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Capítulo 9
Ela sofreu com a lenta partida dos hóspedes, mentalmente instando-os a saírem mais rápido. Ela não tinha história com essas pessoas.
Como nunca fora apresentada, nunca desfrutara de uma temporada em Londres. Todo mundo conhecia todo mundo, mas ela não conhecia quase ninguém.
Os fantasmas de Marleigh observavam. Ela podia sentir a presença deles nas salas e nos corredores. O seu pai e a sua mãe. Brandon e a irmã que morreu quando bebê. Mesmo os velhos criados que fizeram parte da sua infância pareciam ter deixado um pouco da sua essência no edifício. Durante todo o tempo em que falava se movia e se sentava, ela os via em vários lugares, enquanto as lembranças a distraíam. Apenas tocar em um objeto ou sentir um cheiro avivava a sua memória.
Finalmente, apenas um convidado permaneceu. Gerald Stidolph desaparecia sempre que um grupo partia, habilmente se esquivando da corrente, toda a vez que o fluxo ameaçava levá-lo para fora.
Ela o encontrou na sala de visitas depois de ver a última carruagem sair. Ele estava perto das portas do terraço, olhando para o jardim, a imagem de um homem decidido a dar a sua palavra.
Ela não detestava propriamente Gerald. Ele era muito decente. Pelo que ela sabia, ele não possuía maus hábitos.
Ele permaneceu alto e forte, os seus primeiros anos no exército endureceram a sua postura. O seu rosto era composto por traços agradáveis e uma mandíbula forte, a sua roupa sóbria e os cabelos castanhos curtos revelavam a sobriedade dos seus hábitos e gostos.
Não havia nada especificamente errado com ele. Ele era um pouco aborrecido, um pouco formal demais, além de um pouco ganancioso pelo poder e riqueza, mas muitas mulheres o consideravam atraente.
Então, porque é que, a própria noção de casamento com Gerald, sempre punha o seu sangue frio? Ela o contemplou do limiar da porta e uma estranha familiaridade cutucou-a. De repente, ela soube a resposta. Casar-se com Gerald, seria como se casar com o pai dela.
Ele se tornou o que seu pai era. Andava como ele. Agora que pensava nisso, ele adotara a maneira de falar do duque. As pausas pensativas. O sarcasmo na hora de julgar, que apareciam mesmo quando se divertia. De todas as pessoas com quem Gerald trabalhara para cair nas boas graças, o duque tinha sido o alvo principal.
Ele tinha conseguido magnificamente. De certa forma, Gerald se tornara mais filho do duque do que Brandon e, definitivamente, mais do que ela mesma. Gerald modelou-se metodicamente ao duque até que, quando o duque olhou para ele, viu uma versão mais jovem de si mesmo. Não era de admirar que seu pai o tenha favorecido, e que quisesse que ele tivesse o poder de Everdon, através dela. Seria uma forma de vida após a morte.
Ela caminhou em direção a ele, que se virou com o som dos seus passos. Ele hesitou, como se estivesse se decidindo como iria lidar com ela. Teria ele o bom senso de representar o admirador peticionário, e não a reencarnação de Alistair Raughley?
— Ignorei muita coisa, Sophia, mas a sua recusa em falar em particular comigo até agora, desperta o meu aborrecimento.
— Eu tive convidados para acompanhar, Gerald.
— Você conseguiu ignorá-los com frequência suficiente quando lhe convinha.
— É verdade, mas ignorá-los para ter uma discussão com você não combina comigo.
— Tão teimosa como sempre, eu vejo. Sem dúvida, o seu tempo em Paris apenas reforçou tais inclinações. Não a favorece nada.
— As circunstâncias significam que é a vontade de uma duquesa que deverei cumprir, e estou gostando bastante disso.
— Você deixou isso bem claro, ontem com Sua Majestade. A sua teimosia foi um embaraço.
— Gerald, no último meio minuto você me criticou três vezes. É de admirar que eu tenha me tornado obstinada, com a sugestão do rei de que nos casássemos?
A sua expressão rígida se suavizou.
— Me perdoe. A minha surpresa pela sua atitude, me fez agir incorretamente.
— Não, isso interferiu, fazendo com que você se protegesse e estou feliz por isso. Não consigo imaginar porque a minha atitude deveria surpreendê-lo. Eu me ressenti quando o meu pai tentou me intimidar para o casamento, quando ele estava vivo. Não espere que eu tolere tal manipulação de você e de Wellington, agora que ele está morto.
Ele estendeu as mãos suplicantemente e sorriu.
— Eu errei muito, não foi? Começamos mal.
— Acho que começou de forma esplêndida. Eu temia que, primeiro, tivéssemos que passar horas fingindo.
Ele, evidentemente, decidiu que o admirador peticionário seria a melhor jogada depois de tudo. Ele gesticulou para um sofá.
— Por favor, sente-se comigo, Sophia. Eu gostaria de saber como você está.
Ela considerou recusar-se a ser desviada do confronto, que precisava ser terminado. Anos de treinamento em civilidade venceram, no entanto, e ela se empoleirou na beira do sofá.
Gerald sentou-se ao lado dela. Os seus afiados olhos castanhos tinham ficado duros com os anos, mas a sua expressão de apaziguamento entorpecia um pouco a sua aspereza.
— Você está muito linda. A maturidade combina com você. — Ele disse.
Ela parecia terrível e sabia disso. Na verdade, ela tinha trabalhado nisso e por causa dele também. Ele nunca a achou muito amável, nem mesmo quando a juventude lhe dera alguma justificação. Ela o ouviu uma vez, quando tinha dezesseis anos, discutindo francamente da sua falta de beleza, com um amigo.
— Por maturidade você quer dizer idade. Você acha que eu sou uma solteirona atraente?
Ele fingiu confusão. — Estou comovido e agradecido por você nunca se ter casado.
Ela considerou contar a mentira sobre o marido secreto. Isso tornaria misericordiosamente mais rápido tratar disto, por enquanto. O seu orgulho resistiu. Ela não precisou da história de um marido violento para afastar Gerald, quando ela era jovem e vulnerável. Ela, certamente, não ia depender de um embuste, para fazê-lo agora.
— Em Paris, descobri a doce vida disponível para uma mulher rica. Em comparação, o casamento tem pouco que o recomende.
— Disseram-me que você era lá uma das líderes dos círculos de artes. Deve ter sido fascinante.
— Sim, fascinante, educativo e emocionante. E às vezes, deliciosamente impróprio. Paris sempre será mais livre que a Inglaterra, é claro, mas entre a comunidade artística há todo um código de comportamento.
Ela viu uma careta começar a se formar, mas ele se conteve.
— Bem, você está de volta, finalmente. O que foi feito no passado deve permanecer lá.
— Deus, Gerald, ouço absolvição? Você vai perdoar e ignorar qualquer indiscrição?
— Claro que sim, minha querida.
— Limpamos o prato? Quaisquer excessos são esquecidos?
— Certamente.
— E os meus jovens artistas, Gerald, você está preparado para ignorá-los também? Papai sabia tudo sobre Paris. Certamente ele te disse.
Desta vez, a confusão não foi fingida.
— Ele avisou, que você poderia vir para o nosso casamento, com mais experiência do que seria preferível.
— Que bem colocado. Quando você planejava resolver o problema comigo e conduzir o seu interrogatório?
Ele corou até ao último fio de cabelo.
— Eu assumi que nunca falaríamos a respeito. É indelicado fazer isso.
— Mas você contempla o casamento. Você nunca se perguntaria? Nunca seria ciumento? Pelo resto das nossas vidas, você não pretendia nunca perguntar sobre Paris, ou lançar as suas suspeitas na minha cara? O meu pai nunca teria se contido assim, nem você, eu acho. Eu suspeito que haja homens que poderiam, mas você não é um deles.
— Eu posso entender que você possa temer a minha raiva a respeito disso. Foi esse o motivo da sua recusa ontem? Eu te prometo agora, Sophia, que nunca vou perguntar sobre os seus amantes ou te censurar por ligações passadas.
— Sim, com a riqueza de Everdon e um assento na Câmara dos Lordes como meu dote, eu espero que você possa me perdoar por praticamente qualquer coisa.
— Você me insulta. O meu desejo de casar com você não se baseia em avareza e ambição.
— Em quê, então? Afeição?
— Claro.
— Por favor, vamos pelo menos ser honestos quanto a isso. Seja o que for que diga a si próprio, isto é tudo sobre ambição. Sempre foi. Eu sei disso. Eu não lhe tenho rancor por isso. Depois que Brandon morreu, eu sabia que nenhum homem poderia me olhar de novo, sem ver o mapa desta propriedade gravado no meu rosto. Nem foi a minha preocupação com as suas reações ao meu passado, que me deu motivo para recusar você ontem. Eu não vou casar com você, porque eu não quero. Você é muito parecido com ele, Gerald. Muito parecido com Alistair. Eu fui para Paris para escapar dele. Dificilmente vou me ligar a alguém como ele, pelo resto da vida.
— Você está dizendo bobagens. Eu não sou Alistair.
— Você o imitou por tanto tempo que agora parece um pouco com ele.
Sinais de aborrecimento estremeceram o seu rosto. Que batalha devia ser para ele, não deixar escapar o sarcasmo mordaz que estabeleceria o seu domínio.
— Foi errado de minha parte forçar isso hoje. Você ainda está cansada da sua viagem. Discutiremos isso em alguns dias, quando você tiver se reacomodado ao local onde está e a quem você é.
— Penso que não. Por um lado, você estará de volta a sua casa.
— Você está me convidando para sair?
— Estou aceitando com pesar, o seu desejo de partir pela manhã.
Ele se levantou e se afastou, como se a compostura fosse impossível de ser mantida, se permanecesse ao lado dela.
— Você precisa de alguém para cuidar de você, Sophia.
— Eu estive bem, sozinha, em França. Eu não sou mais uma garota, como você mesmo observou.
— Não é só isso. Não sei se alguém lhe contou, mas você pode estar em perigo.
— Eu sei tudo sobre o capitão Brutus e as suspeitas sobre a morte do meu pai. Mesmo assim, não há nenhum motivo para a sua permanência agora. Acontece que devo partir imediatamente, para nomear os meus candidatos.
Essa explicação para sua ida o aliviou.
— Sim, claro. Isso deve ser feito rapidamente. Vou providenciar tudo e acompanhá-la.
— Isso não é necessário. Eu já tenho um acompanhante. Na verdade, eu já tenho um guardião para a minha segurança. Wellington resolveu tudo.
Ele se ergueu, como se alguém o tivesse cutucado nas costelas.
— Eu não entendo. Certamente o duque teria me consultado. Quem é esse guardião que irá com você?
— Adrian Burchard.
— Ele vai acompanhá-la? Não é adequado.
— Não menos apropriado do que se você o fizesse, já que eu compartilho tanto sangue com ele quanto com você. Além disso, acho que é seguro dizer que, se o Senhor Burchard procura uma ligação com alguma mulher, ele consegue melhor que eu.
Ele teve o bom senso de não concordar de imediato, mas, a sua expressão, clareou em acordo. Isso doeu mais do que ela queria admitir. Por um instante, ela realmente odiou Gerald.
— Eu não sei por que Wellington protege tanto Burchard. — Ele murmurou.
— Talvez veja algo de si mesmo em Burchard. Os homens mais velhos geralmente favorecem os jovens que possuem traços semelhantes. Mas então, você saberia disso melhor que eu.
— Ele mais do que o favorece. Wellington promoveu Burchard no Partido. Pretende que ele obtenha uma posição no Tesouro no próximo governo, com uma renda na casa dos milhares. Um prêmio bastante grande, não importa quais serviços Burchard tenha realizado ou que talento ele possua. Até Dincaster acha excessivo.
Um forte aperto, de repente pressionou dentro do seu peito, sufocando a sua respiração. Então, Adrian tinha razões pessoais para querer que esta eleição corresse de certa maneira. O seu brilhante futuro político, conforme mapeado pelo grande Wellington, dependia disso.
Não era de admirar que ele estivesse demonstrando tamanha tenacidade em ficar com ela. Ela esperava... o que ela esperava? Talvez, que ele estivesse realmente motivado pela preocupação com a segurança dela. Talvez, algo como amizade, o tenha levado a ficar.
Tinha sido um erro concordar que ele pudesse acompanhá-la aos distritos. Ele não estava fazendo isso para protegê-la, mas para controlá-la. Quanto ao que aconteceu esta manhã, bem, um homem que se parecia como Adrian Burchard, provavelmente, conhecia todos os tipos de maneiras de fazer as mulheres concordarem com ele.
Humilhação pela sua reação a esse beijo penetrou através dela, fazendo-a se sentir como uma tola. Ela sabia que ele era um homem de Wellington, mas não tinha entendido seriamente, como ele exploraria todas as oportunidades para alcançar os objetivos do seu mestre. Mas então, ele a avisou, não foi? Wellington acha que seria conveniente se eu me tornasse o seu amante.
Uma decepção surpreendente latejava sob o seu embaraço. Por um instante Gerald tornou-se Alistair, forçando-a cruelmente a enfrentar realidades desagradáveis. Ele só usa você, Sophia. Para ele, você não é nada além de um meio para um fim.
Não se ela tivesse alguma coisa a dizer sobre isso. Ela não tinha intenção de ser usada por nenhum deles, muito menos por Adrian Burchard. Ela deixaria isso muito claro para ele. Ela cortaria as conexões que tinham sido amarradas entre eles, desde daquela primeira noite em Paris.
Conexões tolas. Tentadoras e deliciosas também. A desilusão apunhalou bruscamente, penetrando o seu coração com um remorso melancólico.
Ela ficou de pé, de repente esgotada até aos ossos.
— Por favor, me perdoe, mas preciso descansar agora. Vou sair de manhã cedo.
Ele pegou a mão dela entre as suas, fazendo uma pequena vênia. Como a sua pele era gelada em comparação com o calor de Adrian. Um falso calor. Pelo menos com Gerald, sabia o que tinha.
— Eu vou vir te ver quando você voltar.
— Venha quando você quiser. Esta casa tem sido mais sua do que minha por anos. No entanto, não vou mudar de ideia sobre o casamento, Gerald. Eu nunca vou ficar reacomodada o suficiente, por estar em casa, para concordar com isso.
Capítulo 10
O sol espreitava sobre o horizonte do parque em Marleigh. Ele iluminava uma confusão de atividade na frente da casa.
Obscurecido pelas sombras profundas na floresta que flanqueava o caminho, um homem observava os preparativos para a viagem da duquesa. Os criados saíam correndo da casa com a bagagem, que outros empilhavam em uma grande carroça e amarravam à enorme carruagem que exibia o brasão de Everdon. Um cavalheiro alto, com uma aparência um tanto estrangeira, descansava serenamente contra uma carruagem aberta, enquanto o caos chovia ao seu redor.
O observador estreitou os olhos no cavalheiro que aguardava e um aborrecimento atravessou a sua mente. Ele não esperava que a duquesa providenciasse esse tipo de proteção especial. Os seus próprios planos teriam que mudar agora.
Ele se acalmou, considerando como isto poderia ser uma bênção disfarçada. Alguém encarregado de proteger a duquesa, reconheceria o perigo de maneiras que a duquesa poderia não fazer sozinha, e a ajudaria ver a sua vulnerabilidade. Ela não era forte e seria mais flexível se estivesse com medo. Quanto mais cedo ela se sentisse desamparada, melhor. Esse tinha sido o objetivo ao anunciar, com aqueles panfletos, que o capitão Brutus estava de volta, afinal de contas.
Um moço saiu da casa com três cachorros grandes, acompanhado de cercados com gaiolas. Os empregados que tinham acabado de amarrar tudo na carroça deram uma olhada para os recém-chegados, fizeram pantomimas de exasperação e começaram a desamarrar o lote inteiro novamente.
Uma pequena figura vestida de preto saiu da casa, acenando com a mão, chamando atenção. Umas poucas ordens femininas emanaram da brisa para a floresta. Um lacaio tentou falar com a duquesa, mas ela marchou para a sua carruagem.
Do seu ponto escuro nas árvores, ele observou a exibição imperiosa. Não era a primeira vez que ele via a pequena Sophia interpretar a duquesa, desde o seu retorno. Ele tinha testemunhado isso, das suas sombras ocultas, no cais em Portsmouth e na estrada, enquanto ela viajava para Marleigh e até mesmo no dia em que todos os senhores tinham descido. Sim, Sophia poderia parecer bastante formidável se tentasse.
Não importava. Ele a conhecia muito bem, de uma maneira que ninguém mais sabia. Ele teria o seu caminho até ela. Ela faria o que ele quisesse.
Ele sabia que ela voltaria quando o pai morresse. Voltaria para ele, para ajudar a sua demanda.
Quão conveniente era que o irmão dela também tivesse morrido. Agora ela o ajudaria a conseguir o que era necessário, quer ela quisesse ou não. Ele teria justiça e ela pagaria a antiga dívida que tinha.
A primeira carruagem saiu. A carruagem aberta, agora cheia de empregados, seguiu-a. A carroça estava na retaguarda. Com uma comitiva como essa, a duquesa faria um progresso lento e seria fácil de encontrar.
Ele caminhou pela floresta até onde havia deixado o seu cavalo. Era hora de Sophia aprender o que realmente significava vir para casa.
— Eu preciso lhes dizer o que penso. Eu não vou gostar de ser linchado se não avisar. — Frustração tingiu a declaração enfática de James Hawkins.
Ele repetiu as preocupações dos outros três Ministros do Parlamento da Cornualha, que Sophia havia nomeado neste dia.
A duquesa deu a Hawkins um sorriso simpático. Adrian observou que tinha sido um dos poucos a aparecer no rosto dela o dia todo. Ela estava nervosa desde que deixara Marleigh.
A partida em si tinha sido uma confusão. Adrian sabia que ela não viajava com pouca bagagem, mas o desfile da carruagem grande, da carruagem dos criados e dos vagões carregados com gaiolas de animais, provava que ela tinha pouca experiência com logística. Quando finalmente saiu da casa e mandou abruptamente para que todos saíssem, estava muito certo de que ela tinha perdido a noção do quê e de quem estava empacotado. Dado que, ela insistiu que ele não interferisse, ele não se sentiu obrigado a mencionar várias omissões gritantes.
Tinha sido à tarde, quando tudo chegou a Lyburgh. Determinada a manter a sua agenda, a duquesa deixou os servos e carroças na cidade e continuou imediatamente para os distritos próximos.
Agora, em vez de se retirar para descansar para a viagem de amanhã, convidara Hawkins a se juntar a ela para um jantar, na pousada em Lyburgh, onde a sua comitiva tinha sido deixada mais cedo. Ela nem sequer tinha visitado o seu quarto primeiro, por isso não sabia da surpresa que a esperava lá.
O jovem, loiro e bonito, Membro do Parlamento ficou impressionado e encantado pela sua patrocinadora tê-lo honrado.
Ele agora pegava em seu cordeiro e comia com seriedade. Durante vinte minutos, o jovem esteve regalando a duquesa com histórias imponentes sobre o clima tenso da população.
Ela se sentou na mesa do lado oposto a Hawkins, na sala privada onde todos comeram, dando ao jovem inexperiente, a sua atenção.
Toda a sua atenção.
Adrian se arrepiou. A sua atitude em relação a ele tinha sido fria e distante o dia todo. As suas horas na carruagem foram muito silenciosas. Parecia que eles nunca tinham feito aquele passeio e construído aquela ponte.
O próprio Hawkins, espicaçou ainda mais, o aborrecimento de Adrian. O jovem tinha aproximadamente a mesma idade que os membros do Ensemble, presentes e passados. Na melhor das hipóteses, tinha apenas um ou dois anos fora da universidade, ele era filho de uma família local e, sem dúvida, esperava ser primeiro-ministro um dia.
— Você terá que explicar que está avaliando as várias posições sobre a reforma e fará o julgamento no devido tempo. — disse Sophia com um sorriso doce.
— Não tenho a certeza se vai funcionar, Sua Graça.
— Vai ter que funcionar. É a verdade, não é?
Hawkins parecia confuso com a pergunta, assim como ele estava. O seu próprio julgamento não tinha nada a ver com isso.
— Qual é a sua opinião sobre tudo isto até agora, senhor Hawkins? — Ela perguntou. — Eu valorizo isso, já que você esteve no meio das coisas enquanto eu estive no exterior. Não, não busque permissão do senhor Burchard para falar o que pensa. Estou sinceramente interessada no que você tem a dizer e não será usado contra você.
Hawkins corou e deu a sua resposta.
Adrian esperava que ele escolhesse a errada, o que é claro que ele fez.
— Bem, Sua Graça, não tenho a certeza se isso pode ser evitado. Recolocação, quero dizer. Eu realmente tenho um adversário na eleição. Ele defende a reforma solidamente e pode vencer.
— Bobagem. — Interrompeu Adrian. — Há apenas trinta eleitores em sua cidade e vinte desses homens cultivam terras arrendadas de Everdon. O seu assento está seguro.
— É assim que se supõe que funcione, mas tem havido muita conversa aqui na cidade e muitos panfletos circulando.
Hawkins levou a mão ao bolso e retirou uma pilha de papéis dobrados.
— Eles têm uma maneira de inflamar as pessoas.
Sophia desdobrou as três páginas e examinou-as com uma sobrancelha franzida. Ela parou na segunda. Adrian notou o nome do signatário. Capitão Brutus.
Ele puxou-o junto com os outros, por baixo de sua expressão, de repente congelada.
— Mais bobagem — disse ele, colocando-os em seu casaco. — O seu distrito votará em você. A menos que você planeje exercer uma independência indecorosa quando assumir, a sua posição permanecerá segura. Quanto a qualquer consideração que você possa ter dado a essa medida, recordo-lhe que, durante o último Parlamento, o vosso assento foi um dos designados para a abolição.
O jovem deputado, na verdade, tinha o bastão para provocar alguma indignação.
— Com certeza, Burchard. Ainda assim, um homem tem um cérebro e uma alma, não importam quais sejam as suas dívidas. Há momentos em que o bem maior...
— Deixe os outros com mais experiência julgarem o bem maior.
— Chega, senhores — disse Sophia. — Por agora não decida nada, senhor Hawkins. Eu ainda devo me educar sobre esta questão e ainda não decidi como os meus parlamentares deverão votar.
Ela deu um sorriso derretido para Hawkins.
— Deixemos de falar sobre política. Fale-me sobre você. Tem algum interesse especial além do governo? — Ela estendeu a mão e deu um tapinha no braço dele.
O olhar de Hawkins deslizou para o gesto informal. De repente, ele parecia muito mais um homem do que um rapaz qualquer.
Possibilidades apareceram imediatamente atrás dos seus olhos azuis claros.
— Eu tenho uma grande paixão pelas artes literárias, Sua Graça.
— Um interesse acadêmico?
— Confesso que me dedico à poesia.
O rosto de Sophia se iluminou de admiração. Hawkins bebeu. Adrian praticamente podia ouvir o jovem calculando, que a duquesa era uma mulher atraente e mundana, com a qual um caso, seria atraente e vantajoso.
— Você deve me deixar ler algumas das suas poesias. Quando formos a Londres para as sessões, espero que você me visite e as leve com você. — disse ela. — Qual forma você prefere? Sonetos? Épicos?
Eles embarcaram num diálogo de poetas e poesia, de rimas e métricas. Adrian bebeu o seu vinho, observando como um acompanhante intruso. Sophia esqueceu que Adrian existia, mas Hawkins não. Ele olhava de relance, de vez em quando. Hora de se retirar, meu velho, aqueles olhares arremessados diziam você sabe como é.
Sim, ele sabia. Ele leu Hawkins como um livro aberto e pôde ver a familiaridade de Sophia transformando, uma especulação vaga, em uma decisão ousada. A crença, de que ele poderia se tornar amante da duquesa de Everdon antes do amanhecer, brilhava nos olhares cintilantes que Hawkins lhe dirigia.
O inferno que você vai, garoto.
Os três mastins dormiam na lareira. Adrian deixou cair o braço e, silenciosamente, estalou os dedos.
De repente acordados, eles se levantaram em formação. Eles começaram a circular a mesa, olhando os restos.
A comitiva canina interrompeu uma longa discussão sobre Coleridge. Sophia repreendeu os cachorros sem sucesso.
— Parece que eles querem sair — disse Adrian. Com a última palavra, eles se aproximaram dela com entusiasmo. — Eles ficaram longe de você o dia inteiro e estão com ciúmes. Eu iria levá-los, mas não acho que isso vai acalmá-los.
A sua carranca quebrou quando os seus filhos exigentes babaram com a alegria da sua atenção. Com um suspiro de mãe, ela se levantou.
— O senhor Burchard está certo, você deve me desculpar, senhor Hawkins. Eu sempre dou um passeio com eles à noite. Ainda há um pouco de luz, então é melhor que eu faça agora. — Ela foi buscar as coleiras em um banco perto da lareira. — Só iremos na rua e logo voltaremos, Yuri. Sintam-se à vontade para fumar, senhores. — Com os cães lutando pela liberdade, ela saiu para fora da sala.
Ele sabia qual quarto era o dela. Enquanto a sua comitiva desfez as malas e se acomodou na estalagem, se juntou a eles, como mais um corpo anônimo movendo-se na confusão, com o chapéu abaixado e botas arranhadas com a sujeira. Os criados da estalagem presumiram que ele estava com a duquesa, e os criados da duquesa pensaram que ele trabalhava na hospedaria e ninguém lhe dera mais do que um olhar passageiro.
Ele estava de pé, embaixo dos beirais laterais do estábulo, esperando no crepúsculo crescente. Através de uma janela mais baixa, ele podia ver o rosto dela na mesa e os perfis dos dois homens.
Ela deveria se recolher em breve.
A sua bota bateu no saco no chão. Hora da Sophia descobrir, que o homem que reivindicou o seu coração e alma, em primeiro lugar, estava muito próximo.
Um movimento chamou a sua atenção. Sophia se levantou e saiu da mesa. Ele esperou que os seus companheiros fizessem o mesmo.
A porta da estalagem se abriu e Sophia saiu para o crepúsculo. Ela não estava sozinha. Três cachorros enormes avançaram à frente, puxando as coleiras, puxando-a para a rua.
A tentação de a seguir entrou em sua cabeça. Ela estaria sozinha e vulnerável.
O seu bom senso rejeitou a ideia. O mesmo aconteceu com a presença desses cães. Não, ele esperaria e continuaria isso, de acordo com os pequenos passos que planejara. O observador invisível era mais enervante do que o assaltante. O medo lhe daria mais poder do que qualquer ataque poderia e o seu objetivo final não era realmente ela. Ele tinha que se lembrar de manter essas coisas separadas.
Ele se acomodou contra a parede do estábulo para esperar, mas o impulso de a seguir não foi embora. Imaginou-a tropeçando pelas ruelas silenciosas e viu-se seguindo-a, arrastando-a para um beco e liberando toda a fúria, que construíra durante todos esses anos, contra ela.
As possibilidades o excitavam, tentando-o a ceder à raiva fria em seu sangue. A amargura fez com que ele esquecesse o jogo maior em favor de alguma satisfação pessoal.
Hawkins acendeu um charuto e assumiu o comportamento de um homem satisfeito, aguardando o seu tempo.
— Eu acredito que o passeio da duquesa será mais longo do que ela pensa. Os cães esperam por uma boa caminhada. — aconselhou Adrian.
— Há a lua, se eu precisar voltar quando o anoitecer cair.
Adrian serviu a ambos um porto.
— Eu admiro a sua autoconfiança. Na sua idade, eu ficaria menos à vontade com a ideia.
Hawkins sacou o charuto de uma maneira arrogante.
— Bem, eu tive muita experiência.
— Invejo a sua precocidade. Eu era alguns anos mais velho que você quando tive o meu primeiro caso com uma francesa, um contraste com a experiência que você está demonstrando.
— Francesa? A duquesa não é francesa.
— Oficialmente não, mas ela mora em Paris há oito anos.
Uma pequena carranca marcou a sobrancelha perfeita de Hawkins.
Adrian esticou as pernas e gesticulou com o charuto através da nuvem de fumaça.
— A primeira vez foi um choque para mim. Claudette, era o nome dela. Um anjo na sala de visitas. Quem teria pensado que ela poderia ser tal mestre na cama? Mas então, você sabe tudo sobre isso, não é? Eu acho que os seus amantes franceses as estragaram, não concorda?
— Hum, bem...
— Nada mais que exigências. Eu nem sabia o que ela estava fazendo metade do tempo. A parte realmente desconcertante era ser comparado. Sempre se suspeita disso com uma mulher experiente, mas pelo menos as inglesas são discretas, não comentam nem suspiram por isso.
Hawkins ficou inquieto.
— Claro, Claudette era realmente francesa e o seu inglês imperfeito poderia ter algo a ver com a sua franqueza. Presumivelmente, uma mulher fluente na nossa língua, seria capaz de expressar a sua decepção com mais tato.
Hawkins sorriu fracamente.
— Sem dúvida.
— Sim, admiro a sua desenvoltura, especialmente porque você lidará com a duquesa a longo prazo. Lembro-me de um alívio incalculável quando a família de Claudette foi chamada de volta à França. Estou completamente impressionado, Hawkins. Eu não tinha ideia de que você era um homem do mundo. — Ele pescou no bolso e retirou os panfletos.
— Agora, me fale sobre este panfleto. Este, assinado por um Capitão Brutus.
Hawkins afastou qualquer preocupação que o distraía, enquanto analisava o panfleto.
— Um novo nome. Eu duvido que seja um local — ele disse, devolvendo. — Mais virulento que os outros. A última linha causou muita conversa. Se os aristocratas não compartilharem o poder, este deve lhes ser retirado. Maldito tom revolucionário, não é? Ouvi dizer que no Norte há muitas situações desse tipo, mas não na Cornualha.
— É verdade, mas a Cornualha tem mais do que a sua parcela de distritos. Que tipo de conversa isto levantou?
— Mais concordância do que se gostaria. As emoções estão correndo alto aqui. Todo o país é um barril de pólvora.
— Quando é que isto apareceu?
— Alguns garotos estavam postando isso hoje na cidade. Eles disseram que um homem os chamou a um beco e lhes ofereceu três penny a cada.
— Hoje?
O capitão Brutus esteve nesta cidade, neste mesmo dia.
Amaldiçoando-se, Adrian saltou da cadeira.
Ele estava a meio caminho da porta quando esta se abriu. Sophia tropeçou, arrastada por Yuri e os seus eufóricos irmãos.
Lentamente, bem devagar, o coração de Adrian voltou ao ritmo normal.
— Temo que demorei mais do que esperava — disse ela, puxando os cachorros. — Eu levá-los-ei para o meu quarto onde estão as gaiolas. Termine o seu charuto, Senhor Hawkins. Podemos continuar em um instante.
Ela desapareceu novamente.
Adrian rangeu os dentes. Ela realmente convidara Hawkins para ficar. Bem na frente dele.
— Se você me der licença, eu vou me retirar. — disse ele.
— Não faça isso... isto é, você não acha que seria impróprio? Se ela vai voltar...
Ele seria amaldiçoado se assistisse isto se desenvolver.
— Eu deixarei o campo livre para você. No entanto, se você tomar liberdades indesejadas, farei com que deseje nunca ter nascido.
O aviso saiu um pouco incisivo.
Hawkins ficou vermelho.
— Eu tenho que sair. Não tem muita lua esta noite e, com aqueles panfletos, poderá haver problemas na estrada mais tarde.
Vendo que a sua tacada encontrou o lugar, Adrian não pôde resistir a torcer.
— Eles não têm argumentos contra você. Além disso, se tudo se desenvolver como você espera, estará ocupado até ao amanhecer.
— Amanhecer? Ah, sim, mesmo assim, eu não gostaria desgastar a minha chegada.
— Não tenha medo disso. A duquesa lhe convidou para ficar. — Ele segurou com firmeza o ombro de Hawkins. — Deixe a Inglaterra orgulhosa, meu caro.
Hawkins foi em direção à porta.
— Ela deve descansar, tem outros distritos a serem visitados. Você vai lhe dar as minhas despedidas, não vai?
Ele apressou-se para fora da sala.
Adrian esperou a volta de Sophia. Não importava quais fossem as suas intenções com Hawkins, ela voltaria. Por um lado, agora mesmo, ela estava descobrindo a surpresa em seu quarto.
Em pouco tempo, a estalagem tranquila soou com pés femininos pisando nos degraus. A porta se abriu e uma coluna furiosa de crepe preto, tremeu no limiar. Ela parecia absolutamente deslumbrante, quando os seus olhos verdes brilhavam assim.
Ela o encarou com um olhar acusador.
— Onde está Jenny?
— Onde você a deixou, espero.
— Deixei-a aqui esta tarde com a outra carruagem e a carroça. Mas ela não está no meu quarto e nada foi arrumado. A gaiola de Camilla também está vazia, mas se ela tivesse saído, eu teria visto quando andei com os cachorros.
— Você realmente a deixou, mas não aqui. Ela está de volta a Marleigh.
— Não seja absurdo. Ela estava com os lacaios na outra carruagem quando partimos.
— Tenho certeza de que ela não estava. Ela subiu para buscar Camilla e você pediu que a sua comitiva partisse antes que ela retornasse.
Sua testa franziu enquanto buscava isso em sua memória. Ela se aproximou e olhou para ele.
— Você sabia. Por que não disse alguma coisa?
— Você deixou claro que eu não devia interferir. Quando um dos seus lacaios tentou explicar e você não quis ouvir, presumi que havia decidido, no último momento, não levar Jenny e Camilla. — A sua irritação com Hawkins levou a melhor sobre ele. — Afinal, você dificilmente poderia iniciar uma conexão com um homem se Jenny dormisse em seu quarto.
— Você se atreveu a manipular isto, para que eu não tivesse a minha criada comigo?
Ela tinha entendido mal. Pensou que ele se referia a uma conexão consigo mesmo, não com Hawkins.
Por outro lado, ela entendera muito bem. Ele tinha considerado as possibilidades provocativas apresentadas com esta viagem.
A evidência de que ela também as reconhecia levantava uma aresta sensual na sua irritação com ela. Ela nunca pretendera fazer de Hawkins o seu amante. Ela só estava usando o jovem Ministro do Parlamento, assim como usara o seu humor frágil durante todo o dia, para criar um escudo.
Ele segurou o olhar cauteloso dela com o seu, deixando-a ver que ele entendia, apreciando o seu crescente desconforto mais do que era justo. Esta vulnerabilidade especial, dificilmente incitava a resposta protetora, que ele frequentemente sentia por ela. Surgiram inclinações muito diferentes e ele não fez nada para suprimi-las.
Eles tinham acabado de cruzar a linha e ele não fingiria o contrário.
Capítulo 11
Ela soube, assim que as palavras deixaram a sua boca, que tinha cometido um erro. O seu olhar aguçou com uma expressão de parar o coração, que deixou muito claro, que ele era um homem e que ela era uma mulher, que pensava que ele queria dormir com ela. Foi um grande erro tornar isso explícito. Ela, estupidamente abriu uma porta, e ele não parecia inclinado a deixá-la fechar novamente.
Os seus olhos ardiam com um calor sincero.
— Quando falei de uma ligação, me referi ao nosso membro mais jovem, não a mim.
Ela se afastou com um rosto escaldante. Parecia que o corpo dela era de ferro e que ele era um ímã.
— Não importa quem você quis dizer, foi extremamente presunçoso da sua parte me deixar viajar sem a minha criada.
— Dado que, presunção, era a repreensão favorita do conde em minha juventude, eu não morro de amores pela palavra. Não a use comigo de novo, a menos que você queira ver como eu posso ser presunçoso.
A sutil ameaça enviou uma desanimadora onda de excitação pelo seu corpo.
— Você tem ultrapassado o limite desde o início e muito mais esta noite. Deve ser o porto.
— Tendo acabado de vê-la com Hawkins, concluí que fui muito tímido.
Ela se virou para ele.
— A sua insinuação é insultante. Eu estava mantendo uma simples conversa.
— Ele pretendia mais do que uma conversa e você sabe disso.
— Porque eu não deveria gostar da atenção dele? Você acha que ele se forçou a me lisonjear, apenas por interesse próprio? — Como você.
— A busca de uma mulher por um homem contém um interesse essencial, e não acho que Hawkins teve que se forçar. Penso desde o início que fazer amor com você seria muito agradável. Eu diria que ele chegou à mesma conclusão. Com o seu encorajamento.
O anúncio dos seus pensamentos foi exposto diretamente. Desde o começo, ele sempre falara com ela com um desconcertante tom, de homem para mulher, mas esta noite a sagacidade casual tinha sido abandonada.
— Onde ele está? — Ela sentiu a necessidade da proteção de outra pessoa. Qualquer um serviria.
— Ele se sentiu obrigado a sair.
— O que você lhe disse?
— Nada para acelerar a sua partida. Aliás, o oposto.
— O que você disse?
— Eu o lembrei que você pediu para ele ficar. Ah, sim, lembro-me de que também o admoestei deixar a Inglaterra orgulhosa.
— Para deixar a Inglaterra orgulhosa?
— Considerando o sabor internacional das suas diversões em Paris, não queremos que você fique desapontada com o seu próprio compatriota.
Ele caminhou em direção a ela. Ela quase pulou para fora da sua pele.
— O que é esse fascínio que você tem por garotos que mal saíram da escola, Duquesa? Eles parecem seguros para você? Controláveis? Você pode dar apenas o que quer e eles são muito inexperientes para compreender o que você retém?
A sala se mexeu. Não, ela se mexeu. Ela recuou instintivamente. Bateu em um banquinho e quase caiu.
Ele foi ajudá-la, mas ela se endireitou e correu para longe do seu caminho.
Ele reagiu à sua angústia desajeitada, com um sorriso devastador. Ela tentou manter alguma aparência de dignidade, enquanto se afastava da sua abordagem sinuosa.
— Os meus fascínios são da minha conta. Ou você pretende administrar a minha vida amorosa agora também?
— Isso é exatamente o que pretendo.
Agora, isso foi direto. O seu flerte com Hawkins provavelmente forçara o seu avanço.
Ela cravou os calcanhares e ficou em ereta. Ele avançou, até que apenas uma polegada os separava, e ela podia sentir o cheiro do sabão que ele usava. A teimosia a fez se endireitar.
— Agora você realmente está sendo presunçoso.
— Apesar do meu aviso, você me provoca novamente com essa acusação, quando o meu comportamento até agora, tem sido tudo menos presunçoso.
— Você pode dizer isso com uma cara séria? Desde o momento em que você entrou em minha casa em Paris, você me envolveu em uma onda de interferência arrogante, tirânica e presunçosa.
— Eu tenho sido uma fortaleza de contenção naquilo que importa.
— Você não acha que onde eu moro importa? Você não acha que ser levada para fora da minha casa como um tapete não importa?
— Eu acho que estamos falando de outras coisas. Por exemplo, a verdadeira presunção seria tomar você agora em meus braços e beijá-la novamente.
Os seus olhos se estreitaram.
— Não se atreva. — As palavras saíram uma por uma, numa clara enunciação.
— Depois de um desafio como esse, acho que devo me atrever.
Ela podia ter fugido. Ele hesitou apenas tempo suficiente para ela pará-lo, mas ela decidiu, que a única maneira de acabar com o seu jogo desonroso, era deixando-o beijá-la novamente e não mostrar nenhuma reação.
Esse era o plano, pelo menos.
Força e calor a envolveram. Os dedos dele puxaram os seus cabelos para posicionar a sua cabeça. A pressão decisiva dos seus lábios e o comando do seu abraço assumiu o controle.
Este não era o beijo do jardim, nem mesmo o do parque. Magistralmente, deliberadamente, ele atraía a paixão, de onde quer que estivesse escondida dentro dela. Com uma ganância que a surpreendeu, o vazio da solidão aceitou a oferta de intimidade, sem se importar com o custo. A sua alma gemeu de alívio, como se uma longa sede estivesse sendo saciada. A sua compreensão segura das suas motivações, diminuiu rapidamente, eclipsada pelo brilho maravilhoso do prazer que ele despertou.
Dentro de instantes, ela não possuía controle sobre nada disso. Ela não encorajou nem negou, mas definitivamente reagiu. Quando o beijo se aprofundou e ele exigiu mais, o seu corpo concordou. Ela permitiu a surpreendente e invasiva união, que significava que nunca poderia mentir sobre esse beijo no futuro.
Se pudesse continuar assim, ela teria aceitado receber essa conexão para sempre. Render-se a essa felicidade inocente, respirar a essência de outra pessoa e se aquecer na luz dela, criava uma felicidade que apagava todas as lembranças e realidades desagradáveis. Ser desejada, por qualquer motivo, acalmava as fomes mais antigas, de uma maneira que a dominou.
Ele quebrou o beijo, mas puxou-a para mais perto. Com a palma da mão na bochecha e o polegar acariciando os seus lábios, ele olhou para baixo com um calor de parar a respiração. Se ele a beijasse novamente, ela não teria forças para detê-lo.
— Uma presunção ainda maior, seria escoltá-la até ao seu quarto e não a deixar na porta como pretendia.
O aviso era, na verdade, um pedido indireto. Ao exigir que ela escolhesse, ele jogou uma tábua de salvação no rio turbulento das suas emoções. Com gratidão, ela a pegou.
— Ainda bem que você não é um homem presunçoso.
Os seus lábios roçaram os dela suavemente.
— Essa não era a resposta que eu esperava.
— É a que eu tenho para lhe dar.
— Pena. Eu esperava descobrir o que estava por baixo de todas essas camadas.
— Apenas um corpo normal. Você sem dúvida sabe disso.
— Eu não me referi a camadas de anáguas. Eu já vi o que está debaixo delas. — Ele a soltou. — Se você está determinada a impedir a minha grande conquista, é melhor ir dormir um pouco. Amanhã será um longo dia.
Para um homem que acabara de ser rejeitado, ele estava levando muito bem. Melhor do que ela.
Ele estendeu a mão naquele modo de comando dele. Ela forçou o seu corpo a não tremer, enquanto deixava que ele a levasse da sala e até as escadas da estalagem silenciosa e adormecida.
Eles pararam na frente da porta dela. Ela quase desmoronou de alívio quando ele não fez nenhum movimento para entrar. Pelo menos, ela disse a si mesma, que a emoção que chegava até aos dedos dos seus pés era alívio, mesmo que parecesse um pouco como decepção. Ela nervosamente apertou a chave na fechadura.
— Parece que, com a ausência de Jenny, finalmente encontramos um papel para mim em sua comitiva.
Ela congelou com uma cautela renovada.
— É uma má forma para você conseguir isso. Nós não seremos amantes. Wellington terá que ser desapontado.
— Eu quis dizer o papel de criada da senhora.
— Vou encontrar uma funcionária da estalagem para ajudar.
— Todos eles já foram para a cama.
— Eu posso lidar com isso sozinha.
— Se sim, você é a única mulher que pode. — Ele firmemente a virou para encarar a porta. Dedos ágeis encontraram o fechamento de seu vestido e o tecido preto se afrouxou.
— Eu disse que posso fazer isso — repetiu ela desesperadamente, torcendo para escapar. Ele a empurrou de volta no lugar até que ela pressionou as tábuas de carvalho da porta.
Parte por parte, com lentidão excruciante, ele afrouxou as pregas do vestido. O calor das suas mãos permeava a fina camada embaixo. Ela tentou dar voz à indignação, mas sensações vibrantes, cheias de desejos proibidos e antecipação, emudeceram a sua voz.
Finalmente, o vestido se abriu das costas até aos quadris. Ela estendeu a mão e tentou fechá-lo.
— Então agora você vê o que está embaixo das camadas. — Ela disse nervosamente, mexendo na chave da porta com a outra mão.
Uma carícia maliciosa serpenteou a sua espinha.
— Eu nunca esqueci a pele pálida e macia ou as curvas agradáveis que eu carreguei em meus braços.
Ela tremia tanto que parecia que o corredor tinha tremido. A maldita chave estava grudada.
— Você tem vantagem sobre mim novamente, dado que eu estava inconsciente.
— Você não está inconsciente agora.
Isso era um eufemismo. Ela estava desajeitada, embaraçada e estranhamente alerta. As suas costas o sentiam como se ele estivesse pressionado contra ela, embora houvesse um espaço entre eles.
Ele se aproximou e o espaço ficou ainda menor. Ele deslizou o vestido por seu ombro e inclinou-se para beijar a carne exposta. O calor dos seus lábios enviou ondas de prazer pelo seu sangue. Apenas os seus braços a segurando, a mantinham em pé.
Ele virou a boca para o pescoço dela. Prazer hipnotizante a atravessou em pequenos toques quentes. A sua aura magnética a atraiu, esperando a um centímetro de distância. A tentação de afundar em sua força confiante quase a derrotou.
Ela fechou os olhos e saboreou a glória por um momento, depois cerrou os dentes e se afastou, torcendo-se e girando para encará-lo.
— Inconsciente ou não, você ainda tem a vantagem e não é justo usá-la contra mim. E se alguém sair de outro quarto e me vir assim?
— Então abra a sua porta e entre.
— A chave está presa.
Ele pegou e cutucou a fechadura. Claro que virou de uma só vez. Ele empurrou, a porta abrindo.
— Não vai entrar — disse ela. — Eu não quero você. — Uma mentira. Uma mentira lamentável.
— Eu nunca tive muita paciência com os jogos que acompanham estas coisas. Por algum motivo, não vai me deixar fazer amor com você hoje à noite. Mas você me quer, talvez, quase tanto quanto eu a quero.
— A sua autoconfiança é extremamente presunçosa.
— Pelo menos eu sou um homem presunçoso e não um menino presunçoso. Teremos que encontrar uma maneira de superar o seu medo disso.
Ele se afastou. Forçando o coração dela para fora da sua garganta, ela recuou, segurando o vestido e ficou de costas.
A humilhação a inundou assim que a porta se fechou. Tanto pela mulher do mundo sofisticada. Em vez de colocá-lo em seu lugar, ela tinha se atrapalhado e agido como uma colegial.
Mas, que o céu a ajudasse, ela não sabia que ele seria tão ousado. Ou tão implacável. Nem que a sua atração por ele a deixasse tão fraca. Isto não era como os seus flertes em Paris. Este homem despertava desejos que ela nunca esperou conhecer.
A excitação obscureceu a realidade e a razão. O prazer submergiu os seus ressentimentos do motivo pelo qual ele a perseguia. Nada além de desilusão a esperava se ele conseguisse o que queria. Ela não podia deixar isso acontecer de novo.
Havia apenas uma maneira de garantir que não.
Capítulo 12
Eles fizeram amor na areia branca à beira do mar. Seda vermelha formava o mar, voando levemente contra eles, como se o ar criasse suas ondas. Uma tenda de céu azul-turquesa se estendia acima, emoldurando o rosto de Sophia. Nuvens de ouro pairavam no alto.
O prazer umedeceu seus olhos e a alegria suavizou a sua boca. Ela se inclinou para que ele pudesse lamber as pontas dos seus seios. Seus suspiros de desejo ansiosos vieram em um ritmo rápido que combinava com a velocidade dos seus impulsos. Ele acariciou as suas coxas e quadris. Agarrando a sua cintura, ele pressionou seu corpo perto e inclinou-se para o final. O seu grito perfurou a felicidade e destruiu o mundo ao seu redor...
Os olhos de Adrian se abriram. Um coro intenso de latidos de cachorro assaltou os seus sentidos desorientados.
O grito foi real. Um grito de choque, não de êxtase.
Ele saiu da cama e vestiu as calças, camisa e botas. Ele abriu a porta e instantaneamente encarou as costas de dois lacaios vestidos com a farda de Everdon. Os rosnados dos cães atrás da porta de Sophia desencorajavam qualquer investigação.
— Ouvimos o vidro quebrar e o grito dela — explicou um deles. — Alguém deveria entrar, você não acha? — Ele se afastou, deixando claro que ele é que não iria ser.
Uma das empregadas da pousada se agitou perto das escadas.
— Ela me pediu para arrumar o seu vestido, depois me mandou acordar o cocheiro e os lacaios — disse ela. — Eu não vi ninguém, senhor.
Adrian abriu a porta e entrou no quarto de Sophia. Os mastins estavam a meio caminho de sua garganta antes de reconhecerem o seu cheiro. Eles se acalmaram imediatamente e apertaram as suas pernas, exigindo ordens para matar alguém.
Uma maleta aberta estava sob uma janela quebrada cujos cacos restantes pendiam como dentes. O vidro lascado cobria o chão. Sophia estava sentada na cama com o vestido preto da noite anterior, segurando um pedaço de pano no braço. Ela virou os olhos arregalados e aterrorizados para ele.
Ele se aproximou e afastou a mão dela. Com um aperto firme, ele rasgou a manga dela. O sangue escorria livremente de um corte perto do ombro. Ele limpou com o pano e depois pressionou contra a ferida.
— Você está compreensivelmente assustada, mas está a salvo agora. Mesmo com todo esse sangue, não é um corte ruim. Diga-me o que aconteceu.
Ela gesticulou em direção ao canto da câmara. Uma pedra de bom tamanho estava lá.
— Alguém arremessou pela janela. Não me acertou. Eu fui cortada por um pedaço de vidro que voou.
Uma mistura de raiva e preocupação o invadiu.
— Você poderia ter sido gravemente ferida. Se estivesse debruçada sobre a mala, os vidros teriam chovido sobre você. Se estivesse na cama como deveria estar a esta hora, não teria se machucado de jeito nenhum.
— Bem, eu não estava na cama.
— Não, você estava de pé e fazendo as malas às três horas da manhã. Os seus lacaios estão vestidos para viajar, assim como você.
— Eu não consegui dormir. Como há lua, decidi aproveitar bem o tempo.
— Então você despertou todo o séquito. Exceto eu.
— Você não acordou? Deus, esse é um péssimo descuido.
— O descuido foi deliberado e nós dois sabemos disso.
Ela olhou para ele, empurrou a sua mão e pegou o pano dele. Ela empalideceu quando viu quanto sangue havia absorvido.
— Parece pior do que é — ele garantiu novamente. Ele deixou que ela cuidasse de si mesma por enquanto e caminhou até a pedra.
Havia um papel dobrado amarrado a ela. Uma letra. Ele examinou a assinatura. Capitão Brutus.
A nota carregava um tom familiar. O seu autor instava a duquesa a ver a luz e a incentivava a apoiar não apenas a reforma parlamentar, mas também o sufrágio universal. Ele repreendia-a por hesitar em usar o seu novo poder para o bem maior. Ele se dirigiu a ela como Doce Sophia, concluiu com uma afeição indecorosa e alegou presumir a comunicação por causa de sua velha amizade.
Em nenhum lugar continha ameaças, mas o capitão Brutus deixava a duquesa saber que ele estava de volta, que a estava vigiando e que machucá-la seria fácil.
Ele deu-lhe a carta.
— Eu duvido que o seu atacante ainda esteja por aqui, mas irei verificar para ter certeza.
Ele fez uma inspeção nas ruas próximas, mas Lyburgh estava em silêncio. Nenhuma evidência de que o Capitão Brutus pudesse ser encontrado.
Ele voltou para o pátio de carruagens da estalagem. A grande carruagem de Everdon estava pronta, com seus cavalos nas rédeas. O cocheiro descansava na porta aberta.
— Onde está a outra carruagem? E a carroça? — perguntou Adrian.
O cocheiro gemeu.
— Ela também está querendo eles agora? Se assim for, isso nos atrasará. Só para ela saber.
— Na verdade, ela não vai querer nenhum deles. A duquesa mudou de ideia e vai esperar até a manhã.
Balançando a cabeça diante da inconstância das mulheres, o cocheiro se arrastou até aos cavalos principais e começou a desfazer todo o seu trabalho.
Dentro da estalagem, Adrian encontrou os dois lacaios esfriando os calcanhares na sala.
— Vocês ficarão aliviados ao saber que Sua Graça não foi gravemente ferida. — disse ele. — Onde estão os outros?
— A criada da taberna acordou apenas nós. Só nós, ela deixou isso bem claro. Tom e Harry ainda estão dormindo, a menos que o barulho os tenha acordado. — explicou um deles.
Uma carruagem e apenas dois lacaios. Livre dos veículos mais lentos, aquela carruagem podia fazer uma boa velocidade. Ele duvidava que ela tivesse planejado procurar o próximo município.
— Eu creio que a mudança nos planos dela os tenha surpreendido.
— Não é para nós questionarmos, pois não? Se a duquesa quiser sair durante a noite em vez da manhã, se quiser ir a Portsmouth ao invés de Devon, faremos isso.
— Os planos mudaram novamente. Sua Graça pensou melhor sobre essa jornada noturna.
Adrian dirigiu-se aos aposentos. A empregada ainda estava encolhida na escada de cima. Ele a mandou buscar água morna e pomada, depois voltou para Sophia.
A carta caiu no chão aos pés dela. Manchas de sangue no papel diziam que ela havia lido.
Ele pegou no pano novamente.
— Eu esperava que as suspeitas sobre o capitão Brutus estivessem erradas, mas essa carta diz o contrário. Peço desculpas por bisbilhotar, mas agora preciso que você me fale sobre ele. Qual é o nome verdadeiro dele?
— Eu não sei. Ele foi condenado para a Nova Gales do Sul como John Brutus.
— Você o reconheceria?
— Ele era um jovem educado. De cabelos dourados. De altura e estatura média. Olhos brilhando com um propósito. Não sei se o reconheceria. Sete anos de servidão provavelmente trouxeram algumas mudanças.
A sua expressão tinha suavizado com uma tristeza melancólica. Um fio de ciúme apareceu na cabeça de Adrian.
— Como você o conheceu?
— Por acaso, descobri sobre ele por acidente. Eu entrei na floresta que beira a propriedade. De repente, entrei em uma clareira e lá estava ele com cinco outros jovens, como um Robin Hood. Eles estavam se preparando para um de seus ataques naquela noite, para queimar debulhadoras. Todo o condado estivera em alvoroço por semanas. Eu não era a única a achar sua lenda crescente, muito emocionante e romântica.
— Você tem sorte de ter saído dessa clareira viva.
— Ele só pediu o meu juramento de silêncio. Dois dias depois, uma nota veio até mim, sem assinatura, pedindo-me para ir ao bosque naquela tarde. Eu sabia que era dele. Mamãe tinha morrido recentemente e a minha vida estava terrivelmente vazia. Eu fui. Passamos a tarde juntos por cinco vezes no mês seguinte.
— O seu pai descobriu?
Ela assentiu.
— Ele nunca me confrontou. Nunca me pediu para traí-lo, mas ele organizou a traição de qualquer maneira. Ele me deixou saber que uma armadilha estava sendo planejada para a noite. Claro que corri para contar ao capitão Brutus. Mas eu era a armadilha. Papai e alguns outros me seguiram. Eu nunca perdoei o meu pai por me usar assim. Ele, por sua vez, produziu evidências de que Brutus estava descobrindo os movimentos dos proprietários de terras por mim, para que ele pudesse planejar os seus ataques. O Meu Robin Hood tinha uma razão para ouvir as minhas fofocas de menina. Eu acho que nunca perdoei meu pai por me tirar isso tão brutalmente, também. A lição nunca foi esquecida por mim.
Ele não duvidou disso. Dois homens que alegaram cuidar dela, a usaram para os seus próprios fins de forma ignóbil.
— Quando ele foi para ser julgado perante o tribunal de Assize10, o meu pai exigiu que eu testemunhasse. Recusei. Papai tentou me quebrar do jeito que se quebra um cavalo. Ele me assustou sem parar. — Ela encolheu os ombros. — Quando isso não funcionou, ele me bateu, literalmente.
Adrian reprimiu uma maldição, mas a sua respiração soou como se tivesse amaldiçoado.
Ele imaginou Alistair Raughley, hipócrita em seu senso de dever cívico, levantando a sua mão ou bengala para ela. A indignação chamuscou com a imagem, flamejando pelas lembranças das suas próprias surras nas mãos do conde. Durante a sua juventude, ele tinha sido o menino chicoteado da família, recebendo a punição, não importando quem instigasse as transgressões.
A ideia de que ela experimentou a mesma brutalidade, despertou algo dentro dele. As surras podiam ser a menor delas, é claro. A frieza de um pai atacava de mil maneiras sem que uma mão fosse levantada.
Uma expressão de dor cintilou, quebrando a sua compostura.
— Você está se perguntando se funcionou. Sim, funcionou. Dei o testemunho no tribunal contra aquele jovem, sobre o que eu tinha visto naquela clareira e o que ele me tinha dito.
— Ele era um criminoso e Alistair era o seu pai. Para a mente de qualquer pessoa, a sua escolha era clara.
— Eu o enviei para o inferno, Burchard.
A empregada entrou com a água. Ele a instruiu a colocá-la no lavatório e a esperar do lado de fora da porta. Ele removeu o pano e verificou o corte.
— Não parece que precisa de costura. A empregada pode limpá-lo e enfaixá-lo. Eu não acho que você precise de um cirurgião.
— Estou aliviada por ouvir isso. Eu não gostaria de me atrasar por isso.
— Se ainda pensa em sair hoje à noite, está enganada. Eu disse ao seu cocheiro que você não partirá até à manhã seguinte.
— Você não tinha o direito de fazer isso.
— Você dificilmente pode viajar com essa ferida ainda fresca e deveria descansar.
— Vou esperar até à manhã para partir, mas pretendo sair de madrugada.
— O inferno que irá. Haverá outra mudança, no entanto. Você não vai para Portsmouth, onde poderá voltar para a França. Estou mantendo você na Inglaterra, onde tenho algum controle sobre a sua segurança.
A referência à sua segurança atingiu seu ponto. Ou isso ou a aceitação de que seu plano tinha falhado.
— Você vai dormir no meu quarto — disse ele.
— Eu não vou. — Ela intencionalmente olhou para ele, lembrando-lhe que ele estava vestido informalmente, para dizer o mínimo.
— Isto não é um artifício para passar a noite com você. Usará o meu quarto e eu este. Quem quer que tenha feito isso, sabia qual janela era a sua. Não creio que teremos mais drama hoje à noite, mas não vamos nos arriscar.
Ela começou a protestar, mas pensou melhor. Os seus ombros caíram.
— Você acha que eu sou uma covarde.
Não ficou claro se ela quis dizer covarde por pretender fugir ou porque se recusou a compartilhar o quarto. A noção de que os dois estavam relacionados lhe ocorreu.
— Você disse em Marleigh que tentaria tomar as rédeas. Por que você decidiu fugir para a França?
— Eu mudei de ideia. Mulheres frívolas como eu fazem isso o tempo todo. — Ela falou levianamente, mas o seu olhar encontrou os olhos dele e então desceu lentamente. Permaneceu por um momento na abertura da sua camisa que expunha o seu peito. Por um momento delicioso, ele esperou que ela colocasse a mão em sua pele.
Ela desviou o olhar. — Vou mandar a empregada limpar o vidro. É perigoso.
A sua retirada para os aspectos práticos não o enganou. Ele entendeu porque ela decidiu fugir. Não foi o ato de uma mulher frívola, porque ela não era frívola, apesar da máscara que muitas vezes mostrava ao mundo. Estava com medo dele e do que tinham começado. Ela também não era indiferente. Não teria que fugir se fosse.
— Preferiria se eu me separasse da sua comitiva? Será mais fácil se eu não estiver com você? — As palavras eram mais difíceis de dizer do que ele esperava.
Ela pensou cuidadosamente na carta no chão.
— Se algo acontecesse comigo, Wellington teria a sua cabeça. Além disso, parece que eu posso precisar de alguma proteção depois de tudo. Sob tais circunstâncias, pode ser melhor se você vier junto.
— Promete que eu não vou acordar pela manhã para descobrir que você levou a comitiva para um porto marítimo?
— Desisti disso. Fugir foi um impulso tolo. A enormidade disso tudo me subjugou de repente, isso é tudo. Eu administrarei melhor no futuro.
Ela lançou-lhe um olhar que esclareceu sua declaração. Eu vou administrar você no futuro.
As carruagens e a carroça voltaram para Devon. Cada quilômetro levava-os para mais perto de uma tempestade. Nuvens negras pesadas anunciavam a tempestade que se aproximava, mas não era a chuva da primavera que mantinha Adrian alerta.
Outros sinais de um tipo diferente de tempestade chamaram a sua atenção e, de vez em quando, a sua intervenção. O barulho de um torrão de terra contra a carruagem. A maldição de uma carroça quando viu o selo ducal. A aglomeração de fazendeiros ao longo das margens dos campos e os gritos de ódio que eles gritavam à passagem deles.
Houve problemas no caminho de Portsmouth para Marleigh, mas isto era mais consistente. Era como se alguém tivesse adivinhado o caminho da duquesa e estivesse incitando as pessoas deliberadamente.
Adrian sabia quem era essa pessoa, sem dúvida.
A última parada do dia foi Haford. Este não era um município podre, mas um povoado, à sombra de uma das mansões costeiras de Everdon, Staverly.
Uma chuva constante saudou a chegada deles. Todo o campo parecia ter se reunido na cidade. A tensão silenciosa estremeceu as ruas congestionadas, de um modo que fez as demonstrações anteriores parecerem benignas.
Harvey Douglas, o Ministro do Parlamento, parecia alheio à chuva e ao perigo. Ele encontrou a carruagem com um sorriso de dentes largos que separava o seu bigode da barba. Pelos vistos a duquesa o conhecia.
— É bom ver você, senhor Douglas. Quando vi a lista de candidatos, fiquei encantada em reconhecer pelo menos um nome.
Ele ajudou Adrian a guiá-la até à estalagem local. Onde os vagões já estavam sendo descarregados.
— Poupei dinheiro suficiente como administrador do seu pai em Staverl, para comprar alguma propriedade. Estava orgulhoso como um homem pode ficar quando ele me ofereceu o assento. Eu gostaria de pensar que fiz o trabalho tão bem quanto qualquer outro homem.
Ele sorriu para Adrian em busca de confirmação. Douglas, de fato, tinha sido um consumado Membro do Parlamento fantoche. Ele nunca expressou uma opinião e provavelmente não possuía nenhuma. Outros membros “fantoches” dos Comuns, às vezes se irritavam com as suas obrigações, mas Douglas prosperava com elas porque a política não o interessava de maneira alguma. A sua posição o levou à porta de entrada de salas de estar que antes eram fechadas para ele e ele conseguiu representar o grande homem nas assembleias municipais. Ele era, compreensivelmente, grato ao duque falecido, pela oferta da elevação social.
E também grato a Gerald Stidolph. Adrian lembrou-se de que fora Stidolph quem recomendara Douglas para o assento, quando seu último ocupante faleceu, cinco anos antes. A influência de Stidolph na questão fez com que a sua posição a favor do duque fosse muito clara para todos.
— A cidade está extraordinariamente movimentada, considerando que não é dia de mercado — observou Adrian, enquanto todos se protegiam da chuva.
— Eles estão curiosos. Não viam a duquesa há anos. É tudo terra de Everdon por aqui. Eu vi perto da igreja. Esperava uma multidão, com o retorno da duquesa, e pensei que eles gostariam de vê-la. Eu não imaginei que ia chover, é claro.
— Iremos à igreja em breve — instruiu Adrian. — Eu vou dizer que a duquesa não fará nenhuma declaração formal sobre a reforma.
— Eu não entendo. O duque...
— É a duquesa quem decide agora.
— Mas eu já deixei saber como votaremos. Ele deixou muito claro da última vez como deveríamos votar. Você sabe disso, Burchard. Foi você que nos deu a palavra.
Sophia inclinou a cabeça.
— Não era para você deixar isso ser conhecido sem que eu o dissesse, senhor Douglas.
— Claro, Sua Graça. Mas as pessoas têm perguntado e o Senhor Stidolph explicou que Everdon se posicionaria contra qualquer novo projeto de lei, como fez com o último.
Ela se levantou, assumindo a magnificência que podia convocar inesperadamente
— Não presuma que o senhor Stidolph ou qualquer outra pessoa conheça a mente de Everdon agora. Ninguém vai lhe dar a palavra, exceto eu. Até que eu faça, você não deve falar em meu nome. Agora, se isso estiver claro para você, estou pronta.
A carruagem principal já tinha sido levada embora, mas a carruagem aberta dos criados ainda estava do lado de fora da estalagem.
Adrian chamou o seu cavalo e deixou Sophia na carruagem. Ele segurou as rédeas e cavalgou rapidamente até a igreja. Os agricultores e moradores da cidade formaram um rio atrás deles.
Quando todos tomaram os seus lugares na plataforma, pelo menos trezentos homens e mulheres se reuniram para ouvir o senhorio falar. Adrian desejou que eles não estivessem tão quietos.
Douglas apresentou a duquesa com um longo discurso que exaltava o domínio benigno do seu pai na região. Sophia adiantou-se para falar. O silêncio caiu até que apenas a chuva respingante pudesse ser ouvida. Ela disse a sua nomeação padrão.
Ela não passou da terceira frase. A tensão na multidão estalou, liberando uma onda de emoção. Era como se alguém tivesse dado um sinal.
— Apoie a reforma! — Gritou um homem.
— Nós queremos o que é nosso por direito!
— Volte para a França!
Sophia perseverou, terminando o breve anúncio enquanto a multidão se transformava em quase uma rebelião. Sentimentos políticos de todas as cores, misturavam-se livremente com queixas pessoais no alvoroço. Alguns gritavam com proprietários de terras, alguns com o governo, alguns com reformadores e outros com a própria Sophia Raughley. Ela ficou tensa como uma vara, deixando as ondas de raiva baterem contra ela.
Adrian se aproximou dela.
— Hora de ir.
Ela o ignorou e levantou um braço contra a maré.
— Meu bom povo. Isso não é maneira de resolver diferenças ou influenciar eventos.
— Agora, Sua Graça.
— Somente o discurso racional nos ajudará a encontrar um terreno comum. — Sua voz mal sendo ouvida devido o alvoroço.
A agitação cresceu. A multidão se moveu. As brigas irromperam. Suando de medo, Douglas balbuciou os seus respeitos e desapareceu.
— As minhas desculpas, Duquesa. — Circulando a sua cintura com o braço, Adrian puxou-a para as escadas. Em meio ao crescente rugido de ressentimento, ele puxou uma duquesa indignada e contorcida para longe.
Ele a empurrou para dentro da carruagem e pulou para pegar as rédeas, amaldiçoando Douglas por ser burro demais para entender o que estava se formando bem debaixo do nariz.
Ele moveu os cavalos, apontando para a extremidade mais próxima da cidade. A maioria da multidão se afastou, mas alguns homens mais ousados agarraram as rédeas. Ele os chicoteou. Um grito de Sophia atirou a sua cabeça ao redor.
Mãos estavam puxando-a.
— Aqui em cima. — Ele ordenou.
Ela furiosamente bateu nos braços. Meio rastejando, meio cambaleante, conseguiu subir no assento. Adrian segurou o seu braço firmemente com uma mão, enquanto manobrava os cavalos com a outra. Quando ela estava completamente ao seu lado, ele a colocou onde pudesse ficar de olho nela. Ele instigou os cavalos em galope, confiando na sua experiência para afastar as pessoas do caminho.
Ele passou pela igreja e seguiu pela estrada do norte enquanto a chuva caía sobre o amontoado de tecido preto, rosto branco e olhos flamejantes ao lado dele. Uma milha fora da cidade, ele parou os cavalos.
Ela se levantou, a água que encharcou seu chapéu caindo sobre um de seus olhos lívidos.
— Eu tinha as coisas em ordem. Eles estavam ouvindo. Agora provavelmente haverá um motim e toda a Inglaterra vai ouvir que eu fui expulsa de uma cidade em minha própria propriedade.
— O tumulto estava em andamento antes de você sair. É o que chamamos a uma multidão de trezentos guerreiros nas ruas da Inglaterra. Eu preciso andar com os cavalos, então sente-se.
— De onde você tira a noção de que pode me manipular sempre que tiver vontade? Eu não vou ter você me pegando e me carregando à vontade, especialmente não na frente de todas aquelas pessoas. Paris foi ruim o suficiente, mas isto é indesculpável.
— Nenhuma dessas pessoas notou ou se importou. Agora, sente-se ou você cairá. — Ele agarrou o seu braço e puxou-a para baixo.
Ele colocou os cavalos em movimento. Ela suspirou com indignação, ainda lindamente irritada. Gotas de água escorriam da borda do seu chapéu, bem no nariz dela.
— Como é que essas pessoas me levarão a sério depois do que você fez? — Ela se irritou. — Foi extremamente presun...
— Não diga isso. — Ele avisou.
Eles passaram por campos encharcados por mais alguns quilômetros.
— Volte agora. Tenho a certeza de que as coisas se acalmaram. — disse ela.
— O inferno que eu vou e o inferno que eles se acalmaram. Quando uma turba recebe seu sangue assim, ela não se acalma por horas, a menos que o yeomanry11 imponha ordem. Com alguma sorte, foi chamado.
— Se você não está voltando para Haford, para onde você está indo?
— Algum lugar seco e seguro. Eu estou levando você para Staverly.
— Não. Eu proíbo isso. Eu não irei lá. Como a duquesa de Everdon, ordeno que você dê a volta nessa carruagem.
— Para alguém que afirma não querer a posição, você dá ordens ducais facilmente quando lhe convém. Eu não me importo com as suas nobres prerrogativas agora. Eu suspeito que o seu capitão Brutus estava naquela rua, gerenciando a coisa toda. Staverly é o lugar mais próximo onde você estará segura e é para lá que estou lhe levando.
A estrada encontrava a costa e se curvava a Leste ao longo de sua borda. O ritmo das ondas se juntou ao ritmo mais rápido da chuva. Sophia recuou para uma raiva latente, ignorando o aguaceiro que os encharcava até aos ossos.
Os portões de Staverly estavam fechados, mas um homem saiu quando eles se aproximaram.
— Ninguém entra aqui — anunciou ele quando Adrian puxou os cavalos.
— Esta é a duquesa de Everdon.
O velho olhou por baixo do chapéu.
— Senhorita Raughley! Eu não tive nenhuma informação que você estaria visitando, Sua Graça.
— Foi uma decisão repentina e não minha, Martin.
Martin olhou para a estrada.
— Os outros a estão seguindo? Nada a fazer por você aqui, Sua Graça. Você sabe como o duque a deixou.
— Estamos sozinhos — explicou Adrian. — Houve problemas em Haford. Você está dizendo que a casa está fechada? Não há servos aqui?
— Só eu, como Sua Graça lhe terá dito.
— Então teremos que nos virar. Feche e tranque o portão atrás de nós, depois vá para uma fazenda próxima e compre algumas provisões. — Ele entregou alguns xelins. — Você vai dormir aqui esta noite. Se alguém tentar entrar, venha me chamar.
Atravessaram um quarto de milha de um parque cheio de mato, antes de parar na frente de uma antiga mansão Tudor. Lascas de gesso e ervas daninhas altas anunciavam que ninguém cuidava da propriedade há anos. O mar rugiu mais alto e Adrian supôs que os penhascos começavam não muito longe das portas do jardim.
Ele desceu Sophia. Uma saliência esperava a cinco passos de distância, mas ela permaneceu na chuva, olhando para a fachada de enxaimel12.
— Costumávamos vir aqui todos os verões quando eu era menina.
— É uma propriedade encantadora. Por que seu pai deixou arruinar-se?
Recolhendo as suas saias encharcadas, ela foi para a porta.
— É uma maravilha que ele não a queimou. Este é o lugar onde tudo aconteceu. Foi aqui que meu irmão Brandon morreu.
Capítulo 13
Ela supôs que sempre soubesse que teria que voltar para Staverly. Talvez fosse apropriado que fosse no dia em que ela tivera um fracasso tão magnífico como herdeira de Alistair.
Ela andou pela biblioteca, tirando as cobertas da mobília. Bolos de poeira subiram como espectros seguindo o seu progresso.
Adrian acendeu um fogo para queimar um pouco da umidade que havia estado na casa há anos.
— Devemos ver se tem algumas roupas secas para você. — disse ele, cutucando as brasas.
— E você também. Me siga.
Ela liderou o caminho até aos quartos, grata por Adrian ser muito maior que Brandon e ela não ter que entrar no quarto que o seu irmão usara.
— Você vai descobrir que esta não é uma casa muito grande. Mamãe não deixou o meu pai ampliar esse lugar. Ela queria que fosse reservado para a vida familiar.
Alguns itens permaneceram no guarda-roupa do duque. Eles cheiravam a Alistair. Toda a casa cheirava. Marleigh era tão grande que se podiam encontrar lugares onde ele nunca tinha ido muito, mas este não era o caso.
— Você pode dormir aqui. Martin o manteve limpo, para o caso de meu pai vir algum dia. Você também deve colocar lenha aqui. Este quarto era sempre frio, mesmo nos verões mais quentes.
Ela o deixou e entrou no antigo quarto da sua mãe através do quarto de vestir. Ao contrário de Marleigh, onde Celine, metodicamente, obliterara a memória da primeira duquesa, nada havia mudado ali.
A nostalgia lhe apertou o coração enquanto revirava os itens pessoais ainda com o cheiro do perfume daquela mulher gentil. Encontrou um vestido de musselina de cintura alta e algumas roupas de baixo e chinelos, ela saiu correndo o mais rápido que pôde e procurou o seu próprio pequeno quarto.
Memórias a bombardearam. Ela olhou pela pequena janela do norte. Todos os verões ela brincava no jardim abaixo. Quando ela tinha sete anos, aprendera a nadar nas ondas. Ela podia ver as pedras perto do mar que a sua imaginação transformara em um castelo.
Ela se lembrava de noites estreladas sentadas nesta janela aberta, sonhando com um amor puro e apaixonado.
Uma prateleira continha os itens colecionados ao longo de vinte verões. Eles continham a história da garota que ela tinha sido uma vez. Ela os deixara quando ela e seu pai partiram apressadamente naquele verão passado, assim como ela deixara a própria garota.
Ela abriu o guarda-roupa e jogou tudo aquilo dentro dele. Os tokens do jogo com Brandon. O livro de poemas românticos escrito no seu décimo quinto verão. Os trechos radicais tinham lugar aqui na temporada anterior ao capitão Brutus, quando o idealismo da juventude excitou o seu intelecto, assim como seu Robin Hood logo excitaria a sua feminilidade.
Ela fechou a porta, como se pudesse silenciar as lembranças se escondesse os seus restos. Ela começou a tirar as roupas pretas.
O vestido de musselina de gola baixa e antiquado não cobria suas pernas, então ela se despiu e vestiu apenas a camisola da mãe. A umidade havia transformado os seus cabelos em cachos. Ela reuniu a maioria deles em um coque e deixou o resto pendurado em torno de seu rosto. Virando-se para o longo espelho oval, ela examinou os resultados.
Um fantasma olhou para ela. Longa e esbelta, usando esse mesmo vestido branco de cintura alta com suas violetas espalhadas, aproximara-se com um sorriso gentil e braços reconfortantes. Ela não conseguia se lembrar por que a sua mãe tinha ido até ela naquela tarde, mas de repente poderia ter sido ontem.
Ela nunca tinha percebido o quanto se parecia com a sua mãe. O nariz e o queixo eram de Alistair, mas o resto, os olhos, o cabelo e o rosto não eram.
De repente, percebeu que não podia fugir dos fantasmas. Eles não existiam em objetos e lugares que ela pudesse evitar. Eles estavam nela, todos eles, esperando para serem reconhecidos. Os bons foram ignorados junto com os que lhe causavam dor.
Ela correu para o quarto da mãe novamente e pegou um xale longo e franzido. Passando pelo quarto principal, ela viu através da porta aberta que Adrian havia acendido a lareira.
Ela o encontrou curvando-se para a velha lareira. Baldes de água haviam sido trazidos da casa vizinha e ele limpou a poeira de uma mesa onde esperavam um pouco de queijo e presunto.
— Você não mudou as suas roupas. — disse ela.
Ele se levantou e tirou as mechas úmidas da testa com os dedos.
— Eu cuidei dos cavalos.
— É melhor você se cuidar agora.
Ele gesticulou distraidamente para a comida, começou a falar e parou. Ele olhou para ela com uma expressão séria.
— Peço desculpas por fazer você vir aqui. Eu não sabia o que esse lugar significava para você.
— Você não poderia saber. A sua decisão foi mais sensata do que a minha negação.
— A chuva parece estar parando e há pelo menos uma hora antes do anoitecer. Vou voltar para Haford e ver como estão as coisas. Se tiver se acalmado, virei te buscar. Eu conheço a estrada agora e uma vez que as nuvens se afastem haverá alguma lua, então será seguro o suficiente, mesmo à noite.
Ela encontrou uma faca em uma prateleira e limpou-a com o pano úmido. Ela cortou um pedaço de queijo e mordiscou. Assim que ela provou, ela sabia para qual fazenda Martin tinha ido.
— Será madrugada antes que todas essas viagens sejam feitas. Não fique tão preocupado. Eu não vou me transformar em uma louca. Nunca pensei em voltar aqui por muitos anos, mas agora me pergunto se não foi uma boa coisa vir. Há uma doçura para a tristeza. Além disso, eu tinha esquecido como é bonito aqui.
Ela pegou algumas canecas de barro e serviu a cerveja caseira que tinha vindo com a comida.
— Você tem certeza de que não vai lhe afligir?
— Não, mas me ocorre que se eu não vou viver minha vida inteira me vingando dele, como você mesmo disse, este é um bom lugar para começar. Além disso, os fantasmas virão, estando aqui ou não. Prefiro não os encarar totalmente sozinha.
A chuva havia parado e os raios do sol baixo espiavam a luz dourada através das nuvens. Sophia abriu a porta da horta para que a brisa fresca pudesse entrar. Através da grama alta, avistou o teto do mirante chinês que ficava no penhasco no final dos jardins. Era possível ver o mar e as rochas de toda a enseada.
Ainda não. Ela iria desfrutar das boas lembranças primeiramente.
Inalou o aroma limpo de um mundo recém-lavado e admirou as gotículas brilhantes na grama alta antes de voltar para a mesa.
Ela parecia linda em pé, perto da porta aberta. A brisa agitava os caracóis dos seus cabelos em volta do rosto e o sol tardio banhava a sua pele pálida em ouro nebuloso.
O vestido devia ter pelo menos vinte anos, mas combinava perfeitamente com ela. O decote baixo exibia ossos delicados e a fina musselina se curvava ao redor dos seus seios macios, enfatizando-os com a cintura alta apertada. Os raios etéreos tornavam o tecido vagamente transparente, mostrando as pernas e a ausência de qualquer anágua por baixo. Adrian a vira de preto tanto tempo que ele se esquecera de quão fresca, vibrante e jovem ela poderia parecer.
Ela se sentou.
— O que você fará primeiro? Comer ou sair dessas roupas molhadas?
— Eu tinha pensado em comer, mas se Sua Graça exigir o último, eu irei. — Ele provocou, embora ela não o tivesse pedido para fazer amor. O pedido foi muito mais lisonjeiro do que isso.
Ele partiu um pedaço de pão e cortou um pouco de presunto.
— Eu estive pensando — ela meditou enquanto mastigava mais queijo. — O senhor Hawkins pode estar certo. Pelo que testemunhamos, a reforma pode ser inevitável.
— Você quer que as pessoas que atacaram você hoje faça as leis inglesas? Eles te pareceram adequados para a tarefa?
— Você deve admitir que a maneira como as coisas estão é injusta.
— Muito na vida e no governo é, mas o sistema funciona bem com os seus controles e contrapesos. Não está claro que a alternativa seria melhor.
— Os franceses e os americanos têm sistemas mais justos.
— O sistema francês deu ao mundo Napoleão e uma geração de guerra. O sistema americano permite a continuação da escravidão. A influência que a câmara alta exerce sobre a mais baixa aqui mantém a estabilidade e evita a governança da turba.
— Faz mais que isso. Nós dois sabemos que isso preserva privilégios também.
— Seu privilégio, Duquesa. Mesmo assim, houve algumas reformas que não foram do interesse dos senhores. Vozes por mudança são ouvidas.
— Então você realmente acredita que deveria ser parado? Se você não ganhasse nada nem perdesse nada pelo seu voto, votaria a favor da reforma?
Ele encontrou seu olhar franco.
— O que você está me perguntando?
— Estou perguntando o que você realmente acredita sobre isso. E suponho que estou perguntando o quão completamente você é o homem de Wellington.
— Em outras palavras, eu sou um bajulador de Wellington? Lamento dizer que aqueles de nós que devem fazer o nosso próprio caminho são, em um grau ou outro.
Ela olhou para baixo rapidamente.
— Sinto muito.
— Não sinta. Foi uma pergunta justa. Eu não formei as minhas opiniões a fim de obter o favor de um homem poderoso. Por um lado, Wellington veria isso imediatamente. Nem sempre concordo com ele ou com os ministros e apresento os meus próprios argumentos. No entanto, se você está perguntando se eu já votei em uma posição com a qual eu não concordei, a resposta é sim. A política sempre envolve compromisso. E se você está perguntando se o meu acordo geral com a liderança do partido me beneficiou, mais uma vez a resposta é sim.
Ele falou mais agudamente do que queria, por razões que não se importava em explorar. Ela ficou cada vez mais dominada enquanto o observava. Ele teve a sensação de que tinha revelado mais do que sabia e que ela estava compreendendo algo que ele próprio, não compreendia completamente.
— Você deve pensar que eu sou insuportavelmente mimada — disse ela. — Infantil, egocêntrica e ressentida com a vida que muitos matariam para ter. Quão injusto deve parecer a você, que uma mulher que conhece apenas festas e vestidos, receba o tipo de poder que pertence a Everdon.
— Não julgo se é justo ou não. Não acho que você conhece apenas festas e vestidos e eu só te acho um pouco mimada e não muito quando se trata das coisas que realmente importam. Quanto à sua auto absorção, acho que você está lidando com feridas que eu não conheço.
— Você não conhece? Eu olho para você e me vejo pensando que, se tivesse sido obrigada a fazer o meu próprio caminho, a realização de o fazer, poderia ter curado essas feridas, ou pelo menos torná-las menos significativas.
A observação silenciosa o perturbou. Ele não esperava que os fantasmas confrontados aqui fossem da sua própria vida.
Ele se levantou.
— Eu vou agora e mudarei de roupa. Se quando você me vir, estiver muito informal, deve me perdoar. Ainda resta descobrir o que me servirá do guarda-roupa do duque.
Ela riu e pegou na sua saia de musselina.
— Pelo menos suas roupas não estarão vinte anos fora de moda.
Ele levantou dois baldes e parou para olhar para ela. Ele memorizou a imagem dela sorrindo, com olhos brilhantes e a sugestão de tristeza por trás daquele brilho, as sombras de suas curvas femininas ainda visíveis na última luz do dia.
— É um lindo vestido. — disse ele, virando-se. — E você parece sedutora nele.
Ela tinha ido quando voltou. A noite tinha chegado e ele imaginou que ela tinha buscado a solidão em seus aposentos, talvez para dormir depois do tumulto do dia, talvez para se esconder por causa dos avanços da noite anterior.
Ele achara que seria agradável passar a noite com ela e, por isso, entrou na biblioteca vazia com certa decepção.
As prateleiras, em sua maioria, continham romances populares e a mais leve poesia, o tipo de coisa que se pode ler durante as férias à beira-mar. Tentou passar o tempo com um dos portfólios de viagem de Humboldt, mas as gravuras exóticas não conseguiram prender a sua atenção. Ele se perguntou se os fantasmas estavam lá em cima agora e como Sophia estava lidando com eles.
Pondo de lado o portfólio, ele foi até à cozinha e saiu para os jardins. O céu noturno estava perfeitamente claro e uma brisa refrescante soprava através da camisa que ele usava sem casaco. Ele se dirigiu para os penhascos.
O telhado inclinado de um gazebo chinês assomava contra o céu salpicado de estrelas. Ele começou a andar quando percebeu uma sombra se mover para dentro. Sophia balançou-se para frente e para trás contra a balaustrada como uma criança faria, estendendo-se com os braços esticados e depois puxando para frente até que sua cabeça ficasse voltada para o céu.
Ela parou de repente, curvando-se.
— Burchard?
Ele pisou no chão de tábuas.
— Eu não pretendia perturbar você. Presumi que estava nos seus aposentos.
— Eu decidi vir aqui primeiro e olhar para o mar. — Ela apontou para massas escuras. — Mesmo à noite você pode ver todo o caminho ao redor da pequena enseada. Essa grande sombra é um ponto de terra marcando sua curva oriental. A água perto da terra é muito tranquila, exceto ali. Nós costumávamos nadar todos os dias. Todos, exceto o pai.
— Você veio visitar as memórias?
— Eu suponho que sim.
— Boas, eu espero.
— Não inteiramente.
Ele não podia ver o rosto dela, mas percebeu que o seu tom era distraído.
— Você quer que eu saia?
— Eu acho que estava esperando que você viesse.
Ela retomou o balanço, inclinando para trás e, em seguida, puxando para frente até que seus quadris bateram na balaustrada. Ele imaginou-a fazendo isso ao longo dos anos, aprendendo em todos os verãos que a madeira batia de maneira diferente em seu corpo crescente.
— Você sabe o que Jenny disse sobre você naquela primeira noite? Que era o tipo de homem a quem se quer fazer as coisas, porque você faz com que as coisas corram bem. É por isso que o Secretário de Relações Exteriores achou você útil e por isso Wellington depende de você, não é? Foi rude de minha parte sugerir o contrário hoje.
Ele provavelmente deveria dizer a ela que missões estrangeiras e planos políticos eram uma coisa e a dor oculta de uma mulher era outra. Ele não tinha ideia de como lidar com isso.
— O que você teria feito? — Ela perguntou. — Se eu não tivesse te indicado? Você disse em Paris que teria se ocupado com os seus outros interesses.
Ele suspeitava que ela fez a pergunta apenas para evitar outra coisa.
— Eu tenho sido solicitado ocasionalmente para gerenciar outros embaixadores, Ministros do Parlamento e uma duquesa.
— Negócios?
— Às vezes. Mas atraentes são as ofertas para acompanhar expedições científicas e arqueológicas. Os últimos, em particular, exigem uma organização extensiva, muito parecida com uma campanha militar. Eles fazem uso de trabalhadores nativos e, em minhas viagens para o ministro das Relações Exteriores, aprendi a ser aceito por eles.
— Então talvez você seja um bom embaixador, se for simpático aos estrangeiros e aos seus costumes.
— Embaixadores são visíveis demais. Eles devem ser a Grã-Bretanha personificada. Para cargos importantes, eles são sempre retirados da nobreza e, na maioria das vezes, desempenham um papel cerimonial. Cabe a seus funcionários conduzir o trabalho mais sutil.
— Você era bom em ser menos visível e mais sutil?
— Minha aparência ajudou com o primeiro.
— Eu não tinha pensado nisso, mas imagino que sim.
O fato de ela não pensar sobre isso e nunca o ter encontrado especialmente exótico, era um dos seus atrativos. Depois dos gregos e húngaros, um inglês mestiço não seria muito distinto.
— Os secretários estrangeiros tiveram a sorte de ter você. Ainda faz isso às vezes?
— Ocasionalmente, quando o Parlamento não está em sessão. Desde que tomei o meu lugar na Câmara dos Comuns, na maior parte das vezes apenas sirvo de mensageiro extravagante.
Ela pareceu aceitar isso. Ela se voltou para o mar.
De repente, como se alguma decisão interna tivesse sido tomada, ela apontou para o leste.
— Ele se afogou lá, onde as pedras fazem a água agitar-se. Ele tinha vinte anos. Nós éramos gêmeos.
Ele podia sentir a sua frágil sustentação em suas emoções e desejou poder fazer mais do que ficar como uma testemunha silenciosa. Qualquer fantasma que ela tivesse decidido enfrentar aqui era maior que a proteção dele. Nas coisas que importavam, ele não tinha valor para ela.
— Foi minha culpa. — Ela soprou as palavras tão baixas que as ondas quase submergiram. — Eu nadei muito perto da borda leste e me meti em confusão. Eu quase morri. Lembro-me de lutar contra a água com um pânico medonho e depois perder a consciência. Eu vim ter à praia. Gerald estava aqui, ele e o mordomo me viram desmaiada e me tiraram do mar. Brandon deve ter me visto descer e veio ajudar. Encontraram o seu corpo algumas horas depois, do outro lado daquele promontório.
— Não foi sua culpa.
— Foi. Nesse único julgamento o meu pai estava certo. Eu estava com raiva e magoada naquele dia e nadei como uma louca, não me importando aonde iria. Foi a desgraça do meu irmão estar andando nas rochas, onde ele pode me ver lutando.
— Você teria tentado ajudá-lo também, não tenho dúvidas.
— Foi descuido meu.
O seu corpo desmoronou sutilmente. A sua batalha contra a angústia torceu o seu coração.
— O filho errado morreu. — disse ela, a sua voz estrangulada por um soluço engolido.
Essas foram as palavras de Alistair. Ele sabia disso. A raiva brilhou ao perceber que o homem tinha sido tão cruel a ponto de dizer isso, não importando o que se pensasse. Ele imaginou o duque, severo, acusador e implacável. Nenhum conforto lhe foi dado naquele dia ou mais tarde.
Ela apertou as mãos em seus olhos.
— Isto é tão embaraçoso. Eu sinto muito. Quando lhe pedi para ficar, não esperava que houvesse tudo isso. Acho que seria melhor se você fosse embora depois de tudo.
Ele não se mexeu. Não podia deixá-la assim, equilibrada à beira do abismo.
Com respirações profundas e uma postura rígida, lutou bravamente por compostura.
— Agora percebo que nunca lamentei por ele. Não corretamente. Eu não pude. Pensar nisso me fazia sentir como se estivesse sendo fisicamente despedaçada.
Ele estendeu a mão para ela e a puxou para os seus braços.
— Então, chore agora, Sophia. Eu vou te segurar.
Ela lutou, mas ele a segurou com força. Os seus dedos se esticaram e torceram no tecido da sua camisa.
Com um gemido de derrota, ela desistiu.
Ele nunca tinha visto uma mulher chorar como ela chorou. Soluços dolorosos e gemidos a atormentaram, exaurindo sua força até que apenas os braços dele a mantiveram ereta, agarrada em seu peito. A dor retalhada que ela temia rasgou através dela e para ele. Com a garganta queimando, ele enterrou o rosto no cabelo dela e rezou para que ela não se fosse para sempre.
Lentamente, a sua dor explosiva se acalmou em uma tristeza mais calma. Os seus dedos relaxaram contra o seu peito e ela se deitou contra ele, chorando suavemente. Ele a manteve envolta em seus braços, dando o conforto que podia, esperando que esse confronto com o passado a tivesse ajudado.
Depois que o momento passou, ela permaneceu descansando em seus braços, a sua respiração aquecendo o seu corpo entre as palmas das mãos.
Ele lutou contra a consciência da sua feminilidade suave sob suas mãos. Uma sensualidade fluente banhava a intimidade pungente que a sua explosão emocional criara.
Ele inclinou a cabeça dela e beijou a sua testa, dizendo a si mesmo, que não pretendia mais do que dar um gesto de amizade e consolo. Ela inclinou o rosto para cima e, de repente, as suas boas intenções se desfizeram. O desejo que agitava a sua alma explodiu. Os seus lábios provaram as lágrimas salgadas em sua bochecha e então encontraram a sua boca.
Ela aceitou o beijo dele com um suspiro de assentimento que dissipou o seu bom senso. Esperando dar um beijo calmo e rápido, ele se perdeu no gosto da sua boca, no cheiro do seu corpo, nos sinais da sua crescente excitação.
As palmas dela acariciaram o seu peito para cercar o seu pescoço, os seus caminhos prementes incitando uma fome feroz.
Ele sabia como administrar o prazer de uma mulher e a paixão insensata levou-o a explorar a dela. As suas carícias a aproximaram, tremendo contra o seu comprimento, ofegando com desamparo. Nenhuma vestimenta interferiria. As suas mãos exploraram as curvas suaves dos seus quadris, costas e coxas, pressionando, sentindo e acariciando-a em um delírio necessário que a deixou subir em seu corpo até que a sua ereção aninhou no seu estômago.
A sua mente já estava levando-a até a grama úmida do lado de fora, contra o poste do gazebo, no chão de madeira sob os seus pés. A sua imaginação já a tinha deixado nua, flexível, aceitando-o como ele a queria. O seu corpo respondeu à expectativa com um fogo ansioso. Colocando o seu joelho entre as coxas dela, ele acariciou o seio e o mamilo ereto contra a musselina.
Com o braço ao redor da sua cintura, ele a levantou e levou-a para um banco próximo, puxando-a para seu colo. Ele deu beijos em seu pescoço e encontrou o seu pulso acelerado enquanto a acariciava.
Ele provou o calor suave da sua pele até ao decote baixo do vestido.
Ele acariciou o seu seio e ela se derreteu. Beijando-a novamente, reivindicando e explorando a sua boca do jeito que planejava, ele soltou as duas fitas na parte de trás do seu vestido.
Ela se endireitou e olhou para ele no escuro. Por alguns segundos, ela não se mexeu. Ele esperou o que quer que ela estivesse decidindo enquanto as suas respirações curtas e superficiais estimulavam o seu desejo, tão alto que ele pensou que iria queimar se ela se afastasse.
Então ela o surpreendeu de maneira imprevisível, como sempre fazia. Ela tirou os braços dos ombros dele e ele pensou que ela pretendia ir embora. Em vez disso, as suas mãos inclinaram-se para os ombros do seu vestido e, em seguida, deslizou-o para baixo enquanto baixava o corpete.
Ele tirou a camisola e pegou o seu adorável seio em sua mão. Como ele queria desde a primeira noite em Paris, ele mergulhou para beijá-lo enquanto acariciava o mamilo duro. A cabeça dela estava pendurada no pescoço dele.
Os seus beijos desesperados aqueceram sua pele enquanto os seus suspiros de prazer queimavam o seu cérebro.
Ele tomou o seu tempo, acariciando as curvas e provocando as pontas duras até que ela ficou impaciente e os suspiros se transformaram em gritos. O som da sua necessidade fez a sua própria excitação aumentar. Tomando um seio em sua boca, ele lambeu e contornou-o. Acariciou o comprimento dela flexionando, balançando o corpo e depois refazendo o caminho sob a sua saia.
Mais uma vez ela fez uma pausa, como se ele a tivesse confundido com uma pergunta inesperada. Ele manteve a mão em suas pernas, acariciando cada vez mais, a sua mente vazia de qualquer pensamento, mas logo em seguida fez o caminho dos seus dedos com os lábios. Ele tomou o seu seio novamente e desta vez ela o segurou para ele. Ele não esperou um sinal de assentimento, mas subiu a mão pela coxa dela e deslizou-a até chegar ao seu objetivo.
Ele acariciou a carne secreta e macia. Um tremor surgiu nela e nele, abalando o seu controle. De repente, ela ficou tão desequilibrada quanto estivera em sua dor. Um grito baixo e melódico de paixão submissa rompeu a brisa da noite.
A sua nota desesperada e indefesa o tocou. Isso ressoou nas emoções indefesas da noite anterior.
Um ponto de lucidez ressurgiu. Ele levantou a cabeça e parou a mão.
Sua boca procurou-o com impaciência, quase com raiva.
— Não pare. — Ela guinchou, pressionando-o e movendo os quadris contra a mão dele.
— Sophia...
— Não. Por favor, não faça isso.
Ele afastou a mão de seu corpo, amaldiçoando o seu cavalheirismo.
— Isto está indo longe demais. — Com os beijos febris e mordazes que eles continuaram dando um ao outro, ele mal tinha conseguido pronunciar as palavras.
— Você disse que me queria. Na noite passada...
— Eu quero você. Demais para fazer desse jeito.
— Mas eu quero isso.
— Pelos motivos errados. Esta não é a maneira de enterrar a sua dor. Você está vulnerável e se eu me aproveitar disso, você vai me odiar por uma boa causa.
Ela parou de dar beijos nele. O seu corpo parou e a sua testa afundou em seu ombro.
— Diabos, Burchard. Por que você não pode simplesmente me usar como deveria? Pela primeira vez eu não teria me importado.
— Eu não quero usar você.
Ela se sentou e virou o rosto.
— Sim, você quer. — Ela suspirou profundamente. — Todos os homens querem. Eu não me importo muito mais. Em Paris, aprendi a administrar tudo isso.
Isso provocou um ressentimento nele. Ele acabara de rejeitar uma oferta, que o seu corpo não lhe agradecia por ter recusado, e ela respondeu colocando-o no mesmo grupo que o duque, o capitão Brutus e aqueles artistas.
Além disso, ela insinuou que ele poderia usá-la, o que significava que, na realidade, ela que estava usando-o. Ela insinuou que esta noite não estava sob o seu controle do jeito que ele pensava.
Ainda assim, ele teria segurado ela em seu abraço a noite toda, mas ele a sentiu recuar emocionalmente. Tal como aconteceu com o jogo recente na balaustrada, ela continuou se envolvendo na intimidade e depois recuou. Desta vez, no entanto, ele suspeitou que soubesse o porquê.
Ela saiu do seu colo e rapidamente vestiu as suas roupas. Ela teria fugido imediatamente, mas ele se levantou e bloqueou a sua fuga. Virando-a, ele prendeu as fitas do vestido.
— Eu deveria te agradecer por ser tão honrado. E por antes, quando falei de Brandon. — disse ela.
— Eu não quero os seus agradecimentos.
— Então o que você quer?
— Eu quero você. Não posso lhe oferecer nada além de afeição e prazer, mas quando os fantasmas não interferirem como hoje, quero fazer amor com você. Se eu puder fazer isso acontecer, irei.
Ela se virou para ele.
— Então você deveria ter feito isso enquanto estava com a vantagem, porque agora isso não vai acontecer. Você vê, eu sei que não é tudo que você quer. Eu sei porque você está aqui.
— Sophia, a política é a última coisa em minha mente esta noite.
— Não, não é. Eu sei o que você tem a ganhar. Eu sei sobre a posição no Tesouro. É um trampolim, não é? Para chegar a um ministério um dia.
— Você está se convencendo de que isso era sobre a minha carreira? Você acha que todo homem só é movido por interesse próprio?
Ela endureceu com as acusações.
— Eu não gostei disso. Não vou deixar acontecer novamente.
— Você gostou. Até demais. Isso te assusta, não é? Isso complica o jogo de quem quer usar que você trabalhou tão bem em Paris. Mantendo o controle de forma superficial, sem correr riscos. É assim que você quer se envolver com os homens, não é?
— Isso mesmo. É assim que eu quero.
— Desculpe, querida. Eu não sou um dos seus rapazes à procura de uma amizade frívola, tampouco um artista que se oferece à nobre dama em troca de uma cama. Não será assim conosco, mesmo que você prefira não correr riscos.
— Não teremos nada.
— O inferno que não teremos.
Um desejo renovado e pulsante ansiava por mostrar-lhe como seria agora e para o inferno com a restrição provocada pela sua dor.
Ele se forçou a se afastar para não agir de acordo com o seu impulso.
— Volte agora para casa. Vou esperar até você entrar antes de ir.
Ela teve o bom senso de obedecer. Fugiu, subindo o caminho do jardim.