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O ENCANTADOR
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Capítulo 14

- É uma pena que você tenha que usar roupas de luto durante todo o verão. — Disse Dorothy. — Embora eu ache que é possível argumentar que você deve comparecer à festa da coroação em setembro. Afinal, você é Everdon. Não concorda, Adrian?

— Se a duquesa busca um argumento, tenho a certeza de que podemos elaborar um.

Adrian caminhou ao lado de sua graciosa tia e olhou através da nuvem de cabelos brancos para Sophia. O amplo chapéu da duquesa, carregado de penas negras, obscurecia a sua visão, de modo que apenas o nariz e o queixo dela eram visíveis.

Adrian convidou a sua tia para esta caminhada, sabendo que eles provavelmente encontrariam Sophia, já que ela dava um passeio matinal no parque todos os dias àquela hora. Ele foi reduzido a essas maquinações porque Sophia estava evitando-o. Ela dispensou-o, no final da viagem, para nomear os seus candidatos.

Desde que chegaram a Londres, há três semanas, ela tinha conseguido que outra pessoa estivesse sempre presente, quando o recebesse.

Sophia conseguiu envolver Dot em uma conversa que não o incluía. As duas avançaram alguns passos e o conde de Dincaster andava ao lado deles. O fato de o conde ter acompanhado nessa manhã não era, Adrian suspeitava, uma boa notícia.

Adrian voltou a sua atenção para os outros membros do grupo. Daniel St. John e a sua esposa, Diane, também faziam um passeio matinal e Adrian os apresentou à duquesa ao encontrá-los no parque.

— Ela pareceu reconhecer vocês dois. — disse ele a Daniel.

— Fomos apresentados antes, há vários anos, enquanto visitávamos a nossa casa em Paris.

— Então você sabe algo da sua vida lá.

— A Senhorita Raughley e o seu Ensemble eram bem conhecidos em Paris. — A voz de St. John não carregava censura ou sarcasmo. — Ela construiu outra vida lá. Outra identidade. Pena que ela não possa mantê-la aqui, caso preferisse.

Adrian sabia que St. John falava por experiência própria. O próprio Daniel St. John vivia agora uma identidade diferente daquela com que nascera. Adrian era uma das poucas pessoas na Inglaterra que conhecia esse segredo e porque o mistério havia sido criado. Ele não sabia exatamente, por que St. John persistiu no engano, quando as razões para isso tinham sido resolvidas há muito tempo.

— Ela parece muito cansada. — disse Diane St. John, com os olhos cheios de curiosidade fixos no vestido preto da duquesa. — Acredito que voltar para casa tenha sido um calvário.

— Sim, e chegar a Londres piorou tudo. Um fluxo constante de visitantes tem chegaram vindo por ela. Toda mulher na sociedade quer conduzir uma inspeção independente, antes de concordar com o crescente consenso, de que Sophia Raughley realmente não é muito adequada para a sua posição.

— Deixe-me adivinhar. Elas também acham que o marido certo iria resgatá-la e seria muito melhor se ela se casasse com o filho perfeito, irmão ou sobrinho da visitante. — disse St. John.

— Sem dúvida. Eu organizei este encontro acidental com Dot porque ela poderia precisar de uma amiga, que é formidável o suficiente, para protegê-la nos próximos meses do inferno social.

— Isso foi atencioso da sua parte, já que ela não tem família para ajudá-la. Ela deve fazer isso sozinha. — disse Diane. — Talvez, ela também possa precisar de alguns amigos que não fazem parte desse inferno em particular. Vou convidá-la para relembrar Paris, se você acha que pode ajudar. A menos que você pense que ela nos acharia abaixo dela.

— Eu acho que ajudaria enormemente. A duquesa tem noções estritas sobre quem é adequado para o seu círculo, como ela provou em Paris. — Nem a amizade de Daniel e Diane St. John seria um grande passo para baixo. St. John tornou-se incrivelmente rico por meio de frotas e financiamentos e poderia comprar a maioria dos pares do reino.

— Então eu vou fazer a apresentação e ver se ela aceita. — Diane alongou o seu passo, apenas o suficiente para ficar ao lado de Dot.

Ao fazê-lo, o conde diminuiu o suficiente para seguir um pouco as damas.

St. John notou.

— Parece que ele quer conversar com você.

— Não há outra explicação para a presença dele aqui esta manhã. Eu não acho que ele tenha feito tanto exercício em meses.

— Eu vou me juntar às damas, então. — St. John se juntou a sua esposa e acompanhou as senhoras.

Isso deixou Adrian andando com o conde, que se aproximou.

— Está feito, então? — Ele perguntou, diminuindo ainda mais para que as mulheres não pudessem ouvir.

— Eles foram todos eleitos e, entretanto, estão chegando para o Parlamento.

Os candidatos de Sophia haviam sido eleitos, mas poucos outros Tories13 venceram. Os Whigs14 eleitos no mandato controlaram firmemente a reforma na câmara dos comuns por uma margem enorme.

Wellington, Peel e os outros líderes conservadores agora enfrentavam uma situação delicada. O objetivo seria que o projeto fosse muito moderado, na pior das hipóteses, e que a votação estivesse muito próxima, para que a Câmara dos Lordes pudesse matá-la sem muita indignação pública.

O que significava que os doze votos de Sophia ainda importavam e que o lugar vazio de Everdon na câmara alta se tornara mais crítico.

— Ouvi falar da Cornualha. Parece que ela não lhes disse como votar.

— Essa é a escolha dela por enquanto.

— Ouvi dizer que ela começou um tumulto.

— Um motim muito pequeno.

— Droga, você deveria administrar isso, mantenha-a na mão, controle as rédeas.

— Ela não é um cavalo para ser dirigida por um freio.

— Não, ela é uma mulher para ser dirigida por um marido. Stidolph ainda não sabe, embora eu ache que alguém deva lhe contar. Ele pensa que ainda é o primeiro a reivindicá-la, quando na verdade o potro está amarrado no curral de outra pessoa. Inferno de situação. Por que Everdon não poderia ter tido um potro bom, recatado e obediente?

— Talvez ele tenha, mas puxou muito as rédeas e estragou a boca dela. Agora, você não acha que já usamos a metáfora do cavalo o suficiente?

Foi a conversa mais longa que tiveram em anos e Adrian esperou o resto. O que havia sido abordado até então não era importante o suficiente para forçar o conde a ter uma conversa com ele.

De repente, o conde girou, colocando o seu corpo na frente de Adrian, forçando-o a parar.

Adrian encontrou os olhos cinzentos tão diferentes dos dele. A pele pálida do conde tinha corado pelo exercício desacostumado. Os seus cabelos brancos, uma vez loiros como os de Colin e Gavin, espreitavam por baixo do chapéu. O rosto, que já fora anguloso e o peito, que já fora ajustado e forte como o dos filhos, tinham ficado macios e inchados por excesso de indulgência. Assim como a mente.

Adrian considerou que, se a Câmara dos Lordes fosse composta inteiramente por condes de Dincaster, ele votaria pela reforma num instante.

— Ela foi a uma reunião dos radicais ontem à noite. — O conde confidenciou.

— Ah, sim? — Adrian achou divertido que o conde pensasse que isso seria uma novidade. Ele próprio podia recitar para onde ela tinha ido toda vez que saíra de casa nas últimas semanas. Ele podia recitar o que ela comia todos os dias. Ele poderia dizer que ela tinha embarcado num frenesi de extravagância que tinha deixado as modistas em toda a cidade exultantes.

Podia informar que ela recebera mais duas cartas do capitão Brutus e não pedira que Adrian as analisasse.

— Laclere fez um discurso. A duquesa se encontrou com ele depois. Ela vai visitar a casa dele amanhã.

O visconde de Laclere era um dos poucos conservadores que apoiavam a reforma. Ele também era membro de um círculo de amigos de Adrian que incluía St. John e alguns outros, homens com os quais ele tinha vivenciado eventos que forjaram laços que transcendiam a posição social ou a política. Quando jovens, eles se apelidaram de Sociedade de Duelos de Hampstead e ainda se reuniam ocasionalmente, na academia de esgrima do Chevalier Corbet, para treinar com sabres. Era, na forma essencial, o único círculo social em que ele realmente havia sido aceito e ao qual ele verdadeiramente pertencia.

— A esposa de Laclere é uma artista. — disse Adrian. — A duquesa provavelmente está mais interessada nisso do que nas visões políticas de Laclere.

— Artista! Inferno, a mulher é uma cantora de ópera. Americana. Laclere costumava ser sólido, mas ela o arruinou. Todo mundo sabe que ele se interessa por comércio agora também. Acho que você deve encontrar um jeito de ir amanhã, ficar de olho nas coisas e ter a certeza de que a duquesa não seja enganada.

Adrian forçou uma expressão de acordo. Wellington já tinha feito essa sugestão e um convite tinha chegado na noite anterior.

— Há outra coisa. — O conde começou parecendo desconfortável, mas determinado.

Adrian quase não o ouviu porque se distraiu com a atividade vista pelo canto do olho. Na distância atrás deles, no caminho da carruagem, um cabriolé se aproximava, indo e voltando num manuseio inexperiente. Uma figura escura estava ao lado do motorista, balançando de forma desequilibrada, agitando os braços. Um grito mal chegou até eles na brisa.

Sophia.

— Tudo o que você precisa dizer, vamos discutir isso enquanto alcançamos as mulheres. — disse Adrian.

— É melhor ser discutido em privacidade.

Sooo... phiii... aaaa

O conde inclinou a cabeça.

— Você ouviu alguma coisa?

— De modo nenhum. Agora, qual é esse outro assunto?

— Eu poderia jurar... Tem a ver com a duquesa também. Stidolph falou comigo. Pensa que você tem a acompanhado demais. Não vai fazer nada, vai?

Oh, doce Sophia, minha senhora.

— Primeiro você me instrui a ficar de olho nas coisas e agora você diz para ficar longe.

— Veja, Adrian, você sabe o que estou dizendo.

Eles estavam quase ao lado de Dot e Sophia. Adrian olhou para trás e observou o cabriolé continuar avançando precariamente. A figura desequilibrada caiu no assento.

— Não tenho certeza se sei. Talvez seja melhor você dizer isso com mais clareza.

Os olhos cinzentos se voltaram negros como sílex e o rosto inchado encontrou alguns ângulos.

— Não vai fazer nada. Uma ligação seria escandalosa.

— Qualquer ligação, ou apenas uma comigo?

— Eu não quero que a minha família seja o entretenimento das fofocas de verão.

— Em outras palavras, você quer que eu permaneça o mais invisível possível. Isso nunca foi muito fácil.

O conde examinou o seu rosto em uma avaliação fria da qual Adrian se ressentira, já que ele tinha idade suficiente para entender o que se refletia em seu espelho. Nenhuma resposta veio à sua referência oblíqua que o seu rosto revelou, no entanto. Nunca veio nenhuma resposta...

Ele alcançou as senhoras e levou-as para longe do caminho da carruagem em direção a algumas árvores. Ele podia ouvir o cabriolé passando por eles, mas o seu barulho quebrou e obscureceu os gritos continuados.

Soph... Pare...

— Há uma linda lagoa aqui perto. — disse Adrian. — Há cisnes e um é preto. Você realmente precisa ver isso.

— Eu já vi e nenhum dos cisnes é preto. — disse Sophia.

— Por que estamos nos apressando? Eu vou estragar a minha saia se você não diminuir...

Espere. Volte.

— O que foi isso? — Ela olhou ao redor.

— O cisne negro devia estar se escondendo no dia que você o visitou. Venha comigo.

— Tenho a certeza de que ouvi...

Sophia! Kedvesem15, espere!

Ela girou.

— Áttila! Olhe, Burchard, é Áttila e Jacques.

— Por Zeus, assim é.

Ela correu os sessenta metros até ao caminho da carruagem. Adrian seguiu com Dorothy e o conde a reboque.

No momento em que chegaram, uma exibição de abraços e beijos estava em andamento. Dorothy assistiu com um sorriso curioso. O rosto do conde estufou.

— Kedvesem! É tão bom ver você de novo — gritou Áttila. — Jacques e eu estávamos tão preocupados com você. Lá estávamos nós, sentados em Paris, conversando sobre a nossa maravilhosa Sophia e então a inspiração aconteceu. Por que não a ir visitar? Quando fomos a sua casa esta manhã, Jacques bajulou Charles para nos dizer onde encontrá-la. — Ele fez uma reverência para lhe dar outro grande beijo e depois se virou para Adrian. — Senhor Burchard, nos encontrámos novamente. Espero que você não se importe. Jacques disse que você pode querer mais tempo sozinho com Sophia depois de todos esses anos...

Inferno.

— ..., mas eu disse que você não se importaria com velhos amigos vindo para ter a certeza de que estava feliz com todas as suas novas responsabilidades, não apenas para o seu país, mas para você e para aquilo...

Felizmente, Sophia interrompeu o fluxo efervescente para fazer as apresentações e nem Dot nem o conde notaram as estranhas referências a Adrian.

— São só vocês dois? Onde está Dieter? — perguntou Sophia.

— Dieter soube que uma condessa, sua conterrânea, pagaria para que o seu romance mais recente fosse impresso, então é claro, que ele precisou regressar para isso — explicou Jacques. — Stefan, simplesmente desapareceu um dia. Um novo compositor chegou a Paris vindo da Polônia. O seu nome é Chopin, e ele realmente é da nobreza, então é claro que as coisas ficaram um pouco quentes para o pobre Stefan.

— Vocês acabaram de desembarcar?

— Ontem. Jacques nos encontrou uma hospedaria encantadora para a noite passada e viemos procurá-la rapidamente, esta manhã.

— Uma pousada? Eu não vou ouvir isso. Vamos mandar buscar as suas coisas imediatamente. Há muito espaço na Casa Everdon.

Áttila sorriu com prazer.

— Maravilhoso. Será como nos velhos tempos.

Jacques sorriu suavemente.

— Nós ficaríamos honrados, querida dama. Claro, isso é, se Monsieur Burchard não se importar.

— Burchard? — Sophia franziu a testa. Adrian assistiu ela perceber o desastre potencial. Ela olhou de relance para Dorothy e o conde. — Oh.

— A duquesa é mais generosa do que prudente — disse Adrian. — Nós não queremos afetar a sua posição, especialmente agora, que ela voltou tão recentemente, não é senhores?

— Eu não posso tolerar que os meus amigos fiquem em alguma estalagem com camas cheias de pulgas. — Sophia estava fazendo aquele formidável, determinado e maldito olhar.

A última coisa que Adrian queria era que o Ensemble vivesse com ela novamente.

— A minha tia pode oferecer a vocês acomodações? A casa da cidade de Dincaster fica na mesma praça que a de Everdon.

— Sim — disse Dorothy. — Vocês devem ficar conosco.

O conde absorveu que a sua hospitalidade acabara de ser estendida a essas duas pessoas estrangeiras.

— Eu digo... — Ele bufou, mas Áttila se moveu com um fluxo de gratidão que submergiu as suas objeções. Irritado, o conde se afastou, resmungou sobre um compromisso e seguiu pelo caminho.

Jacques se aproximou de Adrian e inclinou a cabeça conspirativamente.

— Perdão, mas estou certo em supor que você não mora nesta Casa Everdon e que o casamento ainda é um segredo aqui? — Ele murmurou.

— Sim.

— Mas porquê? Certamente agora...

— Política.

A expressão de Jacques clareou.

— Ahhh, bem. Política. Claro. — Ele assentiu conscientemente.

— Iremos para a minha casa e mandaremos buscar as suas coisas imediatamente. — Anunciou Sophia. Ela deixou Jacques subi-la no cabriolé antes dele se instalar e pegar as rédeas. Áttila subiu em um estribo na parte de trás e se inclinou para dar uma descrição entusiasmada da sua travessia em seu ouvido.

— Vou mandar uma carruagem à tarde para buscá-los. — Dorothy disse.

— Eu já amo a Inglaterra. Que pessoas acolhedoras e maravilhosas — Áttila se esforçou quando as rodas rolaram. — Vê, Jacques, nós deveríamos ter vindo mais cedo.

— Obrigado, Dot. — disse Adrian depois que eles foram embora.

Ela ergueu as sobrancelhas.

— Quem são eles?

— Amigos artistas. Tente mantê-los longe do conde, sim?

— Eu suspeito que ele vá jantar em seus clubes enquanto eles estiverem em sua residência.

— Isso não será necessário. Ela provavelmente insistirá que eles comam com ela.

Dot olhou para o cabriolé.

— Você não queria que eles ficassem com ela e eu não acho que fosse apenas uma preocupação com as fofocas das harpias.

— Não inteiramente.

— Estou certa em assumir que você não vai se juntar a nós na casa para me ajudar a entretê-los, mas permanecerá em seus aposentos particulares?

— O conde preferiria isso, você não acha?

— Quanto você quer que eu os distraia para que você possa ficar sozinho com ela?

Ele sorriu para a percepção de Dorothy.

— Isso ainda terá que ser visto.

Ela deslizou o seu braço no dele e eles continuaram a sua caminhada.

— Eu não acho que ela é tão sofisticada quanto sugere o seu savoir faire parisiense. Tendo testemunhado antes como você trabalha o seu charme, eu diria que ela não tem a menor chance se você estiver determinado. Eu te aconselho a ser discreto, mas sei que isso não é necessário.

— Não, isso não é necessário.

Ela estreitou os olhos no pequeno ponto de desaparecimento que era o chapéu de Sophia.

— Eu confio que você será gentil também. Mesmo com toda a sua coragem, ela está muito assustada. Com você?

— Parcialmente.

— Então, talvez você deva recuar. Afinal, ela deve se casar e você só pode tornar isso mais difícil para ela.

Talvez ele devesse recuar. Sophia obviamente tinha dito isso, com determinação. Mas ele não faria. Passou anos fazendo isso de forma sensata. Ele passou a vida inteira sendo o terceiro filho discreto do Conde de Dincaster, tão invisível quanto possível, mas isto era diferente.

Ele queria Sophia Raughley. Ele a queria em seus braços e em sua cama. Ele queria matar os fantasmas e acalmar a sua tristeza silenciosa, protegê-la e cuidar dela o tempo que o seu mundo permitisse.

Principalmente, no entanto, ele queria o que ela temia. Infelizmente, ele suspeitava que ela nunca mais fosse confiar, suficientemente, em um homem para isso.

— Quando ela decidir se casar, vou me retirar, Dot. Não vou tornar mais difícil para ela.


Capítulo 15

A casa estava dormindo e ele se moveu em silêncio. Foi até à escada dos criados e começou a trabalhar.

Sophia estava se mostrando mais resiliente do que esperava. Ela não estava agindo como o ratinho do qual ele se lembrava.

Ela sabia que ele estava observando e o que ele estava exigindo. Ele tinha deixado isso muito claro. Mesmo que ela não tivesse percebido que ele estivera em Haford, o seu protetor certamente percebera. Ela não estava reagindo do jeito que queria, no entanto. Ele continuou esperando por um sinal de que tinha vencido, que ela havia quebrado, mas ela permaneceu ambígua sobre o voto e tudo mais.

Talvez ela achasse que estava blefando. Bem, descobriria esta noite que ele não estava.

Tirou algumas folhas de dentro do casaco, esmagou-as com a mão e as empilhou no degrau de baixo. Deslizou para a lareira da cozinha e ergueu alguns carvões brilhantes em uma pequena pá. Enredando-os no escuro, ele subiu as escadas novamente e os deslizou na cama de papel.

Brasas de cor laranja se formaram lentamente ao redor das brasas.


Charles abriu a porta apenas o suficiente para Adrian deslizar para dentro. Com um dedo nos lábios e um olhar por cima do ombro, o mordomo fez um gesto para Adrian segui-lo. Eles abriram caminho pela casa adormecida até aos aposentos de Charles, ao lado da dispensa.

A sua sala de estar era pequena, mas confortavelmente mobiliada. Adrian se acomodou em uma cadeira e estendeu a mão com expectativa.

Charles hesitou.

— Ainda não parece certo, senhor. Dizer a você o que ela está fazendo não parece ser uma traição, já que ela não está fazendo muita coisa. Isto é diferente e eu não sou duas caras.

O mal-estar de Charles abateu Adrian. Ele não estava acostumado a usar tal subterfúgio na Inglaterra.

— É diferente e não é certo e, sob qualquer outra circunstância, eu nunca perguntaria. No entanto, eu não menti quando disse que ela poderia estar em perigo. Se ela está sendo ameaçada, preciso saber.

Charles considerou, depois extraiu dois papéis de sua Bíblia e os entregou.

— Ela vai me expulsar se descobrir.

— Você logo poderá devolvê-los para a sua mesa.

Adrian segurou-os perto de um par de velas. Como a primeira carta do capitão Brutus, estas foram cuidadosamente impressas em letras maiúsculas anônimas. No entanto, elas continham muito menos contenção do que a outra e usavam um tom acusador e exigente.

A primeira a convocava para apoiar o mais radical dos planos de reforma propostos. Terminou com um lembrete da sua, intimidade, anos atrás e uma exigência de que ela não mostrasse a fraqueza que tinha mostrado durante aquele episódio.

A mais recente foi mais explícita.

Você tem a chance de se redimir pelas suas traições e crimes, Sua Graça. O que você fez para mim não é nada comparado ao golpe que você deu nas esperanças do povo, as esperanças que eu incorporava. A minha própria vida não é nada perto disso. Nem a sua. A História chama e é hora de você corrigir o que fez. Preciso exigir a dívida e você deve pagá-la. De um jeito ou de outro.

Que o próximo parágrafo fosse lido como um apelo de um amante, lembrando-a do seu calor suave, do seu coração amável, e, afeto generoso, não diluía a ameaça implícita. Adrian releu aqueles carinhos com mais frequência do que precisava.

Por que ela não mostrara a ele, ou a qualquer outra pessoa, essas cartas? As partes de afeição a tocavam mais do que os avisos a assustavam?

— Você tem algum motivo para pensar que ela se encontrou com ele? — Perguntou a Charles. — Algum homem a visitou sem que você conhecesse?

— Nenhum que eu tenha visto. Mas ela sai, não é? Naqueles passeios, sozinha. E ontem à noite ela foi para aquela reunião política.

— Foi uma reunião de apoiadores da reforma, mas não do tipo do capitão Brutus. O visconde Laclere não se associa aos revolucionários.

Ele interrogou Charles mais especificamente sobre os visitantes, mas só descobriu que todos eles eram membros bem conhecidos da sociedade. O parque estava ocupado o suficiente no período da manhã, e ele duvidava que ela fosse organizar um encontro lá.

Ele leu novamente a carta mais recente. A mente que escreveu não podia decidir se queria Sophia por vingança, por amor ou por vantagem política.

Ele se levantou. Teria que ter uma conversa séria com a duquesa.

Charles se abaixou para abrir a porta da sala de estar. Ele escoltou Adrian pela dispensa e saiu pelo corredor.

Quase imediatamente ambos pararam.

Charles inclinou a cabeça. Adrian fungou.

— Senhor, você... — Charles começou cautelosamente.

A picada nos olhos de Adrian disse a ele com certeza. Ele correu para a escada. Sopros de fumaça subiam do nível mais baixo.

— Chame os lacaios para combater o fogo, depois vá e desperte a vizinhança. — Ele ordenou.

A fumaça já estava aumentando. Virando-se, Adrian dirigiu-se para os quartos acima.

Ele correu direto para Gerald Stidolph, que estava saindo da biblioteca.

— Que diabos você está fazendo aqui, Stidolph?

— A minha presença não é de todo irregular. Eu visitei Sophia e fiz uma pausa para uma taça de vinho do porto depois que ela se retirou.

— Fazendo-se em casa prematuramente, não está?

— Eu não ligo para a sua impertinência.

Adrian passou por ele e começou a subir as escadas correndo.

— Não há tempo para isso, Stidolph. Siga-me. Há fogo.

— Fogo! Meu Deus, Sophia...

Gerald se virou em seus calcanhares em um instante.

— Vá para cima e alerte os servos. — Ordenou Adrian.

Gerald puxou o braço de Adrian.

— O inferno que eu vou. Suba você. Eu vou salvar Sophia, não você.

Ele empurrou Adrian contra a parede, quase fazendo-o cair.

Amaldiçoando a determinação de Stidolph de ser heroico, Adrian seguiu para o terceiro nível e o viu entrar nos aposentos de Sophia. Correndo agora, porque a fumaça ácida já soprava pela casa, Adrian continuou até aos aposentos do sótão.


Sophia olhou em volta do quarto escuro. Esta casa ainda parecia estranha para ela, as formas das sombras a inquietavam. Ela se abaixou ao lado da cama e deixou os dedos deslizarem nos pelos de Camilla e fingiu que estava de volta a Paris.

Perto da lareira, Yuri e seus irmãos bufaram em seus sonhos e ela pôde ver Prinny cochilando em sua gaiola de madeira perto do sofá. A presença dos seus amigos animais proporcionava algum conforto familiar, assim como a chegada de Áttila e Jacques hoje, criara uma distração bem-vinda do tumulto silencioso que ela carregava dentro dela.

As suas emoções estavam em guerra sobre muitas coisas, incluindo o capitão Brutus, as eleições, Gerald e muito mais. No entanto, todas essas pressões tornaram-se secundárias à batalha que o seu coração travava com Adrian Burchard. A sua solidão desejava tanto o conforto que ele oferecia, que o desejo ardia perpetuamente como uma nova queimadura.

Ela queria desesperadamente mentir para si mesma e abraçar a proximidade por qualquer preço. Mas, aquela noite em Staverly, tinha provado que ela não podia controlar as coisas com ele do jeito que queria, a fim de estar a salvo da decepção, então ela estava se escondendo completamente da intimidade. O que só a deixava mais sozinha, no momento em que ela podia usar a sua amizade e conselhos.

Sonolenta, ela considerou as últimas semanas de sorrisos falsos, olhares críticos e cartas ameaçadoras. Todo mundo estava esperando por ela para fazer escolhas que não queria fazer. Wellington a visitou e mencionou obliquamente a questão do casamento, deixando-a saber, que ele não acreditava na história do marido. Não demoraria muito para que ele e outros deixassem de ser sutis.

A imagem de Gerald entrando nesta casa esta noite, dele sentado na sala de visitas como se fosse dele e vagando pela biblioteca depois, muito confortável ali, começou a se intrometer.

A sua mente se refugiou no sono. Uma leve comoção vinda de baixo mal penetrou na sua mente. Ela estava sonolenta e não estava consciente da porta do seu quarto se abrindo. Foi o grito de Prinny que a alertou. E o rosnado de Yuri. E o súbito aumento das costas de Camilla sob os seus dedos.

Uma presença alta apareceu ao lado da cama.

— Gerald? Como você se atreve?

— Acorde, Sophia. Você deve sair rapidamente. Há fogo.

— Fogo!

Com uma mão, ele a puxou para fora da cama. Com a outra, ele pegou o seu roupão de uma cadeira próxima.

Ela ouviu passos correndo nas tábuas acima da cabeça e gritos de baixo.

— Não se preocupe, minha querida. Eu vou te salvar.

Ele a empurrou para a porta.

— Os cachorros...

— Não há tempo.

— Prinny...

Ele pressionou uma mão nas costas dela e empurrou.

— Mova-se rapidamente para a porta da frente.

Ela podia ouvir os servos saindo dos níveis superiores com gritos e correria. Assustados e agitados, os cachorros latiram e Prinny gritou.

— Eu não posso deixá-los.

— O fogo está na escada mais baixa e, se não for contido, irá chegar até o sótão.

— Só me deixe e...

— Não! — Agarrando seu braço, ele a arrastou para a porta.

Ela plantou os seus calcanhares e se soltou.

— Vá, se você precisa. Eu estarei bem atrás de você. — Correntes de fumaça picou os olhos dela. Ela esbarrou nas gaiolas dos cães e se inclinou para abri-las. Ela tateou o caminho de volta para Prinny.

Gerald abriu a porta e a fumaça subiu.

— Sophia, não há tempo!

Ela sentiu o trinco da gaiola.

— Sophia! — Sua sombra deu um passo em direção a ela, mas o som da madeira partindo abaixo, o parou.

A sua cabeça virou-se para os sons caóticos de uma casa apavorada e a fumaça obscurecida, depois de volta para ela.

Ele correu sendo engolido pela escuridão.

Ela freneticamente pegou no macaco, mas ele passou por ela, até à janela. Chamando por ele, ela sentiu as coleiras dos cães. Yuri e os seus irmãos passeavam na penumbra perto das janelas, latindo para o perigo que sentiam se aproximando.

O seu peito queimava. Os andares superiores da casa estavam quietos, mas a rua abaixo de sua janela estava cheia de barulho. Ela começou a entrar em pânico. Ela agarrou Prinny, mas ele pulou para longe.

De repente a porta se fechou. O ar clareou um pouco. Ela se assustou quando um braço rodeou sua cintura.

— Burchard. — O alívio a encheu. — Os animais... eles não obedecerão.

— Isso é porque você não os domina como eu. — Libertando-a, ele chamou bruscamente os cães e Camilla. Silenciados, todos eles se apresentaram.

Ele os trouxe para a porta.

— Fora. Corram. — Ele ordenou, abrindo a porta. A linha escura se lançou com um rápido bater de patas. Ele bateu a porta atrás deles.

Ele segurou o braço de Sophia e a guiou até a janela.

— Eles são rápidos e estarão na rua dentro de momentos. Você, no entanto, não pode ir por esse caminho agora. A fumaça é muito espessa.

Ela já havia adivinhado isso. Apesar da porta fechada, ela podia sentir o cheiro. Sentia. O seu peito começou a se contrair novamente, tanto de fumaça quanto de medo. Ela enfiou o rosto no ar fresco e olhou para a rua iluminada pela tocha.

O incêndio tinha atraído toda a vizinhança e homens de todas as classes trabalhavam jogando água. Ela distinguiu as formas dos cães e da jaguatirica que saíram do prédio, nos braços de Áttila e Jacques.

Dincaster.

A casa também ficava na Praça St. James e as notícias do incêndio tinham trazido toda a casa. A família de Burchard lançaram olhares de inspeção no prédio. Colin viu-a e a Adrian na janela e foi em direção à entrada.

Adrian se curvou e gritou para o irmão parar, depois se voltou para dentro. Agarrou uma cadeira pesada.

— Afaste-se. — Ele ordenou. Ele gritou o mesmo comando para as pessoas abaixo e depois bateu a cadeira na janela. Vidro e madeira voaram. Ele espancou os restos até abrir um grande buraco.

— Você espera sair dessa maneira? Se pularmos, isso nos matará.

Ele caminhou até a cama dela e começou a descobri-la.

— Eu vou descer e você vai se segurar em mim. — Ele começou a amarrar os panos juntos.

— Isso não vai funcionar.

— Claro que vai. Já fiz isso antes.

Ele parecia tão confiante. O seu terror recuou um pouco e ela o ajudou a empurrar a pesada cama para perto da janela e amarrar a corda de lençóis na perna.

— Para a cadeira. Braços ao redor do meu pescoço e pernas ao redor da minha cintura.

— Você tem certeza de que sabe o que está fazendo? — Perguntou ela, assumindo a posição embaraçosa.

— Absolutamente. Segure firme agora.

Ele jogou a corda de lençóis. Um grito subiu dos espectadores.

— Pelo menos vamos dar a Londres algum entretenimento hoje à noite. — Ele a empurrou para fora da janela e colocou primeiro as pernas para fora.

O ar da noite sugou-a e de repente ela estava agarrada ao seu corpo pendurado a doze metros acima da rua. Um grito rasgou a sua atenção do seu aperto precário para um rostinho desesperado olhando pela janela.

— Prinny! Adrian...

— Deus me livre de deixarmos Sua Majestade para trás. — Torcendo um braço nos lençóis, ele puxou o macaco e jogou-o em sua cabeça. Prinny gritou e agarrou-a, assim como Sophia se agarrou a Burchard.

Eles começaram a descer. Muito devagar.

— Você tem certeza de que já fez isso antes? — Ela sussurrou.

— Bem, na última vez não houve uma mulher nem um macaco. E era uma corda, não lençóis.

— Nenhuma mulher... você não sabe com certeza que isso vai funcionar, não é?

— Claro que eu sei. Já chegamos mais ou menos cinco metros mais perto do chão.

Ele bateu contra a fachada com cada mão abaixada, esfolando as pernas dela contra a pedra.

Engolindo um medo que queria sufocá-la, ela apertou mais e prendeu as pernas de forma mais confortável.

Adrian fez uma pausa.

— Mova sua perna direita um pouco.

— É tudo o que posso fazer para aguentar.

— Se você não mover sua perna, eu não conseguirei me concentrar em descer. Nós gostaríamos de toda a minha concentração e força centrada em meus braços.

Ela percebeu com um sobressalto o que ele quis dizer. Sob a panturrilha inferior, surgira uma crista de dureza.

— Realmente, esta não é a hora nem o lugar.

— Estou muito ciente disso. Agora, tente mover a sua perna. Por favor.

Queimando com vergonha, ela tentou. Ela conseguiu uma espécie de atrito em vez de um movimento.

— Inferno, — ele murmurou. Eles apenas ficaram pendurados ali, apoiados apenas por seus braços tensos.

— Nós dois vamos morrer se você não se apoderar de si mesmo. Pense em outra coisa, Burchard.

— Por que você não me distrai prometendo pagar a dívida que está me devendo por salvar a sua vida?

Ela deu uma espiada na rua distante abaixo. A altura fez a cabeça dela rodar.

— Que prêmio poderia te fazer ficar agarrado a esses lençóis?

— Você sabe o que eu quero.

— É seu. Dirigirei os meus parlamentares para votar contra todas as leis de reforma, a menos que seja instruída pela liderança conservadora.

Mão a mão, ele continuou a sua descida. Cada movimento os sacudia precariamente. Ele enrolou as pernas nos lençóis e isso pareceu estabilizá-los um pouco.

O seu progresso lento deixou a multidão inquieta. Incentivo e conselhos dispararam durante a noite.

— A meio caminho, Adrian. — Colin disse.

— Bom Deus, Adrian, você não poderia ter encontrado um caminho mais simples?

— Oh, Jacques, olhe para a nossa pobre Sophia. Não se preocupe, minha senhora. Nós vamos te segurar.

Finalmente, a pedra rústica do primeiro nível da casa foi vista. Então uma janela. Finalmente veio a sensação celestial de sentir o peso de Adrian no chão.

Gerald foi o primeiro da multidão a alcançá-los. Ele ajudou Sophia a descer das costas de Adrian.

— Muito dramático, você não acha, Burchard?

— Menos do que um funeral, — soprou Sophia. — Se você tivesse me ajudado com os animais e não fugido...

Um enorme abraço de Áttila separou-a da reação fervilhante de Gerald.

— Oh, minha senhora, vimos a fumaça e viemos, nunca soubemos que era a sua casa. Graças a Deus que o senhor Burchard estava com você esta noite.

Os espectadores mais próximos, a família Burchard e Gerald, inalaram um fôlego coletivo. Colin e Dorothy exalaram exclamações e parabéns para diminuir a absorção da insinuação de Áttila.

O passo em falso cutucou a mente de Sophia. Como Adrian estava em casa para salvá-la?

A multidão pulou e apertou, lamentando que o espetáculo tivesse acabado. Adrian arrancou Prinny dos seus ombros e entregou-o ao conde. O macaco abraçou o pescoço e se acomodou na dobra do braço dele. O conde, agitado com a indignação, ficou segurando-o como uma criança.

— Não deixe Prinny fugir ou vamos passar a noite toda vasculhando Londres atrás dele. — disse Adrian.

— Prinny? Por Jesus, isso é traição.

Prinny sorriu beatificamente. O conde congelou.

— O que diabos ele é... o maldito macaco tem... Meu casaco está arruinado!

Adrian tirou a sobrecasaca e jogou-a nos ombros nus de Sophia.

— O fogo está contido e quase extinto, — relatou Colin. — O dano foi significativo e o prédio ainda está cheio de fumaça. Essa foi por pouco, Duquesa. Bravo, Adrian.

Adrian se limpou. Sophia sentiu que ele afastaria a atenção se pudesse.

— É melhor levar a duquesa para casa com você, Dot.

— Claro. Você vai ficar conosco, minha querida, até que as coisas possam ser resolvidas. Você vai nos escoltar, Adrian?

— Colin, você faria isso? Eu preciso ver algumas coisas aqui. Falarei com você amanhã, duquesa. Temos algumas coisas para discutir.

— Nós certamente temos. — Incluindo o que Adrian fazia hoje à noite em sua casa.

Um homem que estava jogando água foi até Adrian. Ele entregou um pedaço de papel carbonizado.

— Foi encontrado onde o fogo começou.

— O que é isso? — Perguntou Sophia.

— Parte de um lado usado para iniciar as chamas. — disse Adrian em voz baixa. — O cartão de visitas de Robin Hood.


Capítulo 16

Adrian sabia como se misturar com a noite. Depois de descobrir o que pôde, da evidência carbonizada em Everdon House, ele desapareceu nas sombras das ruas de Londres por várias horas.

Ele derramou álcool nas gargantas de homens tagarelas e pagou garçonetes e prostitutas para contar o que sabiam.

Ele se aventurou em uma casa do outro lado do rio que servia de refúgio para contrabandistas e ladrões. Os residentes aceitaram-no porque dois dos seus membros o conheceram quando estavam agindo como corsários no leste do Mediterrâneo. Finalmente, horas antes do amanhecer, ele visitou a casa pobre de um radical político com quem periodicamente compartilhava argumentos e vinho.

Nenhum deles poderia apontá-lo para o capitão Brutus. O homem era apenas um nome para eles. Eles nunca o conheceram, nem ouviram falar de quem ele contratou para distribuir as suas opiniões e fazer o trabalho criminoso como o incêndio.

Adrian voltou para casa frustrado. Normalmente, o submundo de Londres estava repleto de rumores. O capitão Brutus devia ser muito inteligente e cuidadoso para permanecer tão no escuro. Ele decidiu que era bom que ele não tivesse rastreado o homem nessa noite. Com o perigo mortal de Sophia ainda fresco em sua mente, ele poderia tê-lo matado.

Entrou no prédio onde morava e foi até aos aposentos que alugou no segundo andar. Esta tinha sido a sua casa há quinze anos, quando ele tinha suportado a sua última grande briga com o conde.

Ocorreu logo depois que ele deixou Oxford e um mês depois da morte da sua mãe. Convocado como um partidário, recebeu o anúncio de que o conde havia conseguido uma posição para ele na Companhia das Índias Orientais. O conde estava cortando toda a responsabilidade financeira por ele, mas havia providenciado isso, ostensivamente, para que ele fosse provido.

Se ele fosse um filho normal, poderia ter ficado grato, mas sabia que esse era o jeito do conde remover a sua presença da sociedade. Esse emprego o tornaria invisível. Banido para o outro lado do mundo. Fora o último e flagrante exemplo do repúdio que sofrera, de inúmeras maneiras, ao longo dos anos.

Fervendo com ressentimentos apenas exagerados pela morte da sua mãe e decidido a não aceitar presentes do homem, ele recusara. Antecipando isso, o conde ofereceu uma comissão no exército. Quando menino, Adrian sonhara em redimir o acidente de seu nascimento no campo de batalha, mas não via motivo em ser um oficial do exército se não houvesse guerras para demonstrar coragem e patriotismo. Ele não duvidou que o conde arranjasse para ele uma designação para uma unidade em alguma colônia distante também.

Mais uma vez ele recusou. Assim, o conde recuou para uma terceira alternativa que exigiria pelo menos longas ausências periódicas da Inglaterra. Ofereceu interceder para conseguir um posto menor no gabinete do ministro das Relações Exteriores para Adrian.

Desta vez ele aceitou. Era uma chance para viajar, além de um pequeno papel no governo. Ele logo descobriu que também fornecia oportunidades para provar a sua lealdade à Inglaterra. Os seus compatriotas podiam achar o seu rosto vagamente estrangeiro, mas grande parte do mundo achava isso muito familiar. O seu disfarce natural permitiu que ele se misturasse em vários países, de uma maneira que nunca conseguiria em casa.

Não lhe incomodava que os seus riscos e sucessos permanecessem em segredo, ou que nunca fossem celebrados publicamente, como as grandes vitórias de batalha com que ele sonhara em sua juventude. Os homens que importavam, sabiam tudo sobre o que ocorria nessas missões.

Usando o seu salário e a renda deixada pela sua mãe, ele tinha se retirado da casa de Dincaster e tinha mantido uma relação mais formal com o conde. Ele tinha alugado estes aposentos e nunca sentira vontade de se mudar para espaços mais amplos e elegantes. Se ele conduzisse um caso com uma dama da sociedade, ele o fazia em outro lugar.

E, assim, quando entrou na sala de estar dos aposentos masculinos e confortáveis, ficou surpreso ao encontrar uma duquesa esperando por ele.

Não era a que ele queria ver.

A duquesa viúva de Everdon mal percebeu a sua chegada enquanto inspecionava os itens em suas prateleiras.

— Como você entrou? — Ele se serviu de uma taça de porto. Ela já havia tomado uma.

— O seu servo não me queria lhe esperando na entrada.

Sem dúvida Celine tinha jogado o seu charme ao máximo. O seu criado dificilmente poderia resistir a isso. Ele não se incomodou em perguntar por que ela tinha vindo. O jeito que ela se segurava, o jeito que o olhava e o jeito que fazia o vestido preto balançar quando passava, disse-lhe a resposta para isso. A verdadeira questão era: porquê agora?

— Eu ouvi sobre o seu resgate ousado hoje à noite. Muito heroico. Eu queria ter a certeza de que você não tinha se machucado.

— Que atencioso. — Ele se perguntou quem tinha ido para Celine na calada da noite com a história.

— Você não parece gostar da minha preocupação. Talvez, se eu estivesse desamparada e perdida, pudesse te despertar mais interesse. Talvez se eu fosse burra demais para deixar um prédio em chamas e assim precipitar um espetáculo público...

Gerald deve ter visitado ela. Ele sabia que Sophia ficara para trás por causa dos animais.

— Você decidiu visitar Londres durante as sessões de verão? — Ele perguntou.

— Eu posso morar aqui permanentemente. Não ligo para aquela mansão na Cornualha que é a minha propriedade de viúva. Sophia me fez sair, tenho certeza que você sabe. Mandou-me para longe de Marleigh. — Algo entre um beicinho de menina e um olhar muito calculista tocou o seu lindo rosto. — Foi um insulto ela fazer isso. Marleigh é grande o suficiente para nós duas.

— Eu duvido seriamente disso.

— Ela fez isso para me diminuir. Para me mostrar o meu lugar.

— Eu duvido disso também.

— É meu também! Eu desisti de muita coisa para tê-lo.

— Sim, espero que você tenha. A sua juventude. A sua chance de amar. Certamente desistiu de qualquer suavidade que já existiu em você. Mas Alistair está morto e Sophia é a duquesa. Se você veio pedir conselhos, só posso dizer que é hora de seguir em frente.

— Eu não vim pedir conselhos.

Ele já sabia disso. Ela caminhou ao redor da sala, examinando e manuseando as esquisitices trazidas das suas viagens. Ela agiu como se estivesse muito absorvida pelo ícone grego e o bronze turco, estudou a primitiva escultura africana com as suas feições distorcidas e seios proeminentes. Cada movimento, cada inclinação da cabeça e pose do corpo, tinha a intenção de tentar um homem.

— Como você não veio em busca de conselho, talvez você deva explicar porque está aqui.

Andando por todo a sala como se fosse um palco, ela pegou numa cadeira e ele sentou-se em outra.

— Me disseram que você tem alguma influência sobre ela.

— Lhe disseram errado.

— Você mantém uma amizade com ela.

— Uma muito formal.

— Ainda assim, você poderia falar com ela. Explique que ela poderia precisar uma amiga e companheira para ajudá-la em Marleigh. Eu poderia ser de grande ajuda para ela.

— Todo mundo pode precisar de uma amiga. Se você se propõe a ser amiga dela, as suas ações falarão mais alto do que as minhas palavras. No entanto, qualquer coisa menos que sinceridade será um desperdício do seu tempo. A duquesa é muito sensível sobre as pessoas que a usam.

Ela não gostou da insinuação. Olhou-o e deu um sorriso defensivo. Passou rapidamente. Ela relaxou na cadeira.

— Eu corri um grande risco ao vir aqui. Se alguém descobrir, a minha reputação será arruinada.

— Já que o seu marido mal está frio no túmulo, isso provavelmente é verdade. Na verdade, seria melhor se você se fosse embora.

Ela manteve os olhos azuis fixos nele. Ela era bonita o suficiente para afetar qualquer homem e ele não era completamente intocável. Há dez anos ele estaria completamente deslumbrado. A idade gerava alguma sabedoria, no entanto, e isso era especialmente verdade sobre as Celines Laceys do mundo. A sua reação agora, era uma coisa fina e superficial, que ele poderia facilmente conter e ignorar.

— Eu nunca vou esquecer o momento que você me beijou. Foi um beijo maravilhoso.

— Se eu soubesse que você ficaria noiva de Everdon no dia seguinte, isso nunca teria acontecido.

— Ele era um duque, Adrian. Um duque. E você era... — Ela se segurou e sorriu desculpando-se.

— Sim. — Ele geralmente não se ressentia, mas se ressentiu agora. Não por causa de Celine, mas por causa de outra duquesa e o que isso implicava sobre os limites do seu relacionamento com ela. O surto de aborrecimento provocava uma franqueza que normalmente ele teria suprimido. — Diga-me, quando você concluiu que não conseguiria ter filhos?

O seu rosto caiu.

— Que coisa insultante de se perguntar. Eu não sou...

— Quando você começou a receber amantes, presumi que era o duque e que você procurava outro meio de fornecer o filho que ele não podia ter tido. Suspeito que tenha começado assim.

— Eu não tive amantes.

— Eu sei sobre o irmão de Laclere, Dante. E alguns outros.

Stidolph?

Ela nem sequer corou.

— Alistair era velho. Eu sabia que depois de dois anos ele nunca me daria um filho. Se houve amantes, não fui a primeira esposa a resolver o problema assim.

— Exceto que depois de mais alguns anos, você percebeu que não era ele, mas você.

— Você está determinado a me insultar.

— Não há insulto nisso. Eu sei por que o padrão era óbvio. Dante e os outros eram loiros ou de cabelos castanhos. Os seus bastardos poderiam ter passado no teste. Quando você se ofereceu para mim, ficou claro que sabia que não havia perigo de uma criança. Você dificilmente arriscaria apresentar Everdon com um filho que tivesse os meus olhos e cabelos.

Ela se levantou e começou a passear novamente.

— Eu gostaria de ter sabido imediatamente. Antes de você se tornar membro do Parlamento e sentir-se ligado a ele pela honra.

— Se for de algum consolo, eu não teria sido mais agradável antes.

Ele poderia tê-la esbofeteado na cara, tão imediata foi a reação de choque. Evidentemente, Celine nunca tinha enfrentado a noção de que nem todos os homens sucumbiriam.

Infelizmente, o choque se transformou em determinação. Ela sorriu como se uma luva tivesse sido jogada.

— Isso é uma mentira descarada. Você me queria.

— Uma vez eu te quis. Passou rapidamente.

— Essas coisas não passam.

— Você é uma mulher adorável e pode provocar uma reação física em qualquer homem. Já faz muitos anos desde que eu quis você.

Com um sorriso sensual, ela foi em sua direção até ficar perto de seu ombro.

— Você acha que a quer agora?

Ele não respondeu.

— Você vê o que ela pode fazer por você, isso é tudo, mas ela é apenas espinhosa o suficiente para se ressentir das suas expectativas até que ela avance. Eu, por outro lado, entendo essas coisas perfeitamente. É o mínimo que um amante pode fazer. — Ela estendeu a mão e acariciou, suavemente com uma unha, ao longo de sua mandíbula. — Eu conheço muitos homens poderosos. Eles me devem. Em um ano não teremos mais que ser muito discretos.

Ele agarrou a mão dela e afastou-a do rosto. Ela torceu o pulso até que segurou a mão dele. Olhando para baixo como um anjo, ela colocou a palma dele no seio.

Ele encontrou os olhos dela e deixou-a ver a sua indiferença. Ele tirou a mão e ficou de pé. Caminhou até à porta e abriu-a.

— Como você disse, está arriscando sua reputação ao vir aqui. Você deveria sair agora.

Ao contrário de Sophia, Celine não parecia nada bonita quando estava com raiva. A emoção distorcia o seu rosto em algo frágil, feio e perigoso.

— Você se atreve a me mandar embora?

— Eu me preocupo com a sua reputação, ao contrário de você. Ele não está mais vivo para atenuar as conversas. Você deveria ser mais discreta agora que as suas circunstâncias mudaram.

Ela pegou o xale.

— Não me repreenda, Burchard. As minhas circunstâncias mudaram, mas a minha posição é indiscutível e eu não me tornei duquesa de Everdon por ser estúpida.

Ele fechou a porta em sua beleza e fúria e retornou ao seu porto.

O que demônios tudo isso tinha realmente sido?


— É cedo para visitas, Gerald. — disse Sophia ao entrar na sala matinal de Dincaster para cumprimentar o seu convidado.

— Os acontecimentos da noite passada tornam essas considerações sem importância, na minha opinião.

— Gerald, você é o tipo de homem para quem a abordagem de um exército invasor não tornaria essas considerações sem importância. Então, a que devo o prazer desta visita indecorosa às dez horas?

— Precisamos falar francamente e diretamente. Por favor, sente-se.

Ela se sentou em uma cadeira. Ele andava ao redor dela, dando-lhe um olhar duro como se fosse uma criança travessa.

— Aquele espetáculo ontem à noite foi além do indecoroso.

— Você acha? Agora que já tive um pouco de sono, começo a ver isso como algo bastante engraçado. — Isso não era verdade. Com a passagem do choque, surgiu um medo insistente e uma confusão impotente sobre como se proteger.

— Descer aquele prédio, se balançando assim, você mal estava vestida... toda a cidade estava olhando. Todo o episódio é altamente embaraçoso.

— Eu preferiria suportar um resgate embaraçoso a uma morte discreta. Sou grata pelo Senhor Burchard ter arriscado o próprio pescoço para me ajudar a salvar o meu. Eu diria que ele poderia ter estado no chão em um minuto se eu não estivesse em suas costas.

— Se você não tivesse sido tão voluntariosa sobre esses animais estúpidos...

— Você teria me tirado. Eu não o culpo por correr quando me recusei a obedecer. Foi o movimento sensato. Eu não disse a ninguém, se esse é o seu verdadeiro motivo para vir. A sociedade não vai te acusar de covarde em contraste com a atitude heroica de Adrian.

O seu rubor revelou que aquela era realmente uma de suas preocupações, e que ele se ressentia de que ela a articulasse tão descaradamente. Um desdém defensivo torceu sua boca.

— O que ele estava fazendo em sua casa?

— Não estava me visitando, como você bem sabe. Você estava presente quando saí da biblioteca e fui para os meus aposentos. Você me encontrou sozinha no meu quarto. Eu suponho que ele estava passando pela casa, notou alguma fumaça e encontrou uma maneira de entrar.

— Aquela estranha morsa em forma de homem, o boêmio, assumiu o contrário.

— Áttila é húngaro. Infelizmente, a sua boca corre à frente do seu cérebro. Considerando que Adrian estava nos descendo pela janela do meu quarto, a sua suposição é compreensível, mesmo que seja incorreta.

— Só se ele te conhece por uma mulher que possui amantes. Quem é esse Áttila e o que ele está fazendo aqui?

— Ele é um amigo de Paris. Ele e Jacques vieram me visitar.

— Você está dizendo que trouxe os seus amantes? É o seu objetivo me humilhar diante de todo o país?

— Realmente, Gerald. Não tenho intenção de responder a mais nenhuma das suas perguntas impertinentes.

— A minha futura noiva é o centro de um espetáculo público que será o comentário das salas de visitas por semanas, tem a sua virtude publicamente comprometida pelo indiscreto comentário de um estrangeiro e você chama a minha preocupação de impertinente?

— Eu chamo a sua preocupação de egocêntrica. Você não demonstrou interesse em minha saúde ou disposição após o choque da noite anterior, mas apenas em como as coisas o afetam. No entanto, a sua suposição continuada de que vamos nos casar é de fato impertinente.

A raiva despertou algo gelado e duro em Gerald. Ele parou de andar e olhou para ela em sua melhor inspeção de Alistair, adotando instantaneamente aquela substância física fantasma. A semelhança sugou a força para fora dela. Ela mal reprimiu um tremor. Então é isto que me resta, essa expressão dizia.

— Harvey Douglas veio para as sessões. Ele disse que você visitou Staverly.

— Ele, sem dúvida, também disse a você porque eu me refugiei lá.

— Outro espetáculo. Eles te seguem aonde quer que você vá, não é? Eu não teria esperado que você voltasse para Staverly, muito menos tão cedo depois do seu retorno.

Ela sabia que ele podia ver que abordar esse assunto fazia com que ela perdesse a compostura. Ele estava feliz por isso.

— Não foi tão difícil quanto eu esperava.

— Não foi? Você é tão sem coração? Eu pensaria que estar ali te deixaria sentindo culpa.

Ela só podia olhar para ele enquanto o seu coração se enchia novamente com o desânimo que sentira no gazebo.

Ao contrário de Adrian, ele não procurou consolá-la, mas cruelmente pressionou a sua vantagem.

— Você me acusa de impertinência por presumir que nos casaremos, mas Everdon era tudo para Alistair. Com a sucessão garantida por Brandon, ele teve alguma paz. Você roubou isso dele.

— Eu não roubei nada.

— Você bloqueou as memórias tão bem? Você o matou. A sua determinação e rebeldia o mataram. Pode ter sido um acidente, se quiser considerar assim, mas você foi a causa direta da sua morte e a morte dos sonhos de seu pai.

A maneira como ele impiedosamente soletrava a sua culpa, dando voz aos seus próprios pensamentos horríveis, deixava-a enjoada.

— A noção de que você seria a herdeira afligiu-o até o seu fim. O seu comportamento em Paris apenas confirmou os seus medos. Em suas mãos extravagantes e infantis, o status de Everdon seria arruinado em uma geração. Então, ele te deu para mim. Não para algum conde ou marquês, mas para mim. Ele não queria que o poder de Everdon fosse engolido ao se juntar a outro grande título. Eu zelaria por ele até que o seu filho pudesse assumir a sua posição. O legado continuaria inteiro, apenas atrasado por uma geração.

— Eu não me importo porque ele fez isso. Não foi a minha escolha.

— Sua escolha? Mesmo de você em pensar só em si mesma. Sempre foi assim. A sua amizade chocante com um revolucionário arruinou a sua reputação. A sua imprudência matou o seu irmão. O seu pai procurou uma maneira de corrigir os seus desastres e tudo o que você conseguiu pensar era se ele havia mimado a sua sensibilidade infantil dando-lhe uma escolha.

Mexer com as cicatrizes ocasionadas por aquelas lembranças estava quase a levando às lágrimas.

— Você deve isso a ele, Sophia. Você deve isso a ele e a Brandon, deve obedecê-lo nisso. Pela primeira vez em sua vida frívola, egoísta e sem pensamentos, você deve fazer à vontade dele. Não haverá paz sobre a morte do seu irmão até que você se redima pelo dano que causou.

Ela estava além de conseguir se defender. O levantar de sua sobrancelha a havia desgastado, assim como Alistair sempre fazia.

Havia muita verdade no que ele estava dizendo. Ela não podia nem olhar mais nos olhos dele.

Ele pegou o chapéu e caminhou até a porta.

— Mais uma coisa. Eu não colocaria muita fé na amizade de Burchard. Eu ouvi um boato de que ele teve uma visitante em seus aposentos na noite passada, Celine. Ele era um dos seus pretendentes antes dela se casar com seu pai, você sabe. — Ele abriu a porta e deu seu último soco com um sorriso malicioso. — Como você disse uma vez, se ele está interessado em uma ligação prazerosa com uma mulher, ele pode conseguir algo melhor do que você.

Ela não se moveu por um longo tempo depois que ele saiu. Ela sentiu como se tivesse sido golpeada por punhos. O golpe final, a informação sobre Celine, tinha tirado a vida dela.

Talvez Gerald estivesse certo. Se ela se casasse com ele, poderia enterrar os fantasmas e a culpa. Com o poder de Everdon transferido para o marido, provavelmente o capitão Brutus perderia o interesse por ela e as cartas e o perigo cessariam. Podia haver alguma paz. Finalmente.

Ela imaginou uma vida como a esposa de Gerald. As imagens deixaram-na enjoada. Eles podiam fazer um arranjo, é claro. Um que permitisse que ela voltasse para a França. Ela o tinha em desvantagem e ele provavelmente concordaria. Mas ele honraria essa solução assim que a tivesse? O marido de Everdon ficaria muito diminuído se Everdon estivesse em Paris.

Com um suspiro cansado, ela se pôs de pé. As coerções só aumentariam. Em poucos dias o Parlamento começaria e as exigências de que ela escolhesse o seu curso político seriam mais insistentes.

Os pedidos para ela se casar aumentariam. Todo o tempo que ela tentava tomar as decisões certas, o capitão Brutus estaria observando e esperando.

Qual tinha sido a intenção dele com aquele fogo? Assustar a duquesa para que obedecesse às suas demandas políticas? Ou prejudicar a mulher que o traíra anos atrás? As suas cartas implicavam que ele talvez não soubesse com certeza o que ele desejava mais.

Ela queria desesperadamente entregar tudo isso a outra pessoa. Alguém que fosse gerenciá-lo para ela e fazer tudo dar certo no final. Alguém como Adrian.

Ela tinha acordado esta manhã muito suavizada em relação a ele. Os eventos ontem à noite haviam-na levado a reconsiderar os julgamentos que havia formado. Ela até decidira mostrar-lhe aquelas cartas e pedir o seu conselho.

Que estupidez dela ler afeto genuíno nesse resgate. Quão infantil ela foi ao agarrar à desculpa para se fazer de boba. Como era ridículo experimentar essa decepção excruciante ao saber como ele passou a noite passada.

Não acredite muito na amizade de Burchard. Tinha sido fraqueza dela fazer isso. Ele estava gerenciando-a para os seus próprios fins desde o início. Ele tentou fazer amor com ela, mesmo quando lançou sua isca para Celine.

Ela olhou friamente para o futuro com as exigências, expectativas, ameaças e confusões. Era injusto que a sua vida tivesse que ter sido interrompida assim. Ela não queria nada disso. Com que direito todas essas pessoas, esses homens, a levavam em várias direções como um criminoso para ser esquartejado?

O aborrecimento fervente deu-lhe de volta algum conforto. Ela saiu da sala de visitas e foi em busca dos únicos dois amigos que tinha na Inglaterra.

Ela se lembrou daquela primeira conversa com Adrian. Eu não sou nada disso. Que verdade. Era Everdon que eles queriam controlar, não ela.

Bem, diabos, que eles fiquem com ele.


Capítulo 17

A reunião na casa de Laclere no final da tarde foi uma reunião política, que foi como Sophia justificou a participação, apesar de estar de luto. Felizmente, a conversa não girou completamente em torno da reforma parlamentar.

Talvez porque a esposa de Laclere tenha convidado alguns amigos que não estavam no governo.

Talvez tenha sido por isso que a própria Sophia não encorajou as poucas aberturas nas discussões políticas que a impulsionavam. Provavelmente, no entanto, foi porque muitos dos convidados tinham interesse nas artes e achavam esse tópico mais agradável.

Ela se ligou a um grupo que fez isso. Incluía os St. Johns, que ela conhecera no dia anterior no parque e membros da família de Laclere.

O belo irmão mais novo do visconde, Dante Duclairc, começou a encantá-la depois da apresentação.

Dante não demonstrou absolutamente nenhum interesse na política, o que ela achou refrescante. Ele também era bonito como o pecado, com cabelos castanhos espessos e olhos lindamente castanhos.

— Eu esperava uma reunião mais formal — disse ela quando ele a buscou para garantir que ela estava se divertindo.

— Isso teria agradado a Sua Graça?

— De modo nenhum. Tenho sido poupada de formalidades durante anos e não gosto de viver com elas novamente.

— Então veio ao lugar certo. A esposa do meu irmão possui um espírito que mina a maioria dos rituais sociais através de sua mera presença. Não importa as intenções do meu irmão neste encontro, Bianca não permitirá que seja chato.

— Seremos poupados de discursos, então?

A irmã do visconde Laclere, a condessa de Glasbury, juntara-se à conversa. Ela agora olhou para Laclere.

— Sem discursos. Se você notar, no entanto, meu irmão está falando em voz baixa com o presente Ministro do Parlamento que está montando a cerca.

Sophia tinha notado essas conversas particulares. O alto e imponente lorde, com a sua boa aparência e olhos azuis penetrantes, usava a reunião para trabalhar a sua persuasão individualmente e com sutileza.

Ela se perguntou quando ele iria se aproximar dela.

— Peço desculpas por não ter lhe visitado antes, Sua Graça. Eu achei melhor ser apresentada primeiro, — disse a condessa.

— Espero que você me convide agora. O seu interesse pelas artes é igual ao meu e seria uma alegria ter amigos com simpatias semelhantes. Conto com você para me apresentar a outros de mente parecida.

Sophia se sentiu culpada por fazer a abertura, já que era improvável que a amizade tivesse chance de florescer. Ainda assim, ela entendeu a alusão não dita no comentário da condessa e quis tranquilizá-la de que a nova duquesa de Everdon não julgava as mulheres tão duramente quanto os outros.

A condessa pareceu surpresa e agradecida pelo convite. Com um sorriso, ela permitiu que a sua atenção fosse reivindicada por Diane St. John.

— Isso foi gentil da sua parte — disse Dante.

— Você quer dizer, porque ela está separada do conde? — Sophia tinha sido educada por vários árbitros da sociedade, imponentes e irritantes, sobre como esse escândalo havia afetado o status social da condessa.

— Penélope não quis arriscar críticas por causa disso.

— Essas coisas são comuns na França e eu não as defendo, principalmente contra uma mulher.

— Não críticas de você. Mas sobre você.

— Eu diria que com todas as críticas que eu estou enchendo os salões nos dias de hoje, qualquer uma que eu receber por convidar sua irmã seria a menor delas.

Dante riu levemente e deu um olhar caloroso que indicava que ele achava algumas dessas críticas interessantes e intrigantes.

Qualquer inclinação que ele tivesse para explorar como intrigante ela era, foi frustrada por uma nova presença no meio deles. Adrian Burchard tinha chegado, e de repente estava de pé ao lado de Sophia de uma maneira que afastou Dante.

Adrian parecia desgrenhado, um pouco cansado e bonito como o diabo. Ele conseguiu separá-la totalmente do grupo. Ela não podia dizer se ele a afastou ou se os outros recuaram, mas de repente estavam somente os dois conversando sozinhos.

— Eu vejo que você conheceu a família de Laclere, — disse ele.

— A condessa é muito meiga e seu irmão é muito charmoso.

— Você não é a primeira mulher a pensar em Dante Duclairc. Não considere adicioná-lo ao seu Ensemble, no entanto. Dante não tem pretensões artísticas e prefere mulheres casadas.

— Ele falou mais cedo como se você fosse seu amigo, mas não soa como um.

— Ele é um amigo muito bom, assim como Laclere e St. John. Essa é outra razão pela qual você não deveria considerá-lo para o seu Ensemble. — Seu escrutínio disparou de Dante para ela. — Você não parece pior depois da aventura da noite passada. Fico aliviado em ver que se recuperou tão bem.

— Eu dormi profundamente e acordei muito revigorada. E você, senhor Burchard? Você dormiu bem?

— Passavelmente.

— São boas notícias. Depois de tal atividade extenuante, o caminho sábio é descansar. No entanto, me disseram que alguns homens procuram mais esforços após tais ocorrências, como se o sangue deles não soubesse como se acalmar.

— Isso é verdade, mas, considerando o seu choque, não pareceu educado prosseguir com novos esforços na noite passada.

Ele tinha muita audácia para fazer tais insinuações depois de se esforçar a noite toda com Celine. O seu tom calmo e lento não tinha o flerte brincalhão das suas primeiras conversas. Isso fez uma sensação indesejada formigar através dela, apesar do seu ressentimento.

— Eu suponho que você conseguiu resolver o dilema, — disse ela.

— Mais uma vez, de forma aceitável.

— Mesmo!

— Eu vou acompanhá-la para casa depois disto, Sophia.

— Meu coche estará esperando, então devo recusar.

— Eu vou acompanhá-la. O fogo foi deliberadamente ateado e a sua recusa não está em questão.

— Mais uma vez, devo recusar. No entanto, quero dizer que sou grata pela sua ajuda na noite passada. Eu realmente estou. Embora tenha me perguntado como você estava em minha casa quando o incêndio começou.

— Você está insinuando que eu possa ter começado isso?

A pergunta a surpreendeu.

— De maneira nenhuma eu pretendia sugerir isso, embora alguém além do Capitão Brutus pudesse ser responsável, é claro. Estou apenas curiosa sobre a sua presença oportuna. O que você estava fazendo na minha casa na noite passada?

— Lendo as cartas que você recebeu do Capitão Brutus. — Ele nem sequer piscou.

— Você se atreveu a invadir a minha privacidade de uma maneira tão desonrosa?

Ele a estudou com deliberação afiada, de pé muito de perto, elevando-se acima dela de uma maneira muito masculina.

— Eu as achei interessantes e acho mais interessante ainda a sua disposição em acreditar que ele não era responsável pelo incêndio. As ameaças nessas cartas eram inconfundíveis. Talvez você não tenha absorvido o perigo porque estava distraída por suas referências à sua intimidade passada com ele. Ele escreve para você como um amante e agora pensa em desculpá-lo por este ataque criminoso contra você. É o suficiente para nos perguntar se você aceita que ele retorne para a sua vida.

— Você não pode acreditar seriamente nisso.

— Não consigo pensar em nenhum outro motivo para você guardar essas cartas.

— Talvez compartilhá-las me envergonharia. Como explicaria? Foi você quem invadiu minha casa e leu a minha correspondência particular.

— Você pode expressar o seu descontentamento sobre isso no caminho de volta para a Dincaster House. Não importam quais sejam os seus sentimentos em relação a esse homem, você não deve estar sozinha, considerando o perigo aparente que ele significa.

— Por que acha que eu estarei sozinha? Toda mulher na sociedade tem a intenção de usar homens qualificados. Se eu precisar de uma escolta, diria que posso encontrar outra. Eu não sonharia em atrasar você de perseguir quaisquer prazeres e diversões que o aguardem esta noite.

A sua mandíbula apertou em seu tom crispado. Pelo menos ela esperava que soasse clara, e não rabugenta e magoada.

— Na melhor das hipóteses, você está querendo me irritar. Tem o seu charme, mas o seu comportamento hoje não me diverte. Preciso exigir a sua companhia para a noite. Você e eu temos alguns assuntos para discutir.

— Eu não acho que tenhamos algo para discutir.

— Claro que nós temos. Capitão Brutus, por um lado. O jeito que você tem se escondido de mim, por outro.

— Eu não tenho me escondido de você. Eu tenho te desencorajado.

Ele começou a responder, mas parou porque a anfitriã se aproximou. Lady Laclere se aproximou com um homem alto, moreno e pensativo.

— Eu vejo que Julian Hampton está aqui. — Adrian murmurou secamente. — Não considere recrutá-lo para o seu Ensemble também. Ele é muito velho e é advogado apesar da sua aparência poética.

A esposa do visconde, Bianca, possuía um rosto distinto que conseguia combinar a inocência juvenil e a sensualidade mundana em seus grandes olhos azuis, lábios carnudos e queixo firme e pequeno.

— Aí está você, duquesa. Eu quero apresentar o senhor Hampton. Ele é um amigo querido da nossa família e serviu como advogado dos St. Johns também.

Sophia ficou aliviada com a interrupção e ficou feliz em conhecer o advogado. Sua presença lembrou-lhe que ela não tinha tomado conta de alguns detalhes sobre sua herança. Já passou da hora de corrigir o descuido.

— Senhor Hampton, você está disposto a considerar novos clientes? — Ela perguntou depois de algumas brincadeiras terem sido trocadas. — Eu pergunto por que eu afastei o advogado do meu pai de suas funções.

Julian Hampton pareceu vagamente surpreso com a pergunta, mas, se achava de mau gosto abordar o assunto naquela reunião, não permitiu que a sua expressão mostrasse.

— Eu ficaria feliz em discutir o assunto a sua conveniência, Sua Graça.

— Isso seria agora, lamento. Não será necessário deixar as questões da propriedade à deriva. Você se encontraria com o advogado anterior e obteria os documentos? Eu entrarei em contato com você em breve sobre qualquer coisa que precise da minha atenção.

Julian Hampton deu um passo à frente e lady Laclere pareceu encantada por sua apresentação ter dado frutos tão rapidamente. Adrian, no entanto, deu a Sophia um olhar muito peculiar.

O Senhor Hampton chamou Adrian para conversar e os dois homens se afastaram. Isso deixou Sophia com Lady Laclere.

Em pouco tempo o visconde as encontrou. Sophia suspeitava que tudo tivesse sido planejado e que o Senhor Hampton fora convidado a tirar Adrian do caminho.

— Lamento saber dos danos em sua casa, Duquesa, — sugeriu Laclere. — Há um boato de que foi deliberadamente iniciado. Eu confio que isso não é verdade.

— Há evidências disso, mas espero que você me ajude a acabar com o assunto.

— Você acha que foi politicamente motivado? — Lady Laclere perguntou.

— Pode ter sido.

Laclere suspirou com aborrecimento.

— Os radicais mais impacientes não entendem a inutilidade da violência, receio. Nada será realizado através da intimidação. Ocorrerá justamente o contrário.

Sophia não pôde concordar. Ela estava se sentindo completamente intimidada em muitas frentes e definitivamente estava dando frutos.

— Eu corro o risco de soar ousada, mas como é que Adrian Burchard assiste a essa reunião? — Ela perguntou. — Ele está firmemente no campo antirreformista.

Laclere olhou para onde Adrian e Hampton estavam falavam perto de uma janela.

— Burchard é um velho amigo meu. Ele também é um homem inteligente. Estou esperançoso em relação a ele.

— Vergil é bastante otimista. — disse Lady Laclere.

— Decididamente, minha querida. Aqueles de nós que apoiam a reforma são otimistas e pensam que os homens são capazes de entender questões e agir pelo bem comum. Aqueles que se opõem presumem que a população em geral é fraca de espírito, apenas crianças a serem lideradas por seus pais.

— Eu acho que o seu otimismo é equivocado, o Senhor Burchard está lutando pela própria causa, — disse Sophia. — Ele não compareceu hoje para ouvir a razão, não foi? Nem você o convidou na esperança de que ele o fizesse.

— Como eu disse, estou esperançoso. Mas não, a sua participação foi organizada por certos ministros do partido dele. Por sua causa?

— Provavelmente.

— Por razões românticas ou por que temiam que eu te corrompesse?

— Eles pensam que eu sou uma daquelas crianças, que podem ser conduzidas pelos pais.

— Assim como os homens — disse Lady Laclere. — Ao presumirem que uma mulher é incapaz de determinar o rumo certo por conta própria.

O visconde olhou-a com mais nitidez.

— Você conseguiu determinar seu próprio curso, Duquesa? Apesar das influências dominantes que certos homens poderosos estão tentando exercer?

— Sim. — E ela tinha. Não o curso que Laclere queria dizer. Nem o que Adrian tentou administrar. Ela definitivamente decidiu seu próprio curso e chegou a hora de agir.

O visconde conversou um pouco sobre Paris e depois se desculpou. Sophia se virou para a anfitriã.

— Isso foi muito leve. Eu esperava mais exortações.

— Meu marido é esperto demais para isso. É suficiente que você saiba que existem homens de princípios com outros pontos de vista. Ele supõe que você irá procurá-lo se precisar dele.

— Sua contenção é bem-vinda, garanto-lhe.

Lady Laclere examinou-a com um interesse nu. Como se estivesse tomando uma decisão, ela a guiou para se sentar lado a lado em um banco.

— Vergil diz que eles estão tentando lhe forçar a casar.

— Sim.

— Não com o homem que você quer, eu assumo. Nunca é.

— Eu suspeito que aceitariam qualquer homem que concordasse com eles. Eu preferiria permanecer solteira, no entanto. Sei que isso parece estranho.

— Você não receberá nenhuma censura de mim. Se não fosse por ter me apaixonado por Laclere, ainda seria solteira. Sem amor, o casamento tem pouco para recomendá-lo, se uma mulher puder se sustentar por meio das suas propriedades ou emprego.

A viscondessa falou com uma familiaridade que Sophia raramente compartilhara com uma mulher. Ela se entusiasmou com essa jovem americana que parecia não saber como dissimular.

— Disseram-me que você é uma cantora de ópera, — disse Sophia. — Isso deve ser muito emocionante.

— Até agora, os papéis estão nos teatros em Inglaterra, mas me ofereceram um grande na Itália no ano que vem. — Ela olhou para o marido. — Laclere se casou com alguém totalmente inadequado. Não só uma americana, mas uma artista. Você não pode ficar muito mais inadequada do que isso.

Ela declarou isso com naturalidade. Sophia supôs, que ali estava uma jovem que lidava com a sociedade em seus próprios termos e que encontrara um homem que também o fazia. O visconde Laclere cresceu significativamente em sua estima.

— Isso importou?

— Claro. Você aprende quem são os seus amigos e quem são os tolos. Não foi tão ruim quanto poderia ter sido. Vergil é visto como um excêntrico e isso me deixa quase interessante, como uma extravagância escandalosa.

A conversa delas foi refrescantemente franca, do tipo que as verdadeiras amizades têm. Sophia se arriscou a empurrar a intimidade ainda mais.

— Eu tenho um pedido peculiar para te fazer. Eu gostaria que você entretece o senhor Burchard quando eu partir.

— Você não gosta da atenção do seu resgatador? Depois do meu marido, ele é o homem mais bonito da sala e, pelo modo como ele estava observando você, supus que estava apaixonado.

A observação improvisada a surpreendeu.

— A sua participação seria intrusiva esta noite e é a sua cercania que eu não saúdo.

— Sim, ele tem essa tendência, tanto quanto meu Vergil. Pode ser reconfortante e Encantador às vezes, mas... — Lady Laclere deu um tapinha no braço dela conspirativamente. — Quando você for embora, eu vou garantir que o Senhor Burchard esteja distraído. Ele não vai se impor, não que a atenção de um homem que se pareça com ele seja uma imposição completa.


Como diabos ela saiu sem que ele percebesse?

Teria sido quando Lady Laclere o envolveu naquela conversa particular que sondou, nada sutilmente, sobre as suas afeições pela duquesa? Ou quando Laclere o encurralou para fazer uma avaliação rápida das suas verdadeiras simpatias no debate político que se aproximava? Ambas as trocas o distraíram, e foi só depois que Laclere se afastou que ele percebeu que Sophia não estava mais na casa.

Ele comandou seu faetonte e atiçou os cavalos na direção da Dincaster House. Sophia poderia preferir evitar falar sobre o capitão Brutus, mas precisava ser feito.

A maneira como ela escapou obscureceu o seu humor, que havia sido sombreado o suficiente pela sua atitude anterior. Ele não tinha percebido até à conversa, de como ciumento ele tinha se tornado por causa do esquivo Capitão Brutus.

Chegou a Dincaster House no momento em que o conde estava saindo da sala de jantar.

— Uma visita fortuita, Adrian. Eu estava prestes a enviar uma mensagem para você.

Adrian não gostou da distração, mas o conde parecia sério e não tinha escolha senão segui-lo até o escritório.

O conde se instalou na cadeira atrás de uma escrivaninha elaborada que não era o local de nenhum estudo sério havia décadas. Adrian sentou-se em toda a sua extensão polida e incrustada.

O conde jogou um jornal de escândalo para ele.

— Você viu isso?

Adrian examinou a única história que poderia ter interessado o conde. Ele descrevia o fabuloso resgate da Duquesa de Everdon na noite passada, apenas o prédio era mais alto (cinco andares), a descida mais precária (lençóis retalhados pelo peso), o herói mais romântico (um homem escuro do mundo) e a duquesa mais nua (mal coberta por seda esfarrapada). Três vezes mencionou que a janela era a de seu quarto de dormir.

— Era inevitável, suponho.

— O inferno de embaraçoso.

— Eu poderia tê-la deixado assar e poupado isso. Foi uma falta de consideração de minha parte não fazer isso.

— Sua irreverência não é divertida. Que diabos você estava fazendo lá?

— Dando uma olhada em sua correspondência.

— Sua correspondência! Veja aqui...

— Eu não serei censurado por você sobre o meu comportamento. Peço desculpas pela atenção dada a mim na noite passada. Eu sei o quanto você não gosta de nada que lembra o mundo do nosso relacionamento. Como a duquesa estava naquela casa em chamas, esse espetáculo não poderia ser evitado.

O conde não gostou do seu tom, mas Adrian não gostou do tom do conde durante a maior parte de sua vida e nem por isso se importou.

— Você está em dívida comigo, Adrian — disse o conde, de repente com os olhos trêmulos.

— Estou totalmente ciente exatamente do que devo e a quem sou grato.

O conde piscou surpreso com a ênfase e recuou.

— Sim, bem, essa história não é o assunto real que eu quero discutir. Eu tive uma conversa muito peculiar com esse francês hoje.

Qualquer conversa entre o conde e Jacques não era uma boa notícia. Apenas ser informado de um bate-papo entre o conde e Áttila seria pior.

— Espero que você tenha achado agradável.

— Nada mal. Se você conseguir tirar o bárbaro do caminho, o francês pode ser quase apresentável. Ele está muito curioso sobre os nossos modos e nosso governo. Não machuca educá-los para a cultura superior daqui, é o que eu digo. Se o mundo inteiro fosse inglês, seria uma visão muito mais fácil de administrar.

— Definitivamente. Em que pontos você educou Jacques?

— Essa foi a parte estranha. Tudo começou normalmente, mas então ele fez algumas perguntas sobre a nobreza. Muito detalhado. Queria saber se poderíamos casar sem o consentimento da Coroa e, se o fizéssemos, se o casamento era válido. Quanto mais pensava nisso mais tarde, me apercebi que ele sabe com quem a duquesa estava casada. Talvez ele saiba quem é o homem.

Ele mataria Jacques.

— Pode ter sido apenas uma curiosidade passageira porque ele sabe que o rei quer que ela se case com Stidolph.

— Possivelmente, possivelmente. Então ele me perguntou sobre os direitos conjugais aqui. Perguntou como os casamentos poderiam ser desfeitos.

— Novamente, apenas curiosidade, tenho certeza.

— Então ele perguntou o que aconteceria com alguém que ajudasse uma mulher a deixar o marido. Se eles poderiam ser presos se fossem pegos. Expliquei que o maior perigo provinha do marido e que os franceses podiam não pensar nada sobre a fuga da mulher com outro homem, mas que têm uma visão muito diferente de tal comportamento aqui. — Ele disse-o com força, como se para enfatizar uma regra moral.

Adrian ignorou a lição. A sua mente estava completamente focada nas implicações da última pergunta de Jacques.

Ele iria pendurar Jacques pelos...

Ele se levantou para sair.

— Então ele fez a pergunta mais peculiar de todas. — O conde continuou parando-o. — Ele perguntou se você era um espião.

— Um espião?

— Um espião. Um agente da coroa.

— O que você disse?

— Isso era absurdo, claro. A própria ideia disso. Expliquei que, quando você vai para o exterior, não passa de um secretário ou empregado. Bom Deus, um espião. — O conde riu pela idiotice da ideia.

— O que Jacques disse sobre isso?

Sua testa franziu enquanto ele procurava em sua memória.

— Ele murmurou algo sobre assumir que eu saberia, o que é claro que eu faria, e nós falamos um pouco sobre o clima e então ele se retirou. — Ele se inclinou sobre a mesa. — O ponto é, acho que ele sabe quem é o marido. Devemos tentar tirar isso dele. Com quem quer que ela tenha se casado, provavelmente está influenciando-a e não para o bem. Talvez devêssemos pensar em tirar o marido do caminho, se ele estiver por perto, por enquanto.

A parte nós disso, deixou Adrian desconfortável. Quase tão desconfortável quanto às várias revelações embutidas nas perguntas de Jacques. Adrian sentiu uma profunda gratidão pelo fato de o conde há muito tempo abandonar o hábito de pensar e calcular profundamente.

— Uma excelente ideia. Deixe comigo. Seria melhor se você não abordasse o assunto com ele. Isso pode avisá-lo. Eu conheço o homem muito bem e vou arrancar isso dele rapidamente.

— Pensei que você iria querer ir. Isso lhe dará a chance de consertar as coisas. Não foi muito bem sucedido em colocá-la na linha, não é mesmo?

— Sou grato pela oportunidade de me redimir.

Ele caminhou pelo corredor até a sala de jantar. Ele encontrou Colin lá, fumando um charuto.

— Que bom que você veio, Adrian. Junte-se a mim. — Ele empurrou uma caixa na direção dele. — Só eu e o pai para jantar hoje à noite, e a sua vinda vai me ajudar a me recuperar do tédio.

— A duquesa não estava aqui? Nem os convidados dela?

— Apenas nós dois.

— Você a viu nas últimas horas?

— A sua carruagem foi para Laclere há algum tempo atrás para buscá-la. Jacques e Áttila cavalgaram para escoltá-la para casa. Ela deve voltar em breve, espero.

Adrian xingou e bateu com força a cadeira contra a mesa.

— Ela não vai. Ela fugiu, tenho certeza disso, e esses malditos artistas estão ajudando-a.

— Fugiu? Para onde?

— Ela poderia estar indo para a Índia por tudo que eu sei.

— Não por navio. A maré não estará boa até a manhã.

Adrian se virou para ir embora.

— Vou ter que verificar as docas.

Colin largou o charuto.

— Isso pode levar horas. Eu ajudarei. Isso me poupará do tédio de ouvir comentários políticos no meu clube. Eu acho que posso encontrar alguns amigos para se juntar a nós. Parece uma diversão esplêndida. Teremos uma caça à duquesa.

— Eu agradeço a sua ajuda, Colin. No entanto, quando encontrarmos esta raposa em particular troféus serão reivindicados, mas sua cauda é minha.


Capítulo 18

? Deveria descansar, Sophia. Vá para os seus aposentos e durma. Este barco não sairá até perto do amanhecer. Vamos acordar você depois da travessia — disse Áttila.

Sophia olhou para o céu estrelado. Jacques e Áttila a cercaram, encostando-se no corrimão do pequeno navio que a levaria para a França.

— Vou para os meus aposentos em breve. Obrigada novamente por me ajudarem.

— Foi Jacques quem encontrou esse barco para alugar. Lamento apenas que a maré tenha feito impossível que partíssemos imediatamente.

— Algumas horas não importam muito. — Ela não acrescentou que, agora que estava aqui, esperando para sair, ela agradecia pelo atraso.

Uma melancolia a encheu. Era ridículo, mas ela não conseguia se livrar disso. Eles passaram as últimas horas rindo sobre a sua grande fuga e antecipando os momentos maravilhosos que esperavam no continente. Ela já tinha planejado o próximo ano cheio de diversões e uma longa viagem pela Itália. Seria como nos velhos tempos. Mas a sua alegria tinha sido uma fachada para esconder uma mágoa inexplicável. Ela deveria estar excitada e aliviada, não dolorida e triste. Isso não fazia sentido algum. Ela odiava a Inglaterra.

— Você não acha que ele vai interferir? — Perguntou Jacques.

Ela sabia quem era ele, o mesmo ele que se intrometia em seus pensamentos enquanto olhava para o céu noturno.

Sem sequer saber o que estava fazendo, ele já tinha conseguido interferir. Embora Áttila tivesse concordado com esse plano depois de um pouco de persuasão, Jacques resistiu, porque, em sua opinião, eles a roubariam do marido, o que poderia ter consequências terríveis. Ela tinha explicado repetidas vezes que ela e Adrian não eram casados, mas nenhum dos artistas acreditava nela.

O desempenho de Adrian em Paris tinha sido muito eficaz e a velha mentira sobre um marido voltou para assombrá-la quando ela pediu a sua ajuda esta manhã. Desesperada, ela implorara dizendo que estava infeliz e até recordara culposamente que fizera algumas acusações ambíguas sobre a causa de Adrian. Isso finalmente influenciou Jacques, o que também foi bom. Ela duvidava que Áttila pudesse ter conseguido isso sozinho.

— Estou preocupado com Camilla, Yuri e os outros — disse Áttila. — Você não acha que ele vai se vingar contra eles ou mantê-los como reféns? Esse homem poderia.

Os detalhes da mentira sobre o temperamento vil de seu marido não tornaram isso mais fácil.

— Ele é gentil com os animais e os protege. Quando eu os escrever e pedir serão enviados, junto com Charles e Jenny.

— Só um inglês pode ser mais gentil com os cães do que com uma mulher — disse Jacques.

— Ele não foi realmente indelicado para mim.

— Não fale sobre isso, Sophia. É um assunto indelicado, mas eu entendi bem o suficiente. Eu estava hesitante em ajudá-la a escapar, mas quando compreendi a sua situação, tornou-se uma questão de honra para mim. Tinha que ter a certeza que ele não tocará em você novamente.

— Não é como se ele me machucasse. Espero que você não pense assim.

— Há feridas mais profundas do que as infligidas por um punho ou armas. Como todas as mulheres, você é resiliente a essas coisas, mas agora está livre dele. O bruto desajeitado e egoísta não merecia você.

Adrian desajeitado e egoísta? Ela tinha certeza de que nunca dissera isso sobre ele. Ela vasculhou a sua memória para lembrar exatamente o que ela havia dito.

O corpo relaxado de Jacques de repente se apertou.

— O que é isso? — Ele perguntou, inclinando a cabeça. — Você ouviu? Lá. Na doca distante. — Ele apontou.

Todos se viraram no corrimão e se inclinaram para assistir. Tochas dançavam à noite em torno de duas carruagens sobrecarregadas de passageiros. Corpos começaram a sair de seus lados, topos e dos seus compartimentos.

Logo uma multidão barulhenta se amontoou ao redor de uma doca distante.

— Bom deus, não outra demonstração — disse Sophia. — Estamos no meio da noite.

— Talvez eles planejem queimar todos os barcos, — disse Áttila. — Talvez uma revolução tenha começado e eles queiram garantir que os aristocratas não possam escapar do país. Seria o momento perfeito, com todo o governo aqui para o Parlamento.

— Não parece uma revolução para mim e eu deveria saber, tendo acabado de estar em uma — disse Jacques. Ele olhou para a multidão, que se mudou para o próximo cais. — Parece mais com um grupo de bêbados que procuram algum esporte.

Aquela doca parou de diverti-los e a multidão se moveu para a próxima. Sophia poderia ver alguns detalhes agora. Eles estavam aparentemente bêbados, jogando algum jogo. Chamas brevemente iluminaram partes deles. Alguns usavam uniformes do exército e outros roupas de noite. Eles invadiram os pilares dos barcos, desapareceram por um tempo e voltaram para o cais.

— Você deveria ir para a sua cabine, kedvesem — avisou Áttila.

Ela mal o ouviu. Um dos homens entrou sozinho em um pequeno navio e falou com alguém ali.

O seu olhar se fixou naquele homem. Ele não era mais do que uma mancha escura em meio às chamas da tocha, mas...

Eles estavam a apenas três docas agora e estava claro o que estava acontecendo. Eles estavam revistando os navios.

A multidão se movimentou para frente. Os uniformes se tornaram distintos. Os oficiais entre eles não eram um exército comum, mas guardas reais.

A mancha escura avançou na frente de todos eles. De repente, ele tomou forma distinta.

— Merde. — Jacques assobiou.

— É ele. E está usando um sabre, — Áttila engoliu em seco. — Estamos mortos, Jacques.

Jacques estreitou os olhos.

— Vá para a sua cabine, Sophia.

— Uma vez que ele te veja, saberá que estou aqui de qualquer maneira. Deixe-me cuidar disso. Ele deve ouvir a razão.

— Não há razão em tais assuntos.

A multidão se aproximou do cais. O passadiço estava levantado e eles não podiam embarcar. Sophia reconheceu Colin, carregando uma das tochas e alguns outros cavalheiros a quem ela havia sido apresentada nas últimas semanas, incluindo Dante Duclairc. Solteiros, todos eles, e agora totalmente ébrios.

Exceto Adrian, que estava na frente e no centro. Ele parecia completamente sóbrio. E furioso.

Eles se reuniram na frente dela no cais.

— Lá está ela! No corrimão!

— Encontrados em duas horas. Por Jesus, somos melhores que cães.

— Tem dois homens com ela, Adrian. Nós os linchamos?

Áttila franziu a testa.

— Linchar? Linchar? O que é isto de linchamento?

— Enforcar, — disse Jacques.

— Enforcar!

— Eles não vão machucar vocês, — disse Sophia, não totalmente convencida disso. Adrian, por exemplo, parecia apto a matar.

O barulho fez o capitão sair de sua cabine. Bem no seu sono noturno, ele cambaleou para frente e espiou por cima do corrimão.

— Que diabos é isso? — Gritou o capitão.

— Abaixe o passadiço. — Adrian chamou. — A mulher deseja desembarcar.

— Eu não — retrucou Sophia. — Não permita que eles embarquem, capitão.

O pobre homem balançou a cabeça, como se tentasse anuviá-la.

— Você tem a Guarda Real com você. Foi enviado por Sua Majestade?

— Claro que não foi.

Adrian murmurou alguma coisa e os guardas tentaram se alinhar ordenadamente e olhar fixamente.

— Esses agentes estariam comigo do contrário?

— Ele está enganando você. Ele os retirou de tavernas e bordéis, não estão ao comando do rei. Eu paguei por este navio e exijo que você não baixe o passadiço. Eu ordeno que parta imediatamente.

— Eu não posso. Não há para onde ir e a noite, não é hora de navegar pelo rio, para não mencionar que a tripulação não está a bordo.

— Apenas flutue por uma hora ou algo assim, contanto que você me leve embora. Eu vou pagar-lhe em dobro.

Isso o fez parar. Ele enfrentou Adrian.

— O que você quer com essa mulher?

— Ela é a duquesa de Everdon e o rei exige que ela permaneça na Inglaterra.

O Capitão debateu e suspirou.

— Situação maldita. Veja aqui, Sua Graça, se é quem dizem que você é, é melhor você ir e resolver isso com o cavalheiro e o rei. A maré é às cinco da manhã se você ainda estiver querendo este navio, mas eu não levo nenhum passageiro contra a vontade da Coroa, não importa quão boa seja a prata. — Ele se arrastou até o guincho e começou a descer o passadiço.

Adrian esperou pacientemente, olhando para ela. Os oficiais tentaram manter uma postura oficial, mas continuaram cambaleantes e rindo como os idiotas que eram. Colin e os outros senhores brincavam e gostavam do espetáculo.

Sophia se irritou.

Com o passadiço no lugar, o capitão se afastou. Um terceiro filho muito irritado de um conde entrou no navio.

Ele marchou até ela. Ela instintivamente deu um passo para trás antes de cavar em seus calcanhares.

— Indo para algum lugar? — Ele perguntou friamente.

— Sim.

— Não, esta noite você não está. — Ele se virou para Jacques e Áttila. — Estou pronto para concluir que vocês dois vieram para a Inglaterra apenas para sequestrar a duquesa.

— Sequestrar? — Gritou Áttila.

— Pior, vocês se aproveitaram desonestamente da hospitalidade de minha família, mesmo quando conspiravam contra o reino.

— Conspirar contra o reino? Ah, não, Senhor Burchard, não houve conspiração. Por que, Jacques e eu não saberíamos como tramar, não é, Jacques?

— Fale por você mesmo. Estou cansado de ser ameaçado por este homem. Os ingleses vencem uma pequena guerra e acham que são donos do mundo. Quanto à forma como viemos acompanhar Sophia, isso não é da sua conta.

— É muito da minha conta.

— Ela é uma cidadã livre. Mesmo os direitos de um marido não anulam isso. Ela não te quer mais. A sua decisão de abandonar você deixa claro isso. Não posso dizer que a culpo. Ela não pertence à Inglaterra, nem a você. Depois de experimentar a glória que é a França, ela nunca mais poderia ser feliz nesta ilha provinciana, ou com um de seus homens compartilhando a sua cama.

Um silêncio muito tenso caiu. A postura de Adrian relaxou. De alguma forma, isso o fez parecer mais perigoso.

— O que você quer dizer com isso? — Ele perguntou com muita calma.

— Nada. — Sophia inseriu rapidamente.

— Por favor, Monsieur. Abordamos um tema que deve ser deixado em paz, não concorda? — O rosto finamente cortado de Jacques se transformou em um sorriso entediado e sábio.

— Sim. — disse Sophia. — Especialmente com uma senhora presente.

— Estou interessado em abordá-lo. Compelido, na verdade.

Jacques suspirou com exasperação.

— É bem conhecido que os ingleses não sabem como lidar com mulheres.

— É isso?

— Ah, sim. — Áttila concordou, desculpando-se. — Jacques é muito franco, mas o que ele diz é verdade. O resto do mundo não joga na sua cara, porque isso seria indelicado.

Adrian olhou para a multidão de ingleses no cais.

— E perigoso.

Jacques ignorou o perigo. Ele fez um gesto desdenhoso.

— Os ingleses não têm grandes obras de arte, não têm boa música, por isso não é de surpreender que a imaginação deles não seja apaixonada. Uma mulher é como uma nova rosa, acenando para todos os lados. Um inglês a vê, arranca-a e depois a esmaga.

Sophia sentiu o seu rosto queimando. Essa não era uma boa hora para Jacques se tornar poético.

— Isso é fascinante. — Adrian disse.

— Não é? Ouça e aprenda. O jeito certo de apreciar uma rosa é cheirá-la delicadamente, para que ela descanse cuidadosamente suas pétalas, para acariciá-la e mordiscar suas camadas de veludo e lamber seu néctar.

— Estou fascinado, Jacques. Embora eu gostaria de interrompê-lo e dizer que se eu sonhar que você veio em busca da duquesa com a esperança de lamber o seu néctar, irei matá-lo.

Sophia se intrometeu com pressa.

— Garanto-lhe que nem Jacques nem Áttila jamais lamberam... isto é...

Jacques levantou as mãos.

— Você está sem esperança. O que eu te disse, Áttila? Eu generosamente tentei ajudar este inglês, transmitindo os segredos da minha herança e tudo que eu recebo são ameaças. Você não a merece e, a menos que planeje usar essa espada, não permitiremos que você a obrigue a voltar.

— Então eu vou ter que usar a espada.

— Se você o usar com a habilidade que ela diz que você usa sua outra arma, estaremos seguros.

Absoluto silêncio desta vez. Nem um som, nem um movimento. O ar parou ao redor deles. Sophia tentou falar, mas sua boca escancarada não se mexeu.

Finalmente Adrian mudou seu peso e coçou a sobrancelha, como se estivesse verificando se estava realmente de pé naquele navio e acabara de ouvir corretamente.

— Você está dizendo que Sophia lhe disse que está indo embora porque eu sou um mau amante?

Jacques fez uma pose corajosa e encolheu os ombros, respondendo com mais eloquência do que palavras.

Áttila tentou desesperadamente suavizar as coisas.

— Nós hesitamos em ajudá-la. Se envolver no meio de marido e mulher é uma ofensa grave. Ela o repudiou como fez em Paris e pudemos ver sua infelicidade e desespero, mas é claro que sabíamos que, quando ela disse novamente que vocês não estavam casados, estava mentindo para pedir nossa ajuda. Eu até tentei interceder em seu nome. Foi então que ela deixou escapar a verdade.

— Ela fez? — Adrian perguntou em silêncio. — O que ela disse?

— Nada! — A voz de Sophia saiu de forma tão abrupta que o grito a assustou.

— Eu insisto que você me diga, Áttila, para que eu possa corrigir os meus erros.

Áttila perdeu os tons sinistros. Ele parecia aliviado por Adrian estar sendo razoável.

— Ela disse que você é dominador, muito agressivo, e que só a gerencia para o seu próprio interesse e prazer, que você a manipula quase que diariamente. — Ele sorriu simpaticamente. — Nós não te culpamos. Como inglês, você não pode deixar de ser propenso ao estilo rápido e esmagador que, na realidade, a maioria das mulheres só aproveita de vez em quando. É sua desgraça que, em sua ausência, ela foi a Paris e descobriu que o amor pode ser prazeroso. Foram todos esses anos separados.

— E todos aqueles artistas para ensiná-la.

Áttila tossiu nervosamente.

— Nossos corações foram até ela quando descobrimos que estava sofrendo de tal forma e nós não poderíamos deixar nossa doce Sophia em tal situação, já que isso a angustiava tanto.

Ela queria morrer. Ela pegaria a espada de Adrian e afundaria nela, seria esse seu fim. Ele olhou para ela.

— Bem, minha querida, estou admoestado. Eu posso ver que terei que me esforçar para fazer melhor no futuro.

— Veja, Sophia, ele está arrependido. Sugeri esta manhã que você falasse honestamente com ele, não é verdade?

— Senhores, a duquesa não ficará neste navio esta noite. Eu vou tirá-la daqui. Há uma segunda carruagem que os levará de volta a Dincaster House, se quiserem ou podem ficar aqui. Podem navegar para a França de manhã, se quiserem. Na verdade, podem navegar direto para o inferno, por tudo que eu me importo.

— Vamos acompanhar Sophia de volta a Dincaster House, — disse Jacques.

— Ela virá em outra carruagem comigo.

— Eu não vou deixar este navio, — disse Sophia. — Você não tem autoridade aqui e não tem o direito de interferir. Recolha essa ralé e siga o seu caminho.

— Tolo de mim pensar que você iria obedecer para que pudéssemos fazer isso com alguma dignidade. — Ele se aproximou dela. — Hora de ir, Duquesa.

Com um movimento rápido, ele se inclinou e abraçou as suas pernas. O mundo virou-se e ela estava de costas para ele, pendurada em seu ombro, como fez em Paris. Ele desceu a escada e Colin e os outros foram à loucura.

— Eu vou tê-lo enforcado e esquartejado, — disse ela, batendo nas costas dele.

Os rapazes aproveitavam ao máximo isso, gritando e aplaudindo. Os guardas reais ficaram despertos enquanto passavam.

Adrian levou-a até à primeira carruagem e a baixou. Ardendo com mortificação, ela pensou em se recusar a entrar. Um olhar para os olhos escuros fixos nela, disse-lhe que ele iria jogá-la dentro, se necessário.

Ela examinou a pequena multidão com o seu melhor olhar ducal. Isso os reprimiu um pouco. Afastando-se com a dignidade que conseguiu reunir, entrou na carruagem de cabeça erguida, determinada a dar a Adrian um pedaço da sua indignação.

— Isso foi indesculpável, — ela retrucou quando ele entrou atrás dela.

— Você não me deixou escolha.

— Não aja como se alguma ordem de Deus exigisse que você interferisse. Vir atrás de mim foi presunçoso. — Ela enfatizou a palavra odiada.

— Provavelmente, mas estou com um humor presunçoso. Quem sabe onde isso pode levar, se você não se comportar?

Eles se afastaram do cais com a segunda carruagem logo atrás. Adrian se sentou em frente a ela, o seu humor negro enchendo o compartimento. Ela decidiu que seria sensato esperar alguns minutos antes de continuar a censurá-lo.

O seu silêncio tornou-se uma nuvem espessa que a brisa da noite não conseguia penetrar. Ela teve a sensação de que era a única a ser repreendida e ele nem estava falando.

Ele provavelmente estava meditando sobre o pequeno mal entendido de Jacques e Áttila. Podia ser melhor explicar a sua inocência.

— Quero que saiba que Jacques confundiu completamente o que eu disse a ele esta manhã. Sobre você. Eu nunca... isto é, nunca critiquei... afinal, não temos...

Ele não respondeu.

— Eu posso ter mencionado algo sobre você ter me controlado e me maltratado, o que, é claro, você acabou de fazer novamente, mas não tinha nada a ver com isso... bem, isso.

Ele apenas a observou.

— Quero deixar isso claro, já que pegamos essa carruagem para discutir assuntos que exigem privacidade e esse é definitivamente um deles.

— Certamente é, mas não discutiremos isso ou os outros assuntos aqui.

— É improvável que encontremos mais privacidade em Dincaster House.

— Eu nunca disse que estava te levando para Dincaster House.

Como se enfatizasse isso, os sons da segunda carruagem se afastaram.

— Você está me sequestrando? — Ela riu nervosamente.

— Estou te fazendo pagar a sua dívida.

É claro que ele não gostaria de arriscar perder o grande prêmio. Ela deveria ter pensado nisso.

— Não havia necessidade de nada dramático nesta noite. Você me tirou do meu navio sem motivo algum. Como prometi ontem à noite, eu vou dirigi meus votos do jeito que você queria. Deixei cartas com Jenny que dão a palavra ao meu Ministro do Parlamento.

— Muito honrosa. Só que esse não foi o pagamento que me referi ontem à noite.

— Certamente foi.

— Você ofereceu qualquer coisa que estivesse em seu poder. Você assumiu que seriam os votos, mas eu nunca aceitei o pagamento.

— Você também não discordou.

— Eu estava preocupado.

Seu isolamento nas ruas silenciosas repentinamente pressionou-a.

— Para onde você está me levando?

— Para o meu lar.

— Exatamente que pagamento você tinha em mente, senhor Burchard?

Sem resposta.

— Você é um canalha.

— Considerando os insultos que sofri de seu Ensemble, estou quase resistindo à tentação de ser um. Agora mesmo. No estilo rápido e esmagador preferido pelos ingleses desajeitados. Provoque-me e eu posso perder a paciência.

O seu tom sugeria que a ameaça era real, mas a sua indignação não tinha motivos.

— Você pretende se aproveitar de algo que eu disse enquanto enfrentava as garras da morte, enquanto balançava a dez metros de uma rua?

— Você me ofereceu o que eu quisesse depois que eu lhe disse especificamente em duas ocasiões o que era. A sua suposição de que eu reivindicaria esses malditos votos, ao invés de você, é encantadora. Talvez realmente tenha se convencido de que eu só queria você para conseguir os votos.

— Você realmente pretende me segurar por causa dessa dívida? Acha que eu vou concordar em fazer amor com você sob tal condição?

— Se eu exigir, será obrigada por honra a fazê-lo. O diabo disso é que não consigo me convencer a ser canalha o suficiente para pressionar a minha vantagem em você. Então eu só exijo uma hora de sua companhia para uma conversa e um beijo.

— Uma conversa e um beijo?

— Isso é tudo.

— Depois dessa conversa e beijo, você vai me permitir voltar ao navio e sair da Inglaterra?

— Vou até cuidar para que seu Ensemble, seus criados e os seus animais se juntem a você.

Isso parecia muito justo. Suspeitava que sim. Ainda assim, se ele prometesse, concordaria com isso. Ela partiria para o continente como planejara, apenas com esse breve desvio.

Alguma conversa com ele provavelmente estava em ordem também. Havia a deixado muito triste ter saído sem se despedir. O único problema era o beijo. Ela se lembrava dos seus beijos muito bem. A intimidade perigosa, mas irresistível, que eles ofereciam. O potencial que eles ocasionavam. Rasgaria o seu coração sentir isso de novo, só que desta vez seria a despedida final.

Poderia ser melhor administrar essa parte da dívida do seu jeito.

Agarrando a porta, ela se levantou e se inclinou sobre ele. Ela rapidamente tocou-o nos lábios e, em seguida, sentou-se em seu assento.

— Agora só temos que lidar com a conversa.

Ele se inclinou para frente e tomou seu queixo em sua mão quente.

— O beijo é meu para coletar, quando eu quiser, como eu quiser. Eu escolherei a hora e o lugar. — Os seus dedos acariciaram a sua mandíbula e queixo antes de liberá-la, deixando-a formigando pelo contato. Ele poderia ter abraçado todo o seu corpo, tão completa foi a reação dela.

A carruagem parou em uma rua de casas grandes à beira de Mayfair. Adrian escoltou-a aos quatro degraus de pedra e até a porta de um deles. O seu estômago deu um solavanco estranho quando passaram pela soleira e subiram a longa escadaria de mármore até ao segundo andar.

Cada instinto dizia para ela recusar. Ele parecia tão relaxado e friamente elegante como sempre, mas os seus olhos tinham uma expressão que era mais nítida e profunda do que o normal. Ele parecia ter aceitado algo inevitável. Sua partida e o fracasso de sua missão?

Só um beijo. Ela não era uma idiota completa quando ele parecia tão preocupado. Ela poderia lidar com isso.

Ele a conduziu a uma sala de estar. Pareceu-lhe deliciosamente confortável. Boas cadeiras para leitura e uma grande lareira para acender o fogo. Padrões escuros e madeira escura em todos os lugares. Uma mesa polida em um canto. Uma prateleira de esquisitices exóticas.

— Então é aqui que você traz as suas mulheres.

— É onde eu moro. Eu levo as minhas mulheres para outro lugar.

— Esta conversa será provavelmente a nossa última. Eu acho que devemos ser honestos ou terá pouco sentido nisso. Eu sei que você traz Celine aqui. Gerald me disse.

— Parece que Stidolph gosta de mexericos. É bom saber. — Ele veio por trás dela e ajeitou o xale em seus ombros. — Eu não trouxe Celine aqui. Ela veio sozinha.

— Bem, Deus, isso faz toda a diferença.

— Eu a mandei embora.

— Você espera que eu acredite que rejeitou uma das mulheres mais bonitas da Inglaterra?

— A célebre beleza de Celine é superficial. Ao contrário de você, ela possui muito poucas camadas, e elas mal escondem a sua vaidade egoísta.

Um criado apareceu e Adrian pediu um pouco de vinho.

Eles se sentaram em cadeiras em frente um do outro.

Vê-lo em sua casa criava uma intimidade inesperada. Ocorreu-lhe que nunca se aventurara nos espaços privados de um homem antes. O seu Ensemble sempre foram convidados e intrusos, não ela.

— Sua hora está se esgotando, — ela disse.

— Se eu optar por gastá-la apenas olhando para você, essa é a minha prerrogativa.

Uma hora olhando para aqueles olhos escuros seria mais do que ela poderia suportar.

Ela ficou grata quando o vinho chegou. Estava mais do que feliz em ter alguém na sala por alguns minutos. Mas o pequeno ritual de despejar e entregar a taça terminou rapidamente e então eles ficaram sozinhos novamente.

— Por que você está fugindo? — Adrian perguntou.

— Eu não estou fugindo. Estou voltando para a minha vida.

— Você está voltando para o lugar onde se escondeu por oito anos.

— Eu não me escondi. Todo mundo sabia onde eu estava.

— Você se escondeu de si mesma.

O comentário a desanimou. A sua perspicácia perfurou-a como um raio de luz. Ela recuou da sua iluminação.

— Se estou fugindo, acho que posso ser desculpada. Alguém tentou me matar ontem.

— Alguém tentou assustá-la ontem. Se o objetivo tivesse sido o seu assassinato, havia maneiras mais eficientes de atingi-la. O capitão Brutus fez com que o fogo fosse descoberto antes que você fosse ferida. Você não tem utilidade para ele morta. — Ele olhou para ela por cima da borda de sua taça. — Você se casou de forma secreta com ele?

— Não.

— Era sua amante?

— Nossa intimidade não foi tão longe.

— O seu afeto sobreviveu a todos esses anos ou foi reacendido com o seu retorno?

— Você pergunta, porque eu não mostrei a ninguém essas cartas?

— Eu pergunto, por que eu quero saber se ele é o dono do seu coração.

— Não foi a sua lembrança do nosso carinho que me tocou. Foi o resto.

— Suas ameaças? Certamente você sabe que eu o teria protegido se soubesse.

— Não as ameaças. Foram as suas lembranças da minha simpatia por sua causa. Quando eu era mais jovem, eu acreditava e me importava com essas coisas. Confesso que essas cartas, vindas dele, apelaram a garota idealista.

— O que só fez a sua situação aqui mais difícil. Então você está fugindo de ter que tomar uma decisão real sobre a reforma. Deixar essas cartas com o seu Ministro do Parlamento, como o pagamento de uma dívida, isentou você dessa responsabilidade.

— Você faz soar como se eu criasse desculpas para mim mesma. Eu não sou tão inteligente.

— Você é muito esperta. Eu não tinha percebido até agora o quão inteligente você foi em encontrar maneiras de correr e se esconder.

Sua franqueza a deixava desconfortável.

— Não posso decidir se acabei de ser elogiada ou insultada.

— Do que mais você está fugindo? Stidolph?

— Eu não escolho falar sobre Gerald. Passe sua hora em outro lugar, o que resta dela.

— Ele tem intimidado você, não é?

— Eu posso gerenciar as convocações de Gerald para o dever e a responsabilidade.

Ele a estudou como se quisesse ler a sua alma.

— Minha menção agora de seu nome a perturbou e simples convocações ao dever não afetariam você assim. Ele tem usado o passado para chegar até você, não tem? Brandon e todo o resto.

Quando ela sugeriu que fossem honestos esta noite, ela não esperava que fosse tão longe. Sua percepção a surpreendeu. A menção de Gerald de fato a perturbara e convocou novamente a horrível confusão que sentira durante aquela conversa esta manhã.

— Ele diz que não haverá paz até que eu corrija o que aconteceu cumprindo os desejos de meu pai sobre o futuro de Everdon. Essa paz seria uma coisa deliciosa de se conhecer. Pode valer qualquer preço.

— Então você fugiu da tentação de pagar o preço, porque sabe que só trocaria um inferno por outro.

Ela se ressentia com a maneira como ele continuava descascando-a, expondo o seu coração.

— Você parece conhecer a minha mente melhor do que eu. Se eu fugir disso, será um curso sensato. Eu não sou muito forte. Não como você.

— Eu acho que você é uma das mulheres mais fortes que já conheci.

— Então o seu conhecimento de mulheres é lamentável. Essas lembranças me deixam fraca. Você mesmo viu. Gerald veio e jogou minha culpa em mim esta manhã e em instantes eu não tive vontade de lutar. Sim, diabos, estou fugindo. Dele, dos fantasmas, de Everdon e do capitão Brutus.

Ele pousou a taça.

— Você não está esquecendo-se de alguma coisa?

— Eu acho que você me forçou a admitir completamente minha covardia. O que mais há?

— Você também está fugindo de mim.

Ela se esforçou para expressar uma negação desleixada, mas a verdade do comentário dele fluiu como uma corrente grossa entre eles. O ar estava cheio dele de repente, como se ele se aproximasse fisicamente dela.

Tremendo, ela se levantou e caminhou até uma janela para quebrar o efeito. Não ajudou muito. Ele se levantou também, relaxado e confiante. Ela podia senti-lo olhando para ela, calmamente esperando por uma resposta.

— Eu confio que você não pretende forçar uma discussão sobre isso agora também, — disse ela.

— Eu pretendia, mas mudei de ideia.

— Isso é generoso da sua parte e provavelmente muito sábio.

— Nem generoso ou sábio. É egoísta e calculista. Nós falaremos sobre isso depois.

Ela se virou surpresa.

— Não muito depois. Sua hora quase se acabou.

Ele tirou o casaco e colocou-o na cadeira.

— Mais tarde. Depois que eu fizer amor com você. Certamente sabe que é por isso que eu te trouxe aqui.


Capítulo 19

Ele deu uma volta pelas cadeiras e encostou as suas costas numa, com os braços cruzados sobre o peito. Ele a lembrou de como parecia naquela primeira noite em Paris. É assim que será, dizia a expressão dele. Isso é o que vai acontecer.

A sua aura de decisão calma contrastava completamente com o seu próprio comportamento. O seu coração se transformou em algo pesado, cuja pulsação profunda sacudiu seu corpo.

Ele parecia tão esplêndido com o cabelo escuro despenteado caído na testa. Longas linhas se estendiam dos seus ombros largos até os quadris. E aqueles olhos. O seu olhar praticamente a queimava.

Fugir parecia ser uma boa ideia.

— Você disse que seria apenas um beijo.

— Apenas um beijo como pagamento da sua dívida. Eu não iria gostar se você se sentisse obrigada pelo resto.

— Não haverá nenhum resto. — Ela tentou adotar um tom autoritário, mas soou trêmulo.

— Se você está determinada, é assim que será. Eu dificilmente vou forçá-la.

Ele se afastou da cadeira e aproximou-se dela até ficar a poucos centímetros de distância. Sua masculinidade assaltou-a com força, prendendo-a contra a janela. Uma resposta primitiva dentro dela revelava o poder que ele projetava. A expectativa sensual flutuou através de seu corpo.

Ele gentilmente segurou seus ombros com carícias firmes e exploradoras. Ela estremeceu com a pressão quente dos seus dedos que se esticavam. Tão atraente. Tão excitante.

Ele inclinou a cabeça para ver o rosto dela.

— Você está com medo.

— Eu não estou.

Mas ela estava com medo. Com medo daquele beijo e de onde ele poderia levar. Assustada com a vulnerabilidade que a paixão criaria. Temerosa de descobrir que essa era apenas uma maneira mais desonrosa de manipulá-la.

— Você ainda se preocupa que eu só quero você como uma maneira de ganhar outra coisa.

Ele tinha uma segunda visão esta noite.

— Você procura uma maneira de ganhar outra coisa. Não negue.

— Você preferiria que eu fizesse, mas lhe disse que não seria assim conosco. — Ele olhou para o seu chapéu e o tirou. — Esconder-se será negado a você. Eu poderia ter ido buscar essas cartas assim que você me contou sobre elas. Agora pode destruí-las. Você pode até escrever para os outros, nos orientando a votar pela reforma, antes de partir.

Ele tirou sua capa e colocou-a de lado. O ar da noite vindo da janela esfriou seu corpo. Ela sentiu que acabara de ser privada de uma peça essencial da sua armadura.

Ele inclinou o seu queixo para cima com um dedo.

— O que acontecerá aqui não tem nada a ver com você ter o poder de Everdon, nem vou falar com você sobre esses malditos votos novamente. Isso é só sobre você e eu.

— Eu acho melhor você não fazer isso.

— Se eu não fizer isso agora, talvez eu nunca consiga.

— Eu não sei por que você persiste nisso.

— Sim, você sabe. Isso é o que realmente te assusta.

Ele esticou os dedos em seus cabelos ao longo de sua nuca. Guiou a sua cabeça na direção dele.

— Eu vou ter esse beijo agora.

Foi o beijo de uma vida, cheio de exigência. Deliberado, determinado e implacável. Ela começou a não saber como se defender contra as sensações que ele lhe causava. Segurando a cabeça dela, arqueando-a em seu abraço, ele transformou aquele beijo único em uma longa exploração de excitação que a deixou cheia de sensações arrepiantes. O seu abandono gemeu com gratidão por ele possuir a habilidade de tornar isso quase inevitável.

Ele terminou com uma mordida no lábio inferior. Acariciando seu rosto, ele olhou para ela.

— Outro? Devo avisá-la que é a última vez que vou perguntar. Depois disso, você está por conta própria para expressar a sua vontade.

Era hora de decidir. Ela sabia o que estava arriscando. Estaria dando a esse homem o poder de usá-la e machucá-la como nunca deu a nenhum outro. As desilusões de sua juventude poderiam um dia empalidecer à luz do que poderia acontecer com ela por causa dele. Mas talvez ele estivesse certo. Estava correndo e se escondendo daquele perigo por muito tempo.

Ela não concordou nem discordou. Sua boca de repente a fascinou. Talvez mais um. Ela estendeu a mão e roçou as pontas dos dedos ao longo dos lábios dele. Ele agarrou a mão dela e segurou-a ali, beijando a palma da mão e o pulso.

A sua expressão a cativou e consternou. A sua reação ao gesto dela deixou-a tonta e confusa. Ele a puxou de volta para ele e o rio das suas emoções fluiu com uma turbulência renovada.


Ele mentiu.

Ele dissera que não tinha outro motivo para seduzi-la, mas tinha. Ele tinha sugerido que eles iriam compartilhar uma noite antes de partir para a França, mas ele não tinha intenção de levá-la àquele navio ao amanhecer.

Ele planejava ligá-la à Inglaterra. Não por causa de Everdon ou a promessa de uma posição do Tesouro. Ele faria isso pela simples razão de que não podia deixá-la ir e queria muito mais do que uma noite.

Ela se encaixava tão bem em seus braços. Macia, feminina e tremente com a sua hesitação tocante. Ele a beijou novamente até que o último sinal de cautela se derreteu, acariciando o vestido preto e o seu rígido espartilho, buscando as curvas do seu corpo. Inclinando a cabeça, ele provou a doce pele do seu pescoço. A sua respiração se contraiu contra a sua orelha, uma melodia de desejo que instantaneamente abafou o seu próprio canto interno que estimulou o controle.

A fome que vinha crescendo por semanas de repente rugiu pela liberação. Ele mal suprimiu a vontade de levantá-la imediatamente contra a parede. Puxando-a com força para que ele pudesse senti-la ao longo de seu comprimento, ele a beijou novamente com uma boca devoradora enquanto a impaciência o dominava.

Os braços dela deslizaram ao redor de seu corpo em um abraço tímido. Sua língua se movimentou junto com a dele, mas recuou pela sua reação exigente. Ambas as respostas possuíam uma cautela como se analisasse se era o certo. O corpo dela podia estar encurvado contra o dele e suas carícias podiam estar soltando suspiros de prazer, mas ela estava surpresa e assustada.

Ele a envolveu em seus braços, acariciou seu cabelo e forçou alguma restrição. Ele não precisava das lições de Jacques para saber que essa não era a maneira de fazer amor com uma mulher pela primeira vez.

Quando a beijou novamente, ele fez com cuidado, lentamente atraindo-a. Ela se juntou a ele em seu caminho hesitante. Ele se deliciava com as suas curvas suaves enquanto ela relaxava sob as suas mãos novamente, mas a excitação ainda surgia e recuava, como se ela temesse as sensações e continuasse forçando o controle sobre elas. Algo dentro dela resistia em provar novamente o abandono que ela experimentara no gazebo.

Os seus seios, endurecidos de paixão, pressionaram contra o seu peito. Ele os segurou com a sua mão e alisou a sua plenitude. Um profundo suspiro saiu dela, um som adorável, e todo o seu corpo tremeu. Ele a colocou contra a parede e embalou seus seios com as suas mãos. Quando ele esfregou as pontas duras com os polegares, ela agarrou seus braços como se quisesse se firmar.

Ele assistiu a batalha comovente enquanto ela alternadamente se gloriava no prazer e lutava contra ele. Os seus dedos apertados nos braços dele o seguraram e o afastaram. A sua própria necessidade queimava ferozmente a imagem que apresentava, seus olhos líquidos e bonitos, cambaleante à beira do êxtase.

Mergulhando a cabeça, ele beijou o seu seio. Deslizou as mãos pelas costas dela e soltou os fechos de seu vestido. As suas pálpebras pesadas se levantaram com renovado estado de alerta.

Se ela fosse mudar de ideia, seria agora.

Ele sabia como impedir que isso acontecesse. Ele deslizou o corpete do vestido para baixo, determinado a subjugar quaisquer dúvidas com as mãos e a boca.

O alívio em sua expressão o deteve.

Ele percebeu que era o que ela esperava e queria. Derrota em vez de se render.

Eles se encararam, as suas respirações eram os únicos sons, ambos resistindo por suas próprias razões à atração do desejo. Eles seguraram os braços um do outro em um estranho abraço. O seu vestido pendia ao redor de seus quadris e os seus adoráveis seios esticados contra o tecido fino de sua camisa. Suas ondas espiavam eroticamente sobre o duro revestimento do seu espartilho.

Ele traçou um dedo ao longo do decote de sua roupa de baixo.

— Tire-a. Ofereça-se a mim como fez em Staverly.

A surpresa brilhou em seus olhos. Ela desviou o olhar, embaraçada. Ele lutou contra a vontade de baixar a mão e fornecer a desculpa da sedução que ela queria. Ela olhou para trás. Com falta de jeito e charme, ela empurrou as alças de sua camisa pelos braços.

A pequena cooperação acabou com a sua frágil resistência. Quando ele acariciou, desta vez, a pele, sua cabeça encostou-se na parede com um suspiro sensual de aceitação.

Ele pegou as mãos dela e colocou-as atrás do pescoço para que seus cotovelos dobrados lhe ladeassem a cabeça e seus adoráveis seios se elevassem para ele. Ele acariciou e lambeu, provocando as pontas duras, atraindo a sua paixão. Ela se arqueou contra a parede em um crescente delírio e, finalmente, acariciou seu cabelo com uma mão para encorajá-lo a ir mais agressivamente.

Os seus pensamentos turvaram tudo, menos o cheiro, o gosto e os sons dela. A necessidade caótica fluiu através dele. Ele acariciou as suas coxas, mas a armadura de saiotes interferiu. Explorando inutilmente, mas incapaz de manter as mãos longe dela, ele tomou sua boca em outro beijo.

Ela subiu para ele com uma ânsia que igualava a dele. Eles uniram as suas bocas com beijos mordazes e impacientes. Ele segurou a cabeça dela e a domou dando beijos em cascata numa união profunda que contornou o seu desejo, mesmo quando o aumentava.

Ele se afastou e deu um passo para trás. Ela parecia maravilhosamente selvagem e desgrenhada. Seus olhos brilhavam com a sensualidade primitiva de sua excitação.

Tomando sua mão, ele a puxou.

— Venha para a cama.

A sua ligeira resistência o surpreendeu. Ela passou muito tempo fugindo. Ele sabia que, mesmo que ela não soubesse, ela queria tanto quanto ele.

Ele soltou sua mão e estendeu seus braços. Ela entrou nele. Tirando um par de velas de uma mesa próxima, ele a levou para o quarto.


Ela caminhou dentro daquele abraço, contra a sua força quente, quase tropeçando em suas saias penduradas em sua falta de ar desajeitada. Emoções eletrizantes deram ao seu progresso uma qualidade irreal.

Decorado como a sala de estar, o quarto refletia o conforto criado por um homem sem ninguém para acomodar, a não ser ele mesmo. A cama esculpida, drapeada, era incrivelmente convidativa. E assustadora.

Ele explorou o seu pescoço com beijos enquanto afrouxava os fechos do vestido e anáguas. Metros de tecido caíram no chão.

Ele se ajoelhou para erguer seus pés do tecido.

— Tantas camadas. Ao contrário das refletidas em seus olhos, estes são um incômodo.

— Você vê mais em meus olhos do que o que está lá.

Ele deslizou pelas suas meias com palmas tentadoras.

— Elas estão lá e são intrigantes.

A conversa deles quase a distraiu da chocante realidade de que ela estava apenas com as suas roupas de baixo.

— Talvez mais intrigante do que está abaixo delas.

— Eu já sei o que está sob elas. Você é quem não sabe.

Ele se levantou e a enredou em um longo beijo, então se separou e começou a soltar as mangas da sua camisa.

Ela tentou ser uma amante ousada. Arrancou a gravata e procurou os botões de seu colete. Ele observou com calorosa diversão e não pareceu surpreso quando suas mãos trêmulas pararam. Ele tirou o colete e a camisa por conta própria. O que a deixou de pé com o nariz a um centímetro de distância de seu peito nu.

A sua beleza esculpida deixou a sua boca seca. Ela colocou a mão na tensão e no calor. Os seus dedos tocaram em um músculo esculpido e uma sensual agitação ronronou através dela. Ela nunca pensou que ver o corpo de um homem poderia ser tão envolvente.

Ela olhou para cima. Olhos ardentes observaram as suas tentativas de exploração. Autoconsciente, de repente, ela deixou a mão cair. Ele se sentou em uma cadeira, tirou as botas e começou a tirar a calça, visto que ela tinha sido covarde demais para lidar com isso. Aturdida e excitada, ela se virou e tentou desamarrar seu espartilho.

— Eu vou fazer isso. — Mãos fortes agarraram a sua cintura e a guiaram de volta até que ela se sentou em seus joelhos. Seus joelhos nus, ela percebeu com um solavanco. Ele estava nu.

Ela se equilibrou desajeitadamente em suas pernas, afastando-se dele. O rubor formigou em sua pele enquanto as mãos dele soltavam e removiam o espartilho. Ela olhou para o tecido fino de sua camisa caindo ao redor de seus quadris. As suas pernas estavam nuas.

Ela tentou fugir, mas ele a puxou de volta, para a impressionante cascata de músculos dos seus braços e corpo. A sensação da sua nudez a chocou. Também foi perversamente excitante.

Não tão perverso quanto às mãos dele. As carícias lentas e lânguidas levantaram ondas de sensualidade que afogavam o seu embaraço. Ela relaxou contra ele, a sua cabeça contra o ombro dele e o seu rosto voltado para o seu belo perfil. O seu olhar percorreu-a à vontade, enquanto as suas mãos fortes traçavam deliciosas linhas de prazer ao redor dos seus seios.

— Como você é linda, — disse ele. — A sua pele é tão luminosa e a sua forma tão feminina. Eu poderia olhar para você por horas.

Ela observou-o olhá-la. As suas mãos se moveram e circularam os seus seios com rastros de antecipação excruciante. Ele tocou as pontas de uma maneira que forçava os gritos a subir para a sua garganta e seu corpo arquear por mais.

Sua cabeça virou-se para beijá-la enquanto ele gentilmente esfregou e espalmou. Uma fome ansiosa agitou através dela, profundamente, pulsando com excitação. O prazer do desejo criado por suas mãos lentas e pacientes a estava enlouquecendo.

Um gemido passou de sua boca para a dele.

— Isso mesmo, querida. Deixe-me saber o que você gosta, — ele sussurrou.

Uma mão pressionou mais abaixo em seus quadris e coxas. Com corrediças suaves, ele removeu o que restava de sua roupa, deixando-a completamente nua.

Ele separou suas pernas até que ela montou em seu colo. A mudança deixou seu pênis aninhado eroticamente contra a fenda de seu traseiro. Ele ergueu um dos joelhos dela e colocou-o sobre o braço da cadeira, estendendo-a para uma posição exposta.

Punindo a sua boca com um beijo selvagem, ele acariciou a carne macia da sua coxa levantada enquanto a outra mão continuava acariciando o seu seio. O desejo se transformou em uma necessidade gritante de que ele explorasse a sua vulnerabilidade aberta. Toda a sua consciência se concentrou no quanto ela queria que ele a tocasse lá embaixo.

Ele tocou, ela arqueou e gritou com o choque magnífico. Ele manteve a mão nela, explorando as suas reações, despertando um prazer surpreendente. A sua voz falou baixinho, elogiando a beleza do seu abandono, mas ela mal o ouviu através dos sons primitivos surgindo de sua essência selvagem. Cada respiração ofegante saía com um gemido ou um grito. Os seus quadris se levantaram e caíram, implorando descaradamente.

Ele moveu as carícias para um ponto específico de sua sensibilidade. Ela disparou para uma altura incontrolável de prazer, um lugar assustador de excitação tão agudo que era quase doloroso. Ela tentou recuar e agarrou a mão dele para afastá-lo.

Ele não iria deixá-la.

— Você não fugirá esta noite, querida. Não de mim, — disse ele com a boca pressionada na têmpora dela.

Ela não podia lutar contra a intensidade. Com um gemido indefeso, ela se rendeu e, com um grito gutural, ela teve um orgasmo. O orgasmo foi um momento feliz, cheio de puro prazer e libertação celestial.

Ele a levou para a cama e a deitou. O seu corpo ficou sobre o dela e ela o agarrou, feliz por finalmente abraçá-lo e agradecida por manter a sua realidade em meio à sensualidade espiritual em que flutuava.

Ele era tão cuidadoso e gentil quanto se poderia esperar, mas não suficientemente cuidadoso e gentil. Ela estremeceu com o rápido alongamento. Uma lágrima a trouxe de volta das margens do paraíso.

Ele congelou. O seu olhar subiu pelo peito nu subitamente imóvel acima dela com braços tensos. Ela se aventurou a olhar para o rosto dele.

— Você deveria ter me contado.

— Talvez você não devesse ter assumido o contrário.

— Eu posso ser desculpado, eu acho.

— Teria feito diferença? Você teria sido honrado comigo?

— Eu não sei.

Ela acariciou seu peito.

— Você está com raiva? — Ele a encarou e mergulhou para beijá-la.

— Não. Estou lisonjeado. — Ele se moveu. — Vou tentar não machucar mais você.

Ele não a machucou de jeito nenhum. Ele a fascinou, encantou-a e hipnotizou-a. A junção física surpreendeu o seu coração e alma ainda mais do que as suas mãos haviam impressionado seu corpo. Algo a chamou, muito parecido com a libertação. Algo espiritual, glorioso e esperançoso. Mexeu em suas emoções e sussurrou no ritmo do seu corpo. Entregue-se. Perca-se. Acredite. Confie.

Perto do fim, ela conheceu um prazer surpreendente novamente. Não apenas a parte física de antes, mas, em vez disso, uma alegria encharcada de emoção que absorveu a sua necessidade exigente, aceitando a sua paixão em erupção e finalmente envolvendo a sua força exausta.

Ele se afastou dela e puxou-a para um abraço que conectava os seus corpos inteiros. Ela saboreou o eloquente silêncio e ficou maravilhada com a nova consciência de si mesma e do que acabara de nascer.


Ele mentiu. Ele estava com raiva. Não por ela, mas pelo que ela era e como isso enquadrava as implicações do que acabara de acontecer.

Ele tirou os cachos úmidos do rosto dela e puxou-a mais perto. Ele não ficou tão surpreso quanto deveria. Talvez ele secretamente não tivesse assumido o contrário. A verdade se encaixava com o que ele sabia de sua vida e o que via em suas profundezas. Mas admitir a possibilidade teria tornado esta noite impossível, e assim ele escolheu aceitar a sua pose de sofisticação mundana.

Ele se levantou em um braço e olhou para seu contentamento sereno.

— Porquê eu?

— Talvez eu tenha confiado em você para deixar a Inglaterra orgulhosa. — Ela sorriu maliciosamente, mas seus olhos encontraram os dele com um pedido silencioso de que ele não insistisse que ela buscasse em seu coração uma resposta séria.

— Todos esses anos. Todos aqueles convidados permanentes e senhores franceses. Nenhum tocou seu coração?

— Um ou dois. Eu nunca teria dado esse poder, no entanto. Não era eu que eles queriam.

Na verdade, não. Sempre foi outra coisa.

Sim, ela iria assumir isso. O seu próprio pai a usou como uma maneira de conseguir outra coisa. Ela daria por certo que a atenção de qualquer pessoa tinha segundas intenções.

Doía-lhe que ela tenha vivido tantos anos com a solidão que deve ter criado. Como deve ser aceitar que toda oferta de amizade ou amor era realmente uma tentativa de obter sua riqueza, seu patrocínio ou mesmo o próprio Everdon? Ela tinha ido para a França convencida de que não tinha valor a não ser por essas coisas.

Ela podia ter finalmente aceitado que não era o caso com ele. Ele teria que ter muito cuidado para não a desiludir. O que restringia a sua reação a esta noite, tão certamente quanto a sua posição como a duquesa de Everdon. Foi isso que o enfureceu.

Com qualquer outra mulher, ele seria honrado e teria oferecido casamento agora. O filho bastardo da esposa de um conde não pedia uma duquesa em casamento apenas por querer, mesmo que tivesse acabado de tomar a sua inocência. Nem Adrian Burchard poderia fazer a coisa certa por Sophia Raughley, porque o prêmio de Everdon mancharia a pureza dos seus motivos.

Ela aninhou-se confortavelmente, a sua expressão de total paz. Ele apertou seu abraço em seu corpo macio e beijou sua bochecha.

— Você é uma mulher linda e magnífica.

Ela piscou surpresa, então sorriu ceticamente.

— É galante de sua parte dizer isso.

— Não é galante. Fique na Inglaterra e repetirei muitas vezes, até que acredite em mim. Até você ver o seu próprio valor e entender quem realmente é.

Ela parecia perturbada, como se encarar quem ela realmente era certamente levaria à decepção. Ele teria matado Alistair de bom grado se o homem já não tivesse morrido.

— Você está me oferecendo uma ligação, Adrian?

— Sim. E carinho, amizade e ajuda, se você quiser. — Ele não podia incluir mais, nem poderia aceitar.

— Você pode ter alguém melhor do que eu.

— Não há ninguém melhor e ninguém mais que eu queira. Eu não estou apenas sendo galante, mas se você pensa que sou, dê-me algumas semanas, pelo menos. Você pode sair mais tarde, se duvidar do meu afeto ou decidir que um caso não vale os riscos.

Ou decidisse escolher um consorte apropriado para a duquesa de Everdon. Não, nesse caso, ele seria o único a sair. Ele dissera a Dot que não tornaria difícil para ela e não faria isso.

Ela se virou em seus braços e se agarrou a ele.

— Talvez eu seja magnífica quando estou com você. Sinto como se pudesse ser.

— Você certamente é.

Ela aninhou o rosto na curva do pescoço dele e respirou profundamente.

— Me mostre novamente, Adrian. Me ame novamente. Nós podemos?

Ele podia. Com o seu corpo, ele mostrou a ela a quão bonita e magnífica ela era para ele. Com mais emoção do que ele jamais conhecera antes, ele chamou sua paixão gloriosa de baixo das camadas e então se perdeu nela.

Depois, ele assistiu a paz contente recuperá-la por ela acreditar em si mesma por um tempo mais uma vez.

Ela não foi com a maré. Quando os navios no porto zarparam, ela estava dormindo em seus braços.

 


CONTINUA