegue mais perto. — Se tivesse esperado por Santiago ele teria morrido nessa chuva.

Dandara tem realmente algo a mais para esses animais, é como se apenas de olhar, eles dissessem tudo que estão sentindo para ela. Ela volta para a mala tirando um lenço grande, jogando-o no rosto do bicho.

— Miguel corte as cordas e passe a nossa pelo pescoço, dê um nó bem firme.

Faço o que ela manda, me certificando que o cavalo continua imóvel contra o peito de Dandara, ela faz carinhos na crina judiada, sussurrando algo que não entendo devido o barulho forte da chuva.

— Se o dono do cavalo voltar? — pergunto terminando o nó.

— É bom que nem volte, olha o estado que deixou o cavalo. — ela retruca pondo o bicho de pé. — Calma, ouh, calma.

— Dandara, Miguel, temos problemas! — Mathias grita sob a chuva.

Um velho aparece no meio da chuva vindo em nossa direção segurando uma garrafa de bebida, tropeçando nos próprios pés.

— Conheço a laia desse daí, Cicinho sempre o expulsa do bar por arrumar confusão e ele não se importa com nada além da cachaça que consome — Mathias comenta encarando o homem.

— Às vezes temos que deixar os pensamentos sendo apenas isso, pensamentos. Nunca ouviu que o que é jogado no universo ele devolve? — Dandara resmunga para mim.

— Ei! O que você estão fazendo com meu cavalo? — O velho grita, tenta correr até nós, mas tropeça várias vezes em seu próprio pé.

Quando tenta chegar perto de Dandara, eu contenho o homem bêbado e por consequência o animal se agita, fazendo Dandara soltar um pouco a corda que o mantinha preso.

— Você não encosta mais nesse animal! — Dandara grita vindo para cima de mim e do velho bêbado.

— Vocês invadiram minha propriedade, vou chamar a polícia, e esse cavalo voltará para o lugar dele.

Seguro com firmeza sua camisa puída evitando que ele avance para cima dela.

— Chame, vai me poupar o trabalho de chutar sua bunda até lá.

O velho para por um instante de se debater em meus braços e assim consigo arrastá-lo para fora do caminho, deixando que Dandara entre com o animal no trailer.

Mathias enfia todas as coisas de volta na caminhonete, embarcando e dando partida no motor.

— Quando ele ligar para a polícia, ele que terá que se explicar. — digo animado, feliz por ter salvo aquele cavalo.

Dandara tira os olhos do vidro traseiro, voltando seu rosto para mim. — Ele não vai ligar, mal lembrará o que houve. Ele iria deixar o cavalo morrer de fome. — ela volta seu olhar para trás, vigiando o trailer.

Mathias faz o melhor que pode, mas a estrada de terra fica esburacada na chuva forte, e se antes a visibilidade já estava dificil, agora está muito pior. Os relinchos do animal preso no trailer são ouvidos de dentro do carro, imagino o quanto ele não esteja apavorado.

O carro balança de um lado para o outro, me fazendo segurar a respiração por alguns segundos.

— Ele vai se acalmar quando sairmos desse pedaço de estrada. — Mathias diz.

O carro balança mais forte na curva.

— Pare, Mathias. Eu vou com ele.

— Ficou maluca? Ele pode te machucar, está muito nervoso.

— Se eu não for com ele, vamos acabar capotando. — diz.

Mathias encara Dandara pelo espelho retrovisor, considerando o que diz.

— Ficou maluco? Ela vai se machucar! — retruco quando ele para no meio do nada, destravando as portas.

— Sei o que estou fazendo — ela resmunga.

Dandara desce e esperamos. Olho pelo vidro de trás esperando algum sinal...

— Podem ir — grita batendo na lataria do trailer.

Quando chegamos ao Haras, me senti como se tivesse nadando, nem mesmo minhas bolas estavam secas na cueca. Mathias dá a volta no carro pegando a corda e guiando o cavalo para o estábulo. E antes que Dandara saísse, indo para longe, eu a segurei.

— Desculpa.

Passo a mão pelo cabelo molhado tirando um pouco d’água dos olhos. Por que ela me deixa assim?

— Não quis magoá-la com a história de hoje cedo. Estou fazendo o melhor que posso.

— Então precisa fazer mais do que isso.

Ela se solta de minha mão correndo em direção aos estábulos, corro atrás dela, mesmo quase caindo quando meu pé afunda em uma poça d’água, alcanço seu braço e puxo-a para mim, fazendo com que pare.

Droga! Descobri que estou enlaçado até a alma por essa caipira!

Dandara fecha a expressão mostrando seu melhor olhar de ódio tentando se livrar de mim novamente. Fico em sua frente e mesmo com a chuva em seu rosto, consigo perceber que os seus olhos estão cansados, a adrenalina tinha decaído de seu corpo e eles lacrimejavam. Ela tenta se soltar novamente de mim. — Por que você não vai embora, Miguel? — pergunta com o rosto perto do meu.

Meu pênis lateja dentro da calça. Essa mulher me deixa louco!

— Eu não desisto, esquentadinha. Já devia ter entendido isso.

— Pelo menos temos alguma coisa em comum — ela retruca. — Odeio você, brucutu!

— Não, não odeia.

Ela para surpresa com minha declaração. Estar tão perto dela, sentir aquele corpo colado no meu, desperta meu desejo.

Ignorando tudo, eu só tinha uma coisa em mente: tê-la a todo custo.

Avanço sobre ela, seu corpo inteiro estremece, quando a beijo, ela abre a boca para receber minha língua, sua boca é carnuda e quente, ela para de tentar lutar contra aquele fogo que move nossos corpos. Aperto Dandara contra meu corpo, e sinto suas mãos enlaçarem o meu pescoço. Ela me puxa, em resposta eu invado seus lábios, tomando sua boca com minha língua. Levo a mão até seus seios e ela geme com meu toque.

— Quero você, esquentadinha.

— Por que está fazendo isso comigo? — ela resmunga quando minha boca desce por seu pescoço.

— Shiuu, — mordisco sua pele, descendo a boca por seus seios, lambendo o pequeno decote de sua blusa.

A chuva cai sobre nós, mas não é frio que nos faz tremer, é o calor que sinto por essa mulher que só aumenta.

— Quer que eu pare agora?

— Eu odeio você — sussurra, puxando minha mão, nos fazendo correr pelo Haras, entrando no velho celeiro abandonado.

Existem furos entre as madeiras fazendo a chuva cair em nós, Dandara empurra meu corpo contra uma viga de madeira, colocando as mãos por debaixo de minha camiseta encharcada. Meu corpo treme com o calor do toque, fiz o que desejava desde que pisei para fora da cama, abro botão por botão de sua camisa, deixando tudo totalmente livre para que chegasse aos seus seios, luto um pouco contra o fecho do sutiã, fazendo-a rir e tomar a missão de minhas mãos.

Dandara joga a cabeça para trás gemendo cada vez mais com as carícias que eu faço em seus mamilos enrijecidos. Lambo sua nuca, distribuindo beijos sobre sua pele. — Quero você, Dandara, tem que ser aqui, agora. — digo roçando meu quadril em sua cintura.

Solto o botão de sua calça enganchando meus dedos direto nas laterais de sua calcinha, abaixando as peças até o chão, passando por seus pés. Abro suas pernas, deixando seu sexo exposto para mim. Dandara fez o mesmo por mim, tirando minha camisa e indo até minha calça. Ela baixa minhas roupas alcançando meu pênis. Gemo como um animal no cio.

Ela se ajoelha, sem emitir uma palavra, segura meu membro totalmente ereto. A boca da esquentadinha me toma quase por inteiro, sinto o vaivém dos seus lábios me fazendo perder o equilíbrio Encostando no pilar, olhando para seu rosto.

Ela segura a base do meu pau com uma das mãos, enquanto contorna o restante com seus lábios lindos e quentes. Eu a desejo tanto a ponto de gozar. Levanto Dandara de forma abrupta.

Agarro aquela massa de fios longos e loiros, fazendo o calor que consumia meus sentidos aumentar. O corpo de Dandara colado no meu, lábios entreabertos e desejo nos olhos.

— Não negue, você adora isso, seja o que for que esteja acontecendo aqui, você adora.

Mantenho seu cabelo seguro na nuca com uma das mãos, a outra passando por seu corpo nu em volta de sua cintura, deixo meus dedos escorregarem dentro dela, afastando os lábios de sua boceta, apertando o clítoris úmido de tesão. Empurro seu corpo contra a parede, encaixando uma de suas pernas em meu ombro ao agachar, deixando sua intimidade totalmente exposta para mim, como um belo cartão de boas-vindas. Meto a língua de forma faminta, o corpo de Dandara estremece, seus dedos agarram meu cabelo de maneira ferroz.

Devoro seu corpo com vontade, minha saliva misturando com a lubrificação salgada, Dandara tinha gosto de mulher excitada, do tipo que atraí os pobres homens de longe.

Tiro sua perna de meu ombro, erguendo-me, viro-a de costas para encaixar meu pau em sua entrada, deslizo um pouco mais, ela é deliciosa! Antes de chegar ao fundo, Dandara rebola contra meu corpo, fazendo meu membro remexer dentro dela, ela rebola e eu começo aumentar o ritmo dos meus movimentos. Entro e saio dela com facilidade, como se seu corpo reconhecesse o meu.

Abro mais as pernas dela, impulsionando o quadril contra ela, seguro seu cabelo, puxando-o de forma bruta para trás, gostando de sentir seu rosto perto do meu. Mordo e dou chupões fortes em sua pele. Meto com intensidade, gostando do barulho de penetração molhada que chegava até meus ouvidos, meu pau inchado e duro doía procurando alívio, exigindo por isso.

Sinto que ela convulciona em minhas mãos, sussurro em seu ouvido o quando me enchia de tesão, o quanto seu corpo recebia o meu de maneira tão delicioso e o quanto ela era gostosa. Dandara se empinou ainda mais, apertando meu pau com suas contrações involuntárias, arrancando o ar de meus pulmões.

Continuo metendo, lambendo seu corpo, apertando sua cintura ou puxando seu cabelo. Eram sensações diversas que tomavam meu corpo. Dandara gritou, seu corpo estremecendo de verdade, perdendo o controle, deixo que ela goze, segurando ao máximo, travando minha própria libertação, ela ficou mole em meus braços enquanto me retiro de dentro dela, masturbando meu pau para gozar, esporrando como um maluco, só de pensar na entrega absurda e delirante que tinha acabado de acontecer ali.


Ela passa minha camisa rindo — É a única forma de você se limpar.

Diabinha!

— Miguel...

Selo seus lábios com os meus evitando que ela fale algo que possa estragar esse momento. — Amanhã pensamos sobre as coisas chatas.

Não tinha a menor chance de discutir com ela agora, o que eu mais queria naquele momento era deitá-la naquele feno velho e começar tudo de novo.


CAPÍTULO 23


Dandara

Abro os olhos sentindo o calor da pele de Miguel contra minha bochecha. Fico deitada quieta, ainda tentando entender o que estou sentindo por ele. Passei metade da noite refletindo sobre tudo que vivemos. Fico confusa pelas sensações que o beijo, o toque dele, me fazem sentir.

Será que eu conseguirei realmente fazer Miguel ver o Haras com outros olhos, além de um pedaço de terra lucrável? Fazê-lo sentir sem me envolver, ou eu já estava envolvida demais? Desisto de ficar deitada com milhões de pensamentos cruzando meu cérebro, saio da cama evitando acordá-lo.

Depois de tomar um banho, me troco em silêncio, descendo para para tomar café, não sem antes dar uma olhada em direção à cama, vendo Miguel dormindo nu, coberto apenas por um pedaço do lençol.

— Bom dia — cumprimento sentando na cadeira vazia, o cheiro de café e bolo de fubá fazem meu estômago roncar de fome.

— Bom dia, menina. — Maria me cumprimenta enchendo minha caneca de café puro. — Mathias estava nos contando sobre o animal.

— Falando nele, como está, Mathias? — pergunto devorando um pedaço do bolo.

— Está bem, Santiago passou a noite cuidando dele. Mesmo com muitos machucados, ele disse que logo estará bem.

— Que bom ouvir isso. — pego dois pedaços de bolo colocando no meu prato enquanto dou uma golada no café. Paro com a xícara ainda contra a boca vendo os olhares deles.

— Está faminta, moleca — Maria diz.

Dou de ombros, como se fosse algo normal.

— Tem bicho uivando no terreno de novo, uma desgrama isso, né? — Mathias provoca sorrindo.

Dou uma olhada feia, fazendo com que ele ria ainda mais, atiçando a curiosidade de Maria.

— O que vocês estão rindo?

Paro com a xícara à caminho da boca ao ouvir a voz de Miguel.

Ele puxa uma cadeira ao meu lado, me lançando um olhar malicioso. Miguel faz questão de jogar o corpo para cima de mim ao pegar um pedaço de bolo.

— Dormiu bem? — pergunta, seu olhar malicioso me fez sorrir. O desgraçado sabia que tinha mexido comigo!

— Sim e você? Parece cansado — desafio entre um gole e outro do café.

— Um pouco, mas no fim consegui o que queria.

Bento entra na cozinha sacudindo o casaco. — Hoje o dia está de lascar.

— Teremos pouco movimento então. — digo.

— Mathias eu quero falar com você sobre o Haras — Bento diz.

— Aconteceu algo? — questiono.

— Aquele problema qual contei procê , menina. Temos que rever a segurança dos animais, ontem tinha algum tipo de animal esganiçado no meio do mato.

Miguel engasga com o café fazendo todos encará-lo. Dou um pisão em seu pé, esmagando seus dedos.

— O antigo celeiro estava aberto e tudo revirado, ou tivemos um casal se engalfinhando ou tinha algum animal ferido procurando por abrigo. — Bento comenta.

— Vou ficar de olho nisso. — Mathias diz. — É perigoso mesmo, mesmo que eu acredite que possa ser um casal festeiro, — ele me encarou erguendo a sobrancelha — melhor trancarmos o celeiro dos desavisados.

— Que milagre é esse eu ver tua cabeça pelada? — Bento se vira para mim.

Sorrio.

— Perdi meu chapéu ontem quando o cavalo ficou muito agitado. Logo compro outro. — me levanto terminando meu café, aquelas trocas de olhares já foram o suficiente para mim.

— E eu... — Miguel enfiou na boca o último pedaço de bolo — vou dar uma volta pelo Haras.

Vou até a entrada enfiando meus braços no casaco que estava no mancebo, assim como as luvas de couro.

— O que faremos?

Desvio o corpo encarando a porta da cozinha, Maria, Bento e Mathias estavam entretidos em uma conversa. Não sei se estavam totalmente focados ou apenas se fazendo de surdos para escutar nossa conversa.

— Dá para ser mais discreto? Eu vou conferir o cavalo que chegou ontem, e depois se quiser podemos cavalgar juntos.

Ele inclina a cabeça e inspira, sentindo meu perfume. — Adorei a ideia.

Maldito brucutu gostoso!

— Seja discreto.

Ele respira mais fundo e mordisca meu pescoço. — Por que não aceita logo minha oferta, esquentadinha, colocamos um fim nesse joguinho e podemos ver o que rola.

— Isso vai acabar mal — digo com a voz rouca. Era só questão de tempo, mas, dessa vez a culpa foi minha. Olhar para a boca de Miguel tão próxima à minha, eu queria aquele beijo, então peguei.

Meu coração martelava no peito com a sensação de poder ser pega, meu corpo e cada fio de cabelo gritava em minha mente: Brucutu!


Santiago tinha levado o cavalo para o redondel, mas ele estava tão arredio que poderia machucar ele e o ajudante que tentava segurar a rédea, ele empinava evitando qualquer tipo de aproximação.

— Vou ter que aplicar a injeção, ele vai ficar pior desse jeito.

— Espere. — digo subindo nas travas do redondel.

— Ele está muito arredio, pode machucar alguém ou até mesmo ele.

— Acho bom manter distância. — o ajudante de Santiago diz para Miguel.

— O que esse cavalo tem? Ele deveria estar grato por termos salvado ele ontem — escuto Miguel retrucar.

— Isso é o que ela pode descobrir. — Santiago comenta.

Ele corre pelo redondel dando coices nas paredes, respiro fundo pulando para dentro, parando no meio do cerco. Cada passo que dou em sua direção faz com que ele trote, evitando minha aproximação. Ele vem para cima de mim, parando perto, é a forma de dizer que me culpa, que culpa todos nós pelo que ele passou.

— Acho bom parar com isso, não tenho culpa do que ele fez com você, eu estava te salvando. — grito para ele.

Ele se arma novamente, erguendo-se nas patas traseiras, se fosse outra pessoa, com a proximidade que estávamos ele poderia fazer um estrago. Mas não me intimido, sei que ele não vai me machucar, quer apenas me amedrontar, quer me ensinar seus limites.

— Dandara, se afaste! — Santiago alerta.

Fico em silêncio encarando o cavalo.

Ele abaixa as patas, colocando a cabeça no meu ombro.

— Muito bem rapaz, isso mesmo, com calma. — retiro um petisco do bolso dando para ele. — Você vai se chamar Chuvisco.

— Ela conseguiu — escuto Miguel dizer.

— Deixa ele descansar, uma boa dose de ração e ele ficará bem. — Digo para Santiago. — Quando estiver curado começo a doma.

Vejo o ajudante dele receoso por chegar mais perto do cavalo.

— Ele não vai te atacar, é só não machucá-lo.

Ele confirma com um gesto, abrindo a porta para que Chuvisco passasse.


Trovoada está agitado em sua baia, ele sente falta quando não passeamos pela manhã.

— Estava esperando por isso, né? — pergunto enquanto acaricio sua crina. — Pronto para montar?

— Se você cavalgar como fez ontem comigo, acho que terei uma excelente manhã!

— Você não presta! — empurro seu peito, rindo — Pegue aquela rédea, Trovoada prefere montaria no pelo.

— Sem nenhuma proteção?

— Ele não vai te derrubar.

Monto Trovoada com Miguel, ele aperta meu quadril contra ele, seguimos pelo trieiro, eu aprecio o clima de pós-chuva. Atravesso o pequeno riacho rindo com Miguel apertando minha cintura com medo de cair do cavalo.

Desde que ele havia chegado no Haras estávamos em pé de guerra, como após uma chuva tudo mudou de maneira tão repentina? Credo! Isso era coisa da minha cabeça. Isso sim. Eu tinha que me focar em coisas mais importantes.

Paro perto das pedras, desço segurando as rédeas para que Miguel desça.

Dou um tapinha no dorso de Trovoada deixando-o cavalgar livre por aí.

— Ele vai voltar? — pergunta olhando para Trovoada trotando para longe.

— Sim, ele ama andar livre, todas as manhãs sento por aqui e ele fica cavalgando pelo campo.

Assim que termino de falar, aponto para a cachoeira à nossa frente. Os raios de sol refletem na água cristalina.

— Aqui é lindo.

Dou um sorrisinho de “eu sei”. Estávamos perto do morro, subindo daria para ter uma visão completa do Haras.

Estávamos em um silêncio confortável, Miguel brinca com a água com a ponta dos dedos, parece com o pensamento distante. Ele sai vindo ao meu encontro, um sorriso nos lábios, suas mãos vão de encontro à minha cintura, colando nossos corpos no meio da relva, aproximo meu rosto do seu, ele roça seu nariz no meu, minha respiração acelera. Sem conseguir conter, mordo o lábio inferior de leve e nos beijamos novamente.

Não tinha como me esquivar de algo tão forte.

— Miguel...

— Não, pare, não acabe com isso. — ele diz entre os beijos.

Sua língua explora minha boca como se eu pudesse desaparecer dali em um estalar de dedos, ele me beija como se isso pudesse me dizer algo. Havia entrega ali, em ambos, seus lábios descem por meu corpo, sua mão subindo minha blusa, fazendo meu corpo se arrepiar ao sentir a relva úmida tocar minha pele. Sua mão toca minha barriga, raspando as pontas dos dedos em meu seio, seu rosto esfrega a barba cerrada em minha pele, os pelos roçando contra minha barriga.

— É melhor voltarmos.

Miguel suspira de maneira audível. — Por que tem que estragar esse momento?

— Tenho coisas a fazer, um Haras sempre tem o que fazer.

Miguel não tenta me fazer mudar de ideia. Montamos em Trovoada para voltar, o silêncio nos acompanha até o Haras, assim que chegamos perto do estábulo Miguel pula do cavalo e quando me viro para falar com ele após colocar Trovoada na baia, ele não está mais ali.


CONTINUA

CAPÍTULO 16


Dandara

Uma semana, esse era o tempo que Miguel não dirigia a palavra a mim e muito menos eu iria procurá-lo. O silêncio pela casa era mais que bem-vindo!

Mathias, Maria e eu bebíamos nosso café puro quando ele apareceu na cozinha, a manhã estava fria, por isso adiei o passeio com Trovoada pelo campo para quando o tempo ruim desse uma trégua.

Enfio na boca o último pedaço de queijo branco de meu prato, tomando o resto do café.

— Maria, Mathias, bom dia — cumprimenta indo em direção a geladeira.

— Porra! Quem comeu meu queijo? — ele pragueja com a fuça enfiada entre as prateleiras da geladeira, fazendo Maria me olhar prepcupada e Mathias segurando o riso enquanto bebe seu café. Tudo que faço é dar de ombros, chupando as pontas dos dedos, nem um pouco arrependida. — Sumiu metade dele, e tenho certeza que ontem ele estava inteiro! — Miguel acrescenta fechando a coitada da geladeira com um baque.

— Olha só, era seu? Desculpe, eu comi — respondo na maior cara de pau.

Miguel me encara como uma carranca. — Mathias, preciso de um cavalo, estou querendo dar uma volta hoje!

— Tudo bem, posso preparar um cavalo para o senhor. — Mathias troca um olhar comigo.

— Acho que Bruto ainda está espirituoso como sempre. — digo. — Se quiser ter o traseiro jogado longe pode ir com ele.

Miguel me dá um olhar furioso. — É para agora, Mathias! — retruca saindo da cozinha.

Mathias se levanta, toma o último gole do café, — Dandara, está fazendo a vida desse homi um inferno. O coitado deve ta contando os dia para sumir por essa estrada à fora. — diz colocando o chapéu na cabeça.

— É bom mesmo que esteja. Tem sorte de eu ainda não ter cuspido no seu café — comento.

— Sei que odeia que metemos os bedelhos em coisa sua, mas os empregados estão receosos, os homi querem saber como vai ficar as coisas. Seu Miguel não veio aqui para deixar as coisas como estão, ele vai por tudo a baixo. — Mathias fala com cautela.

— Mathias, algum dia faltei com vocês? — questiono de maneira rude. Ele balança a cabeça de maneira negativa. — E isso não irá acontecer hoje. Avise seus homens que os empregos estão garantidos, nem que eu mesma banque os serviços deles.

— Pode deixar, Danda, desculpe a intromição.

— Mathias, somos família. Eu não vou falhar com vocês. — digo por fim.

Ele confirma, esboçando um sorriso em minha direção. — Santiago pediu para avisar que as vacinas chegam hoje.

— Estou ciente, assim que chegarem irei aplicar em todos. Não quero nenhum caso como a Archeron.

— Menina, a morte daquela égua não é culpa sua. — Maria diz.

— Eita , não quero prozear sobre isso, tenho trabalho me aguardando. — digo pondo meu chapéu na cabeça, seguindo para fora.


Sento debaixo de uma árvore olhando a cena. Miguel poderia tentar resgatar na mente os tempos de moleque, ele poderia até não ter nenhuma intimidade com os animais, mas pelo menos quando criança ainda conseguia montar um cavalo sem que ele tentasse morder sua coxa.

O Miguel da infância não está em nada parecido com o de agora, e não só pelo fato de ter emagrecido e ficado mais bonito, mas parece que Miguel tem ódio desse tipo de vida. Desde que chegou, olha tudo de cima, com cara de esnobe. Ele não tem vínculo com essa terra, ele não sente a importância que eu sinto quando vejo o sol raiando no horizonte, seus raios fortes iluminando essas terras.

Ele seguiu o caminho da cidade grande e eu o caminho dos bichos.

Mathias tenta ensiná-lo, mas ele parece muito com um cavalo xucro, surdo. Depois não quer ser chamado de mula. Levanto, limpando a parte traseira da calça com um espanar de mãos, me aproximando dos dois. — Mathias, vai conferir as coisas, deixa que eu cuido do brucutu.

— Não pedi sua ajuda. — Homi, mas mal agradecido!

— Não estou fazendo por você, e sim pelo cavalo, que não tem culpa do asno sentado em cima dele. — Miguel abre a boca para retrucar, mas mostro o dedo em riste — Você tem que aprender a ouvir, se segurar com força a sela, o cavalo vai entender que quer impor sua vontade e não vai deixar você cinco segundos sentado no lombo dele. Os cavalos farejam seus sentimentos de longe, ele sente quando você tem medo, raiva ou está confortável. Deixe a rédea frouxa.

— Você acha que eu desaprendi tudo que meu tio ensinou? — desafia.

— Acredito que sim, já que te salvei de vários tombos, se bem me lembro.

Ele me fulmina com o olhar. — Então vamos ver, esquentadinha. Pegue aquele cavalo mutante que você tem e vamos cavalgar por aí.

— Cavalo mutante?

— Você tem noção que ele é o dobro de um cavalo normal?

— Para sua informação a raça dele é Percheron. Ele é um ótimo reprodutor, por ser grande e forte nos dá potros com habilidades especiais para o campo. — Dou risada, vendo seus olhos se arregalarem quando o cavalo marcha para trás. — Tire os pés do estribo e, vá para trás.

Subo no cavalo com a destreza de sempre, ocupando seu lugar na cela. Eu conhecia os cavalos como a palma da minha mão aqui no Haras, por isso não tinha problemas com nenhum deles e sabia quando um deles queria fazer uma gracinha como nosso companheiro aqui.

Bato o pé no espaço entre a barriga e as patas traseiras, para que ele saia.

— Se você está pensando que vai ficar se esfregando em minha bunda, eu te jogo para fora do cavalo! Contenha suas mãos!

— Calma mulher estressada.

Tiro o chicote da bota acertando na bunda do cavalo e o animal sai em galope, soltando um relincho alto. Seguro o riso vendo que Miguel ficar tenso. — Gostando, brucutu? — Ele não responde.

Forço o cavalo ir mais além, sentindo a adrenalina do galope correr pelas minhas veias, sinto as mãos de Miguel segurarem minha cintura e o arrepio disso eriçar os pêlos de meu braço.

Cavalgamos um pouco pelo Haras indo até o campo aberto onde fico com Trovoada e voltamos para o Haras, parando no estábulo.

Desço do cavalo, colocando as mãos na cintura. — Gostou do passeio?

— Você queria se exibir.

— Não preciso me exibir para você. Já é um milagre que você tenha ficado em cima do cavalo enquanto estávamos cavalgando.

— Olha aqui, você se acha incrível, acreditou mesmo que eu precisava de você?

Gargalho com irônia. — Você não sabe nem ao menos como se monta num cavalo. É uma sorte que saiba onde fica o rabo e a cabeça.

— Você é mesmo muito...

— Muito?

Miguel se inclina, ficando mais perto de mim, quando seu rosto praticamente cola no meu, pude sentir sua respiração. O perfume exalava, eu tinha começado a odiar esse cheiro, cheiro que me tirou o sono nas últimas noites, mas senti-lo tão perto me embriagava. Antes que eu pudesse raciocinar, os lábios de Miguel grudaram nos meus. Os braços fortes rodeando minha cintura.

— Sua esquentadinha, está tentando o quê? — Parecia que ele estava falando mais consigo mesmo do que algo para mim.

Sua língua voltou a lamber o canto de minha boca, seus dedos apertando minha cintura, uma de suas mãos subiu por minha espinha.

Acaricio sua coxa, bem perto de seu membro.

— Vamos sair daqui — sussurra como um pedido. Suas mãos apertando minha bunda, passeando por todo meu corpo, da cintura até o pescoço. Ele beija minha boca com ferocidade, empurro seu peito sentindo os músculos firmes contra a palma de minhas mãos, descolando seu corpo do meu, vendo a malícia nos olhos de Miguel. — Por que parou? — pergunta.

Respiro fundo ainda olhando para ele, controlando a maluquice da qual acabo de me curvar...então, tenho uma ideia. — Espere um minuto, o Haras ainda está movimentado, vou checar se ninguém está por perto e trancar a porta. — digo de um jeito safado, bem parecido com o que Cindy fazia sempre que conhecia um homem de fora.

Ele passa a mão sobre o pênis por cima da calça, animado. Vou até lá fora, vendo que realmente não tinha ninguém por perto, puxo uma das portas travando-a no chão e repito o mesmo processo com a outra, mas antes de fechar e entrar como falei que faria, dou um tchauzinho para ele, fazendo seu sorriso desaparecer. Percebendo o que estava prestes a fazer.

— Agora sim você está no seu devido lugar, uma pena que não tenhamos nenhum curral para você nadar com seus amigos...porcos! — digo rapidamente.

Miguel corre ao meu encontro, mas antes que ele me alcance, fecho a porta passando a tranca.

— Dandara, abre isso daqui! — seus gritos se misturavam com os relinchos dos cavalos incomodados dentro do estábulo. — Dandara, sua caipira maldita!

— Desculpe, brucutu. Aproveite seu tempinho com os cavalos e limpe as baias deles, Deus sabe como temos quilos e quilos de esterco por dia. Qualquer coisa tem feno e água se sentir fome. Isso deve bastar para você.

Ele bate na porta, fazendo-a tremer, gritando pelo meu nome. Urrando de raiva por ter caido feito patinho em minha arrapuca.

Cruzo com Bento no caminho de volta ao casarão, girando as chaves do estábulo entre os dedos e rindo feito uma maluca.

— Gosto de vê-la animada, mas está com cara de quem aprontou.

— Que é isso, Bento! — me finjo de inocente.

Ele bate na aba do chapéu, não acreditando nem um pouco no que eu estava dizendo. — Mathias está com os cavalos, quase todos foram vacinados, ele ficou esperando ocê aparecer, mas preferiu dar logo. Ficou fartando apenas o último estábulo. — comenta indicando o estábulo que tranquei Miguel.

— Diga que farei aquele estábulo, estou dando um castigo em um cavalo xucro. Ignore os resmungos, o cavalo está dando coice em todas as paredes, já vi cavalo dificil, mas esse...logo domo também — digo colocando um enorme sorriso no rosto.

Bento olha ao nosso redor, como se procurasse alguém e eu sei quem está procurando.

— Dandara, Dandara...

— Fique calmo, por que não vamos tomar um café, quem sabe Maria fez aquele pão doce que tanto amo? — pergunto enlaçando meu braço no seu, levando-o para longe do estábulo onde Miguel estava, acredito eu, urrando de raiva pelo tremor que a porta fazia.


CAPÍTULO 17


Miguel

— Sua caipira insolente! Como eu sou burro!

Eu esmurro a porta que nem um doido, gritando tanto que sinto minha voz falhar e ninguém aparece por ali. Viro olhando para os cavalos que relicham, só me faltava esses bichos me atacarem.

— Abre a porta! — grito de novo. Ando pelo estábulo procurando uma outra saída, lembrando de suas palavras “Aproveite e limpe as baias” , que filha da mãe! Até parece que eu iria sujar minhas mãos limpando merda de cavalo.

O cavalo no qual demos uma volta antes dela me trancar aqui chega perto, me fazendo pular de susto. Ele se sacode, sua crina bate de um lado para outro e solta um pequeno relincho.

— É, aquela ali não presta!

Cômico! Agora eu estava conversando com um cavalo como se ele pudesse me entender. Eu torceria o pescoço de Dandara assim que me livrasse dali.


Não tinha noção de quanto tempo tinha se passado, sei que estava de saco cheio de ficar ali.

— Noite, brucutu. Como foi seu dia?

Fico de pé chegando perto da porta, eu mataria essa mulher! — Pare com essa brincadeira de mau gosto, me tira daqui!

— Pelo visto continua grosseiro e sem educação. Espero que não esteja maltratando meus animais, por que se estiver, não vai ficar apenas dois dias trancado aí.

Meu sangue ferve nas veias. — Dandara, estou te avisando, quando eu sair daqui...

— Chega de ameaças em vão, vou te tirar daí quando aprender sua lição.

Esmurro novamente a porta, escutando seu risinho e seus passos se afastarem, — Dandara, estou com fome!

— Coma feno, brucutu!

Os cavalos mal se importavam por estar ali com eles, nos primeiros minutos e até primeira hora eles ficavam espiando ou fungando em minha direção. Agora? Muitos nem ao menos me encaravam, olho novamente para o cavalo solto perto de mim, ele abocanhou um punhado de feno mastigando e quando repetiu o gesto despejou um pouco em minhas pernas, como se dissesse que era bom.

— Tá de brincadeira você também!

Empino o nariz, olhando na direção contrária. Mas volto a encará-lo quando ele vem para cima de mim despejando mais feno em minhas pernas, seu focinho se torce inteiro enquanto mastiga.

— Ei amigão, pode ser bom para você, mas isso daí é mato. E alguém já te ensinou a dar espaço as pessoas?

O cavalo relincha, dando as costas para mim, batendo seu rabo bem no meio do meu rosto. Me fazendo xingá-lo. Como se estar preso junto aos cavalos não fosse o suficiente, ou do fato de estar com frio também não fosse, ainda tinham os mosquitos que faziam seu banquete atacando minhas veias.

Minha barriga roncando, meu corpo coçando e eu fedendo a estrume de cavalo.


Os raios de sol atingindo meu rosto me fizeram apertar os olhos tentando ver quem estava entrando, se fosse Dandara eu daria uma palmadas em sua bunda.

— Miguel? — Mathias perguntou surpreso, tentando entender tudo que estava acontecendo, olhando para a bagunça que tinha feito nos blocos de feno ao tentar arrumar um jeito para dormir. — O que você está fazendo aqui?

— Pergunte para aquela caipira filha da mãe — digo bravo, ficando de pé, sentindo as costas reclamar pelo movimento brusco.

Ele dá uma gargalhada. Mas se adianta a falar: — Desculpe, Seu Miguel.

Meu corpo chia de dor a cada maldito movimento, preciso de um banho quente, comida e boas horas de sono. Quando me recuperar ela vai ver, eu vou colocar essa caipira em seu lugar!

Estou com esse pensamento até ver Dandara caminhando sorridente em direção ao casarão.

— Ah, sua potranca mal educada! É bom correr. — ameaço gritando.

As pessoas que estão perto de mim me olham assustadas, e devem mesmo, porque meu rosto não deve estar nada amigável. Dandara se vira, o sorriso sumindo do rosto ao me encarar e então ela corre, empurra Santiago para longe e corre como uma moleca travessa sendo pega na artimanha, entra correndo no casarão.

Corro tão rápido que logo estou fazendo a porta de madeira branca bater contra a parede e escuto Maria falando alto na cozinha:

— Menina, o que houve? Tá tentando tirar o pai da forca?

— Dandara! — grito novamente.

Entro na cozinha vendo-a atrás de Maria, como se eu tivesse receio de ir lá lhe dar umas boas palmadas!

— Pare de correr, será pior quando eu te pegar! — ameaço.

— Ei, não quero bagunça na minha cozinha! Dandara o que você aprontou com o homi ? — Maria bate com a colher de pau na bunda de Dandara que agora tenta se esquivar de mim e de Maria.

— Vai fazer o quê? Me bater? Agora bate em mulheres? Quero ver encostar a mão em mim!

— Não, nunca encostei em uma mulher, mas dizem que para tudo tem uma primeira vez. E minha mão está coçando — grito.

Dou a volta na mesa, Dandara corre para o outro lado, fazendo o banco cair e eu tropeçar ao tentar pulá-lo, caindo de quatro no meio da cozinha. Sua gargalhada alta, faz minha raiva ferver mais que panela de pressão no fogo. — Ria enquanto pode.

— Alguém pode parar esses dois? Eles irão destruir a casa! — Maria grita empunhando sua colher de madeira. — Estão parecendo duas crianças!

— Desculpe Maria, mas não vou me meter — escuto a voz de Mathias enquanto corro atrás de Dandara que vai para a sala. — Dandara prendeu o homi no estábulo, peguei ele dormindo de concha com os cavalos.

Maria me encara, a mão na boca tentando segurar o riso.

— Vai, pode rir. Quero ver se aquela filha da mãe vai continuar rindo da minha cara quando eu a pegar — bufo, com os olhos em Dandara.

Ela faz um movimento errado diminuindo nossa distância, pulo sobre o sofá, meus braços envolvem sua cintura, tirando seus pés do chão. Não penso duas vezes, jogo seu corpo em meu ombro, dando um tabefe em sua bunda.

— Me solta! — Dandara grita.

Ela bate em minhas costas, os socos doem, não é que a Diaba tinha uma força bruta?

— Como foi sua noite? A minha foi maravilhosa, tá sentindo meu cheiro? Quer ver a quantidade de picadas que tenho espalhadas pelo corpo? Acho que tenho feno até em parte que desconheço!

Dou mais alguns tabefes em sua bunda que a fazem gritar. Eu estava puto por ela ter me deixado ao relento no meio dos bichos. E ficando com tesão, isso mesmo, ter o corpo daquele Diaba tão perto, tão ao meu alcance. Seus seios roçando em minhas costas, estava fazendo meu pau ficar rigido como uma tora, maldita hora para uma ereção. Eu queria mesmo é vê-la de quatro enquanto castigava sua bunda por ter me deixado trancado junto dos cavalos, mas também saborear cada gemido que ela pudesse...

— Meu Deus, Seu Miguel, solte a menina! — Maria exclamou.

— Não antes de lhe dar uma lição! — digo.

— Seu Miguel, não me obrigue a usar a Betinha em ocês dois. — Maria alerta.

— Não estou brincando, brucutu! É bom me soltar! — Dandara urra em minhas costas.

Acerto um tapa mais forte, jogando seu corpo no sofá, prendendo seu corpo ali ao apoiar meu joelho de um lado e o braço ao lado de sua cabeça, vendo seus olhos se arregalarem por um pequeno instante, mas o suficiente para meu dar um gostinho doce na boca. — Você tem sorte que é mulher, mas eu poderia, como vingança, soltar aquele seu cavalo gigante que tanto ama... — digo de maneira perversa — Como você ficaria?

Dandara me empurra com força, ficando de pé. — Você nem pense em tocar no Trovoada, você me entendeu? — responde praticamente gritando.

— Seria excelente, quem sabe assim você aprende a respeitar as pessoas? — retruco segurando seu braço.

— Larga meu braço, Miguel!

— Você quer me enlouquecer, você vem, me atiça, me provoca...

— Você se aproveitou da situação! — retruca.

— Você não se faça de sonsa! — grudo seu corpo mais no meu — Adorou o que fiz com minha boca.

— Misericórdia! — o sussurro de Maria quase me tira o foco da diaba em minha frente.

— Eu odeio você, Miguel! — Dandara tinha ficado furiosa, mas confesso que não liguei para o que ela estava falando, só conseguia ver aqueles lábios se mexendo. Queria torcer seu pescoço, mas também queria fodê-la. Como essa mulher me tira do sério!

— Você quis tudo que aconteceu e tá querendo mais que eu sei.

Seguro um punhado de seu cabelo bem justo no pescoço roubando um beijo, mordo seu lábio nem me importando por ela reclamar ou tentar me empurrar. Dandara retribui meu beijo, até me afastar, empurrando meu peito, fazendo com que me desequilibrasse dando alguns passos para trás rindo.

Ela limpa a boca me olhando com raiva, cospe no chão e então corre escada acima.

— Minha mãe dizia que muito ódio vira amor. — Maria retruca.

Viro vendo que Mathias e Maria ainda assistiam nosso pequeno showzinho. — Dela quero distância — digo marchando para meu quarto.


CAPÍTULO 18


Dandara

Bato a porta fazendo as coisas estremecerem dentro do quarto. Maldito brucutu! Arranco minhas roupas jogando-as no cesto perto do banheiro, ligo o chuveiro bem quente, quente o suficiente para que ao tocar em minha pele pudesse queimar o toque daquele... Engulo os pensamentos raivosos que passam por minha mente esfregando meus braços, meu pescoço, qualquer lugar que ele tivesse encostado, na tentativa de tirar o cheiro dele. Ainda não conseguia acreditar na petulância daquele brucutu. Miguel realmente não tinha amor pela vida.

Confesso que deixá-lo ao relento não foi algo muito sensível de minha parte, mas ele mereceu e, vai merecer cada pisão em seu pé a partir de hoje.

Bater na minha bunda e me tascar um beijo na frente de todos? Quem ele pensa que sou? Enquanto terminava meu banho pensava em mil maneiras de me vingar, mas acabei descartando todas, eu é que não desceria ao nível infantil dele, minha melhor vingança seria chutar a bunda dele para fora do meu Haras quando tudo acabasse.

Visto um short e uma camiseta puída e chinelos, melhor me ocupar dando banho nos animais do que cruzando meu caminho com certas mulas por aí. Atravesso o Haras em silêncio evitando falar com qualquer um que cruze meu caminho.


Agradeço pelo trabalho parecer não ter fim e os músculos espalhados pelo meu corpo começarem a protestar do esforço feito, passar o tempo no meio dos cavalos me acalmava e me fazia esquecer por alguns instantes minha vontade assassina contra Miguel. Mas amanhã mesmo eu ligarei para o advogado, não dá para continuar assim, mais dia ou menos dia e eu mataria Miguel. Que ideia absurda de Pedro me colocar nessa enrascada.

Já era noite quando paro fecho a última baia. Trovoada relincha animado após o banho, sacudindo a cabeça e sua longa crina.

— Teve um dia melhor que o meu, né, bonitão?

Saio do estábulo trancando as portas, todos os funcionários já tinham ido embora, caminho observando a noite, as estrelas e a lua cheia brilhando forte no céu, o som dos grilos cantando no meio do pasto.

Entro no casarão, tiro o chapéu, deixando-o no mancebo de madeira. Tudo estava em completo silêncio, poucas luzes acesas indicando que até a Maria tinha se recolhido.

Passo pelo quarto do brucutu vendo a luz está acesa sair pela pequena fresta da porta, estava prestes a entrar em meu quarto quando escuto uma porta atrás de mim se abrindo.

— Esquentadinha!

Viro, vendo-o só de cueca box, o corpo todo amostra.

— Não dirija a palavra para mim!

— Eu disse hoje cedo que tinha contas a acertar, você acha que seu showzinho me botou medo? — questiona vindo em minha direção.

— Se colocar as mãos em mim é bom começar a rezar para sair com ela no lugar!

— Não tenho medo de suas ameaças vazias — retruca.

— Vazias serão as suas bolas quando eu chutar para longe. — ameaço

— Você acha que vai me enlouquecer? — pergunta vindo em minha direção — Acredita mesmo que vou cair nos seus truques?

— Truques? — Gargalho alto — Não sou eu que fico agarrando você para roubar beijos.

— Vai dizer que não gostou?

— Já percebi que gosta de brincar com fogo! — desafio — Cadê toda aquela falamansa que andou esbravejando por aí? Homi metido a machão, não consegue parar de encarar para minha boca enquanto eu falo. Tudo isso é desejo?

— Não me torno frouxo por ter você na minha mente, me torno se não conseguir tirar, — Miguel dá mais dois passos em minha direção — e isso eu sei como fazer.

— Você pensa que me leva fácil, né?

— Você gosta de mexer com os homens, “se sente” fazendo isso...

— Eu não sou de quem me quer, sou de quem eu quero ser, e faço porque posso. — respondo dando um sorrisinho.

Miguel puxa meu corpo para o seu, fechando a porta com o pé, sua boca mordendo a minha enquanto distribuo tapas sobre seus ombros, costas, todo lugar que minhas mãos alcançam. Mas seu beijo furioso vai desarmando meu corpo, principalmente quando solta minha boca beijando de leve e devagar meu pescoço, rindo contra minha pele que se arrepia com seu toque, acabando com qualquer defesa minha. Não tinha gentileza no toque, havia desejo e prazer, junto de uma pessoa que queria provar seu argumento.

As mãos de Miguel ergueram meu corpo, sua língua forçando minha boca a se abrir ainda mais. Eu meio que empurro, e volto a puxar seu corpo para o meu. Precisei inspirar profundamente algumas vezes quando sua boca tomou o pequeno vão entre meus seios, sua lingua quente tocando minha pele fazia meus mamilos endurecerem e meu corpo querer mais. Sentir a proeminência em sua cueca também não ajudou muito meus pensamentos entrarem num bom senso.

Não era correto eu me render ao seu toque, não quando tinha aberto minha matraca falando que não me entregaria numa bandeja para ele, mas que diacho! Mordo seu lábio inferior, empurrando seu corpo para longe, tentando controlar a respiração. — Chega!

— Por que parar agora? — questiona agarrando novamente minha cintura.

— Eu disse chega, Miguel!

Suas mãos continuaram apertando com firmeza minha nuca, seus olhos mostravam que não estava disposto a me deixar em paz, que não sairia de meu quarto com aquela decisão fraca com a qual eu tentava me agarrar.

— Chega nada, não para mim e com certeza não para você. Eu sinto seu corpo vibrando em minhas mãos, Dandara.

Não arrisco olhar para ele, com medo que ceda aos meus instintos. Ele segura meu braço, olhando no fundo de meus olhos.

— Eu quero você, Dandara!

— Você quer me passar para trás, quer ter motivo para fazer chacota, quer o Haras, não é porque fui criada no meio do mato que não conheço homens como você, Miguel!

— Cala um pouco a boca, esquentadinha!

Abro os lábios para retrucar, mas é tarde. Ele pega meus braços, me empurrando contra meu armário, meu corpo inteiro treme com o calor do toque, ele tira a barra de minha camiseta de dentro do short, traçando livremente pelo meu corpo até meu seio. Miguel me vira de costas, mordendo meu pescoço, o corpo colado no meu, e acaba abrindo meu sutiã. Segurando meus seios, massageando-os nas mãos, beliscando meus mamilos sedentos por atenção. Roço minha bunda contra seu membro rigído na cueca, fazendo com que ambos gemêssemos.

Miguel continua acariciando meu corpo, mordendo e chupando meu pescoço. — Quero você, aqui e agora. — ele arranca minha camisa pela cabeça, fazendo a mesma coisa com meu sutiã, chupando meus seios, sugando-os até que eu não pudesse conter mais meus gemidos de prazer. Meu sexo pulsa, até dolorosamente quando a pressão do prazer explode em certas áreas.

É errado continuar com isso? Puxá-lo par mim, desejando seu corpo, respiro profundamente tentando encontrar a raiva que me alimentava horas atrás, mas só encontro o desejo.

Miguel conduz nossos corpos para a cama, arrancando o resto de nossas roupas, assim como o preservativo escondido no cós da cueca, em um segundo estava entre minhas pernas, sua mão agarrando meu cabelo, sua boca mordendo meu queixo.

Segurando meus seios com as duas mãos, apertando e puxando os bicos, lambendo minha barriga, minha cintura, roçando a barba pela minha pele, deixando-a rosada e eriçada. Um gemido explodiu de mim quando sua língua encontrou meu clitóris, seguro firme o lençol querendo tremer com o que ele fazia em minha intimidade, sua boca não me dava misericórdia alguma, sua língua muito menos. Quando seu dedo me invadiu, minhas costas se curvaram e o gemido saiu mais alto, fazendo eu ganhar um tapa na bunda.

— Desculpa, esquentadinha, mas teremos tempo para fazer amor em outro momento, agora, eu quero que seja rápido, que queime esse fogo dentro de mim.

Miguel desenrola o preservativo em seu membro, nunca tirando pelo menos uma de suas mãos do meu corpo, seus dedos tocam meu sexo, me fazendo arfar. Chupo os dedos que me tocam, vendo Miguel mordiscar o lábio e sorrir. Seu pau encaixado em minha entrada, deslizando de maneira lenta, começo a rebolar, fazendo seu membro se remexer dentro de mim.

Enquanto eu rebolo, Miguel segura meus cabelos de forma bruta, aumentando o ritmo dos movimentos, entrando e saindo de dentro de mim, segurando minha cintura com a mão livre fazendo seu membro ir mais fundo, meu corpo treme e Miguel geme alto.

Estavamos nos devorando, caricias eram feitas pelo nossos corpos ondulando juntos, enquanto eu consumia cada gemido e estocada que Miguel produzia.

Aperto os lençóis entre os dedos, seguro seu pescoço com firmeza quando ele encaixa a boca sobre meu seio, montando em seu colo, sentando com força sobre ele, gostando do modo como ele geme e descola a boca de meu mamilo, jogando a cabeça para trás rendido.

— Puta que pariu, você é deliciosa! — diz baixinho contra meu pescoço.

As estocadas duras fazem meu corpo tremer, meus seios balançam com o ritmo forte do sexo que fazemos. Ele geme agarrado em minha cintura, forçando meu corpo para baixo, quebrando as últimas barreiras, me fazendo gozar. Miguel ainda mantém o ritmo por algumas estocadas até que goza, seu membro latejando dentro de mim, se misturando com nosso suor, os tremores do meu corpo e do seu e as batidas descompassadas dentro do meu peito.


Quando eu estou envolvida em seus braços

O mundo todo apenas desaparece

A única coisa que escuto é

o bater de seu coração.


Porque posso ouvir sua respiração

Está se derramando sobre mim

E de repente estou me desfazendo dentro de você

(Breathe, Faith Hill)


Arre égua , estou perdida...

Levanto com um sobressalto e empurro para longe o braço forte que rodeia meus seios, tentando soltar meu corpo. Parece que os braços dele tinham se tornado uma braçadeira de ferro, o jeito foi sair me rastejando pela cama como uma cobra, até que eu caísse de bunda no chão.

Pego uma muda de roupa e corro para o banheiro, tomo um banho rápido, não parando nem para secar o cabelo, apenas escovo e deixo solto pelas costas. Não é que eu não queira encarar a asneira que tinha feito noite passada, mas...bem, era isso mesmo, não queria dar de cara com Miguel, por isso levantei mais cedo que até o próprio sol e me esgueirei para fora do quarto com as botas nas mãos.

— Fugindo de alguém, menina?

Pulo tampando a boca para que meu grito de susto não faça eco pelo corredor escuro.

— Cristo pai, você quer me matar do coração, Bento? — questiono sentindo os batimentos acelerados contra o peito.

— Desculpe, mas estava saindo do quarto como quem escondia um cadáver, devo me preocupar? — pergunta encarando a porta que eu havia acabado de fechar.

— Deixe de besteira homem, só tive uma noite ruim.

Bento coça a cabeça com a bengala velha. — Arra, por falar em noite ruim, tinha algum animal sofrendo ontem, Maria e eu mal pegamos no sono, parou de sofrer era já tantas da madrugada.

Engulo em seco, será que tínhamos feito tanto barulho assim?

— Vou ficar de olho nos arredores, tenha um bom dia, Bento.

Escuto o riso baixo dele enquanto caminho pelo corredor. — Bom dia, menina.

O dia não tinha se levantado, mas mesmo assim entro no estábulo para conferir como estão os animais. Reponho água e feno, depois me dirijo á baia de Trovoada, ele vira a cabeça não querendo olhar para mim.

— Qual é, amigão, está bravo comigo?

Ele me encara, dando uma fungada balaçando a cabeça como se confirmasse.

— Que tal recompensar isso com com uma corrida?

Ele relincha ainda evitando me olhar, eu conheço o jogo dele, Trovoada é um menino mimado, e a culpa é toda minha.

— Tudo bem então, já que não quer mais minha companhia...

Ele relincha mais alto, levantando as patas da frente. Fazendos os outros cavalos reclamarem.

— Você é um garotão mimado! — brinco, pulando a portinhola da baia, subindo diretamente no pelo, me agarrando ao seu pescoço. — Vamos ver o sol nascer.


Ficar perto dos cavalos ou montar em Trovoada é como respirar, algo tão natural, acredito que eu aprendi a montar antes mesmo de andar.

Saímos em direção ao campo aberto, ganhando velocidade a cada passada, sentindo o vento frio da madrugada ir contra nós. Eu precisava limpar minha mente, precisava tirar Miguel e a noite de ontem da mente, precisava tirar essa distração total, ainda não sabia o que pensar sobre essa história de Miguel conseguir meu Haras, o que faria com as famílias e funcionários que dependiam dos seus empregos? O que faria com os cavalos? Para onde eu iria com Trovoada? Aqui sempre fora meu lar, foi meu lar quando minha mãe faleceu, foi meu lar quando meu pai morreu em um torneio de rodeio.

O Haras é meu santuário, minha casa, eu aprendi a escrever no lombo de um cavalo, fiz desenhos nas paredes do antigo celeiro, aquilo era meu refúgio...

Volto para o Haras depois de admirar o sol nascendo, em alguns dias começaria o outono e o frio ocuparia as noites, o que me fazia sair pelos campos ajudando os cavalos que podem se perder ou sofrer com as chuvas repentinas.

Vou até o escritório respirando fundo, ao sentar em minha cadeira, tiro o chapéu, deixando-o sobre a mesa.

— Entre — respondo à batida na porta.

— Dandara, bom dia.

— Daniel, estava mesmo esperando por você. Sente-se.

— Em que posso ajudá-la?

— Quero saber mais sobre o Haras, por que Pedro deixou o Haras com Miguel, ele conhecia o sobrinho, nunca teve interesse por nada, mal sabe a diferença entre a crina e o rabo dos cavalos. Porque deixar o Haras nas mãos dele? — solto tudo de uma vez, expondo minha irritação, minha indignação. — Você me conhece desde menina, Daniel, eu ensinei sua neta a montar, eu cuido desse Haras como se fosse meu filho. Deixei as competições para administrar tudo isso quando Pedro descobriu a doença, abdiquei minha carreira para dar minha vida ao sonho dele.

Sinto as lágrimas forrando a parte debaixo dos meus olhos.

— Quando ele desejou implantar o projeto fui eu quem o apoiou, eu que contratei os profissionais, saí em busca de patrocinadores, tenho mais de trezentas crianças se benificiando do projeto. Temos selos e premiações.

— Eu sei de tudo isso Dandara, mas não cabe a mim dizer os motivos que influenciaram Pedro a tomar essa atitude. Ele escreveu uma carta, uma carta para você e Miguel, que só poderá ser lida após a decisão ser tomada.

— Uma carta? E você não me comunicou antes por quê?

— Dandara, como disse, isso não está em minhas mãos. Pedro deixou ordens explícitas.

— Arre égua , uma bosta a essas ordens!

Bufo, tentando controlar minha irritação.

— O único conselho que eu posso dar é: mostre ao Miguel o quão bem o Haras faz, mostre seu amor por tudo que você e Pedro criaram nesses anos. Faça-o não vender o Haras, até mesmo unindo os dois planos, por que não?

— HÁ HÁ, transformar meu Haras em um hotel de luxo para madames enfrescuradas? Quando um cavalo cagar nos pés delas quero ver quantas estrelas sobrará. É de pessoas como Miguel que eu sempre fugi esses anos, não quero o dinheiro de quem vê meus cavalos como um pedaço gigante de bife passeando por aí.

— Tente ao menos resgatar o amor que Miguel tinha na infância. — Daniel aconselha.

— Por Cristo, Daniel. Pedro estava maluco no final dos seus dias. Ele acreditou mesmo que os chiliques na infância de Miguel era por mais tempo com os animais? O menino gritava se um porco grunhice em sua direção. A última vez que pisou no Haras fez uma estripulia soltando metade dos cavalos das baias. Foi um Deus nos acuda até recuperarmos tudo.

Daniel segura o riso, ajeitando melhor a postura na cadeira.

— Quer que eu conte a vez que soltou uma bombinha estampido no meio do pasto? Pedro saiu atrás dele na base do chicote.

— Vou dizer a mesma coisa para você como diria para Miguel: não posso intervir, a questão não é uma briga de foices. É vocês conversarem o que é melhor para o Haras...

— Ele irá vender tudo, demolir tudo, sabe quantas pessoas tenho trabalhando aqui? Quantas famílias envolvidas? Imagina todos os dias você se levantar e as pessoas te encararem com perguntas nos olhos, meus funcionários não sabem como será o amanhã. Nem se terão o salário no mês que vem — resmungo — É com isso que lido.

— Miguel fez uma proposta, ele quitaria as dívidas que o Haras tem, e fez uma consulta com as fazendas de corte e o Haras vizinhos para a possibilidade de vender os cavalos. Acredito eu que queria sondar o terreno para saber o valor de um manga-larga.

Levanto enfurecida, batendo as palmas das mãos na mesa. — Ele quer levar uma chicotada!

— Dandara! — exclama.

— Ele que tente encostar em meus cavalos, ele que tente... Arre égua!

— Quando o assistente de Miguel entrou em contato comigo deixou bem explicíto que o único que ficaria fora desse pequeno inventário seria o Trovoada.

Arqueio a sobrancelha — E isso alivia minha vontade de matá-lo? Ah claro, ele foi gentil em não vender um cavalo que foi presente de meu pai!

Eu estava soltando fogo pelas ventas, o filho duma égua teve coragem de agir pelas minhas costas e depois vem com sua falamansa e me leva pra cama. Eu sou muito burra mesmo!

— Bem, Dandara. De todas as formas, se vocês não chegarem a um acordo, se você não aceitar vender sua parte para ele ou se não conseguir pagar a dívida, automaticamente o Haras entra em um processo e se ele tiver a possibilidade, vai acabar nas mãos de Miguel. Se isso não ocorrer, de qualquer forma, assim que o tempo imposto pelo Seu Pedro acabar, o Haras entrará num processo onde quem terá o poder de decisão é a justiça. Isso pode envolver até mesmo leilão, por conta das dívidas.

— Então é: corre pro mato ou corre pro morro. — suspiro.

— A maneira de todos saírem satisfeito é vocês tentarem resolver isso amigavelmente.

— Tudo bem, obrigada pelo seu tempo doutor.

Ele concorda com um gesto, levantando-se. — Fique bem.

— O senhor também.

Acompanho o advogado para fora, fechando a porta atrás de mim. Caminho até o espaço para equitação, vendo os montadores treinando.

— Dandara!

Abaixo um pouco a aba do chapéu fazendo sombra para o sol forte da manhã. Carolina vem calvagando em minha direção, acenando. — Bom dia!

— Preciso da sua ajuda, sinto Damião entrando errado nos obstáculos.

— Dá uma volta para eu observá-lo — digo pulando a cerca.

Carolina trota se afastando, fazendo semicírculos para aquecer o cavalo, passa pelos primeiros obstáculos e vejo que Damião está com uma passada errada, as pernas de dentro estão trotando mais longas que as de fora. É preciso equilibrar o lado que ele está tendo maior dificuldade. Carolina também anda forçando demais no elevado, a conexão entre eles também estava meio mexida, isso acontecia com cavaleiros que entravam na época de competição, tinham muita pressão e sentimentos misturados e acabam passando para os animais.

— Bom dia, esquentadinha, tinha espinhos na cama essa manhã? — Miguel agarra minha cintura e beija meu pescoço. Me esquivo com um sorrisinho, ainda com raiva por ele ter agido pelas minhas costas.

Seu olhar malicioso mexe comigo. O desgraçado sabe que venceu ontem!

— Levanto antes mesmo do sol, coisa de caipira. — me atrevo a desafiá-lo.

Miguel sorri abaixando a cabeça, ainda me olhando. — Confesso que tive uma noite excelente. Poderíamos repetir nossa conversa hoje a noite, o que acha?

— Poderíamos, mas não vamos, tenho mais o que fazer. E nada mudou.

Miguel me encara surpreso, — O que eu fiz? Acordou azeda como um limão, você não cansa de distribuir coices?

Nós estavamos em um maldito pé de guerra e tudo que eu conseguia me lembrar quando encarava os olhos castanhos de Miguel é onde sua maldita boca esteve ontem a noite. E eu excitada por cada gesto que aquele brucutu fez! Deveria dar um tapa em mim mesma!

— Que tal darmos uma volta? Você poderia me mostrar a região.

— Claro, tem algo que ficou de fora de seu inventário? — mordo a língua por ter falado disso.

Miguel fica surpreso, mas logo se afasta de um passo, confirmando o que Daniel tinha dito mais cedo, ele realmente agiu pelas minnhas costas.

— Dandara...

— Cala a boca, brucutu! Se não quer ver a cara enfiada no esterco de cavalo, fique quieto!

Viro sinalizando para Carolina se aproximar.

— Teremos que trabalhar algumas coisas em vocês dois. Faça uma pausa, eu vou preparar o redondel.

— Ok, obrigada Dandara.

Sorrio pulando o cercado novamente, ignorando Miguel que me seguia como uma sombra.

— Não cometi nenhum crime, Dandara.

Reviro os olhos, caminhando para longe.

— Você está sendo teimosa, poderíamos resolver isso de outro jeito, quem sabe unir o útil ao agradável.

Viro fazendo-o parar quase tropeçando em mim. — Diga brucutu, qual sua excelente ideia? Já recebeu oferta pelos meus cavalos? Ah, muito obrigada por deixar Trovoada de fora, foi uma gentileza imensa, já que não quis vender também um presente de meu pai.

Sinto que estou quase gritando.

— Eu não venderia seu cavalo, vejo o amor que sente por ele. Posso não ser um especialista ou não gostar das mesmas coisas que você, mas não quero mal aos bichos.

— Não quer o mal deles? — Sinto minhas bochechas pegando fogo, Miguel mesmo mantém uma certa distância de mim. — Sabe qual a diferença entre um cavalo para lidar com o gado e um cavalo de montaria e competição?

Ele dá de ombros.

— Exato, se não sabe essa imensa diferença e mesmo assim foi oferecer meus cavalos para donos de fazenda de corte. Você com certeza não quer o bem deles. Jumento! — disparo a falar.— Mas tenho uma solução, vá embora, se não quer o mal deles, vá. Ou está esperando a foda de despedida? Quer ir para o celeiro desativado? — pergunto desatando o nó da minha camisa xadrez fazendo ela revelar minha blusa curta.

— Deixe de ser ridícula! — ele grita, chamando atenção das pessoas que passam por nós.

— Não sei onde Pedro estava com a cabeça, ele só poderia estar alucinando quando decidiu deixar meu Haras para você! — Vejo o olhar irritado de Miguel, mas não deixo que fale. — Tenho muito trabalho a ser feito, se puder pelo menos não atrapalhar, eu agradeço.

Estava pronta para deixá-lo parado sozinho quando vejo Cindy galopando em minha direção. Era hoje, definitivamente eu mataria um.

Ela se aproxima com o sorriso mais falso que nota de três reais, diminuindo o galope, parando o cavalo perto da cerca e desce, balançando a mão em nossa direção. — Dandara! Era você mesmo que queria encontrar!

— Só me faltava essa — sussurro. — Acho que errou, sua prenda está bem na minha frente — digo com um sorriso cínico nos lábios.

— Forasteiro, desculpe não ter vindo mais cedo, vejo que ficou totalmente curado do ataque de fúria de Dandara.

Miguel sorri, deixando que a oferecida lhe agarrasse o pescoço dando um beijo bem perto de sua boca.

Maria trepadeira! — penso com raiva.

— Estou bem sim, que surpresa boa vê-la aqui. Estava agora mesmo comentando com Dandara que queria dar uma volta pela região.

Cindy sorri animada. — Então encontrou sua companhia, faço questão de ir com você.

Miguel me encara vendo minha cara de poucos amigos. E mesmo que eu tente disfarçar meu ódio por Cindy, ele se aproveita da situação. Segura na cintura fina da trepadeira, abrindo um amplo sorriso. — Podemos dividir o mesmo cavalo, eu não estou acostumado a montar sozinho.

— Ihaaaahhh, mas é claro! — ela diz animada. — Ah, Dandara, eu soube que está preparando uma competição aqui no Haras.

Miguel me encara curioso, até mesmo me fuzilando com os olhos.

— Sim, é para angariar fundo para o Haras, mas como soube?

— Matheus, ele me contou — diz com um sorriso. — Logo pensei, o que seria excelente senão competir? As regionais estão chegando e eu e Milu precisamos estar preparadas, você poderia dar uma olhada nela, estou achando que ela está de TPM — diz abaixando o tom de voz na última parte como se tivéssemos dividindo um segredo. — E você como antiga competidora sabe como é importante o cavalo estar bem. Fico orgulhosa que abandonou os pódios e se dedica cuidando de minha égua.

— Claro. Dou uma olhada.

— Perfeito, — ela empurra a rédea para mim, enlaçando ainda mais seu corpo em Miguel — vamos forasteiro?

— Claro. Irei pedir para Mathias selar um cavalo. — Miguel responde me encarando.

Maldito Brucutu, maldita Maria trepadeira!


CAPÍTULO 19


Dandara

— Tá falando sozinha, Dandara?

Pulo de susto, percebendo que estava resmungando alto. — Ocê tem sorte de não ter tomado uma chicotada — digo arrumando o chicote na lateral de minha bota.

— Que bicho lhe mordeu? — Mathias questiona.

— Picão, um bicho desgramento que gruda na pele da gente sugando nosso sangue.

Mathias ri, me entregando as coisas para selar Bruto. — Que bom então que não é um do tamanho de um homi , que chegou recentemente na cidade. — diz tirando sarro.

Encaro Mathias, revirando os olhos, para que notasse que não estava sendo um bom momento para brincadeiras.

— Ah, Danda, deixa disso. Pode ter enganado Bento e Maria com essa história de bicho sofrendo pelo mato, mas eu sei o que faz aquele esganiçado todo dentro de um quarto.

— Ocê não tem amor aos dentes, não? — bufo.

— Ô se tenho, como acha que consegui os meus uivos? Tudo na beleza do sorriso — Mathias caçoa abrindo um sorriso de cavalo para mim.

— Arra , não torre minha paciência!

— Mudando de proza , achei que já tinha acabado com a doma do Bruto.

— Sim, ele está pronto para ficar com os outros. Mas hoje eu quero que prepare a pista para três tambores.

Mathias abre um enorme sorriso, — Irá competir novamente? Que alegria garota!

— Ainda não, vou só matar a saudade.

— Pois deveria. — Mathias aperta a sela, conferindo se está tudo bem preso.

— Faz tanto tempo que não penso nisso Mathias, deixei as competições para trás quando assumi a responsabilidade do Haras.

— Arra, e isso não mudará. Você cuida desse Haras mais que de si mesma, eu lembro do primeiro dia que cheguei aqui e vi você cavalgando. — Mathias sorri ajeitando o chapéu na cabeça — Devia ter uns dez anos, lembro que parei perto do cercado olhando, você tinha tanta conexão com o cavalo, tinha tanto talento, mesmo naquela idade.

Sorrio lembrando da minha primeira competição.

— Todos sabemos o duro que está dando para manter tudo sob controle, até mesmo antes da morte do Seu Pedro.

— Quem sabe eu possa tentar — digo.

— Será um excelente começo.


Bruto raspa a pata pelo chão, como se ele próprio se aquecesse. Quando Bruto chegou no Haras era apenas um cavalo maltratado e ferido, abandonado pelo antigo dono para morrer ao relento. Foi numa noite de chuva intensa que o encontrei caminhando com dificuldade nos arredores do Haras. Demorou meses para que ele sequer deixar que eu me aproximar dele, estava tão ferido internamente em sua confiança com os humanos que só de ver um já se armava dando coices.

A doma nunca foi uma coisa tranquila com ele, ficava feliz só por não levar uma mordida. Mas eu o entendia, foi ferido por acreditar em um humano, sua defesa natural era expulsar quem quer que tentasse se aproximar.

— Sei que você gosta de correr, vejo como seus olhos brilham quando fica livre — sussurro passando a mão em sua crina.

Ele raspa a pata no chão, emitindo relinchos e baforadas baixas, ele aprovava o que eu estava falando, assim como o fato de suas narinas estarem dilatadas e as orelhas eretas para frente significava que prestava atenção ao que eu dizia.

— Quero propor algo diferente para nós. Se você gostar, podemos pensar em fazer isso mais vezes. — Tiro o chicote com calma da bota, ele fica desconfiado. — Isso será necessário entre nós?

Bruto relincha, marchando para trás, sacodindo a cabeça. Jogo o instrumento para longe. — Quero que você corra quando for necessário, quero que sinta a terra tocando forte suas patas e o vento traga a liberdade que isso vai lhe trazer. Mas para isso precisa obedecer fielmente meu comando.

Estralo os lábios indicando para que ande, faço todo o circuito no trote, deixando que ele receba meus comandos, deixando que veja como será.

A competição dos três tambores é simples, você precisa fazer uma saída com explosão antes de cruzar pelos sensores. Uma prova de três tambores clássica é de oito metros até o primeiro, depois vinte e sete e meio até o segundo tambor e trinta e dois metros até o terceiro. E então, a reta final, onde exige mais dos cavalos e das amazonas, era esforço máximo pelo melhor tempo. Se tudo for executado com perfeição e sem derrubar nenhum dos tambores, você poderia ganhar alguma posição boa.

Existem pessoas que gostam do silêncio, silenciam tudo ao seu redor, se concentrando apenas na sua própria respiração e de seu cavalo. Eu gosto de ouvir tudo.


— Não foi um tempo ruim para quem está parada por anos. — Mathias comemora pendurado na cerca.

— Quanto?

— Dezessete segundos e meio.

Desço do cavalo acariciando a testa dele. — Esse garoto nasceu para isso.

— Dei uma examinada na égua da Cindy, ela está machucada pelas esporas, sua barriga está toda marcada e além disso, queria que desse uma olhada no freio, acho que tem algo errado.

— Odeio quando vejo animais sofrendo pela imprudência de seus donos.

— Também não gosto, pena que o pai de Cindy não pense assim e deixa aquela garota maluca usar os animais como enfeites.

— Nem me lembre disso — retruco.


CAPÍTULO 20


Miguel

Logo após fazer sexo com Dandara fiquei perdido olhando-a dormir por alguns instantes, aquilo, esses tempos no Haras têm sido os mais malucos que já tive. Aquela esquentadinha está mexendo comigo, ela está me atormentando desde que pisei no Haras, fazendo meus dias e noite incertos, mas a mulher deitada no meu braço, dormindo tranquilamente, livre de todas as caretas e muros que impõe me faz querer seguir outro rumo. Eu tenho vontade de puxar seu corpo contra o meu, encaixá-la em meu pênis e fazer tudo de novo, agora sem pressa, absorvendo tudo, cada gemido que ela faz. Mas acabei adormecendo enroscado em seu corpo ao contemplar seu rosto enquanto dorme.

E quando o dia seguinte chegou, me deparei com a cama vazia, ela saíra de fininho para não me enfrentar quando acordasse. Abro a porta, verificando se o caminho está livre e quando confirmo que sim, retorno ao meu quarto, trancando a porta depois de entrar.

Tomo um banho rápido vestindo algo mais leve para o dia quente que faz do lado de fora, fazendo uma anotação mental: ar condicionado em todos os cantos, pelo amor de Deus, como é quente isso daqui! Pego os óculos escuros colocando-os no topo da cabeça e desço correndo a escada em direção à cozinha.

— Bom dia, Maria — cumprimento a senhora, ela me olha meio espantada o que me faz questionar se eu não estava sendo educado o suficiente com as pessoas dali. Mas também, com a noite anterior que tive, meu humor está perfeito nesta manhã. — Por acaso você viu a...

— A menina está embrenhada pelo Haras como sempre, Seu Miguel.

Pego uma laranja, descascando-a. — Vocês sempre começam o dia antes mesmo do sol?

— Sim, a menina é que acorda o galo e não o contrário.

Sorrio jogando as cascas fora. — Em São Paulo também acordamos, mas confesso que ser dono do próprio negócio tem suas vantagens.

Saio pela porta lateral da cozinha roubando um chapéu preto na varanda, brincando ao colocá-lo em minha cabeça, até que não tinha ficado ruim. Deixo de lado ao ver Dandara perto de um dos cercados sorrindo como uma menina ao ver os cavalos.

Lembro-me de poucos momentos vividos aqui, mas o que eu com certeza consigo recordar é dela, mesmo muito diferente da época que erámos crianças. Dandara sempre foi apaixonada por isso, era raro vê-la vestindo sapatos e quando estava, eram botas. Era mais raro ainda ver a menina fazendo outra coisa do que estar perto dos bichos.

— Bom dia, esquentadinha, tinha espinhos na cama essa manhã?

Agarro a cintura de Dandara, lembrando de nossa noite, gostando do cheiro dela.

— Levanto antes mesmo do sol, coisa de caipira.

Pelo tom de voz afiado, já estava mordendo os cotovelos.

Sorrio dando um beijo suave em seu rosto, tentando suavizar o mau humor. — — Confesso que tive uma noite excelente. Poderíamos repetir nossa conversa hoje a noite, o que acha?

— Poderíamos, mas não vamos, tenho mais o que fazer. E nada mudou.

— O que eu fiz? Acordou azeda como um limão, você não cansa de distribuir coices? — Controlo minha vontade de responder Dandara de forma ríspida, suspiro, suavizando a voz — Que tal darmos uma volta? Você poderia me mostrar a região.

— Claro, tem algo que ficou de fora de seu inventário?

Fico surpreso, me afasto de um passo para olhar melhor seu rosto, como ela soube?

— Dandara...

— Cala a boca, brucutu! Se não quer ver a cara enfiada no esterco de cavalo fique quieto!

Ela vira chamando uma garota.

— Teremos que trabalhar algumas coisas em vocês dois. Faça uma pausa, eu vou preparar o redondel.

— Ok, obrigada Dandara.

Sei o jogo que Dandara faz, ela prefere fugir do que virar e me encarar, não deixo barato, sigo-a pelo Haras.

— Não cometi nenhum crime, Dandara.

Ela continua andando, me ignorando.

— Você está sendo teimosa, poderíamos resolver isso de outro jeito, quem sabe unir o útil ao agradável.

Ela vira, parando brutalmente, me fazendo quase tropeçar.

— Diga brucutu, qual sua excelente ideia? Já recebeu oferta pelos meus cavalos? Ah, muito obrigada por deixar Trovoada de fora, foi uma gentileza imensa, já que não quis vender também um presente de meu pai.

— Eu não venderia seu cavalo, vejo o amor que sente por ele. Posso não ser um especialista ou não gostar das mesmas coisas que você, mas não quero mal aos bichos.

— Não quer o mal deles? — O rosto de Dandara está vermelho como se tivessem esfregado dois tomates em suas bochechas, e se isso não era um alerta para ficar afastado, eu não sabia o que seria. — Sabe qual a diferença entre um cavalo para lidar com o gado e um cavalo de montaria e competição?

Dou de ombros.

— Exato, se não sabe essa imensa diferença e mesmo assim foi oferecer meus cavalos para donos de fazenda de corte. Você com certeza não quer o bem deles. Jumento! — dispara a falar.— Mas tenho uma solução, vá embora, se não quer o mal deles, vá. Ou está esperando a foda de despedida? Quer ir para o celeiro desativado? — pergunta desatando o nó da minha camisa xadrez fazendo ela revelar minha blusa curta.

E mesmo que a ideia de tê-la novamente em meus braços, sentir o gosto de sua pele e ter seus gemidos em meus ouvidos seja tentadora, me foco em nosso novo cabo de guerra. — Deixe de ser ridícula!

— Não sei onde Pedro estava com a cabeça, ele só poderia estar alucinando quando decidiu deixar meu Haras para você! Tenho muito trabalho a ser feito, se puder pelo menos não atrapalhar, eu agradeço.

Estava pronto para segurar seu braço vendo que se afastaria, quando vejo sua expressão de raiva se focar em outra coisa, sigo seu olhar vendo uma garota vir calvagando em nossa direção.

— Dandara! Era você mesmo que queria encontrar!

— Só me faltava essa! Acho que errou, sua prenda está bem na minha frente — Dandara diz com um sorrisinho falso.

— Forasteiro, desculpe não ter vindo mais cedo, vejo que ficou totalmente curado do ataque de fúria de Dandara.

Sorrio não tirando os olhos de Dandara, deixando que Cindy agarrasse meu pescoço dando um beijo bem perto de minha boca, naquele instante tinha descoberto uma outra arma poderosa contra a esquentadinha, o ciúmes. — Estou bem sim, que surpresa boa vê-la aqui. Estava agora mesmo comentando com Dandara que queria dar uma volta pela região.

Cindy sorri animada. — Então encontrou sua companhia, faço questão de ir com você.

Aproveito a situação segurando na cintura fina da garota, abrindo um amplo sorriso. Satisfeito por ver que deixo Dandara mexida, é bom saber que outra coisa borbulha dentro dela, além de irritação. Afinal, ela não é tão casca grossa quanto esbraveja. — Podemos dividir o mesmo cavalo, eu não estou acostumado a montar sozinho.

— Ihaaaahhh, mas é claro! — ela diz animada. — Ah, Dandara, eu soube que está preparando uma competição aqui no Haras.

Faço minha cara de “não sou o único planejando pelas costas” e encaro Dandara.

— Sim, é para angariar fundo para o Haras, mas como soube?

— Matheus, ele me contou — Cindy diz com um sorriso. — Logo pensei, o que seria excelente senão competir? As regionais estão chegando e eu e Milu precisamos estar preparadas, você poderia dar uma olhada nela, estou achando que ela está de TPM. E você como antiga competidora sabe como é importante o cavalo estar bem. Fico orgulhosa que abandonou os pódios e se dedica cuidando de minha égua.

Dandara competindo? Não sabia que a esquentadinha metida as caras em rodeios ou competições equestres. Estava aí uma coisa para pesquisar quando tivesse deitado em minha cama essa noite.

— Claro. Dou uma olhada. — Dandara responde de forma azeda.

— Perfeito, — Cindy empurra a rédea para Dandara, enlaçando ainda mais meu corpo — vamos forasteiro?

— Claro. Irei pedir para Mathias selar um cavalo.

A carranca de raiva que Dandara está é impagável. É como acender um pequeno fósforo numa fogueira à base de álcool. Eu não quero nada com essa garota, mas se para provocar minha caipira eu tiver que entrar nesse joguinho sujo, por que não?

A tal de Cindy não tinha a mesma desenvoltura que Dandara na montaria, na verdade, não tem nem mesmo a paixão que Dandara exibe ao olhar para os cavalos. Porém, não decepcionou em nada em sua montaria e cavalgada, ela sabia o que estava fazendo. Mesmo que o cavalo ficasse arrisco com seus comandos.

Saímos do Haras indo para os campos abertos da propriedade, passando por um pequeno riacho, Cindy se aproveita por estarmos na mesma sela e esfrega sua bunda em meu pênis, sempre sorrindo e olhando por cima do ombro.

— Que tal pararmos aqui? — questiona olhando para a paisagem na frente, estavámos em uma espécia de monte, víamos a estrada de terra que nos levaria de volta para o Haras e ao longe a silhueta do que seria o centro da cidade.

— Por mim — digo já descendo do animal.

— Quero muito saber o que fez um homem fino e bonito como você se meter com a Dandara — Cindy fala amarrando a rédea do cavalo no tronco de uma árvore.

— Podemos dizer que fomos criados juntos.

— Mentira! — diz rindo.

— Meu tio-avô criou Dandara quando seus pais faleceram.

— Que azar o dela, primeiro perdeu a mãe e logo depois seu pai, morreu em um acidente com bois.

Não havia sentimento real naquelas palavras.

— Você e ela se conheceram como? — pergunto sentando sobre a grama.

Ela caminha parando em minha frente tampando a visão da paisagem remexendo o quadril, tentando ser sedutora.

— Bom, tirando o fato de cidade pequena todo mundo naturalmente se conhecer, além dos filhos estudarem juntos. No Haras, Setti é um dos poucos lugares de excelência por aqui, confesso que tem ótimas pistas para treino. Meu pai é um dos patrocinadores, mesmo eu querendo que Milu seja tratada por outra domadora, não posso negar que ela é boa no que faz. Cindy deu de ombros, analisando as unhas perfeitamente alinhadas e pintadas — Ficou melhor quando saiu das competições.

— Competição? — questiono curioso.

— Dandara praticava a mesma modalidade que eu, três tambores, mas largou tudo quando Pedro ficou doente. O velhote não podia mais pegar no pesado e o que não falta naquele Haras é serviço pesado para ser feito. Mesmo com Mathias vindo para ajudar, Dandara decidiu largar tudo para cuidar do Haras.

— Pela sua cara de surpreso, não sabia disso.

— Conheço pouco daqui, vim muito na infância a mando de meus pais e quando cresci nunca mais voltei. Só fiquei sabendo novamente desse lugar quando um advogado me ligou informando sobre a morte do meu tio. Somos de uma família grande, porém nem todo mundo ainda mantém contato.

— Por que decidiu voltar? — Cindy senta em meu colo, um joelho em cada lado de meu corpo, me fazendo dar um sorriso sem graça ao afastá-la com jeito. — É verdade o que todos tem cochichado por aí?

— O que andam falando?

— Oras, que você veio tomar isso tudo dela. Afinal, pra que um homem como você viria para um fim de mundo como esse?

— Vim por negócios, é tudo que precisa saber.

Cindy fez um beicinho, passando os braços pelo meu pescoço, forçando uma aproximação. — Por que não paramos de falar dela, de cavalos e todas essas bobagens e terminamos o que rolou lá no bar?

Direta e atrevida, ela se daria bem na cidade grande.

— Sinto muito, mas não vai rolar. Vamos voltar? Esqueci que marquei um telefonema importante com meu assistente em São Paulo, como disse, negócios — Fico de pé estendendo a mão para ajudá-la.

Não sei o que tem no DNA dessas caipiras, mas ô mulherada que se enfeza rápido! Cindy levanta dando um tapa em minha mão, já desamarrando o cavalo e subindo. Mais uma que preciso tomar cuidado para que ela não me lance do outro lado da estrada, só por que neguei seu fogo. A realidade é que não queria nada com Cindy, ela poderia ser uma mulher linda, com um corpo escultural. Mas serviu apenas para deixar a esquentadinha com ciúmes.


CAPÍTULO 21


Dandara

Enquanto comemos, Maria não tira os olhos de mim. Abaixo o garfo, dando um longo suspiro. — Diga logo mulher, senão vai engasgar com a própria comida.

— O que está tirando ocê do prumo, moleca?

Velha sábia! Não tinha nada que escapasse de Maria, você poderia se deixar levar pelo rosto repleto de rugas ou pelos olhares maternos que lançava para todos, mas Maria era como um pastor alemão, farejava as coisas à distância.

— O que deu no povo desse Haras hoje? — pergunto desviando do verdadeiro assunto.

— Ocê não me engana mocinha, conheço ocê mesmo antes de aprender a lavar os fundilhos de suas ceroulas!

— Que horror! Estou apenas pensativa, vou sair mais tarde para dar uma olhada nos campos.

Foi a vez de Maria revirar os olhos, ninguém vencia em uma disputa com Maria. — Ainda com aquele sonho azucrinando a mente?

Suspiro empurando a comida de um lado para outro no prato. — Eu vejo aquele cavalo com tanta força, não sei porque e nem mesmo o quê significa.

— Você está preocupada com as coisas daqui, normal, os sonhos mostram nossas preocupações mais profundas.

Suspiro, tomando um gole do suco, confirmando com um pequeno gesto de cabeça.

— Mas não era sobre isso que estava falando.

— Ô merda, Maria! — retruco. Não irei conseguir desviar do assunto.

— Óia a boca! — ralha — Ocê está ansiosa, está assim desde que a senhorita Munhoz chegou no Haras.

— Aquela menina brinca com os animais, Mathias disse que a égua tem marcas feias das esporas, eu gostaria de enfiá-las no...

— Ouuh , acalme-se. — Maria adverte rindo — Seria mesmo por que Cindy está maltratando a pobre da égua, o que não seria nenhuma novidade para nós ou pelo simples fato dela ter saído com Seu Miguel?

Fico em silêncio enchendo minha boca com o resto de suco de meu copo.

— Você gosta dele.

Encaro Maria — Ficou maluca? — digo umas oitavas mais alto.

Ela sorri, pega seu prato e o meu, indo até a pia. — Conheço você, menina. Seria de se admirar se não tivesse apaixonada. Eu disse para Seu Miguel, muito ódio acaba virando amor.

— Você está exagerando, deve ser o excesso de trabalho. Seu “Miguelzinho” está agindo pelas minhas costas, fazendo um inventário de tudo que há aqui para vender.

Maria não manifesta nenhuma surpresa com o que acabo de dizer. — O homi é um bitelo , 5 mas não disse que não era sonso para fazer merda. Pode me chamar de velha caduca, mas conheço os sinais e sintomas, você está gostando dele.

— Arre égua! Vou trabalhar, não quero falar mais disso! — argumento ficando de pé.

— Como quiser, moleca. Mas se enfiar no trabalho não irá arrancar isso d’ocê.

Bufando dou uma olhada feia em sua direção e ela entende o recado, não toca mais no assunto enquanto eu devoro uma maçã vermelha e doce que estava na fruteira. Coloco o chapéu sobre a cabeça, fazendo uma trança em meu cabelo e saio, ignorando os olhares que Maria me lança.

Apaixonada! Era para se rir mesmo, Maria está ficando maluca!


— Tudo correndo bem por aqui — Mathias me relata assim que entro do estábulo. — No fundo ela só precisa de um pouco de atenção.

Passo a mão sobre o corpo da égua, vendo seu olhar desconfiado. Milu é da raça Paint Horse, muito parecida com os quarto de milha, mas parece pintada à mão.

— Oua , calma garota!

Retiro a mão ao vê-la arreganhar os dentes.

— Essa daí vem com o espírito da dona. — Mathias brinca.

— Que nada, tire ela da baia. — peço olhando nos olhos da égua — Cindy é horrível com ela, assim como foi com todos os cavalos que passou por seu rancho. Só quer que o animal corra, muito parecida com Matheus, pelo menos aquele ali tem algo de bom, gasta dinheiro e tempo cuidando dos seus cavalos. — digo torcendo os lábios.

— Tem certeza disso? — Mathias questiona segurando a trava da baia. — Ela não está muito amigável.

— Solte.

Mathias faz o que mando, abrindo a portinhola, deixando que ela saia. Milu é uma égua imponente, sai com a fronte erguida, me encarando de cima, passando o recado claro que não tem medo de nós, mas na realidade, tudo isso é pose, ela está receosa que a machuquemos.

— Dê uma olhada nessa ferida.

Dou a volta indo até Mathias, não era uma ferida profunda, iria cicatrizar logo, mas o que me irritou ainda mais foram as marcas mais profundas em sua pelagem indicando que outras já tiveram ali, várias cicatrizes marcando o quando essa égua vinha sendo judiada. E o quantos os maus tratos tinham marcado-a internamente.

— Vamos fazer um tratamento de aromaterapia, para ela se acalmar um pouco e deixar que cuidemos dela.

Vou até o espaço onde os remédios ficam guardados examinando alguns vidros, pego três voltando para a égua.

Tiro a tampa do primeiro colocando perto da narina do animal. Ela relincha virando a cabeça bruscamente, quase derramando o conteúdo de minhas mãos. Retiro do segundo, mas ela tem o mesmo comportamento.

— Óleo bergamota — digo e não demora muito para ela tirar a língua para fora querendo o líquido.

— Não é estranho que ela escolha justo o que traz a sensação de alegria e ânimo. — Mathias comenta.

— Minha mãe sempre dizia que os animais escolhem seus próprios remédios. Eles sabem do que realmente precisam.

O barulho de cavalo se aproximando traz nossa atenção para a entrada do estábulo.

— Que bom que ela está pronta, preciso ir. — Cindy salta do cavalo deixando Miguel se desequilibrar por um instante.

— O passeio não foi prazeroso? — desafio.

— Minha égua está pronta ou não?

— Milu está com marcas de escoriações na barriga. — acuso.

Cindy não dá a mínima para o que estou falando.

— Cindy! Você está ferindo sua égua por nada com suas malditas esporas!

Mathias me olha preocupado.

— Que eu saiba pedi para você dar uma olhada, e não mandar no jeito que comando minha égua. — Cindy contra-ataca.

Miguel dá um passo em nossa direção como se nós duas fôssemos nos engalfinhar como animais, não que ela não merecesse, mas eu não iria ganhar nada com isso.

— Se você quer que Milu não a jogue para longe durante uma competição, precisa entendê-la. Ela não é um pedaço de bife para você ficar furando quando bem entende.

Cindy gargalha, — Me passe o valor de seu tempo, mando meu pai depositar na conta do Haras. — ela vê que continuo encarando-a — Vamos, será que dá para selar minha égua?

Mathias pega as coisas pronto para selar a égua.

— Mathias, não! — Eu quase grito. — Cindy, me escuta...

Cindy arranca a sela das mãos de Mathias, ela mesmo arrumando no lombo de sua égua.

— Cindy, sua égua está ferida, pode achar que não é nada, mas com o tempo vai pegar os ossos dela. Se você se importa...

— O que eu preciso escutar é que você fez algo além de ficar gastando meu tempo. E não de suas mágicas inúteis. — Ela mal fixa direito as fivelas para montar o animal.


Cindy enfia as esporas na barriga da égua fazendo-a relinchar de dor, e a visão dos olhos tristes e repletos de lágrimas do animal cortam meu coração.

Chuto um barril de água enfurecida com a partida de Cindy. O fato de não poder fazer nada para ajudar essa égua me corta o coração.

— Pelo visto vocês estão bem longe da cordialidade.

Viro como um bicho, bufando como um touro bravo ao encarar Miguel. — Meta seu nariz onde é chamado!

— Se você sabia que Cindy maltratava a égua, por que a liberou? — Miguel questiona.

— Seu Miguel, não é simples assim, não podemos prender os animais, mesmo que por alegação de maus tratos. A família de Cindy é poderosa na cidade, seria uma briga infinita e até lá a égua já teria caído doente.

— O que Mathias tá querendo dizer é que não serão os primeiros donos que negligenciam seus animais, muito menos os últimos. São esse tipo de gente para quem quer vender meus cavalos. — acuso.

Levanto o barril que tinha chutado em minha explosão de raiva, puxando a mangueira para enchê-lo.

— Mathias, termine de cuidar das baias, eu vou sair com Trovoada. Está esfriando e não duvido de termos uma chuva torrencial mais tarde.

Deixo os dois ali, no meio do estábulo indo até o Trovoada, eu precisava da paz que ele poderia me dar. E não foi surpresa em vê-lo totalmente alerta, meu pai costumava dizer que Trovoada sempre saberia meu estado de espírito, ele sempre estaria ali, pronto.

E isso era verdade. Não precisei dizer nada, apenas abri a portinhola de sua baia, subindo diretamente no pelo para que ele saísse em disparada para fora do Haras, o sol estava se pondo no horizonte e uma espessa nuvem cinzenta cobria o céu.

Na época de outono vivemos os tempos mais malucos; temos dias de intenso calor e do nada um frio de arrepiar os ossos com chuvas tão fortes que inundam a estrada. Além de ser a época que mais me preocupo com o bem estar dos cavalos.

Cavalgo pelos campos, até mesmo me embrenhando no pequeno acervo de mata fechada, os ranchos e fazendas não são próximos uns dos outros, o que dá bastantes aréas livres.

— Aoh — Trovoada para, relinchando baixo. — Você também ouviu rapaz?

Paramos entre as árvores escutando os pássaros fazendo burburinho entre os ramos, mas não foi isso que chamou nossa atenção, e sim um relincho baixo, sofrido.

— Vamos, Trovoada. — bato o pé na barriga dele fazendo barulho para que volte a galopar.

O rancho era velho, existia destroços espalhados pelo terreno, desço do Trovoada empurrando a porteira velha e quebrada, tinha arame farpado para todos os lados, o relincho veio mais fraco dessa vez, como se o animal já não aguentasse mais esperar por ajuda. Trovoada relincha batendo os cascos chamando minha atenção, um cavalo estava em um pequeno cercado amarrado a cordas em um tronco velho, havia feridas em sua cabeça e boca devido às cordas, mas também marcas profundas espalhadas pelo seu corpo, fora a desnutrição evidente.

Não conseguiria fazer esse cavalo ir até o Haras, precisaria chamar o Santiago e pegar o trailer. Monto em Trovoada galopando de volta até o Haras, forçando ele ir o mais rápido que pode, não sabia de quem era aquele rancho abandonado, mas de maneira alguma deixaria o animal ali sofrendo.


CAPÍTULO 22


Miguel

Levo as toras de madeira para Bento, sentando no sofá. O frio realmente tinha chegado com força, nos forçando a fechar as portas e janelas para manter o calor dentro do imenso casarão. Dandara ainda não tinha retornado, o que me deixa um pouco ansioso, mesmo não querendo admitir. Aquela diabinha caipira está me enrolando em seu laço.

— Daqui a pouco a janta estará pronta. — Bento diz passando por mim em direção à cozinha.

Volto meus olhos para a tela do computador, vendo o projeto que Paulo havia me enviado mais cedo. Os arquitetos tinham feito um excelente trabalho, a entrada do resort era imponente, ele manteve o rústico e sofisticado com tanta suavidade que nenhum dos pontos tinha se destacado mais que o outro. E ali, analisando o projeto, eu não conseguia abrir minha caixa de e-mail e aprová-lo. Não conseguia dizer que poderíamos fechar o negócio com os donos dos Haras e fazer o transporte dos cavalos assim que o périodo que o advogado deu se encerrasse.

A rajada de vento forte fez o fogo na lareira tremular quase se apagando, fecho o computador virando para ver Mathias entrar na casa chamando por Bento.

— Que desespero todo é esse? — questiono indo para a entrada.

— Dandara voltou e vamos resgatar um animal.

— Resgatar? O que houve? Toda vez que você entra como um foguete aqui é porque Dandara tá metendo todo mundo em apuros — retruco.

— Mathias, o que aconteceu? — Bento e Maria vêm em nossa direção.

— Dandara voltou da caminhada, segundo ela encontrou um animal em condições precárias. Preciso ligar para o Santiago e preparar o trailer para sairmos.

— Onde ela está? — pergunto.

— A última vez que a vi estava indo pegar umas medicações.

— Santiago não deveria ficar disponível no Haras para esse tipo de emergência? — questiono ajeitando o casaco pesado no corpo.

— Sim, Seu Miguel, mas ele trabalha em outros lugares. É um veterinário muito requisitado na região.

— Vou procurá-la. — digo por fim, cruzando com eles, sentindo o vento bater contra meu corpo enquanto caminho até o estábulo.

Os cavalos relincham alto, incomodados pelo vento, passo por uma baia me esquivando ao ver que o cavalo está tão irritado que bate o corpo contra as paredes de sua baia.

— Eles ficam mais irritáveis com esse tempo.

Olho para Dandara, seu rosto está preocupado. Ela vai até o cavalo mais arisco, deixando que ele cheire um potinho.

— Aromaterapia — explica.

Mesmo ainda desconfiado o cavalo começa a se acalmar.

— Você realmente faz mágica com eles.

O cavalo vem em minha direção me assustando, pulo para trás encarando os imensos olhos pretos do animal. — Eles não confiam em mim.

— Eles são espertos, sentem quando um humano tem medo, alegria ou quando não gosta deles.

Olho para seu rosto, lá vinha ela com aquele papo novamente. — Não é bem gostar ou não, só não confio. Mathias disse que encontrou um animal ferido.

— Eu estava cavalgando, estava ficando mais frio no meio das árvores. Eu o ouvi, ele estava me chamando, não sei há quanto tempo ele está lá, mas eu sei que está cansado. Cansado demais para vir andando, mesmo se Trovoada sustentasse ele pelo caminho, isso o teria machucado mais.

— O que posso fazer?

Dandara me encara surpresa.

Nem eu mesmo sei por que estou fazendo isso, por que estou tentando salvar um animal se tudo que mais quero é que essa guerra de braço acabe logo, para dar continuidade aos meus planos.

— Santiago está ocupado em uma fazenda, tenho receio dele não chegar a tempo.

Ver o olhar triste em seu rosto faz algo dentro de mim borbulhar. — Vamos, eu ajudo você.

Ela ri por um instante, voltando a ser a diaba caipira que eu conhecia. — Você vai mais me atrapalhar do que ajudar.

— Se não quer salvar aquele animal é só dizer.

Vejo seu olhar me analisando, assim como o suspiro pesado que ela solta. — Pegue aquelas cordas, iremos precisar de pelo menos umas três, estou com o kit de remédios, ele tem grandes feridas pelo tempo que passou amarrado e das tentativas de fuga.

— É selvagem?

Ela para de arrumar as coisas para me olhar. — Ele foi ferido, está com medo, sede e fome, vai saber quantos dias ficou exposto ao sol escaldante e as chuvas frias das noites.

Mathias aparece com a caminhonete puxando o trailer. Interrompendo nossa conversa.

— Vamos colocar tudo no carro. — Dandara ordena levando Trovoada para sua baia.


O caminho até o rancho que Dandara encontrou o animal ferido fica bem longe do Haras, e a estrada não ajudava em nada, o vento ficava mais forte e logo a chuva nos brindava com mais força, dificultando ainda mais nosso caminho. Os limpadores trabalhavam frenéticos pelo vidro, cada vez que Mathias acelerava ou freava passando por um buraco era meu coração que pulava dentro do peito. A buraqueira ficava escondida devido a tempestade que caía lá fora.

Era difícil ver alguma coisa concreta em nossa frente com a torrente que descia do céu, o que me fazia apertar o canto do banco com mais força, prendendo a respiração.

Quando Mathias acelerou passando pela entrada destruída do rancho, tudo lembrou foi um filme de terror, a casa ao fundo está caindo aos pedaços, tudo ali está destruído pelo tempo e esquecido por Deus.

Dandara salta do carro antes mesmo que ele pare completamente, levando consigo o kit veterinário e uma das cordas, fazendo Mathias e eu seguirmos em seu encalce.

— Mathias, abra o trailer.

— O tempo está horrível. — digo olhando ao redor.

Dandara pula a cerca de arame encarando o cavalo com as mãos para cima, conversando baixinho com ele, para tentar acalmá-lo.

— Corte os arames, Miguel.

Retiro da enorme maleta que ela touxe um alicate, corto os fios abrindo espaço para que ela passe com o animal.

Ele relincha, empinando o corpo para trás, evitando que ela encoste nele e toda vez que faz isso, acaba caindo devido à fraqueza que seu corpo apresenta. Dandara chega mais perto tentando tirar as cordas que o machucam, porém ele está arredio demais.

— Dandara, devíamos ter esperado por Santiago, ele pode te machucar. — Mathias retruca.

— Ele não vai me machucar, está com medo, tem medo do toque. — Dandara se vira pegando um daqueles frascos pequenos que estava dando aos cavalos no estábulo fazendo o cavalo cheirar. Ele não se acalma como os outros fizeram, mas permite que ela chegue mais perto. — Se tivesse esperado por Santiago ele teria morrido nessa chuva.

Dandara tem realmente algo a mais para esses animais, é como se apenas de olhar, eles dissessem tudo que estão sentindo para ela. Ela volta para a mala tirando um lenço grande, jogando-o no rosto do bicho.

— Miguel corte as cordas e passe a nossa pelo pescoço, dê um nó bem firme.

Faço o que ela manda, me certificando que o cavalo continua imóvel contra o peito de Dandara, ela faz carinhos na crina judiada, sussurrando algo que não entendo devido o barulho forte da chuva.

— Se o dono do cavalo voltar? — pergunto terminando o nó.

— É bom que nem volte, olha o estado que deixou o cavalo. — ela retruca pondo o bicho de pé. — Calma, ouh, calma.

— Dandara, Miguel, temos problemas! — Mathias grita sob a chuva.

Um velho aparece no meio da chuva vindo em nossa direção segurando uma garrafa de bebida, tropeçando nos próprios pés.

— Conheço a laia desse daí, Cicinho sempre o expulsa do bar por arrumar confusão e ele não se importa com nada além da cachaça que consome — Mathias comenta encarando o homem.

— Às vezes temos que deixar os pensamentos sendo apenas isso, pensamentos. Nunca ouviu que o que é jogado no universo ele devolve? — Dandara resmunga para mim.

— Ei! O que você estão fazendo com meu cavalo? — O velho grita, tenta correr até nós, mas tropeça várias vezes em seu próprio pé.

Quando tenta chegar perto de Dandara, eu contenho o homem bêbado e por consequência o animal se agita, fazendo Dandara soltar um pouco a corda que o mantinha preso.

— Você não encosta mais nesse animal! — Dandara grita vindo para cima de mim e do velho bêbado.

— Vocês invadiram minha propriedade, vou chamar a polícia, e esse cavalo voltará para o lugar dele.

Seguro com firmeza sua camisa puída evitando que ele avance para cima dela.

— Chame, vai me poupar o trabalho de chutar sua bunda até lá.

O velho para por um instante de se debater em meus braços e assim consigo arrastá-lo para fora do caminho, deixando que Dandara entre com o animal no trailer.

Mathias enfia todas as coisas de volta na caminhonete, embarcando e dando partida no motor.

— Quando ele ligar para a polícia, ele que terá que se explicar. — digo animado, feliz por ter salvo aquele cavalo.

Dandara tira os olhos do vidro traseiro, voltando seu rosto para mim. — Ele não vai ligar, mal lembrará o que houve. Ele iria deixar o cavalo morrer de fome. — ela volta seu olhar para trás, vigiando o trailer.

Mathias faz o melhor que pode, mas a estrada de terra fica esburacada na chuva forte, e se antes a visibilidade já estava dificil, agora está muito pior. Os relinchos do animal preso no trailer são ouvidos de dentro do carro, imagino o quanto ele não esteja apavorado.

O carro balança de um lado para o outro, me fazendo segurar a respiração por alguns segundos.

— Ele vai se acalmar quando sairmos desse pedaço de estrada. — Mathias diz.

O carro balança mais forte na curva.

— Pare, Mathias. Eu vou com ele.

— Ficou maluca? Ele pode te machucar, está muito nervoso.

— Se eu não for com ele, vamos acabar capotando. — diz.

Mathias encara Dandara pelo espelho retrovisor, considerando o que diz.

— Ficou maluco? Ela vai se machucar! — retruco quando ele para no meio do nada, destravando as portas.

— Sei o que estou fazendo — ela resmunga.

Dandara desce e esperamos. Olho pelo vidro de trás esperando algum sinal...

— Podem ir — grita batendo na lataria do trailer.

Quando chegamos ao Haras, me senti como se tivesse nadando, nem mesmo minhas bolas estavam secas na cueca. Mathias dá a volta no carro pegando a corda e guiando o cavalo para o estábulo. E antes que Dandara saísse, indo para longe, eu a segurei.

— Desculpa.

Passo a mão pelo cabelo molhado tirando um pouco d’água dos olhos. Por que ela me deixa assim?

— Não quis magoá-la com a história de hoje cedo. Estou fazendo o melhor que posso.

— Então precisa fazer mais do que isso.

Ela se solta de minha mão correndo em direção aos estábulos, corro atrás dela, mesmo quase caindo quando meu pé afunda em uma poça d’água, alcanço seu braço e puxo-a para mim, fazendo com que pare.

Droga! Descobri que estou enlaçado até a alma por essa caipira!

Dandara fecha a expressão mostrando seu melhor olhar de ódio tentando se livrar de mim novamente. Fico em sua frente e mesmo com a chuva em seu rosto, consigo perceber que os seus olhos estão cansados, a adrenalina tinha decaído de seu corpo e eles lacrimejavam. Ela tenta se soltar novamente de mim. — Por que você não vai embora, Miguel? — pergunta com o rosto perto do meu.

Meu pênis lateja dentro da calça. Essa mulher me deixa louco!

— Eu não desisto, esquentadinha. Já devia ter entendido isso.

— Pelo menos temos alguma coisa em comum — ela retruca. — Odeio você, brucutu!

— Não, não odeia.

Ela para surpresa com minha declaração. Estar tão perto dela, sentir aquele corpo colado no meu, desperta meu desejo.

Ignorando tudo, eu só tinha uma coisa em mente: tê-la a todo custo.

Avanço sobre ela, seu corpo inteiro estremece, quando a beijo, ela abre a boca para receber minha língua, sua boca é carnuda e quente, ela para de tentar lutar contra aquele fogo que move nossos corpos. Aperto Dandara contra meu corpo, e sinto suas mãos enlaçarem o meu pescoço. Ela me puxa, em resposta eu invado seus lábios, tomando sua boca com minha língua. Levo a mão até seus seios e ela geme com meu toque.

— Quero você, esquentadinha.

— Por que está fazendo isso comigo? — ela resmunga quando minha boca desce por seu pescoço.

— Shiuu, — mordisco sua pele, descendo a boca por seus seios, lambendo o pequeno decote de sua blusa.

A chuva cai sobre nós, mas não é frio que nos faz tremer, é o calor que sinto por essa mulher que só aumenta.

— Quer que eu pare agora?

— Eu odeio você — sussurra, puxando minha mão, nos fazendo correr pelo Haras, entrando no velho celeiro abandonado.

Existem furos entre as madeiras fazendo a chuva cair em nós, Dandara empurra meu corpo contra uma viga de madeira, colocando as mãos por debaixo de minha camiseta encharcada. Meu corpo treme com o calor do toque, fiz o que desejava desde que pisei para fora da cama, abro botão por botão de sua camisa, deixando tudo totalmente livre para que chegasse aos seus seios, luto um pouco contra o fecho do sutiã, fazendo-a rir e tomar a missão de minhas mãos.

Dandara joga a cabeça para trás gemendo cada vez mais com as carícias que eu faço em seus mamilos enrijecidos. Lambo sua nuca, distribuindo beijos sobre sua pele. — Quero você, Dandara, tem que ser aqui, agora. — digo roçando meu quadril em sua cintura.

Solto o botão de sua calça enganchando meus dedos direto nas laterais de sua calcinha, abaixando as peças até o chão, passando por seus pés. Abro suas pernas, deixando seu sexo exposto para mim. Dandara fez o mesmo por mim, tirando minha camisa e indo até minha calça. Ela baixa minhas roupas alcançando meu pênis. Gemo como um animal no cio.

Ela se ajoelha, sem emitir uma palavra, segura meu membro totalmente ereto. A boca da esquentadinha me toma quase por inteiro, sinto o vaivém dos seus lábios me fazendo perder o equilíbrio Encostando no pilar, olhando para seu rosto.

Ela segura a base do meu pau com uma das mãos, enquanto contorna o restante com seus lábios lindos e quentes. Eu a desejo tanto a ponto de gozar. Levanto Dandara de forma abrupta.

Agarro aquela massa de fios longos e loiros, fazendo o calor que consumia meus sentidos aumentar. O corpo de Dandara colado no meu, lábios entreabertos e desejo nos olhos.

— Não negue, você adora isso, seja o que for que esteja acontecendo aqui, você adora.

Mantenho seu cabelo seguro na nuca com uma das mãos, a outra passando por seu corpo nu em volta de sua cintura, deixo meus dedos escorregarem dentro dela, afastando os lábios de sua boceta, apertando o clítoris úmido de tesão. Empurro seu corpo contra a parede, encaixando uma de suas pernas em meu ombro ao agachar, deixando sua intimidade totalmente exposta para mim, como um belo cartão de boas-vindas. Meto a língua de forma faminta, o corpo de Dandara estremece, seus dedos agarram meu cabelo de maneira ferroz.

Devoro seu corpo com vontade, minha saliva misturando com a lubrificação salgada, Dandara tinha gosto de mulher excitada, do tipo que atraí os pobres homens de longe.

Tiro sua perna de meu ombro, erguendo-me, viro-a de costas para encaixar meu pau em sua entrada, deslizo um pouco mais, ela é deliciosa! Antes de chegar ao fundo, Dandara rebola contra meu corpo, fazendo meu membro remexer dentro dela, ela rebola e eu começo aumentar o ritmo dos meus movimentos. Entro e saio dela com facilidade, como se seu corpo reconhecesse o meu.

Abro mais as pernas dela, impulsionando o quadril contra ela, seguro seu cabelo, puxando-o de forma bruta para trás, gostando de sentir seu rosto perto do meu. Mordo e dou chupões fortes em sua pele. Meto com intensidade, gostando do barulho de penetração molhada que chegava até meus ouvidos, meu pau inchado e duro doía procurando alívio, exigindo por isso.

Sinto que ela convulciona em minhas mãos, sussurro em seu ouvido o quando me enchia de tesão, o quanto seu corpo recebia o meu de maneira tão delicioso e o quanto ela era gostosa. Dandara se empinou ainda mais, apertando meu pau com suas contrações involuntárias, arrancando o ar de meus pulmões.

Continuo metendo, lambendo seu corpo, apertando sua cintura ou puxando seu cabelo. Eram sensações diversas que tomavam meu corpo. Dandara gritou, seu corpo estremecendo de verdade, perdendo o controle, deixo que ela goze, segurando ao máximo, travando minha própria libertação, ela ficou mole em meus braços enquanto me retiro de dentro dela, masturbando meu pau para gozar, esporrando como um maluco, só de pensar na entrega absurda e delirante que tinha acabado de acontecer ali.


Ela passa minha camisa rindo — É a única forma de você se limpar.

Diabinha!

— Miguel...

Selo seus lábios com os meus evitando que ela fale algo que possa estragar esse momento. — Amanhã pensamos sobre as coisas chatas.

Não tinha a menor chance de discutir com ela agora, o que eu mais queria naquele momento era deitá-la naquele feno velho e começar tudo de novo.


CAPÍTULO 23


Dandara

Abro os olhos sentindo o calor da pele de Miguel contra minha bochecha. Fico deitada quieta, ainda tentando entender o que estou sentindo por ele. Passei metade da noite refletindo sobre tudo que vivemos. Fico confusa pelas sensações que o beijo, o toque dele, me fazem sentir.

Será que eu conseguirei realmente fazer Miguel ver o Haras com outros olhos, além de um pedaço de terra lucrável? Fazê-lo sentir sem me envolver, ou eu já estava envolvida demais? Desisto de ficar deitada com milhões de pensamentos cruzando meu cérebro, saio da cama evitando acordá-lo.

Depois de tomar um banho, me troco em silêncio, descendo para para tomar café, não sem antes dar uma olhada em direção à cama, vendo Miguel dormindo nu, coberto apenas por um pedaço do lençol.

— Bom dia — cumprimento sentando na cadeira vazia, o cheiro de café e bolo de fubá fazem meu estômago roncar de fome.

— Bom dia, menina. — Maria me cumprimenta enchendo minha caneca de café puro. — Mathias estava nos contando sobre o animal.

— Falando nele, como está, Mathias? — pergunto devorando um pedaço do bolo.

— Está bem, Santiago passou a noite cuidando dele. Mesmo com muitos machucados, ele disse que logo estará bem.

— Que bom ouvir isso. — pego dois pedaços de bolo colocando no meu prato enquanto dou uma golada no café. Paro com a xícara ainda contra a boca vendo os olhares deles.

— Está faminta, moleca — Maria diz.

Dou de ombros, como se fosse algo normal.

— Tem bicho uivando no terreno de novo, uma desgrama isso, né? — Mathias provoca sorrindo.

Dou uma olhada feia, fazendo com que ele ria ainda mais, atiçando a curiosidade de Maria.

— O que vocês estão rindo?

Paro com a xícara à caminho da boca ao ouvir a voz de Miguel.

Ele puxa uma cadeira ao meu lado, me lançando um olhar malicioso. Miguel faz questão de jogar o corpo para cima de mim ao pegar um pedaço de bolo.

— Dormiu bem? — pergunta, seu olhar malicioso me fez sorrir. O desgraçado sabia que tinha mexido comigo!

— Sim e você? Parece cansado — desafio entre um gole e outro do café.

— Um pouco, mas no fim consegui o que queria.

Bento entra na cozinha sacudindo o casaco. — Hoje o dia está de lascar.

— Teremos pouco movimento então. — digo.

— Mathias eu quero falar com você sobre o Haras — Bento diz.

— Aconteceu algo? — questiono.

— Aquele problema qual contei procê , menina. Temos que rever a segurança dos animais, ontem tinha algum tipo de animal esganiçado no meio do mato.

Miguel engasga com o café fazendo todos encará-lo. Dou um pisão em seu pé, esmagando seus dedos.

— O antigo celeiro estava aberto e tudo revirado, ou tivemos um casal se engalfinhando ou tinha algum animal ferido procurando por abrigo. — Bento comenta.

— Vou ficar de olho nisso. — Mathias diz. — É perigoso mesmo, mesmo que eu acredite que possa ser um casal festeiro, — ele me encarou erguendo a sobrancelha — melhor trancarmos o celeiro dos desavisados.

— Que milagre é esse eu ver tua cabeça pelada? — Bento se vira para mim.

Sorrio.

— Perdi meu chapéu ontem quando o cavalo ficou muito agitado. Logo compro outro. — me levanto terminando meu café, aquelas trocas de olhares já foram o suficiente para mim.

— E eu... — Miguel enfiou na boca o último pedaço de bolo — vou dar uma volta pelo Haras.

Vou até a entrada enfiando meus braços no casaco que estava no mancebo, assim como as luvas de couro.

— O que faremos?

Desvio o corpo encarando a porta da cozinha, Maria, Bento e Mathias estavam entretidos em uma conversa. Não sei se estavam totalmente focados ou apenas se fazendo de surdos para escutar nossa conversa.

— Dá para ser mais discreto? Eu vou conferir o cavalo que chegou ontem, e depois se quiser podemos cavalgar juntos.

Ele inclina a cabeça e inspira, sentindo meu perfume. — Adorei a ideia.

Maldito brucutu gostoso!

— Seja discreto.

Ele respira mais fundo e mordisca meu pescoço. — Por que não aceita logo minha oferta, esquentadinha, colocamos um fim nesse joguinho e podemos ver o que rola.

— Isso vai acabar mal — digo com a voz rouca. Era só questão de tempo, mas, dessa vez a culpa foi minha. Olhar para a boca de Miguel tão próxima à minha, eu queria aquele beijo, então peguei.

Meu coração martelava no peito com a sensação de poder ser pega, meu corpo e cada fio de cabelo gritava em minha mente: Brucutu!


Santiago tinha levado o cavalo para o redondel, mas ele estava tão arredio que poderia machucar ele e o ajudante que tentava segurar a rédea, ele empinava evitando qualquer tipo de aproximação.

— Vou ter que aplicar a injeção, ele vai ficar pior desse jeito.

— Espere. — digo subindo nas travas do redondel.

— Ele está muito arredio, pode machucar alguém ou até mesmo ele.

— Acho bom manter distância. — o ajudante de Santiago diz para Miguel.

— O que esse cavalo tem? Ele deveria estar grato por termos salvado ele ontem — escuto Miguel retrucar.

— Isso é o que ela pode descobrir. — Santiago comenta.

Ele corre pelo redondel dando coices nas paredes, respiro fundo pulando para dentro, parando no meio do cerco. Cada passo que dou em sua direção faz com que ele trote, evitando minha aproximação. Ele vem para cima de mim, parando perto, é a forma de dizer que me culpa, que culpa todos nós pelo que ele passou.

— Acho bom parar com isso, não tenho culpa do que ele fez com você, eu estava te salvando. — grito para ele.

Ele se arma novamente, erguendo-se nas patas traseiras, se fosse outra pessoa, com a proximidade que estávamos ele poderia fazer um estrago. Mas não me intimido, sei que ele não vai me machucar, quer apenas me amedrontar, quer me ensinar seus limites.

— Dandara, se afaste! — Santiago alerta.

Fico em silêncio encarando o cavalo.

Ele abaixa as patas, colocando a cabeça no meu ombro.

— Muito bem rapaz, isso mesmo, com calma. — retiro um petisco do bolso dando para ele. — Você vai se chamar Chuvisco.

— Ela conseguiu — escuto Miguel dizer.

— Deixa ele descansar, uma boa dose de ração e ele ficará bem. — Digo para Santiago. — Quando estiver curado começo a doma.

Vejo o ajudante dele receoso por chegar mais perto do cavalo.

— Ele não vai te atacar, é só não machucá-lo.

Ele confirma com um gesto, abrindo a porta para que Chuvisco passasse.


Trovoada está agitado em sua baia, ele sente falta quando não passeamos pela manhã.

— Estava esperando por isso, né? — pergunto enquanto acaricio sua crina. — Pronto para montar?

— Se você cavalgar como fez ontem comigo, acho que terei uma excelente manhã!

— Você não presta! — empurro seu peito, rindo — Pegue aquela rédea, Trovoada prefere montaria no pelo.

— Sem nenhuma proteção?

— Ele não vai te derrubar.

Monto Trovoada com Miguel, ele aperta meu quadril contra ele, seguimos pelo trieiro, eu aprecio o clima de pós-chuva. Atravesso o pequeno riacho rindo com Miguel apertando minha cintura com medo de cair do cavalo.

Desde que ele havia chegado no Haras estávamos em pé de guerra, como após uma chuva tudo mudou de maneira tão repentina? Credo! Isso era coisa da minha cabeça. Isso sim. Eu tinha que me focar em coisas mais importantes.

Paro perto das pedras, desço segurando as rédeas para que Miguel desça.

Dou um tapinha no dorso de Trovoada deixando-o cavalgar livre por aí.

— Ele vai voltar? — pergunta olhando para Trovoada trotando para longe.

— Sim, ele ama andar livre, todas as manhãs sento por aqui e ele fica cavalgando pelo campo.

Assim que termino de falar, aponto para a cachoeira à nossa frente. Os raios de sol refletem na água cristalina.

— Aqui é lindo.

Dou um sorrisinho de “eu sei”. Estávamos perto do morro, subindo daria para ter uma visão completa do Haras.

Estávamos em um silêncio confortável, Miguel brinca com a água com a ponta dos dedos, parece com o pensamento distante. Ele sai vindo ao meu encontro, um sorriso nos lábios, suas mãos vão de encontro à minha cintura, colando nossos corpos no meio da relva, aproximo meu rosto do seu, ele roça seu nariz no meu, minha respiração acelera. Sem conseguir conter, mordo o lábio inferior de leve e nos beijamos novamente.

Não tinha como me esquivar de algo tão forte.

— Miguel...

— Não, pare, não acabe com isso. — ele diz entre os beijos.

Sua língua explora minha boca como se eu pudesse desaparecer dali em um estalar de dedos, ele me beija como se isso pudesse me dizer algo. Havia entrega ali, em ambos, seus lábios descem por meu corpo, sua mão subindo minha blusa, fazendo meu corpo se arrepiar ao sentir a relva úmida tocar minha pele. Sua mão toca minha barriga, raspando as pontas dos dedos em meu seio, seu rosto esfrega a barba cerrada em minha pele, os pelos roçando contra minha barriga.

— É melhor voltarmos.

Miguel suspira de maneira audível. — Por que tem que estragar esse momento?

— Tenho coisas a fazer, um Haras sempre tem o que fazer.

Miguel não tenta me fazer mudar de ideia. Montamos em Trovoada para voltar, o silêncio nos acompanha até o Haras, assim que chegamos perto do estábulo Miguel pula do cavalo e quando me viro para falar com ele após colocar Trovoada na baia, ele não está mais ali.


CONTINUA

CAPÍTULO 16


Dandara

Uma semana, esse era o tempo que Miguel não dirigia a palavra a mim e muito menos eu iria procurá-lo. O silêncio pela casa era mais que bem-vindo!

Mathias, Maria e eu bebíamos nosso café puro quando ele apareceu na cozinha, a manhã estava fria, por isso adiei o passeio com Trovoada pelo campo para quando o tempo ruim desse uma trégua.

Enfio na boca o último pedaço de queijo branco de meu prato, tomando o resto do café.

— Maria, Mathias, bom dia — cumprimenta indo em direção a geladeira.

— Porra! Quem comeu meu queijo? — ele pragueja com a fuça enfiada entre as prateleiras da geladeira, fazendo Maria me olhar prepcupada e Mathias segurando o riso enquanto bebe seu café. Tudo que faço é dar de ombros, chupando as pontas dos dedos, nem um pouco arrependida. — Sumiu metade dele, e tenho certeza que ontem ele estava inteiro! — Miguel acrescenta fechando a coitada da geladeira com um baque.

— Olha só, era seu? Desculpe, eu comi — respondo na maior cara de pau.

Miguel me encara como uma carranca. — Mathias, preciso de um cavalo, estou querendo dar uma volta hoje!

— Tudo bem, posso preparar um cavalo para o senhor. — Mathias troca um olhar comigo.

— Acho que Bruto ainda está espirituoso como sempre. — digo. — Se quiser ter o traseiro jogado longe pode ir com ele.

Miguel me dá um olhar furioso. — É para agora, Mathias! — retruca saindo da cozinha.

Mathias se levanta, toma o último gole do café, — Dandara, está fazendo a vida desse homi um inferno. O coitado deve ta contando os dia para sumir por essa estrada à fora. — diz colocando o chapéu na cabeça.

— É bom mesmo que esteja. Tem sorte de eu ainda não ter cuspido no seu café — comento.

— Sei que odeia que metemos os bedelhos em coisa sua, mas os empregados estão receosos, os homi querem saber como vai ficar as coisas. Seu Miguel não veio aqui para deixar as coisas como estão, ele vai por tudo a baixo. — Mathias fala com cautela.

— Mathias, algum dia faltei com vocês? — questiono de maneira rude. Ele balança a cabeça de maneira negativa. — E isso não irá acontecer hoje. Avise seus homens que os empregos estão garantidos, nem que eu mesma banque os serviços deles.

— Pode deixar, Danda, desculpe a intromição.

— Mathias, somos família. Eu não vou falhar com vocês. — digo por fim.

Ele confirma, esboçando um sorriso em minha direção. — Santiago pediu para avisar que as vacinas chegam hoje.

— Estou ciente, assim que chegarem irei aplicar em todos. Não quero nenhum caso como a Archeron.

— Menina, a morte daquela égua não é culpa sua. — Maria diz.

— Eita , não quero prozear sobre isso, tenho trabalho me aguardando. — digo pondo meu chapéu na cabeça, seguindo para fora.


Sento debaixo de uma árvore olhando a cena. Miguel poderia tentar resgatar na mente os tempos de moleque, ele poderia até não ter nenhuma intimidade com os animais, mas pelo menos quando criança ainda conseguia montar um cavalo sem que ele tentasse morder sua coxa.

O Miguel da infância não está em nada parecido com o de agora, e não só pelo fato de ter emagrecido e ficado mais bonito, mas parece que Miguel tem ódio desse tipo de vida. Desde que chegou, olha tudo de cima, com cara de esnobe. Ele não tem vínculo com essa terra, ele não sente a importância que eu sinto quando vejo o sol raiando no horizonte, seus raios fortes iluminando essas terras.

Ele seguiu o caminho da cidade grande e eu o caminho dos bichos.

Mathias tenta ensiná-lo, mas ele parece muito com um cavalo xucro, surdo. Depois não quer ser chamado de mula. Levanto, limpando a parte traseira da calça com um espanar de mãos, me aproximando dos dois. — Mathias, vai conferir as coisas, deixa que eu cuido do brucutu.

— Não pedi sua ajuda. — Homi, mas mal agradecido!

— Não estou fazendo por você, e sim pelo cavalo, que não tem culpa do asno sentado em cima dele. — Miguel abre a boca para retrucar, mas mostro o dedo em riste — Você tem que aprender a ouvir, se segurar com força a sela, o cavalo vai entender que quer impor sua vontade e não vai deixar você cinco segundos sentado no lombo dele. Os cavalos farejam seus sentimentos de longe, ele sente quando você tem medo, raiva ou está confortável. Deixe a rédea frouxa.

— Você acha que eu desaprendi tudo que meu tio ensinou? — desafia.

— Acredito que sim, já que te salvei de vários tombos, se bem me lembro.

Ele me fulmina com o olhar. — Então vamos ver, esquentadinha. Pegue aquele cavalo mutante que você tem e vamos cavalgar por aí.

— Cavalo mutante?

— Você tem noção que ele é o dobro de um cavalo normal?

— Para sua informação a raça dele é Percheron. Ele é um ótimo reprodutor, por ser grande e forte nos dá potros com habilidades especiais para o campo. — Dou risada, vendo seus olhos se arregalarem quando o cavalo marcha para trás. — Tire os pés do estribo e, vá para trás.

Subo no cavalo com a destreza de sempre, ocupando seu lugar na cela. Eu conhecia os cavalos como a palma da minha mão aqui no Haras, por isso não tinha problemas com nenhum deles e sabia quando um deles queria fazer uma gracinha como nosso companheiro aqui.

Bato o pé no espaço entre a barriga e as patas traseiras, para que ele saia.

— Se você está pensando que vai ficar se esfregando em minha bunda, eu te jogo para fora do cavalo! Contenha suas mãos!

— Calma mulher estressada.

Tiro o chicote da bota acertando na bunda do cavalo e o animal sai em galope, soltando um relincho alto. Seguro o riso vendo que Miguel ficar tenso. — Gostando, brucutu? — Ele não responde.

Forço o cavalo ir mais além, sentindo a adrenalina do galope correr pelas minhas veias, sinto as mãos de Miguel segurarem minha cintura e o arrepio disso eriçar os pêlos de meu braço.

Cavalgamos um pouco pelo Haras indo até o campo aberto onde fico com Trovoada e voltamos para o Haras, parando no estábulo.

Desço do cavalo, colocando as mãos na cintura. — Gostou do passeio?

— Você queria se exibir.

— Não preciso me exibir para você. Já é um milagre que você tenha ficado em cima do cavalo enquanto estávamos cavalgando.

— Olha aqui, você se acha incrível, acreditou mesmo que eu precisava de você?

Gargalho com irônia. — Você não sabe nem ao menos como se monta num cavalo. É uma sorte que saiba onde fica o rabo e a cabeça.

— Você é mesmo muito...

— Muito?

Miguel se inclina, ficando mais perto de mim, quando seu rosto praticamente cola no meu, pude sentir sua respiração. O perfume exalava, eu tinha começado a odiar esse cheiro, cheiro que me tirou o sono nas últimas noites, mas senti-lo tão perto me embriagava. Antes que eu pudesse raciocinar, os lábios de Miguel grudaram nos meus. Os braços fortes rodeando minha cintura.

— Sua esquentadinha, está tentando o quê? — Parecia que ele estava falando mais consigo mesmo do que algo para mim.

Sua língua voltou a lamber o canto de minha boca, seus dedos apertando minha cintura, uma de suas mãos subiu por minha espinha.

Acaricio sua coxa, bem perto de seu membro.

— Vamos sair daqui — sussurra como um pedido. Suas mãos apertando minha bunda, passeando por todo meu corpo, da cintura até o pescoço. Ele beija minha boca com ferocidade, empurro seu peito sentindo os músculos firmes contra a palma de minhas mãos, descolando seu corpo do meu, vendo a malícia nos olhos de Miguel. — Por que parou? — pergunta.

Respiro fundo ainda olhando para ele, controlando a maluquice da qual acabo de me curvar...então, tenho uma ideia. — Espere um minuto, o Haras ainda está movimentado, vou checar se ninguém está por perto e trancar a porta. — digo de um jeito safado, bem parecido com o que Cindy fazia sempre que conhecia um homem de fora.

Ele passa a mão sobre o pênis por cima da calça, animado. Vou até lá fora, vendo que realmente não tinha ninguém por perto, puxo uma das portas travando-a no chão e repito o mesmo processo com a outra, mas antes de fechar e entrar como falei que faria, dou um tchauzinho para ele, fazendo seu sorriso desaparecer. Percebendo o que estava prestes a fazer.

— Agora sim você está no seu devido lugar, uma pena que não tenhamos nenhum curral para você nadar com seus amigos...porcos! — digo rapidamente.

Miguel corre ao meu encontro, mas antes que ele me alcance, fecho a porta passando a tranca.

— Dandara, abre isso daqui! — seus gritos se misturavam com os relinchos dos cavalos incomodados dentro do estábulo. — Dandara, sua caipira maldita!

— Desculpe, brucutu. Aproveite seu tempinho com os cavalos e limpe as baias deles, Deus sabe como temos quilos e quilos de esterco por dia. Qualquer coisa tem feno e água se sentir fome. Isso deve bastar para você.

Ele bate na porta, fazendo-a tremer, gritando pelo meu nome. Urrando de raiva por ter caido feito patinho em minha arrapuca.

Cruzo com Bento no caminho de volta ao casarão, girando as chaves do estábulo entre os dedos e rindo feito uma maluca.

— Gosto de vê-la animada, mas está com cara de quem aprontou.

— Que é isso, Bento! — me finjo de inocente.

Ele bate na aba do chapéu, não acreditando nem um pouco no que eu estava dizendo. — Mathias está com os cavalos, quase todos foram vacinados, ele ficou esperando ocê aparecer, mas preferiu dar logo. Ficou fartando apenas o último estábulo. — comenta indicando o estábulo que tranquei Miguel.

— Diga que farei aquele estábulo, estou dando um castigo em um cavalo xucro. Ignore os resmungos, o cavalo está dando coice em todas as paredes, já vi cavalo dificil, mas esse...logo domo também — digo colocando um enorme sorriso no rosto.

Bento olha ao nosso redor, como se procurasse alguém e eu sei quem está procurando.

— Dandara, Dandara...

— Fique calmo, por que não vamos tomar um café, quem sabe Maria fez aquele pão doce que tanto amo? — pergunto enlaçando meu braço no seu, levando-o para longe do estábulo onde Miguel estava, acredito eu, urrando de raiva pelo tremor que a porta fazia.


CAPÍTULO 17


Miguel

— Sua caipira insolente! Como eu sou burro!

Eu esmurro a porta que nem um doido, gritando tanto que sinto minha voz falhar e ninguém aparece por ali. Viro olhando para os cavalos que relicham, só me faltava esses bichos me atacarem.

— Abre a porta! — grito de novo. Ando pelo estábulo procurando uma outra saída, lembrando de suas palavras “Aproveite e limpe as baias” , que filha da mãe! Até parece que eu iria sujar minhas mãos limpando merda de cavalo.

O cavalo no qual demos uma volta antes dela me trancar aqui chega perto, me fazendo pular de susto. Ele se sacode, sua crina bate de um lado para outro e solta um pequeno relincho.

— É, aquela ali não presta!

Cômico! Agora eu estava conversando com um cavalo como se ele pudesse me entender. Eu torceria o pescoço de Dandara assim que me livrasse dali.


Não tinha noção de quanto tempo tinha se passado, sei que estava de saco cheio de ficar ali.

— Noite, brucutu. Como foi seu dia?

Fico de pé chegando perto da porta, eu mataria essa mulher! — Pare com essa brincadeira de mau gosto, me tira daqui!

— Pelo visto continua grosseiro e sem educação. Espero que não esteja maltratando meus animais, por que se estiver, não vai ficar apenas dois dias trancado aí.

Meu sangue ferve nas veias. — Dandara, estou te avisando, quando eu sair daqui...

— Chega de ameaças em vão, vou te tirar daí quando aprender sua lição.

Esmurro novamente a porta, escutando seu risinho e seus passos se afastarem, — Dandara, estou com fome!

— Coma feno, brucutu!

Os cavalos mal se importavam por estar ali com eles, nos primeiros minutos e até primeira hora eles ficavam espiando ou fungando em minha direção. Agora? Muitos nem ao menos me encaravam, olho novamente para o cavalo solto perto de mim, ele abocanhou um punhado de feno mastigando e quando repetiu o gesto despejou um pouco em minhas pernas, como se dissesse que era bom.

— Tá de brincadeira você também!

Empino o nariz, olhando na direção contrária. Mas volto a encará-lo quando ele vem para cima de mim despejando mais feno em minhas pernas, seu focinho se torce inteiro enquanto mastiga.

— Ei amigão, pode ser bom para você, mas isso daí é mato. E alguém já te ensinou a dar espaço as pessoas?

O cavalo relincha, dando as costas para mim, batendo seu rabo bem no meio do meu rosto. Me fazendo xingá-lo. Como se estar preso junto aos cavalos não fosse o suficiente, ou do fato de estar com frio também não fosse, ainda tinham os mosquitos que faziam seu banquete atacando minhas veias.

Minha barriga roncando, meu corpo coçando e eu fedendo a estrume de cavalo.


Os raios de sol atingindo meu rosto me fizeram apertar os olhos tentando ver quem estava entrando, se fosse Dandara eu daria uma palmadas em sua bunda.

— Miguel? — Mathias perguntou surpreso, tentando entender tudo que estava acontecendo, olhando para a bagunça que tinha feito nos blocos de feno ao tentar arrumar um jeito para dormir. — O que você está fazendo aqui?

— Pergunte para aquela caipira filha da mãe — digo bravo, ficando de pé, sentindo as costas reclamar pelo movimento brusco.

Ele dá uma gargalhada. Mas se adianta a falar: — Desculpe, Seu Miguel.

Meu corpo chia de dor a cada maldito movimento, preciso de um banho quente, comida e boas horas de sono. Quando me recuperar ela vai ver, eu vou colocar essa caipira em seu lugar!

Estou com esse pensamento até ver Dandara caminhando sorridente em direção ao casarão.

— Ah, sua potranca mal educada! É bom correr. — ameaço gritando.

As pessoas que estão perto de mim me olham assustadas, e devem mesmo, porque meu rosto não deve estar nada amigável. Dandara se vira, o sorriso sumindo do rosto ao me encarar e então ela corre, empurra Santiago para longe e corre como uma moleca travessa sendo pega na artimanha, entra correndo no casarão.

Corro tão rápido que logo estou fazendo a porta de madeira branca bater contra a parede e escuto Maria falando alto na cozinha:

— Menina, o que houve? Tá tentando tirar o pai da forca?

— Dandara! — grito novamente.

Entro na cozinha vendo-a atrás de Maria, como se eu tivesse receio de ir lá lhe dar umas boas palmadas!

— Pare de correr, será pior quando eu te pegar! — ameaço.

— Ei, não quero bagunça na minha cozinha! Dandara o que você aprontou com o homi ? — Maria bate com a colher de pau na bunda de Dandara que agora tenta se esquivar de mim e de Maria.

— Vai fazer o quê? Me bater? Agora bate em mulheres? Quero ver encostar a mão em mim!

— Não, nunca encostei em uma mulher, mas dizem que para tudo tem uma primeira vez. E minha mão está coçando — grito.

Dou a volta na mesa, Dandara corre para o outro lado, fazendo o banco cair e eu tropeçar ao tentar pulá-lo, caindo de quatro no meio da cozinha. Sua gargalhada alta, faz minha raiva ferver mais que panela de pressão no fogo. — Ria enquanto pode.

— Alguém pode parar esses dois? Eles irão destruir a casa! — Maria grita empunhando sua colher de madeira. — Estão parecendo duas crianças!

— Desculpe Maria, mas não vou me meter — escuto a voz de Mathias enquanto corro atrás de Dandara que vai para a sala. — Dandara prendeu o homi no estábulo, peguei ele dormindo de concha com os cavalos.

Maria me encara, a mão na boca tentando segurar o riso.

— Vai, pode rir. Quero ver se aquela filha da mãe vai continuar rindo da minha cara quando eu a pegar — bufo, com os olhos em Dandara.

Ela faz um movimento errado diminuindo nossa distância, pulo sobre o sofá, meus braços envolvem sua cintura, tirando seus pés do chão. Não penso duas vezes, jogo seu corpo em meu ombro, dando um tabefe em sua bunda.

— Me solta! — Dandara grita.

Ela bate em minhas costas, os socos doem, não é que a Diaba tinha uma força bruta?

— Como foi sua noite? A minha foi maravilhosa, tá sentindo meu cheiro? Quer ver a quantidade de picadas que tenho espalhadas pelo corpo? Acho que tenho feno até em parte que desconheço!

Dou mais alguns tabefes em sua bunda que a fazem gritar. Eu estava puto por ela ter me deixado ao relento no meio dos bichos. E ficando com tesão, isso mesmo, ter o corpo daquele Diaba tão perto, tão ao meu alcance. Seus seios roçando em minhas costas, estava fazendo meu pau ficar rigido como uma tora, maldita hora para uma ereção. Eu queria mesmo é vê-la de quatro enquanto castigava sua bunda por ter me deixado trancado junto dos cavalos, mas também saborear cada gemido que ela pudesse...

— Meu Deus, Seu Miguel, solte a menina! — Maria exclamou.

— Não antes de lhe dar uma lição! — digo.

— Seu Miguel, não me obrigue a usar a Betinha em ocês dois. — Maria alerta.

— Não estou brincando, brucutu! É bom me soltar! — Dandara urra em minhas costas.

Acerto um tapa mais forte, jogando seu corpo no sofá, prendendo seu corpo ali ao apoiar meu joelho de um lado e o braço ao lado de sua cabeça, vendo seus olhos se arregalarem por um pequeno instante, mas o suficiente para meu dar um gostinho doce na boca. — Você tem sorte que é mulher, mas eu poderia, como vingança, soltar aquele seu cavalo gigante que tanto ama... — digo de maneira perversa — Como você ficaria?

Dandara me empurra com força, ficando de pé. — Você nem pense em tocar no Trovoada, você me entendeu? — responde praticamente gritando.

— Seria excelente, quem sabe assim você aprende a respeitar as pessoas? — retruco segurando seu braço.

— Larga meu braço, Miguel!

— Você quer me enlouquecer, você vem, me atiça, me provoca...

— Você se aproveitou da situação! — retruca.

— Você não se faça de sonsa! — grudo seu corpo mais no meu — Adorou o que fiz com minha boca.

— Misericórdia! — o sussurro de Maria quase me tira o foco da diaba em minha frente.

— Eu odeio você, Miguel! — Dandara tinha ficado furiosa, mas confesso que não liguei para o que ela estava falando, só conseguia ver aqueles lábios se mexendo. Queria torcer seu pescoço, mas também queria fodê-la. Como essa mulher me tira do sério!

— Você quis tudo que aconteceu e tá querendo mais que eu sei.

Seguro um punhado de seu cabelo bem justo no pescoço roubando um beijo, mordo seu lábio nem me importando por ela reclamar ou tentar me empurrar. Dandara retribui meu beijo, até me afastar, empurrando meu peito, fazendo com que me desequilibrasse dando alguns passos para trás rindo.

Ela limpa a boca me olhando com raiva, cospe no chão e então corre escada acima.

— Minha mãe dizia que muito ódio vira amor. — Maria retruca.

Viro vendo que Mathias e Maria ainda assistiam nosso pequeno showzinho. — Dela quero distância — digo marchando para meu quarto.


CAPÍTULO 18


Dandara

Bato a porta fazendo as coisas estremecerem dentro do quarto. Maldito brucutu! Arranco minhas roupas jogando-as no cesto perto do banheiro, ligo o chuveiro bem quente, quente o suficiente para que ao tocar em minha pele pudesse queimar o toque daquele... Engulo os pensamentos raivosos que passam por minha mente esfregando meus braços, meu pescoço, qualquer lugar que ele tivesse encostado, na tentativa de tirar o cheiro dele. Ainda não conseguia acreditar na petulância daquele brucutu. Miguel realmente não tinha amor pela vida.

Confesso que deixá-lo ao relento não foi algo muito sensível de minha parte, mas ele mereceu e, vai merecer cada pisão em seu pé a partir de hoje.

Bater na minha bunda e me tascar um beijo na frente de todos? Quem ele pensa que sou? Enquanto terminava meu banho pensava em mil maneiras de me vingar, mas acabei descartando todas, eu é que não desceria ao nível infantil dele, minha melhor vingança seria chutar a bunda dele para fora do meu Haras quando tudo acabasse.

Visto um short e uma camiseta puída e chinelos, melhor me ocupar dando banho nos animais do que cruzando meu caminho com certas mulas por aí. Atravesso o Haras em silêncio evitando falar com qualquer um que cruze meu caminho.


Agradeço pelo trabalho parecer não ter fim e os músculos espalhados pelo meu corpo começarem a protestar do esforço feito, passar o tempo no meio dos cavalos me acalmava e me fazia esquecer por alguns instantes minha vontade assassina contra Miguel. Mas amanhã mesmo eu ligarei para o advogado, não dá para continuar assim, mais dia ou menos dia e eu mataria Miguel. Que ideia absurda de Pedro me colocar nessa enrascada.

Já era noite quando paro fecho a última baia. Trovoada relincha animado após o banho, sacudindo a cabeça e sua longa crina.

— Teve um dia melhor que o meu, né, bonitão?

Saio do estábulo trancando as portas, todos os funcionários já tinham ido embora, caminho observando a noite, as estrelas e a lua cheia brilhando forte no céu, o som dos grilos cantando no meio do pasto.

Entro no casarão, tiro o chapéu, deixando-o no mancebo de madeira. Tudo estava em completo silêncio, poucas luzes acesas indicando que até a Maria tinha se recolhido.

Passo pelo quarto do brucutu vendo a luz está acesa sair pela pequena fresta da porta, estava prestes a entrar em meu quarto quando escuto uma porta atrás de mim se abrindo.

— Esquentadinha!

Viro, vendo-o só de cueca box, o corpo todo amostra.

— Não dirija a palavra para mim!

— Eu disse hoje cedo que tinha contas a acertar, você acha que seu showzinho me botou medo? — questiona vindo em minha direção.

— Se colocar as mãos em mim é bom começar a rezar para sair com ela no lugar!

— Não tenho medo de suas ameaças vazias — retruca.

— Vazias serão as suas bolas quando eu chutar para longe. — ameaço

— Você acha que vai me enlouquecer? — pergunta vindo em minha direção — Acredita mesmo que vou cair nos seus truques?

— Truques? — Gargalho alto — Não sou eu que fico agarrando você para roubar beijos.

— Vai dizer que não gostou?

— Já percebi que gosta de brincar com fogo! — desafio — Cadê toda aquela falamansa que andou esbravejando por aí? Homi metido a machão, não consegue parar de encarar para minha boca enquanto eu falo. Tudo isso é desejo?

— Não me torno frouxo por ter você na minha mente, me torno se não conseguir tirar, — Miguel dá mais dois passos em minha direção — e isso eu sei como fazer.

— Você pensa que me leva fácil, né?

— Você gosta de mexer com os homens, “se sente” fazendo isso...

— Eu não sou de quem me quer, sou de quem eu quero ser, e faço porque posso. — respondo dando um sorrisinho.

Miguel puxa meu corpo para o seu, fechando a porta com o pé, sua boca mordendo a minha enquanto distribuo tapas sobre seus ombros, costas, todo lugar que minhas mãos alcançam. Mas seu beijo furioso vai desarmando meu corpo, principalmente quando solta minha boca beijando de leve e devagar meu pescoço, rindo contra minha pele que se arrepia com seu toque, acabando com qualquer defesa minha. Não tinha gentileza no toque, havia desejo e prazer, junto de uma pessoa que queria provar seu argumento.

As mãos de Miguel ergueram meu corpo, sua língua forçando minha boca a se abrir ainda mais. Eu meio que empurro, e volto a puxar seu corpo para o meu. Precisei inspirar profundamente algumas vezes quando sua boca tomou o pequeno vão entre meus seios, sua lingua quente tocando minha pele fazia meus mamilos endurecerem e meu corpo querer mais. Sentir a proeminência em sua cueca também não ajudou muito meus pensamentos entrarem num bom senso.

Não era correto eu me render ao seu toque, não quando tinha aberto minha matraca falando que não me entregaria numa bandeja para ele, mas que diacho! Mordo seu lábio inferior, empurrando seu corpo para longe, tentando controlar a respiração. — Chega!

— Por que parar agora? — questiona agarrando novamente minha cintura.

— Eu disse chega, Miguel!

Suas mãos continuaram apertando com firmeza minha nuca, seus olhos mostravam que não estava disposto a me deixar em paz, que não sairia de meu quarto com aquela decisão fraca com a qual eu tentava me agarrar.

— Chega nada, não para mim e com certeza não para você. Eu sinto seu corpo vibrando em minhas mãos, Dandara.

Não arrisco olhar para ele, com medo que ceda aos meus instintos. Ele segura meu braço, olhando no fundo de meus olhos.

— Eu quero você, Dandara!

— Você quer me passar para trás, quer ter motivo para fazer chacota, quer o Haras, não é porque fui criada no meio do mato que não conheço homens como você, Miguel!

— Cala um pouco a boca, esquentadinha!

Abro os lábios para retrucar, mas é tarde. Ele pega meus braços, me empurrando contra meu armário, meu corpo inteiro treme com o calor do toque, ele tira a barra de minha camiseta de dentro do short, traçando livremente pelo meu corpo até meu seio. Miguel me vira de costas, mordendo meu pescoço, o corpo colado no meu, e acaba abrindo meu sutiã. Segurando meus seios, massageando-os nas mãos, beliscando meus mamilos sedentos por atenção. Roço minha bunda contra seu membro rigído na cueca, fazendo com que ambos gemêssemos.

Miguel continua acariciando meu corpo, mordendo e chupando meu pescoço. — Quero você, aqui e agora. — ele arranca minha camisa pela cabeça, fazendo a mesma coisa com meu sutiã, chupando meus seios, sugando-os até que eu não pudesse conter mais meus gemidos de prazer. Meu sexo pulsa, até dolorosamente quando a pressão do prazer explode em certas áreas.

É errado continuar com isso? Puxá-lo par mim, desejando seu corpo, respiro profundamente tentando encontrar a raiva que me alimentava horas atrás, mas só encontro o desejo.

Miguel conduz nossos corpos para a cama, arrancando o resto de nossas roupas, assim como o preservativo escondido no cós da cueca, em um segundo estava entre minhas pernas, sua mão agarrando meu cabelo, sua boca mordendo meu queixo.

Segurando meus seios com as duas mãos, apertando e puxando os bicos, lambendo minha barriga, minha cintura, roçando a barba pela minha pele, deixando-a rosada e eriçada. Um gemido explodiu de mim quando sua língua encontrou meu clitóris, seguro firme o lençol querendo tremer com o que ele fazia em minha intimidade, sua boca não me dava misericórdia alguma, sua língua muito menos. Quando seu dedo me invadiu, minhas costas se curvaram e o gemido saiu mais alto, fazendo eu ganhar um tapa na bunda.

— Desculpa, esquentadinha, mas teremos tempo para fazer amor em outro momento, agora, eu quero que seja rápido, que queime esse fogo dentro de mim.

Miguel desenrola o preservativo em seu membro, nunca tirando pelo menos uma de suas mãos do meu corpo, seus dedos tocam meu sexo, me fazendo arfar. Chupo os dedos que me tocam, vendo Miguel mordiscar o lábio e sorrir. Seu pau encaixado em minha entrada, deslizando de maneira lenta, começo a rebolar, fazendo seu membro se remexer dentro de mim.

Enquanto eu rebolo, Miguel segura meus cabelos de forma bruta, aumentando o ritmo dos movimentos, entrando e saindo de dentro de mim, segurando minha cintura com a mão livre fazendo seu membro ir mais fundo, meu corpo treme e Miguel geme alto.

Estavamos nos devorando, caricias eram feitas pelo nossos corpos ondulando juntos, enquanto eu consumia cada gemido e estocada que Miguel produzia.

Aperto os lençóis entre os dedos, seguro seu pescoço com firmeza quando ele encaixa a boca sobre meu seio, montando em seu colo, sentando com força sobre ele, gostando do modo como ele geme e descola a boca de meu mamilo, jogando a cabeça para trás rendido.

— Puta que pariu, você é deliciosa! — diz baixinho contra meu pescoço.

As estocadas duras fazem meu corpo tremer, meus seios balançam com o ritmo forte do sexo que fazemos. Ele geme agarrado em minha cintura, forçando meu corpo para baixo, quebrando as últimas barreiras, me fazendo gozar. Miguel ainda mantém o ritmo por algumas estocadas até que goza, seu membro latejando dentro de mim, se misturando com nosso suor, os tremores do meu corpo e do seu e as batidas descompassadas dentro do meu peito.


Quando eu estou envolvida em seus braços

O mundo todo apenas desaparece

A única coisa que escuto é

o bater de seu coração.


Porque posso ouvir sua respiração

Está se derramando sobre mim

E de repente estou me desfazendo dentro de você

(Breathe, Faith Hill)


Arre égua , estou perdida...

Levanto com um sobressalto e empurro para longe o braço forte que rodeia meus seios, tentando soltar meu corpo. Parece que os braços dele tinham se tornado uma braçadeira de ferro, o jeito foi sair me rastejando pela cama como uma cobra, até que eu caísse de bunda no chão.

Pego uma muda de roupa e corro para o banheiro, tomo um banho rápido, não parando nem para secar o cabelo, apenas escovo e deixo solto pelas costas. Não é que eu não queira encarar a asneira que tinha feito noite passada, mas...bem, era isso mesmo, não queria dar de cara com Miguel, por isso levantei mais cedo que até o próprio sol e me esgueirei para fora do quarto com as botas nas mãos.

— Fugindo de alguém, menina?

Pulo tampando a boca para que meu grito de susto não faça eco pelo corredor escuro.

— Cristo pai, você quer me matar do coração, Bento? — questiono sentindo os batimentos acelerados contra o peito.

— Desculpe, mas estava saindo do quarto como quem escondia um cadáver, devo me preocupar? — pergunta encarando a porta que eu havia acabado de fechar.

— Deixe de besteira homem, só tive uma noite ruim.

Bento coça a cabeça com a bengala velha. — Arra, por falar em noite ruim, tinha algum animal sofrendo ontem, Maria e eu mal pegamos no sono, parou de sofrer era já tantas da madrugada.

Engulo em seco, será que tínhamos feito tanto barulho assim?

— Vou ficar de olho nos arredores, tenha um bom dia, Bento.

Escuto o riso baixo dele enquanto caminho pelo corredor. — Bom dia, menina.

O dia não tinha se levantado, mas mesmo assim entro no estábulo para conferir como estão os animais. Reponho água e feno, depois me dirijo á baia de Trovoada, ele vira a cabeça não querendo olhar para mim.

— Qual é, amigão, está bravo comigo?

Ele me encara, dando uma fungada balaçando a cabeça como se confirmasse.

— Que tal recompensar isso com com uma corrida?

Ele relincha ainda evitando me olhar, eu conheço o jogo dele, Trovoada é um menino mimado, e a culpa é toda minha.

— Tudo bem então, já que não quer mais minha companhia...

Ele relincha mais alto, levantando as patas da frente. Fazendos os outros cavalos reclamarem.

— Você é um garotão mimado! — brinco, pulando a portinhola da baia, subindo diretamente no pelo, me agarrando ao seu pescoço. — Vamos ver o sol nascer.


Ficar perto dos cavalos ou montar em Trovoada é como respirar, algo tão natural, acredito que eu aprendi a montar antes mesmo de andar.

Saímos em direção ao campo aberto, ganhando velocidade a cada passada, sentindo o vento frio da madrugada ir contra nós. Eu precisava limpar minha mente, precisava tirar Miguel e a noite de ontem da mente, precisava tirar essa distração total, ainda não sabia o que pensar sobre essa história de Miguel conseguir meu Haras, o que faria com as famílias e funcionários que dependiam dos seus empregos? O que faria com os cavalos? Para onde eu iria com Trovoada? Aqui sempre fora meu lar, foi meu lar quando minha mãe faleceu, foi meu lar quando meu pai morreu em um torneio de rodeio.

O Haras é meu santuário, minha casa, eu aprendi a escrever no lombo de um cavalo, fiz desenhos nas paredes do antigo celeiro, aquilo era meu refúgio...

Volto para o Haras depois de admirar o sol nascendo, em alguns dias começaria o outono e o frio ocuparia as noites, o que me fazia sair pelos campos ajudando os cavalos que podem se perder ou sofrer com as chuvas repentinas.

Vou até o escritório respirando fundo, ao sentar em minha cadeira, tiro o chapéu, deixando-o sobre a mesa.

— Entre — respondo à batida na porta.

— Dandara, bom dia.

— Daniel, estava mesmo esperando por você. Sente-se.

— Em que posso ajudá-la?

— Quero saber mais sobre o Haras, por que Pedro deixou o Haras com Miguel, ele conhecia o sobrinho, nunca teve interesse por nada, mal sabe a diferença entre a crina e o rabo dos cavalos. Porque deixar o Haras nas mãos dele? — solto tudo de uma vez, expondo minha irritação, minha indignação. — Você me conhece desde menina, Daniel, eu ensinei sua neta a montar, eu cuido desse Haras como se fosse meu filho. Deixei as competições para administrar tudo isso quando Pedro descobriu a doença, abdiquei minha carreira para dar minha vida ao sonho dele.

Sinto as lágrimas forrando a parte debaixo dos meus olhos.

— Quando ele desejou implantar o projeto fui eu quem o apoiou, eu que contratei os profissionais, saí em busca de patrocinadores, tenho mais de trezentas crianças se benificiando do projeto. Temos selos e premiações.

— Eu sei de tudo isso Dandara, mas não cabe a mim dizer os motivos que influenciaram Pedro a tomar essa atitude. Ele escreveu uma carta, uma carta para você e Miguel, que só poderá ser lida após a decisão ser tomada.

— Uma carta? E você não me comunicou antes por quê?

— Dandara, como disse, isso não está em minhas mãos. Pedro deixou ordens explícitas.

— Arre égua , uma bosta a essas ordens!

Bufo, tentando controlar minha irritação.

— O único conselho que eu posso dar é: mostre ao Miguel o quão bem o Haras faz, mostre seu amor por tudo que você e Pedro criaram nesses anos. Faça-o não vender o Haras, até mesmo unindo os dois planos, por que não?

— HÁ HÁ, transformar meu Haras em um hotel de luxo para madames enfrescuradas? Quando um cavalo cagar nos pés delas quero ver quantas estrelas sobrará. É de pessoas como Miguel que eu sempre fugi esses anos, não quero o dinheiro de quem vê meus cavalos como um pedaço gigante de bife passeando por aí.

— Tente ao menos resgatar o amor que Miguel tinha na infância. — Daniel aconselha.

— Por Cristo, Daniel. Pedro estava maluco no final dos seus dias. Ele acreditou mesmo que os chiliques na infância de Miguel era por mais tempo com os animais? O menino gritava se um porco grunhice em sua direção. A última vez que pisou no Haras fez uma estripulia soltando metade dos cavalos das baias. Foi um Deus nos acuda até recuperarmos tudo.

Daniel segura o riso, ajeitando melhor a postura na cadeira.

— Quer que eu conte a vez que soltou uma bombinha estampido no meio do pasto? Pedro saiu atrás dele na base do chicote.

— Vou dizer a mesma coisa para você como diria para Miguel: não posso intervir, a questão não é uma briga de foices. É vocês conversarem o que é melhor para o Haras...

— Ele irá vender tudo, demolir tudo, sabe quantas pessoas tenho trabalhando aqui? Quantas famílias envolvidas? Imagina todos os dias você se levantar e as pessoas te encararem com perguntas nos olhos, meus funcionários não sabem como será o amanhã. Nem se terão o salário no mês que vem — resmungo — É com isso que lido.

— Miguel fez uma proposta, ele quitaria as dívidas que o Haras tem, e fez uma consulta com as fazendas de corte e o Haras vizinhos para a possibilidade de vender os cavalos. Acredito eu que queria sondar o terreno para saber o valor de um manga-larga.

Levanto enfurecida, batendo as palmas das mãos na mesa. — Ele quer levar uma chicotada!

— Dandara! — exclama.

— Ele que tente encostar em meus cavalos, ele que tente... Arre égua!

— Quando o assistente de Miguel entrou em contato comigo deixou bem explicíto que o único que ficaria fora desse pequeno inventário seria o Trovoada.

Arqueio a sobrancelha — E isso alivia minha vontade de matá-lo? Ah claro, ele foi gentil em não vender um cavalo que foi presente de meu pai!

Eu estava soltando fogo pelas ventas, o filho duma égua teve coragem de agir pelas minhas costas e depois vem com sua falamansa e me leva pra cama. Eu sou muito burra mesmo!

— Bem, Dandara. De todas as formas, se vocês não chegarem a um acordo, se você não aceitar vender sua parte para ele ou se não conseguir pagar a dívida, automaticamente o Haras entra em um processo e se ele tiver a possibilidade, vai acabar nas mãos de Miguel. Se isso não ocorrer, de qualquer forma, assim que o tempo imposto pelo Seu Pedro acabar, o Haras entrará num processo onde quem terá o poder de decisão é a justiça. Isso pode envolver até mesmo leilão, por conta das dívidas.

— Então é: corre pro mato ou corre pro morro. — suspiro.

— A maneira de todos saírem satisfeito é vocês tentarem resolver isso amigavelmente.

— Tudo bem, obrigada pelo seu tempo doutor.

Ele concorda com um gesto, levantando-se. — Fique bem.

— O senhor também.

Acompanho o advogado para fora, fechando a porta atrás de mim. Caminho até o espaço para equitação, vendo os montadores treinando.

— Dandara!

Abaixo um pouco a aba do chapéu fazendo sombra para o sol forte da manhã. Carolina vem calvagando em minha direção, acenando. — Bom dia!

— Preciso da sua ajuda, sinto Damião entrando errado nos obstáculos.

— Dá uma volta para eu observá-lo — digo pulando a cerca.

Carolina trota se afastando, fazendo semicírculos para aquecer o cavalo, passa pelos primeiros obstáculos e vejo que Damião está com uma passada errada, as pernas de dentro estão trotando mais longas que as de fora. É preciso equilibrar o lado que ele está tendo maior dificuldade. Carolina também anda forçando demais no elevado, a conexão entre eles também estava meio mexida, isso acontecia com cavaleiros que entravam na época de competição, tinham muita pressão e sentimentos misturados e acabam passando para os animais.

— Bom dia, esquentadinha, tinha espinhos na cama essa manhã? — Miguel agarra minha cintura e beija meu pescoço. Me esquivo com um sorrisinho, ainda com raiva por ele ter agido pelas minhas costas.

Seu olhar malicioso mexe comigo. O desgraçado sabe que venceu ontem!

— Levanto antes mesmo do sol, coisa de caipira. — me atrevo a desafiá-lo.

Miguel sorri abaixando a cabeça, ainda me olhando. — Confesso que tive uma noite excelente. Poderíamos repetir nossa conversa hoje a noite, o que acha?

— Poderíamos, mas não vamos, tenho mais o que fazer. E nada mudou.

Miguel me encara surpreso, — O que eu fiz? Acordou azeda como um limão, você não cansa de distribuir coices?

Nós estavamos em um maldito pé de guerra e tudo que eu conseguia me lembrar quando encarava os olhos castanhos de Miguel é onde sua maldita boca esteve ontem a noite. E eu excitada por cada gesto que aquele brucutu fez! Deveria dar um tapa em mim mesma!

— Que tal darmos uma volta? Você poderia me mostrar a região.

— Claro, tem algo que ficou de fora de seu inventário? — mordo a língua por ter falado disso.

Miguel fica surpreso, mas logo se afasta de um passo, confirmando o que Daniel tinha dito mais cedo, ele realmente agiu pelas minnhas costas.

— Dandara...

— Cala a boca, brucutu! Se não quer ver a cara enfiada no esterco de cavalo, fique quieto!

Viro sinalizando para Carolina se aproximar.

— Teremos que trabalhar algumas coisas em vocês dois. Faça uma pausa, eu vou preparar o redondel.

— Ok, obrigada Dandara.

Sorrio pulando o cercado novamente, ignorando Miguel que me seguia como uma sombra.

— Não cometi nenhum crime, Dandara.

Reviro os olhos, caminhando para longe.

— Você está sendo teimosa, poderíamos resolver isso de outro jeito, quem sabe unir o útil ao agradável.

Viro fazendo-o parar quase tropeçando em mim. — Diga brucutu, qual sua excelente ideia? Já recebeu oferta pelos meus cavalos? Ah, muito obrigada por deixar Trovoada de fora, foi uma gentileza imensa, já que não quis vender também um presente de meu pai.

Sinto que estou quase gritando.

— Eu não venderia seu cavalo, vejo o amor que sente por ele. Posso não ser um especialista ou não gostar das mesmas coisas que você, mas não quero mal aos bichos.

— Não quer o mal deles? — Sinto minhas bochechas pegando fogo, Miguel mesmo mantém uma certa distância de mim. — Sabe qual a diferença entre um cavalo para lidar com o gado e um cavalo de montaria e competição?

Ele dá de ombros.

— Exato, se não sabe essa imensa diferença e mesmo assim foi oferecer meus cavalos para donos de fazenda de corte. Você com certeza não quer o bem deles. Jumento! — disparo a falar.— Mas tenho uma solução, vá embora, se não quer o mal deles, vá. Ou está esperando a foda de despedida? Quer ir para o celeiro desativado? — pergunto desatando o nó da minha camisa xadrez fazendo ela revelar minha blusa curta.

— Deixe de ser ridícula! — ele grita, chamando atenção das pessoas que passam por nós.

— Não sei onde Pedro estava com a cabeça, ele só poderia estar alucinando quando decidiu deixar meu Haras para você! — Vejo o olhar irritado de Miguel, mas não deixo que fale. — Tenho muito trabalho a ser feito, se puder pelo menos não atrapalhar, eu agradeço.

Estava pronta para deixá-lo parado sozinho quando vejo Cindy galopando em minha direção. Era hoje, definitivamente eu mataria um.

Ela se aproxima com o sorriso mais falso que nota de três reais, diminuindo o galope, parando o cavalo perto da cerca e desce, balançando a mão em nossa direção. — Dandara! Era você mesmo que queria encontrar!

— Só me faltava essa — sussurro. — Acho que errou, sua prenda está bem na minha frente — digo com um sorriso cínico nos lábios.

— Forasteiro, desculpe não ter vindo mais cedo, vejo que ficou totalmente curado do ataque de fúria de Dandara.

Miguel sorri, deixando que a oferecida lhe agarrasse o pescoço dando um beijo bem perto de sua boca.

Maria trepadeira! — penso com raiva.

— Estou bem sim, que surpresa boa vê-la aqui. Estava agora mesmo comentando com Dandara que queria dar uma volta pela região.

Cindy sorri animada. — Então encontrou sua companhia, faço questão de ir com você.

Miguel me encara vendo minha cara de poucos amigos. E mesmo que eu tente disfarçar meu ódio por Cindy, ele se aproveita da situação. Segura na cintura fina da trepadeira, abrindo um amplo sorriso. — Podemos dividir o mesmo cavalo, eu não estou acostumado a montar sozinho.

— Ihaaaahhh, mas é claro! — ela diz animada. — Ah, Dandara, eu soube que está preparando uma competição aqui no Haras.

Miguel me encara curioso, até mesmo me fuzilando com os olhos.

— Sim, é para angariar fundo para o Haras, mas como soube?

— Matheus, ele me contou — diz com um sorriso. — Logo pensei, o que seria excelente senão competir? As regionais estão chegando e eu e Milu precisamos estar preparadas, você poderia dar uma olhada nela, estou achando que ela está de TPM — diz abaixando o tom de voz na última parte como se tivéssemos dividindo um segredo. — E você como antiga competidora sabe como é importante o cavalo estar bem. Fico orgulhosa que abandonou os pódios e se dedica cuidando de minha égua.

— Claro. Dou uma olhada.

— Perfeito, — ela empurra a rédea para mim, enlaçando ainda mais seu corpo em Miguel — vamos forasteiro?

— Claro. Irei pedir para Mathias selar um cavalo. — Miguel responde me encarando.

Maldito Brucutu, maldita Maria trepadeira!


CAPÍTULO 19


Dandara

— Tá falando sozinha, Dandara?

Pulo de susto, percebendo que estava resmungando alto. — Ocê tem sorte de não ter tomado uma chicotada — digo arrumando o chicote na lateral de minha bota.

— Que bicho lhe mordeu? — Mathias questiona.

— Picão, um bicho desgramento que gruda na pele da gente sugando nosso sangue.

Mathias ri, me entregando as coisas para selar Bruto. — Que bom então que não é um do tamanho de um homi , que chegou recentemente na cidade. — diz tirando sarro.

Encaro Mathias, revirando os olhos, para que notasse que não estava sendo um bom momento para brincadeiras.

— Ah, Danda, deixa disso. Pode ter enganado Bento e Maria com essa história de bicho sofrendo pelo mato, mas eu sei o que faz aquele esganiçado todo dentro de um quarto.

— Ocê não tem amor aos dentes, não? — bufo.

— Ô se tenho, como acha que consegui os meus uivos? Tudo na beleza do sorriso — Mathias caçoa abrindo um sorriso de cavalo para mim.

— Arra , não torre minha paciência!

— Mudando de proza , achei que já tinha acabado com a doma do Bruto.

— Sim, ele está pronto para ficar com os outros. Mas hoje eu quero que prepare a pista para três tambores.

Mathias abre um enorme sorriso, — Irá competir novamente? Que alegria garota!

— Ainda não, vou só matar a saudade.

— Pois deveria. — Mathias aperta a sela, conferindo se está tudo bem preso.

— Faz tanto tempo que não penso nisso Mathias, deixei as competições para trás quando assumi a responsabilidade do Haras.

— Arra, e isso não mudará. Você cuida desse Haras mais que de si mesma, eu lembro do primeiro dia que cheguei aqui e vi você cavalgando. — Mathias sorri ajeitando o chapéu na cabeça — Devia ter uns dez anos, lembro que parei perto do cercado olhando, você tinha tanta conexão com o cavalo, tinha tanto talento, mesmo naquela idade.

Sorrio lembrando da minha primeira competição.

— Todos sabemos o duro que está dando para manter tudo sob controle, até mesmo antes da morte do Seu Pedro.

— Quem sabe eu possa tentar — digo.

— Será um excelente começo.


Bruto raspa a pata pelo chão, como se ele próprio se aquecesse. Quando Bruto chegou no Haras era apenas um cavalo maltratado e ferido, abandonado pelo antigo dono para morrer ao relento. Foi numa noite de chuva intensa que o encontrei caminhando com dificuldade nos arredores do Haras. Demorou meses para que ele sequer deixar que eu me aproximar dele, estava tão ferido internamente em sua confiança com os humanos que só de ver um já se armava dando coices.

A doma nunca foi uma coisa tranquila com ele, ficava feliz só por não levar uma mordida. Mas eu o entendia, foi ferido por acreditar em um humano, sua defesa natural era expulsar quem quer que tentasse se aproximar.

— Sei que você gosta de correr, vejo como seus olhos brilham quando fica livre — sussurro passando a mão em sua crina.

Ele raspa a pata no chão, emitindo relinchos e baforadas baixas, ele aprovava o que eu estava falando, assim como o fato de suas narinas estarem dilatadas e as orelhas eretas para frente significava que prestava atenção ao que eu dizia.

— Quero propor algo diferente para nós. Se você gostar, podemos pensar em fazer isso mais vezes. — Tiro o chicote com calma da bota, ele fica desconfiado. — Isso será necessário entre nós?

Bruto relincha, marchando para trás, sacodindo a cabeça. Jogo o instrumento para longe. — Quero que você corra quando for necessário, quero que sinta a terra tocando forte suas patas e o vento traga a liberdade que isso vai lhe trazer. Mas para isso precisa obedecer fielmente meu comando.

Estralo os lábios indicando para que ande, faço todo o circuito no trote, deixando que ele receba meus comandos, deixando que veja como será.

A competição dos três tambores é simples, você precisa fazer uma saída com explosão antes de cruzar pelos sensores. Uma prova de três tambores clássica é de oito metros até o primeiro, depois vinte e sete e meio até o segundo tambor e trinta e dois metros até o terceiro. E então, a reta final, onde exige mais dos cavalos e das amazonas, era esforço máximo pelo melhor tempo. Se tudo for executado com perfeição e sem derrubar nenhum dos tambores, você poderia ganhar alguma posição boa.

Existem pessoas que gostam do silêncio, silenciam tudo ao seu redor, se concentrando apenas na sua própria respiração e de seu cavalo. Eu gosto de ouvir tudo.


— Não foi um tempo ruim para quem está parada por anos. — Mathias comemora pendurado na cerca.

— Quanto?

— Dezessete segundos e meio.

Desço do cavalo acariciando a testa dele. — Esse garoto nasceu para isso.

— Dei uma examinada na égua da Cindy, ela está machucada pelas esporas, sua barriga está toda marcada e além disso, queria que desse uma olhada no freio, acho que tem algo errado.

— Odeio quando vejo animais sofrendo pela imprudência de seus donos.

— Também não gosto, pena que o pai de Cindy não pense assim e deixa aquela garota maluca usar os animais como enfeites.

— Nem me lembre disso — retruco.


CAPÍTULO 20


Miguel

Logo após fazer sexo com Dandara fiquei perdido olhando-a dormir por alguns instantes, aquilo, esses tempos no Haras têm sido os mais malucos que já tive. Aquela esquentadinha está mexendo comigo, ela está me atormentando desde que pisei no Haras, fazendo meus dias e noite incertos, mas a mulher deitada no meu braço, dormindo tranquilamente, livre de todas as caretas e muros que impõe me faz querer seguir outro rumo. Eu tenho vontade de puxar seu corpo contra o meu, encaixá-la em meu pênis e fazer tudo de novo, agora sem pressa, absorvendo tudo, cada gemido que ela faz. Mas acabei adormecendo enroscado em seu corpo ao contemplar seu rosto enquanto dorme.

E quando o dia seguinte chegou, me deparei com a cama vazia, ela saíra de fininho para não me enfrentar quando acordasse. Abro a porta, verificando se o caminho está livre e quando confirmo que sim, retorno ao meu quarto, trancando a porta depois de entrar.

Tomo um banho rápido vestindo algo mais leve para o dia quente que faz do lado de fora, fazendo uma anotação mental: ar condicionado em todos os cantos, pelo amor de Deus, como é quente isso daqui! Pego os óculos escuros colocando-os no topo da cabeça e desço correndo a escada em direção à cozinha.

— Bom dia, Maria — cumprimento a senhora, ela me olha meio espantada o que me faz questionar se eu não estava sendo educado o suficiente com as pessoas dali. Mas também, com a noite anterior que tive, meu humor está perfeito nesta manhã. — Por acaso você viu a...

— A menina está embrenhada pelo Haras como sempre, Seu Miguel.

Pego uma laranja, descascando-a. — Vocês sempre começam o dia antes mesmo do sol?

— Sim, a menina é que acorda o galo e não o contrário.

Sorrio jogando as cascas fora. — Em São Paulo também acordamos, mas confesso que ser dono do próprio negócio tem suas vantagens.

Saio pela porta lateral da cozinha roubando um chapéu preto na varanda, brincando ao colocá-lo em minha cabeça, até que não tinha ficado ruim. Deixo de lado ao ver Dandara perto de um dos cercados sorrindo como uma menina ao ver os cavalos.

Lembro-me de poucos momentos vividos aqui, mas o que eu com certeza consigo recordar é dela, mesmo muito diferente da época que erámos crianças. Dandara sempre foi apaixonada por isso, era raro vê-la vestindo sapatos e quando estava, eram botas. Era mais raro ainda ver a menina fazendo outra coisa do que estar perto dos bichos.

— Bom dia, esquentadinha, tinha espinhos na cama essa manhã?

Agarro a cintura de Dandara, lembrando de nossa noite, gostando do cheiro dela.

— Levanto antes mesmo do sol, coisa de caipira.

Pelo tom de voz afiado, já estava mordendo os cotovelos.

Sorrio dando um beijo suave em seu rosto, tentando suavizar o mau humor. — — Confesso que tive uma noite excelente. Poderíamos repetir nossa conversa hoje a noite, o que acha?

— Poderíamos, mas não vamos, tenho mais o que fazer. E nada mudou.

— O que eu fiz? Acordou azeda como um limão, você não cansa de distribuir coices? — Controlo minha vontade de responder Dandara de forma ríspida, suspiro, suavizando a voz — Que tal darmos uma volta? Você poderia me mostrar a região.

— Claro, tem algo que ficou de fora de seu inventário?

Fico surpreso, me afasto de um passo para olhar melhor seu rosto, como ela soube?

— Dandara...

— Cala a boca, brucutu! Se não quer ver a cara enfiada no esterco de cavalo fique quieto!

Ela vira chamando uma garota.

— Teremos que trabalhar algumas coisas em vocês dois. Faça uma pausa, eu vou preparar o redondel.

— Ok, obrigada Dandara.

Sei o jogo que Dandara faz, ela prefere fugir do que virar e me encarar, não deixo barato, sigo-a pelo Haras.

— Não cometi nenhum crime, Dandara.

Ela continua andando, me ignorando.

— Você está sendo teimosa, poderíamos resolver isso de outro jeito, quem sabe unir o útil ao agradável.

Ela vira, parando brutalmente, me fazendo quase tropeçar.

— Diga brucutu, qual sua excelente ideia? Já recebeu oferta pelos meus cavalos? Ah, muito obrigada por deixar Trovoada de fora, foi uma gentileza imensa, já que não quis vender também um presente de meu pai.

— Eu não venderia seu cavalo, vejo o amor que sente por ele. Posso não ser um especialista ou não gostar das mesmas coisas que você, mas não quero mal aos bichos.

— Não quer o mal deles? — O rosto de Dandara está vermelho como se tivessem esfregado dois tomates em suas bochechas, e se isso não era um alerta para ficar afastado, eu não sabia o que seria. — Sabe qual a diferença entre um cavalo para lidar com o gado e um cavalo de montaria e competição?

Dou de ombros.

— Exato, se não sabe essa imensa diferença e mesmo assim foi oferecer meus cavalos para donos de fazenda de corte. Você com certeza não quer o bem deles. Jumento! — dispara a falar.— Mas tenho uma solução, vá embora, se não quer o mal deles, vá. Ou está esperando a foda de despedida? Quer ir para o celeiro desativado? — pergunta desatando o nó da minha camisa xadrez fazendo ela revelar minha blusa curta.

E mesmo que a ideia de tê-la novamente em meus braços, sentir o gosto de sua pele e ter seus gemidos em meus ouvidos seja tentadora, me foco em nosso novo cabo de guerra. — Deixe de ser ridícula!

— Não sei onde Pedro estava com a cabeça, ele só poderia estar alucinando quando decidiu deixar meu Haras para você! Tenho muito trabalho a ser feito, se puder pelo menos não atrapalhar, eu agradeço.

Estava pronto para segurar seu braço vendo que se afastaria, quando vejo sua expressão de raiva se focar em outra coisa, sigo seu olhar vendo uma garota vir calvagando em nossa direção.

— Dandara! Era você mesmo que queria encontrar!

— Só me faltava essa! Acho que errou, sua prenda está bem na minha frente — Dandara diz com um sorrisinho falso.

— Forasteiro, desculpe não ter vindo mais cedo, vejo que ficou totalmente curado do ataque de fúria de Dandara.

Sorrio não tirando os olhos de Dandara, deixando que Cindy agarrasse meu pescoço dando um beijo bem perto de minha boca, naquele instante tinha descoberto uma outra arma poderosa contra a esquentadinha, o ciúmes. — Estou bem sim, que surpresa boa vê-la aqui. Estava agora mesmo comentando com Dandara que queria dar uma volta pela região.

Cindy sorri animada. — Então encontrou sua companhia, faço questão de ir com você.

Aproveito a situação segurando na cintura fina da garota, abrindo um amplo sorriso. Satisfeito por ver que deixo Dandara mexida, é bom saber que outra coisa borbulha dentro dela, além de irritação. Afinal, ela não é tão casca grossa quanto esbraveja. — Podemos dividir o mesmo cavalo, eu não estou acostumado a montar sozinho.

— Ihaaaahhh, mas é claro! — ela diz animada. — Ah, Dandara, eu soube que está preparando uma competição aqui no Haras.

Faço minha cara de “não sou o único planejando pelas costas” e encaro Dandara.

— Sim, é para angariar fundo para o Haras, mas como soube?

— Matheus, ele me contou — Cindy diz com um sorriso. — Logo pensei, o que seria excelente senão competir? As regionais estão chegando e eu e Milu precisamos estar preparadas, você poderia dar uma olhada nela, estou achando que ela está de TPM. E você como antiga competidora sabe como é importante o cavalo estar bem. Fico orgulhosa que abandonou os pódios e se dedica cuidando de minha égua.

Dandara competindo? Não sabia que a esquentadinha metida as caras em rodeios ou competições equestres. Estava aí uma coisa para pesquisar quando tivesse deitado em minha cama essa noite.

— Claro. Dou uma olhada. — Dandara responde de forma azeda.

— Perfeito, — Cindy empurra a rédea para Dandara, enlaçando ainda mais meu corpo — vamos forasteiro?

— Claro. Irei pedir para Mathias selar um cavalo.

A carranca de raiva que Dandara está é impagável. É como acender um pequeno fósforo numa fogueira à base de álcool. Eu não quero nada com essa garota, mas se para provocar minha caipira eu tiver que entrar nesse joguinho sujo, por que não?

A tal de Cindy não tinha a mesma desenvoltura que Dandara na montaria, na verdade, não tem nem mesmo a paixão que Dandara exibe ao olhar para os cavalos. Porém, não decepcionou em nada em sua montaria e cavalgada, ela sabia o que estava fazendo. Mesmo que o cavalo ficasse arrisco com seus comandos.

Saímos do Haras indo para os campos abertos da propriedade, passando por um pequeno riacho, Cindy se aproveita por estarmos na mesma sela e esfrega sua bunda em meu pênis, sempre sorrindo e olhando por cima do ombro.

— Que tal pararmos aqui? — questiona olhando para a paisagem na frente, estavámos em uma espécia de monte, víamos a estrada de terra que nos levaria de volta para o Haras e ao longe a silhueta do que seria o centro da cidade.

— Por mim — digo já descendo do animal.

— Quero muito saber o que fez um homem fino e bonito como você se meter com a Dandara — Cindy fala amarrando a rédea do cavalo no tronco de uma árvore.

— Podemos dizer que fomos criados juntos.

— Mentira! — diz rindo.

— Meu tio-avô criou Dandara quando seus pais faleceram.

— Que azar o dela, primeiro perdeu a mãe e logo depois seu pai, morreu em um acidente com bois.

Não havia sentimento real naquelas palavras.

— Você e ela se conheceram como? — pergunto sentando sobre a grama.

Ela caminha parando em minha frente tampando a visão da paisagem remexendo o quadril, tentando ser sedutora.

— Bom, tirando o fato de cidade pequena todo mundo naturalmente se conhecer, além dos filhos estudarem juntos. No Haras, Setti é um dos poucos lugares de excelência por aqui, confesso que tem ótimas pistas para treino. Meu pai é um dos patrocinadores, mesmo eu querendo que Milu seja tratada por outra domadora, não posso negar que ela é boa no que faz. Cindy deu de ombros, analisando as unhas perfeitamente alinhadas e pintadas — Ficou melhor quando saiu das competições.

— Competição? — questiono curioso.

— Dandara praticava a mesma modalidade que eu, três tambores, mas largou tudo quando Pedro ficou doente. O velhote não podia mais pegar no pesado e o que não falta naquele Haras é serviço pesado para ser feito. Mesmo com Mathias vindo para ajudar, Dandara decidiu largar tudo para cuidar do Haras.

— Pela sua cara de surpreso, não sabia disso.

— Conheço pouco daqui, vim muito na infância a mando de meus pais e quando cresci nunca mais voltei. Só fiquei sabendo novamente desse lugar quando um advogado me ligou informando sobre a morte do meu tio. Somos de uma família grande, porém nem todo mundo ainda mantém contato.

— Por que decidiu voltar? — Cindy senta em meu colo, um joelho em cada lado de meu corpo, me fazendo dar um sorriso sem graça ao afastá-la com jeito. — É verdade o que todos tem cochichado por aí?

— O que andam falando?

— Oras, que você veio tomar isso tudo dela. Afinal, pra que um homem como você viria para um fim de mundo como esse?

— Vim por negócios, é tudo que precisa saber.

Cindy fez um beicinho, passando os braços pelo meu pescoço, forçando uma aproximação. — Por que não paramos de falar dela, de cavalos e todas essas bobagens e terminamos o que rolou lá no bar?

Direta e atrevida, ela se daria bem na cidade grande.

— Sinto muito, mas não vai rolar. Vamos voltar? Esqueci que marquei um telefonema importante com meu assistente em São Paulo, como disse, negócios — Fico de pé estendendo a mão para ajudá-la.

Não sei o que tem no DNA dessas caipiras, mas ô mulherada que se enfeza rápido! Cindy levanta dando um tapa em minha mão, já desamarrando o cavalo e subindo. Mais uma que preciso tomar cuidado para que ela não me lance do outro lado da estrada, só por que neguei seu fogo. A realidade é que não queria nada com Cindy, ela poderia ser uma mulher linda, com um corpo escultural. Mas serviu apenas para deixar a esquentadinha com ciúmes.


CAPÍTULO 21


Dandara

Enquanto comemos, Maria não tira os olhos de mim. Abaixo o garfo, dando um longo suspiro. — Diga logo mulher, senão vai engasgar com a própria comida.

— O que está tirando ocê do prumo, moleca?

Velha sábia! Não tinha nada que escapasse de Maria, você poderia se deixar levar pelo rosto repleto de rugas ou pelos olhares maternos que lançava para todos, mas Maria era como um pastor alemão, farejava as coisas à distância.

— O que deu no povo desse Haras hoje? — pergunto desviando do verdadeiro assunto.

— Ocê não me engana mocinha, conheço ocê mesmo antes de aprender a lavar os fundilhos de suas ceroulas!

— Que horror! Estou apenas pensativa, vou sair mais tarde para dar uma olhada nos campos.

Foi a vez de Maria revirar os olhos, ninguém vencia em uma disputa com Maria. — Ainda com aquele sonho azucrinando a mente?

Suspiro empurando a comida de um lado para outro no prato. — Eu vejo aquele cavalo com tanta força, não sei porque e nem mesmo o quê significa.

— Você está preocupada com as coisas daqui, normal, os sonhos mostram nossas preocupações mais profundas.

Suspiro, tomando um gole do suco, confirmando com um pequeno gesto de cabeça.

— Mas não era sobre isso que estava falando.

— Ô merda, Maria! — retruco. Não irei conseguir desviar do assunto.

— Óia a boca! — ralha — Ocê está ansiosa, está assim desde que a senhorita Munhoz chegou no Haras.

— Aquela menina brinca com os animais, Mathias disse que a égua tem marcas feias das esporas, eu gostaria de enfiá-las no...

— Ouuh , acalme-se. — Maria adverte rindo — Seria mesmo por que Cindy está maltratando a pobre da égua, o que não seria nenhuma novidade para nós ou pelo simples fato dela ter saído com Seu Miguel?

Fico em silêncio enchendo minha boca com o resto de suco de meu copo.

— Você gosta dele.

Encaro Maria — Ficou maluca? — digo umas oitavas mais alto.

Ela sorri, pega seu prato e o meu, indo até a pia. — Conheço você, menina. Seria de se admirar se não tivesse apaixonada. Eu disse para Seu Miguel, muito ódio acaba virando amor.

— Você está exagerando, deve ser o excesso de trabalho. Seu “Miguelzinho” está agindo pelas minhas costas, fazendo um inventário de tudo que há aqui para vender.

Maria não manifesta nenhuma surpresa com o que acabo de dizer. — O homi é um bitelo , 5 mas não disse que não era sonso para fazer merda. Pode me chamar de velha caduca, mas conheço os sinais e sintomas, você está gostando dele.

— Arre égua! Vou trabalhar, não quero falar mais disso! — argumento ficando de pé.

— Como quiser, moleca. Mas se enfiar no trabalho não irá arrancar isso d’ocê.

Bufando dou uma olhada feia em sua direção e ela entende o recado, não toca mais no assunto enquanto eu devoro uma maçã vermelha e doce que estava na fruteira. Coloco o chapéu sobre a cabeça, fazendo uma trança em meu cabelo e saio, ignorando os olhares que Maria me lança.

Apaixonada! Era para se rir mesmo, Maria está ficando maluca!


— Tudo correndo bem por aqui — Mathias me relata assim que entro do estábulo. — No fundo ela só precisa de um pouco de atenção.

Passo a mão sobre o corpo da égua, vendo seu olhar desconfiado. Milu é da raça Paint Horse, muito parecida com os quarto de milha, mas parece pintada à mão.

— Oua , calma garota!

Retiro a mão ao vê-la arreganhar os dentes.

— Essa daí vem com o espírito da dona. — Mathias brinca.

— Que nada, tire ela da baia. — peço olhando nos olhos da égua — Cindy é horrível com ela, assim como foi com todos os cavalos que passou por seu rancho. Só quer que o animal corra, muito parecida com Matheus, pelo menos aquele ali tem algo de bom, gasta dinheiro e tempo cuidando dos seus cavalos. — digo torcendo os lábios.

— Tem certeza disso? — Mathias questiona segurando a trava da baia. — Ela não está muito amigável.

— Solte.

Mathias faz o que mando, abrindo a portinhola, deixando que ela saia. Milu é uma égua imponente, sai com a fronte erguida, me encarando de cima, passando o recado claro que não tem medo de nós, mas na realidade, tudo isso é pose, ela está receosa que a machuquemos.

— Dê uma olhada nessa ferida.

Dou a volta indo até Mathias, não era uma ferida profunda, iria cicatrizar logo, mas o que me irritou ainda mais foram as marcas mais profundas em sua pelagem indicando que outras já tiveram ali, várias cicatrizes marcando o quando essa égua vinha sendo judiada. E o quantos os maus tratos tinham marcado-a internamente.

— Vamos fazer um tratamento de aromaterapia, para ela se acalmar um pouco e deixar que cuidemos dela.

Vou até o espaço onde os remédios ficam guardados examinando alguns vidros, pego três voltando para a égua.

Tiro a tampa do primeiro colocando perto da narina do animal. Ela relincha virando a cabeça bruscamente, quase derramando o conteúdo de minhas mãos. Retiro do segundo, mas ela tem o mesmo comportamento.

— Óleo bergamota — digo e não demora muito para ela tirar a língua para fora querendo o líquido.

— Não é estranho que ela escolha justo o que traz a sensação de alegria e ânimo. — Mathias comenta.

— Minha mãe sempre dizia que os animais escolhem seus próprios remédios. Eles sabem do que realmente precisam.

O barulho de cavalo se aproximando traz nossa atenção para a entrada do estábulo.

— Que bom que ela está pronta, preciso ir. — Cindy salta do cavalo deixando Miguel se desequilibrar por um instante.

— O passeio não foi prazeroso? — desafio.

— Minha égua está pronta ou não?

— Milu está com marcas de escoriações na barriga. — acuso.

Cindy não dá a mínima para o que estou falando.

— Cindy! Você está ferindo sua égua por nada com suas malditas esporas!

Mathias me olha preocupado.

— Que eu saiba pedi para você dar uma olhada, e não mandar no jeito que comando minha égua. — Cindy contra-ataca.

Miguel dá um passo em nossa direção como se nós duas fôssemos nos engalfinhar como animais, não que ela não merecesse, mas eu não iria ganhar nada com isso.

— Se você quer que Milu não a jogue para longe durante uma competição, precisa entendê-la. Ela não é um pedaço de bife para você ficar furando quando bem entende.

Cindy gargalha, — Me passe o valor de seu tempo, mando meu pai depositar na conta do Haras. — ela vê que continuo encarando-a — Vamos, será que dá para selar minha égua?

Mathias pega as coisas pronto para selar a égua.

— Mathias, não! — Eu quase grito. — Cindy, me escuta...

Cindy arranca a sela das mãos de Mathias, ela mesmo arrumando no lombo de sua égua.

— Cindy, sua égua está ferida, pode achar que não é nada, mas com o tempo vai pegar os ossos dela. Se você se importa...

— O que eu preciso escutar é que você fez algo além de ficar gastando meu tempo. E não de suas mágicas inúteis. — Ela mal fixa direito as fivelas para montar o animal.


Cindy enfia as esporas na barriga da égua fazendo-a relinchar de dor, e a visão dos olhos tristes e repletos de lágrimas do animal cortam meu coração.

Chuto um barril de água enfurecida com a partida de Cindy. O fato de não poder fazer nada para ajudar essa égua me corta o coração.

— Pelo visto vocês estão bem longe da cordialidade.

Viro como um bicho, bufando como um touro bravo ao encarar Miguel. — Meta seu nariz onde é chamado!

— Se você sabia que Cindy maltratava a égua, por que a liberou? — Miguel questiona.

— Seu Miguel, não é simples assim, não podemos prender os animais, mesmo que por alegação de maus tratos. A família de Cindy é poderosa na cidade, seria uma briga infinita e até lá a égua já teria caído doente.

— O que Mathias tá querendo dizer é que não serão os primeiros donos que negligenciam seus animais, muito menos os últimos. São esse tipo de gente para quem quer vender meus cavalos. — acuso.

Levanto o barril que tinha chutado em minha explosão de raiva, puxando a mangueira para enchê-lo.

— Mathias, termine de cuidar das baias, eu vou sair com Trovoada. Está esfriando e não duvido de termos uma chuva torrencial mais tarde.

Deixo os dois ali, no meio do estábulo indo até o Trovoada, eu precisava da paz que ele poderia me dar. E não foi surpresa em vê-lo totalmente alerta, meu pai costumava dizer que Trovoada sempre saberia meu estado de espírito, ele sempre estaria ali, pronto.

E isso era verdade. Não precisei dizer nada, apenas abri a portinhola de sua baia, subindo diretamente no pelo para que ele saísse em disparada para fora do Haras, o sol estava se pondo no horizonte e uma espessa nuvem cinzenta cobria o céu.

Na época de outono vivemos os tempos mais malucos; temos dias de intenso calor e do nada um frio de arrepiar os ossos com chuvas tão fortes que inundam a estrada. Além de ser a época que mais me preocupo com o bem estar dos cavalos.

Cavalgo pelos campos, até mesmo me embrenhando no pequeno acervo de mata fechada, os ranchos e fazendas não são próximos uns dos outros, o que dá bastantes aréas livres.

— Aoh — Trovoada para, relinchando baixo. — Você também ouviu rapaz?

Paramos entre as árvores escutando os pássaros fazendo burburinho entre os ramos, mas não foi isso que chamou nossa atenção, e sim um relincho baixo, sofrido.

— Vamos, Trovoada. — bato o pé na barriga dele fazendo barulho para que volte a galopar.

O rancho era velho, existia destroços espalhados pelo terreno, desço do Trovoada empurrando a porteira velha e quebrada, tinha arame farpado para todos os lados, o relincho veio mais fraco dessa vez, como se o animal já não aguentasse mais esperar por ajuda. Trovoada relincha batendo os cascos chamando minha atenção, um cavalo estava em um pequeno cercado amarrado a cordas em um tronco velho, havia feridas em sua cabeça e boca devido às cordas, mas também marcas profundas espalhadas pelo seu corpo, fora a desnutrição evidente.

Não conseguiria fazer esse cavalo ir até o Haras, precisaria chamar o Santiago e pegar o trailer. Monto em Trovoada galopando de volta até o Haras, forçando ele ir o mais rápido que pode, não sabia de quem era aquele rancho abandonado, mas de maneira alguma deixaria o animal ali sofrendo.


CAPÍTULO 22


Miguel

Levo as toras de madeira para Bento, sentando no sofá. O frio realmente tinha chegado com força, nos forçando a fechar as portas e janelas para manter o calor dentro do imenso casarão. Dandara ainda não tinha retornado, o que me deixa um pouco ansioso, mesmo não querendo admitir. Aquela diabinha caipira está me enrolando em seu laço.

— Daqui a pouco a janta estará pronta. — Bento diz passando por mim em direção à cozinha.

Volto meus olhos para a tela do computador, vendo o projeto que Paulo havia me enviado mais cedo. Os arquitetos tinham feito um excelente trabalho, a entrada do resort era imponente, ele manteve o rústico e sofisticado com tanta suavidade que nenhum dos pontos tinha se destacado mais que o outro. E ali, analisando o projeto, eu não conseguia abrir minha caixa de e-mail e aprová-lo. Não conseguia dizer que poderíamos fechar o negócio com os donos dos Haras e fazer o transporte dos cavalos assim que o périodo que o advogado deu se encerrasse.

A rajada de vento forte fez o fogo na lareira tremular quase se apagando, fecho o computador virando para ver Mathias entrar na casa chamando por Bento.

— Que desespero todo é esse? — questiono indo para a entrada.

— Dandara voltou e vamos resgatar um animal.

— Resgatar? O que houve? Toda vez que você entra como um foguete aqui é porque Dandara tá metendo todo mundo em apuros — retruco.

— Mathias, o que aconteceu? — Bento e Maria vêm em nossa direção.

— Dandara voltou da caminhada, segundo ela encontrou um animal em condições precárias. Preciso ligar para o Santiago e preparar o trailer para sairmos.

— Onde ela está? — pergunto.

— A última vez que a vi estava indo pegar umas medicações.

— Santiago não deveria ficar disponível no Haras para esse tipo de emergência? — questiono ajeitando o casaco pesado no corpo.

— Sim, Seu Miguel, mas ele trabalha em outros lugares. É um veterinário muito requisitado na região.

— Vou procurá-la. — digo por fim, cruzando com eles, sentindo o vento bater contra meu corpo enquanto caminho até o estábulo.

Os cavalos relincham alto, incomodados pelo vento, passo por uma baia me esquivando ao ver que o cavalo está tão irritado que bate o corpo contra as paredes de sua baia.

— Eles ficam mais irritáveis com esse tempo.

Olho para Dandara, seu rosto está preocupado. Ela vai até o cavalo mais arisco, deixando que ele cheire um potinho.

— Aromaterapia — explica.

Mesmo ainda desconfiado o cavalo começa a se acalmar.

— Você realmente faz mágica com eles.

O cavalo vem em minha direção me assustando, pulo para trás encarando os imensos olhos pretos do animal. — Eles não confiam em mim.

— Eles são espertos, sentem quando um humano tem medo, alegria ou quando não gosta deles.

Olho para seu rosto, lá vinha ela com aquele papo novamente. — Não é bem gostar ou não, só não confio. Mathias disse que encontrou um animal ferido.

— Eu estava cavalgando, estava ficando mais frio no meio das árvores. Eu o ouvi, ele estava me chamando, não sei há quanto tempo ele está lá, mas eu sei que está cansado. Cansado demais para vir andando, mesmo se Trovoada sustentasse ele pelo caminho, isso o teria machucado mais.

— O que posso fazer?

Dandara me encara surpresa.

Nem eu mesmo sei por que estou fazendo isso, por que estou tentando salvar um animal se tudo que mais quero é que essa guerra de braço acabe logo, para dar continuidade aos meus planos.

— Santiago está ocupado em uma fazenda, tenho receio dele não chegar a tempo.

Ver o olhar triste em seu rosto faz algo dentro de mim borbulhar. — Vamos, eu ajudo você.

Ela ri por um instante, voltando a ser a diaba caipira que eu conhecia. — Você vai mais me atrapalhar do que ajudar.

— Se não quer salvar aquele animal é só dizer.

Vejo seu olhar me analisando, assim como o suspiro pesado que ela solta. — Pegue aquelas cordas, iremos precisar de pelo menos umas três, estou com o kit de remédios, ele tem grandes feridas pelo tempo que passou amarrado e das tentativas de fuga.

— É selvagem?

Ela para de arrumar as coisas para me olhar. — Ele foi ferido, está com medo, sede e fome, vai saber quantos dias ficou exposto ao sol escaldante e as chuvas frias das noites.

Mathias aparece com a caminhonete puxando o trailer. Interrompendo nossa conversa.

— Vamos colocar tudo no carro. — Dandara ordena levando Trovoada para sua baia.


O caminho até o rancho que Dandara encontrou o animal ferido fica bem longe do Haras, e a estrada não ajudava em nada, o vento ficava mais forte e logo a chuva nos brindava com mais força, dificultando ainda mais nosso caminho. Os limpadores trabalhavam frenéticos pelo vidro, cada vez que Mathias acelerava ou freava passando por um buraco era meu coração que pulava dentro do peito. A buraqueira ficava escondida devido a tempestade que caía lá fora.

Era difícil ver alguma coisa concreta em nossa frente com a torrente que descia do céu, o que me fazia apertar o canto do banco com mais força, prendendo a respiração.

Quando Mathias acelerou passando pela entrada destruída do rancho, tudo lembrou foi um filme de terror, a casa ao fundo está caindo aos pedaços, tudo ali está destruído pelo tempo e esquecido por Deus.

Dandara salta do carro antes mesmo que ele pare completamente, levando consigo o kit veterinário e uma das cordas, fazendo Mathias e eu seguirmos em seu encalce.

— Mathias, abra o trailer.

— O tempo está horrível. — digo olhando ao redor.

Dandara pula a cerca de arame encarando o cavalo com as mãos para cima, conversando baixinho com ele, para tentar acalmá-lo.

— Corte os arames, Miguel.

Retiro da enorme maleta que ela touxe um alicate, corto os fios abrindo espaço para que ela passe com o animal.

Ele relincha, empinando o corpo para trás, evitando que ela encoste nele e toda vez que faz isso, acaba caindo devido à fraqueza que seu corpo apresenta. Dandara chega mais perto tentando tirar as cordas que o machucam, porém ele está arredio demais.

— Dandara, devíamos ter esperado por Santiago, ele pode te machucar. — Mathias retruca.

— Ele não vai me machucar, está com medo, tem medo do toque. — Dandara se vira pegando um daqueles frascos pequenos que estava dando aos cavalos no estábulo fazendo o cavalo cheirar. Ele não se acalma como os outros fizeram, mas permite que ela chegue mais perto. — Se tivesse esperado por Santiago ele teria morrido nessa chuva.

Dandara tem realmente algo a mais para esses animais, é como se apenas de olhar, eles dissessem tudo que estão sentindo para ela. Ela volta para a mala tirando um lenço grande, jogando-o no rosto do bicho.

— Miguel corte as cordas e passe a nossa pelo pescoço, dê um nó bem firme.

Faço o que ela manda, me certificando que o cavalo continua imóvel contra o peito de Dandara, ela faz carinhos na crina judiada, sussurrando algo que não entendo devido o barulho forte da chuva.

— Se o dono do cavalo voltar? — pergunto terminando o nó.

— É bom que nem volte, olha o estado que deixou o cavalo. — ela retruca pondo o bicho de pé. — Calma, ouh, calma.

— Dandara, Miguel, temos problemas! — Mathias grita sob a chuva.

Um velho aparece no meio da chuva vindo em nossa direção segurando uma garrafa de bebida, tropeçando nos próprios pés.

— Conheço a laia desse daí, Cicinho sempre o expulsa do bar por arrumar confusão e ele não se importa com nada além da cachaça que consome — Mathias comenta encarando o homem.

— Às vezes temos que deixar os pensamentos sendo apenas isso, pensamentos. Nunca ouviu que o que é jogado no universo ele devolve? — Dandara resmunga para mim.

— Ei! O que você estão fazendo com meu cavalo? — O velho grita, tenta correr até nós, mas tropeça várias vezes em seu próprio pé.

Quando tenta chegar perto de Dandara, eu contenho o homem bêbado e por consequência o animal se agita, fazendo Dandara soltar um pouco a corda que o mantinha preso.

— Você não encosta mais nesse animal! — Dandara grita vindo para cima de mim e do velho bêbado.

— Vocês invadiram minha propriedade, vou chamar a polícia, e esse cavalo voltará para o lugar dele.

Seguro com firmeza sua camisa puída evitando que ele avance para cima dela.

— Chame, vai me poupar o trabalho de chutar sua bunda até lá.

O velho para por um instante de se debater em meus braços e assim consigo arrastá-lo para fora do caminho, deixando que Dandara entre com o animal no trailer.

Mathias enfia todas as coisas de volta na caminhonete, embarcando e dando partida no motor.

— Quando ele ligar para a polícia, ele que terá que se explicar. — digo animado, feliz por ter salvo aquele cavalo.

Dandara tira os olhos do vidro traseiro, voltando seu rosto para mim. — Ele não vai ligar, mal lembrará o que houve. Ele iria deixar o cavalo morrer de fome. — ela volta seu olhar para trás, vigiando o trailer.

Mathias faz o melhor que pode, mas a estrada de terra fica esburacada na chuva forte, e se antes a visibilidade já estava dificil, agora está muito pior. Os relinchos do animal preso no trailer são ouvidos de dentro do carro, imagino o quanto ele não esteja apavorado.

O carro balança de um lado para o outro, me fazendo segurar a respiração por alguns segundos.

— Ele vai se acalmar quando sairmos desse pedaço de estrada. — Mathias diz.

O carro balança mais forte na curva.

— Pare, Mathias. Eu vou com ele.

— Ficou maluca? Ele pode te machucar, está muito nervoso.

— Se eu não for com ele, vamos acabar capotando. — diz.

Mathias encara Dandara pelo espelho retrovisor, considerando o que diz.

— Ficou maluco? Ela vai se machucar! — retruco quando ele para no meio do nada, destravando as portas.

— Sei o que estou fazendo — ela resmunga.

Dandara desce e esperamos. Olho pelo vidro de trás esperando algum sinal...

— Podem ir — grita batendo na lataria do trailer.

Quando chegamos ao Haras, me senti como se tivesse nadando, nem mesmo minhas bolas estavam secas na cueca. Mathias dá a volta no carro pegando a corda e guiando o cavalo para o estábulo. E antes que Dandara saísse, indo para longe, eu a segurei.

— Desculpa.

Passo a mão pelo cabelo molhado tirando um pouco d’água dos olhos. Por que ela me deixa assim?

— Não quis magoá-la com a história de hoje cedo. Estou fazendo o melhor que posso.

— Então precisa fazer mais do que isso.

Ela se solta de minha mão correndo em direção aos estábulos, corro atrás dela, mesmo quase caindo quando meu pé afunda em uma poça d’água, alcanço seu braço e puxo-a para mim, fazendo com que pare.

Droga! Descobri que estou enlaçado até a alma por essa caipira!

Dandara fecha a expressão mostrando seu melhor olhar de ódio tentando se livrar de mim novamente. Fico em sua frente e mesmo com a chuva em seu rosto, consigo perceber que os seus olhos estão cansados, a adrenalina tinha decaído de seu corpo e eles lacrimejavam. Ela tenta se soltar novamente de mim. — Por que você não vai embora, Miguel? — pergunta com o rosto perto do meu.

Meu pênis lateja dentro da calça. Essa mulher me deixa louco!

— Eu não desisto, esquentadinha. Já devia ter entendido isso.

— Pelo menos temos alguma coisa em comum — ela retruca. — Odeio você, brucutu!

— Não, não odeia.

Ela para surpresa com minha declaração. Estar tão perto dela, sentir aquele corpo colado no meu, desperta meu desejo.

Ignorando tudo, eu só tinha uma coisa em mente: tê-la a todo custo.

Avanço sobre ela, seu corpo inteiro estremece, quando a beijo, ela abre a boca para receber minha língua, sua boca é carnuda e quente, ela para de tentar lutar contra aquele fogo que move nossos corpos. Aperto Dandara contra meu corpo, e sinto suas mãos enlaçarem o meu pescoço. Ela me puxa, em resposta eu invado seus lábios, tomando sua boca com minha língua. Levo a mão até seus seios e ela geme com meu toque.

— Quero você, esquentadinha.

— Por que está fazendo isso comigo? — ela resmunga quando minha boca desce por seu pescoço.

— Shiuu, — mordisco sua pele, descendo a boca por seus seios, lambendo o pequeno decote de sua blusa.

A chuva cai sobre nós, mas não é frio que nos faz tremer, é o calor que sinto por essa mulher que só aumenta.

— Quer que eu pare agora?

— Eu odeio você — sussurra, puxando minha mão, nos fazendo correr pelo Haras, entrando no velho celeiro abandonado.

Existem furos entre as madeiras fazendo a chuva cair em nós, Dandara empurra meu corpo contra uma viga de madeira, colocando as mãos por debaixo de minha camiseta encharcada. Meu corpo treme com o calor do toque, fiz o que desejava desde que pisei para fora da cama, abro botão por botão de sua camisa, deixando tudo totalmente livre para que chegasse aos seus seios, luto um pouco contra o fecho do sutiã, fazendo-a rir e tomar a missão de minhas mãos.

Dandara joga a cabeça para trás gemendo cada vez mais com as carícias que eu faço em seus mamilos enrijecidos. Lambo sua nuca, distribuindo beijos sobre sua pele. — Quero você, Dandara, tem que ser aqui, agora. — digo roçando meu quadril em sua cintura.

Solto o botão de sua calça enganchando meus dedos direto nas laterais de sua calcinha, abaixando as peças até o chão, passando por seus pés. Abro suas pernas, deixando seu sexo exposto para mim. Dandara fez o mesmo por mim, tirando minha camisa e indo até minha calça. Ela baixa minhas roupas alcançando meu pênis. Gemo como um animal no cio.

Ela se ajoelha, sem emitir uma palavra, segura meu membro totalmente ereto. A boca da esquentadinha me toma quase por inteiro, sinto o vaivém dos seus lábios me fazendo perder o equilíbrio Encostando no pilar, olhando para seu rosto.

Ela segura a base do meu pau com uma das mãos, enquanto contorna o restante com seus lábios lindos e quentes. Eu a desejo tanto a ponto de gozar. Levanto Dandara de forma abrupta.

Agarro aquela massa de fios longos e loiros, fazendo o calor que consumia meus sentidos aumentar. O corpo de Dandara colado no meu, lábios entreabertos e desejo nos olhos.

— Não negue, você adora isso, seja o que for que esteja acontecendo aqui, você adora.

Mantenho seu cabelo seguro na nuca com uma das mãos, a outra passando por seu corpo nu em volta de sua cintura, deixo meus dedos escorregarem dentro dela, afastando os lábios de sua boceta, apertando o clítoris úmido de tesão. Empurro seu corpo contra a parede, encaixando uma de suas pernas em meu ombro ao agachar, deixando sua intimidade totalmente exposta para mim, como um belo cartão de boas-vindas. Meto a língua de forma faminta, o corpo de Dandara estremece, seus dedos agarram meu cabelo de maneira ferroz.

Devoro seu corpo com vontade, minha saliva misturando com a lubrificação salgada, Dandara tinha gosto de mulher excitada, do tipo que atraí os pobres homens de longe.

Tiro sua perna de meu ombro, erguendo-me, viro-a de costas para encaixar meu pau em sua entrada, deslizo um pouco mais, ela é deliciosa! Antes de chegar ao fundo, Dandara rebola contra meu corpo, fazendo meu membro remexer dentro dela, ela rebola e eu começo aumentar o ritmo dos meus movimentos. Entro e saio dela com facilidade, como se seu corpo reconhecesse o meu.

Abro mais as pernas dela, impulsionando o quadril contra ela, seguro seu cabelo, puxando-o de forma bruta para trás, gostando de sentir seu rosto perto do meu. Mordo e dou chupões fortes em sua pele. Meto com intensidade, gostando do barulho de penetração molhada que chegava até meus ouvidos, meu pau inchado e duro doía procurando alívio, exigindo por isso.

Sinto que ela convulciona em minhas mãos, sussurro em seu ouvido o quando me enchia de tesão, o quanto seu corpo recebia o meu de maneira tão delicioso e o quanto ela era gostosa. Dandara se empinou ainda mais, apertando meu pau com suas contrações involuntárias, arrancando o ar de meus pulmões.

Continuo metendo, lambendo seu corpo, apertando sua cintura ou puxando seu cabelo. Eram sensações diversas que tomavam meu corpo. Dandara gritou, seu corpo estremecendo de verdade, perdendo o controle, deixo que ela goze, segurando ao máximo, travando minha própria libertação, ela ficou mole em meus braços enquanto me retiro de dentro dela, masturbando meu pau para gozar, esporrando como um maluco, só de pensar na entrega absurda e delirante que tinha acabado de acontecer ali.


Ela passa minha camisa rindo — É a única forma de você se limpar.

Diabinha!

— Miguel...

Selo seus lábios com os meus evitando que ela fale algo que possa estragar esse momento. — Amanhã pensamos sobre as coisas chatas.

Não tinha a menor chance de discutir com ela agora, o que eu mais queria naquele momento era deitá-la naquele feno velho e começar tudo de novo.


CAPÍTULO 23


Dandara

Abro os olhos sentindo o calor da pele de Miguel contra minha bochecha. Fico deitada quieta, ainda tentando entender o que estou sentindo por ele. Passei metade da noite refletindo sobre tudo que vivemos. Fico confusa pelas sensações que o beijo, o toque dele, me fazem sentir.

Será que eu conseguirei realmente fazer Miguel ver o Haras com outros olhos, além de um pedaço de terra lucrável? Fazê-lo sentir sem me envolver, ou eu já estava envolvida demais? Desisto de ficar deitada com milhões de pensamentos cruzando meu cérebro, saio da cama evitando acordá-lo.

Depois de tomar um banho, me troco em silêncio, descendo para para tomar café, não sem antes dar uma olhada em direção à cama, vendo Miguel dormindo nu, coberto apenas por um pedaço do lençol.

— Bom dia — cumprimento sentando na cadeira vazia, o cheiro de café e bolo de fubá fazem meu estômago roncar de fome.

— Bom dia, menina. — Maria me cumprimenta enchendo minha caneca de café puro. — Mathias estava nos contando sobre o animal.

— Falando nele, como está, Mathias? — pergunto devorando um pedaço do bolo.

— Está bem, Santiago passou a noite cuidando dele. Mesmo com muitos machucados, ele disse que logo estará bem.

— Que bom ouvir isso. — pego dois pedaços de bolo colocando no meu prato enquanto dou uma golada no café. Paro com a xícara ainda contra a boca vendo os olhares deles.

— Está faminta, moleca — Maria diz.

Dou de ombros, como se fosse algo normal.

— Tem bicho uivando no terreno de novo, uma desgrama isso, né? — Mathias provoca sorrindo.

Dou uma olhada feia, fazendo com que ele ria ainda mais, atiçando a curiosidade de Maria.

— O que vocês estão rindo?

Paro com a xícara à caminho da boca ao ouvir a voz de Miguel.

Ele puxa uma cadeira ao meu lado, me lançando um olhar malicioso. Miguel faz questão de jogar o corpo para cima de mim ao pegar um pedaço de bolo.

— Dormiu bem? — pergunta, seu olhar malicioso me fez sorrir. O desgraçado sabia que tinha mexido comigo!

— Sim e você? Parece cansado — desafio entre um gole e outro do café.

— Um pouco, mas no fim consegui o que queria.

Bento entra na cozinha sacudindo o casaco. — Hoje o dia está de lascar.

— Teremos pouco movimento então. — digo.

— Mathias eu quero falar com você sobre o Haras — Bento diz.

— Aconteceu algo? — questiono.

— Aquele problema qual contei procê , menina. Temos que rever a segurança dos animais, ontem tinha algum tipo de animal esganiçado no meio do mato.

Miguel engasga com o café fazendo todos encará-lo. Dou um pisão em seu pé, esmagando seus dedos.

— O antigo celeiro estava aberto e tudo revirado, ou tivemos um casal se engalfinhando ou tinha algum animal ferido procurando por abrigo. — Bento comenta.

— Vou ficar de olho nisso. — Mathias diz. — É perigoso mesmo, mesmo que eu acredite que possa ser um casal festeiro, — ele me encarou erguendo a sobrancelha — melhor trancarmos o celeiro dos desavisados.

— Que milagre é esse eu ver tua cabeça pelada? — Bento se vira para mim.

Sorrio.

— Perdi meu chapéu ontem quando o cavalo ficou muito agitado. Logo compro outro. — me levanto terminando meu café, aquelas trocas de olhares já foram o suficiente para mim.

— E eu... — Miguel enfiou na boca o último pedaço de bolo — vou dar uma volta pelo Haras.

Vou até a entrada enfiando meus braços no casaco que estava no mancebo, assim como as luvas de couro.

— O que faremos?

Desvio o corpo encarando a porta da cozinha, Maria, Bento e Mathias estavam entretidos em uma conversa. Não sei se estavam totalmente focados ou apenas se fazendo de surdos para escutar nossa conversa.

— Dá para ser mais discreto? Eu vou conferir o cavalo que chegou ontem, e depois se quiser podemos cavalgar juntos.

Ele inclina a cabeça e inspira, sentindo meu perfume. — Adorei a ideia.

Maldito brucutu gostoso!

— Seja discreto.

Ele respira mais fundo e mordisca meu pescoço. — Por que não aceita logo minha oferta, esquentadinha, colocamos um fim nesse joguinho e podemos ver o que rola.

— Isso vai acabar mal — digo com a voz rouca. Era só questão de tempo, mas, dessa vez a culpa foi minha. Olhar para a boca de Miguel tão próxima à minha, eu queria aquele beijo, então peguei.

Meu coração martelava no peito com a sensação de poder ser pega, meu corpo e cada fio de cabelo gritava em minha mente: Brucutu!


Santiago tinha levado o cavalo para o redondel, mas ele estava tão arredio que poderia machucar ele e o ajudante que tentava segurar a rédea, ele empinava evitando qualquer tipo de aproximação.

— Vou ter que aplicar a injeção, ele vai ficar pior desse jeito.

— Espere. — digo subindo nas travas do redondel.

— Ele está muito arredio, pode machucar alguém ou até mesmo ele.

— Acho bom manter distância. — o ajudante de Santiago diz para Miguel.

— O que esse cavalo tem? Ele deveria estar grato por termos salvado ele ontem — escuto Miguel retrucar.

— Isso é o que ela pode descobrir. — Santiago comenta.

Ele corre pelo redondel dando coices nas paredes, respiro fundo pulando para dentro, parando no meio do cerco. Cada passo que dou em sua direção faz com que ele trote, evitando minha aproximação. Ele vem para cima de mim, parando perto, é a forma de dizer que me culpa, que culpa todos nós pelo que ele passou.

— Acho bom parar com isso, não tenho culpa do que ele fez com você, eu estava te salvando. — grito para ele.

Ele se arma novamente, erguendo-se nas patas traseiras, se fosse outra pessoa, com a proximidade que estávamos ele poderia fazer um estrago. Mas não me intimido, sei que ele não vai me machucar, quer apenas me amedrontar, quer me ensinar seus limites.

— Dandara, se afaste! — Santiago alerta.

Fico em silêncio encarando o cavalo.

Ele abaixa as patas, colocando a cabeça no meu ombro.

— Muito bem rapaz, isso mesmo, com calma. — retiro um petisco do bolso dando para ele. — Você vai se chamar Chuvisco.

— Ela conseguiu — escuto Miguel dizer.

— Deixa ele descansar, uma boa dose de ração e ele ficará bem. — Digo para Santiago. — Quando estiver curado começo a doma.

Vejo o ajudante dele receoso por chegar mais perto do cavalo.

— Ele não vai te atacar, é só não machucá-lo.

Ele confirma com um gesto, abrindo a porta para que Chuvisco passasse.


Trovoada está agitado em sua baia, ele sente falta quando não passeamos pela manhã.

— Estava esperando por isso, né? — pergunto enquanto acaricio sua crina. — Pronto para montar?

— Se você cavalgar como fez ontem comigo, acho que terei uma excelente manhã!

— Você não presta! — empurro seu peito, rindo — Pegue aquela rédea, Trovoada prefere montaria no pelo.

— Sem nenhuma proteção?

— Ele não vai te derrubar.

Monto Trovoada com Miguel, ele aperta meu quadril contra ele, seguimos pelo trieiro, eu aprecio o clima de pós-chuva. Atravesso o pequeno riacho rindo com Miguel apertando minha cintura com medo de cair do cavalo.

Desde que ele havia chegado no Haras estávamos em pé de guerra, como após uma chuva tudo mudou de maneira tão repentina? Credo! Isso era coisa da minha cabeça. Isso sim. Eu tinha que me focar em coisas mais importantes.

Paro perto das pedras, desço segurando as rédeas para que Miguel desça.

Dou um tapinha no dorso de Trovoada deixando-o cavalgar livre por aí.

— Ele vai voltar? — pergunta olhando para Trovoada trotando para longe.

— Sim, ele ama andar livre, todas as manhãs sento por aqui e ele fica cavalgando pelo campo.

Assim que termino de falar, aponto para a cachoeira à nossa frente. Os raios de sol refletem na água cristalina.

— Aqui é lindo.

Dou um sorrisinho de “eu sei”. Estávamos perto do morro, subindo daria para ter uma visão completa do Haras.

Estávamos em um silêncio confortável, Miguel brinca com a água com a ponta dos dedos, parece com o pensamento distante. Ele sai vindo ao meu encontro, um sorriso nos lábios, suas mãos vão de encontro à minha cintura, colando nossos corpos no meio da relva, aproximo meu rosto do seu, ele roça seu nariz no meu, minha respiração acelera. Sem conseguir conter, mordo o lábio inferior de leve e nos beijamos novamente.

Não tinha como me esquivar de algo tão forte.

— Miguel...

— Não, pare, não acabe com isso. — ele diz entre os beijos.

Sua língua explora minha boca como se eu pudesse desaparecer dali em um estalar de dedos, ele me beija como se isso pudesse me dizer algo. Havia entrega ali, em ambos, seus lábios descem por meu corpo, sua mão subindo minha blusa, fazendo meu corpo se arrepiar ao sentir a relva úmida tocar minha pele. Sua mão toca minha barriga, raspando as pontas dos dedos em meu seio, seu rosto esfrega a barba cerrada em minha pele, os pelos roçando contra minha barriga.

— É melhor voltarmos.

Miguel suspira de maneira audível. — Por que tem que estragar esse momento?

— Tenho coisas a fazer, um Haras sempre tem o que fazer.

Miguel não tenta me fazer mudar de ideia. Montamos em Trovoada para voltar, o silêncio nos acompanha até o Haras, assim que chegamos perto do estábulo Miguel pula do cavalo e quando me viro para falar com ele após colocar Trovoada na baia, ele não está mais ali.


CONTINUA

CAPÍTULO 16


Dandara

Uma semana, esse era o tempo que Miguel não dirigia a palavra a mim e muito menos eu iria procurá-lo. O silêncio pela casa era mais que bem-vindo!

Mathias, Maria e eu bebíamos nosso café puro quando ele apareceu na cozinha, a manhã estava fria, por isso adiei o passeio com Trovoada pelo campo para quando o tempo ruim desse uma trégua.

Enfio na boca o último pedaço de queijo branco de meu prato, tomando o resto do café.

— Maria, Mathias, bom dia — cumprimenta indo em direção a geladeira.

— Porra! Quem comeu meu queijo? — ele pragueja com a fuça enfiada entre as prateleiras da geladeira, fazendo Maria me olhar prepcupada e Mathias segurando o riso enquanto bebe seu café. Tudo que faço é dar de ombros, chupando as pontas dos dedos, nem um pouco arrependida. — Sumiu metade dele, e tenho certeza que ontem ele estava inteiro! — Miguel acrescenta fechando a coitada da geladeira com um baque.

— Olha só, era seu? Desculpe, eu comi — respondo na maior cara de pau.

Miguel me encara como uma carranca. — Mathias, preciso de um cavalo, estou querendo dar uma volta hoje!

— Tudo bem, posso preparar um cavalo para o senhor. — Mathias troca um olhar comigo.

— Acho que Bruto ainda está espirituoso como sempre. — digo. — Se quiser ter o traseiro jogado longe pode ir com ele.

Miguel me dá um olhar furioso. — É para agora, Mathias! — retruca saindo da cozinha.

Mathias se levanta, toma o último gole do café, — Dandara, está fazendo a vida desse homi um inferno. O coitado deve ta contando os dia para sumir por essa estrada à fora. — diz colocando o chapéu na cabeça.

— É bom mesmo que esteja. Tem sorte de eu ainda não ter cuspido no seu café — comento.

— Sei que odeia que metemos os bedelhos em coisa sua, mas os empregados estão receosos, os homi querem saber como vai ficar as coisas. Seu Miguel não veio aqui para deixar as coisas como estão, ele vai por tudo a baixo. — Mathias fala com cautela.

— Mathias, algum dia faltei com vocês? — questiono de maneira rude. Ele balança a cabeça de maneira negativa. — E isso não irá acontecer hoje. Avise seus homens que os empregos estão garantidos, nem que eu mesma banque os serviços deles.

— Pode deixar, Danda, desculpe a intromição.

— Mathias, somos família. Eu não vou falhar com vocês. — digo por fim.

Ele confirma, esboçando um sorriso em minha direção. — Santiago pediu para avisar que as vacinas chegam hoje.

— Estou ciente, assim que chegarem irei aplicar em todos. Não quero nenhum caso como a Archeron.

— Menina, a morte daquela égua não é culpa sua. — Maria diz.

— Eita , não quero prozear sobre isso, tenho trabalho me aguardando. — digo pondo meu chapéu na cabeça, seguindo para fora.


Sento debaixo de uma árvore olhando a cena. Miguel poderia tentar resgatar na mente os tempos de moleque, ele poderia até não ter nenhuma intimidade com os animais, mas pelo menos quando criança ainda conseguia montar um cavalo sem que ele tentasse morder sua coxa.

O Miguel da infância não está em nada parecido com o de agora, e não só pelo fato de ter emagrecido e ficado mais bonito, mas parece que Miguel tem ódio desse tipo de vida. Desde que chegou, olha tudo de cima, com cara de esnobe. Ele não tem vínculo com essa terra, ele não sente a importância que eu sinto quando vejo o sol raiando no horizonte, seus raios fortes iluminando essas terras.

Ele seguiu o caminho da cidade grande e eu o caminho dos bichos.

Mathias tenta ensiná-lo, mas ele parece muito com um cavalo xucro, surdo. Depois não quer ser chamado de mula. Levanto, limpando a parte traseira da calça com um espanar de mãos, me aproximando dos dois. — Mathias, vai conferir as coisas, deixa que eu cuido do brucutu.

— Não pedi sua ajuda. — Homi, mas mal agradecido!

— Não estou fazendo por você, e sim pelo cavalo, que não tem culpa do asno sentado em cima dele. — Miguel abre a boca para retrucar, mas mostro o dedo em riste — Você tem que aprender a ouvir, se segurar com força a sela, o cavalo vai entender que quer impor sua vontade e não vai deixar você cinco segundos sentado no lombo dele. Os cavalos farejam seus sentimentos de longe, ele sente quando você tem medo, raiva ou está confortável. Deixe a rédea frouxa.

— Você acha que eu desaprendi tudo que meu tio ensinou? — desafia.

— Acredito que sim, já que te salvei de vários tombos, se bem me lembro.

Ele me fulmina com o olhar. — Então vamos ver, esquentadinha. Pegue aquele cavalo mutante que você tem e vamos cavalgar por aí.

— Cavalo mutante?

— Você tem noção que ele é o dobro de um cavalo normal?

— Para sua informação a raça dele é Percheron. Ele é um ótimo reprodutor, por ser grande e forte nos dá potros com habilidades especiais para o campo. — Dou risada, vendo seus olhos se arregalarem quando o cavalo marcha para trás. — Tire os pés do estribo e, vá para trás.

Subo no cavalo com a destreza de sempre, ocupando seu lugar na cela. Eu conhecia os cavalos como a palma da minha mão aqui no Haras, por isso não tinha problemas com nenhum deles e sabia quando um deles queria fazer uma gracinha como nosso companheiro aqui.

Bato o pé no espaço entre a barriga e as patas traseiras, para que ele saia.

— Se você está pensando que vai ficar se esfregando em minha bunda, eu te jogo para fora do cavalo! Contenha suas mãos!

— Calma mulher estressada.

Tiro o chicote da bota acertando na bunda do cavalo e o animal sai em galope, soltando um relincho alto. Seguro o riso vendo que Miguel ficar tenso. — Gostando, brucutu? — Ele não responde.

Forço o cavalo ir mais além, sentindo a adrenalina do galope correr pelas minhas veias, sinto as mãos de Miguel segurarem minha cintura e o arrepio disso eriçar os pêlos de meu braço.

Cavalgamos um pouco pelo Haras indo até o campo aberto onde fico com Trovoada e voltamos para o Haras, parando no estábulo.

Desço do cavalo, colocando as mãos na cintura. — Gostou do passeio?

— Você queria se exibir.

— Não preciso me exibir para você. Já é um milagre que você tenha ficado em cima do cavalo enquanto estávamos cavalgando.

— Olha aqui, você se acha incrível, acreditou mesmo que eu precisava de você?

Gargalho com irônia. — Você não sabe nem ao menos como se monta num cavalo. É uma sorte que saiba onde fica o rabo e a cabeça.

— Você é mesmo muito...

— Muito?

Miguel se inclina, ficando mais perto de mim, quando seu rosto praticamente cola no meu, pude sentir sua respiração. O perfume exalava, eu tinha começado a odiar esse cheiro, cheiro que me tirou o sono nas últimas noites, mas senti-lo tão perto me embriagava. Antes que eu pudesse raciocinar, os lábios de Miguel grudaram nos meus. Os braços fortes rodeando minha cintura.

— Sua esquentadinha, está tentando o quê? — Parecia que ele estava falando mais consigo mesmo do que algo para mim.

Sua língua voltou a lamber o canto de minha boca, seus dedos apertando minha cintura, uma de suas mãos subiu por minha espinha.

Acaricio sua coxa, bem perto de seu membro.

— Vamos sair daqui — sussurra como um pedido. Suas mãos apertando minha bunda, passeando por todo meu corpo, da cintura até o pescoço. Ele beija minha boca com ferocidade, empurro seu peito sentindo os músculos firmes contra a palma de minhas mãos, descolando seu corpo do meu, vendo a malícia nos olhos de Miguel. — Por que parou? — pergunta.

Respiro fundo ainda olhando para ele, controlando a maluquice da qual acabo de me curvar...então, tenho uma ideia. — Espere um minuto, o Haras ainda está movimentado, vou checar se ninguém está por perto e trancar a porta. — digo de um jeito safado, bem parecido com o que Cindy fazia sempre que conhecia um homem de fora.

Ele passa a mão sobre o pênis por cima da calça, animado. Vou até lá fora, vendo que realmente não tinha ninguém por perto, puxo uma das portas travando-a no chão e repito o mesmo processo com a outra, mas antes de fechar e entrar como falei que faria, dou um tchauzinho para ele, fazendo seu sorriso desaparecer. Percebendo o que estava prestes a fazer.

— Agora sim você está no seu devido lugar, uma pena que não tenhamos nenhum curral para você nadar com seus amigos...porcos! — digo rapidamente.

Miguel corre ao meu encontro, mas antes que ele me alcance, fecho a porta passando a tranca.

— Dandara, abre isso daqui! — seus gritos se misturavam com os relinchos dos cavalos incomodados dentro do estábulo. — Dandara, sua caipira maldita!

— Desculpe, brucutu. Aproveite seu tempinho com os cavalos e limpe as baias deles, Deus sabe como temos quilos e quilos de esterco por dia. Qualquer coisa tem feno e água se sentir fome. Isso deve bastar para você.

Ele bate na porta, fazendo-a tremer, gritando pelo meu nome. Urrando de raiva por ter caido feito patinho em minha arrapuca.

Cruzo com Bento no caminho de volta ao casarão, girando as chaves do estábulo entre os dedos e rindo feito uma maluca.

— Gosto de vê-la animada, mas está com cara de quem aprontou.

— Que é isso, Bento! — me finjo de inocente.

Ele bate na aba do chapéu, não acreditando nem um pouco no que eu estava dizendo. — Mathias está com os cavalos, quase todos foram vacinados, ele ficou esperando ocê aparecer, mas preferiu dar logo. Ficou fartando apenas o último estábulo. — comenta indicando o estábulo que tranquei Miguel.

— Diga que farei aquele estábulo, estou dando um castigo em um cavalo xucro. Ignore os resmungos, o cavalo está dando coice em todas as paredes, já vi cavalo dificil, mas esse...logo domo também — digo colocando um enorme sorriso no rosto.

Bento olha ao nosso redor, como se procurasse alguém e eu sei quem está procurando.

— Dandara, Dandara...

— Fique calmo, por que não vamos tomar um café, quem sabe Maria fez aquele pão doce que tanto amo? — pergunto enlaçando meu braço no seu, levando-o para longe do estábulo onde Miguel estava, acredito eu, urrando de raiva pelo tremor que a porta fazia.


CAPÍTULO 17


Miguel

— Sua caipira insolente! Como eu sou burro!

Eu esmurro a porta que nem um doido, gritando tanto que sinto minha voz falhar e ninguém aparece por ali. Viro olhando para os cavalos que relicham, só me faltava esses bichos me atacarem.

— Abre a porta! — grito de novo. Ando pelo estábulo procurando uma outra saída, lembrando de suas palavras “Aproveite e limpe as baias” , que filha da mãe! Até parece que eu iria sujar minhas mãos limpando merda de cavalo.

O cavalo no qual demos uma volta antes dela me trancar aqui chega perto, me fazendo pular de susto. Ele se sacode, sua crina bate de um lado para outro e solta um pequeno relincho.

— É, aquela ali não presta!

Cômico! Agora eu estava conversando com um cavalo como se ele pudesse me entender. Eu torceria o pescoço de Dandara assim que me livrasse dali.


Não tinha noção de quanto tempo tinha se passado, sei que estava de saco cheio de ficar ali.

— Noite, brucutu. Como foi seu dia?

Fico de pé chegando perto da porta, eu mataria essa mulher! — Pare com essa brincadeira de mau gosto, me tira daqui!

— Pelo visto continua grosseiro e sem educação. Espero que não esteja maltratando meus animais, por que se estiver, não vai ficar apenas dois dias trancado aí.

Meu sangue ferve nas veias. — Dandara, estou te avisando, quando eu sair daqui...

— Chega de ameaças em vão, vou te tirar daí quando aprender sua lição.

Esmurro novamente a porta, escutando seu risinho e seus passos se afastarem, — Dandara, estou com fome!

— Coma feno, brucutu!

Os cavalos mal se importavam por estar ali com eles, nos primeiros minutos e até primeira hora eles ficavam espiando ou fungando em minha direção. Agora? Muitos nem ao menos me encaravam, olho novamente para o cavalo solto perto de mim, ele abocanhou um punhado de feno mastigando e quando repetiu o gesto despejou um pouco em minhas pernas, como se dissesse que era bom.

— Tá de brincadeira você também!

Empino o nariz, olhando na direção contrária. Mas volto a encará-lo quando ele vem para cima de mim despejando mais feno em minhas pernas, seu focinho se torce inteiro enquanto mastiga.

— Ei amigão, pode ser bom para você, mas isso daí é mato. E alguém já te ensinou a dar espaço as pessoas?

O cavalo relincha, dando as costas para mim, batendo seu rabo bem no meio do meu rosto. Me fazendo xingá-lo. Como se estar preso junto aos cavalos não fosse o suficiente, ou do fato de estar com frio também não fosse, ainda tinham os mosquitos que faziam seu banquete atacando minhas veias.

Minha barriga roncando, meu corpo coçando e eu fedendo a estrume de cavalo.


Os raios de sol atingindo meu rosto me fizeram apertar os olhos tentando ver quem estava entrando, se fosse Dandara eu daria uma palmadas em sua bunda.

— Miguel? — Mathias perguntou surpreso, tentando entender tudo que estava acontecendo, olhando para a bagunça que tinha feito nos blocos de feno ao tentar arrumar um jeito para dormir. — O que você está fazendo aqui?

— Pergunte para aquela caipira filha da mãe — digo bravo, ficando de pé, sentindo as costas reclamar pelo movimento brusco.

Ele dá uma gargalhada. Mas se adianta a falar: — Desculpe, Seu Miguel.

Meu corpo chia de dor a cada maldito movimento, preciso de um banho quente, comida e boas horas de sono. Quando me recuperar ela vai ver, eu vou colocar essa caipira em seu lugar!

Estou com esse pensamento até ver Dandara caminhando sorridente em direção ao casarão.

— Ah, sua potranca mal educada! É bom correr. — ameaço gritando.

As pessoas que estão perto de mim me olham assustadas, e devem mesmo, porque meu rosto não deve estar nada amigável. Dandara se vira, o sorriso sumindo do rosto ao me encarar e então ela corre, empurra Santiago para longe e corre como uma moleca travessa sendo pega na artimanha, entra correndo no casarão.

Corro tão rápido que logo estou fazendo a porta de madeira branca bater contra a parede e escuto Maria falando alto na cozinha:

— Menina, o que houve? Tá tentando tirar o pai da forca?

— Dandara! — grito novamente.

Entro na cozinha vendo-a atrás de Maria, como se eu tivesse receio de ir lá lhe dar umas boas palmadas!

— Pare de correr, será pior quando eu te pegar! — ameaço.

— Ei, não quero bagunça na minha cozinha! Dandara o que você aprontou com o homi ? — Maria bate com a colher de pau na bunda de Dandara que agora tenta se esquivar de mim e de Maria.

— Vai fazer o quê? Me bater? Agora bate em mulheres? Quero ver encostar a mão em mim!

— Não, nunca encostei em uma mulher, mas dizem que para tudo tem uma primeira vez. E minha mão está coçando — grito.

Dou a volta na mesa, Dandara corre para o outro lado, fazendo o banco cair e eu tropeçar ao tentar pulá-lo, caindo de quatro no meio da cozinha. Sua gargalhada alta, faz minha raiva ferver mais que panela de pressão no fogo. — Ria enquanto pode.

— Alguém pode parar esses dois? Eles irão destruir a casa! — Maria grita empunhando sua colher de madeira. — Estão parecendo duas crianças!

— Desculpe Maria, mas não vou me meter — escuto a voz de Mathias enquanto corro atrás de Dandara que vai para a sala. — Dandara prendeu o homi no estábulo, peguei ele dormindo de concha com os cavalos.

Maria me encara, a mão na boca tentando segurar o riso.

— Vai, pode rir. Quero ver se aquela filha da mãe vai continuar rindo da minha cara quando eu a pegar — bufo, com os olhos em Dandara.

Ela faz um movimento errado diminuindo nossa distância, pulo sobre o sofá, meus braços envolvem sua cintura, tirando seus pés do chão. Não penso duas vezes, jogo seu corpo em meu ombro, dando um tabefe em sua bunda.

— Me solta! — Dandara grita.

Ela bate em minhas costas, os socos doem, não é que a Diaba tinha uma força bruta?

— Como foi sua noite? A minha foi maravilhosa, tá sentindo meu cheiro? Quer ver a quantidade de picadas que tenho espalhadas pelo corpo? Acho que tenho feno até em parte que desconheço!

Dou mais alguns tabefes em sua bunda que a fazem gritar. Eu estava puto por ela ter me deixado ao relento no meio dos bichos. E ficando com tesão, isso mesmo, ter o corpo daquele Diaba tão perto, tão ao meu alcance. Seus seios roçando em minhas costas, estava fazendo meu pau ficar rigido como uma tora, maldita hora para uma ereção. Eu queria mesmo é vê-la de quatro enquanto castigava sua bunda por ter me deixado trancado junto dos cavalos, mas também saborear cada gemido que ela pudesse...

— Meu Deus, Seu Miguel, solte a menina! — Maria exclamou.

— Não antes de lhe dar uma lição! — digo.

— Seu Miguel, não me obrigue a usar a Betinha em ocês dois. — Maria alerta.

— Não estou brincando, brucutu! É bom me soltar! — Dandara urra em minhas costas.

Acerto um tapa mais forte, jogando seu corpo no sofá, prendendo seu corpo ali ao apoiar meu joelho de um lado e o braço ao lado de sua cabeça, vendo seus olhos se arregalarem por um pequeno instante, mas o suficiente para meu dar um gostinho doce na boca. — Você tem sorte que é mulher, mas eu poderia, como vingança, soltar aquele seu cavalo gigante que tanto ama... — digo de maneira perversa — Como você ficaria?

Dandara me empurra com força, ficando de pé. — Você nem pense em tocar no Trovoada, você me entendeu? — responde praticamente gritando.

— Seria excelente, quem sabe assim você aprende a respeitar as pessoas? — retruco segurando seu braço.

— Larga meu braço, Miguel!

— Você quer me enlouquecer, você vem, me atiça, me provoca...

— Você se aproveitou da situação! — retruca.

— Você não se faça de sonsa! — grudo seu corpo mais no meu — Adorou o que fiz com minha boca.

— Misericórdia! — o sussurro de Maria quase me tira o foco da diaba em minha frente.

— Eu odeio você, Miguel! — Dandara tinha ficado furiosa, mas confesso que não liguei para o que ela estava falando, só conseguia ver aqueles lábios se mexendo. Queria torcer seu pescoço, mas também queria fodê-la. Como essa mulher me tira do sério!

— Você quis tudo que aconteceu e tá querendo mais que eu sei.

Seguro um punhado de seu cabelo bem justo no pescoço roubando um beijo, mordo seu lábio nem me importando por ela reclamar ou tentar me empurrar. Dandara retribui meu beijo, até me afastar, empurrando meu peito, fazendo com que me desequilibrasse dando alguns passos para trás rindo.

Ela limpa a boca me olhando com raiva, cospe no chão e então corre escada acima.

— Minha mãe dizia que muito ódio vira amor. — Maria retruca.

Viro vendo que Mathias e Maria ainda assistiam nosso pequeno showzinho. — Dela quero distância — digo marchando para meu quarto.


CAPÍTULO 18


Dandara

Bato a porta fazendo as coisas estremecerem dentro do quarto. Maldito brucutu! Arranco minhas roupas jogando-as no cesto perto do banheiro, ligo o chuveiro bem quente, quente o suficiente para que ao tocar em minha pele pudesse queimar o toque daquele... Engulo os pensamentos raivosos que passam por minha mente esfregando meus braços, meu pescoço, qualquer lugar que ele tivesse encostado, na tentativa de tirar o cheiro dele. Ainda não conseguia acreditar na petulância daquele brucutu. Miguel realmente não tinha amor pela vida.

Confesso que deixá-lo ao relento não foi algo muito sensível de minha parte, mas ele mereceu e, vai merecer cada pisão em seu pé a partir de hoje.

Bater na minha bunda e me tascar um beijo na frente de todos? Quem ele pensa que sou? Enquanto terminava meu banho pensava em mil maneiras de me vingar, mas acabei descartando todas, eu é que não desceria ao nível infantil dele, minha melhor vingança seria chutar a bunda dele para fora do meu Haras quando tudo acabasse.

Visto um short e uma camiseta puída e chinelos, melhor me ocupar dando banho nos animais do que cruzando meu caminho com certas mulas por aí. Atravesso o Haras em silêncio evitando falar com qualquer um que cruze meu caminho.


Agradeço pelo trabalho parecer não ter fim e os músculos espalhados pelo meu corpo começarem a protestar do esforço feito, passar o tempo no meio dos cavalos me acalmava e me fazia esquecer por alguns instantes minha vontade assassina contra Miguel. Mas amanhã mesmo eu ligarei para o advogado, não dá para continuar assim, mais dia ou menos dia e eu mataria Miguel. Que ideia absurda de Pedro me colocar nessa enrascada.

Já era noite quando paro fecho a última baia. Trovoada relincha animado após o banho, sacudindo a cabeça e sua longa crina.

— Teve um dia melhor que o meu, né, bonitão?

Saio do estábulo trancando as portas, todos os funcionários já tinham ido embora, caminho observando a noite, as estrelas e a lua cheia brilhando forte no céu, o som dos grilos cantando no meio do pasto.

Entro no casarão, tiro o chapéu, deixando-o no mancebo de madeira. Tudo estava em completo silêncio, poucas luzes acesas indicando que até a Maria tinha se recolhido.

Passo pelo quarto do brucutu vendo a luz está acesa sair pela pequena fresta da porta, estava prestes a entrar em meu quarto quando escuto uma porta atrás de mim se abrindo.

— Esquentadinha!

Viro, vendo-o só de cueca box, o corpo todo amostra.

— Não dirija a palavra para mim!

— Eu disse hoje cedo que tinha contas a acertar, você acha que seu showzinho me botou medo? — questiona vindo em minha direção.

— Se colocar as mãos em mim é bom começar a rezar para sair com ela no lugar!

— Não tenho medo de suas ameaças vazias — retruca.

— Vazias serão as suas bolas quando eu chutar para longe. — ameaço

— Você acha que vai me enlouquecer? — pergunta vindo em minha direção — Acredita mesmo que vou cair nos seus truques?

— Truques? — Gargalho alto — Não sou eu que fico agarrando você para roubar beijos.

— Vai dizer que não gostou?

— Já percebi que gosta de brincar com fogo! — desafio — Cadê toda aquela falamansa que andou esbravejando por aí? Homi metido a machão, não consegue parar de encarar para minha boca enquanto eu falo. Tudo isso é desejo?

— Não me torno frouxo por ter você na minha mente, me torno se não conseguir tirar, — Miguel dá mais dois passos em minha direção — e isso eu sei como fazer.

— Você pensa que me leva fácil, né?

— Você gosta de mexer com os homens, “se sente” fazendo isso...

— Eu não sou de quem me quer, sou de quem eu quero ser, e faço porque posso. — respondo dando um sorrisinho.

Miguel puxa meu corpo para o seu, fechando a porta com o pé, sua boca mordendo a minha enquanto distribuo tapas sobre seus ombros, costas, todo lugar que minhas mãos alcançam. Mas seu beijo furioso vai desarmando meu corpo, principalmente quando solta minha boca beijando de leve e devagar meu pescoço, rindo contra minha pele que se arrepia com seu toque, acabando com qualquer defesa minha. Não tinha gentileza no toque, havia desejo e prazer, junto de uma pessoa que queria provar seu argumento.

As mãos de Miguel ergueram meu corpo, sua língua forçando minha boca a se abrir ainda mais. Eu meio que empurro, e volto a puxar seu corpo para o meu. Precisei inspirar profundamente algumas vezes quando sua boca tomou o pequeno vão entre meus seios, sua lingua quente tocando minha pele fazia meus mamilos endurecerem e meu corpo querer mais. Sentir a proeminência em sua cueca também não ajudou muito meus pensamentos entrarem num bom senso.

Não era correto eu me render ao seu toque, não quando tinha aberto minha matraca falando que não me entregaria numa bandeja para ele, mas que diacho! Mordo seu lábio inferior, empurrando seu corpo para longe, tentando controlar a respiração. — Chega!

— Por que parar agora? — questiona agarrando novamente minha cintura.

— Eu disse chega, Miguel!

Suas mãos continuaram apertando com firmeza minha nuca, seus olhos mostravam que não estava disposto a me deixar em paz, que não sairia de meu quarto com aquela decisão fraca com a qual eu tentava me agarrar.

— Chega nada, não para mim e com certeza não para você. Eu sinto seu corpo vibrando em minhas mãos, Dandara.

Não arrisco olhar para ele, com medo que ceda aos meus instintos. Ele segura meu braço, olhando no fundo de meus olhos.

— Eu quero você, Dandara!

— Você quer me passar para trás, quer ter motivo para fazer chacota, quer o Haras, não é porque fui criada no meio do mato que não conheço homens como você, Miguel!

— Cala um pouco a boca, esquentadinha!

Abro os lábios para retrucar, mas é tarde. Ele pega meus braços, me empurrando contra meu armário, meu corpo inteiro treme com o calor do toque, ele tira a barra de minha camiseta de dentro do short, traçando livremente pelo meu corpo até meu seio. Miguel me vira de costas, mordendo meu pescoço, o corpo colado no meu, e acaba abrindo meu sutiã. Segurando meus seios, massageando-os nas mãos, beliscando meus mamilos sedentos por atenção. Roço minha bunda contra seu membro rigído na cueca, fazendo com que ambos gemêssemos.

Miguel continua acariciando meu corpo, mordendo e chupando meu pescoço. — Quero você, aqui e agora. — ele arranca minha camisa pela cabeça, fazendo a mesma coisa com meu sutiã, chupando meus seios, sugando-os até que eu não pudesse conter mais meus gemidos de prazer. Meu sexo pulsa, até dolorosamente quando a pressão do prazer explode em certas áreas.

É errado continuar com isso? Puxá-lo par mim, desejando seu corpo, respiro profundamente tentando encontrar a raiva que me alimentava horas atrás, mas só encontro o desejo.

Miguel conduz nossos corpos para a cama, arrancando o resto de nossas roupas, assim como o preservativo escondido no cós da cueca, em um segundo estava entre minhas pernas, sua mão agarrando meu cabelo, sua boca mordendo meu queixo.

Segurando meus seios com as duas mãos, apertando e puxando os bicos, lambendo minha barriga, minha cintura, roçando a barba pela minha pele, deixando-a rosada e eriçada. Um gemido explodiu de mim quando sua língua encontrou meu clitóris, seguro firme o lençol querendo tremer com o que ele fazia em minha intimidade, sua boca não me dava misericórdia alguma, sua língua muito menos. Quando seu dedo me invadiu, minhas costas se curvaram e o gemido saiu mais alto, fazendo eu ganhar um tapa na bunda.

— Desculpa, esquentadinha, mas teremos tempo para fazer amor em outro momento, agora, eu quero que seja rápido, que queime esse fogo dentro de mim.

Miguel desenrola o preservativo em seu membro, nunca tirando pelo menos uma de suas mãos do meu corpo, seus dedos tocam meu sexo, me fazendo arfar. Chupo os dedos que me tocam, vendo Miguel mordiscar o lábio e sorrir. Seu pau encaixado em minha entrada, deslizando de maneira lenta, começo a rebolar, fazendo seu membro se remexer dentro de mim.

Enquanto eu rebolo, Miguel segura meus cabelos de forma bruta, aumentando o ritmo dos movimentos, entrando e saindo de dentro de mim, segurando minha cintura com a mão livre fazendo seu membro ir mais fundo, meu corpo treme e Miguel geme alto.

Estavamos nos devorando, caricias eram feitas pelo nossos corpos ondulando juntos, enquanto eu consumia cada gemido e estocada que Miguel produzia.

Aperto os lençóis entre os dedos, seguro seu pescoço com firmeza quando ele encaixa a boca sobre meu seio, montando em seu colo, sentando com força sobre ele, gostando do modo como ele geme e descola a boca de meu mamilo, jogando a cabeça para trás rendido.

— Puta que pariu, você é deliciosa! — diz baixinho contra meu pescoço.

As estocadas duras fazem meu corpo tremer, meus seios balançam com o ritmo forte do sexo que fazemos. Ele geme agarrado em minha cintura, forçando meu corpo para baixo, quebrando as últimas barreiras, me fazendo gozar. Miguel ainda mantém o ritmo por algumas estocadas até que goza, seu membro latejando dentro de mim, se misturando com nosso suor, os tremores do meu corpo e do seu e as batidas descompassadas dentro do meu peito.


Quando eu estou envolvida em seus braços

O mundo todo apenas desaparece

A única coisa que escuto é

o bater de seu coração.


Porque posso ouvir sua respiração

Está se derramando sobre mim

E de repente estou me desfazendo dentro de você

(Breathe, Faith Hill)


Arre égua , estou perdida...

Levanto com um sobressalto e empurro para longe o braço forte que rodeia meus seios, tentando soltar meu corpo. Parece que os braços dele tinham se tornado uma braçadeira de ferro, o jeito foi sair me rastejando pela cama como uma cobra, até que eu caísse de bunda no chão.

Pego uma muda de roupa e corro para o banheiro, tomo um banho rápido, não parando nem para secar o cabelo, apenas escovo e deixo solto pelas costas. Não é que eu não queira encarar a asneira que tinha feito noite passada, mas...bem, era isso mesmo, não queria dar de cara com Miguel, por isso levantei mais cedo que até o próprio sol e me esgueirei para fora do quarto com as botas nas mãos.

— Fugindo de alguém, menina?

Pulo tampando a boca para que meu grito de susto não faça eco pelo corredor escuro.

— Cristo pai, você quer me matar do coração, Bento? — questiono sentindo os batimentos acelerados contra o peito.

— Desculpe, mas estava saindo do quarto como quem escondia um cadáver, devo me preocupar? — pergunta encarando a porta que eu havia acabado de fechar.

— Deixe de besteira homem, só tive uma noite ruim.

Bento coça a cabeça com a bengala velha. — Arra, por falar em noite ruim, tinha algum animal sofrendo ontem, Maria e eu mal pegamos no sono, parou de sofrer era já tantas da madrugada.

Engulo em seco, será que tínhamos feito tanto barulho assim?

— Vou ficar de olho nos arredores, tenha um bom dia, Bento.

Escuto o riso baixo dele enquanto caminho pelo corredor. — Bom dia, menina.

O dia não tinha se levantado, mas mesmo assim entro no estábulo para conferir como estão os animais. Reponho água e feno, depois me dirijo á baia de Trovoada, ele vira a cabeça não querendo olhar para mim.

— Qual é, amigão, está bravo comigo?

Ele me encara, dando uma fungada balaçando a cabeça como se confirmasse.

— Que tal recompensar isso com com uma corrida?

Ele relincha ainda evitando me olhar, eu conheço o jogo dele, Trovoada é um menino mimado, e a culpa é toda minha.

— Tudo bem então, já que não quer mais minha companhia...

Ele relincha mais alto, levantando as patas da frente. Fazendos os outros cavalos reclamarem.

— Você é um garotão mimado! — brinco, pulando a portinhola da baia, subindo diretamente no pelo, me agarrando ao seu pescoço. — Vamos ver o sol nascer.


Ficar perto dos cavalos ou montar em Trovoada é como respirar, algo tão natural, acredito que eu aprendi a montar antes mesmo de andar.

Saímos em direção ao campo aberto, ganhando velocidade a cada passada, sentindo o vento frio da madrugada ir contra nós. Eu precisava limpar minha mente, precisava tirar Miguel e a noite de ontem da mente, precisava tirar essa distração total, ainda não sabia o que pensar sobre essa história de Miguel conseguir meu Haras, o que faria com as famílias e funcionários que dependiam dos seus empregos? O que faria com os cavalos? Para onde eu iria com Trovoada? Aqui sempre fora meu lar, foi meu lar quando minha mãe faleceu, foi meu lar quando meu pai morreu em um torneio de rodeio.

O Haras é meu santuário, minha casa, eu aprendi a escrever no lombo de um cavalo, fiz desenhos nas paredes do antigo celeiro, aquilo era meu refúgio...

Volto para o Haras depois de admirar o sol nascendo, em alguns dias começaria o outono e o frio ocuparia as noites, o que me fazia sair pelos campos ajudando os cavalos que podem se perder ou sofrer com as chuvas repentinas.

Vou até o escritório respirando fundo, ao sentar em minha cadeira, tiro o chapéu, deixando-o sobre a mesa.

— Entre — respondo à batida na porta.

— Dandara, bom dia.

— Daniel, estava mesmo esperando por você. Sente-se.

— Em que posso ajudá-la?

— Quero saber mais sobre o Haras, por que Pedro deixou o Haras com Miguel, ele conhecia o sobrinho, nunca teve interesse por nada, mal sabe a diferença entre a crina e o rabo dos cavalos. Porque deixar o Haras nas mãos dele? — solto tudo de uma vez, expondo minha irritação, minha indignação. — Você me conhece desde menina, Daniel, eu ensinei sua neta a montar, eu cuido desse Haras como se fosse meu filho. Deixei as competições para administrar tudo isso quando Pedro descobriu a doença, abdiquei minha carreira para dar minha vida ao sonho dele.

Sinto as lágrimas forrando a parte debaixo dos meus olhos.

— Quando ele desejou implantar o projeto fui eu quem o apoiou, eu que contratei os profissionais, saí em busca de patrocinadores, tenho mais de trezentas crianças se benificiando do projeto. Temos selos e premiações.

— Eu sei de tudo isso Dandara, mas não cabe a mim dizer os motivos que influenciaram Pedro a tomar essa atitude. Ele escreveu uma carta, uma carta para você e Miguel, que só poderá ser lida após a decisão ser tomada.

— Uma carta? E você não me comunicou antes por quê?

— Dandara, como disse, isso não está em minhas mãos. Pedro deixou ordens explícitas.

— Arre égua , uma bosta a essas ordens!

Bufo, tentando controlar minha irritação.

— O único conselho que eu posso dar é: mostre ao Miguel o quão bem o Haras faz, mostre seu amor por tudo que você e Pedro criaram nesses anos. Faça-o não vender o Haras, até mesmo unindo os dois planos, por que não?

— HÁ HÁ, transformar meu Haras em um hotel de luxo para madames enfrescuradas? Quando um cavalo cagar nos pés delas quero ver quantas estrelas sobrará. É de pessoas como Miguel que eu sempre fugi esses anos, não quero o dinheiro de quem vê meus cavalos como um pedaço gigante de bife passeando por aí.

— Tente ao menos resgatar o amor que Miguel tinha na infância. — Daniel aconselha.

— Por Cristo, Daniel. Pedro estava maluco no final dos seus dias. Ele acreditou mesmo que os chiliques na infância de Miguel era por mais tempo com os animais? O menino gritava se um porco grunhice em sua direção. A última vez que pisou no Haras fez uma estripulia soltando metade dos cavalos das baias. Foi um Deus nos acuda até recuperarmos tudo.

Daniel segura o riso, ajeitando melhor a postura na cadeira.

— Quer que eu conte a vez que soltou uma bombinha estampido no meio do pasto? Pedro saiu atrás dele na base do chicote.

— Vou dizer a mesma coisa para você como diria para Miguel: não posso intervir, a questão não é uma briga de foices. É vocês conversarem o que é melhor para o Haras...

— Ele irá vender tudo, demolir tudo, sabe quantas pessoas tenho trabalhando aqui? Quantas famílias envolvidas? Imagina todos os dias você se levantar e as pessoas te encararem com perguntas nos olhos, meus funcionários não sabem como será o amanhã. Nem se terão o salário no mês que vem — resmungo — É com isso que lido.

— Miguel fez uma proposta, ele quitaria as dívidas que o Haras tem, e fez uma consulta com as fazendas de corte e o Haras vizinhos para a possibilidade de vender os cavalos. Acredito eu que queria sondar o terreno para saber o valor de um manga-larga.

Levanto enfurecida, batendo as palmas das mãos na mesa. — Ele quer levar uma chicotada!

— Dandara! — exclama.

— Ele que tente encostar em meus cavalos, ele que tente... Arre égua!

— Quando o assistente de Miguel entrou em contato comigo deixou bem explicíto que o único que ficaria fora desse pequeno inventário seria o Trovoada.

Arqueio a sobrancelha — E isso alivia minha vontade de matá-lo? Ah claro, ele foi gentil em não vender um cavalo que foi presente de meu pai!

Eu estava soltando fogo pelas ventas, o filho duma égua teve coragem de agir pelas minhas costas e depois vem com sua falamansa e me leva pra cama. Eu sou muito burra mesmo!

— Bem, Dandara. De todas as formas, se vocês não chegarem a um acordo, se você não aceitar vender sua parte para ele ou se não conseguir pagar a dívida, automaticamente o Haras entra em um processo e se ele tiver a possibilidade, vai acabar nas mãos de Miguel. Se isso não ocorrer, de qualquer forma, assim que o tempo imposto pelo Seu Pedro acabar, o Haras entrará num processo onde quem terá o poder de decisão é a justiça. Isso pode envolver até mesmo leilão, por conta das dívidas.

— Então é: corre pro mato ou corre pro morro. — suspiro.

— A maneira de todos saírem satisfeito é vocês tentarem resolver isso amigavelmente.

— Tudo bem, obrigada pelo seu tempo doutor.

Ele concorda com um gesto, levantando-se. — Fique bem.

— O senhor também.

Acompanho o advogado para fora, fechando a porta atrás de mim. Caminho até o espaço para equitação, vendo os montadores treinando.

— Dandara!

Abaixo um pouco a aba do chapéu fazendo sombra para o sol forte da manhã. Carolina vem calvagando em minha direção, acenando. — Bom dia!

— Preciso da sua ajuda, sinto Damião entrando errado nos obstáculos.

— Dá uma volta para eu observá-lo — digo pulando a cerca.

Carolina trota se afastando, fazendo semicírculos para aquecer o cavalo, passa pelos primeiros obstáculos e vejo que Damião está com uma passada errada, as pernas de dentro estão trotando mais longas que as de fora. É preciso equilibrar o lado que ele está tendo maior dificuldade. Carolina também anda forçando demais no elevado, a conexão entre eles também estava meio mexida, isso acontecia com cavaleiros que entravam na época de competição, tinham muita pressão e sentimentos misturados e acabam passando para os animais.

— Bom dia, esquentadinha, tinha espinhos na cama essa manhã? — Miguel agarra minha cintura e beija meu pescoço. Me esquivo com um sorrisinho, ainda com raiva por ele ter agido pelas minhas costas.

Seu olhar malicioso mexe comigo. O desgraçado sabe que venceu ontem!

— Levanto antes mesmo do sol, coisa de caipira. — me atrevo a desafiá-lo.

Miguel sorri abaixando a cabeça, ainda me olhando. — Confesso que tive uma noite excelente. Poderíamos repetir nossa conversa hoje a noite, o que acha?

— Poderíamos, mas não vamos, tenho mais o que fazer. E nada mudou.

Miguel me encara surpreso, — O que eu fiz? Acordou azeda como um limão, você não cansa de distribuir coices?

Nós estavamos em um maldito pé de guerra e tudo que eu conseguia me lembrar quando encarava os olhos castanhos de Miguel é onde sua maldita boca esteve ontem a noite. E eu excitada por cada gesto que aquele brucutu fez! Deveria dar um tapa em mim mesma!

— Que tal darmos uma volta? Você poderia me mostrar a região.

— Claro, tem algo que ficou de fora de seu inventário? — mordo a língua por ter falado disso.

Miguel fica surpreso, mas logo se afasta de um passo, confirmando o que Daniel tinha dito mais cedo, ele realmente agiu pelas minnhas costas.

— Dandara...

— Cala a boca, brucutu! Se não quer ver a cara enfiada no esterco de cavalo, fique quieto!

Viro sinalizando para Carolina se aproximar.

— Teremos que trabalhar algumas coisas em vocês dois. Faça uma pausa, eu vou preparar o redondel.

— Ok, obrigada Dandara.

Sorrio pulando o cercado novamente, ignorando Miguel que me seguia como uma sombra.

— Não cometi nenhum crime, Dandara.

Reviro os olhos, caminhando para longe.

— Você está sendo teimosa, poderíamos resolver isso de outro jeito, quem sabe unir o útil ao agradável.

Viro fazendo-o parar quase tropeçando em mim. — Diga brucutu, qual sua excelente ideia? Já recebeu oferta pelos meus cavalos? Ah, muito obrigada por deixar Trovoada de fora, foi uma gentileza imensa, já que não quis vender também um presente de meu pai.

Sinto que estou quase gritando.

— Eu não venderia seu cavalo, vejo o amor que sente por ele. Posso não ser um especialista ou não gostar das mesmas coisas que você, mas não quero mal aos bichos.

— Não quer o mal deles? — Sinto minhas bochechas pegando fogo, Miguel mesmo mantém uma certa distância de mim. — Sabe qual a diferença entre um cavalo para lidar com o gado e um cavalo de montaria e competição?

Ele dá de ombros.

— Exato, se não sabe essa imensa diferença e mesmo assim foi oferecer meus cavalos para donos de fazenda de corte. Você com certeza não quer o bem deles. Jumento! — disparo a falar.— Mas tenho uma solução, vá embora, se não quer o mal deles, vá. Ou está esperando a foda de despedida? Quer ir para o celeiro desativado? — pergunto desatando o nó da minha camisa xadrez fazendo ela revelar minha blusa curta.

— Deixe de ser ridícula! — ele grita, chamando atenção das pessoas que passam por nós.

— Não sei onde Pedro estava com a cabeça, ele só poderia estar alucinando quando decidiu deixar meu Haras para você! — Vejo o olhar irritado de Miguel, mas não deixo que fale. — Tenho muito trabalho a ser feito, se puder pelo menos não atrapalhar, eu agradeço.

Estava pronta para deixá-lo parado sozinho quando vejo Cindy galopando em minha direção. Era hoje, definitivamente eu mataria um.

Ela se aproxima com o sorriso mais falso que nota de três reais, diminuindo o galope, parando o cavalo perto da cerca e desce, balançando a mão em nossa direção. — Dandara! Era você mesmo que queria encontrar!

— Só me faltava essa — sussurro. — Acho que errou, sua prenda está bem na minha frente — digo com um sorriso cínico nos lábios.

— Forasteiro, desculpe não ter vindo mais cedo, vejo que ficou totalmente curado do ataque de fúria de Dandara.

Miguel sorri, deixando que a oferecida lhe agarrasse o pescoço dando um beijo bem perto de sua boca.

Maria trepadeira! — penso com raiva.

— Estou bem sim, que surpresa boa vê-la aqui. Estava agora mesmo comentando com Dandara que queria dar uma volta pela região.

Cindy sorri animada. — Então encontrou sua companhia, faço questão de ir com você.

Miguel me encara vendo minha cara de poucos amigos. E mesmo que eu tente disfarçar meu ódio por Cindy, ele se aproveita da situação. Segura na cintura fina da trepadeira, abrindo um amplo sorriso. — Podemos dividir o mesmo cavalo, eu não estou acostumado a montar sozinho.

— Ihaaaahhh, mas é claro! — ela diz animada. — Ah, Dandara, eu soube que está preparando uma competição aqui no Haras.

Miguel me encara curioso, até mesmo me fuzilando com os olhos.

— Sim, é para angariar fundo para o Haras, mas como soube?

— Matheus, ele me contou — diz com um sorriso. — Logo pensei, o que seria excelente senão competir? As regionais estão chegando e eu e Milu precisamos estar preparadas, você poderia dar uma olhada nela, estou achando que ela está de TPM — diz abaixando o tom de voz na última parte como se tivéssemos dividindo um segredo. — E você como antiga competidora sabe como é importante o cavalo estar bem. Fico orgulhosa que abandonou os pódios e se dedica cuidando de minha égua.

— Claro. Dou uma olhada.

— Perfeito, — ela empurra a rédea para mim, enlaçando ainda mais seu corpo em Miguel — vamos forasteiro?

— Claro. Irei pedir para Mathias selar um cavalo. — Miguel responde me encarando.

Maldito Brucutu, maldita Maria trepadeira!


CAPÍTULO 19


Dandara

— Tá falando sozinha, Dandara?

Pulo de susto, percebendo que estava resmungando alto. — Ocê tem sorte de não ter tomado uma chicotada — digo arrumando o chicote na lateral de minha bota.

— Que bicho lhe mordeu? — Mathias questiona.

— Picão, um bicho desgramento que gruda na pele da gente sugando nosso sangue.

Mathias ri, me entregando as coisas para selar Bruto. — Que bom então que não é um do tamanho de um homi , que chegou recentemente na cidade. — diz tirando sarro.

Encaro Mathias, revirando os olhos, para que notasse que não estava sendo um bom momento para brincadeiras.

— Ah, Danda, deixa disso. Pode ter enganado Bento e Maria com essa história de bicho sofrendo pelo mato, mas eu sei o que faz aquele esganiçado todo dentro de um quarto.

— Ocê não tem amor aos dentes, não? — bufo.

— Ô se tenho, como acha que consegui os meus uivos? Tudo na beleza do sorriso — Mathias caçoa abrindo um sorriso de cavalo para mim.

— Arra , não torre minha paciência!

— Mudando de proza , achei que já tinha acabado com a doma do Bruto.

— Sim, ele está pronto para ficar com os outros. Mas hoje eu quero que prepare a pista para três tambores.

Mathias abre um enorme sorriso, — Irá competir novamente? Que alegria garota!

— Ainda não, vou só matar a saudade.

— Pois deveria. — Mathias aperta a sela, conferindo se está tudo bem preso.

— Faz tanto tempo que não penso nisso Mathias, deixei as competições para trás quando assumi a responsabilidade do Haras.

— Arra, e isso não mudará. Você cuida desse Haras mais que de si mesma, eu lembro do primeiro dia que cheguei aqui e vi você cavalgando. — Mathias sorri ajeitando o chapéu na cabeça — Devia ter uns dez anos, lembro que parei perto do cercado olhando, você tinha tanta conexão com o cavalo, tinha tanto talento, mesmo naquela idade.

Sorrio lembrando da minha primeira competição.

— Todos sabemos o duro que está dando para manter tudo sob controle, até mesmo antes da morte do Seu Pedro.

— Quem sabe eu possa tentar — digo.

— Será um excelente começo.


Bruto raspa a pata pelo chão, como se ele próprio se aquecesse. Quando Bruto chegou no Haras era apenas um cavalo maltratado e ferido, abandonado pelo antigo dono para morrer ao relento. Foi numa noite de chuva intensa que o encontrei caminhando com dificuldade nos arredores do Haras. Demorou meses para que ele sequer deixar que eu me aproximar dele, estava tão ferido internamente em sua confiança com os humanos que só de ver um já se armava dando coices.

A doma nunca foi uma coisa tranquila com ele, ficava feliz só por não levar uma mordida. Mas eu o entendia, foi ferido por acreditar em um humano, sua defesa natural era expulsar quem quer que tentasse se aproximar.

— Sei que você gosta de correr, vejo como seus olhos brilham quando fica livre — sussurro passando a mão em sua crina.

Ele raspa a pata no chão, emitindo relinchos e baforadas baixas, ele aprovava o que eu estava falando, assim como o fato de suas narinas estarem dilatadas e as orelhas eretas para frente significava que prestava atenção ao que eu dizia.

— Quero propor algo diferente para nós. Se você gostar, podemos pensar em fazer isso mais vezes. — Tiro o chicote com calma da bota, ele fica desconfiado. — Isso será necessário entre nós?

Bruto relincha, marchando para trás, sacodindo a cabeça. Jogo o instrumento para longe. — Quero que você corra quando for necessário, quero que sinta a terra tocando forte suas patas e o vento traga a liberdade que isso vai lhe trazer. Mas para isso precisa obedecer fielmente meu comando.

Estralo os lábios indicando para que ande, faço todo o circuito no trote, deixando que ele receba meus comandos, deixando que veja como será.

A competição dos três tambores é simples, você precisa fazer uma saída com explosão antes de cruzar pelos sensores. Uma prova de três tambores clássica é de oito metros até o primeiro, depois vinte e sete e meio até o segundo tambor e trinta e dois metros até o terceiro. E então, a reta final, onde exige mais dos cavalos e das amazonas, era esforço máximo pelo melhor tempo. Se tudo for executado com perfeição e sem derrubar nenhum dos tambores, você poderia ganhar alguma posição boa.

Existem pessoas que gostam do silêncio, silenciam tudo ao seu redor, se concentrando apenas na sua própria respiração e de seu cavalo. Eu gosto de ouvir tudo.


— Não foi um tempo ruim para quem está parada por anos. — Mathias comemora pendurado na cerca.

— Quanto?

— Dezessete segundos e meio.

Desço do cavalo acariciando a testa dele. — Esse garoto nasceu para isso.

— Dei uma examinada na égua da Cindy, ela está machucada pelas esporas, sua barriga está toda marcada e além disso, queria que desse uma olhada no freio, acho que tem algo errado.

— Odeio quando vejo animais sofrendo pela imprudência de seus donos.

— Também não gosto, pena que o pai de Cindy não pense assim e deixa aquela garota maluca usar os animais como enfeites.

— Nem me lembre disso — retruco.


CAPÍTULO 20


Miguel

Logo após fazer sexo com Dandara fiquei perdido olhando-a dormir por alguns instantes, aquilo, esses tempos no Haras têm sido os mais malucos que já tive. Aquela esquentadinha está mexendo comigo, ela está me atormentando desde que pisei no Haras, fazendo meus dias e noite incertos, mas a mulher deitada no meu braço, dormindo tranquilamente, livre de todas as caretas e muros que impõe me faz querer seguir outro rumo. Eu tenho vontade de puxar seu corpo contra o meu, encaixá-la em meu pênis e fazer tudo de novo, agora sem pressa, absorvendo tudo, cada gemido que ela faz. Mas acabei adormecendo enroscado em seu corpo ao contemplar seu rosto enquanto dorme.

E quando o dia seguinte chegou, me deparei com a cama vazia, ela saíra de fininho para não me enfrentar quando acordasse. Abro a porta, verificando se o caminho está livre e quando confirmo que sim, retorno ao meu quarto, trancando a porta depois de entrar.

Tomo um banho rápido vestindo algo mais leve para o dia quente que faz do lado de fora, fazendo uma anotação mental: ar condicionado em todos os cantos, pelo amor de Deus, como é quente isso daqui! Pego os óculos escuros colocando-os no topo da cabeça e desço correndo a escada em direção à cozinha.

— Bom dia, Maria — cumprimento a senhora, ela me olha meio espantada o que me faz questionar se eu não estava sendo educado o suficiente com as pessoas dali. Mas também, com a noite anterior que tive, meu humor está perfeito nesta manhã. — Por acaso você viu a...

— A menina está embrenhada pelo Haras como sempre, Seu Miguel.

Pego uma laranja, descascando-a. — Vocês sempre começam o dia antes mesmo do sol?

— Sim, a menina é que acorda o galo e não o contrário.

Sorrio jogando as cascas fora. — Em São Paulo também acordamos, mas confesso que ser dono do próprio negócio tem suas vantagens.

Saio pela porta lateral da cozinha roubando um chapéu preto na varanda, brincando ao colocá-lo em minha cabeça, até que não tinha ficado ruim. Deixo de lado ao ver Dandara perto de um dos cercados sorrindo como uma menina ao ver os cavalos.

Lembro-me de poucos momentos vividos aqui, mas o que eu com certeza consigo recordar é dela, mesmo muito diferente da época que erámos crianças. Dandara sempre foi apaixonada por isso, era raro vê-la vestindo sapatos e quando estava, eram botas. Era mais raro ainda ver a menina fazendo outra coisa do que estar perto dos bichos.

— Bom dia, esquentadinha, tinha espinhos na cama essa manhã?

Agarro a cintura de Dandara, lembrando de nossa noite, gostando do cheiro dela.

— Levanto antes mesmo do sol, coisa de caipira.

Pelo tom de voz afiado, já estava mordendo os cotovelos.

Sorrio dando um beijo suave em seu rosto, tentando suavizar o mau humor. — — Confesso que tive uma noite excelente. Poderíamos repetir nossa conversa hoje a noite, o que acha?

— Poderíamos, mas não vamos, tenho mais o que fazer. E nada mudou.

— O que eu fiz? Acordou azeda como um limão, você não cansa de distribuir coices? — Controlo minha vontade de responder Dandara de forma ríspida, suspiro, suavizando a voz — Que tal darmos uma volta? Você poderia me mostrar a região.

— Claro, tem algo que ficou de fora de seu inventário?

Fico surpreso, me afasto de um passo para olhar melhor seu rosto, como ela soube?

— Dandara...

— Cala a boca, brucutu! Se não quer ver a cara enfiada no esterco de cavalo fique quieto!

Ela vira chamando uma garota.

— Teremos que trabalhar algumas coisas em vocês dois. Faça uma pausa, eu vou preparar o redondel.

— Ok, obrigada Dandara.

Sei o jogo que Dandara faz, ela prefere fugir do que virar e me encarar, não deixo barato, sigo-a pelo Haras.

— Não cometi nenhum crime, Dandara.

Ela continua andando, me ignorando.

— Você está sendo teimosa, poderíamos resolver isso de outro jeito, quem sabe unir o útil ao agradável.

Ela vira, parando brutalmente, me fazendo quase tropeçar.

— Diga brucutu, qual sua excelente ideia? Já recebeu oferta pelos meus cavalos? Ah, muito obrigada por deixar Trovoada de fora, foi uma gentileza imensa, já que não quis vender também um presente de meu pai.

— Eu não venderia seu cavalo, vejo o amor que sente por ele. Posso não ser um especialista ou não gostar das mesmas coisas que você, mas não quero mal aos bichos.

— Não quer o mal deles? — O rosto de Dandara está vermelho como se tivessem esfregado dois tomates em suas bochechas, e se isso não era um alerta para ficar afastado, eu não sabia o que seria. — Sabe qual a diferença entre um cavalo para lidar com o gado e um cavalo de montaria e competição?

Dou de ombros.

— Exato, se não sabe essa imensa diferença e mesmo assim foi oferecer meus cavalos para donos de fazenda de corte. Você com certeza não quer o bem deles. Jumento! — dispara a falar.— Mas tenho uma solução, vá embora, se não quer o mal deles, vá. Ou está esperando a foda de despedida? Quer ir para o celeiro desativado? — pergunta desatando o nó da minha camisa xadrez fazendo ela revelar minha blusa curta.

E mesmo que a ideia de tê-la novamente em meus braços, sentir o gosto de sua pele e ter seus gemidos em meus ouvidos seja tentadora, me foco em nosso novo cabo de guerra. — Deixe de ser ridícula!

— Não sei onde Pedro estava com a cabeça, ele só poderia estar alucinando quando decidiu deixar meu Haras para você! Tenho muito trabalho a ser feito, se puder pelo menos não atrapalhar, eu agradeço.

Estava pronto para segurar seu braço vendo que se afastaria, quando vejo sua expressão de raiva se focar em outra coisa, sigo seu olhar vendo uma garota vir calvagando em nossa direção.

— Dandara! Era você mesmo que queria encontrar!

— Só me faltava essa! Acho que errou, sua prenda está bem na minha frente — Dandara diz com um sorrisinho falso.

— Forasteiro, desculpe não ter vindo mais cedo, vejo que ficou totalmente curado do ataque de fúria de Dandara.

Sorrio não tirando os olhos de Dandara, deixando que Cindy agarrasse meu pescoço dando um beijo bem perto de minha boca, naquele instante tinha descoberto uma outra arma poderosa contra a esquentadinha, o ciúmes. — Estou bem sim, que surpresa boa vê-la aqui. Estava agora mesmo comentando com Dandara que queria dar uma volta pela região.

Cindy sorri animada. — Então encontrou sua companhia, faço questão de ir com você.

Aproveito a situação segurando na cintura fina da garota, abrindo um amplo sorriso. Satisfeito por ver que deixo Dandara mexida, é bom saber que outra coisa borbulha dentro dela, além de irritação. Afinal, ela não é tão casca grossa quanto esbraveja. — Podemos dividir o mesmo cavalo, eu não estou acostumado a montar sozinho.

— Ihaaaahhh, mas é claro! — ela diz animada. — Ah, Dandara, eu soube que está preparando uma competição aqui no Haras.

Faço minha cara de “não sou o único planejando pelas costas” e encaro Dandara.

— Sim, é para angariar fundo para o Haras, mas como soube?

— Matheus, ele me contou — Cindy diz com um sorriso. — Logo pensei, o que seria excelente senão competir? As regionais estão chegando e eu e Milu precisamos estar preparadas, você poderia dar uma olhada nela, estou achando que ela está de TPM. E você como antiga competidora sabe como é importante o cavalo estar bem. Fico orgulhosa que abandonou os pódios e se dedica cuidando de minha égua.

Dandara competindo? Não sabia que a esquentadinha metida as caras em rodeios ou competições equestres. Estava aí uma coisa para pesquisar quando tivesse deitado em minha cama essa noite.

— Claro. Dou uma olhada. — Dandara responde de forma azeda.

— Perfeito, — Cindy empurra a rédea para Dandara, enlaçando ainda mais meu corpo — vamos forasteiro?

— Claro. Irei pedir para Mathias selar um cavalo.

A carranca de raiva que Dandara está é impagável. É como acender um pequeno fósforo numa fogueira à base de álcool. Eu não quero nada com essa garota, mas se para provocar minha caipira eu tiver que entrar nesse joguinho sujo, por que não?

A tal de Cindy não tinha a mesma desenvoltura que Dandara na montaria, na verdade, não tem nem mesmo a paixão que Dandara exibe ao olhar para os cavalos. Porém, não decepcionou em nada em sua montaria e cavalgada, ela sabia o que estava fazendo. Mesmo que o cavalo ficasse arrisco com seus comandos.

Saímos do Haras indo para os campos abertos da propriedade, passando por um pequeno riacho, Cindy se aproveita por estarmos na mesma sela e esfrega sua bunda em meu pênis, sempre sorrindo e olhando por cima do ombro.

— Que tal pararmos aqui? — questiona olhando para a paisagem na frente, estavámos em uma espécia de monte, víamos a estrada de terra que nos levaria de volta para o Haras e ao longe a silhueta do que seria o centro da cidade.

— Por mim — digo já descendo do animal.

— Quero muito saber o que fez um homem fino e bonito como você se meter com a Dandara — Cindy fala amarrando a rédea do cavalo no tronco de uma árvore.

— Podemos dizer que fomos criados juntos.

— Mentira! — diz rindo.

— Meu tio-avô criou Dandara quando seus pais faleceram.

— Que azar o dela, primeiro perdeu a mãe e logo depois seu pai, morreu em um acidente com bois.

Não havia sentimento real naquelas palavras.

— Você e ela se conheceram como? — pergunto sentando sobre a grama.

Ela caminha parando em minha frente tampando a visão da paisagem remexendo o quadril, tentando ser sedutora.

— Bom, tirando o fato de cidade pequena todo mundo naturalmente se conhecer, além dos filhos estudarem juntos. No Haras, Setti é um dos poucos lugares de excelência por aqui, confesso que tem ótimas pistas para treino. Meu pai é um dos patrocinadores, mesmo eu querendo que Milu seja tratada por outra domadora, não posso negar que ela é boa no que faz. Cindy deu de ombros, analisando as unhas perfeitamente alinhadas e pintadas — Ficou melhor quando saiu das competições.

— Competição? — questiono curioso.

— Dandara praticava a mesma modalidade que eu, três tambores, mas largou tudo quando Pedro ficou doente. O velhote não podia mais pegar no pesado e o que não falta naquele Haras é serviço pesado para ser feito. Mesmo com Mathias vindo para ajudar, Dandara decidiu largar tudo para cuidar do Haras.

— Pela sua cara de surpreso, não sabia disso.

— Conheço pouco daqui, vim muito na infância a mando de meus pais e quando cresci nunca mais voltei. Só fiquei sabendo novamente desse lugar quando um advogado me ligou informando sobre a morte do meu tio. Somos de uma família grande, porém nem todo mundo ainda mantém contato.

— Por que decidiu voltar? — Cindy senta em meu colo, um joelho em cada lado de meu corpo, me fazendo dar um sorriso sem graça ao afastá-la com jeito. — É verdade o que todos tem cochichado por aí?

— O que andam falando?

— Oras, que você veio tomar isso tudo dela. Afinal, pra que um homem como você viria para um fim de mundo como esse?

— Vim por negócios, é tudo que precisa saber.

Cindy fez um beicinho, passando os braços pelo meu pescoço, forçando uma aproximação. — Por que não paramos de falar dela, de cavalos e todas essas bobagens e terminamos o que rolou lá no bar?

Direta e atrevida, ela se daria bem na cidade grande.

— Sinto muito, mas não vai rolar. Vamos voltar? Esqueci que marquei um telefonema importante com meu assistente em São Paulo, como disse, negócios — Fico de pé estendendo a mão para ajudá-la.

Não sei o que tem no DNA dessas caipiras, mas ô mulherada que se enfeza rápido! Cindy levanta dando um tapa em minha mão, já desamarrando o cavalo e subindo. Mais uma que preciso tomar cuidado para que ela não me lance do outro lado da estrada, só por que neguei seu fogo. A realidade é que não queria nada com Cindy, ela poderia ser uma mulher linda, com um corpo escultural. Mas serviu apenas para deixar a esquentadinha com ciúmes.


CAPÍTULO 21


Dandara

Enquanto comemos, Maria não tira os olhos de mim. Abaixo o garfo, dando um longo suspiro. — Diga logo mulher, senão vai engasgar com a própria comida.

— O que está tirando ocê do prumo, moleca?

Velha sábia! Não tinha nada que escapasse de Maria, você poderia se deixar levar pelo rosto repleto de rugas ou pelos olhares maternos que lançava para todos, mas Maria era como um pastor alemão, farejava as coisas à distância.

— O que deu no povo desse Haras hoje? — pergunto desviando do verdadeiro assunto.

— Ocê não me engana mocinha, conheço ocê mesmo antes de aprender a lavar os fundilhos de suas ceroulas!

— Que horror! Estou apenas pensativa, vou sair mais tarde para dar uma olhada nos campos.

Foi a vez de Maria revirar os olhos, ninguém vencia em uma disputa com Maria. — Ainda com aquele sonho azucrinando a mente?

Suspiro empurando a comida de um lado para outro no prato. — Eu vejo aquele cavalo com tanta força, não sei porque e nem mesmo o quê significa.

— Você está preocupada com as coisas daqui, normal, os sonhos mostram nossas preocupações mais profundas.

Suspiro, tomando um gole do suco, confirmando com um pequeno gesto de cabeça.

— Mas não era sobre isso que estava falando.

— Ô merda, Maria! — retruco. Não irei conseguir desviar do assunto.

— Óia a boca! — ralha — Ocê está ansiosa, está assim desde que a senhorita Munhoz chegou no Haras.

— Aquela menina brinca com os animais, Mathias disse que a égua tem marcas feias das esporas, eu gostaria de enfiá-las no...

— Ouuh , acalme-se. — Maria adverte rindo — Seria mesmo por que Cindy está maltratando a pobre da égua, o que não seria nenhuma novidade para nós ou pelo simples fato dela ter saído com Seu Miguel?

Fico em silêncio enchendo minha boca com o resto de suco de meu copo.

— Você gosta dele.

Encaro Maria — Ficou maluca? — digo umas oitavas mais alto.

Ela sorri, pega seu prato e o meu, indo até a pia. — Conheço você, menina. Seria de se admirar se não tivesse apaixonada. Eu disse para Seu Miguel, muito ódio acaba virando amor.

— Você está exagerando, deve ser o excesso de trabalho. Seu “Miguelzinho” está agindo pelas minhas costas, fazendo um inventário de tudo que há aqui para vender.

Maria não manifesta nenhuma surpresa com o que acabo de dizer. — O homi é um bitelo , 5 mas não disse que não era sonso para fazer merda. Pode me chamar de velha caduca, mas conheço os sinais e sintomas, você está gostando dele.

— Arre égua! Vou trabalhar, não quero falar mais disso! — argumento ficando de pé.

— Como quiser, moleca. Mas se enfiar no trabalho não irá arrancar isso d’ocê.

Bufando dou uma olhada feia em sua direção e ela entende o recado, não toca mais no assunto enquanto eu devoro uma maçã vermelha e doce que estava na fruteira. Coloco o chapéu sobre a cabeça, fazendo uma trança em meu cabelo e saio, ignorando os olhares que Maria me lança.

Apaixonada! Era para se rir mesmo, Maria está ficando maluca!


— Tudo correndo bem por aqui — Mathias me relata assim que entro do estábulo. — No fundo ela só precisa de um pouco de atenção.

Passo a mão sobre o corpo da égua, vendo seu olhar desconfiado. Milu é da raça Paint Horse, muito parecida com os quarto de milha, mas parece pintada à mão.

— Oua , calma garota!

Retiro a mão ao vê-la arreganhar os dentes.

— Essa daí vem com o espírito da dona. — Mathias brinca.

— Que nada, tire ela da baia. — peço olhando nos olhos da égua — Cindy é horrível com ela, assim como foi com todos os cavalos que passou por seu rancho. Só quer que o animal corra, muito parecida com Matheus, pelo menos aquele ali tem algo de bom, gasta dinheiro e tempo cuidando dos seus cavalos. — digo torcendo os lábios.

— Tem certeza disso? — Mathias questiona segurando a trava da baia. — Ela não está muito amigável.

— Solte.

Mathias faz o que mando, abrindo a portinhola, deixando que ela saia. Milu é uma égua imponente, sai com a fronte erguida, me encarando de cima, passando o recado claro que não tem medo de nós, mas na realidade, tudo isso é pose, ela está receosa que a machuquemos.

— Dê uma olhada nessa ferida.

Dou a volta indo até Mathias, não era uma ferida profunda, iria cicatrizar logo, mas o que me irritou ainda mais foram as marcas mais profundas em sua pelagem indicando que outras já tiveram ali, várias cicatrizes marcando o quando essa égua vinha sendo judiada. E o quantos os maus tratos tinham marcado-a internamente.

— Vamos fazer um tratamento de aromaterapia, para ela se acalmar um pouco e deixar que cuidemos dela.

Vou até o espaço onde os remédios ficam guardados examinando alguns vidros, pego três voltando para a égua.

Tiro a tampa do primeiro colocando perto da narina do animal. Ela relincha virando a cabeça bruscamente, quase derramando o conteúdo de minhas mãos. Retiro do segundo, mas ela tem o mesmo comportamento.

— Óleo bergamota — digo e não demora muito para ela tirar a língua para fora querendo o líquido.

— Não é estranho que ela escolha justo o que traz a sensação de alegria e ânimo. — Mathias comenta.

— Minha mãe sempre dizia que os animais escolhem seus próprios remédios. Eles sabem do que realmente precisam.

O barulho de cavalo se aproximando traz nossa atenção para a entrada do estábulo.

— Que bom que ela está pronta, preciso ir. — Cindy salta do cavalo deixando Miguel se desequilibrar por um instante.

— O passeio não foi prazeroso? — desafio.

— Minha égua está pronta ou não?

— Milu está com marcas de escoriações na barriga. — acuso.

Cindy não dá a mínima para o que estou falando.

— Cindy! Você está ferindo sua égua por nada com suas malditas esporas!

Mathias me olha preocupado.

— Que eu saiba pedi para você dar uma olhada, e não mandar no jeito que comando minha égua. — Cindy contra-ataca.

Miguel dá um passo em nossa direção como se nós duas fôssemos nos engalfinhar como animais, não que ela não merecesse, mas eu não iria ganhar nada com isso.

— Se você quer que Milu não a jogue para longe durante uma competição, precisa entendê-la. Ela não é um pedaço de bife para você ficar furando quando bem entende.

Cindy gargalha, — Me passe o valor de seu tempo, mando meu pai depositar na conta do Haras. — ela vê que continuo encarando-a — Vamos, será que dá para selar minha égua?

Mathias pega as coisas pronto para selar a égua.

— Mathias, não! — Eu quase grito. — Cindy, me escuta...

Cindy arranca a sela das mãos de Mathias, ela mesmo arrumando no lombo de sua égua.

— Cindy, sua égua está ferida, pode achar que não é nada, mas com o tempo vai pegar os ossos dela. Se você se importa...

— O que eu preciso escutar é que você fez algo além de ficar gastando meu tempo. E não de suas mágicas inúteis. — Ela mal fixa direito as fivelas para montar o animal.


Cindy enfia as esporas na barriga da égua fazendo-a relinchar de dor, e a visão dos olhos tristes e repletos de lágrimas do animal cortam meu coração.

Chuto um barril de água enfurecida com a partida de Cindy. O fato de não poder fazer nada para ajudar essa égua me corta o coração.

— Pelo visto vocês estão bem longe da cordialidade.

Viro como um bicho, bufando como um touro bravo ao encarar Miguel. — Meta seu nariz onde é chamado!

— Se você sabia que Cindy maltratava a égua, por que a liberou? — Miguel questiona.

— Seu Miguel, não é simples assim, não podemos prender os animais, mesmo que por alegação de maus tratos. A família de Cindy é poderosa na cidade, seria uma briga infinita e até lá a égua já teria caído doente.

— O que Mathias tá querendo dizer é que não serão os primeiros donos que negligenciam seus animais, muito menos os últimos. São esse tipo de gente para quem quer vender meus cavalos. — acuso.

Levanto o barril que tinha chutado em minha explosão de raiva, puxando a mangueira para enchê-lo.

— Mathias, termine de cuidar das baias, eu vou sair com Trovoada. Está esfriando e não duvido de termos uma chuva torrencial mais tarde.

Deixo os dois ali, no meio do estábulo indo até o Trovoada, eu precisava da paz que ele poderia me dar. E não foi surpresa em vê-lo totalmente alerta, meu pai costumava dizer que Trovoada sempre saberia meu estado de espírito, ele sempre estaria ali, pronto.

E isso era verdade. Não precisei dizer nada, apenas abri a portinhola de sua baia, subindo diretamente no pelo para que ele saísse em disparada para fora do Haras, o sol estava se pondo no horizonte e uma espessa nuvem cinzenta cobria o céu.

Na época de outono vivemos os tempos mais malucos; temos dias de intenso calor e do nada um frio de arrepiar os ossos com chuvas tão fortes que inundam a estrada. Além de ser a época que mais me preocupo com o bem estar dos cavalos.

Cavalgo pelos campos, até mesmo me embrenhando no pequeno acervo de mata fechada, os ranchos e fazendas não são próximos uns dos outros, o que dá bastantes aréas livres.

— Aoh — Trovoada para, relinchando baixo. — Você também ouviu rapaz?

Paramos entre as árvores escutando os pássaros fazendo burburinho entre os ramos, mas não foi isso que chamou nossa atenção, e sim um relincho baixo, sofrido.

— Vamos, Trovoada. — bato o pé na barriga dele fazendo barulho para que volte a galopar.

O rancho era velho, existia destroços espalhados pelo terreno, desço do Trovoada empurrando a porteira velha e quebrada, tinha arame farpado para todos os lados, o relincho veio mais fraco dessa vez, como se o animal já não aguentasse mais esperar por ajuda. Trovoada relincha batendo os cascos chamando minha atenção, um cavalo estava em um pequeno cercado amarrado a cordas em um tronco velho, havia feridas em sua cabeça e boca devido às cordas, mas também marcas profundas espalhadas pelo seu corpo, fora a desnutrição evidente.

Não conseguiria fazer esse cavalo ir até o Haras, precisaria chamar o Santiago e pegar o trailer. Monto em Trovoada galopando de volta até o Haras, forçando ele ir o mais rápido que pode, não sabia de quem era aquele rancho abandonado, mas de maneira alguma deixaria o animal ali sofrendo.


CAPÍTULO 22


Miguel

Levo as toras de madeira para Bento, sentando no sofá. O frio realmente tinha chegado com força, nos forçando a fechar as portas e janelas para manter o calor dentro do imenso casarão. Dandara ainda não tinha retornado, o que me deixa um pouco ansioso, mesmo não querendo admitir. Aquela diabinha caipira está me enrolando em seu laço.

— Daqui a pouco a janta estará pronta. — Bento diz passando por mim em direção à cozinha.

Volto meus olhos para a tela do computador, vendo o projeto que Paulo havia me enviado mais cedo. Os arquitetos tinham feito um excelente trabalho, a entrada do resort era imponente, ele manteve o rústico e sofisticado com tanta suavidade que nenhum dos pontos tinha se destacado mais que o outro. E ali, analisando o projeto, eu não conseguia abrir minha caixa de e-mail e aprová-lo. Não conseguia dizer que poderíamos fechar o negócio com os donos dos Haras e fazer o transporte dos cavalos assim que o périodo que o advogado deu se encerrasse.

A rajada de vento forte fez o fogo na lareira tremular quase se apagando, fecho o computador virando para ver Mathias entrar na casa chamando por Bento.

— Que desespero todo é esse? — questiono indo para a entrada.

— Dandara voltou e vamos resgatar um animal.

— Resgatar? O que houve? Toda vez que você entra como um foguete aqui é porque Dandara tá metendo todo mundo em apuros — retruco.

— Mathias, o que aconteceu? — Bento e Maria vêm em nossa direção.

— Dandara voltou da caminhada, segundo ela encontrou um animal em condições precárias. Preciso ligar para o Santiago e preparar o trailer para sairmos.

— Onde ela está? — pergunto.

— A última vez que a vi estava indo pegar umas medicações.

— Santiago não deveria ficar disponível no Haras para esse tipo de emergência? — questiono ajeitando o casaco pesado no corpo.

— Sim, Seu Miguel, mas ele trabalha em outros lugares. É um veterinário muito requisitado na região.

— Vou procurá-la. — digo por fim, cruzando com eles, sentindo o vento bater contra meu corpo enquanto caminho até o estábulo.

Os cavalos relincham alto, incomodados pelo vento, passo por uma baia me esquivando ao ver que o cavalo está tão irritado que bate o corpo contra as paredes de sua baia.

— Eles ficam mais irritáveis com esse tempo.

Olho para Dandara, seu rosto está preocupado. Ela vai até o cavalo mais arisco, deixando que ele cheire um potinho.

— Aromaterapia — explica.

Mesmo ainda desconfiado o cavalo começa a se acalmar.

— Você realmente faz mágica com eles.

O cavalo vem em minha direção me assustando, pulo para trás encarando os imensos olhos pretos do animal. — Eles não confiam em mim.

— Eles são espertos, sentem quando um humano tem medo, alegria ou quando não gosta deles.

Olho para seu rosto, lá vinha ela com aquele papo novamente. — Não é bem gostar ou não, só não confio. Mathias disse que encontrou um animal ferido.

— Eu estava cavalgando, estava ficando mais frio no meio das árvores. Eu o ouvi, ele estava me chamando, não sei há quanto tempo ele está lá, mas eu sei que está cansado. Cansado demais para vir andando, mesmo se Trovoada sustentasse ele pelo caminho, isso o teria machucado mais.

— O que posso fazer?

Dandara me encara surpresa.

Nem eu mesmo sei por que estou fazendo isso, por que estou tentando salvar um animal se tudo que mais quero é que essa guerra de braço acabe logo, para dar continuidade aos meus planos.

— Santiago está ocupado em uma fazenda, tenho receio dele não chegar a tempo.

Ver o olhar triste em seu rosto faz algo dentro de mim borbulhar. — Vamos, eu ajudo você.

Ela ri por um instante, voltando a ser a diaba caipira que eu conhecia. — Você vai mais me atrapalhar do que ajudar.

— Se não quer salvar aquele animal é só dizer.

Vejo seu olhar me analisando, assim como o suspiro pesado que ela solta. — Pegue aquelas cordas, iremos precisar de pelo menos umas três, estou com o kit de remédios, ele tem grandes feridas pelo tempo que passou amarrado e das tentativas de fuga.

— É selvagem?

Ela para de arrumar as coisas para me olhar. — Ele foi ferido, está com medo, sede e fome, vai saber quantos dias ficou exposto ao sol escaldante e as chuvas frias das noites.

Mathias aparece com a caminhonete puxando o trailer. Interrompendo nossa conversa.

— Vamos colocar tudo no carro. — Dandara ordena levando Trovoada para sua baia.


O caminho até o rancho que Dandara encontrou o animal ferido fica bem longe do Haras, e a estrada não ajudava em nada, o vento ficava mais forte e logo a chuva nos brindava com mais força, dificultando ainda mais nosso caminho. Os limpadores trabalhavam frenéticos pelo vidro, cada vez que Mathias acelerava ou freava passando por um buraco era meu coração que pulava dentro do peito. A buraqueira ficava escondida devido a tempestade que caía lá fora.

Era difícil ver alguma coisa concreta em nossa frente com a torrente que descia do céu, o que me fazia apertar o canto do banco com mais força, prendendo a respiração.

Quando Mathias acelerou passando pela entrada destruída do rancho, tudo lembrou foi um filme de terror, a casa ao fundo está caindo aos pedaços, tudo ali está destruído pelo tempo e esquecido por Deus.

Dandara salta do carro antes mesmo que ele pare completamente, levando consigo o kit veterinário e uma das cordas, fazendo Mathias e eu seguirmos em seu encalce.

— Mathias, abra o trailer.

— O tempo está horrível. — digo olhando ao redor.

Dandara pula a cerca de arame encarando o cavalo com as mãos para cima, conversando baixinho com ele, para tentar acalmá-lo.

— Corte os arames, Miguel.

Retiro da enorme maleta que ela touxe um alicate, corto os fios abrindo espaço para que ela passe com o animal.

Ele relincha, empinando o corpo para trás, evitando que ela encoste nele e toda vez que faz isso, acaba caindo devido à fraqueza que seu corpo apresenta. Dandara chega mais perto tentando tirar as cordas que o machucam, porém ele está arredio demais.

— Dandara, devíamos ter esperado por Santiago, ele pode te machucar. — Mathias retruca.

— Ele não vai me machucar, está com medo, tem medo do toque. — Dandara se vira pegando um daqueles frascos pequenos que estava dando aos cavalos no estábulo fazendo o cavalo cheirar. Ele não se acalma como os outros fizeram, mas permite que ela chegue mais perto. — Se tivesse esperado por Santiago ele teria morrido nessa chuva.

Dandara tem realmente algo a mais para esses animais, é como se apenas de olhar, eles dissessem tudo que estão sentindo para ela. Ela volta para a mala tirando um lenço grande, jogando-o no rosto do bicho.

— Miguel corte as cordas e passe a nossa pelo pescoço, dê um nó bem firme.

Faço o que ela manda, me certificando que o cavalo continua imóvel contra o peito de Dandara, ela faz carinhos na crina judiada, sussurrando algo que não entendo devido o barulho forte da chuva.

— Se o dono do cavalo voltar? — pergunto terminando o nó.

— É bom que nem volte, olha o estado que deixou o cavalo. — ela retruca pondo o bicho de pé. — Calma, ouh, calma.

— Dandara, Miguel, temos problemas! — Mathias grita sob a chuva.

Um velho aparece no meio da chuva vindo em nossa direção segurando uma garrafa de bebida, tropeçando nos próprios pés.

— Conheço a laia desse daí, Cicinho sempre o expulsa do bar por arrumar confusão e ele não se importa com nada além da cachaça que consome — Mathias comenta encarando o homem.

— Às vezes temos que deixar os pensamentos sendo apenas isso, pensamentos. Nunca ouviu que o que é jogado no universo ele devolve? — Dandara resmunga para mim.

— Ei! O que você estão fazendo com meu cavalo? — O velho grita, tenta correr até nós, mas tropeça várias vezes em seu próprio pé.

Quando tenta chegar perto de Dandara, eu contenho o homem bêbado e por consequência o animal se agita, fazendo Dandara soltar um pouco a corda que o mantinha preso.

— Você não encosta mais nesse animal! — Dandara grita vindo para cima de mim e do velho bêbado.

— Vocês invadiram minha propriedade, vou chamar a polícia, e esse cavalo voltará para o lugar dele.

Seguro com firmeza sua camisa puída evitando que ele avance para cima dela.

— Chame, vai me poupar o trabalho de chutar sua bunda até lá.

O velho para por um instante de se debater em meus braços e assim consigo arrastá-lo para fora do caminho, deixando que Dandara entre com o animal no trailer.

Mathias enfia todas as coisas de volta na caminhonete, embarcando e dando partida no motor.

— Quando ele ligar para a polícia, ele que terá que se explicar. — digo animado, feliz por ter salvo aquele cavalo.

Dandara tira os olhos do vidro traseiro, voltando seu rosto para mim. — Ele não vai ligar, mal lembrará o que houve. Ele iria deixar o cavalo morrer de fome. — ela volta seu olhar para trás, vigiando o trailer.

Mathias faz o melhor que pode, mas a estrada de terra fica esburacada na chuva forte, e se antes a visibilidade já estava dificil, agora está muito pior. Os relinchos do animal preso no trailer são ouvidos de dentro do carro, imagino o quanto ele não esteja apavorado.

O carro balança de um lado para o outro, me fazendo segurar a respiração por alguns segundos.

— Ele vai se acalmar quando sairmos desse pedaço de estrada. — Mathias diz.

O carro balança mais forte na curva.

— Pare, Mathias. Eu vou com ele.

— Ficou maluca? Ele pode te machucar, está muito nervoso.

— Se eu não for com ele, vamos acabar capotando. — diz.

Mathias encara Dandara pelo espelho retrovisor, considerando o que diz.

— Ficou maluco? Ela vai se machucar! — retruco quando ele para no meio do nada, destravando as portas.

— Sei o que estou fazendo — ela resmunga.

Dandara desce e esperamos. Olho pelo vidro de trás esperando algum sinal...

— Podem ir — grita batendo na lataria do trailer.

Quando chegamos ao Haras, me senti como se tivesse nadando, nem mesmo minhas bolas estavam secas na cueca. Mathias dá a volta no carro pegando a corda e guiando o cavalo para o estábulo. E antes que Dandara saísse, indo para longe, eu a segurei.

— Desculpa.

Passo a mão pelo cabelo molhado tirando um pouco d’água dos olhos. Por que ela me deixa assim?

— Não quis magoá-la com a história de hoje cedo. Estou fazendo o melhor que posso.

— Então precisa fazer mais do que isso.

Ela se solta de minha mão correndo em direção aos estábulos, corro atrás dela, mesmo quase caindo quando meu pé afunda em uma poça d’água, alcanço seu braço e puxo-a para mim, fazendo com que pare.

Droga! Descobri que estou enlaçado até a alma por essa caipira!

Dandara fecha a expressão mostrando seu melhor olhar de ódio tentando se livrar de mim novamente. Fico em sua frente e mesmo com a chuva em seu rosto, consigo perceber que os seus olhos estão cansados, a adrenalina tinha decaído de seu corpo e eles lacrimejavam. Ela tenta se soltar novamente de mim. — Por que você não vai embora, Miguel? — pergunta com o rosto perto do meu.

Meu pênis lateja dentro da calça. Essa mulher me deixa louco!

— Eu não desisto, esquentadinha. Já devia ter entendido isso.

— Pelo menos temos alguma coisa em comum — ela retruca. — Odeio você, brucutu!

— Não, não odeia.

Ela para surpresa com minha declaração. Estar tão perto dela, sentir aquele corpo colado no meu, desperta meu desejo.

Ignorando tudo, eu só tinha uma coisa em mente: tê-la a todo custo.

Avanço sobre ela, seu corpo inteiro estremece, quando a beijo, ela abre a boca para receber minha língua, sua boca é carnuda e quente, ela para de tentar lutar contra aquele fogo que move nossos corpos. Aperto Dandara contra meu corpo, e sinto suas mãos enlaçarem o meu pescoço. Ela me puxa, em resposta eu invado seus lábios, tomando sua boca com minha língua. Levo a mão até seus seios e ela geme com meu toque.

— Quero você, esquentadinha.

— Por que está fazendo isso comigo? — ela resmunga quando minha boca desce por seu pescoço.

— Shiuu, — mordisco sua pele, descendo a boca por seus seios, lambendo o pequeno decote de sua blusa.

A chuva cai sobre nós, mas não é frio que nos faz tremer, é o calor que sinto por essa mulher que só aumenta.

— Quer que eu pare agora?

— Eu odeio você — sussurra, puxando minha mão, nos fazendo correr pelo Haras, entrando no velho celeiro abandonado.

Existem furos entre as madeiras fazendo a chuva cair em nós, Dandara empurra meu corpo contra uma viga de madeira, colocando as mãos por debaixo de minha camiseta encharcada. Meu corpo treme com o calor do toque, fiz o que desejava desde que pisei para fora da cama, abro botão por botão de sua camisa, deixando tudo totalmente livre para que chegasse aos seus seios, luto um pouco contra o fecho do sutiã, fazendo-a rir e tomar a missão de minhas mãos.

Dandara joga a cabeça para trás gemendo cada vez mais com as carícias que eu faço em seus mamilos enrijecidos. Lambo sua nuca, distribuindo beijos sobre sua pele. — Quero você, Dandara, tem que ser aqui, agora. — digo roçando meu quadril em sua cintura.

Solto o botão de sua calça enganchando meus dedos direto nas laterais de sua calcinha, abaixando as peças até o chão, passando por seus pés. Abro suas pernas, deixando seu sexo exposto para mim. Dandara fez o mesmo por mim, tirando minha camisa e indo até minha calça. Ela baixa minhas roupas alcançando meu pênis. Gemo como um animal no cio.

Ela se ajoelha, sem emitir uma palavra, segura meu membro totalmente ereto. A boca da esquentadinha me toma quase por inteiro, sinto o vaivém dos seus lábios me fazendo perder o equilíbrio Encostando no pilar, olhando para seu rosto.

Ela segura a base do meu pau com uma das mãos, enquanto contorna o restante com seus lábios lindos e quentes. Eu a desejo tanto a ponto de gozar. Levanto Dandara de forma abrupta.

Agarro aquela massa de fios longos e loiros, fazendo o calor que consumia meus sentidos aumentar. O corpo de Dandara colado no meu, lábios entreabertos e desejo nos olhos.

— Não negue, você adora isso, seja o que for que esteja acontecendo aqui, você adora.

Mantenho seu cabelo seguro na nuca com uma das mãos, a outra passando por seu corpo nu em volta de sua cintura, deixo meus dedos escorregarem dentro dela, afastando os lábios de sua boceta, apertando o clítoris úmido de tesão. Empurro seu corpo contra a parede, encaixando uma de suas pernas em meu ombro ao agachar, deixando sua intimidade totalmente exposta para mim, como um belo cartão de boas-vindas. Meto a língua de forma faminta, o corpo de Dandara estremece, seus dedos agarram meu cabelo de maneira ferroz.

Devoro seu corpo com vontade, minha saliva misturando com a lubrificação salgada, Dandara tinha gosto de mulher excitada, do tipo que atraí os pobres homens de longe.

Tiro sua perna de meu ombro, erguendo-me, viro-a de costas para encaixar meu pau em sua entrada, deslizo um pouco mais, ela é deliciosa! Antes de chegar ao fundo, Dandara rebola contra meu corpo, fazendo meu membro remexer dentro dela, ela rebola e eu começo aumentar o ritmo dos meus movimentos. Entro e saio dela com facilidade, como se seu corpo reconhecesse o meu.

Abro mais as pernas dela, impulsionando o quadril contra ela, seguro seu cabelo, puxando-o de forma bruta para trás, gostando de sentir seu rosto perto do meu. Mordo e dou chupões fortes em sua pele. Meto com intensidade, gostando do barulho de penetração molhada que chegava até meus ouvidos, meu pau inchado e duro doía procurando alívio, exigindo por isso.

Sinto que ela convulciona em minhas mãos, sussurro em seu ouvido o quando me enchia de tesão, o quanto seu corpo recebia o meu de maneira tão delicioso e o quanto ela era gostosa. Dandara se empinou ainda mais, apertando meu pau com suas contrações involuntárias, arrancando o ar de meus pulmões.

Continuo metendo, lambendo seu corpo, apertando sua cintura ou puxando seu cabelo. Eram sensações diversas que tomavam meu corpo. Dandara gritou, seu corpo estremecendo de verdade, perdendo o controle, deixo que ela goze, segurando ao máximo, travando minha própria libertação, ela ficou mole em meus braços enquanto me retiro de dentro dela, masturbando meu pau para gozar, esporrando como um maluco, só de pensar na entrega absurda e delirante que tinha acabado de acontecer ali.


Ela passa minha camisa rindo — É a única forma de você se limpar.

Diabinha!

— Miguel...

Selo seus lábios com os meus evitando que ela fale algo que possa estragar esse momento. — Amanhã pensamos sobre as coisas chatas.

Não tinha a menor chance de discutir com ela agora, o que eu mais queria naquele momento era deitá-la naquele feno velho e começar tudo de novo.


CAPÍTULO 23


Dandara

Abro os olhos sentindo o calor da pele de Miguel contra minha bochecha. Fico deitada quieta, ainda tentando entender o que estou sentindo por ele. Passei metade da noite refletindo sobre tudo que vivemos. Fico confusa pelas sensações que o beijo, o toque dele, me fazem sentir.

Será que eu conseguirei realmente fazer Miguel ver o Haras com outros olhos, além de um pedaço de terra lucrável? Fazê-lo sentir sem me envolver, ou eu já estava envolvida demais? Desisto de ficar deitada com milhões de pensamentos cruzando meu cérebro, saio da cama evitando acordá-lo.

Depois de tomar um banho, me troco em silêncio, descendo para para tomar café, não sem antes dar uma olhada em direção à cama, vendo Miguel dormindo nu, coberto apenas por um pedaço do lençol.

— Bom dia — cumprimento sentando na cadeira vazia, o cheiro de café e bolo de fubá fazem meu estômago roncar de fome.

— Bom dia, menina. — Maria me cumprimenta enchendo minha caneca de café puro. — Mathias estava nos contando sobre o animal.

— Falando nele, como está, Mathias? — pergunto devorando um pedaço do bolo.

— Está bem, Santiago passou a noite cuidando dele. Mesmo com muitos machucados, ele disse que logo estará bem.

— Que bom ouvir isso. — pego dois pedaços de bolo colocando no meu prato enquanto dou uma golada no café. Paro com a xícara ainda contra a boca vendo os olhares deles.

— Está faminta, moleca — Maria diz.

Dou de ombros, como se fosse algo normal.

— Tem bicho uivando no terreno de novo, uma desgrama isso, né? — Mathias provoca sorrindo.

Dou uma olhada feia, fazendo com que ele ria ainda mais, atiçando a curiosidade de Maria.

— O que vocês estão rindo?

Paro com a xícara à caminho da boca ao ouvir a voz de Miguel.

Ele puxa uma cadeira ao meu lado, me lançando um olhar malicioso. Miguel faz questão de jogar o corpo para cima de mim ao pegar um pedaço de bolo.

— Dormiu bem? — pergunta, seu olhar malicioso me fez sorrir. O desgraçado sabia que tinha mexido comigo!

— Sim e você? Parece cansado — desafio entre um gole e outro do café.

— Um pouco, mas no fim consegui o que queria.

Bento entra na cozinha sacudindo o casaco. — Hoje o dia está de lascar.

— Teremos pouco movimento então. — digo.

— Mathias eu quero falar com você sobre o Haras — Bento diz.

— Aconteceu algo? — questiono.

— Aquele problema qual contei procê , menina. Temos que rever a segurança dos animais, ontem tinha algum tipo de animal esganiçado no meio do mato.

Miguel engasga com o café fazendo todos encará-lo. Dou um pisão em seu pé, esmagando seus dedos.

— O antigo celeiro estava aberto e tudo revirado, ou tivemos um casal se engalfinhando ou tinha algum animal ferido procurando por abrigo. — Bento comenta.

— Vou ficar de olho nisso. — Mathias diz. — É perigoso mesmo, mesmo que eu acredite que possa ser um casal festeiro, — ele me encarou erguendo a sobrancelha — melhor trancarmos o celeiro dos desavisados.

— Que milagre é esse eu ver tua cabeça pelada? — Bento se vira para mim.

Sorrio.

— Perdi meu chapéu ontem quando o cavalo ficou muito agitado. Logo compro outro. — me levanto terminando meu café, aquelas trocas de olhares já foram o suficiente para mim.

— E eu... — Miguel enfiou na boca o último pedaço de bolo — vou dar uma volta pelo Haras.

Vou até a entrada enfiando meus braços no casaco que estava no mancebo, assim como as luvas de couro.

— O que faremos?

Desvio o corpo encarando a porta da cozinha, Maria, Bento e Mathias estavam entretidos em uma conversa. Não sei se estavam totalmente focados ou apenas se fazendo de surdos para escutar nossa conversa.

— Dá para ser mais discreto? Eu vou conferir o cavalo que chegou ontem, e depois se quiser podemos cavalgar juntos.

Ele inclina a cabeça e inspira, sentindo meu perfume. — Adorei a ideia.

Maldito brucutu gostoso!

— Seja discreto.

Ele respira mais fundo e mordisca meu pescoço. — Por que não aceita logo minha oferta, esquentadinha, colocamos um fim nesse joguinho e podemos ver o que rola.

— Isso vai acabar mal — digo com a voz rouca. Era só questão de tempo, mas, dessa vez a culpa foi minha. Olhar para a boca de Miguel tão próxima à minha, eu queria aquele beijo, então peguei.

Meu coração martelava no peito com a sensação de poder ser pega, meu corpo e cada fio de cabelo gritava em minha mente: Brucutu!


Santiago tinha levado o cavalo para o redondel, mas ele estava tão arredio que poderia machucar ele e o ajudante que tentava segurar a rédea, ele empinava evitando qualquer tipo de aproximação.

— Vou ter que aplicar a injeção, ele vai ficar pior desse jeito.

— Espere. — digo subindo nas travas do redondel.

— Ele está muito arredio, pode machucar alguém ou até mesmo ele.

— Acho bom manter distância. — o ajudante de Santiago diz para Miguel.

— O que esse cavalo tem? Ele deveria estar grato por termos salvado ele ontem — escuto Miguel retrucar.

— Isso é o que ela pode descobrir. — Santiago comenta.

Ele corre pelo redondel dando coices nas paredes, respiro fundo pulando para dentro, parando no meio do cerco. Cada passo que dou em sua direção faz com que ele trote, evitando minha aproximação. Ele vem para cima de mim, parando perto, é a forma de dizer que me culpa, que culpa todos nós pelo que ele passou.

— Acho bom parar com isso, não tenho culpa do que ele fez com você, eu estava te salvando. — grito para ele.

Ele se arma novamente, erguendo-se nas patas traseiras, se fosse outra pessoa, com a proximidade que estávamos ele poderia fazer um estrago. Mas não me intimido, sei que ele não vai me machucar, quer apenas me amedrontar, quer me ensinar seus limites.

— Dandara, se afaste! — Santiago alerta.

Fico em silêncio encarando o cavalo.

Ele abaixa as patas, colocando a cabeça no meu ombro.

— Muito bem rapaz, isso mesmo, com calma. — retiro um petisco do bolso dando para ele. — Você vai se chamar Chuvisco.

— Ela conseguiu — escuto Miguel dizer.

— Deixa ele descansar, uma boa dose de ração e ele ficará bem. — Digo para Santiago. — Quando estiver curado começo a doma.

Vejo o ajudante dele receoso por chegar mais perto do cavalo.

— Ele não vai te atacar, é só não machucá-lo.

Ele confirma com um gesto, abrindo a porta para que Chuvisco passasse.


Trovoada está agitado em sua baia, ele sente falta quando não passeamos pela manhã.

— Estava esperando por isso, né? — pergunto enquanto acaricio sua crina. — Pronto para montar?

— Se você cavalgar como fez ontem comigo, acho que terei uma excelente manhã!

— Você não presta! — empurro seu peito, rindo — Pegue aquela rédea, Trovoada prefere montaria no pelo.

— Sem nenhuma proteção?

— Ele não vai te derrubar.

Monto Trovoada com Miguel, ele aperta meu quadril contra ele, seguimos pelo trieiro, eu aprecio o clima de pós-chuva. Atravesso o pequeno riacho rindo com Miguel apertando minha cintura com medo de cair do cavalo.

Desde que ele havia chegado no Haras estávamos em pé de guerra, como após uma chuva tudo mudou de maneira tão repentina? Credo! Isso era coisa da minha cabeça. Isso sim. Eu tinha que me focar em coisas mais importantes.

Paro perto das pedras, desço segurando as rédeas para que Miguel desça.

Dou um tapinha no dorso de Trovoada deixando-o cavalgar livre por aí.

— Ele vai voltar? — pergunta olhando para Trovoada trotando para longe.

— Sim, ele ama andar livre, todas as manhãs sento por aqui e ele fica cavalgando pelo campo.

Assim que termino de falar, aponto para a cachoeira à nossa frente. Os raios de sol refletem na água cristalina.

— Aqui é lindo.

Dou um sorrisinho de “eu sei”. Estávamos perto do morro, subindo daria para ter uma visão completa do Haras.

Estávamos em um silêncio confortável, Miguel brinca com a água com a ponta dos dedos, parece com o pensamento distante. Ele sai vindo ao meu encontro, um sorriso nos lábios, suas mãos vão de encontro à minha cintura, colando nossos corpos no meio da relva, aproximo meu rosto do seu, ele roça seu nariz no meu, minha respiração acelera. Sem conseguir conter, mordo o lábio inferior de leve e nos beijamos novamente.

Não tinha como me esquivar de algo tão forte.

— Miguel...

— Não, pare, não acabe com isso. — ele diz entre os beijos.

Sua língua explora minha boca como se eu pudesse desaparecer dali em um estalar de dedos, ele me beija como se isso pudesse me dizer algo. Havia entrega ali, em ambos, seus lábios descem por meu corpo, sua mão subindo minha blusa, fazendo meu corpo se arrepiar ao sentir a relva úmida tocar minha pele. Sua mão toca minha barriga, raspando as pontas dos dedos em meu seio, seu rosto esfrega a barba cerrada em minha pele, os pelos roçando contra minha barriga.

— É melhor voltarmos.

Miguel suspira de maneira audível. — Por que tem que estragar esse momento?

— Tenho coisas a fazer, um Haras sempre tem o que fazer.

Miguel não tenta me fazer mudar de ideia. Montamos em Trovoada para voltar, o silêncio nos acompanha até o Haras, assim que chegamos perto do estábulo Miguel pula do cavalo e quando me viro para falar com ele após colocar Trovoada na baia, ele não está mais ali.


CONTINUA

CAPÍTULO 16


Dandara

Uma semana, esse era o tempo que Miguel não dirigia a palavra a mim e muito menos eu iria procurá-lo. O silêncio pela casa era mais que bem-vindo!

Mathias, Maria e eu bebíamos nosso café puro quando ele apareceu na cozinha, a manhã estava fria, por isso adiei o passeio com Trovoada pelo campo para quando o tempo ruim desse uma trégua.

Enfio na boca o último pedaço de queijo branco de meu prato, tomando o resto do café.

— Maria, Mathias, bom dia — cumprimenta indo em direção a geladeira.

— Porra! Quem comeu meu queijo? — ele pragueja com a fuça enfiada entre as prateleiras da geladeira, fazendo Maria me olhar prepcupada e Mathias segurando o riso enquanto bebe seu café. Tudo que faço é dar de ombros, chupando as pontas dos dedos, nem um pouco arrependida. — Sumiu metade dele, e tenho certeza que ontem ele estava inteiro! — Miguel acrescenta fechando a coitada da geladeira com um baque.

— Olha só, era seu? Desculpe, eu comi — respondo na maior cara de pau.

Miguel me encara como uma carranca. — Mathias, preciso de um cavalo, estou querendo dar uma volta hoje!

— Tudo bem, posso preparar um cavalo para o senhor. — Mathias troca um olhar comigo.

— Acho que Bruto ainda está espirituoso como sempre. — digo. — Se quiser ter o traseiro jogado longe pode ir com ele.

Miguel me dá um olhar furioso. — É para agora, Mathias! — retruca saindo da cozinha.

Mathias se levanta, toma o último gole do café, — Dandara, está fazendo a vida desse homi um inferno. O coitado deve ta contando os dia para sumir por essa estrada à fora. — diz colocando o chapéu na cabeça.

— É bom mesmo que esteja. Tem sorte de eu ainda não ter cuspido no seu café — comento.

— Sei que odeia que metemos os bedelhos em coisa sua, mas os empregados estão receosos, os homi querem saber como vai ficar as coisas. Seu Miguel não veio aqui para deixar as coisas como estão, ele vai por tudo a baixo. — Mathias fala com cautela.

— Mathias, algum dia faltei com vocês? — questiono de maneira rude. Ele balança a cabeça de maneira negativa. — E isso não irá acontecer hoje. Avise seus homens que os empregos estão garantidos, nem que eu mesma banque os serviços deles.

— Pode deixar, Danda, desculpe a intromição.

— Mathias, somos família. Eu não vou falhar com vocês. — digo por fim.

Ele confirma, esboçando um sorriso em minha direção. — Santiago pediu para avisar que as vacinas chegam hoje.

— Estou ciente, assim que chegarem irei aplicar em todos. Não quero nenhum caso como a Archeron.

— Menina, a morte daquela égua não é culpa sua. — Maria diz.

— Eita , não quero prozear sobre isso, tenho trabalho me aguardando. — digo pondo meu chapéu na cabeça, seguindo para fora.


Sento debaixo de uma árvore olhando a cena. Miguel poderia tentar resgatar na mente os tempos de moleque, ele poderia até não ter nenhuma intimidade com os animais, mas pelo menos quando criança ainda conseguia montar um cavalo sem que ele tentasse morder sua coxa.

O Miguel da infância não está em nada parecido com o de agora, e não só pelo fato de ter emagrecido e ficado mais bonito, mas parece que Miguel tem ódio desse tipo de vida. Desde que chegou, olha tudo de cima, com cara de esnobe. Ele não tem vínculo com essa terra, ele não sente a importância que eu sinto quando vejo o sol raiando no horizonte, seus raios fortes iluminando essas terras.

Ele seguiu o caminho da cidade grande e eu o caminho dos bichos.

Mathias tenta ensiná-lo, mas ele parece muito com um cavalo xucro, surdo. Depois não quer ser chamado de mula. Levanto, limpando a parte traseira da calça com um espanar de mãos, me aproximando dos dois. — Mathias, vai conferir as coisas, deixa que eu cuido do brucutu.

— Não pedi sua ajuda. — Homi, mas mal agradecido!

— Não estou fazendo por você, e sim pelo cavalo, que não tem culpa do asno sentado em cima dele. — Miguel abre a boca para retrucar, mas mostro o dedo em riste — Você tem que aprender a ouvir, se segurar com força a sela, o cavalo vai entender que quer impor sua vontade e não vai deixar você cinco segundos sentado no lombo dele. Os cavalos farejam seus sentimentos de longe, ele sente quando você tem medo, raiva ou está confortável. Deixe a rédea frouxa.

— Você acha que eu desaprendi tudo que meu tio ensinou? — desafia.

— Acredito que sim, já que te salvei de vários tombos, se bem me lembro.

Ele me fulmina com o olhar. — Então vamos ver, esquentadinha. Pegue aquele cavalo mutante que você tem e vamos cavalgar por aí.

— Cavalo mutante?

— Você tem noção que ele é o dobro de um cavalo normal?

— Para sua informação a raça dele é Percheron. Ele é um ótimo reprodutor, por ser grande e forte nos dá potros com habilidades especiais para o campo. — Dou risada, vendo seus olhos se arregalarem quando o cavalo marcha para trás. — Tire os pés do estribo e, vá para trás.

Subo no cavalo com a destreza de sempre, ocupando seu lugar na cela. Eu conhecia os cavalos como a palma da minha mão aqui no Haras, por isso não tinha problemas com nenhum deles e sabia quando um deles queria fazer uma gracinha como nosso companheiro aqui.

Bato o pé no espaço entre a barriga e as patas traseiras, para que ele saia.

— Se você está pensando que vai ficar se esfregando em minha bunda, eu te jogo para fora do cavalo! Contenha suas mãos!

— Calma mulher estressada.

Tiro o chicote da bota acertando na bunda do cavalo e o animal sai em galope, soltando um relincho alto. Seguro o riso vendo que Miguel ficar tenso. — Gostando, brucutu? — Ele não responde.

Forço o cavalo ir mais além, sentindo a adrenalina do galope correr pelas minhas veias, sinto as mãos de Miguel segurarem minha cintura e o arrepio disso eriçar os pêlos de meu braço.

Cavalgamos um pouco pelo Haras indo até o campo aberto onde fico com Trovoada e voltamos para o Haras, parando no estábulo.

Desço do cavalo, colocando as mãos na cintura. — Gostou do passeio?

— Você queria se exibir.

— Não preciso me exibir para você. Já é um milagre que você tenha ficado em cima do cavalo enquanto estávamos cavalgando.

— Olha aqui, você se acha incrível, acreditou mesmo que eu precisava de você?

Gargalho com irônia. — Você não sabe nem ao menos como se monta num cavalo. É uma sorte que saiba onde fica o rabo e a cabeça.

— Você é mesmo muito...

— Muito?

Miguel se inclina, ficando mais perto de mim, quando seu rosto praticamente cola no meu, pude sentir sua respiração. O perfume exalava, eu tinha começado a odiar esse cheiro, cheiro que me tirou o sono nas últimas noites, mas senti-lo tão perto me embriagava. Antes que eu pudesse raciocinar, os lábios de Miguel grudaram nos meus. Os braços fortes rodeando minha cintura.

— Sua esquentadinha, está tentando o quê? — Parecia que ele estava falando mais consigo mesmo do que algo para mim.

Sua língua voltou a lamber o canto de minha boca, seus dedos apertando minha cintura, uma de suas mãos subiu por minha espinha.

Acaricio sua coxa, bem perto de seu membro.

— Vamos sair daqui — sussurra como um pedido. Suas mãos apertando minha bunda, passeando por todo meu corpo, da cintura até o pescoço. Ele beija minha boca com ferocidade, empurro seu peito sentindo os músculos firmes contra a palma de minhas mãos, descolando seu corpo do meu, vendo a malícia nos olhos de Miguel. — Por que parou? — pergunta.

Respiro fundo ainda olhando para ele, controlando a maluquice da qual acabo de me curvar...então, tenho uma ideia. — Espere um minuto, o Haras ainda está movimentado, vou checar se ninguém está por perto e trancar a porta. — digo de um jeito safado, bem parecido com o que Cindy fazia sempre que conhecia um homem de fora.

Ele passa a mão sobre o pênis por cima da calça, animado. Vou até lá fora, vendo que realmente não tinha ninguém por perto, puxo uma das portas travando-a no chão e repito o mesmo processo com a outra, mas antes de fechar e entrar como falei que faria, dou um tchauzinho para ele, fazendo seu sorriso desaparecer. Percebendo o que estava prestes a fazer.

— Agora sim você está no seu devido lugar, uma pena que não tenhamos nenhum curral para você nadar com seus amigos...porcos! — digo rapidamente.

Miguel corre ao meu encontro, mas antes que ele me alcance, fecho a porta passando a tranca.

— Dandara, abre isso daqui! — seus gritos se misturavam com os relinchos dos cavalos incomodados dentro do estábulo. — Dandara, sua caipira maldita!

— Desculpe, brucutu. Aproveite seu tempinho com os cavalos e limpe as baias deles, Deus sabe como temos quilos e quilos de esterco por dia. Qualquer coisa tem feno e água se sentir fome. Isso deve bastar para você.

Ele bate na porta, fazendo-a tremer, gritando pelo meu nome. Urrando de raiva por ter caido feito patinho em minha arrapuca.

Cruzo com Bento no caminho de volta ao casarão, girando as chaves do estábulo entre os dedos e rindo feito uma maluca.

— Gosto de vê-la animada, mas está com cara de quem aprontou.

— Que é isso, Bento! — me finjo de inocente.

Ele bate na aba do chapéu, não acreditando nem um pouco no que eu estava dizendo. — Mathias está com os cavalos, quase todos foram vacinados, ele ficou esperando ocê aparecer, mas preferiu dar logo. Ficou fartando apenas o último estábulo. — comenta indicando o estábulo que tranquei Miguel.

— Diga que farei aquele estábulo, estou dando um castigo em um cavalo xucro. Ignore os resmungos, o cavalo está dando coice em todas as paredes, já vi cavalo dificil, mas esse...logo domo também — digo colocando um enorme sorriso no rosto.

Bento olha ao nosso redor, como se procurasse alguém e eu sei quem está procurando.

— Dandara, Dandara...

— Fique calmo, por que não vamos tomar um café, quem sabe Maria fez aquele pão doce que tanto amo? — pergunto enlaçando meu braço no seu, levando-o para longe do estábulo onde Miguel estava, acredito eu, urrando de raiva pelo tremor que a porta fazia.


CAPÍTULO 17


Miguel

— Sua caipira insolente! Como eu sou burro!

Eu esmurro a porta que nem um doido, gritando tanto que sinto minha voz falhar e ninguém aparece por ali. Viro olhando para os cavalos que relicham, só me faltava esses bichos me atacarem.

— Abre a porta! — grito de novo. Ando pelo estábulo procurando uma outra saída, lembrando de suas palavras “Aproveite e limpe as baias” , que filha da mãe! Até parece que eu iria sujar minhas mãos limpando merda de cavalo.

O cavalo no qual demos uma volta antes dela me trancar aqui chega perto, me fazendo pular de susto. Ele se sacode, sua crina bate de um lado para outro e solta um pequeno relincho.

— É, aquela ali não presta!

Cômico! Agora eu estava conversando com um cavalo como se ele pudesse me entender. Eu torceria o pescoço de Dandara assim que me livrasse dali.


Não tinha noção de quanto tempo tinha se passado, sei que estava de saco cheio de ficar ali.

— Noite, brucutu. Como foi seu dia?

Fico de pé chegando perto da porta, eu mataria essa mulher! — Pare com essa brincadeira de mau gosto, me tira daqui!

— Pelo visto continua grosseiro e sem educação. Espero que não esteja maltratando meus animais, por que se estiver, não vai ficar apenas dois dias trancado aí.

Meu sangue ferve nas veias. — Dandara, estou te avisando, quando eu sair daqui...

— Chega de ameaças em vão, vou te tirar daí quando aprender sua lição.

Esmurro novamente a porta, escutando seu risinho e seus passos se afastarem, — Dandara, estou com fome!

— Coma feno, brucutu!

Os cavalos mal se importavam por estar ali com eles, nos primeiros minutos e até primeira hora eles ficavam espiando ou fungando em minha direção. Agora? Muitos nem ao menos me encaravam, olho novamente para o cavalo solto perto de mim, ele abocanhou um punhado de feno mastigando e quando repetiu o gesto despejou um pouco em minhas pernas, como se dissesse que era bom.

— Tá de brincadeira você também!

Empino o nariz, olhando na direção contrária. Mas volto a encará-lo quando ele vem para cima de mim despejando mais feno em minhas pernas, seu focinho se torce inteiro enquanto mastiga.

— Ei amigão, pode ser bom para você, mas isso daí é mato. E alguém já te ensinou a dar espaço as pessoas?

O cavalo relincha, dando as costas para mim, batendo seu rabo bem no meio do meu rosto. Me fazendo xingá-lo. Como se estar preso junto aos cavalos não fosse o suficiente, ou do fato de estar com frio também não fosse, ainda tinham os mosquitos que faziam seu banquete atacando minhas veias.

Minha barriga roncando, meu corpo coçando e eu fedendo a estrume de cavalo.


Os raios de sol atingindo meu rosto me fizeram apertar os olhos tentando ver quem estava entrando, se fosse Dandara eu daria uma palmadas em sua bunda.

— Miguel? — Mathias perguntou surpreso, tentando entender tudo que estava acontecendo, olhando para a bagunça que tinha feito nos blocos de feno ao tentar arrumar um jeito para dormir. — O que você está fazendo aqui?

— Pergunte para aquela caipira filha da mãe — digo bravo, ficando de pé, sentindo as costas reclamar pelo movimento brusco.

Ele dá uma gargalhada. Mas se adianta a falar: — Desculpe, Seu Miguel.

Meu corpo chia de dor a cada maldito movimento, preciso de um banho quente, comida e boas horas de sono. Quando me recuperar ela vai ver, eu vou colocar essa caipira em seu lugar!

Estou com esse pensamento até ver Dandara caminhando sorridente em direção ao casarão.

— Ah, sua potranca mal educada! É bom correr. — ameaço gritando.

As pessoas que estão perto de mim me olham assustadas, e devem mesmo, porque meu rosto não deve estar nada amigável. Dandara se vira, o sorriso sumindo do rosto ao me encarar e então ela corre, empurra Santiago para longe e corre como uma moleca travessa sendo pega na artimanha, entra correndo no casarão.

Corro tão rápido que logo estou fazendo a porta de madeira branca bater contra a parede e escuto Maria falando alto na cozinha:

— Menina, o que houve? Tá tentando tirar o pai da forca?

— Dandara! — grito novamente.

Entro na cozinha vendo-a atrás de Maria, como se eu tivesse receio de ir lá lhe dar umas boas palmadas!

— Pare de correr, será pior quando eu te pegar! — ameaço.

— Ei, não quero bagunça na minha cozinha! Dandara o que você aprontou com o homi ? — Maria bate com a colher de pau na bunda de Dandara que agora tenta se esquivar de mim e de Maria.

— Vai fazer o quê? Me bater? Agora bate em mulheres? Quero ver encostar a mão em mim!

— Não, nunca encostei em uma mulher, mas dizem que para tudo tem uma primeira vez. E minha mão está coçando — grito.

Dou a volta na mesa, Dandara corre para o outro lado, fazendo o banco cair e eu tropeçar ao tentar pulá-lo, caindo de quatro no meio da cozinha. Sua gargalhada alta, faz minha raiva ferver mais que panela de pressão no fogo. — Ria enquanto pode.

— Alguém pode parar esses dois? Eles irão destruir a casa! — Maria grita empunhando sua colher de madeira. — Estão parecendo duas crianças!

— Desculpe Maria, mas não vou me meter — escuto a voz de Mathias enquanto corro atrás de Dandara que vai para a sala. — Dandara prendeu o homi no estábulo, peguei ele dormindo de concha com os cavalos.

Maria me encara, a mão na boca tentando segurar o riso.

— Vai, pode rir. Quero ver se aquela filha da mãe vai continuar rindo da minha cara quando eu a pegar — bufo, com os olhos em Dandara.

Ela faz um movimento errado diminuindo nossa distância, pulo sobre o sofá, meus braços envolvem sua cintura, tirando seus pés do chão. Não penso duas vezes, jogo seu corpo em meu ombro, dando um tabefe em sua bunda.

— Me solta! — Dandara grita.

Ela bate em minhas costas, os socos doem, não é que a Diaba tinha uma força bruta?

— Como foi sua noite? A minha foi maravilhosa, tá sentindo meu cheiro? Quer ver a quantidade de picadas que tenho espalhadas pelo corpo? Acho que tenho feno até em parte que desconheço!

Dou mais alguns tabefes em sua bunda que a fazem gritar. Eu estava puto por ela ter me deixado ao relento no meio dos bichos. E ficando com tesão, isso mesmo, ter o corpo daquele Diaba tão perto, tão ao meu alcance. Seus seios roçando em minhas costas, estava fazendo meu pau ficar rigido como uma tora, maldita hora para uma ereção. Eu queria mesmo é vê-la de quatro enquanto castigava sua bunda por ter me deixado trancado junto dos cavalos, mas também saborear cada gemido que ela pudesse...

— Meu Deus, Seu Miguel, solte a menina! — Maria exclamou.

— Não antes de lhe dar uma lição! — digo.

— Seu Miguel, não me obrigue a usar a Betinha em ocês dois. — Maria alerta.

— Não estou brincando, brucutu! É bom me soltar! — Dandara urra em minhas costas.

Acerto um tapa mais forte, jogando seu corpo no sofá, prendendo seu corpo ali ao apoiar meu joelho de um lado e o braço ao lado de sua cabeça, vendo seus olhos se arregalarem por um pequeno instante, mas o suficiente para meu dar um gostinho doce na boca. — Você tem sorte que é mulher, mas eu poderia, como vingança, soltar aquele seu cavalo gigante que tanto ama... — digo de maneira perversa — Como você ficaria?

Dandara me empurra com força, ficando de pé. — Você nem pense em tocar no Trovoada, você me entendeu? — responde praticamente gritando.

— Seria excelente, quem sabe assim você aprende a respeitar as pessoas? — retruco segurando seu braço.

— Larga meu braço, Miguel!

— Você quer me enlouquecer, você vem, me atiça, me provoca...

— Você se aproveitou da situação! — retruca.

— Você não se faça de sonsa! — grudo seu corpo mais no meu — Adorou o que fiz com minha boca.

— Misericórdia! — o sussurro de Maria quase me tira o foco da diaba em minha frente.

— Eu odeio você, Miguel! — Dandara tinha ficado furiosa, mas confesso que não liguei para o que ela estava falando, só conseguia ver aqueles lábios se mexendo. Queria torcer seu pescoço, mas também queria fodê-la. Como essa mulher me tira do sério!

— Você quis tudo que aconteceu e tá querendo mais que eu sei.

Seguro um punhado de seu cabelo bem justo no pescoço roubando um beijo, mordo seu lábio nem me importando por ela reclamar ou tentar me empurrar. Dandara retribui meu beijo, até me afastar, empurrando meu peito, fazendo com que me desequilibrasse dando alguns passos para trás rindo.

Ela limpa a boca me olhando com raiva, cospe no chão e então corre escada acima.

— Minha mãe dizia que muito ódio vira amor. — Maria retruca.

Viro vendo que Mathias e Maria ainda assistiam nosso pequeno showzinho. — Dela quero distância — digo marchando para meu quarto.


CAPÍTULO 18


Dandara

Bato a porta fazendo as coisas estremecerem dentro do quarto. Maldito brucutu! Arranco minhas roupas jogando-as no cesto perto do banheiro, ligo o chuveiro bem quente, quente o suficiente para que ao tocar em minha pele pudesse queimar o toque daquele... Engulo os pensamentos raivosos que passam por minha mente esfregando meus braços, meu pescoço, qualquer lugar que ele tivesse encostado, na tentativa de tirar o cheiro dele. Ainda não conseguia acreditar na petulância daquele brucutu. Miguel realmente não tinha amor pela vida.

Confesso que deixá-lo ao relento não foi algo muito sensível de minha parte, mas ele mereceu e, vai merecer cada pisão em seu pé a partir de hoje.

Bater na minha bunda e me tascar um beijo na frente de todos? Quem ele pensa que sou? Enquanto terminava meu banho pensava em mil maneiras de me vingar, mas acabei descartando todas, eu é que não desceria ao nível infantil dele, minha melhor vingança seria chutar a bunda dele para fora do meu Haras quando tudo acabasse.

Visto um short e uma camiseta puída e chinelos, melhor me ocupar dando banho nos animais do que cruzando meu caminho com certas mulas por aí. Atravesso o Haras em silêncio evitando falar com qualquer um que cruze meu caminho.


Agradeço pelo trabalho parecer não ter fim e os músculos espalhados pelo meu corpo começarem a protestar do esforço feito, passar o tempo no meio dos cavalos me acalmava e me fazia esquecer por alguns instantes minha vontade assassina contra Miguel. Mas amanhã mesmo eu ligarei para o advogado, não dá para continuar assim, mais dia ou menos dia e eu mataria Miguel. Que ideia absurda de Pedro me colocar nessa enrascada.

Já era noite quando paro fecho a última baia. Trovoada relincha animado após o banho, sacudindo a cabeça e sua longa crina.

— Teve um dia melhor que o meu, né, bonitão?

Saio do estábulo trancando as portas, todos os funcionários já tinham ido embora, caminho observando a noite, as estrelas e a lua cheia brilhando forte no céu, o som dos grilos cantando no meio do pasto.

Entro no casarão, tiro o chapéu, deixando-o no mancebo de madeira. Tudo estava em completo silêncio, poucas luzes acesas indicando que até a Maria tinha se recolhido.

Passo pelo quarto do brucutu vendo a luz está acesa sair pela pequena fresta da porta, estava prestes a entrar em meu quarto quando escuto uma porta atrás de mim se abrindo.

— Esquentadinha!

Viro, vendo-o só de cueca box, o corpo todo amostra.

— Não dirija a palavra para mim!

— Eu disse hoje cedo que tinha contas a acertar, você acha que seu showzinho me botou medo? — questiona vindo em minha direção.

— Se colocar as mãos em mim é bom começar a rezar para sair com ela no lugar!

— Não tenho medo de suas ameaças vazias — retruca.

— Vazias serão as suas bolas quando eu chutar para longe. — ameaço

— Você acha que vai me enlouquecer? — pergunta vindo em minha direção — Acredita mesmo que vou cair nos seus truques?

— Truques? — Gargalho alto — Não sou eu que fico agarrando você para roubar beijos.

— Vai dizer que não gostou?

— Já percebi que gosta de brincar com fogo! — desafio — Cadê toda aquela falamansa que andou esbravejando por aí? Homi metido a machão, não consegue parar de encarar para minha boca enquanto eu falo. Tudo isso é desejo?

— Não me torno frouxo por ter você na minha mente, me torno se não conseguir tirar, — Miguel dá mais dois passos em minha direção — e isso eu sei como fazer.

— Você pensa que me leva fácil, né?

— Você gosta de mexer com os homens, “se sente” fazendo isso...

— Eu não sou de quem me quer, sou de quem eu quero ser, e faço porque posso. — respondo dando um sorrisinho.

Miguel puxa meu corpo para o seu, fechando a porta com o pé, sua boca mordendo a minha enquanto distribuo tapas sobre seus ombros, costas, todo lugar que minhas mãos alcançam. Mas seu beijo furioso vai desarmando meu corpo, principalmente quando solta minha boca beijando de leve e devagar meu pescoço, rindo contra minha pele que se arrepia com seu toque, acabando com qualquer defesa minha. Não tinha gentileza no toque, havia desejo e prazer, junto de uma pessoa que queria provar seu argumento.

As mãos de Miguel ergueram meu corpo, sua língua forçando minha boca a se abrir ainda mais. Eu meio que empurro, e volto a puxar seu corpo para o meu. Precisei inspirar profundamente algumas vezes quando sua boca tomou o pequeno vão entre meus seios, sua lingua quente tocando minha pele fazia meus mamilos endurecerem e meu corpo querer mais. Sentir a proeminência em sua cueca também não ajudou muito meus pensamentos entrarem num bom senso.

Não era correto eu me render ao seu toque, não quando tinha aberto minha matraca falando que não me entregaria numa bandeja para ele, mas que diacho! Mordo seu lábio inferior, empurrando seu corpo para longe, tentando controlar a respiração. — Chega!

— Por que parar agora? — questiona agarrando novamente minha cintura.

— Eu disse chega, Miguel!

Suas mãos continuaram apertando com firmeza minha nuca, seus olhos mostravam que não estava disposto a me deixar em paz, que não sairia de meu quarto com aquela decisão fraca com a qual eu tentava me agarrar.

— Chega nada, não para mim e com certeza não para você. Eu sinto seu corpo vibrando em minhas mãos, Dandara.

Não arrisco olhar para ele, com medo que ceda aos meus instintos. Ele segura meu braço, olhando no fundo de meus olhos.

— Eu quero você, Dandara!

— Você quer me passar para trás, quer ter motivo para fazer chacota, quer o Haras, não é porque fui criada no meio do mato que não conheço homens como você, Miguel!

— Cala um pouco a boca, esquentadinha!

Abro os lábios para retrucar, mas é tarde. Ele pega meus braços, me empurrando contra meu armário, meu corpo inteiro treme com o calor do toque, ele tira a barra de minha camiseta de dentro do short, traçando livremente pelo meu corpo até meu seio. Miguel me vira de costas, mordendo meu pescoço, o corpo colado no meu, e acaba abrindo meu sutiã. Segurando meus seios, massageando-os nas mãos, beliscando meus mamilos sedentos por atenção. Roço minha bunda contra seu membro rigído na cueca, fazendo com que ambos gemêssemos.

Miguel continua acariciando meu corpo, mordendo e chupando meu pescoço. — Quero você, aqui e agora. — ele arranca minha camisa pela cabeça, fazendo a mesma coisa com meu sutiã, chupando meus seios, sugando-os até que eu não pudesse conter mais meus gemidos de prazer. Meu sexo pulsa, até dolorosamente quando a pressão do prazer explode em certas áreas.

É errado continuar com isso? Puxá-lo par mim, desejando seu corpo, respiro profundamente tentando encontrar a raiva que me alimentava horas atrás, mas só encontro o desejo.

Miguel conduz nossos corpos para a cama, arrancando o resto de nossas roupas, assim como o preservativo escondido no cós da cueca, em um segundo estava entre minhas pernas, sua mão agarrando meu cabelo, sua boca mordendo meu queixo.

Segurando meus seios com as duas mãos, apertando e puxando os bicos, lambendo minha barriga, minha cintura, roçando a barba pela minha pele, deixando-a rosada e eriçada. Um gemido explodiu de mim quando sua língua encontrou meu clitóris, seguro firme o lençol querendo tremer com o que ele fazia em minha intimidade, sua boca não me dava misericórdia alguma, sua língua muito menos. Quando seu dedo me invadiu, minhas costas se curvaram e o gemido saiu mais alto, fazendo eu ganhar um tapa na bunda.

— Desculpa, esquentadinha, mas teremos tempo para fazer amor em outro momento, agora, eu quero que seja rápido, que queime esse fogo dentro de mim.

Miguel desenrola o preservativo em seu membro, nunca tirando pelo menos uma de suas mãos do meu corpo, seus dedos tocam meu sexo, me fazendo arfar. Chupo os dedos que me tocam, vendo Miguel mordiscar o lábio e sorrir. Seu pau encaixado em minha entrada, deslizando de maneira lenta, começo a rebolar, fazendo seu membro se remexer dentro de mim.

Enquanto eu rebolo, Miguel segura meus cabelos de forma bruta, aumentando o ritmo dos movimentos, entrando e saindo de dentro de mim, segurando minha cintura com a mão livre fazendo seu membro ir mais fundo, meu corpo treme e Miguel geme alto.

Estavamos nos devorando, caricias eram feitas pelo nossos corpos ondulando juntos, enquanto eu consumia cada gemido e estocada que Miguel produzia.

Aperto os lençóis entre os dedos, seguro seu pescoço com firmeza quando ele encaixa a boca sobre meu seio, montando em seu colo, sentando com força sobre ele, gostando do modo como ele geme e descola a boca de meu mamilo, jogando a cabeça para trás rendido.

— Puta que pariu, você é deliciosa! — diz baixinho contra meu pescoço.

As estocadas duras fazem meu corpo tremer, meus seios balançam com o ritmo forte do sexo que fazemos. Ele geme agarrado em minha cintura, forçando meu corpo para baixo, quebrando as últimas barreiras, me fazendo gozar. Miguel ainda mantém o ritmo por algumas estocadas até que goza, seu membro latejando dentro de mim, se misturando com nosso suor, os tremores do meu corpo e do seu e as batidas descompassadas dentro do meu peito.


Quando eu estou envolvida em seus braços

O mundo todo apenas desaparece

A única coisa que escuto é

o bater de seu coração.


Porque posso ouvir sua respiração

Está se derramando sobre mim

E de repente estou me desfazendo dentro de você

(Breathe, Faith Hill)


Arre égua , estou perdida...

Levanto com um sobressalto e empurro para longe o braço forte que rodeia meus seios, tentando soltar meu corpo. Parece que os braços dele tinham se tornado uma braçadeira de ferro, o jeito foi sair me rastejando pela cama como uma cobra, até que eu caísse de bunda no chão.

Pego uma muda de roupa e corro para o banheiro, tomo um banho rápido, não parando nem para secar o cabelo, apenas escovo e deixo solto pelas costas. Não é que eu não queira encarar a asneira que tinha feito noite passada, mas...bem, era isso mesmo, não queria dar de cara com Miguel, por isso levantei mais cedo que até o próprio sol e me esgueirei para fora do quarto com as botas nas mãos.

— Fugindo de alguém, menina?

Pulo tampando a boca para que meu grito de susto não faça eco pelo corredor escuro.

— Cristo pai, você quer me matar do coração, Bento? — questiono sentindo os batimentos acelerados contra o peito.

— Desculpe, mas estava saindo do quarto como quem escondia um cadáver, devo me preocupar? — pergunta encarando a porta que eu havia acabado de fechar.

— Deixe de besteira homem, só tive uma noite ruim.

Bento coça a cabeça com a bengala velha. — Arra, por falar em noite ruim, tinha algum animal sofrendo ontem, Maria e eu mal pegamos no sono, parou de sofrer era já tantas da madrugada.

Engulo em seco, será que tínhamos feito tanto barulho assim?

— Vou ficar de olho nos arredores, tenha um bom dia, Bento.

Escuto o riso baixo dele enquanto caminho pelo corredor. — Bom dia, menina.

O dia não tinha se levantado, mas mesmo assim entro no estábulo para conferir como estão os animais. Reponho água e feno, depois me dirijo á baia de Trovoada, ele vira a cabeça não querendo olhar para mim.

— Qual é, amigão, está bravo comigo?

Ele me encara, dando uma fungada balaçando a cabeça como se confirmasse.

— Que tal recompensar isso com com uma corrida?

Ele relincha ainda evitando me olhar, eu conheço o jogo dele, Trovoada é um menino mimado, e a culpa é toda minha.

— Tudo bem então, já que não quer mais minha companhia...

Ele relincha mais alto, levantando as patas da frente. Fazendos os outros cavalos reclamarem.

— Você é um garotão mimado! — brinco, pulando a portinhola da baia, subindo diretamente no pelo, me agarrando ao seu pescoço. — Vamos ver o sol nascer.


Ficar perto dos cavalos ou montar em Trovoada é como respirar, algo tão natural, acredito que eu aprendi a montar antes mesmo de andar.

Saímos em direção ao campo aberto, ganhando velocidade a cada passada, sentindo o vento frio da madrugada ir contra nós. Eu precisava limpar minha mente, precisava tirar Miguel e a noite de ontem da mente, precisava tirar essa distração total, ainda não sabia o que pensar sobre essa história de Miguel conseguir meu Haras, o que faria com as famílias e funcionários que dependiam dos seus empregos? O que faria com os cavalos? Para onde eu iria com Trovoada? Aqui sempre fora meu lar, foi meu lar quando minha mãe faleceu, foi meu lar quando meu pai morreu em um torneio de rodeio.

O Haras é meu santuário, minha casa, eu aprendi a escrever no lombo de um cavalo, fiz desenhos nas paredes do antigo celeiro, aquilo era meu refúgio...

Volto para o Haras depois de admirar o sol nascendo, em alguns dias começaria o outono e o frio ocuparia as noites, o que me fazia sair pelos campos ajudando os cavalos que podem se perder ou sofrer com as chuvas repentinas.

Vou até o escritório respirando fundo, ao sentar em minha cadeira, tiro o chapéu, deixando-o sobre a mesa.

— Entre — respondo à batida na porta.

— Dandara, bom dia.

— Daniel, estava mesmo esperando por você. Sente-se.

— Em que posso ajudá-la?

— Quero saber mais sobre o Haras, por que Pedro deixou o Haras com Miguel, ele conhecia o sobrinho, nunca teve interesse por nada, mal sabe a diferença entre a crina e o rabo dos cavalos. Porque deixar o Haras nas mãos dele? — solto tudo de uma vez, expondo minha irritação, minha indignação. — Você me conhece desde menina, Daniel, eu ensinei sua neta a montar, eu cuido desse Haras como se fosse meu filho. Deixei as competições para administrar tudo isso quando Pedro descobriu a doença, abdiquei minha carreira para dar minha vida ao sonho dele.

Sinto as lágrimas forrando a parte debaixo dos meus olhos.

— Quando ele desejou implantar o projeto fui eu quem o apoiou, eu que contratei os profissionais, saí em busca de patrocinadores, tenho mais de trezentas crianças se benificiando do projeto. Temos selos e premiações.

— Eu sei de tudo isso Dandara, mas não cabe a mim dizer os motivos que influenciaram Pedro a tomar essa atitude. Ele escreveu uma carta, uma carta para você e Miguel, que só poderá ser lida após a decisão ser tomada.

— Uma carta? E você não me comunicou antes por quê?

— Dandara, como disse, isso não está em minhas mãos. Pedro deixou ordens explícitas.

— Arre égua , uma bosta a essas ordens!

Bufo, tentando controlar minha irritação.

— O único conselho que eu posso dar é: mostre ao Miguel o quão bem o Haras faz, mostre seu amor por tudo que você e Pedro criaram nesses anos. Faça-o não vender o Haras, até mesmo unindo os dois planos, por que não?

— HÁ HÁ, transformar meu Haras em um hotel de luxo para madames enfrescuradas? Quando um cavalo cagar nos pés delas quero ver quantas estrelas sobrará. É de pessoas como Miguel que eu sempre fugi esses anos, não quero o dinheiro de quem vê meus cavalos como um pedaço gigante de bife passeando por aí.

— Tente ao menos resgatar o amor que Miguel tinha na infância. — Daniel aconselha.

— Por Cristo, Daniel. Pedro estava maluco no final dos seus dias. Ele acreditou mesmo que os chiliques na infância de Miguel era por mais tempo com os animais? O menino gritava se um porco grunhice em sua direção. A última vez que pisou no Haras fez uma estripulia soltando metade dos cavalos das baias. Foi um Deus nos acuda até recuperarmos tudo.

Daniel segura o riso, ajeitando melhor a postura na cadeira.

— Quer que eu conte a vez que soltou uma bombinha estampido no meio do pasto? Pedro saiu atrás dele na base do chicote.

— Vou dizer a mesma coisa para você como diria para Miguel: não posso intervir, a questão não é uma briga de foices. É vocês conversarem o que é melhor para o Haras...

— Ele irá vender tudo, demolir tudo, sabe quantas pessoas tenho trabalhando aqui? Quantas famílias envolvidas? Imagina todos os dias você se levantar e as pessoas te encararem com perguntas nos olhos, meus funcionários não sabem como será o amanhã. Nem se terão o salário no mês que vem — resmungo — É com isso que lido.

— Miguel fez uma proposta, ele quitaria as dívidas que o Haras tem, e fez uma consulta com as fazendas de corte e o Haras vizinhos para a possibilidade de vender os cavalos. Acredito eu que queria sondar o terreno para saber o valor de um manga-larga.

Levanto enfurecida, batendo as palmas das mãos na mesa. — Ele quer levar uma chicotada!

— Dandara! — exclama.

— Ele que tente encostar em meus cavalos, ele que tente... Arre égua!

— Quando o assistente de Miguel entrou em contato comigo deixou bem explicíto que o único que ficaria fora desse pequeno inventário seria o Trovoada.

Arqueio a sobrancelha — E isso alivia minha vontade de matá-lo? Ah claro, ele foi gentil em não vender um cavalo que foi presente de meu pai!

Eu estava soltando fogo pelas ventas, o filho duma égua teve coragem de agir pelas minhas costas e depois vem com sua falamansa e me leva pra cama. Eu sou muito burra mesmo!

— Bem, Dandara. De todas as formas, se vocês não chegarem a um acordo, se você não aceitar vender sua parte para ele ou se não conseguir pagar a dívida, automaticamente o Haras entra em um processo e se ele tiver a possibilidade, vai acabar nas mãos de Miguel. Se isso não ocorrer, de qualquer forma, assim que o tempo imposto pelo Seu Pedro acabar, o Haras entrará num processo onde quem terá o poder de decisão é a justiça. Isso pode envolver até mesmo leilão, por conta das dívidas.

— Então é: corre pro mato ou corre pro morro. — suspiro.

— A maneira de todos saírem satisfeito é vocês tentarem resolver isso amigavelmente.

— Tudo bem, obrigada pelo seu tempo doutor.

Ele concorda com um gesto, levantando-se. — Fique bem.

— O senhor também.

Acompanho o advogado para fora, fechando a porta atrás de mim. Caminho até o espaço para equitação, vendo os montadores treinando.

— Dandara!

Abaixo um pouco a aba do chapéu fazendo sombra para o sol forte da manhã. Carolina vem calvagando em minha direção, acenando. — Bom dia!

— Preciso da sua ajuda, sinto Damião entrando errado nos obstáculos.

— Dá uma volta para eu observá-lo — digo pulando a cerca.

Carolina trota se afastando, fazendo semicírculos para aquecer o cavalo, passa pelos primeiros obstáculos e vejo que Damião está com uma passada errada, as pernas de dentro estão trotando mais longas que as de fora. É preciso equilibrar o lado que ele está tendo maior dificuldade. Carolina também anda forçando demais no elevado, a conexão entre eles também estava meio mexida, isso acontecia com cavaleiros que entravam na época de competição, tinham muita pressão e sentimentos misturados e acabam passando para os animais.

— Bom dia, esquentadinha, tinha espinhos na cama essa manhã? — Miguel agarra minha cintura e beija meu pescoço. Me esquivo com um sorrisinho, ainda com raiva por ele ter agido pelas minhas costas.

Seu olhar malicioso mexe comigo. O desgraçado sabe que venceu ontem!

— Levanto antes mesmo do sol, coisa de caipira. — me atrevo a desafiá-lo.

Miguel sorri abaixando a cabeça, ainda me olhando. — Confesso que tive uma noite excelente. Poderíamos repetir nossa conversa hoje a noite, o que acha?

— Poderíamos, mas não vamos, tenho mais o que fazer. E nada mudou.

Miguel me encara surpreso, — O que eu fiz? Acordou azeda como um limão, você não cansa de distribuir coices?

Nós estavamos em um maldito pé de guerra e tudo que eu conseguia me lembrar quando encarava os olhos castanhos de Miguel é onde sua maldita boca esteve ontem a noite. E eu excitada por cada gesto que aquele brucutu fez! Deveria dar um tapa em mim mesma!

— Que tal darmos uma volta? Você poderia me mostrar a região.

— Claro, tem algo que ficou de fora de seu inventário? — mordo a língua por ter falado disso.

Miguel fica surpreso, mas logo se afasta de um passo, confirmando o que Daniel tinha dito mais cedo, ele realmente agiu pelas minnhas costas.

— Dandara...

— Cala a boca, brucutu! Se não quer ver a cara enfiada no esterco de cavalo, fique quieto!

Viro sinalizando para Carolina se aproximar.

— Teremos que trabalhar algumas coisas em vocês dois. Faça uma pausa, eu vou preparar o redondel.

— Ok, obrigada Dandara.

Sorrio pulando o cercado novamente, ignorando Miguel que me seguia como uma sombra.

— Não cometi nenhum crime, Dandara.

Reviro os olhos, caminhando para longe.

— Você está sendo teimosa, poderíamos resolver isso de outro jeito, quem sabe unir o útil ao agradável.

Viro fazendo-o parar quase tropeçando em mim. — Diga brucutu, qual sua excelente ideia? Já recebeu oferta pelos meus cavalos? Ah, muito obrigada por deixar Trovoada de fora, foi uma gentileza imensa, já que não quis vender também um presente de meu pai.

Sinto que estou quase gritando.

— Eu não venderia seu cavalo, vejo o amor que sente por ele. Posso não ser um especialista ou não gostar das mesmas coisas que você, mas não quero mal aos bichos.

— Não quer o mal deles? — Sinto minhas bochechas pegando fogo, Miguel mesmo mantém uma certa distância de mim. — Sabe qual a diferença entre um cavalo para lidar com o gado e um cavalo de montaria e competição?

Ele dá de ombros.

— Exato, se não sabe essa imensa diferença e mesmo assim foi oferecer meus cavalos para donos de fazenda de corte. Você com certeza não quer o bem deles. Jumento! — disparo a falar.— Mas tenho uma solução, vá embora, se não quer o mal deles, vá. Ou está esperando a foda de despedida? Quer ir para o celeiro desativado? — pergunto desatando o nó da minha camisa xadrez fazendo ela revelar minha blusa curta.

— Deixe de ser ridícula! — ele grita, chamando atenção das pessoas que passam por nós.

— Não sei onde Pedro estava com a cabeça, ele só poderia estar alucinando quando decidiu deixar meu Haras para você! — Vejo o olhar irritado de Miguel, mas não deixo que fale. — Tenho muito trabalho a ser feito, se puder pelo menos não atrapalhar, eu agradeço.

Estava pronta para deixá-lo parado sozinho quando vejo Cindy galopando em minha direção. Era hoje, definitivamente eu mataria um.

Ela se aproxima com o sorriso mais falso que nota de três reais, diminuindo o galope, parando o cavalo perto da cerca e desce, balançando a mão em nossa direção. — Dandara! Era você mesmo que queria encontrar!

— Só me faltava essa — sussurro. — Acho que errou, sua prenda está bem na minha frente — digo com um sorriso cínico nos lábios.

— Forasteiro, desculpe não ter vindo mais cedo, vejo que ficou totalmente curado do ataque de fúria de Dandara.

Miguel sorri, deixando que a oferecida lhe agarrasse o pescoço dando um beijo bem perto de sua boca.

Maria trepadeira! — penso com raiva.

— Estou bem sim, que surpresa boa vê-la aqui. Estava agora mesmo comentando com Dandara que queria dar uma volta pela região.

Cindy sorri animada. — Então encontrou sua companhia, faço questão de ir com você.

Miguel me encara vendo minha cara de poucos amigos. E mesmo que eu tente disfarçar meu ódio por Cindy, ele se aproveita da situação. Segura na cintura fina da trepadeira, abrindo um amplo sorriso. — Podemos dividir o mesmo cavalo, eu não estou acostumado a montar sozinho.

— Ihaaaahhh, mas é claro! — ela diz animada. — Ah, Dandara, eu soube que está preparando uma competição aqui no Haras.

Miguel me encara curioso, até mesmo me fuzilando com os olhos.

— Sim, é para angariar fundo para o Haras, mas como soube?

— Matheus, ele me contou — diz com um sorriso. — Logo pensei, o que seria excelente senão competir? As regionais estão chegando e eu e Milu precisamos estar preparadas, você poderia dar uma olhada nela, estou achando que ela está de TPM — diz abaixando o tom de voz na última parte como se tivéssemos dividindo um segredo. — E você como antiga competidora sabe como é importante o cavalo estar bem. Fico orgulhosa que abandonou os pódios e se dedica cuidando de minha égua.

— Claro. Dou uma olhada.

— Perfeito, — ela empurra a rédea para mim, enlaçando ainda mais seu corpo em Miguel — vamos forasteiro?

— Claro. Irei pedir para Mathias selar um cavalo. — Miguel responde me encarando.

Maldito Brucutu, maldita Maria trepadeira!


CAPÍTULO 19


Dandara

— Tá falando sozinha, Dandara?

Pulo de susto, percebendo que estava resmungando alto. — Ocê tem sorte de não ter tomado uma chicotada — digo arrumando o chicote na lateral de minha bota.

— Que bicho lhe mordeu? — Mathias questiona.

— Picão, um bicho desgramento que gruda na pele da gente sugando nosso sangue.

Mathias ri, me entregando as coisas para selar Bruto. — Que bom então que não é um do tamanho de um homi , que chegou recentemente na cidade. — diz tirando sarro.

Encaro Mathias, revirando os olhos, para que notasse que não estava sendo um bom momento para brincadeiras.

— Ah, Danda, deixa disso. Pode ter enganado Bento e Maria com essa história de bicho sofrendo pelo mato, mas eu sei o que faz aquele esganiçado todo dentro de um quarto.

— Ocê não tem amor aos dentes, não? — bufo.

— Ô se tenho, como acha que consegui os meus uivos? Tudo na beleza do sorriso — Mathias caçoa abrindo um sorriso de cavalo para mim.

— Arra , não torre minha paciência!

— Mudando de proza , achei que já tinha acabado com a doma do Bruto.

— Sim, ele está pronto para ficar com os outros. Mas hoje eu quero que prepare a pista para três tambores.

Mathias abre um enorme sorriso, — Irá competir novamente? Que alegria garota!

— Ainda não, vou só matar a saudade.

— Pois deveria. — Mathias aperta a sela, conferindo se está tudo bem preso.

— Faz tanto tempo que não penso nisso Mathias, deixei as competições para trás quando assumi a responsabilidade do Haras.

— Arra, e isso não mudará. Você cuida desse Haras mais que de si mesma, eu lembro do primeiro dia que cheguei aqui e vi você cavalgando. — Mathias sorri ajeitando o chapéu na cabeça — Devia ter uns dez anos, lembro que parei perto do cercado olhando, você tinha tanta conexão com o cavalo, tinha tanto talento, mesmo naquela idade.

Sorrio lembrando da minha primeira competição.

— Todos sabemos o duro que está dando para manter tudo sob controle, até mesmo antes da morte do Seu Pedro.

— Quem sabe eu possa tentar — digo.

— Será um excelente começo.


Bruto raspa a pata pelo chão, como se ele próprio se aquecesse. Quando Bruto chegou no Haras era apenas um cavalo maltratado e ferido, abandonado pelo antigo dono para morrer ao relento. Foi numa noite de chuva intensa que o encontrei caminhando com dificuldade nos arredores do Haras. Demorou meses para que ele sequer deixar que eu me aproximar dele, estava tão ferido internamente em sua confiança com os humanos que só de ver um já se armava dando coices.

A doma nunca foi uma coisa tranquila com ele, ficava feliz só por não levar uma mordida. Mas eu o entendia, foi ferido por acreditar em um humano, sua defesa natural era expulsar quem quer que tentasse se aproximar.

— Sei que você gosta de correr, vejo como seus olhos brilham quando fica livre — sussurro passando a mão em sua crina.

Ele raspa a pata no chão, emitindo relinchos e baforadas baixas, ele aprovava o que eu estava falando, assim como o fato de suas narinas estarem dilatadas e as orelhas eretas para frente significava que prestava atenção ao que eu dizia.

— Quero propor algo diferente para nós. Se você gostar, podemos pensar em fazer isso mais vezes. — Tiro o chicote com calma da bota, ele fica desconfiado. — Isso será necessário entre nós?

Bruto relincha, marchando para trás, sacodindo a cabeça. Jogo o instrumento para longe. — Quero que você corra quando for necessário, quero que sinta a terra tocando forte suas patas e o vento traga a liberdade que isso vai lhe trazer. Mas para isso precisa obedecer fielmente meu comando.

Estralo os lábios indicando para que ande, faço todo o circuito no trote, deixando que ele receba meus comandos, deixando que veja como será.

A competição dos três tambores é simples, você precisa fazer uma saída com explosão antes de cruzar pelos sensores. Uma prova de três tambores clássica é de oito metros até o primeiro, depois vinte e sete e meio até o segundo tambor e trinta e dois metros até o terceiro. E então, a reta final, onde exige mais dos cavalos e das amazonas, era esforço máximo pelo melhor tempo. Se tudo for executado com perfeição e sem derrubar nenhum dos tambores, você poderia ganhar alguma posição boa.

Existem pessoas que gostam do silêncio, silenciam tudo ao seu redor, se concentrando apenas na sua própria respiração e de seu cavalo. Eu gosto de ouvir tudo.


— Não foi um tempo ruim para quem está parada por anos. — Mathias comemora pendurado na cerca.

— Quanto?

— Dezessete segundos e meio.

Desço do cavalo acariciando a testa dele. — Esse garoto nasceu para isso.

— Dei uma examinada na égua da Cindy, ela está machucada pelas esporas, sua barriga está toda marcada e além disso, queria que desse uma olhada no freio, acho que tem algo errado.

— Odeio quando vejo animais sofrendo pela imprudência de seus donos.

— Também não gosto, pena que o pai de Cindy não pense assim e deixa aquela garota maluca usar os animais como enfeites.

— Nem me lembre disso — retruco.


CAPÍTULO 20


Miguel

Logo após fazer sexo com Dandara fiquei perdido olhando-a dormir por alguns instantes, aquilo, esses tempos no Haras têm sido os mais malucos que já tive. Aquela esquentadinha está mexendo comigo, ela está me atormentando desde que pisei no Haras, fazendo meus dias e noite incertos, mas a mulher deitada no meu braço, dormindo tranquilamente, livre de todas as caretas e muros que impõe me faz querer seguir outro rumo. Eu tenho vontade de puxar seu corpo contra o meu, encaixá-la em meu pênis e fazer tudo de novo, agora sem pressa, absorvendo tudo, cada gemido que ela faz. Mas acabei adormecendo enroscado em seu corpo ao contemplar seu rosto enquanto dorme.

E quando o dia seguinte chegou, me deparei com a cama vazia, ela saíra de fininho para não me enfrentar quando acordasse. Abro a porta, verificando se o caminho está livre e quando confirmo que sim, retorno ao meu quarto, trancando a porta depois de entrar.

Tomo um banho rápido vestindo algo mais leve para o dia quente que faz do lado de fora, fazendo uma anotação mental: ar condicionado em todos os cantos, pelo amor de Deus, como é quente isso daqui! Pego os óculos escuros colocando-os no topo da cabeça e desço correndo a escada em direção à cozinha.

— Bom dia, Maria — cumprimento a senhora, ela me olha meio espantada o que me faz questionar se eu não estava sendo educado o suficiente com as pessoas dali. Mas também, com a noite anterior que tive, meu humor está perfeito nesta manhã. — Por acaso você viu a...

— A menina está embrenhada pelo Haras como sempre, Seu Miguel.

Pego uma laranja, descascando-a. — Vocês sempre começam o dia antes mesmo do sol?

— Sim, a menina é que acorda o galo e não o contrário.

Sorrio jogando as cascas fora. — Em São Paulo também acordamos, mas confesso que ser dono do próprio negócio tem suas vantagens.

Saio pela porta lateral da cozinha roubando um chapéu preto na varanda, brincando ao colocá-lo em minha cabeça, até que não tinha ficado ruim. Deixo de lado ao ver Dandara perto de um dos cercados sorrindo como uma menina ao ver os cavalos.

Lembro-me de poucos momentos vividos aqui, mas o que eu com certeza consigo recordar é dela, mesmo muito diferente da época que erámos crianças. Dandara sempre foi apaixonada por isso, era raro vê-la vestindo sapatos e quando estava, eram botas. Era mais raro ainda ver a menina fazendo outra coisa do que estar perto dos bichos.

— Bom dia, esquentadinha, tinha espinhos na cama essa manhã?

Agarro a cintura de Dandara, lembrando de nossa noite, gostando do cheiro dela.

— Levanto antes mesmo do sol, coisa de caipira.

Pelo tom de voz afiado, já estava mordendo os cotovelos.

Sorrio dando um beijo suave em seu rosto, tentando suavizar o mau humor. — — Confesso que tive uma noite excelente. Poderíamos repetir nossa conversa hoje a noite, o que acha?

— Poderíamos, mas não vamos, tenho mais o que fazer. E nada mudou.

— O que eu fiz? Acordou azeda como um limão, você não cansa de distribuir coices? — Controlo minha vontade de responder Dandara de forma ríspida, suspiro, suavizando a voz — Que tal darmos uma volta? Você poderia me mostrar a região.

— Claro, tem algo que ficou de fora de seu inventário?

Fico surpreso, me afasto de um passo para olhar melhor seu rosto, como ela soube?

— Dandara...

— Cala a boca, brucutu! Se não quer ver a cara enfiada no esterco de cavalo fique quieto!

Ela vira chamando uma garota.

— Teremos que trabalhar algumas coisas em vocês dois. Faça uma pausa, eu vou preparar o redondel.

— Ok, obrigada Dandara.

Sei o jogo que Dandara faz, ela prefere fugir do que virar e me encarar, não deixo barato, sigo-a pelo Haras.

— Não cometi nenhum crime, Dandara.

Ela continua andando, me ignorando.

— Você está sendo teimosa, poderíamos resolver isso de outro jeito, quem sabe unir o útil ao agradável.

Ela vira, parando brutalmente, me fazendo quase tropeçar.

— Diga brucutu, qual sua excelente ideia? Já recebeu oferta pelos meus cavalos? Ah, muito obrigada por deixar Trovoada de fora, foi uma gentileza imensa, já que não quis vender também um presente de meu pai.

— Eu não venderia seu cavalo, vejo o amor que sente por ele. Posso não ser um especialista ou não gostar das mesmas coisas que você, mas não quero mal aos bichos.

— Não quer o mal deles? — O rosto de Dandara está vermelho como se tivessem esfregado dois tomates em suas bochechas, e se isso não era um alerta para ficar afastado, eu não sabia o que seria. — Sabe qual a diferença entre um cavalo para lidar com o gado e um cavalo de montaria e competição?

Dou de ombros.

— Exato, se não sabe essa imensa diferença e mesmo assim foi oferecer meus cavalos para donos de fazenda de corte. Você com certeza não quer o bem deles. Jumento! — dispara a falar.— Mas tenho uma solução, vá embora, se não quer o mal deles, vá. Ou está esperando a foda de despedida? Quer ir para o celeiro desativado? — pergunta desatando o nó da minha camisa xadrez fazendo ela revelar minha blusa curta.

E mesmo que a ideia de tê-la novamente em meus braços, sentir o gosto de sua pele e ter seus gemidos em meus ouvidos seja tentadora, me foco em nosso novo cabo de guerra. — Deixe de ser ridícula!

— Não sei onde Pedro estava com a cabeça, ele só poderia estar alucinando quando decidiu deixar meu Haras para você! Tenho muito trabalho a ser feito, se puder pelo menos não atrapalhar, eu agradeço.

Estava pronto para segurar seu braço vendo que se afastaria, quando vejo sua expressão de raiva se focar em outra coisa, sigo seu olhar vendo uma garota vir calvagando em nossa direção.

— Dandara! Era você mesmo que queria encontrar!

— Só me faltava essa! Acho que errou, sua prenda está bem na minha frente — Dandara diz com um sorrisinho falso.

— Forasteiro, desculpe não ter vindo mais cedo, vejo que ficou totalmente curado do ataque de fúria de Dandara.

Sorrio não tirando os olhos de Dandara, deixando que Cindy agarrasse meu pescoço dando um beijo bem perto de minha boca, naquele instante tinha descoberto uma outra arma poderosa contra a esquentadinha, o ciúmes. — Estou bem sim, que surpresa boa vê-la aqui. Estava agora mesmo comentando com Dandara que queria dar uma volta pela região.

Cindy sorri animada. — Então encontrou sua companhia, faço questão de ir com você.

Aproveito a situação segurando na cintura fina da garota, abrindo um amplo sorriso. Satisfeito por ver que deixo Dandara mexida, é bom saber que outra coisa borbulha dentro dela, além de irritação. Afinal, ela não é tão casca grossa quanto esbraveja. — Podemos dividir o mesmo cavalo, eu não estou acostumado a montar sozinho.

— Ihaaaahhh, mas é claro! — ela diz animada. — Ah, Dandara, eu soube que está preparando uma competição aqui no Haras.

Faço minha cara de “não sou o único planejando pelas costas” e encaro Dandara.

— Sim, é para angariar fundo para o Haras, mas como soube?

— Matheus, ele me contou — Cindy diz com um sorriso. — Logo pensei, o que seria excelente senão competir? As regionais estão chegando e eu e Milu precisamos estar preparadas, você poderia dar uma olhada nela, estou achando que ela está de TPM. E você como antiga competidora sabe como é importante o cavalo estar bem. Fico orgulhosa que abandonou os pódios e se dedica cuidando de minha égua.

Dandara competindo? Não sabia que a esquentadinha metida as caras em rodeios ou competições equestres. Estava aí uma coisa para pesquisar quando tivesse deitado em minha cama essa noite.

— Claro. Dou uma olhada. — Dandara responde de forma azeda.

— Perfeito, — Cindy empurra a rédea para Dandara, enlaçando ainda mais meu corpo — vamos forasteiro?

— Claro. Irei pedir para Mathias selar um cavalo.

A carranca de raiva que Dandara está é impagável. É como acender um pequeno fósforo numa fogueira à base de álcool. Eu não quero nada com essa garota, mas se para provocar minha caipira eu tiver que entrar nesse joguinho sujo, por que não?

A tal de Cindy não tinha a mesma desenvoltura que Dandara na montaria, na verdade, não tem nem mesmo a paixão que Dandara exibe ao olhar para os cavalos. Porém, não decepcionou em nada em sua montaria e cavalgada, ela sabia o que estava fazendo. Mesmo que o cavalo ficasse arrisco com seus comandos.

Saímos do Haras indo para os campos abertos da propriedade, passando por um pequeno riacho, Cindy se aproveita por estarmos na mesma sela e esfrega sua bunda em meu pênis, sempre sorrindo e olhando por cima do ombro.

— Que tal pararmos aqui? — questiona olhando para a paisagem na frente, estavámos em uma espécia de monte, víamos a estrada de terra que nos levaria de volta para o Haras e ao longe a silhueta do que seria o centro da cidade.

— Por mim — digo já descendo do animal.

— Quero muito saber o que fez um homem fino e bonito como você se meter com a Dandara — Cindy fala amarrando a rédea do cavalo no tronco de uma árvore.

— Podemos dizer que fomos criados juntos.

— Mentira! — diz rindo.

— Meu tio-avô criou Dandara quando seus pais faleceram.

— Que azar o dela, primeiro perdeu a mãe e logo depois seu pai, morreu em um acidente com bois.

Não havia sentimento real naquelas palavras.

— Você e ela se conheceram como? — pergunto sentando sobre a grama.

Ela caminha parando em minha frente tampando a visão da paisagem remexendo o quadril, tentando ser sedutora.

— Bom, tirando o fato de cidade pequena todo mundo naturalmente se conhecer, além dos filhos estudarem juntos. No Haras, Setti é um dos poucos lugares de excelência por aqui, confesso que tem ótimas pistas para treino. Meu pai é um dos patrocinadores, mesmo eu querendo que Milu seja tratada por outra domadora, não posso negar que ela é boa no que faz. Cindy deu de ombros, analisando as unhas perfeitamente alinhadas e pintadas — Ficou melhor quando saiu das competições.

— Competição? — questiono curioso.

— Dandara praticava a mesma modalidade que eu, três tambores, mas largou tudo quando Pedro ficou doente. O velhote não podia mais pegar no pesado e o que não falta naquele Haras é serviço pesado para ser feito. Mesmo com Mathias vindo para ajudar, Dandara decidiu largar tudo para cuidar do Haras.

— Pela sua cara de surpreso, não sabia disso.

— Conheço pouco daqui, vim muito na infância a mando de meus pais e quando cresci nunca mais voltei. Só fiquei sabendo novamente desse lugar quando um advogado me ligou informando sobre a morte do meu tio. Somos de uma família grande, porém nem todo mundo ainda mantém contato.

— Por que decidiu voltar? — Cindy senta em meu colo, um joelho em cada lado de meu corpo, me fazendo dar um sorriso sem graça ao afastá-la com jeito. — É verdade o que todos tem cochichado por aí?

— O que andam falando?

— Oras, que você veio tomar isso tudo dela. Afinal, pra que um homem como você viria para um fim de mundo como esse?

— Vim por negócios, é tudo que precisa saber.

Cindy fez um beicinho, passando os braços pelo meu pescoço, forçando uma aproximação. — Por que não paramos de falar dela, de cavalos e todas essas bobagens e terminamos o que rolou lá no bar?

Direta e atrevida, ela se daria bem na cidade grande.

— Sinto muito, mas não vai rolar. Vamos voltar? Esqueci que marquei um telefonema importante com meu assistente em São Paulo, como disse, negócios — Fico de pé estendendo a mão para ajudá-la.

Não sei o que tem no DNA dessas caipiras, mas ô mulherada que se enfeza rápido! Cindy levanta dando um tapa em minha mão, já desamarrando o cavalo e subindo. Mais uma que preciso tomar cuidado para que ela não me lance do outro lado da estrada, só por que neguei seu fogo. A realidade é que não queria nada com Cindy, ela poderia ser uma mulher linda, com um corpo escultural. Mas serviu apenas para deixar a esquentadinha com ciúmes.


CAPÍTULO 21


Dandara

Enquanto comemos, Maria não tira os olhos de mim. Abaixo o garfo, dando um longo suspiro. — Diga logo mulher, senão vai engasgar com a própria comida.

— O que está tirando ocê do prumo, moleca?

Velha sábia! Não tinha nada que escapasse de Maria, você poderia se deixar levar pelo rosto repleto de rugas ou pelos olhares maternos que lançava para todos, mas Maria era como um pastor alemão, farejava as coisas à distância.

— O que deu no povo desse Haras hoje? — pergunto desviando do verdadeiro assunto.

— Ocê não me engana mocinha, conheço ocê mesmo antes de aprender a lavar os fundilhos de suas ceroulas!

— Que horror! Estou apenas pensativa, vou sair mais tarde para dar uma olhada nos campos.

Foi a vez de Maria revirar os olhos, ninguém vencia em uma disputa com Maria. — Ainda com aquele sonho azucrinando a mente?

Suspiro empurando a comida de um lado para outro no prato. — Eu vejo aquele cavalo com tanta força, não sei porque e nem mesmo o quê significa.

— Você está preocupada com as coisas daqui, normal, os sonhos mostram nossas preocupações mais profundas.

Suspiro, tomando um gole do suco, confirmando com um pequeno gesto de cabeça.

— Mas não era sobre isso que estava falando.

— Ô merda, Maria! — retruco. Não irei conseguir desviar do assunto.

— Óia a boca! — ralha — Ocê está ansiosa, está assim desde que a senhorita Munhoz chegou no Haras.

— Aquela menina brinca com os animais, Mathias disse que a égua tem marcas feias das esporas, eu gostaria de enfiá-las no...

— Ouuh , acalme-se. — Maria adverte rindo — Seria mesmo por que Cindy está maltratando a pobre da égua, o que não seria nenhuma novidade para nós ou pelo simples fato dela ter saído com Seu Miguel?

Fico em silêncio enchendo minha boca com o resto de suco de meu copo.

— Você gosta dele.

Encaro Maria — Ficou maluca? — digo umas oitavas mais alto.

Ela sorri, pega seu prato e o meu, indo até a pia. — Conheço você, menina. Seria de se admirar se não tivesse apaixonada. Eu disse para Seu Miguel, muito ódio acaba virando amor.

— Você está exagerando, deve ser o excesso de trabalho. Seu “Miguelzinho” está agindo pelas minhas costas, fazendo um inventário de tudo que há aqui para vender.

Maria não manifesta nenhuma surpresa com o que acabo de dizer. — O homi é um bitelo , 5 mas não disse que não era sonso para fazer merda. Pode me chamar de velha caduca, mas conheço os sinais e sintomas, você está gostando dele.

— Arre égua! Vou trabalhar, não quero falar mais disso! — argumento ficando de pé.

— Como quiser, moleca. Mas se enfiar no trabalho não irá arrancar isso d’ocê.

Bufando dou uma olhada feia em sua direção e ela entende o recado, não toca mais no assunto enquanto eu devoro uma maçã vermelha e doce que estava na fruteira. Coloco o chapéu sobre a cabeça, fazendo uma trança em meu cabelo e saio, ignorando os olhares que Maria me lança.

Apaixonada! Era para se rir mesmo, Maria está ficando maluca!


— Tudo correndo bem por aqui — Mathias me relata assim que entro do estábulo. — No fundo ela só precisa de um pouco de atenção.

Passo a mão sobre o corpo da égua, vendo seu olhar desconfiado. Milu é da raça Paint Horse, muito parecida com os quarto de milha, mas parece pintada à mão.

— Oua , calma garota!

Retiro a mão ao vê-la arreganhar os dentes.

— Essa daí vem com o espírito da dona. — Mathias brinca.

— Que nada, tire ela da baia. — peço olhando nos olhos da égua — Cindy é horrível com ela, assim como foi com todos os cavalos que passou por seu rancho. Só quer que o animal corra, muito parecida com Matheus, pelo menos aquele ali tem algo de bom, gasta dinheiro e tempo cuidando dos seus cavalos. — digo torcendo os lábios.

— Tem certeza disso? — Mathias questiona segurando a trava da baia. — Ela não está muito amigável.

— Solte.

Mathias faz o que mando, abrindo a portinhola, deixando que ela saia. Milu é uma égua imponente, sai com a fronte erguida, me encarando de cima, passando o recado claro que não tem medo de nós, mas na realidade, tudo isso é pose, ela está receosa que a machuquemos.

— Dê uma olhada nessa ferida.

Dou a volta indo até Mathias, não era uma ferida profunda, iria cicatrizar logo, mas o que me irritou ainda mais foram as marcas mais profundas em sua pelagem indicando que outras já tiveram ali, várias cicatrizes marcando o quando essa égua vinha sendo judiada. E o quantos os maus tratos tinham marcado-a internamente.

— Vamos fazer um tratamento de aromaterapia, para ela se acalmar um pouco e deixar que cuidemos dela.

Vou até o espaço onde os remédios ficam guardados examinando alguns vidros, pego três voltando para a égua.

Tiro a tampa do primeiro colocando perto da narina do animal. Ela relincha virando a cabeça bruscamente, quase derramando o conteúdo de minhas mãos. Retiro do segundo, mas ela tem o mesmo comportamento.

— Óleo bergamota — digo e não demora muito para ela tirar a língua para fora querendo o líquido.

— Não é estranho que ela escolha justo o que traz a sensação de alegria e ânimo. — Mathias comenta.

— Minha mãe sempre dizia que os animais escolhem seus próprios remédios. Eles sabem do que realmente precisam.

O barulho de cavalo se aproximando traz nossa atenção para a entrada do estábulo.

— Que bom que ela está pronta, preciso ir. — Cindy salta do cavalo deixando Miguel se desequilibrar por um instante.

— O passeio não foi prazeroso? — desafio.

— Minha égua está pronta ou não?

— Milu está com marcas de escoriações na barriga. — acuso.

Cindy não dá a mínima para o que estou falando.

— Cindy! Você está ferindo sua égua por nada com suas malditas esporas!

Mathias me olha preocupado.

— Que eu saiba pedi para você dar uma olhada, e não mandar no jeito que comando minha égua. — Cindy contra-ataca.

Miguel dá um passo em nossa direção como se nós duas fôssemos nos engalfinhar como animais, não que ela não merecesse, mas eu não iria ganhar nada com isso.

— Se você quer que Milu não a jogue para longe durante uma competição, precisa entendê-la. Ela não é um pedaço de bife para você ficar furando quando bem entende.

Cindy gargalha, — Me passe o valor de seu tempo, mando meu pai depositar na conta do Haras. — ela vê que continuo encarando-a — Vamos, será que dá para selar minha égua?

Mathias pega as coisas pronto para selar a égua.

— Mathias, não! — Eu quase grito. — Cindy, me escuta...

Cindy arranca a sela das mãos de Mathias, ela mesmo arrumando no lombo de sua égua.

— Cindy, sua égua está ferida, pode achar que não é nada, mas com o tempo vai pegar os ossos dela. Se você se importa...

— O que eu preciso escutar é que você fez algo além de ficar gastando meu tempo. E não de suas mágicas inúteis. — Ela mal fixa direito as fivelas para montar o animal.


Cindy enfia as esporas na barriga da égua fazendo-a relinchar de dor, e a visão dos olhos tristes e repletos de lágrimas do animal cortam meu coração.

Chuto um barril de água enfurecida com a partida de Cindy. O fato de não poder fazer nada para ajudar essa égua me corta o coração.

— Pelo visto vocês estão bem longe da cordialidade.

Viro como um bicho, bufando como um touro bravo ao encarar Miguel. — Meta seu nariz onde é chamado!

— Se você sabia que Cindy maltratava a égua, por que a liberou? — Miguel questiona.

— Seu Miguel, não é simples assim, não podemos prender os animais, mesmo que por alegação de maus tratos. A família de Cindy é poderosa na cidade, seria uma briga infinita e até lá a égua já teria caído doente.

— O que Mathias tá querendo dizer é que não serão os primeiros donos que negligenciam seus animais, muito menos os últimos. São esse tipo de gente para quem quer vender meus cavalos. — acuso.

Levanto o barril que tinha chutado em minha explosão de raiva, puxando a mangueira para enchê-lo.

— Mathias, termine de cuidar das baias, eu vou sair com Trovoada. Está esfriando e não duvido de termos uma chuva torrencial mais tarde.

Deixo os dois ali, no meio do estábulo indo até o Trovoada, eu precisava da paz que ele poderia me dar. E não foi surpresa em vê-lo totalmente alerta, meu pai costumava dizer que Trovoada sempre saberia meu estado de espírito, ele sempre estaria ali, pronto.

E isso era verdade. Não precisei dizer nada, apenas abri a portinhola de sua baia, subindo diretamente no pelo para que ele saísse em disparada para fora do Haras, o sol estava se pondo no horizonte e uma espessa nuvem cinzenta cobria o céu.

Na época de outono vivemos os tempos mais malucos; temos dias de intenso calor e do nada um frio de arrepiar os ossos com chuvas tão fortes que inundam a estrada. Além de ser a época que mais me preocupo com o bem estar dos cavalos.

Cavalgo pelos campos, até mesmo me embrenhando no pequeno acervo de mata fechada, os ranchos e fazendas não são próximos uns dos outros, o que dá bastantes aréas livres.

— Aoh — Trovoada para, relinchando baixo. — Você também ouviu rapaz?

Paramos entre as árvores escutando os pássaros fazendo burburinho entre os ramos, mas não foi isso que chamou nossa atenção, e sim um relincho baixo, sofrido.

— Vamos, Trovoada. — bato o pé na barriga dele fazendo barulho para que volte a galopar.

O rancho era velho, existia destroços espalhados pelo terreno, desço do Trovoada empurrando a porteira velha e quebrada, tinha arame farpado para todos os lados, o relincho veio mais fraco dessa vez, como se o animal já não aguentasse mais esperar por ajuda. Trovoada relincha batendo os cascos chamando minha atenção, um cavalo estava em um pequeno cercado amarrado a cordas em um tronco velho, havia feridas em sua cabeça e boca devido às cordas, mas também marcas profundas espalhadas pelo seu corpo, fora a desnutrição evidente.

Não conseguiria fazer esse cavalo ir até o Haras, precisaria chamar o Santiago e pegar o trailer. Monto em Trovoada galopando de volta até o Haras, forçando ele ir o mais rápido que pode, não sabia de quem era aquele rancho abandonado, mas de maneira alguma deixaria o animal ali sofrendo.


CAPÍTULO 22


Miguel

Levo as toras de madeira para Bento, sentando no sofá. O frio realmente tinha chegado com força, nos forçando a fechar as portas e janelas para manter o calor dentro do imenso casarão. Dandara ainda não tinha retornado, o que me deixa um pouco ansioso, mesmo não querendo admitir. Aquela diabinha caipira está me enrolando em seu laço.

— Daqui a pouco a janta estará pronta. — Bento diz passando por mim em direção à cozinha.

Volto meus olhos para a tela do computador, vendo o projeto que Paulo havia me enviado mais cedo. Os arquitetos tinham feito um excelente trabalho, a entrada do resort era imponente, ele manteve o rústico e sofisticado com tanta suavidade que nenhum dos pontos tinha se destacado mais que o outro. E ali, analisando o projeto, eu não conseguia abrir minha caixa de e-mail e aprová-lo. Não conseguia dizer que poderíamos fechar o negócio com os donos dos Haras e fazer o transporte dos cavalos assim que o périodo que o advogado deu se encerrasse.

A rajada de vento forte fez o fogo na lareira tremular quase se apagando, fecho o computador virando para ver Mathias entrar na casa chamando por Bento.

— Que desespero todo é esse? — questiono indo para a entrada.

— Dandara voltou e vamos resgatar um animal.

— Resgatar? O que houve? Toda vez que você entra como um foguete aqui é porque Dandara tá metendo todo mundo em apuros — retruco.

— Mathias, o que aconteceu? — Bento e Maria vêm em nossa direção.

— Dandara voltou da caminhada, segundo ela encontrou um animal em condições precárias. Preciso ligar para o Santiago e preparar o trailer para sairmos.

— Onde ela está? — pergunto.

— A última vez que a vi estava indo pegar umas medicações.

— Santiago não deveria ficar disponível no Haras para esse tipo de emergência? — questiono ajeitando o casaco pesado no corpo.

— Sim, Seu Miguel, mas ele trabalha em outros lugares. É um veterinário muito requisitado na região.

— Vou procurá-la. — digo por fim, cruzando com eles, sentindo o vento bater contra meu corpo enquanto caminho até o estábulo.

Os cavalos relincham alto, incomodados pelo vento, passo por uma baia me esquivando ao ver que o cavalo está tão irritado que bate o corpo contra as paredes de sua baia.

— Eles ficam mais irritáveis com esse tempo.

Olho para Dandara, seu rosto está preocupado. Ela vai até o cavalo mais arisco, deixando que ele cheire um potinho.

— Aromaterapia — explica.

Mesmo ainda desconfiado o cavalo começa a se acalmar.

— Você realmente faz mágica com eles.

O cavalo vem em minha direção me assustando, pulo para trás encarando os imensos olhos pretos do animal. — Eles não confiam em mim.

— Eles são espertos, sentem quando um humano tem medo, alegria ou quando não gosta deles.

Olho para seu rosto, lá vinha ela com aquele papo novamente. — Não é bem gostar ou não, só não confio. Mathias disse que encontrou um animal ferido.

— Eu estava cavalgando, estava ficando mais frio no meio das árvores. Eu o ouvi, ele estava me chamando, não sei há quanto tempo ele está lá, mas eu sei que está cansado. Cansado demais para vir andando, mesmo se Trovoada sustentasse ele pelo caminho, isso o teria machucado mais.

— O que posso fazer?

Dandara me encara surpresa.

Nem eu mesmo sei por que estou fazendo isso, por que estou tentando salvar um animal se tudo que mais quero é que essa guerra de braço acabe logo, para dar continuidade aos meus planos.

— Santiago está ocupado em uma fazenda, tenho receio dele não chegar a tempo.

Ver o olhar triste em seu rosto faz algo dentro de mim borbulhar. — Vamos, eu ajudo você.

Ela ri por um instante, voltando a ser a diaba caipira que eu conhecia. — Você vai mais me atrapalhar do que ajudar.

— Se não quer salvar aquele animal é só dizer.

Vejo seu olhar me analisando, assim como o suspiro pesado que ela solta. — Pegue aquelas cordas, iremos precisar de pelo menos umas três, estou com o kit de remédios, ele tem grandes feridas pelo tempo que passou amarrado e das tentativas de fuga.

— É selvagem?

Ela para de arrumar as coisas para me olhar. — Ele foi ferido, está com medo, sede e fome, vai saber quantos dias ficou exposto ao sol escaldante e as chuvas frias das noites.

Mathias aparece com a caminhonete puxando o trailer. Interrompendo nossa conversa.

— Vamos colocar tudo no carro. — Dandara ordena levando Trovoada para sua baia.


O caminho até o rancho que Dandara encontrou o animal ferido fica bem longe do Haras, e a estrada não ajudava em nada, o vento ficava mais forte e logo a chuva nos brindava com mais força, dificultando ainda mais nosso caminho. Os limpadores trabalhavam frenéticos pelo vidro, cada vez que Mathias acelerava ou freava passando por um buraco era meu coração que pulava dentro do peito. A buraqueira ficava escondida devido a tempestade que caía lá fora.

Era difícil ver alguma coisa concreta em nossa frente com a torrente que descia do céu, o que me fazia apertar o canto do banco com mais força, prendendo a respiração.

Quando Mathias acelerou passando pela entrada destruída do rancho, tudo lembrou foi um filme de terror, a casa ao fundo está caindo aos pedaços, tudo ali está destruído pelo tempo e esquecido por Deus.

Dandara salta do carro antes mesmo que ele pare completamente, levando consigo o kit veterinário e uma das cordas, fazendo Mathias e eu seguirmos em seu encalce.

— Mathias, abra o trailer.

— O tempo está horrível. — digo olhando ao redor.

Dandara pula a cerca de arame encarando o cavalo com as mãos para cima, conversando baixinho com ele, para tentar acalmá-lo.

— Corte os arames, Miguel.

Retiro da enorme maleta que ela touxe um alicate, corto os fios abrindo espaço para que ela passe com o animal.

Ele relincha, empinando o corpo para trás, evitando que ela encoste nele e toda vez que faz isso, acaba caindo devido à fraqueza que seu corpo apresenta. Dandara chega mais perto tentando tirar as cordas que o machucam, porém ele está arredio demais.

— Dandara, devíamos ter esperado por Santiago, ele pode te machucar. — Mathias retruca.

— Ele não vai me machucar, está com medo, tem medo do toque. — Dandara se vira pegando um daqueles frascos pequenos que estava dando aos cavalos no estábulo fazendo o cavalo cheirar. Ele não se acalma como os outros fizeram, mas permite que ela chegue mais perto. — Se tivesse esperado por Santiago ele teria morrido nessa chuva.

Dandara tem realmente algo a mais para esses animais, é como se apenas de olhar, eles dissessem tudo que estão sentindo para ela. Ela volta para a mala tirando um lenço grande, jogando-o no rosto do bicho.

— Miguel corte as cordas e passe a nossa pelo pescoço, dê um nó bem firme.

Faço o que ela manda, me certificando que o cavalo continua imóvel contra o peito de Dandara, ela faz carinhos na crina judiada, sussurrando algo que não entendo devido o barulho forte da chuva.

— Se o dono do cavalo voltar? — pergunto terminando o nó.

— É bom que nem volte, olha o estado que deixou o cavalo. — ela retruca pondo o bicho de pé. — Calma, ouh, calma.

— Dandara, Miguel, temos problemas! — Mathias grita sob a chuva.

Um velho aparece no meio da chuva vindo em nossa direção segurando uma garrafa de bebida, tropeçando nos próprios pés.

— Conheço a laia desse daí, Cicinho sempre o expulsa do bar por arrumar confusão e ele não se importa com nada além da cachaça que consome — Mathias comenta encarando o homem.

— Às vezes temos que deixar os pensamentos sendo apenas isso, pensamentos. Nunca ouviu que o que é jogado no universo ele devolve? — Dandara resmunga para mim.

— Ei! O que você estão fazendo com meu cavalo? — O velho grita, tenta correr até nós, mas tropeça várias vezes em seu próprio pé.

Quando tenta chegar perto de Dandara, eu contenho o homem bêbado e por consequência o animal se agita, fazendo Dandara soltar um pouco a corda que o mantinha preso.

— Você não encosta mais nesse animal! — Dandara grita vindo para cima de mim e do velho bêbado.

— Vocês invadiram minha propriedade, vou chamar a polícia, e esse cavalo voltará para o lugar dele.

Seguro com firmeza sua camisa puída evitando que ele avance para cima dela.

— Chame, vai me poupar o trabalho de chutar sua bunda até lá.

O velho para por um instante de se debater em meus braços e assim consigo arrastá-lo para fora do caminho, deixando que Dandara entre com o animal no trailer.

Mathias enfia todas as coisas de volta na caminhonete, embarcando e dando partida no motor.

— Quando ele ligar para a polícia, ele que terá que se explicar. — digo animado, feliz por ter salvo aquele cavalo.

Dandara tira os olhos do vidro traseiro, voltando seu rosto para mim. — Ele não vai ligar, mal lembrará o que houve. Ele iria deixar o cavalo morrer de fome. — ela volta seu olhar para trás, vigiando o trailer.

Mathias faz o melhor que pode, mas a estrada de terra fica esburacada na chuva forte, e se antes a visibilidade já estava dificil, agora está muito pior. Os relinchos do animal preso no trailer são ouvidos de dentro do carro, imagino o quanto ele não esteja apavorado.

O carro balança de um lado para o outro, me fazendo segurar a respiração por alguns segundos.

— Ele vai se acalmar quando sairmos desse pedaço de estrada. — Mathias diz.

O carro balança mais forte na curva.

— Pare, Mathias. Eu vou com ele.

— Ficou maluca? Ele pode te machucar, está muito nervoso.

— Se eu não for com ele, vamos acabar capotando. — diz.

Mathias encara Dandara pelo espelho retrovisor, considerando o que diz.

— Ficou maluco? Ela vai se machucar! — retruco quando ele para no meio do nada, destravando as portas.

— Sei o que estou fazendo — ela resmunga.

Dandara desce e esperamos. Olho pelo vidro de trás esperando algum sinal...

— Podem ir — grita batendo na lataria do trailer.

Quando chegamos ao Haras, me senti como se tivesse nadando, nem mesmo minhas bolas estavam secas na cueca. Mathias dá a volta no carro pegando a corda e guiando o cavalo para o estábulo. E antes que Dandara saísse, indo para longe, eu a segurei.

— Desculpa.

Passo a mão pelo cabelo molhado tirando um pouco d’água dos olhos. Por que ela me deixa assim?

— Não quis magoá-la com a história de hoje cedo. Estou fazendo o melhor que posso.

— Então precisa fazer mais do que isso.

Ela se solta de minha mão correndo em direção aos estábulos, corro atrás dela, mesmo quase caindo quando meu pé afunda em uma poça d’água, alcanço seu braço e puxo-a para mim, fazendo com que pare.

Droga! Descobri que estou enlaçado até a alma por essa caipira!

Dandara fecha a expressão mostrando seu melhor olhar de ódio tentando se livrar de mim novamente. Fico em sua frente e mesmo com a chuva em seu rosto, consigo perceber que os seus olhos estão cansados, a adrenalina tinha decaído de seu corpo e eles lacrimejavam. Ela tenta se soltar novamente de mim. — Por que você não vai embora, Miguel? — pergunta com o rosto perto do meu.

Meu pênis lateja dentro da calça. Essa mulher me deixa louco!

— Eu não desisto, esquentadinha. Já devia ter entendido isso.

— Pelo menos temos alguma coisa em comum — ela retruca. — Odeio você, brucutu!

— Não, não odeia.

Ela para surpresa com minha declaração. Estar tão perto dela, sentir aquele corpo colado no meu, desperta meu desejo.

Ignorando tudo, eu só tinha uma coisa em mente: tê-la a todo custo.

Avanço sobre ela, seu corpo inteiro estremece, quando a beijo, ela abre a boca para receber minha língua, sua boca é carnuda e quente, ela para de tentar lutar contra aquele fogo que move nossos corpos. Aperto Dandara contra meu corpo, e sinto suas mãos enlaçarem o meu pescoço. Ela me puxa, em resposta eu invado seus lábios, tomando sua boca com minha língua. Levo a mão até seus seios e ela geme com meu toque.

— Quero você, esquentadinha.

— Por que está fazendo isso comigo? — ela resmunga quando minha boca desce por seu pescoço.

— Shiuu, — mordisco sua pele, descendo a boca por seus seios, lambendo o pequeno decote de sua blusa.

A chuva cai sobre nós, mas não é frio que nos faz tremer, é o calor que sinto por essa mulher que só aumenta.

— Quer que eu pare agora?

— Eu odeio você — sussurra, puxando minha mão, nos fazendo correr pelo Haras, entrando no velho celeiro abandonado.

Existem furos entre as madeiras fazendo a chuva cair em nós, Dandara empurra meu corpo contra uma viga de madeira, colocando as mãos por debaixo de minha camiseta encharcada. Meu corpo treme com o calor do toque, fiz o que desejava desde que pisei para fora da cama, abro botão por botão de sua camisa, deixando tudo totalmente livre para que chegasse aos seus seios, luto um pouco contra o fecho do sutiã, fazendo-a rir e tomar a missão de minhas mãos.

Dandara joga a cabeça para trás gemendo cada vez mais com as carícias que eu faço em seus mamilos enrijecidos. Lambo sua nuca, distribuindo beijos sobre sua pele. — Quero você, Dandara, tem que ser aqui, agora. — digo roçando meu quadril em sua cintura.

Solto o botão de sua calça enganchando meus dedos direto nas laterais de sua calcinha, abaixando as peças até o chão, passando por seus pés. Abro suas pernas, deixando seu sexo exposto para mim. Dandara fez o mesmo por mim, tirando minha camisa e indo até minha calça. Ela baixa minhas roupas alcançando meu pênis. Gemo como um animal no cio.

Ela se ajoelha, sem emitir uma palavra, segura meu membro totalmente ereto. A boca da esquentadinha me toma quase por inteiro, sinto o vaivém dos seus lábios me fazendo perder o equilíbrio Encostando no pilar, olhando para seu rosto.

Ela segura a base do meu pau com uma das mãos, enquanto contorna o restante com seus lábios lindos e quentes. Eu a desejo tanto a ponto de gozar. Levanto Dandara de forma abrupta.

Agarro aquela massa de fios longos e loiros, fazendo o calor que consumia meus sentidos aumentar. O corpo de Dandara colado no meu, lábios entreabertos e desejo nos olhos.

— Não negue, você adora isso, seja o que for que esteja acontecendo aqui, você adora.

Mantenho seu cabelo seguro na nuca com uma das mãos, a outra passando por seu corpo nu em volta de sua cintura, deixo meus dedos escorregarem dentro dela, afastando os lábios de sua boceta, apertando o clítoris úmido de tesão. Empurro seu corpo contra a parede, encaixando uma de suas pernas em meu ombro ao agachar, deixando sua intimidade totalmente exposta para mim, como um belo cartão de boas-vindas. Meto a língua de forma faminta, o corpo de Dandara estremece, seus dedos agarram meu cabelo de maneira ferroz.

Devoro seu corpo com vontade, minha saliva misturando com a lubrificação salgada, Dandara tinha gosto de mulher excitada, do tipo que atraí os pobres homens de longe.

Tiro sua perna de meu ombro, erguendo-me, viro-a de costas para encaixar meu pau em sua entrada, deslizo um pouco mais, ela é deliciosa! Antes de chegar ao fundo, Dandara rebola contra meu corpo, fazendo meu membro remexer dentro dela, ela rebola e eu começo aumentar o ritmo dos meus movimentos. Entro e saio dela com facilidade, como se seu corpo reconhecesse o meu.

Abro mais as pernas dela, impulsionando o quadril contra ela, seguro seu cabelo, puxando-o de forma bruta para trás, gostando de sentir seu rosto perto do meu. Mordo e dou chupões fortes em sua pele. Meto com intensidade, gostando do barulho de penetração molhada que chegava até meus ouvidos, meu pau inchado e duro doía procurando alívio, exigindo por isso.

Sinto que ela convulciona em minhas mãos, sussurro em seu ouvido o quando me enchia de tesão, o quanto seu corpo recebia o meu de maneira tão delicioso e o quanto ela era gostosa. Dandara se empinou ainda mais, apertando meu pau com suas contrações involuntárias, arrancando o ar de meus pulmões.

Continuo metendo, lambendo seu corpo, apertando sua cintura ou puxando seu cabelo. Eram sensações diversas que tomavam meu corpo. Dandara gritou, seu corpo estremecendo de verdade, perdendo o controle, deixo que ela goze, segurando ao máximo, travando minha própria libertação, ela ficou mole em meus braços enquanto me retiro de dentro dela, masturbando meu pau para gozar, esporrando como um maluco, só de pensar na entrega absurda e delirante que tinha acabado de acontecer ali.


Ela passa minha camisa rindo — É a única forma de você se limpar.

Diabinha!

— Miguel...

Selo seus lábios com os meus evitando que ela fale algo que possa estragar esse momento. — Amanhã pensamos sobre as coisas chatas.

Não tinha a menor chance de discutir com ela agora, o que eu mais queria naquele momento era deitá-la naquele feno velho e começar tudo de novo.


CAPÍTULO 23


Dandara

Abro os olhos sentindo o calor da pele de Miguel contra minha bochecha. Fico deitada quieta, ainda tentando entender o que estou sentindo por ele. Passei metade da noite refletindo sobre tudo que vivemos. Fico confusa pelas sensações que o beijo, o toque dele, me fazem sentir.

Será que eu conseguirei realmente fazer Miguel ver o Haras com outros olhos, além de um pedaço de terra lucrável? Fazê-lo sentir sem me envolver, ou eu já estava envolvida demais? Desisto de ficar deitada com milhões de pensamentos cruzando meu cérebro, saio da cama evitando acordá-lo.

Depois de tomar um banho, me troco em silêncio, descendo para para tomar café, não sem antes dar uma olhada em direção à cama, vendo Miguel dormindo nu, coberto apenas por um pedaço do lençol.

— Bom dia — cumprimento sentando na cadeira vazia, o cheiro de café e bolo de fubá fazem meu estômago roncar de fome.

— Bom dia, menina. — Maria me cumprimenta enchendo minha caneca de café puro. — Mathias estava nos contando sobre o animal.

— Falando nele, como está, Mathias? — pergunto devorando um pedaço do bolo.

— Está bem, Santiago passou a noite cuidando dele. Mesmo com muitos machucados, ele disse que logo estará bem.

— Que bom ouvir isso. — pego dois pedaços de bolo colocando no meu prato enquanto dou uma golada no café. Paro com a xícara ainda contra a boca vendo os olhares deles.

— Está faminta, moleca — Maria diz.

Dou de ombros, como se fosse algo normal.

— Tem bicho uivando no terreno de novo, uma desgrama isso, né? — Mathias provoca sorrindo.

Dou uma olhada feia, fazendo com que ele ria ainda mais, atiçando a curiosidade de Maria.

— O que vocês estão rindo?

Paro com a xícara à caminho da boca ao ouvir a voz de Miguel.

Ele puxa uma cadeira ao meu lado, me lançando um olhar malicioso. Miguel faz questão de jogar o corpo para cima de mim ao pegar um pedaço de bolo.

— Dormiu bem? — pergunta, seu olhar malicioso me fez sorrir. O desgraçado sabia que tinha mexido comigo!

— Sim e você? Parece cansado — desafio entre um gole e outro do café.

— Um pouco, mas no fim consegui o que queria.

Bento entra na cozinha sacudindo o casaco. — Hoje o dia está de lascar.

— Teremos pouco movimento então. — digo.

— Mathias eu quero falar com você sobre o Haras — Bento diz.

— Aconteceu algo? — questiono.

— Aquele problema qual contei procê , menina. Temos que rever a segurança dos animais, ontem tinha algum tipo de animal esganiçado no meio do mato.

Miguel engasga com o café fazendo todos encará-lo. Dou um pisão em seu pé, esmagando seus dedos.

— O antigo celeiro estava aberto e tudo revirado, ou tivemos um casal se engalfinhando ou tinha algum animal ferido procurando por abrigo. — Bento comenta.

— Vou ficar de olho nisso. — Mathias diz. — É perigoso mesmo, mesmo que eu acredite que possa ser um casal festeiro, — ele me encarou erguendo a sobrancelha — melhor trancarmos o celeiro dos desavisados.

— Que milagre é esse eu ver tua cabeça pelada? — Bento se vira para mim.

Sorrio.

— Perdi meu chapéu ontem quando o cavalo ficou muito agitado. Logo compro outro. — me levanto terminando meu café, aquelas trocas de olhares já foram o suficiente para mim.

— E eu... — Miguel enfiou na boca o último pedaço de bolo — vou dar uma volta pelo Haras.

Vou até a entrada enfiando meus braços no casaco que estava no mancebo, assim como as luvas de couro.

— O que faremos?

Desvio o corpo encarando a porta da cozinha, Maria, Bento e Mathias estavam entretidos em uma conversa. Não sei se estavam totalmente focados ou apenas se fazendo de surdos para escutar nossa conversa.

— Dá para ser mais discreto? Eu vou conferir o cavalo que chegou ontem, e depois se quiser podemos cavalgar juntos.

Ele inclina a cabeça e inspira, sentindo meu perfume. — Adorei a ideia.

Maldito brucutu gostoso!

— Seja discreto.

Ele respira mais fundo e mordisca meu pescoço. — Por que não aceita logo minha oferta, esquentadinha, colocamos um fim nesse joguinho e podemos ver o que rola.

— Isso vai acabar mal — digo com a voz rouca. Era só questão de tempo, mas, dessa vez a culpa foi minha. Olhar para a boca de Miguel tão próxima à minha, eu queria aquele beijo, então peguei.

Meu coração martelava no peito com a sensação de poder ser pega, meu corpo e cada fio de cabelo gritava em minha mente: Brucutu!


Santiago tinha levado o cavalo para o redondel, mas ele estava tão arredio que poderia machucar ele e o ajudante que tentava segurar a rédea, ele empinava evitando qualquer tipo de aproximação.

— Vou ter que aplicar a injeção, ele vai ficar pior desse jeito.

— Espere. — digo subindo nas travas do redondel.

— Ele está muito arredio, pode machucar alguém ou até mesmo ele.

— Acho bom manter distância. — o ajudante de Santiago diz para Miguel.

— O que esse cavalo tem? Ele deveria estar grato por termos salvado ele ontem — escuto Miguel retrucar.

— Isso é o que ela pode descobrir. — Santiago comenta.

Ele corre pelo redondel dando coices nas paredes, respiro fundo pulando para dentro, parando no meio do cerco. Cada passo que dou em sua direção faz com que ele trote, evitando minha aproximação. Ele vem para cima de mim, parando perto, é a forma de dizer que me culpa, que culpa todos nós pelo que ele passou.

— Acho bom parar com isso, não tenho culpa do que ele fez com você, eu estava te salvando. — grito para ele.

Ele se arma novamente, erguendo-se nas patas traseiras, se fosse outra pessoa, com a proximidade que estávamos ele poderia fazer um estrago. Mas não me intimido, sei que ele não vai me machucar, quer apenas me amedrontar, quer me ensinar seus limites.

— Dandara, se afaste! — Santiago alerta.

Fico em silêncio encarando o cavalo.

Ele abaixa as patas, colocando a cabeça no meu ombro.

— Muito bem rapaz, isso mesmo, com calma. — retiro um petisco do bolso dando para ele. — Você vai se chamar Chuvisco.

— Ela conseguiu — escuto Miguel dizer.

— Deixa ele descansar, uma boa dose de ração e ele ficará bem. — Digo para Santiago. — Quando estiver curado começo a doma.

Vejo o ajudante dele receoso por chegar mais perto do cavalo.

— Ele não vai te atacar, é só não machucá-lo.

Ele confirma com um gesto, abrindo a porta para que Chuvisco passasse.


Trovoada está agitado em sua baia, ele sente falta quando não passeamos pela manhã.

— Estava esperando por isso, né? — pergunto enquanto acaricio sua crina. — Pronto para montar?

— Se você cavalgar como fez ontem comigo, acho que terei uma excelente manhã!

— Você não presta! — empurro seu peito, rindo — Pegue aquela rédea, Trovoada prefere montaria no pelo.

— Sem nenhuma proteção?

— Ele não vai te derrubar.

Monto Trovoada com Miguel, ele aperta meu quadril contra ele, seguimos pelo trieiro, eu aprecio o clima de pós-chuva. Atravesso o pequeno riacho rindo com Miguel apertando minha cintura com medo de cair do cavalo.

Desde que ele havia chegado no Haras estávamos em pé de guerra, como após uma chuva tudo mudou de maneira tão repentina? Credo! Isso era coisa da minha cabeça. Isso sim. Eu tinha que me focar em coisas mais importantes.

Paro perto das pedras, desço segurando as rédeas para que Miguel desça.

Dou um tapinha no dorso de Trovoada deixando-o cavalgar livre por aí.

— Ele vai voltar? — pergunta olhando para Trovoada trotando para longe.

— Sim, ele ama andar livre, todas as manhãs sento por aqui e ele fica cavalgando pelo campo.

Assim que termino de falar, aponto para a cachoeira à nossa frente. Os raios de sol refletem na água cristalina.

— Aqui é lindo.

Dou um sorrisinho de “eu sei”. Estávamos perto do morro, subindo daria para ter uma visão completa do Haras.

Estávamos em um silêncio confortável, Miguel brinca com a água com a ponta dos dedos, parece com o pensamento distante. Ele sai vindo ao meu encontro, um sorriso nos lábios, suas mãos vão de encontro à minha cintura, colando nossos corpos no meio da relva, aproximo meu rosto do seu, ele roça seu nariz no meu, minha respiração acelera. Sem conseguir conter, mordo o lábio inferior de leve e nos beijamos novamente.

Não tinha como me esquivar de algo tão forte.

— Miguel...

— Não, pare, não acabe com isso. — ele diz entre os beijos.

Sua língua explora minha boca como se eu pudesse desaparecer dali em um estalar de dedos, ele me beija como se isso pudesse me dizer algo. Havia entrega ali, em ambos, seus lábios descem por meu corpo, sua mão subindo minha blusa, fazendo meu corpo se arrepiar ao sentir a relva úmida tocar minha pele. Sua mão toca minha barriga, raspando as pontas dos dedos em meu seio, seu rosto esfrega a barba cerrada em minha pele, os pelos roçando contra minha barriga.

— É melhor voltarmos.

Miguel suspira de maneira audível. — Por que tem que estragar esse momento?

— Tenho coisas a fazer, um Haras sempre tem o que fazer.

Miguel não tenta me fazer mudar de ideia. Montamos em Trovoada para voltar, o silêncio nos acompanha até o Haras, assim que chegamos perto do estábulo Miguel pula do cavalo e quando me viro para falar com ele após colocar Trovoada na baia, ele não está mais ali.

 

 


CONTINUA