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O ENSAIADOR
O ENSAIADOR

                                                                                                                                                   

                                                                                                                                                   

 

 

Biblio VT

 

 

 

 

38. Verifiquemos agora com quais outros meios prova no argumento seguinte a mesma conclusão: Mas devo eu procurar em outras partes argumentos contra Galileu, quando ele mesmo os oferece abundantemente? Segundo a opinião dele, nada é mais verdadeiro do que a Lua ser não somente áspera, mas, como uma segunda Terra, possuir seus Alpes, Olimpo, Cáucaso, descer em vales, estender-se em vastas planícies, quando sem dúvida montes lunares não podem ser admitidos na Lua. E a Lua não é, por acaso, um corpo celeste muito nobre? Porventura não é muito mais nobre do que o próprio céu, no qual se move como carruagem e que habita como se fosse sua casa? Por que a Lua, então, não deve ser bem lisa, mas áspera e montanhosa? As próprias estrelas não possuem, segundo o testemunho de Galileu, uma figura variada e cheia de ângulos? E o que existe de mais nobre entre as substâncias celestes? Acrescento que nem mesmo o Sol, se você acredita nas aparências, foi agraciado com uma figura tão nobre; pois nele veem-se algumas luzes muito mais claras que em outras partes suas que o mostram a nós como áspero e de luz não uniforme.

Por isso, se o argumento de Galileu não é persuasivo, e é possível admitir que na concavidade lunar existe aspereza, acredito que ninguém poderá negar que possam ser levados com ela vapores e ar. Galileu, porém, não provará facilmente que esta aspereza não pode ser admitida. A este ponto não podemos deixar de lado aquilo que ele escreve na carta número 3, dirigida a Marcus Welser, isto é, que as manchas solares são vapores fumacentos conduzidos em volta pelo movimento do corpo solar. Então o corpo solar é liso e não poderá levar consigo tais vapores, ou é áspero e montanhoso, e assim o mais nobre dos corpos celestes não é nem esférico nem liso. Ademais, na segunda carta ao mesmo Marcus, Galileu afirma: O Sol movimenta seu ambiente ao redor de seu centro: porém o corpo ambiental deve ser muito mais leve que o próprio ar. Por isso, se o corpo solar sólido movimenta-se por causa do movimento de um corpo muito ralo e leve que se encontra ao redor, não entendo por que o mesmo céu sólido não possa levar consigo, com seu movimento, um corpo que lhe seja incluído, o mais leve possível, isto é, a esfera elementar.

Antes de continuar, volto a replicar, contra Sarsi, que não é minha opinião que o céu, corpo muito nobre, tenha figura muito nobre, isto é, uma esfera perfeita, mas é opinião do próprio Aristóteles, contra o qual o Sr. Mário argumenta diretamente. Por aquilo que me diz respeito, não havendo nunca lido as crônicas de nobreza das figuras, não posso saber quais sejam as mais ou menos nobres, ou as mais ou menos perfeitas; porém, creio que sejam todas elas igualmente antigas e nobres, ou, para especificar melhor, que não sejam mais nobres ou mais perfeitas nem menos nobres e menos perfeitas, a não ser pela sua utilidade, isto é, que as figuras quadradas sejam mais aptas para as construções do que as redondas, e que para movimentar carruagem as figuras esféricas sejam mais aptas que as triangulares. Voltando ao argumento de Sarsi, ele afirma que eu lhe ofereci muitas razões para provar a aspereza da concavidade da superfície do céu, visto eu mesmo falar que a Lua e os outros planetas (corpos também celestes e muito mais nobres e perfeitos do que o céu) possuem superfície montanhosa, áspera e desigual; e se tudo isto for verdade, por que não se deve afirmar que esta desigualdade pode-se encontrar também na figura celeste? O próprio Sarsi pode responder aqui da mesma forma que ele faria com alguém que lhe quisesse provar que o mar deveria ser todo cheio de espinhas e escamas porque assim o são as baleias, os atuns e outros peixes que o povoam.

A pergunta que me coloca, ou seja, qual deveria ser a causa que permite à Lua ser lisa e limpa, eu respondo que a Lua e os outros planetas todos, sendo por si mesmos escuros, resplandecem só devido à iluminação do Sol, sendo, assim, necessário serem de superfície áspera, porque, se fossem de superfície lisa como um espelho, não chegaria até nós reflexo algum de luz, eles seriam completamente invisíveis para nós, e, consequentemente, a influência deles sobre a Terra resultaria nula, e nula seria a influência recíproca,.em suma, sendo cada um nulo por si mesmo, não existiriam um para o outro. Ao contrário, uma enorme desordem se geraria se os céus fossem feitos de uma substância sólida e limitada por uma superfície não perfeitamente lisa, porquanto (como relatei mais acima), por causa das refrações continuamente perturbadas sobre uma superfície sinuosa, nem os movimentos dos planetas nem suas figuras, nem as projeções de seus raios para nós, e, por conseguinte, de seus aspectos, poderiam apresentar-se a nós a não ser muito confusos e desregulados. Eis, Sr. Sarsi, uma razão muito eficaz para responder à vossa pergunta: e como prêmio por esta resposta, tirais fora de vosso texto aquelas palavras onde afirmais eu haver relatado repetidamente serem as estrelas de figuras diversas e angulares, pois, sabeis muito bem que, em consciência, isto é uma mentira, e que nunca afirmei uma tese parecida; aquilo que pudestes entender ou haver lido é que as estrelas fixas possuem luz viva e brilhante; assim, o pequeno corpo delas não pode ser percebido distintamente por ser circundado de raios de luz tão brilhantes.

A respeito daquilo que Sarsi relata, no final, a propósito do Sol e dos vapores fumacentos que se geram e nele se dissolvem e de seu ambiente, nunca afirmei qual dos dois segue o movimento do outro, visto que o desconheço, e poderia, por isso, verificar-se também que nem o ambiente nem o corpo solar se movimentam, mas que é natural para ambos aquela conversão, a qual conheço bem porque a vejo, isto é, que as manchas dão uma volta inteira cada quatro semanas mais ou menos. Porém, quando se puder ter um exato conhecimento disso, não vejo qual seria a sua utilidade na nossa presente discussão, onde somente contra Aristóteles e raciocinando por hipóteses, hipóteses às vezes até falsas, por causa da grande diferença da matéria do Sol e do ambiente, estamos procurando se a concavidade lunar sólida e lisa, como não parece ser, andando ao redor (outra teoria falsa), leva consigo a luz, que talvez não exista também.
Acrescente-se outra enorme diferença, a qual Sarsi afirma não conseguir entender que deveria ser, pelo contrário, uma identidade, isto é, que igualmente e com a mesma aptidão e facilidade pode acontecer que um corpo fluido contido dentro de uma concavidade de um corpo sólido esférico, que se movimente ao redor, seja levado embora como se o conteúdo fosse uma esfera sólida e o ambiente um líquido; que seria a mesma coisa alguém pensar que, do mesmo modo que o movimento de um rio leva consigo um navio, assim o movimento do navio deveria levar consigo a água de um pântano, o que é completamente falso: porque, por experiência, vemos um navio, ou mesmo mil navios, que enchessem um rio inteiro, ser movimentado pelo movimento daquele, mas, ao contrário, o curso de um navio impulsionado a uma velocidade qualquer não é seguido por nenhuma mínima gota de água. A razão de tudo isto não deveria ser misteriosa, pois não se pode forçar a superfície de um navio sem forçar do mesmo modo a máquina inteira, cujas partes, sendo sólidas, isto é, bem unidas e ajustadas, não podem ser separadas ou diferentes; assim, algumas cedem ao impulso do ambiente externo e outras não. Nada disso acontece nem com a água nem com outro fluido, cujas partes, não possuindo em si força própria interna ou força de adesão sensível, com muita facilidade separam-se e diferenciam-se; assim aquele véu sutil de água, que toca o corpo do navio, é suficiente para obedecer ao seu movimento, mas as outras partes mais afastadas, abandonando as mais próximas, e estas as mais próximas ainda, bem perto da superfície libertam-se completamente de sua força e poder. Acrescente-se a tudo isso que o impulso móvel impresso conserva-se muito mais tempo e com muito mais força nos corpos sólidos e pesados, mais que nos fluidos e leves: como podemos observar quando um grande peso, pendendo de uma corda, conserva por muitas horas o impulso e o movimento dados uma vez só; e, ao contrário, quando se quer agitar o ar de um quarto fechado, cessando o impulso que o movimenta, permanece imóvel completamente, sem reter o impulso. Quando, então, o ambiente e o movente são líquidos, e fazem força sobre um conteúdo sólido, encorpado e pesado, está se imprimindo um movimento sobre um sujeito apto a recebê-lo e conservá-lo por muito tempo; pois um segundo impulso que chegue encontra ainda o movimento impresso do primeiro, o terceiro encontra o impulso do primeiro e segundo, o quarto junta-se ao movimento do primeiro, segundo e terceiro, e assim por diante, onde o movimento do móbil não permanece somente conservado mas também aumentado: porém, quando o móbil é líquido, sutil, leve e, por conseguinte, impotente para conservar o já impresso, pois tanto é o movimento que se imprime quanto aquele que se perde, querer imprimir-lhe velocidade é trabalho vão, como seria vão querer encher a peneira das Belidas, que derrama tanto quanto se enche. Eis demonstrada, Sr. Lotário, a grande diversidade que se encontra nestas duas operações que vos pareciam uma coisa só.


39. Passemos agora ao terceiro argumento: Concedemos a Galileu que a superfície interna deste orbe seja lisa e redonda: nego que o ar não possa aderir aos corpos leves. Com certeza a lâmina de vidro B colocada sobre a água, apesar de bem lisa, não boiará menos que se fosse de outra matéria mais áspera, e o ar aderente a ela reterá a água A C, que se movimenta ao redor do vidro para que não deixe afundar a lâmina. Por que, então, o ar não se afasta dela quando é impulsionada para longe da lâmina de vidro pelo peso da água que desce, mas adere com força a ele não dá lugar, a não ser impulsionada por uma força maior? Além disso, se alguém, havendo encontrado uma prancha de mármore bem lisa, colocar-lhe em cima outro corpo pesado, igualmente liso, depois movimentar de todos os lados a prancha de baixo, perceberá que estará levando consigo também o corpo sobreposto; todavia, se se tirar o peso com o qual aquele corpo se apoia sobre a tábua, ele não permanecerá aderente. Aquilo que obriga, então, o corpo sobreposto a movimentar-se com o movimento da prancha é a compressão com a qual o peso faz pressão sobre a prancha posta embaixo, pôr do sol como cada um dos corpos é comprimido pelo outro, obrigando cada um a movimentar-se com o movimento do outro, assim, afirmo que a concavidade da Lua, de certa forma, é comprimida pelo ar ou pelas exalações incluídas, se ficarem rarefeitas, como acontece sempre: com efeito, quando se rarefazem, desprezando a limitação do lugar anterior, expandem-se em um espaço muito maior e impulsionam, segundo a própria possibilidade, todas as partes dos corpos que formam o ambiente, e por isso as do próprio céu, se alguma se opuser à dilatação. Não é necessário, então, admirar-se que da compressão nasce alguma adesão que Junta e amarra estes dois corpos, e assim movimenta ambos com um único movimento.

Sarsi continua nesta sua fantasia, querendo afirmar que eu também aceitei que o ar não adere aos corpos Usos, o que não foi dito nem por mim nem pelo Sr. Mário. Ademais, eu não entendo bem o que ele queria significar por aderência. Se ele entende uma cópula que resiste à separação de tudo e divide-se da outra superfície, e que não se toquem, afirmo que esta aderência existe e é muito grande, que, por exemplo, a superfície da água não se dividirá da superfície de uma prancha de cobre ou de outra matéria a não ser por uma grande força, neste caso não tem importância se esta superfície seja ou segundo a mitologia, as Danaides, da estirpe de Belo, deviam, por punição, encher de água uma peneira ininterruptamente, não limpa e lisa, sendo suficiente um estranho contato: contato que os segura juntos tão ajustados que às vezes as partes dos corpos sólidos e duros não possuem outro glúten a não ser isto; porém, esse tipo de aderência não é de utilidade alguma para Sarsi. Mas se ele entende uma conjunção na qual as duas superfícies, isto é, a sólida e a úmida, não possam, mesmo tocando-se, movimentar-se uma contra a outra, como seria necessário para Sarsi poder provar, afirmo que uma aderência semelhante não existe entre sólido e líquido e nem mesmo entre dois sólidos. Vemos, assim, que, em dois mármores planos e bem lisos, a primeira aderência é tanta que levantando um o outro vai junto, mas o segundo tipo de aderência é tão fraco que, se as superfícies em contato não se encontrarem bem equidistantes do horizonte, mas um pouco inclinadas mesmo como um fio de cabelo, o mármore inferior logo descerá para a parte inclinada; e, ao movimentar-se uma superfície sobre a outra, não se encontrará resistência, mesmo que se haja percebido uma resistência muito grande querendo-as destacar e separar. Assim, a junção de água com o barco, mesmo produzindo enorme resistência para quem quisesse separar as duas superfícies, encontraria, mesmo assim, mínima resistência em movimentar uma superfície sobre a outra, fazendo-a escorregar; e, como afirmei mais acima, o navio movido a grande velocidade não leva mais nada consigo a não ser aquele véu de água que o toca, às vezes pode acontecer que se dispa desta água para vestir-se com outra sucessivamente. Aposto que Sarsi aceitará que, colocando-se no mar um navio molhado com vinho ou tinta, depois de ter percorrido uma meia milha, não ficará vestígio do primeiro líquido que o circundava; podemos admitir que isso aconteça igualmente com a água que o toca, isto é, que continuamente vai mudando: e o sebo que envolve o navio inteiro, mesmo muito firme, depois de pouco tempo é levado pela água que lhe escorrega em cima; o que não aconteceria se a água em contato com o navio permanecesse sempre a mesma, sem mudar.

No que diz respeito à prancha de vidro que boia entre duas pequenas represas, afirmo que estas represas não se sustentam pela aderência do ar com a prancha que não deixa escorrer a água sobre a mesma; pois, se fosse assim, deveria acontecer o mesmo se colocássemos na água a mesma prancha um pouco úmida, porque não é acreditável que a água possa aderir menos a uma superfície úmida que a uma superfície seca; todavia, percebemos que, quando a prancha é úmida, o represamento não se realiza, mas a água desliza sobre a prancha. As represas, então, formam-se por causa da aderência do ar sobre a superfície da prancha: e podemos perceber com frequência grande parte da água sustentar-se em abundância particularmente sobre folhas de repolho e outras ervas, em camadas muito mais altas das represas que se formam ao redor da prancha da qual demos um exemplo.

Por último, quando ele afirma que comprimir ou pesar, sem outra força que permita aderência, é suficiente para que um corpo siga o outro, conforme o exemplo que ele nos oferece, isto é, das pedras lisas colocadas uma sobre a outra, das quais a superior que comprime segue o movimento da inferior levada em algum lugar, eu aceito a experiência, mas não percebo o que ela tem a ver com a nossa argumentação: primeiro, porque nós estamos discutindo sobre um corpo líquido e sutil, cujas partes não possuem tanta conexão que ao movimento de uma deva seguir o movimento do conjunto, como acontece num corpo sólido; segundo, Sarsi, superficialmente demais, prova que o fogo, o ar e as exalações contidas dentro da concavidade lunar produzem um impulso e pesam sobre a superfície desta concavidade, enquanto introduz, como causa da compressão, uma rarefação contínua destas substâncias, as quais, dilatando-se, e por isso procurando sempre espaço maior, produzem uma força que age contra seu recipiente, ficando assim, de certo modo, presas a este recipiente, seguindo seu movimento. Este discurso é verdadeiramente superficial, porque, quando Sarsi afirma com certeza que as substâncias contidas se rarefazem e se dilatam continuamente, o adversário, com não menor razão (digo não menor, porque Sarsi não aduz razão alguma), afirmará que elas vão continuamente se juntando e se restringindo. Mas, aceitando que elas se rerefaçam continuamente e disto nasça a conjunção à concavidade e, enfim, o movimento em conjunto, podemos acreditar que mil anos atrás, quando a refração era considerada uma utopia (como ainda agora Sarsi considera), o movimento em conjunto não devia existir, faltando a causa que o produzia. Com efeito, não existe nada que me impeça de dizer para Sarsi que esta sua rarefação, que se produz continuamente, não é ainda tão forte assim para obrigar e fazer pressão sobre a concavidade lunar, mas poderá alcançar isto daqui a dois ou três anos; e neste tempo, concordo em aceitar que a esfera dos elementos superiores começará a movimentar-se, mas por enquanto conceda-me Sarsi aceitar que ela ainda não se moveu. Não gostaria que, se Sarsi, por acaso, considerasse este tipo de resposta como ridículo, começasse a rir, pois é ele mesmo que nos dá motivo, esquecendo também em sua publicação que algumas substâncias materiais se rarefazem e se dilatam perpetuamente. Mas eu quero ajudar o próprio Sarsi e mostrar-lhe um ponto a seu favor, ensinando-lhe que esta rarefação eterna e pressão contra a concavidade da Lua é supérflua, logo que ele consiga demonstrar que o ar é levado consigo com o balde, sobre o qual não se comprime e não pesa absolutamente, sendo ele colocado na mesma região que o ar.


40. Mas observemos quanta verdade está contida no experimento sobre o qual funda-se especialmente a opinião de Galileu. Se uma gamela, afirma ele, se movimenta ao redor de seu centro e eixo, o ar incluso não indo atrás dele, pelo contrário permanecendo parado, não é levado a parte alguma. Uma vez chegara ao meu conhecimento, por meio de pessoas íntimas de Galileu, que ele tinha o costume de afirmar a mesma coisa em relação à água contida na gamela, isto é, ela também não se movimenta com o movimento do vaso. A prova era que, havendo colocado sobre a água parada dentro do vaso um corpo leve e com possibilidade de boiar, por exemplo, um pequeno pau, ou um pequeno caniço, perto da orla da gamela, fazendo depois o vaso girar, o caniço permanecia sempre no mesmo lugar. Sei por certo que esta e outras experiências deram muito valor à inteligência de Galileu que, por meio de coisas de muito pouca importância, bem à vista de todo mundo, com enorme facilidade levava os homens ao conhecimento de coisas tremendamente difíceis. Não quero diminuir-lhe a importância deste merecimento: porém, no que diz respeito à presente discussão, encontrei serem falsas as duas experiências (perdoe-me, Galileu, mas estou afirmando a verdade). Com efeito, acredito que se ele fez virar a gamela só uma ou duas vezes para não fazer perceber o movimento da água, porém, se continuasse a virá-la, então compreenderia realmente se a água se movimentaria com o movimento da gamela ou se permaneceria parada. O caniço ou pauzinho colocado sob a água, se não for colocado muito longe da orla da gamela, virará com muita velocidade, e mesmo que a gamela pare o caniço continuará a movimentar-se, e poder-se-á ver que a água e os corpos colocados em cima, por causa do impulso recebido, continuarão virando por muito tempo, mesmo que com sempre maior lentidão. Na verdade, ninguém, cogita que realizamos estas experiências descuidadamente, pois explico que pegamos um vaso semiesférico de metal I escavado habilmente com o torno e procuramos fazer que virasse ao redor de um eixo CE, unido à própria gamela, e assim passasse por seu centro, como se, prolongado, tivesse a forma de eixo esférico; construímos uma base bem estável, para que não fosse movimentada com o movimento do vaso, e havendo feito passar o eixo pelo buraco E, e apoiando-o no suporte na parte mais baixa, fixamo-lo verticalmente: assim, virando o eixo com a mão, necessariamente a gamela movimentava-se com o mesmo movimento. Na verdade não só a água se movimenta com o movimento do recipiente mas o ar também, que é o exemplo dado por Galileu. Tudo isto demonstra que a chama da vela, colocada próxima da superfície do vaso, dobra-se com pequeno desvio na mesma direção onde se movimenta o recipiente.

Tudo isto é demonstrado com muito mais clareza pela folha de papel A, suspensa por uma sutil linha de seda, da qual um lado encontra-se perto da superfície interna do vaso. Com efeito, se movimentarmos agora a gamela de um lado, o papel também virará na mesma direção; e, se virarmos a gamela na parte oposta com recíproca rotação, levará consigo a folha de papel na mesma direção sua com o ar que lhe adere.

E desta verdade e certeza tenho muitos sábios testemunhos: antes de tudo, muitos padres do Colégio Romano; entre outros, todos aqueles que quiserem conhecer o que aprendi do meu mestre, e foram muitos. Não quero passar sob silêncio o nome daquele que, famosíssimo por seus conhecimentos como por sua nobreza, pode enaltecer-me, bem como minhas teorias, e testemunhar minhas palavras; isto é, Virginio Cesarini, que muito se admirou como uma coisa, até aquele momento considerada verdadeira por muitos, pudesse ser arguida como falsa com tanta certeza; e, contudo, assistiu à realização daquilo que a maioria negava poder ser realizado.

Tudo isto foi demonstrado por experiência, mas, mesmo que não houvesse sido experimentado nunca, a razão o haveria provado. O ar e a água, sendo da natureza dos corpos úmidos, cuja característica é aderir aos próprios corpos lisos, não poderão nunca aderir à superfície do vaso; por isso, se admitirmos esta adesão, é necessário admitir também o movimento dos corpos úmidos. Primeiro, com efeito, a parte que toca o recipiente movimentar-se-á com o seu movimento, do mesmo modo daquela que adere ao vaso; segundo, esta parte movimentada desta forma levará consigo aquela que lhe adere; esta segunda parte levará uma terceira, etc.; e, pois, que este movimento apresenta quase uma espiral, não é de admirar-se que com uma ou duas voltas da gamela não foi percebido o movimento da água; porquanto as primeiras partes desta espiral encontram-se muito perto da superfície do recipiente e por isso o movimento não se espalhou nas partes mais internas, pois elas se rarefazem, e por isto não seguem logo o movimento daquela parte que as leva consigo.

Não se admire ninguém se o movimento do ar, nessas nossas experiências, mostre ser mínimo, máximo em vez o da água. Com efeito, o ar ficando rarefeito enquanto a água se condensa mais, mesmo que o ar, pelo movimento do vaso ao qual ele está aderindo, movimente-se com mais facilidade, todavia não leva consigo com a mesma facilidade o ar próximo, pois é segurado pela força das outras partes do ar parado, e com uma pequena compressão ou rarefação pode, por breve tempo, iludir a força do ar que o leva consigo. Contudo, aquele que queira experimentar com mais clareza se um corpo esférico virando leva consigo o ar, mande virar o globo A, por exemplo, sustentado sobre seus polos B e C, com um eixo D, e suspenda um papel à linha sutil E, assim de modo que chegue quase em contato com o globo: quando se iniciar a rotação da esfera para um lado, o papel F movimentado pelo ar é levado na mesma direção, especialmente se o globo for suficientemente amplo e for girado com muita velocidade.

E o fato de que, seja na gamela, seja na esfera, percebemos muito pouco o movimento do ar, não poderá levar ninguém a deduzir que na concavidade da Lua o mesmo movimento será muito pequeno; porque, entre outras, existe esta razão para o pequeno movimento do ar na esfera A e na gamela I em movimento; sendo a gamela e a esfera colocadas todas no ar, sendo movimentado o ar circunstante pelo movimento delas, resulta ser sempre menor a velocidade daquele que dá o movimento em relação àquele que recebe. Com efeito, por exemplo, se, por causa do movimento da esfera A, a superfície BC deve movimentar o ar que lhe adere, expressa pelo círculo D, sendo ele maior do que o círculo BC, o maior deverá ser movimentado pelo menor: o mesmo acontecerá quando o círculo D levar consigo o círculo E. Porém, na concavidade da Lua encontramos tudo isto ao contrário, sendo sempre maior a velocidade daquele que movimenta que do que é movimentado. Com efeito, coloque-se a Lua no círculo E, movimentando D que deve movimentar BC: sempre aquele que movimenta resultará ser maior do que aquele que é movimentado, facilitando assim o movimento, que igualava o movimento da própria gamela, mesmo que muito veloz: então você poderá entender que todas as vezes que o motor for maior que o receptor, o movimento resultará mais fácil: com efeito, colocada sobre a gamela uma tampa AB, a superfície interna da gamela e da tampa com o movimento das quais o ar é movido é maior que o ar que deve ser movimentado, porque aquela superfície é recipiente e o ar é um conteúdo.

Enfim, eu repeti o mesmo experimento, com o mesmo resultado, com uma esfera de vidro A, exata o mais possível, furada só na extremidade C, para ser-lhe introduzida a lâmina I. Colocada esta esfera sobre o eixo BD efeito girar o eixo, não só a esfera A mas também a lâmina I suspensa, apesar de se encontrar muito distante da superfície interna da esfera, foi percebida movimentar-se com muita rapidez. Pensei, assim, não dever poupar esforço algum para provar com o maior número de experimentos possíveis esta teoria, da forma mais cuidadosa. Estas últimas experiências foram presenciadas pelas próprias pessoas acima citadas, assim não há necessidade de chamá-las outra vez como testemunhas. Achei melhor lembrar também que todas estas experiências foram realizadas durante o verão, tempo em que o ar é mais quente e também mais seco, e por isso encontra-se mais perto da natureza do fogo, elemento que entre todos os outros Galileu considera o menos adequado para aderir. Por tudo isso pode-se concluir que, seja a água, seja o ar, movimentam-se com o movimento da gamela e que o ar adere também aos corpos lisos, movimentando-se com o movimento deles; o que Galileu negou.

Sarsi entra agora no abundante aparato de experiências para confirmar suas teorias e destruir as nossas. E como estas experiências foram realizadas em presença de V. E. Ilustríssima, eu confio no senhor, devendo esperar a respeito seu julgamento em vez de fazer o meu. Porém, se for de seu agrado, poderá continuar lendo aquilo que resta até o fim de nossa exposição, porque eu simplesmente tocarei parceladamente em assuntos característicos e interessantes.

Primeiro, a teoria que Sarsi procura me atribuir com sua primeira experiência é falsa, visto que nunca afirmei que a água contida na gamela permaneça, assim como o ar, imóvel enquanto o recipiente se movimenta. Não me admiro, porém, de que ele o tenha escrito, pois, se alguém anda referindo coisas escritas e publicadas por outros em sentido contrário, é lógico admitir que ele altere aquelas que ele afirma haver só ouvido indiretamente. Não parece que esteja dentro dos limites da educação publicar coisas ouvidas por outros, especialmente quando, ou por não haver entendido bem, ou por própria escolha, ele as relata de forma muito diversa daquilo que foi falado, como acontece neste caso. É assunto meu, Sr. Sarsi, e não vosso ou de outros, publicar minhas teorias e fazê-las conhecer ao mundo; por que, quando (como acontece às vezes) alguém durante um raciocínio afirma alguma teoria não muito exata, deve existir logo alguém que tome nota e publique, privando-o do benefício do tempo e poder pensar melhor sobre o assunto, a fim de corrigir sozinho seu erro e mudar de opinião, em suma, usar o talento de seu cérebro e de sua pena? Aquilo que Sarsi pode haver escutado, e pelo que vejo não muito bem entendido, é uma determinada experiência que eu mostrei a alguns sábios em Roma, e às vezes na sala de V. E. Ilustríssima mesmo, em parte afirmando e em parte confutando um terceiro movimento atribuído por Copérnico à Terra. Esta hipótese parecia improvável a muitos e parecia perturbar toda a organização do sistema copernicano, isto é, o terceiro movimento anual que ele atribui ao globo terrestre ao redor do próprio centro, ao contrário de todos os movimentos celestes, os quais, sendo considerados todos, quer os movimentos excêntricos, quer os epicíclicos e também o diurno e o anual desta Terra, procedem no orbe magno de poente para levante, enquanto só este movimento parecia realizar-se na própria Terra de oriente para ocidente, contrariante aos outros dois particulares e contra todos os movimentos de todos os outros planetas. Eu tinha por costume remover esta dificuldade demonstrando que tal fenômeno não só podia verificar-se mas estava de acordo com a natureza e era quase necessário; e qualquer corpo colocado e sustentado livremente em um ambiente leve e líquido, levado ao redor da circunferência de um círculo, convergirá espontaneamente sobre si mesmo, ao contrário do outro grande movimento. Isto podia ser verificado pegando um recipiente cheio de água e colocando nele uma boia; pois estendendo nosso braço e virando sobre nossos pés, percebemos imediatamente esta boia virar em direção contrária à nossa e terminar sua conversão no momento que terminamos a nossa. Assim, ninguém deveria se admirar por isto, pelo contrário, deveria se admirar se isto não acontecesse, sendo a Terra um corpo suspenso, e suspenso num meio líquido leve, e levada ao redor de uma circunferência no espaço de um ano, ela não tivesse natural e livremente adquirido uma conversão anual, também em si mesma, contrária à outra. Eu relatava isto para demonstrar provável o sistema de Copérnico: acrescentando depois que, quem raciocinasse corretamente, conhecia ser falsa a atribuição copernicana de um terceiro movimento atribuído à Terra, pois não era um movimento, mas um não movimento, e em repouso; porque é verdade que a quem segura o recipiente parece movimentar-se em relação a si mesmo e em relação ao vaso, e a boia parece girar sobre si mesma; mas a mesma boia em relação aos muros da sala e às coisas externas, não gira nem muda de inclinação, mas qualquer um de seus pontos que no início encontravam-se frente a um termo de comparação externo marcado sobre a parede em algum outro lugar mais afastado, sempre encontrar-se-iam na mesma relação. Isto é o que eu afirmei: isto, como V. E. Ilustríssima pode perceber, é bem diferente do relatado por Sarsi. Esta experiência, e talvez alguma outra, pode dar ocasião, a quem se encontrou muitas vezes presente aos nossos discursos, de falar de mim aquilo que Sarsi falou, isto é, que por um talento natural meu procuro explicar com exemplos fáceis e claros coisas difíceis e ocultas, cujo elogio Sarsi não me nega de todo, mas, evidentemente, só em parte; e por isto devo agradecer sua cortesia mais que sua aceitação, porque não me parece ser daqueles que com muita facilidade deixam-se persuadir por meus fáceis exemplos, pois ele mesmo, considerando que o texto do Sr. Mário fosse o meu, afirma no fim do exame anterior que aquele texto havia sido escrito com palavras tão obscuras que não conseguiu adivinhar o significado.

Como já falei, em relação a experiências realizadas por Sarsi, entrego-me a V. E. Ilustríssima que as viu, e unicamente confutarei aquela já relatada pelo Sr. Mário na sua carta, depois de haver raciocinado um pouco sobre algumas causas que Sarsi faz derivar das experiências: causas que eu haveria pago para não serem relatadas, para manter a ele um certo respeito e a seu Mestre também, se fosse verdade ser discípulo deste Mestre como afirma. Sr. Sarsi, que extravagâncias publicais? Se não houver um erro de imprensa, vossas palavras são estas: Veja-se que todas as vezes que o movente for maior que o movido, então muito mais fácil será o movimento: colocando, com efeito, uma tampa AB sobre o recipiente, a superfície interna da gamela e da tampa também, com cujo motor o ar se movimenta, é maior que o ar que deve ser movimentado: com efeito, aquela superfície é um recipiente e o ar é um conteúdo. Por favor, respondei-me, Sr. Sarsi, a superfície da gamela e da tampa, com o que a comparais, com a superfície do ar contido ou com o próprio ar, isto é, com o corpo aéreo? Se com a superfície, é falso que a primeira seja maior que o segundo, porque elas são iguais, conforme o axioma de Euclides: "Coisas que se correspondem são iguais". Mas se comparais a superfície recipiente com o próprio ar, assim como parece, errais duas vezes: primeiramente, porque comparais duas quantidades de qualidades diferentes, por isto não comparáveis entre si como afirma outra vez Euclides: "Uma relação se passa entre duas grandezas do mesmo gênero"; e não entendeis que aquele que afirma: "Esta superfície é maior do que aquele corpo" comete o mesmo erro daquele que afirmasse: "A semana é maior que uma torre" ou "O ouro é mais pesado que uma anotação"? O outro erro o encontramos no fato de que, mesmo que fosse possível proceder a uma comparação entre uma superfície e um sólido, o assunto resultaria ser oposto a tudo aquilo que afirmais; pois não seria a superfície maior que o sólido, mas o sólido mil vezes maior que ela. Sr. Sarsi, não vos deixeis levar por semelhantes fantasias, porque nem mesmo a proposição geral de que o recipiente é maior que o conteúdo pode ser tomada sem relacionar duas quantidades comparáveis entre elas. Deveríeis afirmar que, a propósito de um saco de lã, o saco ou o invólucro deve ser maior que a lã contida, por ser esta um conteúdo e o outro um recipiente; e, sendo da mesma matéria, o saco deverá pesar também mais. por ser maior. Eu estou certo de que vos equivocastes sobre uma teoria que é verdadeira quando tomada em seu verdadeiro sentido, isto é, que o recipiente é maior que o conteúdo todas as vezes que se leve em consideração o recipiente junto com o conteúdo: por exemplo, um quadrado traçado ao redor de um círculo é maior do que este círculo, levando em conta o quadrado inteiro; mas se fazeis referência só àquilo que sobra do quadrado, subtraindo o círculo, este não resulta ser maior mas menor, apesar de o quadrado o conter. Mas não estou percebendo o tempo que passa? E continuo gastando meu tempo nestas infantilidades?

Contra todas as experiências de Sarsi, V. E. Ilustríssima poderá fazer colocar a gamela que gira sobre o próprio eixo; e para verificar o que acontece em relação ao ar contido, enquanto gira com velocidade sempre maior, tomem-se duas velas acesas, e coloque-se uma dentro do vaso a uma distância de dois ou três dedos da superfície, e guarde-se a outra na mão, porém também dentro do vaso, a uma mesma distância da superfície; gire-se depois o recipiente com grande velocidade; se o ar se movimentar por certo tempo de acordo com o vaso, sem dúvida, movimentando-se o vaso, o ar contido e a vela grudada dentro, tudo com a mesma velocidade, a chama da vela não se inclinará para canto algum mas permanecerá imóvel (como acontece quando alguém corre com uma lanterna dentro da qual há uma vela acesa, que não se apaga, não se dobra se o ar do ambiente movimentar-se com a mesma rapidez; efeito que pode ser percebido mais claramente no navio que se movimenta a grande velocidade, onde as luzes não mostram movimento algum mas encontram-se no mesmo estado navio); porém, a outra vela parada nos deixará perceber o movimento do ar, que, chegando a ela, a dobrará.

Mas se o fenômeno transcorrer diferentemente, isto é, o ar não seguir o movimento do vaso, a vela parada guardará sua chama reta e imóvel, enquanto a outra, levada pelo movimento do vaso, chocando-se contra o ar parado, dobrar-se-á. Contudo, nos experimentos dos quais participei sempre observei que a chama parada permanecia reta e imóvel, em vez, a outra, grudada no vaso, dobrava-se sempre e às vezes apagava-se: e a mesma coisa poderá observar V. E. Ilustríssima e qualquer outro que queira experimentar. Julgue agora, V. E. Ilustríssima, aquilo que deve ser falado em relação ao ar.

O mais que possa ser deduzido das experiências de Sarsi é que uma bem sutil parte de água, da grossura de um quarto de dedo contígua à concavidade do recipiente, é levada ao redor do vaso; isto é suficiente para demonstrar todas as hipóteses relatadas por Sarsi, e pode ser causa de tudo isto ou a aspereza da superfície, ou uma cavidade determinada, ou uma proeminência maior de um lugar que de outro. Mas, mesmo que a concavidade da Lua levasse consigo um dedo de profundidade das exalações contidas, o que quer demonstrar Sarsi? Não acredite, por favor, que, se a gamela possui um meio dedo de profundidade, um vaso maior seja mais profundo; pelo contrário, acredito que ele possua uma profundidade menor; da mesma forma, não acredito que a velocidade máxima com a qual esta concavidade lunar atravessa a circunferência inteira, em mais ou menos vinte e quatro horas, deva ser mais rápida; pelo contrário, atrevo-me a afirmar que quase poderia ver, por imaginação, o seu movimento mais vagaroso que aquele que poderia fazer uma gamela que igualmente em vinte e quatro horas efetuasse um movimento de revolução. Mas aceitemos a hipótese de Sarsi de que a concavidade lunar leve consigo quanto foi afirmado da exalação contida: o que acontecerá depois? E o que será contrário á opinião do Sr. Mário? Será verdade que a matéria do cometa pode iluminar-se por causa deste movimento? Ou será verdade que não se iluminará nem movimentando-se nem permanecendo imóvel? Assim acredito eu, porque, se tudo permanece parado, não se provocará a iluminação por meio da qual Aristóteles afirma a existência do movimento; mas, se tudo se movimenta, não existirá atração nem fricção sem as quais não possuiremos calor nem iluminação. Mas eis que tanto Sarsi como eu gastamos tantas palavras procurando saber se a concavidade sólida do orbe lunar, que não pertence ao nosso mundo, movimentando-se ao redor, quando a Lua nunca se movimentou, leva consigo o elemento fogo, que desconhecemos existir lá, e com ele as exalações que, por causa dele, deveriam iluminar-se e dar o fogo à matéria do cometa, que não sabemos se existe naquele lugar e que sabemos, em vez, não ser um elemento que possa queimar. Aqui Sarsi me faz lembrar as palavras espirituosíssimas daquele poeta: "Pela espada de Orlando que não possuem e que provavelmente não possuirão nunca batem-se uns aos outros feito loucos".

Mas é hora de examinar a segunda proposição; e, antes de fazê-lo, pois Sarsi afirma no fim dela que sempre neguei que a água se movimenta com o movimento do recipiente e que o ar e os outros corpos leves podem aderir aos corpos lisos, mais uma vez respondemos que ele não afirma a verdade, porque nunca, nem o Sr. Mário, nem eu, falamos ou publicamos alguma coisa neste sentido, mas Sarsi, não sabendo onde se apoiar, fabricou alguns suportes para ele.


41. Examine agora, V. E. Ilustríssima, a segunda proposição: Aristóteles afirma que o movimento é causa de calor: esta hipótese é explicada por todo mundo no sentido de que não se deva atribuir ao movimento o calor como efeito particular seu (com efeito, ele é um aumento do espaço), mas porque, devido ao movimento local, os corpos se esfregam e o atrito gera calor, e por isso, ao menos em sentido mediato, afirmamos que o movimento gera calor. Não existe motivo para que Galileu reprove Aristóteles por causa disso, pois não relata nada de diverso das afirmações do outro. Quando afirma que não é suficiente qualquer atrito para produzir o calor, mas é necessária uma fortíssima fricção assim que se gaste alguma parte dos corpos esfregados, esta afirmação é de Galileu e de nenhum outro. Com efeito, por que seria necessário este gasto de partes para produzir calor? Seria porque para produzir calor é necessário que os corpos se rarefaçam, e por cada rarefação os mesmos corpos parecem diminuir e algumas pequenas partes somem? Mas os corpos podem rarefazer-se sem separação alguma de partes, e por isto sem gasto. Ou precisamos desta diminuição porque, sendo as partículas mais próprias para conceber o calor, devem antes ser esquentadas e depois fornecer o calor ao restante do corpo? De modo nenhum; mesmo sendo pequeníssimas, aquelas partes próprias para conceber o calor, assim como muitas vezes o pó provocado pelo esfregamento do ferro torna-se fogo, logo que se separam não podem mais fornecer calor ao corpo ao qual não aderem.

Sarsi quer, no começo desta sua teoria, concordar com o Sr. Mário e Aristóteles, mostrando que ambos chegaram à mesma conclusão, porque um afirma que o movimento é causa de calor e o outro afirma que não é o movimento mas atrito de dois corpos sólidos. E porque a teoria do Sr. Mário é verdadeira nem necessita de notas, Sarsi quer interpretar a outra afirmando que, aceitando que o movimento, como movimento, não é causa de calor, mas é o atrito; porém, não existindo atrito sem movimento, podemos afirmar que mesmo secundariamente o movimento é causa de calor. Mas se sua intenção foi esta, por que Aristóteles não falou a palavra atrito? Não entendo por que, quando um pode aplicar com palavras precisas e simples, deva utilizar uma palavra imprópria e limitada que pode originar um equívoco. Ademais, mesmo que tivesse sido este o sentido de Aristóteles, é igualmente diferente do Sr. Mário, porque para Aristóteles é suficiente qualquer atrito de corpos, mesmo leves e sutis, até o próprio ar; mas para o Sr. Mário é necessário que os corpos sejam sólidos, considerando que querer moer o ar seja uma perda de tempo muito maior do que aquela de quem queira (como afirma o ditado) moer a água com um pilão. Posso até admitir que esta teoria seja verdadeira, mesmo no sentido literal das palavras; e talvez poderia ela ter saído de alguma boa escola da Antiguidade, mas Aristóteles, não havendo entendido bem o raciocínio dos antigos, acredito que deduzisse conclusões falsas. Talvez não seja só esta a única teoria verdadeira em si mesma, mas interpretada erradamente em relação às posições da filosofia peripatética. Mas voltarei a falar logo mais.

Acompanhemos agora Sarsi, que quer, contra a opinião do Sr. Mário, produzir o calor sem algum gasto dos corpos em atrito até ficarem quentes, teoria que Sarsi prova antes com demonstrações e depois com experimentos. No que diz respeito à demonstração, posso contestar com poucas palavras; pois, interrogando o Sr. Mário, Sarsi mesmo responde em seu lugar, e depois contesta as respostas; assim, se eu afirmar que o Sr. Mário nunca haveria respondido desta forma, Sarsi deve necessariamente silenciar,

E na verdade, em relação à primeira resposta, não posso acreditar que o Sr. Mário afirmasse que para se esquentar é necessário antes que os corpos se rarefaçam, e que, fazendo assim, se despedacem, e que as partes menores se percam, como escreve Sarsi. Desta resposta me parece entender que não aceita o raciocínio do Sr. Mário, e que, sendo necessário considerar nesta operação seja o corpo que produz o calor, seja o corpo que recebe o calor, acredito que ele queira que o corpo que produz o calor seja aquele que diminui; assim, não é o receber mas o dar calor que faz diminuir um corpo.

Como os corpos possam ficar rarefeitos sem separação alguma das partes, e como se desenvolva esta teoria da rarefação e condensação, teoria muito costumeira em Sarsi, como parece, ele haveria gostado de tê-la explicado bem mais, sendo para mim uma das mais difíceis e ocultas leis naturais.

É claro que o Sr. Mário não teria dado assim a segunda resposta, isto é, que seja necessário um gasto de partes de tal modo que antes se esquentem as partes menores, mais próprias para se esquentarem por serem sutis, e depois, por meio delas, seja esquentado o restante do corpo; porque assim a diminuição verificar-se-ia também no corpo que deve ser esquentado, e o Sr. Mário atribui esta qualidade ao corpo que deve esquentar. Devemos, porém, advertir que muitas vezes acontece ser o mesmo corpo aquele que produz o calor e aquele que o recebe; por exemplo, batendo em um prego, suas partes, fazendo atrito, produzem calor, mas é o mesmo prego que se esquenta a si mesmo. Aquilo que eu quis dizer até aqui é que o gasto das partes depende do ato de produzir calor e não de receber calor, como explicarei mais abaixo. Examinemos, por enquanto, a experiência que Sarsi acredita adequada para a demonstração, isto é, produzir calor com o atrito sem algum gasto das partes.

 

 


                                                            CONTINUA

                                                              

 

 

 

                                                   

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