Não posso acreditar no conteúdo do memorando que chegou da diretoria executiva. Hoje, quando fui até lá para falar com o pessoal do Millos, fiquei sabendo que, na semana passada, Theo havia cancelado todos os seus compromissos do dia e que tinha viajado para algum lugar.
Imaginei logo com quem estaria, se com a bela e meiga Valentina ou com Maria Eduarda Hill.
— Claro que foi com a dona do boteco! — Rio ao ler o pedido de cancelamento da ação para a execução da promissória. — A mulher conseguiu domar o idiota do meu irmão, e ele, mais uma vez, está sendo dominado pelo pau e se esqueceu de tudo.
Não de novo!, penso já redigindo um e-mail para o detetive que coloquei para segui-lo. Dessa vez, antes de fazer uma merda fenomenal e só foder os outros, meu irmão vai sentir sozinho os efeitos de sua inconsequência.
Theodoros Karamanlis acabou de cavar a própria cova!
Termino mais um capítulo do livro e solto um suspiro. Sim, eu sou fã demais desse autor, não tem como não ser. Mesmo que a crítica americana o detone lá fora, o sucesso dele e sua legião de fãs é inquestionável. O homem é foda!
Penso em Kostas e na conversa que tivemos há horas dentro do escritório. Pela primeira vez senti uma conexão boa com ele, além da inconveniente atração física.
Devo admitir que a convivência com ele não é fácil, mas não é tão difícil quanto imaginei que seria. Passamos esses cinco dias da semana juntos na mesma sala e ainda estamos vivos e sem nenhuma marca de mutilação! Soube que está rolando um bolão na empresa sobre em quanto tempo a ideia de trabalharmos juntos vai dar merda.
Rio ao pensar nos azarados que apostaram em menos de uma semana; já perderam o dinheiro, pois, contra todas as probabilidades, suportamos bem um ao outro e passamos no teste da primeira semana.
Meu amigo Leo é quem foi esperto, fez várias apostas diferentes, então ainda tem chance de levar a grana, que eu soube que já está em um valor considerável. Eu mesma quis apostar, mas lógico que ninguém quis aceitar meus palpites, afinal sou parte envolvida.
— Qual o menor e o maior período? — perguntei a Lene enquanto almoçávamos em um dia desses da semana.
— Uma hora e um mês. — Ela riu. — Ninguém ainda arriscou mais do que isso.
— Já fecharam as apostas? — Estava me sentindo curiosa e divertida.
— Já, mas, caso se passe o período máximo com vocês ainda juntos, vão ser abertas de novo. A verdade é que essa ida dele lá pro nosso setor mexeu com a cabeça de todos aqui na empresa, ninguém entendeu nada!
— Nem eu, mas, conhecendo-o o pouco que conheço, sei que não dá ponto sem nó, deve estar aprontando alguma.
Ela concordou comigo, e desviamos o assunto para uma festa de aniversário a que ela iria e, por isso, me pediu dicas de roupas.
A história da aposta ficou martelando em minha cabeça durante todos os dias, pois, a cada começo de expediente, eu sempre questionava se seria o último da aparente paz.
Ele me confunde! Vejo uma obscuridade tão grande em seus olhos, um mistério, algo que me traz uma sensação de reconhecimento, porque eu mesma, debaixo de toda essa minha capa alegre e extrovertida, tenho meus demônios a esconder.
A atitude dele comigo hoje, especificamente, desconsertou-me. Nunca imaginaria que iria se oferecer a me ajudar daquela forma, parecendo preocupado com meu ritmo de trabalho, e, muito menos, que iria se interessar pela minha opinião sobre uma obra literária.
Foi uma boa surpresa descobrir que ele gosta de leitura. Quem ama ler, assim como eu, sempre ganha pontos extras quando conheço. É uma diversão solitária; ao contrário do cinema e teatro, você geralmente o faz sozinho, por isso mesmo é tão gostoso quando encontramos quem também cultiva essa paixão.
Foi assim com a Verinha, a vizinha que se tornou amiga e babá de Kaká. No dia da minha mudança para cá, ela passou pelo saguão enquanto eu estava subindo com umas caixas e me ofereceu ajuda.
— Oxe, o que você carrega aqui dentro? Chumbo? — perguntou fazendo caretas.
— Não, livros. — Ela arregalou os olhos. — São 10 caixas dessas. Eu mesma não sabia que tinha tantos exemplares.
— Sei bem, a gente sempre tem a sensação de que não tem nada para ler, mesmo tendo uma biblioteca do tamanho de um campo de futebol. — Deu sua risada tão bonitinha. — Eu sou Vera Lúcia, sua vizinha de andar. Pode me chamar de Verinha, todo mundo só me chama assim.
— Eu sou a Kika! — disse animada. — Você também gosta de ler?
— Muito! Eu trabalho em casa, pela internet, então faço meu horário, e sempre tiro um tempinho para ler. Meus amigos me chamam de coruja, porque, se não fosse preciso levar Ferdinando para passear, eu ficava encorujada dentro de casa, sem ver ninguém, só lendo.
— Ferdinando?
— Meu filho pet, um bulldog francês.
Foi aí que eu soube que ela iria se tornar uma grande amiga. Falei sobre Kaká, que ainda estava no antigo local onde eu morava. Ela logo se dispôs a me ajudar a tomar conta dele, e passamos horas arrumando os livros pelo apartamento e falando dos nossos bichinhos.
Rio, voltando a me lembrar de Kostas e pensando que a única coisa que falta é eu descobrir que ele também tem um bichinho de estimação.
— Não! — descarto a ideia e olho para o Kaká dormindo aos meus pés, debaixo da colcha. — Aposto que nem plantas!
— Parabéns, minha amiga! — Abraço Verinha ao lhe dar seu presente.
Fui convidada para essa festa surpresa, no meio do sábado, por um Vinícius bem nervoso. O pessoal do prédio se reuniu para comemorar o aniversário de Verinha, mas, por causa do meu horário de trabalho, que nessa semana foi bem puxado, não conseguiram falar comigo.
— Eu deixei o bilhete debaixo da sua porta, mas algo deve ter acontecido com ele — Vinícius se justificou.
— Ah, provavelmente foi o picadinho que achei no tapete da sala. — Ri. — Kaká destruiu o intruso.
— Nem pensei nessa possibilidade! — Ele parecia bem sem jeito. — Você vai?
— Claro! Obrigada por ter vindo aqui falar comigo.
Ele fez uma careta tão bonitinha!
— A verdade é que eu não vim desinteressadamente. — Deu um sorriso charmoso. — Preciso de ajuda para comprar um presente.
Foi assim que, duas horas depois, nós andávamos por um shopping à procura de algo especial para Verinha. Preciso admitir que eu não esperava me divertir tanto ao lado dele. Contudo, foi o que aconteceu. Vinícius é um homem muito cavalheiro, atencioso e lindo.
Durante o passeio notei várias mulheres olhando-o com interesse, só que ele mesmo não parecia ligar para isso, ou talvez fosse algo a que já estivesse acostumado. O fato é que recebi vários olhares de inveja e achei isso divertido.
Paramos para tomar um chope bem gelado por causa do calor, no intervalo das compras, e ele me contou um pouco como foi a semana no trabalho.
— Eu acho muito bonita sua profissão — elogiei. — Os desafios que vocês enfrentam, a preparação que precisam ter, além da coragem.
— Eu amo isso! — admitiu orgulhoso. — Ainda criança dizia que queria ser bombeiro; na adolescência, meus amigos se preparavam para o vestibular, e eu fazia o pré-militar para ingressar na Academia do Barro Branco10. Passei, estudei quatro anos lá, depois fui para a escola oficial dos bombeiros e aí integrei a corporação. São 15 anos nessa profissão com muito orgulho.
— Quando você vê que a pessoa faz o que ama, o jeito de falar é empolgante. Carlinhos deve ter muito orgulho de você.
— Diz que vai ser igual quando crescer, mas a mãe prefere que seja advogado ou médico. — Ele riu. — Ela diz que só uma profissão bonita não paga as contas. — Deu de ombros, rindo. — Tenho uma vida confortável, mas não sou rico.
Entendi que esse devia ser um ponto sensível no casamento, pois, pelo que sei, a mãe do Carlinhos é jornalista de uma grande revista, famosa na área. Deve ter um belo salário, e nem sempre um casal consegue superar isso, a esposa ganhar mais que o marido. Não conheço o Vinícius o suficiente para saber se ele é machista, ou se foi ela quem se incomodou com isso. Acontece dos dois lados, infelizmente.
Claro que deviam ter outros problemas, mas, pela forma com que ele falou sobre o assunto, notei que era um desabafo.
Depois de termos comprado o presente de Verinha – e alguns brinquedos para o Carlinhos –, voltamos para o prédio a tempo de nos arrumar e seguir para o pequeno salão de festas no terraço, onde agora estão todos reunidos comemorando.
— Obrigada, Kika! — Verinha me abraça emocionada ao receber o presente.
Cumprimento alguns vizinhos e encontro o Vinícius sozinho – lindo de parar o trânsito – encostado em uma vidraça com uma long neck na mão.
— Você está linda! — elogia-me assim que me vê. — Aceita uma?
— Não, acho que vou beber um vinho, vi servindo por...
— Eu pego para você, posso? — Deixa a garrafinha na janela e depois volta com uma taça de vinho tinto. — Chileno, Carbenet Sauvingnon; é tudo o que sei, porque li no rótulo.
Rimos juntos, e eu lhe agradeço.
— Achei incrível todo mundo se juntar para fazer uma festinha! — digo animada. — Ficou linda!
— No seu aniversário podemos fazer uma assim também. — Pisca. — Você só precisa dizer a data.
— Ah, não, não se preocupa com isso, está longe — respondo sem jeito, bebendo o vinho. — Hum, ótima safra.
Uma música antiga, de balada romântica, começa a tocar, e alguns casais vão dançar no meio do salão. Vinícius estende a mão para mim e, de novo, tem aquele sorriso lindo no rosto.
— Aceita dançar comigo?
Ah, gente, ele é tão fofo!
E ótimo bailarino, pelo que posso comprovar enquanto ele me conduz lentamente pelo salão ao ritmo da música do George Michael. Adoro esses flashsbacks; não peguei essa época, infelizmente, mas gostaria de ter ido a algum baile na adolescência enquanto se tocava algo assim.
— Seu perfume é uma delícia e parece muito com você — sua voz ecoa rouca ao meu ouvido, e eu fecho os olhos.
Oportunidade, Kika!
Lembro-me de Jane falando sobre eu me dar a oportunidade de sentir, de deixar a conexão vir, de aproveitar o momento. Sinto a mão dele nas minhas costas, por cima do tecido do vestido, a carícia leve, a dança envolvente. Espero acontecer, sentir a mesma atração que o diretor jurídico da empresa desperta em mim apenas por estarmos no mesmo ambiente, mas não sinto.
Droga!
A música acaba, Verinha me chama para tirar foto com ela, e a oportunidade passa.
O que será que tem de errado comigo?, questiono-me sobre isso o resto da noite, até chegar a casa e, frustrada, abrir o aplicativo do Fantasy em busca de Portnoy.
“Boa noite, Punheteiro. Na balada?”
Como ele não visualiza de pronto, tomo um banho longo, sentindo-me um tanto “alta” por causa das taças de vinho que tomei e frustrada por não ser normal. Eu poderia ter aceitado a escolta do bombeiro até meu apartamento, fingir que eu estava em chamas e o chamado para apagar.
Mas não, apenas agradeci o oferecimento, alegando que estava bem, e desci sozinha para passar mais uma noite solitária e cheia de questionamentos.
Pego o celular e vejo a notificação que me faz abrir um sorriso.
“Oi, Cabritinha. Não, em casa trabalhando, e você?”
Penso no que escrever, na conotação que vou usar. Se o provocar, sei que teremos uma noite divertida de sexo virtual; se puxar conversa, vou acabar desabafando com ele, e não sei como vai reagir a isso.
“Acabei de chegar de uma festa, agora vou dormir, mas antes queria falar contigo.”
Portnoy não demora nada a responder.
“Estou à disposição. Use e abuse!”
Rio de seu humor e suspiro.
“Esses dias têm sido surpreendentes. Primeiro, o chefe com quem eu vivia entrando em embates me surpreendeu positivamente. Estamos trabalhando juntos por um tempo, por isso estamos convivendo mais. Ainda o acho um arrogante machista, mas talvez tenha algo que o salve. Rs.”
Portnoy não responde, mas vejo que continua online.
“Hoje, um vizinho e eu fomos ao shopping comprar um presente para uma amiga. Eu sempre desconfiei que ele estava interessado em mim, mas hoje acho que ficou bem evidente quando dançamos na festa.”
Portnoy digita, e a mensagem que aparece me faz rir.
“Fez sexo com ele?”
Será que ele se excitaria com detalhes de uma transa minha com outro? Eu até poderia descobrir isso, mas não estou com vontade de criar uma cena fantasiosa apenas para excitá-lo. Quero conversar.
“Não, e isso me deixou frustrada.”
“Por quê? Você queria muito?”
Rememoro a noite, a dança, depois a conversa e os toques sutis.
“Não, e foi isso que me frustrou. Eu sei que parece confuso, mas eu esperava sentir por ele o que sinto com você e o que senti com outra pessoa. O fato é que eu achei que, por gostar dele, termos afinidade, seria mais fácil me sentir atraída, mas percebi que não é assim que funciona.”
“Não é.”
A resposta seca, sem nenhum questionamento ou brincadeira me surpreende.
“Assunto chato, talvez devêssemos falar de outra coisa.”
“Não, continue. Fale sobre a pessoa por quem você se sentiu atraída além de mim. Por que ainda não treparam? Está enrolando-o também como faz comigo?”
Rio, pensando em Kostas.
“Não é tão simples! Por mais que eu me sinta atraída e, às vezes, sinta algo nas suas provocações, não sei o quanto disso é apenas um tipo de jogo para ele. Não temos bom relacionamento, então é estranho nos sentirmos assim.”
“O que pode ser complicado em uma transa? Se vocês estão a fim, qual é o problema?”
“É o meu chefe insuportável, Portnoy! Pense em todos os problemas éticos que isso pode acarretar.”
Ele não responde. Eu aguardo para saber o que ele pensa do que acabei de revelar, mas não há nenhum sinal de digitação, embora o status continue online.
“Estou pensando em te ver pessoalmente.”
Resolvo cutucar uma reação, mas a resposta não vem como eu espero.
“Vai me usar para descontar todo o tesão que sente por ele?”
Usar? O questionamento me deixa sem saber o que responder, afinal, isso entre nós sempre foi sobre sexo, sobre darmos vazão às nossas fantasias. Por que agora ele está falando em eu usá-lo?
“Isso seria ruim? Acho que a culpa de eu estar atraída por ele é sua, das nossas conversas e... eu sei que você vai achar que sou louca, mas, quando te imagino agora, vejo-o.”
“Sobre a questão que me fez: não, não seria ruim, mas você acha que resolve seu problema? Não seria mais fácil ter uma noite muito gostosa com ele e seguir em frente? Aposto com você que ele gostaria disso! Sobre me ver nele, duvido que seja tão gostoso quanto eu.”
Gargalho, achando os dois ainda mais parecidos agora.
“Pelo menos na arrogância os dois empatam!”
Bocejo e me estico na cama, fazendo carinho em Kaká, que já se instalou ao meu lado.
“Preciso dormir, amanhã acordo cedo, pois vou fazer tai chi e depois vou ao hospital.”
“Por que você faz mesmo esses trabalhos? Me lembro de termos falado sobre isso, mas não da sua motivação.”
“Aprendi a amar o trabalho voluntário com meu pai. É importante para mim. Boa noite. Obrigada pela conversa e pelo conselho.”
Ele digita, mas depois para um tempo e, quando manda a mensagem, é apenas um “boa noite”. Acho que ele escreveu algo, depois se arrependeu, mas, como estou realmente com muito sono, não prolongo o assunto com isso.
Programo o celular para despertar, fecho os olhos, e a primeira imagem que me vem à cabeça é a do sorriso do Kostas enquanto falávamos sobre meu gosto literário.
Ele tem a mesma opinião do Portnoy sobre esse assunto!
Eu só quero saber como um homem consegue dormir depois de ouvir da mulher que tem mexido com seus hormônios a tal ponto de fazê-lo sentir-se mais adolescente do que já foi que ela o deseja.
E mais, que dispensou outro cara porque não conseguiu superar o desejo que sente por ele! Porra! Eu nunca passei por uma situação dessas! Pago por prazer sempre, não tenho essa dinâmica de conquistar, convencer e seduzir.
Acabo de descobrir que a sensação é boa pra caralho!
Fiquei puto, sim, quando ela disse que preferia encontrar-se com um homem que nunca viu a trepar comigo. Fiquei louco com isso e com o firme propósito de fazer Portnoy desaparecer em breve. Ele pode ser um empecilho, e seria um tanto ridículo eu mesmo me atrapalhar a seduzir alguém.
Wilka Maria será minha! Essa constatação é inebriante, excitante e muito diferente de tudo o que já experimentei nessa minha vida fodida. Respiro fundo para que a empolgação não me torne irracional, afinal, nossa situação, como ela bem já lembrou, exige cautela.
Tudo indica que não há nenhum outro interesse em mim a não ser o físico, mas ainda assim não posso confiar nela cegamente. Não sei como ela vai se portar depois que tivermos ido para a cama. Pode tornar-se grudenta, apaixonada ou mesmo uma manipuladora, querendo tirar proveito da situação de ter pegado um chefe, um dos herdeiros da empresa em que trabalha.
Concordo que há muitos problemas éticos e legais em um envolvimento sexual entre nós, mas já não tenho como voltar atrás. Wilka Maria é uma caixinha de surpresas, e eu pretendo abri-la para descobrir o que tem dentro.
Sempre achei que a história do trabalho voluntário que a Caprica fazia era mentira, um jeito de parecer bacana, mas, sabendo quem ela é, acho que faz muito sentido. A verdade é que a Cabritinha é uma camaleoa! Nunca pude imaginar que havia tantas camadas nela e que, em cada uma, haveria uma surpresa que me atrairia.
Contudo, tem. Ela é surpreendentemente sexy.
Gosto da ideia da mulher fatal, ninfa do sexo, mas também aprecio a executiva inteligente e compenetrada; a irritadinha boca suja me excita, assim como a mulher sensível que aprendeu a fazer trabalho voluntário com o pai.
Olho para a tela do computador e leio a última frase que escrevi, imaginando como seria a reação dela ao saber quem eu realmente sou.
Do mesmo jeito que tenho meus segredos, ela também tem os dela. Comecei a pensar sobre isso a partir do dia do seu aniversário. Qual seria o motivo para não contar a ninguém e, ainda, ter ficado tão puta comigo como ficou quando eu disse que sabia? Meu faro investigativo não falha, e Wilka Maria certamente esconde algo.
Releio as mensagens que trocamos hoje, buscando analisar cada palavra que ela escreveu aqui. Foi uma conversa diferente de todas as que já tivemos. Ela viu Portnoy como um amigo e uma solução para a confusão que estava passando. A executiva segura de si deu espaço a uma mulher dividida entre o tesão que sente e a ética.
Já passei por isso, assim que descobri que era a mulher que me enlouquecia online, e sei bem quem ganha a parada entre as duas coisas: o tesão. Sinto que estou jogando de maneira correta, não pressiono, deixo que ela mesma decida quando, sim, porque isso é só uma questão de tempo.
Leio sua mensagem dizendo que vai fazer tai chi chuan amanhã de manhã, e a imagem do pessoal fazendo isso no parque Trianon vem à minha memória. Será que ela vai para lá? Bom, eu gosto mesmo de me exercitar naquele lugar, então decido ir. Se a encontrar casualmente por lá, será ótimo; se não, faço meu exercício normalmente e volto para casa.
Desligo tudo, apago meu cigarro e subo para meu quarto. As coisas estão ficando interessantes para mim!, penso ao escovar os dentes. Tenho uma chance real de acabar com a imagem de Theodoros na empresa, fazê-lo parecer com nosso odiado pai, um homem disposto a foder com a Karamanlis por causa de uma boceta fogosa.
Tenho informações e fotos interessantes sobre meu querido irmão e a dona do boteco, e hoje, com a emissão do memorando, ele acabou de completar minha munição. Disparei alguns e-mails para conselheiros que estão na empresa desde a desastrosa década final de Nikkós à frente dela e agora só estou aguardando a notícia de quantas assinaturas irei reunir para incluir o tema na pauta da próxima reunião.
Deito-me na cama e olho para o alto, sentindo-me perto demais de me livrar da presença de Theodoros. Sei que não vai ser já, soube que viajará para lamber as bolas do pappoús no começo da semana, então provavelmente usará isso para adiar essa pauta tão especial.
Sem problema, eu espero! Enquanto isso, posso me concentrar em outro assunto. Fecho os olhos com a esperança de conseguir dormir nesta noite, afinal, preciso me preparar para, quem sabe, começar amanhã uma caçada a uma Cabritinha fujona.
Olho para a garota, encolhida na cama, seu corpo nu trêmulo de medo, lágrimas grossas escorrendo por seu rosto. Meu estômago revira, engulo em seco várias vezes e mantenho a respiração constante para não vomitar aqui mesmo.
Há muito deixei de demonstrar minhas fraquezas, já não sou mais o mesmo, sinto-me endurecendo cada dia mais. Olho-me no espelho e não me reconheço. Não me reconheço!
Não escuto mais a voz que grita comigo. Vejo apenas muitas notas de dinheiro sendo jogadas para o alto e caindo lentamente sobre a garota, que parece cada vez mais assustada. Posso cheirar o medo, sinto seu pavor até na minha medula e entendo. Isso não deveria estar acontecendo!
Eu sinto muito! Sinto-me culpado, já não sou mais a vítima, não posso ser, perdi toda minha inocência, a cada dia mais uma casca cresce em volta de mim, aprisionando quem sou de verdade e criando outro homem. Não posso deter isso, ninguém pode; só resta saber como será essa criatura quando ganhar vida.
Os gritos não param. Estou prendendo minha respiração, tentando não soluçar, tentando não demonstrar o quanto isso tudo me fere, desejando que as coisas voltem a ser como eram antes. Não vão; nada mais será como antes.
É tudo culpa dele! É tudo culpa do Theo!
Arregalo os olhos, sentindo-me sufocado, no exato momento em que o despertador toca. Respiro fundo, confiro a hora e me sinto aliviado por ter conseguido dormir um pouco antes de ter a consciência do pesadelo.
Não vou ter paz, não vou conseguir dormir enquanto não acertar as contas com Theodoros. Não tive tempo de fazer Nikkós pagar, porque ele acabou se enforcando sozinho, virando um ser deprimente, que depende da caridade de pappoús para continuar vivendo, já que ninguém o quer por perto.
— Malditos fantasmas, sumam! — grito e me sento na cama.
Não quero começar este dia em clima sombrio, com a cabeça no passado. Não há mais nada que possa ser feito para consertar todas as merdas que foram feitas, não há remendo que consiga unir minhas partes quebradas. Foda-se! Aprendi a viver assim e não tenho ilusões de ser diferente um dia.
Levanto-me e vou direto tomar uma ducha para lavar todo o ranço que o pesadelo deixou. Tenho uma missão agora de manhã e, para cumpri-la, preciso estar com minha carapaça totalmente blindada com o sarcasmo, o humor ácido e ligeiro e a pose segura de si.
Depois de tomar um café e fumar meu cigarro, coloco a roupa esportiva – short e camiseta, tênis próprios para corridas, um boné preto como toda a roupa –, enfio uns trocados no bolso para tomar mais um café em algum local, caso eu dê com os burros n’água na minha caçada, e saio do prédio direto na Paulista.
Vou correndo até o Trianon, lamentando que a rua ainda esteja aberta, pois seria muito mais confortável correr no asfalto do que na calçada, desviando-me das barraquinhas que já começam a ser montadas.
Chego ao parque e entro, caminhando apenas, atento a cada local onde possa se esconder uma cabritinha. Encontro o pessoal do tai chi reunido, conversando apenas, mas não vejo a gerente entre ele. Começo a me sentir frustrado, mas não desisto de caminhar e passar um tempo por aqui, até que reconheço o jeito peculiar de se vestir, mesmo em malha de exercício, e a leve cadência de quadris de Wilka Maria. Abro um sorriso, reparo em cada detalhe dela, desde o macacão brilhante azul colado no seu corpo coberto por uma blusa solta, óculos de sol espelhados e redondos e fones de ouvido.
Aposto que ela está cantando algo, pois seus lábios se mexem, e ela balança a cabeça de um lado para o outro a todo momento. Não consigo conceber que alguém agitada como ela consiga fazer uma atividade tão leve, monótona e parada como tai chi chuan.
Avanço para encontrá-la exatamente em cima da pequena ponte com guarda-corpo de madeira, e, quando ela me vê, para, estarrecida.
— Ora, ora... — cruzo os braços — parece que, para o lazer, alguém gosta de chegar à Paulista cedo!
Ela bufa.
— Só pode ser obra do capeta, não é possível! — sua voz parece realmente irritada. — Uma cidade deste tamanho, com tanto homem interessante, e eu encontro justamente o último que gostaria de ver antes de morrer.
— Quanto drama, Wilka Maria. — Aproximo-me mais dela. — Bom, quem está na minha área é você, então, se não quer esbarrar comigo, não venha correr no meu quintal.
Ela gargalha alto, chamando a atenção de um casal que está passeando com o cachorro.
— Seu quintal? Como você é soberbo! — Olha em volta. — Não estou vendo nenhuma placa com seu nome no parque.
— Moro aqui, há exatos cinco minutos deste local, então é, sim, o meu quintal. — Aproximo-me mais, e ela recua, encostando-se à madeira do guarda-corpo da ponte. — Quer companhia para o exercício? Acho que nós dois suaríamos bem juntos.
Ela respira fundo, fazendo seu peito subir e seus seios ficarem mais justos contra a malha que usa.
— Já tenho meus companheiros, obrigada. — Aponta para os velhinhos do tai chi chuan. — Por falar nisso, já está começando.
— Tai chi? — Rio. — Sério? Nunca te imaginaria fazendo algo assim.
Ela enruga a testa, e vejo sua sobrancelha aparecer por cima dos óculos de sol.
— Por que não? Eu pareço ser uma pessoa sedentária?
— Não, exatamente o contrário. — Abaixo a voz: — Eu te vejo em exercícios mais intensos, que fazem suar, liberam prazer, não algo tão... — rio devagar — broxante como o tai chi.
— Doutor, eu preciso...
— Não estamos na empresa e nem em horário de expediente, então, chame-me de Kostas — interrompo-a. — Quem sabe até possa te chamar de Kika.
Ela nega.
— Doutor, eu acho melhor... — ofega — que o senhor se afaste — geme quando eu a seguro pela cintura — para que eu possa... — simplesmente perde a linha de raciocínio.
— Para que você possa...? — pergunto, sentindo-me tão sem ar quanto ela.
Não tinha intenção alguma de encostar nela hoje, seria apenas mais um jogo de provocação, mas, talvez impelido pela conversa online ontem, não consegui conter a vontade de sentir seu corpo perto do meu.
— O que está acontecendo? — Wilka indaga.
Nossos corpos estão praticamente grudados, e eu estou curvado sobre ela para que nossos rostos estejam quase na mesma altura. Consigo sentir seu cheiro, uma mistura leve de algum sabonete e uma colônia refrescante. Meus dedos captam o calor de sua pele e um leve tremor em seus músculos.
— Eu não sei — respondo sem fazer nenhum jogo.
Tiro os óculos de seu rosto e consigo ver o turbilhão de emoções que explodem dentro de seus olhos. Estamos respirando juntos, quase bufando como fazem os touros ao entrarem em uma arena. Ela engole em seco, o movimento de sua garganta chamando minha atenção e, quando molha e esfrega os lábios involuntariamente, sei que é meu fim.
Ainda segurando seus óculos, firmo sua nuca e a beijo como venho fantasiando há muito tempo. Isso não foi calculado, aconteceu, e meu coração está disparado com a adrenalina, o pau tão duro que tenho certeza de que a frente da minha bermuda está toda levantada.
Ela demora alguns segundos para corresponder ao beijo, mas, quando me aceita, puta que pariu! Sua boca quente e molhada, a língua safada procurando a minha... Agarro-a com ainda mais força, trazendo-a para mim para que não fique dúvidas de como estou, de como ela me deixa.
O sabor do beijo, as sensações que ele me causa, a sensualidade das nossas línguas se esfregando uma contra a outra enquanto nossos corpos fremem de tesão, tensão e ansiedade... estamos explodindo juntos, essa é a verdade, deixando jorrar todo o desejo reprimido, enrustido nas brigas e rusgas que tivemos até este momento.
As máscaras caíram, estamos nus, sem mecanismos de defesa, sem nada entre nós.
Separo minha boca da dela, deslizando os lábios pelo seu queixo, louco para explorar seu pescoço. Ela geme alto, porém, fica tensa. O corpo, antes pulsando de energia sexual, parece esfriar, endurecer, e eu a encaro.
— O que... — não completo a pergunta por causa da dor filha da puta que sinto em minhas bolas e a olho estarrecido.
Essa doida acaba de me dar uma joelhada no saco!
Escuto o gemido de dor de Kostas e sinto um leve arrependimento. Talvez o golpe tenha saído com mais força do que pretendi. Não, eu nem pretendi, foi apenas um impulso, então, sim, deve ter saído forte para caramba!
Que loucura foi essa? Olho em volta para algumas pessoas paradas olhando para nós, atracados como cães no cio, debaixo de um sol forte de janeiro, em plena ponte dentro do parque. Onde eu estava com a cabeça?
Estava beijando Konstantinos Karamanlis!
Não foi uma fantasia, o beijo aconteceu e foi muito bom. Não, foi incrível! Quando ele se aproximou, eu sabia que algo ia acontecer, meu corpo se aqueceu, minha respiração ficou pesada, o ar parecia rarefeito à nossa volta. Quando me tocou, foi como se tivesse me ligado a uma força potente, senti a eletricidade percorrer a extensão da minha coluna, agitando tudo dentro de mim.
Seu corpo quente fez o meu entrar em combustão, senti sua excitação de várias formas, não só pela evidente ereção, como no gosto de sua saliva, na forma como seus sons ecoaram dentro da minha boca e como me segurava, parecendo querer estar dentro de mim mesmo em um parque público cheio de gente.
Minha reação a ele não podia ter sido indiferente. Minha pele se arrepiou, senti a boca seca, os mamilos duros e um pulsar delicioso entre minhas pernas. Tudo isso em um único beijo!
Então por que o afastei? Por que lhe dei esse golpe certeiro e agora estou olhando-o curvado de dor? Por um só motivo: o homem que estava me beijando era o mesmo que muitas vezes já me desrespeitou, que já menosprezou o meu trabalho apenas por eu ser mulher. Não podia deixar que fizesse o que quisesse assim, sem mais nem menos! Ele sequer me perguntou se podia me beijar e foi logo tascando a boca na minha!
Prepotente gostoso dos infernos!
— Você está maluca? — geme e inquire entredentes. — Tem ideia de como eu estava excitado? Dói pra caralho!
— Por que você me beijou? — questiono sem rodeios.
Kostas para de gemer, mesmo ainda um pouco trêmulo de dor, e me encara, seus olhos parecendo ainda mais azuis do que normalmente são, em contraste com sua pele morena e seus cabelos escuros.
— Por que um homem beija uma mulher? — sua voz rouca me faz puxar o ar e o reter para não gemer e fechar os olhos.
Solto o ar devagar, buscando minha racionalidade para entender o que realmente aconteceu entre nós. O que ele quer, afinal, comigo?
— Não me venha com essa técnica de advogado de fazer perguntas retóricas! — Começo a me sentir ansiosa e agito as mãos ao falar. — Não consegue ser direto e sincero? Por que me beijou?
O desgraçado sorri, mas continua quieto.
— Se isso for uma espécie de jogo ou mais uma tentativa de me humilhar, eu...
— Meu beijo foi humilhante? — Ele perde a pose. — Você se sentiu humilhada?! Você sentiu como eu estava? Acha que planejei te beijar aqui, no meio do Trianon, ter a porra de uma ereção, parecer a droga de um cachorro no cio para te humilhar?
Sua resposta me desconserta. Tento deixar minhas defesas de lado, mesmo que isso seja difícil, para entender o que está acontecendo. Eu me sinto atraída por ele de jeito totalmente irracional, vocês sabem, porém, até hoje achei que ele só me provocava, nunca imaginei que pudesse sentir o mesmo, nunca entendi seu jogo.
E se não tiver nenhum? E se, como eu, ele apenas foi pego desprevenido por essa atração que surgiu entre nós? Lembro-me da conversa que tive com Portnoy, principalmente quando ele me perguntou se não seria mais fácil resolver essa questão com Kostas e depois seguir adiante.
Não é tão simples, Kika, e você sabe disso!
— Então por que me beijou? — repito a pergunta, mas agora baixinho, sem nenhuma resistência, em um pedido de sinceridade.
— Porque eu quis te beijar. — Seus olhos não deixam os meus. — Não sei o que houve, Wilka Maria, mas só tenho pensado nisso ultimamente. — Ele bufa, e eu percebo que não deve estar sendo fácil me dizer todas essas coisas. — Eu sei que não deveríamos misturar as coisas, mas, ultimamente, quando me sinto irritado com você, tenho vontade de te deitar sobre aquela mesa e provar todo seu corpo, sentir o sabor da sua pele e transformar seus protestos em gemidos de prazer. Quero cessar toda e qualquer discussão me afundando no seu corpo, deixar toda racionalidade de lado e só pensar em compartilhar com você todo esse tesão que me inflama. — Respira fundo. — É isso, não tem jogo, só um tesão do caralho que me faz passar pelo menos umas dez horas de pau duro dentro daquela maldita empresa todo dia!
Não consigo emitir nenhum som; nada vem à minha mente, nenhuma piadinha para descontrair a tensão, nenhum discurso ético sobre trabalharmos juntos e ele ser meu chefe, nada! Geralmente eu penso e reajo rápido, mas como responder a isso?
Seguro com força no corrimão da ponte, talvez me refreando para não voar em cima dele, não para brigar ou bater, tão-somente para lhe mostrar que eu também sinto tudo o que acabou de me descrever.
Kostas ri, dá de ombros e olha para os lados.
— Sua aula começou. — Aponta para o pessoal do tai chi, e eu assinto. — Não estou pressionando você a nada, quero deixar claro. Se você não estiver a fim, nada irá mudar no nosso trabalho. Posso ser um babaca filho da puta, mas tento manter o mínimo de ética e ter palavra.
Ele toca a aba do boné em um cumprimento tão antigo – e tão inglês – e se afasta, voltando a caminhar em direção ao interior do parque. Não deixo de olhá-lo nem por um minuto, até que some em uma curva, e solto o fôlego devagar.
Ponho a mão no rosto, fechando os olhos, sentindo-me perdida dentro de uma situação tão surreal que não sei como agir. Dou pela falta dos óculos e os procuro pelo chão, mas não os acho. Estávamos tão nervosos que não percebemos que ele continuava segurando-os e que os levou ao ir embora.
Começo a rir – feito uma doida –, atraindo a atenção dos que passam por mim. Às vezes, quando estou muito ansiosa, isso acontece, um ataque de risos que não para, tão intenso que me tira lágrimas dos olhos.
É real! Dessa vez não é uma fantasia com um homem desconhecido que nunca terá acesso a mim. Não tenho dúvida alguma de que o quero da mesma forma, só preciso saber como agir.
Preciso de ajuda!
Olho para o pessoal do tai chi e desisto da aula. Tento fazer esse exercício exatamente para controlar minha ansiedade e agitação, mas me conheço bem, e, neste momento, a única coisa capaz de me desacelerar é o Starbucks.
Preciso de chocolate!
Saio correndo do parque e continuo a corrida pela Paulista, agradecendo por hoje ser domingo e isso ser comum nesse dia. Sempre passeio por aqui depois do exercício no parque, olhando as barraquinhas, os artistas de rua e as crianças se divertindo no asfalto da avenida mais importante da cidade como se estivessem no quintal de casa. Contudo, hoje, não dá para fazer isso!
Entro na cafeteria e peço logo um frappuccino de brigadeiro, um dos meus preferidos. Sento-me para esperar e pego o celular.
“Malu, preciso conversar com você!”
Digito a mensagem e aguardo, nervosa, sem saber o que fazer daqui para frente. Amanhã de manhã o clima vai ser estranho na empresa, tenho certeza. Relembro a agenda da semana; amanhã tenho reunião com Theo cedo, pois ele irá viajar para a Grécia, e Millos só chegará de suas férias na próxima semana. Então, se eu me mantiver ocupada, não precisarei ficar em minha sala o dia todo.
Merda! Sinto-me uma garotinha me escondendo assim dele. Não sou assim, porra, não sou insegura em nada na minha vida, tenho que ser justo nisso?
E o que eu vou falar com a Malu?, penso olhando para a mensagem que acabei de mandar, movida pela ansiedade. Eu, que geralmente a aconselhava nesses casos, mandava-a aproveitar a vida sem pensar em mais nada, contava de todos os meus encontros fantasiosos como se eles fossem de verdade!
Respiro fundo para não pirar e começo a contar minha respiração. Não tem jeito, precisarei ligar para minha terapeuta. Eu quero Konstantinos Karamanlis e sei que vai ser só uma questão de tempo para esse desejo que sentimos explodir e aí...
— Kika Reinol! — a atendente do café me chama.
Levanto-me, pego minha bebida e a tomo praticamente em um só gole, como se fosse minha tábua de salvação.
O café misturado ao chocolate me acalma e clareia a minha mente a ponto de me fazer ter uma ideia mirabolante!
Eu vou para a cama com Kostas, sim, mas antes vou transar com Portnoy!
Não pude deixar de pensar no beijo, e encarar a segunda-feira com chances de encontrar Kostas não foi fácil. Por sorte, quando entrei na sala, hoje, não o encontrei – o que era um milagre, pois sempre chega antes de mim –, por isso tive relativa paz para trabalhar.
Digo “relativa” porque a toda hora olhava o celular, conferindo se Portnoy havia me respondido.
Eu pus em prática a ideia que tive na cafeteria e, antes de dormir, no domingo, enviei mensagem convidando Portnoy para um encontro de verdade. Esperei por alguns minutos que ele aparecesse online, porém, ele não o fez, e eu tentei dormir.
Sonhei com Konstantinos, nós dois nus sobre a mesa da sala dele, expostos por causa das paredes de vidro sem persianas. Ele era quem estava deitado no tampo, e eu o cavalgava enlouquecida enquanto aquelas mãos enormes seguravam meus seios, beliscando-os com os dedos, e eu gemia como fiz no parque ao sentir seu beijo.
Acordei suada, descoberta e com a calcinha encharcada. Tentei resistir a me tocar pensando nele e no sonho, mas não consegui e gozei com a sensação da sua boca na minha. Foi intenso, meus lábios formigavam de vontade dos dele, e eu fantasiava que era seu toque que meu clitóris recebia.
Depois disso, dormi até o despertador tocar, levantei-me, fiz todo meu ritual matinal e entrei na Karamanlis encolhida, quase sem cumprimentar ninguém, com receio de encontrá-lo pelos corredores. Respirei aliviada quando entrei na gerência e mais ainda quando me deparei com minha sala vazia.
Chamei meu pessoal para uma pequena reunião rápida, pois tínhamos uma apresentação marcada na empresa de um cliente, ajustamos os últimos detalhes e saímos. Fiz a apresentação junto a Rosi, Leo e Carol, depois fomos almoçar juntos, e agora, finalmente, estou retornando para minha sala com o firme propósito de adiantar os relatórios da siderúrgica e dar andamento ao projeto o mais rápido possível.
Estou muito disposta ao trabalho. Geralmente fico assim quando estou brava ou frustrada com algo. E não, dessa vez o motivo da minha irritação não é o Kostas, mas sim o Portnoy, aquele frouxo, que ficou um ano insistindo em um encontro e que, quando digo sim, inventa a porcaria de uma desculpa esfarrapada e corre!
Viagem de trabalho!
Nós nos falamos no sábado, e ele não disse nada sobre isso! Ninguém arranja e organiza uma viagem de trabalho em apenas um dia, e o cara de pau teve a pachorra de dizer que só tinha ficado sabendo hoje!
Ele é um pau no cu, isso sim! Arregão dos infernos!
Vou para minha sala ainda xingando-o mentalmente de todas as formas que sei e que existem para definir um homem covarde – Coca-Cola, garganta, borra-botas, cagão e... minha linha de raciocínio morre quando abro a porta e encontro Kostas com um buquê de rosas de cor champanhe nas mãos.
Nós nos olhamos assustados, eu por não esperar que ele tivesse tal gesto, e ele talvez por ter sido pego com a boca na botija, e ficamos estáticos por alguns segundos.
— O que... — começo a perguntar, mas ele se adianta.
— Acabaram de entregar para você. — Ele ergue o buquê – como se eu já não o tivesse visto – e o deixa sobre minha mesa. — Como você não estava, fui eu quem o recebeu.
Não são dele!, a constatação me deixa desanimada, mas ainda curiosa para saber de quem são. Procuro o cartão e o encontro jogado entre as rosas. Muito estranho! Recebi buquês de rosas pouquíssimas vezes em minha vida, e em todas elas, os cartões vieram presos na embalagem.
Será que Kostas... Não! Ele não se atreveria a ler algo que não é seu!
Abro o envelope e um sorriso ao ler a mensagem fofa do Vinícius agradecendo a ajuda com a compra do presente da Verinha. Ele não precisava ter enviado uma dúzia de rosas para o meu trabalho apenas para agradecer, mas, já que o fez, decido ligar para agradecer.
Vinícius atende ao segundo toque:
— Oi, recebeu as flores?
— Oi! Recebi, são lindas, obrigada! — Dou a volta na mesa e me sento na cadeira, de frente para o Kostas. — Nem vou colocar na água aqui, pois quero levá-las para casa. Vejo você por lá?
Kostas dá uma risadinha, e eu aperto os olhos.
— Hoje não, estou no trabalho, mas fiquei feliz que tenha gostado! Obrigado pela ajuda e companhia!
— Sempre que precisar!
Ele se despede, e eu também. Coloco o celular sobre a mesa e ligo o computador.
— Você nem as cheirou — Kostas diz de repente, e eu o encaro.
— Como?
Aponta para as flores.
— Você nem as cheirou. Eu imaginava que toda mulher gostasse do perfume das rosas, mas você nem as tocou! — Ri. — Aparentemente, não gostou tanto assim do presente.
Rio e cruzo os braços.
— Engano seu, adoro plantas! — principalmente quando estão plantadas na terra para viver bastante!, concluo, mas não o digo em voz alta.
A verdade é que não gosto de receber buquês e arranjos. As flores estão aqui, lindas à minha frente, mas estão morrendo, agonizando lentamente até não sobrar mais nada e toda essa beleza ir para o lixo. É um gesto bacana, mas um desperdício e um tanto mórbido.
— Você tem um jeito diferente de mostrar sua animação com um presente. — Ergue a sobrancelha. — Já te vi mais animada do que isso apenas por um donut com cobertura de chocolate.
Agora quem ergue a sobrancelha sou eu. Tenho certeza de que ele não pretendia demonstrar que presta tanta atenção assim a mim e às coisas que gosto ou não. Ato falho, ilustríssimo doutor! Sorrio, mais animada com isso do que com as rosas.
— Comida me conquista mais fácil. Eu sou um verdadeiro dragão com fome, mas um cordeirinho com a barriga cheia.
— Obrigado pela dica! — Ele pisca, e eu fico sem jeito. — Talvez, ontem, eu tivesse tido uma recepção melhor se tivesse te feito engolir um chocolate antes.
Rolo os olhos, sem poder acreditar que ele vai mesmo puxar esse assunto aqui, dentro da sala onde trabalhamos! Finjo não o ouvir e abro o arquivo que pretendo ler, ignorando-o. Já é tarde, a maioria dos funcionários já deve estar indo para casa, e não pretendo ficar até às 22h de novo!
Leio as duas primeiras linhas do documento, quando tudo some e a tela do computador apaga.
— Mas que por...
Kostas se levanta do chão, debaixo da minha mesa e me mostra a tomada do computador. Arregalo os olhos e fico de pé também.
— Está doido?! Por que fez isso?! Eu poderia ter perdido o documento e...
— Nem deu tempo de digitar algo! — diz displicente, expressão debochada. — Não gosto de ser ignorado, Wilka Maria.
— Você é louco! — Pego minha bolsa. — Não temos nada a conversar sobre o parque ontem.
— Temos! — Ele fica à minha frente. — É claro que temos! Ontem eu fui sincero com você, mas não recebi o mesmo tratamento.
— Kostas, é melhor não... — tento dizer, mas ele se aproxima mais.
— Por que não? Eu quero, você quer, somos maiores e sãos. O que nos impede?
Respiro fundo, gostando do argumento, mas sem querer aceitá-lo. Há, sim, muitos impedimentos! Trabalhamos juntos, ele é um dos donos da empresa, chefe, babaca machista, gostoso pra caralho, mas ainda assim um grande...
— Kika, se você conseguir me olhar e dizer que não quer, saio daqui imediatamente. — Sua mão esquerda para em cima da alça da minha bolsa, e a outra acaricia meu rosto. — Basta dizer.
É apenas um toque, mas, onde os dedos dele passam, deixam rastros de calor que me aquecem inteira. Quero dizer a ele que não, que está enganado quanto a mim, que não cederei tão fácil, mas eu o desejo!
Oportunidade! Se deixar ir, sentir, aproveitar o momento!
Não teve outro homem que já mexeu comigo dessa forma, então, por que não? É apenas uma experiência, uma noite; depois disso, seguimos como se nada tivesse acontecido.
Concordo com o pensamento, balançando a cabeça, ponderando que, antes de qualquer coisa, nós dois precisamos conversar, e eu preciso deixar claro que...
Sou puxada pela alça da bolsa, batendo de encontro a um enorme e sólido corpo, com braços longos e fortes que me envolvem antes de eu ser literalmente devorada por uma boca faminta de beijos.
Puta que pariu, para que conversar?
Quando a vejo balançar a cabeça em sinal afirmativo, não espero duas vezes. Bem, nem mesmo se eu quisesse, conseguiria esperar! Ajo no reflexo, impulsionado por uma necessidade de tê-la colada a mim de novo igual ao que aconteceu no parque, puxo-a sem nenhuma sutileza pela alça da bolsa, fazendo-a praticamente cair sobre mim desequilibrada e ofegante.
Não dou tempo para que ela tome fôlego e comece a questionar cada situação que pode advir disso que vamos fazer, então decido sutilmente foder sua mente de uma vez, antes que percamos esse clima gostoso que perpassa entre nós.
Os lábios macios oferecem pouca resistência, o corpo desequilibrado usa o meu para se apoiar, ficando colado em mim, permitindo que eu sinta cada detalhe de sua anatomia. Sorvo sua saliva, sinto o sabor suave de café e, talvez, chocolate. Não me concentro nisso, apenas no movimento perfeito de seus lábios, em sua língua na minha, buscando-a como se dependesse dela para algo.
Eu me sinto queimar inteiro! É esse o efeito desse beijo em mim, combustão, incêndio, explosão! Minhas mãos percorrem seu corpo sem nenhum tipo de controle, agindo como se tivessem vida própria, conhecendo, tateando, ao mesmo tempo em que contribuem para manter nossa excitação no limite. Eu quero comer, mastigar, foder essa mulher como se fosse o último ato desesperado de um homem. Quero inundá-la de prazer, ouvir seus gritos, sentir suas unhas e dentes cravados em mim enquanto goza.
Ergo-a do chão sem nenhum esforço, segurando-a por sua bunda deliciosa, redonda, dura e a pressiono contra mim para que não haja dúvidas do meu tesão. Meu pau lateja em uma dor deliciosa, não sinto mais nada a não ser o desespero da liberação, a vontade de estar dentro dela de qualquer jeito possível.
Wilka geme sem tirar a boca da minha, seus braços enroscados em meu pescoço, apertando-o, mantendo-me preso como se eu fosse fugir disso tudo. Como se eu pudesse! Sou seu refém tanto quanto seu captor, dominado e dominando na mesma medida.
Preciso tocá-la, o contato apenas com sua boca já não é mais suficiente, preciso de tudo dela. Ergo seu vestido, arrastando as mãos por suas coxas, tremendo ao sentir sua pele macia. Apoio as mãos embaixo de suas nádegas e a faço me abraçar com as pernas, corpos encaixados, um respirando o outro, seus gemidos deliciosos me dando mais e mais tesão. Sinto seus quadris se mexerem, rebolando em mim mesmo ainda vestida, desesperada pelo mesmo que eu.
Caminho sem rumo, a boca deixando a dela, percorrendo seu pescoço, provando como um faminto, sentindo o forte pulsar de sua artéria, a agitação que também sinto. Ouço barulho de coisas indo para o chão, mas ligo o foda-se para qualquer coisa neste momento que não seja estar enterrado nela.
Apoio-a sobre a mesa. O cheiro de rosas chega até onde estou, e Wilka se deita, olhos fechados, contorcendo-se de prazer. Minhas mãos invadem o vestido e acham a calcinha pequena de tecido liso e fino. Puxo-a para baixo, mas não a retiro, pois suas pernas ainda estão travadas em mim.
Quase enlouqueço ao vê-la exposta, sua boceta perfeita, sem pelos, emoldurada pelas belas coxas que me atraíram desde a primeira vez que as vi. Não consigo esperar, abro minha calça e puxo meu pau para fora com apenas um movimento, segurando-o com força.
Wilka levanta a cabeça para espiar, e eu rio.
— Curiosa? — pergunto esfregando-o em sua calcinha.
Ela arregala os olhos, e eu gargalho, puxo a peça íntima com tanta força que a rasgo, avanço para cima dela e me inclino sobre seu corpo.
— Quero foder sua mão, sua boca, seus peitos, sua bunda... — beijo-a — mas antes... — encosto a glande em sua entrada e a esfrego — quero experimentar sua boceta, molhar meu pau no seu tesão, socar em você até perder a consciência.
— Kostas... — ela resfolega, e eu sorrio, movendo meu pau sobre seu clitóris, desesperado, sentindo sua lubrificação fazendo-o patinar e excitá-la a tal ponto que sei que irá gozar a qualquer momento. — Eu preciso...
— Eu também! — Aumento a velocidade, trinco os dentes e fecho os olhos.
Posso sentir cada parte de sua boceta em detalhes, mesmo sem vê-la, apenas com a sensibilidade do meu membro. Lábios bem contornados, carnudos, que se mexem sutilmente quando eu os agito e se fecham no exato ponto onde sinto uma rigidez pulsante. É uma tortura me masturbar masturbando-a, é sexy, decadente, gostoso demais!
— Kostas...! — sua voz sai mais alta, e eu a olho no exato momento em que goza. Travo o corpo todo, meus dentes batem um no outro e sinto uma leve ardência na base do meu pau ao segurar meu próprio gozo.
Não consigo mais, ainda que eu queira ficar aqui, apenas roçando meu pau contra sua boceta molhada, sentindo-a delirar com o contato, ou que sinta a boca cheia d’água de vontade de provar seu sabor e receber seu orgasmo em minha língua, não dá para controlar a vontade de me enterrar dentro dela. Então, em desespero, faço o movimento de uma só vez, deslizando entre os lábios úmidos, achando sua entrada apertada e me afundando nela.
Ela grita de um jeito doloroso, e seu corpo fica tenso. Encaro seus olhos arregalados, cheios de lágrimas. Sua face, antes corada, está pálida e tem expressão de dor. Wilka estava muito excitada, não posso tê-la machucado, porém, senti como se algo tivesse me segurado por um segundo e depois cedido com tamanha pressão que fui sugado para seu interior.
Não pode ser!
Fico imóvel em cima dela, sem acreditar nas lágrimas que vejo escorrerem de seus olhos. Essa é a minha Cabritinha, a ninfa do sexo, a mulher com quem dividi as mais inusitadas sacanagens. Ela não pode ser virgem!
Minha cabeça começa a rodar, e eu tento me afastar, porém, sou detido por suas pernas, que me mantêm preso a seu corpo.
— Está tudo bem. — Wilka tenta sorrir, mesmo com os olhos brilhando de lágrimas. — Eu devia ter falado em algum momento que... — Morde o lábio e desvia o olhar do meu. — Não tivemos tempo para conversar e...
— Você... é... virgem? — a situação é tão esdrúxula que mal consigo formular a pergunta.
Ela suspira, tenta rir de maneira casual, mas consigo enxergar o constrangimento que faz com que a resposta – óbvia – seja positiva.
— Bom, levando-se em conta que seu pau está todo enterrado em mim — ela tenta fazer uma expressão divertida, mas parece ficar cada vez mais tensa —, eu acho que era, né?
— Porra!
Afasto-me dela o mais rápido possível e quase caio em cima da minha mesa de trabalho. Cambaleio por um momento, como se tivesse acabado de levar uma porrada na fuça, e tento respirar. Não consigo! Imagens, cheiros, sons, meus ouvidos zunem, e sinto as pernas bambas. Como isso foi acontecer?!
— Kostas? — ela me chama. Ouço um leve tremor em sua voz, mas não consigo encará-la. O pesadelo está de volta. — Está tudo bem, não se preocupe, era só um pedaço de pele, não a peste!
Estico as mãos na direção dela, de olhos fechados, e balanço a cabeça. Ela não tem noção do que me fez, não tem ideia do que isso desencadeou dentro de mim. Não tem!
Arrumo a roupa do jeito que dá e saio o mais rápido possível da sala, batendo a porta, correndo pelos corredores como se estivesse sendo perseguido por demônios.
E estou!
Os gritos estão cada vez mais fortes, e as sensações também. Vejo o sangue, o desespero, e tento me controlar de qualquer jeito. Não posso sair da empresa neste estado! Entro no elevador, olho para o espelho, mas não me vejo. Há um monstro me encarando, podre, sendo comido vivo por causa do que fez no passado.
Soco o espelho do elevador; o vidro se parte e rasga minha mão, mas não ligo nem para a dor, nem para meu próprio sangue pingando no chão. Só não quero mais ver quem eu sou, só não quero ter que encarar o verdadeiro Konstantinos Karamanlis.
O elevador se abre na garagem do prédio da empresa. Vou até uma das salas onde guardamos as chaves dos carros da Karamanlis e que, pelo avançado das horas, não tem ninguém. Abro-a com minha chave, pego qualquer chaveiro no armário e aperto o alarme para saber a qual carro pertence.
Saio da garagem cantando pneus. O guarda noturno olha-me assustado, mas me reconhece e abre o portão.
Eu preciso sair daqui! Tenho que sair daqui!
O dia está amanhecendo, e ainda sinto o perfume dela, o sabor de sua boca, o cheiro do seu gozo impregnado em mim. Bebo mais um gole do bourbon barato que encontrei em uma espelunca qualquer e olho o conteúdo da garrafa, já abaixo da metade.
Passei a noite dentro deste carro. Dirigi sem rumo depois que saí da empresa, parei no primeiro bar que imaginei ter uísque, comprei duas garrafas e voltei a dirigir.
Só parei quando cheguei aqui, a este maldito lugar onde estou agora, revivendo o inferno da minha vida como forma de expiação de pecado. Foda-se! Olho o sobrado caindo aos pedaços do outro lado da rua e sinto meu estômago revirar.
Eu jurei a mim mesmo que nunca mais viria até aqui. Cumpri essa porra de promessa por anos, mas do que adiantou? Não importa para onde eu fuja, toda aquela merda vai comigo. Podem-se passar anos, mudar de país, de cara e de nome, as desgraçadas lembranças estão gravadas na minha cabeça e nunca saem de lá. Por mais que eu as esconda, sempre vêm me espiar nos sonhos, lembrar-me de que estão vivas e de quem eu sou.
Deito a cabeça sobre o volante e penso em tudo o que aconteceu ao longo do dia, tentando notar alguma indicação de que estaria bêbado, fodido e vomitado em um dos bairros mais perigosos da cidade, em frente ao lugar que eu já deveria ter demolido, mas que comprei apenas para ver apodrecer e cair enquanto o mesmo acontece comigo.
Cheguei à empresa puto e fui direto para minha sala na diretoria jurídica. Não queria encontrar Wilka Maria, não enquanto eu ainda estivesse fervendo de raiva. A vontade que tinha era de entrar naquela sala e a sacudir até que tivesse um pouco mais de senso e percebesse que, por mais que negasse, me queria tanto quanto eu a ela.
Não bastasse aquela joelhada no saco no parque, a diaba teve a pachorra de mandar mensagem para Portnoy dizendo que queria se encontrar com ele para transarem. Assim, logo depois de ter gemido em minha boca, cheia de tesão, ela mandou a porra de uma mensagem para outro homem convidando-o para trepar.
Eu sei, vocês devem estar gritando comigo que o outro homem sou eu mesmo, mas, porra, ela não sabe disso! Então, sim, fiquei puto, não respondi e ainda arremessei meu celular contra a parede da sala e tive que comprar outro pela manhã.
O que me leva à primeira merda do dia, pois, assim que liguei o aparelho, chegaram várias mensagens de Millos me xingando e perguntando o que eu pretendia com o pedido de inclusão de pauta sobre Theo e Duda Hill. Respondi a ele que estava na hora de deixarmos de ser sombras do netinho amado, e ele, depois de me mandar tomar no cu, disse-me que preferia ser sombra do Theo a ser um filho da puta traiçoeiro.
Fiquei puto por ele não me apoiar, afinal só se beneficiaria com a saída do atual CEO, mas é tão cego com essa mania de lealdade que não percebe que eu seria muito melhor do que meu irmãozinho mais velho.
O resultado dessas duas situações foi uma noite azeda e uma manhã sombria, enfurnado na minha sala, sozinho, puto demais para falar com alguém sem berrar, então descontei minha frustração no trabalho e no cigarro.
Mais tarde fiquei pensando nas mensagens de Kika e seriamente tentado a marcar o tal encontro de foda, deixar que ela fosse até algum motel e revelar que eu sou o Portnoy e encerrar todo o ciclo de mentiras – minhas e dela – de uma vez.
Obviamente, não o fiz, e fiquei o dia todo exilado na diretoria jurídica, resmungando como um cão sarnento, frustrado e puto. Queria poder entender aquela mulher, o que queria, por que teve aquela reação depois do beijo mesmo correspondendo.
Sinceramente, eu não entendia nada! A imagem que tinha dela não correspondia a tudo o que ela estava me mostrando, e isso, para alguém que se julga um ótimo avaliador de caráter, era alarmante.
Já ao final do expediente da Karamanlis, entre 18h e 19h, recebi um e-mail de Viviane Lamour me convidando para uma conversa, pois, segundo ela, tinha coisas interessantes a me mostrar sobre meu irmão. Dei um sorriso cínico, pensando no que havia acontecido para que a mulher, que se mostrava tão resistente a me ajudar, tivesse mudado de ideia. Descartei a mensagem; já não me interessava mais, eu tinha conseguido coisa muito melhor para desgastar a imagem de Theodoros e sem a ajuda de ninguém, só dele mesmo.
Assim que ele voltasse da Grécia, o Conselho se reuniria, e essa história pesaria contra ele, desde sua obsessão por comprar um terreno para o qual não tínhamos cliente ou projeto em vista, à compra de uma promissória prestes a vencer para ser cobrada de um espólio e o envolvimento dele com a herdeira, que culminou no pedido para sobrestar a ação de cobrança, gerando, assim, prejuízo.
Theodoros fez tudo o que um diretor executivo não poderia fazer, misturar interesse pessoal com os da empresa. Exatamente o que Nikkós fazia e que lhe custou sua cabeça.
David bateu à porta de vidro da minha sala, e eu fiz sinal para ele entrar.
— Doutor, o levantamento das legislações que me pediu para a conta Ethernium. — Ele deixou uma pasta em cima da mesa. — Mandei uma cópia para o servidor também. O doutor precisa de algo mais?
— Não, David.
O advogado se despediu, e eu olhei para a pasta e decidi deixá-la em minha mesa lá na gerência de hunter. Enquanto ia, tentava me convencer de que não estava fazendo isso para ver a gerente esmagadora de bolas, que só queria deixar o documento junto aos outros que estavam lá e devolver os malditos óculos de sol que acabei levando comigo depois do beijo trágico no Trianon.
Não vou disfarçar que fiquei decepcionado quando entrei e não a encontrei na sala. A mesa estava em perfeita ordem, como ela costuma deixar, o caderno de anotações fechado em um canto, o computador desligado e sua cadeira encaixada debaixo da mesa.
Estranhei que ela tivesse saído mais cedo que o costume, deixei o documento e os óculos na mesa que usava e, quando ia sair, uma das recepcionistas tomou um susto ao me ver. Ela carregava um ramalhete de flores – em uma embalagem brega, cheia de corações – como se fosse uma preciosidade.
— Boa noite, doutor — cumprimentou-me sem jeito. — Acabaram de entregar para a Kika, mas, como ela ainda não voltou da reunião...
Ah, reunião externa!, pensei ao estender a mão e pegar o buquê. A diaba vai voltar!
— Pode deixar, que eu mesmo entrego; provavelmente ainda estarei aqui quando ela retornar.
A moça sorriu.
— Ah, obrigada! Eu já preciso ir embora, então ia deixar na mesa dela.
— Pode ir tranquila, eu mesmo entrego.
Fechei a porta praticamente em sua cara e fiquei analisando o arranjo. Eu não entendo nada de flores, muito menos de rosas, afinal, para quem eu mandaria algo assim?
Cheirei as rosas, mas retorci o nariz por me lembrar do velório de minha avó materna, quando eu ainda era criança. Joguei o buquê de qualquer jeito em cima da mesa dela, então vi o pequeno envelope branco colado com durex na embalagem cafona e o puxei para ler.
Eu sei que vocês vão dizer: ei, doutor, ler correspondência alheia é falta de educação, além de ser crime! Foda-se, o envelope nem estava lacrado, então não houve violação, só indiscrição mesmo.
Li a mensagem deixada por um tal Vinícius e lembrei que ela me disse, no chat online, que tinha ido para uma festa com o vizinho, mas que não se sentira atraída. Ergui a sobrancelha e abri um sorriso, em um deboche competitivo cheio de testosterona, lamentando a perda de dinheiro e de tempo do meu companheiro de gênero.
Se fodeu, vizinho!
Já tinha colocado o bilhetinho de volta no envelope e estava tentando voltar a colá-lo na embalagem quando ouvi um barulho na porta e, na pressa, joguei-o no meio das flores.
Enfim, penso ao beber mais um gole do bourbon barato e de má qualidade, o resto foi o pandemônio que vocês já sabem. Perdi a cabeça, trepei com uma colega de trabalho e acabei descobrindo que ela era uma virgem mentirosa que gostava de “tirar sarro” com a cara dos outros pela internet.
Uma gerente de alto nível, com 30 anos de idade, virgem! Seria uma situação até engraçada se não tivesse me feito revisitar um dos piores infernos do meu passado e, de quebra, me deixado com uma dor do caralho no saco por não ter gozado.
Parabéns, Wilka Maria!
Ergo a garrafa em um brinde a ela, pois conseguiu me levar a nocaute novamente e, dessa vez, nem precisou do joelho!
Estou tremendo, sem entender o que aconteceu aqui nesta sala, sentindo-me desconfortável por ainda estar sentada em cima da mesa. Olho para baixo e vejo a calcinha rasgada no chão, pétalas de rosa por cima dela, e um cheiro estranho em todo o ambiente.
Passo a mão nas minhas costas e sinto as plantas agarradas nela. Fecho os olhos, e as primeiras lágrimas caem silenciosas, pois não consigo me mexer. Nem sei quanto tempo se passou desde que Kostas saiu desta sala batendo a porta, correndo como se eu fosse um monstro.
Encolho as pernas, apoiando os pés no tampo da mesa e me abraço. Os dentes batem forte um no outro, tento parar de tremer, reorganizar os pensamentos, mas não dá. Não consigo entender o que aconteceu!
Se um dia alguém me perguntasse como eu gostaria que fosse minha primeira vez, certamente eu não iria descrever o que acabou de acontecer. Não seria de forma desvairada, em cima de uma mesa e sem nem tirar a roupa. Eu realmente gostei de ter minha calcinha arrancada e rasgada, gostei de sentir o desespero dele, porque também era como eu me sentia, mas o final, a reação dele ao fato de eu ser virgem, desconsertou-me.
Estava tudo indo tão bem, mesmo depois da dor, eu queria continuar, estava com o corpo ainda excitado pelo jeito que ele usara o seu próprio para me fazer gozar e queria mais, queria conhecer o que era o prazer que inebria tantas pessoas nesse mundo, e ele era o homem que meu desejo escolhera, era aquele que me fazia sentir e ansiar. Eu queria Konstantinos Karamanlis desesperadamente. Por isso, assim que vi seu rosto pálido e seu olhar de assombro, percebi que algo de errado estava acontecendo.
A princípio pensei que o susto no rosto dele fosse algo normal, pois não lhe contei que ele estava lidando com uma virgem de 30 anos de idade. Ele nunca iria imaginar, e eu não posso culpá-lo por não ter adivinhado. Kostas não me machucou de propósito, pelo contrário, não me penetrou assim que tirou minha lingerie, antes brincou com meu sexo e me fez estar preparada para recebê-lo.
Foi muito bom e prometia ser além de todas as minhas expectativas, mas agora sinto como se um enorme buraco tivesse sido aberto dentro de mim. Um vazio tão grande, o sentimento de rejeição, de abandono que não tenho como preencher com nada, nem mesmo com minha indignação.
Quero xingá-lo, amaldiçoá-lo, cuspir em sua cara e estapeá-lo até que me diga o motivo pelo qual me tratou desse jeito. Não consigo entender o que houve para que ele ficasse tão transtornado!
Respiro fundo várias vezes, tentando me acalmar. Seco o rosto com as mãos e desço da mesa. A pontada dentro de mim me lembra de que não sou mais a mesma. Mesmo que seja só uma questão anatômica, faz-me pensar em tudo o que poderia ter sido e que, por causa dessa condição, não foi.
Tento não pensar sobre isso, quero sair da sala o mais rápido possível, tomar um banho e me livrar do cheiro insuportável de rosas que impregnou meu corpo. Quero me livrar da sensação do corpo dele no meu, mesmo aquela que foi deliciosa.
Pego o que restou da calcinha e a jogo dentro da minha bolsa, que também resgatei do chão. Ajeito meu vestido, olho para o buquê amassado e as rosas despetaladas em cima da mesa e sinto o estômago embrulhar.
Junto tudo, limpo a mesa e sigo para o banheiro.
Meu rosto marcado pelas lágrimas me encara diante do espelho. Jogo as rosas no lixo, embrulho a calcinha em papel higiênico e faço o mesmo. Só então olho para o meu corpo. O vestido amarrotado não é nada perto das coxas pegajosas.
Sempre carrego lenços umedecidos na bolsa, então uso-os para me limpar e poder vestir a calcinha extra que também levo comigo para eventuais acidentes. Não vejo sangue, fato que me deixa aliviada, pois sempre imaginei que, quando perdesse a maldita virgindade, ele jorraria pernas abaixo, de tão antigo que estava o hímen lá, intacto.
A umidade que senti nas coxas era minha própria lubrificação e, talvez, a dele. Que loucura! Além do local impróprio, da correria, ainda íamos transar sem nenhuma proteção. Jogo água no rosto e me pergunto onde estava com a cabeça.
Nunca fui imprudente ou irresponsável em minha vida e, nesta noite, ignorei tudo isso por uma paixão avassaladora que resultou em mais uma ferida dentro de mim. Rejeição! O meu maior medo desde que percebi que o tempo tinha passado e eu continuava virgem. Uma virgem de 30 anos de idade!
Por que ele me rejeitou? Choro, soluçando, sem conseguir me conter. Sexo sempre foi uma questão tensa para mim, uma trava, uma vergonha que me fazia mentir e esconder que nunca tinha experimentado. Eu brincava sobre o assunto, criava fantasias tiradas de algum livro, escondia-me atrás de um personagem que inventei para mascarar meu medo.
Eu enxerguei o sexo como algo sujo por muito tempo. Sujo, doloroso, errado. Quando comecei a namorar, na adolescência, percebi que, ao contrário do pessoal da minha idade, eu não tinha a mínima vontade de ter minha primeira experiência, e, por isso, o relacionamento não deu certo. O garoto queria transar comigo, e eu sempre negava.
Depois, já na faculdade, eu comecei a sair com um homem e já logo o avisei que teria que ter paciência, pois não estava pronta para ir para a cama com ele. Foi aí que comecei a terapia, depois de fazer vários exames hormonais a fim de entender minha falta de libido e nenhum ter mostrado problema, e tentei entender o que acontecia comigo.
O Dado, meu namorado na época, foi superpaciente comigo e acompanhava o tratamento de perto, sempre querendo saber se podia fazer algo para ajudar. Um dia, depois de eu chegar da terapia um tanto desanimada, ele me consolou dizendo que não se importava com sexo, pois o que valia de verdade era o amor que sentíamos um pelo outro. Naquele momento, percebi outro fato alarmante sobre mim: eu não estava apaixonada.
Eu nunca tinha estado apaixonada por ninguém!
Terminei o namoro – não era justo ficar com alguém sem corresponder o sentimento – e tentei me entender antes de entrar em outro relacionamento, e o tempo passou sem que isso me incomodasse, sem que eu tivesse encontrado alguém que me fizesse querer mais do que beijos e abraços.
Entrei no estágio na Karamanlis, conheci tanta gente bacana, inclusive um rapaz da TI que vivia dando em cima de mim, e a as meninas ficavam botando pilha para eu ficar com ele. Ficava apavorada apenas com a possibilidade de que todos descobrissem que eu era virgem, afinal, já tinha 25 anos, era independente e não poderia explicar meus motivos sem me expor.
Foi aí que nasceu a personagem descolada, que não se prendia a ninguém e que tinha horror a relacionamentos amorosos. As meninas se divertiam com minhas aventuras sexuais. Era prático, eu saía à vontade com elas, avaliávamos os boys, falávamos besteiras, elas não tentavam me empurrar para ninguém na empresa, e eu não precisava inventar um namorado que um dia elas iriam querer conhecer.
Jane, a minha terapeuta, nunca aceitou esse jeitinho que dei, pois disse que só arrumei mais uma forma de me esconder do problema, mas eu estava confortável com isso.
Até conhecer Portnoy, embarcar com ele nas fantasias que sempre gostei de inventar, e o Kostas começar a me atrair.
Eu sempre notei e admirei homens gostosos! Isso nunca foi falso ou fingido. Um dos motivos pelo qual descartei a possibilidade de ser lésbica – porque pensei nessa possibilidade – foi exatamente por homens bonitos e gostosos chamarem minha atenção. Eu achava Theodoros Karamanlis um charme; Kostas, deliciosamente sexy; Millos, misterioso de um jeito que faz qualquer uma imaginar coisas sujas para ele; e Alex, do tipo para casar, com aquele rosto lindo e sorriso doce.
Isso sem contar os outros homens que já apareceram aqui na Karamanlis e que deixaram as meninas babando, inclusive eu.
Porém, nunca senti meu corpo responder eroticamente a nenhum deles, exceto ao Konstantinos. Justamente com ele meu tesão aflorou, e agora estou na merda, sem saber como vou conseguir conviver com ele depois disso tudo.
Peço um Uber para casa e, no caminho, mando uma mensagem para a Jane pedindo uma consulta urgente, e ela responde que me atenderá amanhã na hora do almoço.
Sinto-me apavorada apenas por pensar em como será enfrentar Konstantinos amanhã, e é assim que Verinha me encontra, no saguão do prédio onde moramos.
— Armaria11, o que houve? — ela me pergunta antes mesmo de me cumprimentar.
— Nada... — Tento sorrir, mas meus olhos se enchem de lágrimas.
— E eu sou cega, oxe?! — Puxa-me para dentro do elevador e me abraça. — Eu estou aqui, Kika, pode contar comigo para o que precisar. Se não quiser falar, não fale, mas pode usar meu ombro ou meus braços para se sentir melhor.
Eu soluço, mesmo tentando me conter. Nunca gostei de contar meus problemas a ninguém a não ser para a Jane. Sempre me senti mal por lamentar algo, ingrata ou mesmo dramática, mas dessa vez preciso de alguém para me consolar, para estar ao meu lado.
Chegamos ao nosso andar, e ela abre a porta do meu apartamento com sua cópia da chave. Kaká pula em minhas pernas, e eu o abraço. O cachorro percebe meu estado de ânimo e, ao invés de toda a festa que sempre faz, fica quietinho, dando-me lambidas esporádicas como quem faz um carinho de consolo.
— Vou passar um café enquanto você toma um banho e põe um pijama bem confortável, visse? — Ela praticamente me empurra para o quarto. — Chore o quanto precisar, Kika, o chuveiro leva embora as lágrimas e ajuda a amenizar qualquer dor.
— Obrigada, Verinha.
Ela assente e aponta para o banheiro.
Faço exatamente o que ela sugere e me enfio debaixo da água morna, deixando o pranto rolar sem nenhuma trava, expondo meus sentimentos a mim mesma e rasgando o peito. Estou magoada, confusa e com raiva. Tenho vontade de gritar, de bater, ao mesmo tempo em que quero me encolher como uma bola e ficar em algum cantinho, quieta.
Sinto ainda os efeitos do toque dele em mim, de seus beijos, do desespero de sua respiração, o orgasmo causado pela fricção de seu pau no meu clitóris. Tudo tão perfeito como sempre imaginei que sexo seria, mesmo em uma rapidinha descontrolada. Porém, então vem à mente a lembrança do jeito como ele se afastou, eu tentando ainda suavizar a situação, fazer graça mesmo estando confusa e com medo de sua reação.
O olhar dele mudou, seu rosto parecia transtornado, e, ao mesmo tempo em que estava ali comigo, parecia estar longe, vendo coisas, culpado e enojado por ter me desvirginado.
Saio do banho e ponho um pijama fresco e antigo, um dos últimos presentes de mamãe que ainda tenho. É como se eu pudesse sentir seu abraço, como gostaria de receber se ela ainda estivesse aqui.
— Beba! — Verinha me estende uma xícara, e eu provo o líquido quente e cheio de álcool.
— O que você pôs aqui? — pergunto fazendo careta.
— Conhaque. — Mostra-me a garrafa. — Fui lá em casa deixar o Kaká brincando com o Ferdinando e peguei a bebida. Vai ajudar. Bebe tudo.
— Já estou melhor. — Tento sorrir e me fazer de forte. — O banho realmente ajudou.
— Tenho certeza que sim, mas beba! — Ela serve-se de uma dose e a toma, dispensando o café. — Não importa o que houve lá no seu trabalho, quero que saiba que nunca conheci alguém tão focada e responsável quanto você.
Sorrio pelas palavras e agradeço.
— Não foi o trabalho, não se...
— Ah, puta que pariu, foi aquele nojento do Konstantinos? — ela dispara, pois já contei a ela das brigas épicas que tivemos. — Tenho abuso daquele homem!
— Eu não sei o que aconteceu — confesso. — Ainda estou confusa com tudo.
Fungo alto, soluço, e ela se senta ao meu lado. Conto tudo para ela, desde quando comecei a me sentir atraída, até a saída repentina dele da sala após termos quase feito sexo em cima da minha mesa.
— Eu vou capar aquele filho de uma égua! — ela diz nervosa. — Ele te machucou muito? O babaca deveria ter sido cauteloso e...
— Não, Verinha, não posso ser injusta. Ele não sabia, como eu disse, e não podia adivinhar, afinal, quem se mantém virgem na minha idade? Apesar da dor, que foi natural, eu o quis tanto que o tesão não me deixou raciocinar e pedir a ele que fosse devagar, eu tinha pressa! — Mesmo magoada, ainda sinto meu corpo reagir só por me lembrar de como nos atracamos como loucos dentro da sala. Suspiro. — Eu só não entendo a reação dele quando percebeu que eu era virgem.
Ela concordou e pegou minha mão.
— Por quê, Kika? Por que nunca transou com ninguém?
Dou de ombros, sem querer entrar em detalhes.
— Não me sentia pronta e nem tão atraída por alguém quanto me sinto por ele.
— Se sente pronta agora? — franzo a testa, sem entender a pergunta. — Ele é um babaca por ter reagido daquela forma, não deixe que isso te afete a ponto de pensar que todos os homens são assim. Você gostou antes de ele surtar, lembra? — Concordo. — Está pronta para encontrar um homem de verdade, que saiba fazer gostoso, sem afobação, que te dê o dobro de prazer que ele e ainda não reaja como um puto.
— Não tenho mais nada para assustar alguém e que denuncie que me tornei uma balzaquiana virgem e estranha — tento fazer graça, mas sai tão sentido que ela me abraça.
— Não deveria assustar. Se fosse um homem que valesse à pena, se sentiria privilegiado. Ele é um covarde!
Concordo com ela, mas ainda sinto mágoa e insegurança.
— Verinha, acha que ele surtou porque sou inexperiente e não o...
— Não seja lesa, rapariga! O homem mal conseguiu se conter ao seu lado e, mesmo depois de ter ficado cheio de melindre, ainda estava excitado, não foi? — Concordo. — Ele que tem algum problema, Kika, não você.
Verinha tem razão sobre isso. Mesmo se afastando, eu pude ver o quanto ele estava excitado, então não foi a falta de tesão que o fez reagir daquela forma. O que será que aconteceu com ele?, pergunto-me mais uma vez.
— Acho que você não tem com o que se preocupar agora. — Ela leva a minha xícara, vazia, para a pia. — Tem uma porção de caras legais que adorariam uma chance com você. — Sorri. — Inclusive conheço um que quase lambe o chão que você pisa e é um gostoso.
Nego.
— Verinha, eu não...
— Uma experiência de verdade para apagar essa “meia-boca” que você teve. — Pisca. — É o que você precisa para desencanar e seguir em frente. — Beija minha testa. — Vou buscar o Kaká para te fazer companhia. Vá descansar e acorde amanhã linda e brilhante como você é, visse?
Agradeço e, quando ela sai, pego meu amuleto dentro da carteira, apertando-o com força em minha mão antes de beijá-lo.
Seu sorriso é capaz de iluminar qualquer escuridão!
O som alto de Indifference12 me acompanha enquanto bebo mais uma dose de bourbon e abro o segundo maço de cigarros. De vez em quando canto junto à música, mas na maioria do tempo apenas a ouço enquanto bebo até cair, fumo até achar um pouco de prazer e acabo desmaiado no tapete da sala.
Estou há dias assim, desde que saí de São Paulo ainda desnorteado com o que aconteceu entre mim e Wilka e vim parar no imóvel que só uso raramente, geralmente em minhas férias, a pouco mais de 100 quilômetros da capital paulista, em uma pacata cidade na serra.
Vim para cá para fazer cessarem as lembranças e minha autodestruição ao visitar um local que evocava meus fantasmas. Não pensei muito, é verdade, apenas quis correr para me refugiar e buscar de novo um falso equilíbrio que mantém toda minha precária estrutura em pé.
Eu precisava me reestabelecer, mas, como já sei de cor, há muitos anos, não importa quão longe eu tente correr ou mesmo me esconder, os demônios sempre dão um jeito de me encontrar para cobrar sua tortura.
Não adiantou vir para cá! Fiquei apenas isolado do mundo – aqui não tem telefone, nem sinal de celular ou internet – e cheio de merda na cabeça. Tive pesadelos todos os dias, não consegui trabalhar, apenas mergulhei de cabeça na bebida até que ficasse inconsciente, mas, ainda assim, os sonhos voltavam.
Abandonei a Karamanlis em um momento em que deveria aproveitar a oportunidade, de estar sem Theo e Millos, para mostrar meu trabalho e começar a conquistar a confiança do Conselho e fodi com a melhor chance que já tive. Abandonei o projeto da Ethernium e, principalmente, abandonei, como um rato amedrontado, Wilka Maria.
Precisei desses dias longe para começar a questionar e a tentar avaliar tudo o que eu sabia da gerente marrenta e da Caprica sedutora e tentar encaixar à mulher quente, segura e virgem que eu descobri na segunda-feira à noite. Por mais que eu tente unir todos os pedaços que já me mostrou, não consigo completar uma imagem nítida dela.
Quem, afinal, é a mulher que me fez perder a cabeça? Por que se manteve virgem? E a pergunta principal: por que eu?
Tudo o que aconteceu me deixou muito confuso, além de ter trazido de volta coisas que eu gostaria de deixar para sempre enterradas no passado. Permiti-me usufruir de uma experiência que não tinha – ter relação sexual com uma conhecida – e acabei caindo nesse imbróglio todo.
Wilka Maria sempre foi capaz de me tirar do prumo, fosse me irritando a ponto de demonstrar como estava me sentindo – o que eu evito fazer a qualquer custo – ou me deixando louco de tesão, agindo sem pensar e contra tudo aquilo que estipulei para mim mesmo.
Trepar em uma mesa de escritório da Karamanlis? Nunca pensei que pudesse fazer algo assim, mesmo que fosse uma transgressão, e eu adorasse transgredir regras. Trepar sem nem me lembrar da porra da camisinha? Eu como putas! Nunca, em tempo algum, eu meti sem proteção, nem sei como é!
Gemo ao me lembrar da sensação da minha carne dentro da dela sem nada entre nós. Chego a estremecer recordando a sensação de calor, a umidade que envolveu meu pau e a pressão de uma boceta nunca explorada. Nada do que eu vivi até hoje pode ser comparado àquilo, nada!
— Caralho! — xingo ao sentir meu pau ereto e dolorido, como vem acontecendo todas as vezes que relembro a experiência com Wilka.
Eu ainda estou puto por ela ter omitido que era virgem e me deixado ser o primeiro. Não entendo o motivo que a levou a isso, se achou que sua virgindade iria me prender de alguma forma, fazer com que eu me sentisse responsável por ela ou se perdeu a cabeça como eu e estava tão fora de ar de vontade que se esqueceu de sua condição.
Repasso todos os momentos, tentando enxergar se, em algum instante, ela tentou me parar ou me avisar, mas tudo o que me vem à cabeça é a loucura, o desespero, o orgasmo e seus gemidos.
Fecho os olhos, cada vez mais confuso.
Eu me afastei, em partes, para evitá-la, pois, no calor do momento, fiquei tão puto que pensei que não iria mais querer olhar para ela. Mais uma vez me surpreendi, pois, três dias depois do ocorrido, estou aqui, no meio do mato, no meu santuário, dividido entre a vontade de esquecer o que aconteceu e de trepar com ela direito, até o fim, ensiná-la, conduzi-la ao prazer e receber em troca mais gemidos.
A verdade que estou tendo que encarar neste momento é que, mesmo que o sexo com ela tenha ressuscitado meus demônios, continuo querendo-a, cheio de tesão por aquela mulher tão confusa, que ainda não decifrei, mas que faz meu pau se contorcer de vontade.
Começo a rir como um louco bêbado quando She Talks to Angels13 começa a tocar e, como se fosse preciso de algo para me lembrar dela, penso em Wilka Maria, sua ironia afiada, inteligência aguçada, sensualidade e inocência.
Porra, eu estou muito fodido!
Canto alto, largado no tapete da sala, a lareira apagada e várias garrafas de bourbon vazias espalhadas pelo chão. Não me lembro de ter comido algo além de algumas bolachas velhas que estavam no armário, não sei quantos maços já fumei, e o álcool é o que tem me alimentado esses dias.
Foda-se!
— She don't know no lovers, none that I've ever seen. Yes, to her that ain't nothing, but to me it means, means everything.14
O som de repente para, e eu olho para o aparelho e quase engasgo com a bebida ao ver Millos parado lá com expressão assustada, olhando a zona na qual eu me encontro.
— Mas que porra está acontecendo aqui?! — pergunta.
Eu gargalho pela minha desgraça, pois tudo o que não precisava era de plateia para meu momento mais patético.
— Vá embora, ninguém te chamou aqui! — Tento me levantar, mas cambaleio e caio de volta ao chão.
— Você tem noção da merda que fez? — Millos se aproxima, e eu seguro a respiração.
Porra, ela contou para alguém na empresa?!
— Não quero falar sobre isso! — rebato. — Nunca se envolva com uma virgem, elas fodem com a gente!
O silêncio de Millos me faz voltar a cabeça em sua direção para encará-lo. Vejo-o pálido e com os olhos arregalados. É, seu puto, você também reagiria como eu, eu sei!
— Do que você está falando, Kostas? — sua voz parece falhar.
— Da merda que fiz, porra! — Deito-me no tapete, bêbado demais para me manter sentado sem apoiar as costas. — Eu não pensei que ela tornaria isso público, mas sei que foi uma puta merda ter trepado no escritório da empresa com uma funcionária. — Rio. — Isso se der para considerar uma botada, tão rápida como um meteoro, como uma trepada.
Escuto o som dos coturnos de Millos no chão de madeira e o acompanho com os olhos até ele se sentar no sofá com expressão cada vez mais confusa.
— Você e a Kika Reinol treparam? — sua entonação completamente surpresa me faz perceber que nós dois não estávamos falando do mesmo assunto. Caralho!
Começo a gargalhar como um louco, levanto os braços para tampar meu rosto, mas acabo levando um banho de uísque, o que me faz rir ainda mais. Sabia que a bebedeira afetava a coordenação e os reflexos, mas é a primeira vez que me deixa burro.
— Você não sabia! — constato o óbvio em voz alta.
— Claro que não! Como iria saber? — Ele se joga contra o encosto do sofá. — Mano, você faz tanta merda que nem sabe a qual eu estava me referindo!
Dou de ombros, pois concordo. Sempre fui um merda fazedor de merdas!
Millos pega uma das garrafas ainda cheias e bebe, no gargalo mesmo, um gole do bourbon. Não falamos mais nada, eu, preso nos pensamentos que ainda me assombram e confundem, e ele, talvez, digerindo o que acabei confessando.
— Você foi um filho da puta com seu irmão — ele começa, e eu bufo, não acreditando que ele invadiu meu santuário para falar do Theodoros. — Estou recebendo diariamente queixas dos conselheiros sobre ele, além de um pedido de auditoria geral sobre sua conduta.
Sorrio.
— A melhor notícia dos últimos tempos!
— Porra, Konstantinos, larga de ser um garoto birrento e pensa no que isso pode acarretar para a empresa! — percebo preocupação em sua voz. — Já pensou se essa merda toda vaza e vai parar na imprensa? Estamos fechando um negócio gigante, não podemos ter nosso nome manchado, mesmo que por suposições!
— Foda-se!
É claro que eu pensei nisso tudo, afinal, na época em que os escândalos e as merdas de Nikkós apareceram, as ações da Karamanlis foram ao chão, mas conseguimos nos reerguer e, se isso acontecer mais uma vez, daremos a volta por cima de novo.
— Às vezes me sinto como se fosse um professor de jardim de infância, cuidando das brigas de vocês. Já estou sem paciência para isso e tenho coisas mais importantes a fazer do que ser babá de um monte de adulto infantilizado! — sua fala me surpreende, pois ele, apesar de sempre defender a paz entre os irmãos Karamanlis, nunca se mostrou tão estressado por ser mediador dos nossos conflitos.
— O que você veio fazer aqui, Millos? — pergunto, tentando manter o mínimo de sobriedade para conversar.
— Cheguei a São Paulo hoje e descobri que a empresa está sem comando desde terça-feira, pois Theodoros viajou, e você sumiu. Liguei para seu telefone, mandei mensagem, fui até seu apartamento, e nada! O porteiro disse que você não tinha retornado e, além disso, um carro da empresa sumiu, e o vigia da garagem disse que você tinha saído com ele na segunda-feira à noite — relata. — Como pensa que fiquei? Porra, achei que tinha acontecido alguma merda e, por sorte, antes de começar a acionar a polícia e o caralho a quatro, decidi vir até aqui.
— Só te esperava na empresa na segunda-feira da próxima semana.
— Então agradeça por eu ter voltado cedo, porque a empresa parecia um caos! Os seus advogados, todos “baratinados”, os hunters, atolados, precisando de algum tipo de documento que você ficou de apresentar a eles, e as decisões gerais da empresa, paradas, pois nenhum dos três diretores principais estavam presentes. — Ele respira fundo. — E que história é essa com Kika Reinol?
— Esquece... — tento encerrar o assunto, mas conheço-o bem demais para saber que ele não deixará por isso mesmo.
— Não! Konstantinos Karamanlis tendo um caso com uma funcionária? E o mais alarmante: com Kika Reinol, seu desafeto público? — Ele ri.
— Não estou tendo um caso, porra! — Irrito-me. — Eu não tenho casos! Eu só perdi a cabeça e... Ela é a Caprica, você acredita nisso?
Escuto-o gargalhar.
— Vocês finalmente marcaram um encontro e, por isso, descobriram a identidade um do outro?
Nego.
— Eu descobri; ela não sabe. — Soluço em efeito à bebida. — Eu comecei a me sentir atraído por ela, estranhei e tentei não dar atenção a isso, mas, quando descobri que ela era a Cabritinha, não deu. — Gargalho. — A mistura da executiva esquentadinha com a ninfa do sexo online me fodeu a mente.
Millos assente.
— E o que aconteceu que te deixou assim? — Ele aponta para minha roupa, a mesma que uso desde segunda-feira, e meu estado lastimavelmente bêbado.
— Descobri que, além de executiva e ninfa da sacanagem, ela também era uma virgem!
Millos arregala os olhos.
— Kika Reinol virgem? Tem certeza disso?
Rio ironicamente, ainda me lembrando da barreira e da pressão que senti quando ela cedeu.
— Absoluta. — Fecho os olhos para não me lembrar de seu grito de dor, pois ele sempre me leva de volta aos meus pesadelos.
Millos se levanta do sofá, abandona o bourbon e tenta me erguer do chão.
— Vou te pôr no banho; você está fedendo!
Eu rio de mim mesmo.
— Eu sou um escroto, Millos. — Ele concorda. — Eu sempre soube que não deveria mudar as regras do jogo. Eu sou uma fraude, um pulha, um filho da puta cheio de merda e escuridão e não posso, de jeito algum, me envolver com alguém como ela.
Meu primo, que já tinha começado a me arrastar em direção ao banheiro, para.
— Porra nenhuma! Larga dessa merda! O que aconteceu no passado foi pesado, mas já passou! Olhe para a frente!
Gargalho sarcasticamente.
— Você consegue olhar? — pergunto, e ele bufa. — Já conseguiu superar tudo o que você viu e viveu naquela casa?
— Não estamos falando de mim, Kostas — responde seco. — Nunca entendi essa coisa de só trepar com prostitutas, mas, como eu também tenho minhas preferências, nunca questionei. — Millos me encara. — Você nunca tinha feito sexo com ninguém que conhecesse; isso significa, então, que Kika Reinol vira sua cabeça de um jeito que não pode controlar. Isso é bom.
— Bom? É um tormento! — Chego ao banheiro e, enquanto ele abre o chuveiro, vou tirando a roupa. — A mulher me irrita, me excita, me confunde a tal ponto de me fazer ter vontade de esganá-la e de fazê-la gozar ao mesmo tempo.
— Sempre prefira dar prazer, mesmo querendo causar dor. — Ele se afasta para que eu entre no banho.
Nunca entendi bem o que ele faz na intimidade; embora falemos de tudo, nesse quesito de sua vida, Millos é uma incógnita. Sei que frequenta alguns clubes e que não se envolve com ninguém também, tem casos esporádicos, mas nunca os revela.
Ele tem uma amiga de muitos anos, e eu sempre desconfiei que rolasse algo entre eles, mas nunca tive nenhuma evidência. Sempre pensei que ele fosse um tipo de dominador que curtia sadomasoquismo. No entanto, pelo pouco que sei sobre o que passou, é impossível imaginá-lo com um chicote na mão.
— Não vai acontecer de novo — informo, voltando a pensar em Wilka.
— Por que não? Perdeu o tesão quando descobriu que ela era virgem?
Nego.
— Isso fodeu minha cabeça, você pode imaginar. — Ele assente. — Mas não, mesmo depois de ter ficado desse jeito, de ter revivido um dos piores momentos da minha vida, ainda quero estar dentro dela.
Millos vai até a pia e lava o rosto, enquanto eu deixo a água cair sobre minha cabeça para, quem sabe, voltar à racionalidade.
— Eu a machuquei — confesso, sentindo meu corpo inteiro tremer ao pensar nisso. — Vi em seu rosto que ela sentiu dor, e seu grito foi como se uma faca se enfiasse em mim. Eu não fazia ideia; se soubesse, não teria me aproximado dela.
— Eu sei — Millos diz apoiado na pia, de costas para mim. — Somos fodidos demais e temos medo de contaminar um inocente. Kika pode ser uma executiva segura de si, mas, nesse aspecto, é inexperiente e deve ter ficado assustada quando você surtou em cima dela. — Ele me olha pelo espelho. — Por que, pela forma como te encontrei aqui, você surtou, não foi?
— Abandonei-a lá, em cima da mesa, sem dizer nada. — Soco a cabeça contra a parede do banheiro. — Era como se eu estivesse lá de novo!
— Eu sei, Kostas, mas ela não sabe. Não é comum uma mulher da idade dela, independente como é, não ter tido experiências sexuais. Ela tem algum motivo para isso, e sua reação pode tê-la traumatizado.
Tento continuar indiferente, o rosto sem nenhuma expressão, mas, dentro de mim, dou razão a ele e temo por ela. Não queria quebrá-la como eu sou quebrado, não tinha intenção alguma de contaminar ninguém com minha podridão e, infelizmente, isso pode ter acontecido.
— Não tive a intenção de machucá-la, embora o tenha feito de muitas formas. Isso não me isenta da culpa, nem ameniza o que eu possa ter causado a ela, mas reforça que devo me manter longe, mesmo que ainda sinta atração.
Millos pensa por um momento e depois concorda.
— Sim, vamos esperar que essa experiência ruim não a impeça de encontrar alguém que mostre, ensine e compartilhe com ela o prazer de verdade, e ela esqueça a foda dolorosa e incompleta que teve com você. Talvez o que a travava era o constrangimento de ainda ser virgem. Isso ela não é mais, então pode aproveitar bastante agora e realizar todas aquelas fantasias sujas que criava com você no aplicativo.
Não consigo me conter e arregalo os olhos ao pensar nisso. Wilka não é tão inocente quanto eu a estou vendo, apesar de sua virgindade. Ela ficou, por mais de um ano, contando-me suas fantasias e compartilhando comigo todas as suas vontades. Pensar que ela fará isso com outro daqui para frente me causa uma estranha sensação de posse e uma enorme vontade de socar a cara do Millos por falar disso.
— Bom, a relação profissional de vocês já não era boa, então ninguém vai estranhar que se evitem daqui para frente e que ela não lhe dirija mais a palavra. — Millos dá de ombros. — Você continua com suas putas, e ela, descobrindo novas experiências. É perfeito. — Sorri. — Acho que você, na verdade, fez um favor para ela.
Reconheço o joguinho dele. O filho da puta é uma raposa sorrateira na hora de manipular alguém, porém, eu o conheço o suficiente para não cair em suas armadilhas.
— É verdade! — Sorrio, como se ele tivesse me aliviado depois dessa constatação. — Sinto-me bem melhor agora!
— Então podemos voltar para a Karamanlis amanhã de manhã. — Seca as mãos e caminha para a saída do banheiro. — Esse seu chalé nas montanhas é até interessante no inverno, mas, em pleno verão, isso aqui lembra uma sauna!
O banho me faz sentir melhor, e eu levanto uma das minhas sobrancelhas para ele.
— Não o mandei vir atrás de mim!
— Não precisa demonstrar tamanha gratidão, tenho certeza de que faria o mesmo por mim. — Sorri, maléfico. — Não que eu, um dia, vá fazer metade das merdas que você faz.
— Vai se foder, Millos! — grito antes de ele fechar a porta do banheiro.
É hoje!, penso nervosa ao conferir as horas, saindo da fila do Starbucks, carregando a bolsa extra que trouxe para a empresa por causa do encontro que terei mais tarde.
Há anos não saio com um homem interessado em mim, então acho que posso estar enferrujada. Verinha diz que isso é meu medo falando, e talvez seja, mas essa constatação não diminui em nada meu nervosismo e ansiedade.
Chego à empresa e, como sempre, converso com as meninas da recepção antes de subir, depois vou parando para cumprimentar cada funcionário da Karamanlis que encontro, desejando bom trabalho e, hoje, comemorando a chegada do final de semana.
— Ei, Kika, vamos para uma happy hour no final do expediente? — doutora Eleonora, do jurídico, convida-me assim que nos encontramos no corredor.
— Hoje não dá, mas vamos marcar para a semana que vem.
Ela assente e suspira.
— Ah, boas notícias, o chefão voltou. — Eleonora faz careta, e eu tento disfarçar minha reação.
— Ele está na sala dele ou na minha? — pergunto, coração disparado.
— Na dele, com Millos, que também retornou. — Ela levanta uma pasta para que eu a veja. — Já comecei a ser garota dos recados de novo! Vou lá, senão o homem vai me massacrar.
Despeço-me dela, mas continuo parada no corredor. Não me encontro com Kostas desde aquela noite estranha em que perdi a virgindade, e ele, a cabeça. Fiquei extremamente aliviada por não o ter visto na terça-feira; indignada por ele estar me evitando, na quarta; e um tanto preocupada quando soube que ele havia sumido, na quinta-feira.
Em todos esses dias, uma só pergunta martelava minha cabeça: o que acontecera para que ele reagisse daquele jeito?
Volto a caminhar na direção da gerência e penso no quanto chorei abraçada ao Kaká naquela noite. Sentia-me magoada demais com tudo o que acontecera, confusa e triste. Na manhã seguinte, refiz-me, tomei meu banho, esmerei minha maquiagem, coloquei uma roupa que me deixava linda e poderosa e, quando vi a Verinha, ela abriu um baita sorriso.
— Rapariga, você está linda e plena! — Beijou-me. — É isso aí, deixou tudo no travesseiro e acordou para dar a volta por cima!
— Já passei por muita coisa na vida, Verinha; isso não me mata, só fortalece. — Afastei-me para que ela entrasse no apartamento no mesmo momento em que Vinícius chegava do trabalho, todo trabalhado na farda de bombeiro. — Bom dia! — cumprimentei-o. — Acabei de passar um café, aceita?
Ele fechou os olhos e abriu um enorme sorriso.
— Você é um anjo! — Entrou e cumprimentou a Verinha, que, além de estar com Kaká no colo, já havia se servido do café. — Fiz dois turnos seguidos, estou morto, e o café do Rancho é uma água de batata filha da puta!
Servi a bebida para ele e lhe ofereci biscoitos.
— Não, obrigado. — Bebeu. — Isso aqui é o suficiente para me abastecer até eu tomar meu banho e desmaiar na cama. — Verinha se afastou para a sacada, e ele pegou minha mão. — Você está linda! Gostou mesmo das rosas?
A lembrança do buquê fez meu corpo todo arrepiar por motivos diferentes. Primeiro, por evocar a delícia que foi com Kostas antes de ele descobrir sobre minha condição; segundo, pela outra recordação, triste, por ter jogado as flores fora, pois estavam todas amassadas.
— Obrigada, adorei. — Sorri. — Perfumaram demais meu escritório.
— Eu queria ter te enviado um convite também, mas ainda não sei se já posso dar esse passo. — Piscou. — Adoraria te levar para jantar qualquer dia desses.
Respirei fundo e pensei no que conversara com Verinha e em seu conselho de buscar novas experiências. Vinícius já provara que era um homem incrível, além de bonito e sedutor, então, por que não?
— Sexta-feira à noite estou livre. — Levei minha xícara até a pia. — Você estará de folga?
— Estarei, sim! — disse animado. — Fiz uns plantões extras para outro oficial, mas o meu é de quarta para quinta, depois disso estou de folga. Você quer mesmo?
Assenti, e ele comemorou, fechando olhos e vibrando.
— Podemos nos encontrar em algum local...
— Tem um restaurante novo. — Ele pegou o celular. — Vou mandar o nome e algumas fotos para você e, se gostar, faço reserva.
— Ótimo! — Ele me entregou sua xícara vazia. — Gosto de gente planejada como eu.
— Eu espero que você goste de muito mais coisas em mim do que só da minha organização. — Aproximou-se e me deu um beijo na testa. — Eu sou um homem de sorte por você ter aceitado jantar comigo, obrigado.
Fiquei sem jeito e, por isso, apenas sorri e agradeci quando Verinha apareceu com Kaká já em sua coleira. Comentei o horário, já estava um pouco atrasada, e todos saímos juntos do apartamento. Verinha foi comigo até o elevador, e Vinícius entrou em seu apartamento.
— Volta por cima! — minha vizinha comemorou. — É isso aí, amiga, dê em alto estilo! — Ela se abanou. — O homem é um tesão de farda!
Ainda estava rindo, lembrando-me dela, quando entrei na Karamanlis. A tensão da expectativa do encontro me deixou nervosa, diferente do que sou, e algumas pessoas perguntaram se eu estava bem.
Abri a porta da minha sala com medo do que iria encontrar, mas não havia nada além de lembranças da noite anterior. Konstantinos não estava lá. Trabalhei o dia todo, assustando-me a cada vez que Leo ou Rosi entravam sem bater à porta, mas fiquei aliviada quando terminou o dia, e não nos encontramos.
Nos outros dias, eu estava menos tensa, decidida a tratá-lo normalmente caso me procurasse, ensaiando uma fala leve e despreocupada sobre o que acontecera, porém, ele não apareceu.
Ontem ouvi, durante o almoço, que Kostas havia sumido. Ninguém tinha notícias dele, nem mesmo seu séquito de advogados, e, além de o diretor jurídico estar sumido, tinham encontrado sangue em um dos elevadores, o espelho quebrado, e um dos carros havia sido levado, tudo isso na segunda-feira à noite.
O pessoal já estava criando teorias, e a maioria achava que Konstantinos havia sido sequestrado. Foi aí que eu percebi que algo muito mais sério acontecera naquela noite quando ele descobrira que eu era virgem e que isso o fizera desaparecer todos esses dias.
Então, mesmo ainda magoada e com raiva, fiquei preocupada com ele, pois estava transtornado demais quando saiu de perto de mim e fugiu. Essa era a sensação que eu tinha, de que ele havia fugido de algo, mas do quê?
— Bom dia! — Leonardo me cumprimenta assim que entro. — Novidades! O Bostas voltou para a empresa, e o doutor Millos também! Ao que parece, o homem não foi sequestrado, embora ninguém possa explicar o dano e o sangue em um dos elevadores. Parece que ele apenas precisou de uns dias para descansar. — Leo chega perto para cochichar: — Embora o pessoal da central da fofoca tenha dito que a mão dele está com ferimentos.
— Bom, ainda bem que voltou. — Tento parecer indiferente ao que ele falou. — Precisamos acertar as viagens para conhecer os lugares para a Ethernium, e ele não indicou ninguém ainda para ir. Tomara que tenha voltado com disposição para trabalhar.
Lene me entrega uns arquivos, e, depois de cumprimentar a todos da equipe, começo meu dia de trabalho, ajustando o despertador para um horário um pouco mais cedo do que costumo sair, pois me arrumarei aqui mesmo na empresa para o encontro com o Vinícius.
Olho para a mesa do Kostas, ainda aqui na sala, e penso em sua mão machucada e nesses dias todos que ficou sem dar notícias.
O que houve, de verdade, naquela noite?
— Uau! — Carol exclama assim que eu saio do banheiro da gerência. — Você quer matar quem com essa roupa?
Faço careta e passo a mão pelo vestido.
— Está demais? — Dou uma volta completa para que ela avalie tudo. — Comprei-a em um impulso, depois de ver a foto do restaurante onde vou jantar. É um lugar novo, chique, culinária francesa e mesa reservada. Exagerei?
Ela nega e mexe em sua bolsa.
— Acho que podemos só fazer algo com seus cabelos. — Ergue uma chapinha tão minúscula que eu franzo o cenho, sem entender. — Ele é lindo liso, mas você sempre o usa assim; vamos ondular um pouco.
— Com chapinha?
Carol ri e liga o aparelho em uma tomada.
— Eu trabalhei em salão até conseguir esse estágio, então, pode confiar em mim, sairá daqui ainda mais linda do que está agora.
Sento-me na cadeira, olho o celular, e ela começa a ondular minhas madeixas. Vinícius já me mandou duas mensagens hoje, a primeira para confirmar, e a segunda para dizer que estava nervoso e que não saía para um encontro desde que ainda estava na Escola de Bombeiros.
Acho-o tão fofo que tenho receio de a atração entre nós não acontecer mesmo e eu o chatear. Sei que é só um encontro com um jantar, mas tenho certeza de que, ao final da noite, ele vai querer me beijar e, talvez, fazer sexo, e eu não sei se estarei no mesmo clima.
Vejo uma mensagem da Jane, confirmando a consulta para amanhã e me lembro da tarde em que fui ao seu consultório, contei-lhe o que havia acontecido, e ela, de maneira mais profissional e séria, deu-me quase o mesmo conselho que Verinha.
Seguir em frente!
— Pronto!
Carol desliga o aparelho e me estende um espelho pequeno, mas suficiente para eu ver a diferença que as ondas fizeram no meu rosto.
— Eita! — exclamo. — Quem é essa mulher bonita me encarando?
— Bonita, não! Você está de parar o trânsito! — Ela confere as horas. — Preciso ir, senão vou me atrasar para a faculdade. — Beija-me no rosto. — Divirta-se!
Agradeço-lhe seu trabalho e pego as sandálias de salto na sacola que trouxe para a empresa. Retiro meus scarpins de salto médio para colocar uns que me dão, pelo menos, mais uns 15 centímetros de altura.
Vou até minha sala, guardo a roupa com a qual trabalhei o dia todo, o sabonete e a toalha que usei para tomar banho e coloco um pouco de perfume.
Meu celular apita uma notificação, e eu corro até ele, esperando ser notícias de Portnoy. O homem disse que ia viajar. Eu achei que era desculpa, mas parece que era mesmo verdade, pois não respondeu mais nenhuma das mensagens que lhe mandei desde terça-feira.
Queria muito conversar com ele, não sobre Kostas, mas sobre um encontro entre nós. Não sei se pessoalmente a química que temos juntos online se confirmará, mas é algo que eu gostaria de tentar, mesmo porque, exceto Konstantinos, apenas ele mexeu comigo a ponto de me atrair.
Talvez, transando com Portnoy e tendo um pouco do que sinto quando apenas me masturbo para ele, consiga abandonar Konstantinos e aquela primeira vez tão esquisita.
Infelizmente, não é meu amigo virtual, mas sim Verinha, desejando-me boa sorte com Vinícius e reforçando que eu não tenho que fazer nada que não queira, que somente tenho de curtir o momento e deixar acontecer naturalmente.
— Esse é o plano, minha amiga — respondo para mim mesma e digito uma mensagem para ela.
Antes de sair para o corredor que divido com a diretoria jurídica e o único acesso para os elevadores, penso que Konstantinos me evitou o dia todo. Mandou e-mail avisando que David voltaria a assumir a frente da conta e que tudo deveria ser resolvido com o advogado e pediu para pegarem as coisas dele depois do almoço.
Estive tentada a ir até a sala dele para lhe pedir explicações, mas todas as vezes pensei melhor e desisti. Não tenho que cobrar e muito menos exigir nada dele. Tentamos uma transa; não deu certo, bola para frente. Se ele prefere lidar com isso fingindo que nada aconteceu entre nós, então que assim seja feito.
Abro a porta da gerência e espio a da sala principal do jurídico, encontrando-a fechada e sem um barulho sequer vindo do salão onde ficam os advogados.
Tranco a porta – coisa que sempre fazemos às sextas-feiras – e ajeito no ombro minha pequena bolsa com alça metálica antes de seguir na direção dos elevadores.
Rememoro a rota e o endereço do restaurante e chamo o Uber enquanto espero o elevador chegar. Mais uma mensagem de Vinícius entra, reclamando do trânsito e me pedindo para esperá-lo no bar caso se atrase.
“Pode deixar, não se preocupe! Já estou saindo da Karamanlis, então devo chegar antes, sim.”
Ainda estou sorrindo enquanto termino de digitar a mensagem quando o elevador chega e as portas se abrem.
— Boa noite, Kika Reinol! — Millos me cumprimenta, e eu tiro os olhos da tela do telefone para cumprimentá-lo de volta e entrar no elevador, mas fico muda ao ver, junto a ele, Konstantinos Karamanlis.
A dor de cabeça foi minha companhia ao longo do dia de hoje, desde o momento em que Millos me acordou, ainda no chalé, até este momento. Faço massagem nas têmporas, tentando aliviar um pouco o desconforto, mas não consigo.
Se a dor não tivesse sido causada por um porre, eu a curaria com bourbon. Contudo, depois da quantidade que bebi, não posso nem pensar na bebida, que meu estômago embrulha.
O taxista me olha pelo retrovisor, impaciente, mesmo com o taxímetro correndo, enquanto estamos parados. Finjo não perceber sua irritação e continuo massageando a cabeça, decidindo o que devo fazer.
Voltei para a capital dirigindo, e Millos me acompanhou em sua moto. Depois, passei em casa, tomei outro banho e um analgésico, coloquei um dos meus ternos e fui para a empresa.
Como estive sem sinal no telefone, havia uma porrada de e-mails e mensagens para eu ler, mas senti o corpo gelar ao ver o símbolo do Fantasy e a indicação de que me mandaram mensagens privadas. Como minha conta está fechada para os outros perfis, só podia ser uma pessoa: Caprica.
Abri o chat e senti meu sangue ferver ao ver mensagens descontraídas dela desde terça-feira, e algumas sensuais, reforçando o convite para nos conhecermos pessoalmente. Era para eu me sentir aliviado por ela não estar mal, ter seguido normalmente sem que o que aconteceu entre nós a influenciasse, mas não, não senti porra nenhuma de alívio, só indignação por ela já ter partido para outra.
Decidi cancelar de vez a conta do aplicativo, mas, assim que entrei na página principal, vi a notificação de que Caprica havia liberado a conta e que estava ativa novamente. Isso me enfureceu tanto que ativei a minha também e desisti de cancelar o Fantasy.
Pensei em ir até a sala dela quando cheguei ao nosso andar, fingir que nada acontecera e trabalhar o dia todo com ela, mas a ideia era tão ridícula que fui para a diretoria jurídica, disposto a ignorá-la o dia todo como se não existisse. Achei que ela, em algum momento, viria até mim, mas, conforme o tempo foi passando, descobri que estava tratando com uma criatura tão orgulhosa quanto eu.
Resolvi provocar e mandei um e-mail renomeando David para trabalhar à frente da Ethernium, aguardei, e nada. Depois pedi a uma estagiária que recolhesse minhas coisas lá e fizesse questão de dizer que eu estava na empresa e que fora ordem minha, porém, ela não apareceu de novo.
Convenci-me, então, de que a melhor resolução era manter distância, mesmo estando com as palavras do Millos, sobre ela encontrar outro para realizar as nossas fantasias me incomodando a mente a cada momento.
Eu não queria um envolvimento além do sexual com ela, nunca quis e continuo não querendo, mas o que aconteceu entre nós naquela noite não poderia ser considerado, e eu ainda queria mais.
Mergulhei de cabeça nos processos e só me dei conta da hora quando Millos me chamou à sua sala e olhei para o relógio. A maioria dos funcionários já havia saído, só David e Murilo ainda estavam em suas estações de trabalho, finalizando algo.
— Doutor, acabei de marcar a viagem ao Rio de Janeiro e estou só esperando a indicação de qual dos hunters irá comigo — David me informou. — A partir de segunda, vamos começar a fazer os cronogramas das reuniões nos estados e, a partir daí, marcar com o cliente.
— Ótimo, deixe-me sempre ciente.
Despedi-me deles, pois não voltaria mais para a diretoria jurídica e segui – não sem antes olhar a porta da gerência de hunter – para o andar superior, onde Millos me esperava em sua sala.
— Essa merda toda que você fez... — ele falou assim que entrei em sua sala e apontou para um documento em cima da mesa — acho que isso ainda vai causar muitos prejuízos à empresa. — Peguei o papel, mas, antes que eu pudesse ler, Millos explicou: — Pedido de auditoria!
Respirei fundo, mas dei de ombros, sem nenhuma expressão de preocupação ou arrependimento.
— Você não acha temerário que ele se envolva com uma mulher e isso afete o trabalho na Karamanlis? Há anos a empresa tenta comprar aquela porra de boteco, e ele desiste assim, por causa de uma boceta...
— Kostas, cala a boca! — Millos pareceu muito irritado, e isso me surpreendeu, pois ele nunca perde a compostura.
Ele sabia de algo, eu tive essa impressão. Millos tem relacionamento com todos nós, conhece os segredos de todos, obviamente saberia se estivesse acontecendo algo mais do que um caso entre Theodoros e a dona do boteco.
— Do que você está sabendo, Millos? — perguntei, mesmo tendo consciência de que ele não me falaria.
— De nada! Eu só acho que, se Theo tomou essa decisão, ele tem algum motivo que a respalde.
Sua resposta não me convenceu o mínimo. Tinha certeza de que ele sabia mais do que estava me falando e, pela sua descompostura, podia apostar que era algo de proporções grandes e que o filho da puta estava se mantendo calado para manipular a vida de alguém.
— Como foi com a Kika Reinol hoje? — ele mudou de assunto, e eu tive a confirmação de que, sim, ele sabia de algo e estava deliberadamente escondendo.
— Não foi. — Levantei a sobrancelha. — Designei o David de volta para a conta da Ethernium. Assunto encerrado.
Millos abriu um sorriso pretencioso, claramente duvidando do encerramento do assunto, e eu fiz minha cara de tédio para ele.
— Entrou em contato com Theodoros para falar sobre a auditoria? — indaguei, voltando ao assunto.
— Não, ele já está lidando com merda demais tendo que conviver esses dias com nossos familiares, não vou preocupá-lo antes da hora. — Eu ri e o chamei de baba-ovo. — Vai tomar no cu, Kostas. Eu faria o mesmo se fosse com você, seu babaca.
Eu tive que admitir isso e enfiar meu rabo entre as pernas.
Saímos juntos do escritório dele. Convidei-o para beber, mas ele se negou, dizendo que precisava ir para casa.
— Algum problema? — questionei ao notá-lo um pouco ansioso.
— Nenhum — respondeu, digitando uma mensagem em seu telefone. — Só quero passar um tempo em casa, já estive muitos dias fora, preciso organizar umas coisas.
Gargalhei ao entrar no elevador.
— Você organizar coisas naquela zona que chama de casa? Definitivamente, Millos, você tem algum problema por lá e não quer abrir o jogo! — decidi provocá-lo. — Pois bem, vou até lá para ajudá-lo.
— Não! — ele respondeu sério no exato momento em que paramos no andar da minha diretoria.
Assim que as portas do elevador se abriram, arregalei os olhos ao ver Wilka Maria parada, de cabeça baixa, sorrindo e escrevendo alguma mensagem no telefone. No mesmo instante pensei no Fantasy e em sua conta ativa, recebendo propostas de encontros para foda e realizações de fantasias.
— Boa noite, Kika Reinol! — Millos a cumprimentou, e ela tomou um susto ao nos ver dentro do elevador. Olhei-a detalhadamente, desde as sandálias altas de saltos finos; suas belas pernas bronzeadas, que me chamaram a atenção mesmo sem eu saber a quem pertenciam, sumindo da metade das coxas para dentro de um vestido preto, justo e que deixava seus ombros de fora.
Os cabelos dela também estavam diferentes, embora eu não conseguisse dizer exatamente o que ela tinha feito, porém, pareciam mais vivos, com um balanço diferente.
— Boa noite, doutores — ela nos saudou e entrou no elevador, e sua boca pintada de vermelho atraiu meus olhos como se fosse uma chama. Apenas balancei a cabeça em cumprimento e, quando ela se virou, ficando de frente para as portas e de costas para mim, quase gemi ao ver o quanto o vestido ressaltou sua bunda perfeita.
Puta que pariu!
Remexi-me, incomodado, e meu primo segurou o riso, percebendo o desconforto causado pela minha ereção inconveniente.
— Com todo respeito — Millos puxou assunto com ela —, a senhorita está lindíssima!
Olhei para ele com minha sobrancelha erguida, sem entender a merda do jogo que ele queria começar. Wilka não se fez de rogada e lhe agradeceu, em meio a sorrisos, o elogio.
— A vida não é só trabalho, não é, doutor Millos? — Ele assentiu. — Essa semana foi bem puxada, trabalhando praticamente sozinha na conta da siderúrgica, então decidi aproveitar um pouco hoje à noite.
Respirei fundo e crispei as mãos de raiva, pensando em como exatamente ela pretendia aproveitar a noite.
— Está certíssima! Aliás, preciso parabenizá-la pelo trabalho excelente que vem fazendo, mesmo na ausência de Kostas durante esta semana. — Ela olhou para trás e me espiou de rabo de olho. — Estamos todos muito felizes por você ter retornado à empresa no momento certo, não é, Konstantinos?
Filho da puta!
— É, sim, muito felizes! — resmunguei entredentes e esperei algum comentário mordaz dela sobre meu sumiço ou mesmo alguma piadinha, mas não, ela apenas sorriu em agradecimento e voltou a olhar para frente.
O elevador parou antes de chegar ao térreo, mas não havia ninguém esperando-o, então Millos saltou para fora de repente e se despediu.
— Eu preciso mesmo ver umas questões aqui com Alexios e acho que ele ainda está na empresa. — Olhou para a gerente. — Divirta-se muito e compense a semana pesada que você teve. — E depois para mim — Boa noite, Kostas.
Assim que o elevador se fechou e começou a descer de novo, o clima dentro dele mudou, ficou pesado e tenso. Eu segurava na barra de acessibilidade próxima ao espelho – que eu já tinha percebido que haviam substituído – e tentei ignorar o quanto ela estava cheirosa e a vontade que tinha de pressioná-la contra as paredes frias de inox, fazer o elevador parar e fodê-la até que desistisse de qualquer outra diversão que não fosse eu.
Não o fiz, claro, estava decidido a manter distância e o faria de qualquer jeito. Descemos no térreo e caminhamos lado a lado até a calçada da Paulista sem nem mesmo uma palavra. O silêncio dela me incomodava, mas eu não conseguia achar um modo de quebrá-lo.
Notei o táxi parado à porta da empresa e esperei para ver se era o veículo que ela esperava, mas, como ficou na calçada, supus que ou tivesse pedido um Uber, ou mesmo que estivesse esperando uma carona.
— Boa noite, Wilka — despedi-me, e ela finalmente me encarou.
— Boa noite, doutor. — E, sem que pudesse se controlar, olhou para a minha mão, ainda com algumas escoriações do soco que dei no espelho do elevador. — Está tudo bem?
É claro que não, porra! Com quem você marcou de se encontrar?! Vai foder por aí, agora que está se achando muito experiente depois de ter se livrado da virgindade tardia?, era o que eu queria dizer a ela, porém, contentei-me com:
— Tudo ótimo! Divirta-se!
— Eu vou, não se preocupe! — E abriu um daqueles seus sorrisos que chegam até os olhos e a deixam ainda mais sexy.
Comecei a caminhar na direção do meu prédio, quando vi o Uber se aproximar, o motorista chamá-la pelo nome, e ela entrar. Olhei para o táxi e não pensei duas vezes, pulei para dentro do veículo e disse a frase mais ridícula e clichê do mundo:
— Siga aquele carro!
Pois bem, é por isso que estou aqui, neste momento, com uma puta dor de cabeça, parado em frente ao restaurante francês em que já estive antes com Millos, recebendo olhares interrogativos do taxista, que deve pensar que sou um tarado ou um corno por ter seguido a mulher até aqui.
Bem, não sei o motivo pelo qual vim para cá e nem de tê-la seguido, mas já estou aqui e não sou homem de recuar no que faço. Tiro o dinheiro da corrida da carteira e saio do carro, liberando o taxista.
— Boa noite! — uma recepcionista muito bem-vestida e linda me cumprimenta. — O senhor possui reserva?
— Não, mas posso ficar no bar?
— Claro! — Ela me pede um documento e depois o entrega junto a um cartão magnético com o nome do restaurante. — Seja bem-vindo!
Entro já esquadrinhando as mesas. Contudo, abro um sorriso ao ver Wilka sozinha, sentada em uma das banquetas do balcão do bar. Respiro fundo, pedindo meu autocontrole de volta e me sentando ao seu lado.
— Rare Breed15, por favor — peço meu bourbon favorito, mas, pela expressão “é de comer ou de passar no cabelo?” que o bartender faz, já presumo que não tem a marca. — William Larue Wellen16? — A expressão não muda. — Jim Beam17? — Puta que pariu, o “bartender” acabou com minha entrada surpresa! O que foi que tomei quando vim aqui com Millos? Jogo um olhar rápido à parede de bebidas à minha frente e vejo uma garrafa de Tennessee Whiskey. Quem não tem cão... — Jack Daniel’s Old 718, por favor.
Viro-me para Wilka Maria, que parece não acreditar que está me vendo ao seu lado.
— O que você...
— Ora, ora, que coincidência! — Sorrio maliciosamente. — Se soubesse que estava vindo para cá, teria me oferecido para rachar o Uber com você.
Ela demora um tempo para reagir, o bartender serve minha bebida e debita no cartão de consumo do bar, então ela parece despertar do choque e ri.
— Você me seguiu?
Bebo calmamente, degustando a bebida, fico um tempo apreciando seu sabor amadeirado e então respondo:
— Por que eu faria isso?
Armo-me com minha expressão irônica, mas isso não a inibe, nem detém. Para meu total assombro, ela gargalha, um som rouco, vibrante e delicioso que me faz querer segurá-la pela nuca e sorver aquela música para dentro de mim.
— Qual é a sua, afinal, doutor? — ela é direta. — Qual é o jogo que estamos jogando, porque, infelizmente, desconheço as regras?
Dou de ombros.
— Não tem jogo! Estava com vontade de beber e vim até aqui. — A desculpa é tão esfarrapada, até para mim, que rio antes de beber mais um gole e olhá-la. — Fiquei curioso, só isso.
— Curioso?
— Para saber com quem você iria se encontrar. — Minha sinceridade a desarma. — Nós não conversamos desde aquela noite.
Wilka puxa o ar lentamente e depois o solta.
— Eu estive na empresa todos os dias desde então, não sumi sem dizer nada e nem fui eu quem saiu correndo como se tivesse visto um fantasma.
Concordo com ela e bebo de novo para aliviar o bolo que sinto em minha garganta.
— Desculpe-me. — Olho dentro de seus olhos castanhos. — Eu não esperava que...
— Olá? — a voz de um homem me interrompe, e eu o encaro. — Desculpe a demora, Kika, o trânsito estava um inferno!
Ele a beija no rosto e a abraça quando ela desce da banqueta. Acompanho, sério e puto, sua mão acariciando as costas dela enquanto ele a abraça.
— Tudo bem, Vinícius, acabei encontrando um conhecido. — Ela dá um sorriso sem jeito em minha direção. — Nossa mesa já está pronta. Vamos?
Conhecido?! Tenho vontade de rir por ter sido chutado para escanteio descaradamente. O tipo, bem mais baixo que eu, com o cabelo cortado rente à cabeça e uma roupa colada no corpo de modo a ressaltar seus braços musculosos, dá-me uma olhada rápida antes de encaminhá-la para a mesa onde irão jantar.
Para minha diversão, é a mesa mais próxima do bar e, por esse motivo, posso ouvi-lo perguntar para ela:
— Ele estava te incomodando?
Giro a banqueta e olho diretamente para Wilka, sentada de frente para mim, esperando sua resposta ao skinhead19 “bombadinho”. Nossos olhos se encontram por um breve momento, e ela, por fim, diz:
— Não, é um dos diretores da empresa onde trabalho.
O garçom se aproxima para anotar os pedidos, e noto que é ele a definir a bebida da mesa. Depois comenta algo com Wilka, que assente e sorri, então voltam a conversar.
Pego o celular, abro o e-mail que usamos para tratar da conta da siderúrgica e copio o número do celular dela, torcendo para que ele não seja corporativo e ela não o tenha deixado no trabalho.
“Achei que você iria reivindicar seu direito de escolher sua própria bebida. Estou decepcionado com sua falta de feminismo!”
Disparo a mensagem, escuto o celular dela vibrar em cima da mesa, mas ela não o pega. Tento outra vez.
“Eu realmente segui você. A verdade é que aquela noite foi uma loucura, e ter descoberto sua virgindade daquela forma, machucando você, me desconsertou. Eu vim para me desculpar, estava fazendo isso quando sua companhia chegou e não ouvi se você aceita a desculpa ou não.”
Leio a mensagem antes de a enviar, surpreso por estar me expondo demais para ela. Toda minha resolução de permanecer longe acabou quando pisei na Karamanlis. Tive consciência o tempo todo de que ela estava tão próxima de mim, mas não consegui me aproximar. Provoquei, chamei a atenção dela como um pirralho carente, pensando que ela estaria puta e que apareceria para brigar comigo, mas não.
Olho para o casal sentado à mesa à minha frente e pondero se não é melhor que ela se envolva com alguém menos fodido do que eu. Então balanço a cabeça, achando a ideia absurdamente ridícula. Ainda estou cheio de tesão por ela e, pelo que aconteceu antes, sei que ela sente o mesmo por mim. Porra nenhuma que vou deixar um “mamãe, tô forte” se aproximar dela e me tirar da jogada! O caralho que eu vou!
Ela é minha!
Sinto uma coisa estranha em mim, um sentimento de posse sobre ela por ter sido o primeiro, por tê-la marcado para sempre, talvez não da forma como merecia – o que pretendo consertar em breve –, mas, ainda assim, ter sido eu o escolhido por ela para aquele momento.
Envio a mensagem, e, dessa vez, quando o celular dela vibra, Wilka confere as mensagens e me encara, surpresa, e logo depois volta a olhar o aparelho em sua mão. O homem sentado à sua frente fala algo, e ela apenas assente com a cabeça, sem conseguir tirar os olhos do celular.
Ela, por fim, fala algo com ele e digita. Espero pela mensagem – confesso que estou um pouco nervoso – com o aplicativo aberto na conversa que iniciei e, quando a mensagem chega, leio-a rapidamente.
“Aceito suas desculpas. Eu deveria ter contado, talvez assim você tivesse parado e nos poupado o constrangimento.”
“Eu não teria parado, Wilka, só teria ido com mais cuidado. Não tinha como parar, assim como não tenho como parar agora. Estou aqui, de plateia em um encontro seu, mas, ainda assim, de pau duro de vontade de estar dentro de você.”
Mando a mensagem antes que ela coloque o aparelho sobre a mesa e vejo seus olhos se arregalarem levemente ao ler o que escrevi.
Mais direto que isso, impossível!
Termino a bebida, deixo o copo sobre o balcão e me levanto para ir embora, pois não faz mais sentido ficar aqui, assistindo-lhe jantar com outro homem. Ela já sabe que eu a quero e, se me quiser também, irá deixar claro, independentemente do que rolar entre ela e o seu encontro esta noite.
Não me agrada imaginá-la com outro homem, mas sei que não tenho o direito de intervir nisso, afinal, não temos nada um com o outro e, por mais que me sinta atraído por ela, nossa questão é apenas sexual, saciar o desejo e expurgar essa vontade.
Faço sinal para o bartender pedindo a conta e, enquanto ele pega uma máquina para dar baixa no meu cartão de consumo, ouço a campainha de um celular ressoar por todo o restaurante.
— O Carlinhos estava um pouco febril hoje cedo, mas amanhã é dia de ele ficar comigo e já começou desde segunda-feira a me cobrar para te pedir para deixar o Kaká dormir com ele — Vinícius comenta assim que nos sentamos à mesa, e eu tenho que me esforçar para entender o que ele está falando, pois me sinto aérea ainda com a presença de Kostas aqui. — Eu disse a ele que não é assim, que o bichinho pode ficar chateado por ficar longe de sua casinha. Eu estou pensando em comprar um cãozinho para ele de aniversário, mas a mãe dele é contra.
— Complicado... — respondo e olho na direção do bar. Kostas está de frente para mim, e nossos olhares se cruzam por um momento. — Eu posso deixar o Kaká na sua casa até o Carlinhos pegar no sono. Ele costuma dormir cedo, não é?
— Sim! Seria uma ótima saída. — Ele fica parado me olhando com um sorriso. — Nem acredito que você está aqui! E linda desse jeito!
Sorrio sem jeito, e um garçom se aproxima para anotar nossas bebidas.
— Vamos querer vinho, meio seco de preferência e tinto — Vinícius faz o pedido por nós dois. Isso me incomoda, e eu ergo uma das sobrancelhas, achando sua atitude um tanto machista. Meu celular vibra em cima da mesa, o que chama a atenção dele, que me olha, percebe minha expressão e sorri sem jeito. — Tudo bem para você, ou gostaria de pedir algo diferente? Eu fiz o pedido porque me lembrei que, no aniversário da Verinha, você tomou vinho, mas...
— Tudo bem — interrompo-o com um sorriso. — Vinho está ótimo, obrigada por perguntar.
O garçom se afasta.
— Eu queria te convidar para sair desde que te conheci. Achei você tão incrível, positiva, amável e, posso estar falando bobagem, mas acho que temos muita química.
Hein?! Eu queria ter a mesma certeza que ele neste momento, mas a presença do Konstantinos, que apareceu aqui como um perseguidor maluco, e seu pedido de desculpas pelo que houve entre nós me deixou um tanto desconsertada e sem clima para o encontro com Vinícius.
Desculpas! Apesar de reconhecer que foi um gesto bem sensível e que eu não esperaria dele, senti-me decepcionada também. Pedindo desculpas, para mim, pareceu que ele estava arrependido, que não sentia mais a atração e o ar vibrando à nossa volta.
Eu senti e ainda sinto! Meu corpo inteiro esteve alerta à presença dele no elevador, a cada respiração mais forte que ele dava, cada movimento, tudo foi perceptível por mim como se estivéssemos juntos, colados. Aqui no bar não foi diferente. Quase não acreditei quando ele se sentou ao meu lado e pediu sua bebida na maior desfaçatez do mundo. Tive vontade de rir quando não conseguiu nenhuma das marcas que queria e desejei que neste restaurante chique só tivesse Natu Nobilis20.
Ele tentou disfarçar que veio atrás de mim, mas meu coração disparado não se enganou, e eu me senti poderosa ali, mesmo sem entender o motivo pelo qual ele me seguiu.
Até suas desculpas...
Meu telefone vibra de novo.
— Não vai ver o que é? — Vinícius pergunta. — Pode ser importante.
— Você não se importa?
Ele nega, e eu pego o aparelho e quase engasgo com minha própria saliva ao ler a mensagem – de um número que não consta em minha agenda, mas que não me deixa dúvida de quem é o remetente.
A primeira mensagem é engraçadinha e demonstra que ele está observando – e talvez até ouvindo – tudo o que se passa aqui na mesa, e isso me faz ficar ainda mais intrigada com a permanência dele no restaurante. A segunda mensagem é uma surpresa total, uma justificativa e um pedido de desculpas, coisas que realmente não esperava dele.
— Preciso responder — aviso ao Vinícius, já digitando uma mensagem.
“Aceito suas desculpas. Eu deveria ter contado, talvez assim você tivesse parado e nos poupado o constrangimento.”
Entendo que ele peça desculpas pela reação que teve depois que percebeu minha virgindade, até aprecio isso, mas pensar que ele possa estar se desculpando por ter feito sexo comigo é um pouco dolorido. Apesar dos pesares, eu nunca quis tanto alguém como o quis naquela noite.
E, se for sincera, ainda continuo querendo. Mal concluo o pensamento, e outra mensagem dele entra.
“Eu não teria parado, Wilka, só teria ido com mais cuidado. Não tinha como parar, assim como não tenho como parar agora. Estou aqui, de plateia em um encontro seu, mas, ainda assim, de pau duro de vontade de estar dentro de você.”
Meu coração quase sai pela boca, e eu preciso apertar levemente as coxas, pois ler isso acordou meu sexo, aguçou a vontade de tentar mais uma vez, de ter a experiência completa com ele antes de seguirmos com nossas vidas.
Ergo os olhos e o vejo falando com o bartender, já de pé, em claro sinal de que está indo embora. Olho para o Vinícius sem jeito e tento um sorriso enquanto o garçom serve nosso vinho. Não posso simplesmente abandoná-lo aqui e sair correndo atrás de Konstantinos, não posso e nem devo.
Coloco o celular na mesa.
— Nós estávamos falando sobre...? — tento voltar ao assunto, mas não consigo, pois o celular de Vinícius começa a tocar alto, chamando a atenção dos outros clientes. — Pode atender.
Ele pega o aparelho em seu bolso e arregala os olhos.
— É a mãe do Carlinhos!
Levanta-se rapidamente e pede licença para atender o telefone, caminhando em direção a uma espécie de hall que o restaurante possui, todo ornamentado com plantas. Acompanho-o com os olhos até que começa a falar ao telefone, mas depois olho na direção onde estava o Kostas.
Ele não está mais perto do bar, então o vejo sair do restaurante. Respiro fundo e penso que foi melhor assim. Já fizemos algo por impulso uma vez e não resultou em uma experiência muito satisfatória para ambos. É melhor irmos com calma, acertarmos as coisas antes de qualquer outro passo.
— Kika, me desculpa, mas preciso ir. — Vinícius parece nervoso, e eu me levanto. — A febre do Carlinhos aumentou muito, e Liliana o está levando para o pronto-socorro. Preciso estar lá.
— Claro! — Ele pega a carteira, mas eu o impeço. — Não, pode deixar que eu acerto aqui, vai!
Ele concorda e se despede esbaforido, praticamente correndo para fora do estabelecimento. Penso em ficar e aproveitar para conhecer a comida daqui, mas é desanimador comer sozinha, então peço a conta do vinho, pois ainda não tínhamos feito o pedido, pago e já saio com o aplicativo do Uber aberto para me levar para casa.
— Eu acho que você ficou sem carona para ir embora — a voz de Konstantinos me faz pular de susto, e quase deixo meu telefone cair.
— Merda, Kostas! — Ponho a mão no coração.
Ele abre a porta traseira de um táxi e aponta para o interior.
— Já que não conseguimos rachar na vinda, poderíamos fazer isso na volta, o que acha?
Intercalo olhares entre ele, o banco traseiro do táxi e o pedido de confirmação do Uber na tela do celular. Tomo fôlego, bloqueio a tela do celular e ando na direção dele.
— A primeira parada será minha casa — aviso-lhe antes de me sentar no banco do táxi.
Kostas senta-se ao meu lado e fecha a porta.
— Vila Mariana — indica ao motorista e me puxa para perto de si, quase me colocando sobre seu colo. — Não será a primeira parada, será a única, a não ser que queira ir para um motel.
Seu corpo está quente e duro junto ao meu. Sinto seus músculos vibrando, talvez ele esteja contendo um tremor como o que acontece com meu próprio corpo. Ofego, sentindo seu hálito quente no meu rosto. Sua mão segura firme minha cintura, e a outra, a nuca.
Estou quente, aquecendo cada vez mais com a proximidade dele e seu olhar cheio de desejo e promessas sujas. Sei que, se eu me render, essa noite poderá ser aquela que eu sempre quis, pois ele não vai se contentar em me jogar na cama e foder, vai me comer inteira, devorar como um animal esfomeado e me proporcionar o prazer que essa atração entre nós já prenunciava desde o início.
Ao mesmo tempo, sinto insegurança também. Nossa experiência anterior não teve o melhor desfecho, e, embora eu já não seja mais uma virgem, continuo sendo inexperiente na prática.
Ele percebe que titubeio, então diz baixinho:
— Talvez eu devesse ir mais devagar, mas não consigo. — Sua mão toca meu rosto numa carícia leve. — Eu prometo que dessa vez não vou parar, pelo menos não enquanto você não estiver gemendo, molhada e totalmente satisfeita.
Eu não quero que ele pare, não quero deixar o medo que me dominou por tantos anos me tirar a chance de viver este momento.
— Vila Mariana — respondo sem tirar meus olhos dos dele — será nossa única parada.
Ele me atrai para mais perto e ataca minha boca com um beijo faminto, desesperado. Seguro a sua camisa com força, sentindo o tecido macio se embolar entre meus dedos, enquanto sou consumida por sua boca, lábios se impondo sobre os meus e língua explorando, penetrando e fazendo sacanagens que me remetem ao que ele pode fazer dentro de mim.
Sinto a pressão de seus dedos presos no cabelo da minha nuca. Konstantinos não está sendo delicado e nem contido. Parece que estamos libertos de qualquer contenção que podíamos ter. Não me importo de estar atracada a um homem dentro de um táxi, muito menos de estar levando-o para dentro da minha casa; só desejo dar vazão ao tesão que sinto.
Ele geme contra minha boca e segura o lábio inferior com os dentes. Abro as pálpebras e o encontro olhando para mim.
— Nada pode me fazer parar esta noite, Wilka — declara, ofegante, com a cabeça encostada na minha. — Eu vou te comer de todos os jeitos que quiser, te mostrar como eu deveria ter feito naquele dia, te levar à loucura com minha língua para, só então, acessar sua boceta apertada com meu pau.
Dou uma risada nervosa, mas sinto minha calcinha cada vez mais úmida com a descrição que ele faz.
— Eu vou cobrar cada uma dessas coisas — ameaço-o, e ele ri.
— Eu vou adorar ser cobrado! — Lambe meus lábios descaradamente, como se estivesse me fazendo sexo oral.
— Doido!
Agora é ele quem ri.
— Você não tem ideia do quanto!
Ouço um leve pigarrear e me separo dele, segurando as risadas, mas fico séria ao sentir sua mão enorme subindo pela minha coxa, insinuando-se por baixo do meu vestido até tocar minha calcinha.
— Já estamos na Vila Mariana; preciso do endereço completo.
Eu digo ao taxista o endereço do meu prédio, mas me engasgo algumas vezes ao sentir alguns dedos levantarem minha peça íntima e a afastar para o lado. Fecho os olhos, tremendo de ansiedade, achando loucura o que ele está fazendo dentro do táxi, mas adorando a sensação. Seus dedos brincam com minha virilha, avançam sobre meus lábios, depois retornam para a virilha.
Gemo baixinho e escuto sua risada. O filho da mãe está me provocando e se divertindo com isso. Talvez ele mereça provar um pouco do próprio veneno! Estico o braço e pouso minha mão exatamente em cima de sua ereção, o que me faz gemer baixinho junto a ele dessa vez.
Naquela noite, assim que ele tirou seu pênis da cueca, eu dei uma espiada para descobrir como era. Eu só reparei em um pau pessoalmente uma única vez na vida, na adolescência, com meu primeiro namorado, mas foi tão rápido, mesmo porque eu fiquei com tanto medo, que mal me lembro dos detalhes. Depois disso, só em filmes pornôs.
Sempre me disseram que paus não eram proporcionais ao tamanho do homem, mas eu pude comprovar naquela noite que há exceções, e Konstantinos é uma delas.
Sinto um arrepio subir pela minha coluna ao me lembrar do membro duro, pulsando, moreno, coberto de veias altas, grosso e comprido. Ele chegou a me penetrar, mas não se moveu, então não faço ideia de como é tê-lo dentro de mim com movimentos rápidos ou lentos, mas tenho certeza de que será uma sensação incrível.
O táxi para em frente ao prédio, e descemos juntos. Konstantinos paga ao motorista, e eu pego a chave em minha clutch para abrir o portão principal, já que o porteiro não está na portaria.
Ele enlaça minha cintura, seu pau ainda duro e pulsando nas minhas costas, suas mãos subindo pelo meu abdômen em direção aos meus seios. Abro o portão e, sem que eu pressinta, ele me levanta nos braços e anda rápido até o elevador, que, por sorte, está no térreo.
Sou pressionada contra a parede gelada assim que as portas se fecham, mantida suspensa, ele sustentando meu corpo com o próprio. Minhas pernas abraçam seus quadris, Kostas rebola contra mim, nossos sexos, mesmo debaixo dos tecidos que vestimos, se tocando, moendo um contra o outro em desespero.
Sua boca devora a minha em frenesi, e eu o agarro pelos cabelos, gemendo descarada dentro do elevador do prédio em que moro sem me importar com vizinhos ou mesmo com a câmera que há dentro do elevador.
Nada tem importância, somente o que estou sentindo agora, esmagada por um homem de quase dois metros e uns 100 quilos, sua boca atracada à minha e nossos corpos ondulando de prazer, estimulando um ao outro.
Finalmente chegamos ao meu andar, e, de novo, sou levada em seu colo, dessa vez montada nele, suas mãos me mantendo contra si, segurando minhas nádegas, enquanto anda e continua a me beijar.
— A chave! — ele pede em um rosnado baixo, e eu rio.
— Na bolsa. — Solto uma das mãos de sua nuca e tento pegá-la, mas não dá. — Preciso descer.
Ele me põe no chão, mas não desgruda de mim. Acho a chave e, mal abro a porta, sou arrastada para dentro, no escuro, e levada até o sofá da sala.
— Kostas...
Ele sobe meu vestido até tirá-lo, vira-me de costas para ele e geme ao mexer na minha calcinha. Quase não vemos nada sob a parca luz da rua entrando pelas frestas da cortina, mas sinto seu dedo contornar a peça, sentindo a textura suave da renda e da seda, e eu me lembro da que ele rasgou.
Agradeço a luminosidade fraca da sala por não me deixar totalmente exposta. Sei que em algum momento isso vai acontecer e, mesmo não me sentindo insegura com relação ao meu corpo, terei que lidar com o constrangimento de estar nua com um homem pela primeira vez.
— Sua bunda é um tesão — sua voz entrecortada com sua respiração me dá a dimensão de como ele está. — Você é muito gostosa, puta que pariu!
Kostas me vira e me faz deitar no sofá, ajoelha-se diante de mim, meu corpo todo em expectativa, mas ele não parece ter pressa. Passeia as palmas das mãos pelas minhas coxas, abre-as devagar e substitui as carícias por beijos e lambidas, até chegar bem perto de onde estou quente, molhada e pulsante à sua espera.
— Sou o primeiro a provar sua boceta também? — Konstantinos pergunta, mas não espera a resposta, afastando minha calcinha para o lado e colhendo minha excitação com sua língua tensa e grande, macia, quente e torturante.
Não tenho nem tempo de me sentir constrangida, já tomada pelo prazer. Gemo, rebolo e o seguro pelos cabelos, desejando que ele caia de boca, me chupe inteira até me fazer gozar, porém, ele pincela a língua em meus lábios, depois a agita na entrada e então lambe exatamente em cima do meu clitóris, fazendo-me arfar de tesão e sentir meu corpo inteiro se retesar de prazer.
Não tenho ideia de quanto tempo ele fica assim, só me provando, deglutindo meu sabor, aspirando meu aroma e esfregando o nariz e barba pelo meu sexo.
Sinto-me à beira de um precipício, ofego como se estivesse correndo uma maratona, a cabeça dá voltas, os pelo do corpo arrepiam e os bicos dos seios parecem querer furar o sutiã. Estou delirante, essa é a sensação, não ruim como a de uma febre, embora também me sinta febril, mas dolorosamente prazerosa.
Meus lábios são afastados por seus dedos e sua língua me penetra profundamente, fodendo-me. Estou em desespero, prestes a gozar. Ele, talvez percebendo isso, abre toda sua boca e abocanha tudo, concentrando-se em chupar meu clitóris de forma rítmica e perfeita.
Grito de prazer, travo meus calcanhares em suas costas, puxo seus cabelos e gemo, gozo, sinto meu corpo inteiro explodindo como nunca senti antes e o puxo para cima, querendo beijar sua boca contendo meu orgasmo e partilhar com ele do meu próprio prazer.
Konstantinos está tremendo, seu corpo chacoalha em cima do meu. Tento abrir os botões de sua blusa, mas é difícil, então a puxo, arrebentando todo eles, libertando sua pele e carne para minhas mãos.
Quente, muito quente, é como encontro o peitoral duro e o abdômen repleto de gominhos perfeitos. Sigo em direção à calça, abro o cinto, e ele se levanta.
Vejo-o, deitada largada de prazer no sofá, abrir o botão da calça social, livrar-se dela, da blusa e dos sapatos e depois fazer o mesmo com a cueca.
— Tire tudo, quero você nua para mim — ordena.
Sento-me, abro o fecho do sutiã, retirando-o devagar, e, por último, levanto-me e tiro a calcinha sem tirar meus olhos de sua mão, agitando seu pau em uma masturbação deliciosa de se ver.
— Quero que você faça o mesmo — Kostas pede. — Deite-se lá de novo, abra bem as pernas e me mostre como você faz quando está aqui sozinha.
Penso em todas as vezes que já fiz isso e ninguém nunca assistiu. A ideia de ter alguém olhando, de ter Konstantinos Karamanlis me olhando, é muito excitante, embora aterrorizante também, porém, mais uma vez o tesão vence, e eu faço o que me pede.
Ouço seus gemidos, escuto a movimentação de sua mão em seu pau e me toco, lambuzo-me para ele, mostro como gosto, os movimentos, os jeitos e gozo de novo, rendendo-me ao prazer diante dos seus olhos.
— Vem aqui! — ele me chama, e o vejo colocando camisinha e sentado em uma das minhas poltronas. — É você quem vai me comer, Kika.
Sorrio com a ideia e me sento em seu colo, sobre seu pênis, rebolando para que meu gozo possa encharcá-lo todo. Ele está me colocando em posição de comando, está permitindo que eu tenha o controle sobre nossos corpos, talvez até como forma de não voltar a me machucar, e isso é algo que eu não esperava acontecer, mas que, sem dúvida, enternece meu coração.
Kostas está impaciente, ergue-me pelos quadris, posiciona seu pau na minha entrada e tira a mão de mim, deixando-me com o poder de comê-lo inteiro. Desço devagar, sinto um leve desconforto, afinal era virgem até dias atrás, e ele é bem grande, porém, à medida que vou engolindo-o, sinto os espasmos voltando, meu corpo se agitando novamente, e o prazer me acerta com tudo.
— Porra! — rosna quando me sente gozar sem nem mesmo um movimento seu. — Porra!
Sou agarrada pelos cabelos, e ele começa a agitar os quadris. Grito de prazer com o orgasmo intensificado pelos movimentos. Encaixo-me toda nele, nossos corpos se esbarram, e eu rebolo, sentindo-o bem no fundo, tocando tudo dentro de mim.
Inclino meu corpo para trás sem parar de rebolar, e ele beija meu peito, lambe o mamilo e depois o chupa com força.
— Preciso gozar! — avisa, ainda com a boca no meu peito. — Ah, caralho, preciso gozar!
Abraço sua cabeça com força enquanto ele geme, abandonando-se ao orgasmo, seu pau pulsando dentro de mim e seu corpo todo tremendo, suado, contra o meu.
Fecho os olhos, ainda sob efeito de todo o prazer sentido e rio, maravilhada, sentindo-me finalmente curada de todo o medo que sentia.
Ele me olha parecendo acabado e retribui meu sorriso antes de me beijar.
A primeira sensação que sinto ao recobrar a percepção de que estou em uma cama onde dormi bem e sem pesadelos é de ouvir pássaros, uma música animada e nada parecida com as que escuto, um leve aroma de café no ar que faz meu estômago roncar e beijos molhados.
Abro um sorriso, ainda com os olhos fechados, adorando a carícia sensual, embora um tanto inexperiente, de Wilka Maria, e meu corpo todo desperta, principalmente uma certa parte que foi particularmente utilizada na noite passada.
Enquanto ela lambe meu pescoço, relembro a loucura da transa que tivemos quando chegamos ao apartamento dela e que ficamos abraçados naquela poltrona apertada por algum tempo, ofegantes, satisfeitos e rindo como dois loucos.
Foi uma experiência nova para mim trepar pela primeira vez com alguém por quem sinto uma verdadeira atração e foi além das minhas expectativas, deixou o ato menos mecânico e fisiológico, embora eu tenha me refreado muito para controlar todos os meus impulsos, lembrando-me sempre de ir com calma, afinal ela era virgem até poucos dias atrás. O fato mais importante de tudo é: fiz sexo com ela porque eu a queria, não somente porque queria trepar.
Durante o banho que tomamos juntos – outra experiência inédita –, fiquei observando-a e notei que, em alguns momentos, Wilka parecia desconfortável com minha presença.
— Quer que eu vá embora? — perguntei depois que saímos do boxe.
Ela ficou me olhando, quieta, avaliadora, e então negou.
— Apenas se você quiser ir. — Respirou fundo. — Não sei como isso funciona, é tudo novo para mim.
A sinceridade e o jeito que ela se expôs tocou em alguma área minha que havia muito não recebia qualquer luz e a iluminou de tal forma que eu sorri. Sim, eu sorri! Não foi um riso sarcástico, debochado ou apenas um sorriso qualquer para exprimir minha total falta de paciência, como faço sempre. Foi um sorriso que brotou naturalmente, caloroso, um primeiro gesto de afeto verdadeiro.
Passei a mão em seu rosto, e ela fechou os olhos.
— Você pode até não acreditar, mas para mim também é. — Wilka suspirou. — Eu quero ficar. — O toque em sua pele, o cheiro dela, seus cabelos úmidos do banho, e, claro, seu corpo delicioso envolto em uma toalha felpuda me deixaram excitado novamente, porém, de forma diferente. — Eu quero você de novo.
Ela sorriu, e foi toda a resposta que eu precisava.
Dessa vez chegamos até a cama. Eu me sentia um gigante perto dela, mas não tive nenhuma sensação ruim por isso, porque, mesmo com a diferença, nosso encaixe foi perfeito. Minha mão, grande e morena, cobria todo seu rosto, seus peitos cabiam em minhas palmas, eu conseguia escondê-la toda dentro dos meus braços.
Isso, de alguma forma, fez com que o sexo fosse mais lento do que eu costumava fazer. Senti uma enorme vontade de idolatrá-la toda e fiz de seu corpo um templo de adoração, utilizando boca, língua e mãos em cada canto dele sem nunca me fartar. Foi uma experiência exótica, sexy pra caralho e que deixou meu pau tão quente que poderia a qualquer momento começar a apitar como uma chaleira.
Nunca pude me dedicar assim a uma parceira, pois sempre estava fodendo profissionais do sexo, e a coisa era mais superficial. Entretanto, com Wilka, eu desejei passar horas apenas degustando sua pele e seus sabores. Foi foda!
Depois, quando fui em busca de uma camisinha para me enterrar nela e acabar com a agonia que estava sentindo, ela me deteve e começou a retribuir os beijos lentamente. O boquete começou tímido, devagar. Notei que ela estava provando, conhecendo meu corpo e, então, achei melhor demonstrar que estava no caminho certo.
Nunca fui um homem de gemer com sexo oral, mas me soltei e permiti que meus sons exprimissem todo o prazer que sua língua e boca estavam me proporcionando, a princípio para que ela soubesse que estava fazendo a coisa certa, mas depois apenas porque estava deliciosamente perverso e prazeroso. Em alguns momentos tive vontade de guiá-la apenas para aumentar o ritmo, mas descobri que não era necessário.
Sem que pudesse me controlar, talvez por ter me posto todo em suas mãos, gozei como um louco, o prazer fazendo-me suar e aumentando à medida a que ela assistia, deslumbrada, minha porra jorrando para longe.
— Isso foi delicioso! — comentei depois que o entorpecimento do orgasmo passou.
Não costumava gozar com boquetes, a não ser que eu estivesse segurando a cabeça da mulher e socando em sua garganta. Eu precisava estar ativo para gozar, estar no controle da situação para não me sentir... Interrompi os pensamentos rapidamente e a olhei, pois ela estava rindo.
— O que foi? — perguntei intrigado.
— Foi meu primeiro boquete de verdade.
— De verdade? — Abri um sorriso safado, imaginando minha Cabritinha treinando boquetes.
— Sim. — Ela se levantou e foi na direção do banheiro. — Treinei com alguns brinquedos.
Sentei-me na cama, pensando nos ovinhos que eu comprara por causa dela e nos vibradores que ela me mandava em fotos.
— Você tem esses brinquedos ainda?
Ela apareceu na porta do banheiro escovando os dentes e assentiu.
Puta que pariu!, pensei, jogando-me contra o colchão com a mente repleta de imagens em que eu a comia utilizando vibradores, plugs, algemas e todos os petrechos que comentamos em nossas conversas online.
Volto a sentir a língua quentinha e molhada dela no meu corpo, agora no rosto, e deixo as lembranças da noite anterior para trás. Abro os olhos preparado para abraçá-la, prendê-la debaixo de mim e começar uma trepada matinal para aliviar um pouco o tesão logo cedo.
— Caralho!
Tomo um susto ao ver um rosto peludo, com orelhas pontudas e depiladas e enormes olhos castanhos. O bicho volta a me lamber, agora no nariz, e eu o seguro com força, afastando-o de mim.
De onde surgiu essa criatura?!
Ele balança o rabo, parecendo feliz ao me ver. Sento-me na cama, confuso, olho tudo ao redor e percebo que Wilka Maria não gosta só de usar roupas diferentes e chamativas, sua decoração é assim também.
Levanto-me, a cueca toda esticada por causa da ereção que nem essa criatura peluda derrubou, e caminho na direção do som e do aroma de café.
— Bom dia! — cumprimento-a, com o cachorro preso debaixo do braço, e ela se engasga ao me ver.
Ergo a sobrancelha, sem entender o susto que ela tomou, afinal de contas sabia que eu passei a noite aqui, nada mais óbvio do que me encontrar de manhã.
— Ele te acordou? — Wilka caminha até mim e pega o cãozinho. — Você é um moleque travesso! — ela o repreende e o leva para a varanda. — Não fez xixi em você, não foi?
Fico sério ao pensar no diabinho me cobrindo de mijo.
— Isso é seu? — Aponto para a criatura com as patas dianteiras apoiadas no vidro, olhando para nós dois como se pedisse sua liberdade de volta. — Não estava aqui ontem à noite.
Ela ri e passa por mim, voltando a se sentar em uma das banquetas de sua cozinha.
— Ele é meu, sim, estava na casa de uma amiga, que o deixou aqui mais cedo. — Ergo a sobrancelha, notando que ela não gostou de como me referi ao bicho, pois deu ênfase ao pronome. — Você pode ficar confuso às vezes, porque sei que viveu na Inglaterra, mas em português não usamos it (isso) para os bichinhos.
Ela pisca o olho para mim, sorrindo malvada, e eu cruzo os braços, achando engraçado estar tomando meu primeiro sermão antes mesmo de tomar um café e continuar de bom humor.
Olho-a detalhadamente, suas pernas lindas à mostra, a camisa larga e antiga que usa como pijama, os bicos dos peitos marcando o tecido fino, e ela lá, sentada alheia ao quanto está totalmente atraente e o quanto já estou louco para fodê-la novamente.
— Meu castigo por ter me confundido é ficar sem café? — provoco, testando o terreno. Vai que ela é uma das que acordam de mau humor de manhã!
— Claro que não! — Sorri. — Eu não seria tão malvada assim com você.
Wilka se levanta e vai até o armário, esticando-se toda para pegar uma xícara, permitindo que eu vislumbre a popa de sua bunda quando a camisa levanta.
Foda-se o café!
Agarro-a pela cintura, e sua risada enche o ambiente, animando-me também, enquanto a apoio sobre o balcão que separa a pequena cozinha da sala.
— Bom dia! — cumprimento-a novamente, e, dessa vez, ela sorri.
— Bom dia! — Seus olhos brilham. Wilka não usa nenhuma maquiagem, noto leves olheiras pela noite praticamente insone que passamos, as sardas espalhadas pelo nariz em um rosto ainda um pouco inchado por ter acabado de acordar, e eu a acho ainda mais linda pela manhã. — Não quer mais seu café?
Não preciso responder à pergunta, apenas beijo-a, esfregando meus lábios nos dela, olhos abertos, fixos nos seus, enquanto levanto devagar a camisa que veste, roçando os dedos por sua pele por todo o caminho até seus ombros.
Afasto-me para livrá-la da peça e vê-la nua à luz do dia. Wilka segura o fôlego, um tanto constrangida, abaixa a cabeça, quebrando o contato dos nossos olhos. Ah, Cabritinha, você não vai se esconder!
Seguro-a pelo queixo e faço com que volte a me olhar.
— Você é linda! — afirmo.
Passo as costas das mãos em seus peitos empinados, sentindo os mamilos duros vibrarem entre os vãos dos meus dedos. Ela geme e fecha os olhos, inclinando a cabeça para trás, deixando seu lindo e cheiroso pescoço à minha mercê.
Beijo-o, arrasto a língua por ele até chegar a sua orelha, sugo o lóbulo e volto beijando, chupando e lambendo seu pescoço novamente. Com as duas mãos, seguro seus peitos juntos, inclino-me e os contorno, molhando-os com minha saliva, até alcançar os bicos intumescidos. Balanço-os com a ponta da língua, ergo os olhos para Wilka e deliro ao ver sua reação embevecida.
Só o fato de eu estar com sua pele em minha boca, sentir o tesão compartilhado entre nós dessa maneira já é suficiente para que eu sinta meu corpo inteiro tremer. Aqui, neste momento, depois de ter passado a noite inteira com ela em meus braços, toda a experiência que tenho não vale de nada, é tudo tão novo para mim, e isso é foda demais!
Seus seios são uma delícia, e eu não tenho nenhuma vontade de me apressar a chupá-los. A reação dela a essa carícia me impulsiona a continuar, então me dedico aos dois com a mesma intensidade, usando todo o meu rosto para excitá-los, lambendo, chupando, beijando ou somente passando minha barba levemente pelos bicos sensíveis.
Faço-a deitar-se no balcão, em meio a objetos decorativos, sua xícara de café e potes de biscoitos e continuo a beijar seu corpo, enlouquecido pela maciez de sua pele, o aroma suave do sabonete que partilhamos no banho ontem e suas reações claras e diretas às minhas carícias. Gosto de como a pele dela está quente e como se arrepia quando lambo ou esfrego a barba em algum ponto específico.
Paro um momento apenas para observá-la, gravando na memória a perfeição de seu corpo esguio e pequeno entregue ao prazer. Gosto que ela não tenha pelos púbicos, porque assim posso admirar sua virilha, o monte de vênus e começar a ter uma visão de sua boceta, principalmente do ponto mais sensível e que eu adoro ter na boca.
Confesso que está sendo libertador poder chupá-la à vontade, pois, apesar de ser uma das coisas que eu mais gosto de fazer, quase não o faço com as profissionais, mesmo porque essas transas são mais para alívio do que para curtir o prazer em si.
Com Wilka eu posso me refastelar de sua boceta em minha boca, ficar horas lambendo, mordendo, chupando. Posso me lambuzar com sua lubrificação e beber seu gozo quantas vezes ela me permitir fazer.
A lembrança de quando a penetrei sem camisinha, na nossa primeira vez juntos, faz-me gemer, e meu pau se contorce na cueca. Sinto um arrepio subir por minha coluna, meus músculos todos se contraem de prazer apenas com essa memória e sinto despertar em mim a vontade e a curiosidade de prová-la pele a pele, sem nada entre nós, nossos fluídos se misturando do jeito mais íntimo do mundo.
— Você tem a boceta mais gostosa que já provei — confesso, e ela ri nervosa. Puxo-a para a beirada do balcão e abro bem suas pernas. — Fora o fato de ser extremamente apertada, o que dá uma sensação incrível quando meu pau está dentro. Ela é carnuda e suculenta na boca. — Ajoelho-me no piso da cozinha. — Tem sabor levemente picante, o que eu adoro, e um aroma... — cheiro-a de forma a ilustrar o que digo — viciante.
— Kostas... — Ela geme e ri ao mesmo tempo. — É só uma boceta como qualquer outra!
— Não! — Lambo-a do períneo até o clitóris, e Wilka se contorce. — É a sua boceta! — mal termino a palavra e já estou provando meu ponto sobre o que acabo de dizer. Prendo os lábios íntimos dela com uma sucção forte e depois os afasto com a língua, acessando a entrada apertada e quente.
Os gemidos dela ecoam pelo cômodo integrado, enchendo-me de mais tesão, porém, não me toco. Sinto uma necessidade premente de fazer isso, mas não o faço. Quero me dedicar todo a ela, meu corpo todo disponível apenas para seu prazer. Suas reações me excitam mais do que minha própria mão a socar meu pênis – e olha que eu curto uma punheta –, cada ofegar, pulsar, tremor de seu corpo atinge diretamente meu pau, e eu urro de prazer.
Não sou delicado como fui na noite passada. Não exploro sua intimidade, devoro, mastigo, engulo tudo como um homem esfomeado e sedento ao mesmo tempo. Nada importa aqui, além do prazer dessa mulher que mexe comigo a ponto de me expor de uma maneira que ela nunca imaginaria.
Aqui estou eu, escravo do seu corpo, ajoelhado no piso frio de uma cozinha, com o rosto entre as coxas dela e a boca inteira – isso inclui língua e dentes – à sua disposição. Aqui estou eu, Konstantinos Karamanlis, sem nenhuma carapaça ou máscara, sendo o mais sincero devoto de um desejo que nunca imaginei sentir, que me consome, porque, ao mesmo tempo em que me inebria e satisfaz, torna-me indefeso.
Nunca tive casos, nunca comi a mesma mulher mais de uma vez – nem mesmo repeti uma garota de programa –, nunca conheci o apartamento, o cachorro – essa parte foi inusitada – de ninguém. Ela é inédita para mim em todos os sentidos, a única que me fez ter vontade de arriscar minha sanidade, ignorar a porra dos meus traumas, mesmo reconhecendo que terei um alto preço a pagar depois.
— Diz para mim como você quer gozar — peço, a boca ainda encostada em sua boceta. — Conta para mim o que você deseja e me deixa realizar para você.
— Só continua... — sua voz está trêmula. — O que você está fazendo é mais do que qualquer fantasia ou expectativa que já tive.
Porra!
Não espero que ela me mande continuar de novo, apenas volto a abocanhá-la em completo frenesi, e seu orgasmo vem com tanta força que posso sentir minha boca inundar e meus cabelos sendo puxados com força a ponto de arder o couro.
Quando ela relaxa, ofegante e trêmula, corro até onde deixei minha calça ontem e pego o último invólucro de camisinha que tenho na carteira, agradecendo por ela ter algumas em seu criado-mudo, porque eu não estava prevenido para passar a noite e a manhã trepando.
Coloco-a rapidamente, alisando meu pau sob os olhares apreciativos dela. Brinco no exterior de sua boceta sensível. Ela se contorce, geme, e eu me enterro nela. Confirmo que está bem antes de me movimentar, pois a última coisa que quero é ter a sensação de tê-la machucado como da primeira vez, e, mesmo ela não sendo mais virgem, eu sou grande, e isso pode acontecer ainda.
Wilka se ergue e me segura pelos ombros, enquanto eu a mantenho firme pelos quadris e rebolo dentro dela. Ela geme sorrindo, e isso é deliciosamente sexy.
— Cruze as pernas sobre a minha bunda — ordeno.
Ela não titubeia e faz o que mando, mas dá um gritinho – seguido de risadas – quando a tiro do balcão e a como em meu colo, em pé, segurando-a firme contra mim. Essa é a vantagem da nossa diferença de tamanho e peso, consigo erguê-la e comê-la em qualquer posição, mesmo as mais cansativas.
Como estou de pé, sou eu quem a conduz a se movimentar para que meu pau entre e saia de seu corpo. Ando até uma parede sem móveis e a apoio contra ela para voltar a socar com a força e rapidez que preciso.
Ela me agarra, morde meu ombro, geme, arranha minhas costas e goza de novo. A sensação do meu pau todo dentro dela é deliciosa, não tenho vontade de parar, então continuo socando, esmagando-a contra a parede, até que o arrepio do orgasmo faz meu corpo inteiro tremer e aumenta minha velocidade em busca de alívio e satisfação.
— Kostas... — ela geme, mas não consigo prestar atenção, apenas sinto. — Kostas...
Dessa vez, nem que eu quisesse, eu iria poder conter meu gozo. Sua boceta me aperta de um jeito quase doloroso, e sinto minha virilha inundar do gozo feminino dela, então encosto minha testa na sua e me deixo ir gemendo e curtindo cada espasmo, cada esguicho de porra que sinto sair de mim.
— Uau! — Ela ri de olhos fechados e sem fôlego. — Que bom dia! Muito mais estimulante do que qualquer café.
Concordo, mesmo sem dizer nada – porque simplesmente não consigo – e penso em como seria amanhecer, trepar com ela e depois irmos trabalhar. Mesmo sendo assustadora, a imagem é muito atraente, e eu concluo que, pela primeira vez em anos de atividade sexual, estou disposto a ter um caso. Não há possibilidade de, se ela quiser, não repetir essa noite e esta manhã várias e várias vezes.
— Eu acho que deveríamos ir pessoalmente a esse local — Kostas diz, apontando para o mapa aberto em cima da minha mesa. — Eu sei que você tem seus hunters para isso, mas eu realmente queria ir a essa reunião, pois tenho a sensação de que é o lugar ideal.
Encaro-o.
— Mesmo? — questiono-lhe, porque tenho a mesma impressão. — Mas já indicamos David e Lene para irem. — Ele dá de ombros, e eu bufo. — Estamos desde segunda-feira planejando essa viagem, inclusive eles já têm passagem e hotel reservados, Kostas.
Ele sorri por eu tê-lo chamado pelo apelido – um ato falho, admito – e, usando isso como desculpa, desliza a mão pelas minhas costas e aperta minha bunda.
— Você ficou deliciosa com essa calça hoje — comenta. — Está sendo um inferno ficar vendo você andando de lá para cá com ela, porque me deixa duro, e eu não posso te foder aqui.
Sorrio, adorando a sensação de deixá-lo enlouquecido. Claro que foi proposital, tem sido assim desde segunda-feira, quando vim trabalhar com uma saia lápis e uma blusa de seda branca semitransparente, e Kostas me trancou no banheiro consigo e me fez chupá-lo até gozar para diminuir o tesão e poder sair da sala sem que todos notassem o volume de sua ereção na calça social.
O advogado engomadinho, sempre vestido com seus ternos italianos de caimento perfeito, começou a vir para a empresa com calças mais grossas – até jeans ele usou – para poder trabalhar.
Eu também não tenho saído ilesa!
Desde que ele destituiu David – de novo – e voltou a compartilhar a sala comigo, tenho trocado de calcinha duas vezes ao dia. No começo da semana foi por causa dos amassos e das sacanagens que fizemos na sala, até quase sermos flagrados pelo Leo – que sempre entrou na sala sem bater –, e eu impus a regra de profissionalismo dentro do local de trabalho.
Na terça e na quarta-feira, nós nos comportamos muito bem. Claro que temos nos tocado, trocamos um beijo ou outro, mas estabelecemos um limite dentro do escritório. Ou pelo menos tentamos.
A verdade é que nunca pensei que viveria algo assim! Pelo menos, não no escritório e muito menos com o diretor jurídico malvadão.
Todavia, depois da noite de sexta-feira e do sábado de manhã, eu tive a certeza de que tomei a decisão certa ao não negar essa atração, vivê-la até o máximo que poderia chegar, sem medo de nada.
Parece temerário isso, não é? Afinal, é um caso baseado em sexo, e eu nunca tive notícias de Konstantinos envolvido com alguém seriamente, então deveria me resguardar mais, mas não quero. Não sou dessas que vivem se restringindo a passar por experiências boas ou ruins. Não tenho medo de sofrer no futuro, porque isso não está nas minhas mãos; nada nessa vida é garantido, muito menos a felicidade. Então eu acredito no “feliz enquanto dure” e não consigo ficar controlando – ou tentando controlar – o que sinto ou deixo de sentir.
Conversei isso com a Jane no sábado à tarde, depois que Kostas foi embora. Contei a ela tudo o que havia acontecido, as impressões que tive sobre ele e o que eu decidi fazer acerca dessa história.
Ela concordou comigo que nem mesmo um relacionamento fixo, consolidado e antigo tem garantias de ser eterno e, principalmente, feliz. O coração é terra onde ninguém pisa, ninguém manda no que sentir e por quem sentir, então, para que ficar brigando?
— Mas você espera que essa relação evolua? — ela me perguntou.
— Ainda não sei — respondi sinceramente. — Hoje eu posso dizer que sim, pois quero mais dele. Às vezes consigo enxergar algo de mim mesma nele; por baixo de todo seu verniz de autoconfiança e deboche, eu vislumbro alguma vulnerabilidade. — Dei de ombros. — Sei que pode ser algo que eu queira enxergar, mas, de alguma forma, isso me conecta a ele.
Ela me pediu para me explicar melhor, e eu tentei, lembrando-me de vários momentos em que tive a sensação de que, assim como eu, ele estava se permitindo sentir coisas novas. Às vezes o senti travado, como se não estivesse à vontade com certas coisas, mas, mesmo nesses momentos, vi que ele estava se permitindo fazer.
No domingo, mandei uma mensagem para Portnoy, pois estávamos havia muito tempo sem saber um do outro, embora tenha recebido a notificação de que ele reativara o perfil para os outros membros do Fantasy, como eu mesma tinha feito.
“Oi, tudo bem? Quando puder aparecer, me chama.”
Foi assim, seca a mensagem, porém, fiz questão de conversar com ele antes de cancelar de vez minha conta no aplicativo. Não vou encontrá-lo, a decisão de mantê-lo apenas na lembrança das fantasias que compartilhamos e das conversas que tivemos já está tomada.
Meu envolvimento com Kostas teve a ver com isso? Provavelmente, principalmente pelo que ele me disse no sábado antes de ir embora.
— Eu sei que trabalhamos juntos e — riu — nem nos damos bem na maioria das vezes, mas não vou negar essa atração e nem vou fingir que essa noite e essa manhã nos satisfizeram. — Ele me abraçou, e eu quase tive uma entorse no pescoço para olhá-lo. — Eu quero mais, Kika.
Sorri, porque eu também queria.
— Eu também, Kostas.
Ele me ergueu para beijá-lo, e eu gargalhei.
Foi por isso que me esmerei na roupa na segunda-feira, porque tive uma enorme vontade de provocá-lo, dessa vez sem briga ou deboche, e levá-lo à loucura. Descobri que adoro essa sensação de poder que sinto por saber que, só ao me olhar, ele enlouquece, fica excitado e desesperado. Gosto disso demais!
Todavia, como era previsto, fui chamuscada pelo meu próprio fogo e acabei sentada na privada do banheiro da gerência, no final do expediente, com o pau dele na boca, pois Kostas ainda tinha reuniões a participar, e não iríamos dormir juntos naquela noite.
Ontem a provocada fui eu, e ele me levou à loucura com cada toque, cada beijo, cada insinuação. A sensação que eu tinha era de que estava vivendo, na prática, as coisas que escrevia com Portnoy, e isso era incrível!
Por falar nele, respondeu minha mensagem na terça-feira de manhã, e eu marquei de nos encontrarmos no chat na hora do almoço. Saí para uma reunião e almocei em um restaurante, junto ao Leo e à Vivi. Estávamos tomando um café quando o celular apitou mensagem.
“Oi! Já pode falar? Estou curioso!”
Respirei fundo, pois sentia como se estivesse terminando um relacionamento e escrevi:
“Oi! Eu queria me despedir de você antes de cancelar a conta.”
Ele não tardou a perguntar:
“Por que vai cancelar?”
Resolvi ser sincera:
“Estou saindo com alguém, e, mesmo não sendo nada sério, eu não me sentiria bem ao continuar aqui. Eu sei que insisti nesses últimos dias em termos um encontro, mas acho melhor deixar assim, nessa fantasia boa.”
CONTINUA
Não posso acreditar no conteúdo do memorando que chegou da diretoria executiva. Hoje, quando fui até lá para falar com o pessoal do Millos, fiquei sabendo que, na semana passada, Theo havia cancelado todos os seus compromissos do dia e que tinha viajado para algum lugar.
Imaginei logo com quem estaria, se com a bela e meiga Valentina ou com Maria Eduarda Hill.
— Claro que foi com a dona do boteco! — Rio ao ler o pedido de cancelamento da ação para a execução da promissória. — A mulher conseguiu domar o idiota do meu irmão, e ele, mais uma vez, está sendo dominado pelo pau e se esqueceu de tudo.
Não de novo!, penso já redigindo um e-mail para o detetive que coloquei para segui-lo. Dessa vez, antes de fazer uma merda fenomenal e só foder os outros, meu irmão vai sentir sozinho os efeitos de sua inconsequência.
Theodoros Karamanlis acabou de cavar a própria cova!
Termino mais um capítulo do livro e solto um suspiro. Sim, eu sou fã demais desse autor, não tem como não ser. Mesmo que a crítica americana o detone lá fora, o sucesso dele e sua legião de fãs é inquestionável. O homem é foda!
Penso em Kostas e na conversa que tivemos há horas dentro do escritório. Pela primeira vez senti uma conexão boa com ele, além da inconveniente atração física.
Devo admitir que a convivência com ele não é fácil, mas não é tão difícil quanto imaginei que seria. Passamos esses cinco dias da semana juntos na mesma sala e ainda estamos vivos e sem nenhuma marca de mutilação! Soube que está rolando um bolão na empresa sobre em quanto tempo a ideia de trabalharmos juntos vai dar merda.
Rio ao pensar nos azarados que apostaram em menos de uma semana; já perderam o dinheiro, pois, contra todas as probabilidades, suportamos bem um ao outro e passamos no teste da primeira semana.
Meu amigo Leo é quem foi esperto, fez várias apostas diferentes, então ainda tem chance de levar a grana, que eu soube que já está em um valor considerável. Eu mesma quis apostar, mas lógico que ninguém quis aceitar meus palpites, afinal sou parte envolvida.
— Qual o menor e o maior período? — perguntei a Lene enquanto almoçávamos em um dia desses da semana.
— Uma hora e um mês. — Ela riu. — Ninguém ainda arriscou mais do que isso.
— Já fecharam as apostas? — Estava me sentindo curiosa e divertida.
— Já, mas, caso se passe o período máximo com vocês ainda juntos, vão ser abertas de novo. A verdade é que essa ida dele lá pro nosso setor mexeu com a cabeça de todos aqui na empresa, ninguém entendeu nada!
— Nem eu, mas, conhecendo-o o pouco que conheço, sei que não dá ponto sem nó, deve estar aprontando alguma.
Ela concordou comigo, e desviamos o assunto para uma festa de aniversário a que ela iria e, por isso, me pediu dicas de roupas.
A história da aposta ficou martelando em minha cabeça durante todos os dias, pois, a cada começo de expediente, eu sempre questionava se seria o último da aparente paz.
Ele me confunde! Vejo uma obscuridade tão grande em seus olhos, um mistério, algo que me traz uma sensação de reconhecimento, porque eu mesma, debaixo de toda essa minha capa alegre e extrovertida, tenho meus demônios a esconder.
A atitude dele comigo hoje, especificamente, desconsertou-me. Nunca imaginaria que iria se oferecer a me ajudar daquela forma, parecendo preocupado com meu ritmo de trabalho, e, muito menos, que iria se interessar pela minha opinião sobre uma obra literária.
Foi uma boa surpresa descobrir que ele gosta de leitura. Quem ama ler, assim como eu, sempre ganha pontos extras quando conheço. É uma diversão solitária; ao contrário do cinema e teatro, você geralmente o faz sozinho, por isso mesmo é tão gostoso quando encontramos quem também cultiva essa paixão.
Foi assim com a Verinha, a vizinha que se tornou amiga e babá de Kaká. No dia da minha mudança para cá, ela passou pelo saguão enquanto eu estava subindo com umas caixas e me ofereceu ajuda.
— Oxe, o que você carrega aqui dentro? Chumbo? — perguntou fazendo caretas.
— Não, livros. — Ela arregalou os olhos. — São 10 caixas dessas. Eu mesma não sabia que tinha tantos exemplares.
— Sei bem, a gente sempre tem a sensação de que não tem nada para ler, mesmo tendo uma biblioteca do tamanho de um campo de futebol. — Deu sua risada tão bonitinha. — Eu sou Vera Lúcia, sua vizinha de andar. Pode me chamar de Verinha, todo mundo só me chama assim.
— Eu sou a Kika! — disse animada. — Você também gosta de ler?
— Muito! Eu trabalho em casa, pela internet, então faço meu horário, e sempre tiro um tempinho para ler. Meus amigos me chamam de coruja, porque, se não fosse preciso levar Ferdinando para passear, eu ficava encorujada dentro de casa, sem ver ninguém, só lendo.
— Ferdinando?
— Meu filho pet, um bulldog francês.
Foi aí que eu soube que ela iria se tornar uma grande amiga. Falei sobre Kaká, que ainda estava no antigo local onde eu morava. Ela logo se dispôs a me ajudar a tomar conta dele, e passamos horas arrumando os livros pelo apartamento e falando dos nossos bichinhos.
Rio, voltando a me lembrar de Kostas e pensando que a única coisa que falta é eu descobrir que ele também tem um bichinho de estimação.
— Não! — descarto a ideia e olho para o Kaká dormindo aos meus pés, debaixo da colcha. — Aposto que nem plantas!
— Parabéns, minha amiga! — Abraço Verinha ao lhe dar seu presente.
Fui convidada para essa festa surpresa, no meio do sábado, por um Vinícius bem nervoso. O pessoal do prédio se reuniu para comemorar o aniversário de Verinha, mas, por causa do meu horário de trabalho, que nessa semana foi bem puxado, não conseguiram falar comigo.
— Eu deixei o bilhete debaixo da sua porta, mas algo deve ter acontecido com ele — Vinícius se justificou.
— Ah, provavelmente foi o picadinho que achei no tapete da sala. — Ri. — Kaká destruiu o intruso.
— Nem pensei nessa possibilidade! — Ele parecia bem sem jeito. — Você vai?
— Claro! Obrigada por ter vindo aqui falar comigo.
Ele fez uma careta tão bonitinha!
— A verdade é que eu não vim desinteressadamente. — Deu um sorriso charmoso. — Preciso de ajuda para comprar um presente.
Foi assim que, duas horas depois, nós andávamos por um shopping à procura de algo especial para Verinha. Preciso admitir que eu não esperava me divertir tanto ao lado dele. Contudo, foi o que aconteceu. Vinícius é um homem muito cavalheiro, atencioso e lindo.
Durante o passeio notei várias mulheres olhando-o com interesse, só que ele mesmo não parecia ligar para isso, ou talvez fosse algo a que já estivesse acostumado. O fato é que recebi vários olhares de inveja e achei isso divertido.
Paramos para tomar um chope bem gelado por causa do calor, no intervalo das compras, e ele me contou um pouco como foi a semana no trabalho.
— Eu acho muito bonita sua profissão — elogiei. — Os desafios que vocês enfrentam, a preparação que precisam ter, além da coragem.
— Eu amo isso! — admitiu orgulhoso. — Ainda criança dizia que queria ser bombeiro; na adolescência, meus amigos se preparavam para o vestibular, e eu fazia o pré-militar para ingressar na Academia do Barro Branco10. Passei, estudei quatro anos lá, depois fui para a escola oficial dos bombeiros e aí integrei a corporação. São 15 anos nessa profissão com muito orgulho.
— Quando você vê que a pessoa faz o que ama, o jeito de falar é empolgante. Carlinhos deve ter muito orgulho de você.
— Diz que vai ser igual quando crescer, mas a mãe prefere que seja advogado ou médico. — Ele riu. — Ela diz que só uma profissão bonita não paga as contas. — Deu de ombros, rindo. — Tenho uma vida confortável, mas não sou rico.
Entendi que esse devia ser um ponto sensível no casamento, pois, pelo que sei, a mãe do Carlinhos é jornalista de uma grande revista, famosa na área. Deve ter um belo salário, e nem sempre um casal consegue superar isso, a esposa ganhar mais que o marido. Não conheço o Vinícius o suficiente para saber se ele é machista, ou se foi ela quem se incomodou com isso. Acontece dos dois lados, infelizmente.
Claro que deviam ter outros problemas, mas, pela forma com que ele falou sobre o assunto, notei que era um desabafo.
Depois de termos comprado o presente de Verinha – e alguns brinquedos para o Carlinhos –, voltamos para o prédio a tempo de nos arrumar e seguir para o pequeno salão de festas no terraço, onde agora estão todos reunidos comemorando.
— Obrigada, Kika! — Verinha me abraça emocionada ao receber o presente.
Cumprimento alguns vizinhos e encontro o Vinícius sozinho – lindo de parar o trânsito – encostado em uma vidraça com uma long neck na mão.
— Você está linda! — elogia-me assim que me vê. — Aceita uma?
— Não, acho que vou beber um vinho, vi servindo por...
— Eu pego para você, posso? — Deixa a garrafinha na janela e depois volta com uma taça de vinho tinto. — Chileno, Carbenet Sauvingnon; é tudo o que sei, porque li no rótulo.
Rimos juntos, e eu lhe agradeço.
— Achei incrível todo mundo se juntar para fazer uma festinha! — digo animada. — Ficou linda!
— No seu aniversário podemos fazer uma assim também. — Pisca. — Você só precisa dizer a data.
— Ah, não, não se preocupa com isso, está longe — respondo sem jeito, bebendo o vinho. — Hum, ótima safra.
Uma música antiga, de balada romântica, começa a tocar, e alguns casais vão dançar no meio do salão. Vinícius estende a mão para mim e, de novo, tem aquele sorriso lindo no rosto.
— Aceita dançar comigo?
Ah, gente, ele é tão fofo!
E ótimo bailarino, pelo que posso comprovar enquanto ele me conduz lentamente pelo salão ao ritmo da música do George Michael. Adoro esses flashsbacks; não peguei essa época, infelizmente, mas gostaria de ter ido a algum baile na adolescência enquanto se tocava algo assim.
— Seu perfume é uma delícia e parece muito com você — sua voz ecoa rouca ao meu ouvido, e eu fecho os olhos.
Oportunidade, Kika!
Lembro-me de Jane falando sobre eu me dar a oportunidade de sentir, de deixar a conexão vir, de aproveitar o momento. Sinto a mão dele nas minhas costas, por cima do tecido do vestido, a carícia leve, a dança envolvente. Espero acontecer, sentir a mesma atração que o diretor jurídico da empresa desperta em mim apenas por estarmos no mesmo ambiente, mas não sinto.
Droga!
A música acaba, Verinha me chama para tirar foto com ela, e a oportunidade passa.
O que será que tem de errado comigo?, questiono-me sobre isso o resto da noite, até chegar a casa e, frustrada, abrir o aplicativo do Fantasy em busca de Portnoy.
“Boa noite, Punheteiro. Na balada?”
Como ele não visualiza de pronto, tomo um banho longo, sentindo-me um tanto “alta” por causa das taças de vinho que tomei e frustrada por não ser normal. Eu poderia ter aceitado a escolta do bombeiro até meu apartamento, fingir que eu estava em chamas e o chamado para apagar.
Mas não, apenas agradeci o oferecimento, alegando que estava bem, e desci sozinha para passar mais uma noite solitária e cheia de questionamentos.
Pego o celular e vejo a notificação que me faz abrir um sorriso.
“Oi, Cabritinha. Não, em casa trabalhando, e você?”
Penso no que escrever, na conotação que vou usar. Se o provocar, sei que teremos uma noite divertida de sexo virtual; se puxar conversa, vou acabar desabafando com ele, e não sei como vai reagir a isso.
“Acabei de chegar de uma festa, agora vou dormir, mas antes queria falar contigo.”
Portnoy não demora nada a responder.
“Estou à disposição. Use e abuse!”
Rio de seu humor e suspiro.
“Esses dias têm sido surpreendentes. Primeiro, o chefe com quem eu vivia entrando em embates me surpreendeu positivamente. Estamos trabalhando juntos por um tempo, por isso estamos convivendo mais. Ainda o acho um arrogante machista, mas talvez tenha algo que o salve. Rs.”
Portnoy não responde, mas vejo que continua online.
“Hoje, um vizinho e eu fomos ao shopping comprar um presente para uma amiga. Eu sempre desconfiei que ele estava interessado em mim, mas hoje acho que ficou bem evidente quando dançamos na festa.”
Portnoy digita, e a mensagem que aparece me faz rir.
“Fez sexo com ele?”
Será que ele se excitaria com detalhes de uma transa minha com outro? Eu até poderia descobrir isso, mas não estou com vontade de criar uma cena fantasiosa apenas para excitá-lo. Quero conversar.
“Não, e isso me deixou frustrada.”
“Por quê? Você queria muito?”
Rememoro a noite, a dança, depois a conversa e os toques sutis.
“Não, e foi isso que me frustrou. Eu sei que parece confuso, mas eu esperava sentir por ele o que sinto com você e o que senti com outra pessoa. O fato é que eu achei que, por gostar dele, termos afinidade, seria mais fácil me sentir atraída, mas percebi que não é assim que funciona.”
“Não é.”
A resposta seca, sem nenhum questionamento ou brincadeira me surpreende.
“Assunto chato, talvez devêssemos falar de outra coisa.”
“Não, continue. Fale sobre a pessoa por quem você se sentiu atraída além de mim. Por que ainda não treparam? Está enrolando-o também como faz comigo?”
Rio, pensando em Kostas.
“Não é tão simples! Por mais que eu me sinta atraída e, às vezes, sinta algo nas suas provocações, não sei o quanto disso é apenas um tipo de jogo para ele. Não temos bom relacionamento, então é estranho nos sentirmos assim.”
“O que pode ser complicado em uma transa? Se vocês estão a fim, qual é o problema?”
“É o meu chefe insuportável, Portnoy! Pense em todos os problemas éticos que isso pode acarretar.”
Ele não responde. Eu aguardo para saber o que ele pensa do que acabei de revelar, mas não há nenhum sinal de digitação, embora o status continue online.
“Estou pensando em te ver pessoalmente.”
Resolvo cutucar uma reação, mas a resposta não vem como eu espero.
“Vai me usar para descontar todo o tesão que sente por ele?”
Usar? O questionamento me deixa sem saber o que responder, afinal, isso entre nós sempre foi sobre sexo, sobre darmos vazão às nossas fantasias. Por que agora ele está falando em eu usá-lo?
“Isso seria ruim? Acho que a culpa de eu estar atraída por ele é sua, das nossas conversas e... eu sei que você vai achar que sou louca, mas, quando te imagino agora, vejo-o.”
“Sobre a questão que me fez: não, não seria ruim, mas você acha que resolve seu problema? Não seria mais fácil ter uma noite muito gostosa com ele e seguir em frente? Aposto com você que ele gostaria disso! Sobre me ver nele, duvido que seja tão gostoso quanto eu.”
Gargalho, achando os dois ainda mais parecidos agora.
“Pelo menos na arrogância os dois empatam!”
Bocejo e me estico na cama, fazendo carinho em Kaká, que já se instalou ao meu lado.
“Preciso dormir, amanhã acordo cedo, pois vou fazer tai chi e depois vou ao hospital.”
“Por que você faz mesmo esses trabalhos? Me lembro de termos falado sobre isso, mas não da sua motivação.”
“Aprendi a amar o trabalho voluntário com meu pai. É importante para mim. Boa noite. Obrigada pela conversa e pelo conselho.”
Ele digita, mas depois para um tempo e, quando manda a mensagem, é apenas um “boa noite”. Acho que ele escreveu algo, depois se arrependeu, mas, como estou realmente com muito sono, não prolongo o assunto com isso.
Programo o celular para despertar, fecho os olhos, e a primeira imagem que me vem à cabeça é a do sorriso do Kostas enquanto falávamos sobre meu gosto literário.
Ele tem a mesma opinião do Portnoy sobre esse assunto!
Eu só quero saber como um homem consegue dormir depois de ouvir da mulher que tem mexido com seus hormônios a tal ponto de fazê-lo sentir-se mais adolescente do que já foi que ela o deseja.
E mais, que dispensou outro cara porque não conseguiu superar o desejo que sente por ele! Porra! Eu nunca passei por uma situação dessas! Pago por prazer sempre, não tenho essa dinâmica de conquistar, convencer e seduzir.
Acabo de descobrir que a sensação é boa pra caralho!
Fiquei puto, sim, quando ela disse que preferia encontrar-se com um homem que nunca viu a trepar comigo. Fiquei louco com isso e com o firme propósito de fazer Portnoy desaparecer em breve. Ele pode ser um empecilho, e seria um tanto ridículo eu mesmo me atrapalhar a seduzir alguém.
Wilka Maria será minha! Essa constatação é inebriante, excitante e muito diferente de tudo o que já experimentei nessa minha vida fodida. Respiro fundo para que a empolgação não me torne irracional, afinal, nossa situação, como ela bem já lembrou, exige cautela.
Tudo indica que não há nenhum outro interesse em mim a não ser o físico, mas ainda assim não posso confiar nela cegamente. Não sei como ela vai se portar depois que tivermos ido para a cama. Pode tornar-se grudenta, apaixonada ou mesmo uma manipuladora, querendo tirar proveito da situação de ter pegado um chefe, um dos herdeiros da empresa em que trabalha.
Concordo que há muitos problemas éticos e legais em um envolvimento sexual entre nós, mas já não tenho como voltar atrás. Wilka Maria é uma caixinha de surpresas, e eu pretendo abri-la para descobrir o que tem dentro.
Sempre achei que a história do trabalho voluntário que a Caprica fazia era mentira, um jeito de parecer bacana, mas, sabendo quem ela é, acho que faz muito sentido. A verdade é que a Cabritinha é uma camaleoa! Nunca pude imaginar que havia tantas camadas nela e que, em cada uma, haveria uma surpresa que me atrairia.
Contudo, tem. Ela é surpreendentemente sexy.
Gosto da ideia da mulher fatal, ninfa do sexo, mas também aprecio a executiva inteligente e compenetrada; a irritadinha boca suja me excita, assim como a mulher sensível que aprendeu a fazer trabalho voluntário com o pai.
Olho para a tela do computador e leio a última frase que escrevi, imaginando como seria a reação dela ao saber quem eu realmente sou.
Do mesmo jeito que tenho meus segredos, ela também tem os dela. Comecei a pensar sobre isso a partir do dia do seu aniversário. Qual seria o motivo para não contar a ninguém e, ainda, ter ficado tão puta comigo como ficou quando eu disse que sabia? Meu faro investigativo não falha, e Wilka Maria certamente esconde algo.
Releio as mensagens que trocamos hoje, buscando analisar cada palavra que ela escreveu aqui. Foi uma conversa diferente de todas as que já tivemos. Ela viu Portnoy como um amigo e uma solução para a confusão que estava passando. A executiva segura de si deu espaço a uma mulher dividida entre o tesão que sente e a ética.
Já passei por isso, assim que descobri que era a mulher que me enlouquecia online, e sei bem quem ganha a parada entre as duas coisas: o tesão. Sinto que estou jogando de maneira correta, não pressiono, deixo que ela mesma decida quando, sim, porque isso é só uma questão de tempo.
Leio sua mensagem dizendo que vai fazer tai chi chuan amanhã de manhã, e a imagem do pessoal fazendo isso no parque Trianon vem à minha memória. Será que ela vai para lá? Bom, eu gosto mesmo de me exercitar naquele lugar, então decido ir. Se a encontrar casualmente por lá, será ótimo; se não, faço meu exercício normalmente e volto para casa.
Desligo tudo, apago meu cigarro e subo para meu quarto. As coisas estão ficando interessantes para mim!, penso ao escovar os dentes. Tenho uma chance real de acabar com a imagem de Theodoros na empresa, fazê-lo parecer com nosso odiado pai, um homem disposto a foder com a Karamanlis por causa de uma boceta fogosa.
Tenho informações e fotos interessantes sobre meu querido irmão e a dona do boteco, e hoje, com a emissão do memorando, ele acabou de completar minha munição. Disparei alguns e-mails para conselheiros que estão na empresa desde a desastrosa década final de Nikkós à frente dela e agora só estou aguardando a notícia de quantas assinaturas irei reunir para incluir o tema na pauta da próxima reunião.
Deito-me na cama e olho para o alto, sentindo-me perto demais de me livrar da presença de Theodoros. Sei que não vai ser já, soube que viajará para lamber as bolas do pappoús no começo da semana, então provavelmente usará isso para adiar essa pauta tão especial.
Sem problema, eu espero! Enquanto isso, posso me concentrar em outro assunto. Fecho os olhos com a esperança de conseguir dormir nesta noite, afinal, preciso me preparar para, quem sabe, começar amanhã uma caçada a uma Cabritinha fujona.
Olho para a garota, encolhida na cama, seu corpo nu trêmulo de medo, lágrimas grossas escorrendo por seu rosto. Meu estômago revira, engulo em seco várias vezes e mantenho a respiração constante para não vomitar aqui mesmo.
Há muito deixei de demonstrar minhas fraquezas, já não sou mais o mesmo, sinto-me endurecendo cada dia mais. Olho-me no espelho e não me reconheço. Não me reconheço!
Não escuto mais a voz que grita comigo. Vejo apenas muitas notas de dinheiro sendo jogadas para o alto e caindo lentamente sobre a garota, que parece cada vez mais assustada. Posso cheirar o medo, sinto seu pavor até na minha medula e entendo. Isso não deveria estar acontecendo!
Eu sinto muito! Sinto-me culpado, já não sou mais a vítima, não posso ser, perdi toda minha inocência, a cada dia mais uma casca cresce em volta de mim, aprisionando quem sou de verdade e criando outro homem. Não posso deter isso, ninguém pode; só resta saber como será essa criatura quando ganhar vida.
Os gritos não param. Estou prendendo minha respiração, tentando não soluçar, tentando não demonstrar o quanto isso tudo me fere, desejando que as coisas voltem a ser como eram antes. Não vão; nada mais será como antes.
É tudo culpa dele! É tudo culpa do Theo!
Arregalo os olhos, sentindo-me sufocado, no exato momento em que o despertador toca. Respiro fundo, confiro a hora e me sinto aliviado por ter conseguido dormir um pouco antes de ter a consciência do pesadelo.
Não vou ter paz, não vou conseguir dormir enquanto não acertar as contas com Theodoros. Não tive tempo de fazer Nikkós pagar, porque ele acabou se enforcando sozinho, virando um ser deprimente, que depende da caridade de pappoús para continuar vivendo, já que ninguém o quer por perto.
— Malditos fantasmas, sumam! — grito e me sento na cama.
Não quero começar este dia em clima sombrio, com a cabeça no passado. Não há mais nada que possa ser feito para consertar todas as merdas que foram feitas, não há remendo que consiga unir minhas partes quebradas. Foda-se! Aprendi a viver assim e não tenho ilusões de ser diferente um dia.
Levanto-me e vou direto tomar uma ducha para lavar todo o ranço que o pesadelo deixou. Tenho uma missão agora de manhã e, para cumpri-la, preciso estar com minha carapaça totalmente blindada com o sarcasmo, o humor ácido e ligeiro e a pose segura de si.
Depois de tomar um café e fumar meu cigarro, coloco a roupa esportiva – short e camiseta, tênis próprios para corridas, um boné preto como toda a roupa –, enfio uns trocados no bolso para tomar mais um café em algum local, caso eu dê com os burros n’água na minha caçada, e saio do prédio direto na Paulista.
Vou correndo até o Trianon, lamentando que a rua ainda esteja aberta, pois seria muito mais confortável correr no asfalto do que na calçada, desviando-me das barraquinhas que já começam a ser montadas.
Chego ao parque e entro, caminhando apenas, atento a cada local onde possa se esconder uma cabritinha. Encontro o pessoal do tai chi reunido, conversando apenas, mas não vejo a gerente entre ele. Começo a me sentir frustrado, mas não desisto de caminhar e passar um tempo por aqui, até que reconheço o jeito peculiar de se vestir, mesmo em malha de exercício, e a leve cadência de quadris de Wilka Maria. Abro um sorriso, reparo em cada detalhe dela, desde o macacão brilhante azul colado no seu corpo coberto por uma blusa solta, óculos de sol espelhados e redondos e fones de ouvido.
Aposto que ela está cantando algo, pois seus lábios se mexem, e ela balança a cabeça de um lado para o outro a todo momento. Não consigo conceber que alguém agitada como ela consiga fazer uma atividade tão leve, monótona e parada como tai chi chuan.
Avanço para encontrá-la exatamente em cima da pequena ponte com guarda-corpo de madeira, e, quando ela me vê, para, estarrecida.
— Ora, ora... — cruzo os braços — parece que, para o lazer, alguém gosta de chegar à Paulista cedo!
Ela bufa.
— Só pode ser obra do capeta, não é possível! — sua voz parece realmente irritada. — Uma cidade deste tamanho, com tanto homem interessante, e eu encontro justamente o último que gostaria de ver antes de morrer.
— Quanto drama, Wilka Maria. — Aproximo-me mais dela. — Bom, quem está na minha área é você, então, se não quer esbarrar comigo, não venha correr no meu quintal.
Ela gargalha alto, chamando a atenção de um casal que está passeando com o cachorro.
— Seu quintal? Como você é soberbo! — Olha em volta. — Não estou vendo nenhuma placa com seu nome no parque.
— Moro aqui, há exatos cinco minutos deste local, então é, sim, o meu quintal. — Aproximo-me mais, e ela recua, encostando-se à madeira do guarda-corpo da ponte. — Quer companhia para o exercício? Acho que nós dois suaríamos bem juntos.
Ela respira fundo, fazendo seu peito subir e seus seios ficarem mais justos contra a malha que usa.
— Já tenho meus companheiros, obrigada. — Aponta para os velhinhos do tai chi chuan. — Por falar nisso, já está começando.
— Tai chi? — Rio. — Sério? Nunca te imaginaria fazendo algo assim.
Ela enruga a testa, e vejo sua sobrancelha aparecer por cima dos óculos de sol.
— Por que não? Eu pareço ser uma pessoa sedentária?
— Não, exatamente o contrário. — Abaixo a voz: — Eu te vejo em exercícios mais intensos, que fazem suar, liberam prazer, não algo tão... — rio devagar — broxante como o tai chi.
— Doutor, eu preciso...
— Não estamos na empresa e nem em horário de expediente, então, chame-me de Kostas — interrompo-a. — Quem sabe até possa te chamar de Kika.
Ela nega.
— Doutor, eu acho melhor... — ofega — que o senhor se afaste — geme quando eu a seguro pela cintura — para que eu possa... — simplesmente perde a linha de raciocínio.
— Para que você possa...? — pergunto, sentindo-me tão sem ar quanto ela.
Não tinha intenção alguma de encostar nela hoje, seria apenas mais um jogo de provocação, mas, talvez impelido pela conversa online ontem, não consegui conter a vontade de sentir seu corpo perto do meu.
— O que está acontecendo? — Wilka indaga.
Nossos corpos estão praticamente grudados, e eu estou curvado sobre ela para que nossos rostos estejam quase na mesma altura. Consigo sentir seu cheiro, uma mistura leve de algum sabonete e uma colônia refrescante. Meus dedos captam o calor de sua pele e um leve tremor em seus músculos.
— Eu não sei — respondo sem fazer nenhum jogo.
Tiro os óculos de seu rosto e consigo ver o turbilhão de emoções que explodem dentro de seus olhos. Estamos respirando juntos, quase bufando como fazem os touros ao entrarem em uma arena. Ela engole em seco, o movimento de sua garganta chamando minha atenção e, quando molha e esfrega os lábios involuntariamente, sei que é meu fim.
Ainda segurando seus óculos, firmo sua nuca e a beijo como venho fantasiando há muito tempo. Isso não foi calculado, aconteceu, e meu coração está disparado com a adrenalina, o pau tão duro que tenho certeza de que a frente da minha bermuda está toda levantada.
Ela demora alguns segundos para corresponder ao beijo, mas, quando me aceita, puta que pariu! Sua boca quente e molhada, a língua safada procurando a minha... Agarro-a com ainda mais força, trazendo-a para mim para que não fique dúvidas de como estou, de como ela me deixa.
O sabor do beijo, as sensações que ele me causa, a sensualidade das nossas línguas se esfregando uma contra a outra enquanto nossos corpos fremem de tesão, tensão e ansiedade... estamos explodindo juntos, essa é a verdade, deixando jorrar todo o desejo reprimido, enrustido nas brigas e rusgas que tivemos até este momento.
As máscaras caíram, estamos nus, sem mecanismos de defesa, sem nada entre nós.
Separo minha boca da dela, deslizando os lábios pelo seu queixo, louco para explorar seu pescoço. Ela geme alto, porém, fica tensa. O corpo, antes pulsando de energia sexual, parece esfriar, endurecer, e eu a encaro.
— O que... — não completo a pergunta por causa da dor filha da puta que sinto em minhas bolas e a olho estarrecido.
Essa doida acaba de me dar uma joelhada no saco!
Escuto o gemido de dor de Kostas e sinto um leve arrependimento. Talvez o golpe tenha saído com mais força do que pretendi. Não, eu nem pretendi, foi apenas um impulso, então, sim, deve ter saído forte para caramba!
Que loucura foi essa? Olho em volta para algumas pessoas paradas olhando para nós, atracados como cães no cio, debaixo de um sol forte de janeiro, em plena ponte dentro do parque. Onde eu estava com a cabeça?
Estava beijando Konstantinos Karamanlis!
Não foi uma fantasia, o beijo aconteceu e foi muito bom. Não, foi incrível! Quando ele se aproximou, eu sabia que algo ia acontecer, meu corpo se aqueceu, minha respiração ficou pesada, o ar parecia rarefeito à nossa volta. Quando me tocou, foi como se tivesse me ligado a uma força potente, senti a eletricidade percorrer a extensão da minha coluna, agitando tudo dentro de mim.
Seu corpo quente fez o meu entrar em combustão, senti sua excitação de várias formas, não só pela evidente ereção, como no gosto de sua saliva, na forma como seus sons ecoaram dentro da minha boca e como me segurava, parecendo querer estar dentro de mim mesmo em um parque público cheio de gente.
Minha reação a ele não podia ter sido indiferente. Minha pele se arrepiou, senti a boca seca, os mamilos duros e um pulsar delicioso entre minhas pernas. Tudo isso em um único beijo!
Então por que o afastei? Por que lhe dei esse golpe certeiro e agora estou olhando-o curvado de dor? Por um só motivo: o homem que estava me beijando era o mesmo que muitas vezes já me desrespeitou, que já menosprezou o meu trabalho apenas por eu ser mulher. Não podia deixar que fizesse o que quisesse assim, sem mais nem menos! Ele sequer me perguntou se podia me beijar e foi logo tascando a boca na minha!
Prepotente gostoso dos infernos!
— Você está maluca? — geme e inquire entredentes. — Tem ideia de como eu estava excitado? Dói pra caralho!
— Por que você me beijou? — questiono sem rodeios.
Kostas para de gemer, mesmo ainda um pouco trêmulo de dor, e me encara, seus olhos parecendo ainda mais azuis do que normalmente são, em contraste com sua pele morena e seus cabelos escuros.
— Por que um homem beija uma mulher? — sua voz rouca me faz puxar o ar e o reter para não gemer e fechar os olhos.
Solto o ar devagar, buscando minha racionalidade para entender o que realmente aconteceu entre nós. O que ele quer, afinal, comigo?
— Não me venha com essa técnica de advogado de fazer perguntas retóricas! — Começo a me sentir ansiosa e agito as mãos ao falar. — Não consegue ser direto e sincero? Por que me beijou?
O desgraçado sorri, mas continua quieto.
— Se isso for uma espécie de jogo ou mais uma tentativa de me humilhar, eu...
— Meu beijo foi humilhante? — Ele perde a pose. — Você se sentiu humilhada?! Você sentiu como eu estava? Acha que planejei te beijar aqui, no meio do Trianon, ter a porra de uma ereção, parecer a droga de um cachorro no cio para te humilhar?
Sua resposta me desconserta. Tento deixar minhas defesas de lado, mesmo que isso seja difícil, para entender o que está acontecendo. Eu me sinto atraída por ele de jeito totalmente irracional, vocês sabem, porém, até hoje achei que ele só me provocava, nunca imaginei que pudesse sentir o mesmo, nunca entendi seu jogo.
E se não tiver nenhum? E se, como eu, ele apenas foi pego desprevenido por essa atração que surgiu entre nós? Lembro-me da conversa que tive com Portnoy, principalmente quando ele me perguntou se não seria mais fácil resolver essa questão com Kostas e depois seguir adiante.
Não é tão simples, Kika, e você sabe disso!
— Então por que me beijou? — repito a pergunta, mas agora baixinho, sem nenhuma resistência, em um pedido de sinceridade.
— Porque eu quis te beijar. — Seus olhos não deixam os meus. — Não sei o que houve, Wilka Maria, mas só tenho pensado nisso ultimamente. — Ele bufa, e eu percebo que não deve estar sendo fácil me dizer todas essas coisas. — Eu sei que não deveríamos misturar as coisas, mas, ultimamente, quando me sinto irritado com você, tenho vontade de te deitar sobre aquela mesa e provar todo seu corpo, sentir o sabor da sua pele e transformar seus protestos em gemidos de prazer. Quero cessar toda e qualquer discussão me afundando no seu corpo, deixar toda racionalidade de lado e só pensar em compartilhar com você todo esse tesão que me inflama. — Respira fundo. — É isso, não tem jogo, só um tesão do caralho que me faz passar pelo menos umas dez horas de pau duro dentro daquela maldita empresa todo dia!
Não consigo emitir nenhum som; nada vem à minha mente, nenhuma piadinha para descontrair a tensão, nenhum discurso ético sobre trabalharmos juntos e ele ser meu chefe, nada! Geralmente eu penso e reajo rápido, mas como responder a isso?
Seguro com força no corrimão da ponte, talvez me refreando para não voar em cima dele, não para brigar ou bater, tão-somente para lhe mostrar que eu também sinto tudo o que acabou de me descrever.
Kostas ri, dá de ombros e olha para os lados.
— Sua aula começou. — Aponta para o pessoal do tai chi, e eu assinto. — Não estou pressionando você a nada, quero deixar claro. Se você não estiver a fim, nada irá mudar no nosso trabalho. Posso ser um babaca filho da puta, mas tento manter o mínimo de ética e ter palavra.
Ele toca a aba do boné em um cumprimento tão antigo – e tão inglês – e se afasta, voltando a caminhar em direção ao interior do parque. Não deixo de olhá-lo nem por um minuto, até que some em uma curva, e solto o fôlego devagar.
Ponho a mão no rosto, fechando os olhos, sentindo-me perdida dentro de uma situação tão surreal que não sei como agir. Dou pela falta dos óculos e os procuro pelo chão, mas não os acho. Estávamos tão nervosos que não percebemos que ele continuava segurando-os e que os levou ao ir embora.
Começo a rir – feito uma doida –, atraindo a atenção dos que passam por mim. Às vezes, quando estou muito ansiosa, isso acontece, um ataque de risos que não para, tão intenso que me tira lágrimas dos olhos.
É real! Dessa vez não é uma fantasia com um homem desconhecido que nunca terá acesso a mim. Não tenho dúvida alguma de que o quero da mesma forma, só preciso saber como agir.
Preciso de ajuda!
Olho para o pessoal do tai chi e desisto da aula. Tento fazer esse exercício exatamente para controlar minha ansiedade e agitação, mas me conheço bem, e, neste momento, a única coisa capaz de me desacelerar é o Starbucks.
Preciso de chocolate!
Saio correndo do parque e continuo a corrida pela Paulista, agradecendo por hoje ser domingo e isso ser comum nesse dia. Sempre passeio por aqui depois do exercício no parque, olhando as barraquinhas, os artistas de rua e as crianças se divertindo no asfalto da avenida mais importante da cidade como se estivessem no quintal de casa. Contudo, hoje, não dá para fazer isso!
Entro na cafeteria e peço logo um frappuccino de brigadeiro, um dos meus preferidos. Sento-me para esperar e pego o celular.
“Malu, preciso conversar com você!”
Digito a mensagem e aguardo, nervosa, sem saber o que fazer daqui para frente. Amanhã de manhã o clima vai ser estranho na empresa, tenho certeza. Relembro a agenda da semana; amanhã tenho reunião com Theo cedo, pois ele irá viajar para a Grécia, e Millos só chegará de suas férias na próxima semana. Então, se eu me mantiver ocupada, não precisarei ficar em minha sala o dia todo.
Merda! Sinto-me uma garotinha me escondendo assim dele. Não sou assim, porra, não sou insegura em nada na minha vida, tenho que ser justo nisso?
E o que eu vou falar com a Malu?, penso olhando para a mensagem que acabei de mandar, movida pela ansiedade. Eu, que geralmente a aconselhava nesses casos, mandava-a aproveitar a vida sem pensar em mais nada, contava de todos os meus encontros fantasiosos como se eles fossem de verdade!
Respiro fundo para não pirar e começo a contar minha respiração. Não tem jeito, precisarei ligar para minha terapeuta. Eu quero Konstantinos Karamanlis e sei que vai ser só uma questão de tempo para esse desejo que sentimos explodir e aí...
— Kika Reinol! — a atendente do café me chama.
Levanto-me, pego minha bebida e a tomo praticamente em um só gole, como se fosse minha tábua de salvação.
O café misturado ao chocolate me acalma e clareia a minha mente a ponto de me fazer ter uma ideia mirabolante!
Eu vou para a cama com Kostas, sim, mas antes vou transar com Portnoy!
Não pude deixar de pensar no beijo, e encarar a segunda-feira com chances de encontrar Kostas não foi fácil. Por sorte, quando entrei na sala, hoje, não o encontrei – o que era um milagre, pois sempre chega antes de mim –, por isso tive relativa paz para trabalhar.
Digo “relativa” porque a toda hora olhava o celular, conferindo se Portnoy havia me respondido.
Eu pus em prática a ideia que tive na cafeteria e, antes de dormir, no domingo, enviei mensagem convidando Portnoy para um encontro de verdade. Esperei por alguns minutos que ele aparecesse online, porém, ele não o fez, e eu tentei dormir.
Sonhei com Konstantinos, nós dois nus sobre a mesa da sala dele, expostos por causa das paredes de vidro sem persianas. Ele era quem estava deitado no tampo, e eu o cavalgava enlouquecida enquanto aquelas mãos enormes seguravam meus seios, beliscando-os com os dedos, e eu gemia como fiz no parque ao sentir seu beijo.
Acordei suada, descoberta e com a calcinha encharcada. Tentei resistir a me tocar pensando nele e no sonho, mas não consegui e gozei com a sensação da sua boca na minha. Foi intenso, meus lábios formigavam de vontade dos dele, e eu fantasiava que era seu toque que meu clitóris recebia.
Depois disso, dormi até o despertador tocar, levantei-me, fiz todo meu ritual matinal e entrei na Karamanlis encolhida, quase sem cumprimentar ninguém, com receio de encontrá-lo pelos corredores. Respirei aliviada quando entrei na gerência e mais ainda quando me deparei com minha sala vazia.
Chamei meu pessoal para uma pequena reunião rápida, pois tínhamos uma apresentação marcada na empresa de um cliente, ajustamos os últimos detalhes e saímos. Fiz a apresentação junto a Rosi, Leo e Carol, depois fomos almoçar juntos, e agora, finalmente, estou retornando para minha sala com o firme propósito de adiantar os relatórios da siderúrgica e dar andamento ao projeto o mais rápido possível.
Estou muito disposta ao trabalho. Geralmente fico assim quando estou brava ou frustrada com algo. E não, dessa vez o motivo da minha irritação não é o Kostas, mas sim o Portnoy, aquele frouxo, que ficou um ano insistindo em um encontro e que, quando digo sim, inventa a porcaria de uma desculpa esfarrapada e corre!
Viagem de trabalho!
Nós nos falamos no sábado, e ele não disse nada sobre isso! Ninguém arranja e organiza uma viagem de trabalho em apenas um dia, e o cara de pau teve a pachorra de dizer que só tinha ficado sabendo hoje!
Ele é um pau no cu, isso sim! Arregão dos infernos!
Vou para minha sala ainda xingando-o mentalmente de todas as formas que sei e que existem para definir um homem covarde – Coca-Cola, garganta, borra-botas, cagão e... minha linha de raciocínio morre quando abro a porta e encontro Kostas com um buquê de rosas de cor champanhe nas mãos.
Nós nos olhamos assustados, eu por não esperar que ele tivesse tal gesto, e ele talvez por ter sido pego com a boca na botija, e ficamos estáticos por alguns segundos.
— O que... — começo a perguntar, mas ele se adianta.
— Acabaram de entregar para você. — Ele ergue o buquê – como se eu já não o tivesse visto – e o deixa sobre minha mesa. — Como você não estava, fui eu quem o recebeu.
Não são dele!, a constatação me deixa desanimada, mas ainda curiosa para saber de quem são. Procuro o cartão e o encontro jogado entre as rosas. Muito estranho! Recebi buquês de rosas pouquíssimas vezes em minha vida, e em todas elas, os cartões vieram presos na embalagem.
Será que Kostas... Não! Ele não se atreveria a ler algo que não é seu!
Abro o envelope e um sorriso ao ler a mensagem fofa do Vinícius agradecendo a ajuda com a compra do presente da Verinha. Ele não precisava ter enviado uma dúzia de rosas para o meu trabalho apenas para agradecer, mas, já que o fez, decido ligar para agradecer.
Vinícius atende ao segundo toque:
— Oi, recebeu as flores?
— Oi! Recebi, são lindas, obrigada! — Dou a volta na mesa e me sento na cadeira, de frente para o Kostas. — Nem vou colocar na água aqui, pois quero levá-las para casa. Vejo você por lá?
Kostas dá uma risadinha, e eu aperto os olhos.
— Hoje não, estou no trabalho, mas fiquei feliz que tenha gostado! Obrigado pela ajuda e companhia!
— Sempre que precisar!
Ele se despede, e eu também. Coloco o celular sobre a mesa e ligo o computador.
— Você nem as cheirou — Kostas diz de repente, e eu o encaro.
— Como?
Aponta para as flores.
— Você nem as cheirou. Eu imaginava que toda mulher gostasse do perfume das rosas, mas você nem as tocou! — Ri. — Aparentemente, não gostou tanto assim do presente.
Rio e cruzo os braços.
— Engano seu, adoro plantas! — principalmente quando estão plantadas na terra para viver bastante!, concluo, mas não o digo em voz alta.
A verdade é que não gosto de receber buquês e arranjos. As flores estão aqui, lindas à minha frente, mas estão morrendo, agonizando lentamente até não sobrar mais nada e toda essa beleza ir para o lixo. É um gesto bacana, mas um desperdício e um tanto mórbido.
— Você tem um jeito diferente de mostrar sua animação com um presente. — Ergue a sobrancelha. — Já te vi mais animada do que isso apenas por um donut com cobertura de chocolate.
Agora quem ergue a sobrancelha sou eu. Tenho certeza de que ele não pretendia demonstrar que presta tanta atenção assim a mim e às coisas que gosto ou não. Ato falho, ilustríssimo doutor! Sorrio, mais animada com isso do que com as rosas.
— Comida me conquista mais fácil. Eu sou um verdadeiro dragão com fome, mas um cordeirinho com a barriga cheia.
— Obrigado pela dica! — Ele pisca, e eu fico sem jeito. — Talvez, ontem, eu tivesse tido uma recepção melhor se tivesse te feito engolir um chocolate antes.
Rolo os olhos, sem poder acreditar que ele vai mesmo puxar esse assunto aqui, dentro da sala onde trabalhamos! Finjo não o ouvir e abro o arquivo que pretendo ler, ignorando-o. Já é tarde, a maioria dos funcionários já deve estar indo para casa, e não pretendo ficar até às 22h de novo!
Leio as duas primeiras linhas do documento, quando tudo some e a tela do computador apaga.
— Mas que por...
Kostas se levanta do chão, debaixo da minha mesa e me mostra a tomada do computador. Arregalo os olhos e fico de pé também.
— Está doido?! Por que fez isso?! Eu poderia ter perdido o documento e...
— Nem deu tempo de digitar algo! — diz displicente, expressão debochada. — Não gosto de ser ignorado, Wilka Maria.
— Você é louco! — Pego minha bolsa. — Não temos nada a conversar sobre o parque ontem.
— Temos! — Ele fica à minha frente. — É claro que temos! Ontem eu fui sincero com você, mas não recebi o mesmo tratamento.
— Kostas, é melhor não... — tento dizer, mas ele se aproxima mais.
— Por que não? Eu quero, você quer, somos maiores e sãos. O que nos impede?
Respiro fundo, gostando do argumento, mas sem querer aceitá-lo. Há, sim, muitos impedimentos! Trabalhamos juntos, ele é um dos donos da empresa, chefe, babaca machista, gostoso pra caralho, mas ainda assim um grande...
— Kika, se você conseguir me olhar e dizer que não quer, saio daqui imediatamente. — Sua mão esquerda para em cima da alça da minha bolsa, e a outra acaricia meu rosto. — Basta dizer.
É apenas um toque, mas, onde os dedos dele passam, deixam rastros de calor que me aquecem inteira. Quero dizer a ele que não, que está enganado quanto a mim, que não cederei tão fácil, mas eu o desejo!
Oportunidade! Se deixar ir, sentir, aproveitar o momento!
Não teve outro homem que já mexeu comigo dessa forma, então, por que não? É apenas uma experiência, uma noite; depois disso, seguimos como se nada tivesse acontecido.
Concordo com o pensamento, balançando a cabeça, ponderando que, antes de qualquer coisa, nós dois precisamos conversar, e eu preciso deixar claro que...
Sou puxada pela alça da bolsa, batendo de encontro a um enorme e sólido corpo, com braços longos e fortes que me envolvem antes de eu ser literalmente devorada por uma boca faminta de beijos.
Puta que pariu, para que conversar?
Quando a vejo balançar a cabeça em sinal afirmativo, não espero duas vezes. Bem, nem mesmo se eu quisesse, conseguiria esperar! Ajo no reflexo, impulsionado por uma necessidade de tê-la colada a mim de novo igual ao que aconteceu no parque, puxo-a sem nenhuma sutileza pela alça da bolsa, fazendo-a praticamente cair sobre mim desequilibrada e ofegante.
Não dou tempo para que ela tome fôlego e comece a questionar cada situação que pode advir disso que vamos fazer, então decido sutilmente foder sua mente de uma vez, antes que percamos esse clima gostoso que perpassa entre nós.
Os lábios macios oferecem pouca resistência, o corpo desequilibrado usa o meu para se apoiar, ficando colado em mim, permitindo que eu sinta cada detalhe de sua anatomia. Sorvo sua saliva, sinto o sabor suave de café e, talvez, chocolate. Não me concentro nisso, apenas no movimento perfeito de seus lábios, em sua língua na minha, buscando-a como se dependesse dela para algo.
Eu me sinto queimar inteiro! É esse o efeito desse beijo em mim, combustão, incêndio, explosão! Minhas mãos percorrem seu corpo sem nenhum tipo de controle, agindo como se tivessem vida própria, conhecendo, tateando, ao mesmo tempo em que contribuem para manter nossa excitação no limite. Eu quero comer, mastigar, foder essa mulher como se fosse o último ato desesperado de um homem. Quero inundá-la de prazer, ouvir seus gritos, sentir suas unhas e dentes cravados em mim enquanto goza.
Ergo-a do chão sem nenhum esforço, segurando-a por sua bunda deliciosa, redonda, dura e a pressiono contra mim para que não haja dúvidas do meu tesão. Meu pau lateja em uma dor deliciosa, não sinto mais nada a não ser o desespero da liberação, a vontade de estar dentro dela de qualquer jeito possível.
Wilka geme sem tirar a boca da minha, seus braços enroscados em meu pescoço, apertando-o, mantendo-me preso como se eu fosse fugir disso tudo. Como se eu pudesse! Sou seu refém tanto quanto seu captor, dominado e dominando na mesma medida.
Preciso tocá-la, o contato apenas com sua boca já não é mais suficiente, preciso de tudo dela. Ergo seu vestido, arrastando as mãos por suas coxas, tremendo ao sentir sua pele macia. Apoio as mãos embaixo de suas nádegas e a faço me abraçar com as pernas, corpos encaixados, um respirando o outro, seus gemidos deliciosos me dando mais e mais tesão. Sinto seus quadris se mexerem, rebolando em mim mesmo ainda vestida, desesperada pelo mesmo que eu.
Caminho sem rumo, a boca deixando a dela, percorrendo seu pescoço, provando como um faminto, sentindo o forte pulsar de sua artéria, a agitação que também sinto. Ouço barulho de coisas indo para o chão, mas ligo o foda-se para qualquer coisa neste momento que não seja estar enterrado nela.
Apoio-a sobre a mesa. O cheiro de rosas chega até onde estou, e Wilka se deita, olhos fechados, contorcendo-se de prazer. Minhas mãos invadem o vestido e acham a calcinha pequena de tecido liso e fino. Puxo-a para baixo, mas não a retiro, pois suas pernas ainda estão travadas em mim.
Quase enlouqueço ao vê-la exposta, sua boceta perfeita, sem pelos, emoldurada pelas belas coxas que me atraíram desde a primeira vez que as vi. Não consigo esperar, abro minha calça e puxo meu pau para fora com apenas um movimento, segurando-o com força.
Wilka levanta a cabeça para espiar, e eu rio.
— Curiosa? — pergunto esfregando-o em sua calcinha.
Ela arregala os olhos, e eu gargalho, puxo a peça íntima com tanta força que a rasgo, avanço para cima dela e me inclino sobre seu corpo.
— Quero foder sua mão, sua boca, seus peitos, sua bunda... — beijo-a — mas antes... — encosto a glande em sua entrada e a esfrego — quero experimentar sua boceta, molhar meu pau no seu tesão, socar em você até perder a consciência.
— Kostas... — ela resfolega, e eu sorrio, movendo meu pau sobre seu clitóris, desesperado, sentindo sua lubrificação fazendo-o patinar e excitá-la a tal ponto que sei que irá gozar a qualquer momento. — Eu preciso...
— Eu também! — Aumento a velocidade, trinco os dentes e fecho os olhos.
Posso sentir cada parte de sua boceta em detalhes, mesmo sem vê-la, apenas com a sensibilidade do meu membro. Lábios bem contornados, carnudos, que se mexem sutilmente quando eu os agito e se fecham no exato ponto onde sinto uma rigidez pulsante. É uma tortura me masturbar masturbando-a, é sexy, decadente, gostoso demais!
— Kostas...! — sua voz sai mais alta, e eu a olho no exato momento em que goza. Travo o corpo todo, meus dentes batem um no outro e sinto uma leve ardência na base do meu pau ao segurar meu próprio gozo.
Não consigo mais, ainda que eu queira ficar aqui, apenas roçando meu pau contra sua boceta molhada, sentindo-a delirar com o contato, ou que sinta a boca cheia d’água de vontade de provar seu sabor e receber seu orgasmo em minha língua, não dá para controlar a vontade de me enterrar dentro dela. Então, em desespero, faço o movimento de uma só vez, deslizando entre os lábios úmidos, achando sua entrada apertada e me afundando nela.
Ela grita de um jeito doloroso, e seu corpo fica tenso. Encaro seus olhos arregalados, cheios de lágrimas. Sua face, antes corada, está pálida e tem expressão de dor. Wilka estava muito excitada, não posso tê-la machucado, porém, senti como se algo tivesse me segurado por um segundo e depois cedido com tamanha pressão que fui sugado para seu interior.
Não pode ser!
Fico imóvel em cima dela, sem acreditar nas lágrimas que vejo escorrerem de seus olhos. Essa é a minha Cabritinha, a ninfa do sexo, a mulher com quem dividi as mais inusitadas sacanagens. Ela não pode ser virgem!
Minha cabeça começa a rodar, e eu tento me afastar, porém, sou detido por suas pernas, que me mantêm preso a seu corpo.
— Está tudo bem. — Wilka tenta sorrir, mesmo com os olhos brilhando de lágrimas. — Eu devia ter falado em algum momento que... — Morde o lábio e desvia o olhar do meu. — Não tivemos tempo para conversar e...
— Você... é... virgem? — a situação é tão esdrúxula que mal consigo formular a pergunta.
Ela suspira, tenta rir de maneira casual, mas consigo enxergar o constrangimento que faz com que a resposta – óbvia – seja positiva.
— Bom, levando-se em conta que seu pau está todo enterrado em mim — ela tenta fazer uma expressão divertida, mas parece ficar cada vez mais tensa —, eu acho que era, né?
— Porra!
Afasto-me dela o mais rápido possível e quase caio em cima da minha mesa de trabalho. Cambaleio por um momento, como se tivesse acabado de levar uma porrada na fuça, e tento respirar. Não consigo! Imagens, cheiros, sons, meus ouvidos zunem, e sinto as pernas bambas. Como isso foi acontecer?!
— Kostas? — ela me chama. Ouço um leve tremor em sua voz, mas não consigo encará-la. O pesadelo está de volta. — Está tudo bem, não se preocupe, era só um pedaço de pele, não a peste!
Estico as mãos na direção dela, de olhos fechados, e balanço a cabeça. Ela não tem noção do que me fez, não tem ideia do que isso desencadeou dentro de mim. Não tem!
Arrumo a roupa do jeito que dá e saio o mais rápido possível da sala, batendo a porta, correndo pelos corredores como se estivesse sendo perseguido por demônios.
E estou!
Os gritos estão cada vez mais fortes, e as sensações também. Vejo o sangue, o desespero, e tento me controlar de qualquer jeito. Não posso sair da empresa neste estado! Entro no elevador, olho para o espelho, mas não me vejo. Há um monstro me encarando, podre, sendo comido vivo por causa do que fez no passado.
Soco o espelho do elevador; o vidro se parte e rasga minha mão, mas não ligo nem para a dor, nem para meu próprio sangue pingando no chão. Só não quero mais ver quem eu sou, só não quero ter que encarar o verdadeiro Konstantinos Karamanlis.
O elevador se abre na garagem do prédio da empresa. Vou até uma das salas onde guardamos as chaves dos carros da Karamanlis e que, pelo avançado das horas, não tem ninguém. Abro-a com minha chave, pego qualquer chaveiro no armário e aperto o alarme para saber a qual carro pertence.
Saio da garagem cantando pneus. O guarda noturno olha-me assustado, mas me reconhece e abre o portão.
Eu preciso sair daqui! Tenho que sair daqui!
O dia está amanhecendo, e ainda sinto o perfume dela, o sabor de sua boca, o cheiro do seu gozo impregnado em mim. Bebo mais um gole do bourbon barato que encontrei em uma espelunca qualquer e olho o conteúdo da garrafa, já abaixo da metade.
Passei a noite dentro deste carro. Dirigi sem rumo depois que saí da empresa, parei no primeiro bar que imaginei ter uísque, comprei duas garrafas e voltei a dirigir.
Só parei quando cheguei aqui, a este maldito lugar onde estou agora, revivendo o inferno da minha vida como forma de expiação de pecado. Foda-se! Olho o sobrado caindo aos pedaços do outro lado da rua e sinto meu estômago revirar.
Eu jurei a mim mesmo que nunca mais viria até aqui. Cumpri essa porra de promessa por anos, mas do que adiantou? Não importa para onde eu fuja, toda aquela merda vai comigo. Podem-se passar anos, mudar de país, de cara e de nome, as desgraçadas lembranças estão gravadas na minha cabeça e nunca saem de lá. Por mais que eu as esconda, sempre vêm me espiar nos sonhos, lembrar-me de que estão vivas e de quem eu sou.
Deito a cabeça sobre o volante e penso em tudo o que aconteceu ao longo do dia, tentando notar alguma indicação de que estaria bêbado, fodido e vomitado em um dos bairros mais perigosos da cidade, em frente ao lugar que eu já deveria ter demolido, mas que comprei apenas para ver apodrecer e cair enquanto o mesmo acontece comigo.
Cheguei à empresa puto e fui direto para minha sala na diretoria jurídica. Não queria encontrar Wilka Maria, não enquanto eu ainda estivesse fervendo de raiva. A vontade que tinha era de entrar naquela sala e a sacudir até que tivesse um pouco mais de senso e percebesse que, por mais que negasse, me queria tanto quanto eu a ela.
Não bastasse aquela joelhada no saco no parque, a diaba teve a pachorra de mandar mensagem para Portnoy dizendo que queria se encontrar com ele para transarem. Assim, logo depois de ter gemido em minha boca, cheia de tesão, ela mandou a porra de uma mensagem para outro homem convidando-o para trepar.
Eu sei, vocês devem estar gritando comigo que o outro homem sou eu mesmo, mas, porra, ela não sabe disso! Então, sim, fiquei puto, não respondi e ainda arremessei meu celular contra a parede da sala e tive que comprar outro pela manhã.
O que me leva à primeira merda do dia, pois, assim que liguei o aparelho, chegaram várias mensagens de Millos me xingando e perguntando o que eu pretendia com o pedido de inclusão de pauta sobre Theo e Duda Hill. Respondi a ele que estava na hora de deixarmos de ser sombras do netinho amado, e ele, depois de me mandar tomar no cu, disse-me que preferia ser sombra do Theo a ser um filho da puta traiçoeiro.
Fiquei puto por ele não me apoiar, afinal só se beneficiaria com a saída do atual CEO, mas é tão cego com essa mania de lealdade que não percebe que eu seria muito melhor do que meu irmãozinho mais velho.
O resultado dessas duas situações foi uma noite azeda e uma manhã sombria, enfurnado na minha sala, sozinho, puto demais para falar com alguém sem berrar, então descontei minha frustração no trabalho e no cigarro.
Mais tarde fiquei pensando nas mensagens de Kika e seriamente tentado a marcar o tal encontro de foda, deixar que ela fosse até algum motel e revelar que eu sou o Portnoy e encerrar todo o ciclo de mentiras – minhas e dela – de uma vez.
Obviamente, não o fiz, e fiquei o dia todo exilado na diretoria jurídica, resmungando como um cão sarnento, frustrado e puto. Queria poder entender aquela mulher, o que queria, por que teve aquela reação depois do beijo mesmo correspondendo.
Sinceramente, eu não entendia nada! A imagem que tinha dela não correspondia a tudo o que ela estava me mostrando, e isso, para alguém que se julga um ótimo avaliador de caráter, era alarmante.
Já ao final do expediente da Karamanlis, entre 18h e 19h, recebi um e-mail de Viviane Lamour me convidando para uma conversa, pois, segundo ela, tinha coisas interessantes a me mostrar sobre meu irmão. Dei um sorriso cínico, pensando no que havia acontecido para que a mulher, que se mostrava tão resistente a me ajudar, tivesse mudado de ideia. Descartei a mensagem; já não me interessava mais, eu tinha conseguido coisa muito melhor para desgastar a imagem de Theodoros e sem a ajuda de ninguém, só dele mesmo.
Assim que ele voltasse da Grécia, o Conselho se reuniria, e essa história pesaria contra ele, desde sua obsessão por comprar um terreno para o qual não tínhamos cliente ou projeto em vista, à compra de uma promissória prestes a vencer para ser cobrada de um espólio e o envolvimento dele com a herdeira, que culminou no pedido para sobrestar a ação de cobrança, gerando, assim, prejuízo.
Theodoros fez tudo o que um diretor executivo não poderia fazer, misturar interesse pessoal com os da empresa. Exatamente o que Nikkós fazia e que lhe custou sua cabeça.
David bateu à porta de vidro da minha sala, e eu fiz sinal para ele entrar.
— Doutor, o levantamento das legislações que me pediu para a conta Ethernium. — Ele deixou uma pasta em cima da mesa. — Mandei uma cópia para o servidor também. O doutor precisa de algo mais?
— Não, David.
O advogado se despediu, e eu olhei para a pasta e decidi deixá-la em minha mesa lá na gerência de hunter. Enquanto ia, tentava me convencer de que não estava fazendo isso para ver a gerente esmagadora de bolas, que só queria deixar o documento junto aos outros que estavam lá e devolver os malditos óculos de sol que acabei levando comigo depois do beijo trágico no Trianon.
Não vou disfarçar que fiquei decepcionado quando entrei e não a encontrei na sala. A mesa estava em perfeita ordem, como ela costuma deixar, o caderno de anotações fechado em um canto, o computador desligado e sua cadeira encaixada debaixo da mesa.
Estranhei que ela tivesse saído mais cedo que o costume, deixei o documento e os óculos na mesa que usava e, quando ia sair, uma das recepcionistas tomou um susto ao me ver. Ela carregava um ramalhete de flores – em uma embalagem brega, cheia de corações – como se fosse uma preciosidade.
— Boa noite, doutor — cumprimentou-me sem jeito. — Acabaram de entregar para a Kika, mas, como ela ainda não voltou da reunião...
Ah, reunião externa!, pensei ao estender a mão e pegar o buquê. A diaba vai voltar!
— Pode deixar, que eu mesmo entrego; provavelmente ainda estarei aqui quando ela retornar.
A moça sorriu.
— Ah, obrigada! Eu já preciso ir embora, então ia deixar na mesa dela.
— Pode ir tranquila, eu mesmo entrego.
Fechei a porta praticamente em sua cara e fiquei analisando o arranjo. Eu não entendo nada de flores, muito menos de rosas, afinal, para quem eu mandaria algo assim?
Cheirei as rosas, mas retorci o nariz por me lembrar do velório de minha avó materna, quando eu ainda era criança. Joguei o buquê de qualquer jeito em cima da mesa dela, então vi o pequeno envelope branco colado com durex na embalagem cafona e o puxei para ler.
Eu sei que vocês vão dizer: ei, doutor, ler correspondência alheia é falta de educação, além de ser crime! Foda-se, o envelope nem estava lacrado, então não houve violação, só indiscrição mesmo.
Li a mensagem deixada por um tal Vinícius e lembrei que ela me disse, no chat online, que tinha ido para uma festa com o vizinho, mas que não se sentira atraída. Ergui a sobrancelha e abri um sorriso, em um deboche competitivo cheio de testosterona, lamentando a perda de dinheiro e de tempo do meu companheiro de gênero.
Se fodeu, vizinho!
Já tinha colocado o bilhetinho de volta no envelope e estava tentando voltar a colá-lo na embalagem quando ouvi um barulho na porta e, na pressa, joguei-o no meio das flores.
Enfim, penso ao beber mais um gole do bourbon barato e de má qualidade, o resto foi o pandemônio que vocês já sabem. Perdi a cabeça, trepei com uma colega de trabalho e acabei descobrindo que ela era uma virgem mentirosa que gostava de “tirar sarro” com a cara dos outros pela internet.
Uma gerente de alto nível, com 30 anos de idade, virgem! Seria uma situação até engraçada se não tivesse me feito revisitar um dos piores infernos do meu passado e, de quebra, me deixado com uma dor do caralho no saco por não ter gozado.
Parabéns, Wilka Maria!
Ergo a garrafa em um brinde a ela, pois conseguiu me levar a nocaute novamente e, dessa vez, nem precisou do joelho!
Estou tremendo, sem entender o que aconteceu aqui nesta sala, sentindo-me desconfortável por ainda estar sentada em cima da mesa. Olho para baixo e vejo a calcinha rasgada no chão, pétalas de rosa por cima dela, e um cheiro estranho em todo o ambiente.
Passo a mão nas minhas costas e sinto as plantas agarradas nela. Fecho os olhos, e as primeiras lágrimas caem silenciosas, pois não consigo me mexer. Nem sei quanto tempo se passou desde que Kostas saiu desta sala batendo a porta, correndo como se eu fosse um monstro.
Encolho as pernas, apoiando os pés no tampo da mesa e me abraço. Os dentes batem forte um no outro, tento parar de tremer, reorganizar os pensamentos, mas não dá. Não consigo entender o que aconteceu!
Se um dia alguém me perguntasse como eu gostaria que fosse minha primeira vez, certamente eu não iria descrever o que acabou de acontecer. Não seria de forma desvairada, em cima de uma mesa e sem nem tirar a roupa. Eu realmente gostei de ter minha calcinha arrancada e rasgada, gostei de sentir o desespero dele, porque também era como eu me sentia, mas o final, a reação dele ao fato de eu ser virgem, desconsertou-me.
Estava tudo indo tão bem, mesmo depois da dor, eu queria continuar, estava com o corpo ainda excitado pelo jeito que ele usara o seu próprio para me fazer gozar e queria mais, queria conhecer o que era o prazer que inebria tantas pessoas nesse mundo, e ele era o homem que meu desejo escolhera, era aquele que me fazia sentir e ansiar. Eu queria Konstantinos Karamanlis desesperadamente. Por isso, assim que vi seu rosto pálido e seu olhar de assombro, percebi que algo de errado estava acontecendo.
A princípio pensei que o susto no rosto dele fosse algo normal, pois não lhe contei que ele estava lidando com uma virgem de 30 anos de idade. Ele nunca iria imaginar, e eu não posso culpá-lo por não ter adivinhado. Kostas não me machucou de propósito, pelo contrário, não me penetrou assim que tirou minha lingerie, antes brincou com meu sexo e me fez estar preparada para recebê-lo.
Foi muito bom e prometia ser além de todas as minhas expectativas, mas agora sinto como se um enorme buraco tivesse sido aberto dentro de mim. Um vazio tão grande, o sentimento de rejeição, de abandono que não tenho como preencher com nada, nem mesmo com minha indignação.
Quero xingá-lo, amaldiçoá-lo, cuspir em sua cara e estapeá-lo até que me diga o motivo pelo qual me tratou desse jeito. Não consigo entender o que houve para que ele ficasse tão transtornado!
Respiro fundo várias vezes, tentando me acalmar. Seco o rosto com as mãos e desço da mesa. A pontada dentro de mim me lembra de que não sou mais a mesma. Mesmo que seja só uma questão anatômica, faz-me pensar em tudo o que poderia ter sido e que, por causa dessa condição, não foi.
Tento não pensar sobre isso, quero sair da sala o mais rápido possível, tomar um banho e me livrar do cheiro insuportável de rosas que impregnou meu corpo. Quero me livrar da sensação do corpo dele no meu, mesmo aquela que foi deliciosa.
Pego o que restou da calcinha e a jogo dentro da minha bolsa, que também resgatei do chão. Ajeito meu vestido, olho para o buquê amassado e as rosas despetaladas em cima da mesa e sinto o estômago embrulhar.
Junto tudo, limpo a mesa e sigo para o banheiro.
Meu rosto marcado pelas lágrimas me encara diante do espelho. Jogo as rosas no lixo, embrulho a calcinha em papel higiênico e faço o mesmo. Só então olho para o meu corpo. O vestido amarrotado não é nada perto das coxas pegajosas.
Sempre carrego lenços umedecidos na bolsa, então uso-os para me limpar e poder vestir a calcinha extra que também levo comigo para eventuais acidentes. Não vejo sangue, fato que me deixa aliviada, pois sempre imaginei que, quando perdesse a maldita virgindade, ele jorraria pernas abaixo, de tão antigo que estava o hímen lá, intacto.
A umidade que senti nas coxas era minha própria lubrificação e, talvez, a dele. Que loucura! Além do local impróprio, da correria, ainda íamos transar sem nenhuma proteção. Jogo água no rosto e me pergunto onde estava com a cabeça.
Nunca fui imprudente ou irresponsável em minha vida e, nesta noite, ignorei tudo isso por uma paixão avassaladora que resultou em mais uma ferida dentro de mim. Rejeição! O meu maior medo desde que percebi que o tempo tinha passado e eu continuava virgem. Uma virgem de 30 anos de idade!
Por que ele me rejeitou? Choro, soluçando, sem conseguir me conter. Sexo sempre foi uma questão tensa para mim, uma trava, uma vergonha que me fazia mentir e esconder que nunca tinha experimentado. Eu brincava sobre o assunto, criava fantasias tiradas de algum livro, escondia-me atrás de um personagem que inventei para mascarar meu medo.
Eu enxerguei o sexo como algo sujo por muito tempo. Sujo, doloroso, errado. Quando comecei a namorar, na adolescência, percebi que, ao contrário do pessoal da minha idade, eu não tinha a mínima vontade de ter minha primeira experiência, e, por isso, o relacionamento não deu certo. O garoto queria transar comigo, e eu sempre negava.
Depois, já na faculdade, eu comecei a sair com um homem e já logo o avisei que teria que ter paciência, pois não estava pronta para ir para a cama com ele. Foi aí que comecei a terapia, depois de fazer vários exames hormonais a fim de entender minha falta de libido e nenhum ter mostrado problema, e tentei entender o que acontecia comigo.
O Dado, meu namorado na época, foi superpaciente comigo e acompanhava o tratamento de perto, sempre querendo saber se podia fazer algo para ajudar. Um dia, depois de eu chegar da terapia um tanto desanimada, ele me consolou dizendo que não se importava com sexo, pois o que valia de verdade era o amor que sentíamos um pelo outro. Naquele momento, percebi outro fato alarmante sobre mim: eu não estava apaixonada.
Eu nunca tinha estado apaixonada por ninguém!
Terminei o namoro – não era justo ficar com alguém sem corresponder o sentimento – e tentei me entender antes de entrar em outro relacionamento, e o tempo passou sem que isso me incomodasse, sem que eu tivesse encontrado alguém que me fizesse querer mais do que beijos e abraços.
Entrei no estágio na Karamanlis, conheci tanta gente bacana, inclusive um rapaz da TI que vivia dando em cima de mim, e a as meninas ficavam botando pilha para eu ficar com ele. Ficava apavorada apenas com a possibilidade de que todos descobrissem que eu era virgem, afinal, já tinha 25 anos, era independente e não poderia explicar meus motivos sem me expor.
Foi aí que nasceu a personagem descolada, que não se prendia a ninguém e que tinha horror a relacionamentos amorosos. As meninas se divertiam com minhas aventuras sexuais. Era prático, eu saía à vontade com elas, avaliávamos os boys, falávamos besteiras, elas não tentavam me empurrar para ninguém na empresa, e eu não precisava inventar um namorado que um dia elas iriam querer conhecer.
Jane, a minha terapeuta, nunca aceitou esse jeitinho que dei, pois disse que só arrumei mais uma forma de me esconder do problema, mas eu estava confortável com isso.
Até conhecer Portnoy, embarcar com ele nas fantasias que sempre gostei de inventar, e o Kostas começar a me atrair.
Eu sempre notei e admirei homens gostosos! Isso nunca foi falso ou fingido. Um dos motivos pelo qual descartei a possibilidade de ser lésbica – porque pensei nessa possibilidade – foi exatamente por homens bonitos e gostosos chamarem minha atenção. Eu achava Theodoros Karamanlis um charme; Kostas, deliciosamente sexy; Millos, misterioso de um jeito que faz qualquer uma imaginar coisas sujas para ele; e Alex, do tipo para casar, com aquele rosto lindo e sorriso doce.
Isso sem contar os outros homens que já apareceram aqui na Karamanlis e que deixaram as meninas babando, inclusive eu.
Porém, nunca senti meu corpo responder eroticamente a nenhum deles, exceto ao Konstantinos. Justamente com ele meu tesão aflorou, e agora estou na merda, sem saber como vou conseguir conviver com ele depois disso tudo.
Peço um Uber para casa e, no caminho, mando uma mensagem para a Jane pedindo uma consulta urgente, e ela responde que me atenderá amanhã na hora do almoço.
Sinto-me apavorada apenas por pensar em como será enfrentar Konstantinos amanhã, e é assim que Verinha me encontra, no saguão do prédio onde moramos.
— Armaria11, o que houve? — ela me pergunta antes mesmo de me cumprimentar.
— Nada... — Tento sorrir, mas meus olhos se enchem de lágrimas.
— E eu sou cega, oxe?! — Puxa-me para dentro do elevador e me abraça. — Eu estou aqui, Kika, pode contar comigo para o que precisar. Se não quiser falar, não fale, mas pode usar meu ombro ou meus braços para se sentir melhor.
Eu soluço, mesmo tentando me conter. Nunca gostei de contar meus problemas a ninguém a não ser para a Jane. Sempre me senti mal por lamentar algo, ingrata ou mesmo dramática, mas dessa vez preciso de alguém para me consolar, para estar ao meu lado.
Chegamos ao nosso andar, e ela abre a porta do meu apartamento com sua cópia da chave. Kaká pula em minhas pernas, e eu o abraço. O cachorro percebe meu estado de ânimo e, ao invés de toda a festa que sempre faz, fica quietinho, dando-me lambidas esporádicas como quem faz um carinho de consolo.
— Vou passar um café enquanto você toma um banho e põe um pijama bem confortável, visse? — Ela praticamente me empurra para o quarto. — Chore o quanto precisar, Kika, o chuveiro leva embora as lágrimas e ajuda a amenizar qualquer dor.
— Obrigada, Verinha.
Ela assente e aponta para o banheiro.
Faço exatamente o que ela sugere e me enfio debaixo da água morna, deixando o pranto rolar sem nenhuma trava, expondo meus sentimentos a mim mesma e rasgando o peito. Estou magoada, confusa e com raiva. Tenho vontade de gritar, de bater, ao mesmo tempo em que quero me encolher como uma bola e ficar em algum cantinho, quieta.
Sinto ainda os efeitos do toque dele em mim, de seus beijos, do desespero de sua respiração, o orgasmo causado pela fricção de seu pau no meu clitóris. Tudo tão perfeito como sempre imaginei que sexo seria, mesmo em uma rapidinha descontrolada. Porém, então vem à mente a lembrança do jeito como ele se afastou, eu tentando ainda suavizar a situação, fazer graça mesmo estando confusa e com medo de sua reação.
O olhar dele mudou, seu rosto parecia transtornado, e, ao mesmo tempo em que estava ali comigo, parecia estar longe, vendo coisas, culpado e enojado por ter me desvirginado.
Saio do banho e ponho um pijama fresco e antigo, um dos últimos presentes de mamãe que ainda tenho. É como se eu pudesse sentir seu abraço, como gostaria de receber se ela ainda estivesse aqui.
— Beba! — Verinha me estende uma xícara, e eu provo o líquido quente e cheio de álcool.
— O que você pôs aqui? — pergunto fazendo careta.
— Conhaque. — Mostra-me a garrafa. — Fui lá em casa deixar o Kaká brincando com o Ferdinando e peguei a bebida. Vai ajudar. Bebe tudo.
— Já estou melhor. — Tento sorrir e me fazer de forte. — O banho realmente ajudou.
— Tenho certeza que sim, mas beba! — Ela serve-se de uma dose e a toma, dispensando o café. — Não importa o que houve lá no seu trabalho, quero que saiba que nunca conheci alguém tão focada e responsável quanto você.
Sorrio pelas palavras e agradeço.
— Não foi o trabalho, não se...
— Ah, puta que pariu, foi aquele nojento do Konstantinos? — ela dispara, pois já contei a ela das brigas épicas que tivemos. — Tenho abuso daquele homem!
— Eu não sei o que aconteceu — confesso. — Ainda estou confusa com tudo.
Fungo alto, soluço, e ela se senta ao meu lado. Conto tudo para ela, desde quando comecei a me sentir atraída, até a saída repentina dele da sala após termos quase feito sexo em cima da minha mesa.
— Eu vou capar aquele filho de uma égua! — ela diz nervosa. — Ele te machucou muito? O babaca deveria ter sido cauteloso e...
— Não, Verinha, não posso ser injusta. Ele não sabia, como eu disse, e não podia adivinhar, afinal, quem se mantém virgem na minha idade? Apesar da dor, que foi natural, eu o quis tanto que o tesão não me deixou raciocinar e pedir a ele que fosse devagar, eu tinha pressa! — Mesmo magoada, ainda sinto meu corpo reagir só por me lembrar de como nos atracamos como loucos dentro da sala. Suspiro. — Eu só não entendo a reação dele quando percebeu que eu era virgem.
Ela concordou e pegou minha mão.
— Por quê, Kika? Por que nunca transou com ninguém?
Dou de ombros, sem querer entrar em detalhes.
— Não me sentia pronta e nem tão atraída por alguém quanto me sinto por ele.
— Se sente pronta agora? — franzo a testa, sem entender a pergunta. — Ele é um babaca por ter reagido daquela forma, não deixe que isso te afete a ponto de pensar que todos os homens são assim. Você gostou antes de ele surtar, lembra? — Concordo. — Está pronta para encontrar um homem de verdade, que saiba fazer gostoso, sem afobação, que te dê o dobro de prazer que ele e ainda não reaja como um puto.
— Não tenho mais nada para assustar alguém e que denuncie que me tornei uma balzaquiana virgem e estranha — tento fazer graça, mas sai tão sentido que ela me abraça.
— Não deveria assustar. Se fosse um homem que valesse à pena, se sentiria privilegiado. Ele é um covarde!
Concordo com ela, mas ainda sinto mágoa e insegurança.
— Verinha, acha que ele surtou porque sou inexperiente e não o...
— Não seja lesa, rapariga! O homem mal conseguiu se conter ao seu lado e, mesmo depois de ter ficado cheio de melindre, ainda estava excitado, não foi? — Concordo. — Ele que tem algum problema, Kika, não você.
Verinha tem razão sobre isso. Mesmo se afastando, eu pude ver o quanto ele estava excitado, então não foi a falta de tesão que o fez reagir daquela forma. O que será que aconteceu com ele?, pergunto-me mais uma vez.
— Acho que você não tem com o que se preocupar agora. — Ela leva a minha xícara, vazia, para a pia. — Tem uma porção de caras legais que adorariam uma chance com você. — Sorri. — Inclusive conheço um que quase lambe o chão que você pisa e é um gostoso.
Nego.
— Verinha, eu não...
— Uma experiência de verdade para apagar essa “meia-boca” que você teve. — Pisca. — É o que você precisa para desencanar e seguir em frente. — Beija minha testa. — Vou buscar o Kaká para te fazer companhia. Vá descansar e acorde amanhã linda e brilhante como você é, visse?
Agradeço e, quando ela sai, pego meu amuleto dentro da carteira, apertando-o com força em minha mão antes de beijá-lo.
Seu sorriso é capaz de iluminar qualquer escuridão!
O som alto de Indifference12 me acompanha enquanto bebo mais uma dose de bourbon e abro o segundo maço de cigarros. De vez em quando canto junto à música, mas na maioria do tempo apenas a ouço enquanto bebo até cair, fumo até achar um pouco de prazer e acabo desmaiado no tapete da sala.
Estou há dias assim, desde que saí de São Paulo ainda desnorteado com o que aconteceu entre mim e Wilka e vim parar no imóvel que só uso raramente, geralmente em minhas férias, a pouco mais de 100 quilômetros da capital paulista, em uma pacata cidade na serra.
Vim para cá para fazer cessarem as lembranças e minha autodestruição ao visitar um local que evocava meus fantasmas. Não pensei muito, é verdade, apenas quis correr para me refugiar e buscar de novo um falso equilíbrio que mantém toda minha precária estrutura em pé.
Eu precisava me reestabelecer, mas, como já sei de cor, há muitos anos, não importa quão longe eu tente correr ou mesmo me esconder, os demônios sempre dão um jeito de me encontrar para cobrar sua tortura.
Não adiantou vir para cá! Fiquei apenas isolado do mundo – aqui não tem telefone, nem sinal de celular ou internet – e cheio de merda na cabeça. Tive pesadelos todos os dias, não consegui trabalhar, apenas mergulhei de cabeça na bebida até que ficasse inconsciente, mas, ainda assim, os sonhos voltavam.
Abandonei a Karamanlis em um momento em que deveria aproveitar a oportunidade, de estar sem Theo e Millos, para mostrar meu trabalho e começar a conquistar a confiança do Conselho e fodi com a melhor chance que já tive. Abandonei o projeto da Ethernium e, principalmente, abandonei, como um rato amedrontado, Wilka Maria.
Precisei desses dias longe para começar a questionar e a tentar avaliar tudo o que eu sabia da gerente marrenta e da Caprica sedutora e tentar encaixar à mulher quente, segura e virgem que eu descobri na segunda-feira à noite. Por mais que eu tente unir todos os pedaços que já me mostrou, não consigo completar uma imagem nítida dela.
Quem, afinal, é a mulher que me fez perder a cabeça? Por que se manteve virgem? E a pergunta principal: por que eu?
Tudo o que aconteceu me deixou muito confuso, além de ter trazido de volta coisas que eu gostaria de deixar para sempre enterradas no passado. Permiti-me usufruir de uma experiência que não tinha – ter relação sexual com uma conhecida – e acabei caindo nesse imbróglio todo.
Wilka Maria sempre foi capaz de me tirar do prumo, fosse me irritando a ponto de demonstrar como estava me sentindo – o que eu evito fazer a qualquer custo – ou me deixando louco de tesão, agindo sem pensar e contra tudo aquilo que estipulei para mim mesmo.
Trepar em uma mesa de escritório da Karamanlis? Nunca pensei que pudesse fazer algo assim, mesmo que fosse uma transgressão, e eu adorasse transgredir regras. Trepar sem nem me lembrar da porra da camisinha? Eu como putas! Nunca, em tempo algum, eu meti sem proteção, nem sei como é!
Gemo ao me lembrar da sensação da minha carne dentro da dela sem nada entre nós. Chego a estremecer recordando a sensação de calor, a umidade que envolveu meu pau e a pressão de uma boceta nunca explorada. Nada do que eu vivi até hoje pode ser comparado àquilo, nada!
— Caralho! — xingo ao sentir meu pau ereto e dolorido, como vem acontecendo todas as vezes que relembro a experiência com Wilka.
Eu ainda estou puto por ela ter omitido que era virgem e me deixado ser o primeiro. Não entendo o motivo que a levou a isso, se achou que sua virgindade iria me prender de alguma forma, fazer com que eu me sentisse responsável por ela ou se perdeu a cabeça como eu e estava tão fora de ar de vontade que se esqueceu de sua condição.
Repasso todos os momentos, tentando enxergar se, em algum instante, ela tentou me parar ou me avisar, mas tudo o que me vem à cabeça é a loucura, o desespero, o orgasmo e seus gemidos.
Fecho os olhos, cada vez mais confuso.
Eu me afastei, em partes, para evitá-la, pois, no calor do momento, fiquei tão puto que pensei que não iria mais querer olhar para ela. Mais uma vez me surpreendi, pois, três dias depois do ocorrido, estou aqui, no meio do mato, no meu santuário, dividido entre a vontade de esquecer o que aconteceu e de trepar com ela direito, até o fim, ensiná-la, conduzi-la ao prazer e receber em troca mais gemidos.
A verdade que estou tendo que encarar neste momento é que, mesmo que o sexo com ela tenha ressuscitado meus demônios, continuo querendo-a, cheio de tesão por aquela mulher tão confusa, que ainda não decifrei, mas que faz meu pau se contorcer de vontade.
Começo a rir como um louco bêbado quando She Talks to Angels13 começa a tocar e, como se fosse preciso de algo para me lembrar dela, penso em Wilka Maria, sua ironia afiada, inteligência aguçada, sensualidade e inocência.
Porra, eu estou muito fodido!
Canto alto, largado no tapete da sala, a lareira apagada e várias garrafas de bourbon vazias espalhadas pelo chão. Não me lembro de ter comido algo além de algumas bolachas velhas que estavam no armário, não sei quantos maços já fumei, e o álcool é o que tem me alimentado esses dias.
Foda-se!
— She don't know no lovers, none that I've ever seen. Yes, to her that ain't nothing, but to me it means, means everything.14
O som de repente para, e eu olho para o aparelho e quase engasgo com a bebida ao ver Millos parado lá com expressão assustada, olhando a zona na qual eu me encontro.
— Mas que porra está acontecendo aqui?! — pergunta.
Eu gargalho pela minha desgraça, pois tudo o que não precisava era de plateia para meu momento mais patético.
— Vá embora, ninguém te chamou aqui! — Tento me levantar, mas cambaleio e caio de volta ao chão.
— Você tem noção da merda que fez? — Millos se aproxima, e eu seguro a respiração.
Porra, ela contou para alguém na empresa?!
— Não quero falar sobre isso! — rebato. — Nunca se envolva com uma virgem, elas fodem com a gente!
O silêncio de Millos me faz voltar a cabeça em sua direção para encará-lo. Vejo-o pálido e com os olhos arregalados. É, seu puto, você também reagiria como eu, eu sei!
— Do que você está falando, Kostas? — sua voz parece falhar.
— Da merda que fiz, porra! — Deito-me no tapete, bêbado demais para me manter sentado sem apoiar as costas. — Eu não pensei que ela tornaria isso público, mas sei que foi uma puta merda ter trepado no escritório da empresa com uma funcionária. — Rio. — Isso se der para considerar uma botada, tão rápida como um meteoro, como uma trepada.
Escuto o som dos coturnos de Millos no chão de madeira e o acompanho com os olhos até ele se sentar no sofá com expressão cada vez mais confusa.
— Você e a Kika Reinol treparam? — sua entonação completamente surpresa me faz perceber que nós dois não estávamos falando do mesmo assunto. Caralho!
Começo a gargalhar como um louco, levanto os braços para tampar meu rosto, mas acabo levando um banho de uísque, o que me faz rir ainda mais. Sabia que a bebedeira afetava a coordenação e os reflexos, mas é a primeira vez que me deixa burro.
— Você não sabia! — constato o óbvio em voz alta.
— Claro que não! Como iria saber? — Ele se joga contra o encosto do sofá. — Mano, você faz tanta merda que nem sabe a qual eu estava me referindo!
Dou de ombros, pois concordo. Sempre fui um merda fazedor de merdas!
Millos pega uma das garrafas ainda cheias e bebe, no gargalo mesmo, um gole do bourbon. Não falamos mais nada, eu, preso nos pensamentos que ainda me assombram e confundem, e ele, talvez, digerindo o que acabei confessando.
— Você foi um filho da puta com seu irmão — ele começa, e eu bufo, não acreditando que ele invadiu meu santuário para falar do Theodoros. — Estou recebendo diariamente queixas dos conselheiros sobre ele, além de um pedido de auditoria geral sobre sua conduta.
Sorrio.
— A melhor notícia dos últimos tempos!
— Porra, Konstantinos, larga de ser um garoto birrento e pensa no que isso pode acarretar para a empresa! — percebo preocupação em sua voz. — Já pensou se essa merda toda vaza e vai parar na imprensa? Estamos fechando um negócio gigante, não podemos ter nosso nome manchado, mesmo que por suposições!
— Foda-se!
É claro que eu pensei nisso tudo, afinal, na época em que os escândalos e as merdas de Nikkós apareceram, as ações da Karamanlis foram ao chão, mas conseguimos nos reerguer e, se isso acontecer mais uma vez, daremos a volta por cima de novo.
— Às vezes me sinto como se fosse um professor de jardim de infância, cuidando das brigas de vocês. Já estou sem paciência para isso e tenho coisas mais importantes a fazer do que ser babá de um monte de adulto infantilizado! — sua fala me surpreende, pois ele, apesar de sempre defender a paz entre os irmãos Karamanlis, nunca se mostrou tão estressado por ser mediador dos nossos conflitos.
— O que você veio fazer aqui, Millos? — pergunto, tentando manter o mínimo de sobriedade para conversar.
— Cheguei a São Paulo hoje e descobri que a empresa está sem comando desde terça-feira, pois Theodoros viajou, e você sumiu. Liguei para seu telefone, mandei mensagem, fui até seu apartamento, e nada! O porteiro disse que você não tinha retornado e, além disso, um carro da empresa sumiu, e o vigia da garagem disse que você tinha saído com ele na segunda-feira à noite — relata. — Como pensa que fiquei? Porra, achei que tinha acontecido alguma merda e, por sorte, antes de começar a acionar a polícia e o caralho a quatro, decidi vir até aqui.
— Só te esperava na empresa na segunda-feira da próxima semana.
— Então agradeça por eu ter voltado cedo, porque a empresa parecia um caos! Os seus advogados, todos “baratinados”, os hunters, atolados, precisando de algum tipo de documento que você ficou de apresentar a eles, e as decisões gerais da empresa, paradas, pois nenhum dos três diretores principais estavam presentes. — Ele respira fundo. — E que história é essa com Kika Reinol?
— Esquece... — tento encerrar o assunto, mas conheço-o bem demais para saber que ele não deixará por isso mesmo.
— Não! Konstantinos Karamanlis tendo um caso com uma funcionária? E o mais alarmante: com Kika Reinol, seu desafeto público? — Ele ri.
— Não estou tendo um caso, porra! — Irrito-me. — Eu não tenho casos! Eu só perdi a cabeça e... Ela é a Caprica, você acredita nisso?
Escuto-o gargalhar.
— Vocês finalmente marcaram um encontro e, por isso, descobriram a identidade um do outro?
Nego.
— Eu descobri; ela não sabe. — Soluço em efeito à bebida. — Eu comecei a me sentir atraído por ela, estranhei e tentei não dar atenção a isso, mas, quando descobri que ela era a Cabritinha, não deu. — Gargalho. — A mistura da executiva esquentadinha com a ninfa do sexo online me fodeu a mente.
Millos assente.
— E o que aconteceu que te deixou assim? — Ele aponta para minha roupa, a mesma que uso desde segunda-feira, e meu estado lastimavelmente bêbado.
— Descobri que, além de executiva e ninfa da sacanagem, ela também era uma virgem!
Millos arregala os olhos.
— Kika Reinol virgem? Tem certeza disso?
Rio ironicamente, ainda me lembrando da barreira e da pressão que senti quando ela cedeu.
— Absoluta. — Fecho os olhos para não me lembrar de seu grito de dor, pois ele sempre me leva de volta aos meus pesadelos.
Millos se levanta do sofá, abandona o bourbon e tenta me erguer do chão.
— Vou te pôr no banho; você está fedendo!
Eu rio de mim mesmo.
— Eu sou um escroto, Millos. — Ele concorda. — Eu sempre soube que não deveria mudar as regras do jogo. Eu sou uma fraude, um pulha, um filho da puta cheio de merda e escuridão e não posso, de jeito algum, me envolver com alguém como ela.
Meu primo, que já tinha começado a me arrastar em direção ao banheiro, para.
— Porra nenhuma! Larga dessa merda! O que aconteceu no passado foi pesado, mas já passou! Olhe para a frente!
Gargalho sarcasticamente.
— Você consegue olhar? — pergunto, e ele bufa. — Já conseguiu superar tudo o que você viu e viveu naquela casa?
— Não estamos falando de mim, Kostas — responde seco. — Nunca entendi essa coisa de só trepar com prostitutas, mas, como eu também tenho minhas preferências, nunca questionei. — Millos me encara. — Você nunca tinha feito sexo com ninguém que conhecesse; isso significa, então, que Kika Reinol vira sua cabeça de um jeito que não pode controlar. Isso é bom.
— Bom? É um tormento! — Chego ao banheiro e, enquanto ele abre o chuveiro, vou tirando a roupa. — A mulher me irrita, me excita, me confunde a tal ponto de me fazer ter vontade de esganá-la e de fazê-la gozar ao mesmo tempo.
— Sempre prefira dar prazer, mesmo querendo causar dor. — Ele se afasta para que eu entre no banho.
Nunca entendi bem o que ele faz na intimidade; embora falemos de tudo, nesse quesito de sua vida, Millos é uma incógnita. Sei que frequenta alguns clubes e que não se envolve com ninguém também, tem casos esporádicos, mas nunca os revela.
Ele tem uma amiga de muitos anos, e eu sempre desconfiei que rolasse algo entre eles, mas nunca tive nenhuma evidência. Sempre pensei que ele fosse um tipo de dominador que curtia sadomasoquismo. No entanto, pelo pouco que sei sobre o que passou, é impossível imaginá-lo com um chicote na mão.
— Não vai acontecer de novo — informo, voltando a pensar em Wilka.
— Por que não? Perdeu o tesão quando descobriu que ela era virgem?
Nego.
— Isso fodeu minha cabeça, você pode imaginar. — Ele assente. — Mas não, mesmo depois de ter ficado desse jeito, de ter revivido um dos piores momentos da minha vida, ainda quero estar dentro dela.
Millos vai até a pia e lava o rosto, enquanto eu deixo a água cair sobre minha cabeça para, quem sabe, voltar à racionalidade.
— Eu a machuquei — confesso, sentindo meu corpo inteiro tremer ao pensar nisso. — Vi em seu rosto que ela sentiu dor, e seu grito foi como se uma faca se enfiasse em mim. Eu não fazia ideia; se soubesse, não teria me aproximado dela.
— Eu sei — Millos diz apoiado na pia, de costas para mim. — Somos fodidos demais e temos medo de contaminar um inocente. Kika pode ser uma executiva segura de si, mas, nesse aspecto, é inexperiente e deve ter ficado assustada quando você surtou em cima dela. — Ele me olha pelo espelho. — Por que, pela forma como te encontrei aqui, você surtou, não foi?
— Abandonei-a lá, em cima da mesa, sem dizer nada. — Soco a cabeça contra a parede do banheiro. — Era como se eu estivesse lá de novo!
— Eu sei, Kostas, mas ela não sabe. Não é comum uma mulher da idade dela, independente como é, não ter tido experiências sexuais. Ela tem algum motivo para isso, e sua reação pode tê-la traumatizado.
Tento continuar indiferente, o rosto sem nenhuma expressão, mas, dentro de mim, dou razão a ele e temo por ela. Não queria quebrá-la como eu sou quebrado, não tinha intenção alguma de contaminar ninguém com minha podridão e, infelizmente, isso pode ter acontecido.
— Não tive a intenção de machucá-la, embora o tenha feito de muitas formas. Isso não me isenta da culpa, nem ameniza o que eu possa ter causado a ela, mas reforça que devo me manter longe, mesmo que ainda sinta atração.
Millos pensa por um momento e depois concorda.
— Sim, vamos esperar que essa experiência ruim não a impeça de encontrar alguém que mostre, ensine e compartilhe com ela o prazer de verdade, e ela esqueça a foda dolorosa e incompleta que teve com você. Talvez o que a travava era o constrangimento de ainda ser virgem. Isso ela não é mais, então pode aproveitar bastante agora e realizar todas aquelas fantasias sujas que criava com você no aplicativo.
Não consigo me conter e arregalo os olhos ao pensar nisso. Wilka não é tão inocente quanto eu a estou vendo, apesar de sua virgindade. Ela ficou, por mais de um ano, contando-me suas fantasias e compartilhando comigo todas as suas vontades. Pensar que ela fará isso com outro daqui para frente me causa uma estranha sensação de posse e uma enorme vontade de socar a cara do Millos por falar disso.
— Bom, a relação profissional de vocês já não era boa, então ninguém vai estranhar que se evitem daqui para frente e que ela não lhe dirija mais a palavra. — Millos dá de ombros. — Você continua com suas putas, e ela, descobrindo novas experiências. É perfeito. — Sorri. — Acho que você, na verdade, fez um favor para ela.
Reconheço o joguinho dele. O filho da puta é uma raposa sorrateira na hora de manipular alguém, porém, eu o conheço o suficiente para não cair em suas armadilhas.
— É verdade! — Sorrio, como se ele tivesse me aliviado depois dessa constatação. — Sinto-me bem melhor agora!
— Então podemos voltar para a Karamanlis amanhã de manhã. — Seca as mãos e caminha para a saída do banheiro. — Esse seu chalé nas montanhas é até interessante no inverno, mas, em pleno verão, isso aqui lembra uma sauna!
O banho me faz sentir melhor, e eu levanto uma das minhas sobrancelhas para ele.
— Não o mandei vir atrás de mim!
— Não precisa demonstrar tamanha gratidão, tenho certeza de que faria o mesmo por mim. — Sorri, maléfico. — Não que eu, um dia, vá fazer metade das merdas que você faz.
— Vai se foder, Millos! — grito antes de ele fechar a porta do banheiro.
É hoje!, penso nervosa ao conferir as horas, saindo da fila do Starbucks, carregando a bolsa extra que trouxe para a empresa por causa do encontro que terei mais tarde.
Há anos não saio com um homem interessado em mim, então acho que posso estar enferrujada. Verinha diz que isso é meu medo falando, e talvez seja, mas essa constatação não diminui em nada meu nervosismo e ansiedade.
Chego à empresa e, como sempre, converso com as meninas da recepção antes de subir, depois vou parando para cumprimentar cada funcionário da Karamanlis que encontro, desejando bom trabalho e, hoje, comemorando a chegada do final de semana.
— Ei, Kika, vamos para uma happy hour no final do expediente? — doutora Eleonora, do jurídico, convida-me assim que nos encontramos no corredor.
— Hoje não dá, mas vamos marcar para a semana que vem.
Ela assente e suspira.
— Ah, boas notícias, o chefão voltou. — Eleonora faz careta, e eu tento disfarçar minha reação.
— Ele está na sala dele ou na minha? — pergunto, coração disparado.
— Na dele, com Millos, que também retornou. — Ela levanta uma pasta para que eu a veja. — Já comecei a ser garota dos recados de novo! Vou lá, senão o homem vai me massacrar.
Despeço-me dela, mas continuo parada no corredor. Não me encontro com Kostas desde aquela noite estranha em que perdi a virgindade, e ele, a cabeça. Fiquei extremamente aliviada por não o ter visto na terça-feira; indignada por ele estar me evitando, na quarta; e um tanto preocupada quando soube que ele havia sumido, na quinta-feira.
Em todos esses dias, uma só pergunta martelava minha cabeça: o que acontecera para que ele reagisse daquele jeito?
Volto a caminhar na direção da gerência e penso no quanto chorei abraçada ao Kaká naquela noite. Sentia-me magoada demais com tudo o que acontecera, confusa e triste. Na manhã seguinte, refiz-me, tomei meu banho, esmerei minha maquiagem, coloquei uma roupa que me deixava linda e poderosa e, quando vi a Verinha, ela abriu um baita sorriso.
— Rapariga, você está linda e plena! — Beijou-me. — É isso aí, deixou tudo no travesseiro e acordou para dar a volta por cima!
— Já passei por muita coisa na vida, Verinha; isso não me mata, só fortalece. — Afastei-me para que ela entrasse no apartamento no mesmo momento em que Vinícius chegava do trabalho, todo trabalhado na farda de bombeiro. — Bom dia! — cumprimentei-o. — Acabei de passar um café, aceita?
Ele fechou os olhos e abriu um enorme sorriso.
— Você é um anjo! — Entrou e cumprimentou a Verinha, que, além de estar com Kaká no colo, já havia se servido do café. — Fiz dois turnos seguidos, estou morto, e o café do Rancho é uma água de batata filha da puta!
Servi a bebida para ele e lhe ofereci biscoitos.
— Não, obrigado. — Bebeu. — Isso aqui é o suficiente para me abastecer até eu tomar meu banho e desmaiar na cama. — Verinha se afastou para a sacada, e ele pegou minha mão. — Você está linda! Gostou mesmo das rosas?
A lembrança do buquê fez meu corpo todo arrepiar por motivos diferentes. Primeiro, por evocar a delícia que foi com Kostas antes de ele descobrir sobre minha condição; segundo, pela outra recordação, triste, por ter jogado as flores fora, pois estavam todas amassadas.
— Obrigada, adorei. — Sorri. — Perfumaram demais meu escritório.
— Eu queria ter te enviado um convite também, mas ainda não sei se já posso dar esse passo. — Piscou. — Adoraria te levar para jantar qualquer dia desses.
Respirei fundo e pensei no que conversara com Verinha e em seu conselho de buscar novas experiências. Vinícius já provara que era um homem incrível, além de bonito e sedutor, então, por que não?
— Sexta-feira à noite estou livre. — Levei minha xícara até a pia. — Você estará de folga?
— Estarei, sim! — disse animado. — Fiz uns plantões extras para outro oficial, mas o meu é de quarta para quinta, depois disso estou de folga. Você quer mesmo?
Assenti, e ele comemorou, fechando olhos e vibrando.
— Podemos nos encontrar em algum local...
— Tem um restaurante novo. — Ele pegou o celular. — Vou mandar o nome e algumas fotos para você e, se gostar, faço reserva.
— Ótimo! — Ele me entregou sua xícara vazia. — Gosto de gente planejada como eu.
— Eu espero que você goste de muito mais coisas em mim do que só da minha organização. — Aproximou-se e me deu um beijo na testa. — Eu sou um homem de sorte por você ter aceitado jantar comigo, obrigado.
Fiquei sem jeito e, por isso, apenas sorri e agradeci quando Verinha apareceu com Kaká já em sua coleira. Comentei o horário, já estava um pouco atrasada, e todos saímos juntos do apartamento. Verinha foi comigo até o elevador, e Vinícius entrou em seu apartamento.
— Volta por cima! — minha vizinha comemorou. — É isso aí, amiga, dê em alto estilo! — Ela se abanou. — O homem é um tesão de farda!
Ainda estava rindo, lembrando-me dela, quando entrei na Karamanlis. A tensão da expectativa do encontro me deixou nervosa, diferente do que sou, e algumas pessoas perguntaram se eu estava bem.
Abri a porta da minha sala com medo do que iria encontrar, mas não havia nada além de lembranças da noite anterior. Konstantinos não estava lá. Trabalhei o dia todo, assustando-me a cada vez que Leo ou Rosi entravam sem bater à porta, mas fiquei aliviada quando terminou o dia, e não nos encontramos.
Nos outros dias, eu estava menos tensa, decidida a tratá-lo normalmente caso me procurasse, ensaiando uma fala leve e despreocupada sobre o que acontecera, porém, ele não apareceu.
Ontem ouvi, durante o almoço, que Kostas havia sumido. Ninguém tinha notícias dele, nem mesmo seu séquito de advogados, e, além de o diretor jurídico estar sumido, tinham encontrado sangue em um dos elevadores, o espelho quebrado, e um dos carros havia sido levado, tudo isso na segunda-feira à noite.
O pessoal já estava criando teorias, e a maioria achava que Konstantinos havia sido sequestrado. Foi aí que eu percebi que algo muito mais sério acontecera naquela noite quando ele descobrira que eu era virgem e que isso o fizera desaparecer todos esses dias.
Então, mesmo ainda magoada e com raiva, fiquei preocupada com ele, pois estava transtornado demais quando saiu de perto de mim e fugiu. Essa era a sensação que eu tinha, de que ele havia fugido de algo, mas do quê?
— Bom dia! — Leonardo me cumprimenta assim que entro. — Novidades! O Bostas voltou para a empresa, e o doutor Millos também! Ao que parece, o homem não foi sequestrado, embora ninguém possa explicar o dano e o sangue em um dos elevadores. Parece que ele apenas precisou de uns dias para descansar. — Leo chega perto para cochichar: — Embora o pessoal da central da fofoca tenha dito que a mão dele está com ferimentos.
— Bom, ainda bem que voltou. — Tento parecer indiferente ao que ele falou. — Precisamos acertar as viagens para conhecer os lugares para a Ethernium, e ele não indicou ninguém ainda para ir. Tomara que tenha voltado com disposição para trabalhar.
Lene me entrega uns arquivos, e, depois de cumprimentar a todos da equipe, começo meu dia de trabalho, ajustando o despertador para um horário um pouco mais cedo do que costumo sair, pois me arrumarei aqui mesmo na empresa para o encontro com o Vinícius.
Olho para a mesa do Kostas, ainda aqui na sala, e penso em sua mão machucada e nesses dias todos que ficou sem dar notícias.
O que houve, de verdade, naquela noite?
— Uau! — Carol exclama assim que eu saio do banheiro da gerência. — Você quer matar quem com essa roupa?
Faço careta e passo a mão pelo vestido.
— Está demais? — Dou uma volta completa para que ela avalie tudo. — Comprei-a em um impulso, depois de ver a foto do restaurante onde vou jantar. É um lugar novo, chique, culinária francesa e mesa reservada. Exagerei?
Ela nega e mexe em sua bolsa.
— Acho que podemos só fazer algo com seus cabelos. — Ergue uma chapinha tão minúscula que eu franzo o cenho, sem entender. — Ele é lindo liso, mas você sempre o usa assim; vamos ondular um pouco.
— Com chapinha?
Carol ri e liga o aparelho em uma tomada.
— Eu trabalhei em salão até conseguir esse estágio, então, pode confiar em mim, sairá daqui ainda mais linda do que está agora.
Sento-me na cadeira, olho o celular, e ela começa a ondular minhas madeixas. Vinícius já me mandou duas mensagens hoje, a primeira para confirmar, e a segunda para dizer que estava nervoso e que não saía para um encontro desde que ainda estava na Escola de Bombeiros.
Acho-o tão fofo que tenho receio de a atração entre nós não acontecer mesmo e eu o chatear. Sei que é só um encontro com um jantar, mas tenho certeza de que, ao final da noite, ele vai querer me beijar e, talvez, fazer sexo, e eu não sei se estarei no mesmo clima.
Vejo uma mensagem da Jane, confirmando a consulta para amanhã e me lembro da tarde em que fui ao seu consultório, contei-lhe o que havia acontecido, e ela, de maneira mais profissional e séria, deu-me quase o mesmo conselho que Verinha.
Seguir em frente!
— Pronto!
Carol desliga o aparelho e me estende um espelho pequeno, mas suficiente para eu ver a diferença que as ondas fizeram no meu rosto.
— Eita! — exclamo. — Quem é essa mulher bonita me encarando?
— Bonita, não! Você está de parar o trânsito! — Ela confere as horas. — Preciso ir, senão vou me atrasar para a faculdade. — Beija-me no rosto. — Divirta-se!
Agradeço-lhe seu trabalho e pego as sandálias de salto na sacola que trouxe para a empresa. Retiro meus scarpins de salto médio para colocar uns que me dão, pelo menos, mais uns 15 centímetros de altura.
Vou até minha sala, guardo a roupa com a qual trabalhei o dia todo, o sabonete e a toalha que usei para tomar banho e coloco um pouco de perfume.
Meu celular apita uma notificação, e eu corro até ele, esperando ser notícias de Portnoy. O homem disse que ia viajar. Eu achei que era desculpa, mas parece que era mesmo verdade, pois não respondeu mais nenhuma das mensagens que lhe mandei desde terça-feira.
Queria muito conversar com ele, não sobre Kostas, mas sobre um encontro entre nós. Não sei se pessoalmente a química que temos juntos online se confirmará, mas é algo que eu gostaria de tentar, mesmo porque, exceto Konstantinos, apenas ele mexeu comigo a ponto de me atrair.
Talvez, transando com Portnoy e tendo um pouco do que sinto quando apenas me masturbo para ele, consiga abandonar Konstantinos e aquela primeira vez tão esquisita.
Infelizmente, não é meu amigo virtual, mas sim Verinha, desejando-me boa sorte com Vinícius e reforçando que eu não tenho que fazer nada que não queira, que somente tenho de curtir o momento e deixar acontecer naturalmente.
— Esse é o plano, minha amiga — respondo para mim mesma e digito uma mensagem para ela.
Antes de sair para o corredor que divido com a diretoria jurídica e o único acesso para os elevadores, penso que Konstantinos me evitou o dia todo. Mandou e-mail avisando que David voltaria a assumir a frente da conta e que tudo deveria ser resolvido com o advogado e pediu para pegarem as coisas dele depois do almoço.
Estive tentada a ir até a sala dele para lhe pedir explicações, mas todas as vezes pensei melhor e desisti. Não tenho que cobrar e muito menos exigir nada dele. Tentamos uma transa; não deu certo, bola para frente. Se ele prefere lidar com isso fingindo que nada aconteceu entre nós, então que assim seja feito.
Abro a porta da gerência e espio a da sala principal do jurídico, encontrando-a fechada e sem um barulho sequer vindo do salão onde ficam os advogados.
Tranco a porta – coisa que sempre fazemos às sextas-feiras – e ajeito no ombro minha pequena bolsa com alça metálica antes de seguir na direção dos elevadores.
Rememoro a rota e o endereço do restaurante e chamo o Uber enquanto espero o elevador chegar. Mais uma mensagem de Vinícius entra, reclamando do trânsito e me pedindo para esperá-lo no bar caso se atrase.
“Pode deixar, não se preocupe! Já estou saindo da Karamanlis, então devo chegar antes, sim.”
Ainda estou sorrindo enquanto termino de digitar a mensagem quando o elevador chega e as portas se abrem.
— Boa noite, Kika Reinol! — Millos me cumprimenta, e eu tiro os olhos da tela do telefone para cumprimentá-lo de volta e entrar no elevador, mas fico muda ao ver, junto a ele, Konstantinos Karamanlis.
A dor de cabeça foi minha companhia ao longo do dia de hoje, desde o momento em que Millos me acordou, ainda no chalé, até este momento. Faço massagem nas têmporas, tentando aliviar um pouco o desconforto, mas não consigo.
Se a dor não tivesse sido causada por um porre, eu a curaria com bourbon. Contudo, depois da quantidade que bebi, não posso nem pensar na bebida, que meu estômago embrulha.
O taxista me olha pelo retrovisor, impaciente, mesmo com o taxímetro correndo, enquanto estamos parados. Finjo não perceber sua irritação e continuo massageando a cabeça, decidindo o que devo fazer.
Voltei para a capital dirigindo, e Millos me acompanhou em sua moto. Depois, passei em casa, tomei outro banho e um analgésico, coloquei um dos meus ternos e fui para a empresa.
Como estive sem sinal no telefone, havia uma porrada de e-mails e mensagens para eu ler, mas senti o corpo gelar ao ver o símbolo do Fantasy e a indicação de que me mandaram mensagens privadas. Como minha conta está fechada para os outros perfis, só podia ser uma pessoa: Caprica.
Abri o chat e senti meu sangue ferver ao ver mensagens descontraídas dela desde terça-feira, e algumas sensuais, reforçando o convite para nos conhecermos pessoalmente. Era para eu me sentir aliviado por ela não estar mal, ter seguido normalmente sem que o que aconteceu entre nós a influenciasse, mas não, não senti porra nenhuma de alívio, só indignação por ela já ter partido para outra.
Decidi cancelar de vez a conta do aplicativo, mas, assim que entrei na página principal, vi a notificação de que Caprica havia liberado a conta e que estava ativa novamente. Isso me enfureceu tanto que ativei a minha também e desisti de cancelar o Fantasy.
Pensei em ir até a sala dela quando cheguei ao nosso andar, fingir que nada acontecera e trabalhar o dia todo com ela, mas a ideia era tão ridícula que fui para a diretoria jurídica, disposto a ignorá-la o dia todo como se não existisse. Achei que ela, em algum momento, viria até mim, mas, conforme o tempo foi passando, descobri que estava tratando com uma criatura tão orgulhosa quanto eu.
Resolvi provocar e mandei um e-mail renomeando David para trabalhar à frente da Ethernium, aguardei, e nada. Depois pedi a uma estagiária que recolhesse minhas coisas lá e fizesse questão de dizer que eu estava na empresa e que fora ordem minha, porém, ela não apareceu de novo.
Convenci-me, então, de que a melhor resolução era manter distância, mesmo estando com as palavras do Millos, sobre ela encontrar outro para realizar as nossas fantasias me incomodando a mente a cada momento.
Eu não queria um envolvimento além do sexual com ela, nunca quis e continuo não querendo, mas o que aconteceu entre nós naquela noite não poderia ser considerado, e eu ainda queria mais.
Mergulhei de cabeça nos processos e só me dei conta da hora quando Millos me chamou à sua sala e olhei para o relógio. A maioria dos funcionários já havia saído, só David e Murilo ainda estavam em suas estações de trabalho, finalizando algo.
— Doutor, acabei de marcar a viagem ao Rio de Janeiro e estou só esperando a indicação de qual dos hunters irá comigo — David me informou. — A partir de segunda, vamos começar a fazer os cronogramas das reuniões nos estados e, a partir daí, marcar com o cliente.
— Ótimo, deixe-me sempre ciente.
Despedi-me deles, pois não voltaria mais para a diretoria jurídica e segui – não sem antes olhar a porta da gerência de hunter – para o andar superior, onde Millos me esperava em sua sala.
— Essa merda toda que você fez... — ele falou assim que entrei em sua sala e apontou para um documento em cima da mesa — acho que isso ainda vai causar muitos prejuízos à empresa. — Peguei o papel, mas, antes que eu pudesse ler, Millos explicou: — Pedido de auditoria!
Respirei fundo, mas dei de ombros, sem nenhuma expressão de preocupação ou arrependimento.
— Você não acha temerário que ele se envolva com uma mulher e isso afete o trabalho na Karamanlis? Há anos a empresa tenta comprar aquela porra de boteco, e ele desiste assim, por causa de uma boceta...
— Kostas, cala a boca! — Millos pareceu muito irritado, e isso me surpreendeu, pois ele nunca perde a compostura.
Ele sabia de algo, eu tive essa impressão. Millos tem relacionamento com todos nós, conhece os segredos de todos, obviamente saberia se estivesse acontecendo algo mais do que um caso entre Theodoros e a dona do boteco.
— Do que você está sabendo, Millos? — perguntei, mesmo tendo consciência de que ele não me falaria.
— De nada! Eu só acho que, se Theo tomou essa decisão, ele tem algum motivo que a respalde.
Sua resposta não me convenceu o mínimo. Tinha certeza de que ele sabia mais do que estava me falando e, pela sua descompostura, podia apostar que era algo de proporções grandes e que o filho da puta estava se mantendo calado para manipular a vida de alguém.
— Como foi com a Kika Reinol hoje? — ele mudou de assunto, e eu tive a confirmação de que, sim, ele sabia de algo e estava deliberadamente escondendo.
— Não foi. — Levantei a sobrancelha. — Designei o David de volta para a conta da Ethernium. Assunto encerrado.
Millos abriu um sorriso pretencioso, claramente duvidando do encerramento do assunto, e eu fiz minha cara de tédio para ele.
— Entrou em contato com Theodoros para falar sobre a auditoria? — indaguei, voltando ao assunto.
— Não, ele já está lidando com merda demais tendo que conviver esses dias com nossos familiares, não vou preocupá-lo antes da hora. — Eu ri e o chamei de baba-ovo. — Vai tomar no cu, Kostas. Eu faria o mesmo se fosse com você, seu babaca.
Eu tive que admitir isso e enfiar meu rabo entre as pernas.
Saímos juntos do escritório dele. Convidei-o para beber, mas ele se negou, dizendo que precisava ir para casa.
— Algum problema? — questionei ao notá-lo um pouco ansioso.
— Nenhum — respondeu, digitando uma mensagem em seu telefone. — Só quero passar um tempo em casa, já estive muitos dias fora, preciso organizar umas coisas.
Gargalhei ao entrar no elevador.
— Você organizar coisas naquela zona que chama de casa? Definitivamente, Millos, você tem algum problema por lá e não quer abrir o jogo! — decidi provocá-lo. — Pois bem, vou até lá para ajudá-lo.
— Não! — ele respondeu sério no exato momento em que paramos no andar da minha diretoria.
Assim que as portas do elevador se abriram, arregalei os olhos ao ver Wilka Maria parada, de cabeça baixa, sorrindo e escrevendo alguma mensagem no telefone. No mesmo instante pensei no Fantasy e em sua conta ativa, recebendo propostas de encontros para foda e realizações de fantasias.
— Boa noite, Kika Reinol! — Millos a cumprimentou, e ela tomou um susto ao nos ver dentro do elevador. Olhei-a detalhadamente, desde as sandálias altas de saltos finos; suas belas pernas bronzeadas, que me chamaram a atenção mesmo sem eu saber a quem pertenciam, sumindo da metade das coxas para dentro de um vestido preto, justo e que deixava seus ombros de fora.
Os cabelos dela também estavam diferentes, embora eu não conseguisse dizer exatamente o que ela tinha feito, porém, pareciam mais vivos, com um balanço diferente.
— Boa noite, doutores — ela nos saudou e entrou no elevador, e sua boca pintada de vermelho atraiu meus olhos como se fosse uma chama. Apenas balancei a cabeça em cumprimento e, quando ela se virou, ficando de frente para as portas e de costas para mim, quase gemi ao ver o quanto o vestido ressaltou sua bunda perfeita.
Puta que pariu!
Remexi-me, incomodado, e meu primo segurou o riso, percebendo o desconforto causado pela minha ereção inconveniente.
— Com todo respeito — Millos puxou assunto com ela —, a senhorita está lindíssima!
Olhei para ele com minha sobrancelha erguida, sem entender a merda do jogo que ele queria começar. Wilka não se fez de rogada e lhe agradeceu, em meio a sorrisos, o elogio.
— A vida não é só trabalho, não é, doutor Millos? — Ele assentiu. — Essa semana foi bem puxada, trabalhando praticamente sozinha na conta da siderúrgica, então decidi aproveitar um pouco hoje à noite.
Respirei fundo e crispei as mãos de raiva, pensando em como exatamente ela pretendia aproveitar a noite.
— Está certíssima! Aliás, preciso parabenizá-la pelo trabalho excelente que vem fazendo, mesmo na ausência de Kostas durante esta semana. — Ela olhou para trás e me espiou de rabo de olho. — Estamos todos muito felizes por você ter retornado à empresa no momento certo, não é, Konstantinos?
Filho da puta!
— É, sim, muito felizes! — resmunguei entredentes e esperei algum comentário mordaz dela sobre meu sumiço ou mesmo alguma piadinha, mas não, ela apenas sorriu em agradecimento e voltou a olhar para frente.
O elevador parou antes de chegar ao térreo, mas não havia ninguém esperando-o, então Millos saltou para fora de repente e se despediu.
— Eu preciso mesmo ver umas questões aqui com Alexios e acho que ele ainda está na empresa. — Olhou para a gerente. — Divirta-se muito e compense a semana pesada que você teve. — E depois para mim — Boa noite, Kostas.
Assim que o elevador se fechou e começou a descer de novo, o clima dentro dele mudou, ficou pesado e tenso. Eu segurava na barra de acessibilidade próxima ao espelho – que eu já tinha percebido que haviam substituído – e tentei ignorar o quanto ela estava cheirosa e a vontade que tinha de pressioná-la contra as paredes frias de inox, fazer o elevador parar e fodê-la até que desistisse de qualquer outra diversão que não fosse eu.
Não o fiz, claro, estava decidido a manter distância e o faria de qualquer jeito. Descemos no térreo e caminhamos lado a lado até a calçada da Paulista sem nem mesmo uma palavra. O silêncio dela me incomodava, mas eu não conseguia achar um modo de quebrá-lo.
Notei o táxi parado à porta da empresa e esperei para ver se era o veículo que ela esperava, mas, como ficou na calçada, supus que ou tivesse pedido um Uber, ou mesmo que estivesse esperando uma carona.
— Boa noite, Wilka — despedi-me, e ela finalmente me encarou.
— Boa noite, doutor. — E, sem que pudesse se controlar, olhou para a minha mão, ainda com algumas escoriações do soco que dei no espelho do elevador. — Está tudo bem?
É claro que não, porra! Com quem você marcou de se encontrar?! Vai foder por aí, agora que está se achando muito experiente depois de ter se livrado da virgindade tardia?, era o que eu queria dizer a ela, porém, contentei-me com:
— Tudo ótimo! Divirta-se!
— Eu vou, não se preocupe! — E abriu um daqueles seus sorrisos que chegam até os olhos e a deixam ainda mais sexy.
Comecei a caminhar na direção do meu prédio, quando vi o Uber se aproximar, o motorista chamá-la pelo nome, e ela entrar. Olhei para o táxi e não pensei duas vezes, pulei para dentro do veículo e disse a frase mais ridícula e clichê do mundo:
— Siga aquele carro!
Pois bem, é por isso que estou aqui, neste momento, com uma puta dor de cabeça, parado em frente ao restaurante francês em que já estive antes com Millos, recebendo olhares interrogativos do taxista, que deve pensar que sou um tarado ou um corno por ter seguido a mulher até aqui.
Bem, não sei o motivo pelo qual vim para cá e nem de tê-la seguido, mas já estou aqui e não sou homem de recuar no que faço. Tiro o dinheiro da corrida da carteira e saio do carro, liberando o taxista.
— Boa noite! — uma recepcionista muito bem-vestida e linda me cumprimenta. — O senhor possui reserva?
— Não, mas posso ficar no bar?
— Claro! — Ela me pede um documento e depois o entrega junto a um cartão magnético com o nome do restaurante. — Seja bem-vindo!
Entro já esquadrinhando as mesas. Contudo, abro um sorriso ao ver Wilka sozinha, sentada em uma das banquetas do balcão do bar. Respiro fundo, pedindo meu autocontrole de volta e me sentando ao seu lado.
— Rare Breed15, por favor — peço meu bourbon favorito, mas, pela expressão “é de comer ou de passar no cabelo?” que o bartender faz, já presumo que não tem a marca. — William Larue Wellen16? — A expressão não muda. — Jim Beam17? — Puta que pariu, o “bartender” acabou com minha entrada surpresa! O que foi que tomei quando vim aqui com Millos? Jogo um olhar rápido à parede de bebidas à minha frente e vejo uma garrafa de Tennessee Whiskey. Quem não tem cão... — Jack Daniel’s Old 718, por favor.
Viro-me para Wilka Maria, que parece não acreditar que está me vendo ao seu lado.
— O que você...
— Ora, ora, que coincidência! — Sorrio maliciosamente. — Se soubesse que estava vindo para cá, teria me oferecido para rachar o Uber com você.
Ela demora um tempo para reagir, o bartender serve minha bebida e debita no cartão de consumo do bar, então ela parece despertar do choque e ri.
— Você me seguiu?
Bebo calmamente, degustando a bebida, fico um tempo apreciando seu sabor amadeirado e então respondo:
— Por que eu faria isso?
Armo-me com minha expressão irônica, mas isso não a inibe, nem detém. Para meu total assombro, ela gargalha, um som rouco, vibrante e delicioso que me faz querer segurá-la pela nuca e sorver aquela música para dentro de mim.
— Qual é a sua, afinal, doutor? — ela é direta. — Qual é o jogo que estamos jogando, porque, infelizmente, desconheço as regras?
Dou de ombros.
— Não tem jogo! Estava com vontade de beber e vim até aqui. — A desculpa é tão esfarrapada, até para mim, que rio antes de beber mais um gole e olhá-la. — Fiquei curioso, só isso.
— Curioso?
— Para saber com quem você iria se encontrar. — Minha sinceridade a desarma. — Nós não conversamos desde aquela noite.
Wilka puxa o ar lentamente e depois o solta.
— Eu estive na empresa todos os dias desde então, não sumi sem dizer nada e nem fui eu quem saiu correndo como se tivesse visto um fantasma.
Concordo com ela e bebo de novo para aliviar o bolo que sinto em minha garganta.
— Desculpe-me. — Olho dentro de seus olhos castanhos. — Eu não esperava que...
— Olá? — a voz de um homem me interrompe, e eu o encaro. — Desculpe a demora, Kika, o trânsito estava um inferno!
Ele a beija no rosto e a abraça quando ela desce da banqueta. Acompanho, sério e puto, sua mão acariciando as costas dela enquanto ele a abraça.
— Tudo bem, Vinícius, acabei encontrando um conhecido. — Ela dá um sorriso sem jeito em minha direção. — Nossa mesa já está pronta. Vamos?
Conhecido?! Tenho vontade de rir por ter sido chutado para escanteio descaradamente. O tipo, bem mais baixo que eu, com o cabelo cortado rente à cabeça e uma roupa colada no corpo de modo a ressaltar seus braços musculosos, dá-me uma olhada rápida antes de encaminhá-la para a mesa onde irão jantar.
Para minha diversão, é a mesa mais próxima do bar e, por esse motivo, posso ouvi-lo perguntar para ela:
— Ele estava te incomodando?
Giro a banqueta e olho diretamente para Wilka, sentada de frente para mim, esperando sua resposta ao skinhead19 “bombadinho”. Nossos olhos se encontram por um breve momento, e ela, por fim, diz:
— Não, é um dos diretores da empresa onde trabalho.
O garçom se aproxima para anotar os pedidos, e noto que é ele a definir a bebida da mesa. Depois comenta algo com Wilka, que assente e sorri, então voltam a conversar.
Pego o celular, abro o e-mail que usamos para tratar da conta da siderúrgica e copio o número do celular dela, torcendo para que ele não seja corporativo e ela não o tenha deixado no trabalho.
“Achei que você iria reivindicar seu direito de escolher sua própria bebida. Estou decepcionado com sua falta de feminismo!”
Disparo a mensagem, escuto o celular dela vibrar em cima da mesa, mas ela não o pega. Tento outra vez.
“Eu realmente segui você. A verdade é que aquela noite foi uma loucura, e ter descoberto sua virgindade daquela forma, machucando você, me desconsertou. Eu vim para me desculpar, estava fazendo isso quando sua companhia chegou e não ouvi se você aceita a desculpa ou não.”
Leio a mensagem antes de a enviar, surpreso por estar me expondo demais para ela. Toda minha resolução de permanecer longe acabou quando pisei na Karamanlis. Tive consciência o tempo todo de que ela estava tão próxima de mim, mas não consegui me aproximar. Provoquei, chamei a atenção dela como um pirralho carente, pensando que ela estaria puta e que apareceria para brigar comigo, mas não.
Olho para o casal sentado à mesa à minha frente e pondero se não é melhor que ela se envolva com alguém menos fodido do que eu. Então balanço a cabeça, achando a ideia absurdamente ridícula. Ainda estou cheio de tesão por ela e, pelo que aconteceu antes, sei que ela sente o mesmo por mim. Porra nenhuma que vou deixar um “mamãe, tô forte” se aproximar dela e me tirar da jogada! O caralho que eu vou!
Ela é minha!
Sinto uma coisa estranha em mim, um sentimento de posse sobre ela por ter sido o primeiro, por tê-la marcado para sempre, talvez não da forma como merecia – o que pretendo consertar em breve –, mas, ainda assim, ter sido eu o escolhido por ela para aquele momento.
Envio a mensagem, e, dessa vez, quando o celular dela vibra, Wilka confere as mensagens e me encara, surpresa, e logo depois volta a olhar o aparelho em sua mão. O homem sentado à sua frente fala algo, e ela apenas assente com a cabeça, sem conseguir tirar os olhos do celular.
Ela, por fim, fala algo com ele e digita. Espero pela mensagem – confesso que estou um pouco nervoso – com o aplicativo aberto na conversa que iniciei e, quando a mensagem chega, leio-a rapidamente.
“Aceito suas desculpas. Eu deveria ter contado, talvez assim você tivesse parado e nos poupado o constrangimento.”
“Eu não teria parado, Wilka, só teria ido com mais cuidado. Não tinha como parar, assim como não tenho como parar agora. Estou aqui, de plateia em um encontro seu, mas, ainda assim, de pau duro de vontade de estar dentro de você.”
Mando a mensagem antes que ela coloque o aparelho sobre a mesa e vejo seus olhos se arregalarem levemente ao ler o que escrevi.
Mais direto que isso, impossível!
Termino a bebida, deixo o copo sobre o balcão e me levanto para ir embora, pois não faz mais sentido ficar aqui, assistindo-lhe jantar com outro homem. Ela já sabe que eu a quero e, se me quiser também, irá deixar claro, independentemente do que rolar entre ela e o seu encontro esta noite.
Não me agrada imaginá-la com outro homem, mas sei que não tenho o direito de intervir nisso, afinal, não temos nada um com o outro e, por mais que me sinta atraído por ela, nossa questão é apenas sexual, saciar o desejo e expurgar essa vontade.
Faço sinal para o bartender pedindo a conta e, enquanto ele pega uma máquina para dar baixa no meu cartão de consumo, ouço a campainha de um celular ressoar por todo o restaurante.
— O Carlinhos estava um pouco febril hoje cedo, mas amanhã é dia de ele ficar comigo e já começou desde segunda-feira a me cobrar para te pedir para deixar o Kaká dormir com ele — Vinícius comenta assim que nos sentamos à mesa, e eu tenho que me esforçar para entender o que ele está falando, pois me sinto aérea ainda com a presença de Kostas aqui. — Eu disse a ele que não é assim, que o bichinho pode ficar chateado por ficar longe de sua casinha. Eu estou pensando em comprar um cãozinho para ele de aniversário, mas a mãe dele é contra.
— Complicado... — respondo e olho na direção do bar. Kostas está de frente para mim, e nossos olhares se cruzam por um momento. — Eu posso deixar o Kaká na sua casa até o Carlinhos pegar no sono. Ele costuma dormir cedo, não é?
— Sim! Seria uma ótima saída. — Ele fica parado me olhando com um sorriso. — Nem acredito que você está aqui! E linda desse jeito!
Sorrio sem jeito, e um garçom se aproxima para anotar nossas bebidas.
— Vamos querer vinho, meio seco de preferência e tinto — Vinícius faz o pedido por nós dois. Isso me incomoda, e eu ergo uma das sobrancelhas, achando sua atitude um tanto machista. Meu celular vibra em cima da mesa, o que chama a atenção dele, que me olha, percebe minha expressão e sorri sem jeito. — Tudo bem para você, ou gostaria de pedir algo diferente? Eu fiz o pedido porque me lembrei que, no aniversário da Verinha, você tomou vinho, mas...
— Tudo bem — interrompo-o com um sorriso. — Vinho está ótimo, obrigada por perguntar.
O garçom se afasta.
— Eu queria te convidar para sair desde que te conheci. Achei você tão incrível, positiva, amável e, posso estar falando bobagem, mas acho que temos muita química.
Hein?! Eu queria ter a mesma certeza que ele neste momento, mas a presença do Konstantinos, que apareceu aqui como um perseguidor maluco, e seu pedido de desculpas pelo que houve entre nós me deixou um tanto desconsertada e sem clima para o encontro com Vinícius.
Desculpas! Apesar de reconhecer que foi um gesto bem sensível e que eu não esperaria dele, senti-me decepcionada também. Pedindo desculpas, para mim, pareceu que ele estava arrependido, que não sentia mais a atração e o ar vibrando à nossa volta.
Eu senti e ainda sinto! Meu corpo inteiro esteve alerta à presença dele no elevador, a cada respiração mais forte que ele dava, cada movimento, tudo foi perceptível por mim como se estivéssemos juntos, colados. Aqui no bar não foi diferente. Quase não acreditei quando ele se sentou ao meu lado e pediu sua bebida na maior desfaçatez do mundo. Tive vontade de rir quando não conseguiu nenhuma das marcas que queria e desejei que neste restaurante chique só tivesse Natu Nobilis20.
Ele tentou disfarçar que veio atrás de mim, mas meu coração disparado não se enganou, e eu me senti poderosa ali, mesmo sem entender o motivo pelo qual ele me seguiu.
Até suas desculpas...
Meu telefone vibra de novo.
— Não vai ver o que é? — Vinícius pergunta. — Pode ser importante.
— Você não se importa?
Ele nega, e eu pego o aparelho e quase engasgo com minha própria saliva ao ler a mensagem – de um número que não consta em minha agenda, mas que não me deixa dúvida de quem é o remetente.
A primeira mensagem é engraçadinha e demonstra que ele está observando – e talvez até ouvindo – tudo o que se passa aqui na mesa, e isso me faz ficar ainda mais intrigada com a permanência dele no restaurante. A segunda mensagem é uma surpresa total, uma justificativa e um pedido de desculpas, coisas que realmente não esperava dele.
— Preciso responder — aviso ao Vinícius, já digitando uma mensagem.
“Aceito suas desculpas. Eu deveria ter contado, talvez assim você tivesse parado e nos poupado o constrangimento.”
Entendo que ele peça desculpas pela reação que teve depois que percebeu minha virgindade, até aprecio isso, mas pensar que ele possa estar se desculpando por ter feito sexo comigo é um pouco dolorido. Apesar dos pesares, eu nunca quis tanto alguém como o quis naquela noite.
E, se for sincera, ainda continuo querendo. Mal concluo o pensamento, e outra mensagem dele entra.
“Eu não teria parado, Wilka, só teria ido com mais cuidado. Não tinha como parar, assim como não tenho como parar agora. Estou aqui, de plateia em um encontro seu, mas, ainda assim, de pau duro de vontade de estar dentro de você.”
Meu coração quase sai pela boca, e eu preciso apertar levemente as coxas, pois ler isso acordou meu sexo, aguçou a vontade de tentar mais uma vez, de ter a experiência completa com ele antes de seguirmos com nossas vidas.
Ergo os olhos e o vejo falando com o bartender, já de pé, em claro sinal de que está indo embora. Olho para o Vinícius sem jeito e tento um sorriso enquanto o garçom serve nosso vinho. Não posso simplesmente abandoná-lo aqui e sair correndo atrás de Konstantinos, não posso e nem devo.
Coloco o celular na mesa.
— Nós estávamos falando sobre...? — tento voltar ao assunto, mas não consigo, pois o celular de Vinícius começa a tocar alto, chamando a atenção dos outros clientes. — Pode atender.
Ele pega o aparelho em seu bolso e arregala os olhos.
— É a mãe do Carlinhos!
Levanta-se rapidamente e pede licença para atender o telefone, caminhando em direção a uma espécie de hall que o restaurante possui, todo ornamentado com plantas. Acompanho-o com os olhos até que começa a falar ao telefone, mas depois olho na direção onde estava o Kostas.
Ele não está mais perto do bar, então o vejo sair do restaurante. Respiro fundo e penso que foi melhor assim. Já fizemos algo por impulso uma vez e não resultou em uma experiência muito satisfatória para ambos. É melhor irmos com calma, acertarmos as coisas antes de qualquer outro passo.
— Kika, me desculpa, mas preciso ir. — Vinícius parece nervoso, e eu me levanto. — A febre do Carlinhos aumentou muito, e Liliana o está levando para o pronto-socorro. Preciso estar lá.
— Claro! — Ele pega a carteira, mas eu o impeço. — Não, pode deixar que eu acerto aqui, vai!
Ele concorda e se despede esbaforido, praticamente correndo para fora do estabelecimento. Penso em ficar e aproveitar para conhecer a comida daqui, mas é desanimador comer sozinha, então peço a conta do vinho, pois ainda não tínhamos feito o pedido, pago e já saio com o aplicativo do Uber aberto para me levar para casa.
— Eu acho que você ficou sem carona para ir embora — a voz de Konstantinos me faz pular de susto, e quase deixo meu telefone cair.
— Merda, Kostas! — Ponho a mão no coração.
Ele abre a porta traseira de um táxi e aponta para o interior.
— Já que não conseguimos rachar na vinda, poderíamos fazer isso na volta, o que acha?
Intercalo olhares entre ele, o banco traseiro do táxi e o pedido de confirmação do Uber na tela do celular. Tomo fôlego, bloqueio a tela do celular e ando na direção dele.
— A primeira parada será minha casa — aviso-lhe antes de me sentar no banco do táxi.
Kostas senta-se ao meu lado e fecha a porta.
— Vila Mariana — indica ao motorista e me puxa para perto de si, quase me colocando sobre seu colo. — Não será a primeira parada, será a única, a não ser que queira ir para um motel.
Seu corpo está quente e duro junto ao meu. Sinto seus músculos vibrando, talvez ele esteja contendo um tremor como o que acontece com meu próprio corpo. Ofego, sentindo seu hálito quente no meu rosto. Sua mão segura firme minha cintura, e a outra, a nuca.
Estou quente, aquecendo cada vez mais com a proximidade dele e seu olhar cheio de desejo e promessas sujas. Sei que, se eu me render, essa noite poderá ser aquela que eu sempre quis, pois ele não vai se contentar em me jogar na cama e foder, vai me comer inteira, devorar como um animal esfomeado e me proporcionar o prazer que essa atração entre nós já prenunciava desde o início.
Ao mesmo tempo, sinto insegurança também. Nossa experiência anterior não teve o melhor desfecho, e, embora eu já não seja mais uma virgem, continuo sendo inexperiente na prática.
Ele percebe que titubeio, então diz baixinho:
— Talvez eu devesse ir mais devagar, mas não consigo. — Sua mão toca meu rosto numa carícia leve. — Eu prometo que dessa vez não vou parar, pelo menos não enquanto você não estiver gemendo, molhada e totalmente satisfeita.
Eu não quero que ele pare, não quero deixar o medo que me dominou por tantos anos me tirar a chance de viver este momento.
— Vila Mariana — respondo sem tirar meus olhos dos dele — será nossa única parada.
Ele me atrai para mais perto e ataca minha boca com um beijo faminto, desesperado. Seguro a sua camisa com força, sentindo o tecido macio se embolar entre meus dedos, enquanto sou consumida por sua boca, lábios se impondo sobre os meus e língua explorando, penetrando e fazendo sacanagens que me remetem ao que ele pode fazer dentro de mim.
Sinto a pressão de seus dedos presos no cabelo da minha nuca. Konstantinos não está sendo delicado e nem contido. Parece que estamos libertos de qualquer contenção que podíamos ter. Não me importo de estar atracada a um homem dentro de um táxi, muito menos de estar levando-o para dentro da minha casa; só desejo dar vazão ao tesão que sinto.
Ele geme contra minha boca e segura o lábio inferior com os dentes. Abro as pálpebras e o encontro olhando para mim.
— Nada pode me fazer parar esta noite, Wilka — declara, ofegante, com a cabeça encostada na minha. — Eu vou te comer de todos os jeitos que quiser, te mostrar como eu deveria ter feito naquele dia, te levar à loucura com minha língua para, só então, acessar sua boceta apertada com meu pau.
Dou uma risada nervosa, mas sinto minha calcinha cada vez mais úmida com a descrição que ele faz.
— Eu vou cobrar cada uma dessas coisas — ameaço-o, e ele ri.
— Eu vou adorar ser cobrado! — Lambe meus lábios descaradamente, como se estivesse me fazendo sexo oral.
— Doido!
Agora é ele quem ri.
— Você não tem ideia do quanto!
Ouço um leve pigarrear e me separo dele, segurando as risadas, mas fico séria ao sentir sua mão enorme subindo pela minha coxa, insinuando-se por baixo do meu vestido até tocar minha calcinha.
— Já estamos na Vila Mariana; preciso do endereço completo.
Eu digo ao taxista o endereço do meu prédio, mas me engasgo algumas vezes ao sentir alguns dedos levantarem minha peça íntima e a afastar para o lado. Fecho os olhos, tremendo de ansiedade, achando loucura o que ele está fazendo dentro do táxi, mas adorando a sensação. Seus dedos brincam com minha virilha, avançam sobre meus lábios, depois retornam para a virilha.
Gemo baixinho e escuto sua risada. O filho da mãe está me provocando e se divertindo com isso. Talvez ele mereça provar um pouco do próprio veneno! Estico o braço e pouso minha mão exatamente em cima de sua ereção, o que me faz gemer baixinho junto a ele dessa vez.
Naquela noite, assim que ele tirou seu pênis da cueca, eu dei uma espiada para descobrir como era. Eu só reparei em um pau pessoalmente uma única vez na vida, na adolescência, com meu primeiro namorado, mas foi tão rápido, mesmo porque eu fiquei com tanto medo, que mal me lembro dos detalhes. Depois disso, só em filmes pornôs.
Sempre me disseram que paus não eram proporcionais ao tamanho do homem, mas eu pude comprovar naquela noite que há exceções, e Konstantinos é uma delas.
Sinto um arrepio subir pela minha coluna ao me lembrar do membro duro, pulsando, moreno, coberto de veias altas, grosso e comprido. Ele chegou a me penetrar, mas não se moveu, então não faço ideia de como é tê-lo dentro de mim com movimentos rápidos ou lentos, mas tenho certeza de que será uma sensação incrível.
O táxi para em frente ao prédio, e descemos juntos. Konstantinos paga ao motorista, e eu pego a chave em minha clutch para abrir o portão principal, já que o porteiro não está na portaria.
Ele enlaça minha cintura, seu pau ainda duro e pulsando nas minhas costas, suas mãos subindo pelo meu abdômen em direção aos meus seios. Abro o portão e, sem que eu pressinta, ele me levanta nos braços e anda rápido até o elevador, que, por sorte, está no térreo.
Sou pressionada contra a parede gelada assim que as portas se fecham, mantida suspensa, ele sustentando meu corpo com o próprio. Minhas pernas abraçam seus quadris, Kostas rebola contra mim, nossos sexos, mesmo debaixo dos tecidos que vestimos, se tocando, moendo um contra o outro em desespero.
Sua boca devora a minha em frenesi, e eu o agarro pelos cabelos, gemendo descarada dentro do elevador do prédio em que moro sem me importar com vizinhos ou mesmo com a câmera que há dentro do elevador.
Nada tem importância, somente o que estou sentindo agora, esmagada por um homem de quase dois metros e uns 100 quilos, sua boca atracada à minha e nossos corpos ondulando de prazer, estimulando um ao outro.
Finalmente chegamos ao meu andar, e, de novo, sou levada em seu colo, dessa vez montada nele, suas mãos me mantendo contra si, segurando minhas nádegas, enquanto anda e continua a me beijar.
— A chave! — ele pede em um rosnado baixo, e eu rio.
— Na bolsa. — Solto uma das mãos de sua nuca e tento pegá-la, mas não dá. — Preciso descer.
Ele me põe no chão, mas não desgruda de mim. Acho a chave e, mal abro a porta, sou arrastada para dentro, no escuro, e levada até o sofá da sala.
— Kostas...
Ele sobe meu vestido até tirá-lo, vira-me de costas para ele e geme ao mexer na minha calcinha. Quase não vemos nada sob a parca luz da rua entrando pelas frestas da cortina, mas sinto seu dedo contornar a peça, sentindo a textura suave da renda e da seda, e eu me lembro da que ele rasgou.
Agradeço a luminosidade fraca da sala por não me deixar totalmente exposta. Sei que em algum momento isso vai acontecer e, mesmo não me sentindo insegura com relação ao meu corpo, terei que lidar com o constrangimento de estar nua com um homem pela primeira vez.
— Sua bunda é um tesão — sua voz entrecortada com sua respiração me dá a dimensão de como ele está. — Você é muito gostosa, puta que pariu!
Kostas me vira e me faz deitar no sofá, ajoelha-se diante de mim, meu corpo todo em expectativa, mas ele não parece ter pressa. Passeia as palmas das mãos pelas minhas coxas, abre-as devagar e substitui as carícias por beijos e lambidas, até chegar bem perto de onde estou quente, molhada e pulsante à sua espera.
— Sou o primeiro a provar sua boceta também? — Konstantinos pergunta, mas não espera a resposta, afastando minha calcinha para o lado e colhendo minha excitação com sua língua tensa e grande, macia, quente e torturante.
Não tenho nem tempo de me sentir constrangida, já tomada pelo prazer. Gemo, rebolo e o seguro pelos cabelos, desejando que ele caia de boca, me chupe inteira até me fazer gozar, porém, ele pincela a língua em meus lábios, depois a agita na entrada e então lambe exatamente em cima do meu clitóris, fazendo-me arfar de tesão e sentir meu corpo inteiro se retesar de prazer.
Não tenho ideia de quanto tempo ele fica assim, só me provando, deglutindo meu sabor, aspirando meu aroma e esfregando o nariz e barba pelo meu sexo.
Sinto-me à beira de um precipício, ofego como se estivesse correndo uma maratona, a cabeça dá voltas, os pelo do corpo arrepiam e os bicos dos seios parecem querer furar o sutiã. Estou delirante, essa é a sensação, não ruim como a de uma febre, embora também me sinta febril, mas dolorosamente prazerosa.
Meus lábios são afastados por seus dedos e sua língua me penetra profundamente, fodendo-me. Estou em desespero, prestes a gozar. Ele, talvez percebendo isso, abre toda sua boca e abocanha tudo, concentrando-se em chupar meu clitóris de forma rítmica e perfeita.
Grito de prazer, travo meus calcanhares em suas costas, puxo seus cabelos e gemo, gozo, sinto meu corpo inteiro explodindo como nunca senti antes e o puxo para cima, querendo beijar sua boca contendo meu orgasmo e partilhar com ele do meu próprio prazer.
Konstantinos está tremendo, seu corpo chacoalha em cima do meu. Tento abrir os botões de sua blusa, mas é difícil, então a puxo, arrebentando todo eles, libertando sua pele e carne para minhas mãos.
Quente, muito quente, é como encontro o peitoral duro e o abdômen repleto de gominhos perfeitos. Sigo em direção à calça, abro o cinto, e ele se levanta.
Vejo-o, deitada largada de prazer no sofá, abrir o botão da calça social, livrar-se dela, da blusa e dos sapatos e depois fazer o mesmo com a cueca.
— Tire tudo, quero você nua para mim — ordena.
Sento-me, abro o fecho do sutiã, retirando-o devagar, e, por último, levanto-me e tiro a calcinha sem tirar meus olhos de sua mão, agitando seu pau em uma masturbação deliciosa de se ver.
— Quero que você faça o mesmo — Kostas pede. — Deite-se lá de novo, abra bem as pernas e me mostre como você faz quando está aqui sozinha.
Penso em todas as vezes que já fiz isso e ninguém nunca assistiu. A ideia de ter alguém olhando, de ter Konstantinos Karamanlis me olhando, é muito excitante, embora aterrorizante também, porém, mais uma vez o tesão vence, e eu faço o que me pede.
Ouço seus gemidos, escuto a movimentação de sua mão em seu pau e me toco, lambuzo-me para ele, mostro como gosto, os movimentos, os jeitos e gozo de novo, rendendo-me ao prazer diante dos seus olhos.
— Vem aqui! — ele me chama, e o vejo colocando camisinha e sentado em uma das minhas poltronas. — É você quem vai me comer, Kika.
Sorrio com a ideia e me sento em seu colo, sobre seu pênis, rebolando para que meu gozo possa encharcá-lo todo. Ele está me colocando em posição de comando, está permitindo que eu tenha o controle sobre nossos corpos, talvez até como forma de não voltar a me machucar, e isso é algo que eu não esperava acontecer, mas que, sem dúvida, enternece meu coração.
Kostas está impaciente, ergue-me pelos quadris, posiciona seu pau na minha entrada e tira a mão de mim, deixando-me com o poder de comê-lo inteiro. Desço devagar, sinto um leve desconforto, afinal era virgem até dias atrás, e ele é bem grande, porém, à medida que vou engolindo-o, sinto os espasmos voltando, meu corpo se agitando novamente, e o prazer me acerta com tudo.
— Porra! — rosna quando me sente gozar sem nem mesmo um movimento seu. — Porra!
Sou agarrada pelos cabelos, e ele começa a agitar os quadris. Grito de prazer com o orgasmo intensificado pelos movimentos. Encaixo-me toda nele, nossos corpos se esbarram, e eu rebolo, sentindo-o bem no fundo, tocando tudo dentro de mim.
Inclino meu corpo para trás sem parar de rebolar, e ele beija meu peito, lambe o mamilo e depois o chupa com força.
— Preciso gozar! — avisa, ainda com a boca no meu peito. — Ah, caralho, preciso gozar!
Abraço sua cabeça com força enquanto ele geme, abandonando-se ao orgasmo, seu pau pulsando dentro de mim e seu corpo todo tremendo, suado, contra o meu.
Fecho os olhos, ainda sob efeito de todo o prazer sentido e rio, maravilhada, sentindo-me finalmente curada de todo o medo que sentia.
Ele me olha parecendo acabado e retribui meu sorriso antes de me beijar.
A primeira sensação que sinto ao recobrar a percepção de que estou em uma cama onde dormi bem e sem pesadelos é de ouvir pássaros, uma música animada e nada parecida com as que escuto, um leve aroma de café no ar que faz meu estômago roncar e beijos molhados.
Abro um sorriso, ainda com os olhos fechados, adorando a carícia sensual, embora um tanto inexperiente, de Wilka Maria, e meu corpo todo desperta, principalmente uma certa parte que foi particularmente utilizada na noite passada.
Enquanto ela lambe meu pescoço, relembro a loucura da transa que tivemos quando chegamos ao apartamento dela e que ficamos abraçados naquela poltrona apertada por algum tempo, ofegantes, satisfeitos e rindo como dois loucos.
Foi uma experiência nova para mim trepar pela primeira vez com alguém por quem sinto uma verdadeira atração e foi além das minhas expectativas, deixou o ato menos mecânico e fisiológico, embora eu tenha me refreado muito para controlar todos os meus impulsos, lembrando-me sempre de ir com calma, afinal ela era virgem até poucos dias atrás. O fato mais importante de tudo é: fiz sexo com ela porque eu a queria, não somente porque queria trepar.
Durante o banho que tomamos juntos – outra experiência inédita –, fiquei observando-a e notei que, em alguns momentos, Wilka parecia desconfortável com minha presença.
— Quer que eu vá embora? — perguntei depois que saímos do boxe.
Ela ficou me olhando, quieta, avaliadora, e então negou.
— Apenas se você quiser ir. — Respirou fundo. — Não sei como isso funciona, é tudo novo para mim.
A sinceridade e o jeito que ela se expôs tocou em alguma área minha que havia muito não recebia qualquer luz e a iluminou de tal forma que eu sorri. Sim, eu sorri! Não foi um riso sarcástico, debochado ou apenas um sorriso qualquer para exprimir minha total falta de paciência, como faço sempre. Foi um sorriso que brotou naturalmente, caloroso, um primeiro gesto de afeto verdadeiro.
Passei a mão em seu rosto, e ela fechou os olhos.
— Você pode até não acreditar, mas para mim também é. — Wilka suspirou. — Eu quero ficar. — O toque em sua pele, o cheiro dela, seus cabelos úmidos do banho, e, claro, seu corpo delicioso envolto em uma toalha felpuda me deixaram excitado novamente, porém, de forma diferente. — Eu quero você de novo.
Ela sorriu, e foi toda a resposta que eu precisava.
Dessa vez chegamos até a cama. Eu me sentia um gigante perto dela, mas não tive nenhuma sensação ruim por isso, porque, mesmo com a diferença, nosso encaixe foi perfeito. Minha mão, grande e morena, cobria todo seu rosto, seus peitos cabiam em minhas palmas, eu conseguia escondê-la toda dentro dos meus braços.
Isso, de alguma forma, fez com que o sexo fosse mais lento do que eu costumava fazer. Senti uma enorme vontade de idolatrá-la toda e fiz de seu corpo um templo de adoração, utilizando boca, língua e mãos em cada canto dele sem nunca me fartar. Foi uma experiência exótica, sexy pra caralho e que deixou meu pau tão quente que poderia a qualquer momento começar a apitar como uma chaleira.
Nunca pude me dedicar assim a uma parceira, pois sempre estava fodendo profissionais do sexo, e a coisa era mais superficial. Entretanto, com Wilka, eu desejei passar horas apenas degustando sua pele e seus sabores. Foi foda!
Depois, quando fui em busca de uma camisinha para me enterrar nela e acabar com a agonia que estava sentindo, ela me deteve e começou a retribuir os beijos lentamente. O boquete começou tímido, devagar. Notei que ela estava provando, conhecendo meu corpo e, então, achei melhor demonstrar que estava no caminho certo.
Nunca fui um homem de gemer com sexo oral, mas me soltei e permiti que meus sons exprimissem todo o prazer que sua língua e boca estavam me proporcionando, a princípio para que ela soubesse que estava fazendo a coisa certa, mas depois apenas porque estava deliciosamente perverso e prazeroso. Em alguns momentos tive vontade de guiá-la apenas para aumentar o ritmo, mas descobri que não era necessário.
Sem que pudesse me controlar, talvez por ter me posto todo em suas mãos, gozei como um louco, o prazer fazendo-me suar e aumentando à medida a que ela assistia, deslumbrada, minha porra jorrando para longe.
— Isso foi delicioso! — comentei depois que o entorpecimento do orgasmo passou.
Não costumava gozar com boquetes, a não ser que eu estivesse segurando a cabeça da mulher e socando em sua garganta. Eu precisava estar ativo para gozar, estar no controle da situação para não me sentir... Interrompi os pensamentos rapidamente e a olhei, pois ela estava rindo.
— O que foi? — perguntei intrigado.
— Foi meu primeiro boquete de verdade.
— De verdade? — Abri um sorriso safado, imaginando minha Cabritinha treinando boquetes.
— Sim. — Ela se levantou e foi na direção do banheiro. — Treinei com alguns brinquedos.
Sentei-me na cama, pensando nos ovinhos que eu comprara por causa dela e nos vibradores que ela me mandava em fotos.
— Você tem esses brinquedos ainda?
Ela apareceu na porta do banheiro escovando os dentes e assentiu.
Puta que pariu!, pensei, jogando-me contra o colchão com a mente repleta de imagens em que eu a comia utilizando vibradores, plugs, algemas e todos os petrechos que comentamos em nossas conversas online.
Volto a sentir a língua quentinha e molhada dela no meu corpo, agora no rosto, e deixo as lembranças da noite anterior para trás. Abro os olhos preparado para abraçá-la, prendê-la debaixo de mim e começar uma trepada matinal para aliviar um pouco o tesão logo cedo.
— Caralho!
Tomo um susto ao ver um rosto peludo, com orelhas pontudas e depiladas e enormes olhos castanhos. O bicho volta a me lamber, agora no nariz, e eu o seguro com força, afastando-o de mim.
De onde surgiu essa criatura?!
Ele balança o rabo, parecendo feliz ao me ver. Sento-me na cama, confuso, olho tudo ao redor e percebo que Wilka Maria não gosta só de usar roupas diferentes e chamativas, sua decoração é assim também.
Levanto-me, a cueca toda esticada por causa da ereção que nem essa criatura peluda derrubou, e caminho na direção do som e do aroma de café.
— Bom dia! — cumprimento-a, com o cachorro preso debaixo do braço, e ela se engasga ao me ver.
Ergo a sobrancelha, sem entender o susto que ela tomou, afinal de contas sabia que eu passei a noite aqui, nada mais óbvio do que me encontrar de manhã.
— Ele te acordou? — Wilka caminha até mim e pega o cãozinho. — Você é um moleque travesso! — ela o repreende e o leva para a varanda. — Não fez xixi em você, não foi?
Fico sério ao pensar no diabinho me cobrindo de mijo.
— Isso é seu? — Aponto para a criatura com as patas dianteiras apoiadas no vidro, olhando para nós dois como se pedisse sua liberdade de volta. — Não estava aqui ontem à noite.
Ela ri e passa por mim, voltando a se sentar em uma das banquetas de sua cozinha.
— Ele é meu, sim, estava na casa de uma amiga, que o deixou aqui mais cedo. — Ergo a sobrancelha, notando que ela não gostou de como me referi ao bicho, pois deu ênfase ao pronome. — Você pode ficar confuso às vezes, porque sei que viveu na Inglaterra, mas em português não usamos it (isso) para os bichinhos.
Ela pisca o olho para mim, sorrindo malvada, e eu cruzo os braços, achando engraçado estar tomando meu primeiro sermão antes mesmo de tomar um café e continuar de bom humor.
Olho-a detalhadamente, suas pernas lindas à mostra, a camisa larga e antiga que usa como pijama, os bicos dos peitos marcando o tecido fino, e ela lá, sentada alheia ao quanto está totalmente atraente e o quanto já estou louco para fodê-la novamente.
— Meu castigo por ter me confundido é ficar sem café? — provoco, testando o terreno. Vai que ela é uma das que acordam de mau humor de manhã!
— Claro que não! — Sorri. — Eu não seria tão malvada assim com você.
Wilka se levanta e vai até o armário, esticando-se toda para pegar uma xícara, permitindo que eu vislumbre a popa de sua bunda quando a camisa levanta.
Foda-se o café!
Agarro-a pela cintura, e sua risada enche o ambiente, animando-me também, enquanto a apoio sobre o balcão que separa a pequena cozinha da sala.
— Bom dia! — cumprimento-a novamente, e, dessa vez, ela sorri.
— Bom dia! — Seus olhos brilham. Wilka não usa nenhuma maquiagem, noto leves olheiras pela noite praticamente insone que passamos, as sardas espalhadas pelo nariz em um rosto ainda um pouco inchado por ter acabado de acordar, e eu a acho ainda mais linda pela manhã. — Não quer mais seu café?
Não preciso responder à pergunta, apenas beijo-a, esfregando meus lábios nos dela, olhos abertos, fixos nos seus, enquanto levanto devagar a camisa que veste, roçando os dedos por sua pele por todo o caminho até seus ombros.
Afasto-me para livrá-la da peça e vê-la nua à luz do dia. Wilka segura o fôlego, um tanto constrangida, abaixa a cabeça, quebrando o contato dos nossos olhos. Ah, Cabritinha, você não vai se esconder!
Seguro-a pelo queixo e faço com que volte a me olhar.
— Você é linda! — afirmo.
Passo as costas das mãos em seus peitos empinados, sentindo os mamilos duros vibrarem entre os vãos dos meus dedos. Ela geme e fecha os olhos, inclinando a cabeça para trás, deixando seu lindo e cheiroso pescoço à minha mercê.
Beijo-o, arrasto a língua por ele até chegar a sua orelha, sugo o lóbulo e volto beijando, chupando e lambendo seu pescoço novamente. Com as duas mãos, seguro seus peitos juntos, inclino-me e os contorno, molhando-os com minha saliva, até alcançar os bicos intumescidos. Balanço-os com a ponta da língua, ergo os olhos para Wilka e deliro ao ver sua reação embevecida.
Só o fato de eu estar com sua pele em minha boca, sentir o tesão compartilhado entre nós dessa maneira já é suficiente para que eu sinta meu corpo inteiro tremer. Aqui, neste momento, depois de ter passado a noite inteira com ela em meus braços, toda a experiência que tenho não vale de nada, é tudo tão novo para mim, e isso é foda demais!
Seus seios são uma delícia, e eu não tenho nenhuma vontade de me apressar a chupá-los. A reação dela a essa carícia me impulsiona a continuar, então me dedico aos dois com a mesma intensidade, usando todo o meu rosto para excitá-los, lambendo, chupando, beijando ou somente passando minha barba levemente pelos bicos sensíveis.
Faço-a deitar-se no balcão, em meio a objetos decorativos, sua xícara de café e potes de biscoitos e continuo a beijar seu corpo, enlouquecido pela maciez de sua pele, o aroma suave do sabonete que partilhamos no banho ontem e suas reações claras e diretas às minhas carícias. Gosto de como a pele dela está quente e como se arrepia quando lambo ou esfrego a barba em algum ponto específico.
Paro um momento apenas para observá-la, gravando na memória a perfeição de seu corpo esguio e pequeno entregue ao prazer. Gosto que ela não tenha pelos púbicos, porque assim posso admirar sua virilha, o monte de vênus e começar a ter uma visão de sua boceta, principalmente do ponto mais sensível e que eu adoro ter na boca.
Confesso que está sendo libertador poder chupá-la à vontade, pois, apesar de ser uma das coisas que eu mais gosto de fazer, quase não o faço com as profissionais, mesmo porque essas transas são mais para alívio do que para curtir o prazer em si.
Com Wilka eu posso me refastelar de sua boceta em minha boca, ficar horas lambendo, mordendo, chupando. Posso me lambuzar com sua lubrificação e beber seu gozo quantas vezes ela me permitir fazer.
A lembrança de quando a penetrei sem camisinha, na nossa primeira vez juntos, faz-me gemer, e meu pau se contorce na cueca. Sinto um arrepio subir por minha coluna, meus músculos todos se contraem de prazer apenas com essa memória e sinto despertar em mim a vontade e a curiosidade de prová-la pele a pele, sem nada entre nós, nossos fluídos se misturando do jeito mais íntimo do mundo.
— Você tem a boceta mais gostosa que já provei — confesso, e ela ri nervosa. Puxo-a para a beirada do balcão e abro bem suas pernas. — Fora o fato de ser extremamente apertada, o que dá uma sensação incrível quando meu pau está dentro. Ela é carnuda e suculenta na boca. — Ajoelho-me no piso da cozinha. — Tem sabor levemente picante, o que eu adoro, e um aroma... — cheiro-a de forma a ilustrar o que digo — viciante.
— Kostas... — Ela geme e ri ao mesmo tempo. — É só uma boceta como qualquer outra!
— Não! — Lambo-a do períneo até o clitóris, e Wilka se contorce. — É a sua boceta! — mal termino a palavra e já estou provando meu ponto sobre o que acabo de dizer. Prendo os lábios íntimos dela com uma sucção forte e depois os afasto com a língua, acessando a entrada apertada e quente.
Os gemidos dela ecoam pelo cômodo integrado, enchendo-me de mais tesão, porém, não me toco. Sinto uma necessidade premente de fazer isso, mas não o faço. Quero me dedicar todo a ela, meu corpo todo disponível apenas para seu prazer. Suas reações me excitam mais do que minha própria mão a socar meu pênis – e olha que eu curto uma punheta –, cada ofegar, pulsar, tremor de seu corpo atinge diretamente meu pau, e eu urro de prazer.
Não sou delicado como fui na noite passada. Não exploro sua intimidade, devoro, mastigo, engulo tudo como um homem esfomeado e sedento ao mesmo tempo. Nada importa aqui, além do prazer dessa mulher que mexe comigo a ponto de me expor de uma maneira que ela nunca imaginaria.
Aqui estou eu, escravo do seu corpo, ajoelhado no piso frio de uma cozinha, com o rosto entre as coxas dela e a boca inteira – isso inclui língua e dentes – à sua disposição. Aqui estou eu, Konstantinos Karamanlis, sem nenhuma carapaça ou máscara, sendo o mais sincero devoto de um desejo que nunca imaginei sentir, que me consome, porque, ao mesmo tempo em que me inebria e satisfaz, torna-me indefeso.
Nunca tive casos, nunca comi a mesma mulher mais de uma vez – nem mesmo repeti uma garota de programa –, nunca conheci o apartamento, o cachorro – essa parte foi inusitada – de ninguém. Ela é inédita para mim em todos os sentidos, a única que me fez ter vontade de arriscar minha sanidade, ignorar a porra dos meus traumas, mesmo reconhecendo que terei um alto preço a pagar depois.
— Diz para mim como você quer gozar — peço, a boca ainda encostada em sua boceta. — Conta para mim o que você deseja e me deixa realizar para você.
— Só continua... — sua voz está trêmula. — O que você está fazendo é mais do que qualquer fantasia ou expectativa que já tive.
Porra!
Não espero que ela me mande continuar de novo, apenas volto a abocanhá-la em completo frenesi, e seu orgasmo vem com tanta força que posso sentir minha boca inundar e meus cabelos sendo puxados com força a ponto de arder o couro.
Quando ela relaxa, ofegante e trêmula, corro até onde deixei minha calça ontem e pego o último invólucro de camisinha que tenho na carteira, agradecendo por ela ter algumas em seu criado-mudo, porque eu não estava prevenido para passar a noite e a manhã trepando.
Coloco-a rapidamente, alisando meu pau sob os olhares apreciativos dela. Brinco no exterior de sua boceta sensível. Ela se contorce, geme, e eu me enterro nela. Confirmo que está bem antes de me movimentar, pois a última coisa que quero é ter a sensação de tê-la machucado como da primeira vez, e, mesmo ela não sendo mais virgem, eu sou grande, e isso pode acontecer ainda.
Wilka se ergue e me segura pelos ombros, enquanto eu a mantenho firme pelos quadris e rebolo dentro dela. Ela geme sorrindo, e isso é deliciosamente sexy.
— Cruze as pernas sobre a minha bunda — ordeno.
Ela não titubeia e faz o que mando, mas dá um gritinho – seguido de risadas – quando a tiro do balcão e a como em meu colo, em pé, segurando-a firme contra mim. Essa é a vantagem da nossa diferença de tamanho e peso, consigo erguê-la e comê-la em qualquer posição, mesmo as mais cansativas.
Como estou de pé, sou eu quem a conduz a se movimentar para que meu pau entre e saia de seu corpo. Ando até uma parede sem móveis e a apoio contra ela para voltar a socar com a força e rapidez que preciso.
Ela me agarra, morde meu ombro, geme, arranha minhas costas e goza de novo. A sensação do meu pau todo dentro dela é deliciosa, não tenho vontade de parar, então continuo socando, esmagando-a contra a parede, até que o arrepio do orgasmo faz meu corpo inteiro tremer e aumenta minha velocidade em busca de alívio e satisfação.
— Kostas... — ela geme, mas não consigo prestar atenção, apenas sinto. — Kostas...
Dessa vez, nem que eu quisesse, eu iria poder conter meu gozo. Sua boceta me aperta de um jeito quase doloroso, e sinto minha virilha inundar do gozo feminino dela, então encosto minha testa na sua e me deixo ir gemendo e curtindo cada espasmo, cada esguicho de porra que sinto sair de mim.
— Uau! — Ela ri de olhos fechados e sem fôlego. — Que bom dia! Muito mais estimulante do que qualquer café.
Concordo, mesmo sem dizer nada – porque simplesmente não consigo – e penso em como seria amanhecer, trepar com ela e depois irmos trabalhar. Mesmo sendo assustadora, a imagem é muito atraente, e eu concluo que, pela primeira vez em anos de atividade sexual, estou disposto a ter um caso. Não há possibilidade de, se ela quiser, não repetir essa noite e esta manhã várias e várias vezes.
— Eu acho que deveríamos ir pessoalmente a esse local — Kostas diz, apontando para o mapa aberto em cima da minha mesa. — Eu sei que você tem seus hunters para isso, mas eu realmente queria ir a essa reunião, pois tenho a sensação de que é o lugar ideal.
Encaro-o.
— Mesmo? — questiono-lhe, porque tenho a mesma impressão. — Mas já indicamos David e Lene para irem. — Ele dá de ombros, e eu bufo. — Estamos desde segunda-feira planejando essa viagem, inclusive eles já têm passagem e hotel reservados, Kostas.
Ele sorri por eu tê-lo chamado pelo apelido – um ato falho, admito – e, usando isso como desculpa, desliza a mão pelas minhas costas e aperta minha bunda.
— Você ficou deliciosa com essa calça hoje — comenta. — Está sendo um inferno ficar vendo você andando de lá para cá com ela, porque me deixa duro, e eu não posso te foder aqui.
Sorrio, adorando a sensação de deixá-lo enlouquecido. Claro que foi proposital, tem sido assim desde segunda-feira, quando vim trabalhar com uma saia lápis e uma blusa de seda branca semitransparente, e Kostas me trancou no banheiro consigo e me fez chupá-lo até gozar para diminuir o tesão e poder sair da sala sem que todos notassem o volume de sua ereção na calça social.
O advogado engomadinho, sempre vestido com seus ternos italianos de caimento perfeito, começou a vir para a empresa com calças mais grossas – até jeans ele usou – para poder trabalhar.
Eu também não tenho saído ilesa!
Desde que ele destituiu David – de novo – e voltou a compartilhar a sala comigo, tenho trocado de calcinha duas vezes ao dia. No começo da semana foi por causa dos amassos e das sacanagens que fizemos na sala, até quase sermos flagrados pelo Leo – que sempre entrou na sala sem bater –, e eu impus a regra de profissionalismo dentro do local de trabalho.
Na terça e na quarta-feira, nós nos comportamos muito bem. Claro que temos nos tocado, trocamos um beijo ou outro, mas estabelecemos um limite dentro do escritório. Ou pelo menos tentamos.
A verdade é que nunca pensei que viveria algo assim! Pelo menos, não no escritório e muito menos com o diretor jurídico malvadão.
Todavia, depois da noite de sexta-feira e do sábado de manhã, eu tive a certeza de que tomei a decisão certa ao não negar essa atração, vivê-la até o máximo que poderia chegar, sem medo de nada.
Parece temerário isso, não é? Afinal, é um caso baseado em sexo, e eu nunca tive notícias de Konstantinos envolvido com alguém seriamente, então deveria me resguardar mais, mas não quero. Não sou dessas que vivem se restringindo a passar por experiências boas ou ruins. Não tenho medo de sofrer no futuro, porque isso não está nas minhas mãos; nada nessa vida é garantido, muito menos a felicidade. Então eu acredito no “feliz enquanto dure” e não consigo ficar controlando – ou tentando controlar – o que sinto ou deixo de sentir.
Conversei isso com a Jane no sábado à tarde, depois que Kostas foi embora. Contei a ela tudo o que havia acontecido, as impressões que tive sobre ele e o que eu decidi fazer acerca dessa história.
Ela concordou comigo que nem mesmo um relacionamento fixo, consolidado e antigo tem garantias de ser eterno e, principalmente, feliz. O coração é terra onde ninguém pisa, ninguém manda no que sentir e por quem sentir, então, para que ficar brigando?
— Mas você espera que essa relação evolua? — ela me perguntou.
— Ainda não sei — respondi sinceramente. — Hoje eu posso dizer que sim, pois quero mais dele. Às vezes consigo enxergar algo de mim mesma nele; por baixo de todo seu verniz de autoconfiança e deboche, eu vislumbro alguma vulnerabilidade. — Dei de ombros. — Sei que pode ser algo que eu queira enxergar, mas, de alguma forma, isso me conecta a ele.
Ela me pediu para me explicar melhor, e eu tentei, lembrando-me de vários momentos em que tive a sensação de que, assim como eu, ele estava se permitindo sentir coisas novas. Às vezes o senti travado, como se não estivesse à vontade com certas coisas, mas, mesmo nesses momentos, vi que ele estava se permitindo fazer.
No domingo, mandei uma mensagem para Portnoy, pois estávamos havia muito tempo sem saber um do outro, embora tenha recebido a notificação de que ele reativara o perfil para os outros membros do Fantasy, como eu mesma tinha feito.
“Oi, tudo bem? Quando puder aparecer, me chama.”
Foi assim, seca a mensagem, porém, fiz questão de conversar com ele antes de cancelar de vez minha conta no aplicativo. Não vou encontrá-lo, a decisão de mantê-lo apenas na lembrança das fantasias que compartilhamos e das conversas que tivemos já está tomada.
Meu envolvimento com Kostas teve a ver com isso? Provavelmente, principalmente pelo que ele me disse no sábado antes de ir embora.
— Eu sei que trabalhamos juntos e — riu — nem nos damos bem na maioria das vezes, mas não vou negar essa atração e nem vou fingir que essa noite e essa manhã nos satisfizeram. — Ele me abraçou, e eu quase tive uma entorse no pescoço para olhá-lo. — Eu quero mais, Kika.
Sorri, porque eu também queria.
— Eu também, Kostas.
Ele me ergueu para beijá-lo, e eu gargalhei.
Foi por isso que me esmerei na roupa na segunda-feira, porque tive uma enorme vontade de provocá-lo, dessa vez sem briga ou deboche, e levá-lo à loucura. Descobri que adoro essa sensação de poder que sinto por saber que, só ao me olhar, ele enlouquece, fica excitado e desesperado. Gosto disso demais!
Todavia, como era previsto, fui chamuscada pelo meu próprio fogo e acabei sentada na privada do banheiro da gerência, no final do expediente, com o pau dele na boca, pois Kostas ainda tinha reuniões a participar, e não iríamos dormir juntos naquela noite.
Ontem a provocada fui eu, e ele me levou à loucura com cada toque, cada beijo, cada insinuação. A sensação que eu tinha era de que estava vivendo, na prática, as coisas que escrevia com Portnoy, e isso era incrível!
Por falar nele, respondeu minha mensagem na terça-feira de manhã, e eu marquei de nos encontrarmos no chat na hora do almoço. Saí para uma reunião e almocei em um restaurante, junto ao Leo e à Vivi. Estávamos tomando um café quando o celular apitou mensagem.
“Oi! Já pode falar? Estou curioso!”
Respirei fundo, pois sentia como se estivesse terminando um relacionamento e escrevi:
“Oi! Eu queria me despedir de você antes de cancelar a conta.”
Ele não tardou a perguntar:
“Por que vai cancelar?”
Resolvi ser sincera:
“Estou saindo com alguém, e, mesmo não sendo nada sério, eu não me sentiria bem ao continuar aqui. Eu sei que insisti nesses últimos dias em termos um encontro, mas acho melhor deixar assim, nessa fantasia boa.”
CONTINUA
Não posso acreditar no conteúdo do memorando que chegou da diretoria executiva. Hoje, quando fui até lá para falar com o pessoal do Millos, fiquei sabendo que, na semana passada, Theo havia cancelado todos os seus compromissos do dia e que tinha viajado para algum lugar.
Imaginei logo com quem estaria, se com a bela e meiga Valentina ou com Maria Eduarda Hill.
— Claro que foi com a dona do boteco! — Rio ao ler o pedido de cancelamento da ação para a execução da promissória. — A mulher conseguiu domar o idiota do meu irmão, e ele, mais uma vez, está sendo dominado pelo pau e se esqueceu de tudo.
Não de novo!, penso já redigindo um e-mail para o detetive que coloquei para segui-lo. Dessa vez, antes de fazer uma merda fenomenal e só foder os outros, meu irmão vai sentir sozinho os efeitos de sua inconsequência.
Theodoros Karamanlis acabou de cavar a própria cova!
Termino mais um capítulo do livro e solto um suspiro. Sim, eu sou fã demais desse autor, não tem como não ser. Mesmo que a crítica americana o detone lá fora, o sucesso dele e sua legião de fãs é inquestionável. O homem é foda!
Penso em Kostas e na conversa que tivemos há horas dentro do escritório. Pela primeira vez senti uma conexão boa com ele, além da inconveniente atração física.
Devo admitir que a convivência com ele não é fácil, mas não é tão difícil quanto imaginei que seria. Passamos esses cinco dias da semana juntos na mesma sala e ainda estamos vivos e sem nenhuma marca de mutilação! Soube que está rolando um bolão na empresa sobre em quanto tempo a ideia de trabalharmos juntos vai dar merda.
Rio ao pensar nos azarados que apostaram em menos de uma semana; já perderam o dinheiro, pois, contra todas as probabilidades, suportamos bem um ao outro e passamos no teste da primeira semana.
Meu amigo Leo é quem foi esperto, fez várias apostas diferentes, então ainda tem chance de levar a grana, que eu soube que já está em um valor considerável. Eu mesma quis apostar, mas lógico que ninguém quis aceitar meus palpites, afinal sou parte envolvida.
— Qual o menor e o maior período? — perguntei a Lene enquanto almoçávamos em um dia desses da semana.
— Uma hora e um mês. — Ela riu. — Ninguém ainda arriscou mais do que isso.
— Já fecharam as apostas? — Estava me sentindo curiosa e divertida.
— Já, mas, caso se passe o período máximo com vocês ainda juntos, vão ser abertas de novo. A verdade é que essa ida dele lá pro nosso setor mexeu com a cabeça de todos aqui na empresa, ninguém entendeu nada!
— Nem eu, mas, conhecendo-o o pouco que conheço, sei que não dá ponto sem nó, deve estar aprontando alguma.
Ela concordou comigo, e desviamos o assunto para uma festa de aniversário a que ela iria e, por isso, me pediu dicas de roupas.
A história da aposta ficou martelando em minha cabeça durante todos os dias, pois, a cada começo de expediente, eu sempre questionava se seria o último da aparente paz.
Ele me confunde! Vejo uma obscuridade tão grande em seus olhos, um mistério, algo que me traz uma sensação de reconhecimento, porque eu mesma, debaixo de toda essa minha capa alegre e extrovertida, tenho meus demônios a esconder.
A atitude dele comigo hoje, especificamente, desconsertou-me. Nunca imaginaria que iria se oferecer a me ajudar daquela forma, parecendo preocupado com meu ritmo de trabalho, e, muito menos, que iria se interessar pela minha opinião sobre uma obra literária.
Foi uma boa surpresa descobrir que ele gosta de leitura. Quem ama ler, assim como eu, sempre ganha pontos extras quando conheço. É uma diversão solitária; ao contrário do cinema e teatro, você geralmente o faz sozinho, por isso mesmo é tão gostoso quando encontramos quem também cultiva essa paixão.
Foi assim com a Verinha, a vizinha que se tornou amiga e babá de Kaká. No dia da minha mudança para cá, ela passou pelo saguão enquanto eu estava subindo com umas caixas e me ofereceu ajuda.
— Oxe, o que você carrega aqui dentro? Chumbo? — perguntou fazendo caretas.
— Não, livros. — Ela arregalou os olhos. — São 10 caixas dessas. Eu mesma não sabia que tinha tantos exemplares.
— Sei bem, a gente sempre tem a sensação de que não tem nada para ler, mesmo tendo uma biblioteca do tamanho de um campo de futebol. — Deu sua risada tão bonitinha. — Eu sou Vera Lúcia, sua vizinha de andar. Pode me chamar de Verinha, todo mundo só me chama assim.
— Eu sou a Kika! — disse animada. — Você também gosta de ler?
— Muito! Eu trabalho em casa, pela internet, então faço meu horário, e sempre tiro um tempinho para ler. Meus amigos me chamam de coruja, porque, se não fosse preciso levar Ferdinando para passear, eu ficava encorujada dentro de casa, sem ver ninguém, só lendo.
— Ferdinando?
— Meu filho pet, um bulldog francês.
Foi aí que eu soube que ela iria se tornar uma grande amiga. Falei sobre Kaká, que ainda estava no antigo local onde eu morava. Ela logo se dispôs a me ajudar a tomar conta dele, e passamos horas arrumando os livros pelo apartamento e falando dos nossos bichinhos.
Rio, voltando a me lembrar de Kostas e pensando que a única coisa que falta é eu descobrir que ele também tem um bichinho de estimação.
— Não! — descarto a ideia e olho para o Kaká dormindo aos meus pés, debaixo da colcha. — Aposto que nem plantas!
— Parabéns, minha amiga! — Abraço Verinha ao lhe dar seu presente.
Fui convidada para essa festa surpresa, no meio do sábado, por um Vinícius bem nervoso. O pessoal do prédio se reuniu para comemorar o aniversário de Verinha, mas, por causa do meu horário de trabalho, que nessa semana foi bem puxado, não conseguiram falar comigo.
— Eu deixei o bilhete debaixo da sua porta, mas algo deve ter acontecido com ele — Vinícius se justificou.
— Ah, provavelmente foi o picadinho que achei no tapete da sala. — Ri. — Kaká destruiu o intruso.
— Nem pensei nessa possibilidade! — Ele parecia bem sem jeito. — Você vai?
— Claro! Obrigada por ter vindo aqui falar comigo.
Ele fez uma careta tão bonitinha!
— A verdade é que eu não vim desinteressadamente. — Deu um sorriso charmoso. — Preciso de ajuda para comprar um presente.
Foi assim que, duas horas depois, nós andávamos por um shopping à procura de algo especial para Verinha. Preciso admitir que eu não esperava me divertir tanto ao lado dele. Contudo, foi o que aconteceu. Vinícius é um homem muito cavalheiro, atencioso e lindo.
Durante o passeio notei várias mulheres olhando-o com interesse, só que ele mesmo não parecia ligar para isso, ou talvez fosse algo a que já estivesse acostumado. O fato é que recebi vários olhares de inveja e achei isso divertido.
Paramos para tomar um chope bem gelado por causa do calor, no intervalo das compras, e ele me contou um pouco como foi a semana no trabalho.
— Eu acho muito bonita sua profissão — elogiei. — Os desafios que vocês enfrentam, a preparação que precisam ter, além da coragem.
— Eu amo isso! — admitiu orgulhoso. — Ainda criança dizia que queria ser bombeiro; na adolescência, meus amigos se preparavam para o vestibular, e eu fazia o pré-militar para ingressar na Academia do Barro Branco10. Passei, estudei quatro anos lá, depois fui para a escola oficial dos bombeiros e aí integrei a corporação. São 15 anos nessa profissão com muito orgulho.
— Quando você vê que a pessoa faz o que ama, o jeito de falar é empolgante. Carlinhos deve ter muito orgulho de você.
— Diz que vai ser igual quando crescer, mas a mãe prefere que seja advogado ou médico. — Ele riu. — Ela diz que só uma profissão bonita não paga as contas. — Deu de ombros, rindo. — Tenho uma vida confortável, mas não sou rico.
Entendi que esse devia ser um ponto sensível no casamento, pois, pelo que sei, a mãe do Carlinhos é jornalista de uma grande revista, famosa na área. Deve ter um belo salário, e nem sempre um casal consegue superar isso, a esposa ganhar mais que o marido. Não conheço o Vinícius o suficiente para saber se ele é machista, ou se foi ela quem se incomodou com isso. Acontece dos dois lados, infelizmente.
Claro que deviam ter outros problemas, mas, pela forma com que ele falou sobre o assunto, notei que era um desabafo.
Depois de termos comprado o presente de Verinha – e alguns brinquedos para o Carlinhos –, voltamos para o prédio a tempo de nos arrumar e seguir para o pequeno salão de festas no terraço, onde agora estão todos reunidos comemorando.
— Obrigada, Kika! — Verinha me abraça emocionada ao receber o presente.
Cumprimento alguns vizinhos e encontro o Vinícius sozinho – lindo de parar o trânsito – encostado em uma vidraça com uma long neck na mão.
— Você está linda! — elogia-me assim que me vê. — Aceita uma?
— Não, acho que vou beber um vinho, vi servindo por...
— Eu pego para você, posso? — Deixa a garrafinha na janela e depois volta com uma taça de vinho tinto. — Chileno, Carbenet Sauvingnon; é tudo o que sei, porque li no rótulo.
Rimos juntos, e eu lhe agradeço.
— Achei incrível todo mundo se juntar para fazer uma festinha! — digo animada. — Ficou linda!
— No seu aniversário podemos fazer uma assim também. — Pisca. — Você só precisa dizer a data.
— Ah, não, não se preocupa com isso, está longe — respondo sem jeito, bebendo o vinho. — Hum, ótima safra.
Uma música antiga, de balada romântica, começa a tocar, e alguns casais vão dançar no meio do salão. Vinícius estende a mão para mim e, de novo, tem aquele sorriso lindo no rosto.
— Aceita dançar comigo?
Ah, gente, ele é tão fofo!
E ótimo bailarino, pelo que posso comprovar enquanto ele me conduz lentamente pelo salão ao ritmo da música do George Michael. Adoro esses flashsbacks; não peguei essa época, infelizmente, mas gostaria de ter ido a algum baile na adolescência enquanto se tocava algo assim.
— Seu perfume é uma delícia e parece muito com você — sua voz ecoa rouca ao meu ouvido, e eu fecho os olhos.
Oportunidade, Kika!
Lembro-me de Jane falando sobre eu me dar a oportunidade de sentir, de deixar a conexão vir, de aproveitar o momento. Sinto a mão dele nas minhas costas, por cima do tecido do vestido, a carícia leve, a dança envolvente. Espero acontecer, sentir a mesma atração que o diretor jurídico da empresa desperta em mim apenas por estarmos no mesmo ambiente, mas não sinto.
Droga!
A música acaba, Verinha me chama para tirar foto com ela, e a oportunidade passa.
O que será que tem de errado comigo?, questiono-me sobre isso o resto da noite, até chegar a casa e, frustrada, abrir o aplicativo do Fantasy em busca de Portnoy.
“Boa noite, Punheteiro. Na balada?”
Como ele não visualiza de pronto, tomo um banho longo, sentindo-me um tanto “alta” por causa das taças de vinho que tomei e frustrada por não ser normal. Eu poderia ter aceitado a escolta do bombeiro até meu apartamento, fingir que eu estava em chamas e o chamado para apagar.
Mas não, apenas agradeci o oferecimento, alegando que estava bem, e desci sozinha para passar mais uma noite solitária e cheia de questionamentos.
Pego o celular e vejo a notificação que me faz abrir um sorriso.
“Oi, Cabritinha. Não, em casa trabalhando, e você?”
Penso no que escrever, na conotação que vou usar. Se o provocar, sei que teremos uma noite divertida de sexo virtual; se puxar conversa, vou acabar desabafando com ele, e não sei como vai reagir a isso.
“Acabei de chegar de uma festa, agora vou dormir, mas antes queria falar contigo.”
Portnoy não demora nada a responder.
“Estou à disposição. Use e abuse!”
Rio de seu humor e suspiro.
“Esses dias têm sido surpreendentes. Primeiro, o chefe com quem eu vivia entrando em embates me surpreendeu positivamente. Estamos trabalhando juntos por um tempo, por isso estamos convivendo mais. Ainda o acho um arrogante machista, mas talvez tenha algo que o salve. Rs.”
Portnoy não responde, mas vejo que continua online.
“Hoje, um vizinho e eu fomos ao shopping comprar um presente para uma amiga. Eu sempre desconfiei que ele estava interessado em mim, mas hoje acho que ficou bem evidente quando dançamos na festa.”
Portnoy digita, e a mensagem que aparece me faz rir.
“Fez sexo com ele?”
Será que ele se excitaria com detalhes de uma transa minha com outro? Eu até poderia descobrir isso, mas não estou com vontade de criar uma cena fantasiosa apenas para excitá-lo. Quero conversar.
“Não, e isso me deixou frustrada.”
“Por quê? Você queria muito?”
Rememoro a noite, a dança, depois a conversa e os toques sutis.
“Não, e foi isso que me frustrou. Eu sei que parece confuso, mas eu esperava sentir por ele o que sinto com você e o que senti com outra pessoa. O fato é que eu achei que, por gostar dele, termos afinidade, seria mais fácil me sentir atraída, mas percebi que não é assim que funciona.”
“Não é.”
A resposta seca, sem nenhum questionamento ou brincadeira me surpreende.
“Assunto chato, talvez devêssemos falar de outra coisa.”
“Não, continue. Fale sobre a pessoa por quem você se sentiu atraída além de mim. Por que ainda não treparam? Está enrolando-o também como faz comigo?”
Rio, pensando em Kostas.
“Não é tão simples! Por mais que eu me sinta atraída e, às vezes, sinta algo nas suas provocações, não sei o quanto disso é apenas um tipo de jogo para ele. Não temos bom relacionamento, então é estranho nos sentirmos assim.”
“O que pode ser complicado em uma transa? Se vocês estão a fim, qual é o problema?”
“É o meu chefe insuportável, Portnoy! Pense em todos os problemas éticos que isso pode acarretar.”
Ele não responde. Eu aguardo para saber o que ele pensa do que acabei de revelar, mas não há nenhum sinal de digitação, embora o status continue online.
“Estou pensando em te ver pessoalmente.”
Resolvo cutucar uma reação, mas a resposta não vem como eu espero.
“Vai me usar para descontar todo o tesão que sente por ele?”
Usar? O questionamento me deixa sem saber o que responder, afinal, isso entre nós sempre foi sobre sexo, sobre darmos vazão às nossas fantasias. Por que agora ele está falando em eu usá-lo?
“Isso seria ruim? Acho que a culpa de eu estar atraída por ele é sua, das nossas conversas e... eu sei que você vai achar que sou louca, mas, quando te imagino agora, vejo-o.”
“Sobre a questão que me fez: não, não seria ruim, mas você acha que resolve seu problema? Não seria mais fácil ter uma noite muito gostosa com ele e seguir em frente? Aposto com você que ele gostaria disso! Sobre me ver nele, duvido que seja tão gostoso quanto eu.”
Gargalho, achando os dois ainda mais parecidos agora.
“Pelo menos na arrogância os dois empatam!”
Bocejo e me estico na cama, fazendo carinho em Kaká, que já se instalou ao meu lado.
“Preciso dormir, amanhã acordo cedo, pois vou fazer tai chi e depois vou ao hospital.”
“Por que você faz mesmo esses trabalhos? Me lembro de termos falado sobre isso, mas não da sua motivação.”
“Aprendi a amar o trabalho voluntário com meu pai. É importante para mim. Boa noite. Obrigada pela conversa e pelo conselho.”
Ele digita, mas depois para um tempo e, quando manda a mensagem, é apenas um “boa noite”. Acho que ele escreveu algo, depois se arrependeu, mas, como estou realmente com muito sono, não prolongo o assunto com isso.
Programo o celular para despertar, fecho os olhos, e a primeira imagem que me vem à cabeça é a do sorriso do Kostas enquanto falávamos sobre meu gosto literário.
Ele tem a mesma opinião do Portnoy sobre esse assunto!
Eu só quero saber como um homem consegue dormir depois de ouvir da mulher que tem mexido com seus hormônios a tal ponto de fazê-lo sentir-se mais adolescente do que já foi que ela o deseja.
E mais, que dispensou outro cara porque não conseguiu superar o desejo que sente por ele! Porra! Eu nunca passei por uma situação dessas! Pago por prazer sempre, não tenho essa dinâmica de conquistar, convencer e seduzir.
Acabo de descobrir que a sensação é boa pra caralho!
Fiquei puto, sim, quando ela disse que preferia encontrar-se com um homem que nunca viu a trepar comigo. Fiquei louco com isso e com o firme propósito de fazer Portnoy desaparecer em breve. Ele pode ser um empecilho, e seria um tanto ridículo eu mesmo me atrapalhar a seduzir alguém.
Wilka Maria será minha! Essa constatação é inebriante, excitante e muito diferente de tudo o que já experimentei nessa minha vida fodida. Respiro fundo para que a empolgação não me torne irracional, afinal, nossa situação, como ela bem já lembrou, exige cautela.
Tudo indica que não há nenhum outro interesse em mim a não ser o físico, mas ainda assim não posso confiar nela cegamente. Não sei como ela vai se portar depois que tivermos ido para a cama. Pode tornar-se grudenta, apaixonada ou mesmo uma manipuladora, querendo tirar proveito da situação de ter pegado um chefe, um dos herdeiros da empresa em que trabalha.
Concordo que há muitos problemas éticos e legais em um envolvimento sexual entre nós, mas já não tenho como voltar atrás. Wilka Maria é uma caixinha de surpresas, e eu pretendo abri-la para descobrir o que tem dentro.
Sempre achei que a história do trabalho voluntário que a Caprica fazia era mentira, um jeito de parecer bacana, mas, sabendo quem ela é, acho que faz muito sentido. A verdade é que a Cabritinha é uma camaleoa! Nunca pude imaginar que havia tantas camadas nela e que, em cada uma, haveria uma surpresa que me atrairia.
Contudo, tem. Ela é surpreendentemente sexy.
Gosto da ideia da mulher fatal, ninfa do sexo, mas também aprecio a executiva inteligente e compenetrada; a irritadinha boca suja me excita, assim como a mulher sensível que aprendeu a fazer trabalho voluntário com o pai.
Olho para a tela do computador e leio a última frase que escrevi, imaginando como seria a reação dela ao saber quem eu realmente sou.
Do mesmo jeito que tenho meus segredos, ela também tem os dela. Comecei a pensar sobre isso a partir do dia do seu aniversário. Qual seria o motivo para não contar a ninguém e, ainda, ter ficado tão puta comigo como ficou quando eu disse que sabia? Meu faro investigativo não falha, e Wilka Maria certamente esconde algo.
Releio as mensagens que trocamos hoje, buscando analisar cada palavra que ela escreveu aqui. Foi uma conversa diferente de todas as que já tivemos. Ela viu Portnoy como um amigo e uma solução para a confusão que estava passando. A executiva segura de si deu espaço a uma mulher dividida entre o tesão que sente e a ética.
Já passei por isso, assim que descobri que era a mulher que me enlouquecia online, e sei bem quem ganha a parada entre as duas coisas: o tesão. Sinto que estou jogando de maneira correta, não pressiono, deixo que ela mesma decida quando, sim, porque isso é só uma questão de tempo.
Leio sua mensagem dizendo que vai fazer tai chi chuan amanhã de manhã, e a imagem do pessoal fazendo isso no parque Trianon vem à minha memória. Será que ela vai para lá? Bom, eu gosto mesmo de me exercitar naquele lugar, então decido ir. Se a encontrar casualmente por lá, será ótimo; se não, faço meu exercício normalmente e volto para casa.
Desligo tudo, apago meu cigarro e subo para meu quarto. As coisas estão ficando interessantes para mim!, penso ao escovar os dentes. Tenho uma chance real de acabar com a imagem de Theodoros na empresa, fazê-lo parecer com nosso odiado pai, um homem disposto a foder com a Karamanlis por causa de uma boceta fogosa.
Tenho informações e fotos interessantes sobre meu querido irmão e a dona do boteco, e hoje, com a emissão do memorando, ele acabou de completar minha munição. Disparei alguns e-mails para conselheiros que estão na empresa desde a desastrosa década final de Nikkós à frente dela e agora só estou aguardando a notícia de quantas assinaturas irei reunir para incluir o tema na pauta da próxima reunião.
Deito-me na cama e olho para o alto, sentindo-me perto demais de me livrar da presença de Theodoros. Sei que não vai ser já, soube que viajará para lamber as bolas do pappoús no começo da semana, então provavelmente usará isso para adiar essa pauta tão especial.
Sem problema, eu espero! Enquanto isso, posso me concentrar em outro assunto. Fecho os olhos com a esperança de conseguir dormir nesta noite, afinal, preciso me preparar para, quem sabe, começar amanhã uma caçada a uma Cabritinha fujona.
Olho para a garota, encolhida na cama, seu corpo nu trêmulo de medo, lágrimas grossas escorrendo por seu rosto. Meu estômago revira, engulo em seco várias vezes e mantenho a respiração constante para não vomitar aqui mesmo.
Há muito deixei de demonstrar minhas fraquezas, já não sou mais o mesmo, sinto-me endurecendo cada dia mais. Olho-me no espelho e não me reconheço. Não me reconheço!
Não escuto mais a voz que grita comigo. Vejo apenas muitas notas de dinheiro sendo jogadas para o alto e caindo lentamente sobre a garota, que parece cada vez mais assustada. Posso cheirar o medo, sinto seu pavor até na minha medula e entendo. Isso não deveria estar acontecendo!
Eu sinto muito! Sinto-me culpado, já não sou mais a vítima, não posso ser, perdi toda minha inocência, a cada dia mais uma casca cresce em volta de mim, aprisionando quem sou de verdade e criando outro homem. Não posso deter isso, ninguém pode; só resta saber como será essa criatura quando ganhar vida.
Os gritos não param. Estou prendendo minha respiração, tentando não soluçar, tentando não demonstrar o quanto isso tudo me fere, desejando que as coisas voltem a ser como eram antes. Não vão; nada mais será como antes.
É tudo culpa dele! É tudo culpa do Theo!
Arregalo os olhos, sentindo-me sufocado, no exato momento em que o despertador toca. Respiro fundo, confiro a hora e me sinto aliviado por ter conseguido dormir um pouco antes de ter a consciência do pesadelo.
Não vou ter paz, não vou conseguir dormir enquanto não acertar as contas com Theodoros. Não tive tempo de fazer Nikkós pagar, porque ele acabou se enforcando sozinho, virando um ser deprimente, que depende da caridade de pappoús para continuar vivendo, já que ninguém o quer por perto.
— Malditos fantasmas, sumam! — grito e me sento na cama.
Não quero começar este dia em clima sombrio, com a cabeça no passado. Não há mais nada que possa ser feito para consertar todas as merdas que foram feitas, não há remendo que consiga unir minhas partes quebradas. Foda-se! Aprendi a viver assim e não tenho ilusões de ser diferente um dia.
Levanto-me e vou direto tomar uma ducha para lavar todo o ranço que o pesadelo deixou. Tenho uma missão agora de manhã e, para cumpri-la, preciso estar com minha carapaça totalmente blindada com o sarcasmo, o humor ácido e ligeiro e a pose segura de si.
Depois de tomar um café e fumar meu cigarro, coloco a roupa esportiva – short e camiseta, tênis próprios para corridas, um boné preto como toda a roupa –, enfio uns trocados no bolso para tomar mais um café em algum local, caso eu dê com os burros n’água na minha caçada, e saio do prédio direto na Paulista.
Vou correndo até o Trianon, lamentando que a rua ainda esteja aberta, pois seria muito mais confortável correr no asfalto do que na calçada, desviando-me das barraquinhas que já começam a ser montadas.
Chego ao parque e entro, caminhando apenas, atento a cada local onde possa se esconder uma cabritinha. Encontro o pessoal do tai chi reunido, conversando apenas, mas não vejo a gerente entre ele. Começo a me sentir frustrado, mas não desisto de caminhar e passar um tempo por aqui, até que reconheço o jeito peculiar de se vestir, mesmo em malha de exercício, e a leve cadência de quadris de Wilka Maria. Abro um sorriso, reparo em cada detalhe dela, desde o macacão brilhante azul colado no seu corpo coberto por uma blusa solta, óculos de sol espelhados e redondos e fones de ouvido.
Aposto que ela está cantando algo, pois seus lábios se mexem, e ela balança a cabeça de um lado para o outro a todo momento. Não consigo conceber que alguém agitada como ela consiga fazer uma atividade tão leve, monótona e parada como tai chi chuan.
Avanço para encontrá-la exatamente em cima da pequena ponte com guarda-corpo de madeira, e, quando ela me vê, para, estarrecida.
— Ora, ora... — cruzo os braços — parece que, para o lazer, alguém gosta de chegar à Paulista cedo!
Ela bufa.
— Só pode ser obra do capeta, não é possível! — sua voz parece realmente irritada. — Uma cidade deste tamanho, com tanto homem interessante, e eu encontro justamente o último que gostaria de ver antes de morrer.
— Quanto drama, Wilka Maria. — Aproximo-me mais dela. — Bom, quem está na minha área é você, então, se não quer esbarrar comigo, não venha correr no meu quintal.
Ela gargalha alto, chamando a atenção de um casal que está passeando com o cachorro.
— Seu quintal? Como você é soberbo! — Olha em volta. — Não estou vendo nenhuma placa com seu nome no parque.
— Moro aqui, há exatos cinco minutos deste local, então é, sim, o meu quintal. — Aproximo-me mais, e ela recua, encostando-se à madeira do guarda-corpo da ponte. — Quer companhia para o exercício? Acho que nós dois suaríamos bem juntos.
Ela respira fundo, fazendo seu peito subir e seus seios ficarem mais justos contra a malha que usa.
— Já tenho meus companheiros, obrigada. — Aponta para os velhinhos do tai chi chuan. — Por falar nisso, já está começando.
— Tai chi? — Rio. — Sério? Nunca te imaginaria fazendo algo assim.
Ela enruga a testa, e vejo sua sobrancelha aparecer por cima dos óculos de sol.
— Por que não? Eu pareço ser uma pessoa sedentária?
— Não, exatamente o contrário. — Abaixo a voz: — Eu te vejo em exercícios mais intensos, que fazem suar, liberam prazer, não algo tão... — rio devagar — broxante como o tai chi.
— Doutor, eu preciso...
— Não estamos na empresa e nem em horário de expediente, então, chame-me de Kostas — interrompo-a. — Quem sabe até possa te chamar de Kika.
Ela nega.
— Doutor, eu acho melhor... — ofega — que o senhor se afaste — geme quando eu a seguro pela cintura — para que eu possa... — simplesmente perde a linha de raciocínio.
— Para que você possa...? — pergunto, sentindo-me tão sem ar quanto ela.
Não tinha intenção alguma de encostar nela hoje, seria apenas mais um jogo de provocação, mas, talvez impelido pela conversa online ontem, não consegui conter a vontade de sentir seu corpo perto do meu.
— O que está acontecendo? — Wilka indaga.
Nossos corpos estão praticamente grudados, e eu estou curvado sobre ela para que nossos rostos estejam quase na mesma altura. Consigo sentir seu cheiro, uma mistura leve de algum sabonete e uma colônia refrescante. Meus dedos captam o calor de sua pele e um leve tremor em seus músculos.
— Eu não sei — respondo sem fazer nenhum jogo.
Tiro os óculos de seu rosto e consigo ver o turbilhão de emoções que explodem dentro de seus olhos. Estamos respirando juntos, quase bufando como fazem os touros ao entrarem em uma arena. Ela engole em seco, o movimento de sua garganta chamando minha atenção e, quando molha e esfrega os lábios involuntariamente, sei que é meu fim.
Ainda segurando seus óculos, firmo sua nuca e a beijo como venho fantasiando há muito tempo. Isso não foi calculado, aconteceu, e meu coração está disparado com a adrenalina, o pau tão duro que tenho certeza de que a frente da minha bermuda está toda levantada.
Ela demora alguns segundos para corresponder ao beijo, mas, quando me aceita, puta que pariu! Sua boca quente e molhada, a língua safada procurando a minha... Agarro-a com ainda mais força, trazendo-a para mim para que não fique dúvidas de como estou, de como ela me deixa.
O sabor do beijo, as sensações que ele me causa, a sensualidade das nossas línguas se esfregando uma contra a outra enquanto nossos corpos fremem de tesão, tensão e ansiedade... estamos explodindo juntos, essa é a verdade, deixando jorrar todo o desejo reprimido, enrustido nas brigas e rusgas que tivemos até este momento.
As máscaras caíram, estamos nus, sem mecanismos de defesa, sem nada entre nós.
Separo minha boca da dela, deslizando os lábios pelo seu queixo, louco para explorar seu pescoço. Ela geme alto, porém, fica tensa. O corpo, antes pulsando de energia sexual, parece esfriar, endurecer, e eu a encaro.
— O que... — não completo a pergunta por causa da dor filha da puta que sinto em minhas bolas e a olho estarrecido.
Essa doida acaba de me dar uma joelhada no saco!
Escuto o gemido de dor de Kostas e sinto um leve arrependimento. Talvez o golpe tenha saído com mais força do que pretendi. Não, eu nem pretendi, foi apenas um impulso, então, sim, deve ter saído forte para caramba!
Que loucura foi essa? Olho em volta para algumas pessoas paradas olhando para nós, atracados como cães no cio, debaixo de um sol forte de janeiro, em plena ponte dentro do parque. Onde eu estava com a cabeça?
Estava beijando Konstantinos Karamanlis!
Não foi uma fantasia, o beijo aconteceu e foi muito bom. Não, foi incrível! Quando ele se aproximou, eu sabia que algo ia acontecer, meu corpo se aqueceu, minha respiração ficou pesada, o ar parecia rarefeito à nossa volta. Quando me tocou, foi como se tivesse me ligado a uma força potente, senti a eletricidade percorrer a extensão da minha coluna, agitando tudo dentro de mim.
Seu corpo quente fez o meu entrar em combustão, senti sua excitação de várias formas, não só pela evidente ereção, como no gosto de sua saliva, na forma como seus sons ecoaram dentro da minha boca e como me segurava, parecendo querer estar dentro de mim mesmo em um parque público cheio de gente.
Minha reação a ele não podia ter sido indiferente. Minha pele se arrepiou, senti a boca seca, os mamilos duros e um pulsar delicioso entre minhas pernas. Tudo isso em um único beijo!
Então por que o afastei? Por que lhe dei esse golpe certeiro e agora estou olhando-o curvado de dor? Por um só motivo: o homem que estava me beijando era o mesmo que muitas vezes já me desrespeitou, que já menosprezou o meu trabalho apenas por eu ser mulher. Não podia deixar que fizesse o que quisesse assim, sem mais nem menos! Ele sequer me perguntou se podia me beijar e foi logo tascando a boca na minha!
Prepotente gostoso dos infernos!
— Você está maluca? — geme e inquire entredentes. — Tem ideia de como eu estava excitado? Dói pra caralho!
— Por que você me beijou? — questiono sem rodeios.
Kostas para de gemer, mesmo ainda um pouco trêmulo de dor, e me encara, seus olhos parecendo ainda mais azuis do que normalmente são, em contraste com sua pele morena e seus cabelos escuros.
— Por que um homem beija uma mulher? — sua voz rouca me faz puxar o ar e o reter para não gemer e fechar os olhos.
Solto o ar devagar, buscando minha racionalidade para entender o que realmente aconteceu entre nós. O que ele quer, afinal, comigo?
— Não me venha com essa técnica de advogado de fazer perguntas retóricas! — Começo a me sentir ansiosa e agito as mãos ao falar. — Não consegue ser direto e sincero? Por que me beijou?
O desgraçado sorri, mas continua quieto.
— Se isso for uma espécie de jogo ou mais uma tentativa de me humilhar, eu...
— Meu beijo foi humilhante? — Ele perde a pose. — Você se sentiu humilhada?! Você sentiu como eu estava? Acha que planejei te beijar aqui, no meio do Trianon, ter a porra de uma ereção, parecer a droga de um cachorro no cio para te humilhar?
Sua resposta me desconserta. Tento deixar minhas defesas de lado, mesmo que isso seja difícil, para entender o que está acontecendo. Eu me sinto atraída por ele de jeito totalmente irracional, vocês sabem, porém, até hoje achei que ele só me provocava, nunca imaginei que pudesse sentir o mesmo, nunca entendi seu jogo.
E se não tiver nenhum? E se, como eu, ele apenas foi pego desprevenido por essa atração que surgiu entre nós? Lembro-me da conversa que tive com Portnoy, principalmente quando ele me perguntou se não seria mais fácil resolver essa questão com Kostas e depois seguir adiante.
Não é tão simples, Kika, e você sabe disso!
— Então por que me beijou? — repito a pergunta, mas agora baixinho, sem nenhuma resistência, em um pedido de sinceridade.
— Porque eu quis te beijar. — Seus olhos não deixam os meus. — Não sei o que houve, Wilka Maria, mas só tenho pensado nisso ultimamente. — Ele bufa, e eu percebo que não deve estar sendo fácil me dizer todas essas coisas. — Eu sei que não deveríamos misturar as coisas, mas, ultimamente, quando me sinto irritado com você, tenho vontade de te deitar sobre aquela mesa e provar todo seu corpo, sentir o sabor da sua pele e transformar seus protestos em gemidos de prazer. Quero cessar toda e qualquer discussão me afundando no seu corpo, deixar toda racionalidade de lado e só pensar em compartilhar com você todo esse tesão que me inflama. — Respira fundo. — É isso, não tem jogo, só um tesão do caralho que me faz passar pelo menos umas dez horas de pau duro dentro daquela maldita empresa todo dia!
Não consigo emitir nenhum som; nada vem à minha mente, nenhuma piadinha para descontrair a tensão, nenhum discurso ético sobre trabalharmos juntos e ele ser meu chefe, nada! Geralmente eu penso e reajo rápido, mas como responder a isso?
Seguro com força no corrimão da ponte, talvez me refreando para não voar em cima dele, não para brigar ou bater, tão-somente para lhe mostrar que eu também sinto tudo o que acabou de me descrever.
Kostas ri, dá de ombros e olha para os lados.
— Sua aula começou. — Aponta para o pessoal do tai chi, e eu assinto. — Não estou pressionando você a nada, quero deixar claro. Se você não estiver a fim, nada irá mudar no nosso trabalho. Posso ser um babaca filho da puta, mas tento manter o mínimo de ética e ter palavra.
Ele toca a aba do boné em um cumprimento tão antigo – e tão inglês – e se afasta, voltando a caminhar em direção ao interior do parque. Não deixo de olhá-lo nem por um minuto, até que some em uma curva, e solto o fôlego devagar.
Ponho a mão no rosto, fechando os olhos, sentindo-me perdida dentro de uma situação tão surreal que não sei como agir. Dou pela falta dos óculos e os procuro pelo chão, mas não os acho. Estávamos tão nervosos que não percebemos que ele continuava segurando-os e que os levou ao ir embora.
Começo a rir – feito uma doida –, atraindo a atenção dos que passam por mim. Às vezes, quando estou muito ansiosa, isso acontece, um ataque de risos que não para, tão intenso que me tira lágrimas dos olhos.
É real! Dessa vez não é uma fantasia com um homem desconhecido que nunca terá acesso a mim. Não tenho dúvida alguma de que o quero da mesma forma, só preciso saber como agir.
Preciso de ajuda!
Olho para o pessoal do tai chi e desisto da aula. Tento fazer esse exercício exatamente para controlar minha ansiedade e agitação, mas me conheço bem, e, neste momento, a única coisa capaz de me desacelerar é o Starbucks.
Preciso de chocolate!
Saio correndo do parque e continuo a corrida pela Paulista, agradecendo por hoje ser domingo e isso ser comum nesse dia. Sempre passeio por aqui depois do exercício no parque, olhando as barraquinhas, os artistas de rua e as crianças se divertindo no asfalto da avenida mais importante da cidade como se estivessem no quintal de casa. Contudo, hoje, não dá para fazer isso!
Entro na cafeteria e peço logo um frappuccino de brigadeiro, um dos meus preferidos. Sento-me para esperar e pego o celular.
“Malu, preciso conversar com você!”
Digito a mensagem e aguardo, nervosa, sem saber o que fazer daqui para frente. Amanhã de manhã o clima vai ser estranho na empresa, tenho certeza. Relembro a agenda da semana; amanhã tenho reunião com Theo cedo, pois ele irá viajar para a Grécia, e Millos só chegará de suas férias na próxima semana. Então, se eu me mantiver ocupada, não precisarei ficar em minha sala o dia todo.
Merda! Sinto-me uma garotinha me escondendo assim dele. Não sou assim, porra, não sou insegura em nada na minha vida, tenho que ser justo nisso?
E o que eu vou falar com a Malu?, penso olhando para a mensagem que acabei de mandar, movida pela ansiedade. Eu, que geralmente a aconselhava nesses casos, mandava-a aproveitar a vida sem pensar em mais nada, contava de todos os meus encontros fantasiosos como se eles fossem de verdade!
Respiro fundo para não pirar e começo a contar minha respiração. Não tem jeito, precisarei ligar para minha terapeuta. Eu quero Konstantinos Karamanlis e sei que vai ser só uma questão de tempo para esse desejo que sentimos explodir e aí...
— Kika Reinol! — a atendente do café me chama.
Levanto-me, pego minha bebida e a tomo praticamente em um só gole, como se fosse minha tábua de salvação.
O café misturado ao chocolate me acalma e clareia a minha mente a ponto de me fazer ter uma ideia mirabolante!
Eu vou para a cama com Kostas, sim, mas antes vou transar com Portnoy!
Não pude deixar de pensar no beijo, e encarar a segunda-feira com chances de encontrar Kostas não foi fácil. Por sorte, quando entrei na sala, hoje, não o encontrei – o que era um milagre, pois sempre chega antes de mim –, por isso tive relativa paz para trabalhar.
Digo “relativa” porque a toda hora olhava o celular, conferindo se Portnoy havia me respondido.
Eu pus em prática a ideia que tive na cafeteria e, antes de dormir, no domingo, enviei mensagem convidando Portnoy para um encontro de verdade. Esperei por alguns minutos que ele aparecesse online, porém, ele não o fez, e eu tentei dormir.
Sonhei com Konstantinos, nós dois nus sobre a mesa da sala dele, expostos por causa das paredes de vidro sem persianas. Ele era quem estava deitado no tampo, e eu o cavalgava enlouquecida enquanto aquelas mãos enormes seguravam meus seios, beliscando-os com os dedos, e eu gemia como fiz no parque ao sentir seu beijo.
Acordei suada, descoberta e com a calcinha encharcada. Tentei resistir a me tocar pensando nele e no sonho, mas não consegui e gozei com a sensação da sua boca na minha. Foi intenso, meus lábios formigavam de vontade dos dele, e eu fantasiava que era seu toque que meu clitóris recebia.
Depois disso, dormi até o despertador tocar, levantei-me, fiz todo meu ritual matinal e entrei na Karamanlis encolhida, quase sem cumprimentar ninguém, com receio de encontrá-lo pelos corredores. Respirei aliviada quando entrei na gerência e mais ainda quando me deparei com minha sala vazia.
Chamei meu pessoal para uma pequena reunião rápida, pois tínhamos uma apresentação marcada na empresa de um cliente, ajustamos os últimos detalhes e saímos. Fiz a apresentação junto a Rosi, Leo e Carol, depois fomos almoçar juntos, e agora, finalmente, estou retornando para minha sala com o firme propósito de adiantar os relatórios da siderúrgica e dar andamento ao projeto o mais rápido possível.
Estou muito disposta ao trabalho. Geralmente fico assim quando estou brava ou frustrada com algo. E não, dessa vez o motivo da minha irritação não é o Kostas, mas sim o Portnoy, aquele frouxo, que ficou um ano insistindo em um encontro e que, quando digo sim, inventa a porcaria de uma desculpa esfarrapada e corre!
Viagem de trabalho!
Nós nos falamos no sábado, e ele não disse nada sobre isso! Ninguém arranja e organiza uma viagem de trabalho em apenas um dia, e o cara de pau teve a pachorra de dizer que só tinha ficado sabendo hoje!
Ele é um pau no cu, isso sim! Arregão dos infernos!
Vou para minha sala ainda xingando-o mentalmente de todas as formas que sei e que existem para definir um homem covarde – Coca-Cola, garganta, borra-botas, cagão e... minha linha de raciocínio morre quando abro a porta e encontro Kostas com um buquê de rosas de cor champanhe nas mãos.
Nós nos olhamos assustados, eu por não esperar que ele tivesse tal gesto, e ele talvez por ter sido pego com a boca na botija, e ficamos estáticos por alguns segundos.
— O que... — começo a perguntar, mas ele se adianta.
— Acabaram de entregar para você. — Ele ergue o buquê – como se eu já não o tivesse visto – e o deixa sobre minha mesa. — Como você não estava, fui eu quem o recebeu.
Não são dele!, a constatação me deixa desanimada, mas ainda curiosa para saber de quem são. Procuro o cartão e o encontro jogado entre as rosas. Muito estranho! Recebi buquês de rosas pouquíssimas vezes em minha vida, e em todas elas, os cartões vieram presos na embalagem.
Será que Kostas... Não! Ele não se atreveria a ler algo que não é seu!
Abro o envelope e um sorriso ao ler a mensagem fofa do Vinícius agradecendo a ajuda com a compra do presente da Verinha. Ele não precisava ter enviado uma dúzia de rosas para o meu trabalho apenas para agradecer, mas, já que o fez, decido ligar para agradecer.
Vinícius atende ao segundo toque:
— Oi, recebeu as flores?
— Oi! Recebi, são lindas, obrigada! — Dou a volta na mesa e me sento na cadeira, de frente para o Kostas. — Nem vou colocar na água aqui, pois quero levá-las para casa. Vejo você por lá?
Kostas dá uma risadinha, e eu aperto os olhos.
— Hoje não, estou no trabalho, mas fiquei feliz que tenha gostado! Obrigado pela ajuda e companhia!
— Sempre que precisar!
Ele se despede, e eu também. Coloco o celular sobre a mesa e ligo o computador.
— Você nem as cheirou — Kostas diz de repente, e eu o encaro.
— Como?
Aponta para as flores.
— Você nem as cheirou. Eu imaginava que toda mulher gostasse do perfume das rosas, mas você nem as tocou! — Ri. — Aparentemente, não gostou tanto assim do presente.
Rio e cruzo os braços.
— Engano seu, adoro plantas! — principalmente quando estão plantadas na terra para viver bastante!, concluo, mas não o digo em voz alta.
A verdade é que não gosto de receber buquês e arranjos. As flores estão aqui, lindas à minha frente, mas estão morrendo, agonizando lentamente até não sobrar mais nada e toda essa beleza ir para o lixo. É um gesto bacana, mas um desperdício e um tanto mórbido.
— Você tem um jeito diferente de mostrar sua animação com um presente. — Ergue a sobrancelha. — Já te vi mais animada do que isso apenas por um donut com cobertura de chocolate.
Agora quem ergue a sobrancelha sou eu. Tenho certeza de que ele não pretendia demonstrar que presta tanta atenção assim a mim e às coisas que gosto ou não. Ato falho, ilustríssimo doutor! Sorrio, mais animada com isso do que com as rosas.
— Comida me conquista mais fácil. Eu sou um verdadeiro dragão com fome, mas um cordeirinho com a barriga cheia.
— Obrigado pela dica! — Ele pisca, e eu fico sem jeito. — Talvez, ontem, eu tivesse tido uma recepção melhor se tivesse te feito engolir um chocolate antes.
Rolo os olhos, sem poder acreditar que ele vai mesmo puxar esse assunto aqui, dentro da sala onde trabalhamos! Finjo não o ouvir e abro o arquivo que pretendo ler, ignorando-o. Já é tarde, a maioria dos funcionários já deve estar indo para casa, e não pretendo ficar até às 22h de novo!
Leio as duas primeiras linhas do documento, quando tudo some e a tela do computador apaga.
— Mas que por...
Kostas se levanta do chão, debaixo da minha mesa e me mostra a tomada do computador. Arregalo os olhos e fico de pé também.
— Está doido?! Por que fez isso?! Eu poderia ter perdido o documento e...
— Nem deu tempo de digitar algo! — diz displicente, expressão debochada. — Não gosto de ser ignorado, Wilka Maria.
— Você é louco! — Pego minha bolsa. — Não temos nada a conversar sobre o parque ontem.
— Temos! — Ele fica à minha frente. — É claro que temos! Ontem eu fui sincero com você, mas não recebi o mesmo tratamento.
— Kostas, é melhor não... — tento dizer, mas ele se aproxima mais.
— Por que não? Eu quero, você quer, somos maiores e sãos. O que nos impede?
Respiro fundo, gostando do argumento, mas sem querer aceitá-lo. Há, sim, muitos impedimentos! Trabalhamos juntos, ele é um dos donos da empresa, chefe, babaca machista, gostoso pra caralho, mas ainda assim um grande...
— Kika, se você conseguir me olhar e dizer que não quer, saio daqui imediatamente. — Sua mão esquerda para em cima da alça da minha bolsa, e a outra acaricia meu rosto. — Basta dizer.
É apenas um toque, mas, onde os dedos dele passam, deixam rastros de calor que me aquecem inteira. Quero dizer a ele que não, que está enganado quanto a mim, que não cederei tão fácil, mas eu o desejo!
Oportunidade! Se deixar ir, sentir, aproveitar o momento!
Não teve outro homem que já mexeu comigo dessa forma, então, por que não? É apenas uma experiência, uma noite; depois disso, seguimos como se nada tivesse acontecido.
Concordo com o pensamento, balançando a cabeça, ponderando que, antes de qualquer coisa, nós dois precisamos conversar, e eu preciso deixar claro que...
Sou puxada pela alça da bolsa, batendo de encontro a um enorme e sólido corpo, com braços longos e fortes que me envolvem antes de eu ser literalmente devorada por uma boca faminta de beijos.
Puta que pariu, para que conversar?
Quando a vejo balançar a cabeça em sinal afirmativo, não espero duas vezes. Bem, nem mesmo se eu quisesse, conseguiria esperar! Ajo no reflexo, impulsionado por uma necessidade de tê-la colada a mim de novo igual ao que aconteceu no parque, puxo-a sem nenhuma sutileza pela alça da bolsa, fazendo-a praticamente cair sobre mim desequilibrada e ofegante.
Não dou tempo para que ela tome fôlego e comece a questionar cada situação que pode advir disso que vamos fazer, então decido sutilmente foder sua mente de uma vez, antes que percamos esse clima gostoso que perpassa entre nós.
Os lábios macios oferecem pouca resistência, o corpo desequilibrado usa o meu para se apoiar, ficando colado em mim, permitindo que eu sinta cada detalhe de sua anatomia. Sorvo sua saliva, sinto o sabor suave de café e, talvez, chocolate. Não me concentro nisso, apenas no movimento perfeito de seus lábios, em sua língua na minha, buscando-a como se dependesse dela para algo.
Eu me sinto queimar inteiro! É esse o efeito desse beijo em mim, combustão, incêndio, explosão! Minhas mãos percorrem seu corpo sem nenhum tipo de controle, agindo como se tivessem vida própria, conhecendo, tateando, ao mesmo tempo em que contribuem para manter nossa excitação no limite. Eu quero comer, mastigar, foder essa mulher como se fosse o último ato desesperado de um homem. Quero inundá-la de prazer, ouvir seus gritos, sentir suas unhas e dentes cravados em mim enquanto goza.
Ergo-a do chão sem nenhum esforço, segurando-a por sua bunda deliciosa, redonda, dura e a pressiono contra mim para que não haja dúvidas do meu tesão. Meu pau lateja em uma dor deliciosa, não sinto mais nada a não ser o desespero da liberação, a vontade de estar dentro dela de qualquer jeito possível.
Wilka geme sem tirar a boca da minha, seus braços enroscados em meu pescoço, apertando-o, mantendo-me preso como se eu fosse fugir disso tudo. Como se eu pudesse! Sou seu refém tanto quanto seu captor, dominado e dominando na mesma medida.
Preciso tocá-la, o contato apenas com sua boca já não é mais suficiente, preciso de tudo dela. Ergo seu vestido, arrastando as mãos por suas coxas, tremendo ao sentir sua pele macia. Apoio as mãos embaixo de suas nádegas e a faço me abraçar com as pernas, corpos encaixados, um respirando o outro, seus gemidos deliciosos me dando mais e mais tesão. Sinto seus quadris se mexerem, rebolando em mim mesmo ainda vestida, desesperada pelo mesmo que eu.
Caminho sem rumo, a boca deixando a dela, percorrendo seu pescoço, provando como um faminto, sentindo o forte pulsar de sua artéria, a agitação que também sinto. Ouço barulho de coisas indo para o chão, mas ligo o foda-se para qualquer coisa neste momento que não seja estar enterrado nela.
Apoio-a sobre a mesa. O cheiro de rosas chega até onde estou, e Wilka se deita, olhos fechados, contorcendo-se de prazer. Minhas mãos invadem o vestido e acham a calcinha pequena de tecido liso e fino. Puxo-a para baixo, mas não a retiro, pois suas pernas ainda estão travadas em mim.
Quase enlouqueço ao vê-la exposta, sua boceta perfeita, sem pelos, emoldurada pelas belas coxas que me atraíram desde a primeira vez que as vi. Não consigo esperar, abro minha calça e puxo meu pau para fora com apenas um movimento, segurando-o com força.
Wilka levanta a cabeça para espiar, e eu rio.
— Curiosa? — pergunto esfregando-o em sua calcinha.
Ela arregala os olhos, e eu gargalho, puxo a peça íntima com tanta força que a rasgo, avanço para cima dela e me inclino sobre seu corpo.
— Quero foder sua mão, sua boca, seus peitos, sua bunda... — beijo-a — mas antes... — encosto a glande em sua entrada e a esfrego — quero experimentar sua boceta, molhar meu pau no seu tesão, socar em você até perder a consciência.
— Kostas... — ela resfolega, e eu sorrio, movendo meu pau sobre seu clitóris, desesperado, sentindo sua lubrificação fazendo-o patinar e excitá-la a tal ponto que sei que irá gozar a qualquer momento. — Eu preciso...
— Eu também! — Aumento a velocidade, trinco os dentes e fecho os olhos.
Posso sentir cada parte de sua boceta em detalhes, mesmo sem vê-la, apenas com a sensibilidade do meu membro. Lábios bem contornados, carnudos, que se mexem sutilmente quando eu os agito e se fecham no exato ponto onde sinto uma rigidez pulsante. É uma tortura me masturbar masturbando-a, é sexy, decadente, gostoso demais!
— Kostas...! — sua voz sai mais alta, e eu a olho no exato momento em que goza. Travo o corpo todo, meus dentes batem um no outro e sinto uma leve ardência na base do meu pau ao segurar meu próprio gozo.
Não consigo mais, ainda que eu queira ficar aqui, apenas roçando meu pau contra sua boceta molhada, sentindo-a delirar com o contato, ou que sinta a boca cheia d’água de vontade de provar seu sabor e receber seu orgasmo em minha língua, não dá para controlar a vontade de me enterrar dentro dela. Então, em desespero, faço o movimento de uma só vez, deslizando entre os lábios úmidos, achando sua entrada apertada e me afundando nela.
Ela grita de um jeito doloroso, e seu corpo fica tenso. Encaro seus olhos arregalados, cheios de lágrimas. Sua face, antes corada, está pálida e tem expressão de dor. Wilka estava muito excitada, não posso tê-la machucado, porém, senti como se algo tivesse me segurado por um segundo e depois cedido com tamanha pressão que fui sugado para seu interior.
Não pode ser!
Fico imóvel em cima dela, sem acreditar nas lágrimas que vejo escorrerem de seus olhos. Essa é a minha Cabritinha, a ninfa do sexo, a mulher com quem dividi as mais inusitadas sacanagens. Ela não pode ser virgem!
Minha cabeça começa a rodar, e eu tento me afastar, porém, sou detido por suas pernas, que me mantêm preso a seu corpo.
— Está tudo bem. — Wilka tenta sorrir, mesmo com os olhos brilhando de lágrimas. — Eu devia ter falado em algum momento que... — Morde o lábio e desvia o olhar do meu. — Não tivemos tempo para conversar e...
— Você... é... virgem? — a situação é tão esdrúxula que mal consigo formular a pergunta.
Ela suspira, tenta rir de maneira casual, mas consigo enxergar o constrangimento que faz com que a resposta – óbvia – seja positiva.
— Bom, levando-se em conta que seu pau está todo enterrado em mim — ela tenta fazer uma expressão divertida, mas parece ficar cada vez mais tensa —, eu acho que era, né?
— Porra!
Afasto-me dela o mais rápido possível e quase caio em cima da minha mesa de trabalho. Cambaleio por um momento, como se tivesse acabado de levar uma porrada na fuça, e tento respirar. Não consigo! Imagens, cheiros, sons, meus ouvidos zunem, e sinto as pernas bambas. Como isso foi acontecer?!
— Kostas? — ela me chama. Ouço um leve tremor em sua voz, mas não consigo encará-la. O pesadelo está de volta. — Está tudo bem, não se preocupe, era só um pedaço de pele, não a peste!
Estico as mãos na direção dela, de olhos fechados, e balanço a cabeça. Ela não tem noção do que me fez, não tem ideia do que isso desencadeou dentro de mim. Não tem!
Arrumo a roupa do jeito que dá e saio o mais rápido possível da sala, batendo a porta, correndo pelos corredores como se estivesse sendo perseguido por demônios.
E estou!
Os gritos estão cada vez mais fortes, e as sensações também. Vejo o sangue, o desespero, e tento me controlar de qualquer jeito. Não posso sair da empresa neste estado! Entro no elevador, olho para o espelho, mas não me vejo. Há um monstro me encarando, podre, sendo comido vivo por causa do que fez no passado.
Soco o espelho do elevador; o vidro se parte e rasga minha mão, mas não ligo nem para a dor, nem para meu próprio sangue pingando no chão. Só não quero mais ver quem eu sou, só não quero ter que encarar o verdadeiro Konstantinos Karamanlis.
O elevador se abre na garagem do prédio da empresa. Vou até uma das salas onde guardamos as chaves dos carros da Karamanlis e que, pelo avançado das horas, não tem ninguém. Abro-a com minha chave, pego qualquer chaveiro no armário e aperto o alarme para saber a qual carro pertence.
Saio da garagem cantando pneus. O guarda noturno olha-me assustado, mas me reconhece e abre o portão.
Eu preciso sair daqui! Tenho que sair daqui!
O dia está amanhecendo, e ainda sinto o perfume dela, o sabor de sua boca, o cheiro do seu gozo impregnado em mim. Bebo mais um gole do bourbon barato que encontrei em uma espelunca qualquer e olho o conteúdo da garrafa, já abaixo da metade.
Passei a noite dentro deste carro. Dirigi sem rumo depois que saí da empresa, parei no primeiro bar que imaginei ter uísque, comprei duas garrafas e voltei a dirigir.
Só parei quando cheguei aqui, a este maldito lugar onde estou agora, revivendo o inferno da minha vida como forma de expiação de pecado. Foda-se! Olho o sobrado caindo aos pedaços do outro lado da rua e sinto meu estômago revirar.
Eu jurei a mim mesmo que nunca mais viria até aqui. Cumpri essa porra de promessa por anos, mas do que adiantou? Não importa para onde eu fuja, toda aquela merda vai comigo. Podem-se passar anos, mudar de país, de cara e de nome, as desgraçadas lembranças estão gravadas na minha cabeça e nunca saem de lá. Por mais que eu as esconda, sempre vêm me espiar nos sonhos, lembrar-me de que estão vivas e de quem eu sou.
Deito a cabeça sobre o volante e penso em tudo o que aconteceu ao longo do dia, tentando notar alguma indicação de que estaria bêbado, fodido e vomitado em um dos bairros mais perigosos da cidade, em frente ao lugar que eu já deveria ter demolido, mas que comprei apenas para ver apodrecer e cair enquanto o mesmo acontece comigo.
Cheguei à empresa puto e fui direto para minha sala na diretoria jurídica. Não queria encontrar Wilka Maria, não enquanto eu ainda estivesse fervendo de raiva. A vontade que tinha era de entrar naquela sala e a sacudir até que tivesse um pouco mais de senso e percebesse que, por mais que negasse, me queria tanto quanto eu a ela.
Não bastasse aquela joelhada no saco no parque, a diaba teve a pachorra de mandar mensagem para Portnoy dizendo que queria se encontrar com ele para transarem. Assim, logo depois de ter gemido em minha boca, cheia de tesão, ela mandou a porra de uma mensagem para outro homem convidando-o para trepar.
Eu sei, vocês devem estar gritando comigo que o outro homem sou eu mesmo, mas, porra, ela não sabe disso! Então, sim, fiquei puto, não respondi e ainda arremessei meu celular contra a parede da sala e tive que comprar outro pela manhã.
O que me leva à primeira merda do dia, pois, assim que liguei o aparelho, chegaram várias mensagens de Millos me xingando e perguntando o que eu pretendia com o pedido de inclusão de pauta sobre Theo e Duda Hill. Respondi a ele que estava na hora de deixarmos de ser sombras do netinho amado, e ele, depois de me mandar tomar no cu, disse-me que preferia ser sombra do Theo a ser um filho da puta traiçoeiro.
Fiquei puto por ele não me apoiar, afinal só se beneficiaria com a saída do atual CEO, mas é tão cego com essa mania de lealdade que não percebe que eu seria muito melhor do que meu irmãozinho mais velho.
O resultado dessas duas situações foi uma noite azeda e uma manhã sombria, enfurnado na minha sala, sozinho, puto demais para falar com alguém sem berrar, então descontei minha frustração no trabalho e no cigarro.
Mais tarde fiquei pensando nas mensagens de Kika e seriamente tentado a marcar o tal encontro de foda, deixar que ela fosse até algum motel e revelar que eu sou o Portnoy e encerrar todo o ciclo de mentiras – minhas e dela – de uma vez.
Obviamente, não o fiz, e fiquei o dia todo exilado na diretoria jurídica, resmungando como um cão sarnento, frustrado e puto. Queria poder entender aquela mulher, o que queria, por que teve aquela reação depois do beijo mesmo correspondendo.
Sinceramente, eu não entendia nada! A imagem que tinha dela não correspondia a tudo o que ela estava me mostrando, e isso, para alguém que se julga um ótimo avaliador de caráter, era alarmante.
Já ao final do expediente da Karamanlis, entre 18h e 19h, recebi um e-mail de Viviane Lamour me convidando para uma conversa, pois, segundo ela, tinha coisas interessantes a me mostrar sobre meu irmão. Dei um sorriso cínico, pensando no que havia acontecido para que a mulher, que se mostrava tão resistente a me ajudar, tivesse mudado de ideia. Descartei a mensagem; já não me interessava mais, eu tinha conseguido coisa muito melhor para desgastar a imagem de Theodoros e sem a ajuda de ninguém, só dele mesmo.
Assim que ele voltasse da Grécia, o Conselho se reuniria, e essa história pesaria contra ele, desde sua obsessão por comprar um terreno para o qual não tínhamos cliente ou projeto em vista, à compra de uma promissória prestes a vencer para ser cobrada de um espólio e o envolvimento dele com a herdeira, que culminou no pedido para sobrestar a ação de cobrança, gerando, assim, prejuízo.
Theodoros fez tudo o que um diretor executivo não poderia fazer, misturar interesse pessoal com os da empresa. Exatamente o que Nikkós fazia e que lhe custou sua cabeça.
David bateu à porta de vidro da minha sala, e eu fiz sinal para ele entrar.
— Doutor, o levantamento das legislações que me pediu para a conta Ethernium. — Ele deixou uma pasta em cima da mesa. — Mandei uma cópia para o servidor também. O doutor precisa de algo mais?
— Não, David.
O advogado se despediu, e eu olhei para a pasta e decidi deixá-la em minha mesa lá na gerência de hunter. Enquanto ia, tentava me convencer de que não estava fazendo isso para ver a gerente esmagadora de bolas, que só queria deixar o documento junto aos outros que estavam lá e devolver os malditos óculos de sol que acabei levando comigo depois do beijo trágico no Trianon.
Não vou disfarçar que fiquei decepcionado quando entrei e não a encontrei na sala. A mesa estava em perfeita ordem, como ela costuma deixar, o caderno de anotações fechado em um canto, o computador desligado e sua cadeira encaixada debaixo da mesa.
Estranhei que ela tivesse saído mais cedo que o costume, deixei o documento e os óculos na mesa que usava e, quando ia sair, uma das recepcionistas tomou um susto ao me ver. Ela carregava um ramalhete de flores – em uma embalagem brega, cheia de corações – como se fosse uma preciosidade.
— Boa noite, doutor — cumprimentou-me sem jeito. — Acabaram de entregar para a Kika, mas, como ela ainda não voltou da reunião...
Ah, reunião externa!, pensei ao estender a mão e pegar o buquê. A diaba vai voltar!
— Pode deixar, que eu mesmo entrego; provavelmente ainda estarei aqui quando ela retornar.
A moça sorriu.
— Ah, obrigada! Eu já preciso ir embora, então ia deixar na mesa dela.
— Pode ir tranquila, eu mesmo entrego.
Fechei a porta praticamente em sua cara e fiquei analisando o arranjo. Eu não entendo nada de flores, muito menos de rosas, afinal, para quem eu mandaria algo assim?
Cheirei as rosas, mas retorci o nariz por me lembrar do velório de minha avó materna, quando eu ainda era criança. Joguei o buquê de qualquer jeito em cima da mesa dela, então vi o pequeno envelope branco colado com durex na embalagem cafona e o puxei para ler.
Eu sei que vocês vão dizer: ei, doutor, ler correspondência alheia é falta de educação, além de ser crime! Foda-se, o envelope nem estava lacrado, então não houve violação, só indiscrição mesmo.
Li a mensagem deixada por um tal Vinícius e lembrei que ela me disse, no chat online, que tinha ido para uma festa com o vizinho, mas que não se sentira atraída. Ergui a sobrancelha e abri um sorriso, em um deboche competitivo cheio de testosterona, lamentando a perda de dinheiro e de tempo do meu companheiro de gênero.
Se fodeu, vizinho!
Já tinha colocado o bilhetinho de volta no envelope e estava tentando voltar a colá-lo na embalagem quando ouvi um barulho na porta e, na pressa, joguei-o no meio das flores.
Enfim, penso ao beber mais um gole do bourbon barato e de má qualidade, o resto foi o pandemônio que vocês já sabem. Perdi a cabeça, trepei com uma colega de trabalho e acabei descobrindo que ela era uma virgem mentirosa que gostava de “tirar sarro” com a cara dos outros pela internet.
Uma gerente de alto nível, com 30 anos de idade, virgem! Seria uma situação até engraçada se não tivesse me feito revisitar um dos piores infernos do meu passado e, de quebra, me deixado com uma dor do caralho no saco por não ter gozado.
Parabéns, Wilka Maria!
Ergo a garrafa em um brinde a ela, pois conseguiu me levar a nocaute novamente e, dessa vez, nem precisou do joelho!
Estou tremendo, sem entender o que aconteceu aqui nesta sala, sentindo-me desconfortável por ainda estar sentada em cima da mesa. Olho para baixo e vejo a calcinha rasgada no chão, pétalas de rosa por cima dela, e um cheiro estranho em todo o ambiente.
Passo a mão nas minhas costas e sinto as plantas agarradas nela. Fecho os olhos, e as primeiras lágrimas caem silenciosas, pois não consigo me mexer. Nem sei quanto tempo se passou desde que Kostas saiu desta sala batendo a porta, correndo como se eu fosse um monstro.
Encolho as pernas, apoiando os pés no tampo da mesa e me abraço. Os dentes batem forte um no outro, tento parar de tremer, reorganizar os pensamentos, mas não dá. Não consigo entender o que aconteceu!
Se um dia alguém me perguntasse como eu gostaria que fosse minha primeira vez, certamente eu não iria descrever o que acabou de acontecer. Não seria de forma desvairada, em cima de uma mesa e sem nem tirar a roupa. Eu realmente gostei de ter minha calcinha arrancada e rasgada, gostei de sentir o desespero dele, porque também era como eu me sentia, mas o final, a reação dele ao fato de eu ser virgem, desconsertou-me.
Estava tudo indo tão bem, mesmo depois da dor, eu queria continuar, estava com o corpo ainda excitado pelo jeito que ele usara o seu próprio para me fazer gozar e queria mais, queria conhecer o que era o prazer que inebria tantas pessoas nesse mundo, e ele era o homem que meu desejo escolhera, era aquele que me fazia sentir e ansiar. Eu queria Konstantinos Karamanlis desesperadamente. Por isso, assim que vi seu rosto pálido e seu olhar de assombro, percebi que algo de errado estava acontecendo.
A princípio pensei que o susto no rosto dele fosse algo normal, pois não lhe contei que ele estava lidando com uma virgem de 30 anos de idade. Ele nunca iria imaginar, e eu não posso culpá-lo por não ter adivinhado. Kostas não me machucou de propósito, pelo contrário, não me penetrou assim que tirou minha lingerie, antes brincou com meu sexo e me fez estar preparada para recebê-lo.
Foi muito bom e prometia ser além de todas as minhas expectativas, mas agora sinto como se um enorme buraco tivesse sido aberto dentro de mim. Um vazio tão grande, o sentimento de rejeição, de abandono que não tenho como preencher com nada, nem mesmo com minha indignação.
Quero xingá-lo, amaldiçoá-lo, cuspir em sua cara e estapeá-lo até que me diga o motivo pelo qual me tratou desse jeito. Não consigo entender o que houve para que ele ficasse tão transtornado!
Respiro fundo várias vezes, tentando me acalmar. Seco o rosto com as mãos e desço da mesa. A pontada dentro de mim me lembra de que não sou mais a mesma. Mesmo que seja só uma questão anatômica, faz-me pensar em tudo o que poderia ter sido e que, por causa dessa condição, não foi.
Tento não pensar sobre isso, quero sair da sala o mais rápido possível, tomar um banho e me livrar do cheiro insuportável de rosas que impregnou meu corpo. Quero me livrar da sensação do corpo dele no meu, mesmo aquela que foi deliciosa.
Pego o que restou da calcinha e a jogo dentro da minha bolsa, que também resgatei do chão. Ajeito meu vestido, olho para o buquê amassado e as rosas despetaladas em cima da mesa e sinto o estômago embrulhar.
Junto tudo, limpo a mesa e sigo para o banheiro.
Meu rosto marcado pelas lágrimas me encara diante do espelho. Jogo as rosas no lixo, embrulho a calcinha em papel higiênico e faço o mesmo. Só então olho para o meu corpo. O vestido amarrotado não é nada perto das coxas pegajosas.
Sempre carrego lenços umedecidos na bolsa, então uso-os para me limpar e poder vestir a calcinha extra que também levo comigo para eventuais acidentes. Não vejo sangue, fato que me deixa aliviada, pois sempre imaginei que, quando perdesse a maldita virgindade, ele jorraria pernas abaixo, de tão antigo que estava o hímen lá, intacto.
A umidade que senti nas coxas era minha própria lubrificação e, talvez, a dele. Que loucura! Além do local impróprio, da correria, ainda íamos transar sem nenhuma proteção. Jogo água no rosto e me pergunto onde estava com a cabeça.
Nunca fui imprudente ou irresponsável em minha vida e, nesta noite, ignorei tudo isso por uma paixão avassaladora que resultou em mais uma ferida dentro de mim. Rejeição! O meu maior medo desde que percebi que o tempo tinha passado e eu continuava virgem. Uma virgem de 30 anos de idade!
Por que ele me rejeitou? Choro, soluçando, sem conseguir me conter. Sexo sempre foi uma questão tensa para mim, uma trava, uma vergonha que me fazia mentir e esconder que nunca tinha experimentado. Eu brincava sobre o assunto, criava fantasias tiradas de algum livro, escondia-me atrás de um personagem que inventei para mascarar meu medo.
Eu enxerguei o sexo como algo sujo por muito tempo. Sujo, doloroso, errado. Quando comecei a namorar, na adolescência, percebi que, ao contrário do pessoal da minha idade, eu não tinha a mínima vontade de ter minha primeira experiência, e, por isso, o relacionamento não deu certo. O garoto queria transar comigo, e eu sempre negava.
Depois, já na faculdade, eu comecei a sair com um homem e já logo o avisei que teria que ter paciência, pois não estava pronta para ir para a cama com ele. Foi aí que comecei a terapia, depois de fazer vários exames hormonais a fim de entender minha falta de libido e nenhum ter mostrado problema, e tentei entender o que acontecia comigo.
O Dado, meu namorado na época, foi superpaciente comigo e acompanhava o tratamento de perto, sempre querendo saber se podia fazer algo para ajudar. Um dia, depois de eu chegar da terapia um tanto desanimada, ele me consolou dizendo que não se importava com sexo, pois o que valia de verdade era o amor que sentíamos um pelo outro. Naquele momento, percebi outro fato alarmante sobre mim: eu não estava apaixonada.
Eu nunca tinha estado apaixonada por ninguém!
Terminei o namoro – não era justo ficar com alguém sem corresponder o sentimento – e tentei me entender antes de entrar em outro relacionamento, e o tempo passou sem que isso me incomodasse, sem que eu tivesse encontrado alguém que me fizesse querer mais do que beijos e abraços.
Entrei no estágio na Karamanlis, conheci tanta gente bacana, inclusive um rapaz da TI que vivia dando em cima de mim, e a as meninas ficavam botando pilha para eu ficar com ele. Ficava apavorada apenas com a possibilidade de que todos descobrissem que eu era virgem, afinal, já tinha 25 anos, era independente e não poderia explicar meus motivos sem me expor.
Foi aí que nasceu a personagem descolada, que não se prendia a ninguém e que tinha horror a relacionamentos amorosos. As meninas se divertiam com minhas aventuras sexuais. Era prático, eu saía à vontade com elas, avaliávamos os boys, falávamos besteiras, elas não tentavam me empurrar para ninguém na empresa, e eu não precisava inventar um namorado que um dia elas iriam querer conhecer.
Jane, a minha terapeuta, nunca aceitou esse jeitinho que dei, pois disse que só arrumei mais uma forma de me esconder do problema, mas eu estava confortável com isso.
Até conhecer Portnoy, embarcar com ele nas fantasias que sempre gostei de inventar, e o Kostas começar a me atrair.
Eu sempre notei e admirei homens gostosos! Isso nunca foi falso ou fingido. Um dos motivos pelo qual descartei a possibilidade de ser lésbica – porque pensei nessa possibilidade – foi exatamente por homens bonitos e gostosos chamarem minha atenção. Eu achava Theodoros Karamanlis um charme; Kostas, deliciosamente sexy; Millos, misterioso de um jeito que faz qualquer uma imaginar coisas sujas para ele; e Alex, do tipo para casar, com aquele rosto lindo e sorriso doce.
Isso sem contar os outros homens que já apareceram aqui na Karamanlis e que deixaram as meninas babando, inclusive eu.
Porém, nunca senti meu corpo responder eroticamente a nenhum deles, exceto ao Konstantinos. Justamente com ele meu tesão aflorou, e agora estou na merda, sem saber como vou conseguir conviver com ele depois disso tudo.
Peço um Uber para casa e, no caminho, mando uma mensagem para a Jane pedindo uma consulta urgente, e ela responde que me atenderá amanhã na hora do almoço.
Sinto-me apavorada apenas por pensar em como será enfrentar Konstantinos amanhã, e é assim que Verinha me encontra, no saguão do prédio onde moramos.
— Armaria11, o que houve? — ela me pergunta antes mesmo de me cumprimentar.
— Nada... — Tento sorrir, mas meus olhos se enchem de lágrimas.
— E eu sou cega, oxe?! — Puxa-me para dentro do elevador e me abraça. — Eu estou aqui, Kika, pode contar comigo para o que precisar. Se não quiser falar, não fale, mas pode usar meu ombro ou meus braços para se sentir melhor.
Eu soluço, mesmo tentando me conter. Nunca gostei de contar meus problemas a ninguém a não ser para a Jane. Sempre me senti mal por lamentar algo, ingrata ou mesmo dramática, mas dessa vez preciso de alguém para me consolar, para estar ao meu lado.
Chegamos ao nosso andar, e ela abre a porta do meu apartamento com sua cópia da chave. Kaká pula em minhas pernas, e eu o abraço. O cachorro percebe meu estado de ânimo e, ao invés de toda a festa que sempre faz, fica quietinho, dando-me lambidas esporádicas como quem faz um carinho de consolo.
— Vou passar um café enquanto você toma um banho e põe um pijama bem confortável, visse? — Ela praticamente me empurra para o quarto. — Chore o quanto precisar, Kika, o chuveiro leva embora as lágrimas e ajuda a amenizar qualquer dor.
— Obrigada, Verinha.
Ela assente e aponta para o banheiro.
Faço exatamente o que ela sugere e me enfio debaixo da água morna, deixando o pranto rolar sem nenhuma trava, expondo meus sentimentos a mim mesma e rasgando o peito. Estou magoada, confusa e com raiva. Tenho vontade de gritar, de bater, ao mesmo tempo em que quero me encolher como uma bola e ficar em algum cantinho, quieta.
Sinto ainda os efeitos do toque dele em mim, de seus beijos, do desespero de sua respiração, o orgasmo causado pela fricção de seu pau no meu clitóris. Tudo tão perfeito como sempre imaginei que sexo seria, mesmo em uma rapidinha descontrolada. Porém, então vem à mente a lembrança do jeito como ele se afastou, eu tentando ainda suavizar a situação, fazer graça mesmo estando confusa e com medo de sua reação.
O olhar dele mudou, seu rosto parecia transtornado, e, ao mesmo tempo em que estava ali comigo, parecia estar longe, vendo coisas, culpado e enojado por ter me desvirginado.
Saio do banho e ponho um pijama fresco e antigo, um dos últimos presentes de mamãe que ainda tenho. É como se eu pudesse sentir seu abraço, como gostaria de receber se ela ainda estivesse aqui.
— Beba! — Verinha me estende uma xícara, e eu provo o líquido quente e cheio de álcool.
— O que você pôs aqui? — pergunto fazendo careta.
— Conhaque. — Mostra-me a garrafa. — Fui lá em casa deixar o Kaká brincando com o Ferdinando e peguei a bebida. Vai ajudar. Bebe tudo.
— Já estou melhor. — Tento sorrir e me fazer de forte. — O banho realmente ajudou.
— Tenho certeza que sim, mas beba! — Ela serve-se de uma dose e a toma, dispensando o café. — Não importa o que houve lá no seu trabalho, quero que saiba que nunca conheci alguém tão focada e responsável quanto você.
Sorrio pelas palavras e agradeço.
— Não foi o trabalho, não se...
— Ah, puta que pariu, foi aquele nojento do Konstantinos? — ela dispara, pois já contei a ela das brigas épicas que tivemos. — Tenho abuso daquele homem!
— Eu não sei o que aconteceu — confesso. — Ainda estou confusa com tudo.
Fungo alto, soluço, e ela se senta ao meu lado. Conto tudo para ela, desde quando comecei a me sentir atraída, até a saída repentina dele da sala após termos quase feito sexo em cima da minha mesa.
— Eu vou capar aquele filho de uma égua! — ela diz nervosa. — Ele te machucou muito? O babaca deveria ter sido cauteloso e...
— Não, Verinha, não posso ser injusta. Ele não sabia, como eu disse, e não podia adivinhar, afinal, quem se mantém virgem na minha idade? Apesar da dor, que foi natural, eu o quis tanto que o tesão não me deixou raciocinar e pedir a ele que fosse devagar, eu tinha pressa! — Mesmo magoada, ainda sinto meu corpo reagir só por me lembrar de como nos atracamos como loucos dentro da sala. Suspiro. — Eu só não entendo a reação dele quando percebeu que eu era virgem.
Ela concordou e pegou minha mão.
— Por quê, Kika? Por que nunca transou com ninguém?
Dou de ombros, sem querer entrar em detalhes.
— Não me sentia pronta e nem tão atraída por alguém quanto me sinto por ele.
— Se sente pronta agora? — franzo a testa, sem entender a pergunta. — Ele é um babaca por ter reagido daquela forma, não deixe que isso te afete a ponto de pensar que todos os homens são assim. Você gostou antes de ele surtar, lembra? — Concordo. — Está pronta para encontrar um homem de verdade, que saiba fazer gostoso, sem afobação, que te dê o dobro de prazer que ele e ainda não reaja como um puto.
— Não tenho mais nada para assustar alguém e que denuncie que me tornei uma balzaquiana virgem e estranha — tento fazer graça, mas sai tão sentido que ela me abraça.
— Não deveria assustar. Se fosse um homem que valesse à pena, se sentiria privilegiado. Ele é um covarde!
Concordo com ela, mas ainda sinto mágoa e insegurança.
— Verinha, acha que ele surtou porque sou inexperiente e não o...
— Não seja lesa, rapariga! O homem mal conseguiu se conter ao seu lado e, mesmo depois de ter ficado cheio de melindre, ainda estava excitado, não foi? — Concordo. — Ele que tem algum problema, Kika, não você.
Verinha tem razão sobre isso. Mesmo se afastando, eu pude ver o quanto ele estava excitado, então não foi a falta de tesão que o fez reagir daquela forma. O que será que aconteceu com ele?, pergunto-me mais uma vez.
— Acho que você não tem com o que se preocupar agora. — Ela leva a minha xícara, vazia, para a pia. — Tem uma porção de caras legais que adorariam uma chance com você. — Sorri. — Inclusive conheço um que quase lambe o chão que você pisa e é um gostoso.
Nego.
— Verinha, eu não...
— Uma experiência de verdade para apagar essa “meia-boca” que você teve. — Pisca. — É o que você precisa para desencanar e seguir em frente. — Beija minha testa. — Vou buscar o Kaká para te fazer companhia. Vá descansar e acorde amanhã linda e brilhante como você é, visse?
Agradeço e, quando ela sai, pego meu amuleto dentro da carteira, apertando-o com força em minha mão antes de beijá-lo.
Seu sorriso é capaz de iluminar qualquer escuridão!
O som alto de Indifference12 me acompanha enquanto bebo mais uma dose de bourbon e abro o segundo maço de cigarros. De vez em quando canto junto à música, mas na maioria do tempo apenas a ouço enquanto bebo até cair, fumo até achar um pouco de prazer e acabo desmaiado no tapete da sala.
Estou há dias assim, desde que saí de São Paulo ainda desnorteado com o que aconteceu entre mim e Wilka e vim parar no imóvel que só uso raramente, geralmente em minhas férias, a pouco mais de 100 quilômetros da capital paulista, em uma pacata cidade na serra.
Vim para cá para fazer cessarem as lembranças e minha autodestruição ao visitar um local que evocava meus fantasmas. Não pensei muito, é verdade, apenas quis correr para me refugiar e buscar de novo um falso equilíbrio que mantém toda minha precária estrutura em pé.
Eu precisava me reestabelecer, mas, como já sei de cor, há muitos anos, não importa quão longe eu tente correr ou mesmo me esconder, os demônios sempre dão um jeito de me encontrar para cobrar sua tortura.
Não adiantou vir para cá! Fiquei apenas isolado do mundo – aqui não tem telefone, nem sinal de celular ou internet – e cheio de merda na cabeça. Tive pesadelos todos os dias, não consegui trabalhar, apenas mergulhei de cabeça na bebida até que ficasse inconsciente, mas, ainda assim, os sonhos voltavam.
Abandonei a Karamanlis em um momento em que deveria aproveitar a oportunidade, de estar sem Theo e Millos, para mostrar meu trabalho e começar a conquistar a confiança do Conselho e fodi com a melhor chance que já tive. Abandonei o projeto da Ethernium e, principalmente, abandonei, como um rato amedrontado, Wilka Maria.
Precisei desses dias longe para começar a questionar e a tentar avaliar tudo o que eu sabia da gerente marrenta e da Caprica sedutora e tentar encaixar à mulher quente, segura e virgem que eu descobri na segunda-feira à noite. Por mais que eu tente unir todos os pedaços que já me mostrou, não consigo completar uma imagem nítida dela.
Quem, afinal, é a mulher que me fez perder a cabeça? Por que se manteve virgem? E a pergunta principal: por que eu?
Tudo o que aconteceu me deixou muito confuso, além de ter trazido de volta coisas que eu gostaria de deixar para sempre enterradas no passado. Permiti-me usufruir de uma experiência que não tinha – ter relação sexual com uma conhecida – e acabei caindo nesse imbróglio todo.
Wilka Maria sempre foi capaz de me tirar do prumo, fosse me irritando a ponto de demonstrar como estava me sentindo – o que eu evito fazer a qualquer custo – ou me deixando louco de tesão, agindo sem pensar e contra tudo aquilo que estipulei para mim mesmo.
Trepar em uma mesa de escritório da Karamanlis? Nunca pensei que pudesse fazer algo assim, mesmo que fosse uma transgressão, e eu adorasse transgredir regras. Trepar sem nem me lembrar da porra da camisinha? Eu como putas! Nunca, em tempo algum, eu meti sem proteção, nem sei como é!
Gemo ao me lembrar da sensação da minha carne dentro da dela sem nada entre nós. Chego a estremecer recordando a sensação de calor, a umidade que envolveu meu pau e a pressão de uma boceta nunca explorada. Nada do que eu vivi até hoje pode ser comparado àquilo, nada!
— Caralho! — xingo ao sentir meu pau ereto e dolorido, como vem acontecendo todas as vezes que relembro a experiência com Wilka.
Eu ainda estou puto por ela ter omitido que era virgem e me deixado ser o primeiro. Não entendo o motivo que a levou a isso, se achou que sua virgindade iria me prender de alguma forma, fazer com que eu me sentisse responsável por ela ou se perdeu a cabeça como eu e estava tão fora de ar de vontade que se esqueceu de sua condição.
Repasso todos os momentos, tentando enxergar se, em algum instante, ela tentou me parar ou me avisar, mas tudo o que me vem à cabeça é a loucura, o desespero, o orgasmo e seus gemidos.
Fecho os olhos, cada vez mais confuso.
Eu me afastei, em partes, para evitá-la, pois, no calor do momento, fiquei tão puto que pensei que não iria mais querer olhar para ela. Mais uma vez me surpreendi, pois, três dias depois do ocorrido, estou aqui, no meio do mato, no meu santuário, dividido entre a vontade de esquecer o que aconteceu e de trepar com ela direito, até o fim, ensiná-la, conduzi-la ao prazer e receber em troca mais gemidos.
A verdade que estou tendo que encarar neste momento é que, mesmo que o sexo com ela tenha ressuscitado meus demônios, continuo querendo-a, cheio de tesão por aquela mulher tão confusa, que ainda não decifrei, mas que faz meu pau se contorcer de vontade.
Começo a rir como um louco bêbado quando She Talks to Angels13 começa a tocar e, como se fosse preciso de algo para me lembrar dela, penso em Wilka Maria, sua ironia afiada, inteligência aguçada, sensualidade e inocência.
Porra, eu estou muito fodido!
Canto alto, largado no tapete da sala, a lareira apagada e várias garrafas de bourbon vazias espalhadas pelo chão. Não me lembro de ter comido algo além de algumas bolachas velhas que estavam no armário, não sei quantos maços já fumei, e o álcool é o que tem me alimentado esses dias.
Foda-se!
— She don't know no lovers, none that I've ever seen. Yes, to her that ain't nothing, but to me it means, means everything.14
O som de repente para, e eu olho para o aparelho e quase engasgo com a bebida ao ver Millos parado lá com expressão assustada, olhando a zona na qual eu me encontro.
— Mas que porra está acontecendo aqui?! — pergunta.
Eu gargalho pela minha desgraça, pois tudo o que não precisava era de plateia para meu momento mais patético.
— Vá embora, ninguém te chamou aqui! — Tento me levantar, mas cambaleio e caio de volta ao chão.
— Você tem noção da merda que fez? — Millos se aproxima, e eu seguro a respiração.
Porra, ela contou para alguém na empresa?!
— Não quero falar sobre isso! — rebato. — Nunca se envolva com uma virgem, elas fodem com a gente!
O silêncio de Millos me faz voltar a cabeça em sua direção para encará-lo. Vejo-o pálido e com os olhos arregalados. É, seu puto, você também reagiria como eu, eu sei!
— Do que você está falando, Kostas? — sua voz parece falhar.
— Da merda que fiz, porra! — Deito-me no tapete, bêbado demais para me manter sentado sem apoiar as costas. — Eu não pensei que ela tornaria isso público, mas sei que foi uma puta merda ter trepado no escritório da empresa com uma funcionária. — Rio. — Isso se der para considerar uma botada, tão rápida como um meteoro, como uma trepada.
Escuto o som dos coturnos de Millos no chão de madeira e o acompanho com os olhos até ele se sentar no sofá com expressão cada vez mais confusa.
— Você e a Kika Reinol treparam? — sua entonação completamente surpresa me faz perceber que nós dois não estávamos falando do mesmo assunto. Caralho!
Começo a gargalhar como um louco, levanto os braços para tampar meu rosto, mas acabo levando um banho de uísque, o que me faz rir ainda mais. Sabia que a bebedeira afetava a coordenação e os reflexos, mas é a primeira vez que me deixa burro.
— Você não sabia! — constato o óbvio em voz alta.
— Claro que não! Como iria saber? — Ele se joga contra o encosto do sofá. — Mano, você faz tanta merda que nem sabe a qual eu estava me referindo!
Dou de ombros, pois concordo. Sempre fui um merda fazedor de merdas!
Millos pega uma das garrafas ainda cheias e bebe, no gargalo mesmo, um gole do bourbon. Não falamos mais nada, eu, preso nos pensamentos que ainda me assombram e confundem, e ele, talvez, digerindo o que acabei confessando.
— Você foi um filho da puta com seu irmão — ele começa, e eu bufo, não acreditando que ele invadiu meu santuário para falar do Theodoros. — Estou recebendo diariamente queixas dos conselheiros sobre ele, além de um pedido de auditoria geral sobre sua conduta.
Sorrio.
— A melhor notícia dos últimos tempos!
— Porra, Konstantinos, larga de ser um garoto birrento e pensa no que isso pode acarretar para a empresa! — percebo preocupação em sua voz. — Já pensou se essa merda toda vaza e vai parar na imprensa? Estamos fechando um negócio gigante, não podemos ter nosso nome manchado, mesmo que por suposições!
— Foda-se!
É claro que eu pensei nisso tudo, afinal, na época em que os escândalos e as merdas de Nikkós apareceram, as ações da Karamanlis foram ao chão, mas conseguimos nos reerguer e, se isso acontecer mais uma vez, daremos a volta por cima de novo.
— Às vezes me sinto como se fosse um professor de jardim de infância, cuidando das brigas de vocês. Já estou sem paciência para isso e tenho coisas mais importantes a fazer do que ser babá de um monte de adulto infantilizado! — sua fala me surpreende, pois ele, apesar de sempre defender a paz entre os irmãos Karamanlis, nunca se mostrou tão estressado por ser mediador dos nossos conflitos.
— O que você veio fazer aqui, Millos? — pergunto, tentando manter o mínimo de sobriedade para conversar.
— Cheguei a São Paulo hoje e descobri que a empresa está sem comando desde terça-feira, pois Theodoros viajou, e você sumiu. Liguei para seu telefone, mandei mensagem, fui até seu apartamento, e nada! O porteiro disse que você não tinha retornado e, além disso, um carro da empresa sumiu, e o vigia da garagem disse que você tinha saído com ele na segunda-feira à noite — relata. — Como pensa que fiquei? Porra, achei que tinha acontecido alguma merda e, por sorte, antes de começar a acionar a polícia e o caralho a quatro, decidi vir até aqui.
— Só te esperava na empresa na segunda-feira da próxima semana.
— Então agradeça por eu ter voltado cedo, porque a empresa parecia um caos! Os seus advogados, todos “baratinados”, os hunters, atolados, precisando de algum tipo de documento que você ficou de apresentar a eles, e as decisões gerais da empresa, paradas, pois nenhum dos três diretores principais estavam presentes. — Ele respira fundo. — E que história é essa com Kika Reinol?
— Esquece... — tento encerrar o assunto, mas conheço-o bem demais para saber que ele não deixará por isso mesmo.
— Não! Konstantinos Karamanlis tendo um caso com uma funcionária? E o mais alarmante: com Kika Reinol, seu desafeto público? — Ele ri.
— Não estou tendo um caso, porra! — Irrito-me. — Eu não tenho casos! Eu só perdi a cabeça e... Ela é a Caprica, você acredita nisso?
Escuto-o gargalhar.
— Vocês finalmente marcaram um encontro e, por isso, descobriram a identidade um do outro?
Nego.
— Eu descobri; ela não sabe. — Soluço em efeito à bebida. — Eu comecei a me sentir atraído por ela, estranhei e tentei não dar atenção a isso, mas, quando descobri que ela era a Cabritinha, não deu. — Gargalho. — A mistura da executiva esquentadinha com a ninfa do sexo online me fodeu a mente.
Millos assente.
— E o que aconteceu que te deixou assim? — Ele aponta para minha roupa, a mesma que uso desde segunda-feira, e meu estado lastimavelmente bêbado.
— Descobri que, além de executiva e ninfa da sacanagem, ela também era uma virgem!
Millos arregala os olhos.
— Kika Reinol virgem? Tem certeza disso?
Rio ironicamente, ainda me lembrando da barreira e da pressão que senti quando ela cedeu.
— Absoluta. — Fecho os olhos para não me lembrar de seu grito de dor, pois ele sempre me leva de volta aos meus pesadelos.
Millos se levanta do sofá, abandona o bourbon e tenta me erguer do chão.
— Vou te pôr no banho; você está fedendo!
Eu rio de mim mesmo.
— Eu sou um escroto, Millos. — Ele concorda. — Eu sempre soube que não deveria mudar as regras do jogo. Eu sou uma fraude, um pulha, um filho da puta cheio de merda e escuridão e não posso, de jeito algum, me envolver com alguém como ela.
Meu primo, que já tinha começado a me arrastar em direção ao banheiro, para.
— Porra nenhuma! Larga dessa merda! O que aconteceu no passado foi pesado, mas já passou! Olhe para a frente!
Gargalho sarcasticamente.
— Você consegue olhar? — pergunto, e ele bufa. — Já conseguiu superar tudo o que você viu e viveu naquela casa?
— Não estamos falando de mim, Kostas — responde seco. — Nunca entendi essa coisa de só trepar com prostitutas, mas, como eu também tenho minhas preferências, nunca questionei. — Millos me encara. — Você nunca tinha feito sexo com ninguém que conhecesse; isso significa, então, que Kika Reinol vira sua cabeça de um jeito que não pode controlar. Isso é bom.
— Bom? É um tormento! — Chego ao banheiro e, enquanto ele abre o chuveiro, vou tirando a roupa. — A mulher me irrita, me excita, me confunde a tal ponto de me fazer ter vontade de esganá-la e de fazê-la gozar ao mesmo tempo.
— Sempre prefira dar prazer, mesmo querendo causar dor. — Ele se afasta para que eu entre no banho.
Nunca entendi bem o que ele faz na intimidade; embora falemos de tudo, nesse quesito de sua vida, Millos é uma incógnita. Sei que frequenta alguns clubes e que não se envolve com ninguém também, tem casos esporádicos, mas nunca os revela.
Ele tem uma amiga de muitos anos, e eu sempre desconfiei que rolasse algo entre eles, mas nunca tive nenhuma evidência. Sempre pensei que ele fosse um tipo de dominador que curtia sadomasoquismo. No entanto, pelo pouco que sei sobre o que passou, é impossível imaginá-lo com um chicote na mão.
— Não vai acontecer de novo — informo, voltando a pensar em Wilka.
— Por que não? Perdeu o tesão quando descobriu que ela era virgem?
Nego.
— Isso fodeu minha cabeça, você pode imaginar. — Ele assente. — Mas não, mesmo depois de ter ficado desse jeito, de ter revivido um dos piores momentos da minha vida, ainda quero estar dentro dela.
Millos vai até a pia e lava o rosto, enquanto eu deixo a água cair sobre minha cabeça para, quem sabe, voltar à racionalidade.
— Eu a machuquei — confesso, sentindo meu corpo inteiro tremer ao pensar nisso. — Vi em seu rosto que ela sentiu dor, e seu grito foi como se uma faca se enfiasse em mim. Eu não fazia ideia; se soubesse, não teria me aproximado dela.
— Eu sei — Millos diz apoiado na pia, de costas para mim. — Somos fodidos demais e temos medo de contaminar um inocente. Kika pode ser uma executiva segura de si, mas, nesse aspecto, é inexperiente e deve ter ficado assustada quando você surtou em cima dela. — Ele me olha pelo espelho. — Por que, pela forma como te encontrei aqui, você surtou, não foi?
— Abandonei-a lá, em cima da mesa, sem dizer nada. — Soco a cabeça contra a parede do banheiro. — Era como se eu estivesse lá de novo!
— Eu sei, Kostas, mas ela não sabe. Não é comum uma mulher da idade dela, independente como é, não ter tido experiências sexuais. Ela tem algum motivo para isso, e sua reação pode tê-la traumatizado.
Tento continuar indiferente, o rosto sem nenhuma expressão, mas, dentro de mim, dou razão a ele e temo por ela. Não queria quebrá-la como eu sou quebrado, não tinha intenção alguma de contaminar ninguém com minha podridão e, infelizmente, isso pode ter acontecido.
— Não tive a intenção de machucá-la, embora o tenha feito de muitas formas. Isso não me isenta da culpa, nem ameniza o que eu possa ter causado a ela, mas reforça que devo me manter longe, mesmo que ainda sinta atração.
Millos pensa por um momento e depois concorda.
— Sim, vamos esperar que essa experiência ruim não a impeça de encontrar alguém que mostre, ensine e compartilhe com ela o prazer de verdade, e ela esqueça a foda dolorosa e incompleta que teve com você. Talvez o que a travava era o constrangimento de ainda ser virgem. Isso ela não é mais, então pode aproveitar bastante agora e realizar todas aquelas fantasias sujas que criava com você no aplicativo.
Não consigo me conter e arregalo os olhos ao pensar nisso. Wilka não é tão inocente quanto eu a estou vendo, apesar de sua virgindade. Ela ficou, por mais de um ano, contando-me suas fantasias e compartilhando comigo todas as suas vontades. Pensar que ela fará isso com outro daqui para frente me causa uma estranha sensação de posse e uma enorme vontade de socar a cara do Millos por falar disso.
— Bom, a relação profissional de vocês já não era boa, então ninguém vai estranhar que se evitem daqui para frente e que ela não lhe dirija mais a palavra. — Millos dá de ombros. — Você continua com suas putas, e ela, descobrindo novas experiências. É perfeito. — Sorri. — Acho que você, na verdade, fez um favor para ela.
Reconheço o joguinho dele. O filho da puta é uma raposa sorrateira na hora de manipular alguém, porém, eu o conheço o suficiente para não cair em suas armadilhas.
— É verdade! — Sorrio, como se ele tivesse me aliviado depois dessa constatação. — Sinto-me bem melhor agora!
— Então podemos voltar para a Karamanlis amanhã de manhã. — Seca as mãos e caminha para a saída do banheiro. — Esse seu chalé nas montanhas é até interessante no inverno, mas, em pleno verão, isso aqui lembra uma sauna!
O banho me faz sentir melhor, e eu levanto uma das minhas sobrancelhas para ele.
— Não o mandei vir atrás de mim!
— Não precisa demonstrar tamanha gratidão, tenho certeza de que faria o mesmo por mim. — Sorri, maléfico. — Não que eu, um dia, vá fazer metade das merdas que você faz.
— Vai se foder, Millos! — grito antes de ele fechar a porta do banheiro.
É hoje!, penso nervosa ao conferir as horas, saindo da fila do Starbucks, carregando a bolsa extra que trouxe para a empresa por causa do encontro que terei mais tarde.
Há anos não saio com um homem interessado em mim, então acho que posso estar enferrujada. Verinha diz que isso é meu medo falando, e talvez seja, mas essa constatação não diminui em nada meu nervosismo e ansiedade.
Chego à empresa e, como sempre, converso com as meninas da recepção antes de subir, depois vou parando para cumprimentar cada funcionário da Karamanlis que encontro, desejando bom trabalho e, hoje, comemorando a chegada do final de semana.
— Ei, Kika, vamos para uma happy hour no final do expediente? — doutora Eleonora, do jurídico, convida-me assim que nos encontramos no corredor.
— Hoje não dá, mas vamos marcar para a semana que vem.
Ela assente e suspira.
— Ah, boas notícias, o chefão voltou. — Eleonora faz careta, e eu tento disfarçar minha reação.
— Ele está na sala dele ou na minha? — pergunto, coração disparado.
— Na dele, com Millos, que também retornou. — Ela levanta uma pasta para que eu a veja. — Já comecei a ser garota dos recados de novo! Vou lá, senão o homem vai me massacrar.
Despeço-me dela, mas continuo parada no corredor. Não me encontro com Kostas desde aquela noite estranha em que perdi a virgindade, e ele, a cabeça. Fiquei extremamente aliviada por não o ter visto na terça-feira; indignada por ele estar me evitando, na quarta; e um tanto preocupada quando soube que ele havia sumido, na quinta-feira.
Em todos esses dias, uma só pergunta martelava minha cabeça: o que acontecera para que ele reagisse daquele jeito?
Volto a caminhar na direção da gerência e penso no quanto chorei abraçada ao Kaká naquela noite. Sentia-me magoada demais com tudo o que acontecera, confusa e triste. Na manhã seguinte, refiz-me, tomei meu banho, esmerei minha maquiagem, coloquei uma roupa que me deixava linda e poderosa e, quando vi a Verinha, ela abriu um baita sorriso.
— Rapariga, você está linda e plena! — Beijou-me. — É isso aí, deixou tudo no travesseiro e acordou para dar a volta por cima!
— Já passei por muita coisa na vida, Verinha; isso não me mata, só fortalece. — Afastei-me para que ela entrasse no apartamento no mesmo momento em que Vinícius chegava do trabalho, todo trabalhado na farda de bombeiro. — Bom dia! — cumprimentei-o. — Acabei de passar um café, aceita?
Ele fechou os olhos e abriu um enorme sorriso.
— Você é um anjo! — Entrou e cumprimentou a Verinha, que, além de estar com Kaká no colo, já havia se servido do café. — Fiz dois turnos seguidos, estou morto, e o café do Rancho é uma água de batata filha da puta!
Servi a bebida para ele e lhe ofereci biscoitos.
— Não, obrigado. — Bebeu. — Isso aqui é o suficiente para me abastecer até eu tomar meu banho e desmaiar na cama. — Verinha se afastou para a sacada, e ele pegou minha mão. — Você está linda! Gostou mesmo das rosas?
A lembrança do buquê fez meu corpo todo arrepiar por motivos diferentes. Primeiro, por evocar a delícia que foi com Kostas antes de ele descobrir sobre minha condição; segundo, pela outra recordação, triste, por ter jogado as flores fora, pois estavam todas amassadas.
— Obrigada, adorei. — Sorri. — Perfumaram demais meu escritório.
— Eu queria ter te enviado um convite também, mas ainda não sei se já posso dar esse passo. — Piscou. — Adoraria te levar para jantar qualquer dia desses.
Respirei fundo e pensei no que conversara com Verinha e em seu conselho de buscar novas experiências. Vinícius já provara que era um homem incrível, além de bonito e sedutor, então, por que não?
— Sexta-feira à noite estou livre. — Levei minha xícara até a pia. — Você estará de folga?
— Estarei, sim! — disse animado. — Fiz uns plantões extras para outro oficial, mas o meu é de quarta para quinta, depois disso estou de folga. Você quer mesmo?
Assenti, e ele comemorou, fechando olhos e vibrando.
— Podemos nos encontrar em algum local...
— Tem um restaurante novo. — Ele pegou o celular. — Vou mandar o nome e algumas fotos para você e, se gostar, faço reserva.
— Ótimo! — Ele me entregou sua xícara vazia. — Gosto de gente planejada como eu.
— Eu espero que você goste de muito mais coisas em mim do que só da minha organização. — Aproximou-se e me deu um beijo na testa. — Eu sou um homem de sorte por você ter aceitado jantar comigo, obrigado.
Fiquei sem jeito e, por isso, apenas sorri e agradeci quando Verinha apareceu com Kaká já em sua coleira. Comentei o horário, já estava um pouco atrasada, e todos saímos juntos do apartamento. Verinha foi comigo até o elevador, e Vinícius entrou em seu apartamento.
— Volta por cima! — minha vizinha comemorou. — É isso aí, amiga, dê em alto estilo! — Ela se abanou. — O homem é um tesão de farda!
Ainda estava rindo, lembrando-me dela, quando entrei na Karamanlis. A tensão da expectativa do encontro me deixou nervosa, diferente do que sou, e algumas pessoas perguntaram se eu estava bem.
Abri a porta da minha sala com medo do que iria encontrar, mas não havia nada além de lembranças da noite anterior. Konstantinos não estava lá. Trabalhei o dia todo, assustando-me a cada vez que Leo ou Rosi entravam sem bater à porta, mas fiquei aliviada quando terminou o dia, e não nos encontramos.
Nos outros dias, eu estava menos tensa, decidida a tratá-lo normalmente caso me procurasse, ensaiando uma fala leve e despreocupada sobre o que acontecera, porém, ele não apareceu.
Ontem ouvi, durante o almoço, que Kostas havia sumido. Ninguém tinha notícias dele, nem mesmo seu séquito de advogados, e, além de o diretor jurídico estar sumido, tinham encontrado sangue em um dos elevadores, o espelho quebrado, e um dos carros havia sido levado, tudo isso na segunda-feira à noite.
O pessoal já estava criando teorias, e a maioria achava que Konstantinos havia sido sequestrado. Foi aí que eu percebi que algo muito mais sério acontecera naquela noite quando ele descobrira que eu era virgem e que isso o fizera desaparecer todos esses dias.
Então, mesmo ainda magoada e com raiva, fiquei preocupada com ele, pois estava transtornado demais quando saiu de perto de mim e fugiu. Essa era a sensação que eu tinha, de que ele havia fugido de algo, mas do quê?
— Bom dia! — Leonardo me cumprimenta assim que entro. — Novidades! O Bostas voltou para a empresa, e o doutor Millos também! Ao que parece, o homem não foi sequestrado, embora ninguém possa explicar o dano e o sangue em um dos elevadores. Parece que ele apenas precisou de uns dias para descansar. — Leo chega perto para cochichar: — Embora o pessoal da central da fofoca tenha dito que a mão dele está com ferimentos.
— Bom, ainda bem que voltou. — Tento parecer indiferente ao que ele falou. — Precisamos acertar as viagens para conhecer os lugares para a Ethernium, e ele não indicou ninguém ainda para ir. Tomara que tenha voltado com disposição para trabalhar.
Lene me entrega uns arquivos, e, depois de cumprimentar a todos da equipe, começo meu dia de trabalho, ajustando o despertador para um horário um pouco mais cedo do que costumo sair, pois me arrumarei aqui mesmo na empresa para o encontro com o Vinícius.
Olho para a mesa do Kostas, ainda aqui na sala, e penso em sua mão machucada e nesses dias todos que ficou sem dar notícias.
O que houve, de verdade, naquela noite?
— Uau! — Carol exclama assim que eu saio do banheiro da gerência. — Você quer matar quem com essa roupa?
Faço careta e passo a mão pelo vestido.
— Está demais? — Dou uma volta completa para que ela avalie tudo. — Comprei-a em um impulso, depois de ver a foto do restaurante onde vou jantar. É um lugar novo, chique, culinária francesa e mesa reservada. Exagerei?
Ela nega e mexe em sua bolsa.
— Acho que podemos só fazer algo com seus cabelos. — Ergue uma chapinha tão minúscula que eu franzo o cenho, sem entender. — Ele é lindo liso, mas você sempre o usa assim; vamos ondular um pouco.
— Com chapinha?
Carol ri e liga o aparelho em uma tomada.
— Eu trabalhei em salão até conseguir esse estágio, então, pode confiar em mim, sairá daqui ainda mais linda do que está agora.
Sento-me na cadeira, olho o celular, e ela começa a ondular minhas madeixas. Vinícius já me mandou duas mensagens hoje, a primeira para confirmar, e a segunda para dizer que estava nervoso e que não saía para um encontro desde que ainda estava na Escola de Bombeiros.
Acho-o tão fofo que tenho receio de a atração entre nós não acontecer mesmo e eu o chatear. Sei que é só um encontro com um jantar, mas tenho certeza de que, ao final da noite, ele vai querer me beijar e, talvez, fazer sexo, e eu não sei se estarei no mesmo clima.
Vejo uma mensagem da Jane, confirmando a consulta para amanhã e me lembro da tarde em que fui ao seu consultório, contei-lhe o que havia acontecido, e ela, de maneira mais profissional e séria, deu-me quase o mesmo conselho que Verinha.
Seguir em frente!
— Pronto!
Carol desliga o aparelho e me estende um espelho pequeno, mas suficiente para eu ver a diferença que as ondas fizeram no meu rosto.
— Eita! — exclamo. — Quem é essa mulher bonita me encarando?
— Bonita, não! Você está de parar o trânsito! — Ela confere as horas. — Preciso ir, senão vou me atrasar para a faculdade. — Beija-me no rosto. — Divirta-se!
Agradeço-lhe seu trabalho e pego as sandálias de salto na sacola que trouxe para a empresa. Retiro meus scarpins de salto médio para colocar uns que me dão, pelo menos, mais uns 15 centímetros de altura.
Vou até minha sala, guardo a roupa com a qual trabalhei o dia todo, o sabonete e a toalha que usei para tomar banho e coloco um pouco de perfume.
Meu celular apita uma notificação, e eu corro até ele, esperando ser notícias de Portnoy. O homem disse que ia viajar. Eu achei que era desculpa, mas parece que era mesmo verdade, pois não respondeu mais nenhuma das mensagens que lhe mandei desde terça-feira.
Queria muito conversar com ele, não sobre Kostas, mas sobre um encontro entre nós. Não sei se pessoalmente a química que temos juntos online se confirmará, mas é algo que eu gostaria de tentar, mesmo porque, exceto Konstantinos, apenas ele mexeu comigo a ponto de me atrair.
Talvez, transando com Portnoy e tendo um pouco do que sinto quando apenas me masturbo para ele, consiga abandonar Konstantinos e aquela primeira vez tão esquisita.
Infelizmente, não é meu amigo virtual, mas sim Verinha, desejando-me boa sorte com Vinícius e reforçando que eu não tenho que fazer nada que não queira, que somente tenho de curtir o momento e deixar acontecer naturalmente.
— Esse é o plano, minha amiga — respondo para mim mesma e digito uma mensagem para ela.
Antes de sair para o corredor que divido com a diretoria jurídica e o único acesso para os elevadores, penso que Konstantinos me evitou o dia todo. Mandou e-mail avisando que David voltaria a assumir a frente da conta e que tudo deveria ser resolvido com o advogado e pediu para pegarem as coisas dele depois do almoço.
Estive tentada a ir até a sala dele para lhe pedir explicações, mas todas as vezes pensei melhor e desisti. Não tenho que cobrar e muito menos exigir nada dele. Tentamos uma transa; não deu certo, bola para frente. Se ele prefere lidar com isso fingindo que nada aconteceu entre nós, então que assim seja feito.
Abro a porta da gerência e espio a da sala principal do jurídico, encontrando-a fechada e sem um barulho sequer vindo do salão onde ficam os advogados.
Tranco a porta – coisa que sempre fazemos às sextas-feiras – e ajeito no ombro minha pequena bolsa com alça metálica antes de seguir na direção dos elevadores.
Rememoro a rota e o endereço do restaurante e chamo o Uber enquanto espero o elevador chegar. Mais uma mensagem de Vinícius entra, reclamando do trânsito e me pedindo para esperá-lo no bar caso se atrase.
“Pode deixar, não se preocupe! Já estou saindo da Karamanlis, então devo chegar antes, sim.”
Ainda estou sorrindo enquanto termino de digitar a mensagem quando o elevador chega e as portas se abrem.
— Boa noite, Kika Reinol! — Millos me cumprimenta, e eu tiro os olhos da tela do telefone para cumprimentá-lo de volta e entrar no elevador, mas fico muda ao ver, junto a ele, Konstantinos Karamanlis.
A dor de cabeça foi minha companhia ao longo do dia de hoje, desde o momento em que Millos me acordou, ainda no chalé, até este momento. Faço massagem nas têmporas, tentando aliviar um pouco o desconforto, mas não consigo.
Se a dor não tivesse sido causada por um porre, eu a curaria com bourbon. Contudo, depois da quantidade que bebi, não posso nem pensar na bebida, que meu estômago embrulha.
O taxista me olha pelo retrovisor, impaciente, mesmo com o taxímetro correndo, enquanto estamos parados. Finjo não perceber sua irritação e continuo massageando a cabeça, decidindo o que devo fazer.
Voltei para a capital dirigindo, e Millos me acompanhou em sua moto. Depois, passei em casa, tomei outro banho e um analgésico, coloquei um dos meus ternos e fui para a empresa.
Como estive sem sinal no telefone, havia uma porrada de e-mails e mensagens para eu ler, mas senti o corpo gelar ao ver o símbolo do Fantasy e a indicação de que me mandaram mensagens privadas. Como minha conta está fechada para os outros perfis, só podia ser uma pessoa: Caprica.
Abri o chat e senti meu sangue ferver ao ver mensagens descontraídas dela desde terça-feira, e algumas sensuais, reforçando o convite para nos conhecermos pessoalmente. Era para eu me sentir aliviado por ela não estar mal, ter seguido normalmente sem que o que aconteceu entre nós a influenciasse, mas não, não senti porra nenhuma de alívio, só indignação por ela já ter partido para outra.
Decidi cancelar de vez a conta do aplicativo, mas, assim que entrei na página principal, vi a notificação de que Caprica havia liberado a conta e que estava ativa novamente. Isso me enfureceu tanto que ativei a minha também e desisti de cancelar o Fantasy.
Pensei em ir até a sala dela quando cheguei ao nosso andar, fingir que nada acontecera e trabalhar o dia todo com ela, mas a ideia era tão ridícula que fui para a diretoria jurídica, disposto a ignorá-la o dia todo como se não existisse. Achei que ela, em algum momento, viria até mim, mas, conforme o tempo foi passando, descobri que estava tratando com uma criatura tão orgulhosa quanto eu.
Resolvi provocar e mandei um e-mail renomeando David para trabalhar à frente da Ethernium, aguardei, e nada. Depois pedi a uma estagiária que recolhesse minhas coisas lá e fizesse questão de dizer que eu estava na empresa e que fora ordem minha, porém, ela não apareceu de novo.
Convenci-me, então, de que a melhor resolução era manter distância, mesmo estando com as palavras do Millos, sobre ela encontrar outro para realizar as nossas fantasias me incomodando a mente a cada momento.
Eu não queria um envolvimento além do sexual com ela, nunca quis e continuo não querendo, mas o que aconteceu entre nós naquela noite não poderia ser considerado, e eu ainda queria mais.
Mergulhei de cabeça nos processos e só me dei conta da hora quando Millos me chamou à sua sala e olhei para o relógio. A maioria dos funcionários já havia saído, só David e Murilo ainda estavam em suas estações de trabalho, finalizando algo.
— Doutor, acabei de marcar a viagem ao Rio de Janeiro e estou só esperando a indicação de qual dos hunters irá comigo — David me informou. — A partir de segunda, vamos começar a fazer os cronogramas das reuniões nos estados e, a partir daí, marcar com o cliente.
— Ótimo, deixe-me sempre ciente.
Despedi-me deles, pois não voltaria mais para a diretoria jurídica e segui – não sem antes olhar a porta da gerência de hunter – para o andar superior, onde Millos me esperava em sua sala.
— Essa merda toda que você fez... — ele falou assim que entrei em sua sala e apontou para um documento em cima da mesa — acho que isso ainda vai causar muitos prejuízos à empresa. — Peguei o papel, mas, antes que eu pudesse ler, Millos explicou: — Pedido de auditoria!
Respirei fundo, mas dei de ombros, sem nenhuma expressão de preocupação ou arrependimento.
— Você não acha temerário que ele se envolva com uma mulher e isso afete o trabalho na Karamanlis? Há anos a empresa tenta comprar aquela porra de boteco, e ele desiste assim, por causa de uma boceta...
— Kostas, cala a boca! — Millos pareceu muito irritado, e isso me surpreendeu, pois ele nunca perde a compostura.
Ele sabia de algo, eu tive essa impressão. Millos tem relacionamento com todos nós, conhece os segredos de todos, obviamente saberia se estivesse acontecendo algo mais do que um caso entre Theodoros e a dona do boteco.
— Do que você está sabendo, Millos? — perguntei, mesmo tendo consciência de que ele não me falaria.
— De nada! Eu só acho que, se Theo tomou essa decisão, ele tem algum motivo que a respalde.
Sua resposta não me convenceu o mínimo. Tinha certeza de que ele sabia mais do que estava me falando e, pela sua descompostura, podia apostar que era algo de proporções grandes e que o filho da puta estava se mantendo calado para manipular a vida de alguém.
— Como foi com a Kika Reinol hoje? — ele mudou de assunto, e eu tive a confirmação de que, sim, ele sabia de algo e estava deliberadamente escondendo.
— Não foi. — Levantei a sobrancelha. — Designei o David de volta para a conta da Ethernium. Assunto encerrado.
Millos abriu um sorriso pretencioso, claramente duvidando do encerramento do assunto, e eu fiz minha cara de tédio para ele.
— Entrou em contato com Theodoros para falar sobre a auditoria? — indaguei, voltando ao assunto.
— Não, ele já está lidando com merda demais tendo que conviver esses dias com nossos familiares, não vou preocupá-lo antes da hora. — Eu ri e o chamei de baba-ovo. — Vai tomar no cu, Kostas. Eu faria o mesmo se fosse com você, seu babaca.
Eu tive que admitir isso e enfiar meu rabo entre as pernas.
Saímos juntos do escritório dele. Convidei-o para beber, mas ele se negou, dizendo que precisava ir para casa.
— Algum problema? — questionei ao notá-lo um pouco ansioso.
— Nenhum — respondeu, digitando uma mensagem em seu telefone. — Só quero passar um tempo em casa, já estive muitos dias fora, preciso organizar umas coisas.
Gargalhei ao entrar no elevador.
— Você organizar coisas naquela zona que chama de casa? Definitivamente, Millos, você tem algum problema por lá e não quer abrir o jogo! — decidi provocá-lo. — Pois bem, vou até lá para ajudá-lo.
— Não! — ele respondeu sério no exato momento em que paramos no andar da minha diretoria.
Assim que as portas do elevador se abriram, arregalei os olhos ao ver Wilka Maria parada, de cabeça baixa, sorrindo e escrevendo alguma mensagem no telefone. No mesmo instante pensei no Fantasy e em sua conta ativa, recebendo propostas de encontros para foda e realizações de fantasias.
— Boa noite, Kika Reinol! — Millos a cumprimentou, e ela tomou um susto ao nos ver dentro do elevador. Olhei-a detalhadamente, desde as sandálias altas de saltos finos; suas belas pernas bronzeadas, que me chamaram a atenção mesmo sem eu saber a quem pertenciam, sumindo da metade das coxas para dentro de um vestido preto, justo e que deixava seus ombros de fora.
Os cabelos dela também estavam diferentes, embora eu não conseguisse dizer exatamente o que ela tinha feito, porém, pareciam mais vivos, com um balanço diferente.
— Boa noite, doutores — ela nos saudou e entrou no elevador, e sua boca pintada de vermelho atraiu meus olhos como se fosse uma chama. Apenas balancei a cabeça em cumprimento e, quando ela se virou, ficando de frente para as portas e de costas para mim, quase gemi ao ver o quanto o vestido ressaltou sua bunda perfeita.
Puta que pariu!
Remexi-me, incomodado, e meu primo segurou o riso, percebendo o desconforto causado pela minha ereção inconveniente.
— Com todo respeito — Millos puxou assunto com ela —, a senhorita está lindíssima!
Olhei para ele com minha sobrancelha erguida, sem entender a merda do jogo que ele queria começar. Wilka não se fez de rogada e lhe agradeceu, em meio a sorrisos, o elogio.
— A vida não é só trabalho, não é, doutor Millos? — Ele assentiu. — Essa semana foi bem puxada, trabalhando praticamente sozinha na conta da siderúrgica, então decidi aproveitar um pouco hoje à noite.
Respirei fundo e crispei as mãos de raiva, pensando em como exatamente ela pretendia aproveitar a noite.
— Está certíssima! Aliás, preciso parabenizá-la pelo trabalho excelente que vem fazendo, mesmo na ausência de Kostas durante esta semana. — Ela olhou para trás e me espiou de rabo de olho. — Estamos todos muito felizes por você ter retornado à empresa no momento certo, não é, Konstantinos?
Filho da puta!
— É, sim, muito felizes! — resmunguei entredentes e esperei algum comentário mordaz dela sobre meu sumiço ou mesmo alguma piadinha, mas não, ela apenas sorriu em agradecimento e voltou a olhar para frente.
O elevador parou antes de chegar ao térreo, mas não havia ninguém esperando-o, então Millos saltou para fora de repente e se despediu.
— Eu preciso mesmo ver umas questões aqui com Alexios e acho que ele ainda está na empresa. — Olhou para a gerente. — Divirta-se muito e compense a semana pesada que você teve. — E depois para mim — Boa noite, Kostas.
Assim que o elevador se fechou e começou a descer de novo, o clima dentro dele mudou, ficou pesado e tenso. Eu segurava na barra de acessibilidade próxima ao espelho – que eu já tinha percebido que haviam substituído – e tentei ignorar o quanto ela estava cheirosa e a vontade que tinha de pressioná-la contra as paredes frias de inox, fazer o elevador parar e fodê-la até que desistisse de qualquer outra diversão que não fosse eu.
Não o fiz, claro, estava decidido a manter distância e o faria de qualquer jeito. Descemos no térreo e caminhamos lado a lado até a calçada da Paulista sem nem mesmo uma palavra. O silêncio dela me incomodava, mas eu não conseguia achar um modo de quebrá-lo.
Notei o táxi parado à porta da empresa e esperei para ver se era o veículo que ela esperava, mas, como ficou na calçada, supus que ou tivesse pedido um Uber, ou mesmo que estivesse esperando uma carona.
— Boa noite, Wilka — despedi-me, e ela finalmente me encarou.
— Boa noite, doutor. — E, sem que pudesse se controlar, olhou para a minha mão, ainda com algumas escoriações do soco que dei no espelho do elevador. — Está tudo bem?
É claro que não, porra! Com quem você marcou de se encontrar?! Vai foder por aí, agora que está se achando muito experiente depois de ter se livrado da virgindade tardia?, era o que eu queria dizer a ela, porém, contentei-me com:
— Tudo ótimo! Divirta-se!
— Eu vou, não se preocupe! — E abriu um daqueles seus sorrisos que chegam até os olhos e a deixam ainda mais sexy.
Comecei a caminhar na direção do meu prédio, quando vi o Uber se aproximar, o motorista chamá-la pelo nome, e ela entrar. Olhei para o táxi e não pensei duas vezes, pulei para dentro do veículo e disse a frase mais ridícula e clichê do mundo:
— Siga aquele carro!
Pois bem, é por isso que estou aqui, neste momento, com uma puta dor de cabeça, parado em frente ao restaurante francês em que já estive antes com Millos, recebendo olhares interrogativos do taxista, que deve pensar que sou um tarado ou um corno por ter seguido a mulher até aqui.
Bem, não sei o motivo pelo qual vim para cá e nem de tê-la seguido, mas já estou aqui e não sou homem de recuar no que faço. Tiro o dinheiro da corrida da carteira e saio do carro, liberando o taxista.
— Boa noite! — uma recepcionista muito bem-vestida e linda me cumprimenta. — O senhor possui reserva?
— Não, mas posso ficar no bar?
— Claro! — Ela me pede um documento e depois o entrega junto a um cartão magnético com o nome do restaurante. — Seja bem-vindo!
Entro já esquadrinhando as mesas. Contudo, abro um sorriso ao ver Wilka sozinha, sentada em uma das banquetas do balcão do bar. Respiro fundo, pedindo meu autocontrole de volta e me sentando ao seu lado.
— Rare Breed15, por favor — peço meu bourbon favorito, mas, pela expressão “é de comer ou de passar no cabelo?” que o bartender faz, já presumo que não tem a marca. — William Larue Wellen16? — A expressão não muda. — Jim Beam17? — Puta que pariu, o “bartender” acabou com minha entrada surpresa! O que foi que tomei quando vim aqui com Millos? Jogo um olhar rápido à parede de bebidas à minha frente e vejo uma garrafa de Tennessee Whiskey. Quem não tem cão... — Jack Daniel’s Old 718, por favor.
Viro-me para Wilka Maria, que parece não acreditar que está me vendo ao seu lado.
— O que você...
— Ora, ora, que coincidência! — Sorrio maliciosamente. — Se soubesse que estava vindo para cá, teria me oferecido para rachar o Uber com você.
Ela demora um tempo para reagir, o bartender serve minha bebida e debita no cartão de consumo do bar, então ela parece despertar do choque e ri.
— Você me seguiu?
Bebo calmamente, degustando a bebida, fico um tempo apreciando seu sabor amadeirado e então respondo:
— Por que eu faria isso?
Armo-me com minha expressão irônica, mas isso não a inibe, nem detém. Para meu total assombro, ela gargalha, um som rouco, vibrante e delicioso que me faz querer segurá-la pela nuca e sorver aquela música para dentro de mim.
— Qual é a sua, afinal, doutor? — ela é direta. — Qual é o jogo que estamos jogando, porque, infelizmente, desconheço as regras?
Dou de ombros.
— Não tem jogo! Estava com vontade de beber e vim até aqui. — A desculpa é tão esfarrapada, até para mim, que rio antes de beber mais um gole e olhá-la. — Fiquei curioso, só isso.
— Curioso?
— Para saber com quem você iria se encontrar. — Minha sinceridade a desarma. — Nós não conversamos desde aquela noite.
Wilka puxa o ar lentamente e depois o solta.
— Eu estive na empresa todos os dias desde então, não sumi sem dizer nada e nem fui eu quem saiu correndo como se tivesse visto um fantasma.
Concordo com ela e bebo de novo para aliviar o bolo que sinto em minha garganta.
— Desculpe-me. — Olho dentro de seus olhos castanhos. — Eu não esperava que...
— Olá? — a voz de um homem me interrompe, e eu o encaro. — Desculpe a demora, Kika, o trânsito estava um inferno!
Ele a beija no rosto e a abraça quando ela desce da banqueta. Acompanho, sério e puto, sua mão acariciando as costas dela enquanto ele a abraça.
— Tudo bem, Vinícius, acabei encontrando um conhecido. — Ela dá um sorriso sem jeito em minha direção. — Nossa mesa já está pronta. Vamos?
Conhecido?! Tenho vontade de rir por ter sido chutado para escanteio descaradamente. O tipo, bem mais baixo que eu, com o cabelo cortado rente à cabeça e uma roupa colada no corpo de modo a ressaltar seus braços musculosos, dá-me uma olhada rápida antes de encaminhá-la para a mesa onde irão jantar.
Para minha diversão, é a mesa mais próxima do bar e, por esse motivo, posso ouvi-lo perguntar para ela:
— Ele estava te incomodando?
Giro a banqueta e olho diretamente para Wilka, sentada de frente para mim, esperando sua resposta ao skinhead19 “bombadinho”. Nossos olhos se encontram por um breve momento, e ela, por fim, diz:
— Não, é um dos diretores da empresa onde trabalho.
O garçom se aproxima para anotar os pedidos, e noto que é ele a definir a bebida da mesa. Depois comenta algo com Wilka, que assente e sorri, então voltam a conversar.
Pego o celular, abro o e-mail que usamos para tratar da conta da siderúrgica e copio o número do celular dela, torcendo para que ele não seja corporativo e ela não o tenha deixado no trabalho.
“Achei que você iria reivindicar seu direito de escolher sua própria bebida. Estou decepcionado com sua falta de feminismo!”
Disparo a mensagem, escuto o celular dela vibrar em cima da mesa, mas ela não o pega. Tento outra vez.
“Eu realmente segui você. A verdade é que aquela noite foi uma loucura, e ter descoberto sua virgindade daquela forma, machucando você, me desconsertou. Eu vim para me desculpar, estava fazendo isso quando sua companhia chegou e não ouvi se você aceita a desculpa ou não.”
Leio a mensagem antes de a enviar, surpreso por estar me expondo demais para ela. Toda minha resolução de permanecer longe acabou quando pisei na Karamanlis. Tive consciência o tempo todo de que ela estava tão próxima de mim, mas não consegui me aproximar. Provoquei, chamei a atenção dela como um pirralho carente, pensando que ela estaria puta e que apareceria para brigar comigo, mas não.
Olho para o casal sentado à mesa à minha frente e pondero se não é melhor que ela se envolva com alguém menos fodido do que eu. Então balanço a cabeça, achando a ideia absurdamente ridícula. Ainda estou cheio de tesão por ela e, pelo que aconteceu antes, sei que ela sente o mesmo por mim. Porra nenhuma que vou deixar um “mamãe, tô forte” se aproximar dela e me tirar da jogada! O caralho que eu vou!
Ela é minha!
Sinto uma coisa estranha em mim, um sentimento de posse sobre ela por ter sido o primeiro, por tê-la marcado para sempre, talvez não da forma como merecia – o que pretendo consertar em breve –, mas, ainda assim, ter sido eu o escolhido por ela para aquele momento.
Envio a mensagem, e, dessa vez, quando o celular dela vibra, Wilka confere as mensagens e me encara, surpresa, e logo depois volta a olhar o aparelho em sua mão. O homem sentado à sua frente fala algo, e ela apenas assente com a cabeça, sem conseguir tirar os olhos do celular.
Ela, por fim, fala algo com ele e digita. Espero pela mensagem – confesso que estou um pouco nervoso – com o aplicativo aberto na conversa que iniciei e, quando a mensagem chega, leio-a rapidamente.
“Aceito suas desculpas. Eu deveria ter contado, talvez assim você tivesse parado e nos poupado o constrangimento.”
“Eu não teria parado, Wilka, só teria ido com mais cuidado. Não tinha como parar, assim como não tenho como parar agora. Estou aqui, de plateia em um encontro seu, mas, ainda assim, de pau duro de vontade de estar dentro de você.”
Mando a mensagem antes que ela coloque o aparelho sobre a mesa e vejo seus olhos se arregalarem levemente ao ler o que escrevi.
Mais direto que isso, impossível!
Termino a bebida, deixo o copo sobre o balcão e me levanto para ir embora, pois não faz mais sentido ficar aqui, assistindo-lhe jantar com outro homem. Ela já sabe que eu a quero e, se me quiser também, irá deixar claro, independentemente do que rolar entre ela e o seu encontro esta noite.
Não me agrada imaginá-la com outro homem, mas sei que não tenho o direito de intervir nisso, afinal, não temos nada um com o outro e, por mais que me sinta atraído por ela, nossa questão é apenas sexual, saciar o desejo e expurgar essa vontade.
Faço sinal para o bartender pedindo a conta e, enquanto ele pega uma máquina para dar baixa no meu cartão de consumo, ouço a campainha de um celular ressoar por todo o restaurante.
— O Carlinhos estava um pouco febril hoje cedo, mas amanhã é dia de ele ficar comigo e já começou desde segunda-feira a me cobrar para te pedir para deixar o Kaká dormir com ele — Vinícius comenta assim que nos sentamos à mesa, e eu tenho que me esforçar para entender o que ele está falando, pois me sinto aérea ainda com a presença de Kostas aqui. — Eu disse a ele que não é assim, que o bichinho pode ficar chateado por ficar longe de sua casinha. Eu estou pensando em comprar um cãozinho para ele de aniversário, mas a mãe dele é contra.
— Complicado... — respondo e olho na direção do bar. Kostas está de frente para mim, e nossos olhares se cruzam por um momento. — Eu posso deixar o Kaká na sua casa até o Carlinhos pegar no sono. Ele costuma dormir cedo, não é?
— Sim! Seria uma ótima saída. — Ele fica parado me olhando com um sorriso. — Nem acredito que você está aqui! E linda desse jeito!
Sorrio sem jeito, e um garçom se aproxima para anotar nossas bebidas.
— Vamos querer vinho, meio seco de preferência e tinto — Vinícius faz o pedido por nós dois. Isso me incomoda, e eu ergo uma das sobrancelhas, achando sua atitude um tanto machista. Meu celular vibra em cima da mesa, o que chama a atenção dele, que me olha, percebe minha expressão e sorri sem jeito. — Tudo bem para você, ou gostaria de pedir algo diferente? Eu fiz o pedido porque me lembrei que, no aniversário da Verinha, você tomou vinho, mas...
— Tudo bem — interrompo-o com um sorriso. — Vinho está ótimo, obrigada por perguntar.
O garçom se afasta.
— Eu queria te convidar para sair desde que te conheci. Achei você tão incrível, positiva, amável e, posso estar falando bobagem, mas acho que temos muita química.
Hein?! Eu queria ter a mesma certeza que ele neste momento, mas a presença do Konstantinos, que apareceu aqui como um perseguidor maluco, e seu pedido de desculpas pelo que houve entre nós me deixou um tanto desconsertada e sem clima para o encontro com Vinícius.
Desculpas! Apesar de reconhecer que foi um gesto bem sensível e que eu não esperaria dele, senti-me decepcionada também. Pedindo desculpas, para mim, pareceu que ele estava arrependido, que não sentia mais a atração e o ar vibrando à nossa volta.
Eu senti e ainda sinto! Meu corpo inteiro esteve alerta à presença dele no elevador, a cada respiração mais forte que ele dava, cada movimento, tudo foi perceptível por mim como se estivéssemos juntos, colados. Aqui no bar não foi diferente. Quase não acreditei quando ele se sentou ao meu lado e pediu sua bebida na maior desfaçatez do mundo. Tive vontade de rir quando não conseguiu nenhuma das marcas que queria e desejei que neste restaurante chique só tivesse Natu Nobilis20.
Ele tentou disfarçar que veio atrás de mim, mas meu coração disparado não se enganou, e eu me senti poderosa ali, mesmo sem entender o motivo pelo qual ele me seguiu.
Até suas desculpas...
Meu telefone vibra de novo.
— Não vai ver o que é? — Vinícius pergunta. — Pode ser importante.
— Você não se importa?
Ele nega, e eu pego o aparelho e quase engasgo com minha própria saliva ao ler a mensagem – de um número que não consta em minha agenda, mas que não me deixa dúvida de quem é o remetente.
A primeira mensagem é engraçadinha e demonstra que ele está observando – e talvez até ouvindo – tudo o que se passa aqui na mesa, e isso me faz ficar ainda mais intrigada com a permanência dele no restaurante. A segunda mensagem é uma surpresa total, uma justificativa e um pedido de desculpas, coisas que realmente não esperava dele.
— Preciso responder — aviso ao Vinícius, já digitando uma mensagem.
“Aceito suas desculpas. Eu deveria ter contado, talvez assim você tivesse parado e nos poupado o constrangimento.”
Entendo que ele peça desculpas pela reação que teve depois que percebeu minha virgindade, até aprecio isso, mas pensar que ele possa estar se desculpando por ter feito sexo comigo é um pouco dolorido. Apesar dos pesares, eu nunca quis tanto alguém como o quis naquela noite.
E, se for sincera, ainda continuo querendo. Mal concluo o pensamento, e outra mensagem dele entra.
“Eu não teria parado, Wilka, só teria ido com mais cuidado. Não tinha como parar, assim como não tenho como parar agora. Estou aqui, de plateia em um encontro seu, mas, ainda assim, de pau duro de vontade de estar dentro de você.”
Meu coração quase sai pela boca, e eu preciso apertar levemente as coxas, pois ler isso acordou meu sexo, aguçou a vontade de tentar mais uma vez, de ter a experiência completa com ele antes de seguirmos com nossas vidas.
Ergo os olhos e o vejo falando com o bartender, já de pé, em claro sinal de que está indo embora. Olho para o Vinícius sem jeito e tento um sorriso enquanto o garçom serve nosso vinho. Não posso simplesmente abandoná-lo aqui e sair correndo atrás de Konstantinos, não posso e nem devo.
Coloco o celular na mesa.
— Nós estávamos falando sobre...? — tento voltar ao assunto, mas não consigo, pois o celular de Vinícius começa a tocar alto, chamando a atenção dos outros clientes. — Pode atender.
Ele pega o aparelho em seu bolso e arregala os olhos.
— É a mãe do Carlinhos!
Levanta-se rapidamente e pede licença para atender o telefone, caminhando em direção a uma espécie de hall que o restaurante possui, todo ornamentado com plantas. Acompanho-o com os olhos até que começa a falar ao telefone, mas depois olho na direção onde estava o Kostas.
Ele não está mais perto do bar, então o vejo sair do restaurante. Respiro fundo e penso que foi melhor assim. Já fizemos algo por impulso uma vez e não resultou em uma experiência muito satisfatória para ambos. É melhor irmos com calma, acertarmos as coisas antes de qualquer outro passo.
— Kika, me desculpa, mas preciso ir. — Vinícius parece nervoso, e eu me levanto. — A febre do Carlinhos aumentou muito, e Liliana o está levando para o pronto-socorro. Preciso estar lá.
— Claro! — Ele pega a carteira, mas eu o impeço. — Não, pode deixar que eu acerto aqui, vai!
Ele concorda e se despede esbaforido, praticamente correndo para fora do estabelecimento. Penso em ficar e aproveitar para conhecer a comida daqui, mas é desanimador comer sozinha, então peço a conta do vinho, pois ainda não tínhamos feito o pedido, pago e já saio com o aplicativo do Uber aberto para me levar para casa.
— Eu acho que você ficou sem carona para ir embora — a voz de Konstantinos me faz pular de susto, e quase deixo meu telefone cair.
— Merda, Kostas! — Ponho a mão no coração.
Ele abre a porta traseira de um táxi e aponta para o interior.
— Já que não conseguimos rachar na vinda, poderíamos fazer isso na volta, o que acha?
Intercalo olhares entre ele, o banco traseiro do táxi e o pedido de confirmação do Uber na tela do celular. Tomo fôlego, bloqueio a tela do celular e ando na direção dele.
— A primeira parada será minha casa — aviso-lhe antes de me sentar no banco do táxi.
Kostas senta-se ao meu lado e fecha a porta.
— Vila Mariana — indica ao motorista e me puxa para perto de si, quase me colocando sobre seu colo. — Não será a primeira parada, será a única, a não ser que queira ir para um motel.
Seu corpo está quente e duro junto ao meu. Sinto seus músculos vibrando, talvez ele esteja contendo um tremor como o que acontece com meu próprio corpo. Ofego, sentindo seu hálito quente no meu rosto. Sua mão segura firme minha cintura, e a outra, a nuca.
Estou quente, aquecendo cada vez mais com a proximidade dele e seu olhar cheio de desejo e promessas sujas. Sei que, se eu me render, essa noite poderá ser aquela que eu sempre quis, pois ele não vai se contentar em me jogar na cama e foder, vai me comer inteira, devorar como um animal esfomeado e me proporcionar o prazer que essa atração entre nós já prenunciava desde o início.
Ao mesmo tempo, sinto insegurança também. Nossa experiência anterior não teve o melhor desfecho, e, embora eu já não seja mais uma virgem, continuo sendo inexperiente na prática.
Ele percebe que titubeio, então diz baixinho:
— Talvez eu devesse ir mais devagar, mas não consigo. — Sua mão toca meu rosto numa carícia leve. — Eu prometo que dessa vez não vou parar, pelo menos não enquanto você não estiver gemendo, molhada e totalmente satisfeita.
Eu não quero que ele pare, não quero deixar o medo que me dominou por tantos anos me tirar a chance de viver este momento.
— Vila Mariana — respondo sem tirar meus olhos dos dele — será nossa única parada.
Ele me atrai para mais perto e ataca minha boca com um beijo faminto, desesperado. Seguro a sua camisa com força, sentindo o tecido macio se embolar entre meus dedos, enquanto sou consumida por sua boca, lábios se impondo sobre os meus e língua explorando, penetrando e fazendo sacanagens que me remetem ao que ele pode fazer dentro de mim.
Sinto a pressão de seus dedos presos no cabelo da minha nuca. Konstantinos não está sendo delicado e nem contido. Parece que estamos libertos de qualquer contenção que podíamos ter. Não me importo de estar atracada a um homem dentro de um táxi, muito menos de estar levando-o para dentro da minha casa; só desejo dar vazão ao tesão que sinto.
Ele geme contra minha boca e segura o lábio inferior com os dentes. Abro as pálpebras e o encontro olhando para mim.
— Nada pode me fazer parar esta noite, Wilka — declara, ofegante, com a cabeça encostada na minha. — Eu vou te comer de todos os jeitos que quiser, te mostrar como eu deveria ter feito naquele dia, te levar à loucura com minha língua para, só então, acessar sua boceta apertada com meu pau.
Dou uma risada nervosa, mas sinto minha calcinha cada vez mais úmida com a descrição que ele faz.
— Eu vou cobrar cada uma dessas coisas — ameaço-o, e ele ri.
— Eu vou adorar ser cobrado! — Lambe meus lábios descaradamente, como se estivesse me fazendo sexo oral.
— Doido!
Agora é ele quem ri.
— Você não tem ideia do quanto!
Ouço um leve pigarrear e me separo dele, segurando as risadas, mas fico séria ao sentir sua mão enorme subindo pela minha coxa, insinuando-se por baixo do meu vestido até tocar minha calcinha.
— Já estamos na Vila Mariana; preciso do endereço completo.
Eu digo ao taxista o endereço do meu prédio, mas me engasgo algumas vezes ao sentir alguns dedos levantarem minha peça íntima e a afastar para o lado. Fecho os olhos, tremendo de ansiedade, achando loucura o que ele está fazendo dentro do táxi, mas adorando a sensação. Seus dedos brincam com minha virilha, avançam sobre meus lábios, depois retornam para a virilha.
Gemo baixinho e escuto sua risada. O filho da mãe está me provocando e se divertindo com isso. Talvez ele mereça provar um pouco do próprio veneno! Estico o braço e pouso minha mão exatamente em cima de sua ereção, o que me faz gemer baixinho junto a ele dessa vez.
Naquela noite, assim que ele tirou seu pênis da cueca, eu dei uma espiada para descobrir como era. Eu só reparei em um pau pessoalmente uma única vez na vida, na adolescência, com meu primeiro namorado, mas foi tão rápido, mesmo porque eu fiquei com tanto medo, que mal me lembro dos detalhes. Depois disso, só em filmes pornôs.
Sempre me disseram que paus não eram proporcionais ao tamanho do homem, mas eu pude comprovar naquela noite que há exceções, e Konstantinos é uma delas.
Sinto um arrepio subir pela minha coluna ao me lembrar do membro duro, pulsando, moreno, coberto de veias altas, grosso e comprido. Ele chegou a me penetrar, mas não se moveu, então não faço ideia de como é tê-lo dentro de mim com movimentos rápidos ou lentos, mas tenho certeza de que será uma sensação incrível.
O táxi para em frente ao prédio, e descemos juntos. Konstantinos paga ao motorista, e eu pego a chave em minha clutch para abrir o portão principal, já que o porteiro não está na portaria.
Ele enlaça minha cintura, seu pau ainda duro e pulsando nas minhas costas, suas mãos subindo pelo meu abdômen em direção aos meus seios. Abro o portão e, sem que eu pressinta, ele me levanta nos braços e anda rápido até o elevador, que, por sorte, está no térreo.
Sou pressionada contra a parede gelada assim que as portas se fecham, mantida suspensa, ele sustentando meu corpo com o próprio. Minhas pernas abraçam seus quadris, Kostas rebola contra mim, nossos sexos, mesmo debaixo dos tecidos que vestimos, se tocando, moendo um contra o outro em desespero.
Sua boca devora a minha em frenesi, e eu o agarro pelos cabelos, gemendo descarada dentro do elevador do prédio em que moro sem me importar com vizinhos ou mesmo com a câmera que há dentro do elevador.
Nada tem importância, somente o que estou sentindo agora, esmagada por um homem de quase dois metros e uns 100 quilos, sua boca atracada à minha e nossos corpos ondulando de prazer, estimulando um ao outro.
Finalmente chegamos ao meu andar, e, de novo, sou levada em seu colo, dessa vez montada nele, suas mãos me mantendo contra si, segurando minhas nádegas, enquanto anda e continua a me beijar.
— A chave! — ele pede em um rosnado baixo, e eu rio.
— Na bolsa. — Solto uma das mãos de sua nuca e tento pegá-la, mas não dá. — Preciso descer.
Ele me põe no chão, mas não desgruda de mim. Acho a chave e, mal abro a porta, sou arrastada para dentro, no escuro, e levada até o sofá da sala.
— Kostas...
Ele sobe meu vestido até tirá-lo, vira-me de costas para ele e geme ao mexer na minha calcinha. Quase não vemos nada sob a parca luz da rua entrando pelas frestas da cortina, mas sinto seu dedo contornar a peça, sentindo a textura suave da renda e da seda, e eu me lembro da que ele rasgou.
Agradeço a luminosidade fraca da sala por não me deixar totalmente exposta. Sei que em algum momento isso vai acontecer e, mesmo não me sentindo insegura com relação ao meu corpo, terei que lidar com o constrangimento de estar nua com um homem pela primeira vez.
— Sua bunda é um tesão — sua voz entrecortada com sua respiração me dá a dimensão de como ele está. — Você é muito gostosa, puta que pariu!
Kostas me vira e me faz deitar no sofá, ajoelha-se diante de mim, meu corpo todo em expectativa, mas ele não parece ter pressa. Passeia as palmas das mãos pelas minhas coxas, abre-as devagar e substitui as carícias por beijos e lambidas, até chegar bem perto de onde estou quente, molhada e pulsante à sua espera.
— Sou o primeiro a provar sua boceta também? — Konstantinos pergunta, mas não espera a resposta, afastando minha calcinha para o lado e colhendo minha excitação com sua língua tensa e grande, macia, quente e torturante.
Não tenho nem tempo de me sentir constrangida, já tomada pelo prazer. Gemo, rebolo e o seguro pelos cabelos, desejando que ele caia de boca, me chupe inteira até me fazer gozar, porém, ele pincela a língua em meus lábios, depois a agita na entrada e então lambe exatamente em cima do meu clitóris, fazendo-me arfar de tesão e sentir meu corpo inteiro se retesar de prazer.
Não tenho ideia de quanto tempo ele fica assim, só me provando, deglutindo meu sabor, aspirando meu aroma e esfregando o nariz e barba pelo meu sexo.
Sinto-me à beira de um precipício, ofego como se estivesse correndo uma maratona, a cabeça dá voltas, os pelo do corpo arrepiam e os bicos dos seios parecem querer furar o sutiã. Estou delirante, essa é a sensação, não ruim como a de uma febre, embora também me sinta febril, mas dolorosamente prazerosa.
Meus lábios são afastados por seus dedos e sua língua me penetra profundamente, fodendo-me. Estou em desespero, prestes a gozar. Ele, talvez percebendo isso, abre toda sua boca e abocanha tudo, concentrando-se em chupar meu clitóris de forma rítmica e perfeita.
Grito de prazer, travo meus calcanhares em suas costas, puxo seus cabelos e gemo, gozo, sinto meu corpo inteiro explodindo como nunca senti antes e o puxo para cima, querendo beijar sua boca contendo meu orgasmo e partilhar com ele do meu próprio prazer.
Konstantinos está tremendo, seu corpo chacoalha em cima do meu. Tento abrir os botões de sua blusa, mas é difícil, então a puxo, arrebentando todo eles, libertando sua pele e carne para minhas mãos.
Quente, muito quente, é como encontro o peitoral duro e o abdômen repleto de gominhos perfeitos. Sigo em direção à calça, abro o cinto, e ele se levanta.
Vejo-o, deitada largada de prazer no sofá, abrir o botão da calça social, livrar-se dela, da blusa e dos sapatos e depois fazer o mesmo com a cueca.
— Tire tudo, quero você nua para mim — ordena.
Sento-me, abro o fecho do sutiã, retirando-o devagar, e, por último, levanto-me e tiro a calcinha sem tirar meus olhos de sua mão, agitando seu pau em uma masturbação deliciosa de se ver.
— Quero que você faça o mesmo — Kostas pede. — Deite-se lá de novo, abra bem as pernas e me mostre como você faz quando está aqui sozinha.
Penso em todas as vezes que já fiz isso e ninguém nunca assistiu. A ideia de ter alguém olhando, de ter Konstantinos Karamanlis me olhando, é muito excitante, embora aterrorizante também, porém, mais uma vez o tesão vence, e eu faço o que me pede.
Ouço seus gemidos, escuto a movimentação de sua mão em seu pau e me toco, lambuzo-me para ele, mostro como gosto, os movimentos, os jeitos e gozo de novo, rendendo-me ao prazer diante dos seus olhos.
— Vem aqui! — ele me chama, e o vejo colocando camisinha e sentado em uma das minhas poltronas. — É você quem vai me comer, Kika.
Sorrio com a ideia e me sento em seu colo, sobre seu pênis, rebolando para que meu gozo possa encharcá-lo todo. Ele está me colocando em posição de comando, está permitindo que eu tenha o controle sobre nossos corpos, talvez até como forma de não voltar a me machucar, e isso é algo que eu não esperava acontecer, mas que, sem dúvida, enternece meu coração.
Kostas está impaciente, ergue-me pelos quadris, posiciona seu pau na minha entrada e tira a mão de mim, deixando-me com o poder de comê-lo inteiro. Desço devagar, sinto um leve desconforto, afinal era virgem até dias atrás, e ele é bem grande, porém, à medida que vou engolindo-o, sinto os espasmos voltando, meu corpo se agitando novamente, e o prazer me acerta com tudo.
— Porra! — rosna quando me sente gozar sem nem mesmo um movimento seu. — Porra!
Sou agarrada pelos cabelos, e ele começa a agitar os quadris. Grito de prazer com o orgasmo intensificado pelos movimentos. Encaixo-me toda nele, nossos corpos se esbarram, e eu rebolo, sentindo-o bem no fundo, tocando tudo dentro de mim.
Inclino meu corpo para trás sem parar de rebolar, e ele beija meu peito, lambe o mamilo e depois o chupa com força.
— Preciso gozar! — avisa, ainda com a boca no meu peito. — Ah, caralho, preciso gozar!
Abraço sua cabeça com força enquanto ele geme, abandonando-se ao orgasmo, seu pau pulsando dentro de mim e seu corpo todo tremendo, suado, contra o meu.
Fecho os olhos, ainda sob efeito de todo o prazer sentido e rio, maravilhada, sentindo-me finalmente curada de todo o medo que sentia.
Ele me olha parecendo acabado e retribui meu sorriso antes de me beijar.
A primeira sensação que sinto ao recobrar a percepção de que estou em uma cama onde dormi bem e sem pesadelos é de ouvir pássaros, uma música animada e nada parecida com as que escuto, um leve aroma de café no ar que faz meu estômago roncar e beijos molhados.
Abro um sorriso, ainda com os olhos fechados, adorando a carícia sensual, embora um tanto inexperiente, de Wilka Maria, e meu corpo todo desperta, principalmente uma certa parte que foi particularmente utilizada na noite passada.
Enquanto ela lambe meu pescoço, relembro a loucura da transa que tivemos quando chegamos ao apartamento dela e que ficamos abraçados naquela poltrona apertada por algum tempo, ofegantes, satisfeitos e rindo como dois loucos.
Foi uma experiência nova para mim trepar pela primeira vez com alguém por quem sinto uma verdadeira atração e foi além das minhas expectativas, deixou o ato menos mecânico e fisiológico, embora eu tenha me refreado muito para controlar todos os meus impulsos, lembrando-me sempre de ir com calma, afinal ela era virgem até poucos dias atrás. O fato mais importante de tudo é: fiz sexo com ela porque eu a queria, não somente porque queria trepar.
Durante o banho que tomamos juntos – outra experiência inédita –, fiquei observando-a e notei que, em alguns momentos, Wilka parecia desconfortável com minha presença.
— Quer que eu vá embora? — perguntei depois que saímos do boxe.
Ela ficou me olhando, quieta, avaliadora, e então negou.
— Apenas se você quiser ir. — Respirou fundo. — Não sei como isso funciona, é tudo novo para mim.
A sinceridade e o jeito que ela se expôs tocou em alguma área minha que havia muito não recebia qualquer luz e a iluminou de tal forma que eu sorri. Sim, eu sorri! Não foi um riso sarcástico, debochado ou apenas um sorriso qualquer para exprimir minha total falta de paciência, como faço sempre. Foi um sorriso que brotou naturalmente, caloroso, um primeiro gesto de afeto verdadeiro.
Passei a mão em seu rosto, e ela fechou os olhos.
— Você pode até não acreditar, mas para mim também é. — Wilka suspirou. — Eu quero ficar. — O toque em sua pele, o cheiro dela, seus cabelos úmidos do banho, e, claro, seu corpo delicioso envolto em uma toalha felpuda me deixaram excitado novamente, porém, de forma diferente. — Eu quero você de novo.
Ela sorriu, e foi toda a resposta que eu precisava.
Dessa vez chegamos até a cama. Eu me sentia um gigante perto dela, mas não tive nenhuma sensação ruim por isso, porque, mesmo com a diferença, nosso encaixe foi perfeito. Minha mão, grande e morena, cobria todo seu rosto, seus peitos cabiam em minhas palmas, eu conseguia escondê-la toda dentro dos meus braços.
Isso, de alguma forma, fez com que o sexo fosse mais lento do que eu costumava fazer. Senti uma enorme vontade de idolatrá-la toda e fiz de seu corpo um templo de adoração, utilizando boca, língua e mãos em cada canto dele sem nunca me fartar. Foi uma experiência exótica, sexy pra caralho e que deixou meu pau tão quente que poderia a qualquer momento começar a apitar como uma chaleira.
Nunca pude me dedicar assim a uma parceira, pois sempre estava fodendo profissionais do sexo, e a coisa era mais superficial. Entretanto, com Wilka, eu desejei passar horas apenas degustando sua pele e seus sabores. Foi foda!
Depois, quando fui em busca de uma camisinha para me enterrar nela e acabar com a agonia que estava sentindo, ela me deteve e começou a retribuir os beijos lentamente. O boquete começou tímido, devagar. Notei que ela estava provando, conhecendo meu corpo e, então, achei melhor demonstrar que estava no caminho certo.
Nunca fui um homem de gemer com sexo oral, mas me soltei e permiti que meus sons exprimissem todo o prazer que sua língua e boca estavam me proporcionando, a princípio para que ela soubesse que estava fazendo a coisa certa, mas depois apenas porque estava deliciosamente perverso e prazeroso. Em alguns momentos tive vontade de guiá-la apenas para aumentar o ritmo, mas descobri que não era necessário.
Sem que pudesse me controlar, talvez por ter me posto todo em suas mãos, gozei como um louco, o prazer fazendo-me suar e aumentando à medida a que ela assistia, deslumbrada, minha porra jorrando para longe.
— Isso foi delicioso! — comentei depois que o entorpecimento do orgasmo passou.
Não costumava gozar com boquetes, a não ser que eu estivesse segurando a cabeça da mulher e socando em sua garganta. Eu precisava estar ativo para gozar, estar no controle da situação para não me sentir... Interrompi os pensamentos rapidamente e a olhei, pois ela estava rindo.
— O que foi? — perguntei intrigado.
— Foi meu primeiro boquete de verdade.
— De verdade? — Abri um sorriso safado, imaginando minha Cabritinha treinando boquetes.
— Sim. — Ela se levantou e foi na direção do banheiro. — Treinei com alguns brinquedos.
Sentei-me na cama, pensando nos ovinhos que eu comprara por causa dela e nos vibradores que ela me mandava em fotos.
— Você tem esses brinquedos ainda?
Ela apareceu na porta do banheiro escovando os dentes e assentiu.
Puta que pariu!, pensei, jogando-me contra o colchão com a mente repleta de imagens em que eu a comia utilizando vibradores, plugs, algemas e todos os petrechos que comentamos em nossas conversas online.
Volto a sentir a língua quentinha e molhada dela no meu corpo, agora no rosto, e deixo as lembranças da noite anterior para trás. Abro os olhos preparado para abraçá-la, prendê-la debaixo de mim e começar uma trepada matinal para aliviar um pouco o tesão logo cedo.
— Caralho!
Tomo um susto ao ver um rosto peludo, com orelhas pontudas e depiladas e enormes olhos castanhos. O bicho volta a me lamber, agora no nariz, e eu o seguro com força, afastando-o de mim.
De onde surgiu essa criatura?!
Ele balança o rabo, parecendo feliz ao me ver. Sento-me na cama, confuso, olho tudo ao redor e percebo que Wilka Maria não gosta só de usar roupas diferentes e chamativas, sua decoração é assim também.
Levanto-me, a cueca toda esticada por causa da ereção que nem essa criatura peluda derrubou, e caminho na direção do som e do aroma de café.
— Bom dia! — cumprimento-a, com o cachorro preso debaixo do braço, e ela se engasga ao me ver.
Ergo a sobrancelha, sem entender o susto que ela tomou, afinal de contas sabia que eu passei a noite aqui, nada mais óbvio do que me encontrar de manhã.
— Ele te acordou? — Wilka caminha até mim e pega o cãozinho. — Você é um moleque travesso! — ela o repreende e o leva para a varanda. — Não fez xixi em você, não foi?
Fico sério ao pensar no diabinho me cobrindo de mijo.
— Isso é seu? — Aponto para a criatura com as patas dianteiras apoiadas no vidro, olhando para nós dois como se pedisse sua liberdade de volta. — Não estava aqui ontem à noite.
Ela ri e passa por mim, voltando a se sentar em uma das banquetas de sua cozinha.
— Ele é meu, sim, estava na casa de uma amiga, que o deixou aqui mais cedo. — Ergo a sobrancelha, notando que ela não gostou de como me referi ao bicho, pois deu ênfase ao pronome. — Você pode ficar confuso às vezes, porque sei que viveu na Inglaterra, mas em português não usamos it (isso) para os bichinhos.
Ela pisca o olho para mim, sorrindo malvada, e eu cruzo os braços, achando engraçado estar tomando meu primeiro sermão antes mesmo de tomar um café e continuar de bom humor.
Olho-a detalhadamente, suas pernas lindas à mostra, a camisa larga e antiga que usa como pijama, os bicos dos peitos marcando o tecido fino, e ela lá, sentada alheia ao quanto está totalmente atraente e o quanto já estou louco para fodê-la novamente.
— Meu castigo por ter me confundido é ficar sem café? — provoco, testando o terreno. Vai que ela é uma das que acordam de mau humor de manhã!
— Claro que não! — Sorri. — Eu não seria tão malvada assim com você.
Wilka se levanta e vai até o armário, esticando-se toda para pegar uma xícara, permitindo que eu vislumbre a popa de sua bunda quando a camisa levanta.
Foda-se o café!
Agarro-a pela cintura, e sua risada enche o ambiente, animando-me também, enquanto a apoio sobre o balcão que separa a pequena cozinha da sala.
— Bom dia! — cumprimento-a novamente, e, dessa vez, ela sorri.
— Bom dia! — Seus olhos brilham. Wilka não usa nenhuma maquiagem, noto leves olheiras pela noite praticamente insone que passamos, as sardas espalhadas pelo nariz em um rosto ainda um pouco inchado por ter acabado de acordar, e eu a acho ainda mais linda pela manhã. — Não quer mais seu café?
Não preciso responder à pergunta, apenas beijo-a, esfregando meus lábios nos dela, olhos abertos, fixos nos seus, enquanto levanto devagar a camisa que veste, roçando os dedos por sua pele por todo o caminho até seus ombros.
Afasto-me para livrá-la da peça e vê-la nua à luz do dia. Wilka segura o fôlego, um tanto constrangida, abaixa a cabeça, quebrando o contato dos nossos olhos. Ah, Cabritinha, você não vai se esconder!
Seguro-a pelo queixo e faço com que volte a me olhar.
— Você é linda! — afirmo.
Passo as costas das mãos em seus peitos empinados, sentindo os mamilos duros vibrarem entre os vãos dos meus dedos. Ela geme e fecha os olhos, inclinando a cabeça para trás, deixando seu lindo e cheiroso pescoço à minha mercê.
Beijo-o, arrasto a língua por ele até chegar a sua orelha, sugo o lóbulo e volto beijando, chupando e lambendo seu pescoço novamente. Com as duas mãos, seguro seus peitos juntos, inclino-me e os contorno, molhando-os com minha saliva, até alcançar os bicos intumescidos. Balanço-os com a ponta da língua, ergo os olhos para Wilka e deliro ao ver sua reação embevecida.
Só o fato de eu estar com sua pele em minha boca, sentir o tesão compartilhado entre nós dessa maneira já é suficiente para que eu sinta meu corpo inteiro tremer. Aqui, neste momento, depois de ter passado a noite inteira com ela em meus braços, toda a experiência que tenho não vale de nada, é tudo tão novo para mim, e isso é foda demais!
Seus seios são uma delícia, e eu não tenho nenhuma vontade de me apressar a chupá-los. A reação dela a essa carícia me impulsiona a continuar, então me dedico aos dois com a mesma intensidade, usando todo o meu rosto para excitá-los, lambendo, chupando, beijando ou somente passando minha barba levemente pelos bicos sensíveis.
Faço-a deitar-se no balcão, em meio a objetos decorativos, sua xícara de café e potes de biscoitos e continuo a beijar seu corpo, enlouquecido pela maciez de sua pele, o aroma suave do sabonete que partilhamos no banho ontem e suas reações claras e diretas às minhas carícias. Gosto de como a pele dela está quente e como se arrepia quando lambo ou esfrego a barba em algum ponto específico.
Paro um momento apenas para observá-la, gravando na memória a perfeição de seu corpo esguio e pequeno entregue ao prazer. Gosto que ela não tenha pelos púbicos, porque assim posso admirar sua virilha, o monte de vênus e começar a ter uma visão de sua boceta, principalmente do ponto mais sensível e que eu adoro ter na boca.
Confesso que está sendo libertador poder chupá-la à vontade, pois, apesar de ser uma das coisas que eu mais gosto de fazer, quase não o faço com as profissionais, mesmo porque essas transas são mais para alívio do que para curtir o prazer em si.
Com Wilka eu posso me refastelar de sua boceta em minha boca, ficar horas lambendo, mordendo, chupando. Posso me lambuzar com sua lubrificação e beber seu gozo quantas vezes ela me permitir fazer.
A lembrança de quando a penetrei sem camisinha, na nossa primeira vez juntos, faz-me gemer, e meu pau se contorce na cueca. Sinto um arrepio subir por minha coluna, meus músculos todos se contraem de prazer apenas com essa memória e sinto despertar em mim a vontade e a curiosidade de prová-la pele a pele, sem nada entre nós, nossos fluídos se misturando do jeito mais íntimo do mundo.
— Você tem a boceta mais gostosa que já provei — confesso, e ela ri nervosa. Puxo-a para a beirada do balcão e abro bem suas pernas. — Fora o fato de ser extremamente apertada, o que dá uma sensação incrível quando meu pau está dentro. Ela é carnuda e suculenta na boca. — Ajoelho-me no piso da cozinha. — Tem sabor levemente picante, o que eu adoro, e um aroma... — cheiro-a de forma a ilustrar o que digo — viciante.
— Kostas... — Ela geme e ri ao mesmo tempo. — É só uma boceta como qualquer outra!
— Não! — Lambo-a do períneo até o clitóris, e Wilka se contorce. — É a sua boceta! — mal termino a palavra e já estou provando meu ponto sobre o que acabo de dizer. Prendo os lábios íntimos dela com uma sucção forte e depois os afasto com a língua, acessando a entrada apertada e quente.
Os gemidos dela ecoam pelo cômodo integrado, enchendo-me de mais tesão, porém, não me toco. Sinto uma necessidade premente de fazer isso, mas não o faço. Quero me dedicar todo a ela, meu corpo todo disponível apenas para seu prazer. Suas reações me excitam mais do que minha própria mão a socar meu pênis – e olha que eu curto uma punheta –, cada ofegar, pulsar, tremor de seu corpo atinge diretamente meu pau, e eu urro de prazer.
Não sou delicado como fui na noite passada. Não exploro sua intimidade, devoro, mastigo, engulo tudo como um homem esfomeado e sedento ao mesmo tempo. Nada importa aqui, além do prazer dessa mulher que mexe comigo a ponto de me expor de uma maneira que ela nunca imaginaria.
Aqui estou eu, escravo do seu corpo, ajoelhado no piso frio de uma cozinha, com o rosto entre as coxas dela e a boca inteira – isso inclui língua e dentes – à sua disposição. Aqui estou eu, Konstantinos Karamanlis, sem nenhuma carapaça ou máscara, sendo o mais sincero devoto de um desejo que nunca imaginei sentir, que me consome, porque, ao mesmo tempo em que me inebria e satisfaz, torna-me indefeso.
Nunca tive casos, nunca comi a mesma mulher mais de uma vez – nem mesmo repeti uma garota de programa –, nunca conheci o apartamento, o cachorro – essa parte foi inusitada – de ninguém. Ela é inédita para mim em todos os sentidos, a única que me fez ter vontade de arriscar minha sanidade, ignorar a porra dos meus traumas, mesmo reconhecendo que terei um alto preço a pagar depois.
— Diz para mim como você quer gozar — peço, a boca ainda encostada em sua boceta. — Conta para mim o que você deseja e me deixa realizar para você.
— Só continua... — sua voz está trêmula. — O que você está fazendo é mais do que qualquer fantasia ou expectativa que já tive.
Porra!
Não espero que ela me mande continuar de novo, apenas volto a abocanhá-la em completo frenesi, e seu orgasmo vem com tanta força que posso sentir minha boca inundar e meus cabelos sendo puxados com força a ponto de arder o couro.
Quando ela relaxa, ofegante e trêmula, corro até onde deixei minha calça ontem e pego o último invólucro de camisinha que tenho na carteira, agradecendo por ela ter algumas em seu criado-mudo, porque eu não estava prevenido para passar a noite e a manhã trepando.
Coloco-a rapidamente, alisando meu pau sob os olhares apreciativos dela. Brinco no exterior de sua boceta sensível. Ela se contorce, geme, e eu me enterro nela. Confirmo que está bem antes de me movimentar, pois a última coisa que quero é ter a sensação de tê-la machucado como da primeira vez, e, mesmo ela não sendo mais virgem, eu sou grande, e isso pode acontecer ainda.
Wilka se ergue e me segura pelos ombros, enquanto eu a mantenho firme pelos quadris e rebolo dentro dela. Ela geme sorrindo, e isso é deliciosamente sexy.
— Cruze as pernas sobre a minha bunda — ordeno.
Ela não titubeia e faz o que mando, mas dá um gritinho – seguido de risadas – quando a tiro do balcão e a como em meu colo, em pé, segurando-a firme contra mim. Essa é a vantagem da nossa diferença de tamanho e peso, consigo erguê-la e comê-la em qualquer posição, mesmo as mais cansativas.
Como estou de pé, sou eu quem a conduz a se movimentar para que meu pau entre e saia de seu corpo. Ando até uma parede sem móveis e a apoio contra ela para voltar a socar com a força e rapidez que preciso.
Ela me agarra, morde meu ombro, geme, arranha minhas costas e goza de novo. A sensação do meu pau todo dentro dela é deliciosa, não tenho vontade de parar, então continuo socando, esmagando-a contra a parede, até que o arrepio do orgasmo faz meu corpo inteiro tremer e aumenta minha velocidade em busca de alívio e satisfação.
— Kostas... — ela geme, mas não consigo prestar atenção, apenas sinto. — Kostas...
Dessa vez, nem que eu quisesse, eu iria poder conter meu gozo. Sua boceta me aperta de um jeito quase doloroso, e sinto minha virilha inundar do gozo feminino dela, então encosto minha testa na sua e me deixo ir gemendo e curtindo cada espasmo, cada esguicho de porra que sinto sair de mim.
— Uau! — Ela ri de olhos fechados e sem fôlego. — Que bom dia! Muito mais estimulante do que qualquer café.
Concordo, mesmo sem dizer nada – porque simplesmente não consigo – e penso em como seria amanhecer, trepar com ela e depois irmos trabalhar. Mesmo sendo assustadora, a imagem é muito atraente, e eu concluo que, pela primeira vez em anos de atividade sexual, estou disposto a ter um caso. Não há possibilidade de, se ela quiser, não repetir essa noite e esta manhã várias e várias vezes.
— Eu acho que deveríamos ir pessoalmente a esse local — Kostas diz, apontando para o mapa aberto em cima da minha mesa. — Eu sei que você tem seus hunters para isso, mas eu realmente queria ir a essa reunião, pois tenho a sensação de que é o lugar ideal.
Encaro-o.
— Mesmo? — questiono-lhe, porque tenho a mesma impressão. — Mas já indicamos David e Lene para irem. — Ele dá de ombros, e eu bufo. — Estamos desde segunda-feira planejando essa viagem, inclusive eles já têm passagem e hotel reservados, Kostas.
Ele sorri por eu tê-lo chamado pelo apelido – um ato falho, admito – e, usando isso como desculpa, desliza a mão pelas minhas costas e aperta minha bunda.
— Você ficou deliciosa com essa calça hoje — comenta. — Está sendo um inferno ficar vendo você andando de lá para cá com ela, porque me deixa duro, e eu não posso te foder aqui.
Sorrio, adorando a sensação de deixá-lo enlouquecido. Claro que foi proposital, tem sido assim desde segunda-feira, quando vim trabalhar com uma saia lápis e uma blusa de seda branca semitransparente, e Kostas me trancou no banheiro consigo e me fez chupá-lo até gozar para diminuir o tesão e poder sair da sala sem que todos notassem o volume de sua ereção na calça social.
O advogado engomadinho, sempre vestido com seus ternos italianos de caimento perfeito, começou a vir para a empresa com calças mais grossas – até jeans ele usou – para poder trabalhar.
Eu também não tenho saído ilesa!
Desde que ele destituiu David – de novo – e voltou a compartilhar a sala comigo, tenho trocado de calcinha duas vezes ao dia. No começo da semana foi por causa dos amassos e das sacanagens que fizemos na sala, até quase sermos flagrados pelo Leo – que sempre entrou na sala sem bater –, e eu impus a regra de profissionalismo dentro do local de trabalho.
Na terça e na quarta-feira, nós nos comportamos muito bem. Claro que temos nos tocado, trocamos um beijo ou outro, mas estabelecemos um limite dentro do escritório. Ou pelo menos tentamos.
A verdade é que nunca pensei que viveria algo assim! Pelo menos, não no escritório e muito menos com o diretor jurídico malvadão.
Todavia, depois da noite de sexta-feira e do sábado de manhã, eu tive a certeza de que tomei a decisão certa ao não negar essa atração, vivê-la até o máximo que poderia chegar, sem medo de nada.
Parece temerário isso, não é? Afinal, é um caso baseado em sexo, e eu nunca tive notícias de Konstantinos envolvido com alguém seriamente, então deveria me resguardar mais, mas não quero. Não sou dessas que vivem se restringindo a passar por experiências boas ou ruins. Não tenho medo de sofrer no futuro, porque isso não está nas minhas mãos; nada nessa vida é garantido, muito menos a felicidade. Então eu acredito no “feliz enquanto dure” e não consigo ficar controlando – ou tentando controlar – o que sinto ou deixo de sentir.
Conversei isso com a Jane no sábado à tarde, depois que Kostas foi embora. Contei a ela tudo o que havia acontecido, as impressões que tive sobre ele e o que eu decidi fazer acerca dessa história.
Ela concordou comigo que nem mesmo um relacionamento fixo, consolidado e antigo tem garantias de ser eterno e, principalmente, feliz. O coração é terra onde ninguém pisa, ninguém manda no que sentir e por quem sentir, então, para que ficar brigando?
— Mas você espera que essa relação evolua? — ela me perguntou.
— Ainda não sei — respondi sinceramente. — Hoje eu posso dizer que sim, pois quero mais dele. Às vezes consigo enxergar algo de mim mesma nele; por baixo de todo seu verniz de autoconfiança e deboche, eu vislumbro alguma vulnerabilidade. — Dei de ombros. — Sei que pode ser algo que eu queira enxergar, mas, de alguma forma, isso me conecta a ele.
Ela me pediu para me explicar melhor, e eu tentei, lembrando-me de vários momentos em que tive a sensação de que, assim como eu, ele estava se permitindo sentir coisas novas. Às vezes o senti travado, como se não estivesse à vontade com certas coisas, mas, mesmo nesses momentos, vi que ele estava se permitindo fazer.
No domingo, mandei uma mensagem para Portnoy, pois estávamos havia muito tempo sem saber um do outro, embora tenha recebido a notificação de que ele reativara o perfil para os outros membros do Fantasy, como eu mesma tinha feito.
“Oi, tudo bem? Quando puder aparecer, me chama.”
Foi assim, seca a mensagem, porém, fiz questão de conversar com ele antes de cancelar de vez minha conta no aplicativo. Não vou encontrá-lo, a decisão de mantê-lo apenas na lembrança das fantasias que compartilhamos e das conversas que tivemos já está tomada.
Meu envolvimento com Kostas teve a ver com isso? Provavelmente, principalmente pelo que ele me disse no sábado antes de ir embora.
— Eu sei que trabalhamos juntos e — riu — nem nos damos bem na maioria das vezes, mas não vou negar essa atração e nem vou fingir que essa noite e essa manhã nos satisfizeram. — Ele me abraçou, e eu quase tive uma entorse no pescoço para olhá-lo. — Eu quero mais, Kika.
Sorri, porque eu também queria.
— Eu também, Kostas.
Ele me ergueu para beijá-lo, e eu gargalhei.
Foi por isso que me esmerei na roupa na segunda-feira, porque tive uma enorme vontade de provocá-lo, dessa vez sem briga ou deboche, e levá-lo à loucura. Descobri que adoro essa sensação de poder que sinto por saber que, só ao me olhar, ele enlouquece, fica excitado e desesperado. Gosto disso demais!
Todavia, como era previsto, fui chamuscada pelo meu próprio fogo e acabei sentada na privada do banheiro da gerência, no final do expediente, com o pau dele na boca, pois Kostas ainda tinha reuniões a participar, e não iríamos dormir juntos naquela noite.
Ontem a provocada fui eu, e ele me levou à loucura com cada toque, cada beijo, cada insinuação. A sensação que eu tinha era de que estava vivendo, na prática, as coisas que escrevia com Portnoy, e isso era incrível!
Por falar nele, respondeu minha mensagem na terça-feira de manhã, e eu marquei de nos encontrarmos no chat na hora do almoço. Saí para uma reunião e almocei em um restaurante, junto ao Leo e à Vivi. Estávamos tomando um café quando o celular apitou mensagem.
“Oi! Já pode falar? Estou curioso!”
Respirei fundo, pois sentia como se estivesse terminando um relacionamento e escrevi:
“Oi! Eu queria me despedir de você antes de cancelar a conta.”
Ele não tardou a perguntar:
“Por que vai cancelar?”
Resolvi ser sincera:
“Estou saindo com alguém, e, mesmo não sendo nada sério, eu não me sentiria bem ao continuar aqui. Eu sei que insisti nesses últimos dias em termos um encontro, mas acho melhor deixar assim, nessa fantasia boa.”
CONTINUA
Não posso acreditar no conteúdo do memorando que chegou da diretoria executiva. Hoje, quando fui até lá para falar com o pessoal do Millos, fiquei sabendo que, na semana passada, Theo havia cancelado todos os seus compromissos do dia e que tinha viajado para algum lugar.
Imaginei logo com quem estaria, se com a bela e meiga Valentina ou com Maria Eduarda Hill.
— Claro que foi com a dona do boteco! — Rio ao ler o pedido de cancelamento da ação para a execução da promissória. — A mulher conseguiu domar o idiota do meu irmão, e ele, mais uma vez, está sendo dominado pelo pau e se esqueceu de tudo.
Não de novo!, penso já redigindo um e-mail para o detetive que coloquei para segui-lo. Dessa vez, antes de fazer uma merda fenomenal e só foder os outros, meu irmão vai sentir sozinho os efeitos de sua inconsequência.
Theodoros Karamanlis acabou de cavar a própria cova!
Termino mais um capítulo do livro e solto um suspiro. Sim, eu sou fã demais desse autor, não tem como não ser. Mesmo que a crítica americana o detone lá fora, o sucesso dele e sua legião de fãs é inquestionável. O homem é foda!
Penso em Kostas e na conversa que tivemos há horas dentro do escritório. Pela primeira vez senti uma conexão boa com ele, além da inconveniente atração física.
Devo admitir que a convivência com ele não é fácil, mas não é tão difícil quanto imaginei que seria. Passamos esses cinco dias da semana juntos na mesma sala e ainda estamos vivos e sem nenhuma marca de mutilação! Soube que está rolando um bolão na empresa sobre em quanto tempo a ideia de trabalharmos juntos vai dar merda.
Rio ao pensar nos azarados que apostaram em menos de uma semana; já perderam o dinheiro, pois, contra todas as probabilidades, suportamos bem um ao outro e passamos no teste da primeira semana.
Meu amigo Leo é quem foi esperto, fez várias apostas diferentes, então ainda tem chance de levar a grana, que eu soube que já está em um valor considerável. Eu mesma quis apostar, mas lógico que ninguém quis aceitar meus palpites, afinal sou parte envolvida.
— Qual o menor e o maior período? — perguntei a Lene enquanto almoçávamos em um dia desses da semana.
— Uma hora e um mês. — Ela riu. — Ninguém ainda arriscou mais do que isso.
— Já fecharam as apostas? — Estava me sentindo curiosa e divertida.
— Já, mas, caso se passe o período máximo com vocês ainda juntos, vão ser abertas de novo. A verdade é que essa ida dele lá pro nosso setor mexeu com a cabeça de todos aqui na empresa, ninguém entendeu nada!
— Nem eu, mas, conhecendo-o o pouco que conheço, sei que não dá ponto sem nó, deve estar aprontando alguma.
Ela concordou comigo, e desviamos o assunto para uma festa de aniversário a que ela iria e, por isso, me pediu dicas de roupas.
A história da aposta ficou martelando em minha cabeça durante todos os dias, pois, a cada começo de expediente, eu sempre questionava se seria o último da aparente paz.
Ele me confunde! Vejo uma obscuridade tão grande em seus olhos, um mistério, algo que me traz uma sensação de reconhecimento, porque eu mesma, debaixo de toda essa minha capa alegre e extrovertida, tenho meus demônios a esconder.
A atitude dele comigo hoje, especificamente, desconsertou-me. Nunca imaginaria que iria se oferecer a me ajudar daquela forma, parecendo preocupado com meu ritmo de trabalho, e, muito menos, que iria se interessar pela minha opinião sobre uma obra literária.
Foi uma boa surpresa descobrir que ele gosta de leitura. Quem ama ler, assim como eu, sempre ganha pontos extras quando conheço. É uma diversão solitária; ao contrário do cinema e teatro, você geralmente o faz sozinho, por isso mesmo é tão gostoso quando encontramos quem também cultiva essa paixão.
Foi assim com a Verinha, a vizinha que se tornou amiga e babá de Kaká. No dia da minha mudança para cá, ela passou pelo saguão enquanto eu estava subindo com umas caixas e me ofereceu ajuda.
— Oxe, o que você carrega aqui dentro? Chumbo? — perguntou fazendo caretas.
— Não, livros. — Ela arregalou os olhos. — São 10 caixas dessas. Eu mesma não sabia que tinha tantos exemplares.
— Sei bem, a gente sempre tem a sensação de que não tem nada para ler, mesmo tendo uma biblioteca do tamanho de um campo de futebol. — Deu sua risada tão bonitinha. — Eu sou Vera Lúcia, sua vizinha de andar. Pode me chamar de Verinha, todo mundo só me chama assim.
— Eu sou a Kika! — disse animada. — Você também gosta de ler?
— Muito! Eu trabalho em casa, pela internet, então faço meu horário, e sempre tiro um tempinho para ler. Meus amigos me chamam de coruja, porque, se não fosse preciso levar Ferdinando para passear, eu ficava encorujada dentro de casa, sem ver ninguém, só lendo.
— Ferdinando?
— Meu filho pet, um bulldog francês.
Foi aí que eu soube que ela iria se tornar uma grande amiga. Falei sobre Kaká, que ainda estava no antigo local onde eu morava. Ela logo se dispôs a me ajudar a tomar conta dele, e passamos horas arrumando os livros pelo apartamento e falando dos nossos bichinhos.
Rio, voltando a me lembrar de Kostas e pensando que a única coisa que falta é eu descobrir que ele também tem um bichinho de estimação.
— Não! — descarto a ideia e olho para o Kaká dormindo aos meus pés, debaixo da colcha. — Aposto que nem plantas!
— Parabéns, minha amiga! — Abraço Verinha ao lhe dar seu presente.
Fui convidada para essa festa surpresa, no meio do sábado, por um Vinícius bem nervoso. O pessoal do prédio se reuniu para comemorar o aniversário de Verinha, mas, por causa do meu horário de trabalho, que nessa semana foi bem puxado, não conseguiram falar comigo.
— Eu deixei o bilhete debaixo da sua porta, mas algo deve ter acontecido com ele — Vinícius se justificou.
— Ah, provavelmente foi o picadinho que achei no tapete da sala. — Ri. — Kaká destruiu o intruso.
— Nem pensei nessa possibilidade! — Ele parecia bem sem jeito. — Você vai?
— Claro! Obrigada por ter vindo aqui falar comigo.
Ele fez uma careta tão bonitinha!
— A verdade é que eu não vim desinteressadamente. — Deu um sorriso charmoso. — Preciso de ajuda para comprar um presente.
Foi assim que, duas horas depois, nós andávamos por um shopping à procura de algo especial para Verinha. Preciso admitir que eu não esperava me divertir tanto ao lado dele. Contudo, foi o que aconteceu. Vinícius é um homem muito cavalheiro, atencioso e lindo.
Durante o passeio notei várias mulheres olhando-o com interesse, só que ele mesmo não parecia ligar para isso, ou talvez fosse algo a que já estivesse acostumado. O fato é que recebi vários olhares de inveja e achei isso divertido.
Paramos para tomar um chope bem gelado por causa do calor, no intervalo das compras, e ele me contou um pouco como foi a semana no trabalho.
— Eu acho muito bonita sua profissão — elogiei. — Os desafios que vocês enfrentam, a preparação que precisam ter, além da coragem.
— Eu amo isso! — admitiu orgulhoso. — Ainda criança dizia que queria ser bombeiro; na adolescência, meus amigos se preparavam para o vestibular, e eu fazia o pré-militar para ingressar na Academia do Barro Branco10. Passei, estudei quatro anos lá, depois fui para a escola oficial dos bombeiros e aí integrei a corporação. São 15 anos nessa profissão com muito orgulho.
— Quando você vê que a pessoa faz o que ama, o jeito de falar é empolgante. Carlinhos deve ter muito orgulho de você.
— Diz que vai ser igual quando crescer, mas a mãe prefere que seja advogado ou médico. — Ele riu. — Ela diz que só uma profissão bonita não paga as contas. — Deu de ombros, rindo. — Tenho uma vida confortável, mas não sou rico.
Entendi que esse devia ser um ponto sensível no casamento, pois, pelo que sei, a mãe do Carlinhos é jornalista de uma grande revista, famosa na área. Deve ter um belo salário, e nem sempre um casal consegue superar isso, a esposa ganhar mais que o marido. Não conheço o Vinícius o suficiente para saber se ele é machista, ou se foi ela quem se incomodou com isso. Acontece dos dois lados, infelizmente.
Claro que deviam ter outros problemas, mas, pela forma com que ele falou sobre o assunto, notei que era um desabafo.
Depois de termos comprado o presente de Verinha – e alguns brinquedos para o Carlinhos –, voltamos para o prédio a tempo de nos arrumar e seguir para o pequeno salão de festas no terraço, onde agora estão todos reunidos comemorando.
— Obrigada, Kika! — Verinha me abraça emocionada ao receber o presente.
Cumprimento alguns vizinhos e encontro o Vinícius sozinho – lindo de parar o trânsito – encostado em uma vidraça com uma long neck na mão.
— Você está linda! — elogia-me assim que me vê. — Aceita uma?
— Não, acho que vou beber um vinho, vi servindo por...
— Eu pego para você, posso? — Deixa a garrafinha na janela e depois volta com uma taça de vinho tinto. — Chileno, Carbenet Sauvingnon; é tudo o que sei, porque li no rótulo.
Rimos juntos, e eu lhe agradeço.
— Achei incrível todo mundo se juntar para fazer uma festinha! — digo animada. — Ficou linda!
— No seu aniversário podemos fazer uma assim também. — Pisca. — Você só precisa dizer a data.
— Ah, não, não se preocupa com isso, está longe — respondo sem jeito, bebendo o vinho. — Hum, ótima safra.
Uma música antiga, de balada romântica, começa a tocar, e alguns casais vão dançar no meio do salão. Vinícius estende a mão para mim e, de novo, tem aquele sorriso lindo no rosto.
— Aceita dançar comigo?
Ah, gente, ele é tão fofo!
E ótimo bailarino, pelo que posso comprovar enquanto ele me conduz lentamente pelo salão ao ritmo da música do George Michael. Adoro esses flashsbacks; não peguei essa época, infelizmente, mas gostaria de ter ido a algum baile na adolescência enquanto se tocava algo assim.
— Seu perfume é uma delícia e parece muito com você — sua voz ecoa rouca ao meu ouvido, e eu fecho os olhos.
Oportunidade, Kika!
Lembro-me de Jane falando sobre eu me dar a oportunidade de sentir, de deixar a conexão vir, de aproveitar o momento. Sinto a mão dele nas minhas costas, por cima do tecido do vestido, a carícia leve, a dança envolvente. Espero acontecer, sentir a mesma atração que o diretor jurídico da empresa desperta em mim apenas por estarmos no mesmo ambiente, mas não sinto.
Droga!
A música acaba, Verinha me chama para tirar foto com ela, e a oportunidade passa.
O que será que tem de errado comigo?, questiono-me sobre isso o resto da noite, até chegar a casa e, frustrada, abrir o aplicativo do Fantasy em busca de Portnoy.
“Boa noite, Punheteiro. Na balada?”
Como ele não visualiza de pronto, tomo um banho longo, sentindo-me um tanto “alta” por causa das taças de vinho que tomei e frustrada por não ser normal. Eu poderia ter aceitado a escolta do bombeiro até meu apartamento, fingir que eu estava em chamas e o chamado para apagar.
Mas não, apenas agradeci o oferecimento, alegando que estava bem, e desci sozinha para passar mais uma noite solitária e cheia de questionamentos.
Pego o celular e vejo a notificação que me faz abrir um sorriso.
“Oi, Cabritinha. Não, em casa trabalhando, e você?”
Penso no que escrever, na conotação que vou usar. Se o provocar, sei que teremos uma noite divertida de sexo virtual; se puxar conversa, vou acabar desabafando com ele, e não sei como vai reagir a isso.
“Acabei de chegar de uma festa, agora vou dormir, mas antes queria falar contigo.”
Portnoy não demora nada a responder.
“Estou à disposição. Use e abuse!”
Rio de seu humor e suspiro.
“Esses dias têm sido surpreendentes. Primeiro, o chefe com quem eu vivia entrando em embates me surpreendeu positivamente. Estamos trabalhando juntos por um tempo, por isso estamos convivendo mais. Ainda o acho um arrogante machista, mas talvez tenha algo que o salve. Rs.”
Portnoy não responde, mas vejo que continua online.
“Hoje, um vizinho e eu fomos ao shopping comprar um presente para uma amiga. Eu sempre desconfiei que ele estava interessado em mim, mas hoje acho que ficou bem evidente quando dançamos na festa.”
Portnoy digita, e a mensagem que aparece me faz rir.
“Fez sexo com ele?”
Será que ele se excitaria com detalhes de uma transa minha com outro? Eu até poderia descobrir isso, mas não estou com vontade de criar uma cena fantasiosa apenas para excitá-lo. Quero conversar.
“Não, e isso me deixou frustrada.”
“Por quê? Você queria muito?”
Rememoro a noite, a dança, depois a conversa e os toques sutis.
“Não, e foi isso que me frustrou. Eu sei que parece confuso, mas eu esperava sentir por ele o que sinto com você e o que senti com outra pessoa. O fato é que eu achei que, por gostar dele, termos afinidade, seria mais fácil me sentir atraída, mas percebi que não é assim que funciona.”
“Não é.”
A resposta seca, sem nenhum questionamento ou brincadeira me surpreende.
“Assunto chato, talvez devêssemos falar de outra coisa.”
“Não, continue. Fale sobre a pessoa por quem você se sentiu atraída além de mim. Por que ainda não treparam? Está enrolando-o também como faz comigo?”
Rio, pensando em Kostas.
“Não é tão simples! Por mais que eu me sinta atraída e, às vezes, sinta algo nas suas provocações, não sei o quanto disso é apenas um tipo de jogo para ele. Não temos bom relacionamento, então é estranho nos sentirmos assim.”
“O que pode ser complicado em uma transa? Se vocês estão a fim, qual é o problema?”
“É o meu chefe insuportável, Portnoy! Pense em todos os problemas éticos que isso pode acarretar.”
Ele não responde. Eu aguardo para saber o que ele pensa do que acabei de revelar, mas não há nenhum sinal de digitação, embora o status continue online.
“Estou pensando em te ver pessoalmente.”
Resolvo cutucar uma reação, mas a resposta não vem como eu espero.
“Vai me usar para descontar todo o tesão que sente por ele?”
Usar? O questionamento me deixa sem saber o que responder, afinal, isso entre nós sempre foi sobre sexo, sobre darmos vazão às nossas fantasias. Por que agora ele está falando em eu usá-lo?
“Isso seria ruim? Acho que a culpa de eu estar atraída por ele é sua, das nossas conversas e... eu sei que você vai achar que sou louca, mas, quando te imagino agora, vejo-o.”
“Sobre a questão que me fez: não, não seria ruim, mas você acha que resolve seu problema? Não seria mais fácil ter uma noite muito gostosa com ele e seguir em frente? Aposto com você que ele gostaria disso! Sobre me ver nele, duvido que seja tão gostoso quanto eu.”
Gargalho, achando os dois ainda mais parecidos agora.
“Pelo menos na arrogância os dois empatam!”
Bocejo e me estico na cama, fazendo carinho em Kaká, que já se instalou ao meu lado.
“Preciso dormir, amanhã acordo cedo, pois vou fazer tai chi e depois vou ao hospital.”
“Por que você faz mesmo esses trabalhos? Me lembro de termos falado sobre isso, mas não da sua motivação.”
“Aprendi a amar o trabalho voluntário com meu pai. É importante para mim. Boa noite. Obrigada pela conversa e pelo conselho.”
Ele digita, mas depois para um tempo e, quando manda a mensagem, é apenas um “boa noite”. Acho que ele escreveu algo, depois se arrependeu, mas, como estou realmente com muito sono, não prolongo o assunto com isso.
Programo o celular para despertar, fecho os olhos, e a primeira imagem que me vem à cabeça é a do sorriso do Kostas enquanto falávamos sobre meu gosto literário.
Ele tem a mesma opinião do Portnoy sobre esse assunto!
Eu só quero saber como um homem consegue dormir depois de ouvir da mulher que tem mexido com seus hormônios a tal ponto de fazê-lo sentir-se mais adolescente do que já foi que ela o deseja.
E mais, que dispensou outro cara porque não conseguiu superar o desejo que sente por ele! Porra! Eu nunca passei por uma situação dessas! Pago por prazer sempre, não tenho essa dinâmica de conquistar, convencer e seduzir.
Acabo de descobrir que a sensação é boa pra caralho!
Fiquei puto, sim, quando ela disse que preferia encontrar-se com um homem que nunca viu a trepar comigo. Fiquei louco com isso e com o firme propósito de fazer Portnoy desaparecer em breve. Ele pode ser um empecilho, e seria um tanto ridículo eu mesmo me atrapalhar a seduzir alguém.
Wilka Maria será minha! Essa constatação é inebriante, excitante e muito diferente de tudo o que já experimentei nessa minha vida fodida. Respiro fundo para que a empolgação não me torne irracional, afinal, nossa situação, como ela bem já lembrou, exige cautela.
Tudo indica que não há nenhum outro interesse em mim a não ser o físico, mas ainda assim não posso confiar nela cegamente. Não sei como ela vai se portar depois que tivermos ido para a cama. Pode tornar-se grudenta, apaixonada ou mesmo uma manipuladora, querendo tirar proveito da situação de ter pegado um chefe, um dos herdeiros da empresa em que trabalha.
Concordo que há muitos problemas éticos e legais em um envolvimento sexual entre nós, mas já não tenho como voltar atrás. Wilka Maria é uma caixinha de surpresas, e eu pretendo abri-la para descobrir o que tem dentro.
Sempre achei que a história do trabalho voluntário que a Caprica fazia era mentira, um jeito de parecer bacana, mas, sabendo quem ela é, acho que faz muito sentido. A verdade é que a Cabritinha é uma camaleoa! Nunca pude imaginar que havia tantas camadas nela e que, em cada uma, haveria uma surpresa que me atrairia.
Contudo, tem. Ela é surpreendentemente sexy.
Gosto da ideia da mulher fatal, ninfa do sexo, mas também aprecio a executiva inteligente e compenetrada; a irritadinha boca suja me excita, assim como a mulher sensível que aprendeu a fazer trabalho voluntário com o pai.
Olho para a tela do computador e leio a última frase que escrevi, imaginando como seria a reação dela ao saber quem eu realmente sou.
Do mesmo jeito que tenho meus segredos, ela também tem os dela. Comecei a pensar sobre isso a partir do dia do seu aniversário. Qual seria o motivo para não contar a ninguém e, ainda, ter ficado tão puta comigo como ficou quando eu disse que sabia? Meu faro investigativo não falha, e Wilka Maria certamente esconde algo.
Releio as mensagens que trocamos hoje, buscando analisar cada palavra que ela escreveu aqui. Foi uma conversa diferente de todas as que já tivemos. Ela viu Portnoy como um amigo e uma solução para a confusão que estava passando. A executiva segura de si deu espaço a uma mulher dividida entre o tesão que sente e a ética.
Já passei por isso, assim que descobri que era a mulher que me enlouquecia online, e sei bem quem ganha a parada entre as duas coisas: o tesão. Sinto que estou jogando de maneira correta, não pressiono, deixo que ela mesma decida quando, sim, porque isso é só uma questão de tempo.
Leio sua mensagem dizendo que vai fazer tai chi chuan amanhã de manhã, e a imagem do pessoal fazendo isso no parque Trianon vem à minha memória. Será que ela vai para lá? Bom, eu gosto mesmo de me exercitar naquele lugar, então decido ir. Se a encontrar casualmente por lá, será ótimo; se não, faço meu exercício normalmente e volto para casa.
Desligo tudo, apago meu cigarro e subo para meu quarto. As coisas estão ficando interessantes para mim!, penso ao escovar os dentes. Tenho uma chance real de acabar com a imagem de Theodoros na empresa, fazê-lo parecer com nosso odiado pai, um homem disposto a foder com a Karamanlis por causa de uma boceta fogosa.
Tenho informações e fotos interessantes sobre meu querido irmão e a dona do boteco, e hoje, com a emissão do memorando, ele acabou de completar minha munição. Disparei alguns e-mails para conselheiros que estão na empresa desde a desastrosa década final de Nikkós à frente dela e agora só estou aguardando a notícia de quantas assinaturas irei reunir para incluir o tema na pauta da próxima reunião.
Deito-me na cama e olho para o alto, sentindo-me perto demais de me livrar da presença de Theodoros. Sei que não vai ser já, soube que viajará para lamber as bolas do pappoús no começo da semana, então provavelmente usará isso para adiar essa pauta tão especial.
Sem problema, eu espero! Enquanto isso, posso me concentrar em outro assunto. Fecho os olhos com a esperança de conseguir dormir nesta noite, afinal, preciso me preparar para, quem sabe, começar amanhã uma caçada a uma Cabritinha fujona.
Olho para a garota, encolhida na cama, seu corpo nu trêmulo de medo, lágrimas grossas escorrendo por seu rosto. Meu estômago revira, engulo em seco várias vezes e mantenho a respiração constante para não vomitar aqui mesmo.
Há muito deixei de demonstrar minhas fraquezas, já não sou mais o mesmo, sinto-me endurecendo cada dia mais. Olho-me no espelho e não me reconheço. Não me reconheço!
Não escuto mais a voz que grita comigo. Vejo apenas muitas notas de dinheiro sendo jogadas para o alto e caindo lentamente sobre a garota, que parece cada vez mais assustada. Posso cheirar o medo, sinto seu pavor até na minha medula e entendo. Isso não deveria estar acontecendo!
Eu sinto muito! Sinto-me culpado, já não sou mais a vítima, não posso ser, perdi toda minha inocência, a cada dia mais uma casca cresce em volta de mim, aprisionando quem sou de verdade e criando outro homem. Não posso deter isso, ninguém pode; só resta saber como será essa criatura quando ganhar vida.
Os gritos não param. Estou prendendo minha respiração, tentando não soluçar, tentando não demonstrar o quanto isso tudo me fere, desejando que as coisas voltem a ser como eram antes. Não vão; nada mais será como antes.
É tudo culpa dele! É tudo culpa do Theo!
Arregalo os olhos, sentindo-me sufocado, no exato momento em que o despertador toca. Respiro fundo, confiro a hora e me sinto aliviado por ter conseguido dormir um pouco antes de ter a consciência do pesadelo.
Não vou ter paz, não vou conseguir dormir enquanto não acertar as contas com Theodoros. Não tive tempo de fazer Nikkós pagar, porque ele acabou se enforcando sozinho, virando um ser deprimente, que depende da caridade de pappoús para continuar vivendo, já que ninguém o quer por perto.
— Malditos fantasmas, sumam! — grito e me sento na cama.
Não quero começar este dia em clima sombrio, com a cabeça no passado. Não há mais nada que possa ser feito para consertar todas as merdas que foram feitas, não há remendo que consiga unir minhas partes quebradas. Foda-se! Aprendi a viver assim e não tenho ilusões de ser diferente um dia.
Levanto-me e vou direto tomar uma ducha para lavar todo o ranço que o pesadelo deixou. Tenho uma missão agora de manhã e, para cumpri-la, preciso estar com minha carapaça totalmente blindada com o sarcasmo, o humor ácido e ligeiro e a pose segura de si.
Depois de tomar um café e fumar meu cigarro, coloco a roupa esportiva – short e camiseta, tênis próprios para corridas, um boné preto como toda a roupa –, enfio uns trocados no bolso para tomar mais um café em algum local, caso eu dê com os burros n’água na minha caçada, e saio do prédio direto na Paulista.
Vou correndo até o Trianon, lamentando que a rua ainda esteja aberta, pois seria muito mais confortável correr no asfalto do que na calçada, desviando-me das barraquinhas que já começam a ser montadas.
Chego ao parque e entro, caminhando apenas, atento a cada local onde possa se esconder uma cabritinha. Encontro o pessoal do tai chi reunido, conversando apenas, mas não vejo a gerente entre ele. Começo a me sentir frustrado, mas não desisto de caminhar e passar um tempo por aqui, até que reconheço o jeito peculiar de se vestir, mesmo em malha de exercício, e a leve cadência de quadris de Wilka Maria. Abro um sorriso, reparo em cada detalhe dela, desde o macacão brilhante azul colado no seu corpo coberto por uma blusa solta, óculos de sol espelhados e redondos e fones de ouvido.
Aposto que ela está cantando algo, pois seus lábios se mexem, e ela balança a cabeça de um lado para o outro a todo momento. Não consigo conceber que alguém agitada como ela consiga fazer uma atividade tão leve, monótona e parada como tai chi chuan.
Avanço para encontrá-la exatamente em cima da pequena ponte com guarda-corpo de madeira, e, quando ela me vê, para, estarrecida.
— Ora, ora... — cruzo os braços — parece que, para o lazer, alguém gosta de chegar à Paulista cedo!
Ela bufa.
— Só pode ser obra do capeta, não é possível! — sua voz parece realmente irritada. — Uma cidade deste tamanho, com tanto homem interessante, e eu encontro justamente o último que gostaria de ver antes de morrer.
— Quanto drama, Wilka Maria. — Aproximo-me mais dela. — Bom, quem está na minha área é você, então, se não quer esbarrar comigo, não venha correr no meu quintal.
Ela gargalha alto, chamando a atenção de um casal que está passeando com o cachorro.
— Seu quintal? Como você é soberbo! — Olha em volta. — Não estou vendo nenhuma placa com seu nome no parque.
— Moro aqui, há exatos cinco minutos deste local, então é, sim, o meu quintal. — Aproximo-me mais, e ela recua, encostando-se à madeira do guarda-corpo da ponte. — Quer companhia para o exercício? Acho que nós dois suaríamos bem juntos.
Ela respira fundo, fazendo seu peito subir e seus seios ficarem mais justos contra a malha que usa.
— Já tenho meus companheiros, obrigada. — Aponta para os velhinhos do tai chi chuan. — Por falar nisso, já está começando.
— Tai chi? — Rio. — Sério? Nunca te imaginaria fazendo algo assim.
Ela enruga a testa, e vejo sua sobrancelha aparecer por cima dos óculos de sol.
— Por que não? Eu pareço ser uma pessoa sedentária?
— Não, exatamente o contrário. — Abaixo a voz: — Eu te vejo em exercícios mais intensos, que fazem suar, liberam prazer, não algo tão... — rio devagar — broxante como o tai chi.
— Doutor, eu preciso...
— Não estamos na empresa e nem em horário de expediente, então, chame-me de Kostas — interrompo-a. — Quem sabe até possa te chamar de Kika.
Ela nega.
— Doutor, eu acho melhor... — ofega — que o senhor se afaste — geme quando eu a seguro pela cintura — para que eu possa... — simplesmente perde a linha de raciocínio.
— Para que você possa...? — pergunto, sentindo-me tão sem ar quanto ela.
Não tinha intenção alguma de encostar nela hoje, seria apenas mais um jogo de provocação, mas, talvez impelido pela conversa online ontem, não consegui conter a vontade de sentir seu corpo perto do meu.
— O que está acontecendo? — Wilka indaga.
Nossos corpos estão praticamente grudados, e eu estou curvado sobre ela para que nossos rostos estejam quase na mesma altura. Consigo sentir seu cheiro, uma mistura leve de algum sabonete e uma colônia refrescante. Meus dedos captam o calor de sua pele e um leve tremor em seus músculos.
— Eu não sei — respondo sem fazer nenhum jogo.
Tiro os óculos de seu rosto e consigo ver o turbilhão de emoções que explodem dentro de seus olhos. Estamos respirando juntos, quase bufando como fazem os touros ao entrarem em uma arena. Ela engole em seco, o movimento de sua garganta chamando minha atenção e, quando molha e esfrega os lábios involuntariamente, sei que é meu fim.
Ainda segurando seus óculos, firmo sua nuca e a beijo como venho fantasiando há muito tempo. Isso não foi calculado, aconteceu, e meu coração está disparado com a adrenalina, o pau tão duro que tenho certeza de que a frente da minha bermuda está toda levantada.
Ela demora alguns segundos para corresponder ao beijo, mas, quando me aceita, puta que pariu! Sua boca quente e molhada, a língua safada procurando a minha... Agarro-a com ainda mais força, trazendo-a para mim para que não fique dúvidas de como estou, de como ela me deixa.
O sabor do beijo, as sensações que ele me causa, a sensualidade das nossas línguas se esfregando uma contra a outra enquanto nossos corpos fremem de tesão, tensão e ansiedade... estamos explodindo juntos, essa é a verdade, deixando jorrar todo o desejo reprimido, enrustido nas brigas e rusgas que tivemos até este momento.
As máscaras caíram, estamos nus, sem mecanismos de defesa, sem nada entre nós.
Separo minha boca da dela, deslizando os lábios pelo seu queixo, louco para explorar seu pescoço. Ela geme alto, porém, fica tensa. O corpo, antes pulsando de energia sexual, parece esfriar, endurecer, e eu a encaro.
— O que... — não completo a pergunta por causa da dor filha da puta que sinto em minhas bolas e a olho estarrecido.
Essa doida acaba de me dar uma joelhada no saco!
Escuto o gemido de dor de Kostas e sinto um leve arrependimento. Talvez o golpe tenha saído com mais força do que pretendi. Não, eu nem pretendi, foi apenas um impulso, então, sim, deve ter saído forte para caramba!
Que loucura foi essa? Olho em volta para algumas pessoas paradas olhando para nós, atracados como cães no cio, debaixo de um sol forte de janeiro, em plena ponte dentro do parque. Onde eu estava com a cabeça?
Estava beijando Konstantinos Karamanlis!
Não foi uma fantasia, o beijo aconteceu e foi muito bom. Não, foi incrível! Quando ele se aproximou, eu sabia que algo ia acontecer, meu corpo se aqueceu, minha respiração ficou pesada, o ar parecia rarefeito à nossa volta. Quando me tocou, foi como se tivesse me ligado a uma força potente, senti a eletricidade percorrer a extensão da minha coluna, agitando tudo dentro de mim.
Seu corpo quente fez o meu entrar em combustão, senti sua excitação de várias formas, não só pela evidente ereção, como no gosto de sua saliva, na forma como seus sons ecoaram dentro da minha boca e como me segurava, parecendo querer estar dentro de mim mesmo em um parque público cheio de gente.
Minha reação a ele não podia ter sido indiferente. Minha pele se arrepiou, senti a boca seca, os mamilos duros e um pulsar delicioso entre minhas pernas. Tudo isso em um único beijo!
Então por que o afastei? Por que lhe dei esse golpe certeiro e agora estou olhando-o curvado de dor? Por um só motivo: o homem que estava me beijando era o mesmo que muitas vezes já me desrespeitou, que já menosprezou o meu trabalho apenas por eu ser mulher. Não podia deixar que fizesse o que quisesse assim, sem mais nem menos! Ele sequer me perguntou se podia me beijar e foi logo tascando a boca na minha!
Prepotente gostoso dos infernos!
— Você está maluca? — geme e inquire entredentes. — Tem ideia de como eu estava excitado? Dói pra caralho!
— Por que você me beijou? — questiono sem rodeios.
Kostas para de gemer, mesmo ainda um pouco trêmulo de dor, e me encara, seus olhos parecendo ainda mais azuis do que normalmente são, em contraste com sua pele morena e seus cabelos escuros.
— Por que um homem beija uma mulher? — sua voz rouca me faz puxar o ar e o reter para não gemer e fechar os olhos.
Solto o ar devagar, buscando minha racionalidade para entender o que realmente aconteceu entre nós. O que ele quer, afinal, comigo?
— Não me venha com essa técnica de advogado de fazer perguntas retóricas! — Começo a me sentir ansiosa e agito as mãos ao falar. — Não consegue ser direto e sincero? Por que me beijou?
O desgraçado sorri, mas continua quieto.
— Se isso for uma espécie de jogo ou mais uma tentativa de me humilhar, eu...
— Meu beijo foi humilhante? — Ele perde a pose. — Você se sentiu humilhada?! Você sentiu como eu estava? Acha que planejei te beijar aqui, no meio do Trianon, ter a porra de uma ereção, parecer a droga de um cachorro no cio para te humilhar?
Sua resposta me desconserta. Tento deixar minhas defesas de lado, mesmo que isso seja difícil, para entender o que está acontecendo. Eu me sinto atraída por ele de jeito totalmente irracional, vocês sabem, porém, até hoje achei que ele só me provocava, nunca imaginei que pudesse sentir o mesmo, nunca entendi seu jogo.
E se não tiver nenhum? E se, como eu, ele apenas foi pego desprevenido por essa atração que surgiu entre nós? Lembro-me da conversa que tive com Portnoy, principalmente quando ele me perguntou se não seria mais fácil resolver essa questão com Kostas e depois seguir adiante.
Não é tão simples, Kika, e você sabe disso!
— Então por que me beijou? — repito a pergunta, mas agora baixinho, sem nenhuma resistência, em um pedido de sinceridade.
— Porque eu quis te beijar. — Seus olhos não deixam os meus. — Não sei o que houve, Wilka Maria, mas só tenho pensado nisso ultimamente. — Ele bufa, e eu percebo que não deve estar sendo fácil me dizer todas essas coisas. — Eu sei que não deveríamos misturar as coisas, mas, ultimamente, quando me sinto irritado com você, tenho vontade de te deitar sobre aquela mesa e provar todo seu corpo, sentir o sabor da sua pele e transformar seus protestos em gemidos de prazer. Quero cessar toda e qualquer discussão me afundando no seu corpo, deixar toda racionalidade de lado e só pensar em compartilhar com você todo esse tesão que me inflama. — Respira fundo. — É isso, não tem jogo, só um tesão do caralho que me faz passar pelo menos umas dez horas de pau duro dentro daquela maldita empresa todo dia!
Não consigo emitir nenhum som; nada vem à minha mente, nenhuma piadinha para descontrair a tensão, nenhum discurso ético sobre trabalharmos juntos e ele ser meu chefe, nada! Geralmente eu penso e reajo rápido, mas como responder a isso?
Seguro com força no corrimão da ponte, talvez me refreando para não voar em cima dele, não para brigar ou bater, tão-somente para lhe mostrar que eu também sinto tudo o que acabou de me descrever.
Kostas ri, dá de ombros e olha para os lados.
— Sua aula começou. — Aponta para o pessoal do tai chi, e eu assinto. — Não estou pressionando você a nada, quero deixar claro. Se você não estiver a fim, nada irá mudar no nosso trabalho. Posso ser um babaca filho da puta, mas tento manter o mínimo de ética e ter palavra.
Ele toca a aba do boné em um cumprimento tão antigo – e tão inglês – e se afasta, voltando a caminhar em direção ao interior do parque. Não deixo de olhá-lo nem por um minuto, até que some em uma curva, e solto o fôlego devagar.
Ponho a mão no rosto, fechando os olhos, sentindo-me perdida dentro de uma situação tão surreal que não sei como agir. Dou pela falta dos óculos e os procuro pelo chão, mas não os acho. Estávamos tão nervosos que não percebemos que ele continuava segurando-os e que os levou ao ir embora.
Começo a rir – feito uma doida –, atraindo a atenção dos que passam por mim. Às vezes, quando estou muito ansiosa, isso acontece, um ataque de risos que não para, tão intenso que me tira lágrimas dos olhos.
É real! Dessa vez não é uma fantasia com um homem desconhecido que nunca terá acesso a mim. Não tenho dúvida alguma de que o quero da mesma forma, só preciso saber como agir.
Preciso de ajuda!
Olho para o pessoal do tai chi e desisto da aula. Tento fazer esse exercício exatamente para controlar minha ansiedade e agitação, mas me conheço bem, e, neste momento, a única coisa capaz de me desacelerar é o Starbucks.
Preciso de chocolate!
Saio correndo do parque e continuo a corrida pela Paulista, agradecendo por hoje ser domingo e isso ser comum nesse dia. Sempre passeio por aqui depois do exercício no parque, olhando as barraquinhas, os artistas de rua e as crianças se divertindo no asfalto da avenida mais importante da cidade como se estivessem no quintal de casa. Contudo, hoje, não dá para fazer isso!
Entro na cafeteria e peço logo um frappuccino de brigadeiro, um dos meus preferidos. Sento-me para esperar e pego o celular.
“Malu, preciso conversar com você!”
Digito a mensagem e aguardo, nervosa, sem saber o que fazer daqui para frente. Amanhã de manhã o clima vai ser estranho na empresa, tenho certeza. Relembro a agenda da semana; amanhã tenho reunião com Theo cedo, pois ele irá viajar para a Grécia, e Millos só chegará de suas férias na próxima semana. Então, se eu me mantiver ocupada, não precisarei ficar em minha sala o dia todo.
Merda! Sinto-me uma garotinha me escondendo assim dele. Não sou assim, porra, não sou insegura em nada na minha vida, tenho que ser justo nisso?
E o que eu vou falar com a Malu?, penso olhando para a mensagem que acabei de mandar, movida pela ansiedade. Eu, que geralmente a aconselhava nesses casos, mandava-a aproveitar a vida sem pensar em mais nada, contava de todos os meus encontros fantasiosos como se eles fossem de verdade!
Respiro fundo para não pirar e começo a contar minha respiração. Não tem jeito, precisarei ligar para minha terapeuta. Eu quero Konstantinos Karamanlis e sei que vai ser só uma questão de tempo para esse desejo que sentimos explodir e aí...
— Kika Reinol! — a atendente do café me chama.
Levanto-me, pego minha bebida e a tomo praticamente em um só gole, como se fosse minha tábua de salvação.
O café misturado ao chocolate me acalma e clareia a minha mente a ponto de me fazer ter uma ideia mirabolante!
Eu vou para a cama com Kostas, sim, mas antes vou transar com Portnoy!
Não pude deixar de pensar no beijo, e encarar a segunda-feira com chances de encontrar Kostas não foi fácil. Por sorte, quando entrei na sala, hoje, não o encontrei – o que era um milagre, pois sempre chega antes de mim –, por isso tive relativa paz para trabalhar.
Digo “relativa” porque a toda hora olhava o celular, conferindo se Portnoy havia me respondido.
Eu pus em prática a ideia que tive na cafeteria e, antes de dormir, no domingo, enviei mensagem convidando Portnoy para um encontro de verdade. Esperei por alguns minutos que ele aparecesse online, porém, ele não o fez, e eu tentei dormir.
Sonhei com Konstantinos, nós dois nus sobre a mesa da sala dele, expostos por causa das paredes de vidro sem persianas. Ele era quem estava deitado no tampo, e eu o cavalgava enlouquecida enquanto aquelas mãos enormes seguravam meus seios, beliscando-os com os dedos, e eu gemia como fiz no parque ao sentir seu beijo.
Acordei suada, descoberta e com a calcinha encharcada. Tentei resistir a me tocar pensando nele e no sonho, mas não consegui e gozei com a sensação da sua boca na minha. Foi intenso, meus lábios formigavam de vontade dos dele, e eu fantasiava que era seu toque que meu clitóris recebia.
Depois disso, dormi até o despertador tocar, levantei-me, fiz todo meu ritual matinal e entrei na Karamanlis encolhida, quase sem cumprimentar ninguém, com receio de encontrá-lo pelos corredores. Respirei aliviada quando entrei na gerência e mais ainda quando me deparei com minha sala vazia.
Chamei meu pessoal para uma pequena reunião rápida, pois tínhamos uma apresentação marcada na empresa de um cliente, ajustamos os últimos detalhes e saímos. Fiz a apresentação junto a Rosi, Leo e Carol, depois fomos almoçar juntos, e agora, finalmente, estou retornando para minha sala com o firme propósito de adiantar os relatórios da siderúrgica e dar andamento ao projeto o mais rápido possível.
Estou muito disposta ao trabalho. Geralmente fico assim quando estou brava ou frustrada com algo. E não, dessa vez o motivo da minha irritação não é o Kostas, mas sim o Portnoy, aquele frouxo, que ficou um ano insistindo em um encontro e que, quando digo sim, inventa a porcaria de uma desculpa esfarrapada e corre!
Viagem de trabalho!
Nós nos falamos no sábado, e ele não disse nada sobre isso! Ninguém arranja e organiza uma viagem de trabalho em apenas um dia, e o cara de pau teve a pachorra de dizer que só tinha ficado sabendo hoje!
Ele é um pau no cu, isso sim! Arregão dos infernos!
Vou para minha sala ainda xingando-o mentalmente de todas as formas que sei e que existem para definir um homem covarde – Coca-Cola, garganta, borra-botas, cagão e... minha linha de raciocínio morre quando abro a porta e encontro Kostas com um buquê de rosas de cor champanhe nas mãos.
Nós nos olhamos assustados, eu por não esperar que ele tivesse tal gesto, e ele talvez por ter sido pego com a boca na botija, e ficamos estáticos por alguns segundos.
— O que... — começo a perguntar, mas ele se adianta.
— Acabaram de entregar para você. — Ele ergue o buquê – como se eu já não o tivesse visto – e o deixa sobre minha mesa. — Como você não estava, fui eu quem o recebeu.
Não são dele!, a constatação me deixa desanimada, mas ainda curiosa para saber de quem são. Procuro o cartão e o encontro jogado entre as rosas. Muito estranho! Recebi buquês de rosas pouquíssimas vezes em minha vida, e em todas elas, os cartões vieram presos na embalagem.
Será que Kostas... Não! Ele não se atreveria a ler algo que não é seu!
Abro o envelope e um sorriso ao ler a mensagem fofa do Vinícius agradecendo a ajuda com a compra do presente da Verinha. Ele não precisava ter enviado uma dúzia de rosas para o meu trabalho apenas para agradecer, mas, já que o fez, decido ligar para agradecer.
Vinícius atende ao segundo toque:
— Oi, recebeu as flores?
— Oi! Recebi, são lindas, obrigada! — Dou a volta na mesa e me sento na cadeira, de frente para o Kostas. — Nem vou colocar na água aqui, pois quero levá-las para casa. Vejo você por lá?
Kostas dá uma risadinha, e eu aperto os olhos.
— Hoje não, estou no trabalho, mas fiquei feliz que tenha gostado! Obrigado pela ajuda e companhia!
— Sempre que precisar!
Ele se despede, e eu também. Coloco o celular sobre a mesa e ligo o computador.
— Você nem as cheirou — Kostas diz de repente, e eu o encaro.
— Como?
Aponta para as flores.
— Você nem as cheirou. Eu imaginava que toda mulher gostasse do perfume das rosas, mas você nem as tocou! — Ri. — Aparentemente, não gostou tanto assim do presente.
Rio e cruzo os braços.
— Engano seu, adoro plantas! — principalmente quando estão plantadas na terra para viver bastante!, concluo, mas não o digo em voz alta.
A verdade é que não gosto de receber buquês e arranjos. As flores estão aqui, lindas à minha frente, mas estão morrendo, agonizando lentamente até não sobrar mais nada e toda essa beleza ir para o lixo. É um gesto bacana, mas um desperdício e um tanto mórbido.
— Você tem um jeito diferente de mostrar sua animação com um presente. — Ergue a sobrancelha. — Já te vi mais animada do que isso apenas por um donut com cobertura de chocolate.
Agora quem ergue a sobrancelha sou eu. Tenho certeza de que ele não pretendia demonstrar que presta tanta atenção assim a mim e às coisas que gosto ou não. Ato falho, ilustríssimo doutor! Sorrio, mais animada com isso do que com as rosas.
— Comida me conquista mais fácil. Eu sou um verdadeiro dragão com fome, mas um cordeirinho com a barriga cheia.
— Obrigado pela dica! — Ele pisca, e eu fico sem jeito. — Talvez, ontem, eu tivesse tido uma recepção melhor se tivesse te feito engolir um chocolate antes.
Rolo os olhos, sem poder acreditar que ele vai mesmo puxar esse assunto aqui, dentro da sala onde trabalhamos! Finjo não o ouvir e abro o arquivo que pretendo ler, ignorando-o. Já é tarde, a maioria dos funcionários já deve estar indo para casa, e não pretendo ficar até às 22h de novo!
Leio as duas primeiras linhas do documento, quando tudo some e a tela do computador apaga.
— Mas que por...
Kostas se levanta do chão, debaixo da minha mesa e me mostra a tomada do computador. Arregalo os olhos e fico de pé também.
— Está doido?! Por que fez isso?! Eu poderia ter perdido o documento e...
— Nem deu tempo de digitar algo! — diz displicente, expressão debochada. — Não gosto de ser ignorado, Wilka Maria.
— Você é louco! — Pego minha bolsa. — Não temos nada a conversar sobre o parque ontem.
— Temos! — Ele fica à minha frente. — É claro que temos! Ontem eu fui sincero com você, mas não recebi o mesmo tratamento.
— Kostas, é melhor não... — tento dizer, mas ele se aproxima mais.
— Por que não? Eu quero, você quer, somos maiores e sãos. O que nos impede?
Respiro fundo, gostando do argumento, mas sem querer aceitá-lo. Há, sim, muitos impedimentos! Trabalhamos juntos, ele é um dos donos da empresa, chefe, babaca machista, gostoso pra caralho, mas ainda assim um grande...
— Kika, se você conseguir me olhar e dizer que não quer, saio daqui imediatamente. — Sua mão esquerda para em cima da alça da minha bolsa, e a outra acaricia meu rosto. — Basta dizer.
É apenas um toque, mas, onde os dedos dele passam, deixam rastros de calor que me aquecem inteira. Quero dizer a ele que não, que está enganado quanto a mim, que não cederei tão fácil, mas eu o desejo!
Oportunidade! Se deixar ir, sentir, aproveitar o momento!
Não teve outro homem que já mexeu comigo dessa forma, então, por que não? É apenas uma experiência, uma noite; depois disso, seguimos como se nada tivesse acontecido.
Concordo com o pensamento, balançando a cabeça, ponderando que, antes de qualquer coisa, nós dois precisamos conversar, e eu preciso deixar claro que...
Sou puxada pela alça da bolsa, batendo de encontro a um enorme e sólido corpo, com braços longos e fortes que me envolvem antes de eu ser literalmente devorada por uma boca faminta de beijos.
Puta que pariu, para que conversar?
Quando a vejo balançar a cabeça em sinal afirmativo, não espero duas vezes. Bem, nem mesmo se eu quisesse, conseguiria esperar! Ajo no reflexo, impulsionado por uma necessidade de tê-la colada a mim de novo igual ao que aconteceu no parque, puxo-a sem nenhuma sutileza pela alça da bolsa, fazendo-a praticamente cair sobre mim desequilibrada e ofegante.
Não dou tempo para que ela tome fôlego e comece a questionar cada situação que pode advir disso que vamos fazer, então decido sutilmente foder sua mente de uma vez, antes que percamos esse clima gostoso que perpassa entre nós.
Os lábios macios oferecem pouca resistência, o corpo desequilibrado usa o meu para se apoiar, ficando colado em mim, permitindo que eu sinta cada detalhe de sua anatomia. Sorvo sua saliva, sinto o sabor suave de café e, talvez, chocolate. Não me concentro nisso, apenas no movimento perfeito de seus lábios, em sua língua na minha, buscando-a como se dependesse dela para algo.
Eu me sinto queimar inteiro! É esse o efeito desse beijo em mim, combustão, incêndio, explosão! Minhas mãos percorrem seu corpo sem nenhum tipo de controle, agindo como se tivessem vida própria, conhecendo, tateando, ao mesmo tempo em que contribuem para manter nossa excitação no limite. Eu quero comer, mastigar, foder essa mulher como se fosse o último ato desesperado de um homem. Quero inundá-la de prazer, ouvir seus gritos, sentir suas unhas e dentes cravados em mim enquanto goza.
Ergo-a do chão sem nenhum esforço, segurando-a por sua bunda deliciosa, redonda, dura e a pressiono contra mim para que não haja dúvidas do meu tesão. Meu pau lateja em uma dor deliciosa, não sinto mais nada a não ser o desespero da liberação, a vontade de estar dentro dela de qualquer jeito possível.
Wilka geme sem tirar a boca da minha, seus braços enroscados em meu pescoço, apertando-o, mantendo-me preso como se eu fosse fugir disso tudo. Como se eu pudesse! Sou seu refém tanto quanto seu captor, dominado e dominando na mesma medida.
Preciso tocá-la, o contato apenas com sua boca já não é mais suficiente, preciso de tudo dela. Ergo seu vestido, arrastando as mãos por suas coxas, tremendo ao sentir sua pele macia. Apoio as mãos embaixo de suas nádegas e a faço me abraçar com as pernas, corpos encaixados, um respirando o outro, seus gemidos deliciosos me dando mais e mais tesão. Sinto seus quadris se mexerem, rebolando em mim mesmo ainda vestida, desesperada pelo mesmo que eu.
Caminho sem rumo, a boca deixando a dela, percorrendo seu pescoço, provando como um faminto, sentindo o forte pulsar de sua artéria, a agitação que também sinto. Ouço barulho de coisas indo para o chão, mas ligo o foda-se para qualquer coisa neste momento que não seja estar enterrado nela.
Apoio-a sobre a mesa. O cheiro de rosas chega até onde estou, e Wilka se deita, olhos fechados, contorcendo-se de prazer. Minhas mãos invadem o vestido e acham a calcinha pequena de tecido liso e fino. Puxo-a para baixo, mas não a retiro, pois suas pernas ainda estão travadas em mim.
Quase enlouqueço ao vê-la exposta, sua boceta perfeita, sem pelos, emoldurada pelas belas coxas que me atraíram desde a primeira vez que as vi. Não consigo esperar, abro minha calça e puxo meu pau para fora com apenas um movimento, segurando-o com força.
Wilka levanta a cabeça para espiar, e eu rio.
— Curiosa? — pergunto esfregando-o em sua calcinha.
Ela arregala os olhos, e eu gargalho, puxo a peça íntima com tanta força que a rasgo, avanço para cima dela e me inclino sobre seu corpo.
— Quero foder sua mão, sua boca, seus peitos, sua bunda... — beijo-a — mas antes... — encosto a glande em sua entrada e a esfrego — quero experimentar sua boceta, molhar meu pau no seu tesão, socar em você até perder a consciência.
— Kostas... — ela resfolega, e eu sorrio, movendo meu pau sobre seu clitóris, desesperado, sentindo sua lubrificação fazendo-o patinar e excitá-la a tal ponto que sei que irá gozar a qualquer momento. — Eu preciso...
— Eu também! — Aumento a velocidade, trinco os dentes e fecho os olhos.
Posso sentir cada parte de sua boceta em detalhes, mesmo sem vê-la, apenas com a sensibilidade do meu membro. Lábios bem contornados, carnudos, que se mexem sutilmente quando eu os agito e se fecham no exato ponto onde sinto uma rigidez pulsante. É uma tortura me masturbar masturbando-a, é sexy, decadente, gostoso demais!
— Kostas...! — sua voz sai mais alta, e eu a olho no exato momento em que goza. Travo o corpo todo, meus dentes batem um no outro e sinto uma leve ardência na base do meu pau ao segurar meu próprio gozo.
Não consigo mais, ainda que eu queira ficar aqui, apenas roçando meu pau contra sua boceta molhada, sentindo-a delirar com o contato, ou que sinta a boca cheia d’água de vontade de provar seu sabor e receber seu orgasmo em minha língua, não dá para controlar a vontade de me enterrar dentro dela. Então, em desespero, faço o movimento de uma só vez, deslizando entre os lábios úmidos, achando sua entrada apertada e me afundando nela.
Ela grita de um jeito doloroso, e seu corpo fica tenso. Encaro seus olhos arregalados, cheios de lágrimas. Sua face, antes corada, está pálida e tem expressão de dor. Wilka estava muito excitada, não posso tê-la machucado, porém, senti como se algo tivesse me segurado por um segundo e depois cedido com tamanha pressão que fui sugado para seu interior.
Não pode ser!
Fico imóvel em cima dela, sem acreditar nas lágrimas que vejo escorrerem de seus olhos. Essa é a minha Cabritinha, a ninfa do sexo, a mulher com quem dividi as mais inusitadas sacanagens. Ela não pode ser virgem!
Minha cabeça começa a rodar, e eu tento me afastar, porém, sou detido por suas pernas, que me mantêm preso a seu corpo.
— Está tudo bem. — Wilka tenta sorrir, mesmo com os olhos brilhando de lágrimas. — Eu devia ter falado em algum momento que... — Morde o lábio e desvia o olhar do meu. — Não tivemos tempo para conversar e...
— Você... é... virgem? — a situação é tão esdrúxula que mal consigo formular a pergunta.
Ela suspira, tenta rir de maneira casual, mas consigo enxergar o constrangimento que faz com que a resposta – óbvia – seja positiva.
— Bom, levando-se em conta que seu pau está todo enterrado em mim — ela tenta fazer uma expressão divertida, mas parece ficar cada vez mais tensa —, eu acho que era, né?
— Porra!
Afasto-me dela o mais rápido possível e quase caio em cima da minha mesa de trabalho. Cambaleio por um momento, como se tivesse acabado de levar uma porrada na fuça, e tento respirar. Não consigo! Imagens, cheiros, sons, meus ouvidos zunem, e sinto as pernas bambas. Como isso foi acontecer?!
— Kostas? — ela me chama. Ouço um leve tremor em sua voz, mas não consigo encará-la. O pesadelo está de volta. — Está tudo bem, não se preocupe, era só um pedaço de pele, não a peste!
Estico as mãos na direção dela, de olhos fechados, e balanço a cabeça. Ela não tem noção do que me fez, não tem ideia do que isso desencadeou dentro de mim. Não tem!
Arrumo a roupa do jeito que dá e saio o mais rápido possível da sala, batendo a porta, correndo pelos corredores como se estivesse sendo perseguido por demônios.
E estou!
Os gritos estão cada vez mais fortes, e as sensações também. Vejo o sangue, o desespero, e tento me controlar de qualquer jeito. Não posso sair da empresa neste estado! Entro no elevador, olho para o espelho, mas não me vejo. Há um monstro me encarando, podre, sendo comido vivo por causa do que fez no passado.
Soco o espelho do elevador; o vidro se parte e rasga minha mão, mas não ligo nem para a dor, nem para meu próprio sangue pingando no chão. Só não quero mais ver quem eu sou, só não quero ter que encarar o verdadeiro Konstantinos Karamanlis.
O elevador se abre na garagem do prédio da empresa. Vou até uma das salas onde guardamos as chaves dos carros da Karamanlis e que, pelo avançado das horas, não tem ninguém. Abro-a com minha chave, pego qualquer chaveiro no armário e aperto o alarme para saber a qual carro pertence.
Saio da garagem cantando pneus. O guarda noturno olha-me assustado, mas me reconhece e abre o portão.
Eu preciso sair daqui! Tenho que sair daqui!
O dia está amanhecendo, e ainda sinto o perfume dela, o sabor de sua boca, o cheiro do seu gozo impregnado em mim. Bebo mais um gole do bourbon barato que encontrei em uma espelunca qualquer e olho o conteúdo da garrafa, já abaixo da metade.
Passei a noite dentro deste carro. Dirigi sem rumo depois que saí da empresa, parei no primeiro bar que imaginei ter uísque, comprei duas garrafas e voltei a dirigir.
Só parei quando cheguei aqui, a este maldito lugar onde estou agora, revivendo o inferno da minha vida como forma de expiação de pecado. Foda-se! Olho o sobrado caindo aos pedaços do outro lado da rua e sinto meu estômago revirar.
Eu jurei a mim mesmo que nunca mais viria até aqui. Cumpri essa porra de promessa por anos, mas do que adiantou? Não importa para onde eu fuja, toda aquela merda vai comigo. Podem-se passar anos, mudar de país, de cara e de nome, as desgraçadas lembranças estão gravadas na minha cabeça e nunca saem de lá. Por mais que eu as esconda, sempre vêm me espiar nos sonhos, lembrar-me de que estão vivas e de quem eu sou.
Deito a cabeça sobre o volante e penso em tudo o que aconteceu ao longo do dia, tentando notar alguma indicação de que estaria bêbado, fodido e vomitado em um dos bairros mais perigosos da cidade, em frente ao lugar que eu já deveria ter demolido, mas que comprei apenas para ver apodrecer e cair enquanto o mesmo acontece comigo.
Cheguei à empresa puto e fui direto para minha sala na diretoria jurídica. Não queria encontrar Wilka Maria, não enquanto eu ainda estivesse fervendo de raiva. A vontade que tinha era de entrar naquela sala e a sacudir até que tivesse um pouco mais de senso e percebesse que, por mais que negasse, me queria tanto quanto eu a ela.
Não bastasse aquela joelhada no saco no parque, a diaba teve a pachorra de mandar mensagem para Portnoy dizendo que queria se encontrar com ele para transarem. Assim, logo depois de ter gemido em minha boca, cheia de tesão, ela mandou a porra de uma mensagem para outro homem convidando-o para trepar.
Eu sei, vocês devem estar gritando comigo que o outro homem sou eu mesmo, mas, porra, ela não sabe disso! Então, sim, fiquei puto, não respondi e ainda arremessei meu celular contra a parede da sala e tive que comprar outro pela manhã.
O que me leva à primeira merda do dia, pois, assim que liguei o aparelho, chegaram várias mensagens de Millos me xingando e perguntando o que eu pretendia com o pedido de inclusão de pauta sobre Theo e Duda Hill. Respondi a ele que estava na hora de deixarmos de ser sombras do netinho amado, e ele, depois de me mandar tomar no cu, disse-me que preferia ser sombra do Theo a ser um filho da puta traiçoeiro.
Fiquei puto por ele não me apoiar, afinal só se beneficiaria com a saída do atual CEO, mas é tão cego com essa mania de lealdade que não percebe que eu seria muito melhor do que meu irmãozinho mais velho.
O resultado dessas duas situações foi uma noite azeda e uma manhã sombria, enfurnado na minha sala, sozinho, puto demais para falar com alguém sem berrar, então descontei minha frustração no trabalho e no cigarro.
Mais tarde fiquei pensando nas mensagens de Kika e seriamente tentado a marcar o tal encontro de foda, deixar que ela fosse até algum motel e revelar que eu sou o Portnoy e encerrar todo o ciclo de mentiras – minhas e dela – de uma vez.
Obviamente, não o fiz, e fiquei o dia todo exilado na diretoria jurídica, resmungando como um cão sarnento, frustrado e puto. Queria poder entender aquela mulher, o que queria, por que teve aquela reação depois do beijo mesmo correspondendo.
Sinceramente, eu não entendia nada! A imagem que tinha dela não correspondia a tudo o que ela estava me mostrando, e isso, para alguém que se julga um ótimo avaliador de caráter, era alarmante.
Já ao final do expediente da Karamanlis, entre 18h e 19h, recebi um e-mail de Viviane Lamour me convidando para uma conversa, pois, segundo ela, tinha coisas interessantes a me mostrar sobre meu irmão. Dei um sorriso cínico, pensando no que havia acontecido para que a mulher, que se mostrava tão resistente a me ajudar, tivesse mudado de ideia. Descartei a mensagem; já não me interessava mais, eu tinha conseguido coisa muito melhor para desgastar a imagem de Theodoros e sem a ajuda de ninguém, só dele mesmo.
Assim que ele voltasse da Grécia, o Conselho se reuniria, e essa história pesaria contra ele, desde sua obsessão por comprar um terreno para o qual não tínhamos cliente ou projeto em vista, à compra de uma promissória prestes a vencer para ser cobrada de um espólio e o envolvimento dele com a herdeira, que culminou no pedido para sobrestar a ação de cobrança, gerando, assim, prejuízo.
Theodoros fez tudo o que um diretor executivo não poderia fazer, misturar interesse pessoal com os da empresa. Exatamente o que Nikkós fazia e que lhe custou sua cabeça.
David bateu à porta de vidro da minha sala, e eu fiz sinal para ele entrar.
— Doutor, o levantamento das legislações que me pediu para a conta Ethernium. — Ele deixou uma pasta em cima da mesa. — Mandei uma cópia para o servidor também. O doutor precisa de algo mais?
— Não, David.
O advogado se despediu, e eu olhei para a pasta e decidi deixá-la em minha mesa lá na gerência de hunter. Enquanto ia, tentava me convencer de que não estava fazendo isso para ver a gerente esmagadora de bolas, que só queria deixar o documento junto aos outros que estavam lá e devolver os malditos óculos de sol que acabei levando comigo depois do beijo trágico no Trianon.
Não vou disfarçar que fiquei decepcionado quando entrei e não a encontrei na sala. A mesa estava em perfeita ordem, como ela costuma deixar, o caderno de anotações fechado em um canto, o computador desligado e sua cadeira encaixada debaixo da mesa.
Estranhei que ela tivesse saído mais cedo que o costume, deixei o documento e os óculos na mesa que usava e, quando ia sair, uma das recepcionistas tomou um susto ao me ver. Ela carregava um ramalhete de flores – em uma embalagem brega, cheia de corações – como se fosse uma preciosidade.
— Boa noite, doutor — cumprimentou-me sem jeito. — Acabaram de entregar para a Kika, mas, como ela ainda não voltou da reunião...
Ah, reunião externa!, pensei ao estender a mão e pegar o buquê. A diaba vai voltar!
— Pode deixar, que eu mesmo entrego; provavelmente ainda estarei aqui quando ela retornar.
A moça sorriu.
— Ah, obrigada! Eu já preciso ir embora, então ia deixar na mesa dela.
— Pode ir tranquila, eu mesmo entrego.
Fechei a porta praticamente em sua cara e fiquei analisando o arranjo. Eu não entendo nada de flores, muito menos de rosas, afinal, para quem eu mandaria algo assim?
Cheirei as rosas, mas retorci o nariz por me lembrar do velório de minha avó materna, quando eu ainda era criança. Joguei o buquê de qualquer jeito em cima da mesa dela, então vi o pequeno envelope branco colado com durex na embalagem cafona e o puxei para ler.
Eu sei que vocês vão dizer: ei, doutor, ler correspondência alheia é falta de educação, além de ser crime! Foda-se, o envelope nem estava lacrado, então não houve violação, só indiscrição mesmo.
Li a mensagem deixada por um tal Vinícius e lembrei que ela me disse, no chat online, que tinha ido para uma festa com o vizinho, mas que não se sentira atraída. Ergui a sobrancelha e abri um sorriso, em um deboche competitivo cheio de testosterona, lamentando a perda de dinheiro e de tempo do meu companheiro de gênero.
Se fodeu, vizinho!
Já tinha colocado o bilhetinho de volta no envelope e estava tentando voltar a colá-lo na embalagem quando ouvi um barulho na porta e, na pressa, joguei-o no meio das flores.
Enfim, penso ao beber mais um gole do bourbon barato e de má qualidade, o resto foi o pandemônio que vocês já sabem. Perdi a cabeça, trepei com uma colega de trabalho e acabei descobrindo que ela era uma virgem mentirosa que gostava de “tirar sarro” com a cara dos outros pela internet.
Uma gerente de alto nível, com 30 anos de idade, virgem! Seria uma situação até engraçada se não tivesse me feito revisitar um dos piores infernos do meu passado e, de quebra, me deixado com uma dor do caralho no saco por não ter gozado.
Parabéns, Wilka Maria!
Ergo a garrafa em um brinde a ela, pois conseguiu me levar a nocaute novamente e, dessa vez, nem precisou do joelho!
Estou tremendo, sem entender o que aconteceu aqui nesta sala, sentindo-me desconfortável por ainda estar sentada em cima da mesa. Olho para baixo e vejo a calcinha rasgada no chão, pétalas de rosa por cima dela, e um cheiro estranho em todo o ambiente.
Passo a mão nas minhas costas e sinto as plantas agarradas nela. Fecho os olhos, e as primeiras lágrimas caem silenciosas, pois não consigo me mexer. Nem sei quanto tempo se passou desde que Kostas saiu desta sala batendo a porta, correndo como se eu fosse um monstro.
Encolho as pernas, apoiando os pés no tampo da mesa e me abraço. Os dentes batem forte um no outro, tento parar de tremer, reorganizar os pensamentos, mas não dá. Não consigo entender o que aconteceu!
Se um dia alguém me perguntasse como eu gostaria que fosse minha primeira vez, certamente eu não iria descrever o que acabou de acontecer. Não seria de forma desvairada, em cima de uma mesa e sem nem tirar a roupa. Eu realmente gostei de ter minha calcinha arrancada e rasgada, gostei de sentir o desespero dele, porque também era como eu me sentia, mas o final, a reação dele ao fato de eu ser virgem, desconsertou-me.
Estava tudo indo tão bem, mesmo depois da dor, eu queria continuar, estava com o corpo ainda excitado pelo jeito que ele usara o seu próprio para me fazer gozar e queria mais, queria conhecer o que era o prazer que inebria tantas pessoas nesse mundo, e ele era o homem que meu desejo escolhera, era aquele que me fazia sentir e ansiar. Eu queria Konstantinos Karamanlis desesperadamente. Por isso, assim que vi seu rosto pálido e seu olhar de assombro, percebi que algo de errado estava acontecendo.
A princípio pensei que o susto no rosto dele fosse algo normal, pois não lhe contei que ele estava lidando com uma virgem de 30 anos de idade. Ele nunca iria imaginar, e eu não posso culpá-lo por não ter adivinhado. Kostas não me machucou de propósito, pelo contrário, não me penetrou assim que tirou minha lingerie, antes brincou com meu sexo e me fez estar preparada para recebê-lo.
Foi muito bom e prometia ser além de todas as minhas expectativas, mas agora sinto como se um enorme buraco tivesse sido aberto dentro de mim. Um vazio tão grande, o sentimento de rejeição, de abandono que não tenho como preencher com nada, nem mesmo com minha indignação.
Quero xingá-lo, amaldiçoá-lo, cuspir em sua cara e estapeá-lo até que me diga o motivo pelo qual me tratou desse jeito. Não consigo entender o que houve para que ele ficasse tão transtornado!
Respiro fundo várias vezes, tentando me acalmar. Seco o rosto com as mãos e desço da mesa. A pontada dentro de mim me lembra de que não sou mais a mesma. Mesmo que seja só uma questão anatômica, faz-me pensar em tudo o que poderia ter sido e que, por causa dessa condição, não foi.
Tento não pensar sobre isso, quero sair da sala o mais rápido possível, tomar um banho e me livrar do cheiro insuportável de rosas que impregnou meu corpo. Quero me livrar da sensação do corpo dele no meu, mesmo aquela que foi deliciosa.
Pego o que restou da calcinha e a jogo dentro da minha bolsa, que também resgatei do chão. Ajeito meu vestido, olho para o buquê amassado e as rosas despetaladas em cima da mesa e sinto o estômago embrulhar.
Junto tudo, limpo a mesa e sigo para o banheiro.
Meu rosto marcado pelas lágrimas me encara diante do espelho. Jogo as rosas no lixo, embrulho a calcinha em papel higiênico e faço o mesmo. Só então olho para o meu corpo. O vestido amarrotado não é nada perto das coxas pegajosas.
Sempre carrego lenços umedecidos na bolsa, então uso-os para me limpar e poder vestir a calcinha extra que também levo comigo para eventuais acidentes. Não vejo sangue, fato que me deixa aliviada, pois sempre imaginei que, quando perdesse a maldita virgindade, ele jorraria pernas abaixo, de tão antigo que estava o hímen lá, intacto.
A umidade que senti nas coxas era minha própria lubrificação e, talvez, a dele. Que loucura! Além do local impróprio, da correria, ainda íamos transar sem nenhuma proteção. Jogo água no rosto e me pergunto onde estava com a cabeça.
Nunca fui imprudente ou irresponsável em minha vida e, nesta noite, ignorei tudo isso por uma paixão avassaladora que resultou em mais uma ferida dentro de mim. Rejeição! O meu maior medo desde que percebi que o tempo tinha passado e eu continuava virgem. Uma virgem de 30 anos de idade!
Por que ele me rejeitou? Choro, soluçando, sem conseguir me conter. Sexo sempre foi uma questão tensa para mim, uma trava, uma vergonha que me fazia mentir e esconder que nunca tinha experimentado. Eu brincava sobre o assunto, criava fantasias tiradas de algum livro, escondia-me atrás de um personagem que inventei para mascarar meu medo.
Eu enxerguei o sexo como algo sujo por muito tempo. Sujo, doloroso, errado. Quando comecei a namorar, na adolescência, percebi que, ao contrário do pessoal da minha idade, eu não tinha a mínima vontade de ter minha primeira experiência, e, por isso, o relacionamento não deu certo. O garoto queria transar comigo, e eu sempre negava.
Depois, já na faculdade, eu comecei a sair com um homem e já logo o avisei que teria que ter paciência, pois não estava pronta para ir para a cama com ele. Foi aí que comecei a terapia, depois de fazer vários exames hormonais a fim de entender minha falta de libido e nenhum ter mostrado problema, e tentei entender o que acontecia comigo.
O Dado, meu namorado na época, foi superpaciente comigo e acompanhava o tratamento de perto, sempre querendo saber se podia fazer algo para ajudar. Um dia, depois de eu chegar da terapia um tanto desanimada, ele me consolou dizendo que não se importava com sexo, pois o que valia de verdade era o amor que sentíamos um pelo outro. Naquele momento, percebi outro fato alarmante sobre mim: eu não estava apaixonada.
Eu nunca tinha estado apaixonada por ninguém!
Terminei o namoro – não era justo ficar com alguém sem corresponder o sentimento – e tentei me entender antes de entrar em outro relacionamento, e o tempo passou sem que isso me incomodasse, sem que eu tivesse encontrado alguém que me fizesse querer mais do que beijos e abraços.
Entrei no estágio na Karamanlis, conheci tanta gente bacana, inclusive um rapaz da TI que vivia dando em cima de mim, e a as meninas ficavam botando pilha para eu ficar com ele. Ficava apavorada apenas com a possibilidade de que todos descobrissem que eu era virgem, afinal, já tinha 25 anos, era independente e não poderia explicar meus motivos sem me expor.
Foi aí que nasceu a personagem descolada, que não se prendia a ninguém e que tinha horror a relacionamentos amorosos. As meninas se divertiam com minhas aventuras sexuais. Era prático, eu saía à vontade com elas, avaliávamos os boys, falávamos besteiras, elas não tentavam me empurrar para ninguém na empresa, e eu não precisava inventar um namorado que um dia elas iriam querer conhecer.
Jane, a minha terapeuta, nunca aceitou esse jeitinho que dei, pois disse que só arrumei mais uma forma de me esconder do problema, mas eu estava confortável com isso.
Até conhecer Portnoy, embarcar com ele nas fantasias que sempre gostei de inventar, e o Kostas começar a me atrair.
Eu sempre notei e admirei homens gostosos! Isso nunca foi falso ou fingido. Um dos motivos pelo qual descartei a possibilidade de ser lésbica – porque pensei nessa possibilidade – foi exatamente por homens bonitos e gostosos chamarem minha atenção. Eu achava Theodoros Karamanlis um charme; Kostas, deliciosamente sexy; Millos, misterioso de um jeito que faz qualquer uma imaginar coisas sujas para ele; e Alex, do tipo para casar, com aquele rosto lindo e sorriso doce.
Isso sem contar os outros homens que já apareceram aqui na Karamanlis e que deixaram as meninas babando, inclusive eu.
Porém, nunca senti meu corpo responder eroticamente a nenhum deles, exceto ao Konstantinos. Justamente com ele meu tesão aflorou, e agora estou na merda, sem saber como vou conseguir conviver com ele depois disso tudo.
Peço um Uber para casa e, no caminho, mando uma mensagem para a Jane pedindo uma consulta urgente, e ela responde que me atenderá amanhã na hora do almoço.
Sinto-me apavorada apenas por pensar em como será enfrentar Konstantinos amanhã, e é assim que Verinha me encontra, no saguão do prédio onde moramos.
— Armaria11, o que houve? — ela me pergunta antes mesmo de me cumprimentar.
— Nada... — Tento sorrir, mas meus olhos se enchem de lágrimas.
— E eu sou cega, oxe?! — Puxa-me para dentro do elevador e me abraça. — Eu estou aqui, Kika, pode contar comigo para o que precisar. Se não quiser falar, não fale, mas pode usar meu ombro ou meus braços para se sentir melhor.
Eu soluço, mesmo tentando me conter. Nunca gostei de contar meus problemas a ninguém a não ser para a Jane. Sempre me senti mal por lamentar algo, ingrata ou mesmo dramática, mas dessa vez preciso de alguém para me consolar, para estar ao meu lado.
Chegamos ao nosso andar, e ela abre a porta do meu apartamento com sua cópia da chave. Kaká pula em minhas pernas, e eu o abraço. O cachorro percebe meu estado de ânimo e, ao invés de toda a festa que sempre faz, fica quietinho, dando-me lambidas esporádicas como quem faz um carinho de consolo.
— Vou passar um café enquanto você toma um banho e põe um pijama bem confortável, visse? — Ela praticamente me empurra para o quarto. — Chore o quanto precisar, Kika, o chuveiro leva embora as lágrimas e ajuda a amenizar qualquer dor.
— Obrigada, Verinha.
Ela assente e aponta para o banheiro.
Faço exatamente o que ela sugere e me enfio debaixo da água morna, deixando o pranto rolar sem nenhuma trava, expondo meus sentimentos a mim mesma e rasgando o peito. Estou magoada, confusa e com raiva. Tenho vontade de gritar, de bater, ao mesmo tempo em que quero me encolher como uma bola e ficar em algum cantinho, quieta.
Sinto ainda os efeitos do toque dele em mim, de seus beijos, do desespero de sua respiração, o orgasmo causado pela fricção de seu pau no meu clitóris. Tudo tão perfeito como sempre imaginei que sexo seria, mesmo em uma rapidinha descontrolada. Porém, então vem à mente a lembrança do jeito como ele se afastou, eu tentando ainda suavizar a situação, fazer graça mesmo estando confusa e com medo de sua reação.
O olhar dele mudou, seu rosto parecia transtornado, e, ao mesmo tempo em que estava ali comigo, parecia estar longe, vendo coisas, culpado e enojado por ter me desvirginado.
Saio do banho e ponho um pijama fresco e antigo, um dos últimos presentes de mamãe que ainda tenho. É como se eu pudesse sentir seu abraço, como gostaria de receber se ela ainda estivesse aqui.
— Beba! — Verinha me estende uma xícara, e eu provo o líquido quente e cheio de álcool.
— O que você pôs aqui? — pergunto fazendo careta.
— Conhaque. — Mostra-me a garrafa. — Fui lá em casa deixar o Kaká brincando com o Ferdinando e peguei a bebida. Vai ajudar. Bebe tudo.
— Já estou melhor. — Tento sorrir e me fazer de forte. — O banho realmente ajudou.
— Tenho certeza que sim, mas beba! — Ela serve-se de uma dose e a toma, dispensando o café. — Não importa o que houve lá no seu trabalho, quero que saiba que nunca conheci alguém tão focada e responsável quanto você.
Sorrio pelas palavras e agradeço.
— Não foi o trabalho, não se...
— Ah, puta que pariu, foi aquele nojento do Konstantinos? — ela dispara, pois já contei a ela das brigas épicas que tivemos. — Tenho abuso daquele homem!
— Eu não sei o que aconteceu — confesso. — Ainda estou confusa com tudo.
Fungo alto, soluço, e ela se senta ao meu lado. Conto tudo para ela, desde quando comecei a me sentir atraída, até a saída repentina dele da sala após termos quase feito sexo em cima da minha mesa.
— Eu vou capar aquele filho de uma égua! — ela diz nervosa. — Ele te machucou muito? O babaca deveria ter sido cauteloso e...
— Não, Verinha, não posso ser injusta. Ele não sabia, como eu disse, e não podia adivinhar, afinal, quem se mantém virgem na minha idade? Apesar da dor, que foi natural, eu o quis tanto que o tesão não me deixou raciocinar e pedir a ele que fosse devagar, eu tinha pressa! — Mesmo magoada, ainda sinto meu corpo reagir só por me lembrar de como nos atracamos como loucos dentro da sala. Suspiro. — Eu só não entendo a reação dele quando percebeu que eu era virgem.
Ela concordou e pegou minha mão.
— Por quê, Kika? Por que nunca transou com ninguém?
Dou de ombros, sem querer entrar em detalhes.
— Não me sentia pronta e nem tão atraída por alguém quanto me sinto por ele.
— Se sente pronta agora? — franzo a testa, sem entender a pergunta. — Ele é um babaca por ter reagido daquela forma, não deixe que isso te afete a ponto de pensar que todos os homens são assim. Você gostou antes de ele surtar, lembra? — Concordo. — Está pronta para encontrar um homem de verdade, que saiba fazer gostoso, sem afobação, que te dê o dobro de prazer que ele e ainda não reaja como um puto.
— Não tenho mais nada para assustar alguém e que denuncie que me tornei uma balzaquiana virgem e estranha — tento fazer graça, mas sai tão sentido que ela me abraça.
— Não deveria assustar. Se fosse um homem que valesse à pena, se sentiria privilegiado. Ele é um covarde!
Concordo com ela, mas ainda sinto mágoa e insegurança.
— Verinha, acha que ele surtou porque sou inexperiente e não o...
— Não seja lesa, rapariga! O homem mal conseguiu se conter ao seu lado e, mesmo depois de ter ficado cheio de melindre, ainda estava excitado, não foi? — Concordo. — Ele que tem algum problema, Kika, não você.
Verinha tem razão sobre isso. Mesmo se afastando, eu pude ver o quanto ele estava excitado, então não foi a falta de tesão que o fez reagir daquela forma. O que será que aconteceu com ele?, pergunto-me mais uma vez.
— Acho que você não tem com o que se preocupar agora. — Ela leva a minha xícara, vazia, para a pia. — Tem uma porção de caras legais que adorariam uma chance com você. — Sorri. — Inclusive conheço um que quase lambe o chão que você pisa e é um gostoso.
Nego.
— Verinha, eu não...
— Uma experiência de verdade para apagar essa “meia-boca” que você teve. — Pisca. — É o que você precisa para desencanar e seguir em frente. — Beija minha testa. — Vou buscar o Kaká para te fazer companhia. Vá descansar e acorde amanhã linda e brilhante como você é, visse?
Agradeço e, quando ela sai, pego meu amuleto dentro da carteira, apertando-o com força em minha mão antes de beijá-lo.
Seu sorriso é capaz de iluminar qualquer escuridão!
O som alto de Indifference12 me acompanha enquanto bebo mais uma dose de bourbon e abro o segundo maço de cigarros. De vez em quando canto junto à música, mas na maioria do tempo apenas a ouço enquanto bebo até cair, fumo até achar um pouco de prazer e acabo desmaiado no tapete da sala.
Estou há dias assim, desde que saí de São Paulo ainda desnorteado com o que aconteceu entre mim e Wilka e vim parar no imóvel que só uso raramente, geralmente em minhas férias, a pouco mais de 100 quilômetros da capital paulista, em uma pacata cidade na serra.
Vim para cá para fazer cessarem as lembranças e minha autodestruição ao visitar um local que evocava meus fantasmas. Não pensei muito, é verdade, apenas quis correr para me refugiar e buscar de novo um falso equilíbrio que mantém toda minha precária estrutura em pé.
Eu precisava me reestabelecer, mas, como já sei de cor, há muitos anos, não importa quão longe eu tente correr ou mesmo me esconder, os demônios sempre dão um jeito de me encontrar para cobrar sua tortura.
Não adiantou vir para cá! Fiquei apenas isolado do mundo – aqui não tem telefone, nem sinal de celular ou internet – e cheio de merda na cabeça. Tive pesadelos todos os dias, não consegui trabalhar, apenas mergulhei de cabeça na bebida até que ficasse inconsciente, mas, ainda assim, os sonhos voltavam.
Abandonei a Karamanlis em um momento em que deveria aproveitar a oportunidade, de estar sem Theo e Millos, para mostrar meu trabalho e começar a conquistar a confiança do Conselho e fodi com a melhor chance que já tive. Abandonei o projeto da Ethernium e, principalmente, abandonei, como um rato amedrontado, Wilka Maria.
Precisei desses dias longe para começar a questionar e a tentar avaliar tudo o que eu sabia da gerente marrenta e da Caprica sedutora e tentar encaixar à mulher quente, segura e virgem que eu descobri na segunda-feira à noite. Por mais que eu tente unir todos os pedaços que já me mostrou, não consigo completar uma imagem nítida dela.
Quem, afinal, é a mulher que me fez perder a cabeça? Por que se manteve virgem? E a pergunta principal: por que eu?
Tudo o que aconteceu me deixou muito confuso, além de ter trazido de volta coisas que eu gostaria de deixar para sempre enterradas no passado. Permiti-me usufruir de uma experiência que não tinha – ter relação sexual com uma conhecida – e acabei caindo nesse imbróglio todo.
Wilka Maria sempre foi capaz de me tirar do prumo, fosse me irritando a ponto de demonstrar como estava me sentindo – o que eu evito fazer a qualquer custo – ou me deixando louco de tesão, agindo sem pensar e contra tudo aquilo que estipulei para mim mesmo.
Trepar em uma mesa de escritório da Karamanlis? Nunca pensei que pudesse fazer algo assim, mesmo que fosse uma transgressão, e eu adorasse transgredir regras. Trepar sem nem me lembrar da porra da camisinha? Eu como putas! Nunca, em tempo algum, eu meti sem proteção, nem sei como é!
Gemo ao me lembrar da sensação da minha carne dentro da dela sem nada entre nós. Chego a estremecer recordando a sensação de calor, a umidade que envolveu meu pau e a pressão de uma boceta nunca explorada. Nada do que eu vivi até hoje pode ser comparado àquilo, nada!
— Caralho! — xingo ao sentir meu pau ereto e dolorido, como vem acontecendo todas as vezes que relembro a experiência com Wilka.
Eu ainda estou puto por ela ter omitido que era virgem e me deixado ser o primeiro. Não entendo o motivo que a levou a isso, se achou que sua virgindade iria me prender de alguma forma, fazer com que eu me sentisse responsável por ela ou se perdeu a cabeça como eu e estava tão fora de ar de vontade que se esqueceu de sua condição.
Repasso todos os momentos, tentando enxergar se, em algum instante, ela tentou me parar ou me avisar, mas tudo o que me vem à cabeça é a loucura, o desespero, o orgasmo e seus gemidos.
Fecho os olhos, cada vez mais confuso.
Eu me afastei, em partes, para evitá-la, pois, no calor do momento, fiquei tão puto que pensei que não iria mais querer olhar para ela. Mais uma vez me surpreendi, pois, três dias depois do ocorrido, estou aqui, no meio do mato, no meu santuário, dividido entre a vontade de esquecer o que aconteceu e de trepar com ela direito, até o fim, ensiná-la, conduzi-la ao prazer e receber em troca mais gemidos.
A verdade que estou tendo que encarar neste momento é que, mesmo que o sexo com ela tenha ressuscitado meus demônios, continuo querendo-a, cheio de tesão por aquela mulher tão confusa, que ainda não decifrei, mas que faz meu pau se contorcer de vontade.
Começo a rir como um louco bêbado quando She Talks to Angels13 começa a tocar e, como se fosse preciso de algo para me lembrar dela, penso em Wilka Maria, sua ironia afiada, inteligência aguçada, sensualidade e inocência.
Porra, eu estou muito fodido!
Canto alto, largado no tapete da sala, a lareira apagada e várias garrafas de bourbon vazias espalhadas pelo chão. Não me lembro de ter comido algo além de algumas bolachas velhas que estavam no armário, não sei quantos maços já fumei, e o álcool é o que tem me alimentado esses dias.
Foda-se!
— She don't know no lovers, none that I've ever seen. Yes, to her that ain't nothing, but to me it means, means everything.14
O som de repente para, e eu olho para o aparelho e quase engasgo com a bebida ao ver Millos parado lá com expressão assustada, olhando a zona na qual eu me encontro.
— Mas que porra está acontecendo aqui?! — pergunta.
Eu gargalho pela minha desgraça, pois tudo o que não precisava era de plateia para meu momento mais patético.
— Vá embora, ninguém te chamou aqui! — Tento me levantar, mas cambaleio e caio de volta ao chão.
— Você tem noção da merda que fez? — Millos se aproxima, e eu seguro a respiração.
Porra, ela contou para alguém na empresa?!
— Não quero falar sobre isso! — rebato. — Nunca se envolva com uma virgem, elas fodem com a gente!
O silêncio de Millos me faz voltar a cabeça em sua direção para encará-lo. Vejo-o pálido e com os olhos arregalados. É, seu puto, você também reagiria como eu, eu sei!
— Do que você está falando, Kostas? — sua voz parece falhar.
— Da merda que fiz, porra! — Deito-me no tapete, bêbado demais para me manter sentado sem apoiar as costas. — Eu não pensei que ela tornaria isso público, mas sei que foi uma puta merda ter trepado no escritório da empresa com uma funcionária. — Rio. — Isso se der para considerar uma botada, tão rápida como um meteoro, como uma trepada.
Escuto o som dos coturnos de Millos no chão de madeira e o acompanho com os olhos até ele se sentar no sofá com expressão cada vez mais confusa.
— Você e a Kika Reinol treparam? — sua entonação completamente surpresa me faz perceber que nós dois não estávamos falando do mesmo assunto. Caralho!
Começo a gargalhar como um louco, levanto os braços para tampar meu rosto, mas acabo levando um banho de uísque, o que me faz rir ainda mais. Sabia que a bebedeira afetava a coordenação e os reflexos, mas é a primeira vez que me deixa burro.
— Você não sabia! — constato o óbvio em voz alta.
— Claro que não! Como iria saber? — Ele se joga contra o encosto do sofá. — Mano, você faz tanta merda que nem sabe a qual eu estava me referindo!
Dou de ombros, pois concordo. Sempre fui um merda fazedor de merdas!
Millos pega uma das garrafas ainda cheias e bebe, no gargalo mesmo, um gole do bourbon. Não falamos mais nada, eu, preso nos pensamentos que ainda me assombram e confundem, e ele, talvez, digerindo o que acabei confessando.
— Você foi um filho da puta com seu irmão — ele começa, e eu bufo, não acreditando que ele invadiu meu santuário para falar do Theodoros. — Estou recebendo diariamente queixas dos conselheiros sobre ele, além de um pedido de auditoria geral sobre sua conduta.
Sorrio.
— A melhor notícia dos últimos tempos!
— Porra, Konstantinos, larga de ser um garoto birrento e pensa no que isso pode acarretar para a empresa! — percebo preocupação em sua voz. — Já pensou se essa merda toda vaza e vai parar na imprensa? Estamos fechando um negócio gigante, não podemos ter nosso nome manchado, mesmo que por suposições!
— Foda-se!
É claro que eu pensei nisso tudo, afinal, na época em que os escândalos e as merdas de Nikkós apareceram, as ações da Karamanlis foram ao chão, mas conseguimos nos reerguer e, se isso acontecer mais uma vez, daremos a volta por cima de novo.
— Às vezes me sinto como se fosse um professor de jardim de infância, cuidando das brigas de vocês. Já estou sem paciência para isso e tenho coisas mais importantes a fazer do que ser babá de um monte de adulto infantilizado! — sua fala me surpreende, pois ele, apesar de sempre defender a paz entre os irmãos Karamanlis, nunca se mostrou tão estressado por ser mediador dos nossos conflitos.
— O que você veio fazer aqui, Millos? — pergunto, tentando manter o mínimo de sobriedade para conversar.
— Cheguei a São Paulo hoje e descobri que a empresa está sem comando desde terça-feira, pois Theodoros viajou, e você sumiu. Liguei para seu telefone, mandei mensagem, fui até seu apartamento, e nada! O porteiro disse que você não tinha retornado e, além disso, um carro da empresa sumiu, e o vigia da garagem disse que você tinha saído com ele na segunda-feira à noite — relata. — Como pensa que fiquei? Porra, achei que tinha acontecido alguma merda e, por sorte, antes de começar a acionar a polícia e o caralho a quatro, decidi vir até aqui.
— Só te esperava na empresa na segunda-feira da próxima semana.
— Então agradeça por eu ter voltado cedo, porque a empresa parecia um caos! Os seus advogados, todos “baratinados”, os hunters, atolados, precisando de algum tipo de documento que você ficou de apresentar a eles, e as decisões gerais da empresa, paradas, pois nenhum dos três diretores principais estavam presentes. — Ele respira fundo. — E que história é essa com Kika Reinol?
— Esquece... — tento encerrar o assunto, mas conheço-o bem demais para saber que ele não deixará por isso mesmo.
— Não! Konstantinos Karamanlis tendo um caso com uma funcionária? E o mais alarmante: com Kika Reinol, seu desafeto público? — Ele ri.
— Não estou tendo um caso, porra! — Irrito-me. — Eu não tenho casos! Eu só perdi a cabeça e... Ela é a Caprica, você acredita nisso?
Escuto-o gargalhar.
— Vocês finalmente marcaram um encontro e, por isso, descobriram a identidade um do outro?
Nego.
— Eu descobri; ela não sabe. — Soluço em efeito à bebida. — Eu comecei a me sentir atraído por ela, estranhei e tentei não dar atenção a isso, mas, quando descobri que ela era a Cabritinha, não deu. — Gargalho. — A mistura da executiva esquentadinha com a ninfa do sexo online me fodeu a mente.
Millos assente.
— E o que aconteceu que te deixou assim? — Ele aponta para minha roupa, a mesma que uso desde segunda-feira, e meu estado lastimavelmente bêbado.
— Descobri que, além de executiva e ninfa da sacanagem, ela também era uma virgem!
Millos arregala os olhos.
— Kika Reinol virgem? Tem certeza disso?
Rio ironicamente, ainda me lembrando da barreira e da pressão que senti quando ela cedeu.
— Absoluta. — Fecho os olhos para não me lembrar de seu grito de dor, pois ele sempre me leva de volta aos meus pesadelos.
Millos se levanta do sofá, abandona o bourbon e tenta me erguer do chão.
— Vou te pôr no banho; você está fedendo!
Eu rio de mim mesmo.
— Eu sou um escroto, Millos. — Ele concorda. — Eu sempre soube que não deveria mudar as regras do jogo. Eu sou uma fraude, um pulha, um filho da puta cheio de merda e escuridão e não posso, de jeito algum, me envolver com alguém como ela.
Meu primo, que já tinha começado a me arrastar em direção ao banheiro, para.
— Porra nenhuma! Larga dessa merda! O que aconteceu no passado foi pesado, mas já passou! Olhe para a frente!
Gargalho sarcasticamente.
— Você consegue olhar? — pergunto, e ele bufa. — Já conseguiu superar tudo o que você viu e viveu naquela casa?
— Não estamos falando de mim, Kostas — responde seco. — Nunca entendi essa coisa de só trepar com prostitutas, mas, como eu também tenho minhas preferências, nunca questionei. — Millos me encara. — Você nunca tinha feito sexo com ninguém que conhecesse; isso significa, então, que Kika Reinol vira sua cabeça de um jeito que não pode controlar. Isso é bom.
— Bom? É um tormento! — Chego ao banheiro e, enquanto ele abre o chuveiro, vou tirando a roupa. — A mulher me irrita, me excita, me confunde a tal ponto de me fazer ter vontade de esganá-la e de fazê-la gozar ao mesmo tempo.
— Sempre prefira dar prazer, mesmo querendo causar dor. — Ele se afasta para que eu entre no banho.
Nunca entendi bem o que ele faz na intimidade; embora falemos de tudo, nesse quesito de sua vida, Millos é uma incógnita. Sei que frequenta alguns clubes e que não se envolve com ninguém também, tem casos esporádicos, mas nunca os revela.
Ele tem uma amiga de muitos anos, e eu sempre desconfiei que rolasse algo entre eles, mas nunca tive nenhuma evidência. Sempre pensei que ele fosse um tipo de dominador que curtia sadomasoquismo. No entanto, pelo pouco que sei sobre o que passou, é impossível imaginá-lo com um chicote na mão.
— Não vai acontecer de novo — informo, voltando a pensar em Wilka.
— Por que não? Perdeu o tesão quando descobriu que ela era virgem?
Nego.
— Isso fodeu minha cabeça, você pode imaginar. — Ele assente. — Mas não, mesmo depois de ter ficado desse jeito, de ter revivido um dos piores momentos da minha vida, ainda quero estar dentro dela.
Millos vai até a pia e lava o rosto, enquanto eu deixo a água cair sobre minha cabeça para, quem sabe, voltar à racionalidade.
— Eu a machuquei — confesso, sentindo meu corpo inteiro tremer ao pensar nisso. — Vi em seu rosto que ela sentiu dor, e seu grito foi como se uma faca se enfiasse em mim. Eu não fazia ideia; se soubesse, não teria me aproximado dela.
— Eu sei — Millos diz apoiado na pia, de costas para mim. — Somos fodidos demais e temos medo de contaminar um inocente. Kika pode ser uma executiva segura de si, mas, nesse aspecto, é inexperiente e deve ter ficado assustada quando você surtou em cima dela. — Ele me olha pelo espelho. — Por que, pela forma como te encontrei aqui, você surtou, não foi?
— Abandonei-a lá, em cima da mesa, sem dizer nada. — Soco a cabeça contra a parede do banheiro. — Era como se eu estivesse lá de novo!
— Eu sei, Kostas, mas ela não sabe. Não é comum uma mulher da idade dela, independente como é, não ter tido experiências sexuais. Ela tem algum motivo para isso, e sua reação pode tê-la traumatizado.
Tento continuar indiferente, o rosto sem nenhuma expressão, mas, dentro de mim, dou razão a ele e temo por ela. Não queria quebrá-la como eu sou quebrado, não tinha intenção alguma de contaminar ninguém com minha podridão e, infelizmente, isso pode ter acontecido.
— Não tive a intenção de machucá-la, embora o tenha feito de muitas formas. Isso não me isenta da culpa, nem ameniza o que eu possa ter causado a ela, mas reforça que devo me manter longe, mesmo que ainda sinta atração.
Millos pensa por um momento e depois concorda.
— Sim, vamos esperar que essa experiência ruim não a impeça de encontrar alguém que mostre, ensine e compartilhe com ela o prazer de verdade, e ela esqueça a foda dolorosa e incompleta que teve com você. Talvez o que a travava era o constrangimento de ainda ser virgem. Isso ela não é mais, então pode aproveitar bastante agora e realizar todas aquelas fantasias sujas que criava com você no aplicativo.
Não consigo me conter e arregalo os olhos ao pensar nisso. Wilka não é tão inocente quanto eu a estou vendo, apesar de sua virgindade. Ela ficou, por mais de um ano, contando-me suas fantasias e compartilhando comigo todas as suas vontades. Pensar que ela fará isso com outro daqui para frente me causa uma estranha sensação de posse e uma enorme vontade de socar a cara do Millos por falar disso.
— Bom, a relação profissional de vocês já não era boa, então ninguém vai estranhar que se evitem daqui para frente e que ela não lhe dirija mais a palavra. — Millos dá de ombros. — Você continua com suas putas, e ela, descobrindo novas experiências. É perfeito. — Sorri. — Acho que você, na verdade, fez um favor para ela.
Reconheço o joguinho dele. O filho da puta é uma raposa sorrateira na hora de manipular alguém, porém, eu o conheço o suficiente para não cair em suas armadilhas.
— É verdade! — Sorrio, como se ele tivesse me aliviado depois dessa constatação. — Sinto-me bem melhor agora!
— Então podemos voltar para a Karamanlis amanhã de manhã. — Seca as mãos e caminha para a saída do banheiro. — Esse seu chalé nas montanhas é até interessante no inverno, mas, em pleno verão, isso aqui lembra uma sauna!
O banho me faz sentir melhor, e eu levanto uma das minhas sobrancelhas para ele.
— Não o mandei vir atrás de mim!
— Não precisa demonstrar tamanha gratidão, tenho certeza de que faria o mesmo por mim. — Sorri, maléfico. — Não que eu, um dia, vá fazer metade das merdas que você faz.
— Vai se foder, Millos! — grito antes de ele fechar a porta do banheiro.
É hoje!, penso nervosa ao conferir as horas, saindo da fila do Starbucks, carregando a bolsa extra que trouxe para a empresa por causa do encontro que terei mais tarde.
Há anos não saio com um homem interessado em mim, então acho que posso estar enferrujada. Verinha diz que isso é meu medo falando, e talvez seja, mas essa constatação não diminui em nada meu nervosismo e ansiedade.
Chego à empresa e, como sempre, converso com as meninas da recepção antes de subir, depois vou parando para cumprimentar cada funcionário da Karamanlis que encontro, desejando bom trabalho e, hoje, comemorando a chegada do final de semana.
— Ei, Kika, vamos para uma happy hour no final do expediente? — doutora Eleonora, do jurídico, convida-me assim que nos encontramos no corredor.
— Hoje não dá, mas vamos marcar para a semana que vem.
Ela assente e suspira.
— Ah, boas notícias, o chefão voltou. — Eleonora faz careta, e eu tento disfarçar minha reação.
— Ele está na sala dele ou na minha? — pergunto, coração disparado.
— Na dele, com Millos, que também retornou. — Ela levanta uma pasta para que eu a veja. — Já comecei a ser garota dos recados de novo! Vou lá, senão o homem vai me massacrar.
Despeço-me dela, mas continuo parada no corredor. Não me encontro com Kostas desde aquela noite estranha em que perdi a virgindade, e ele, a cabeça. Fiquei extremamente aliviada por não o ter visto na terça-feira; indignada por ele estar me evitando, na quarta; e um tanto preocupada quando soube que ele havia sumido, na quinta-feira.
Em todos esses dias, uma só pergunta martelava minha cabeça: o que acontecera para que ele reagisse daquele jeito?
Volto a caminhar na direção da gerência e penso no quanto chorei abraçada ao Kaká naquela noite. Sentia-me magoada demais com tudo o que acontecera, confusa e triste. Na manhã seguinte, refiz-me, tomei meu banho, esmerei minha maquiagem, coloquei uma roupa que me deixava linda e poderosa e, quando vi a Verinha, ela abriu um baita sorriso.
— Rapariga, você está linda e plena! — Beijou-me. — É isso aí, deixou tudo no travesseiro e acordou para dar a volta por cima!
— Já passei por muita coisa na vida, Verinha; isso não me mata, só fortalece. — Afastei-me para que ela entrasse no apartamento no mesmo momento em que Vinícius chegava do trabalho, todo trabalhado na farda de bombeiro. — Bom dia! — cumprimentei-o. — Acabei de passar um café, aceita?
Ele fechou os olhos e abriu um enorme sorriso.
— Você é um anjo! — Entrou e cumprimentou a Verinha, que, além de estar com Kaká no colo, já havia se servido do café. — Fiz dois turnos seguidos, estou morto, e o café do Rancho é uma água de batata filha da puta!
Servi a bebida para ele e lhe ofereci biscoitos.
— Não, obrigado. — Bebeu. — Isso aqui é o suficiente para me abastecer até eu tomar meu banho e desmaiar na cama. — Verinha se afastou para a sacada, e ele pegou minha mão. — Você está linda! Gostou mesmo das rosas?
A lembrança do buquê fez meu corpo todo arrepiar por motivos diferentes. Primeiro, por evocar a delícia que foi com Kostas antes de ele descobrir sobre minha condição; segundo, pela outra recordação, triste, por ter jogado as flores fora, pois estavam todas amassadas.
— Obrigada, adorei. — Sorri. — Perfumaram demais meu escritório.
— Eu queria ter te enviado um convite também, mas ainda não sei se já posso dar esse passo. — Piscou. — Adoraria te levar para jantar qualquer dia desses.
Respirei fundo e pensei no que conversara com Verinha e em seu conselho de buscar novas experiências. Vinícius já provara que era um homem incrível, além de bonito e sedutor, então, por que não?
— Sexta-feira à noite estou livre. — Levei minha xícara até a pia. — Você estará de folga?
— Estarei, sim! — disse animado. — Fiz uns plantões extras para outro oficial, mas o meu é de quarta para quinta, depois disso estou de folga. Você quer mesmo?
Assenti, e ele comemorou, fechando olhos e vibrando.
— Podemos nos encontrar em algum local...
— Tem um restaurante novo. — Ele pegou o celular. — Vou mandar o nome e algumas fotos para você e, se gostar, faço reserva.
— Ótimo! — Ele me entregou sua xícara vazia. — Gosto de gente planejada como eu.
— Eu espero que você goste de muito mais coisas em mim do que só da minha organização. — Aproximou-se e me deu um beijo na testa. — Eu sou um homem de sorte por você ter aceitado jantar comigo, obrigado.
Fiquei sem jeito e, por isso, apenas sorri e agradeci quando Verinha apareceu com Kaká já em sua coleira. Comentei o horário, já estava um pouco atrasada, e todos saímos juntos do apartamento. Verinha foi comigo até o elevador, e Vinícius entrou em seu apartamento.
— Volta por cima! — minha vizinha comemorou. — É isso aí, amiga, dê em alto estilo! — Ela se abanou. — O homem é um tesão de farda!
Ainda estava rindo, lembrando-me dela, quando entrei na Karamanlis. A tensão da expectativa do encontro me deixou nervosa, diferente do que sou, e algumas pessoas perguntaram se eu estava bem.
Abri a porta da minha sala com medo do que iria encontrar, mas não havia nada além de lembranças da noite anterior. Konstantinos não estava lá. Trabalhei o dia todo, assustando-me a cada vez que Leo ou Rosi entravam sem bater à porta, mas fiquei aliviada quando terminou o dia, e não nos encontramos.
Nos outros dias, eu estava menos tensa, decidida a tratá-lo normalmente caso me procurasse, ensaiando uma fala leve e despreocupada sobre o que acontecera, porém, ele não apareceu.
Ontem ouvi, durante o almoço, que Kostas havia sumido. Ninguém tinha notícias dele, nem mesmo seu séquito de advogados, e, além de o diretor jurídico estar sumido, tinham encontrado sangue em um dos elevadores, o espelho quebrado, e um dos carros havia sido levado, tudo isso na segunda-feira à noite.
O pessoal já estava criando teorias, e a maioria achava que Konstantinos havia sido sequestrado. Foi aí que eu percebi que algo muito mais sério acontecera naquela noite quando ele descobrira que eu era virgem e que isso o fizera desaparecer todos esses dias.
Então, mesmo ainda magoada e com raiva, fiquei preocupada com ele, pois estava transtornado demais quando saiu de perto de mim e fugiu. Essa era a sensação que eu tinha, de que ele havia fugido de algo, mas do quê?
— Bom dia! — Leonardo me cumprimenta assim que entro. — Novidades! O Bostas voltou para a empresa, e o doutor Millos também! Ao que parece, o homem não foi sequestrado, embora ninguém possa explicar o dano e o sangue em um dos elevadores. Parece que ele apenas precisou de uns dias para descansar. — Leo chega perto para cochichar: — Embora o pessoal da central da fofoca tenha dito que a mão dele está com ferimentos.
— Bom, ainda bem que voltou. — Tento parecer indiferente ao que ele falou. — Precisamos acertar as viagens para conhecer os lugares para a Ethernium, e ele não indicou ninguém ainda para ir. Tomara que tenha voltado com disposição para trabalhar.
Lene me entrega uns arquivos, e, depois de cumprimentar a todos da equipe, começo meu dia de trabalho, ajustando o despertador para um horário um pouco mais cedo do que costumo sair, pois me arrumarei aqui mesmo na empresa para o encontro com o Vinícius.
Olho para a mesa do Kostas, ainda aqui na sala, e penso em sua mão machucada e nesses dias todos que ficou sem dar notícias.
O que houve, de verdade, naquela noite?
— Uau! — Carol exclama assim que eu saio do banheiro da gerência. — Você quer matar quem com essa roupa?
Faço careta e passo a mão pelo vestido.
— Está demais? — Dou uma volta completa para que ela avalie tudo. — Comprei-a em um impulso, depois de ver a foto do restaurante onde vou jantar. É um lugar novo, chique, culinária francesa e mesa reservada. Exagerei?
Ela nega e mexe em sua bolsa.
— Acho que podemos só fazer algo com seus cabelos. — Ergue uma chapinha tão minúscula que eu franzo o cenho, sem entender. — Ele é lindo liso, mas você sempre o usa assim; vamos ondular um pouco.
— Com chapinha?
Carol ri e liga o aparelho em uma tomada.
— Eu trabalhei em salão até conseguir esse estágio, então, pode confiar em mim, sairá daqui ainda mais linda do que está agora.
Sento-me na cadeira, olho o celular, e ela começa a ondular minhas madeixas. Vinícius já me mandou duas mensagens hoje, a primeira para confirmar, e a segunda para dizer que estava nervoso e que não saía para um encontro desde que ainda estava na Escola de Bombeiros.
Acho-o tão fofo que tenho receio de a atração entre nós não acontecer mesmo e eu o chatear. Sei que é só um encontro com um jantar, mas tenho certeza de que, ao final da noite, ele vai querer me beijar e, talvez, fazer sexo, e eu não sei se estarei no mesmo clima.
Vejo uma mensagem da Jane, confirmando a consulta para amanhã e me lembro da tarde em que fui ao seu consultório, contei-lhe o que havia acontecido, e ela, de maneira mais profissional e séria, deu-me quase o mesmo conselho que Verinha.
Seguir em frente!
— Pronto!
Carol desliga o aparelho e me estende um espelho pequeno, mas suficiente para eu ver a diferença que as ondas fizeram no meu rosto.
— Eita! — exclamo. — Quem é essa mulher bonita me encarando?
— Bonita, não! Você está de parar o trânsito! — Ela confere as horas. — Preciso ir, senão vou me atrasar para a faculdade. — Beija-me no rosto. — Divirta-se!
Agradeço-lhe seu trabalho e pego as sandálias de salto na sacola que trouxe para a empresa. Retiro meus scarpins de salto médio para colocar uns que me dão, pelo menos, mais uns 15 centímetros de altura.
Vou até minha sala, guardo a roupa com a qual trabalhei o dia todo, o sabonete e a toalha que usei para tomar banho e coloco um pouco de perfume.
Meu celular apita uma notificação, e eu corro até ele, esperando ser notícias de Portnoy. O homem disse que ia viajar. Eu achei que era desculpa, mas parece que era mesmo verdade, pois não respondeu mais nenhuma das mensagens que lhe mandei desde terça-feira.
Queria muito conversar com ele, não sobre Kostas, mas sobre um encontro entre nós. Não sei se pessoalmente a química que temos juntos online se confirmará, mas é algo que eu gostaria de tentar, mesmo porque, exceto Konstantinos, apenas ele mexeu comigo a ponto de me atrair.
Talvez, transando com Portnoy e tendo um pouco do que sinto quando apenas me masturbo para ele, consiga abandonar Konstantinos e aquela primeira vez tão esquisita.
Infelizmente, não é meu amigo virtual, mas sim Verinha, desejando-me boa sorte com Vinícius e reforçando que eu não tenho que fazer nada que não queira, que somente tenho de curtir o momento e deixar acontecer naturalmente.
— Esse é o plano, minha amiga — respondo para mim mesma e digito uma mensagem para ela.
Antes de sair para o corredor que divido com a diretoria jurídica e o único acesso para os elevadores, penso que Konstantinos me evitou o dia todo. Mandou e-mail avisando que David voltaria a assumir a frente da conta e que tudo deveria ser resolvido com o advogado e pediu para pegarem as coisas dele depois do almoço.
Estive tentada a ir até a sala dele para lhe pedir explicações, mas todas as vezes pensei melhor e desisti. Não tenho que cobrar e muito menos exigir nada dele. Tentamos uma transa; não deu certo, bola para frente. Se ele prefere lidar com isso fingindo que nada aconteceu entre nós, então que assim seja feito.
Abro a porta da gerência e espio a da sala principal do jurídico, encontrando-a fechada e sem um barulho sequer vindo do salão onde ficam os advogados.
Tranco a porta – coisa que sempre fazemos às sextas-feiras – e ajeito no ombro minha pequena bolsa com alça metálica antes de seguir na direção dos elevadores.
Rememoro a rota e o endereço do restaurante e chamo o Uber enquanto espero o elevador chegar. Mais uma mensagem de Vinícius entra, reclamando do trânsito e me pedindo para esperá-lo no bar caso se atrase.
“Pode deixar, não se preocupe! Já estou saindo da Karamanlis, então devo chegar antes, sim.”
Ainda estou sorrindo enquanto termino de digitar a mensagem quando o elevador chega e as portas se abrem.
— Boa noite, Kika Reinol! — Millos me cumprimenta, e eu tiro os olhos da tela do telefone para cumprimentá-lo de volta e entrar no elevador, mas fico muda ao ver, junto a ele, Konstantinos Karamanlis.
A dor de cabeça foi minha companhia ao longo do dia de hoje, desde o momento em que Millos me acordou, ainda no chalé, até este momento. Faço massagem nas têmporas, tentando aliviar um pouco o desconforto, mas não consigo.
Se a dor não tivesse sido causada por um porre, eu a curaria com bourbon. Contudo, depois da quantidade que bebi, não posso nem pensar na bebida, que meu estômago embrulha.
O taxista me olha pelo retrovisor, impaciente, mesmo com o taxímetro correndo, enquanto estamos parados. Finjo não perceber sua irritação e continuo massageando a cabeça, decidindo o que devo fazer.
Voltei para a capital dirigindo, e Millos me acompanhou em sua moto. Depois, passei em casa, tomei outro banho e um analgésico, coloquei um dos meus ternos e fui para a empresa.
Como estive sem sinal no telefone, havia uma porrada de e-mails e mensagens para eu ler, mas senti o corpo gelar ao ver o símbolo do Fantasy e a indicação de que me mandaram mensagens privadas. Como minha conta está fechada para os outros perfis, só podia ser uma pessoa: Caprica.
Abri o chat e senti meu sangue ferver ao ver mensagens descontraídas dela desde terça-feira, e algumas sensuais, reforçando o convite para nos conhecermos pessoalmente. Era para eu me sentir aliviado por ela não estar mal, ter seguido normalmente sem que o que aconteceu entre nós a influenciasse, mas não, não senti porra nenhuma de alívio, só indignação por ela já ter partido para outra.
Decidi cancelar de vez a conta do aplicativo, mas, assim que entrei na página principal, vi a notificação de que Caprica havia liberado a conta e que estava ativa novamente. Isso me enfureceu tanto que ativei a minha também e desisti de cancelar o Fantasy.
Pensei em ir até a sala dela quando cheguei ao nosso andar, fingir que nada acontecera e trabalhar o dia todo com ela, mas a ideia era tão ridícula que fui para a diretoria jurídica, disposto a ignorá-la o dia todo como se não existisse. Achei que ela, em algum momento, viria até mim, mas, conforme o tempo foi passando, descobri que estava tratando com uma criatura tão orgulhosa quanto eu.
Resolvi provocar e mandei um e-mail renomeando David para trabalhar à frente da Ethernium, aguardei, e nada. Depois pedi a uma estagiária que recolhesse minhas coisas lá e fizesse questão de dizer que eu estava na empresa e que fora ordem minha, porém, ela não apareceu de novo.
Convenci-me, então, de que a melhor resolução era manter distância, mesmo estando com as palavras do Millos, sobre ela encontrar outro para realizar as nossas fantasias me incomodando a mente a cada momento.
Eu não queria um envolvimento além do sexual com ela, nunca quis e continuo não querendo, mas o que aconteceu entre nós naquela noite não poderia ser considerado, e eu ainda queria mais.
Mergulhei de cabeça nos processos e só me dei conta da hora quando Millos me chamou à sua sala e olhei para o relógio. A maioria dos funcionários já havia saído, só David e Murilo ainda estavam em suas estações de trabalho, finalizando algo.
— Doutor, acabei de marcar a viagem ao Rio de Janeiro e estou só esperando a indicação de qual dos hunters irá comigo — David me informou. — A partir de segunda, vamos começar a fazer os cronogramas das reuniões nos estados e, a partir daí, marcar com o cliente.
— Ótimo, deixe-me sempre ciente.
Despedi-me deles, pois não voltaria mais para a diretoria jurídica e segui – não sem antes olhar a porta da gerência de hunter – para o andar superior, onde Millos me esperava em sua sala.
— Essa merda toda que você fez... — ele falou assim que entrei em sua sala e apontou para um documento em cima da mesa — acho que isso ainda vai causar muitos prejuízos à empresa. — Peguei o papel, mas, antes que eu pudesse ler, Millos explicou: — Pedido de auditoria!
Respirei fundo, mas dei de ombros, sem nenhuma expressão de preocupação ou arrependimento.
— Você não acha temerário que ele se envolva com uma mulher e isso afete o trabalho na Karamanlis? Há anos a empresa tenta comprar aquela porra de boteco, e ele desiste assim, por causa de uma boceta...
— Kostas, cala a boca! — Millos pareceu muito irritado, e isso me surpreendeu, pois ele nunca perde a compostura.
Ele sabia de algo, eu tive essa impressão. Millos tem relacionamento com todos nós, conhece os segredos de todos, obviamente saberia se estivesse acontecendo algo mais do que um caso entre Theodoros e a dona do boteco.
— Do que você está sabendo, Millos? — perguntei, mesmo tendo consciência de que ele não me falaria.
— De nada! Eu só acho que, se Theo tomou essa decisão, ele tem algum motivo que a respalde.
Sua resposta não me convenceu o mínimo. Tinha certeza de que ele sabia mais do que estava me falando e, pela sua descompostura, podia apostar que era algo de proporções grandes e que o filho da puta estava se mantendo calado para manipular a vida de alguém.
— Como foi com a Kika Reinol hoje? — ele mudou de assunto, e eu tive a confirmação de que, sim, ele sabia de algo e estava deliberadamente escondendo.
— Não foi. — Levantei a sobrancelha. — Designei o David de volta para a conta da Ethernium. Assunto encerrado.
Millos abriu um sorriso pretencioso, claramente duvidando do encerramento do assunto, e eu fiz minha cara de tédio para ele.
— Entrou em contato com Theodoros para falar sobre a auditoria? — indaguei, voltando ao assunto.
— Não, ele já está lidando com merda demais tendo que conviver esses dias com nossos familiares, não vou preocupá-lo antes da hora. — Eu ri e o chamei de baba-ovo. — Vai tomar no cu, Kostas. Eu faria o mesmo se fosse com você, seu babaca.
Eu tive que admitir isso e enfiar meu rabo entre as pernas.
Saímos juntos do escritório dele. Convidei-o para beber, mas ele se negou, dizendo que precisava ir para casa.
— Algum problema? — questionei ao notá-lo um pouco ansioso.
— Nenhum — respondeu, digitando uma mensagem em seu telefone. — Só quero passar um tempo em casa, já estive muitos dias fora, preciso organizar umas coisas.
Gargalhei ao entrar no elevador.
— Você organizar coisas naquela zona que chama de casa? Definitivamente, Millos, você tem algum problema por lá e não quer abrir o jogo! — decidi provocá-lo. — Pois bem, vou até lá para ajudá-lo.
— Não! — ele respondeu sério no exato momento em que paramos no andar da minha diretoria.
Assim que as portas do elevador se abriram, arregalei os olhos ao ver Wilka Maria parada, de cabeça baixa, sorrindo e escrevendo alguma mensagem no telefone. No mesmo instante pensei no Fantasy e em sua conta ativa, recebendo propostas de encontros para foda e realizações de fantasias.
— Boa noite, Kika Reinol! — Millos a cumprimentou, e ela tomou um susto ao nos ver dentro do elevador. Olhei-a detalhadamente, desde as sandálias altas de saltos finos; suas belas pernas bronzeadas, que me chamaram a atenção mesmo sem eu saber a quem pertenciam, sumindo da metade das coxas para dentro de um vestido preto, justo e que deixava seus ombros de fora.
Os cabelos dela também estavam diferentes, embora eu não conseguisse dizer exatamente o que ela tinha feito, porém, pareciam mais vivos, com um balanço diferente.
— Boa noite, doutores — ela nos saudou e entrou no elevador, e sua boca pintada de vermelho atraiu meus olhos como se fosse uma chama. Apenas balancei a cabeça em cumprimento e, quando ela se virou, ficando de frente para as portas e de costas para mim, quase gemi ao ver o quanto o vestido ressaltou sua bunda perfeita.
Puta que pariu!
Remexi-me, incomodado, e meu primo segurou o riso, percebendo o desconforto causado pela minha ereção inconveniente.
— Com todo respeito — Millos puxou assunto com ela —, a senhorita está lindíssima!
Olhei para ele com minha sobrancelha erguida, sem entender a merda do jogo que ele queria começar. Wilka não se fez de rogada e lhe agradeceu, em meio a sorrisos, o elogio.
— A vida não é só trabalho, não é, doutor Millos? — Ele assentiu. — Essa semana foi bem puxada, trabalhando praticamente sozinha na conta da siderúrgica, então decidi aproveitar um pouco hoje à noite.
Respirei fundo e crispei as mãos de raiva, pensando em como exatamente ela pretendia aproveitar a noite.
— Está certíssima! Aliás, preciso parabenizá-la pelo trabalho excelente que vem fazendo, mesmo na ausência de Kostas durante esta semana. — Ela olhou para trás e me espiou de rabo de olho. — Estamos todos muito felizes por você ter retornado à empresa no momento certo, não é, Konstantinos?
Filho da puta!
— É, sim, muito felizes! — resmunguei entredentes e esperei algum comentário mordaz dela sobre meu sumiço ou mesmo alguma piadinha, mas não, ela apenas sorriu em agradecimento e voltou a olhar para frente.
O elevador parou antes de chegar ao térreo, mas não havia ninguém esperando-o, então Millos saltou para fora de repente e se despediu.
— Eu preciso mesmo ver umas questões aqui com Alexios e acho que ele ainda está na empresa. — Olhou para a gerente. — Divirta-se muito e compense a semana pesada que você teve. — E depois para mim — Boa noite, Kostas.
Assim que o elevador se fechou e começou a descer de novo, o clima dentro dele mudou, ficou pesado e tenso. Eu segurava na barra de acessibilidade próxima ao espelho – que eu já tinha percebido que haviam substituído – e tentei ignorar o quanto ela estava cheirosa e a vontade que tinha de pressioná-la contra as paredes frias de inox, fazer o elevador parar e fodê-la até que desistisse de qualquer outra diversão que não fosse eu.
Não o fiz, claro, estava decidido a manter distância e o faria de qualquer jeito. Descemos no térreo e caminhamos lado a lado até a calçada da Paulista sem nem mesmo uma palavra. O silêncio dela me incomodava, mas eu não conseguia achar um modo de quebrá-lo.
Notei o táxi parado à porta da empresa e esperei para ver se era o veículo que ela esperava, mas, como ficou na calçada, supus que ou tivesse pedido um Uber, ou mesmo que estivesse esperando uma carona.
— Boa noite, Wilka — despedi-me, e ela finalmente me encarou.
— Boa noite, doutor. — E, sem que pudesse se controlar, olhou para a minha mão, ainda com algumas escoriações do soco que dei no espelho do elevador. — Está tudo bem?
É claro que não, porra! Com quem você marcou de se encontrar?! Vai foder por aí, agora que está se achando muito experiente depois de ter se livrado da virgindade tardia?, era o que eu queria dizer a ela, porém, contentei-me com:
— Tudo ótimo! Divirta-se!
— Eu vou, não se preocupe! — E abriu um daqueles seus sorrisos que chegam até os olhos e a deixam ainda mais sexy.
Comecei a caminhar na direção do meu prédio, quando vi o Uber se aproximar, o motorista chamá-la pelo nome, e ela entrar. Olhei para o táxi e não pensei duas vezes, pulei para dentro do veículo e disse a frase mais ridícula e clichê do mundo:
— Siga aquele carro!
Pois bem, é por isso que estou aqui, neste momento, com uma puta dor de cabeça, parado em frente ao restaurante francês em que já estive antes com Millos, recebendo olhares interrogativos do taxista, que deve pensar que sou um tarado ou um corno por ter seguido a mulher até aqui.
Bem, não sei o motivo pelo qual vim para cá e nem de tê-la seguido, mas já estou aqui e não sou homem de recuar no que faço. Tiro o dinheiro da corrida da carteira e saio do carro, liberando o taxista.
— Boa noite! — uma recepcionista muito bem-vestida e linda me cumprimenta. — O senhor possui reserva?
— Não, mas posso ficar no bar?
— Claro! — Ela me pede um documento e depois o entrega junto a um cartão magnético com o nome do restaurante. — Seja bem-vindo!
Entro já esquadrinhando as mesas. Contudo, abro um sorriso ao ver Wilka sozinha, sentada em uma das banquetas do balcão do bar. Respiro fundo, pedindo meu autocontrole de volta e me sentando ao seu lado.
— Rare Breed15, por favor — peço meu bourbon favorito, mas, pela expressão “é de comer ou de passar no cabelo?” que o bartender faz, já presumo que não tem a marca. — William Larue Wellen16? — A expressão não muda. — Jim Beam17? — Puta que pariu, o “bartender” acabou com minha entrada surpresa! O que foi que tomei quando vim aqui com Millos? Jogo um olhar rápido à parede de bebidas à minha frente e vejo uma garrafa de Tennessee Whiskey. Quem não tem cão... — Jack Daniel’s Old 718, por favor.
Viro-me para Wilka Maria, que parece não acreditar que está me vendo ao seu lado.
— O que você...
— Ora, ora, que coincidência! — Sorrio maliciosamente. — Se soubesse que estava vindo para cá, teria me oferecido para rachar o Uber com você.
Ela demora um tempo para reagir, o bartender serve minha bebida e debita no cartão de consumo do bar, então ela parece despertar do choque e ri.
— Você me seguiu?
Bebo calmamente, degustando a bebida, fico um tempo apreciando seu sabor amadeirado e então respondo:
— Por que eu faria isso?
Armo-me com minha expressão irônica, mas isso não a inibe, nem detém. Para meu total assombro, ela gargalha, um som rouco, vibrante e delicioso que me faz querer segurá-la pela nuca e sorver aquela música para dentro de mim.
— Qual é a sua, afinal, doutor? — ela é direta. — Qual é o jogo que estamos jogando, porque, infelizmente, desconheço as regras?
Dou de ombros.
— Não tem jogo! Estava com vontade de beber e vim até aqui. — A desculpa é tão esfarrapada, até para mim, que rio antes de beber mais um gole e olhá-la. — Fiquei curioso, só isso.
— Curioso?
— Para saber com quem você iria se encontrar. — Minha sinceridade a desarma. — Nós não conversamos desde aquela noite.
Wilka puxa o ar lentamente e depois o solta.
— Eu estive na empresa todos os dias desde então, não sumi sem dizer nada e nem fui eu quem saiu correndo como se tivesse visto um fantasma.
Concordo com ela e bebo de novo para aliviar o bolo que sinto em minha garganta.
— Desculpe-me. — Olho dentro de seus olhos castanhos. — Eu não esperava que...
— Olá? — a voz de um homem me interrompe, e eu o encaro. — Desculpe a demora, Kika, o trânsito estava um inferno!
Ele a beija no rosto e a abraça quando ela desce da banqueta. Acompanho, sério e puto, sua mão acariciando as costas dela enquanto ele a abraça.
— Tudo bem, Vinícius, acabei encontrando um conhecido. — Ela dá um sorriso sem jeito em minha direção. — Nossa mesa já está pronta. Vamos?
Conhecido?! Tenho vontade de rir por ter sido chutado para escanteio descaradamente. O tipo, bem mais baixo que eu, com o cabelo cortado rente à cabeça e uma roupa colada no corpo de modo a ressaltar seus braços musculosos, dá-me uma olhada rápida antes de encaminhá-la para a mesa onde irão jantar.
Para minha diversão, é a mesa mais próxima do bar e, por esse motivo, posso ouvi-lo perguntar para ela:
— Ele estava te incomodando?
Giro a banqueta e olho diretamente para Wilka, sentada de frente para mim, esperando sua resposta ao skinhead19 “bombadinho”. Nossos olhos se encontram por um breve momento, e ela, por fim, diz:
— Não, é um dos diretores da empresa onde trabalho.
O garçom se aproxima para anotar os pedidos, e noto que é ele a definir a bebida da mesa. Depois comenta algo com Wilka, que assente e sorri, então voltam a conversar.
Pego o celular, abro o e-mail que usamos para tratar da conta da siderúrgica e copio o número do celular dela, torcendo para que ele não seja corporativo e ela não o tenha deixado no trabalho.
“Achei que você iria reivindicar seu direito de escolher sua própria bebida. Estou decepcionado com sua falta de feminismo!”
Disparo a mensagem, escuto o celular dela vibrar em cima da mesa, mas ela não o pega. Tento outra vez.
“Eu realmente segui você. A verdade é que aquela noite foi uma loucura, e ter descoberto sua virgindade daquela forma, machucando você, me desconsertou. Eu vim para me desculpar, estava fazendo isso quando sua companhia chegou e não ouvi se você aceita a desculpa ou não.”
Leio a mensagem antes de a enviar, surpreso por estar me expondo demais para ela. Toda minha resolução de permanecer longe acabou quando pisei na Karamanlis. Tive consciência o tempo todo de que ela estava tão próxima de mim, mas não consegui me aproximar. Provoquei, chamei a atenção dela como um pirralho carente, pensando que ela estaria puta e que apareceria para brigar comigo, mas não.
Olho para o casal sentado à mesa à minha frente e pondero se não é melhor que ela se envolva com alguém menos fodido do que eu. Então balanço a cabeça, achando a ideia absurdamente ridícula. Ainda estou cheio de tesão por ela e, pelo que aconteceu antes, sei que ela sente o mesmo por mim. Porra nenhuma que vou deixar um “mamãe, tô forte” se aproximar dela e me tirar da jogada! O caralho que eu vou!
Ela é minha!
Sinto uma coisa estranha em mim, um sentimento de posse sobre ela por ter sido o primeiro, por tê-la marcado para sempre, talvez não da forma como merecia – o que pretendo consertar em breve –, mas, ainda assim, ter sido eu o escolhido por ela para aquele momento.
Envio a mensagem, e, dessa vez, quando o celular dela vibra, Wilka confere as mensagens e me encara, surpresa, e logo depois volta a olhar o aparelho em sua mão. O homem sentado à sua frente fala algo, e ela apenas assente com a cabeça, sem conseguir tirar os olhos do celular.
Ela, por fim, fala algo com ele e digita. Espero pela mensagem – confesso que estou um pouco nervoso – com o aplicativo aberto na conversa que iniciei e, quando a mensagem chega, leio-a rapidamente.
“Aceito suas desculpas. Eu deveria ter contado, talvez assim você tivesse parado e nos poupado o constrangimento.”
“Eu não teria parado, Wilka, só teria ido com mais cuidado. Não tinha como parar, assim como não tenho como parar agora. Estou aqui, de plateia em um encontro seu, mas, ainda assim, de pau duro de vontade de estar dentro de você.”
Mando a mensagem antes que ela coloque o aparelho sobre a mesa e vejo seus olhos se arregalarem levemente ao ler o que escrevi.
Mais direto que isso, impossível!
Termino a bebida, deixo o copo sobre o balcão e me levanto para ir embora, pois não faz mais sentido ficar aqui, assistindo-lhe jantar com outro homem. Ela já sabe que eu a quero e, se me quiser também, irá deixar claro, independentemente do que rolar entre ela e o seu encontro esta noite.
Não me agrada imaginá-la com outro homem, mas sei que não tenho o direito de intervir nisso, afinal, não temos nada um com o outro e, por mais que me sinta atraído por ela, nossa questão é apenas sexual, saciar o desejo e expurgar essa vontade.
Faço sinal para o bartender pedindo a conta e, enquanto ele pega uma máquina para dar baixa no meu cartão de consumo, ouço a campainha de um celular ressoar por todo o restaurante.
— O Carlinhos estava um pouco febril hoje cedo, mas amanhã é dia de ele ficar comigo e já começou desde segunda-feira a me cobrar para te pedir para deixar o Kaká dormir com ele — Vinícius comenta assim que nos sentamos à mesa, e eu tenho que me esforçar para entender o que ele está falando, pois me sinto aérea ainda com a presença de Kostas aqui. — Eu disse a ele que não é assim, que o bichinho pode ficar chateado por ficar longe de sua casinha. Eu estou pensando em comprar um cãozinho para ele de aniversário, mas a mãe dele é contra.
— Complicado... — respondo e olho na direção do bar. Kostas está de frente para mim, e nossos olhares se cruzam por um momento. — Eu posso deixar o Kaká na sua casa até o Carlinhos pegar no sono. Ele costuma dormir cedo, não é?
— Sim! Seria uma ótima saída. — Ele fica parado me olhando com um sorriso. — Nem acredito que você está aqui! E linda desse jeito!
Sorrio sem jeito, e um garçom se aproxima para anotar nossas bebidas.
— Vamos querer vinho, meio seco de preferência e tinto — Vinícius faz o pedido por nós dois. Isso me incomoda, e eu ergo uma das sobrancelhas, achando sua atitude um tanto machista. Meu celular vibra em cima da mesa, o que chama a atenção dele, que me olha, percebe minha expressão e sorri sem jeito. — Tudo bem para você, ou gostaria de pedir algo diferente? Eu fiz o pedido porque me lembrei que, no aniversário da Verinha, você tomou vinho, mas...
— Tudo bem — interrompo-o com um sorriso. — Vinho está ótimo, obrigada por perguntar.
O garçom se afasta.
— Eu queria te convidar para sair desde que te conheci. Achei você tão incrível, positiva, amável e, posso estar falando bobagem, mas acho que temos muita química.
Hein?! Eu queria ter a mesma certeza que ele neste momento, mas a presença do Konstantinos, que apareceu aqui como um perseguidor maluco, e seu pedido de desculpas pelo que houve entre nós me deixou um tanto desconsertada e sem clima para o encontro com Vinícius.
Desculpas! Apesar de reconhecer que foi um gesto bem sensível e que eu não esperaria dele, senti-me decepcionada também. Pedindo desculpas, para mim, pareceu que ele estava arrependido, que não sentia mais a atração e o ar vibrando à nossa volta.
Eu senti e ainda sinto! Meu corpo inteiro esteve alerta à presença dele no elevador, a cada respiração mais forte que ele dava, cada movimento, tudo foi perceptível por mim como se estivéssemos juntos, colados. Aqui no bar não foi diferente. Quase não acreditei quando ele se sentou ao meu lado e pediu sua bebida na maior desfaçatez do mundo. Tive vontade de rir quando não conseguiu nenhuma das marcas que queria e desejei que neste restaurante chique só tivesse Natu Nobilis20.
Ele tentou disfarçar que veio atrás de mim, mas meu coração disparado não se enganou, e eu me senti poderosa ali, mesmo sem entender o motivo pelo qual ele me seguiu.
Até suas desculpas...
Meu telefone vibra de novo.
— Não vai ver o que é? — Vinícius pergunta. — Pode ser importante.
— Você não se importa?
Ele nega, e eu pego o aparelho e quase engasgo com minha própria saliva ao ler a mensagem – de um número que não consta em minha agenda, mas que não me deixa dúvida de quem é o remetente.
A primeira mensagem é engraçadinha e demonstra que ele está observando – e talvez até ouvindo – tudo o que se passa aqui na mesa, e isso me faz ficar ainda mais intrigada com a permanência dele no restaurante. A segunda mensagem é uma surpresa total, uma justificativa e um pedido de desculpas, coisas que realmente não esperava dele.
— Preciso responder — aviso ao Vinícius, já digitando uma mensagem.
“Aceito suas desculpas. Eu deveria ter contado, talvez assim você tivesse parado e nos poupado o constrangimento.”
Entendo que ele peça desculpas pela reação que teve depois que percebeu minha virgindade, até aprecio isso, mas pensar que ele possa estar se desculpando por ter feito sexo comigo é um pouco dolorido. Apesar dos pesares, eu nunca quis tanto alguém como o quis naquela noite.
E, se for sincera, ainda continuo querendo. Mal concluo o pensamento, e outra mensagem dele entra.
“Eu não teria parado, Wilka, só teria ido com mais cuidado. Não tinha como parar, assim como não tenho como parar agora. Estou aqui, de plateia em um encontro seu, mas, ainda assim, de pau duro de vontade de estar dentro de você.”
Meu coração quase sai pela boca, e eu preciso apertar levemente as coxas, pois ler isso acordou meu sexo, aguçou a vontade de tentar mais uma vez, de ter a experiência completa com ele antes de seguirmos com nossas vidas.
Ergo os olhos e o vejo falando com o bartender, já de pé, em claro sinal de que está indo embora. Olho para o Vinícius sem jeito e tento um sorriso enquanto o garçom serve nosso vinho. Não posso simplesmente abandoná-lo aqui e sair correndo atrás de Konstantinos, não posso e nem devo.
Coloco o celular na mesa.
— Nós estávamos falando sobre...? — tento voltar ao assunto, mas não consigo, pois o celular de Vinícius começa a tocar alto, chamando a atenção dos outros clientes. — Pode atender.
Ele pega o aparelho em seu bolso e arregala os olhos.
— É a mãe do Carlinhos!
Levanta-se rapidamente e pede licença para atender o telefone, caminhando em direção a uma espécie de hall que o restaurante possui, todo ornamentado com plantas. Acompanho-o com os olhos até que começa a falar ao telefone, mas depois olho na direção onde estava o Kostas.
Ele não está mais perto do bar, então o vejo sair do restaurante. Respiro fundo e penso que foi melhor assim. Já fizemos algo por impulso uma vez e não resultou em uma experiência muito satisfatória para ambos. É melhor irmos com calma, acertarmos as coisas antes de qualquer outro passo.
— Kika, me desculpa, mas preciso ir. — Vinícius parece nervoso, e eu me levanto. — A febre do Carlinhos aumentou muito, e Liliana o está levando para o pronto-socorro. Preciso estar lá.
— Claro! — Ele pega a carteira, mas eu o impeço. — Não, pode deixar que eu acerto aqui, vai!
Ele concorda e se despede esbaforido, praticamente correndo para fora do estabelecimento. Penso em ficar e aproveitar para conhecer a comida daqui, mas é desanimador comer sozinha, então peço a conta do vinho, pois ainda não tínhamos feito o pedido, pago e já saio com o aplicativo do Uber aberto para me levar para casa.
— Eu acho que você ficou sem carona para ir embora — a voz de Konstantinos me faz pular de susto, e quase deixo meu telefone cair.
— Merda, Kostas! — Ponho a mão no coração.
Ele abre a porta traseira de um táxi e aponta para o interior.
— Já que não conseguimos rachar na vinda, poderíamos fazer isso na volta, o que acha?
Intercalo olhares entre ele, o banco traseiro do táxi e o pedido de confirmação do Uber na tela do celular. Tomo fôlego, bloqueio a tela do celular e ando na direção dele.
— A primeira parada será minha casa — aviso-lhe antes de me sentar no banco do táxi.
Kostas senta-se ao meu lado e fecha a porta.
— Vila Mariana — indica ao motorista e me puxa para perto de si, quase me colocando sobre seu colo. — Não será a primeira parada, será a única, a não ser que queira ir para um motel.
Seu corpo está quente e duro junto ao meu. Sinto seus músculos vibrando, talvez ele esteja contendo um tremor como o que acontece com meu próprio corpo. Ofego, sentindo seu hálito quente no meu rosto. Sua mão segura firme minha cintura, e a outra, a nuca.
Estou quente, aquecendo cada vez mais com a proximidade dele e seu olhar cheio de desejo e promessas sujas. Sei que, se eu me render, essa noite poderá ser aquela que eu sempre quis, pois ele não vai se contentar em me jogar na cama e foder, vai me comer inteira, devorar como um animal esfomeado e me proporcionar o prazer que essa atração entre nós já prenunciava desde o início.
Ao mesmo tempo, sinto insegurança também. Nossa experiência anterior não teve o melhor desfecho, e, embora eu já não seja mais uma virgem, continuo sendo inexperiente na prática.
Ele percebe que titubeio, então diz baixinho:
— Talvez eu devesse ir mais devagar, mas não consigo. — Sua mão toca meu rosto numa carícia leve. — Eu prometo que dessa vez não vou parar, pelo menos não enquanto você não estiver gemendo, molhada e totalmente satisfeita.
Eu não quero que ele pare, não quero deixar o medo que me dominou por tantos anos me tirar a chance de viver este momento.
— Vila Mariana — respondo sem tirar meus olhos dos dele — será nossa única parada.
Ele me atrai para mais perto e ataca minha boca com um beijo faminto, desesperado. Seguro a sua camisa com força, sentindo o tecido macio se embolar entre meus dedos, enquanto sou consumida por sua boca, lábios se impondo sobre os meus e língua explorando, penetrando e fazendo sacanagens que me remetem ao que ele pode fazer dentro de mim.
Sinto a pressão de seus dedos presos no cabelo da minha nuca. Konstantinos não está sendo delicado e nem contido. Parece que estamos libertos de qualquer contenção que podíamos ter. Não me importo de estar atracada a um homem dentro de um táxi, muito menos de estar levando-o para dentro da minha casa; só desejo dar vazão ao tesão que sinto.
Ele geme contra minha boca e segura o lábio inferior com os dentes. Abro as pálpebras e o encontro olhando para mim.
— Nada pode me fazer parar esta noite, Wilka — declara, ofegante, com a cabeça encostada na minha. — Eu vou te comer de todos os jeitos que quiser, te mostrar como eu deveria ter feito naquele dia, te levar à loucura com minha língua para, só então, acessar sua boceta apertada com meu pau.
Dou uma risada nervosa, mas sinto minha calcinha cada vez mais úmida com a descrição que ele faz.
— Eu vou cobrar cada uma dessas coisas — ameaço-o, e ele ri.
— Eu vou adorar ser cobrado! — Lambe meus lábios descaradamente, como se estivesse me fazendo sexo oral.
— Doido!
Agora é ele quem ri.
— Você não tem ideia do quanto!
Ouço um leve pigarrear e me separo dele, segurando as risadas, mas fico séria ao sentir sua mão enorme subindo pela minha coxa, insinuando-se por baixo do meu vestido até tocar minha calcinha.
— Já estamos na Vila Mariana; preciso do endereço completo.
Eu digo ao taxista o endereço do meu prédio, mas me engasgo algumas vezes ao sentir alguns dedos levantarem minha peça íntima e a afastar para o lado. Fecho os olhos, tremendo de ansiedade, achando loucura o que ele está fazendo dentro do táxi, mas adorando a sensação. Seus dedos brincam com minha virilha, avançam sobre meus lábios, depois retornam para a virilha.
Gemo baixinho e escuto sua risada. O filho da mãe está me provocando e se divertindo com isso. Talvez ele mereça provar um pouco do próprio veneno! Estico o braço e pouso minha mão exatamente em cima de sua ereção, o que me faz gemer baixinho junto a ele dessa vez.
Naquela noite, assim que ele tirou seu pênis da cueca, eu dei uma espiada para descobrir como era. Eu só reparei em um pau pessoalmente uma única vez na vida, na adolescência, com meu primeiro namorado, mas foi tão rápido, mesmo porque eu fiquei com tanto medo, que mal me lembro dos detalhes. Depois disso, só em filmes pornôs.
Sempre me disseram que paus não eram proporcionais ao tamanho do homem, mas eu pude comprovar naquela noite que há exceções, e Konstantinos é uma delas.
Sinto um arrepio subir pela minha coluna ao me lembrar do membro duro, pulsando, moreno, coberto de veias altas, grosso e comprido. Ele chegou a me penetrar, mas não se moveu, então não faço ideia de como é tê-lo dentro de mim com movimentos rápidos ou lentos, mas tenho certeza de que será uma sensação incrível.
O táxi para em frente ao prédio, e descemos juntos. Konstantinos paga ao motorista, e eu pego a chave em minha clutch para abrir o portão principal, já que o porteiro não está na portaria.
Ele enlaça minha cintura, seu pau ainda duro e pulsando nas minhas costas, suas mãos subindo pelo meu abdômen em direção aos meus seios. Abro o portão e, sem que eu pressinta, ele me levanta nos braços e anda rápido até o elevador, que, por sorte, está no térreo.
Sou pressionada contra a parede gelada assim que as portas se fecham, mantida suspensa, ele sustentando meu corpo com o próprio. Minhas pernas abraçam seus quadris, Kostas rebola contra mim, nossos sexos, mesmo debaixo dos tecidos que vestimos, se tocando, moendo um contra o outro em desespero.
Sua boca devora a minha em frenesi, e eu o agarro pelos cabelos, gemendo descarada dentro do elevador do prédio em que moro sem me importar com vizinhos ou mesmo com a câmera que há dentro do elevador.
Nada tem importância, somente o que estou sentindo agora, esmagada por um homem de quase dois metros e uns 100 quilos, sua boca atracada à minha e nossos corpos ondulando de prazer, estimulando um ao outro.
Finalmente chegamos ao meu andar, e, de novo, sou levada em seu colo, dessa vez montada nele, suas mãos me mantendo contra si, segurando minhas nádegas, enquanto anda e continua a me beijar.
— A chave! — ele pede em um rosnado baixo, e eu rio.
— Na bolsa. — Solto uma das mãos de sua nuca e tento pegá-la, mas não dá. — Preciso descer.
Ele me põe no chão, mas não desgruda de mim. Acho a chave e, mal abro a porta, sou arrastada para dentro, no escuro, e levada até o sofá da sala.
— Kostas...
Ele sobe meu vestido até tirá-lo, vira-me de costas para ele e geme ao mexer na minha calcinha. Quase não vemos nada sob a parca luz da rua entrando pelas frestas da cortina, mas sinto seu dedo contornar a peça, sentindo a textura suave da renda e da seda, e eu me lembro da que ele rasgou.
Agradeço a luminosidade fraca da sala por não me deixar totalmente exposta. Sei que em algum momento isso vai acontecer e, mesmo não me sentindo insegura com relação ao meu corpo, terei que lidar com o constrangimento de estar nua com um homem pela primeira vez.
— Sua bunda é um tesão — sua voz entrecortada com sua respiração me dá a dimensão de como ele está. — Você é muito gostosa, puta que pariu!
Kostas me vira e me faz deitar no sofá, ajoelha-se diante de mim, meu corpo todo em expectativa, mas ele não parece ter pressa. Passeia as palmas das mãos pelas minhas coxas, abre-as devagar e substitui as carícias por beijos e lambidas, até chegar bem perto de onde estou quente, molhada e pulsante à sua espera.
— Sou o primeiro a provar sua boceta também? — Konstantinos pergunta, mas não espera a resposta, afastando minha calcinha para o lado e colhendo minha excitação com sua língua tensa e grande, macia, quente e torturante.
Não tenho nem tempo de me sentir constrangida, já tomada pelo prazer. Gemo, rebolo e o seguro pelos cabelos, desejando que ele caia de boca, me chupe inteira até me fazer gozar, porém, ele pincela a língua em meus lábios, depois a agita na entrada e então lambe exatamente em cima do meu clitóris, fazendo-me arfar de tesão e sentir meu corpo inteiro se retesar de prazer.
Não tenho ideia de quanto tempo ele fica assim, só me provando, deglutindo meu sabor, aspirando meu aroma e esfregando o nariz e barba pelo meu sexo.
Sinto-me à beira de um precipício, ofego como se estivesse correndo uma maratona, a cabeça dá voltas, os pelo do corpo arrepiam e os bicos dos seios parecem querer furar o sutiã. Estou delirante, essa é a sensação, não ruim como a de uma febre, embora também me sinta febril, mas dolorosamente prazerosa.
Meus lábios são afastados por seus dedos e sua língua me penetra profundamente, fodendo-me. Estou em desespero, prestes a gozar. Ele, talvez percebendo isso, abre toda sua boca e abocanha tudo, concentrando-se em chupar meu clitóris de forma rítmica e perfeita.
Grito de prazer, travo meus calcanhares em suas costas, puxo seus cabelos e gemo, gozo, sinto meu corpo inteiro explodindo como nunca senti antes e o puxo para cima, querendo beijar sua boca contendo meu orgasmo e partilhar com ele do meu próprio prazer.
Konstantinos está tremendo, seu corpo chacoalha em cima do meu. Tento abrir os botões de sua blusa, mas é difícil, então a puxo, arrebentando todo eles, libertando sua pele e carne para minhas mãos.
Quente, muito quente, é como encontro o peitoral duro e o abdômen repleto de gominhos perfeitos. Sigo em direção à calça, abro o cinto, e ele se levanta.
Vejo-o, deitada largada de prazer no sofá, abrir o botão da calça social, livrar-se dela, da blusa e dos sapatos e depois fazer o mesmo com a cueca.
— Tire tudo, quero você nua para mim — ordena.
Sento-me, abro o fecho do sutiã, retirando-o devagar, e, por último, levanto-me e tiro a calcinha sem tirar meus olhos de sua mão, agitando seu pau em uma masturbação deliciosa de se ver.
— Quero que você faça o mesmo — Kostas pede. — Deite-se lá de novo, abra bem as pernas e me mostre como você faz quando está aqui sozinha.
Penso em todas as vezes que já fiz isso e ninguém nunca assistiu. A ideia de ter alguém olhando, de ter Konstantinos Karamanlis me olhando, é muito excitante, embora aterrorizante também, porém, mais uma vez o tesão vence, e eu faço o que me pede.
Ouço seus gemidos, escuto a movimentação de sua mão em seu pau e me toco, lambuzo-me para ele, mostro como gosto, os movimentos, os jeitos e gozo de novo, rendendo-me ao prazer diante dos seus olhos.
— Vem aqui! — ele me chama, e o vejo colocando camisinha e sentado em uma das minhas poltronas. — É você quem vai me comer, Kika.
Sorrio com a ideia e me sento em seu colo, sobre seu pênis, rebolando para que meu gozo possa encharcá-lo todo. Ele está me colocando em posição de comando, está permitindo que eu tenha o controle sobre nossos corpos, talvez até como forma de não voltar a me machucar, e isso é algo que eu não esperava acontecer, mas que, sem dúvida, enternece meu coração.
Kostas está impaciente, ergue-me pelos quadris, posiciona seu pau na minha entrada e tira a mão de mim, deixando-me com o poder de comê-lo inteiro. Desço devagar, sinto um leve desconforto, afinal era virgem até dias atrás, e ele é bem grande, porém, à medida que vou engolindo-o, sinto os espasmos voltando, meu corpo se agitando novamente, e o prazer me acerta com tudo.
— Porra! — rosna quando me sente gozar sem nem mesmo um movimento seu. — Porra!
Sou agarrada pelos cabelos, e ele começa a agitar os quadris. Grito de prazer com o orgasmo intensificado pelos movimentos. Encaixo-me toda nele, nossos corpos se esbarram, e eu rebolo, sentindo-o bem no fundo, tocando tudo dentro de mim.
Inclino meu corpo para trás sem parar de rebolar, e ele beija meu peito, lambe o mamilo e depois o chupa com força.
— Preciso gozar! — avisa, ainda com a boca no meu peito. — Ah, caralho, preciso gozar!
Abraço sua cabeça com força enquanto ele geme, abandonando-se ao orgasmo, seu pau pulsando dentro de mim e seu corpo todo tremendo, suado, contra o meu.
Fecho os olhos, ainda sob efeito de todo o prazer sentido e rio, maravilhada, sentindo-me finalmente curada de todo o medo que sentia.
Ele me olha parecendo acabado e retribui meu sorriso antes de me beijar.
A primeira sensação que sinto ao recobrar a percepção de que estou em uma cama onde dormi bem e sem pesadelos é de ouvir pássaros, uma música animada e nada parecida com as que escuto, um leve aroma de café no ar que faz meu estômago roncar e beijos molhados.
Abro um sorriso, ainda com os olhos fechados, adorando a carícia sensual, embora um tanto inexperiente, de Wilka Maria, e meu corpo todo desperta, principalmente uma certa parte que foi particularmente utilizada na noite passada.
Enquanto ela lambe meu pescoço, relembro a loucura da transa que tivemos quando chegamos ao apartamento dela e que ficamos abraçados naquela poltrona apertada por algum tempo, ofegantes, satisfeitos e rindo como dois loucos.
Foi uma experiência nova para mim trepar pela primeira vez com alguém por quem sinto uma verdadeira atração e foi além das minhas expectativas, deixou o ato menos mecânico e fisiológico, embora eu tenha me refreado muito para controlar todos os meus impulsos, lembrando-me sempre de ir com calma, afinal ela era virgem até poucos dias atrás. O fato mais importante de tudo é: fiz sexo com ela porque eu a queria, não somente porque queria trepar.
Durante o banho que tomamos juntos – outra experiência inédita –, fiquei observando-a e notei que, em alguns momentos, Wilka parecia desconfortável com minha presença.
— Quer que eu vá embora? — perguntei depois que saímos do boxe.
Ela ficou me olhando, quieta, avaliadora, e então negou.
— Apenas se você quiser ir. — Respirou fundo. — Não sei como isso funciona, é tudo novo para mim.
A sinceridade e o jeito que ela se expôs tocou em alguma área minha que havia muito não recebia qualquer luz e a iluminou de tal forma que eu sorri. Sim, eu sorri! Não foi um riso sarcástico, debochado ou apenas um sorriso qualquer para exprimir minha total falta de paciência, como faço sempre. Foi um sorriso que brotou naturalmente, caloroso, um primeiro gesto de afeto verdadeiro.
Passei a mão em seu rosto, e ela fechou os olhos.
— Você pode até não acreditar, mas para mim também é. — Wilka suspirou. — Eu quero ficar. — O toque em sua pele, o cheiro dela, seus cabelos úmidos do banho, e, claro, seu corpo delicioso envolto em uma toalha felpuda me deixaram excitado novamente, porém, de forma diferente. — Eu quero você de novo.
Ela sorriu, e foi toda a resposta que eu precisava.
Dessa vez chegamos até a cama. Eu me sentia um gigante perto dela, mas não tive nenhuma sensação ruim por isso, porque, mesmo com a diferença, nosso encaixe foi perfeito. Minha mão, grande e morena, cobria todo seu rosto, seus peitos cabiam em minhas palmas, eu conseguia escondê-la toda dentro dos meus braços.
Isso, de alguma forma, fez com que o sexo fosse mais lento do que eu costumava fazer. Senti uma enorme vontade de idolatrá-la toda e fiz de seu corpo um templo de adoração, utilizando boca, língua e mãos em cada canto dele sem nunca me fartar. Foi uma experiência exótica, sexy pra caralho e que deixou meu pau tão quente que poderia a qualquer momento começar a apitar como uma chaleira.
Nunca pude me dedicar assim a uma parceira, pois sempre estava fodendo profissionais do sexo, e a coisa era mais superficial. Entretanto, com Wilka, eu desejei passar horas apenas degustando sua pele e seus sabores. Foi foda!
Depois, quando fui em busca de uma camisinha para me enterrar nela e acabar com a agonia que estava sentindo, ela me deteve e começou a retribuir os beijos lentamente. O boquete começou tímido, devagar. Notei que ela estava provando, conhecendo meu corpo e, então, achei melhor demonstrar que estava no caminho certo.
Nunca fui um homem de gemer com sexo oral, mas me soltei e permiti que meus sons exprimissem todo o prazer que sua língua e boca estavam me proporcionando, a princípio para que ela soubesse que estava fazendo a coisa certa, mas depois apenas porque estava deliciosamente perverso e prazeroso. Em alguns momentos tive vontade de guiá-la apenas para aumentar o ritmo, mas descobri que não era necessário.
Sem que pudesse me controlar, talvez por ter me posto todo em suas mãos, gozei como um louco, o prazer fazendo-me suar e aumentando à medida a que ela assistia, deslumbrada, minha porra jorrando para longe.
— Isso foi delicioso! — comentei depois que o entorpecimento do orgasmo passou.
Não costumava gozar com boquetes, a não ser que eu estivesse segurando a cabeça da mulher e socando em sua garganta. Eu precisava estar ativo para gozar, estar no controle da situação para não me sentir... Interrompi os pensamentos rapidamente e a olhei, pois ela estava rindo.
— O que foi? — perguntei intrigado.
— Foi meu primeiro boquete de verdade.
— De verdade? — Abri um sorriso safado, imaginando minha Cabritinha treinando boquetes.
— Sim. — Ela se levantou e foi na direção do banheiro. — Treinei com alguns brinquedos.
Sentei-me na cama, pensando nos ovinhos que eu comprara por causa dela e nos vibradores que ela me mandava em fotos.
— Você tem esses brinquedos ainda?
Ela apareceu na porta do banheiro escovando os dentes e assentiu.
Puta que pariu!, pensei, jogando-me contra o colchão com a mente repleta de imagens em que eu a comia utilizando vibradores, plugs, algemas e todos os petrechos que comentamos em nossas conversas online.
Volto a sentir a língua quentinha e molhada dela no meu corpo, agora no rosto, e deixo as lembranças da noite anterior para trás. Abro os olhos preparado para abraçá-la, prendê-la debaixo de mim e começar uma trepada matinal para aliviar um pouco o tesão logo cedo.
— Caralho!
Tomo um susto ao ver um rosto peludo, com orelhas pontudas e depiladas e enormes olhos castanhos. O bicho volta a me lamber, agora no nariz, e eu o seguro com força, afastando-o de mim.
De onde surgiu essa criatura?!
Ele balança o rabo, parecendo feliz ao me ver. Sento-me na cama, confuso, olho tudo ao redor e percebo que Wilka Maria não gosta só de usar roupas diferentes e chamativas, sua decoração é assim também.
Levanto-me, a cueca toda esticada por causa da ereção que nem essa criatura peluda derrubou, e caminho na direção do som e do aroma de café.
— Bom dia! — cumprimento-a, com o cachorro preso debaixo do braço, e ela se engasga ao me ver.
Ergo a sobrancelha, sem entender o susto que ela tomou, afinal de contas sabia que eu passei a noite aqui, nada mais óbvio do que me encontrar de manhã.
— Ele te acordou? — Wilka caminha até mim e pega o cãozinho. — Você é um moleque travesso! — ela o repreende e o leva para a varanda. — Não fez xixi em você, não foi?
Fico sério ao pensar no diabinho me cobrindo de mijo.
— Isso é seu? — Aponto para a criatura com as patas dianteiras apoiadas no vidro, olhando para nós dois como se pedisse sua liberdade de volta. — Não estava aqui ontem à noite.
Ela ri e passa por mim, voltando a se sentar em uma das banquetas de sua cozinha.
— Ele é meu, sim, estava na casa de uma amiga, que o deixou aqui mais cedo. — Ergo a sobrancelha, notando que ela não gostou de como me referi ao bicho, pois deu ênfase ao pronome. — Você pode ficar confuso às vezes, porque sei que viveu na Inglaterra, mas em português não usamos it (isso) para os bichinhos.
Ela pisca o olho para mim, sorrindo malvada, e eu cruzo os braços, achando engraçado estar tomando meu primeiro sermão antes mesmo de tomar um café e continuar de bom humor.
Olho-a detalhadamente, suas pernas lindas à mostra, a camisa larga e antiga que usa como pijama, os bicos dos peitos marcando o tecido fino, e ela lá, sentada alheia ao quanto está totalmente atraente e o quanto já estou louco para fodê-la novamente.
— Meu castigo por ter me confundido é ficar sem café? — provoco, testando o terreno. Vai que ela é uma das que acordam de mau humor de manhã!
— Claro que não! — Sorri. — Eu não seria tão malvada assim com você.
Wilka se levanta e vai até o armário, esticando-se toda para pegar uma xícara, permitindo que eu vislumbre a popa de sua bunda quando a camisa levanta.
Foda-se o café!
Agarro-a pela cintura, e sua risada enche o ambiente, animando-me também, enquanto a apoio sobre o balcão que separa a pequena cozinha da sala.
— Bom dia! — cumprimento-a novamente, e, dessa vez, ela sorri.
— Bom dia! — Seus olhos brilham. Wilka não usa nenhuma maquiagem, noto leves olheiras pela noite praticamente insone que passamos, as sardas espalhadas pelo nariz em um rosto ainda um pouco inchado por ter acabado de acordar, e eu a acho ainda mais linda pela manhã. — Não quer mais seu café?
Não preciso responder à pergunta, apenas beijo-a, esfregando meus lábios nos dela, olhos abertos, fixos nos seus, enquanto levanto devagar a camisa que veste, roçando os dedos por sua pele por todo o caminho até seus ombros.
Afasto-me para livrá-la da peça e vê-la nua à luz do dia. Wilka segura o fôlego, um tanto constrangida, abaixa a cabeça, quebrando o contato dos nossos olhos. Ah, Cabritinha, você não vai se esconder!
Seguro-a pelo queixo e faço com que volte a me olhar.
— Você é linda! — afirmo.
Passo as costas das mãos em seus peitos empinados, sentindo os mamilos duros vibrarem entre os vãos dos meus dedos. Ela geme e fecha os olhos, inclinando a cabeça para trás, deixando seu lindo e cheiroso pescoço à minha mercê.
Beijo-o, arrasto a língua por ele até chegar a sua orelha, sugo o lóbulo e volto beijando, chupando e lambendo seu pescoço novamente. Com as duas mãos, seguro seus peitos juntos, inclino-me e os contorno, molhando-os com minha saliva, até alcançar os bicos intumescidos. Balanço-os com a ponta da língua, ergo os olhos para Wilka e deliro ao ver sua reação embevecida.
Só o fato de eu estar com sua pele em minha boca, sentir o tesão compartilhado entre nós dessa maneira já é suficiente para que eu sinta meu corpo inteiro tremer. Aqui, neste momento, depois de ter passado a noite inteira com ela em meus braços, toda a experiência que tenho não vale de nada, é tudo tão novo para mim, e isso é foda demais!
Seus seios são uma delícia, e eu não tenho nenhuma vontade de me apressar a chupá-los. A reação dela a essa carícia me impulsiona a continuar, então me dedico aos dois com a mesma intensidade, usando todo o meu rosto para excitá-los, lambendo, chupando, beijando ou somente passando minha barba levemente pelos bicos sensíveis.
Faço-a deitar-se no balcão, em meio a objetos decorativos, sua xícara de café e potes de biscoitos e continuo a beijar seu corpo, enlouquecido pela maciez de sua pele, o aroma suave do sabonete que partilhamos no banho ontem e suas reações claras e diretas às minhas carícias. Gosto de como a pele dela está quente e como se arrepia quando lambo ou esfrego a barba em algum ponto específico.
Paro um momento apenas para observá-la, gravando na memória a perfeição de seu corpo esguio e pequeno entregue ao prazer. Gosto que ela não tenha pelos púbicos, porque assim posso admirar sua virilha, o monte de vênus e começar a ter uma visão de sua boceta, principalmente do ponto mais sensível e que eu adoro ter na boca.
Confesso que está sendo libertador poder chupá-la à vontade, pois, apesar de ser uma das coisas que eu mais gosto de fazer, quase não o faço com as profissionais, mesmo porque essas transas são mais para alívio do que para curtir o prazer em si.
Com Wilka eu posso me refastelar de sua boceta em minha boca, ficar horas lambendo, mordendo, chupando. Posso me lambuzar com sua lubrificação e beber seu gozo quantas vezes ela me permitir fazer.
A lembrança de quando a penetrei sem camisinha, na nossa primeira vez juntos, faz-me gemer, e meu pau se contorce na cueca. Sinto um arrepio subir por minha coluna, meus músculos todos se contraem de prazer apenas com essa memória e sinto despertar em mim a vontade e a curiosidade de prová-la pele a pele, sem nada entre nós, nossos fluídos se misturando do jeito mais íntimo do mundo.
— Você tem a boceta mais gostosa que já provei — confesso, e ela ri nervosa. Puxo-a para a beirada do balcão e abro bem suas pernas. — Fora o fato de ser extremamente apertada, o que dá uma sensação incrível quando meu pau está dentro. Ela é carnuda e suculenta na boca. — Ajoelho-me no piso da cozinha. — Tem sabor levemente picante, o que eu adoro, e um aroma... — cheiro-a de forma a ilustrar o que digo — viciante.
— Kostas... — Ela geme e ri ao mesmo tempo. — É só uma boceta como qualquer outra!
— Não! — Lambo-a do períneo até o clitóris, e Wilka se contorce. — É a sua boceta! — mal termino a palavra e já estou provando meu ponto sobre o que acabo de dizer. Prendo os lábios íntimos dela com uma sucção forte e depois os afasto com a língua, acessando a entrada apertada e quente.
Os gemidos dela ecoam pelo cômodo integrado, enchendo-me de mais tesão, porém, não me toco. Sinto uma necessidade premente de fazer isso, mas não o faço. Quero me dedicar todo a ela, meu corpo todo disponível apenas para seu prazer. Suas reações me excitam mais do que minha própria mão a socar meu pênis – e olha que eu curto uma punheta –, cada ofegar, pulsar, tremor de seu corpo atinge diretamente meu pau, e eu urro de prazer.
Não sou delicado como fui na noite passada. Não exploro sua intimidade, devoro, mastigo, engulo tudo como um homem esfomeado e sedento ao mesmo tempo. Nada importa aqui, além do prazer dessa mulher que mexe comigo a ponto de me expor de uma maneira que ela nunca imaginaria.
Aqui estou eu, escravo do seu corpo, ajoelhado no piso frio de uma cozinha, com o rosto entre as coxas dela e a boca inteira – isso inclui língua e dentes – à sua disposição. Aqui estou eu, Konstantinos Karamanlis, sem nenhuma carapaça ou máscara, sendo o mais sincero devoto de um desejo que nunca imaginei sentir, que me consome, porque, ao mesmo tempo em que me inebria e satisfaz, torna-me indefeso.
Nunca tive casos, nunca comi a mesma mulher mais de uma vez – nem mesmo repeti uma garota de programa –, nunca conheci o apartamento, o cachorro – essa parte foi inusitada – de ninguém. Ela é inédita para mim em todos os sentidos, a única que me fez ter vontade de arriscar minha sanidade, ignorar a porra dos meus traumas, mesmo reconhecendo que terei um alto preço a pagar depois.
— Diz para mim como você quer gozar — peço, a boca ainda encostada em sua boceta. — Conta para mim o que você deseja e me deixa realizar para você.
— Só continua... — sua voz está trêmula. — O que você está fazendo é mais do que qualquer fantasia ou expectativa que já tive.
Porra!
Não espero que ela me mande continuar de novo, apenas volto a abocanhá-la em completo frenesi, e seu orgasmo vem com tanta força que posso sentir minha boca inundar e meus cabelos sendo puxados com força a ponto de arder o couro.
Quando ela relaxa, ofegante e trêmula, corro até onde deixei minha calça ontem e pego o último invólucro de camisinha que tenho na carteira, agradecendo por ela ter algumas em seu criado-mudo, porque eu não estava prevenido para passar a noite e a manhã trepando.
Coloco-a rapidamente, alisando meu pau sob os olhares apreciativos dela. Brinco no exterior de sua boceta sensível. Ela se contorce, geme, e eu me enterro nela. Confirmo que está bem antes de me movimentar, pois a última coisa que quero é ter a sensação de tê-la machucado como da primeira vez, e, mesmo ela não sendo mais virgem, eu sou grande, e isso pode acontecer ainda.
Wilka se ergue e me segura pelos ombros, enquanto eu a mantenho firme pelos quadris e rebolo dentro dela. Ela geme sorrindo, e isso é deliciosamente sexy.
— Cruze as pernas sobre a minha bunda — ordeno.
Ela não titubeia e faz o que mando, mas dá um gritinho – seguido de risadas – quando a tiro do balcão e a como em meu colo, em pé, segurando-a firme contra mim. Essa é a vantagem da nossa diferença de tamanho e peso, consigo erguê-la e comê-la em qualquer posição, mesmo as mais cansativas.
Como estou de pé, sou eu quem a conduz a se movimentar para que meu pau entre e saia de seu corpo. Ando até uma parede sem móveis e a apoio contra ela para voltar a socar com a força e rapidez que preciso.
Ela me agarra, morde meu ombro, geme, arranha minhas costas e goza de novo. A sensação do meu pau todo dentro dela é deliciosa, não tenho vontade de parar, então continuo socando, esmagando-a contra a parede, até que o arrepio do orgasmo faz meu corpo inteiro tremer e aumenta minha velocidade em busca de alívio e satisfação.
— Kostas... — ela geme, mas não consigo prestar atenção, apenas sinto. — Kostas...
Dessa vez, nem que eu quisesse, eu iria poder conter meu gozo. Sua boceta me aperta de um jeito quase doloroso, e sinto minha virilha inundar do gozo feminino dela, então encosto minha testa na sua e me deixo ir gemendo e curtindo cada espasmo, cada esguicho de porra que sinto sair de mim.
— Uau! — Ela ri de olhos fechados e sem fôlego. — Que bom dia! Muito mais estimulante do que qualquer café.
Concordo, mesmo sem dizer nada – porque simplesmente não consigo – e penso em como seria amanhecer, trepar com ela e depois irmos trabalhar. Mesmo sendo assustadora, a imagem é muito atraente, e eu concluo que, pela primeira vez em anos de atividade sexual, estou disposto a ter um caso. Não há possibilidade de, se ela quiser, não repetir essa noite e esta manhã várias e várias vezes.
— Eu acho que deveríamos ir pessoalmente a esse local — Kostas diz, apontando para o mapa aberto em cima da minha mesa. — Eu sei que você tem seus hunters para isso, mas eu realmente queria ir a essa reunião, pois tenho a sensação de que é o lugar ideal.
Encaro-o.
— Mesmo? — questiono-lhe, porque tenho a mesma impressão. — Mas já indicamos David e Lene para irem. — Ele dá de ombros, e eu bufo. — Estamos desde segunda-feira planejando essa viagem, inclusive eles já têm passagem e hotel reservados, Kostas.
Ele sorri por eu tê-lo chamado pelo apelido – um ato falho, admito – e, usando isso como desculpa, desliza a mão pelas minhas costas e aperta minha bunda.
— Você ficou deliciosa com essa calça hoje — comenta. — Está sendo um inferno ficar vendo você andando de lá para cá com ela, porque me deixa duro, e eu não posso te foder aqui.
Sorrio, adorando a sensação de deixá-lo enlouquecido. Claro que foi proposital, tem sido assim desde segunda-feira, quando vim trabalhar com uma saia lápis e uma blusa de seda branca semitransparente, e Kostas me trancou no banheiro consigo e me fez chupá-lo até gozar para diminuir o tesão e poder sair da sala sem que todos notassem o volume de sua ereção na calça social.
O advogado engomadinho, sempre vestido com seus ternos italianos de caimento perfeito, começou a vir para a empresa com calças mais grossas – até jeans ele usou – para poder trabalhar.
Eu também não tenho saído ilesa!
Desde que ele destituiu David – de novo – e voltou a compartilhar a sala comigo, tenho trocado de calcinha duas vezes ao dia. No começo da semana foi por causa dos amassos e das sacanagens que fizemos na sala, até quase sermos flagrados pelo Leo – que sempre entrou na sala sem bater –, e eu impus a regra de profissionalismo dentro do local de trabalho.
Na terça e na quarta-feira, nós nos comportamos muito bem. Claro que temos nos tocado, trocamos um beijo ou outro, mas estabelecemos um limite dentro do escritório. Ou pelo menos tentamos.
A verdade é que nunca pensei que viveria algo assim! Pelo menos, não no escritório e muito menos com o diretor jurídico malvadão.
Todavia, depois da noite de sexta-feira e do sábado de manhã, eu tive a certeza de que tomei a decisão certa ao não negar essa atração, vivê-la até o máximo que poderia chegar, sem medo de nada.
Parece temerário isso, não é? Afinal, é um caso baseado em sexo, e eu nunca tive notícias de Konstantinos envolvido com alguém seriamente, então deveria me resguardar mais, mas não quero. Não sou dessas que vivem se restringindo a passar por experiências boas ou ruins. Não tenho medo de sofrer no futuro, porque isso não está nas minhas mãos; nada nessa vida é garantido, muito menos a felicidade. Então eu acredito no “feliz enquanto dure” e não consigo ficar controlando – ou tentando controlar – o que sinto ou deixo de sentir.
Conversei isso com a Jane no sábado à tarde, depois que Kostas foi embora. Contei a ela tudo o que havia acontecido, as impressões que tive sobre ele e o que eu decidi fazer acerca dessa história.
Ela concordou comigo que nem mesmo um relacionamento fixo, consolidado e antigo tem garantias de ser eterno e, principalmente, feliz. O coração é terra onde ninguém pisa, ninguém manda no que sentir e por quem sentir, então, para que ficar brigando?
— Mas você espera que essa relação evolua? — ela me perguntou.
— Ainda não sei — respondi sinceramente. — Hoje eu posso dizer que sim, pois quero mais dele. Às vezes consigo enxergar algo de mim mesma nele; por baixo de todo seu verniz de autoconfiança e deboche, eu vislumbro alguma vulnerabilidade. — Dei de ombros. — Sei que pode ser algo que eu queira enxergar, mas, de alguma forma, isso me conecta a ele.
Ela me pediu para me explicar melhor, e eu tentei, lembrando-me de vários momentos em que tive a sensação de que, assim como eu, ele estava se permitindo sentir coisas novas. Às vezes o senti travado, como se não estivesse à vontade com certas coisas, mas, mesmo nesses momentos, vi que ele estava se permitindo fazer.
No domingo, mandei uma mensagem para Portnoy, pois estávamos havia muito tempo sem saber um do outro, embora tenha recebido a notificação de que ele reativara o perfil para os outros membros do Fantasy, como eu mesma tinha feito.
“Oi, tudo bem? Quando puder aparecer, me chama.”
Foi assim, seca a mensagem, porém, fiz questão de conversar com ele antes de cancelar de vez minha conta no aplicativo. Não vou encontrá-lo, a decisão de mantê-lo apenas na lembrança das fantasias que compartilhamos e das conversas que tivemos já está tomada.
Meu envolvimento com Kostas teve a ver com isso? Provavelmente, principalmente pelo que ele me disse no sábado antes de ir embora.
— Eu sei que trabalhamos juntos e — riu — nem nos damos bem na maioria das vezes, mas não vou negar essa atração e nem vou fingir que essa noite e essa manhã nos satisfizeram. — Ele me abraçou, e eu quase tive uma entorse no pescoço para olhá-lo. — Eu quero mais, Kika.
Sorri, porque eu também queria.
— Eu também, Kostas.
Ele me ergueu para beijá-lo, e eu gargalhei.
Foi por isso que me esmerei na roupa na segunda-feira, porque tive uma enorme vontade de provocá-lo, dessa vez sem briga ou deboche, e levá-lo à loucura. Descobri que adoro essa sensação de poder que sinto por saber que, só ao me olhar, ele enlouquece, fica excitado e desesperado. Gosto disso demais!
Todavia, como era previsto, fui chamuscada pelo meu próprio fogo e acabei sentada na privada do banheiro da gerência, no final do expediente, com o pau dele na boca, pois Kostas ainda tinha reuniões a participar, e não iríamos dormir juntos naquela noite.
Ontem a provocada fui eu, e ele me levou à loucura com cada toque, cada beijo, cada insinuação. A sensação que eu tinha era de que estava vivendo, na prática, as coisas que escrevia com Portnoy, e isso era incrível!
Por falar nele, respondeu minha mensagem na terça-feira de manhã, e eu marquei de nos encontrarmos no chat na hora do almoço. Saí para uma reunião e almocei em um restaurante, junto ao Leo e à Vivi. Estávamos tomando um café quando o celular apitou mensagem.
“Oi! Já pode falar? Estou curioso!”
Respirei fundo, pois sentia como se estivesse terminando um relacionamento e escrevi:
“Oi! Eu queria me despedir de você antes de cancelar a conta.”
Ele não tardou a perguntar:
“Por que vai cancelar?”
Resolvi ser sincera:
“Estou saindo com alguém, e, mesmo não sendo nada sério, eu não me sentiria bem ao continuar aqui. Eu sei que insisti nesses últimos dias em termos um encontro, mas acho melhor deixar assim, nessa fantasia boa.”